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A luta contra o fantasma da cassação

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É o Governo Federal trabalhando para o Brasil avançar.

PREVINA-SE, FAÇA OTESTE DO HIV/AIDSE SIGA EM FRENTE

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É o Governo Federal trabalhando para o Brasil avançar.

PREVINA-SE, FAÇA OTESTE DO HIV/AIDSE SIGA EM FRENTE

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Barbárie no NordesteQuatro casos de estupros e assassinatos em 35 dias chocam o país

Uma agenda positiva contra a cassação Dilma implementa ações de impacto dentro e fora do Brasil para afastar fantasma da cassação

POLÍTICA ECONOMIACAPA

ENTREVISTA

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ÍNDICE

GERAL

39Como o Rio Grande do Norte age para superar a crise Governador Robinson Faria detalha plano para superar crise no estado e expressa visão política sobre atual momento do Brasil

20Aécio e a insistência em cassar DilmaAécio Neves é reeleito presidente do PSDB e encabeça movimento pró-afastamento de Dilma com apoio de Serra e FHC

A reinvenção do PTPartido apoia política econômica de Dilma, reclama de “sórdida campanha de difamação” da mídia e começa campanha de arrecadação online

Em defesa do governoPresidente do PT, Rui Falcão, garante: o partido defenderá o governo de Dilma Rousseff e irá ajudá-lo a avançar

A fórmula da discórdiaVeto parcial à fórmula 85/95 acirra ânimos entre Congresso e Palácio do Planalto

36Um novo “cerrado”Última fronteira agrícola em expansão do mundo, Matopiba envolve três estados nordestinos e Tocantins e cresce 20% ao ano

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Vertente negraBandas “Lucas e Orelha” e “Dois Africanos” despontam no cenário nacional após sucesso em apresentações de reality show

SAÚDE TURISMO

ESPORTE

CULTURA

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“O SUS só tem perspectiva se o povo for para a rua”Presidente do Conselho Nacional de Saúde, Maria do Socorro, revela desigualdades no investimento para o Norte e Nordeste

Turismo com foco para superar crise nacionalMinistro Henrique Alves quer abolir vistos de turistas em mercados estratégicos do Brasil

Escândalo da Fifa e futuro das olimpíadasDenúncias abrem oportunidades para mudança no futebol. Brasil ficará entre 10 maiores nas Olimpíadas de 2016

Fifa: Corrupção Endêmica Escândalo envolvendo a FIFA e principais dirigentes da América Latina

Mal genéticoDoença de Pompe afeta músculos e respiração e pode levar crianças e adultos a perda de locomoção e a morte

GEAP aposta na expansão com qualidadeFundação de Seguridade Social completa 70 anos, amplia rede e promete novidades em 2015

Cartas e E-mails

Plugado | Walter Santos

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COLUNAS

Flávio Dino

Carlos Roberto

Gaudêncio Torquato

Ipojuca Pontes

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Nos últimos dias tem ganhado corpo a insistência liderada pelo PSDB de querer pautar no Congresso Nacional o movimento de cassação do mandato da presidenta Dilma Rousseff, em face de presumidas reprovações de contas no TCU e TSE, instâncias que têm em pauta processos relativos à gestão 2014 da presidenta e sua prestação de contas das eleições passadas.

A previsão nefasta dos tucanos se baseia na hipótese do TCU reprovar as contas, em face do que se denominou “Pedaladas” – artifício fiscal utilizado desde os tempos do Governo FHC – neste último caso sem qualquer impli-cação por parte do Tribunal, mas que agora se ensaia diante desta possibilida-de, embora o Governo tenha apresenta-do documentos que arrefecem o desejo de implicar a gestão Dilma.

A outra hipótese moribunda diz res-peito ao depoimento que o empresário da UTC, Ricardo Pessoa, fará ao TSE, uma vez que os Tucanos consideram-no em condições de implicar a campanha de Dilma. Eles trabalham com o ar-gumento de que ao invés de doação legal, como se pressupõe, se tratou de propinas.

Estes, em tese, são os argumentos levantados pelo ex-candidato Aécio Neves empunhando a bandeira da cassação do mandato da presidenta.

O PSDB, aí leia-se Aécio Neves, o ex-presidente Fernando Henrique Car-doso e os senadores José Serra e Aloysio Nunes, trabalha numa sintonia fina, em conjunto com o DEM de Demostenes Torres e Ronaldo Caiado e o PPS de Roberto Freire.

Os tucanos também tem conseguido afinidade com alguns integrantes do

TCU, TSE, PF, MPF. Isso é o que é pos-sível notar em face do posicionamento desses órgãos em favor de estratégias contra os governos do PT, mas pou-pando os governos tucanos, inclusive o próprio Aécio. Vale ressaltar que o presidenciável tucano é acusado de ter recebido propina, através de Furnas, e ainda verba das empreiteiras de Ricar-do Pessoa durante a campanha do ano passado. Entretanto, as instituições de fiscalização têm lhe poupado de acusa-ções na Justiça.

Nos tempos de crise econômica mun-dial e convivendo com ajustes fiscais em busca da retomada de políticas e do desenvolvimento econômico do país, que também está sendo afetado com dificuldade existentes na China e nos EUA, admitir o instrumento da cassação sem o abrigo plausível de fa-tos concretos é conviver com o atraso inaceitável para a jovem democracia brasileira.

O PSDB e seus líderes, mesmo res-saltando a posição contrária dos gover-nadores Geraldo Alckmin e Marconi Perillo, dão demonstração clara de que não estão preocupados com os rumos sócio – econômicos do Brasil,que de-verá retomar seu eixo de crescimento, porque aderiram ao golpismo barato e bancado pelo capital internacional.

EDITORIAL

Diretor Presidente Walter Santos Diretora Administrativa/Financeira Ana Carla Uchôa SantosDiretor Comercial Pablo Forlan SantosDiretor de Marketing Vinícius Paiva C. SantosLogística Yvana Lemos

COMERCIALGerente Comercial Marcos PauloAtendimento Comercial Jone Falcão

REPRESENTANTESPernambucoGil Sabino [email protected] - Fone: (81) 9739-6489

REDAÇÃOEditorPaulo Dantas

Repórter Antônio CavalcanteFabrícia Oliveira Direção de Arte e Editoração Eletrônica Luciano PereiraCapaVinícius Paiva C. Santos Projeto Visual Néctar Comunicação

ATENDIMENTO/ FINANCEIROSupervisora e Contas a Pagar Kelly Magna PimentaContas a Receber Milton CarvalhoContabilidade Big Consultoria

ASSINATURAS(83) 3041-3777Segunda a sexta, das 8 às 18 horaswww.revistanordeste.com.br/assinatura

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A Revista NORDESTE é editada pela Nordeste Comunicação, Editora e Serviços Ltda-MECNPJ: 19.658.268/0001-43

Ano 9 | Número 104 | Julho | 2015

NORDESTErevistanordeste.com.br

Não ao Retrocesso

Walter SantosDiretor Presidente da Revista NORDESTE

[email protected]

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“É muito bom saber que existe no Brasil quem produza uma Imprensa plural e abrangente. A Revista NORDESTE cumpre esse papel”

CARTAS E E-MAILS

Luis Saraiva Nevesdiretor executivo da GEAPBrasilia/DF

REVISTA NORDESTE N.º 103

NORDESTE On-lineFacebook Revista NordesteTwitter @RevistaNordesteE-mail [email protected] www.revistanordeste.com.br

Nota da Redação: Sugestões de pauta ou matérias podem ser enviadas para o endereço eletrônico do editor: [email protected] Agradecemos a sua participação.

Adorei a revista de junho a en-trevista como ministro Jaques

Wagner está show. O ex-governador sabe o que está fazendo "

Maria das Graças da SilvaProfessora

Bahia/BA

Sem dúvidas, a abordagem da revista aos temos do Nordeste

têm credenciado-a a novos saltos”

Gustavo NogueiraSecretário de Planejamento do

Governo do Rio Grande do NorteNatal/RN

Desde há muito que acompa-nhamos a Revista NORDESTE

sempre focada nos assuntos econômi-cos, culturais e políticos do país, pois agora é chegada a hora de cuidar tam-bém do setor de Comércio e Serviços”

Marcelo Maia Economista – Secretário de Comércio e de

Serviços do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços

Brasília/DF

Gostaria de registrar nossa satis-fação de ver a edição de matérias

tão especiais, como a que trata de nosso empreendimento SOLAR Tambaú”

Maria Bethania NavarroEmpresária

João Pessoa/PB

A cobertura política sobre a crise nacional tem tornado a NOR-

DESTE uma referência de leitura pela pluralidade de informação e opinião”

Luiz MoretiBrasilia/DF

Obrigado pela publicação de nos-sa entrevista na revista Nordeste.

Gostei demais. Veremos o que dizer às pessoas e espero estar profundamente equivocado sobre a ventilação de uma Terceira Guerra mundial proveniente do Oriente Médio”. Abraços”

Carlos Torres Sociólogo

Milão/Itália

É sempre bem-vinda a iniciati-va de acompanhar os fatos do

Nordeste, em particular do Maranhão”

Robson PazSecretário de Comunicação

do GovernoSão Luiz/MA

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Entrevista

obinson Faria está vivendo um momento delicado a frente do governo do Rio

Grande do Norte, com crises abertas em várias frentes. Na Segurança, especialmente na administração penitenciária; no setor hídrico, com uma das piores secas dos últimos anos e problemas para ajustar o caixa à máquina pública. Faria culpa as gestões anteriores, que, segundo ele, fizeram apenas ações paliativas ao invés de investirem realmente para resolver os problemas. Na entrevista que foi concedida com exclusividade para a Revista NORDESTE, o gover-nador fala dos avanços do governo até então, com apenas seis meses de gestão, e dos desafios que ainda estão por vir. Evita dar dicas sobre se há no horizonte alguma mudança nas secretarias de Estado e garante que o Rio Grande do Nor te tem chances reais de conseguir atrair o novo HUB da Latam. Em relação a crise entre Planalto e Congresso, o governador acredita que “é preciso pensar primeiramente no Brasil, e deixar as questões políticas de lado. O que temos visto é que, embora haja diferenças ainda sendo administradas entre o Executivo e o Legislativo, o ajuste fiscal tem caminhado com poucas dificuldades no Congresso”.

Por Walter [email protected]

Como o Rio GRande do noRte aGe paRa supeRaR a CRise

ROBINSON FARIA / GOVERNADOR DE ESTADO

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Fotos: Rayane Mainara

Revista NORDESTE: Como o senhor avalia o primeiro semestre de 2015 pela ótica da realidade pública herdada e assumida?

Robinson Faria: Nós recebemos o Governo do Estado com um déficit de quase R$ 900 milhões. Todos os Estados e o país passam por uma forte crise, mas isso não nos intimidou. Pelo contrário, isso nos estimulou a buscar soluções, estamos trabalhando para transformar essa realidade de dificuldades, superar os obstáculos. Sou um otimista. Equi-libramos as contas públicas, estamos pagando a folha dos servidores em dia, melhoramos a arrecadação, que, nos primeiros quatro meses do ano foi a única a crescer em todo o Nordeste e atingiu o segundo lugar em crescimento em todo o Brasil. Na área da saúde, conseguimos reabastecer os hospitais em 85%, estamos atuando firmemente para acabar com os atendimento nos corredores no maior hospital de Natal, um problema crônico que persistiu por vários governos. Na educação, passamos a pagar o piso nacional dos professores, na segurança pública promovemos de uma vez só 1.300 policiais militares – a maior promoção já concedida em toda a história do Rio Grande do Norte. Também na seguran-ça adquirimos veículos e equipamentos, pagamos em dia as diárias operacionais – o que não vinha sendo feito – e vamos implantar em breve o Ronda Cidadã, um programa que vai levar o policia-mento aos bairros, que é a polícia de proximidade, atendendo ao clamor por maior policiamento e segurança. Na área do turismo, reduzimos o ICMS do querosene de aviação, o que já propor-cionou a duplicação da demanda por Natal como destino turístico e criou quatro novos voos para a nossa capital partindo de São Paulo, Campinas, Belo Horizonte e Buenos Aires. E nos próximos meses vamos ter novos voos partindo de Milão, na Itália e de Cabo Verde, na África. Reiniciamos as obras do acesso norte ao Aeroporto de São Gonçalo do Amarante, composto por novas estradas e viadutos, que vamos concluir até o final deste ano. Estamos

trabalhando também para consolidar o Rio Grande do Norte como sede do HUB da Latam no Brasil. Todos os esforços estão sendo feitos neste sentido por que o HUB representa investimento privado de R$ 5 bilhões e 12 mil empregos diretos apenas na sua fase inicial de funcionamento. Iniciamos o saneamento da capital do Estado e vamos chegar a 100 por cento até o final da administração. Isso representa melhorias na saúde pública, mais qualidade de vida para a popula-ção e menos custos na saúde, já que o saneamento previne várias doenças e evita contaminação do lençol freático. No que se refere à geração de emprego e renda, temos um governo que oferece maior segurança jurídica às empresas que se instalam no nosso estado. Nes-te primeiro semestre, implantamos o licenciamento eletrônico e já conce-demos 2 mil licenças ambientais

Equilibramos as contas públicas,

estamos pagando a folha dos servidores em dia, melhoramos a arrecadação, que,

nos primeiros quatro meses do ano foi a única a crescer em

todo o Nordeste”

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a novos empreendimentos. Essas licenças permitirão a abertura de novos negócios que projetam a geração de 40 mil novos empregos. Essa movimen-tação da economia tem sido uma de nossas prioridades.

NORDESTE: Passados seis meses, o que o senhor identificaria como maio-res problemas ainda a perturbar seu governo?

Robinson: Em seis meses fizemos muito. Mas é preciso fazer muito mais. Sabemos disso e vamos continuar planejando e investindo na segurança, na saúde, na educação, no turismo, na atração de investimentos, geração de empregos e renda. Na área dos recursos hídricos, por exemplo, vivemos hoje uma das piores crises da nossa histó-ria, com o quarto ano consecutivo de seca. Nossos reservatórios estão com capacidade em níveis críticos. Isso é resultado da falta de políticas públicas de combate à seca ao longo de décadas. Por muito tempo, no Rio Grande do

Norte, se investiu apenas em políticas de governo, ações imediatistas para entregar obras paliativas para atender apenas as necessidades de momento, não visando o crescimento da popula-ção, da atividade econômica, a melho-ria efetiva e duradoura da qualidade de vida. Nosso governo tem um programa de enfrentamento à estiagem. Em ape-nas seis meses reiniciamos as obras da Barragem de Oiticica, que vai garantir o abastecimento de água da região do Seridó. Assinei a ordem de serviço para reinício das obras da Barragem de Pau dos Ferros, que vai abastecer aquele município e outras 12 cidades do seu entorno. Hoje, ressalto, quatro destes 12 municípios estão gravemente afeta-dos pela falta de água, sendo abasteci-dos por carros pipa. Vamos recuperar e instalar poços já perfurados e perfurar centenas de novos poços. Na seguran-ça, apesar dos avanços que mostram a redução da violência e a redução dos casos de assassinato em 15% em apenas seis meses – quando a meta da ONU é reduzir 5% ao ano -, e reduzimos em 10% o número de roubos e assaltos, temos ainda problemas muito graves. A Polícia Militar do RN deveria ter hoje 15 mil homens em seus quadros. Temos menos de 9 mil. Por isso, uma de nossas medidas foi convocar os policiais cedi-dos a outros poderes e instituições, para incrementar o policiamento das ruas.Na saúde temos mais de 20 hospitais re-gionais que não funcionam a contento e não cumprem sua função. Na região do Trairi e em São Paulo do Potengi, no Agreste, já demos início ao processo de cogestão municipal que irá alavancar os hospitais regionais. Esse programa se estenderá paulatinamente pelo estado todo. E em Natal não temos ainda um hospital específico para o atendimento de traumas. Mas estamos trabalhando para dar uma resposta, em breve, para essa situação.

NORDESTE: Mas deve haver algo posi-tivo nesse processo. O que seria?

Robinson: Os resultados já alcançados são altamente positivos. E estimulan-tes. Uma pesquisa recente, feita pela Federação das Indústrias do Rio Gran-

de do Norte (Fiern) no mês de junho, mostra que a população do Rio Grande do Norte aprova a nossa administração com grande índice percentual – 71,8%. Nosso governo pensa no hoje e no futuro do Estado. Planejamos, temos metas, motivação e capacidade de su-peração. É claro que temos deficiências e muito a fazer, mas eu avalio hoje a nossa administração – numa escala de 1 a 10 – com nota 8. Este número sintetiza esse espírito de motivação, superação, planejamento e alcance de metas que estamos conseguindo imprimir no governo do Rio Grande do Norte. Tenho certeza que nosso Go-verno vai dar certo, vamos transformar a realidade que encontramos e vamos fazer do Rio Grande do Norte, se não o melhor, um dos melhores estados do país para se viver.

NORDESTE: Qual a avaliação o senhor faz de sua equipe de assessores? Pre-tende mudar peças?

Robinson: Escolhemos uma equipe técnica, cumprindo nosso compromisso de campanha, de formar um secretaria-do composto por pessoas tecnicamente reconhecidas em suas áreas de atuação, sem compromissos políticos. Esse grupo tem se mostrado empenhado, motivado e disposto a responder ao desafio de realizarmos um grande governo.

NORDESTE: A propósito, como a rea-lidade restritiva orçamentariamente pode atrapalhar as pretensões do Estado para captar o HUB da Latam, em face do acesso ao aeroporto de São Gonçalo do Amarante, ainda precisar ser resolvido?

Robinson: Vivemos um momento difícil em termos financeiros e orça-mentários, mas isso não irá prejudicar as ações para a captação do HUB da La-tam. Estamos convictos de que temos as melhores condições técnicas para receber o Hub, por fatores que incluem tanto as vantagens tributárias, com a desoneração do Querosene de Aviação (QAV), iniciativa do nosso Governo, quanto a indiscutível localização geo-gráfica favorável de Natal. Temos ainda

Nosso governo pensa no hoje e no futuro do Estado. Planejamos, temos metas, motivação e capacidade de superação. É claro que temos deficiências e muito a fazer, mas eu avalio hoje a nossa administração numa escala de 1 a 10 – com nota 8”

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um aeroporto privado e já projetado para ser Hub, o que nos coloca em uma posição vantajosa. Fomos hub dos Estados Unidos durante a Segunda Guerra Mundial, e acredito firmemente que seremos agora, novamente, com a Latam. No que se refere aos acessos ao aeroporto, o acesso norte já está com obras avançadas, com conclusão prevista para o final deste ano, com um investimento de R$ 10,6 milhões. O acesso sul, que inclui um anel viário será entregue até dezembro de 2016. Esse cronograma foi apresentado em reuniões técnicas com a Tam, em que explicamos que será possível cumpri-lo à risca. Não teremos problemas com os acessos.

NORDESTE: Como o senhor costura os apoios políticos até de adversários, como o Ministro do Turismo, Henrique Alves, para este e outros grandes pro-jetos estruturantes?

Robinson: Fui recebido em audiência pelo ministro do Turismo, Henrique

Alves, acompanhado da bancada fede-ral. Repassamos a ele todos os projetos importantes para o desenvolvimento do Turismo no nosso estado.

NORDESTE: O Rio Grande do Norte construiu ao longo dos tempos diálogos econômicos com países da Península Ibérica, sobretudo Portugal e Espanha. Como andam os investimentos desses países no seu estado?

Robinson: No segmento de energia eólica temos empresas espanholas já instaladas no estado, e no setor de cerâmica, a indústria espanhola Pamesa está em fase de aprovação de instalações no Rio Grande do Norte. Sua vinda para o estado prevê investi-mentos da ordem de R$ 135 milhões, movimentando a economia local.

NORDESTE: Voltando à questão nacio-nal, qual sua leitura atual? O senhor se posiciona da mesma forma que o seu partido, o PSD? Ainda acredita na criação do PL?

Robinson Faria: O PSD está atuando como um partido aliado do Brasil, um partido de comportamento novo, bastante republicano, e muito bem con-duzido pelo seu presidente, o ministro Gilberto Kassab. Quanto ao PL, acre-dito e torço pela criação da legenda.

NORDESTE: Que tem achado dos itens da Reforma Política votada na Câmara sob o comando do presidente Eduardo Cunha? O que aprova e não?

Robinson: O primeiro ponto da refor-ma política que me chama a atenção é a necessidade de se garantir a eleição para o candidato, de fato, mais vota-do. Não é justo que um parlamentar muito bem votado perca a vaga para outro de votação bem inferior, como tem acontecido em toda eleição pro-porcional. Essa regra existente atu-almente não representa o desejo da sociedade e é contra a democracia. Também sou a favor do voto distrital, para que as regiões tenham uma repre-sentatividade equilibrada, e ainda 11

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do fim da reeleição e da coincidência de mandatos, com mandatos de cinco anos.

NORDESTE: Como vai a politica parti-dária em seu estado? Vai ter candidato a prefeito de Natal?

Robinson: Atualmente estou cuidando de organizar o estado, focando nos caminhos para o desenvolvimento da nossa economia, para a geração de empregos, para a recuperação da prestação de serviços. Ainda não estou tratando de 2016.

NORDESTE: O senhor presidiu uma reu-nião dos governadores nordestinos dias atrás em Natal. O que concretamente já aconteceu como consequência?

Robinson: As reivindicações da Carta de Natal no 3° Encontro de Governadores do Nordeste foram bastante ousadas. Não se esperava o

cumprimento imediato dos pedidos, até porque alguns possuem caráter programático. No que diz respeito à Reforma Tributária, três dos quatro estados que estavam fora do acordo entre RN, PE e CE (o outro estado é o Paraná) do Convênio ICMS 70/14, acordo buscado pelo Ministro Levy e o Governo Federal, resolveram apoiar os termos do convênio. Foi uma sinaliza-ção positiva de apoio do Nordeste que o Ministro levou de volta pra Brasília. O apoio integral da região ao Gover-no. A bola passou agora para o outro lado da rede e os estados aguardam a definição do Governo Federal acerca do fundo de compensação, previsto no convênio, que auxilie os Estados a lidar com a transição. Quanto ao programa Minha Casa, Minha Vida, que foi so-licitado ao ministro que se retomasse as obras paralisadas, foi atendida essa solicitação e esse importante programa voltou a movimentar as economias nordestinas.

NORDESTE: O que há de novo no seg-mento energético e na produção eólica do Rio grande do Norte?

Robinson: No dia 5 de junho passa-do, dia mundial do meio ambiente, o Governo do Rio Grande do Norte anunciou a adesão ao Convênio ICMS 44/15 que isenta do ICMS a energia elétrica fornecida pela distribuidora ao micro ou minigerador. Esse é um incentivo fundamental para o desen-volvimento do uso de energia solar, porque reduz o tempo de retorno do investimento em placas solares. Essa medida abre caminho para o Rio Gran-de do Norte ser uma referência conti-nental em energia limpa, pois hoje já somos referência brasileira da energia eólica. Os 2,02 gigawatts produzidos no RN superam vários países europeus como Grécia, Bélgica e Noruega, se equiparando aproximadamente à pro-dução de Irlanda e Áustria. Sozinho, o RN supera também o montante de potência instalada de todos os países da América do Sul juntos, com exceção do Brasil.

NORDESTE: Dentro de uma visão mais

nacional levando em conta a conjuntu-ra econômica, o que o senhor acha do Governo Dilma? É refém do Congresso, já está com as rédeas do processo nas mãos?

Robinson: A presidente Dilma está conduzindo o Brasil em meio a uma crise, antes internacional, mas agora, especialmente, nacional. O momento é de dificuldades, mas ela conta com uma equipe técnica, com destaque para o ministro Joaquim Levy, que tem condições de reverter a situação e elevar a posição do país. Com relação ao Congresso, é preciso pensar primei-ramente no Brasil, e deixar as questões políticas de lado. O que temos visto é que, embora haja diferenças ainda sendo administradas entre o Executi-vo e o Legislativo, o ajuste fiscal tem caminhado com poucas dificuldades no Congresso, com a aprovação de medidas provisórias importantíssimas para o país. Os assuntos têm caminha-do com o ritmo de discussão dentro da previsibilidade.

NORDESTE: Como o senhor avalia a atuação do ministro Joaquim Levy e de que forma o Governo do Rio Grande do Norte anda afetado?

Robinson: Tive alguns contatos com o ministro Joaquim Levy, e o que ele me passou foi que é bem intencionado, preparado tecnicamente e motivado na missão que recebeu. Em um dos encontros, quando estive com ele para conversar sobre a questão econômica e a necessidade de efetivação de um empréstimo do Banco do Brasil para o Rio Grande do Norte, ele expôs sua visão sobre o receituário econômico para esse período de crise e seu enten-dimento sobre a prioridade das obras de infraestrutura tocadas pelo Governo Federal como motivadoras da retomada econômica do país. É uma visão que acompanhamos, e mostramos como a realização de obras no Rio Grande do Norte, que tem a indústria do turismo e a geração de energia como vocações naturais, podem contribuir para o pro-gresso do país. Vejo o ministro como um homem sensível a essas questões.

Dilma está conduzindo o Brasil em meio a uma crise, antes internacional, mas agora, especialmente, nacional. O momento é de dificuldades, mas ela conta com uma equipe técnica, com destaque para o ministro Joaquim Levy, que tem condições de reverter a situação”

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SUA VIDA É SE SUPERAR A CADA DIA? ESTAMOS JUNTOS.

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É da porteira para dentro que a gestão, inovação e produtividade fazem a

diferença. O Sebrae acredita e trabalha junto dos empreendedores rurais.

Se você quer crescer mais, o Sebrae quer mais é estar ao seu lado.

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[email protected] Santos

Quando o senador Cássio Cunha Lima, Líder do PSDB, projetou o dia 14 de Julho - data do depoimento do empresário Ricardo Pessoa, da UTC, na CPI da Petrobras, como prazo fatal para o início do processo de afas-tamento legal da presidenta Dilma Rousseff do cargo, ele não falou à tôa nem fez avocações delirantes, apenas foi Porta Voz do que vem sendo mon-tado há meses visando o intento real de tirar o PT do Poder Central.

A esta altura do campeonato, o PSDB assumiu publicamente o papel de algoz principal do “grande esquema” com participação de outros partidos, em especial com chancela de setores influentes do PMDB, a

O foco na vã deposição de Dilma e no desmantelamento da Economia

exemplo do presidente da Câmara Fe-deral, Eduardo Cunha, todos fechados na “grande estratégia” de legalizar o Golpe no processo democrático que

reelegou Dilma Rousseff.Pouco tem importado neste cenário

pemedebista a deposição do seu maior líder, o vice-presidente Michel Temer, que vive espremido entre a legalidade e a arbitrariedade político - institucional.

Pelo que tem sido construído e ex-posto à opinião pública com endosso e forte participação da Grande Midia capitaneada pela Rede Globo, os ca-minhos para o afastamento de Dilma passam por questões legais em diversos aparelhos institucionais, a exemplo do TCU com as tais “Pedaladas”, o TSE diante da votação das contas de cam-panha da presidenta e o MPF – denun-ciador do que existir para formalizar o Impeachment.

Neste processo, não há espaços para se apurar e punir a todos os envolvidos em desvios a envolver todos os partidos, en-tretanto, o foco e a exposição se restringe ao PT sob conivência das instituições democráticas, com exceção à OAB, por-que o PSDB e demais siglas ao seu redor estão atolados na recepção dos mesmos e mais recursos das empreiteiras, mas o noticiário exclui a todos porque o alvo é o PT e Lula na projeção futura.

Na trama, com destaque estratégico, estão setores da Justiça Federal – esta ge-rando abusos do Direito em escala nunca visto e, por consequência, produzindo o desmantelamento de importantes empre-sas do Brasil com histórico de inserção brasileira no mercado internacional, sem falar também do abuso da PF de fazer es-cutas ilegais, conforme confissão recente, servindo-se todo este aparato, não para por em prática as correções e punições

A “grande meta” é deletar o PT

Guardadas as proporções, o cenário brasileiro está longe de ser um contexto exclusivo porque se incorpora à "grande estratégia" do Capital retomar o comando da economia na América Latina. Afinal, a expansão de governos socialistas deram outro rumo de inclusão social às diversas nações em desconfor-midade com a orientação de subserviência total aos EUA. O papel da oposição no Brasil com idêntico procedimento da Grande Midia, em especial as grandes Redes de TV, é o retrato fiel do que a Ve-nezuela enfrentou anos atrás com rescaldo até hoje mantido para tirar o governo socialista do poder a qualquer preço, embora em terras de Hugo Chaves

há reação dura com respaldo popular de tentar preservar seu legado.

O PSDB incorpora esta estratégia sem mais despudor nem nenhum discurso de

preservação de valores de soberania nacional afastando-se de vez de seus primados iniciais

até por ter sido um partido criado a partir de lutas da redemocratização do Brasil.

A “instabilidade criada” visa América Latinadevidas aos desvios, mas

para fragilizar o Governo Dilma.

Como é perceptível cons-tatar, como "pano de fundo" da trama pós – maquiavélica porque tem um componente Capital de objetivo maior – diversos parlamentares do Congresso Nacional endos-sam todo esse contexto de "mais valia" sobre o respeito à soberania da De-mocracia recons-truída a duras pe-nas no País. São Paulo é o mo-tor deste inten-to que conduz ao retrocesso.14

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O governador Wellington Dias confirmou em contato com a Coluna PLUGADO, que vai estar recepcio-nando os governadores do Nordeste no próximo dia 17 de Julho, em Teresina, para nova rodada de discussões sobre as pautas prioritárias dos nove estados.

Eles devem discutir a conjuntura nacional diante da manutenção de anseios do PSDB de querer ver a presi-denta Dilma Rousseff cassada. A pauta do impeachment é, algo que não conta com endosso dos chefes do Executivo no Nordeste. A pauta de maior fôlego será a econômica.

Somente depois do recesso parlamentar iniciado em Julho é que o Governo Dilma Rousseff entabulará definitivamente as mudanças a serem anunciadas no Segundo escalão para azeitar a máquina administrativa dentro da lógica de negociação com os partidos aliados, mesmo parte do PMDB jogando dubiamente, ou seja, contra o Governo.

Um dos nomes lembrados para cargo especial está o do ex-Secretário da Bahia, Robinson Almeida, atual-mente na Secretaria Geral da Presidência da República.

Ciro Gomes será a partir dos próxi-mos dias a novidade na política com os entendimentos com o PDT. O partido dá como certo que os irmãos Ciro e Cid Gomes, ex-ministros e ex-governadores do Ceará, estão de malas prontas para deixar o Pros e entrar no PDT. A mudança seria em razão de descon-forto observado entre eles e seu grupo político com o Pros. Mas há quem fale que principal fator da nova filiação é a possibilidade de ser costurada a candidatura de Ciro à presidência da República em 2018.

Em Brasília, o nome do ex-depu-tado federal João Paulo, também ex-prefeito de Recife, é considerado como definido para assumir em breve a Superintendência da SUDENE.

No Ministério da Integração Na-cional, por exemplo, há um clima apenas de aguardar a nomeação dele para deflagração de várias ações estratégicas no Nordeste.

O governador Paulo Câmara e a primeira-dama Ana Luiza Câmara ofereceram dias atrás um almoço para convidados no Palácio do Campo das Princesas, em celebração ao sucesso da

Câmara avalia a Cultura

Piaui é anfitrião dos Governadores

Ajustes no 2º Escalão

Ciro para 2018?

Novo Superintendente da SUDENE

Fenearte superando as expectativas da organização em vendas e visitação, pois mais de 160 mil pessoas haviam circu-lado pelos corredores do pavilhão do Centro de Convenções de Pernambuco (Cecon), para conferir as novidades da maior feira de artesanato da América Latina.

Entre os convidados do almoço, os ir-mãos Campana - Fernando e Humberto, designers mundialmente conhecidos. A dupla visitou a capital pernambucana exclusivamente para conferir a Fenearte e já deixa a cidade hoje. Recentemen-te, os irmãos lançaram um coleção de cadeiras e poltronas em parceria com o artesão cearense Espedito Celeiro.

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país está dividido. Uma parte, ao que tudo indica guiada pela grande mídia, está tomada

por acusações de irregularidades do governo Dilma Rousseff (PT) e começa a levantar o coro do impeachment. A outra parte, olha para esse coro com es-tranheza e ao invés de ver um processo realmente sério onde estão apontadas irregularidades, vislumbram mais um processo golpista.

Muito dessa onda se exacerbou na Convenção Nacional do PSDB, quando o presidente recém reeleito da legenda, senador Aécio Neves (MG), e o ex-presidente da república, Fernando Henrique Cardoso, puxaram o coro: a presidente Dilma Rousseff estaria sem

O condições de cumprir seu mandato até o final, em 2018, e o PSDB estaria pronto para assumir o cargo. A dis-cussão sobre impeachment e golpe de Estado acabou tomando o noticiário e se tornou o prin-cipal assunto do Congresso Nacio-nal. Aécio Neves e o líder do PT no Senado, Hum-berto Costa (PE), bateram boca em plenário.

A pres identa respondeu às pro-vocações do PSDB em entrevista ao

Edinho Silva introduziu estratégia da agenda positiva

Dilma Rousseff e o presidente da Rússia,

Vladimir Putin, em encontro dos BRICS

jornal “Folha de São Paulo”, onde se disse vítima de uma oposição “um tanto quanto golpista” e garantiu que não vai cair. “Eu não vou cair. Isso é moleza, isso é luta política. As pessoas caem quando estão dispostas a cair. Não tem base para eu cair. E venha tentar. Se tem uma coisa que eu não tenho medo é disso. Não conte que eu vou ficar nervosa, com medo. Não me aterrorizam. (...) Para tirar um presiden-te da República, tem que explicar por que vai tirar. Confundiram seus desejos

com a realidade, ou tem uma base real? Não acredi-to que tenha uma base real”.

A p e s a r d o s baixos índices de popularidade, úl-tima pesquisa do IBOPE divulgada no dia 01 de julho, pontuou 9% entre os que consideram

Dilma implementa ações de impacto dentro e fora do País para afastar

fantasma da cassação. Viagem aos EUA e Rússia dão o tom do novo momento

UMA AGENDA

PA R A O B R A S I LP O S I T I V A

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seu governo ótimo e bom, Dilma segue buscando implementar uma agenda positiva na mídia e nas redes sociais. A estratégia do Governo é contra-balançar a articulação da mídia e da oposição contra o seu governo com boas notícias dentro e fora do Brasil.

Na Rússia, em encontro dos BRICS, reunida com os mandatários da China, Ìndia, África do Sul, e Rússia, a pre-sidenta anunciou a criação do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB, do inglês New Development Bank). A criação da nova instituição foi feita com a assinatura de cooperação entre o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e outros bancos de desenvolvimento dos países que compõem o bloco. O documento foi firmado durante a 7ª reunião de cúpula dos BRICS, na cidade russa de Ufa, pelo presidente do BNDES, Luciano Coutinho, e os presidentes dos demais bancos de desenvolvimento, na presença dos chefes de Estado dos cinco países. O acordo estabelece as bases para que os bancos de desenvolvimento se relacionem com o NDB.

Antes a presidenta já havia visitado os EUA e firmado diversos acordos para expansão e cooperação tecnológica, educacional, de comércio, turismo e

meio ambiente, em encontros com o presidente Barack Obama. A petista ainda se encontrou com executivos da Google e do Facebook para ampliar o acesso a internet no país.

Nos Estados Unidos Dilma conseguiu emplacar pelo menos seis pontos de interesse do Brasil. No meio ambiente, os países se comprometeram a ampliar a participação de fontes renováveis em suas matrizes elétricas. O objetivo é que este índice, sem contar a gera-ção hidráulica, chegue a mais de 20% até 2030. No comércio os governos anunciaram a intenção de assinar um memorando para harmonizar normas técnicas, o que deve facilitar a entrada de produtos brasileiros no mercado

americano. No setor pecuário, o De-partamento de Agricultura dos Estados Unidos publicou a chamada "decisão final", um comunicado que reconhece o status sanitário do rebanho bovino brasileiro. Isso potencialmente abre as portas do mercado do país à carne in natura do Brasil, encerrando uma negociação de mais de 15 anos.

Em relação a concessão de vistos, a tão desejada isenção de visto para turistas brasileiros ainda não foi al-cançada, mas ambos os governos se comprometeram a tomar as medidas necessárias para que o Brasil entre no programa "Global Entry" até a pri-meira metade de 2016. Este programa dispensa viajantes frequentes de

Dilma em reunião com líderes dos BRISCs (acima) e durante visita a EXPO Milão. Agenda intensa no exterior

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entrar em filas ao passar pelos postos de imigração na chegada aos Estados Unidos. Em relação a Defesa, dois acordos foram destaque, um de Cooperação em Defesa e outro de Segurança de Informações Militares, com foco no fluxo de informações, bens, serviços e tecnologias entre ambos os países. Há ainda cooperação na Previdência Social e na Educação. Brasil e Estados Unidos assinaram um memorando de entendimento para cooperar em educação técnica e profissionalizante, com aumento da colaboração entre instituições educa-cionais dos dois países.

Entre essas agendas aconteceu um fato curioso na Itália, ao visitar a Expo Milão. Quando a presidenta avistou a principal atração do pavilhão brasileiro, uma enorme rede suspensa que representa a integração dos pro-dutores de alimentos do país, ela quis atravessar a engenhoca. De calça e tênis pretos, e uma blusa de mangas curtas vermelhas, Dilma conseguiu subir na rede e apesar de dizer que não iria conseguir no início do trajeto, chegou até o fim com ajuda de um funcionário. Após isso, foi questionada se poderia ser feito uma paralelo entre

A estratégia da chamada “agenda positiva” já havia sido anunciada pelo ministro da Comunicação Social, Edinho Silva. O objetivo era realmente dar visibilidade a ações que tenham repercussão favorável na mídia após a aprovação das medidas de ajuste fiscal. A presidenta Dilma Rousseff afirmou que o governo trabalha para colocar o Brasil na “trajetória do crescimento” no “menor tempo possível” e esclareceu a estratégia do governo em dois eixos: O eixo do ajuste fiscal e o eixo da parceria com o setor privado. “Com ações concretas, o Brasil, ao mesmo tempo, faz o ajuste e, a partir dele, cria a agenda clara de futuro”, afirmou.

Entre os temas da agenda positiva estão um pacote de obras que seriam feitas em parceria com a China no valor de R$ 160 bilhões, anunciado em maio. Em junho ao participar do lançamento do Plano Agrícola e Pecuário 2015-2016, a chefe do executivo nacional detalhou pontos da agenda positiva que o governo estava preparando com anúncios de novos programas.

Em relação ao Plano Agrícola e Pecuário, os recursos disponibilizados ao crédito rural para as operações de custeio, investimento e comercialização da agricultura empresarial

alcançam R$ 187,7 bilhões no ano safra 2015/2016. O plano baseia-se no apoio aos médios produtores, garantia de elevado padrão tecnológico, fortalecimento do setor de florestas plantadas, da pecuária leiteira e de corte, melhoria do seguro rural e sustentação de preços aos produtores por meio da Política de Garantia de Preços Mínimos. O volume de recursos destinados ao financiamento da agricultura teve alta de 20% em relação ao período anterior, que foi de R$ 156,1 bilhões.

Além do Plano Agrícola, entre as novidades já apresentadas na agenda positiva “dentro de casa” estão o Plano de Concessões em Infraestrutura e Logística; o Plano Nacional de Exportações; o Plano Safra da Agricultura Familiar; e a terceira etapa do programa habitacional Minha Casa, Minha Vida.

No plano de concessões a ideia é dar sequência às parcerias com o setor privado para ampliar a infraestrutura do país expandindo rodovias, ferrovias, portos e aeroportos. No Plano Nacional de Exportações estão em foco ações para desburocratizar e incentivar as exportações no país. E na terceira etapa do Minha Casa, Minha Vida. Uma das principais bandeiras do governo que já contratou 3,7 milhões de moradias, está prevista a contração de mais 3 milhões de residências. Com as ações, Dilma quer mudar o foco em torno do seu governo.

essa travessia e o seu governo, a presidenta saiu-se: "Não, querido, o meu mandato é, eu diria, mais firme que essa rede.". E, completou, enquanto explicava a técnica para a caminhada: "Eu não caí, mas a gente sempre, para não cair, precisa ser ajudada, né?".

AGENDA POSITIVA TAMBÉM DENTRO

DO BRASIL

Dilma ao lado de Barack Obama em visita recente ao EUA. Acima, comitiva posa em frente a galeria do Brasil na EXPO Milão

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do próximo ano. As oposições – política e midiática – não querem, todavia, pagar para ver. Preferem jogar pesado, em todas as dimensões do campo político, apagando o resultado das urnas de 2014 e, já em 2016, disputar o poder com a chave do cofre na mão.

CHIKUNGUNYA EMPLUMADAA preguiça e o cansaço provocado por essa prima da dengue,

me levam a pedir-lhes paciência na leitura desta transcrição:“Assistimos atônitos a um festival de prisões arbitrárias,

antecipatórias da final condenação, ao desprezo pelo ins-tituto pra presunção de inocência, à submissão de réus a constrangimentos para que revelem crimes de outras pessoas, ao desrespeito flagrante às leis, ao abandono da boa prática da apuração e à correção das investigações que resultam em prova judiciária factual.

Entronizou-se no nosso processo o boato, o “diz que”, o “suspeita-se que”, de delações obtidas sabe Deus a que meios, embora saibamos, seguramente, que não são meios de Deus. Processo com sigilo decretado (só para a defesa, é claro), então, tornou-se melancólica “mentira legal” quando se trata de “vazar” dados para se assassinarem reputações e se prepa-rarem arbitrariedades. Assistimos a esse acinte diariamente no noticiário.” (...) Lavram os autos nos jornais, nas revistas e nas ruas, buscando apoio fora dos tribunais como chegou a pedir um procurador. Essas ilicitudes costumam prosperar em am-bientes de decadência institucional e social, em que germinam disputas de fundo, praxe em conjunturas políticas turbulentas. (Trechos do artigo Curto-circuito no Direito, de José Roberto Batochio, advogado e ex-presidente da Ordem dos Advogados do Brasil – OAB, comentando a atuação do juiz Sérgio Moro na Operação Lava Jato).

Opinião

ula confessa estar no volume morto e afirma ter Dilma em sua companhia. Desafia o PT a pensar menos em cargos e mais no projeto do partido. Os

tucanos reunidos reelegem Aécio, para presidência do Diretório Nacional, e vestem-se de profetas ao anunciar que Dilma não concluirá o seu mandato. Um verdadeiro ato falho de quem está contaminado pela intenção golpista. A presidenta resolve sair da toca, deitar falação e desmente Lula. E numa entrevista mal copidescada, na Folha de São Paulo, desfila estranhas e angustiantes expressões como “eu não vou cair, não tem base para eu cair, venha tentar, venha tentar”.

Na mesma entrevista, Dilma critica decisões do juiz Sérgio Moro que, segundo ela, vem prendendo preventivamente, a rodo, os investigados da operação Lava Jato, forçando-os a confissões e delações. O magistrado popstar, hoje uma réplica do que foi Joaquim Barbosa nos tempos de mensalão, não gostou e acusou Dilma de fazer comentários inapropriados e ofensivos ao Supremo Tribunal Federal (?).

Em paralelo, o Congresso Nacional comandado pelos ressen-tidos Renan Calheiros e Eduardo Cunha, este uma revelação de pragmatismo mórbido na oposição ao governo, adota um ritmo alucinante de trabalho, produzindo e aprovando leis cuja linha de pensamento maior parece ser inviabilizar o governo petista. Somadas, as lideranças petistas e peemedebistas, leais a Dilma, entre elas o vice-presidente Michel Temer, não têm conseguido enfrentar os blindados de Cunha e Calheiros que desfilam vitoriosos e incólumes na Praça dos Três Poderes. Implantam no país uma versão tupiniquim de um parlamentarismo branco.

A verdade é que a fragilidade da oposição política, explicitada nos últimos anos, está sendo profusamente compensada pelo apoio desbragado e antiético da grande imprensa brasileira que não tem mais limites para o seu engajamento político e a unilateralidade de opinião. Está valendo tudo para tentar expulsar o PT do poder, mesmo que as armas brandidas, entre elas o impeachment, por exemplo, não caibam juridicamente na situações criadas, segundo opinião de autoridades na ma-téria. Para inquietar e vulnerabilizar Dilma e o seu governo, os veículos de comunicação fazem um rodízio de acusações, a maioria delas repetida por dezenas de vezes, em tudo que é noticiário de TV e rádio. Afirma-se mais do que se insinua que o mandato de Dilma, conquistado nas urnas, terá vida curta por decisão do Congresso Nacional ou do Supremo Tribunal Federal. É a moda do “boato oficializado”, sinetado pelos que lutam para manipular a opinião pública. Aproveitando a onda, vândalos morais postam na internet imagens imorais (forjadas) de Dilma, num flagrante desrespeito à integridade moral da presidente, da mulher e da família brasileira.

O desabafo de Lula e o convite a Dilma para que ela se apro-xime do povo parecem ser a estratégia do desgastado PT para construir um novo caminho que levará às eleições municipais

Com a chave do cofre na mão

L Carlos Roberto de Oliveira

Jornalista, consultor de Marketing e sócio da CLG

A fragilidade da oposição política, explicitada nos últimos anos, está sendo profusamente compensada pelo apoio desbragado e antiético da grande imprensa brasileira”

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Política

Aécio Neves é reeleito presidente do PSDB, encabeça movimento pró-afastamento de Dilma com apoio de Serra e FHC. Mas sofre oposição interna de Geraldo Alckmin e Marconi Perillo. Governadores querem minar planos do tucano com vistas a candidatura nas eleições de 2018

oposição insiste em dissemi-nar um clima de instabilidade política sem nem mesmo ter

um fato jurídico concreto para uma cassação ou impeachment, com isso conseguiu pautar negativamente a grande mídia do país. Tanto é assim que a própria Dilma Rousseff (PT) resolveu sair da letargia e garantir que “Não é Getúlio, Jango ou Collor. Não me suicido, faço acordo ou renuncio”.

O clima complicou depois que alas do PMDB, comandadas pelo presidente da Câmara Federal, Eduardo Cunha, começaram conversações abertas com o PSDB, com vistas a interrupção do mandado de Dilma.

Junto a isso some-se que o Congresso Nacional realizado pelo PSDB no do-mingo 05/07 reconduziu à presidência do partido o senador Aécio Neves

aéCio e a insistênCia em CassaR dilma

com 99,34% dos votos. Aécio afirmou para uma plateia de 3 mil militantes presentes ao evento, que o PSDB pode ser minoria no Congresso, mas não se omite.

Seja em discurso ou na coletiva de imprensa, Aécio pregou a intolerância e foi chamado de golpista por articu-listas políticos, por falar em cassação e impeachment sem prova concreta contra Dilma.

A verdade é que apesar de afirmar textualmente em sua fala que não era golpista, suas palavras davam a impressão do contrário. “Não cabe ao PSDB antecipar a saída de presidente da república. Nós não somos golpistas. O que existe hoje é uma ausência de governo e se a presidente não assume as suas responsabilidades, ela terceiriza, cada vez mais essa sensação de vácuo

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vai se espalhando pela sociedade bra-sileira. (...) É preciso que a presidente tome as rédeas, se é que ela ainda tem condições de fazer isso, senão nós não teremos o desfecho de 2018, ele poderá ser an-tecipado. Mas re-pito, não por ação do PSDB, mas por inúmeras frentes que a presidente criou. Na verda-de descumprindo a Lei de Respon-sabilidade Fiscal, fraudando a pres-tação de contas, utilizando, segun-do os últimos de-

Aécio Neves, José Serra e Fernando Henrique Cardoso, teses diferentes, mas todas favoráveis ao impeachment de Dilma

poimentos de delatores, o dinheiro de propina na sua campanha eleitoral, isso está numa das delações mais recentes. Cabe a ela explicar porque no Brasil, e aí nós vamos estar vigilantes, a lei tem que valer para todos”, disse um Aécio Neves enfático.

A questão é que ao falar que a presi-denta descumpriu a Lei de Responsa-bilidade Fiscal, o tucano já considera que as famosas ‘pedaladas fiscais’, que estão sendo analisadas pelo Tribu-

nal de Contas da União (TCU), fo-ram criminosas. Apesar do TCU já ter sinalizado irregularidades no caso, o Tribunal ainda está ouvindo os ministros que compõem a defe-sa do Governo e também deve ou-vir Dilma. Aécio não cita que as tais pedaladas também foram feitas pelo governo de Fer-nando Henrique

Cardoso (FHC) desde 2001.Aécio diz que a presidenta fraudou

a prestação de contas de campanha utilizando dinheiro de propina na sua campanha eleitoral, alegando que a informação foi dada “numas das delações mais recentes”. A delação a que o presidenciável se refere é a do empreiteiro Ricardo Pessoa, dono da empreiteira UTC. Pessoa citou em de-poimento de delação premiada suposto repasse ilegal de R$ 3,6 milhões para o tesoureiro da campanha da presidente Dilma Rousseff em 2010, José de Fi-lippi, e para o ex-tesoureiro nacional do PT João Vaccari Neto. Pessoa teria detalhado repasses aos dois no valor total de R$ 7,5 milhões para ajudar a reeleger Dilma.

No entanto, o que Aécio não comen-tou é que Pessoa também citou outros beneficiários do esquema, entre eles os senadores Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP), candidato a vice na chapa de Aécio, o DEM, com nomes como os senadores Ronaldo Caiado (DEM/GO), denunciado por caixa dois pelo ex-companheiro Demóstenes Torres, e Agripino Maia (DEM/RN) investigado no Supremo Tribunal Federal pelo rece-bimento de propinas de R$ 1,1 milhão. O dono da UTC/Constran implicou nada menos que 15 partidos ao falar de suas doações com recursos ilícitos.

A líder do PCdoB, Jandira Feghali (RJ), considera a pauta do impeach-ment uma escalada golpista. Para

Jandira Feghali considera impeachment pauta inapropriada 21

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alCkmin e pe Rillo: posiÇÕes diVeRGentesela o que existe hoje não passam de suposições. “Apura-se, acredita-se e ao mesmo tempo que apura-se e supõem-se, afirmam-se coisas inve-rídicas, porque não houve pedalada fiscal e os dados serão apresentados. Não há nenhuma base de sustentação para falar de crime de responsabilidade fiscal, toda a metodologia usada pelo governo é usada há 25 anos. Porque o Senado deixou de regulamentar a relação estado e bancos públicos. Então a metodologia é do Banco Central, isso é usado desde 1991. E depois da Lei de Responsabilidade Fiscal, há 14 anos, todos os governos usaram a mesma metodologia, inclusive o governo de Fernando Henrique Cardoso. Para a gente afirmar, como fez o PSDB na sua convenção “Dilma irá cair e nós estamos prontos a assumir”, quando ainda supõem-se e apura-se. Isso é niti-damente uma posição golpista. Não há base constitucional, nem provas para essa atitude. Além do que é importante dizer que há de fato desde a campanha eleitoral uma resistência ao resultado. Nunca o PSDB aceitou essa derrota, nunca. Entrou primeiro querendo re-contar votos. Depois entrou com novos processos. Faz uma oposição na minha opinião irresponsável com o Brasil. Eu acho que tem que investigar, apurar, punir corrupto. Tem que fazer, mas a gente percebe nitidamente que os discursos e as ações são articuladas em todos os níveis das instituições”, frisa, negando logo em seguida que esteja acusado as instituições, mas pessoas dentro das instituições que estariam agindo de comum acordo com a oposi-ção para articular a queda do governo.z

As tentavas de tirar Dilma do Palá-cio do Planalto estão em curso desde dezembro. Os tucanos moveram ação

judicial no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), no ano passado, pedindo a cassação do mandato da presidenta e seu vice sob o argumento de abuso de poder econômico e político durante a campanha. Na ação já foi ouvido o doleiro Alberto Yousseff , que negou que tenha repassado dinheiro para a campanha petista. Está previsto para o dia 14 de julho, depoimento do em-preiteiro Ricardo Pessoa. A ação está em fase final de coleta de provas e deve ser julgada até agosto.

A situação é delicada, e fica claro que a pauta da mídia no Brasil hoje é construída pelo Congresso Nacio-nal, o Judiciário e a oposição. Para se defender Dilma agora precisa ser rápida, a fim de evitar o vácuo político e econômico. Mas há uma onde de ódio crescente contra a presidente e o PT. Torna-se cada vez mais fácil ver o brasileiro comum culpando o governo por todas as suas mazelas e a irritação coloca na mesma massa genérica tanto a violência nas ruas, quanto os buracos nas estradas e a falta de segurança. Tudo é culpa do PT. Lula já brincou com fato nas redes sociais ao rebater argumento de um articulista da Globo que alegou que a crise da Grécia era culpa de Lula e Dilma.

Os últimos acontecimentos apontam para uma desordem em curso. Há real-mente uma crise econômica e um certo vácuo político, que começa a ser pre-enchido pelo PT. o ambiente é propício para o surgimento de radicalismo. Um terreno mais que fértil para ver surgir os contornos de um movimentos fascistas. Não é a toa que é possível ver no país saudosos da ditadura militar, da tortura e da censura. Os mesmos que também, muitas vezes atacam gays, transexuais, negros e nordestinos.

Mas nem tudo é consenso dentro do PSDB. Os governadores Geraldo Alckmin (São Paulo) e Marconi Perillo (Goiás) torcem para que a presidenta Dilma Rousseff consiga se manter no poder, de preferência enfraquecida, até 2018. O motivo é claro: os dois ambicionam construír uma candidatura própria à presidência, tirando Aécio do caminho.

Alckmin e Perillo enten-dem que um impeachment agora benefi-ciaria apenas a Aécio e tor-naria inviáveis suas possíveis candidaturas. Assim, o par-tido vive uma disputa inter-na pelo poder.

Até mesmo por isso, hoje a estratégia de Aécio é apostar todas as fichas num impeach-ment ainda neste ano, e não apenas da presidente Dilma Rousseff, mas também do vice Michel Temer (PMDB). Com a cassação dos dois assumiria o presidente da Câma-ra, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que

Cássio Cunha Lima, líder do PSDB no Senado tem sido veemente na luta

pelo impeachment

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“PODE VIR LULA E QUEM QUISER” Aloysio Nunes

Senador pelo PSDB

alCkmin e pe Rillo: posiÇÕes diVeRGentespercentuais (35%) de liderança a frente do petista (25%).

O senador José Serra aposta numa via diferente, com o impeachment apenas de Dilma e Michel Temer assumindo. Neste sentido, o caminho mais viável seria a cassação a partir das chamadas "pedaladas fiscais", que atingiriam Dilma, mas não Temer.

Enquanto Alckmin, Perillo e Serra deixaram claras as suas posições, FHC preferiu um tom algo nebuloso. "Esta-mos prontos, sim (...), para assumir o que vier pela frente. Precisamos ir até o fim para que o Brasil seja passado a limpo. Seja qual for o caminho pelo qual tenhamos que passar, o PSDB e seus aliados terão um caminho”. O tucano afirmou que "o rumo foi perdi-do", "o Brasil foi quebrado pelo PT, pelo "'lulopetismo'". Em outro momento o tucano comparou o governo Dilma com o seu. "Eu perdi a popularidade algumas vezes. Popularidade se perde e se ganha. O que eu nunca perdi foi a minha credibilidade".

Outros que se mostraram francamen-te favoráveis ao impeachment foram Cássio Cunha Lima, líder do PSDB no Senado, e Carlos Sampaio, líder na Câmara.

ficaria no poder por três meses e convocaria novas eleições.

O senador Aloysio Nunes, um dos tucanos mais ácidos em rela-ção ao governo Dilma, afirma que "não tem

dúvidas" de que o Partidos dos Traba-lhadores está "inviabilizado no curto e no médio prazo". "Tem gente que quer abrir a barriga da presidente e enforcá--la com a tripa. Mas eu sou um homem pacífico", garante. Para Nunes nem Lula tem mais vez. O próprio Aécio já disse que não teme enfrentar Lula. O tucano se acosta em recente pesquisa do Datafolha que lhe deu 10 pontos

Acima Geraldo Akckmin e ao Lado Marconi Perillo, candidatos em 2018

São manobras contábeis que, segundo a oposição, teriam como objetivo melhorar o resultado das contas públicas - ou seja, ajudar o governo a fazer parecer que haveria um equilíbrio maior entre seus gastos e suas despesas. No caso, o governo Dilma é acusado de atrasar o repasse de recursos para benefícios sociais e subsídios pagos por meio da Caixa Econômica Federal, do Banco do Brasil e do BNDES para passar a impressão de que as contas públicas estariam melhor do que realmente estavam. Teriam sido “segurados” um total de R$ 40 bilhões do seguro-desemprego, programa Minha Casa, Minha Vida, Bolsa Família, Programa de Sustentação do Investimento (PSI) e crédito agrícola, segundo o TCU. Como os desembolsos não foram efetuados, as contas do governo pareceram temporariamente mais equilibradas. Não houve atrasos no pagamento para seus beneficiários, porque os bancos públicos cobriram esse valor. Para o TCU, isto seria um “empréstimo” desses bancos para o Tesouro, o que seria proibido pela Lei de Responsabilidade Fiscal. Todavia, há quem refute essa tese.

O QUE SÃO AS ‘PEDALADAS FISCAIS’?

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Política

a ReinVenÇão do ptPartido apoia política econômica de Dilma, reclama de “sórdida campanha de difamação” da mídia e começa campanha de arrecadação online

Partido dos Trabalhadores está em processo de transfor-mação. Em parte foi esse o

resultado do 5º Congresso Nacional do Partido realizado em Salvador entre os dias 11 e 13 de junho. "Todo o debate que foi feito revela que, depois desse Congresso, o PT vai ter que mudar mais. O PT não será mais o mesmo, seja nas suas relações internas, seja acentuando nossa autonomia de for-mular políticas públicas em relação ao nosso governo, que nós apoiamos, mas queremos que avance. Queremos dar sustentação, mas queremos empurrar também para que a gente não ingresse numa fase recessiva e para que nosso país volte à trajetória de desenvolvi-mento econômico", disse o presidente da legenda, Rui Falcão (confira entre-vista com o presidente nas próximas páginas).

Com a presença da presidenta Dilma Rousseff e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que discursaram na

abertura, o Congresso ratificou apoio a gestão do Palácio do Planalto e ao mesmo tempo sinalizou que PT precisa reencontrar seu próprio traçado. Foi nesse sentido que o partido lançou uma campanha para arrecadação online com desconto via cartão de crédito e manteve a decisão de não receber mais doações de empresas privadas.

Apesar das hostilizações a Eduardo Cunha (PMDB) – foi possível ouvir gritos de “Fora Cunha” – os militantes preferiram reafirmar a decisão de ma-nutenção da coalizão com o PMDB, não sem questionarem a direção do partido do por quê a articulação po-lítica do Planalto estava entregue nas mãos do vice-presidente Michel Temer (PMDB). Não houve uma resposta

objetiva, além das próprias dificuldades do governo no Congresso Nacional.

Alas do partido fizeram sua análise crítica sobre o partido no atual mo-mento brasileiro. 33 deputados (dos 63 parlamentares da legenda) na Câmara, encaminharam para o Congresso ma-nifesto pedindo reformulação política e estrutural do PT. Em tom de mea culpa, o documento, listava medidas que deveriam ser adotadas, entre elas maior transparência das contas e combate “sem trégua” à corrupção. O manifesto destacou que o partido perdeu a capaci-dade de formular propostas de interesse social e criticou a dependência crescente do financiamento empresarial. Entre os principais erros do partido, segundo os deputados, está o fato de não ter dado

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Lula, Dilma e o presidente do PT, Rui Falcão, unidade no 5º Congresso do partido

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a ReinVenÇão do pt

Lula discursa no Congresso do PT e lança campanha para doação de “Companheiros” ao partido

Dilma Rousseff Presidente do Brasil

prioridade a uma reforma política pro-funda. Hostes do partido, ainda não se sente a vontade para resgatar uma postura dos seus primórdios quando arrecadava dinheiro para seu caixa com a venda de botons e camisetas e era crítico feroz das manobras politicas do PSDB, que pregava uma política de arrocho salarial e venda de estatais. A atual política implementada por Dilma Rousseff, ainda é considerada ácida por esses setores do PT. No entanto, o partido quer se reinventar.

Para participar do evento, Dilma antecipou sua volta da Bélgica, para defender sua política econômica. A presidenta qualificou o Ajuste como uma das "ações táticas" necessárias ao PT e frisou que é preciso que o partido faça a leitura correta da conjuntura em que o país está vivendo. "O Pt é um partido preparado para entender que muitas vezes as circunstâncias impõem um movimento tático", declarou. Dil-ma pediu o apoio do partido e o obteve ao ver o Congresso, ao final do encon-tro, na Carta de Salvador, endossar sua política econômica.

No seu discurso, Lula acusou a Im-prensa de ser tendenciosa. “Há dez anos esses jornalistas anunciam a morte do PT, mas nós estamos aqui para mostrar que o PT continua vivo e preparado para novos com-bates. Enfrentan-do a mais sórdida campanha de di-famação que um partido político já sofreu neste país”, argumentou Lula. Por isso mesmo, no entender do ex--presidente, o PT precisa sempre estar vigilante, corrigin-do erros e mudando o que for preciso mudar.

Falando diretamente para a oposição, o petista lembrou as eleições de outubro de 2014. “Foi uma eleição tão disputada que nossos adversários levaram alguns meses para reconhecer que foram der-rotados nas urnas. E como perderam para o PT pela quarta vez consecutiva, tentam impor ao país a agenda do re-

trocesso – na economia, na sociedade e até na democracia”.

Para o ex-presidente, a agenda da oposição esta voltada para os seus próprios interesses e, de certa forma, desdenha da grande massa brasileira, levantando como bandeira a luta pelo financiamento empresarial dos partidos, “para manter a influência do poder econômico nas eleições”, pela redução da maioridade penal, “para mandar para a cadeia quem deveria estar na escola”; por acabar com o sistema de cotas, “para mandar os pobres e os negros de volta

ao tempo onde não tinham opor-tunidades de estudar e ascender socialmente”. Para Lula a oposição tem uma lista imensa de interesses escusos. Além dos já descritos, ela quer promover a intolerância e sancionar o preconceito contra a população LGBT, perpetuar o oligopólio dos meios de comunica-ção, acabar com o sistema de par-tilha, entregar o pré-sal, destruir a Petrobrás, a indústria naval e a engenharia nacional. Ufa!

Ao final do evento foram apre-sentadas dezenas de emendas. Algumas delas flexibilizadas, como as que falavam sobre a política econômica. O Processo de Eleição Direta Extraordinário (PED)

foi mantido. A decisão an-

terior sobre não aceitar o finan-ciamento empre-sarial de campa-nhas também foi ratificado, mas será remetida no-vamente ao Dire-tório Nacional. A

legenda continuará a não receber re-

cursos de empresas privadas. Todavia, os diretórios estaduais e/ou municipais estão autorizados, de acordo com a lei, a receber recursos de empresas privadas. A Carta de Salvador explicou ainda defesas do partido a criação de uma lei que venha a taxar as grandes fortunas e heranças. Ao final, o PT conseguiu, mais uma vez, sair unido e começa a lançar as bases de uma mudança mais profunda.

"O PT É UM PARTIDO PREPARADO PARA

ENTENDER QUE MUITAS VEzES AS CIRCUNSTâNCIAS IMPõEM UM MOVIMENTO

TáTICO"

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Presidente do PT, Rui Falcão, garante: o partido defenderá o governo da presidenta Dilma Rousseff e irá ajudá-lo a avançar, mas quer ver implementadas medidas que beneficiem população de baixa renda

em defesa do GoVeRno

Por Walter [email protected]

Revista NORDESTE: O que muda no PT e nas relações do partido com a socie-dade, depois de concluído o Congresso de Salvador?

Rui Falcão: O PT saiu muito fortale-cido do 5º Congresso. Foi uma grande vitória da militância do PT, que pôde externar suas críticas e suas posições. Fizemos debates intensos, com uma re-presentatividade muito grande de nos-sos mais de 1,7 milhão de filiados. Fo-ram cerca de 400 encontros regionais, congressos estaduais preparatórios e,

ao final, saímos com uma unidade in-terna de fazer inveja a outros partidos. Ficou muito claro que a energia do PT segue no sentido de prosseguir com a mudança, de aperfeiçoar nossos me-canismos de participação não só com os filiados, mas com os movimentos sociais. Saímos de lá mais abertos à sociedade. Tanto que no último dia 25 nossa executiva autorizou a criação de cinco grupos de trabalho que visam defender reformas estruturais, resgatar o modo petista de governar, popularizar o Plano Nacional de Educação e ainda

criar uma agenda nacional de defesa do PT. O Congresso também revelou a disposição de defender mais o nosso governo e de ajuda-lo a avançar. É fundamental retomar o crescimento econômico, de fazer uma política monetária e cambial diferenciada. Na última reunião da Executiva, saudamos providências recentes do governo pela retomada do crescimento, mas adver-timos sobre a necessidade de outras medidas, como a reversão da política de juros, a criação de um plano de proteção ao emprego e a taxação das

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grandes fortunas. A política tributária brasileira é injusta, recaindo mais so-bre os trabalhadores e a classe média. É preciso ter uma reforma tributária, taxando mais a classe alta. NORDESTE: No Congresso, ficou claro que setores do partido, a partir de representantes da Bancada Federal, estão contrários à Política Econômica do Governo Dilma em face dos encami-nhamentos do Ministro Joaquim Levy. Como fica a relação com o Governo, que precisa aprovar diversas medidas no Congresso Nacional? Isto não é jo-gar contra o próprio projeto do partido?

Falcão: Temos um governo de coalizão e é normal que o PT dispute suas po-sições no interior da coalizão. Sempre dissemos que nós não seremos linha auxiliar da oposição, mas também não seremos beija-mão da situação. NORDESTE: O PT vive a pior fase de sua história em termos financeiros. E agora, como resolver este sério proble-ma defendendo o fim do financiamento privado, uma janela para a captação de meios financeiros? O senhor acredita que em tempo de crise haverá contri-buição voluntária dos filiados?

Falcão: O PT não foi feito como mui-tos outros partidos. Nós começamos nossa história de 35 anos em tempos muito duros e nunca nos curvamos às intempéries financeiras. Não nos forjamos no capital, mas nas ideias, no nosso projeto para o Brasil. Essa sempre foi a nossa pedra de toque. Neste mo-mento, com todos os ataques sofridos, o PT está de cabeça erguida, dando um grande exemplo político, apesar de toda a campanha pela nossa crimina-lização. Qual outro partido abriu mão de doações empresariais? O PT abriu mão e manteve essa posição em seu Congresso, remetendo para o Diretório Nacional uma decisão definitiva sobre o assunto. Lançamos uma campanha de arrecadação financeira e já estamos recebendo doações voluntárias de filiados e simpatizantes.

NORDESTE: Fala-se muito em judi-

cialização contra o PT nos diversos tribunais para inviabilizá-lo financeira-mente até 2018. O que o senhor tem a dizer desse cenário judicante?

Falcão: Nós temos denunciado as tentativas de criminalizar e mesmo de inviabilizar o PT. Nosso tesoureiro, João Vaccari Neto, está preso sem que a PF, o MP ou a Justiça tenham apresentado qualquer prova contra ele. Ficamos preocupados com as afrontas ao Estado de Direito no Brasil e estamos lutando para esclarecer a

população. Essa farsa não poderá durar muito tempo. NORDESTE - São visíveis ações de se-tores da Justiça, do Ministério Público Federal, da Polícia Federal, buscando de todas as formas criminalizar o PT. Até quando os senhores vão ficar na retaguarda sem enfrentamento mais forte a esta situação?

Falcão: Nós não desrespeitamos as leis. Mas não estamos na retaguarda. Temos nos defendido e denunciado

“PT não foi feiTo como muiTos ouTros ParTidos. nós começamos nossa hisTória de 35 anos em TemPos muiTo duros e nunca nos curvamos às inTemPéries financeiras. não nos forjamos no caPiTal, mas nas ideias, no nosso ProjeTo Para o Brasil”

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as ilegalidades. NORDESTE: O que será feito para dar curso normal à gestão da presidenta criando agenda positiva atualmente inexistente?

Falcão: A presidenta Dilma está cuidando do governo e já começa a apresentar boas agendas para o Brasil. Nós confiamos na presidenta Dilma.

NORDESTE: Tem ficado claro o inte-resse em desconstruir a imagem do ex-presidente Lula, nome mencionado para 2018. Esta seria uma das causas principais para o continuado clima de crise?

Falcão: As elites brasileiras nunca engoliram o operário nordestino no poder. Antes retinham o poder pelas botas, hoje usam outras ferramentas, nem sempre sutis, como a grande mídia orquestrada. Nunca foi fácil para Lula ou para o PT, mas nós somos feitos de

uma massa diferente da deles e não nos curvamos. Há uma sabedoria muito grande na população brasileira, com a qual as elites nunca souberam lidar, porque a menosprezam profundamen-te. Lula continua sendo o grande líder de massas do Brasil e o PT continua sendo o grande partido popular que reúne o ideário de um Brasil mais justo. Antes de 2018 teremos as eleições de 2016. Nós já estamos nos mobilizando. O PT, realmente, depois de passar mais de 12 anos no poder, cometeu alguns erros, como temos repetido, pois fica-mos mais acomodados, cochilamos um pouco, mas estamos acordados. O PT está se reorganizando, se voltando mais para suas bases, para os movimentos sociais, para os modos petistas de fazer política e de governar. NORDESTE: Quando o Governo e o PT vão sair da desvantagem no tratamento da mídia nacional. A propósito, como fica a normatização deste segmento tratado pelos adversários como meca-

nismo de censura, embora o foco seja econômico?

Falcão: Olha, a maior parte da mídia nacional está a cada dia mais organi-zada em favor dos interesses da elite. Veja por exemplo como funciona o Instituto Millenium, que desde 2010 ampliou suas ações pela país. Foi quan-do seus representantes anunciaram que se a oposição partidária estava sendo ineficiente a própria imprensa faria este papel. Desde então essa ação organizada só cresce. Veja quem está por trás dessa associação e os seus objetivos assumidos como “libe-rais”. Os nossos governos nem nossos parlamentares nunca propuseram censurar essa imprensa, porque somos contrários à censura. Nós propusemos sempre regulamentar a Constituição e nunca tivemos maioria para isso. Essa mesma mídia barra esse debate, porque distorce sempre o que dizemos sobre a necessidade de democratização da mídia. Mas vamos insistir em nosso

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projeto em conjunto com dezenas de entidades que defendem a ampliação da liberdade de expressão e o fim do monopólio dos meios de comunicação.

NORDESTE: Os veículos de Rádio e TV são agentes dependentes de concessão pública. Se acaso, quando da renova-ção, chegar um pedido de não renova-ção, o Governo do PT teria coragem de endossar tal pedido?

Falcão: Esta é uma questão afeta à competência do Ministério das Co-municações NORDESTE: Por fim, qual o papel dos nove estados do Nordeste na forma-tação de novos processos no Brasil e no PT?

Falcão: Nossos governos conseguiram melhorar em muito o desenvolvimento do Nordeste e também do Norte. Vocês conhecem os dados e têm a memória de como eram essas regiões antes dos nossos governos. Para nós, continuar desenvolvendo o País para além do eixo Sudeste-Sul é uma prioridade.

“as eliTes Brasileiras nunca engoliram o oPerário nordesTino no Poder. anTes reTinham o Poder Pelas BoTas, hoje usam ouTras ferramenTas, nem semPre suTis, como a grande mídia orquesTrada. nunca foi fácil Para lula ou Para o PT, mas nós somos feiTos de uma massa diferenTe da deles e não nos curvamos. há uma saBedoria muiTo grande na PoPulação Brasileira, com a qual as eliTes nunca souBeram lidar, Porque a menosPrezam ProfundamenTe”

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Política

a fóRmula da disCóRdia

Veto parcial de Dilma a fórmula 85/95 acirra

ânimos entre Congresso e Palácio do Planalto.

Sindicatos planejam contra-ataque e querem também aprovar Lei que

amplia reajuste para aposentados que ganham

além do mínimo

s sindicatos e centrais sin-dicais estão buscando apoio em Brasília para derrubar o

veto da presidente Dilma Rousseff (PT) à fórmula 85/95 que consta da MP664, aprovada no final de maio, mas só sancionada (em parte) dia 18 de junho. A Medida Provisória (MP) é considerada importante para o gover-no porque faz parte do Ajuste Fiscal e significa uma economia de R$ 1 bilhão ao ano com medidas que alteram o seguro por morte e o auxílio doença.

A batalha, agora, está sendo travada pelos sindicatos, alguns sob a batuta do deputado federal Paulo Pereira da Silva (SDD), o Paulinho da Força, e o senador Paulo Paim (PT). Os sindica-listas foram à Brasília no dia 30/06 e 01 de julho para pressionar o presidente do Senado Federal, Renan Calheiros (PMDB), e conseguir apoio não só para a derrubada do veto, mas tam-bém para uma emenda, de Ferreira, que obriga o governo a dar o mesmo reajuste do salário mínimo também

para os aposentados que ganham além do piso. “Hoje vieram todas as centrais sindicais dos aposentados, junto com Paim, Pereira da Silva... Viemos con-versar com Renan para pedir a ajuda dele”, contou o presidente do Sindi-cato dos Aposentados, Pensionistas e Idosos, Carlos Andreu Ortiz.

O sindicalista explicou que apesar do veto de Dilma, a fórmula 85/95 vale até o final de 2016 – a partir daí a cada ano a fórmula aumenta um pouco até chegar no 90/100. Um

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dos argumentos contra a proposta do governo é que a perspectiva de vida do brasileiro não aumenta um ponto a cada ano, mas apenas alguns meses de um ano para o outro. Ortiz conta que os deputados devem apresentar algumas opções a ideia sancionada por Dilma. Primeiro uma emenda do Paulinho da Força que só aumenta a fórmula de três em três anos, isto é, daqui a três anos passaria para 86/96. Há uma outra ideia, proposta por Pau-lo Paim, onde a fórmula do governo,

Força Sindical fez vigília pela manutenção da fórmula 85/95 e planeja novas investidas no Congresso

que vai escalonando até chegar em 100, mas isso só se aplicaria para quem entrar na Previdência agora.

Ortiz lembra que o governo acabou de criar um Fórum de discussão com os sindicatos sobre o tema e essas pro-postas devem ser todas apresentadas paulatinamente nas reuniões.

No entanto, a luta pela fórmula 85/95, é apenas um dos capítulos em Brasília, os sindicatos querem ainda estender o reajuste do mínimo para todas as aposentadorias.

Paulo Paim (acima) apoia aposentados. Carlos Andreu Ortiz (abaixo), presidente do Sindicato dos Aposentados, Pensionistas e Idosos

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“Viemos pedir para que o pessoal aprove o mesmo reajuste do salário mínimo para os aposentados que ganham além desse valor. O governo diz que vai ge-rar um rombo de mais de R$ 9 bilhões. Isso é tudo papo furado. O aumento nos próximos dois anos será insignificante. Quere-mos que se crie essa polí-tica de inserção do salário mínimo. Senão, vai chegar uma hora que todos vão estar ganhando o salário mínimo”, desabafa Ortiz. Segundo a Força Sindical, são cerca de 10 milhões de aposentados que recebem valores acima do piso.

A emenda à medida pro-visória do salário mínimo, apresentada pelo deputado Paulinho da Força prevê o reajuste de todos os be-nefícios previdenciários acima da inflação. O dispositivo havia sido incluído na MP que prorroga até 2019 o atual modelo de reajuste do mínimo. Para o texto virar lei, após ser aprovado pelo Senado, tem que ser sancionado pela presidente Dilma Rousseff. Segundo Renan, a presidenta irá vetar.

Pela proposta, os benefícios pre-videnciários serão reajustados pela inflação, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) do ano anterior, mais a variação do Produto Interno Bruto (PIB) dos dois anos anteriores. O governo era contra essa emenda, porque alegava que a regra poderia comprometer as contas previdenciárias. Segundo o ministro da Previdência Social, Carlos Gabas, a emenda geraria R$ 9,2 bilhões em gastos extras por ano – sendo R$ 4,6 bilhões em 2015.

Antes do início da sessão que apre-ciou a MP na Câmara, o presidente da Casa, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), disse ser contra estender o reajuste do mínimo aos demais benefícios pagos

‘indexaÇão’ das aposentadoRias

pelo Regime Geral de Previdência Social. “Acho que não é um bom momento para a discussão. Estamos discutindo o salário mínimo. O salário mínimo dos aposentados vai reajus-tar. Mas estender para o salário dos aposentados (que ganham acima do mínimo) tendo um ganho maior que a média da correção salarial dos ativos significa dar algo para o inativo maior que o do ativo”, ponderou Cunha.

Apesar da parcial objeção de Cunha o reajuste das aposentadorias acabou sendo aprovado na Câmara. E logo depois no Senado.

A estratégia em relação a fórmula 85/95, é não levá-la à plenário ainda. Ortiz revelou que se ela for para vo-tação agora é possível que os aposen-tados não consigam derrubar o veto. “Paim disse estamos desarticulados, é capaz de passar (como o governo quer) e nós estamos ferrados”, avalia Ortiz. O sindicalista garante que a fórmula só deve ser votada depois do recesso – que começa dia 18 de julho e vai até o dia 31.

Renan Calheiros recebeu sindicalistas e se comprometeu em seguir votação da Câmara

COMO FUNCIONA O FATOR

PREVIDENCIáRIO SEM A FóRMULA

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em R$ 3,2 trilhões. A medida provisória que oficializa a proposta alternativa do governo à fórmula 85/95 já está em vigor como lei por até 120 dias, enquanto o parlamento analisa o texto.

A Fórmula garante que poderá se apo-sentar com o valor integral quem somar tempo de contribuição e idade e obter 85 pontos (para as mulheres) e 95 pontos (para os homens). Na prática esse cál-culo permite que alguém que contribuiu por 30 anos (no caso da mulher) e 35 anos (no caso do homem) possa se apo-sentar aos 55 anos (no caso da mulher) ou 60 anos (no caso do homem).

A conta feita pelo Fator Previdenci-ário, uma intricada matemática que na prática diminuía cerca de 40% do valor recebido por quem estava na ativa no momento de se apo-sentar, foi colocada em xeque com a aprovação na Câmara e no Senador da Fórmula 85/95. O novo cálculo nascido a partir de acordo entre sindicatos e parlamentares, garantiria ao empregador se aposentar rece-bendo 100% do seu salário. A con-

fatoR pReVidenCiáRio

Equipe econômica explica como fica a fórmula após alterações feitas pelo Planalto

tribuição mínima à Previdência con-tinuaria sendo de 30 anos e só caso o candidato a aposen-tadoria resolvesse se aposentar antes do prazo receberia pro-porcional. Na ava-liação do governo, a mudança vetada por Dilma inviabili-zaria a Previdência, pois aumentaria os gastos, até 2060,

Média dos 80% maiores salários, corrigidos pela inflação desde jul.94, limitados ao teto do INSS, de R$ 4.663,75

SALáRIO DE BENEFÍCIOFATOR PREVIDENCIáRIOLeva em conta tempo de contribuição para a Previdência, idade do segurado e expectativa de sobrevida ao se aposentar

O sindicato reclama que o objetivo do fator previdenciário é reduzir o valor das aposentadorias de quem se aposenta precocemente

TIRANDO DÚVIDASNa nova regra as mulheres só se aposentarão com 85 anos e os homens 95?

Mecanismo continua valendo mesmo com o fator 85/95. O segurado poderá optar pelo que for mais vantajoso para ele. No entanto, o fator previdenciário só é vantajoso se for igual a 1 ou maior. A conta é feita da seguinte forma:Salário de Benefício X Fator Previdenciário = Valor da Aposentadoria

Não. A nova fórmula é simples e constitui-se da seguinte maneira: para atingir o tempo para a aposentadoria, basta somar o tempo mínimo de contribuição com a idade (30

anos mulher e 35 homem).

Ou seja: Mulheres + Idade Tempo de contribuição = 85Homens + Idade Tempo de Contribuição = 95

Com a nova fórmula:Um homem poderá se aposentar com

60 anos se tiver contribuindo 35. Uma mulher poderá se aposentar com

55 se tiver contribuído 30 anos.

VALOR DA APOSENTADORIA

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o ambiente escolar acolhedor para milhares de pequenos maranhenses, esse programa prevê também a efetivação da Educação em Tempo Integral através de 30 Núcleos nas maiores cidades do Maranhão e a qualificação dos professores – com formação continuada na docência.

Vale lembrar que em 2015 também aplicamos R$ 250 milhões em valorização salarial e progressões profissionais aos professores estaduais. Apresentamos, portanto, um amplo cardápio de investimentos para que o processo de formação de nossos jovens seja cada vez mais qualificado. Este, sem dúvida, é o maior programa educacional da história do Maranhão, cujos efeitos serão claramente sentidos nos próximos 10 anos. E é exatamente por serem investimentos cujos frutos demoram algum tempo para serem colhidos que muitos governantes não os priorizam, mas eu não governo para fazer demagogia superficial, e sim para transformar de verdade a vida das pessoas.

Essas não são decisões “frias” de um governo burocrático, mas sim decisões dotadas de coragem para ampliar direitos a quem sempre teve oportunidades negadas. Em vez de solu-ções equivocadas como a redução da maioridade penal, que infelizmente a Câmara aprovou de modo inconstitucional, o Maranhão propõe dar a todas as crianças e jovens o direito de sonhar com um futuro melhor. Sonhos esses que têm as cores de um Estado mais democrático, com mais desenvolvimento e mais justiça para todos.

Opinião

s melhores experiências propiciadas pelos caminhos que percorremos são os diálogos que travamos e que nos fazem refletir, amadurecer ideias e colocá-las em

prática. Ao longo de tantas caminhadas pelo Maranhão, mui-tas vezes ouvi de mães a alegria de ter seu filho com acesso ao ensino profissionalizante e tecnológico através dos Institutos Federais (IFMA), ou relatos de outras famílias que mantém a esperança de que seus filhos ali ingressem.

Hoje, o Maranhão infelizmente não possui uma rede esta-dual de escolas para ensino tecnológico aos nossos jovens, que muitas vezes saem de sua terra em busca de oportunidade fora do Estado. Essa realidade é exatamente o que nós queremos mudar. Mas como fazer isso diante de tantas dificuldades? Não é tarefa simples, mas finalmente demos os primeiros passos na implementação desse objetivo, com décadas de atraso em relação a outros Estados.

Com políticas públicas voltadas para a inclusão social, o Governo do Estado começa a trilhar essa nova estrada, que tem como principal objetivo fazer com que as nossas riquezas promovam desenvolvimento para todos, meta essa que foi amplamente aprovada pelos maranhenses em outubro de 2014. Diversas experiências internacionais, como China, Canadá e Coreia do Sul, por exemplo, comprovam que a estratégia mais eficaz para a Justiça Social é a Educação.

Na semana que passou, demos mais alguns passos signi-ficativos para termos mais aprendizagem nas escolas mara-nhenses. Editamos o Decreto que regulamenta o programa Mais Bolsa Família Escola, que foi lançado ao lado da ministra Tereza Campello, responsável pelo programa Bolsa Família no Brasil. Serão mais de 1 milhão de estudantes maranhen-ses que receberão, através de cartão magnético tipo débito, parcela anual de R$ 46 para compra exclusiva de material escolar. Com recursos oriundos do Fundo Maranhense de Combate à Pobreza, a Secretaria de Desenvolvimento Social vai transferir em janeiro de 2016, direto às famílias inscritas no CadÚnico do Governo Federal, esse valor, para que possam ter acesso, muitas delas pela primeira vez na vida, a fardamento ou calçado escolar, livro paradidático ou uma simples caixa de lápis de cor, com que poderão ver pela primeira vez seus sonhos coloridos no papel.

Em outra frente, começamos a investir aproximadamente R$ 500 milhões em infraestrutura educacional em todo o Maranhão, através do programa Escola Digna gerenciado pela Secretaria de Educação. Além da fundamental tarefa de substituir escolas de taipa nos municípios e promover

O caminho é pela Educação

A Flávio DinoGovernador do Maranhão

Mais de 1 milhão de estudantes maranhenses receberão, através de cartão magnético tipo débito, parcela anual de R$ 46 para compra exclusiva de material escolar”

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Economia

um noVo “CeRRado” Por Luan [email protected]

ma região de nome curioso, não encontrada em dicionários ou mapas geográficos, é conside-

rada pelo Ministério da Agricultura a última fronteira agrícola em expansão no mundo. “Matopiba” é uma sigla criada a partir das primeiras sílabas dos estados que compõem a área: Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia. No mês de maio, aconteceram os lançamentos da Agência de Desenvolvimento Agrope-cuário do Matopiba, responsável por operacionalizar de forma estratégica o desenvolvimento econômico da região, que deve acontecer de forma sustentável e capaz de integrar pequenos e grandes produtores.

Durante a audiência pública de lança-

mento da Frente Parlamentar do Mato-piba, a ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Kátia Abreu, destacou justamente a importância da participação das pequenas propriedades no avanço econômico da região. “Cada estado será subdividido em uma microrregião para facilitar o atendimento proporcional dos produtores participantes do progra-ma de ascensão da classe média rural”, salientou.

A região, segundo o IBGE, engloba 337 municípios e uma população de 5,9 milhões de pessoas. São 324 mil estabe-lecimentos agrícolas e 31 microrregiões. A área total é de 73 milhões de hectares e tem importância vital na produção agrícola do Brasil. Apesar da famigera-da crise econômica, a perspectiva é de crescimento. A região tem vocação para ser um novo cerrado brasileiro. Matopiba

deve ser responsável por 9,7% da produ-ção nacional de grãos na safra 2014/2015 - é prevista a geração de 201,5 milhões de toneladas em todo o Brasil no biênio. “Enquanto no Brasil a produção cresce 5% ao ano, no Matopiba cresce 20% e hoje já representa 10% da produção nacional”, disse Kátia Abreu em Teresina.

A Agência de Desenvolvimento Agropecuário do Matopiba, oficializada pela Presidente Dilma Rousseff duran-te o lançamento do Plano de Defesa Agropecuária, deverá contar com um escritório em cada estado. “Fiquei muito feliz em ver a presidente assinar o marco legal. Piauí, Maranhão, Tocantis e Bahia são regiões que mais crescem no Brasil desde 2001. É a que mais tem vocação

Tratada pelo Governo como a última fronteira agrícola em expansão do mundo, a Matopiba que envolve três estados nordestinos e Tocantins cresce 20% ao ano e já representa 10% da produção nacional

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Kátia Abreu em lançamento da nova fronteira agrícola

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para o crescimento no agronegócio. É um crescimento diversificado e que nos aponta a necessidade de um tratamento especial”, destacou o governador do Piauí, Wellington Dias (PT).

Ainda serão definidos os detalhes de como o gerenciamento da Agência deve-rá acontecer. A criação de um consórcio público deverá ir à votação nas Assem-bleias Legislativas dos quatro estados e nas Câmaras Municipais das cidades que fazem parte da região. Kátia Abreu adiantou que a participação do Poder público não deverá acontecer de forma protecionista, mas oferecendo suporte em áreas como logística e infraestrutura.

A possibilidade legal de abrir novas

No início do mês de junho, os Governadores dos estados que compõem o Matopiba se encontraram no Palácio de Karnak, em Teresina. Na oportunidade, foram assinados dois protocolos de intenções, que visam firmar parcerias para integração e o desenvolvimento sustentável da área. O Governador do Maranhão, Flávio Dino, alertou sobre a necessidade de investimentos na infraestrutura, para facilitar o escoamento da produção gerada. Marcelo Miranda, Governador do Tocantins, reivindicou a construção de Eclusas, obras de engenharia que funcionam como degraus ou elevadores para navios e facilitam a alteração do nível da navegação. Um novo encontro está agendado para o mês de julho, desta vez em São Luís. A terceira reunião deve ocorrer no Tocantins.

áreas e o perfil empresarial dos produto-res explicam o potencial já explorado do Matopiba. A utilização de tecnologias de alta produtividade é mais uma das características positivas da região, que tem na soja o seu principal grão destina-do a exportação. Entre 2013 e 2015, a produção na Bahia deverá crescer 20,3%. No Piauí, a projeção é uma alta de 18,6%. Maranhão(16,4%) e Tocantins(13,5%) também devem registrar crescimentos consideráveis.

Um outro dado importante é o cres-cimento das áreas destinadas aos grãos, que cresceu de 7,322 milhões para 7,642 milhões de hectares entre as safras 2013/2014 e 2014/2015. O clima favorá-vel é outro fator importante no destaque da região e outras culturas, como milho e algodão sem caroço, já despontam.

Governadores se reunem no Palácio de Karnak, no Piauí

O senador Elmano Ferrer (PTB-

PI) criticou a forma como ocorreu

o lançamento da Agência de

Desenvolvimento Agropecuário do

Matopiba. Embora tenha reconhecido

a importância da elaboração do

projeto, o parlamentar citou a falta de

recursos orçamentários relativos à

insfraestrura da região, como estradas

e energia elétrica. Anteriormente,

Elmano já havia solicitado ao

presidente da Embrapa maior aplicação

dos resultados das pesquisas para

aumentar a produção da região.

RECURSOS PARA

INVESTIMENTOS

GOVERNADORES UNEM FORÇAS

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a velha utopia, até aceitar, não sem resistências in ternas, a reali-dade imposta por novos paradigmas. O mundo deu uma guinada ideológica, integrando escopos do reformismo democrático, do realismo econômico e dos avanços do capitalismo. E aí o PT produziu, em junho de 2002, a “Carta ao Povo Bra sileiro”, peça-chave para a vitória de Lula, pavimentando, assim, sua entrada no território da social-democracia.

O documento foi decisivo no processo de descarte de dogmas que não resistiram aos ventos da modernidade. O socialismo utópico evaporou-se nos ares da abstração. As ideologias cede-ram lugar aos ismos da modernidade: pragmatismo, capitalismo (mesmo sob um Estado controlador) e liberalismo social. Os modelos de economias assentadas na solidariedade cedem lugar a programas reformistas, voltados para atender a demandas pontuais e urgentes. As autonomias nacionais passam a se impregnar de ares globaliza dos. O crescimento desordenado e a qualquer preço é balizado por metas de inflação. Os programas de privatização, tão combatidos pelo PT, hoje fazem parte de suas bandeiras, agora sob a designação de “concessões”. O na-cionalismo, bandeira recorrente na América Latina, abriu espaço para ingresso de capitais internacionais. Gastos a fundo perdido começam a ser regrados por normas de responsabilidade fiscal.

O que significam tais reconfigurações? Um modelo de gestão responsável e eficaz, compro metido com crescimento, preservação da estabilidade macroeconô mica, atendimento às demandas sociais, enfim, administração equi librada das relações entre Estado, mercado (capital) e sociedade. Esse é o eixo que o sistema social-democrata tenta aprofundar em seu berço, o continente europeu, sendo visto com sim patia pela maioria dos atores políticos do mundo hodierno.

Mas a modelagem continua a corroer alguns eixos, particu-larmente o peso do capital financeiro e as carências sociais. Este é o alerta do Papa Francisco. Portanto, senhores políticos, atentem para as palavras, cheias de bom senso, do modesto jesuíta argentino.

Opinião

papa Francisco continua a fazer alertas e duras críticas ao capitalismo selvagem. Em sua passagem, nesta quinta feira, por Santa Cruz de La Sierra, na Bolívia,

referiu-se ao capitalismo como fonte de “exclusão social e des-truição da natureza”, pedindo mudanças estruturais: “os traba-lhadores, os camponeses, a Mãe Terra não aguentam”. Antes, em sua Encíclica Laudato Si, cuja capa traz a imagem de São Francisco de Assis, prega uma “revolução corajosa” para salvar o planeta. Afinal de contas, o que defende o papa Francisco? Para começo de conversa, é inimaginável pensar no Chefe da Igreja Católica defendendo o marxismo-leninismo como alguns hermenêutas chegam a sugerir. Nada disso. Ele já chegou a dizer que “Marx não inventou nada” e que “os comunistas roubaram nossa bandeira”(Igreja Católica)

O que está no foco das acusações do cardeal Bergoglio são os desvios e disfunções que se operam no bojo do sistema ca-pitalista, como a especulação financeira, que desvia a função do capital na produção de bens a serviço da coletividade, nova forma de colonialismo. Ele é contra a opulência, a riqueza a ambição dos poderosos, a promiscuidade com os mais fortes e ricos. Trata-se de um humanista. Que conhece profundamente a realidade latino-americana. Em sua trajetória, conviveu com os mais carentes. Se fossemos creditar ao papa Francisco um escopo ideológico, este seria próximo aos valores de uma sociedade livre, abrigo dos direitos individuais e sociais, e sob a bandeira da igualdade dos cidadãos, todos tendo acesso aos mecanismos da justiça. Se a social-democracia respira por esses poros, o papa seria, então, um social-democrata. Atente-se: com uma visão profundamente religiosa e humana.

Não seria adepto de uma “revolução socialista”, nos termos do socialismo utópico, nem defensor do “neocapitalismo opres-sor”. Seria o pregador por excelência de princípios doutrinários extraídos tanto do socialismo como do liberalismo, adaptados às características de cada Nação. Combinaria com o que pensam nossos atores políticos, partidos e representantes? Vejamos.

Na década de 80, Darcy Ribeiro, senador e antropólogo, chegou a pintar a fusão de princípios, mostrando a Leonel Brizola um “socialismo moreno” como doutrina para o Brasil. O achado linguístico foi esquecido. Todos os nossos presidentes querem tocar nessa orquestra. Fernan do Henrique dizia que o “autoritarismo burocrático com poder econômico-financeiro mina o espírito da democracia constitucional”. Era a acusação que jogava sobre o governo Lula. Os petistas e tucanos exibem, porém, traços de concordância em alguns aspectos. Suas gramá-ticas, ex purgadas de exageros, descrevem abordagens semelhan-tes na forma de conceber o papel do Estado e a administração do governo. São parentes na concepção da social-democracia. Em 1989, o tucanato definiu no documento “Os desafios do Brasil e o PSDB” o papel do Estado na condução de programas econômicos e sociais. Em seu início, em 80, o PT considerou o sistema social-democrata inepto para vencer o “capitalismo imperialista”. Mesmo após a queda do Muro de Berlim, cultivou

O Papa e nós

OJornalista, professor titular da

USP, consultor político e de comunicação

Gaudêncio Torquato

Ele é contra a opulência, a ambição dos poderosos, a promiscuidade com os mais fortes e ricos”

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BaRBáRie no noRdeste

Geral

Por Luan [email protected]

Quatro casos de estupro e assassinatos, em um período de 35 dias, chocaram o país. Dados e a constatação de profissionais com a atuação na

área mostram que não se tratam de casos isolados. A violência contra a mulher é uma preocupação

mundial e está longe de ser erradicada

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Fotos: Shutterstock / Divulgação

ntre os incontáveis atos de crueldade que acontecem mundo afora e hoje são temas

recorrentes nos noticiários, uma onda de casos de violência contra a mulher chamou a atenção do Brasil para o Nordeste entre maio, junho e julho. Histórias de horror, envolvendo meni-nas e mães de família, violentadas de forma brutal e assustadora. Os quatro casos, marcados por sequestro, tortura, estupro e assassinato, aconteceram em um período de apenas 35 dias.

Seja por herança cultural, imposição física ou quaisquer outros motivos, alguns grupos são naturalmente mais vulneráveis à violência. Segundo a Or-ganização Mundial de Saúde (OMS), mais de um terço das mulheres do mun-do é vítima de abusos físicos ou sexuais. As barbáries ocorridas nos estados do Piauí, Pernambuco, Paraíba e Ceará endossam uma preocupação global. A Asociación de la Encuesta Mun-dial de Valores le-vantou um dado preocupante: em 17 dos 41 países analisados, pelo menos um quarto da população acre-dita ser justificável um homem bater em sua esposa.

Em 95% dos ca-sos de violência praticada contra a mulher, um ho-mem é o agressor.

O Brasil está

NO PIAUÍNo dia 27 de maio, quatro adolescen-

tes com idade entre 15 e 17 anos foram agredidas e estupradas por outros cinco jovens no município de Castelo do

Piauí, a 180 km da capital Teresina. As amigas foram abordadas quando subiam o Morro do Garrote, ponto turístico da cidade. Os garotos usavam drogas ao lado de Adão José da Sil-va, 40 anos. “Ele já era procurado por roubo e agora é apontado pelos menores de ter sido o mentor do estupro coletivo", declarou o secre-

teRRoR em quatRo atos

entre os países com maior índice de homicídios de mulheres no mundo. De acordo com o 8º Anuário Brasileiro de Segurança Pública, apresentado em 2014, 50.320 estupros foram regis-trados no ano de 2013. Apenas 35% das vítimas costumam denunciar os criminosos. O medo e o preconceito são os principais motivos da baixa porcentagem de denúncias e retratam um outro importante aspecto do pro-blema: a culpabilização da vítima como justificativa dos casos. “Basicamente, o mecanismo de autojustificação de

várias instituições, principalmente aquelas que deveriam zelar pela segu-rança e pela proteção da mulher, coloca a vítima como culpada. A mulher é res-ponsabilizada pela violência que sofre. Este tipo de postura institucional de tolerância e impunidade não só permite como incentiva o feminicídio”, avalia o sociólogo Julio Jacobo Waiselfisz, responsável pelo Mapa da Violência, série de estudos publicados sobre o tema desde 1998. Os quatro recentes casos que seguem ilustram tristemente as estatísticas brasileiras.

tário de Segurança do Estado, Fábio Abreu.

As adolescentes* foram levadas até um local deserto, amordaças, amarra-das a uma árvore, torturadas e estupra-das por um período de duas horas. Após isso, foram jogadas de um penhasco. Não satisfeitos, dois dos jovens as apedrejaram. Elas foram encontradas por moradores da região. Uma das meninas, com o rosto completamente desfigurado, passou por um processo cirúrgico para a reconstrução da face; outra teve os bicos dos seios arranca-dos. A terceira precisou ser submetida a uma limpeza no organismo, devido aos fluidos estranhos encontrados em seu corpo; a quarta garota sofreu várias perfurações de faca. Onze dias após a barbárie, Danielly Rodrigues, de 17 anos, faleceu. Ela teve esmagamento da face e hemorragia interna devido às várias lesões.

Todos os acusados foram encon-trados. Os quatro adolescentes estão internados. Adão, que nega qualquer envolvimento no caso, se encontra preso. “A polícia agiu com total certeza de que ele tem participação no crime. “Não há dúvidas disto", disse o dele-gado Geral do estado, Riedel Batista.

No início de julho, os menores foram condenados a três anos de internação, pena máxima. Eles vão ficar internados no Centro Educacional Masculino, em Teresina. Já Adão, foi denunciado por vários crimes e pode pegar até 151 anos de prisão.

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Adão José (à esquerda) já tinha um mandado de prisão por roubo. Os quatro adolescentes apreendidos apontam ele como mentor dos crimes

*Para preservar a identidade das vítimas ainda em recuperação, não iremos revelar seus nomes

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EM PERNAMbUCOTrês semanas depois do caso do Piauí,

Maria Alice de Arruda Seabra, 19 anos, foi encontrada morta em um canavial na Região Metropolitana do Recife. Após cinco dias desaparecida, o corpo da jovem foi achado com a mão es-querda decepada e o rosto coberto por uma camisa. O assassino confesso era padrasto da vítima, que a criou desde os quatro anos de idade.

Gildo da Silva Xavier, 34 anos, é operário de construção civil. Na tarde do dia 19 de junho, ele buscou Maria Alice em casa, em Re-cife, para uma suposta entre-vista de emprego na cidade de Gravatá, onde ele trabalhava. O padrasto já havia planejado toda a ação. Primeiro pediu dinheiro ao patrão, alegando que a filha havia sido atrope-lada. Com a quantia em mãos, alugou um carro. Ainda na em-presa onde trabalhava, pegou um frasco de Rupinol, tranquilizante comumente utilizado no golpe conhe-cido como “Boa noite, cinderela”. Já na capital, revestiu os vidros do carro com uma película escura e então seguiu para buscar a enteada.

Quando ambos já estavam no carro, o padrasto deu um soco em Maria Alice, que fingiu estar desmaiada. Du-rante o trajeto, a mãe dela ligou para o marido, que atendeu. Foi quando a jovem gritou pedindo socorro. Ele des-ligou o telefone, começou a espancá-la, deu o remédio e começou a praticar o estupro. Quando percebeu que a moça sangrava muito e estava desfalecendo, Gildo seguiu em direção a um canavial, onde deixou a enteada amarrada. Dali ele seguiu em direção ao estado do Ceará.

Em depoimento posterior, o homem revelou que planejava o estupro desde que Maria Alice tinha 16 anos de idade, época em que o corpo dela começou a mudar. O fato de a jovem ter feito uma tatuagem no punho com o nome do pai, já falecido, foi mencionado como a motivação final para o crime. Quan-do estava no interior do Ceará, Gildo acessou a internet e viu a comoção em torno do caso e entrou em contato com

a polícia para fornecer informações sobre onde estava o corpo. Como não foi encontrado, ele mesmo decidiu voltar e indicar o local. O padrasto será indiciado por sequestro qualifica-do, estupro, homicídio qualificado por motivo torpe e ocultação de cadáver. "É um monstro, porque era uma pessoa que criou desde os quatro anos, tinha obrigação de cuidar dela. Alice estava buscando o futuro dela, um emprego, e encontrou esse monstro no meio do ca-minho", disse Gleide Ângelo, delegada responsável pela investigação.

NA PARAÍbAUm dia depois do desaparecimento

de Maria Alice, duas mulheres e um bebê de apenas nove meses foram sequestrados em um bairro de classe média da cidade de João Pessoa. Ca-roline Teles Figueira, 31 anos, voltava da festa junina da creche do seu filho, ao lado da amiga Glória Silva, 42 anos. Elas estavam paradas dentro de um carro enquanto o bebê era ama-mentado. Dois homens em uma moto abordaram as vítimas – um deles entrou no automóvel e obrigou Glória a dirigir até a Mata da Usina Santa Tereza, no município de Goiana, já no estado de Pernambuco. Lá as mulheres foram despidas, espancadas e estupradas. Após os atos, um dos criminosos as atropelou e fugiu. O outro homem é suspeito da participação no roubo do veículo, não tendo envolvimento com os demais crimes.

Glória não resistiu e faleceu. Ca-rolina ficou jogada no local até que por volta das 11h do dia seguinte foi encontrada por vigilantes da Usina. O bebê foi resgatado a menos de 10 metros da mãe, com muitas picadas de insetos, mas obteve alta no mesmo dia. Caroline foi internada com politrauma-tismo e deixou a UTI no final do mês de junho. O corpo de Glória foi enterrado em Campo Formoso, norte da Bahia.

Os acusados foram presos pela Polícia da Paraíba. Ivan Pedro da Silva, 43 anos, autor dos estupros e homicídios, possui um vasto currículo criminal. Leonardo José de Sousa, 22 anos, foi apreendido algumas vezes por roubo, ainda quando era menor.

As investigações apontam Ivan Pedro como o responsável pelos estupros e assassinato de Glória

Gildo sendo preso (foto acima). O corpo de Maria Alice foi encontrado em Itapissuma - PE

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NO CEARáNo dia 1 de julho, na cidade de

Capistrano, interior do Ceará, duas adolescentes foram estupradas. Lu-ciana Alves de Brito, de 17 anos, foi agredida a pauladas e jogada em um poço, onde foi encontrada morta. A outra menina, de 16 anos, conseguiu fugir do local e chegou ao hospital da cidade ainda com as mãos amarradas e várias marcas de agressão. As vítimas tinham saído com um grupo de rapa-zes. A sobrevivente disse que os jovens começaram a ficar violentos após consumir bebidas e drogas. No dia 3, a Polícia Militar do Ceará prendeu três adolescentes e dois homens suspeitos de envolvimento no caso.

Não há como desassociar essa proble-mática de uma cultura historicamente preconceituosa e primordialmente ma-chista. Ana Dilza Maria, coordenadora do Eixo de enfrentamento da violência contra a mulher do Coletivo Feminista Cunhã, destacou o fato de existirem vários avanços nos atendimentos fei-tos às mulheres violentadas, embora as medidas preventivas ainda sejam embrionárias. “Não adianta estarmos chorando e nos angustiando apenas quando a mídia revela sofrimentos extremos. Precisamos nos indignar com o sofrimento cotidiano: a mulher que ganha menos trabalhando o mesmo nú-mero de horas e na mesma função que os homens; a mulher espancada pelo meu vizinho diariamente e eu não me envolvo; as crianças que chegam com vários indícios de abuso”, exemplificou.

Embora cada um dos casos tenha suas especificidades, alguns traços os aproximam. Em três deles os acusados tinham antecedentes criminais; em pelo menos dois (ainda há controvér-sias no caso da Paraíba) os envolvidos estavam sob o efeito de drogas. O caso de Maria Alice Seabra foge um pouco ao padrão dos demais - havia uma re-lação próxima entre ela e o assassino, além do crime ter sido orquestrado há pelo menos três anos. As quatro histórias são marcadas por agressões,

existe expliCaÇão?torturas e extrema crueldade. Todos os réus disseram que não tinha a intenção prévia de matar suas vítimas.

O psicólogo Luan de Assis, que atua com crianças vítimas de violência sexu-al, tentou traçar um perfil dos crimino-sos através de uma das correntes da Psi-cologia. “A Psicanálise enxerga o sujeito como fruto do seu desenvolvimento psicossexual. Em algum ponto de suas fases de desenvolvimento, houve uma falha em sua formação. Esse sujeito então tem uma visão distorcida sobre si mesmo e necessita do uso da força para ter seu objeto de desejo. Isso faz com que ele não lide bem com frustra-ções e decepções, canalizando muitas vezes em comportamentos agressivos”, explicou. Ele também fez questão de enfatizar a cultura machista como um agravante para os acontecimentos.

A opinião de quem trabalha com o tema confirma os avanços no combate à violência de gênero. Ainda assim, os últimos casos amplificam a necessidade de mais ações contra essa problemática. Dados como o da OMS assustam ao revelarem que um terço das mulheres do mundo é vítima de abusos. O femi-nicídio tem formas variadas e situações extremas como as recentes histórias de terror na região são as últimas conse-quências de pequenos acontecimentos cotidianos.

Os cinco suspeitos estão à disposição da Justiça. Os adolescentes têm 14,15 e 16 anos

Desde os anos 70 há avanços e conquistas dos movimentos que lutam por igualdade entre os gêneros. Hoje existem delegacias especializadas, abrigos, associações, ONGs e várias outras instituições com essa finalidade. O Plano Nacional de Políticas para as Mulheres (PNPM), criado há pouco mais de uma década, busca através do diálogo com vários segmentos da sociedade, ratificar a autonomia e participação das mulheres em todos os âmbitos da vida, promover a igualdade e universalidade dos serviços e benefícios prestados pelo Estado.

No dia 9 de março, a presidente Dilma Rousseff sancionou a Lei do Feminicídio, que altera o código penal para prever casos de violência, menosprezo ou discriminação contra a condição de mulher como um tipo de homicídio qualificado, além de pontuar agravantes em casos de gestantes, menores de 14 e maiores de 60 anos e deficientes. A intenção é aumentar o rigor das punições em meio aos altos índices de violência contra as mulheres no Brasil. A Ministra da Secretaria de Políticas para as Mulheres, Eleonora Menicucci, destacou que a lei colocou o Brasil entre os 16 países da América Latina a tipificarem o crime contra as mulheres.

POLÍTICAS PÚBLICAS E APOIO

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branca surrada, o halo da falsa humildade, o sorriso forçado, o olhar súplice e, sobretudo, a voz adocicada.

Ah, a voz de D. Helder! Seu tom floreado e macio encan-tava. Mas a cabo de minutos, além de aborrecer, pressentia-se que a usava como artifício para camuflar um orgulho doentio. A propósito, a tese infame de D. Helder era de que o sujeito nunca devia ser “orgulhoso de dentro para fora, mas de fora para dentro”. E acrescentava: “Para fora seja humilde, mo-desto. O orgulho interior Deus perdoa”.

Depois daquele almoço o padre pegou um livro de sua autoria, “A Revolução Dentro da Paz”, e fez a dedicatória em forma de catequese: “Para o cineasta Ipojuca Pontes compreender o papel da justiça pela paz”. E de passagem, sem perder o tom melífluo, apanhou uma edição do jornal “Le Monde”. Encenando surpresa, comentou como se lesse aquilo pela primeira vez: - “Aqui diz que D. Helder foi indica-do outra vez para receber o Prêmio Nobel da Paz”. O homem não conseguia esconder a vaidade mórbida.

Em vida, o dramaturgo Nelson Rodrigues garantia que D. Helder só olhava para o céu para ver se levava ou não guarda--chuva. Para ele, o padre não tinha nenhum compromisso com o transcendental. Não passava de grotesco materialista que vivia para inocular na alma da pobre gente nordestina a crença fanática de que o regime da escassez planetária era um pecado estrutural do capitalismo. E, tudo, cegando cri-minosamente para a fome que até hoje se abate sobre o povo cubano, eterna vítima da ditadura comunista dos Castro.

Opinião

mídia amestrada noticia o deslanche do processo de canonização de D. Helder Câmara, antigo arcebispo de Olinda e Recife falecido em 1990. D. Helder,

reconhecido urbi et orbi como o “Arcebispo Vermelho”, foi secretário-geral e um dos fundadores da Conferência Na-cional dos Bispos do Brasil, a CNBB, uma espécie de ONG manipulada pelo comunismo internacional no seio da Igreja Católica para irradiar as propostas da decadente Teologia da Libertação, suprema pulha de apostatas declarados para subverter os valores espirituais do cristianismo.

(Segundo documentos dos arquivos do Kremlin tornados públicos pelo dissidente russo Pavel Stroilov, a Teologia da Libertação é uma trama dos mentores da KGB, na Era Stalin, para infiltrar na Igreja Católica o vírus do velho materialismo histórico, este, por sua vez, uma mistificação do furunculoso Karl Marx. De todo modo, a Congregação para a Doutrina da Fé, instrumento da Santa Sé, representante central da Igreja, condenou a herética Teologia da Libertação e seus militan-tes pela pretensão descabida de eliminar a transcendência religiosa a partir do fomento à luta de classes).

O atual arcebispo de Olinda e Recife, D, Fernando Sabu-rito, outro militante da famigerada CNBB, empenhado até os ossos no processo de canonização, está nomeando uma comissão para ouvir pessoas que conviveram com o “Arce-bispo Vermelho” e que possam falar de sua vida. “Tudo será bem-vindo” – diz Saburito – “para que possamos juntar esse material e enviá-lo para Roma”. (Com o festivo Francisco como Papa, é bem possível que D. Helder vire santo, o santo do pau oco)

De minha parte, digo que convivi um pouco com D. Helder no final dos anos 1960. Em Recife, ele mostrou-se interes-sado em ver um dos meus documentários, “Os Homens do Caranguejo”, que abordava o tema da luta pela sobrevivência no Nordeste. Logo no primeiro contato, tomei um choque. Quando D. Helder chegou atrasado para ver o filme, mandou um assessor reiniciar a sessão. Em seguida, sob holofotes, assumindo poses de popstar, entrou na sala de projeção sau-dando a todos com acenos e riso escancarado - no que foi aplaudido por uma platéia constituída de estudantes.

Depois da projeção, o arcebispo me levou para almoçar nos fundos da Igreja das Fronteiras, no Derby, transformada em sua residência particular. D. Helder era o que se pode chamar de “uma figura”. De início, associei-o ao “stariets” Zósima, o santo vivo de “Os Irmãos Karamazov”, de Dostoi-éviski. Com o tempo, vi que estava enganado: D. Helder não apenas cultivava a glória, mas queria o poder. De fato, um olhar atento veria que nele tudo era preconcebido. A batina

Dom Helder, o santo do pau oco

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D. Helder não apenas cultivava a glória, mas queria o poder. De fato, um olhar atento veria que nele tudo era preconcebido”

Ipojuca PontesEscritor e cineasta

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Saúde

presidente do Conselho Na-cional de Saúde, Maria do Socorro de Souza, é uma

grata novidade para o Sistema Único de Saúde (SUS). Em 77 anos de exis-tência, é a primeira vez que o CNS tem uma representação dos usuários do SUS no seu comando. Além disso, é a primeira vez que alguém do nordeste e do movimento popular foi escolhido. Socorro é uma mulher, negra, usuária do SUS e sindicalista. A escolha se deu através de processo eleitoral em 2012, pela necessidade de dar um caráter mais popular ao Conselho. O trabalho do CNS não é pequeno, as atribuições vão desde participar da formulação da política de saúde, fazer o acompanha-mento e avaliação dos serviços e ações de saúde, a fiscalização do orçamento e a base de financiamento do SUS, até contribuir para que o Sistema tenha conhecimento e inovação tecnológica para dar conta das necessidades da população. Na entrevista, a presidente aponta as desigualdades existentes no SUS, confirma preconceito na rede e ainda revela uma prática irregular dos mé-dicos. “Eles estão ali para capturar o paciente para levar para dentro dos seus estabelecimentos privados”.

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Por Paulo [email protected]

“o sus só tem peRspeCtiVa se o poVo foR paRa a Rua” Presidente do Conselho Nacional de Saúde, Maria do Socorro, conta sua impressão do SUS, como usuária, aponta potencialidades e dificuldades e revela desigualdades no investimento para o Norte e Nordeste

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Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Revista NORDESTE: Qual a visão da usuária, antes da presidente, em rela-ção ao SUS hoje?

Maria do S. de Souza: A visão da usuária é muito a partir do serviço da rede instalada no meu município, no meu território. É se você tem UPA perto de casa, se tem um posto de saúde que funciona, se numa situação de urgência e emergência a gente tem um atendimento. Às vezes, a gente é muito duro, porque isso não funciona da melhor forma que a gente necessita. Quando a gente ocupa um lugar deste, se compreende mais a política de saúde nacional como um todo, compreende

que vem com sistema escravocrata. Assim, a gente terminou sempre sen-do considerados pessoas e região de segunda classe no projeto nacional. Terceiro. A desigualdade existe porque tem muito mais capital, tem uma rede privada mais estruturada, um mercado pungente da saúde nas regiões desen-volvidas. Lá estão as maiores opera-doras dos planos privados, as redes, os laboratórios, a indústria farmacêutica, têm um peso muito grande, mas do que na região Norte e Nordeste. E quarto, o perfil talvez da gestão pública. Acho que tem uma formação dos gestores que precisa ser considerada, o nível de informação, de politização e como o estado brasileiro chega na região Norte e Nordeste. A gente ainda é vista como uma região pobre, pouco desenvolvida. Qual é a presença do estado que nós temos hoje na região Norte e Nordeste nos municípios menores? Que eu acho que é outra coisa. Os nossos municí-pios muitas vezes são menores do que os municípios de outros estados de regiões mais desenvolvidas. Então você tem um cenário com uma dimensão bem complexa.

NORDESTE: E como o estado chega, como o SUS chega no Nordeste efe-tivamente?

Maria do Socorro: O Fundo de Par-ticipação Municipal, Estadual é uma forma primeira do Estado, a da União chegar nessas duas regiões menos de-senvolvidas. Se não fosse essa forma de arrecadação, nós estaríamos com muito mais concentração de capital, tecnologia e decisão política do Cen-tro-Oeste para baixo. Então a forma de arrecadação já tenta diminuir as desigualdades regionais. Outra forma do estado chegar é com as políticas sociais. Se você for olhar os últimos 15 anos, o que o Nordeste avançou e melhorou o padrão de qualidade de vida da população foi pelas políticas sociais. O Minha Casa, Minha Vida, o próprio SUS, que gera emprego, contrata muitas pessoas nos muni-cípios menores. A própria educação que consegue ter uma boa parte

o norTe e nordesTe

Terminaram semPre sendo considerados

regiões de segunda classe

no ProjeTo nacional(...)

a desigualdade exisTe Porque

Tem muiTo mais caPiTal,

Tem uma rede Privada mais

esTruTurada, nas regiões

desenvolvidas.”

mais as dimensões de um sistema universal, a importância que o SUS tem como uma política social pública. Você passa a ter não apenas o olhar da queixa e da crítica, mas um olhar como conselheira de compreender os avan-ços que o Sistema tem, mas enfrentar as contradições, limitações e tal. O SUS se conforma de diferentes formas. Aqui na região Norte e Nordeste, por exemplo, o SUS ainda tem uma conformação muito desigual. Não con-segue captar boa parte dos recursos, a média per capta também é bem mais baixa em relação aos estados do Sul e Sudeste. O investimento em produção conhecimento e tecnologia em relação ao Sul e Sudeste tem desigualdades. Neste lugar a gente consegue ter uma compreensão de como é muito mais explicita a desigualdade, mesmo sendo uma política que nós tentamos que ela seja uma política de estado e não de governo e mesmo sendo uma política com mais de 27 anos com a participa-ção popular.

NORDESTE: Por que existe essa desi-gualdade?

Maria do Socorro: Eu acho que ela começa na política. Os grandes grupos políticos do país que definem a política nacional, estão concentrados no Sul e Sudeste pelo poder econômico e pelo poder também dos partidos. O poder político muito concentrado pelo capi-tal e pela oligarquia nacional. Quem é dono do capital e quem é a grande oligarquia? Hoje é a grande base indus-trial do país. E a base industrial do país está concentrada no Sul e Sudeste. Ou a base agropecuária, com agronegócio. O agronegócio, de certa forma também está no Norte e Nordeste, mas muito mais crescente na região Centro-Oeste e Sul. Então, primeiro você tem uma desigualdade política da dimensão do poder. O Nordeste para ter poder na decisão da política regional tem que rebolar. Segundo. Eu acho que outra desigualdade tem a ver muito com a ocupação do território nacional. A ocupação Norte e Nordeste, por exem-plo, vem com agropecuária, ocupação 45

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de trabalhadores contratados para estar nas escolas. A economia local se dinamiza pela renda dos aposentados, pela renda dos pensionistas, pela trans-ferência de renda com o Bolsa Família. Então você vê que tudo quanto é programa social dinamiza e mudou a cara da região Norte e Nordeste deste país. Mudou o IDHM, que é o Índice de Desenvolvimento Humano dos Municípios. Muitos municípios saíram da pobreza por conta dos programas sociais. Essa é a forma do estado chegar e realmente mudou a cara do Nordeste e acho que o Nordeste reconheceu isso e deu voto ao projeto que conseguiu fazer essa mudança histórica na região. Com todas as contradições que tem o governo Lula e Dilma, eles fizeram diferença para o Nordeste, portanto a gente não pode admitir retrocessos.

NORDESTE: Os hospitais privados e os governos reclamam da falta de repasse ou atraso de repasso nos atendimentos do SUS. Quanto é repassado do SUS para a iniciativa privada e por que acontecem atrasos no repasse?

Maria do Socorro: Essa política de repasses, fundo a fundo, do Governo Federal para os estados e municípios é importante que ela tenha uma certa agilidade, mas ela tem muitas injustiças e tem algumas contradições. O Gover-no Federal pactua no SUS um con-junto de compromissos (com a União, Estados e Municípios) e financia boa parte dessas ações e serviços que são pactuados. O que é prioridade na atenção básica, média e alta comple-xidade termina sendo tudo pactuado e isso define como vão ser destinados os recursos. Hoje, lamentavelmente, a média e alta complexidade consome a maior parte dos recursos da saúde brasileira. E lamentavelmente essa parte de média e alta complexidade está muito mais dominada pelo setor suplementar (o privado) com leitos, clínicas especializadas e laboratórios. A dependência que o SUS tem desses contratos com o setor privado, ele paga caro, contrata serviços e (esses serviços) terminam capturando boa parte do orçamento da saúde. Mesmo

as entidades filantrópicas não fazem nada de graça, é preciso que isso fique claro. Outra coisa, nessa questão dos repasses o que o Governo Federal re-passa para o município, por exemplo, para o programa de saúde da família, da urgência e emergência, em média é 30% do custo que aquele serviço re-presenta para a gestão municipal. Mas o restante com quem fica? Em geral a União está fazendo mais investimento (na estrutura), o custeio fica com o município. Nós temos hoje uma rede de atenção básica importante no país. Não é mais aquele postinho. Temos UPAS estruturadas, CAPS, que é o Centro de Atendimento Psicossocial, temos a rede de urgência e emergência

instaladas em muitos lugares do país, e isso foi investimento feito pelo Go-verno Federal, importantíssimo. Mas como você mantém esses serviços fun-cionando, quem paga o profissional? E o profissional é mais de 50%, 60% do custo que o município assume para o serviço funcionar. Essa é uma das gran-des queixas que os gestores municipais trazem. O governo incentiva o serviço, financia boa parte do investimento na estrutura física, mas não garante a manutenção e os trabalhadores saem caro com o enquadramento da Lei de Responsabilidade Fiscal.

NORDESTE: Quanto de investimento vem para o Nordeste?

PreconceiTo conTra lésBicas, gays, TravesTis, Trangêneros, conTra PoPulação de rua, negros, ciganos, camPonesas. Toda essa carga faz as Pessoas ficarem doenTes”

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Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Maria do Socorro: Aí tem que fazer uma média proporcional à população. Como o Nordeste tem muitas áreas dispersas, assim como a Amazônia tem muitas áreas dispersas. Então nós te-mos menos habitantes do que a região Centro-Oeste, Sul e Sudeste, a média per capita do Nordeste é cerca de R$ 23 reais por pessoa para investir em determinado período na saúde. Para o Sul e o Sudeste é o dobro. A distri-buição de recursos é de acordo com a população. O Norte e o Nordeste saem perdendo em relação aos estados com populações mais densas. Esse critério populacional precisaria ser superado. Teria que ter outra forma de rateio. Pode ter menos gente na Amazônia e em algumas áreas do Nordeste, mas é exatamente ali que precisa de mais investimento.

NORDESTE: Em termos de valores, quanto foi repassado nos últimos anos para o Nordeste?

Maria do Socorro: Na verdade é muito difícil você ter uma metodologia para mensurar isso. O que temos é uma tentativa de colocar o quanto a União, os Estados e Municípios investem em Saúde no país, e o quanto a população paga do bolso de forma direta, com pla-nos privados de saúde, exames especia-lizados por fora e com medicamentos. Os dados mostram que a União em 2014 gastou cerca de R$ 91 bilhões, os estados R$ 57 bilhões e os municípios R$ 67 bilhões. Quando a gente junta estados e municípios dá bem mais que a União, quase R$ 120 bilhões. Tanto é que os percentuais são os seguintes: A União 20% do orçamento, os esta-dos 12%, os municípios 15%. Apesar disso, o que a gente desembolsa com os planos privados de saúde, medica-mentos e outros gastos, por exemplo, um exame especializado, é muito mais do que o setor público investe. (A presidente apresentou dados que os gastos da população somam mais dos 50% investido pela União, Estado e Município. Mais de R$ 120 bilhões).

NORDESTE: Recentes pesquisas têm apontado preconceito no SUS contra

negros, LGBTs e até a população pobre. Como reverter isso?

Maria do Socorro: No Brasil, a violên-cia e o preconceito adoecem e matam. Nós temos uma marca muito forte da desigualdade na sociedade brasileira que também vem para dentro do SUS e em geral isso fica muito invisível e marginalizado. Preconceito contra lésbicas, gays, travestis, trangêneros, contra população de rua, negros, ci-ganos, camponesas. Toda essa carga de preconceito faz as pessoas ficarem doentes e até a população LGBT paga com a vida. Muitos trabalhadores rurais contaminados com agrotóxicos pagam com a vida. Muitas mulheres negras morrem na sala do parto, a mortalidade materna é muito alta em relação as mulheres negras. A anemia falciforme que pega muito a população negra. O Brasil é pluriétnico, não é só a raça negra, branca e povos indígenas. O Brasil tem uma dimensão étnica muito forte, na região sul do Brasil temos colônias alemãs, italianas, boli-vianas na região norte. Essa coisa das diferentes étnicas não é compreendi-da. Isso termina motivando práticas discriminatórias. Tanto é que a reação com os médicos cubanos no Brasil foi expressão dessa discriminação que tem na área da Saúde. Médico cubano, negro, da América Central, socialista, comunista. O quanto ainda temos uma carga enorme de xenofobia, de racismo, sexismo. Um país onde tem quase 500 mil casos de estupro contra mulheres... o que significa isso? E o SUS é a primeira porta de entrada para a população. Quando uma mulher é violentada sexualmente, quando um trabalhador é acidentado numa rodovia de moto. O SUS é a primeira porta de entrada para a população ser socorrida, ser assistida, e o profissional não está preparado para isso. Trata isso como se fosse algo menos importante.

NORDESTE: Algum programa está prevendo atacar esse problema?

Maria do Socorro: Tem vários. Eles têm a politica de equidade para respeitar as necessidades e os direitos da população

negra, camponesa, LGBT, indígena, ciganos e tal. O problema é que fica a política meio que apartada da prática do serviço e da compreensão do pro-fissional que atende aquela população e fica também apartada da responsa-bilidade do gestor entender que aquilo também é saúde. Então é uma geleia geral. O Ministério da Saúde formula a política, reconhece a especificidade, constrói com os movimentos popu-lares, mas isso se dilui em nível de estados e municípios. Você pega uma gestão que tenha mais indígenas, que tenha ciganos ou quilombolas, qual é a diferença que o SUS está fazendo na vida dessas pessoas? Praticamente pouca iniciativa nesse sentido. Então não é um programa, é uma política de equidade, várias ações são impor-tantes, mas não são compreendidas. A última ação que o Ministério fez foi uma campanha contra o racismo institucional e que gerou uma polê-mica enorme com os médicos. Eles acharam que o Ministério da Saúde estava criminalizando os médicos pela discriminação aos negros. Para você ter uma ideia. Então tem uma reação muito grande também quando o Ministério toma uma posição mais radical nesse sentido.

NORDESTE: Em relação ao Mais Mé-dicos, os médicos dizem que têm pro-fissionais suficientes no Brasil, mas os salários não são bons ou as condições de trabalho inadequadas. O governo afirma que precisa de mais médicos. Quem está com a razão?

Maria do Socorro: Essa quebra de braço não pode ser colocada entre Governo Federal e Entidades Médicas. Essa quebra de braço tem que ser entre estado e sociedade. Tem que garantir o direito a saúde e um SUS que funcione. E de fato a distribuição de médicos no Brasil é muito desigual. A maioria fica concentrada onde tem mais uma rede privada que pode pagar mais caro pelo serviço prestado pelo médico. E é muito injusto isso porque a maioria dos médicos, os bons médicos, são formados nas universidades públicas federais ou estaduais. Para formar 47

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um médico no Brasil numa Univer-sidade Pública o custo é em média R$ 800 mil e ele não tem um mínimo de responsabilidade social, de compromis-so ético profissional com o SUS! Isso é muito ruim. O Mais Médico tenta cor-rigir essas distorções. Primeiro. Qual é a formação que a gente precisa? O médico deve ser formado para o mer-cado, com especialidades, ou o médico deve ser um clínico geral que dê conta das necessidades gerais da população em primeiro lugar. Segundo. Além de pensar qual é a formação que esses médicos têm que ter, é preciso ques-tionar como eles fazem o processo da prática. As residências médicas devem estar também articuladas ao serviço. Ou seja, você deve fazer residência médica dentro da Rede SUS instalada. Antes não tina muito isso. Eu acho que o Mais Médico amplia também as residências médicas. Você tem que ser formado em médico praticando medicina. Se você não tem uma rede instalada, aquele estudante, futuro profissional, vai fazer prática aonde? Então tem que ir para dentro do SUS, tem que ter Rede SUS instalada onde abre universidade nesse país. Terceiro. Distribuir. Eu sou muito favorável ao Mais Médicos. O que é limitador é que o Congresso Nacional ataca porque isso fere também as entidades médicas que quiseram muito colocar dificul-dades. Agora nessa última etapa os médicos brasileiros foram maioria em relação aos médicos estrangeiros. Por último. É preciso mais investimento na atenção básica. Eu acho que essa iniciativa do Mais Médicos é para for-talecer a atenção básica. Então estava correta a política do governo, tanto é que as entidades médicas deixaram de bater e agora estão mobilizando os estudantes, os médicos mais jovens, para se inscreverem no programa.

NORDESTE: Como humanizar a atenção básica que é o primeiro atendimento à população?

Maria do Socorro: A atenção básica tem que ser fortalecida. Tem que estar mais próxima da comunidade e do local de trabalho. Ela vai trabalhar

desde a questão da água, a qualidade dos alimentos, o ambiente de trabalho, a vigilância local dos medicamentos ofertados a população, até o incentivo de práticas tradicionais, como fitoterá-picos e acupuntura. Ou seja, a atenção básica tem um campo fortíssimo, mas não dá dinheiro, não dá lucro. Então, em geral essa competência cabe à ges-tão pública, enquanto a média e alta complexidade, financiada com recursos públicos, termina privilegiado e forta-lecendo o setor privado e capturando boa parte do dinheiro da saúde pública para o setor privado. São quase 70% (dos recursos repassados para o setor privado). Essa é a estimativa que se fala. A atenção básica é uma luta con-tra hegemônica ao modelo focado em médicos, hospitais e medicamentos. Por isso não é só o Mais Médicos, não é só a equipe de saúde da família, é mais do que isso. E essa luta está muito longa, muito distante ainda de transformar um SUS num sistema mais integral. O SUS ainda tem muitas contradições.

NORDESTE: E essa questão do aten-dimento dos médicos. Os pacientes se queixam que o médico atende mal, rápido, não olha para o paciente...

Maria do Socorro: A pouca humaniza-ção acontece porque nem os usuários, nem os trabalhadores reconhecem a importância do SUS. E ainda há uma prática muito grande, sobretudo dos médicos, achando que ele está fazen-do um favor. Muitas vezes o médico do SUS está ali para abrir portas que beneficiem ele mesmo, que muitas vezes é dono de clínica e hospitais privados. Ele está ali para capturar o paciente para levar para dentro dos seus estabelecimentos privados, ou onde ele trabalha na rede privada. Tanto é que tem desvios de próteses, de órteses, tem cobrança por fora dos médicos. Essa questão é mais do que a falta de humanização, é respeito a vida, o respeito aos direitos humanos, ao ser humano. Dentro do SUS ainda tem as condições de trabalho que não são fáceis, com sobrecarga de trabalho, sobretudo o pessoal da enfermagem, que fica supervisionando, cuidado

daquilo que o médico encaminha. Nós temos uma sobrecarga muito grande e uma precariedade das condições de trabalho. E no Brasil nós temos uma es-tratificação social muito grande. Como a maioria que usa o SUS na assistência são pessoas de baixa renda é a expressão da estratificação social. Quem tem muita renda, que é médico, é forma-do, se sente melhor (na sua posição) do que muitas vezes o trabalhador da classe popular. Essa é uma contradição da nossa sociedade. Humanizar o SUS na verdade é humanizar a sociedade brasileira.

NORDESTE: O que o governo tem feito para melhorar a marcação de consul-tas, outra grande reclamação?

“só Tem PersPecTiva se de faTo o Povo for Para a rua (...) mais dinheiro Para fazer o que o sus faz é enxugar gelo”

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Maria do Socorro: A regulação tem ônus e bônus. A regulação é importan-te para as cirurgias eletivas, urgências e emergências. Só que é uma forma de regular aquilo que é insuficiente para a população. Você regula leitos, cirurgias eletivas, órteses e próteses menos. É uma forma de dizer que te-mos pouco para muitas necessidades. Mas também é uma forma de criar regras, só que o poder de decisão das regras de regulação fica muito com a equipe médica. A população conhece pouco. Por que o SAMU não vai num assentamento ou acampamento rural? Por que não vai pegar um idoso de 90 anos num atendimento domiciliar? São coisas que a população não co-nhece... Por que uma pessoa passa dois

anos numa filha esperando uma res-sonância, um exame especializado ou uma cirurgia? Isso deixa a população muito indignada. Eu acho que a gente melhorou muito no tempo de acesso as consultas na atenção básica. O Mais Médico já tem pesquisas que colocam a redução do tempo na fila de espera para as consultas. Minhas netas estão sendo atendidas pela Equipe de Saúde da Família em Val Paraíso de Goiás, consultas de 20 minutos. A minha mãe de 96 anos teve atendimento domiciliar. Todas elas médicas cuba-nas. Você teve melhora nisso. Agora as filas da média e alta complexidade ela é ainda uma caixa hermética, fechada e que a população não en-tende as regras, que são as regras da regulação. E outra coisa, muitas vezes o pessoal vai lá para o Pronto Socorro, para um atendimento que deveria ser feito na atenção básica. Vai enfrentar fila! Pronto Socorro e UPA não é para atender coisas do cotidiano. Aí a fila aumenta num lugar que é para prestar um serviço de urgência e emergência.

NORDESTE: Em termos de compara-ção, é possível fazer uma comparação do SUS com os sistemas de saúde de outros países?

Maria do Socorro: Com certeza. Eu estive em Cuba e El Salvador recentemente. Eu acho que o Brasil conseguiu fazer diferença na atenção básica nos últimos anos, estruturando, ampliando, equipando. Há hospitais importantes e bem estruturados. Mas há também pouco investimento nos planos de cargos e carreira e salário dos trabalhadores. A precarização dos trabalhadores do SUS é uma contra-dição que o Brasil não enfrentou. O financiamento também é insuficiente. Você pega Cuba e é 8% do PIB que investe na saúde. Em Cuba a cada mil pessoas tem uma policlínica que faz o atendimento até a média com-plexidade. Você pega El Salvador, que viveu 30 anos de guerra, o médico é da comunidade, ele está lá engajado e tudo mais. Dá para comparar em termos de financiamento. O Brasil investe cerca de 3% do PIB e países

como Cuba investem 8% do PIB. Isso é uma contradição muito grande para um país que quer atender 200 milhões de pessoas.

NORDESTE: Quais as novas perspec-tivas e o que a gente pode esperar do SUS?

Maria do Socorro: Eu acho que o SUS só tem perspectivas se o povo brasileiro de fato reconhecer a sua importância. Acho que os gestores estão muito tecnicistas, gerencialistas, fazendo pouca gestão política. A 15ª Conferência Nacional de Saúde (que será realizada de 1 a 4 de dezembro) quer ser esse espaço de mais partici-pação popular. Quer trazer o cidadão comum para dentro das Conferências para discutir o SUS e o direito a saúde, até porque estamos enfrentando uma conjuntura muito dura. Basta ver o que o Congresso Nacional está fazen-do, aprovando projetos de emenda a Constituição como o 451. Descons-truindo o SUS dizendo que a saída para o trabalhador é ter plano privado, a entrada do capital estrangeiro, o PL 4330 da terceirização. Então nós temos uma conjuntura muito difícil. Qual é a perspectiva? Só tem perspec-tiva se de fato o povo for para a rua, se de fato nós tivermos unidade em torno dessas agendas, financiamento, gestão, enfrentar o debate da reforma política, mas também tem que mudar o modelo de atenção a saúde. Mais dinheiro para fazer o que o SUS faz é enxugar gelo, é preciso alterar esse modelo de atenção a saúde, menos médicos, menos hospitais ou menos medicamentos, mas mais vigilância, mais promoção da saúde, mais au-tonomia nos processo também para enfrentar as mazelas. A sociedade brasileira tem fome, pobreza, desem-prego, falta de saneamento básico, tem uma baixa escolaridade ainda e tudo isso determina a situação da saúde. Não fez reforma agrária, não fez reforma urbana. Então para no-vas perspectivas temos que enfrentar tudo isso, senão vamos ter dinheiro e dinheiro para saúde e não muda esse ambiente, essas condições.

Fotos: Pedro França/Agência Senado

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Saúde

Doença de Pompe afeta músculos, respiração e pode levar crianças e adultos a perda de locomoção e a morte

mal GenétiCo

Doença de Pompe é uma patologia rara, que afeta o te-cido muscular e compromete,

principalmente, os músculos da respi-ração e dos membros inferiores e nos bebês também o músculo cardíaco. A doença é progressiva, vai degenerando o tecido muscular. Não tem cura, mas existe tratamento. O problema também é conhecido como glicogenose tipo II. A patologia ocorre por uma deficiên-cia da enzima alfa-glicosidase ácida, responsável pela quebra do glicogênio dentro das células, e a sua deficiência provoca acúmulo de glicogênio celular. O gene que é responsável por essa doença está localizado no cromossomo 17. O glicogênio - uma fonte rápida de energia para os músculos e corpo em geral - é composto por moléculas de glicose, formando uma molécula maior (o glicogênio), que se acumula nos tecidos do corpo, principalmente nos músculos e no coração.

A doença quando afeta bebês até os três meses de idade pode levar ao óbito até o segundo ano de vida. 80% dos

Por Paulo [email protected]

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Campanha nacional com ídolos do esporte procurou informar e tornar conhecida doença genética

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Fotos: Shutterstock / Divulgação

HistóRia de Vida

“Decisões Extremas” é inspirado em história real de família americana (foto ao lado)

O paciente Benedito Eduardo Car-neiro (foto), de Goiânia, tem 58 anos e foi diagnosticado aos 54 anos, mas garante que vem sentido os sintomas desde os 36 anos. Nascido na cidade de Divinolândia no interior de São Paulo, Carneiro conta que a descoberta da doença foi um misto de via crucix e sorte. Segundo Carneiro, ele tem a doença porque os pais são primos legí-timos. “Eu comecei a procurar médicos por causa de uma dor nas costas, na região lombar. Doía demais, doía para levantar e andar. Fui investigando, mas nunca achei nada na coluna, fiz inúmeras radiografias, passei por inú-meros diagnósticos de doença. Nada melhorava minha dor”. Nesse tempo Carneiro saiu de São Paulo e foi morar em Goiás. Enquanto as dores conti-nuaram e foram acrescidas de falta de ar. “Não conseguia dormir uma noite inteira deitado”. Fez tratamento com pneumologista, melhorou, mas acabou desmaiando numa das visitas que fez ao médico e acordou na UTI. Estava com pneumonia. Depois de toda essa saga foi que um médico desconfiou da Doença de Pompe.

O tratamento é feito com a reposição da

enzima alfa-glicosidase ácida, enviada por laboratórios da Holanda. A enzima é infundida a cada quinze dias, por aplicação endovenosa. Carneiro revela que toma 28 frascos em a cada aplicação. A medida é feita de acordo com o peso do corpo. O medicamento é diluído em soro e aplicado em bomba de infusão. A aplicação dura cerca de três há quatro horas.

“A nossa experiência, no trabalho em Pernambuco é que os bebês têm melhora

bebês com o mal sofrem problemas de insuficiência cardiorrespiratória, com o músculo cardíaco apresentando fraque-zas. Nos adultos a Doença de Pompe atinge principalmente a respiração. Os dados apontam um caso a cada 138 mil adultos. Nas crianças, após o primeiro ano a incidência é de um caso para cada 57 mil. O diagnóstico é feito com tanto com a observação dos sintomas, quanto com o teste de sangue.

A neurologista Anna Paula Para-nhos, que trabalha na Associação de Assistência à Criança Deficiente (AACD), acompanha tratamentos em 8 pacientes, já diagnosticados em Per-nambuco. “Nos bebês ela é percebida

TRATAMENTO ONEROSO

na cardiopatia respiratória. Depois que começa a fazer o tratamento, os músculos respiratórios começam a funcionar e há uma melhora muscular, na força e no tempo de caminhada”, conta Anna Paranhos.

Entretanto, só é possível conseguir o remédio com o auxílio do Ministério Público que provoca na justiça as secretarias das Saúdes tanto do Estado quanto do Município. “É complicado conseguir. São 33 mil dólares cada aplicação. Faço duas por mês, de 15 em 15 dias. Não é para qualquer um. Se eu não tivesse tido

auxilio do Ministério Público na compra do medicamento... eu ia definhar”, conta Carneiro. Fazendo a reposição da enzima já há dois anos, o paciente afirma que a melhora vai acontecendo aos poucos. “Hoje eu fico sentado tranquilo, ando, caminho, vou para a academia. Vou começar a fazer natação para desenvolver os músculos do peito e pulmão. Está melhorando”, conta. Todavia ele explica: “O que existe é uma paralisação da doença. Para de ter uma diminuição da fibra. O que estamos fazendo é manter a vida fluindo”.

porque eles ficam fraquinhos, moli-nhos, com cardiomiopatia. Nas crian-ças mais velhas, e adultos, suspeita-se quando há uma fraqueza muscular, dor muscular difusa, problemas de coluna, dificuldade respiratória. Eles acordam à noite com sensação de sufocamento e dificuldades respiratória”, contou a médica à Revista NORDESTE.

Hollywood já tratou do tema no fil-me “Decisões Extremas”, produção (e atuação) de Harrison Ford, que mostra o drama de um executivo (Brendan Fraser) que é pai de duas crianças com Pompe e sua luta para salvar os filhos. A história é baseada em fatos reais. O filme é esclarecedor sobre o

sofrimento que a doença causa aos portadores e aos familiares. Devas-tador é o mínimo que se pode dizer.

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Saúde

Autogestão em saúde completa 70 anos, amplia rede e promete novidades nos próximos tempos

Por Walter [email protected]

uiz Carlos Saraiva Neves, diretor executivo da GEAP - Autogestão em Saúde – revela em Entrevista

Exclusiva à Revista NORDESTE a evolução do plano que atende servido-res públicos em todo Brasil, cuja meta é atender 800 mil usuários. Prestes a completar 70 anos em setembro, a instituição de planos de saúde ampliou o número de prestadores de serviços incluindo mais de 2 mil nomes na rede e 3 mil hospitais superando os 600 mil usuários. Na entrevista, ele reclama um maior conhecimento de causa em relação aos juízes que julgam ações de usuários e garante que devido acordos judiciais a instituição já teve que entregar serviços que nem sequer estavam aprovados pela ANVISA. A um ano e seis meses a frente do órgão, depois de intervenção sofrida em 2013 pela Agência Nacional de Saú-de, Saraiva garante que a comemoração dos 70 anos da entidade deve trazer inovações em termos de equipamento, assistência e governança. A intenção será mesmo recolocar a GEAP em posição de ator importante dentro do mercado.

Geap aposta na

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expansão Com qualidade

“ela (geaP) aTende os servidores PúBlicos federais e seus familiares. PreTendemos amPliar esse arco de ação, oferecendo o Plano TamBém Para os servidores esTaduais e municiPais”

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Revista NORDESTE: Como o senhor analisa hoje o segmento da saúde suplementar diante de uma conjuntura econômica de recessão no Brasil?

Luiz Carlos Saraiva Neves: A situ-ação preocupa por conta da inserção no mercado da saúde suplementar e da saúde como um todo de insumos que, em grande parte, são importados. Queira ou não, nós temos um impacto dessa questão econômica muito forte dentro da logística, prestação de servi-ços e tudo que se refere ao uso desses insumos para garantir a saúde.

NORDESTE: O que encarece?

Saraiva Neves: Esses insumos são cotados em dólar. Então essa flutuação do dólar interfere muito, além de que nós temos a necessidade de exigir um controle maior no que se refere ao comércio, a compra e venda desses insumos internamente. Veja que nós temos hoje uma CPI as OPMES – (CPI da Máfia das Próteses e Órteses) órteses, próteses e materiais especiais. Por outro lado, a questão econômica tem seu impacto na gestão da saúde. As redes de prestadores de serviços buscam, nos seus modelos diversos de gestão, uma maneira de garantir suas margens de lucro dentro de uma situação complexa. Isso interfere também nos valores que são cobrados

Fotos: Divulgação

das operadoras de saúde, muitas vezes com propostas de majoração além do que a gente pode suportar. Isso também impacta nos valores das mensalidades cobradas dos beneficiários dos planos de saúde.

NORDESTE: Como os senhores, diante dessa conjuntura que projeta a pos-sibilidade do aumento a partir dos insumos, conseguem conviver com a judicialização, que ao obrigar deter-minadas operações e serviços, geram mais despesas para o setor? Saraiva Neves: No primeiro momento, há alguns anos, essa questão era muito complexa; não deixa de ser ainda. O processo de judicialização foi um caminho encontrado para também se conseguir garantir a margem de ganho. Infelizmente, os tribunais não estavam preparadas para fazer a discussão do que realmente estava de acordo com a proposta do procedimento em termos do uso de materiais, de insumos; por muitas vezes as determinações judi-ciais não avaliavam detalhadamente esses processos. Havia autorização por autorizar. A gente lida com algo importantíssimo para todos nós: saúde e vida. Muitas vezes os juízes expediam liminares e muitas vezes tínhamos que autorizar o uso de materiais que nem sequer estavam aprovados pela Anvisa. Com o aprofundamento dessa

discussão, os magistrados começaram a se preocupar mais e hoje a gente vem trabalhando de uma forma muito mais direta com eles, para que haja essa discussão técnica e mais apurada de que aquilo que está sendo imposto por uma possível liminar tem bases legais e científicas para ser utilizados, tanto no que se refere a medicação como aos materiais especiais, que são caros. Já tive oportunidade de ter um material utilizado em uma cirurgia a quase R$ 500 mil. Após dialogarmos, o material saiu aproximadamente por R$ 160 mil. É uma questão que precisa ser mais aprofundada junto ao judiciário.

NORDESTE: Como está a GEAP no con-texto de saúde suplementar no Brasil? Em que ranking? Qual o universo de público atendido e posicionamento da empresa levando em conta o seg-mento?

Saraiva Neves: A GEAP está inserida no grupo das autogestões sem fins lucrativos. Ela atende os servidores públicos federais e seus familiares. Pre-tendemos ampliar esse arco de ação, oferecendo o plano também para os servidores estaduais e municipais. Ela é a segunda maior autogestão do país e vem crescendo no número de bene-ficiários, hoje temos cerca de 610 mil. A GEAP tem uma característica: onde tem servidor público tem GEAP. Imagi-ne o que é atender toda essa população espalhada pelo território nacional. Temos uma concentração maior de beneficiários na faixa litorânea do país, onde ficam as principais capitais. Nos-sos planos têm um diferencial muito grande por acoplarem a área médica e odontológica. Oferecemos saúde hospitalar, assistência ambulatorial, promoção da saúde e odontologia. Uma característica marcante, que nos diferencia das outras operadoras e segmentos é a concentração alta de pessoas idosas.

NORDESTE: Como a autogestão da GEAP consegue manter a sua estrutura crescendo, já que a demanda desse público idoso requer maiores inves-timentos?

Saraiva Neves: “mesmo sem foco no lucro vamos crescer” 53

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Saraiva Neves: Acolher qualquer beneficiário, seja idoso ou um recém--nascido. Não temos foco lucrativo. Tudo que é arrecadado é revertido em assistência à saúde. Temos como desafio para manter esse equilíbrio re-novar o público, trazendo mais jovens e acolhendo idosos que chegam. A nossa sinistralidade está na faixa de 78% - a preconizada pela ANS gira em torno de 85%. O grande desafio é a negociação das tabelas e valores com os prestado-res: a pontualidade e segurança de que o prestador vai receber garante boas negociações. Nosso pagamento está dentro do padrão da ANS. O prestador entrega a fatura hoje e eu tenho até 70 dias para pagar – nós estamos pagando entre 50 e 60 dias. Essa pontualidade e garantia faz com que consigamos boas negociações.

NORDESTE: Qual a relação da GEAP com a ANS no sentido de atender as exigências rigorosas da Agência sem-pre cobrando mais qualidade?

Saraiva Neves: Uma relação muito boa. Criamos diversos canais de diálogo com a ANS. Nós entendemos que ela é fundamental para regulamentar o mercado. Toda a equipe da GEAP bus-ca cumprir as regulamentações. Nossa gestão tem 1 ano e 6 meses e nesse período conseguimos avançar bastante no cumprimento das regulamentações da ANS. Diminuímos cerca de 40% das reclamações, o nosso índice de desempenho vem crescendo. A nossa rede de prestadores vêm melhorando e de 2014 a julho de 2015 já incluímos mais de 2 mil novos prestadores na rede. Hoje são 3 mil hospitais e 18 mil prestadores. Estamos trazendo os melhores equipamentos para a GEAP, embora ainda existam serviços de alta complexidade que ainda não podemos cobrir, como os hospitais de ponta. Nosso objetivo é qualificar a rede.

NORDESTE: Mesmo sem fins lucrativos, como manter a liderança num mercado de alta competitividade?

Saraiva Neves: Há 69 anos cuidando

da saúde dos servidores e seus familia-res, a GEAP é uma das maiores opera-doras em autogestão de planos de saúde porque é sólida e, mesmo sem fins lu-crativos, possui natureza solidária, onde jovem e idosos têm a mesma qualidade assistencial. Sem caráter comercial, seu modelo de gestão inibe práticas que dis-criminam grupos minotirários atenden-do às necessidades e conveniências das instituições patrocinadoras, conforme suas próprias políticas e linhas de ação. Somos, portanto, quem vive buscando se renovar em métodos para melhorar cada vez mais o atendimento.

NORDESTE: Em setembro a GEAP com-pleta 70 anos. Ao longo desse tempo o saldo é positivo, embora tenham exis-tido problemas. Quais são os desafios atuais da GEAP?

Saraiva Neves: Hoje enfrentamos um problema por conta de uma cautelar do TCU e um questionamento da OAB ao STF em relação ao convênio único, que foi feito por decreto da Presidente Dilma, onde a relação da união com a GEAP se torna mais clara e transparen-

te. Infelizmente os nossos concorrentes entenderam isso como exclusividade, o que não era, pois o servidor escolhe o seu plano.

NORDESTE: A expansão da GEAP tem metas estabelecidas?

Saraiva Neves: Quando assumimos uma das primeiras ações que fizemos em conjunto com o conselho de ad-ministração foi implementar o nosso planejamento estratégico, que está em curso. Temos quatro objetivos funda-mentais: a sustentabilidade e cresci-mento de beneficiários, onde queremos crescer até o final do ano em cerca de 800 mil assistidos. Isso tem uma dificuldade por causa da questão do STF. Estamos trabalhando com muita atenção nisso. Também temos o eixo da promoção e prevenção da saúde, onde podemos evitar que a porta de entrada do nosso sistema seja o pronto socorro. Temos o eixo da governança, no que se refere a organização da estrutura da nossa organização, que tem o conselho de administração, o conselho fiscal e a diretoria executiva – essa instância

“o grande desafio é a negociação das TaBelas e valores

com os PresTadores: a PonTualidade e

segurança de que o PresTador vai

receBer garanTe Boas negociações”

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máxima é composta por seis conselheiros titulares e seis suplentes; a representação é feita por servidores eleitos, três titulares e três suplen-tes; os conselheiros são indi-cados pela união; da mesma forma o conselho fiscal, que são quatro titulares e qua-tro suplentes. A diretoria é composta pela diretoria executiva e diretorias de áreas. Em cada estado temos um gerente regional.

NORDESTE: Como serão as comemorações relativas aos 70 anos da GEAP?

Saraiva Neves: A GEAP surgiu no pós-guerra. O Brasil passou por muita coisa nesses 70 anos. O mais importante na GEAP é a ca-pacidade de acolher todos: ela não discrimina idosos

ou pessoas que já tenham doenças, ela acolhe a todos de forma igual. Eviden-temente passamos por diversas situa-ções difíceis. Tivemos uma intervenção em 2013. Eu era gerente estadual em Pernambuco e fui convocado para as-sessorar o interventor. Terminei sendo convocado novamente para assumir a diretoria executiva. Tenho 19 anos de casa. Em relação a comemoração, vamos valorizar a história, mas olhar para frente: garantir uma assistência cada vez melhor; implementar de vez a atenção primária da saúde; melhorar a rede assistencial; trazer inovações em termos de equipamento, assistência e governança, além de colocar a GEAP na sua posição de ator importante dentro do mercado.

NORDESTE: Não há conflitos entre a diretoria executiva e o conselho da instituição?

Saraiva Neves: Temos uma relação muito transparente com o conselho,

que tem trazido propostas e balizado muito o caminhar dos executores. O ambiente é bom, construtivo e pro-positivo.

NORDESTE: O que o usuário pode espe-rar da GEAP daqui em diante?

Saraiva Neves: Uma dedicação e empenho muito grande. Isso tem sido entendido pelos beneficiários quando olhamos os nossos indicadores. Nosso empenho é qualificar ainda mais a rede, implementar a atenção primária, transparência na governança, criar um canal direto com o usuário. Uma coisa fundamental é a atuação dos nossos gerentes estaduais: a GEAP acontece nos estados. Cada gerente precisa adequar aquilo que é apontado pela administração para a realidade do seu estado. Nós fazemos duas reuniões nacionais por ano e vídeo conferências permanentes. Nossa gestão deu uma autonomia muito grande aos gerentes estaduais.

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Turismo

tuRismo Com foCo

Por Walter [email protected]

atual ministro do Turismo, Henrique Eduardo Alves, quando foi empossado disse

que sua tarefa principal era fazer do turismo uma agenda cada vez mais econômica, social e política. Em tem-pos de crise econômica e com uma pasta com corte de R$ 1,3 bilhão, o ministro aposta em mais marketing. Alves também quer abolir a necessi-dade de vistos durante o ano olímpico para atrair mais turistas. Político expe-riente do PMDB, Alves foi presidente da Câmara de 2013 a 2015 e já avisou que também está disposto a ajudar o vice-presidente Michel Temer na articulação política do Executivo com o Legislativo. Na entrevista que segue, feita com exclusividade pela Revista NORDESTE, Alves aponta os nú-meros do turismo no Brasil e acredita que a crise econômica não deve afetar o setor, pelo contrário, pode dar novo fôlego. Alves ainda argumenta que a região Nordeste é um dos destinos mais atrativos do Brasil e que deve ser um polo atrativo durante as Olim-píadas. Para finalizar, o ministro fala sobre política, a pressão da oposição pelo impeachment de Dilma Rousseff (PT) e a atuação de Michel Temer, na Articulação Política do Planalto, e de Eduardo Cunha na presidência da Câmara dos Deputados.

Revista NORDESTE: Ministro, 2015 chegou como tempo amargo para a economia brasileira afetando o con-junto da sociedade. Na sua leitura, qual foi o tamanho do estrago, por ventura sentido pelo setor de Turismo do Brasil?

Henrique Alves: Toda crise pode transformar-se em oportunidade. As dificuldades enfrentadas pelo Brasil no cenário macroeconômico são insumos para o turismo de lazer deslanchar no Brasil. Explico melhor: com o câmbio desfavorável, o gasto de brasileiros no exterior tem registrado sucessivas que-das. Em maio, a redução nas despesas foi de 37,38% em relação ao mesmo mês do 2014, menor valor registrado nos últimos cinco anos. É a chance dos destinos nacionais conquistarem esse público. Num contexto de incertezas, as pessoas tendem a deixar de fazer

grandes investimentos que gerem altas prestações e passam a privilegiar gastos menores que gerem um sentimento de bem-estar, como o turismo.

NORDESTE – A propósito, qual a exten-são dos cortes anunciados pela equipe econômica na estrutura do Ministério e seus efeitos no trade?

Alves: O Ministério do Turismo sofreu um corte de R$ 1,3 bilhão. A partir dele, passamos a trabalhar em duas frentes. A primeira é ajustar o nosso custeio para minimizar ao máximo o impacto nos investimentos. A segunda é sensibilizar a equipe econômica sobre a importância do turismo para ajudar o Brasil a enfrentar um ano desafiador como o que vivemos.

NORDESTE – Dentro de uma visão re-alista e pragmática, como o Ministério

Ministro Henrique Eduardo Alves analisa conjuntura política, quer abolir vistos de turistas em mercados estratégicos do Brasil durante ano olímpico e afirma que país precisa investir mais na sua imagem

paRa supeRaRCRise naCional

O “Quero reformular o modelo de gestão da embratur como um todo. estamos na 124ª colocação no ranking do fórum econômico mundial no Quesito efetividade do marketing para atrair turistas internacionais. esse dado acendeu uma luz vermelha. mostrou Que precisamos repensar todo o formato da autarQuia”

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do Turismo pode ser um aliado das políticas de Governo para construir a retomada do desenvolvimento?

Alves: O turismo impacta diretamente 52 atividades econômicas e, por isso, é o setor que melhor responde a estí-mulos. Atualmente respondemos por 3,1 milhões de empregos diretos e mais de 9% do PIB do Brasil se considerar-mos os resultados diretos, indiretos e induzidos. Precisamos desatar alguns nós que travam o desenvolvimento do nosso setor e passar a encarar essa indústria com profissionalismo, para dar uma contribuição ainda mais efetiva para a retomada do desenvol-vimento brasileiro. Tenho trabalhado, por exemplo, para eliminar a exigência de vistos para mercados estratégicos durante o ano olímpico e criar Áreas Especiais de Interesse Turístico. São duas medidas que têm tudo para

facilitar a atração de investimentos, turistas, divisas e consequentemente fomentar a geração de emprego.

NORDESTE - O senhor tem reconheci-do domínio estratégico de gestão, mas nunca fora identificado como expert na área. Qual sua avaliação do setor do Turismo do Brasil na correlação com os demais Destinos do Mundo?

Alves: O Brasil tem um enorme potencial a ser explorado de maneira sustentável. Se compararmos, por exemplo, com o México, que interio-rizou US$ 17 bilhões pelo turismo em 2014 na economia pelo turismo, os US$ 6,9 bilhões que o Brasil faturou com o turismo internacional no mes-mo ano é uma quantia extremamente baixa. Para se ter uma ideia, estamos na 44ª colocação na lista de países que mais recebem turistas estrangeiros

num ranking de 141 países. Podemos muito mais se soubermos aproveitar as nossas vantagens comparativas.

NORDESTE – Como os ajustes devem ter afetado a EMBRATUR, que é o braço internacional do Ministério para atrair dividendos, ou seja, mais turismo ao Brasil?

Alves: Quero reformular o modelo de gestão da Embratur como um todo. Estamos na 124ª colocação no ranking do Fórum Econômico Mundial no quesito efetividade do marketing para atrair turistas inter-nacionais. Esse dado acendeu uma luz vermelha. Mostrou que precisamos repensar todo o formato da autarquia. A ideia é transformá-la em agência, de maneira a garantir mais agilidade e permitir que parcerias com a ini-ciativa privada sejam construídas 57

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para aprimorar a busca pelo viajante internacional.

NORDESTE – O tempo tem passado numa velocidade impressionante e já estamos às vésperas das Olimpíadas de 2016. O que concretamente este evento representa para a conjuntura econômica do Brasil sabendo-se que trata-se de grande estrutura concen-trada num mesmo Estado, o Rio de Janeiro? Como equiparar os efeitos tomando por base a Copa do Mundo?

Alves: Temos trabalhado para nacio-nalizar a Olimpíada e Paraolimpíada. A exemplo da Copa do Mundo, quando quase 479 cidades além das sedes fo-ram visitadas, tenho certeza de que o turista dos jogos olímpicos vai circular pelo Brasil e distribuir os ganhos para outros destinos e estados além do Rio de Janeiro. No mundial de futebol, recebemos cerca de 18 mil profissionais da mídia. Para olimpíada, são esperados 25 mil. Uma oportunidade incrível para os destinos se promoverem.

NORDESTE – Paralelamente às Olimpí-adas, o que vem sendo feito para que o Turista possa identificar e consumir outras regiões importantes do País, a

exemplo da Amazônia, Nordeste bra-sileiro, etc?

Alves: A presidente Dilma anunciou recentemente as cidades por onde a tocha olímpica vai passar. O roteiro inclui todos os estados brasileiros e é uma importante oportunidade para os estados se promoverem interna e externamente. O mundo vai olhar para o Brasil e temos uma excelente oportunidade para mostrar porque somos considerados o número um em atrativos naturais pela terceira vez consecutiva de acordo com o Fórum Econômico Mundial. Nesse contexto, a Amazônia e o Nordeste brasileiro têm fundamental importância. Os ministérios do Turismo, da Cultura, das Relações Exteriores e a Secretaria de Comunicação da Presidência da Re-pública têm discutido uma campanha internacional para reposicionar o país no cenário global e usar a Olimpíada como plataforma efetiva não apenas do Rio de Janeiro, mas do Brasil.

NORDESTE – O senhor é um Ministro com identidade vinculada ao PMDB. Até onde vai a tensão e dificuldades de relacionamento entre líderes pee-medebistas, a exemplo do presidente

da Câmara, Eduardo Cunha, e o Go-verno Federal? À quem interessa a instabilidade?

Alves: O debate entre o Legislativo e o Executivo é natural num país de-mocrático. Trabalhei como deputado federal nos últimos 44 anos, dois dos quais como presidente da Câmara dos Deputados. Entendo que o processo de discussão que existe é salutar. O PMDB é governo, comanda pastas estratégi-cas, e tem ajudado, por exemplo, na articulação política com a atuação do vice-presidente, Michel Temer.

NORDESTE – Como o senhor avalia a performance do presidente da Câmara inserindo na pauta de alguma forma uma agenda conservadora nunca vista depois da Redemocratização?

Alves: É preciso evitar a personali-zação do debate democrático. Temos que entender e respeitar as funções institucionais dos presidentes de cada um dos Poderes. Como prevê a Consti-tuição Federal, deve existir uma relação independente e harmônica entre eles. Harmonia não significa passividade. Os assuntos colocados em pauta não ne-cessariamente representam a vontade

soberana do presi-dente da Câmara dos Deputados, mas são resultan-tes dos vetores das distintas forças que existem dentro da-quela Casa. Nesse contexto, entendo que o presidente da Câmara, Edu-ardo Cunha, tem desempenhado o papel institucional que lhe cabe.

NORDESTE – Na sua op in ião , o vice-presidente M i c h e l Te m e r cumpre à altura a acumulação de m i s s õ e s c o m o Vice e Ministro da 58

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Relações Institu-cionais?

Alves: O vice --presidente Michel Temer é um po-lítico experiente. Presidiu a Câma-ra por três vezes. Desde que assumiu o comando da ar-ticulação política tem trabalhado bastante e conse-guido resultados expressivos para o governo na relação não apenas com o PMDB, mas com os demais partidos da base aliada. A sensibilidade de Michel, não tenho dúvidas, agrega valor ao governo e ele cumpre à altura a acumulação das missões de vice-presidente e coordena-dor da área política.

NORDESTE – Volta e meia a Oposição fala em Impeachment, agora advinda com as pedaladas no TCU. O senhor acredita que haja clima para afasta-mento de uma presidenta eleita pelo voto?

Alves: Muito já se foi dito sobre des-montar os palanques. As eleições aca-baram e é hora de todos trabalharem pelo Brasil. Quando a oposição é res-ponsável, construtiva, ela é fundamen-tal para o aprimoramento do governo. Defender a bandeira do impeachment por oportunismo e sem base legal não ajuda em nada o país e a democracia.

NORDESTE – Qual o papel e/ou estra-tégia que seu mandato cumpre no trato de políticas voltadas aos 9 estados do Nordeste? O que o Rio Grande do Norte deve obter com sua inserção no coman-do do Ministério?

Alves: O Nordeste é uma região ex-tremamente importante para o turis-mo brasileiro. Pesquisa realizada pelo

Ministério do Turismo mostra que aproximadamente quatro entre cada dez brasileiros, entre os que pretendem viajar pelo Brasil nos próximos seis meses, querem ir para algum destino da região. Trata-se, portanto, de um conjunto de estados estratégicos e que merecem especial atenção. Esse fato pode ser medido em números. Desde a criação do Ministério do Turismo, a pas-ta destinou R$ 8,7 bilhões para obras de infraestrutura turística em todo o Brasil. Desse montante, R$ 4 bilhões foram para o Nordeste, grande parte graças ao esforço dos parlamentares da região, que entendem a importância do turismo e destinam as suas emendas para o setor. O Rio Grande do Norte tem diversos atributos que o credenciam a pleitear recursos no Turismo. Como ministro, tenho o compromisso de analisar todos os projetos que chegam à pasta com critério e atenção, sempre com foco no desenvolvimento regional.

NORDESTE – Como os políticos de seu estado tratam a disputa pelo HUB da Latam? Tem unidade em torno desta conquista ou não?

Alves: O HUB da Latam tem potencial

para mudar completamente o local onde ele for instalado. Vai gerar emprego e renda de forma rápida e inclusiva. Por isso, como não poderia deixar de ser, as lideranças de cada estado uniram forças para defender que o HUB seja constru-ído na sua região. Como ministro, en-tendo que a decisão do local é técnica e cabe à companhia aérea. O importante é parabenizar a TAM pela escolha do Nor-deste. Esse investimento é fundamental para a região como um todo.

NORDESTE – Por fim, como é conviver com um governo em seu estado, não alinhado, e com posições políticas dife-rentes, antagônicas?

Alves: Os homens públicos devem saber deixar as disputas pessoais de lado quan-do está em jogo o interesse maior da po-pulação. Mesmo que exista divergência no campo político, há consenso sobre a importância do turismo para o desenvol-vimento econômico do Rio Grande do Norte. Prolongar as disputas eleitorais e prejudicar a administração pública não é uma postura republicana. Sempre vou trabalhar alinhado com os interesses legítimos do meu estado independente de quem ocupe o governo local.

“o nordeste é uma região extremamente importante para o turismo brasileiro. pesQuisa realizada pelo ministério do turismo mostra Que aproximadamente Quatro entre cada dez brasileiros, entre os Que pretendem viajar pelo brasil nos próximos seis meses, Querem ir para algum dos nove destinos”

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Esporte

Escândalo envolvendo a FIFA e principais dirigentes da América Latina expõe corrupção no futebol

fifa: CoRRupÇão endêmiCa

Federação Internacional do Futebol (FIFA – da sigla Fédération Internationale de

Football Association) parece viver seu inferno astral. Em maio uma operação deflagrada pelo FBI prendeu na Suíça sete executivos da Instituição. Todos acusados pelo Departamento de Justiça dos Estados Unidos por corrupção.

Foram presos José Maria Marin ex--presidente e atual vice da Confede-ração Brasileira de Futebol (CBF), o presidente da Confederação de Futebol das Américas do Norte, Central e do Caribe (Concacaf) e vice-presidente da Fifa, Jeffrey Webb, das Ilhas Cayman. Também foi preso o uruguaio Eugenio Figueredo, vice-presidente da Fifa e presidente interino da Confederação Sul-Americana de Futebol (Conme-bol), e os chefes das federações de futebol da Venezuela, Rafael Esquivel, e da Costa Rica, Eduardo Li.

Os tentáculos da corrupção também atingiram o campo do marketing do futebol, já que foram acusados exe-cutivos de três empresas líderes do setor na região: a brasileira Traffic e as argentinas Full Play Group e Torneos y Competencias.

Com a deflagração do escândalo, o presidente da entidade, Sepp Blatter, anunciou sua renúncia ao cargo, pouco depois de ter tido mais uma vez ganho a eleição, mas só deixará o cargo quando houver uma nova eleição, provavel-mente em dezembro. Algumas estrelas do esporte já se lançaram candidatos, entre elas os ex-jogadores Michel Pla-tini, atual presidente da UEFA e Zico, atualmente técnico do FC GOA, time indiano.

O desejo dos amantes do futebol é que o escândalo sirva para que haja uma profunda transformação na li-derança do futebol, principalmente

A

FBI anuncia investigação e prisão de dirigentes da FIFA por

envolvimento em corrupção

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A CPI do Futebol deve ser instalada antes do recesso parlamentar (dia 18 de julho), segundo promessa do presidente do Senado Renan Calheiros (PMDB). A intenção é que a CPI troque informações com a PF, Ministério Público e Ministério da Justiça para aprofundar as investigações a respeito das denúncias de corrupção na CBF e da Fifa.

Autor do pedido de criação da CPI, o senador Romário (PSB-RJ) é o organizador da reunião. O parlamentar se reuniu com o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, para pedir apoio da Procuradoria nas investigações.

latino-americano. A presidente Dilma Rousseff (PT) acredita na mudança. Para Rousseff a investigação irá "bene-ficiar o Brasil" e contribuir para a pro-fissionalização do futebol. O governo resolveu abrir na Polícia Federal sua própria investigação sobre corrupção no futebol. A investigação também deve ser feita por uma CPI mista no Congresso que já está colhendo assi-naturas para sua abertura.

Ao que tudo indica, o escândalo na Fifa é uma porta aberta para uma renovação no setor, hoje mais que comandado por cartolas brasileiros e internacionais.

A Medida Provisória (MP) do go-verno que estabelece regras de respon-sabilidade fiscal e de refinanciamento da dívida dos clubes de futebol foi aprovada na Câmara Federal e agora segue para o Senado.

A MP do Futebol trata do refinancia-mento das dívidas fiscais e trabalhistas dos clubes de futebol profissional aos clubes que aderirem o cumprimento de critérios de responsabilidade fiscal e de gestão interna. Os clubes que adotarem a gestão transparente poderão parcelar dívidas em até 240 vezes, com redução de 70% das multas, de 40% dos juros e de 100% dos encargos legais.

mp do futeBol apRoVada

CPI DO FUTEBOL

O texto aprovado na Câmara foi dife-rente do que saiu da Comissão Especial em junho. A bancada da bola articulou para derrubar o texto aprovado ante-riormente, considerado mais duro.

Houve negociação em torno de uma série de itens – basicamente, como a MP 671 propõe um refinanciamento das dívidas dos clubes brasileiros com a União, a discussão acontece em torno das contrapartidas que as agremiações teriam de oferecer para ter acesso a isso.

As dívidas dos clubes brasileiros com a União estão estimadas em R$ 5 bilhões. Entre os pontos que a bancada da bola questionou no texto inicial estavam a exigência de Certidões Ne-gativas de Débitos para participar de campeonatos, a obrigação de investi-mento em futebol feminino e controles restritos de contas, por exemplo.

A questão é que, a despeito de serem intransigentes sobre as contrapartidas, os dois lados tinham urgência na aprovação da MP. Para os clubes, o refinanciamento de dívidas fiscais é ne-vrálgico na sobrevivência da gestão. Em contrapartida, parlamentares alinhados aos ideais do Bom Senso FC veem no mecanismo uma chance única de mudar conceitos de gestão no futebol nacional. A articulação política poste-rior à aprovação do texto na comissão mista conseguiu reduzir sensivelmente as contrapartidas por meio de medida aglutinativa. Havia ainda uma discus-são em torno do colégio eleitoral da CBF, mas a entidade concordou com a inclusão de clubes da Série B e da Série C no processo.

José Maria Marin, ex-presidente da CBF, foi preso na Suiça

Manobra permite aprovação da MP mais dura em comissão especial

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Esporte

Ministro do Esporte, George Hilton, afirma que graves denúncias abrem oportunidades para mudança no futebol do país e garante: Brasil ficará entre 10 maiores nas Olimpíadas de 2016

esCândalo da fifa e futuRo das olimpíadas

Por Paulo [email protected]

Revista NORDESTE: Esse escândalo com a FIFA muda alguma coisa no futebol brasileiro?

George Hilton: O futebol brasileiro é um dos grandes patrimônios que nós temos. Somos pentacampeões e nós queremos aproveitar esse momento de crise mundial do futebol e darmos um exemplo de modernização do futebol através da MP que nós mandamos para o Congresso Nacional (MP 671). A crise é iminente, os clubes enfren-tam dificuldades enormes, do ponto de vista financeiro, e a gente quer que todo esse clima sirva de inspira-ção para que o Congresso Nacional nos ajude a aprovar uma norma que vai definir para os clubes uma nova prática da gestão do futebol.

NORDESTE: Essa MP tem como impe-dir a corrupção no futebol?

Hilton: Ela tem como objetivo colo-car, digamos assim, instrumentos que de certa forma vão obrigar os times a adotar práticas de boa gestão de governança e serem responsabilizados por gestão temerária. Isso é um grande combate e controle a corrupção.

NORDESTE: Quais são os principais pontos da MP que precisam ser apro-vados?

Hilton: Os clubes vão ter acesso ao refinanciamento das dívidas (estimada em R$ 4 bilhões) até 240 meses, mas para isso, eles terão que adotar pontos importantes. Fair Play financeiro: vão ter que pagar os salários dos atletas e funcionários em dia. Fair Play Traba-lhista: eles precisam pagar os impostos e encargos. O clube não pode compro-meter mais do que 70% da sua receita no futebol profissional. O clube deverá também investir parte desses 30% no futebol de base e no futebol feminino. 62

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Outra coisa é que os clubes não poderão comprometer receitas das novas gestões. Ou seja, um atual dirigente não pode comprometer receitas que são oriundas de direito de imagem, direito de fornece-dores para gestão futura. Ele precisa fazer isso enquanto ele estiver na sua gestão, para que não comprometa a gestão do outro. Além das questões que envolvem a divulgação, tornar transparente através de balancete as movimentações financeiras, pagamento. Todas as prestações de contas terão que ser transparentes. E os clubes que não adotarem, não cumprirem essas contrapartidas sofrerão sanções, entre elas o rebaixamento.

NORDESTE: A MP tem tido resistência da CBF de um lado, e por outro lado, o Bom Senso Futebol Clube queria am-pliar as solicitações da MP. Como está sendo feito esse jogo no Congresso?

Hilton: Quando nós elaboramos a proposta tivemos um debate muito amplo com todos esses segmentos. Desde a CBF, aos clube da série A, B, C e D. Conversamos também com o Bom Senso Futebol Clube. Conversa-mos com os presidentes das federações dos estados. Discutimos até com os cronistas esportivos. Foi um debate muito amplo. O texto que mandamos foi fruto de todas essas conversas. É claro que o parlamento tem legitimi-dade para fazer os aprimoramentos que achar necessário. Mas nós enten-demos que a proposta vai mesmo ao encontro da necessidade dos clubes de ter o refinanciamento e de nós que queremos que nesses clubes não haja um quinto refinanciamento. O objetivo ao exigir essas contrapartidas é evitar que os clubes voltem a entrar naquele ciclo vicioso pela má gestão e acabem tendo a necessidade de fazer um outro refinanciamento.

NORDESTE: O senhor já defendeu que o Campeonato Brasileiro deveria ser

disputado no sistema de ligas, como seria essa proposta?

Hilton: A partir do momento que os clubes comecem a adotar essas práti-cas de boa governança e eles entende-rem que o órgão maior, que é a CBF, está criando qualquer obstáculo... Hoje existe um debate muito grande no Congresso, que quando o texto da MP inclui a CBF para que ela tenha que cumprir essas contrapartidas, existe uma corrente de gente que acha que é uma interferência indevida do Estado na CBF. Então a gente propôs que os clubes que vão fazer parte do refinanciamento tenham também a liberdade de constituir uma liga para elaborar os campeonatos, tanto o brasileiro, quanto os regionais.

NORDESTE: Isso tira força da CBF?

Hilton: Não tira força... Eu defendo, inclusive, a exemplo do que acontece na Europa, que as confederações bra-sileiras cuidem da seleção brasileira. Os campeonatos seriam feitas por ligas nacionais. É um modelo que deu certo na Europa. Quer dizer, a CBF tem um protagonismo muito grande com a Copa do Mundo, Copa América, Copa das Confederações. Há uma cobrança, inclusive, de que a base que é feita

dentro do âmbito da Seleção Brasileira depois não é convocada para partici-par dos eventos. Então, eu acho que a CBF poderia ser um grande celeiro de craques, objetivando sempre os jogos da seleção. Uma liga nacional poderia ter um protagonismo muito maior e os clubes teriam muito mais entusiasmo.

NORDESTE: O zico anunciou nas redes sociais que ele seria um candidato possível para a Fifa. Como o senhor vê essa candidatura?

Hilton: Seria excelente. O Zico é uma das maiores personalidades que temos no mundo do esporte, futebol, da política. Foi ministro do Esporte. Zico é um homem comprometido com a causa do futebol. Não teve a

“o fuTeBol Brasileiro é um dos grandes PaTrimônios que nós Temos. somos PenTacamPeões e nós queremos aProveiTar esse momenTo de crise mundial do fuTeBol e darmos um exemPlo de modernização do fuTeBol aTravés da mP”

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“nós esTamos com o Programa Bolsa aTleTa e denTro do Bolsa aTleTa criamos o Bolsa Pódio, jusTamenTe Para que esses aTleTas de alTa Performance Tenham Toda a PreParação. exisTe uma equiPe mulTidisciPlinar, Técnicos, fisioTeraPeuTas, nuTricionisTas, Psicólogos, dando Toda a devida aTenção e PreParação Para esses aTleTas e com isso nós acrediTamos que o Brasil esTará enTre os 10 no Pódio dos jogos olímPicos”

alegria de ter ganhado uma Copa do Mundo, mas deixou um legado impressionante e tenho certeza que teria con-tribuições enormes para dar ao futebol mundial.

NORDESTE: Mudando de as-sunto. O que podemos esperar das Olimpíadas de 2016?

Hilton: Serão as maiores dos últimos anos. Pode ter certeza que vai superar Londres (17 medalhas), vai superar Pequim (15 medalhas), porque nós estamos muito focados. Existe hoje um investimento muito grande do governo federal na preparação dos atletas. Foi investido R$ 1 bilhão de reais na construção de centros de iniciação ao esporte, centro de for-mação olímpica, paraolímpica. Nós vamos entregar em São Paulo um centro de Formação Paraólimpica que é de excelência. Em Fortaleza vamos entregar o Centro de Formação Olím-pica. Nós estamos com o programa Bolsa Atleta e dentro do Bolsa Atleta criamos o Bolsa Pódio, justamente

para que esses atletas de alta perfor-mance tenham toda a preparação... existe uma equipe multidisciplinar, técnicos, fisioterapeutas, nutricionis-tas, psicólogos, dando toda a devida atenção e preparação para esses atle-tas e com isso nós acreditamos que o Brasil estará entre os 10 no pódio dos Jogos Olímpicos e entre os cinco do Paraólimpico, já que o Paraolímpico tem tido um desempenho maior até que os Olímpicos (Nas Olimpíadas de Londres o Brasil ficou em 22º lugar no pódio geral, nas Paraolimpíadas ficou em 7º, com 43 medalhas).

NORDESTE: De quanto é a Bolsa Pódio?

Hilton: Ela começa em R$ 3,5 mil e pode chegar a R$ 15 mil.

NORDESTE: Apenas para os atletas de ponta?

Hilton: Somente para aqueles que têm chances reais de chegar ao pódio.

NORDESTE: E o investimento para aqueles que estão começando?

Hilton: O Bolsa Atleta hoje tem 7 mil atletas de todo país sendo treinados, com investimentos que começam no atleta de base, R$ 370 reais, e chega

até o atleta olímpico com R$ 3,5 mil.

NORDESTE: Depois das Olimpíadas de Londres, o Brasil conseguiu aumentar o número de atletas com boa possibi-lidade de medalhas?

Hilton: Tanto é que nós tivemos de-pois das Olimpíadas de Londres vários eventos internacionais e os nossos atletas têm tido um desempenho mui-to acima do esperado. O que nos leva a acreditar que vamos ter muitas sur-presas. Principalmente no Handebol, que agora ganhou o Pan-Americano em cima dos cubanos. Nós estamos com uma expectativa muito grande na canoagem, que vem tendo um desempenho muito bom. O arco e flecha revelou o Marcos Vinícius, um menino que tem tido um desempenho muito grande. Além destes, temos o Vôlei, o Basquete, o Judô e a grande expectativa nossa que é que o futebol nos dê a primeira medalha de ouro. Tanto o futebol masculino, quanto o feminino. Então a gente tem tudo para ter um desempenho muito grande no próximo ano.

NORDESTE: Quais as próximas pers-pectivas de investimento no esporte?

Hilton: Nós temos o Sistema Nacional 64

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“nós Temos o sisTema nacional de esPorTe, que é uma lei de direTrizes e Bases que vai Transformar definiTivamenTe a PráTica esPorTiva no Brasil em algo Perene. não vai ficar dePendendo de ciclos. essa é uma lei imPorTanTe Porque vai seguir os mesmos moldes da educação. você vai Ter invesTimenTos sendo adminisTrados Pela união, esTados e municíPios, no Poder PúBlico”

de Esporte, que é uma Lei de Diretrizes e Bases que vai transformar definitiva-mente a prática esportiva no Brasil em algo perene. Não vai ficar dependendo de ciclos. Essa é uma lei importante porque vai seguir os mesmos moldes da educação. Você vai ter investimentos sendo administrados pela União, Es-tados e Municípios, no poder público. No setor privado, com as federações e clubes. Vamos definir também que a iniciação ao esporte se dará na escola, através da Educação Física obrigatória

em todas as escolas desse país. Isso vai desenvolver a cultura em nossos filhos, como era no passado em que você ia para escola, estudava e praticava educação física. Isso a médio e longo prazo vai transformar esse país numa nação que pratica o esporte de forma sustentável com planos decenais inclu-sive, há cada dez anos sendo votado no Congresso Nacional.

NORDESTE: A grande reclamação dos atletas iniciantes é que eles precisam ter um emprego para se sustentar e não conseguem manter o treinamento para alcançar os índices mínimos. Esse Sistema vai conseguir, junto com o Bolsa Atleta, resolver essa questão?

Hilton: O Sistema tem que definir também fontes de fomento, para que

na iniciação o atleta não precisa aban-donar a escola e não precise sair da sua ci-dade. Porque o que aconte-ce hoje? Mui-tos são obriga-dos a sair das suas cidades porque não têm espaços a d a p t a d o s , próprios, para a sua inicia-ção. Muitos g a r o t o s d a Paraíba vão para o Rio de Janeiro, São

Paulo, Porto Alegre. O que nós quere-mos é estabelecer essa rede nacional, que será parte desse legado, porque além do Sistema Nacional, você tem que ter também a Rede Nacional de Treinamento. Com esses equipamen-tos espalhados pelo país as chances do atleta se firmar na sua cidade, região, poder estudar, trabalhar, praticar e ter a iniciação será a base principal do sistema nacional.

NORDESTE: Quando isso estará fun-

cionando efetivamente?

Hilton: Já está sendo elaborada a pro-posta. Ela foi fruto de três conferências nacionais que o Ministério dos Espor-tes fez. Existe uma parceria com várias universidades federais de todo o país. Acadêmicos trabalham dia e noite elaborando o texto. Criamos agora um grupo de trabalho lá no Ministério que está elaborando e avaliando a minuta. Criamos uma comissão interministe-rial com o Ministério da Educação, já que vai tratar da educação física nas escolas, o ministro da educação Janine Ribeiro foi muito solícito. Eu quero entregar isso para o Congresso Nacional até setembro deste ano, justamente para a gente aproveitar esse momento do ciclo virtuoso do esporte no brasil.

NORDESTE: Quer acrescentar mais algumas coisa?

Hilton: Eu quero dizer que a Paraíba me surpreendeu. Eu vi nos paraibanos e vi também no governo do estado através da reforma do Ronaldão, do Almeidão e na Vila Olímpica, que é importante que a gente dê transversali-dade a política do esporte. Ela não pode ser uma política de um governo, de um partido. Ela precisa ser uma política de estado e quero encontrar em outros es-tados aqui do Nordeste essa disposição dos governos de fazer parceria com a gente. Anunciamos agora recursos para compra de equipamentos. Ou seja, esporte tem que ser uma política de prevenção. Se ela for praticada com seriedade, com responsabilidade, serão menos crianças nas drogas, menos crianças com doenças provenientes da obesidade. Nós teremos uma sociedade mais tolerante, porque a prática espor-tiva disciplina. Torna o ser humano mais sociável, mais humano. Pensar no esporte não apenas como atividade de lazer e business, pensar no esporte como um grande indutor da formação do ser humano e também nas relações interpessoais. É isso que eu penso para o meu país e vou trabalhar toda a mi-nha gestão para a gente tornar isso real e transversal em todo o país. 65

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Cultura

Bandas “Lucas e Orelha” e “Dois Africanos” despontam no cenário nacional após sucesso em apresentações de reality show

cenário musical brasileiro é dinâmico. Este movimento permitiu que as bandas “Lucas

e Orelha”, e “Dois Africanos”, saltassem, após 14 semanas de exposição na mí-dia, do quase total anonimato para o reconhecimento nacional.

Liderada pelos dois integrantes mais jovens do re-ality musical Su-perStar, Lucas, de 19 anos, e Rick (conhecido como Orelha), de 17, a banda “Lucas e Orelha” emocionou e divertiu boa parte do público ao longo da competição. O grupo de funk melody foi formado na Bahia em 2015 e, no Car-naval, chegou a se apresentar com Tuca Fernandes em Salvador. “Lucas e Orelha” acabou eleita a banda vencedora da segunda temporada do reality da Globo.

Com uma pegada alegre e músicas au-torais, os baianos superaram rivais, como as novas bandas integrantes do rock nacional, Scalene e Versalle, e o rap da banda “Dois Africanos”. Ivete Sangalo e Carlinhos Brown parabenizaram a dupla baiana após vitória no programa, que teve uma temporada com acusações de uso de playback.

A história dos africanos é um pouco mais novelesca. Eles se conheceram em João Pessoa quando vieram fazer inter-câmbio nas universidades da Paraíba e Ceará em 2012. Opai BigBig, natural do Benin, e Izy Mistura, do Togo, estudam na Universidade Federal da Paraíba e Universidade Federal do Ceará, res-pectivamente, mas passaram um tempo

“Lucas e Orelha” (acima) ganha reality, mas visibilidade atinge também “Dois Africanos”, que já tem álbum gravado

na capital paraibana em processo de adaptação da língua e da forma de vida. Vendo a desenvoltura melódica e carisma dos dois, uma professora sugeriu que eles poderiam montar uma banda. Assim, ao lado de músicos paraibanos, eles forma-ram a banda “Dois Africanos”. As roupas coloridas, a descontração e o swing, alia-dos a capacidade vocal, fizeram do grupo um das grandes atrações da programação dominical da “vênus platinada”.

No entanto, antes de migrarem para o Brasil, BigBig e Izy já não se conheciam e tocavam em seus países. O estilo do grupo pode ser definido como World Hip-hop, influenciado por culturas e vertentes mu-sicais de todo o mundo, uma mistura de rap, R&B e ritmos africanos. As origens dos vocalistas pode ser facilmente identi-ficada nas letras feitas em inglês, francês, português e algumas línguas faladas na África - como Mina e Fon.

No ano de 2013, a dupla lançou o clipe da música “Eu sou de lá”, gravada no Centro Histórico de João Pessoa,

principal acervo arquitetônico da Paraí-ba e marcado pelos casarões coloniais e construções com características barrocas, edificadas a partir da mão de obra de escravos africanos. A letra fala sobre as dificuldades e sonhos de quem vive além-mar. “Calor de um continente/Trago lembranças pesadas na mente. Cada sonho tem um preço/ O meu me fez deixar minha terra, o meu lindo reino”, dizem dois trechos da canção.

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