edição de julho de 2010

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o Vol. 23, n 2, jul. 2010 - R$ 10,00 ISSN 0103-0779 catarinense O Epagri Epagri Empreendedores rurais Secretaria de Estado da Agricultura e Desenvolvimento Rural Secretaria de Estado da Agricultura e Desenvolvimento Rural Percevejo-bronzeado do eucalipto Novo vírus em bananais de Santa Catarina Impacto ambiental dos resíduos de reciclagem de papel Meteorologia: Novas ferramentas informam sobre eventos extremos Percevejo-bronzeado do eucalipto Novo vírus em bananais de Santa Catarina Impacto ambiental dos resíduos de reciclagem de papel

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Page 1: Edição de julho de 2010

oVol. 23, n 2, jul. 2010 - R$ 10,00 ISSN 0103-0779

catarinenseOEpagriEpagri

Empreendedores rurais

Secretaria deEstado daAgricultura eDesenvolvimentoRural

Secretaria deEstado daAgricultura eDesenvolvimentoRural

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· Percevejo-bronzeado do eucalipto

· Novo vírus em bananais de Santa Catarina

· Impacto ambiental dos resíduos de reciclagem de papel

Meteorologia:Novas ferramentasinformam sobreeventos extremos

· Percevejo-bronzeado do eucalipto

· Novo vírus em bananais de Santa Catarina

· Impacto ambiental dos resíduos de reciclagem de papel

Page 2: Edição de julho de 2010

Conselho Editorial/Editorial Board

Ademir Calegari, Dr. – Iapar – Londrina, PRAnísio Pedro Camilo, Ph.D. – Embrapa – Florianópolis, SCBonifácio Hideyuki Nakasu, Ph.D. – Embrapa – Pelotas, RSCésar José Fanton, Dr. – Incaper – Vitória, ESEduardo Humeres Flores, Dr. – Universidade da Califórnia – Riverside, USAFernando Mendes Pereira, Dr. – Unesp – Jaboticabal, SPFlávio Zanetti, Dr. – UFPR – Curitiba, PRHamilton Justino Vieira, Dr. – Epagri – Florianópolis, SCLuís Sangoi, Ph.D. – Udesc/CAV – Lages, SCManoel Guedes Correa Gondim Júnior, Dr. – UFRPE – Recife, PEMário Ângelo Vidor, Dr. – Epagri – Florianópolis, SCMichael Thung, Ph.D. – Embrapa – CNPAF – Goiânia, GOMiguel Pedro Guerra, Dr. – UFSC – Florianópolis, SCMoacir Pasqual, Dr. – UFL – Lavras, MGRicardo Silveiro Balardin, Ph.D. – UFSM – Santa Maria, RSRoberto Hauagge, Ph.D. – Iapar – Londrina, PRRoger Delmar Flesch, Ph.D. – Epagri – Florianópolis, SCSami Jorge Michereff, Dr. – UFRPE – Recife, PESérgio Leite G. Pinheiro, Ph.D. – Epagri – Florianópolis, SC

Alvadi Antonio Balbinot Júnior, Dr. – EpagriRogério Backes, Dr. – EpagriHenri Stuker, Dr. – EpagriMarcelo Couto, Dr. – EpagriCarla Pandolfo, Dr. – EpagriJosé Ângelo Rebelo, Dr. – EpagriLuiz Augusto Martins Peruch, Dr. – EpagriPaulo Sergio Tagliari, M.Sc. – Epagri (Presidente)Yoshinori Katsurayama, M.Sc. – EpagriSadi Nazareno de Souza, M.Sc – Epagri

Comitê de Publicações/Publication Committee

Governador do EstadoLeonel Arcângelo Pavan

Secretário de Estado da Agricultura e

Desenvolvimento RuralEnori Barbieri

Presidente da EpagriLuiz Ademir Hessmann

Diretores

Ditmar Alfonso Zimath

Extensão Rural

Edson Silva

Ciência, Tecnologia e Inovação

Luiz Antonio PalladiniAdministração e Finanças

Nelso Figueiró

Desenvolvimento Institucionall

Page 3: Edição de julho de 2010

2 Agropecuária Catarinense, v.22, n.2, jul. 2009

SumárioArtigo científico

Nota científica

Normas para publicação

Registro

• Editorial ................................................... 3• Lançamentos editoriais ........................... 4

• Pesquisa viabiliza cultivo de camarãomarinho em água-doce ........................... 5

• Plantio direto reduz emissão de carbonopelo solo ................................................. 6

• Cooperativas catarinenses faturamR$ 11,3 bilhões ....................................... 6

• Solarização: prática ecológica quegarante solo saudável ............................. 7

• Propriedades rurais devem sergeorreferenciadas ................................... 8

• Material especial protege lavouras deações nocivas ......................................... 8

• Arroz sequeiro melhora alimentação defamílias .................................................... 9

• Abacate pode ser alternativa paraproduzir biocombustível........................... 10

• Mapa incentiva plantio de florestas......... 10• Produtos da agricultura familiar

enriquecem merenda............................... 11• Brasil é líder na destinação de

embalagens de agrotóxicos..................... 11• Altas temperaturas afetam produtividade

e qualidade de arroz irrigado no Estado.. 12

• Destruição criativa .................................. 13

• Desafios e oportunidades para odesenvolvimento sustentável daagricultura familiar ................................... 15

• Fonte protegida, água preservada........... 18

• Empreendedores do campo..................... 20• A solução cai do céu................................ 26• Meteorologia de ponta............................... 31

• Pinhão-manso: da fitoterapia ao biodiesel.35

• Citronela, capim-limão, palma-rosa epatchuli: características agronômicas nolitoral norte de Santa Catarina................... 39

• Fundamentos do sistema integraçãolavoura-pecuária........................................ 43

• Micotoxinas na cultura do milho................. 46

Opinião

Conjuntura

Vida rural

Reportagem

Plantas bioativas

• Análise econômica da produção de ostrasna Região da Grande Florianópolis, SC....... 49

• Componentes da fauna edáfica em lavourasde soja.......................................................... 54

• Aplicação de resíduo de reciclagem de papelem solo ácido: I – fertilidade e teores demetais pesados no solo................................ 60

• Aplicação de resíduo de reciclagem de papelem solo ácido: II – Produtividade das culturasde milho e soja e teores de metais pesadosnos grãos...................................................... 66

• Distribuição espacial de adultos da bicheira--da-raiz, Oryzophagus oryzae, em lavourasde arroz irrigado............................................72

• Composição mineral de folhas e vigor damacieira ‘Fuji’ em resposta a nitrogênio epotássio........................................................ 77

• Atratividade de iscas alimentares comerciaispara mosca-das-frutas em pomares demacieira........................................................ 84

• Caracterização e danos do percevejo--bronzeado do eucalipto............................... 89

• Controle da broca-das-axilas (Crocidosemaaporema) (Lepidoptera: Tortricidae) em sojacultivada sob o sistema orgânico.................. 92

• Ocorrência de “Banana streak virus” nascultivares de bananeira Grande Naine eNanicão no Estado de Santa Catarina..........96

• Normas para publicação na RAC..................99

Informativo técnico

Page 4: Edição de julho de 2010

3Agropecuária Catarinense, v.22, n.2, jul. 20093 Agropec. Catarin., v.22, n.1, mar. 2009

FICHA CATALOGRÁFICA

Agropecuária Catarinense – v.1 (1988) –Florianópolis: Empresa Catarinense de PesquisaAgropecuária 1988 - 1991)

Editada pela Epagri (1991 – )TrimestralA partir de março/2000 a periodicidade passou a

ser quadrimestral.1. Agropecuária – Brasil – SC – Periódicos. I.

Empresa Catarinense de Pesquisa Agropecuária,Florianópolis, SC. II. Empresa de PesquisaAgropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina,Florianópolis, SC.

CDD 630.5

Tiragem: 2.500 exemplaresImpressão: Premier Indústria Gráfica e Editora Ltda.

ISSN 0103-0779

INDEXAÇÃO: Agrobase e CAB International.

AGROPECUÁRIA CATARINENSE é uma publicaçãoda Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Ruralde Santa Catarina (Epagri), Rodovia Admar Gonzaga,1.347, Itacorubi, Caixa Postal 502, 88034-901Florianópolis, Santa Catarina, Brasil, fone: (48) 3239-5500, fax: (48) 3239-5597, internet: www.epagri.sc.gov.br,e-mail: [email protected]

EDITORAÇÃO:Editor-chefe: Roger Delmar FleschEditor técnico: Paulo Sergio Tagliari

JORNALISTA: Cinthia Andruchak Freitas (MTb SC02337)

ARTE: Vilton Jorge de Souza

DIAGRAMAÇÃO E ARTE-FINAL: Victor Berretta

PADRONIZAÇÃO: Daniel Pereira, Abel Viana e JoãoBatista Leonel Ghizoni

REVISÃO DE PORTUGUÊS: Abel Viana e João Batis-ta Leonel Ghizoni

REVISÃO DE INGLÊS: João Batista Leonel Ghizoni

CAPA: Vilton Jorge de Souza

REVISÃO TIPOGRÁFICA: Daniel Pereira

DOCUMENTAÇÃO: Ivete Teresinha Veit

ASSINATURA/EXPEDIÇÃO: Ivete Ana de Oliveira –GMC/Epagri, C.P. 502, 88034-901 Florianópolis, SC,fones: (48) 3239-5595 e 3239-5535, fax: (48) 3239-5597ou 3239-5628, e-mail: [email protected] anual (3 edições): R$ 22,00 à vista

PUBLICIDADE: GMC/Epagri – fone: (48) 3239-5682,fax: (48) 3239-5597

REVISTA QUADRIMESTRAL

15 DE JULHO DE 2010

As normas para publicação na Revista Agropecuária Catarinense estão disponíveis no site www.epagri.sc.gov.br.

Esta edição foi financiada pela Fundação de Apoio à Pesquisa Científica eTecnológica do Estado de Santa Catarina (Fapesc)

Com o advento do aque-

cimento global e a ocor-

rência frequente de fenô-

menos extremos, as informações

meteorológicas tornam-se ainda mais

importantes no dia a dia dos

cidadãos. Nesse sentido, a Epagri/

Centro de Informações de Recursos

Ambientais e de Hidrometeorologia

de Santa Catarina (Ciram) acaba de

lançar seis ferramentas de previsão

e avisos meteorológicos, hospedadas

no site da Empresa, para livre acesso

do público. Ocorrência de tem-

pestade, de geada, hidrologia da

bacia hidrográfica do Rio Araranguá,

risco de chuvas intensas e avisos de

temperaturas mínima e máxima

extremas são os novos serviços que a

RAC apresenta na reportagem

Meteorologia de ponta. Ainda ligada

à meteorologia, outra reportagem

destaca projetos de captação e

armazenagem de água da chuva no

meio rural.

Pequenas agroindústrias,

impulsionadas com mão de obra de

agricultores, envolvem mais de 6 mil

famílias no Estado e geram,

anualmente, R$ 25 milhões em ICMS

para Santa Catarina. Esse modelo de

desenvolvimento rural sustentável,

que oferece a jovens, mulheres e

agricultores uma chance de

permanência no campo, é assunto da

matéria de capa.

Na seção técnico-científica,

destacam-se as notas sobre o

percevejo-bronzeado, praga que está

atacando o eucalipto em diversos

estados brasileiros, e sobre um novo

vírus que vem causando prejuízos à

produção de banana em municípios

catarinenses.

Os artigos científicos apresentam

estudos em diversas culturas de

interesse econômico, como é o caso

das iscas atrativas para mosca-das-

-frutas em macieira, ressaltando aeficiência de substâncias sem riscoambiental e à saúde humana. Doistrabalhos sui generis testaram osresíduos da reciclagem de papel comocorretivo e fonte de nutrientes àsplantas, bem como possíveis impactosde teores de metais pesados no solo enos grãos de lavouras. Outros estudosabordam a distribuição da bicheira--da-raiz no arroz irrigado, que podeocasionar perdas severas deprodução, e a diversidade de insetose outros artrópodes que vivem nossolos das lavouras de soja.

Na seção dos informativos, o setorpesqueiro está representado com umestudo econômico da produção deostras. As plantas medicinaistambém são foco de pesquisa: aRevista apresenta a avaliação dequatro espécies aromáticas deinteresse econômico. Completam aseção os informativos sobre aintegração lavoura-pecuária e sobreas micotoxinas do milho e práticas deprevenção e controle desses fungos.

Boa leitura e bom proveito!

Page 5: Edição de julho de 2010

4 Agropecuária Catarinense, v.23, n.2, jul. 2010

Page 6: Edição de julho de 2010

5Agropecuária Catarinense, v.23, n.2, jul. 2010

Estudo realizado por pes-quisadores da Epagri/Campo Experimental de

Piscicultura de Camboriú (CEPC)traz uma novidade promissora parao setor aquícola catarinense: aprodução de camarões marinhos emágua-doce. A técnica consiste naadição de sais minerais específicos naágua para corrigir os íons essenciaisà sobrevivência e ao crescimento docamarão, como cálcio, magnésio,potássio, sódio, sulfato e cloreto. Oprojeto foi motivado pela demandados produtores e contou comparticipação da Univali e apoio doLaboratório Estaleirinho e daempresa Guabi.

Na pesquisa foram utilizadoscinco sais minerais: cloreto de sódio,sulfato de magnésio, cloreto depotássio, cloreto de cálcio ebicarbonato de sódio, em quan-tidades baseadas em estudosrealizados em outros países. Aespécie utilizada foi o camarão--branco do Pacífico (Litopennaeusvannamei), que é o mais produzidocomercialmente no mundo. As pós--larvas foram colocadas em tanquesa uma densidade de 20 camarões pormetro quadrado e alimentadas comração comercial contendo 40% deproteína bruta. Diariamente, ospesquisadores monitoraram ooxigênio dissolvido, a temperatura eo pH da água.

Foram testadas duas con-centrações de sais: 0,1ppt (plantaspor mil, na sigla em inglês) e 1,0ppt.Embora a salinidade da água do marseja superior (35ppt), o desempenhodos cultivos nos tanques foi similaraos realizados em água salobra. “Osresultados apontaram sobrevivênciade até 90% em algumas unidadesexperimentais e peso médio final de8g, em 56 dias de cultivo”, conta opesquisador Hilton Amaral Júnior.

Pesquisa viabiliza cultivo de camarãomarinho em água-doce

Custo de produção

A próxima etapa prevê estudos deviabilidade econômica da utilizaçãodos sais, considerando o modelo decultivo semi-intensivo, que prevê umataxa média diária de renovação deágua de 10%. Mas os pesquisadoresadiantam que, assim como na águasalgada, os principais custos deprodução em água-doce são aaquisição das pós-larvas e da ração.“A adição dos sais minerais, segundocálculos preliminares, nãorepresentará mais do que R$ 1,00 decusto total por quilo de camarãoproduzido. Dessa forma, dependendodo manejo aplicado e das condiçõesclimáticas e ambientais, cultivos emágua-doce podem ser competitivosdiante dos realizados em águasalobra”, prevê Hilton. Além daavaliação econômica, serão feitosexperimentos com diferentes

concentrações de sais, outras fontesde água-doce e análises relacionadasao clima.

O trabalho pode ajudar aexpandir a carcinicultura no Estado,já que ainda não há cultivos decamarões marinhos em água-doce noSul do Brasil. “A pesquisa abre portaspara viabilizar o cultivo de camarõesmarinhos em regiões longe do mar epróximas a grandes centrosconsumidores, como Chapecó, Lages,Rio do Sul, Blumenau, Caçador etambém fora do Estado”, destaca opesquisador Giovanni Lemos deMello. Outra vantagem é com relaçãoàs enfermidades, já que a severidadedo vírus da mancha-branca diminuiconsideravelmente em água-doce.

Mais informações sobre o projetocom o pesquisador Hilton AmaralJúnior pelo fone (47) 3365-1319 oupelo e-mail [email protected].

Resultados apontam sobrevivência de até 90%

Page 7: Edição de julho de 2010

6 Agropecuária Catarinense, v.23, n.2, jul. 2010

Uma pesquisa de manejo desolo conduzida por 20 anospela Empresa Brasileira de

Pesquisa Agropecuária (Embrapa) epela Universidade Federal Flu-minense confirma a eficácia dosistema de plantio direto comoprática de conservação do carbono nosolo. O estudo mostra que o plantioconvencional acumula cerca de duasvezes menos carbono orgânico do queo plantio direto: sistema quepreconiza a semeadura semrevolvimento do solo e a permanênciados restos culturais da lavouraanterior como palha de cobertura.

O grupo pesquisou a correlaçãoentre a emissão de gás carbônico paraa atmosfera e a presença de carbonoacumulado pela matéria orgânica emmacroagregados – conjuntos departículas que apresentam diferentesformas, graus de estabilidade eclassificação de tamanho. Para

Plantio direto reduz emissão de carbono pelo soloconduzir a pesquisa foram coletadasamostras de Latossolo Vermelho em16 pontos, sob plantio direto e plantioconvencional, do campo experimentalda Embrapa Soja, em Londrina, PR.Nessa área, por 20 anos, houvesucessão de soja no verão e trigo noinverno. Nos últimos 12 anos, foirealizada rotação de cultivo de milhono verão e tremoço e aveia-preta,como plantas de cobertura, noinverno.

O experimento conclui que o solo,sob plantio direto contínuo, evita que79,4kg de carbono por hectare/horasejam emitidos para a atmosfera. Nosolo sob plantio convencional odesempenho foi 63,3% menor. Apesquisa mediu também amostras desolo de floresta como sistema dereferência. “Apesar de as áreasagrícolas emitirem gases de efeitoestufa, os sistemas conservacionistas,como plantio direto, são os que mais

se aproximam do ambiente naturalde floresta”, explicam os pes-quisadores.

Fonte: Embrapa.

Mais de 1 milhão de famíliasestão associadas acooperativas em Santa

Catarina. O anúncio foi feito pelopresidente da Organização dasCooperativas do Estado de SantaCatarina (Ocesc), Marcos AntônioZordan, ao apresentar o desempenhodo setor em 2009 – período em queas 257 sociedades cooperativasfaturaram R$ 11,3 bilhões, 2,2%acima do ano anterior.

O resultado revela que, em 2009,o número de associados cresceu 17%,subindo para 1.005.783, e o númerode empregados aumentou 6%,passando para 31.815. Ascooperativas pagaram R$ 536,3milhões em impostos (aumento de10%) e fecharam o exercício compatrimônio líquido 15% maior, ouseja, R$ 2,8 bilhões.

Zordan observa que a redução donúmero de cooperativas em 3% e oaumento no número de associados

Cooperativas catarinenses faturam R$ 11,3 bilhõesrevelam que as organizações pro-moveram fusões e incorporações pararacionalizar gastos. “Outro aspectoimportante é a adequação de práticasde controle e manutenção dos ativosque os gestores das cooperativasexperimentaram”, explica.

O ramo agro-pecuário catari-nense encerrou oano com 51 coope-rativas, duas amenos que no pe-ríodo anterior, mascom aumento de 4%do quadro social,que ficou com62.944 cooperados.O setor manteve aposição de maiorempregador dosistema coopera-tivista, com 20.933colaboradores. Ofaturamento caiu

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Sistema retém duas vezes maiscarbono no solo que o plantioconvencional

1%, totalizando R$ 7,3 bilhões. Aomesmo tempo, a carga tributária teveaumento nominal de 4% e opatrimônio líquido das cooperativasdo setor cresceu 10%, fechando operíodo em R$ 1,3 bilhão.

Fonte: Ocesc.

Setor agropecuário é o maior empregador do sistemacooperativista

Page 8: Edição de julho de 2010

7Agropecuária Catarinense, v.23, n.2, jul. 2010

Solos mal manejados podemconter bactérias, fungos,nematoides, insetos e até

plantas espontâneas que, de-pendendo da quantidade, prejudicamos cultivos. “Para controlar essesagentes de doenças, costumam-seaplicar perigosos venenos que, umavez no solo, fogem do controle doaplicador, podendo afetargravemente o equilíbrio ambientalpor contaminação de lençóisfreáticos, córregos e mananciais”,alerta o fitopatologista e engenheiro--agrônomo José Angelo Rebelo, daEpagri/Estação Experimental deItajaí. Uma alternativa ecológica,simples e barata para se livrar dessasinconveniências é a solarização.

O método consiste no aque-cimento do solo por meio da luz solardurante um determinado tempo. Eleé ideal para sistemas de produçãoagroecológica, tanto em cultivo emabrigo quanto em áreas abertas, mastambém pode ser util izado naagricultura convencional.

O primeiro passo é revolver o soloem uma camada de aproxima-damente 25 a 30cm. Em seguida, eledeve ser bem molhado em toda essaprofundidade. Para checar se aumidade está uniforme, basta tiraruma fatia de terra com a pá. “Parasaber se a umidade é ideal, oagricultor pode apertar um punhadode terra na mão. Se não verter águaentre os dedos, não há excesso deágua. E se a terra formar um torrãoe não se quebrar quando a mão foraberta, não há falta”, orienta Rebelo.

Em seguida, a área é coberta complástico agrícola transparente de pelomenos 0,1mm de espessura. Oplástico deve ter 1m de borda a maisque o tamanho da área a ser tratadae as laterais devem ser presas comterra sobre toda a extensão da borda.

Ciclo de calor

Com a ação do sol, um processohidrotérmico se estabelece sob oplástico. “A água do solo evapora e

Solarização: prática ecológica que garante solo saudável

se condensa embaixo do plástico,preservando o calor. Depois, a águacondensada volta ao solo e o ciclo serepete, o que permite que atemperatura do solo se eleve,alcançando entre 45 e 55oC, e assimpermaneça durante o dia”, detalha oagrônomo. O tempo de exposiçãovaria de 30 a 60 dias e depende defatores como a região e as condiçõesclimáticas.

Nesse processo, a permanência docalor no solo durante um longoperíodo elimina microrganismos epatógenos prejudiciais às lavouras.“A vantagem é que a solarização nãoesteriliza o meio e não prejudica osmicrorganismos de interesse à vidado solo e das plantas, que suportamaté 70oC. Cada ser tem sua funçãobiológica no ambiente e eliminá-lopor esterilização é um erro. O que seobtém com a solarização é a reduçãode indivíduos, tirando o poder dedisseminação de cada população-

-alvo”, informa o fitopatologista.Outro benefício da solarização é queo processo favorece a decomposiçãoda matéria orgânica, dispo-nibilizando os nutrientes da terrapara as plantas, que crescem maisresistentes e saudáveis.

Após receber essa técnica, a terraestá pronta para ser adubada. Nosolo de abrigo de cultivo, recomenda--se aplicar matéria orgânica decompostagem em cova ou em sulco.A solarização, que deve ser feita noverão, é indicada na preparação daárea quando se pretende iniciar aprodução em abrigo e sempre quesurgirem doenças de solo que fujamdo controle do agricultor.

A técnica é repassada aosagricultores e técnicos por meio devisitas à Epagri/Estação Expe-rimental de Itajaí. Mais informaçõespodem ser obtidas com o engenheiro-agrônomo José Angelo Rebelo pelofone (47) 3441-5223 ou pelo [email protected].

Permanência do calor no solo elimina microrganismos prejudiciais às lavouras

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Page 9: Edição de julho de 2010

8 Agropecuária Catarinense, v.23, n.2, jul. 2010

Até 2011, todas as propriedadesrurais do País devem passarpelo processo de geor-

referenciamento. A exigência vem daLei 10.267/2001 e do DecretoRegulamentador 4.449/02, queescalonou para um período de 10anos a adesão gradual de imóveis,iniciando com propriedades de maisde 5.000ha, passando depois para1.000ha e, desde novembro de 2008,para áreas acima de 500ha. A partirde 2011, imóveis rurais inferiores a500ha também terão de sermapeados.

O georreferenciamento é exigidopelo Instituto Nacional deColonização e Reforma Agrária(Incra) para compra ou venda deterras, desmembramento, remem-bramento e transferência detitularidade de propriedades. Aexigência também é feita por algunsbancos para concessão definanciamento.

Para fazer o mapeamento, oprodutor deve contratar um

Propriedades rurais devem ser georreferenciadas

profissional especializado, habilitadopelo Conselho Regional deEngenharia, Arquitetura eAgronomia (Crea) e credenciado peloIncra. Em seguida, o material écertificado pelo Instituto e a terceiraetapa é a averbação no Cartório deRegistro de Imóveis.

A lei prevê que o georrefe-renciamento seja gratuito parapropriedades com tamanho inferior aquatro módulos fiscais (medida quevaria de 10 a 100ha, de acordo com aregião do País). De acordo com osuperintendente substituto do Incra

em Santa Catarina, José dos Santos,as despesas, nesse caso, ficam porconta do Instituto. A cartógrafaJuliana Mio, da Epagri/Centro deInformações de Recursos Ambientaise de Hidrometeorologia de SantaCatarina (Ciram), destaca que, emSanta Catarina, cerca de 90% daspropriedades rurais têm até quatromódulos fiscais de área.

O que é

De acordo com AdilsonZamparetti, engenheiro civil daEpagri/Ciram, georreferenciamentode imóvel rural é a descrição ematerialização do imóvel em seuslimites, características e con-frontações, por meio de memorialdescritivo executado por profissionalhabilitado, contendo as coordenadasdos vértices georreferenciadas aoSistema Geodésico Brasileiro, comprecisão posicional igual a 50cm oumenor.

Opolicarbonato alveolar é umaliado dos agricultores depaíses desenvolvidos na

proteção de lavouras contra chuvasexcessivas, frio, geadas, ventosfortes, calor intenso e ataques deinsetos e animais. No Brasil, oproduto é mais usado em arquiteturade exteriores, sendo ainda poucoaplicado no segmento agrícola. Paradisponibilizar essa tecnologia aosagricultores brasileiros, umaempresa nacional está importandoplacas de policarbonato alveolardesenvolvidas especialmente parauso agrícola.

A placa, com 8mm de espessura,recebe, na fabricação, uma proteçãoantirraios UVA e UVB e opolicarbonato desenvolvido emlaboratório, que atua como filtroespecial. O policarbonato reflete a

Material especial protege lavouras de ações nocivasradiação de cor verde de volta àatmosfera, deixando passar asdemais cores do espectro luminoso.As placas de Polycoolite apresentamaspecto levemente esverdeado nolado externo e quando vistas porbaixo têm coloração branca.

O uso das placas em estufas trazcomo maior benefício o resultado depesquisas comprovadas nos EstadosUnidos e em outros países: indicamque as plantas gastam energiadesnecessariamente para refletir acor verde. Sob as placas, elas usamessa energia para se desenvolver ecrescem mais rápido.

O material é resistente, leve, fácilde montar e manusear. Os produtosestão disponíveis para todo o Brasil.

Mais informações: http://www.placplus.com.br.

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Serviço é gratuito para propriedadesinferiores a quatro módulos fiscais

Pesquisas indicam que as plantascrescem mais rápido sob as placas

Page 10: Edição de julho de 2010

9Agropecuária Catarinense, v.23, n.2, jul. 2010

Ao longo dos anos, o arroz queia à mesa das famílias ruraisde Guaraciaba, no Extremo

Oeste Catarinense, deixou de serproduzido nas propriedades para sercomprado no supermercado. “Em2004, constatamos que 75% dasfamílias das Microbacias de LajeadoOuro Verde e Rio Flores nãocultivavam mais o arroz queconsumiam”, conta o engenheiro--agrônomo Clístenes Guadagnin,extensionista da Epagri/EscritórioMunicipal de Guaraciaba. Foi quandoa Epagri e o Microbacias 2, emparceria com o Núcleo de Estudos emAgrobiodiversidade da UniversidadeFederal de Santa Catarina (UFSC)criaram um projeto para estimular aprodução de arroz sequeiro semagrotóxicos para a alimentação dosagricultores.

Sementes de mais de 30variedades locais, mantidas hádécadas por famílias da região, foramresgatadas e avaliadas em unidadesexperimentais de pesquisaparticipativa. “Há variedades comciclo precoce e tardio, de diferentescores que, produzidas semagrotóxicos, são extremamentesaudáveis e têm qualidadenutricional diferenciada”, destacaClístenes. Em 2005, foi criado o KitDiversidade, um conjunto desementes crioulas que sãodistribuídas entre as famílias parapromover a alimentação de acordocom princípios da agroecologia. “Ao

Arroz sequeiro melhora alimentaçãode famílias

reduzir a aquisição de insumosexternos, as famílias economizam eutilizam melhor os recursos daspropriedades”, conta o técnicoagrícola Adriano Canci, facilitadordas microbacias beneficiadas.

Há quatro safras, ações depesquisa participativa avaliam asvariedades em diferentes condições

Agricultores economizam e aproveitam os recursos das propriedades

e épocas para conservar adiversidade e melhorar a qualidadegenética das sementes. “Consi-derando tratar-se de arroz de terrasaltas, que é cultivado sem irrigaçãoe apenas com adubação orgânica deaves e, em algumas propriedades,com pó de basalto, a produçãoalcançada, de até 8t/ha, é superior àmédia catarinense em cultivos comtecnologia semelhante”, apontaAdriano. Com esses resultados, asfamílias têm abastecimentogarantido e produzem excedentesque são comercializados ou trocadosentre vizinhos.

No ano agrícola 2008/09, asprodutividades foram menores quenos anteriores devido à estiagem queafetou a região. Mesmo assim,

algumas variedades produziramsatisfatoriamente. “Para minimizarproblemas com a seca, os agricultoresbuscam escalonar o período deplantio e utilizar a diversidade devariedades existentes com ciclosdiferenciados de forma que, seocorrer estiagem, ela não coincidacom o momento mais crítico da

cultura, que é o florescimento”,explica Clístenes.

Em 2004, apenas 150 famílias deGuaraciaba plantavam o arroz queconsumiam. Hoje são mais de 400. Aprodução no município abrange 60hadivididos em áreas que vão de 400 a5.000m2. A partir dessa iniciativa,foram desenvolvidos trabalhossemelhantes em Princesa, BarraBonita, Paraíso, Anchieta eBandeirante. “As famílias passam aconhecer novas variedades e, agora,estão se preocupando mais com aprodução de alimentos para sustentofamiliar: não só de arroz, mastambém de feijão, verduras, legumese frutas”, destaca Leandro Hübner,técnico agrícola da Epagri/EscritórioMunicipal de Princesa.

Menos água

Também chamado de arroz deterras altas, o arroz sequeiro éproduzido em regiões onde não épossível trabalhar com irrigaçãoem patamares. Estima-se que25% do arroz produzido nomundo sejam oriundos dessesistema de cultivo.

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10 Agropecuária Catarinense, v.23, n.2, jul. 2010

Estudo realizado na Uni-versidade Estadual Pau-lista (Unesp) revela o

potencial do abacate na produção debiodiesel. Segundo os pesquisadores,a vantagem do fruto em relação aoutras oleaginosas é que ele forneceas duas principais matérias-primasdo biodiesel: óleo (da polpa) e álcooletíl ico (do caroço). “O objetivoprincipal da pesquisa era a extraçãodo óleo para produção de biodiesel.

Abacate pode ser alternativa para produzir biocombustível

Produtores que investem emrecuperação de áreasdegradadas e plantio de

florestas para uso industrial contamcom estímulo de duas linhas definanciamento do Ministério daAgricultura, Pecuária e Abas-tecimento (Mapa). O Programa dePlantio Comercial e Recuperação deFlorestas (PropFlora), com limite deR$ 200 mil/ano por agricultor,destinou, em 2009, cerca de R$ 250milhões para o plantio de 150 milhõesde mudas de eucalipto ou 25 milhõesde seringueiras. O Programa deIncentivo à Produção Sustentável doAgronegócio (Produsa) concede atéR$ 300 mil/ano por beneficiário ou,quando se tratar de projetosprodutivos em áreas degradadas, atéR$ 400 mil/ano.

O governo federal tem de-senvolvido políticas para apoiar asilvicultura sustentável no País.Além do Programa Nacional de

Mapa incentiva plantio de florestasFlorestas, coordenado pelo Ministériodo Meio Ambiente, o Plano Nacionalde Agroenergia, do Mapa, desenvolveações de incentivo às florestasenergéticas. Já os agricultoresfamiliares têm acesso a R$ 36 mil/ano do Programa Nacional deFortalecimento da AgriculturaFamiliar Florestal (Pronaf Florestal),

embarques de celulose e papeldestinam-se, principalmente, aEstados Unidos, China, UniãoEuropeia e Argentina. A participaçãoda commodity no Produto InternoBruto (PIB) atingiu 3,5%, ou US$37,3 bilhões no ano passado.

Fonte: Mapa.

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-de-açúcar, que possibilita a extraçãode 85 litros por tonelada.

que seja possível extrair 74 litrosde álcool por tonelada de caroço. Ovalor é próximo ao da cana-de-açúcar,que possibilita a extração de 85 litrospor tonelada.

O Brasil é o terceiro produtormundial de abacate, com cerca de 500milhões de unidades colhidas porano. Apesar disso, o óleo do frutoainda é importado, pela falta detecnologias adequadas para oprocessamento. O principal obstáculoé o alto teor de umidade – o abacatetem cerca de 75% de água –, que afetao rendimento da extração do óleo.Esse foi um dos desafios que apesquisa se propôs solucionar:aperfeiçoar metodologias de extraçãopara obter melhor rendimento.

Fonte: Agência Fapesp.

Mas, ao tratarmos o resíduo, que é ocaroço, conseguimos obter álcooletílico. Isso, por si só, é uma grandevantagem, já que da soja é extraídosomente o óleo e a ele é adicionadoálcool anidro”, explica Manoel Limade Menezes, coordenador da pes-quisa.

O teor de óleo do abacate varia de5% a 30%. As amostras coletadas naregião de Bauru, SP, apre-sentaram,no máximo, 16%, índice similar ao dada soja na região (18%). “Teo-ricamente, é possível extrair de 2,2mil a 2,8 mil litros de óleo por hectarede abacate, enquanto o óleo extraídoda soja rende de 440 a 550L/ha e ode mamona, de 740 a 1.000L/ha”,afirma Menezes.

O caroço do abacate tem 20% deamido. Com base nesse percentual,estima-se que seja possível extrair 74litros de álcool por tonelada decaroço. O valor é próximo ao da cana-

A polpa fornece o óleo e, com o caroço,se produz álcool etílico

Mercado florestal representou 11% das exportações doagronegócio brasileiro em 2009

do Ministério deD e s e n v o l v i m e n t oAgrário.

O mercado flo-restal contribuiu com11% do total dasexportações do agro-negócio brasileiro,alcançando US$ 7,2bilhões em 2009. Asoma corresponde àvenda de celulose(US$ 5,8 bilhões) epainéis, móveis,madeira serrada ecompensados. Os

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11Agropecuária Catarinense, v.23, n.2, jul. 2010

Cerca de 2 mil alunos de 13escolas de Monte Carlo, SC,estão experimentando uma

merenda mais saborosa na hora dorecreio. Desde março, produtos comobolo, pão caseiro, doce em pasta, mel,feijão, alface, beterraba, repolho,pinhão, cenoura, batata-doce,abobrinha, abóbora e maçã, pro-duzidos por agricultores familiares domunicípio, fazem parte do cardápio.“A satisfação é notória, prin-cipalmente quando os alunoscomparam os produtos caseiros comindustrializados”, comenta oextensionista João Rogério Alves, daEpagri/Escritório Municipal deMonte Carlo.

O processo iniciou em 2009,quando a Prefeitura, com apoio daEpagri e do Sindicato de Tra-balhadores Rurais, organizou osagricultores e implantou o Programade Aquisição de Alimentos daAgricultura Familiar (PAA) para a

Produtos da agricultura familiar enriquecem merendaalimentação escolar. Para esteprimeiro ano, nove agricultoresatenderam a chamada pública daPrefeitura.

A iniciativa vai injetaraproximadamente R$ 52 mil narenda das famílias participantes aolongo de 2010. Segundo o ex-tensionista, o programa valoriza osprodutores locais, oportunizandouma nova atividade geradora derenda nas propriedades. “Osagricultores garantem a venda daprodução a preços justos diretamenteà Prefeitura, sem a interferência deatravessadores”, acrescenta. A metapara os próximos anos é aumentar onúmero de famílias envolvidas.

Incentivo

A Lei Federal no 11.947, de 16 dejunho de 2009, estabelece que do totaldos recursos repassados pelo FundoNacional de Desenvolvimento da

Educação (FNDE), no âmbito doPrograma Nacional de AlimentaçãoEscolar (PNAE), no mínimo 30%devem ser usados na aquisição dealimentos diretamente da agri-cultura familiar.

OBrasil é recordista mundialno recolhimento deembalagens vazias de

agrotóxicos. Nos últimos 7 anosforam mais de 136 mil toneladas. Noano passado, o retorno chegou a 90%,índice superior a países comprogramas semelhantes. Canadá,Estados Unidos e Japão, porexemplo, registram taxas em torno de20% a 30%.

A prática é obrigatória desde 2002pelo Decreto no 4.074, quedeterminou a responsabilidadecompartilhada entre agricultores,canais de distribuição, indústrias epoder público sobre a destinação domaterial. Antes da legislação, asembalagens eram enterradas,queimadas ou jogadas em rios.

De acordo com a regra, o produtordeve fazer a tríplice lavagem eperfurar a embalagem para evitar areutilização. O recipiente pode ficararmazenado na propriedade por até1 ano e o proprietário tem que

Brasil é líder na destinação de embalagens de agrotóxicosdevolvê-lo e guardar o comprovantepor mais 1 ano para fins defiscalização.

Revendas, cooperativas edistribuidores são obrigados acolocar, na nota fiscal, o local derecebimento das embalagens. NoBrasil, são mais de 400 centrais epostos de recolhimento. Para fecharo ciclo, os fabricantes recolhem essematerial e dão o destino correto.

de comercialização, além de orientaros agricultores sobre o procedimentocorreto. Segundo o coordenador deAgrotóxicos do Mapa, Luís EduardoRangel, a fiscalização é regida pelasleis de agrotóxicos e de crimesambientais. “As multas podemchegar a R$ 1 milhão”, alerta.

Fonte: www.agricultura.gov.br.

Estudantes aprovaram o novo cardápio

Calcula-se que 95%das embalagensvazias de agrotóxicospossam ser recicla-dos.

O poder público,representado peloórgão de defesaagropecuária decada Estado, fisca-liza e, ao lado doMinistério da Agri-cultura, Pecuária eAbastecimento (Ma-pa), fornece a licença Calcula-se que 95% desse material possam ser reciclados

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12 Agropecuária Catarinense, v.23, n.2, jul. 2010

Aredução na produtividade ena qualidade do arrozirrigado colhido a partir do

final de fevereiro deste ano tem sidopercebida entre representantes dediversos segmentos da cadeiaprodutiva em Santa Catarina,incluindo agricultores, técnicos eindústrias. De acordo com DomingosSávio Eberhardt, engenheiro-agrônomo da Epagri/EstaçãoExperimental de Itajaí, a causa maisprovável para o fenômeno é acoincidência de temperaturaselevadas com o períodoreprodutivo do arroz. “Noperíodo vegetativo, namaioria das vezes, não seobservam grandes pro-blemas no desenvo-lvimento associados àselevadas temperaturas. Poroutro lado, estressesocorridos no períodoreprodutivo geralmenteestão associ-ados areduções signi-ficativas naprodutividade e naqualidade do arroz”, ex-plica.

O pesquisador escla-rece que, na fase dediferenciação do primórdiofloral, as temperaturaselevadas provocam re-dução no número deespiguetas da cultura.“Quando elas ocorrem nasfases de emergência dapanícula e antese, acar-retam aumento naesteril idade das espi-guetas. Já na fase dematuração, altas tem-peraturas causam reduçãono tamanho dos grãos e,principalmente, baixaqualidade, associada agrãos quebrados, gessadose manchados”, detalha.

Altas temperaturas afetam produtividade equalidade do arroz irrigado no Estado

No primeiro trimestre do ano, aEpagri/Centro de Informações deRecursos Ambientais eHidrometeorologia (Ciram) registroudiversos dias com temperaturaselevadas. Com o objetivo deinvestigar a relação entre aocorrência desses eventos nas regiõesrizicultoras do Estado e os danoscausados pelas altas temperaturas àprodutividade do arroz, o pesquisadordesenvolveu um estudo.

Domingos explica que, emestações meteorológicas localizadas

próximo às áreas de produção de arrozirrigado, foram registradastemperaturas iguais ou superiores a35OC. “Quando ocorrem even-tualmente, elas podem ser con-sideradas normais para as regiõesnessa época do ano. No entanto, noinício de fevereiro, ocorreram váriosdias consecutivos com temperaturasacima desse patamar, fato que podeser considerado atípico”, ressalta opesquisador.

Domingos lembra ainda que, demaneira geral, as temperaturas

máximas diárias regis-tradas em fevereiro estãoacima da média dasmáximas históricas re-gistradas nesses locais.Outro fator que deve serconsiderado é que essastemperaturas são re-gistradas em abrigos, como termômetro à sombra, oque pressupõe que, naslavouras, a temperaturaseja superior devido àexposição direta ao sol.

O estudo revelou que astemperaturas elevadasregistradas nos dezprimeiros dias de fevereiroprejudicaram a pro-dutividade e a qualidade doarroz nas lavouras cujacolheita foi processada,principalmente, entre o finalde fevereiro e o início deabril. O pesquisadordestaca, ainda, que outrosperíodos de altastemperaturas em fevereiro emarço também podem terreduzido a pro-dutividade ea qualidade dos grãoscolhidos no Estado.

Mais informações com oengenhe i ro -ag rônomoDomingos Sávio Eber-hardtpelo fone (47) 3341-5217 oupelo [email protected].

Temperaturas máximas diárias registradas em janeiro,fevereiro e março de 2010 em sete estações meteorológicas deSanta Catarina

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13Agropecuária Catarinense, v.23, n.2, jul. 2010

Para Schumpeter, economistaaustro-americano de renome,as empresas e outras formas

produtivas de organização devem setornar competitivas “por meio denovas mercadorias, novastecnologias, novas fontes de oferta,novos tipos de organização – aconcorrência comanda umavantagem decisiva de custo ouqualidade e atinge não a fímbria doslucros e das produções das firmasexistentes, mas suas fundações e suaspróprias vidas”.

A competição por inovaçãoavança em aspectos novos, diferentesdos usuais, que são a concorrênciapor redução de custos, de logística,etc. Uma nova tecnologia de umadeterminada empresa, conglomeradoou organização joga por terra esforçostradicionais de empresas con-correntes.

Nesse sentido, diz Schumpeter, “apoderosa alavanca que, no longoprazo, expande a produção e reduzos preços é feita de outro material”.Os estudos do economista sobreinovação concluem que o processo éinevitável – é preciso aprender econviver com a “destruição criativa”,segundo o entendimento doeconomista. Trata-se de um “processo

Destruição criativaEdson Silva1

de mutação industrial, queincessantemente revoluciona aestrutura econômica a partir dedentro, incessantemente destruindoa velha, incessantemente criandouma nova. Esse processo de‘destruição criativa’ é o fato essencialacerca do capitalismo”.

Esta teoria de Schumpeter podeser perfeitamente adaptada à nossarealidade. A necessidade dessaconstante geração de tecnologias e

meio de recursos oriundos do PAC,Finep, Fapesc, emendas parla-mentares e mesmo os denominadosrecursos próprios.

Em diversas áreas a Epagri estáarticulando, montando ouexecutando projetos que resultarãoem avanços significativos empesquisa e inovação revertidos paraa sociedade catarinense. Para citaralguns exemplos, é sabido que, apartir da década de 80 do séculopassado, a vitivinicultura cata-rinense teve crescimento naqualidade de seus produtos, devidoao trabalho desenvolvido na Empasc(empresa de pesquisa agropecuáriaque antecedeu a Epagri).Atualmente, a necessidade dedesenvolvimento dos vinhos dealtitude exige um novo saltotecnológico que, certamente, teráconsequências positivas na suacompetitividade. Nesse sentido,convênios com a província de Trento,na Itália, e projetos da Finep e daFapesc permitirão à Epagri, embreve, gerar mais informações paraatender as demandas do setorprodutivo.

Na cadeia produtiva do arroz, aoassumir a pesquisa de arroz orgânicoe introdução de variedades comoarroz preto e vermelho, no Centro deTreinamento de Araranguá (Cetrar),preenche-se uma lacuna na pesquisaestadual, seja pelos temas propostos,seja no gerenciamento desta área,que vem sendo realizado de formainovadora na Epagri.

Na cultura da maçã, o ProjetoInova Maçã, numa parceriaenvolvendo instituições nacionais eda França, representa um desafioque certamente é fator de renovaçãoda pomicultura. Numa açãoestratégica montou-se o projeto degermoplasma, que visa desenvolvere explorar nossa herança natural e atrazida pelo colonizador.

Na área ambiental, a Epagri deveresponder aos anseios da sociedadena previsão meteorológica,zoneamento agrícola e tecnologiasambientais. O projeto Mata Atlânticadeve, em breve, ampliar a oferta dedados à sociedade no tocante apreservação ambiental, estudos dedesastres e economia ambiental.

1 Eng.-agr., Dr., Diretor de Ciência, Tecnologia e Inovação da Epagri, C.P. 502, 88034-901 Florianópolis, SC, fone: (48) 3239-5669, e-mail:[email protected].

“[...] crescimento econômico e cérebrosde alta qualidade – dois produtos

absolutamente necessários.”The Economist, maio 2010.

Em diversas áreas aEpagri está

articulando, montandoou executando projetos

que resultarão emavanços significativos

em pesquisa e inovação.

processos novos para manter acompetitividade da agriculturacatarinense tem movimentadoesforços para cada vez mais atenderas demandas do setor. Odesenvolvimento da infraestruturada pesquisa agropecuária, porexemplo, é uma realidade obtida por

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14 Agropecuária Catarinense, v.23, n.2, jul. 2010

Devemos ter projetos que rompamos espaços da perspectiva temporal.Para se avançar nestas áreas doconhecimento, bem como nas demais,é preciso ter equipes estruturadas eousadas. Também é necessária aliderança nos processos e noencaminhamento de soluções. AEpagri, além de contribuir eparticipar de projetos de outrasinstituições, tem condições de estarà frente com propostas inovadoras.Ideias de conectividade de sistemase estruturas que nos desenhem umsistema futuro são ferramentasatuais e oportunas. Temos quadroscom competência e expertise para tal.Assim, as possibilidades de gerartecnologias e inovações no setoragropecuário e pesqueiro sãoenormes, criando novos mercados,agregando valor à produção. Temosque ter projetos ousados, que seconfigurem em verdadeiros desafiose fatores de renovação. Enfim, criaro novo.

Novas cultivares de arroz irrigado da Epagri: além de maior produção,apresentam alta qualidade e são tecnologias exportadas para outros Estados epaíses

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15Agropecuária Catarinense, v.23, n.2, jul. 2010

Aimportância econômica esocial da agricultura familiarno Brasil é inegável. De um

total de 5,2 milhões de es-tabelecimentos rurais identificadospelo IBGE no Censo de 2006, 4,4milhões são classificados comofamiliares por possuírem no máximoquatro módulos rurais de área aserem exploradas util izandopredominantemente mão de obra dasfamílias proprietárias que nelasresidem. As propriedades familiaresconstituem 84% dos estabe-lecimentos, ocupam 80,25 milhões dehectares e representam apenas24,3% da área total ocupada pelaagropecuária brasileira. A áreamédia dos estabelecimentosfamiliares e não familiares é de 18,4e 309,2 hectares, respectivamente.

Na mesa dos brasileiros, aagricultura familiar contribui deforma significativa nos produtos dacesta básica. É responsável, napecuária, por 58% do leite, 60% dorebanho de suínos, 50% das aves e30% dos bovinos, e na agricultura,por 87% da produção de mandioca,70% da produção de feijão, 46% domilho, 38% do café, 34% do arroz,21% do trigo. No valor bruto daprodução agropecuária, a agriculturafamiliar contribuiu, em 2006, comcerca de 38% e foi responsável pelageração de mais de 12,3 milhões deempregos no campo, o quecorresponde a 74,4% do total de

Desafios e oportunidades para o desenvolvimentosustentável da agricultura familiar

Airton Spies1

pessoas ocupadas neste setor daeconomia brasileira.

O agronegócio brasileiro temnessa combinação do modelo deagricultura familiar com agriculturaempresarial uma de suas grandesfortalezas. A agricultura em-presarial, que opera em escala maiore contrata a mão de obra, já colocouo Brasil em destaque no cenárioglobal do agronegócio. Somos um paísreconhecido mundialmente pelaqualidade e competitividade daprodução de diversas cadeiasprodutivas, como frangos, suínos,bovinos de corte, cana-de-açúcar,

sustentável para manter a atividadedo campo para os atuais agricultorese os jovens que serão seus sucessoresse manterem ali com dignidade. Asprincipais opor-tunidades estãoassociadas à transformação daagricultura para um novo paradigma,no qual o foco está na susten-tabilidade, na qualidade dosprodutos, na segurança alimentar ena eficiência ecológica.

Produzir sem degradar:o desafio

Gerar renda suficiente paraassegurar boa qualidade de vida auma família, respeitando o meioambiente e preservando os recursosnaturais não é simples. Produzir comdegradação ambiental pode ser maisbarato hoje, mas certamenterepresenta um subsídio perverso, umsaque contra as futuras gerações.Sustentabilidade significa satisfazeras necessidades das gerações atuaissem comprometer a capacidade dasfuturas gerações de satisfazer assuas. Significa repassar às futurasgerações um estoque de recursosnaturais não inferior ao recebido dageração anterior. Significa sercompetitivo e ter a capacidade decontinuar existindo ao longo dotempo.

Então, como é possível fazergrandes negócios em pequenaspropriedades, de forma sustentável?

1 Eng.-agr., Dr., Diretor Geral da Secretaria de Estado da Agricultura e Desenvolvimento Rural, fone: (48) 3239-4032, e-mail:[email protected].

café, laranja e soja. Analistaseconômicos projetam o Brasil como omaior fornecedor de proteína animale um dos maiores produtores dealimentos do mundo nas próximasdécadas, por sua vocação e peladisponibil idade de fatores deprodução.

Apesar da importância daagricultura familiar no Brasil, naatualidade ela passa por grandesdesafios e também está diante degrandes oportunidades. O principaldesafio é gerar renda de forma

A agriculturafamiliar contribuisignificativamente

nos produtos da cestabásica.

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16 Agropecuária Catarinense, v.23, n.2, jul. 2010

Figura 1. A olericultura irrigada é uma das atividades de alta densidade econômica

Existem vantagens comparativas naagricultura familiar que podem sertransformadas em vantagenscompetitivas? A Figura 1 mostra umsistema de produção que gera granderenda em pequenas áreas de terra.

Estamos diante de um desafio quesó pode ser resolvido se a agriculturafamiliar se dedicar a atividades dealta densidade econômica, que sãoaquelas que produzem mais renda

milho, que são aqueles produtospadronizados, produzidos em grandeescala, util izando máquinas eprocessos automatizados. Ascommodities enfrentam o dilema dever seus preços históricos seajustando em torno da média do custode produção e, como consequência, osganhos de produtividade e eficiênciasão facilmente absorvidos pelomercado. As margens de lucro porunidade são pequenas, e ganharpouco sobre pouco não dá parasustentar uma família com boaqualidade de vida.

Para ter acesso ao mercado eviabilizar os negócios daspropriedades familiares, éfundamental que os produtores seorganizem, buscando formar escalasatravés de associações e cooperativas.A cooperação e a estruturação denichos de produção em forma dearranjos produtivos locais viabilizam

o acesso à tecnologia, a capacitaçãode mão de obra, a logística, oprocessamento para a agregação devalor e, principalmente, dão a escalacombinada que permite a visibilidadee o acesso ao mercado.

Modelo agrícola familiarredesenhado

O redesenho do modelo agrícolafamiliar requer que o sistema sejamontado com base em: a) atividadesque oferecem boa renda no curtoprazo para assegurar fluxo de caixa;b) atividades de segurança que dãorenda no longo prazo, mas com riscosmenores; c) atividades de sub-sistência para garantir uma mesafarta aos membros da família; d)alguma atividade de maior risco, masde maior retorno econômico (Figura2).

Produzir comdegradação

ambiental representaum saque às futuras

gerações.

por área de terra. Isso porque naagricultura familiar a terra é umfator escasso. É preciso sair dascommodities tradicionais como soja e

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17Agropecuária Catarinense, v.23, n.2, jul. 2010

Figura 2. Modelo de sistema de produção para a agricultura familiar

Dentre as atividades produtivasque preenchem essas característicasestão a produção de frutas,hortaliças, flores, plantasornamentais, leite, aves, suínos,ovinos, caprinos, peixes, mel eatividades que permitem agregarvalor através de agroindus-trialização. A produção de alimentos

Para ter sucesso, é imprescindívelque o agricultor familiar seprofissionalize. Novas atividadesprodutivas e tecnologias requeremnovas habilidades e competências;caso contrário, aumentam o risco.Melhorar a gestão das propriedadestambém é fundamental para acertarmais e errar menos nas decisões quedevem ser tomadas pelo produtor.Quem não controla seu negócio nãoconsegue administrar, e quem nãoplaneja também não gerencia, não

tem futuro, tem apenas destino. Amelhoria da gestão deve ocorrer nãoapenas em relação à área deprodução, mas também nas áreas demercado, administração financeira eadministração das pessoas napropriedade rural.

Dedicar-se a atividades de altadensidade econômica requer maisinvestimentos em tecnologias e,muitas vezes, em insumos mais caros,portanto aumentam os riscos em casode adversidades climáticas. Paraisso, é preciso o emprego da irrigação.Há poucas chances de termos umaagricultura familiar sustentável nascondições climáticas do Brasil sem ouso sábio e responsável da água comofator de produção. Investimentos emcaptação, armazenagem e usomultifuncional da água da chuva éuma necessidade inquestionável.Felizmente somos um país de índices

pluviométricos invejáveis; na RegiãoSul do Brasil, por exemplo, chove emmédia perto de 2.000mm por ano.Entretanto, ainda desperdiçamosessa vantagem comparativa.

Há muitas políticas públicas quejá não mexem mais o ponteiro dodesenvolvimento, como o créditorural de custeios de lavouras anuais.Elas devem ser substituídas porpolíticas estruturantes que sejamcapazes de deixar um legado para oprogresso da propriedade. Isso pode

ser atingido com crédito ruralsistêmico, que financia investimentosatravés de um projeto da propriedadecomo um todo, com prazos maislongos e com base no planejamento.

O que vemos é que a agriculturafamiliar está diante de enormesdesafios para transformar suasvantagens comparativas emvantagens competitivas. O que temospor certo é que a agricultura familiarnão vai acabar, mas deverá passarpor grandes transformações. Osagricultores familiares de sucessotêm como características oempreendedorismo e o profis-sionalismo, o trabalho com ética ecompetência e a responsabilidadeambiental. Também se exigecontínua atualização tecnológicapara gerar produtos que respeitem obem-estar animal e as exigências desegurança alimentar. Nesse sentido,é importante que as políticas públicaspara o meio ambiente troquem osincentivos negativos por incentivospositivos, através do pagamento por

orgânicos é outro campo fértil para aagricultura familiar por ser umsistema mais endógeno e porproduzir alimentos de maior valor nomercado.

Investimento emirrigação é uma

necessidadeinquestionável.

serviços ambientais gerados pelosagricultores.

A agricultura familiar precisareceber incentivos para seprofissionalizar e, assim, sair dapostura de “coitadismo”. Precisatrocar a postura de “ficar com o piresna mão”, na qual aguarda porsubsídios e por garantias do Estado,pela postura de “pegar as rédeas namão”, chamando o setor público paraser parceiro de seus projetos. Sóassim toda a sociedade reconheceráa importância desse segmento.

Políticas públicaspara o meio ambiente

devem incentivar opagamento por

serviços ambientais.

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18 Agropecuária Catarinense, v.23, n.2, jul. 2010

Cuidar das nascentes éfundamental para garantir oequilíbrio ambiental do

planeta e o fornecimento de água emqualidade e quantidade suficientespara a população. Por isso, elasdevem ser tratadas como verdadeirostesouros nas propriedades. “Aquantidade de água disponível temdiminuído e as dificuldades sãograndes para quem depende delapara sobreviver e obter lucros nasatividades que desenvolve”, aponta aextensionista do projeto Microbaciasem Dionísio Cerqueira, MariaAparecida Oliveira.

Uma técnica eficiente, simples,segura e barata criada para protegerfontes superficiais é o modeloCaxambu. Hoje difundido em todo oPaís, esse sistema resultou de umtrabalho conjunto realizado em SantaCatarina pela Secretaria dosNegócios do Oeste e pela Epagri, por

Fonte protegida, água preservada

Na comunidade de Campinho, em Dionísio Cerqueira, a fonte abastece 60 famílias

Vantagens do modelo Caxambu

- Tem baixo custo de construção.- Dispensa limpeza periódica da fonte.- Diminui a turbidez da água em épocas de chuva.- Evita o acesso de animais à fonte.- Diminui a possibilidade de contaminação bacteriológica da água.- Melhora as características físico-químicas da água.

meio do geólogo Mariano JoséSmaniotto e de extensionistas daregião de Chapecó, com apoio daPrefeitura de Caxambu do Sul e dosagricultores. “Com poucos materiaise sem muito trabalho, é possível terágua de melhor qualidade naspropriedades”, explica o exten-sionista de Epagri/EscritórioMunicipal de Dionísio Cerqueira,Marcos Alcides Furlan.

Outra vantagem é que, por sertotalmente fechada e isolada,impedindo o acesso dos animais, e porser cercada de mata ciliar, a proteção

evita a contaminação da água. A águada fonte pode ser destinada paraconsumo humano e animal, mas éimportante fazer análises antes deconsumi-la.

Marcio Fantinel, extensionista doMicrobacias 2, lembra que asproteções não são garantia dedisponibil idade de água para apropriedade. “A proteção garante quehaverá melhor aproveitamento dessaágua, sem perdas. Mas existemoutros fatores que determinam aquantidade de água e o principaldeles é a vazão da fonte”, destaca.

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19Agropecuária Catarinense, v.23, n.2, jul. 2010

A Epagri motiva as famíliasrurais para a preservação daágua, prestando assistência naproteção das fontes e apoiandoa organização dos agricultorespara a solução de problemas nascomunidades. Em todo o Estado,entre 2004 e 2009, o Microbacias2 fomentou a proteção oumelhoria de cerca de 15 milfontes.

Em Dionísio Cerqueira, maisde 580 fontes já foramprotegidas, garantindo melhorqualidade da água e de vida paraas famílias do município. Otrabalho resulta de umaparceria entre Epagri, técnicosdo Projeto Microbacias 2 eAssociações de Desenvolvimentode Microbacias. A construçãogeralmente é feita em mutirõese a Prefeitura participa com adoação dos tubos.

Material necessário

As quantidades variam deacordo com o tamanho dafonte.

- 1 tubo de concreto de 20cmde diâmetro

- 2 canos de PVC com 30cmde comprimento e 25mm dediâmetro (para o encanamento)

- 2 canos de PVC com 30cmde comprimento e 40mm dediâmetro (para cano ladrão e delimpeza)

- 1 tampa (conhecida como“cap”) de 40mm para o cano delimpeza

- 2 adaptadores de ½polegada e 2 luvas de 25mm por½ polegada

- cimento e tijolos- pedra-ferro- brita no 2- cacos de telha ou tijolo.

- mangueira para escoamento daágua durante a construção

- mangueira para encanamentoda água da fonte até o reservatório

- Preencha o reservatório compedra-ferro. Comece com asmaiores e finalize com as menoresaté que cubram completamente otubo de concreto.

- Coloque cacos de telha outijolo e, em seguida, cubra comuma camada de brita.

- Coloque uma boa camada deterra sobre a brita, recompondoo local, e plante grama paraevitar erosão.

- Tampe o cano de limpeza como “cap”, adapte as saídas de águae amarre um pedaço de tela nocano ladrão. A proteção nessecano, que escoa o excesso de água,evita que pequenos animaisentrem na fonte.

- Cerque o local para evitar oacesso de animais e planteespécies nativas ao redor da área.As árvores contribuem narecuperação da qualidade equantidade de água.

- Escoe a água da fonte commangueiras durante a cons-trução.

- Também é possível protegera fonte sem usar o tubo. Nessecaso, os canos são fixadosdiretamente no muro da fonteprotegida.

Riqueza hídrica emboas mãos

Mãos à obra

O procedimento pode sofreradaptações em função dasdiferenças de cada local.

- Concrete os canos de PVC notubo: o cano ladrão na parte superior,o de limpeza na parte inferior e oscanos para saída da água no centro.Preparado o tubo, deixe-o curando nasombra por uma semana e molhealgumas vezes para evitarrachaduras.

- Limpe bem o local de captaçãoda água. Tire toda a sujeira e matériaorgânica que ficaram misturadas como lodo.

- Abra uma vala em forma defunil.

- Limpe a vala e assente bem otubo de concreto. Para firmá-lo,construa um pequeno muro, que podeser de tijolo, pedra ou barro.

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Agropecuária Catarinense, v.23, n.1, mar. 2010

Pequenas agroindústrias revelam novohorizonte para o futuro da agriculturafamiliar no meio rural catarinense

Empreendedoresdo campo

1 Bacharel em Jornalismo, Epagri, C.P. 502, 88034-901 Florianópolis, SC, fone: (48) 3239-5682, e-mail: [email protected].

Cinthia Andruchak Freitas1

Empreendedoresdo campo

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21Agropecuária Catarinense, v.23, n.2, jul. 2010

Por trás das porteiras daspropriedades agrícolas deSanta Catarina funciona uma

rede de indústrias com faturamentoestimado em mais de R$ 200 milhõespor ano. Não se trata de grandesempresas com produções em largaescala e altos investimentos. É empequenas agroindústrias familiares,impulsionadas com mão de obra deagricultores, que essas riquezas sãoproduzidas. Na maioria dos casos,por pessoas acostumadas à lida coma terra, que sempre viveram nocampo e nunca sonharam que um diase tornariam empreendedoras.

De acordo com o engenheiro--agrônomo Osvaldir Dalbello, daEpagri/Gerência Regional deConcórdia, a Empresa já apoiou aimplantação de mais de 800agroindústrias familiares no Estado.“Estimamos que mais de 6 milfamílias estejam ligadas direta eindiretamente às agroindústrias emSanta Catarina”, calcula.

A atividade envolve cinco a seispessoas por empreendimento e geraaproximadamente R$ 24 milhões deImposto Sobre Circulação deMercadorias e Prestação de Serviços(ICMS) por ano. Os produtos sãovariados e se relacionam com asatividades agrícolas de cada região.Doces, conservas, fubá, erva-mate,ovos, alimentos minimamenteprocessados, artesanatos, derivadosde bovinos e suínos, do leite, do mel,da cana-de-açúcar, da uva, dopescado, da mandioca, da madeira ede grãos são alguns exemplos.

Mais do que gerar emprego erenda, as agroindústrias valorizam oprodutor rural e melhoram aqualidade de vida das famílias. Deacordo com Dalbello, a implantaçãodesses empreendimentos podeproporcionar a construção de umnovo modelo de desenvolvimentorural sustentável, que pensa o meiorural como um todo, e não apenasligado à produção agropecuária.“Eles oferecem a agricultoresfamiliares, mulheres e jovens umaoportunidade com condições maisfavoráveis para a permanência nocampo. Muitos jovens voltaram paracasa ou não saíram das propriedadescom a expectativa de conduzir umnegócio diferenciado que lhes

proporcione melhor qualidade devida”, explica.

Futuro em casa

Foi essa oportunidade que Joel, 22anos, e Tiago Silvestri, 25,encontraram na propriedade ondevivem com os pais, em Linha Azul,no município de Lindoia do Sul. Arenda da família, que vinha dasuinocultura, da produção de leite edo plantio de milho (e durante 19anos também veio do fumo), hoje écomplementada pelos lucros de umaagroindústria de massas e mandioca.

A Silvestri Alimentos abriu asportas em abril de 2009 no espaço deuma escola rural desativada que foicomprada pela família. “No começo,a gente ficou com um pouco de medo,pois não sabia se ia dar certo”, lembrao pai, Valentim. Mas com ajuda daEpagri, da Prefeitura e da VigilânciaSanitária, a família apostou no novonegócio.

As entidades apoiaram naelaboração da planta para reformaro espaço, no fluxo de produção daunidade, no sistema de saneamentoe até no desenvolvimento dos rótulos.“Enquanto era feita a adequação daunidade, fizemos a ‘lição de casa’ eauxiliamos na capacitação da famíliae no desenvolvimento de receitas,motivando e organizando o trabalhoem todos os aspectos, assim como nasexigências de legalização”, lembraOdete Forchesatto, extensionistarural da Epagri/Escritório Municipalde Lindoia do Sul.

Para se tornar empreendedora, afamília reformou o espaço comrecursos próprios e investiu mais R$5 mil no desenvolvimento de rótulose na legalização da atividade. Comfinanciamento de R$ 30 mil do PronafAgroindústria, compraram um carropara transportar os produtos,máquinas como amassadeira,cilindro, fogão industrial, freezer,seladora de pacotes, formas,cortadores para pastéis e tanque deinox. E com recursos do projeto deDesenvolvimento Territorial, doMinistério do DesenvolvimentoAgrário, adquiriram mesa de inox,panelas, bacias, bandejas, mais umfreezer e uma seladora.

A produção começou pequena,mas hoje já são fabricados oito tiposde massas, entre macarrão, agnolini,massa de lasanha e de pastel, alémde mandioca descascada e mandiocapalha. Todos os meses, cerca de 200kgde macarrão e 200kg de mandiocasão vendidos para o Programa deAquisição de Alimentos (PAA) e oPrograma Nacional de AlimentaçãoEscolar (PNAE), além de mercadosda região. As vendas rendem cercade R$ 1.700,00 líquidos por mês emelhoraram a qualidade de vida dafamília, que tem planos para ampliara produção.

Todos trabalham unidos.Valentim planta e processamandioca, faz as vendas e asentregas, além de cuidar das outrasatividades da propriedade. A mãe,Terezinha, faz os recheios e Tiago eJoel fazem as massas, embalam eetiquetam as mercadorias, além deajudar nas vendas e nas entregas.“Gosto do trabalho. Se não fosse essaoportunidade, eu já teria buscadooutra coisa na cidade”, afirma Joel,que costuma representar a empresaem feiras e outros eventos. O irmão,Tiago, já participou de cursosprofissionalizantes e também estásatisfeito com a atividade.

Para Terezinha, sem a ajuda dosfilhos a família não conseguiria

A atividade gera cerca de R$ 24milhões de ICMS por ano

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manter a propriedade e aagroindústria. “Nem em sonho penseique algum dia iria tocar um negócio.É uma atividade que gosto de fazer,apesar de ter que dividir o tempo comas tarefas da casa”, revela aagricultora.

Em Lindoia do Sul, há 12agroindústrias familiares quefabricam produtos como laticínios,doces, conservas, embutidos, pães,bolachas, mel e derivados da cana-de--açúcar. Elas fazem parte daCooperativa de Produção e ConsumoAgroindustrial Familiar de Lindoiado Sul (Coopafal), criada em 2004 poriniciativa da Prefeitura e da Epagripara organizar os agricultores nacomercialização de produtosdiferenciados.

A iniciativa, associada a outrasações de dinamização da economialocal, operou uma verdadeiratransformação no município, criandoempregos e reduzindo o êxodo rural.Estima-se que a criação dacooperativa tenha aumentado arenda das famílias rurais em cerca de30%. “É uma satisfação enorme verque alguém está se mantendo napropriedade com novas alternativasde renda, conforto e qualidade devida”, revela Odete.

Elas no comando

Outra transformação que asagroindústrias familiares têmpromovido no campo é a valorizaçãodo trabalho da mulher agricultora.“Muitos empreendimentos só foramviabilizados porque a mulher tomoua iniciativa de implementar e geriros negócios”, ressalta a extensionistaDiane Franz, da Epagri/GerênciaRegional de Concórdia.

Neusa Frison, de 48 anos, é umadessas mulheres. A família dela, quevive na comunidade de Três deOutubro, em Concórdia, produzmilho, leite e, por muito tempo,manteve um bar. Há cerca de 8 anos,Neusa começou a fazer pães,bolachas e cucas para vizinhos etambém sob encomenda. Os produtosficaram famosos na região e, 6 anosdepois, o bar deu lugar à Indústriade Panificados Delícias da Neusa.

Pão francês, de forma, decachorro-quente e de leite, cucas,bolos e 15 tipos de bolachas sãoalgumas das delícias produzidas napanificadora. A cada mês, sãovendidos cerca de mil quilos debolacha, 120 pães de forma, 12 a 16mil pães franceses e 1.200 a 1.600cucas. Para dar conta desse volume,trabalham na padaria, além deNeusa, uma funcionária e a filhamais nova, Cristiane, de 23 anos.“Gosto de trabalhar com isso. Se nãofosse a agroindústria, eu já teria idoprocurar outra coisa fora daqui”,revela a jovem, que pretendecontinuar o negócio iniciado pelamãe.

Os produtos vão para a merendade escolas municipais em Concórdiae em municípios vizinhos. A famíliatambém vende para mercados daregião, diretamente ao consumidor esob encomenda para festas e eventos.As entregas são feitas pelo pai,Jandir. “O carro já está pequeno. Àsvezes tenho que fazer duas viagens,de tão grande que é a encomenda.Tem festa que pede 180 cucas”, contaele, que não esconde a satisfação como negócio liderado pela esposa:“Tenho muito orgulho dela”.

A Epagri, em parceria com aPrefeitura, orientou a família naimplantação e na legalização do

estabelecimento e elaborou o projetode financiamento para equipar apadaria. Atentas às novidades,Neusa e Cristiane também par-ticipam de cursos profissionalizantesna área de produtos panificados econfeitaria oferecidos pela Empresa.“Além de aprender muita coisa, agente troca experiências, receitas eideias com as colegas”, conta Neusa.

O faturamento bruto mensal dapanificadora é de cerca de dezsalários mínimos, mas Neusa templanos de ampliar o negócio e visãode quem vai longe. “A melhor coisa éver que as pessoas gostam do que agente faz. Por isso, não podemosdescuidar da qualidade e temos queinovar, buscar coisas diferentes,porque as pessoas gostam denovidade”, afirma.

União

Tanto a panificadora de Neusacomo a agroindústria AlimentosSilvestri estão ligadas à Central dasCooperativas da AgriculturaFamiliar (Cecaf), uma rede decomercialização constituída por 13cooperativas singulares com 720produtores associados, representan-do 13 municípios da região daAssociação dos Municípios do AltoUruguai Catarinense (Amauc). Sãomais de 150 empreendimentos queelaboram 134 tipos de produtos.Esses estabelecimentos são unidadesoperacionais legalizadas pelascooperativas singulares, que gerammais de 800 empregos diretos. Alémdisso, cerca de 50% dos negócios sãogerenciados por mulheres. “Com ocooperativismo, é possível incluirpequenos agricultores no mercadoformal de maneira diferenciada esustentável”, afirma Diane.

A extensionista destaca que ascooperativas ajudam a resolver umdos principais problemas enfrentadosna implantação desses empreendi-mentos, que é a falta de organizaçãodos produtores. “De forma individual,a capacidade de investimento doprodutor é muito baixa e a mão deobra é escassa, o que dificulta aprodução de matéria-prima, oprocessamento, a comercialização ea gestão, pois nem sempre seencontram na família todas ascompetências para administrar um

Muitos empreendimentos, como o deNeusa Frison, são geridos por mulheres

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empreendimento. No coletivo, essasnecessidades podem ser supridas commais facilidade”, explica.

Por ser uma atividade complexa,que exige conhecimentos em diversasáreas, a agroindústria não pode seradotada por todos os agricultores.“Muitos sabem processar bem osalimentos, mas não gostam decomercializar produtos ou têmdificuldades na gestão de negócios”,justifica Dalbello. Por isso, antes deapostar nesse segmento, a principaldica para os produtores é buscarcapacitação.

Nova chance

Buscando uma alternativa parasobreviver no campo, depois de anosplantando fumo e de uma tentativafrustrada de produzir palmeira-real,Fabiano e Simone Bortolatto, dalinha Pascoalin, em Içara, acabaramvirando empresários. A agroindústriaOvos Nany foi inaugurada em 2005e surgiu, nas palavras do próprioFabiano, meio por acaso. “Quandoplantava palmeira-real, comecei acriar galinhas para fazer o controlede plantas espontâneas na lavoura eaproveitar o adubo. Tive problemascom a palmeira-real e desanimei,enquanto os ovos eram de qualidadee bem aceitos no mercado”, lembra.

O casal decidiu, então, implantarum aviário e um entreposto de ovos

caipiras dentro dos padrõesorientados pela Epagri. O primeiroaviário tinha capacidade para 300aves. O negócio cresceu e hojeFabiano e Simone têm instalaçõespara abrigar até 2 mil aves nosistema caipira, além de mil galinhasno sistema convencional e 4,5 milcodornas. “O apoio da Epagri nos deusegurança na mudança de atividade”,lembra o produtor.

Diariamente, a agroindústriaproduz 105 dúzias de ovos de

galinhas caipiras, 70 dúzias de ovosde galinhas convencionais e 80bandejas com 30 ovos de codorna. AOvos Nany atende todos os grandessupermercados de Içara, além defornecer produtos para o PAA e oPNAE. O faturamento líquido giraem torno de R$ 2 mil.

Em busca da legalização doproduto, Fabiano participou domovimento para a criação do Serviçode Inspeção Municipal (SIM) junto àPrefeitura, que garante o livrecomércio de produtos de origemanimal no município. Durante aimplantação da indústria, tambémparticipou como sócio fundador daCooperativa da Agricultura e PescaFamiliar de Içara (Coopafi).

Como os ovos têm qualidadecomprovada e grande aceitação dosconsumidores, há demanda decomercialização fora do município eaté em outras regiões do Estado. Paraviabilizar a ampliação dessemercado, a Epagri está trabalhandopara implantar o Sistema Unificadode Atenção Agropecuária (Suasa),que permitirá às agroindústriasinspecionadas no SIM comercializarem todo o território nacional. “Temostentado ao máximo tirar osobstáculos para que as pequenasagroindústrias se viabilizem noespaço rural e pesqueiro. Primeiroestimulamos a implantação do SIM.Agroindústria Ovos Nany foi determinante para a família Bortolatto permanecer no campo

Cooperativas organizam pequenos produtores e os incluem no mercado formal

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Depois, fomentamos a criação daCoopafi, que organiza as agro-indústrias viabilizando a questãotributária dos empreendimentos,dividindo encargos e possibilitando acomercialização através de umaúnica nota para os associados”,lembra Marcelo Pedroso, médico--veterinário da Epagri/EscritórioMunicipal de Içara.

Antes de implantar aagroindústria, Fabiano e Simonechegaram até a pensar em deixar omeio rural. Mas essa ideia ficou nopassado e agora eles sabem que ofuturo da família está no campo.“Nossa vida melhorou bastante.Assim, a gente fica perto das nossasfilhas. Estamos contentes e gostamosdo que fazemos”, revela Fabiano. Ocasal até faz planos para o futuro dasfilhas Tuani, de 9 anos, e Antonela,de quase 1 ano. “Vou dar força paraque pelo menos uma delas continueo negócio da família”, planeja o pai.

Cabeça erguida

O trabalho da Epagri tambémtem ajudado os produtores a sair dainformalidade. É o caso de DárioSchuelter e dos filhos Marco Aurélio,Gregório José e Carlos Alberto, quedurante 10 anos mantiveram emPirabeiraba, Joinvil le, umabatedouro de suínos e bovinosclandestino. Em 2006, após umadenúncia, o serviço de inspeçãosanitária fechou o empreendimento.“Já tinha tentado legalizar oestabelecimento no passado, mas nãoconseguia por conta da burocracia”,lembra Dário.

Sem a única fonte de recursos dafamília, o produtor procurou aEpagri, que orientou a família paraconstruir um abatedouro de acordocom as regras da legislação.“Começamos uma grande relação detrabalho e confiança”, conta oengenheiro de alimentos HenrryPetcov, da Epagri/Gerência Regionalde Florianópolis. A Empresaassessorou a família na concepção doprojeto, na implantação, na execuçãoda obra, na regularização sanitária,ambiental e fiscal, no treinamento emboas práticas de fabricação e naqualidade da carne.

No período em que o abatedouroficou fechado, dois dos filhos tiveramque trabalhar na cidade. “Levamos 1ano para conseguir liberação daprefeitura e mais 1 ano paraconstruir”, conta Dário. Vencidas asdificuldades, em outubro de 2008 oAbatedouro Comu-nitário Schuelterfoi inaugurado, atendendo asexigências legais e sanitárias.

Hoje, além de Dário e dosfilhos, a agroindústria contacom dois funcionários. Noestabelecimento, são abatidoscerca de 30 bovinos e 60 suínospor semana. Os animais vêmda criação da família e dacomunidade, e as carcaçasresfriadas são vendidas parasupermercados do município.O negócio deu tão certo que afamília pretende construiruma unidade para fabricarembutidos de suínos, agre-gando valor à produção.

De clandestino, o a-batedouro se tornou exemplona região e o mercado se abriupara a família Schuelter. “Hojeeles são nosso grande modelode mudança da clandestini-dade para o empreendimentolegal, e nos ajudam aconvencer a todos das

vantagens de trabalhar de acordocom a legislação”, conta Henrry. ParaDário, a maior satisfação é ver osfilhos trabalhando por conta própriano meio rural. “Nossa vida melhoroumuito. Hoje trabalhamos de cabeçaerguida”, revela.

Com ajuda da Epagri, o abatedouro da família Schuelter saiu da clandestinidade

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Cursos profissionalizantes estimulam o crescimento das agroindústrias

Impulso para novos negócios

O despertar da agroindústria familiar em SantaCatarina iniciou com o Programa deProfissionalização de Agricultores desenvolvidograças a um convênio entre a Epagri e a SociedadeAlemã de Cooperação Técnica (GTZ) no início dosanos 90. Naquela época, cursos de processamentode alimentos começaram a ser oferecidos paramelhorar a alimentação das famílias rurais.

Com esse conhecimento, muitos produtorespassaram a vender os excedentes e pequenasagroindústrias começaram a surgir. O setor ganhouimpulso em 1995, quando o Governo do Estadolançou o Programa Catarinense da Indústria dePequeno Porte (Proind), que apoiava técnica efinanceiramente novos empreendimentos no meiorural.

Hoje, a Epagri assessora famílias de todo oEstado no desenvolvimento das agroindústriasfamiliares. A Empresa analisa a viabilidade técnicae econômica dos empreendimentos, elabora planosde negócios e projetos de crédito, apoia a formaçãode redes de comercialização e formaliza parceriaspara potencializar o apoio aos agricultores. Paragarantir a prosperidade dos negócios, tambémimplanta métodos de boas práticas de fabricação e

capacita técnicos, agricultores e empreendedoressobre gestão e controle da qualidade dos produtos,chegando até a aspectos organizacionais da cadeiaprodutiva e do mercado.

Os principais parceiros nesse trabalho são aCompanhia Integrada de Desenvolvimento Agrícolade Santa Catarina (Cidasc), prefeituras,universidades, sindicatos, cooperativas,organizações não governamentais, a Secretaria deEstado da Agricultura e Desenvolvimento Rural e oMinistério do Desenvolvimento Agrário.

A Epagri tem planos para desenvolver aindamais o setor. O projeto estadual de apoio àagricultura familiar catarinense para inserção nosmercados agroalimentares e artesanais de qualidadediferenciada (Pró-Rural), com apoio do programa SCRural (Microbacias 3), tem como meta para ospróximos 6 anos ministrar 237 cursos e promover70 excursões para técnicos e produtores. “Serãomobilizados esforços para fortalecer redes decooperação e comercialização, buscando constituire assessorar 128 redes locais e 10 regionais. Alémdisso, o Pró-Rural participará da elaboração de 500projetos estruturantes e prestará assistência técnicaa 5 mil empreendedores rurais”, detalha Dalbello.

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A solução cai do céuCinthia Andruchak Freitas1

Projetos deaproveitamento deágua da chuva levamsegurança para quemsofre com a estiagem

1 Bacharel em Jornalismo, Epagri, C.P. 502, 88034-901 Florianópolis, SC, fone: (48) 3239-5682, e-mail: [email protected].

A solução cai do céu

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27Agropecuária Catarinense, v.23, n.2, jul. 2010

Aespera da tão desejada chuvaem épocas de estiagem tira osono de milhares de

produtores catarinenses, pois deladependem o sustento e até mesmo apermanência das famílias no campo.Os números revelam o tamanho dapreocupação: de acordo com o Atlasde Desastres Naturais do Estado deSanta Catarina, entre 1980 e 2003,por exemplo, foram registradas 492ocorrências de estiagem no Estado.Em 2002, 74% dos municípios foramafetados. Os prejuízos econômicos,principalmente na agricultura, entre2000 e 2003, foram de R$ 266 milhõese, no primeiro semestre de 2004,atingiram R$ 500 milhões.

O problema é mais grave noOeste, especialmente no verão,quando se associam altastemperaturas, longos períodos semchuva e grande potencial deevapotranspiração. Nessa região sãodesenvolvidas intensivas atividadesde avicultura e suinocultura, querequerem grandes volumes de água.“Nos períodos de estiagem, asagroindústrias do setor de carnes têmque transportar água comcaminhões-tanque dos rios a longasdistâncias. Há redução significativana produção de leite, carnes ehortaliças”, conta Zenório Piana,diretor de pesquisa agropecuária emeio ambiente da Fundação de Apoioà Pesquisa Científica e Tecnológicado Estado de Santa Catarina(Fapesc).

Diante de projeções nadaanimadoras, que indicam que a mádistribuição de chuvas deve seintensificar ao longo dos anos naregião, surgem alternativas paradiminuir a vulnerabilidade dasfamílias. Uma delas parte de umprincípio simples e não exige custoselevados nem tecnologias avançadas:aproveitando o recurso que cai docéu, a captação e armazenagem deágua da chuva é um costume antigoque vem sendo resgatado eaperfeiçoado no meio ruralcatarinense.

A ideia motivou uma pesquisapioneira no Estado. O ProjetoDesenvolvimento de TecnologiasApropriadas para Sistemas deAproveitamento de Água de Chuva éuma iniciativa do Governo do Estado

e uma ação das Secretarias deDesenvolvimento Regional deConcórdia e de Seara. A pesquisa foifinanciada pela Fapesc, com recursosde R$ 250 mil repassados pelaSecretaria do DesenvolvimentoEconômico Sustentável, e tem comoexecutora a Fundação de Estudos ePesquisas Sócio-Econômicos(Fepese). O projeto tem participaçãoda Universidade Federal de SantaCatarina (UFSC) e apoio deorganizações como Epagri, Com-panhia Catarinense de Águas eSaneamento (Casan) e Prefeiturasdos municípios de Piratuba, Seara,Peritiba, Concórdia e Ipira, além deempresas como WEG Motores,Indústrias Schneider, Acquasave,Sansuy, Sadia, Perdigão e MaxPedras.

facilmente encontrados no Estado”,destaca.

O reservatório de ardósia écilíndrico e apoiado sobre o solo emuma laje de concreto armado ou“ferrocimento” (armadura compostapor aço, tela e cimento). As paredessão de placas de ardósia justapostase seguras por uma armadura de açosestruturais e telas finas envoltos porargamassa de cimento e areia. “Aardósia foi escolhida porque tem altadisponibilidade, facilita e agiliza aconstrução, tem bom desempenhoestrutural, é inerte, durável e debaixo custo”, detalha o engenheiro.

Já o modelo metálico usa chapasde aço galvanizadas onduladas ecalandradas. “Construímos doisreservatórios cilíndricos metálicos:um apoiado sobre laje de concreto e

Inovação

Sob a coordenação do engenheirocivil Márcio Andrade, da UFSC,foram desenvolvidas tecnologiasinéditas para sistemas deaproveitamento de água da chuvacom dois modelos de cisternas: umcom placas de ardósia, uma rochaabundante no Alto Vale do Itajaí, eoutro com chapas de aço. “Nossapreocupação foi desenvolvertecnologias sustentáveis, duráveis, debaixo custo, fáceis de construir emanter e que usassem materiais

com vedação entre as chapas e outrodisposto sobre um leito de areia eimpermeabilizado com ‘geomem-brana’” (manta de liga plástica),conta Márcio. Esse modelo pode serconstruído em apenas 2 dias por duaspessoas. “Os produtores da regiãotêm a tradição de construir silos degrãos, o que facilita a execução doprojeto”, acrescenta.

Em ambos os modelos, a água dachuva é captada em coberturas deinstalações de criação de suínos eaves ou de ginásios em escolas. Ossistemas são equipados com

Tecnologias inéditas reduzem a vulnerabilidade das famílias ruraisF

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dispositivos de proteção sanitária quedescartam os sólidos e desviam aágua dos primeiros escoamentos.Além disso, são usados sistemas dedesinfecção da água que é oferecidaaos animais.

O custo dos sistemas depende dascondições do local, do tipo e dotamanho do reservatório. “Eles têmcusto inferior às tecnologias usadasno mercado e durabilidade maior”,calcula a engenheira Marina Lisboa,mestranda envolvida no projeto. Umreservatório de ardósia com 80 millitros, instalado durante a pesquisa,custou R$ 7 mil. O mesmoarmazenamento em caixas de fibrade vidro de 20 mil litros custariacerca de R$ 10 mil e usaria maistubos e conexões, ocuparia maisespaço e duraria menos. “A ideia éque em cerca de 2 anos o sistema sepague com a economia de águagerada”, acrescenta Carlos Soares,técnico da diretoria de pesquisaagropecuária e meio ambiente daFapesc.

Na prática

As tecnologias foram testadas empropriedades rurais e escolas noOeste do Estado. Em 2009, foramconstruídos três reservatórios deardósia e dois metálicos. Um dosbeneficiados foi Fernando Volpini, deConcórdia, que cria 1.200 suínos emsistema de parceria. O produtorsempre ficava preocupado em épocasde estiagem e, às vezes, precisavareduzir o uso de água na casa e em

outras atividades para manter oabastecimento dos animais. “Jáprecisei buscar água de caminhão--pipa”, lembra.

No final de 2009, um sistema deaproveitamento da água da chuvacom reservatório de ardósia para 250mil l itros foi instalado napropriedade, localizada na LinhaFrei Rogério. Agora, Fernando temágua suficiente para os animaisbeberem e para limpar os chiqueiros.“Somos autossustentáveis. Todos osprodutores deveriam ter umreservatório desses”, afirma.

A Escola de Educação BásicaCarlos Chagas, de Piratuba, que tem410 alunos, também recebeu umreservatório de ardósia. Lá, a águacaptada na cobertura do ginásio deesportes é armazenada em umacisterna para 50 mil litros e usadapara limpeza, nas descargas dosbanheiros e na horta. A diretora,Ingrid Kirst, conta que antes doprojeto a escola gastava cerca de R$800 por mês com água. “Com o novosistema, o custo reduziu em até 50%.Além disso, conseguimos incre-mentar a horta e melhorar amerenda”, destaca. O trabalhocontou com o envolvimento dosalunos, que participaram depalestras, aprenderam o fun-cionamento do sistema e receberamlições de educação ambiental. “Todosaqui da escola têm muito orgulhodesse projeto”, afirma a diretora.

De acordo com o engenheiroMárcio Andrade, as próximas etapasdo projeto prevêem o monitoramento

de aspectos quantitativos equalitativos dos sistemas instalados.“É preciso monitorar, por exemplo, aqualidade da água, e verificar se osreservatórios estão atendendo asdemandas”, explica. Além disso, estásendo preparada uma cartilha cominstruções para a construção dossistemas desenvolvidos.

Zenório Piana, da Fapesc, diz quea tecnologia deve ser disseminadapelas propriedades rurais do Estado.“A partir da viabilidade comprovada,deve-se estabelecer um projeto paraa construção de reservatórios comaporte de financiamento. Para tanto,os órgãos de desenvolvimento doEstado devem verificar aspossibilidades da participação dossetores públicos e privados”, destaca.Segundo ele, nessa etapa, aparticipação da Epagri e daSecretaria da Agricultura serãovitais. “A Epagri, por meio dostécnicos, poderá dar umacontribuição extremamente im-portante na orientação aosagricultores para a construção dosreservatórios. A Secretaria poderáapoiar o projeto por meio do Fundode Desenvolvimento Rural com oaporte de recursos financeiros”,explica.

Exemplo

A Epagri trabalha há anos paraapoiar produtores rurais naconstrução de sistemas deaproveitamento da água da chuva.Uma iniciativa que se tornou

Cisternas de placas de ardósia e chapas de aço são baratas e fáceis de construir

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29Agropecuária Catarinense, v.23, n.2, jul. 2010

referência nasceu em CoronelFreitas, onde as estiagensprejudicam a produção de aves,suínos e gado. Lá, uma parceria entrea Epagri e a Secretaria Municipal daAgricultura e Meio Ambiente, comapoio do Projeto Microbacias 2 e doGoverno do Estado, resultou naCisterna Modelo Coronel Freitas.

Ideal para armazenar grandesvolumes de água, a cisterna éescavada no solo e forrada com lonade Polietileno de Alta Densidade(PEAD). Apenas a cobertura, feita delona sustentada por armação de canogalvanizado, fica acima do solo. Omodelo tem calhas cobertas e sistemade filtragem e de eliminação dasprimeiras águas. O manejo e aconstrução são acessíveis aosprodutores e o custo do sistema naregião, para uma cisterna de 300 millitros, varia de R$ 13,5 mil a R$ 16mil.

O modelo é difundido pela Epagrie tem despertado o interesse deprodutores dentro e fora do Estado.Só em Coronel Freitas já foraminstaladas 24 cisternas, comcapacidade variando entre 70 mil e1 milhão de litros, e outras oito estãoem construção. Prevenidos contra aestiagem, os produtores garantem acontinuidade das atividades ereduzem gastos com água. E o meio

ambiente também sai ganhando: osistema reduz a erosão provocada porgoteiras de telhados e por valetas ediminui o consumo de água de rios,nascentes e poços artesianos,tornando a propriedade autos-sustentável.

Incentivo

Ações do Governo do Estadoajudam a disseminar sistemas comoesse para levar tranquilidade àsfamílias. Um deles é o Programa deRevitalização das Atividades Ruraisde Santa Catarina (Revitalizar),desenvolvido pela Epagri e pelaSecretaria da Agricultura emparceria com a Companhia Integradade Desenvolvimento Agrícola deSanta Catarina (Cidasc), o Ministériodo Desenvolvimento Agrário e oBanco do Brasil.

O Revitalizar incentiva in-vestimentos em captação, ar-mazenagem e utilização da água parausos múltiplos nas propriedades. Pormeio dele, o Estado concede bônuspara o pagamento total ou parcial dosjuros do financiamento. Em 2009, oprograma destinou R$ 207.966,00 emsubvenção para cons-trução de 194cisternas e, neste ano, 212 cisternasjá foram construídas com o re-passede R$ 250.925,00. Podem participar

do Revitalizaragricultores familiaresenquadrados noPrograma Nacional deAgricultura Familiar(Pronaf) e, excepcional-mente, os habilitados noPrograma de Geração deEmprego e Renda Rural(Proger).

Graças a esse in-centivo, Alcides Tremea,de 77 anos, foi um dosprimeiros produtores deIpumirim a construirum sistema de captaçãode água da chuva. Napropriedade com 27halocalizada na LinhaJaguatirica, a famíliaproduz laranja e erva--mate e mantém doisaviários com 28 milfrangos. A família tinhasérios problemas quan-

do não chovia e era uma dasprimeiras a solicitar água para aPrefeitura. “O caminhão chegava atrazer água do rio até duas vezes pordia. Houve uma época em que aténossa vertente secou”, lembra oprodutor.

Quando soube da possibilidade deaproveitar a água da chuva, Alcidesprocurou a Epagri, que elaborou umprojeto para captar recursos,solicitou enquadramento doagricultor no programa e vistoriou aobra. O sistema, com cisterna de 330mil litros, foi construído em 2008 ecustou R$ 19.450,00. Cerca de R$ 18mil foram financiados pelo Pronaf eo Revitalizar bancou os juros.

Alcides, que gasta aproxi-madamente 10 mil litros de água pordia, não teve mais problemas deabastecimento. “Estou satisfeito evou ampliar a produção”, conta. Eleestá construindo um novo aviário, jácom sistema de aproveitamento deágua da chuva, que vai dobrar arenda da família. Na propriedadeonde o produtor vive com a esposa,dois filhos casados e os netos, serãoproduzidos 60 mil frangos. Com anova realidade, até o neto Gilvan, de20 anos, permanece no campo. “Elese formou técnico agrícola e agorapode trabalhar aqui”, conta o avô,com orgulho.

Tranquilidade: Fernando Volpini tem água suficiente para os animais

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Assim como essa, outras dezcisternas já foram construídas emIpumirim com apoio do Revitalizar.“Em decorrência das estiagens,muitas propriedades dependem deágua externa, mas o poder públicotem dificuldade em atendê-lassatisfatoriamente. Com as cisternas,o problema fica sanado, garantindoa produção e a renda das famílias”,conta Aline Bellincanta, engenheira--agrônoma da Epagri/EscritórioMunicipal de Ipumirim.

Educação ambiental

Preservar e usar a água comconsciência também é importantepara evitar que ela se acabe. EmPiratuba, um trabalho de educaçãoambiental desenvolvido pela Epagriem parceria com a Escola MunicipalMarechal Câmara e a Prefeituradespertou a consciência de váriasfamílias para a necessidade de cuidarmelhor desse recurso.

Antes, a escola, que tem 110alunos, captava água no poçoartesiano da comunidade. “Todos osmoradores do distrito recebiam essaágua e nada pagavam por isso.

Ninguém possuía hidrômetro e odesperdício era generalizado. Entãoprocuramos despertar a consciênciade que não era ecologicamentecorreto usar água potável do poçopara lavar calçadas e dar descargasno banheiro”, lembra José Luiz

Fontanella, extensionista da Epagri/Escritório Municipal de Piratuba.

A Epagri fez o projeto, orientou eacompanhou a construção de umsistema de aproveitamento de águada chuva com capacidade para 15 millitros na escola. Essa água é usadapara lavar calçadas, irrigar plantase nas descargas dos banheiros.“Estendemos a ideia para acomunidade e mais de dez famíliasjá usam sistemas semelhantes”,comemora Enetilde DalmagroAgostini, ex-diretora da escola.

Em parceria com o projetoMicrobacias 2, l ições sobreconservação do solo e da água foramtrabalhadas dentro e fora da sala deaula, envolvendo professores, alunose a comunidade. A iniciativa temdespertado o interesse de pessoas emtoda a região. Mas a maior liçãoaprendida foi a da valorização daágua. “Em uma reunião com osusuários do poço artesiano, todosaceitaram instalar hidrômetros nascasas e pagar pela água para evitarabusos e preservar esse bem vital”,destaca o extensionista.

Na Escola Carlos Chagas, o projeto reduziu as despesas com água em 50%

Trabalho da Epagri em escola de Piratuba incluiu lições de conscientização

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Meteorologiade pontaGisele Dias1

Epagri/Ciram lança novasferramentas para previsão eaviso de eventos meteorológicosextremos em Santa Catarina

1 Jornalista, Epagri/Centro de Informações de Recursos Ambientais e Hidrometeorologia (Ciram), C.P. 502, 88034-901 Florianópolis, SC,fone: (48) 3239-8160, e-mail: [email protected].

Meteorologiade ponta

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Fazer previsões é um sonhodo ser humano que hámilênios desenvolve métodos

e práticas que seriam capazes dedizer o que o destino nos reserva. Naciência, não é diferente. Tentar “ler”as indicações para o futuro podesignificar a preservação de vidas e aminimização de prejuízos materiais,sobretudo quando se trata defenômenos meteorológicos.

Desenvolver ferramentas quepossam prever eventos meteoro-lógicos extremos em Santa Catarinafoi o desafio enfrentado por umaparte da equipe da Epagri/Centro deInformações de Recursos Ambientaise de Hidrometeorologia de SantaCatarina (Ciram), envolvida noprojeto Desenvolvimento de umaEstrutura Espacial para a Integraçãodas Informações Referentes aEventos Extremos para Auxiliar naTomada de Decisões. A proposta foicusteada pela Financiadora deEstudos e Projetos (Finep), no totalde R$ R$ 899.230,96. Desse valor, R$818.374,00 representaram recursosfinanceiros diretos e R$ 80.856,96foram destinados a bolsas dedesenvolvimento tecnológico.

Iniciado em dezembro de 2006, ecom prazo de conclusão até julho de2010, o projeto resultou em seisferramentas de previsão e avisosmeteorológicos, hospedadas no site

da Epagri/Ciram para livre acesso dopúblico: Probabilidade de ocorrênciade tempestade em Santa Catarina,Previsão de ocorrência de geada emSanta Catarina, Sistema de PrevisãoHidrológica para a BaciaHidrográfica do Rio Araranguá, Avisode temperatura mínima extrema emSanta Catarina, Aviso detemperatura máxima extrema emSanta Catarina e Aviso de riscodecorrente de chuvas intensas emSanta Catarina.

“O grande diferencial dessaproposta é a variedade de instituiçõese de profissionais envolvidos, o quelhe confere um caráter multi--institucional e multidisciplinar”,destaca o engenheiro-agrônomoÂngelo Massignam, membro daequipe da Epagri/Ciram ecoordenador do projeto. A Epagri é ainstituição executora da proposta,que tem como coexecutores oInstituto Tecnológico Simepar, doParaná, a Universidade Federal doRio Grande do Sul (UFRGS), aUniversidade Federal de SantaMaria (UFSM) e a FundaçãoEstadual de Pesquisa Agropecuária(Fepagro), do Rio Grande do Sul.

Os três Estados da Região Sulforam contemplados no projeto como aprimoramento da rede demonitoramento ambiental, queconsiste na instalação de 90 estações

meteorológicas automáticas, cha-madas Pluviologger, desenvolvidaspela Epagri/Ciram com tecnologiaprópria de baixo custo. SantaCatarina já instalou suas 30 estações,e nos Estados vizinhos esse processoestá em andamento. As estaçõesmeteorológicas vão reforçar a rede demonitoramento ambiental da Epagri/Ciram, que fornece os dados quegeram os produtos de aviso e previsãode eventos extremos.

Geada

A ferramenta Previsão deocorrência de geada em SantaCatarina está disponível no linkPrevisão do site da Epagri/Ciram(http://ciram.epagri.sc.gov.br). Oproduto consiste em mapas do Estadoque informam a probabilidade deocorrência desse fenômeno em trêsdiferentes intensidades (geada,geada moderada a forte e geada forte)para as próximas 24 e 48h.

Cada classe é definida de acordocom a temperatura mínima da relvaprevista para as diferentes regiõescatarinenses. Temperatura abaixo dezero grau indica a ocorrência degeada (fraca a forte). Temperaturaabaixo de 2 graus negativos apontapara a formação de geada moderadaa forte, e inferior a 6 graus negativosindica ocorrência de geada forte.

“A disponibil ização das in-formações sobre mapas do Estado, deforma fácil de visualizar ecompreender, e a apresentação daprobabilidade de ocorrência de geadaem três diferentes intensidadesdestacam a ferramenta catarinenseem relação a outras já existentes noPaís”, observa Massignam. Oengenheiro-agrônomo explica que aregião de São Joaquim, no PlanaltoSerrano, é a mais propensa àocorrência de geada. Contudo, ofenômeno pode se formar em quasetodo o Estado, com baixaprobabilidade no litoral e no ExtremoOeste.

Com base na previsão deocorrência de geada é possível aplicaralgumas práticas para minimizar oueliminar os riscos que ela oferecepara pequenas lavouras. “No caso dashortaliças, o agricultor poderia optarpela cobertura da horta”, exemplificaMassignam. Outro bom exemplo dePrevisão de geada possibilita reduzir riscos para as lavouras

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Monitoramento do nível de rios é a base do Sistema de previsão hidrológica daBacia do Rio Araranguá

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Ferramenta alerta a população sobre riscos de chuvas intensas

redução de riscos é na produção demandioca, cujas ramas poderiam sercolhidas antecipadamente.

Mas geada não significa apenasprejuízos. Fruteiras como macieira,pessegueiro e videira, que exigem ummínimo de horas de frio durante oano para brotar, podem se beneficiarcom o fenômeno. Massignam revela,ainda, que em anos com maiorfrequência de geada, os problemascom insetos se reduzem, o quebeneficia a agricultura de um modogeral.

Vazão de rios

Possibilitar o gerenciamento douso da água na Bacia Hidrográficado Rio Araranguá, conciliando osinteresses dos produtores de arroz edos moradores das cidades, além dealertar para a possibil idade deinundações. Esses são os principaisobjetivos do Sistema de previsãohidrológica para a Bacia Hi-drográfica do Rio Araranguá,ferramenta disponível no linkPrevisão do site da Epagri/Ciram.

O sistema foi coordenado peloengenheiro-agrônomo EvertonBlainski, da equipe da Epagri/Ciram,e apresenta a previsão de vazão dosrios com antecedência de até 48horas, com base na previsão de tempoe clima. Na prática, a ferramentaconsiste em um mapa da bacia,publicado no site, que indica a

localização das estações hi-drometeorológicas instaladas naregião. Ao clicar sobre esses pontos,o leitor pode visualizar dados devazão e precipitação previstas paraas próximas 24 e 48h. Em algunsdesses pontos é possível verificar,também, a cota do rio prevista.

A intenção dos pesquisadores éque os produtores de arroz da Baciado Rio Araranguá passem a utilizaressa ferramenta para planejar suasações. Levando em conta as

informações geradas pelo sistema, osagricultores poderiam colaborar,evitando o uso excessivo da água emperíodos de estiagem e, por outrolado, incrementando o uso da águados rios nos períodos chuvosos,auxiliando no controle de enchentes.

Nada menos do que 60 milhectares da Bacia do Rio Araranguásão dedicados à produção de arroz,uma área expressiva para a região.A cultura utiliza cerca de 405 milhõesde litros de água a cada ciclo, quedura 4 meses. Essa quantidade deágua seria suficiente para abastecer3,4 milhões de residências durante 1ano. Estudos mostram, ainda, que ovolume para a manutenção da águanas quadras de arroz da região é emtorno de 75 mil litros por segundo, oque representa a metade da vazãomédia do Rio Itajaí, o maior de SantaCatarina.

Levando-se em consideração quea Bacia conta com uma população decerca de 390 mil habitantes, e que97,7% de toda a água consumida sãocaptados nos rios que compõem essaBacia, pode-se ter uma ideia dotamanho do problema em relação aouso da água na região. “O sistemavem dar início a uma busca desolução para esse conflito deinteresses no uso da água, ao mesmotempo que poderá, também, auxiliarna resolução de outro problema

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causado pelo excesso de água: asinundações que, com frequência,atingem a região”, explica oengenheiro-agrônomo EvertonBlainski.

Chuva

A ferramenta Aviso de riscodecorrente de chuvas intensas emSanta Catarina, hospedada no linkAviso do site da Epagri/Ciram, cruzainformações de previsão de chuvaefetiva com um mapa davulnerabilidade de Santa Catarinaao fenômeno. O objetivo é alertar apopulação e as autoridades sobreriscos existentes em decorrência dechuvas intensas.

Esse sistema é formado por doiscomponentes: um mapa do Estadocom as regiões mais vulneráveis aalagamentos, enchentes e en-xurradas, levando em consideraçãoaspectos físicos e socioeconômicos, eum mapa com a ameaça re-presentada pela chuva, tendo comobase a precipitação ocorrida nasúltimas 48h e a prevista para aspróximas 24h.

O oceanógrafo da equipe daEpagri/Ciram Carlos Eduardo Sallesde Araújo, um dos responsáveis pelaferramenta, explica que, para definira vulnerabilidade do Estado, foramconsideradas duas classes defenômenos: os que ocorrem em áreasplanas ou de baixios, como enchentes,alagamentos e inundações, e os queocorrem em áreas inclinadas, como

deslizamentos e enxurradas. O risco,segundo ele, se configura a partir dacombinação de um volumesignificativo de chuvas (a ameaça)com localidades que apresentam umacondição vulnerável ou suscetívelpara que essa chuva cause prejuízos(a vulnerabilidade).

Temperatura

Outro produto desenvolvido noprojeto está subdividido em duasferramentas que emitem avisos detemperaturas máximas e tem-peraturas mínimas extremas emSanta Catarina. No sistema,hospedado no link Aviso do site daEpagri/Ciram, as temperaturasprevistas para o dia seguinte (24horas) e para os próximos dois dias(48 horas) são comparadas com astemperaturas que ocorreram nosúltimos anos no Estado (cli-matologia), na mesma época do ano.A partir dessa comparação sãoidentificados, por cores, quatro níveisde classificação para a temperaturaprevista: normal, baixa ou alta, muitobaixa ou muito alta e extremamentebaixa ou extremamente alta.

Laura Rodrigues, meteorologistada Epagri/Ciram e uma dasdesenvolvedoras da ferramenta,explica que valores extremos detemperaturas do ar, tanto de mínimacomo de máxima, são informaçõesimportantes para a previsão deeventos extremos. “Como o produtoé automático e de fácil utilização,representa uma ferramenta a mais

para a tomada de decisão doscatarinenses”, destaca.

Tempestades

As tempestades são capazes degerar granizo e rajadas de ventodestrutivas em curto espaço detempo, além de descargas elétricas eelevados volumes de chuva. OsEstados do Sul do Brasil estãolocalizados em uma área propícia àformação e ao desenvolvimento dessefenômeno, especialmente nos mesesde primavera e verão, o que justificaa importância da ferramentaPrevisão de tempestades, disponívelno link Previsão do site da Epagri/Ciram. Seguindo o formato dos outrosprodutos, ela localiza no mapa doEstado as regiões onde podemocorrer as tempestades e as classificapor níveis de probabilidade:extremamente alta, alta, média,baixa ou nula.

Esses fenômenos são localizadostemporal e espacialmente, ou seja,normalmente ocorrem de formarápida e em um ponto geográficoespecífico. Por isso, a ferramentaprecisou de um nível maior dedetalhamento. Ela informa aprobabilidade de ocorrência detempestade para a manhã, a tarde ea noite do dia atual e também para amadrugada e a manhã do diaseguinte, tudo para avisar oscatarinenses, com a maior precisãopossível, dos riscos de ocorrênciadesse fenômeno, que tem altopotencial destrutivo.

Sistema emite avisos de temperaturas máximas e mínimas extremas no Estado

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Opinhão-manso (Jatrophacurcas L. – famíliaEuphorbiaceae) é a tônica do

momento, principalmente quando oassunto é o agronegócio. Esta espécie,conhecida há centenas de anos porpopulações autóctones da América,está sendo apontada como a grandealternativa para a produção debiodiesel, dada a qualidade e orendimento de óleo fixo. Aliado a isso,a espécie reúne outras propriedadesque a levaram a participar do BancoAtivo de Germoplasma (BAG) daEpagri, localizado na EstaçãoExperimental de Itajaí. Suaintrodução no BAG da Epagriocorreu em 1996, através desementes provenientes de Rodeio,SC, obtidas pela Irmã Eva Michalakno norte do Brasil.

O pinhão-manso é uma espécienativa das regiões tropicais dasAméricas Central e do Sul, ÁfricaOcidental e Índia. A versão maisaceita é que seja nativa do Brasil,sendo o Ceará o centro de origem. Osprimeiros navegantes portuguesesque vieram para o Brasil levaramsementes para as Ilhas Canárias eIlhas do Cabo Verde, depois foramdisseminadas pela África e Ásia. Essaespécie de pinhão é conhecida pormuitos nomes populares: figo-do-inferno, maduri-graça, mando-biguaçu, manduri-graça, mandu-biguaçu, manfui-guaçu, medicineira,peão, pião, pinhão, pinhão-da-índia,pinhão-de-purga, pinhão-do-pa-raguai, pinhão-dos-barbados, pinhão--manso, pinhão-bravo, pinhão--paraguaio e purgueira.

É uma planta arbórea,caducifólia, lactescente, de 3 a 4m dealtura. Apresenta flores unis-sexuadas, pequenas e amarelo-esverdeadas. O fruto é uma cápsula,dividida em três segmentos, coriáceo,verde quando imaturo e amareloquando maduro. Sementes tipoamêndoas, cinzentas, elipsoides eoblongas, brancas por dentro eestriadas de preto por fora. A plantaexsuda um látex branco e acre portodos os seus órgãos.

Como se tem observado ul-timamente, instituições brasileirasde pesquisa agrícola estão estudandomais a fundo o pinhão-manso porsuas características de rusticidade eprodutividade, com baixo custo,tornando-a uma espécie bastanteatraente para fins carburantes. No

1 Eng.-agr., M.Sc., Epagri/Estação Experimental de Itajaí, C.P. 277, 88301-970 Itajaí, SC, fone: (47) 3341-5244, e-mail:[email protected].

Antônio Amaury Silva Jr.1

Pinhão-manso:da fitoterapia ao biodieselPinhão-manso:da fitoterapia ao biodiesel

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entanto, este artigo vai procurardetalhar alguns aspectos fito-terápicos do vegetal, no intuito deesclarecer fatos ainda não muitoconhecidos da planta.

Etnomedicina

Embora a planta encerre váriassubstâncias tóxicas em seus órgãos,algumas populações a utilizam namedicina popular como purgativa,febrífuga, béquica, anticefalálgica (DiStasi et al., 1989), antiartrítica (Watt& Breyer-Brandwijk, 1962), anódina,antisséptica, cicatrizante, depu-rativa, diurética, hemostática nãocáustica, lactagoga, narcótica,estítica, antidiarreica, anti-disentérica, antidispéptica, antir-reumática, estomáquica, antis-sifi lít ica, antitumoral, vulnerária(List & Horhammer, 1979), emética,vermífuga, drástica, rubefaciente(folhas), antidiabética e anti--inflamatória (Estrella, 1995). Assementes produzem um óleo emético.

Populações das Américas Centrale do Sul util izam o óleo para otratamento de hidropisia, pleurisiacrônica e verminoses. O chá dasfolhas é utilizado para o tratamentode constipação nasal; as sementes,sem o embrião, são torradas e, naforma de chá ou com leite, utilizadaspara a sinusite, prisão de ventre econstipação nasal (Di Stasi et al.1989). O látex é util izado sobreferidas, como unguento para curarpicadas de insetos e, em instilaçãonasal, estanca hemorragias. O sucoviscoso é utilizado no tratamento de

orquite e edema. É ainda utilizadopara transtornos gastrintestinais ehepáticos, parasitoses, úlcerasdérmicas, escoriações (Estrella,1995), alopecia, anasarca, ascite,queimaduras, carbúnculo, convul-sões, dermatites, eczema, erisipela,gonorreia, hérnia, incontinênciaurinária, icterícia, neuralgia,panarício, paralisia, dores deestômago, tétano, framboesia, febreamarela, pneumonia, erupções dapele, sarna, ciática (List &Horhammer, 1979), azia, esplenose,odontalgia, tinha, marasmo (Morton,1981) e gota (Watt & Breyer--Brandwijk, 1962).

Pesquisadores realizaram testesfarmacológicos com esta espécie econstataram atividade hemostática,estimulante da musculatura lisa,antiproliferativa, anticoagulante eantileucêmica (Morton, 1981; DiStasi et al., 1989). O látex, diluído a5% ou 10%, apresenta açãocicatrizante em ferimentos induzidosexperimentalmente em pele decamundongo (Salas et al., 1994).

A seiva das folhas apresentaatividade germicida de até 6 horassobre o crescimento de espécies dosgêneros Staphylococcus, Bacillus eMicrococcus. A seiva também inibe odesenvolvimento de ovos de Ascarislumbricoides e Necator americanuse apresenta forte efeito inibitóriosobre o crescimento normal de larvasde mosquitos transmissores damalária (Fagbenro-Beyioku et al.,1998).

As sementes contêm 50% a 60%de óleo, toxoalbumina (curcina),

ácidos oleico, linoleico, palmítico,esteárico, mirístico e araquídico (DiStasi et al., 1989), taninos,sapogeninas, alcaloides, ésteres ecompostos cianogênicos (Estrella,1995). O fruto contém glutina, goma,um princípio sacarino, ácido málicoe curcina. A noz contém sacarose,rafinose, estachiose, glicose, frutose,galactose, proteína e curcasina(Perry, 1980). O látex contémcurcaciclina e curcaína – uma enzimaproteolítica. As folhas contêmcumarinas (fraxidina e isofraxidina),α-amirina, fitosteróis (β-sitosterol,estigmasterol, campesterol), iso-vitexina e vitexina. Casca, frutos,folhas, raiz e lenho contêm ácidocianídrico (List & Horhammer, 1979;Morton, 1981; Watt & Breyer--Brandwijk, 1962). Algumasamostras de sementes cruas podemconter 0,01 a 0,02mg/g de forbol-12--miristato-13-acetato. Nas sementestostadas, a atividade do inibidor detripsina é inativado em quase 100%.Embora reduza com o tostamento, alectina é ainda encontrada emgrandes quantidades na sementetostada. Saponinas, fitatos e ésteresde forbol não são afetados pelotostamento (Becker e Makkar et al.,1998).

Cem gramas de sementes contêm6,6g de água, 18,2g de proteína, 38gde lipídeos, 33,5g de carboidratostotais, 15,5g de fibras e 4,5g decinzas. O conteúdo de proteína,lipídeos e cinzas é de 27% a 30%, 55%a 62% e 3,7% a 5,2%, respecti-vamente.

Os tipos e níveis de antinutrientesalimentares na semente crua são:

• inibidor da atividade detripsina: 14,6 a 28,7mg de tripsinainibida por grama;

• lectina: 25,6 a 52,2 unidades;uma unidade é o inverso de umaquantidade mínima de mg dealimento analisado/ml, que podeproduzir hemaglutinação;

• saponinas: 1,9% a 2,3% – comoequivalente diosgenina;

• fitato: 8,4% a 10% (Becker &Makkar et al., 1998).

Reações tóxicas

Quanto à toxicologia destaespécie, pode-se afirmar que asFlores de pinhão-manso (Jatropha curcas)

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sementes são irritantes, causandodor abdominal aguda, náusea ediarreia meia hora após a ingestão.Depressão e colapso podem ocorrer,sobretudo em crianças. Duassementes são forte purgativo; quatroa cinco podem causar a morte devidoà presença da curcina. Quandotorrada, a semente deixa de sertóxica. Na Flórida há indícios daexistência de duas linhagens destaespécie, uma tóxica e outra inócua(Kingsbury, 1964).

O embrião da semente pode levarà cegueira por causa das alucinaçõesque produz. O óleo das sementesinduz o aparecimento de tumores depele e dermatites, provoca náuseas,dores abdominais, vômitos edepressão dos sistemas respiratórioe cardiovascular. Casos gravesresultam em espasmos musculares,hipotensão, torpor, hiporreflexia,hemorragia anal e interna, coma emorte (Di Stasi et al., 1989).

O óleo causa severa diarreia einflamações gastrintestinais. Afração tóxica do óleo (2,4%), quandoaplicada sobre a pele de coelhos eratos, produz uma severa reaçãoirritante, seguida de necrose. Emcamundongos essa fração é tóxica àpele e tem efeito letal. O óleo (e afração tóxica, 25 e 1mg,respectivamente), diluído em 10ml desolução salina apresentou atividadehemolítica. A dose aguda oral do óleo(DL50) é de 6ml/kg em ratos (Gandhiet al., 1995).

Ésteres de forbol têm sidoidentificados como os principaiscomponentes do fruto da planta,responsável por intoxicações emhumanos, roedores e gado (Becker &Makkar, 1998).

(corante vermelho) e como lu-brificante e combustível parailuminação.

• A planta constitui-se emexcelente suporte para a baunilha.

• É utilizada na fixação de dunase como cercas vivas.

• Na Índia, as folhas socadas sãoaplicadas próximo aos olhos dosequinos para repelir moscas.

• As nozes podem ser enfileiradassobre o pasto e queimadas à guisa develas.

• Mexicanos cultivam a plantacomo uma hospedeira para insetos dagoma-laca.

• As cinzas das raízes queimadassão usadas como substituto do sal.

• A planta também tem sidoutilizada como moluscicida, piscicida(casca), raticida e até homicida.

• As folhas são utilizadas comofumigante de percevejos.

• A seiva tinge o linho, podendoser usada para marcação.

• A planta é utilizada no controlede caracóis, ácaros e mosquitos.

• Jatropha weddelliana eJatropha podagrica prestam-se àornamentação de jardins rochosos.

As espécies aparentadas dopinhão-manso são a Jatrophapodagrica Hook. (perna-inchada oubatata-do-inferno); Jatrophamultifida (árvore-de-coral, mercúrioou bálsamo); Jatropha urens(cansanção-de-leite); Jatrophaweddelliana Bail.; Jatropha elliptica(Pohl.) Bail (purga-de-lagarto). Asduas primeiras espécies fazem partedo BAG da Epagri, em Itajaí.

Literatura CitadaFrutos de pinhão-manso (J. curcas)

As bebidasalcoólicas cons-tituem-se em antí-dotos dos efeitostóxicos.

Outros usosda planta

• O óleo dassementes pode serutilizado na fabri-cação de sabõesduros, alizarina

Frutos e sementes de pinhão-manso(J. curcas)

1. BECKER, K.; MAKKAR, H.P. Effects ofphorbol esters in carp (Cyprinus carpioL). Veterinary and Human Toxicology,v.40, n.2, p.82-86, 1998.

2. DI STASI, L.C.; SANTOS, E.M.G.;SANTOS, C.M. dos. et al. Plantasmedicinais na Amazônia. São Paulo:Editora da Unesp, 1989. 194p.

3. ESTRELLA, E. Plantas medicinalesamazonicas: realidad y perspectivas.Lima: Tratado de CooperacionAmazonica, 1995. 302p. (SPT-TCA, n.28).

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9. SALAS, J.; TELLO, V.; ZAVALETA, A.et al. Cicatrization effect of Jatrophacurcas latex. Revista de BiologiaTropical, v.42, n.1-2, p.323-326, 1994.

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11. WATT, J.M.; BREYER-BRANDWIJK,M.U. The medicinal and poisonousplants of Southern and Eastern Africa.2.ed. Edinburgh: E.& S. Livingstone,1962. 1457p.

Page 39: Edição de julho de 2010

39Agropecuária Catarinense, v.22, n.2, jul. 2009

Seção técnico-científicacatarinense

• Citronela, capim-limão, palma-rosa e patchuli: características agronômicas no litoral norte deSanta Catarina...................................................................................................................................... 39Airton Rodrigues Salerno e Eliséo Soprano

• Fundamentos do sistema integração lavoura-pecuária..................................................................... 43Alvadi Antonio Balbinot Junior e Milton da Veiga

• Micotoxinas na cultura do milho........................................................................................................ 46João Américo Wordell Filho

• Análise econômica da produção de ostras na Região da Grande Florianópolis, SC....................... 49Léo Teobaldo Kroth, Paulo de Tarso Rozas Rodrigues e Zeno Frasson

• Componentes da fauna edáfica em lavouras de soja........................................................................ 54Luís A. Chiaradia, Márcia A. Smaniotto, Adriane Rebonatto e Cristiano N. Nesi

• Aplicação de resíduo de reciclagem de papel em solo ácido: I – Fertilidade e teores demetais pesados no solo...................................................................................................................... 60Alvadi Antonio Balbinot Junior, Milton da Veiga e José Alfredo da Fonseca

• Aplicação de resíduo de reciclagem de papel em solo ácido: II – Produtividade das culturasde milho e soja e teores de metais pesados nos grãos..................................................................... 66Alvadi Antonio Balbinot Junior, Milton da Veiga e Rogério Luiz Backes

• Distribuição espacial de adultos da bicheira-da-raiz, Oryzophagus oryzae, em lavouras dearroz irrigado....................................................................................................................................... 72Eduardo Rodrigues Hickel

• Composição mineral de folhas e vigor da macieira ‘Fuji’ em resposta a nitrogênio e potássio...... 77Gilberto Nava, Antonio Roque Dechen, Clori Basso, Gilmar Ribeiro Nachtigall e José Masanori Katsurayama

• Atratividade de iscas alimentares comerciais para mosca-das-frutas em pomares de macieira...... 84Rosangela Teixeira, Luiz Gonzaga Ribeiro, Mari Inês Carissimi Boff, Pedro Boff e Odimar Zanuzo Zanardi

• Caracterização e danos do percevejo-bronzeado do eucalipto......................................................... 89Luís Antônio Chiaradia e Roberto Carlos Bearzi

• Controle da broca-das-axilas (Crocidosema aporema) (Lepidoptera: Tortricidae), em sojacultivada sob o sistema orgânico....................................................................................................... 92Gilvane Luis Jakoby, Mari Inês Carissimi Boff, Murilo Correa Marcon, Marcelo Zanelato Nunes e Pedro Boff

• Ocorrência de “Banana streak virus” nas cultivares de bananeira Grande Naine e Nanicão noEstado de Santa Catarina.................................................................................................................... 96Robert Harri Hinz e Cristiane Maria da Silva

Informativo técnico

Nota científica

Artigo científico

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As espécies vegetais a-romáticas citronela(Cymbopogon winterianus

Jowitt), capim-limão (C. citratus(D.C.) Stapf) (Figura 1), palma-rosa(C. martinii Stapf) (Figura 2) epatchuli (Pogostemon cablin (Blanco)Bent.) (Figura 3) apresentamimportância econômica, espe-cialmente como alternativa de rendasuplementar, para os pequenosagricultores catarinenses. As quatroespécies são exóticas, originárias dasregiões tropicais da Ásia e África,sendo os capins pertencentes à

Citronela, capim-limão, palma-rosa e patchuli:características agronômicas nolitoral norte de Santa Catarina

Airton Rodrigues Salerno1 e Eliséo Soprano2

Aceito para publicação em 28/5/10.1 Eng.-agr., M.Sc., Epagri/Estação Experimental de Itajaí, C.P. 277, 88301-970 Itajaí, SC, fone: (47) 3341-5244, e-mail:[email protected] Eng.-agr., Dr., Epagri/Estação Experimental de Itajaí, e-mail: [email protected].

família Poaceae enquanto o patchulipertence à Labiatae. O capim-limão,no entanto, é bem conhecido,especialmente por sua característicade planta medicinal, utilizada comoanalgésico, calmante e indutor dosono (Pinho et al., 1998, citado porSilva Jr., 2003). Os capins citronelae palma-rosa são menos comuns, masexistem em fundos de quintais,ambos por sua característicaagradavelmente aromática. Opatchuli, ao contrário dos três capins,é raro em Santa Catarina, sendocultivado apenas em órgãos de

pesquisa, em alguns hortosparticulares e mais recentemente empropriedades de agricultoresexperimentadores.

Na Epagri/Estação Experimentalde Itajaí essas quatro espéciesestiveram sob avaliação quanto àadaptação, fenologia e produtividadede óleo essencial, demonstrandopotencial de cultivo no litoral nortecatarinense (Silva Júnior, 2003). Combase nessas observações e em revisãode literatura, foram elaboradasnormas técnicas para cultivo dessasespécies (Epagri, 2004) e, parale-lamente, instalados experimentos(Figuras 1 e 4) para validação dastécnicas recomendadas. Nestapublicação são apresentados, deforma sumarizada, os resultadosobtidos nesses trabalhos e feitasconsiderações sobre o cultivo dessasplantas em Santa Catarina.

Exigências quanto àscondições do solo e clima

As plantas nativas de regiõestropicais e subtropicais normalmenteapresentam certa tolerância a solosácidos e pobres. No caso das espéciesaromáticas relatadas neste trabalho,apenas a citronela se enquadra nesseperfil: não apresentou resposta avalores de pH superiores a 5,2 e épouco exigente em fósforo, emboraresponda bem a adubaçõesnitrogenadas e potássicas (Soprano& Salerno, 2004). O patchuli e oscapins limão e palma-rosa exigem

Figura 1. Parcelas de experimento de campo com citronela em primeiro plano ecapim-limão na sequência

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44 Agropecuária Catarinense, v.23, n.2, jul. 2010

valores de pH próximo àneutralidade e solos muito bemsupridos em nutrientes (Soprano &Salerno, 2005, 2006, 2008). Assim,recomenda-se seguir as indicações doManual de Adubação e de Calagempara os Estados do Rio Grande do Sule Santa Catarina (Sociedade..., 2004)para determinação das quantidadesde calcário e adubo a aplicar. Opatchuli não está contemplado nestemanual, mas há indicações paraoutras plantas aromáticas exigentes,como as hortelãs (Mentha spp.) e opíretro (Chrysanthemum cinera-riaefolium), e que podem servir comoorientação geral até querecomendações mais precisasestejam disponíveis.

Os capins limão e palma-rosa etambém o patchuli não toleram solospesados imperfeitamente drenados,não sendo recomendável o seu cultivonas várzeas baixas e planas doLitoral, Baixo e Médio Vale do Itajaí.Já o capim citronela tolera melhoressa condição, mas também nãosuporta terrenos alagados por maisde 2 a 3 dias. Essas informaçõesforam obtidas em experimentoconduzido a campo na Epagri/Estação Experimental de Itajaí entresetembro de 2003 e maio de 2007.Três cortes anuais foram realizadosa partir de setembro de 2004, comintervalos de 120 dias. O capim-limãoe o palma-rosa foram desaparecendogradativamente das parcelas,sofrendo sete cortes e o patchuli foicortado apenas uma vez pelo mesmomotivo. Os rendimentos médios dasquatro repetições e dos cortes, demassa verde e óleo essencial, foram

respectivamente: citronela, 9,64t/hae 99,29kg/ha; capim-limão, 4,28t/hae 25,60kg/ha; palma-rosa, 3,38t/ha e18,61kg/ha; patchuli, 1,75t/ha e5,9kg/ha (Tabela 1).

O patchuli é a mais sensível aofrio das quatro espécies estudadas,mas os três capins também nãotoleram geadas, não sendorecomendável o seu cultivo emaltitudes elevadas. (Hanisch et al.,2009).

Formas de propagação,espaçamento e épocas deestabelecimento

As quatro espécies podem sermultiplicadas de forma vegetativa,isto é, a partir de mudas formadasatravés de estacas dos ramos, no caso

do patchuli, e de touceiras divididas,no caso dos três capins. A palma-rosaproduz sementes viáveis no litoralnorte de Santa Catarina, podendo sersemeadas diretamente no local deplantio, de forma contínua, em linhasafastadas um metro. Nos plantios pormudas, a palma-rosa e o capim-limãosão plantados no espaçamento 0,5 x0,5m, a citronela 1 x 1m e patchuli 1x 0,5m. Os capins podem serplantados logo após a divisão dastouceiras, enquanto o patchuliprecisa ser levado ao campo com asestacas já enraizadas (Figura 5). Oenraizamento demanda cerca de 60dias e é feito sob telado, em substratocasca de arroz calcinada ou misturade solo com areia. As raízes devempermanecer cobertas no momento doplantio, pois o índice de pega é maiornessa condição.

Espécie Produção e folhagem Óleo essencial

Por corte Cortes/ano Total ano Rendimento Preço histórico

(t/ha) (no) (t/ha) (kg/t de folhas) (US$/kg)

Capim-limão 7,0 3 21 6,0 12,00

Citronela 8,0 3 24 10,0 4,75

Palma-rosa 5,0 4 20 5,5 18,00

Patchuli 10,0 1 10 4,0 23,00

Tabela 1. Dados médios de produção de quatro espécies vegetais aromáticas esperados na região subtropical de SantaCatarina em solos bem drenados corrigidos e adequadamente adubados

Nota: Capim-limão e citronela, cortes realizados em setembro, janeiro e maio; palma-rosa, cortes no início do florescimento em novembro,janeiro, março e maio; patchuli, quando atingir altura média de 90cm.

Figura 2. Capim palma-rosa: plantas em início de florescimento

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A época mais indicada para oplantio das quatro espécies é aprimavera, pois há ocorrência deprecipitação pluviométrica, astemperaturas são amenas e ofotoperíodo é crescente. A capina decoroamento e depois as roçadas sãoimportantes, especialmente ante-cedendo as colheitas. Isso evita acontaminação do óleo essencial comsubstâncias indesejadas.

Manejo de cortes erendimento esperado

Os capins citronela e limão devemser cortados pela primeira vez cercade 6 a 7 meses após o plantio e depoisdisso a cada 120 dias. O plantio érecomendado em outubro, de acordocom as variações climáticas, e oprimeiro corte será realizado emmaio e os seguintes sempre emsetembro, janeiro, maio e assimsucessivamente. A lavoura de capim--limão dura 3 a 4 anos, precisandoser reimplantada depois desse prazo,enquanto a citronela permaneceprodutiva por 5 anos ou mais (Epagri,2004). A palma-rosa deve ser cortadasempre que estiver em início deflorescimento, o que ocorrenormalmente em janeiro, março,maio e novembro em Itajaí (26o57’06'’latitude sul, 48o45’38'’ longitudeoeste, altitude 10m). Esse capimapresenta ressemeadura natural;assim, a renovação da lavoura pode

ser obtida permitindo-se asementação e a debulha natural.

A altura de corte dos três capinsdeve ser em torno de 20cm do solo, oque é importante para a garantia dorebrotamento e a competitividadecom as invasoras.

A massa residual da destilaçãodeve ser colocada nas entrelinhas docultivo respectivo, pois além deabafar as invasoras devolve ao sologrande parte dos nutrientes retiradospelas culturas.

O patchuli apresenta sus-cetibilidade à insolação, necessitandomeio período de sombra durante odia. Seu cultivo vem sendo praticadopor agricultores experimentadores

em áreas adjacentes a florestas.Nessa condição, são obtidosrendimentos de 9 a 10t de massaverde por hectare por ano num únicocorte realizado, quando as plantasatingem 90 a 100cm de altura. Aaltura dos cortes é de cerca de 60cmdo solo, pois devem ser retiradasapenas as folhas, que contêm todo oóleo essencial, e elas se concentramno ápice dos ramos. A duração dessacultura é relativamente curta,devendo haver reimplantação depoisdo terceiro ano de cultivo.

Seguindo as recomendações,sugestões e observações de manejoapresentadas, é possível obter, emsolos bem drenados, corrigidos eadubados adequadamente, na regiãosubtropical de Santa Catarina, osrendimentos apresentados na Tabela1.

Principais pragas edoenças

Os três capins apresentamsuscetibil idade ao ataque dac i g a r r i n h a - d a s - p a s t a g e n s(Maharnava fimbriolata Stal.)mesmo em condições normais deadubação nitrogenada, prática que,em excesso, favorece a incidênciadesse inseto. De qualquer modo, nãohouve danos significativos emnenhum dos cultivos estabelecidos naEpagri/Estação Experimental deItajaí. Caso haja ataques severos,

Figura 3. Detalhes da folha e inflorescência de patchuli

Figura 4. Vista geral de experimentos de adubação em casa de vegetação, citronelaem primeiro plano e patchuli ao fundo

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recomenda-se cortar a folhagem efazer a destilação, mesmo antes daépoca recomendada, pois as ninfas dacigarrinha não resistem à radiaçãosolar direta.

O patchuli é procurado por insetosmastigadores, especialmente noestabelecimento da cultura, mas naEstação Experimental de Itajaí osdanos não foram severos.

A ocorrência de doenças não foiconstatada em patchuli. Os capinssofreram algumas infestações,principalmente da podridão dasraízes, em capim-limão. O climaquente e úmido de Itajaí associadoaos solos argilosos e mal drenados,predominantes na Estação Expe-

A citronela apresentou sus-cetibilidade a Helminthosporium sp.em solo deficiente em potássio, o quepode estar relacionado com acarência desse nutriente (Rebelo, J.A., informação pessoal).

Considerações finais

As pesquisas conduzidas naEpagri/Estação Experimental deItajaí e os plantios experimentaisdesenvolvidos em propriedadesparticulares permitem a indicação docultivo dessas quatro espécies nascondições de clima subtropical deSanta Catarina, desde que sejamatendidas suas exigências individuais

rimental, seguramente favoreceramo desenvolvimento dessa doença.

O capim-limão apresenta tambéma “queima das pontas” (Curvulariaandropogonis), que começa aaparecer cerca de 30 a 40 dias apósos cortes e se intensifica com odesenvolvimento das plantas. Hásuspeita de que esse problema sejaoriginado por desequilíbrionutricional, porém necessita depesquisa para confirmação.

A palma-rosa apresenta sus-cetibil idade a Pyricularia sp. eHelminthosporium sp. nas fasesfinais de desenvolvimento, es-pecialmente na maturação dassementes.

de adubação e manejo, relatadasneste trabalho.

Convém considerar também que,antes da decisão de plantio, énecessário conhecer o mercado, poisa demanda por óleos essenciais éextremamente variável e hánecessidade de investimentos emdestiladores e outros equipamentos.

Literatura citada

Figura 5. Estacas enraizadas de patchuli prontas para plantio

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Page 44: Edição de julho de 2010

43Agropecuária Catarinense, v.23, n.2, jul. 2010

Osistema integração lavoura--pecuária (Silp) é definidocomo a produção alternada,

na mesma área, de pastagens anuaisou perenes destinadas à produçãoanimal com culturas destinadas àprodução vegetal, principalmentegrãos. Nesse conceito, é importanteconsiderar o SILP como um sistemade produção cujo sucesso édeterminado pela relação de váriosfatores técnicos, econômicos eambientais. Na Região Sul do Brasil,a modalidade do Silp mais utilizadaé com pastagem no inverno, empastejo direto, seguido de lavoura noverão.

O Silp pode proporcionarvantagens econômicas e ambientaisem relação a sistemas não integradosde produção, entre as quais:diversificação de fontes de renda;redução de riscos de insucessoeconômico; aumento da renda porárea; alta ciclagem de nutrientes;melhoria da qualidade do solo, quese reflete em sua conservação; eaumento da diversidade de plantas,que pode proporcionar redução deinsetos-praga, doenças e plantasdaninhas, diminuindo o custo deprodução (Balbinot Jr. et al., 2009a).

Embora essas vantagens possamser atingidas, o sucesso do Silpdepende de adequado conhecimento,planejamento e execução deatividades nas propriedades rurais,pois sistemas que envolvem ainteração solo-planta-animal sãomais complexos do que sistemas queenvolvem somente a interação solo--planta. No Silp, as práticas demanejo sempre devem ser orientadasno sentido de maximizar as receitaslíquidas, considerando a produção

Fundamentos do sistema integração lavoura-pecuáriaAlvadi Antonio Balbinot Junior1 e Milton da Veiga2

Aceito para publicação em 18/5/10.1 Eng.-agr., Dr., Epagri/Estação Experimental de Canoinhas, C.P. 216, 89460-000 Canoinhas, SC, e-mail: [email protected] Eng.-agr., Dr., Epagri/Estação Experimental de Campos Novos, C.P. 116, 89620-000 Campos Novos, SC, e-mail: [email protected].

vegetal e animal de forma conjunta.Em outras palavras, a produçãoanimal não deve comprometer aprodução vegetal e vice-versa.

O objetivo deste trabalho éapresentar os fundamentos técnicospara que o Silp seja sustentável,proporcionando vantagens econô-micas e ambientais.

Fundamentos técnicospara o sucesso do Silp

O Silp pressupõe a prática decinco fundamentos básicos:

1) Uso do sistema plantiodireto. A compactação do solo é umdos fatores que mais preocupa osagricultores que usam o Silp(Balbinot Jr. et al., 2009b). Amanutenção do solo estruturado ecoberto com plantas vivas ou compalha é fator chave para que o solo

suporte a ação mecânica pro-porcionada pelo pisoteio de animais,sem que haja compactação. A palhadissipa parte da energia do impactomecânico sobre o solo (Braida et al.,2006), como o promovido pelopisoteio, pois o solo estruturadopossui maior resistência àdeformação plástica decorrente daaplicação de cargas sobre a superfície(Veiga et al., 2007). Nesse sentido, éfundamental que a implantação depastagens que se propaguem porsementes e de culturas paraprodução vegetal seja realizada commínimo revolvimento do solo,util izando-se semeadura direta(Figura 1). No entanto, na Região Suldo Brasil ainda é muito comum aimplantação de pastagens anuais deinverno com uso de grade niveladora,o que aumenta a propensão àcompactação superficial do solo pelo

Figura 1. Pastagem anual de inverno implantada com uso de semeadora, emsistema plantio direto

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44 Agropecuária Catarinense, v.23, n.2, jul. 2010

pisoteio, além da erosão hídrica.Maiores cuidados com a compactaçãosuperficial imposta pelo pisoteiodevem ser considerados em solos comteores de argila maiores que 60%.

2) Correção da acidez e adu-bação. A maioria das lavouras deSanta Catarina apresenta pH e/outeor de fósforo muito baixo ou baixo(Veiga et al., 2008), o que é limitanteà produção da maioria das culturas.A correção da acidez do solo com usode calcário em doses recomendadaspara elevar o pH em água para 5,5,bem como o aumento do teor defósforo, são práticas fundamentaispara garantir alto rendimento damaioria das pastagens e das culturasdestinadas à produção vegetal. Poroutro lado, é importante enfatizarque a aplicação de calcário deve serrealizada somente quando o pHestiver abaixo desse patamar. Comrelação à adubação, é fundamentalconsiderar as pastagens comoculturas que extraem nutrientes erespondem ao aumento de suadisponibilidade, principalmente onitrogênio (N), devendo serestabelecido um planejamento defornecimento destes para aumentara produção de fitomassa e evitar oempobrecimento do solo. Adeficiência de N limita o rendimentoforrageiro, principalmente emgramíneas (Balbinot Jr. et al., 2008),espécies que constituem a base daprodução de pastagens no Brasil. Aadubação nitrogenada, além deaumentar o rendimento e a qualidadeda forragem, pode melhorar odesempenho de culturas semeadasem sucessão, devido ao apro-veitamento do N residual, comoobservado em trabalho desenvolvidopor Assmann et al. (2003). Além doN, o fósforo (P) e o potássio (K)também são nutrientes requeridosem altas quantidades e, na maioriados casos, precisam ser aplicados empastagens.

3) Rotação de culturas. Comoem qualquer sistema de produçãovegetal, a rotação de culturas éimprescindível para a susten-tabilidade do Silp, pois melhora aqualidade e a conservação do solo,reduz a incidência de insetos-praga,doenças e plantas daninhas eaumenta a diversificação temporal da

exploração econômica na pro-priedade rural. É muito comum acondução do Silp sem rotaçãoplanejada como, por exemplo, arepetição ao longo dos anos dasucessão de pastagem anual deinverno, composta por aveia-preta +azevém, e soja na primavera-verão,o que pode inviabilizar o sistema. Nocaso de pastagens de gramíneasperenes, é importante introduzirleguminosas, visando melhorar aqualidade da forragem e osuprimento de N, bem como reduziros custos de produção.

4) Uso de genótipos deanimais e vegetais adaptados emelhorados. É importante o uso degenótipos que apresentem elevadorendimento, com parâmetrosqualitativos e de rusticidadedesejados. Para tal, é imperativo otrabalho constante do melhoramentogenético vegetal e animal.

5) Manejo correto da pas-tagem. O manejo apropriado dapastagem é fator determinante parao sucesso do Silp. A manutenção daaltura das plantas recomendada paracada espécie é importante paraobtenção de alto rendimento equalidade forrageira e, ao mesmotempo, melhoria da qualidade do soloe redução da compactação impostapelo pisoteio, independentemente douso de sistema de pastejo, rotativo oucontínuo. Cada espécie forrageiraapresenta altura adequada depastejo, determinada pelas suascaracterísticas morfofisiológicas.Quando se maneja a pastagem comaltura muito elevada, há redução dosteores de proteína bruta e energia,além de elevação do teor de fibrabruta. Isso resulta na redução doconsumo e da digestibilidade daforragem, além de haver perda defolhas e caules devido à senescência,reduzindo assim a util ização dapastagem pelos animais. Em sentidooposto, pastagem manejada comaltura de plantas muito baixa resultana redução da área foliar,comprometendo a interceptação deluz pela estrutura da pastagem e,consequentemente, reduzindo suafotossíntese líquida e comprometendoo rebrote e a produção de fitomassa.

Além disso, pastagens queapresentam baixa cobertura do solo

devido ao pastejo excessivo fornecempouca palha para o plantio direto emsucessão, e favorecem a infestaçãopor plantas daninhas e a ocorrênciade erosão hídrica. A altura dapastagem é de fácil determinação nocampo e, por isso, tem sidoempregada mais comumente nomanejo da pastagem do que a ofertade forragem, que corresponde àfitomassa seca disponível para cada100kg de peso vivo por dia,representando, portanto, umavariável de difícil determinação nocampo. No caso de pastagem deaveia-preta + azevém, largamenteutil izada no Sul do Brasil,considerando resultados de pesquisasque avaliaram a produção forrageira(Pontes et al., 2004; Lopes et al.,2009), a produtividade animal porindivíduo e por área (Lopes et al.,2008), bem como o desempenhoprodutivo de culturas de verãosemeadas em sucessão (Lopes et al.,2009; Balbinot et al., 2009c), pode-seafirmar que, em pastejo contínuo, aaltura da pastagem adequada é de15 a 20cm. Se o sistema for o rotativo,a entrada dos animais deve ocorrerquando a pastagem possuir,aproximadamente, 30cm de altura(Figura 2) e a saída, quando afitomassa remanescente estiverpróximo de 12cm de altura, a fim depermitir elevada capacidade derebrote. Atualmente, um dosprincipais problemas verificados emSILP é o manejo da pastagem comaltura de resteva baixa e,consequentemente, reduzida áreafoliar (Figura 3). Para o manejoadequado das pastagens éfundamental efetuar o planejamentoforrageiro, adequando a carga animalà oferta de forragem. Havendo sobra,pode-se utilizar a conservação deforragem sob a forma de silagem oufeno para suplementação alimentar.

Considerações finais

Para que as vantagens eco-nômicas e ambientais do sistemaintegração lavoura-pecuária sejamatingidas, são fundamentais o uso dosistema plantio direto, a correção daacidez e adubação da pastagem, arotação de culturas, o uso de

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genótipos vegetais e animaisadaptados e de alto potencialprodutivo e, sobretudo, o adequadomanejo da pastagem, mantendoalturas corretas de plantas, a fim deque ocorra alto rebrote, elevadaqualidade forrageira e adequadascondições de solo para cultivo deplantas de lavoura em sucessão.

Literatura citada

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2. BALBINOT JR., A.A.; MORAES, A.;PELISSARI, A. et al. O nitrogênio afetaa produção e a composição botânica empastagem de gramíneas consorciadascom leguminosas. Revista de CiênciasAgroveterinárias, Lages, v.7, n.2, p.119-126, 2008.

3. BALBINOT JR., A.A.; MORAES, A.;VEIGA, M. Integração lavoura--pecuária: intensificação de uso de áreasagrícolas. Ciência Rural, Santa Maria,v.39, n.6, p.1925-1933, 2009a.

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5. BALBINOT JR., A.A.; MORAES, A.;VEIGA, M. et al. Desempenho dacultura do feijão após diferentes formasde uso do solo no inverno. Ciência Rural,Santa Maria, v.39, n.8, p.2340-2346,2009c.

6. BRAIDA, J.A.; REICHERT, J.M.;VEIGA, M. et al. Resíduos vegetais nasuperfície e carbono orgânico do solo esuas relações com a densidade máximaobtida no ensaio proctor. RevistaBrasileira de Ciência do Solo, Viçosa,v.30, n.4, p.605-614, 2006.

7. LOPES, M.L.T.; CARVALHO, P.C.F.;ANGHINONI, I. et al. Sistema deintegração lavoura-pecuária: desem-penho e qualidade de carcaça denovilhos superprecoces terminados empastagem de aveia e azevém manejadasob diferentes alturas. Ciência Rural,Santa Maria, v.38, n.1, p.178-184, 2008.

8. LOPES, M.L.T.; CARVALHO, P.C.F.;ANGHINONI, I. et al. Sistema deintegração lavoura-pecuária: efeito domanejo da altura em pastagem de aveiapreta e azevém anual sobre orendimento da cultura da soja. CiênciaRural, Santa Maria, v.39, n.5, p.1499-1506, 2009.

9. PONTES, L.S.; CARVALHO, P.C.F.;NABINGER, C. et al. Fluxo de biomassaem pastagem de azevém anual (Loliummultif lorum Lam.) manejada emdiferentes alturas. Revista Brasileira deZootecnia, Viçosa, v.33, n.3, p.529-537,2004.

10. VEIGA, M.; HORN, R.; REINERT, D.J.et al. Soil compressibil ity andpenetrability of an Oxisol from southernBrazil, as affected by long-term tillagesystems. Soil & Til lage Research,Amsterdan, v.92, n.1, p.104-113, 2007.

11. VEIGA, M.; PANDOLFO, C.M.;MÜLLER NETO, J.M. et al. Diagnósticoda fertilidade em solos cultivados deSanta Catarina, em 2004. AgropecuáriaCatarinense, Florianópolis, v.21, n. 3,p.79-84, nov.2008.

Figura 3. Pastagem anual de inverno manejada com baixa altura de pastejo epouca área foliar – condição que representa um dos principais problemas dosistema integração lavoura-pecuária no Sul do Brasil

Figura 2. Início do pastejo rotativo na altura correta da pastagem formada pelo consórciode aveia-preta, azevém e ervilhaca (30cm de altura)

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46 Agropecuária Catarinense, v.23, n.2, jul. 2010

Omilho (Zea mays L.)apresenta grande impor-tância socioeconômica em

Santa Catarina, principalmente paraprodutores do Meio-Oeste e Oeste doEstado, regiões que concentram omaior número de criatórios de suínose aves. No ano agrícola 2008/09, aprodução catarinense foi deaproximadamente 3,3 milhões detoneladas, com produtividade médiade 5,29t/ha (Cepa, 2010). Entre osfatores que reduzem a produtividadeda cultura do milho estão a restriçãohídrica, ataque de insetos e aincidência de doenças, como fer-rugens, manchas foliares, podridõesde colmo e podridões de espiga.

Os grãos de milho podem serdanificados por fungos, na pré--colheita, por podridões de espigasque causam grãos “ardidos” e na pós--colheita, durante o beneficiamento,armazenamento e transporte,causando grãos mofados ouembolorados. No processo decolonização dos grãos, muitos fungostoxigênicos causam danos físicos,como descoloração dos grãos, reduçãodos teores de carboidratos, proteínase açúcares totais e podem produzirdenominadas micotoxinas, que sãometabólitos “secundários”, liberadosno substrato onde crescem (Dhingra& Netto, 1998).

É importante ressaltar que apresença de fungos toxigênicos nãoimplica necessariamente a produçãode micotoxinas, as quais estãointimamente relacionadas àcapacidade de biossíntese do fungo edas condições ambientais, tais comoa alternância entre as temperaturasdiurna e noturna (Embrapa, 2008).

Os grãos “ardidos” em milhodecorrem das podridões de espigas,causadas principalmente pelosfungos Fusarium moniliforme(Sheld.) (Figuras 1 e 2), Diplodia

Micotoxinas na cultura do milhoJoão Américo Wordell Filho1

maydis (Berk.), Diplodia macrospora(Earle), Fusarium subglutinans(Sheld.), Fusarium graminearum(Schwabe.) (Figura 2) e Fusariumsporotrichioides (Sherb.). Oca-sionalmente, no campo, há produçãode grãos “ardidos” causados pelosfungos Penicillium oxalicum (Currie& Thom.), Aspergillus flavus (Link.)

podridões de espigas verificadas noBrasil.

A podridão branca da espiga écausada pelos fungos D. maydis e D.macrospora. As espigas infectadaspor esses patógenos apre-sentam osgrãos de cor marrom, com baixo pesoe crescimento micélico branco entreas fileiras de grãos. No interior das

Aceito para publicação em 8/6/10.1 Eng.-agr., D.Sc., Centro de Pesquisa para Agricultura Familiar (Cepaf), C.P. 791, 89801-970 Chapecó, SC, fone: (49) 3361-0615,e-mail: [email protected].

(Figura 2), Aspergillusparasiticus (Speare) eAspergillus niger(Tiegh). Os fungos F.graminearum, F.sporotrichioides e D.maydis são maisfrequentes nos Esta-dos do Sul do Brasil,eF. moniliforme, F.subglutinans e D.macrospora ocorremnas demais regiõesprodutoras de milhodo País. A seguir serãodescritas as principais

Figura 2. Colônias de fungos causadores de grãos “ardidos” em milho e produtoras demicotoxinas (A) Fusarium moniliforme, (B) Fusarium graminearum e (C) Aspergillusflavus

(A)

(C)

(B)

Figura 1. Espiga de milho apresentando crescimentomicélico do fungo Fusarium moniliforme

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47Agropecuária Catarinense, v.23, n.2, jul. 2010

espigas ou nas palhas destas, quandoinfectadas, há a presença denumerosos picnídios (pontos negros),que são as estruturas reprodutivasdo patógeno. Apenas a D. macrosporainfecta as folhas do milho. Adiferenciação dessas espécies só épossível com análises microscópicas,pois os esporos de D. macrospora sãomaiores e mais alongados do que osde D. maydis. Os esporos dessesfungos sobrevivem no solo, nos restosde cultura e nas sementes na formade esporos e de micélio dormente,sendo essas as fontes primárias deinóculo para a infecção das espigas.A infecção pode iniciar em qualquerextremidade da espiga. Entretanto,as espigas mal empalhadas ou compalhas frouxas e as de cujas plantasnão são dobradas após a maturidadefisiológica são as mais suscetíveis. Aalta precipitação pluviométrica naépoca da maturação dos grãosfavorece o aparecimento dessadoença. O crescimento da podridãocessa quando o teor de umidade dosgrãos atinge 21% a 22%.

O controle integrado de podridõesde espiga envolve util ização decultivares resistentes, uso desementes livres dos patógenos,destruição de restos culturais demilho infectados e rotação deculturas, visto que o milho é o únicohospedeiro desses patógenos (Reis etal., 2004).

A podridão rosada da espiga écausada por F. moniliforme ou por F.subglutinans. Esses patógenosapresentam-se em muitas plantashospedeiras, sendo, por isso,considerados parasitas nãoespecializados. A infecção podeiniciar pelo topo ou por qualquerparte da espiga, mas sempre estáassociada a alguma injúria. Com odesenvolvimento da doença, umamassa cotonosa avermelhada poderecobrir os grãos infectados ou a áreada palha atingida. Em alguns grãos,pode haver o aparecimento de estriasbrancas no pericarpo, causadas pelaação do fungo. Quando a infecçãoocorre pelo pedúnculo da espiga,todos os grãos podem ser infectados,mas se desenvolverá apenas naquelesque apresentarem alguma injúria nopericarpo. O desenvolvimento dessespatógenos nas espigas é paralisadoquando o teor de umidade dos grãos

atinge 18% a 19%. Embora essesfungos sejam frequentementeisolados das sementes, essas não sãoa principal fonte de inóculo. Pelo fatode esses fungos possuírem uma fasesaprofítica ativa, eles sobrevivem ese multiplicam na matéria orgânicae no solo, sendo essa a fonte principalde inóculo (Reis et al., 2004;Embrapa, 2008).

A podridão rosada da ponta daespiga é também conhecida pelonome de podridão de F.graminearum, sendo mais comum emregiões de clima ameno e de altaumidade relativa do ar. A incidênciade chuvas após a polinização propiciaa ocorrência dessa podridão deespiga. Essa doença inicia com umamassa cotonosa avermelhada naponta da espiga, podendo dispersar--se para a base da espiga. A palhapode ser colonizada pelo fungo,ficando colada à espiga. Oca-sionalmente, essa podridão podeiniciar na base e espalhar-se para aponta da espiga, confundindo osintoma com aquele causado por F.moniliforme ou F. subglutinans.Chuvas frequentes no final dodesenvolvimento da cultura,principalmente em lavoura comcultivar de espigas não decumbentes,aumentam a incidência dessapodridão de espiga (Reis et al., 2004).

O gênero Fusarium tem umafaixa de temperatura ótima para oseu desenvolvimento situada entre20 e 25oC. Contudo, suas toxinas sãoproduzidas a temperaturas baixas.Por isso, os fungos desse gêneroproduzem as micotoxinas sob o efeitode choque térmico, principalmentecom alternância entre astemperaturas diurna e noturna. Paraa produção de micotoxinas atemperatura ótima está em torno de10 a 12oC (Embrapa, 2008).

Atualmente, os grãos “ardidos”constituem-se em um dos principaisproblemas de qualidade do milhodevidos à possibilidade da presençade micotoxinas, tais como aflatoxinas(A. f lavus e A. parasiticus),fumonisinas (F. moniliforme e F.subglutinans), zearalenona (F.graminearum), vomitoxinas (F.moniliforme), toxina T-2 (F.sporotrichioides), entre outras(Tabela 1).

As perdas qualitativas por grãos“ardidos” desvalorizam o produto econstituem-se em uma ameaça àsaúde animal e humana. Comopadrão de qualidade, tem-se, emalgumas agroindústrias, a tolerânciamáxima de 6% para grãos “ardidos”em lotes comerciais de milho.

Por causa dos efeitos tóxicos e desuas propriedades sinérgicas, apresença de micotoxinas nosalimentos pode provocar, no homeme nos animais, intoxicações agudas oucrônicas, às vezes mortais (Hussein& Brasel, 2001). Além dessesproblemas de saúde, acrescentam-seperdas econômicas para os atores dascadeias produtivas. A ingestão dealimentos contaminados pode baixaro desempenho produtivo dos animais,particularmente nas aves (inape-tência, redução da conversãoalimentar e do ganho de peso,diminuição da produção de ovos, etc.)(Santuário, 2000).

A destoxificação dos alimentoscontaminados por micotoxinas édifícil e dispendiosa (Quillien, 2002).Por isso, é necessário prevenir aformação dessas micotoxinas pelaimplementação de um Sistema deGestão Integrada da Qualidade(SGIQ), que se baseia em boaspráticas de pré- e pós-colheita e emplanos de controle ao longo da cadeiaprodutiva. A absorção de aflatoxinasatravés da adição de alumi-nossilicatos às rações para o consumoanimal é um método cada vez maisempregado e eficiente no controle deaflatoxinas.

Prevenção e controle defungos toxicogênicos

A prevenção é o melhor métodopara controlar a infecção dos grãosde milho por fungos promotores degrãos “ardidos”. A contaminação degrão por fungos é um problema sérioe de difícil controle, ocorrendo emcondições inadequadas de pré--colheita, colheita, transporte earmazenamento (Gil & Lima, 1996).Para minimizar esses efeitos, deve--se levar em consideração umconjunto de medidas:

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48 Agropecuária Catarinense, v.23, n.2, jul. 2010

a) Práticas a serem adotadasno campo

• Utilizar cultivares de milho commaior resistência a podridões de espi-gas. Os híbridos/variedades resis-tentes estão disponíveis na internetna página da Embrapa Milho e Sorgo(www.cnpms.embrapa.br).

• Realizar rotação de culturas acada 2 a 3 anos utilizando espéciesde plantas não suscetíveis aos fungosdos gêneros Fusarium e Diplodia,tais como: soja (Glycine max L.) egirassol (Helianthus annuus L.) (Reiset al., 2004).

• Promover o controle das plantasdaninhas hospedeiras de fungos dogênero Fusarium (Reis et al., 2004;Embrapa, 2008).

• Usar sementes livres de fungos.• Semear na densidade recomen-

dada para cada cultivar.• Utilizar cultivares de milho com

espigas decumbentes.• Não colher espigas de plantas

acamadas.• Colher na época adequada e

evitar acamamento e danosmecânicos à cultura.

• Realizar o enterrio de restosculturais de milho infectados comfungos causadores de grãos “ardidos”.

• Evitar o estresse nutricional daplanta, principalmente o estressehídrico, que predispõe à

contaminação por fungos (Scussel,1998).

• Colher quando a umidade dosgrãos for igual ou inferior a 13%.

b) Medidas pós-colheita

• Secar o produto imediatamenteapós a colheita (se necessário),mantendo a umidade de armaze-namento a 13%.

• Durante a estocagem, devem-searmazenar os grãos em local seco quenão permita a entrada de água, e sobcondições de temperatura adequada.

Literatura citada

Micotoxina Fungo Estrutura química Toxicidade

Aflatoxinas Aspergillus flavus Derivados de policetoácidos Aves, suínos, bezerros: hepatotóxicas,B1, B2, G1, G2 Aspergillus parasiticus teratogênicas, imunotóxicas,

hemorrágicas, cancerígenasHumana: hepatocancerígena

Fumonisinas Fusarium moniliforme Derivados de policetoácidos Aves, suínos, bezerros: imunotóxicasB1, B2, B3 Fusarium proliferatum Equinos: leucoencefalomalacia

Suínos: edema pulmonar, hepatotóxicasHumana: provavelmente responsávelpelo câncer do esôfago

Zearalenona Fusarium culmorum Derivados de policetoácidos Suínos: estrogênicaFusarium graminearum

Ocratoxina A Penicillium verrucosum Derivados de policetoácidos Aves, suínos: nefrotóxica, imunotóxica,Aspergillus ochraceus teratogênica, cancerígena

Desoxinivalenol Fusarium culmorum Derivados de terpenos Aves, suínos: imunotóxica, citotóxica,(tricoteceno) Fusarium graminearum neurotóxica, dermonecrosante,

hemorrágica

Tabela 1. Principais micotoxinas, sua estrutura química e toxicidade presentes em grãos ardidos de milho por ação de fungostoxicogênicos

Fonte: Brabet et al. (2005).

1. BRABET, C.; SALAY, E.; FREITAS--SILVA, O. et al. Gestão integrada demicotoxinas na cadeia produtiva domilho destinado à alimentação defrangos de corte no Brasil. Cadernos deCiência & Tecnologia, Brasília, v. 22,p.439-451, 2005.

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3. DHINGRA, O.; NETTO, R.A.C.Micotoxinas em grãos. In: LUZ, W.C.;FERNANDES, J.M.; PRESTES, A. M.et al. (Eds.). Revisão anual de patologia

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4. EMBRAPA. Cultivo do milho – doenças:qualidade sanitária de grãos.Disponível em:< http://www.cnpms.embrapa.br/publicacoes/milho/doencasgraos.htm.>. Acesso em:30 nov. 2008.

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8. RODIGHERI, J.A. Milho. Síntese Anualda Agricultura de Santa Catarina2008-2009, Florianópolis, 2010.Disponível em: < http://cepa.epagri.sc.gov.br/Publicacoes/s intese_2009/s intese_2009.pdf>.Acesso em: 12 jan. 2010.

9. SANTUARIO, J.M. Micotoxinas emicotoxicoses na avicultura. RevistaBrasileira de Ciência Avícola,Campinas, v.2, p.1-12, 2000.

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11. QUILLIEN, J.F. Les mycotoxines.Paris: INRA, 2002. 24p. (PME N. 3).

Page 50: Edição de julho de 2010

49Agropecuária Catarinense, v.23, n.2, jul. 2010

Análise econômica da produção de ostras na Região daGrande Florianópolis, SC

Léo Teobaldo Kroth1, Paulo de Tarso Rozas Rodrigues2 e Zeno Frasson3

Aceito para publicação em 14/4/10.1 Eng.-agr., M.Sc., Epagri/Escritório Regional de Florianópolis, Rod. Admar Gonzaga, 1.188, 88010-970 Florianópolis, SC, fone: (48) 3239-5568, e-mail: [email protected] Méd.-vet., Esp., Epagri/Escritório Regional de Florianópolis, fone: (48) 3239-8172, e-mail: [email protected] Eng.-agr., Epagri/Escritório Regional de Florianópolis (aposentado), fone: (48) 3239-5568, e-mail: [email protected].

Amaricultura é uma impor-tante atividade econômicado litoral de Santa Catarina,

especialmente para a Região daGrande Florianópolis. A produção demoluscos na safra 2006/2007 foi de1.857.530 dúzias de ostras e 7.957toneladas de mexilhões, repre-sentando 95,67% das ostras e 65,04%dos mexilhões produzidos em SantaCatarina (Oliveira Neto, 2009). Amaricultura é desenvolvida naRegião por mais de 500 produtores,responsáveis por aproximadamente1.600 empregos diretos, gerando nasafra 2006/07 uma movimentaçãofinanceira da ordem de 20 milhões dereais (Epagri, 2007).

O cultivo de moluscos, conformeBarni et al. (2003), surgiu comoalternativa de produção e renda paraas famílias das comunidadespesqueiras do litoral catarinense.Nos últimos anos se tornou aprincipal fonte de renda para amaioria das famílias de pescadoresartesanais, além de desempenhar umimportante papel na ocupação damão de obra tanto para a famíliaprodutora como para outrosmoradores.

De acordo com Nascimento et al.(2008), a atividade aquícola constituium conjunto bastante amplo deprodutos oriundos de ambientesaquáticos marinhos e continentais, osquais são obtidos por meio do cultivoou criação de organismos como

peixes, moluscos, plantas aquáticase crustáceos. No Brasil, a produçãoaquícola desenvolve-se com o objetivode atender a demanda interna.Porém se desconhecem seus limites,pois o País tem mais de 7,4 milquilômetros de litoral e centenas derios que dispõem de água, recursonatural fundamental ao processoprodutivo aquícola.

Quanto aos fatores básicos doprocesso produtivo de moluscos,Nascimento et al. (2008) relacionama água, o trabalho e o capital, os quaisse ajustam a outros fatorescomumente alheios ao controlegerencial. A variação da temperaturada água, as ressacas marinhas e atecnologia empregada na produçãosão fatores que podem influenciar naprodução e na rentabilidade donegócio aquícola, interferindo nopreço final dos produtos cultivados nosetor.

A condução de estudos sobresistemas de produção requermetodologias de análise eacompanhamento sistemático paraapontamento de dados durante todasas etapas do processo produtivo,possibil itando a melhoria dodesempenho técnico e econômico daspropriedades pela implantação depráticas gerenciais.

Segundo Nascimento et al. (2008),relatórios gerenciais facil itam aidentificação dos ajustes para umdesempenho mais eficiente, pois

apresentam custos fixos e variáveisdo processo produtivo, além de outroscustos e despesas referentes atransporte, pessoal e serviçosdiversos do processo, fazendo comque o gestor possa melhor planejar odesempenho financeiro e econômicoda unidade produtiva. Para osautores, a contabilidade gerencial ea contabilidade de custos forneceminformações imprescindíveis parauma gestão eficaz; afinal, se o donoda unidade produtiva deseja tersucesso no empreendimento,certamente dependerá de umcontrole de custos eficiente.

Com esse enfoque, foi iniciado emjulho de 2005, no município deFlorianópolis, trabalho junto apropriedades que têm no cultivo deostras sua principal atividade. Osdados e as informações financeirasforam coletados e registradosperiodicamente. Sua análise permitea definição de indicadores eco-nômicos, bem como a comparação dedesempenho entre as propriedadesacompanhadas.

Metodologia

De acordo com Agostini (2005), aadequada administração de sistemasprodutivos envolve uma organizaçãoestável das atividades. A análise demudanças ou recomendações técni-cas propostas requer conhecimentosobre a dinâmica, acompanhamento

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50 Agropecuária Catarinense, v.23, n.2, jul. 2010

e avaliação das interações entre asvariáveis envolvidas, sem deixar deconsiderar as atitudes e preferênciasdo produtor e sua família.

Para uma melhor compreensãodos fatores envolvidos no sistema deprodução de ostras na Região daGrande Florianópolis, notadamenteos de ordem econômica, realizou-se opresente estudo, valendo-se demetodologia desenvolvida e utilizadapelos técnicos da Epagri para análiseeconômica de sistemas produtivos.

O trabalho foi iniciado com adefinição de três propriedades quepossuem unidades e sistemas decultivo estruturados de acordo comas bases tecnológicas preconizadaspara a atividade, utilizadas pelamaioria dos produtores que sededicam à ostreicultura.

A partir disso, foi feito uminventário inicial na propriedade,identificando-se todas as instalações,máquinas, equipamentos, materiaise estoques existentes, além da mãode obra disponível. Na sequência,foram coletados mensalmente dadostécnicos (de produção e financeiros)

que foram avaliados no Sistema deContabilidade Agrícola (Contagri),software desenvolvido pela Epagri,que permite realizar contabilidadeagrícola, cálculo de indicadores dedesempenho técnico e econômico deatividades e sistemas produtivos,custos de produção, além de análisescomparativas.

Para a avaliação econômica daprodução de ostras nas propriedadesacompanhadas, foram utilizados osseguintes conceitos: 1) renda brutatotal: ingresso de recursosfinanceiros; 2) custos variáveis:despesas realizadas com desembolsode recursos financeiros, destinadas auma única safra ou ciclo produtivo;3) margem bruta: renda bruta totalmenos os custos variáveis; 4) custosfixos: despesas em que não hádesembolso de recursos financeiros eque existem independentemente dofuncionamento da propriedade, taiscomo depreciação de máquinas eequipamentos, mão de obra familiar,impostos e juros sobre capital; 5)lucro ou prejuízo: resultadoeconômico final do negócio, ou seja,

a renda bruta total menos os custosfixos e variáveis; e 6) payback:tempo de retorno do capital investido.

Na comparação do resultado daspropriedades entre si, considerou-seuma taxa de juros de 6% pararemuneração do capital; 13 saláriosmínimos por unidade de trabalho(UTH), que corresponde a 8 horas detrabalho/dia/pessoa adulta, comopagamento da mão de obra familiar;e o hectare/ano como unidade padrãode análise.

Caracterização daspropriedades

A produção de ostras constitui aprincipal atividade econômica daspropriedades estudadas, com osproprietários trabalhando direta-mente no empreendimento, emregime de economia familiar, tendoem média dois empregados con-tratados.

O sistema de cultivo utilizado naspropriedades é o long-line (Figura 1),que se caracteriza pela utilização decabos mestres de polietileno dispostos

Lanterna Long-lineLanterna Long-line

Figura 1. Sistema de produção de ostras com long-line e detalhe da lanterna de cultivo

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51Agropecuária Catarinense, v.23, n.2, jul. 2010

na superfície da água, suspensos porboias, fixos nas extremidades porpoitas ou âncoras. Nos cabos sãoafixadas estruturas chamadas“lanternas” de 5 andares (Ferreira &Oliveira Neto, 2003), espaçadas auma distância média de 1m.

Segundo Gramkow (2002), osistema de produção de ostrasenvolve três fases: 1) colocação dassementes em berçários; 2)transferência das sementes, comtamanho pré-definido, paralanternas intermediárias; e 3) seleçãodas ostras por tamanho etransferência para lanternas deengorda. O cultivo exige manejofrequente, envolvendo peneiramento,limpeza com jato d’água ou manual,exposição ao sol e ao ar paraeliminação de organismos in-crustantes, entre outros cuidadosessenciais.

A área de cultivo de ostras e o nú-mero de lanternas utilizadas por pro-priedade são mostrados na Tabela 1.

Resultados

A quantidade de ostrasproduzidas por maricultor pode servisualizada na Figura 2.

A quantidade de ostras produzidavariou entre as três propriedades,mas manteve uma constância naprodução de cada propriedade nosdois anos pesquisados. Isto se deve,principalmente, às diferenças nomanejo praticado em cada unidade.A propriedade 1 tem uma produçãomaior principalmente porque asostras são colhidas com tamanhomenor e num espaço de tempo maisreduzido, por serem comercializadasdefumadas, processo que exige ostrascom tamanho apropriado para tal;enquanto a propriedade 3comercializa ostras maiores,principalmente para restaurantes,mantendo-as mais tempo na água, oque aumenta o índice de mortalidade.

Como qualquer processoprodutivo, os custos da ostreiculturatambém são considerados como fixose variáveis, estando apresentados naFigura 3, juntamente com o lucroanual/hectare.

Na composição dos custosvariáveis, as sementes de ostras e amão de obra foram os fatores maisrepresentativos, correspondendojuntos a uma média de 64,01%,diferentemente de outras atividadespecuárias que têm na alimentação enas despesas sanitárias seus maiorescustos. Isto ocorre pelo fato de asostras não consumirem ração

artif icial. Como organismosfiltradores, as ostras se alimentam dealgas obtidas no meio ambiente e nãoapresentam custo sanitário com aaquisição de vacinas e medicamentos,como é comum no cultivo de outrasespécies animais.

O maior custo variável iden-tificado no cultivo de ostras foi o damão de obra, que representou, nas

Figura 3. Resultado econômico da produção de ostras de três maricultores nosanos de 2006 e 2007

Tabela 1. Área e número de lanternas nas áreas de cultivo de ostra estudadas

Propriedade Área de Total de Lanter-cultivo) lanternas nas por ha

ha N o N o

Maricultor 1 1,5 1.066 710Maricultor 2 1,2 840 700Maricultor 3 0,8 767 958

Figura 2. Dúzias de ostras produzidas por propriedade/maricultor nos anos de2006 e 2007

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três propriedades, em duas safras,um total geral médio de 41,83% docusto total. Este alto percentual sedeve ao manejo, ainda bastanteartesanal, que exige o uso expressivode mão de obra, principalmente naseleção e limpeza das ostras nosdiferentes estágios de cultivo e nomanejo, transporte e limpeza daslanternas.

O lucro obtido variou de R$23.619,00 a R$ 52.210,00, ficando namédia de R$ 38.472,00 por hectare/ano. Esta diferença deve-se,principalmente, ao manejo utilizadoem cada propriedade e pode serverificada por meio da maiorfrequência de limpeza das lanternase seleção por tamanho das ostras, oque ocasiona melhores índices desobrevivência e maiores ganhos depeso, além de diferenças no custo deprodução. Esse lucro, comparado aode outras atividades do setoragropecuário, é bastante signi-ficativo, principalmente consi-derando-se o montante de capitalinvestido.

O custo de produção total (custovariável + fixo) variou de R$ 1,39/dúzia para o maricultor 1 no ano de2006, até R$ 2,79/dúzia para omaricultor 3, no mesmo ano, tendo ocusto total médio, nos dois períodos,alcançado R$ 2,10/dúzia produzida(Figura 4).

Estas diferenças nos custosvariáveis devem-se, principalmente,

ao menor valor pago pelas sementese à maior utilização de mão de obrafamiliar pela propriedade 1. Emrelação aos custos fixos, o maricultor3 teve um custo mais expressivodevido à maior infraestruturaprodutiva, o que ocasiona maior custode depreciação.

O resultado econômico mostrouque os custos variáveis são os maisrelevantes. Os custos de sementes eda mão de obra representaramaproximadamente 65% do total doscustos variáveis. As sementes,adquiridas de laboratório espe-cializado representaram 22,18% doscustos variáveis. O maior custo é coma mão de obra, pois a atividade deostreicultura é prioritariamenteartesanal, necessitando intensiva-

mente de trabalho manual em todasas fases do cultivo. A mecanização daatividade e a melhoria dos processosde manejo poderão, no futuro,diminuir esse custo, porém taisinovações ainda necessitam depesquisas para se consolidar.

O preço recebido pelosmaricultores por dúzia de ostravendida alcançou valores entre R$3,65 e R$ 4,61, com média de R$ 4,02/dúzia. Considerando-se os custostotais de produção e os valoresrecebidos, chega-se a um lucro médiopor dúzia de R$ 1,92 (Figura 4).

Os dados de produtividade deostras por lanterna são apresentadosna Figura 5.

A produtividade média porlanterna, em cada propriedade,

Figura 4. Resultado econômico por dúzia das propriedades produtoras de ostra

Figura 5. Produção média de ostras/lanterna/maricultor/propriedade

apresentou resultados semelhantesnos dois anos pesquisados. Apenasuma delas apresentou variação maiorna produtividade, com média de 25dúzias/lanterna/ano, tendo utilizadoa média de 700 lanternas definitivas/ha/ano, conforme apresentado naTabela 1. As outras duas proprie-dades tiveram uma produtividadesemelhante, em torno de 20 dúzias/lanterna/ano, apesar de uma terutilizado 710 e a outra 958 lanternas/ha/ano.

Esses dados permitem concluirque a quantidade de 700 lanternas/ha/ano pode ser estabelecida comoreferência para o sistema deprodução utilizado na Região da

zias

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Grande Florianópolis, pois apropriedade que obteve esseresultado apresentou a menordensidade de lanternas definitivaspor hectare, sem diminuir aprodutividade por lanterna. NaFigura 6 são apresentados osresultados referentes ao tempo deretorno do investimento daspropriedades acompanhadas.

inferiores a 5 anos são consideradasexcelentes em qualquer negócio.

Mesmo considerando baixo opreço de venda da ostra, estagnadohá vários anos em torno de R$ 4,00por dúzia, os dados analisadosdemonstram que propriedadesadequadamente conduzidas propor-cionam boa margem de lucro, pois ocusto total médio por dúzia nas

que possam ser util izados pelatotalidade da cadeia produtiva deostras do Estado.

Literatura citada

Figura 6. Tempo de retorno do investimento por maricultor nos anos de 2006 e 2007

O payback ficou, na média, em 2anos e 10 meses. Esse dadodemonstra que a atividade tem umaexcelente lucratividade em relação aomontante de capital investido.Apenas a propriedade 3 apresentouum payback acima da média nos doisanos pesquisados. Esta propriedadetambém apresentou a menorprodutividade por hectare/ano e omaior custo fixo, por ter uma maiorestrutura produtiva.

Considerações finais

Pela inexistência de dadossemelhantes, o presente trabalho nãopermite uma análise comparativacom indicadores de outros estudos.

A análise dos resultados permiteconcluir que o cultivo de ostras é umaatividade econômica viável, poisapresentou, nas propriedadesestudadas, um lucro médio/ha/ano deR$ 38.472,00, superior à maioria dasatividades agropecuárias. O paybackfoi de 2 anos e 10 meses, reforçandosua viabilidade econômica, pois taxas

propriedades analisadas, duranteduas safras, foi de R$ 2,10/dúzia, e olucro médio, de R$ 1,92.

Embora cada propriedade tenhautilizado um número diferente delanternas definitivas por hectare,conforme Tabela 1, a produtividademédia de ostras produzidas porlanterna foi semelhante nas trêspropriedades analisadas (Figura 5)durante duas safras, o que demonstraque a produção média de 21,78dúzias/lanterna e a produção médiade 20.560 dúzias/ano (Figura 2)podem ser consideradas importantesíndices técnicos de produtividadepara o sistema de produção de ostrasconduzido na Região da GrandeFlorianópolis.

Ressalta-se, ainda, a necessidadede se realizar este tipo deacompanhamento em um númeromaior de unidades produtoras e porum período de tempo maior, além deampliar a área geográfica deabrangência do estudo para outrasregiões produtivas, como forma deestabelecer indicadores econômicos

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Pay

bac

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Page 55: Edição de julho de 2010

54 Agropecuária Catarinense, v.23, n.2, jul. 2010

Introdução

A região Neotropical possuielevada diversidade de espéciesedáficas, incluindo artrópodesquelicerados e mandibuladospertencentes a mais de 75 famílias,cuja determinação dos espécimespode ser dificultada pela falta dechaves taxonômicas, principalmentepara as formas imaturas (Morón,2004). O clima, o tipo de solo, acobertura vegetal e outros fatoresinfluenciam diretamente nacomposição da fauna do solo(Antoniolli et al., 2006; Aquino et al.,2006; Baretta et al., 2006a).

A fauna edáfica, em áreascultivadas, reúne pragas e espéciesbenéficas, além de organismos quenão causam danos nem trazem

Componentes da fauna edáfica em lavouras de sojaLuís A. Chiaradia1, Márcia A. Smaniotto2, Adriane Rebonatto3 e Cristiano N. Nesi4

Resumo – A fauna edáfica em lavouras de soja (Glycine max Merrill) foi estudada em Chapecó, SC, nos anos agrícolas2006/07 e 2007/08. As amostragens foram realizadas semanalmente, usando armadilhas “pitfall” com água edetergente. As amostras foram coletadas 48 horas após a instalação das armadilhas e levadas ao laboratório paratriagem. Os espécimes capturados totalizaram 30.682 indivíduos, classificados em 7 classes e 18 ordens. As espéciesde constância “acidental” predominaram. Colêmbolos e formigas predadoras apresentaram as maiores frequênciasde captura. Os coeficientes de correlação expressos entre grupos de artrópodes edáficos sugerem a existência deinterações tróficas.

Termos para indexação: Glycine max, armadilhas “pitfall”, constância, frequência.

Soil fauna components in soybean crops

Abstract – The soil fauna in soybean (Glycine max Merrill) crops was studied in Chapecó, Santa Catarina State,Brazil, in 2006/07 and 2007/08 seasons. Samples were collected weekly, using pitfall traps with water and detergent.The samples were collected 48 hours after installation of the traps and were transported to the laboratory forsorting. The specimens captured totaled 30,682 individuals classified at 7 classes and 18 orders. The species ofconstancy “accidental” predominated. Springtails and predatory ants had higher capturing frequency. Correlationcoefficients expressed between edaphic arthropod groups suggest the existence of throphic interactions.

Index terms: Glycine max, pitfall traps, constancy, frequency.

Aceito para publicação em 24/5/10.1 Eng.-agr., M.Sc., Epagri/Centro de Pesquisa para Agricultura Familiar (Cepaf), C.P. 791, 89801-970 Chapecó, SC, fone: (49) 3361-0638,e-mail: [email protected] Graduando em Agronomia pela Unochapecó, e-mail: [email protected] Graduando em Agronomia pela Unochapecó, e-mail: [email protected] Eng.-agr., M.Sc., Epagri/Cepaf, e-mail: [email protected].

benefícios às culturas (Morón, 2004).Nas áreas cultivadas, geralmente,ocorre menor diversidade de espéciesdo que nos ambientes naturais devidoà uniformidade da cobertura vegetale às práticas adotadas nos cultivos.A fauna de solo, normalmente, nãose diferencia em termos de grupos,pois a sucessão trófica quase sempreacontece pela substituição deespécies pertencentes aos mesmosgrupos (Matson et al., 1997;Cividanes, 2002; Cividanes et al.,2003; Marinoni & Ganho, 2003;Rovedder et al., 2004; Moço et al.,2005; Baretta et al., 2006b; Alves etal., 2006).

Cividanes (2002), estudando afauna edáfica em consórcio de milho(Zea mays L.) e soja (Glycine maxMerril l), constatou seis grupos

predominantes de artrópodespredadores, destacando-se asformigas (Hymenoptera: Formicidae)em número de espécimes. Dentre aspragas houve expressiva captura degrilos (Orthoptera: Gryllidae).

Seffrin et al. (2006), avaliando aartropodofauna com armadilhas desolo em lavoura de sorgo, Sorghumbicolor (L.), conduzida pelo métodoconvencional e em sistema desemeadura direta (SSD), sobre palhade aveia-preta (Avena sativa L.),constataram a predominância debesouros em ambos os agroecos-sistemas e de formigas predadoras nalavoura conduzida em SSD.

As formigas são frequentes emáreas cultivadas, principalmenteonde é usada a rotação de culturas(Cividanes, 2002; Alves et al., 2006;

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Baretta et al., 2006b). Esses insetospossuem grande diversidade deespécies, incluindo formigasonívoras, predadoras e cultivadorasde fungos (Gallo et al., 2002).

Rossi & Fowler (2004)constataram elevada incidência deformigas dos gêneros Solenopsis,Pheidole, Crematogaster eDorymyrmex em plantações de cana--de-açúcar (Saccharum officinarumL.) situadas no Estado de São Paulo.Esses autores atribuíram a baixainfestação da broca-da-cana,Diatraea saccharalis (Fabr.)(Lepidoptera: Pyralidae) nos cana-viais à ação predadora desses insetos.

Dentre os predadores da fauna desolo destacam-se besouros dasfamílias Carabidae e Staphylinidae,que são importantes inimigosnaturais de lagartas, sendo, muitasvezes, suficientes para manter apopulação dessas pragas emequilíbrio (Marinoni & Ganho, 2003;Cividanes & Santos-Cividanes,2008).

As aranhas, no decorrer do tempo,normalmente, apresentam pequenavariação populacional em umamesma área. Esses predadoresgeneralistas capturam espéciesbenéficas e prejudiciais, chegando apraticar o canibalismo, embora sejamimportantes para o equilíbrio popula-cional da artropodofauna dos ecos-sistemas (Borror & DeLong, 1969;Cividanes, 2002; Gallo et al., 2002).

Os artrópodes da ordemCollembola, geralmente, surgem emgrande número em solos úmidos quetenham vegetais em decomposição nasuperfície (Borror & DeLong, 1969;Gallo et al., 2002; Alves et al., 2006;Antoniolli et al., 2006; Baretta et al.,2006b). Baretta et al. (2006a)constataram que os colêmbolos,ácaros e himenópteros, conjun-tamente, representaram mais de 90%da fauna capturada com armadilhasde solo em vários sistemas decondução de culturas. No “cultivomínimo” e na semeadura direta,ambos em sucessão de culturas,houve maior abundância ediversidade de espécies.

Este estudo teve por objetivoconhecer e quantificar componentesda fauna edáfica nas lavouras de sojapara auxiliar no manejo de pragasdessa cultura.

Material e métodos

O estudo foi realizado emlavouras de soja conduzidas na áreada Epagri/Centro de Pesquisa paraAgricultura Familiar (Cepaf)(27o05’06’’ latitude sul, 52o38’08’’longitude oeste; 660m de altitude),nos anos agrícolas 2006/07(variedade AL 72) e 2007/08(variedade Coodetec 224). Em cadasafra foi utilizado aproximadamente1,2ha de lavoura que havia sidoimplantada em áreas de LatossoloRoxo distroférrico, com 3,2% dematéria orgânica. O clima da regiãoé classificado como mesotérmicoúmido, caracterizado por verõesquentes (Cfa) (Classificação, 2009).

As lavouras foram conduzidaspelo SSD sobre palha de aveia-preta,que foi dessecada pela aplicação deglifosato cerca de 20 dias antes dasemeadura da soja, realizada no finalda primeira quinzena de novembrode cada ano. A adubação aplicada naslavouras foi de 250kg/ha de adubo dafórmula 02-20-20 (N-P-K). Assementes foram tratadas comCarbendazim + Thiram e comDifenoconazol para evitar doençasque ocorrem na fase inicial dedesenvolvimento das plântulas. Aparte aérea das plantas recebeu umapulverização do fungicidaEpoxiconazol + Piraclostrobina paraprevenir a ferrugem asiática(Phakopsora pachyrhizi Sydow).Outros agrotóxicos não foramaplicados nas lavouras durante acondução do estudo.

As amostragens foram realizadassemanalmente, de 14/12/2006 a 12/4/2007 e de 7/12/2007 a 10/4/2008,usando, em cada safra, oitoarmadilhas “pitfall” (copos de plásticode 200ml, com 7cm de diâmetro e9cm de altura, contendo cerca de120ml de água e 2% a 3% dedetergente). Essas armadilhas foraminstaladas com a extremidade vazadaao nível do solo, seguindo ametodologia preconizada porCividanes (2002), Aquino et al. (2006)e Baretta et al. (2006a).

As armadilhas foram distribuídasaleatoriamente e mantidas nosmesmos locais nas amostragenssubsequentes. Para evitar orevolvimento de solo na instalaçãodas armadilhas em todas as

amostragens, copos plásticossimilares foram instalados emantidos no campo, onde asarmadilhas eram inseridas. Asamostras foram recolhidas 48 horasdepois da instalação das armadilhas,sendo transferidas para frascos elevadas ao Laboratório deFitossanidade do Cepaf para triagemdos espécimes.

Na identificação das espéciesforam util izadas: a) as chavestaxonômicas de Peterson (1960),Peterson (1962), Borror & DeLong(1969), Loureiro & Queiroz (1990),Zucchi et al. (1993), Gallo et al. (2002)e Costa et al. (2006); b) o acervo daColeção Entomológica do Cepaf; e c)insetos encaminhados para espe-cialistas. Os espécimes foramtabulados por data de coleta,separadamente por táxon, de classea espécie, e pelo hábito alimentar queapresentam na cultura da soja(espécies fitófagas, inimigos naturaise com outros hábitos). Alguns insetosforam montados, etiquetados,catalogados e incorporados à coleçãoentomológica do Cepaf.

Espécies ou os grupos deartrópodes capturados foramsubmetidos à análise quantitativa defrequência (porcentagem deindivíduos em relação ao total deespécies fitófagas, inimigos naturaise com outros hábitos) e constância(número de amostras em que o grupoou a espécie esteve presente),separando em “constante” (mais de50%), “acessória” (25% a 49,9%) e“acidental” (menos de 24,9%)(Silveira Neto et al.,1976).

Uma análise de componentesprincipais foi aplicada para avaliar,simultaneamente, as correlaçõesexistentes entre alguns grupos depragas e de inimigos naturais. Oscomponentes principais foramcombinados linearmente a partir dasvariáveis originais, de formaindependente, sendo estimados nopropósito de reter, em ordem deestimação, o máximo de informaçãoda variação contida nos dadosiniciais. A representação geométricaplana das variáveis dessa análise foiapresentada por vetores, com normaigual à unidade, sendo as correlaçõesentre as variáveis expressas pelocosseno dos ângulos que os vetoresformaram entre si (Escofier & Pagès,

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56 Agropecuária Catarinense, v.23, n.2, jul. 2010

1992). Os coeficientes de correlaçãoforam classificados de acordo comBarbetta et al. (2004), que adotam ostermos ‘positiva’ e ‘negativa’ paradesignar o sentido e ‘forte’,‘moderada’ e ‘fraca’ para caracterizara força da correlação.

Resultados e discussão

Nas amostragens foram captu-rados 30.682 espécimes, pertencentesa 7 classes e 18 ordens, sendo 16.877no ano agrícola 2006/07 e 13.805 noano 2007/08. A classe mais numerosafoi a Entognata (colêmbolos), com19.528 espécimes, seguida da Insecta(10.183), Arachnida (aranhas eácaros) (494), Malacostrata(“tatuzinhos”) (262), Chilopoda(lacraias) (191), Gastropoda(caracóis) (14) e Diplopoda (“piolhos--de-cobra”) (10). Constância“acidental” foi observada para omaior número de espécies (Tabela 1).Neste aspecto, é importante salientarque o enquadramento de algunsgrupos, cujas espécies não foramdeterminadas, resultou na categoria“constante” ou “acessória”, mas asespécies consideradas isoladamenteforam de ocorrência “acidental”.

Houve a captura de 2.890espécimes fitófagos, 7.317 inimigosnaturais e 20.475 de outros hábitosalimentares. A expressiva coleta deinimigos naturais em relação àsespécies fitófagas pode ser explicadapela menor mobilidade da maioriadas espécies edáficas de hábitofitófago e devido ao fato de ospredadores serem ativos na procurade presas, eventualmente caindo nasarmadilhas (Silveira Neto et al.,1976;Borror & DeLong, 1969).

Os colêmbolos capturados no anoagrícola 2006/07 totalizaram 13.547espécimes e, no ano seguinte,somaram 5.981 indivíduos. Aprecipitação pluviométrica regis-trada pela Estação Meteorológica doCepaf durante o estudo foi de1.030mm e de 647,9mm no primeiroe no segundo ano, respectivamente.Assim, a maior incidência de chuvasno primeiro ano pode ter favorecidoo desenvolvimento desses artrópodes,corroborando as informações deBorror & DeLong (1969), Antoniolliet al. (2006), Alves et al. (2006) eBaretta et al. (2006b).

Os colêmbolos e as formigastotalizaram, conjuntamente, 83,64%dos espécimes capturados, resultadosemelhante aos obtidos por Cividanes(2002), Rovedder et al. (2004), Moçoet al. (2005) e Baretta et al. (2006a),mostrando que esses artrópodespredominam em lavouras comcultivos anuais. Dentre os insetos, asfrequências obtidas para cada ordemsão apresentadas na Figura 1.

Os himenópteros totalizaram6.514 espécimes, sendo 6.135formigas predadoras e onívoras. Apredominância de formigaspredadoras e onívoras, em relaçãoaos outros insetos, foi observadatambém nos estudos de Cividanes(2002), Rovedder et al. (2004) eSeffrin et al. (2006), mostrando aimportância desses formicídeos nocontrole de espécies edáficas queincidem em cultivos anuais. Nesteaspecto, foram observadas formigasdos gêneros Cardiocondyla ePheidole capturando colêmbolos, quemantinham presos nas mandíbulasmesmo depois de caírem nasarmadilhas. Dentre as formigasfungívaras (166), houve captura de40 saúvas-limão-sulinas, Attasexdens piriventris Santschi, 4

formigas-mineiras ou quem-quens,Acromyrmex spp. e 122 Mycocepurussp. O controle sistemático dessaspragas na área do estudo pode tersido responsável pela baixa capturadesses insetos.

Os coleópteros totalizaram 1.537espécimes, destacando-se numerica-mente a espécie Lagria villosa Fabr.(Lagriidae), com 929 indivíduos,principalmente larvas, embora essaespécie não seja reportada causandodanos às plantas de soja (Gallo et al.,2002). Dentre os besouros predadorespredominaram espécies pertencentesàs famílias Carabidae, Cincindelidaee Staphylinidae, com 132, 76 e 76espécimes, respectivamente, in-cluindo Abaris sp., Selenophorusalternans Dejean (ambas Carabidae)e Megacephala brasiliensis Kirby(Cincidelidae).

Besouros Canthidium spp.,Canthon spp. e Dichotomius ascanius(Harold) (todos Scarabaeidae), cujaslarvas têm hábito alimentarcoprófago, totalizaram 113 espécimescoletados. A incidência desses insetosfoi atribuída à existência de umfragmento florestal próximo dasáreas do estudo, onde, possivelmente,encontram condições adequadas paramultiplicação.

Figura 1. Porcentagem de insetos de cada ordem capturados em lavouras de soja comarmadilhas “pitfall”. Chapecó, SC, anos agrícolas 2006/07 e 2007/08

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Categoria taxonômica Ano agrícola

Classe Ordem Família Espécie 2006/07 2007/08 Total Frequência Constância

Espécies fitófagas N o N o N o %

Insecta Coleoptera Chrysomelidae Diabrotica speciosa (Germar) 08 11 19 0,66 Acidental

outras espécies 07 11 18 0,63 Acidental

Curculionidae Aracanthus mourei (Rosado Neto) 04 00 04 0,14 Acidental

Listronotus bonariensis (Kuschel) 00 02 02 0,06 Acidental

outras espécies 04 03 07 0,24 Acidental

Elateridade Anoplischius sp. 00 04 04 0,14 Acidental

outras espécies 06 29 35 1,21 Acidental

Lagriidae Lagria villosa Fabr. 156 773 929 32,14 Constante

Melyridae Astylus variegatus (Germar) 02 02 04 0,14 Acidental

Scarabaeidae Bothynus sp. 00 05 05 0,18 Acidental

outras espécies 07 03 10 0,35 Acidental

Hemiptera Aphidae —- 01 02 03 0,11 Acidental

Cicadellidae —- 34 57 91 3,14 Constante

Cydnidae Scaptocoris sp. 00 04 04 0,14 Acidental

outras espécies 01 56 57 1,97 Acessória

Diversas —- 10 26 36 1,24 Acidental

Hymenoptera Formicidae Acromyrmex sp. 04 00 04 0,14 Acidental

Atta sexdens piriventris Sant. 03 37 40 1,38 Acidental

Mycocepurus sp. 00 122 122 4,22 Acessória

Isoptera —- - 166 64 230 7,95 Acidental

Lepidoptera Noctuidae Anticarsia gemmatalis Hübner 03 10 13 0,45 Acidental

Spodoptera sp. 04 00 04 0,15 Acidental

Pyralidae Elasmopalpus lignosellus (Zeller) 00 08 08 0,28 Acidental

Outras —- 04 08 12 0,42 Acidental

Orthoptera Acrididae —- 12 19 31 1,08 Constante

Gryllidae —- 207 244 451 15,60 Constante

Thysanoptera —- —- 187 284 471 16,29 Constante

Gastropoda* Stylommatophora —- —- 13 01 14 0,49 Acidental

Malacostrata Isopoda ** —- —- 14 248 262 9,06 Constante

Subtotal 857 2.033 2.890 100 —

Inimigos naturais

Arachnida Araneae —- —- 247 191 438 5,99 Constante

Chilopoda Scolopendromorpha —- —- 11 180 191 2,62 Constante

Insecta Diptera Tachinidae —- 05 44 49 0,67 Acidental

Coleoptera Carabidae Abaris sp. 12 33 45 0,66 Constante

Calosoma granulatum Perty 03 03 06 0,08 Acidental

Cynthidia sp. 02 03 05 0,06 Acidental

Lebia concinna Germar 01 01 02 0,02 Acidental

Polpochila impressifrons (Dejean) 00 03 03 0,03 Acidental

Scarites sp. 02 06 08 0,11 Acidental

Selenophorus alternans Dejean 00 33 33 0,45 Constante

outras espécies 04 25 29 0,40 Acessória

Cincidelidae Megacephala brasiliensis Kirby 08 22 30 0,41 Acessória

outras espécies 00 47 47 0,63 Acidental

Coccinellidae —- 00 03 03 0,03 Acidental

Staphylinidae —- 01 73 74 1,01 Acessória

Dermaptera Forficulidae Doru sp. 01 04 05 0,06 Acidental

Hemiptera —- —- 01 04 05 0,06 Acidental

Neuroptera Hemerobiidae —- 00 01 01 0,01 Acidental

Hymenoptera Formicidae gêneros:Cardiocondyla 1.225 1.878 3.103 42,41 Constante

Camponotus 00 803 803 10,97 Acessória

Ectatomma 85 21 106 1,45 Constante

Hylomyrma 01 10 11 0,15 Acidental

Iridomyrmex 00 200 200 2,73 Acessória

Labidus 104 138 242 3,31 Acidental

Neivamyrmex 00 27 27 0,37 Acidental

Pachycondyla 00 35 35 0,48 Acidental

Paratrechina 00 31 31 0,42 Acidental

Pheidole 95 736 831 11,37 Constante

Octostruma 26 00 26 0,36 Acidental

Solenopsis 13 360 373 5,10 Constante

Strumigenys 02 15 17 0,23 Acidental

Outros 169 161 330 4,51 Constante

Vespidae — 04 01 05 0,07 Acidental

Outras Micro-himenópteros 77 126 203 2,77 Constante

Sutotal 2.099 5.218 7.317 100 —

Tabela 1. Número de indivíduos, frequência relativa e constância de artrópodes fitófagos, predadores e com outros hábitos alimen-tares capturados em lavouras de soja cultivadas em sistema de plantio direto. Chapecó, SC, anos agrícolas 2006/07 e 2007/08

(continua)

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Grilos foram capturados demaneira expressiva nas duas safras.Pelo fato de esses insetos teremhábito alimentar polífago, cortam asplântulas de soja logo após aemergência, principalmente emlavouras conduzidas pelo SSD(Cividanes, 2002). A captura detisanópteros e de moscas pode tersido influenciada pela cor branca dasarmadilhas, pela água depositadanelas ou, então, pelos odoresliberados pelos organismoscapturados nas armadilhas, poisesses insetos, na fase adulta, não têmhábito edáfico (Borror & DeLong,1969; Gallo et al., 2002). Mesmoassim, as moscas e os trips foraminseridos nas análises, da mesmaforma que os outros espécimescapturados acidentalmente nasamostragens.

Outros organismos coletados noestudo e respectivo número deespécimes foram: 438 de Arachnida,262 de Isopoda, 230 de Isoptera, 196de Hemiptera, 191 de Chilopoda, 56de Oribatida, 37 de Lepidoptera, 19de Blattariae, 14 de Stylommato-phora, 10 de Diplopoda, 5 deDermaptera e 1 de Neuroptera, o quemostra a diversidade de organismosda fauna edáfica em lavouras de soja.

Na representação geométrica daanálise de componentes principais(Figura 2), as duas primeirascomponentes explicam 49,96% davariação dos dados. Os vetoresrepresentativos de alguns grupos deespécies fitófagas e inimigos naturais

formaram ângulos agudos entre si,caracterizando a existência demoderadas e fortes correlaçõespositivas entre as populações dessesartrópodes. Por outro lado, os vetoresdos colêmbolos e o das formigaspredadoras, que têm sentidoscontrários formando um ângulo

Categoria taxonômica Ano agrícola

Classe Ordem Família Espécie 2006/07 2007/08 Total Frequência Constância

Espécimes de outros hábitos alimentares N p N p N p %

Arachnida Oribatida —- —- 25 31 56 0,27 acessória

Diplopoda —- —- —- 10 00 10 0,05 acidental

Entognatha Collembola —- —- 13.547 5.981 19.528 95,40 constante

Insecta Blattaria —- —- 08 11 19 0,10 acidental

Coleoptera Histeridae —- 00 01 01 0,01 acidental

Languriidae —- 00 03 03 0,01 acidental

Nitidulidae —- 09 31 40 0,20 acessória

Scarabaeidae Canthidium aterrimum Harold 00 21 21 0,10 acidental

Canthidium sp. 02 18 20 0,09 acidental

Canthon conformis Harold 02 04 06 0,03 acidental

Canthon formosus Harold 00 02 02 0,01 acidental

Dichotomius ascanius (Harold) 22 42 64 0,31 constante

Outras —- 11 47 58 0,27 acessória

Diptera —- —- 283 359 642 3,13 constante

Hymenoptera Apidae Apis mellifera L. 00 03 03 0,01 acidental

Outras —- 02 00 02 0,01 acidental

Subtotal 13.921 6.544 20.465 100 —-

Total 16.877 13.805 30.682 —- —-

Nota: * caracóis; ** “tatuzinhos”.

(continuação Tabela 1)

Figura 2. Componentes principais para grupos de insetos capturados em lavourasde soja com armadilhas “pitfall”. Chapecó, SC, anos agrícolas 2006/07 e 2007/08

próximo de 180o (cosseno = –1),mostra a existência de fortecorrelação negativa entre essesgrupos de artrópodes. Assim, a açãopredadora das formigas foi suficientepara interferir negativamente napopulação de colêmbolos. Essemesmo critério de análise pode ser

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aplicado para avaliar, simulta-neamente, as correlações existentesentre os outros grupos de artrópodescontidos na Figura 2.

Conclusões

A fauna edáfica em lavouras desoja, pela amostragem comarmadilhas de solo, reúne poucasespécies “acessórias” e “constantes”em relação às espécies de ocorrência“acidental”.

Formigas predadoras e colêm-bolos predominam entre osartrópodes edáficos capturados naslavouras de soja.

Os coeficientes de correlaçãoexpressos entre grupos de artrópodesedáficos nas lavouras de sojasugerem a existência de interaçõestróficas.

Agradecimentos

Ao Dr. Carlos Flechtmann e ao Dr.Francisco Jorge Cividanes, pelasdeterminações dos besouros co-prófagos e carabídeos, respec-tivamente.

Literatura citada

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Introdução

Um dos objetivos da reciclagem demateriais é reduzir a contaminaçãoambiental proveniente de resíduosgerados pela humanidade. A

Aplicação de resíduo de reciclagem de papel em solo ácido:I – Fertilidade e teores de metais pesados no solo1

Alvadi Antonio Balbinot Junior2, Milton da Veiga3 e José Alfredo da Fonseca4

Resumo – O processo de reciclagem de papel gera grande quantidade de resíduo, cuja disposição em aterros sanitários,em geral, é inviável economicamente. Uma alternativa é a sua aplicação no solo para correção da acidez e aumentodo teor de Ca. Contudo, há presença de metais pesados nesse resíduo, sendo necessário estudo sobre efeitos agronômicose ambientais da aplicação desse produto no solo. O objetivo deste trabalho foi avaliar o efeito do resíduo de reciclagemde papel sobre atributos químicos de um solo originalmente ácido. Foi conduzido um experimento em Papanduva,SC, em delineamento experimental de blocos completos casualizados, com três repetições. Foram avaliadas as seguintesdoses de resíduo: 64, 127, 191, 254, 382 e 509t/ha em base úmida. Também foram avaliados tratamentos com aplicaçãode calcário dolomítico na dose correspondente a 1 SMP para elevar o pH

água a 6 e uma testemunha, sem aplicação de

resíduo ou calcário. O resíduo e o calcário foram incorporados ao solo, na camada de zero a 20cm, por meio de umaaração e três gradagens, em junho de 2004. A partir da incorporação do resíduo, o solo foi manejado em sistemaplantio direto. As coletas de amostras de solo foram realizadas na camada de zero a 20cm, aos 9, 22 e 34 meses apósa aplicação. O resíduo aplicado no solo aumentou o pH, o teor de Ca e a relação Ca/Mg do solo. Os teores de Hg, Pb,Ni, Cd e Cr no solo não foram afetados pela aplicação do resíduo, mesmo nas maiores doses.

Termos para indexação: correção de pH, metais (Hg, Pb, Ni, Cd, Cr, Zn e Cu), ambiente.

Paper recycling residue application in acid soil:I – Fertility and heavy metal levels in the soil

Abstract – The paper recycling process generates an expressive amount of residue and in general the disposal ofthis product in landfills is economically impracticable. An alternative is its application in the soil, with the aim toincrease the soil pH and the Ca level. However, there are heavy metals in this residue, making it necessary to studythe agronomic and environmental effects of the residue application in the soil. The objective of this study was toevaluate the effects of the application of paper recycling residues in different doses on soil chemical properties. Anexperiment was carried out in Papanduva, Santa Catarina, southern Brazil, in a complete randomized block design,with three replications. These were the evaluated doses of paper recycling residues: 64, 127, 191, 254, 382 and 509t/ha of wet mass. In addition, a treatment with lime and a test without residues or lime application were evaluated.The residues and lime were incorporated in the zero to 20cm soil layer, through one ploughing and three diskings, inwinter time (June 2004). After residue incorporation in the soil, the no-tillage system was used. The soil sampleswere collected 9, 22, and 34 months after application, in the zero to 20cm layer. The residue application increasedsoil pH and Ca levels, and the Ca/Mg relation in the soil. The Hg, Pb, Ni, Cd and Cr levels in the soil were notaffected by residues, even in greater doses.

Index terms: soil pH, metals (Hg, Pb, Ni, Cd, Cr, Zn and Cu), environment.

Aceito para publicação em 6/5/10.1 Pesquisa financiada parcialmente pela Fundação de Apoio à Pesquisa Científica e Tecnológica do Estado de Santa Catarina (FAPESC).2 Eng.-agr., Dr., Epagri/Estação Experimental de Canoinhas, C.P. 216, 89460-000 Canoinhas, SC, e-mail: [email protected] Eng.-agr., Dr., Epagri/Estação Experimental de Campos Novos, C.P. 116, 89620-000 Campos Novos, SC, e-mail: [email protected] Eng.-agr., M.Sc., Epagri/Estação Experimental de Canoinhas, e-mail: [email protected].

transformação de papel descartado,como revistas e jornais, em novosprodutos de valor comercial, comopapel higiênico, gera grandequantidade de resíduo. Esse resíduoapresenta característica de uma

massa fibrosa de cor acinzentada,sendo classificado como um resíduode classe IIA – não inerte (ABNT,2004). Devido ao elevado volumeproduzido e à baixa permeabilidadedo resíduo, sua alocação em aterros

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sanitários, em geral, é inviáveleconomicamente.

Entre as alternativas paradisposição final de resíduos geradospor indústrias, a aplicação no solo,visando à melhoria de seus atributosquímicos e físicos, tem merecidoatenção cada vez maior (Fierro et al.,1999; Nemati et al., 2000; Foley &Cooperband, 2002). No resíduogerado pelo processo de reciclagemde papel, constata-se presença decompostos que podem atuar comocorretivos da acidez do solo,principalmente óxidos de Ca e Mg.Salienta-se que, no Brasil, a acidezdo solo é um dos fatores que maislimita o adequado desenvolvimentode culturas agrícolas (Oliveira et al.,2002; Abreu Jr. et al., 2003).

No entanto, esse resíduoapresenta em sua constituiçãoelementos que potencialmente podemcausar danos ao ambiente, tais comomercúrio (Hg), chumbo (Pb), níquel(Ni), cádmio (Cd), cromo (Cr), zinco(Zn) e cobre (Cu). Esses metaispesados provêm principalmente datinta utilizada na impressão de folhasque originam o resíduo. O acúmulode metais pesados em solos agrícolas,devido a aplicações em altas doses deresíduo, é o aspecto que causa maiorpreocupação com relação à segurançaambiental necessária paraviabilização dessa prática. Os metaispesados podem expressar seupotencial poluente diretamente nosorganismos do solo, pela dis-ponibilidade às plantas em níveistóxicos, além da possibilidade detransferência para a cadeia ali-mentar por meio das próprias plantasou pela contaminação das águas desuperfície e subsuperfície (Chang etal., 1997; Oliveira & Mattiazzo,2001). O consumo de plantascontendo elevados teores de metaispesados pode acarretar sérios riscosà saúde humana (Silveira et al., 2003;Nogueira et al., 2008). Os metaispesados apresentam efeitoacumulativo no organismo e podemcausar vários distúrbios no sistemanervoso (Ferreira & Anjos, 2001).Assim, é necessário verificar o efeitodo uso desse resíduo sobre os teoresde metais pesados no solo.

Trabalhos de pesquisa já foramrealizados para verificar as variações

em atributos químicos do solodecorrentes da aplicação de resíduosde fábrica de celulose (Suzuki et al.,1991), resíduo siderúrgico (Prado &Fernandes, 2000), resíduos decurtume e carbonífero (Ferreira etal., 2003) e lodo de esgoto (Anjos &Mattiazzo, 2000; Borges & Coutinho,2004; Nascimento et al., 2004). Noentanto, há escassez de trabalhossobre o uso de resíduo de reciclagemde papel para correção da acidez dosolo ou como fonte de nutrientes àsplantas, bem como sobre possíveisimpactos nos teores de metaispesados no solo.

Nesse sentido, o objetivo destetrabalho foi avaliar o efeito de resíduode reciclagem de papel, aplicado emdiferentes doses em solo ácido, sobreatributos químicos do solorelacionados à sua fertilidade e sobreos teores de metais pesados no solo.

Material e métodos

O trabalho foi conduzido noCampo Experimental SaltoCanoinhas, da Epagri/EstaçãoExperimental de Canoinhas,município de Papanduva, SC(26o22’15’’ latitude sul, 50o16’37’’longitude oeste e 800m de altitude).O experimento foi conduzido emdelineamento experimental de blocoscompletos casualizados, com trêsrepetições. Alguns atributos físicos equímicos do solo onde foi implantadoo experimento eram os seguintes:

520g/kg de argila; pHágua

= 4,9; I

SMP =

4,9; P = 1,2mg/dm3; K = 52mg/dm3;MO = 41g/kg; Al = 1cmol

c/dm3; Ca =

5,2cmolc/dm3; Mg = 3,5cmolc/dm3. Osolo da área foi classificado comoLatossolo Vermelho (Embrapa,1999).

Os tratamentos consistiram daaplicação de resíduo de reciclagem depapel nas seguintes doses (baseúmida): 64, 127, 191, 254, 382 e 509t/ha, somente no início do experimento.Também foi conduzido umtratamento referência, com aplicaçãode 10,7t/ha de calcário dolomítico(PRNT 100%), dose recomendadapara atingir pH

água 6 (Sociedade...,

2004), e um tratamento testemunha,sem aplicação de resíduo ou calcário.A composição química do resíduoutil izado no experimento, deter-minada segundo metodologiadescrita por Tedesco et al. (1995),encontra-se na Tabela 1. Cadaunidade experimental apresentouárea total de 50m2 (5m x 10m). Osprodutos foram distribuídosuniformemente na área experimentalnos dias 23 e 24 de junho de 2004,sendo depois incorporados ao solo pormeio de uma aração e três gradagens,em profundidade de 20cm.

Nas safras estivais 2004/05, 2005/06 e 2006/07, foram semeadas emplantio direto as culturas de milho, ede soja e milho, respectivamente.Cultivaram-se nabo-forrageiro ante-cedendo o milho da safra 2004/05,

Característica Teor Característica Teor

Umidade (%) 65,00 Alumínio total (%) 6,30

Cinzas (%) 71,00 Ferro total (%) 0,28

p H 7,60 Manganês total (mg/dm3) 59,00

Valor de neutralização (%) 24,00 Cobre total (mg/dm3) 176,00

Cond. elétrica (µS/cm) 129,00 Zinco total (mg/dm3) 132,00

Carbono orgânico (%) 15,00 Chumbo total (mg/dm3) 27,00

Nitrogênio (TKN) (%) 0,28 Níquel total (mg/dm3) < 5,00

P2O5 total (%) 0,16 Cádmio total (mg/dm3) < 2,00

K2O total (%) 0,11 Cromo total (mg/dm3) 46,00

CaO total (%) 13,00 Mercúrio (mg/dm3) 0,04

MgO total (%) 0,83 Molibdênio (mg/dm3) < 15,00

Sódio total (%) 0,66 Cobalto total (mg/dm3) 16,00

Enxofre total (%) 0,07 Boro total (mg/dm3) 11,00

Tabela 1. Características químicas do resíduo de reciclagem de papel avaliado

Nota: Resultados expressos no material seco a 75oC.

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aveia-preta antecedendo a soja dasafra 2f005/06, e consórcio de aveia--preta + nabo-forrageiro antecedendoo milho da safra 2006/07. Os cultivosde inverno não receberam adubação.Os cultivos estivais foram adubadosseguindo recomendação técnica(Sociedade..., 2004). Todos ostratamentos receberam a mesmaadubação.

As coletas de amostras de soloforam realizadas em março de 2005,abril de 2006 e abril de 2007,respectivamente 9, 22 e 34 mesesapós a aplicação, na camada de zeroa 20cm de profundidade, com auxíliode uma pá de corte. Em cada parcelacoletaram-se, nas entrelinhas dasculturas de verão, 15 subamostras desolo, as quais constituíram umaamostra para cada parcela. Asamostras foram encaminhadas parao Laboratório de Análises do Solo daUniversidade Federal do Rio Grandedo Sul (UFRGS), sendo determinadospHágua; ISMP ; Ca, Mg e Na trocáveis(extraídos com KCl 1mol/L); P(Mehlich); Zn e Cu (extraídos comHCl 0,1mol/L); Hg (metodologia daUnited State EnvironmentalProtection – Usepa 7471 A); e Pb, Ni,Cd e Cr (metodologia Usepa 3050).

Os dados coletados foramsubmetidos à análise de variância eao teste F. Quando comprovadaexistência de diferença significativaentre tratamentos, a 5% deprobabilidade, realizou-se análise deregressão. Selecionou-se o modeloque apresentou o melhor ajuste aosdados e ao fenômeno investigado.

Resultados e discussão

Houve aumento do pH do solo emdecorrência da aplicação do resíduode reciclagem de papel, comprovadonas três coletas realizadas (Figura 1).Em doses acima de 64t/ha de resíduo,o pHágua alcançou valores acima de 5,5nas três amostragens. Em pHágua

acima de 5,5 já não há mais alumíniotóxico no solo (Sociedade..., 2004). Ocalcário, como esperado, tambémelevou o pHágua do solo acima de 5,5.Mesmo nas maiores doses do resíduo,o pHágua do solo não passou de 6 emamostragem realizada 9 meses apósa aplicação. No segundo ano, o pHágua

atingiu 6,5 e, no terceiro ano,

alcançou valores próximos a 7. Esseresultado demonstra que o resíduoapresentou efeito de curto e de longoprazo sobre o pH do solo, já que opHágua aumentou de 5,2 para valorespróximos a 6 após 9 meses daaplicação, e continuou aumentandoaté a última coleta, efetuada 34meses após a aplicação do resíduo(Figura 1).

Após 34 meses da aplicação doresíduo, o pHágua alcançou valoressuperiores a 6,5 nas maiores dosesavaliadas (Figura 1), o que é muitoelevado para as culturas de soja e demilho. Em pHágua próximo àneutralidade, pode haver reduzidaatividade microbiana e baixadisponibilidade de alguns micro-

Figura 1. pHágua e ISMP do solo em decorrência da aplicação de diferentes doses deresíduo de reciclagem de papel ou de calcário em dose única, em três épocas deamostragem. (A) 9 meses após a aplicação; (B) 22 meses após a aplicação; e (C) 34meses após a aplicação

nutrientes, tais como Mn, Fe, Zn eCu (Kabata-Pendias & Pendias,1984). O pHágua do solo adequado paraa maioria das culturas anuais sesitua na faixa de 5,5 a 6,5(Marschner, 1995). Esse resultadoindica que a dose do resíduo úmidonão poderia ultrapassar 200t/ha,para manter o pH em níveisadequados ao crescimento edesenvolvimento de culturas como omilho e a soja. Essa doseobrigatoriamente deve ser incor-porada ao solo para possibilitar ocultivo da área. Da mesma forma,esse resultado evidencia que

reaplicações do resíduo somentepodem ser realizadas com base emresultado de análise de solo quecomprove redução de pHágua paravalor inferior a 5,5. Se o pHágua do soloestiver acima de 6,5 e for realizadaaplicação ou reaplicação do resíduo,mesmo que em doses baixas,certamente ocorrerá elevaçãoexcessiva de pH, denominadasupercalagem, que pode afetarnegativamente a produtividade devárias culturas (Tanaka et al., 1992).

Em experimento realizado emvasos, com o mesmo resíduo,verificou-se aumento de pH atévalores acima de 8 (Balbinot Jr. etal., 2006), comprovando que oproduto testado possui poder de

neutralização da acidez do solo. Emcampo, o aumento do pHágua e ISMP dosolo foi menos elevado do que emvasos porque há maior número devariáveis bióticas e abióticasinfluenciando a relação entre oresíduo de reciclagem de papel e o pHdo solo, até mesmo um possíveldeslocamento do efeito do corretivoabaixo da camada onde o mesmo foiincorporado.

O resíduo afetou significativa-mente os teores de Ca e Mg no solo(Figura 2). Na primeira amostragem,9 meses após a aplicação, com oaumento da dose de resíduo houve

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aumento no teor de Ca atéaproximadamente 200t/ha, esta-bilizando a partir dessa dose. Nasegunda amostragem, 22 meses apósa aplicação, o aumento do teor de Caocorreu de forma linear com oaumento da dose do resíduo aplicada.Na terceira amostragem, 34 mesesapós a aplicação, o teor de Ca seestabilizou com dose aproximada de400t/ha de resíduo. O aumentosignificativo nos teores de Ca com aaplicação do resíduo ocorreu porqueesse produto possui CaO em suacomposição (Tabela 1).

Por outro lado, houve decréscimono teor de Mg trocável com o aumentoda dose de resíduo (Figura 2), o quepode ter ocorrido devido ao aumentodas cargas negativas do solo pelaelevação de pH (cargas dependentesde pH), associado à elevação do teore da saturação de Ca na CTC, comotambém determinado por Medeiroset al. (2008), em solo similar. Alixiviação de Mg para camadas maisprofundas também pode ter ocorrido,tanto pelo efeito de aumento daconcentração de Ca como pela maiorenergia de ligação deste nas cargasdo solo (Barber, 1984). O calcário, porsua vez, promoveu aumentos nosteores de Ca e Mg em relação àtestemunha (sem aplicação deresíduo e calcário), pois apresentaelevados teores desses doiselementos. Resultados semelhantes

foram obtidos em experimentoconduzido com o mesmo resíduo emvasos (Balbinot Jr. et al., 2006).

Em decorrência do aumento noteor de Ca e redução no teor de Mgpromovidos pela aplicação do resíduono solo, a relação Ca/Mg aumentoucom o incremento das doses deresíduo avaliadas, atingindo valorespróximos a 4, 8 e 12, respectivamentena primeira, segunda e terceiraamostragem. No entanto, com aaplicação de calcário, houvecomportamento inverso, ou seja,redução da relação Ca/Mg emcomparação com a testemunha.Esses resultados indicam que oresíduo testado apresenta altopotencial para aumentar a relaçãoCa/Mg do solo, e que esse efeito deaumento da relação Ca/Mg foicontínuo até 34 meses, podendoainda aumentar com o decorrer do

tempo, até que inicie a perda do efeitoresidual do corretivo. Em muitasáreas cultivadas a relação Ca/Mg éinferior a 2, devido à util izaçãointensa de calcário dolomítico(Oliveira et al., 2002), situação naqual o resíduo testado pode serutilizado para elevar essa relação,mesmo tendo sido observado que orendimento da maior parte dasculturas não é afetado por relaçõesCa/Mg variando de 0,5 até mais de10, desde que nenhum dos doisnutrientes esteja em deficiência(Sociedade..., 2004). Adicionalmente,esse resíduo pode ser usado emculturas que requerem elevadadisponibilidade de Ca no solo paraadequado crescimento e desen-volvimento, como, por exemplo, amaçã e o tomate.

Na segunda e na terceiraamostragem (22 e 34 meses após aaplicação, respectivamente),constatou-se aumento linear no teorde P com o aumento da dose deresíduos (Figura 3). Esse aumentoocorreu tanto pelo aumento do pH dosolo (Figura 1) e consequenteaumento da disponibilidade de P nasolução do solo, como pelo fato de oresíduo possuir P2O5 em suaconstituição (Tabela 1). Com aaplicação da maior dose (509t/ha)houve adição de aproximadamente285kg/ha de P2O5, considerando oteor de umidade do resíduo de 65% eo teor de P2O5 de 0,16%. O baixo teorde P se constitui em um dosprincipais problemas relacionados àfertilidade do solo na Região Sul doBrasil (Sociedade..., 2004).

Observou-se aumento linear noteor de Na com o acréscimo da dosede resíduo na primeira e terceira

Figura 2. Teores de Ca e Mg no solo em decorrência da aplicação de diferentesdoses de resíduo de reciclagem de papel ou de calcário em dose única, em trêsépocas de amostragem. (A) 9 meses após a aplicação; (B) 22 meses após aaplicação; e (C) 34 meses após a aplicação

Figura 3. Teor de P no solo em decorrência da aplicação de diferentes doses deresíduo de reciclagem de papel (•) ou de calcário em dose única ( ), em duasépocas de amostragem. (A) 22 meses após a aplicação e (B) 34 meses após aaplicação

(A) (B)

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amostragens (Figura 4). Isso ocorreuporque o resíduo possui Na em suacomposição (Tabela 1). Aumentoexcessivo de Na no solo podeocasionar problemas comosalinização e dispersão de argila,comprometendo a estrutura do solo.Contudo, o aumento do teor de Naobservado no presente trabalho nãoultrapassou o teor crítico desseelemento no solo – acima de 15% daCTC (Fassbender & Bornemiza,1994).

Verificou-se que a aplicação deresíduo de reciclagem de papel,mesmo nas maiores doses, não afetouos teores de Hg, Pb, Ni, Cd e Cr nosolo, fato observado nas trêsamostragens de solo, realizadas aos9, 22 e 34 meses após a aplicação(Tabela 2). Nas três épocas,constatou-se aumento no teor de Znem decorrência da aplicação doresíduo. Isso ocorreu devido à adiçãodesse elemento ao solo via resíduo.Após 34 meses da aplicação,observaram-se menores teores de Cunas maiores doses de resíduo, emborao resíduo testado também possuísseCu (Tabela 1). Isto provavelmenteocorreu porque o resíduo promoveuaumento do pH do solo, que, por suavez, promove precipitação do Cu naforma de hidróxido, reduzindo a suadisponibilidade (Souza et al., 2007).Essa reação também era esperadapara o Zn, porém não foi observada.Salienta-se que, em todos ostratamentos, os teores de metaispesados avaliados ficaram abaixo doslimites críticos estabelecidos pelaUsepa (1993), pela Diretriz daComunidade Europeia (Ferreira etal., 1999) e pela Cetesb (2005).Resultados similares aos apre-sentados nesse trabalho, no tocanteaos metais pesados, também foramobtidos em experimento conduzidoem vasos, com a aplicação do mesmoresíduo (Balbinot Jr. et al., 2006).Entretanto, ainda não há informaçãosobre a possibilidade de aumento deteores de metais pesados no solo emdecorrência de reaplicação desseresíduo, seja incorporado ou emsuperfície.

Figura 4. Teor de Na no solo em decorrência da aplicação de diferentes doses de resíduo dereciclagem de papel (•) ou de calcário em dose única ( ), em duas épocas de amostragem.(A) 9 meses após a aplicação e (B) 34 meses após a aplicação

Tratamento Hg(2) Pb(2) Ni(2) Cd(2) Cr(2) Zn(2) Cu(2)

(t/ha) ........................................mg/dm3......................................

9 meses após a aplicação

0 0,040ns 20,67ns 11,00ns < 1 36,33ns 0,67 c 0,87ns

64 0,040 21,67 8,67 < 1 36,67 1,23 b 0,87

127 0,043 21,00 10,67 < 1 39,67 2,23 a 0,67

191 0,073 20,33 10,67 < 1 41,00 2,00 a 0,80

254 0,043 19,67 11,00 < 1 40,33 2,03 a 0,70

382 0,043 21,00 11,00 < 1 42,33 2,40 a 0,67

509 0,066 21,33 9,67 < 1 38,33 2,26 a 0,77

Calcário 0,063 21,00 10,67 < 1 39,67 0,73 c 0,70

22 meses após a aplicação

0 0,043ns 20,67ns 13,00ns 0,40ns 43,00ns 0,80 c 0,97 a(3)

64 0,053 21,33 13,33 0,37 45,00 1,27 b 0,83 a

127 0,047 20,67 13,33 0,30 45,00 1,30 b 0,70 b

191 0,047 19,67 14,33 0,50 45,67 2,63 a 0,57 b

254 0,053 19,33 14,33 0,40 44,33 2,43 a 0,47 c

382 0,050 20,33 14,00 0,37 45,33 2,03 a 0,60 b

509 0,057 19,00 13,33 0,33 43,33 2,17 a 0,23 c

Calcário 0,053 21,00 13,67 0,43 45,67 0,73 c 0,36 c

34 meses após a aplicação

0 0,050ns 24,00ns 13,00ns 0,50ns 42,00ns 0,90 b 1,30 a(3)

64 0,043 23,33 11,33 0,47 46,33 1,07 b 0,77 b

127 0,037 23,00 12,33 0,53 42,00 2,57 a 0,30 c

191 0,043 23,67 14,00 0,53 47,67 2,60 a 0,27 c

254 0,043 24,00 13,00 0,57 45,00 2,20 a 0,17 d

382 0,043 21,33 12,33 0,53 41,33 1,20 b 0,10 d

509 0,043 24,33 12,67 0,50 43,33 1,93 a 0,10 d

Calcário 0,043 23,00 13,67 0,47 46,00 0,90 b 0,23 c

Tabela 2. Teores de metais pesados no solo em três épocas de amostragem emdecorrência da aplicação de doses de resíduo de reciclagem de papel ou de calcáriodolomítico no solo em dose única (10,7t/ha)1

(1) Resultados expressos no material seco a 45oC. Média de três repetições. Em cada repetiçãoforam feitas duas determinações.(2) Mercúrio determinado em vapor frio e outros metais em ICP-OES.ns Teste F não significativo.Nota: Médias seguidas das mesmas letras nas colunas não diferem entre si pelo teste deTukey a 5% de probabilidade.

(A) (B)

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Conclusões

O resíduo de reciclagem de papelpromoveu elevação do pH do solo, dosteores de Ca, P e Na e da relação Ca/Mg.

Os teores de Hg, Pb, Ni, Cd e Crno solo não foram afetados peloresíduo de reciclagem de papelaplicado em solo ácido, mesmo nasmaiores doses avaliadas. No entanto,o resíduo promoveu aumento dosteores de Zn e redução dos teores deCu disponíveis no solo.

Agradecimentos

À empresa Mili S.A., de TrêsBarras, SC, pelo apoio à pesquisa.

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66 Agropecuária Catarinense, v.23, n.2, jul. 2010

Aplicação de resíduo de reciclagem de papel em solo ácido:II – Produtividade das culturas de milho e soja e teores de

metais pesados nos grãos1

Alvadi Antonio Balbinot Junior2, Milton da Veiga3 e Rogério Luiz Backes4

Resumo – A acidez do solo limita a produtividade de grãos de milho e soja, sendo utilizado, em geral, calcário paracorrigi-la. No entanto, alguns resíduos industriais podem ser usados para neutralizar as fontes de acidez do solo,como é o caso do rejeito de reciclagem de papel. Por outro lado, devido à presença de metais pesados nesse resíduo,que, dependendo da concentração nos alimentos, podem ser nocivos à saúde, há necessidade de verificação dosteores desses elementos nos grãos produzidos em solo que recebeu o produto. O objetivo deste trabalho foi avaliar oefeito da aplicação de resíduo de reciclagem de papel em solo ácido sobre a produtividade de grãos de milho e soja esobre os teores de nutrientes e metais pesados nos grãos. Foi conduzido um experimento em Papanduva, SC, emdelineamento experimental de blocos completos casualizados, com três repetições. Foram avaliadas as seguintesdoses de resíduo (base úmida – 65% de água): 64, 127, 191, 254, 382 e 509t/ha. Também foram avaliados tratamentoscom aplicação de calcário dolomítico e sem aplicação de resíduo ou calcário. O resíduo e o calcário foram incorporadosao solo até 20cm de profundidade, por meio de uma aração e três gradagens, em junho de 2004. Nas safras subsequentesforam cultivados milho (anos agrícolas 2004/05 e 2006/07) e soja (ano agrícola 2005/06) na área experimental. Oresíduo aplicado no solo aumentou a produtividade de grãos de milho e soja. Os teores de P e Cu nos grãos de milhoe soja foram alterados pela aplicação do resíduo de reciclagem de papel em solo ácido. Os teores de Hg, Pb, Ni, Cd, Cre Zn nos grãos de milho e soja não foram afetados pela aplicação do resíduo.

Termos para indexação: Zea mays, Glycine max, metais pesados.

Application of paper recycling residues in acid soil:II – Maize and soybean yield and heavy metal levels in grains

Abstract – Soil acidity is a limiting factor to maize and soybean yield. In general, lime is used to increase the soilpH. However, some industrial residues can be used to reduce soil acidity such as paper recycling residues. On theother hand, due to heavy metals presence in this residue, whose high concentration in food is dangerous to health, itis necessary to evaluate the heavy metal levels in the grains. Thus, the objective of this study was to evaluate theeffects of paper recycling residue application in an acid soil on maize and soybean yield and on nutrients and heavymetal levels in the grains. A trial was carried out in Papanduva, SC, Brazil, in a complete blocks randomized design,with three replications. The evaluations were carried out in doses of paper recycling residues of 64, 127, 191, 254,382 and 509t/ha in wet mass – 65% of water. In addition, treatments with lime and without residues or lime wereevaluated. The residues and lime were incorporated to the soil up to 20cm deep through a plowing and two harrowingsin June, 2004. Maize was cultivated in the 2004/05 and 2006/07 crop seasons, and soybean in the 2005/06 cropseason in the experimental site. The applied residue increased the maize and soybean grain yields. The P and Culevels in the maize and soybean grains were changed by the paper residue application in acid soil. However, Hg, Pb,Ni, Cd, Cr and Zn levels were not affected by the residue application, even in high doses.

Index terms: Zea mays, Glycine max, heavy metals.

Aceito para publicação em 26/5/10.1 Pesquisa financiada parcialmente pela Fundação de Apoio à Pesquisa Científica e Tecnológica do Estado de Santa Catarina (Fapesc).2 Eng.-agr., Dr., Epagri/Estação Experimental de Canoinhas, C.P. 216, 89460-000 Canoinhas, SC, fone: (47) 3624-1144, e-mail:[email protected] Eng.-agr., Dr., Epagri/Estação Experimental de Campos Novos, C.P. 116, 89620-000 Campos Novos, SC, fone (49) 3541-0748, e-mail:[email protected] Eng.-agr., Dr., Epagri/Centro de Pesquisa para Agricultura Familiar (Cepaf), C.P. 791, 89801-970 Chapecó, SC, fone: (49) 3361-0600, e-mail: [email protected].

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Introdução

No Brasil, a acidez do solo éapontada como um dos principaisentraves ao adequado crescimento edesenvolvimento de culturasagrícolas (Oliveira et al., 2002; AbreuJr. et al., 2003). O pH do soloadequado para as culturas de milhoe soja é ao redor de 6, valor superiorao frequentemente observado emsolos não cultivados da Região Sul doBrasil (Sociedade..., 2004) e maisespecificamente em Santa Catarina(Veiga et al., 2008). Para correção daacidez do solo geralmente é utilizadocalcário, mas sua aplicação na doserecomendada pode apresentar custoalto, principalmente em áreasdistantes dos locais de extração e quenecessitam de elevadas doses, emdecorrência do pH baixo ou doelevado poder tampão do solo.

Por outro lado, há resíduosindustriais que podem atuar comocorretivos da acidez do solo, como é ocaso de resíduo de fábricas decelulose (Suzuki et al., 1991) e defábricas que reciclam papel, em razãode seu conteúdo de CaO (Balbinot Jr.et al., 2006a). Além disso, o resíduode reciclagem de papel apresenta emsua composição teor considerável deP

2O

5 (Balbinot Jr. et al., 2006b).

Estudos apontam para a exaustãodas reservas minerais de fosfato nasegunda metade deste século(Parentoni & Souza Jr., 2008), o queaumenta a necessidade deaproveitamento de fontesalternativas desse elemento.Somente na região do Planalto NorteCatarinense as empresas quereciclam papel produzem cerca de230 toneladas por dia de resíduoúmido.

Os resíduos de reciclagem depapel também apresentam em suaconstituição elementos que,potencialmente, podem causar danosao ambiente e à saúde humana, taiscomo: mercúrio (Hg), chumbo (Pb),níquel (Ni), cádmio (Cd), cromo (Cr),zinco (Zn) e cobre (Cu). O acúmulode metais pesados em solos agrícolasdevido a aplicações em altas doses deresíduo é o aspecto que causa maiorpreocupação com relação à segurançaambiental necessária para aviabilização desta prática (BalbinotJr. et al., 2006a).

Característica Teor Característica Teor

Umidade (%) 65,00 Alumínio total (%) 6,3

Cinzas (%) 71,00 Ferro total (%) 0,28

p H 7,60 Manganês total (mg/dm3) 59

Valor de neutralização (%) 24,00 Cobre total (mg/dm3) 176

Cond. elétrica (µS/cm) 129,00 Zinco total (mg/dm3) 132

Carbono orgânico (%) 15,00 Chumbo total (mg/dm3) 27

Nitrogênio (TKN) (%) 0,28 Níquel total (mg/dm3) < 5

P2O5 total (%) 0,16 Cádmio total (mg/dm3) < 2

K2O total (%) 0,11 Cromo total (mg/dm3) 46

CaO total (%) 13,00 Mercúrio (mg/dm3) 0,04

MgO total (%) 0,83 Molibdênio (mg/dm3) < 15

Sódio total (%) 0,66 Cobalto total (mg/dm3) 16

Enxofre total (%) 0,07 Boro total (mg/dm3) 11

Tabela 1. Características químicas do resíduo de reciclagem de papel avaliado

Nota: Resultados expressos no material seco a 75oC.

Os metais pesados podemexpressar seu potencial poluentediretamente nos organismos do solo,pela disponibilidade às plantas emníveis tóxicos, além da possibilidadede transferência para a cadeiaalimentar por meio das própriasplantas ou pela contaminação daságuas de superfície e subsuperfície(Chang et al., 1997; Oliveira &Mattiazzo, 2001). O consumo deplantas contendo elevados teores demetais pesados pode provocardistúrbios no sistema nervoso(Ferreira & Anjos, 2001). Nestesentido, é necessário verificar o efeitodo uso desse resíduo sobre os teoresde metais pesados nos produtoscolhidos, sobretudo se foremutilizados como alimento.

O objetivo deste trabalho foiavaliar o efeito do resíduo dereciclagem de papel, aplicado emdiferentes doses em um solo ácido,sobre a produtividade, teores denutrientes e metais pesados nosgrãos de milho e soja.

Material e métodos

O presente trabalho foi conduzidono Campo Experimental SaltoCanoinhas, da Epagri/EstaçãoExperimental de Canoinhas,localizado no município dePapanduva, SC (50o16’37’’ longitudeoeste, 26o22’15’’ latitude sul e 800mde altitude). O delineamentoexperimental utilizado foi o de blocoscompletos casualizados, com trêsrepetições. Alguns atributos físicos equímicos do solo onde foi implantado

o experimento eram os seguintes:520g/kg de argila; pHágua = 4,9; pHSMP

= 4,9; P = 1,2mg/dm3; K = 52mg/dm3;MO = 41g/kg; Al = 1cmolc/dm3; Ca =5,2cmol

c/dm3; Mg = 3,5cmol

c/dm3. O

solo da área foi classificado comoLatossolo Vermelho (Embrapa,1999).

Os tratamentos consistiram daaplicação de resíduo de reciclagem depapel nas seguintes doses (baseúmida – 65% de água): 64, 127, 191,254, 382 e 509t/ha. Também foiconduzido um tratamento referência,com aplicação de 10,7t/ha de calcáriodolomítico (PRNT = 100%), doserecomendada para atingir pH 6(Sociedade..., 2004), e um tratamentotestemunha, sem aplicação deresíduo ou calcário. A composiçãoquímica do resíduo util izado noexperimento, determinada segundometodologia descrita por Tedesco etal. (1995), encontra-se na Tabela 1.Cada unidade experimental apre-sentou área total de 50m2 (5m x 10m)e área útil de 9m2 (1,8m x 5m). Osprodutos foram distribuídosuniformemente na área experimentalnos dias 23 e 24 de junho de 2004,sendo depois incorporados ao solo pormeio de uma aração e três gradagensem profundidade de 20cm. A partirda incorporação do resíduo e docalcário, o solo foi manejado emsistema plantio direto.

As culturas semeadas paracobertura do solo e para produção degrãos foram, sequencialmente: nabo--forrageiro/milho, aveia-preta/soja econsórcio de aveia-preta e nabo-

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-forrageiro/milho. Utilizou-se, paratodos os tratamentos, a mesmaadubação, de acordo com reco-mendação técnica (Sociedade...,2004). Na cultura do milho foramutilizadas as cultivares AG 122 e SCSFortuna, semeadas respectivamentena primeira e na terceira safra deprimavera/verão, com espaçamentode 0,9m entre fi leiras e 55 milplantas/ha. Na cultura de soja,cultivada na segunda safra deprimavera/verão, foi uti l izada acultivar Coodetec 206, comespaçamento entre fileiras de 0,45me 240 mil plantas/ha. No caso dasplantas de cobertura do solo, foramutil izadas variedades locais. Asculturas comerciais (estivais) foramcolhidas após maturação fisiológica,trilhadas e os grãos, pesados. Osdados de produtividade foramcorrigidos para 13% de umidade.

Amostras de grãos de milho (duassafras) e de soja (uma safra) foramencaminhadas para o Laboratório deAnálises do Solo e de OutrosMateriais da Universidade Federaldo Rio Grande do Sul (UFRGS), ondeforam determinados os teores de N(Kjeldahl 0,01%), P, K, Ca, Mg, S, Cu,Zn, Fe, Mn, Na, B, Cd, Cr, Ni e Pbdeterminados por espectrometria deemissão ótica (ICP-OES) e Hg(USEPA 7471).

Os dados coletados foramanalisados estatisticamente por meiode análise de variância e teste F e,quando comprovada existência dediferença significativa entretratamentos a 5% de probabilidade,realizou-se análise de regressãoutilizando-se o modelo que apre-sentou o melhor ajuste aos dados eao fenômeno investigado.

Resultados e discussão

Nas duas primeiras safrasestivais após a aplicação dostratamentos, as doses de resíduo queapresentaram máxima eficiênciatécnica, tanto para produtividade degrãos de milho quanto de soja, foramsimilares e equivalentes a 340 e 330t/ha, respectivamente (Figuras 1 e 2).Já no ano agrícola 2006/07, trêssafras após a aplicação, houveaumento linear de produtividade degrãos de milho com o aumento dadose do resíduo (Figura 3). Oaumento de produtividade de-

corrente da aplicação do resíduoprovavelmente ocorreu devido àcorreção da acidez do solo e,consequentemente, à redução do teorde Al disponível, bem como aoaumento do teor de Ca no solo(Balbinot Jr. et al., 2006b). Nas duasprimeiras safras houve pequenaredução de produtividade após a dosede máxima eficiência técnica,possivelmente devido à redução dadisponibil idade de algunsmicronutrientes (Balbinot Jr. et al.,2006b) e elevação do teor de Na,elemento presente no resíduoaplicado (Tabela 1), o que pode

Figura 2. Produtividade de grãos de soja (ano agrícola 2005/06) em segundocultivo após a aplicação de diferentes doses de resíduo de reciclagem de papel ( )e com aplicação de calcário em dose única (10,7t/ha) (♦). MET = ponto de máximaeficiência técnica

Figura 1. Produtividade de grãos de milho (ano agrícola 2004/05), em cultivoimediato após a aplicação de diferentes doses de resíduo de reciclagem de papel ( )e com aplicação de calcário em dose única (10,7t/ha) (♦). MET = ponto de máximaeficiência técnica

provocar salinização do solo (Kinjo etal., 1992).

Constata-se que, mesmo notratamento testemunha, houveelevada produtividade de grãos demilho na primeira safra, apro-ximadamente 7.200kg/ha (Figura 1).Com a aplicação do resíduo, aprodutividade chegou a 8.400kg/ha,equivalente ao acréscimo de 16,6%.Outro ponto importante a serconsiderado é que na primeira safraa produtividade observada notratamento referência, com aplicaçãode calcário dolomítico, foi inferior atodas as doses do resíduo. Isso

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ocorreu devido ao curto tempo entrea aplicação do corretivo e asemeadura da cultura (cerca de 3meses), sendo insuficiente para asolubilização do calcário no solo. Nasegunda safra estival, a máximaprodutividade de grãos de soja foi de3.600kg/ha com aplicação de 330t/hade resíduo, enquanto o tratamentocom calcário apresentou produ-tividade de 3.350kg/ha. Na terceirasafra estival, a máxima pro-dutividade de grãos de milho foiobtida com a aplicação de 509t/ha deresíduo úmido e com 10,7t/ha decalcário dolomítico. Isso comprovaque o resíduo apresenta efeitocorretivo mais rápido que o calcário.

Nas três safras avaliadas, osteores de N, K, Ca, Mg, S, Fe, Mn,Na e B nos grãos não foram afetadospelos tratamentos (Tabela 2). Osteores de nutrientes nos grãos demilho e soja verificados nestetrabalho são similares aos obser-vados por Ferreira et al. (2001) eCaires et al. (2006). Por outro lado, oteor de P nos grãos de milho e sojaproduzidos nas duas primeiras safrasapós a implantação do experimentoaumentou com o incremento da dosede resíduo (Figura 4). É possível que,com a aplicação do resíduo, tenhaocorrido maior disponibilidade dessenutriente às plantas de milho e sojadevido à incorporação de P presenteno produto ao solo, e devido aoaumento de pH ocasionado peloresíduo (Balbinot et al., 2006b). Como aumento de pH até, aproxi-

Figura 3. Produtividade de grãos de milho (ano agrícola 2006/07) após três anosda aplicação de diferentes doses de resíduo de reciclagem de papel no solo (•) ecom aplicação de calcário em dose única (10,7t/ha) (♦)

madamente, a neutralidade, háaumento da disponibilidade de P nosolo e, acima desse valor, esseelemento começa a precipitar comofosfato de cálcio (Souza et al., 2007).

Na terceira safra estival após aaplicação do resíduo houve reduçãodo teor de Cu nos grãos de milho como aumento da dose do resíduo ou coma aplicação de calcário em relação àausência de aplicação dessesprodutos (Figura 5). Isso ocorreuporque o resíduo e o calcárioaumentaram o pH do solo, pro-movendo a precipitação do Cu naforma de hidróxido, reduzindo suadisponibilidade e, consequentemente,diminuindo a absorção desseelemento pelas plantas (Souza et al.,2007).

Não houve alteração nos teores demetais pesados (Hg, Pb, Ni, Cd, Cr e

Figura 4. Teor de fósforo (P) em grãos de milho (ano agrícola 2004/05) (A) e emgrãos de soja (ano agrícola 2005/06) (B) em decorrência da aplicação de diferentesdoses de resíduo de reciclagem de papel no solo ( ) e com aplicação de calcário emdose única (10,7t/ha) (♦)

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Zn) nos grãos de milho e soja emdecorrência da aplicação do resíduoe do calcário ao solo (Tabela 3).Apesar de o resíduo avaliado possuirmetais pesados em sua constituição(Tabela 1), a quantidade totalaplicada não aumentou os teoresdisponíveis desses elementos, tantopelo aumento do pH, com formaçãode compostos menos solúveis desseselementos, como pela formação decomplexos organometálicos, formasessas não prontamente disponíveispara absorção pelo sistema de raízes(Nogueira et al., 2008). De acordocom o Decreto no 55.871, de 26 demarço de 1965 (Anvisa, 1965), aindaem vigor, os limites máximos detolerância de metais pesados emalimentos são, em mg/dm3: Hg (0,01),Pb (0,5), Ni (5), Cd (1), Cr (0,1) e Zn(50). Ou seja, os teores observadosnos grãos ficaram dentro dos limitespara Hg, Ni, Cd e Zn. Para Pb ametodologia adotada não apresentouníveis mínimos de detecção emrelação ao limite máximo detolerância permitido. Para Cr, emtodos os tratamentos, inclusive semaplicação de resíduo ou calcário, osteores ficaram acima do permitido.Enfatiza-se que são necessáriosestudos sobre reaplicações desseresíduo ao solo a fim de constatarseus efeitos sobre os teores de metaispesados no solo e nos grãosproduzidos.

Conclusões

O resíduo de reciclagem de papel,aplicado em solo ácido, aumentou aprodutividade de grãos de milho e desoja.

Houve aumento nos teores de Pem grãos de milho e soja e reduçãonos teores de Cu em grãos de milhoem decorrência da aplicação deresíduo de reciclagem de papel emsolo ácido, mas os teores de outrosnutrientes não foram afetados.

Os teores de metais pesados (Hg,Pb, Ni, Cd, Cr e Zn) nos grãos demilho e soja não foram afetados pelaaplicação de resíduo de reciclagem depapel em solo ácido, mesmo nasmaiores doses.

Agradecimentos

À Empresa Mili S.A., de TrêsBarras, SC, pelo apoio à pesquisa.

Tratamento N K C a M g S F e M n N a B

Grãos de milho – ano agrícola 2004/05

(t/ha) ...........................%........................ ..............mg/kg.................

0 1,40ns 0,30ns < 0,01 0,10ns 0,12ns 21ns 3,7ns 2,6ns 2,0ns

64 1,47 0,29 < 0,01 0,10 0,11 23 3,3 4,0 2,3

127 1,47 0,29 < 0,01 0,10 0,12 19 3,3 2,0 2,3

191 1,53 0,30 < 0,01 0,10 0,12 34 3,3 2,7 2,3

254 1,50 0,30 < 0,01 0,11 0,12 24 3,7 2,0 2,0

382 1,50 0,32 < 0,01 0,11 0,12 24 3,0 3,3 1,6

509 1,50 0,33 < 0,01 0,11 0,12 19 3,6 3,3 1,6

Calcário 1,57 0,31 < 0,01 0,11 0,12 36 3,3 2,0 2,3

Grãos de soja – ano agrícola 2005/06

0 5,9ns 1,57ns 0,19ns 0,22ns 0,29ns 71ns 23ns 27ns 23ns

64 6,1 1,60 0,20 0,22 0,30 74 21 27 20

127 5,9 1,63 0,21 0,23 0,30 74 20 24 20

191 6,0 1,63 0,20 0,23 0,29 73 22 29 20

254 6,0 1,60 0,20 0,23 0,29 90 21 44 20

382 6,2 1,70 0,23 0,24 0,29 84 22 31 17

509 6,0 1,67 0,22 0,23 0,29 84 22 22 17

Calcário 6,0 1,60 0,20 0,24 0,30 76 21 23 18

Grãos de milho – ano agrícola 2006/07

0 1,17ns 0,29ns < 0,01 0,12ns 0,10ns 22ns 4,7ns 3,7ns 2,7ns

64 1,13 0,27 < 0,01 0,11 0,09 22 4,7 7,0 2,3

127 1,23 0,28 < 0,01 0,12 0,09 22 4,0 5,0 2,0

191 1,23 0,29 < 0,01 0,12 0,10 21 4,7 7,0 2,3

254 1,23 0,29 < 0,01 0,12 0,09 23 4,7 4,0 2,0

382 1,27 0,30 < 0,01 0,12 0,10 20 4,7 4,0 2,3

509 1,27 0,30 < 0,01 0,12 0,10 20 4,7 4,0 2,3

Calcário 1,30 0,30 < 0,01 0,12 0,10 21 4,3 5,3 1,7

Tabela 2. Teores de nutrientes em grãos de milho e de soja determinados em trêsanos agrícolas (2004/05, 2005/06 e 2006/07) em decorrência da aplicação de dosesde resíduo de reciclagem de papel ou de calcário dolomítico no solo em dose única(10,7 t/ha)

ns = Teste F não significativo.Nota: Resultados expressos no material seco a 65oC.

Figura 5. Teor de cobre (Cu) nos grãos de milho (ano agrícola 2006/07) emdecorrência da aplicação de diferentes doses de resíduo de reciclagem de papel nosolo ( ) e com aplicação de calcário em dose única (10,7t/ha) (♦)

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Tratamento H g Pb N i Cd C r Zn Grãos de milho – ano agrícola 2004/05

(t/ha) .....................................mg/dm3.....................................0 < 0,01 < 10 < 5 < 1 < 5 15,3ns

64 < 0,01 < 10 < 5 < 1 < 5 15,0127 < 0,01 < 10 < 5 < 1 < 5 16,0

191 < 0,01 < 10 < 5 < 1 < 5 16,3254 < 0,01 < 10 < 5 < 1 < 5 17,0382 < 0,01 < 10 < 5 < 1 < 5 17,0

509 < 0,01 < 10 < 5 < 1 < 5 17,7Calcário < 0,01 < 10 < 5 < 1 < 5 15,7

Grãos de soja – ano agrícola 2005/060 < 0,01 < 2 1,33ns < 0,2 1,47ns 43,0ns

64 < 0,01 < 2 1,00 < 0,2 1,00 44,0127 < 0,01 < 2 1,00 < 0,2 0,70 42,3

191 < 0,01 < 2 1,00 < 0,2 0,60 45,0254 < 0,01 < 2 1,33 < 0,2 0,63 43,7382 < 0,01 < 2 1,00 < 0,2 0,57 45,7

509 < 0,01 < 2 1,00 < 0,2 0,96 44,3Calcário < 0,01 < 2 1,67 < 0,2 0,40 42,3

Grãos de milho – ano agrícola 2006/070 < 0,02ns < 1 < 0,4 < 0,1 0,37ns 20,0ns

64 < 0,01 < 1 < 0,4 < 0,1 0,47 19,3127 < 0,01 < 1 < 0,4 < 0,1 0,40 19,0

191 < 0,01 < 1 < 0,4 < 0,1 0,43 20,3254 < 0,02 < 1 < 0,4 < 0,1 0,43 19,3382 < 0,01 < 1 < 0,4 < 0,1 0,43 20,7

509 < 0,01 < 1 < 0,4 < 0,1 0,43 20,3Calcário < 0,01 < 1 < 0,4 < 0,1 0,43 19,3

Tabela 3. Teores de metais pesados em grãos de milho e de soja determinados emtrês anos agrícolas (2004/05, 2005/06 e 2006/07) em decorrência da aplicação dedoses de resíduo de reciclagem de papel ou de calcário dolomítico no solo em doseúnica (10,7 t/ha)

ns = Teste F não significativo.Nota: Resultados expressos no material seco a 65oC.

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Introdução

A bicheira da raiz, Oryzophagusoryzae (Costa Lima) (Coleoptera:Curculionidae), figura entre asprincipais pragas do cultivo do arrozirrigado no Brasil. O inseto adulto éum gorgulho-aquático com cerca de3mm de comprimento (Figura 1),perfeitamente adaptado a viver emvárzeas que sofrem inundaçõesprolongadas, contudo periódicas.Para tal adaptação, e a semelhançade espécies afins (Matsui, 1987; Saito

Distribuição espacial de adultos da bicheira-da-raiz,Oryzophagus oryzae, em lavouras de arroz irrigado

Eduardo Rodrigues Hickel1

Resumo – A distribuição espacial de adultos da bicheira da raiz, Oryzophagus oryzae (Costa Lima) (Coleoptera:Curculionidae), foi averiguada em lavouras de arroz irrigado nos anos agrícolas 2007/08 e 2008/09 mediante acontagem de indivíduos em pares de linhas de caminhamento ortogonais previamente estabelecidas. Em cada linhaforam demarcados pontos amostrais, em ida e volta, a partir das bordas das lavouras, a 1,5, 3, 6, 12, 24 e 30m. Emcada ponto, em intervalo semanal, foram coletados e contados os adultos em repouso nas folhas ou nadando na água,num raio de 0,6m a partir do ponto amostral. No ano agrícola 2007/08, após os 48 dias da semeadura, as larvastambém foram contadas e no ano agrícola 2008/09 o estande de plantas foi aferido semanalmente nesses pontos. Osadultos da bicheira-da-raiz ocuparam toda a área cultivada, porém com maior concentração de indivíduos nas bordasdas quadras. A distribuição de larvas refletiu a distribuição de adultos, ao passo que a perda de estande não seguiuo padrão de concentração dos adultos. De meados de outubro a meados de novembro, nas duas safras, ocorreu ampladistribuição de adultos da bicheira da raiz nas áreas das lavouras.

Termos para indexação: Coleoptera, Curculionidae, ecologia, dispersão, Oryza sativa.

Spatial distribution of South American adult rice water weevil, Oryzophagusoryzae (Costa Lima), in paddy rice

Abstract – The spatial distribution of South American adult rice water weevil, Oryzophagus oryzae (Costa Lima)(Coleoptera: Curculionidae), was checked in paddy rice during the 2007/08 and 2008/09 seasons by the counts ofindividuals in a pair of orthogonal transects previously established. In each transect, sample points were marked inround trip from the edge of the crops at 1.5, 3, 6, 12, 24 and 30m. Adults resting on leaves or swimming in the waterin a 0.6m radius from each point were caught and counted weekly. In the 2007/08 season, after 48 days from seeding,larvae were counted too and in the 2008/09 season the plant stand was checked weekly in these points. The SouthAmerican adult rice water weevil occupied the whole tilled area, however with concentration of individuals near thecrop margins. The larvae distribution reflected the adult distribution but the loss of plant stand did not follow theconcentration pattern of adults. From mid-October to mid-November in the two seasons the South American adultrice water weevil spread in a wide range in the crop areas.

Index terms: Coleoptera, Curculionidae, ecology, dispersion, Oryza sativa.

Aceito para publicação em 1/6/10.1 Eng.-agr., Dr., Epagri/Estação Experimental de Itajaí, C.P. 277, 88301-970 Itajaí, SC, fone: (47) 3341-5220, e-mail: [email protected].

et al., 2005), o O. oryzae desenvolveuintensa atividade de voo, ainda queconcentrada em determinadosperíodos do ano, e elevadacapacidade de dispersão radial.

As larvas também são de hábitoaquático, porém vivem no solo lodoso,alimentando-se de raízes do arroz.Portanto, é no estágio larval que oinseto é mais prejudicial, podendoocasionar perdas severas deprodução do cereal (Prando, 2002;Martins & Prando, 2004).

Um evento peculiar no ciclo de

vida da bicheira-da-raiz é a diapausahibernal de adultos, que possibilitaa sobrevivência às condiçõesambientais adversas e à escassezsazonal de plantas hospedeirasapropriadas, principalmente degramíneas que vegetam em terrenosalagados no verão (Mielitz, 1993). Adiapausa hibernal leva àsincronização das gerações do insetono período estival e, porconsequência, dos demais eventosdemográficos associados, comoflutuação populacional, dispersão e

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distribuição espacial dos indivíduos(Knell, 1998; Carbonari et al., 2000).

É de conhecimento empírico quea bicheira-da-raiz não se distribuiigualmente por toda a quadra dearroz irrigado, havendo concentraçãode indivíduos nas áreas próximas ataipas ou em porções com maiorprofundidade de lâmina d’água(Martins & Prando, 2004). Esseconhecimento foi obtido basicamentecom a observação das áreassintomáticas nas lavouras e porprospecções sistemáticas de larvasnas raízes (Martins, 1979). Adistribuição dos insetos adultos nasáreas cultivadas ainda não foipesquisada e supõe-se que deva sera mesma que origina a concentraçãodas larvas nas lavouras (Martins &Prando, 2004).

Informações sobre a distribuiçãoespacial dos indivíduos nas áreas dearroz irrigado são importantes parao desenvolvimento e a aplicação denovas estratégias para controle dapraga (Way, 2003). A distribuiçãohorizontal, por exemplo, informa amagnitude da dispersão do inseto nalavoura com reflexos na projeção daárea que deverá receber primeira-mente o controle (All & Dutcher,1977). Igualmente importante é oconhecimento dos períodos de maiordistribuição de indivíduos, que, emtese, seriam aqueles mais propíciospara se proceder ao controle daspopulações de adultos (Bernhardt &Wilson, 2002; Way, 2003).

Assim sendo, foram objetivosdesta pesquisa elucidar a distribuição

espacial de adultos da bicheira-da--raiz em lavouras de arroz irrigado,aferindo se a ocorrência de larvas ea perda de estande seguem padrõessimilares, bem como verificar opadrão temporal de dispersão dosindivíduos. As hipóteses levantadassão de que os adultos se distribuemem aglomerados, os quais têm reflexona distribuição larval e na perda deestande nas lavouras, e que adistribuição de indivíduos naslavouras progride com o passar dotempo.

Material e métodos

O estudo foi conduzido na Epagri/Estação Experimental de Itajaí, SC,por duas safras agrícolas, em duasquadras de arroz irrigado, de 0,36ha(quadra A6) e de 0,65ha (quadra I4)no ano agrícola 2007/08 e as duas de0,36ha (quadras A3 e A6) no anoagrícola 2008/09. O sistema decultivo adotado foi o pré-germinadopreconizado pela Epagri (2005). Assemeaduras ocorreram em 21/9/2007e em 19/9/2008, sem a utilização deinseticidas para controle de pragasnessas quadras. Em ambas as safrasutilizou-se a cultivar SCS114 An-dosan.

Em cada quadra foi demarcadoum par de linhas de caminhamentoortogonais, cada qual partindo a meiadistância da borda das quadras e secruzando no centro da quadra,conforme croquis da Figura 2. Aslinhas de caminhamento no sentido

norte-sul foram definidas comoalinhamento longitudinal e as linhasleste-oeste como alinhamentotransversal.

Em cada linha foram demarcadospontos amostrais, em ida e volta, apartir das bordas das taipas, a 1,5,3, 6, 12, 24 e 30m. Em cada ponto,em intervalo semanal, foramcoletados e contados os adultos emrepouso nas folhas ou nadando naágua, num raio de 0,6m a partir doponto amostral. Em 2007/08 ascontagens foram iniciadas em 25 desetembro e perduraram até 6 denovembro, e em 2008/09 foramefetuadas de 3 de outubro a 2 dedezembro.

No ano agrícola 2007/08 tambémse prospectou o número de larvas, naquadra A6 e no setor A da quadra I4,retirando-se quatro amostras de soloe raízes em cada ponto amostral apósos 48 dias da semeadura. Para essaoperação seguiu-se a metodologia decoleta de amostras proposta pelaSosbai (2007). No ano agrícola 2008/09 foi aferido semanalmente oestande da lavoura mediante acontagem de plantas circunscritasnum aro flutuante de 0,3m dediâmetro, aleatoriamente atiradosobre as plantas em cada pontoamostral.

A combinação das medidas desituação dos pontos amostrais com onúmero de insetos, larvas ou plantascontados foi tomada como coorde-nadas para interpolação dos mapasde distribuição gerados no programacomputacional Surfer®. Conformesugerem Ceruti & Pinto Jr. (2009),util izou-se o algoritmo de inter-polação kriging linear para gerar osmapas de contorno, que mostram aconfiguração da superfície porisolinhas de valores da variável decontagem.

Resultados e discussão

A dispersão média de adultos dabicheira-da-raiz nas quadras de arrozirrigado pode ser visualizada nasFiguras 3 e 4. Embora os mapas dedistribuição tenham o viés deposicionamento dos pontos amos-trais, houve nítida ocupaçãoregionalizada das áreas, comconcentração de indivíduos próximo

Figura 1. Adulto da bicheira-da-raiz

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às bordas das quadras, especial-mente naquelas onde se situava ocanal de drenagem. A profundidadeda lâmina d’água próximo aos canaisde drenagem tende a ser maior e,conforme verificado por Martins(1979) e Moreira (2002), é nos locaisprofundos que os adultos buscam,preferencialmente, sítios de postura,gerando as concentrações deindivíduos. Essa concentração deindivíduos nas bordas das quadras foireflexo do correto nivelamento do solonas lavouras experimentais, ondelocais profundos só permanecerampróximo aos canais de drenagem.Para isso também contribuiu o menoresforço de dispersão dos indivíduospela área, os quais tendem a cessaro deslocamento logo que condiçõesadequadas são encontradas (Gullan& Cranston, 2008).

Conforme aventado por Martins& Prando (2004), a distribuição delarvas nas quadras refletiu adistribuição prévia de adultos, comconcentração larval nas áreas ondehouve concentração de adultos(Figura 4). Na área da quadra I4,onde se prospectou o número delarvas, houve certa desconformidade,provavelmente devida à acentuadaperda de estande, empiricamenteobservada nas bordas dessa área.Isso motivou a aferição de estande noensaio da safra seguinte.

A perda de estande nas áreas de2008/09 não seguiu o padrão dedistribuição de adultos (Figura 5).Assim, áreas mais infestadas poradultos da bicheira-da-raiz tiveramperda de estande semelhante àsáreas menos infestadas. Apa-rentemente, houve uma perdageneralizada de estande, variando detrês a cinco plantas por unidadeamostral, entre as médias de estandeinicial e final nas áreas experi-mentais.

A perda de estande do arroz nãose deve apenas ao ataque dedeterminada praga, mas a uma sériede fatores que atuam no processo defixação e desenvolvimento dasplantas. Assim, além da perda deraízes devida à bicheira-da-raiz,podem ter contribuído para amortalidade de plantas astemperaturas ambiente e da água, a

Figura 2. Croquis das áreas experimentais (em cinza) utilizadas no estudo dedistribuição espacial de O. oryzae em Itajaí, SC, nos anos agrícolas 2007/08 e2008/09

Figura 3. Mapas de distribuição espacial de adultos e larvas de O. oryzae nasquadras A6 e I4 em Itajaí, SC, no ano agrícola 2007/08

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ocorrência de ventos fortes, aincidência de patógenos de solo e,fundamentalmente, o nível deferti l idade do solo (Ishiy, 2002;Moldenhauer & Gibbons, 2003).Ressalta-se que durante os períodosexperimentais não ocorrerameventos climáticos extremos quepudessem agravar a perda deestande.

Embora os adultos da bicheira daraiz já possam povoar as quadras dearroz pré-germinado antes daemergência das plântulas (Prando,2002), foi em meados de outubro queocorreu intensa movimentação deadultos nas duas safras avaliadas.Isso se refletiu na ampla distribuiçãode indivíduos, verificada por toda aárea das quadras, a partir dascontagens de 16 de outubro de 2007e de 17 de outubro de 2008 (Figura6). Nessas datas o arroz, nas lavourasexperimentais, estava com 25 e 30dias, respectivamente, ou seja, noinício do perfi lhamento. Martins(1976) verificou que o pico dapopulação larval de bicheira-da-raiz

Figura 4. Mapas de distribuiçãoespacial de adultos de O. oryzae nasquadras I4, ano 2007/08, e A6 e A3,ano 2008/09, em Itajaí, SC

varia com a data de semeadura doarroz e ocorre quando as plantasestão, em média, com 75 dias deidade, em cultivo convencional.Contudo, cada pico resultou dacontagem de menos larvas em cadaamostragem. Assim, este autorargumentou que, nas primeirassemeaduras, as lavouras foramintensamente infestadas pelapopulação que deixou a hibernaçãoe, nas seguintes, pelos adultosremanescentes nas áreas. Por outrolado, Carbonari et al. (2000)mostraram que o ciclo dedesenvolvimento das cultivares,quando plantadas na mesma época,não influencia na ocorrência dosindivíduos.

O período de intensa movi-mentação de adultos, a partir demeados de outubro, também foiverificado por Hickel (2009),mediante a captura de indivíduos emarmadilhas luminosas, correspon-dendo ao período preconizado demaior abandono dos sítios dehibernação (Mielitz, 1993). A saída dadiapausa, em vários insetos, édeflagrada primordialmente porfatores climáticos, notadamentefotoperíodo e temperatura (Gullan &Cranston, 2008). Assim, a presençade plantas hospedeiras no ambienteé um mero fator esperado pelosindivíduos. Não obstante, é de sesupor que, embora a saída dediapausa de O. oryzae seja um eventotemporal (Mielitz, 1993), a ocupaçãodas áreas de lavoura dependatambém da adequação hospedeiradas plantas de arroz (Martins, 1976).

A partir de meados de novembroos indivíduos adultos da bicheira-da--raiz tenderam a sumir das lavourasexperimentais. Parte deles provavel-mente morreu depois de cumprida amissão de reprodução (Mielitz, 1993;Shang et al., 2004). Outra partetalvez tenha ido infestar lavourascom plantas mais jovens, preferidaspara oviposição (Martins, 1976;Moreira, 2002). Assim, o período deintensa presença de adultos debicheira-da-raiz, numa dada lavourade arroz irrigado, perdura por cercade 30 dias a partir de 1 mês dasemeadura.

Figura 5. Mapas do estande de plantas de arroz nas quadras A6 e A3, em Itajaí, SC, ano2008/09

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Figura 6. Flutuação populacional de adultos da bicheira-da-raiz (número médio deinsetos por ponto amostral de acordo com a distância e orientação docaminhamento), em Itajaí, SC, anos agrícolas 2007/08 e 2008/09

Conclusão

Adultos da bicheira-da-raizdistribuem-se em lavouras de arrozirrigado com concentração deindivíduos em locais específicos.

A distribuição espacial de larvasespelha a distribuição espacial préviade adultos, porém a perda de estandeem lavouras de arroz irrigado nãocorresponde à distribuição deadultos.

A distribuição de adultos dabicheira da raiz nas áreas de lavouraé epidêmica e limitada no tempo.

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Introdução

O nitrogênio (N) e o potássio (K)são os nutrientes encontrados emmaiores concentrações nas folhas damacieira e, por isso, são aqueles que

Composição mineral de folhas e vigor da macieira ‘Fuji’ emresposta a nitrogênio e potássio

Gilberto Nava1, Antonio Roque Dechen2, Clori Basso3, Gilmar Ribeiro Nachtigall4 e José Masanori Katsurayama5

Resumo – A diagnose foliar é uma importante ferramenta para a avaliação do estado nutricional da macieira. Asconcentrações dos nutrientes nas folhas variam em função da época de amostragem e em resposta às adubações. Oobjetivo deste trabalho foi avaliar o efeito da adubação nitrogenada e potássica sobre o vigor e a composição mineraldas folhas da macieira em duas épocas de amostragem. O experimento foi conduzido no período de 1998 a 2006, nomunicípio de São Joaquim, SC. Consistiu de um fatorial com doses de N e K aplicadas anualmente ao solo (zero, 50,100 e 200kg/ha de N e de K2O). A análise química foi realizada em folhas coletadas na época padrão de amostragem,15 de janeiro a 15 de fevereiro, e também antecipadamente durante a segunda quinzena de novembro nos anosagrícolas 2004/05 e 2005/06. O vigor das plantas foi avaliado por meio das medições do perímetro do tronco. Asconcentrações dos macronutrientes nas folhas foram alteradas, principalmente pela adubação nitrogenada, quepromoveu o incremento das concentrações de N, Ca e Mg e a redução das concentrações de K e P. A adubaçãopotássica reduziu as concentrações foliares de Mg e de Ca. O vigor das plantas foi influenciado positivamente pelaadubação nitrogenada. Os teores dos nutrientes de folhas coletadas em novembro apresentaram boa correlação comaqueles de folhas coletadas na época padrão de amostragem, em janeiro/fevereiro.

Termos para indexação: Malus domestica Borkh, adubação, análise foliar, nutrição mineral.

Mineral composition of leaves and growth of ‘Fuji’ apple trees in response tonitrogen and potassium fertilization

Abstract – Foliar diagnosis is an important tool to assess the nutritional status of apple trees. Nutrient concentrationson leaves vary with both sampling time and fertilization practice. The aim of this paper was to evaluate the effects ofnitrogen and potassium fertilizations on growth parameters and mineral concentration on leaves of apple trees intwo periods of sampling. The experiment was conducted in São Joaquim, State of Santa Catarina, Brazil, from 1998to 2006. A factorial arrangement was used with N and K annual fertilizer rates (zero, 50, 100, 200kg/ha of N andK

2O). Chemical analyses of leaves collected in two sampling periods, from January 15 to February 15 (for all growth

seasons), and in the second half of November (only for 2004/05 and 2005/06 growth seasons) were conducted. Thegrowth of the plants was assessed by measuring the trunk. The nutrient concentrations of the leaves were modified,mainly by nitrogen fertilization, which increased N, Ca and Mg, and reduced K and P concentrations. Mg and Caconcentration on the leaves was reduced by K fertilization. The plant growth was affected by N fertilization.The chemical foliar analysis has shown that November sampling was useful in predicting the macronutrientconcentration reached by the leaves in January/February.

Index terms: Malus domestica Borkh, plant nutrition, leaf analysis, mineral nutrition.

Aceito para publicação em 22/4/10.1 Eng.-agr., Dr., Epagri/Estação Experimental de São Joaquim, C.P. 81, 88600-000 São Joaquim, SC, fone (49) 3233-0324, e-mail:[email protected] Eng.-agr., Dr., Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz/USP, C.P. 9, 13418-900 Piracicaba, SP, e-mail: [email protected] Eng.-agr., Ph.D., Epagri/Estação Experimental de Caçador, C.P. 591, 89500-000 Caçador, SC, e-mail: [email protected] Eng.-agr., Dr., Embrapa Uva e Vinho, C.P. 1513, 95200-000 Vacaria, RS, e-mail: [email protected] Eng.-agr., Epagri/Estação Experimental de São Joaquim, e-mail: [email protected].

mais frequentemente causamvariações na sua composição mineral.Aumentando-se o N via adubação,normalmente há redução dasconcentrações de K, P, Zn e B eaumento das concentrações de Ca e

Mg nas folhas da macieira (Suzuki &Basso, 2002). Um adequadosuprimento de K pode amenizar osefeitos negativos de uma adubaçãonitrogenada excessiva (Suzuki &Basso, 2002), porém o excesso pode

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Atributo Pomar 1 Pomar 2 Pomar 3

pH (água) 6,8 6,4 6,6

P (mg/dm3) 33,0 45,0 63,0

K (mg/dm3) 141,0 240,0 258,0

Ca (mmolc/dm3) 89,0 112,0 119,0

Mg (mmolc/dm3) 60,0 62,0 64,0

M.O. (g/dm3) 50,0 49,0 65,0

Argila (g/dm3) 300,0 380,0 300,0

Tabela 1. Análise do solo, anterior à instalação do experimento (1998)

afetar negativamente a absorção etranslocação do Mg e do Ca(Marschner, 1995). O K é um fortecompetidor com outros cátions porcausa da alta eficiência que asplantas em geral possuem emabsorver esse nutriente. Na ausência– ou diminuindo-se a concentração –de K na solução do solo, a absorçãode outros cátions é aumentada(Rosolem, 2005).

Entre os nutrientes, o N tem sidoo que apresenta a melhor relação como vigor e a produtividade dasmacieiras (Raese & Drake, 1997;Neilsen et al., 1999). Assim, éimportante que a concentração de Nesteja dentro da faixa normal,resultando no equilíbrio entre a partevegetativa e a reprodutiva e,consequentemente, na produçãoregular no decorrer dos anos.

A disponibilidade e o suprimentode N e K sofrem grande variaçãopelas alterações das condiçõesedafoclimáticas. Para a região de SãoJoaquim verificam-se característicaspeculiares, como temperaturas maisbaixas e solos mais rasos quandocomparada às regiões produtoras deFraiburgo e Vacaria. Em regiões comtemperaturas mais elevadas, amineralização da matéria orgânicado solo é favorecida. A maiorprofundidade do solo favorece adisponibilidade de água e nutrientesàs plantas.

Nas folhas ocorre a maioria dosprocessos fisiológicos. Em geral, elassão analisadas e utiliza-se o seuconteúdo em nutrientes como basepara avaliar o estado nutricional dasplantas. Na diagnose foliar dacultura da macieira no Brasilrecomenda-se que as folhas sejamcoletadas no período entre 15 dejaneiro e 15 de fevereiro (Sociedade...,2004; Suzuki & Basso, 2002), combase na premissa de que nesseperíodo a concentração dosnutrientes nas folhas seja menosvariável. Entretanto, devido àproximidade desse período com acolheita e ao tempo necessário paraenvio, realização e recebimento daanálise do laboratório, os resultadossomente podem ser utilizados para arecomendação da adubação da safra

seguinte. Desse modo, a amostragemfoliar em épocas antecipadas àpadrão pode trazer vantagens aomanejo nutricional da macieira.Nachtigall (2005), avaliando o efeitode épocas de amostragem (novembroe fevereiro) sobre a concentração dosnutrientes nas folhas da macieira,verificou correlação significativapara todos os nutrientes estudados,com exceção de S e Fe.

Este trabalho objetivou avaliar oefeito das adubações nitrogenada epotássica sobre a composição mineraldas folhas e o vigor das plantas, bemcomo verificar a relação entre aconcentração dos nutrientes na épocapadrão e em outra, antecipada, deamostragem das folhas, para acultivar Fuji nas condições de solo eclima de São Joaquim, SC.

Material e métodos

O experimento foi conduzidodurante os ciclos vegetativos 1998/99a 2006/07, no município de SãoJoaquim, SC (28o17’25’’ latitude sul,49o56’56’’ longitude oeste, altitudemédia de 1.350m), em três pomarescomerciais, com 6, 9 e 13 anos deidade na instalação, ambos com acultivar Fuji sobre o porta-enxertoMarubakaido.

Cada pomar comercial constituiuuma das três repetições nodelineamento experimental blocos aoacaso. Os tratamentos, em fatorial 4x 4, consistiram de combinações dosnutrientes N e K nas doses de zero,50, 100 e 200kg/ha de N e de K

2O,

aplicadas anualmente. O K foiaplicado como cloreto de potássio, empós-colheita (abril). As doses de N, naforma de ureia, foram parceladas em50% em pós-colheita (abril) e 50% noinício da estação de crescimento

(setembro). Também se aplicou umadose única anual de manutenção de50kg/ha de P2O5, na forma desuperfosfato triplo. Todos osferti l izantes foram aplicados nasuperfície do solo, sem incorporação,numa faixa de 2,2m de largura,centralizada junto à linha de plantas.Uma vez que a ureia aplicada sobrea superfície do solo está sujeita avolatilização, as adubações com Nforam realizadas, sempre quepossível, em dias chuvosos, pois nãohavia sistema de irrigação instalado.Os solos util izados foram Cam-bissolos em dois pomares e Neossoloem outro. O teor de argila e ascaracterísticas químicas dos solos, noinício do experimento, são apre-sentados na Tabela 1.

As parcelas experimentaiscontinham cinco plantas, espaçadasem 4,5 x 6m (370 plantas/ha) em umpomar e 3 x 6m (556 plantas/ha) nosoutros dois pomares, sendo avaliadasas três plantas centrais. As áreasexperimentais receberam o manejorecomendado para pomares co-merciais, exceto em relação aostratamentos.

Para a determinação da com-posição mineral, 45 folhas porunidade experimental (15 folhas porplanta) foram amostradas nasegunda quinzena de novembro em2004 e 2005 e no período de 15 dejaneiro a 15 de fevereiro em todos osanos do período de 1999 a 2006.

As folhas foram lavadas comdetergente e enxaguadas com águadestilada, secadas em estufa a 65oCe moídas. Uma subamostra de 0,5gdo material moído foi submetida àdigestão ácida nitroperclórica comHClO4 (1ml) + HNO3 (6ml) a 190oCem bloco digestor. No extrato,determinaram-se as concentrações de

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P por espectrofotometria UV (métodovanadato-molibdato) e K, Ca, Mg, Fe,Mn e Zn por espectrometria deabsorção atômica. Determinou-se Bpelo método de azometina H, apósincineração de 0,3g em forno mufla a550oC. O N foi determinado pelométodo micro-Kjeldahl, após digestãode 0,2g a 380oC, com H2O2 (2ml) +H2SO4 (5ml) e sais catalisadores.

Os dados de concentração foliardos diferentes nutrientes avaliadosforam submetidos à análise devariância e os fatores cujos efeitosforam significativos pelo teste F a 5%de probabilidade foram submetidosà análise de regressão para ajuste deequações de efeito l inear ouquadrático que apresentaram osmaiores coeficientes de determinação(R2) (PROC GLM e PROC REG, SAS,1996). As relações entre asconcentrações dos nutrientes nasduas épocas de amostragem dasfolhas foram obtidas por meio docoeficiente de correlação de Pearson,p < 0,05.

Resultados e discussão

Concentração dos nutrientesna época padrão de amostragem

Não houve interação significativaentre as adubações nitrogenada epotássica quanto às concentraçõesdos nutrientes das folhas coletadasna época padrão de amostragem. Porisso, somente os efeitos principais decada fator são discutidos. Nasavaliações realizadas entre 1999 e2006, as concentrações de N nasfolhas tiveram aumento linearsignificativo em função das doses deN aplicadas ao solo (Tabela 2). Asconcentrações de N somenteatingiram a faixa de interpretaçãoacima do normal – 25 a 30g/kg –(Suzuki & Basso, 2002) em dois anosda avaliação, indicando resposta àadubação nitrogenada sem grandesriscos de excesso de N, nas condiçõesde solo e clima de São Joaquim.Deficiências visuais de N foramobservadas nos tratamentos semadubação.

Na ausência da adubaçãonitrogenada, as concentrações

N ou K2O Ano

aplicado 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 Média

N (kg/ha) ............................................................... g/kg .................................................................

0 20,7 22,1 20,6 20,5 20,7 18,1 18,4 21,6 20,3

50 21,2 23,2 21,9 22,7 21,6 19,2 19,2 23,1 21,5

100 22,2 24,4 22,8 23,2 22,6 21,2 21,1 25,1 22,8

200 23,3 25,7 24,5 24,5 24,3 22,0 21,2 26,2 24,0

Média 21,9 23,9 22,5 22,7 22,3 20,1 20,0 24,0 22,2

Regressão L L L L L L L L

R2 = 0,98 R2 = 0,97 R2 = 0,98 R2 = 0,88R2 = 0,99 R2 = 0,90 R2 = 0,79 R2 = 0,92

K2O (kg/ha) ................................................................ g/kg ................................................................

0 21,8 23,5 21,9 21,8 20,1 20,2 19,7 23,4 21,6

50 21,7 23,6 21,9 22,2 20,5 20,2 19,6 23,6 21,7

100 21,8 23,9 22,6 23,6 20,7 20,4 20,0 25,0 22,3

200 22,1 24,4 23,5 23,1 20,6 20,4 20,8 24,4 22,4

Média 21,9 23,9 22,5 22,7 20,5 20,3 20,0 24,1 22,0

Regressão ns ns ns ns ns ns ns ns

Tabela 2. Concentração foliar de nitrogênio em macieira ‘Fuji’ na amostragem de15 jan. a 15 fev., em função das adubações nitrogenada e potássica demanutenção, no período de 1999 a 2006 (média de 12 observações)

ns = efeito não significativo.Nota: L = efeito linear significativo a 5% por regressão polinomial;

foliares de N variaram de 18,1g/kg a22,1g/kg. Em 2004 e 2005, concentra-ções acima do nível crítico de 20g/kg(Suzuki & Basso, 2002) somenteforam atingidas com a aplicação dedoses maiores que 50kg/ha de N, oque pode ser atribuído a fatores cli-máticos, que possivelmente restrin-giram a disponibilidade do N no soloe a recuperação do N-fertilizantenessas safras. Em nenhum ano deavaliação as concentrações de N nasfolhas foram alteradas significa-tivamente pela adubação potássica.

Os resultados obtidos para o Ndiferem daqueles obtidos empesquisas já realizadas na região deVacaria, RS, que não mostraramefeito significativo da adubaçãonitrogenada sobre a concentraçãofoliar de N (Ernani et al., 1997;Ernani & Dias, 1999). As menoresprofundidade e temperatura dossolos de altitude, predominantes naregião de São Joaquim, SC, quandocomparadas às de Vacaria, possivel-mente contribuíram para quehouvesse menor liberação de N pelosolo e, consequentemente, incremen-to do N foliar em resposta à adubaçãonitrogenada.

As concentrações foliares de Kaumentaram linearmente com aadubação potássica nas avaliaçõesfeitas a partir da safra 2001 (Tabela3). O alto teor inicial de K trocávelno solo (Tabela 1) foi o fatorresponsável para que não houvesseresposta nos dois primeiros anos deavaliação. Com exceção do primeiroano, quando não se aplicou K, asconcentrações foliares de K ficaramabaixo do limite inferior da faixanormal (< 12g/kg), segundo Suzuki &Basso (2002), indicando a neces-sidade de adições anuais de K para aobtenção do equilíbrio nutricional dasplantas, conforme comprovado porErnani et al. (2002).

As concentrações médias de K nasfolhas foram variáveis entre os anosde avaliação (11,4 a 17,1g/kg),possivelmente devido às oscilações daquantidade de frutos na planta(Ernani et al., 2002) e às alteraçõesda umidade do solo, que afetamsignificativamente o suprimento, aabsorção e a alocação desse nutrientenas plantas.

Nos anos de 2000 e 2001, a adiçãode N ao solo promoveu a redução dasconcentrações foliares de K. Esse fato

Page 81: Edição de julho de 2010

80 Agropecuária Catarinense, v.23, n.2, jul. 2010

pôde ser constatado visualmente nocampo, quando os sintomas dedeficiência de K nas folhas eram maisintensos nas parcelas sem aplicaçãode K e com altas doses de N (Figura1). Nesse caso, o crescimentovegetativo estimulado pelo N causou

N ou K2O Ano

aplicado 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 Média

N (kg/ha) ................................................................ g/kg .................................................................

0 17,9 14,5 13,2 13,4 16,3 13,5 13,4 15,7 14,7

50 17,6 13,4 13,7 11,2 14,1 12,0 11,4 13,7 13,4

100 17,0 11,9 12,9 11,9 13,9 11,6 10,3 13,6 12,9

200 15,9 10,8 11,7 11,7 13,1 12,9 10,4 11,4 12,2

Média 17,1 12,7 12,9 12,1 14,4 12,5 11,4 13,6 13,3

Regressão ns L L ns ns ns ns ns

R2 = 0,95R2 = 0,77

K2O (kg/ha) ................................................................ g/kg .................................................................

0 16,3 11,8 10,7 9,3 11,1 9,6 8,7 9,7 9,1

50 17,0 12,3 12,0 11,8 12,3 11,7 10,2 12,0 10,5

100 17,3 12,5 13,8 13,5 15,3 13,7 12,4 15,0 12,2

200 17,8 13,9 15,0 13,7 18,2 15,8 14,2 17,5 13,8

Média 17,1 12,6 12,9 12,1 14,2 12,7 11,4 13,6 11,4

Regressão ns ns L L L L L L

R2 = 0,94 R2 = 0,76 R2 = 0,97 R2 = 0,96 R2 = 0,96 R2 = 0,96

Tabela 3. Concentração foliar de potássio em macieira ‘Fuji’ na amostragem de 15jan. a 15 fev., em função das adubações nitrogenada e potássica de manutenção,no período de 1999 a 2006 (média de 12 observações)

ns = efeito não significativo.Nota: L = efeito linear significativo a 5% por regressão polinomial.

Figura 1. Plantas de macieira com folhas de bordas secas e frutos pequenoscausados pela deficiência de K

a diluição do K na parte aérea,realçando os sintomas de deficiência.

A concentração de P nas folhassituou-se, em geral, na faixa normalde suficiência (1,5 a 3g/kg) e, emalguns casos, acima do normal,segundo Suzuki & Basso (2002). Em

todos os anos de avaliação, asconcentrações foliares de P foramreduzidas significativamente pelaadubação nitrogenada (Tabela 4).Diversos trabalhos relatam adiminuição das concentraçõesfoliares de P em resposta à adubaçãonitrogenada (Neilsen et al., 1998;Raese & Drake, 1997), fatorelacionado ao efeito de diluiçãopromovido pelo N. Apesar da reduçãoque o N promoveu sobre asconcentrações de P, não foi observadadeficiência desse nutriente,indicando que a dose única de 50kg/ha de P2O5 foi suficiente para atendera demanda da cultura pelo nutriente.Em nenhum dos anos as concen-trações foliares de P foraminfluenciadas significativamente pelaadubação potássica.

As concentrações de Ca nas folhasda macieira, em geral, situaram-sedentro da faixa de concentraçãonormal (11 a 17g/kg), segundo Suzuki& Basso (2002), fato relacionado aosaltos teores desse nutriente nos solos(Tabela 1). Somente em 2003, asconcentrações médias de Ca nasfolhas foram menores ao limiteinferior da faixa normal (Tabela 5).Na maioria dos anos, as con-centrações foliares de Ca foramaumentadas significativamente pelaadubação nitrogenada, corroborandoos resultados obtidos em outraspesquisas com a macieira (Raese &Drake, 1997; Neilsen et al., 2004).Segundo Basso (1995), as fontes deN podem afetar a nutrição do Cadevido a: alteração do pH externo;competição (NH4

+) ou estimulação(NO3

–) na absorção de Ca;melhoramento do transporte de Cano xilema, uma vez que o NO3

- é oânion acompanhante preferencialpara o transporte de Ca dentro daplanta.

Somente na safra 2001 asconcentrações foliares de Ca foramreduzidas significantemente pelaadubação potássica K (Tabela 5).Ernani et al. (2002) avaliaram oefeito de adições anuais de K durante7 anos e também observaram que asconcentrações médias de Ca nasfolhas foram levemente reduzidaspelas doses de K2O de até 300kg/ha.

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81Agropecuária Catarinense, v.23, n.2, jul. 2010

As concentrações de Mg nasfolhas foram aumentadas pelaadubação nitrogenada em 2001 e2003 e diminuídas pela potássica em2001, 2004, 2005 e 2006 (Tabela 6),possivelmente devido ao efeitoantagônico entre a absorção de K ede Mg pela planta (Neilsen &Neilsen, 2003). O aumento daconcentração foliar de Mg em funçãodo aumento da dose de N aplicadapode ser explicado em parte pelacompetição entre os íons NH4

+ e K+,o que causou a redução dasconcentrações foliares de K e que foi,de certa forma, compensada pelaabsorção de Mg (Fallahi et al., 2001;Neilsen et al., 2004; Neilsen et al.,1998).

Apesar das elevadas concen-trações iniciais de Mg no solo (Tabela1) em vários anos de avaliação, aconcentração foliar de Mg ficouabaixo do limite inferior da faixaconsiderada normal (2,5 a 4,5g/kg),segundo Suzuki & Basso (2002), o quese deve ao efeito negativo do K sobrea absorção de Mg. Entretanto,observa-se que os teores foliares deMg foram reduzidos de forma maisconsistente a partir do ano de 2004(Tabela 6), quando o acúmulo de Ktrocável no solo já era superior a300mg/kg (dados não apresentados).Por isso, devem-se evitar adubaçõespotássicas desnecessárias a fim deque esse nível de K trocável no solonão seja atingido.

De maneira geral, as concen-trações dos micronutrientes forampouco influenciadas pelas adubações.Com exceção do Fe em 2003 e do Bem 2005 e 2006, cujas concentraçõesficaram abaixo da faixa normal desuficiência, nos demais anos deavaliação a concentração dosmicronutrientes avaliados estiveramdentro ou acima da faixa desuficiência considerada normal,segundo Suzuki & Basso (2002).

Relação da concentração dosnutrientes nas duas épocas deamostragem

Todos os macronutrientesapresentaram correlações signi-ficativas entre as concentrações nas

folhas em novembro e suasrespectivas concentrações naamostragem padrão de janeiro/fevereiro (Figura 2), o que está de

acordo com o observado porNachtigall (2005). O N foi o nutrienteque apresentou o menor coeficientede correlação (r = 0,6), fato rela-

N ou K2O Ano

aplicado 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 Média

N (kg/ha) .................................................................. g/kg ..................................................................

0 3,29 3,02 2,97 3,00 2,85 2,77 2,65 3,22 2,97

50 2,98 2,87 2,85 2,53 2,62 2,52 2,16 2,76 2,66

100 2,68 2,41 2,47 2,21 2,00 2,07 1,89 2,15 2,24

200 2,36 1,90 2,00 2,07 1,71 1,62 1,54 1,62 1,85

Média 2,83 2,55 2,57 2,45 2,30 2,25 2,06 2,44 2,43

Regressão L L L L L L L L

R2 = 0,96 R2 = 0,97 R2 = 0,98 R2 = 0,83 R2 = 0,92 R2 = 0,98 R2 = 0,93 R2 = 0,96

K2O (kg/ha) .................................................................. g/kg ..................................................................

0 2,84 2,54 2,67 2,38 2,49 2,37 2,32 2,46 2,51

50 2,76 2,51 2,58 2,31 2,13 2,25 1,95 2,39 2,36

100 2,82 2,62 2,60 2,54 2,26 2,00 2,06 2,41 2,41

200 2,88 2,53 2,54 2,56 2,21 2,27 1,90 2,40 2,41

Média 2,83 2,55 2,60 2,45 2,27 2,22 2,06 2,42 2,42

Regressão ns ns ns ns ns ns ns ns

Tabela 4. Concentração foliar de fósforo em macieira ‘Fuji’ na amostragem de 15jan. a 15 fev., em função das adubações nitrogenada e potássica de manutenção,no período de 1999 a 2006 (média de 12 observações)

ns = efeito não significativo.Nota: L = efeito linear significativo a 5% por regressão polinomial.

N ou K2O Ano

aplicado 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 Média

N (kg/ha) ........................................................ g/kg ........................................................

0 11,2 11,5 13,4 11,4 8,9 10,6 12,2 14,4 11,7

50 11,6 11,9 14,4 11,7 9,8 13,8 12,9 15,5 12,7

100 11,5 12,4 15,4 12,5 11,2 13,5 15,2 15,6 13,4

200 11,6 12,2 15,9 12,6 11,2 13,2 13,6 16,0 13,3

Média 11,5 12,0 14,8 12,1 10,3 12,8 13,5 15,4 12,8

Regressão ns ns L *** L * L ** Q *** Q ** ns

R2 = 0,89 R2 = 0,82R2 = 0,76R2 = 0,83 R2 = 0,77

K2O (kg/ha) ........................................................ g/kg ........................................................

0 11,8 11,8 15,6 12,0 10,6 13,1 13,6 15,5 13,0

50 11,3 11,9 15,1 12,2 10,0 12,5 12,9 16,0 12,7

100 11,7 12,6 14,5 12,6 10,6 12,6 13,4 15,7 13,0

200 11,3 11,6 13,7 11,4 10,0 12,6 14,0 14,6 12,4

Média 11,5 12,0 14,7 12,1 10,3 12,7 13,5 15,5 12,8

Regressão ns ns L * ns ns ns ns ns

R2 = 0,99

Tabela 5. Concentração foliar de cálcio em macieira ‘Fuji’ na amostragem de 15jan. a 15 fev., em função das adubações nitrogenada e potássica de manutenção, noperíodo de 1999 a 2006 (média de 12 observações)

ns = efeito não significativo.Nota: L e Q = efeito linear e quadrático, respectivamente, significativo a 5% (*), 1% (**) e0,1% (***), por regressão polinomial;

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82 Agropecuária Catarinense, v.23, n.2, jul. 2010

N ou K2O Ano

aplicado 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 Média

N (kg/ha) .................................................................. g/kg .................................................................

0 2,06 2,29 2,01 2,49 1,75 2,36 3,24 4,03 2,53

50 2,16 2,24 2,27 2,42 2,16 3,20 3,54 4,65 2,83

100 2,16 2,71 2,37 2,50 2,22 3,00 4,08 4,35 2,92

200 2,30 2,81 2,55 2,72 2,22 2,86 3,74 4,85 3,01

Média 2,17 2,51 2,30 2,53 2,09 2,86 3,65 4,47 2,82

Regressão ns ns L * ns Q * ns ns ns

R2 = 0,92 R2 = 0,94

K2O (kg/ha) ................................................................. g/kg ..................................................................

0 2,24 2,74 2,72 2,35 2,47 3,49 4,50 5,42 3,15

50 2,17 2,55 2,46 2,72 2,36 2,68 3,81 4,76 2,94

100 2,20 2,28 2,13 2,57 2,18 2,84 3,20 4,14 2,69

200 2,08 2,48 1,90 2,50 2,07 2,23 3,08 3,56 2,49

Média 2,17 2,51 2,30 2,54 2,08 2,81 3,65 4,47 2,82

Regressão ns ns L ** ns ns L * L * L **

R2 = 0,94 R2 = 0,79 R2 = 0,80 R2 = 0,95

Tabela 6. Concentração foliar de magnésio em macieira ‘Fuji’ na amostragem de15 jan. a 15 fev., em função das adubações nitrogenada e potássica demanutenção, no período de 1999 a 2006 (média de 12 observações)

ns = efeito não significativo.Nota: L e Q = efeito linear e quadrático, respectivamente, significativo a 5% (*) e 1% (**),por regressão polinomial.

cionado à instabilidade dasconcentrações desse nutriente no solono decorrer do tempo. Para osmicronutrientes, os coeficientes dedeterminação obtidos foram, emgeral, menores que 0,4 e nãosignificativos (dados não apre-sentados).

A alta relação das concentraçõesdos macronutrientes avaliados entreas duas épocas de avaliação sugereque a amostragem foliar precoce podeser utilizada satisfatoriamente noestabelecimento do programa deadubação, conferindo um ajuste finoda nutrição mineral da macieira.Uma vez sendo detectadas con-centrações abaixo do normal de umdeterminado nutriente numa fasemais precoce do desenvolvimentovegetativo da cultura, medidascorretivas de nutrição poderiam serrealizadas ainda no ciclo corrente.

Vigor da planta

O crescimento do perímetro dotronco entre 1998 (início doexperimento) e 2006 (final) foiinfluenciado significativamente pelaadubação nitrogenada, porém nãopela potássica (Figura 3). Operímetro do tronco aumentou,seguindo o modelo de regressãoquadrática, atingindo o máximo de15,2cm na dose de 195kg/ha de N.Aproximadamente a metade dessecrescimento foi promovida pelaadubação nitrogenada, indicando queo N é o principal nutriente envolvidono aumento do vigor da macieira.

Conclusões

• Independentemente da época deamostragem, não houve interaçãoentre as adubações nitrogenada epotássica quanto às concentraçõesfoliares dos nutrientes.

• A composição mineral das folhasfoi alterada pelas adubações,principalmente pela nitrogenada, aqual promoveu incremento nasconcentrações de Ca e Mg ediminuição nas concentrações de K eP das folhas.

• O vigor da macieira foideterminado pela adubação

Figura 2. Relação entre as concentrações foliares de N, P, K, Ca e Mg da macieira‘Fuji’ nas amostragens realizadas na época padrão (15 de janeiro a 15 de fevereiro)e antecipadas (15 a 30 de novembro) durante os anos agrícolas 2004/05 e 2005/06;r = coeficiente de correlação de Pearson (p < 0,05)

Page 84: Edição de julho de 2010

83Agropecuária Catarinense, v.23, n.2, jul. 2010

nitrogenada e independeu daadubação potássica.

• Os teores dos nutrientes defolhas coletadas em novembroapresentaram boa correlação comaqueles de folhas coletadas na épocapadrão de amostragem, em janeiro/fevereiro.

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Introdução

A macieira é a fruteira de climatemperado mais cultivada no Estadode Santa Catarina. As condiçõesedafoclimáticas predominantes naRegião do Planalto Serrano são

Atratividade de iscas alimentares comerciais paramosca-das-frutas em pomares de macieira

Rosangela Teixeira1, Luiz Gonzaga Ribeiro2, Mari Inês Carissimi Boff3,Pedro Boff4 e Odimar Zanuzo Zanardi5

Resumo – A macieira (Malus domestica Borkh.) é a fruteira de clima temperado mais cultivada no Estado de SantaCatarina, e dentre as pragas a mosca-das-frutas se destaca como praga “chave” da cultura. O monitoramento auxiliao agricultor na escolha do momento mais adequado para se iniciar o controle. O objetivo deste trabalho foi avaliar aeficiência e o custo de iscas alimentares utilizadas no monitoramento populacional da mosca-das-frutas em pomar demacieira, em São Joaquim, SC. O experimento foi conduzido nos anos agrícolas 2007/08 e 2008/09, adotando blocoscasualizados, com cinco repetições e quatro tratamentos: 1) suco de uva Diúva® a 25%; 2) proteína hidrolisadaBioAnastrepha® a 5%; 3) proteína hidrolisada Isca Mosca® a 5%; e 4) levedura Torula® a 2,5%. As iscas alimentaresforam colocadas em armadilhas do tipo McPhail, e cada armadilha representou uma parcela. Cada armadilha recebeu300ml de cada solução atrativa. O conteúdo das armadilhas foi renovado semanalmente, sendo os adultos da mosca--das-frutas coletados e levados ao laboratório para a identificação. Em ambas as safras, Anastrepha fraterculus foi aespécie de mosca-das-frutas predominante. A proteína hidrolisada BioAnastrepha® a 5% destacou-se na atratividadedesse inseto, seguida da levedura Torula® a 2,5%, que foi semelhante à BioAnastrepha® no primeiro ano de avaliação.A proteína hidrolisada BioAnastrepha® a 5% contempla a relação eficiência/custo.

Termos para indexação: Tephritidae, Anastrepha fraterculus, monitoramento.

Attractiveness of commercial food baits to adult fruit flies in apple orchards

Abstract – The apple plant (Malus domestica Borkh.) is the most cultivated species of temperate climate in theState of Santa Catarina, Brazil. Among the pests, fruit flies stand out as the major problem. The monitoring of fruitflies populations helps the farmer to determine the right moment for fruit treatments. The objective of this researchwas to evaluate the efficiency and costs of commercial baits to monitor fruit flies in apple orchards located in SãoJoaquin, SC. The experiment was carried out during the 2007/08 and 2008/09 crop seasons, in randomized blockswith five repetitions and four treatments. The baits tested were Diúva grape juice (25%), hydrolyzed proteinBioAnastrepha® (5%), protein Isca Mosca® (5%) and Torula yeast (2.5%). The baits were put in plastic McPhail traps.Each trap represented a parcel and was filled with 300ml of the attractive solution, which was weekly renewed. Thecaptured flies were collected and transferred to the laboratory for identification. It was possible to observe that atboth crop seasons the Anastrepha fraterculus was the predominant species. In the 2007/08 crop season, the hydrolyzedprotein BioAnastrepha® (5%) and yeast Torula (2.5%) showed more attractive than Isca Mosca® and grape juice. Thehydrolyzed protein BioAnastrepha® 5% contemplates the efficiency/cost ratio.

Index terms: Tephritidae, Anastrepha fraterculus, monitoring.

Aceito para publicação em 20/4/10.1 Bióloga, Udesc/Centro de Ciências Agroveterinárias, C.P. 281, 88520-000 Lages, SC, e-mail: [email protected] Eng.-agr., M.Sc., Epagri/Estação Experimental de São Joaquim, C.P. 81, 88600-000 São Joaquim, SC, fone: (49) 3233-0324, e-mail:[email protected] Eng.-agr., Ph.D., Udesc/Centro de Ciências Agroveterinárias, fone: (49) 2101-9170, e-mail: [email protected] Eng.-agr., Ph.D., Epagri/ Estação Experimental de Lages, C.P. 181, 88502-970 Lages, SC, fone: (49) 3224-4400, e-mail:[email protected] Graduando em Agronomia, Udesc/Centro de Ciências Agroveterinárias, e-mail: [email protected].

favoráveis ao desenvolvimento dacultura, que produz frutos de boaqualidade (Pérez, 2006). SegundoVieira (2008), no ano agrícola 2007/08 houve aumento de 0,7% naprodução e 0,5% na área cultivada demaçã em relação à safra anterior, o

que representou 50,2% da produçãonacional dessa fruta.

Os principais problemas fitos-sanitários associados à produção demaçã em Santa Catarina são aocorrência de insetos-praga e aincidência de doenças durante o ciclo

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vegetativo e reprodutivo da macieira.Existem diversas espécies de insetosque causam danos e que com-prometem a qualidade dos frutos damacieira, embora a mosca-das-frutassul-americana, Anastrepha fra-terculus (Wiedemann) (Diptera:Tephritidae), se destaque como umadas pragas que causam danoseconômicos (Calkins & Malavasi,1995).

O monitoramento populacional éuma prática de fundamentalimportância para o manejo da mosca--das-frutas. Segundo Kovaleski(1997), o manejo desses tefritídeostem como pré-requisito o conhe-cimento do momento adequado parainiciar a aplicação de medidas decontrole.

Resultados de pesquisa mostramque existem substâncias queapresentam efeito atrativo sobre amosca-das-frutas, as quais podem serutil izadas no monitoramentopopulacional dessas pragas.Entretanto, as características físico--químicas de cada atrativo, abioecologia das diferentes espécies eo cultivo envolvido são fatores quedevem ser considerados para aeficiência dos resultados (Scoz et al.,2006; Kovaleski, 2004; Malavasi etal., 1990). Scoz et al., (2006)comentam que o monitoramento damosca-das-frutas deve fornecerinformações que representem ocomportamento populacional dasespécies. Para atingir esse propósito,devem ser util izados atrativosalimentares que sejam eficientes,confiáveis e de baixo custo. Omonitoramento populacional dessesinsetos é uma prática que deve serutilizada permanentemente, poispossibilita acompanhar as variaçõesna densidade populacional da mosca--das-frutas, além de caracterizar aprevalência das espécies nas áreas decultivo (Sobrinho et al., 2001).

Apesar dos avanços obtidos pelapesquisa, os meios e os processospara atrair os adultos, especialmenteas fêmeas, de A. fraterculus,continuam sendo estudados, poisainda não existe uma isca padrão quepossa ser utilizada para todas asfrutíferas. Na Região Sul do Brasil,o suco de uva e o vinagre de vinhotinto diluídos na proporção de 25%

são as iscas mais utilizadas paracapturar moscas-das-frutas empomares de maçã (Kovaleski, 2004;Salles, 1995).

Em muitos casos, as falhas nomonitoramento populacional damosca-das-frutas têm comprometidoa qualidade dos frutos de maçã,especialmente devido à dificuldadede obter uma isca padrão, que sejaeficaz na captura desse inseto. Níveispopulacionais não adequadamenteavaliados muitas vezes têm levado oagricultor a aplicar excessivaspulverizações de inseticidas nospomares, geralmente em coberturatotal. Além disso, a decisão de qualisca o agricultor vai util izardependerá do custo (Scoz et al., 2006).Esse fator tem favorecido a utilizaçãode iscas elaboradas com suco de uvaa 25% e proteína hidrolisada a 5%(Kovaleski & Ribeiro, 2002).

Nesse sentido, este trabalho tevepor objetivo avaliar a eficiência deatratividade de iscas alimentarescomerciais para monitoramentopopulacional de adultos da mosca--das-frutas e viabilidade de custos empomares de macieira em SãoJoaquim, SC.

Material e métodos

O experimento foi conduzido emum pomar comercial de macieira dascultivares Gala Stander e Fuji Su-prema, ambas com 10 anos de idade,enxertadas sobre porta-enxertoMarubakaido, com filtro EM-9. Asplantas estavam arranjadas no

espaçamento de 2 x 5m, em fileirasintercaladas entre as cultivares. Opomar, que pertence à empresaYakult, localiza-se no município deSão Joaquim, SC (28o12’ latitude sul,50o03’ longitude oeste, altitude médiade 1.142m).

O experimento foi instalado naprimeira quinzena de novembro e seestendeu até a segunda quinzena demarço, nos anos agrícolas 2007/08 e2008/09. O delineamento expe-rimental utilizado foi blocos ao acaso,com quatro tratamentos e cincorepetições, sendo cada parcelarepresentada por uma armadilha.

As iscas alimentares foramdiluídas em água e constituíram osseguintes tratamentos: 1) suco de uvaDiúva® a 25%; 2) proteína hidrolisadaBioAnastrepha® a 5%; 3) proteínahidrolisada Isca Mosca® a 5%; e 4)levedura Torula® a 2,5%. Foramutilizados 300ml de solução atrativapor armadilha, modelo McPhail defundo amarelo. As armadilhas foraminstaladas nos ramos externos dasplantas, na altura média de 1,8macima da superfície do solo,espaçadas 50m entre si (Figura 1).

As soluções atrativas foramrenovadas semanalmente, e osinsetos capturados foram separadosatravés de uma peneira de malhafina (náilon), lavados em água purae acondicionados em frascos deplástico de 80ml, contendo álcool70%. Em seguida, as amostras foramlevadas ao Laboratório deEntomologia da Epagri/EstaçãoExperimental de São Joaquim, SC,

Figura 1. Altura da instalação da armadilha (1,8m do solo)

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Tratamento Ano agr. Ano agr.

2007/08 2008/09

......................No.....................

Proteína hidrolisada BioAnastrepha® a 5% 7,6 a 127,8 a

Levedo Torula® a 2,5% 6,6 a 64,0 b

Suco de uva Diúva® a 25% 1,0 b 54,8 b

Proteína hidrolisada Isca Mosca® a 5% 0,2 b 37,0 b

CV (%) 28,2 34,7

Tabela 1. Número médio de adultos de Anastrepha fraterculus capturados emarmadilhas modelo McPhail, em pomar de maçã ‘Gala Stander’ e ‘Fuji Suprema’,no município de São Joaquim, SC

Nota: Médias seguidas pela mesma letra, nas colunas, não diferem pelo teste de Tukey(P < 0,05).

onde foi realizada a triagem, acontagem e a identificação dasespécies, util izando a chaveelaborada por Zucchi (2000).

Para calcular o custo das iscasalimentares foram util izados ospreços de mercado, na quantidadenecessária para monitorar a mosca--das-frutas em uma área de 1ha depomar.

Os dados obtidos foram sub-metidos à análise de variância(ANOVA) e as médias comparadaspelo teste de Tukey (p < 0,05).

Resultados e discussão

Durante o estudo, capturaram-semoscas-das-frutas pertencentes aosgêneros Anastrepha e Rhagoletis. Opercentual de moscas do gêneroAnastrepha foi de 99,9%, totalizando1.311 adultos, no total das duassafras. Foram capturados tambémdois espécimes de Ragholetisblanchardi Aczél, os quais, até omomento, não apresentam registrode ataque e danos em frutas de climatemperado (Hickel & Nora, 2007).

A espécie A. fraterculus predo-minou em todos os tratamentos,mostrando ser a espécie maisfrequente na Região do PlanaltoSerrano catarinense. Bleicher et al.(1982) e Nora et al. (2000) tambémconstataram que, em pomares demaçã, A. fraterculus representoumais de 90% dos indivíduos captu-rados em frascos do tipo caça-moscas.

As iscas alimentares queapresentaram maior eficiência deatratividade no ano agrícola 2007/08foram a proteína hidrolisada damarca BioAnastrepha® a 5% e alevedura Torula® a 2,5% (Tabela 1).Resultados semelhantes foramobservados por Malavasi et al. (1990),os quais constataram que a proteínahidrolisada a 5% e a Torula® a 4%capturaram seis a sete vezes maisindivíduos de Anastrepha grandis(Macquart) e A. fraterculus quandocomparada com melaço de cana a 1%.Scoz et al. (2006) tambémconstataram maior eficiência da iscade levedura Torula® 2,5% na capturade adultos de A. fraterculus emrelação ao suco de uva a 25% e àproteína hidrolisada Norule® a 5%.No entanto, entre as duas proteínas

hidrolisadas avaliadas nestetrabalho, apenas a BioAnastrepha®

foi eficiente na captura de adultos demoscas-das-frutas, enquanto aproteína hidrolisada Isca Mosca® foia substância que menos atraiu essesinsetos, não mostrando seletividade,pois capturou grande número deoutros insetos. Contudo, Raga et al.(2006), trabalhando com citros,verificaram que a proteínahidrolisada Isca Mosca a 5%apresentou atratividade superior àda proteína hidrolisada Bio-Anastrepha a 5% para o monito-ramento de moscas-das-frutas,principalmente para as do gêneroAnastrepha. Além disso, a proteínaIsca Mosca® a 5% capturou maiornúmero de espécie do gêneroAnastrepha. Isso mostra que a iscaalimentar possui atratividadesdivergentes entre os anos e entre asregiões. Ademais, a formulação desseproduto pode ter sido mudada de umano para outro.

O suco de uva da marca Diúva®

não foi eficiente na captura deadultos de A. fraterculus,

apresentando baixa atratividadequando comparado com oBioAnastrepha® a 5% e com alevedura Torula® a 2,5%. Apesar deo suco de uva ser considerado umatrativo alimentar padrão para omonitoramento da mosca-das-frutaspara a Região Sul e o Brasil,principalmente para os Estados deSanta Catarina e Rio Grande do Sul,são divergentes os resultados obtidosem diversos trabalhos de pesquisa.Salles (1995) constatou que o suco deuva tem alta eficiência como atrativo

alimentar para esses insetos,diferindo dos resultados de Scoz etal. (2006) e Kovaleski et al. (1995).Porém, Monteiro et al. (2007)observaram que, em pomares depêssego no Paraná, o suco de uva a25% apresentou maior atratividadepara tefritídeos em períodos quentesdo dia e entre os meses de outubro enovembro. Esse comportamentotalvez se deva ao fato de que esseatrativo não apresenta um padrãoindustrial constante. Assim, em cadaregião, os produtores podem utilizarsucos de uva de diferentes proce-dências, sejam eles adoçados ou não,o que pode afetar negativamente aatratividade de adultos da mosca--das-frutas e, consequentemente,pode comprometer o monitoramentodessas pragas.

No ano agrícola 2007/08 houvebaixa incidência de mosca-das-frutasna Região do Planalto Serranocatarinense devido ao fato de atemperatura ter sido amena naqueleperíodo (mínima de 10,74oC emáxima de 19oC), o que mantevebaixa a população desses insetos nos

pomares. O efeito da temperaturasobre a população da mosca-das--frutas é comentado por Nora et al.(2000), os quais afirmam que naregião Serrana do Estado de SantaCatarina, onde existe predominânciade temperaturas amenas, aspopulações de mosca-das-frutas sãomenores que os locais de temperaturaelevada.

No ano agrícola 2008/09, quandoa temperatura mínima foi de 12oC ea temperatura máxima foi de21,82oC, houve aumento expressivo

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na população da mosca-das-frutas naregião (Figura 2). A isca utilizandoproteína hidrolisada BioAnastrepha®

a 5% foi o tratamento que atraiu omaior número de adultos de moscas--das-frutas quando comparado aosdemais tratamentos. Monteiro et al.(2007) também constataram que aBioAnastrepha® apresentou boaatratividade para esses tefritídeos emtrês safras subsequentes.

Taufer et al. (2000) afirmam quecom baixa temperatura não ocorrematuração ovariana desses tefri-tídeos. Essa condição climáticatambém diminui a longevidade dosinsetos, embora o repovoamento demosca-das-frutas nas regiões de SãoJoaquim, SC, e Vacaria, RS, ocorradevido à sobrevivência de adultos e

Figura 2. Total de adultos de Anastrepha fraterculus capturados em armadilhasmodelo McPhail, contendo diferentes iscas alimentares, nos anos agrícolas2007/08 e 2008/09, em pomar de maçã ‘Gala Stander’ e ‘Fuji Suprema’, nomunicípio de São Joaquim, SC

à migração de espécimes (Kovaleski,1997).

A atratividade das iscaselaboradas com produtos derivadosde proteína hidrolisada pode estarrelacionada à necessidade dosadultos da mosca-das-frutas deingerir aminoácidos para a produçãode óvulos (Zucoloto, 2000). Cangussu& Zucoloto (1997) observaram que asfêmeas da mosca-das-frutas queingerem alimentos com alto teor deproteínas são mais receptivas àcópula quando comparadas com asfêmeas que recebem uma dieta commenor teor dessas substâncias.

A levedura Torula® a 2,5% foisemelhante ao BioAnastrepha® 5%na primeira safra e na segunda safraapresentou menor atratividade

quando comparada ao tratamentoBioAnastrepha® 5%, não diferindodos demais tratamentos em relaçãoao número de adultos capturados.Apesar de não ter ocorrido diferençaentre as iscas Torula®, suco de uva eproteína hidrolisada Isca Mosca® 5%na captura de adultos de mosca-das--frutas no segundo ano, a Torula®

mostrou-se ligeiramente superior aosuco de uva a 25% e à proteína IscaMosca® a 5%, o que comprova suaeficácia como atrativo no moni-toramento da mosca-das-frutas.Além disso, a proteína hidrolisadaBioAnastrepha® e a levedura Torula®

foram os atrativos que apresentarammaior seletividade na captura demosca-das-frutas.

Kovaleski & Ribeiro (2002) eChiaradia & Milanez (2000)observaram que a proteína hidro-lisada a 5% associada a inseticidas ecorantes foi menos atrativa para amosca-das-frutas em relação a outrosatrativos testados. No entanto,Malavasi et al. (1990) e Scoz et al.(2006) caracterizam a proteínahidrolisada a 5% como o atrativopadrão para a captura da mosca-das-frutas.

Os resultados obtidos nestetrabalho mostram que a proteínahidrolisada 5% e a levedura Torula®

a 2,5% podem ser util izadas nomonitoramento populacional damosca-das-frutas. Segundo Scoz et al.(2006), esses atrativos apresentambaixa variação na composição, sendoindicados para monitorar adultos damosca-das-frutas, principalmenteaquelas pertencentes ao gêneroAnastrepha. Na maioria das vezes, adecisão de qual isca alimentar a serutil izada no monitoramento dostefritídeos depende do custo por áreae eficiência do produto. A Tabela 2mostra os custos das iscasalimentares utilizadas neste estudo.Ali se observa, também, que aproteína hidrolisada® 5% é a melhorisca a ser utilizada, pois atende osrequisitos de eficiência de captura ecustos baixos. Os resultados mostramtambém que o suco de uva – que foiconsiderado o atrativo padrão paraa mosca-das-frutas durante muitosanos, devido à facilidade de aquisiçãoe oferta de mercado, uma vez que elepode ser produzido na propriedade

Atrativo alimentar Preço Dose armadilha/ Custo/ha/semana semana(1)

R$/L R $

Proteína hidrolisada 17,00 15ml 1,02BioAnastrepha® a 5%

Levedo Torula® a 2,5% 89,00(2) 3 tabletes 10,68

Suco de uva Diúva® a 25% 6,00 75ml 1,80

Proteína hidrolisada 16,00 15ml 0,96Isca Mosca® a 5%

Tabela 2. Custo de iscas alimentares utilizadas no monitoramento de Anastrephafraterculus por hectare, em pomar na região de São Joaquim, SC

(1) Considerando quatro armadilhas por hectare, com 300ml de solução por armadilha.(2) Custo de 100 tabletes.

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(Kovaleski & Ribeiro, 2002) – nesteestudo não apresentou boa eficiênciade atratividade de tefritídeos. Alevedura Torula®, apesar deapresentar bons resultados para omonitoramento da mosca-das-frutas,tem custo elevado em relação aosdemais atrativos aqui estudados,dificultando a aquisição pelospequenos pomicultores.

Conclusões

• A proteína hidrolisadaBioAnastrepha® a 5% e a leveduraTorula® a 2,5% são atrativosalimentares eficientes na captura deadultos de A. fraterculus.

• A proteína hidrolisadaBioAnastrepha® atualmentecontempla tanto o requisito deatratividade como o de baixo custo.

Agradecimentos

Ao CNPQ/Fapesc/MCT, pelo apoioatravés da rede aquífero Guarani/Serra Geral, projeto Funjab/Fapesc,Convenio 15915/2007-8.

Às empresas Isca Tecnologias eBiocontrole, pelo fornecimento dassubstâncias atrativas.

À Empresa Yakult, por terdisponibil izado o pomar para acondução do experimento.

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89Agropecuária Catarinense, v.23, n.2, jul. 2010

No Brasil existem mais de 3milhões de hectares cultivados comeucaliptos (Eucalyptus spp.:Myrtaceae), que incluem 80% dosreflorestamentos das indústrias depapel e celulose. Essas plantastambém são utilizadas para produzircarvão vegetal, lenha e madeira paradiversas finalidades (Bracelpa, 2008;SBS, 2009).

As formigas-cortadeiras (Hyme-noptera: Formicidae) se destacamentre as pragas dos eucaliptos noBrasil, pois cortam as mudas edesfolham as plantas, exigindomonitoramento populacional eintervenções de controle (Gallo et al.,2002). Recentemente, um inseto dafamília Thaumastocoridae (Hemip-tera) também passou a causar danosseveros às plantas de eucalipto em

Caracterização e danos dopercevejo-bronzeado do eucalipto

Luís Antônio Chiaradia1 e Roberto Carlos Bearzi2

Resumo – O percevejo-bronzeado Thaumastocoris peregrinus Carpintero & Dellapé (Hemiptera: Thaumastocoridae)ataca plantas de eucaliptos em diversos Estados do Brasil, causando bronzeamento de folhas, secamento de ramos emorte de plantas. Esse inseto tem hábito gregário, possui coloração marrom-rosada e mede aproximadamente 3mmde comprimento. Existem poucas alternativas para controlar o percevejo-bronzeado devido às características dosreflorestamentos, sendo o controle biológico clássico uma das poucas opções a ser pesquisada no manejo integradodessa praga.

Termos para indexação: Thaumastocoris peregrinus, Thaumastocoridae, praga.

Characterization and damages of the eucalyptus tan bug

Abstract – The tan bug Thaumastocoris peregrinus Carpintero & Dellapé (Hemiptera: Thaumastocoridae) attackseucalyptus trees in several Brazilian states causing leaf bronzing, branch drying and plant death. This insect isgregarious, has brown-pinkish coloration and is about 3mm long. There are few alternatives to controlling this bugbecause of the reforestation characteristics, being the classic biological control an alternative to be searched in theintegrated management of this pest.

Index terms: Thaumastocoris peregrinus, Thaumastocoridae, pest.

Aceito para publicação em 13/5/10.1 Eng.-agr., M.Sc., Epagri/Centro de Pesquisa para Agricultura Familiar (Cepaf), C.P. 791, 89801-970 Chapecó, SC, fone: (49) 3361-0638,e-mail: [email protected] Eng. florestal, Cooperativa Central Oeste Catarinense/Departamento de Engenharia, e-mail: [email protected].

diversos Estados brasileiros(Wilcken, 2008; Chiaradia & Bearzi,2009). Os taumastocorídeos sãopercevejos fitófagos que tinhamdistribuição restrita à Austrália(Carpintero & Dellapé, 2006), mas,nos últimos anos, foram observadosna África do Sul, Argentina, Uruguaie no Brasil (Wilcken, 2008).

Na África do Sul, uma espécie detaumastocorídeo foi constatada em2003. Ela causava bronzeamento dasfolhas, secamento de ramos e mortede plantas de Eucalyptuscamaldulensis Dehn. Esse inseto foideterminado como Thaumastocorisaustralicus Kirkaldy (Hemiptera:Thaumastocoridae), espécie quehavia sido descrita na Austrália em1908 (Jacobs & Neser, 2005).

Na Argentina, em 2005, uma

espécie dessa mesma família infestouplantas de Eucalyptus camal-dulensis, Eucalyptus tereticornisSmith e Eucalyptus viminalis Labill,causando danos similares aosverificados nos eucaliptos da Áfricado Sul. Depois, passou a incidirtambém em Eucalyptus grandis Hill,Eucalyptus dunii Maiden eEucalyptus saligna Smith (Bouvet &Vaccaro, 2009). Esse inseto foidescrito como uma nova espéciedenominada Thaumastocorisperegrinus Carpintero & Dellapé(Hemiptera: Thaumastocoridae)(Carpintero & Dellapé, 2006).Posteriormente, foi comprovado queo percevejo observado em eucaliptosda África do Sul se tratava dessanova espécie descrita na Argentina.Por isso, existe a suspeita de que esse

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90 Agropecuária Catarinense, v.23, n.2, jul. 2010

inseto seja de origem australiana(Button, 2007).

No Brasil, em 2008, foramconstatados focos de infestação dopercevejo T. peregrinus em plantasdo híbrido E. grandis x Eucalyptusurophylla S. T. Blake no Rio Grandedo Sul e E. camaldulensis no Estadode São Paulo (Wilcken, 2008). Nooeste do Estado de Santa Catarina,danos dessa praga aconteceramprincipalmente em plantações de E.dunii a partir do outono de 2009(Chiaradia & Bearzi, 2009).

Wilcken (2008) comenta que o T.peregrinus tem preferência por E.camaldulensis, E. tereticornis, E.viminalis e híbridos de E. tereticornisx E. grandis, ao passo que as plantasde E. grandis, Eucalyptus paniculataSmith, Eucalyptus robusta Smith, E.saligna e Eucalyptus sideroxylon A.Cunn. são pouco infestadas. O insetonão foi constatado em Eucalyptuscitriodora Hook.

Na fase adulta, o percevejo T.peregrinus (Figura 1) tem coloraçãomarrom-rosada, possui olhosvermelhos e apresenta o corpoachatado, medindo 2,8 a 3mm decomprimento e 0,96mm de largura.Outras características morfológicasdesse inseto são: artículo final dasantenas e a área entre o cório e amembrana da asa de coloraçãomarrom-escura e presença de um parde “tubérculos” em cada lado daporção ântero-lateral do protórax(Carpintero & Dellapé, 2006).

folhas sintomáticas caem, o queprovoca secamento de ramos e amorte de plantas (Button, 2007).Quando as árvores são cortadas, esseinseto se dispersa, podendo atingir oslenhadores, o que causa intensacoceira (Jacobs & Neser, 2005;Chiaradia & Bearzi, 2009).

Não existem inseticidas re-gistrados para controlar o percevejoT. peregrinus (Agrofit, 2010),dificultando o manejo desse inseto.Outra limitação está naimpraticabilidade de pulverizaragrotóxicos nas plantas comequipamentos terrestres devido àaltura das árvores e porque a caldatóxica precisa atingir a parte internada copa, onde os insetos prefe-rencialmente se alojam. Além disso,a rapidez com que essa praga sereproduz e se dispersa exigiriafrequentes aplicações de inseticidas,o que, além do elevado custo, causariaimpacto negativo à fauna benéfica(Bouvet & Vaccaro, 2009). Por isso, o

picadas surgem manchas es-branquiçadas, sendo localizadasprincipalmente próximo dasnervuras, mas podem cobrir toda asuperfície foliar (Figura 4). As folhasatacadas tornam-se opacas e de coramarelo-escura a marrom-aver-melhada (Figura 5), sintomaconhecido por bronzeamento, o queoriginou o nome de percevejo--bronzeado para essa praga. As

Esse hemíptero tem reproduçãosexuada e possui hábito gregário. Asfêmeas agrupam as posturas na facesuperior das folhas e cada fêmea põe,em média, dois ovos por dia,totalizando cerca de 60 ovos durantea vida. Os ovos têm coloraçãomarrom-escura (Figura 2) e originamninfas rosadas, que apresentammanchas escuras no dorso do abdome(Figura 3). O ciclo biológico desseinseto se completa em 35 dias,permitindo várias gerações ao ano(Button, 2007; Bouvet & Vaccaro,2009), o que explica os elevados níveispopulacionais nas áreas infestadas.Na Argentina, a população desseinseto foi maior nos meses quentesdo ano, reduzindo a partir de março,quando a temperatura diminuiu, oque evidencia a influência do climasobre o seu desenvolvimento(Carpintero & Dellapé, 2006).

O percevejo T. peregrinus sealimenta de seiva, danificando aepiderme das folhas. Nos locais das

Figura 1. Perecevejo-bronzeado sobreuma folha de eucalipto

Figura 2. Aglomerado de ovos do percevejo-bronzeado

controle do percevejo-bronzeado estána dependência do controle biológicoexercido por inimigos naturaisnativos, embora se tenha mostradoinsuficiente para manter a populaçãodesse inseto abaixo do nível de danoeconômico.

Uma das alternativas parasolucionar o problema é aimplantação do controle biológicoclássico, embora ainda sejam

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91Agropecuária Catarinense, v.23, n.2, jul. 2010

desconhecidos os inimigos naturaisque atuam no controle dessa pragano seu local de origem. Assim, torna--se necessário investigar as espéciesque controlam naturalmente ospercevejos da família Thamas-tocoridae na Austrália. Nesse aspectoexiste potencial para realizar testescom o parasitoide de ovos deCleruchoides noackae Lin & Huber(Hymenoptera: Mymaridae), o qualfoi descrito em 2007 atuando sobreBaclozygum depressum Bergroth(Hemiptera: Thaumastocoridae)(Universal..., 2009). A Embrapa

Figura 3. Ninfas do percevejo-bronzeado Figura 4. Sintoma do ataque do percevejo-bronzeado emuma folha de Eucalyptus dunnii

Florestas (www.cnpf.embrapa.br) eoutras entidades estão elaborandoum mapa da distribuição dopercevejo T. peregrinus no Brasil einiciando estudos de biologia,dinâmica populacional e estratégiaspara o manejo integrado dessa praga(Brasil..., 2009).

Literatura citada

Figura 5. Plantas de eucalipto comsintoma de ataque dopercevejo-bronzeado

1. AGROFIT: Sistema de agrotóxicosfitossanitários. Disponível em: <http://e x t r a n e t . a g r i c u l t u r a . g o v . b r /agrofit_cons/principal_agrofit_cons>.Acesso em: 10 maio 2010.

2. BOUVET, J.P.R; VACCARO, N. Nuevaespecie de chinche, Thaumastocorisperegrinus (Hemiptera: Thau-mastocoridae) en plantaciones deeucalipto en el DepartamentoConcordia, Entre Rios, Argentina.Disponível em: <http://www.inta.gov.ar/concordia/info/documentos/Forestacion/Poster%20chinche2.pdf>. Acesso em: 24jun. 2009.

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6. CARPINTERO, D.L.; DELLAPÉ, P.M. Anew species of Thaumastocoris Kirkaldyfrom Argentina (Heteroptera:Thaumastocoridae: Thaumastocorinae).Zootaxa, Auckland, v.1228, p.61-68,2006.

7. CHIARADIA, L.A.; BEARZI, R.C. Novapraga ameaça a cultura do eucalipto. OCooperalfa, Xanxerê, n.246, p.33, 2009.

8. GALLO, D.; NAKANO, O.; SILVEIRANETO, S. et al. Entomologia agrícola.Piracicaba: Fealq, 2002. 920p.

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92 Agropecuária Catarinense, v.23, n.2, jul. 2010

A broca-das-axilas, conhecidacomo Epinotia aporema(Walsingham, 1914), teve suanomenclatura alterada paraCrocidosema aporema (Walsingham,1914) (Lepidoptera: Tortricidae)segundo informativo da SociedadeEntomológica do Brasil (2009). Abroca-das-axilas ocorre preferencial-mente em regiões de maior altitudee temperaturas mais baixas,especialmente as noturnas (Gazzoni,2000), condições encontradas nosudoeste do Estado do Paraná e nos

Controle da broca-das-axilas (Crocidosema aporema)(Lepidoptera: Tortricidae) em soja cultivada

sob o sistema orgânico1

Gilvane Luis Jakoby2, Mari Inês Carissimi Boff3, Murilo Correa Marcon4, Marcelo Zanelato Nunes5 e Pedro Boff6

Resumo – O objetivo do trabalho foi avaliar a eficácia de produtos alternativos aos inseticidas químicos no controleda broca-das-axilas em soja. O experimento foi conduzido na Epagri/Estação Experimental de Lages, SC. Odelineamento experimental foi de blocos ao acaso, com quatro repetições e sete tratamentos: Óleo de nim 1%, 3% e5%, Dipel® 0,5 e 0,7L/ha, nosódio da broca-das-axilas 10ml/L e testemunha sem intervenção. O óleo de nim apresentouos melhores resultados para o controle da broca-das-axilas, porém, nas duas maiores concentrações causou efeitosfitotóxicos nas plantas de soja. Bacillus thuringienses não apresentou eficácia de controle satisfatória. O tratamentocom nosódio não diferiu da testemunha em nenhuma época avaliada.

Termos para indexação: Azadiractha indica, nosódio, homeopatia, agricultura orgânica.

Control of the shoot borer (Crocidosema aporema) (Lepidoptera: Tortricidae) insoybean cultivated under organic system

Abstract – This study aimed to evaluate the efficacy of alternative products to chemical insecticides in the controlof the soybean shoot borer. The experiment was conducted at the Experiment Station of Epagri in Lages, SC, southernBrazil. The experimental design was in completely randomized blocks, with four replicates and seven treatments:Neem oil 1%, 3% and 5%, Dipel® 0.5 and 0.7L/ha, soybean shoot borer biotherapic 10ml/L, and control withoutintervention. Neem oil showed the best results in controlling the soybean shoot borer. However, the two highestconcentrations caused phytotoxic effects on soybean plants. Bacillus thuringiensis did not show satisfactory controlefficacy. The treatment with biotherapic did not differ from the control in any of the evaluations.

Index terms: Azadiractha indica, biotherapic, homeopathy, organic agriculture.

Estados de Santa Catarina e RioGrande do Sul (Hoffmann-Campo etal., 2000).

O ataque da broca-das-axilasinicia-se geralmente pelo ponteirodas plantas. A larva une os folíoloscom uma teia, cavando posterior-mente uma galeria descendente(Figura 1). No interior do abrigo, aslagartas alimentam-se do limbofoliar, retardando a abertura dasfolhas. Após a abertura, as folhas semostram encarquilhadas, rugosas ecom contornos irregulares, podendo

apresentar redução da área foliarsuperior a 50% (Figura 2). Aocorrência do ataque na fase inicialde desenvolvimento da cultura podelevar à morte os ponteiros, reduzindoo porte da planta (Gazzoni, 2000). Alagarta pode broquear tambémvárias partes da planta, como ramose caule. A larva penetra na plantapelas axilas situadas na base dopecíolo, cavando galerias descen-dentes, alimentando-se da medula einterrompendo o fluxo de seiva. Emfunção das galerias provocadas pela

Aceito para publicação em 7/6/10.1 Parte da dissertação de mestrado do primeiro autor.2 Tecnólogo em produção de grãos, M.Sc., Udesc/Centro de Ciências Agroveterinárias, C.P. 281, 88520-000 Lages, SC, e-mail:[email protected] Eng.-agr., Ph.D., Udesc/Centro de Ciências Agroveterinárias, C.P. 281, 88520-000 Lages, SC.4 Acadêmico de Agronomia, Udesc/Centro de Ciências Agroveterinárias, Lages, SC.5 Acadêmico de Agronomia, Udesc/Centro de Ciências Agroveterinárias, Lages, SC.6 Eng.-agr., Ph.D., Epagri/Estação Experimental de Lages, C.P. 181, 88502-970 Lages, SC.

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93Agropecuária Catarinense, v.23, n.2, jul. 2010

alimentação, as plantas ficamfragilizadas, susceptíveis aoquebramento pela ação do vento ouchuvas fortes. Em casos de altapopulação, o ataque pode ocorrertambém nas vagens, que apresentamperfurações, e nos grãos, que sãoparcialmente danificados pelaalimentação da lagarta (Gazzoni,2000; Hoffmann-Campo et al., 2000).

Em sistemas de produçãoorgânica, nos quais não é permitidoo uso de agrotóxicos, o manejo deinsetos-praga deve basear-se emmedidas que busquem o equilíbrio doagroecossistema (Garcia, 2003).Nesse contexto, o manejo de pragasbaseia-se na diversificação decultivos, rotação de culturas, manejocultural, uti l ização de controlebiológico e intervenções cominseticidas biológicos e botânicos(Zehnder et al., 2007).

Plantas da família Meliaceae,dentre as quais o nim (Azadirachtaindica A. Juss.) e o cinamomo (Meliaazedarach), apresentam-se comopotencial fonte natural de produtosinseticidas. O nim, intensamentepesquisado, possui 25 diferentesingredientes ativos, localizados nasfolhas, frutos e sementes. Novedesses ingredientes, que têm comoprincipal substância presente aazadiractina, apresentam pro-priedades inseticidas, com efeito nodesenvolvimento ou no compor-tamento dos insetos (Aguiar-

-Menezes, 2005). No mesmo sentido,a utilização de preparados homeopá-ticos apresenta-se, também, comoalternativa viável para substituir osagrotóxicos, uma vez que são insumosagrícolas permitidos no manejofitossanitário em sistema deprodução orgânica.

Esse trabalho teve por objetivoavaliar a eficácia do preparadohomeopático (nosódio) de Croci-dosema aporema, do óleo de nim e doBacillus thuringiensis no controle dabroca-das-axilas sob infestaçãonatural a campo, na cultura da sojamanejada no sistema orgânico.

O experimento foi conduzido acampo na Epagri/Estação Experi-mental de Lages, SC (27o48’27'’latitude sul, 50o19’44'’ longitudeoeste, 937,73m de altitude), duranteo ano agrícola 2007/08. Odelineamento experimental foi o deblocos ao acaso, com sete tratamentose quatro repetições. Cada unidadeexperimental tinha 16m2, com oitolinhas de plantio e foramconsideradas nas avaliações somenteas seis l inhas centrais. Ostratamentos constituíram-se deOrganic neem® 1%, 3% e 5%, Dipel®

SC 0,5 e 0,7L/ha, nosódio de C.aporema na dose de 10ml/L dapotência 30CH e testemunha semintervenção.

O preparado homeopáticobioterápico de C. aporema foidesenvolvido no laboratório deHomeopatia e Saúde Vegetal daEstação Experimental da Epagri,Lages, SC, conforme metodologiadescrita na Farmacopeia Ho-meopática Brasileira (1997). Aaplicação foi realizada no dia 21 dejaneiro de 2008, quando as plantasde soja se encontravam no estádio deV4 a V5. A pulverização foi realizadacom pulverizador costal e volume decalda de 300L/ha, com jato dirigidopara o ponteiro das plantas de soja.

As avaliações consistiram dacontagem do número de plantas comsintoma de ataque da praga,caracterizado pela junção das folhasdo ponteiro ou morte dos brotos, e donúmero de broca-das-axilas. Quandoos ponteiros se apresentaram com osfolíolos unidos, eles foram abertospara verificação da presença dalarva. As avaliações foram realizadasno 1o, 4o, 7o, 10o e 15o dia após aaplicação. Para realizar as avaliaçõesforam demarcadas, aleatoriamente,20 plantas em duas fileiras de cadaparcela, totalizando 40 plantas porparcela.

Os dados relativos ao número deplantas atacadas e ao número debrocas foram submetidos à análise devariância, com as médias dos

Fonte: Jakoby, G.L. (2008).Figura 1. Junção dos folíolos, sintomainicial do ataque da broca

Fonte: Jakoby, G.L. (2008).Figura 2. Folhas encarquilhadas, rugosas e com contornos irregulares, aspectocaracterístico do ataque da praga

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tratamentos comparadas pelo testede Tukey a 5% de probabilidade. Aeficiência de controle foi calculadapela fórmula de Abbot.

Observou-se que na préviaavaliação, realizada 2 dias antes daaplicação dos tratamentos, ainfestação da broca-das-axilas estavaacima do nível de controlerecomendado para a praga (25% a30% de plantas atacadas) (Tabela 1).No primeiro dia após a pulverização,não foram observadas diferençassignificativas na percentagem deplantas atacadas e no número debrocas entre os tratamentos (Tabela1). Esse resultado demonstra que osprodutos utilizados não possuemefeito de choque.

A partir da segunda avaliação(Tabela 1), realizada quatro dias apósa aplicação, começou a haverdiferenças significativas entre ostratamentos, tanto na percentagemde plantas atacadas (danos) como naincidência da broca-das-axilas. Ostratamentos com menor percentagemde plantas atacadas e de número debrocas foram o óleo de nim na maiordose (5%) e o tratamento com Dipel®

0,7L/ha, ambos com 33,12% deplantas danificadas, em comparaçãoaos 55% na testemunha. Apesar do

efeito significativo, os doistratamentos apresentaram baixaeficiência, com 39,8% de controle(Tabela 2). Como as larvas de C.aporema alimentam-se do limbofoliar no interior do abrigo e damedula de caules e ramos, acabampor consumir pequena parte daplanta que ficou exposta aotratamento, fato que pode terinfluenciado a eficiência de controle.

Na avaliação realizada aos 7 diasapós a pulverização, o tratamentocom nim na dose de 5% apresentoumenor índice de plantas atacadas(30%), porém não diferiu dos

tratamentos com óleo de nim 1% e3%, assim como do Dipel® 0,7L/ha(Tabela 1). Em relação ao número debrocas, somente nas maiores doses ostratamentos com óleo de nimdiferiram da testemunha, igualando--se em todos os demais tratamentos(Tabela 1).

Os tratamentos com óleo de nima 3% e 5% tiveram redução napercentagem de plantas atacadas eno número de brocas, com efeitosignificativo entre 7 e 15 dias após aprimeira aplicação (Tabela 1). Deacordo com Neves et al. (2003), osextratos à base de nim possuemtambém efeito de repelência, inibindoos insetos a realizar posturas. Parao tratamento com Dipel® 0,7L/ha,houve diferenças significativas parao percentual de plantas com danosaos 4, 7 e 15 dias após a pulverização,e para número de brocas aos 10 e 15dias após a pulverização, comparadoao tratamento testemunha (Tabela1). Segundo Moscardi (2003), oresidual de produtos à base deBacillus thuringiensis é de 7 a 10dias. Porém, no presente trabalho osefeitos do B. thuringiensis foramobservados até 15 dias após apulverização. No tratamentotestemunha (sem intervenção) e notratamento homeopático com nosódiode C. aporema 30CH ocorreu oinverso, notando-se um aumentocontínuo na incidência da broca e napercentagem de plantas atacadas(Tabela 1). Isso demonstra que asposturas de C. aporema continuarama ser efetuadas nesses tratamentos.

Na avaliação realizada aos 15 diasapós a pulverização, a percentagem

Eficiência de controle

Tratamento Dias após a aplicação dos tratamentos

1 4 7 10 15

..........................................%..............................................

Óleo de nim 1% 0 21,6 33.0 28,4 38,5

Óleo de nim 3% 0 29,5 50,9 67,4 73,4

Óleo de nim 5% 0 39,8 54,7 52,6 79,8

Dipel® SC 0,5 L/ha 0 21,6 28,0 20,0 23,1

Dipel® SC 0,7 L/ha 23,8 39,8 24,8 32,6 39,4

Nosódio 30CH 0 0 17,0 1,1 12,8

Testemunha — — — — —

Tabela 2. Eficiência de controle de larvas de Crocidosema aporema apresentadapelos diferentes tratamentos pulverizados em plantas de soja em 21/1/08. Lages,SC, ano agrícola 2007/08

(1) Médias seguidas de letras iguais na mesma coluna para mesma variável, resposta,dano ou infestação não diferem entre si pelo teste de Tukey, a nível de 5% designificância. Valores médios de quatro repetições.

Dias após a aplicação dos tratamentosTratamento Prévia 1 4 7 10 15

Dano em plantas atacadas........................................................%.....................................................

Óleo de nim 1% 38,75 a1 45,00 a 43,12 ab 44,37 abc 42,5 bc 41,87 bcÓleo de nim 3% 53,12 a 53,75 a 38,75 ab 32,50 ab 19,37 a 19,37 abÓleo de nim 5% 41,87 a 61,25 a 33,12 a 30,00 a 28,12 ab 13,75 aDipel® SC0,5 L/ha 46,25 a 54,27 a 43,12 ab 47,50 bc 47,50 bc 46,25 cdDipel® SC0,7 L/ha 47,50 a 38,12 a 33,12 a 38,12 abc 40,00 abc 41,25 bcNosódio 30CH 50,62 a 53,75 a 55,62 b 55,00 cd 58,35 c 59,37 cdTestemunha 47,50 a 50,00 a 55,00 b 66,25 d 59,37 c 68,12 dCV % 22,64 19,97 17,95 16,61 21,33 25,29

Infestação de broca-das-axilas........................................................No....................................................

Óleo de nim 1% —- 8,50 a 13,00 ab 14,00 ab 14,00 abc 10,00 abcÓleo de nim 3% —- 9,75 a 8,75 a 8,75 a 5,50 a 3,75 aÓleo de nim 5% —- 10,75 a 9,75 a 8,75 a 7,00 ab 3,00 aDipel® SC0,5 L/ha —- 12,00 a 13,25 ab 14,00 ab 11,25 abc 12,00 bcDipel® SC0,7 L/ha —- 7,25 a 8,50 a 13,00 ab 9,25 ab 9,50 abNosódio 30CH —- 11,25 a 19,50 b 16,00 ab 15,50 bc 14,25 bcTestemunha —- 10,75 a 15,50 ab 19,00 b 20,25 c 17,50 cCV % —- 26,16 28,12 23,87 32,59 32,15

Tabela 1. Danos (%) de plantas atacadas e infestação em números da broca-das--axilas (Crocidosema aporema) nas diferentes datas de avaliação após aplicaçãorealizada em 21/1/08. Lages, SC, ano agrícola 2007/08

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de plantas atacadas nos tratamentoscom nim 3% e 5% encontrava-seabaixo do nível de controle, com19,37% e 13,75%, respectivamente(Tabela 1), demonstrando umaeficiência de controle superior a 70%em relação à testemunha (Tabela 2).No tratamento com nosódio de C.aporema 30CH para a mesma datade avaliação, não foi observado efeitona redução da percentagem deplantas com danos. Almeida et al.(2003) encontraram resultadosdiscordantes dos obtidos no presentetrabalho. Através da aplicação depreparados homeopáticos obtidos denosódio da lagarta-do-cartucho(Spodoptera frugiperda) e do teosinto(Euchlaena mexicana), ancestralmais próximo da família do milho,manteve-se a população da lagarta--do-cartucho abaixo do nível decontrole. Segundo esses autores, ospreparados homeopáticos desenca-dearam nas plantas mecanismos dedefesa ao ataque desse inseto, do tiponão preferência pelo consumo(antixenose) ou antibiose.

O óleo de nim nas concentraçõesde 3% e 5% reduziu a infestação dabroca-das-axilas abaixo do nível decontrole. Já o B. thuringienses, assimcomo nosódio de Crocidosema

aporema na 30CH, não apresentoueficiência adequada no controle dabroca-das-axilas.

Agradecimentos

O primeiro autor agradece àCapes pela concessão de bolsa deMestrado; ao Laboratório deHomeopatia e Saúde Vegetal daEpagri/Estação Experimental deLages, SC pelo suporte na conduçãodo experimento; ao Projeto RedeGuarani/Serra Geral (através doconvênio MCT/CNPq/CT-HIDRO) e àFapesc (através do projeto Funjab/Fapesc conv. 15915/2007-8) pelosuporte financeiro.

Literatura citada

1. AGUIAR-MENEZES, E. de L.Inseticidas botânicos: seus princípiosativos, modo de ação e uso agrícola.Seropédica: Embrapa Agrobiologia,2005. 58p. (Embrapa Agrobiologia.Documentos, 205).

2. ALMEIDA, A.A. de.; GALVÃO, J.C.C.;CASALI, V.W.D. et al. Tratamentoshomeopáticos e densidade populacionalde Spodoptera frugiperda (J. E. Smith,1979) (Lepidoptera: Noctuidae) emplantas de milho no campo. RevistaBrasileira de Milho e Sorgo, v.2, n.2, p.1-8, 2003.

3. FARMACOPEIA HOMEOPÁTICABRASILEIRA. parte II. 2.ed. São Paulo:Atheneu, 1997. 118p.

4. GARCIA, A. Cenário da soja orgânicano Brasil. In: CORREA-FERREIRA, B.(Org.). Soja orgânica: alternativas parao manejo dos insetos-praga. Londrina:Embrapa Soja, 2003. p.11-14.

5. GAZZONI, D.L. O bicho assusta, masos danos são controláveis. RevistaCultivar Grandes Culturas. 12.ed. 2000.

6. HOFFMANN-CAMPO, C.B.; CA-TELLAN, A.J.; NEPOMUCENO, A.L. etal. Pragas da soja no Brasil e seu manejointegrado. Londrina: Embrapa Soja,2000. 70p. (Embrapa Soja. CircularTécnica, 30).

7. MOSCARDI, F. Uso de baculovírus eBacillus thuringiensins no controle dalagarta-da-soja, Anticarsia gemmatalis.In: CORREA-FERREIRA, B. (Org.).Soja orgânica: alternativas para omanejo dos insetos-praga. Londrina:Embrapa Soja, 2003. p.15-25.

8. NEVES, B.P. das; OLIVEIRA, I.P. de;NOGUEIRA, J.C.M. Cultivo e utilizaçãodo nim indiano. Santo Antonio de Goiás:Embrapa Arroz e Feijão, 2003.(Embrapa Arroz e Feijão. CircularTécnica, 62).

9. INFORMATIVO DA SOCIEDADEENTOMOLÓGICA DO BRASIL,Campos dos Goyatacazes, v.34, n.2, p.1-4, 2009.

10. ZEHNDER, G.; GURR, G.M.; KUHNE,S. et al. Arthropod pest management inorganic crops. Annual Review ofEntomolology, v.52, p.57-80, 2007.

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96 Agropecuária Catarinense, v.23, n.2, jul. 2010

A bananicultura é uma das maisimportantes atividades agrícolas deSanta Catarina. Ocupa a maior áreacultivada com fruteiras do Estado,que é o terceiro maior produtorbrasileiro de bananas, com umaprodução anual de cerca de 650 miltoneladas (Vieira, 2008). A atividadeé explorada por cerca de 30 milprodutores, dos quais 5 mil têm nessacultura sua principal fonte de renda.

Ocorrência de “banana streak virus” nas cultivares debananeira Grande Naine e Nanicão

no Estado de Santa CatarinaRobert Harri Hinz1 e Cristiane Maria da Silva2

Resumo – No ano agrícola 2009/10, foi constatada em Santa Catarina, nos municípios de Luís Alves, Massarandubae Corupá, a ocorrência de “banana streak virus” (BSV) nas cultivares de banana Grande Naine e Nanicão, do subgrupoCavendish. O BSV produz estrias amarelas ou cloróticas nas folhas, que escurecem com o tempo, evoluindo até amorte do tecido. Na bainha, no pecíolo e na nervura principal das folhas ocorrem estrias necróticas escuras. Nointerior do pseudocaule o vírus provoca destruição dos tecidos, e na floração ocorre estrangulamento do pseudocaulena região da roseta foliar, que impede a emergência normal do cacho, provocando “aborto” em diferentes pontosabaixo da roseta. As bananeiras infectadas produzem cachos menores podendo apresentar o engaço retorcido, frutosmalformados e manchados. Sob as manchas escuras da epiderme dos frutos, o tecido da casca apresenta-se necrosado,vindo a rachar. A eliminação das plantas contaminadas, o controle de cochonilhas e a utilização de mudas sadiascontribuem para o controle da doença.

Termos para indexação: Musa spp., BSV, virose, frutos manchados.

Abstract – An outbreak of banana streak virus (BSV) was observed in Santa Catarina, Brazil, in the counties ofLuís Alves, Massaranduba and Corupá in cultivars of the subgroup Cavendish (Grand Naine and Nanicão) in the2009/10 crop season. BSV causes yellow or chlorotic leaf streaks leading to leaf death. Dark necrotic streaks areobserved in the main vein of leaves on the petiole and on the leaf sheath. Tissues inside the pseudostem are destroyeddue to infection by the virus, and during the flowering there is “choking” of the pseudostem in the rosette-like leaveswhich prevent normal emergence of the bunch. This causes “abortion” in different points bolow the rosette. Infectedplants produce smaller and distorted (inverted) bunches, as well as illformed and necrotic fruits, which eventuallysplit. Eliminating contaminated plants, controlling mealybugs and using healthy plantlets are measures that contributeto the control of BSV.

Index terms: Musa spp., BSV, virosis, stained fruits.

Aceito para publicação em 9/6/10.1 Eng.-agr., M.Sc., Epagri/Estação Experimental de Itajaí, C.P. 277, 88301-970 Itajaí, SC, e-mail: [email protected] Bióloga, UFSC/Campus Universitário Reitor João David Ferreira Lima, Trindade, 88040-900 Florianópolis, SC, e-mail:[email protected].

A produtividade média dos bananaiscatarinenses é crescente, fazendocom que o Estado continue sendoreferência nacional nessa cultura.Esse sucesso se deve muito à ação daEpagri, que gera e adapta tecnologiase presta assistência técnica, com oapoio das Associações Municipais deProdutores.

Manter e aprimorar o padrãotecnológico dos bananais são tarefas

contínuas que requerem dos técnicosenvolvidos com a fitossanidade dabananicultura atenção e alerta emrelação às doenças.

Recentemente, amostras de folhasde bananeiras ‘Grande Naine’ e‘Nanicão’, do subgrupo Cavendish,enviadas por bananicultores aolaboratório de fitopatologia daEpagri/Estação Experimental deItajaí (EEI), e a posterior visita aos

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bananais onde as amostras foramcoletadas, levaram à constatação daocorrência de “banana streak virus”(BSV) nessas cultivares.

A importância econômica do BSVestá relacionada, principalmente, aosprejuízos provocados na produção eàs restrições em relação ao uso demateriais nos processos depropagação, micropropagação ehibridação pela ampla distribuição dovírus em vários genótipos (Lockhart& Jones, 2000).

O BSV foi identificado pelaprimeira vez no Marrocos, em 1985,causando infecções e danosconsideráveis em bananeiras dosubgrupo Cavendish. Posteriormen-te, surgiu em diferentes cultivares emvários países, encontrando-se hojeamplamente distribuído por África,América Latina, Caribe, Ásia ePacífico (Lockhart & Jones, 2000).

No Brasil, Figueiredo et al. (2006)constataram a ocorrência do BSV em11 Estados, em cultivares diploides(AA), triploides (AAA; AAB) etetraploides (AAAB). Até então, oBSV só havia sido constatado embananeiras do grupo genômico AAB,nas cultivares Mysore e Pacovan. EmSanta Catarina, esses autoresconstataram a presença do vírus emamostras da cultivar Nanica, dosubgrupo Cavendish, e em amostrasdas cultivares Maçã, Prata Anã,Pacovan, Catarina, FHIA 18 e SH3640.

Os sintomas encontrados nasamostras enviadas ao Laboratório deFitopatologia da EEI e nas plantasavaliadas nas propriedades visitadasem Luís Alves, Massaranduba eCorupá (Figura 1) estão de acordocom aqueles descritos para BSV porJones & Lockhart (1993) e Lockhart& Jones (2000). Os sintomasdependem do isolado do patógeno, dacultivar hospedeira e das condiçõesambientais, variando de uma simplesmancha clorótica nas folhas até amorte das plantas. Contudo, osintoma mais comum é estriasamarelas ou cloróticas (Figura 1, A),que partem da nervura principal da

folha até sua margem. Essas estriasescurecem com o tempo, evoluindoaté a necrose e morte do tecido. Nabainha, no pecíolo e na nervuraprincipal das folhas ocorrem estriasescuras. Internamente essas estriasapresentam tecido necrosado de cormarrom e negra (Figura 1, B). Nointerior do pseudocaule o vírusprovoca destruição dos tecidos que,com a contaminação posterior porbactérias, apresentam sintomas depodridão por encharcamento (Figura1, C). Nas florações, que ocorrem apartir do mês de abril, quando asvariações térmicas aumentam eocorrem temperaturas amenas, entre18 e 22oC, a infecção do vírus provocaestrangulamento do pseudocaule naregião da roseta foliar peladiminuição da distância dos entrenós,impedindo a emergência normal docacho e provocando aborto em

diferentes pontos abaixo da roseta(Figura 1, D). As bananeirasinfectadas produzem cachosmenores, às vezes com o engaçoretorcido (Figura 1, E) e frutosmalformados e manchados (Figura 1,F). Sob as manchas escuras daepiderme, o tecido da cascaapresenta-se necrosado (Figura 1, Ge H), rachando posteriormente(Figura 1, I).

O BSV é membro do grupo“Badnavirus” e seus vírions sãobaciliformes, medindo 30 x 130 a150nm (Lockhart, 1994). Os isoladosapresentam alto grau de hete-rogeneidade, diferindo entre sisorológica, genômica e biologi-camente, de acordo com asintomatologia. São conhecidos cincoisolados diferentes: do Marrocos, deRuanda, de Trinidad, de Honduras edas Filipinas (Lockhart & Olszewski,

Figura 1. Sintomas do ataque de “Banana streak víru”s (BSV) em bananeiras‘Nanicão’ e ‘Grande Naine’ do subgrupo Cavendish. (A) Sintomas de BSV na formade estrias cloróticas sobre as folhas; (B) Estrias escuras na nervura principal dafolhas com necrose interna do tecido; (C) Necrose interna dos tecidos dopseudocaule; (D) Aborto do cacho provocado pelo estrangulamento do pseudocaule;(E) Má formação do cacho com engaço retorcido; (F) Cacho com frutos manchados;(G) e (H) Necrose dos tecidos da casca dos frutos; (I) Fruto apresentandorachadura na casca

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1993). Está comprovado que o vírusse encontra integrado ao genoma deMusa e Ensete. Portanto, materiaisgerados por hibridação (fecundaçãocruzada) a partir de plantascontaminadas estarão contaminadospelo vírus, assim como mudasmicropropagadas oriundas dematrizes contaminadas, visto que ovírus não é eliminado por meio dacultura de tecidos (Jones & Lockhart,1993).

O “badnavirus” pode serdisseminado também por cochonilhas(Figura 2), destacando-se Plano-coccus citri, Pseudococcus sp.,Dysmicoccus spp., Planococcusmusae, Pseudococcus comstocki eSaccharicoccus sachari. Emboraesses insetos sejam sedentáriosquando adultos, nos estágios maisjovens as ninfas têm grandemobilidade, o que torna possível adisseminação do vírus entre plantase para plantas mais distantes quandoas ninfas são transportadas pelovento (Lockhart, 1995). Expe-rimentos visando à inoculação pormétodos abrasivos não obtiveramsucesso. Não há, até o momento,ocorrência confirmada de conta-

minação por meio de ferramentas.Todas as plantas produzidas in vitroa partir de explantes contaminadoscarregam o vírus (Lockhart & Jones,2000) e são o principal meio dedisseminação (Lockhart, 2002).

Na profilaxia da doença érecomendável que os bananicultoresrealizem inspeções periódicas nasfolhas das bananeiras, principal-mente nos períodos com oscilações detemperatura e ocorrência detemperaturas amenas, entre 18 e22oC. As touceiras que apresentaremsintomas devem ser eliminadas esubstituídas por mudas sadias. Sedez ou mais touceiras com sintomasforem encontradas numa área de50m², todas as plantas dessa áreadevem ser eliminadas. Essa práticaé imprescindível quando forconstatada a presença de cochonilhasnas plantas. Nesse caso, faz-senecessário também o controle dessesinsetos para evitar a disseminação dovírus na área. Novos plantiossomente devem ser iniciados commudas certificadamente sadias.

Pesquisadores da EEI iniciaramatividades de pesquisa com o BSVvisando ao levantamento da

Figura 2. Presença de cochonilhas associadas aos sintomas de BSV em folhade bananeira

Literatura citada

1. FIGUEIREDO, D.; MEISSNER FILHO,P.; SILVA NETO, S. et al. Detecção eanálise da variabilidade de seqüênciasdo Banana Streak Virus (BSV) embananeiras no Brasil. SummaPhytopathologica, v.32, n.2, p.118-123,2006.

2. JONES, D.R.; LOCKHART, B.E.L.Enfermedades causada por el vírus delrayado del banano (Banana StreakVirus). Francia: Inibap, 1993. nãopaginado. (Inibap. Enfermedades deMusa. Hoja Divulgativa, 1).

3. LOCKHART, B.E.L.; JONES, D.R.Banana streak. In: JONES, D.R. (Ed.).Diseases of banana, abacá and enset.Wallingford: CAB International, 2000.p.263-274.

4. LOCKHART, B.E.L. Banana streak. In:PLOETZ, R.C.; ZENTMEYER, G.A. etal. Compendium of tropical fruitdiseases. St. Paul: AmericanPhytopathological Society, 1994. Part 1,p.19-20.

5. LOCKHART, B.E. Banana StreakBadnavirus Infection in Musa:epidemiology, diagnosis and control.Taipei: Food and Fertilizer TechnologyCenter, 1995. 11p. (Technical Bulletin,143).

6. LOCKHART, B.E.L. Management ofviral diseases of banana. In: REUNIÓNINTERNACIONAL ACORBAT, 15.,2002, Cartagena de Indias, Colombia.Memórias... Colômbia: Acorbat, 2002.p.217-221.

7. LOCKHART, B.E.L.; OLSZEWSKI,N.E. Serological and genomicheterogeneity of banana streakbadnavirus: implications for virusdetection in Musa germplasm. In:GANRY, J. Breeding banana andplantain for resistance to disease andpests. Montpellier, France: CIRAD-FLHOR, 1993. p.105-113. Proceedingsof the International Symposium onGenetic Improvement of Banana forResistance to Diseases and Pests, 7-9September 1992.

8. VIEIRA, L.M. Banana. Síntese Anual daAgricultura de Santa Catarina - 2007/2008, Florianópolis, p.56-68, 2008.

ocorrência e da distribuição, bemcomo a caracterização davariabilidade genética nos diversosgrupos genômicos de coleção decultivares e em plantas de bananaiscomerciais.

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Normas para publicação na revistaAgropecuária Catarinense (RAC)

A revista Agropecuária Catari-nense aceita para publicaçãomatérias ligadas à agropecuária e àpesca, desde que se enquadrem nasseguintes normas:

1. As matérias para as seçõesArtigo científico, Germoplasmae Lançamento de cultivares eNota científica devem seroriginais e vir acompanhadas deuma carta afirmando que amatéria é exclusiva à RAC.

2. O Artigo científico deve serconclusivo, oriundo de umapesquisa já encerrada. Deveestar organizado em Título,Nome completo dos autores (semabreviação), Resumo (máximode 15 linhas, incluindo Termospara indexação), Título eminglês, Abstract e Index terms,Introdução, Material e métodos,Resultados e discussão, Con-clusão, Agradecimentos (opcio-nal), Literatura citada, tabelase figuras. Os termos paraindexação não devem conterpalavras já existentes no títuloe devem ter no mínimo três e nomáximo cinco palavras. Nomescientíficos no título não devemconter o nome do identificadorda espécie. Há um limite de 15páginas para Artigo científico,incluindo tabelas e figuras.

3. A Nota científica refere-se apesquisa científica inédita erecente com resultados im-portantes e de interesse parauma rápida divulgação, porémcom volume de informaçõesinsuficiente para constituir umartigo científico completo. Podeser também a descrição de novadoença ou inseto-praga. Deve ter

no máximo oito páginas(incluídas as tabelas e figuras).Deve estar organizada emTítulo, Nome completo dosautores (sem abreviação),Resumo (máximo de 12 linhas,incluindo Termos paraindexação), Título em inglês,Abstract e Index terms, textocorrido, Agradecimentos(opcional), Literatura citada,tabelas e figuras. Não deveultrapassar dez referênciasbibliográficas.

4. A seção Germoplasma e Lan-çamento de cultivares deveconter Título, Nome completodos autores, Resumo (máximo de15 linhas, incluindo Termos paraindexação), Título em inglês,Abstract e Index terms,Introdução, Origem (incluindopedigree), Descrição (planta,brotação, floração, fruto, folha,sistema radicular, tabela comdados comparativos), Pers-pectivas e problemas da novacultivar ou germoplasma,Disponibilidade de material eLiteratura citada. Há um limitede 12 páginas para cadamatéria, incluindo tabelas efiguras.

5. Devem constar no rodapé daprimeira página: formaçãoprofissional do autor e do(s)coautor(es), título de graduaçãoe pós-graduação (Especialização,M.Sc., Dr., Ph.D.), nome eendereço da instituição em quetrabalha, telefone para contatoe endereço eletrônico.

6. As citações de autores no textodevem ser feitas por sobrenomee ano, com apenas a primeira

letra maiúscula. Quando houverdois autores, separar por “&”; sehouver mais de dois, citar oprimeiro seguido por “et al.”(sem itálico).

7. Tabelas e figuras geradas noWord não devem estar inseridasno texto e devem vir numeradas,ao final da matéria, em ordemde apresentação, com as devidaslegendas. Gráficos gerados noExcel devem ser enviados, comas respectivas planilhas, emarquivos separados do texto. Astabelas e as figuras (fotos egráficos) devem ter título claroe objetivo e ser auto explicativas.O título da tabela deve estaracima dela, e o título da figura,abaixo. As tabelas devem serabertas à esquerda e à direita,sem linhas verticais ehorizontais, com exceçãodaquelas para separação docabeçalho e do fechamento,evitando-se o uso de linhasduplas. As abreviaturas devemser explicadas ao aparecerempela primeira vez. As chamadasdevem ser feitas em algarismosarábicos sobrescritos, entreparênteses e em ordem crescente(ver modelo).

8. As fotografias (figuras) devemestar digitalizadas, em formatoJPG ou TIF, em arquivoseparado do texto, com resoluçãomínima de 200dpi, 15cm debase.

9. As matérias apresentadas paraas seções Registro, Opinião,Conjuntura e Informativotécnico devem se orientar pelasnormas do item 10.

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9.1 Registro – matérias que tratamde fatos oportunos que mereçamser divulgados. Seu conteúdo éa notícia, que, apesar de atual,não chega a merecer o destaquede uma reportagem. Não devemter mais que duas páginas.

9.2 Opinião – deve discorrer sobreassuntos que expressam aopinião do autor sobre o fato emfoco e não deve ter mais que trêspáginas.

9.3 Conjuntura – matérias queenfocam fatos atuais com baseem análise econômica, social oupolítica, cuja divulgação éoportuna. Não devem ter maisque seis páginas.

9.4 Informativo técnico – refere-se àdescrição de uma técnica, umatecnologia, doenças, insetos--praga, e outras recomendaçõestécnicas de cunho prático. Nãodeve ter mais do que oitopáginas, incluídas as figuras etabelas.

10. Os trabalhos devem serencaminhados preferencialmen-te em meio digital (e-mail ouCD), no programa Word forWindows, letra arial, tamanho12, espaço duplo. Devem possuirmargem superior, inferior elaterais de 2,5cm, estarpaginadas e com as linhasnumeradas.

11. Literatura citada. As referênciasbibliográficas devem estarrestritas à Literatura citada notexto, de acordo com a ABNT eem ordem alfabética. Não sãoaceitas citações de dados nãopublicados e de publicações noprelo. Quando houver mais detrês autores, citam-se apenas ostrês primeiros, seguidos de “etal.” .

Exemplos de citação:

Eventos:DANERS, G. Flora de importânciamelífera no Uruguai. In:CONGRESSO IBERO-LATINO-

-AMERICANO DE APICULTURA,5., 1996, Mercedes. Anais...Mercedes, 1996. p.20.

Periódicos no todo:ANUÁRIO ESTATÍSTICO DOBRASIL-1999. Rio de Janeiro: IBGE,v.59, 2000. 275p.

Artigo de periódico:STUKER, H.; BOFF, P. Tamanho daamostra na avaliação da queimaacinzentada em canteiros de cebola.Horticultura Brasileira, Brasília,v.16, n.1, p.10-13, maio 1998.

Artigo de periódico em meioeletrônico:SILVA, S.J. O melhor caminho paraatualização. PC world, São Paulo,n.75, set. 1998. Disponível em:<www.idg.com.br/abre.htm>. Acessoem: 10 set. 1998.

Livro no todo:

SOCIEDADE BRASILEIRA DECIÊNCIA DO SOLO. Recomendaçãode adubação e de calagem para osestados do Rio Grande do Sul e deSanta Catarina. 3.ed. Passo Fundo,

RS: SBCS/Núcleo Regional Sul;Comissão de Fertilidade do Solo –RS/SC, 1994. 224p.

SOCIEDADE BRASILEIRA DECIÊNCIA DO SOLO. Manual deadubação e calagem para os Estadosdo Rio Grande do Sul e de SantaCatarina. 10.ed. Porto Alegre, RS:SBCS/ Núcleo Regional Sul;Comissão de Química e Fertilidadedo Solo – RS/SC, 2004. 400p.

Capítulo de livro:SCHNATHORST, W.C. Verticilliumwilt. In: WATKINS, G.M. (Ed.)Compendium of cotton diseases.St.Paul: The AmericanPhytopathological Society, 1981.p.41-44.

Teses e dissertações:CAVICHIOLLI, J.C. Efeitos dailuminação artificial sobre o cultivodo maracujazeiro amarelo (Passifloraedulis Sims f. flavicarpa Deg.), 1998.134f. Dissertação (Mestrado emProdução Vegetal), Faculdade deCiências Agrárias e Veterinárias,Universidade Estadual Paulista,Jaboticabal, SP, 1998.

68.72447.38745.03767.93648.31359.50593.037

64.316

64.129 -

113 d122 cd131 abc134 ab122 cd128 abc138 a

125 bc

133 ab

4,8

0,0002(**)

96,0110,7114,3112,3103,3109,0119,0

108,4

112,3

6,4

80 d100 ab 91 bc 94 bc 88 cd 92 bc104 a

94 abc

95 abc

6,1

95 d110 bc121 a109 bc100 cd107 bc115 ab

106 bc

109 bc

6,4

0,011(**)

.............................. g ............................... kg/ha

1993 1994 1995 Média

Tabela 1. Peso médio dos frutos no período de 1993 a 1995 e produção média desses trêsanos, em plantas de macieira, cultivar Gala, tratadas com diferentes volumes de calda deraleantes químicos(1)

TestemunhaRaleio manual16L/ha300L/ha430L/ha950L/ha1.300L/ha1.900L/hacom pulverizadormanual1.900L/ha com

turboatomizador

CV (%)

Probabilidade > F

Peso médio dos frutos ProduçãomédiaTratamento

(1)Médias seguidas pela mesma letra, nas colunas, não diferem entre si pelo teste de Duncan a 5% de probabilidade.(**) Teste F significativo a 1% de probabilidade.Nota: CV = coeficiente de variação.Fonte: Camilo & Palladini. Pesquisa Agropecuária Brasileira, v.35, n.11, nov. 2000.