ocupação flávio império
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De junho a julho de 2011, o Itaú Cultural realizou a nona edição do projeto Ocupação com uma homenagem ao artista Flávio Império (1935-1985), autor de especial grandeza nas expressões da arte em que atuou: arquitetura, cenografia e figurino, artes visuais.TRANSCRIPT
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OCUPAÇÃO FLÁVIO IMPÉRIO
O Itaú Cultural chega à nona edição do projeto Ocupação com uma homenagem ao artista Flávio Império (1935-1985), autor de especial grandeza nas expressões da arte em que atuou: arquitetura, cenografia e figurino, artes visuais. Parte da Ocupação Flávio Império, esta publi-cação integra a mostra e traz depoimentos daqueles que compartilha-ram com o artista trajetórias, escolhas, desafios e afetos. Há também dois textos assinados por ele.
Com uma produção múltipla, Império voltava seu olhar em direção aos modos de vida, de sobrevivência e de diversão do brasileiro. Deixava-se impregnar pela manufatura, pelo artesanato desenvolvido nos rincões do país. Ao seu modo, exerceu importante papel na crítica social e polí-tica por intermédio da arte.
Reflexões sobre o seu trabalho estão nos textos a seguir, numa reverên-cia a esse artista que deixou desenhos de cenários e figurinos, serigra-fias, pinturas, projetos arquitetônicos — material que compõe o Acervo Flávio Império, formado com o apoio da Sociedade Cultural Flávio Im-pério, parceira nesta exposição. A Ocupação Flávio Império também marca o início da digitalização dos documentos e das obras de autoria do artista, iniciativa que conta com o apoio do instituto – que construirá um site no qual essas infor-mações ficarão acessíveis ao público.
Itaú Cultural
AUTOBIOGRAFIAEm texto poético escrito por Flávio Império, sua origem, vida e escolhas
EXPOSIÇÃOO ateliê e a festa, recortes dessa Ocupação Flávio Império. Por Vera Hamburger
CARTA A FLÁVIO IMPÉRIOHelio Eichbauer escreve ao amigo e artista
MATERIAIS SIMPLES PARA UM TEATRO VERDADEIROO início do cenógrafo no teatro, em testemunho de Maria Thereza Vargas
TECIDOS AO VENTOExperiências compartilhadas ao lado de Flávio Império na casa da Aclimação. Por Loira
CARNE-SECATexto de 1979, assinado por Flávio Império
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sumário
TRANSBORDANTE E VISCERALMaria Bonomi responde a quatro perguntas sobre quem, para ela, foi o primeiro artista multimídia do Brasil
A ARQUITETURAO projeto da casa de Ubatuba
HOMENAGEMTexto de Amélia Império Hamburger escrito em 1995
ATRAVÉS DO ACERVOEm três depoimentos, a presença do artista nos dias atuais
PROGRAMAÇÃOCiclo de debates e mostra de filmes completam a Ocupação Flávio Império
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De Renina Katz para Flávio Império. Esse texto foi utilizado no convite da exposição
Pintura e Muita Bandeira, individual do artista realizada no Spazio Pirandello, em
São Paulo, em dezembro de 1980.
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Trecho extraído do poema escrito por Flávio Império, publicado no álbum de pintura Caras, Cascas e Máscaras, lançado na exposição Alegres Pinto-
res do Bexiga (1977), no Teatro Igreja. Acervo Flávio Império
nasci no Bexiga e lá me criaram, por certo, um dia, eu virei “arquiteto”. depois “professor”. depois “cenógrafo”.depois “pintor”.
desenho desde criança
o teatro me ensinou a vida;a arquitetura o espaço,o ensino a sinceridade,a pintura a solidão.
o teatro me fez amigo da multidão
a arquitetura me fez amante da terra, da água, do ar, da lua, da cor,da matéria, do fogo, do som.
o ensino me fez aluno da mansidão.
a pintura é meu diário, sem segredos, da peça em que souatuante e autor.pinto só o que sintopinto só o que vejo com todos os meus sentidos.não pinto em vão, sonho com a hora de alguém sonhar junto, livre,o que quiser, como quando reconhece num canto oseu canto e canta.pinto pra me acompanhar, no fantástico show que a vida me dá.desde 1970 pinto mais
constantemente, arquiteto meu quarto dentro do quarto que moro (ele é calmo e claro)arquiteto meu jardim sobre o piso de lajotas que alugo, barato.arquiteto meu sonho de uma arquitetura simples e clara,e calma, com jardins de flores caipiras que, pelas estradas, não custa nadaa muda além de uma boa conversa e uns bons conselhos sobre a vidada plantinha, quebradinha que espera na minha mão.ela não fica assustada. Eu não mato, só planto
e o que colho?ao longo do meu caminho, muitos agradecimentos, conselhos, bons tratosde gente que gosta de gostar das coisas que a terra dá.planto e colho pra plantar, pra rimar.
meu pai: Domingos Impériominha mãe: Helena Faustofilhos dos tantos italianos que no Brasil procuraram seu novo céu.
no Bexiga, 42 anos em dezembro, sob o mesmo céuescolhido por meus avós.“respirando o mesmo ar…”
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A Ocupação Flávio Império é uma instalação em homena-gem ao artista e marca o início dos trabalhos de digitaliza-ção do Acervo Flávio Império, assim como a construção do site sobre sua vida e obra – projetos a ser postos em andamento por meio do apoio do Itaú Cultural. Artista brasileiro reconhecido nacional e internacionalmente, Flá-vio Império (1935-1985) tem a multidisciplinaridade como característica primordial de sua atuação. Arquiteto, pro-fessor, desenhista, gráfico, pintor, cenógrafo e figurinista, atuou com destaque em cada uma das formas artísticas que experimentou. Entrelaçando-as, propôs renovações de linguagem nos diversos campos da expressão, numa visão original do papel do artista e de sua obra. Inspirados pelo artista e pelas exposições que realizou, propomos a transformação do espaço da Ocupação em um lugar onde o espírito de festa se mistura ao ateliê de trabalho artístico e a experiência prática coloca-se como forma de apren-dizado fundamental, chamando a atenção para a impor-tância do compartilhar a criação humana com liberdade. Num recorte radical, diante da multidisciplinar e vasta obra de Flávio (e dos 120 metros quadrados disponíveis
Por Vera Hamburger
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para o evento), optamos por centrar foco na serigrafia, atividade que perpassa sua produção nas diversas formas de linguagem em que atuou. Através da visualização das telas matrizes originais e da experimentação ao vivo da ação artística em ateliê, esperamos trazer um pouco do es-pírito desse artista à esquina da Avenida Paulista, em 2011. Criadas, produzidas e utilizadas por Flávio na elaboração de inúmeras gravuras, bandeiras, pinturas e cenários, as telas figuram hoje como quadros pintados, sem querer, ao longo do tempo e por conta do acaso criativo. Peças que guardam as marcas da ação das impressões realizadas, do oscilar entre a tinta e a lavagem. Meio de produção, as te-las ganham aqui outro status – obras do meio. No ateliê, o visitante, com ajuda dos monitores, terá a liberdade de ma-nipular cópias de telas de Flávio, reproduzidas em diferentes dimensões, e realizar sua leitura através da criação/confec-ção de novas experiências. Na escolha da tinta, na forma de passá-la sobre a tela, o traço do visitante irá sobrepor-se ao de Flávio e criará, no varal de secagem, uma exposição de peças realizadas em conjunto. Quatro mãos pintam e se lambuzam. Autores se multiplicam sobre uma mesma obra. A edição dos filmes em super-8, realizados pelo artista e seus parcei-ros de toda hora, imprime caras e bocas de uma época que nos parece importante resgatar. As imagens foram feitas na casa da Aclimação, em São Paulo, comunidade de amigos reunidos em moradia nos anos 1970, nas inúmeras viagens pelo Brasil, na casa do Bexiga e arredores, sua residência/ateliê da virada da década de 1980. Registros que, como ca-dernos de anotação, destacam pontos de seu interesse ao mesmo tempo em que nos trazem um pouco desse tempo compartilhado. Bom foi ter Helio Eichbauer como parceiro desta empreitada, sua delicadeza, clareza e dedicação. Com mãos que se encaixaram, organicamente, às do artista na concepção de um espaço expositivo original. Um projeto a quatro mãos fraternais, colocando em diálogo a obra e o pensamento do artista com o espaço, o tempo e o visitante de hoje. Cenógrafo contemporâneo de Flávio Império, He-lio bebeu de fontes próximas; compartilhou diretores, ato-res, grupos produtores e prêmios do teatro brasileiro desde os anos 1960. Um, descendente de italianos da Bela Vista; outro de família ítalo-alemã nascido e criado no Rio de Ja-neiro. Os dois encontram-se hoje na esquina da Avenida Paulista para fazer um ateliê em celebração.
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Essencial também o apoio de Amélia Império Hambur-ger, Ernst Hamburger e Renina Katz, além do trabalho de Humberto Pio Guimarães e Yuri Quevedo na pesquisa. Fazendo parte da exposição, em ambiente virtual, o site Ocupação Flávio Império (itaucultural.org.br/ocupacao) traz depoimentos de parceiros de trabalho, de pesquisado-res e de familiares. O espaço do auditório dá lugar a um ciclo de encontros que discutem o papel do artista nas di-versas áreas de atuação – no espetáculo, no plano do objeto, na arquitetura e na sala de aula. Diferentes pontos de vista sobre o homem contribuem para a compreensão do artista e seus trajetos. Um ciclo de filmes traz exemplos da diversi-ficada atuação de Flávio. Absurdos, registro do espetáculo do Balé da Cidade de 1981 e 1984, no qual colaborou na con-cepção-geral, no roteiro e na direção e também nos cená-rios, nos figurinos e na iluminação, tendo a seu lado Susana Yamauchi, Loira Cerrotti e Cacá Andreatta; o longa-metra-gem O Profeta da Fome, de Maurice Capovilla, de 1969, ce-nografado por Flávio; o documentário Bixiga, de Inês Car-doso, que utiliza, postumamente, imagens do filme super-8 A Pequena Ilha da Sicília, de autoria do artista; e Doces Bár-baros, cenografia de Flávio, documentário sobre a turnê dos baianos, dirigido por Jom Tob Azulay. A realização deste evento só foi possível graças à existência do Acervo Flá-vio Império. Produto da dedicação de familiares, amigos e parceiros do artista, reunidos pela Sociedade Cultural Flá-vio Império. Através do apoio de instituições como Insti-tuto Lina Bo e Pietro Maria Bardi, Fapesp, CNPq, IEB/USP e FAU/USP, essa associação, sem fins lucrativos, deu o res-paldo necessário à implementação do Projeto Flávio Im-pério, com o objetivo de preservação e divulgação de sua obra e seu pensamento. Sob coordenação-geral de Amélia Império Hamburger, importantes ações de divulgação da obra ganharam espaço – como a exposição retrospectiva Flávio Império em Cena, no Sesc Pompeia, em 1997, e o li-vro Flávio Império, organizado pela parceria Amélia e Re-nina Katz, publicado pela Edusp em 1999, entre outras – e o acervo tomou forma. Seu rico conteúdo é de completude rara, tanto no que permite a visualização e compreensão sobre a trajetória de um artista, sua obra multidisciplinar e seu pensamento, quanto no que diz respeito à historio-grafia das manifestações artísticas do país num período de efervescência cultural (1955-1985). Catalogado, acon-
ajetos.
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fez a concepção e a coordenação de conteúdo da Ocupação Flávio Império. Arquiteta, formada pela FAU/USP, é diretora de arte, cenó-
grafa e professora. No cinema, vem realizando trabalhos ao lado de
diretores como Hector Babenco, Walter Lima Jr., Monique Garden-
berg, Cacá Diegues, Cao Hamburger, Eliane Caffé, Philippe Barcinski,
Sérgio Rezende e Tata Amaral. Participou de montagens como as ópe-
ras Tosca e Il Trittico, de Puccini; da Ópera dos 500 Anos, de Naum
Alvez de Souza; e de espetáculos de dança como Nazareth (Grupo
Corpo). Cenografou peças dirigidas por José Celso Martinez Corrêa
e João Falcão, por exemplo. Na área de exposições, fez parcerias com
Paulo Pederneiras, na Brasil 500 anos – Arte Indígena e Arqueologia.
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dicionado e organizado, este material oferece subsídios à pesquisa acadêmica, em diversas áreas, assim como apoio à realização de eventos expositivos plurais – exposições, instalações, vídeo e cinema – como este que se apresenta.Flávio Império, um artista de mil suportes de linguagem. Pesquisador da poesia do espaço, da poesia da cena do qua-dro. Estudante dos costumes. Amante da festa, do fazer.Mês de junho… junina.Aí vai nossa festa!
Este trabalho é dedicado à minha mãe, querida Amélia.
Vera Império Hamburger
Papa V ivo, 1981
Serigraf ia sobre papel , dimensões 62 x 87 cm
Acervo Flávio Império
Reprodução fotográf ica Renato Cury
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São Sebastião do Rio de Janeiro, outono 2011.
Caro amigo,
Cá estamos, imersos na Mata Atlântica úmida e perfumada a recordar os tempos de luta e vitória de nossa juventude.
Procuro a fragrância de uma flor esplêndida, ou, por memória involuntária, reconstruir nossos passos perdidos.
As bananeiras em flor (que você tanto pintou e seus mangarás) tentam revelar-me alguns segredos inconfessos de nossas andanças (danças) pelo Brasil. A amizade entre artistas é sempre secreta.
A partitura matinal da floresta e a dos pássaros da madrugada despertam minha imaginação. Teríamos sonhado nossas vidas? Em que vazio, em que campo realizamos nosso trabalho? La vida es sueño.
Hoje, você habitante de outra Galáxia será mais uma vez evocado em exposição (e muitas outras serão necessárias para redescobrir sua belíssima obra!). Escrevendo para o catálogo:
Festejar Flávio Império é celebrar a vida em seu mistério em seu esplendor.
SER JOÃOSER PEDROSER ANTÔNIO
Recebi, pela Sociedade Cultural Flávio Império, o convite honroso para desenhar a exposição, através de sua querida sobrinha e muito artista Vera Hamburger, hoje importante cenógrafa e diretora de arte, de grande talento e sensibilidade.
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Que família ilustre e amorosa, hein, rapaz!? Convite que me deixou atônito.
Teria eu habilidade suficiente para apresentar, como cenógrafo, parte tão expressiva de sua obra?
Embarquei, temeroso, nesse Bateau Ivre, e aqui estou aportado, náufrago numa ilha grande tropical e mágica. Estamos acampados num terreiro e preparamos o ritual.
Para festejar sua presença, ocupamos a área da exposição como uma festa de São João (a mais bela festa brasileira!), na qual se instalou (constelou) um ateliê de serigrafia, aberto ao público – espaço livre de criação artística, artesanal, de encontros e ideias. Teto embandeirado, São João em festa ou preces budistas, “As bandeiras me libertam do plano fixo da pintura”. Prisma com três santos juninos: João, Pedro e Antônio, de sua autoria. Janelas com seus desenhos de folhagens, jardim tropical e filtros verdes, biombos que sustentam telas originais de serigrafia, utilizadas diversas vezes por você, Flávio,
com marcas de registros cromáticos (por onde andou a cor...), lonas coloridas a ser manchadas
aleatoriamente pelos artesãos impressores, ao centro uma escultura aérea – A Árvore da Vida, revoada de pássaros impressos sobre seda, por sua grande
amiga Loira Cerrotti (aqui na janela os pássaros responderam assanhados). Pensamentos impressos sobre estruturas/chassis, forrados com tecido rústico, o avesso de um cenário, cercam as paredes da área de exposição. Filmes em super-8 de suas viagens, andanças brasileiras, amigos e lugares (Road Movie).
Sua viagem pelo Brasil, como você mesmo observou, semelhante (e dessemelhante) à de Mário de Andrade, revelou a extensão de um país magnífico, barroco e popular, inventivo, cheio de Humor – Amor para dar.
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Não é muito (nunca o bastante), mas o suficiente para armar o circo dos artesãos e a festa das cores. Fazer a tribo conviver intensamente.
Os meninos que fomos participaram “de espetáculos de fundo de quintal”, construções improvisadas “com cortinas de cobertor e pregadores nos varais”; escapamos dos videogames, das musiquinhas eletrônicas, da parafernália digital, que têm levado a imaginação para o brejo. O teatro nos acompanha desde a infância, o de cartão, os bonecos, os fantoches de praça. Foi nessa Caixa de Mágico que você exerceu seu enorme talento de arquiteto, cenógrafo, artista plástico e professor. Aprendemos com Leonardo da Vinci a enxergar nas paredes manchadas o princípio da paisagem apenas esboçada pela natureza; e, na pedra bruta, a escultura oculta.
Você foi um daqueles jovens florentinos do ateliê de Andrea del Verrocchio (da Bottega del Verrocchio), aprendizes que exerciam diversas atividades com as mãos e discutiam filosofia, música e poesia, ali mesmo onde pernoitavam.
Você sabia, sabiá, da grande importância de trabalhar com as mãos, que a revolução do pensamento grego foi a mão, o respeito pelo trabalho manual, e que alguns dos mais excelentes pensadores gregos eram filhos de marinheiros, fazendeiros e tecelões (sacerdotes e escribas de outras paragens, criados na opulência, relutavam em sujar as mãos). Os operários sujam as mãos.
Contava com o vento...
Varais para secar os panos pintados.
Contava com as pedras para segurar esse vento...
Os panos manchados, com defeito de fabricação, a “carne-seca”, sucata da indústria de estamparia – “aos poucos decifrei sua linguagem” –, serviam como suporte para suas criações. Seu profundo contato com o desenho, pensamento
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gráfico, permitiu grande variação de formas, “seguir os rastros dos desenhos e padrões originais. O escorrido das tintas dissolvidas de maneira aleatória...”.
Hoje, o projeto digital, cirúrgico, asséptico, frio, sem erros e mistérios, onde a sombra é separada da luz por camadas de contorno predefinidas. Onde já se viu? Onde estão os calígrafos japoneses? Para estudar a luz, Leonardo penetrava em cavernas escuras, e procurava na obscuridade o desconhecido, o maravilhoso, no profundo estudo da sombra.
Que maravilha termos participado de um tempo hippie, da contracultura, das comunidades (ateliês comunitários de artistas, cama/mesa/cozinha – ateliês de fundo de quintal). paz (quando possível) e amor (sempre): colchão e almofadas no chão, panos indianos e estampados, gravuras de deuses desconhecidos, índios e músicos, Diógenes, São Francisco de Assis, Buda, o Nature Boy, incensos e outros baratos + fauna e flora brasileiras, nossa musa paradisíaca – a bananeira, nosso pavão misterioso –, araras e papagaios.
“Nossas roupas comuns dependuradas na corda qual bandeiras agitadas pareciam um estranho festival.”
Seus 7 (sete) cabalísticos trabalhos para a deusa Maria Bethânia, seminais, necessários (cenários, trajes, panos e adereços), iluminaram a música brasileira para sempre!
“Nossa vida, nosso palco iluminado...”
“A arquitetura me fez amante da terra, da água, do ar, da lua, da cor, da matéria, do fogo e do som”, também o levou aos desenhos mais belos de cenário, às plantas
Estudo para real ização de l i tograf ia , sem data
Lápis de cor sobre papel
Acervo Flávio Império
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mais nítidas, às mais límpidas formas, essenciais, e a lecionar de uma forma muito especial, na FAU/USP e na Faculdade de Belas Artes de São Paulo, para sorte de seus afortunados alunos, assim livres do rigor acadêmico.
Quando em nossa mocidade nos encontramos – mercuriais, na encruzilhada paulistana dos anos de 1960 e 1970, em tempos políticos arbitrários de ditadura, quando perdemos amigos, mestres, sonhos –, o tempo era de luta, o tempo era de guerra, como foi o de nossa infância. Estávamos acostumados e lutávamos por um futuro melhor, com os nossos instrumentos de trabalho, pranchetas e maquetes. Nossos soldados eram os cenotécnicos, os carpinteiros, as costureiras, as camareiras, os eletricistas, as bilheteiras. E nossa área de exercício o palco vazio – espaço de liberdade de todas as possibilidades.
“O teatro me fez amigo da multidão”, você disse, é essa anônima e poderosa mão de obra que mantém acesa a chama do teatro, há mais de 25 séculos.
Cá estamos, seus amigos, parentes, admiradores e um grupo de jovens – essa confraria preparando a festa para mais uma vez falar de você e sua arte, seu legado para o futuro. Somos exceção à impostura do mundo contemporâneo. Aqui ainda estão as crianças abandonadas, nações massacradas, a ignorância truculenta dos dirigentes e o descaso com o planeta.
Guardo sua imagem e seu sorriso, suas obras que vi de perto, no fundo de mim, onde moram a saudade e a infância (a esperança e o entusiasmo).
primaveranão nos deixepássaros choramlágrimasno olho do peixe
Matsuó Bashô(1644-1694) tradução de Paulo Leminski
Até um dia,
Helio Eichbauer fez a cenografia da Ocupação Flávio Império. É cenógrafo e figurinista de óperas, balés,
teatro de prosa e concertos de música popular brasileira. Realizou mais de 180 trabalhos em 48 anos de
profissão e obteve 28 prêmios nacionais e internacionais. Participou de 15 exposições e 11 conferências.
Foi professor em instituições de ensino livre e universitárias. Em 2006, realizou uma exposição
retrospectiva dos seus 40 anos de cenografia no Centro Cultural Correios, Rio de Janeiro. Estudou em
Praga sob orientação de Josef Svoboda. Estagiou no Berliner Ensemble e na Ópera de Berlim. Em 1967,
trabalhou no Teatro Studio de Havana, Cuba.
Helio Eichbauer
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Um ateliê de artes compõe o espaço expositivo. Projeto de Helio Eichbauer, com assistência de Humberto Pio Guimarães.
MAQUETE DA OCUPAÇÃO FLÁVIO IMPÉRIO
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F o t o g r a f i a M a r c e l o d a C o s t a
Por Maria Thereza Vargas
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“Cantei, dancei, toquei piano”, “recitei nas festas escola-res”, declarava Flávio Império em conversas e depoimen-tos. Anunciava assim seu pluralismo artístico e intensa curiosidade pelas letras, sons e movimentos. Não me dis-se que desenhava, nem que pretendia pintar quadros. Mas certamente não era contrário às artes plásticas, porque vi uma vez um desenho seu em uma seção juvenil – não me lembro em que jornal.
No entanto, o gênero humano e suas histórias o atraíam. E por que não seus ambientes? Formou-se em arquitetura em 1961, mas já nessa época fascinava-o a aventura de juntar a ficção com a realidade, ainda que no caso ela fosse efêmera. Volta-se para o teatro, que já conhecera no tempo de colégio, atuando em alguma peça do dramaturgo Martins Penna (1825-1848), sob a direção do futuro grande homem de teatro Geraldo Mateus.
Suas primeiras experiências datadas de 1956/1957 como encenador, cenógrafo e figurinista princi-piaram em volta de uma capelinha, com murais de Volpi, em um jardim planejado por Roberto Burle Marx. Tratava-se da Comunidade de Tra-balho Cristo Operário, na então longínqua Estrada do Vergueiro, em São Paulo. Em um núcleo orientado pelo dominicano João Batista dos Santos, vindo de uma experiência como padre-operário de Saint Étien-ne, na França, Flávio montou com as crianças da pioneira Escolinha de Arte, criada por Cynira Stocco e Sabá Gervasio, Pluft, o Fantasminha, de Maria Clara Machado.
Se já não era louvável crianças representando, esse modesto espetáculo proporcio-nou ao cenógrafo/figurinista diálogos sui generis. O que era o mar, já que estavam tão longe dele? O que era um pirata, de que cor era esse mar? Azul? Verde, alguns responderam. E a cor verde, via Flávio, dominou o espetáculo.
Se faço esse preâmbulo é porque julgo as experiências nesse pequeno palco (4 x 3 metros?) fundamentais em sua carreira. Com operários e pequenos funcionários, Flávio aprendeu novos mundos. Com a exiguidade do teatrinho, a exigência da síntese e do essencial. Com a pobreza de meios, a riqueza trans-mutável dos materiais em volta. Assim foi que em uma brincadeira de Jean Anouilh (1910-1987), dramaturgo francês, um parque foi sugerido por bolas de gás colori-das, presas a um gradil de arame retorcido. A delicade-za das bolas não abandonava sua verdadeira condição, mas emprestava sua flexibilidade e suas cores para fa-zer parecer um jardim florido.
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exiguidade dos palcos perseguia-o nos primeiros am-bientes de trabalho. Flávio Império inventou uma ceno-grafia para o pequeno espaço cênico do Teatro de Arena de São Paulo, no qual utensílios, adereços, objetos de cena e figurinos tivessem tal potencialidade, também dramática, que interagissem com as palavras dos textos e seus atuantes. Para Morte e Vida Severina (1960) no Teatro Natal (São Paulo), o fortalecimento visual apoiou-se em materiais nunca antes utilizados na cena brasilei-ra: estopa, algodão cru engomado, papelão corrugado e cola de madeira, usados no cenário, nos figurinos e nas máscaras. Mente criativa aguçada, no primeiro esboço tudo lhe vinha à cabeça.
Tubos de aço da marca Man-nesmann em Um Bonde Chamado Desejo (1962), num Teatro Oficina (São Pau-lo) de duas plateias, não demarcavam somente territórios. Eles atenuavam, pela aparente leveza, a atmosfera opressiva ao redor da ultrassensível personagem Blanche Dubois. Se os palcos de pouco espaço, a pobreza de meios e a falta de téc-nicos especializados nos primeiros tempos suscitaram em Flávio Império o artista/artesão manipulador dos mais variados materiais, as viagens pelos interiores do Bra-
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sil, o contato com nova gente e suas artes também acres-centaram ao seu poder criativo novas luzes, novos tons e tecidos simples de flores singelas. randes achados iluminando uma nova fase, trazendo uma alegria de viver (a mesma procurada pelo artista) aos seus personagens e seus ambientes, tristemente fictícios.
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D e s e n h o d e F l á v i o I m p é r i o p a r a c e n á r i o d o e s p e t á c u l o N o e l R o s a , o P o e t a d a V i l a e S e u s A m o r e s , T e a t r o P o p u l a r d o S e s i , S ã o P a u l o , 1 9 7 7 , A c e r v o F l á v i o I m p é r i o ; R e p r o d u ç ã o f o t o g r á f i c a R e n a t o C u r y
é pesquisadora de teatro. Formada em
dramaturgia e crítica pela Escola de
Arte Dramática (EAD), integrou a pri-
meira turma de pesquisadores do Idart
(órgão de pesquisa ligado à Secretaria
Municipal de Cultura de São Paulo).
Desenvolveu alguns dos mais signi-
ficativos títulos da bibliografia teatral
contemporânea. Recebeu, em 1984, o
Prêmio Jabuti – Biografia ou Memórias
e, em 1998, o Prêmio Shell – Categoria
Especial. É umas das autoras do roteiro
do espetáculo Balanço de Vida, prota-
gonizado por Walmor Chagas em 1973.
MARIA THEREZA VARGAS
Desenhos de figurino feitos por
Flávio Império, 1960
Nanquim sobre papel
Acervo Flávio Império
Reprodução fotográfica Renato Cury
Desenho de figurino feito por
Flávio Império para o espetáculo
Roda Viva, direção de José Celso
Martinez Corrêa, 1968
Acervo Flávio Império
Reprodução fotográfica Renato Cury
Espetáculo Noel Rosa, o Poeta da
Vila e Seus Amores, direção de
Osmar Rodriguez Cruz, Teatro
Popular do Sesi, 1977, São Paulo
Acervo Flávio Império
Fotografia Silvestre Silva
12 e 3
4
Desenho de estudo de cenário de
Flávio Império para o espetáculo
Depois da Queda, direção de Paulo
José, 1964
Hidrocor e lápis sobre papel
milimetrado
Acervo Flávio Império
Reprodução fotográfica Renato Cury
Desenho de estudo de cenário de
Flávio Império para o espetáculo
Noel Rosa, o Poeta da Vida e
Seus Amores, direção de Osmar
Rodrigues Cruz, 1977
Lápis de cor sobre papel
milimetrado
Acervo Flávio Império
Reprodução fotográfica Renato Cury
Projeto de cenário de Flávio
Império para o espetáculo
Reveillon, direção de Paulo José,
1975, Nanquim e lápis sobre papel
Acervo Flávio Império
Reprodução fotográfica Renato Cury
1 2 3 4
5 67
56
7
36
36
O Flávio estava fazendo o cenário de A Cena Muda (1974), de Maria Bethâ-nia. Fui com ele para o Rio de Janeiro imprimir desenhos de pombas nos te-cidos que faziam o cenário do show. Ele sempre incorporava tudo o que gostava. Incorporou a mim e à seri-grafia em seus projetos. Nunca mais abandonou o silk.
s santos, as pombas, as bandeirinhas e ou-tras telas que achou na oficina (ele não tinha pudor nenhum em se apropriar do que gostasse) acabaram virando a exposição Festa de São João, de inauguração do Cen-tro de Estudos Macunaíma (1973). Foram expostos quadros, bandeiras e roupas que eram para ser penduradas na parede quando não estivessem sendo usadas. Tudo isso regado a cafezinhos e bolo de fubá da Das Dores.
O
uando ele morreu pensei que minha vida tinha acabado, mas estava enganada! Tudo estava começando. Eu só tinha caído do céu!
Conheci o Flávio Império na FAU/USP, quando eu im-primia gravuras em serigrafia. O [artista] Claudio Tozzi trouxe da pop art as gravuras em silk-screen e nós, que imprimíamos cartazes para o grêmio da FAU, fomos trans-formados, por ele, em impressores. Assim fui apresentada ao Flávio. E o Flávio à serigrafia.
Seu primeiro projeto conosco foi Sou Pedro, Sou Antônio e Sou João. Fizemos uma pequena tiragem. O Flávio, não sa-tisfeito, invadiu nossa oficina e mudou o jogo. Primeiro procurou suportes diferen-tes, como plástico, metal e tecido. Meteu a mão na massa, foi jogando tintas de cores diferentes diretamente na tela, passando o rodo de forma anárquica. Foram apare-cendo bandeiras únicas, lindas.
T E C I D O S
V E N T OPor Maria Cecília Cerrotti (Loira)
Q
37 37
ADas Dores era nossa mãe no bairro da Aclimação, em São Paulo. Morávamos numa casa dividida por gente legal. Ti-nha vagado um quarto e fui morar lá. Era a febre do super-8. Filmávamos tudo! Todos filmavam tudo! Era só o que tinha. Não tinha vídeo, muito menos celular, computador. Por um tempo não tínhamos nem telefone! E não precisava. Quem queria ia até lá e era bem recebido com cafezinho e bolo de fubá! A pura felicidade! A máxima simplicidade!
s móveis da casa tinham sido feitos pelo Flávio com restos de madeira de construção que ele encontrou por lá mesmo. A única coisa comprada fo-ram os tambores de óleo que serviam de pés de mesa e bancos. Algumas bandeirinhas e nuvens pintadas voa-vam pelas paredes. O paraíso no Para-íso! Morávamos paralelo à Rua Paraíso, com direito à nascente com peixinhos
vermelhos e um riozinho fedidinho que passava pelo fundo do quintal, que fazia um barulhinho e estilhaçava os raios de sol, tingindo a jabuticabeira, o pitangão, a mangueira. Descíamos da rua por um barranco de manacás da serra. Nossos cachorros, Tunico, Gogoia e Ursinho; nosso papagaio; as pombas de leque: tudo isso a apenas alguns metros da Paulista! Um luxo.
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A malha eu não sei onde o Flávio arrumou. Já tinha levado uns pedaços para as aulas da FAU, feito uns quadros/escul-turas. Quando o [diretor teatral] Fauzi Arap o chamou para fazer o cenário de A Cena Muda, peça em que os atores vi-viam na cabeça do autor, a malha se transformou num cére-bro gigante que envolvia o palco e o público.
Descoberta sua plasticidade, a malha virou matéria de quase todos os cenários que o Flávio projetaria daí para a frente. Malha de fardo crua, no começo, depois tingida em casa nos panelões, transformou-se em cicloramas: asas ce-lestiais como no Pássaro da Manhã, espetáculo de Maria Bethânia de 1977.
O fardo cru não era ideal para tingir e começamos a usar meia malha de algodão alvejada, que resultava num colorido mais limpo. Conforme os pa-trocínios e apoios, íamos nos adaptan-do a outros materiais, como a laicra: a peça Othello (1982) tinha apoio da TDB (Têxtil David Bobrow), que a fa-
bricava. O fundo da Ilha de Chipre foi fabricado com uma laicra para linge-rie, cor da pele clara, impressa em silk com folhas de palmeiras em branco. Depois tudo foi tingido em degradê tons terra. O tingimento após a im-pressão dava uma tonalidade especial ao branco da tinta.
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A malha, a impressão e o tingimento se tornaram nossos parcei-ros ideais! Às vezes havia um toque de brocal e lantejoulas.
Trabalhar com o Flávio Império era muito bom!
Eu o comparava a Miguel Ângelo. Enérgico, às vezes malcriado, trabalhador incansável, acordava cedinho e às 9 horas já esta-va gritando pela casa e abrindo as janelas para acordar nossas almas boêmias e preguiçosas! Um dia, conversando no ateliê, ele estava com um pedaço de vergalhão nas mãos e, de repente, para meu deleite, entortou aquilo como se fosse manteiga! En-quanto manipulava um material ia percebendo sua essência e num golpe fatal o dominava e transformava docemente em seu comparsa. Assim era com as pessoas também. Era impossível não amá-lo e fácil odiá-lo às vezes, pois sua mente admirável não deixa-va nada para o dia seguinte.
nfim, viver com o Flávio no Paraíso, o Henrique Maga-lhães, a Das Dores e outros amigos; conviver com ele no teatro, nas viagens que fazíamos com o Henrique; ter contato com os amigos Isamara, Turco, Quim, Myrian Muniz, entre outros que nos visitavam; com bandeiras e sem elas... Tudo era muito bom!
é cenógrafa formada pela FAU/USP. A partir de sua convivência com Flávio Im-
pério, enveredou pelas vertentes da cenografia e continua até hoje trabalhando
nas áreas de eventos, exposições, festas e, com mais parcimônia, no teatro.
Maria Cecília Cerrotti (Loira)
Quando morreu, sua alma contaminou seus amigos, alunos, companheiros de trabalho. Ele foi a semente e o adubo do meu ser. Sua presença em exílio ainda hoje é difícil e um prato cheio para mim.M
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Texto de Flávio Império para catálogo da expo-
sição Matrizes, Filiais e Companhias (com obras
de Flávio Império, Claudio Tozzi, Flávio Motta e
Renina Katz), no Sesc Anchieta (hoje Sesc Conso-
lação), São Paulo, 1979.
Logotipo “carne-seca” para catálogo da exposição
Matrizes, Filiais e Companhias
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Reprodução fotográfica Acervo Flávio Império
Serigraf ia sobre tecido “carne-seca” , 1978 ,
dimensões 184 x 76 cm
Coleção part icular
Reprodução fotográf ica Acervo Flávio Império
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dimensões 81 x 85 cm
Coleção part icular
Reprodução fotográf ica Acervo Flávio Império
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Flávio Império, Renina Katz e Maria Bonomi,
dimensões 50 x 35 cm
Acervo Flávio Império
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esp
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ulo,
com
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serv
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nos
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s, de
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sas e
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cias
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amen
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s, es
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Rio
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le
fale
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Mon
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ção
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gra-
fia [
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inan
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rigra
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faze
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m n
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ção
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linha
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ma
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Enfim
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pava
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m to
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sa, s
eren
a e
infin
ita a
ula
de li
berd
ade.
os últimos anos da Faculdade de Arquitetura e Urba-nismo da Universidade de São Paulo, entre 1960 e 1961, Flávio Império já era conhecido como cenógrafo. Morte e Vida Severina [1960] foi para nós uma espécie de con-firmação: materiais simples (saco de estopa engomado, papel e cola nas caveiras de boi) transfigurados pela invenção lúcida convinham realmente mais ao nosso tempo que a contrafação de modelos metropolitanos. A ousadia do desvio no uso habitual de coisas e materiais, propondo metáforas e faz de conta real, abria picadas para a nossa arquitetura”, escreveu Sérgio Ferro em tex-to publicado no catálogo da exposição Flávio Império em Cena (Sesc Pompeia, São Paulo, 1995).
ARQUITETURAA
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érgio Ferro, Rodrigo Lefèvre e Flávio Império eram ami-gos, dividiram ateliê (na Rua Marquês de Paranaguá, em São Paulo) e pranchetas. Juntos, formaram um grupo de arquitetos cujas propostas espaciais e construtivas têm sido indentificadas como uma “nova arquitetura”. m 1961, Flávio Império construiu “o seu primeiro proje-to importante, a residência Simão Fausto, em Ubatuba”, escreveu Ferro. Sobre a casa, o historiador Boris Fausto, filho de Simão, escreveu (no livro Memórias de um His-toriador de Domingo; Companhia das Letras, 2010): “De fato, a estrutura da casa é muito bonita, com a sucessão de voûtes [abóbodas], assim como o jardim suspenso, em lugar de uma laje ou de um telhado. A ampla sala conjugada à cozinha, as mesas de concreto, o chão de cimento pigmentado de vermelho, a sucessão de jane-las de vidro comuns, sem proteção de grade, as voûtes pintadas de branco na parte interna, em contraste com o azul da parede do fundo, o teto em arco, de tijolos firmes, fabricados na praia de Maranduba, dão à construção um encanto que perdura na memória”.
m dos poucos exemplos de projetos arquitetônicos de Flávio Império, a casa de Ubatuba contém elementos que irão se repetir em seus projetos. “A densidade es-pacial, por exemplo, que aproveita a experiência teatral nos estritos palcos do Vergueiro, do Cacilda Becker, do Arena. Não é maneirismo: por falta de verdadeira expe-rimentação em arquitetura [...], nos acostumamos a uti-lizar os projetos para os amigos coniventes como ocasi-ões para testar procedimentos apropriados para o que nos parecia fundamental – casa e equipamento popular”, escreveu Sérgio Ferro sobre o projeto de seu amigo e parceiro de trabalho.
(Por Mariana Lacerda)
Residência Simão Fausto, em
Ubatuba, SP, 1961
Fotograf ia Renato Cury
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Escrever hoje uma coisa simples sobre o Flávio só pode ser dizer da imensa saudade. De sua presença atenta às nossas vidas, de sua força e alegria de compartilhar os pensamen-tos sensatos e insensatos, de sua gargalhada que pontilha-va as absurdas ciladas das coisas sérias, de seus pequenos presentes sempre com significado e beleza, de sua solida-riedade profunda e confortadora. Sua percepção era tão aguda que parecia se moldar às coisas e às pessoas. Sua inteligência fazia distanciamento, às vezes com genero-sidade, às vezes em versão cortante, mas sem intenção destrutiva. Ao contrário, sacudia e favorecia a renovação.
O kitsch e a violência, de forma e de sentimentos, em ge-ral não tinham vez com ele, porque os aceitava como inte-grantes de nosso mundo. Ao aceitá-los, então, moldava-os e, quem sabe se poderia dizer, transformava-os, dando-lhes o movimento de seu gesto e pensamento. Quando ele morreu, notei um fenômeno que me impressiona. Seus quadros, desenhos, gravuras, cenários, que sempre ele nos fazia ver e apreciar, nos pareceram mais fortes. An-tes olhávamos também com seus olhos, e hoje, de forma um tanto misteriosa, sem a sua presença, os traços dizem
mais. As cores e as formas contam, com mais vi-vacidade e coerência, da limpidez e da comple-xidade dos ramos e das harmonias de sua alma.
Tem sido uma experiência gratificante ver como os jovens que hoje trabalham no levanta-mento e na catalogação de sua obra e da docu-mentação, sem nunca tê-lo visto, o reconhecem também como pessoa.
São Paulo, 8 de novembro de 1995
Por Amélia Império Hamburger
AMÉLIA IMPÉRIO HAMBURGERé irmã do artista. Foi uma das criadoras do
Projeto Flávio Império e da Sociedade Cultural
Flávio Império, inciativas de salvaguarda do
seu acervo. Este texto foi originalmente escrito
para publicação no catálogo da exposição Pre-sente, no Centro Universitário Maria Antônia,
São Paulo, em 1995.
HO
ME
NA
GE
M
Esboço, 1978 ,
dimensões 66 x 24 cm
Acervo Flávio Império
Flávio Império (em pé ) e alunos , na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de
São Paulo, 1973/1974 , Acervo Flávio Império
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ATRAVÉS DO ACERVO
Em meados dos anos 1990, ainda estudante do terceiro ano da FAU/USP, fui convidada a fazer parte da equipe que daria início ao trabalho de resgate da produção de um dos mais fecundos artistas brasileiros. Quase duas décadas se passaram. Ao revirar a memória, o que me lembro? Fragmentos de desenhos de cenários e figurinos, serigrafias, cartas e no-tas que não formam uma obra completa, mas que revelam o traço, as texturas, os coloridos, as perspectivas espaciais e a caligrafia de Flávio Império. E foi ali, na pequena garagem da casa de Amélia Hamburger, a Amelinha, irmã de Flávio Império, rodeada do mistério que eram aquelas mapotecas, arquivos e caixas e mais caixas de papelão que guardavam uma profusão de trabalhos, bem como objetos pessoais dele, que aprendi sobre a importância de manter uma relação íntima e afetiva com a obra de artistas na montagem de um cenário ou de uma exposição. Foi ali que também percebi quanto é fundamental o resgate, o cuidado e a preservação de toda e qualquer produção artística, assim com a criação de acervos abertos ao público. Naquele momento, tomei ainda conhecimento da necessidade, na formação do arquiteto, do contato com diferentes linguagens e áreas de atuação. Na época, a liberdade com que Flávio Império transitava pela arquitetura, pela cenografia, pelas artes plásticas, pela direção de arte e pelo ensino; a liberdade como ele experimentava diferentes mate-riais e técnicas apaziguou minha angústia de estudante que já sonhava em ser cenógrafa, mas que tinha de lidar diariamente com a rigidez da academia (na FAU, cenografia não fazia parte da grade curricular). Eu saía da faculdade lá pelas 5 da tarde e seguia para a casa de Amelinha, onde trabalhava até as 22 horas. Nessas longas horas, as portas de entrada ao universo artístico de Flávio Império, que havia morrido há não mais de dez anos, eram aber-tas pelas mãos cheias de generosidade e ternura, como também de força e determinação, de sua irmã. Ela nos convidava a tatear sem discrição cada detalhe dos figurinos do artista, as cores vibrantes das bananeiras de seu quintal, as linhas oníricas de seus cenários e as inusita-das perspectivas desses espaços poéticos – rompendo com preconceitos, com a ideia de arte confinada, mantida num pedestal e a certa distância. Seguíamos uma metodologia nada cronológica, mas que começou com as obras em suporte de papel do acervo pessoal de Flávio Império (mais tarde foram catalogadas as pinturas e as gravuras e documentadas fotograficamente as obras que estavam nas mãos de colecionadores e instituições). A cada dia, Amelinha retirava daquelas mapotecas arquivos e caixas de papelão que ficavam ali ao nosso redor na garagem de sua casa, com extremo cuidado e delicadeza, as peças sobre as quais deveríamos nos debruçar. Entre os desenhos e as serigrafias, aparecia um par de
Por Maria Eduarda Arruk
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ENTRE AS TELAS
óculos, um relógio e, ainda, textos manuscritos e notas do artista. Amelinha não fazia dis-tinção. Tudo era Flávio Império. Sendo assim, tudo deveria ser tratado com igual respeito, carinho e devoção. E tivemos o privilégio de fazer uma catalogação manual, não digital ou fotográfica (essas vieram mais tarde). Reproduzíamos um a um os de-senhos de Flávio Império. Refazíamos seus traços nas fichas de papel sulfite e anotávamos onde o original estava danificado. A ideia era documentar, naquele
exato momento em que era manuseada, o es-tado de conservação da obra. E era assim que desbravávamos ainda mais a intimidade e a in-dividualidade de Flávio Império como artista.
No desafio de escrever este texto, deparei com a seguinte questão: de que forma Flávio Império in-fluenciou o meu desenho de cenografia? O que posso dizer é que acredito e tenho projetado cená-rios pensando sempre na construção de um espaço poético, não realista. Na investigação de materiais, procuro transformar, assim como reinventar, objetos do cotidiano, a fim de construir um espaço onírico. É isso o que eu vi, ou senti, ou lembro ter vivido nos desenhos de Flávio Império.
MARIA EDUARDA ARRUK é cenógrafa e diretora de arte. Arquiteta for-
mada pela FAU/USP, foi aluna do curso de
cenografia do Centro de Pesquisa Teatral
e coordenadora do departamento de ceno-
grafia do escritório de Felippe Crescenti.
Assinou a cenografia de dezenas de espe-
táculos. Já recebeu os prêmios Pananco de
melhor cenografia em teatro infantil e jovem
(2005) e o Prêmio Femsa de melhor espe-
táculo (2010). Em 2011, foi premiada pela
APCA como melhor direção de arte de es-
petáculo infantil. Foi professora do Instituto
Tomie Ohtake para o projeto Ópera Estúdio.
Cruzando os gramados da USP, chegava-se à So-ciedade Cultural Flávio Império. A pé. Lá, éramos recebidos pelo Pingo e pela Chuva, os cachorros da casa da Amélia Hamburger, irmã do Flávio Império. Depois do jardim, na garagem, ficava o acervo: uma grande mesa central, mapotecas ao fundo e três computadores laterais. O ambiente caseiro não nos impedia de ficar duplamente atentos: um
olho aproveitava a oportunidade de tomar contato com a obra do artista, o outro se dedicava a cuidar dela. Não era fácil. Tínhamos de usar luvas, encontrar pequenas man-chas e ao mesmo tempo aprender a ver – nós, que buscávamos uma formação visual. Na garagem do marido da Amélia, aprendemos a fazer estrelas de mandacarus com Maria das Dores, a musa de várias pinturas do Flávio. Enquanto recortávamos as famosas estre-las de papel forradas de tecido, alinhavávamos mentalmente as conversas, objetos e dese-nhos que tínhamos visto no acervo. Dava-nos vontade de imprimir folhas de bananeiras, de viajar para o Recife, de fazer cenários.
Por Andres Sandoval
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Tenho pra mim que os homens pertencem de modo atemporal a dadas famílias espirituais e que as sin-cronicidades do cotidiano permitem, aos atentos, prazerosos encontros com seus pares, sempre vivos. E lá se vão 20 anos de paixão... Chovia a cântaros naquele dia do ano de 1991, em São Paulo. Desci correndo, mãe e tia impacientes no carro. Era uma exposição de Sérgio Ferro na Galeria São Paulo, olhos nas grandes telas rasgadas, ouvidos na rever-beração do zetaflex. Naquele tempo eu morava em Mococa e tinha aulas de pintura com Maciel, ex-aluno do Flávio Império na Escola de Be-las Artes, que guardava na cabeceira o livro Futuro Anterior. Dois anos depois ingressei na FAU/USP e no primeiro trabalho de história da arquitetura estudei a casa de Boris Fausto, no Butantã, projeto do Sérgio, com maqueta de papel encimada por claraboias-cotonetes.
Em 1995, começou a documentação do acervo que se encontrava fora dos arquivos da sociedade. Na visita à casa da Rua Marquês de Paranaguá, em São Paulo, onde Flávio Império teve um ateliê na edícula, nossa missão era fotografar as telas de serigrafia que estavam misturadas ao depósito geral da família. Como as telas eram grandes, fomos quatro catalogadores. Dois armavam o set: montar refletores, arrumar as paletas, nivelar a luminosidade. Os outros montavam a câmera: tripé, filmes, cartela de cinza médio e ficha descritiva. Registramos as marcas de tinta, a emulsão, a fita crepe descolada. Identifica-mos rugas e rasuras. Até que um dia nos ocorreu dançar atrás das telas. As cores, a contraluz, a transparência nos animaram a fotografar nossa coreografia improvisada. O tempo todo procurávamos formas de fazer experimentações com o que descobríamos. Mas foi na ex-posição Flávio Império em Cena, em 1997, no Sesc Pompeia, em São Paulo, que demos nossa primeira resposta gráfica e espacial ao que tínhamos aprendido. Quase todos os estudantes que haviam participado da catalogação foram convidados pela curadora Glau-cia Amaral a integrar as diferentes equipes de traba-lho que cuidariam da museografia, das instalações, das maquetes autômatas e das oficinas. Participei da equipe coordenada pela arquiteta Maria Cecília Cerrotti, a Loira, que produziu a ambientação da área de convivência. A Loira foi amiga e assistente do Flávio. No Sesc Pompeia, fizemos um Flávio Império d’après, como Renina Katz simpatizou em chamar, naquele que é um espaço desenhado por Lina Bo Bardi: não poderia haver melhor encontro.
A N D R E S S A N D O VA L é ilustrador desde 2001. Participou da Bienal de
Ilustração da Bratislava (Eslováquia) e do Salão
do Livro de Montreuil (França). Desde 2006 ilus-
tra a seção Esquinas, da Revista Piauí. Publicou
ilustrações pelas editora Companhia das Letras,
Editora 34 e Planeta Tangerina. Seus murais já
coloriram o Sesc Pinheiros e o Pompeia, a galeria
Melissa e o Edifício Simpatia, em São Paulo, além
da Mostra de Ilustração de Zurique, a Illustrative.
APRENDI A
APRENDER COM VOCÊ
Por Humberto Pio Guimarães
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Descobri na biblioteca da faculdade uma velha revista Acrópole e, nela, o trabalho em con-junto, nos anos 1960, de Sérgio, Flávio e Rodrigo Lefèvre. Nesse mesmo ano, inauguramos com os professores Battaglia, Betta e Érica um canteiro experimental de construção. Ali edificamos diminuta abóboda, forma perfeita pesquisada por aqueles três. No início de 1995, meu amigo Andres encontrou-me nas rampas da FAU com a notícia: estão procurando estagiário no acervo Flávio Império, quem me disse foi a Duda, do quarto ano, que está de saída. Dias depois eu tocava a campainha da casa da professora Amélia, que recebeu com delicadeza e atenção incomuns um jovem inseguro em sua primeira entrevista de traba-lho: pois venha e traga os amigos! E fomos eu, Adriano, Cássia, Cláudio, Luana, Mayumi e Zé; e pouco depois o próprio Andres e a Márcia. Quase três anos de intenso trabalho na Sociedade Cultural Flávio Império, sediada em estúdio no quintal da casa da metafísica Amelinha e do Wolf, de quem privamos do amor e da inteligência. Dona Helena espreita-va tudo, sem esconder o sorriso. Coordenados pela Dô, passávamos tardes identificando, organizando, descrevendo, condensando, documentando, recolhendo. Aprendemos a fo-tografar obras de arte e a reconhecer pontos de foxing. Ainda em 1995, celebramos os 60 anos do artista com a exposição Um Presente: Flávio Império, idealizada por Loira e Már-cia, evento paralelo à mostra de teatro universitário Presente, promovida pelo Tusp no Centro Universitário Maria Antônia. Varamos uma noite lá na montagem, aprendemos a fazer boneca e a tensionar pano.
Projeto de figurino feito por Flávio Império
para o espetáculo Sol do Meio-Dia, do Corpo de
Baile de São Paulo, 1981, Acervo Flávio Império
Reprodução fotográfica Renato Cury
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No começo de 1996, junto com a Cássia, fiz meu primeiro cenário, esticando malhas num café do Bexiga, à maneira de Flávio. Procurei sem êxito naquela rua por algum vestígio do velho Teatro Treze de Maio, o qual ele havia entulhado de vestígios de outros teatros, 20 anos antes, em Pano de Boca. Tempos depois, surpreso, descobri tratar-se do mesmo endereço.
Em 1997, o Sesc Pompeia promoveu uma grande retrospectiva da obra do artista, com curadoria-geral de Glaucia e Renina. Nós, estagiários, fomos convidados a participar. Eu e Mayumi desenhamos com Andres e Guilherme a exposição Flávio Império em Cena. Desde então, trabalho com expografia. Tendo feito duas bolsas de iniciação científica sobre Flávio Império durante a graduação, resolvi anos depois de formado prosseguir meus estudos em São Carlos, investigando no mestrado as especificidades da obra de Rodrigo Brotero Lefèvre.
Em 2009, a pedido da Vera, retornei à Sociedade Cultural Flávio Império para ajudar na or-ganização do acervo do artista para doação. E com imenso prazer recebi o convite para traba-lhar com Helio no projeto desta festa do trabalho aqui no Itaú Cultural, 2011.
Agradeço ao Flávio pelas congregações e evoco o mestre Flá-vio Motta, com quem estive em três oportunidades, para falar dele: “Penso no poder de ligar, nos recursos da lucidez de estar presente no futuro mais distante e no passado mais envelheci-do, nessa presença de todos e de tudo num mesmo instante”.
Ficha catalográfica feita por Maria Eduarda Arruk
Acervo Flávio Império
H U M B E R T O P I O38 anos, é arquiteto (1999, FAU/USP) e mestre em arquitetura e urbanis-mo (2006, EESC/USP). Integra o Estúdio Risco (estudiorisco.com.br).
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quinta 2 junho a domingo 17 julho 2011terça a sexta 9h às 20hsábado domingo feriado 11h às 20h
piso térreo
ATELIÊ DE SERIGRAFIA OCUPAÇÃO FLÁVIO IMPÉRIO
quinta 2 junho a domingo 17 julho
terça a sexta 10h30 às 19h30sábado domingo feriado 11h às 19h30
quinta 219h30 No Espetáculocom José Celso Martinez Corrêa, Susana Yamauchi e Márcio Medinamediação Marcelina Gorni
sexta 319h30 Na Arquiteturacom Sérgio Ferro e Carlos A. Ferreira Martinsmediação Ana Paula Koury
sábado 417h No Plano do Objetocom Loira, Rafic Farah e Jacopo Crivellimediação Marcelina Gorni
domingo 517h Na Sala de Aulacom Márcia Benevento e Paulo von Posermediação Marcelina Gorni
quinta 215h Doces Bárbaros, 17h Bixiga, a Bela Vista do Palco Brasileiro e 17h30 Flávio Império em Tempo
sexta 315h Absurdos e 16h10 O Profeta da Fome
sábado 415h Doces Bárbaros, 17h Bixiga, a Bela Vista do Palco Brasileiro e 17h30 Flávio Império em Tempo
domingo 515h Absurdos e 16h10 O Profeta da Fome
sala itaú cultural 247 lugaresSEMINÁRIO
OCUPAÇÃO FLÁVIO IMPÉRIO
[indicado para crianças a partir de 6 anos]
MOSTRA DE FILMES
piso térreo
sala vermelha 70 lugares – ingressos distribuídos às 14h30
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DOCES BÁRBAROS é um registro de ensaios, show e conversas entre Maria Bethânia, Gilberto Gil, Gal Costa e Caetano Veloso, artistas que formavam esse grupo, criado em 1976 para comemorar os dez anos de carreira de seus partici-pantes. A cenografia para o show de Doces Bárbaros é de Flávio Império. O PROFETA DA FOME é um filme de ficção que conta a história de um faquir que trabalha em um pequeno circo do interior. Com cenário e figurino de Flávio Império, o filme representou o Brasil no Festival de Cinema de Berlim de 1970 e, no mesmo ano, ganhou os prêmios de melhor roteiro, argumento, montagem e atriz coadjuvante (Julia Miranda) no Festival de Cinema de Brasília.
ABSURDOS (OU OS DOZE TRABALHOS DE FLÉRCULES) é um registro de espetáculo de dança pertencente ao acervo do Teatro Municipal de São Paulo. Produzido em 1984, tem roteiro e coordenação-geral de Flávio Império, Susana Yamauchi e Julia Ziviani. A coreografia é de Susana Yamauchi. Os cenários, os figurinos, a trilha sonora e a iluminação são assinados por Flávio Império.
FLÁVIO IMPÉRIO EM TEMPO é um documentário que aborda a vida e a obra do artista e sua importância no cenário artístico brasileiro. Depoimentos de fami-liares, amigos e expoentes da cultura brasileira do século XX (Renina Katz, José Celso Martinez Corrêa, Maria Bethânia, Paulo Mendes da Rocha, entre outros), fornecem um panorama de sua atuação como artista múltiplo nas artes visuais e cênicas, na arquitetura e também como professor.
BIXIGA, A BELA VISTA DO PALCO BRASILEIRO Centro de resistência e van-guarda, as ruas do Bexiga abrigaram uma das paisagens cênicas mais significa-tivas da cultura nacional. Curta homenagem ao teatro, seus artistas e suas obras, este documentário conta com a participação de Antunes Filho, Cleyde Yáconis, Jefferson Del Rios, José Celso Martinez Corrêa, Juca de Oliveira, Maria Thereza Vargas, Nydia Lícia, Paulo César Pereio, Renato Borgui, Sábato Magaldi, Sérgio Mamberti, entre outros nomes. O filme traz imagens em super-8 captadas por Flávio Império para seu documentário A Pequena Ilha da Sicília.
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SINOPSE DOS FILMES
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ANA PAULA KOURY é arquiteta e urbanista pela USP (1991). Autora do livro Grupo Arquitetura Nova: Flávio Império, Rodrigo Lefèvre e Sérgio Ferro, Romano Guerra (Edusp, Fapesp, 2003), é professora dos cursos de graduação e pós-
graduação em arquitetura e urbanismo da USJT, em São Paulo. É pesquisadora do grupo de pesquisa
(CNPq-FAU/USP) liderado por Nabil Bonduki sobre habitação social brasileira entre 1930 e 1964.
CARLOS A. FERREIRA MARTINS é arquiteto. Professor, pesquisador e orientador dos cursos de mestrado e doutorado do Instituto de Ar-
quitetura e Urbanismo da USP/São Carlos. Coordena a Coleção Fontes da Arquitetura Moderna (Editora
Cosac Naify) e organizou, pela mesma coleção, o volume Depois do Cubismo, de Amedée Ozenfant e Le
Cobusier; e a coletânea Textos sobre Arte e Arquitetura do Século XX, de Gregory Warchavchik.
JACOPO CRIVELLI VISCONTI é crítico e curador de arte contemporânea. Nascido em Nápoles (Itália), em 1973, é doutorando em arqui-
tetura pela FAU/USP. Como curador da Fundação Bienal de São Paulo, foi responsável pela participação
oficial brasileira na 52ª Bienal de Veneza (2007), além das bienais de Cuenca (Equador, 2004, 2007 e 2009),
Lulea (Suécia, 2005 e 2007) e Nova Délhi (Índia, 2005).
JOSÉ CELSO MARTINEZ CORRÊA é diretor, autor e ator. Lidera o Teatro Oficina, em São Paulo. Encena espetáculos considerados antológicos,
como O Rei da Vela, de Oswald de Andrade, 1967. Nos anos 1970, vivenciou as experiências da contracul-
tura, transformando-se em líder de uma comunidade teatral e das montagens de suas criações coletivas.
Ressurgiu nos anos 1990, numa nova organização da companhia, propondo uma interação constante entre
vida e teatro. Algumas das mais importantes encenações desse período – Hamlet, de Shakespeare (1993),
As Bacantes, de Eurípedes (1996), e Cacilda! (autoria do diretor, 1998) – propõem a desestruturação e rees-
critura dos textos originais, em prol da incorporação de material autobiográfico dos integrantes ou do pró-
prio Oficina. Em 2002, inicia a realização de um antigo sonho, a montagem na íntegra da obra Os Sertões,
de Euclides da Cunha. Em 2011, realiza um ciclo de peças chamado Dionizíacas Urbanas Antropófagas em Sampã.
MARCELINA GORNI é arquiteta. Fez mestrado em arquitetura e urbanismo pela USP/São Carlos, com dissertação intitulada
“Flávio Império – Arquiteto e Professor”. Atualmente é professora efetiva do curso de arquitetura e urba-
nismo da UEG.
MÁRCIA BENEVENTO é arquiteta e professora universitária. Em 1975, recém-formada, participou do grupo da Casa da Acli-
mação, onde compartilhou experiências com Flávio Império, despertando o seu interesse pela ce-
nografia. Em 1982, foi convidada pela arquiteta Lina Bo Bardi a colaborar nas exposições temáticas
de cunho cenográfico no Sesc Pompeia. Em arquitetura, desenvolve pesquisa voltada para estética e
percepção na arquitetura lúdica.
PARTICIPANTES
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MÁRCIO MUNHÓZ MEDINA é cenógrafo e figurinista. Já foi diretor de arte do centro de pesquisa teatral em Pontedera, na Itália, lugar
que segue os princípios do diretor teatral polonês Jerzy Grotowski. No Brasil, iniciou seu trabalho como
cenógrafo e diretor de arte em 1978. Já trabalhou em parcerias com Companhia do Latão, Grupo Galpão,
Cacá Carvalho, Cia. Balagan, Denise Fraga, Teatro da Vertigem, entre outros. Em 2003, representou o Brasil
na Quadrienal de Cenografia de Praga.
MARIA CECÍLIA CERROTTI (LOIRA) é arquiteta e cenógrafa. A partir de sua convivência com Flávio Império, enveredou pelas vertentes da
cenografia e continua até hoje trabalhando nas áreas de eventos, exposições, festas e teatro.
PAULO VON POSER é arquiteto e artista visual. Professor das faculdades de arquitetura da Escola da Cidade, em São Paulo, e
da FAU/Unisantos, onde leciona desde 1986. Um importante trabalho de Poser foi a pintura no Theatro
Guarany, em Santos (SP). Em 2010, lançou seu primeiro livro, A Cidade e a Rosa, em que apresenta sua
trajetória artística nos últimos 25 anos.
RAFIC FARAHé arquiteto. Fundador e professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo Escola da Cidade. Designer e
fotógrafo desde 1981 no seu próprio escritório, São Paulo Criação, onde atua nas áreas culturais, editorias e
institutionais. Entre seus trabalhos, destacam-se o cartaz da Eco 92 no Rio de Janeiro e a criação do logo e da
escultura do Museu da Língua Portuguesa, em 2006, para a Fundação Roberto Marinho. Representou o seu
país em várias exposições coletivas: Brazil Designs, na Art Directors Club em Nova York, 1988; 12 Brazilianer,
em Von Oertzen Gallery, Frankfurt, 1989; Graphistes Autour du Monde, Paris, 2000. Participou da publicação
Gráfica Vê o Brasil, na Ginza Graphic Gallery, Tóquio, em novembro de 2002. Também fez parte da 16th In-
ternational Poster Festival em Chaumont, França: Le Brésil en Affiche (Posters do Brasil), uma exposição com
cem pôsteres contemporâneos. Publicou em 2001 o livro Como Vi.
SÉRGIO FERRO é arquiteto, nascido em Curitiba. Diplomou-se em arquitetura pela FAU/USP em 1961. Trabalhou em parce-
ria com Rodrigo Lefèvre e Flávio Império em diversos projetos de arquitetura, até que o período da ditadura
militar o obrigou a deixar o Brasil. Vive na França desde 1972, tendo sido professor na Escola Nacional
Superior de Arquitetura de Grenoble e na Escola de Belas Artes, na mesma cidade. Em 1992, recebeu a
comenda de Chevalier des Arts et des Lettres.
SUSANA YAMAUCHI é coreógrafa, bailarina, professora e diretora. Sua formação inclui a Escola Municipal de Bailados, o Teatro
Galpão, o Balé Stagium, além das escolas de Alvin Ailey e Merce Cunningham. Profissional desde 1975,
acumulou vasta produção coreográfica em grupos e companhias brasileiras, como o Balé da Cidade de São
Paulo e o Teatro Castro Alves, além dos prêmios APCA, por Kiuanka, e Molière por Certas Mulheres. Em
1984 recebeu bolsa de estudos da Capes-Fullbright para aperfeiçoamento em dança moderna com Jeniffer
Muller, em Nova York. Dançou na companhia de Larry Richardson, em Nova York, e em turnê pela Itália e
Espanha. Atualmente, é diretora da Escola Municipal de Bailados.
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Coordenação-geral e organizaçãoNúcleo de Artes Cênicas do Itaú Cultural: Sonia Sobral, Cristina Espírito Santo e Débora Carillo
Concepção e coordenação de conteúdoVera Hamburger
CenografiaHelio Eichbauer
Assistência de cenografiaHumberto Pio Guimarães
PesquisaHumberto Pio Guimarães eYuri Fomin Quevedo
FICHA TÉCNICA OCUPAÇÃO FLÁVIO IMPÉRIO
Produção e montagem do espaço expositivoCristiane Zago, Edvaldo Inácio, Erica Pedrosa, Henrique Soarez, Melissa Contessoto, Paula Falco e Wanderley Bispo
Colaboração em pesquisaFernando Timba e Paloma Elisa Cassiano
Filmes super-8Flávio Império e amigos
Edição de imagens em super-8 Raimo Benedetti
Concepção e coordenação editorialNúcleo de Comunicação do Itaú Cultural
Coordenação de conteúdoNúcleo de Artes Cênicas do Itaú Cultural e Vera Hamburger
EdiçãoMariana Lacerda
Direção de arte Jader Rosa
Projeto gráficoEstevan Pelli
EXPEDIENTE PUBLICAÇÃO OCUPAÇÃO FLÁVIO IMPÉRIO
Produção editorialMaria Clara Matos
RevisãoCiça Corrêa, Nelson Visconti e Polyana Lima
ImagensAcervo Flávio Império
Reproduções fotográficasDing Musa, Hideo Hayachiguti eRenato Cury
AgradecimentoYuri Fomin Quevedo
Consultoria para reprodução de gravuras e telasLoira
Impressão artística Árvore da VidaLoira
Cenografia de auditório para ciclo de debatesLoira
Agradecimento especialRenina Katz
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Capa e quarta capa Tela matriz para serigrafia 1978; dimensões 161 x 108 cm Acervo Flávio Império Reprodução fotográfica Ding Musa
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