edição 11 - geomagazine

156
GEO MAGAZINE ROTA VICENTINA por GeoLeo Foto-Reportagem Prémios GPS 2013 por Geopt ENTREVISTA HISTÓRICA PCARDOSO em retrospectiva por Jasafara PATRIMÓNIO Castelo de Arraiolos em fotografia por RuiJSDuarte PR6 PMS - FÓRNEA por RuiJSDuarte Outubro 2014 - Edição 11 ENTREVISTA DE CARREIRA Valente Cruz Valente Cruz é certamente um dos nick names mais diretamente associados ao Geocaching-Natureza e Aventura dos tempos modernos. Por Lusitana Paixão PERCURSOS PEDESTRES E muito mais...

Upload: geomag

Post on 06-Apr-2016

237 views

Category:

Documents


0 download

DESCRIPTION

 

TRANSCRIPT

Page 1: Edição 11 - GeoMagazine

GEOMAGAZINE

ROTA VICENTINA

por GeoLeo

Foto-ReportagemPrémios GPS 2013por Geopt

ENTREVISTA HISTÓRICA

PCARDOSO em retrospectivapor Jasafara

PATRIMÓNIO

Castelo de Arraiolos em fotografiapor RuiJSDuarte

PR6 PMS - FÓRNEApor RuiJSDuarte

Outubro 2014 - Edição 11

ENTREVISTA DE CARREIRA

Valente CruzValente Cruz é certamente um dos nick names mais diretamente associados ao Geocaching-Natureza e Aventura dos tempos modernos. Por Lusitana Paixão

PERCURSOS PEDESTRES

E muito mais...

Page 2: Edição 11 - GeoMagazine
Page 3: Edição 11 - GeoMagazine

GeoFOTO Setembro 2014Vencedor - butyo

Page 4: Edição 11 - GeoMagazine

Editorial ...................................................................06 Gustavo Vidal dá-nos as boas vindas à GeoMagazine

Caminho de Santiago .......................................08Percorremos a rota do peregrino com o GeoLeo

Património - Castelo de Arraiolos ..............18Um castelo cheio de história, pelo RuiJSDuarte

Aldeias Históricas - Vila Cardílio ...............24À descoberta da histórica vila romana

Geocaching de A a Z .........................................30TiagoSGD dá-nos o seu abecedário geocachiano

VII Bienal de São Jorge ....................................34Geocaching em destaque numa conferência sobre turismo

Frente a Frente ....................................................40Falkon Eye vs. Gang da Pata Negra

Opinião - Geocaching de Antigamente ...48Bargão Henriques fala-nos sobre as mudanças no GC

Alqueva em Autonomia .................................52GeoLeo leva-nos numa viagem pela barragem

PR6 - Fórnea da Alcaria ...................................64RuiJSDuarte guia-nos pela serra de Aire

Entrevista de Carreira .....................................72Valente Cruz numa excelente entrevista

Foto-Reportagem - Prémios GPS 2013 .....88Os momentos marcantes da cerimónia em São Jorge

Além Fronteiras - Báltico ...............................104Uma viagem em fotografia pelo Jasafara

Guia BTT - Rota Vicentina .............................114Acompanhamos o GeoLeo pela costa alentejana

Entrevista Histórica - PCardoso ..................124Uma fantástica entrevista a um dos pioneiros

From GC With Love ..........................................142O quotidiano norte-americano pela lackey Annie Love

Estrada Nacional 2 .............................................144O ataque às badges do -GFK-

GEOMAG.

Nota sobre Acordo Ortográfico:Foi deixado ao critério dos autores dos textos a escolha de escrever de acordo (ou não) com o AO90.

Page 5: Edição 11 - GeoMagazine

EntrEvista dE carrEira...Valente Cruz é certamente um dos nick names mais direta-mente associados ao Geocaching-Natureza e Aventura dos tempos modernos.

72

EntrEvista HistÓricaPCardoso é um dos Geocachers pioneiros de Portugal. Quando se registou não havia nenhuma cache escondida na Península Ibérica.124

castELO dE arraiOLOs18

gEOcacHing dE a a zCom TiagoSGD, por Team Marretas30

rOta vicEntinaPor GeoLeo114

gEOcacHing dE antigaMEntE48

Page 6: Edição 11 - GeoMagazine

EditOriaLpor Gustavo Vidal

Bem-vindos à Edição nº 11 da GeoMagazine. É com muito orgulho que aqui a apresento. Sinto que este é um novo patamar para a revista. A edição anterior dedicada aos Açores foi para nós um marco muito importante pois fez-nos sair da esfera de influência do Geocaching e projectou-nos a nível ins-titucional, sobretudo na Re-gião Autónoma dos Açores.Tem sido um óptimo ins-trumento de propaganda turística, usado frequente-mente quer pelo Governo Regional dos Açores quer pela Direcção Regional de Turismo, sendo referencia-do como um exemplo das sinergias criadas entre as várias instituições gover-namentais e o Geocaching através do Geopt.Fruto das parcerias estabe-lecidas, a GeoMagazine foi convidada a estar presente na VII Bienal de Turismo em Espaço Rural que decorreu na ilha de S. Jorge entre 16 e 19 de Outubro e da qual vos damos conta nas páginas

desta edição.Ainda dos Açores, o rescal-do da Cerimónia de Entrega dos Prémios GPS 2013 que decorreu em Lagoa, na ilha de S. Miguel, a 6 de Setem-bro passado.Aproveitando a boleia dos Prémios GPS, recomen-do o Frente a Frente entre o Falkon Eye e o Gang da Pata Negra, os vencedores nacionais de 2013 e 2012, respectivamente. Pers-pectivas diferentes, mas ambos olhares vencedores sobre os mesmos assuntos.Contudo, o principal desta-que vai para a entrevista de capa com os Valente Cruz, também eles já laureados com alguns Prémios GPS, que aqui fazem a retros-pectiva da sua curta, mas intensiva carreira de Geoca-chers. Sem dúvida o timing perfeito, numa altura em que é lançado nas bancas o seu livro “O Tempo Inquie-to” e sobre o qual poderão conhecer mais detalhes nestas páginas.Também a entrevista histó-rica com o PCardoso mere-

cerá igual destaque nesta edição. É um dos pioneiros Geocachers portugueses. Quando se registou não existia uma única cache publicada na Península Ibé-rica. Soube amadurecer en-quanto Geocacher e retira hoje exactamente o mesmo prazer que as primeiras ca-çadas lhe proporcionaram. Um exemplo a seguir. Na minha opinião, estão aqui reunidas duas das melho-res entrevistas que a Geo-Magazine já publicou até hoje.Não menos interessante é a reflexão de Bargão Henri-ques sobre o Geocaching de antigamente. Antigamente é que era! Tal como hoje!Conheçam também de A a Z, nesta edição o Tiagosgd. Um dos organizadores do Love, Love, o primeiro Mega-Evento de Portugal a norte do país.Em termos de sugestões de aventura, uma mão cheia de propostas irrecusáveis, cada uma delas poderia ser um objectivo de vida, tudo concentrado nesta edição:

Peregrinando pelo Caminho de Santiago francês; de BTT pela Rota Vicentina; a peda-lar de Norte a Sul de Portu-gal pela EN2 desde Chaves a Faro; de kayak pelo Alque-va ou o PR6 PMS – Fórnea.Cinco diferentes propostas, cinco desafios que espe-remos consigam contagiar muita gente. Cinco epo-peias que poderão enrique-cer muitas vidas. Desafiem-se e atrevam-se!Em termos de património, duas interessantes e origi-nais sugestões: Vila Roma-na de Cardílio e o Castelo de Arraiolos. Dois destinos a não perder neste nosso belo Portugal.Do estrangeiro, uma foto reportagem do Joaquim Sa-fara pelo Báltico e a habi-tual crónica de Annie Love: From Geocaching HQ with Love sobre os sonhos que se tornam realidade e a rea-lidade de sonho.Muito mais para descobrir nesta edição feita com mui-to amor e que esperemos seja do vosso agrado.

GEOMAG.

6

OutubrO 2014 - EDIÇÃO 11

Page 7: Edição 11 - GeoMagazine

VESTE A CAMISOLANa nossa loja online, tens diversos modelos de t-shirts, sweats, chapéus, �tas de pescoço e patches Geopt. Adquire já o teu em:

http://loja.geopt.org

Page 8: Edição 11 - GeoMagazine

8

GEOMAG.

Quando há cerca de dez anos visitei pela primeira vez Santiago de Compos-tela e vi na altura os pere-grinos a chegarem à Praça de Obradoiro, estava longe de pensar que um dia seria eu a lá chegar. Longe tam-bém estava de saber o que aqueles peregrinos estavam a sentir, mas foi nesse dia que algo me chamou e des-pertou-me a curiosidade. Independentemente das ra-zões que nos levam a que-rer fazer esta peregrinação e conhecer os caminhos, que podem ser várias, des-de a aventura até à crença religiosa, o certo é que eu senti que algo de grandioso me chamava para fazer os caminhos.

Desde então, fui pesquisan-do e sabendo mais sobre o assunto e comecei-me a aperceber, que era mais do que uma peregrinação, era

algo grandioso a nível pes-soal e emocional.

Em Outubro de 2012 o meu filho Ricardo fez os 800Km do Caminho Francês em bi-cicleta. A sua partilha foi o empurrão para a decisão de programar a minha viagem pelos caminhos. Até que em Setembro de 2013 fi-nalmente faço pela primeira vez o caminho de bicicleta. Comecei no Porto pelos ca-minhos Portugueses. Uma experiência fantástica, mas que só me deu a conhecer parte do que é no seu todo o caminho.

Para 2014 programei com a minha mais que todo (Ma-nuela), uma peregrinação a pé no caminho Francês de Santiago a começar n’O Ce-breiro, com cerca de 160Km até Santiago e dividido em oito etapas, para o fazer-mos nas calmas e contem-plar o caminho.

Meses antes começamos a preparação com umas cami-nhadas incluindo o III Geo-passeio pelas falésias, orga-nizado pelo paulohercules e ainda uns powertrails na zona de Sintra. Tínhamos que nos habituar a caminhar vários quilómetros e sobre-tudo habituar-nos ao calça-do que é fundamental assim como às meias, que devem de ser de grande qualidade, não dar importância a estes dois pormenores são um erro estratégico, potenciais de problemas durante a ca-minhada.

Nos últimos quinze dias antes do começo, prepara-mos todos os pormenores, pesquisámos a distância das etapas, os albergues e as distâncias entre eles, os serviços disponíveis em cada localidade e as viagens de ida e regresso, mas neste caso sem previsão de che-

gada, não queríamos estar dependentes desse factor.

No dia anterior prepara-mos as mochilas e os ner-vos miudinhos começaram a aparecer. Afinal o desco-nhecido e sairmos das zo-nas de conforto dá-nos um nó na barriga.

A preparação da mochila foi dos pormenores que nos deu mais trabalho, pois sa-bíamos que o ideal é trans-portar cerca de 10% do nos-so peso corporal. Eu peso 60kg e a Manuela 50Kg, meter dentro de uma mo-chila menos de 6/5 Kg é uma tarefa que se revelou muito difícil, achamos sempre que há algo que nos vai fazer falta, quando afinal esse é outro erro estratégico, car-regar a mochila com coisas supérfluas, cada grama a mais vai-se revelar quilos a pesar-nos nas costas ao fim de muitos quilómetros. O caminho ensina-nos que

Percursos Pedestres

Caminho de Santiago

Por Leonel Baptista

Page 9: Edição 11 - GeoMagazine

9

GEOMAG.

não precisamos de quase nada para sermos felizes e conseguir caminhar todos os dias em boas condições. A experiência da última vez que fiz o caminho, neste caso ajudou-nos a conseguir levar mesmo só o essencial, ficando com as mochilas dentro do peso previsto. Mas para o conseguir é essencial que a mochila não seja mui-to grande, pois quanto maior é, mais coisas conseguimos meter lá dentro e aumentar exponencialmente o peso.

No dia 2 de Julho partimos de autocarro de Lisboa para Santiago, uma viagem de 9 horas, saturante e maçado-ra. Chegamos a Santiago por volta das 18 horas e fomos logo à procura do albergue que tínhamos previsto ficar. O Albergue de São Lázaro, já no limite da cidade. Depois de chegarmos ao albergue, instalámo-nos, sendo para a Manuela a primeira expe-

riência a ficar num albergue e adaptar-se a todo aquele ambiente próprio. Coisa que fez sem dificuldade e até parecia que já o tinha feito anteriormente. O resto do dia foi passado com um pe-queno passeio e jantar.

No dia seguinte partimos às 8 horas de autocarro para O Cebreiro, já com a viagem previamente comprada e com destino a Pedrafita do Cebreiro, que fica a cerca de 5Km do Albergue d’O Ce-breiro. Pedrafita fica numa cordilheira montanhosa do lado oposto do caminho Francês. Chegamos por vol-ta das 12 horas e neste dia só fizemos os 5Km até ao Albergue. Como já tínha-mos pesquisado anterior-mente, sabíamos que exis-tia um trilho e percorremos estes 5km por sinal duros por causa do desnível em subida acumulada. No en-tanto vimos peregrinos que

saíram do mesmo autocarro a irem pela estrada, talvez seja mais fácil, mas de cer-teza que não desfrutaram das paisagens e natureza que este trilho nos ofereceu. Passámos o resto do dia a explorar esta aldeia de ori-gem pré-histórica situada a cerca de 1300 m de altitude, entre as serras de O Courel e Os Ancares. Uma aldeia lin-díssima e com paisagens de cortar a respiração, aliás foi o local mais bonito de todo o caminho. Neste dia ainda fiz a cache “30 G.C.L.002 O CE-BREIRO” do Team C.TWIS-TER69 y equipo de Geoca-chés 30 G.C.L. (GC4C5VN), uma cache georreferencian-do um local de visita obriga-tória. Acabei por não fazer a “O Cebreiro (Camino Francés de Santiago) (GC11DBQ), por estar um pouco afastada do centro da aldeia, mas que me deu a ideia de ser uma grande cache pela localiza-ção num sítio elevado e com

cruzeiro perto, deve ainda proporcionar uma vista fan-tástica.

Dia 4 foi o dia da primeira etapa a sério, com 21 km desde O Cebreiro a Triacas-tela. Quase toda ela feita acima dos 1000m. Por al-guma razão esta parte do caminho tem a alcunha de “milipico” (cada pico sobe a cima de mil metros). Aqui as forças da gravidade são postas em causa em relação ao corpo humano. É mais fácil subir do que descer. A força nas pernas e a pres-são que se faz nos pés para ir constantemente a travar nas descidas, provoca um desgaste e dores muito pio-res do que a subir, onde com uma passada constante e um correto exercício respi-ratório, faz-se com menos dificuldade. Em compensa-ção tivemos uma etapa de paisagens lindas e com o nevoeiro assente nos vales,

Page 10: Edição 11 - GeoMagazine

10

GEOMAG.

Page 11: Edição 11 - GeoMagazine

11

GEOMAG.

Page 12: Edição 11 - GeoMagazine

proporcionou-nos momen-tos de rara beleza natural. Chegamos a Triacastela por volta das 13, fora da aber-tura dos albergues.

Este albergue foi dos mais bonitos em que ficamos. Situado num local com uma beleza natural magnifica. Foi aqui que ficámos a co-nhecer a Laura e a Begoña, duas pessoas que depois deste dia tiveram uma im-portância enorme para nós no resto do caminho. Pelo caminho fiz as primeiras três cache de uma serie de 16 do Team Groenhof, que tem as duas primeiras ca-ches antes de O Cebreiro e acaba a serie perto de San-tiago num percurso de cerca de 200 km.

Segundo o Owner colocou esta serie para deixar como legado da sua peregrinação a Santiago. As caches são todas idênticas de tama-nho regular, mas na minha opinião podia uma ou outra ser colocada em locais mais interessantes e merecedo-res de serem georreferen-ciados. No entanto há que louvar a iniciativa, porque durante todo o caminho não existem muitas caches e estas são mais um incenti-vo e objetivo para qualquer geocacher que queira fa-zer os caminhos Franceses de Santiago. Assim neste dia acabei por fazer “Groe-nhof’s Camino #3”(GC42F-ZR), “Groenhof’s Camino #4”(GC42G03), “Groenhof’s Camino #5”(GC42G0A), que de resto são as únicas que se encontram nesta etapa de 21 km.

No dia 5 fizemos uma etapa mais curta de 19Km entre Triacastela e Sarria. No en-tanto tão difícil como a an-terior, pois toda ela é feita no mesmo cenário monta-nhoso com grandes desní-

veis de perfil, mas em com-pensação com trechos de bosques fantásticos. Che-gamos a Sarria novamente perto das 13H e depois de nos instalarmos no alber-gue, onde mais uma vez vol-támos a ficar com a Laura e a Begoña, fomos conhecer a cidade e comer numa espla-nada muito agradável à bei-ra rio com direito a musica Celta ao vivo.

De salientar que em Sarria é de onde muitos peregri-nos iniciam o caminho, por estar a cerca de 100km de Santiago e ser esta a dis-tância necessária para se ter direito à Compostela. Em Triacastela os caminhos dividem-se. Um percurso por San Xil, que foi o que fi-zemos e o outro por Samos. Por esta razão nesta etapa não fiz nenhuma cache por-que também não existe. No entanto quem optar pelo percurso de Samos que são mais 6 km tem mais duas do Team Groenhof a “Groenhof’s Camino #6 (GC42H8Y) e a “Groenhof’s Camino #7 (GC42H98). Em Sarria existem mais duas caches a “Pousada 6 - The KnyCorporation’s way” do Team knycorporation (GC2M543) e a “Pousada 5 - The KnyCorporation’s way” do mesmo Team (GC2M541), mas como es-tão afastadas do centro da cidade e com isto tinha de fazer mais uns quilómetros deixei-as por fazer para me poupar para os quilómetros que ainda nos faltava até Santiago.

Ao terceiro dia de caminha-da, quando nos levantámos por volta das 5 da manhã, tivemos uma surpresa. Chovia! Nada para que não estivéssemos preparados, afinal estávamos na Galiza e como de uma maneira ge-

ral se sabe, na Galiza cho-ver é normal até no Verão. Preparamo-nos com corta-vento e calças impermeá-veis, ao contrário da maioria dos peregrinos que utiliza-vam muito as capas, coisa que achei proteger pouco. O resto da etapa foi feita debaixo de chuva, mas mais uma vez as paisagens fa-zem esquecer estas situa-ções menos agradáveis.

Esta etapa também teve a característica de ser a que mais animais encontramos, o que tornou a etapa mais agradável e fácil. Nesta etapa fizemos 22Km entre Sarria e Portomarín, onde ao chegarmos encontra-mos uma procissão. Depois de nos termos instalado no albergue, fomos almoçar e visitar a Vila, que é muito bonita e acolhedora, situa-se na margem direita do rio Minho, com uma Praça cen-tral lindíssima. No regresso ao albergue encontrámos a Laura e a Begoña a almoçar numa esplanada, decidi-mos sentarmo-nos e trocar umas palavras. Palavras essas que se transforma-ram numa conversa inte-ressante com a partilha das nossas vidas, do porquê de estarmos ali, as emoções que estávamos a viver por estarmos a fazer o cami-nho, as lágrimas os sorrisos os olhares começaram a ter outra dimensão.

A nós juntaram-se mais pe-regrinos que já nos conhe-cíamos de circunstância. O Joaquim, Castelhano de 70 anos que fazia o cami-nho sozinho e queria muito chegar a Santiago no dia previsto para depois poder ir visitar os netinhos. Um homem de coragem e com uma história incrível de vida que ali a contou de uma forma emocionada, parecia

que já nos conhecíamos há anos. A Letícia, uma Brasi-leira que estava ali por uma promessa. Dividida entre o filho e o marido que tiveram uma zanga e outros que passaram por ali numa con-versa para o resto da tarde.

No entanto a Laura e a Be-goña que faziam o cami-nho juntas, transpiravam e contagiavam amizade. Dizem os cientistas que a amizade que se cria entre as pessoas pode ser gené-tico, se é ou não, não sei, sei que as trouxe no cora-ção. Foi aqui que percebi o que ainda emocionalmente não conhecia do caminho, esta parte tão humana de querer conhecer o nosso semelhante de estabelecer relações de amizade e com-partilha, a parte do caminho mais importante e por isso hoje estou ainda mais de acordo com aqueles que di-zem que o caminho faz-se caminhando, só assim fica-mos a conhecer tudo o que o caminho nos pode ofere-cer. Quando regressamos ao albergue verificámos que por coincidência as nossas companheiras de beliche eram as de sempre, nós em baixo e elas por cima.

Durante esta etapa existem duas caches. Uma à saída de Sarria, junto a uma ár-vore centenária e no meio de um bosque muito boni-to. Uma cache que gostei muito, “Sarria, camino de Santiago” do Team Kirlo (GC17QAC) no entanto a precisar de manutenção. A outra foi a “Groenhof’s Ca-mino #8” (GC42JM7). Em Portomarín há mais duas excelentes caches, não pe-los containeres, mas pela belíssima Vila que é Porto-marín. As caches são a “El Pueblo Sumergido (Porto-marín)” do Team almaran 12

GEOMAG.

Page 13: Edição 11 - GeoMagazine

13

GEOMAG.

Page 14: Edição 11 - GeoMagazine

14

GEOMAG.

Page 15: Edição 11 - GeoMagazine

15

GEOMAG.

Page 16: Edição 11 - GeoMagazine

GEOMAG.

16

OutubrO 2014 - EDIÇÃO 11

(GC43HEH), à entrada da Vila e logo a seguir à ponte que atravessa o rio Minho, com uma vista para as es-cadarias da capela Virgen de las Nieves, local de pas-sagem obrigatória e tra-dicional dos peregrinos. A Outra encontra-se na Praça central da Vila. Uma Praça muito bonita com o edifí-cio da Câmara e a Igreja de San Nicolás de Portomarín de uma beleza indescritível. Esta micro cache é a “Piedra a piedra – Portomarín” do mesmo team (GC43HEB), na qual o Owner na listing fala-nos da curiosa e cente-nária historia da localidade.

No dia 7 tínhamos progra-mada uma etapa de 25Km entre Portomarín e Palas de Rei, a etapa mais desin-teressante por ser feita em grande parte junto a estra-das. O amanhecer neste dia foi esplêndido com o rio Minho como cenário natu-ral. Neste dia começou-se a sentir o cansaço acumu-lado e as dores começaram a aparecer, principalmente nos joelhos da Manuela e nos meus pés. Quando che-gámos a Palas de Rei e de-pois de nos instalarmos no albergue, fomos novamente almoçar e fazer as nossas compras diárias de comer para o dia seguinte. Neste dia o trajecto teve que ser o mais curto possível, pois o cansaço e as dores faziam-me parecer que um degrau de escadas era o Monte Evereste.

Também no que toca ao geocaching, esta etapa não tem muito interesse, porque durante o caminho só existem três caches do Team Groenhof e são elas a “Groenhof’s Camino #9” (GC42M98), a “Groenhof’s Camino #10” (GC42M9N) e a “Groenhof’s Camino #11”

(GC42MAE). No final e já perto de palas de rei, existe a “boscalio” do Team Cha-cotes (GC3TA6F) à qual não achei grande piada.

Dia 8 foi dia da maior eta-pa com 29Km entre Palas de Rei e Arzúa. Esta etapa é conhecida como ‘rom-pepiernas’ os 29 Km equi-valem a 40Km em terreno plano, as continuas subi-das e descidas tornam o percurso muito difícil. Em compensação é uma das etapas com mais percurso em bosques e os bosques na Galiza são de uma bele-za incomparável. Chegámos arrasados e ficámos sem os nossos amigos. Uns porque não chegaram a Arzúa e fi-caram em albergues antes da Vila e outros em outros albergues, isto porque não conseguimos arranjar lu-gar no albergue municipal e tivemos que optar por um privado, que foi o único em que ficamos em todo o ca-minho e ainda por cima não nos agradou muito.

Nesta etapa só existem caches até Melide que fica mais ou menos a meio da etapa. Mais duas do Team Groenhof, a “Groenhof’s Camino #12 (GC42Q0H), provavelmente desapareci-da como prova os últimos logs e a “Groenhof’s Cami-no #13” (GC42Q0Y). Mais à frente está a “BOSQUE DE LOS PEREGRINOS- ME-LIDE” do Team CHEPAMA (GC4R4YG), uma cache que na verdade está num par-que temático sobre as pe-regrinações a Santiago. Um pouco antes de Melide exis-te umas das melhores ca-ches que fiz, a “Puente Me-dieval de Furelos-MELIDE” do mesmo Team (GC4R511) num local brutal e que nos mostra uma fantástica pon-te medieval. Já em Melide fiz

a ultima do dia, a “A IGREXA DO CASTELO-MELIDE” do mesmo Team (GC3R6E9), com uma vista lindíssima para a cidade.

No dia 9 a etapa foi en-tre Arzúa e Pedrouzo com 19km, uma etapa mais curta, mas que estávamos a precisar para recuperar do dia anterior. A primeira parte foi muito bonita com o sol a entrar nos bosques e a proporcionar-nos pa-noramas espetaculares. A segunda já foi um bocadi-nho mais chata por causa da presença constante de uma estrada nacional. Em Pedrouzo reencontrámos os amigos na chegada ao albergue, foi um momento de emoção por sabermos que tínhamos todos chega-do ali e só nos faltava a ulti-ma etapa até Santiago. Aqui encontrámos uma igreja com um altar dos mais bo-nitos que vi.

Neste dia fiz mais qua-tro caches, a “Groenhof’s Camino #14” (GC42Q1J) e mais duas do Team CHEPA-MA, a “Descanso del Pere-grino- Cerceda” (GC4R4FF) uma micro cache num local com um moinho de vento bem preservado e a “Des-canso del Peregrino-Santa Irene” (GC4R4FH), também esta colocada num local de descanso como o próprio nome indica. Finalmente a “El Peregrino 5 - El Camino Francés” do Team K&K Dy-nasty (GC2YWDW), a me-lhor do dia, colocada junto à Ermita de Santa Irene, num local muito agradável. Esta cache faz parte de um gru-po de 5 caches espalhadas pelos restantes caminhos de Santiago.

No último dia a caminhada começou mais cedo do que o habitual, pois queríamos

percorrer os últimos 20Km até Santiago, por forma a chegarmos a tempo da mis-sa dos peregrinos. Saímos do albergue ainda de noite e ao entrarmos nos bos-ques encontramos um pe-regrino Madrileno perdido, que nos pediu companhia. Acompanhou-nos até ao amanhecer, depois com a sua juventude dos 17 anos, agradeceu-nos e acelerou o passo. Viemos depois a en-contrá-lo em Santiago e fi-cámos satisfeitos por saber que tinha corrido tudo bem.

A caminhada nesta última etapa torna-se mais sere-na, talvez pelo medo de es-tarmos a chegar ao fim, de afinal não querermos aca-bar. Os trilhos levam-nos até ao Monte do Gozo. De onde se avista pela primeira vez Santiago de Composte-la.

As emoções começam a fi-car à flor da pele, caminha-se praticamente em silêncio e meditação, como aliás se faz quase todo o caminho, mas agora é mais notório. Faz-se os últimos quilóme-tros pelas ruas da cidade, terminando no pé da fa-chada barroca da catedral. O Obradoiro é o fim e o co-meço.

Depois, depois foi o reen-contro com todos aqueles que nos cruzámos no cami-nho e cada reencontro foi uma explosão de emoções de abraços de risos e satis-fação. Ficamos ali na Praça à espera de os ver chegar para partilhar a alegria de todos termos consegui-do. Até os mais reservados sorriram-nos de orelha a orelha. Com os mais chega-dos combinamos uma jan-tarada para comemorar e acabámos numa queimada Galega espetacular. A eles

Page 17: Edição 11 - GeoMagazine

e principalmente à Laura e à Beboña o meu eterno obri-gado por tudo e por terem ajudado a que o meu cami-nho fosse especial. Jamais o esquecerei.

À minha querida Manuela, nem tenho palavras para expressar o tão orgulhoso e grato estou, por me ter acompanhado nesta aven-tura. Dos dois foi sem dúvi-da a mais forte e resistente revelou o que eu já sei há muito tempo, que é uma grande mulher. AMO-TE. Afinal o nosso caminho de Santiago foi o que tem sido o nosso caminho na vida, feito com amor.

Do caminho trago algo de grandioso e místico, que nos faz pensar em quem fomos em quem somos e em quem queremos ser, foi uma experiência pessoal e emocional das mais enri-quecedoras que já vivi.

Este não é o melhor dia para procurar caches, as emoções e os objetivos são outros e de outra dimensão, mas no entanto ainda assim não o passei sem fazer duas, a “XTREM LANDING 01” do Team lacomunidaddela-nillo (GC1YBK6) uma cache que se encontra a poucos quilómetros da entrada da cidade de Santiago e já em

Santiago a “Postal de Com-postela” do Team OGolpe (GC1DMBH), uma cache com uma vista fantástica para a catedral do Apostolo de Santiago. No entanto du-rante a etapa ainda existem duas do Team Groenhof, a “Groenhof’s Camino #15” (GC42Q21) e a “Groenhof’s Camino #16” (GC42Q26), que devem estar desapa-recidas. Seria interessante alguém que estivesse inte-ressado em fazer os cami-nhos Franceses de Santiago se dispusesse a levar uma carga suplementar e re-colocasse as caches deste Team.

Na cidade de Santiago e arredores para além de um bom par de caches que existem, ainda existe dois powetrials, o da Sarela e o outro do Xesto com 31 ca-ches do Team OGolpe, num percurso de 12 km para norte.

Leonel Baptista

- geoleo

17

GEOMAG.

Page 18: Edição 11 - GeoMagazine

18

GEOMAG.

Nesta edição visitamos um castelo com uma planta muito particular no que concerne a este tipo de fortificações. Va-mos até Arraiolos conhecer um castelo de planta circular (elíp-tica), coisa rara por este mundo fora.

O Castelo de Arraiolos, também referido como Paço dos Alcai-des, está situado no Monte de São Pedro, a norte da vila com o mesmo nome.

Origens

Durante as escavações arqueo-lógicas, efectuadas na zona da alcáçova do castelo, foram en-contrados alguns instrumentos utilizados para lascar pedras (fabrico de ferramentas de pe-dra talhada) na pré-história, conhecidos como “percutores”, além de um machado de cobre, da mesma época (fazem hoje parte do espólio do Museu de Évora).

A formação da povoação em si,

pensa-se que remonte a 300 a.C.

O Castelo na História Medieval

A intenção da construção de uma fortificação no local apon-ta para o ano de 1217, aquan-do da doação por parte de D. Afonso II ao Bispo de Évora (D. Soeiro) da chamada Herdade de Arraiolos, com a respectiva au-torização de construção.

Tal não se veio a concretizar e apenas cerca de oitenta anos mais tarde, com o desenvol-

vimento da região, seria esti-pulado por contrato durante o reinado de D. Dinis, e entre o mesmo e as autoridades locais (Alcaide, Juízes e Concelho da Vila) a efetiva construção do mesmo, envolvendo e prote-gendo a povoação.

As obras decorreram entre 1306 e 1310 fazendo uso das 2.000 libras disponibilizados pelo próprio D. Dinis e foi ha-bitado pelo mesmo. A fortifi-cação, tendo sido no entanto

Património

Castelo de ArraiolosPor RuiJSDuarte

Page 19: Edição 11 - GeoMagazine

19

GEOMAG.

considerada desagradável para se habitar, visto ser ventosa e fria, foi sendo abandonada pela plebe e nem os esforços do monarca seguinte, D. Fernando, quer mediante privilégios espe-ciais para os habitantes, quer com o fecho do Castelo à noite, conseguiu evitar a desertifica-ção do interior.

Com a morte de D. Fernando em 1983 deu-se o chamado “Interregno”, a Crise de 1383-1385, altura em que não existia

monarca no poder em Portugal, visto não ter sido deixado qual-quer herdeiro masculino por parte do referido Rei.

Apesar de existir um contrato de casamento entre a Infanta D. Beatriz e João I de Castela, que precavia de alguma forma a independência de Portugal com a morte do Rei, colocando no poder a sua viúva até ao nas-cimento de um filho varão do casal, tal não impediu que o rei de Castela se autoproclamasse

rei de Portugal e despoletasse a dita crise, culminando com a aclamação do Mestre de Avis como “Regedor e Defensor do reino” em finais de 83 e a inva-são retaliatória de Portugal por parte de Castela, em Janeiro de 84.

Com a vitória final de Portugal (Agosto 1985) na famosa Ba-talha de Aljubarrota, D. Nuno Álvares Pereira viria os seus feitos recompensados com o título de Conde de Arraiolos [o

2º, sendo que o 1º foi Álvaro Pires de Castro (irmão de Inês de Castro)] e o Castelo (e seus respectivos domínios). Nos cinco anos seguintes várias ex-pedições lideradas pelo então Contestável contra o reino de Castela partiram desta mesma localização, do Castelo de Ar-raiolos.

Nota - à data e devido a vicis-situdes da sucessão dos títulos nobiliárquicos o Conde de Ar-raiolos atual será D. Duarte Pio

Page 20: Edição 11 - GeoMagazine

GEOMAG.

20

OutubrO 2014 - EDIÇÃO 11

de Bragança.

O Castelo na História Moderna

Apesar de no final do Séc. XVI ainda ser habitado, já inúmeras habitações despontavam pelas encostas próximas, culminando com o abandono total poucos anos depois (inícios do Séc. XVII) e com a transformação do seu interior em curral.

Uma dúzia de anos foi o sufi-ciente para a quase ruína to-tal (conforme documentos da época, em 1613) e apenas sob o reinado de D. João IV, por ne-cessidades estratégicas rela-cionadas com a Restauração da Independência (1640), recebeu obras de restauração, voltando ao estado de inabitável, dezena e meia de anos depois. Os da-nos sofridos com o tempo vie-ram a ser agravados um sécu-lo depois, com o Terramoto de 1755.

Em 1833, durante a primeira vaga epidémica de colera mor-bus, o Páteo de Armas serviu como cemitério para as vítimas da região. Como “curiosidade”, essa epidemia chegou a Por-tugal a bordo do vapor London Marchant, com o contingente

belga destinado a auxiliar os liberais durante a guerra civil. Essa “ajuda” acabou por causar mais de quarenta mil mortos ao espalhar-se pelo País, um nú-mero mais elevado do que o da própria guerra!

Foi classificado como Monu-mento Nacional em 1910 e parcialmente restaurado na década de sessenta, a nível da Muralhas e do Castelo propria-mente dito.

Características

O conjunto monumental é com-posto pelo Paço dos Alcaides (fechado por uma cerca amu-ralhada, de forma quadrangu-lar), pela Muralha propriamente dita, de forma elíptica (o que lhe dá o aspecto tão incomum), pela Torre do Relógio e pela Igreja do Salvador, no centro do espaço.

- O Paço dos Alcaides é a zona que estará menos bem conser-vada e é o Castelo propriamente dito, com a Torre de Menagem a dominar o espaço ocupado pelas casas da guarda e as ha-bitações palacianas. Num dos merlões, identificado por uma placa informativa (das várias

que se encontram espalhadas pelo castelo) podemos obser-var algumas curiosas inscrições medievais bem conservadas.-

- A Muralha, de altura cons-tante e regular, descreve uma elipse em torno do promontório e está super bem conservada. Tem (tinha) duas entradas prin-cipais, a Porta da Vila, hoje pou-co mais que uma enorme aber-tura (na zona do Paço) e a Porta de Santarém, de estilo gótico, muito bonita e imponente, vi-rada a Noroeste e ladeada por dois torreões. É o que nos atrai a atenção, talvez ainda primeiro que a forma circular do amura-do.

- A respeito da Torre do Relógio, pensa-se que tenha sido um dos torreões da Porta da Vila, e ganhou um coruchéu no rei-nado de D. Manuel. Destaca-se também pela cor branca junto ao Paço.

- A Igreja do Salvador situa-se no ponto mais alto e central do interior do espaço murado. Da-tam do Séc. XVI e XVIII as pro-fundas alterações que lhe terão alterado o aspecto e configu-ração mas sabe-se que no ano

de 1271 já existia. Podemos ver junto à mesma mais um dos painéis informativos metálicos com as indicações relevantes sobre a mesma.

O Geocaching

Em termos do nosso hobbie, o Castelo (e a própria vila) está georreferenciado desde finais de 2003, quando o Mantunes ali colocou a sua Multicache “Arraiolos” (GCH3B4), arquiva-da cerca de dois anos depois, com pouco mais de uma dúzia de visitas registadas (DNF in-cluídos), por suspeitas do ow-ner que a vila não quisesse a sua cache (ver log).

Voltaria a estar no mapa em Outubro de 2007, pela mão de outro Geocacher histórico, o Al-meidara. Na versão Tradicional, a Castelo de Arraiolos (GC16F-GQ) conta à data com quase 800 visitas registadas e está no TOP15 das caches mais favori-tadas do Distrito de Évora (oi-tava em termos de Geocaches Tradicionais).

Rui Duarte

- RuiJSDuarte

20

Page 21: Edição 11 - GeoMagazine
Page 22: Edição 11 - GeoMagazine

22

GEOMAG.

Page 23: Edição 11 - GeoMagazine

23

GEOMAG.

Page 24: Edição 11 - GeoMagazine

GEOMAG.

24

OutubrO 2014 - EDIÇÃO 11

Page 25: Edição 11 - GeoMagazine

GEOMAG.

25

Outu

brO

2014

- ED

IÇÃO

11

Aldeias HistóricasVila Cardílio

Por Flora Cardoso

Page 26: Edição 11 - GeoMagazine

GEOMAG.

26

OutubrO 2014 - EDIÇÃO 11

26

GEOMAG.

Page 27: Edição 11 - GeoMagazine

GEOMAG.

27

Outu

brO

2014

- ED

IÇÃO

11

27

GEOMAG.

Page 28: Edição 11 - GeoMagazine

GEOMAG.

28

OutubrO 2014 - EDIÇÃO 11

Em edições anteriores, a GeoMagazine tem levado os leitores à descoberta de algumas das mais belas Al-deias Típicas e Aldeias His-tóricas de Portugal. Desta vez contudo, a viagem leva outro rumo, e convida a uma investida dentro de um passado mais distante, mas não menos belo e român-tico. Sejam bem-vindos às Ruinas Romanas de Cardí-lio!

As Ruínas Romanas da Vila de Cardílio situam-se a cerca de três quilóme-tros de Torres Novas, pró-ximo da Caveira, e foram postas a descoberto pelas escavações a cargo do co-ronel Afonso Paço, a partir de 1962, por diligências da Câmara Municipal de Torres Vedras.

Muito antes de 1930 este local era explorado como pedreira pelas gentes ru-rais dos arredores, de onde extraiam materiais para a construção das suas pró-prias casas e anexos agrí-colas.

As escavações arqueológi-cas levadas a cabo no início da década de 60 viriam a revelar um conjunto de ali-cerces, bases de colunas e pavimentos ornamentados com diversos quadros de “tesselas”, formando a base perfeita de um edifício com-posto de três elementos principais: entrada, peristilo e exedra.

Mosaicos de cores vivas e motivos geométricos, em tranças e entrelaçados, es-tão distribuídos pelas várias salas. Três quadros pren-

dem contudo a atenção do visitante, pela beleza dos pormenores e a riqueza da cor: o quadro das aves, o retrato dos donos da casa com motivos agrícolas, e o mais famoso, a inscrição la-tina VIVENTES CARDILIVM ET AVITAM FELIX TURRE.

Dos mais diversos materiais que foram achados no de-curso das escavações numa camada sobre os mosaicos, destacam-se vários tipos de cerâmicas, uma ânfora, lucernas, vidros do século I ao século IV, metais, mar-fim, osso, e um mármore de Carrara representando Eros. O espólio identifica-do aponta para a ocupação do local a partir do século I, mas admite-se que a vivên-cia do amor feliz de CARDI-LIO e AVITA tenha sido pro-tagonizada no século IV.

Chamam-lhe Vila de Cardí-lio porque o nome de CAR-DILVM aparece delineado num quadro de pequenas tesselas de mosaico, en-trelaçado ao nome da bela AVITA. Os donos da casa surgem na representação de dois bustos e parecem sugerir um casal feliz, ele de cabelo curto e ombro direito nu, com toga púrpura; ela de cabeleira de vidros azuis, com veste de esmeralda que deixa desnudado o om-bro direito.

Da edificação das Ruinas, destaca-se o PERISTYLVM, ou elemento central, com vestígio de doze colunas que formam um claustro com vinte metros de largu-ra. Aqui abundam os moti-vos geométricos numa faixa pavimentada de tesselas

coloridas, azuis e brancas ou de barro vermelho e amare-lo. Ao centro, um quadrado com onze metros de lado seria um jardim, com poço revestido de alvenaria.

OSTIVM terá sido a entrada principal, a poente do claus-tro. Igualmente pavimen-tado de tesselas, o piso é constituído por vários pai-néis, entre os quais o retra-to dos donos da casa, e ou-tro com um grupo de quatro aves com flores pendentes nos bicos, postas duas a duas.

O peristylum comunica a nascente com a EXEDRA, uma ampla sala pavimenta-da onde se mantêm incrus-tados vestígios de cinzas emulsionadas com óleos e gorduras. De notar o tanque ladeado por colunas, e uma curiosa arcaria de tijolo para aquecimento.

A famosa inscrição latina VIVENTES CARDILIVM ET AVITAM FELIX TURRE tem merecido as mais diversas traduções e interpretações, mas permanece envolta numa espécie de eterno mistério. CARDILIO e AVI-TA terão morado na TORRE FELIZ? Ou FELIX de TURRE terá feito estes mosaicos em homenagem a CARDI-LIO e AVITA? Será a TORRE FELIZ enquanto viverem CARDILIO e AVITA?

Algures entre a lenda e a sedutora incógnita, certo é que o par romano de agri-cultores aqui terá vivido em harmonia, num espaço belo e confortável.

Aberta ao público diaria-mente das 9h00 às 17h00

com intervalo ao meio do dia, esta estação romana foi classificada Monumen-to Nacional em 1967, é de visita gratuita e merece um demorado encontro com ri-quíssimos vestígios do pas-sado.

Em Janeiro de 2007 o An-talves referenciava o acha-do arqueológico no mapa do geocaching, com a publica-ção da cache Vila de Cardí-lio [GC10H07]. Localizada fora do recinto e escondida de forma bastante acessí-vel, esta é tipicamente uma cache que convida à desco-berta de um local de exce-ção, onde o container não mais representa do que o melhor pretexto para a visi-ta a um espaço de incomen-surável valor histórico.

Recentemente adotada pelo RuiJSDuarte, esta ca-che é um excelente exem-plo de legado na história do geocaching em Portugal: de mão em mão e sem qual-quer outra pretensão, vai-se cumprindo o propósito de levar os geocachers a descobrir e apreciar o nosso riquíssimo património.

Visitem a Vila Romana de Cardílio! Fica a sugestão.

Texto / Fotos:

Flora Cardoso

- Lusitana Paixão

Fontes:

http://www.guiadacidade.pt

http://www.cm-torresnovas.pt

Folheto Turístico de J.R.Bicho

Page 29: Edição 11 - GeoMagazine

GEOMAG.

29

Outu

brO

2014

- ED

IÇÃO

11

29

GEOMAG.

Page 30: Edição 11 - GeoMagazine

GEOMAG.

30

OutubrO 2014 - EDIÇÃO 11

Por mais que exista uma definição geral da activi-dade que é o Geocaching, é consensual a ideia de que, respeitando as regras gerais, cada um pode “jo-gar o jogo” de acordo com as suas preferências. As-sim, há quem goste mais de procurar, e outros que gostam mais de esconder, quem ande atrás dos nú-meros, e quem ao fim de tantos anos de activida-de tenha apenas algumas centenas encontradas. Enfim, o Geocaching pode ser apreciado de mil e uma maneiras, através da ex-ploração da vertente que mais gozo dá a cada prati-cante. Facilmente, cada um terá a sua própria visão do que é o seu Geocaching.

Nesta edição, o geocaching de A a Z viaja até ao Nor-te de Portugal Continental. Vamos ficar a conhecer o geocaching de TiagoSGD,

geocacher de 27 anos, na-tural de Viseu, mas que se encontra há 4 anos em Santa Maria da Feira. Re-gistado desde Novembro de 2008, encontrou já mais de 1900 caches, em cerca de 10 países. É também um owner bastante activo, contando com 45 caches colocadas – das quais 18 foram eventos.

Costuma cachar por Por-to, Viseu e Aveiro, com um ritmo muito calmo, referin-do que actualmente a fre-quência do seu geocaching se limita aos nos momen-tos em que “tenho prega-ção na Senhora da Saúde, vou mais cedo e faço al-guma coisa pelo caminho” ou quando tira “1-2 dias de “férias” (dos 21 dias que tenho por ano)...”

Admite mesmo não ter tempo para fazer manu-tenção de uma cache sua a 10 metros da porta de

casa.

Uma visão divertida e bem-disposta, do que é para si o Geocaching, que partilha agora connosco. Conheça-mos então, o Geocaching do Tiago, de A a Z.

A de abraços. Tenho reco-mendado às pessoas com quem me cruzo um mínimo de 12 abraços diários. São grátis, fazem bem, curam depressões, dão saúde e vida. 12 por dia, nem sabe o bem que lhe fazia. Expe-rimenta!

B de bida (à norte). Só te-mos uma [vida]. Vivemos a nossa vida ou vivemos a vida que os outros querem que vivamos? Faço o que quero, faço os outros sorrir e sei sorrir?

C de carona. Para che-gar às caches mais remo-tas torna-se necessário ir acompanhado por alguém

mais experiente e com o equipamento vital. É aqui que entra o termo “boleia” ou “carona” para o povo do Brasil. E ainda poupas uns trocos em gasoil.

D de dietas. Quem é que nunca viu uma cache en-cravada em algum buraco mais apertado e não lhe chegou por ter o braço gor-do? É aqui que a pessoa se recorda que deve fazer uma dietinha mais forte. Assim, sempre se podem evitar al-guns DNF’s estúpidos!

E de encosta-te. Comecei a ser um atleta regular de bruning desde o Geocoin-Fest. Já o levei à rádio, à televisão, à igreja, a mui-tas praças, ao estrangeiro e lugares por aí. Às vezes também o pratico em cima do mar, mesmo que meta água no nariz. Encosta-te ao duro chão, abre os bra-ços e faz aí um bruning, vá lá.

Geocaching de A a Z

Page 31: Edição 11 - GeoMagazine

GEOMAG.

31

Outu

brO

2014

- ED

IÇÃO

11

F de fonix. Sou um cidadão que não digo asneiras. Em toda a minha vida disse, no máximo, uns 10 fod@[£‰≠ e isso porque foi em situa-ções que mexeram dema-siado comigo. Prefiro o “fo-nix”. Além que não parece mal, ainda recebo a comis-são da operadora móvel.

G de geocoaching. Um dia fui a uma Prova Oral (An-tena 3) e o mestre Alvim insistia muito em “geocoa-ching”. Ora, ele estava longe de imaginar que acabara de criar o termo correto para todos os que fazem logs em casa, confortavelmente no sofá (couch), sem co-nhecer o GZ.

H de hoje. O ontem já era. O amanhã não sabemos se vem. Não é melhor sair hoje e tentar bater um FTF ou vingar um DNF?

I de internet. Porque é esta terrível rede de informa-

ções que nos permite estar em contacto rápido com os amigos de longe, além de nos dar acesso às coorde-nadas das caches mais in-teressantes que desejam uma visita.

J de Já fui muito feliz aqui. No meu tempo, o Geoca-ching levava-me a locais de pura aventura ou de paisa-gens deslumbrantes. Anos mais tarde, quando vou lá em plano de turismo, cos-tumo dizer “já fui muito feliz aqui... com uma cache”.

K de kayak. As minhas ca-ches favoritas são aque-las que são inacessíveis à maior parte do povo. Nor-malmente, meter um bar-quinho destes é sinónimo de uma tarde bem passada, bem molhada e divertida.

L de Love. É o nick de uma Lackey que conheci em Lis-boa e que estimo muito. É também parte do nome do primeiro Mega Evento do norte de Portugal. E signi-fica amor em português. Tudo bons motivos para ser a palavra que destaco.

M de mano. No Geocaching encontramos pessoas boas e pessoas que não são como queremos e que chamamos de más. Entre o grupo das pessoas boas, há algumas com quem nos identificamos mais. E nes-se grupo há aquelas mes-mo “especiais”. Aproveito este espaço para mandar um grande abraço ao meu mano.

N de “nãããããaãããão, outro DNF não!” É daqueles dias em que temos uma pocket com 219 caches progra-madas, tudo coisa rápida e garantia segura de bater

um recorde pessoal qual-quer nesse dia. E vem um DNF. E vem outro. E outro. E outro. É daqueles dias em que acordamos virados para o outro lado e nem um tupperware debaixo de pedras nos salta para as mãos!

O de outros. Na vida pode-mos aprender, mesmo dos outros que dizem ter nada para ensinar. Há sempre algo. Estejamos atentos.

P de Portugal. Aqui nasci há 27 anos. Aqui cresci e aqui fiz grandes amigos. É neste cantinho da Europa que sou muito feliz, onde tudo tem sentido para mim. É em Portugal que estou bem, com noção que há tanto para descobrir. Para quê sair em turismo?

Q de quarta-feira. Na teo-ria, é o meu dia livre da se-mana. O único dia dos 7 em que posso sair para ir atrás de uma cachinha ou qual-quer outra coisa. Na práti-ca, em 3 anos só aproveitei este dia livre cinco vezes no máximo! Mamma mia!

R de ROT 13. Há quem diga que este é o nome do sis-tema de encriptação mais utilizado pelos geocachers. Parece-me que sim.

S de sacarose. Pelo meu dicionário, isto é o mesmo que açúcar. Quem pratica regularmente geocaching pode ver-se com duas si-tuações. 1 - Ter de consu-mir muitos alimentos ricos em sacarose para obter containers. 2 - Queimar muito açúcar nas longas caminhadas para alcançar um smile no mapa.

T de três. Ah? Quê? Diz que este é a terceira vez que há

uma edição da GeoMagazi-ne com o Geocaching de A a Z. As más-línguas dizem que será a última. Eu avisei que havia mais gente inte-ressante a ser convidada...

U de urtiga. Para mim as melhores caches são as que me levam para o meio da montanha, onde os tri-lhos estão quase apagados ou não existem. Ou então quando vou de noite e me perco. É sempre agradável caminhar à deriva, abrir caminho... e apanhar umas simpáticas urtigas nas per-nas.

V de vanglória. O Geoca-ching é uma atividade de tempos livres, sem tabe-las classificativas ou pré-mios. É uma forma de sair de casa, esticar as pernas, respirar um pouco e diver-tir-me com os amigos. Por-que há gente que procura a glória nisto? Quem quer a Glória que veja na lista te-lefónica, vá lá!

X de xerife. Os momentos mais divertidos que tenho na minha pequena história de geocaching são os en-contros de primeiro grau com os xerifes, os polícias. Os mais interessantes fo-ram em Londres, bem pró-ximo do Parlamento, e no Mosteiro dos Jerónimos (Lisboa), em que só faltou meter as mãos atrás da ca-beça. Em todos os casos, tudo ficou bem e os polícias ficaram mais fãs do Geoca-ching.

Z de zaco. É o nome que se dá ao sacerdote budista. Por isso, primo meu ☺

Bruno Gomes

- Team Marretas

Geocaching de A a Z

Page 32: Edição 11 - GeoMagazine

32

GEOMAG.

Page 33: Edição 11 - GeoMagazine

33

GEOMAG.

Page 34: Edição 11 - GeoMagazine

VII Bienal de São Jorge

Por Prodrive e Lusitana Paixão

Page 35: Edição 11 - GeoMagazine
Page 36: Edição 11 - GeoMagazine

GEOMAG.

36

OutubrO 2014 - EDIÇÃO 11

A Ilha de São Jorge aco-lheu, entre os dias 16 e 19 de Outubro de 2014, a VII Bienal do Turismo em Es-paço Rural. Este evento foi organizado pelo Gover-no Regional dos Açores, em parceria com as Casas Açorianas, Associação de Turismo em Espaço Rural.

Um encontro orientado à reflexão e ao debate, cen-trado na temática do de-senvolvimento sustentável do turismo numa região com um potencial de in-questionável valor, ca-paz de marcar a diferença pela valorização dos seus inesgotáveis recursos na-turais e pelo empreen-dedorismo de uma nova geração de profissionais movidos por uma extraor-dinária dinâmica criativa.

A partilha de ideias, de ce-nários e de projetos em tor-no do Turismo em Espaço Rural e de múltiplas ativi-dades complementares fo-ram o foco principal desta Bienal, onde o Geocaching esteve em destaque ao lon-go de vários painéis como um atrativo de fortíssimo potencial no contexto do ecoturismo nos Açores.

A sessão de abertura do Evento foi presidida pelo Senhor Secretário Regional do Turismo e dos Trans-portes, com presença do Senhor Presidente da Câ-mara Municipal das Velas e do Senhor Presidente das Casas Açorianas, Gilber-to Vieira, que no seu dis-curso destacou o Turismo Rural como “uma realida-de incontornável nos Aço-res, com base sustentável e altamente apelativo”.

O Evento contou com a pre-sença de especialistas re-gionais, nacionais e estran-geiros, oriundos das mais diversas áreas de especia-lização ligadas ao Turismo.

O painel subordinado ao tema “Turismo e Desen-volvimento” destacou o aparecimento de novos produtos e oportunida-des cujo contributo se afigura decisivo para o enriquecimento e diversi-ficação da oferta turística:

• Bird Watching: Azucena De La Cruz, técnica do Projeto LIFE Terras do Priolo –SPEA- Açores, explanou com entusias-mo e clareza o enorme potencial da Observa-ção de Aves nas Ilhas Açorianas, atividade que move milhares de especialistas, curiosos e amantes da modalidade e que tem cativado um crescente número de visitantes com um perfil altamente enquadrado na oferta do Turismo em Espaço Rural, com especial destaque para a Ilha do Corvo.

• Canyoning: O Dr. Fran-cisco Silva da Associa-ção de Desportos de Aventura e Desnível, desmistificou esta mo-dalidade muitas vezes encarada como um desporto de elite reser-vado a especialistas de elevadas competências físicas e técnicas. Esta atividade revela hoje um potencial crescente, acessível a principiantes desde que devidamente enquadrado e moni-torizado. As Ilhas de São Jorge e das Flores estiveram no centro das atenções como verda-deiros paraísos para a prática do Canyoning.

• Mergulho (tubarões): O Dr. Tiago Castro, gerente da empresa Dive Azores, numa apresentação assertiva e irreverente, lançou um

forte apelo à plateia no sentido dos profissio-nais de oferta turística arriscarem mais, avan-çarem com confiança e determinação no caminho a trilhar para que os Açores conquis-tem o lugar de excelên-cia que merecem, no panorama internacional dos melhores e mais diversificados destinos turísticos do mundo.

• Geocaching: O Dr. Nuno Fonseca da Associação Amigos dos Açores, dedicou em pleno o seu painel ao Geocaching como oferta de excelên-cia para atrair visitantes nacionais e estrangeiros por trilhos insulares menos convencionais, roteiros mais próximos da Natureza no seu estado bruto, mas tam-bém como ferramenta ímpar para a divulga-ção do património, das tradições e das raízes Açorianas. Uma apre-sentação muito com-pleta e brilhantemente ilustrada que culminou com um vídeo sobre Earthcaching suba-quático absolutamente tentador!

• Grande Trilho Santa Maria: Nélson Braga Moura e Hélvio José Luz Braga, praticantes de pedestrianismo, observação de aves e Geocaching, marcaram presença em represen-tação da equipa res-ponsável pelo projeto Grande Trilho de Santa Maria. Os oradores brindaram a plateia com o painel provavelmente mais fresco e entusias-ta da tarde! Totalmente focado no extraordiná-rio potencial natural da Ilha de Santa Maria, o Grande Trilho, em fase

de homologação, está a um passo de tornar-se a segunda Grande Rota oficial de todo o arquipélago. Um desafio ambicioso e abrangen-te, que envolve sólidas parcerias com operado-ras turísticas e gestores de espaços de Turismo Rural.

• Rota dos 10 vulcões no Faial – O Enge-nheiro Pedro Casimiro, coordenador do Jardim Botânico do Faial, está ativamente envolvido na gestão das áreas naturais do Parque Natural do Faial. Espe-cialista em pedestria-nismo, Pedro Casimiro focou a sua intervenção na Rota dos 10 vulcões no Faial, uma das mais apetecíveis e singu-lares caminhadas do mundo, que liga vários segmentos de trilhos, nomeadamente o perímetro da Caldeira – Levadas | Praia do Norte e Capelo | Capelinhos, totalizando 25 Km de elevada dificuldade. Os suportes audiovisuais utilizados durante esta apresentação impuse-ram claramente a Ilha do Faial como uma das 7 maravilhas naturais contemporâneas, à es-cala intercontinental!

Entre muitas outras inter-venções de inegável qua-lidade e interesse, estes foram os painéis que re-tiveram a nossa atenção como focos de elevada potencialidade para le-var os geocachers à des-coberta dos Açores. Um arquipélago que dia após dia ganha mais projeção e que vem claramente a destacar-se como destino de luxo para o Geocaching de Natureza e Aventura!

Page 37: Edição 11 - GeoMagazine

3737

GEOMAG.

Page 38: Edição 11 - GeoMagazine

GEOMAG.

38

OutubrO 2014 - EDIÇÃO 11

Este certame que até aqui ocorreu a cada dois anos, passará a partir de agora a ter uma periodicidade anual e mudará a sua designa-ção para Azores Nature.

Foi com especial entusias-mo e com um sentimento de profundo orgulho que o Geopt aceitou o convi-te da Direção Regional de Turismo dos Açores para integrar esta VI Bienal do Turismo Rural, na qualida-de de agentes de Comuni-cação e Divulgação. Uma experiência muitíssimo enriquecedora que coloca o nosso Portal de Geoca-ching e Aventura num pa-tamar de destaque, como instrumento privilegiado de divulgação dos destinos de sonho para a prática de Geocaching integrado no

Ecoturismo. O nosso pro-fundo agradecimento à Di-reção Regional de Turismo dos Açores pelo convite, em particular à Dra. Lúcia Marcos pelo profissionalis-mo, pelo apoio logístico e pela hospitalidade com que nos acolheu em São Jorge. Muito obrigada também à Dª. Fátima, proprietária da magnífica Quinta das Fi-gueiras – Turismo Rural, onde ficamos comodamen-te alojados num cenário de sonho e onde nos senti-mos totalmente em casa.

Momento extra-Bienal: por detrás do cenário…

A nossa participação na Bienal foi também, de for-ma inequívoca, uma ex-traordinária oportunidade para descobrir ou redesco-brir a encantadora Ilha de

São Jorge, e consolidar la-ços com amigos por quem nutrimos particular afeto.

O Nuno Fonseca (netuseraz) e o Pedro Silva (TeamJorgen-ses) são já parte integrante da família Geopt. Pessoas dedicadas e empenhadas, com posturas exempla-res como geocachers mas principalmente como seres humanos de uma gene-rosidade ímpar. Obrigada a ambos pela disponibili-dade, pela boa disposição, pelo companheirismo, pelos momentos de partilha e por uma convivência genuína que faz tudo valer a pena. O Farol de Rosais, a Reser-va Florestal do Recreio das 7 Fontes, a Ponta do Topo, o Morro das Velas e o Mor-ro de Lemos, bem como o Trilho da Caldeira de Santo

Cristo, foram apenas alguns dos locais que nos deixaram maravilhados e rendidos aos encantos de São Jorge.

Um bem-haja aos organiza-dores e a todos os partici-pantes da Bienal, a todos os amigos e a todas as pessoas que de uma ou outra forma tocaram as nossas vidas durante este memorável fim de semana, tornan-do esta experiência ines-quecível e compensadora.

Até uma próxi-ma oportunidade!

Gustavo Vidal

- Prodrive

Flora Cardoso

- Lusitana Paixão

Fotografia: Nuno Fonseca | Gus-

tavo Vidal | Flora Cardoso

Page 39: Edição 11 - GeoMagazine

GEOMAG.

39

Outu

brO

2014

- ED

IÇÃO

11

39

Page 40: Edição 11 - GeoMagazine

40

GEOMAG.

Em qualquer desporto, jogo ou actividade, é normal que se tentem nomear os melhores, aqueles que se destacam entre os demais. Sejam os melhores momen-tos, os melhores atletas, faz parte da natureza humana procurar reconhecer aqui-lo que se destaca entre os seus pares.

Também o Geocaching não é excepção. Depois de algu-mas tentativas, por parte de vários geocachers, no seio da comunidade, ao longo dos anos, da criação de uma iniciativa que reconhecesse e premiasse as melhores caches que, nas mais varia-das categorias, surgiam no

panorama nacional, eis que a ideia ganhou forma com o aparecimento dos Prémios GPS em 2011. Se na pri-meira edição visou eleger as melhores caches publicadas na década anterior, poste-riormente passou a ser uma iniciativa anual, que procura todos os anos apurar a me-lhor cache do ano anterior a nível nacional, bem como a melhor cache de cada um dos distritos de Portugal Continental e Regiões Autó-nomas.

Se em 2013, a cache reco-nhecida como a Melhor de 2012 pela comunidade que votou na inicativa foi a GPN - Secret Agency by Gang

Pata Negra (GC3H21B) este ano foi a Hansel and Gretel e a Casa de Chocolate by Falkon Eye (GC468WD) a ser eleita a Vencedora Anual dos Prémios GPS 2013.

Assim e ainda no rescal-do desta última edição dos Prémios GPS, resolvemos colocar, frente a frente, nesta edição da Geomaga-zine, os owners destas duas caches, vencedoras das úl-timas edições dos Prémios GPS.

De um lado, Falkon Eye, nick pelo qual é conhecido Gilberto Ferreira: geoca-cher de 38 anos, registado desde Abril de 2012, e que conta com quase 900 fou-

nds e 3 caches escondidas por si, sendo o owner da cache Vencedora da edição do Prémios GPS deste ano, cache essa que pode ser encontrada no distrito de Leiria.

Frente a Frente, estará o Gang da Pata Negra. Este é o nickname de um gru-po de geocachers que sur-giu em Setembro de 2011 numa cachada nocturna à Letterbox Prision Break (GC2V5G5). Inicialmente composto por pika7, An-dre&Telmo, TZR, Républica dos P´s e CT27, este grupo tem crescido e conta neste momento com outros geo-cachers na sua composi-

Page 41: Edição 11 - GeoMagazine

41

GEOMAG.

ção: Dupla de Peso, Fox14, Kakau team, PopCorn team, EfBento, SemRasto e Por-cas&Parafusos. Para além de responsável pela Vence-dora Nacional dos Prémios GPS 2012, que se encon-tra no distrito de Lisboa, no concelho de Torres Vedras, o Gang é também o owner de mais 13 caches tradicionais. Um “grupo forte e coeso, mas acima de tudo preparado para a aventura”, como eles pró-prios se definem, que para além de ser responsável pela criação e manutenção das suas caches, é também um grupo de geocachers que vive em conjunto as mais variadas aventuras de geocaching.

De um lado, os owners de uma cache que nos faz as-sumir o papel de Agente Es-pecial, como nos lembrava o texto original da Letterbox: ‘’Agente Secreto Especial, o teu nome de código é GC007! Se chegaste aqui é porque passaste em todos as provas e treinos da Agência Secreta GPN e foste destacado para esta tua primeira missão no terreno. A partir daqui serás um de nós, não aceitamos de-sistências nem falhas, apenas sucesso na missão…’’

Por outro lado, o geocacher que nos faz sentir parte de um conto de fadas, no qual o destino das crianças está completamente dependente

do nosso found: “Entra nas masmorras, quebra o feitiço do local onde estão as crian-ças e salva-as do seu destino cruel…”

Como surgiu cada uma des-tas caches? Quais são as semelhanças e diferenças entre elas? Será na opinião destes geocachers, o tipo de cache um factor importante para uma cache se eviden-ciar nos prémios GPS? Qual destes owners nos reserva novas surpresas no que se refere a caches, e qual deles resolveu dedicar-se mais à sua vertente de “finder”?

Fique a conhecer as respos-tas a estas e muitas outras

questões, já de seguida, Frente a Frente!

Tanto a GPN – Secret Agen-cy, como a Hansel and Gre-tel e a Casa de Chocolate foram vencedoras dos Pré-mios GPS do seu ano, o que significa que a comunidade que votou nesta iniciativa as reconheceu como a me-lhor cache do ano em que foram publicadas. O que significa para vocês este reconhecimento? Quais as razões que atribuem à sua eleição?

Falkon Eye: Tanto a GPN, que tive o prazer de visitar no ano da sua nomeação como vencedora nacional, como a Hansel and Gretel,

Page 42: Edição 11 - GeoMagazine

GEOMAG.

42

OutubrO 2014 - EDIÇÃO 11

são caches que despendem de muito tempo para que tudo esteja em condições de receber todos quantos as visitam. Estas votações por parte da comunidade geocachiana, reconhecem isso mesmo. O esforço e a dedicação que vêm de nos-sa parte como owners para que os geocachers possam ter uma experiência única e diferente.

O espirito de aventura, o de entrarmos como prota-gonistas da própria histó-ria, estarmos incumbidos de uma missão, são fortes razões para que caches do género sejam eleitas!

Gang da Pata Negra: Este reconhecimento significa acima de tudo um motivo de orgulho por todos ve-rem reconhecido o nosso trabalho, empregue neste projeto. Pensamos que as razões que atribuímos para a sua eleição são a imagi-nação, criatividade e di-mensão que esta letterbox tomou no panorama nacio-nal do geocaching. Todos os logs demonstravam na generalidade a admiração pelo cuidado e carinho em-pregues na GPN – Secret Agency.

Falemos então dos Pré-mios GPS. Quais são, na vossa opinião, as condi-ções necessárias a uma cache para ser a vencedora dos prémios GPS?

Falkon Eye: Para se ser uma cache vencedora, na minha opinião, ela tem de prender a atenção do geo-cacher logo no começo da Listing. É aí onde tudo co-meça...

Listings apelativas, bem formadas, histórias cati-

vantes, que leve o geoca-cher logo de inicio a entrar no papel como protagonis-ta principal.

Depois vem a parte dos containers físicos ou esco-lha de local.

Containers bem elabora-dos, em que o geocacher interage com o mesmo, seja na resolução de um enigma ou algum outro de-safio.

O local também é impor-tante, embora ache que se consiga o fator WOW, mes-mo em cenários menos deslumbrantes, pois nem em todo o lado podemos ter as magnificentes vistas sobre o mar, serra ou cida-de.

Nestes casos compensa-se na elaboração de con-tainers diferentes, invulga-res!!

Se conseguirmos reunir isto tudo, decerto teremos uma cache vencedora!

Gang da Pata Negra: Pen-samos que para a geoca-che ser reconhecida antes de ser vencedora, terá de juntar vários condimen-tos para ser apreciada por quem a procura, pois o geocacher que aprecia qualidade acima de quan-tidade gosta de uma cache que torne o momento dife-rente e único para ser re-cordado... Para ser vence-dora, além de reconhecida tem de ter várias visitas ao longo do ano e aí os lobbys são importantes, mas pen-samos que os projetos têm de manter a qualidade com o passar do tempo: as ma-nutenções são muito im-portantes para todos en-contrarem a geocache nas suas melhores condições!

A GPN – Secret Agency é uma Letterbox Híbrida, en-quanto a Hansel and Gre-tel e a Casa de Chocolate é uma geocache tradicional. Consideram que o tipo de cache é um factor impor-tante para uma cache se evidenciar nos prémios GPS?

Falkon Eye: É certo que a tipologia da cache tem muito em conta. Uma letter ou mistério criam um maior impacto que as restantes, ainda por mais se bem ela-boradas. Mas há casos e casos...

Criar uma letter, por exem-plo, comparativamente a uma tradicional, requer mais dedicação, mais pes-quisa, mais horas de traba-lho no terreno.

Sendo bem estruturada, bem planeada, merece sem dúvida evidenciar-se nos prémios GPS. Assim acon-teceu com a GPN.

A Hansel and Gretel está como tradicional, mas não tão tradicional assim, pois alberga muitos pormeno-res, muitos detalhes que despenderam muito tempo para uma “simples” catego-ria!

Ao fim ao cabo, tudo se re-sume ao seguinte: Se hou-ver paixão naquilo que se cria, e conseguires provo-car nas pessoas determi-nado tipo de emoções, um momento inesquecível que seja, então não importa se é tradicional, multi, misté-rio, letter... Qualquer uma pode destacar-se acima de todas as outras!!! Qualquer uma pode ser vencedora!!

Gang da Pata Negra: Não, achamos que independen-temente do tipo de geo-

cache o importante será a experiência empregue em cada aventura!

Concordam com a opinião de que esta iniciativa veio potenciar o aparecimento de mais caches de quali-dade?

Falkon Eye: O facto de po-der ter uma cache a figurar entre as melhores do país, com o poder de destaque dado por esta iniciativa, é obviamente uma mais-va-lia e incita para que se crie com mais qualidade. É uma excelente “ferramenta” de motivação, por assim dizer.

Claro que existem muitos que elaboram caches dife-rentes, com containers in-vulgares simplesmente na forma de desafio pessoal, o prazer de criar algo...

Felizmente, existe já um número considerável de geocachers que primam pela qualidade e que nos tem apresentado caches fantásticas, onde se de-nota o empenho por parte dos owners.

Gang da Pata Negra: Sim, é notório, pois ano após ano é mais difícil escolher as melhores experiências de geocaching oferecidas por quem se esmera a criar boas caches.

No entanto, existe tam-bém quem afirme que os Prémios GPS vieram dar um destaque especial a algumas caches, tornan-do-as o alvo apetecível da inveja de geocachers mais competitivos, originando situações mais frequentes de vandalismo e desapa-recimento de containers nessas mesmas caches. Concordam com esta afir-mação, ou consideram

Page 43: Edição 11 - GeoMagazine
Page 44: Edição 11 - GeoMagazine

que tal situação é inevitá-vel numa atividade vivida em comunidade, não se encontrando de todo rela-cionada com a visibilidade dada pela iniciativa a essas caches?

Falkon Eye: Relativamente a esta questão, não acredito que o vandalismo seja origi-nado pelo maior ou menor destaque dado a uma de-terminada cache.

Já me deparei muitas vezes com containers simples, sem elemento algum que a fizesse destacar de outras, completamente destruídas, onde muitas vezes dá para reparar que foi maldade e não a “falta de jeito”...

O que deve evoluir neste contexto é o respeito como pessoa para com os outros.

Respeito pela dedicação que cada um de nós entre-ga de forma altruísta a esta atividade.

Gang da Pata Negra: Não, a massificação do geocaching é a principal razão para es-sas situações.

E como geocachers, os Prémios GPS vieram alte-rar a vossa forma de fazer geocaching? Por exemplo, quando organizam uma ca-chada, valorizam a procura de caches nomeadas dos Prémios GPS?

Falkon Eye: Sempre tive a minha forma, o meu jeito de praticar esta atividade.

Obviamente que a maneira como encaro o Geocaching atualmente mudou con-

sideravelmente tendo em conta os meus inícios.

Sou mais seletivo e dou muito mais valor à forma como me é proposto des-cobrir determinada cache, dando principal destaque à aventura e ao desafio.

A iniciativa dos prémios GPS veio ajudar a formar essa minha seleção.

Caches nomeadas, assim o são por determinado ele-mento, determinado fator que as faz destacar das res-tantes.

Esse é um excelente ponto de partida para a prática de um geocaching de qualida-de.

Sempre que me é possível, ou que me desloque para determinada região, faço

questão de incluir na mi-nha demanda caches com o “selo” de qualidade, atribuí-do por esta iniciativa...

Gang da Pata Negra: Sim, temos a garantia que são caches de qualidade com o reconhecimento da comu-nidade de geocachers em Portugal.

Falemos agora das vossas caches. Como surgiu a ideia para a vossa cache?

Falkon Eye: A cache “ Hansel and Gretel e a Casa de Choco-late” foi um projeto faseado que só terminou na desco-berta do local onde atual-mente se encontra.

Tudo começou, quando em género de desafio pessoal, criei uma puzzle box, uma caixa enigmática onde atra-

Page 45: Edição 11 - GeoMagazine

45

GEOMAG.

Page 46: Edição 11 - GeoMagazine

GEOMAG.

46

OutubrO 2014 - EDIÇÃO 11

vés de uma serie de movi-mentos, pretendia-se che-gar ao interior da mesma. Isto foi em Junho de 2012 e longe estava de pensar que viria a fazer parte deste projeto.

Apesar de ter superado as minhas espectativas na construção deste mecanis-mo, visto ser todo cons-truído em madeira, era um container sensível às condi-ções atmosféricas e exigia um abrigo específico onde pudesse estar protegido das intempéries.

Ora, nessa altura, não ti-nha conhecimento de um local que reunisse todas as condições que necessitava para avançar com o projeto da colocação da puzzle box, ficando assim adormecido à espera de uma oportuni-dade.

Alguns meses depois, es-tava descoberto o local que serviria de lar para a puzzle box, associando-o assim ao projeto Hansel and Gretel.

A sua descoberta foi fruto do acaso, quando em con-versa com uma familiar minha, ela me indicou este local.

Apressadamente corri ao local e logo ali encontrei grande potencial para aqui-lo que necessitava.

Fiquei impressionado com o belo trilho que ali existia e toda a calma e tranquilida-de envolvente.

Sem mais demoras, come-cei a explorar todo aquele recanto, e quanto mais me embrenhava naquela flo-resta mais fascinado ficava.

Mas todo esse entusiasmo acabaria por desvanecer, pois não havia encontrado

local apropriado para a co-locação da puzzle box.

O local era fantástico mas infelizmente não servia o meu propósito, e mais uma vez ficou em lista de espe-ra.

Algum tempo mais tarde, foi em frente ao ecrã que tudo se revelou.

Sendo um apaixonado por cinema, estava a ver as novidades da sétima arte, sendo uma delas o filme Hansel and Gretel. Neste momento fez-se luz, e ra-pidamente na minha mente tudo começou a ligar-se.

Amante de histórias e con-tos, encontrei aqui o guião perfeito para recriar uma história e ao mesmo tem-po integrar os geocachers como protagonistas desta aventura. Associei imedia-tamente a história ao local que semanas antes havia visitado.

O trilho sinuoso, a clareira, a densidade da floresta. Tudo encaixava na perfeição.

Seria com a recriação da história, ao mais ínfimo pormenor, que teria o con-tainer necessário para al-bergar a puzzle box.

A construção da Casa de Chocolate era o elemento fulcral de todo este enredo. Algum tempo depois, nas-cia assim a cache Hansel and Gretel e a Casa de Cho-colate.

Gang da Pata Negra: O Gang da Pata Negra para quem não sabe nasceu e cresceu sob a bênção de duas letterbox´s nocturnas, logo somos amantes deste tipo de caches e tudo o que mete aventura e adrenalina

noite dentro, nós estamos lá…

A partir daí até surgir a ideia de criar a nossa pró-pria aventura nocturna sob o formato de letterbox foi um ápice. Numa das nossas reuniões semanais come-çámos a alinhavar ideias e foi proposto cada um dos teams apresentar um local que fosse propicio ao de-senrolar de uma caminha-da, aventura e história, em que tínhamos de reunir fo-tografias para depois votar na melhor opção.

Qualquer pessoa que faça estas vossas caches, fa-cilmente percebe que in-vestiram tempo e dinheiro na sua criação. Para além disso, e analisando os con-tainers destas duas ca-ches, qualquer geocacher depreende que este in-vestimento continua a ser necessário na sua manu-tenção. Quanto custa, em termos monetários e de tempo, criar e manter uma cache como as vossas?

Falkon Eye: Quando ideali-zei inicialmente o container para a Hansel and Gretel, estava longe de imaginar o resultado final. A verdade é que, à medida que ia cons-truindo, iam surgindo ideias novas, e acabava por seguir um caminho diferente na sua execução. Isto sempre assim até ao final.

Claro que tudo isso tradu-ziu-se em mais tempo des-pendido e mais dinheiro a sumir da conta... Algo que podia ter levado mês/mês e meio a concluir acabou por levar entre dois e meio a três meses. Lembro-me de perder imenso tempo a procurar meros acessórios para decoração.

Era capaz de correr 3 a 4 lo-jas e em cidades diferentes, só para tentar encontrar aquilo que tinha em mente. Nem sempre foi fácil e vá-rias vezes tive de desistir e optar por novas soluções.

Mas ainda hoje, se estou em algum lado e encontre algo que se ajuste à histó-ria e que possa incorporar na Hansel, não penso duas vezes, e acabo por trazer. E aqui, de volta ao mesmo... “ Mais artigo, menos dinheiro (risos)”

No geral, posso dizer que a construção de um container como a Casa de Chocolate, da forma como está execu-tada, rondará sempre entre os 100 a 200€...

Isto sem contar com a fatu-ra da EDP ao final de cada mês... AHAHAHAHAHAH

Gang da Pata Negra: As ho-ras são incontáveis, chegou a ser necessário fazer ma-nutenção várias vezes por semana e sempre de noite. O investimento monetário é difícil de contabilizar, pois foi feito constantemente e progressivamente. Apesar de sermos 20 membros o valor investido por cada um de nós foi considerável.

Outra coisa que a história destas duas caches tem em comum foi o facto de quase terem sido arqui-vadas. O que vos fez optar por reativar a cache em vez de recorrerem ao seu ar-quivamento?

Falkon Eye: Esse foi de fato um momento negro na his-tória desta cache.

Foi no início de Feverei-ro, quando os geocachers J.Greg, Falopes, ZeSampa e muggle Anaïs, me ligaram a dizer que andavam a fazer

Page 47: Edição 11 - GeoMagazine

GEOMAG.

47

Outu

brO

2014

- ED

IÇÃO

11

a cache Hansel and Gretel mas que não davam com o container.

Quando me disseram que não davam com o container, na minha mente a primeira coisa foi: “O quê?!! Mas isso vê-se a kms!!!!!”.

Pensava assim, pois não queria mentalizar-me do possível desaparecimen-to da casinha. Mas as más notícias confirmavam-se e o container tinha mesmo desaparecido. Só deixaram o local, pois esse não dava para remover. Fiquei bas-tante desiludido na altura, revoltado mesmo.

Naquele momento, para mim, não fazia sentido querer continuar com aqui-lo e o arquivamento pa-recia, para mim, a melhor decisão. Mas depois algo aconteceu. Mensagens de apoio e também de revolta pelo sucedido iam surgindo a toda a hora.

Amigos, conhecidos, não conhecidos pediam para não desistir, outros lamen-tavam o facto de não terem tido a oportunidade de a

fazer. Eram mensagens de todo o tipo que iam surgin-do, e que a pouco e pouco iam toldando a minha men-te, e quando dei por ela, a opção do arquivamento não tinha sido mais que um mero pensamento que des-vaneceu no ar.

Foi uma comunidade forte e unida que criou a motiva-ção para continuar e dessa forma contribuíram para o nascimento da nova versão da Hansel and Gretel.

Gang da Pata Negra: Optá-mos por reactivar a cache por todas as mensagens de apoio de todas as pessoas que fizeram e/ou queriam fazer a cache, por muito di-fícil que tenha sido recons-truir praticamente do zero.

Algum conselho a quem procure inspiração nas vossas caches?

Falkon Eye: O único conse-lho que poderei dar é o se-guinte:

Ninguém precisa de ser perfeito na elaboração de containers para criar um momento inesquecível!!!

Dá o teu melhor. Dá de ti aquilo que gostarias para ti e sê o autor do livro “ Os mais belos momentos” de cada um de nós.

São esses os verdadeiros tesouros... memórias que perduram para sempre!!

Gang da Pata Negra: O que podemos dizer a quem pre-tende criar algo diferente e trabalhoso é que grande parte da dificuldade está na manutenção e não na criação da cache, algo que o geocacher deve ter em con-ta antes de iniciar qualquer projecto.

Por fim, e perante duas ca-ches que actualmente con-tam com mais de 200 pon-tos de favoritos (que por sua vez, correspondem a um rácio de favoritos/visi-tas de Premium members superior a 80%) coloca-se a inevitável questão: Que novos projectos podemos esperar?

Falkon Eye: Existem vários projetos em mente atual-mente, mas sendo grandes devoradores de tempo, tem sido complicado avançar

com os mesmos, mas exis-te um em particular que me está a criar uma ansiedade enorme em avançar muito em breve.

Levantando um pouquinho o véu, digamos que iremos “viajar” até aos tempos do antigo Egipto.

Será uma letter que vos le-vará numa aventura ines-quecível, onde a perspicácia e o engenho serão elemen-tos fundamentais para levar a cabo esta história de faraós. Se gostaram da Hansel irão amar o que ai virá...

Gang da Pata Negra: Nes-te momento não existem novos projectos em mente. Tendo em conta que cada vez temos menos tempo li-vre para a actividade optá-mos por o aproveitar para sermos apenas “finders”.

Bruno Gomes

- Team Marretas

Fotos cedidas gentilmente pelos

entrevistados

47

Page 48: Edição 11 - GeoMagazine

48

GEOMAG.

Muito se tem falado e escrito ultimamente sobre o “Geoca-ching de antigamente”, em es-pecial nas redes sociais.

E sabem que mais? Antigamen-te é que era!

Antigamente existiam poucas caches e esperava-se sema-nas pelo aparecimento de uma nova; tínhamos sorte se exis-tissem 2 ou 3 caches num raio de 5 km da nossa casa; muitas das vezes em que visitávamos uma cache recebíamos uma mensagem de agradecimento

do seu criador; a grande maioria das caches tinham contentores de tamanho regular e uma boa dose de prendinhas para os miúdos que as visitavam, mas normalmente tentava-se sem-pre deixar uma prenda tão ou mais digna do que a que se reti-rava; muitos geocachers anda-vam com um conjunto de ma-teriais para fazer a manutenção de alguma cache necessitada que lhes surgisse pela frente; organizavam-se eventos e ca-çadas em grupo com pessoas até aí desconhecidas e que ain-

da hoje apelidamos orgulhosa-mente de amigos...

Antigamente é que era...

Antigamente havia quem vives-se esta actividade com muita dedicação e orgulho, tal como hoje; mas também havia quem lhe dedicasse pouco tempo e atenção, tal como hoje...

Antigamente havia quem se preocupasse em saborear a fundo cada aventura e quiló-metros percorrido sem pensar nos números, tal como hoje; mas também havia quem as

preferisse simples e “rapidi-nhas”, tal como hoje...

Antigamente havia quem pre-parasse uma cache, o conten-tor, a sua página e local durante meses, de forma meticulosa, inovadora e exigente, tal como hoje; e também havia quem as “plantasse” só porque sim, tal como hoje...

O Geocaching de antigamente é o mesmo Geocaching de hoje (salvaguardando obviamente a diferença avassaladora dos números). Cada um vive esta

Opinião

Geocaching de Antigamente

Por Bargão Henriques

Page 49: Edição 11 - GeoMagazine

49

GEOMAG.

actividade da forma que gosta, intensa ou esporádica, criativa ou indiferente, exigente ou pas-sageira...

Para que o Geocaching cresça saudável e com futuro basta que cada um o viva com espírito salutar de partilha e entreajuda, respeitando as poucas regras e os outros da mesma forma que gosta de ser respeitado.

No que me diz respeito, “trope-cei” no Geocaching há 11 anos num mero acaso ao navegar

pela internet. Achei-o uma ideia interessante e simultaneamen-te intrigante, “como seria pos-sível existirem tesouros escon-didos bem debaixo dos nossos olhos?”

Lancei-me de cabeça na busca de uma cache que diziam existir aqui bem perto de casa. Por ser uma coisa nova para mim e por causa de alguns DNF regista-dos, e ainda por cima por estar escondida nos Olivais (quem conhecer a fama que os Olivais tinham há umas décadas com-preenderá), “é claro que não

estava lá e tinha sido roubada!” Ou seja, estreei-me logo da pior maneira com um “needs archi-ved”! Mas a “salvação” tam-bém chegou de forma muito célere, uma vez que fui quase imediatamente contactado por um dos geocachers que sempre se preocuparam com esta acti-vidade e que me explicou que “se calhar a cache está lá”, que “não convém partir logo para o “needs archived” sem saber-mos com certeza se desapare-ceu”, etc... Mas que vergonha!

Como a melhor forma de corri-

gir quem está errado é ensinan-do-o a fazer bem, fui convidado a participar na visita a uma cache com um pequeno grupo, uma semana depois. Entre ou-tros, nesse grupo estava preci-samente o criador da cache que eu tinha pedido para arquivar! Vencida a vergonha foi tem-po de sentir pela primeira vez, como uma epifania, o espírito do Geocaching: a descoberta de um tesouro cuidadosamente preparado para exclusivo delei-te dos seus visitantes, coroada pela camaradagem e altruísmo

Page 50: Edição 11 - GeoMagazine

GEOMAG.

50

OutubrO 2014 - EDIÇÃO 11

de uma série de estranhos com quem partilhei aquela aventura.

Nos meses e nos anos que se seguiram tive o prazer de usu-fruir com frequência da com-panhia destes e de inúmeros novos companheiros em aven-turas singulares: participei em diversos eventos animadíssi-mos; numa despedida de sol-teiro pela noite fora; fui presen-teado com a colocação de uma cache à porta da maternidade propositadamente publicada no dia em que o meu filho mais novo saiu para casa depois de nascer; desenvolvi intercâm-bios com o Alasca, a Alemanha, a Namíbia e a Austrália; fiz pas-seios de BTT e longas caminha-das pela montanha movido pelo sabor da busca de uma única

cache entre amigos; conheci os meus limites, a dimensão das minhas forças e fraquezas, e partilhei-os no momento certo, da forma certa e com as pes-soas certas; desenvolvi laços de amizade com pessoas que se tornaram lendárias e a quem devo imenso mas que nada pe-dem em troca... Tantas vivên-cias insubstituíveis e que não têm preço!

Mas nestes 11 anos também vivi esta actividade com espíri-to e ritmos muito variados: de forma eufórica ou quase apáti-ca; criei caches de Norte a Sul do país e acabei por doá-las quase todas para adoção; vivi aventuras sozinho, com bebés às costas, com o meu impagá-vel parceiro do Gang da Hora do

Almoço, com os insubstituíveis

companheiros dos Expedicio-

nários ou em grupos mais nu-

merosos.

Nos últimos tempos o meu rit-

mo tem sido muito mais calmo,

quase dormente. Emprestei há

uns dois ou três anos o meu

GPSr a quem melhor uso faz

dele, mas continuo a não dis-

pensar a companhia dos mes-

mos amigos para uma ou outra

caçada ocasional ou para as ex-

pedições à serra.

É certo que sinto alguma di-

ficuldade em acompanhar as

tendências actuais, não sei nem

tenho muita curiosidade em

saber o que são quase metade

dos actuais tipos de caches, a

dimensão dos números faz-me

confusão e deixei se saber es-

colher uma boa cache para pro-

curar... Mas o mais importante

é que continuo a ter antigos e

novos amigos sempre prontos

a incentivar-me e a ajudar-me

a sentir de novo “o gostinho”, o

que não posso deixar de enalte-

cer e agradecer!

Então e agora? O futuro está

nas minhas e nas vossas mãos

e, se assim o desejarmos, po-

derá passar por viver o Geo-

caching com o mesmo espírito

que foi vivido nos primeiros

anos. Porque, afinal... Antiga-

mente é que era!!!

Paulo Henriques

- bargão henriques

50

Page 51: Edição 11 - GeoMagazine

51

GEOMAG.

Page 52: Edição 11 - GeoMagazine
Page 53: Edição 11 - GeoMagazine

Uma viagem pelaBarragem do Alqueva

Por GeoLeo

Page 54: Edição 11 - GeoMagazine

54

GEOMAG.

Pelo terceiro ano conse-cutivo que vou passar um fim-de-semana à barra-gem do Alqueva. A Barra-gem de Alqueva é a maior barragem Portuguesa e da Europa Ocidental, si-tuada no rio Guadiana, no Alentejo interior, perto da aldeia de Alqueva. A sua construção permitiu a cria-ção do maior reservatório artificial de água da Euro-pa. Com o subir das águas as depressões foram en-golidas e as colinas trans-formaram-se em ilhas.

O objetivo tem sido per-noitar numa dessas ilhas e desfrutar da calma sere-na de uma nova paisagem alagada de vida e à noite o céu do Alqueva merece ser intensamente observado.

A majestosa profusão de planetas brilhantes, cons-telações de rara beleza e rios de estrelas que a au-sência de poluição lumino-

sa nos permite observar, é sem dúvida um pleno de emoções. Junto a este su-blime lago, o único som é produzido pelos pássaros, criando uma atmosfera de tranquilidade propícia à contemplação e fruição das estrelas. Um convite a preguiçar em plena co-munhão com a natureza.

No primeiro ano juntamo-nos quatro aventureiros, eu o meu filho Ricardo o Carlos um amigo muggle e os meus sobrinhos João e Tiago. Neste ano pensa-mos numa visita há cache O Náufrago Alentejano [Alqueva] do team Touper-dido & Limão (GC2DXQ5).

Como não sabíamos bem ao que íamos, preparamos tudo com antecedência para que nada corresse mal e começo desde logo pelo trajeto de terra firme para a ilha. Visto que as nossas canoas são insufláveis e

com a carga que levávamos para passar a noite na ilha, neste ano achamos que o trajeto não podia ser muito longo, porque estas canoas tem uma maior resistência à água. Depois de muito observar no GE, as hipó-teses, seriam ou começar na Aldeia da Luz, mas ai seriam 12km e a tarefa pa-recia demasiada e longa. Tendo também em conta que não tínhamos muito tempo para fazer o percur-so, dado que a hora pre-vista para iniciarmos a tra-vessia seria por volta das 18 horas. Pensamos então em chegar o mais próxi-mo possível de cachemo-bil. Através da observação no GE e de logs anteriores apercebemo-nos que não dava para chegar ao extre-mo terrestre mais próximo da ilha por causa de umas vedações para cercar o gado bravo e então deci-dimos que o ponto de par-

tida para a travessia seria no início das ditas cercas e com um percurso de cerca de 2Km até à ilha, o que nos pareceu prefeito para o tempo e condições de navegação que tínhamos.

Chegados ao local ainda fi-zemos uma pequena obser-vação, mas quando vimos a manada de gado bravo que se encontrava dentro das cercas ficamos logo convencidos do local onde íamos preparar as coisas para o início da travessia.

Depois das canoas cheias, veio a logística de carregar tendas e todo o que era ne-cessário para passar a noi-te na ilha. Ora com canoas relativamente pequenas e ainda por cima uma de-las com um pequeno furo numa das boias a tarefa não foi fácil, mas como à boa maneira Portuguesa, lá resolvemos o problema e pusemo-nos a caminho.

54

Page 55: Edição 11 - GeoMagazine

55

GEOMAG.

Page 56: Edição 11 - GeoMagazine

56

GEOMAG.

Page 57: Edição 11 - GeoMagazine

57

GEOMAG.

Page 58: Edição 11 - GeoMagazine

GEOMAG.

58

OutubrO 2014 - EDIÇÃO 11

A travessia foi relativa-mente fácil, até porque es-tava um vento moderado pelas costas e ajudou-nos à navegação, mas muitos comentários foram fei-tos, se no outro dia a se-guir estivessem as mes-mas condições, onde é que aquele vento nos poderia levar, mas isso também era coisa para o outro dia.

Chegados à ilha começa-mos por procurar o melhor local para o desembarque e tal não é o nosso espanto que o melhor já estava ocu-pado com dois barcos-casa atracados e ainda por cima só com gajos. Houve então que optar pelo mais lógico, “vamos para o outro lado da ilha, festas destas não são as nossas preferidas”. Aca-bamos por encontrar uma enseada ideal para o de-sembarque e com um local muito bom para acampar.

Depois foi montar as tendas fazer a bela fogueira com todos os cuidados. Não fos-se pegarmos fogo à ilha e depois ainda tínhamos que ir pedir boleia aos outros. Fizemos o petisco, parti-lharmos experiências, co-mungamos com a natureza, bebemos daquela paz (com a ajuda de umas jolas) e para acabarmos a noite em bele-za ainda fomos à procura da magana que apareceu com naturalidade no seu ninho.

Ao amanhecer foi ver o es-plendor daquela paisagem que jamais esqueceremos e que para quem gosta de estar em contacto com a natureza tem ali tudo o que procura para se realizar.

Chegado a hora de par-tir, foi preparar o regresso e ter o cuidado de deixar todo exatamente como estava, para que a nossa presença tivesse o me-nos impacto possível com o local, ainda estávamos a dar as primeiras rema-delas e já estávamos com saudades dos momentos

que ali tínhamos passado.

A navegação de regresso acabou por proporcionar uma bela viagem, porque o vento do dia anterior acal-mou e sendo assim ainda deu para curtir mais com uns mergulhos pelo meio, naquelas águas que têm uma temperatura excelente.

Nesse ano ainda visitámos as caches PROJECTO VG - MONTES ALTOS [ALQUEVA] do Portelada (GC10Q5F), uma cache que nos pro-porciona uma excelente vista para o grande lago.

A O tesouro de Mourão do almeidara (GC2T95C), onde o owner nos dá a conhecer através da listing a histo-ria do castelo de Mourão e a sua relação com as Cida-des de Jerusalém e Malta. A cache encontra-se no Castelo que está em esta-do de degradação, mas com uma vista magnífica para a barragem e Monsaraz.

No segundo ano a convite dos Felinos que queriam comemorar o seu found # 700 e do lgass, organiza-mos um BTC (bigtimeca-ching) para voltarmos à ca-che O Náufrago Alentejano [Alqueva] do team Touper-dido & Limão (GC2DXQ5).

Desafio lançado e publica-do, como sempre, no site BTC e nos fóruns portugue-ses. Mas, ao fim de 17 aven-turas (eventos) diferentes, este BTC não teve inscri-ções (bem, tecnicamente teve uma, mas que depois desistiu…). Zero. Nicles. Quis o “destino” que este fosse o BTC mais intimista de sempre. Com isto acaba-mos por ser oito aventurei-ros. Eu (Geo.leo), R.bap, Fe-linos, lgass, MelPM e mais uma vez o Carlos (muggle).

No dia combinado encon-tramo-nos na Aldeia da Luz e começamos por procurar a ARA - Igreja de Nossa Se-nhora da Luz do i_c_b_b (GC4AYK4) que acabamos

por não a encontrar, mas que nos mostra a Igre-ja reconstruida da antiga Aldeia da luz e à sua fren-te um museu, um edifício moderno, completamente enquadrado na paisagem.

Para que os Felinos fi-cassem com 699 founds, fomos então até ao Cais. Uma estrutura em madeira com um passadiço enorme. Talvez com mais de 1km. Sabíamos que existiam ali três caches. A ARA - Cais da Luz #1 do mesmo ow-ner (GC4AYEQ). Container que ainda deu alguma luta para encontrar, mas depois de um olhar mais atento lá apareceu num local mui-to bonito e que vale bem a pena visitar. A “ARA - Cais da Luz #2” (GC4AYFF). Esta estava a meio caminho. Es-trategicamente colocada na sombra de um chaparro. Com um banco de madei-ra e uma mesa de picnic. Aproveitámos para descan-sar e apreciar a paisagem. A cache apareceu no chão, embrulhada tipo rebuçado. Certamente não estava no seu esconderijo. Sem ma-terial de escrita, e nós com tudo nos cachemobiles a mais de 500 metros, lá ti-vemos que tirar fotografia para registar o log. Alguém ainda sugeriu seguir até ao final do cais, para vermos a paisagem e logarmos a ARA - Cais da Luz #3 (GC4AYH3), mas como estava calor e os felinos com 698 caches, decidimos apanhar a PRO-JECTO VG - MONTES ALTOS [ALQUEVA] (GC10Q5F) para perfazer as 699 e seguirmos para a verdadeira aventura.

Em pouco tempo estáva-mos no local onde inicia-mos os preparativos para a travessia até à ilha. Como este ano tínhamos mais material para transportar aproveitamos uma canoa para o fazer, sendo rebo-cada pelo Carlos e o Ricar-do que tiveram com isto um esforço suplementar.

A travessia fez-se tranqui-lamente, já ao fim da tarde com um sol brilhante e um todo-poderoso espelho de água calmo e tranquilo, pro-porcionando-nos momen-tos inesquecíveis. E assim chegamos à ilha em grupo, onde depois de pararmos as canoas iniciamos os prepa-rativos para montar as ten-das. Escolhemos o local do ano anterior, mas desta vez o mato estava mais den-so, como não viemos pre-venidos com catanas nem enxadas, lá tivemos que improvisar mandando as tendas para cima das ervas mais brandas, entrar nelas e acamar o mais possível.

Com tudo preparado e ar-rumado, por volta das 20 horas, as águas quentes chamavam-nos para uns mergulhos que aprovei-tamos e disfrutamos em momentos de alegria, amizade e comunhão.

Refrescados, tranquilos e descansados, antes de cair a noite decidimos atacar a cache. Ao chegarmos ao GZ ainda apanhamos um susto. Tinha sido coloca-do pelo homem perto do GZ um poste que serve de ninho para as cegonhas. Pensamos que a cache po-deria ter desaparecido, mas não, encontrava-se exa-tamente como eu a tinha deixado no ano anterior.

Depois de logarmos e par-tilharmos o found # 700 dos Felinos dirigimo-nos para um VG que se en-contra na ilha, de onde se tem uma vista impressio-nante e que quisemos re-gistar com muitas fotos.

De regresso ao local do acampamento juntámo-nos junto à água e aproveitamos para registar momentos es-petaculares do pôr-do-sol, da lua, do céu. Que céu!!! Deitarmo-nos neste local, no meio da natureza, sem presença humana por perto, com este céu… é indescrití-

Page 59: Edição 11 - GeoMagazine

59

GEOMAG.

Page 60: Edição 11 - GeoMagazine

60

GEOMAG.

Page 61: Edição 11 - GeoMagazine

61

GEOMAG.

Page 62: Edição 11 - GeoMagazine

GEOMAG.

62

OutubrO 2014 - EDIÇÃO 11

vel! Não há palavras… fotos, algumas pela lente do lgass.

Perto das 23:00 deci-dimos recolher às ten-das. Fomos dormir com a alma cheia. Com um sor-riso de orelha a orelha!

O domingo começou cedo. Cedo e frio. Por volta das 08.30 já estávamos todos acordados. As nuvens vol-taram ao céu e o sol não aparecia para nos aquecer. Preparámos o pequeno-al-moço junto à água. Fizemos café no pequeno fogão que levámos e começámos a arrumar tudo. Percebemos que a aventura estava per-to do fim. Não queríamos que terminasse já… já não…

Os minutos foram passan-do e as nuvens também. Quando tínhamos já tudo arrumado nos caiaques o sol já brilhava no céu lim-po. O espelho de água es-tava mais espelho do que nunca. Não soprava ven-to. Arrancámos da ilha.

Acho que cada um de nós absorvia cada pagaia-da, cada metro percorri-do naquele imenso lago.

Chegámos ao ponto de par-tida. Largámos a carga e voltamos para águas mais profundas. Eram os últimos “cartuchos”, os últimos mer-gulhos e o fim de mais uma aventura na companhia de um grupo de pessoas que me estão no coração e que fazem estas aventuras se-rem ainda mais intensas.

O relato deste segundo ano foi baseado no exce-lente log dos Felinos na cache O Náufrago Alente-jano [Alqueva] (GC2DXQ5), que desde já recomen-do uma leitura atenta.

Este ano, mais uma vez combinamos com os nos-sos amigos geocacheres uma ida ao Alqueva, desta vez com um grupo maior.

Como nos anos anteriores tínhamos ido para a mes-ma ilha, este ano pensamos noutra alternativa, tendo em conta que também tí-nhamos os botes furados e alguns participantes não tinham canoas, pensamos em alugar uns, num dos portos recreativos exis-tentes no grande lago.

Depois de uma pesquisa e de nos termos informado, a melhor proposta foi no porto recreativo da Amieira.

Partindo da Amieira, tí-nhamos varias ilhas para pernoitar, mas como que-ríamos fazer um percurso maior, decidimos ficar na ilha onde se encontra a ca-che da Ilha da Pomba do Francis Carm (GC178CM) acerca de 15 km do porto.

No dia combinado lá nos encontramos todos no porto da Amieira, mas com uma logística subs-tancialmente mais pesa-da e com a experiência dos anos anteriores já fo-mos preparados com um bote para levar o material.

Este ano não tivemos tanta sorte com o clima, os dias estiveram mais cobertos por nuvens e com o receio nem o chapéu-de-chuva faltou. Com a ameaça de chuva lá começamos a pa-gaiar naquele imenso lago de águas tranquilas e paisa-gens de cortar a respiração. Pelo caminho fomos fazen-do as caches que se encon-travam nas margens, co-meçando pela H2O-Alqueva do xilotom (GC387Z5), uma cache que se encontra na margem direita do braço do rio Degebe e num local com vista para um monte aban-donado. Encontra-se um cromeleque perto e numa mini ilha que provavelmen-te fica submergida com a subida das águas no inver-no. Seguiu-se a De Alque-

va para Amieira do mesmo owner (GC387YD), cache que para lá chegar ainda nos deu algum trabalho, porque tivemos de fazer a abordagem da margem para o interior, com muito mato pelo meio. Como esta rapaziada está preparada para tudo, o que serve nou-tras alturas para proteger as calças da humidade da vegetação, desta vez serviu para proteger as canelas de uns belos arranhões e com esta indumentária muito fashion de calções e pernei-ras, lá encontramos o con-tainer num local com vista para as águas da barragem.

A seguir fizemos o troço maior até à ilha da pom-ba, onde estava previsto pernoitar, mas depois de termos observado o local chegamos à conclusão que esta não tinha condições para podermos montar as tendas num local mais ou menos horizontal. As mar-gens têm um declive muito acentuado. Decidimos fazer a cache Ilha da Pomba (GC-178CM) e remarmos para a ilha onde se encontra a cache A torre do javali do Francis Carm (GC178D3), com a esperança de encon-trar um local melhor para montar o acampamento.

Já com algum cansaço acu-mulado, chegamos à mar-gem desta ilha e lá encon-tramos um local mais ou menos horizontal junto à água para montar as tendas.

Como nos anos anteriores, depois de tudo montado e organizado, fomos a ba-nhos e passamos o resto do serão em amena cavaquei-ra, apreciando todo aquele esplendor natural que só estes locais nos podem ofe-recer. Entretanto fomos fa-zendo o petisco com alguns a apresentar umas rações de comida desidratada que

mais pareciam rações de combate de 1966. Mas tudo regado por uma box da Fon-te Serrana que eu fiz ques-tão de carregar durante tantos quilómetros e que foi a nossa sorte, porque a noi-te arrefeceu muito e assim foi a única maneira de sen-tirmos algum calor interior.

Este ano mais uma vez re-unimos um grupo excelen-te, constituído por mim e por alguns “Crazy”, como o R.bap, Geomodel, Kro-ww, PedroOCoyote, Domi-nisecTeam, MitoriGeikos, BTT, Tiromar e mais uma vez o Carlos, provavel-mente o muggle com mais caches encontradas. Um grupo com uma cumpli-cidade e amizade que se notava em cada brincadei-ra, em cada olhar, em cada sorriso, afinal são amigos como estes que tornam as aventuras ainda mais intensas e inesquecíveis.

Na manhã seguinte acor-damos com o tempo meio farrusco e depois de tudo arrumado iniciamos a via-gem de regresso passando pela Torre do Javali, cache que não tem muito que nos enganar, o GZ é óbvio e o local foi estrategicamente bem escolhido pelo owner.

Quando chegamos ao por-to recreativo da Amieira o sentimento que a aventura tinha acabado, levou-nos a pensar na próxima e com a representação de um mapa do grande lago exposto numa parede do edifício, alinhavamos que para o ano a próxima aventura no Alqueva será de Juromenha à Amieira, numa extensão de cerca de 80 km numa semana e em autonomia.

Leonel Baptista

- geoleo

Page 63: Edição 11 - GeoMagazine

63

GEOMAG.

Page 64: Edição 11 - GeoMagazine
Page 65: Edição 11 - GeoMagazine

PR6 PMSFórnea de Alcaria

Por RuiJSDuarte

Page 66: Edição 11 - GeoMagazine

GEOMAG.

66

OutubrO 2014 - EDIÇÃO 11

Este era um passeio que andava há algum tempo “em carteira” por desfru-tar... Fica contudo a uma distância considerável de Lisboa, e para a coisa cor-rer bem, é necessário que algumas condições este-jam reunidas, tanto a nível meteorológico (a zona tem tendência a aquecer bas-tante) como no que respei-ta ao tempo livre: A Fórnea exige alguma dedicação e uma caminhada calma, pois em modo corrido per-de-se o que os locais têm para mostrar.

E que local de excelência!

Apesar de este artigo ser dedicado ao PR6 PMS - Fórnea, a verdade é que apenas podemos apreciar os fenómenos geológicos relacionados com a zona, na sua plenitude, se esten-dermos um pouco a área a explorar.

Assim, excecionalmente e para um melhor enquadra-mento da explicação, utili-zarei algumas Geocaches residentes para orientar a visita e permitir alcançar algumas zonas de onde se tem realmente a noção da singularidade do que a Mãe-Natureza ali esculpiu.

Comecemos então pelo topo da Fórnea, alcançável a partir de Chão das Pias ou mais propriamente do local que escolhemos para iniciar a subida: existe um ótimo estacionamento jun-to à estrada, o waypoint da cache [GC15DFN] TF-05 Alto da “Cova da Velha”. Al-cançamos assim o primeiro

local, a Earthcache [GC-4WBK6] Fórnea Wonder [Alcaria] que nos apresenta o fenómeno em todo o seu esplendor, confesso que fi-quei rendido logo ali, se por algum motivo não estives-se convencido do que li nas listings das caches escolhi-das, teria todas as minhas dúvidas desfeitas.

Visto que a EC está loca-lizada ao centro, há que encetar um trajeto em meia-lua (para ambos os lados) por forma a absor-ver o cenário em toda a sua amplitude.

Na ocasião optei por ir pri-meiro para o lado esquerdo e visitar as [GC15DFN] TF-05 Alto da “Cova da Velha” e [GC55J0G] MARAVILHA FÓRNEA II, esta última lo-calizada num ponto sober-bo da escarpa, à falta de melhores adjetivos para descrever “aquele” GZ. Se levarem algo para ajudar a retemperar as forças este é realmente o sítio ideal para o fazerem, utilizando a desculpa de parar para petiscar, deixem-se ficar mais uns minutos por ali. Esta parte do percurso terá cerca de três quilómetros no total, ida e volta com duzentos e poucos metros de subida acumulada.

Vista que estava a encos-ta Norte, rumei a Sul para a [GC44BFE] Fórnea!, com uma nova perspetiva do panorama, talvez menos impressionante mas nem por isso menos interessan-te. As “cascatas” de casca-lheira vêm-se muito bem

dali e dão mesmo a im-pressão de serem rios con-gelados na vertente norte.

De volta ao carro para a se-gunda parte do passeio, o próximo ponto de estacio-namento corresponde ao início da caminhada oficial propriamente dita, junto ao Café da Bica, na estrada que liga Porto de Mós a Al-vados.

Sempre que me desloco em passeio um pouco mais longe de casa faço questão de ajudar a economia local, e aqui não foi exceção. Aca-bei por ser recompensado com umas maravilhosas broas à venda no dito café! Bom karma, portanto!

A Pequena Rota percorre o interior da Fórnea, ligando a estrada nacional à Cova da Velha, uma nascente temporária que brota de uma cavidade de tamanho considerável (tendo em conta o pequeno caudal) e que alimenta o ribeiro lo-cal. O percurso pedestre acompanha praticamente sempre o ribeiro, infeliz-mente praticamente seco no Verão, pelo que deixei a promessa de regressar em tempos mais chuvosos, visto existirem alguns pon-tos que aparentam criar cascatas bem interessan-tes.

Dependendo da fonte de informação, o percurso terá entre um a dois quiló-metros e dificuldade baixa a média demorando cerca de uma hora a percorrer, com pouco mais de cem metros de subida acumu-

lada. Na realidade a parte da PR tem cerca de dois quilómetros mas há que regressar! Tendo em conta o calor e o esforço despen-dido em terras mais altas, custou-me bastante quan-do o terreno que até apa-renta ser plano começa a transformar-se numa “pi-cada” cada vez mais incli-nada! As últimas centenas de metros foram “tiradas a ferros” e até uma chama-da telefónica que recebi foi uma desculpa bem-vinda para me deter uns minutos à sombra.

É mesmo a cereja no topo do bolo a entrada neste gi-gantesco anfiteatro, com cerca de 500 metros de diâmetro por 250 metros de altura, e vermo-nos progressivamente “engoli-dos” por ele.

A nível geocachiano o co-rolário surge na forma de uma geocache de finais de 2002, saída do imaginá-rio do PCardoso e apadri-nhada pelo MAntunes, a [GC9F3D] Soft Water over Hard Stone [Porto de Mós]. À data da publicação desta revista já não vão a tempo de comemorar in loco os seus 12 anos (foi colocada a 19 de Outubro) mas po-dem programar essa mere-cida homenagem para o dia do seu primeiro found it, alcançado pelo agora seu Owner, apenas no dia 29 de Dezembro do mesmo ano!

Rui Duarte

- RuiJSDuarte

Page 67: Edição 11 - GeoMagazine

67

GEOMAG.

Page 68: Edição 11 - GeoMagazine

68

GEOMAG.

Page 69: Edição 11 - GeoMagazine

69

GEOMAG.

Page 70: Edição 11 - GeoMagazine

70

GEOMAG.

Page 71: Edição 11 - GeoMagazine

71

GEOMAG.

Page 72: Edição 11 - GeoMagazine

GEOMAG.

72

OutubrO 2014 - EDIÇÃO 11

Page 73: Edição 11 - GeoMagazine

GEOMAG.

73

Outu

brO

2014

- ED

IÇÃO

11

Entrevista de Carreira

Valente CruzValente Cruz é certamente um dos nick names mais diretamente associados ao Geocaching-Natureza e Aventura dos tempos modernos. Na entrevista de capa desta edição falamos de espaços amplos, de liberdade, de inquietude, de amizade e eventualmente de Geocaching no seu estado mais puro.

Page 74: Edição 11 - GeoMagazine

GEOMAG.

74

OutubrO 2014 - EDIÇÃO 11

Valente Cruz é certamente um dos nick names mais diretamente associados ao Geocaching-Natureza e Aventura dos tempos mo-dernos. Mais do que um casal, a Ana Valente e o António Cruz representam a essência de uma equipa vencedora, unida e inspira-dora. Ao longo dos quatro anos de Geocaching que ce-lebram este ano, a viagem tem sido compensadora e recheada de momentos marcantes. A generosida-de desta dupla, através da partilha de vivências, de imagens e de relatos na primeira pessoa, tem apro-ximado os Valente Cruz da comunidade pela qual são transversalmente aplaudi-dos e acarinhados.

Nesta entrevista falamos de espaços amplos, de li-berdade, de inquietude, de amizade e eventualmente de Geocaching no seu esta-do mais puro.

Bem-vindos à GeoMagazi-ne, Ana e António!

Flora Cardoso - Os Valente Cruz vivem em São Pedro do Sul. Ambos têm origens nessa região, ou fixaram-se nessa cidade por força das circunstâncias da vida?

Valente Cruz - Antes de mais, aproveitamos para agradecer o convite para esta entrevista! Nós (Ana Valente e António Cruz – quando escolhemos o nick-name não fomos muito cria-tivos!), somos originários de

regiões distintas, sendo a Valente de Cesar - São João da Madeira, e o Cruz de Vila Garcia - Mangualde. Acabá-mos por nos conhecer em Aveiro durante a formação académica e escolhemos viver em São Pedro do Sul, tendo em conta as circuns-tâncias profissionais da al-tura. Com a passagem do tempo, acabámos por ficar e criar raízes na região.

F.C. - António e Ana, como descobriram o Geocaching?

V.C. - Nascemos para o geocaching na fornada dos que viram uma certa repor-tagem jornalística do Jor-nal de Notícias, no início de 2010, sobre este magnífico passatempo e que decorreu na Serra da Lousã. Entre-

tanto, acabámos por ficar a conhecer e criar amizade com alguns dos entrevis-tados que fizeram parte dessa investida “geocachia-na”. Ainda, logo que tive-mos oportunidade, fizemos questão de ir à descoberta desta serra e dos locais re-ferenciados, que desconhe-cíamos.

F.C. - Qual foi o primeiro contacto que tiveram com uma geocache, no terreno, e como recordam esse mo-mento?

V.C. - Apesar de a repor-tagem ter sido descoberta pelo António, e de ambos acharmos fantástica a ideia subjacente ao passatem-po, acabou por ser a Ana a principal impulsionadora

Page 75: Edição 11 - GeoMagazine

GEOMAG.

75

Outu

brO

2014

- ED

IÇÃO

11

para irmos para o terreno e, naturalmente, escolhe-mos uma cache que ficava perto de casa, no Solar dos Malafaias, do Napoleão. Como a cache era relativa-mente fácil de encontrar, as dificuldades iniciais não se fizeram sentir muito nes-ta cache, apesar de termos usado um GPSr de estrada. As caches seguintes, algu-mas eram multicaches, já foram mais complicadas e desafiantes. Estamos em crer que a nossa sensação primeva de descoberta no geocaching será comum a todos os que se iniciam: “Ok, isto realmente existe e há pessoas de hábitos estranhos que andam por aí a esconder estas coisas.”

F.C. - A vossa data de re-gisto como membros no site www.geocaching.com remonta a Maio de 2010. Dentro destes quatro anos e meio de Geocaching, con-seguem enumerar algumas caches que consideram as mais marcantes ao longo do vosso percurso?

V.C. - A primeira cache que realmente nos agarrou ao passatempo talvez tenha sido a Fonte dos Frades, sobretudo porque expe-rienciámos pela primeira vez a vertente de encontrar um local natural, histórico e sobretudo recôndito, que muito dificilmente conse-guiríamos descobrir de ou-tra forma. Por esta altura, no início, a Valente estava dedicadíssima e mantinha registos em vários supor-tes das nossas aventuras e desventuras. Ficámos desde logo entusiasmados para procurar as melhores caches. Nos primeiros tem-pos descobrimos caches como a Frecha da Mizarela, Epigenia do Ceira , Cascatas do Tahiti, Prado do Vidoal, Linha Estreita, Rudian , Six Feet Under (DNF), Hard find to get , Cai d’Alto, Fisgas de Ermelo, Cabreia Paradise e The Lost Nazi Mine. Em

poucas semanas já estáva-mos na Ruta de los Túneles, que foi durante algum tem-po a nossa cache preferida. Por esta altura já era o Cruz que estava mais entusias-mado com o geocaching e, um ano depois do nosso início, voltámos ao Gerês e resolvemos tirar as férias para fazer o PNPG’s Mas-terDegree Challenge de seguida, o que nos guiou pela descoberta de caches extraordinárias, tais como Pé de Cabril, Fenda da Cal-cedónia, Contrabandistas, Rocalva, Heart of Darkness e “Tou às aranhas”. Entre-tanto deixámos de ter uma cache preferida e passámos a ter muitas caches preferi-das, principalmente o Cruz. Por esta altura também já havíamos descoberto os fantásticos Cântaros Gordo e Magro. Muitas outras ca-ches também se tornaram referências de qualidade para nós, tais como: Far away, so close, Sombrosas – O Desafio, Half a Mou-ntain, Penedos de Góis e a The Nest of Jonathan Li-vingston Seagul, entre ou-tras.

Com a passagem do tempo acabámos por criar gostos

distintos, com a Valente mais virada para caches mais acessíveis, com reci-pientes mais elaborados ou de aventuras rebuscadas (tais como o Mistério do Voo 666, Hansel and Gretel, Fal-len Angels, A Casa Mistério ou a GPN - Secret Agency). Quanto ao Cruz, apesar de naturalmente também gos-tar destas excelentes ca-ches, a bússola manteve-se sobretudo orientada para caches de natureza.

Recentemente fomos até aos Picos de Europa e as estatísticas de preferência do Cruz ficaram um pou-co baralhadas, particular-mente pela descoberta de caches como Cares Xtrem, Despedida y Cierre e Pico Gilbo, que talvez seja, até ao momento, a cache pre-ferida.

F.C. - Neste momento, sentem-se especialmente seletivos relativamente às geocaches que procuram? Ou não viram a cara a uma oportunidade de found, in-dependentemente da na-tureza da proposta?

V.C. - O nosso ritmo de descoberta diminuiu bas-tante e atualmente somos

muito seletivos em relação às caches que procuramos. Quando vamos para uma determinada zona esco-lhemos à partida quais as caches que pretendemos encontrar, de acordo com os nossos gostos. Prefe-rimos claramente encon-trar menos caches, mas de qualidade. Encontrar mais de 5 caches num dia é quase sinónimo de lou-cura. É comum irmos para zonas povoadas de caches e encontrar apenas as que estão referenciadas. Tam-bém já aconteceu encon-trarmos uma cache muito boa num determinado dia e decidirmos não encontrar mais nenhuma. Não es-tamos propriamente num nível de seleção capaz de, por exemplo, na realização de um powertrail, decidir encontrar apenas uma ca-che mas é possível e temos a esperança de conseguir atingir esse nível de des-preendimento numérico.

F.C. - Existe alguma cache em Portugal, ou no estran-geiro, que consideram o vosso “Graal” e que ambi-cionam, mais cedo ou mais tarde, encontrar?

Page 76: Edição 11 - GeoMagazine

GEOMAG.

76

OutubrO 2014 - EDIÇÃO 11

V.C. - Existem naturalmen-te muito locais e percursos que gostaríamos de visitar e encontrar as caches que os referenciam, dependen-do dos gostos individuais. Para o Cruz, existem al-gumas vontades e sonhos que já tinha antes de des-cobrir o geocaching, como por exemplo visitar os mo-numentos emblemáticos do antigo Egito, de Machu Picchu ou de Angkor Wat. Por outro lado existem lo-cais que já eram conhecidos mas desde o aparecimento do geocaching a vontade de os visitar aumentou. Entre aqueles que são mais viá-veis, porventura a cache que adiámos mais vezes foi El Caminito del Rey. Depois existem outras caches que já são acompanhadas há alguns anos, tais como Hua Shan ou Salto Ángel, não apenas pelos locais em si mas por tudo o que tería-mos de viver para lá chegar. Para o Cruz, se tivesse de selecionar um único local para se perder, com ou sem caches à mistura, é certo que iria para o Tibete. A ní-vel nacional, gostaríamos particularmente de encon-trar as caches: Atlantis, Homem das Cavernas, Sa-bor Transmontano, Escape from the Mysterious Island, The Cave, Estepes do Norte e completar o PNPG’s PhD.

F.C. - Dentro das caches entretanto arquivadas, que não tiveram oportunidade de encontrar, qual seria a vossa primeira escolha no caso de terem uma janela de oportunidade para vol-tar atrás no tempo?

V.C. - Entre as caches ar-quivadas, gostaríamos muito de ter encontrado a Irmandade do Ponto Z. A ida ao local tem sido su-cessivamente adiada desde o arquivamento da cache. Gostaríamos ainda de ter tido a oportunidade para vingar um DNF na Six Feet Under. De qualquer forma,

já ficamos contentes pela possibilidade de conhecer e explorar o local, que é enfim o mais importante neste passatempo. Para finalizar, lamentamos ainda o desen-contro com a Alien Invasion.

F.C. - A vossa dupla con-quistou o Geocaching português, com caches temáticas, todas elas mui-to especiais, e particular-mente vocacionadas para a vertente local e aventura. É este o Geocaching com que se identificam, por excelên-cia?

V.C. - Por certo, para a maioria dos geocachers, as caches que são criadas têm algo de especial. Por vezes, e também pelas especifici-dades do local, do recipiente ou da aventura, consegue-se que essa visão passe para quem vai à procura da cache. No nosso caso, fe-lizmente, circunstâncias di-versas levaram a que algu-mas caches que colocámos não apenas se tornassem apelativas para os geoca-chers que as encontraram, como os próprios também as tornaram especiais, com registos fantásticos.

As caches que criámos, em particular as que são voca-cionadas para a vertente local e aventura, são o re-sultado dos nossos gostos pessoais, e uma conse-quência natural das caches de referência que encon-trámos no nosso percurso enquanto geocachers. Por exemplo, algumas caches de caminhadas mais longas que criámos tiveram como referência a Linha do Douro; as letters que criámos tive-ram como referência a Fal-len Angels, etc. Recorrendo ao cliché, já está (quase) tudo inventado no geoca-ching. Basta-nos seguir os bons exemplos, manten-do-nos simultaneamente fiéis a uma visão pessoal. No nosso caso, preferimos claramente a descober-

ta de locais e a vivência de aventuras que dificilmente conheceríamos de outra forma.

F.C. - Em que momento de-ram o salto para o papel de Owners, e como descreve-riam a vossa evolução nes-sa vertente?

V.C. - Alguns meses depois de nos termos iniciado no geocaching surgiu a vonta-de de criarmos uma cache e escolhemos um local que considerámos interessan-te, relativamente próximo de casa. Fomos depois em busca do esconderijo e criá-mos a página. Como princi-piantes, tínhamos algumas dúvidas sobre os procedi-mentos, mas o revisor da altura, o Sup3rFM, ajudou-nos e lá nasceu a nossa primeira cache, Gigantes. Rapidamente lhe tomámos o gosto e colocámos outras, sobretudo viradas para a natureza. Seguiu-se uma fase de colocação de caches em locais particularmen-te inacessíveis, outra de aventuras noturnas e ainda outra de aventuras em edi-fícios abandonados e locais perdidos. Chegámos depois à fase das grandes rotas. Estabilizámos entretanto os momentos de criação e as caches aparecem mais esporadicamente, sendo que também fomos ficando mais seletivos em relação à escolha dos locais e so-bretudo no que diz respeito ao número de caches, co-locando apenas uma cache para referenciar um local ou percurso. De um modo ge-ral procuramos sempre co-nhecer e divulgar a história do local através da listagem da cache. Quando, por uma ou outra razão, isso não é possível, viável ou interes-sante, viramo-nos para a literatura e deixamos que a imaginação trate do resto!

F.C. - Foram vencedores de três prémios GPS para o ano de 2012: No distrito

de Viseu com a cache A Re-líquia do Paço (GC309M8); em Aveiro e na categoria Local, com a cache Indiana Jones and the Mysterious Waterfall (GC3BH3J). Um ano depois de receberem estes prémios, e a esta distância, qual é o vosso sentimento sobre este re-conhecimento?

V.C. - É inegável que é óti-mo receber prémios, não apenas pelo ego ou por uma qualquer necessidade de aceitação que é intrín-seca ao espírito humano, mas sobretudo pela agra-dável sensação de que algo que se criou com alguma dedicação e prazer foi aca-rinhado pela comunidade. Não sabemos nem conse-guimos medir totalmente o que se alterou com este re-conhecimento. É certo que as caches referidas, só por si, não ficaram melhores ou piores do que já eram. Con-tudo, objetivamente, mais pessoas ficaram a conhecer as caches e/ou ficaram com vontade de as visitar. Por vezes, nos registos, alguém menciona esse facto. De um modo geral, a iniciativa dos Prémios GPS tem indu-bitavelmente muito mérito e é uma mais-valia impor-tante no que diz respeito à melhoria da qualidade do geocaching.

F.C. - A Ana e o António têm personalidades bem distintas, e decididamen-te complementares. Como descreveriam um ao outro, contextualizando também o vosso perfil e preferên-cias individuais, como geo-cachers?

V.C. - Na vida somos com-plementares! No geoca-ching, como referido an-teriormente, as nossas preferências divergem um pouco, com o Cruz mais vi-rado para caches de aven-tura e local e a Valente mais virada para recipien-tes elaborados. As caches

Page 77: Edição 11 - GeoMagazine

77

GEOMAG.

Page 78: Edição 11 - GeoMagazine

78

GEOMAG.

Page 79: Edição 11 - GeoMagazine

79

GEOMAG.

Page 80: Edição 11 - GeoMagazine

GEOMAG.

80

OutubrO 2014 - EDIÇÃO 11

que criámos acabaram na-turalmente por espelhar as nossas personalidades, em particular o Cruz, que tem estado mais encarregue dessa tarefa. Como desco-bridores tentamos escolher caches que estejam de acor-do com os nossos gostos: em relação à vertente “re-cipiente” é fácil atingirmos o consenso porque ambos gostamos de encontrar ca-ches com recipientes ela-borados; no que diz respei-to às vertentes “local e/ou aventura”, a Valente já não está tão disposta a muitas desventuras mas ainda as-sim vai-se esforçando para acompanhar.

F.C. - A colocação das ca-ches dos Valente Cruz é sempre um processo parti-lhado, com o contributo de ambos? Ou existem caches mais “Valente”, e outras mais “Cruz”?

V.C. - Não sabemos especifi-car exatamente quando mas a partir de um dado momen-to a Valente afastou-se um pouco de criação de caches, ficando essa tarefa mais a cargo do Cruz. A Valente vai dando sugestões e, na verdade, ela pode mesmo ter um papel fundamental. Sempre que surge a ideia de colocar uma cache, a forma como a Valente reage pode estar diretamente relacio-nada com o possível inte-resse que a cache poderá despoletar. Por exemplo, se ela responder ”Não, não penses nisso! Não achas que já tens idade para ter juízo?” é provável que a cache seja interessante.

F.C. - De todas as caches que esconderam, existe alguma que vos seja par-ticularmente querida? Por algum motivo em especial?

V.C. - Não conseguimos par-ticularizar uma cache por um motivo específico mas várias por alguns motivos especiais. Instintivamente, talvez a primeira cache que

venha à lembrança seja a In-diana Jones and the Myste-rious Waterfall, colocada em conjunto com o Napoleão e o daraopedal, por se tratar de facto de uma aventura fan-tástica num local extraor-dinário, com uma especifi-cidade que a torna ímpar. A Into the wild, colocada em parceria com os Sphinx_n_Sophie, revelou-se também uma experiência fantástica de descoberta. Existem ain-da as grandes caminhadas, como as Montanhas Nebu-losas, planeadas e atraves-sadas em conjunto com o joom, o //Link\\ e o Fernando Rei, ou a Extreme Challenge, colocada com o mafilll. A ca-che O mundo a seus pés é-nos também bastante que-rida, sobretudo porque se tratou talvez da maior prova de superação do Cruz, entre a solidão da fraga, num dia de nevoeiro sebastiânico. Uma das caches que mais prazer nos deu a criar foi a Contos da Montanha, não por ser a mais espetacu-lar mas sobretudo por uma noção pessoal, romântica e talvez utópica daquilo que deveria ser a criação de uma cache: meses de prepara-ção, aprendizagem histórica e respetiva partilha, seleção e preparação do recipiente, individualização do livro de registos, escolha de itens de troca temáticos, visita e descoberta do percurso e dos locais e finalmente uma colocação adequada para aguentar muito tem-po. Existem ainda outras caches e histórias que gos-támos de criar, como A Relí-quia do Paço e O Sentido do Medo, esta última colocada em conjunto com o pmen-des100. Apercebemo-nos agora, ao escolher estas caches, que talvez elas não sejam especiais apenas pelo que podem representar mas porque muitas delas foram experiências partilhadas com bons amigos. Talvez

seja esse o motivo que as tornou especiais para nós!

F.C. - A Ana é uma devora-dora de livros, e o António tem um incrível dom para a escrita! Estas facilidades também são exploradas no contexto do Geocaching? Há sempre uma história para contar, por detrás de uma cache?

V.C. - É realmente impossí-vel dissociar a literatura das nossas vidas e isso também influencia o nosso geoca-ching. Por exemplo, a Into the wild tem literalmente uma história por detrás. Na verdade, a cache é a parte visível de uma aventura lite-rária (se assim posso definir os meus escritos – Cruz). Tendo em conta uma histó-ria que queria escrever e o local onde ela se desenrola-va, achei por bem ir primei-ro vivê-la. Assim, antes de começar a escrever, surgiu a ideia de fazer a subida da encosta da Serra da Estrela por trilhos de pastores, num desafio de superação, e con-videi o Sérgio, bom amigo e exímio conhecer daquela montanha, para partilhar a vivência. Para além da subi-da, que representa um certo abandono civilizacional no tempo e no espaço e ainda uma viagem de redescober-ta individual, o objetivo era depois pernoitar no Cântaro Magro, para assistir ao nas-cer do sol, num momento ou ritual de iniciação (no meu caso, literária, no caso dos meus personagens, terão de ler o livro!). Cerca de um ano depois, já com a história ter-minada, voltei a fazer a subi-da e a pernoitar por lá, mas desta vez para entregar a história à montanha. Entre-tanto surgiu a possibilidade de publicar o livro, “O tem-po inquieto” (curiosamente, este título foi recuperado de um artigo que, há alguns anos atrás, escrevi para o Geopt!).

Ainda em relação à literatu-ra e ao nosso geocaching, temos também uma cache dedicada à troca de livros, Crónicas da Terra Ardente. Noutras caches, estratégica e tematicamente colocadas, deixámos livros para que os geocachers possam usufruir também da descoberta das palavras.

F.C. - O dia 11 de Outubro de 2014 marca uma data certamente inesquecível na vida do António: O lança-mento do teu primeiro ro-mance, “O tempo inquieto”. Sempre soubeste que um dia irias escrever e publicar um livro?

V.C. - O meu gosto pela es-crita já é antigo e escrever é algo que me dá muito prazer. Lembro-me que o primeiro livro que li foi “Uma aventura fantástica”. E, resumindo, a literatura tem sido isso. Por-tanto, desde muito cedo que sabia que haveria de escre-ver, ou escrevinhar, muitas histórias. Porém, uma coisa é escrever e ter o gosto pela escrita e outra é publicar um livro. Obviamente, eu não poderia saber se algum dia haveria de ser um autor pu-blicado. O mercado é muito específico e nem sempre as expetativas se concretizam. Após algumas tentativas e outros tantos dissabores, finalmente surgiu a possibi-lidade de lançar o meu pri-meiro livro.

F.C. - Em que momento da tua vida surge o tema e a inspiração para este roman-ce?

V.C. - Não é fácil definir o momento que despoletou este périplo de palavras e aventuras, mas tudo terá começado no contexto do evento Geo Pequeno-Al-moço na Serra da Estrela, que me possibilitou, entre outras coisas, a ascensão ao Cântaro Magro, na Serra da Estrela. Quando passava por aquele maciço rochoso, que se ergue desde o Covão

Page 81: Edição 11 - GeoMagazine

81

GEOMAG.

Page 82: Edição 11 - GeoMagazine

GEOMAG.

82

OutubrO 2014 - EDIÇÃO 11

d’Ametade, ficava a pensar no quão fantástico seria al-cançar o seu topo. Sempre imaginei que seria impossí-vel sem usar material de es-calada, até surgir aquele dia extraordinário.

Aproveitando outras histó-rias e ideias, “O tempo inquie-to” foi germinado, emergin-do sorrateiramente no meu imaginário até se tornar numa necessidade susten-tada. Alguns meses depois, com a vontade alinhavada, achei que mais do que es-crever uma história eu pre-cisava de viver algumas das circunstâncias de descober-ta dos meus personagens. Assim, depois de convidar o Sérgio para partilhar a expe-riência, traçámos e concre-tizámos o percurso Into the wild. Pouco tempo depois, e antes de começar a escrever o livro, regressei à monta-nha para voltar a fazer a su-bida, com o objetivo poste-rior de assistir ao nascer do sol na topo do Cântaro Ma-gro, sendo que juntaram-se entretanto os(as) amigos(as) Sphinx_n_Sophie, Dra-gao88, d3vil, bombeira198 e Royk_607. O amanhecer desse dia digitou as primei-ras palavras do manuscri-to. Vim para casa com uma vontade e inspiração do ta-manho do Cântaro e come-cei a escrever a história. Cer-ca de um ano depois, após o último ponto final, voltei a subir a Serra da Estrela e a pernoitar no Cântaro Magro para assistir ao nascer do sol, desta com os(as) ami-gos(as) MichaelCarmichael, Tânia Magro, katty_rikardo e paulodematos. É sempre um prazer regressar ao Cântaro Magro e reencontrar-me no tempo e no espaço com esta história. Este ano, como não poderia deixar de ser, voltei lá, desta vez acompanha-do pelo mafilll, MichaelCar-michael, ZéSampa, J.Greg e jasafara, para mais uma aventura e, sobretudo, mais um renascer. Ao longo des-

ta viagem é importante sa-lientar e agradecer aos bons amigos que, mesmo desco-nhecendo ao que iam, esti-veram presentes!

F.C. - O personagem cen-tral do “Tempo Inquieto” é um homem de meia-idade confrontado com uma gra-ve doença, que irá alterar o paradigma da sua vida. Bem a propósito, uma parte das receitas da venda do livro revertem a favor da Liga Portuguesa contra o Can-cro. Este é um tema sensí-vel para ti?

V.C. - Felizmente, não tenho ou conheço familiares dire-tos que tivessem falecido devido a esta doença. A mi-nha área de especialização é a Matemática e cerca de dois meses depois de ter acabado de escrever este livro surgiu a oportunidade profissional de trabalhar como bolseiro de investigação num projeto dedicado à Otimização em Radioterapia. Fiquei então, por um lado, a conhecer um pouco melhor esta doença e, por outro lado, ainda mais sensibilizado sobre os seus efeitos na vida das pessoas. Assim, tendo em conta es-tas circunstâncias, em que, por coincidência e de forma inesperada, alguns aspetos da minha vida profissional acabaram por entrelaçar-se com esta história, decidi que uma percentagem das minhas receitas da venda do livro irá reverter, singela-mente, a favor da Liga Por-tuguesa Contra o Cancro.

F.C. - Com a publicação des-te romance, o teu sentimen-to é de “dever cumprido” no campo da escrita, ou antes um ponto de partida para esta tua promissora voca-ção artística?

V.C. - Acho que não tenho qualquer sensação de “dever cumprido”. E dificilmente te-rei. Na verdade, logo a seguir à última correção da última revisão, nem gosto de olhar para o que escrevi, pois ra-

pidamente fico insatisfeito. Gostaria de ter a oportu-nidade de publicar outros livros e tenho a esperança que este seja um ponto de partida. Talvez o próximo ano traga outra surpre-sa agradável! Em relação à “promissora vocação artísti-ca”, obrigado pela confiança mas é possível que seja um exagero!

F.C. - A quem dedicas “O tempo inquieto”, António?

V.C. - O livro é dedicado “A quem estiver do outro lado de mim”. É propositadamente uma dedicatória subjetiva e apenas pode ser compreen-dida com a leitura do livro. Objetivamente, poderia de-dicá-lo aos meus familia-res, em particular à minha mais-que-tudo, a Valente, não apenas por ter sido pri-meira leitora e revisora do livro mas sobretudo pela pa-ciência e compreensão dos espaços deixados em branco pelo que não vivemos para que esta história pudesse existir.

F.C. - Ainda no campo da es-crita, os vossos logs são de facto uma verdadeira ins-piração para outros Geoca-chers. Costumam também vocês buscar inspiração nos logs doutros Geocachers? Costumam seguir alguém em particular?

V.C. - Não temos por hábi-to seguir registos de geo-cachers específicos mas sim de caches (sobretudo o Cruz), fundamentalmente as que nos marcaram ou que pretendemos visitar. Con-tudo, quando vemos alguns nomes nos registos, fica-mos naturalmente curiosos para os ler. Correndo o ris-co de sermos injustos ou amnésicos, poderemos sa-lientar alguns, tais como: global trekkers, ZéSampa, CarlosAgnelo, corvos, Ca-racois Turbo, joom, MAn-tunes, clcortez, rifkindsss, Lusitana Paixão, Pintelho, Prodrive, Dragao88, entre

outros. Pela minuciosidade que colocam na descrição da descoberta de cada ca-che e também pela qualida-de com que o fazem, é certo que daremos o tempo por bem empregue e ficaremos melhor informados sobre a cache. Existem também ou-tras pessoas que descobri-mos através do geocaching e passámos a acompanhar o que escrevem extra-geoca-ching, como o MichaelCar-michael ou o Torgut.

F.C. - O António é por natu-reza um explorador, de es-pírito livre e apaixonado pe-los espaços amplos. Into the Wild (GC3ER8Y) ou Extreme Challenge [UTSF] (GC3G-VZB) são apenas alguns dos reflexos desse estado de espírito permanente. O que te seduz António nestas conquistas, o que é que te move afinal?

V.C. - Cresci numa aldeia, rodeado pela natureza, e desde cedo ganhei o hábi-to de me imiscuir nos seus meandros. Para mim, ter a oportunidade de vivenciar a natureza e não o aproveitar ou valorizar é que não faz sentido. A inspiração para a criação da cache Into the wild está referida anterior-mente. A Extreme Challenge representou de facto uma grande aventura, sobretudo pela dificuldade em concluir o percurso. Tratou-se sobre-tudo de um desafio pessoal. No meu caso já conhecia boa parte dos percursos e assim que fiquei a conhecer a exis-tência da prova de Ultra Trail que inspirou a colocação da cache, senti uma necessida-de premente de ir percorrer aqueles trilhos fantásticos.

Frequentemente procuro as montanhas e gosto de andar por sítios de mínima intervenção humana. Gosto de o fazer com amigos mas também aprecio de sobre-maneira uma boa caminha-da solitária. Talvez o faça em busca de um refúgio do dia

Page 83: Edição 11 - GeoMagazine

83

GEOMAG.

Page 84: Edição 11 - GeoMagazine

GEOMAG.

84

OutubrO 2014 - EDIÇÃO 11

-a-dia, ou mesmo de mim próprio, deambulando por espaços onde o tempo tem uma cadência própria e se pode respirar uma liberdade primordial.

F.C. - Este ano lançaste-te o auto-desafio de partici-par no Ultra Trail da Serra da Freita, e escreveste um relato apaixonante da aven-tura, na primeira pessoa. Na tua opinião, quais são as ar-mas decisivas para comple-tar esta corrida?

V.C. - O Ultra Trail Serra da Freita é de facto uma prova muito difícil, principalmente quando se é estreante. O as-peto mais relevante da prova reside no facto de o percur-so ser muito técnico. Se não estou em erro, cerca 70% do percurso é técnico. Ou seja, essa percentagem corres-ponde aos momentos em que se tem de ultrapassar obstáculos, desde trepar/destrepar rochas, subidas/descidas muito acentuadas, progressão em rios, usar cordas em passagens mais difíceis e/ou correr/caminhar num terreno muito irregular, em que um pé mal colado facilmente representa o fim da prova. Assim, é neces-sária uma enorme entrega física e sobretudo mental. Na verdade, não podemos medir a dificuldade desta prova unicamente pela dis-tância ou pela altimetria. Em

termos pessoais, ainda que tivesse a intenção de fazer os cerca de 70 km num dia, aquando da colocação da cache (e sem qualquer tipo de treino), tive que desistir face às dificuldades. Um ano depois, já com algum treino mas infelizmente também com um problema no joelho, lá consegui terminar a prova, depois de muito sofrimento e uma boa dose de tenaci-dade. É muito difícil descre-ver o que se sente quando se cruza a meta, indepen-dentemente da posição. No cômputo geral, e como é certo que se vai sofrer, o que acaba por fazer a diferença é a parte psicológica, sendo que o treino específico é na-turalmente também muito importante.

F.C. - Ana, qual é o teu sen-timento quando deixas o António partir em busca dos seus sonhos, quando em consciência sabes que ele passará por muita dor, suor e lágrimas?

V.C. - Nem sempre o Antó-nio revela, antes de sair para as suas aventuras, todos os pormenores sobre onde se vai meter. Mesmo assim, o coração fica apertadinho até ter a certeza que termi-nou mais uma aventura e que está tudo bem. Depois é uma satisfação vê-lo chegar todo contente e a contar to-dos os pormenores da aven-

tura (alguns preferia que não me contasse). Fico muito fe-liz por ele, por ver o seu con-tentamento ao concretizar os desafios a que se vai pro-pondo e quão feliz isso o faz.

F.C. - Apesar das vos-sas enormes conquistas e quantidade infindável de gi-gantes desafios superados, há um pequeno calcanhar de Aquiles que é o pouco à-vontade do António no meio aquático. De que for-ma é que isso tem limitado as vossas conquistas? An-tónio, já complicaste algum desafio só para evitar o con-tacto com a água?

V.C. - Como é que isso é sa-bido? Deve ter havido algu-ma fuga de informação! Mas realmente é verdade, não me sinto muito à-vonta-de, apesar de gostar muito de água e de fazer percur-sos em rios. É certo que se houver um obstáculo em que tenha de nadar para o ultrapassar, terei que en-contrar uma alternativa. Re-cordo-me de subir a Ribeira da Pena Amarela e, para não andar na água ou para não progredir pela vegetação, fazer um pouco de escalada. Sinto-me claramente mais à vontade quando ando agar-rado a alguma coisa do que na água. Outra vez, andando pelas maravilhosas praias da Arrábida, arrisquei de-masiado na minha natação

desengonçada e ineficiente, com a intenção de alcançar a Ti’ Anicha, e tive problemas. Entretanto, pedi timidamen-te à Valente para perguntar na praia se alguém tinha disponibilidade para me aju-dar. Aproveitei então para conhecer uma nadadora-salvadora e quando assentei os pés na areia da praia, por sorte, encontrei uma moeda de €1. Fui logo a correr com-prar um gelado; um Calippo, para ser mais preciso. Desde então são os meus gelados preferidos!

Já também fomos à desco-berta de caches subaquáti-cas com amigos e nós ficá-mos apenas a dar indicações (a Valente também se sente pouco à-vontade).

PS: O pormenor sobre a ten-tativa de chegar à Ti’ Anicha a nado é obviamente falso mas as dificuldades, a nadadora, a moeda e o gelado são factuais!

F.C. - Tendo vós uma cache que implica a travessia a nado de uma lagoa, como é que ultrapassaram o pro-blema da sua colocação e consequente manutenção?

V.C. - Pois, não foi fácil. A ca-che é a Indiana Jones e para ser encontrada, pelo menos na forma como foi colocada e aconselhamos, os geo-cachers têm atravessar a nado a lagoa. Na colocação da cache, juntamente com

Page 85: Edição 11 - GeoMagazine

12 de Outubro de 2014, por António Cruz

Olá António,

Eu sou tu e escrevo-te do futuro, a cerca de 20 anos de concretizares o teu sonho!

Por esta altura estarás cer-tamente a pensar que isto de escrever histórias é por-ventura uma grande frustra-ção! Está bem que a escrita, por só por si, é a melhor forma de viajar. Para além disso, foi fantástico que a professora de Português do 7º ano, à qual mostraste o conto que escreveste, tives-se gostado tanto que come-çou utilizá-lo nas suas aulas e sugeriu mesmo a ideia de avançar com a publicação do livro. Mas, a partir daqui,

tudo se desvaneceu. Com uma esperança do tamanho da imaginação, o único ma-nuscrito foi entregue a um colega para fazer as ilustra-ções da história. O tempo, já na altura inquieto, foi célere mas as ilustrações não apa-receram. Com o final do ano escolar, o cenário piorou: a professora foi colocada nou-tra escola e o livro foi adiado. Para piorar, as ilustrações não passaram de rabiscos imaginários e o próprio “ar-tista” acabou por desapa-recer pouco tempo depois, deixando um espaço vazio em forma de desilusão. Dei-xa-me já precaver-te da tris-teza anunciada: daqui a pou-cos anos vais ficar a saber que o “artista”, logo que teve oportunidade, vendeu a his-tória que escreveste. Contu-

do, não faço a mínima ideia do que lhe aconteceu. Não sei se alguma vez o conto foi publicado.

De qualquer forma, e é isso que é importante, não desa-nimes! Muitas outras histó-rias virão ao teu encontro. Será uma longa viagem, com muitos percalços, mas não preciso de te incentivar pois já sabes que valerá a pena. E, quando surgir a oportuni-dade, uma dessas histórias ganhará o direito de existir por si. Não te quero estragar o prazer da descoberta mas o lançamento do teu primei-ro livro será marcante. Na tua vida, irás encontrar mui-tas pessoas especiais, que insistirão em marcar pre-sença, independentemente da distância. Outras lamen-tarão a indisponibilidade

mas ficarão felizes com essa conquista! Não vale a pena descrever-te o local pois o mesmo ainda não foi cons-truído. Não te esqueças de agradecer à família e ami-gos por tudo, assim como à editora que acreditará em ti. E agora, deixa essa tristeza em forma de um sonho des-feito e vai escrever qualquer coisa. Fico à espera, ansio-samente, por te reencontrar em mim!

PS: Relembro-me de ti, a levar um pequeno caderno para escrever essa história, algumas vezes para o meio da natureza. Sei que não vais acreditar nisto mas um dia vais descobrir um passa-tempo fantástico e com um nome esquisito: geocaching. Acho que vais gostar!

85

GEOMAG.

Lançamento d”O tempo inquieto” ou a carta que sempre quis escrever!

Page 86: Edição 11 - GeoMagazine

GEOMAG.

86

OutubrO 2014 - EDIÇÃO 11

o Napoleão, preferimos es-calar a parede que fica do lado esquerdo da lagoa e destrepámos na cascata. Para prevenir problemas levei um colete mas não foi necessário. Foi desafiante lá chegar com o recipiente e com o material para colocar a cache, incluindo um berbe-quim (que não chegou a ser necessário). A primeira sen-sação de entrarmos naquele espaço é inesquecível, como se fossemos crianças à es-pera do primeiro Natal. Um ano depois foi necessário fazer manutenção e fui pelo mesmo acesso, mas des-ta vez levei uma corda para ajudar o destrepe na casca-ta. Assim, apenas me molho quando atravesso a cascata. A temperatura da água tam-bém pode estar relacionada com estas peripécias.

F.C. - O Geocaching é tam-bém feito de encontros, é por natureza uma atividade onde cruzamos pessoas de todos os géneros e dos mais variados horizontes. Houve alguns encontros particu-larmente marcantes para os Valente Cruz? Algumas amizades ficarão definitiva-mente para a vida?

V.C. - Essa é uma das ver-tentes mais fantásticas do geocaching! Talvez a melhor de todas. Existiram mui-tos momentos e encontros inesquecíveis, sendo que as amizades certamente serão para a vida. Para que não nos esqueçamos de ninguém, não iremos referir alguém. Foram muitos os lugares onde nos encontrá-mos com outros geocachers, para além naturalmente dos eventos. Tal acaba por ser uma consequência natural do passatempo, mesmo os

encontros inesperados e nos sítios mais inusitados, desde as Fisgas de Ermelo, o Rio Poio, algures no meio da Serra do Gerês ou da Estrela. Nestas circunstâncias é fácil criar empatia. Não precisa-mos de dar explicações e a simples presença represen-ta a partilha de um interes-se. Muitos outros encontros foram programados, com ou sem eventos, e também nos permitiram conhecer pes-soas fantásticas, tais como em caminhadas por vários percursos e linhas (aban-donadas, de sentidos e/ou de vidas), em alucinantes e tresloucadas investidas no-turnas ou numa qualquer cache citadina em que a probabilidade de um encon-tro fortuito se transformou numa memória partilhada. Para além de encontros na procura de caches existi-ram ainda encontros na colocação de caches, tanto pensadas como casuísticas. Deixámos entretanto a “pre-mium membership” e já não podemos atribuir favoritos às caches mas passamos a reservá-los para os amigos descobertos!

F.C. - Se tivessem o poder de alterar alguma coisa no panorama atual do Geo-caching em Portugal, qual seria a vossa primeira es-colha?

V.C. - Não é fácil escolher apenas uma! Mas vá, tam-bém não achamos que o panorama esteja assim tão mau. O geocaching não é uma atividade isolada e quem chega ao passatem-po acaba por trazer algumas idiossincrasias pessoais e sociais que nos caracteri-zam. Assim, talvez utopi-camente, um dos aspetos

que gostaríamos que se al-terasse no panorama atual do geocaching relaciona-se com aquilo que Miguel Torga designava por “de-mocracia de rosto humano”, em que, para lá das leis (ou guidelines, no geocaching), deveríamos guiar-nos por uma disposição moral para agir corretamente, mesmo quando não existisse uma obrigação formal de o fazer ou mesmo que tal nos pre-judique de alguma maneira. Por vezes, dedicamo-nos excessivamente a tentar contornar as leis e nem per-cebemos que nos estamos a esconder da razão. O cliché “cada um joga como quer” não inviabiliza a distinção entre o que é correto e o que é errado.

Achamos também que de-veria existir alguma condi-ção (de tempo ou número mínimo de caches) para se colocar a primeira cache. Talvez a Groundspeak não goste da ideia, uma vez que a empresa vive da colocação de caches, boas ou más, e os números são importantes. Gostaríamos também que houvesse uma maior sensi-bilização para que os geoca-chers escrevessem registos e criassem listagens de ca-ches que fossem para lá de siglas e/ou mesmo de espa-ços vazios.

F.C. - Uma mensagem, um desejo ou um conselho que queiram deixar à comunida-de, e em particular aos geo-cachers recém-chegados à atividade, para que consi-gam viverem o Geocaching com a plenitude que vocês alcançaram?

V.C. - Não sabemos se pode-mos servir de exemplo mas

acreditamos que encontrá-mos um equilíbrio saudá-vel no nosso geocaching: enquanto donos, coloca-mos apenas as caches que gostaríamos de encontrar, enquanto descobridores passámos a procurar ape-nas aquelas em que temos a certeza de que iremos gos-tar. Não existirá uma forma ótima de estar neste pas-satempo e cada qual tem o seu ritmo e espaço, podendo esconder/procurar mais ou menos caches. No limite, o mais importante é que cada um se sinta bem com o seu geocaching e não afete ne-gativamente o dos outros. Todos cometemos erros (particularmente no início) e, mais cedo ou mais tarde, ar-rependemo-nos de alguma coisa que fizemos ou dei-xámos por fazer. Existirão também sempre momentos em que surgem divergências e formas distintas de pensar e estar no geocaching. Nes-sas alturas, é importante relativizar as circunstâncias e recordar que isto é apenas um passatempo. Para fina-lizar, gostaríamos de agra-decer novamente o convite para esta entrevista. É para nós um motivo de satisfação e orgulho o interesse revela-do, numa revista que se tem tornado numa referência in-contornável do geocaching em Portugal!

Muito obrigada Ana e Antó-nio! Vemo-nos com toda a certeza, numa cache por aí!

Flora Cardoso

- Lusitana Paixão

Page 87: Edição 11 - GeoMagazine

87

GEOMAG.

Page 88: Edição 11 - GeoMagazine

Foto de Grupo

Page 89: Edição 11 - GeoMagazine

Foto ReportagemPrémios GPS 2013

Por Geopt

Page 90: Edição 11 - GeoMagazine

GEOMAG.

90

OutubrO 2014 - EDIÇÃO 11

Quando, em 2011, o Geopt avançou com a primeira edição do projeto Prémios GPS, acredito que nenhum dos membros da equipa tenha tido sequer o atrevi-mento de sonhar em reali-zar um dia a Cerimónia Pré-mios GPS num dos nossos Arquipélagos.

A oportunidade de produ-zir o Evento em Lagoa, na Ilha de São Miguel, surgiu no final do mês de Feve-reiro de 2014, pela mão do geocacher micaelense Netuseraz, praticamente em simultâneo com a can-didatura do Jorge_53 por Mirandela, distrito de Bra-gança.

Ambos os candidatos de-monstravam uma motiva-ção absolutamente con-tagiante e apresentavam programas poderosíssi-mos. Descartar qualquer uma das propostas, em benefício da outra, era uma decisão difícil e com um travo bastante amargo.

Mirandela seduzia pela in-terioridade, pela tipicidade e pelo caráter genuíno da localização, que o Geopt sempre privilegiou na orga-nização dos Prémios GPS. Lagoa era uma oportuni-dade única de transportar a Cerimónia a um oceano de distância, num cenário idíli-co, com condições técnicas e logísticas jamais alcança-das no passado. Mas era, acima de tudo, a possibi-lidade para os geocachers micaelenses, já conforma-dos em acompanhar anual-mente o evento à distância, de presenciarem ao vivo e a cores esta grande festa do Geocaching nacional.

Eventualmente o nosso primeiro agradecimento dirige-se ao Jorge_53, que apoiou incondicionalmente a nossa adjudicação à pro-posta Lagoa 2014 e que

deixou a porta aberta para receber a próxima edição, mesmo a ano e meio de distância. Uma atitude ge-nerosa e altruísta, que nos deixa a certeza que Miran-dela 2015 está entre ex-celentes mãos e resultará numa edição brilhante.

No dia 1 de Abril de 2014 era oficializada a adjudica-ção da proposta açoriana, os dados estavam lança-dos, e a máquina Prémios GPS 2013 estava em mar-cha.

Na noite de 19 de Feve-reiro 2014 foi divulgada a lista das 390 caches no-meadas e no dia seguinte foi aberta a plataforma de votações. Durante cerca de seis meses, os geocachers tiveram oportunidade de programar as suas visitas às caches nomeadas, a solo, em grupo, em família ou entre amigos. Alguns distritos apostaram for-te da divulgação das suas caches nomeadas, com espetaculares eventos te-máticos organizados pelos Lobbys distritais. Na reta fi-nal o número de inscrições para aceder ao boletim de voto foi de tal ordem que o tempo de resposta auto-mática do servidor chegou a ascender a várias horas. As votações encerraram à meia-noite do dia 25 de Agosto, com 1488 inscritos e 843 votantes. As 5 geo-caches finalistas de cada distrito foram divulgadas na noite do dia 27 de Agos-to 2014, encerrando assim o ciclo de votações.

26 de Agosto a 2 de Se-tembro 2014: Oito dias.

Oito dias, era o tempo útil que restava à equipa para montar uma operação lo-gística sem precedentes na história dos Prémios GPS: desenhar e produzir as 24 medalhas vencedo-

ras, realizar 41 vídeos, tes-tar e compatibilizar toda a plataforma de streaming, desenhar o alinhamento e escrever o guião da Ceri-mónia, contactar os ven-cedores, marcar voos e estadia para 8 vencedores e respetivos acompanhan-tes. No dia 3 de Setembro, o primeiro grupo de conti-nentais viajaria para São Miguel, e os restantes le-vantariam voo ao longo do dia 4, e no dia 5 chegava o último participante.

Na decisão para a sele-ção de Lagoa, para além do fantástico programa de atividades, pesou determi-nantemente a possibilida-de de levar até aos Açores, 14 intervenientes diretos na Cerimónia, com viagens e estadias pagas. De real-çar que o Geopt não rece-beu qualquer verba mone-tária para a organização do Evento, mas sim os vou-chers correspondentes ao patrocínio, bem como a ga-rantia do espaço físico para a realização da Cerimónia, e as melhores condições téc-nicas para operacionalizar o projeto.

Reduzimos a 6 o número de elementos do Staff, con-siderado absolutamente indispensável para a rea-lização presencial da Ceri-mónia. Ficamos assim com 8 convites a endereçar aos vencedores distritais, havia portanto que definir um cri-tério face aos 19 potenciais viajantes (a equipa vence-dora do Arquipélago dos Açores estaria em casa). Numa decisão consensual, optamos por endereçar os convites dando prioridade aos owners que obtiveram as pontuações mais eleva-das nas suas caches ven-cedoras.

O entusiasmo dos vence-dores superou as nossas melhores expectativas e os

convites foram aceites em tempo record. Um bem-ha-ja aos restantes vencedo-res que, mesmo não tendo tido a oportunidade de voar até São Miguel, acolheram a notícia com enorme ale-gria e assumiram o com-promisso de nos enviar os seus agradecimentos, em imagens. Belíssimas pro-duções, magníficas paisa-gens, momentos de comé-dia e humor, os vídeos de agradecimento são o mais puro reflexo do ecleticismo que caracteriza esta ati-vidade. Mas seguramente que o denominador comum a todas as mensagens de agradecimento pela vitó-ria distrital, foi aquele bri-lho mágico nos olhos dos protagonistas, os sorrisos rasgados de orgulho e fe-licidade.

Dizer que Lagoa nos aco-lheu de braços abertos, é pouco para transmitir a for-ma como fomos recebidos e tratados neste pequeno paraíso.

O programa foi soberbo em todas as vertentes, e a descoberta da lha de São Miguel transformou-se para muitos numa história de “Amor à Primeira Vista”, tendo em conta que uma boa parte do contingen-te continental visitava os Açores pela primeira vez.

Foram quatro dias de festa num incrível ambiente de amizade e camaradagem, não só entre os continen-tais mas também e sobre-tudo no contacto com os geocachers micaelenses, a maior parte auto-inti-tulados “Geocachers Fra-quinhos”, fantástico grupo cheio de energia e boa dis-posição!

A Cerimónia fluiu nas me-lhores condições, no Cine-Teatro Lagoense Francisco D’Amaral Almeida, um be-

Page 91: Edição 11 - GeoMagazine

GEOMAG.

91

Outu

brO

2014

- ED

IÇÃO

11

líssimo espaço multimédia gentilmente cedido pela Câmara Municipal de Lagoa para a ocasião. A abrir com chave de Ouro, o prestigia-do Coro e Ensemble Johann Sebastian Bach encheu o auditório de Música Antiga e de cor, numa atuação com excecional brilho teatral.

Contamos ainda com a presença da Dra. Verónica Almeida, adjunta do Presi-dente da Câmara Municipal de Lagoa, que muito nos honrou com o seu discurso de abertura.

Ao longo da noite e entre os 24 Prémios a concurso, 14 foram entregues em mãos aos respectivos vencedo-res, um record absoluto na história dos Prémios GPS. Estiveram presentes o Sér-gio Reis (Sphinx_n_Sophie, vencedor da Guarda), David Topete e Amílcar Rocha (tri-lhosecaminhos, vencedor de Braga), José Matos (Timon i Pumba Team, vencedor de Vila Real), Gilberto Ferrei-ra (Falkon Eye, vencedor de Leiria, vencedor na catego-ria Recipiente e vencedor Nacional), Bruno Gonçalves (Madureira’s, vencedor do Porto), Fernando Silva e Aida Felicidade (Los Cabaneros Geo Máfia, vencedor de Se-

túbal), Paulo Gordinho, Pau-la e Diogo (Caracóis Turbo, vencedor de Aveiro e ven-cedor na categoria Aven-tura), Hugo Pita (hugopita, vencedor do Arquipélago da Madeira), Pedro Mendes (Clavent, vencedor de Lis-boa e vencedor na categoria Local), e a dupla Geohidden, vencedora do Arquipélago dos Açores.

Notável também, a pre-sença de vários geocachers continentais que, de for-ma espontânea e por conta própria, decidiram embarcar nesta aventura e aproveitar a oportunidade única de vi-sitar São Miguel por conta do fabuloso programa.

Correndo o risco de nos es-quecermos de alguém, ta-manho foi o esforço e a onda de solidariedade e entreaju-da que pautou este projeto, não podemos deixar de diri-gir alguns agradecimentos.

Do fundo do coração, muito obrigada ao Nuno Fonseca, mentor da iniciativa e anfi-trião da Cerimónia. Era pre-cisa muita coragem e talvez uma boa dose de loucura para avançar com esta can-didatura. Uma aposta ven-cedora, do princípio ao fim!

Ao Pedro Martins e à Joana,

da Pousada de Juventude de Lagoa, pelo profissiona-lismo, pela simpatia e pela generosidade com que nos apoiaram nesta operação logística descomunal.

Ao Pedro Almeida, o bra-ço direito do Geopt em São Miguel, pelo fantástico tra-balho desenvolvido no Site de Apoio à candidatura e por toda a ajuda prestada du-rante a Cerimónia.

Ao Luís Machado e à esposa Susana, pela disponibilida-de e pela ajuda na logística desta operação.

Ao Rui Borges, o nosso téc-nico de iluminação, pela pa-ciência e boa vontade, pelas horas de trabalho dispen-sadas nos testes e ensaios, para que tudo corresse pelo melhor.

Ao Cláudio Cortez, o nosso técnico de som, pela eficiên-cia e pelo companheirismo ao longo das várias Edições dos Prémios GPS.

À lindíssima Maria da Schin-dler Team, recrutada ape-nas um par de horas antes no início do espetáculo, que desempenhou com um brio especial o papel de assis-tente de palco.

Ao Filipe Sena, pela cele-

ridade e pela qualidade do trabalho de design das me-dalhas.

À régie, liderada por Óscar Migueis, pela magia do es-pectáculo, dentro da sala e nos ecrãs dos espectadores que nos acompanharam via Geopt.tv.

À Câmara Municipal de La-goa, à Pousada de Juventu-de de Lagoa, à Agência de Viagens Micaelense, o nos-so profundo agradecimento.

À SATA pelo apoio nas pas-sagens dos continentais.

A todos aqueles que nos honraram com a sua pre-sença, e àqueles que nos acompanharam à distância, durante esta inesquecível noite de 6 de Setembro de 2014. A todos aqueles que votaram, porque só assim esta iniciativa faz sentido e toma toda esta dimensão.

A todos os colaboradores e a toda a comunidade Geopt, porque este sucesso é tam-bém e sobretudo vosso.

Temos encontro marcado em Mirandela, em 2015.

Até lá, votos de excelentes momentos de Geocaching!

A Equipa Geopt

Prémios GPS 2013: As Medalhas

91

Page 92: Edição 11 - GeoMagazine

92

GEOMAG.

Os apresentadores da Cerimónia: João Batista e Flora Cardoso

A plateia

Page 93: Edição 11 - GeoMagazine

93

GEOMAG.

Cartaz promocional

Page 94: Edição 11 - GeoMagazine

94

GEOMAG.

Dra Verónica Almeida, Adjunta ao Presidente da CâmaraMunicipal de Lagoa

Sphinx_n_Sophie

Page 95: Edição 11 - GeoMagazine

95

GEOMAG.

Timon e Pumba

Coro e Ensemble Joan Sebastian Bach

Page 96: Edição 11 - GeoMagazine

96

GEOMAG.

Trilhosecaminhos

Falkon Eye

Page 97: Edição 11 - GeoMagazine

97

GEOMAG.

Brunolsg

Page 98: Edição 11 - GeoMagazine

98

GEOMAG.

Los Cabaneros GeoMáfia

Caracóis Turbo

Page 99: Edição 11 - GeoMagazine

99

GEOMAG.

Hugo Pita

Page 100: Edição 11 - GeoMagazine

100

GEOMAG.

GeoHidden

Clavent

Page 101: Edição 11 - GeoMagazine

101

GEOMAG.

Peter!

Page 102: Edição 11 - GeoMagazine

102

GEOMAG.

Netuseraz

Vencedores

Page 103: Edição 11 - GeoMagazine

103

GEOMAG.

Prémios!

A Regie

Page 104: Edição 11 - GeoMagazine

Panorâmica de Tallinn. Ao fundo balão sobre o porto que faz a ligação a Helsínquia

Page 105: Edição 11 - GeoMagazine

Guia TurísticoBáltico em Fotografias

Por Jasafara

Page 106: Edição 11 - GeoMagazine

GEOMAG.

106

OutubrO 2014 - EDIÇÃO 11

Este artigo não pretende ser redundante com o muito que se pode ler tanto no blog CruzaMundos do Torgut, como em números passa-dos da GeoMagazine sobre os países Bálticos (Estónia, Letónia e Lituânia) e Helsín-quia e arredores.

Torgut

http://www.cruzamundos.com/category/viagens/fin-landia/ (Helsínquia e Porvoo)

http://www.cruzamundos.com/category/viagens/es-tonia/ (Tallinn)

http://www.cruzamundos.com/category/viagens/le-tonia/ (curta passagem por Riga)

http://www.cruzamundos.com/category/viagens/li-tuania/ (Vilnius e Kaunas)

N@vegante e AnaSofiaAze-vedo

http://geopt.org/geomagazi-ne/portfolio/edicao-5-geo-magazine/ (Helsínquia)

http://geopt.org/geomagazi-ne/portfolio/edicao-6-geo-magazine/ (Báltico)

No meu caso tive a liber-dade que o ter alugado um carro me propiciou e tive a possibilidade de além de ter visitado as capitais e arre-dores ficar com uma ideia do interior. Além dos sítios bem descritos nos artigos referidos, realço ainda o

Nuuksio National Park, per-to de Helsínquia e onde deu para ficar com uma peque-na ideia da paisagem típica de uma floresta finlandesa, Trakai e a Hill of Crosses na Lituânia e a zona leste da Letónia incluindo a cidade de Daugavpils passando perto das fronteiras com a Rússia e a Bielorrússia, com popu-lações de língua maiorita-riamente russa e com uma paisagem bem diferente das zonas mais ocidentalizadas.

A travessia em formato cru-zeiro de Helsínquia para Tal-linn com pernoita e jantar buffet no barco foi muito in-teressante porque deu para perceber o intenso turismo

do álcool que existe entre a Finlândia (onde as taxas são muito elevadas) e a Estó-nia (com preços muito mais acessíveis).

Muito interessante tam-bém a quantidade de arte urbana que se encontra por todo o lado, com realce para a estatuária que vai da mo-numentalidade tipicamente dos tempos soviéticos até às muito interessantes em madeira.

E chega de palavras, fiquem com algumas fotografias.

Joaquim Safara

- jasafara

Sibelius Monument - Helsínquia

Page 107: Edição 11 - GeoMagazine

107

GEOMAG.

Helsínquia. Como também já tinha visto em outros países nórdi-cos os cães podem entrar nas lojas e nos transportes públicos.

Page 108: Edição 11 - GeoMagazine

108

GEOMAG.

Casa de madeira, muito vulgar nestes países. - Letónia

Típica igreja católica de província - Letónia

Page 109: Edição 11 - GeoMagazine

109

GEOMAG.

Daugavpils, segunda maior cidade letã de população maioritari-amente russa - Letónia

Page 110: Edição 11 - GeoMagazine

110

GEOMAG.

Arte urbana - Lituânia

Page 111: Edição 11 - GeoMagazine

111

GEOMAG.

Hill of Crosses - Lituânia

Por estes países vêm-se muitos carros eléctricos a andarem sobre carris ou como neste caso sobre pneumáticos. - Letónia

Page 112: Edição 11 - GeoMagazine

112

GEOMAG.

Museum of Genocide Victims em Vilnius - Lituânia

Guerreiro medieval a falar ao telemóvel - Lituânia

Page 113: Edição 11 - GeoMagazine

113

GEOMAG.

Trakai – típica estátua de madeira - Lituânia

Page 114: Edição 11 - GeoMagazine

114

GEOMAG.

Desta vez a aventura le-vou-nos a percorrer a grande rota 11 que liga Santiago do Cacém ao cabo São Vicente. Fiz na companhia de qua-tro amigos em BTT e em autonomia. A dormir em hotéis de estrelas infini-tas, a tomar banho em barragens e sistemas de rega e muitas refeições nos melhores restauran-tes gourmet.

A grande rota 11, desig-nada por os caminhos históricos da costa Vi-centina, percorre as prin-cipais vilas e aldeias num itinerário rural com vários séculos de história. Cons-tituído maioritariamen-te por caminhos rurais, trata-se de uma clássica Grande Rota (GR), total-mente percorrível a pé e de BTT, com troços de montado, serra, vales, rios e ribeiras, numa via-gem pelo tempo, pela cul-tura local e pelos trilhos da natureza com um total

de 220 km.

Na primeira etapa fize-mos cerca de 50 km. Saí-mos de Santiago do Ca-cém, cidade com fortes ligações às peregrinações a Santiago de Compos-tela. É nesta cidade que se inicia esta travessia ao longo do sudoeste de Portugal. Por aqui pas-sam desde a Idade Média, peregrinos oriundos do Promontorium Sacrum, o destino mítico desta via-gem histórica que agora se recupera. Acabámos na serra de São Luís. Este troço é dominado pelo sobreiro, árvore emble-mática do Alentejo. Sobre ele afirmou Vieira Nativi-dade, notável silvicultor português: “nenhuma ou-tra árvore dá tanto exigin-do tão pouco”.

A primeira paragem fez-se em Vele seco para rea-bastecer. Vale seco é uma pequena aldeia, apenas com um café/mercearia e meia dúzia de casas.

Ao aproximarmo-nos da aldeia passamos junto a pequenas propriedades agrícolas, contactando de perto com o ritmo da vida no campo e as pes-soas que aqui vivem. Este é um Alentejo puro, por vezes solitário, onde vale a pena parar no café para um dedo de conversa e muita sabedoria, como foi o caso de um homem que estava ali sentado e que no meio de muitas his-tórias, disse-nos que já tinha vivido no stress da cidade da Amadora.

Em Santiago do Cacem, pode-se fazer sete ca-ches, são elas a “Cerro da Inês” (GC1B6RK) do Team beldroegas, “Manuel da Fonseca - Santiago do Cacém” (GC43X59) do Team Cardos, “Windmill – Santiago do Cacém”( GC43WYQ) do mesmo Team, “S. Tiago (parte II)” (GC1WFQJ), uma Multi do Team lufi69. A “Castelo de Santiago”( GCN9EN) do

Team clcortez, e a “Pas-seio das Romeirinhas [Sant. Cacém]”( GC3A11D) do Team MightyReek. Um pouco mais afastado do centro ainda se pode fa-zer a “Ruínas Romanas de Miróbriga (Santiago do Cacém)”(GC450XB), também esta do Team Cardos. Com muita pena nossa, aqui não fizemos nenhuma, porque já está-vamos um pouco atrasa-dos em relação aquilo que tínhamos programado, mas com certeza que um dia voltaremos para as fazer. Gostamos do que vimos e acreditamos que devem ser caches de boa qualidade.

Até Vale Seco e com um pequeno desvio ainda se pode fazer a “3500rpm [Santiago do Cacém]”(-GC1Q0QC) do Team MightyReek, uma cache que deve valer muito a pena faze-la dado o nu-mero de favoritos que tem. Nós fizemos a “S.

Rota VicentinaPor GeoLeo

Page 115: Edição 11 - GeoMagazine

115

GEOMAG.

Tiago (parte III)”( GC-2CEDJ) do Team lufi69, uma cache que nos mos-tra as ruinas do antigo convento do Loreto, agora tomado por um rabanho de cabras, mas no en-tanto com uma paisagem envolvente muito bonita. A segunda paragem foi na inevitável barragem de Campilhas, um local ideal para um mergulho refres-cante com paisagens fan-tásticas.Aqui existem duas caches a “Ruínas de Campilhas”( GC1DB98) do Team Oli-veiras e a “Um momento de sossego [longe]”(GC-3W0R4) do Team touper-dido, mas como a vontade de tomar um banhinho, falou mais alto, estas também ficaram por fa-zer. No entanto aconselho uma visita a estas caches, porque o local e todo o meio envolvente é muito agradável.O terceiro troço do dia foi feito entre a barragem e o

Cercal do Alentejo. Este é o percurso mais árido da Rota Vicentina, através de um Alentejo agrícola e marcadamente rural, onde se sente, apesar da proximidade da costa, os cheiros e a força do ver-dadeiro interior.

No Cercal fizemos a “Au-gusto Fuschini”( GC4N-1BC) do Team TelmoeLilia. Estava eu a tentar disfar-çar a procura da cache, quando alguém diz: “é do outro lado”. Foi o vizi-nho da frente que já sabe da existência da cache e acabou por nos facilitar a procura. Gostámos do contentor, bem trabalha-do e disfarçado. Assim como também gostámos do local e de ficar a sa-ber a história de Augusto Fuschini. No entanto e porque nos ia fazer per-der algum tempo dei-xamos por fazer a multi “A Lenda”(GC22TZC) do Team ven@tor.

Aproveitámos para nos

reabastecer, mas como queríamos continuar para fazer mais uns quilóme-tros, decidimos comprar alimentos para o jantar, pois sabíamos que não tínhamos tempo para chegar a São Luís e que provavelmente ficaría-mos num qualquer lugar no meio da serra.

Depois das compras fei-tas iniciamos o percurso sem destino. Este percur-so é o mais montanhoso da Rota Vicentina, um percurso exigente em ter-mos físicos, com subidas longas em terrenos duros e irregulares, mas em que se tem a oportunidade de apreciar vistas deslum-brantes sobre a planície e o Atlântico.

Estávamos na dúvida de onde pernoitar, mas de-pois de encontrarmos um sistema de rega, não hesitamos. Estávamos entre o Cercal do Alente-jo e São Luís no meio do nada, num local fantás-

tico da serra, mesmo ao lado da “Minas Ithil [Mor-gul Valley - VN Milfon-tes]” (GC1F9Z4) do Team MightyReek, em pura co-munhão com a natureza, com condições para to-mar um banhinho e umas ruinas para montarmos o restaurante gourmet. Ficamos todos de acordo e lá fizemos o check-in num dos hotéis com mais estrelas em que fiquei em toda a minha vida.

Neste percurso passamos pela “Bica Santa”(GC2B-WZH) do Team IDILIO49, que eu pessoalmente já a tinha feito no evento “Fo-toSafari II - Costa Vicenti-na”(GC45Y03) organizado pelos Team ajsa, golfinha & MightyReek, mas que aproveitámos para os restantes companheiros de aventura a fazerem, uma cache num local muito aprazível e que nos mostra uma fonte tipica-mente Alentejana.

No segundo dia, iniciamos

Page 116: Edição 11 - GeoMagazine

116

GEOMAG.

Page 117: Edição 11 - GeoMagazine

GEOMAG.

117

Outu

brO

2014

- ED

IÇÃO

11

a resto do percurso até São Luís e a coisa ia cor-rendo mal. No dia ante-rior não compramos água suficiente e como o per-curso até São Luís foi exi-gente, ficamos sem água e particamente sem ali-mentos no meio da ser-ra. Foi aqui que sentimos o isolamento e a falta de infraestruturas da rota. Tem que se ter muito cui-dado com estes porme-nores, porque o que torna esta rota singular e muito bonita, num constante isolamento e sempre em contacto com a natureza, também nos pode levar a situações de risco.

Nesta manhã ainda pas-samos pela “Serra do Penedo - S.Luis, Odemi-ra”(GC5AW5D) do Team buscazé, mas que ficou por fazer dado a situação e localização da cache no cimo de um penedo e com uma dificuldade de terre-no de 4,5. Assim como a “Cerro São Domingos (S.Luís)”(GC1RFKW) do Team Strangedays, que eu já a tinha feito, mas que os meus companhei-ros não a quiseram fazer, pelas mesmas razões. No entanto tive pena, porque esta cache está num local fantástico e com uma vis-ta deslumbrante.

Claro que quando chega-mos a São Luís fatigados e quase desidratados, no primeiro café que encon-tramos parecíamos uns alarves a comer. Nunca uma refeição me sobe tão bem.

Aqui em São Luís existe uma Multi que por nos fa-zer perder algum tempo também ficou por procu-rar, a “São Luís – Encryp-ted”(GC578YP) do Team

TelmoeLilia.

Depois de reconfortados e reabastecidos, segui-mos para o percurso até Odemira. Esta é a etapa da água, onde se desven-da um Alentejo diferente, verde e vibrante de vida, com pegos e ribeiras re-frescantes, a Ribeira do Torgal como protagonista e uma floresta viva, com abundância de espécies valiosas que cobrem as margens das linhas de água como salgueiros, amieiros ou freixos.

Fazendo um desvio de 1 km do itinerário prin-cipal chegámos ao Pego das Pias, um dos ex-lí-bris da região. Este é um local mágico, ideal para uma pausa e um pique-nique. Com uma cache, a “Pego das Pias [Odemi-ra]”(GC171ZK) do Team MightyReek, uma cache que não encontrámos e que provavelmente está desaparecida dado que os últimos geocacheres também não a encon-traram. Antes desta já tínhamos passado por outra dedicada aos pe-gos na região, a “Pego da Laima [S. Luis - Odemi-ra]”(GC1G886) do mesmo Team. Esta eu também já a tinha feito e de BTT é praticamente uma drive-in, mas num local idílico. Os pegos, troços da ribei-ra que permanecem com água no Verão e que se encontra ao longo deste percurso, são essenciais à sobrevivência do esca-lo-do-mira. Trata-se de uma espécie endémica da bacia do Rio Mira, sendo este o único sítio do mun-do onde podemos encon-trar este pequeno peixe.

Em Odemira fizemos ou-

tra paragem para abaste-cer de água num chafariz e aproveitar para procurar a “A Barca do Rio Mira”(-GC51NGF) do Team jpsil-vestre, que também não a encontrámos, mas que gostamos do local. De-pois ainda passamos pela “Odemiradouro [Odemi-ra]”(GC1K5K8) do Team MightyReek, mas que por uma razão qualquer não nos apercebemos. A vila de Odemira é o centro administrativo do vasto Concelho de Odemira, o maior de Portugal. Esta centralidade tem origem na sua situação geográfi-ca particular.Quando chegámos a S. Teotónio, já tínhamos cerca de 60 km nas per-nas com troços difíceis. Sentíamo-nos cansados e por isso deixamos a “Soldados de Ultramar”(-GC4N4DK) do Team jpsil-vestre por fazer porque estava ligeiramente des-viada da rota. Queríamos chegar a Odeceixe para ficar no parque de cam-pismo e assim poder-mos tomar um merecido banho. Decidimos então iniciar o percurso. Um percurso memorável, em que percorremos trilhos inóspitos, cobertos de vegetação autóctone e bem preservada, descer a vales fundos e subir de novo às alturas da serra, apreciando a vista sobre o casario de Odeceixe e o mar. No final tínhamos o Algarve à vista e está-vamos mais mortos que vivos, mas de alma cheia.No dia seguinte partimos do parque de campismo de Odeceixe com destino a Aljezur. À saída de Ode-ceixe e logo para começar bem tivemos de subir ao

centenário moinho de vento, onde foi impe-rativo fazer uma pausa para recuperar, procurar a “Odeceixe Windmil-l”(GC3NEAX) do Team alexblack13 e apreciar a vista. Daqui vê-se toda a vila, a extensa várzea e a ribeira de Seixe que segue o seu rumo até ao mar.Depois entrámos junto às levadas do Sudoeste, ao longo do canal de rega do Mira, numa paisagem de vistas desafogadas, com a serra a nascente e o Atlântico a poente. Aqui tivemos que ser pruden-tes, os trilhos são junto às margens e com trilhos muito estreitos. Qualquer desequilíbrio poder-nos-ia fazer cair para dentro do canal que ainda tem uma corrente forte. Mas nem isso nos tirou a vontade de tomarmos um banhinho e só não o fize-mos porque o tempo não estava convidativo. Tí-nhamos pensado em faze-lo junto a uma represa e assim só seriamos arras-tados até à represa, con-seguindo depois sair pela mesma.Um troço sem uma úni-ca cache, mas com um potencial fabuloso para a sua colocação. Existem locais neste troço que deveriam estar georre-ferenciados, pela paisa-gem, cultura e história. Para todos aqueles que quiserem colocar caches de qualidade tem aqui um terreno fértil. Em Aljezur fizemos a pri-meira pausa, numa Vila pitoresca com as suas ruas labirínticas e com um lindíssimo percurso histórico e cultural. Aqui existem quatro caches

Page 118: Edição 11 - GeoMagazine

GEOMAG.

118

OutubrO 2014 - EDIÇÃO 11

fora de rota, duas mul-ti e duas tradicionais, as quais deixamos por fazer, a “Miradouro”(GC566DX) do Team swapgirly, “0812 - Corpo Bombeiros Vo-luntários de Aljezur”(G-C3WPMZ) do Team Ba-ketas e as duas multi “Aljezur”(GC2XADN) do Team swapgirly, “Aljezur - Igreja Nova”(GC3GJ4Z) do mesmo Team.

Daqui partimos para a Bordeira, num percurso de um sobe e desce cons-tante e muito desgastan-te. Foi também neste per-curso que apanhámos o primeiro grande aguacei-ro. A sorte foi encontrar uma caravana com um toldo na praia do Canal que antecede uma desci-da vertiginosa. Tínhamos como destino a Carrapa-teira, onde pensámos em pernoitar. Pensado em alugar uma casa porque sabíamos que nessa noi-te existiam previsões de tempestade, mas quando chegamos à Carrapatei-ra, estivemos quase para acampar na praia, pela beleza natural que esta representa. Depois aca-bamos por ir mesmo para uma casa alugada e ainda bem que o fizemos. Pelas quatro da madrugada caiu uma daquelas tempesta-des, que se estivéssemos acampados nem as cue-cas do corpo se tinham aproveitado. Este percur-so confirma o lado mais agreste e inacessível des-ta região costeira.

Neste percurso já perto da praia da Arrifana e an-tes da tal descida verti-ginosa, encontramos um powertrail com dez ca-ches e mais oito interca-

ladas pelo meio. De todas só fizemos as primeiras duas, a “#1 Costa Vicenti-na hike”(GC3RT3Y) e a “#2 Costa Vicentina hike”(G-C3RW2T) do Team swap-girly, no entanto aconse-lho vivamente a fazer-se este PT porque o percurso e o local são magníficos e de paisagens muito boni-tas.

O último dia amanheceu chuvoso e sombrio com ar de tempestade. O que nos levou a questionar como seria difícil a pro-gressão com estas con-dições. Mas por volta das nove o tempo começou a abrir e decidimos então iniciar a etapa até Vila do Bispo. São paisagens em que a serra se derrama até ao litoral, indo morrer à praia, transmitindo sen-sações de amenidade e serenidade, mas também de vigor e magnificência.

Até Vila do Bispo ainda passamos por duas ca-ches. Uma multi “Pedral-va”(GC2T82F) do Team Lucmanx e uma tradicio-nal “Barragem do Mon-te Branco”(GC5457J) do Team barbaleta, que não a fizemos porque na altura levava o GPS desligado e não me apercebi.

Em Vila do Bispo fize-mos a ultima paragem para reabastecer antes de iniciarmos o percurso até ao cabo S. Vicente e fazermos a “Igreja Ma-triz de Nossa Senhora da Conceição”(GC4TH54) do Team barbaleta e a “Monumento Homem do Mar”(GC4TCVC) do mesmo Team, tendo fi-cado por fazer a “Campo de futebol – Vila do Bis-po”(GC545C1) também

esta do mesmo Team e a “0816 - Corpo Bombeiros Voluntários de V. do Bis-po”(GC3WPM3) do Team Baketas.

Este é o último percurso em direção ao ponto mais a Sudoeste da Europa, um local mágico onde ecoam as vozes de peregrinos e navegadores. Falésias monumentais, panorâmi-cas arrebatadoras sobre a costa e um palco privile-giado para o esplendor da mãe natureza.

Neste último percurso tínhamos como objeti-vo a cache com mais fa-voritos em Portugal, a “The End of the World [Sagres]”(GC12CRJ) do Team funkymunkyzone e foi a única que fizemos, mas no entanto e neste percurso ainda se pode fazer as “Cache Walker Castelejo: #1-The Gla-de”(GC1NR47) do Team Team Caracache, “VG TORRE D`ASPA”(GC1Q-Z5Z) do Team martinsstv, “Vale Santo (Sagres)”(G-CQ8GP) do Team Psipsi-na, a multi “Sea of Pines [Sagres]”(GC39Q8T) do Team Lucmanx, já no cabo S. Vicenta outra multi “Western Algarve - the beaches V.02”(GC2QNND) do mesmo Team, a “CI-TO”(GC1Q2QW) do Team DiabloSLB e a “Crumbling Castle”(GC2EDHK) do Team Martinhal.

Daqui ainda partimos para Lagos, onde fizemos mais 40 km para poder apanhar o autocarro de regresso. Fomos acolhi-dos pelos tios dos irmãos Perdigão, a quem fico eternamente agradecido pela maneira como nos receberam, dispondo de

todo para o nosso bem-estar. Bem hajam.

Depois de uma aventu-ra inesquecível de quatro dias e cerca de 260 km, não podia deixar de agra-decer aos meus compa-nheiros de viagem. Vocês são os MAIORES. Mas também a todos aqueles que trabalham em prólo-go deste projeto da rota Vicentina, afinal são eles que proporcionam estas aventuras riquíssimas a nível pessoal cultural e histórico.

Pena é não estar mais de-senvolvida a nível infraes-trutural, mas aí a culpa é do Tuga que ainda não deu o passo à frente que a maioria dos Europeus já deu. Para a maioria dos Europeus já não lhes in-teressa o consumismo ou o carro como estatuto social. Interessa-lhes o contacto com a nature-za, percorrerem grandes rotas a pé ou de bicicleta, conhecerem novas cultu-ras e as suas gentes.

Meus amigos se quiserem conhecer o vosso País ri-quíssimo em beleza na-tural cultural e histórico, deixem o carro em casa e passeiem a pé ou de bi-cicleta. Procurem caches em locais que nenhum carro vos consegue lá le-var e podem crer que vão encontrar recantos mag-níficos, ajudando projetos como http://www.rotavi-centina.com a desenvol-verem-se e a criar riqueza local e nacional.

Leonel Baptista

- GeoLeo

Page 119: Edição 11 - GeoMagazine

GEOMAG.

119

Outu

brO

2014

- ED

IÇÃO

11

Page 120: Edição 11 - GeoMagazine

120

GEOMAG.

Page 121: Edição 11 - GeoMagazine

121

GEOMAG.

Page 122: Edição 11 - GeoMagazine

122

GEOMAG.

Page 123: Edição 11 - GeoMagazine

123

GEOMAG.

Page 124: Edição 11 - GeoMagazine

GEOMAG.

124

OutubrO 2014 - EDIÇÃO 11

Entrevista Histórica

Pcardoso Por Jasafara

Page 125: Edição 11 - GeoMagazine

GEOMAG.

125

Outu

brO

2014

- ED

IÇÃO

11

Page 126: Edição 11 - GeoMagazine

GEOMAG.

126

OutubrO 2014 - EDIÇÃO 11

PCardoso é um dos Geoca-chers pioneiros de Portugal. Quando se registou não ha-via nenhuma cache escondi-da na Península Ibérica. De-sencantou-se com a falta de actividade e nem sequer se atreveu a esconder nenhu-ma cache porque não havia ninguém para a procurar.

Alguns meses depois re-descobriu o Geocaching numa reportagem televisiva e ficou entusiasmado por não ser uma alma solitária. Daí até esconder algumas das caches mais míticas de Portugal foi um processo natural de partilha. Joaquim Safara viajou até Helsínkia e encontrou-se com o Pedro Cardoso nos bastidores do Museu Finlandês de História Natural onde é curador.

Até agora tenho feito ques-tão de me encontrar pes-soalmente com todos os meus entrevistados histó-ricos. Essa é aliás uma das grandes motivações que tenho para as entrevistas. Quando escolhi o Pedro Regalla ele estava “desa-parecido” há uns tempos e toda a gente pensava que ele estava a viver em Paris. Quando lhe mandei o pri-meiro mail equacionei dar lá um saltinho lá. Mas afinal ele sempre tinha estado a morar a poucos quilómetros de mim.

Até agora, a única nega que tive para a entrevista ia-me propiciar uma ida até ao Norte. Uma das razões para o ir continuar a chatear até que aceite.

As restantes foram aqui ao pé e a maior deslocação foi até Alcochete. Quando es-colhi o PCardoso o desafio subiu a outro patamar. Afi-nal está a viver em Helsín-quia! Claro que podia ter op-tado por uma solução mais

fácil e ter esperado que ele viesse cá a Portugal o que faz com regularidade e tê-lo entrevistado cá, mas não teria sido a mesma coisa…

Já há alguns anos que uma ida aos países bálticos esta-va nos meus planos de via-gens a fazer. A entrevista e o facto de na semana antes de eu lá ir se ter inaugura-do os voos de Lisboa para Tallinn a um preço simpáti-co conjugaram-se para que ainda não tenha sido nes-ta entrevista que quebrei a tradição. Obrigou apenas a um complemento de viagem que acabou por se encaixar perfeitamente no programa, uma ligação de ferry ida e volta entre Tallinn e Helsín-quia.

Na troca de mails com o Pe-dro em que ele me referen-ciou que Helsínquia não é uma cidade especialmente interessante, indicando-me os lugares que eu já tinha mais ou menos identifica-dos dentro da cidade e na ilha de Suomenlinna, mais fora da cidade a ida à povoa-ção de Provoo. Além disso e para uma manhã em con-junto a proposta era irrecu-sável. Uma visita ao Nuuksio National Park, o parque na-tural mais perto de Helsín-quia e acabando numa ida ao Finnish Museum of Na-tural History e utilizando as suas palavras “Se quiseres faço-te um tour pelo museu e o backstage, incluindo as co-lecções nas caves e sub-caves que é algo que pouca gente vê ;)”.

Programa de luxo. No par-que Natural fizemos uma curta caminhada, mas deu para ficar com um cheiri-nho de uma paisagem típi-ca da Finlândia e a viagem ao museu foi fascinante. O museu em sim é pequenino

(nada a ver com congéneres que já visitei em Londres ou Nova Iorque) mas por isso mesmo permitiu uma visita completa em que o mais in-teressante foi mesmo o ter tido acesso a áreas que nor-malmente estão vedadas aos visitantes. Já tinha mais ou menos noção que grande parte das colecções de um museu não está exposta, mas na área em que o Pedro é curador essa realidade é ainda mais verdadeira. Pou-cas aranhas existirão expos-tas, mas existem milhares e milhares em arquivo, muitas delas conservadas há mui-tas décadas. Uma das tare-fas do Pedro é precisamen-te a informatização desse arquivo. Enfim não me vou aqui alongar nem pretendo descrever em detalhe a jor-nada que acabou depois de termos almoçado juntos. Uma manhã que não vou esquecer e que espero repe-tir num futuro encontro em Portugal continental, insular ou algures pelo mundo.

Julgo que o Pedro Cardoso não se chateará de eu vos recomendar que se passa-rem por Helsínquia o con-tactem. Tenho a certeza que se ele poder vos fará um tour equivalente.

Apesar de agradecer no cor-po da entrevista, não é de-mais fazê-lo aqui também. Obrigado Pedro pela fantás-tica recepção.

E vamos ver para as próxi-mas entrevistas se continuo a conseguir assegurar o en-contro presencial no habitat do entrevistado

GM: Pedro, quando te re-gistaste no Geoaching.com quase nada tinha acon-tecido no que respeita ao geocaching em Portugal (httGM://www.geopt.org/i n d e x . p h p /a r t i g o s /o u -

tros-artigos/geocaching/item/2291-2001-ano-um-do-geocaching-em-portu-gal). Uma cache tinha sido escondida na Terceira mas não publicada e apenas dois geocachers portugueses se tinham registado antes. O que publicou a cache virtual AlfaRomeu Abandonado! (GC1DA) e o que não a en-controu. Conta lá o que te lembras do momento.

PC: Antes de mais, já devo ter contado esta história um par de vezes, tanto nos fó-runs como no podcast dos prémios GPS. Por isso espe-rem ou repetição ou omis-sões e contradições devidas ao passar do tempo, mas vou tentar.

Quando comecei o traba-lho de campo para o meu doutoramento no Parque Natural do Douro Interna-cional tive de registar todos os locais que visitava e onde encontrava as minhas ara-nhas. Para isso comprei o meu primeiro GPS, um Gar-min etrex Venture (acho que era assim, lembro-me que tinha um corpo verde trans-lúcido), vindo directamente dos EUA em Junho/Julho de 2001. Assim que chegou, além de ler o manual, quis saber o que mais podia fazer com o novo brinquedo. Faco uma busca na internet e dou de caras com um site a re-ferir uma actividade chama-da geocaching. Dado o meu gosto tanto pela natureza como por tecnologia, gosto esse que ainda hoje se re-flecte na minha actividade profissional, chamou-me logo a atenção. Inscrevi-me no site. Já a pensar numa boa cachada, busco por ca-ches em Portugal e … nada, nem mesmo o Alfa Romeu. Como estava perto da fron-teira, talvez tenha feito o mesmo com Espanha com

Page 127: Edição 11 - GeoMagazine

127

GEOMAG.

Page 128: Edição 11 - GeoMagazine

GEOMAG.

128

OutubrO 2014 - EDIÇÃO 11

o mesmo resultado. Ainda ponderei colocar uma cache na Serra de Zava, local onde ia fazer escalada regular-mente e talvez onde hoje se encontra a cache Cimas de Mogadouro – Serra de Zava (GC4JNDP). Mas desisti da ideia porque pensei “se não há mais ninguém a fazer isto por aqui, para quê ter o traba-lho de colocar uma?”.

GM: Entretanto esse registo não teve continuidade ime-diata e quando finalmente fizeste o primeiro found, já uma vintena de geocachers o tinham primeiro feito. És assim o mais antigo geoca-cher no activo por data de registo mas não por data de primeiro found. Porque esse intervalo de quase 10 meses?

PC: Como referido, muito devido à “desilusão” do pri-meiro embate com o geoca-ching. Em retrospectiva foi uma má justificação, mas fez-me esquecer o jogo du-rante quase um ano.

GM: Como não foste dos primeiros a procurar ca-ches, pelo menos quando não encontraste a primeira que procuraste não deves ter pensado que isso de ha-verem caixinhas escondidas era uma lenda urbana. Lem-bras-te da cache?

PC: Sim. Tinha visto uma re-portagem na TV pouco tem-po antes em que um grupo de geocachers, não me lem-bro quem, foi em busca da Bear Treasure (GC4B0D ) dos Greenshades. Foi aí que to-mei consciência que o jogo já mexia. Aproveitei uma esta-dia na Marinha Grande para tentar esta mesma cache em 1 de Maio de 2002. Mas não sei o que se passou, de-pois de percorrermos alguns kms no pinhal não a encon-tramos apesar do tamanho

Large do container. Pensei que dada a publicidade na TV, já alguém a teria levado para casa como recordação.

Curiosamente, e sem que tenha feito nada por isso, foi esta a primeira cache do meu filho Diogo (spid3rling). Ainda na barriga da mãe, e a dar pontapés para indicar a direcção certa, conseguimos encontrá-la sem dificulda-de em 2011, quase 9 anos depois da tentativa sem su-cesso.

GM: E lá passaram mais três meses e tal. Finalmente o primeiro found na cache Vi-sit to Frei Agostinho da Cruz [Setúbal] (GL11FTK). Que recordações tens?

PC: Pelo que me lembro foi feito durante uma caminha-da de 40 kms na Arrábida. Depois de descer do For-mosinho, o ponto mais alto da serra, resolvemos tentar a sorte. E agora com suces-so. Devo ter pensado “Afinal sempre é verdade, estas cai-xas existem mesmo!”

GM: Depois lá entraste em velocidade de cruzeiro (que no teu caso quer dizer rela-tivamente poucas por ano) e com regularidade tens-te mantido activo até ao pre-sente. Como caracterizarias o teu geocaching?

PC: Não percebo essa de poucas por ano, pelas mi-nhas contas são umas 40 por ano, quase uma por se-mana. Como quase tudo o que faco, levo o geocaching com muita moderação. Para mim, tudo menos repetição. É assim na vida profissio-nal, em que ao contrário de 99.9% dos investigadores que se focam em temas muito restritos e repetem artigos científicos até a vaca não dar mais leite, eu nunca me foquei. O exemplo extre-mo é apesar de ser biólogo,

ter sido um dos organizado-res do Encontro Português de Inteligência Artificial de 2013 nos Açores e trabalhar bastante nessa área. Os al-goritmos evolutivos e autó-matos celulares são espe-cialmente úteis em ecologia. Nas actividades lúdicas fun-ciono da mesma forma. Te-nho um interesse continua-do por tanta coisa que pouco tempo resta para cada uma.

Assim, em termos de velo-cidade o meu geocaching é muito moderado, feito no meio de muitos outros inte-resses. Isto significa que te-nho de selecionar cuidado-samente as caches que faco para não perder o interesse. Por norma, selecciono as caches com base no terreno, preferindo 3 ou acima. O nú-mero e percentagem de fa-voritos também ajudam, tal como os Prémios GPS caso esteja em Portugal.

GM: Enquanto owner colo-caste algumas caches bas-tante icónicas. As primei-ras cinco foram colocadas pouco tempo depois do teu primeiro found num curto intervalo de tempo.

As duas primeiras coloca-das no mesmo dia são as Soft Water over Hard Stone [Porto de Mós] (GC9F3D) e a The Treasure Island [Abran-tes] (GC9F38), ainda activas e adoptadas pelo MAntu-nes. Fizeste um passeio e aproveitaste para colocar as caches, ou a deslocação foi propositada para o efeito?

PC: A deslocação foi propo-sitada em ambos os casos. Na altura estava a traba-lhar no Parque Natural das Serras de Aire e Candeeiros. Os dois locais eram icónicos para mim, um pela manifes-tação de força da Natureza, outro pelo que representa na história de Portugal. Co-

nheci a Fórnea e a Gruta da Velha durante uma activi-dade “Ciencia no Verão” or-ganizada por um grupo de espeleologia. Nessa altura visitámos o interior da gruta até onde a água o permitiu. Ainda pensei inicialmente em colocar a cache lá den-tro, mas seria certamente efémera dada a quantidade de água que por vezes sub-merge o túnel.

GM: Passado uns dias e na margem sul escondeste a Hanging Gardens of Baby-lon [Setúbal] (GCA2D8) já arquivada. É um sítio que agora caracterizamos de ur-bex. Como o descobriste?

PC: Costumava ir fazer ra-ppel com alguns amigos para as paredes em frente do convento novo. Nessas alturas aproveitávamos para explorar não só o con-vento como os arredores. Um dia decidimos seguir o pequeno trilho que leva ao convento velho e ficámos assombrados com aquela visão. Percorremos todas as salas, subimos ao primeiro andar onde fosse possível e a partir daí passou a ser vi-sita obrigatória. Entretanto vedaram o acesso a ambos os conventos devido a peri-go de derrocada e suposta-mente iriam ser recuperados ou pelo menos estabiliza-dos, mas não sei como es-tará a situação actualmente.

GM: Essa cache teve uma sequela da Silvana, a Indiana Jones and the Lost Gardens of Babylon (GC-2ZNF7) que teve uma vida muito efémera. Acompa-nhaste a colocação?

PC: O Truta sugeriu a exis-tência de uns túneis que levariam ao convento e es-tavam fora da vedação. Mas não acompanhei a coloca-ção. Na altura já devia estar

Page 129: Edição 11 - GeoMagazine

129

GEOMAG.

Page 130: Edição 11 - GeoMagazine

130

GEOMAG.

Page 131: Edição 11 - GeoMagazine

GEOMAG.

131

Outu

brO

2014

- ED

IÇÃO

11

pelos Açores ou Estados Unidos.

GM: A seguir mais uma viagem em passeio ou tra-balho e no mesmo dia colo-caste duas caches em Mér-tola, as Apocalyptic Visions [Mértola] (GCC353) e a Re-turn of the Moors [Mértola] (GCC347).

Comecemos pela segunda, já arquivada há uns anos, mas com um DNF recente. O que achas que aconteceu á cache?

PC: Na altura em que colo-quei as caches estava a co-meçar a trabalhar no Parque Natural do Vale do Guadia-na. A Return of the Moors sempre teve uma vida atri-bulada, começando com um erro de transcrição das coordenadas para o site que levou o Mantunes a qua-se mergulhar na piscina do meu senhorio da altura. En-tretanto as obras de recupe-ração do castelo de Mértola levaram ao arquivamento e pelo que me descreves-te o buraco da parede onde ela devia estar está agora cimentado. Quem sabe se a cache ficou por lá e será descoberta dentro de 200 anos quando o cimento se esvair. Se assim for, hei-de pedir aos revisores da altura para desarquivarem a cache.

GM: A Apocalyptic Visions tem um nome bem apro-priado ao sítio e é a cache mais antiga colocada no ce-nário fantástico das Minas de São Domingos. Já conhe-cias o sítio? Fizeste o aces-so por cima pelo estradão ou por baixo pela mina?

PC: Já conhecia o sitio, tinha um ponto de colheitas não muito longe, num eucaliptal. Sempre fiz o acesso por bai-xo, pela mina. A cache ini-cialmente até estava mais

abaixo, mas rapidamente desapareceu, de forma que a desloquei para a localiza-ção actual. É realmente um local surreal, dá imagens fantásticas em qualquer al-tura do ano. Até cheguei a fazer um vídeo durante um curso profissional de pro-dução para TV (olha, cá está mais um interesse meu).

GM: Depois já no final de 2003 e não muito longe do sítio onde encontraste a tua primeira cache, colocaste a Six Feet Under [Arrábida] (GCH618) na Gruta do Mé-dico, arquivada juntamen-te com outras por ficarem na ZPT da Arrábida. Na tua opinião está mesmo em Zona de Protecção Total? A entrada ou o interior no subsolo?

PC: Se não está, está no li-mite. Mas devo confessar que aproveitei a ocasião para arquivar uma cache que me estava a criar alguns conflitos interiores. Quando conheci a gruta, esta já es-tava extremamente degra-dada, as formações comple-tamente vandalizadas. Mas na altura havia muito me-nos geocachers e estes pre-paravam a ida à gruta com muito cuidado, sem pres-sas. Entretanto a actividade cresceu exponencialmente e muitos iam “a mais uma”, sem qualquer tipo de cui-dado, de forma que receava um acidente.

GM: Como conheceste a gruta? O “buraco da agulha” ficou famoso. Já te metes-tes em apertos maiores?

PC: Fui pela primeira vez à gruta com pessoal do Par-que Natural da Arrábida, que me levaram lá talvez em 1998/99 para dar uma vista de olhos nas aranhas. Não encontrei nada de re-levo, talvez devido à degra-

dação evidente. Entretanto em 2005 fiz um curso de espeleologia na Associação de Espeleólogos de Sintra (AES) e quase de imediato comecei a sair com o Núcleo de Espeleologia da Costa Azul (NECA), sedeado em Sesimbra. Ainda hoje man-tenho a minha ligação com ambos os grupos, principal-mente com o NECA. Sempre que posso aproveito para fazer uma actividade com eles na Arrábida.

Apesar de o “buraco da agulha” parecer difícil, é na verdade extremamente fá-cil comparativamente com grande parte dos buracos na serra. São neste momen-to conhecidas perto de 200 grutas, lapas, sumidouros e afins, 90% descobertas pelo NECA nos últimos 20 anos. Grande parte com localiza-ção ou mesmo fotos nunca divulgadas para evitar van-dalismos. Em algumas tive a honra de estar presente na descoberta e ser dos primei-ros humanos a entrar num local onde nunca ninguém esteve. Mas a grande maio-ria são bastante apertadas. Lembro-me por exemplo de uma que exige um ras-tejo de 40 metros por um túnel bem apertado, defini-tivamente impossível para claustrofóbicos. Ou uma ou outra passagem onde tive de expirar o ar dos pulmões para passar, e não sou de forma alguma “largo”.

GM: Conta lá a história não contada, por trás da visita ao centro geodésico de Por-tugal?

PC: A visita ao centro geo-désico veio na sequência de uma visita de manutenção à The Treasure Island. Éra-mos 3: eu, João “Luckyred” e Nuno “Buttkick”. Um de cada vez, algo normal nessa

altura, apenas o Nuno en-controu uma cache. Foi rápi-do, ao contrário de mim e do João. Ao ver a nossa figura só se ria, até o momento em que encontrei outra cache. Surpreendido disse logo que não tinha encontrado aquela mas outros uns me-tros acima. Foi então que nos apercebemos que esta tinha sido deixada por mili-tares em 1984, muito antes do aparecimento do geoca-ching, com uma espécie de logbook e tudo. Talvez ainda lá esteja, não tenho acom-panhado o que aconteceu entretanto.

GM: Depois colocaste uma cache que espero fazer para o ano. A propósito da Atlan-tis [Pico] (GCK1JY), tua últi-ma cache colocada no ponto mais elevado de Portugal, vamos aproveitar para falar dos Açores. Julgo que foi a tua primeira deslocalização para fora do território conti-nental de Portugal. Por que ilhas andaste (em trabalho e em lazer) e como surgiu esta cache, que foi durante muitos anos a única cache na ilha do Pico?

PC: Estive apenas uns 4 meses nos Açores antes de ir 2 anos para a Dinamarca. Mas voltei para mais duas estadias de 2 anos de for-ma que no total estive a viver nos Acores mais de 4 anos, sempre em Angra do Heroísmo, Terceira. O Diogo nasceu lá, fizemos questão que assim fosse.

Nestes períodos visitei to-das as ilhas por tempo va-riável, tanto em passeio como em trabalho de campo ou raids fotográficos para preparar o livro “Açores – um retrato natural”, do qual sou autor de todas as fotos (mais um interesse meu). Estive no Corvo por apenas

Page 132: Edição 11 - GeoMagazine

GEOMAG.

132

OutubrO 2014 - EDIÇÃO 11

umas horas. Todas as outras ilhas visitei durante pelo menos uma semana, muitas vezes mais, como foi o caso do Pico que visitei pelo me-nos 6 vezes.

Refiro pelo menos 6 porque foi este o número de vezes que subi o vulcão. De todas as formas e feitios. A pri-meira vez a pé desde São Roque, ao nível do mar. Qui-semos fazer dos 0 aos 2351 m de altitude num só dia. Ainda nem tinha chegado ao trilho propriamente dito e já ia de rastos mas fez-se. Lembro-me de ter ficado de boca aberta quando cheguei à crista da cratera e uma aberta nas nuvens permi-tiu ver aquele cenário lunar. Como achámos que era pou-co, a segunda subida foi feita desde a Madalena e se não me engano foi desta vez que resolvi colocar a cache. Já a fiz também no Inverno, com a cratera literalmente cober-ta por gelo, o que implicou ter de escavar degraus du-rante uma hora para conse-guir sair de lá. De noite, para fotografar o nascer do sol. Com bom tempo, com mau tempo. Mas nunca deixei de lá ir, mesmo com chuva. A cratera do Pico é um dos meus 2 locais favoritos nos Açores, junto com a Caldei-ra de Santa Bárbara na Ter-ceira, que eu apelido de “O Mundo Perdido”, devido à floresta enorme e inacessí-vel que se esconde lá dentro.

GM: Foste o primeiro por-tuguês a encontrar a cache mais antiga escondida em território português (não a que foi publicada primeiro), a Translant Chess Cache (GC8EF9). Aliás nesse dia encontraste as únicas duas caches que existiam na Ter-ceira, essa e a virtual Algar do Carvão (GC868B). O que é que achaste dos sítios?

PC: Na altura acho que já conhecia ambos os locais. A Translant Chess Cache está numa falésia com a melhor vista sobre a Praia da Vitó-ria. A Algar do Carvão perto da gruta com esse nome, um dos locais mais visitados na ilha e que vale bem a pena para quem quiser saber o que é estar dentro de um vulcão relativamente recen-te. Diria que são dois dos locais de visita obrigatória para qualquer turista na ilha.

GM: Não tiveste tentação de colocar mais caches nos Açores, porquê? Era um território praticamente vir-gem…

PC: Sim, mas a minha pri-meira estadia foi curta, ape-nas 4 meses em 2004/5 e nas outras duas, em 2007/8 e 2011/12 já sabia que se-ria por pouco tempo, numa altura em que penso que já havia uma forte obrigação de garantir a manutenção rápida das caches. Além dis-so, se enquanto estive no continente até 2004 ainda tinha a ilusão que seria pos-sível conseguir uma posição permanente como investi-gador ou professor se fizes-se um bom trabalho, quando fui para os Açores já sabia que nem que ganhasse um Nobel isso aconteceria. Em Portugal não é com trabalho que se conseguem contra-tos permanentes.

GM: Conheceste geocachers locais nos períodos em que residiste na Terceira, ou na altura ainda não havia lá geocachers residentes?

PC: Acho que muito pou-cos até 2008. Em 2011/12 sim, já a comunidade tinha crescido consideravelmen-te. Cheguei a conhecer al-guns apenas por acaso, mas nunca os mais activos. Ou se calhar até os conheço, a

Terceira tem apenas 50.000 habitantes e toda a gente conhece toda a gente, mas nunca fiz correspondência com os nicks.

GM: Só passado mais de um ano da colocação é que a Atlantis teve o FTF. Agora até é uma cache relativa-mente visitada, bem mais do que algumas isoladas do continente. Pela leitura dos logs dá para te aperceberes que tens levado pessoas ao Pico com o objectivo princi-pal de fazer a cache?

PC: Nunca me apercebi que houvesse essa intenção. Te-rei de ler os logs novamen-te. Mas com ou sem cache é um local que recomendo vivamente, a paisagem é tão única a nível nacional que acaba por ser um marco in-contornável para quem quer realmente conhecer os Aço-res e mesmo o país.

GM: Para o ano, a 26 de Ju-lho está prevista a maior vi-sita colectiva que a cache já teve. Há boas perspectivas que possa haver um subsí-dio à deslocação. Quem diz a partir de Lisboa e Porto, diz a partir de Helsínquia. Não te queres inscrever? Seria sem dúvida fantástico podermos contar com a tua companhia.

PC: Querer, quero, mas do querer ao poder vai um grande salto. Teria de levar toda a família, incluir uma estadia prolongada na Ter-ceira onde temos grandes amigos, arranjar tempo para tudo. É certo que iremos lá nos próximos anos, talvez quando o Diogo já conse-guir subir a montanha e ti-ver idade suficiente para se lembrar. Quem sabe se em 2017 ou por aí. Mas não te-nhas dúvidas que a vontade de ir é imensa, por mim era

já hoje. Ou amanhã, que hoje está a chover…

GM: Explica lá o fenómeno paranormal que existe para os lados de Braga?

PC: O meu nascimento? Ou estás a referir-te a uma sim-ples ilusão de óptica?

GM: A seguir começou a tua diáspora pelo mundo. Por que países andaste? Peço-te que faças uma pequena descrição do que é que ne-les encontraste de melhor e de pior e já agora que com-pares o geocaching de lá com o de cá.

PC: Copenhaga - Dinamar-ca em 2005/6, Washington DC - EUA em 2009/10 e Helsínquia - Finlândia desde 2012. Desta vez será para ficar dado que me ofere-cem condições com que em Portugal apenas poderia sonhar. Acho que encontrei a maior diferença na tran-sição para a Dinamarca, onde a saturação de caches que ainda estava longe de acontecer em Portugal era já uma realidade. Na altura até gostei, serviu para co-nhecer melhor a cidade do que seguindo qualquer guia. Foi talvez este período o de maior actividade para mim em termos de números. De-pois estive 2 anos na Tercei-ra numa altura em que havia muito poucas caches na ilha. Quando segui para os EUA já me tinha passado a vontade dos números, poucas caches fiz em volta de Washington. Aproveitei no entanto para fazer as 3 únicas ao longo do John Muir Trail. Depois mais dois anos na Terceira, desta vez já com bastantes caches mas já estava tam-bém a fazer uma seleção de acordo com o terreno. E agora Finlândia, com nova saturação. Neste momento não encontro muita diferen-

Page 133: Edição 11 - GeoMagazine

133

GEOMAG.

Page 134: Edição 11 - GeoMagazine

GEOMAG.

134

OutubrO 2014 - EDIÇÃO 11

ça entre países, mas talvez em Portugal se encontrem caches mais cuidadas na preparação, nomeadamen-te das listings. A grande di-ferença penso que está na comunidade que em Portu-gal é muito mais activa, ou assim me parece, através de múltiplos fóruns e acti-vidades.

GM: E chegámos a esta altura da entrevista sem falar de aranhas. Vamos aproveitar a última cache a que o teu nome está li-gado, apropriadamente chamada Tou às aranhas [Gerês] (GCPDB6). Conta lá a história da cache e a tua relação com o Gerês?

PC: A minha relação com o Gerês é praticamente um-bilical, dado que nasci em Braga e ia para lá acampar com os meus tios no meio da serra. Lembro-me de acamparmos perto da cas-cata do Arado. Acho que a eles e ao Gerês se deve o meu gosto pela Natureza e a minha opção por seguir Biologia.

A cache foi colocada por mim e adoptada pela Sil-vana quando abandonei definitivamente o país, impossibilitando a manu-tenção (que no caso desta cache em particular acho que nunca foi necessária em quase 10 anos de exis-tência). Foi colocada em vésperas da minha ida para a Dinamarca, quando juntei um grupo de 10 aracnólo-gos em trabalho de cam-po na Mata da Albergaria. Antes do trabalho de cam-po, enquanto reconhecia alguns locais, deparo-me com um mapa em relevo do Parque Natural. Come-cei à procura do ponto mais alto e vi que devia ser inte-ressante lá chegar, o Vale do Rio Homem prometia.

Uns dias depois, munido de apenas uma carta militar e sem ter a mínima noção do tipo de terreno excepto o que carta indicava, decidi tentar chegar ao topo. Sem grande dificuldade che-gamos ao Pico da Nevo-sa. Depois do trabalho de campo voltei lá acima para colocar a cache, quase que em forma de comemoração do trabalho bem-sucedido.

GM: Quem se lembraria de andar à procura de ara-nhas na Regaleira? Os geó-logos devem-te perceber bem. Eles andam à procura de calhaus, tu de aranhas. Eles andam sempre com o martelinho ou lá como se chama aquilo. E tu? Um frasquinho e uma lupa?

PC: Uma lupa, uns tubos e álcool fazem parte do equipamento em todas as saídas de campo. Mas eu nem sou muito obcecado em andar sempre à procura de aranhas, consigo abs-trair-me do trabalho sem problema algum.

GM: Encontraste a RUDIAN [Arrábida] (GCV5AY) por acaso. Ainda não a fiz. É mesmo só seguir a direc-ção lógica?

PC: Sim, não há que en-ganar, basta estar atento. Acho surpreendente como a cache se mantém ali sem perturbação, apenas possí-vel porque todos os escala-dores da região conhecem o Samuel (samcam), que provavelmente foi instru-tor de muitos deles. Foi também meu instrutor de parapente. Uma zona es-pectacular, com desafios alternados de espeleologia e escalada, principalmen-te se se sair da fenda pelo lado oposto por que se en-trou. É uma cache que que-ro repetir.

GM: Sabes que passaste por ZPT marítima para fa-zer a Ponta de São Pedro (GC38GQ1)? Tinhas de ter deixado o kayak a mais de ¼ de milha e ires a nadar até à praia…

PC: Pelo que sei não passei, a ZPT tem a extremida-de na Ponta de São Pedro e prolonga-se para Este. Fui do lado de Sesimbra e meti o kayak na praia desse lado. Depois de encontrar a cache segui para Este sempre à distância regu-lamentar, calculada pelas bóias de sinalização da ZPT que lá se encontram. Mas foi difícil, a essa distância da costa estava a apanhar com uma ventania, sozinho num kayak insuflável. Uma luta para chegar à Figueiri-nha, teria sido muito mais fácil seguir perto da costa.

GM: Já disseste que apre-cias caches de terreno alto e de boas caminhadas. O que achas da moda com containers elaborados e com engenhocas que ac-tualmente estão muito na moda?

PC: Gosto para variar. Não encontrei muitas, talvez porque os filtros que faço não o permitem. Mas além da Alien Invasion (GC-16ZN1) lembro-me da do Exploratório (GC2QCZG) de Coimbra. Gostei de ambas.

GM: Há quem diga que al-gumas dessas caches mais elaboradas à base de estó-rias e aventuras, do tipo da Allien que fizeste e da GPN que estás convidado para fazer, não são bem geoca-ching… O que achas?

PC: Não concordo, se até têm uma caixa no fim e tudo. Até seria interessan-te combinar uma boa cami-nhada em terreno elevado

com uma geringonça qual-quer no final.

GM: Sendo tu próprio uma referência para muitos dos geocachers que te co-nhecem, quais são as tuas referências? Ou seja que geocachers que marcaram mais por uma razão ou por outra?

PC: A referência de muitos outros dos dinossauros, MAntunes. Talvez pela ac-tividade constante entre 2002 e 2005/6 e a postu-ra séria e honesta com que encara o geocaching. Mas posso referir também os Greenshades, pelas caches míticas e o Bargão Henri-ques, pelas lições e mesmo discussões em torno da geologia. Entretanto com a saída do país fui perdendo referências mais recentes.

GM: No teu perfil tens como hobbies: paragliding, climbing, mountainee-ring, trekking, mountain biking, kayaking, etc, etc, etc... Suponho que já os ti-nhas antes do geocaching e realmente são todos complementares e carac-terísticos de gosto pela Natureza. Isso também se reflectirá no tipo de caches que fazes. Qual o teu tipo de cache preferida?

PC: Muitos dos interesses são pré-geocaching, outros vieram depois. Reflectem bem a minha falta de foco. Mas claramente indicam que o que procuro são ca-ches na natureza, sobretu-do se me levarem por uma boa caminhada ou pedala-da passando por locais de encher o olho. Urbanas de-finitivamente não aprecio, nem que estejam à porta de casa, nem me sinto mi-nimamente tentado.

GM: Se te perguntar quais foram as caches que mais

Page 135: Edição 11 - GeoMagazine

GEOMAG.

135

Outu

brO

2014

- ED

IÇÃO

11

135

gostaste de procurar, quais as que te vêem à memória?

PC: De chofre, muitas na Estrela e Gerês. Nas últi-mas férias tive oportunida-de de procurar algumas que me encheram as medidas. Na Estrela, a Into the Wild (GC3ER8Y), pela experiên-cia vivida e por mim relata-da quase à exaustão num log em 5 partes, tornou-se uma referência. Mas tenho de referir também os Cânta-ros Magro (GCR9RW) e Raso (GC1KD2B). No Gerês as My Blue Lagoon (GC1D9PG) e Rocalva (GC1DC15) da Sil-vana. Noutras alturas ou locais, as The Cave (GC1E-FM0), o Segredo da Gruta da Caveira (GC1F66R) e The Nest of Jonathan Livings-ton Seagul (GCED51) no Algarve, Alien Invasion (GC-16ZN1) e Arco do Temporal (GC17AT0) na península de Setúbal e algumas excelen-tes na Terceira. De certeza que me estou a esquecer de muitas…

GM: Só fizeste attend a um único evento, no 3º En-contro de Geocachers @Pt (GCHM6E). És pouco sociá-vel ou existe alguma outra razão?

PC: É verdade que prefiro actividades com pequenos

grupos. Acresce o facto de apenas considerar eventos se tiverem algum tipo de chamariz, por exemplo, uma boa caminhada. Um encon-tro no café apenas para falar dificilmente me desperta a atenção.

GM: Acima estou a faltar a verdade. Na verdade só participaste num evento mas dobraste o número em CITO’s. Inclusive estiveste no primeiro, 1st CITO Event in Portugal [Sintra] (GCH-QH4). Costumas praticar CITO nas tuas caminhadas?

PC: Sim, sempre que pos-sível. Infelizmente sou ex-tremamente despistado e raramente me lembro de levar sacos. Mas é bastante comum chegar a casa com lixo nos bolsos e na mochila.

GM: Também dá para per-ceber que fazes longas ca-minhadas sozinho. É por opção ou é porque não encontras companhia que aguente a tua pedalada?

PC: Ambos. Gosto de cami-nhar em pequenos grupos, as maiores caminhadas que fiz, até 18 dias seguidos, foram assim. No entanto, a experiência vive-se de forma completamente di-ferente quando é solitária.

Não temos ninguém com quem discutir as opções ou a quem recorrer por ajuda, o que psicologicamente nos faz viver tudo de forma mui-to mais intensa. Uma cami-nhada de vários dias torna-se um desafio esgotante. Mas muitas vezes simples-mente não encontro nin-guém com disponibilidade.

GM: Não és um membro ac-tivo mas julgo que acompa-nhas os fóruns, antes o @PT e que desde há uns anos é acompanhado pelo Geopt. Qual é a importância que dás aos fóruns, especial-mente como influenciadora de comportamentos nos novos geocachers?

PC: Sim, apesar de não in-tervir vou acompanhando os fóruns de forma mais ou menos intermitente. Mas não faço ideia se os novos geocachers são influencia-dos de alguma forma por estes, até porque as opi-niões nos fóruns raramente são consensuais.

GM: A tua única intervenção no Geopt foi a dar uns palpi-tes relativamente certeiros para os Prémios GPS da Dé-cada. Acertaste em duas e terás gostado da vencedora de um dos outros dois anos.

PC: Foi? Não me lembro de rigorosamente nada… Já lá passo a dar uns palpites so-bre qualquer outra coisa…

GM: Como viste a iniciati-va dos prémios GPS? Tens acompanhado as versões mais recentes? Achas in-teressante o conceito ou como alguns dos geoca-chers mais antigos achas que é um estímulo à com-petitividade que pode ter efeitos perniciosos?

PC: Acho uma excelente ini-ciativa. Até tenho tentado votar nas últimas edições mas apenas para descobrir que quando muito fiz uma única das nomeadas, o que me permite atribuir 0 pon-tos. Mas continuo a achar uma boa ideia: 1) As melho-res caches, que muitas ve-zes dão um trabalho para lá do normal, são premiadas; 2) Servem de possível in-centivo a novas e melhores caches; 3) São uma selecção relativamente consensual das melhores caches, útil para quem, como eu, não tem grande tempo para an-dar a procurar por si. Se a competição é por ter caches melhores que o vizinho não vejo o que se possa perder.

GM: Nos últimos cinco anos houve uma explosão no nú-

Page 136: Edição 11 - GeoMagazine

136

GEOMAG.

Page 137: Edição 11 - GeoMagazine

GEOMAG.

137

Outu

brO

2014

- ED

IÇÃO

11

mero de geocachers e de caches. Como vês isso até por comparação com o que ocorreu e ocorre nos outros países onde residiste?

PC: Tento que me passe ao lado. Filtro por terreno, números de favoritos, Pré-mios GPS, tudo o que me indique que caches valem a pena. Mesmo assim erro muitas vezes nas escolhas. Mas se tentasse descobrir tudo o que aparece desisti-ria do geocaching em pou-cas semanas, a maioria do que se coloca hoje não me diz rigorosamente nada. Felizmente as boas caches também são mais comuns, mesmo que não na mesma proporção que antigamente e filtrando consigo fazer um geocaching em muito se-melhante ao dos primeiros anos de actividade.

GM: Não és Premium Mem-ber. Nunca foste? Por nunca ter sentido necessidade ou por outra razão?

PC: Nunca senti necessida-de, não sou tão activo que justifique.

GM: Como não és PM não podes dar favoritos. Mas considera-os um bom in-dicador para a escolha das caches que fazes ou utilizas outros métodos?

PC: Como referido, sim, ser-ve-me frequentemente de indicador. Mas complemen-to sempre com o terreno.

GM: Que caches em Por-tugal tens na tua lista do ToDo? Qual é a cache que há mais tempo andas a querer fazer e ainda não tiveste oportunidade?

PC: Neste momento algu-mas que ficaram por fa-zer da última incursão pela Estrela: Cântaro Gordo (GCRYM3), Covão Cimeiro

(GC1KHF4), Nave da Mes-tra (GC260X1). Mas de vez em quando lembro-me de algumas que ainda não tive oportunidade, como a Tre-melgo nas Alturas (GCYKH1) ou a GPN – Secret Agency (GC3H21B) para que já fui convidado pelo Pika7.

GM: Acompanhámos em Portugal com inveja e muito interesse a tua épica cami-nhada pelo John Muir Trail. É uma coisa que se deve fa-zer pelo menos uma vez na vida? Tens planos para ou-tra caminhada de duração equivalente?

PC: Quem goste de cami-nhadas, definitivamente, deve fazer este trail mítico. As paisagens são assom-brosas do primeiro (subida ao Half Dome) ao último dia (subida ao Mount Whitney). É uma caminhada por terre-no quase selvagem, poten-ciado pelo facto de apenas serem concedidas 6 licenças por dia para a realizar, o que significa que se vai estar em solidão grande parte do tempo. No troço mais iso-lado está-se a dois dias de caminhada da estrada mais próxima, qualquer socorro urgente apenas é possível de helicóptero, se for se-quer possível. Acrescem as precauções a ter com ursos (muitos), altitude (frequen-temente a mais de 3000 ou mesmo 4000 m), frio (graus negativos são comuns), a imprevisibilidade do tem-po, etc. Mas cada dia é di-ferente do anterior, não há monotonia em qualquer dos 500.000 passos necessá-rios para acabar o trail, não há decepção em qualquer local de acampamento.

Tenho muitos planos adia-dos devido ao nascimento do Diogo. Mas pelo menos alguns vão acontecer. Es-

tes incluem trails como as Haute Route Alpina (Cha-monix-Zermatt, 2 sema-nas) e Pirenaica (Atlântico – Mediterrâneo, 40 dias). E ascensões ao Kilimanjaro (talvez muito em breve) e Aconcágua. Mas um dia de cada vez, para já se conse-guir ir fazendo caminhadas de fim-de-semana já me contento.

GM: Normalmente os cien-tistas das chamadas Ciên-cias Naturais não são muito dado a tecnologias, mas tu pelo que sei és programa-dor e cedo terás tido GPSr. Qual é o teu inventário de GPSr ao longo do tempo? E com os smarthphones e tablets já deixaste de utili-zar GPSr dedicado ou ainda não?

PC: Na verdade os cientis-tas das Ciências Naturais trabalham com tecnologia que o comum cidadão nem sonha que existe. Desde microscópios electrónicos que ocupam salas inteiras a sequenciadores de DNA que só falta tirarem o café e supercomputadores com milhares de processadores para encontrar relações en-tre espécies. Mas é verda-de que os usam apenas do ponto de vista do utilizador. Eu sempre gostei de perce-ber como as coisas funcio-nam, tendo desenvolvido bastante software para as minhas próprias aplicações, o que frequentemente me deu vantagem em relação a outros.

Quanto a GPSrs, sempre Garmin: Venture, Legend, 60 CSx e agora Dakota 10. Nunca deixei de os utilizar, com o uso e abuso que lhes dou qualquer telemóvel fica em pedaços em pouco tem-po comigo no campo. Há um ano comprei um telemóvel

Caterpillar, mas mesmo as-sim prefiro o GPSr para geo-caching.

GM: O teu site pessoal é o www.ennor.org. És fã do universo tolkieniano?

PC: Sim, já fui bastante, tendo inclusivamente dado nomes Tolkianos a duas aranhas que descrevi: Am-philedorus ungoliantae em 2005 e Nemesia ungoliant em 2007. Sou sobretudo fã do Silmarillion. O incrível é imaginar que o Tolkien era linguista e o seu maior in-teresse era a criação de no-vas línguas “from scratch”. Para isso inventou todo um universo que justificasse a existência e evolução de uma quantidade enorme de línguas, não só com os seus próprios termos como com gramáticas únicas.

GM: Quais os locais da Ter-ra Média onde achavas que ficava mesmo bem uma ca-che?

PC: Uma multi que passasse por alguns dos locais mais representativos da primeira era. Ao que se podiam so-mar os Silmarilli como Travel Bugs.

GM: E vamos lá às aranhas. Julgo estar a designar-te correctamente se dizer que és um aracnólogo. Que pro-fissão é essa e como é que foste lá parar?

PC: Muito do meu gosto pelas aranhas advém do facto de não gostar de se-guir a manada. A maioria dos meus colegas de curso queriam trabalhar com aves (clássico) ou mamíferos. A maioria dos trabalhos fazia-me bocejar intensamente. Ainda hoje a vasta maioria da ciência que se faz pelo mundo fora faz-me ador-mecer em poucos minutos de leitura. As aranhas, além

Page 138: Edição 11 - GeoMagazine

GEOMAG.

138

OutubrO 2014 - EDIÇÃO 11

de intrinsecamente interes-santes, não tinham ninguém a trabalhar em Portugal desde os anos 40. Ora aí estava algo que me poderia interessar.

O facto de trabalhar com elas também me deu opor-tunidades extremamente interessantes. Por exem-plo, neste momento sou o “chair” do grupo de estu-do de aracnídeos na União Internacional para a Con-servação da Natureza. Isto permite-me estar envolvido em política de conservação a nível global, com governos, organismos internacionais, etc a “chagarem-me” o juí-zo sempre que há aranhas ou escorpiões em perigo de extinção desde o México ao Vietname. Basicamente o trabalho contínuo com este grupo permitiu-me fazer a diferença a uma escala que nunca sonhei.

GM: Muitos dos nossos lei-tores e especialmente lei-toras serão aracnofóbicos. Normalmente temos medo do que não conhecemos. Vamos esperar que esta en-trevista sirva também para ficar a conhecer melhor estes encantadores artró-podes. Percebes a razão de tanta gente não gostar de aranhas?

PC: Boa, artrópodes e não insectos. Puramente cul-tural. As pessoas são en-sinadas assim por pessoas que foram ensinadas assim por pessoas que… Não há nenhuma razão genética. O meu filho é exemplo, não tem medo nenhum de ara-nhas ou insectos. Quando dizem que são peludas e têm mordidas terríveis uma das minhas respostas favo-ritas é dada por um colega aracnólogo “E já viste um cäo? Aquele pêlo todo e uns

dentes caninos enormes?”. Já manipulei muitas deze-nas de milhares de aranhas vivas, já fui mordido muitas vezes e ainda cá estou.

GM: Mas também há mui-tos aracnofilos. Tu também tens aranhas daquelas pe-ludas como animais de es-timação?

PC: Não, nunca tive nem percebo que piada possa ter. Um animal selvagem é feito para estar em liberdade.

GM: E incrivelmente até há parafilias que têm a ver com aranhas (é só pesquisar por archnephilia ou por ento-mocismofilia). Enfim parece que são animais que des-pertam sentimentos muito contraditórios nas pessoas. No teu caso o que é que te fascina nos artrópodes em geral e nas aranhas em par-ticular?

PC: O quê? Nunca tinha ou-vido falar de tais coisas, há gente bastante doente. Mui-ta coisa me fascina nestes animais, mas posso enu-merar algumas. São gran-demente desconhecidos, a vasta maioria das espécies estão ainda por descobrir e descrever. São extrema-mente diversos, tanto em número de espécies como em variedade de formas de vida. São muito diferentes de nós, obrigando a ter uma perspectiva completamente diferente do mundo, numa escala diferente da huma-na. E fácil obter dados muito fiáveis para todo o tipo de trabalhos. Talvez acima de tudo, são um desafio cons-tante, quando se quer per-ceber como funciona e como se pode proteger uma espé-cie que ainda nem tem um nome…

GM: Como descreverias as aranhas portuguesas em relação às suas congéneres

estrangeiras. São interes-santes?

PC: Muito, mas quase to-das o são. Em Portugal são conhecidas umas 800 es-pécies, mas talvez existam umas 1200. Isso significa que ainda estão por des-cobrir e descrever muitas centenas de espécies, mui-tas delas raras, únicas, so-brevivendo em enclaves reduzidos. Uma gruta, uma pequena floresta, mesmo um jardim público, são tudo locais possíveis para des-cobrir espécies que nunca ninguém viu. Basta saber para onde olhar. Agora que penso nisso, alguém pode achar que que há aqui uma parafilia, porque os carac-teres mais distintivos para descobrir novas espécies são muitas vezes os intrica-dos órgãos reprodutores das aranhas…

GM: Uma pergunta que te farão muito é se existem aranhas perigosas (vene-nosas) em Portugal. Eu per-gunto outra vez.

PC: Venenosas são quase todas, o veneno é essencial para paralisar as presas, normalmente insectos. Pe-rigosas quase nenhumas. Temos a viúva-negra medi-terrânica com veneno neu-rotóxico e a aranha-violino com veneno citotóxico. Mas as consequências para um humano saudável são muito suaves e não há casos gra-ves conhecidos mesmo em pessoas mais débeis.

GM: Diz lá 10 factos inte-ressantes que toda a gente devia saber sobre aranhas.

PC: Ui, a ver o que sai:

1) Não são insectos. Estes têm 6 patas, antenas e asas. As aranhas têm 8 pa-tas e sem antenas ou asas.

2) Existem 45000 es-pécies descritas no mundo, 800 em Portugal. Muitas mais por descrever.

3) Existem aranhas há mais de 350 milhões de anos, foram dos primeiros organismos a colonizar terra vindos do mar. Entretanto os ancestrais marinhos ex-tinguiram-se.

4) Quase todas são predadoras, mas desconfia-se que algumas se alimen-tem de pólen.

5) Apenas cerca de 10 espécies são potencialmen-te mortais, nenhuma na Eu-ropa.

6) Muitas têm memó-ria e são capazes de apren-der. Mas apenas o que lhes interessa, não vão rolar no chão como um cão por mais que as tentemos ensinar.

7) Algumas tem uma visão tão apurada como a nossa, 3D e a cores.

8) A seda é dos bio-materiais mais resistentes, bem mais que kevlar ou aço.

9) Quase todas são solitárias, com excepção de algumas dezenas de espé-cies que formam colónias com dezenas ou centenas de indivíduos.

10) A maior teia alguma vez registada atingiu mais de 2 hectares de área, em Baltimore, EUA, eu próprio a estudei quando estava em Washington. Era uma teia formada por milhões de ara-nhas a viver em comunidade por cima de uma estação de tratamento de águas.

GM: Descreve lá de for-ma resumida e para leigos como é uma jornada de campo de aracnólogo em busca de aranhas. Como é que se apanham, etc, etc.

Page 139: Edição 11 - GeoMagazine

139

GEOMAG.

Page 140: Edição 11 - GeoMagazine

140

GEOMAG.

Page 141: Edição 11 - GeoMagazine

GEOMAG.

141

Outu

brO

2014

- ED

IÇÃO

11

PC: Eu diria que há tantas formas de apanhar aranhas como há aracnólogos. Mas alguns métodos começam a ser standard a nível mun-dial. Usam-se armadilhas de queda (copos enterra-dos no chão com um liqui-do conservante), redes de batimentos (tipo as comuns para borboletas), “beating trays” (um panal numa ar-mação estendida por baixo de um ramo que é abanado de forma a fazer cair os ha-bitantes), fogging (insectici-da lançado para as árvores, usado no filme “Aracnofo-bia”), entre muitos outros. Uma vez capturadas me-tem-se em álcool para con-servar para análise em labo-ratório, dado que a maioria é impossível identificar à vista desarmada.

GM: É verdade que é só pre-ciso procurar um bocado para descobrir uma nova espécie de aranha?

PC: Sim, absolutamente. Mesmo em Portugal já fi-zemos algumas contas e demora uma média de uma ou duas horas para desco-brir uma nova espécie para a ciência se se souber o que se está a fazer. Muitas espécies são descobertas por estrangeiros que vêm de férias e apanham umas aranhas pelo caminho, prin-cipalmente no Algarve.

GM: Quais são para ti as aranhas mais interessan-tes. Aquelas grandes e pe-ludas (tipo tarântula) ou aquelas minúsculas que mal se vêem?

PC: As mais raras. O tama-nho não interessa. Algumas das minhas favoritas são a tarântula-das-Desertas, com 40mm de corpo e res-trita a um pequeno vale na ponta norte da Deserta

Grande, perto da Madeira e a aranha cavernícola do Frade, com 0.5mm de corpo e restrita a algumas grutas perto de Sesimbra.

GM: Não sei o que vais res-ponder à pergunta anterior. Mas julgo que o teu nome está mais ligado a aranhas para o pequeno. O que tens a dizer sobre O troféu de Sesimbra a Anapistula ataecina?

PC: Foi uma descoberta ab-solutamente inesperada. Quando a vimos na Lapa do Fumo em 2005 pensei que fossem juvenis de alguma espécie mais comum. Mas ao observar ao microscó-pio reparo que são adultas e que não correspondem a nada remotamente pareci-do com outras aranhas Eu-ropeias. Revelaram ser uma espécie única, uma relíquia pré-glacial.

Infelizmente encontra-se apenas numa área ameaça-da por pedreiras em plena laboração, dado que o ICNF resolveu que não eram ne-cessários estudos de im-pacto ambiental se estas se expandissem apenas em profundidade. Segundo o ICNF, abaixo de terra não existe nada de interesse ex-cepto pedra, não reconhe-cendo sequer a existência de grutas, muito menos de animais únicos nessas gru-tas.

GM: Quem é que ganhou a eleição do «Top 10 das es-pécies Portuguesas»?

PC: Foi a lesma-do-mar. Mas agora vejo que essa entrevista em particular tem tantos erros como existem espécies em Portugal. Apro-veito para referir o Naturda-ta e o Portal da Biodiversi-dade dos Açores como dois

excelentes recursos para quem queira saber mais so-bre as nossas espécies.

GM: Também achas que a aranha mais inteligente é a Portia labiata?

PC: As Portia em geral, sim. São capazes de aprender por tentativa e erro, têm uma boa memória espacial e são consideradas os ar-trópodes mais inteligentes, talvez ao nível de pequenos mamíferos como os ratos.

GM: Estás a retornar de uma expedição na Tanzânia. Para a próxima edição da GeoMagazine queremos um artigo profusamente ilus-trado sobre esta aventura, mas para já deixa aqui uma primeira impressão da ex-pedição tanto no ponto de vista científico como no de viajante por locais exóticos.

PC: Querem? Ok, mas não tem grande relação com geocaching. Do ponto de vista científico as Eastern Arc Mountains, onde desen-volvemos o trabalho, são extremamente interessan-tes. Antiquíssimas, isoladas no meio da savana, com es-pécies únicas em cada pe-quena montanha. Do ponto de vista do viajante conse-gue-se ter uma boa visão na Natureza em África, englo-bando montanha e savana. E um choque cultural longe das reservas fechadas ape-nas para ricos, dado que o turismo ainda é muito pouco explorado.

GM: Que parafernália tec-nológica levavam? Telefo-nes satélites, SPOT ou ou-tro localizador via satélite…

PC: Tínhamos telefones sa-télite Iridium que nunca fo-ram usados. Pessoalmente usei um deLorme inReach para ir enviando e receben-

do mensagens da família, um passo à frente do SPOT, se bem que ainda muito cheio de bugs.

GM: E acabamos com as aranhas. Ou talvez não… Até a Groundspeak ter al-terado a página do perfil tinhas uma bonita imagem, agora só visível em minia-tura em que se mistura o homem aranha com o ho-mem de vitrúvio. Com algu-ma investigação cheguei à origem da figura. E tu como a descobriste?

PC: Não me lembro como a descobri, mas gosto da sim-bologia que representa um homem-aranha “obscuro” a destacar-se da perfeição re-presentada pelo Homem de Vitrúvio. Como que a dizer que a perfeição não é o ob-jectivo, mas sim a originali-dade. Pelo menos para mim, seja na ciência, na fotografia ou no geocaching…

GM: Para terminar queria aproveitar para te agrade-cer publicamente a recep-ção que eu e a minha esposa tivemos em Helsínquia. Foi fascinante a oportunidade de termos um tour guiado pelo backstage do teu local de trabalho.

PC: Eu é que agradeço a oportunidade de falar em Português na Finlândia ;)

GM: Despende-te lá dos nossos leitores com umas palavrinhas em finlandês.

PC: Hei hei ja hyvää geokä-tköily…

Joaquim Safara

- jasafara

Page 142: Edição 11 - GeoMagazine

GEOMAG.

142

OutubrO 2014 - EDIÇÃO 11

Sonhar acordada. É algo de que sou frequentemen-te culpada. É saudável? Às vezes. Li uma vez um artigo que dizia que poderia levar à criatividade. Vou assumir isso como a minha des-culpa. Trabalho na Sede do Geocaching e geocaching é um dos meus hobbies favo-ritos. Juntem esta combina-ção e facilmente nos leva a muitos e saudáveis sonhos enquanto estou acordada.

A página Esconder e Pro-curar uma Cache é a página inicial do meu browser no trabalho. Embora seja útil para o trabalho, esta página

também funciona com um portal para estes sonhos diurnos. Alguma vez selec-cionaste aleatoriamente um país na lista de procura por país para ver que geo-caches estão listadas lá? Eu faço isso constantemen-te. Tomemos o dia de hoje, como exemplo. Até hoje, não sabia que existia uma geocache no Butão que ofe-rece uma grande vista para o Mosteiro de Taktsang (ge-ralmente conhecido como o Ninho do Tigre). Esta geo-cache (GC20P19) faz agora parte da minha lista de “ca-ches a fazer”. Por um breve momento do meu dia, con-

segui escapar para outro mundo (bem, pelo menos para outro país). Pude ver o que foi provavelmente uma aventura fantástica para todos os geocachers que visitaram esta geocache em Butão.

Se alguém coloca uma foto de um local interessante nas redes sociais, uma das primeiras coisas que faço é abrir o site Geocaching.com para ver se existe alguma geocache perto desse local interessante. Se assim for, essa geocache frequente-mente passa a fazer parte da minha Lista de Geo-

caches: “Caches a Fazer”. Como eu acredito naquilo em que sonho acordada, um dia irei caminhar com Vikings na Islândia (GCY-QAG), apreciar as vistas no topo de África (GCGETW), ou identificar alpinistas na sua subida ao Everest a partir de Kala Pattar (GCG58G).

Conforme nos aproxima-mos dos meses sombrios de Inverno aqui em Seatt-le, sonhar acordada sobre aventuras de geocaching é uma das coisas que me dá alento. Às vezes, es-sas descobertas que faço online tornam-se mesmo

From GeocachinG hQwith Love

Page 143: Edição 11 - GeoMagazine

GEOMAG.

143

Outu

brO

2014

- ED

IÇÃO

11

From GeocachinG hQwith Love

realidade. Uma EarthCa-che num banco de areia ao largo da costa do Hawai foi uma dessas situações há alguns invernos atrás. Era um dia sombrio aqui em Seattle quando decidi escrever “Hawaii” no cam-po de procura na página Esconder e Procurar uma Cache. Foi, provavelmente, mais tarde nesse mesmo dia que falei com um colega de trabalho acerca do facto de querer que aquela Ear-thcache fosse o meu 1000º found. Ele pensou que seria porreiro se ela fosse o seu 100º found. Não passou

muito tempo até que tivés-semos os voos marcados e tivéssemos entrado em contacto com geocachers locais a ver quem gostaria de se juntar a nós. Sonhar acordada num dia enso-pado em Seattle levou-me a organizar um evento de remo, de terreno 5, perto de GC2MDQ7. Definitivamen-te, um dos pontos altos da minha carreira de geoca-ching e tudo se deve a um pequeno sonho enquanto estava acordada.

Supondo que o tempo, o dinheiro e as viagens espa-ciais estavam prontamente

disponíveis, aqui fica o meu Top 5 de Caches a Descobrir, baseadas nestes pequenos sonhos durante o dia:

1 – GC1BE91 (Estação Es-pacial Internacional) – uma simples tradicional que é de outro mundo!

2 – GCGETW (Karibu! You made it!) – uma pequena caminhada de 5 dias até 5895 metros de altitude.

3 – GCG58G (Kala Pattar) – Uma virtual com vistas fan-tásticas do Everest.

4 – GC1KGT8 (BARTOLOME GALAPAGOS) – O sonho de

um fotógrafo tornado rea-lidade.

5 – GC2KFB8 (The Blue Hole - Half Moon Caye) – A razão pela qual me tornei uma mergulhadora certifi-cada.

Que geocaches estão no teu top 5 de sonhos a cumprir?

Annie Love

- G Love (Lackey)

Tradução por Bruno Gomes (Team Marretas)

Page 144: Edição 11 - GeoMagazine

144

GEOMAG.

Esta não é uma história que começa com o “Era uma vez…”

Tudo começa algures nos primeiros dias de Janeiro de 2013 num daqueles dias em que só nos dá para pensar em fazer coisas que não ca-bem na cabeça de “quase” ninguém. Todos o prepara-tivo, o durante e o depois desta aventura pode ser consultada ao pormenor em http://bttchavesfaro.blogs-pot.pt

Esta é uma história de três geocachers que a determi-nada altura resolvem fazer algo que nunca tinha sido feito. -GFK- (António Guer-reiro, Tozé para os amigos), -JTA (Carlos Jerónimo, Jeró-nimo para os amigos e Jeró-nimo@01 de nick até final

desta história) e CT1CQK (Luis Teixeira, Luis para os amigos).

E o porquê destas três “aves raras” se juntarem para uma coisa destas? Simples… passatempos comuns. To-dos nós somos geocachers, eu e o Jerónimo praticamos BTT juntos e fazemos parte da mesma equipa além de nos conhecermos e sermos amigos há mais de 20 anos nos tempos do CB (Ban-da do Cidadão), eu e o Luis por sermos radioamadores, nos termos conhecido atra-vés do radioamadorismo e numa atividade rádio que fizemos juntos na BETP – Base Escola de Tropas Pa-raquedistas, o Luis ter dado os seus primeiros passos no geocaching ao acompa-

nhar-me a cachar na zona de Tancos, Vila Nova da Bar-quinha onde a sua primeira cache foi precisamente uma mistério que existia frente à Escola Prática de Engenha-ria onde o enigma era um áudio em telegrafia.

Inicialmente a minha ideia era fazer a Estrada Nacio-nal 2 (EN2) em BTT, sozinho sem qualquer apoio e tentar encontrar todas as caches existentes ao longo desta via, especialmente aquelas que faziam parte da Badges EN2 promovida pelo GEOPT.

Mas, conhecendo os dois camaradas de aventura como conheço, sabia que ambos gostariam de fazer parte desta aventura e am-bos são pessoas que não utilizam o “NIM”, ou seja,

ou alinham ou não alinham. Mais sabia eu que alinha-vam…

Dei-lhes a conhecer a ideia, o objetivo e rapidamente tínhamos a equipa feita. Eu e o Jerónimo de BTT e o Luis de carro com o objetivo principal de “limpar” a bad-ges de Chaves a Faro.

Depois dos contactos rea-lizados, desde entidades, geocachers, patrocínios, etc… o plano estava traçado e não havia volta a dar.

O plano em traços gerais:

7 dias, 6 etapas de BTT, mais de 800km, mais de 200 caches.

Enviar as bikes por trans-portadora para Chaves, eu e o Jerónimo iriamos de avião

Conquistando as badges

Estrada Nacional 2Por -GFK-

Page 145: Edição 11 - GeoMagazine

145

GEOMAG.

de Faro para o Porto onde apanharíamos o metro do aeroporto para a baixa, au-tocarro do Porto para Cha-ves. O Luis iria com o seu carro de Sintra para Chaves.

E assim foi.

1º Dia (23 Junho 2014)

http://bttchavesfaro.blogs-pot.pt/2014/07/o-1-dia-faro-chaves-1-parte.html

http://bttchavesfaro.blogs-pot.pt/2014/07/o-1-dia-faro-chaves-2-parte.html

De madrugada vou ter a casa do Jerónimo, onde a Hélia nos foi levar ao aero-porto. Apanhámos o avião e por volta das 7h30 estáva-mos na invicta. Já no metro fizemos uma paragem para

a primeira cache da aventu-ra a “Estação Metro Cres-tins” (GC4J6JT). Foi sair de um comboio, fazer a cache e entrar no próximo. Destino: o mais próximo possível dos autocarros RodoNorte.

Chegámos a Chaves pela hora do almoço, já o CT1C-QK lá estava. Antes de tra-tarmos do almoço ainda fi-zemos a “Capela do Senhor do Calvário” (GC1TTJ7) que era logo ali ao lado.

Como tínhamos as bicicle-tas nos Bombeiros Flavien-ses ainda empacotadas, a nossa prioridade era ver o estado das mesmas pois ti-nham feito mais de 700km em transportadoras e nunca se sabe o que pode aconte-cer. Quer as bicicletas quer

nós, fomos recebidos impe-cavelmente pelos “Flavien-ses”. Bikes OK, montadas e prontas para ainda irem à fronteira antes do anoi-tecer. Uma vez que iriamos atravessar praticamente o país todo de BTT a cachar não iriam ficar estes cerca de 10km que separam Cha-ves da fronteira a Norte por fazer. Assim além de uma cache espanhola fizemos também a que se situa mais a Norte nesta zona do país, a “Fronteiras de Portugal - Vila Verde da Raia” (GC-33FV4).

Novamente em Chaves e com tudo pronto para o ar-ranque no dia seguinte ain-da tivemos tempo para uma belas cachadas antes do evento. Sim, organizámos

um evento em cada uma das terras onde pernoitámos.

Das boas caches que fize-mos em Chaves e arredores, destacamos a EarthCache das Termas (GC2Q8GX).

Além dos bombeiros “Fla-vienses” contámos com a preciosa ajuda do “Gilocas” que já estava ao corrente desta nossa ideia desde o início (Janeiro) quando lhe pedi ajuda para questões de logística, ajuda essa que foi crucial para que nada falhasse. Começou a fa-lhar algo mesmo no fim do evento… o S.Pedro. Instala-se uma chuvada que só pa-rou no dia seguinte já depois de almoço.

Page 146: Edição 11 - GeoMagazine

146

GEOMAG.

Page 147: Edição 11 - GeoMagazine

GEOMAG.

147

Outu

brO

2014

- ED

IÇÃO

11

2º Dia (24 Junho 2014)

http://bttchavesfaro.blogs-pot.pt/2014/07/ao-2-dia-1-etapa-partida-largada-fugida.html

http://bttchavesfaro.blogs-pot .pt/2014/07/2-dia-1-etapa-2-parte.html

Agora é que era. Desafia-mos no decorrer do even-to da noite anterior o Vítor Espirito Santo “Indefenido” a nos acompanhar nos kms iniciais da nossa travessia. Combinámos para as 6h junto ao Km0 da EN2. Eram cerca de 5h45 lá estava ele no parque de estaciona-mento dos Bombeiros… e a chover.

Deslocámo-nos ao Km0 para a foto da praxe e para iniciar os conta-quilóme-tros. A cache já tinha sido feita no dia antes.

Ainda nos atrasámos um pouco pois por incrível que pareça, uns pneus tubless que tenho na BTT desde 2012, com alguns milhares de km feitos, dezenas de maratonas de BTT, todo o tipo de atrocidades nunca furaram, vieram furar em Chaves no dia da nossa par-tida. Tivemos que aguardar pela abertura da estação de serviço para o encher… 7h!

Sempre a chover lá fomos EN2 abaixo com a compa-nhia do “Indefenido” que nos deixaria já na cache “Apeadeiro da Oura” (GC-2V2Z7). Aqui o Vítor re-gressara a Chaves com a sua BTT debaixo de uma chuvada daquelas.

As caches iam aparecendo com maior ou menor difi-culdade e não falhámos ne-nhuma neste primeiro dia de travessia.

Já depois de Vila Real es-távamos a tirar umas fotos num amontoado de placas informativas quando pára

um carro. Era o “Gilocas” em viagem.

Almoçámos em Stª Marta de Penaguião onde veio ao nosso encontro o nosso ci-cerone da primeira noite de travessia que seria em La-mego. O Hugo Gomes “Geo-Douro”, colega de profissão que conheci num ano em que trabalhámos juntos em Ferreira do Alentejo. Veio mais o seu pai na ISUZU e trazia a sua bike para nos acompanhar ao pedal. E as-sim foi até Lamego com a devida passagem pela Ré-gua onde nos esticámos um bocadinho com as caches da estação que apesar de não fazerem parte da bad-ges EN2 mereceram bem o tempo que lhes despende-mos. Atravessado o rio era hora de subir, subir, subir… até Lamego onde na entra-da da cidade o “GeoDouro” nos brindou com a cache “Lamego – N2”(GC4HJ1B) onde nos fez um pequeno/grande tributo.

Já em Lamego pensávamos nós que chegava o mere-cido descanso, mas mais uma vez o “GeoDouro” fez das suas. Esperava-nos a Srª Vereadora da Cultura e Desporto Drª Marina Valle no Salão Nobre da cidade onde se quis inteirar do que se tratava o geocaching e onde na presença de todos deu “carta branca” ao “Geo-Douro” para dentro daquilo que considerasse impor-tante promover os monu-mentos da cidade através deste nosso jogo. Uma grande surpresa que não contávamos.

Instalados na casa do “Geo-Douro” lá fomos conhecer a cidade e arredores e obvia-mente… cachar!

Depois do jantar, o segundo evento de sete, no centro da cidade. Hora de recolher pois mais um dia de peda-

lar nos esperava. Mas ainda conseguimos um tempinho para mais umas caches até casa.

3º Dia (25 Junho 2014)

http://bttchavesfaro.blogs-pot .pt/2014/07/3-dia-2-etapa-lamego-st-com-ba-dao.html

O destino era Stª Comba Dão. E foi.

Logo cedinho iniciámos a 2ª etapa no mesmo local onde havíamos terminado no dia anterior. Junto ao monu-mento ao soldado desco-nhecido.

Seria uma subida até Bi-gorne no alto da Serra de Montemuro. A sorte é que haviam umas caches pelo caminho e que a grande maioria faziam parte da badges EN2.

Um pequeno desvio a Colo do Pito para beber um café e para tentar encontrar uma cache (GC2MNCJ) que teve a particularidade de ser única cache com brinde, ou seja, TB. Por incrível que pareça percorremos o pais de Norte a Sul, mas mesmo do Norte até mesmo ao Sul e apenas encontrámos um TB e foi nesta cache.

O GeoDouro ainda nos acompanhou até aqui mas desta vez de carro, bebe-mos o café no largo da al-deia e zarpámos para sul enquanto o GeoDouro re-gressava a Lamego para apanhar a família e seguir viagem. Ainda nos voltá-mos a encontrar um pouco mais para baixo quase em Viseu na zona das caches #66 a #70 do Caminho de Santiago.

Passagem por Castro D’Ai-re onde ainda nos vimos atrapalhados para resgatar a cache “Ponte Pedrinha” (GC2MDEH). O contentor

via-se mas e retirá-lo? O CT1CQK lá encontrou um arame com uns 40cm e en-tre esse arame na minha mão, lanterna na outra e um galho na mão do Jeró-nimo lá conseguimos fazer com que o contentor nos viesse parar às mãos.

Perdemos um pouco de tempo no Carvalhal pois haviam umas caches re-lativamente perto da EN2 embora não fizessem parte da Badges. Uma delas deu-nos bastante trabalho para encontrar. “Termas do Car-valhal” (GC2P2PP) onde a marca referida na hint não havia forma de aparecer… mas apareceu, passado al-gum tempo (precioso) mas apareceu.

Seguindo para Sul que já se fazia tarde uma vez que tínhamos almoço marcado em Vila Chã de Sá fomos fazendo as caches que se atravessavam na nossa frente até que chegámos às portas de Viseu, Abrave-ses onde a cache “Voando Sobre um Ninho de Cucos” (GC3J5H9) se destacou pela positiva. Gostámos do en-genho e da forma desca-rada como a tivemos que fazer com uma paragem de autocarros mesmo ali ao lado. Um pouco antes, na zona de Brigas chega uma lambreta perto de nós. Era a mana, a minha irmã vive em Viseu e foi ao nosso en-contro.

Uma das caches que nesta zona também não nos sai da memória é a “The Icon Challenge” (GC3WPCH) não só pelo desafio que nos abrigava a ter nos nossos “found it” 5 tipos diferentes de icons registados todos no mesmo dia. Eu e o CT-1CQK já o tínhamos con-seguido aquando do mega evento em Sintra mas o Jerónimo não. Assim, estu-

Page 148: Edição 11 - GeoMagazine

GEOMAG.

148

OutubrO 2014 - EDIÇÃO 11

dámos bem o mapa e con-cluímos que em Chaves era possível concretizar esse objetivo, pois além da tradi-cional, multi e mistério (que há em todo o lado) havia também a earth e o evento, logo 5 icons diferentes, di-zia, não só pelo desafio mas também porque ao voltar-mos a colocar a cache no esconderijo estava o owner do outro lado da estrada. Apresentações, dois dedos de conversa e “ála” que se faz tarde até porque o ow-ner iria estar presente no evento em Stª Comba Dão e aí teríamos tempo para a verdadeira conversa.

Vila Chã de Sá, hora de al-moço ali a menos de 100 metros da “Ecomuseu” (GC-4GFMY). Já passava larga-mente das 14h. Almoçámos e voltámos ao caminho mas não sem antes sacar a foto de família.

A mana ainda nos acompa-nhou de lambreta até Ton-dela e foi cachando connos-co. Não é grande “agarrada” mas lá vai tendo umas cen-to e tal caixinhas encontra-das. Em Tondela estamos desconfiados que fotos fotografados pelo carro do Google street view. Vere-mos nos próximos upgra-des dos mapas.

Já no nosso destino desta 2ª etapa, Stª Comba Dão ainda tentámos a cache do Está-dio Municipal mas alguém a tinha levado sabe-se lá para onde. O que é certo é que no dia seguinte de manhãzinha ela já lá estava.

Ficámos instalados na “Casa do Escuteiro” com todas as condições que pre-cisávamos e que tínhamos pedido. Depois de tudo en-caminhado para o dia se-guinte lá nos deslocámos para o evento numa zona muito gira de passadiços de madeira junto e a atra-

vessar a ribeira. Já conhecia de uma outra visita anterior que tinha feito mais a famí-lia e tivemos o prazer de en-contrar uma multi que nos obrigava a percorrer este percurso magnífico. Depois do evento e ainda antes de recolher à “Casa do Escutei-ro” fomos tentar a sorte em mais dois ou três que se nos atravessaram no caminho.

4º Dia (26 Junho 2014)

http://bttchavesfaro.blogs-pot .pt/2014/07/4-dia-santa-comba-pedrogao-grande-1.html

http://bttchavesfaro.blogs-pot .pt/2014/07/4-dia-santa-comba-pedrogao-grande-2.html

De Stª Comba a Pedrógão Grande. Um nevoeiro cerra-díssimo e um frio daqueles em pleno verão.

Iniciámos viagem e o pri-meiro pensamento depois da cache do estádio muni-cipal foi… café quentinho. Como era muito cedo não havia nada aberto mas sa-bíamos que um pouco mais à frente iriamos fazer uma multi-cache na área de ser-viço do IP3. Seguimos lado a lado com essa estrada até porque a antiga EN2 é um troço desativado do lado direito no sentido N/S. En-trámos na Área de Serviço pelo portão de serviço e o cafezinho quente lá estava à nossa espera. Cache feita e toca a andar.

Para quem não sabe, a an-tiga EN2 seguia a direito junto ao rio onde agora está a albufeira da barragem e desembocava exatamente onde está atualmente o pa-redão no seu lado esquerdo e seguia pela margem es-querda do rio até Oliveira do Mondego. Assim tería-mos que atravessar o rio no paredão da barragem para

podermos seguir um dos nossos objetivos que era percorrer a EN2 pelo tra-çado mais antigo possível e mais bonito diga-se. Ao sair da área de serviço e ao passar a ponte desviámos à direita para apanharmos a estrada que dá acesso ao paredão da barragem. Mes-mo no desvio há uma cache lá no alto, num VG junto a um depósito de água com um acesso em terra batida. É a “VG –Marco” (GC3B-C2E). Lá fomos, sendo esta também uma das razões pelo qual optámos por fazer esta travessia em BTT e não em bicicleta de estrada.

Na cache do VG, logo por azar estacionei a BTT mes-mo em cima dum vespeiro daqueles debaixo do chão. Depois da cache feita e ao regressar à bike tive direito a brinde. Duas picadelas, uma em cada perna. Bike é sinónimo de “dar à perna” e estas picadas não vieram nada a calhar.

Depois deste episódio ti-vemos a oportunidade de logar a única EarthCache que faz parte da badges da EN2, a “460 million year old bookshop - DP/EC12“ (GC1627H). Esta zona é das mais bonitas ao longo de toda a EN2. O percurso jun-to ao Mondego, Penacova lá do outro lado, simplesmen-te espetacular. Só a ponte do IP3 se destaca negativa-mente.

Passámos pelo Caracol an-tes de chegar a Góis. Em Góis resolvemos ir dar uma olhadela na cache “Morro do Castelo” (GC24C3M) e coube ao Jerónimo meter mãos à obra, ou melhor, pés ao molho e lá resgatámos a dita. Entretanto já o CT1C-QK seguia serra acima em busca de local para almoçar e foi mesmo lá no topo de-pois de uma data de quiló-metros sempre a subir que

parámos para almoçar. Aqui estaria a fase mais compli-cada da etapa ultrapassa-da. Pensávamos nós pois a “Lusitani: Pinhal Interior Norte” (GC1EYVY) rapida-mente nos convenceu do contrário. Chegar lá foi fácil, então e para regressar à es-trada?

Quase a chegar à Picha di-z-me o Jerónimo: “Eh pah… mete ai o telemóvel na TSF. Está a dar a entrevista que deste à TSF bikes.” Parámos obrigatoriamente à entra-da da Picha onde sacámos as fotos da praxe. Não há duas sem três, já tínhamos passado no dia anterior o “Colo do Pito”, agora a “Pi-cha” e logo de seguida viria a ”Venda da Gaita”.

Ao chegar a Pedrógão Gran-de e ainda antes de nos di-rigirmos aos Bombeiros, local onde iriamos pernoi-tar e onde seria também o evento ainda fomos tentar a “Igreja Matriz” (GC3076E) que encontrámos facilmen-te.

Depois de instalados (e muito bem instalados) e como ainda não tínhamos nenhuns quilómetros pe-dalados resolvemos sair de bike para fazer umas ca-ches antes do jogo da nossa seleção no mundial. A pior opção alguma vez toma-da durante esta aventura. Quando demos por nós es-távamos junto ao rio mes-mo por baixo do viaduto, ou seja, apanhamos em empe-no tão grande para regres-sar aos bombeiros como não apanhamos em mais situação alguma durante os 850km que pedalámos. De-pois de estarmos bem lá em baixo regressámos a Pedró-gão Grande via Pedrógão Pequeno… juramos para nunca mais. As duas únicas satisfações foram algumas caches que encontrámos e a paisagem magnífica que

Page 149: Edição 11 - GeoMagazine

149

GEOMAG.

Page 150: Edição 11 - GeoMagazine

150

GEOMAG.

Page 151: Edição 11 - GeoMagazine

GEOMAG.

151

Outu

brO

2014

- ED

IÇÃO

11

apreciámos naquele troço junto ao rio.

No evento além de nós três tivemos o prazer da pre-sença do nosso camarada de caches e meu grande amigo de longa data, Ce-lestino “-ASU” que já tinha prometido que nos iria pa-gar o jantar a Pedrógão. E foi… e depois do jantar e evento ainda regressou a Olhão.

5º Dia (27 Junho 2014)

http://bttchavesfaro.blogs-pot.pt/2014/07/5-dia-pe-drogao-grande-ponte-de-sor-4.html

http://bttchavesfaro.blogs-pot.pt/2014/07/5-dia-pe-drogao-grande-ponte-de-sor-4_7.html

Saída de Pedrógão Grande e chegada a Ponte de Sor.

Mais uma vez saímos ao raiar do Sol, mais uma vez um nevoeiro e um frio de rachar. Tanto Pedrógão como Stª Comba ficam jun-to a um grande espelho de água o que faz com que o nevoeiro seja algo habitual pelo início das manhãs.

Ao sair de Pedrógão a ne-blina era tão cerrada que ainda nem ao paredão da barragem tínhamos chega-do e já estávamos comple-tamente encharcados. Me-nos de 9º C de temperatura a marcar nos ciclo-compu-tadores… era de bater o dente. Com todo o comércio ainda fechado só consegui-mos tomar o pequeno-al-moço e o bendito cafezinho já na Sertã mas não sem antes encontrarmos a ca-che “Uma aventura… no Alto da Carreira” (GC2R-F2W) que ficava mesmo ali ao lado da bendita paste-laria. Já no interior da Sertã cachámos o que tínhamos previsto cachar onde se

destaca a “Alameda da Car-valha” (GC4A3VY) pelo meio envolvente.

A partir daqui tínhamos uma meta psicológica a atingir. O Centro de Portu-gal, geodesicamente falan-do.

Não foi fácil lá chegar. Quem conhece sabe que qualquer carro necessita na melhor das hipóteses de uma se-gunda para fazer aquela subida. Agora imaginem de bicicleta.

Já lá no alto mais uma Lusi-tani nos esperava, a ”Pinhal Interior Sul” (GC1E4NM). Já depois da cache feita andá-vamos nós a tirar uma fotos junto do VG pequenino che-ga alguém perto do Jeróni-mo e pergunta:

“- És tu o António Guerrei-ro, -GFK-?”

“-Não, é ele!” Responde apontando para mim.

Algo surpreso pergunto porquê. Era o Rui Vieira ”Coelhosteam” que veio ao nosso encontro. O Rui teve conhecimento da nossa aventura nunca das publi-cações que foram feitas nos fóruns relacionados com geocaching. Entrou em contacto comigo via face-book e convidou-nos para almoçar no seu estabele-cimento comercial no Car-valhal de Abrantes. Foi ao nosso encontro EN2 acima e cruzou-se connosco em Vila de Rei. Não foi difícil pois tínhamos uma aplica-ção de seguimento online em direto ativada e a nossa posição a cada minuto es-tava identificada no nosso blog.

Apresentações feitas vie-mos cachando até ao Car-valhal. A atual EN2 não passa no Carvalhal mas o seu traçado original sim e como um dos nossos obje-

tivos era o traçado original da EN2, lá fomos nós por esta via.

Mais uma meta psicológi-ca atingida. Abrantes, Rio Tejo… a partir daqui estáva-mos no Sul.

Obviamente fomos cachan-do até chegar a Ponte de Sor. Aqui ainda tivemos al-guns problemas relaciona-dos com o alojamento mas nada que não se resolvesse.

Hora do evento e hora de recolher à residencial.

6º Dia (28 Junho 2014)

http://bttchavesfaro.blogs-p o t . p t / 2 0 1 4 / 0 7 / 6 - d i a-ponte-de-sor-torrao-5-e-tapa.html

De Ponte de Sor ao Torrão (Alcácer do Sal), a penúlti-ma etapa e já toda ela a Sul.

Deixei o meu barril da água no residencial o que por si só começava por ser um grande problema logo às 6h da manhã, em pleno Alentejo, em pleno Verão. O CT1CQK deu-me uma garrafa de água que esta-va no carro que por acaso tinha sido eu a levar mas por azar era água sim, mas ardente! Quando ao fim de uns quilómetros pedalados vou à garrafinha para beber água… quase que vomitei as tripas (toda a historia no blog). Lá consegui um barril em Mora e tudo voltou ao normal.

Antes disso passámos a barragem de Montargil com diversas caches que encon-trámos sem problema.

Já depois e em Brotas, uma multi trabalhosa que nos ocupou bastante tempo não só a percorrer a aldeia (?) ou Vila (?) com os seus sobes e sobes e sobes e nunca desces mas tam-bém pelo contentor final

que está num local que em dia de mercado complica bastante as buscas. E era Sábado, dia de Mercado. A cache faz parte da badges, logo prioritária e é a “Brotas – Terra de Romarias” (GC-38WG6).

Era hora de almoço e está-vamos a chegar ao Ciborro. Optámos por almoçar num pequeno restaurante junto à EN2. Ainda fomos fazer a cache da barragem e segui-mos viagem.

Em Montemor-o-Novo já tinha feito a cache da “Es-tação dos Comboios” (GC-33X2A) numa outra passa-gem em família há já uns anos mas sendo uma ca-che da badges, o Jerónimo e o Luis lá foram em busca dela.

Mesmo antes de chegar a Santiago do Escoural existe uma descida vertiginosa e foi aqui que as nossas bi-cicletas atingiram a veloci-dade máxima mais elevada no decorrer desta travessia, 74km/h.

O calor era tanto que tive-mos que fazer um pequeno desvio e entrar em Alcáço-vas para refrescar. Como um mal nunca vem só fo-mos a caminho da multi que aqui existe “O mundo Dividido” (GC11NWC). A multi fez-se bem, o pior foi chegar ao GZ final… é que já tínhamos mais de 100km feitos neste dia acumula-dos aos 5 dias anteriores.

Pouco depois de Alcáçovas encontrávamos um marco da estrada que teria obriga-toriamente de ser fotogra-fado. O km 555, três mãos cheias!

Chegados ao Torrão, mais uma vez os Bombeiros foram os nossos aposen-tos. Também no bar deste quartel estava agendado o evento onde apenas nós

Page 152: Edição 11 - GeoMagazine

GEOMAG.

152

OutubrO 2014 - EDIÇÃO 11

três comparecemos. Foi pena.

7º Dia (29 Junho 2014) – O derradeiro

http://bttchavesfaro.blogs-p o t . p t / 2 0 1 4 / 0 7 /e - a o -7-dia-descansou-ultima-etapa.html

Saímos ainda era noite fe-chada. Seriam praticamente 200km até casa onde que-ríamos chegar entre as 17 e as 18h.

Só conseguimos tomar o pequeno-almoço em Fer-reira do Alentejo já pas-savam das 7h da manhã (tardíssimo hehe). Por sorte o clube de caça e pesca es-tava a abrir portas aquando da nossa passagem. Não esquecer que era domingo. Mesmo sem pão do dia não hesitámos em fazer o nos-so pedido e ainda bem pois atá Aljustrel não vimos mais nada aberto.

A nossa saída do Torrão por volta das 5h30 de pouco ou nada nos valeu. Tínha-mos duas caches para fa-zer obrigatoriamente em Ferreira e ambas dentro de jardins municipais com por-tões o hora de abertura que por sinal nos daria e deu uma hora de seca. Sabendo disto antes, tinha dormido mais uma horita que teria sido muito proveitoso ten-do em conta que há uma semana que andávamos a dormir 3 a 3h e meia por noite e sempre com mais de 100km pedalados por dia.

Esperámos pela abertura dos jardins e saiu um found e um DNF.

Em Aljustrel já nos espe-rava o Carlos (CarlosDBG) perto da sua cache “Aljus-trel – Património Industrial” (GC53EAE) para bebermos um café ali mesmo na tasca da rotunda.

Em tempos fiz uma cache neste mesmo GZ mas o es-conderijo era ligeiramente diferente. Desta vez apare-ceu mais depressa e foi o Jerónimo que a viu.

Já em castro Verde havia a EarthCache dos cristais que o Jerónimo e o Luis tinham que fazer. Nesta zona te-nho praticamente todas as caches da EN2 feitas, pelo menos as mais antigas pois é (ou era) estrada de passa-gem habitual por motivos profissionais.

Daqui até Faro as histórias mais importantes (e hou-ve algumas) relacionam-se mais com o BTT do que com o geocaching, como por exemplo o facto de um grupo de amigos nossos ter saído de Olhão EN2 acima ao nosso encontro para nos acompanharem de bicicleta até ao fim da nossa aven-tura e acompanharam-nos desde Aljustrel.

Em Aljustrel tivemos o pra-zer de almoçar todos juntos e também com a companhia do David (YoramDavid, na altura e Almodôvar, atual-mente) que nos foi cumpri-mentar e aproveitou para almoçar também.

Daqui até Faro foi sempre a andar pois as caches esta-vam todas feitas, exceção do CT1CQK que com o seu carro foi fazendo as caches que lhe faltavam e ao mes-mo tempo acompanhava-nos como sempre fez desde que saímos de Chaves.

Na chagada a Faro havia também evento marcado que gerou alguma polémica. Como facilmente se perce-be é impossível prever uma hora de chegada para uma tirada de 200km de bicicle-ta com caches pelo meio. É impossível.

Sabendo disso, o owner do evento e nosso amigo Hugo Inocêncio (Hugo & Any) co-

locou um intervalo de tem-po para o evento das 16h às 21h30 onde ele próprio garantia a presença no lo-cal do evento durante todo este tempo para receber quem chegasse.

Acontece que o Hugo foi pai num dos dias anteriores e foi nessa mesma tarde que a esposa e o seu filho saí-ram do hospital para casa. Obviamente o Hugo não esteve presente no even-to. Nós chegámos a Faro às 17h30 e obviamente não íamos ficar no local do evento até às 21h30.

Pensamos que é fácil de perceber a razão pela qual algumas pessoas chegaram ao local do evento e já não estava ninguém, mesmo sendo dentro do intervalo de tempo proposto. Res-ta-nos pedir desculpa pelo sucedido mas não havia al-ternativa. Convém também referir que a tal aplicação de seguimento online em direto da nossa localização estava ativado e divulgado.

Ainda assim um grande grupo nos esperou em Faro junto à mariana.

Ainda assim não demos por terminada a travessia. So-mos de Olhão e queríamos terminar em Olhão… e ter-minámos.

Foi-nos também informa-do que o presidente da Câ-mara nos queria receber em Olhão na nossa chega-da, mas escolhemos mal a data. Era verão, uma bela tarde de domingo de praia e afinal o presidente estava “fora”.

Receberam-nos os nossos amigos uma vez mais, um dos quais nos fotografou com a derradeira fotogra-fia desta travessia. O CT-1CQK andava atrapalhado no trânsito de Olhão e não chegou a tempo da foto.

Dados a reter: • Km percorridos de bike:

834 km

• Horas a pedalar: 39h 40m

• Calorias gastas: 28208 kcal

• Massa Gorda consumi-da: 3,8 kg

• Pulsação máxima: 169 bpm

• Pulsação média : 113 bpm

• Geocaches encontradas: 202

• Geocaches não encon-tradas: 12

• Total de caches da bad-ges EN2: 88

• Total de encontradas badges : 85

• Condições meteo: Chu-va, frio, vento, nevoeiro, sol, calor, céu nublado

• Grandes barragens passadas: 3 (Aguieira, Cabril, Montargil)

• Rios internacionais pas-sados: 2 (Douro, Tejo)

• Concelhos passados: 35

• Distritos passados: 10

• Transportes diferentes: 4 (carro, avião, autocar-ro, bicicleta)

Todos os pormenores da nossa aventura estão nar-rados no nosso blog. Não podemos deixar de referir que fomos ajudados por tanta gente que seria im-possível relatar aqui. Assim deixamos o link da publica-ção no nosso blog que fala exclusivamente sobre essa matéria.

Muito obrigado a todos e até à próxima “loucura”

António Guerreio

-GFK-

Page 153: Edição 11 - GeoMagazine

153

GEOMAG.

Page 154: Edição 11 - GeoMagazine

MARCAS COM QUEM COLABORÁMOS

O QUE

WEB SOLUTIONS

CLOUD SOFTWARESOLUTIONS

MARKETING & WEBMARKETING SOLUTIONS

DIGITAL SOLUTIONS

QUEM SOMOSAgência multidisciplinar, com 8 anos de experiência no mercado de newmedia, aimpulsionar a comunicação dos nossos parceiros.

w: www.mediaweb.pt | e: [email protected] | t: +244 208 948 | Leiria, Portugal

Page 155: Edição 11 - GeoMagazine

MARCAS COM QUEM COLABORÁMOS

O QUE

WEB SOLUTIONS

CLOUD SOFTWARESOLUTIONS

MARKETING & WEBMARKETING SOLUTIONS

DIGITAL SOLUTIONS

QUEM SOMOSAgência multidisciplinar, com 8 anos de experiência no mercado de newmedia, aimpulsionar a comunicação dos nossos parceiros.

w: www.mediaweb.pt | e: [email protected] | t: +244 208 948 | Leiria, Portugal

ColaboradoresGustavo VidalOscar MigueisPedro SantosFlora CardosoJoão BatistaFilipe SenaJoaquim Safara

Bruno GomesJoão MalheiroRui DuarteAnnie LovePaulo HenriquesLeonel BaptistaAntónio Guerreiro

Agradecimentos

Habitat NaturalRevista Itinerante

GeoshopGZ Hostel

MerrelFCMP

ExpediçãoNautel

Orientarte

Page 156: Edição 11 - GeoMagazine

GEOMAGAZINE