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2016 RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE ANGOLA Centro de Estudos e Investigação Científica

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RELATÓRIOECONÓMICODE ANGOLA

UNIVERSIDADE CATÓLICA DE ANGOLACentro de Estudos e Investigação Científica

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TÍTULORelatório Económico de Angola 2016

AUTORUniversidade Católica de Angola

EDITORUniversidade Católica de AngolaRua Pedro de Castro Van‑Dúnem, 24,Bairro Palanca, C.P. 2064 LuandaWeb site: www.ucan.eduEmail: [email protected]

PRÉ‑IMPRESSÃOLeYa, SA

CAPALeYa, SA

IMPRESSÃO E ACABAMENTOSCEMLUANDA, JUNHO DE 2017 • 1.a EDIÇÃO 1.a TIRAGEM (1000 exemplares)Registado na Biblioteca Nacional de Angola sob o n.o 7954/2017

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CENTRO DE ESTUDOS E INVESTIGAÇÃO CIENTÍFICA DA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE ANGOLA (CEIC/UCAN)

RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2016

PATRONO – D. José Manuel Imbamba, Magno Chanceler da Universidade Católica de Angola

DIRECTOR DO CEIC – Alves da Rocha

COORDENADORES – Alves da RochaRegina SantosCarlos VazFrancisco PauloPrecioso DomingosFernando PachecoAna Duarte (Instituto Superior Politécnico Lusíada de Benguela)Vissolela Gomes

COM A COLABORAÇÃO DO CHRISTIAN MICHELSEN INSTITUTEAslak OrreOdd‑Helge FjeldstadJan Isaksen

CENTRO DE ESTUDOS E INVESTIGAÇÃO CIENTÍFICA

INVESTIGADORES PERMANENTES Alves da RochaFrancisco PauloNelson PestanaOsvaldo SilvaPrecioso DomingosRegina SantosCláudio FortunaCarlos VazVissolela ChivundaEsperança Tchili

INVESTIGADORES COLABORADORESAlbertina DelgadoCarlos LeiteEduardo SassaFernando PachecoLuís BonfimGilson LázaroJosé OliveiraCarlos PintoMargareth Nanga

ADMINISTRAÇÃO E FINANÇASMargarida TeixeiraLúcia CoutoEvadia KuyotaAfonso Romão

Website do CEIC: www.ceic ‑ucan.org

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ÍNDICE

APRESENTAÇÃO ................................................................................................................... 7

INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 11

1. A economia mundial e o enquadramento externo da economia angolana .................... 16

2. Política orçamental ........................................................................................................... 192.1 Os efeitos económicos da política orçamental ............................................................ 192.2 O conteúdo do OGE 2016 e a sua execução. A influência do ciclo negativo

do preço do petróleo ................................................................................................... 362.3 Some more considerations on tax reform in Angola ................................................... 41

3. O sector monetário ........................................................................................................... 563.1 Introdução .................................................................................................................... 563.2 Objectivos da política monetária, condições para a sua eficácia e canais

da sua transmissão. ...................................................................................................... 593.3 A dimensão económica do sector financeiro nacional ................................................. 653.4 As relações entre a política monetária e a política orçamental e a necessidade

da sua consideração para a sua definição concreta. .................................................... 66

4. Nível geral da actividade económica ................................................................................ 704.1 Enquadramento geral .................................................................................................. 704.2 Produto Interno Bruto: uma análise geral ................................................................... 734.3 Análise sectorial do Produto Interno Bruto ................................................................. 88

4.3.1 Agricultura, pecuária e florestas ......................................................................... 884.3.1.1 Comportamento da produção ................................................................ 884.3.1.2 As políticas agrárias ................................................................................ 105

4.3.2 Indústria transformadora ................................................................................... 1114.3.2.1 Comportamento da produção ................................................................ 1124.3.2.2 As políticas industriais ............................................................................ 125

4.3.3 Construção e obras públicas ............................................................................... 1264.3.3.1 Comportamento da produção ................................................................ 126

4.3.4 Transportes ......................................................................................................... 1304.3.4.1 Considerações gerais ............................................................................... 130 4.3.4.2 A prestação de serviços de transporte .................................................... 132 4.3.4.3 As políticas de transportes ..................................................................... 133

4.4 O sector externo .......................................................................................................... 140

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5. Análise da competitividade da economia angolana ........................................................ 1525.1 A libertação dos mercados e as reformas administrativas como impulsionadoras

do crescimento económico .......................................................................................... 1525.2 A competitividade de Angola na CEEAC e na África Subsariana ................................... 158

6. Pobreza, desigualdade e desenvolvimento humano ....................................................... 1796.1 Introdução .................................................................................................................... 1796.2 A pobreza em Angola .................................................................................................... 1816.3 Desigualdade de rendimentos e de riqueza e o Índice de Desenvolvimento Humano .... 186

7. Emprego e produtividade ................................................................................................. 1957.1 Introdução .................................................................................................................... 1957.2 Salários e desemprego ................................................................................................. 1997.3 Estimativas do desemprego e do valor da produtividade ............................................ 2047.4 Políticas públicas de emprego e formação profissional ................................................ 211

8. Perspectivas de crescimento ............................................................................................ 2138.1 Introdução .................................................................................................................... 2138.2 A economia mundial e dos principais parceiros económicos de Angola ...................... 2158.3 A economia angolana ................................................................................................... 219 8.3.1 Aspectos gerais ................................................................................................... 219 8.3.2 Os factores de risco ............................................................................................. 222 8.3.3 Os quadros de referência do Governo ................................................................ 224 8.3.4 As previsões ....................................................................................................... 226

9. A posição de Angola em diferentes índices internacionaiso ............................................ 229

10. Recapitulação dos principais acontecimentos económicos de 2016 ............................. 241

11. Monografia da situação económica da província do Moxico ........................................ 24711.1 Caracterização geográfica, administrativa e demográfica ......................................... 24711.2 Diagnóstico dos sectores económicos ...................................................................... 249 11.2.1 Agricultura, silvicultura, pecuária e pescas .................................................... 250 11.2.2 Geologia, minas e indústria ........................................................................... 265 11.2.3 Comércio e turismo ....................................................................................... 267 11.2.4 Construção, infra‑estruturas e transportes ................................................... 270 11.2.5 Energia e águas .............................................................................................. 27511.3 Diagnóstico estratégico da dimensão económica da província do Moxico ............... 27611.4 Conclusões e recomendações ................................................................................... 278

BIBLIOGRAFIA ...................................................................................................................... 283

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Angola encontra‑se, uma vez mais, numa encruzilhada tremenda. A transição da economia centralizada, ineficiente, planificada, burocrática e administrativa para a economia de mercado dependeu de nós próprios e foi uma opção política perante a ineficácia de resultados dos anos de socialismo. A transição da guerra para a paz dependeu igualmente de esforços internos – mais ou menos violentos – ainda que com envolvimento de uma parte da comunidade interna‑cional. A transição de um sistema político de partido único para um outro multipartidário foi, da mesma forma, uma construção dos angolanos, ainda que se não possa falar de completa democracia (os índices internacionais classificam o regime político de Angola de autoritário).

A viragem da presente situação financeira e económica do país – grave, séria, de fundamentos ainda não totalmente explicados por quem politicamente o devia fazer – já não depende de nós mesmos, mas da conjuntura internacional do preço do petróleo e da capacidade de contracção de empréstimos externos para financiar os avultados e crescentes défices orçamentais, financei‑ros e económicos. Pode estar a acontecer o fim do ciclo do petróleo em Angola, sem modelos de crescimento alternativos a curto prazo. O que leva a questionar: fim de ciclo, começo de quê?

A diversificação da economia está em marcha, na opinião do Governo, do MPLA e de alguns empresários. Evidentemente que a diversificação sempre esteve em movimento, porque o esta‑do normal das economias é crescer e diversificarem‑se. Normalmente, a diversificação econó‑mica (especialmente das exportações) é um processo demorado e exigente em disponibilidades financeiras (internas e externas), capital humano, capital social (competição na base de salários altos e preços baixos é o desafio a ser vencido, o que passa pela educação), produtividade, com‑petitividade, Estado e Governo eficientes e limpos de corrupção e de tráfico de influências e de capacidade empresarial. A diversificação intensifica o crescimento, oportuniza mais emprego e pode ser magnânima com os salários. Assim sendo, a diversificação pode ser o começo e a vira‑gem: começo de quê, viragem para onde?

Fim de ciclo e viragem de estratégia num ambiente social muito difícil, muito provavelmen‑te até, pelo menos, 2020. Porquê? A degradação das condições de vida da grande maioria da população é evidente, pois a situação financeira é de carência de recursos, a económica é de aumento do desemprego e retracção do crescimento da produção e inexistem mecanismos de mitigação social dos efeitos da crise. O ponto de acumulação destas disfuncionalidades é a desi‑gualdade de rendimentos e de riqueza, que, de acordo com determinados indicadores, não tem diminuído e segundo outros índices até tem piorado, sendo de esperar que os efeitos da crise

APRESENTAÇÃO

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agravem a disparidade de salários, rendimentos e riqueza. Assim, se a diversificação é uma vira‑gem, cabe perguntar: ao serviço de quem?

As perguntas anteriores – fim de ciclo, começo de quê/começo de quê, viragem para onde/ /viragem para onde, ao serviço de quem – cabem perfeitamente bem no processo de transi‑ção política pós‑José Eduardo dos Santos. O ano de 2016 marca o início do fim do ciclo político de um Presidente da República que esteve no poder durante 38 anos e que deixa o país numa encruzilhada crítica, do ponto de vista financeiro, económico e sobretudo social. O PIB por habi‑tante em 2016, de pouco mais de USD 3500 (menos de USD 10 por dia), retrata bem alguns dos insucessos/atrasos económicos (dos quais os mais importantes são do domínio das reformas estruturais de mercado) registados e que tiveram consequências sociais indeléveis sobre as condições de vida da grande maioria da população. O seu ciclo político chega ao fim, mas não o do regime por si fundado, com o apoio persistente do seu partido. Ou seja, começa um novo ciclo político com um novo Presidente da República, esperando‑se que o novo modelo seja mais democrático, mais comprometido com a população e o combate à pobreza, mais desenvolvi‑mentista, mais aberto a propostas de outros modelos de gestão económica e social que tenham como ponto forte a inclusividade das políticas.

Um modelo social de mercado – modelo muitas vezes repetido pelo Presidente cessante em diversas intervenções públicas, durante o seu mandato – tem elementos económicos e sociais que se devem conjugar, através de políticas públicas diferentes, mas eficientes e eficazes, no sen‑tido do progresso social da maioria esmagadora da população. A expressão “crescer mais, para distribuir melhor” do Programa Eleitoral do MPLA de 2012 pode ter sido uma boa aproximação desta necessária e importante conjugação entre os elementos económicos e sociais de um siste‑ma de economia de mercado. Mas em Angola falhou completamente: o país nem cresceu mais (pelo contrário, em 2015 e 2016, segundo as Contas Nacionais, registou‑se não apenas uma assi‑nalável quebra dos ritmos de crescimento do PIB, como se deu conta de episódios de recessão económica), nem se distribuiu melhor. Os coeficientes medidores da pobreza e da distribuição primária do rendimento nacional têm vindo a piorar, sendo preocupante como 60% da popula‑ção pode viver com menos de USD 2 por dia com uma taxa de inflação superior a 40% em 2016.

Dir‑se‑á que a abrupta e continuada queda do preço do petróleo é a razão essencial explica‑tiva da actual crise. Mas não é verdade. O abaixamento do preço do barril de petróleo só veio pôr a nu as falhas de gestão económica num país que foi capaz de gerar cerca de USD 580 mil milhões de receitas de exportação do petróleo. Como se disse anteriormente, a mais importan‑te prioridade definida pelo MPLA foi a da acumulação primitiva de capital e a criação de uma burguesia nacional capaz de disputar o poder financeiro às empresas estrangeiras existentes e comprando activos mobiliários e imobiliários nas praças estrangeiras e deixando o país sem USD 29 mil milhões colocados no exterior a título de transferências de capitais1. Para além de se

1 Carlos Rosado de Carvalho – Editorial do Semanário Expansão de 3 de Março de 2017: “Os investi‑mentos angolanos no estrangeiro e os maridos que comem fora de casa”.

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não terem feito as reformas estruturais fundamentais, os próprios angolanos não têm confian‑ça em si, nem no seu país. Estará a futura nova liderança do país interessada e capaz de mudar radicalmente este status quo?

Admitindo que esta viragem pode acontecer, a dúvida seguinte é “ao serviço de quem”? Os resultados do intenso crescimento económico ocorrido entre 2002 e 2008 foram distribuídos de uma forma muito desigual e o IBEP 2008/2009 revelou que 60% do PIB (ou do rendimento nacional) foram captados por menos de 20% da população. A inaceitável e inexplicável crise nos hospitais ocorrida no final de 2015 e em 2016 é prova cabal de que o domínio social da econo‑mia angolana tem sido o parente pobre do crescimento económico, não colhendo a justificação oficial de que o Orçamento de Estado tem conferido verbas crescentes para o seu funcionamen‑to e gestão. Ainda que possa ser verdade em termos puramente aritméticos, a questão funda‑mental é a da sua eficiência. A questão colateral é a da corrupção que grassa todos os serviços sociais do país. Que margem política o futuro Presidente da República terá para mexer e atra‑palhar os poderosos interesses aqui instalados?

No entanto, as mudanças são sempre de saudar e apoiar. Para isso é necessário que a nova liderança do país se abra a novas ideias, formatos e modelos.

Foi então neste contexto de expectativas de mudanças e de incerteza que o ano económico de 2016 se desenrolou, apresentando um desempenho final reconhecidamente recessivo – uma taxa de crescimento do PIB de ‑3,6% – com consequências sociais muito adversas para a grande maioria da população, que não dispõe de meios que lhe permitam sobreviver em con‑dições minimamente dignas.

O Relatório Económico de 2016 manteve, no essencial, a mesma configuração da de anos anteriores, tendo, no entanto, reforçado os enfoques monetário e orçamental da política do Governo, na medida em que são as duas áreas por onde os ajustamentos estruturais terão de passar, para se criarem novos fundamentos macroeconómicos que possibilitem a passagem a um modelo novo de crescimento, para lá do petróleo.

O Relatório Económico de 2016 não aborda a temática sobre a diversificação da economia, porque mantêm‑se as análises e conclusões avançadas em documentos semelhantes prece‑dentes, reforçadas no livro Estudos Sobre a Diversificação da Economia Angolana, lançado no dia 13 de Março de 2017 na UCAN (resultado de um projecto de pesquisa específico sobre o tema). No entanto, os investigadores do CEIC e do CMI (nossos parceiros neste projecto de pes‑quisa) mantêm que a diversificação da economia – a única forma de aumentar a capacidade de resiliência da economia nacional e de densificar a malha de relações inter e intra‑sectoriais (os famosos clusters) – é a grande reforma estrutural que deve ser posta em prática rapidamente, em moldes serenos, pensados e racionais, pois os resultados exigem tempo e muito dinheiro e para que sejam sustentáveis e endogeneizáveis, apelativos de capital humano nacional.

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Criou‑se um capítulo novo (na circunstância, o sexto) para se tratar, mesmo que de modo resumido, a situação social da população, num contexto de abaixamento sistemático do valor do rendimento médio por pessoa desde 2013. O capítulo intitula‑se “Pobreza, desigualdade e desenvolvimento humano”.

A análise da competitividade é apresentada através de um estudo comparativo entre Ango‑la, a SADC, a CEEAC e a África Subsariana. Por intermédio de uma bateria de indicadores macroe‑conómicos relevantes que foi possível quantificar com recurso às estatísticas internacionais (em especial o Regional Economic Outlook, Sub‑Saharan Africa de Abril de 2017, do Fundo Mone‑tário Internacional). O objectivo desta pesquisa, que está prevista no Programa de Actividades do CEIC para 2017, de uma forma bem mais desenvolvida e aprofundada, é a de fornecer con‑tribuições para a próxima adesão de Angola à Zona de Livre Comércio da SADC anunciada para 2019. A questão investigativa é: tem a economia nacional capacidade de se integrar em Zonas de Livre Comércio e competência para disputar franjas dos mercados comunitários de elevada exigência? Os amplos benefícios económicos e sociais associados às economias de escala pró‑prias de mercados alargados e de grande dimensão só poderão ser repartidos de forma relati‑vamente equilibrada entre as partes integrantes se cada uma souber aproveitar, com destreza, as respectivas vantagens comparativas.

Na abordagem sectorial do PIB e apesar de ser o principal responsável pela crise financeira e económica do país – dado que a sua influência na gestão macroeconómica do crescimento ainda é importante e mesmo decisiva, tendo em atenção o seu relevante peso nas exportações – e ainda o único produto que verdadeiramente conta para o saldo da balança comercial, deci‑diu‑se retirar do Relatório Económico a análise do sector petrolífero e do gás. O Relatório de Energia vai passar a ser o local privilegiado de análise do sector petrolífero, nas suas diferentes vertentes que passarão a constar desse documento do CEIC.

As perspectivas de crescimento da economia angolana, apresentadas no capítulo 8, foram elaboradas na base do modelo estrutural existente no CEIC (um modelo IS‑LM‑BP). Como se sabe, existem mais de “ene” projecções sobre a economia nacional. É um cardápio completo de hipóteses, objectivos e políticas. Evidentemente que o MODUCAN, (assim se chama o modelo da Universidade Católica de Angola) se baseia em hipóteses e considerandos próprios, que, em alguns casos, diferem dos admitidos por alguns organismos internacionais. Nesse mesmo capí‑tulo faz‑se uma apresentação resumida do modelo de previsão macroeconómica.

As projecções abarcam o período 2017/2021, fazendo‑se uma comparação com os valores disponibilizados por algumas agências internacionais, especialmente o Fundo Monetário Inter‑nacional.

Resolveu‑se, desta vez, monografar a província do Moxico para completar o ciclo de mono‑grafias das províncias do corredor do Lobito.

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A actual situação financeira de Angola tende a ficar cada vez mais grave, sendo difícil vislum‑brar‑se o que vai acontecer até final da década. Há algumas certezas:

a) Falta estrutural de divisas, devida à queda do preço do barril do petróleo (USD 30, Bloom‑berg 11 Fevereiro 2017) e à inexistência de alternativas sustentáveis de geração de recei‑tas de exportação. A consultora Business Monitor Internacional (BMI) considera que o aumento de produção de petróleo em Angola nos próximos anos e consequente receita de exportação deverá ser insuficiente para compensar os preços baixos que a indústria enfrenta (LUSA, 12 de Fevereiro 2017).

b) Exíguas receitas fiscais do Estado (assiste‑se agora a uma autêntica caça ao imposto, dis‑farçada de campanha de sensibilização cívica quanto à obrigatoriedade de se cumprir com este preceito constitucional, continuando os contribuintes sem saber a quem servirá o seu sacrifício de redução do seu rendimento disponível, já de si exíguo, pois continua a assistir‑se à atribuição de obras públicas de avultadíssimos valores monetários a empre‑sas e empresários fiéis ao regime político e para cujo financiamento os nossos impostos serão seguramente canalizados).

c) Aumento da dívida pública (Estado e empresas públicas, muitas de racionalidade e viabi‑lidade económica duvidosa, apenas persistindo por decisão política e enquanto veículos de tráfico de influências), com um custo diário estimado em 28,5 milhões de dólares (10 400 milhões no final do ano) e cujo montante total pode chegar aos 62,3% do PIB, segun‑do estimativas da Economist Intelligence Unit (da prestigiadíssima Revista Económica The Economist). Dos 10 mil milhões de dólares identificados no OGE de 2015 como financia‑mento externo necessário para cobrir o défice fiscal, 9,5 mil milhões foram praticamente conseguidos e estão a ser ou serão aplicados na construção de duas barragens, da nova marginal, na reconfiguração urbanística de Luanda. No briefing do Africa Monitor de 8 de Fevereiro de 2017 está apresentada a lista das origens deste colossal financiamento (valores em mil milhões de USD): 6 (nova linha da China negociada aquando da última visita do Chefe de Estado àquele país), 1,5 (lançamento do empréstimo obrigacionista em euros, com uma taxa de juro de 9,5% ao ano e uma maturidade de 10 anos), 0,450 (empréstimo do Banco Mundial), 0,500 (empréstimo da Société Général), 0,500 (emprés‑timo do BBVA), 0,250 (empréstimo da Goldman & Sachs) e 0,250 um outro empréstimo concedido pela Gemcorp Capital. Um total de 9450 milhões de dólares. Este montante

INTRODUÇÃO

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destina‑se, como referido, a cobrir o défice fiscal de 2015 e de 2016. O défice fiscal ins‑crito no OGE de 2016 é de 5,5% do PIB, ou sejam, 710,9 mil milhões de kwanzas (cerca de 4,7 mil milhões de dólares). O Fundo Monetário Internacional é mais optimista; 4,1% do PIB ou 3,9 mil milhões de dólares2. No entanto, a busca de novos financiamentos e a contratação de novas linhas de crédito vão iniciar‑se de novo para se compensar a falta de dinheiro do Estado. A desvalorização cambial – aumentando‑se em kwanzas as receitas fiscais petrolíferas – podia ser usada como um instrumento de redução do défice orça‑mental, num cenário de cortes mais ousados, generalizados e profundos das despesas do Estado (não serão excessivos 35 Ministros e 70 Secretários de Estado?) Em 2001 e depois de um processo complexo de reajustamento dos efectivos da Função Pública foi declara‑do, oficialmente, o fim dos funcionários fantasmas, mas parece que voltaram a aparecer e em situações mais descabidas do que no passado. É perfeitamente possível mais aus‑teridade na actividade do Estado sem prejudicar as transferências e as prestações sociais para os mais pobres. Por esta via, o endividamento público podia ser travado, em defesa das gerações futuras, melhor focado em prioridades de investimento público mais racio‑nais e com um efeito de contágio sobre a economia e a sociedade muito maior e vigoroso e podia ser muito mais selectivo, reduzindo o efeito de crowding out. Evidentemente que teria de ser feita uma gestão inteligente do trade‑off com a taxa de inflação.

d) Em quanto pode o país endividar‑se? O que pode significar este crescente endividamento para as gerações futuras e a sua capacidade tributária? Em quanto o seu rendimento dis‑ponível expectável será afectado e, com ele, o seu nível de vida?

e) As taxas de juro para financiamentos internacionais estão a aumentar, podendo tornar incomportável a obtenção de empréstimos externos (fala‑se que o lançamento de novos títulos da dívida pública só será possível a taxas de juro superiores a 10%).

A presente situação económica caracteriza‑se, igualmente, por muitas dificuldades. De um país, que oficial e partidariamente, se dizia com bases económicas sólidas e fundamen‑tos macroeconómicos sustentáveis, passou‑se para uma situação, hoje e futuramente, onde não existe capacidade disponível para se crescer às mesmas taxas anuais médias de um passa‑do ainda relativamente presente. As oportunidades dadas por esse intenso crescimento foram desperdiçadas em proveito da simples acumulação de dinheiro, tendo‑se deixado o sistema produtivo sem bases defensáveis para a fundação de uma outra economia, baseada na agricul‑tura e na criação e maximização do valor agregado interno.

As reformas económicas de mercado – das quais provavelmente a diversificação era a mais relevante – não foram feitas ou foram marcadas por um ritmo lento, numa expectativa, afinal errada, de que o preço do petróleo seria eternamente alto, propiciando receitas fiscais e de

2 Fundo Monetário Internacional – Angola: Consultas de 2016 ao Abrigo do Artigo IV, 7 de Fevereiro de 2017.

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exportação inesgotáveis. Em algum momento do processo de crescimento económico falharam aspectos essenciais para o incremento da produtividade – a base da eficiência e da competi‑tividade e a única fonte não inflacionista de financiamento da melhoria das remunerações do trabalho – tais como, a armadura científica e tecnológica, as novas tecnologias da informação e comunicação, os recursos humanos altamente qualificados, etc. Como já noutras circunstâncias o CEIC tem defendido, faltou visão estratégica para que esta situação fosse evitada, ou, pelo menos, mitigada nos tremendos efeitos sociais que está a desencadear. Há também algumas certezas:

a) Baixa intensidade de crescimento do PIB, pelo menos até 2021 (taxa média anual entre 2017 e 2021 de 1,4%)3. Se não forem criadas outras condições básicas e essenciais para se inverter este ciclo de crescimento económico de baixa intensidade e de desacelera‑ção estrutural da dinâmica evolutiva da economia nacional – que já vai relativamente longo, já que se iniciou em 2009, ainda que com alguns episódios fugazes com taxas de crescimento ligeiramente acima de 4% – então o futuro apresenta‑se sombrio. O cresci‑mento diminuiu significativamente de 2015 para 2016, conforme já anotado, podendo apontar‑se como uma das causas o abrandamento muito acentuado da actividade não petrolífera (de 8,2% em 2014, para 1,5% em 2015 e 1,1% em 2016), dado que os secto‑res industrial, da construção e dos serviços se ajustaram aos cortes no consumo privado e no investimento público num contexto de disponibilidade mais limitada de divisas, e do fraco desempenho da agricultura face ao seu potencial devido a choques da oferta. Receia‑se que em 2017 a situação possa piorar, porque, e ainda de acordo com a análi‑se do Fundo Monetário Internacional: “Os indicadores de actividade económica de alta frequência apontam para um abrandamento mais profundo em 2016, tendo a confiança empresarial atingido os níveis mais baixos já registados no segundo e terceiro trimestres de 2016”4.

b) Encerramento de muitas empresas que não conseguem trabalhar sem importações. Ainda que não se saiba qual o verdadeiro conteúdo importado da produção nacional, tem‑se a desconfiança de que é elevado, porque, entretanto, a agricultura familiar foi devotada à condição de marginalidade no processo de crescimento da economia.

c) Incremento do desemprego, por força do fecho de muitas pequenas e médias empresas, mas igualmente devido ao facto do crescimento económico estar a patinar (o OGE 2016

3 Fundo Monetário Internacional: Angola – Consultas de 2016 ao abrigo do Artigo IV, 7 de Fevereiro de 2017, página 45, Cenário Base Ilustrativo de Médio Prazo 2010‑2021. Num cenário mais optimista, a taxa média anual de crescimento do PIB poderá atingir 2,4% ainda assim inferior à taxa de cresci‑mento demográfico, estimada pelo INE em 3,1%. Até pelo menos 2021 a economia nacional estará para além do estado estacionário de Solow, com quebras anuais das condições gerais de vida entre ‑1,7% e ‑0,7%, o que, em termos acumulados, significa que, no geral, a população vai ficar mais pobre.4 Fundo Monetário Internacional: Angola – Consultas de 2016 ao abrigo do Artigo IV, 7 de Fevereiro de 2017.

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Revisto previa uma variação real do PIB de 1,1% e para a economia não petrolífera de 1,2%, quando, na realidade e pela mesma ordem foram de 0,1% e de 1,1%). Na medida em que tem sido o sector não petrolífero o mais importante criador de emprego líquido, uma taxa na vizinhança de 1% – expressando uma retracção do investimento privado – é insuficiente para se terem incrementos significativos na taxa de emprego da economia. No entanto, as estatísticas oficiais sobre esta variável económico‑social já nos habitua‑ram a uma inversão da Teoria Económica e da correlação entre crescimento e baixa do desemprego. Na verdade, parece que a economia angolana tem uma especial apetência para criar mais postos de trabalho justamente quando a sua dinâmica de crescimento se atenua. Como a Teoria do Emprego tem alicerces fortes e universalmente reconhecidos, então tem de se admitir, pelo menos em tese, que as informações estatísticas não expres‑sam a realidade dos factos. No respectivo capítulo – o sétimo, com o título “Emprego e Produtividade” –, estas matérias encontram‑se estudadas e analisadas, como, de resto, em anos anteriores. Segundo o Fundo Monetário Internacional, “As autoridades referi‑ram que estão em vias de encerrar 48 empresas públicas que não estão operacionais e de privatizar outras 53. Além disso, um plano de reestruturação da Sonangol foi lançado em junho de 2016 a ser implementado ao longo de 24 meses. O Conselho de Administração recentemente nomeado planeia reorientar a Sonangol para os seus principais negócios de petróleo e gás, tornando a empresa mais transparente e eficiente”5.

d) O Sistema Financeiro Nacional enferma de vícios, fraquezas e limitações várias, estando hoje marginalizado do sistema financeiro internacional, com graves consequências sobre o funcionamento normal da economia e a vida das pessoas. Ainda segundo o Fundo Monetário Internacional “os vínculos do sector real ao sector financeiro são limitados. Os bancos comerciais foram afectados pelo abrandamento económico, conduzindo à ele‑vação dos créditos malparados. Recentemente, os vínculos do crédito privado do sector financeiro ao sector real tornaram‑se menos significativos, em parte devido ao aumento de risco de crédito, com os bancos, em particular, reduzindo o crédito ao consumo e hipo‑tecário, bem como o crédito à mineração e à construção. Historicamente, o nível de cré‑dito ao sector privado tem sido relativamente baixo e os bancos têm canalizado menos de metade dos seus activos internos ao sector privado. À medida que o crescimento eco‑nómico abranda, os bancos continuam a tornar as normas de concessão de crédito mais restritivas, o que pode atrasar, em termos marginais, uma recuperação da economia”6.

e) Escassez generalizada de produtos em praticamente todas as superfícies de venda e no mercado paralelo. Está‑se a regressar ao passado da economia socialista esquemática,

5 Fundo Monetário Internacional: Angola – Consultas de 2016 ao abrigo do Artigo IV, 7 de Fevereiro de 2017.6 Fundo Monetário Internacional: Angola – Consultas de 2016 ao abrigo do Artigo IV, 7 de Fevereiro de 2017.

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com limitação na quantidade a comprar de vários produtos, o açambarcamento de outros produtos, a existência de filas para se poder comprar determinados bens, etc., ou seja, tudo o que se pensava ser passado, de repente transforma‑se em presente e não se vis‑lumbra como regressar ao futuro num tempo próximo.

f) A taxa de inflação vai permanecer em dois dígitos: desvalorização cambial, falta de produ‑tos (excesso de procura), especulação, retracção da economia, etc.

Receia‑se pela estabilidade social, pelo respeito dos direitos humanos (Angola recuou no Índice da Freedom House de 2016 (Semanário O Novo Jornal de 29 de Janeiro, página 6), pela melhoria das condições de vida da maioria da população e pela saúde da democracia.

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1. A ECONOMIA MUNDIAL E O ENQUADRAMENTO EXTERNO DA ECONOMIA ANGOLANA

As perspectivas económicas para 2016 foram influenciadas pelas preocupações quanto à capacidade de retoma do crescimento na China, que depois de um longo período de varia‑ção média anual do seu PIB em redor de 9,5%, passou para uma cadência mais suave de 6,5%. A alteração de algumas traves‑mestras do seu modelo de desenvolvimento foi a razão para essas preocupações, dado que não se tinha a certeza de que o mercado interno chinês pudesse apresentar condições equiparadas ao mercado internacional para garantir ritmos de variação do PIB capazes de puxar pela economia mundial. Hoje, a não ser que emirjam factos neste momento difíceis de prever, a China parece ter estabilizado a sua velocidade de crescimento e mantido a respectiva capacidade de influência sobre o comércio interna‑cional.

Outra preocupação para 2016 relacionou‑se com o comportamento do preço das principais commodities, que durante os últimos 4 anos foi sujeito a uma pressão em baixa, com reflexos significativos sobre a capacidade de crescimento de muitas economias africanas, cujas expor‑tações e geração de receitas externas dependiam, num elevado grau, destes produtos de base. Para 2017, as instituições internacionais apontam para uma subida e estabilidade do seu valor.

As taxas de juro nos Estados Unidos mantiveram‑se em níveis estimuladores do aumento do investimento e da diminuição do desemprego, o que pode vir a ser alterado durante 2017.

No entanto, dois acontecimentos relevantíssimos marcaram 2016: o BREXIT e as eleições presidenciais americanas. Dois factos novos e de enorme relevância para 2017 e cujos efeitos económicos mundiais estão, por enquanto, longe de puderem ser avaliados com a precisão que as previsões económicas exigem.

Na África Subsariana surgiram novos focos de tensão política que podem pôr em causa as expectativas de crescimento (Gâmbia, Sudão do Sul, Moçambique, África do Sul que irá esco‑lher um novo líder do ANC em Dezembro de 2017, Burundi onde o desacordo quanto ao terceiro mandato do seu actual presidente Nkurunziza permanece, Zimbabwe, República Democrática do Congo, etc.). Ainda que se preveja uma retoma dos preços das matérias‑primas no merca‑do mundial, a instabilidade política pode atrasar, mais uma vez, a recuperação dos excelentes índices de crescimento registados entre 2003 e 2008. Também para a África Subsariana a nova

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política económica de Trump poderá revelar‑se perversa, não apenas de uma forma indirecta através da China – que acabará por crescer menos devido às barreiras alfandegárias sobre as suas exportações para a primeira economia mundial – mas igualmente por algumas das opções anunciadas.

As previsões sobre o crescimento económico mundial apresentadas pelas principais insti‑tuições financeiras internacionais, com destaque para o Fundo Monetário Internacional (World Economic Outlook, October 2016), não levam em conta os mais do que prováveis efeitos per‑versos da política económica de Donald Trump, até porque não é fácil, por enquanto, discernir claramente a sua verdadeira natureza.

PREVISÕES DE CRESCIMENTO ECONÓMICO (%)

2015 2016 2017

Mundo 3,2 3,1 3,5

Economias avançadas 2,1 1,7 2,0

Estados Unidos 2,6 1,6 2,3

Euro Área 2,0 1,7 1,6

Alemanha 1,5 1,8 1,6

França 1,3 1,2 1,4

Itália 0,8 0,9 0,8

Espanha 3,2 3,2 2,6

Japão 0,5 1,0 1,2

Reino Unido 2,2 1,8 2,0

Canadá 1,1 1,4 1,9

Fonte: IMF, World Economic Outlook, April 2017.

As economias avançadas irão crescer em 2017, no seu conjunto, 2,0%, com destaque evi‑dente para os EUA (presume‑se que ainda sem a incorporação do efeito‑Trump), que vai res‑ponder por cerca de 40% desse crescimento, mantendo o estatuto de primeira economia do mundo.

Não deixa de ser curioso que as previsões de crescimento para o Reino Unido minimizem o efeito BREXIT (a taxa passa de 1,8% em 2016, para 2% em 2017), embora as consequências mais negativas – se as houver – possam ocorrer depois de consumada a sua saída da União Europeia. Na verdade, como se irá também ver no capítulo das previsões económicas deste relatório, em 2018 se preveja uma redução para 1,5%.

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PREVISÕES DE CRESCIMENTO ECONÓMICO (%)

2015 2016 2017

Mundo 3,2 3,1 3,5

Rússia ‑3,7 ‑0,2 1,4

China 6,9 6,7 6,6

Índia 7,6 6,8 7,2

Brasil ‑3,8 ‑3,6 0,2

Nigéria 2,7 ‑1,5 0,8

África do Sul 1,3 0,3 0,8

África Subsariana 3,4 1,4 2,6

Fonte: IMF, World Economic Outlook, April 2017.

A Índia e a China podem vir a ser os países mais afectados com o retorno dos investimentos americanos realizados durante muito tempo nestes países, pelo que as taxas de crescimento previstas não consideram, por enquanto, a incidência deste fenómeno. O primeiro destes dois países pode mesmo vir a ser o mais prejudicado.

No geral, para as chamadas economias emergentes, 2017 apresenta‑se, de acordo com as estimativas do Fundo Monetário Internacional, como de retoma face a 2016. No entanto, tudo vai depender dos efeitos da eleição de Donald Trump nos Estados Unidos.

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2. POLÍTICA ORÇAMENTAL

2.1 Os efeitos económicos da política orçamental

A política orçamental é, provavelmente, a mais importante do leque das políticas públi‑cas. Por várias razões, mas especialmente pelos sinais que dá ao país e aos agentes econó‑micos (empresas e famílias) sobre como as receitas fiscais serão utilizadas (de que modo o Estado/Governo devolve esse dinheiro para a economia e sociedade) – não se deve perder de vista que o Estado não gera rendimentos, nem produção, limitando‑se a ser um mero intermediário entre os contribuintes, que a título gratuito lhe entregam proporções dife‑renciadas dos seus rendimentos (salários, lucros e juros), e a economia (fomento do cres‑cimento) e a sociedade (famílias) corrigindo os mecanismos da distribuição primária do rendimento nacional.

O Estado/Governo acaba por ser um gestor destes mecanismos de aplicação das receitas dos impostos. Por isso é que tem de ser confiável, senão, por muitas campanhas que existam para estimular ou obrigar cidadãos e empresas a pagar tributos, a tendência será sempre a da evasão e fraude fiscal. O Estado tem de dar sinais muito concretos da sua competência, honestidade e transparência no uso de fundos públicos, de todos, para estimular o crescimento da economia e promover melhorias consistentes e sustentáveis no nível de vida dos cidadãos. É para isto que os Orçamentos de Estado e a política orçamental existem, e não para facilitar e estimular processos de enriquecimento dos agentes políticos da governação, seus familiares e amigos. Daí a necessidade de serem respeitadas regras de elaboração dos Orçamentos de Esta‑do, como a da universalidade, a da especificidade, a da não consignação de receitas, a do orça‑mento bruto, a da anualidade e a do equilíbrio. Esta última é basilar: não se deve gastar mais do que se tem. É um princípio também aplicável aos orçamentos das empresas e das famílias. O seu incumprimento sistemático gera défices e cria dívida. Não necessariamente nefastos, depen‑dendo de para onde o dinheiro vai. Ou seja, se o excesso de despesa for aplicado no aumento de capacidade de geração de rendimentos adicionais, então défice e dívida podem ser virtuosos e ser debelados nos ciclos económicos e financeiros seguintes. Exemplos: investimento público e privado em capital físico e investimento público e privado em capital humano (sobretudo edu‑cação, incrementando‑se a produtividade do factor trabalho e as respectivas remunerações).

Como é do conhecimento geral, o Orçamento Geral do Estado de Angola tem registado défices fiscais sistemáticos desde 2003, perfazendo um acumulado em 2016 de ‑16,2% do

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PIB7. Trata‑se de uma violação clara da regra do equilíbrio orçamental, só atenuada se os efeitos económicos das despesas públicas (crescimento económico e melhor distribuição do rendimen‑to) forem positivos. Um aumento das despesas públicas provoca um incremento do produto nacional e do emprego, equivalendo a um efeito expansionista sobre a actividade económica8.

CORRELAÇÃO ENTRE GASTOS PÚBLICOS E PIB

2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016

RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2016RI.2017.0000.01.01

DT_013.ª prova

30 maio 2017Paulo Amorim

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Taxa crescimento gastos públicos (%) Taxa crescimento PIB nominal (%)

Fonte: Ficheiros do CEIC com base em dados oficiais.

Nota‑se uma correlação quase perfeita entre gastos públicos e evolução do PIB nominal, a despeito de em alguns períodos se apresentar desproporcionada e de sentido inverso, talvez devido à influência de outras variáveis como o investimento privado e o consumo das famílias, potencialmente aumentado pelas remunerações dos funcionários públicos. Na verdade, entre 2006 e 2009, os incrementos nominais nos gastos públicos foram superiores ao crescimento do

7 Na Europa do euro, o debate sobre o rigoroso cumprimento da regra do equilíbrio orçamental con‑tinua muito vivo, considerando a Comissão Europeia que todos os países não podem exceder o limite máximo de 1,5% ao ano, com tendência para zero dentro de alguns anos. A principal razão é a do endividamento excessivo, prejudicial ao andamento das economias. Joseph Stiglitz e Paul Krugman têm dado a sua opinião quanto à rigidez dos rácios do défice e da dívida pública, afirmando o pri‑meiro que nenhum daqueles limites tem sustentação na Teoria Económica ou em indícios econó‑micos, tudo dependendo, afinal, de para onde o dinheiro vai: “se for para investimento, reforça‑se a economia”. Se é verdade esta afirmação, acrescento que só o bom investimento do Estado tem esta capacidade. O mau investimento público prejudica a economia, introduz assimetrias entre sectores e regiões, facilita a corrupção e promove o tráfico de influências. Angola tem muito investimento público mau, devendo agora todos os cidadãos pagá‑lo através do aumento da dívida pública.8 Nomeadamente pelo investimento público. Sendo em infra‑estruturas físicas – estradas, caminhos‑ ‑de‑ferro, portos, escolas e hospitais, etc. –, o efeito final sobre o rendimento pode ter um lag menor do que em capital humano, incluindo a investigação, mais exigente em tempo para se induzirem melhorias no produto potencial.

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PIB nominal (provavelmente pouca eficácia dos mesmos, prevalência de influências negativas, internas e externas, sobre a economia (crise económica internacional 2008/2009, queda do preço do petróleo), enquanto no período 2009/2011 parece registar‑se o efeito multiplicador das despesas do Estado sobre a economia (Ky,g>1). No intervalo temporal 2011/2014, o efeito reprodutivo das despesas públicas é neutro (Ky,g=1).

Esperava‑se, tal como a Teoria Económica o sugere, que uma redução no valor dos gastos públicos tivesse efeitos mais devastadores sobre o PIB (anos 2013, 2015 e 2016). Porém, em 2009, a teoria funcionou: uma redução de ‑14,5% nas despesas do Estado induziu menor cresci‑mento numa quantidade de ‑26,5%. Já para 2015 e 2016, embora prevaleça a correlação nega‑tiva, os impactos negativos sobre a actividade económica são de menor extensão.

As evidências empíricas anteriores são insuficientes para se deduzir uma “teoria da inefi‑ciência dos gastos públicos em Angola”. Há‑que investigar mais, desdobrando‑se a actividade financeira do Estado (medida pelos seus gastos – correntes e investimentos) noutras variáveis (salários dos funcionários civis e militares – quais os de maior efeito multiplicador sobre a eco‑nomia? – despesas de funcionamento, despesas sociais, etc.). Por exemplo, é possível medir o impacto das transferências do Estado para as famílias sobre a distribuição do rendimento e a melhoria das suas condições de vida, conseguindo‑se, assim, uma escolha pública mais criteriosa (no Relatório de Fundamentação do OGE 2017 prevêem‑se 1920,6 mil milhões de kwanzas para os sectores sociais e 1012,6 mil milhões de kwanzas para a defesa e segurança: porquê? Que critérios foram usados? Não terão as despesas sociais um efeito multiplicador sobre a economia maior do que as orientadas para a defesa e segurança? Qual a componente importada de cada uma delas (quanto maior for, maiores as perdas para o exterior em favor dos países exportado‑res)? Estão disponíveis metodologias e algoritmos facilitadores duma abordagem orçamental mais criteriosa e as instituições do Estado têm informação estatística suficiente para tornar as escolhas públicas mais racionais.

Assim sendo, que efeitos sobre a actividade económica decorreram dos aumentos dos gas‑tos públicos no período 2002/2016?

Considerando valores para parâmetros como a propensão marginal ao consumo (=86%), ao investimento (27%) e à importação (44%), a taxa de poupança (14%)9 e a taxa de imposição fiscal (30%), é possível ter uma aproximação dos efeitos dos défices fiscais sobre a economia nacional, através do multiplicar keynesiano das despesas públicas (=1,19).

9 De acordo com o Fundo Monetário Internacional (Regional Economic Outlook, Sub-Saharan Africa, October 2016), a taxa de poupança em Angola é muito baixa, rondando não mais do que 3% do PIB entre 2014 e 2016. Em 2012, o seu valor foi de 26,9% do PIB, graças à actividade do sector petrolífero. Auferindo 60% da população menos de 2 dólares diários de rendimento, a sua preferência é para con‑sumo (necessidades básicas), ficando a capacidade/propensão de poupar para outras classes sociais. Lembra‑se, no entanto, que em 2015 a remuneração média mensal do factor trabalho no país foi de aproximadamente AKZ 50000 (equivalente a USD 413, à taxa de câmbio oficial média desse ano).

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SIMULAÇÃO DOS EFEITOS MULTIPLICADORES DAS DESPESAS PÚBLICAS

2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016

Incremento PIB com Ky,g de 1,19 ‑156,7 1079,1 5267,5 4875,5 6634,5 16 955,3 ‑6361,7 ‑1252,3 14 764,4 8547,5 ‑116,3 3880,4 ‑25 279,9 ‑6637,6

Incremento real do PIB 847,7 6776,5 16 310,0 12 561,0 13 005,1 22 921,3 ‑23 462,2 17 828,0 28 069,8 14 706,1 ‑713,5 1971,8 ‑24 936,6 ‑2974,6

% de participação ‑18,5 15,9 32,3 38,8 51,0 74,0 27,1 ‑7,0 52,6 58,1 16,3 196,8 101,4 223,1

Influência de outros factores (X, C) 1004,4 5697,4 11 042,5 7685,4 6370,5 5966,0 ‑17 100,5 19 080,2 13 305,4 6158,6 ‑597,2 ‑1908,6 343,3 3663,0

Fonte: Cálculos do CEIC.

Tal como já tinha sido anteriormente sublinhado, confirma‑se a influência positiva dos gas‑tos públicos sobre o nível geral da actividade económica, de onde se destacam os investimentos públicos, físicos e humanos. Porém, a conclusão não deve de imediato ser no sentido do seu incremento sistemático, porquanto existem outros considerandos a respeitar, como a capaci‑dade de endividamento do Estado para cobrir os consequentes défices fiscais, a regra do equi‑líbrio orçamental e a eficiência da actividade do Estado. Um Ky,g igual a 1,19 pode ser sintoma da existência de filtros na economia impeditivos de o multiplicador assumir um valor mais rele‑vante: elevada taxa de pobreza responsável por uma propensão marginal ao consumo excessi‑vamente alta (evidentemente que o consumo privado é também um factor de crescimento, mas com desfasamentos temporais superiores aos do investimento, donde efeitos menos expres‑sivos e com maiores tempos de espera)10, taxa média de imposição fiscal alta, afectando o rendimento disponível das famílias e empresas e por arrastamento a sua disponibilidade de investimento (as famílias não consomem apenas, também investem em habitação e bens de consumo duradouro) e uma elevada exposição ao exterior medida pelo coeficiente de impor‑tação (Angola produz muito pouco e por isso os efeitos económicos directos e indirectos dos gastos do Estado perdem‑se a favor dos países exportadores).

Da observação da tabela anterior retiram‑se aspectos curiosos:

a) Até 2008, dentro do período 2003/2016, a relação entre gastos públicos e nível geral da actividade apresenta‑se tal como a Teoria Económica ensina, tendo aumentado a sua percentagem de participação nos incrementos do PIB. A percentagem de 74% em 2008 indiciava já a necessidade de a política orçamental ser contracíclica, devido aos efeitos da crise económica internacional.

10 O actual modelo de crescimento económico de Portugal passou a considerar o consumo privado como um factor relevante pela via do aumento de rendimentos das famílias (reposição de salários, descongestionamento e aumento de pensões e reformas (modelo centrado na redistribuição do PIB)). Os resultados ainda são incipientes, continuando as exportações (sobretudo de serviços) e o investimento privado (o investimento público tem severas restrições orçamentais impostas pelo cumprimento das metas do défice fiscal estabelecidas por Bruxelas) a serem os principais motores.

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b) Em 2010, operou‑se um ajustamento desfasado na economia: o Estado, devido à quebra das suas receitas em 2009, viu‑se obrigado a diminuir os seus gastos (donde a sua influên‑cia negativa sobre o PIB de ‑1252 milhões de dólares) e o sector privado (investimento e exportações) garantiu o essencial do incremento de 17 828 milhões de dólares do PIB.

c) Em 2011 e 2012, a Teoria Económica voltou a funcionar, com percentagens importantes de influência dos gastos públicos sobre o crescimento do nível geral da actividade econó‑mica, respectivamente 52,6% e 58,1% de incremento do PIB.

d) A partir de 2013, o PIB nominal contraiu‑se significativamente, iniciando‑se um ciclo de redução sustentada do PIB nominal, ocorrendo, do mesmo modo, uma diminuição dos gastos públicos, menos proporcional, o que explica o peso de outros factores, igualmente em crise de crescimento.

e) Os outros factores considerados neste exercício são: as exportações (especialmente de petróleo), o investimento privado petrolífero e algum não petrolífero, o consumo das famílias (continua‑se a aguardar a publicação das contas nacionais 2013/2015) e as trans‑ferências a título de reformas, pensões e abonos de família.

Os investimentos públicos em capital físico e capital humano têm sido objecto de controvér‑sia, em especial os aplicados em obras públicas executadas por empresas chinesas11. A qualidade das mesmas tem sido o principal elemento de crítica e a comprová‑lo a reduzida durabilidade de muitos milhares de quilómetros de vias rodoviárias (alguns em reconstrução pelas mesmas empresas chinesas), diminuindo a sua rendibilidade económica e utilidade social. O incremento do stock de capital público – físico e humano – está computado em USD 113 623,7 milhões no período 2002/2016. Muito dinheiro retirado, pela via dos impostos, aos rendimentos das famí‑lias e aos lucros das empresas. A maior parte dos esperados efeitos económicos destes investi‑mentos incide, especialmente, sobre a actividade da economia não petrolífera, cujo PIB registou uma variação, naquele mesmo período, de USD 71 248,1 milhões. A rendibilidade média dos gas‑tos de capital do Estado é, portanto, de 1,6 significando que por cada unidade de investimento público se geram 0,6 unidades de produto não petrolífero. O melhoramento deste rácio depen‑de da qualidade das obras de infra‑estruturas, do seu custo de construção (talvez 20% a 25% se perdem em comissões), da sua fiscalização e da sua correcta programação. Se em cada ciclo de investimento público se perdem 20% a título de bónus e comissões, então desde 2012 que se transferiram USD 22720 milhões para intermediários e facilitadores da contratação pública.

Do lado das receitas fiscais, o Governo tem privilegiado o seu aumento, como forma de con‑trolar os défices orçamentais, sem cuidar dos seus efeitos sobre a economia e continuando a

11 A última estimativa do acumulado de dívida à China é de 12,5 mil milhões de dólares, não sendo claro se com o novo aeroporto e as respectivas vias de acesso – novamente autorizado o seu início – ou devendo recorrer‑se a novos empréstimos. O recente Fórum China‑Angola teve uma representa‑ção chinesa significativa.

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manter despesas públicas de elevado montante sem introduzir reformas fundamentais, como a diminuição do número de funcionários públicos (para além da identificação de cerca de 55 000 considerados fantasmas nada mais se fez), de modo a ajustar as suas remunerações à sua real produtividade, o ajustamento e a reestruturação dos Ministérios e a melhoria dos ser‑viços prestados aos cidadãos e às empresas (tal como se encontra, e mesmo considerando os realinhamentos introduzidos no seu funcionamento no âmbito de vários programas de refor‑ma administrativa desde há mais de 25 anos, a Administração do Estado ainda não é amiga dos cidadãos e dificulta bastante a criação e funcionamento de grande parte das empresas que estão afastadas do círculo político do MPLA).

A Reforma Tributária, que aparentemente no seu essencial terminou, manteve taxas eleva‑das para alguns impostos, impendentes sobre as famílias e as empresas, reduzindo‑se os res‑pectivos rendimentos disponíveis, de onde se retiram consumos privados (também alavanca do crescimento económico, ainda que por vias indirectas) e investimento privado, variável directa de aumento do PIB presente e potencial.

EVOLUÇÃO COMPARADA DO PIB E RECEITAS FISCAIS

RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2016RI.2017.0000.01.01

DT_022.ª prova

25 maio 2017Paulo Amorim

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2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017

Taxa crescimento receitas tributárias Taxa crescimento PIB nominal (%)

Fonte: Ficheiros do CEIC, com base em dados oficiais.

Do gráfico anterior retira‑se que parece valer a pena aumentar impostos, dado que em Angola a correlação com o PIB é positiva: quanto mais elevada a variação das receitas tributá‑rias maior o crescimento do produto. É assim? A Teoria Económica diz o contrário (Curva de Laf‑fer, multiplicadores de Keynes, fiscalidade neoliberal, coeficiente de Colin Clark). No entanto, as informações financeiras do Estado, entre 2003 e 2017, apontam para um ajustamento perfeito entre aumento da fiscalidade e incremento do PIB. Mas este relacionamento positivo exige uma acrescida investigação: tipo de impostos que mais contribuíram para o aumento das receitas

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RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2016

fiscais, modificações ou não da taxa fiscal de cada imposto, alteração das bases fiscais de cada imposto, o peso da inflação no crescimento nominal do PIB e dos impostos, o desfasamento temporal na equação fiscal (T=T0+tY), etc.

Como sublinhado já, o aumento de impostos exerce um efeito de retracção da actividade económica através do rendimento nacional disponível, aplicado em investimento (poupança) e consumo. O efeito depressivo dos impostos é medido através do respectivo multiplicador keynesiano e difere consoante o incremento se processe através de impostos directos ou de impostos indirectos. Os primeiros actuam directamente sobre as remunerações dos facto‑res de produção, enquanto os segundos afectam o consumo. As receitas fiscais ascenderam a USD 449 950,1 milhões, entre 2002 e 2016 representando uma carga fiscal média de 30%. A incentivação do investimento privado requer uma diminuição neste coeficiente, talvez um dos elementos mais importantes da competitividade económica do país no curto prazo, porque o ambiente de negócios é francamente mau e a produtividade geral dos factores baixa12.

RECEITAS FISCAIS ENTRE 2003 E 2016 (MILHÕES USD)

2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009

Receitas fiscais 6446,6 6301,7 8677,8 16 235,7 22 134,8 29 979,3 44 631,1

2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016

Receitas fiscais 35 993,7 54 077,1 58 366,8 50 192,5 44 752,7 27 904,6 20 366,6

Fonte: Ficheiros do CEIC, com base em dados oficiais

O pico das receitas fiscais foi em 2012, notando‑se uma quebra de mais de USD 38 000 milhões em 2016, tornando urgente a busca de outras fontes de financiamento do Estado, uma das quais está, seguramente, na diminuição do seu peso na economia e na contracção da sua dimensão.

A Teoria Económica demonstra que é possível ampliar o PIB através do aumento dos impos‑tos e das despesas públicas, em determinadas condições: estrutura da fiscalidade (os efei‑tos negativos dos impostos directos são mais elevados do que os dos indirectos), escalões de rendimento, amplitude da base fiscal, incidência da evasão e fraude fiscal e justiça tributária. O imposto sobre fortunas e rendimentos dos mais ricos pode ser uma via de aligeirar o sacrifício

12 Ainda que se sustente que este coeficiente fiscal seja igual ao da África do Sul, este país dispõe de argumentos competitivos que Angola está longe de deter: acervos tecnológicos e científicos, investi‑gação científica, sistema financeiro internacionalmente credível e confiável, organização institucio‑nal reconhecida, universidades que estão bem classificadas nos rankings internacionais, etc. O Brasil também tem um elevado coeficiente fiscal (cerca de 42%), mas tem sido possível captar investimento externo devido a outras facilidades que oferece aos investidores privados.

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fiscal sobre os rendimentos mais baixos detidos pela classe baixa e média baixa: quando se taxa as pessoas mais ricas, o efeito de contracção é muito menor do que o efeito expansionista con‑seguindo ao apoiar as pessoas com rendimentos mais baixos, podendo ainda ser mais forte ao aplicar‑se o dinheiro em bens públicos essenciais, como educação e saúde.

A distribuição de rendimento em Angola é tão desigual, díspar e acintosa que remete para a vala dos deserdados cada vez mais pessoas. A crise financeira e económica, iniciada em finais de 2013, está a agravar a situação de exclusão social no país, atirando crescentes camadas da população para situações de pobreza, absoluta e relativa.

A Teoria Económica igualmente fornece razões e algoritmos que permitem reconhecer que, mesmo preservando o equilíbrio financeiro das contas do Estado, ainda se gera crescimento através do multiplicador keynesiano do equilíbrio orçamental. Portanto, só considerandos de índole estritamente política podem justificar desmandos orçamentais e violação da regra do equilíbrio orçamental. Por isto, e evidentemente por outras razões consignadas à crise finan‑ceira e económica, grave, que o país atravessa, é que o Fundo Monetário Internacional reco‑menda que o défice orçamental global deveria ser contido na vizinhança de 2,25% do PIB13. Evidentemente que são admissíveis excepções quando os desequilíbrios económicos são de tal envergadura – próximos da recessão – que exigem a intervenção do Estado através de políticas orçamentais activas e anticiclo económico14.

O défice fiscal global projectado pelo Governo para 2017 (‑5,8% do PIB) não respeita a regra de ouro das finanças públicas, que estabelece que o seu valor não deve ultrapassar o rácio do investimento público (5% para 2017), um factor adicional de criação de produto potencial da economia15.

Uma situação de crise financeira como a actual perdurará sempre para lá dos limites acei‑táveis e comportáveis por causa das obrigações que deixa atrás de si e consubstanciadas na dívida pública.

13 Relatório de Missão ao Abrigo do Artigo IV, Novembro de 2016.14 O valor do multiplicador keynesiano do orçamento equilibrado é igual à unidade, querendo signi‑ficar que um aumento dos gastos públicos compensado por incremento de impostos tem um efeito sobre a actividade económica igual à variação das despesas do Estado.15 A produtividade média aparente do trabalho foi de USD 13 242,7 no período 2002/2015 (baixa, não apenas de per se, mas também para estruturar uma competitividade internacionalmente com‑parável (para este mesmo período a produtividade média aparente do trabalho na África de Sul foi de USD 47 000)). A taxa de desemprego estimada pelo CEIC para 2015 foi de 21,6%. Se considerar‑mos como possível uma situação de pleno emprego correspondente a uma redução de 17 pontos per‑centuais e uma produtividade média de USD 20000, o produto potencial da economia pode atingir a cifra de USD 254,3 mil milhões (as estimativas para 2016 dão uma cifra de USD 98,9 MM para o PIB). O défice fiscal calculado em relação ao produto potencial denomina‑se défice estrutural ou de pleno emprego, ou seja, uma correcção para 2,26% do PIB, entendendo‑se melhor ainda a sugestão do FMI.

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A questão da dívida pública16 – que pode chegar a 75% em 2017 se considerarmos as empresas públicas, que só não será assim se algumas delas forem privatizadas em condições de alienação também dos passivos, como pode vir a ser o caso da TAAG e de algumas empresas agro‑pecuárias, de resto referidas em vários documentos oficiais sobre a estratégia de saída da crise – é importante por ser um dos elementos de classificação do risco‑país de cada país (capa‑cidade de crescimento, compliance do sistema financeiro (como se sabe, neste momento os bancos comerciais suspenderam, sem limite de tempo, todas as operações em dólares, porque não têm respaldo internacional, o que é um mau sinal para as agências internacionais de nota‑ção), transparência, gestão pública e boa governação, são outros itens). E estes aspectos são cruciais para captar investimento privado estrangeiro de que Angola tanto necessita.

Mas o rácio da dívida pública com que normalmente se opera em Angola é mais restrito e atingiu o seu máximo justamente este ano (ver Relatório de Fundamentação do OGE 2017) com 61,9%. Para 2017, o Governo projecta 52,7%, uma redução de quase 10 pontos percentuais. Não está completamente claro o modus faciendi desta redução, porquanto o défice fiscal vai ser de ‑5,8% do PIB (a ser coberto com financiamento externo e interno que se soma ao stock de dívida presente), o crescimento do PIB de 2,1% (para o FMI 1,25%), o investimento público aumenta 3,5% e as despesas correntes incrementam‑se em 8,2%. Só através da conjugação de vários factores tal poderá ocorrer (o stock de dívida pública aumenta de USD 61 198,7 milhões em 2016, para USD 69 927,6 milhões em 2017):

a) Se o montante previsto para amortização da dívida existente for superior ao incremento da dívida (nova dívida a contrair).

b) Se a taxa de crescimento nominal do PIB for de 20,8%17 sendo suficiente reduzir‑se a metade para que o rácio da dívida suba para 64,1%.

c) Se a desvalorização do kwanza face ao USD for de 20% em 2017, o rácio da dívida pública poderá atingir 61,1% do PIB.

d) Se fosse previsto um saldo primário positivo, poder‑se‑ia presumir que parte seria para amortização da dívida e outra para pagamento de juros, não sendo, porém, o caso em análise, com o défice fiscal programado.

Ou seja, um conjunto de condições exigentes em boa capacidade técnica de controlo e ges‑tão da dívida do Estado e de contenção política, nomeadamente nos investimentos públicos, devendo fazer parte do respectivo pipeline apenas os que criarem e valorizarem o capital huma‑no nacional e o produto potencial da economia.

16 Há dois tipos de dívida pública com que a política orçamental e a política monetária operam: dívida bruta (presumindo‑se que o rácio de 52,7% a esta se refira) e dívida líquida, consolidando a dívida bruta com os activos do Estado).17 Calculada na base da conversão do PIB em kwanzas (Relatório de Fundamentação) para USD com uma taxa média de câmbio de 165,37 (desvalorização de 15%).

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A sustentabilidade das dívidas públicas deve ser enquadrada por 3 factores: défice fiscal pri‑mário, taxas reais de juro e taxas de crescimento do PIB. O rácio da dívida pode ser controlável (62% registado em 2016), se e só se os restantes factores forem positivos e sintetizados numa inequação: taxa de crescimento do PIB> Taxa real de juro. Isto significa que a médio prazo – até 2020 se o cenário do comportamento do preço do petróleo se mantiver, no essencial, constante (USD 50 o barril) – o país pode ter problemas com a sua dívida pública. Porquê?

a) A intensidade de crescimento da economia vai manter‑se baixa (o Governo prevê para 2017 2,1% para o total da actividade económica e 2,3% para o PIB não petrolífero, qual‑quer uma das cifras inferior à taxa de crescimento da população – 3,1% segundo o Censo populacional de 2014 e os mais recentes Boletins Informativos do INE sobre o fenómeno demográfico em Angola – donde uma degradação das condições de vida da maioria da população, o CEIC estima que até 2020 a taxa média anual de variação do PIB deverá estar entre 2% e 2,75%, o The Economist recentemente aponta para menos de 3% até 2021 e o FMI, no seu cenário mais optimista, para 2,4% e no cenário de base para 1,4%).

b) As taxas de juro estão altas, independentemente de serem internos ou externos os empréstimos (uma média ponderada aponta para um valor de 8,8% em 2016, com ten‑dência ao agravamento devido aos factores de instabilidade e de risco impendentes sobre a economia nacional).

c) O défice fiscal primário está, por enquanto, longe de um efectivo controlo18.

d) As contradições entre políticas orçamentais activas (em favor do crescimento) e políticas orçamentais de estabilidade (favoráveis à preservação de equilíbrios macroeconómicos fundamentais) são mais evidentes em situações de crise financeira e económica, como é claramente o caso de Angola.

A sustentabilidade da dívida pública pode igualmente ser analisada em termos nominais, mantendo‑se as mesmas variáveis de análise. Assim para 2017: taxa nominal de crescimento do PIB de 38,9%19 (um exagero e em manifesta contradição com a taxa de inflação prevista de 15,8%, conforme mais adiante se demonstra), saldo fiscal primário de ‑3,3% do PIB e taxa de juro implícita de 4,85% (obtida dividindo‑se o montante de juros, internos e externos – cerca de USD 3046 milhões – pelo stock da dívida pública (em redor de USD 62 800 milhões). Neste qua‑dro de referência, a dívida pública ainda está dentro dos limites da sua sustentabilidade (taxa de juro nominal inferior à taxa nominal de variação do PIB). Mas há uma diferença significativa entre taxa de juro implícita e taxa de juro efectiva, cujo valor vai depender de Angola ser aceite

18 De acordo com o Relatório de Fundamentação do OGE 2017, o rácio dos juros da dívida pública evo‑luiu da seguinte forma: 0,8% em 2013, 1,2% em 2014, 2% em 2015, 2,6% em 2016 e projecta‑se um valor de 2,5% para 2017. Consequentemente, o défice primário em relação ao PIB, pela mesma sequência temporal, é de 1,1%, ‑5,4%, ‑1,3%, ‑3,3% e ‑3,3% (um acumulado de ‑12,2%).19 Calculada em kwanzas correntes (Relatório de Fundamentação do OGE 2017).

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no sistema financeiro internacional como um país normal em transparência financeira, account‑ability, compliance e boa governança bancária. Seguramente não ocorrerá antes de 2020.

A taxa de crescimento do PIB e a taxa de juro – em termos reais ou nominais – servem para se avaliar o chamado efeito “bola de neve”, ou seja, para se saber se o simples pagamento dos juros agrava ou não o rácio da dívida (uma das manifestações de insustentabilidade da dívida pública aparece quando a taxa nominal de juro for superior à taxa de crescimento do PIB).

Mas há outros factores, fora da rota estrita da gestão orçamental do Estado, que podem impactar negativamente a dívida pública: a recapitalização do BPC (o Estado já colocou nesta instituição cerca de USD 1000 milhões), do BCI (talvez um montante menor de recapitalização), da TAAG (a sua reestruturação está em curso, tendo sido identificadas novas necessidades de financiamento para aquisição de novas aeronaves, acompanhadas de despedimentos de pes‑soal, como forma de redução dos custos de funcionamento), da Sonangol (segundo declarações públicas a sua dívida pode ascender a USD 9000 milhões e a quem a China recusou o pedido de empréstimo de USD 5000 milhões, depois de ter aberto uma linha de crédito para o país de USD 15 000 milhões por intermédio do CDB – China Development Bank20), da Endiama (a braços com a queda da cotação internacional do diamante), da SODEPAC – Fazenda Pungo Andongo (a necessitar de injecção urgente de dinheiro, especialmente de divisas, para reactivar a pro‑dução, segundo declarações do seu presidente), etc. É nisto que dá ter‑se um Estado exage‑radamente grande (ainda a herança socialista, exigindo uma reformulação do seu modelo de intervenção na economia, que terá de ser muito mais indirecto – através de políticas de incen‑tivo – e muito menos directo) e significativamente atreito a jogos e tráficos de influências polí‑ticas do partido no poder.

A privatização de bancos comerciais públicos e de muitas empresas estatais tem de ser a via para se amenizarem os défices orçamentais e centrar a actividade do Estado na criação de efi‑ciências para o crescimento do PIB.

A matéria dos juros da dívida pública – que impacta o peso que a mesma tem na vida das famílias e das empresas21 – pode ser vista de dois ângulos diferentes. Tratando‑se de dívida pública interna, os juros pagos aumentarão o rendimento disponível das famílias e empresas – o que é bom, pois o consumo privado e o investimento privado podem aumentar (na ausência

20 Gustavo Costa – “China Recusa Novo Empréstimo à Sonangol”, Semanário Expresso, Caderno de Economia de 15 de Outubro de 2016.21 O Relatório de Fundamentação do OGE 2017 apresenta o montante de juros pagos pelo Estado e a sua repartição em moeda nacional e divisas, havendo, assim, a possibilidade de analisar os sacri‑fícios solicitados às gerações presentes pelos “desmandos” da gestão financeira do Estado. Como sublinhado mais atrás, os défices orçamentais que originam dívida pública só serão virtuosos se incrementarem o produto potencial da economia e melhorarem as condições de vida da população (mais crescimento, mais emprego e mais rendimentos para distribuir). Sempre que assim não for, os desequilíbrios fiscais favorecem a elite burguesa do círculo político da governação.

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de equivalência ricardiana e sob expectativas racionais, isto é, se os incrementos de rendimento disponível não forem canalizados para poupança), consequencializando crescimento económi‑co. Mas também neste caso não se pode esquecer que a dívida pública interna pode ser subscri‑ta por estrangeiros residentes e os juros podem ser aplicados em actividades internas (óptimo), ou transferidos para o exterior (um direito financeiro internacional). A opção depende do nível de confiança e credibilidade que o país suscita.

Quanto à divida pública externa, o efeito é só um (poder‑se‑iam detectar outros, mas cuja lógica é um bocado tortuosa, mesmo em circunstâncias económicas e financeiras normais que Angola não apresenta neste momento), qual seja: dívida contraída em divisas no estrangeiro, transferência integral dos juros em moedas fortes (a não ser que outras condições tenham sido negociadas no momento de contracção do empréstimo). Os efeitos positivos sobre o aumento do rendimento disponível perdem‑se completamente a favor dos credores estrangeiros e das suas economias. Daí a importância da estratégia de endividamento: aplicar os empréstimos na importação de bens e serviços finais é um erro, porque consomem‑se esses produtos e fica a dívida. Os financiamentos externos – incluindo as linhas de crédito – devem contribuir para a criação de produto potencial – capacidade de crescimento futuro – de modo a serem gerados rendimentos de onde se retirarão as partes a transferir para o exterior para cumprimento do serviço da dívida.

No Relatório de Fundamentação do OGE 2017 detecta‑se uma tendência/preferência do Estado pela dívida pública interna, o que é bom em termos de facilitação da sua gestão e de reencaminhamento interno dos seus efeitos sobre o rendimento nacional disponível. O desa‑fio a vencer é o da (re) negociação das taxas de juro, dependente do cumprimento das regras básicas de boa governação do Estado e de compliance da parte do sistema financeiro nacional.

DÍVIDA PÚBLICA EM ANGOLA

Rubricas 2013 2014 2015 2016 2017

Dívida pública total (USD MM) 30,6 41,6 48,6 56,6 62,8

% do PIB 24,5 32,8 47,4 61,9 52,7

Externa (USD MM) 15,7 20,2 22,2 26,5 32,5

% do PIB 12,6 15,9 21,6 29,0 27,3

Interna (USD MM) 14,9 21,4 26,5 30,0 30,3

% do PIB 12,0 16,9 25,8 32,9 25,4

Fonte: Relatório de Fundamentação do OGE 2017.

O facto de não haver dívida privada externa é um sintoma evidente da falta de credibilida‑

de e confiança internacional no sistema financeiro, nas empresas e nos empresários nacionais.

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RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2016

Como resultado directo da crise financeira e económica e indirecto da Reforma Tributária, a estrutura fiscal tem‑se alterado. Mas na base de uma diminuição geral dos réditos do Estado. A capacidade de crescimento diminuiu drasticamente e as fontes de impostos ressentiram‑se na mesma proporção, não sendo o recurso sistemático à criação de dívida o melhor modelo para se financiar o défice.

Como já destacado, a reforma integral do Estado (de que faz parte a alteração de menta‑lidades de governantes e do middle management22 dos Ministérios e instituições públicas em geral) tem de vir em primeiro lugar, sendo possível incentivar a economia (o abaixamento dos impostos sobre o valor agregado das empresas e a estabilidade fiscal a médio prazo têm efeitos indeléveis sobre o crescimento económico futuro e o aumento de emprego líquido e, conse‑quentemente, sobre a ampliação das receitas fiscais) e, simultaneamente, aumentar as despe‑sas sociais estruturantes duma maior produtividade e competitividade do sistema económico. Basta estudar muitas experiências internacionais para se recolherem informações e modelos de como o fazer. Mas sem vontade política para se garantir a transparência e erradicar vícios de amiguismos e trade off de influências nada feito.

QUADRO FISCAL DE ANGOLA

Rubricas 2013 2014 2015 2016 2017

Receitas fiscais totais (USD MM) 50,2 44,7 27,9 20,4 22,2

Receitas fiscais petrolíferas (USD MM) 37,6 30,2 15,7 9,0 10,3

Dependência fiscal (%) 74,9 67,6 56,3 22,5 46,4

Fonte: Relatório de Fundamentação do OGE 2017.

A diminuição das receitas fiscais do Estado iniciou‑se em 2013, tendo assumido contornos catastróficos em 2016, provavelmente o pior ano do desempenho económico e financeiro do país (a crise presente é claramente pior que a ocorrida no período 2009/2010, bastando para isso comparar os principais indicadores e rácios económicos e sociais). A dependência do petró‑leo continua a verificar‑se, embora com baixa intensidade. Porém, bastará que o preço do barril de petróleo atinja a faixa de USD 60, o coeficiente de subordinação voltará a níveis anteriores – porque não foram feitas reformas económicas estruturais e a economia não petrolífera conti‑nua a apresentar uma insuficiente capacidade de crescimento.

22 É também por intermédio do middle management que os países podem exercer o soft power, o poder de influência interna e internacional baseado na atracção e persuasão da qualidade das insti‑tuições de um país, públicas e privadas. Este conceito e os outros dois relacionados – hard power e smart power – foram criados por Joseph Nye, Professor de Geopolítica da Universidade de Harvard, nos anos 80 do século passado e que tanta difusão e creio mesmo aplicação tiveram.

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CEIC / UCAN

DEPENDÊNCIA FISCAL DO PETRÓLEO

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25 maio 2017Paulo Amorim

0,010,020,030,040,050,060,070,080,090,0

2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017

Receitas fiscais petrolíferas/receitas totais (%)Receitas fiscais petrolíferas/PIB (%)

Fonte: Relatório de Fundamentação do OGE 2017.

Como sempre, todos os Relatórios de Fundamentação do OGE identificam objectivos, veri‑ficando‑se, muitas vezes, um excesso de políticas e programas para os atingir, violando‑se uma das regras de coerência da política económica de Jan Tinbergen – economista holandês, prémio Nobel da Economia em 1969, que integrou a matemática na política económica através dos modelos de previsão (atribuição de valores às variáveis‑instrumentais para se quantificarem os objectivos) e modelos de decisão (estabelecidas as metas determinam‑se os valores dos instrumentos) –, que postula uma igualdade entre o número de instrumentos e de objectivos, de modo a evitarem‑se sobredeterminações (um objectivo a ser atingido simultaneamente por vários instrumentos, que podem ser, pelo menos, antinómicos entre si) e subdeterminações (impossibilidade de solução interna do modelo)23. O Relatório de Fundamentação do OGE 2017 não podia ser diferente nesta descrição exagerada de programas e políticas para se atingir um número de objectivos manifestamente menor, sem a apresentação das necessárias provas de coerência. Passados mais de 41 anos ou 14 anos (consoante o marco histórico escolhido) os objectivos da política orçamental são sempre os mesmos, sem que os relatórios de execução apresentem uma avaliação isenta e objectiva do seu cumprimento.

23 Jan Tinbergen (1903‑1994) “compreendendo as notáveis possibilidades que a Econometria e a modelização numérica das economias traziam à resolução concreta dos problemas económicos, o seu esforço foi sempre para criar sistemas práticos de apoio à decisão política real; a maioria dos seus trabalhos dirigiu‑se à construção de modelos de planeamento e à resolução da enorme montanha de problemas concretos que esse trabalho trazia consigo”, in João César das Neves, Nobel da Economia, Principia, 2009. Nestes aspectos talvez a obra mais relevante de Tinbergen tenha sido Mathematical Models of Economic Growth, com H. C. Bos, 1962.

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Mas o OGE 2017 apresenta dois objectivos novos e verdadeiramente centrais e de cuja implementação pode depender a recuperação económica e financeira do país: geração/aumen‑to da poupança e fortalecimento do sistema financeiro (quanto a este item ver capítulo “O sec‑tor monetário”).

Com um PIB por habitante de pouco mais de USD 3500 em 201624, elevadas carências bási‑cas da população e das empresas e um Coeficiente de Gini de 0,55 a propensão à poupança é naturalmente baixa e assim continuará por mais alguns anos. A taxa de poupança – medi‑da como a proporção do não consumo no Produto Interno Bruto – tem sido tradicionalmente baixa, típica de países pobres como Angola, o que não deixa de ser, em certa medida, paradoxal numa sociedade sem sistemas de segurança social e sem acesso generalizado ao crédito para consumo25. Mas tremendamente realista quando o rendimento nacional disponível é baixo e a distribuição do rendimento despudoradamente desigual. Em média, a proporção poupada do PIB foi de 3,3% entre 2015 e 2016, de acordo com o Regional Economic Outlook, Sub‑Saharan Africa, October 2016 do Fundo Monetário Internacional. Porém, se referida aos anos 2012 e 2013 a taxa média de poupança foi de 24,5% por influência dos rendimentos petrolíferos das empresas do sector. Mesmo assim, abaixo dos padrões internacionais e das necessidades de autofinanciamento da economia nacional.

Criar poupança tem componentes culturais e de construção de racionalidades económicas que só o tempo e os processos de desenvolvimento consolidam26. Dum ponto de vista estrita‑mente económico, os incentivos ao seu aumento passam pela preservação do poder de compra dos rendimentos mais baixos, por aumentos salariais indexados aos ganhos de produtividade e pela diminuição dos impostos27.

A questão do crescimento económico é central no processo orçamental do país. Normalmen‑te, os textos oficiais do Governo usam indiferentemente conceitos diferentes de crescimento económico – como crescimento harmonioso, crescimento sustentável, crescimento equilibra‑do, crescimento equitativo – sem que deles sejam apresentadas as respectivas qualificações e

24 Pouco mais de USD 2340 de rendimento per capita, considerando as deduções a título de saldo de transferências de rendimentos factoriais, que diminuem o rendimento nacional (produto nacional líquido a custo de factores).25 Outra forma de calcular a taxa de poupança, talvez a mais correcta do ponto de vista macroeconó‑mico, tem como base o rendimento nacional disponível.26 Ver Adérito Sedas Nunes – Sociologia e Ideologia do Desenvolvimento (Moraes Editores, 1968), A. Costa Pinto – Sociologia e Desenvolvimento, 2.ª edição, Editora Civilização Brasileira, SA, 1965 e Bert Hoselitz – Aspectos Sociológicos do Crescimento Económico, Editora Fundo de Cultura, 1960, onde se relacionam os aspectos culturais do desenvolvimento e se destaca a importância dos mes‑mos enquanto factores estruturantes do progresso social.27 Ambientes económicos e institucionais incertos e instáveis só por si podem incentivar a poupança, como forma de prevenção de efeitos de crise. Do outro lado desta moeda, ambientes inflacionistas relativamente descontrolados, diminuem a poupança por contrapartida do incremento do consumo (uma maneira de resistir à degradação do valor da moeda).

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características. O Papa Francisco utiliza nas suas declarações e escritos um conceito importan‑te de crescimento e define‑o: “o crescimento equitativo exige algo mais do que o crescimen‑to económico, embora o pressuponha; requer decisões, programas, mecanismos e processos especificamente orientados para uma melhor distribuição das receitas, para a criação de opor‑tunidades de trabalho, para uma promoção integral dos pobres que supere o mero assistencia‑lismo”28.

Existem movimentos a acontecer no aparelho económico nacional, alguns bastante positi‑vos (as economias são organismos vivos que mesmo em fases menos boas têm uma apetência natural para a sobrevivência). Embora as atenções estejam dominadas pelas questões orça‑mentais, bancárias e de falta de meios de pagamento sobre o exterior (igualmente pela reces‑são económica de 2015 e 2016 a que mais adiante me refiro), existe bastante actividade no sistema empresarial angolano. Insuficiente, como as informações estatísticas macroeconómi‑cas o comprovam, mas visível29.

De acordo com dados absolutamente oficiais – Contas Nacionais de 2002 a 2012 e Relató‑rios de Fundamentação do OGE entre 2013 e 2017 – o crescimento económico de Angola pode ser dividido em dois períodos distintos: 2002‑2008, apelidado pelo CEIC de “mini‑idade de ouro do crescimento económico do país” e 2009‑2016 e denominado, igualmente pelo Centro de Estudos da Universidade Católica de Angola, de “fase de desaceleração estrutural do cresci‑mento económico”. O indicador usado para a sua caracterização é a taxa de crescimento real do PIB. Assim, para a “mini‑idade de ouro” a taxa média anual de variação do volume de riqueza criada em cada ciclo de 365 dias foi de 10,1%, enquanto para a “fase de desaceleração estrutu‑ral” foi de 3,1%, uma desproporção de 7 pontos percentuais. Mas pelo meio ocorreram aconte‑cimentos interessantes, como:

• Depois da crise financeira e económica internacional de 2008/2009, os preços do petróleo voltaram a aumentar no mercado internacional e a taxa de crescimento do PIB angolano aproximou‑se de 4,6% em 2010. Todavia, uma recuperação efémera, pois em 2011 baixou para 1,86%.

• A contínua subida do preço do petróleo providenciou o registo de crescimentos da produ‑ção mais substantivos em 2012 (5,2%), 2013 (6,8%) e 2014 (4,7%).

• Todavia, os sinais de crise já pairavam no ar a partir de meados de 2014 em que no seu segundo semestre se registou uma das mais violentas quebras do preço do petróleo, mais de 45%. Por isso, o PIB angolano apresentou taxas anémicas de crescimento em 2015 (2,8%) e 2016 (1,1%) (podendo repetir‑se em 2017). Atendendo ao potencial de

28 Papa Francisco, “Exortação Apostólica Evangelii Gaudium”, n.º 204, citado por João César das Neves em As 10 Questões do Colapso, D. Quixote, 2016.29 Grandes empresas mundiais, como a General Electric (1890), Walt Disney Studios (1929) e a Micro‑soft (1975) nasceram durante recessões económicas.

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crescimento revelado durante a fase dourada, as taxas de 2015, 2016 e 2017 podem vir a ser utilizadas para caracterizar um mini período de “crescimento económico anémico”.

• Nesta fase de desaceleração estrutural foram registados três anos em que as taxas de cres‑cimento nominal do PIB (medido em USD) foram negativas, podendo falar‑se de recessão económica: 2013 (‑0,6%), 2015 (‑19,6%) e 2016 (‑2,9%). Em diferentes pontos deste texto de reflexão foram feitas considerações sobre a validade do agregado PIB nominal e a sua importância para as políticas de distribuição do rendimento nacional, sob a forma de salá‑rios, lucros, juros e rendas, que só podem ter expressão monetária numa economia em que o dinheiro é o equivalente universal dos bens e o intermediário por excelência das trocas30.

Angola está a crescer pouco, mas, pior ainda, não se espera que nos tempos mais próximos (até 2022?) possa atingir as dinâmicas dos anos gloriosos das receitas petrolíferas espanto‑sas. Por falta de capital – mesmo durante o período em que as receitas petrolíferas atingiram montantes estratosféricos, este factor de produção esteve sempre em défice31 – e de recur‑sos humanos habilitados e qualificados, o país não reúne as condições do turn over senão no médio/longo prazo.

A análise da Política Orçamental, também designada de Política Fiscal, permite compreen‑der como a classe dirigente de um país organiza e estabelece as suas prioridades. Na linguagem política comum, quem governa apresenta‑as como as do país, no entendimento que a classe dirigente interpreta correctamente as aspirações e ansiedades da população. O que evidente‑mente não é verdade. Seja de que partido político se tratar.

O exercício de elaboração dos orçamentos de Estado e o seu processo de execução são muito mais arenas de disputa de interesses privados, nos quais estão envolvidos políticos, par‑lamentares e empresários, do que espaços de conciliação e atendimento do interesse público, sob diversas formas (provimento de bens públicos, melhoria da distribuição do rendimento nacional, promoção do crescimento e garantia da estabilidade económica).

Costumam, igualmente, constituírem‑se em palcos de confrontação de modelos ideológi‑cos, mais ou menos liberais, mais ou menos keynesianos. Em Angola, a decisão de afectação das despesas é do Presidente da República, na sua qualidade de Chefe do Executivo e mais alto

30 Numa pesquisa realizada no município de Calandula, o CEIC detectou que o equivalente univer‑sal das mercadorias nesta localidade da Província de Malanje era a crueira e não o kwanza, rejeitado pelas populações devido à sua forte deterioração real e ao facto de a moeda nacional aí não chegar (falha do sistema bancário). 31 Não se pode confundir dinheiro (que o país teve e malbaratou) e capital, que não tem, nem mesmo com os investimentos públicos realizados depois da paz (USD 107 606,9 milhões entre 2002 e 2016). Desconhece‑se qual o stock de capital físico (ou fixo) da economia, que inclui estradas, fábri‑cas, equipamentos, tecnologia, edifícios (fabris, escolas, universidades, habitações, etc.), pontes, caminhos‑de‑ferro, infra‑estruturas, materiais de telecomunicações, etc., etc.

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magistrado, ainda que se simule serem o Governo e o Parlamento quem tem essa prerrogativa. Foi deste modo que a opção ideológico‑doutrinária sobre a acumulação primitiva em Angola (a favor da classe dirigente, política e empresarial) foi tomada, tendo os principais instrumentos para a sua concretização sido o Orçamento de Estado e a Sonangol.

O aumento das despesas públicas em períodos eleitorais – uma prática também bastante utilizada e apreciada em Angola – provoca efeitos de evicção perniciosos sobre as economias, não sendo compensados pelos esperados efeitos multiplicadores, muitas vezes perdidos, numa percentagem elevada, a favor do exterior, nos casos de economias muito abertas e dependen‑tes das relações económicas com o estrangeiro.

Em princípio e em condições normais, as despesas públicas devem ser financiadas com um nível estável de fiscalidade, devendo o Orçamento de Estado estar equilibrado. As funções res‑peitantes à satisfação de necessidades sociais e à redistribuição do rendimento são compatíveis com o equilíbrio orçamental (garantindo‑se, assim, a estabilidade da economia).

Mas o elemento essencial e determinante, talvez nunca existente depois de 4 de Abril de 200232 (em meados da década de 80 do século passado o sistema socialista mundial colapsou, com o desarranjo político e social da imperialista União Soviética33), é a confiança. Confiança e credibilidade que o mundo financeiro e económico mundial exige de Angola e que leva muito tempo a construir.

2.2 O conteúdo do OGE 2016 e a sua execução. A influência do ciclo negativo do preço do petróleo

Ao longo deste Relatório Económico, várias serão as referências ao ciclo negativo do petró‑leo, enquanto um dos elementos explicativos (e não justificativos) da insuficiência de receitas públicas. Um dos factores, porque provavelmente os mais relevantes são do domínio da res‑ponsabilidade das políticas públicas em todos os sectores, maioritariamente reactivas e adap‑tativas e muito poucas vezes antecipativas e prescientes.

A desaceleração acentuada da dinâmica de variação do PIB é a prova de que com menos influência do petróleo as finanças públicas deixam de ter fontes alternativas de receitas tributá‑rias, funcionando algumas delas – por exemplo as tarifas alfandegárias – como um real desincen‑tivo à diversificação das exportações. A alteração do perfil das exportações do país e a conquista de novos mercados constituiriam incentivos reais ao crescimento do sector não petrolífero, amarrado à pequena dimensão do mercado interno e refém da sua baixa competitividade. É na

32 E por maioria de razão, após a independência nacional em 11 de Novembro de 1975, com a escolha de um modelo económico e social em manifesto contrapé com a História.33 Os tais desacertos de calendários de que falava o saudoso Professor Mário Murteira quando se refe‑ria às escolhas ideológicas dos países africanos de expressão portuguesa.

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dinâmica do sector não petrolífero que se devem equacionar – dentro de modalidades racionais defensoras da eficiência fiscal e que evitem a ocorrência de fenómenos macrofiscais como a Curva de Laffer34 – onde as fontes alternativas à fiscalidade petrolífera devem ser investigadas.

Nos balanços fiscais do Governo são evidentes as incapacidades de criação de novas fontes tributárias ou reforço das existentes, num contexto em que se estabelecem relações de incom‑patibilidade entre alguns objectivos da política orçamental (por exemplo, mais despesa pública, mesmo em áreas sociais, de que não se conhecem os retornos e nas obras públicas, agrava o défice e determina o aumento da dívida pública), agravadas pelas relações de potenciação da política monetária, conservadora quanto à preservação da estabilidade dos preços.

QUADRO FISCAL (EM PERCENTAGEM DO PIB)

Rubricas 2013 2014 2015 2016

Impostos petrolíferos 30,1 23,8 15,4 9,1

Impostos não petrolíferos 8,1 9,1 9,3 9,2

Contribuições sociais 1,0 0,7 1,2 0,9

Doações 0,0 0,0 0,0 0,0

Outras receitas 1,0 1,7 1,4 1,4

Fonte: Relatório de Fundamentação do OGE 2017.

A dramaticidade da situação financeira do Estado – iniciada em 2012, ainda que da tabe‑la não constem essas informações – atinge o seu auge em 2016, com 9,1% do PIB de receitas fiscais petrolíferas, quando nos gloriosos e dourados anos 2003‑2008 atingiram a cifra de 32%, em média anual35. E este drama da insuficiência crónica de recursos financeiros do Estado acen‑tua‑se com a perfeita invariabilidade do peso relativo no PIB dos impostos não petrolíferos (sobre lucros, rendimentos do trabalho, ganhos de capital, bens e serviços e comércio internacional).

Aparentemente, a política de substituição de importações não está a dar os resultados espe‑rados e tão ansiados pelos defensores do fechamento das economias: a produção industrial está a diminuir (na melhor das hipóteses não está a aumentar quanto o projectado, como se comprova no respectivo capítulo deste Relatório) e a agrícola estacionária. Depois de 2013, o PIB não petrolífero perdeu ímpeto e a sua velocidade de crescimento passou de 8,2% em 2014, para 1,2% em 2016, estando, portanto, justificada a imobilidade no processo de diversificação do sistema fiscal nacional e a estacionaridade do peso no PIB desta componente da tributação

34 Tem‑se a sensação que este fenómeno descoberto pelo economista norte‑americano Arthur Laffer já ocorre no sector petrolífero. As companhias estrangeiras têm apresentado sucessivas queixas sobre a exorbitância do quadro fiscal aplicado à sua actividade, estando a ocorrer o conhecido efeito‑rendi‑mento através da diminuição da produção, justamente devido ao desincentivo e penalização fiscais.35 CEIC – Ficheiro “Quadro Macroeconómico Comparativo”.

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do Estado. Com crescimento económico de baixa intensidade dos sectores‑chave da diversifi‑cação e dos ganhos de produtividade, as dificuldades de obtenção de recursos financeiros para o Estado agravar‑se‑ão.

O peso percentual das tarifas aduaneiras estacionou em 1%, em média anual 2013/2016, naturalmente porque as importações e os investimentos têm diminuído devido à crise de cres‑cimento e o consumo privado (essencialmente das famílias mais pobres) reage em baixa, adap‑tando‑se à quebra do poder de compra dos seus rendimentos devido à elevada inflação.

Outro aspecto de relevância é o das contribuições para a previdência social (em média anual 0,95% do PIB), concluindo‑se pela incipiência do sistema de previdência e segurança social no país. Evidências empíricas diversas demonstram que a conjugação entre impostos progressivos e sistemas de previdência social reduz consideravelmente a desigualdade (económica e social) e potencia a redução da pobreza em bases sustentáveis (ver, no Capítulo 6 deste Relatório, a abordagem sobre a desigualdade em Angola).

Em conclusão: 2016 foi um ano muito difícil para as finanças do Estado e só o aumento da dívi‑da pública (interna e externa) permitiu que as despesas mais estratégicas e essenciais – do ponto de vista do Governo – pudessem ser implementadas com reajustamentos de pequena monta, dada a já assinalada insuficiência de meios financeiros próprios captados através dos impostos. Ou seja, optou‑se por uma abordagem minimalista de ajustamento orçamental, com acertos pequenos nas despesas do Estado, quando a situação exigiria mais coragem de adaptação às suas reais capacidades e disponibilidades financeiras (diminuição do número de Ministérios, de Ministros e Secretários de Estado, corte do número de funcionários fantasmas, adaptação da estrutura administrativa das instituições públicas aos efectivos níveis de produtividade.

QUADRO FISCAL DO LADO DAS DESPESAS (EM PERCENTAGEM DO PIB)

Rubricas 2013 2014 2015 2016

Salários 9,6 10,6 11,3 9,3

Aquisição de bens e serviços 10,2 10,0 6,4 5,0

Juros da dívida pública 0,8 1,2 2,0 2,6

Prestações sociais 1,7 1,9 2,3 1,2

Investimento público 11,4 12,4 5,8 5,7

Fonte: Relatório de Fundamentação do OGE 2017.

Do lado das despesas, os movimentos contraccionistas foram idênticos em todas as rubri‑cas, excepção feita aos juros da dívida pública, cuja participação percentual no PIB passou de 0,8% em 2013, para 2,6% em 2016. Uma consequência directa do aumento do stock da dívida pública, externa e interna, mas igualmente do agravamento das condições de contratação de

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novos financiamentos. Na verdade, as taxas de juro têm subido bastante, no mercado finan‑ceiro internacional, por causa da quebra de confiança e de credibilidade do sistema financeiro nacional e internamente devido às elevadas taxas de juro que o Estado propõe aos subscritores das suas obrigações, como forma de atrair as poupanças privadas. Acresce que a elevada taxa de inflação em 2015 e 2016 ajudou à subida das taxas de juro cobradas pelo sistema bancário.

As remunerações dos funcionários civis e militares do Estado têm uma representatividade média de 10,2%, aparentemente elevada face a determinados padrões internacionais. No entanto, o salário médio mensal da Função Pública (civil e militar) não ultrapassou AKZ 265 00036, em 2016. Existem efeitos económicos associados às componentes das despesas correntes (onde se incluem as despesas gerais de funcionamento das instituições públicas) sobre o consumo privado, a produ‑ção, a inflação e a distribuição de rendimentos. No entanto, é fundamental adequá‑las aos ganhos de produtividade, sem o que a qualidade dos serviços públicos pode permanecer a mesma.

A significativa redução do peso relativo das aquisições de bens e serviços deixa no ar a hipó‑tese de ter havido uma deterioração das condições de funcionamento da máquina do Estado e de prestação de serviços colectivos aos cidadãos e às empresas. Entre 2013 e 2016, a quebra deste tipo de despesas foi de 31%.

As prestações sociais, através das quais se intervém na redução das desigualdades e na equa‑lização das oportunidades, depois de experimentarem um incremento de 0,6 ponto percentual entre 2013 e 2015, passaram a representar tão‑somente 1,2% do PIB em 2016 (50% a menos do que em 2015). O rendimento disponível das famílias – aplicado em poupança (financiamento do investimento) e em consumo (factor de crescimento) – pode sair prejudicado face a esta dimi‑nuição, afectando‑se as situações de pobreza. Refira‑se que esta rubrica orçamental passou de AKZ 283,2 mil milhões em 2015, para AKZ 200,1 mil milhões em 2016, uma redução de 29,3%).

Finalmente, o investimento público, uma das componentes determinantes do aumento do produto potencial da economia. A opção estratégica do Governo, depois de 2014, tem sido a de procurar manter as suas despesas de investimento, justamente para continuar a criar condi‑ções infra‑estruturais viabilizadoras de mais crescimento económico. As taxas médias de cresci‑mento do PIB em 2015 e 2016 foram das mais baixas do ciclo económico nacional entre 2010 e 2016, tendo sido mesmo negativa neste último ano, significando uma recessão de 3,6%, segun‑do as Contas Nacionais do INE. Como referido já anteriormente, face à insuficiência de receitas próprias, o endividamento foi o recurso adoptado para se manter uma taxa de investimento público minimamente incentivadora da actividade privada, duma forma directa pela adjudica‑ção de obras públicas, e indirecta pelos efeitos a montante e a jusante que desencadeia. Nas presentes condições do país, uma taxa de investimento do Estado de 5,7% do PIB é insuficiente face às necessidades de o país erguer uma base de infra‑estruturas que contribua para a melho‑ria da competitividade económica do sistema económico nacional.

36 Montante global AKZ 1484 mil milhões e um quantitativo de emprego de 467 135.

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QUADRO FISCAL DO LADO DO DÉFICE ORÇAMENTAL (EM PERCENTAGEM DO PIB)

Rubricas 2013 2014 2015 2016

Saldo global (compromisso) 0,3 ‑6,6 ‑3,3 ‑5,9

Restos a pagar e a receber 2,7 4,1 1,1 0,0

Saldo global (caixa) 3,0 ‑2,4 ‑2,2 ‑5,9

Financiamento líquido ‑2,9 2,5 2,2 5,9

Fonte: Relatório de Fundamentação do OGE 2017.

O saldo orçamental global acumulado situou‑se em 2016 em ‑15,5% do PIB na óptica de compromisso e em ‑7,5% na perspectiva de caixa. Qualquer um dos valores acaba por ser ele‑vado e a avaliação dos seus efeitos sobre a economia depende da sua natureza: défices orça‑mentais viciosos ou virtuosos. As perspectivas financeiras futuras continuam a depender, numa boa medida, do preço do petróleo. O ano de 2016 fechou com um preço médio de USD 41,85 o barril. Depois de alguns episódios, já em 2017, de subidas até USD 56, as mais recentes obser‑vações voltaram a colocar a fasquia em praticamente USD 50 o barril. A diversificação fiscal demora tempo a ocorrer e depende do que se passar com a capacidade de crescimento e de transformação da economia, igualmente tributárias de tempo, mas sobretudo de boas políticas e de boa governação.

O cenário fiscal seguinte foi retirado do último relatório de missão do FMI datado de 27 de Março de 2017. O Governo normalmente não apresenta cenários fiscais de médio prazo, limitan‑do‑se os Relatórios de Fundamentação, quando muito, a um alongamento de apenas um ano.

CENÁRIO FISCAL DE BASE

Rubricas 2017 2018 2019 2020 2021

PIB (%) 1,3 1,5 1,4 1,5 1,4

PIB petrolífero (%) 1,5 1,5 0,0 0,3 ‑0,3

PIB não petrolífero (%) 1,3 1,5 2,0 2,0 2,0

PIB (mil milhões de USD) 121,0 134,4 139,7 145,0 150,3

PIB per capita (USD) 4294 4630 4674 4708 4739

Receita pública (% PIB) 18,9 19,0 19,1 19,2 19,2

Fiscais petrolíferas (% PIB) 8,7 8,6 8,7 8,7 8,6

Fiscais não petrolíferas (% PIB) 8,2 8,3 8,4 8,5 8,7

Despesas correntes (% PIB) 20,7 19,0 18,4 17,8 17,4

Despesas de capital (% PIB) 5,0 4,5 4,5 4,5 4,5

Saldo orçamental global (% PIB) ‑6,7 ‑4,5 ‑3,8 ‑3,1 ‑2,6

Fonte: Fundo Monetário Internacional, Angola – Consultas de 2016 ao Abrigo do Artigo IV, Fevereiro de 2017.

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Ainda que se trate de um cenário de base, que normalmente considera uma projecção com manutenção das condições presentes, sem influência de políticas de reajustamento estrutural, verifica‑se que a situação financeira futura do país será de enormes dificuldades:

a) Uma perfeita igualização da participação relativa das receitas fiscais petrolíferas e não petrolíferas. Na prática, a confirmação do fim da era do petróleo em Angola, sem que, entretanto, tenham ocorrido as transformações estruturais necessárias e essenciais, nos domínios das infra‑estruturas, da agricultura, da manufactura e da energia. Trata‑se, afi‑nal, de uma diversificação sem suporte estrutural, sem futuro e sem consistência. Admi‑tindo que o fenómeno esteja realmente em marcha.

b) Uma tendência decrescente na participação das despesas correntes no PIB, o que é posi‑tivo para a sanidade das finanças do Estado e para o aumento do espaço de intervenção da iniciativa privada. No entanto, há que acautelar os sectores sociais, nomeadamente a educação, de cuja quantidade e qualidade dependerá a qualidade de crescimento e a sua potencialidade.

c) Uma manutenção da taxa de investimento do Estado, sem que ainda o país esteja dotado de um stock de capital fixo da economia. O cenário fiscal seguinte foi retirado do último relatório de missão do FMI datado de 27 de Março de 2017.

O país enfrenta, na verdade, desafios hercúleos para o vencimento dos quais faltam capital humano, recursos financeiros e capacidade estratégica de governação.

2.3 Some more considerations on tax reform in Angola

The following analyses the evolution of the non‑oil tax revenues in Angola since the end of the war in 2002.

Increasing revenue

In nominal terms, there has been a formidable increase in tax revenue. During the 14 years of peace, the nominal tax revenue increased 37 times. Was this as a major advance for the Angolan economy and society? What does it tell us about the tax reforms since 2011?

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CEIC / UCAN

NON‑OIL TAX REVENUE (BILLION KWANZAS)

RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2016RI.2017.0000.01.01

DT_03a2.ª prova

25 maio 2017Paulo Amorim

42 92 128 188 239338

468 539 594711 723

9721128 1144

1557

2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016

Source: CEIC, based on Relatórios de Fundamentação do OGE 2003-2017, Ministry of Finance.

We proceed to examine this increase in the context of other major tendencies of the Ango‑lan economy in the same period.

Most importantly, these were the years of very high economic growth in Angola. The GDP increased from 405 to 16,880 billion kwanza between 2002 and 201637 – a nominal expansion of 42 times. The dollar worth of the GDP increased more than 10 times. Inflation was high during this period, albeit oscillating. It fell from 105 per cent in 2002 to 2006 when it stabilised at an average of 11 per cent per year for nearly the next decade (inflation started to rise sharply again in 2015, in 2016 it was 41.95 per cent). Clearly, both economic growth and inflation con‑tributed to the tax revenue expansion.

Steady nominal revenue growth – but not enough to compensate

Compared to the economic growth in the non‑oil sector, did the tax revenue grow satisfacto‑rily? As illustrated in the following Figure , the growth pattern of the non‑oil GDP – like the total Angolan GDP – fluctuated a lot during these years, with a high point in 2007 (an amazing 25 per cent real annual growth) to an expected low point in 201638 (1.2 per cent).

We see that the increase in the tax revenue was steady in spite of the high volatility of the growth in the non‑oil sector GDP. From the point of view of public finances, and specifically for the tax reform, this seems to be a reassuring trend.

37 Relatório de Fundamentação do OGE 2003 e 2017, Ministério das Finanças.38 Relatório de Fundamentação do OGE 2017, Ministério das Finanças.

Relatorio_economico_2016_01a288.indd 42 6/6/17 6:02 PM

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| 43

RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2016

NON‑OIL TAX EX VERSUS NON‑OIL GDP GROWTH

RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2016RI.2017.0000.01.01

DT_03b2.ª prova

25 maio 2017Paulo Amorim

0200400600800

10001200140016001800

0

5

10

15

20

25

30

Non-oil Ttax (Billion of kwanzas) Non-oil GDP Growth

Billi

on o

f kw

anza

s

2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016

%

Source: CEIC, based on Relatórios de Fundamentação do OGE 2003-2017, Ministry of Finance.

As commonly known, the oil revenue increased enormously in Angola during the same years, driving economic growth also in the non‑oil sector. The following Figure shows the rela‑tive importance of both oil and non‑oil revenue to the state budget. More than anything, it shows Angola’s exceptionally high dependence on the oil revenue, as oil revenues accounted for a steady average of around 80 per cent of all government revenue. This dependence led to the current dramatic situation for the public finances as the international oil prices, and thus Angola’s oil revenues, plummeted after 2014. The importance of non‑oil revenue increased somewhat from 2012, already before the drop in oil price.

OIL AND NON‑OIL REVENUE AS % OF TOTAL REVENUE

RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2016RI.2017.0000.01.01

DT_03c2.ª prova

25 maio 2017Paulo Amorim

0102030405060708090

Oil revenue (% of total revenue) Non-oil revenue (% of total revenue)

2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015

%

Source: CEIC, based on Relatórios de Fundamentação do OGE 2003-2017, Ministry of Finance.

Relatorio_economico_2016_01a288.indd 43 6/6/17 6:02 PM

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CEIC / UCAN

The following Figure illustrates the dramatic fall in oil revenues. The increase in non‑oil tax revenue is nowhere near compensating for the loss of oil revenue.

TAX REVENUE (BILLION KWANZAS)

RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2016RI.2017.0000.01.01

DT_03d2.ª prova

25 maio 2017Paulo Amorim

0,00

500,00

1000,00

1500,00

2000,00

2500,00

3000,00

3500,00

4000,00

4500,00

Oil revenue Non-oil revenue

2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015

Source: CEIC, based on Relatórios de Fundamentação do OGE 2003-2017, Ministry of Finance.

A reservation regarding the 2016 figures

There is an important reservation regarding the figures for 2016. As seen from Figure below, comparing the budget forecast to the executed revenue, the government forecast was quite accu‑rate until the onset of the tax reform in 2011. For some reason, the government thereafter crea‑ted overly optimistic forecasts until 2016, when all of a sudden the preliminary executed figure shows that the government underestimated the revenue. As discussed below, we find that the inflation rate, which started to spiral again in 2015, is the most likely explanation for this change.

FORECASTS VERSUS ACTUAL REVENUE (BILLION KWANZAS)

RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2016RI.2017.0000.01.01

DT_03e2.ª prova

25 maio 2017Paulo Amorim

0,00200,00400,00600,00800,00

1000,001200,001400,001600,001800,00

Forecast Executed

2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016

Source: CEIC, based on Relatórios de Fundamentação do OGE 2003-2017, Ministry of Finance.

Relatorio_economico_2016_01a288.indd 44 6/6/17 6:02 PM

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RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2016

As per cent of GDP, same revenue level as in 2002

The next Figure qualifies the picture in a very important way. Despite the tremendous grow‑th in the nominal worth of the non‑oil revenue, we see that as a percentage of total GDP, non‑‑oil taxes remains at more or less the same level as it was in 2002. There are, however, some important qualifications.

We see that the high point of nominal non‑oil taxes to GDP was in 2009, the year when there was a massive decrease in oil revenues (linked to “global financial crisis”), with a resulting dip in the overall GDP. From 2009 to 2012, there is a decrease in the weight of the non‑oil taxes as per cent of GDP. Then, from 2013 to 2014, after the onset of the “tax reform” phase, the ratio of the non‑oil taxes to GDP recovered again, in order to reach the same level as in 2002. If non‑oil taxes in Angola has stayed at a steady average of 8 per cent of GDP in Angola, this compares to 15 per cent in Algeria, 14 per cent in Gabon, 5 per cent in Equatorial Guinea, 4 percent in Libya and 3.5 per cent in Nigeria, all major oil producing countries in Africa.39 Only Algeria and Gabon have a non‑oil tax to GDP ratio above 10 percent, the rest of African oil producing countries have very low ratios, and lower than Angola.

EVOLUTION OF THE NON‑OIL TAXES

RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2016RI.2017.0000.01.01

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25 maio 2017Paulo Amorim

0200

Non-oil tax revenue (billion kwanzas) Non-oil tax revenue (% GDP)

2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016

Billi

on k

wan

zas

GDP

(%)

200400600800

10001200140016001800

012345678910

Source: CEIC, based on Relatórios de Fundamentação do OGE 2003-2017, Ministry of Finance.

A disconnection between non‑oil taxes and non‑oil GDP growth?

The following Figure provides us with another important insight. It shows that non‑oil tax revenue as a percentage of GDP is in fact quite disconnected from the real growth of the non‑oil sector. In other words, growth in the non‑oil sector does not necessarily result in a

39 IMF – Article IV 2016, Reports of each country.

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CEIC / UCAN

corresponding growth in the non‑oil tax revenue. This can be explained by the hypothesis that in Angola, non‑oil growth is itself closely connected to the growth in the oil sector. Oil remains the “motor” of the Angolan economy.

NON‑OIL TAXES (% GDP) VERSUS NON‑OIL GROWTH

RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2016RI.2017.0000.01.01

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25 maio 2017Paulo Amorim

0

Non-oil GDP growth Non-oil taxes (% GDP)

2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 20162015

5

10

15

20

25

30

Source: CEIC, based on Relatórios de Fundamentação do OGE 2003-2017, Ministry of Finance.

The growth of the nominal tax revenue seems to follow another dynamic. If there is a dis‑connection between the non‑oil sector and the non‑oil tax revenue, what has then driven the nominal growth of the non‑oil revenue?

What explains the high nominal revenue growth?

We shall in turn look at three possible explanations. Firstly, since inflation tends to go along with a higher nominal income base, can inflation explain it? Could the expansion of the taxpayer base explain it (collecting from more taxpayers)? Could an increase “tax burden” explain it (collecting more from each taxpayer)? Or is the explanation some combination of the above?

Revenue increased faster than inflation

The next Figure shows that the inflation rate cannot alone explain the nominal growth of tax revenue. For most of the period under analysis, the nominal tax revenue increased with a higher rate than inflation. However, it does not rule out the possibility that in 2016 – when infla‑tion rose sharply – the government expected higher revenue yields precisely because of the generally increased price level. For instance, as long as there is economic growth, higher prices will immediately result in higher returns on the consumption tax.

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RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2016

NON‑OIL TAX VERSUS INFLATION RATE

RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2016RI.2017.0000.01.01

DT_03h2.ª prova

25 maio 2017Paulo Amorim

0 02040

6080100120

Non-oil tax (Billion of kwanzas) Infla�on

2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2002 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016

200400600800

10001200140016001800

Mill

ion

of k

wan

zas

Infla

�on

rate

Source: CEIC, based on Relatórios de Fundamentação do OGE 2003-2017, Ministry of Finance.

The taxpayer base – assessing the number of taxpayers (contribuintes)

The Ministry of Finance has provided fresh data on the expansion of the base of active tax‑payers (contribuintes) between 2003 and 2015. As seen in the following Figure, the number of active taxpayers40 increased rapidly from an extremely low level.41 In 2015, there were 548,180 active taxpayers, of whom42:

• 93 per cent were individuals (type 1).

• 4 per cent were individuals owning small businesses (type 2).

• 3 per cent were companies or other collective personalities (type 5).

• 0.2 per cent were companies or other collective personalities that by their nature of acti‑vity are exempt from paying corporate tax (type 7).

40 The Ministry of Finance provided figures for three categories: Active taxpayers, the ones who are currently paying their tax; “ceased” taxpayers, the ones who are somehow not paying tax; and “regis‑tered taxpayers”, all who are registered in the rolls. From the registered subtracting the ceased, one gets the total number of active taxpayers. The first few years after 2003, we found anomalies and variations in the numbers. From about 2005 – way before the onset of the fiscal reform – the number of ceased taxpayers is almost insignificant in comparison with the registered, indicating a “stabilisa‑tion” or a consolidation of the taxpayer records. 41 Luther et. al (2017) claim that the Angolan taxpayer base broadened “from 964,000 taxpayers in 2010 to 3.74 million by the end of 2015”. That is an increase of 2.77 million taxpayers. Although a senior figure in the tax administration, Luther does not provide a source of their data. 42 Law decree no. 61/04, of 28 September defines the four “types” referred to above. Each type of tax‑payer has a corresponding tax identification number starting with 1, 2, 5 or 7 respectively – hence, there are no “missing” types in between.

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CEIC / UCAN

Coming out of the civil war in 2002, Angola’s tax system was in complete disarray, and the registered held a mere 453 people as actively paying tax in that year.43 Compared to countries of similar GDP levels, the number of individuals paying tax was exceptionally low, even in 2015. The 509 thousand individuals paying income tax represented a mere 4.6 per cent of the popu‑lation above 18 years of age (around 11 million people).44

NUMBER OF TAXPAYERS

RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2016RI.2017.0000.01.01

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25 maio 2017Paulo Amorim

453

2003

40510

2004

38223

2005

90693

2006

133555

2007

185393

2008

199495

2009

270028

2010

389921

2011

515242

2012

477154

2013

560040

2014

548180

2015

Source: AGT (General Tax Administration).

YEARNUMBER OF ACTIVE TAXPAYERS

Type 1 Type 2 Type 5 Type 7 TOTAL

2003 2 347 103 1 453

2004 5128 18 169 15 605 1608 40 510

2005 26 306 8210 3341 366 38 223

2006 73 120 12 869 4064 640 90 693

2007 116 641 11 494 4784 636 133 555

2008 164 881 13 464 6432 616 185 393

2009 177 492 14 500 6684 819 199 495

2010 249 981 13 723 5421 903 270 028

2011 370 469 12 936 5766 750 389 921

2012 447 631 59 303 7360 948 515 242

2013 442 435 25 889 7976 854 477 154

2014 529 304 19 568 10 444 724 560 040

2015 509 071 22 848 15 157 1104 548 180

43 We here recognise that there may have been many more, as the wild fluctuations between the “registered” versus the “active” and “ceased” taxpayers, making it difficult to make strong affirma‑tions about real numbers until about 2005.44 Demographic data from UNICEF, at https://www.unicef.org/infobycountry/angola_statistics.html

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RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2016

The numbers tell us that the most rapid increase in the taxpayer base took place before the tax reform period (from 2011). From 2011 onwards, the rapid expansion of the tax base appears to have largely ended. In the five years from 2007‑2011, the number of individual taxpayers (type 1) increased by 320 per cent, while for next five year period (2011‑2015) it expanded only 38 per cent.

We can best understand the figures when broken down to individuals and companies. Firstly, we should mention a demographic fact of some concern: The numerical increase of individual taxpayers from 2012 to 2015 was of 61,440 people, which represents a 4 per cent annual grow‑th on average – only slightly higher than the 3.2 per cent population growth. The high popula‑tion growth in Angola means that AGT needs to expand its rolls by another 20‑25,000 annually just to keep up with the population growth. One also needs to take into account that a good portion of the individual taxpayers during the last decade, particularly during the years of high growth (2004‑12), was actually foreigners paying taxes for working in Angola (we do not have exact figures). Many of these foreigners have left the country after 2014 since the economic downturn quickly made working in Angola less attractive to foreigners.

One part of the reason for the relative slow‑down in the expansion of the individual taxpayer base is that there is a natural limit to that numerical expansion given by the number of people registered in formal employment (and likewise in the number of real existing and active busines‑ses/corporations). Even so, there is a long way to go in order to get all people in employment to register as taxpayers. Angola’s central statistical office (INE) provides the employment figures for all sectors, including the primary sectors. When comparing the number of individual taxpayers with the number of “employed people” we found that in 2006 only 2 per cent of the employed were registered as taxpayers, 7 per cent in 2011 and 8 per cent in 2015. The next Figure shows how few are the registered individual taxpayers in comparison to the total employment.

TOTAL EMPLOYMENT VERSUS TAXPAYERS TYPE 1

RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2016RI.2017.0000.01.01

DT_03m2.ª prova

25 maio 2017Paulo Amorim

0

200 000

100 000

300 000

400 000

500 000

600 000

700 000

Total employment Taxpayers type 1

2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015

Source: CEIC, based on data from AGT and INE (National Institute of Statistic).

Relatorio_economico_2016_01a288.indd 49 6/6/17 6:02 PM

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CEIC / UCAN

The breakdown of the taxpayer types reveals an important improvement that may be attri‑butable to the tax reform: since 2013 – after the height of the tax reform period – the increase in the number of individual taxpayers may be slowing down, but the number of registered busi‑nesses doubled (type 2, 5 and 7). By 2015, the number of corporate taxpayers in Angola was 39,109, representing 94 per cent of the 41,507 companies/organisations registered by INE (see next Figure). That was the highest percentage measured since 2008, after a period (2008‑14) when the figure averaged at 67 per cent. Hence, the tax administration seems to have had some success in increasing its coverage particularly in 2015 – with the exception of the year 2012 that was an anomaly probably due a typical case of “election year pork”.45

Whether the number will remain at that of its peak year is yet to see. In any case, coming in the midst of economic slowdown, our hypothesis is that the administrative effort of regis‑tering businesses – attributable to new practices at the AGT and witnessed in the coverage of “INE registered businesses” – can better explain the increase than a growth in the real number of businesses.

CORPORATE TAXPAYERS VERSUS ACTIVE BUSINESS (INE REGISTERED)

RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2016RI.2017.0000.01.01

DT_03n2.ª prova

25 maio 2017Paulo Amorim

010 00020 00030 00040 00050 00060 00070 00080 000

Ac�ve businesses/Corpora�ons, Source INE Taxpayers type (2+5+7)

2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015

Source: CEIC, based on data from AGT and INE (National Institute of Statistic).

In summary, the tax reform has had a moderate and very recent success in registering the universe of corporations (type 5) in its tax base, with the figure for 2015 twice that of 2013, and three times higher than that of 2011. It has not had a similar increase in the expansion of its base of individual taxpayers, neither as compared to the number of employed people, and far less to the number of adult citizens: it seems that more than 95 per cent of adult Angolans do not pay tax.

45 The national statistical office INE apparently failed to register the huge spike in the number of small businesses (type 2) in 2012, the year of the general election. We assume that the explanation was the creation of nearly 50,000 “micro‑businesses” registered at BUE (Balcão Único do Empreendedor) in that year, a local office where individual “entrepreneurs” would register (and in the process receive a taxpayer ID) in return for a small loan – the majority of which was, according to the authorities, never recovered. http://www.redeangola.info/bue‑e‑angola‑investe‑longe‑dos‑objectivos/

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Did the tax pressure increase?

Finally, can the expansion of the taxpayer base explain the high nominal growth of non‑oil taxes? Largely it can, something that is clearly brought out by the following figure. It compares the number of active taxpayers with the revenue from all income taxes (corporate, personal and capital). For most of the period under analysis, the tax revenue grew in more or less a simi‑lar pace as the tax base expanded. Only in 2014‑15 did the tax on income expand more rapidly than the number of taxpayers. In other words, in that year, the tax burden clearly increased. Otherwise, there is no clear evidence of an increased tax pressure.

TAX ON INCOME VERSUS NUMBER OF TAXPAYERS

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Number of ac�ve taxpayers Tax on income (corporate, personal and capital)

2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015

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Source: CEIC, based on data from AGT and Ministry of Finance.

Based on a reading of the overall figures, the short story is – except for in the last year, which may or may not have been an anomaly – that there was no significant increase in the average tax burden in Angola. Thus, we find a clear answer to the question opening this section: What best explains the nominal increase in tax revenue is not inflation, and not the tax burden. It is, rather, the large increase in the number of taxpayers.

The increase in the number of new taxpayers – both relative and in absolute figures – was higher before than after the onset of the tax reform. Nevertheless, the number of corporate tax‑payers tripled since the onset of the tax reform period.

Non‑oil taxes disaggregated

What does a disaggregation of the term “non‑oil taxes” tell us? What kind of taxes contribu‑ted more to the treasury? A breakdown of the revenue figures is necessary in order to drive the analysis further. The detailed revenue figures are, unfortunately, only comparable until 2014.46

46 At the time of this study the disaggregated tax revenues were only available up to 2014

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It is tempting to treat the disaggregated data as a proxy for the (tax) authority’s priorities, for ins‑tance that the revenue line that increased most did so because of the tax administration’s (AGT’s) deliberate measures. We should caution against such an interpretation, as not only the efforts of the tax administration, but also many political actions and the general economic development will influence revenue collection. A full analysis of those variables is beyond the scope of this chapter.

Let us start with year 2010 – the last year before the tax reform – and compare it with 2014, the last year for which we have fully disaggregated data. The table below shows that corporate taxes in 2014 accounted for about a third of the non‑oil tax revenue (up from about 27 per cent in 2010) , and together with the consumption tax (20.4 per cent in 2014), it accounted for more than half of the non‑oil tax revenue. Tax on personal income, however, accounted for merely 16.6 per cent in 2014 (up from 13.1 per cent in 2010). These observations are consistent with the above proposition that the tax reformers gave priority to increasing the taxpayer base for the constituency that already rendered the most revenue: The corporations and businesses paying corporate tax. In contrast to the consumption tax, the revenue from these sources can relatively easily be increased by expanding the taxpayer base.

One noteworthy figure is the property tax, which accounted for only 2.5 per cent of the total in 2014 (up from 0.5 per cent in 2010), or 28 billion kwanza. In 2014 that corresponded to approximately USD 250 million. A breakdown of the figures showed us that 90 per cent of the property tax collected was the “tax on urban real‑estate” (imposto predial urbano), a tax that was negligible until 2011. Importantly, the tax on urban real estate could form the basis for a possible new local government tax regime when the Angolan authorities finally create the autarquias – elected local governments with some fiscal autonomy. For a city like Luanda, the revenue figure today is by far enough to sustain a municipality, but the potential is substantially higher than what was collected in 2014.47

2010 2014

Non‑oil taxes Million AKZ % of total Million AKZ % of total

Corporate 154,920 26,9 357,060 32,3 (+)

Consumption 159,864 27,7 226,090 20,4 (‑)

Personal income 75,467 13,1 183,736 16,6 (+)

On foreign trade 101,941 17,7 182,042 16,4 (‑)

Stamp tax 81,748 14,2 130,814 11,8 (‑)

Property tax 2,991 0,5 28,161 2,5 (+)

Total 576,931 1,107,903 100

Source: CEIC, based on Relatórios de Fundamentação do OGE 2003-2017, Ministry of Finance.

47 The property tax figure seems especially low. Some Angolans own urban property worth hundreds of millions of dollars, and the total annual appreciation of property in Luanda around 2014 must have been worth billions of dollars. There is considerable potential for the state to take back some of this value from pri‑vate hands (particularly if considering that the appreciation would not have been possible without the state).

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The previous table shows that after the introduction of the tax reform, the corporate tax and the personal income tax were the two revenue sources that increased most in importance, although the consumption tax still add more weight than the personal income tax (20 per cent). The relative increase in the personal income tax is also quite low, meaning that lion’s share of new nominal revenue during this period comes from taxes drawn from businesses and corpo‑rations.

During the years 2010‑14, the nominal corporate tax revenue increased 232 per cent, while the number of type 5 taxpayers increased by 192 per cent, but due to inflation this increase can‑not be understood as an increase in the average tax burden on businesses. In 2010, businesses (type 5) paid an average 29 million kwanza (ca. USD 290,000) in annual corporate tax, rising to only 34 million in 2014. That average increase accounts for far less than the inflation. Thus, there was no increase in tax burden on businesses in the period. However, the integration and enrolment of many new businesses may be understood that the overall tax burden on the busi‑ness sector increased. In other words, the increase in the number of businesses taxed was far more important to the treasury than the amount extracted from each individual business. This, however, are only average figures, which means that certain types of businesses and/or sectors may have experienced either a tightening or an ease in the tax burden. The figures made avai‑lable to us are not sufficiently detailed to determine that.

The following Figure shows us the importance of the corporate tax, as it generate almost as much in revenues alone as the consumption and personal income taxes. Corporate tax also appears to raise revenues more rapidly than other taxes.

MAIN COMPONENTS OF NON‑OIL TAX (MILLION KWANZAS)

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Corporate taxes Consump�on tax Personal income taxesTax foreign trade Stamp tax Property taxes

2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

Source: CEIC, based on Relatórios de Fundamentação do OGE 2003-2017, Ministry of Finance.

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The period 2010‑14 covers the major part of the reform period. Assessing the revenue figu‑res according to source, the following propositions can be suggested as resulting from the non‑‑oil tax reform:

• Three taxes have increased in relative importance: Corporate, personal income and pro‑perty tax. The increase in corporate tax revenues is by far the most salient.

• Despite much controversy around the tax on foreign trade after 2014, it actually decreased in relative importance to the treasury.48

A clear tendency can be seen when examining these figures together with the size of the tax base. It tells us about a tax reform that has succeeded more in taxing businesses than to draw more individuals into the tax system.

• This has important implications for the future direction of the reform : drawing more peo‑ple and businesses into the tax base and generating more fiscal revenues for the Treasury.

Conclusions

Although the percentage of non‑oil taxes to the total revenue of the treasury increased substantially around 2012, and is now 42 per cent of the total, the tax reform period has not resulted in reduced dependence on oil revenues. The drop in oil prices led to a dramatic overall drop in government revenue, since the non‑oil taxes were not able to compensate for the redu‑ced oil revenues. The importance of non‑oil taxes to the overall GDP remains roughly the same today as in 2002. Therefore, the government of Angola has resorted to large‑scale borrowing and major budget cuts after 2015.

Nevertheless, there has been a huge increase in nominal income. The increase in revenues has taken place independently of the fluctuations in the overall growth of the economy and the non‑oil economy itself. Thus, the expansion of the number of registered taxpayers administra‑tive through administrative measures is the most important explanation for this development. Indeed, the taxpayer base expanded steadily since 2002, with particular emphasis on corporate taxpayers from around 2012.

• The relative disconnect between economic growth and the tax potential may be an impor‑tant insight for policy makers. If one can increase revenue by expanding the tax base in Angola, then one should not wait until economic growth has recovered. Furthermore, our analysis provides little support to the argument that tax revenue can be increased by so called “growth enhancing” fiscal stimuli (that is, tax holidays, etc.). It also gives less reason for optimism for the “diversification” argument. There seems to be no automatic link between “growth through diversification” and increased tax revenue. Only insofar as

48 The increased tax on foreign trade in 2014 was justified as a protectionist measure, not to increase revenue.

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diversification spurs more new businesses to be established that actually register and pay revenue, will diversification lead to increased tax revenue.

• There is still some potential to make more businesses pay more taxes. Six percent of the registered business in Angola are still not registered as taxpayers. Some of these could be potentially significant contributors. Throughout the country, there are still a huge number of small businesses linked to trade, agriculture and small crafts that operate in the “infor‑mal economy”, meaning they are registered neither with INE nor as taxpayers with the AGT.

• There appears to be a large potential to increasing the number of individual taxpayers. More than 10 million adult Angolans do not pay taxes. If only half of these could be taxed small amounts from their income, it would generate a modest contribution to state coffers.49

There are more reasons to tax than just to create an instant increase in government inco‑me. In a country like Angola, where more than 95 per cent of the adult citizens do not pay tax, the citizenship effect – with the expected “fiscal contract” – would be of immense importance.

According to the above discussion, there seems to be some merit in making the tax admi‑nistration concentrate on bringing businesses and people into the tax system, thus creating the habits of paying taxes rather than to tighten the noose on existing businesses and taxpayers. That, however, does not rule out the possibility that there is a vast untapped potential in taxing rich individuals and businesses who today may be registered contribuintes, yet contribute far less than their taxable capacity.

49 The poorest have almost no capacity, but perhaps a million more Angolans have a vast untapped potential. For instance, if one million more people paid say, USD300 per year, it would bring another USD 300,000,000 to the government coffers, which is quite significant in the Angolan context.

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3. O SECTOR MONETÁRIO

3.1 Introdução

O sistema financeiro angolano encontra‑se numa situação de instabilidade, padecendo de várias fraquezas que contribuem para a sua descredibilização internacional. São conhecidos os episódios relacionados com as posições de alguns bancos centrais e de bancos correspondentes em disponibilizar recursos em divisas para fazer funcionar a economia nacional.

Algumas das lacunas apontadas referem‑se:

a) À supervisão bancária.

b) Ao cumprimento de regras universais de compliance e segurança.

c) À autonomia do Banco Nacional de Angola.

d) À coordenação com outras instituições públicas, com realce para o Ministério das Finanças.

e) À capacidade de previsão dos principais agregados monetários.

f) Ao reforço do diálogo com o sector privado nacional.

g) Ao diálogo com as autoridades nacionais dos bancos correspondentes globais.

h) Ao reforço do quadro prudencial, em especial sobre os riscos associados à corrupção.

Quanto à necessidade e importância de se reforçar o sistema financeiro nacional, tal propó‑sito nem sequer merece qualquer tipo de discussão, tal a sua urgência e necessidade. O funcio‑namento regular, a transparência e a efectividade de um sistema financeiro são características absolutamente fundamentais para gerar confiança nos agentes económicos – aforradores e investidores – promover o investimento privado e apoiar o crescimento da economia.

Há quantos anos que sistematicamente se fala na supervisão bancária no país? Todos os anos os discursos oficiais a relevam, mas parece que são reduzidos os avanços, principalmen‑te devido à falta de vontade política para o fazer com adequação e efectividade (não se deve menosprezar o facto de que o sector bancário é um dos mais rentáveis da economia e que a propriedade dos mais importantes bancos privados é de “pessoas politicamente expostas” pro‑vavelmente pouco interessadas em adoptar critérios de total transparência).

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O caso do BPC é um exemplo flagrante da falta de supervisão, de perversidade de influên‑cias pessoais (leia‑se políticas da parte das entidades que governam o país) sobre instituições que deveriam ser independentes e de derrocada financeira. O Estado tem de privatizar os ban‑cos públicos comerciais, sob pena de constantemente ser o OGE a cobrir os seus prejuízos. Acredita‑se que o Governo só ainda não o fez porque essas instituições são, afinal, usadas como canais de influências e de distribuição de benesses aos agentes políticos e empresariais mais ligados à actual governação partidária.

Transcrevem‑se alguns comentários de agências internacionais sobre as debilidades do sis‑tema financeiro nacional e que acabam por condicionar a recuperação da economia:

a) A Economist Intelligence Unit considera que o crédito malparado em Angola deverá “aumentar significativamente” nos próximos dois anos, destacando que o banco central, apesar dos bons esforços, tem uma capacidade limitada para modernizar o sector.

b) Aumentos de capital de bancos angolanos em 2017, para adaptação das contas ao novo regime de normas internacionais de contabilidade (IFRS).

c) USD 4000 Milhões – Necessidades de aumento de reservas dos cerca de 30 bancos ango‑lanos, de acordo com analistas consultados pela agência Bloomberg. Risco de colapso de bancos em Angola e Moçambique “elevado”, segundo consultora Exx Africa. Outros países africanos com sectores bancários debilitados: Nigéria, Uganda, Quénia, Gana. “As consequências da inação serão desastrosas… colapsos de bancos representam riscos de contágio significativos para outros bancos, empresas públicas e sociedades privadas”, segundo Robert Besseling, da Exx Africa (Bloomberg).

d) Acusados alguns funcionários do Banco Nacional de Angola (BNA) de pertencerem a uma rede criminosa que burlava cidadãos e empresas, sob a promessa de acesso a divisas, des‑mantelada pelo Departamento de Inteligência e Controlo do Sistema Financeiro (DCS).

e) Montante de crédito vencido duplicou desde 2012, o que corresponde a um crescimento anual de 26%”, rácio de crédito vencido sobre crédito total manteve um valor semelhante ao verificado em 2014, cerca de 11%.

f) O FMI considera que o sistema bancário precisa ser reforçado para que possa contribuir para a recuperação da economia e fomentar o crescimento inclusivo. Os esforços do BNA de reforçar a regulação e supervisão bancária são acolhidos com agrado. Além disso, as medidas iniciais tomadas para reestruturar e recapitalizar o BPC são positivas. “O BNA deve manter os seus esforços para mitigar os factores determinantes e os riscos resultantes da perda das relações com bancos correspondentes, que é um desafio que também está a afectar muitos outros países. As acções do BNA devem ser centradas no reforço do diá‑logo com os reguladores nacionais de origem dos bancos correspondentes, no reforço e

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implementação do quadro de luta contra o branqueamento de capitais, e no desenvol‑vimento de planos de contingência, em coordenação com outras partes interessadas”.

Declarações, em 2016, do Governador do BNA fazem recear o pior para o sistema bancário angolano (“o sistema financeiro angolano está praticamente em ‘falência técnica’ por falta de liquidez”).

Quando o CEIC apresentou e divulgou o seu Relatório Económico 2015, em 21 de Julho pas‑sado, teve‑se o cuidado de dizer que o sistema bancário não estava bem e que a falência de um qualquer banco (estando à frente o BPC – uma instituição sem regras de concessão de crédito, ou seja, com favoritismos políticos inaceitáveis que geraram um elevadíssimo coeficiente de inadimplência – e o BCI) teria consequências catastróficas. Nessa altura, choveram críticas no sentido de que esta instituição de investigação era muito pessimista.

Afinal o Governador do BNA vem explicitamente e com ousadia reconhecer que afinal o sis‑tema bancário angolano está em falência técnica, com alguns bancos absolutamente insolúveis, não dispondo de capacidade de concessão de crédito e num ambiente internacional de grande descredibilidade dos bancos angolanos. O Governador do BNA tem perfeita consciência desta situação e tem andado preocupado em restaurar a confiança internacional do sistema bancário angolano. Só que o Banco Central angolano não é autónomo, nem muito menos independente. As directrizes sobre política monetária e cambial vêm de cima e o exercício da sua actividade – que deveria ser em benefício da economia e dos cidadãos e da transparência e clareza de pro‑cedimentos – está sujeita a jogos de interesse e a tráfico de influências.

Claro que não se pode deixar um sistema bancário falir. Portanto, tal como no caso do BPC, do BCI e do BDA (e no passado recente, também no ex‑BESA), terá de ser o Estado o salvador, mas à custa dos impostos dos cidadãos (classe média e pobres, pois a percentagem que os ricos pagam é muito pequena) e sem se penalizar criminalmente os verdadeiros responsáveis por esta situação – os inadimplentes, que se sabe quem são.

Que investidores estrangeiros virão investir em Angola nesta situação de quase falência téc‑nica do sistema bancário? Que investidores estrangeiros virão investir no país com o índice geral de confiança em patamares quase negativos, devido ao incumprimento de regras mínimas de decência cambial e bancária? Provavelmente só os empresários chineses. Seguramente que neste contexto alguns objectivos e muitas metas do OGE 2017 estarão, com certeza, em causa.

Pior que os factos individuais (falências ou intervenções salvadoras do Estado, sempre com efeitos nefastos e contraproducentes sobre a economia e, em Angola, também com propósi‑tos políticos de cobrir os erros gestionários e a corrupção generalizada nos bancos públicos) é o conjunto e a sequência do processo que acabam por minar gravemente o activo financeiro mais precioso, a confiança. A desconfiança em Angola é geral e as declarações oficiais que pre‑tendem acalmar os espíritos são, quase sempre, desmentidas pelos factos. Com a agravante de surgirem discordâncias entre algumas entidades reguladoras do sistema.

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Como se disse já, a credibilidade internacional do sistema bancário angolano é praticamente nula, sendo, claramente, insuficientes declarações de boa vontade sobre a mudança/adopção de regras sãs, rumos correctos e modelos eficientes de gestão do dinheiro dos cidadãos e das empresas. O sistema financeiro internacional é absolutamente indiferente a estes actos de peni‑tência, valendo tão‑somente a eficiência, o compliance, a boa governança e a transparência.

Há diferenças significativas entre solvabilidade e liquidez do sistema financeiro de um qual‑quer país, de resto como das empresas e mesmo das famílias. Os bancos angolanos – em exces‑so o seu número ou em défice? O Governador do BNA chegou, em dado momento, a admitir a necessidade de fusão entre eles (implicitamente, portanto, em demasia) como forma de reduzir a sua exposição a factores maléficos externos – acumularam grandes lucros durante a euforia do preço do petróleo e da abundância de divisas, passando a sofrer de insuficiências financei‑ras sérias, tal como se constata no actual contexto de crise. Nada de novo, pois as fragilidades acumuladas ao longo dos anos de guerra civil interagiram com as novas condições de recessão nacional e incerteza internacional.

A falta de solvabilidade e de liquidez são duas doenças financeiras graves, mas uma é mais profunda do que a outra. A liquidez é relacionada com a falta momentânea de capacidade de pagamento – deficiente programação dos recebimentos, dificuldades de ressarcimento de dívidas pelos clientes – e pode ser resolvida ou atenuada com a injecção de capital até que a crise seja resolvida. A insolvabilidade é a incapacidade de cobertura de despesas indis‑pensáveis com receitas da actividade bancária. Neste caso, injecções adicionais de fundos são quase equivalentes à Lei de Greshan, pois correspondem a deitar‑se fora o bom dinheiro (pelo menos enquanto se não proceder à reestruturação global e profunda do sistema finan‑ceiro).

E é justamente desta refundação que se necessita em Angola, onde os bancos têm proble‑mas de liquidez e de solvabilidade. A pensar‑se numa eventual nova era de crescimento – ainda que de baixa intensidade, mas com mais segurança e consolidação e menos altos e baixos.

3.2 Objectivos da política monetária, condições para a sua eficácia e canais da sua transmissão

Observando a experiência de diversos países, os objectivos da política monetária podem ser agrupados nos itens seguintes:

a) Manutenção de taxas de câmbio estáveis: um desiderato exigente em acompanhamen‑to do comportamento das variáveis que condicionam o seu valor. Em países com uma escassa diversificação de fontes de receitas externas, a gestão cambial tende a ser muito influenciada por critérios administrativos na atribuição de divisas.

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b) Estabilidade dos preços eleita como o objectivo central e fundamental da política mone‑tária, sobretudo depois do advento do monetarismo de Milton Friedman e ainda hoje considerado relevante. Este economista americano que um nível estável de preços influenciava muito positivamente as transacções internas e internacionais e, derivada‑mente, o crescimento económico. Do seu ponto de vista, o asseguramento deste objec‑tivo exigia que, a curto prazo, o incremento da oferta de moeda não deveria ultrapassar 5% e a longo prazo 2%.

c) Controlo dos ciclos económicos, objectivo acrescentado aos anteriores a partir dos anos 30 do século passado, para o que as autoridades monetárias deviam expandir o crédi‑to e baixar as taxas de juro, em situações de recessão e de abrandamento do ritmo de crescimento do PIB, e adoptar comportamento oposto em fases de sobreaquecimento da economia. Este propósito da política monetária não pode ser alcançado apenas por intermédio do manuseamento isolado dos agregados monetários, apelando‑se a uma combinação virtuosa com os instrumentos da política orçamental (ver parágrafo 3.4. deste capítulo). Na actual situação de crise económica e financeira em Angola – coe‑xistência de baixo (ou mesmo negativo) crescimento económico, elevado desemprego (taxa de desemprego de longo prazo entre 23,6% (2010/2016) e 26% (2000/2021)), alta taxa de inflação (43,7% em 2016), redução considerável das receitas em moeda externa – a ampliação do crédito combinada com uma política orçamental expansionista, como a que consta do OGE 2017 – pode desencadear efeitos contraditórios sobre a economia, nomeadamente entre o controlo da inflação e o incremento da produção.

d) Obtenção do máximo emprego, objectivo não dissociado do anterior, principalmente se se atender a que o combate à económica equivale a reduzir o desemprego.

e) Estabilidade e crescimento económico, relacionado com os dois anteriores, ainda que esses tenham mais a ver com a conjuntura e este com ajustamentos estruturais, apelati‑vos de outras políticas e de reformas económicas de mercado poderosas.

Pela sistematização anterior, compreende‑se a importância da política monetária e a sua complexidade. Em economias de mercado mais organizadas a estabilidade dos preços passou a ser o objectivo fundamental (e quase único) da política monetária da qual decore a estabili‑dade cambial.

Em Angola e de acordo com os documentos oficiais, o grande objectivo da política monetá‑ria é o controlo dos preços: “a política monetária tem sido usada com objectivos de controlar o nível geral de preços e assegurar a estabilidade do sistema financeiro nacional”.

A complexidade da política monetária é também visualizada através das condições a garan‑tir para a sua eficácia:

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a) O problema dos atrasos (lags), relacionado com o facto da política monetária envol‑ver frequentemente vários objectivos intermédios (não só dentro da política monetá‑ria ela‑mesmo, mas igualmente em termos sequenciais na relação com outras políticas económicas) que é preciso atingir sucessivamente até se chegar ao objectivo final. Pode, entretanto, acontecer, que as autoridades se atrasem na identificação dos problemas (por insuficiência/deficiência/atraso das estatísticas), e, por razões semelhantes, na tomada de medidas, num processo de tentativas que é moroso.

b) A incidência de perturbações aleatórias que distorcem os efeitos das medidas adoptadas.

Quanto aos canais de transmissão da política monetária – que importa conhecer e dominar em nome da sua eficácia – são vários e diferentes, embora correlacionados.

Enumeram‑se e destacam‑se os seguintes:

a) Canal da taxa de juro, identificado há mais de 70 anos e que se apoia na visão tradicional keynesiana da eficiência marginal do capital, na qual as despesas de investimento são determinadas pela relação entre taxa de juro e eficiência marginal do capital (que é inver‑sa, isto é, para valores elevados de eficiência marginal do capital correspondem baixas taxas de juro).

b) Ainda dentro deste canal de transmissão: é a taxa de juro real e não a taxa de juro nomi‑nal que afecta as decisões de investimento (e também as de consumo), donde a impor‑tância do controlo dos preços (justamente dos objectivos da política monetária). O Banco Nacional de Angola deve actuar sobre a taxa de juro nominal através da oferta de moeda: sendo os preços rígidos, uma política monetária expansionista reduz a taxa de juro nomi‑nal (e também a taxa de juro real) – o que acontece mesmo num contexto de expectativas – e consequentemente o investimento. Só que, um excesso de moeda pode não combi‑nar bem com a estabilidade de preços.

c) É a taxa de juro de longo prazo e não de curto prazo que tem mais impacto na despesa, influenciando as decisões de investimento e de consumo. A taxa de juro de longo prazo é uma média das taxas de juro de curto prazo esperadas no futuro: se o Banco Central aumenta as taxas de juro de curto prazo e os agentes do mercado têm uma expectativa de diminuição da taxa de juro de curto prazo no futuro, então a taxa de juro de longo aumenta, mas menos do que a taxa de juro de curto prazo. Ou seja, as expectativas dos agentes económicos (no caso precedente) funcionam como um facto correctivo para baixo.

d) A taxa de inflação tem um papel importante nas decisões de investimento e de consumo. É o problema colocado na parte final da alínea b), relacionado com a estabilidade dos preços: um aumento da taxa de crescimento da oferta de moeda produz um aumento no nível geral de preços esperado e da taxa de inflação esperada, o que conduz os agentes

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económicos a substituir moeda por capital físico, aumentando‑se o seu stock e diminuin‑do‑se a sua taxa marginal de rendibilidade.

O comportamento dos principais agregados monetários está traduzido pelo gráfico seguinte (as taxas de variação respeitam a variações em preços nominais das grandezas representadas).

TAXAS DE CRESCIMENTO AGREGADOS MONETÁRIOS (%)

RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2016RI.2017.0000.01.01

DT_03r2.ª prova

25 maio 2017Paulo Amorim

Moeda em circulação

2011

20,9

37,8

42,4

34,0

37,2

29,0

01020304050

-10

Depósitos à ordemmoeda nacionalDepósitos a prazomoeda nacionalDepósito em moedaexternaMassa Monetária (M3)

Produto Interno Bruto

2012

17,8

9,1

17,8

2,6

4,9

12,6

2013

12,7

40,6

19,0

-2,9

14,1

9,5

2014

23,2

29,5

29,7

-3,3

16,2

3,4

2015

12,1

18,8

7,8

6,4

11,8

-1,1

2016

11,8

12,0

12,0

12,0

12,0

27,7

%

Fonte: Fundo Monetário Internacional, Angola – Consultas 2016 ao Abrigo do Artigo IV, Fevereiro 2017.

Os depósitos à ordem em moeda nacional apresentam uma tendência decrescente depois de 2013, coincidente com o ciclo económico e financeiro negativo (eventualmente maior prefe‑rência pela liquidez, falta de confiança no sistema bancário), enquanto os titulados em moeda externa cresceram 12% em 2016, depois de um período de perdas sistemáticas entre 2012 e 2014. O acentuado incremento no último ano igualou o averbado para os depósitos em kwan‑zas, mas não deixa de ser curioso que em período de crise de confiança do sistema financeiro nacional e face às dificuldades de movimentação de notas e divisas, os agentes tenham optado por aumentarem o ritmo dos depósitos.

De 2015 para 2016, o PIB nominal registou um aumento considerável – cerca de AKZ 3408 mil milhões – ao que, seguramente, não é alheia a elevada taxa de inflação de 2016.

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RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2016

M3 E PIB (TAXAS DE CRESCIMENTO)

RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2016RI.2017.0000.01.01

DT_03s2.ª prova

25 maio 2017Paulo Amorim

Massa Monetária (M3)

2011

37,2

Produto Interno Bruto 29,0

0-5

510152025303540%

2012

4,9

12,6

2013

14,1

9,5

2014

16,2

3,4

2015

11,8

-1,1

2016

12,0

27,7

Fonte: Fundo Monetário Internacional, Angola – Consultas 2016 ao Abrigo do Artigo IV, Fevereiro 2017.

O gráfico seguinte dá conta de dois factos aparentemente contraditórios:

a) Um controlo do agregado M3 desde 2012, simbolizando uma política monetária contrac‑cionista com finalidades relacionadas com a estabilidade dos agregados macroeconómicos.

b) Um disparo da inflação depois de 2014, sinalizando que a política monetária não tem sido suficiente para controlar a subida dos preços. Devido à quebra das reservas internacio‑nais líquidas e à diminuição das receitas externas do petróleo, a âncora cambial não tem condições de ser utilizada como o foi no passado.

COMPARAÇÃO TAXAS DE CRESCIMENTO M3 e TAXA DE INFLAÇÃO (%)

RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2016RI.2017.0000.01.01

DT_03t2.ª prova

25 maio 2017Paulo Amorim

0

51015202530

354045

50%

Massa Monetária (M3) Taxa de inflação

2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016

Fonte: Fundo Monetário Internacional, Angola – Consultas 2016 ao Abrigo do Artigo IV, Fevereiro 2017.

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CEIC / UCAN

As reservas internacionais líquidas recuperaram ligeiramente em 2015 e praticamente man‑tiveram o mesmo nível em 2016, equivalendo a 8,1 meses de importação.

COMPARAÇÃO ENTRE PIB E RIL (MIL MILHÕES KWANZAS)

RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2016RI.2017.0000.01.01

DT_03u2.ª prova

25 maio 2017Paulo Amorim

Reservas Internacionais líquidasProduto Interno Bruto

2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016

7580

1700

9780

2589

11 011

3017

12 056

3097

12 462

2904

12 321

3361

15 729

3314

Fonte: Fundo Monetário Internacional, Angola – Consultas 2016 ao Abrigo do Artigo IV, Fevereiro 2017.

O crédito ao sector privado tem apresentado, durante o período 2010 e 2016, uma cadência positiva de aumento anual, tendo praticamente multiplicado o seu valor por 2,5 de 2010 para 2016. No entanto, a economia tem registado uma quebra no seu crescimento real desde 2013 e a classe empresarial continua a referir a existência de dificuldade e bloqueios ao acesso aos empréstimos bancários.

CRÉDITO DO SISTEMA BANCÁRIO (MM KWANZAS)

2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016

Crédito líquido Governo Central ‑223 ‑446 ‑942 ‑666 69 352 1088

Crédito Governos Provinciais e Locais 10 1 1 2 0 0 0

Crédito ao Sector Privado 1532 1974 2451 2820 2852 3354 3769

Fonte: Fundo Monetário Internacional, Angola – Consultas 2016 ao Abrigo do Artigo IV, Fevereiro 2017.

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RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2016

3.3 A dimensão económica do sector financeiro nacional

De acordo com as Contas Nacionais, o sector financeiro – bancário e de seguros – tem apre‑sentado um desempenho económico tal como se transcreve na tabela seguinte.

MACROECONOMIA DO SECTOR FINANCEIRO

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016

VAB (milhões USD) 1067,0 1537,8 1538,5 1489,4 1624,3 1314,9 1499,3 1630,1 1348,6 1924,0

Taxa real de variação (%) 62,4 23,1 10,1 21,6 10,9 11,3 0,0 0,0 0,0 13,5

Emprego 11 489,0 14 138,0 15 561,0 18 925,0 20 994,0 23 357,0 23 357,0 23 357,0 23 357,0 23 357,0

Produtividade (USD) 92 867,8 108 769,5 98 869,7 78 699,8 77 370,9 56 297,3 64 192,3 69 791,5 57 740,4 76 761,5

Ganhos de produtividade (%) ‑32,6 12,0 18,0 ‑15,9 ‑6,9 ‑9,7 ‑3,4 ‑11,3 31,6 9,6

Salário mensal (KZ) 25 664 42 223 51 323 66 478 77 596 102 448 0 0 0 0

PIBe/PIB (%) 1,4 1,6 2,9 2,1 2,8 3,5 3,7 3,9 4,1 2

Fonte: CEIC, Ficheiro “Estudos sobre Produtividade e Emprego” com base em dados oficiais.

a) O seu Valor Agregado tem sido, em média anual entre 2007 e 2016, de cerca de 1500 milhões de dólares, inferior a todos os mais relevantes sectores da economia angolana, como a agricultura, manufactura, construção, transportes, petróleo e derivados. A sua capitação em 2016 foi de apenas USD 71 por habitante.

b) O peso relativo médio do sector financeiro no Produto Interno Bruto é de 2,8%, donde se tratar de uma actividade ainda em processo de consolidação e desenvolvimento. Em 2016 a sua representatividade baixou para 2% como consequência da presente crise eco‑nómica.

c) O emprego existente é de pouco mais de 23 000 trabalhadores, tendo‑se registado um incremento significativo de 23,4% entre 2011 e 2016. As estatísticas oficiais de emprego não registaram a criação de novos empregos neste sector desde 2013.

d) Em 2016, de acordo com as Contas Nacionais, a taxa real de crescimento foi de 13,5% em manifesto contraciclo com a actividade económica geral que regrediu ‑3,6%.

e) A produtividade é das mais elevadas da economia nacional, com um valor, em 2016, de USD 76 762.

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CEIC / UCAN

3.4 As relações entre a política monetária e a política orçamental e a necessidade da sua consideração para a sua definição concreta

A política orçamental e a política monetária são as duas mais importantes políticas de esta‑bilização macroeconómica que qualquer país utiliza com o propósito de controlar os preços, fomentar o emprego e estimular o crescimento económico. Afinal, os pontos mais essenciais da função orçamental de estabilidade contida nos Orçamentos de Estado de todas as economias de mercado e países de democracias reais e efectivas. A garantia dos seus propósitos passa, ine‑vitavelmente, por uma articulação entre as variáveis orçamentais e os agregados monetários, mitigando‑se as relações contraditórias ou antinómicas que necessariamente se estabelecem no decurso da execução das políticas públicas.

É evidente que estes mecanismos de relacionamento têm de estar desinquinados de fac‑tores obstrutivos da indispensável transparência. Ora, como por diversas vezes o Relatório Eco‑nómico já sublinhou, a situação no país está muito longe deste ideal, tendo‑se agravado as interferências políticas na política cambial do Banco Central, apadrinhadas pelas mais altas ins‑tâncias e facilitadas pela sua falta de autonomia e independência.

Depois da euforia neokeynesiana – que durou entre finais da década de 40 até sensivelmen‑te meados da década de 70 do século passado e que ficou conhecida como os “gloriosos 30” – que foi claramente favorável à utilização da política orçamental como estabilizadora da procura e após a desilusão na utilização persistente dessa política – revelada através do aparecimento dos fenómenos de “estagflação” e das contundentes críticas clássico‑monetaristas subscritas por Milton Friedman (1980) e neoclássicas de Robert Lucas (1990) –, será que a teoria económi‑ca das Finanças Públicas ficará circunscrita às áreas de eficiência na utilização dos recursos finan‑ceiros do Estado e, subsidiariamente, à correcção da repartição dos rendimentos e da riqueza?

Robert Solow, num artigo publicado em 1973, procurou desmontar esta tese. Sustentado num modelo IS‑LM, demonstrou que se uma economia está estabilizada e com um défice finan‑ciado por endividamento – e não por criação monetária – então a política orçamental apresen‑ta um elevado grau de efectividade. No entanto, concorda com Friedman‑Lucas no sentido dos défices serem perversos sobre o rendimento (ou o nível geral de actividade económica) se a opção de financiamento (endividamento, aumento de impostos, diminuição de certos gastos públicos) afectar a despesa privada. De acordo com Solow conclusões definitivas só por inter‑médio de estudos empíricos, que, entretanto, elaborou para concluir por uma efectiva utilidade da política orçamental de estabilização.

Mais recentemente, e desta vez sozinho, Robert Solow voltou a “reincidir” no tema, colo‑cando as questões seguintes:

• O único objectivo da política macroeconómica tem a ver com o combate à inflação?

• Só a política monetária pode ser eficaz, funcionando a política orçamental como subsidiá‑ria ou complementar?

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RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2016

• As despesas públicas (política orçamental) e as receitas públicas (política fiscal) só devem ser utilizadas para garantir uma certa afectação de recursos e melhorar a distribuição de rendimentos e riqueza?

• Será que é impossível utilizar bem a política orçamental ou tal política é pura e simples‑mente inútil?

Para responder a estas questões Solow passou em revista, na sua comunicação ao Congres‑so de Lisboa, as posições de economistas como Richard Musgrave e os mecanismos da função orçamental de estabilização, Robert Lucas e a sua teoria dos ciclos de negócios e dos ciclos eco‑nómicos reais e Robert Barro quanto à sua proposta da “equivalência ricardiana” sobre a neu‑tralidade do financiamento das despesas orçamentais com mais impostos ou criação de dívida pública.

Solow problematizou essas teses, correlacionou‑as e acabou por concluir pela existência de mais‑valias da política orçamental, enquanto instrumento de atenuação de desequilíbrios macroeconómicos, em particular quanto aos conhecidos estabilizadores automáticos. A invo‑cação destes estabilizadores tem particularmente que ver com a existência de time‑lags na apli‑cação da política orçamental, muito mais atrasada do que, por exemplo, a política monetária, cujos instrumentos são muito mais automáticos no desencadeamento dos efeitos desejados: “políticas orçamentais atrasadas, ou excessivamente antecipadas ou até erráticas, podem facil‑mente tornar‑se perversas”, segundo o seu ponto de vista. É, no fundo, este desfasamento de resultados que faz com que seja dada prioridade à política monetária, que não tendo os “time lags internos” da política orçamental, permite uma acção mais rápida, embora mais problemá‑tica, sobre a procura agregada.

Sobre os estabilizadores automáticos, Robert Solow realça‑lhes determinadas qualidades, tais como a rapidez e alguma previsibilidade (criação de expectativas racionais), em contraposi‑ção das medidas de política orçamental discricionária, mais lentas de aprovação e mais sujeitas às perversidades políticas.

É claro que existem limites para os estabilizadores automáticos, vindo‑se a constatar perda da sua eficiência. No entanto, Solow recomenda um mix entre os estabilizadores automáticos e medidas discricionárias.

Partindo das polémicas acontecidas nos anos 80 e 90 sobre a eficácia das políticas orça‑mentais para estimular a actividade económica, Solow e Alan Blinder tentam identificar as cir‑cunstâncias em que elas foram ou relativamente eficazes ou relativamente ineficazes. Nesta perspectiva estão considerados os efeitos resultantes de aumentos das despesas públicas e de reduções de impostos, calculados através dos respectivos multiplicadores. Mas também se contemplam os casos em que contracções orçamentais foram expansionistas sobre a actividade económica e que condizem com valores negativos dos correlativos multiplicadores.

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Partindo duma abordagem keynesiana, indagaram da existência ou não do efeito crowding‑ ‑out financeiro, ou seja, do efeito de evicção (despojamento, desvio) sobre o investimento pri‑vado devido a um aumento das taxas de juro no mercado financeiro provocado por uma procu‑ra de mais crédito pelo Estado para financiar o seu défice orçamental.

Será que se verifica sempre o crowding out? Depende de algumas coisas:

• Desde logo, da forma concreta da função investimento e das atitudes de expectativa: é a taxa de juro ou o rendimento nacional de expectativa o factor mais determinante do inves‑timento? Se for o rendimento esperado, então o aumento das despesas públicas pode provocar efeitos sobre o nível geral de actividade que mais do que compensarão a evicção da subida das taxas de juro sobre os investimentos financiados por crédito.

• Depois, dos valores dos multiplicadores dos gastos públicos e das transferências.

• Depois ainda, das elasticidades dos gastos públicos relativamente ao Produto Interno Bruto.

• Finalmente, do valor do acelerador medido pela expressão I = v.ΔY.

De que modo, os efeitos das políticas orçamental e fiscal se relacionam com o tempo? De acordo com Solow, os efeitos multiplicadores orçamentais são, sobretudo, visíveis no curto prazo, perdendo impacto ao longo do tempo, enquanto os efeitos multiplicadores fiscais veri‑ficam‑se principalmente no longo prazo, embora possam surgir consequências logo no curto prazo devido às expectativas que podem gerar nas decisões dos agentes económicos.

Outras preocupações expostas por Solow e Blinder prendem‑se com a não neutralidade do nível de desenvolvimento económico dos países a que se dirigem as políticas orçamentais e com aspectos institucionais da política orçamental:

• Os time‑lags internos e externos.

• O enquadramento político‑constitucional.

• As características culturais das populações.

A ignorância destes aspectos, ou o seu menosprezo, podem levar a resultados radicalmente diversos dos esperados.

Outra questão de relevância é: quando é que há resultados positivos ou nefastos das polí‑ticas orçamentais?

A política orçamental, com os respectivos multiplicadores, tende a ser positiva quando:

• Existe um excesso de capacidade instalada, a economia é fechada, a economia é aberta, mas com regime cambial fixo e as famílias têm horizontes limitados.

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RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2016

• Não se verifica um efeito‑substituição despesas públicas‑despesas privadas, o que signifi‑ca uma potenciação sinergética dos efeitos multiplicadores associados a umas e a outras.

• A dívida pública for baixa e o Governo não sofrer constrangimentos no seu financiamento: uma dívida pública elevada tende a coagir a política orçamental a ser mais restritiva e logo a limitar acréscimos da despesa pública. No mesmo sentido actuam as dificuldades de financiamento.

• Não existirem pressões inflacionistas: é evidente esta restrição e já foi mais atrás subli‑nhada, no sentido de que aumentos das despesas públicas contribuírem ainda mais para a espiral inflacionista. Por isso é que uma política orçamental com efectividade económica só ser recomendada num estado de estabilidade.

A política orçamental já terá efeitos despiciendos ou mesmo negativos quando:

• Existirem efeitos de crowding‑out, o que depende de diferentes factores: ocorrendo efei‑to de evicção, o financiamento do défice orçamental – ocasionado por um aumento de gastos públicos – fica fortemente limitado, pelo que, provavelmente, as despesas públicas não se efectivarão.

• As famílias tiverem comportamentos ricardianos, geradores de redução do consumo pri‑vado, o que leva à existência duma relação de substituição negativa despesas públicas/ /despesas privadas, diminuindo‑se a extensão dos efeitos multiplicadores associados.

• Surge o risco de não sustentabilidade da dívida pública, o que pode levar o Governo por uma política orçamental restritiva.

• Medidas expansionistas gerarem incertezas quanto ao futuro, com efeitos negativos nas decisões dos agentes privados, quer quanto a consumo, quer no concernente a projectos de investimento.

Por sua vez, da literatura sobre estudos empíricos apresentada pelos autores, as conclusões seguintes merecem realce:

• As estimativas quanto aos multiplicadores orçamentais apresentam valores positivos, embora reduzidos. Dificilmente se encontram multiplicadores com valores negativos, quando a teoria os apresenta como positivos e vice‑versa.

• As contracções orçamentais com efeito expansionista, quando aparecem, relacionam‑se com cortes em despesas improdutivas ou com uma conjuntura em que a dívida pública é muito elevada.

• É muito difícil calcular com rigor os efeitos de crowding out, mesmo quando se sabe que eles ocorrem.

• A política orçamental é mais efectiva quando o PIB está a ser afectado do lado da procura: do lado da oferta é a política fiscal a mais actuante (supply side effects).

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4. NÍVEL GERAL DA ACTIVIDADE ECONÓMICA

4.1 Enquadramento geral

O INE, ainda que com algum atraso, publicou duas Folhas Informativas sobre as Contas Nacionais de 2015 (preliminar) e 2016 (provisória), com dados actualizados desde 2002 até 2015. São Folhas incompletas, pois as informações aí contidas não têm a mesma dimensão e profundidade da apresentada nas publicações do Instituto denominadas Contas Nacionais 2002‑2010 (Julho de 2013) e Contas Nacionais 2007‑2012 (Outubro de 2014).

É verdade que a elaboração das Contas Nacionais é um processo complexo, apelativo de capacidade técnica da instituição que as elabora, da disponibilidade de informação atempada e de qualidade e da competência das empresas em apresentar contabilidade credível. Presu‑mo que são dificuldades que se sentem em Angola e que adicionadas ao facto de o fecho da Contabilidade Nacional depender do encerramento de outras contas, públicas e empresariais, podem explicar os atrasos na sua publicação. No entanto, a Folha Informativa Preliminar de 2015 corrige cifras que já se supunha fechadas, como as relativas aos anos de 2009, 2010, 2011 e 2012. Constatam‑se agora discrepâncias, em alguns anos significativas, como ilustrado na tabela seguinte.

DISCREPÂNCIAS NAS CONTAS NACIONAIS

2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015

CN Folha informativa 2015 0,5 4,7 3,5 8,5 5,0 4,1 0,9

CN 2007‑2012 (Outubro 2014) 2,1 3,6 1,9 7,6 ‑ ‑ ‑

CN 2002‑2010 (Julho 2013) 2,1 3,6 ‑ ‑ ‑ ‑ ‑

Diferenças (pp) ‑1,6 1,1 1,6 0,9 ‑ ‑ ‑

Fonte: INE Contas Nacionais – Folha informativa preliminar 2015; 2009‑2012.

Os estudos de avaliação do comportamento da economia nacional, neste parâmetro especí‑fico representado pela taxa de crescimento do PIB, baseados nas Contas Nacionais 2007‑2012, perderam bastante do seu sentido crítico e da validade das propostas de políticas de sustenta‑bilidade ou de correcção. Quando a análise económica é feita numa perspectiva de tendências de médio e longo prazo, diferenças como as assinaladas importam sobremaneira para as conclusões.

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RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2016

Perante esta situação, cabe questionar se as taxas anuais de crescimento do PIB publicadas nas Folhas Informativas (Preliminar de 2015 e relativas a 2009, 2010, 2011 e 2012) são, a partir de agora, as definitivas.

As Contas Nacionais devem ser a fotografia real da economia, de modo a inspirarem con‑fiança para as decisões de investimento empresariais, evitando‑se erros, que podem ser fatais, para as unidades de produção ao falharem na sua percepção de evolução tendencial da eco‑nomia. O processo de ajustamento e correcção dos valores dos agregados macroeconómicos – inerentes à construção da contabilidade nacional – tem de ter um fim, não sendo compreen‑sível que cifras de 2009, por exemplo, sejam corrigidas em 2015, em proporções expressivas (quase dois pontos percentuais).

Já por algumas vezes, nos Relatórios Económicos de há dois anos, se escrevia não se com‑preender a razão por que o Governo, nos seus exercícios de programação da política econó‑mica, não usa os dados das Contas Nacionais, parecendo haver, no domínio macroeconómico, duas contabilidades, a do INE/CN e a dos Ministérios responsáveis pela elaboração da sua polí‑tica económica. As discrepâncias chegam a ser muito relevantes, como se constata na tabela seguinte, onde as informações referentes ao Governo foram retiradas dos diferentes Relatórios de Fundamentação do OGE.

DISCREPÂNCIAS ENTRE GOVERNO E AS CONTAS NACIONAIS

2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015

PIB CN 3,0 10,9 15,0 11,5 13,9 11,2 0,5 4,7 3,5 8,5 5,0 4,1 0,9

PIB Governo 3,4 11,7 20,6 18,6 23,3 13,8 2,4 3,4 3,4 5,2 6,8 4,8 3,0

Diferenças (pp) 0,4 0,6 4,4 7,1 6,3 2,6 1,9 ‑1,3 ‑0,1 ‑3,3 1,8 0,7 ‑2,1

Fonte: Relatórios de Fundamentação do OGE de diversos anos.

Verifica‑se, por exemplo, que o período dourado do crescimento do PIB no país – 2003‑2008 – sofreu fortes ajustamentos em baixa pelas Contas Nacionais, em especial nos anos 2005 e 2007. Duma taxa média anual de variação real do PIB de 17% (óptica do Gover‑no), passou‑se para cerca de 11% (óptica das Contas Nacionais). A taxa de crescimento do PIB para 2015, na perspectiva do Governo inserida no Relatório de Fundamentação do OGE 2016, foi, nos Relatórios de Fundamentação seguintes, corrigida em baixa para 3%, ainda assim bastante aquém da estimada pela Contabilidade Nacional. A taxa de 0,9% configura uma estagnação do sistema económico e numa perspectiva do modelo de Solow uma ten‑dência para o estado estacionário da economia, que se pode confirmar através das taxas de crescimento estimadas para 2016 (1,1%) e previstas para 2017 (2,1%), sempre do ponto de vista do Governo.

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CEIC / UCAN

Outras componentes da contabilidade nacional corrigidas na Folha Informativa Preliminar de 2015 foram todas as que fazem parte da composição do PIB nas ópticas da produção, da des‑pesa e do rendimento, valendo a pena transcrevê‑las ipsis verbis.

COMPOSIÇÃO DO PRODUTO INTERNO BRUTO (PIB) NAS ÓPTICAS DA PRODUÇÃO, DA DESPESA E DO RENDIMENTO, 2010/2015

Componentes do Produto Interno Bruto

Valor em (1 000 000 Akz)

2010 2011 2012 2013 2014 2015

A – Óptica da produção

Produto Interno Bruto 7 701 651 10 500 942 12 224 950 13 195 004 14 323 859 13 824 174

Produção 12 171 798 16 062 289 18 593 757 20 562 373 21 361 804 20 529 998

Impostos sobre produtos inclusive de importação 294 852 310 400 316 064 373 928 430 591 484 770

Subsídios aos produtos (‑) 211 196 257 891 482 048 552 903 354 303 224 398

Consumo intermédio (‑) 4 553 803 5 613 856 6 202 823 7 188 395 7 114 232 6 966 195

B – Óptica da despesa

Produto Interno Bruto 7 701 651 10 500 942 12 224 950 13 195 004 14 323 859 13 824 174

Consumo final 4 069 560 5 483 409 6 510 062 7 808 116 8 944 162 9 524 252

Despesa de consumo das famílias 2 757 018 3 568 472 4 328 809 4 955 099 6 369 354 7 231 824

Despesa de consumo da administração pública 1 312 542 1 914 937 2 181 253 2 853 017 2 574 808 2 292 428

Formação bruta de capital 2 171 659 2 774 806 3 260 098 3 449 566 3 939 127 4 771 347

Formação bruta de capital fixo 2 174 677 2 771 451 3 261 719 3 451 615 3 936 026 3 935 322

Variação de existência (‑) 3018 3355 (‑) 1621 (‑) 2049 3101 836 025

Exportação de bens e serviços 4 739 836 6 370 916 6 838 653 6 696 080 6 402 053 4 150 853

Importação de bens e serviços (‑) 3 279 403 4 128 189 4 383 863 4 758 758 4 961 483 4 622 278

C – Óptica do rendimento

Produto Interno Bruto 7 701 651 10 500 942 12 224 950 13 195 004 14 323 859 13 824 174

Remuneração dos empregados 1 819 917 2 395 047 2 760 020 2 910 922 3 044 949 3 507 702

Impostos, líquidos de subsídios sobre a produção e importação 111 178 80 351 (‑) 106 688 (‑) 147 269 (‑) 231 255 (‑) 25 859

Excedente bruto de exploração/rendimento misto 5 770 556 8 025 544 9 571 618 10 431 350 11 510 166 10 342 331

Fonte: INE – Departamento de Contas Nacionais e Coordenação Estatística.

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RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2016

Algumas observações:

1) Operou‑se uma recessão nominal do PIB em 2015 estimada em ‑3,5%, aparentemen‑te em contradição com a componente remuneratória dos trabalhadores por conta de outrem do Rendimento Nacional (incremento de 15,2% !!).

2) A quebra na produção foi de 3,9% e nos consumos intermédios de 2,1%.

3) As exportações de bens e serviços estão a diminuir significativamente, desde 2012, com um acumulado de ‑39,3%.

4) As despesas de consumo da Administração Pública (onde são incluídos os salários e outras remunerações dos servidores civis e militares do Estado) – que em certas circunstâncias (boa gestão e eficiência das mesmas) – pode ter um papel de aceleração do crescimento de curto prazo, diminuíram 19,7% entre 2013 e 2015.

Segundo algumas estimativas para 2016, a situação económica piorou, com uma taxa de variação real do PIB de apenas 0,1%, devendo, contudo, esperar‑se pelas Contas Nacionais para se saber se na verdade foi assim.

4.2 Produto Interno Bruto: uma análise geral

O desenvolvimento económico sustentável caracteriza‑se, entre outros aspectos, pelas seguintes tendências: elevadas taxas de crescimento do rendimento por habitante, índices altos de variação da produtividade total dos factores de produção, coeficientes significativos de transformação estrutural da economia, importantes transformações sociais e ideológicas e abertura da economia50. Um país que apresente, por exemplo, uma taxa de variação anual do PIB por habitante de 10%, consegue duplicar o seu valor em 7 anos, o que é importante para a melhoria das condições de vida. Foi o que a China conseguiu nos últimos 30 anos, isto é, em cada 7 anos desse período duplicou o valor do seu rendimento médio social.

No entanto, a máxima repercussão social duma duplicação do rendimento por habitante em cada 7 anos depende dos modelos de distribuição da renda, do acesso às oportunidades de emprego e de negócio e da transformação estrutural dos sistemas económicos. Este o ponto que, para efeitos da presente reflexão, importa reter. As transformações estruturais são, afinal, o cerne da diversificação dos tecidos produtivos.

Evidências empíricas retiradas de muitos estudos de correlação entre o aumento do rendi‑mento médio e as transformações económicas estruturais apontam no sentido duma alteração sustentada da participação relativa sectorial no PIB, à medida que o rendimento por habitante

50 Michael Todaro and Stephen Smith – Economic Development, Pearson Education Limited, Eighth Edition, 2003.

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CEIC / UCAN

cresce (por exemplo, o peso percentual do sector de serviços – bancos, seguros, telecomunica‑ções, transportes, armazenagem, intermediação financeira, cultura e duma maneira geral todos os relacionados com o lazer –, vai aumentando, correspondendo à passagem para o consumo de bens imateriais, próprios de sociedades e economias modernas e desenvolvidas).

Em Angola, as informações estatísticas disponíveis (INE, Contas Nacionais 2002‑2015) apon‑tam para uma variação de mais de 1355,3% no Produto Interno Bruto por habitante entre 2002 e 2016 a preços correntes (cerca de 21% ao ano, ou seja, a possibilidade de ser duplicado em 3,5 anos). Em 2016, o Produto Interno Bruto por habitante foi de 51 7000 kwanzas (cerca de USD 3500 dólares americanos a preços correntes e nacionais, sem a correcção da paridade do poder de compra, nem a preços internacionais constantes).

Quanto à estrutura económica tem, no essencial, permanecido inalterada, no mesmo perío‑do de tempo. A tabela seguinte esclarece a tendência das alterações estruturais no nosso país.

PRODUTO INTERNO BRUTO POR SECTORES DE ACTIVIDADE (MILHÕES USD)

Sectores de actividade 2002 2004 2006 2008 2010 2012 2014 2015 2016

Agricultura, pecuária, florestas 649,4 1080,0 1893,5 2996,0 3839,3 4556,1 6122,2 5402,6 4810,0

Pescas 290,0 389,1 834,0 1334,5 1166,7 1211,1 1606,5 1632,0 2886,0

Petróleo e gás 7092,7 9738,8 23 765,8 43 924,0 35 977,1 53 278,0 46 045,8 30 498,0 34 632,1

Diamantes e outros 406,9 575,4 849,7 866,1 777,8 726,7 1241,0 2550,0 1924,0

Indústria transformadora 588,8 1098,9 1898,7 3119,8 3342,9 4694,6 5690,6 8772,0 5772,0

Electricidade 62,2 132,1 430,1 494,9 695,1 1338,0 1122,7 1122,0 962,0

Construção 869,6 1282,8 3603,4 5912,5 7273,2 10 692,5 14 457,9 11 016,0 9620,0

Comércio 1704,2 2881,6 4925,2 7927,5 7215,3 5801,9 7160,5 5924,1 12 506,0

Transportes e armazenagem 292,0 433,9 917,9 2112,2 1754,2 2226,2 2668,6 2207,8 1924,0

Correios e telecomunicações 161,2 191,0 744,8 1422,9 1712,8 4037,1 5036,1 4166,5 1924,0

Bancos e seguros 293,6 410,3 729,1 1537,8 1489,4 1314,9 1630,1 1348,6 1924,0

Estado 1428,1 2268,5 4526,6 8502,2 8861,9 13 760,7 24 130,1 17 819,4 6734,0

Serviços imobiliários 939,8 1473,8 2218,7 3331,9 3574,5 5190,5 7091,4 5866,9 4810,0

Outros serviços 1281,3 1811,0 5475,7 6124,6 6354,7 7935,8 5341,8 4419,4 5772,0

Ajustamentos ‑103,7 ‑186,3 ‑361,9 ‑1228,5 ‑1290,8 ‑1453,4 1422,8 0,0 0,0

ANGOLA 15 956,5 23 580,7 52 451,6 88 378,3 82 744,1 115 345,3 129 342,1 102 000,0 96 200,3

Fonte: Diferentes documentos oficiais: Relatórios de Fundamentação do OGE, Contas Nacionais e Relatórios de Balanço. Fundo Monetário Inter‑nacional, Angola – Consultas ao Abrigo do Artigo IV, Fevereiro de 2017. INE – Nota de Imprensa, Produto Interno Bruto, IV Trimestre de 2016.

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RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2016

A panorâmica geral do crescimento económico do país está retratada na tabela seguinte, com todos os pormenores sectoriais exigidos para a análise e a pesquisa.

TAXAS DE CRESCIMENTO POR SECTORES DE ACTIVIDADE SEGUNDO AS CONTAS NACIONAIS (%)

Sectores de actividade 2010 2011 2012 2013 2014 2015Média 03/15

2016Média 03/16

Agricultura, pecuária, florestas 11,8 6,9 6,0 4,8 23,7 8,0 8,7 0,0 8,1

Pescas 1,2 15,0 9,7 2,4 21,8 14,2 9,4 8,7 9,4

Petróleo e gás ‑2,4 ‑5,2 8,5 ‑0,9 ‑2,5 11,3 6,5 ‑2,3 5,9

Diamantes e outros ‑7,2 3,4 ‑2,1 4,1 0,7 6,5 5,2 0,6 4,8

Indústria transformadora 9,6 9,1 9,6 7,7 2,3 ‑1,1 6,7 ‑2,3 6,0

Electricidade 9,8 3,8 10,3 25,3 3,6 10,6 13,2 14,5 13,3

Construção 12,6 8,4 23,9 16,1 4,1 ‑2,2 12,9 ‑2,8 11,8

Comércio 8,5 8,8 7,0 5,6 13,3 4,0 8,0 ‑0,4 7,4

Transportes e armazenagem 9,6 11,3 10,6 5,8 12.3 14,2 8,6 ‑32,0 6,6

Correios e telecomunicações 6,6 80,3 5,5 18,0 8,8 8,3 14,3 11,4 14,1

Bancos e seguros 2,3 3,3 0,4 ‑3,4 ‑11,3 31,6 7,6 9,6 7,7

Estado 2,8 6,6 3,1 9,4 9,8 ‑7,0 6,7 ‑16,2 5,1

Serviços imobiliários 6,0 5,5 20,6 3,0 ‑3,5 0,4 7,5 2,8 7,2

Outros serviços 10,0 7,4 0,5 10,8 ‑2,2 ‑18,9 3,6 ‑4,9 3,0

ANGOLA 4,7 3,5 8,5 5,0 4,1 0,9 7,2 ‑3,6 6,5

Fonte: Diferentes documentos oficiais: Relatórios de Fundamentação do OGE, Contas Nacionais e Relatórios de Balanço. Fundo Monetário Internacional, Angola – Consultas ao Abrigo do Artigo IV, Fevereiro de 2017. INE – Nota de Imprensa, Produto Interno Bruto, IV Trimestre de 2016.

Três sectores de actividade rubricaram quebras de crescimento em 2016: petróleo e gás51, diamantes e outras indústrias minerais (excepto petróleo) e a indústria transformadora (em termos acumulados 2015 e 2016 regrediu quase 4%). Tal como no Relatório Económico de 2012 se questionava sobre a validade de um crescimento do PIB da manufactura em 2011 de 45,8%, ainda não foram encontradas respostas cabais, apesar das pesquisas que o CEIC tem vindo a desenvolver. A ideia que já na altura prevaleceu, em termos da sua interpretação, é que se tra‑tou de um simples epifenómeno, que as informações posteriores acabaram por validar (rapida‑mente se voltou a uma cadência inferior a 5% ao ano). Com efeito, entre 2012 e 2016 a taxa de variação da produção industrial foi de apenas 3,9%.

51 Causas, consequências e políticas de recuperação podem ser consultadas no Relatório Energia em Angola, 2016, do CEIC, lançado no dia 5 de Abril de 2017.

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CEIC / UCAN

Como mais adiante se refere, a indústria transformadora exerce um efeito económico pola‑rizador muito importante, pelos laços a montante e a jusante que cria no processo de adensa‑mento da malha de relações intersectoriais. E este adensamento é determinante para a redução dos custos económicos das actividades industriais e agrícolas, bem como para a criação de uma competitividade estrutural – para lá das pautas aduaneiras, que distorcem a eficiência na afec‑tação dos recursos escassos –, indispensável para a inserção de Angola nas economias abertas de todo o mundo.

Em comparação com 2015, nota‑se que muitos sectores atenuaram, consideravelmente, os respectivos ritmos de crescimento, como o comércio (rarefação de divisas para a importação e a atribuição administrativa dos plafonds, em condições de quebra das reservas internacionais líquidas e de escassez de moeda externa (estas justificações valem, igualmente, para o com‑portamento negativo do VAB industrial, cuja produção interna tem um elevado coeficiente de importação)), os transportes e os correios e telecomunicações.

Por grandes períodos de tempo, tal como se mostra no gráfico seguinte, o ano de 2008 é o marco que divide duas épocas: 2002/2008 com 5 anos de crescimento médio anual do PIB de 10,2% (12,8% para o PIB não petrolífero). Como o CEIC tem vindo a demonstrar, tais dinâmi‑cas não voltarão a ocorrer até 2021, mesmo que algumas das reformas estruturais de mercado sejam feitas. É que todas as medidas de política económica têm um tempo de maturação, des‑dobrado no lag de reconhecimento, no lag administrativo e no lag de resposta52.

COMPARAÇÃO DO CRESCIMENTO ECONÓMICO

20092010

20112012

20132014

20152016

RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2016RI.2017.0000.01.01

DT_042.ª prova

25 maio 2017Paulo Amorim

0,0

5,0

–5,0

10,0

15,0

20,0

Taxa crescimento PIB

20022003

20042005

20062007

2008

Linha tendencial

Fonte: CEIC, Ficheiro “Índice do PIB”.

52 Alves da Rocha, Vera Daves e Albertina Delgado – Finanças Públicas, CEIC, 4.ª edição, 2014.

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RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2016

Claramente duas fases distintas do crescimento económico em Angola depois da paz: um até 2008, com episódios de variação anual do PIB notáveis, tendo o pico sido em 2005, com 15%. Outro máximo ocorreu em 2007 com um valor de 13,9%. Mas depois disso e como conse‑quência da desaceleração do crescimento mundial, da crise do imobiliário nos Estados Unidos e na Europa, do adiamento constante das reformas estruturais de mercado (falta de vontade política de se afrontarem os interesses político‑económicos constituídos) e da queda do preço do barril de petróleo, a economia nacional não teve condições de assegurar a continuidade da “mini‑idade de ouro” do crescimento económico.

A política económica, na sua generalidade, foi passiva, aguardando que o preço do principal produto de exportação retomasse os níveis de antes de 2008, o que acabou por acontecer em 2011 (USD 111,3), 2012 (USD 111,7) e 2013 (USD 108,8). Não obstante isso, à economia ango‑lana começaram a faltar outros fundamentos para que as taxas de crescimento do PIB do perío‑do dourado fossem recuperadas. Isto mostra que deixou de ser suficiente – embora ainda seja necessário – o preço e a produção de petróleo.

A agricultura e a indústria transformadora continuaram e continuam a ter papéis marginais na estratégia de sustentabilidade do crescimento e de consolidação do valor agregado nacio‑nal. Os investimentos públicos em infra‑estruturas económicas, apesar da enormidade dos seus valores, não têm propiciado condições aceitáveis e estimulantes de rentabilidade aos investi‑mentos privados (um factor importante da sua atractividade, mormente estrangeiros) devido à sua geral baixa qualidade, nem de melhoria considerável das condições de vida da população. Maior eficiência e melhor qualidade poderiam e deveriam representar um trade off à excessiva burocracia, pública e privada (especialmente nos bancos), à crueldade da corrupção, à debilida‑de do sistema financeiro e às elevadas taxas de juro activas.

Os tremendos investimentos no sector da energia – Angola acaba por deter das melhores condições infra‑estruturais de energia na África Subsariana, podendo tornar‑se, a médio prazo, um exportador líquido deste produto/serviço para a região da SADC mais vizinha de Angola – ainda não começaram a dar os esperados frutos, continuando muitas actividades económicas, com destaque para a indústria transformadora, mineira e o fornecimento de serviços variados (o turismo, para o desenvolvimento do qual o país tem vantagens comparativas naturais) ainda a dependerem muito mais de geradores, do que da electricidade da rede nacional.

Algum dia as contas da eficiência dos investimentos públicos vão ter de ser apresentadas, por um lado, como justificação dos impostos pagos pelos contribuintes (pessoas singulares e colectivas) e, por outro, como modelo para se definirem, duma forma racional (e transparente), as prioridades do Estado em matéria das suas escolhas públicas. A percepção geral é a de que os índices de eficiência dos investimentos públicos são baixos e que as prioridades são defini‑das mais por influências políticas (geridas e absorvidas pelo Partido da governação), do que por critérios de racionalidade, que estão disponíveis na Teoria das Escolhas Públicas.

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CEIC / UCAN

A falta de fundamentos da economia nacional de que se falava anteriormente é visível na que‑bra do ritmo de crescimento do sector não petrolífero, como tão bem ilustra o gráfico seguinte.

AS DIFERENTES DINÂMICAS E FASES DE CRESCIMENTO EM ANGOLA

RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2016RI.2017.0000.01.01

DT_052.ª prova

25 maio 2017Paulo Amorim

PIB PIBnp

1998/2016

5,1

7,5

1998/2001

4,1

6,9

2002/2008

10,2

12,8

2009/2016

3,04,8

Fonte: CEIC, Ficheiro “Índice do PIB”.

A quebra do ritmo de crescimento do sector não petrolífero é dramática, com uma diminui‑ção de 8 pontos percentuais na respectiva taxa média anual, de 2002/2008 para 2009/2016.

Apesar dos investimentos em estradas, ferrovias, pontes, plataformas logísticas, aeroportos (ainda que alguns de duvidosa utilidade), barragens, etc., não foi possível manter um compasso de variação real da produção não petrolífera na vizinhança dos 6% (por si mesmo insuficiente para atender de forma positiva aos desafios que se colocam ao descolamento da economia nacional).

Por isso é que se deveria fazer uma reflexão profunda sobre os gastos do Estado em matéria de obras públicas, porque não existem garantias de que os projectos do seu pipeline sejam os melhores e os mais rentáveis para o país. Em vez disso e tomando‑os como bons e inquestioná‑veis, o Governo, face às insuficiências das suas receitas tributárias, vai acrescendo quase todos os dias a dívida pública, interna e externa, fazendo perigar a sua sustentabilidade e transferindo o ónus do seu serviço para as gerações vindouras.

Retornando ainda ao gráfico anterior, constata‑se que a longa duração – período 1998/2016 – nos fornece informações preciosas sobre a capacidade de crescimento do país, já que a linha tendencial aí detectada (taxa média anual de 4,2% para o global da economia e 7,5% para a eco‑nomia não petrolífera) pode ser tomada como um proxy do produto potencial. Os investimentos públicos realizados – um montante de praticamente USD 110 mil milhões entre 2002 e 2016 – acabaram por não promover o take off (no sentido de W. W. Rostow53) tão desejado e necessário.

53 Ou seja, com garantias de sustentabilidade e com margens de manobra para os casos da ocorrência de alguns desvios dessa rota. A Ciência Económica e a Política Económica dedicam capítulos das suas matérias a estas condições de segurança temporal do crescimento económico.

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A política do Governo tem tomado algumas iniciativas meritórias tendentes a alterar este quadro de referência desfavorável, mas sem o sucesso esperado e desejado pela população e pelos empresários. A imagem externa do país é de desconfiança para os potenciais investidores estrangeiros, os riscos continuam a ser grandes – apesar da estabilidade política existente –, os ambientes de negócios ainda enfermam de muita burocracia, corrupção, tráfico de influências e demoras várias na obtenção de documentos e registos indispensáveis para a montagem de um negócio e a dinâmica de crescimento diminuiu consideravelmente.

A consequência mais visível de todas estas insuficiências está no ritmo das transformações estruturais, conforme se pode apreciar através do gráfico seguinte.

TRANSFORMAÇÕES ESTRUTURAIS

2002

2013

20152016

RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2016RI.2017.0000.01.01

DT_062.ª prova

25 maio 2017Paulo Amorim

102030405060

0

445

6

443830

38

446

6

5109

9

384046

55

Petróleo egás

Indústriatransformadora Construção Serviços

Peso

rela

�vo

no P

IB (%

)

Agricultultura,pecuária

e florestas

Fonte: CEIC, Ficheiro “Estudo e análise da eficiência da produção nacional”, com base em informações oficiais.

A principal transformação digna de registo e destaque é a da perda do peso relativo do sec‑tor petrolífero no PIB, de 44% em 2002 para 38% em 201654, mas que não foi acompanhada nem pela agricultura, nem pela indústria transformadora. Os serviços acabaram por aproveitar o espaço vagado pelo petróleo e gás, tornando‑se hoje no mais importante sector da economia nacional.

54 Existem dúvidas sobre este valor (INE – Nota de Imprensa, Produto Interno Bruto – IV Trimestre de 2016), pois outras fontes oficiais apontam para 18,9%, resultante de um PIB petrolífero de AKZ 3149,2 mil milhões e de um PIB de AKZ 16662,3 mil milhões. Para além do mais, a acreditar no valor de 38%, então as opiniões oficiais (MPLA e Governo) de que a diversificação está a acontecer – porque o peso relativo do sector petrolífero, latu sensu, está a diminuir – caem por terra. Como se tem escrito neste Relatório, que não apresenta nesta edição de 2016 (pelas razões explicadas na Introdução) o capítulo sobre a diversificação da economia, este fenómeno é complexo, exige tempo, investimentos colossais e políticas económicas bem definidas e melhor aplicadas, para que na realidade aconteça.

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E a diversificação, aonde é que está? Os documentos oficiais não apresentam indicadores económicos que comprovem que o processo está em marcha, apesar de, por várias vezes, o Governo ter afirmado que existem evidências empíricas do seu andamento, exemplificando com a abertura de novas unidades industriais, agrícolas e de serviços diversos pelo país fora.

O Relatório de Balanço das Actividades do Governo 2013‑2016 (uma antecipação, por razões eleitorais, do balanço final do Plano Nacional de Desenvolvimento 2013‑2017) pontualiza o que nesse período foi feito quanto à diversificação da economia, embora seja completamente omisso quanto a indicadores estatísticos ilustrativos da situação.

O Plano Nacional de Desenvolvimento 2013‑2017 contém um capítulo dedicado a este tema, com o título Promoção e Diversificação da Estrutura Económica do País, onde se refere que “O objectivo desta política é promover a competitividade e o desenvolvimento sustentá‑vel dos vários sectores da actividade económica, em linha com as políticas e prioridades para o desenvolvimento territorial. Para a sua realização, foram definidos 3 Programas de Acção Fun‑damentais e 23 medidas de política que contribuirão para a diversificação e desenvolvimento de actividades económicas geradoras de rendimento e de emprego, permitindo fixar as popula‑ções nas suas zonas de origem e aproveitar recursos endógenos transformando‑os em factores de competitividade”.

Reconhece‑se a importância destas modificações ao afirmar‑se que “A diversificação da estrutura económica é fundamental para reduzir a dependência da venda de matérias‑primas e para o crescimento económico sustentado e geração de emprego, desenvolvendo sectores cruciais como os das telecomunicações, agricultura, indústria transformadora, turismo e outros serviços. As crises financeira e económica mundiais revelaram que a dependência da econo‑mia, sobretudo da produção de petróleo, torna o País vulnerável às flutuações dos preços dos produtos de base”.

Igualmente é destacado o papel do sector privado, afirmando‑se que “o sector privado desempenha um papel fundamental na diversificação económica ao colocar‑se na vanguarda da inovação, investigação e desenvolvimento, e produção. Neste sentido, o Executivo tem esta‑do a apostar no desenvolvimento de infra‑estruturas, bem como na capacitação e qualificação dos recursos humanos”.

O Balanço, até final de 2016, é resumidamente o seguinte:

a) Aprovadas, por Decreto Presidencial 40/16, de Janeiro, as Linhas Mestras da Estratégia para a Saída da Crise Derivada da Queda do Preço do Petróleo.

b) Aprovados 16 Programas Dirigidos nos sectores da Agricultura, Pescas e Indústria, orien‑tados para o desenvolvimento de projectos empresariais públicos e privados.

c) Em curso, o processo de criação de uma Unidade Técnica de Apoio à Diversificação (UTAD).

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RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2016

d) Criado o Comité de Programação, Monitoria e Avaliação dos Programas Dirigidos.

e) Elaborada a proposta para a criação do órgão de apoio à formulação de política e acom‑panhamento do plano de acção para a diversificação da economia.

f) Elaborados os Termos de Referência para a contratação de Assistência Técnica para o estu‑do da viabilidade económico‑financeira das parcerias público‑privadas.

g) Elaborado o Plano Operacional de Supervisão da Zona Económica Especial Luanda‑Bengo.

h) Efectuada a revisão e actualização do Estudo da Madeira.

i) Prosseguido o processo de mapeamento das grandes empresas privadas a nível nacional.

j) Elaborado o estudo do sector das pescas (maricultura, aquicultura, peixe fresco, peixe seco e salinas).

k) Efectuado o levantamento da situação da indústria agro‑alimentar e elaborado o estudo do projecto‑piloto do cluster para o perímetro irrigado do Caxito.

l) Remetido ao BAD os Termos de Referência para realização de estudos de modelos institu‑cionais de apoio ao comércio exterior, aguardando‑se o concurso público.

m) Realizado o estudo sobre as fileiras do algodão e cereais.

n) Concebido pelo IFE, em concertação com o Instituto Nacional do Café, o programa de capacitação empresarial das associações e cooperativas do subsector do café.

o) Criado o website da Cooperativa Agro‑pecuária, Pesca e Apicultura do programa dirigido do mel.

p) Definidos os planos de acção das fileiras da agricultura, indústria, pescas e salinas.

q) Aprovado o Programa Executivo para Aceleração da Economia.

r) Definida a função e o modelo de actuação da Unidade Técnica de Apoio à Diversificação (UTAD).

s) Realizado o ponto de situação dos 36 projectos de aceleração da diversificação vanguarda (PAD‑V) em coordenação com diferentes ministérios.

t) Efectuada a identificação e o acompanhamento de PAD‑V adicionais (projecto amónia, projecto metanol e perímetro irrigado do Sumbe) e não PAD‑V mas reveladores de eleva‑do potencial para diversificação económica: têxtil, agro‑indústria, indústria extractiva, sal, piscicultura e avicultura.

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u) Criados grupos de acompanhamento, no âmbito dos clusters prioritários (alimentação, habitação, transporte, logística, energia e água, geologia e minas e actividades extracti‑vas, petróleo e gás natural).

v) Em curso as acções para assegurar o fomento e a instalação dos pólos agro‑industriais de Capanda, Cubal, Longa, Quizenga, Pedras Negras e Camabatela (MINAGRI e MIND).

w) Criar e acompanhar o funcionamento de Sociedades de Desenvolvimento Regionais como estruturas executivas dos processos de implantação dos clusters: do mega‑cluster alimentação e agro‑indústria, do mega‑cluster habitação e do mega‑cluster dos trans‑portes e logística.

x) Criado o observatório da diversificação da economia, em 2013, cujo objectivo é disponi‑bilizar informação actualizada para o tecido empresarial nacional sobre a competitividade da economia nacional e internacional, bem como estudos sobre o desempenho das gran‑des empresas, grupos empresariais e agrupamentos de sectores em redes de clusters.

y) Financiamentos com bonificação de juros: BMA (157), BCI (60), BFA (60), BAI (52), BIC (45), BPC (31), BCGTA (22), BE (18), Sol (14), Keve (10), BANC (6), BNI (3), Finibanco (2) e Standard (1). Emitidas 374 garantias de crédito, num total de AKZ 56 mil milhões.

z) Fundo de Garantia capitalizado em USD 100 milhões.

aa) Suporte ao empreendedor: emitidos 602 certificados, até ao ano de 2016, totalizando 12 638 empresas certificadas; realizadas 2411 acções de formação; oferta de consultoria do INAPEM com 510 estudos de viabilidade económico‑financeira.

bb) Quanto à desburocratização dos processos: publicado o Modelo dos pactos sociais de constituição de sociedades comerciais e o Modelo de constituição imediata, presencial e online; finalizado pelo MINJUDH os regulamentos da lei da simplificação; aprovado o Modelo dos pactos de constituição de sociedades comerciais; publicado o diploma de simplificação do licenciamento dos construtores, projectistas e fiscais de obras; finaliza‑da a sistematização das propostas do licenciamento de obras e obtenção de alvarás de obras, assim como o benchmark internacional sobre obtenção de alvarás de transpor‑tes; concluída a revisão das propostas de regulamento da Lei da Simplificação; concluído o Decreto Presidencial para o licenciamento de actividades de projectistas e fiscais de obras; realizado o diagnóstico do processo de obtenção de vistos de trabalho e realizados encontros com a equipa do relatório Doing Business do Banco Mundial; enviado ao Banco Mundial um memorando a reportar as reformas realizadas pelo Executivo, com vista a melhorar o ambiente de negócios; elaborado o Plano de acção para implementação da Lei da Simplificação dos Procedimentos para a Constituição de Sociedades Comerciais; publicadas as Leis de Redução dos Encargos Legais (Lei n.º 16/14) e da Simplificação (Lei n.º 11/15), que elimina quatro procedimentos no processo de constituição de empresas.

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RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2016

cc) No domínio da monitorização dos benefícios fiscais para as MPME: prosseguida a divul‑gação dos benefícios fiscais, sendo que foram contactadas, via e‑mail, 401 empresas certificadas pelo INAPEM; reiterada a necessidade de isenção do Imposto de Selo para as Microempresas; prosseguido o processo de monitorização dos benefícios fiscais, de modo aferir o seu conhecimento e respectivo acesso pelas MPME's; elaborada a propos‑ta de procedimentos para a atribuição às MPME de cada um dos benefícios fiscais previs‑tos na Lei 30/11; Elaborado o documento relativo à isenção de emolumentos e encargos legais no aumento de capital pelas MPME.

dd) No domínio da monitorização da aplicação dos apoios institucionais: em curso as acções para a operacionalização dos Apoios Institucionais do Tipo B, em parceria com Serviço Nacional de Contratação Pública; elaborada a proposta para a alteração da metodologia de cálculo dos Apoios Institucionais do tipo A, de modo a que os resultados apurados reflictam de forma mais apurada a execução orçamental; publicado o Decreto Executi‑vo Conjunto do Ministério da Economia e do Ministério das Finanças referente aos pro‑cedimentos do processo de Apoios Institucionais às MPME; concluídos os trabalhos de adequação do SIGFE, pelo MINFIN, para que emita relatórios do cumprimento das obri‑gações, no âmbito dos Apoios Institucionais.

ee) Quanto ao fomento do cooperativismo: concluído o regulamento das cooperativas do sector agrário; definidas medidas para o Plano de Acção, no âmbito do acompanha‑mento do processo Legislativo da Lei das Cooperativas (Lei n.º 23/15 de 31 de Agosto), nomeadamente: realização de visitas internacionais a cooperativas para identificação das melhores práticas; divulgação e acompanhamento da aplicação da Lei junto das cooperativas; divulgação das melhores práticas das cooperativas; definição do Modelo de estruturas de apoio às cooperativas; acompanhamento da implementação; elabora‑da a regulamentação dos diversos sectores de actividade (agrário, pescas, transportes, comércio e habitação); entrega do regulamento base do sector agrário ao sector para o acompanhamento; criada uma nova versão base do regulamento do sector das pescas em conjunto com os técnicos do respectivo sector.

ff) Sobre a dinamização dos Sectores Bandeira: elaborado o plano integrado de dinamização do sector do leite com o MINAGRI; efectuado o acompanhamento dos projectos financia‑dos ao abrigo do Programa Angola Investe; realizado o workshop de formação sobre os frangos & ovos; realizado o 2.º encontro, com o Ministério da Indústria, para a dinamiza‑ção do sector das confecções; definidos 3 sectores de bandeira prioritários: os lacticínios, ovos & frangos, modas e confecções de tecidos; inserida proposta de subvenção da pro‑dução leiteira no estudo da viabilidade do sector do leite; concluído o Plano de Fomento das Confecções.

gg) Para incentivar o consumo da produção nacional: aprovadas 90 empresas num total de 865 produtos; realizado inquérito aos aderentes sobre a utilização do selo Feito em

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Angola; em curso de realização iniciativas conjuntas com as superfícies comerciais para promoção em loja dos produtos Feito em Angola; estabelecimento dos corredores para escoamento da produção agro‑pecuária.

hh) Relativamente à dinamização dos pólos industriais, agro‑industriais e das Zonas Econó‑micas Especiais: em análise as propostas de criação de ZEE no Cunene e Cabinda; apro‑vada a proposta de Decreto Legislativo Presidencial que define o regime geral das ZEE, bem como o Plano de Acção para a privatização das unidades industriais da SIIND; trans‑ferida a tutela da ZEE para o Ministério da Indústria; em curso o Plano de Acção para a capacitação e operacionalização das atribuições do Instituto de Fomento Empresarial como supervisor das ZEE, em linha com o Regime Geral”.

Um leque impressionante de realizações entre 2013 e 2016, a maior parte administrativas e burocráticas (ou seja, e correctamente, tendentes a desanuviar o ambiente de negócios para os investimentos privados), mas sem a indicação de efeitos e impactos sobre a diversificação (como se disse existem indicadores estatísticos que a medem, em diferentes facetas) e sobre o ciclo económico.

A realidade, porém, é esta: a despeito de todas estas medidas a economia nacional entrou em desaceleração justamente depois de 2012, com uma queda abrupta em 2015 e 2016, em que a variação média real da actividade económica foi negativa e estimada em ‑1,35%.

Conforme o gráfico anterior sobre as alterações estruturais mostra, os dois mais importan‑tes sectores para a diversificação – a agricultura (com pecuária e florestas) e a indústria trans‑formadora – mantêm praticamente inalterado o seu peso relativo no PIB (uma média de 4,7% entre 2002 e 2016, para qualquer um deles), ilustrativo das dificuldades em se promover o seu arranque em direcção a uma estrutura produtiva mais alargada e densificada.

As contribuições para o crescimento de cada um dos sectores da economia nacional – uma aproximação ao que se poderá chamar de multiplicadores sectoriais da actividade – confirma a sua posição subalterna, conforme a tabela seguinte.

CONTRIBUIÇÕES PARA O CRESCIMENTO (%)

Sectores de actividade Média 03/15 Média 03/16

Agricultura, pecuária, florestas 0,377 0,350

Pescas 0,136 0,145

Petróleo e gás 2,981 2,709

Diamantes e outros 0,095 0,089

Indústria transformadora 0,280 0,251

continua

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RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2016

Sectores de actividade Média 03/15 Média 03/16

Electricidade 0,109 0,112

Construção 0,965 0,877

Comércio 0,674 0,622

Transportes e armazenagem 0,190 0,130

Correios e telecomunicações 0,369 0,359

Bancos e seguros 0,142 0,146

Estado 0,735 0,602

Serviços imobiliários 0,340 0,326

Outros serviços 0,304 0,262

Fonte: CEIC, Ficheiro “Estudos sobre a produtividade”.

Alguns dos sectores económicos considerados como drivers da diversificação, não conse‑guem assumir este papel, quedando‑se as suas contribuições para o crescimento do PIB em cifras irrisórias.

CONTRIBUIÇÕES PARCELARES PARA O CRESCIMENTO

Agricultura, pecuáriae florestasPetróleo e gás

Indústria transformadora

Construção

2004

RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2016RI.2017.0000.01.01

DT_072.ª prova

25 maio 2017Paulo Amorim

0,44

5,730,771,31

Pont

os p

erce

ntua

is

0,001,00

-1,00-2,00

2,003,004,005,006,00

2006

0,48

5,920,240,80

2008

0,21

5,100,210,60

2010

0,55

-1,040,3881,11

2012

0,24

3,930,3892,22

2014

1,12

-0,890,100,46

2015

0,42

3,39-0,09-0,24

2016

0,000

-0,83-0,14-0,28

Fonte: CEIC, Ficheiro “Estudos sobre produtividade e emprego”.

continuação

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A leitura do gráfico/tabela anterior permite concluir que:

a) Como seria de esperar, a extracção de petróleo é o melhor investimento para a econo‑mia nacional, já que 1% no aumento do VAB do sector proporciona um ganho entre 3% e 2,7% no incremento do PIB. Afinal é o petróleo o maior contribuinte para os valores e as dinâmicas de crescimento da economia angolana.

b) Também não é surpresa que as actividades de construção apareçam em segundo lugar com uma influência na taxa de crescimento do PIB 0,877%.

c) Comprova‑se, portanto, que as exportações petrolíferas (no fundo a tradução do cresci‑mento da produção em rendimentos fiscais e divisas para a economia) e os investimentos públicos têm sido os dois principais motores do crescimento económico do país.

d) O comércio aparece como a terceira actividade melhor colocada no apoio ao crescimento do PIB, com 0,622%.

e) Agricultura, manufactura e transportes têm contribuições para o crescimento muito irri‑sórias, para sectores com um papel importantíssimo na diversificação da economia.

f) A energia é um caso verdadeiramente paradoxal55: apresentou no período 1998/2016 taxas médias anuais de crescimento muito acima das do PIB e, no entanto, a sua contribuição média para a dinâmica da economia permanece bastante baixa e em redor de 0,112%. Segu‑ramente que têm de existir explicações credíveis para uma tão elevada falta de eficiência.

TAXAS MÉDIAS DE CRESCIMENTO POR GRANDES PERÍODOS

RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2016RI.2017.0000.01.01

DT_082.ª prova

25 maio 2017Paulo Amorim

PIB PIB energia

1998/2016

5,1

11,2

1998/2001

4,15,4

2002/2008

10,2

13,6

2009/2016

3,0

10,6

0,0

2,0

4,0

6,0

8,0

10,0

12,0

14,0

16,0%

Fonte: CEIC, Ficheiro “Índice do PIB”.

55 Alves da Rocha – “A Energia é um factor de competitividade da economia nacional”, Semanário Expansão, 7 de Abril de 2017.

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RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2016

Vale ainda a pena voltar à questão da inconsistência das informações estatísticas oficiais, tomado como ilustrativo a indústria transformadora, de resto já anteriormente destacado. A visualização gráfica das suas dinâmicas de crescimento, na base de dados oficiais, apresenta o desenho seguinte:

TAXA CRESCIMENTO PIB INDÚSTRIA TRANSFORMADORA (%)

RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2016RI.2017.0000.01.01

DT_092.ª prova

25 maio 2017Paulo Amorim

0,0

2006 2008 2010 2012 2014 2016 2018

Taxa

s de

cres

cim

ento

(%)

10,0

10,0

20,0

30,0

40,0

50,0

Anos

44,15

2,05,9 7,0

9,6 9,67,7

2,3-1,1 -2,3

Fonte: CEIC, Ficheiro “Índice do PIB”.

Este importante sector – cuja representatividade no PIB apresenta um valor médio 2002/2016 de 4,7%, como anteriormente se sublinhou – apresentou, entre 2006 e 2016, dois máximos: um em 2015 de 8,6% e outro em 2016 (6,5%), que terão de ser confirmados pelas Contas Nacionais desses anos, porque notam‑se algumas incoerências nos dados disponíveis. A primeira relaciona‑se com o aumento do seu peso relativo no PIB em 2015, quando neste mesmo ano a sua taxa real de crescimento foi de ‑4%56, corrigido depois para – 1,1% pelo INE na sua Nota de Imprensa de Abril de 2017. A segunda, relaciona‑se com a taxa de crescimento de 44,2% em 2011, um pico absolutamente fora do normal e desinserido do padrão de cresci‑mento registado antes e depois dessa data. Sem este valor atípico, a cadência média anual de crescimento da manufactura situar‑se‑ia, no período em análise, em 4,9%.

Omitindo do gráfico de dispersão anterior, sobre as velocidades de crescimento da indústria transformadora, o ano absolutamente anómalo de 2011, a sua linha de tendência, se projecta‑da linearmente, pode conduzir à ocorrência de mais crescimentos negativos até 2018. Dir‑se‑á que para se evitarem estas ocorrências é que existem as políticas económicas. Seguramente

56 Governo de Angola – Linhas Mestras para a Definição de uma Estratégia para a Saída da Crise Deri-vada da Queda do Preço do Petróleo no Mercado Internacional, Janeiro de 2016.

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que sim, mas o balanço oficial da diversificação mostra que as medidas tomadas entre 2013 e 2016 ainda não produziram resultados estruturantes sobre o tecido produtivo nacional e em particular incidindo sobre a indústria de transformação nacional.

4.3 Análise sectorial do Produto Interno Bruto

4.3.1 Agricultura, pecuária e florestas

4.3.1.1 Comportamento da produção

Com a manutenção da crise financeira e económica e a reiterada decisão do Executivo de diversificar a economia, e até mesmo de acelerá‑la, era expectável que o sector agro‑pecuário passasse a ser encarado de modo diferente em termos de novas políticas, programas e projec‑tos. Impunha‑se, sobretudo, uma discussão séria sobre a visão, os objectivos e as estratégias que têm estado na base de resultados pouco condicentes não apenas com o papel que a agri‑cultura deve desempenhar na produção de alimentos e de matérias‑primas para a indústria, bem como na criação de empregos, na redução das assimetrias regionais, no desenvolvimen‑to local e no combate à pobreza, mas também com os recursos disponibilizados, apesar de se saber que estes estão longe de corresponder às necessidades. As medidas de política comen‑tadas mais adiante reflectem exactamente a ausência de uma avaliação criteriosa do desempe‑nho do sector nos últimos anos.

A substituição do anterior ministro em Setembro de 2016 foi encarada como um sinal de reconhecimento pelo Titular do Poder Executivo de que as coisas não caminham bem, mas é sabido que os problemas não se resolvem apenas com a mudança de governantes. As medidas tomadas no âmbito da estratégia para a saída da crise mostram bem que a visão e as estratégias têm de ser revistas. Os Programas Dirigidos e outras decisões sobre financiamento de projectos privados indiciam que a apetência pelos grandes projectos e sua priorização continuam a preva‑lecer sobre projectos realistas, mais rentáveis e mais inclusivos, que deveriam estar ancorados na agricultura familiar e em micro, pequenas e médias empresas. Ainda não há consciência de que os projectos estruturantes, tão necessários a uma mudança sustentável, devem fazer parte das preocupações imediatas.

A exemplo do que tem acontecido, a análise do sector, e em particular a do comportamento da produção, é dificultada pelos constrangimentos ao acesso à informação, não apenas pelas incompreensíveis e crescentes limitações impostas pelos organismos oficiais, mas também pela pobreza e desalinhavo na produção de informação, quer em quantidade, quer em qualidade. Além disso, em 2016 não foi feito o habitual inquérito sobre o comportamento da produção, pelo que os indicadores apresentam‑se com a tradicional pouca credibilidade acrescida.

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Agricultura

Caracterização dos produtores

O Relatório Económico de 2015 do CEIC pôs em evidência as contradições entre os dados do Censo Geral da População e as informações do Ministério da Agricultura (MINAGRI) relati‑vamente ao número de agricultores familiares e camponeses. Por tal razão, mantém‑se actual a reflexão sobre a importância da informação relativa à quantificação e caracterização dos agri‑cultores que o CEIC tem vindo a fazer, e sobre os efeitos da falta dessa informação na credibili‑dade das estatísticas do sector e do Governo em geral, o que constitui poderoso elemento de desconfiança por parte de eventuais investidores e dos diferentes actores económicos e outros interessados.

De acordo com o Relatório de Balanço das Actividades do Governo em 2016, na cam‑panha agrícola 2015‑2016 “estiveram envolvidas 2 521 961 explorações agrícolas familiares (EAF) (das quais 1 296 159 na 1.ª época e 1 225 802 na 2.ª época)”. Esta afirmação não faz sentido, pois o número de explorações existentes não pode ser o somatório das que traba‑lham nas duas épocas, e, aliado a outras inconsistências adiante relatadas, traduz o modo leviano como o sector da agricultura continua a ser tratado pelos órgãos de direcção da eco‑nomia do país. Na verdade, segundo o IDA, no seu relatório sobre a campanha 2015‑2016, foram “assistidas” apenas 1 269 159 famílias, o que deixaria de fora cerca de 1,3 milhões, o que representaria mais de 50% das supostamente existentes. Recorde‑se que o Relatório da Campanha Agrícola 2014‑2015, da responsabilidade do MINAGRI, citado pelo Relatório Eco‑nómico de 2015, informava que tinham sido assistidas pelo Instituto de Desenvolvimento Agrário, no quadro do Programa de Extensão e Desenvolvimento Rural (PEDR), 1 117 471 de famílias e que o número total destas que praticavam actividade agrícola em 2015 seria de 2 570 003. Perante esta perplexidade ganha maior consistência a necessidade urgente da realização do censo agrícola do país, sem o qual a formulação de boas políticas continua pre‑judicada.

O mesmo Relatório de Balanço das Actividades do Governo em 2016 faz saber que o número de explorações agrícolas do tipo empresarial (EAE) é de 12 892, exactamente o mesmo número de 2014. Por ser razoável imaginar que ao longo dos últimos anos surgi‑ram novas empresas e devem ter colapsado outras, estamos perante mais uma cifra sem credibilidade. De todo o modo, não parece racional incluir no mesmo grupo empresas tão diferentes entre si em termos de dimensão física e de volume de negócios, bem como de capacidade técnica e financeira, como se referiu no Relatório Económico de 2015. Não há comparação, por exemplo, entre a BIOCOM ou a Nova Agrolíder, com milhares de trabalha‑dores e muitas dezenas de técnicos, na maioria expatriados, com pequenas fazendas cujo rendimento bruto não chega ao equivalente a dez mil dólares anuais. Daí a necessidade imperiosa de catalogação de micro, pequenas, médias e grandes empresas nos termos da lei já proposta pelo CEIC.

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Entretanto, em 2016 o Instituto Nacional de Estatística (INE) editou o Ficheiro de Unidades Empresariais que revelou a existência de apenas pouco mais de 1600 empresas agrícolas57. Isto tanto pode significar que o número divulgado pelo Governo peca por colossal exagero, como mostrar que a esmagadora maioria das empresas não está registada no INE. Num e noutro caso a situação não é abonatória para a tutela.

Todavia, este problema não se esgota aqui. É conhecida a grande diversidade entre as explo‑rações agrícolas, quer as que entram na categoria de empresas (ver Relatório Económico de 2015, para além do que se disse atrás), quer as que se enquadram nas familiares, estas consi‑deradas na sua quase totalidade como informais. A dissertação de mestrado de um sociólogo da Universidade José Eduardo dos Santos veio trazer luz importante para a compreensão do fenómeno58. Com efeito, o estudo de J. M. Katiavala realizado numa aldeia da Caála, na pro‑víncia do Huambo, revelou a existência de quatro tipos de agricultura, diferenciadas segundo dimensões e variáveis que têm a ver, entre outros aspectos, com o trabalho e com a ligação ao mercado: agricultura camponesa, dois tipos de agricultura familiar distintos e agricultura de família. Fazendo o cruzamento das variáveis “tipo de trabalho” e “origem dos rendimentos do agregado doméstico” foi possível também identificar na mesma aldeia 11 categorias de pro‑dutores agrícolas de acordo com os tipos de agricultura referenciados. O estudo conclui que na aldeia em causa predominam os produtores agrícolas inseridos na agricultura familiar de tipo I, ou seja, aquela em que o trabalho na unidade produtiva é essencialmente familiar. É uma negação de quantos continuam a demonstrar ideias preconceituosas quando classificam toda a agricultura não empresarial como agricultura de mera subsistência. Esta diversidade não pode ser subestimada e vem confirmar uma vez mais a importância e a necessidade do já menciona‑do censo agrícola.

Por outro lado, o professor catedrático português F. Gomes da Silva sugeriu correctamente, há já alguns anos59, que o paradigma oficial baseado no “dualismo” entre agricultura familiar/ /camponesa e agricultura empresarial fosse corrigido com a inclusão do que designou por “agri‑cultura familiar de média dimensão” que, segundo ele, poderá vir a constituir a base da “classe média dos agricultores” angolanos do futuro e parece corresponder ao que Katiavala desig‑nou por “agricultura familiar de tipo II”, isto é, aquela em se verifica, entre outros indicadores, um acentuado recurso a força de trabalho assalariada dada a pouca relevância da composição do grupo doméstico, e pela significativa canalização de produtos para o mercado, produtos

57 Número estimado pelo facto de o INE agregar na cifra divulgada o sector das Pescas, totalizando 1.826, o que correspondia a 4,4% do total de empresas em actividade no país em 2015.58 Katiavala, José Maria – O processo de diferenciação socioeconómico dos produtores agrícolas na Pro-víncia do Huambo: um estudo de caso da aldeia de Kapunge, Município da Caála, Faculdade de Ciências Agrárias – Universidade José Eduardo dos Santos, Junho de 2016.59 Silva, Francisco Gomes da – Contribuição para a definição de um modelo de desenvolvimento do sec-tor agrícola para Angola, Fundação Eduardo dos Santos, XVI Jornadas Técnico‑Científicas, Luanda, 2011.

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que proporcionam rendimentos importantes para as famílias, e ainda à “agricultura de família”. Segundo Gomes da Silva, será a implementação de políticas diferenciadas junto dos campo‑neses ou agricultores familiares/tradicionais, comum e erradamente designados também por agricultores de subsistência – os quais de algum modo podem igualmente ser considerados como sendo um conjunto homogéneo – que permitirá potenciar o dinamismo dos agricultores que virão a constituir a tal classe média, cujo número e condição sociológica tornarão provável o aumento sustentável da produção e da produtividade em escala através do associativismo e do cooperativismo.

A estrutura do sector agro‑pecuário apresentada no Relatório Económico de 2015 contem‑plava ainda um conjunto de 18 projectos empresariais públicos de larga e média escala, assen‑tes em empresas que integravam, em grande parte, a Gesterra60 ou eram participadas por ela. No Relatório Económico de 2015, na esteira do que vinha sendo sistematicamente referido em anos anteriores, dizia‑se que a “…pouca informação sobre tais empresas e projectos não impe‑de a percepção geral que não têm sido exemplos de sucesso em termos de rentabilidade e competitividade, como seria de esperar de investimentos tão avultados. Mesmo em termos de parceria, subsistem dúvidas sobre a qualidade de algumas delas, algo que deveria ser melhor investigado”.

Estas reservas e críticas foram confirmadas pelo Executivo ao ter decidido refazer a sua estratégia, com a aprovação da concessão de sete projectos de larga dimensão a agentes priva‑dos, e da autorização para que o Fundo Soberano de Angola (FSDEA) passe a deter a totalidade do capital social das sociedades concessionárias dos projectos em substituição da Gesterra, o que pode significar o fim próximo desta empresa pública. A medida foi justificada com a neces‑sidade de “reestruturação, maior capacitação, investimento e melhoria da gestão para viabili‑zação da sua exploração sustentável”, devendo as novas concessionárias priorizar a produção de bens de consumo interno e exportáveis e podendo tomar posse de até 49% do seu capital societário, com autorização do Presidente da República.

O MINAGRI será a entidade que celebrará os contratos com as empresas, por períodos de 60 anos, renováveis por mais 30, processo que só pode ser concluído mediante a confirma‑ção da detenção do capital social pelo FSDEA. A todos os projectos abrangidos pelo despacho “podem ser atribuídos os benefícios fiscais e aduaneiros que se mostrem necessários para a viabilidade económica e financeira”. De acordo com o semanário Valor, a alteração é devi‑da à possibilidade do Estado poder fazer “recurso a linhas de crédito internacionais a que as empresas angolanas não teriam condições de aceder”. Desse modo, os projectos vão estar sob tutela do Fundo Soberano, que vai apoiar financeiramente através da banca comercial ou do BDA. Reconhece‑se, assim e finalmente, que o Estado não está vocacionado para a gestão

60 Empresa pública tutelada pelo Ministério da Agricultura que funciona como uma espécie de holding na gestão de empresas agrícolas públicas e na participação do Estado em empreendimentos público‑‑privados, criada em 2006.

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desse tipo de projectos. No início de 2016, o MINAGRI já havia concessionado as cinco explo‑rações que integravam outra empresa pública, a AGRICULTIVA, a empresários privados61.

Área cultivada

Tal como já acontecera em 2015, a informação disponível não possibilitou saber a área total semeada ou cultivada em 2016, mas apenas a que é atribuída às explorações familia‑res “assistidas” que, de acordo com o IDA, foi de cerca de 4 milhões de hectares, contra 3,7 milhões em 2015, o que daria uma média pouco superior a 2 hectares por agricultor, abaixo da de 3,3 de 2015. Se tivermos em conta a superfície das explorações empresariais de maior dimensão62, uma estimativa grosseira poderá fazer crer que, na melhor das hipóteses, a área cultivada nessas explorações com culturas anuais dificilmente chegará aos 100 mil hectares. Contudo, fontes do MINAGRI indicam que as explorações empresariais devem ser responsá‑veis por cerca de 450 mil hectares de área cultivada, o que parece exagerado. Por outro lado, admitindo‑se que as 1,3 milhões de famílias fariam em média 0,750 hectares, num total apro‑ximado de 975 mil hectares, seria legítimo estimar‑se que a área total cultivada em 2015/2016 deve ser de cerca de 5 milhões de hectares, o que representa aproximadamente – numa pers‑pectiva optimista – 14% da superfície de terra arável, se considerarmos que esta é de 35 milhões de hectares63.

REPARTIÇÃO PERCENTUAL APROXIMADA DAS ÁREAS CULTIVADAS OU SEMEADAS A NÍVEL NACIONAL REFERENTES AOS SECTORES FAMILIAR E EMPRESARIAL

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25 maio 2017Paulo Amorim

5%

Sector empresarialSector familiar

95%

61 Ver Relatório Sobre Desenvolvimento Nacional: BDA 10 Anos – o Ponto de Inflexão, 2016, página 292.62 A BIOCOM, de longe a de maior dimensão, cultivou em 2016 dez mil hectares de cana‑de‑açúcar e não chegam a vinte as que cultivam mais de mil hectares.63 Mais uma vez a recorrente falta de informação e a pouca credibilidade da existente deve ser tida em conta e, consequentemente, admitir que estes números podem estar empolados. Na realidade, o número de explorações indicado pelo MINAGRI, ainda que suportados pelos dados do Censo de 2014, deve estar sobrevalorizado. Estimativas do CEIC apontam para um número mais realista de pouco mais de 2 milhões.

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Mais uma vez se chama a atenção para a necessidade de se ter em conta o facto de em mais de 63% da área cultivada pela agricultura familiar se fazer recurso a tecnologias extremamen‑te rudimentares (com o uso predominante da enxada)64. Com efeito, segundo o IDA, do total dos cerca de 4 milhões de hectares cultivados (a área semeada ou plantada é normalmente um pouco inferior à preparada) com culturas anuais, apenas aproximadamente 117 mil (pouco menos de 3%) foram preparados com tractores e 1,4 milhões (34%) foram trabalhados com trac‑ção animal65. Isto é extremamente penoso num país que reclama avanços tecnológicos notáveis noutros domínios, como, por exemplo, a entrada em funcionamento, em breve, de um satélite. Porém, tal situação pode ser considerada um enorme desafio e uma oportunidade extraordiná‑ria para se investir no aumento da produtividade do trabalho (através da mecanização gradual e sensata) e da terra (com recurso a inputs adequados) e, consequentemente, da produção. Esta é uma questão fundamental para reflexão em termos de mudanças da política agrícola angolana.

Produção alcançada

Como consequência das anomalias relacionadas com o número de produtores e das áreas cultivadas, os resultados da produção são naturalmente confusos e contraditórios. De acordo com o Relatório do Ano Agrícola 2014‑2015 e os dos anos anteriores já trabalhados pelo CEIC, apresenta‑se a evolução da produção nos três últimos anos que em princípio reflectem apenas a situação da agricultura familiar.

EVOLUÇÃO DA PRODUÇÃO AGRÍCOLA FAMILIAR POR GRUPOS DE CULTURAS (2014/2016)

Produtos (em mil toneladas)Produção

2013/2014 2014/2015 2015/2016

Cereais 947 1022 1150

Leguminosas/Oleaginosas 270 304 330

Raízes e tubérculos 4647 11 331 13 768

Hortícolas 656 849 844

Frutas 745 1591 1658

Café (comercial) 15,0 14,7 7,9

Nota: A produção de café inclui a do sector empresarial por não ter sido possível fazer a separação, mas acredita‑se que o sector empresarial represente apenas 2% do total.

Fonte: CEIC, 2015; IDA, 2016.

64 Na realidade, esta percentagem é substancialmente maior, pois os cálculos deixam de fora os agri‑cultores familiares não assistidos pelo IDA, cujo número não pode ser estimado com rigor, mas é seguramente significativo.65 Este indicador de 117 mil hectares é muito pouco fiável, pois a responsabilidade pela sua execução é atribuída pelo IDA vagamente a “parceiros” e apenas 727 hectares à Mecanagro, empresa pública que está em processo de degradação por falta de recursos no sentido amplo do termo, o que permite concluir que se está perante um caso de insucesso. Pelo que se acompanha no país, não se vislum‑bra nas províncias indicadas a acção dos referidos parceiros que justifiquem tal área tão expressiva.

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Todavia, o Relatório de Balanço das Actividades do Governo em 2016 permite a elaboração de um outro quadro da evolução da produção, que se presume ser da agricultura no seu todo, embora tal não seja expresso.

EVOLUÇÃO DA PRODUÇÃO AGRÍCOLA POR GRUPOS DE CULTURAS (2014/2016)

Produtos (em mil toneladas) 2014 2015 2016

Cereais 1820 2016 2380

Leguminosas (feijão, amendoim e soja) 668 679 686

Raízes e tubérculos (mandioca, batata rena e batata doce) 10 239 10 328 10 531

Café (comercial) 15,0 14,7 7,9

Açúcar 25 51,5

Fonte: Relatório de Balanço das Actividades do Governo 2013‑2016 e recolha directa

Uma comparação preliminar dos números das duas tabelas permitiria concluir que a pro‑dução do sector empresarial passou a ter um peso considerável no conjunto da produção total, como, por exemplo, no caso dos cereais, onde representaria cerca de 52% da produção total de 2016, correspondente a 1,2 milhões de toneladas. Porém, uma análise mais atenta mostra que o incremento da produção de cereais (milho principalmente) nas empresas – que na rea‑lidade vem acontecendo, principalmente na província do Kuanza‑Sul – está muito longe desse número66. O mesmo tipo de exercício com as restantes culturas – com excepção do café, por ausência de informação – conduziria a resultados idênticos. Isto permite confirmar, pois, que algo de errado se passa com a informação estatística, na medida que não é sensato admitir que a agricultura empresarial tenha atingido os números apontados67.

A análise do gráfico seguinte, que foi apresentado no Relatório de 2015, pode dar uma ideia das diferenças de produção entre os agricultores familiares e empresariais em 2014, compro‑vando‑se assim a reflexão feita para 2016, pois, insiste‑se, não é crível que a situação se tenha alterado num ano de crise como foi o de 2016.

66 De acordo com o documento do Programa Dirigido de Cereais aprovado pelo Executivo a previsão da produção de milho era de 42 544 toneladas, o que é revelador do que se diz no texto, mas ainda que se desconheça o realizado, é quase certo que ficou longe da meta desejada.67 Em 2014, último ano em que foi possível apresentar informação oficial relativa à produção aos dois tipos de explorações, as familiares representavam 79% da produção total de cereais.

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PRODUÇÃO OBTIDA PARA AS DIFERENTES FILEIRAS SEGUNDO O CONTRIBUTO DAS EAF E EAE, NA CAMPANHA AGRÍCOLA 2013/2024

RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2016RI.2017.0000.01.01

DT_09b2.ª prova

30 maio 2017Paulo Amorim

Total EAF EAE

Cereais Raízese tubérculos

Leguminosas Frutas Hor�colas Café0

2000,0004000,0006000,0008000,000

10000,00012000,000

Tone

lada

s

Fonte: GEPE MINAGRI, 2015.

O ciclo de estiagens que se regista há alguns anos nas regiões do sul do país manteve‑se em 2015/2016, mas em contrapartida no restante território as chuvas foram razoáveis e em alguns casos irregulares ou excessivas (como no Kuanza‑Sul), circunstancialmente acompanhadas por alguns fenómenos meteorológicos como ventos fortes, granizos, geadas ou cheias. O bom ano de chuvas em algumas regiões foi favorável a algumas culturas, como, por exemplo, milho, café e cana‑de‑açúcar. Todavia, a produção global continuou a ser prejudicada por incidências fitos‑sanitárias, das quais a de maior relevo foi a persistência do mosaico da mandioca, mal que está longe de ser debelado.

A campanha agrícola 2015/2016 foi afectada, como não poderia deixar de ser, pela indis‑ponibilidade ou dificuldade de acesso a insumos agrícolas no mercado nacional, devido não só aos problemas relacionados com a escassez de divisas, mas também pelas crónicas deficiências no sistema de abastecimento desses mesmos insumos aos agricultores, que viram piorar uma situação que já era muito deficiente.

A subida dos preços dos fertilizantes no mercado, que chegaram a cinco vezes os anteriores, mostra bem o dramatismo da situação, tendo o preço no último trimestre sido reduzido para perto dos níveis anteriores, depois da importação, apoiada pelo Executivo, de 35 mil toneladas. A falta de recursos financeiros prejudicou várias acções, como, por exemplo, o acompanhamen‑to do programa de reconversão varietal de mandioca em curso em Malanje, ou a admissão de técnicos para melhoria da assistência técnica aos agricultores.

Grande parte dos comentários apresentados no Relatório Económico de 2015, relativos ao comportamento das principais produções, mantém‑se actual, pelo que não são aqui retoma‑dos. Porém, importa adicionar algumas notas para reflexão.

A produção de milho nas empresas tem vindo a melhorar fruto dos investimentos de que a cultura beneficia nos últimos anos, incluindo em assistência técnica, e da importância de

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que se reveste para a produção de rações. Por exemplo, no caso da Aldeia Nova, depois dos insucessos conhecidos, a produção e a produtividade conseguidas (7,5 mil toneladas e cinco toneladas por hectare, respectivamente) podem ser consideradas interessantes no contexto do país, ainda que longe de satisfazer os custos de produção68. Todavia, a meta prevista para 2017 (4,5 milhões de toneladas) seguramente que não será atingida, pois cometeu‑se o erro, desde o fim da guerra, de ignorar a região a que alguém designou, com toda a propriedade corn belt angolano, o triângulo Caconda‑Chicomba‑Caluquembe, onde se justificariam investimen‑tos com base no enquadramento dos pequenos produtores locais, sob a forma de clusters, em favor da produção em larga escala em regiões menos favoráveis, ou pelo menos com mais limi‑tações69.

Em 2015 já se fez notar a incoerência existente entre a capacidade de produção e de trans‑formação de milho em projectos de larga escala em Malanje e Benguela, o que provoca a ociosi‑dade das respectivas unidades fabris. Algo similar acontece com o arroz. Em 2016 foi inaugurada uma unidade de descasque em Sanza Pombo (Uíge), integrado num dos projectos públicos de larga escala, com capacidade de 1200 toneladas/mês, superior ao volume de produção de um ano70. Em Malanje encontra‑se em situação ociosa, por falta de matéria‑prima, uma outra uni‑dade de descasque de arroz com uma capacidade de processamento diário de 40 toneladas no valor de 7,750 milhões de dólares, financiados pelo BDA a uma empresa privada71. No Kuito Kanavale foi instalada outra unidade de descasque que vai na mesma linha de desajustamento muito exagerado em relação à capacidade de produção agrícola72.

68 Revista Exame n.º 69, Abril/Maio de 2016.69 Recentemente foi financiado pelo BDA uma moageira em Caluquembe (Huíla) para processamento de milho proveniente de pequenos agricultores e sua transformação em fuba, com capacidade de uma tonelada/hora. Em Cacuso (Malanje) está prevista uma fábrica de chips de batata‑doce, um produto de referência da região. Este é o tipo de projecto que deveria ser multiplicado na região a fim de se estimular a produção de milho. 70 Ver, por exemplo, Revista Exame n.º 71, Junho de 2016.71 De acordo com fonte local, a ociosidade explica‑se também pela dificuldade ou recusa do BDA em financiar a importação de matéria‑prima (arroz em casca). Este não é um caso isolado, pois no Soyo (Província do Zaire) uma fábrica de rações está praticamente sem actividade desde a sua inaugu‑ração por falta de divisas para importação de matérias‑primas. Além disso, outras unidades fabris foram instaladas há vários anos e estão paralisadas, como três de tomate em Benguela, na Matala e em Caxito. Ainda em Caxito uma unidade de processamento de banana também está paralisada. Com estas situações absurdas, o grau de dificuldade para se avançar em direcção da diversificação da eco‑nomia torna‑se muito maior.72 No que respeita à produção de cereais é conveniente prestar atenção às ideias recentes de promo‑ção da cultura de trigo. Numa altura em que ainda se registam imensas dificuldades com a superação dos constrangimentos colocados aos outros cereais, que em princípio, serão menores que as que se colocarão em relação ao trigo, não parece fazer sentido essa aposta. Seguramente que o assunto vol‑tará a ser analisado no Relatório de 2017.

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Uma terceira nota respeita à produção de café comercial, cujo registo em 2015 foi de 14 700 toneladas, menos de 10% da produção histórica (180 mil em 1973), tendo a exportação no mesmo ano proporcionado apenas dois milhões de dólares de receita, um valor que susci‑tava dúvidas por estar longe do esperado para aquele volume de produção. Em 2016, segun‑do o Balanço do Governo, a produção “caiu”, sem justificação aparente, para 7950 toneladas, das quais apenas se exportaram 675 toneladas73, sem se referir o valor, mas que não deve ser superior aos dois milhões de dólares do ano anterior. Tendo em conta que a quantidade de café transformado internamente é muito menor do que a exportada, segundo informação dos empresários envolvidos, deduz‑se que o problema reside na quantidade de café que é declara‑da como tendo sido produzida. Apesar do entusiasmo recente provocado pelo aparecimento no mercado de novos actores que adquirem o produto a pequenos produtores, estimulados pelo aumento dos preços no mercado internacional, pela desvalorização do kwanza e pela pos‑sibilidade de obterem divisas, o Executivo não tem correspondido com medidas de política ino‑vadoras e incentivadoras, o que faz com que esmoreça o interesse em investimentos, como se esperava por parte de vietnamitas74.

Todavia, é preciso ter em conta que boas políticas podem fazer “milagres”. Veja‑se, por exemplo, como o Uganda tem sabido aproveitar a subida dos preços de café no mercado inter‑nacional para se situar entre os 10 maiores produtores de café do mundo, com cerca de 240 mil toneladas, o que constitui 20% das receitas nacionais de exportação desse país. A sua estrutura produtiva baseia‑se essencialmente em cerca de 500 000 pequenos produtores de café (sabe‑remos nós quantos temos com rigor?)75, com menos de um hectare cada em média. O estudo deste tipo de experiências poderia ser extremamente proveitoso para Angola.

Uma quarta nota para a retomada da análise feita no Relatório de 2015 sobre o açúcar. A crítica mais severa feita à BIOCOM tem a ver com a sua dimensão exagerada, que está a consumir elevados recursos, tendo o Estado angolano sido obrigado a emitir uma garantia soberana, para um crédito de um sindicato de bancos de 210 milhões destinado a reforçar a capacidade de produção. Recorde‑se que o investimento inicial previsto era de 200 milhões de USD, mas já atingiu quase mil milhões. Em 2015 foram produzidas 25 mil toneladas de açúcar, de uma previsão de 36 mil, mas em 2016 estes números foram largamente ultrapassados, ten‑do‑se atingido 51, 5 toneladas, mais do que as 47 mil previstas, fruto de melhor organização e de um melhor regime de chuvas.

73 Informações recolhidas junto de comerciantes que se dedicam à exportação referem que as expor‑tações de café se situam à volta das duas mil toneladas anuais. Mas não tem sido possível confirmar tal quantidade.74 Seria interessante analisar a evolução das exportações, que para além do café comercial para diver‑sos países pode vir a assumir a forma de café em pó, como atesta uma experiência que está ser feita com os Estados Unidos.75 Algumas fontes referem 20 mil famílias, mas o número pode ser maior.

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O projecto tem claramente aspectos positivos, mas para além dos custos financeiros há que questionar o modelo em si, caracterizado pelo fraco domínio do know‑how por parte dos nacionais e pela deficiente capacidade de gestão, que põem em causa a sua viabilidade e ren‑tabilidade, e por favorecerem a corrupção e outros tipos de desvios, gerando uma excessiva dependência externa, bem expressa pelo número de expatriados (8% da força de trabalho) e pelo que isso representa. Por outro lado, o projecto tem riscos ambientais elevados pelo intenso uso de agrotóxicos e pela exposição dos solos à erosão. Também aqui seria desejável adequar a dimensão do processamento fabril à capacidade de produção agrícola ou procurar soluções alternativas para constituição de clusters e aproveitamento de sinergias. O que se faz noutros países é integrar a produção de pequenos produtores da região de modo a assegura‑rem as matérias‑primas para as fábricas.

A produção de banana, que atingiu as 3,7 milhões de toneladas, está em franca produção, apesar de problemas fitossanitários que teimam em subsistir. A exportação para a RDC e para um mercado mais exigente como o português (1200 toneladas em 2016) são disso testemunho. Em contrapartida, a cultura de algodão continua sem progressos substanciais, apesar das inten‑ções do Executivo e do Governo da Província de Malanje. O projecto do Sumbe vai acumulan‑do gastos – o investimento já ultrapassou os 66 milhões de dólares – e só se ouvem promessas do tipo “este ano é que vai” desde há cerca de dez anos, sem que se tomem medidas de, pelo menos, avaliar a situação para que sejam resolvidos os constrangimentos.

Finalmente são de realçar os resultados alcançados com os projectos dirigidos para a agri‑cultura familiar, com assistência financeira e técnica externa, como o Banco Mundial, o FIDA, o BAD e a União Europeia. Apesar de alguns erros de gestão e coordenação, é possível perceber que a relação custo‑benefício de tais projectos é enorme e tem de ser encarado pelo Executivo como um exemplo de boas lições. Com efeito, as medidas de assistência técnica – principal‑mente através das Escolas de Campo, que começam a marcar diferenças nas áreas rurais – e de aprovisionamento de insumos têm reflexos evidentes no incremento da produção agrícola. Estas acções, em paralelo com a criação de infra‑estruturas de serviços rurais, estão a permitir às populações envolvidas reconstruir e sustentar os modos de vida rurais, reverter a insegu‑rança alimentar, melhorar a renda e reduzir a pobreza, num contexto em que elas não tiveram outras oportunidades para enfrentarem os desafios do pós‑guerra.

Os rendimentos provenientes da produção agrícola são investidos na aquisição de força de tracção e transporte pessoal (juntas de bois e motas, por exemplo); na melhoria das con‑dições de habitação; na compra de materiais escolares para as crianças e roupas. É nisto que se tem de pensar quando se comparam os 1,5 a 2 milhões de dólares investidos nos projectos de média e larga escala com os menos de 60 milhões com projectos deste tipo de que bene‑ficiaram cerca de 60 mil famílias. Uma simples extrapolação permite pensar que com o valor gasto em investimentos que muito pouco contribuíram para o crescimento do PIB e para a cria‑ção de empregos teria sido possível multiplicar por trinta o número de agricultores familiares

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assistidos – correspondente quase à totalidade dos existentes –, resolver ou mitigar considera‑velmente o problema da fome dessas famílias, aumentar significativamente a produção mer‑cantil – seria fácil explicar como a partir das considerações feitas pelo CEIC – e resolver muitos problemas sociais, como, por exemplo, o do êxodo rural76.

Numa outra abordagem, torna‑se necessário prestar maior atenção a iniciativas do géne‑ro da que o Centro de Formação Profissional Motiki Okada, localizado em Cacuaco, tem desde 2012 na promoção de agricultura natural, incluindo a criação de hortas caseiras e a ligação com o desenvolvimento comunitário, sem uso de fertilizantes químicos, pesticidas e herbicidas. Em colaboração com o MINAGRI e o Ministério da Administração Pública, Trabalho e Seguran‑ça Social, o Centro já formou mais de 130 especialistas em agricultura natural, na sua maioria angolanos.

Produtividade agrícola

Apesar da falta de informação e da sua pouca credibilidade, a produtividade agrícola con‑tinua sendo um indicador essencial para avaliação do desempenho da agricultura de um país. Angola permanece numa situação pouco lisonjeira neste capítulo, e isso é fruto do baixo nível de mecanização da actividade agrícola, de regadio77 e de utilização de insumos, como sementes com qualidade, fertilizantes e defensivos, e sobretudo de conhecimentos técnico‑científicos, entre outros.

Mas no panorama de pobreza dominante há que reconhecer excepções que mostram a pos‑sibilidade de se atingirem resultados satisfatórios, desde que sejam tomadas as medidas mais adequadas. É o caso da banana, cuja produtividade em algumas empresas chega a 130 tonela‑das por hectare. É também o que se verifica com a mandioca assistida no âmbito do Projecto de Agricultura Familiar Orientada para o Mercado (MOSAP) que atingiu em vários campos 15 toneladas por hectare. Num extremo oposto encontram‑se casos como o do café, cuja produ‑tividade – 340 quilos por hectare – é cerca de dez vezes inferior à da média mundial, o que se explica pelo relativo abandono a que a cultura foi votada ao longo de várias décadas.

Na ausência de informação oficial actualizada apresenta‑se o quadro com as produtivida‑des alcançadas em 2016, com muitas reservas, o que acentua as limitações inerentes sobre a sua credibilidade. Apesar de tais reservas, não se pode deixar de notar que as diferenças de

76 A FAO estimou que para serem atingidos os Objectivos de Desenvolvimento do Milénio, Angola deveria investir aproximadamente 168 milhões de dólares por ano na produção agrícola (entenda‑se familiar) até 2020, o que permitiria um crescimento mínimo de 8% na agricultura (ver jornal O País, 4 de Abril de 2016). 77 Através do Planirriga, um projecto já aprovado pelo Executivo há vários anos mas não executado, sabe‑se que Angola tem 7,5 milhões de hectares irrigáveis, mas apenas 30 a 45 mil (mais uma vez a falta de rigor das estatísticas nos aflige) irrigados. É importante, porém, ter em conta que a imple‑mentação de regadios, principalmente de grande dimensão, é um investimento caro e arriscado no actual contexto do país.

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produtividade entre os dois tipos de exploração não correspondem ao desequilíbrio no inves‑timento realizado, o que, não sendo uma novidade no histórico do país, incluindo o que acon‑tecia nos últimos anos do tempo colonial, não deixa de ser notável. Isto pode significar que os ganhos de produtividade que se vêm registando em algumas explorações empresariais, que são inegáveis, são ainda pouco representativos no conjunto das explorações desse tipo e que isto deve ser mais um elemento de reflexão em termos da definição de políticas agrícolas futuras78.

PRODUTIVIDADE DAS PRINCIPAIS CULTURAS (TON/HA)

Culturas2015/2016

EAF EAE

Milho 0,81 2,6

Massango 0,32 0,40

Massambala 0,39 0,46

Arroz 1,23 2,0

Mandioca 12,6 13,5

Batata rena 7,8 10,0

Batata‑doce 6,2 9,4

Feijão 0,43 0,71

Amendoim 0,68 1,1

Soja 0,51 0,74

Café 790,34

Fonte: IDA e recolha directa79

Pecuária

Angola gasta somas avultadas com a importação de carne de vaca, de frangos e de ovos. Tais somas devem estar próximas dos mil milhões de dólares anuais. Por tal razão, faria senti‑do a decisão do Executivo em dar prioridade à produção de ovos e frangos de modo a serem reduzidas as importações. A produção de ovos deve ter‑se aproximado dos 800 milhões de uni‑dades (cerca de 70% das necessidades do país), sendo mais de 50% dessa produção originária de três empresas (Pérola de Kikuxi, Aldeia Nova e Angolaves) e prevê‑se atingir os mil milhões em 201780.

78 Comparando com as produtividades do ano 2013/2014, constata‑se igualmente que não houve praticamente variações significativas.79 Esta produtividade do café é geral para todo o tipo de explorações, pois não há informação para cada um dos tipos.80 As melhorias registadas na Aldeia Nova são em parte devidas aos resultados obtidos na produção própria de milho atrás referidos, o que ajuda a resolver as dificuldades com as rações.

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Contudo, os resultados ainda estão longe de satisfazer os objectivos visados, e uma das razões tem a ver com o facto de não ter sido bem equacionada a problemática da produção de milho, enquanto elemento preponderante na formulação de rações. Com efeito, a aposta nos pólos agro‑industriais como principais produtores de milho, onde foram investidos quase mil milhões de dólares, em detrimento da estratégia já mencionada para o chamado triângulo do milho de Caconda‑Chicomba‑Caluquembe, revelou‑se muito negativa, mas ainda se vai a tempo de reverter a situação, o que constituirá um importante desafio para o próximo governo.

EVOLUÇÃO DA PRODUÇÃO DE OVOS EM UNIDADES (2013/2016)

2013 205 473 282

2014 283 925 081

2015 444 000 000

2016 800 000 000 (n.o aproximado)

Fonte: Programa dirigido para o aumento da produção de ovos e frangos e estimativa a partir de fontes diversas para 2016.

Entretanto, analise‑se a tabela seguinte, que traduz a evolução da produção pecuária. Se os dados estiverem correctos, constata‑se que, com excepção já referida dos ovos, os resultados são decepcionantes, pois as produções de carne de frango, de bovinos e de caprinos têm vindo a diminuir. A explicação para o baixo índice de produção de frangos tem a ver com os elevados custos de produção, que não viabilizam actualmente a actividade81. Já para a carne de bovino e caprino as causas podem estar ligadas à ocorrência de problemas sanitários, principalmente de febre aftosa. Esta situação deveria ser aprofundada devidamente, não apenas porque põe em causa a capacidade dos Serviços de Veterinária, sem recursos e sem autoridade desde há mui‑tos anos, permitindo uma série de violações às mais elementares regras sanitárias, mas tam‑bém para se aperceber, uma vez mais, que a ausência de estatísticas credíveis dificulta o bom desenho de políticas82.

Tudo isto se torna mais preocupante quando se projectam novos investimentos em produ‑ção de carne bovina, como o repovoamento do Planalto de Camabatela, claramente para se

81 Em 2015 foram importadas 360 mil toneladas de carne de frango no valor de 450 milhões de dóla‑res. Por outro lado, a criação de galinhas de modo tradicional continua afectada pela ocorrência fre‑quente de surtos de doença de Newcastle, apesar da existência de um programa de produção de vacinas cuja implementação vai sendo protelada desde há vários anos sem uma explicação plausível.82 O despacho n.º 94/16, de 3 de Junho, do Ministro da Agricultura, levanta a interdição da entrada de gado bovino a partir da Namíbia, pelo facto de a província do Cunene não ter registado casos de febre aftosa desde Agosto de 2015, quando a proibição foi determinada. Contudo, a medida parece reflectir uma situação demasiado lisonjeira, se tivermos em conta as fragilidades dos serviços vete‑rinários no resto do país.

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tentar mitigar o enorme erro de construção de um matadouro com uma capacidade de abate de 300 animais/dia sem que existam efectivos que o justifiquem83, e outros no Kuando‑Kuban‑go e no Cunene com a mesma abordagem megalómana que claramente não tem resultado. Tais investimentos, que se supõem privados, mas que deverão ter intervenção do Estado, deveriam ser canalizados para projectos estruturantes que permitissem a criação ou reforço de capacida‑des institucionais e empresariais e depois, sim, investir na produção, tanto empresarial, como “tradicional”. Concorda‑se, assim, com a ideia de que a pecuária de bovinos de corte envolve um dos maiores insucessos técnicos e financeiros, quando reunia condições para que sucedes‑se o oposto84. A agravar a situação verifica‑se o aumento dos roubos de gado, que podem ser explicados pela debilidade de autoridade local e pelo crescente nível de insatisfação das neces‑sidades da população rural mais pobre.

O exemplo da produção de caprinos, sucessivamente denunciado pelo CEIC ao longo dos últimos anos, é revelador da falta de rigor das estatísticas, pois Angola continua oficialmen‑te a produzir todos os anos quase três vezes a quantidade de carne possível com a totalidade do efectivo de caprinos existentes, sem que o erro seja detectado e corrigido. Ou seja, todos os anos são abatidos todos os caprinos existentes, e no ano seguinte aparece um número três vezes superior, como se houvesse um milagre.

EVOLUÇÃO DA PRODUÇÃO PECUÁRIA POR PRODUTO (2014/2016)

Produtos (em toneladas) 2014 2015 2016

Frangos 32 288 29 386 27 579

Carne de bovino 27 019 23 745 21 121

Carne de caprino 171 606 149 640 125 376

Ovos85 7871 25 064 34 800

Leite 3061 3570 3872

Fonte: Relatório de Balanço das Actividades do Governo 2013‑2016.85

A produção de leite constitui o outro sector bandeira definido pelo Executivo, mas não pare‑cem haver condições reunidas para a sua concretização na dimensão desejada, dado que é uma actividade que exige muita organização e disciplina, aspectos nos quais ainda se encontram

83 Um matadouro do mesmo tipo foi construído em Porto Amboim, cujo efectivo pecuário desapa‑recerá para alimentar a capacidade de abate em menos de um ano. Para Camabatela está prevista a importação de cerca de 10.000 animais da Namíbia em 2017, das quais cerca de 80% para abate e as restantes para reprodução, uma operação recheada de riscos de vário tipo.84 Conforme Relatório Sobre Desenvolvimento Nacional: BDA 10 Anos – o Ponto de Inflexão, 2016, pági‑nas 306 e 307.85 A conversão da quantidade de ovos em unidades para peso é feita tendo em conta que um ovo pesa em média entre 50 e 60 gramas.

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muitas debilidades. Algumas tentativas começam a ser ensaiadas, mas teme‑se que uma vez mais se opte pelas soluções do tipo larga escala, sem serem tidas em conta experiências inte‑ressantes em termos de qualidade, como as duas existentes há vários anos nos arredores da cidade do Lubango. Depois de um período de retrocesso, a empresa Aldeia Nova parece estar a recuperar alguma da capacidade de produção anterior.

Não foi possível obter informação sobre a produção de suínos, nem sobre a evolução dos efectivos pecuários, mais um indicador da grande fragilidade que representa a ausência de estatísticas. Assim sendo, para memória futura repete‑se a informação constante no Relatório Económico de 2015, mais uma vez com as limitações de credibilidade conhecidas.

EVOLUÇÃO DOS EFECTIVOS PECUÁRIOS (2011/2014)

Espécie pecuáriaNúmero de cabeças

2010/11 2011/12 2013/14

Bovinos 4 586 570 4 586 570 3 500 000

Caprinos e ovinos 4 958 351 4 958 351 7 000 000

Suínos 2 135 979 2 135 979 s/d

Galináceos 19 977 427 19 977 427 12 000 000

Fonte: MINADER/RCA 2010/11; MINAGRI (2013); MINPLAN 2014.

Importa insistir que a produção pecuária está a ser muito penalizada com a carência de divisas para aquisição de vacinas e de medicamentos e que este facto terá inevitáveis efeitos na quantidade e na qualidade das manadas. Aos problemas tradicionais juntam‑se os da febre aftosa já abordada, e da dermatite nodular, que não estão a ser encarados com a seriedade que se exige.

Tal como se referiu numa nota de rodapé, para o caso do milho, a produção pecuária pode ser estimulada com a existência de projectos industriais que podem ser alimentados por maté‑ria‑prima adquirida a agricultores familiares, o que permite a criação de sinergias, como aconte‑ce no município da Cela com a empresa Valagro, que procura activamente caprinos nas aldeias, o que é francamente positivo.

Em 2016 foi realizado o mapeamento da mancha da mosca tsé‑tsé no sul do país, com vista à esterilização do macho da mosca morcitans, e efectuadas acções de luta contra o vector nas províncias do Kuanza‑Norte, Uíge, Kuanza‑Sul e Bengo, com montagem de armadilhas e vigilân‑cia com a busca activa de casos e tratamento dos animais infectados, tendo sido tratados 1373 animais e realizadas análises a 25 000 animais.

Este esforço poderia fazer mais sentido se associado a outras acções. O avanço da tsé‑tsé ou “mosca do sono” (glossina) na região norte de Angola, como dizia o saudoso Dr. Rosário Pinto,

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que foi o maior especialista na matéria em Angola, está ligado ao recuo do homem, por isso era importante o cultivo do café antes da independência na luta contra a doença do sono. Ou seja, quanto mais se investir no café, menos “espaço “ haverá para a mosca. Uma acção tipo dois em um para utilizar uma expressão comercial popular. Já no Kuando‑Kubango, onde há outro tipo de glossina (rhodesiensis) deve haver uma luta anti‑vectorial activa, para além do rastreio do gado, dada a existência de uma manha que avança a partir do Botswana, o que exige uma organização adequada dos serviços veterinários, algo que não parece estar nas prioridades da agenda de povoamento acelerado de gado na região perspectivado86.

Florestas

A crise de acesso a divisas, aliada a uma crescente debilidade institucional em matéria de fiscalização, provocou um verdadeiro boom da exploração florestal. Tal situação é conhecida por mera observação empírica, pois hoje é um lugar‑comum dizer‑se que as nossas florestas estão a ser devastadas e não há capacidade de controlo ou fiscalização para o impedir. O grá‑fico apresentado abaixo, que deve estar longe de reflectir a realidade, indica que a exploração de madeira em 2016 é maior que a soma da dos dois anos anteriores, ultrapassando os 230 mil metros cúbicos previstos.

PRODUÇÃO DE MADEIRA EM TOROS (m3)

RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2016RI.2017.0000.01.01

DT_09c2.ª prova

25 maio 2017Paulo Amorim

201420152016

11513122%

12540524%

28344554%

As principais províncias de produção de madeira em toro são Uíge (38%), Cabinda (24%), Bengo (15%) e Kuanza‑Norte (13%), para a floresta natural. As percentagens referem‑se ao ano de 2015, mas é natural que continuem mais ou menos válidas. Relativamente à floresta artificial destacam‑se as províncias do Huambo e Benguela.

A exportação de madeira em toro, como se disse, está em franco crescimento, tendo pas‑sado de 31,3 mil metros cúbicos em 2015 para 55 mil metros cúbicos em 2016, de acordo com informação do IDF, mas os números reais devem ser muito superiores. Este facto é nocivo para

86 Ver http://www.irinnews.org/news/2009/05/12/tsetse‑fly‑costs‑agriculture‑billions‑every‑year

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a economia nacional, na medida em que não é incorporado nenhum valor à extracção, quando poder‑se‑ia, pelo menos, exportar madeira serrada, que é o dobro do preço do metro cúbico, mas é necessário pensar desde já no desenvolvimento da indústria de mobiliário.

Perante a colossal explosão da exportação de madeira em toros, o Executivo decidiu proibi‑‑la, mas subsistem fortes dúvidas sobre a capacidade de fiscalização para o cumprimento dessa medida. Como já se fez notar anteriormente, é imperioso que se tenha em conta o mal que representa a exploração de um recurso natural sem incorporação de valor e dos efeitos sobre o ambiente, como o aumento da erosão, o aparecimento de ravinas, a contaminação das águas, a diminuição da fertilidade dos solos, entre outros.

Em 2015 foi decidido que o Fundo Soberano iria explorar as matas de eucaliptos na Huíla, Huambo e Benguela, por razões industriais e preservação ambiental, de acordo com um Decre‑to Presidencial, com a concessão pelo Governo de uma área de 80 000 hectares. A informação sobre a evolução de tal medida é confusa. Parece ter sido constituída uma empresa que rea‑liza a exploração, ligada ao grupo de origem suíça Quantum Global, que anunciou pretender investir 43,2 milhões de euros em plantações de fibra de madeira na região do Planalto Central angolano. A Quantum Global é um grupo que trabalha em articulação com fundos soberanos e organismos do Estado para obter parcerias e investimentos em África.

4.3.1.2 As políticas agrárias

Como se viu em 4.2, do mesmo modo que a indústria, a agricultura, sempre em sentido lato, isto é englobando a pecuária e as florestas, apesar da sua importância para a diversificação, mantém praticamente inalterado o seu peso relativo no PIB (uma média de 4,7% entre 2002 e 2016, o que é suficientemente demonstrativo das suas dificuldades, expressas no comporta‑mento da produção ao longo dos anos.

O CEIC tem vindo a reiterar que as políticas agrárias do Executivo angolano implementadas desde o alcance da paz têm sido, com certa frequência, confusas e contraditórias. Porém, se revisitarmos a Estratégia 2025, elaborada em 2006 mas nunca formalmente aprovada, tendo em 2013 sido publicamente considerada pelo Presidente da República o rumo do país, veri‑ficar‑se‑á que são notórias as diferenças entre o que foi escrito e o que tem sido feito. Um exemplo marcante é a prioridade atribuída aos empreendimentos produtivos públicos, que consumiram entre 1,5 e 2 mil milhões de dólares (números estimados) sem efeitos correspon‑dentes nos níveis de produção.

Tal estratégia prejudicou significativamente a realização de projectos estruturantes que, a existirem, teriam alterado a face do sector. Hoje Angola está carente em sementes com um mínimo de qualidade (ao contrário da vizinha Zâmbia), tem uma prática de uso de fertilizan‑tes sem base científica, não dispõe de um serviço (em sentido lato) de mecanização agrícola e tem um serviço veterinário praticamente inoperante que permitiu o aparecimento de surtos

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epidémicos de doenças que já estavam erradicadas (como a febre aftosa) ou não existiam (der‑matite modular). Até no que respeita a estradas, que eram consideradas “as meninas dos olhos do processo de reconstrução”, a situação inverteu‑se fazendo com que as principais estejam em grande medida bastante deterioradas e sujeitas a mais intervenções de reabilitação muito onerosas, e as secundárias e terciárias nunca chegaram a merecer a atenção que deviam, com reflexos evidentes no desempenho do sector.

Com a emergência da crise económica e financeira, e visando a aceleração da diversificação da economia, várias medidas de política têm sido ensaiadas, mas de um modo geral pecam por serem muito pouco coordenadas, procurarem resolver problemas pontuais e geralmente dis‑tantes dos verdadeiros problemas do sector.

Do ponto de vista institucional a maior relevância no ano em análise deve ser atribuída, para além da mudança na direcção do Ministério, à conclusão preliminar do inventário florestal e à discussão da nova Lei de Bases de Florestas e Fauna Selvagem – apesar de só ter sido publicada em Janeiro de 2017 –, bem como à aprovação do Decreto Presidencial que aprova o Regula‑mento da Lei de Sementes (Lei n.º 7/05 de 11 de Agosto).

Decorrente das Linhas Mestras da Estratégia para a Saída da Crise Derivada da Queda do Preço do Petróleo, o Executivo aprovou um conjunto de Programas Dirigidos orientados para o desenvolvimento de projectos empresariais públicos e privados. No sector agrícola são de men‑cionar os seguintes: Produção de Sementes, Aumento de Produção e Promoção da Exportações de Café e Palmar, Aumento de Produção e Promoção da Exportação de Madeira, Aumento de Produção e Promoção da Exportação de Mel, Cereais (Milho e Arroz), Apoio à Agricultura Fami‑liar, Comercialização de Grãos, Aumento da Produção de Ovos e Frangos, Açúcar. Não é suficien‑temente claro se outros foram elaborados e aprovados, como Leguminosas e Oleaginosas de Grãos, Aumento de Produção e Promoção da Exportação de Leite Pasteurizado, Transformação de Carnes e Suínos.

Com a aprovação e lançamento dos Programas Dirigidos, parece vislumbrar‑se uma oportu‑nidade para a agricultura ocupar finalmente um lugar importante na agenda nacional. Previa‑se a priorização do financiamento do sector agro‑pecuário familiar e privado, a subvenção do com‑bustível destinado à actividade agro‑pecuária e florestal, a subvenção da aplicação de calcário e a subvenção da transportação de insumos e equipamentos agrícolas, apesar dos escassos recursos financeiros disponíveis. Nesse quadro, o Ministério das Finanças e o BNA deveriam agilizar os processos de importação de insumos e equipamentos agrícolas. Visando a melhoria do ambiente de negócios, o Executivo deveria incentivar a promoção de parcerias estratégicas positivas, podendo os empresários agrícolas nacionais associar‑se a “fazendeiros” estrangei‑ros e/ou contratar pessoal expatriado qualificado sem grandes constrangimentos. O sector foi orientado a propor políticas semelhantes às que permitiram a Zâmbia e o Malawi passarem, em pouco tempo, de países importadores a exportadores de alimentos.

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RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2016

Apesar de ter sido aprovada uma metodologia para a programação, execução, monitoria e avaliação dos Programas Dirigidos, cedo se deu conta das suas dificuldades e insuficiências, nomeadamente no que respeita às suas relações com o Plano Nacional de Desenvolvimen‑to, pelo que não existe informação credível sobre os progressos, nem sequer no Relatório de Balanço das Actividades do Governo 2013‑2016. Embora seja cedo para conclusões definitivas, é legítimo questionar a abordagem dos Programas Dirigidos, dada a insistência no paradig‑ma anterior, quando é voz corrente, mesmo entre os principais decisores de política, que esse paradigma está esgotado. O caso dos ovos constitui uma excepção, mas as melhorias já vinham acontecendo antes da aprovação do respectivo Programa e ainda assim é necessário alterar muita coisa.

O crédito tem sido considerado com alguma frequência o maior constrangimento do desen‑volvimento da agricultura ou do agronegócio, mas esta afirmação não pode ser considerada verdadeira, na medida em que há um conjunto de factores, como por exemplo a disponibilida‑de atempada dos insumos, os recursos humanos e, sobretudo, a capacidade de gestão, sem os quais a atribuição de fundos não tem o efeito necessário.

Como é sabido, o Estado vem financiando o sector através da concessão de créditos em con‑dições especiais, quer na modalidade das chamadas “manchas dinâmicas de desenvolvimento”, com verbas disponibilizados pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento, em parte cedidas pelo BDA a bancos comerciais (BPC, BCI, BMF e Banco Sol), quer na de projectos avulso a ele subme‑tidos, que podem atingir cerca de um milhão ou mais de dólares cada.

No total, o BDA financiou desde 2006 544 projectos agrícolas em todas as províncias, com destaque para Kuanza‑Sul, Malanje, Kuanza‑Norte, Huambo, Luanda, Huíla, Uíge e Bengo, no montante de 43 033 milhões de kwanzas, o que representa 63% do número total de projectos financiados, mas apenas 35% do crédito mutuado87.

PROJECTOS FINANCIADOS POR SECTOR

Sector Projectos Valor (M Kz)

Agricultura 544 43 003 267,00

Comércio e serviços 189 17 765 855,00

Indústria 130 63 601 202,00

Total 863 124 370 324,00

Fonte: Ministério da Economia, Junho de 2016.

87 Neste montante estão incluídos valores destinados a agricultores familiares nas províncias da Lunda‑Sul, Lunda‑Norte, Kuando‑Kubango e Namibe.

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CEIC / UCAN

FINANCIAMENTOS POR SECTOR

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DT_09d2.ª prova

25 maio 2017Paulo Amorim

51%AgriculturaComércio e serviços

14%

35%

Indústria

Fonte: Ministério da Economia, Junho de 2016.

Um outro mecanismo de crédito é o Programa Angola Investe, que permitiu o financia‑mento, até 2014, de 168 projectos do sector da agricultura, pecuária e pescas, com o valor de 33 602 milhões de Kz, o que significa que cerca de 38% do valor do crédito total foi canalizado ao sector primário88.

ANGOLA INVESTE: PERFIL SECTORIAL DOS PROJECTOS

Sector de actividadeNúmero de projectos

aprovadosValor dos financiamentos

(M Kz)Número de empregos

totais previstos89

Indústria transformadora, geologia e minas 190 34 952 41 420

Agricultura, pecuária e pescas 168 33 602 15 450

Serviços de apoio ao sector produtivo 63 8376 4399

Materiais de construção 33 7801 2809

Hotelaria e turismo 8 1985 575

Outros 5 1088 21

Total 467 87 804 64 674

Fonte: Ministério da Economia, Junho de 2016.89

Em termos de abrangência territorial, Luanda, com 46% do número total de projectos, é a província melhor servida. Se juntarmos os projectos financiados para Benguela (61), Huíla e Kuanza‑Sul (27 cada), verifica‑se que este conjunto de quatro províncias abarca mais de 70% do número total de projectos (incluindo todos os sectores porque não foi possível desagregá‑los).

88 Os dados do Angola Investe têm origem numa fonte do Ministério da Economia (Junho de 2016).89 Empregos totais = empregos directos + empregos indirectos e induzidos.

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RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2016

ANGOLA INVESTE: ABRANGÊNCIA NACIONAL DOS FINANCIAMENTOS APROVADOS

ProvínciaNúmero de projectos

aprovadosValor dos financiamentos

(M Kz)Número de empregos

totais previstos90

Luanda 215 41 870 27 004

Benguela 61 12 320 11 786

Kwanza‑Sul 27 7631 4086

Huíla 27 3425 4358

Bengo 24 5127 4169

Kwanza‑Norte 18 3417 1867

Namibe 16 2858 1454

Uíge 16 2568 2585

Malanje 14 2448 2123

Huambo 14 2121 2168

Bié 8 1788 1355

Zaire 8 971 695

Cabinda 8 285 427

Moxico 4 62 226

Kuando‑Kubango 3 650 246

Lunda‑Sul 2 71 203

Cunene 1 180 0

Lunda‑Norte 1 14 33

Total 467 87 804 64 674

Fonte: Ministério da Economia, Junho de 2016.90

Por outro lado, a linha de crédito criada pelo Governo em 2010, destinada principalmente a agricultores familiares através de associações e cooperativas, deixou de estar operacional entre 2012 e 201591. Na época agrícola 2015/16 teve início a implementação da nova modalidade do crédito agrícola de campanha, com muitas limitações de ordem financeira, tendo as Provín‑cias do Huambo (municípios de Londuimbali e Caála), Bié, Benguela, Kuanza‑Sul e Huíla sido as primeiras beneficiárias desta fase com carácter experimental. Na Província do Huambo este crédito beneficiou 262 famílias enquadradas em quatro cooperativas, através das quais foram fornecidos Kz 8 024 400,00 que beneficiaram famílias produtoras enquadrados no Programa de Calagem (correcção de solos).

90 Empregos totais = empregos directos + empregos indirectos e induzidos. Note‑se, entretanto, que na altura da sua aprovação o Programa prometia a criação de 300 mil empregos, tendo‑se alcançado, em teoria, pouco mais de 21%.91 Para informação mais detalhada ver Relatório Económico de 2015.

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Uma medida importante, que pode ter efeitos positivos a curto prazo foi a reestruturação do Fundo de Apoio ao Desenvolvimento Agrário (FADA), com um novo estatuto orgânico e um capital social de Kz 25 000 milhões (cerca de 145 milhões de euros). Para esta capitalização, o Estado angolano deveria emitir dívida pública, de acordo com decreto executivo presiden‑cial de 8 de Fevereiro, sob a forma de Obrigações do Tesouro em Moeda Nacional no valor de 2,5 mil milhões de kwanzas (equivalente a 14,1 milhões de euros), à taxa de juro de 5 por cento ao ano. Prevê‑se ainda o seu financiamento regular com 10% das receitas fiscais associadas à importação de produtos agrícolas, além de transferências anuais do Estado. O FADA terá a mis‑são de conceder apoio “às acções viradas para o desenvolvimento da produção alimentar cam‑ponesa e para o agronegócio” e funcionará como instituição financeira especializada destinada a apoiar a política de fomento agrário, sob a tutela do Ministério das Finanças”.

Na linha do que vem acontecendo ao longo dos últimos anos, as verbas atribuídas pelo Exe‑cutivo ao sector agrícola no OGE continuam exíguas, apesar do aumento de cerca de 12,3% em relação a 2015.

PERCENTAGEM 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017

Mil milhões de AKZ 147,5 174,7 68,8 67,4 53,3 73,3 41,9 20,3 22,8 25,1

% OGE total 4,5 4,1 2,0 14,0 1,2 1,1 0,6 0,3 0,3 0,3

ORÇAMENTO GERAL DO ESTADO SECTOR DA AGRICULTURA

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25 maio 2017Paulo Amorim

0,02008

Mil

milh

ões d

e kw

anza

s

2,0

4,0

6,0

8,0

10,0

12,0

14,0

16,0

0

2040

6080100

120140

160180

200

2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017

Mil milhões de kwanzas % OGE total

147,5

174,7

68,8 67,453,3

73,3

41,9

20,3 22,8 25,1

4,54,1

1,2 1,1 0,62,0

14,0

0,3 0,3 0,3

No quadro das medidas tomadas pelo Executivo, houve um incremento do investimen‑to privado, por vezes ainda no âmbito das intenções, sendo alguns deles caracterizados pelo redireccionamento para o sector privado de empréstimos destinados a projectos públicos. De salientar a intenção do Fundo Soberano investir 250 milhões em sete fazendas que antes

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RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2016

integravam a Gesterra para a produção de milho e outros grãos; os 15 milhões para a Nova Agrolíder – empresa que acumula já um investimento de 200 milhões de dólares – para a pro‑dução de leite e derivados e ainda para a transformação de horto‑frutícolas na Quibala; os 1,2 mil milhões do projecto Ezopark na província do Cunene, dos quais 380 milhões para a pro‑dução e transformação de leite; 10,5 milhões da Aldeia Nova para o aumento da produção de ovos e aquisição de equipamento para ordenha de leite e preparação de terras para milho e soja. Além disso, mantém‑se a intenção dos investimentos no Kuando‑Kubango, sendo 200 milhões dos italianos da Cremonini para 40 ou 50 fazendas com um matadouro para abater mil cabeças de bovino e 2 mil de caprino por dia, ligada com o projecto de plantação de eucaliptos e a produção de ferro gusa; outro de 20,6 milhões de dólares para produção de 64 mil tonela‑das de milho e 20 mil de soja pela Tecnocarro; ainda outro dos brasileiros da Costa Negócios no valor de 250 milhões para produção e exportação de 250 mil toneladas de milho e 150 mil de soja ao fim de quatro anos, em parceria com a Comunidade de Empresas Exportadoras e Internacionalizadas de Angola; e finalmente ainda outro da Costa Negócios para 400 fazendas de cinco mil hectares num total de 800 milhões de USD para criação de 200 mil cabeças de gado bovino.

Finalmente, é de realçar a preocupação com a formação técnico‑profissional, sendo dois exemplos a construção de um centro na Lunda‑Sul (município de Mona Quimbundo) e a oferta da República Popular da China de dez milhões de dólares para a construção de um Centro de Demonstração de Tecnologias Agrícolas no Mazozo, município de Icolo e Bengo.

Infelizmente voltou a não ser realizado o censo agrícola previsto para 2014, o que explica, em certa medida, a ausência continuada de estatísticas que possam sustentar uma melhor for‑mulação das políticas, programas e projectos, e que a falta de recursos não pode justificar o seu continuado adiamento.

Por aprovar está ainda o Regulamento das Cooperativas Agrícolas. Como se viu atrás, o desenvolvimento da agricultura angolana poderá estar muito dependente da evolução da agricultura familiar para uma agricultura de pequenos e médios agricultores integrando uma espécie de “classe média” que precisa de escala para beneficiar de insumos e realizar a comer‑cialização e desse modo ser competitiva. Isso exigirá a adopção de uma estratégia associativa e cooperativa para a qual se exige uma legislação favorável.

4.3.2 Indústria transformadora

A indústria transformadora é o cerne dum processo de diversificação económica estrutural sustentado. As razões são fáceis de enumerar:

• A industrialização das economias é um fenómeno ligado ao desenvolvimento económico, não havendo economias avançadas sem um sector transformador forte, dinâmico e de elevado valor agregado interno.

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• A industrialização é, muitas vezes, vista como potenciadora da geração de emprego. Entre nós, o desenvolvimento da agricultura, no sentido moderno do termo, vai ter de pas‑sar pela libertação de quantidades elevadas de mão‑de‑obra, que deverão ser absorvi‑das pelas actividades manufactureiras, numa primeira fase, e de serviços, num segundo momento, quando a qualificação dessa força de trabalho for compatível com os processos tecnológicos usados nestes sectores de ponta.

• A industrialização é o caminho mais seguro para se reduzir a dependência externa e a concentração das exportações. É deste modo que se consegue estabilizar os rendimentos externos provenientes da participação no comércio internacional.

• A industrialização é um poderoso factor de crescimento, modernização e desenvolvimen‑to da agricultura, envolvendo‑a num processo de integração económica interna valoriza‑dor dos recursos naturais do país.

• Dados os baixos níveis de produtividade do trabalho em todos os sectores de actividade, a industrialização contribui para os elevar, através da sua maior eficiência económica.

• Finalmente, a industrialização é o processo que sustenta as mudanças económicas e sociais associadas à saída dos estádios mais primários de desenvolvimento.

A indústria transformadora, dada a posição que ocupa nos tecidos económicos, desenca‑deia efeitos a montante e efeitos a jusante de arrastamento de outras actividades produti‑vas e de serviços. Para que o sector manufactureiro, em geral, e os correspondentes ramos de actividade, em particular, sejam o motor da diversificação da economia, as relações a montante devem ser mais numerosas do que as desencadeadas por outros sectores de acti‑vidade.

As relações a jusante referem‑se à capacidade da indústria transformadora induzir o cres‑cimento dos sectores aos quais fornece as mercadorias de que necessitam para a sua activi‑dade.

Que ramos industriais devem ser envolvidos no processo de industrialização com diversifi‑cação da economia? A selecção pode socorrer‑se de vários critérios, dos quais os efeitos a mon‑tante e a jusante são dos mais usados.

4.3.2.1 Comportamento da produção

Numa perspectiva de longo prazo (1998/2016, 18 anos), a taxa anual média de variação real do Valor Agregado Bruto da Indústria Transformadora foi de 6%. Este valor pode ser conside‑rado como uma proxy da real capacidade de crescimento do sector, não se entendendo, cabal‑mente, a taxa de variação de 45,1% em 2011, seguida de uma quebra para 10% logo em 2012. Fica, igualmente, por se explicar a queda em 2015 e em 2016: encerramento de empresas devi‑do à crise de pagamentos externos, diminuição da produção por carência de matérias‑primas e

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intermédias, redução do número de turnos de produção, desinvestimento? Talvez um misto de tudo isso, mas também as mil e uma dificuldades em se lançarem novos empreendimentos, a despeito das medidas de desburocratização tomadas92, sem resultados práticos visíveis e sus‑tentáveis devido à corrupção.

Aparentemente, a indústria de transformação parece estar a entrar numa fase de desa‑celaração do seu, já de si, baixo crescimento do VAB. Na verdade, entre 2013 e 2016, o ritmo de variação da produção industrial foi de apenas 3,7% ao ano, em linha, de resto, com os comportamentos de 2015 e 2016. A estratégia dos pólos industrias e das zonas económicas especiais não tem sido creditada com resultados tão positivos e estruturantes de alterações sustentáveis na malha industrial do país, quantos os esperados pelas autoridades governa‑mentais.

TENDÊNCIAS DE CRESCIMENTO DE LONGO PRAZO NA MANUFACTURA (%)

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DT_102.ª prova

25 maio 2017Paulo Amorim

0,0

10,0

–10,0

20,0

30,0

40,0

50,0%

Taxa crescimento PIB Linha tendencial

19981999

20002001

20022003

20042005

20062007

20082009

20102011

20122013

20142015

2016

Fonte: CEIC, Ficheiro “Índice do PIB”.

Durante os 18 anos da longa duração do crescimento da manufactura nacional podem dis‑tinguir‑se 3 subperíodos, cada um deles com diferentes dinâmicas de variação do Valor Acres‑centado da indústria transformadora.

92 Ministério da Administração Pública, Trabalho e Segurança Social – Programa de Reforma e Moder-nização da Administração Pública, Conteúdo e Resultados, 1991‑2016, 1.ª edição, Luanda, 2017, pági‑nas 27, 28 e 31.

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A MANUFACTURA POR CICLOS DE CRESCIMENTO

Taxas tendenciais1998/2016

5,72002/2008

6,4

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DT_112.ª prova

25 maio 2017Paulo Amorim

1,02,03,04,05,06,07,0

0,0Va

lore

s em

%

2009/20164,5

Fonte: CEIC, Ficheiro “Índice do PIB”.

É evidente a perda de dinâmica no período 2009/2016, durante o qual vários factos ocor‑reram: a crise internacional do sub‑prime, a primeira quebra do preço do petróleo em 2008 e 2009, a segunda baixa do preço da mesma commoditie em 2014 e anos seguintes, a reduzi‑da oferta de incentivos aos investimentos privados associados às dificuldades de obtenção de financiamento bancário, a degradação e a falta de confiança no sistema financeiro interno, a carência de divisas para cobertura da componente importada da produção industrial, etc.

A tabela seguinte apresenta as informações sobre a macroeconomia do sector manufactu‑reiro nacional.

COMPORTAMENTO DA INDÚSTRIA TRANSFORMADORA

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016

VAB (milhões USD) 2212,5 3119,8 2414,9 3342,9 6205,8 4694,6 5079,6 5690,6 8772,0 5772,0

Taxa real de variação (%) 2,02 5,91 7,02 9,6 9,1 9,6 7,7 2,3 ‑1,1 ‑2,3

Emprego 58 137 59 419 63 292 66 109 69 631,0 72 976,0 76 379 80 135 100 810 131 336

Produtividade (USD) 38 056,1 52 504,3 38 154,6 50 565,9 89 123,4 64 330,1 66 505,5 71 013,0 87 015,2 47 327,0

Ganhos de produtividade (%) ‑1,70 3,62 0,47 4,93 3,56 4,54 2,93 ‑2,47 ‑21,35 2,30

Salário mensal (Kz) 29 077,2 35 874,3 38 333,9 40 970,8 43 071,0 45 049,6 0,0 0,0 0,0 0,0

PIBm/PIB (%) 3,4 3,5 3,7 4,0 6,0 4,1 4,1 4,4 8,6 6,0

VABit/População (USD) 103,5 142,0 107,0 144,3 260,7 192,0 202,3 220,7 331,2 209,9

Fonte: CEIC, Ficheiro “Estudos sobre a Produtividade e Emprego”.

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RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2016

A participação do VAB industrial no global do Valor Agregado nacional tem‑se mantido, rela‑tivamente estável desde 2002, ainda que com apontamentos de subida do seu valor relativo. Em média, entre 2002 e 2016, foi de 4,9%.

O balanço entre criação de emprego e de valor agregado, equilibrado até 2014, sofreu, em 2015 e 2016, alterações significativas, só explicáveis pela não consistência da informação desses anos. Por isso, não é fácil explicar a subida do valor da produtividade bruta aparente em 22,5%, logo seguida de uma quebra abrupta estimada em ‑48,2%. Evidentemente, fizeram‑se sentir, de um modo negativo, os crescimentos reais negativos do seu Valor Acrescentado Bruto de ‑1,1% em 2015 e ‑2,3% em 201693. Mas, também, a variação nominal negativa entre 2015 e 2016 de ‑34,2%.94

O grau de industrialização das economias é, via de regra, apreciado através de dois indicado‑res: a participação da actividade de transformação no Produto Interno Bruto e o PIB industrial por habitante. Este último índice mede exactamente o poder de compra nacional por produtos transformados e quanto mais elevado o seu valor maiores são os indícios de industrialização dos países. Em Angola, o seu valor médio 2007/2016 foi de apenas USD 184 por habitante.

Outra modalidade de se analisar o coeficiente de industrialização é por intermédio da elas‑ticidade entre o VABit/PIB e o PIB per capita.

COMPORTAMENTO DA ELASTICIDADE DA INDÚSTRIA/PIB E PIB PER CAPITA

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2002

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0,80

1,00

1,20

1,40

93 As informações oficiais anteriores, nomeadamente o Relatório de Balanço de 2016 do PND 2013‑2017, apresentavam outras informações: 2,1% em 2015 e – 3,9% em 2016. As que estão no texto foram divulgadas pelo INE – Nota de Imprensa PIB – IV Trimestre de 2016, de Abril de 2017.94 É difícil de explicar esta significativa quebra. Em termos gerais e lineares, a elevada taxa de inflação em 2016 (cerca de 42%) deveria ter proporcionado um valor nominal mais alto do que em 2015, esti‑mado em USD 12169,7 milhões, já corrigido do crescimento real negativo. A inconsistência geral das informações provenientes do Governo pode ser uma das razões. É urgente que o INE retome a série das Contas Nacionais detalhadas terminada abruptamente em 2012.

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CEIC / UCAN

O incremento do PIB por habitante – tido como um dos factores da industrialização dos paí‑ses – não tem constituído estímulo suficiente para o aumento do coeficiente de industrialização em Angola. Na verdade, a leitura do gráfico antecedente mostra um declínio na elasticidade da relação coeficiente de industrialização/PIB per capita ao longo dos anos, com uma quebra expressiva em 2015. Razões possíveis:

a) Em 2015 e 2016, devido aos ajustamentos em baixa no valor do PIB por habitante, por força da consideração dos dados definitivos do Recenseamento Geral da População de 2014, divulgados em 22 de Março pelo INE, e também das folhas informativas e correcti‑vas da mesma instituição.

b) Dada a concentração da riqueza – não se pode perder de vista que o respectivo concei‑to abarca rendimentos actuais, expectativas de rendimentos futuros propiciados pelos activos imobiliários e mobiliários e o valor destes activos – o aumento sistemático do PIB por habitante transformou‑se, provavelmente, em poupanças ociosas e em trans‑ferências para o exterior da parte do grupo social melhor posicionado no processo de distribuição de rendas existente (o capital angolano transferido para o estrangeiro, por vias legais e ilegais, atingiu, em 2016, cerca de 29 mil milhões de dólares americanos, de acordo com a leitura da Balança de Pagamentos feita por Carlos Rosado de Carva‑lho95.

c) Conforme se tem demonstrado nos diferentes Relatórios Económicos do CEIC, também através deste indicador é possível afirmar‑se que, de facto, o crescimento económico – um dos indicadores ainda utilizado é justamente o aumento do PIB por habitante – não tem tido uma disseminação social, de modo a ser transformado em desenvolvimento. As aproximações teóricas e muitas evidências empíricas apontam no sentido de que de uma maior industrialização resultam efeitos muito positivos sobre a distribuição do ren‑dimento nacional, pela via da variação do emprego e de aumento regular dos salários (no seu montante global devido à criação de mais postos de trabalho) e no seu valor médio (propiciado pelos ganhos de produtividade). No capítulo 6 deste Relatório Económico é feita uma análise sobre as desigualdades económicas e sociais no país, segundo resulta‑do do projecto de pesquisa em parceria com o Christian Michelsen Institute de Bergen (Noruega).

d) Falta de apoios ao sector manufactureiro: crédito, incentivos fiscais bem focados, ambiente geral de negócios (o Doing Business do Banco Mundial de 2015 e 2016 indica, claramente, como fazer para se melhorar o clima de negócios no país, atractivo para o investimento privado, nacional e estrangeiro). Neste mesmo parágrafo, mas mais atrás, foi apresentada uma súmula das medidas que o Governo tem vindo a implementar desde

95 Carlos Rosado de Carvalho – “Os investimentos angolanos no estrangeiro e os maridos que comem fora de casa”, editorial do Semanário Expansão de 3 de Março de 2017.

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RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2016

2013, no âmbito do seu Plano Nacional de Desenvolvimento 2013‑2017 (retirado do Rela‑tório de Balanço do Governo 2013‑2016), mas cujos impactos, como aí se sublinhou, ainda não se fazem sentir, sendo prova cabal disso as taxas de crescimento do PIB em 2015 (0,9%) e em 2016 (0,1%).

e) Baixa produtividade geral do sector da manufactura: do capital humano, do capital empresarial e do capital físico. As estimativas feitas pelo CEIC para o valor da produ‑tividade média bruta aparente do trabalho são: USD 87 015 para 2015 e USD 47 391 em 2016. Esta acentuada quebra deveu‑se à conjugação de dois factores, a saber, diminuição em praticamente 4% do seu PIB e aumento de 30,3% do emprego (uma verdadeira corrida à criação de emprego – provavelmente fictício, mas seguramente ineficaz perante os vários índices industriais conhecidos – em época eleitoral). Como no respectivo capítulo se analisa (capítulo 7 – Emprego e Produtividade) a indústria de transformação tem apresentado ganhos de produtividade baixos (em alguns anos perdas de produtividade) que dificultam a assumpção do seu verdadeiro papel como “driver” da diversificação e esteio da densificação do tecido produtivo e económico de Angola.

f) Ambiente institucional inquinado pela corrupção e tráfico de influências: Apesar de todas as boas intenções de alguns governantes e outras tantas instituições públicas, a corrupção e o tráfico de influências inquinam, vertical e horizontalmente, o funcionamento de toda a estrutura orgânica do Estado, transformando em verdadeiras epopeias a obtenção de documentos essenciais para a vida em comunidade dos cidadãos, para a criação de novos negócios, para o acesso ao crédito bancário, quando, se a ordem das coisas no país fosse normal, a emissão destes documentos é um serviço público que o Estado deve prestar de forma proficiente e em muitos casos gratuitamente. Mas o peso da burocracia é tanto que se encontram sempre brechas legais ou para‑legais por onde entram a corrupção, o amiguismo e o favorecimento.

A industrialização do país pode ainda ser apreciada através da evolução do ITI (índice de transformação da estrutura industrial)96

96 É uma média aritmética simples em módulo da variação dos pesos relativos de cada indústria no PIB global. Foram considerados, no seu cálculo, 16 ramos de actividade industrial.

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CEIC / UCAN

ÍNDICE DE TRANSFORMAÇÃO INDUSTRIAL

RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2016RI.2017.0000.01.01

DT_132.ª prova

25 maio 2017Paulo Amorim

0

2002

2003

2004

2005

2006

2007

2008

2009

2010

2011

2012

2013

2014

2015

2016

0,05

0,1

0,15

0,2

0,25

0,3

Fonte: CEIC, Ficheiro “Estudos sobre a diversificação da economia”, com base em informações oficiais.

O índice anterior apresenta, por um lado, valores muito baixos e, por outro muito oscilan‑tes ao longo do tempo. O significado destes comportamentos é o se estar perante um sector económico que ainda não encontrou a sua velocidade de cruzeiro no seu processo de cresci‑mento, que está perante grandes desafios de consolidação dos sistemas de alterações estru‑turais e carente de investimentos produtivos que modifiquem o seu perfil de integração na economia nacional.

Uma ilustração deste cenário é dada pelo peso médio do conjunto dos subsectores das indústrias alimentares e de bebidas no total da indústria, que tem rondado, entre 2002 e 2016, 86,8% do Valor Acrescentado Bruto Industrial. A produção (ou engarrafamento sim‑ples) de bebidas descolou‑se do alimentar depois de 2006 e o seu peso médio (2002/2016) encontra‑se na vizinhança de 50% do VAB industrial. Daí a relativa imobilidade do valor do índice de transformação industrial, não significando o não aparecimento de outras activida‑des industriais que estatísticas oficiais e não oficiais vão registando e divulgando.

Não obstante esses factos, a sua importância relativa ainda é pequena, necessitando de apoios diversos para se consolidarem, sendo neste contexto que ganha sentido e facilidade de defesa o argumento de protecção das indústrias nascentes, bem apresentado e desenvol‑vido na Teoria do Comércio Internacional.

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RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2016

ALTERAÇÕES NA ESTRUTURA INDUSTRIAL

RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2016RI.2017.0000.01.01

DT_142.ª prova

25 maio 2017Paulo Amorim

0

Tota

l do

VAB

indu

stria

l (%

)

10

20

30

40

50

60

70

Alimentares

Bebidas

Outros

200165,6

31,8

2,6

201628,8

57,2

14,0

201527,5

54,5

18,0

Fonte: CEIC, Ficheiro “Estudos sobre a diversificação da economia”, com base em informações oficiais.

O grosso da actividade industrial do país tem andado à volta do alimentar e das bebidas, bens de consumo final sem dúvida importantes para a melhoria da dieta alimentar da população e das suas condições gerais de vida, mas que adicionam pouco à densificação da malha produti‑va da economia nacional, sobretudo quando também a agricultura, a pecuária e as pescas pade‑cem de problemas semelhantes de produtividades baixas, falta de financiamento e de outras commodities que contribuam para o seu regular funcionamento em condições de eficiência.

AS TENDÊNCIAS DE EVOLUÇÃO DAS ALIMENTARES E BEBIDAS

RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2016RI.2017.0000.01.01

DT_152.ª prova

25 maio 2017Paulo Amorim

–20,0

0,020,0

40,060,080,0

100,0

120,0

140,0

160,0180,0200,0

2000 2005 2010 2015 2020

VAB

per c

apita

USD

VAB alimentar per capita (USD)Linear(VAB alimentar per capita (USD))

VAB bebidas per capita (USD)Linear(VAB bebidas per capita (USD))

Fonte: CEIC, Ficheiro “Estudos sobre a indústria transformadora”, com base em informações oficiais.

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CEIC / UCAN

No mapa de preferências dos consumidores há uma clara prioridade para as bebidas, cujo VAB por cada cidadão poderá atingir USD 190, de acordo com a recta de tendência do gráfico anterior.

Já o correspondente valor para as alimentares não deverá ultrapassar os USD 100, no mesmo horizonte temporal.

O coeficiente industrial típico (VAB indústria transformadora/PIB) – o seu valor médio de longa duração ou a sua linha tendencial é de 4,7%97 – costuma ser relacionado com o PIB por habitante, presumindo‑se que o grau de industrialização das economias aumenta à medida que o PIB por habitante da economia se valoriza. E é uma pressuposição científica e empiricamen‑te validada pela Economia Industrial e por muitos estudos sobre os processos e modelos de desenvolvimento industrial conhecidos.

Na verdade, à medida que as sociedades e economias aumentam os seus rendimentos, maior é a proporção de bens privados nos orçamentos das empresas e das famílias, muitos deles com proveniência industrial. Daí que a correlação entre a evolução do PIB por habitante e o peso relativo dos sectores transformadores ajude, por uma lado, a parametrizar o quanto de influência resulta do primeiro para o segundo dos índices e, por outro, a elencar as medidas mais certeiras para a crescente industrialização das economias.

Acresce ainda que, à medida que o rendimento médio de cada cidadão aumenta, vai sendo possível introduzir novos produtos e serviços industriais para satisfazer os novos perfis da pro‑cura doméstica, validados e possibilitados pela melhoria das condições de vida. Estão nestes casos muitos produtos relacionados com as novas tecnologias de informação e comunicação, com a moda, com a cultura, com a mobilidade (indústria automóvel e de ciclo motores), etc., cujos sistemas de produção interagem com muitas áreas, contribuindo para uma maior densi‑dade nas relações intersectorias e uma maior industrialização.

O gráfico seguinte retrata o comportamento dessa correlação ao longo do tempo, em Angola. A sua escala é logarítmica para facilitar o relacionamento entre grandezas expressas em unida‑des muito díspares. A elasticidade representada pela linha laranja é calculada entre o coeficien‑te industrial e o PIB por habitante.

97 Em alguns países da SADC (África do Sul, Maurícias e Tanzânia) é de 12,5% e no tempo colonial foi de 26,3% (Estudos sobre a Diversificação da Economia Angolana, página 95, CEIC, Novembro de 2016, lançado a 13 de Março de 2017).

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RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2016

INDUSTRIALIZAÇÃO EM ANGOLA

RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2016RI.2017.0000.01.01

DT_162.ª prova

25 maio 2017Paulo Amorim

0,500

1,000

1,500

2,000

2,500

3,000

3,500

4,000

0,000

2001

GDP per capita (USD)Elas�cidade

Base

loga

rítm

ica

2002

2003

2004

2005

2006

2007

2008

2009

2010

2011

2012

2013

2014

2015

2016

Fonte: CEIC, Ficheiro “Estudos sobre a diversificação da economia”, com base em informações oficiais.

O enorme afastamento entre as duas linhas do gráfico anterior é, sobretudo, devido ao baixo valor do coeficiente geral de industrialização (peso do VAB da manufactura do PIB), o qual e apesar das reservas anteriormente equacionadas, se situou em torno de 8% em 2015. Quan‑do for possível colocar o seu valor em 25% – como acontece nas economias emergentes em processo acelerado de industrialização – então a área anterior reduzir‑se‑á significativamente, podendo, nessa altura, dizer‑se que Angola está num processo sustentado de alterações estru‑turais e de diversificação com incidências sociais significativas.

PIB PER CAPITA E O PESO DA MANUFACTURA

RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2016RI.2017.0000.01.01

DT_172.ª prova

25 maio 2017Paulo Amorim

0,000

0,500

1,000

1,500

2,000

2,500

3,000

3,500

4,000

2000 2005 2010 2015 2020

Base

loga

rítm

ica

Manufacturing/GDP (%)Linear(Manufacturing/GDP (%))

GDP per capita (USD)Linear(GDP per capita (USD))

Fonte: CEIC, Ficheiro “Estudos sobre a diversificação da economia”, com base em informações oficiais.

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CEIC / UCAN

A interpretação da figura anterior sugere que:

a) O aumento do rendimento médio dos cidadãos não tem estado em linha com a indus‑trialização da economia angolana – as intensidades de variação média anual são distin‑tas, ainda que maiores no indicador de industrialização – podendo presumir‑se por uma preferência do investimento privado angolano por outras áreas com retornos maiores a curto prazo98.

b) Até 2020, de acordo com a recta de tendência projectada, o coeficiente de industrializa‑ção não deve sofrer desvios significativos, mantendo‑se o país numa zona periférica de transformação dos produtos.

A INDÚSTRIA TRANSFORMADORA VISTA PELOS TRÊS RAMOS TRADICIONAIS

RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2016RI.2017.0000.01.01

DT_182.ª prova

25 maio 2017Paulo Amorim

0

1000

2000

3000

4000

5000

6000

7000

8000

Indústria ligeira Indústria intermédia Indústria pesada

2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016

VAB

em m

ilhõe

s de

USD

Fonte: CEIC, Ficheiro “Estudos sobre a indústria transformadora”, com base em informações oficiais.

Uma forma de se analisarem os processos de industrialização é através do peso relativo de cada um dos três grandes ramos industriais: indústrias ligeiras, pesadas e intermédias. As indústrias pesadas dão consistência, sustentabilidade e autonomia aos processos de industria‑lização, sobretudo quando baseadas no aproveitamento de recursos naturais nacionais. São ainda as que aumentam e maximizam as cadeias de valor, alargando as suas zonas de influên‑cia e de geração de valor agregado interno. E também as de maior complexidade tecnológica e exigência de conhecimentos técnicos de ponta. É composta, nomeadamente, pelos seguintes ramos: química pesada, fabricação de máquinas e equipamentos, fabricação de máquinas e equipamentos eléctricos e fabricação de equipamento de transporte. Via de regra, são sectores de grande intensidade de capital e por isso fazendo apelo a investimentos de valores elevados.

98 É do rendimento que sai a poupança que financia o investimento.

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RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2016

As indústrias intermédias contribuem para o alargamento da malha de relações intersecto‑riais através do incremento dos efeitos a montante e a jusante. São actividades geradoras de insumos para outros ramos industriais e não industriais e recorrendo a tecnologias intermédias. São os casos da transformação da madeira (embora também alguns dos seus produtos se pos‑sam destinar a consumo final), da química ligeira, da fabricação de plásticos, da produção de minerais não metálicos, dos produtos metálicos e das embalagens metálicas.

Finalmente, as indústrias ligeiras, identificadas neste Relatório como as utilizadoras de tec‑nologia simples e particularmente focadas na produção de bens de consumo final das famílias (evidentemente que muitos produtos intermédios, em termos da sua tecnologia, podem ser considerados como integrantes desta classificação), como alimentares, bebidas, vestuário e cal‑çado, tabaco, artigos de madeira, etc.

O gráfico anterior mostra que nem sequer numa fase de industrialização intermédia o país se encontra, porquanto inexistem indústrias de capital e tecnologia intensiva – o seu peso rela‑tivo no Valor Agregado Bruto Industrial mal se vê – centrando‑se a matriz industrial angolana nas transformações de produtos para consumo final (em especial nas alimentares e bebidas), que muitas vezes não cobrem toda a cadeia de produção, pois são meras indústrias de enchi‑mento, como na maior parte das bebidas.

A produção da indústria transformadora confirma justamente a incipiência do processo de industrialização em curso, tal como se pode comprovar através da tabela seguinte.

PRODUÇÃO INDUSTRIAL POR PRODUTOS

Produtos 2013 2014 2015 2016

Óleo alimentar (Klt) 1868 490 2129 1286

Leite pasteurizado (Klt) 3749 3339 2504 3716

Leite em pó (ton) 4577 5564 9668 7473

Iogurtes (mil copos) 2526 4225 7732 11 811

Rações para animais (ton) 0 22 391 44 073 56 792

Produção de bebidas (mil hlt) 17 852 20 137 21 204 20 950

Produção de têxteis (m2) 0 7094 0 0

Confecções (unidades) 28 800 541 783 358 678 130 752

Couro e calçado 0 0 0 0

Madeira serrada (m3) 105 21 6118 6067 12 486

Embalagens de cartão (ton) 1821 5109 6010 4459

Livros escolares (mil) 47 913 37 332 15 681 1690

Acetileno (Mm3) 149 65 88 87

Oxigénio (Mm3) 951 1781 1239 1417

Gás carbónico (ton) 0 2475 1926 843

continua

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CEIC / UCAN

Produtos 2013 2014 2015 2016

Pesticidas (mil lts) 0 0 0 0

Insecticidas (ton) 0 0 0 0

Tintas e similares (Klt) 54 310 8611 16 822 11 155

Sabão (ton) 20 054 23 697 13 070 19 135

Detergentes líquidos (Kl) 18 407 20 144 16 504 13 954

Detergentes sólidos (ton) 2099 19 144 16 723 6455

Explosivos (ton) 6288 7512 6447 4104

Cartuchos de caça (mil) 75 0 0 0

Injectados (ton) 398 13 771 19 272 21 798

Vidros de embalagem (ton) 47 120 41 466 43 506 46 279

Metais (ton) 14 343 195 109 134 071 128 981

Tractores (unidade) 0 0 0 0

Emprego gerado 1979 5457 6339 3882

Investimento privado (mil USD) 124 800 123 900 618 864 456 993

Fonte: Ministério da Indústria.

Algumas notas:

a) Contradição claríssima nos dados do emprego para 2016: nas informações anteriores foram identificados, pelo Ministério da Indústria, 3882 novos postos de trabalho, enquan‑to no Relatório de Balanço do Governo 2013‑2016 estão referenciados 30 526 empregos líquidos para o mesmo ano. Qual o dado certo?

b) O investimento privado na indústria transformadora, de acordo com o respectivo órgão de tutela, ascendeu, em 2016, a 457 mil milhões de USD (?) (4,8 vezes mais o PIB nacio‑nal). Manifestamente que se trata de um erro grosseiro, talvez relacionado com a unidade de medida de referência. Mas ainda que se trate de 457 milhões de dólares, conclui‑se que o custo de cada posto de trabalho foi de mais de USD 122 mil (uma apreciação sobre se é elevado ou baixo depende da natureza da indústria).

c) À partida, o coeficiente capital investido/produção é relativamente baixo, atendendo às quantidades produzidas em 2016 e constantes da tabela anterior.

d) A sensação que se tem – face às enormes oscilações anuais da produção – é a de que se produz por encomenda e não de uma forma contínua. Claro que prevalecem dificuldades tremendas que os industriais não conseguem ultrapassar de modo sustentado, mas se a situação é essa parece ser tempo de proceder a uma reafectação dos factores e recursos de produção para as produções mais estáveis, melhorá‑las consideravelmente (qualidade

continuação

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RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2016

e eficiência) e tentar a exportação. Continuar a insistir na fabricação de produtos para os quais não existem condições de estabilidade é contribuir para a criação de distorções na produção e no consumo, penalizadoras da obtenção da tão desejada integração econó‑mica interna e as necessárias externalidades. Da mesma forma para a manutenção de ineficiências que a abundância de petrodólares do passado já não cobre.

e) Por outro lado, ao compararem‑se as metas do Plano Nacional de Desenvolvimento 2013/2017 com a real execução verifica‑se que a programação mostrou‑se, agora que se está a proceder à sua avaliação, muito optimista, havendo praticamente 63% de metas abaixo do esperado.

f) Uma análise rigorosa dos dados anteriores, nomeadamente sobre se as cifras da produção são altas ou baixas, passaria pelo conhecimento (cálculo ou estimativa) das capacidades de produção de cada produto ou ramo industrial, para se avaliar o grau de subutilização do capital investido (USD 457 milhões é muito dinheiro).

g) Pela instabilidade do comportamento da produção entre 2013 e 2016, pode supor‑se uma elevada taxa de subemprego da força de trabalho na indústria transformadora. No entanto, as indústrias continuam a empregar mais pessoal (3882 ou 30 526 não se sabe).

4.3.2.2 As políticas industriais

Diferentes acções foram implementadas pelo Governo, em especial pelo Ministério da Indústria, com o objectivo de fomentar a actividade produtiva da indústria transformadora99:

a) Elaboração de estudos técnicos e de viabilidade com vista à construção dos Pólos de Desen‑volvimento Industrial da Matala, Kunge, Dondo, Soyo, Uíge, Lunda‑Sul, Malange e Kassinga.

b) Construção dos Pólos de Desenvolvimento Industrial de Viana, Bom Jesus, Lucala, Caála, Catumbela e Fútila.

c) Reabilitação e modernização da Textang II, África Têxtil e SATEC. Concluído o processo de reabilitação, modernização, expansão e especialização das unidades têxteis TEXTANG II, África Têxtil e SATEC. Aberto o concurso público para a celebração dos contratos de explo‑ração e gestão das referidas unidades têxteis.

d) Promover a Construção de Fábricas de Descaroçamento e Fiação de Algodão.

e) Promover o desenvolvimento das indústrias de moagem de farinha e suas infra‑estrutu‑ras de armazenagem, cimenteira, farmacêutica e de fabricação de bens de equipamento,

99 Ministério do Planeamento e do Desenvolvimento Territorial – Relatório de Balanço das Actividades do Governo 2013-2016, Março de 2017.

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CEIC / UCAN

máquinas, ferramentas de trabalho para a agricultura e de bens intermédios. Em curso a construção das Grandes Moagens de Angola, tendo sido concluída a construção civil da área social (escritórios) e a montagem mecânica e eléctrica.

f) Promover a implementação de projectos estruturantes como a indústria açucareira/eta‑nol, siderúrgica, metalomecânica pesada, celulose e papel, alumínio e fertilizantes e cor‑rectivos do solo.

g) Acompanhar a montagem de 23 cerâmicas promovidas pelo Ministério do Urbanismo e Construção.

h) Construção do Centro Industrial de Tecnologia Avançada de Viana (CITAV).

i) Em curso a criação do Instituto Superior de Engenharia Industrial de Angola (ISEIA), com objectivo de formar 300 profissionais por ano, nas áreas de engenharia civil, mecânica, química, ambiente industrial e electrónica.

j) Reabilitação e Apetrechamento do Centro de Formação Fadário Muteka.

k) Reabilitação e apetrechamento do Centro de Formação Técnica Metalúrgica.

l) Apoiar a criação de um Instituto Formação Técnica Industrial, orientado para a formação de técnicos médios em domínios mais carenciados.

4.3.3 Construção e obras públicas

4.3.3.1 Comportamento da produção

Em termos da sua macroeconomia, as informações mais relevantes do sector da construção estão inseridas na tabela abaixo.

A MACROECONOMIA DO SECTOR DA CONSTRUÇÃO

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016

VAB (milhões USD) 4843,9 5912,5 5355,6 7273,2 8152,9 10 692,5 12 917,5 14 457,9 11 016,0 9620,0

Taxa real de variação (%) 17,69 8,93 12,78 25,95 8,37 25,41 3,38 8,00 3,50 3,2

Emprego 308 646 320 191 339 688 365 993 387 759 410 661 415 408 424 197 427 941 428 882

Produtividade (USD) 15 693,9 18 465,6 15 766,2 19 872,5 21 025,6 26 037,3 31 095,8 34 082,9 25 741,9 19 514,5

Ganhos de produtividade (%) 3,37 5,00 6,31 16,90 2,29 18,42 2,20 5,76 2,59 2,97

Salário mensal (Kz) 21 596,3 40 659,4 44 164,7 53 055,7 57 283,6 61 880,3 0,0 0,0 0,0 0,0

PIBc/PIB (%) 7,4 6,7 8,3 8,8 7,8 9,3 10,4 11,2 10,8 8,7

Fonte: CEIC, Ficheiro “Estudos sobre produtividade e emprego”.

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RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2016

A construção passou a assumir, depois de 2006, uma importância crescente para a formação do Produto Interno Bruto do país, sendo neste momento o terceiro maior sector na composição do PIB, com uma participação de 8,7% e de 8,4% em média 2002/2016. No sector não petrolí‑fero é, actualmente, o de maior relevância económica e mesmo de investimentos (públicos e privados).

O programa nacional de infra‑estruturação da economia, iniciado em 2002, e o boom do imobiliário depois de 2004, são as principais razões para a conquista pela construção (e obras públicas) de uma posição tão relevante. No entanto, não esteve imune aos efeitos da crise financeira e económica e a sua contribuição para o PIB baixou de 11,2% em 2014 para 8,7% em 2016.

A PERDA DE DINÂMICA DO SECTOR DA CONSTRUÇÃO (TAXA DE CRESCIMENTO %)

RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2016RI.2017.0000.01.01

DT_193.ª prova

30 maio 2017Paulo Amorim

0,0

5,0

-5,0

10,0

15,0

20,0

25,0

Taxa crescimento PIB Linha tendencial

20032004

20052006

20072008

20092010

20112012

20132014

20162015

É uma actividade fortemente intensiva em trabalho, ainda que temporário e inserido na categoria de emprego friccional ou mesmo sazonal. O número total de trabalhadores em 2016 foi de 428 882.

Depois de ter apresentado em 2014 o seu nível mais elevado de produtividade bruta apa‑rente do trabalho (USD 34 083 por trabalhador), a construção tem vindo a perder eficiência. Em 2016, o valor foi de USD 19 515 por trabalhador, uma redução de 42,7%. Consequentemente, os ganhos de produtividade têm vindo a diminuir, de 5,8% em 2014, para 2,9% em 2016.

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CEIC / UCAN

A sua contribuição média para o crescimento do PIB nacional é estimada em 0,877% (que significa que 1% na variação real do seu Valor Acrescentado, propicia um incremento de 0,9% no PIB), tornando‑o num dos sectores mais rentável dos 14 que constituem a rede de activida‑des do sistema produtivo nacional.

COMPARAÇÃO ENTRE VAB CONSTRUÇÃO E INVESTIMENTO PÚBLICO

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 20164844 5913 5356 7273 8153 10 693 12 917 14 458 11 016 96207146 11 874 8314 7682 8995 11 997 14 248 15 729 6579 6684

VAB construção

Valo

res e

m m

ilhõe

s de

USD

Invest.público

16 00014 00012 00010 000

8000600040002000

0

dt20relatório economico 2016

1p · FR

Fonte: CEIC, Ficheiros “Estudos sobre produtividade e emprego” e “Quadro macroeconómico comparativo”.

Pelo gráfico anterior constata‑se a elevada correlação entre este sector da economia e o investimento público. Ainda que se reconheça a existência de iniciativa privada (auto‑investi‑mento, nomeadamente em habitação e alguns edifícios fabris), o essencial tem a ver com as obras públicas, em infra‑estruturas económicas e sociais e em habitação financiada pelo Esta‑do. Naturalmente que são as empresas privadas as executoras dessas obras100, mas o financia‑mento é estatal e assegurado por intermédio do Programa de Investimentos Públicos.

Esta prevalência do público sobre o privado é um factor de risco para a actividade de cons‑trução civil no país, bastando que ocorram imponderabilidades externas para que o investimen‑to público diminua, como manifestamente são os casos registados em 2015 e 2016.

A correlação anteriormente destacada é mais visível ao relacionarem‑se as respectivas taxas de crescimento, como se anuncia no gráfico seguinte.

100 As empresas chinesas são um misto de privadas e estatais que concorrem aberta e deslealmente com as angolanas no acesso às linhas de crédito provenientes da China.

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RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2016

RELAÇÃO ENTRE CONSTRUÇÃO E INVESTIMENTO PÚBLICO

dt21relatório economico 2016

1p · FR

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 201632,3 66,2 -30,0 -7,6 17,1 33,4 18,8 10,4 -58,2 1,617,7 8,9 12,8 12,6 8,4 23,9 16,1 4,1 -2,2 -2,8

Tx. va. inv. públ.

Tx. cresc. const.

-80,0-60,0-40,0-20,0

0,020,040,060,080,0

100,0

Fonte: CEIC, Ficheiros “Estudos sobre produtividade e emprego” e “Quadro macroeconómico comparativo”.

A significativa quebra verificada em 2015 no investimento do Estado, repercutiu‑se em taxas negativas de variação da quantidade de construção oferecida nesses anos, devendo repercu‑tir‑se ainda depois de 2016 – são os normais lags dos investimentos – porque o financiamento por criação de dívida pública de novos investimentos públicos tem limites económicos, finan‑ceiros e sociais que devem ser acautelados. Assim sendo, o Estado vai ter de ajustar em baixa as suas intenções de pela via do montante de investimento público satisfazer algumas neces‑sidades sociais, mas principalmente encontrar uma alavanca para se retomar a dinâmica de crescimento. Até 2012, um dos grandes desafios para a política orçamental é adaptar os seus sistemas de intervenção na actividade económica às efectivas disponibilidades de receitas tri‑butárias, em contextos de continuada diminuição dos seus réditos e de abrandamento do cres‑cimento do sector não petrolífero.

Conforme as informações da tabela seguinte, a actividade pública no sector da construção apresenta quatro componentes: construção/reabilitação de estradas, reabilitação/construção de edifícios públicos e monumentos, construção/reabilitação de infra‑estruturas integradas e a reabilitação de infra‑estruturas aeroportuárias.

A primeira apresentou uma forte quebra em 2016, com apenas 374 quilómetros de constru‑ção e reabilitação de estradas em todo o país. A reabilitação de edifícios públicos e monumentos foi zero em 2016, o mesmo que em matéria de reabilitação de infra‑estruturas aeroportuárias.

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CEIC / UCAN

NÍVEL DE EXECUÇÃO DO SECTOR DA CONSTRUÇÃO

Indicadores 2013 2014 2015 2016

Estradas

Rede fundamental (km) (F) 1157 1336 400 120

Rede secundária (km) (F) 595 805 36 40

Rede terciária (km) (F) 776 864 1244 214

Avaliação patrimonial (un) (F) 0 751 315 100

Edifícios públicos e monumentos

Reabilitação (un) (F) 10 13 1 0

Avaliação patrimonial (un) (F) 10 11 0 0

Infra‑estruturas integradas

Projectos de execução (un) 11 0 5 17

Construção (un) 3 5 0 4

Infra‑estruturas aeroportuárias

Reabilitação (un) 1 2 1 0

Emprego

Emprego criado 5202 4413 1968 990

Fonte: Ministério da Construção.

Deve destacar‑se a coincidência das informações nos valores do emprego criado em 2016, entre o Relatório de Balanço e as estatísticas do Ministério da Construção, o que de resto nada tem de especial, na medida em que o Balanço é elaborado com base nas informações sectoriais. Todavia, um exemplo de consistência que outros Ministérios têm de seguir.

4.3.4 Transportes

4.3.4.1 Considerações gerais

O desenvolvimento do sector dos transportes tem como principal objectivo dotar o país de uma rede de transportes integrada e adequada aos objectivos de desenvolvimento nacional e regional, facilitadora do processo de desenvolvimento económico e potenciadora das políticas territoriais e populacionais.

No ano de 2016, o orçamento aprovado para o Ministério dos Transportes (Mintrans), foi de 21 915 971 603,00 kwanzas mas, foi disponibilizado para execução das despesas apenas 32% deste total. Durante o mês de Dezembro foram reforçados os projectos dos Programas de Inves‑timento Público (PIP), o que originou uma variação no orçamento no valor de 74 583 144 065,39 kwanzas (ver tabela).

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RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2016

ORÇAMENTO DO MINISTÉRIO DOS TRANSPORTES (MILHÕES Kz)

Orçamento aprovado/ /Execução (Inicial)

Orçamento aprovado/ /Execução (Final)

Ministério dos Transportes 21 552,63 74 319,45

Instituto Nacional dos Caminhos‑de‑Ferro de Angola 146,28 104,03

Instituto Hidrográfico e de Sinalização Marítima de Angola 156,12 117,33

Gabinete do Corredor do Lobito 60,95 42,32

Total 21 915,97 74 583,14

Fonte: Relatório de 2016 do Balanço Anual dos Órgãos e Institutos do Sector dos Transportes, Ministério dos Transportes, Governo de Angola.

Para a execução do orçamento aprovado, estipularam‑se três fontes de financiamento, tendo em conta que alguns projectos são financiados pelo Estado e por diferentes linhas de crédito (ver tabela).

FONTES DE FINANCIAMENTO (MILHÕES Kz)

Recursos ordinários do Tesouro 11 497,42

Financiamento externo 57 525,27

Financiamento interno (Recursos próprios) 5560,46

Total 74 583,14

Fonte: Relatório de 2016 do Balanço Anual dos Órgãos e Institutos do Sector dos Transportes, Ministério dos Transportes, Governo de Angola.

Para o exercício económico de 2016, o Ministério dos Transportes como Unidade Orçamental obteve do Tesouro Nacional quotas financeiras no montante de 19 430 216 423,69 kwanzas, distri‑buídos por diferentes categorias. A execução financeira do valor recebido foi de 99,79% (ver tabela).

DISTRIBUIÇÃO DAS QUOTAS FINANCEIRAS ATRIBUÍDAS AO MINISTÉRIO DOS TRANSPORTES

DescriçãoQuota financeira

(milhões Kz)Execução financeira

(%)

Despesas com pessoal 412,21 100

Despesas correntes (Bens e serviços) 188,61 99,79

Despesas de apoio ao desenvolvimento (Bens e serviços) 11,99 32

Despesas com financiamento externo 100

Subsistema ferroviário 2437,22 –

Subsistema marítimo 7471,67 –

Subsistema rodoviário 8788,79 –

Despesas de projectos de investimento (Bens e serviços) 18 817,40 100

Fonte: Relatório de 2016 do Balanço Anual dos Órgãos e Institutos do Sector dos Transportes, Ministério dos Transportes, Governo de Angola.

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CEIC / UCAN

Durante o exercício de 2016, os diferentes Institutos afectos ao Ministério dos Transportes tiveram um total de receitas no valor de 14 704 537 521,47 kwanzas e de custos no valor de 8 712 163 238,78 kwanzas (ver tabela).

RECEITAS E CUSTOS DOS INSTITUTOS (MILHÕES Kz)

Órgãos Receitas Custos

Instituto Nacional de Aviação Civil 9312,45 1756,26

Instituto Marítimo Portuário de Angola 5132,72 6717,58

Instituto Nacional de Transportes Rodoviários 259,37 238,33

Total 14 704,54 8712,16

Fonte: Relatório de 2016 do Balanço Anual dos Órgãos e Institutos do Sector dos Transportes, Ministério dos Transportes, Governo de Angola.

O Instituto Marítimo Portuário de Angola (IMPA) apresenta uma utilização de recursos superio‑res aos recursos disponíveis no período devido à utilização de saldos de anos anteriores em bancos.

4.3.4.2 A prestação de serviços de transporte

Relativamente à prestação de serviços de transporte no ano de 2016, no subsistema maríti‑mo, para promover a reposição do transporte marítimo internacional de bandeira foi assinado o Memorando de Entendimento entre o IMPA e a empresa Navegação Logística e Serviços Marí‑timos, Lda (MSC) para a constituição de uma joint‑venture em forma de sociedade por quotas e foi concluído o processo de negociação com a MSC para o estabelecimento da parceria que levará ao relançamento do transporte marítimo internacional de bandeira. Foram ainda assi‑nados contratos entre a empresa SECIL Marítima e empresas que operam a linha de crédito da China para o transporte de toda operação logística de materiais e equipamentos a importar.

Para a operacionalização regular dos serviços de transporte ferroviário, foi reposta a circu‑lação de todo o troço do Lobito ao Luau do Caminho‑de‑ferro de Benguela (CFB) e do Namibe a Menongue do Caminho‑de‑ferro de Moçâmedes (CFM). Ainda com vista ao relançamento do transporte ferroviário de bens e serviços, o Instituto Nacional de Caminhos‑de‑ferro de Angola (INCFA), o IMPA, o Gabinete de Inspecção, o CFB e o Porto do Lobito reuniram para a elaboração de um programa de acção.

No subsistema rodoviário foi estabelecido e implementado um programa de reordena‑mento do sistema de transportes das províncias. Neste contexto, foram elaborados: os Planos Nacionais de Carreiras Interprovinciais e Intermunicipais – PNCIP; planos de acção imediata para a implementação de redes de oferta para os transportes urbanos nas capitais provinciais – PPTU; o Plano Director de Transportes e Logística da província de Luanda e o Plano Director de Transportes para as províncias de Benguela, Kwanza‑Norte, Bié, Cunene, Uíge, Zaire, Huambo, Kuando‑Kubango, Moxico e Malange.

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RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2016

Para alargar a rede de táxis a todo o país, incentivando os programas de apoio ao emprego e à mobilidade, foram licenciadas, pelo Instituto Nacional de Transportes Rodoviários (INTR), 137 empresas e 204 veículos para serviços de táxis personalizados.

Para criar um sistema de transporte de massas eficiente, rápido e isolado (metro de super‑fície) em Luanda:

1. Foi elaborado o estudo para a implementação de faixas‑bus com proposta de implemen‑tação de Carreiras Expresso para acesso ao centro urbano.

2. Foi aprovado o projecto de construção dos corredores de infra‑estrutura de transportes públicos.

No contexto do projecto de construção da Casa de Função do Concelho Nacional de Car‑regadores (CNC) do Lobito (província de Benguela) foram avaliadas e determinadas as rotas nacionais de transporte de carga, com ligações regionais e também foram analisados e acom‑panhados os níveis de frete.

Finalmente, no subsistema aéreo, verificou‑se o aumento das frequências para as rotas com maior número de passageiros, em particular, das frequências de voos com as companhias Luft‑hansa, Quénia Airways, KLM, Ibéria e Air France e uma redução dos cancelamentos nas rotas com menor número de passageiros.

4.3.4.3 As políticas de transportes

No ano de 2016, o sector dos transportes desenvolveu acções no sentido de aumentar o volu‑me de carga e o número de passageiros transportados. As acções e medidas de políticas execu‑tadas dividem‑se em dois programas principais: o programa 1 de «Capacitação Institucional e Formação» e o programa 2 de «Reabilitação e Construção de Infra‑estruturas». No contexto do programa 1, destacam‑se duas políticas: a primeira diz respeito à criação do Instituto Superior de Gestão, Logística e Transportes e promover a criação de novas escolas e centros de formação; a segunda diz respeito ao reforço dos Planos de Formação em todas as empresas públicas do sector.

No contexto da primeira política, interessa referir:

1. Foi concluída a construção do Instituto Superior de Gestão Logística e Transportes e auto‑rizada a transformação em instituto superior de natureza público‑privada.

2. Foi concluído o agenciamento do financiamento para construção dos 3 centros de forma‑ção profissional para os Caminhos‑de‑ferro de Angola (CFA) e, está em curso a construção dos centros de formação do CFL em Catete, do CFB no Huambo e do CFM no Lubango.

3. Está em curso a preparação das condições para o reconhecimento de centros de forma‑ção profissional no sector rodoviário e em análise o processo de auscultação das empre‑sas para o levantamento das necessidades de formação e elaboração dos respectivos conteúdos programáticos.

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CEIC / UCAN

No contexto da segunda política:

1. Foi assinado o contrato entre o Instituto Hidrográfico e de Sinalização Marítima de Ango‑la (IHSMA) e a Sociedade Nacional de Desenvolvimento e Investimento (SONADI) para a realização do Estudo para a Formação e Capacitação de Quadros do IHSMA e foram efec‑tuados contactos com os Ministérios da Educação e da Administração Pública Trabalho e Segurança Social visando o enquadramento dos cursos técnico – profissionais e respecti‑vos currículos didácticos para os cursos específicos de ferroviários.

2. Foi concluída a formação de técnicos para operar o sistema de registo, emissão de licen‑ças, licenciamento e exames aeronáuticos no Instituto Nacional de Aviação Civil (INAVIC) e foi concluída a formação em Normas (Legislação) Rodoviárias e Estatística Aplicada aos Transportes Rodoviários. Foram realizadas outras formações e, ainda, verificou‑se a par‑ticipação em diferentes reuniões e eventos.

Relativamente ao programa 2 de reabilitação e construção de infra‑estruturas, são identifi‑cadas políticas de acordo com os 4 subsistemas do sector dos transportes. Assim, no subsistema marítimo‑portuário, para assegurar a construção dos terminais marítimos e terrestres do país:

1. Foram concluídas e inauguradas as infra‑estruturas marítimas e terrestres para as locali‑dades do Museu da Escravatura, Porto de Luanda, Kapossoca, Mussulo e Mococo; foram inaugurados os terminais de minérios e de contentores e o porto seco do Porto do Lobito.

2. Foram aprovados e assinados os contratos de empreitada para os projectos de construção dos terminais marítimos de passageiros nas províncias do Zaire e de Cabinda, e a constru‑ção de um quebra‑mar para o Porto de Cabinda.

3. Está em fase conclusiva o processo administrativo para a construção do novo terminal de contentores no Porto do Namibe.

4. Foi assinado o acordo de doação entre os Governos Japonês e da República de Angola para se iniciarem as obras de requalificação das infra‑estruturas do Porto do Namibe.

De acordo com o Relatório de 2016 do Balanço dos Órgãos e Institutos do Ministério dos Transportes, outras políticas afectas ao subsistema marítimo‑portuário dizem respeito à iden‑tificação pela Sonangol do local para a construção do novo porto de águas profundas em Porto Amboim, à assinatura da minuta de discussão para a pesquisa preparatória (revisão) do projec‑to para a melhoria do Porto do Namibe entre a JICA (Agência de Cooperação Internacional do Japão) e com o IMPA para a reabilitação do terminal multiusos do Porto do Namibe. Finalmente foram iniciados os processos administrativos adstritos aos projectos do ramo marítimo‑por‑tuário, inseridos na linha de Crédito da China, designadamente: projecto de construção de um quebra‑mar para o Porto de Cabinda e projecto de construção de um terminal marítimo de pas‑sageiros para as províncias de Cabinda e do Zaire (Soyo).

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RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2016

No subsistema ferroviário, para alterar o modelo institucional dos Caminhos‑de‑ferro de Angola:

1. Foi concluído o estudo do novo modelo institucional para os Caminhos‑de‑ferro de Ango‑la com vista à autonomização de algumas actividades.

2. Foi prosseguido o processo de separação contabilística das actividades das empresas (CFL, CFB e CFM) para a posterior passagem à fase da criação das três empresas de gestão de infra‑estruturas, comando e controlo da circulação (uma para cada empresa ferroviária).

Para a operacionalização regular do transporte ferroviário:

1. Foram reabilitadas e modernizadas as linhas do CFB e CFM, tendo sido inauguradas 124 estações (68 no CFB e 56 no CFM).

2. Foi concluído o estudo do traçado do Caminho‑de‑ferro do Norte, bem como o da insta‑lação de um sistema de bilhética e do estado actual das infra‑estruturas de telecomunica‑ções e sinalização das linhas do CFA.

3. Foram inauguradas a ponte ferroviária do Luau, que liga Angola à República Democrática do Congo (RDC), e as instalações do Gabinete do Corredor do Lobito (GCL), na cidade do Lobito.

4. Foram adquiridas à Africa do Sul 20 carruagens para o CFB.

5. Foi concluído o processo de aquisição de 15 locomotivas, 120 carruagens e 233 vagões através da Linha de Crédito da China.

6. Foram aprovados os projectos referentes à construção de 6 estações intermodais do CFL do Bungo à Baía e a ligação ferroviária do Baía/NAIL, bem como formadas comissões téc‑nicas para a sua supervisão.

7. Foram aprovados e assinados os contratos para a aquisição de 100 Locomotivas da Gene‑ral Electric (GE), modelo C30‑ACi, das quais 15 foram recepcionadas e distribuídas pelos 3 caminhos‑de‑ferro, o contrato da reabilitação e modernização das 8 Locomotivas GE U‑20 e o contrato para a reabilitação e modernização de 4 oficinais gerais de manutenção do material circulante (Luanda, Lobito, Huambo e Lubango).

8. Foi concluído o enquadramento financeiro referente aos projectos de aquisição de equi‑pamentos oficinais para os CFA e construção da 2.ª linha do CFL no troço Bungo/Baia.

9. Foi assinado o protocolo para a realização do estudo sobre o LRT (Metro de Superfície).

Para a priorizar a ligação do CFB à Zâmbia e do CFM à Namíbia.

1. Foram prosseguidos os trabalhos de consolidação da via, montagem da fibra óptica, sinali‑zação para as telecomunicações e a construção de valas e passagens de nível no CFB e CFM.

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2. No âmbito de execução do financiamento do Banco Africano de Desenvolvimento (BAD) foram prosseguidos os trabalhos para a realização do estudo da ligação ferroviária entre o CFB e a República da Zâmbia a partir do Luacano passando pelo Cazombo (província do Moxico) até à fronteira.

Para promover a instalação de Plataformas Logísticas Multimodais ao longo das linhas férreas:

1. Foi concluída a empreitada de desminagem de 105 hectares, o estudo de impacte ambien‑tal, estudo geotécnico, estudo de viabilidade e a elaboração dos projectos de infra‑estru‑turas de redes técnicas de água, esgotos, eléctrica, pavimentações e telecomunicações referente à Plataforma Logística do Luau (província do Moxico).

2. Foi adquirido o título de direito de superfície de 332 hectares para a Plataforma Logística do Lombe e concluída a desminagem, estudo de impacte ambiental, estudo geotécnico, estudo de viabilidade, elaboração de projectos de infra‑estruturas e edifícios, desmata‑ção e vedação, a terraplanagem e drenagem pluvial dos 50 hectares do porto seco e vias de acesso, a terraplanagem e drenagem pluvial das vias da zona logística/industrial da Iª parte, IV fase, e em curso a estabilização e impermeabilização de 30 hectares terraplana‑dos na área para parqueamento de contentores do porto seco.

3. Para a Plataforma Logística Regional Intermodal do Soyo (província do Zaire) (25 hecta‑res), foram criadas as condições técnicas para a recepção provisória de 2 armazéns de 1000 m2, do posto de abastecimento de combustível, construção de edifício administrati‑vo, a pavimentação de 10 hectares e a instalação de estação de tratamento de águas resi‑duais e está em curso a preparação do dossier de consulta de proposta de empreitadas necessárias para a conclusão da primeira fase da referida plataforma.

4. Foi adquirido o título de direito de superfície de 81 hectares para a Plataforma Logísti‑ca do Lubango (província da Huíla), concluída a empreitada de desminagem de 81 hec‑tares, concluído o estudo de viabilidade, a elaboração dos projectos de infra‑estruturas das redes técnicas de água, esgotos, eléctrica, pavimentações e telecomunicações e, em curso o respectivo estudo de impacte ambiental.

5. Foi concluída a elaboração dos projectos de infra‑estruturas da Plataforma Logística do Menongue (província do Kuando‑Kubango) (100 hectares), a desminagem e decapagem, o estudo geotécnico, o estudo de viabilidade e o estudo de impacte ambiental; em fase de conclusão a empreitada de vedação dos 100 hectares e terraplanagem de 20 hectares, o processo de aquisição de título de direito de superfície. Encontram‑se paralisadas as obras do ramal ferroviário.

6. Está em fase final o processo de obtenção do título de direito de superfície de 100 hecta‑res para a implementação da Plataforma Logística Transfronteiriça de Santa Clara (provín‑cia do Cunene), e concluído os estudos de viabilidade económica e financeira.

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RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2016

7. Foi obtido o título de direito de superfície de 100 hectares no Yema e Massabi (província de Cabinda). Foi concluído o estudo de viabilidade, a elaboração dos estudos de impacte ambiental, o levantamento topográfico e concluída a respectiva empreitada de desminagem.

8. Foi obtido o título de direito de superfície de 100 hectares para a implementação da Pla‑taforma Logística Transfronteiriça no Luvu (província do Zaire). Foi concluído o estudo de viabilidade económica, a elaboração dos estudos de impacte ambiental e o levantamento topográfico e concluída a respectiva empreitada de desminagem.

9. Foi aprovado o Memorando de Entendimento entre o CNC e a empresa Agility, para a construção das Plataformas Logísticas Transfronteiriças do Luvu, Massabi e Santa Clara.

10. Foi analisado o fluxo comercial e das condições infra‑estruturais das fronteiras do Kim‑bata, no município de Maquela do Zombo (província do Uíge), bem como do Minga (pro‑víncia do Zaire), comuna do Buela no município do Kuimba, para aferir a possibilidade de construção de Plataformas Logísticas ou portos secos transfronteiriços. Foi iniciado o processo de aquisição e legalização dos 100 hectares para a Plataforma Logística do Kimbata.

No subsistema aéreo para assegurar a conclusão da construção do novo Aeroporto de Luanda:

1. Foram prosseguidas as obras no terminal principal do NAIL (com uma área de construção de aproximadamente 181 500 m2), nas áreas de construção, na plataforma de estacio‑namento de aeronaves, na placa de estacionamento VIP, dos acabamentos das obras no terminal VIP, do prédio de funcionamento dos serviços de controlo de trafego aéreo, da torre de controlo, da estação de radar primário e secundário e do radar meteorológico.

2. Foi cedido o terreno para construção de casas para realojar populares que ocupam áreas no NAIL e obtido o visto preventivo do contrato de fiscalização do NAIL.

Para concluir o Programa de Refundação da TAAG, foi assinado o acordo de parceria estra‑tégica para o desenvolvimento da TAAG e o contrato de gestão da mesma com a EMIRATES.

Para executar o Programa de refundação da Empresa Nacional de Exploração de Aeropor‑tos e Navegação Aérea (ENANA) foram definidos 6 eixos estratégicos fundamentais, designada‑mente, a nível da implementação de uma gestão segmentada da rede aeroportuária; a nível da adequação do modelo de financiamento; a nível da optimização da performance operacional; a nível da revisão organizativa e viabilização do quadro de pessoal; a nível da modernização dos processos e modelo de gestão e a nível da autonomização do controlo do tráfego aéreo.

Para aumentar a capacidade da mobilidade no transporte aéreo foram reconstruídas pistas e novas aerogares no Kuito (província do Bié), em Luena (província do Moxico), no aeroporto de Ondjiva (província do Moxico), no aeródromo de Saurimo (província da Lunda‑Sul) e foram aumentados os estaleiros para ampliação do aeroporto de Cabinda e do Aeroporto do Kuito e

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CEIC / UCAN

adjudicadas as obras de ampliação do aeroporto de Cabinda. Foi inaugurado o aeroporto do Luau (província do Moxico)

No subsistema rodoviário, para dinamizar e incentivar a implementação de uma rede de oficinas rodoviárias, foram inaugurados os centros regionais de manutenção da ABAMAT, em Luanda, Benguela e Huambo. Em 2016, foram emitidas 73 certidões sobre aptidão das instala‑ções para o serviço de assistência técnica pós‑venda de equipamentos rodoviários, 49 alvarás emitidos para a actividade de oficinas de equipamentos rodoviários e 144 declarações emitidas sobre a importação de veículos.

Finalmente, para consolidar o sistema de controlo de tráfego de passageiros e meios, foram instalados 3225 rastreadores nos autocarros afectos ao serviço de transporte público colectivo de passageiros em todas as províncias do país.

O desenvolvimento das actividades relativas ao sector dos transportes permitiu que, até ao ano de 2016, fossem apresentados os seguintes resultados nos “indicadores de objectivos” do sector (ver tabela).

NÍVEL DE EXECUÇÃO DAS METAS DO SECTOR DOS TRANSPORTES

Sector dos transportes

Indicadores

2013 2014 2015 2016 2013/2016

PND Execução PND Execução PND Execução PND Execução PND Execução% de

Execução

1. Número de passageiros (rede pública) (Fluxos)

49 631 22 144 52 750 16 627 55 386 13 117 60 127 9980 217 894 61 868 28

2. Carga transportada/ /manipulada (ton) (Fluxos)

19 131 15 258 20 396 19 148 22 016 12 700 24 291 9948 85 834 57 054 66

3. Emprego no sector (Stock) 16 550 17 003 17 277 16 707 18 420 16 029 19 709 16 158 71 956 65 897 82

4. Profissionais do sector dos transportes treinados (Fluxos)

2780 1487 3160 1522 3540 2128 3565 1507 13 045 6644 51

5. Novas escolas e centros de formação instalados (Fluxos)

13 0 0 0 0 0 0 0 13 0 0

6. Cidades beneficiadas com expansão e rede de táxis (Fluxos)

18 2 0 2 0 0 0 0 18 4 22

Fonte: Relatório de Balanço das Actividades do Governo de 2016, Ministério dos Transportes, Governo de Angola.

Na tabela pode notar‑se que, relativamente à execução, nos primeiros quatro anos de imple‑mentação do Plano Nacional de Desenvolvimento 2013‑2017 (PND 2013‑2017), todos os indi‑cadores do sector, registaram um grau de execução abaixo de 85%. O número de passageiros transportados na rede pública (indicador 1) e a carga manipulada/transportada na rede públi‑ca (indicador 2) tiveram um grau execução de 28,40% e 66,77%, respectivamente, explicado, a

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RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2016

partir de 2015, pela (i) redução da frequência de voos semanais da TAAG nas rotas de São Paulo e Rio de Janeiro e abandono da rota do Dubai; (ii) paralisação da circulação no caminho‑de‑fer‑ro de Luanda (CFL), na linha Luanda/Malange, por 45 dias, devido ao descarrilamento de car‑ruagens e desabamentos causados pelas chuvas torrenciais, nos meses de Fevereiro a Abril; (iii) paralisação de serviço de transporte de passageiros por via marítima; e (iv) degradação das vias e da frota de transporte público associado à falta de peças sobresselentes. O indicador 5 (Novas Escolas e Centros de Formação Instalados), não apresenta execução pelo facto de estarem em fase de conclusão 3 centros de formação ferroviária, com previsão de entrega em 2017, sendo a primeira em Março (Centro de Formação de Catete), a segunda em Abril (Centro de Formação do Huambo) e a terceira em Maio (Centro de Formação do Lubango).

Relativamente ao sector da construção, onde se identificam acções directamente ligadas ao sector dos transportes, o desenvolvimento das actividades, até ao ano de 2016, permitiu que fossem apresentados os seguintes resultados relativamente aos «indicadores de objectivos».

NÍVEL DE EXECUÇÃO DAS METAS DA CONSTRUÇÃO NO SECTOR DOS TRANSPORTES

Sector dos transportes 2013 2014 2015 2016 2013/2016

Indicadores (construção) PND Execução PND Execução PND Execução PND Execução PND Execução% de

Execução

1. Rede fundamental (km) (Fluxo) 3000 1157 3500 1336 3500 400 3000 120 13 000 3013 23

2. Rede secundária (km) (Fluxo) 1000 595 1500 805 1500 36 1000 40 5000 1476 30

3. Rede terciária (km) (Fluxo) 15 000 76 15 000 864 15 000 1244 15 000 214 55 000 3098 6

Infra‑estruturas integradas

7. Projectos de execução (un) (Fluxo) 11 11 0 0 0 5 0 17 11 33 300

8. Construção (un) (Fluxo) 3 3 5 5 6 0 5 4 19 12 63

Infra‑estruturas aeroportuárias

9. Reabilitação (un) (Fluxo) 2 1 2 2 3 1 3 0 10 4 40

Emprego

10. Emprego (un) (Fluxo) 30 900 5202 32 800 4413 33 700 1968 34 800 90 132 200 12 573 10

Fonte: Relatório de Balanço das Actividades do Governo de 2016, Ministério da Construção, Governo de Angola.

Na tabela, pode notar‑se que, relativamente à execução acumulada, nos primeiros quatro anos de implementação do PND 2013‑2017, os indicadores relacionados com a rede viária, como o número de empregos (indicador 10) e a reabilitação de infra‑estruturas aeroportuárias (indicador 9) registaram taxas de execução abaixo de 50%, dada a paralisação de muitas obras, em consequência das restrições financeiras.

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CEIC / UCAN

4.4 O sector externo

A dinâmica da economia nacional é fortemente influenciada pelo comportamento do sector externo, em especial o das exportações do petróleo bruto que geram as receitas em divisas, que financiam as importações que permitem o funcionamento de toda a economia.

O COMPORTAMENTO DAS EXPORTAÇÕES

Ano PIB (milhões USD) Exportações (milhões USD) Peso das exportações no PIB

2002 15 956 8328 52%

2003 16 805 9508 57%

2004 23 581 13 475 57%

2005 39 890 24 109 60%

2006 52 452 31 862 61%

2007 65 458 44 396 68%

2008 88 378 63 914 72%

2009 64 916 40 828 63%

2010 82 500 50 595 61%

2011 104 100 67 310 65%

2012 115 300 71 093 62%

2013 124 900 68 247 55%

2014 126 800 59 170 47%

2015 103 321 33 181 32%

2016 96 200 26 530 28%

Fonte: CEIC, Ficheiro “Sector Externo” com base nos dados oficiais.

Como consequência da redução do preço do petróleo bruto no mercado internacional, o peso das exportações no PIB tem vindo a diminuir nos últimos anos, tendo atingido 28% em 2016, o nível mais baixo desde 2002.

COMPARAÇÃO DAS EXPORTAÇÕES (MILHÕES USD)

dt22relatório economico 2016

1p · FR

0,010 000,020 000,030 000,040 000,050 000,060 000,070 000,080 000,0

2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016

Sector petrolífero Exportações sector não petrolífero

Fonte: CEIC, “Ficheiro Balança de Pagamentos” com base em dados oficiais (BNA).

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RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2016

Em 2016, as exportações registaram uma quebra de 20%, menos significativa do que a regista‑da no ano passado (44%), devido à ligeira melhoria no preço do barril no decurso do ano transacto.

BARRIS EXPORTADOS VERSUS PREÇO MÉDIO DE EXPORTAÇÃO

dt23relatório economico 2016

2p · FR

0100200300400500600700800

0

20

40

60

80

100

120

Volume (milhões de barris) Preço (USD/barril)

2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016

Fonte: CEIC, Ficheiro “Sector Externo” com base nos dados oficiais.

Apesar de se verificar desde 2014 um ligeiro aumento de 8% nas quantidades de barris exportados, a magnitude e o efeito da diminuição do preço têm sido, de longe, muito superio‑res, como se pode ver no gráfico acima.

Considerando o seu peso nas exportações totais (4%), as exportações do sector não petrolí‑fero, não constituem ainda, nem a curto, nem mesmo a médio prazo alternativa às exportações petrolíferas, tendo em conta os problemas estruturais que o país apresenta e as dificuldades que os produtores nacionais enfrentam a todos os níveis.

Neste período em que o preço do principal produto de exportação está em baixa, as expor‑tações não petrolíferas têm sido residuais e o respectivo valor, em média anual, é de apenas USD 1,2 mil milhões.

COMPORTAMENTO DAS EXPORTAÇÕES NÃO PETROLÍFERAS (MILHÕES USD)

dt24relatório economico 2016

2p · FR

0,0

1800,01600,01400,01200,01000,0

800,0600,0400,0200,0

Exportações sector não petrolífero Diamantes Café Outras exportações

2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016

Fonte: CEIC, Ficheiro “Sector Externo” com base nos dados oficiais.

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CEIC / UCAN

É interessante notar que, tal como as exportações petrolíferas, as não petrolíferas têm vindo também a diminuir desde 2014. Em 2015 sofreu uma redução de 16% (passando de USD 1,5 mil milhões em 2014 para USD 1,3 mil milhões) e em 2016 verificou‑se uma diminuição de 9%, alcançando o valor de USD 1,16 mil milhões. A dificuldade no acesso às divisas para a impor‑tação dos insumos, bem como a fraca capacidade do tecido produtivo nacional, explicam, em grande parte a redução das exportações não petrolíferas.

As Linhas Mestras para a Definição de uma Estratégia para a saída da Crise derivada da Queda do Preço do Petróleo no Mercado Internacional elaboradas pelo Governo em Janeiro de 2016, no contexto do qual se pretende “elevar as receitas em divisas do país e diminuir, por conseguinte, a grande dependência do país dos recursos do petróleo”, promovendo assim as exportações não petrolíferas. Aparentemente não têm produzido efeitos positivos, pelo contrá‑rio, dá a sensação de efeitos contraproducentes.

No mesmo documento foram também identificados produtos que o país pode exportar no curto prazo:

• Rochas ornamentais.

• Cimento e outros materiais de construção.

• Café.

• Mel.

• Produtos da pesca (peixe, marisco e crustáceos) e derivados (farinha e óleo de peixe).

• Madeiras.

• Minério de ferro.

• Bebidas alcoólicas e não alcoólicas.

• Leguminosas e oleaginosas.

• Hortícolas e tubérculos.

• Sal iodizado.

• Serviços (transportes e telecomunicações).

Consultando o registo das exportações da Agência Geral Tributária (AGT), o valor de expor‑tação destes produtos em 2016 foi de cerca de USD 260 milhões, dos quais, 67 milhões de cimentos, 56 milhões de bebidas, 55 milhões de produtos da pesca e 35 milhões de madeira. Ora, não se consegue imaginar o país, sequer a duplicar produção destes produtos num hori‑zonte de 3 ou mesmo 5 anos, tendo em conta o actual ambiente de negócios.

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RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2016

Apesar do valor das exportações destes produtos serem residuais, deve‑se, no entanto, apostar na sua produção, apoiando os exportadores e atraindo mais investimento privado.

Para a promoção destas exportações o Governo vai levar a efeito as medidas seguintes:

• Constituir parcerias com operadores internacionais de reconhecida competência, com modelos de parceria inovadores e atractivos ao investimento, à semelhança dos contratos de partilha de produção usados no sector petrolífero, para abreviar o processo de fomen‑to à exportação.

• Proceder à assinatura de Acordos Bilaterais de promoção de comércio com os países potenciais compradores, em particular os países vizinhos.

• Criar mecanismos de fomento às exportações, tais como linhas de financiamento e segu‑ros de crédito às exportações.

Comportamento das importações

Angola, sendo interveniente do comércio internacional, para além de exportar os seus pro‑dutos, também adquire bens e serviços do exterior para satisfazer a procura interna. Na verda‑de, devido à fraca capacidade produtiva, uma boa parte do consumo das famílias, do Estado e das empresas é alimentado pelas importações.

IMPORTAÇÕES VERSUS CONSUMO (MILHÕES Kz)

dt25relatório economico 2016

2p · Paulo

0

0,2

0,4

0,6

0,8

1

1,2

0

200 000

400 000

600 000

800 000

10 000 000

12 000 000

Consumo final total (famílias e Estado) Importação de bens e serviços Peso das importações no consumo final

2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015

Fonte: INE, Contas Nacionais.

Como se pode ver no gráfico acima, de 2002 a 2010, em média, as importações representam 85% do consumo final das famílias e do Estado (coincidência entre as linhas gráficas represen‑tativas das importações e do consumo). Durante este período, (coincidente com os primeiros anos da paz), havia pouquíssima produção local de bens e serviços. De 2011 a 2015, observa‑se

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CEIC / UCAN

uma redução no peso das importações no consumo final, situando‑se em média nos 62% (em 2015 o peso foi de apenas 50%).

Perante as informações estatísticas apresentadas e analisadas nos parágrafos 4.2, 4.3.1 e 4.3.2 (que evidenciam um decréscimo da produção manufactureira e um reduzido crescimento da agricultura), a explicação para a redução do peso percentual das importações no consumo final não está, necessariamente, no reforço da capacidade produtiva nacional, nem sequer num processo de substituição de importações por produção nacional, que, se eventualmente ocor‑reu, dever ter sido marginal. As sucessivas reformas da pauta aduaneira consequencializaram uma diminuição das importações tout court, agravada pela falta de cambiais.

O gráfico seguinte apresenta a síntese das importações desde 2002, sendo interessante sublinhar o peso dos serviços nas aquisições externas. Muitos destes serviços podiam ser pro‑duzidos e fornecidos localmente.

COMPORTAMENTO DAS IMPORTAÇÕES (MILHÕES USD)

dt26relatório economico 2016

1p · FR

0

10 000

20 000

30 000

40 000

50 000

60 000

Importações de serviços Importações de bens (f.o.b.)2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016

Fonte: CEIC, Ficheiro “Sector Externo” com base nos dados oficiais.

Devido à pouca disponibilidade de divisas, o Governo impôs uma política de restrição das importações, o que está a levar à diminuição das mesmas. Como se pode observar no gráfi‑co acima, em 2015 houve uma redução de 26% em relação a 2014, passando de USD 53,5 mil milhões para USD 37,9 mil milhões e em 2016 verificou‑se uma diminuição na ordem dos 26%, passando para USD 28 mil milhões.

Olhando para a dinâmica (de transformação) da estrutura das importações desde 2002 até 2015, não se notam mudanças relevantes.

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RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2016

ESTRUTURA DAS IMPORTAÇÕES EM 2002 (EM MILHÕES USD E EM %)

dt28relatório economico 2016

1p · FR

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Bens de consumo correnteBens de consumo intermédioBens de capital

2002

Fonte: CEIC, Ficheiro “Sector Externo” com base nos dados oficiais.

ESTRUTURA DAS IMPORTAÇÕES EM 2015 (EM MILHÕES USD E EM %)

dt27relatório economico 2016

1p · FR

11 54356%

332516%

582528%

Bens de consumo correnteBens de consumo intermédioBens de capital

2015

Fonte: CEIC, Ficheiro “Sector Externo” com base nos dados oficiais.

Em 2002, a importação de bens de consumo intermédio foram de USD 437 milhões (12% das importações totais) e as de bens de consumo corrente de USD 2,19 mil milhões (58% das importações), o que significa que se importou 5 vezes mais bens de consumo corrente do que bens de consumo intermédio. Catorze anos depois, o quadro continua quase o mesmo, confor‑me se pode constatar no gráfico anterior. Em 2015, o peso da importação dos bens de consumo intermédio foi 16% (ligeiro aumento de 4 pontos percentuais) e a importação dos bens de con‑sumo corrente passou para 56% (ligeira diminuição de 3 pontos percentuais).

A importação dos bens de capital em 2002 estava avaliada em USD 1,13 mil milhões (30% das importações) e em 2015 em USD 5,8 mil milhões (28% das importações), o que representa uma redução de dois pontos percentuais. Esta análise mostra claramente não terem ocorrido, ao longo destes anos, mudanças estruturais dignas de relevo na estrutura das importações.

Análise sintética da Balança de Pagamentos

A balança de pagamentos, ao registar as transações entre o país e o resto do mundo, reflecte a posição da economia nacional perante os parceiros comerciais, espelhando até que ponto o figuri‑no das exportações e importações afectaram a conta externa. Em 2016, as contas externas voltaram a expor um défice, terceiro ano consecutivo que tal acontece, como se pode ver na tabela seguinte:

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CEIC / UCAN

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RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2016

Conta Corrente

Desde 2014, a conta corrente tem vindo a registar défices sucessivos devido, por um lado, à redução significativa das exportações petrolíferas e, por outro, aos défices crónicos nas balan‑ças de serviços e rendimentos.

CONTA CORRENTE, DÉFICE FISCAL VERSUS PREÇO DO PETRÓLEO

dt29relatório economico 2016

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%

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Fonte: CEIC, com base nos dados oficiais do BNA e MINFIN.

Mas na verdade, o gráfico acima mostra uma outra razão que explica os sucessivos défices que a conta corrente tem vindo a apresentar nos últimos 3 anos. Nota‑se a forte ligação entre o saldo da conta corrente e o saldo orçamental, o que de resto vai de acordo com a Teoria Económica. A 6.ª edição do Manual da Balança de Pagamentos do FMI (página 225) explica: “a sustained current account deficit may reflect persistent government spending in excess of receipts”. Assim, entende‑se que os défices fiscais têm contribuído para a deterioração da conta corrente, num cenário em que as receitas fiscais são cada vez mais insuficientes face aos níveis dos gastos públicos. Neste contexto, a melhoria sustentada da conta corrente vai depender, não somente do aumento do preço do petróleo, mas também da disciplina orça‑mental, ou seja, da capacidade do Governo executar gastos públicos em função dos recursos disponíveis.

A política de endividamento que está a ser aplicada para financiar as despesas públicas está a afectar negativamente o saldo da conta corrente, num contexto em que a poupança líquida privada não tem sido suficiente para contrabalançar a poupança líquida pública, que tem sido negativa nos últimos anos.

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CEIC / UCAN

COMPONENTES DA CONTA CORRENTE (MILHÕES USD)

dt30relatório economico 2016

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Conta Corrente Bens (mercadorias) Serviços (líq.) Rendimentos primários (líq.)

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Fonte:BNA

Devido às limitações de pagamento ao exterior, a conta de serviços tem vindo a registar nos últimos dois anos uma redução do défice, passando de USD 23,2 mil milhões em 2014, para USD 16 mil milhões em 2015 e 14,6 mil milhões em 2016. Como se tem referido em Relatórios anteriores, o défice na conta de serviços deve‑se ao facto de Angola ser um país importador por excelência de quase todo o tipo de serviços, transportes e viagens, saúde, seguros, cons‑trução, assistência técnica e manutenção dos equipamentos do sector petrolífero. Os serviços de assistência técnica são os que têm pesado mais nesta conta, com valores anuais médios de USD 8 mil milhões, seguidos da construção (USD 4,8 mil milhões), transportes e viagens (USD 4,3 mil milhões).

A situação actual desta conta espelha uma oportunidade de negócio para os investidores, nacionais e estrangeiros, investirem mais no sector de prestação de serviços, o que poderá fazer com que, se os mesmos forem dispensados com a devida qualidade, os consumidores nacio‑nais optem pelos serviços produzidos internamente, contribuindo assim para redução do défice enraizado que se verifica nesta conta da balança de pagamentos.

A remuneração dos factores de produção dos estrangeiros no território nacional e dos nacio‑nais no exterior são registados na conta de rendimentos. Os lucros e dividendos das empresas estrangeiras, juros da dívida externa e o rendimento dos expatriados estão reflectidos nesta conta, que é sistematicamente negativa101. A tendência de agravamento do défice desta conta vem a diminuir desde 2014 devido às restrições que se verificaram no acesso às divisas para

101 A título de juros, saíram do país USD 1,28 mil milhões em 2015 e 1,4 mil milhões em 2016. Lucros e dividendos 4,3 mil milhões em 2015 e 3,5 mil milhões em 2016. Remuneração dos expatriados 494,8 milhões em 2015 e 496,4 milhões em 2016.

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RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2016

o envio dos rendimentos dos expatriados e os lucros das empresas estrangeiras para os res‑pectivos países de origem. O défice passou de USD 8,8 mil milhões em 2014 para USD 5,9 mil milhões em 2015 e USD 5,29 mil milhões em 2016.

O facto que nos intriga nesta conta é que os lucros e dividendos dos investimentos que os angolanos fazem no exterior (USD 17,3 mil milhões anuais em média nos últimos 5 anos) não estão registados nesta conta. Será que tais investimentos não geram retornos? É difícil acreditar que seja o caso, pois se assim fosse não sairia tanto dinheiro. Se de alguma forma, os retornos destes investimentos voltassem ao país, poder‑se‑ia melhorar o saldo deficitário da conta de rendimento, com evidentes benefícios para a economia.

Investimento Directo Estrangeiro (IDE)

Apesar de apresentar um ambiente de negócios desfavorável em comparação com outros países (de acordo com o Doing Business do Banco Mundial), Angola continua a ser destino dos Investimentos Directos Estrangeiros direccionados para África. Desde 2002 até 2016, em ter‑mos acumulados, o país já recebeu cerca de USD 174,7 mil milhões, uma média anual de cerca de USD 11,6 mil milhões.

INVESTIMENTO DIRECTO ESTRANGEIRO (MILHÕES USD)

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Fonte: BNA

Em 2016, de acordo com as estimativas do BNA, registou‑se a entrada de USD 8,2 mil milhões, uma redução de quase 50% face a 2015, ano em que entraram cerca de USD 16 mil milhões.

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CEIC / UCAN

Desde 2005 que Angola não registava um montante tão baixo de investimento directo estrangeiro. Com as dificuldades no sector petrolífero, as empresas estão a deixar de fazer investimento devido às incertezas quanto ao preço do crude no mercado internacional102, devendo o Governo e as suas instituições incentivarem o aproveitamento desta janela de opor‑tunidades para outros sectores.

A rubrica do IDE regista também os investimentos que os nacionais fazem no exterior. É sabi‑do que há angolanos a investir no estrangeiro. Nota‑se, no gráfico anterior, que de 2005 a 2014 o fluxo de saída do IDE foi maior do que o de entrada, o que mostra que neste período houve mais investimentos de angolanos no exterior, do que dos estrangeiros no país.

Desde 2002 até 2016 saíram cerca de USD 196,3 mil milhões, enquanto no mesmo período entraram USD 174,7 mil milhões, o que resulta num saldo líquido negativo de cerda de USD 21 mil milhões. Em 2015 e 2016 como houve mais entradas do que saídas, resultou que IDE líquido fosse positivo. Como já referido na análise da conta de rendimentos, infelizmente os retornos dos investimentos feitos pelos angolanos no estrangeiro não constam da balança de pagamen‑tos, apesar de em geral haver mais investimentos de angolanos no estrangeiro do que os de estrangeiros no país.

Reservas Internacionais Líquidas (RIL)

Depois de um aumento significativo de 2009 a 2013 (passando de USD 12,6 mil milhões para USD 31,15 mil milhões, o valor mais alto verificado até ao momento), as poupanças em moeda estrangeira e em ouro que o país consegue acumular estão a diminuir a cada ano que passa desde 2014. O défice da conta corrente tem vindo a ser financiado com as reservas internacio‑nais líquidas, por isso se verifica a redução constante das divisas nos últimos 3 anos.

De 2013 a 2016, em termos acumulados, as Reservas Internacionais Líquidas (RIL) caíram em 35%, e em 2016 a diminuição foi de 16%. Continua a verificar‑se uma hemorragia das divisas do país, devido a forte procura pelos cambiais por parte dos agentes económicos e à política do Banco Central em manter uma taxa de câmbio quase fixa ao longo do ano. A taxa de câmbio foi desvalorizada em Janeiro (15%), Fevereiro (2%) Março (1%) e Abril (3%), não tendo ocorrido mais nenhuma alteração da paridade cambial do kwanza depois dessa data. A decisão do Banco Central em não deixar que a moeda nacional se desvalorize mais, teve com base o controlo do índice geral de preços, que, apesar disso; chegou aos 41% no final do ano de 2016103.

102 Isso com certeza terá repercussões futuras quanto à capacidade de produção do petróleo nos pró‑ximos anos, podendo verificar‑se um quebra significativa, caso não se retomem os investimentos.103 De Janeiro a Dezembro a desvalorização foi de 7% (em Janeiro a taxa de câmbio era Kwanza/USD 156,4 e em Dezembro estava em Kwanza/USD 166,7.

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RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2016

RESERVAS INTERNACIONAIS LÍQUIDAS (MILHÕES USD)

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2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016

FONTE: BNA.

Poderia verificar‑se uma maior diminuição nas RIL caso não houvesse um maior controlo do Banco Central em restringir104 o acesso às divisas por parte dos agentes económicos impor‑tadores e do público em geral. O aumento do nível das reservas depende essencialmente do incremento das receitas de exportação provenientes do sector petrolífero, tendo em conta que a curto prazo as receitas do sector não petrolífero não são alternativa (montante inferior a USD 2 mil milhões ano). Uma maneira de aliviar a pressão sobre as RIL é garantir o aumento da pro‑dução interna dos principais bens e serviços actualmente importados, substituindo e apostar nas exportações dos sectores não petrolíferos para que a médio e longo possam vir a ser uma alternativa às receitas do sector petrolífero.

104 É óbvio que a forma através da qual o BNA disponibiliza à banca comercial as divisas é discutível, o mesmo ocorrendo com a maneira como os bancos comerciais as disponibilizam aos agentes eco‑nómicos.

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CEIC / UCAN

5. ANÁLISE DA COMPETITIVIDADE DA ECONOMIA ANGOLANA

5.1 A libertação dos mercados e as reformas administrativas como impulsionadoras do crescimento económico

São abundantes os estudos de correlação entre a abertura das economias e o crescimento económico. De resto, a Teoria da Integração Económica, ao seriar as vantagens da criação de espaços alargados, aponta justamente o incremento da variação do PIB como uma das suas vantagens. São as economias de escala e a consequente redução de custos que o explicam. No entanto, existem posições doutrinárias contrárias a esta, mais defensivas e crentes nas vir‑tualidades do proteccionismo. O argumento central desta tese é que o proteccionismo é bom porque substitui as importações e cria incentivos à produção nacional. A presente situação económica em Angola prova que estes automatismos, na realidade dos factos, não existem. A recente avaliação das políticas comerciais de Angola na OMC demonstra que tem de ser intro‑duzida maior liberdade nos mercados e que, a haver proteccionismo, tem de se basear em estratégias inteligentes e no respeito das condições estabelecidas pela Ciência Económica para que a protecção desencadeie efeitos positivos sobre o bem‑estar nacional.

É evidente que, e os estudos disponíveis assim o confirmam, os efeitos positivos ou nega‑tivos da abertura dos mercados estão associados aos estádios de desenvolvimento dos países e à natureza dos seus sistemas de produção. Países cuja actividade económica dependa de um ou dois produtos de exportação – como fontes quase exclusivas de financiamento da economia e do Estado – são muito mais atreitos às consequências perversas e negativas da abertura das economias. Por isso mesmo é que a abertura ao exterior tem de ser preparada, inteligente, ape‑lando a estratégias e políticas ousadas e suportadas por índices de competitividade claramente ligados à exploração das respectivas vantagens comparativas

A questão está em se saber se, mesmo em estádios mais atrasados de desenvolvimento, a abertura económica dos países tem sido factor de crescimento do PIB. Banco Mundial, FMI, Banco Africano de Desenvolvimento e CNUCED dizem que sim, não faltando exemplos concre‑tos, retirados de algumas experiências do Sudeste asiático e mesmo de África. No entanto, num estudo recente do CEIC sobre a integração económica regional da SADC (working paper 1/2015 de Maio) verificou‑se não haverem evidências empíricas sobre a correlação entre Zona de Livre Comércio – na qual participam todos os países da região com excepção de Angola e da RDC – e intensificação do crescimento económico. Esta pesquisa continua no sentido de se alargar o

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período de análise e recolher informação adicional. Porém, o ponto central desta problemáti‑ca da libertação (liberalização, liberação, qual dos termos utilizar?) dos mercados é: se não se competir nunca se será competitivo. E esta afirmação é válida para todas as vertentes da vida económica e até da vida social e mesmo pessoal. Parafraseando o poeta António Machado 1875‑1939 (em resumo “o caminho faz‑se caminhando”), a competitividade adquire‑se com‑petindo.

Mas a discussão sobre a libertação dos mercados é igualmente válida para os mercados internos, ou seja, para as diferentes franjas da economia de mercado nacional. Claramente que é difícil, fora do âmbito teórico, analisar esta questão do ponto de vista da concorrência pura e perfeita, equivalente a uma abertura total, funcional e eficiente de todas as vertentes do mercado nacional. Existem e sempre terão de existir “reservas de mercado” para a actua‑ção dos mecanismos de regulação detidos pelo Estado. Porque afinal são reconhecidas “falhas de mercado”. Sendo os mercados imperfeitos, a distribuição do rendimento far‑se‑á de acordo com os critérios de alocação dos recursos de produção no momento em que a mesma acontece – critérios de maximização do lucro –, o que, normalmente, introduz distorções no modelo de repartição mais equitativa do rendimento. Ainda assim, a liberalização económica interna é um factor de criação de valor agregado e de geração de emprego e rendimento, sendo, portanto, um objectivo a constar das políticas públicas.

Existe sempre o receio de que estas liberdades económicas possam ser socialmente impul‑sionadoras de injustiças, económicas – os mais capazes acabam por ficar de fora por razões extra‑competitivas – e sociais (exploração da força de trabalho, prática de salários incompatí‑veis com a dignidade humana dos trabalhadores). Por isso, o Papa Benedito XVI, na sua Encíclica “Caridade na Verdade” de 2011, apelava a um novo paradigma do capitalismo, onde a maximi‑zação do lucro não continuasse a ser o único critério de afectação dos recursos e de distribuição do valor agregado. A visão das empresas inseridas nas comunidades onde desenvolvem as suas actividades de produção, portanto mais inseridas nos seus problemas e na procura das melho‑res soluções que incentivassem os trabalhadores a considerarem os seus locais de trabalho como o seu segundo lar, é o grande desafio do Papa Emérito. As teorias acerca da responsabi‑lidade social das empresas também procuram encontrar fundamentos científicos que validem uma nova visão do relacionamento empresas‑trabalhadores‑comunidades.

A publicação do Banco Mundial Doing Business 2016 explicita quais devem ser as compo‑nentes de um bom clima de negócios, poupador de recursos, viabilizador de investimento priva‑do, incentivador de eficiência e propiciador de ganhos estruturantes de competitividade. Uma delas relaciona‑se com os passos, procedimentos e custos para se iniciar um negócio. A libera‑lização dos mercados adentro das economias nacionais apela a processos desburocratizados e facilitadores duma rápida e desempoeirada circulação de pessoas, produtos e factores de pro‑dução dentro dos países. Número de procedimentos, tempo necessário, custo e o montante de capital mínimo exigido são os itens através dos quais se pode apreciar e avaliar a liberdade

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do mercado interno. E a conclusão do Banco Mundial é no sentido de que quanto mais baixos forem os números relacionados com aqueles itens, mais actividades produtivas e de prestação de serviços passarão a existir e, consequentemente, mais emprego e valor agregado se gerará.

Esta libertação dos mercados internos duma excessiva apetência de interferência do Estado costuma ser também apontada como uma condição necessária para a inovação. Os investimen‑tos privados aplicados na descoberta de novos produtos e processos de produção e de mais eficientes modelos de organização e funcionamento das unidades empresariais têm de ter um retorno, que poderá ser máximo se a actividade económica se encontrar liberalizada, ainda que sujeita a procedimentos de regulamentação, dentro de padrões convencionalmente aceites.

Um aspecto muito sensível da liberalização dos mercados, na óptica interna, mas com signi‑ficativas repercussões sobre a inserção internacional das economias, tem a ver com o mercado de trabalho. E os elementos significativos são a produtividade do trabalho e a competitividade das empresas. Mercados de trabalho livres aumentam ou não a produtividade do trabalho? Seguramente que menos regulamentação ajuda a competitividade das empresas e das eco‑nomias pelo viés da redução dos custos salariais. Mas a diminuição dos salários tem uma correlação positiva com o aumento da produtividade? Mercados de trabalho livres são mais competitivos, podendo, em alguns casos, viabilizar aumento do salário médio. Não obstante os pontos positivos reconhecidos, esta liberdade pode arrastar diminuição do emprego, com consequências económicas – redução do significado económico do mercado interno – e segu‑ramente sociais, muito destacadas enquanto elemento de crítica ao paradigma neoliberal das economias. É o clássico trade‑off entre equidade e eficiência. Até as economias ganharem mús‑culo competitivo, o jogo acaba por ser a favor da eficiência. Quando o rendimento nacional por habitante atinge uma quota na segunda parte da Curva de Kuznets, então a equidade é possível em moldes socialmente significativos.

No entanto, compreende‑se que a livre circulação territorial do factor trabalho pode ser um estímulo à deslocalização interna da actividade económica, do que resultará mais produção, mais eficiência e possivelmente mais diversificação dos produtos.

Os aspectos focados anteriormente também são fundamentais para que se possam forjar novos modelos de crescimento. Em Angola e em África. Durante os 40 anos de independência e particularmente os 13 anos de pós‑guerra civil, Angola não alterou o seu modelo de crescimen‑to, completamente centrado e dependente da exploração e exportação de petróleo. Os efeitos perniciosos de tão elevada dependência – Angola é o segundo país no mundo com o maior índice de concentração das exportações – já se fizeram sentir por diversas vezes com a queda brusca e acentuada do preço do barril de petróleo (1981/82, 1986/88, 1998/99, 2008/2009 e 2014 sem fim à vista), sem que, aparentemente, tivéssemos aprendido a reduzi‑los pela via de um novo modelo de desenvolvimento. E não há alternativa à diversificação, que devia ter come‑çado, no mínimo, logo após a finalização da guerra civil, em 2002.

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Não há ninguém, neste momento – empresários, políticos, decisores, académicos, investi‑gadores e mesmo o simples homem e mulher de rua – que não fale da diversificação da eco‑nomia. Isto não acontecia há 5 ou 6 anos atrás, em que o essencial do discurso oficial era a reconstrução das infra‑estruturas e a acumulação primitiva de capital. E agora, como financiá‑la num clima de diminuição acentuada das receitas do Estado e da economia e de eventual retrac‑ção do investimento directo estrangeiro? Agora é que é a oportunidade de se pensar seriamen‑te na diversificação, “inventar” poupanças e fontes de financiamento novas (dívida pública e privada externa sim, mas dentro dos limites que a Ciência Económica estabelece para a sua sus‑tentabilidade), corrigir/eliminar vícios de trabalho baseados no oportunismo e no paternalis‑mo, apadrinhar o empreendedorismo e a criação de know‑how nacional (o know‑how existente pertence aos expatriados, que não o difundem e o usam para renovar contratos de assistência técnica ou de consultoria dos quais os angolanos pouco têm beneficiado) e valorizar o salário e o trabalho dos angolanos.

O que está, então, em causa no binómio diversificação/liberalização dos mercados? Muitos desafios. Cita‑se alguns, retirados de Agosin, Alvarez e Ortega (2012)105 e também de Parteka e Tamberi (2008)106, ao apresentarem, no seu estudo, os principais drivers deste processo:

a) Acumulação de capital humano: segundo os seus estudos de correlação entre este stock de conhecimento e o crescimento, o capital humano contribui positivamente para a diver‑sificação das exportações. O incremento nos níveis de educação contribui para o desen‑volvimento do empreendedorismo e o aumento da produtividade do factor trabalho, propiciando‑se, assim, condições para a mudança dos padrões de produção existentes.

b) Dimensão económica dos países, medida pelo quantitativo da população, o poder de compra nacional (PIB por habitante), a integração económica interna (estradas, pontes, ferrovias, poros e telecomunicações); no fundo, um livre‑cambismo doméstico.

c) Disponibilidade de capital institucional, dado pelo ambiente de negócios, pelas estrutu‑ras estatais competitivas, transparentes e incorruptas, pelo sistema financeiro nacional e pela organização e eficiência da estrutura empresarial privada.

d) Sistema de Investigação & Desenvolvimento, enquanto instrumento insubstituível para a inovação e a reprodução alargada do sistema económico e social.

É do conhecimento geral que a energia – nas suas diferentes componentes – é fundamental para a sustentabilidade dos processos de crescimento económico. Mas igualmente para a cons‑trução de uma matriz de competitividade que permita abrir o país ao exterior e faça da produ‑ção nacional um exemplo de concorrência vantajosa com as importações. Substituí‑las à base de tarifas aduaneiras, não só penaliza o excedente do consumidor e diminui o bem‑estar nacional,

105 Agosin, Alvarez e Ortega (2012) – Determinants of Export Diversification Around the World.106 Parteka e Tamberi (2008) – Determinants of Export Diversification: An Empirical Investigation.

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como propiciam o aparecimento de distorções geradoras de desigualdades na distribuição do rendimento entre empresários e consumidores e patrões e trabalhadores. A energia é uma das componentes básicas – a par do capital humano – para se construir uma competitividade estru‑tural, para além das barreiras alfandegárias e dos comportamentos microeconómicos excessi‑vamente defensivos, de onde apenas resultam sobre‑lucros injustos e enriquecimento imoral.

A base energética do país é insuficiente, ineficiente e de baixa produtividade. O Relatório Energia 2016 do CEIC aponta as principais características do sistema nacional de energia, bem assim como as suas debilidades, apesar dos enormes investimentos efectuados. Os investimentos públicos no sector da energia têm sido feitos duma forma sistemática depois de 2002, dentro de um Plano Nacional de Electrificação do país, e atingem valores muito elevados. A construção de estruturas de produção, transporte e distribuição de energia foi uma das opções da governação em tempos de paz, mas os resultados demoram em chegar. Não apenas para as famílias, que almejam disfrutar de outras condições de vida nas suas habitações, como para as actividades económicas, que não podem continuar a funcionar na base de geradores, que encarecem muito os custos de produção, dado o elevado peso da componente energética nas diferentes estruturas de custos empresariais.

Olhando‑se para as estatísticas oficiais da actividade do sector da energia fica‑se com a sen‑sação de que, em alguns períodos depois de 2002, a produção de electricidade – através de diferentes fontes – aumentou de uma forma quase explosiva, sem, no entanto, tal facto se tra‑duzir em maior disponibilidade deste factor de produção para a indústria, agricultura e outras actividades directamente produtivas. No período a que se poderá chamar de longa duração (1998/2016), a produção de energia no país cresceu a uma taxa média anual de praticamente 12%, o que, em termos lineares, deveria significar uma multiplicação por 7 em 2016. Mas, apa‑rentemente, não é isto o que se passa na realidade dos factos, comprovadas as faltas, cortes, interrupções de fornecimento, etc., que ocorrem constantemente.

TAXAS MÉDIAS DE CRESCIMENTO POR GRANDES PERÍODOS

dt33relatório economico 2016

1p · FR

5,1

02468

10121416

4,1

10,2

3,0

11,2

5,4

13,6

10.6

1998/2016 1998/2001 2002/2008 2009/2016

PIB PIB energia

Fonte: CEIC, Ficheiro “Índice do PIB” com base em dados oficiais.

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RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2016

O gráfico anterior mostra (também apresentado no parágrafo 4.1 por razões ligadas à efi‑ciência do sector de energia) que foi o período 1998/2001 o que menores taxas reais de varia‑ção apresentou para o sector de energia, provavelmente explicado pelos baixos montantes de investimento público e pela instabilidade militar. O subperíodo 2002/2008 foi o de maior cres‑cimento da produção de energia, com uma taxa média anual acima de 13,5%. Igualmente no intervalo temporal 2009/2016 com uma taxa média real de variação anual de cerca de 11,8%.

Mas a pergunta permanece: face a tão expressivos crescimentos da produção de energia, por que é que a situação não melhora?

Outra questão de relevo nesta problemática da energia relaciona‑se com os desfasamentos entre os seus crescimentos e os do PIB. Sabendo‑se que o PIB traduz toda a actividade econó‑mica de um país – quer do lado da oferta, quer do lado da procura – então os correspondentes produtos e serviços devem ser consumidos internamente ou então exportados no restante. Angola ainda não é um exportador significativo de electricidade – podendo vir a sê‑lo, já que dispõe de condições de vantagens comparativas, em especial com os seus parceiros na SADC – e, consequentemente, é no mínimo curioso anotarem‑se significativas diferenças entre os dois agregados.

Os dados seguintes mostram os desfasamentos entre a variação da produção nacional e a da produção de energia.

OS CICLOS DA ENERGIA

Taxas médias por grandes períodos de tempo

1998/2016 1998/2001 2002/2008 2009/2016

PIB 4,2 4,1 10,2 2,0

PIB energia 11,8 5,4 13,6 11,8

A questão básica é: para onde, afinal, foi tanta energia produzida? Qualquer que seja o período considerado, a taxa média anual de variação real do PIB energia foi sempre superior à do PIB. No longo período 1998/2016 – quase 20 anos – a diferença média foi de 7,6 pontos per‑centuais. Muito desperdício. Explicações possíveis:

a) Enormes perdas nos trajectos e circuitos de distribuição.

b) Ligações clandestinas às redes principais.

c) Fraca verosimilhança dos dados estatísticos (a produção pelos geradores entra nestas estatísticas oficiais?).

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d) Baixa eficiência na utilização empresarial da energia, por sua vez eventualmente relacio‑nada com a idade dos equipamentos industriais, o uso de tecnologias ultrapassadas (mais consumo energético para a mesma ou menor quantidade de produção obtida).

e) Incipiente base de partida depois dos Acordos de Paz em Abril de 2002.

Muita energia e relativamente barata consequencializa custos económicos baixos, que pos‑sibilitam melhorar a competitividade estrutural da economia nacional.

5.2 A competitividade de Angola na CEEAC e na África Subsariana

África tem visto a sua dinâmica de crescimento atenuar‑se nos últimos anos (2012‑2015), principalmente devido ao comportamento em baixa dos preços da generalidade das commodi‑ties, à diminuição dos fluxos de investimento privado (desviados para os Estados Unidos depois de superados os efeitos da crise de 2008/2009), às dificuldades de obtenção de financiamentos internacionais e à redução das ajudas financeiras ao desenvolvimento (IMF, Regional Econo‑mic Outlook, Sub‑Saharan Africa, October 2015). De uma taxa média anual de variação real do PIB de cerca de 5,5% durante o período entre 2000 e 2012, os últimos registos apontam para um valor de 2,5%. Os dois grandes motores do crescimento económico de África (a Nigéria e o Egipto) apresentaram comportamentos tímidos nos últimos anos, respectivamente 2,6% para o primeiro e menos de 2,1% para o segundo país. A África do Sul, outro gigante económico afri‑cano, desde há bastante tempo que tem vindo a creditar registos bastante modestos de cres‑cimento do seu PIB (média geral de 2,4% ao ano entre 1989 e 2105) e apenas 1,7% em média anual entre 2013 e 2015.

O abrandamento chinês é uma das três maiores ameaças que as nações africanas enfren‑tam no seu desenvolvimento económico, de acordo com as conclusões de um painel de ana‑listas, promovido pelo think tank norte‑americano Instituto Brookings. “O continente africano continua a enfrentar vários desafios devido à ‘tripla ameaça’ da queda dos preços das maté‑rias‑primas, abrandamento económico chinês e aumento do custo da dívida pública, o que ofe‑rece, por outro lado, uma oportunidade para implementar políticas inovadoras e robustas para acelerar o crescimento e assegurar um crescimento sustentável”, conforme consta do seu mais recente relatório.

A despeito destes apontamentos menos positivos, o actual presidente do Banco Africano para o Desenvolvimento, Akinwumi Adesina, reafirma a actualidade da narrativa “África em Ascensão”, apresentada justamente nos melhores anos do seu crescimento económico: “o pior da presente crise económica já ficou para trás, antecipando uma taxa de variação do PIB do con‑tinente de 3,5% em 2016 e 3,7% em 2017” (Semanário Nova Gazeta, 29 de Setembro de 2016).

Angola atravessa, desde 2009, uma situação económica e social bastante difícil, sem estru‑turas económicas, institucionais, sociais e empresariais capazes de mitigarem os tremendos

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efeitos negativos provenientes da queda do preço do barril do petróleo. De uma taxa média anual de variação do PIB de 11% (2002/2008), passou‑se para um valor de 2,8% em 2015, pra‑ticamente o mesmo que a taxa de crescimento da população. Apesar disso e de se não terem realizado as reformas estruturais exigidas por um processo de substituição das importações e de diversificação das exportações – tendo‑se, portanto, perdido oportunidades de o fazer com custos económicos e sociais mínimos – Angola detém um peso (económico e político) relevante em África, nos PALOP, na CPLP, na SADC e na CEEAC.

Angola integra várias organizações regionais africanas, tais como a SADC (fundada em 1992), a CEEAC (adesão em 1999), NEPAD (integração em 1995), o Banco Africano de Desenvolvimento (membro em 1980) e CGG (fundada em 2001 e que inclusivamente tem a sua sede em Luanda), para além da própria União Africana à qual aderiu ainda enquanto Organização de Unidade Afri‑cana em 1975. Dum ponto de vista internacional, o país é membro da Organização Mundial do Comércio à qual se juntou em 1996, do Banco Mundial e Fundo Monetário Internacional (1989) e da OPEP, em cuja organização se incorporou em 2007. No espaço lusófono, Angola é país‑fun‑dador dos PALOP e da CPLP.

Angola detém uma posição económica dominante nos PALOP e na CEEAC, da qual retira, evi‑dentemente, alguns dividendos políticos e na SADC e CPLP aparece como relevante em termos de Rendimento Nacional Bruto, a despeito das incidências negativas da crise financeira e eco‑nómica mundial de 2008/2009 e da actual recessão nos preços do barril de petróleo. Também em África e na África Subsariana a posição económica de Angola é significativa. A tabela seguin‑te visualiza o seu posicionamento (sendo o indicador de comparação o Rendimento Nacional Bruto de cada um dos países dos agrupamentos considerados).

POSIÇÃO DE ANGOLA NAS ORGANIZAÇÕES ECONÓMICAS REGIONAIS EM ÁFRICA

ANGOLA

PALOP SADC CEEAC África ASS

2014 2015 2014 2015 2014 2015 2014 2015 2014 2015

1.º 1.º 2.º 2.º 1.º 1.º 5.º 5.º 3.º 3.º

Fonte: World Development Indicators, World Bank, 2015.

Mas, ainda que a posição de Angola naqueles rankings seja significativa, a expressão nomi‑nal do seu PIB é pequena em relação aos seus parceiros.

Igualmente Angola apresenta taxas médias anuais de crescimento do PIB de longa duração medianamente elevadas, ainda que tivessem tido como seu factor essencial as exportações de petróleo.

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CEIC / UCAN

AS ECONOMIAS AFRICANAS QUE MAIS TÊM CRESCIDO (%)

dt34relatório economico 2016

1p · FR

0,05,0

10,015,020,025,0

Guiné Equatoria

l

Moçambique

Cabo Verde

Uganda

Mali

Etiópia

Chade

Nigéria

Gana

Ruanda

Burkina F

aso

Tânzan

ia

S. Tomé e Prín

cipe

Botswan

aSu

dão

Angola

1989/2015 2002/2015

Fonte: World Development Indicators, World Bank, 2015.

No entanto, a estrutura produtiva angolana é fraca, com uma capacidade de resiliência a cho‑ques externos muito baixa, sem diversificação que aumente a densidade de relações produtivas internas, sem alternativas a curto prazo quanto a outras fontes de financiamento da economia e da actividade do Estado (que não sejam os empréstimos externos com consequências negativas sobre a dívida pública e a dívida externa) e com problemas sérios ao nível do capital humano e capital institucional. Por exemplo, a Nigéria, o Gabão, o Congo e mesmo os Camarões, também países produtores de petróleo, mostraram índices médios anuais de crescimento das suas eco‑nomias superiores aos de Angola, entre 2013 e 2015. O que significa, em conclusão, que as exce‑lentes posições nos rankings do RNB não têm sustentabilidade na estrutura produtiva interna de Angola, que necessita urgentemente de dar início a um processo consistente de diversificação, eliminando‑se quer os obstáculos conjunturais (ambiente de negócios propício ao investimento privado, corrupção, tráfico de influências, compadrios e incompetências diversas), quer os de natureza mais profunda revertíveis ao capital humano, capital institucional e capital empresarial.

De adiamento em adiamento até à decisão final de não integrar a Zona de Livre Comércio da SADC? A crónica deste processo parece indicar para esse desfecho, tantas têm sido as prote‑lações. O primeiro estudo sério sobre as vantagens e desvantagens da adesão a uma zona eco‑nómica onde as tarifas alfandegárias não existissem data de 1998 do século passado, quando se discutiram as condições de subscrição de uma Convenção de Livre Comércio entre os países da SADC, uma espécie de pré‑compromisso para a Zona de Livre Comércio. O país ainda se encon‑trava em plena guerra civil, mas fazia todo o sentido equacionar‑se a abertura das fronteiras aduaneiras de Angola, rumo a uma economia mais global e inserida em contextos internacio‑nais mais competitivos.

As principais e mais importantes reservas a este processo vieram da parte dos empresá‑rios nacionais e de muitos políticos em exercício de governação e com poderosos interesses

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na economia, um grupo social específico de Angola de ministros‑políticos‑empresários com força suficiente para se oporem às reformas económicas fundamentais que deveriam preparar a entrada de Angola no pós‑conflito armado.

As justificações então apresentadas pelos oponentes a uma abertura da economia nacional ao comércio sadciano sistematicamente situaram‑se na defesa das empresas nacionais, que iriam à falência porque absolutamente incapazes de resistir à competitividade das suas congé‑neres da região. São ainda os mesmos argumentos que militaram a favor dos últimos adiamen‑tos. Afinal de quanto tempo precisam os empresários para se acharem competitivos? Apesar das infra‑estruturas construídas – embora ainda insuficientes e de qualidade média baixa, com pouca capacidade de ajudarem o abaixamento dos custos da produção industrial e agrícola e do fornecimento de serviços, essencial para se ganhar músculo competitivo – e de outros arranjos de estratégia e política económica (vários fundos de apoio ao empresariado, parcerias público‑‑privadas com a intenção de facilitarem o crescimento do sector privado, crédito privilegiado, programas dirigidos, etc., etc.) não se tem conseguido dar o salto fundamental, ou seja, abrir a economia e congeminar processos e estádios de crescimento inclusivo e de desenvolvimento equitativo.

O Estado tem feito o seu papel e muitas das políticas em execução decorrem das exigências e dos pontos de vista dos capitães‑de‑indústria angolanos, mas continuamos quase como par‑timos para esta grande aventura do livre‑comércio, valendo a pena questionar se a preparação de que o país necessita não deve agora ser colocada/questionada/reflectida não no âmbito regional, mas numa perspectiva de mercado internacional, com muito mais oportunidades, embora igualmente com mais riscos, exigências e incertezas, com certeza.

O outro argumento empresarial‑político para a não abertura da economia ao comércio regional era/é o do emprego: mais abertura, reduz o emprego. A criação/destruição de pos‑tos de trabalho não é um efeito directo e imediato da adesão a espaços económicos mais alar‑gados, resultando mais do estádio de desenvolvimento, da situação das empresas, da maior ou menor regulação do mercado de trabalho, da dimensão do mercado doméstico, da liber‑dade de circulação interna dos factores de produção, da competência da mão‑de‑obra e, evi‑dentemente, da qualidade dos incentivos da política económica. A abordagem normalmente apresentada pelos empresários e políticos defensores da não abertura económica é redutora e essencialmente de curto prazo. Esquecemo‑nos, frequentemente, que a abertura traz investi‑mento estrangeiro – na circunstância dos países sadcianos, mas também de outros que possam ver neste mercado alargado oportunidades de negócios e de lucro – e, portanto, no médio e longo prazo o emprego pode aumentar.

A abertura também pode incrementar o investimento nacional na perspectiva de trabalhar para um mercado mais alargado. A taxa de desemprego em Angola, segundo o Censo Popula‑cional e Habitacional do INE, era de 24% em 2014, devendo ser, agora, em 2017, mais eleva‑da, por razões de falência e encerramento de actividades empresariais em todos os sectores

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CEIC / UCAN

(é bom lembrar que a taxa de crescimento do PIB em 2016 foi de 0,1%, apontando as previsões para 1,1% em 2017).

Existem, no entanto, outros argumentos que aconselham no sentido de uma maior refle‑xão sobre as fases de integração económica da SADC – o ritmo que o Secretariado da SADC e os países mais influentes na região pretendem imprimir na criação dos restantes arranjos (União Aduaneira, Mercado Comum e União Monetária) vai seguramente aumentar as desigualdades e assimetrias actualmente existentes entre os seus membros – e que devem ser lidos à luz das presentes dificuldades da União Europeia e que fazem recear pelo seu colapso económico e político. Nada do que se está a passar na União Europeia deve ser ignorado pelas instituições que governam a SADC, do mesmo modo que as pretensões proteccionistas de Donald Trump têm de merecer o devido enquadramento na região, por se tratar da maior economia do mundo.

Os processos de integração económica regional são complexos e existem perdedores e ganhadores. O proteccionismo favorece, seja em que circunstâncias forem, os produtores nacionais, sendo esse um dos argumentos fundamentais da estratégia económica de Donald Trump. E evidentemente que deste estrito ponto de vista e a curto prazo, a economia america‑na pode adicionar alguns postos de trabalho. A questão não é apenas essa, mas igualmente a de questionar a que preço esse emprego é criado. Por outro lado, não se pode deixar de racio‑cinar sobre os benefícios e prejuízos para os consumidores decorrentes das estratégias e mode‑los proteccionistas. E não se necessita de ir muito longe para perceber que o levantamento/ /agravamento de barreiras aduaneiras prejudica o seu bem‑estar (ao reduzirem o seu exceden‑te económico que nessa proporção acaba por ser transferido para os empresários).

Angola, neste momento de crise financeira e económica, é um exemplo vivo de como as tarifas aduaneiras têm um efeito relevante sobre a inflação e perverso sobre os consumidores (os grupos sociais mais vulneráveis e que representam cerca de 60% da população total segura‑mente que não conseguem viver com menos de USD 2 por dia). Aparentemente, o propósito do agravamento dos impostos alfandegários de induzir a substituição das importações não está a resultar no ritmo, quantidade e qualidade pretendidos, apresentando‑se como razões a elevada componente importada da produção nacional (para a satisfação da qual inexistem divisas), os altos custos de energia e água, a expressão quantitativa da inflação que tem retraído a procura (interna e externa, nos casos em que exista), os baixos e estáticos salários, etc.

Vale a pena revisitar a Teoria da Integração Económica e analisar, nos seus contornos mais essenciais e actuais, a experiência europeia para se continuar a discutir a pertença de Angola ao Livre Comércio da SADC.

Como se tem escrito, reflectido e discutido, a experiência de integração económica regio‑nal da Europa está presentemente numa encruzilhada política e económica. No primeiro caso, com o aparecimento de organizações da sociedade civil e de partidos, contestando a EU duma forma muito incisiva e granjeando apoios crescentes a eventuais saídas da Zona. Do ponto de

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vista económico, as desigualdades entre os diferentes países continuam a ser relevantes, dando lugar a iniciativas de criação, ainda que informal, de agrupamentos de países mais semelhantes em termos de estádios de desenvolvimento e de estruturas produtivas, sociais e de investiga‑ção e desenvolvimento.

Mas também noutras regiões do mundo, a integração está a ser reequacionada, sendo o Mercosul e a NAFTA os casos mais relevantes na actualidade. Os movimentos em sentido con‑trário (acordo intra‑comercial entre o Canadá e a União Europeia, a recomposição e revitaliza‑ção da integração económica asiática com a decisão dos EUA de daí se retirarem) não chegam para contrariar a desilusão que estes processos estão a criar há muitos anos e traduzidos em crescentes desigualdades sociais entre países e dentro de cada país.

Começam a aparecer correntes de pensamento, ainda muito embrionárias, quanto à neces‑sidade de revisitar a Teoria da Integração Económica, nomeadamente nos fundamentos e pres‑supostos admitidos para a verificação de uma propagação equilibrada dos efeitos económicos e de ganhos de comércio. E esses aspectos são, muito resumidamente, os seguintes:

• A integração, onde existe, não tem contribuído para a convergência real das economias, prevalecendo diferenças significativas nos índices de competitividade, nas taxas de cresci‑mento do PIB e nas taxas de desemprego.

• Onde está implantada, os níveis e condições de vida são muito díspares e as assimetrias evidentes e cada vez mais acentuadas.

• Onde está em funcionamento, a transmissão dos efeitos da perequação dos benefícios do crescimento beneficia as economias mais estruturadas e organizadas.

• As economias de escala têm favorecido os países mais estruturados e com um desenvolvi‑mento tecnológico e científico mais acentuado.

Estes são aspectos cruciais para a integração de Angola na Zona de Livre Comércio da SADC e para a própria organização em si, em cujo seio coexistem economias tão díspares entre si e em estádios diferentes de desenvolvimento económico. Angola, de certa maneira, tem tentado fazer o seu trabalho de casa em aspectos cruciais para o seu sucesso na ZLC.

A experiência da União Europeia permite retirar algumas lições e avisos:

• Apesar dos fundos estruturais, a EU permanece um espaço de assimetrias económicas entre os Estados‑membros e de desigualdades sociais entre os cidadãos europeus.

• Prevalecem diferenças significativas entre o centro e a periferia da Europa.

• O modelo de abordagem da crise das dívidas soberanas, dos défices fiscais e do cres‑cimento, provocada pela crise internacional 2009/2010, não foi o mais adequado para países com deficiências e insuficiências estruturais e institucionais e com um índice de

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competitividade francamente muito baixo. O resultado foi a acentuação da divergência real entre as economias e o alargamento das bolsas de pobreza.

• Apesar dos sinais de convergência e unidade que se pretendem dar depois de consuma‑do o BREXIT, a Europa da moeda única apresenta‑se como duas realidades económicas e sociais distintas: o eixo Alemanha‑França‑Holanda‑Luxemburgo‑Bélgica‑Itália (gerador de prosperidade e de bem‑estar) e os países do Sul da Europa (Portugal, Espanha, Grécia, Chi‑pre, Malta, França e Itália).

Mas, internamente, Angola apresenta ainda muitas deficiências para que a pertença à Zona de Livre Comércio gere internalidades e externalidades positivas. Elencam‑se algumas:

• Inflação: para os próximos 3 anos, a taxa anual média de inflação poderá vir a situar‑se entre 9% e 10%, de acordo com algumas projecções de instituições internacionais conhe‑cidas. Enquanto muitas insuficiências de carácter estrutural não forem removidas, o país perderá sempre em competitividade num clima de fronteiras económicas abertas.

• O Estado continua a expandir os seus níveis de endividamento, contrariando uma das metas acordadas na SADC de 60% do PIB. São conhecidos os efeitos negativos de níveis ele‑vados de dívida pública sobre a sua própria sustentabilidade e a pressão que exerce sobre a actividade económica e as condições de vida da população. Em Portugal, a Associação Industrial Portuguesa, através de declarações do seu presidente, veio colocar em debate a necessidade de reestruturação da dívida do país que representa mais de 130% do PIB.

• O sector financeiro do país tem estado, desde há mais de um ano, sujeito a um tremendo stress, pois não funciona de acordo com as regras internacionais de transparência e com‑pliance. Esta é uma clara desvantagem relativamente à África do Sul e às Maurícias. Para o sistema financeiro são previstas várias medidas, tais como a reavaliação dos requisitos mínimos de capital dos bancos comerciais para a melhoria dos rácios de solvabilidade e de liquidez, a revisão das taxas aduaneiras que incidem sobre um conjunto de bens de pri‑meira necessidade, ou que se demonstre serem mais consumidos pelas famílias de mais baixo rendimento e a avaliação da implementação e monitoramento.

• As apostas na diversificação e nos apoios ao sector agrícola continuam muito tímidas, sendo disso prova as dotações orçamentais. Por exemplo, no OGE 2017 o peso dos pro‑gramas respeitantes à diversificação é relativamente baixo, o mesmo se passando com a agricultura. As vantagens comparativas de Angola neste sector, face à África do Sul, Namí‑bia, Botswana, Maurícias, são imensas, mas a sua praticidade depende de investimentos públicos em infra‑estruturas e investigação.

• A indústria transformadora tem acumulado, nos dois últimos anos, crescimentos reais nega‑tivos, demonstrando‑se, assim, a incapacidade desta actividade de transformação, vital para o adensamento da malha de relações inter‑sectoriais e a criação de valor agregado

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competitivo, de superar constrangimentos estruturais relacionados com infra‑estruturas, fornecimento de energia e água, capital humano e empresarial. África do Sul, Botswana e Namíbia possuem estas capacidades em quantidade muito superior à de Angola.

• Os fluxos de Investimento Directo Estrangeiro (IDE) para Angola caíram no ano passado para menos de metade do valor de 2015, quando subiram 351,7% devido às transferên‑cias de capital das multinacionais para as filiais angolanas. De acordo com o relatório da Conferência das Nações Unidas para o Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD, na sigla em inglês) sobre as Tendências de Investimento Global, divulgado em Genebra, “os fluxos de IDE para África registaram um declínio de 5%, para 51 mil milhões de dólares” (47 mil milhões de euros), em parte devido ao baixo preço das matérias‑primas que se regista desde meados de 2014.

• O analista John Ashbourne, da consultora Capital Economics, considera que Angola é o país em África que mais probabilidades tem de enfrentar uma crise financeira como a de Moçambique, que entrou oficialmente em default. Dado o opaco e muitas vezes sigiloso Governo, é o país mais provável de lançar uma surpresa ao estilo de Moçambique, anun‑ciando que as coisas estão muito piores do que os números oficiais sugerem”, disse o ana‑lista da consultora britânica, responsável pelo departamento africano.

É neste contexto que mais um adiamento pode merecer o acordo do CEIC. No entanto, tem de se saber para quê e se efectivamente existe vontade política para se entrar para a ZLC da SADC.

No Relatório Económico de 2015, foi apresentado um amplo e profundo estudo sobre a competitividade de Angola na SADC – abarcando um período longo, desde 2004 a 2015 – ten‑do‑se então concluído que:

a) “A principal ilação refere‑se à falta de competitividade de Angola, seja qual for o indica‑dor considerado”.

b) “A despeito de várias alterações positivas conseguidas depois de finalizada a guerra civil em 2002 – estabilidade macroeconómica e controlo dos macro‑preços, ainda que este‑jam agora ameaçados pela crise do preço do petróleo – construção de infra‑estruturas económicas e sociais (mais de 93 mil milhões de dólares entre 2002 e 2014), melhoria de algumas condições sociais, etc., parece que não foram suficientes para aumentar, duma forma estrutural, a competitividade da economia nacional”.

c) “Permanecem escolhos essenciais à abertura da economia e à sua livre inserção no comércio mundial e da SADC: falta de diversificação da economia – expondo‑a demasia‑damente aos choques externos incontroláveis pela política económica interna – carência de capital humano (em todos os sectores e actividades económicas e sociais) e ausência de fornecimento de utilidades indispensáveis para o crescimento com qualidade, intensi‑dade e diversidade, como a electricidade, a água e o saneamento básico”.

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O propósito agora, e neste Relatório, é o de se aquilatar a capacidade concorrencial de Angola no mercado da Comunidade Económica dos Estados da África Central (CEEAC), utilizan‑do a mesma metodologia de avaliação comparativa da competitividade entre os países: capaci‑dade actual de crescimento, capacidade futura de crescimento (criação de produto potencial), competitividade pelos preços e pela taxa de câmbio real efectiva, investimento estrangeiro directo líquido, concentração e diversificação das exportações.

Desde logo importa frisar que se tratam de dois espaços regionais muito diferentes, assu‑mindo a SADC uma relevância muito maior em termos populacionais e económicos. Os paí‑ses da CEEAC, com excepção do Gabão, são todos países de desenvolvimento humano baixo, antevendo‑se, por este prisma, situações sociais mais problemáticas do que as verificadas na SADC107. Uma síntese dessas diferenças marcantes pode ser adiantada pelo valor do PIB por habitante: USD 2500 na CEEAC e USD 3800 na SADC.

A Comunidade Económica dos Estados da África Central engloba 11 países, maioritariamen‑te países de expressão oficial francesa. São países desta região africana subsariana: Angola, Burundi, Camarões, República Centro Africana, Chade, República Democrática do Congo, Repú‑blica do Congo, Guiné Equatorial, Gabão, Ruanda e São Tomé e Príncipe. A sua população, em finais de 2015, era de pouco mais de 174 milhões de habitantes, sendo a República Democrática do Congo o maior país desta comunidade económica, com 77,3 milhões de habitantes.

POPULAÇÃO NA CEEAC EM 2015

(Milhões) %

Angola 25,0 14,3

Burundi 11,2 6,4

Camarões 23,3 13,3

República Centro Africana 4,9 2,8

Chade 14,0 8,0

República Democrática do Congo 77,3 44,3

Congo 4,6 2,6

Guiné Equatorial 0,8 0,5

Gabão 1,7 1,0

Ruanda 11,6 6,6

São Tomé e Príncipe 0,2 0,1

CEEAC 174,6 100

Fonte: Regional Economic Outlook: Sub-Saharan Africa, Outubro de 2016.

107 Ver capítulo 6 do Relatório Económico de 2015, onde se faz uma análise das condições sociais das popu‑lações da SADC, com base em diferentes indicadores, incluindo o IDH. As Maurícias, por exemplo, nas estatísticas do Índice de Desenvolvimento Humano são um país de desenvolvimento humano elevado.

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RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2016

A sua expressão económica é muito modesta, tendo o seu Produto Interno Bruto atingido USD 442,2 milhões em 2015108.

PRODUTO INTERNO BRUTO NA CEEAC EM 2015

PIB (mil milhões) %

Angola 173,6 39,3

Burundi 7,7 1,7

Camarões 68,6 15,5

República Centro Africana 2,8 0,6

Chade 28,7 6,5

República Democrática do Congo 56,9 12,9

Congo 27,7 6,3

Guiné Equatorial 23,9 5,4

Gabão 32,5 7,3

Ruanda 19,2 4,3

São Tomé e Príncipe 0,6 0,1

CEEAC 442,2 100

Fonte: Regional Economic Outlook: Sub-Saharan Africa, Outubro de 2016.

Da tabela anterior retiram‑se várias conclusões:

a) O Produto Interno Bruto de Angola representa praticamente 40% do de toda a região, fazendo deste país o de maior dimensão económica da CEEAC. No entanto, não é o mais competitivo, conforme mais adiante se verá.

b) Os Camarões detinham, em 2015, 15,5% de toda a produção gerada na CEEAC, assumin‑do a segunda posição económica. Em terceiro lugar está a República Democrática do Congo, com 12,9% do PIB total.

c) Os três países citados detinham, naquele ano, 67,7% de toda a riqueza gerada em 2015, equivalendo a um índice de concentração de 0,54 (tomando como referência a popula‑ção).

A comparação entre a representatividade percentual do PIB e da população (uma aproxima‑ção grosseira à produtividade geral da economia, medindo a capacidade geral da população em acrescentar valor económico), permite concluir que:

108 A SADC, no mesmo ano, valorizou a sua actividade de produção doméstica em USD 1177,9 milhões. Só o PIB da África do Sul (USD 650,1 milhões) é praticamente 50% maior que o de toda a região CEEAC.

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a) A Guiné Equatorial é onde aquela relação é mais elevada (11,8).

b) Angola posiciona‑se com 2,79, enquanto o Gabão aparece com 7,55, o Congo com 2,38 e os Camarões com 1,16.

Dos países de maior expressão económica e apesar das vicissitudes conhecidas, Angola ainda é o país com as maiores taxas de crescimento do PIB, em qualquer um dos períodos con‑siderados. Mas o que se deve ressaltar é a fraca dinâmica de variação da actividade económica na CEAAC e praticamente todos os países da região (excepção para a República Democrática do Congo, o Ruanda e o Chade.

TAXAS ANUAIS MÉDIAS DE CRESCIMENTO DO PIB (%)

2004/2008 2004/2016 2004/2017

Angola 17,3 5,2 4,8

Burundi 4,4 3,1 3,0

Camarões 3,1 4,3 4,3

República Centro Africana 3,3 ‑1,1 ‑0,5

Chade 9,7 5,5 5,2

República Democrática do Congo 6,1 6,5 6,3

Congo 4,3 4,6 4,7

Guiné Equatorial 15,2 0,1 ‑0,5

Gabão 1,3 3,9 3,9

Ruanda 9 7,1 7,0

São Tomé e Príncipe 5,7 4,4 4,5

CEEAC 7,1 3,8 3,7

Fonte: Regional Economic Outlook: Sub-Saharan Africa, Outubro de 2016.

Angola perdeu muita da sua pujança de crescimento depois de 2008, conforme retratam as informações do quadro anterior e referentes ao período 2004/2008 (uma quebra de 12,5 pon‑tos percentuais quando comparada com 2004/2017). As perdas teriam sido maiores se o último período da tabela fosse 2008/2016.

Os países ganhadores foram a República Democrática do Congo, o Congo, os Camarões e o Gabão. Nitidamente perdedores estão o Burundi, o Chade, a Guiné Equatorial e a República Centro Africana.

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RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2016

TAXAS MÉDIAS ANUAIS DE CRESCIMENTO DO PIB (%)

dt35relatório economico 2016

1p · FR

-5,0

0,0

5,0

10,0

15,0

20,0

Angola

Burundi

Camarõ

es

Rep. Centro

Afr.Chad

e

Rep. Dem. C

ongoCongo

Guiné Equatoria

l

Gabão

Ruanda

S. Tomé e Prín

cipe

CEEAC

2004-2008 2004/2016 2014/2017

Fonte: Regional Economic Outlook: Sub-Saharan Africa, Outubro de 2016.

Verifica‑se, por intermédio do gráfico de radar seguinte que, em termos médios, pratica‑mente todos os países perderam ritmo de crescimento de 2004/2008 para os períodos mais recentes, constatando‑se, ainda, a coincidência entre os períodos mais recentes, significando uma estagnação dos respectivos compassos de variação real do montante de valor agregado.

TAXAS MÉDIAS ANUAIS DE CRESCIMENTO DO PIB

dt36relatório economico 2016

1p · FR

-5,00,05,0

10,015,020,0

AngolaBurundi

Camarões

Rep. Centro Afr.

Chade

Rep. Dem. CongoCongo

Guiné Equatorial

Gabão

Ruanda

S. Tomé e Príncipe

CEEAC

2004-2008 2004/2016 2014/2017

Fonte: Regional Economic Outlook: Sub-Saharan Africa, Outubro de 2016,

Os países de maior PIB por habitante são a Guiné Equatorial, o Gabão e Angola, sem que esse facto signifique os de melhores condições de vida. A excepção é o Gabão, que engloba os países de desenvolvimento humano médio, na posição 109 ao lado do Botswana.

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CEIC / UCAN

PIB PER CAPITA

USD %

Angola 6944,0 2,7

Burundi 687,5 0,3

Camarões 2944,2 1,2

República Centro Africana 571,4 0,2

Chade 2050,0 0,8

República Democrática do Congo 736,1 0,3

Congo 6021,7 2,4

Guiné Equatorial 29 875,0 11,8

Gabão 19 117,6 7,5

Ruanda 1655,2 0,7

São Tomé e Príncipe 3000,0 1,2

CEEAC 2532,6 ‑

Nota: A 2.ª coluna representa o n.º de vezes do PIBpc de cada país sobre o PIBpc médio da CEEAC.

Fonte: Regional Economic Outlook: Sub-Saharan Africa, Outubro de 2016.

O rendimento médio por cada cidadão da CEEAC foi, em 2015, de apenas USD 2533, cerca de 66,4% o valor registado, no mesmo ano, na SADC. Este indicador do poder de compra médio de cada país é uma aproximação ao valor médio e global da sua produtividade e representa, de certo modo, a sua dimensão económica média interna. Os valores da segunda coluna do qua‑dro anterior representam uma aproximação às assimetrias regionais na CEEAC, medidas apenas em termos de distanciamento relativo no rendimento médio por habitante.

ASSIMETRIAS NA CEEAC MEDIDAS PELA COMPARAÇÃO ENTRE PIB PER CAPITA

dt37relatório economico 2016

1p · FR

Angola2,7

Burundi0,3

Camarões1,2 Chade

0,8 Rep. Dem.Congo

0,3

Congo2,4

Guiné Equatorial11,8

Gabão7,5

Ruanda0,7

S.Tomée Príncipe

1,2RCA0,2

0

2

4

6

8

10

12

14

0 2 4 6 8 10 12País/média

Fonte: Regional Economic Outlook: Sub-Saharan Africa, Outubro de 2016.

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RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2016

Verifica‑se, na verdade, a existência de três zonas distintas no gráfico anterior, sinalizadoras das diferenças entre os países neste item particular. Na primeira, encontram‑se os países de mais elevado rácio PIBpc/PIBpc da CEEAC, na ocorrência a Guiné Equatorial e o Gabão. Apesar de pertencerem ao mesmo grupo, as diferenças entre si são grandes em itens como capacida‑de competitiva, estrutura produtiva interna e diversificação da estrutura económica, a favor do segundo. A Guiné Equatorial é um típico rent seeking country, onde a economia funciona apenas em função do comportamento do mercado internacional do petróleo. As duas zonas seguintes estão muito próximas, denotando não haverem grandes disparidades entre si. Ainda assim, os valores do rácio de Angola e do Congo estão próximos e acima do limite de 2. Entre os países da zona 3 – com um rácio PIB per capita/PIB per capita da CEEAC entre zero e dois – há uma comparabilidade quase perfeita no item considerado.

Olhando de outro ângulo as diferenças entre os países da amostra – a taxa de variação anual do PIB por habitante – notam‑se irregularidades, mas igualmente permanências. Atentando‑se na tabela seguinte, aparecem nítidas as diferentes velocidades na melhoria das condições de vida das populações, medidas tão‑somente através deste indicador.

Na verdade, durante o período 2004/2008, Angola e a Guiné Equatorial foram os chefes de fila dos ganhos na melhoria das condições gerais de vida dos seus cidadãos – 13,8% e 11,8%, respectivamente, em taxas médias anuais – enquanto o Gabão ocorreu uma reversão desse processo, estimada em ‑1,5%. O Chade destacou‑se, igualmente pela positiva, com uma pro‑gressão média anual de 7%.

As permanências dos dois períodos seguintes – 2004/2016 e 2004/2017 – traduzem‑se numa progressão muito tímida na melhoria das condições de vida dos cidadãos em todos os países da região. A República Centro Africana e a Guiné Equatorial rubricaram, mesmo, deterio‑ração nas condições de vida. A progressão foi positiva em Angola, mas acentuadamente longe do registo verificado em 2004/2008. A diminuição da taxa média anual de 13,8% para 1,5% só é compatível com uma deterioração das características de vivência dos angolanos, tendo havi‑do registos de decrescimentos do PIB por habitante em 2014 (‑1,5%), 2015 (‑21,2%) e 2016 (‑9,3%)109.

O PIB por habitante tem uma correlação positiva com a competitividade de cada país – maior dimensão económica interna, maior a possibilidade de se reduzirem custos de produção pelas economias de escala – e a sua cadência de variação pode ser uma aproximação de ganhos de produtividade.

109 Fundo Monetário Internacional, Angola – Consultas de 2016 ao Abrigo do Artigo IV, Fevereiro de 2017.

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CEIC / UCAN

TAXA REAL DE CRESCIMENTO DO PIB POR HABITANTE (%)

2004/2008 2004/2016 2004/2017

Angola 13,8 1,6 1,5

Burundi 2,2 1,8 1,7

Camarões 0,3 1,6 1,2

República Centro Africana 1,5 ‑3,0 ‑2,4

Chade 7,0 2,8 2,5

República Democrática do Congo 3,0 3,0 2,8

Congo 1,4 1,3 1,4

Guiné Equatorial 11,8 ‑2,7 ‑3,3

Gabão ‑1,5 1,8 1,9

Ruanda 6,8 4,4 4,3

São Tomé e Príncipe 3,0 1,7 1,7

CEEAC 4,4 1,2 1,2

Fonte: Regional Economic Outlook: Sub-Saharan Africa, Outubro de 2016

O gráfico de radar seguinte ilustra bem as diferenças de intensidades de variação do PIB por habitante em cada país e para os três períodos de tempo.

TAXAS MÉDIAS ANUAIS DE CRESCIMENTO DO PIB POR HABITANTE (%)

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-5,0

0,0

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2004-2008 2004/2016 2014/2017

AngolaBurundi

Camarões

Rep. Centro Afr.

Chade

Rep. Dem. CongoCongo

Guiné Equatorial

Ruanda

S. Tomé e Príncipe

CEEAC

Gabão

Fonte:, Regional Economic Outlook: Sub-Saharan Africa, Outubro de 2016

Outro item é o da inflação, o que de uma forma mais directa pode impactar a competitivida‑de. Na verdade, quanto mais elevado for o índice de preços, menor a capacidade concorrencial desse país no mercado internacional.

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RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2016

TAXAS MÉDIAS ANUAIS DE INFLAÇÃO

dt39relatório economico 2016

2p · Paulo

0,05,0

10,015,020,025,0

Angola

Burundi

Camarõ

es

Rep. Centro

Afr.

Chade

Rep. Dem. C

ongoCongo

Guiné Equatoria

l

Gabão

Ruanda

S. Tomé e Prín

cipe

CEEAC

2004/2008 2004/2016 2014/2017

Fonte: Regional Economic Outlook: Sub-Saharan Africa, Outubro de 2016.

Dum modo geral, Angola, por este item considerado de uma forma absoluta, é o país da CEEAC com a mais elevada taxa de inflação nos períodos de tempo considerados na análise. A República Democrática do Congo foi o país com maiores ganhos de competitividade pelos preços entre 2004/2008 e 2004/2017, com uma quebra do índice geral dos preços de mais de 10 pontos percentuais.

Igualmente pelos preços relativos, Angola detém uma posição desfavorável neste espaço de integração económica regional. Os valores da tabela seguinte foram calculados tendo como base a taxa de inflação de Angola, para cada um dos períodos de análise, e as taxas de inflação de cada um dos outros parceiros. Ou seja, a fórmula usada foi: (inflação de Angola/inflação do país i). Valores acima da unidade correspondem a situações de menor competitividade compa‑rada de Angola face aos seus parceiros. Logicamente que abaixo representam ocorrências de maior competitividade comparada de Angola.

COMPETITIVIDADE PELA INFLAÇÃO RELATIVA

2004/2008 2004/2016 2014/2017

Angola 1,0 1,0 1,0

Burundi 1,8 1,6 1,8

Camarões 7,7 5,8 6,5

República Centro Africana 6,0 3,5 3,9

Chade 13,9 7,1 7,1

República Democrática do Congo 1,4 3,2 3,7

Congo 5,4 4,3 4,7

Guiné Equatorial 4,8 3,8 4,6

continua

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CEIC / UCAN

2004/2008 2004/2016 2014/2017

Gabão 23,2 11,2 11,5

Ruanda 1,9 2,9 3,2

São Tomé e Príncipe 1,0 1,4 1,7

CEEAC 2,5 2,3 2,5

Fonte: Regional Economic Outlook: Sub-Saharan Africa, Outubro de 2016.

A situação é perfeitamente comparável à apresentada no Relatório Económico de 2015 quan‑to à SADC: também na CEEAC, Angola é desprovida de competitividade pelos preços. Sendo os preços uma espécie de sala de visitas de um país em termos da sua capacidade de concorrência internacional, o cartão de apresentação do país não pode inscrever como um dos itens da sua apresentação a inflação. O caso mais relevante refere‑se ao Gabão – diferenças de 23,2 vezes, 11,2 vezes e 11,5 vezes – não apenas devido a estas diferenças numéricas, mas sobretudo por se tratar de um país com uma estrutura económica e produtiva com outros índices de rendibi‑lidade diferentes dos de Angola.

A análise sobre a competitividade ficaria incompleta se não se considerasse a REER (Real Effective Exchange Rate), o indicador mais usado nos estudos de comparação internacional da competitividade por países.

REAL EFFECTIVE EXCHANGE RATES (REER)

2004/2008 2004/2015

Angola 179,2 254,2

Burundi 71,3 83,7

Camarões 110,1 109,1

República Centro Africana 112,4 130,2

Chade 118,6 124,4

Congo 118,4 125,1

Guiné Equatorial 118,4 125,1

Gabão 153,6 185,4

Ruanda 106,1 107,0

São Tomé e Príncipe 77 85,4

CEEAC 94,2 129,4

Fonte: Regional Economic Outlook: Sub-Saharan Africa, Outubro de 2016.

continuação

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RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2016

Deste ponto de vista, Angola – tal como acontece na SADC – é o país menos competitivo, representando a sua taxa de câmbio ponderada pela inflação local e pela inflação internacional um desincentivo para as exportações e um incentivo forte para as importações que só se con‑seguem controlar por medidas administrativas, como o agravamento das tarifas aduaneiras.

Duma maneira geral, todos os países da CEEAC são incompetitivos no mercado internacio‑nal, ressalvando‑se a pequena economia burundesa e a não menos pouco representativa neste espaço regional economia são‑tomense.

Os dois gráficos seguintes expressam‑no de forma eloquente.

O ESTADO DA COMPETITIVIDADE (PELA REER) NA CEEAC

dt40relatório economico 2016

1p · FR

050

100150200250300

Angola

Burundi

Camarõ

es

Rep. Centro

Afr.

Chade

Congo

Guiné Equatoria

l

Gabão

Ruanda

S. Tomé e Prín

cipe

CEEAC

2004/2008 2004/2015

Fonte: Regional Economic Outlook: Sub-Saharan Africa, Outubro de 2016.

COMPETITIVIDADE NA CEEAC

dt41relatório economico 2016

1p · FR

050

100150200250300

2004/2008 2004/2015

AngolaBurundi

Camarões

Rep. Centro Afr.

Chade

CongoGuiné Equatorial

Ruanda

S. Tomé e Príncipe

CEEAC

Gabão

Fonte: Regional Economic Outlook: Sub-Saharan Africa, Outubro de 2016.

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CEIC / UCAN

Dum ponto de vista da dinâmica dos ganhos de competitividade pelas taxas de câmbio, verifi‑ca‑se que no período 2009/2015, Angola valorizou a taxa de câmbio do Kwanza a uma velocidade média anual de 8,4%, só comparável à de S. Tomé e Príncipe e à da República Centro Africana.

APRECIAÇÃO (‑ COMPETITIVIDADE) DEPRECIAÇÃO (+ COMPETITIVIDADE)

2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2009/2015

Angola 39,2 ‑5,7 3,1 10,7 6,4 4,2 0,8 8,4

Burundi 12,8 2,6 ‑0,6 2,8 0,1 4,1 12,9 5,0

Camarões 5,4 ‑6,4 0,2 ‑3,5 3,0 1,4 ‑2,6 ‑0,4

República Centro Africana 10,6 ‑4,7 ‑1,0 0,2 3,1 24,8 30,4 9,0

Chade 12,6 ‑7,5 ‑6,0 8,2 0,1 1,4 ‑2,1 1,0

República Democrática do Congo – – – – – – – 0,00

Congo 8,7 ‑3,0 ‑0,6 ‑2,6 7,4 ‑0,4 ‑2,8 0,9

Guiné Equatorial 14,6 1,0 5,7 ‑1,3 7,4 4,6 ‑3,9 4,0

Gabão 5,1 ‑3,8 ‑1,4 ‑2,2 1,8 4,6 ‑3,3 0,1

Ruanda 17,8 ‑2,4 ‑3,6 2,1 ‑1,5 ‑5,0 8,3 2,2

São Tomé e Príncipe 24,7 ‑2,8 11,7 5,0 9,4 7,0 0,7 8,0

Fonte: Regional Economic Outlook: Sub-Saharan Africa, Outubro de 2016.

Ou seja, aqueles países perderam competitividade durante o período em análise, prejudi‑cando a sua inserção eficaz nos mercados internacionais. Só com mais investimento e políticas comerciais agressivas e políticas cambiais ajustadas aos mercados se poderão inverter as ten‑dências de perdas sistemáticas de competitividade.

TAXA GLOBAL DE INVESTIMENTO (%)

2004/2016 2004/2017

Angola 13,2 12,9

Burundi 13,1 12,7

Camarões 20,8 20,8

República Centro Africana 12,7 13,2

Chade 28,8 28,5

República Democrática do Congo 16,2 16,2

Congo 27,9 27,8

Guiné Equatorial 47,9 45,5

Gabão 30,2 30,7

Ruanda 25,0 25,1

São Tomé e Príncipe 38,2 37,3

CEEAC 24,9 24,6

Fonte: Regional Economic Outlook: Sub-Saharan Africa, Outubro de 2016.

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RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2016

A taxa global de investimento em Angola é a segunda mais baixa da região, inferior mesmo à da CEAAC. A Guiné Equatorial é a “campeã” dos investimentos, graças ao sector petrolífero.

TAXAS ANUAIS MÉDIAS DE INVESTIMENTO

dt42relatório economico 2016

1p · FR

0,010,020,030,040,050,0

Angola

Burundi

Camarõ

es

Rep. Centro

Afr.

Chade

Rep. Dem. C

ongoCongo

Guiné Equatoria

l

Gabão

Ruanda

S. Tomé e Prín

cipe

CEEAC

2004/2016 2004/2017

Fonte: Regional Economic Outlook: Sub-Saharan Africa, Outubro de 2016.

Em termos de investimento estrangeiro líquido, a situação está reflectida na tabela seguinte.

INVESTIMENTO DIRECTO ESTRANGEIRO LÍQUIDO

2004/2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2004/2016 2004/2017

Angola ‑0,6 2,9 ‑5,5 ‑4,9 ‑8,4 ‑10,5 ‑1,8 5,6 ‑3,2 0,7 ‑2,9 ‑2,6

Burundi 0,1 0 0 0,2 0 2,6 2,4 1,6 1,7 1,9 1,0 1,1

Camarões 1,8 2,1 1,8 1,8 3,1 2,9 2,9 2,1 1,8 1,6 2,3 2,2

República Centro Africana 3,3 2,1 3,1 1,7 3,2 0,1 0,1 0,3 1,6 1,8 1,7 1,7

Chade 3,5 2,7 2 1,5 3,4 2,8 ‑3,4 4,3 4,5 3,8 2,4 2,5

República Democrática do Congo 5,3 ‑1,5 13,3 6,5 10,5 5,2 4,2 3 1,7 1,9 5,4 5,0

Congo 22,8 20,2 18,2 21,1 ‑2,1 18,7 19,6 10,6 10,8 12 15,5 15,2

Guiné Equatorial 7,9 ‑6,5 ‑4,2 ‑2,2 ‑4,4 ‑3,3 ‑1,5 ‑1,7 ‑0,5 ‑2,6 ‑1,8 ‑1,9

Gabão 4,2 5,2 3,5 4,0 3,6 4,4 5,6 4,4 5,1 5,0 4,4 4,5

Ruanda 1,2 2,2 1,4 1,9 1,2 0,8 0,5 0,3 0,5 0,7 1,1 1,1

São Tomé e Príncipe 16,6 7,6 24,2 12,4 8,3 1,5 5,6 6,3 1,2 2,6 9,3 8,6

CEEAC 6,0 3,4 5,3 4,0 1,7 2,3 3,1 3,3 2,3 2,7 3,5 3,4

Fonte: Regional Economic Outlook: Sub-Saharan Africa, Outubro de 2016.

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CEIC / UCAN

Neste espaço de integração económica regional, Angola e a Guiné Equatorial são os países menos confiantes para o investimento estrangeiro directo. São, na verdade, os únicos paten‑teando uma taxa de investimento líquido estrangeiro negativa, significando uma saída de capi‑tais maior do que as entradas, que foram essencialmente do sector petrolífero, em qualquer um daqueles dois países. Quebra da dinâmica de crescimento, relativa instabilidade política – quan‑do um governante detém o poder de governação e de comando por tanto tempo, os receios (as expectativas de ocorrência de instabilidade aquando da transição para um novo Presidente) – corrupção, ambientes de negócios poluídos e inquinados por excessiva burocracia, falta de infra‑estruturas e a sua baixa eficiência económica, podem ser algumas das razões para estas saídas líquidas de capitais.

A vizinha República do Congo é o país aparentemente mais apetecido pelo investimento directo estrangeiro, com uma taxa de saldo positiva nos dois períodos de tempo considerados. Mas deve, no entanto, dizer‑se que tais balanços são muito influenciados pelos investimentos franceses, que normalmente dominam as economias das suas ex‑colónias e acabam por ser uma das formas de ressarcimento da ajuda ao desenvolvimento prestada pela França.

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RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2016

6. POBREZA, DESIGUALDADE E DESENVOLVIMENTO HUMANO

6.1 Introdução

O Papa Francisco recentemente escreveu no Twitter do Romano Pontífice que a “desigual‑dade é a raiz do mal social”, significando que a desigualdade é um problema e que é preciso fazer alguma coisa para o solucionar. Se o capitalismo é a exploração do homem pelo homem (as propostas de Bento XVI na Encíclica “Verdade na Caridade” sobre as modificações que deve‑riam ser introduzidas no paradigma de funcionamento das economias de mercado merecem reflexão dos Prémios Nobel da Economia) e o colectivismo representa, no essencial, uma perda de liberdade e de dignidade da pessoa, tem de haver uma solução económica, para além da boa vontade de indivíduos e de instituições. Se as desigualdades são originadas pelo funcionamen‑to dos sistemas económicos, então tem de ser aqui dentro que a solução deve ser encontrada. E é neste ponto que se consensualiza a intervenção do Estado enquanto promotor e guardião da estabilidade e justiça social.

Os gravíssimos problemas das assimetrias da repartição do rendimento no mundo podem ser ilustrados pela intervenção de Christine Lagarde, directora‑geral do Fundo Monetário Inter‑nacional, numa conferência realizada em Junho de 2014 em Londres pelo Financial Times e a Inclusive Capitalism Initiative, especialmente dedicada ao tema do capitalismo inclusivo. Tendo começado por recordar que os níveis de desigualdade nos Estados Unidos tinham atingido os da Grande Depressão e que no Reino Unido, França e Alemanha os índices de desigualdade tinham voltado aos valores de um século atrás, afirmou que “as oitenta e cinco pessoas mais ricas do mundo, que cabem num só autocarro de dois pisos de Londres, controlam o mesmo montante de riqueza que a metade da população global, ou seja, 3,5 mil milhões de pessoas”.

Mais recentemente (Janeiro 2017) e através do Relatório da Oxfram (uma ONG britânica preocupada com os problemas das desigualdades no mundo) divulgou uma estatística arre‑piante: 8 indivíduos dispuseram, em 2016, de um acumulado de activos de 400 mil milhões de dólares, o mesmo que o rendimento de metade da população mundial (cerca de 3,5 mil milhões de pessoas). O sistema capitalista mundial e a globalização não têm sido capazes de, ao nível global da humanidade, reduzir as assimetrias na distribuição do rendimento. Todos os países – incluindo a China e mesmo a Coreia do Norte – são hoje economias de mercado e reproduzem internamente os vícios, insuficiências e disparidades do modo de produção capitalista. Quanto mais abertas as economias e mais participantes da globalização, aparentemente mais desiguais

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CEIC / UCAN

se tornam em matéria de redistribuição do rendimento. Angola não foge a esta “maldição”, embora a pobreza de que enferma também tenha outras razões e argumentos.

A desigualdade tem três vertentes: a expressa pela riqueza, a visualizada pelo rendimento e a revelada pelo consumo. Luís Cabral (“Imposto sobre o Consumo”, caderno de Economia, Semanário Expresso de 21 de Junho de 2014; é economista e Professor da Universidade de Nova Iorque) defende que, dum ponto de vista do bem‑estar social “o mais importante é a desi‑gualdade do consumo entre o cidadão médio e os escalões mais elevados da pirâmide socioe‑conómica”. O que deve então ser tributado? O rendimento? A riqueza? O consumo? Ou os bens de luxo? Qual das vias é a mais justa e equitativa e a que menos mossa provoca no sistema geral de relações económicas e de incentivos ao investimento? Por exemplo, Thomas Piketty é a favor da tributação fortemente progressiva sobre a riqueza, em contraste com as correntes fiscais mais conservadoras que preferem a incidência fiscal sobre os rendimentos, resguardando o que, no seu entender, pode ser uma fonte de poupança e de investimento.

Sem dúvida que o recente livro de Thomas Piketty, O Capital no Século XXI (2015) veio agi‑tar o já de si muito revolto mar das desigualdades económicas e sociais no mundo e dentro de cada país. Joseph Stiglitz no final de 2012 (The Price of Inequality) lançou também muitas achas para a fogueira da discussão do cada vez maior peso das fortunas e das riquezas individuais no produto interno bruto. Mia Couto, nas suas colunas de intervenção na revista África 21, alerta para o facto de que o drama dos países subdesenvolvidos é criarem ricos em vez de riqueza. Em Angola, são manifestamente insuficientes declarações bombásticas, mas vazias de sentido económico e ocas de vontade política, como “crescer mais para distribuir melhor” (não é abso‑lutamente necessário que a economia cresça mais para se distribuir melhor; provavelmente o mais importante é redistribuir já o que a economia e a sociedade acumularam).

Quer Stiglitz, quer Piketty entendem que a melhor forma de proceder à redistribuição do excesso de acumulação e de riqueza é a via fiscal, por intermédio de impostos fortemente pro‑gressivos sobre os rendimentos acima de níveis considerados decentes e não pornográficos. Impostos progressivos sobre as riquezas nacionais e um imposto global sobre o mesmo agrega‑do para evitar transferências de activos financeiros de um país para outro é a tese essencial de Piketty para se reduzirem as desigualdades de rendimento ao nível planetário. Evidentemente que, do estrito ponto de vista económico, uma excessiva progressividade dos impostos sobre rendimento e riqueza pode engendrar determinados efeitos perversos, como fuga de capitais, evasão fiscal, custo de oportunidade do trabalho e do dinheiro, etc.

Outras propostas de intervenção para se corrigirem os excessos de concentração do rendi‑mento e da riqueza, tendentes a evitar ou a reduzir os impactos económicos negativos da pro‑gressividade fiscal, passam pela tributação do consumo. As mesmas baseiam‑se na presunção de que mais acentuada do que a desigualdade do rendimento é a desigualdade do consumo. Luís Cabral (artigo já citado) é um defensor do imposto sobre o consumo, e dá como exemplo diversas comparações entre riqueza e consumo de alguns bens de luxo: “Warren Buffett possui

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RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2016

uma riqueza de mais de 50 mil milhões de dólares, mas a sua habitação vale cerca de 350 mil dólares, Mukesh Ambani, o empresário indiano, vive numa mansão servida por 600 pessoas e avaliada em mil milhões de dólares, o milionário russo Roman Abramovich tem um iate que custou mais de 300 milhões de dólares e o empresário inglês dono das lojas BHS gastou na sua festa de anos 20 milhões de dólares”. O que deve então ser tributado? O próprio Buffett pro‑põe que se aumente a taxa do imposto sobre o rendimento como forma de atingir a riqueza, já que aparentemente, este tipo de incidência não afecta o investimento. Para Luís Cabral, a tributação sobre o consumo tem vantagens sobre a incidente sobre o rendimento, nomeada‑mente em termos de eficiência económica: a partir dum certo limite de imposto, cortam‑se seriamente os incentivos para a criação de riqueza. Este inconveniente não ocorre se a tribu‑tação incidir sobre o consumo, onde se podem ter taxas marginais de 100%: quem quiser dar uma festa de aniversário, casamento, baptizado, comemoração de bodas de prata, ouro ou diamante, etc., de 20 milhões de dólares pode fazê‑lo desde que pague um imposto de valor equivalente. Parece uma boa sugestão para alguma reforma tributária pretendente a diminuir excesso de dependência de tributação sobre a exploração de recursos naturais. A festa de casa‑mento da filha do Presidente da Nigéria, que teve a originalidade de se ofertarem aos milha‑res de convidados I‑Pad revestidos a ouro, pode ser um exemplo de algumas das vantagens da tributação sobre o consumo. Em Angola também se organizam festas de aniversário de alguns milhões de dólares.

6.2 A pobreza em Angola

Uma das medidas gerais de desenvolvimento social é dada pelo valor do PIB por habitante, ainda que insuficiente para medir as desigualdades na distribuição dos frutos do crescimento económico (desde há cerca de 25 anos que o Índice de Desenvolvimento Humano substituiu, sem o destronar, o rendimento médio pessoal, enquanto indicador mais abrangente e capaz de ilustrar alguns casos de desigualdade, sendo o mais usado a diferença entre os rankings do IDH e do PIB por habitante sinalizando em quanto o crescimento é ou não é transformado em desenvolvimento).

Em termos lineares, quanto mais baixo o valor do PIB por habitante, maior a percentagem de cidadãos sem acesso às condições mínimas de dignidade humana. Quando este valor baixo é complementado por evidências de desigual e injusta repartição do rendimento nacional (distri‑buição primária e secundária), então o índice de pobreza será mais elevado. O candidato oficial do MPLA a Presidente da República reconheceu, no comício da sua apresentação à população do município de Viana, que “mais da metade dos angolanos ainda vive em situação de extrema pobreza”110 (menos de USD 1,25 segundo a classificação de rendimento dos organismos inter‑nacionais para este fenómeno), valendo por dizer que afinal a taxa de pobreza de 2008/2009

110 Semanário Nova Gazeta, 30 de Março de 2017.

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CEIC / UCAN

determinada através dos resultados do IBEP em 36,6% está desenquadrada da realidade actual, o que é absolutamente compreensível e aceitável, num contexto de degradação sistemática do poder de compra dos rendimentos mais baixos e de crescimento económico quase nulo111.

Esta variável (PIB por habitante), simultaneamente económica (mede em última instância a dimensão económica do mercado interno) e social (capacidade de acesso a bens materiais e imateriais), apresenta a evolução seguinte em Angola.

COMPORTAMENTO DO PIB POR HABITANTE

dt43relatório economico 2016

1p · FR

-2000

-1000

0

1000

2000

3000

4000

5000

6000

Incrementos anuais PIB per capita (USD)

2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017

Fonte: CEIC, Ficheiro “Estudos do PIB por habitante” com base em dados oficiais e do FMI.

O valor do PIB por habitante em 2016 foi de USD 3497,7 e a tendência, depois de 2011, é sempre decrescente, como, de resto, os incrementos anuais o expressam, com episódios de variações negativas em 2014, 2015 e 2016. Tudo o resto mantendo‑se constante, seguramente

111 Afirmou ainda que é pela via da criação de emprego que a taxa de pobreza pode ser reduzida e, assim, alargar a dimensão da classe média. Não existem evidências empíricas definitivas quanto à relação entre emprego e pobreza, não sendo, portanto, claros os mecanismos através dos quais mais emprego equivale a menos pobreza. Do ponto de vista da Ciência Económica, a relação entre emprego e crescimento económico está estudada, no sentido de que sem crescimento económico não há cria‑ção de novos postos de trabalho, mas pode inclusivamente ocorrer crescimento económico com dimi‑nuição de emprego, bastando verificar a influência dos processos de produção capital/tecnologia intensivos. Por outro lado, o que pode, na verdade, reduzir a pobreza é o bom emprego, bem remune‑rado e ao qual corresponde uma produtividade elevada e também políticas de inclusão social, muito caras em termos orçamentais, mas com enormes impactos a médio prazo sobre a redução das desi‑gualdades, humanamente imorais. Segundo as Contas Nacionais de 2012 – no item do emprego ainda não estão actualizadas para 2013, 2014 e 2015 – o salário médio nacional era de AKZ 37000, insu‑ficiente para tirar da pobreza a maior parte dos cidadãos que se encontram nessa situação. É muito difícil e arriscado basear as políticas de redução da pobreza apenas no emprego. O Ministério da Eco‑nomia fez saber (Semanário Expansão de 17 de Março de 2017) que é bastante elevada a taxa de mor‑talidade das empresas em Angola: por cada 100 criadas, apenas sobrevivem 30.

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que o índice de pobreza aumentou e mesmo o valor do IDH deveria ter reflectido esta deterio‑ração no índice de rendimento. Mas tal não aconteceu no Relatório do Desenvolvimento Huma‑no de 2015, tal como se perceberá no parágrafo seguinte. As estatísticas internacionais usam o PIB por habitante em paridade do poder de compra112, sendo talvez por isso que o IDH de Angola tenha melhorado ligeiramente de 2014 para 2015, sem que isso signifique uma real e efectiva alteração das condições de vida da população.

Com prestações económicas tão reduzidas, tanto em termos de PIB, quanto de PIB por habi‑tante, não são de prever melhorias nas condições de vida da população, sendo, portanto, natu‑ral que a taxa de pobreza tenha aumentado.

A partir do segundo semestre de 2014, a capacidade de crescimento do sistema económico perdeu dinâmica de uma forma acentuada, tendência inserida num ciclo que o CEIC conside‑ra de “desaceleração estrutural da economia nacional”, iniciado no final de 2009 e como uma das consequências da crise financeira e económica internacional conhecida como subprime. As taxas de crescimento do PIB entre 2014 e 2016 configuram uma variação real média anual de apenas 0,756%113 cerca de 3 pontos percentuais a menos do que a taxa de crescimento da população.

Alguns dos Relatórios oficiais apresentam realizações em alguns sectores tipicamente sociais. Aliás muitas acções e políticas e alguns investimentos entre 2013 e 2016, mas aparen‑temente sem consequências económicas visíveis, nem sobre o valor do rendimento médio por cidadão, nem sobre a melhoria na redistribuição do rendimento (os rendimentos do trabalho continuam a representar apenas 27% do PIB) nem, por último, sobre a capacidade de cres‑cimento da economia. De acordo com alguns Relatórios oficiais, foram criados, entre 2013 e 2016, 894 805 novos postos de trabalho, sem que daí resultasse uma melhoria na participação percentual das suas remunerações do Produto Interno Bruto. Quase um milhão de novos pos‑tos de trabalho é muito emprego gerado (93% no chamado sector real da economia) para muito pouco crescimento económico (em termos médios anuais, a produção variou apenas 1,3% nesse mesmo período). Uma leitura imediata remete para ganhos de produtividade negativos durante esse quadriénio, com as consequências já suficientemente conhecidas sobre a compe‑titividade. Só em 2016, e ainda de acordo com informações oficiais, 152 199 novos empregos

112 O Relatório do IDH de 2015 apresenta um rendimento nacional bruto por pessoa de USD 6291 em paridade do poder de compra, enquanto o PIB por habitante sem esta correcção foi de USD 3888,9. A teoria da paridade do poder de compra propõe que a taxa de câmbio entre duas moedas se encon‑tra em equilíbrio quando o poder de compra das moedas é equivalente ao da taxa de câmbio. Assim, por exemplo, a taxa de câmbio oficial de 1 USD é de cerca de AKZ 200, significando que as duas moe‑das estariam em equilíbrio se um dólar comprasse nos Estados Unidos a mesma quantidade de bens que AKZ 200 em Angola. Ou seja, AKZ 200 compram tantos bens nos Estados Unidos quanto um dólar, logo uma paridade internacional do kwanza é elevada.113 Se por qualquer motivo esta taxa tendencial se mantivesse, seriam necessários cerca de 90 anos para que o PIB por habitante fosse duplicado.

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foram disponibilizados para a força de trabalho nacional, ainda assim, uma tremenda quebra de ‑53,6% face a 2014 (o peso, afinal da crise económica, financeira e social para onde o país foi arrastado). Nos sectores sociais e para o mesmo período foram disponibilizados tão‑somente 62634 novos empregos foram disponibilizados. Este assunto do emprego será retomado e tra‑tado de um modo mais apropriado no capítulo 7 deste Relatório.

A metodologia que o CEIC usa para estimar a taxa de pobreza relaciona‑a com o crescimento económico (sua taxa de variação real e na presunção de que sem economia não há o social), a taxa de crescimento (ou decrescimento) do rendimento nacional bruto por habitante114 e um coeficiente (de valor negativo que expressa a elasticidade pobreza‑rendimento e que pode ser considerado como um proxy do modelo de redistribuição do rendimento).

As estimativas para a taxa de pobreza estão apresentadas na tabela seguinte.

2012 2013 2014 2015 2016

Taxa de pobreza (%) 38,6 37,2 36,5 37,4 40,1

Taxa crescimento PIB per capita (%) 1,9 3,5 1,6 ‑2,2 ‑6,6

Fonte: CEIC, Ficheiro “Cenários de redução da pobreza”, com base em informações oficiais.

Com crescimento reduzido a taxa de pobreza tem tendência para aumentar, sendo essa a razão do seu valor de 36,5 % em 2014, ou seja, como a taxa de variação do PIB foi de 4,8% (bem acima da registada em 2015 e 2016) então é natural que a taxa de pobreza tenha diminuído, admitindo‑se melhorias nos mecanismos e esquemas de redistribuição do rendimento nacio‑nal. No entanto, a sustentabilidade deste processo só será possível com medidas específicas de reafectação de parte do rendimento nacional às classes sociais mais desfavorecidas, o que terá de ser comprovado por investigação adicional.

Ainda em relação à tabela anterior e devido à quebra do PIB por habitante e da sua taxa de variação anual, a taxa de pobreza para 2016 pode ser estimada em 40,1%, um aumento de quase 4 pontos percentuais relativamente a 2014.

Considerações sobre a taxa de pobreza do IBEP (2008/2009) de 36,6% (parece que este Inquérito já está a ser objecto de actualização proximamente):

a) Para que tivesse sido registada em 2009 e aplicando a metodologia do CEIC, a taxa de crescimento do PIB deveria ter sido de 9,5% e na realidade foi de apenas 2,1% (Contas Nacionais).

114 Em 2015 a taxa de variação do rendimento nacional por habitante foi de – 2,2% e em 2016 de ‑3%, num acumulado aritmético de ‑5,2%.

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b) No mesmo sentido, a elasticidade pobreza‑rendimento teria de ser igual a ‑1 (efeito con‑tágio perfeito).

c) A sua verificação exigiria que a taxa média de crescimento do PIB por habitante tivesse sido de 6,4%, quando afinal foi negativa e de ‑28,5%.

d) Finalmente, mantendo a taxa de crescimento do PIB verificada em 2009 (2,1%) e conside‑rando um efeito contágio perfeito, a taxa de crescimento da população deveria ter sido de ‑4% (na realidade em redor de 3%).

O Plano Nacional de Desenvolvimento 2013‑2017 (o respectivo Relatório de execução deve estar a ser elaborado, esperando‑se pela sua apresentação e discussão pública, já que se trata de um documento de política económica, social e institucional que afectou todos os cidadãos e cidadãs, havendo, por conseguinte, direito a saber‑se como foram gastos os impostos pagos pelos contribuintes, como se aplicaram os empréstimos contraídos pelo Estado e que vão hipo‑tecar uma parte do futuro do país e como foram executadas as despesas públicas no cumpri‑mento das funções orçamentais de alocação, redistribuição e estabilidade macroeconómica. Este Plano previa que, em 2017, a taxa de pobreza no país deveria estar em 28%, o que terá de ser comprovado pelo novo IBEP. No entanto, é fácil fazer cálculos sobre as variáveis que a con‑dicionam. Assim, para que em 2017 se pudesse ter uma taxa de pobreza de 28% (página 40 do Plano Nacional de Desenvolvimento 2013‑2017) seria necessário que:

a) A taxa de crescimento médio anual do PIB entre 2014 e 2017 teria de ser de 11%115.

b) A elasticidade pobreza‑rendimento se situasse em ‑1,85% simbolizando uma considerável melhoria nos sistemas de redistribuição do rendimento. Uma elasticidade rendimento‑‑pobreza de ‑1,85 pressupõe canais de transmissão de efeitos do crescimento económico abertos e politicamente desbloqueados.

c) O processo de acumulação primitiva de capital ou teria de cessar nos moldes pouco trans‑parentes, corruptivos, injustos, desequilibradores e assimétricos que o têm caracterizado ou então ser substituído por um outro mais inclusivo e mais centrado no emprego, nas remunerações do trabalho e no incremento da produtividade.

d) O crescimento económico é um factor essencial para a redução da pobreza, mas também o é a alteração do modelo de concentração do rendimento e da riqueza vigente.

Em termos previsionais, é possível projectar, na base da mesma metodologia, o comporta‑mento da taxa de pobreza até 2021, como se apresenta na tabela seguinte.

115 Entre 2014 e 2016 foi de 0,7556 % e de 0,865%, adicionando a previsão para 2017.

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2017 2018 2019 2020 2021

Taxa de pobreza (%) 41,0 41,7 42,5 43,3 44,1

Taxa crescimento PIB per capita (%) ‑1,8 ‑1,6 ‑1,7 ‑1,6 ‑1,6

Fonte: CEIC, Ficheiro “Cenários de redução da pobreza”, com base em informações oficiais.

Se nada ou pouco de substantivo for feito contra a corrupção, o tráfico de influências, o desvio de fundos dos bancos públicos (directamente ou por intermédio da inadimplência fraudulenta ou politicamente coberta) e má aplicação de fundos públicos nas áreas sociais (é conhecida a falta de eficiência das despesas públicas em alguns sectores sociais, com destaque para a saúde), e a favor do crescimento económico sustentável e inclusivo, então o consulado político do novo presidente da República pode encerrar o seu ciclo com uma taxa de pobreza de mais de quase 45%.

6.3 Desigualdade de rendimentos e de riqueza e o índice de desenvolvimento humano

O Africa Progress Panel de 2013116, presidido pelo antigo Secretário‑geral das Nações Uni‑das, Kofi Annan, refere que Angola é o país africano que “ilustra da forma mais poderosa a divergência entre riqueza de recursos naturais e bem‑estar social”, sendo o país que detém um dos padrões mais desiguais de distribuição do rendimento. Acrescenta‑se que “a actividade das empresas do Estado se esconde atrás de um sistema financeiro opaco que não cumpre regras mínimas de transparência e beneficia figuras públicas ou políticas”. Confirma‑se, assim, por um lado, que os problemas do sistema financeiro angolano, internacionalmente denunciados, foram afinal identificados e reconhecidos desde há algum tempo e, por outro, está configurado para servir uma pequena elite política ligada ao poder. Talvez se compreenda agora melhor a preocupação do actual Governador do BNA, publicamente manifestada algumas vezes, de reor‑ganizar o sistema bancário para o colocar também ao serviço do povo e da estratégia de comba‑te à pobreza. Mas os interesses da elite são tantos e tão poderosos que semelhante desiderato dificilmente será atingido.

O modelo de difusão social do crescimento económico que tem sido aplicado revelou‑se errado (a renda petrolífera serviu para que fosse criada uma faixa muito reduzida de popula‑ção excepcionalmente rica, usando‑se a Sonangol e o OGE como instrumentos privilegiados) e insuficiente. Melhorar a distribuição do rendimento nacional apenas pela via do emprego – cuja criação nem sempre atingiu as metas estabelecidas pelo Governo, estando ainda na memória de toda a gente a promessa de 1 300 000 novos postos de trabalho entre 2008 e 2012 – é cla‑ramente escasso, como o comprovam as abordagens teóricas sobre o emprego e as inúmeras evidências empíricas reveladas por estudos e pesquisas independentes.

116 Africa Progress Report, 2013.

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A questão salarial é o centro do modelo de distribuição do rendimento usando o emprego como seu suporte principal. A Organização Internacional do Trabalho é uma das grandes defen‑soras da difusão social do crescimento pela via de uma combinação inteligente entre emprego e salário, o que evidentemente é tributária da produtividade e dos seus ganhos ao longo do tempo.

Angola continua a ocupar as piores posições em todos os ranking internacionais sobre a desigualdade económica e social. Ainda não nos envergonhamos com este facto, tal é a ansie‑dade de, mesmo em crise financeira e económica, se acrescerem os pecúlios monetários e os activos imobiliários e empresariais duma muito pequena porção da população. A desproporção de rendimentos e especialmente de riqueza é abissal em Angola. O valor do Índice de Gini, os valores do Índice de Desenvolvimento Humano, o formato da Curva de Lorenz, o poverty head‑count ratio e os valores do IBEP 2008/2009 expressam‑no com meridiana clareza.

A primeira leitura interpretativa dos valores dos indicadores inseridos na tabela seguinte aponta para uma ligeira diminuição da desigualdade em Angola. Na verdade, os dois indica‑dores‑chave que ao nível macro podem dar uma aproximação do estado da desigualdade (IDH e IDH ajustado à desigualdade) melhoraram durante o período 2011‑2015 a um ritmo médio anual, respectivamente, de 0,9% e 2,45%. Sobretudo esta última cifra é a mais indicativa da melhoria na redistribuição do rendimento. Ainda assim, estas melhorias não representam, por enquanto, uma influência nas taxas de pobreza determinadas no parágrafo anterior.

No entanto, os seus valores absolutos (IDH e IDH ajustado à desigualdade) ainda não são sufi‑cientemente altos para retirar o país do grupo de desenvolvimento humano baixo e a posição relati‑va no ranking mundial continua a ser não melhor (em 2015, Angola ocupava a 150.ª posição, contra a 149.ª em 2014), porque os restantes países também aplicam políticas macro e microeconómicas de alteração das condições de repartição dos benefícios do crescimento económico. Neste grupo de países, ocupado na sua grande maioria por países africanos subsarianos, existem alguns onde as tra‑duções sociais dos ganhos do crescimento económico foram mais convincentes do que em Angola.

Outra nota de relevância é dada pela perda de lugares registada no IDH ajustado à desigual‑dade (17 em 2013 e 8 em 2015) significando uma melhoria nos mecanismos de distribuição do rendimento, mesmo num quadro geral de remunerações baixas dos factores de produção, em especial do trabalho (consequentemente da grande maioria das famílias). Também o coeficien‑te de desigualdade humana patenteia uma melhoria média de 7 pontos percentuais entre 2013 e 2015, mais um acrescento à conclusão de partida de que foram registadas ligeiras melhorias na mitigação da desigualdade em Angola.

O Relatório do Desenvolvimento Humano 2016 identifica um Coeficiente de Gini imutável desde 2013 e com um valor de 0,427. O IBEP 2008/2009, calculou o seu valor em 0,55 mas outras estimativas colocam‑no em 0,6. Quer um quer outra desses dois valores indiciam uma situação de elevada desigualdade na redistribuição do rendimento. Existem dois instrumen‑tos muito eficientes para se melhorar o Coeficiente de Gini: a política fiscal pela via de impos‑tos progressivos sobre o rendimento e de impostos sobre as fortunas, independentemente de

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como foram obtidas e os sistemas de previdência e segurança social (praticamente inexistentes no país, tal é a sua reduzidíssima influência na correcção das injustiças sociais originadas pelo diferenciado acesso ao rendimento).

As estatísticas internacionais e diversos estudos sobre esta matéria – por exemplo, a Orga‑nização Internacional do Trabalho efectua‑os com regularidade no âmbito das suas responsa‑bilidades internacionais quanto à força de trabalho – são claros quanto à eficácia daqueles dois instrumentos na melhoria das desigualdades de rendimento e fortunas. Mas igualmente eluci‑dam que este é um processo demorado e está intimamente ligado ao crescimento económico e à natureza das políticas macroeconómicas. É o caso do Japão. Em 2014 apresentou um Coe‑ficiente de Gini de 0,376 que deveria tomar o valor de 0,570 não tivessem sido as influências da Segurança Social e dos impostos progressivos. O percurso da redução das desigualdades de rendimento no Japão, desde 1967 do século passado, é deveras interessante.

CORRECÇÃO DAS DESIGUALDADES DE RENDIMENTO NO JAPÃO

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1967 1972 1975 1978 1981 1984 1987 1990 1993 1996 1999 2002 2005 2008 2011 2014

Gini sem política fiscal e segurança social Gini com impostos progressivos e segurança social

Fonte: Tomoya Asano – Política Monetária, Cambial e Fiscal no Japão após a Segunda Guerra Mundial, Seminário promovido pelo BNA, 19 de Abril de 2017.

Foram precisos quase 50 anos para se obterem ganhos efectivos e sustentáveis na melhoria da distribuição dos rendimentos e na diminuição das desigualdades económicas e sociais neste país asiático. São, na verdade, alterações onde o tempo é um factor importante, no sentido do acerto das políticas públicas e na eliminação de entraves políticos à obtenção dos melhores resultados. Apesar de o Coeficiente de Gini ter aumentado o seu valor em cerca de 14,7% de 1967 para 2014, os ganhos são evidentes e medidos pelo aumento da diferença entre os dois Coeficientes de Gini: de 0,0473 para 0,1945117.

Outro aspecto a relevar, nesta análise temporalmente longa, relaciona‑se com a constatação de que afinal o crescimento económico é ele próprio construtor de desigualdades de rendimen‑tos – o que no gráfico precedente é ilustrado pelo declive da recta de tendência que se poderia

117 Quanto mais elevada a diferença, melhor se encontra a igualdade de rendimentos.

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ajustar à linha correspondente ao Coeficiente de Gini com as medidas correctoras –, não que‑rendo significar uma rejeição do seu processo. Os mecanismos de mercado reproduzem, na atribuição dos rendimentos dos factores de produção, os vícios e as deformações – situações de monopólio, oligopólio, concertação de estratégias empresariais, etc., as conhecidas falhas de mercado que os afastam de um funcionamento próximo do óptimo de Pareto – ocorrentes na afectação dos factores de produção ao processo económico. Estes desvios e ineficiências dos mecanismos de mercado devem e podem ser corrigidos com políticas públicas incidentes sobre a repartição secundária do rendimento nacional, exactamente como o Japão operou com os impostos progressivos e a Segurança Social.

Voltando a Angola, a tabela seguinte sintetiza os indicadores recolhidos no Relatório do Desenvolvimento Humano 2016.

INDICADORES DA DESIGUALDADE EM ANGOLA

2011 2012 2013 2014 2015

Índice de Desenvolvimento Humano 0,508 0,523 0,527 0,531 0,533

IDH ajustado à desigualdade 0,278 0,285 0,295 0,335 0,336

Perda no IDH (%) 45,3 45,5 44,0 36,9 37,0

Coeficiente de Gini de rendimento 58,6 58,6 42,7 42,7 42,7

Ranking 148 148 149 149 150

Perda de lugares com ajustamento 0 11 17 8 8

Coeficiente de desigualdade humana (%) 0 0 43,6 40,1 36,6

Índice de esperança vida ajustado à desigualdade 0,267 0,264 0,268 0,271

Índice de educação ajustado à desigualdade 0,303 0,310 0,313 0,316

Índice de rendimento ajustado à desigualdade 0,278 0,286 0,313 0,379 0,445

GNI per capita PPC USD 4874 4812 5536 5914 6291

PIB per capita USD 4372 4716 4974 4917 3889

PIB per capita AKZ 326 981 410 799 450 341 480 124 483 299

Taxas de crescimento (%) 2011 2012 2013 2014 2015

IDH 3,0 0,8 0,8 0,4

IDH ajustado à desigualdade 2,5 3,5 13,6 0,3

GNI per capita ‑1,3 15,0 6,8 6,4

PIB per capita USD 7,8 5,5 ‑1,1 ‑20,9

PIB per capita AKZ 25,6 9,6 6,6 0,7

Fonte: UNDP, Relatórios de Desenvolvimento Humano, 2011, 2012, 2013, 2014 e 2015.

Contudo, esta visão geral de mitigação relativa e ligeira das desigualdades no país apresen‑ta aspectos negativos, ou seja, e igualmente numa análise meso, o factor determinante desses ganhos é o rendimento (ou seja, e afinal o crescimento económico) tal como o atesta o com‑portamento do respectivo índice. Não é estranho que isso aconteça, porque, no final do dia,

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o ponto de partida para o desenvolvimento humano é o crescimento do PIB, caldeado de polí‑ticas sociais de melhoria das condições de vida da população.

No entretanto, devem ser anotadas algumas situações de desigualdade, de reservas e dúvi‑das sobre a natureza de alguns dos indicadores anteriores. Assim:

a) A maior desigualdade regista‑se na saúde, consistente com o modelo de prestação dos respectivos serviços e a organização dos hospitais e outros centros de saúde, sempre sem medicamentos, com falta de médicos e enfermeiros e com uma postura de atendimento público prejudicial aos utentes.

b) A desigualdade na educação é também uma nota negativa que se pode retirar da inter‑pretação dos vários índices de desigualdade, não deixando de ser incompreensível face aos investimentos do Estado na educação pública e mesmo à aposta política do Governo. Não obstante, a eficácia dessas despesas de desenvolvimento do Estado não tem propi‑ciado um maior acesso à educação em condições de relativa igualdade. Parece que por razões de rendimento e a despeito da gratuitidade de alguns ramos do ensino, permane‑ce uma desigualdade estrutural no acesso a este serviço público básico para a criação de capacidade futura de crescimento económico.

c) O rendimento nacional bruto por habitante é uma medida internacionalmente usada para tornar as estatísticas comparáveis, mas que perde algum significado para se analisarem situações internas. Por isso, o PIB per capita – seja em USD, a moeda internacionalmen‑te comparável, seja em moeda nacional – pode ser o indicador mais ajustado à medição das desigualdades internas. A sua evolução temporal está explicitada na tabela anterior, donde se conclui que o primeiro regrediu 20,9% em 2015 e o segundo diminuiu signifi‑cativamente a sua intensidade de variação, com apenas 0,7% também no mesmo ano.

COMPORTAMENTO DOS ÍNDICES DE DESENVOLVIMENTO HUMANO

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Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) IDH ajustado à desigualdade

Fonte: UNDP, Relatórios de Desenvolvimento Humano, 2011, 2012, 2013, 2014 e 2015.

Em termos comparativos, Angola continua a não se aproximar dos países de médio desen‑volvimento humano, onde as políticas de inclusão são de muito maior alcance, sendo os que em termos de padrões de transparência se colocam manifestamente em posições superiores.

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COMPARAÇÕES INTERNACIONAIS EM 2015

IDH IDH ajustado IDE ajustado à desigualdade IDS ajustado à desigualdade

Noruega 0,949 0,898 0,894 0,918

África Sul 0,666 0,435 0,608 0,430

Namíbia 0,64 0,415 0,410 0,543

Cabo Verde 0,648 0,518 0,436 0,713

Botswana 0,698 0,433 0,447 0,542

Maurícias 0,781 0,669 0,629 0,758

Angola 0,533 0,336 0,316 0,271

Fonte: UNDP, Relatórios de Desenvolvimento Humano, 2011, 2012, 2013, 2014 e 2015.

Os países africanos da amostra anterior são os melhores nos três indicadores (com excepção de Angola), ainda que pertençam a grupos de desenvolvimento humano diferentes, destacan‑do‑se as Maurícias do grupo de países de desenvolvimento humano elevado. Entre si e Angola as diferenças são absolutamente significativas (pertencem ambos à SADC, embora só as Maurí‑cias façam parte da sua Zona de Livre Comércio), sendo a seu favor 46,5% no IDH, 99,1% no IDH ajustado à desigualdade, também 99,1% no IDH educação ajustado à desigualdade e 179,7% para o IDH saúde ajustado à desigualdade.

COMPARAÇÕES COM A NORUEGA

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60

80

100

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Noruega África do Sul Namíbia Cabo Verde Botswana Maurícias Angola

IDH IDH ajustado IDE ajust. desig. IDS ajust. desig.

Fonte: UNDP, Relatórios de Desenvolvimento Humano, 2011, 2012, 2013, 2014 e 2015.

O gráfico anterior mostra quão distante Angola se encontra do melhor país em desenvolvi‑mento humano, também produtor de petróleo, mas com preocupações humanas e de desen‑volvimento social igualitário, bastando para tal observar os valores dos índices de educação e saúde ajustados à desigualdade.

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De um outro ponto de vista, importa equacionar como a desigualdade se coloca no futuro, quando as perspectivas de crescimento económico estão envoltas em muitas incertezas, não apenas no domínio do comportamento do preço médio do barril de petróleo, a estabilizar‑se no intervalo USD 53‑USD 58, mas outrossim no acesso, a custos suportáveis, ao financiamen‑to internacional, face ao momento actual da economia doméstica, à fragilidade e carência de transparência do sistema financeiro nacional. Taxas de juro entre 10% e 14% podem colocar em causa a sustentabilidade da dívida pública. As finanças do Estado, em cenário de fraco cresci‑mento económico, não estão capazes de as suportar e solucionar este problema com incremen‑tos sistemáticos de dívida pública. Proceder desta maneira, só porque se insiste em cumprir com um programa de investimentos do Estado que deveria merecer uma reflexão profunda sobre a capacidade de as obras públicas gerarem retornos económicos significativos e ganhos sociais expressivos, é estar‑se a esconder um problema estrutural só resolúvel como medidas e políticas estruturais.

Os problemas da desigualdade no futuro colocam‑se assim: o que efectivamente haverá para distribuir, da renda nacional originada no crescimento económico, até 2021? E também: face a cenários prospectivos fracos sobre a dinâmica de crescimento da economia nacional, como se deverá alterar o presente modelo de redistribuição do valor do crescimento económico?

A primeira conclusão é que até 2021 (ou seja, entre 2017 e 2021), o incremento médio anual do PIB por habitante (que não é rendimento nacional como se sabe) será de tão‑somen‑te USD 240, dando‑se bem conta das dificuldades para se melhorarem as condições de vida da grande maioria da população. Com toda a probabilidade, nem uma modificação dos esquemas políticos e partidários de acesso privilegiado e desigual ao rendimento nacional, iria provocar um impacto significativo sobre o modo de vida médio da população. USD 240 de rendimento incremental para redistribuir é nada. O gráfico dinâmico ilustrativo desta situação é o seguinte.

O QUE HÁ PARA DISTRIBUIR (OUTRA VISÃO)

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Incremento anual do PIB (USD) Incrementos médios anuais (USD)

Fonte: CEIC, Ficheiro “Estudos do PIB por habitante” com base em dados oficiais e do FMI.

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Outra forma de se analisar esta mesma questão é por intermédio da taxa de crescimento do PIB por habitante.

O QUE HÁ PARA DISTRIBUIR ATÉ 2021

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Taxa crescimento PIB per capita Linhas tendenciais crescimento PIB per capita (%)

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Fonte: CEIC, Ficheiro “Estudos do PIB por habitante” com base em dados oficiais e do FMI.

A linha tendencial de crescimento do PIB por habitante expõe as dificuldades de se melhora‑rem os padrões de vida da população – a sua curva é claramente descendente até 2021.

Algumas observações adicionais:

a) O que haverá para distribuir até 2021 é claramente irrisório. Só um safanão na estrutu‑ra económica do país – diversificação das exportações, salários condignos e capazes de gerarem poupanças das famílias, abertura da economia, valorização do capital humano, incremento da competitividade, melhoria dos ambientes de negócios – será capaz de provocar alterações significativas neste cenário de degradação sistemática do viver quo‑tidiano dos cidadãos.

b) Como se afirmou já, o crescimento do PIB é fundamental, mas não suficiente. O modelo de acumulação primitiva do capital, doutrina oficial do MPLA, deve cessar nos seus con‑tornos actuais e ser substituído por outro mais socialmente inclusivo e economicamente gerador de externalidades potenciadoras dos índices de eficiência da economia.

c) Menos suficiente será a taxa de crescimento do PIB quando, como é o caso, a sua cadên‑cia média anual de variação, entre 2017 e 2021, não ultrapassará 1,4%. Ainda que anual‑mente o PIB por habitante se incremente em USD 240 – irrisório face às necessidades de consumo e investimento – o crescimento do PIB a uma taxa inferior a 1,5% ao ano não é bastante para se alterarem as actuais condições de reprodução do sistema económico. Tender‑se‑á para um modelo de reprodução simples.

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d) É bom lembrar que a taxa média anual de 1,4% incorpora já o sector não petrolífero, donde as folgas para se melhorarem as condições de vida da maior parte da população são menores. E não vai ser possível regressar aos crescimentos médios anuais de 12,5%, da “mini‑idade de ouro” de crescimento da economia angolana, por razões sobejamen‑te conhecidas e constantes de relatórios do Governo e das mais relevantes instituições internacionais ligadas aos problemas do desenvolvimento.

e) O ritmo de crescimento da população, estimado, pelo INE, em 3,1%118, é uma variável determinante da melhoria das condições de vida da população. No capítulo seguinte – “Emprego e produtividade” – são tecidas considerações sobre as limitações de se defi‑nir e aplicar uma política demográfica com maior incidência sobre os modos de vida da população.

f) A grande oportunidade de se distribuir melhor os resultados do crescimento económico ocorreu entre 2003 e 2008, mas perdeu‑se a favor da doutrina oficial de, através do rent‑ ‑seeking, se concentrar, em grupos económicos do regime do MPLA, o essencial da acu‑mulação de capital.

Conjugando todas as observações anteriores e recorrendo ao modelo de Solow simplifica‑do, a economia angolana pode estar já no seu estado estacionário.

A PROBABILIDADE DO ESTADO ESTACIONÁRIO

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Taxa crescimento da população Taxa crescimento PIB

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Fonte: CEIC, Ficheiro “Estudos do PIB por habitante” com base em dados oficiais e do FMI.

118 INE, Nota Informativa – Dados da Projecção da População de Angola, População de Angola em 2017, 18 de Janeiro de 2017.

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7. EMPREGO E PRODUTIVIDADE

7.1 Introdução

A população tem sido, por norma, avaliada enquanto um factor decisivo de desenvolvimen‑to das economias, não apenas enquanto suporte básico do crescimento do consumo, como e principalmente no seu papel de factor de evolução tecnológica e cultural das sociedades.

O capital humano é hoje reconhecidamente o elemento decisivo da evolução económica, verificando‑se uma relativa desvalorização dos recursos naturais. O capital humano é um con‑ceito vasto que engloba as capacidades de um indivíduo susceptíveis de contribuírem para a sua eficácia produtiva, como o nível de educação, a qualidade da saúde e do bem‑estar, as capacidades físicas, a experiência pessoal e a inteligência. Quando as sociedades conseguem um nível crítico de capital humano estarão a partir daí, em condições de, além da produção de bens e serviços de qualidade, começarem a produzir saber e conhecimento. Parece que a par‑tir deste limiar o desenvolvimento económico e o progresso social serão imparáveis, sobretudo porque:

a) A produção de saber pode ter rendimentos à escala crescentes, porquanto se realiza à custa de saber já acumulado; o custo do desenvolvimento do saber dos indivíduos é tanto mais pequeno quanto maior for o volume de conhecimentos acumulados (lei do decres‑cimento dos custos marginais).

b) A produtividade dos investimentos na educação dos jovens e na formação dos trabalha‑dores é tanto mais elevada quanto maior o nível de capital humano do país.

c) A produção de saber cria externalidades: as capacidades, os conhecimentos e a inteligên‑cia desenvolvem‑se mais facilmente quando uma proporção crescente da população tiver um nível elevado de capital humano.

Todavia, a importante questão que se coloca é: a população é um factor de desenvolvimento ou um entrave ao progresso da humanidade? Jeffrey Sachs119 entende que o número de habi‑tantes no planeta continua a crescer em grande escala e, sobretudo, nas regiões que menos condições apresentam para garantir saúde, educação, estabilidade e prosperidade aos cida‑dãos. Os receios deste economista americano residem na escassez de recursos, na pressão do

119 Jeffrey Sachs – Common Wealth, Casa das Letras, 2008.

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crescimento populacional sobre ecossistemas cada vez mais frágeis (em particular nas regiões mais pobres do planeta), no aumento da pobreza e na ameaça da estabilidade política global. Concluiu que o mundo devia adoptar um conjunto de políticas para ajudar a estabilizar a popu‑lação global, vendo‑se na China um exemplo a seguir.

O crescimento populacional obedece a determinadas regras que, aparentemente, são difí‑ceis de reverter. Os demógrafos apontam três regimes de crescimento da população. A fase arcaica, em que elevadas taxas de natalidade coexistem com altas taxas de mortalidade, a fase moderna, em que ocorre o contrário, isto é, coincidência entre baixas taxas de natalidade e fra‑cas taxas de mortalidade e uma fase de transição, onde elevadas taxas de natalidade se perfi‑lam ao lado de baixas taxas de mortalidade. Praticamente, não existem países a viver o primeiro estádio de desenvolvimento demográfico, enquanto todos os países desenvolvidos se encon‑tram na segunda etapa, começando a ter problemas colossais com a reprodução dos seus sis‑temas de previdência social.

O crescimento demográfico em África tem sido considerado como um dos obstáculos ao desenvolvimento económico, justamente porque o continente africano é o último espaço regio‑nal no mundo a viver a fase aguda da crise da transição dum regime demográfico arcaico, para um regime demográfico moderno, no sentido dado anteriormente.

A corrente demográfica identificada como “os pessimistas populacionais” acredita numa catástrofe do planeta, pela via do excessivo crescimento demográfico, particularmente no que concerne aos serviços fornecidos pelos ecossistemas, como água doce, habitats, recolha de plantas e de animais. Os “optimistas populacionais” têm uma fé inabalável e incomensurável no desenvolvimento tecnológico, apresentando‑o como o exemplo mais acabado da não verifica‑ção das teses de Malthus. Finalmente, os defensores da “aceleração da transição demográfica”, ou seja, a aplicação de políticas demográficas e económicas tendentes a promover o equilíbrio demográfico ao nível dos países e do planeta, como um meio para se acelerar o progresso das pessoas e a melhoria das suas condições de vida120.

As consequências de crescimentos demográficos incontroláveis são desastrosas: diminuição da subsistência alimentar, a despeito duma percentagem elevada da população se dedicar à agricultura, em particular nos casos em que a taxa de crescimento demográfico supera a da pro‑dução agrícola, feita em solos degradados e gastos; êxodo rural maciço (a média da população urbana em África passou de 8% para 45% em menos de 30 anos); deterioração das condições gerais de vida, muito em especial nos centros urbanos e crescimento das economias informais.

Qual a dimensão óptima da população em Angola? Isto é, a partir de que limiar a população pode ser um factor importante de crescimento e desenvolvimento? A pergunta é de resposta difícil. Há estudos internacionais, liderados pelas Nações Unidas, que admitem que o nosso

120 Sachs, op. cit.

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país só entrará na fase de estabilidade demográfica a partir de 2020. Que critérios devem ser considerados, em Angola, para se raciocinar sobre o nível aconselhável para a dimensão da população?

A situação demográfica de partida em 2016 é: população total de 27 503 526 habitantes, taxa de crescimento demográfico de 3,1%121, taxa de fecundidade geral de 6,2 (5,3 urbana e 8,2 rural)122, densidade populacional de 22,1 habitantes por quilómetro quadrado, população rural de 37%, PIB de 96,2 mil milhões de dólares123 e PIB por habitante de 3514,3 dólares124 (menos de 10 dólares por dia).

Um critério possível é o da ocupação do imenso espaço territorial – por razões de equilíbrio regional, reconciliação nacional e limitação da emigração fronteiriça – podendo‑se, então, esta‑belecer um valor desejável para o rácio população/superfície, de, por exemplo, 30 habitantes por quilómetro quadrado, devidamente bem distribuídos. Em condições de política demográfi‑ca inalterável (mantendo‑se a mesma taxa de crescimento demográfico), Angola atingiria 37,3 milhões de habitantes em meados de 2026.

Que significado tem este quantitativo de população em termos de condições de vida? Admitindo um crescimento médio anual de 3% do PIB até 2026, o rendimento médio por pes‑soa seria de 3466 dólares, ou seja, uma estagnação das condições de vida da população. No entanto, um rendimento médio diário de 9,5 dólares por cada cidadão não corresponde ao objectivo estratégico de transformar Angola num país rico, educado e desenvolvido (intenções oficiais).

Considere‑se, então, um rendimento médio anual de 25 mil dólares (68,5 dólares por dia). Admitindo‑se a remoção da maior parte dos obstáculos ao crescimento económico sustentado, presuma‑se que a taxa anual de variação do PIB fosse de 6% ao ano até 2026. Esta meta só seria possível se a população diminuísse para 6 899 000 habitantes, o que é impossível sob todos os pontos de vista. Ou seja, a optimização do quantitativo populacional tem de seguir outras vias, em especial a do crescimento económico.

A conciliação dos dois objectivos para 2026 (USD 25000 de rendimento médio por habitante e uma densidade demográfica de 30 habitantes por quilómetro quadrado) conduz a uma taxa média anual de crescimento do PIB de 25,5% (932,5 mil milhões de dólares e 37,3 milhões de habitantes).

121 Nota Informativa do INE de 18 de Janeiro de 2017.122 INE, Ministério da Saúde, The DHS Programa e ICF Internacional: Angola: Inquérito de Indicadores Múltiplos e de Saúde (IIMS) 2015‑2016, Relatório de Indicadores Básicos. 123 Fundo Monetário Internacional – Angola, Consultas de 2016 ao abrigo do Artigo IV, Fevereiro de 2017.124 Ibidem.

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Obviamente que existem outras variáveis‑instrumentais que podem ser accionadas, como a redução do valor da taxa de fecundidade para níveis próximos dos calculados para a fecundi‑dade urbana, incentivos ao controlo da natalidade (de acordo com o Inquérito de Indicadores Múltiplos, a taxa de natalidade em 2015 foi de 43,4% na classe etária 15‑49 anos), subsídios ao planeamento familiar, etc. No estrito contexto económico não existe qualquer possibilida‑de de a economia movimentar‑se com uma velocidade média anual de 25,5% mesmo se todos os obstáculos fossem removidos com critério, eficiência e eficácia. Inclusivamente se, no prazo de 10 anos, o modelo de economia de enclave fosse abandonado/substituído tal taxa seria possível.

Todavia, um rendimento médio de 25 mil dólares anuais não é garantia de igualdade e equi‑líbrio.

A situação em Angola é agravada pelo facto de a agricultura ter sido abandonada por força da guerra e a sua recuperação debater‑se com problemas decorrentes da maior ou menor irre‑versibilidade no movimento populacional campo‑cidade e das condições de segurança para o desenvolvimento das actividades agrícolas e pecuárias. Este estado de malnutrição a que o balanço agricultura‑população conduz contém gérmenes de crises sociais endémicas, franca‑mente impeditivas da constituição dum capital humano nacional, no sentido dado mais atrás, e geradoras de insegurança, quando aumentam os fluxos migratórios para as cidades e aqui fomentam a criação de sectores económicos informais submersos importantes.

A aplicação da regra demográfica 2‑4‑8 (proporção relativa de crescimento entre a taxa demográfica, a taxa de urbanização e a taxa das zonas degradadas) a Angola, permite concluir que o quantitativo de população estimado para 2027 corresponderia a uma taxa de crescimen‑to da população urbana de 5,8% e de 11,6% dos “musseques” (neste caso particular, a média africana situa‑se no intervalo 12‑14 %). Facilmente se compreende que num cenário como este os problemas das cidades jamais terão solução, tal a forte pressão sobre os seus equi‑pamentos colectivos. E é também neste quadro que se deve falar de desenvolvimento rural como uma atitude política e uma nova cultura de desenvolvimento, cuja chave de sucesso é a pluriactividade. O êxodo rural deve ser combatido no campo, com desenvolvimento integrado e muito menos nas cidades, com a construção de infra‑estruturas urbanas e serviços colecti‑vos diversos.

Parece, portanto, que se justificam preocupações quanto ao crescimento demográfico em Angola e à distribuição da população pelo território nacional. A abordagem estratégica do fenómeno populacional, de modo a não comprometer o desenvolvimento económico e o progresso social, aparece como uma das prioridades fundamentais das políticas nacionais, pressupondo, por outro lado, um esforço solidário e coordenado de vários grupos de actores. Caso contrário, a população poderá transformar‑se mais num obstáculo, do que num factor de desenvolvimento.

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7.2 Salários e desemprego

Na sequência do exercício (especulativo) anterior, vale a pena acrescentar que uma das razões para se querer evitar a desaceleração e os fracos desempenhos das economias é rever‑tível aos custos e sacrifícios que semelhante situação impõe aos cidadãos e à sociedade. Se a economia não cria empregos suficientes, a maior parte dos indivíduos não encontra trabalho, causando dificuldades a si, seus familiares directos e ao próprio país. Os altos e baixos dos mer‑cados de trabalho são uma componente da teoria das flutuações económicas e compreender as suas causas é um ponto essencial para, neste caso especial, se desenharem boas políticas de emprego. E também de rendimentos.

Durante períodos de fraco desempenho económico, como nas situações de recessões da actividade produtiva ou de desaceleração estrutural dos processos de crescimento económico – traduzidas por quebras no PIB ou estagnação do seu valor – o desemprego sobe acentuada‑mente, torna‑se um problema de cidadania e de preocupação pública. Pelo contrário, em épo‑cas de boa performance económica, em rápido crescimento, o desemprego é reduzido, mas não desaparece. O desemprego total tem três componentes: desemprego estrutural, desem‑prego friccional e desemprego cíclico. O nível de desemprego em que não existe desemprego cíclico é chamado de desemprego natural e a respectiva medição é dada pela taxa natural de desemprego (soma das taxas de desemprego estrutural e da taxa de desemprego friccional). Esta taxa corresponde ao índice adequado de desemprego quando a economia está próxima do pleno emprego. Qualquer economia necessita de um certo nível de desemprego friccional para que a afectação deste factor de produção se possa efectuar em condições de eficiência econó‑mica – trata‑se, afinal, do desemprego necessário para que trabalhadores e empresas encon‑trem as combinações mais rentáveis125.

Como repetidas vezes se tem referido neste Relatório, não existem estatísticas oficiais do desemprego em Angola. As Contas Nacionais (completas apenas até 2012) apresentam apenas registos das pessoas empregadas, por sectores de actividade, o que já não é nada mau, pois por aqui podem ser feitas aproximações às taxas de desemprego.

A presente situação económica de Angola coloca‑se no seguinte triângulo (sinteticamente tratados na literatura económica através do Teorema de Philips)126: inflação elevada (no pri‑meiro trimestre do corrente ano fixou‑se em 10,47% e em termos homólogos foi de 23,6%, um aumento significativo da sua velocidade face ao mesmo período de 2015 com 7,9%),

125 A taxa natural de desemprego pode variar com o tempo e entre os países. Nos Estados Unidos – onde surgiu a Lei de Okun – as estatísticas estimam‑na entre 4 e 5,5%. Já na Europa esta taxa situa‑se entre 7 e 10%. O valor da taxa natural de desemprego afecta o cálculo do produto potencial das eco‑nomias.126 Muitos economistas deixaram de atribuir grande significado científico à conhecida Curva de Philips, por já não responder aos problemas actuais dos diferentes países nesta matéria de desocupa‑ção de uma parte da sua força de trabalho.

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desemprego considerável (os dados do Censo Populacional falam de uma taxa de desemprego de 24% e o Relatório Económico 2015 do CEIC/UCAN aponta para um intervalo de 21%‑24% em 2015) e crescimento económico em abrandamento significativo (0,1% do PIB e 1,2% do PIB não petrolífero, em 2016). Talvez ainda seja cedo para se falar de estagflação – não menos de 3 anos de dados estatísticos e análises correspondentes –, mas os sinais são preocupantes.

A estratégia tributária do Governo centra‑se num aumento dos impostos caldeado por uma pretensão de melhoria da sua eficiência pela via da eliminação/correcção das situações de frau‑de e evasão fiscais. Com impostos e taxas de juro elevadas torna‑se difícil combater o desem‑prego pelo aumento da produção (supply side economics), sendo, portanto, provável que a recuperação da economia – perdida a alavanca do petróleo caro – demore algum tempo (nesse sentido se colocam as previsões divulgadas pelo Banco Mundial, FMI e OCDE e também as do CEIC a serem apresentadas no capítulo 8 deste Relatório Económico de 2016. Mas existem outras razões para o desemprego.

Se o custo do trabalho não é o principal responsável do desemprego e se, de qualquer modo, se não puder contar com a flexibilidade dos salários para restabelecer o pleno emprego – ou numa perspectiva menos exigente, aumentar os níveis de emprego da economia – então o problema essencial está no nível da procura global (ponto de vista keynesiano). A solução para o desemprego conjuntural reside numa procura global mais forte, nas suas componentes públi‑ca e privada127. Os gastos públicos estão de momento condicionados pela queda das receitas fiscais e o consumo privado (das famílias e das empresas) está bloqueado: o das famílias, pela inflação e o próprio desemprego; o das empresas, pela falta de capacidade de prover insumos internos e pela insuficiência de divisas para os obter no mercado externo. Nesta perspectiva, este tipo de desemprego corre o risco de se transformar em estrutural, haja em vista as poucas soluções capazes de o dirimir.

Pode o salário mínimo ser um estímulo ao aumento da procura das famílias? A prática de um salário mínimo numa qualquer economia é controversa. É o velho dilema eficiência/equi‑dade. O poder de compra dos rendimentos em Angola, e não apenas dos salários, tem sofrido perdas sucessivas desde 2012. São perdas, que do ponto de vista do CEIC, são irrecuperáveis e os detentores de rendimentos, em especial dos rendimentos do trabalho, vão ter de por si sós ajustar em baixa ou o consumo ou a poupança ou os dois em devidas proporções. A actua‑lização do salário mínimo, que deve ser feita no seio da concertação empresários/sindicatos, pode desencadear efeitos sobre os restantes salários da economia. É bem verdade que o salário nominal médio nacional é baixo – cerca de AKZ 44 400 no final de 2014 – mas não deixa de estar conforme os níveis de produtividade, igualmente baixos. Em 2016, a produtividade média bruta

127 Para se completar a análise da problemática do desemprego haveria ainda de se falar do desem‑prego estrutural alimentado pelas transformações da estrutura da procura e da produção: a moder‑nização tecnológica é fundamental para a competitividade, mas, em certas condições, inimiga do emprego (ou amiga do desemprego).

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aparente do trabalho foi de pouco mais de USD 14 500 por trabalhador. Existe uma Comissão governamental para o estudo do salário mínimo e que tem uma metodologia de cálculo dos ajustamentos a introduzir no salário mínimo nacional, essencialmente centrada nos preços de um cabaz de bens de primeira necessidade, o que é correcto. Só que as variáveis explicativas do comportamento dos salários são muitas e algumas são complexas no seu inter‑relacionamento que não constam dos estudos dessa Comissão. Um valor eventualmente aceitável para o ajus‑tamento do salário mínimo seria o respectivo incremento absorver, por inteiro, a inflação ocor‑rida em 2016, ou seja, AKZ 18 450.

O salário mínimo é nacional e não apenas do Estado. Portanto, tem‑se de saber igualmente qual a capacidade do sector empresarial privado – o sector empresarial público pode fazê‑lo duma maneira mais fácil dados os subsídios que recebe do Estado para colmatar eventuais pre‑juízos financeiros – para aceitar e absorver, dum ponto de vista económico e de produtividade geral dos factores de produção, possíveis aumentos. Volta‑se a sublinhar que o ponto essencial relaciona‑se com os impactos económicos sobre a competitividade nacional, num momento em que o Governo está aflito em encontrar, a curto prazo – verdadeiramente difícil – fontes alternativas de geração de receitas externas, dado justamente a generalizada falta de capacida‑de competitiva da economia nacional.

Estarão os organismos do Estado e em especial o Ministério das Finanças capazes de acomodar os aumentos nesta componente da variável salários? Onde ir buscar o dinheiro? A reconfiguração do seu quadro de funcionários civis será suficiente (eliminação dos chamados “trabalhadores‑fantasmas”)? Pode ser um estratagema mas que se esgota mal o fenómeno dos fantasmas esteja debelado. Se o Governo e os governantes estivessem verdadeiramente inte‑ressados em gerar poupanças públicas – a serem encaminhadas para criar emprego e atenuar as degradantes condições sociais da população – já deveriam ter implementado duas reformas essenciais: aplicação integral da Lei da Probidade Pública (um sinal de separação entre negócios e política – no Brasil a confusão entre os interesses públicos e privados conduziu à mais grave crise económica, social e política de que há memória nesta jovem democracia, que tem tantos anos quantos Angola tem de independência) e redução dos cargos governativos.

A maior parte das novas previsões de crescimento económico em Angola até 2020/2021 apontam para uma taxa média anual de pouco mais de 2% e do sector não petrolífero um pouco acima de 2,5%. Qualquer um dos valores é claramente insuficiente para patrocinar a melhoria do nível geral de vida da população que cresce a uma taxa de 2,71% ao ano (ou 3,1% ao ano, de acordo com o INE na sua última revisão128). A taxa de desemprego formal estimada pelo CEIC situa‑se no intervalo 22%‑24%, evidentemente muito alta e afastada dos propósitos de melho‑rar a distribuição do rendimento nacional.

128 INE – Nota Informativa, Dados da Projecção de Angola, População de Angola em 2017, Luanda, 18 de Janeiro de 2017.

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As explicações para o desemprego fornecidas pela análise macroeconómica clássica e key‑nesiana são parciais, porquanto a experiência vai mostrando que mesmo com salários mode‑rados e crescimento económico rápido, é sempre inevitável algum desemprego (por razões relacionadas com as imperfeições e diversidade dos mercados de trabalho).

A relação entre progresso técnico e emprego é complexa e antiga (desde os tempos da 1.ª Revolução Industrial – introdução da máquina a vapor na indústria – e dos escritos de Karl Marx sobre a formação da mais‑valia do trabalho), mas tem ganho muita actualidade devido às per‑manentes inovações tecnológicas introduzidas nos vários sistemas de produção e corporizadas pela informática e robótica. No imediato, passa a haver substituição de trabalho por capital e os salários tendem a baixar, devido ao excesso de oferta.

O que pode acontecer no futuro – longo prazo – ainda não se sabe muito bem: os empregos perdidos serão recuperados? Antes de mais, depende do tipo de profissões dispensadas pelas máquinas e da possibilidade/capacidade de reconversão/aperfeiçoamento dos trabalhadores. Depois, dos efeitos a montante e a jusante desencadeados pela produção desses novos equi‑pamentos: serão suficientes para recuperar (e acrescer) os empregos perdidos? Finalmente, da propagação, através do sistema económico, dos ganhos de produtividade proporcionados pelas revoluções tecnológicas: havendo alargamento de mercado derivado dos incrementos da pro‑dutividade – nomeadamente pelo abaixamento dos preços e aumento da procura – então serão gerados mais empregos. Porém, o longo prazo está sujeito a uma série de constrangimentos e incertezas – no mundo de hoje a única certeza que se tem é a incerteza – contando, portanto, o curto prazo. E neste caso, ainda que o longo prazo se faça duma sucessão de curtos prazos, o progresso tecnológico origina economias de mão‑de‑obra e mesmo havendo a possibilidade de alguma reconversão profissional, é provável que a maior parte dos empregos criados não seja ocupada pelos titulares dos postos de trabalho suprimidos.

O mercado de trabalho é uma abstracção cómoda para efeitos de análise. Na realidade, o que existe são diferentes segmentos do mercado de trabalho, podendo os desequilíbrios sub‑sistirem simultaneamente em cada um deles: excesso de oferta nuns e excesso de procura nou‑tros. No final, os “vasos comunicantes” da economia funcionam para se ter uma situação geral: excesso geral de oferta de trabalho – donde diminuição da taxa salarial – ou excesso geral de procura de trabalho, consequencializando aumento da remuneração deste factor de produção. O desemprego provocado pela segmentação do mercado de trabalho tem origem e natureza diferente do desemprego clássico e keynesiano. Decorre, portanto, que as políticas e medidas serão igualmente diferentes. O combate ao desemprego de segmentação passa, essencialmen‑te, por acções específicas visando aumentar a transparência e a fluidez dos mercados de traba‑lho, melhorar a educação técnica e a formação dos trabalhadores e ainda corrigir, ou atenuar, limitações estruturais no funcionamento dos sectores (formação em exercício e reciclagem pro‑fissional) e das regiões (desenvolvimento do mercado de habitação e de outras infra‑estruturas de apoio ao desenvolvimento).

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RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2016

Os desajustamentos entre oferta e procura de empregos por sectores de actividade e regiões não são fáceis de eliminar. A mobilidade regional é limitada, designadamente por motivos de ordem psicológica (ligação ao meio e à família), económica (disponibilidade de habitação, tra‑balho do cônjuge) e outras (escola para os filhos). A mobilidade sectorial está condicionada pela vontade, pelo tempo e pelas dificuldades de reconversão profissional. São, todas elas, em con‑junto ou isoladamente, situações que limitam a actuação dos mecanismos de mercado para a obtenção do equilíbrio. São as conhecidas falhas de mercado, minimizadas com a intervenção das políticas públicas.

Nos subcapítulos 4.1 e 4.2 está apresentado o quadro da presente situação económica em Angola: alta inflação, elevado desemprego e baixo crescimento económico. Sabe‑se que entre os conflitos de objectivos de política económica, o mais controverso e discutido na literatu‑ra económica é, sem dúvida, o dilema entre inflação e desemprego: o aumento do emprego pode fazer subir a inflação e a luta pela estabilidade dos preços (controlo da inflação) poten‑cia o incremento do desemprego. Este dilema foi estabelecido por A. W. Philips em 1958 para a economia do Reino Unido129. Esta relação inversa entre salários e desemprego constitui uma boa descrição do mercado de trabalho, pois quando o desemprego é baixo, as empresas têm de subir os salários para obterem a mão‑de‑obra de que necessitam (inversamente quando o desemprego é elevado, os salários crescem menos ou estabilizam ou podem mesmo diminuir). Posteriormente em 1960, Paul Samuelson e Robert Solow transpuseram a curva original para uma relação inversa entre a taxa de inflação e a taxa de desemprego, nos moldes explicados anteriormente. Estes autores refizeram o exercício de Philips para a economia dos EUA, no período 1900‑1960, tendo baptizado a relação obtida por Curva de Philips, tornando‑se, desde então, uma das peças centrais da política macroeconómica130.

Verifica‑se ou não em Angola, na presente situação económica, alguma das interacções referidas? A inflação alta não deveria propiciar uma taxa de desperdício da força de trabalho mais baixa? Se sim, então as tentativas para diminuir a taxa de inflação podem desencadear mais desemprego. Com mais desemprego o crescimento económico fica afectado (atendendo a que a força de trabalho é um dos factores de crescimento das economias). E como enquadrar a necessidade de se incrementarem os salários? Mais salários (se o desemprego diminuir) e mais altos podem desencadear subida dos preços, se não forem registados ganhos de produtividade, e logo, mais inflação.

129 O estudo deste economista incidiu sobre os salários e o desemprego (dados estatísticos entre 1861 e 1957) e culminou com o estabelecimento duma relação econométrica inversa entre o cresci‑mento dos salários nominais e a taxa de desemprego.130 Para se passar da curva original (salários versus desemprego) para a nova curva (inflação versus desemprego), é suficiente considerar a existência de uma relação directa entre salários e inflação, como admite a teoria da inflação pelos custos.

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7.3 Estimativas do desemprego e do valor da produtividade

Às problemáticas seriadas no último parágrafo junta‑se a de não se conhecerem os ver‑dadeiros dados do emprego em Angola, apesar da existência da Comissão Interministerial responsabilizada pelo acompanhamento desta situação e pela produção de informação esta‑tística sobre a ocupação, pela economia, da população economicamente activa. À carên‑cia de dados estatísticos junta‑se, por vezes, a inconsistência de alguns deles. Por exemplo, o Relatório de Balanço das Actividades do Governo 2013‑2017 apresenta duas estimativas diferentes para o incremento de emprego (equivalente à criação de novos postos de traba‑lho) de 2015 para 2016. Na verdade, no gráfico do parágrafo 20, página X131 são apresenta‑dos dois valores, um de 156 mil novos empregos para o chamado sector real da economia e 156,8 mil para o total. Porém, logo no parágrafo seguinte se destaca que “em 2016, foram criados cerca de 152 199 novos empregos, com a maior concentração nos sectores da ener‑gia e águas (52 617), da indústria transformadora (30 526) e da geologia e minas (24 373)”. Transportadas as informações oficiais, conseguidas através da consulta de alguns dos seus relatórios sobre o emprego, para o Ficheiro do CEIC, o incremento total ocorrido em 2016 foi, afinal, de 146 810 novos empregos. Entre a primeira cifra e a do CEIC está uma diferen‑ça de 10 mil postos de trabalho, com reflexos sobre a estimativa da produtividade média do factor trabalho.

Outro aspecto que contribui para o aumento do receio sobre a consistência (e mesmo vera‑cidade) das informações estatísticas sobre o emprego relaciona‑se com os sectores de energia e águas e geologia e minas, que desde 2013 aparecem como os maiores criadores de emprego líquido na economia nacional. Tratando‑se de actividades capital‑tecnologia intensivas, é difícil compreender como é que o sector de energia e águas acresceu ao seu stock de emprego em 52 617 novos empregados em 2016, 50 064 em 2015, 57 349 em 2014 e 39 309 em 2013. Um total de cerca de 200 mil novos trabalhadores em 4 anos.

Ainda outra relevância prende‑se com a relação entre crescimento económico e variação percentual do emprego (ou seja, entre PIB e emprego). As evidências empíricas e a Ciência Eco‑nómica mostram que para haver criação de emprego tem de haver forçosamente crescimen‑to económico, global, sectorial e regional. A intensidade de reacção do emprego ao aumento da produção depende da natureza dos processos produtivos, intensivos em capital‑tecnologia ou em trabalho. Ou seja, não há nenhuma garantia de que 1% de incremento do PIB induza, necessariamente, um aumento do emprego igual. Aparentemente, em Angola as coisas não se passam exactamente assim, sendo disso prova a indústria transformadora, a energia e água e as actividades diamantíferas e de extracção de outros minerais. Parece haver uma ciência eco‑nómica específica a Angola para a análises destas correlações.

131 Ministério do Planeamento e do Desenvolvimento Territorial – Relatório de Balanço das Actividades do Governo 2013-2016, Luanda Março de 2017.

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Na verdade, para as actividades indicadas – que são as mais destacadas neste item da incon‑gruência, porque há outras – as taxas de crescimento dos seus PIB registadas em 2015 e 2016 foram muitos pontos abaixo do aumento relativo do emprego, conforme se pode observar pelo gráfico seguinte.

COMPARAÇÃO ENTRE EMPREGO E PIB

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2015 2016 2015 2016 2015 2016

Indústria transformadora Energia e águas Geologia e minas

Tx. cres. empregoTx. cres. PIB

25,8 30,3 48,3 34,2 50,3 39,5-1,1 -2,3 10,6 14,5 6,5 0,6

Fonte: CEIC, “Ficheiro Estudos sobre a Produtividade”, com base em informações oficiais.

As seguintes aproximações interpretativas são possíveis:

a) A produtividade bruta média aparente do factor trabalho, não só é baixa nessas actividades económicas, como tem vindo a diminuir significativamente desde 2012. Como se tratam de sectores que são relevantes para o processo e a estratégia de diversificação da econo‑mia e para construção de uma competitividade estrutural – nomeadamente a manufactura e a energia – então as combinações produtivas entre os diferentes factores de produção não obedecem a critérios e regras, nem da macroeconomia, nem da microeconomia.

b) As informações sobre o emprego são muito inconsistentes, quando comparadas com outras variáveis económicas, das quais o PIB é apenas uma delas. Ter‑se‑á de esperar pelas Contas Nacionais definitivas de 2015 e 2016 para se saber, de facto, qual foi a capa‑cidade de geração de novos postos de trabalho da economia nacional.

c) Sendo as discrepâncias entre as taxas de crescimento do PIB e do emprego tão grandes, cabe perguntar, afinal, para onde foi tanto emprego? Ainda que a sua utilização tivesse sido ineficiente, muito mais crescimento do PIB deveria ter ocorrido.

d) E o caso da manufactura é verdadeiramente inexplicável: criação de emprego com reces‑são da sua actividade. O que fizeram então os trabalhadores? Ainda que se saiba que as

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taxas de absentismo são elevadas, nada permite explicar e compreender semelhantes disparidades, verdadeiramente anti‑Teoria Económica.

e) No capítulo 5, versado sobre a competitividade, deu‑se conta de uma outra disparida‑de, desta feita entre o crescimento da produção de electricidade e da produção do país (muito mais da primeira do que do segundo), tendo‑se, então, questionado para onde, no final de contas iria tanta energia.

f) É fundamental que a colecta e sistematização de informação estatística pelos diferen‑tes órgãos da Administração Pública se faça, integralmente, no respeito das correlações teóricas entre as variáveis económicas e não se guie por objectivos de natureza política, como aparentemente pode ser o acervo informativo sobre o emprego, variável social de relevância.

Segundo informações oficiais – Relatórios de Fundamentação OGE 2015, 2016 e 2017, Con‑tas Nacionais, Relatórios de Balanço sobre o comportamento da economia e outros – foi possí‑vel elaborar a tabela seguinte onde se apresenta o comportamento do emprego na economia nacional desde 2002 até 2016 (o período temporal está intercalado para não sobrecarregar o quadro) e pelos sectores económicos da Contabilidade Nacional.

Verifica‑se, então, que em 2016 o emprego total na economia angolana era de 6 632 881 trabalhadores em todas as actividades directamente produtivas e de prestação de serviços diversos, representando esta força de trabalho empregada cerca de 48,2% do total da popula‑ção economicamente activa (considerando‑se um factor demográfico de 50%).

A agricultura, pecuária e florestas são os sectores produtivos com o maior número de tra‑balhadores (em 2016, 2 977 734), embora o conceito clássico e usual de emprego não tenha completa aplicabilidade nestas actividades em Angola.

PANORAMA DO EMPREGO EM ANGOLA ENTRE 2002 E 2016

Sectores de actividade 2002 2004 2006 2008 2010 2012 2014 2015 2016

Agricultura, pecuária, florestas 2 231 434 2 369 037 2 510 897 2 621 107 2 766 221 2 913 360 2 932 763 2 959 269 2 977 734

Pescas 26 868 28 440 30 233 33 447 37 052 40 626 43 234 44 761 45 782

Petróleo e gás 14 223 14 996 15 394 64 559 79 697 92 241 92 241 92 241 83 017

Diamantes e outros 10 577 32 483 36 157 22 904 21 827 20 142 41 079 61 754 86 127

Indústria transformadora 56 255 53 745 56 017 59 419 66 109 72 976 80 135 100 810 131 336

Electricidade 2389 7871 8852 11 646 10 281 7079 103 737 153 801 206 418

Construção 169 722 216 104 271 086 320 191 365 993 410 661 424 197 427 941 428 882

Comércio 796 139 852 508 909 051 949 645 1 005 284 1 061 862 1 170 836 1 218 598 1 231 759

continua

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RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2016

Transportes e armazenamento 68 329 72 641 76 886 81 377 88 778 96 359 157 715 228 174 236 710

Correios e telecomunicações 2476 3175 4339 4574 8327 12 167 13 287 13 885 14 509

Bancos e seguros 5072 5722 7074 14 138 18 925 23 357 23 357 23 357 23 357

Estado 326 709 346 856 367 626 420 832 469 091 431 610 467 095 467 135 467 135

Serviços imobiliários 334 320 356 424 494 562 562 562 562

Outros serviços 332 760 356 211 410 455 438 841 481 596 525 078 653 462 693 784 699 553

Angola 4 043 287 4 360 109 4 704 423 5 043 104 5 419 675 5 708 080 6 203 700 6 486 072 6 632 881

Incrementos 316 822 344 314 338 681 376 571 288 405 495 620 282 372 146 810

Fonte: CEIC, Ficheiro “Estudo sobre a Produtividade”, com base nas Contas Nacionais 2002‑2012 e outros documentos oficiais.

O emprego na extracção de petróleo e gás carece de pesquisa adicional, pois os núme‑ros oficialmente disponibilizados nada referem sobre a sua expressão e o seu comportamento. O Relatório do Ministério do Planeamento e do Desenvolvimento Territorial – Relatório de Balanço das Actividades do Governo 2013‑2016, Luanda, Março de 2017, na tabela 8 não apre‑senta dados sobre a criação de emprego no sector do petróleo e gás, sendo, aliás, de presumir que depois de 2014 se esteja a assistir a uma redução do número de postos de trabalho de nacionais, como consequência da crise dos preços (anote‑se que a taxa de crescimento do PIB deste sector foi negativa em 2016 e estimado em ‑2,3%).

A tabela anterior também mostra que o emprego na manufactura tem estado sempre a subir desde 2004, sendo um facto absolutamente extraordinário para qualquer economia. Entre 2002 e 2016, o emprego nas indústrias transformadoras do país aumentou 144,4%, uma variação média anual de 7,7% (valor que a manter‑se no futuro pode consequencializar uma duplicação até 2025).

Outro facto extraordinário relaciona‑se com as actividades de geologia e minas (onde está a extracção de diamantes), cujo volume de emprego em 2016 foi de 86 127 trabalhadores, cuja comparação com 2014 proporciona uma variação percentual de 165,1% equivalente a uma cadência média anual de 8,5% e uma possibilidade de duplicação até 2024.

Mas o caso mais verdadeiramente excepcional respeita à energia e águas. O volume total de emprego em 2016 foi de 206 418 trabalhadores, equivalente a uma variação percentual, desde 2014, de 2522,5% (uma estonteante taxa média anual de 31,3% e uma possibilidade de dupli‑cação já em 2019).

continuação

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TAXAS DE CRESCIMENTO DO EMPREGO (%)

Sectores de actividade 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016

Agricultura, pecuária, florestas 2,5 2,7 2,6 0,5 0,1 0,9 0,6

Pescas 5,4 4,8 4,6 4,8 1,6 3,5 2,3

Petróleo e gás 23,9 6,2 8,9 0,0 0,0 0,0 ‑10,0

Diamantes e outros 6,3 ‑5,3 ‑2,6 89,1 7,9 50,3 39,5

Indústria transformadora 4,5 5,3 4,8 4,7 4,9 25,8 30,3

Electricidade 4,7 3,8 ‑33,7 555,3 123,6 48,3 34,2

Construção 7,7 5,9 5,9 1,2 2,1 0,9 0,2

Comércio 2,6 2,9 2,7 2,3 7,8 4,1 1,1

Transportes e armazenamento 3,7 4,4 4,0 21,5 34,7 44,7 3,7

Correios e telecomunicações 24,0 23,6 18,2 4,5 4,5 4,5 4,5

Bancos e seguros 21,6 10,9 11,3 0,0 0,0 0,0 0,0

Estado 7,8 ‑8,4 0,4 1,2 7,0 0,0 0,0

Serviços imobiliários 8,6 6,7 6,6 0,0 0,0 0,0 0,0

Outros serviços 4,2 4,6 4,2 6,0 17,4 6,2 0,8

Angola 3,8 2,3 2,9 2,9 5,6 4,6 2,3

Fonte: CEIC, Ficheiro “Estudo sobre a Produtividade”, com base nas Contas Nacionais 2002-2012 e outros documentos oficiais.

Investigação adicional tem de ser efectivada para se perceber a atipicidade de alguns resul‑tados oficialmente apresentados e, em especial, sobre o ano de 2015.

Algumas conclusões são inevitáveis:

a) Quando a economia menos cresce é quando o emprego aumenta e com ritmos vários pontos percentuais acima da taxa de variação do PIB. Esta observação contraria as leis económicas de relacionação entre crescimento económico e criação de emprego. Devi‑do aos avanços tecnológicos, às descobertas científicas e à influência das tecnologias da informação, por vezes o que ocorre é registar‑se crescimento económico com redução do emprego ou no limite sem incremento do emprego, devido ao fenómeno da substi‑tuição entre os factores de produção, ou seja, entre trabalho e capital/tecnologia. Nunca aumentos significativos de emprego com redução do crescimento económico. Daí ser necessária mais investigação e muito maior credibilidade da informação estatística.

b) O resultado conjugado entre aumento da produção e incremento do emprego, em senti‑dos e intensidades contrárias, é o da diminuição da produtividade do trabalho.

c) A política económica oficial tem dado uma prioridade maior à criação de emprego em detrimento da produtividade, dos ganhos de produtividade e, consequentemente, da competitividade.

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RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2016

A economia nacional tem estado sujeita, desde 2012, a um processo de degradação da sua competitividade, vista do ponto de vista da produtividade bruta aparente do trabalho, o mais importante factor de produção. A despeito da política de formação e reciclagem levada a efeito pelo Governos e as suas instituições especializadas, a produtividade geral da economia perma‑nece baixa e, mais grave, incomparável com outras economias dos países vizinhos de Angola, sobretudo na SADC, mas igualmente na CEEAC. Em 2016 foram realizadas 12 050 acções de for‑mação em diferentes domínios e para diferentes agentes, mas nenhuma para o sector empre‑sarial, que beneficiou de 298 em 2013132.

GANHOS MÉDIOS DE PRODUTIVIDADE

Sectores de actividade 2003/2015 2003/2016

Agricultura, pecuária, florestas 4,0 4,1

Pescas ‑1,5 ‑1,4

Petróleo e gás ‑5,6 ‑4,6

Diamantes e outros ‑2,5 ‑4,4

Indústria transformadora 6,6 4,2

Electricidade ‑3,8 ‑4,3

Construção 6,5 6,3

Comércio 3,1 2,8

Transportes e armazenamento ‑4,2 ‑4,1

Correios e telecomunicações 0,8 0,5

Bancos e seguros ‑3,5 ‑3,2

Estado 4,5 4,2

Serviços imobiliários 3,8 3,5

Outros serviços ‑3,7 ‑3,5

Angola 3,35 2,70

Fonte: CEIC, Ficheiro Estudo sobre a Produtividade”, com base nas Contas Nacionais 2002‑2012 e outros documentos oficiais.

Os grandes perdedores de produtividade, nos períodos 2013/2015 e 2013/2016, foram as pescas, o petróleo e gás, os diamantes e outros minerais, a energia, os transportes e armazena‑gem, os bancos e seguros e os outros serviços. Ou seja, 50% de todas as actividades registadas pelas Contas Nacionais.

Confinando estes ganhos/perdas a 2016, a situação configura‑se do modo seguinte.

132 Ministério da Administração Pública, Trabalho e Segurança Social – Programa de Reforma e Moder-nização da Administração Pública, Conteúdo e Resultados 1991-2016, 2017.

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CEIC / UCAN

GANHOS DE PRODUTIVIDADE

Sectores de actividade 2016

Agricultura, pecuária, florestas ‑0,62

Pescas 6,28

Petróleo e gás 8,56

Diamantes e outros ‑27,87

Indústria transformadora ‑25,01

Electricidade ‑14,69

Construção ‑3,01

Comércio ‑1,46

Transportes e armazenamento ‑34,45

Correios e telecomunicações 6,60

Bancos e seguros 9,60

Estado ‑16,20

Serviços imobiliários 2,80

Outros serviços ‑5,68

Angola ‑5,73

Fonte: CEIC, Ficheiro “Estudo sobre a Produtividade”, com base nas Contas Nacionais 2002-2012 e outros documentos oficiais.

A indústria transformadora, agricultura e conexos, a construção e obras públicas e os trans‑portes e armazenagem, sectores‑alavanca e sectores‑suporte da diversificação, registaram per‑das enormes de produtividade durante 2016.

A economia não apenas está num processo de desaceleração estrutural do seu crescimento depois de 2009, como igualmente entrou numa fase de perda sistemática de produtividade do factor trabalho. A diversificação da economia e especialmente das exportações não se compa‑dece com estas situações e provavelmente só acontecerá com custos elevados.

Apesar dos dados oficiais – com todas as reservas que merecem, depois de se terem detec‑tado inconsistências com o comportamento de outras variáveis económicas – revelarem um aumento percentual de emprego, em 2016, de 2,3% (uma redução face a 2015 (4,6%) e a 2014 (5,6%)), a taxa de desemprego permaneceu elevada, de acordo com as estimativas do CEIC e face às mais recentes informações demográficas do INE já referidas. Porém, manteve o mesmo valor de 21,4% estimado em 2015.

Quanto às previsões para 2021, num contexto de desaceleração do crescimento económico, a taxa de desemprego pode chegar a 36%.

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RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2016

PROJECÇÕES DA TAXA DE DESEMPREGO

Hipóteses Anos Taxa crescimento do PIB

Taxa crescimento da produtividade

Taxa de desemprego

1.ª Hipótese

2017 1,3 2,5 24,7

2018 1,5 2,5 27,7

2019 1,4 2,5 30,6

2020 1,5 2,5 33,3

2021 1,4 2,5 36,0

2.ª Hipótese

2017 9,0 2,5 19,0

2018 9,0 2,5 16,4

2019 9,0 2,5 13,8

2020 9,0 2,5 11,1

2021 9,0 2,5 8,3

Fonte: CEIC, Ficheiro “Estudos sobre a Produtividade”.

Para que se obtenha uma taxa de desemprego em 2021 de um dígito (8,3% na segunda hipótese do mapa de previsões anteriores) é indispensável que a taxa média anual de cresci‑mento do PIB seja de 9%. Relembre‑se que entre 2009 e 2016 a capacidade média anual de crescimento económico se cifrou em tão‑somente 2%. Os desafios são tremendos para os 9%, numa situação em que o petróleo já não ajuda o que ajudou no passado.

Abdicando‑se dos ganhos de produtividade – com consequências inimagináveis sobre a capacidade de crescimento futuro da economia e a sua inserção competitiva na economia mun‑dial – e com taxas médias anuais de crescimento do PIB de 5%, podem‑se conseguir taxas de desemprego mais baixas em relação à primeira hipótese, com um valor de 18,1% em 2021.

7.4 Políticas públicas de emprego e formação profissional

O objectivo‑chave dum projecto de modernização da administração pública é a qualidade profissional dos servidores e a sua motivação, como condições necessárias para se alcançarem todos os outros propósitos.

Desde 1992 que o governo vem implementando um programa de reforma e de moderni‑zação da administração pública. Um importante propósito das reformas centra‑se na correcta intervenção do Estado na economia, pois excessivas medidas burocráticas e de concentração de poderes podem constituir‑se como obstáculos ao crescimento económico.

O governo deve assegurar as condições fundamentais básicas, como a estabilidade macroe‑conómica, o primado da lei e o investimento na formação de recursos humanos como condi‑ções subjacentes à reforma.

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A administração pública deve ser encarada como um instrumento diligente de prestação e realização de serviços públicos, como um impulsionador do bem‑estar social e da promoção do desenvolvimento económico. Neste sentido, a reforma e a modernização da administração pública apresentam‑se como um processo continuado, dinâmico, de racionalização e de des‑burocratização, de valorização do serviço público e de fortalecimento da formação dos seus servidores, de aproximação das suas estruturas e dos seus serviços ao cidadão e da introdução paulatina de medidas de facilitação, com a governação electrónica.

As medidas implementadas para a execução do programa de reforma foram ao longo dos anos sendo paulatinamente consubstanciadas em subprogramas e projectos, como de recon‑versão de carreiras, de reconversão profissional, de desburocratização e de simplificação admi‑nistrativa, de valorização do serviço público.

Projectos e subprogramas do PREA

O Programa de reconversão de carreiras foi um mecanismo através do qual foram criadas e institucionalizadas as carreiras profissionais na função pública, e através do qual se instituíram mecanismos de ingresso, de promoção e de remuneração.

O Plano geral de formação dos funcionários públicos visou instaurar melhorias a nível da capaci‑dade institucional, de desempenho dos servidores públicos e da qualidade da prestação de serviços.

O Sistema nacional de gestão de recursos humanos propôs‑se uniformizar e normalizar os procedimentos, a gestão das carreiras e dos efectivos nomeadamente através de cinco subsis‑temas: de recursos humanos, de recrutamento, de gestão de carreiras, de desenvolvimento profissional e de administração de pessoal.

O Programa de reconversão profissional teve como objectivos o apuramento, a qualificação, alocação e a revalorização dos quadros técnicos com vista à melhoria da qualidade do serviço público.

O Programa de desburocratização e simplificação administrativa teve como propósito a supressão ou eliminação de níveis, circuitos, pareceres, documentação, custos e critérios de responsabilização.

O Programa de valorização do serviço público teve como ideia central tornar a administra‑ção pública menos intangível e abstracta por um exercício da função pública ao serviço do cida‑dão, da economia e da soberania.

A criação da Escola Nacional de Administração (ENAD) veio materializar a capacitação dos quadros e a melhoria do perfil dos funcionários públicos e dos agentes administrativas, no viés das suas competências profissionais. A melhoria da prestação de serviços públicos com a cria‑ção do SIAC, serviço integrado de atendimento aos cidadãos e a implementação de medidas de simplificação administrativa resultou na fundação do Guiché Único.

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8. PERSPECTIVAS DE CRESCIMENTO

8.1 Introdução

Os diferentes enquadramentos internacionais da economia nacional não são favoráveis até pelo menos ao final da presente década:

a) A procura de petróleo da segunda maior economia do mundo (China, principal destino das exportações angolanas) deverá abrandar significativamente até 2020. As previsões apontam no sentido de esta quebra se aproximar de 50% do seu normal, devido à perda de velocidade do seu crescimento económico.

b) A economia brasileira, depois de um ano de recessão estimada em ‑3,5% de crescimento do seu PIB, continua a não apresentar fundamentos sólidos para que a situação se altere no decurso de 2016.

c) Os preços das diferentes matérias‑primas continuam a apresentar valores relativamente baixos para a competitividade da maior parte das economias africanas e a tendência no seu comportamento tem sido decrescente.

d) As taxas de crescimento da economia mundial têm sido objecto de revisões em baixa para acomodarem as derrapagens da China, Brasil e Rússia. Consequentemente, as perspecti‑vas para as exportações mundiais igualmente sofrem destes acertos em baixa.

e) As taxas de juro no mercado financeiro internacional estão cada vez mais elevadas para os países africanos que enfrentam presentemente problemas sérios de queda das receitas de exportação e de aumento das respectivas dívidas externas (incluindo a dívida pública).

O Governo, apanhado de surpresa neste turbilhão de recessão das receitas da economia e dos impostos do Estado – recorde‑se que a taxa de crescimento do PIB em 2015 foi de 2,8% e do PIB não petrolífero de tão‑somente 1,3% – pretende, a curto prazo, inverter a situação através de medidas que deveriam ter sido implementadas há muito tempo e das quais se esperam resulta‑dos que, pela dinâmica das economias e da sua inserção externa, não acontecem senão a médio e longo prazo. Simplesmente porque o fomento das exportações é tributário de um conjunto de condições de competitividade que o país não tem (elevada produtividade dos factores de pro‑dução, infra‑estruturas de qualidade, energia e água em grande quantidade, capital humano, institucional e empresarial, atractividade dos investimentos privados, transparência, ética, etc.).

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Os diferentes serviços públicos relacionados com a diversificação da economia têm elaborado documentos nos quais as intenções e preocupações do Governo se expressam quanto à perda de capacidade de crescimento da economia nacional e a consequente incapacidade de geração de fontes alternativas de receitas fiscais e em divisas. Neste contexto e depois – segundo a opi‑nião oficial – de ter sido realizado um exercício em conjunto com a designada Comunidade das Empresas Exportadoras e Internacionalizadas de Angola (CEEIA), chegou‑se a uma lista de 14 produtos exportáveis a curto prazo. São eles: rochas ornamentais, cimento e outros materiais de construção, café, mel, pescado, marisco, crustáceos, madeira, fertilizantes (guano de mor‑cego), farinha de peixe, minério de ferro, bebidas, hortícolas e tubérculos, sal iodizado, vidro e serviços (banca, transportes e telecomunicações). Admitindo que tenha sido feita a competen‑te análise sobre os destinos destas exportações, quantidades e preços (uma espécie de estudo de mercado internacional com a avaliação das procuras domésticas nos países de destino), o ponto essencial é que não constituem alternativas a curto prazo para a queda dramática das receitas de exportação de petróleo.

Uma forma de o demonstrar seria calcular a quantidade necessária destes bens para que, às cotações internacionais que estão em queda, compensassem as perdas petrolíferas.

Outra maneira de visualizar o mesmo problema é calcular a poupança possível, admitindo que, de facto, era possível a curto prazo exportar essas mercadorias. Este exercício foi feito por Ennes Ferreira e alguns dos resultados foram apresentados, em síntese, numa sua crónica no Expresso133. Transcrevem‑se as principais conclusões:

a) “Diversificar a produção interna e as exportações fora do sector petrolífero é um impera‑tivo de bom senso. Mas é credível a proposição de que a curto prazo (há potencial para) exportar a uma escala considerável? Para os exportar há que, em primeiro lugar, produzi‑‑los e isso requer que não existam obstáculos de índole diversa, que em Angola são mui‑tos e dificilmente superados a curto prazo.”

b) “Pressupostos do estudo: inexistência de quaisquer constrangimentos à produção nacio‑nal, obtenção imediata da produção máxima em cada um dos produtos, toda a produção excedentária face ao consumo interno é exportada, há mercados externos garantidos sem que se gaste um dia na sua prospecção”.

c) “Mais pressupostos: exportação de ferro de 18 milhões de toneladas, de café de 50 000 toneladas, 35 milhões de dólares de exportação de rochas ornamentais, metade do valor de exportação de madeira do Gabão (um dos principais exportadores africanos), multipli‑cação por 10 da quota de 0,1% de exportação mundial de sal, 100 milhões de dólares de exportação de mel (equiparado ao Brasil), centenas de milhões de dólares na exportação de cimento e bebidas alcoólicas”.

133 Ennes Ferreira: “Qual o Real Impacto da Diversificação das Exportações?”, Semanário Expresso de 27 de Fevereiro de 2016.

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RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2016

d) Tudo somado, conclui Ennes Ferreira, o valor total das exportações diversificadas seria de 1,8 mil milhões de dólares.

Segundo dados oficiais para 2015, as exportações de petróleo renderam ao país 35,4 mil milhões de dólares (informações oficiais ainda preliminares), representando esta diversificação apressada um ganho de apenas 5,1%!!

8.2 A economia mundial e dos principais parceiros económicos de Angola

Alguns factos internacionais seguramente que vão marcar a agenda económica de 2016, com fortes probabilidades de se projectarem, nas suas consequências, até 2017. Angola não vai passar ao lado.

A retracção do crescimento económico na China é o primeiro e com grande significado mun‑dial, desconfiando‑se que este abrandamento possa simbolizar uma aterragem muito difícil (hard landing, no dizer do saudoso Paul Samuelson quando se referia justamente às perdas de velocidade de algumas economias influentes no mundo) para a China e igualmente para o Mundo. Angola pode vir a sofrer com esta desaceleração do PIB chinês, na medida em que o seu mais importante parceiro comercial é justamente este país asiático. Enquanto segunda maior economia do mundo, a redução do crescimento do seu PIB vai afectar, negativamente, o com‑portamento do comércio internacional e, por aí, transmitir alguma instabilidade no crescimento económico mundial. A China há mais de 35 anos que é um exemplo acabado de uma ditadura com os maiores sucessos económicos e sociais, tendo retirado da pobreza mais de 400 milhões de cidadãos. O grande enigma para o futuro refere‑se ao impacto, sobre a sua população e os seus parceiros africanos, da abertura política e do desenvolvimento – a abordagem deste tema relativamente a Angola encontra‑se em dois Relatórios Económicos da UCAN (2013 e 2014) com o tema da diversificação económica e possibilidade de se criar uma classe média empreendedo‑ra, com poder económico e distanciada e contestando a ordem política vigente134.

O segundo aspecto com relevância em 2016 é o “diálogo” entre a política monetária e a polí‑tica orçamental, enquanto instrumentos para retomar o crescimento onde está abalado e para controlar os preços, nuns casos para os fazer subir, noutros para os fazer descer. O FMI continua a entender que a política monetária pode ser mais útil do que a política orçamental para esti‑mular o crescimento e desinflacionar as economias. Paul Krugman – um dos grandes economis‑tas que tem escrito muitas reflexões sobre esta matéria, quer em termos gerais, quer sobretudo direccionada aos países da União Europeia – pensa justamente o contrário, defendendo que a política monetária, na Europa da moeda única e ainda a braços com dificuldades para estabilizar o crescimento económico, depois da crise financeira internacional de 2008/2009, deixou de ter a

134 Quanto mais prósperas as pessoas forem, mais livres e exigentes se tornarão. Não é a mesma coisa governar 27 milhões de angolanos entre os quais cerca de 2/3 com menos de dois dólares para viver diariamente e governar as mesmas pessoas em que uma proporção razoável atingiu a prosperidade.

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mesma relevância do passado para aqueles dois propósitos. E o exemplo que dá não poderia ser mais contundente e elucidativo: nem com taxas de juro negativas aplicadas pelo Banco Central Europeu a retoma sustentada do crescimento está a acontecer, mormente nos países periféri‑cos do Sul da Europa. E acrescenta mesmo: “a Europa precisa desesperadamente de um impul‑so orçamental”. Como se sabe, Paul Krugman é um keynesiano convicto, não sendo por acaso que foi incumbido de escrever o prefácio da reedição da Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda”, a versão original da grande obra de John Maynard Keynes, um dos economistas mais influentes do século XX. A política monetária em Angola não tem sido o veículo ideal para con‑trolar os preços, nem para estimular o crescimento. Pelo contrário, perdida a âncora cambial, o processo de subida dos preços disparou e a tentativa de controlo pela elevação das taxas de juro tem prejudicado as possibilidades de retoma do crescimento económico. A política monetária não pode continuar sozinha a segurar a retoma do crescimento e o controlo dos preços. A políti‑ca orçamental tem de recuperar o seu espaço e estabelecer uma relação de complementaridade com a política orçamental. Não é fácil e exige conhecimentos profundos e solidificados de políti‑ca económica e de economia monetária. A Europa tem‑nos. Entre nós escasseiam.

O terceiro aspecto liga‑se aos Estados Unidos em processo relativamente seguro de recu‑perar o seu trajecto de crescimento estável, perdido aquando da crise 2008/2009 e ao resulta‑do das eleições presidenciais. Paul Krugman, nas suas sempre acutilantes colunas no New York Times, considerava que seria um desastre para os Estados Unidos e o Mundo se algum republi‑cano as vencesse. Identificava mesmo como um risco essa possibilidade, que arrastaria a alte‑ração radical da política norte‑americana.

O quarto aspecto está apontado para o Brasil, a segunda mais influente economia dos BRICS e a atravessar talvez um dos períodos mais críticos do ponto de vista económico, social e políti‑co da sua História recente. Nunca, nos tempos da sua jovem democracia, o país apresentou um desempenho económico tão fraco como nos últimos 3 anos: zero por cento em 2014, ‑3,8% em 2015 e ainda com probabilidade de recessão em 2016. Mas também a Rússia está com sérios problemas ocasionados pela queda das cotações do petróleo e gás. Tal como Angola, este país tem uma dependência doentia das respectivas receitas externas e fiscais e a sua quebra afec‑tou o desempenho económico em 2015, com uma taxa de crescimento do PIB de – 3,7%. Esta recessão económica prolongou‑se em 2016 (‑0,2%), estando prevista uma recuperação positiva em 2017 (1,4%).

A Europa da moeda única está expectante quanto à decisão popular do Reino Unido de abandono da União Europeia. Grande parte dos britânicos mostrava‑se muito apreensiva com as burocracias de Bruxelas, considerando‑as entraves ao livre exercício da liberdade económi‑ca que tanto prezam desde o tempo de Adam Smith e David Ricardo. A saída da Grã‑Bretanha da Zona Económica Europeia não se fará sem perdas para ambos os lados, valendo bem mais a redução da influência dos burocratas de Bruxelas e a facilitação das regras orçamentais que encarar consequências imprevisíveis a curto e a médio prazo.

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As perspectivas económicas para 2016 foram influenciadas pelas preocupações quanto à capacidade de retoma do crescimento na China, que depois de um longo período de varia‑ção média anual do seu PIB em redor de 9,5%, passou para uma cadência mais suave de 6,5%. A alteração de algumas traves‑mestras do seu modelo de desenvolvimento foi a razão para essas preocupações, dado que não se tinha a certeza de que o mercado interno chinês pudes‑se apresentar condições equiparadas ao mercado internacional para garantir ritmos de varia‑ção do PIB capazes de puxar pela economia mundial. Hoje, a não ser que emirjam factos neste momento difíceis de prever, a China parece ter estabilizado a sua velocidade de crescimento e mantido a respectiva capacidade de influência sobre o comércio internacional (6,7% em 2017 e 6,5% em 2018, crescimentos assinaláveis, mas longe do fulgor dos anos anteriores (entre 9% e 10,5% ao ano).

Outra preocupação para 2016 relacionou‑se com o comportamento do preço das principais commodities, que durante os últimos 4 anos foi sujeito a uma pressão em baixa, com reflexos significativos sobre a capacidade de crescimento de muitas economias africanas, cujas expor‑tações e geração de receitas externas dependiam, num elevado grau, destes produtos de base. Para 2017 e 2018, as instituições internacionais apontam para uma subida e estabilidade do seu valor.

As taxas de juro nos Estados Unidos e de acordo com a nova política económica da Admi‑nistração Trump, vão manter‑se estimuladoras para o investimento, como de resto ocorreu em 2016. Resta saber se se reflectirão na criação de novos postos de trabalho, outras das promes‑sas do Presidente Trump.

Na África Subsariana, como no capítulo 1 se destacou, surgiram novos focos de tensão polí‑tica que porão em risco as excelentes perspectivas de crescimento económico. As previsões do FMI apontam para 3,5% a taxa de crescimento em 2018. Porém, o continente africano, em par‑ticular a região ao sul do deserto do Sara, apresenta‑se como um mosaico económico e socioló‑gico muito diferenciado, com tecidos económicos e estruturas produtivas fracas e sem grande competitividade. Acresce que muitos desses países são também dependentes da exportação de commodities e do comportamento dos respectivos preços, e não desenvolveram políticas estru‑turantes de diversificação económica que os defendam das imponderabilidades externas, ainda que se preveja uma retoma dos preços das matérias‑primas no mercado mundial.

As previsões sobre o crescimento económico mundial apresentadas pelas principais insti‑tuições financeiras internacionais, com destaque para o Fundo Monetário Internacional (World Economic Outlook, April 2017), não levam em conta os mais do que prováveis efeitos perversos da política económica de Donald Trump, até porque não é fácil, por enquanto, discernir clara‑mente a sua verdadeira natureza.

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PREVISÕES DE CRESCIMENTO ECONÓMICO (%)

2016 2017 2018

Mundo 3,1 3,5 3,6

Economias avançadas 1,7 2,0 2,0

Estados Unidos 1,6 2,3 2,5

Euro Área 1,7 1,6 1,6

Alemanha 1,8 1,6 1,5

França 1,2 1,4 1,6

Itália 0,9 0,8 0,8

Espanha 3,2 2,6 2,1

Japão 1,0 1,2 0,6

Reino Unido 1,8 2,0 1,5

Canadá 1,4 1,9 2,0

Fonte: IMF, World Economic Outlook, April 2017.

Do conjunto de países europeus com moeda única, a Espanha deixou para trás os anos de crise de crescimento e de influência das apertadas políticas monetárias e orçamentais coman‑dadas a partir de Bruxelas, Desde 2015 que este país da península Ibérica reencontrou uma rota de crescimento económico acima à do grupo a que pertence.

O crescimento do PIB americano para 2018 está longe das promessas eleitorais de Trump, que na altura das eleições garantiu uma taxa mínima de 3,5% com o regresso dos capitais e empresas americanas estacionadas no estrangeiro. No final de 2018 cumprir‑se‑ão dois anos de mandato presidencial e se as previsões do FMI tiverem alguma sustentabilidade, a econo‑mia americana ficará um ponto percentual a menos da meta garantida pelo actual presidente.

Destaque igualmente para a recuperação da economia mundial, de resto, desde 2015. A taxa de 3,6% prevista para 2018 mostra a retomada das dinâmicas anteriores, seguramente influenciadas pela euforia económica da Índia e de outros países emergentes da geografia asiá‑tica. Determinadas justificações do Governo angolano quanto à crise económica e financeira severa que se vive apontam para a crise internacional, argumento absolutamente desmentido pelos seus desempenhos nos últimos anos. Aparentemente, a economia mundial está de boa saúde, tendo a Directora‑Geral do Fundo Monetário Internacional, aquando da apresentação do World Economic Outlook de 2017 em Washington, em Abril, ressaltado, justamente, a sua nova dinâmica de crescimento que acabará por transmitir sinais e efeitos positivos a todas as economias, salvo para as que se atrasaram nas reformas estruturais e viveram durante tempo excessivo à sombra das receitas do petróleo (ver tabela seguinte).

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RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2016

PREVISÕES DE CRESCIMENTO ECONÓMICO (%)

2016 2017 2018

Mundo 3,1 3,5 3,6

Rússia ‑0,2 1,4 1,4

China 6,7 6,6 6,2

Índia 6,8 7,2 7,7

Brasil ‑3,6 0,2 1,7

Nigéria ‑1,5 0,8 1,6

África do Sul 0,3 0,8 1,6

África Subsariana 1,4 2,6 3,5

Fonte: IMF, World Economic Outlook, April 2017.

A Índia e a China podem vir a ser os países mais afectados com o retorno dos investimentos americanos realizados durante muito tempo nestes países, pelo que as taxas de crescimento previstas não consideram, por enquanto, a incidência deste fenómeno. O primeiro destes dois países pode mesmo vir a ser o mais prejudicado. As ameaças de Donald Trump de penalizar os investimentos americanos fora dos Estados Unidos (por exemplo, com a proibição ou pagamen‑to de taxas aduaneiras elevadas sobre as suas exportações para o país de origem) e as primeiras reacções de alguns gigantes económicos norte‑americanos podem penalizar as taxas de cresci‑mento do seu PIB, que desde 2016 têm sido as mais altas do mundo.

No geral, para as chamadas economias emergentes, 2017 e 2018 apresentam‑se, de acordo com as estimativas do Fundo Monetário Internacional, como de retoma face a 2016. No entan‑to, tudo vai depender dos efeitos da eleição de Donald Trump nos Estados Unidos.

Um destaque particular para a África Subsariana, com uma previsão de crescimento em 2018 de 3,5%, podendo ser um sinal de esperança de regresso aos bons “velhos” tempos de 2007‑2012, quando a taxa média de variação do PIB continental se situava na vizinhança de 5%.

8.3 A economia angolana

8.3.1 Aspectos gerais

O que normalmente está em causa nas abordagens sobre as previsões de crescimento é a sua transformação em desenvolvimento. As economias e os seus sistemas de reprodução e as diferentes políticas públicas devem pôr o aumento sistemático da quantidade de bens e servi‑ços anualmente produzidos ao serviço da população, afinal o objecto essencial e final da activi‑dade económica. É a isto que, resumidamente, se pode chamar de desenvolvimento.

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CEIC / UCAN

O desenvolvimento pode ser considerado como um processo de aperfeiçoamento em rela‑ção a um conjunto de valores, que se referem a situações desejáveis pela sociedade, no respei‑to e consideração pelas diferentes preferências individuais, que acabam por integrar a função de utilidade social.

Dudlley Seers identifica uma série de objectivos de desenvolvimento para os países pobres135:

• As rendas familiares deveriam ser adequadas, de modo a proporcionar uma cesta de sub‑sistência de alimentos, moradia, roupas e calçado.

• Todo o chefe de família deveria ter acesso a um emprego, não só porque isso viria asse‑gurar uma distribuição de renda tal que permitisse níveis de consumo de subsistência generalizados, mas igualmente porque um emprego é algo sem o qual uma personalidade não pode se desenvolver.

• O acesso à educação deve ser aumentado e as proporções de alfabetização elevadas.

• Deve ser dada ao povo a oportunidade de participar no governo.

Gunnar Myrdal adopta como premissas de valor instrumental certos ideais de moderni‑zação136:

• Racionalidade, na base da qual as decisões de afectação de recursos e de comportamen‑tos sociais devem ser alinhadas.

• Desenvolvimento e seu planeamento, com o sentido de que nos países pobres os meca‑nismos de mercado são incompletos.

• Aumento da produtividade, enquanto chave para se romper o círculo vicioso da pobreza e do subdesenvolvimento.

• Elevação dos padrões de vida, pela redução da pobreza, o incremento da produtividade e a intervenção planeada do Estado.

• Igualização social e económica como resultado da ultrapassagem do círculo vicioso da pobreza, da redução do analfabetismo, do incremento da educação e da democratização da sociedade.

• Melhoria nas instituições e nas atitudes, com o significado de que o desenvolvimento só o será de facto com instituições (públicas e privadas) no sentido verdadeiro do termo, aliadas a atitudes e comportamentos pró‑activos, inovadores, produtivistas e empreendedores.

135 David Colman e Frederick Nixson – Desenvolvimento Económico – Uma Perspectiva Moderna, Edi‑tora Campus da Universidade de S. Paulo, 1981.136 Idem.

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• Consolidação nacional, enquanto aviso para necessidade de se ultrapassarem divisões étnicas, raciais ou tribais características dos países pobres.

• Independência nacional com o sentido de que as decisões políticas, económicas, sociais e culturais devem atender aos interesses nacionais, minimizando‑se a influência externa.

• Democracia na zona rural visando a participação genuína da população camponesa na tomada de decisões que envolvam o desenvolvimento de um sector importante das eco‑nomias subdesenvolvidas. As políticas económicas agrárias não devem ser formuladas à revelia do seu principal agente de implementação.

• Disciplina social entendida como transparência na governação e eliminação da corrupção. Para Myrdal, o desenvolvimento não acontece na presença de “Estados Frouxos” (moder‑namente ditos “laxistas” ou “permissivos”), corruptos, atreitos a tráfico de influências e troca de favores.

Paul Streeten considera o desenvolvimento como modernização e esta como transformação dos seres humanos, acabando por ser uma síntese e ponto de acumulação duma série de trans‑formações explicitadas por Myrdal137.

Indiscutivelmente que o país está em crise financeira e económica. A realidade dos números e dos factos não permite nenhuma outra análise. Portanto, a questão desloca‑se para “o que está para vir” e o “que fazer”.

O que está para vir é muito incerto, e se se atender às previsões das agências internacionais, o preço do barril de petróleo pode descer até USD 45 (até onde pode ir a resistência da econo‑mia nacional e da população?). Não existe, a médio prazo, modelo alternativo de manutenção do crescimento da economia nacional ao baseado no petróleo.

Que falta está a fazer a diversificação da economia. A diversificação tem o seu timing para que resultem efeitos sinergéticos sobre a produção de bens transaccionáveis (a “boa” diversi‑ficação) e de bens não transaccionáveis, o emprego e a distribuição do rendimento. Tem de se perceber que o que as economias necessitam para a diversificação é de boas condições de base, retratadas no Doing Business, e não de intervenções desmedidas do Estado na economia, pre‑tendendo fazer o que compete à iniciativa privada. A tendência normal é para as economias se autodiversificarem, criando‑se novas oportunidades de investimento, conquistando‑se novos mercados externos, desenvolvendo‑se invenções, tecnologias e formas de organização da acti‑vidade produtiva. O Estado tem apenas de criar as condições. Porque uma excessiva e desme‑dida intervenção do Estado pode gerar quebras de confiança no sector privado, aumentar os compadrios, desenvolver uma cultura de tráfico de influências e reduzir a transparência na ges‑tão dos recursos públicos a simples figuras de retórica política.

137 Idem, ibidem.

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8.3.2 Os factores de risco

O crescimento económico do país está envolto em incertezas e riscos, expostos também no Relatório de Fundamentação do OGE 2017, claro na óptica do Governo. Mas existem mais e outros. Enumeram‑se os seguintes:

a) USD 1000 milhões – Dívida da Sonangol reclamada pelas oil majors: Chevron USD 380 milhões; BP USD 135 milhões; Total USD 360 milhões; ENI USD 125 milhões (Maka Angola).

b) Comportamento do preço do petróleo, que se deverá manter muito instável e oscilan‑te face à nova política petrolífera anunciada pelo Presidente eleito dos Estados Unidos.

c) Dívida pública entre 75% e 80% do PIB até final de 2017, violando‑se o limite constitucio‑nal de 60% “O que o Governo está pretendendo fazer é flexibilizar o teto, que antes era um teto rígido. Para que, se por ventura, numa situação excecional, tenha que se ir acima do teto, não se viole a lei. Mas, obviamente, há que haver um plano para que, em dois, três ou quatro anos, ou o período que seja, se volte para baixo desse teto, que agora será de referência”, explicou o economista brasileiro Ricardo Velloso, chefe da Missão do FMI a Angola.

d) O abrandamento do crescimento económico na China está a dificultar as exportações de petróleo de Angola, que terá em Fevereiro um dos piores meses, a avaliar pelos carrega‑mentos já acordados, noticia a agência financeira Bloomberg.

e) As consequências do BREXIT no relacionamento África‑União Europeia ainda por deter‑minar, mas que poderão forçar os organismos comunitários a repensar a inserção econó‑mica e comercial da Europa no mundo (por exemplo, menos África e mais Europa).

f) A política económica do Presidente‑eleito Donald Trump que já apresentou o seu progra‑ma de governação para os primeiros 100 dias, de onde se destacam a total liberalização do sistema bancário norte‑americano – fazendo recear pelo ressurgimento da crise do imobiliário de 2008/2009 – o aumento substancial da produção petrolífera americana, a denúncia dos tratados de comércio livre onde os Estados Unidos sejam parte integrante e a revisão da maior parte dos acordos de cooperação estabelecidos no passado. A política económica de Trump – uma combinação fora da ortodoxia neoliberal entre desregula‑ção, diminuição de impostos, investimento público e proteccionismo –, se aplicada como enunciada e anunciada, vai provocar uma subida das taxas de juro. Para Angola não pode‑rá ser senão uma péssima notícia.

g) No contexto da alínea anterior, a nova Administração americana com certeza que irá rever o AGOA138 ou pelo menos os clausulados que possam ser considerados menos

138 The African Growth and Opportunity Act.

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benéficos para os Estados Unidos (já que Trump não acredita nos benefícios do livre comércio): “a suspensão ou revisão em baixa deste tratado de comércio pode vir a ter consequências nefastas para África. Na realidade, entre 2008 e 2013, 70% das impor‑tações americanas oriundas dos países integrantes correspondiam a produtos listados, onde o petróleo contava com 90% do valor total (Nigéria, Angola, Chade), sendo o resto de equipamento de transporte, produtos refinados, têxteis e vestuário e produtos agrí‑colas.”139 Mesmo que Angola não tenha uma participação significativa nesta iniciativa americana para ajudar as economias africanas – as mais intervenientes nesta iniciati‑va têm sido a África do Sul, a Namíbia, o Botswana, o Lesoto, as Maurícias e o Quénia – poderia, no entanto, constituir uma janela de oportunidade para a diversificação das exportações.

h) O envio de petróleo para China para remuneração de empréstimos deixou o país com um número limitado de barris para vender no mercado, para obter divisas. Em Janeiro de 2017, não está prevista a venda de algum carregamento, “possivelmente pela primeira vez” (Reuters).

i) “O sector da promoção imobiliária vai reduzir drasticamente a sua actividade, sendo, no entanto, previsível que os edifícios que se encontram em construção possam ser con‑cluídos”; “Será difícil projectar um aumento da procura enquanto os valores do preço do petróleo se mantiverem nos actuais níveis”, segundo o Relatório do Mercado Imobiliário 2016.

j) “As dificuldades em exportar o petróleo da África Ocidental mostram que o excesso de oferta está a piorar, não a melhorar”, disse o analista de petróleo Julian Lee em decla‑rações à Bloomberg. O problema não é apenas de Angola e afecta também a Nigéria, o maior produtor africano, face ao abrandamento do crescimento económico da China, e consequente diminuição da procura de petróleo para alimentar o crescimento da econo‑mia. A Unipec, a companhia petrolífera chinesa, está inclusivamente a vender.

k) Angola e Nigéria vão ser os países mais afectados pela quebra do investimento no sector petrolífero, que vai cair 100 mil milhões de dólares nos próximos cinco anos, segundo a consultora Wood Mackenzie. “Os governos na África Subsariana têm de reavivar a indús‑tria de exploração de petróleo, oferecendo vantagens fiscais atractivas em vez de procu‑rar aumentar as receitas fiscais no actual contexto” (Agência LUSA).

l) “Um défice orçamental da magnitude projectada no projecto de orçamento para 2017 iria deixar a economia vulnerável a preços de petróleo inferiores ao projectado e aumentar a preocupação quanto à sustentabilidade da dívida pública. No nosso ponto de vista, o

139 Manuel Ennes Ferreira – “Olhar o Sul: África – O que esperar dos EUA”, Caderno de Economia, Semanário Expresso, 19 de Novembro de 2016.

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governo deveria almejar um défice fiscal não superior a 2,25 por cento do PIB para 2017, consistente com uma melhoria moderada no saldo fiscal primário não petrolífero e com um continuado ajustamento gradual a médio prazo para colocar a dívida pública numa clara trajectória descendente”, conforme Relatório da Missão do FMI de Novembro de 2016.

m) Finalmente, a inflação, sempre e em qualquer circunstância, um factor de incerteza para as decisões de investimento e de consumo. O ano de 2016 fechou com um valor próximo de 42%, prevendo o Fundo Monetário Internacional 20% para 2017 (o Governo inseriu no OGE 2017 uma taxa de inflação de 15,8%). Olhando‑se para o valor do PIB nominal oficialmente previsto para 2017 (AKZ 19746,1 mil milhões) e para a taxa real de cresci‑mento de 2,1%, pode concluir‑se que a taxa de inflação está subestimada, sendo o seu valor de consistência de 41,79% (no fundo a taxa de inflação implícita naquele valor nominal)140.

8.3.3 Os quadros de referência do Governo

As exportações de produtos não petrolíferos tem de ser a grande aposta para o crescimen‑to económico futuro. A dimensão do mercado interno é insuficiente para que se possam gerar economias de escala suficientes para a redução dos custos fixos e variáveis da produção. Pode vir a ser um erro estratégico pensar‑se que o modelo de substituição de importações (a qual‑quer preço) é a saída para se retomarem os ritmos de crescimento do PIB do passado e garantir o seu take off em condições de sustentabilidade. A construção de uma competitividade estrutu‑ral que abra o caminho para o fomento das exportações de bens transformados é um dos maio‑res desafios ao crescimento económico sustentado do país, mas a única via a seguir.

O Governo tem sobre as suas mesas de trabalho muitos documentos de estratégia onde se expõem ideias, políticas e medidas para atacar a presente situação de crise acentuada de cres‑cimento do PIB (volta a lembrar‑se que, mesmo que ainda envolta em muita polémica entre alguns organismos do Estado, o país teve uma recessão económica em 2016, estimada em ‑3,6%).

As Linhas Mestras e o documento “Criação de Novas Fontes de Receitas” destacam como grande desafio a curto prazo a criação de um sector exportador forte para gerar melhores resul‑tados para a balança comercial e a conta de serviços. Estão seleccionados 30 produtos para fazerem parte desta nova política de fomento das exportações a curto prazo (páginas 12 e 13 do segundo documento) e igualmente os países para onde se destinariam as respectivas vendas. As questões e reservas que se levantam no curto prazo são:

a) Haverá produção disponível para se atingirem os propósitos definidos? Nas reuniões havidas com o sector privado e expressas no segundo documento referido (grupo lide‑rado pela Comunidade das Empresas Exportadoras e Internacionalizadas de Angola)

140 Para a citada taxa de inflação, o PIB nominal só poderá ser de AKZ 16 810,3 mil milhões.

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garantiu‑se que o país conta com 29 empresas exportadoras e que com apoios dirigidos podem, efectivamente a curto prazo, “redobrarem as exportações de uma gama de 14 produtos” (página 4).

b) Estes 14 produtos apresentam índices de competitividade internacional? Aparentemente não, pelo que são solicitados diferentes apoios governamentais, cujos efeitos não são nem imediatos, nem porventura com implicações significativas a curto prazo (as medidas de política estão associadas a lags diferentes consoante a sua natureza). Entre esses apoios enumeram‑se: aperfeiçoamento de mecanismos e regimes tributários de apoio às expor‑tações (página 5), financiamento e garantias às exportações (página 5), implementação integral do Acordo de Facilitação de Comércio da OMC (página 6), criação de zonas espe‑ciais produtivas e de processamento industrial especializadas para a exportação (pági‑na 7), modernização do parque tecnológico nacional virado às exportações (página 7) e outras resumidas na tabela da página 8, de onde se destaca a revisão do Decreto Presi‑dencial 265/10 de 26 de Novembro.

c) Que ganhos efectivos se podem conseguir a curto prazo, admitindo haver produção disponível ou disponibilizável mais ou menos de imediato e que é possível conquistar franjas de alguns mercados internacionais (mesmo com parcerias internacionais estraté‑gicas pode revelar‑se difícil penetrar em alguns mercados internacionais e, mais impor‑tante, manter‑se essa participação, que só se compagina com cumprimento de prazos de entrega, qualidade dos produtos, acções permanentes de marketing internacional, acções de diplomacia económica incisivas, agressivas e convincentes)? Admitindo‑se pressupostos optimistas de aumento imediato da produção dos 14 produtos seleccio‑nados na página 4 do documento “Criação de Novas Fontes” os ganhos podem ser esti‑mados em 1,8 mil milhões de dólares de incremento das exportações não petrolíferas, ou seja, tão‑somente 5% do valor das exportações de petróleo de 2015. Segundo dados oficiais para 2015, as exportações de petróleo renderam ao país 35,4 mil milhões de dólares (informações oficiais ainda preliminares), representando esta diversificação um ganho de apenas 5,1%.

d) Haverá financiamento interno e externo disponível e suficiente para permitir um aumen‑to significativo, a curto prazo, da produção exportável? Parte do défice fiscal tem sido financiado com recurso à criação de dívida interna e neste momento o stock total da dívida pública está avaliado em 47% do PIB. O The Economist admite que a curto prazo a dívida pública angolana possa ultrapassar a barreira económica e psicológica de 60%, representando uma ameaça à reposição dos equilíbrios macroeconómicos fundamentais. Por outro lado, mesmo que se admita possível aumentar consideravelmente os fluxos de investimento privado estrangeiro para se parcerizarem com capitais nacionais privados – duvidável a curto prazo, não havendo expectativas de o país disponibilizar condições de transferência para o exterior de parte de dividendos ou lucros obtidos – haverá sempre

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necessidade de o sistema financeiro interno apoiar o sector privado nacional em emprés‑timos para investimento. Coloca‑se, assim, o problema do efeito evicção se o financia‑mento interno do défice fiscal tender a ser muito elevado. E sem investimento privado não se poderão atingir os níveis de produções exportáveis programados.

8.3.4 As previsões

As previsões para o crescimento da economia angolana para 2016 (ainda não fechado) e 2017 continuam a ser revistas em baixa por algumas das mais prestigiadas instituições interna‑cionais:

a) A Bloomberg reviu em baixa a previsão de crescimento da economia de Angola para este ano (2016), de 1,4% para 0,8%, abaixo da estimativa oficial de 1,1% do Governo.

b) “Em 2017, estima‑se que o crescimento do produto suba para 1,25 por cento, com‑parativamente à ausência de crescimento no ano corrente, reflectindo uma recupe‑ração no sector não petrolífero devida ao aumento programado da despesa pública e a melhores termos de troca. A projecção da inflação anual aponta para uma subi‑da para 45 por cento, no final do ano, antes de declinar para 20 por cento no próxi‑mo ano, com condições monetárias restritivas e um Kwanza estável a suportarem a desinflação. A médio prazo, as perspectivas são de uma recuperação gradual da acti‑vidade económica, embora existam riscos, entre os quais um declínio adicional nos preços do petróleo e atrasos na implementação das reformas estruturais necessá‑rias à promoção da diversificação económica, esperando‑se que o défice fiscal global atinja cerca de 4 por cento do PIB em 2016. No entanto, a dívida pública deverá vir a exceder 70 por cento do PIB no final de 2016, Relatório de Missão do FMI a Angola em Novembro de 2016.”

c) As previsões do CEIC, no seu cenário de base, apontam para uma taxa média anual de crescimento entre 2017 e 2020, de 3,2%, conforme Relatório Económico 2015.

d) A Economist Intelligence Unit (EIU) “prevê que Angola cresça menos de três por cento ao ano até 2021, o que, aliado à subida do rácio da dívida pública face ao PIB, aumenta o risco de incumprimento financeiro do país. A despesa com o serviço da dívida em 2017 deverá aumentar para 36,28%, o que, aliado a uma perspectiva de crescimento econó‑mico baixo – menos de 3% entre 2017 e 2021, segundo a nossa estimativa –, aumenta a vulnerabilidade de Angola a um incumprimento”.

Neste contexto de previsões, o Governo angolano é sempre muito cauteloso, não indo além de um ano. Sabe‑se estar em processo de elaboração um novo Plano de Desenvolvimento Eco‑nómico e Social para o período 2018‑2022 para substituir o actualmente em vigor 2013‑2017, sempre planos quinquenais à “boa maneira soviética” (prevalecem ainda muitos comportamen‑tos específicos da organização centralizada, dirigista, administrativa e autoritária dos regimes

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comunistas, como o medo da partilha de informação, o receio da crítica e do debate, a compra de apoios, etc.). No Relatório de Fundamentação do OGE 2017 estão apresentadas previsões sectoriais de crescimento para 2017.

PREVISÕES DE CRESCIMENTO DO GOVERNO PARA 2017 (%)

Sectores de actividade 2016 2017

Agricultura, pecuária, florestas 6,7 7,3

Pesca e derivados 1,7 2,3

Diamantes e outros ‑0,6 0,5

Petróleo e derivados 0,8 1,8

Indústria transformadora ‑3,9 4,0

Construção 3,2 2,3

Energia 19,2 40,2

Serviços mercantis 0,0 0,0

Outros serviços 0,0 0,0

PIB 1,1 2,1

PIB não petrolífero 1,2 2,3

Fonte: Relatório de Fundamentação OGE 2017.

Na verdade, vão longe os tempos dos crescimentos a dois dígitos e dos desperdícios das grandes oportunidades de estruturar um modelo de crescimento inclusivo e virado para a gran‑de maioria da população.

Sem o preço do petróleo nos níveis inebriantes dos anos passados, o país não voltará a regis‑tar crescimentos reais do PIB de dois dígitos. Talvez, se isto acontecer, possa ser considerada uma oportunidade para se reverem processos, modelos, políticas e programas e caminhar‑se mais de acordo com as nossas reais capacidades de gestão e de percepção dos fenómenos eco‑nómicos e sociais. Andou‑se depressa demais sem se ter percebido que o real crescimento das economias só surge nas empresas, que precisam de condições para funcionar. Mas há outros requisitos para a refundação do crescimento da economia nacional:

a) A criação de capital, nacional e estrangeiro, sendo o primeiro mais endógeno e o segundo mais atreito a discussões nacionalistas, atendendo às possíveis dependências que pode gerar e à violação da soberania nacional.

b) A mudança de atitude das empresas e das famílias, no sentido de adquirirem hábitos consolidados de poupança e de auto‑investimento, reduzindo a dependência do crédito e preferindo‑se fundos próprios. Dir‑se‑á que com uma taxa de inflação de 40%, salários

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baixos, empresas a fechar e produtividade em baixa, estas modificações não têm espaço para acontecer. É verdade, no curto prazo, mas trata‑se de alterar mentalidades para o futuro.

c) A transformação radical das elites bancárias, financeiras e económicas do país (novas caras, novas empresas, novos empreendimentos e novas sociedades)141.

d) A modificação da dimensão, atitude e orientação do sector público, no sentido de se construir um Estado mais pequeno, mais leve, mais eficaz e mais amigo dos cidadãos e das empresas.

e) A última transformação é social e psicológica para se conseguir um país mais realista, menos iludido e mais equilibrado para enfrentar os grandes desafios de transformação estrutural do mundo. As fabulosas receitas da exportação de petróleo (USD 575 385,1 milhões entre 2002 e 2016) criaram, nos dirigentes políticos em exercício de poder, em muitos empresários ligados ao regime e mesmo em muitos cidadãos, a ilusão de que Angola “estava sempre a subir” e nada a ia parar, porque era a economia que mais crescia no mundo (o que nunca foi verdade, nem com a manipulação dos dados macroeconómi‑cos). Este excesso de confiança foi‑nos fatal e hoje estamos onde estamos e como esta‑mos, sem credibilidade externa e com muitas dificuldades financeiras.

As previsões de crescimento do CEIC são sumariamente as seguintes:

RESUMO DAS PROJECÇÕES (VALORES EM %)

Rubricas 2017 2018 2019 2020 2021

Produção petróleo (M barris) 664 702 675 250 675 250 675 250 675 250

Preço barril (USD) 49,4 53,2 54,1 55,0 55,0

Taxa crescimento PIB 2,9 2,5 2,0 1,8 1,8

Taxa crescimento PIBp 1,8 1,6 0,0 0,0 0,0

Taxa crescimento PIBnp 4,2 3,4 4,1 3,5 3,5

Fonte: CEIC

141 “Os Estados Unidos querem que os bancos angolanos deixem de ter, entre os seus accionistas, pes‑soas com ligações políticas ou cargos públicos. Descontentes com as sucessivas violações às regras de compliance, Washington fez saber, durante a recente visita efectuada aos Estados Unidos pelo Gover‑nador do Banco Nacional de Angola, Valter Filipe: ou Angola afasta as pessoas expostas politicamente da estrutura accionista dos bancos comerciais ou continuará a não ter acessos aos dólares”, Gustavo Costa, Semanário Expresso, Caderno de Economia, 29 Outubro de 2016, sob o título “Estados Unidos Fazem Ultimato a Luanda”.

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9. A POSIÇÃO DE ANGOLA EM DIFERENTES ÍNDICES INTERNACIONAIS

Angola encontra‑se desfavoravelmente classificada na maioria dos índices internacionais.

Estes índices representam, essencialmente, informações sinalizadoras do estado das dife‑rentes variáveis do sistema económico, social e político de um país. São indicadores impor‑tantes para a compreensão da situação em Angola, do seu enquadramento internacional e para uma tomada de medidas capazes de corrigir os seus posicionamentos menos favoráveis. Segue‑se a descrição de 7 índices, omitindo‑se o índice de competitividade, que mede a capa‑cidade dos países em fomentar a competitividade empresarial, através de indicadores como o desempenho da economia, a eficiência dos governos e dos negócios e a qualidade das infra‑es‑truturas visto Angola não fazer parte do estudo já desde 2015, por falta de informação.

1. Índice de Desenvolvimento Humano (IDH)

A Organização das Nações Unidas (ONU), através do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), criou o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) em 1990 para mensurar a qualidade de vida das pessoas nos diferentes países do mundo.

O IDH mede o nível de desenvolvimento de um país através do rendimento per capita, das condições de saúde e de educação. A classificação dos países neste índice depende do valor obtido, que varia entre 0 e 1. A classificação situa‑se nos intervalos de desenvolvimento baixo, médio, elevado alto e muito elevado.

INTERVALOS DE CLASSIFICAÇÃO DO IDH

Desenvolvimento Humano baixo

Desenvolvimento Humano médio

Desenvolvimento Humano elevado/alto

Desenvolvimento Humano muito elevado

<0,550 0,550 – 0,699 0,700 – 0,799 >0,800

O progresso do desenvolvimento humano nos últimos 25 anos tem sido impressionante em muitas vertentes, mas os ganhos não foram universais. Há desproporção entre países, grupos socioeconómicos, étnicos e raciais, entre áreas urbanas e rurais e entre mulheres e homens. Esse progresso estendeu‑se ao paradigma de país desenvolvido de aquele que é rico para aque‑le que amplia a liberdade de escolha.

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O Índice de Desenvolvimento Humano é liderado pela Noruega, com 0,949 (HDR 2016). Este país nórdico apresenta os melhores indicadores de qualidade de vida, expectativa de vida e educação.

Angola tornou‑se numa referência, do ponto de vista económico, durante o período em que alcançou elevadas taxas de crescimento, alicerçadas no preço do barril de petróleo no merca‑do internacional, situando‑se entre 2002 e 2008 a taxa média anual de crescimento do PIB em 10,1%.

O mais recente Relatório de Desenvolvimento Humano (2016) indica que Angola ocupa a 150º posição no ranking mundial, num universo de 188 países, no grupo dos países de desen‑volvimento humano baixo. A Assembleia Geral da ONU adoptou uma resolução sobre a saída de Angola do grupo de países menos avançados até 2020. Para a passagem ao estatuto de país de rendimento médio, nos próximos cinco anos, Angola deve preparar uma estratégia nacional que assegure essa transição enquanto recebe assistência técnica e beneficia de vantagens liga‑das ao actual estatuto.

ANGOLA – IDH E TENDÊNCIAS

Índice de Desenvolvimento Humano (IDH)Mudança no

rankingCrescimento médio anual IDH (%)

2010 2011 2012 2013 2014 2015 2010/2015 2000/2010 2010/2015

0,495 0,508 0,523 0,527 0,531 0,533 4 2,38 1,49

FONTE: Human Development Report 2016.

A tabela ilustra o posicionamento de Angola nos últimos 6 anos. O aumento de 4 pontos do IDH de Angola entre 2010 e 2015 não corresponde a uma efectiva melhoria das condições de vida da população. Na verdade, é o índice de rendimento que responde por esta subida e não os indicadores relacionados com o capital social. No entanto é expressivo o crescimento médio anual de 2,38 por cento entre 2000/2010.

Quando analisado o grupo dos 15 Estados que constituem a Comunidade para o Desenvolvi‑mento da África Austral (SADC na sigla em inglês), verifica‑se que Angola fica na oitava posição, cedendo a 7.ª posição que detinha em 2015 à Suazilândia. O país que detém a melhor coloca‑ção é a Seychelles seguida pelas Ilhas Maurícias. Notamos que 6 países da SADC estão classifi‑cados em países de desenvolvimento humano médio, acima de 0,550.

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POSIÇÃO DOS PAÍSES DA SADC NO IDH (2016)

Posição Países Índice (0‑1)

63 Seychelles 0,782

64 Ilhas Maurícias 0,781

108 Botswana 0,698

119 África do Sul 0,666

125 Namíbia 0,640

139 Zâmbia 0,579

148 Suazilândia 0,541

150 Angola 0,533

151 Tanzânia 0,531

154 Zimbabwe 0,516

158 Madagáscar 0,512

160 Lesoto 0,497

170 Malawi 0,476

176 República Democrática do Congo 0,435

181 Moçambique 0,418

Fonte: Human Development Report 2016.

Na África Subsariana 35 países estão classificados como países de desenvolvimento humano baixo dos quais dez estão na cauda do desenvolvimento humano a nível mundial.

OS 10 PIORES DO MUNDO EM IDH

Posição PaísesÍndice

(0 – 0,550)

179 Eritreia 0,420

179 Serra Leoa 0,420

181 Moçambique 0,418

181 Sudão do Sul 0,418

183 Guiné 0,414

184 Burundi 0,404

185 Burkina Faso 0,402

186 Chade 0,396

187 Níger 0,353

188 República Centro Africana 0,352

Fonte: Human Development Report 2016.

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O Relatório postula que o desenvolvimento humano requer o reconhecimento de que cada pessoa é igualmente importante e que o desenvolvimento humano para todos deve começar com aqueles que estejam mais atrasados nesta pretensão.

2. Doing Business

O Doing Business foi lançado pela primeira vez em 2002 sob a responsabilidade do Banco Mundial. Desde a primeira publicação que o mesmo se tornou numa referência e numa ferra‑menta.

A classificação da facilidade de fazer negócios é baseada num conceito denominado de pon‑tuação na distância até à fronteira. Esta medida mostra o quão perto cada economia está das melhores práticas globais em regulamentação de negócios. A distância até à fronteira é reflecti‑da numa escala que vai de zero a 100, na qual zero representa o pior desempenho e 100 repre‑senta a fronteira. Uma maior pontuação até à fronteira indica um ambiente de negócios mais eficiente e instituições jurídicas mais fortes.

O estudo realizado engloba 190 economias e busca fornecer medidas quantitativas de regu‑lamentações de negócios em 11 áreas de regulamentação que são centrais para o funciona‑mento do sector privado. O país melhor classificado é a Nova Zelândia.

OS DEZ PAÍSES COM MAIOR FACILIDADE EM FAZER NEGÓCIOS (EM 199)

Posição País Pontuação

1 Nova Zelândia 87,01

2 Singapura 85,05

3 Dinamarca 84,87

4 Hong Kong SAR 84,21

5 Coreia, Rep. 84,07

6 Noruega 82,82

7 Reino Unido 82,74

8 Estados Unidos 82,45

9 Suíça 82,13

10 Macedónia 81,74

Fonte: Doing Business 2017.

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RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2016

Angola figura na posição 182, com 38,41 pontos, tendo subido um lugar entre 2016 e 2017, e está entre os dez piores países do Mundo para se fazerem negócios.

POSIÇÃO DE ANGOLA NO DOING BUSINESS AO LONGO DE 6 ANOS

Ano Posição Score

2011 163 37,61

2012 172 40,63

2013 172 42,88

2014 180 41,66

2015 183 37,46

2016 181 39,64

2017 180 38,41

Fonte: Doing Business 2017.

Reformas implementadas entre 2015 e 2016 por Angola no ambiente de negócios tornaram mais fácil o início de um negócio, ao eliminar o capital mínimo requerido, tornando o pagamen‑to das taxas menos custoso e mais eficiente e adoptado uma nova Lei laboral.

Ao analisar a economia da Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral (SADC), verifica‑se que o Botswana oferece as melhores condições para a realização de negócios (65,55 pontos), seguida pela África do Sul (65,20 pontos) e as Seychelles (61,21 pontos).

A tabela seguinte apresenta os dez melhores países para a realização de negócios na SADC, deixando claro o longo caminho a ser percorrido por Angola para que acompanhe as melhores práticas e regulamentações.

OS DEZ PAÍSES DA SADC COM MAIOR FACILIDADE PARA FAZER NEGÓCIOS

Posição Categoria Países Índice (0‑100)

1 71 Botswana 65,55

2 74 África do Sul 65,20

3 93 Seychelles 61,21

4 98 Zâmbia 60,54

5 100 Lesoto 60,37

6 108 Namíbia 58,82

7 111 Suazilândia 58,34

8 132 Tanzânia 54,48

9 133 Malawi 54,39

10 161 Zimbabwe 47,10

Fonte: Doing Business 2017.

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CEIC / UCAN

3. Liberdade Económica

O Índice de Liberdade Económica procura avaliar o grau de liberdade económica de 178 eco‑nomias em função de dez variáveis englobadas em quatro grupos: Estado de Direito, dimensão do Governo, eficiência ao nível da regulação e criação de novos negócios.

Este índice demonstra, através daqueles grupos de variáveis, que as pessoas que vivem em países com altos níveis de liberdade económica gozam de maior prosperidade, maiores liberda‑des civis e políticas e de maior expectativa de vida.

A tabela seguinte apresenta os diferentes níveis de liberdade económica e a respectiva clas‑sificação.

LIBERDADE ECONÓMICA

Níveis Classificação

Livre 80 ‑100

Boa Liberdade 70 – 79,9

Moderada Liberdade 60 – 69,9

Pouca Liberdade 50 – 59,9

Repressor 0 – 49,9

Fonte: Heritage Foundation Index Of Economic Freedom 2017.

Segundo os dados sobre “Liberdade Económica”, o país com maior liberdade económica no mundo é Hong Kong.

OS DEZ PAÍSES COM MAIOR LIBERDADE ECONÓMICA NO MUNDO

Posição País Pontuação (0‑100)

1 Hong Kong 89,8

2 Singapura 88,6

3 Nova Zelândia 83,7

4 Suíça 81,5

5 Austrália 81,0

6 Estónia 79,1

7 Canadá 78,5

8 Emiratos Árabes Unidos 76,9

9 Irlanda 76,7

10 Chile 76,5

Fonte: Heritage Foundation Index Of Economic Freedom 2017.

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RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2016

Angola no percurso que a separa da eficiência e do desenvolvimento económico está colo‑cada na posição 165 com 48,5 na pontuação, destacando‑se o choque estrutural da economia resultante da baixa dos preços do petróleo, a incerteza das receitas e a falta de reformas estru‑turais sustentáveis que devem ser levadas a cabo pelo Estado como factores para o seu posicio‑namento face a outros países da região, nomeadamente da SADC.

OS DEZ MELHORES PAÍSES DA SADC

Posição País Pontuação (0‑80)

34 Botswana 70,1

78 Namíbia 62,5

81 África do Sul 62,3

85 Seychelles 61,8

88 Swazilândia 61,1

105 Tanzânia 58,6

113 Madagáscar 57,4

117 República Democrática do Congo 56,4

119 Guiné‑Bissau 56,1

122 Zâmbia 55,8

Fonte: Heritage Foundation Index Of Economic Freedom 2017.

As pontuações que Angola tem vindo a obter no índice de liberdade económica classificam o país sistematicamente em “reprimido”. Fazendo uma comparação entre os índices de Angola e a média mundial e regional verifica‑se que as pontuações de Angola têm estado muito abaixo dessas médias. A tabela apresenta os avanços e retrocessos de Angola ao longo dos últimos seis anos neste índice de liberdade económica entre 2011 e 2016.

LIBERDADE ECONÓMICA

Ano Posição Pontuação

2011 161 46,2

2012 160 46,7

2013 158 47,3

2014 160 47,7

2015 158 47,9

2016 156 48,9

2017 158 48,5

Fonte: Heritage Foundation Index Of Economic Freedom 2011‑2017.

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CEIC / UCAN

4. Transparência Internacional

O Índice de Percepção da Corrupção é hoje a mais conhecida e utilizada medição da corrupção em pesquisas científicas. Para formar o índice, empresários e analistas de diversos países, totali‑zando 176 países, são convidados a dar sua opinião sobre o grau de corrupção em cada país. Desta forma, o índice não mede objectivamente a corrupção, mas sim como o conjunto da sociedade percebe a corrupção. O índice é criticado por duas razões principais: primeiro, pela influência que a corrupção passada ou o destaque dado pela imprensa a casos isolados pode exercer na per‑cepção. Segundo, a forma de cálculo dificulta que se projectem os índices em séries estatísticas.

Uma maior pontuação significa menos (percepção de) corrupção, uma menor pontuação significa maior (percepção de) corrupção. O índice varia entre 0 e 100 sendo que países com maior índice de percepção de corrupção são aqueles que obtêm um valor entre 0 e 49.

Os dez países menos transparentes do mundo apresentam algumas características comuns tais como uma fraca governação, a existência permanente de conflitos e guerras, instituições públicas bastante débeis, ausência de independência dos Mídias locais e um poder judicial for‑temente dependente do poder político. Se entendermos que a transparência é fundamental para qualquer país que queira captar fortes investimentos para a sua economia, concluímos que Angola tem muito que trilhar neste quesito. A relação biunívoca entre corrupção e desigualda‑de alimenta um círculo vicioso entre corrupção e distribuição desigual do poder e da riqueza.

A posição de Angola relativamente aos outros países é a 164, mas a sua pontuação, enten‑dida como a percepção do nível de corrupção no sector público é de 18, num intervalo entre 0 a 100. A tabela a seguir apresenta a condição de Angola ao longo dos últimos cinco anos neste índice de percepção da corrupção.

ANO POSIÇÃO PONTUAÇÃO/100

2011 168 2

2012 157 22

2013 153 23

2014 161 19

2015 163 15

2016 164 18

Fonte: Transparency International (Corruption Perception Index 2011-2016).

O país menos corrupto do mundo é a Dinamarca, cuja pontuação tem variado entre 90 e 92 no período entre 2012 e 2016 e o país mais corrupto é a Somália, com uma variação na pontua‑ção no mesmo intervalo de tempo entre 8 e 10. Na lista dos países membros da Comunidade para Desenvolvimento da África Austral (SADC), o Botswana, Ilhas Maurícias e a Namíbia lide‑ram a lista dos dez países mais transparentes da SADC.

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RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2016

5. Índice Ibrahim

O Índice Ibrahim de Governação Africana (IIAG) mede a qualidade da governação em todos os países africanos numa base anual. A construção deste índice tem em consideração variados indicadores, tais como a distribuição de bens e serviços públicos, direitos humanos e desen‑volvimento humano, igualdade de género, ambiente de negócios, infra‑estruturas, saúde e educação. A elaboração desta classificação, que é a principal avaliação da liderança africana, é realizada com base em dados fornecidos por 34 instituições diferentes, entre as quais órgãos ligados às Nações Unidas, centros de pesquisa e investigação, organizações não‑governamen‑tais e entidades vinculadas ao sector privado. No estudo de 2016 participam 54 países, todo o continente africano, e são analisadas categorias como Segurança e Estado de Direito, Partici‑pação e Direitos Humanos, Oportunidade Económica Sustentável e Desenvolvimento Humano em 95 indicadores.

O Relatório de 2016 revela as tendências dos países africanos em boa governação entre 2006 e 2015 e captura pela primeira vez, através de inquéritos (o Public Attitude Survey), os pareceres de cidadãos africanos sobre o desempenho da governação nos respectivos países, em todas as quatro categorias.

Em África, as Ilhas Maurícias lideram a lista dos 10 países que apresentam as melhores práticas de governação (79,9 pontos) e uma tendência positiva no período analisado de 2,3. O segundo lugar é ocupado pelo Botswana (73,7) com tendência negativa de 0,5 e o terceiro por Cabo Verde (73,0) e tendência de 1,9 positivo. Estes países têm demostrado que uma boa prática de governação é verdadeiramente capaz de gerar desenvolvimento social e económico sustentável.

Entre os países que registaram melhorias na governação, Angola progrediu positivamente 5 pontos entre 2006 e 2015 com uma pontuação de 39,2 neste ano, mantendo‑se no entanto na categoria média‑baixa (23‑40,9) ao longo do período. A tendência média e a pontuação na governança global e nível de categoria em todos os países africanos foram de melhoria em 35 países e de declínio em 16.

6. Índice de Democracia

O Índice de Democracia é compilado pela revista The Economist com a finalidade de exa‑minar o estado da democracia em 165 países. O índice baseia‑se em 60 indicadores agrupados em cinco categorias: processo eleitoral e pluralismo, funcionamento do Governo, participação política, cultura política e liberdades civis, com notas que variam entre 0 e 10. Quanto mais dis‑tanciada for a nota do valor máximo menos democrático é o país na classificação.

Os países são classificados em “democracias plenas”, “democracias imperfeitas”, “regimes híbridos” (todos considerados democracias) ” e “regimes autoritários”.

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Quase metade dos países do mundo podem ser considerados democracias de algum tipo, mas o número de “plenas democracias” diminuiu de 20 em 2015 para 19 em 2016. A Noruega é o país com a democracia mais forte, seguindo‑se a Islândia, a Suécia, a Nova Zelândia, Dina‑marca, Canadá e Irlanda em sexto lugar, a Suíça, a Finlândia e a Austrália. Uma característica central destes países é o facto de todos fazerem parte da lista dos países com desenvolvimento humano elevado.

Segundo o Relatório, 76 Países ou 45,5% de todos os países podem ser considerados demo‑cracias. Dos restantes, 51 são regimes autoritários e 40 são regimes híbridos.

ÍNDICE DE DEMOCRACIA PELO TIPO DE REGIME 2016

Índice de Democracia 2016 N.º Países % PaísesPopulação do Mundo

(%)

Democracia plena 19 11,4 4,5

Democracia imperfeita 57 34,1 44,8

Regime híbrido 40 24,0 18,0

Regime autoritário 51 30,5 32,7

Fonte: IEU 2016.

Em África a lista é liderada pelas Ilhas Maurícias (18.º lugar, com 8,28 pontos) considera‑da uma plena democracia, seguida por Cabo Verde (23.º, com 7,94 pontos) como democracia imperfeita. O Botswana está na terceira posição, com 7,87 pontos, como democracia imperfeita.

A nível da Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral (SADC) encontramos um país com democracia perfeita, três países com democracia imperfeita, quatro com regime híbri‑do e os restantes como regimes autoritários segundo o The Economist.

OS PAÍSES DA SADC COM DEMOCRACIAS PERFEITAS E IMPERFEITAS

Posição Países Classificação

18 Maurícias Democracia perfeita

27 Botswana Democracia imperfeita

39 Africa do Sul Democracia imperfeita

71 Namíbia Democracia imperfeita

77 Zâmbia Regime híbrido

83 Tanzânia Regime híbrido

91 Malawi Regime híbrido

96 Madagáscar Regime híbrido

Fonte: EIU 2016.

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RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2016

Angola é considerada um regime autoritário, classificado no lugar 130, com 3,40 pontos. Um dos elementos‑chave do funcionamento de uma democracia é a confiança nas instituições. A tabela seguinte apresenta a posição e pontuação de Angola, num total de 167 países, em ter‑mos da dimensão democrática.

ÍNDICE DE DEMOCRACIA EM ANGOLA 2011/2016

Ano Classificação Pontuação

2011 133 3,32

2012 133 3,35

2013 132 3,35

2014 133 3,35

2015 131 3,35

2016 130 3,40

Fonte: EIU 2016.

7. Índice de Terrorismo

O Índice de Terrorismo classifica os países pelo impacto das actividades terroristas, fazendo uma análise das dimensões económicas e sociais associadas com o terrorismo.

Este índice classifica 163 países, cobrindo 99,7% da população mundial e examina ten‑dências desta actividade em diversos países. Os indicadores utilizados incluem o número de incidentes terroristas, as fatalidades, ferimentos e danos patrimoniais. Existem três factores estatisticamente relevantes associados ao terrorismo: violência patrocinada pelo Estado, quei‑xas grupais e altos níveis de criminalidade. É fundamental realçar que as taxas de pobreza, os níveis de escolaridade e a maioria dos factores económicos não possuem nenhuma associação com o terrorismo.

A posição dos países depende duma escala de pontuação que vai de 0 a 10, sendo que 0 representa actividade terrorista nula e 10 actividade terrorista máxima.

O Relatório de 2016 reforça o facto de que o terrorismo é uma forma concentrada de vio‑lência, cometida principalmente num pequeno número de países e por um pequeno número de grupos. Os cinco países que sofrem o maior impacto do terrorismo medido pelo índice global de terrorismo são o Iraque, o Afeganistão, a Nigéria, o Paquistão e a Síria que representaram 72 por cento de todas as mortes de Terrorismo em 2015. Há, no entanto, também a considerar países africanos produtores de petróleo expostos ao terrorismo.

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CEIC / UCAN

PAÍSES AFRICANOS PRODUTORES DE PETRÓLEO EXPOSTOS AO TERRORISMO

N.º PaísesPosição

(lista de 162 países)Score (0 – 10)

1 Nigéria 3 9,314

2 Egipto 9 7,328

3 Líbia 10 7,283

4 Camarões 13 7,002

5 Níger 16 6,682

6 República Democrática do Congo 17 6,633

7 Sudão 18 6,6

8 República Centro Africana 20 6,518

9 Chade 27 5,83

10 Tunísia 35 4,963

11 Argélia 42 4,282

12 África do Sul 52 3,531

13 Costa do Marfim 72 2,177

14 Marrocos 95 0,892

15 Congo 105 0,365

16 Mauritânia 125 0,067

17 Angola 130 0

18 Guiné Equatorial 130 0

19 Gana 130 0

Fonte: Global Terrorism Index 2011-2016.

De entre os países africanos produtores de petróleo, Angola é de baixa tendência de activi‑dades terroristas, assim como a Guiné Equatorial e o Gana. Para Angola, os anos de 2011 e 2012 ficaram marcados na história como sendo os de maiores tendências de actividades terroristas no país. Esta propensão foi baixando a cada ano até 2016, altura em que Angola ocupou a posi‑ção 130 num total de 162 países, com classificação de 0.

ANGOLA‑ÍNDICE DE TERRORISMO 2011/2016

Ano Classificação Pontuação

2011 65 1,696

2012 65 1,696

2013 nd nd

2014 95 0,41

2015 111 0,243

2016 130 0

Fonte: Global Terrorism Index 2011-2016.

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RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2016

10. RECAPITULAÇÃO DOS PRINCIPAIS ACONTECIMENTOS ECONÓMICOS DE 2016

Pode dizer‑se que 2016, enquanto continuação da degradação da situação económica do país, iniciada em meados de 2014, foi dominado por acontecimentos e registos justamente relaciona‑dos com a grave crise financeira do país. Entre críticas e iniciativas governamentais, os aconteci‑mentos económicos giraram todos eles em redor da crise e das perspectivas para a ultrapassar.

Janeiro

4

Empréstimo da China reduz impacto da crise

Angola recebeu da China novas linhas de crédito de seis mil milhões de dólares que vão ajudar a enfrentar as dificuldades orçamentais provocadas pela quebra do preço do petróleo. As novas linhas de crédito, negociadas na sequência da visita do Presidente José Eduardo dos Santos a Pequim e destinadas a investimentos públicos em infra‑estruturas, elevam o valor total dos empréstimos chineses assumidos por Angola para perto de 20 mil milhões de dólares.

21

Emissão de dívida capitaliza Banco

O Governo de Angola aprovou uma emissão especial de Obrigações do Tesouro até 27,4 mil milhões de kwanzas (175,2 milhões de dólares) para capitalizar o Banco de Desenvolvimento de Angola (BDA), nos termos de um despacho presidencial. A emissão especial tem um prazo de amortização de 24 anos e paga uma taxa de juro de cinco por cento.

29

Importar cimento continua proibido

O Governo angolano decidiu manter a proibição de importação de cimento em 2016 em 15 províncias, no âmbito da política de protecção da produção nacional, numa altura em que o país possui capacidade instalada para responder às necessidades internas, de acordo com decreto presidencial. A decisão exclui as províncias fronteiriças de Cabinda, Cunene e Kuando‑ ‑Kubango, que continuam a ter uma quota anual excepcional de importação individual de 150 mil toneladas. O decreto justifica a decisão com o investimento feito pelo sector nos últimos anos que permitiu a produção anual de oito milhões de toneladas, valor acima das necessida‑des de Angola que, em 2014, foram de cinco milhões de toneladas.

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CEIC / UCAN

Fevereiro

18

Confirmada a descoberta da maior jóia

A Empresa Nacional de Diamantes (ENDIAMA) confirmou em comunicado a descoberta de um diamante aluvionar de 404,2 quilates (80 gramas), extraído no Projecto Lulo, província da Lunda Norte, pela operadora Lucapa Diamond Company Limited, empresa sedeada na Aus‑trália. O diamante, o maior jamais encontrado em Angola, encontra‑se entre os 30 maiores extraídos até à data no mundo. O Projecto Lulo é operado no âmbito de uma associação em participação, onde a ENDIAMA detém 32 por cento, a Lucapa Diamond Company Limited 40 por cento e a operadora Rosas & Pétalas 28 por cento.

Março

31

BNA eleva a taxa básica de juro

O Banco Nacional de Angola agravou todas as taxas de referência do mercado, como é o caso da taxa básica de juro ou taxa BNA, que foi aumentada em dois pontos percentuais para 14 por cento, informou o banco central em comunicado divulgado em Luanda. A taxa de juro da facilidade permanente de cedência de liquidez foi igualmente agravada em dois pontos percen‑tuais, de 14 para 16 por cento, e a da facilidade permanente de absorção de liquidez foi aumen‑tada em apenas meio ponto percentual, de 1,75 para 2,25 por cento.

Abril

18

Reformas dominam discussões com o FMI

As reformas económicas em curso no país, para combater a desaceleração económica, esti‑veram no centro do discurso do ministro das Finanças, Armando Manuel, em Washington, no quadro das reuniões da Primavera do Banco Mundial (BM) e do Fundo Monetário Internacio‑nal (FMI). Armando Manuel, que falava num painel sobre ideias para combater a desacelera‑ção da economia mundial, recordou que Angola, perante a queda do preço do petróleo, gizou uma estratégia que visa introduzir no país um novo ciclo económico menos dependente desta matéria‑prima. O ministro das Finanças frisou que um dos sectores que mais atenção recebe do Executivo é o da agricultura. A par da agricultura destacou o sucesso da reforma tributária e a entrada do país nos mercados internacionais com a emissão, em finais de 2016, dos Eurobonds.

21

FMI apresenta previsões desanimadoras

O Fundo Monetário Internacional (FMI) considerou a economia global cada vez pior e o mundo a entrar num lugar cada vez mais arriscado e violento. “O mundo está a crescer pouco há demasiado tempo”, afirmou Maurice Obstfeld, economista‑chefe do Fundo Monetário

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RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2016

Internacional, quando procedia à abertura da conferência de imprensa do estudo Panorama Económico Mundial (World Economic Outlook) que decorreu em Washington. No relatório, o Banco Mundial (BM) reduziu a previsão de crescimento económico para Angola em 2016 para 0,9 por cento, o valor mais baixo de todas as previsões já avançadas pelas instituições interna‑cionais, no seguimento da crise petrolífera.

Maio

Fundo soberano aumenta de valor

O valor líquido da carteira de investimentos do Fundo Soberano de Angola (FSDEA) está ava‑liado em 4,7 mil milhões de dólares, dos quais 2,7 mil milhões (58 por cento) são destinados a projectos em desenvolvimento no país e na África Austral, anunciou a instituição em comunica‑do sobre o balanço do ano passado. A carteira do FSDEA está diversificada internacionalmente e detém alocações aos fundos de capital de risco (58 por cento), a activos de renda fixa (23 por cento), a activos de renda variável (19 por cento), aos derivados financeiros e às moedas. A nota diz que a alocação a fundos de capital de risco, correspondente a 58 por cento da carteira, visa o investimento directo em Angola e noutros países da África Subsariana.

Junho

10Novas obras

O Governo adjudicou empreitadas de obras públicas a empresas chinesas por mais de 1,8 mil milhões de dólares, financiadas pela Linha de Crédito da China (LCC). A informação consta de vários despachos presidenciais, com datas entre 23 e 31 de Maio. Os concursos, lê‑se nos documentos, foram limitados “por prévia qualificação” das empresas, no âmbito desta linha de financiamento.

15Missão do FMI reconhece esforço fiscal

A missão do Fundo Monetário Internacional (FMI), que esteve de 1 a 14 de Junho em Luan‑da, reconheceu o esforço fiscal realizado pelo Governo angolano em 2016 para tornar susten‑tável a dívida pública. Alerta ainda para que a dívida pública seja mantida nos níveis correntes, de modo a não comprometer o equilíbrio das contas do Estado em 2017.

Julho

2Fim dos funcionários fantasmas reduz despesas na Função Pública

O Ministério das Finanças anunciou em comunicado que foram detectados mais de 55 mil casos de funcionários “fantasmas” no Sistema de Gestão Financeira do Estado. A desactivação destes funcionários no SIGFE, instrumento de gestão que permite ao Ministério das Finanças honrar oportunamente o compromisso com os trabalhadores, atesta o esforço de contenção da despesa pública com pessoal.

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Agosto

10

País aderiu ao mecanismo de facilitação do comércio

Angola formalizou a adesão à convenção internacional para simplificação e harmonização dos regimes aduaneiros da Organização Mundial das Alfândegas, que visa facilitar o comércio internacional. A resolução que aprova a adesão a esta convenção, instituída a 25 de Setembro de 1974, foi ratificada inicialmente pela Assembleia Nacional em Maio de 2015, mas carecia de publicação oficial para entrar em vigor, o que aconteceu no final de Julho.

Setembro

9

Sector empresarial público acerta contas

O Instituto para o Sector Empresarial Público (ISEP) e o Ministério da Economia homologa‑ram, em Luanda, as contas do exercício de 2015 de 29 empresas do Sector Empresarial Público (SEP), oito das quais sem reservas. Para 2015, foram homologadas, sem reservas, as contas das empresas Edições Novembro, Angop, Imprensa Nacional, Grupo ENSA, TAAG, Unicargas e das empresas portuárias do Amboim e do Lobito.

10

Acordo bilateral combate a evasão

Dez meses depois da sua assinatura, o acordo, entre Angola e os Estados Unidos, para melhorar o cumprimento das obrigações fiscais internacionais angolanas entrou em vigor no final de Agosto. O documento permite a adesão de Angola ao Foreign Account Tax Complian‑ce Act (FATCA), instrumento norte‑americano de combate à fuga aos impostos, que envolve dezenas de países aderentes, para travar paraísos fiscais, branqueamento de capitais e apoio ao terrorismo, prevendo sanções aos que não o integrarem. O acordo para a adesão de Angola – visada internacionalmente por estas práticas ilícitas – ao FATCA foi assinado a 9 de Novembro de 2015, mas a entrada em vigor desse entendimento com os Estados Unidos e a sua imple‑mentação aconteceram a 29 de Agosto, conforme um decreto presidencial. “A implementação pelo Banco Nacional de Angola das recomendações que constam do Plano Director do Grupo de Acção Financeira Internacional [GAFI] ditou progressos significativos do país”, refere o banco central. O BNA assegurou que “deixou de estar sujeito ao processo de monitoramento contra o branqueamento de capitais e financiamento ao terrorismo (AML/CFT) a nível global”, de acordo com o recente relatório emitido pelo GAFI, que visitou o país e os bancos nacionais em Janeiro.

17

Lei dos contratos públicos em vigor

A nova Lei dos Contratos Públicos, aprovada pela Assembleia Nacional, que revoga a antiga Lei da Contratação Pública (Lei n.º 20/10, de 7 de Setembro) entrou em vigor refere uma nota do Ministério da Economia. O documento, que defende a racionalização, redução e o controlo

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dos gastos públicos, tem como principal objectivo modernizar e simplificar os procedimentos de contratação pública. O diploma legal apresenta como novidades a consagração expressa do procedimento de contratação simplificada aplicável à celebração de contratos de valor reduzi‑do, bem como as situações materiais que justificam a adopção de um procedimento não con‑correncial. O Ministério das Finanças diz que a proposta vem eliminar a fase de qualificação do concurso público, clarificando a diferença entre este procedimento e o concurso limitado por prévia qualificação, assim como a eliminação do procedimento de negociação.

Outubro

4

Nova plataforma da Bolsa

A Bolsa de Dívida Interna e Valores de Angola (BODIVA) iniciou, em Luanda, no dia 29 de Setembro, o processo de migração dos Títulos do Tesouro (TT) para o Sistema Centralizado de Valores Mobiliários (CE‑VAMA), anunciou ontem o Ministério das Finanças. A informação cons‑ta da circular emitida pela entidade gestora no sistema e, indica o documento, as negociações de Títulos do Tesouro por determinação do emitente, deixam de ocorrer no Mercado Regula‑mentado de Obrigações e Valores Mobiliários (MROV) e passam a ser admitidos à negociação no Mercado de Bolsa de Títulos Públicos, designado por MBTT, a partir do dia 21 de Outubro.

9

Falta aproveitar o comércio preferencial

Angola, com exportações maioritárias de petróleo, não obtém vantagens da Lei sobre Cres‑cimento e Oportunidade de Desenvolvimento em África (AGOA), um mecanismo legal norte‑ ‑americano instituído em 2000 a favor dos países da África Subsariana sem acordos comerciais com os Estados Unidos. A informação foi prestada pela embaixadora norte‑americana, numa conferência de imprensa consagrada à II Cimeira de Negócios Estados Unidos‑África, realizada em Washington. A exportação das 40 toneladas de café que em 2016 chegaram ao Porto de Bal‑timore representa um passo significativo para Angola, onde o Governo lidera um processo de diversificação da economia, considerou Helen La Lime.

Novembro

16

Mercado da Bolsa é aberto ao público

A abertura do mercado da Bolsa de Dívida e Valores de Angola (BODIVA) e o lançamento da Central de Valores Mobiliários de Angola (CEVAMA), proporciona melhor ambiente de negó‑cios, adequada segurança jurídica e legítima confiança de quem investe e de quem se financia, afirmou o ministro das Finanças. Archer Mangueira, que presidiu ao acto, referiu que com estes dois instrumentos, qualquer cidadão passa, a partir de agora, a ter acesso aos Títulos de Dívi‑da Pública. Para o Estado, que tem sempre de se financiar, o mercado de Bolsa de Títulos do Tesouro traz inúmeras van tagens, incluindo a remuneração das poupanças das famílias. Com o

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mercado de Bolsa de Títulos de Tesouro, o ministro acredita que o mercado secundário de títu‑los públicos vai também converter‑se num instrumento de política monetária à disposição do Banco Nacional de Angola (BNA).

Dezembro

14

BDA relança o sector produtivo

O Banco de Desenvolvimento de Angola (BDA) financiou mais de 800 projectos, nos dez anos de existência, perfazendo uma carteira de crédito de 240 mil milhões de kwanzas, infor‑mou a instituição em comunicado. Com metade do montante global, o sector da indústria foi o que mais beneficiou do crédito do BDA, seguido pela agro‑pecuária (27 por cento), enquan‑to o comércio e serviços absorveu 23 por cento da carteira. Os projectos executados geraram 100 mil postos de trabalho directos e indirectos e um valor acrescentado bruto na economia de cerca de 200 mil milhões de kwanzas.

31

BNA busca maior autoridade

Valter Filipe denunciou irregularidades no sistema financeiro que vão desde a incapacidade de o banco central exercer o seu papel de regulador com o devido rigor até à promiscuida‑de e atropelos à ética bancária pelos bancos comerciais, numa economia onde 70 por cento das empresas são de imigrantes de origem duvidosa e 90 por cento das empresas alimenta‑res geridas por estrangeiros. Para evitar que o sistema financeiro angolano seja atirado para o isolamento, o novo Governo do BNA aplica um pacote de medidas denominado “Projecto de Adequação do Sistema Financeiro Angolano às Normas Prudenciais e Boas Práticas Internacio‑nais”. O novo instrumento alinha a prática bancária angolana com os mecanismos de controlo e supervisão do sistema financeiro internacional. Assim, o BNA procura impor‑se como uma ver‑dadeira autoridade de supervisão com capacidade para ditar regras de boas práticas aos ban‑cos comerciais e outras entidades financeiras no sentido de evitar eventuais desvios de divisas. Com as novas regras em mãos, a equipa de Valter Filipe tem negociado com o FED (banco cen‑tral norte‑americano) e o BCE o apoio à normalização do sistema financeiro angolano.

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RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2016

11. MONOGRAFIA DA SITUAÇÃO ECONÓMICA DA PROVÍNCIA DO MOXICO

A presente monografia da economia da província do Moxico pretende, após uma breve caracterização geográfica, administrativa e demográfica, apresentar uma caracterização e análi‑se dos principais sectores económicos. Complementa‑se esse estudo com um diagnóstico estra‑tégico das forças, fraquezas, oportunidades e ameaças das dinâmicas económicas da província. Em forma de conclusão é apresentado o posicionamento do Moxico no contexto do desenvol‑vimento nacional e da Comunidade da África Austral (SADC) e são apresentadas algumas reco‑mendações.

11.1 Caracterização geográfica, administrativa e demográfica

Moxico é a maior e mais oriental província de Angola, com uma área de 223 023 km², ocu‑pando 17,9 % da extensão territorial nacional. Está localizada entre os paralelos 10o16’ de lati‑tude Sul e 18o24’ de longitude Este. Limita‑se a Norte com a província da Lunda Sul, a Sul com a do Kuando‑Kubango, a Nordeste com a República Democrática do Congo (RDC), a Leste e Sudeste com a República da Zâmbia e a Oeste com a província do Bié (ver mapa). A capital da província é a cidade do Luena, antiga Vila Luso, situada num planalto de 1 320 metros de alti‑tude que se espraia entre os rios Luena a Sul e Lumeji a Norte, entre 11o45’99’’ de latitude Sul e 19o56’6’’ de longitude Este, com edifícios bem alinhados ao longo de ruas amplas e sombrea‑das de mangueiras e acácias rubras. Luena, no ano de 1895 foi (pelo tenente‑coronel Trigo Tei‑xeira, chefe da primeira expedição de ocupação colonial portuguesa que chegou a esta região) primeiro edificada à margem esquerda do rio Mussimwoji (hoje Moxico‑Velho, 17 km da actual cidade) e em Maio de 1956 foi elevada à categoria de cidade. Luena dista 1314 quilómetros de Luanda, por estrada (passando por Saurimo – a uma distância de 265 quilómetros, Malange e N’dalatando) e 1034 quilómetros do litoral Atlântico (Lobito‑Benguela) pelo caminho‑de‑ferro de Benguela (CFB).

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MAPA DE ANGOLA E A LOCALIZAÇÃO DA PROVÍNCIA DO MOXICO

dt51relatório economico 2016

1p · FR

RepúblicaDemocrática

do Congo

A N G O L A

Luanda

Oce

ano

Atlâ

ntico

MOXICO

Zâmbia

NamíbiaN

0 100 200 300 km

Administrativamente a província do Moxico está dividida em nove municípios denominados Alto Zambeze, Bundas, Kamanongue, Kaméia, Leua, Luacano, Luau, Luchazes e Moxico e exis‑tem 2622 autoridades tradicionais.142

MAPA DA PROVÍNCIA DO MOXICO

dt52relatório economico 2016

1p · FR

N0 50 100 km

Zâmbia

A N G O L A

Alto Zambeze

LumbalaNguimbo

Luacano

Luau

KameiaLéua

Luena

Luchazes

Camanongue

142 O nome Moxico (importante soba da região) é derivado de uma espécie de cesto feito de fibras para o transporte de peixe, víveres ou tudo quanto se produzia e produz e, na altura da resistência anticolonial, armas. O soba, o receptáculo de todas as questões da sua jurisdição (queixas, desaven‑ças, injustiças, etc.), autodenominou‑se adoptando o nome Moxico, pelo qual passou a ser chamado e conhecido, a ele e aos seus sucessores.

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RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2016

MAPA DAS COMUNAS DO MOXICO

dt53relatório economico 2016

1p · FR

Zâmbia

AltoZambeze

LuacanoLagoDilolo

Luau

Kameia

N0 50 100 km

Luena

Kangumbe Lucusse

Lutuai

Léua Liangongo

CaiandaKavungo

Lovua

Calunda

CaquengueLumbala

Luvuei

LutemboSessa Lumbala

Nguimbo

TempueCassamba

Luchazes

Macondo

Mussuma

Ninda

Chiume

Muie

A N G O L A Camanongue

Cangombe

De acordo com os dados do Censo 2014, a população estimada da província é de 727 594 habitantes, representando uma densidade populacional de aproximadamente 3 habitantes por km2. Cerca de 49% da população é do género masculino e 51% do género feminino. O municí‑pio do Moxico é o mais populoso, concentrando 48% da população da província, seguindo‑se os municípios do Alto Zambeze com 14%, Luau com 12% e Bundas com 9%. Estes 4 municípios concentram 83% do total da população residente na província. O município do Luchazes regista o menor número de residentes com 2% da população da província. Seguem‑se outros quatro com uma população inferior a 5% da população da província, nomeadamente Kamanongue, com 5%, Léua, com 4%, Kaméia com 4% e Luacano com 3%. Estes cinco municípios concentram apenas 17% da população da província. Do ponto de vista da sua composição etnolinguística, a população da província do Moxico é integrada maioritariamente pelos seguintes grupos: Cokwe, Luvales, Ovimbundu, Lunda Dembo, Nganguela, Bundas e outros pequenos grupos étnicos.

11.2 Diagnóstico dos sectores económicos

De acordo com o Plano de Desenvolvimento Integrado da Província do Moxico 2012‑2025, a região do Moxico começou a existir para a economia após a chegada do CFB ao Luau, em 1929, e a consequente integração da área aos sistemas ferroviários da República Democrática do Congo (RDC) e da Zâmbia. A partir de 1931, o porto de Lobito começou a receber carregamen‑tos de cobre provenientes do Catanga (RDC). Este transporte ferroviário representava o cami‑nho mais curto para escoar as riquezas mineiras do Sul do Congo para a Europa.

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A economia regional também se baseava na agricultura de subsistência pela população local e em trocas comerciais de reduzido montante e destinado à subsistência. As comunidades, sendo de várias etnias tinham as suas especificidades, sendo a agricultura desenvolvida espe‑cialmente pelos Chokwes e Umbundos, a pesca e a caça eram praticadas pelos Luvales e Ngan‑guelas. Quando o Moxico foi elevado a distrito em 1917,143 a sua posição estratégica permitiu que se tornasse um entreposto comercial de abastecimento regional e pólo de prestação de serviços. Há relatos da presença de muitos comerciantes ali sediados que eram fornecedores de produtos para a Lunda e para a Diamang. Experiências feitas nos anos 70, com a instalação de indústrias agro‑transformadoras induziram o espectacular progresso industrial do Luena regis‑tado no final do período colonial, com a produção local de licores, vinhos e bebidas espirituo‑sas, largamente consumidas na província e nos países vizinhos.

11.2.1 Agricultura, silvicultura, pecuária e pescas

Historicamente, a agricultura tem constituído a base do desenvolvimento socioeconómi‑co da província que possui amplas terras aráveis (70% do território) e uma diversificada base de recursos naturais. De entre as culturas fundamentais destacam‑se o arroz, a mandioca, as hortícolas, o milho, a massambala, o massango, a batata‑doce, o girassol, os citrinos, os euca‑liptos, os pinheiros, entre outros. Do ponto de vista paisagístico e humano, o Moxico apresen‑ta cinco unidades diferenciadas, denominadas zonas agro‑ecológicas, nomeadamente a zona agrícola 19, a zona agrícola 20, a zona agrícola 21 e a zona agrícola 26/28 (Diniz, 2006).144 A exploração agrícola no Moxico é essencialmente de sequeiro. O ciclo vegetativo das culturas anuais coincide com a estação das chuvas, que é bem expressiva. O regadio torna‑se necessário somente no período seco e em relação à produção hortícola. De acordo com o Relatório Anual da Direcção Provincial da Agricultura, Desenvolvimento Rural e Pescas (DPADRP), em 2016 o

143 O distrito do Moxico foi criado por decreto em 15 de Setembro de 1917, como território desmem‑brado do distrito de Benguela, pelo Decreto 3.365 do Governo colonial português e a sua instalação aconteceu em 1918. A criação do distrito do Moxico esteve ligada à ocupação político‑militar do terri‑tório para consolidar as fronteiras com a Zâmbia, delimitadas pelo acordo com a Inglaterra em 1894. Inicialmente, a sede distrital era a velha Moxico, a 18 quilómetros distância de Luena, que hoje é a capital da província.144 A zona agrícola 19 é conhecida como a zona de influência do CFB. A mandioca e o amendoim são as principais culturas agrícolas praticadas em regime de sequeiro onde os solos de textura ligeira ofe‑recem condições propícias ao seu desenvolvimento. A zona agrícola 20 é conhecida como anharas do Moxico que são caracterizadas por superfícies planas sujeitas a inundações mais ou menos prolon‑gadas na época das chuvas. A principal actividade da população é a pesca, praticada não só nos rios como na própria chana. A zona agrícola 21 está localizada quase que integralmente na região de Alto Zambeze e a actividade das populações é dominada pela agricultura tradicional, sendo a mandioca a cultura dominante devido à adaptação às condições edafo‑climáticas da região. A zona agrícola 26/28 é caracterizada por possuir solos pobres e é conhecida regionalmente por Bundas e Luchazes. A cultura de grande destaque é a mandioca porém, a floresta natural da região faz com que exista um elevado potencial melífero. O Alto Zambeze e o Luau são os municípios que aparecem com a aptidão agrícola mais diversificada.

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período chuvoso apresentou dois cenários. Primeiro, o seu início atempado (5 de Setembro de 2015) que, apesar de tudo, induziu em erro os produtores nas sementeiras por se ter obser‑vado um intervalo de 22 dias sem chover, provocando assim algumas inquietações no seio das comunidades face às colheitas da 1ª fase. Segundo, as chuvas retomaram no primeiro decénio do mês de Outubro (entre os dias 12 e 15) com algum excesso, o que causou algumas inquieta‑ções no seio das famílias camponesas pelo excesso das quedas pluviais, prevendo‑se um impac‑to negativo nos resultados das colheitas.

De acordo com o Plano de Desenvolvimento da Província do Moxico 2013/2017 (PDP 2013/2017), a agricultura é um sector básico para a província e é um potencial estimulador do desenvolvimento de outros sectores da economia através da geração de excedentes que pode‑rão ser transformados e comercializados. Para tal, e de acordo com o PDP 2013/2017, é neces‑sário um sector pujante para reduzir a pobreza, garantir a segurança alimentar e promover o crescimento económico nas zonas rurais e da província em geral. O sector apresenta também um elevado potencial para geração de novos empregos e promover o desenvolvimento rural. No entanto, actualmente, os sectores agro‑pecuários concentram‑se nas famílias camponesas com a prática de uma agricultura rudimentar, principalmente direccionada para o consumo directo, cultivando aquilo que as características do solo e o clima permitem: mandioca, amen‑doim, feijão, milho, massango.

No quadro das políticas governamentais de combate à fome e à pobreza tem havido apoios significativos com objectivos de reabilitação da capacidade de produção agrícola dos campone‑ses como elemento fundamental da redução do desemprego. Neste contexto, e de acordo com o Relatório Anual da Direcção Provincial, em 2016, as principais acções incidiram no apoio às empresas públicas e privadas e à mulher rural, às comunidades organizadas, ex‑militares, anti‑gos combatentes e veteranos da pátria, com vista à diversificação da economia e do combate à fome e à pobreza.

De acordo com o mesmo relatório, a segurança alimentar foi considerada estável, com excepção da situação nas comunas no sul dos Bundas, nomeadamente no Ninda e no Chume, onde foram apoiadas 1549 famílias que se encontravam expostas ao risco após pouca chuva nos meses de Outubro a Fevereiro. No entanto, é urgente que a produção agrícola responda de forma imediata e vigorosa já que as necessidades alimentares internas continuam dependentes da produção de outras regiões e das importações comerciais.

No ano de 2016, as acções implementadas no sector agrícola da província do Moxico, de acordo com o Relatório da DPADRP incluíram duas componentes principais, nomeadamente de fomento da produção alimentar com perspectivas alimentares e o Programa de Extensão e Desenvolvimento Rural (PEDR). As acções de fomento da produção alimentar com perspectivas mercantis incidiram no seio das famílias camponesas organizadas em associações ou coopera‑tivas. As acções no âmbito do PEDR consubstanciaram‑se em acções de apoio ao sector fami‑liar e ao sector empresarial. No contexto do apoio ao sector familiar destacam‑se as seguintes:

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• Aquisição e fornecimento de factores de produção às famílias camponesas, tais como ins‑trumentos de trabalho, sementes e fertilizantes, a título devolutivo após as colheitas em dinheiro ou em espécie, bem como assistência técnica e capacitações.

• Produção de sementes e propágulos.

• Formação e capacitação de técnicos e líderes comunitários.

• Apoio à reabilitação e construção de infra‑estruturas de apoio à produção (valas de irriga‑ção, armazéns e silos).

• Fomento à tracção animal.

• Promoção da mecanização agrícola.

• Fomento da actividade florestal (repovoamento florestal e mel).

• Fomento da pesca continental e aquicultura.

No contexto do apoio ao sector empresarial, destacam‑se acções de apoio na preparação mecanizada das terras; na criação de mecanismos eficazes que permitam o acesso ao financia‑mento junto dos bancos; assistência técnica e divulgação de novas tecnologias de produção; prestação de serviços de vacinação, fitossanidade, entre outros.

De acordo com o Relatório Anual da Direcção Provincial, as acções no âmbito do PEDR tive‑ram como principais objectivos:

1. Garantir a segurança alimentar e nutricional.

2. Promover a agricultura mecanizada com o recurso a técnicas de fácil manejo, bem como o uso de máquinas, para permitir o aumento das áreas de cultivo.

3. Garantir sementes para a sustentabilidade da produção.

4. Melhorar as condições de vidas das populações camponesas.

5. Divulgar novas técnicas de produção que permitam melhorar os rendimentos na produ‑ção de bens alimentares.

A campanha agrícola em 2016 envolveu um universo de 141 200 famílias camponesas assis‑tidas na implementação dos seguintes programas: O PEDR assistiu 19 360 famílias; O Programa Municipal Integrado de Desenvolvimento Rural e Combate à Pobreza (PMIDRCP) assistiu 4200 famílias com a colaboração de parceiros sociais, nomeadamente a Organização não‑Governa‑mental (ONG) LWF. Foram também apoiados pequenos produtores na organização produtiva mercantil e na divulgação de novas técnicas de produção agro‑pecuária (ver tabela).

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RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2016

Foi realçado no Relatório da Direcção Provincial que, apesar dos vários constrangimentos, a intervenção na forma de assistência técnica das famílias camponesas e pequenos agricultores foi realizada em 280 aldeias onde foram assistidos 52 pequenos agricultores pelo PEDR. Beneficiaram de assistência cerca de 50 famílias do município do Moxico através da ONG DT GROUP (Projecto hortícola de Kaludjindji) e 525 famílias pela ONG LWF, sendo 160 no município de Kamanongue, 190 no município de Léua e 175 no município do Kaméia. Comparativamente ao ano de 2015 em que foram assistidas 13 150, verificou‑se em 2016 um aumento de 6210 no número de famílias assistidas tecnicamente e com acesso a distribuição de insumos (representa um aumento de 47 %).

FAMÍLIAS ENVOLVIDAS E ASSISTIDAS NOS DIVERSOS PROGRAMAS DURANTE O ANO AGRÍCOLA

MunicípiosN.º total

de famíliasPEDR

Famílias assistidasN.º

de aldeiasPequenos agricultores

assistidosParceiros

ONG

Moxico 60 544 5000 70 28 50

Camanongue 9000 3300 38 0 160

Léua 9805 1791 22 6 190

Lumege 6200 1360 22 3 175

Luacano 5565 540 8 0 –

Luau 16 063 2700 30 3 –

Alto‑Zambeze 17 021 1150 14 12 –

Bundas 11 557 2584 54 0 –

Luchazes 5445 935 22 0 –

Total 141 200 19 360 280 52 575

Fonte: Relatório de Actividades do Ano de 2016, Direcção Provincial da Agricultura, Desenvolvimento Rural e Pescas, Governo da Província do Moxico, República de Angola.

Relativamente à disponibilidade de factores de produção para o apoio a campanha agrícola 2016/2017, foram recepcionadas e distribuídas 29 990 kg de milho e 24 999,8 kg de NPK (ver tabela).145

SEMENTES DISTRIBUÍDAS (KG) NO QUADRO DO PEDR

Municípios Milho NPK

Moxico 4000 4949

Camanongue 3250 2548

Léua 3300 3430

Lumege 2400 1960

145 NPK é uma sigla utilizada em estudos de agricultura, que designa a relação dos três nutrientes principais para as plantas (nitrogénio, fósforo e potássio), também chamados de macronutrientes, na composição de um fertilizante.

continua

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Luacano 2950 2744

Luau 2400 980

Alto‑Zambeze 3300 1470

Bundas 3500 3978,8

Luchazes 2400 1470

Pequenos Agricultores 2400 1470

Total 29 900 24 999,8

Fonte: Relatório de Actividades do Ano de 2016, Direcção Provincial da Agricultura, Desenvolvi‑mento Rural e Pescas, Governo da Província do Moxico, República de Angola.

Comparativamente ao ano de 2015, a quantidade de semente de milho distribuída no ano de 2016 foi a mesma, ou seja, 30 toneladas. Verificou‑se a redução em 25 toneladas na dis‑tribuição de NPK relativamente ao ano de 2015 (uma redução de 50 % – em 2015 foi de 50 toneladas e em 2016 foi de 25 toneladas). Os demais inputs distribuídos em 2015 tais como 30 toneladas de feijão, 10 toneladas de ureia, 14 toneladas de sulfato de amónio, 224 enxadas e 50 charruas de tracção animal, não foram recepcionados no ano de 2016.

Foram preparados aproximadamente 171 444 hectares de terra onde foram cultivados pro‑dutos diversos, tendo‑se estimado uma produção de 872 444,4 toneladas (ver tabela). No sector empresarial (projectos Camaiangala e Sacassanje) foram preparados 914 hectares (estimativa).

PREPARAÇÃO DE TERRAS – SECTOR EMPRESARIAL E TRADICIONAL

Mecanização Empresarial Tradicional Total Geral

Mecanizada 914 824 –

Tracção animal – 264 –

Manual – 169 442 –

Total 914 170 530 171 444

Fonte: Relatório de Actividades do Ano de 2016, Direcção Provincial da Agricultura, Desenvolvimento Rural e Pescas, Governo da Província do Moxico, República de Angola.

continuação

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RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2016

ÁREAS CULTIVADAS

Culturas Área (hectares) Produção (toneladas)

Mandioca 74 987 720 875

Milho 34 106 23 684,9

Feijão 17 054 8314,6

Amendoim 8525 2042,3

Batata‑doce 17 052 95 201

Arroz 6984 2686,2

Bambara 3411 751,8

Massango 1871 297,6

Massambala 1706 11 184

Hortícolas 2559 2021,7

Fruteiras 2295 2044,3

Subtotal 170 550 869 103,4

Projectos agrícolas de larga escala 914 3341

Total geral 171 464 872 444,4

Fonte: Relatório de Actividades do Ano de 2016, Direcção Provincial da Agricultura, Desenvolvimento Rural e Pescas, Governo da Província do Moxico, República de Angola.

No contexto do sector empresarial agrícola, estão registadas 329 empresas agro‑pecuárias na província. No âmbito da promoção da agricultura intensiva, estão em funcionamento três projectos:

• Projecto agrícola de Sacassanje, com a produção de ovos, hortícolas diversas e criação de caprinos.

• Projecto agrícola de Camaiangala (CEIEC) com a produção de milho, soja e suinicultura.

• Aproveitamento do perímetro irrigado do Luena (Luena‑Rega) com produção horto‑frutí‑cola.

1. Projecto de desenvolvimento agro‑industrial de Sacassanje

Neste projecto, a produção hortícola em estufa foi estimada em 57 417,33 kg de hortaliças diversas, foram produzidas 1 667 320 unidades de ovos, 179 220 kg de ração e o projecto conta com um efectivo animal de 689 cabritos (ver tabela). A produção em estufa ocupou uma área de 24 500 km2, totalizando 100 estufas (250 m2).

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CEIC / UCAN

PRODUÇÃO AGRÍCOLA EM ESTUFA (PROJECTO SACASSANJE)

Produtos Kg Produtos Kg

Couve 990,33 Pepino 2995,3

Quiabo 508,7 Pimento 1678,7

Cenoura 311,5 Tomate 39 775,9

Beringela 4805 Repolho 3997,7

Cebola 876 Melancia 487,3

Gindungo 985,9 Morango 5

Total 57 417,33

OVOS, RAÇÃO E EFECTIVO CAPRINO(PROJECTO SACASSANJE)

Ovos 1667 320

Ração 179 220

Caprinos 689

Fonte: Relatório de Actividades do Ano de 2016, Direcção Provincial da Agricultura, Desenvolvimento Rural e Pescas, Governo da Província do Moxico, República de Angola.

2. Projecto e Desenvolvimento agro‑industrial do Camaiangala

Neste projecto, com uma área em aproveitamento de 5000 hectares já foram desbravados 1200 hectares dos quais aproximadamente 900 hectares foram semeados, tendo sido obtida uma produção de 3479 toneladas de milho e 200 toneladas de soja (ver tabela).

PROJECTO AGRO‑INDUSTRIAL DA CAMAIANGALA

Culturas Área (hectares) Produção (toneladas)

Milho 800 3479

Soja 100 200

Total 900 3679

Fonte: Relatório de Actividades do Ano de 2016, Direcção Provincial da Agricultura, Desenvolvimento Rural e Pescas, Governo da Província do Moxico, República de Angola.

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RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2016

Relativamente ao sector pecuário, de acordo com o Relatório de 2016 da Direcção Provincial, o efectivo é constituído por 117 450 cabeças de gado e 165 000 bicos, maioritariamente no sec‑tor tradicional. Não se verificou alteração de dados relativamente ao ano de 2015 (ver tabela).146

ESTIMATIVA DO EFECTIVO PECUÁRIO NO SECTOR TRADICIONAL

Bovinos 17 660

Suínos 18 040

Caprinos 50 750

Aves 165 000

Total 251 450

Fonte: Relatório de Actividades do Ano de 2016, Direcção Provincial da Agricultura, Desenvolvi‑mento Rural e Pescas, Governo da Província do Moxico, República de Angola.

Relativamente à produção de carnes no sector tradicional, foram abatidas 127 cabeças de gado bovino, 124 de gado caprino e obtida uma produção de carne estimada em 22 780 kg de carne bovina e 1364 kg de carne caprina.

PRODUÇÃO DE CARNE

Município

Espécie

Bovina Caprina Suína

Animais abatidos

Carne produzida (kg)

Animais abatidos

Carne produzida (kg)

Animais abatidos

Carne produzida (kg)

Moxico 127 22 780 124 1364 – –

Fonte: Relatório de Actividades do Ano de 2016, Direcção Provincial da Agricultura, Desenvolvimento Rural e Pescas, Governo da Província do Moxico, República de Angola.

O Moxico possui a segunda maior reserva florestal de Angola segundo o Ministério da Agri‑cultura e Desenvolvimento Rural (MINADER).147 A exploração florestal tem potencialidades

146 De acordo com o Plano de Desenvolvimento Integrado da Província do Moxico 2012‑2025, os ani‑mais selvagens têm sido tradicionalmente uma das fontes de alimentação quotidiana. Actualmente, alguns animais estão praticamente extintos. No entanto, com manejo adequado e a criação espe‑cializada, alguns animais como a galinha‑do‑mato, a pacassa, o cabrito‑do‑mato, o veado, algumas variedades de antílopes, entre outros, poderiam voltar a ser abundantes e permanentes fontes de ali‑mento. 147 Embora os recursos florestais coloquem Moxico como a segunda maior reserva florestal de Angola, é nas florestas renováveis que se encontra um grande potencial da região Oeste da província que, segundo a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO) e o MINADER, apresenta boa aptidão para o eucalipto.

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CEIC / UCAN

económicas, sobretudo nos municípios de Moxico (Chicala, Cangumbe, Lungué‑Bungo), Kama‑nongue, Léua (Chafinda), Luau (Ngoana) e Alto Zambeze (Cavungo e Macondo).148 Actualmen‑te, a extracção restringe‑se às situações de subsistência.

No ano 2016 foram emitidas 64 licenças para a produção de 15 800 m3 de madeira em toro, numa área de 58 800 hectares em 7 municípios.149 Comparativamente ao ano de 2105 regis‑tou‑se um aumento de 17 licenças e o aumento da exploração de madeira em 3950m3. Compa‑rativamente ao ano de 2015 (3200 m3 de madeira) houve um aumento da produção na ordem de 12 600 m3 (15 800 m3 de madeira). Finalmente, estão controladas 4 serrações no município do Moxico, das quais uma está inoperante, com uma produção diária de 20 m3.

EXPLORAÇÃO DE MADEIRA E LICENÇAS EMITIDAS

Municípios Licenças Área (hectares) Volume (m3)

Moxico 18 12 630 5000

Bundas 11 11 000 2900

Luchazes 9 9000 1500

Kamanongue 1 1000 150

Léua 1 1000 250

Luau 16 17 000 4000

Alto‑Zambeze 8 7000 2000

Total 64 58 630 15 800

Fonte: Relatório de Actividades do Ano de 2016, Direcção Provincial da Agricultura, Desenvolvimento Rural e Pescas, Governo da Província do Moxico, República de Angola.

148 De acordo com o Plano de Desenvolvimento Integrado da Província do Moxico 2012‑2025, reco‑menda‑se um manejo sustentável como forma de aproveitamento económico da floresta, princi‑palmente a partir de um estudo botânico e bioquímico aprofundado, voltado para a identificação de fármacos e dos diferentes usos mais adequados das espécies da flora. Estudos com outras espé‑cies de crescimento rápido, mesmo que exóticas, mas que possam passar por um manejo contro‑lado, podem ser opções ao desenvolvimento de produtos florestais de impacto económico positivo e ambiental neutro. Um destes casos é o bambu. Em algumas árvores da província, tais como mus‑sixi, mumanga, muvuca, mussamba, mucuwe, entre outras, as abelhas aproveitam o suco após a germinação das flores, para transformar em mel. Este mel é conhecido pelas suas características medicinais.149 Durante a campanha florestal foram multadas 7 empresas, por incumprimento dos pressupostos plasmados no regulamento florestal. Destaca‑se também a apreensão de 160 sacos de carvão, 65 vas‑souras artesanais, 60 kg de insectos (Maiungo ou catato), 120 partes de carne de caça e 34 animais frescos.

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RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2016

VOLUME DE MADEIRA TRANSPORTADA DURANTE A CAMPANHA

Municípios Transportado (m3) Não transportado (m3) Espécie

Moxico 2500 2500 Mussivi

Bundas 1251 1649 Mussivi

Luchazes 778 722 Mussivi

Kamanongue 77 73 Mussivi

Léua 250 0 Mussivi

Luau 2226 1774 Mussivi

Alto‑Zambeze 590 1410 Mussivi

Total 7672 8128

Fonte: Relatório de Actividades do Ano de 2016, Direcção Provincial da Agricultura, Desenvolvimento Rural e Pescas, Governo da Província do Moxico, República de Angola.

Relativamente ao sector das pescas, a pesca continental artesanal representa, pela grande extensão de chanas, anharas e abundância de caudal dos rios (a par com a agricultura), a prin‑cipal ocupação e sustento da população.150 Neste contexto, a aquicultura apresenta‑se como um dos grandes recursos potenciais (através de projectos dirigidos dentro das tecnologias da aquicultura sustentável) e com impactos no desenvolvimento económico e promoção social das populações.151

No ano de 2016, a pesca continental registou a produção de 405 337 kg de peixe seco, a cap‑tura em rios e lagos foi de 179 970 kg de peixe fresco, 1569 kg em tanques, estimando‑se um somatório de 586 876 kg de pescado diverso (ver tabela seguinte). Comparativamente ao ano de 2105 (1 107,558 kg de peixe), verificou‑se uma redução na produção de 520 682 kg de peixe (586 876 kg de peixe, ou seja, uma redução em 47 %).

150 Os numerosos rios, lagos, lagoas e extensas chanas alagadas na época chuvosa potencial a pesca fluvial e têm variadíssimas espécies de peixe, como tuqueia, mbuli (bagre), kele, kundu, mukunga, pungu, mussoji. A pesca é praticada principalmente nos rios Luena, Lumeje, Tchivumagi, Zambeze e nos lagos Dilólo, Calundo, Mulondola. As áreas potencialmente piscatórias e as mais expressivas são as dos municípios do Moxico (Lucusse), Kaméia, Luau e Alto‑Zambeze.151 De acordo com o Plano de Desenvolvimento Integrado da Província do Moxico 2012‑2025, a aqui‑cultura sustentável é entendida como o processo de produção em cativeiro de organismos com habi‑tat predominantemente aquático em que é levada em conta a mitigação dos impactos ambientais. É a prática aconselhada para a produção comercial da piscicultura para a alimentação proteica humana e tem como mercados as províncias da Lunda‑Sul e do Huambo.

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CEIC / UCAN

CAPTURA E PRODUÇÃO DO SECTOR PESQUEIRO

MunicípiosPesca continental – captura (kg) Piscicultura

TotalSeco Fresco Fresco

Moxico 12 352 0 0 12 352

Léua 0 0 0 0

Luacano 46 000 0 0 46 000

Lumege‑Kaméia 13 000 0 0 13 000

Luau 0 0 1569 1569

Alto‑Zambeze 149 035 65 770 0 214 805

Bundas 176 800 114 200 0 291 000

Luchazes 8150 0 0 8150

Total 405 337 179 970 1569 586 876

Fonte: Relatório de Actividades do Ano de 2016, Direcção Provincial da Agricultura, Desenvolvimento Rural e Pescas, Governo da Província do Moxico, República de Angola.

Relativamente ao movimento associativo, durante o ano de 2016 foram controlados na pro‑víncia 335 associações e 6 cooperativas envolvidas na produção agrícola sendo 12 117 asso‑ciados do género masculino (54 %), 10 500 do género feminino (46%), totalizando 22 617 associados.

ASSOCIAÇÕES AGRO‑PECUÁRIAS EXISTENTES

MunicípiosNúmero de Associações

Número de Associações legalizadas

Sim Não

Moxico 150 128 22

Kamanongue 20 17 3

Léua 58 40 18

Lumege‑Kaméia 22 14 8

Luacano 4 0 4

Luau 9 6 3

Alto‑Zambeze 25 11 14

Bundas 36 13 23

Luchazes 11 0 11

Total 335 229 106

Fonte: Relatório de Actividades do Ano de 2016, Direcção Provincial da Agricultura, Desenvolvimento Rural e Pescas, Governo da Província do Moxico, República de Angola.

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RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2016

COOPERATIVAS AGRO‑PECUÁRIAS EXISTENTES

MunicípiosNúmero de

Cooperativas

Número de Cooperativas legalizadas

Sim Não

Moxico 2 0 2

Kamanongue 1 1 0

Léua 0 0 0

Lumege‑Kaméia 0 0 0

Luacano 0 0 0

Luau 2 0 2

Alto‑Zambeze 0 0 0

Bundas 1 1 0

Luchazes 0 0 0

Total 6 2 4

Fonte: Relatório de Actividades do Ano de 2016, Direcção Provincial da Agricultura, Desenvolvimento Rural e Pescas, Governo da Província do Moxico, República de Angola.

De acordo com o Relatório de 2016 da DPADRP, foram beneficiados com acções de capacita‑ção 1371 líderes comunitários e 150 associados em 8 municípios excepto no Luacano. As acções de capacitação falaram de temas como a instalação de campos de demonstração e modalidades de reembolso de sementes, entre outros.

No domínio do crédito agrícola de campanha, foram abrangidos três municípios, nomeada‑mente, Moxico (sede), Kamanongue e Bundas. Apesar de alguns constrangimentos e, de acor‑do com o regulamento do crédito, foram criados comités de pilotagem e grupos técnicos de acompanhamento local nos referidos municípios. O processo de operacionalização dos créditos está em curso apesar da demora na concessão do crédito pelos bancos operadores (ver tabela).

QUADRO ACTUAL DA OPERACIONALIZAÇÃO

Municípios abrangidos Bancos operadoresNúmero de pequenos agricultores com processos nos Bancos

Número de Associaçõescom processos nos Bancos

Moxico

BPC 0 54

Banco Sol 0 56

BCI 400 0

Kamanongue BPC 0 17

Bundas BPC 0 13

Total 400 140

Fonte: Relatório de Actividades do Ano de 2016, Direcção Provincial da Agricultura, Desenvolvimento Rural e Pescas, Governo da Província do Moxico, República de Angola.

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CEIC / UCAN

O Banco Sol procedeu à concessão de crédito agrícola de campanha beneficiando 13 asso‑ciações no município do Moxico (ver tabela seguinte).

ASSOCIAÇÕES BENEFICIADAS COM CRÉDITO AGRÍCOLA DE CAMPANHA CEDIDO PELO BANCO SOL NO MUNICÍPIO DO MOXICO

Associações

Associação Upeme Associação Kamitong w.

Associação Cristo Rei Kavungo

Associação Samulundo Associação Wame

Associação Luvundo Issala Associação Upite Wa Temo

Associação Tchicanua Associação Sambuquila yetu

Associação Kuz. Cha Mbunga Associação Zango

Associação Muachimbundji

Número total de Associações – 44

Fonte: Relatório de Actividades do Ano de 2016, Direcção Provincial da Agricultura, Desenvolvimento Rural e Pescas, Governo da Província do Moxico, República de Angola.

Relativamente à concessão de terras durante o período de Setembro a Julho de 2016, foram emitidos 9 pareceres de concessão de terra para fins agrícolas numa área de 5665 hectares (ver tabela seguinte).

ÁREAS CONCESSIONADAS PARA FINS AGRÍCOLA

Municípios Hectares Número de Pareceres

Moxico 1365 3

Kamanongue 100 1

Léua 700 1

Lumege‑Kaméia 3500 4

Luacano ‑ ‑

Luau ‑ ‑

Alto‑Zambeze ‑ ‑

Bundas ‑ ‑

Luchazes ‑ ‑

Total 5665 9

Fonte: Relatório de Actividades do Ano de 2016, Direcção Provincial da Agricultura, Desenvolvimento Rural e Pescas, Governo da Província do Moxico, República de Angola.

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RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2016

No âmbito da diversificação da economia nacional cujo sector primário (agricultura) é a grande aposta, foram aprovados os programas dirigidos do arroz, madeira, milho, feijão, man‑dioca, mel e outros. De acordo com o programa dirigido da madeira, foi identificada a área de Caweji, estimada em 18 900 hectares para a exploração florestal pelas empresas seleccionadas para o programa (ver tabela).

PROGRAMA DIRIGIDO DA MADEIRA

Empresa Área (Hectares)

InGo Trading, S.A. 900

Soagrigest S.A. 2000

Agroflorestal e Industrial do Moxico 2000

Fortaleza do Leste Investimentos, Lda. 5000

MICA Lda. 2000

Área de Expansão 7000

Total 18 900

Fonte: Relatório de Actividades do Ano de 2016, Direcção Provincial da Agricultura, Desenvolvimento Rural e Pescas, Governo da Província do Moxico, República de Angola.

Para o programa dirigido do arroz, foram identificadas várias áreas para o cultivo do cereal e o programa identificou o envolvimento de 7000 famílias camponesas das comunidades de Caweie, Tchiesso e Nhalacatula, município de Kaméia. Para os mesmos propósitos, candida‑taram‑se, nesse município, um total de 11 empresas. No quadro das iniciativas empresariais, apenas a empresa Culinanga tem preparado e semeado 150 hectares de arroz e a associação Tchuze tem 5 hectares de terra preparados e semeados.

PROGRAMA DIRIGIDO DO ARROZ

Município Área (Hectares)

Moxico 7560

Bundas 2150

Kaméia 3850

Luau 2100

Luacano 1200

Total 16 860

Fonte: Relatório de Actividades do Ano de 2016, Direcção Provincial da Agri‑cultura, Desenvolvimento Rural e Pescas, Governo da Província do Moxico, República de Angola.

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CEIC / UCAN

Os programas dirigidos do milho, feijão e mandioca, serão implementados em consorcia‑ção de duas culturas nos municípios do Léua, Luau, Moxico e Bundas. Os programas de milho e feijão nos municípios do Moxico e Bundas e da mandioca e do feijão nos municípios do Luau e Léua estão na sua primeira fase. O programa de mandioca prevê na sua 1.ª fase proceder à multiplicação de variedades de ciclo curto e resistentes às pragas e doenças (virose). Na 2.ª fase proceder‑se‑á à distribuição dos propágulos a 12 000 famílias, com vista à cobertura de 6000 hectares em três municípios (Moxico, Léua, Luau). Serão produzidas mais de 48 000 hectares, com vista à produção de 925 000 toneladas para um universo de 61 667 famílias (ver tabela).

PROGRAMA DIRIGIDO DO MILHO, FEIJÃO E MANDIOCA

Cultura MunicípiosÁrea

(hectares)Produção

(toneladas)Sector

FamiliarSector

Empresarial

Milho / FeijãoMoxico Sector Familiar 15 000 37 500 10 000 20

Bundas Sector Empresarial 3000 12 000 0 6

Feijão / MandiocaLuau Sector Familiar 20 000 12 000 8000 10

Léua Sector Empresarial 50 000 75 000 12 000 0

Fonte: Relatório de Actividades do Ano de 2016, Direcção Provincial da Agricultura, Desenvolvimento Rural e Pescas, Governo da Província do Moxico, República de Angola.

O programa dirigido do mel tem como principais actores o sector familiar e empresarial e como objectivos a profissionalização da actividade, o aumento da produção de mel e outros produtos apícolas, o aumento do emprego e rendimento familiar e a diversificação das explorações.152

METAS PREVISTAS PARA A PRODUÇÃO DE MEL 2016/2017

Instalação de colmeias modernas

Introdução de kits procura de mel e cera

Produção de mel não processado (kg)

cera (kg)Mel não

processado (kg)Cera bruta (kg)

ano de 2017

6818 27 22 820 570 31 500 7875

Fonte: Relatório de Actividades do Ano de 2016, Direcção Provincial da Agricultura, Desenvolvimento Rural e Pescas, Governo da Província do Moxico, República de Angola.

De entre muitos factores que estiveram na base de alguns insucessos, foram destacados pelo Relatório da Direcção Provincial os seguintes para o ano de 2016:

• Crise financeira em que o país vive.

• Falta de pessoal qualificado a todos os níveis.

• Falta de infra‑estruturas de apoio à produção.

152 Em 1956, o Moxico figurava na lista do maior produtor mundial de mel (Plano de Desenvolvimento Integrado da Província do Moxico 2012‑2025).

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RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2016

• Insuficiente parque de mecanização agrícola para os desafios em vista.

• Insuficiência de meios de transportes que permitam o movimento dos técnicos para a monitoria da produção.

De acordo com o Plano de Desenvolvimento da Província do Moxico 2013/2017, deverão ser priorizadas acções de desenvolvimento do sector tradicional e sector empresarial agro‑pe‑cuário porque constituem a base para a segurança alimentar da população, aos níveis local e nacional, e ajudam a promover uma reintegração das populações deslocadas nos meios de ori‑gem, diminuindo a pressão populacional nos espaços urbanos e criando condições para uma melhoria do bem‑estar social. Assim, o sector deverá estar comprometido com o aumento da produção e a comercialização de cereais, leguminosas, raízes e tubérculos, produtos da pesca artesanal, a criação de pequenos ruminantes e gado bovino, a promoção do desenvolvimen‑to sustentável dos recursos naturais e a promoção de actividades‑piloto para criar condições para relançar outras actividades (micro‑finanças, extensão rural, pequenos regadios, avicultura e apicultura).

Em complemento com o Relatório da Direcção Provincial, são identificadas pelo Plano de Desenvolvimento as seguintes dificuldades associadas aos sectores agrícola e das pescas:

1. Carácter de subsistência.

2. Acesso limitado aos factores de produção.

3. Rede de estradas deficitária.

4. Poucas terras aráveis.

5. Reduzido investimento na exploração de madeira.

6. Inexistência de um programa concreto de apoio à aquicultura.

7. Infra‑estruturas para o desenvolvimento da aquicultura de pequena escala (comunal).

8. Falta de especialistas em aquicultura.

9. Falta de infra‑estruturas para conservação de peixe nas áreas de maior produção.

11.2.2 Geologia, minas e indústria

A província possui um potencial em recursos minerais e hídricos, entre outros, que uma vez explorados, constituirão bases para alavancar a economia regional. Porém, neste domínio, as actividades actuais resumem‑se fundamentalmente ao controlo de projectos de explora‑ção de inertes das empresas no âmbito de construção civil. De acordo com o PDP 2013‑2017, a aprovação do Plano Nacional de Geologia e Minas irá permitir o desenvolvimento de um

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conjunto de acções para a promoção da diversificação da economia ao nível da província per‑mitindo o aumento de fontes de arrecadação de receitas e a geração de empregos. Assim, de acordo com estudos de prospecção geológicos e mineração realizados na província, exis‑tem alguns recursos minerais como o carvão, cobre, manganês, ferro, diamantes, ouro, volfrâ‑mio, estanho e molibdénio, urânio, lenhite. Existe também grande expectativa na extracção de cobre e outros minerais que estão a ser prospectados por grandes empresas multinacio‑nais na região do Alto Zambeze (Plano de Desenvolvimento Integrado da Província do Moxico 2012‑2025).

De acordo com a informação síntese da Direcção Provincial de Geologia e Minas e da Indús‑tria (DPGMI) da província do Moxico, para o período de Janeiro/Dezembro/2016 a Março/2017, destacam‑se as seguintes actividades realizadas na área de geologia e minas:

1. Credenciamento de 13 camiões para o transporte de materiais de origem mineira para a construção civil.

2. Licenciamento de 12 empresas de exploração e comercialização de inertes, das quais qua‑tro com licenças caducadas.

3. Controlo de 21 grupos de exploração artesanal de diamantes, em que cada grupo é com‑posto por seis integrantes, e as referidas senhas encontram‑se caducadas.

De acordo com o PDP da província do Moxico 2013‑2017, o sector industrial continua ainda a ser afectado por debilidades estruturais ligadas ao fraco apoio infra‑estrutural e tam‑bém à própria estrutura empresarial da província. O sector é caracterizado pela existência de microempresas e, de acordo com o Relatório de 2016 da Direcção Provincial, destacam‑se as seguintes unidades de produção na província do Moxico bem como as visitas realizadas a essas unidades (ver tabela).

UNIDADES DE PRODUÇÃO NA PROVÍNCIA DO MOXICO

Unidades de produção Número Acções de inspecção e fiscalização

Caixilharias de alumínio 4 7

Gráficas 3 1

Serrações e carpintarias 13 17

Unidades de produção de blocos de cimento 14 25

Casas fotocopiadoras 21 51

Panificadoras e pastelarias 10 17

Alfaiatarias, recauchutagens, moagens a martelo, unidades de produção e gelo 42 –

Fonte: Relatório de Actividades do Ano de 2016, Direcção Provincial de Geologia, Minas e da Indústria, Governo da Província do Moxico, República de Angola.

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RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2016

É salientado pela Direcção Provincial que durante o período em análise, foram fechadas 37 unidades geo‑mineiras e indústrias por vários motivos. Estão 68 unidades em pleno funciona‑mento.

Durante o período de Janeiro de 2016 a Março de 2017, a Direcção Provincial arrecadou para a Conta Única do Tesouro (CUT) um total geral de 9 127 524,05 kwanzas (nove milhões cento e vinte sete mil e quinhentos e vinte quatro kwanzas e cinco cêntimos), divididos da seguinte forma: para as actividades de transporte de material de origem mineira (inertes) para construção foi arrecadado um montante de 3 686 635,05 kwanzas (três milhões seiscentos e oitenta e seis mil, seiscentos e trinta e cinco kwanzas e cinco cêntimos); foi arrecadado pela área da indústria um montante no valor de 1 527 514,00 kwanzas (um milhão e quinhentos e vinte e sete mil e quinhentos e catorze kwanzas); e para a área de inspecção e fiscalização foi arrecadado um montante no valor de 3 913 375,00 kwanzas (três milhões e novecentos e treze mil e trezentos e setenta e cinco kwanzas).

De acordo com o Plano de Desenvolvimento Integrado da Província do Moxico 2012/2025, as experiências feitas nos anos 70, com a instalação de indústrias agro‑transformadoras no Luena, com a produção local de licores, vinhos e bebidas espirituosas deverão incentivar o esforço de viabilização de um pólo de desenvolvimento na agro‑indústria e na logística para a região. Há por parte do governo um vivo interesse na organização de um novo pólo industrial, porém ainda não há qualquer estudo de viabilidade económico‑financeiro ou anteprojectos que foquem as iniciativas locais na sua efectiva implementação.

O Plano de Desenvolvimento 2013/2017, sistematiza as dificuldades associadas ao sector da indústria e de geologia e minas com os seguintes elementos:

1. Parque industrial obsoleto.

2. Infra‑estruturas básicas degradadas para incentivar o sector (estradas, água, electricidade).

3. Ausência de créditos bonificados para o sector.

4. Reduzida iniciativa a nível de investimento dos empresários locais.

5. Falta de inventário geológico da província.

11.2.3 Comércio e turismo

De acordo com a Direcção Provincial do Comércio, Hotelaria e Turismo (DPCHT) da província do Moxico, têm vindo a registar‑se progressos significativos e o sector tem conhecido melho‑rias no seu desempenho que se traduzem na instalação de plataformas logísticas, comerciais, expansão da rede comercial e infra‑estruturas de apoio à comercialização rural, fomento da produção agrícola, o incentivo às exportações e alteração da estrutura das importações onde os bens de consumo assumem um papel activo.

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De acordo com o Plano de Desenvolvimento da Província 2013‑2017, a actividade comer‑cial na província é ainda sustentada basicamente pelas importações. No entanto, tem‑se registado um aumento substancial de entrada de novos operadores relacionados com as acti‑vidades comerciais, formal e informal, e com as estruturas comerciais a grosso e a retalho. O circuito de distribuição é caracterizado por situações de oligopólio com consequências negativas para os consumidores, quer em termos das quantidades comercializadas, quer em termos de preços praticados. A tabela seguinte caracteriza a rede comercial da província onde se destacam a organização de feiras, dado as dinâmicas positivas a nível local que estas proporcionam.

CARACTERIZAÇÃO DA REDE COMERCIAL AO NÍVEL DA PROVÍNCIA

Municípios Grossista RetalhistaPrestação de

serviços mercantisComércio precário

Urbanos Ambulantes Feirante Total

Alto‑Zambeze 0 12 5 29 27 10 7 90

Bundas 0 5 2 67 28 0 0 102

Kamanongue 0 11 3 16 10 0 0 40

Luau 0 15 9 30 81 61 7 203

Luacano 0 7 0 8 2 0 0 17

Lumege‑Kaméia 0 15 0 12 9 0 0 36

Léua 0 11 3 10 10 0 0 34

Luchazes 0 2 0 6 8 0 0 16

Moxico 1 247 119 311 1199 76 8 1961

Total geral 1 325 141 489 1374 147 22 2499

Fonte: Relatório de Actividades do Ano de 2016, Direcção Provincial do Comércio, Hotelaria e Turismo, Governo da Província do Moxico, República de Angola.

Relativamente ao sector de Hotelaria e Turismo, são destacadas pela Direcção Provincial, as medidas de políticas adoptadas no ano de 2016 que procuraram incidir na operacionalização do novo pacote legislativo turístico, no aumento das receitas próprias do sector, na criação de emprego e na promoção do turismo interno, na operacionalização dos pólos de desenvolvi‑mento turístico e das receitas locais de preservação, manutenção dos recursos turísticos, rea‑fectação das receitas do imposto do consumo e a conversão da actividade informal em formal. Foram cadastrados 33 recursos turísticos que reclamam investimento pelo empresariado nacio‑nal e/ou estrangeiro.

Relativamente às infra‑estruturas hoteleiras e similares, o seu número aumentou de forma significativa existindo 48 unidades, 542 quartos, 772 camas, 713 mesas e 3479 cadeiras. Quanto aos estabelecimentos em construção (não operacionais) identificam‑se 3 hotéis com capacida‑de de 350 quatros.

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RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2016

De entre os pontos turísticos da província destacam‑se os seguintes que, no entanto, care‑cem de uma intervenção a nível empresarial e de marketing para operarem efectivamente:

• Centro Turístico Mulondola, onde se destaca a lagoa do Mulondola. Localiza‑se no municí‑pio do Moxico, comuna do Lucusse a 160 quilómetros de Luena.

• Zona Turística do Tchitali, que se localiza a 20 quilómetros de Luena.

• Quedas do Tchafinda, localizadas no município do Moxico e a 87 quilómetros de Luena;

• Recurso Turístico Luizavo, localizado no município do Alto‑Zambeze a cerca de 90 quiló‑metros da sede municipal Cazombo e a 609 quilómetros de Luena. Aqui, destacam‑se as quedas no rio Luizavo, o mais importante afluente do rio Zambeze.

• Lagoa do Muginatena, localizada no cume de uma montanha na comuna de Calunda, a 112 quilómetros da sede municipal de Cazombo e a 631 quilómetros de Luena.

• Lagoa do Kalundo, localizada nas chanas da comuna Liangongo, a 37 quilómetros da sede municipal do Léua e a 97 quilómetros e Luena.

• Lago Dilolo, localizado no município do Luacano e a 310 quilómetros de Luena.

De acordo com Plano de Desenvolvimento Integrado da Província do Moxico 2012‑2025, o Caminho‑de‑ferro de Benguela representa uma alavanca de superação dos principais constran‑gimentos. Luena e Luau têm potencial de se tornarem importantes entrepostos comerciais, como centros de influência e distribuição para todas as províncias do leste do país, assim como para a RDC e Zâmbia. Sob a visão macrorregional o norte da Namíbia, Botswana, Zimbabwe, Zâmbia e leste de Angola têm potencial para se tornarem o Coração da África profunda. O pri‑meiro passo foi dado a partir de um longo caminho de dez anos percorrido pela Comissão da Bacia Hidrográfica do Rio Okawango.

A ideia é a acção integrada entre os mencionados países na área ambiental e turística, den‑tro de um projecto comum grandioso de formação de uma grande rede de parques nacionais e privados que praticam a conservação da fauna e da flora, complementados por outros atrac‑tivos temáticos e as singularidades da diversidade dos povos da região. No entanto, interessa destacar que, actualmente, apesar do seu potencial a nível de promoção do comércio, o CFB ainda não constitui uma alternativa relativamente ao sistema rodoviário no transporte de mer‑cadorias de e para a província do Moxico. Como a maior parte da mercadoria transaccionada no Moxico é proveniente de Luanda (Porto de Luanda) e o ponto partida do CFB é o Porto do Lobito (província de Benguela), o transporte ferroviário acaba por representar uma alternativa mais cara para os comerciantes.

O Plano de Desenvolvimento 2013‑2017, sistematiza as dificuldades associadas ao sector da indústria e de geologia e minas com os seguintes elementos:

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1. Mão‑de‑obra pouco qualificada.

2. Inexistência de um centro logístico.

3. Acesso condicionado aos locais de elevado potencial turístico.

4. Degradação das infra‑estruturas de comércio.

5. Fraco desenvolvimento dos serviços de apoio ao sector.

6. Pouca diversidade de produtos turísticos face aos recursos existentes.

11.2.4 Construção, infra‑estruturas e transportes

Uma extensa rede de estradas de qualidade e bem conservadas é essencial para ligar comu‑nidades, promover o desenvolvimento rural, a indústria, o turismo e assegurar o acesso aos mercados. As estradas são o principal modo de transporte e permitem o desenvolvimento e a circulação de recursos, tanto para as áreas rurais como urbanas. Estas são críticas para a maio‑ria dos outros sectores e apoiam a prestação de serviços à comunidade, cuidados de saúde, educação e outros. As infra‑estruturas de transporte na província do Moxico estão estruturadas em rede ferroviária, transporte aéreo, rede rodoviária, fluvial (pequena dimensão) que permi‑tem a transacções comerciais e serviços. No sector rodoviário, a província possui um sistema extensivo de estradas tanto fundamentais, secundárias e terciárias (mais de 3477 km) que ligam Luena com as províncias vizinhas, sedes municipais, comunais e outras localidades com poten‑cial económico. No entanto, o sistema rodoviário foi praticamente destruído no período dos conflitos e a sua reabilitação tem sido lenta.

O Relatório de 2016 dos serviços provinciais do Instituto Nacional de Estradas (INEA) da província do Moxico destaca que até ao mês de Setembro de 2016 foram cumpridos os objec‑tivos preconizados apesar das inúmeras dificuldades encontradas. São destacadas no relatório as actividades de acompanhamento (fiscalização) permanente da obra de reabilitação do troço Luvuei‑Rio Luio, no município dos Bundas, terraplanagem em alguns troços nos municípios do Moxico e de Kamanongue. Durante esse período, a secção de acompanhamento de obras dos serviços provinciais do INEA realizou as seguintes acções:

1. Terraplanagem da zona adjacente do Cine Luena numa extensão de 0,50 km.

2. Terraplanagem de vias no Bairro Kapango, numa extensão de 3 km, vias de acesso a Hos‑pital Sanatório.

3. Serviços de terraplanagem na vila de Kamanongue.

4. Acompanhamento (fiscalização) da obra de reabilitação da estrada nacional 180, Luena‑‑Lumbala‑Nguimbo no troço Luvuei‑Rio Luio numa extensão de 31 km.

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RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2016

5. Acompanhamento do troço Ninda‑Neeiquinha, com uma extensão de 130,52 km. A mesma recebeu, no entanto ordem de suspensão provisória cautelar no dia 11 de Agosto face ao actual momento financeiro que o país enfrenta.

6. Luena‑Lumeje Cameia – 102 km.

7. Luzi/Cassamba Cangamba – 155 km.

As principais dificuldades dos serviços provinciais de estradas do Moxico são: a falta de recursos humanos (administrativos, técnicos e operadores); as condições de trabalho (materiais de escritórios diverso, equipamentos da oficinas, etc.); a insuficiência de transporte para cobrir as deslocações técnicas em obras; e os funcionários de idade avançada e que já não desempe‑nham as suas reais funções. Neste contexto, é sugerido no Relatório: a admissão de mais téc‑nicos para cobrir as necessidades; a aquisição de meios rolantes; a melhoria das condições de trabalho; e proceder ao levantamento dos funcionários e o valor que o INEA deve pagar à Segu‑rança Social para que os mesmos possam se aposentar auferindo o valor da reforma.

De acordo com a Direcção Provincial dos Transportes, Telecomunicações e Tecnologias, em 2016 o transporte rodoviário na província foi negativamente afectado pelo mau estado das vias de acesso. Foram identificadas as seguintes empresas que asseguram o transporte intermuni‑cipal e urbano: S.K.L., Lda; Lumafil, Lda; Serial, Lda; Transcomind, Lda; Mavice & Filhos; Genkii, Lda e Transbananal; e a Macon que assegurava o transporte interprovincial. Em complemen‑to com os autocarros das empresas mencionadas, a Direcção Provincial destacou o transporte feito por viaturas do tipo Hiace Azul‑branco, Land‑Cruiser (fechadas), mini‑autocarros da marca Hyundai e as motorizadas. O transporte de mercadorias de Luanda para o Luena é efectuado por viaturas contentorizadas.

A Direcção Provincial destaca as seguintes acções a serem realizadas com o objectivo de impulsionar o transporte colectivo na província do Moxico:

1. Modernizar e adquirir de meios de transporte adequados ao transporte urbano e inter‑municipal.

2. Organizar e apetrechar as associações existentes e criação de outras.

3. Aperfeiçoar o transporte intermunicipal.

4. Criar o transporte interprovincial de passageiros.

5. Alargar o transporte colectivo a toda a extensão da província.

6. Construir parques para o embarque e desembarque de passageiros.

7. Consolidar a rede de transporte público de passageiros e mercadorias aos níveis munici‑pal e comunal.

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8. Dotar a província de uma rede de transportes adequada e funcional e a integração com outros meios de transporte.

9. Adquirir outros meios para o transporte urbano e intermunicipal de passageiros.

10. Construir terminais rodoviários nas sedes municipais.

11. Construir centros de inspecção de veículos nas sedes municipais.

No sistema ferroviário, está concluída a reabilitação do Caminho‑de‑ferro de Benguela que atravessa as províncias de Benguela (Lobito), Huambo, Bié e Moxico (Luau) e integra‑se com as redes ferroviárias da África Austral, permitindo a troca em larga escala de bens entre Angola e RDC, Zâmbia, Tanzânia, Quénia, Moçambique, Zimbabwe, Botswana e África do Sul entre outros, e, principalmente o acesso a pelo menos quatro portos marítimos do oceano Índico. Constitui uma das grandes molas impulsionadora do desenvolvimento da província em especial e em geral do país, incentivando a produção local em grande escala para permitir grandes exportações. De acordo com a Direcção Provincial dos Transportes, o comboio acele‑rou o transporte de pessoas e permitiu a redução das assimetrias entre o interior e o litoral. São ainda identificados pela Direcção Provincial os seguintes benefícios para a população da província:

1. Redução de preços.

2. Valorização da mobilidade que aumentou as oportunidades de negócio.

3. Benefício para as províncias vizinhas da Lunda‑Norte e Sul e para os países vizinhos como a Zâmbia e a RDC.

4. Maior facilidade no transporte de mercadorias para todos os pontos da província, sobre‑tudo ao longo da via‑férrea.

5. Maior segurança nas viagens.

As principais mercadorias transportadas no CFB nos sentidos ascendente e descendente são (ver tabela):

1. Bens alimentares, batata‑rena, banana, abacate, cana‑sacarina, fuba de milho, mel e sementes de mandioca.

2. Combustível, gasolina, gasóleo e gás.

3. Material de construção, madeira, chapa de zinco, animais de pequeno porte.

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RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2016

SÍNTESE DE DADOS DA CIRCULAÇÃO DO CAMINHO‑DE‑FERRO DE BENGUELA

Descrição 2015 2016

Passageiros transportados 64 523 369 771

Carga transportada

Carga embarcada (toneladas) 9893 16 798

Carga desembarcada (toneladas) 2800 16 798

Gasóleo (m3) – 8505

Gás butano (toneladas) – 1504

Número de comboios 124 419

Fonte: Relatório da Direcção Provincial dos Transportes, Telecomunicações e Tecnologias da Informação, Governo da Província do Moxico, República de Angola.

Finalmente, ainda relativamente ao transporte ferroviário, está em estudo a construção do ramal do Caminho‑de‑ferro de Benguela a partir do Laucano a Lumwana, na Zâmbia, passan‑do por Cazombo, o que encurtará em pelo menos 150 km a distância de Luena aos portos do oceano Índico.

Quanto ao transporte aéreo, a inauguração do aeroporto de Luena permitiu um aumen‑to na comodidade e conforto dos passageiros e a companhia nacional de transporte aéreo operou no ano de 2016 sem constrangimentos nos seus voos diários entre Luanda e a capital da província. Tendo em conta a posição geoestratégica da província do Moxico na SADC e as perspectivas de crescimento, e para responder a futura procura de trafego aéreo, o governo da província pretende expandir, construir e reabilitar aeródromos para criar uma capacidade efectiva de aviação no Luau, Cazombo, Lumbala‑Nguimbo e Cangamba para servir de alavanca ao desenvolvimento destas regiões. Em face deste cenário, a perspectiva apresentada em 2016 pela Direcção Provincial, é a construção de novos aeródromos nos municípios do Cazombo e Lumabala‑Nguimbo. No Luau já foi inaugurado o aeroporto em Fevereiro de 2105 mas carece de operacionalização.

Quanto à navegação fluvial, o rio Zambeze é navegável para pequenas embarcações e cons‑titui sempre uma opção viável para a rede fluvial de navegação de África pois pode ligar o Alto Zambeze à Zâmbia. No entanto, observou‑se que a única navegação regular é a praticada no rio Luanginga, por pequenos barcos que ligam Lumbala‑Nguimbo à Zâmbia.

De acordo com o Plano de Desenvolvimento 2013/2017, identificam‑se 4 áreas para a cons‑trução de plataformas logísticas tendo em conta as potencialidades que essas áreas oferecem: Luena, Luau, Lumbala Nguimbo e Cazombo (ver figura seguinte).

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ÁREAS DE LOCALIZAÇÃO DAS PLATAFORMAS LOGÍSTICAS

dt54relatório economico 2016

1p · FR

N0 50 100 km

Zâmbia

Plataforma logísticaPólo industrialAeroportoEstações

Mussuma

NindaChiume

LumbalaNguimbo

CangambaSessa

Tempue

LutuaiLucusse

Luzi

LumbalaCaquengue Caripanda

Macondo

Calunda

Lovua

Caianda

NanaCandundo

LuvueiSachingando

(100 + 000)Lutembo(Km 152 + 250)

Cassamba

Muie

A N G O L A

Cangombe

Luacano

LumegeCamanongue

LUENA Léua

Luau

Lago Dilolo

SandandoCazombo

Fonte: Plano de Desenvolvimento da Província do Moxico 2013‑2017, Governo da Província do Moxico, República de Angola.

O mesmo Plano identifica os seguintes benefícios associados à construção e desenvolvimen‑to das plataformas:

1. Redução de custos relativos aos fretes e da produção em geral.

2. Melhoria do fluxo de carga entre municípios e países vizinhos.

3. Proporciona infra‑estruturas necessárias para agilizar as importações e as exportações.

4. Criação de emprego.

5. Auxílio no congestionamento do Porto do Lobito e de outros países que poderão benefi‑ciar do corredor do Lobito.

O Plano de Desenvolvimento 2013/2017, sistematiza as dificuldades associadas ao sector da construção e transportes com os seguintes elementos (que complementam as dificuldades apontadas pela Direcção Provincial):

1. Estradas em mau estado.

2. Falta de um porto fluvial.

3. Reduzido número de operadoras de transporte colectivo.

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RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2016

4. Condições limitadas dos aeródromos nas sedes municipais.

5. Falta de controlo estatístico do volume de carga embarcada/desembarcada no sector.

Apesar das dificuldades, interessa referir que o mesmo Plano indica que, no contexto dos 10 projectos estruturantes identificados na província (2% do total nacional), metade dos projectos e cerca e 75% do valor estimado para a província está consignado ao cluster Transportes e Logís‑tica onde se inclui a reabilitação de estradas, de pistas aeroportuárias e o desenvolvimento da Plataforma Logística de Luau.

11.2.5 Energia e águas

De acordo com o Plano de Desenvolvimento da província do Moxico 2013/2017, regista‑se um défice de fornecimento de água potável, existindo apenas alguns pequenos sistemas de água, furos artesianos e outros. A dispersão da população leva a que as estratégias de imple‑mentação das instalações levem a uma disponibilização da água potável cada vez mais perto do usuário final. Como uma elevada percentagem da população usa a água dos rios, seja através do uso individual, dos sistemas públicos, ou através dos camiões‑pipa que enchem as cisternas, a preservação da qualidade das águas dos rios é fundamental para a melhoria da qualidade de vida. Assim, há que se sensibilizar e orientar a população ao uso adequado e limpo. Igualmente devem ser desenvolvidos mecanismos regulatórios, capacidade de fiscalização e destino ade‑quado aos efluentes da drenagem urbana, aos esgotos domiciliares e futuramente aos indus‑triais.

De acordo com a Direcção Provincial da Energia e Águas da província do Moxico, está previs‑to que até 2017 haverá água canalizada em Luena. A mesma fonte indicou que estão em curso várias obras na província que permitirão que mais habitantes tenham acesso a água potável. Com a entrada em funcionamento dos sistemas instalados nos bairros Vieira, Alto Campo e 4 de Fevereiro, nos arredores da cidade do Luena, e nas localidades do Donge, Mumanga e Chi‑nanamata, no município de Kamanongue, mais de 16 mil famílias passarão a beneficiar de água potável. Os empreendimentos têm capacidade para armazenar dez mil litros de água.

Segundo o Plano de Desenvolvimento Integrado da Província 2012/2025, a matriz energéti‑ca da província está totalmente baseada no combustível diesel, que é não renovável, dispendio‑so e que necessita de constante logística de reabastecimento e manutenção. Luena consome mais de metade da energia instalada na província. Nas sedes municipais e comunas existe ilu‑minação pública, porém, o número de consumidores beneficiários do sistema de energia é bai‑xíssimo. É insuficiente o nível de fornecimento de energia a todos os municípios e o baixíssimo consumo evidencia o longo caminho a percorrer com vista a uma desejada e necessária elec‑trificação da província. No entanto, a província possui uma abundante e caudalosa rede hídrica que pode contribuir para a auto‑suficiência do sistema energético da região leste. Neste sen‑tido, o sector da energia tem em carteira outros projectos de grande porte para geração de

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hidroelectricidade, como o de Chafinda no Município do Leua, e a exploração das quedas do rio Luizavo no município do Alto‑Zambeze, com os estudos de viabilidades efectuados, bem como os respectivos concursos. Outra oportunidade de aproveitamento hídrico para a geração de electricidade refere‑se às quedas do rio Luanguinga no município dos Bundas. Neste contexto, é recomendado pelo Plano de Desenvolvimento 2012/2025, um plano Director de Energia que contemple as opções referidas, as redes de transmissão e a biomassa como matrizes para sus‑tentabilidade do sistema energético provincial no longo prazo.

De acordo com a Direcção Provincial de Energia e Águas da província do Moxico, a estratégia para melhorar o fornecimento de energia inclui o desenvolvimento da energia eólica, mini‑hí‑drica (com apoio técnico da Itália) e painéis solares fotovoltaicos (com apoio técnico da Áustria) nos municípios, comunas e povoações. Inicialmente naquelas com grande densidade popula‑cional e em seguida em todas as povoações e bairros.

Nos bairros e sedes comunais devem equipar‑se todos os estabelecimentos de serviços públicos, jangos e espaços comunitários com energia a partir de painéis fotovoltaicos ou gera‑dores, conforme o porte das instalações. A mesma Direcção indicou que a partir de Março/Abril de 2017, o aproveitamento hidroeléctrico no rio Chiúmbe no município de Dala (província da Lunda‑Sul) começará a gerar 12 megawatts de potência eléctrica que beneficiará a cidade do Luena.

O Plano de Desenvolvimento 2013/2017 sistematiza as dificuldades associadas ao sector da energia e água com os seguintes elementos:

1. Captação de água em estado obsoleto.

2. Fraca capacidade técnica das empresas que intervém na construção de pequenos siste‑mas de água.

3. Falta de quadros nos municípios para manutenção dos pequenos sistemas de água e dos grupos de geradores existentes.

4. Sistema de saneamento básico em mau estado em Luena.

5. Falta de sistema de iluminação pública nas principais vias das sedes municipais.

11.3 Diagnóstico estratégico da dimensão económica da Província do Moxico

Considerando o diagnóstico relativo aos principais sectores económicos da província do Moxico, é possível apresentar uma análise das principais forças, fraquezas, oportunidades e ameaças associadas a esses sectores:

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Forças

1. Grande potencialidade no sector agrícola, pesca, aquicultura e recursos hídricos.

2. Disponibilidade de recursos minerais.

3. Disponibilidade de recursos florestais e fauna.

4. Bacia hidrográfica do Okavango/Zambeze.

5. Potencial turístico.

6. Localização geoestratégica da província no contexto da SADC.

7. Presença de novos operadores da banca na província.

8. Ambiente favorável de negócios.

Fraquezas

1. Deficiente funcionamento dos sistemas de regadio e infra‑estruturas de gestão de água para a prática de agricultura de rega.

2. Vias de comunicação secundária e terciárias em mau estado de conservação.

3. Falta de infra‑estruturas de apoio à conservação e comercialização de produtos agrícolas.

4. Fraca rede comercial.

5. Prática da agricultura de subsistência.

6. Pouco incentivo ao comércio rural.

7. Inexistência de aeródromos nalgumas sedes municipais devido à sua localização e à distância com a sede da província.

8. Inexistência de um pólo de desenvolvimento agro‑industrial e base logística.

9. Falta de cadeias produtivas locais.

10. Fraco apoio às micro e pequenas empresas e empreendedores.

11. Reduzido investimento privado e também desconectado dos focos de desenvolvimento da província.

12. Grande dispersão da população.

13. Ineficiência de recursos humanos especializados.

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Oportunidades

1. Caminho‑de‑ferro de Benguela.

2. Ambiente económico estável.

3. Projecto regional Okavango/Zambeze.

4. Posição fronteiriça.

5. Processo de desconcentração financeira.

6. Condições climáticas favoráveis para a produção de energias renováveis.

7. Plano de desenvolvimento eixo Lobito‑Luau.

8. Consolidação das bases de integração regional.

9. Desenvolvimento das infra‑estruturas para facilitar trocas comerciais e a liberalização económica.

10. Intenção de criação de um pólo de desenvolvimento agro‑industrial e base logística em Luena e no Luau.

Ameaças

1. Assimetrias no desenvolvimento a nível nacional.

2. Calamidades naturais.

3. Elevada dependência de produtos das outras regiões e do exterior.

4. Imigração ilegal.

5. Degradação dos solos e consequente progressão das ravinas.

6. Prática de queimadas descontroladas e abate indiscriminado de árvores e animais.

7. Solos predominantemente ácidos.

8. Falta de oportunidades de emprego.

9. Destabilização política na RDC.

10. Dificuldades alfandegárias para a circulação de bens e serviços para a RDC e Zâmbia.

11.4 Conclusões e recomendações

Em forma de conclusão, destaca‑se o posicionamento do Moxico no contexto do desen‑volvimento nacional e da SADC. Tendo em conta as potencialidades naturais que a província do Moxico possui, desde os recursos hídricos fazendo parte de três bacias hidrográficas Oka‑vango, Zambeze e Zaire, os recursos minerais, florestais, a rede ferroviária que liga o Atlântico

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ao Índico, a cultura dos seus povos, a sua localização geo‑estratégica fazendo fronteira com 3 províncias de Angola (Lunda‑Sul, Bié e Kuando‑Kubango) e com 2 países (Zâmbia e RDC), a pro‑víncia deve posicionar‑se no contexto de desenvolvimento nacional e regional face à competi‑tividade, tomando em linha de conta o desenvolvimento de factores estruturantes locais que promovam o crescimento sustentável do território. O posicionamento sustentável da província no contexto nacional e regional, dependerá fundamentalmente de factores estruturantes como (Plano de Desenvolvimento da Província 2013/2017):

1. Recursos humanos locais qualificados.

2. Construção de infra‑estruturas rodoviárias (primárias, secundárias e terciárias) e princi‑palmente a estrada Trans Africana TAH9 paralela ao Caminho‑de‑Ferro de Benguela.

3. Criação de plataformas logísticas e o desenvolvimento dos pólos industriais, fomentando em todos os municípios a agro‑indústria.

4. Desenvolvimento rural para mitigar os efeitos das assimetrias.

5. Modernizar e operacionalizar os serviços do aeroporto do Luena e do Luau, respectiva‑mente, e a construção de aeródromos nalgumas sedes municipais.

Relativamente às recomendações e, de acordo com o Relatório Anual de 2106 da DPADRP e com o Plano de Desenvolvimento 2013‑2017, recomendam‑se as seguintes acções a desenvol‑ver no futuro no sector agrícola:

1. Construção de infra‑estruturas de conservação de produtos agrícolas.

2. Fomento do aumento da produção de arroz.

3. Continuar com o apoio da implementação dos outros programas dirigidos aprovados superiormente.

4. Implementação do pólo agro‑industrial de Kamaiaia.

5. Reabilitação e construção dos perímetros irrigados de Luxia, Samaria, Caminina, Sacas‑sanje e Kaméia.

6. Promover a realização de projectos de corte, transformação e transporte de madeira na Chicala, Cangumbe, Lungué‑Bungo, Kamanongue, Chafinda, Ngoana, Cavungo, Cangam‑ba e Macondo.

7. Apoiar projectos de povoamento e repovoamento florestal.

8. Criação de um centro de experimentação florestal.

9. Promover o desenvolvimento da apicultura nas famílias.

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10. Construção de um matadouro modular.

11. Construção de laboratório para análise de produtos alimentares no Luau.

12. Mapeamento e criação de pólos agro‑pecuários em todos os municípios.

13. Promoção da correcção dos solos.

Para o sector das pescas, as recomendações incluem:

1. Construir centros em todos os municípios potencialmente piscatórios.

2. Construção do centro de produção de alevinos (peixe) em Sacassanje.

3. Desenvolver a pesca sustentável.

4. Aumentar a rede de frio.

5. Assegurar o fornecimento de pequenas embarcações e outros artefactos bem como meios para conservação do pescado.

6. Formação e capacitação dos intervenientes em piscicultura mercantil.

7. Organizar um sistema de apoio às cooperativas.

8. Promover a introdução de novas técnicas e tecnologias adaptáveis ao processo produtivo pesqueiro.

Para o sector da indústria, geologia e minas, as recomendações são as seguintes:

1. Construir pólos de desenvolvimento industrial em Luena, no Luau e no Cazombo.

2. Promover a implementação de projectos estruturantes como a indústria da celulose e papel e borracha.

3. Criação de clusters da alimentação e agro‑indústria.

4. Montagem de cerâmica.

Para o sector do comércio, hotelaria e turismo:

1. Construção de entrepostos logísticos comerciais fronteiriços.

2. Construção de um centro logístico de distribuição provincial e de oito municipais.

3. Fomento do cooperativismo e actividade comercial.

4. Apoio ao pequeno e médio comerciante.

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5. Construção de uma escola provincial de comércio.

6. Promoção da rede comercial nas áreas rurais.

7. Construção de um laboratório provincial de controlo da qualidade.

8. Implementar o plano director do turismo.

9. Apoiar a expansão da rede hoteleira.

10. Promover o desenvolvimento do pólo turístico de Okavango/Zambeze.

Para o sector de construção e transportes:

1. Desenvolver o transporte colectivo de passageiros.

2. Priorizar a ligação do CFB à Zâmbia.

3. Promover a instalação de plataformas logísticas multimodais ao longo da linha férrea.

4. Assegurar a construção de novos aeródromos no Luau, Cazombo, Cangamba e Lumbala Nguimbo.

5. Alargar a rede de táxis incentivando programas de apoio ao emprego e mobilidade.

6. Consolidar o sistema de controlo de tráfego de passageiros e meios.

7. Criar condições para a entrada de novos operadores no sector.

8. Construção de uma ponte cais no Mussuma Mitete para permitir aumentar o número de transacções com a Zâmbia.

Para o sector de energia e águas:

1. Construção de pequenos sistemas de água e postos de abastecimento de água e sanea‑mento comunitário.

2. Construção de novas captações, tratamento e distribuição nas sedes municipais.

3. Implementação de um programa de monitorização da qualidade da água para o consumo humano.

4. Construção, modernização e expansão das capacidades de produção de energia eléctrica nas sedes municipais.

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