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ECONOMIA E SOCIEDADE DO OURO Prof. Victor Creti Bruzadelli

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Page 1: ECONOMIA E SOCIEDADE DO OURO · Ocupação do território brasileiro Visão de caranguejo: Ocupação da faixa litorânea do Brasil pela Coroa; Presença massiva de lusos e tupis

ECONOMIA E SOCIEDADE

DO OURO

Prof. Victor Creti Bruzadelli

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Ocupação do território brasileiro

Visão de caranguejo:

Ocupação da faixa litorânea do Brasil pela Coroa;

Presença massiva de lusos e tupis se relacionando no

sertão;

Desinteresse pelas atividades econômicas do sertão.

“Da largura que a terra do Brasil tem para o sertão eu não trato, porque até

agora não houve quem a andasse por negligência dos portugueses, que, sendo grandes

conquistadores de terras, não se aproveitam delas, mas contentam-se em andar

arranhando ao longo do mar como caranguejos”(História do Brasil, de Frei Vicente do Salvador -1627)

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Ocupação do território brasileiro

Expansão para o

sertão:

Fatores facilitadores:

◼ União Ibérica: folga do

Tratado de Tordesilhas;

◼ Princípio do Uti Possidetis;

◼ Invasões holandesas:

incentivo à ocupação do

sertão.

“O conceito de sertão chegaao Brasil juntamente com a esquadrade Cabral e, ao longo dos séculos XVe XVI, foi compreendido, numareferência geográfica, como osvastos espaços do interior da colônia,pouco ou nada conhecidos. Portanto,no início da colonização, o sertão erasempre visto de fora como um lugardistante e pouco habitado. Nestaperspectiva, era o espaço do “outro”,o lugar do atraso, o que podia sercompreendido como a fronteira entreo mundo civilizado (o litoral) e omundo não-civilizado (o própriosertão)”(SOUSA, Rainer Gonçalves; BRUZADELLI, Victor Creti.

História da Música Popular Brasileira)

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Ocupação do território brasileiro

Missões jesuíticas no século XVI

Expansão para o sertão:

Formas de expansão:

◼ Expedições militares para expulsar

estrangeiros;

◼ Criadores de gado movendo-se

para o interior;

◼ Jesuítas fundando missões, dentre

eles o Colégio São Paulo na Vila de

São Vicente;

◼ Colonos interessados em expandir

suas relações mercantis.

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Ocupação do território brasileiro

Ocupação do norte:

Criação de engenhos durante

as invasões holandesas;

Escravização dos indígenas;

Drogas do sertão;

Missões jesuíticas;

Fortes militares: São Francisco

Xavier, Gurupá, Macapá e São

José do Rio Negro.

Forte São José do Rio Negro, de Johann

Andreas Schwebel (1756)

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Ocupação do território brasileiro

Ocupação do sul:

União Ibérica: Comerciantes lusitanos no Rio da Prata;

Fundação da Colônia de Sacramento (1680), atual Uruguai;

Criação de gado nos pampas (couro e charque).

Basílica do Santíssimo Sacramento, no

Uruguai

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Capitania de São Vicente

Capitania doada a Martin Afonso de Souza;

Atual estado de São Paulo;

Região marcada por uma certa independência em relação à Coroa;

Grande presença de colonos, jesuítas, indígenas e mamelucos e pouca distinção racial;

Caráter mais democrático na administração.

“Em 1697, a capitania deSão Paulo dominava de modo efetivoum território que ia, pelo litoral,desde o sul de Santa Catarina(Laguna fora fundada por paulistasem 1680) até Parati. No interior, odomínio se estendia por toda a baciaocidental do rio Paraná − grossomodo, as áreas dos atuais estados deSanta Catarina, Paraná, São Paulo,Mato Grosso do Sul, Mato Grosso,Goiás (nestes dois últimos, avançandona bacia amazônica) e Tocantins,além das cabeceiras dos rios SãoFrancisco e Doce, no sul de MinasGerais”

(CALDEIRA, Jorge. História da riqueza no Brasil)

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Capitania de São Vicente

Economia:

Inicialmente tentou-se diversas atividades agrícolas;

Agricultura de subsistência e voltada para o comércio interno;

Escambo com diversas regiões da colônia;

Forte integração econômica com os tupi;

Incursões no interior do território: Bandeiras;

Considerada a principal entrada para o sertão, devido suas relações econômicas e étnicas com os tupi.

Território estimado da capitania

de São Vicente e suas relações

econômicas no século XVI

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Capitania de São Vicente

0,00%

10,00%

20,00%

30,00%

40,00%

50,00%

60,00%

70,00%

80,00%

1650 1660 1670 1680 1690 1700 1710

Porcentagem dos diferentes tipos de plantações cultivada em Taubaté entre 1650-1720

Algodão Cana de açúcar Fumo Outros (milho, mandioca e feijão)

Fonte: LIMA, Leandro Santos. Bandeirismo paulista: o

avanço na colonização e exploração do interior do Brasil

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As Bandeiras

Expedições particulares, geralmente organizadas por vicentinos;

Objetivos: encontrar negros fugidos, capturar indígenas como escravizados e descobrir metais preciosos;

Influências:

Invasão de Angola: necessidade de escravizar indígenas;

Busca de aventuras;

Formadas por brancos, índios e mamelucos: conhecimento sobre o sertão.

Evém a Bandeira dos Polistas...

num tropel soturno.

Rasgando as lavras

ensacando ouro,

encadeiam Vila Boa

nos morros vestidos

de pau-d’arco.

Foi quando a perdida gente

riscou o roteiro incerto

do velho Bandeirante.

E Bartolomeu Bueno,

num passe de magia

histórica,

tira Goyaz de um prato de aguardente

e ficou sendo o Anhangüera.

(CORALINA, Cora. Anhangüera)

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As Bandeiras

A construção do “mito” Bandeirante:

Século XIX:

◼ “Uma raça de gigantes”, Segundo Auguste de Saint-Hilaire;

Anos 1930:

◼ Bandeirantes como símbolo de São Paulo que se opunham ao governo federal varguista;

◼ Heroísmo associado à expansão dos limites territoriais e bravura;

◼ Presença de um pensamento eugenista.

“Eram homens ousados e intrépidosesses aventureiros, que se embrenhavampelos sertões de Minas em busca do ouro; devontade firme, pertinaz, inabalável. Cegospela ambição, arrostavam os maioresperigos; não temiam o tempo, as estações, achuva, a seca, o frio, o calor, os animaisferozes, répteis que davam a morteinstantânea. [...] Se não tinham o que comer,roíam as raízes das árvores; serviam-lhes dealimentos os lagartos, as cobras, os sapos,que encontravam pelo caminho [...]Muitasserras, muitos rios, muitos lugares queconhecemos com os nomes indígenas, forambatizados por eles. Tais eram, em geral, osprimeiros descobridores das ricas minas doBrasil”

(SANTOS, Joaquim Felício dos. Memórias do DistritoDiamantinho, de 1868)

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As Bandeiras

“a oportunidade para o bandeiranteemergir como verdadeiro símbolo capaz desolucionar os conflitos que desafiavam a naçãosurgiu na crise da virada dos anos 1930. Omovimento militar de 1930, [...] derrubou opresidente Washington Luis, representante daoligarquia paulista, e alçou ao poder GetúlioVargas. Contrariados, grupos políticos de SãoPaulo formaram a Frente Única, apelando paraa luta armada.

Para convencer a sociedade de quedesafiava a ditadura em nome da unidadenacional, nada melhor do que resgatar o velhomito. Os bandeirantes voltam ao centro dosdiscursos políticos. Com suas virtudes jáconsolidadas — coragem, audácia, honradez erigor moral — um símbolo capaz de congregaro povo paulista”

(ABUD, Kátia Maria. Paulistas, uni-vos)

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As Bandeiras

A construção do “mito” Bandeirante:

Anos 1980:

◼ Conquistadores cruéis e violentos motivados por uma enorme ganância;

Concepção atual:

◼ Concepção complexa;

◼ Homens de seu tempo com grande importância histórica.

““O bandeirante foi fruto de umaregião marginalizada, de escassosrecursos materiais e de vidaeconômica restrita, e suas ações seorientaram no sentido de tirar omáximo proveito de brechas que aeconomia colonial eventualmenteoferecia para a efetivação de lucrosrápidos e passageiros em conjunturasfavoráveis – como no caso da caçaao índio – ou no sentido de buscaralternativas econômicas fora dosquadros da agricultura voltada parao mercado externo, como ocorreucom a busca dos metais e das pedraspreciosas”

(DAVIDOFF, Carlos Henrique. Bandeirantismo: verso e reverso)

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Entrada: Bandeiras organizadas pela Coroa;

A descoberta do ouro:

Minas Gerais: Antônio Rodrigo Arzão (1693);

Mato Grosso: Pascoal Moreira Cabral (1719);

Goiás: Bartolomeu Bueno da Silva, o Anhanguera (1725);

Obs.: após a descoberta do ouro, o número de bandeiras aumenta, levando ao enriquecimento de São Vicente.

As Bandeiras

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(FUVEST-SP)

As interpretações históricas sobre o papel dos

Bandeirantes nos séculos XVII e XVIII apresentam, de um

lado, a visão desses paulistas como heróis e, de outro, como

vilões. A partir dessa afirmação, discorra sobre

a) os bandeirantes como heróis, ligando-os à questão

das fronteiras.

b) os bandeirantes como vilões, ligando-os à questão

dos índios.

Atividade

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Organizando a exploração

Maior intervenção regulamentadora da Coroa:

Criação da capitania de Minas Gerais;

Transformações de acampamentos em vilas e cidades;

Proibição de jesuítas na região;

Criação de um aparelho burocrático:

Estrutura jurídica: nomeação de ouvidores;

Estrutura militar: companhias de Dragões e milícias locais;

Estrutura tributária:

◼ Inicialmente, nomeação de provedores-mor;

◼ Posteriormente a criação de estruturas fiscais.

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Organizando a exploração

Intendência das Minas (1702):

Centralização administrativa diretamente ligada à Coroa;

Minas sob posse metropolitana: exploração concedidas à particulares pelos intendentes;

Administração: distribuição das datas (lotes de terra), de acordo com a quantidade de escravizados do proprietário (5,5m por cativo);

Fiscalização do transporte: criação dos registros, postos de fiscalização ao longo do caminho;

Justiça: Questões referentes à mineração;

Tributação: Cobrança de impostos.

Instrumentos de pesagem de

ouro em pó

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Organizando a exploração

“O superintendente [...] ordenará ao guarda-mor quefaça a repartição das datas, dando em primeiro lugar a data àpessoa que descobriu o ribeiro, na parte onde ele [descobridor]apontar; e logo repartirá outra data para minha fazenda (...) eao descobridor dará outra data em qualquer parte que eleapontar, por convir que os descobridores sejam em tudofavorecidos, e este benefício os anime a fazerem muitosdescobrimentos [...].

As demais datas repartirá o guarda-mor, regulando-sepelos escravos que cada um tiver [...] e aquelas pessoas que nãochegarem a ter doze escravos lhes serão repartidas 2,5 braças[cerca de 5,5m] para cada escravo, para que igualmente fiquemtodos desfrutando do benefício que lhes faço”

Regimento para as Minas Gerais, 19 de abril de 1702.

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Organizando a exploração

Casas de Fundição (1720):

Mecanismo de cobrança de impostos (Quinto);

Ouro em pó ou pepita transformado em barra única;

Impostos:

Capitação: Cobrado sob a cabeça de escravo, faiscadores e quaisquer serviços oferecidos;

Quinto: 20% da produção.

Barras de ouro quintado

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A exploração do ouro

Tipos de ouro:

Ouro de Lavagem ou Aluvião:

◼ Misturado ao cascalho do barrancos dos rios;

◼ Extração fácil e barata;

◼ Faiscadores com poucos escravizados;

◼ Uso de instrumentos rústicos (bateia);

Ouro de Lavras ou Grupiara:

◼ Necessidade de escavação;

◼ Extração mais cara e difícil;

◼ Grandes propriedades exploratórias com grandes quantidades de escravizados.

Faiscadores contemporâneos bateiando

ouro

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A exploração dos diamantes

Distrito diamantino:

Descoberta de diamantes em 1729;

Local: Arraial do Tijuco (atual Diamantina);

Forte controle da Coroa, inclusive sobre o ir e vir;

Proibição da extração (1735-40): busca de aumento do preço e fiscalização da coroa;

Exploração por Contratadores (1740-70): particulares que controlavam a exploração pagando uma quantia fixa à coroa antecipadamente;

Real Extração (1771-1832): extração sob controle da Coroa.

“Quando um negrotem a felicidade de encontrarum diamante que pese umaoitava (17 quilates e meio),cingem-lhe a cabeça com umagrinalda de flores e levam-noem procissão ao administrador,que lhe dá a liberdade e umaindenização ao seu senhor.Ganha também roupas novas eobtém permissão paratrabalhar por conta própria; oque encontra uma pedra de oitoa dez quilates, recebe duascamisas novas, um terno novocompleto, um chapéu e umabela faca. Concedem prêmiosproporcionais aosdescobridores de pequenosdiamantes de pouco valor”

(MAWE, John. Viagens ao interior do Brasil)

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A exploração dos diamantes

Romance XIV ou da Chica da Silva

de Cecília Meireles

Cara cor da noiteolhos cor de estrela.Vem gente de longepara conhecê-la.

(Por baixo da cabeleira,tinha a cabeça rapadae até dizem que era feia.)

Vestida de tisso,de raso e de holanda– é a Chica da Silva:– é a Chica-que-manda!

Escravas, mordomosseguem, como um rio,a dona do donodo Serro do Frio. Mineração de diamantes, de

Carlos Julião (1770)

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Sociedade do ouro

A “sede insaciável de Ouro”:

Migração do Brasil e da Europa;

Aumento demográfico:

Chegada de cerca de 10 mil por ano de Portugal (1701-1760);

Formação de uma sociedade heterogênea;

Processo de Urbanização intensa e desordenada.

“a sede insaciável do ouroestimulou tantos a deixarem suasterras e a meterem-se por caminhostão ásperos como são das minas, quedificilmente se poderá saber donúmero de pessoas que atualmenteestão lá. Mais de trinta mil homens seocupam, uns em catar, outros emmandar catar o ouro nos ribeiros[...]. Cada ano vêm nas frotasquantidades de portugueses e deestrangeiros para irem às minas. Dascidades, vilas, recôncavos e sertõesdo Brasil vão brancos, mulatos,pretos e muitos índios de que ospaulistas se servem.”

(Antonil, Pe. André João. Cultura e opulência do Brasil por suas drogas e minas[1711])

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Sociedade do ouro

Desenvolvimento de uma vida artística e cultural na colônia:

Criação das Irmandades religiosas e Ordens Terceiras, que financiavam igrejas e festas;

Festas religiosas e procissões, espaços de convívio social;

Grande desenvolvimento da estética barroca (Aleijadinho e Mestre Ataíde);

Desenvolvimento literário (Tomás Antônio Gonzaga, Cláudio Manuel da Costa e Inácio de Alvarenga Peixoto).

Detalhe de Assunção da Virgem no teto

da Igreja de São Francisco de Assis, de

Manuel da Costa Ataíde, Ouro Preto

(1776)

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Sociedade do ouro

Escravidão nas minas:

Aumento no tráfico negreiro;

Forte presença de escravizados nas minas (em 1776, cerca de 52,2 % de negros e 25,7 de mulatos);

Trabalho extremamente penoso, com baixíssima expectativa de vida (entre 7 e 12 anos de trabalho);

Aumento da quantidade de alforrias, devido a rápida decadência da exploração;

Preferência por indivíduos vindos da Costa da Mina, devido ao grande conhecimento em ourivesaria desses.

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Sociedade do ouro

“A entrada maciça dos Mina na região fomentou, então,essa crença. Mas guardou, também, outros significados. Esseshomens e mulheres africanos, embarcados na Costa da Mina comdestino ao Brasil, eram tradicionais conhecedores de técnicas demineração do ouro e do ferro, além de dominarem antigas técnicasde fundição desses metais. Eles conheciam muito mais sobre amatéria que os portugueses, antigos parceiros comerciais dos reinosnegros da África, vorazes consumidores do ouro desse continente esenhores de enorme extensão territorial no Novo Mundo. Ao queparece, o poder quase mágico dos Mina para acharem ouro e asorte na mineração associada a uma concubina Mina eram, naverdade, aspectos alegóricos de um conhecimento técnico apurado,construído durante centenas de anos, desde muito antes de qualquercontato com os reinos europeus da era moderna”

(PAIVA, Eduardo França. Bateias, carumbés, tabuleiros: mineração africana e mestiçagem no novo mundo)

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Sociedade do ouro

Mulheres:

Aumento da quantidade de mulheres na colônia;

Maior participação na vida pública e econômica;

Maior integração territorial:

Desenvolvimento de estradas;

Comércio no lombo de mulas;

Proibição de agricultura na região das minas;

Desenvolvimento de outras regiões da colônia.

1700 1800

População total(excluídos

indígenas "nãointegrados")

300000 3300000

População deescravizados

200000 1200000

População da região das minas

Fonte: RÖDA, Cassiano apud VICENTINO, Cláudio;

DORIGO, GIANPAOLO. História geral e do Brasil

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Sociedade do ouro

O “falso fausto” do ouro:

Esgotamento de produtos,

enorme inflação e fome;

Rápido esgotamento e

crise;

Grandes desigualdades

sociais;

Maior possibilidade de

ascensão social.

“a economia mineiraapresentava baixos níveis derenda distribuídos de umamaneira menos desigual doque no caso do açúcar. Masse a sociedade mineira foidas mais abertas da colônia,essa abertura teria se dadopor baixo, pela falta – quaseausência – do grande capitale pelo seu baixo poder deconcentração”

(SOUZA, Laura de Mello e. Os desclassificados do ouro)

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Sociedade do ouro

“Outro africano liberto, dessa vez identificada sua origem Mina notestamento, experimentou da mobilidade social mineira e acumulou certafortuna a partir da extração de ouro. Manoel da Costa era morador noarraial do Paracatu, em 1776. Chegado escravo na região, com o passar dotempo, conseguiu comprar sua alforria, certamente com pecúlio adquiridopor meio da mineração. Manoel permaneceu solteiro e não teve filhos. Comoherdeira única, declarava sua irmã “de pai e mãe”, a forra Roza Pinto daTrindade. Pelo que declarava, o Mina conseguira, também, reconstruir parteda família africana na América portuguesa. Novamente, a mineração e oknow-how africano parecem ter proporcionado oportunidades de ascensão aalguns escravos e ex-escravos. Mas Manoel não parece ter sido do tipo quese contenta com pouco. Além de tudo isso, possuía imóveis, “umas lavras nomorro parte de São Domingos do qual tenho título delas em meu poder” e,recriando a África na América, declarava possuir “uma chácara na paragemchamada a Costa da Mina...”. O liberto Mina contava, ainda, com 11escravos africanos empregados, principalmente, nos serviços de mineração”

(PAIVA, Eduardo França. Bateias, carumbés, tabuleiros: mineração africana e mestiçagem no novo mundo)

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Inglaterra, Portugal e o ouro

Tratado de Methuen (1703):

“Panos e vinhos”:

◼ Livre entrada dos tecidos ingleses e impostos sobre os vinhos portugueses a 1/3;

◼ Comércio do vinho do porto controlado pelos ingleses;

Atraso industrial em Portugal;

Escoamento do ouro brasileiro;

Consequência: financiamento da industrialização inglesa.

“O espírito dos váriostratados firmados entre osdois países, nos primeiros doisdecênios que se seguiram àindependência [de Portugalem relação à Espanha], erasempre o mesmo: Portugalfazia concessões econômicase a Inglaterra pagava comgarantias e promessaspolíticas”

(FURTADO, Celso. Formação econômica do Brasil)

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Inglaterra, Portugal e o ouro

125

365338 336

277

460

714

781819

763

615

538

732

615576 565

628

794

625

87

155 165

279

207 194

257

331

223242 241

272252

192

247

202 196

281

333

0

100

200

300

400

500

600

700

800

900

1697 1698 1699 1700 1701 1702 1703 1704 1705 1706 1707 1708 1709 1710 1711 1712 1713 1714 1715

Comércio entre Portugal e Inglaterra (em milhões de libras)

Fonte: HANSON,

Carl. A. Economia e

sociedade no

Portugal barroco

Importações da Inglaterra: 10666 (Total)

Exportações para Inglaterra: 4637 (Total)

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A crise da produção aurífera

Crise da produção:

Intensa exploração;

Técnicas rudimentares;

Ouro de aluvião:

facilmente encontrado

e esgotado;

Contrabando intenso;

Ganância da coroa.

1700-20

1721-39

1740-59

1760-79

1780-99

MG 18880 32637 36555 25755 15004

GO 3000 16380 9000 3500

TO 3600 4400 2400 1600

Total 18880 39237 57335 37155 18504

0

10000

20000

30000

40000

50000

60000

70000

Produção de ouro (em kg)

MG GO TO Total

Fonte: PINTO, Virgílio N. O ouro brasileiro e o

comércio anglo-português

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Consequências da economia aurífera

Consolidação do mercado interno;

Possibilidade mínima de mobilidade social, inclusive para escravizados;

Mudança do eixo econômico:

Do nordeste açucareiro para o centro-sul;

Transferência da Capital para o Rio de Janeiro em 1763.

“O que aconteceu noperíodo que vai de 1796em diante? Se o ouro estavaem fase de declínio e oaçúcar conhecia uma leveascensão, como pôdecrescer o movimento dasexportações neste período?Como se explica o salto de3,2 milhões de libras, em1796, para 3,8 milhões, em1807? Só há uma resposta.Uma diversificação”

(ARRUDA, José Jobson. O Brasil no comércio colonial)

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Consequências da economia aurífera

Surgimento de revoltas nativistas e separatistas;

Crise da economia aurífera:

Diversificação da economia na região (criação de fazendas de gado, cana, cereais, farinha etc.).

Dinamismo e crescimento da economia colonial;

Profunda crise econômica para a metrópole dependente.

“ao longo de todo o séculoXVIII, apesar da ação detransferir rendas do governocentral, o desempenho daeconomia colonial superou o daeconomia metropolitana. Nofinal do século, quando decaiu aprodução das minas, essadiferença se acentuou aindamais, com a economia brasileiraem franco crescimento, ao passoque a da metrópole entrava emcrise.

(CALDEIRA, Jorge. História da riqueza no Brasil)

Page 35: ECONOMIA E SOCIEDADE DO OURO · Ocupação do território brasileiro Visão de caranguejo: Ocupação da faixa litorânea do Brasil pela Coroa; Presença massiva de lusos e tupis

Consequências da economia aurífera

Questão territorial:

Expansão do território colonial e povoamento massivo do sertão;

Tratados com a Espanha:

◼ Tratado de Madri (1750): definição territorial a partir do Uti Possidetis;

◼ Tratado de Santo Ildefonso (1777) e Tratado de Badajoz (1801): consolidação das fronteiras brasileiras.

Tratados territoriais com a Espanha