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TATIANA AMÉLIA VALENTE ECONOMIA SOLIDÁRIA COMO POLÍTICA PÚBLICA: Um esboço da questão CURITIBA 2007

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TATIANA AMÉLIA VALENTE

ECONOMIA SOLIDÁRIA COMO POLÍTICA PÚBLICA:

Um esboço da questão

CURITIBA 2007

ii

TATIANA AMÉLIA VALENTE

ECONOMIA SOLIDÁRIA COMO POLÍTICA PÚBLICA:

Um esboço da questão

Monografia apresentada como requisito parcial para a obtenção do grau de bacharel em Ciências Sociais. Curso de Ciências Sociais da universidade federal do Paraná – UFPR Orientadora: Profª. Maria Tarcisa Silva Bega

CURITIBA 2007

iii

"Não nego a necessidade objetiva do

estímulo material, mas sou contrário

a utilizá-lo como alavanca impulsora

fundamental. Porque então ela

termina por impor sua própria força

às relações entre os homens."

Che Guevara

iv

Para minha mãe,

que apesar de não entender o

sentido da existência deste

trabalho, ou nada saber

dos assuntos aqui tratados,

é a única pessoa que talvez,

seja capaz de compreender

o significado que ele tem

para mim.

v

AGRADECIMENTOS

Agradeço a todos que colaboraram para a execução desse trabalho, em

especial, a minha orientadora Maria Tarcisa Silva Bega, por quem sempre

cultivei grande admiração, por acreditar em mim, investindo tempo e esforço

para que eu chegasse ao término deste trabalho.

A minha família pelo apoio e compreensão da minha ausência em toda a

minha trajetória durante este período de graduação e de confecção deste

trabalho. Aos amigos próximos que sempre me incentivaram a persistir e

estiveram presentes durante essa trajetória: Denise, sempre presente mesmo

na distância, sei que torceste por mim como torci por você amiga. Valéria,

minha caçula que não nunca me permitiu desapontá-la me fazendo persistir.

Tatiane, grande amiga e companheira de curso, que muitas vezes me deu

força e me obrigou a acreditar em mim mesma. Ao André, também colega pela

admiração e incentivo. Aos demais colegas que viveram juntos os mesmos

dramas e dúvidas pessoais, e que sempre possuíam um conselho que servia

tanto para mim, quanto para si próprios.

Agradeço ao Rodrigo, sempre companheiro, que me ajudou a lembrar

das pequenas coisas e de mim mesma, não me deixar esquecer do que é

realmente importante na vida, obrigada por estar ao meu lado hoje.

Aos companheiros do trabalho e amigos da DRT, local que me permitiu

conhecer a economia solidária e me encantar por ela, aos colegas do PPDLES

e ao coordenador Claro Walter, que acreditou sempre, demasiadamente, em

meu trabalho e em minha pessoa, no mesmo sentindo agradeço aos

companheiros do IFIL, em especial, a Maria da Glória. Aos fóruns, entidades,

professores, escritores, gestores e empreendimentos que tive a oportunidade

de conhecer em vários e diferentes lugares desse país, e que, de cada um

deles, trouxe muitos amigos que me ensinaram as diferentes formas possíveis

do que é economia solidária.

Enfim, a todos que direta ou indiretamente participaram dessa trajetória e com

isso, meu crescimento pessoal, principalmente aos trabalhador@s da

economia solidária que merecem todo meu respeito e admiração.

vi

SUMÁRIO

RESUMO..........................................................................................................vii

SIGLAS............................................................................................................viii

INTRODUÇÃO..................................................................................................01 CAPÍTULO 1. O QUE É ECONOMIA SOLIDÁRIA..........................................03 1.1. ECONOMIA SOLIDÁRIA NO BRASIL.......................................................04 CAPÍTULO 2. A TRAJETORIA DAS POLÍTICAS PÚBLICAS NO BRASIL E A DÉCADA DE 1990........................................................................................14 CAPÍTULO 3. A ECONOMIA SOLIDÁRIA E AS POLITICAS PÚBLICAS SOCIAIS NO BRASIL.......................................................................................19 3.1 CONDIÇÃO PARA INSTALAÇÃO DA ECONOMIA SOLIDÁRIA ENQUANTO FORMA DE ORGANIZAÇÃO.....................................................19 3.2 A ECONOMIA SOLIDÁRIA ENQUANTO POLÍTICA PÚBLICA SOCIAL............................................................................................................25 CONSIDERAÇÕES FINAIS.............................................................................29 REFERÊNCIAS................................................................................................32

vii

RESUMO

Tendo como objetivo demonstrar a crescente participação de novas formas de organização do espaço produtivo, designadas economia solidária, esse trabalho traça primeiramente a história da economia solidária no Brasil, sua trajetória e estabilização a partir das idéias de Paul Singer entre outros estudiosos modernos do assunto. Ao mesmo tempo, procura demonstrar princípios que dirigiram a iniciativa e as mudanças trazidas pelas transformações político sociais que acabaram por originar várias derivações teóricas e práticas da economia solidária, citando alguns exemplos e problematizando-os. Em seguida, perfazemos um levantamento histórico conceitual acerca do desenvolvimento das políticas públicas sociais no Brasil, na concepção e perspectiva do bem estar social, com condição para seu desenvolvimento e aprimoramento, sobre uma perspectiva de John Rawls, que problematiza a equidade necessária as políticas publicas para garantia da justiça. Apresenta-se, ainda, algumas iniciativas de práticas da economia solidária no tocante a sua instalação e fortalecimento, especialmente da criação da secretaria nacional de economia solidária, exemplificando com dados do mapeamento nacional e do Paraná e colocando em contexto algumas sugestões de políticas publicas e por fim, tratando o contexto atual da economia solidária em relação aos seus atributos enquanto política pública.

viii

SIGLAS

ADS/CUT - Agência de Desenvolvimento Solidário/Central Única dos

Trabalhadores

ANTEAG – Associação Nacional de Trabalhadores e Empresas de auto

Gestão

ANCOSOL - Associação Nacional do Cooperativismo de Crédito de Economia

Familiar e Solidária

CONCRAB - Confederação das Cooperativas de Reforma Agrária do Brasil

DRT - Delegacia Regional do Trabalho

EA – Entidade de Apoio

EBES- Estado de Bem Estar Social

EES – Empreendimento Econômico Solidário

ES – Economia Solidária

FBES - Fórum Brasileiro de Economia Solidária

FEES - Fóruns Estaduais de Economia Solidária

MST - Movimento dos Trabalhadores sem Terra

MTE – Ministério do Trabalho e Emprego

OSCIP – Organização da Sociedade Civil com Interesses Públicos

SENAES – Secretaria Nacional de Economia Solidária

SETP – Secretaria de Estado do Trabalho Emprego e Promoção Social

UNICAFES - União das Cooperativas de Agricultura Familiar e Economia

Solidária

UNISOL – União e Solidariedade das Cooperativas Solidárias.

1

INTRODUÇÃO

No Brasil atual onde o desemprego e a exclusão social estão cada vez mais

latentes, observam-se movimentos de organizações para a busca de alternativas

em geração de renda. São famílias, comunidades e pequenos grupos de

indivíduos que se organizam para buscar alternativas de renda e o mínimo de

dignidade. A organização de comunidades e grupos em cooperativas, redes,

associações e clubes de troca, tem tornado-se cada vez mais comum como

alternativa ao desemprego. As experiências desta natureza vêm gerando

resultados inesperados e satisfatórios, nas quais em sua grande maioria, a

organização dos grupos auxilia em muito para a organização do trabalho. A essa

experiência no Brasil dá-se o nome de economia solidária, desde o inicio dos anos

de 1990, com o conceito de uma “outra economia” que traz subsídios para a

geração de trabalho e renda. Diante desse novo quadro econômico e de suas

alternativas, surgem ações governamentais que agem conjuntamente com a

organização dos cidadãos e que tem por objetivo organizá-los ainda melhor na

geração de trabalho e renda. Nesse contexto, o programa Economia Solidária do

Governo Federal, que se destina a organização do trabalho, vem auxiliando nas

demandas existentes e criando novas demandas.

Das muitas formas de enfrentamento ao desemprego e aos baixos salários

do mercado de trabalho excludente e seletivo do Brasil, a economia solidária tem

surgido como uma alternativa a vários dos problemas para a forma econômica

capitalista vigente. A crise que atinge o atual sistema assalariado e gera

desemprego em massa e exclusão social, tem sido respondida com a busca de

alternativas de trabalho e renda. Nesta perspectiva, vários trabalhos tanto de

autores consagrados como de mestres, doutores e graduandos, têm estudado e

mostrado as propriedades e benefícios que a economia solidária vem ocasionar

às várias regiões do país.

Após a criação da Secretaria Nacional de Economia Solidária – SENAES,

em 2003, pelo decreto do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, as ações foram

melhor organizadas e suas ações passaram a ser contínuas, buscando

desenvolver esse novo tipo de economia como alternativa à exclusão. Em 2005

2

foi realizado o mapeamento nacional da economia solidária que apontou ações de

desenvolvimento, geração de trabalho e renda em todo o território nacional. Entre

as pretensões básicas da economia solidária estão a geração de trabalho e renda

e desenvolvimento local e social. Muitas experiências foram relatadas e

analisadas por no Brasil, e a partir destes estudos podemos avaliar o

desenvolvimento deste conceito e da prática da economia solidária, bem como

questioná-la quanto a se tornar uma política pública para geração de trabalho e

renda.

O primeiro objetivo deste trabalho foi de sugerir a economia solidária

enquanto uma política pública, e com base para tal, tomar o Programa

Paranaense de Economia Solidária gerido pela Secretaria Estadual de Trabalho

Emprego e Promoção Social - SETP, mas devido a escassez de dados dos

resultados dos quase quatro anos de programa, vamos aqui tomar os dados do

Paraná apenas como exemplo, para uma melhor visualização do quadro nacional.

Deste modo, voltamos o objetivo deste trabalho à análise de quais as

condições para a economia solidária se instalar, quais os critérios para tal e se

hoje ela pode ser considerada como apta a se tornar uma política pública. Para

isso analisaremos a bibliografia sobre a questão e sobre o conceito de economia

solidária e quais as atribuições necessárias para ela ser considerada uma política

pública.

No capítulo primeiro vamos expor as propriedades referentes à economia

solidária e sua trajetória no Brasil, de como ela chegou e trouxe uma outra

perspectiva a economia do país.

No capítulo segundo trataremos o conceito moderno de política pública e seus

atributos referentes a área social e a promoção da equidade.

No capítulo terceiro trataremos uma breve discussão das condições e das

propriedades para se considerar uma economia de solidariedade e compará-la

aos atributos necessários a uma política pública tomando como base os princípios

da justiça como equidade, definindo assim sua condição em relação a tornar-se

uma política pública.

3

CAPÍTULO 1: O QUE É ECONOMIA SOLIDÁRIA

A economia solidária é fruto da organização de trabalhadores e

trabalhadoras em busca da concretização e vivências de novas relações

econômicas e sociais, os quais são organizados como formas de cooperativas,

associações, redes de cooperação ou complexos cooperativos e empresas

autogestionárias que realizam atividades de produção de bens e serviços,

finanças solidárias, trocas, comércio justo e consumo solidário.

Ela se trata de uma alternativa ao mundo de desemprego crescente,

geradora de trabalho emancipado, operando como uma força de transformação

estrutural das relações econômicas, democratizando-as, superando a

subalternidade do trabalho em relação ao capital, mas não se trata de uma forma

de compensar os resultados de exclusão social da economia dominante. A ES

pauta-se por práticas fundadas em relações de colaboração solidária, inspiradas

por valores culturais que colocam o ser humano como sujeito e finalidade da

atividade econômica, riqueza em geral e de capital em particular.

Para que se defina uma organização como econômico-solidária ela precisa

ter internalizados os princípios de autogestão e solidariedade e,

conseqüentemente, a partir destes: cooperação, democracia, igualdade,

desenvolvimento humano e responsabilidade social. A economia solidária

constitui-se em práticas alternativas à economia capitalista, que é vista não como

única, mas como dominante, centrada somente na importância do lucro. Um outro

viés importante que a opção apresenta é o resgate de experiências, de uma

tradição de organização do trabalho e da produção em outros moldes que não

sejam a da mais-valia e da alienação do trabalho.

O movimento, que possui experiências de sucesso em outros países como

França, Itália, Espanha, entre outros, assume varias denominações: economia

socialista, economia social, socioeconomia solidária, economia popular solidária,

economia de reciprocidade, entre outros. Conceitos que procuram descrever um

número crescente de formas coletivas e autogestionárias de organização para a

produção, distribuição e o consumo de bens e serviços, em geral citados por

autores brasileiros, como economia solidária.

4

1.1. ECONOMIA SOLIDÁRIA NO BRASIL

No Brasil a experiência de economia solidária é bastante recente, ma é um

fenômeno com crescente visibilidade econômica, social e política. Este conceito é

apresentado pelo economista Paul Singer com o trabalho pioneiro: Economia

solidária: um modo de produção e distribuição. (ed. Contexto, 2000) Após este,

vários outros autores e estudos vem dar maior visibilidade ao tema, entre eles

alguns vão resgatar uma tradição de estudos latino americanos em torno da

temática da economia popular datada de 1980 ou até mesmo meados de

1970.( França, Laville, Medeiros, e Magnem, 2006, pg.11)

Para PAUL SINGER (2003, pg.116) o conceito de economia solidária se

refere às organizações de produtores, consumidores, poupadores etc., que se

distinguem por duas especificidades: (a) estimulam a solidariedade entre os

membros mediante a prática da autogestão e (b) praticam a solidariedade para

com a população trabalhadora em geral, com ênfase na ajuda aos mais

desfavorecidos.

A economia solidária é um outro modo de produção, cujos princípios

básicos são a propriedade coletiva ou associada do capital e o direito à liberdade

individual. A aplicação desses princípios une todos os que produzem numa única

classe de trabalhadores que são possuidores de capital por igual em cada

cooperativa ou sociedade econômica (Singer, 2002, pg.10). Define ainda na

mesma obra, como empreendimentos de economia solidária, as cooperativas de

consumo, de crédito, de produção, de compra e vendas e os clubes de troca.

ARMANDO LISBOA (2003, pg. 07) trata a Economia Popular Solidária,

como é chamada em alguns estados do país, como uma forma de interação

humana, uma economia geradora de inclusão e reprodução da vida de todos os

envolvidos. Para ele “A Economia Solidária se insere num pacto territorial, tem um

compromisso com o processo de desenvolvimento local e sustentável”. Definindo-

se, portanto, como uma outra economia, comprometida com território e população,

inserida entre os limites ecológicos e éticos, além dos sociais e humanos.

Segundo este autor, a ES desnorteia os marcos de análise cartesianos, sendo a

afirmação de uma outra racionalidade - e não meramente uma estratégia de

5

inclusão dos excluídos - a ES não se contém em ser apenas um organismo

econômico, trata-se de uma economia mais integrada com a sociedade e a

natureza.

Na opinião de MARCOS ARRUDA (2004, pg 373), “ a economia solidária

surge para dar conta da crescente massa de desempregados, gerada pela

preocupação constante dos capitalistas em reduzir custos e aumentar lucros” A

economia solidária, então, pode ser caracterizada como toda forma de trabalho

associado, de produção e/ou comercialização de bens e serviços, com vistas à

geração de trabalho e renda. Assumindo, assim, diversas formas tais como

cooperativas, associações ou empresas autogestionárias e, mais tarde, os clubes

de troca.

EUCLIDES MANCE também afirma que nem todas as características

atreladas estão presentes em práticas consideradas como economia solidária:

“O termo economia solidária abriga muitas práticas econômicas e não há um

consenso sobre o seu significado. Em geral ele está associado a práticas de consumo, comercialização, produção e serviços (entre os quais o de financiamento, em particular) em que se defendem, em graus variados, a participação coletiva, autogestão, democracia, igualitarismo, cooperação, auto-sustentação, a promoção do desenvolvimento humano, responsabilidade social e a preservação do equilíbrio dos ecossistemas. Entretanto, nem todas essas características estão presentes nas diversas práticas concretas que são elencadas como economia solidária em estudos e análise distintas que temos encontrado.” (Mance 2000, pg.01)

LUIZ INÁCIO GAIGER, oferece um sentido à designação economia

solidária desenhando um contexto de outra forma de produção:

“Trata-se da associação produtiva entre os trabalhadores, que visa colocar em seu beneficio a capacidade de trabalho que possuem, em lugar de aliená-la como instrumento do seu próprio jugo, assim instaurando as bases de uma economia do trabalho que subverte a lógica de produção de mercadorias e converte a economia, de imperativo absoluto em meio de realizações de necessidades, de fruição de bem-estar... o atual reflorescimento do associativismo econômico entre os trabalhadores hoje designado de economia solidária.” (Gaiger, 2003 pg.08).

BOAVENTURA SOUZA SANTOS define uma trajetória mais completa para

a economia solidária, no livro Produzir para Viver no qual ele explica que a

economia solidária surge no Brasil como resposta à grande crise de 1981/83,

6

quando muitas indústrias inclusive as de grande porte, entram em processo

falimentar1. Este processo se seguiu durante as décadas de 1980 e 1990.

“E pouco a pouco se desenvolve uma tecnologia para aproveitar as oportunidades, oferecidas pela legislação aos trabalhadores, de arrendar ou adquirir a massa falida ou o patrimônio dos antigos empregadores e assim preservar seus postos de trabalho. O sindicato, como representante legal dos trabalhadores, intervém perante a justiça e promove a formação de uma associação dos empregados da firma em vias de desaparecer que depois dá lugar eventualmente a uma cooperativa”. (Santos B. 2002 pg. 87).

Os pilares da economia solidária são principalmente a solidariedade e a

autogestão, que merecem atenção especial devido às várias conotações que

assumem tais conceitos: a autogestão é a prática de gerenciamento do

empreendimento de que os trabalhadores participam dessa gestão. Os

empreendedores exercitam as práticas participativas de autogestão dos processos

de trabalho, desde as definições cotidianas, até a direção e coordenação das

ações em seus diversos graus de importância. Este tema é bastante pesquisado

e argumentado entre vários teóricos, desde os conceitos de economia popular ou

emancipatórias.

Em 1988 com uma das primeiras traduções da definição de autogestão do

anarquista francês MAURICE JOYEUX, que escreve um texto explorando o

sentido de autogestão, criticando os marxistas em sua definição etimológica da

palavra que tratava a mesma como um serviço ou administração por todos

aqueles que, de um modo ou de outro participavam de seu funcionamento. Joyeux,

descontente com o acomodamento marxista do sentido dessa palavra define a

autogestão como: “Gerir uma empresa em comum, enquanto esta conserva suas

estruturas de classe consistiria para os operários gerir sua própria miséria, sua

própria exploração [...] a distribuição de uma mais-valia que o trabalho de todos

criou.” (Joyeux, 1988 pg. 13) para ele, autogestão e gestão operária são

conceitos sinônimos. Explica também, que ela só pode ser parte de um conjunto

que transforma toda a atividade humana, ou seja, Joyeux trata a autogestão além

do sentido da palavra, atribuindo-lhes méritos subjetivos, em que “A participação

1 Neste período é que se dá a formação das cooperativas que assumem a indústria Walling de fogões, em Porto Alegre, a Cooperminas, falida em criciúma Santa Catarina e as cooperativas que operam as fábricas em Recife e São José dos Campos da antiga tecelagem Parahyba de cobertores. Todas elas permanecem em operação até hoje.

7

ativa, global, na gestão de sua empresa lhes forneceria um alimento intelectual,

um interesse apaixonante, uma razão de existir [...] Numa espécie de arte de

realizar, onde os elementos materiais e espirituais se misturariam estreitamente”

(Joyeux 1988, pg.14.)

Alguns estudiosos brasileiros do socialismo também discutem o conceito.

CLÁUDIO NASCIMENTO (1986, pg.11) define a autogestão como: “a

administração da sociedade por si mesma em contraposição a uma sociedade

administrada por um poder que está por cima dela”. Nesta perspectiva, a

autogestão retoma a idéia de Rosa Luxemburgo da “experimentação social”, da

articulação da idéia autogestionária com as experiências concretas. É agindo

coletivamente que as massas aprendem a se autogerir. Não há outro meio de

apropriação crítica da ciência. Ainda, NASCIMENTO, no Seminário Nacional de

Autogestão, em Joinville - SC, 12 e 13 de dezembro de 2003, Afirma que a

autogestão é um método e uma perspectiva de transformação social. É um

movimento, produto da experiência de vitórias e de derrotas; é um amplo processo

de experiências em todo o conjunto da vida social.

PAULO PEIXOTO DE ALBUQUERQUE dá ênfase ao seu sentido de

coletividade ressaltando as reações sociais que essa proporciona:

“Por autogestão, em sentido lato, entende-se o conjunto de práticas sociais

que se caracteriza pela natureza democrática das tomadas de decisão que

propicia a autonomia de um coletivo. È um exercício de poder compartilhado, que

qualifica as relações sociais de cooperação entre pessoas/e ou grupos...”

(Albuquerque, 2003 pg.20) Assim, a sociedade autogestionária é uma sociedade

de experimentação social, que se institui e se constrói por si mesma.

Quanto à solidariedade, é possível perceber seu caráter nos

empreendimentos através de alguns pontos, como a justa distribuição dos

resultados alcançados, assim como nas oportunidades que levam ao

desenvolvimento de capacidades e da melhoria das condições de vida dos

participantes. Também há solidariedade, nas relações que se estabelecem com o

meio ambiente, com a comunidade local, com os outros movimentos sociais e

populares, na preocupação com o bem estar dos consumidores, e no respeito aos

direitos dos trabalhadores. Pode ser entendida, ainda, num sentido de cooperação,

trabalhar em comum, apontando para um sentido de ação e de movimento

8

coletivo, sempre em oposição à perspectiva individual e individualista. (Jesus P. e

Tiriba L. 2003, pg.49).

A solidariedade é definida por LAVILLE (2006, p.21), como uma motivação

da ação humana que não pode ser abordada no interesse coletivo. Sem negá-lo,

ela o ultrapassa pela busca das condições intersubjetivas da integridade pessoal.

Outros autores definem mais parâmetros para a constituição de um

Empreendimento Econômico Solidário – EES 2 , que nos contextos anteriores,

como por exemplo, GAIGER (2004, pg.373-377), que vai mais longe destrinchado

e estabelecendo oito critérios mais específicos: autogestão, democracia,

participação, igualitarismo, cooperação, auto-sustentação, desenvolvimento

humano e responsabilidade social. Não nos ateremos a cada um dos oito,

tomando, portanto a abrangência do conceito dos dois pontos principais. Dentro

destes dois pilares principais, autogestão e solidariedade existem inúmeras

formas de agrupamentos solidários3, como por exemplo, as cooperativas de várias

espécies, organizações da sociedade civil de interesse público - OSCIP,

associação, clubes de troca, redes de cooperação, entre outros menos difundidos.

Apesar dos vários segmentos da economia solidária, e das inúmeras

discussões sobre quais desses se encaixam nos ideais solidários nas diferentes

regiões do país e do mundo, todos possuem alguns aspectos de fecundidade da

economia solidária. De todos estes, a cooperativa é a principal forma de

organização econômica solidária, ou pelo menos a única que todos concordam ser

o modelo ideal de empreendimento solidário. Trata-se de uma forma de

organização democrática que pertence aos próprios trabalhadores e surge da livre

iniciativa de seus membros. Tudo que se refere à cooperativa deve ser decidido

por seus próprios membros em assembléia, não podendo haver distinção entre os

sócios nas questões decisórias, bem como há garantia da transparência das

informações sobre a cooperativa para todos os membros. São estes preceitos que

2 Vamos adotar neste trabalho a expressão EES – Empreendimento Econômico Solidário, pois, diante das várias possibilidades, esta é a que melhor convém para explicar o sentido em que queremos atribuir neste trabalho. 3 Por agrupamentos solidários, queremos dizer todas as formas de organizações solidárias, sem exclusão ou benefícios de umas por outras. Isto por que apesar da referência mais próxima de Economia Solidária ser o cooperativismo, não se excluem as associações, clubes de troca ou comunidades tradicionais. Assim, agrupamentos solidários, neste contexto per se, define estes outros grupos.

9

garantem a democracia. Também, os ganhos da atividade econômica são

repartidos entre os sócios de acordo com critérios discutidos e aprovados por

todos, e, tanto a participação quanto à saída da cooperativa devem ser voluntárias.

Entre os diversos modelos e formas de cooperativas, as mais comuns são as

cooperativas de produção, agropecuária, industrial - ou de serviços; Todas de

várias formas e tamanhos possíveis. Dentre essas, a cooperativa de produção é a

que mais se aproxima das características intrínsecas da economia solidária, por

seu atributo da propriedade comum dos meios de produção e pela produção

conjunta dos trabalhadores, que são associados, ou como autodenominam

cooperados.

O cooperativismo foi muito influenciado pela crítica socialista marxista que,

por embasamento condena a “ditadura do capital na empresa” (Marx, K.1969, vol.

III, cap. 27) MARX via as cooperativas como uma primeira ruptura com a velha

forma capitalista e entendia que internamente as cooperativas já haviam superado

a contradição entre capital e trabalho. As cooperativas possuem uma legislação

própria no Brasil, sendo regidas pela lei nº 5.764/71, que determina toda a forma

de funcionamento das cooperativas, não apenas de economia solidária, mas de

todo o cooperativismo existente, Isto causa ainda uma série de problemas para os

empreendimentos econômico solidários, devido a falta de proteção que esta

garante a eles, de modo que, os trabalhadores sendo todos donos da empresa,

não possuem benefícios trabalhistas, bem como os impostos se tornam maiores

para a empresa. Do mesmo modo, os registros de cooperativa restringem a

legalização da cooperativa a comercializar apenas os produtos registrados por ela,

impedindo a expansão para novas formas de produção e comercialização, ou seja,

ela afere diretamente na autogestão dos trabalhadores. Mesmo assim, através

desta lei é que os sindicatos puderam se embasar e garantir que os ex-

funcionários das empresas pudessem tomar posse da massa falida e continuar o

trabalho como cooperativas.

Apesar dos preceitos principais, solidariedade e autogestão, as

cooperativas e organizações solidárias, têm livre arbítrio para definir seus

regimentos internos, determinando como será a repartição da renda e distribuição

de cargos e tarefas, além dos critérios para adesão e saída do grupo. Isto por que

nas muitas formas de fazer economia solidária e por se tratar de uma experiência

10

ainda em construção, não é possível definir ainda critérios mais minuciosos para

este conceito. Isso já vem sendo feito aos poucos e em alguns estudos apontados,

respeitando as diferentes formas de organização, ou seja, para cada forma de

organização, estabelecem-se critérios diferentes. Isto é observável na obra de

LUIZ INÁCIO GAIGER:

“Somando ainda as variações regionais, esse espectro heterogêneo, social, econômico e político, fica estampado no conjunto dos capítulos, em resultados igualmente da decisão de abarcarmos os empreendimentos econômicos de cunho associativo dos mais diversos tipos, sem exclusão daqueles desprovidos de traços solidários notórios, ou distantes do circuito movimentalista da Ecosol. A conclusão neste ponto é certeira: há bem mais experiências de associação e cooperação mais experiências de gestão comunitárias e democráticas dos meios de trabalho, do que o inventário dos agentes institucionais da economia solidária.” (Gaiger, 2004 p.382)

Assim, a economia solidária não se define necessariamente em oposição a

economia capitalista, mas apresenta “outra economia” adversa ao caráter

subordinado que o capitalismo reserva para quem vive dessa forma de trabalho.

Apesar de todas as definições e atribuições referidas à economia solidária,

qualquer ponderação feita logo ficará desatualizada, por se tratar de uma

experiência em constante construção, prova disto é o fato dos conceitos aqui

apresentados serem todos de um ou dois anos atrás. Como sugere SANTOS:

“A economia solidária se desenvolve tão rapidamente no Brasil que qualquer balanço tem de ser considerado provisório... O que impele a economia solidária a se difundir com força cada vez maior já não é a demanda das vítimas da crise, mas a expansão do conhecimento do que é a tecnologia social, econômica e jurídica de implementação da economia solidária”. (Santos, B. 2002, p126)

O que tem permanecido diante da ampliação do conceito é a mesma lógica

interna de trabalho, a práxis da uma nova experiência de inserção no mundo de

trabalho e da economia, que é capaz de gerar uma nova consciência e provocar

sucessivamente, novas mudanças na prática, esse é o requisito básico plasmado

nas experiências de economia solidária atualmente em curso. Na economia

solidária há iniciativas que representam a admissão de novas relações sociais de

produção, em geral virtualmente anticapitalistas; há iniciativas que expressam o

renascimento de práticas de economia popular, com elementos de reciprocidade e

11

solidariedade, e como tais, não capitalistas. É fato que também existem iniciativas

que se limitam a paliativos, soluções de resistência diante das forças negativas de

não integração, exercidas pelo movimento do capital.

A partir das diversas formas organizacionais e do movimento que se cria

dentro desta nova lógica de trabalho, tendo ainda em vista sua difusão e

crescimento no Brasil, a economia solidária tem obtido visibilidade dos governos

como uma alternativa para geração de trabalho e renda. Ela começa a

desenvolver-se no Brasil a partir da década de 90, e surge como uma reação à

crise do desemprego na forma de iniciativas locais de forma independente ou

ligada a movimentos como MST e Cáritas. 4

Após a criação da SENAES em 26 de junho de 2003 e que passou a

integrar o Ministério do Trabalho e Emprego - MTE, voltada a desenvolver,

fomentar e criar projetos na área de desenvolvimento da economia solidária, sob a

chefia de Paul Singer, os encontros, debates e estudos sobre a economia solidária

se intensificaram e alguns marcaram profundamente a história recente desta

trajetória, no Brasil e na sua articulação internacional, entre estes os principais

foram:

- O I Encontro Nacional de empreendimentos da Economia Solidária em

agosto de 2004.

- A representação e o espaço da ES no Fórum Social Mundial em de 2005.

- Os encontros regionais de economia solidária nas cinco regiões do País,

realizados pelo Fórum Brasileiro de Economia solidária em 2006.

- O Mapeamento Nacional de Economia Solidária desde 2005, que

registrou mais de 20 mil empreendimentos de economia solidária e continua a

mapear no País.

4 A Cáritas cria desde 1980 cria diversos projetos alternativos comunitários - PAC`s, sob o lema “a solidariedade liberta.” O MST também cria nestes mesmos anos, cooperativas agropecuárias nos assentamentos da reforma agrária. E logo após estes, na década de 90 nas universidades as incubadoras tecnológicas de cooperativas populares vem dar escopo para o movimento crescer e se reproduzir. Ainda iniciativas com a ANTEAG- Associação Nacional dos Trabalhadores em Empresas de Autogestão. UNISOL- União e Solidariedade das Cooperativas Solidárias. UNICAFES - União das Cooperativas de Agricultura Familiar e Economia Solidária e ADS/CUT - Agência de Desenvolvimento Solidário da CUT, complementam estas iniciativas fortalecendo o movimento da economia solidária em todo o país.

12

- O encontro da RIPESS – Rede de promoção da economia social solidária,

em Dakar/Senegal novembro de 2005.

- E, as Conferências Regionais, Estaduais e a Nacional de Economia

Solidária, durante todo o ano de 2006.

O documento final da I Conferência Nacional de Economia Solidária

(Brasília, 26 a 29 de junho de 2006) desenvolve eixos da economia solidária,

mostrando que ela é a forma de uma força de transformação estrutural das

relações econômicas, e que, não se trata de uma maneira de compensar os

resultados de exclusão social, nem de mediar ações de compensação social,

rejeitando as velhas práticas da competição e da maximização da lucratividade

individual. Ela não se confunde com o terceiro setor, que substitui o Estado nas

suas obrigações sociais e inibem a emancipação dos trabalhadores enquanto

protagonista de direitos. Também não se confunde com as empresas de

responsabilidade social que negam, em sua forma de atuação, os princípios da

autogestão e da intercooperação, reproduzindo mecanismos que mantém a

subalternidade do trabalho.

É necessário considerar aqui as várias visões da economia solidária,

algumas consideradas românticas, ou radicais, mas é necessário, também, levar

em conta que devido a variedade de empreendimentos, locais e formas de

funcionamento, existe também a diversidade de pensamentos diante do conceito.

Expusemos aqui varias opiniões, perspectivas e teorias, sobre o que é a economia

solidária no Brasil, algumas embasadas em teorias, econômicas, sociológicas,

clássicas, filosóficas, outras religiosas ou populares, construídas por coletivos e

expostas em congressos e encontros. Este tipo de diversidade teórica é uma

forma de representação da variedade do movimento da economia solidária no

Brasil, e reflete as diferentes regiões do país e as diferentes ações que se

encaixam de alguma maneira dentro do recente conceito. Quando se observa a

diversidade de organizações e de perspectivas assumidas pelo debate sobre a

economia solidária num curto intervalo de tempo, chega-se espontaneamente à

conclusão de que, mais do que um conceito específico, passível de se apresentar

por uma definição singular, trata-se de um tipo de movimento social capaz de

13

mobilizar diferentes sujeitos em diferentes regiões e contextos políticos,

ideológicos e sociais.

Resta-nos, como objetivo desse trabalho, pensar este movimento e seus

atributos em função das políticas públicas.

14

CAPÍTULO 2: A TRAJETÓRIA DAS POLÍTICAS PÚBLICAS SOCIAIS NO

BRASIL E A DÉCADA DE 1990.

Não há com tratar a condição social e as políticas públicas sem fazer, ao

menos, uma breve trajetória das políticas sociais no país.

A partir das novas demandas de uma economia mundial em transformação

surge a necessidade de que o Estado desempenhe novas funções e tome posição

no campo da organização e das relações econômicas. É nessa perspectiva que

surge o Estado de Bem Estar Social - EBES, enfatizando a preocupação do

aspecto social e do desenvolvimento do capitalismo:

“O capitalismo monopolista determina novas relações entre capital e trabalho e entre estes o Estado, fazendo com que as elites econômicas admitissem os limites do mercado como regulador natural e resgatassem o papel do Estado como mediador civilizador, ou seja, como poderes políticos de interferência nas relações sociais. “(Cunha, E. 2002 pg.11)

Desse modo, a regulação das relações sociais de acordo com o EBES,

ocorrido entre as décadas de 1970 e 1980, se legitima pela necessidade originada

pelas mudanças das relações entre o Estado, a economia e a sociedade, que

levam ao surgimento de sistemas públicos regulados nas diversas áreas, saúde,

educação, emprego, entre outros, afetando diretamente o nível de vida dos

cidadãos. No Brasil o EBES, foi marcado pelo desenvolvimento institucional e

legal do Welfare State brasileiro 5, de um caráter clientelista, que afetou muito a

dinâmica das políticas sociais no país. SÔNIA DRAIBE afirma que este Estado “...

pode ser considerado como meritocrático, particularista e clientelista...” (1989,

pg.15). Isto por que ele possuía características de centralização política e

financeira, princípios de privatização, e uso clientelístico da máquina social, além

de uma grande fragmentação institucional.

As mudanças pós 1970 apontavam para a universalização do sistema e

garantiram este caráter meritocrático particularista, pois o caráter redistributivo do

sistema vigente, resumia-se a um amontoado de programas assistenciais. 5 É fato que o Welfare State Brasileiro, bem como nos países da Améri1ca Latina, não conseguiu garantir conquistas sociais, econômicas e políticas como apresentou nos países da Europa, principalmente devido aos regimes governamentais ditadores existentes até então.

15

A partir da década de 1980 houve o colapso do desenvolvimento industrial

associado à ruptura do padrão de estrutura do mercado de trabalho, que se

refletiu no aumento dos trabalhadores sem carteira assinada, bem como

pequenos empregadores e trabalhadores por conta própria e na piora dos postos

de trabalho: “... de cada 100 empregos assalariados gerados entre 1998 e 1991,

cerca de 99 foram sem registro e apenas 1 possuía registro.” (Pochmann 1997,

pg.72 ).

A Constituição de 1988 em busca de corrigir essa situação, traz a

concretização de ações sociais nas políticas publicas inscrita na carta magna,

acarretando mudanças políticas organizacionais dentro deste contexto histórico

social.

“Ainda assim é inegável o grande esforço reformista realizado no passado recente e

que em boa medida, alterou a fisionomia do sistema pretérito de pretensão social. Com efeito, já nos anos 80, uma agenda democrática da reforma social orientou um primeiro movimento de mudanças, sob a dupla chave da democratização das políticas e da melhora da eficácia do gasto social. Ao iniciar-se a democratização do país, o acerto de contas como o autoritarismo supunha um dado reordenamento das políticas sociais que respondessem as demandas da sociedade por maior equidade, ou se quiser, pelo alargamento da democracia social. Projetando para o sistema de proteção social, tal demanda por redução das desigualdades e afirmação dos direitos sociais, adquiriu as concretas conotações de extensão da cobertura dos programas e efetivação do universalismo das políticas. Registrada na nova constituição de 1988, tal orientação logrou indiscutíveis êxitos ao longo dos anos 90.” (Draibe, Sonia .Disponível em:< http/www.comciencia.br/reportagens/ppublicas/pp10htm.>)

As políticas públicas podem ser entendidas como o conjunto de planos e

programas de ação governamental voltada à propriedade do domínio social. Com

a intervenção dos estados e municípios na gestão e organização das políticas

públicas sociais, o Estado se apresenta como um dos elos importantes no

estabelecimento dessa cadeia de condicionantes que vem moldar o sistema de

emprego (Cardoso 2005, pg.119). Assim, o papel das secretarias, conselhos e

outros órgãos administrativos são o de garantir a proteção social e o efeito

constitucional das mesmas. EDITH CUNHA observa que: “Tais experiências

alteraram significativamente a relação Estado/Sociedade na medida em que

criaram novos canais de participação popular, como é o caso dos conselhos de

políticas sociais, que tem atuado na sua co-gestão”.(Cunha 2002, pg.16,17).

Logo após, entre o período constituinte e o início dos anos 1990, já estando

o modelo brasileiro de crescimento econômico em crise e o Estado em

16

transformação, ocorre o desenrolar do processo de constituição de novas políticas

públicas de emprego e renda.

Nesta fase ocorre a descentralização da gestão das políticas públicas

sociais por parte do Governo Federal, delegando aos estados a incumbência de

executá-las, a partir daí as ações se voltam às necessidades locais. No Paraná, a

Secretaria Estadual de Trabalho, Emprego e Promoção Social -SETP assume a

responsabilidade de gerir as políticas de trabalho emprego e renda e da promoção

de melhores condições de vida para a população. Dentro dessa estrutura funciona

o CET - Conselho Estadual do Trabalho, órgão de discussão política que conta

com a participação de trabalhadores, empregadores e poder público. No âmbito

da política do trabalho e emprego, a SETP tem por objetivo, gerar novas

oportunidades de trabalho e renda, bem como ações de qualificação profissional.

Traçar essa trajetória da situação das políticas públicas sociais no Brasil se

faz necessário para buscar compreender novamente à mudança desse quadro, a

inclusão de políticas públicas sociais voltadas ao trabalho informal, e de

compreender o papel do Estado nesta mudança estrutural. A partir do ano 2000

inauguram-se essa nova vertente de políticas federais no âmbito da assistência

social, voltadas também ao trabalho informal, as políticas de transferência de

renda.6

A perspectiva teórica que aqui apresentamos e a idéia de sistema de

emprego, se explicitam no “fenômeno da existência das atividades ditas informais”.

(Theodoro 2005, pg.116). Segundo o autor, esse fenômeno é resultado

basicamente da combinação de três fatores: da existência de uma extrema

desigualdade social, da ausência de um marco regulatório global e institucional

que estabeleça limites e parâmetros para o funcionamento do mercado de

trabalho e da capacidade dessas atividades em se articularem e se ajustarem ao

sistema de emprego, estabelecendo um conjunto de estratégias de alianças que

lhes permita a preservação de um espaço de existência. Portanto, por meio

desses três pontos principais, podemos observar que eles se consolidam dentro

de práticas cotidianas, seja, por exemplo, na desigualdade de renda e de padrões

6 No âmbito Federal os programas de transferência de renda tiveram inicio em 2001 com a criação da bolsa escola, e do programa nacional de renda mínima vinculada a saúde, conhecido como bolsa-alimentação. (Cardoso, J. c. e Jaccoud, L. (Org.) Política social no Brasil - Abrangência e tensões da ação estatal. pg 221)

17

educacionais, seja nos reduzidos níveis de oportunidade de emprego formal ou na

ausência de limites para essa forma de trabalho, seja nas articulações que

impedem a abertura de certos ramos do mercado para a concorrência direta. O

informal aparece, assim, no Brasil, com uma regra do funcionamento do sistema e

já como parte constitutiva do sistema de emprego.

Com essa nova fase, voltada às políticas para o enfrentamento da

informalidade do mercado de trabalho, podemos destacar a partir de 2002, uma

reestruturação das políticas voltadas não mais para a geração de emprego e

renda, mas de trabalho e renda e de qualificação profissional, na busca de

inserção dos jovens no mercado de trabalho formal e de recolocação, através de

qualificação, bem como geração de renda a partir do informal. São exemplos, o

Plano Nacional de Estimulo ao Primeiro Emprego -PNPE, Planos Especiais de

Qualificação – PLANSEQS e Planos Territoriais de Qualificação - PLANTEQS,

Programa Agente Jovem, e Programa Economia Solidária em Desenvolvimento.

Estes programas são demandados aos Estados e executados pelas SETP’s e

DRT’s, seguindo a descentralização inscrita em 1988.

Para pensar as políticas públicas neste contexto, é preciso tomar alguns

aspectos básicos para ela, como se tratar de um modo indutor de geração de

renda, de democratização e universalização dos serviços sociais básicos e possuir

programas específicos de combate à pobreza já instalada. Assim, para que as

políticas públicas sejam consideradas como provedoras do domínio social elas

precisam garantir aspectos básicos que assegurem a inclusão social e a

igualdade, através das instituições sociais que as constroem. O autor JOHN

RAWLS entende que a primeira virtude das instituições sociais é a justiça e que,

em uma sociedade justa as liberdades da cidadania são consideradas invioláveis

e os direitos assegurados pela justiça não estão sujeitos à negociação política ou

ao cálculo de interesses sociais. Os princípios de justiça estabelecem modos de

inserir diretos e deveres nas estruturas básicas da sociedade e definem a

distribuição apropriada do benefícios e encargos da cooperação social. A teoria da

justiça como equidade abrange a idéia de contrato social. O pacto social é

substituído por uma situação inicial que incorpora certas restrições de conduta

baseada em razões destinadas a conduzir a um acordo inicial sobre os princípios

18

da justiça - estabelecidos pelos homens na posição original7 - apontados por

Rawls como garantidores da liberdade e igualdade e que integram a justiça como

imparcialidade. São eles:

1º) Cada pessoa há de ter um direito igual ao mais amplo sistema total de liberdades básicas, compatível com um sistema similar de liberdade para todos.

2º) As desigualdades econômicas e sociais devem ser estruturadas de maneira que:

a) contribuam para maior benefício dos menos favorecidos de acordo com o princípio do aforro justo

b) estejam vinculados a cargos e funções acessíveis a todos em condições de justa igualdade de oportunidades (Rawls 2002, pg. 31)

Apesar de nem sempre as partes serem iguais, na opinião do autor, elas

apenas desconhecem as diferenças existentes entre elas na situação da posição

inicial. Disso decorre que a negociação jamais possuirá qualquer sentido usual,

utilitário; ao contrário, será completamente referenciada pelo significado social de

justiça.

Segundo JOHN RAWLS (1971, pg.221) “A justiça é a primeira virtude das

instituições sociais, como a verdade o é dos sistemas de pensamento.” Deste

modo, tratar as políticas públicas ou políticas sociais, significa pensar direitos

básicos garantidos pela justiça, e na maneira como eles devem ser garantidos

partindo do pressuposto da igualdade ou equidade. RAWLS trata a questão dos

direitos sociais com exemplos do que chama “bens públicos” e “bens primários” na

teoria da justiça como equidade como necessários a sobrevivência digna de todos

os indivíduos e alteram estruturalmente as condições iniciais de desigualdade.

7 A posição original, também tratada por “véu da ignorância” por Rawls se trata de que para garantir a justiça se parta de determinados pressupostos, como refletir a partir de uma comunidade racional e razoável, composta de sujeitos competentes e imparciais, dispostos a cooperar comunicativamente (...), com o intuito de buscar, ou ao menos tentar, uma solução para o conflito de interesses (...), mediante razões válidas (...), aceitas por aqueles que participam do diálogo real. Mas para que isso ocorra, a caracterização fundamental desta situação consiste, no fato de ninguém conhecer sua posição na sociedade, sua classe ou status social.

19

CAPÍTULO 3: A ECONOMIA SOLIDÁRIA E AS POLÍTICAS PÚBLICAS

SOCIAIS NO BRASIL

3.1 CONDIÇÃO PARA A INSTALAÇÃO DA ECONOMIA SOLIDÁRIA ENQUANTO

FORMA DE ORGANIZAÇÃO

Embora a economia solidária funcione de modo diferente dos

empreendimentos capitalistas, propondo-se a uma forma de trabalho pautada na

autogestão, solidariedade e propriedade coletiva dos meios de produção, ela está

inserida num sistema em que predomina o mercado capitalista monopolizado,

tendo que competir diretamente com os outros empreendimentos e formatos de

produção não solidários. Esta é uma das principais dificuldades de iniciativas

solidárias, já que na grande maioria elas se estabelecem em desvantagem com

relação às outras formas de comercio e produção, pois geralmente provém de

massas falidas ou ações populares que não possuem capital de giro. Mesmo se

tratando de uma outra forma de produção, voltada à solidariedade o

empreendimento econômico solidário não consegue concorrer diretamente com o

mercado formal, pois as formas de produção em que este se fundamenta geram

muitas dificuldades, pois mesmo um empreendimento de grande porte, como a

recuperação da massa falida, muitas vezes sofre com a falta de capital de giro

para manter a produção e entregar os pedidos, incorrendo no risco de perder o

cliente para uma produção capitalista. Assim, é perceptível a grande necessidade

da criação e disseminação de uma nova consciência para o consumo ético e

solidário. Estes fatores geram vários problemas para as cooperativas, e outros

empreendimentos solidários, levando algumas se desviar de sua iniciativa

solidária, ou adotar práticas capitalistas.8

8 Esse é o exemplo de Rochdale, a “genetriz” de todas as cooperativas, e Mondragón, a maior cooperativa do mundo. Devido a sua amplitude a gestão compartilhada de todos os setores tornou-se impossível, bem como de manter apenas cooperados trabalhando, sendo necessário contratar funcionários que nenhuma participação tem na gestão das cooperativas.

20

Outro grande problema que os EES enfrentam é a falta de qualificação dos

cooperados, quanto à administração solidária, autogestão, fluxos financeiros,

entre outros. Por exemplo, em um caso de falência e recuperação da fábrica

através da iniciativa solidária, ao assumir a gestão da empresa os funcionários

precisam muitas vezes desenvolver funções que não conhecem se for o caso,

pois nem todos os antigos funcionários da fábrica falida permanecerem nela

depois da sua recuperação, assim, por muitas vezes um funcionário que estava no

chão de fábrica, passa a fazer parte da administração sem qualquer qualificação

anterior para tal. Bem como casos de iniciativas que começam em pequenos

grupos e durante o desenvolvimento a falta de qualificação para todas as áreas da

produção, criam problemas no sentido de comercialização, qualidade do produto,

trabalho em equipe, entre outros. Essa qualificação que tratamos aqui, deveria

prover das entidades de apoio, ou dos governos que tem alguma iniciativa com

relação a economia solidária ou de desenvolvimento local, mas nem sempre isso

ocorre, ou ocorre de maneira insuficiente e não satisfatória à necessidade dos

EES, deixando-os , por muitas vezes, a margem de sua própria sorte.

Diante dessas grandes dificuldades para a sobrevivência do

empreendimento solidário, além da subordinação ao mercado capitalista, tendo

que suprir as demandas e não tendo oportunidade de inovar, faz-se necessário

pensar soluções para políticas de apoio e fomento a esta forma de economia, que

possibilite capital de giro e qualificação para as principais requisições e

dificuldades dos trabalhadores da economia solidária. Para que isto ocorra

GAIGER explica que é necessário transformar os interesses individuais em

solidários, na medida em que se realizam por meio de acordos que geram um

altruísmo recíproco, da qual a contrapartida não esta apenas em ser

correspondido, mas nas gratificações morais que proporciona, como por exemplo,

ser dono da própria empresa, a renda justa diante da sua produção, ou no

estreitamento das relações familiares quando é caso de trabalho familiar. Assim “A

socialização voluntária dos meios de produção, associada os processos de

trabalho não individualizáveis, necessariamente cooperativos, torna os vínculos

entre os trabalhadores indivisíveis”. (Gaiger 2004, pg.382).

Devido à diversidade de empreendimentos solidários, é difícil definir uma

situação ou nivelamento para economia solidária se instalar, o que existem são

21

apenas algumas definições gerais para isto ocorrer: na visão de GAIGER como

regra geral, essas inovações duradouras não se estabelecem bruscamente por

rupturas, mas por adaptações paulatinas que geram novos fatores de sustentação

(2004, pg.383). Isto é, ocorre quando a situação local está propícia a este

acontecimento, como pode ser o caso de uma falência de empresa na qual os

trabalhadores assumem a gestão da fábrica 9 . O movimento tende a ocorrer

também em regiões com baixo nível de emprego formal, onde trabalhadores se

reúnem em parceria para produzir, por vezes com materiais e artigos retirados da

própria natureza local, por vezes com produtos industrializados, o que melhor lhes

convier, como é o caso de associações de artesãos litorâneos que trabalham com

resíduos de peixes, ou cooperativos de artesãos em cipó, bambu, capim dourado,

entre outros. Pode-se ainda considerar outra condição de instalação da economia

solidária. Essa condição pode partir dos valores que um grupo de pessoas agrega,

que contribuem para a preservação de um determinado modo de produção, ou

tradição familiar. “Os valores definem as motivações mais profundas do agir

cooperativo, sendo a instância inspiradora dos princípios do movimento

cooperativo mundial”. (Schmidt, e Perius 2003, pg.63).

Entretanto uma das condições mais latentes, é o fato de existir uma

separação entre economia formal e informal e do aumento da pobreza e do

desemprego estrutural. Observamos em várias condições, pessoas buscando

alternativas a essa exclusão, através dos chamados “bicos”, ou alternativas, como

vender balas e brinquedos nas ruas, fazer malabarismos nos sinais de trânsito,

artistas que se apresentam nas ruas, além de pequenas iniciativas como

barraquinhas de cachorro-quente, entre outros. Começam como apenas bicos ou

renda extra, mas em várias ocasiões está forma de trabalho informal é que dá

início a um grupo que irá se tornar uma cooperativa com ideais solidários, com

mostra NYSSENS:

“A analise dessas iniciativas populares desde a perspectiva não da economia

informal, mas da economia popular (ou solidária) possibilita uma resignificação das próprias práticas permitindo que a economia popular se transformasse num poderoso meio para opor resistência à exclusão política, cultural e social do mundo popular e sua precária economia.” (Nyssens, 2003. p.104)

9 Casos como esses já são comuns no Brasil. Os maiores destaques são a UNIFORJA, e a COOPERBOTÕES na região sul; E no Norte: a Catende Armonia.

22

Assim enquanto alguns autores tratam o movimento da economia solidária

apenas como alternativa à exclusão e saída do desemprego, outros a vêem como

uma forma de emancipação do modelo capitalista, é o caso de ARMANDO

LISBOA quando afirma que “A Economia solidária possibilita um caminho

alternativo e não colonialista de desenvolvimento. Ela permite hoje sustentar outra

modernidade liberta do fetiche capaz de reconciliar a eficácia da ação econômica

com a qualidade emancipatória da ação moral”. (Lisboa 2003, pg. 07). Para este

ponto em especial convêm definir os diferentes fatores que de modo geral

favorecem o surgimento de Empreendimentos Solidários, ao que GAIGER dá

nome forças negativas e positivas, mudanças que levam os trabalhadores a

recorrer a esta solução como ultima alternativa, por exemplo o desemprego, ou,

observadas as vantagens materiais que apresentam, diante de possuir parte do

empreendimento, sendo assim um sócio. São convicções subjetivas e/ou objetivas,

de que incentivam os trabalhadores a aderirem a esta forma de trabalho. O próprio

GAIGER (2004, pg.373) afirma que é necessário levar em conta as condições

históricas gerais de uma região ao definirem uma circunstância propicia ao

desenvolvimento de um fenômeno social dado. Uma destas condições é o ideal

emancipatório da região, de politização e convergência de diversas expressões

concretas dos trabalhadores que entrelaçam suas histórias.

Determina, portanto, várias circunstâncias para o surgimento do

Empreendimento Econômico Solidário, dentre elas as principais são:

a) A presença de setores populares com experiências que mantém

uma tradição ou experiência de vida e nas quais traçam uma

identidade comum, que cria laços de confiança e geram uma

defesa de seus interesses.

b) A existência de organizações e lideranças dos movimentos de

ação direta dos sistemas de representações dos interesses

coletivos próprios aos segmentos sociais.

23

c) A incidência concreta sobre os trabalhadores da seletividade do

mercado de trabalho, e da ineficácia das políticas públicas

destinadas a gerar oportunidades econômicas ou compensar

momentaneamente a sua insuficiência.

d) E por fim, a formação de um cenário político e ideológico que

reconheça a relevância dessas demandas sociais e das

alternativas que adentram aos movimentos sociais e na

institucionalidade política.

Apesar das observações de GAIGER sobre as circunstâncias em que se

surgem os EES, voltando sua argumentação para o sentido do contexto material

em que se insere a economia solidária, o autor denota um sentido histórico para a

natureza dos Empreendimentos Econômico Solidários:“Nisto reside o sentido

histórico dos empreendimentos de economia solidária na experiência decisiva do

trabalho emancipado no caráter essencial desta experiência”.(Gaiger 2004, pg.

373). Afirma ainda, que os EES funcionam como comunidades, permitindo aos

indivíduos envolvidos uma distância do sistema no qual tomam sentido outras

identidades e outros horizontes éticos.

Assim, é possível alimentar uma razão utópica não apenas com a crítica ao

sistema, mas: “...propiciando em alguns casos a existência de relações sociais

antagônicas ao capitalismo e em muitos casos, preservam ou revitalizam relações

sociais não capitalistas fundamentais para a vida dos pobres e para os indivíduos

que vivem do seu trabalho.” (Singer 2003, pg.117) Nesta afirmação, SINGER

mostra traços da diferença entre o sistema capitalista e o sistema de solidariedade,

criticando o primeiro. Influenciado por ele CORAGGIO (2003 pg. 105) afirma que a

lógica da reprodução ampliada da vida, é o principal elemento que diferencia

economia popular (ou solidária) de outros setores econômicos. O autor ressalta

que não é possível ter uma visão da totalidade do sistema, ou reduzi-lo

simplesmente a dois subsistemas - formal e informal. Na verdade afirma que a

economia solidária deve ser considerada mais um subsistema, fornecendo uma

visão mais moral que econômica, ou seja, que a formação dos EES se dá

principalmente num sentido de conservação da vida e bem estar social.

24

Há de se convir que todas essas hipóteses para a instalação dos EES

concordam que a necessidade da sua criação e do trabalho centrado na

solidariedade, é que são geradas a partir da ruptura das relações de trabalho

capitalista, com a recuperação da solidariedade, em função de uma nova cultura

de trabalho que não calcada no capitalismo e que abarque em si vários sentidos e

tradições de longo tempo.

Portanto, a economia solidária, possuindo suas relações firmadas nos

valores da reciprocidade e cooperação, os participantes deste movimento criam

estratégias de trabalho e de sobrevivência que prezam não apenas a obtenção de

ganhos monetários, mas também a criação das condições fundamentais no

processo da gênese humana, como por exemplo, a socialização do saber da

cultura e formas de produzir. “Sendo assim além das iniciativas econômicas de

geração de renda, as atividades da economia popular se verificam nas ações

espontâneas de solidariedade entre familiares amigos e vizinhos e também nas

ações coletivas organizadas no âmbito da comunidade objetivando a melhoria da

qualidade de vida.” (Gaiger 2004, pg.395)

Ela se apresenta, portanto, como um movimento de preservação humana,

no sentido de desenvolver e promover o bem estar e a emancipação, mas, ao

mesmo tempo pudemos observar as varias dificuldades dos EES se manterem

funcionando e se desenvolverem, podendo em muitos casos, não ser produtivo ou

rentável a ponto de não suprir as necessidades básicas dos trabalhadores que

nela investem, não por suas atribuições características, mas devido aos

problemas causados pela falta de qualificação, concorrência com o mercado

capitalista, entre outros que, como expusemos anteriormente.

Para tanto, além das experiências e trajetória apresentada no capítulo I, e

das várias vezes que foram apontadas às inquietações dos autores em fazer

deste um outro setor da economia, ou desenvolvê-la no sentido de uma ação mais

ampla com uma política pública, faz-se necessário aqui apresentar a discussão no

sentido de pensar o movimento desta maneira e das condições de implantação

deste como uma política pública.

25

3.2 A ECONOMIA SOLIDÁRIA ENQUANTO UMA POLÍTICA PÚBLICA SOCIAL:

Pensar em um movimento recente como a economia solidária e suas

atribuições enquanto política pública é fundamental para este estudo. Pudemos

observar nesta breve trajetória da economia solidária e das políticas públicas

sociais no Brasil, que o movimento da economia solidária surge no Brasil na

mesma década em que as políticas sociais ganham força e que os estados da

federação assumem a execução das mesmas. Isto não ocorre por acaso, As

políticas públicas sociais se desenvolvem no Brasil devido a uma série de fatores

que vão desde o desemprego estrutural, até uma não consolidação de um modelo

de Welfare State brasileiro, passando pelo movimento da economia solidária. Com

os limites apontados e a precarização do mercado de trabalho, retomam-se os

debates sobre a questão social e o Estado passa a exercer papel essencial na

produção na regulação de bens e serviços sociais. (Cardoso 2005, pg 130)

Apesar de já existirem práticas de economia solidária no Brasil antes

mesmos da década de 1990, a ES ganhou força enquanto movimento nesta nova

constituição de trabalho, visto que o mercado já não absorvia mais a grande

quantidade de mão de obra não especializada e este movimento passou a

absorver pessoas que buscavam alternativa à sua exclusão.

“Não conseguindo uma ocupação no mercado formal de trabalho e tendo que fazer frente ao desemprego estrutural e aos demais processos de exclusão social, os atores da economia solidária organizam seus empreendimentos, individual ou associativamente, contando com sua própria força de trabalho”. (Icasa e Tiriba 2003, pg. 103)

Desta forma, a economia e solidária parece caminhar ao lado da economia

formal, como uma alternativa a quem desejar ter autonomia no trabalho, sobre

uma outra lógica de produção e comercialização que não a capitalista.10

10 QUIJANO, A. (2002, pg.489) sugere que aí estaria a diferença básica entre o “setor informal” e o “setor moderno” Pois na literatura sobre a “economia informal” ou “economia alternativa” este modo de produção se apresenta como completamente novo, pois nesse setor da economia os trabalhadores fazem para produzir e distribuir entre eles próprios sua produção; Isto concretiza-se no fato de que a unidade de produção é a força do trabalho e não a empresa. Diferente do modo capitalistas ou o mundo empresa.

26

É um movimento que surge transversalmente ao sistema capitalista, sendo

que, enquanto estavam se criando medidas para a o crescimento do desemprego,

ela ia surgindo aos poucos através dos movimentos sociais e da organização dos

próprios trabalhadores “Construindo alternativas de baixo para cima”. (Melo 2002,

pg.466)

Após a criação da SENAES, a ES passa a ter visibilidade e reconhecimento

de sua trajetória no Brasil, neste momento é criado também o Programa Nacional

de Economia Solidária, juntamente com o Fórum Brasileiro de Economia Solidária

e, em seguida o Conselho Nacional de Economia Solidária. 11 Ainda com um

quadro muito novo e poucos recursos para trabalhar o slogan da SENAES foi

“Organizar o Trabalho para Desenvolver o Brasil”, sendo este o objetivo no sentido

de identificar os empreendimentos econômicos solidários e de divulgar a

economia solidária para que ela realmente funcionasse como alternativa ao

desemprego, pregando uma série de valores baseados na cultura socialista,

incentivada pelo Secretário de Economia Solidária Paul Singer.

Partindo da descentralização das políticas públicas proposta na

Constituição Federal de 1988, as demandas do Ministério do Trabalho referentes

a economia solidária no governo federal, foram repassadas aos governos

estaduais, através das DRT´s e SETP`s, que passaram a acompanhar e gerir as

demandas nacionais. Assim, com o apoio de entidades, ONG`s, Universidades,

Incubadoras, entre outros, criam-se programas locais e regionais para a economia

solidária atuar, em alguns mais consolidados, como é o caso do Paraná, e outros

com menos apoio dos governos, mas funcionando através de apoiadores e alguns

gestores simpáticos ao movimento.

Tomando como base o Atlas da Economia Solidária no Brasil, publicado em

2005, podemos observar a amplitude das iniciativas da economia solidária no país,

visto que foram mapeados naquele ano 14.954 EES em 2.274 municípios do

Brasil, entre associações, cooperativas rurais e urbanas, clubes de troca,

comunidades tradicionais, entre outros, o que corresponde a 41% dos municípios

brasileiros. Mais de 1 milhão e 250 mil homens e mulheres estão associados nos

EES, ainda agrega-se mais 25 mil trabalhadores participantes que mesmo não

11 Grupo de Trabalho brasileiro de economia solidária – Do Fórum Social Mundial ao Fórum Brasileiro de Economia Solidária. (2002, pg.27)

27

sócios, possuem algum vínculo com os EES. No Estado do Paraná foram

mapeados 527 empreendimentos econômicos solidários em 109 municípios,

correspondendo a 27% destes. O Atlas mostra que os três principais motivos para

criação dos EES são as alternativas ao desemprego, complemento da renda e

obtenção de maiores ganhos.

O desenho mais atual da economia solidária no país, confeccionado em 2005 se

dá da seguinte forma:

A economia solidária ainda não se trata de uma política pública, mas ela

vem demonstrando necessidade de consolidar-se como tal. LUNARD (2004,

pg.153) comenta que a adoção dos modelos produtivos propostos a partir da

economia solidária, organizados por cooperativas, associações de moradores e

28

outras formas organizativas reconhecidas ou não pelo poder publico, constituem

novos paradigmas de políticas públicas, seja do ponto de vista do aparato estatal

a essas formas organizativas, seja na introdução de novas demandas sociais para

além da política assistencialista e/ou passiva das políticas públicas de emprego

tradicionais.

Observamos assim, que existe uma perspectiva e uma vontade dos

militantes e defensores deste movimento, de consolidação da mesma como uma

política pública, devido a sua amplitude e abrangência, mas de fato faltam ainda

características fundamentais para sua consolidação como tal no sentido da

equidade, e que foram observadas por RAWLS, expostas anteriormente neste

trabalho. Na lógica da justiça como equidade a ES trabalha com determinações

coletivas dentro dos EES que motivam as ações iniciais e que regem as demais

ações dos seus membros, os princípios de justiça se explicam dentro dos EES por

que foram aceitos consensualmente numa situação inicial de igualdade e de um

modo que a divisão dos benefícios aconteça de maneira aceitável para todas as

partes, mas isto só existe na economia solidária dentro da organização do

empreendimento econômico solidário, sendo ainda muito complexo pensar tal

estratégia em âmbito global devido à diversificação dos EES entre as diferentes

regiões do país. Além de se tratar de um movimento muito recente no país, como

pudemos observar em sua trajetória no capítulo primeiro deste trabalho.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao longo deste trabalho pudemos observar a trajetória da economia

solidária em analogia à trajetória das políticas públicas de caráter social no Brasil.

O objetivo deste estudo foi promover uma reflexão sobre o contexto econômico,

social e político, em que se deu a trajetória do movimento de ES no Brasil,

aprofundando a temática no que se refere às políticas públicas sociais no País. E

para uma melhor compreensão foi necessário rever as teorias econômicas sociais

e políticas que delinearam as políticas públicas sociais sob a perspectiva do EBES,

no período pós-constituição de 1988.

Observamos que com o declínio da sociedade salarial, milhares de

trabalhadores foram lançados na informalidade e passaram a buscar alternativas

de trabalho e renda para a crise em que se encontravam. A constituição de

algumas dessas alternativas, por meio da economia solidária, resultou na

formação de atividades comunitárias e cooperativas, bem como organizações

produtivas formais, como a recuperação de empresas falidas, baseando-se em

princípios e práticas de cooperação, democracia, igualdade, desenvolvimento

humano e responsabilidade social, da autogestão e solidariedade.

Observando as características que o movimento de economia solidária

reserva para si, com um caráter de emancipação através do trabalho, dentre suas

inúmeras e variadas formas de experiências no país, ela vem ganhando espaço e

peso político diante da desigualdade social do país, funcionando como alternativa

ao desemprego estrutural e saída à exploração do trabalho, refletindo um

movimento que desponta da luta de classes e dos trabalhadores. Bem como as

políticas públicas sociais no Brasil que ganham força com a constituição federal de

1988 abarcando uma série de direitos e melhores condições para o trabalho e

para a geração de renda. Assim, após a constituição de 1988 cria-se o ambiente

ideal para o desenvolvimento do movimento: a falta de empregos formais nas

fábricas já saturadas de trabalhadores, os baixos salários e a proposta de políticas

de geração de trabalho e renda, passam a favorecer seu desenvolvimento rápido

e amplo no Brasil. Além, dessa condição favorável, a ampla luta dos movimentos

sociais deve ser levada em consideração, pois teve papel fundamental com as

entidades de apoio, órgãos da igreja, sindicatos, entre outros. Sem estes seria

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impossível a recuperação de empresas de massa falida, a conscientização e

organização do movimento.

Mas apesar de todo o movimento e a amplitude das ações da economia

solidária expressas neste trabalho, além de suas várias diferentes formas de

organização, ela ainda não se caracteriza como uma política pública, mas como

um movimento social, que vem ganhando força e adeptos: intelectuais, gestores

públicos, militantes de diferentes movimentos sociais pelos quais ela permeia e

principalmente trabalhadores que desejam estar sob outro modo de produção que

não o capitalista. E, neste sentido é expressa a necessidade de passar a pensá-la

como tal, como bem o expressam FRANÇA, G. e LAVILLE, J. (2006, pg.303).

Segundo os autores: “as experiências de economia solidária só podem sair de seu

confinamento com a introdução de políticas publicas opondo-se as discriminações

as quais elas são confrontadas.” Por parte dos governos e da pouca estrutura e

atenção ao desenvolvimento necessário a ela.

Deste modo, é possível concluir que a economia solidária vem aos poucos

se caracterizando com formas de uma política pública social, a partir tantos das

iniciativas locais, como do governo federal com o Programa Economia Solidária

em Desenvolvimento. Mas necessita ainda de amadurecimento e investimento dos

governos no sentido de ampliá-la, garantindo os atributos existentes e

acrescentando-lhe os demais necessários para que ela contenha todas as

características necessárias para ser apresentada como uma política pública.

Ainda assim, ela caminha para essa consolidação, como mostra SINGER:

“A construção dum modo de produção alternativo ao capitalismo no Brasil ainda está no começo, mas passos cruciais já foram dados, etapas vitais foram vencidas. Suas dimensões ainda são modestas diante do tamanho do país e de sua população. Mesmo assim, não há como olvidar que dezenas de milhares já se libertaram pela solidariedade. O resgate da dignidade humana, do auto-respeito e da cidadania destas mulheres e destes homens já justifica todo esforço investido na economia solidária. É por isso que ela desperta entusiasmo”.(Singer 2002, pg.127) Assim, diante do esgotamento das políticas tradicionais para os mais

necessitados e a incapacidade da dinâmica liberal de permitir a integração e a

politização da sociedade civil, observa-se a organização das associações e

cooperativas, bem como várias outras maneiras de pensar o desenvolvimento que

trazem geração de renda, cooperação e dignidade para os cidadãos. Ela tem

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crescido muito rapidamente, e, tende a crescer ainda mais pela própria iniciativa

dos trabalhadores e virtualmente pelas ações governamentais da SENAES,

governos estaduais e municipais que cada vez mais observam os benefícios da

economia solidária.

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DOCUMENTOS:

Documento Final - I Conferência Nacional de Economia Solidária – Brasília, 26 a 29 de junho de 2006 - “Economia Solidária como Estratégia e Política de Desenvolvimento” Programa Paranaense de Economia Solidária, Termo de Referência. Secretaria de Estado do Trabalho Emprego e Promoção social. 2004.