economia brasileira para concursos - amanda

260

Upload: george-yamahura

Post on 11-Jan-2016

190 views

Category:

Documents


3 download

DESCRIPTION

sc

TRANSCRIPT

Cadastre-se em www.elsevier.com.br para conhecer nossocatálogo completo, ter acesso a serviços exclusivos no site e

receber informações sobre nossos lançamentos e promoções.

© 2013, Elsevier Editora Ltda.

Todos os direitos reservados e protegidos pela Lei no 9.610, de 19/02/1998.Nenhuma parte deste livro, sem autorização prévia por escrito da editora, poderá serreproduzida ou transmitida sejam quais forem os meios empregados: eletrônicos, mecânicos,fotográficos, gravação ou quaisquer outros.

Revisão Gráfica: Vânia Coutinho SantiagoRevisão Gráfica: Hugo de Lima CorrêaEditoração Eletrônica: SBNigri Artes e Textos Ltda.Epub: SBNigri Artes e Textos Ltda.

Coordenador da Série: Sylvio Motta

Elsevier Editora Ltda.Conhecimento sem FronteirasRua Sete de Setembro, 111 – 16o andar20050-006 – Centro – Rio de Janeiro – RJ – Brasil

Rua Quintana, 753 – 8o andar04569-011 – Brooklin – São Paulo – SP – Brasil

Serviço de Atendimento ao [email protected]

ISBN: 978-85-352-7207-9ISBN (versão eletrônica): 978-85-352-7208-6

Nota: Muito zelo e técnica foram empregados na edição desta obra. No entanto, podem ocorrererros de digitação, impressão ou dúvida conceitual. Em qualquer das hipóteses, solicitamos acomunicação ao nosso Serviço de Atendimento ao Cliente, para que possamos esclarecer ouencaminhar a questão.Nem a editora nem o autor assumem qualquer responsabilidade por eventuais danos ou perdasa pessoas ou bens, originados do uso desta publicação.

CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTESINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ

A255e

Aires, AmandaEconomia brasileira para concursos / Amanda Aires. – 1. ed. – Rio de Janeiro: Elsevier, 2013.272 p. – (Provas e concursos) Inclui bibliografiaISBN 978-85-352-7207-9 1. Administração financeira – Brasil – Problemas, questões, exercícios. 2. Serviço público – Brasil– Concurso. I. Título

13-02479

CDD: 658.15CDU: 658.15

Dedicatória

Para ele, o amigo de sempre.

Agradecimentos

Primeiramente, agradeço a Deus pela oportunidade de navegar, mais uma vez, por esseimenso oceano.

Agradeço a minha família pelo apoio e pelo amor sem medidas. Agradeço a minha mãepelo exemplo de dedicação e ao meu pai pelo exemplo de energia. Agradeço em especial aminha irmã pela infinita felicidade de aumentar a minha querida família. Agradeço a VitalBezerra de Melo por ter sido o meu porto seguro ao longo desses anos.

Aos meus queridos amigos de jornada pela economia. Aos meus queridíssimos AndréMelo, Vitor Cavalcanti e Iansã Melo Ferreira pelo companheirismo ao longo de mais deuma década. Aos meus professores de graduação, mestrado e doutorado, fontes inesgotáveisde conhecimento e dedicação. Em especial aos grandes professores Francisco Cribari, autorda foto que ilustra este livro, Marcelo Medeiros, autor do prefácio, Ricardo Chaves e YonySampaio. A vocês, devo a economista que me torno diariamente.

Agradeço aos muitos amigos e alunos dos cursinhos preparatórios para concurso. Emespecial ao Eu Vou Passar, onde tudo começou, ao TEC Concursos e ao IGEPP. Sem vocês,nada seria possível. Agradeço demais ao professor João Antônio, por ter aberto as portasdesse maravilhoso mundo.

Aos muitos que passam ou passaram por essa minha jornada. Aos que aqui estão e aos quedecidiram partir um pouco mais cedo. Aos amigos de ontem, hoje e sempre, o meu maisprofundo agradecimento.

Amanda

A Autora

Amanda AiresEconomista pela Universidade Federal de Pernambuco, com extensão universitária pela

Universität Zürich, na Suíça. Mestra em Economia com ênfase no Sistema BancárioNacional, e doutorado na mesma área pela UFPE e Université Laval, no Canadá.

Em 2011, foi premiada pela Febraban – Federação Brasileira de Bancos – no PrêmioNacional de Economia Bancária. Além de lecionar em diversos cursos para não economistase cursos para graduações e pós-graduações, é professora do Eu Vou Passar das disciplinas deMicroeconomia, Macroeconomia, Econometria, Contabilidade Bancária e EconomiaBrasileira.

Prefácio

Compreender a economia brasileira, hoje, é, simultaneamente, uma necessidade e umdesafio. E isso para quaisquer que sejam os objetivos de vida do cidadão. Trata-se de umanecessidade, pois o Brasil, nas últimas duas décadas, vem se firmando como um atorinternacional de ponta e, consequentemente, suas ações tem tido mais impacto nos cenáriospolítico e econômico mundiais. O Brasil, sem dúvida, importa mais para as relaçõesinternacionais hoje do que em tempos mais remotos. Por outro lado, compreender aeconomia brasileira é, também, um desafio, porque o seu grau de complexidade é cada vezmais elevado, exigindo, não raro, habilidades peculiares.

Escrito em uma linguagem clara e prática, Economia Brasileira para Concursos é umaobra com uma vocação específica, todavia não excludente. Se ela se destina, precipuamente,àqueles que desejam se preparar para algum certame, ela também fornece àqueles quebuscam conhecimentos fundamentais da Ciência Econômica um referencial conciso eobjetivo que, sem dúvida, contribui para a compreensão da economia brasileira hoje.Organizado em oito capítulos e fartamente ilustrado com gráficos, tabelas e figuras,Economia Brasileira para Concursos encerra um vasto espectro de análise, associando osaspectos históricos da política econômica brasileira a conceitos basilares da teoriaeconômica. Além disso, atestando sua inclinação pedagógica, o livro está municiado deexercícios resolvidos e comentados com o fito de melhor fixar o conteúdo estudado.

A qualidade rigorosa e elegante da argumentação deriva do perfil de Amanda AiresVieira. Ainda jovem estudante de bacharelado, já debutava na pesquisa através doconcorrido Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica – PIBIC – do ConselhoNacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPq –, se debruçando sobrequestões ligadas aos processos de regionalização do Mercosul e da União Européia. Erasomente o começo de uma trajetória povoada de conquistas. Hoje, Graduada, Mestra eDoutora em Economia pela Universidade Federal de Pernambuco, a autora já acumula,apesar da pouca idade, vasta experiência acadêmica, que pode ser constatada através desuas publicações de caráter científico, seus estágios no exterior (Universität Zürich, na Suíçae Université Laval, no Canadá), sua prática docente, e sua destacada premiação nacional deEconomia Bancária concedida pela Federação Brasileira de Bancos – FEBRABAN.

Economia Brasileira para Concursos surge, assim, como uma sólida ponte deaproximação entre a Ciência Econômica e a realidade política do Brasil moderno. Sualeitura, certamente, irá facilitar o equacionamento da compreensão dos desafios que

marcaram e, ainda hoje, se perfilam no horizonte do nosso país. Boa e proveitosa leitura!

Marcelo de Almeida Medeiros, Ph.DProfessor de Ciência Política da UFPE

Pesquisador do CNPq

Apresentação

Estudar economia brasileira não é tarefa fácil. É difícil porque muitos alunos acham quea disciplina é história do Brasil disfarçada. Outros argumentam que é muito complicadoestudar economia brasileira sem saber macroeconomia.

Na verdade, eu sempre acreditei que economia brasileira seria uma aplicação damacroeconomia. Uma forma de consolidar os conceitos macroeconômicos e ver o empregodos modelos teóricos na nossa vida real.

Foi com essa busca do entendimento do que seria a economia brasileira e com anecessidade de analisar a disciplina como uma aplicação da teoria macroeconômica que eudecidi escrever este livro. Dessa forma, o livro seria uma forma híbrida, algo comomacroeconomia brasileira, ou macroeconomia: uma aplicação tupiniquim. Qualquer coisaentre essas definições atenderia aos propósitos aqui escritos.

Dessa forma, essa obra configura-se como um livro-texto para estudantes de economiabrasileira, sendo indicado para aqueles que buscam, prioritariamente, a aprovação emcertames públicos.

Com relação à organização do livro, seguiremos o horizonte temporal para facilitar acompreensão. Dessa forma, à medida que a economia brasileira for apresentada, teremosintervalos para entender algum conceito macroeconômico julgado chave para acompreensão daquele período.

Assim, este manual permitirá que os alunos estudem a parte teórica da macroeconomia e,logo em seguida, vejam a aplicação dos conceitos ao longo dos anos 1930 a 2010. Paraconsolidar os conhecimentos, os leitores terão acesso a uma vasta lista de questõescomentadas tanto de macro quanto de economia brasileira propriamente dita nos maisvariados níveis.

É com esse viés de macroeconomia brasileira que espero que você entenda o nosso livro.Desde já me ponho à disposição para quaisquer críticas e sugestões que possam contribuirpara o aperfeiçoamento desse material.

A autora

Sumário

Capa

Folha de Rosto

Cadastro

Créditos

Dedicatória

Agradecimentos

A Autora

Prefácio

Apresentação

Capítulo 1 – A grande depressão de 1929 e o processo de industrialização noBrasil

1.1. Introdução

1.2. Macroeconomia em análise: o fluxo circular da riqueza expandido e asfunções do governo

1.3. As funções e as formas de atuação do governo

1.3.1. Função distributiva

1.3.2. Função alocativa

1.3.3. Função estabilizadora

1.3.4. Função reguladora5

1.4. A nova economia industrial brasileira

1.5. Características do PSI

1.6. As dificuldades do PSI

1.6.1. Tendência ao desequilíbrio externo

1.6.2. Aumento da participação do Estado

1.6.3. Aumento do grau de concentração de renda

1.6.4. Escassez de fontes de financiamentos

Capítulo 2 – Os Anos JK e a Transição para o Regime Militar

2.1. Macroeconomia em análise: a função estabilizadora do governo. Por que ogoverno precisa interferir na economia?

2.1.1. Produto Interno Bruto – PIB

2.1.2. Política fiscal

2.1.3. Funções consumo e poupança (C, S)

2.1.4. Multiplicador dos gastos do governo

2.1.4.1. Fórmula do multiplicador dos gastos do governo

2.2. O lado monetário da economia

2.2.1. A política monetária

2.2.1.1. Tipos de moeda

2.2.1.2. Funções da moeda

2.2.1.3. Demanda e oferta de moeda

2.2.1.4. Oferta de moeda

2.2.1.4.1. Conceito e composição dos meios de pagamento

2.2.1.4.2. Banco Central do Brasil

2.2.1.4.2.1. Funções do Banco Central

2.2.1.5. Demanda por moeda

2.2.2. Os bancos comerciais criam moeda

2.2.2.1. Diagrama da oferta de moeda

2.2.2.2. Demanda por moeda

2.2.3. Equilíbrio no mercado monetário

2.3. Política monetária

2.4. O modelo IS-LM

2.4.1. A curva IS

2.4.1.1. Derivação da curva IS

2.4.1.2. A inclinação da curva IS

2.4.1.3. A posição da curva IS

2.5. A curva LM

2.5.1. Derivação da curva LM

2.5.2. A inclinação da curva LM

Capítulo 3 – Os Governos Militares – Parte 1: O Plano de Ação Econômica doGoverno

3.1. Reforma tributária

3.2. Reforma monetária-financeira

3.3. Reforma do setor externo

3.4. O milagre econômico

Capítulo 4 – Os Governos Militares – Parte 2

4.1. A economia brasileira e a última fase do regime militar: O II PND

4.2. O governo Figueiredo, a ruptura do padrão de financiamento e a décadaperdida

Capítulo 5 – A Economia Brasileira e a Nova República (1985 – 1989)

5.1. O Plano Cruzado (1986)

5.2. O Plano Bresser (1987)

5.3. O Plano Verão (1989)

5.4. Restrição cambial e crescimento econômico

5.5. O desequilíbrio do setor público

Capítulo 6 – Comportamento da Economia Brasileira entre 1990 e 1994

6.1. A primeira metade dos anos 1990

6.2. A mudança de modelo

6.3. Privatização e abertura

6.4. Os anos FHC

6.4.1. A batalha da estabilização

6.4.2. A crise em formação

6.4.3. O segundo governo FHC

6.4.4. As reformas do período

6.4.5. As privatizações

6.5. Uma década de transformações

6.6. O ajuste não foi percebido

Capítulo 7 – A Economia Brasileira Recente e as Políticas de Desenvolvimentodos Governos Lula e Dilma

7.1. O primeiro mandato do governo Lula

7.2. O segundo mandato do governo Lula

Capítulo 8 – A Crise Econômica Global de 2008

8.1. A resposta da política macroeconômica do Brasil

Referências Bibliográficas

Notas

Capítulo 1A grande depressão de 1929 e o processo deindustrialização no Brasil

Primeira página do London Herald após a queda da Bolsa de Nova York (1929).1

1.1. IntroduçãoA Grande Depressão, também chamada, por vezes, de Crise de 1929, foi um período de

prolongada recessão econômica, que teve seu marco inicial entre a quinta-feira, dia 24, e aterça-feira, dia 29 de outubro de 1929, e que persistiu ao longo da década de 1930,terminando, apenas, com a Segunda Guerra Mundial. Foi considerada a maior criseeconômica mundial do século XX.

Os dias-chave dessa crise receberam nomes especiais: o dia 24 foi chamado de “quinta-feira negra”, o dia 28 foi denominado de “segunda-feira negra” e o dia 29 ficou conhecidocomo a “terça-feira negra”, datas importantíssimas para a história econômica mundial.

A Grande Depressão teve origem nos Estados Unidos. Contudo, para entender a crise, épreciso voltar no tempo e pensar na economia mundial após a Primeira Guerra Mundial.

Com o fim da Primeira Guerra Mundial, os países europeus encontravam-se devastados,com a economia enfraquecida e com forte retração de consumo. Os Estados Unidos, por suavez, lucravam com a exportação de alimentos e produtos industrializados aos países aliadosno período pós-guerra.

Com o reestabelecimento da Europa, os Estados Unidos passaram a exportar ainda mais,para suprir a demanda do continente afetado pela guerra. Como resultado disso, entre 1918e 1928 a produção norte-americana cresceu fortemente. A prosperidade econômica gerou ochamado “american way of life” (modo de vida americano). Havia emprego, os preçoscaíam, a agricultura produzia muito e o consumo era incentivado pela expansão do créditoe pelo parcelamento do pagamento de mercadorias.

Para entender um pouco mais sobre o processo de crescimento da economia norte-americana, é preciso pensar na definição de sistema econômico. Assim, antes deanalisarmos mais economicamente o processo, é necessário entender, com detalhes, ofuncionamento da economia através do fluxo circular da riqueza expandido.

1.2. Macroeconomia em análise: o fluxo circular da riqueza expandido e asfunções do governo

É necessário compreender as interações entre os agentes econômicos, a fim de melhorentender as intervenções governamentais. Embora não seja pedida diretamente acompreensão gráfica do que ocorre em uma economia, em muitos concursos, uma vezentendida a direção e o que acontece em cada mercado, você não terá dificuldade paraverificar o que acontece em toda a economia, e poderá analisar, com tranquilidade, sedeterminada assertiva da questão está correta. Por isso, essa parte do primeiro capítulo donosso livro será destinada à compreensão geral do que estudaremos posteriormente. Umavez compreendido o “mapa da mina”, faremos menção a ele diversas vezes ao longo de todoo conteúdo do livro, para que fique bem reforçado e você possa ter uma visão ampliada.

Para compreender a macroeconomia, precisamos, inicialmente, saber o que é ummodelo: um modelo é como um mapa; ele ilustra a relação entre as coisas. Assim como ummapa não mostra todos os detalhes da paisagem, omitindo árvores e pontos menosrelevantes, o modelo simples não poderá mostrar tudo que acontece na complexidade de

um sistema econômico.2 Contudo, assim como o mapa nos leva ao local onde desejamoschegar, o modelo simples desenvolvido nessa parte permitirá uma compreensão melhor dasrelações econômicas.

Para saber o que acontece em um sistema econômico, é preciso compreender quais são osagentes econômicos que atuam nesse sistema. Um agente econômico é uma pessoa ouentidade que toma decisões econômicas. Em uma economia simplificada, dizemos queexistem quatro agentes econômicos: as famílias (que buscam maximizar o nível de satisfaçãopor meio de um processo de otimização de bem-estar individual), as firmas ou empresas(que buscam maximizar os lucros, também por meio de um processo de otimização doslucros), o governo (que busca maximizar o bem-estar social) e o resto do mundo (umarepresentação dos três agentes citados que não estão dentro do território em análise).

Esses quatro agentes interagem em espaços chamados mercados. Assim, um mercado éum local, físico ou não, no qual agentes econômicos procedem à troca de bens por umaunidade monetária ou por outros bens. Em uma economia, existirão três mercados-chave:bens e serviços (em que são comercializados os bens destinados ao consumo final), fatoresprodutivos (em que são comercializados fatores necessários à produção, como trabalho,terra e capital) e ativos financeiros (que será particionado em quatro: mercado de crédito –que atende aos consumidores; mercado de capitais – que atende às empresas; mercadomonetário – que atende ao governo; e mercado cambial – que atende ao resto do mundo).

Em uma economia, os quatro agentes (famílias, empresas, governos e resto do mundo) interagem em três mercados: bens e serviços,fatores produtivos e ativos financeiros.

Antes de estudar a crise econômica de 1929, analisaremos uma economia bem mais

simplificada. Nessa situação, existem apenas dois agentes: famílias e empresas (economiafechada – não há comunicação com o resto do mundo – e sem governo); e apenas doismercados: bens e serviços e fatores produtivos, conforme mostrado na figura a seguir,denominada fluxo circular da riqueza para uma economia fechada e sem governo.

Figura 1. Fluxo Circular da Riqueza para uma economia fechada e sem governo.

De forma simplificada, nesse fluxo circular da riqueza, as famílias são proprietárias defatores de produção (terra, capital e trabalho, e elementos utilizados na produção que nãosão exauridos ao final do processo produtivo) e os fornecem às empresas, por intermédiodo mercado dos fatores de produção. As empresas combinam os fatores de produção eproduzem bens e serviços, que são fornecidos às famílias por meio do mercado de bens eserviços. Essas são as transações que formam os fluxos reais, descritos na figura, como o fluxono interior da figura.

Assim, as empresas produzem bens e serviços e os ofertam no mercado de bens e serviços.Esses produtos serão adquiridos pelas famílias que, para poder pagar por esses bens,precisam ofertar seus fatores às empresas. Assim, a terra, o capital e o trabalho, que são depropriedade das famílias, serão utilizados pelas empresas para produzir bens e serviços, osquais serão consumidos pelas famílias. Seguindo um fluxo indefinido, que se retroalimenta.

Para cada elo do fluxo real, descrito acima, existe um fluxo monetário. Dessa forma,dizemos que os fluxos reais possuem uma contrapartida monetária, ou seja, são efetuadospagamentos na moeda corrente: as empresas remuneram as famílias quando adquirem osfatores de produção e as famílias pagam as empresas pelo consumo dos bens e serviçosproduzidos. Essas operações compõem o fluxo monetário. Você deve ter percebido que todarenda dos agentes se deve a alguma contribuição sua no processo produtivo. Por essa razão,o fluxo econômico também é denominado fluxo circular da renda. Esse fluxo monetário érepresentado na parte exterior da figura 1.

Você deve ter percebido que esse modelo não condiz com a nossa complexa realidade,mas ele cai na prova! (Veremos como, nos exercícios.)

Não é comum encontrarmos economias fechadas, sem o contato com o resto do mundo, eé ainda mais improvável encontrar uma economia sem governo. Por isso, embora bastantesimplificado e com informações bastante valiosas, o fluxo acima descrito não se reporta auma realidade factível.

Ao observarmos esse aspecto, começaremos a tornar o nosso modelo mais completo.Adicionaremos o agente GOVERNO na análise. Nessa economia, conforme mostra a figura2, a seguir, o governo não se comunica diretamente com as empresas. O único contato que oagente governo estabelece é com outro agente: família. Esse fato deve ser levado emconsideração, pois o governo deseja maximizar, entre outras coisas, o bem-estar social.

Para atingir esse objetivo, o governo deve tirar recursos das famílias ricas (através dosimpostos) e destinar às pobres (através das transferências governamentais), sendodesnecessário o contato direto com as empresas.

Um ponto importante aqui é que o governo não possui apenas a função de redistribuiçãode renda. Ele também deve exercer a função alocativa (que está associada à provisão debens públicos), a função estabilizadora (que está ligada à utilização de políticas econômicasvoltadas para a manutenção dos níveis dos indicadores macroeconômicos como inflação,desemprego e PIB) e a função reguladora (que, como o próprio nome diz, está associada àregulação da economia. O governo executará essa função por intermédio das AgênciasReguladoras).

Além de tributar e transferir recursos, o governo atua ainda na economia através dascompras governamentais de bens e serviços realizadas no mercado de bens e serviços (taiscompras podem estar associadas às funções alocativa – para o caso da construção dos benspúblicos –, ou estabilizadora – quando as compras do governo são realizadas para aquecer aeconomia através do aumento da demanda por bens). Note que, nessa economia, o governonão atua no mercado de fatores (embora essa prática não seja verificada no Brasil,adotaremos essa simplificação a fim de evitar a geração de mais problemas).

Um aspecto que você poderá notar posteriormente é que, nesse modelo, a única formaque o governo tem de se “comunicar” com as empresas é através do mercado de bens eserviços. Como, nessa economia hipotética, o governo não atua no mercado de fatores,poderá fazer essa ligação com as empresas por meio da imposição de impostos sobre os bens(não sobre os rendimentos auferidos pelas empresas) ou ainda impondo preços máximosou mínimos, além de tarifas e subsídios. Um último ponto que podemos considerar arespeito da existência do governo e de seu contato com as empresas diz respeito às comprasgovernamentais, pois o governo também compra! Tudo isso pode ser visto na figura 2,abaixo.

Figura 2. Fluxo circular da riqueza de uma economia fechada e com governo.3

Atualmente, a nossa economia começa a ficar um pouco mais alinhada com o queacontece nos sistemas econômicos mais complexos.

Observe que, apenas com esses pontos iniciais, já começamos a compreender melhor oEstado e suas funções econômicas governamentais (redução da desigualdade de renda),assim como a atuação do governo na economia (através de impostos, transferências ecompras governamentais). Entretanto, como mencionado anteriormente, essa é uma versãobastante introdutória, nada muito complexo. No decorrer do livro, vamos aprofundar essesconceitos.

Dando continuidade, precisamos verificar o surgimento do agente resto do mundo nanossa economia, até porque a maioria esmagadora dos países se comunica com outrospaíses. E como o resto do mundo se comunica com a nossa economia? Por intermédio domercado de bens e serviços, comprando produtos nacionais e vendendo produtos de outrasnacionalidades. Assim, quando o resto do mundo adquire nossas mercadorias no mercadode bens e serviços, estamos exportando, e quando o resto do mundo vende bens no nossomercado de bens e serviços, estamos importando. A figura 3 mostra o surgimento do restodo mundo na economia.

Figura 3. Fluxo circular da riqueza de uma economia aberta.

Até agora, observamos que os quatro agentes se encontram, simultaneamente, somente nomercado de bens e serviços, cabendo ao mercado de fatores a interação entre empresas efamílias, apenas.

O modelo até aqui formulado é bastante complexo, mas não mostra a totalidade dasrelações existentes entre os agentes. Isso porque, até agora, desconsideramos a existência de

um mercado vital no sistema econômico: o mercado financeiro ou de ativos financeiros.4

Assim como no mercado de bens e serviços, o mercado financeiro também conta com apresença simultânea dos quatro agentes econômicos: as famílias atuam nesse mercadoenviando a parte da renda não consumida (a poupança privada), as empresas operam nomercado através da tomada de empréstimos para investimentos e a posterior emissão detítulos da dívida e emissão de ações, enquanto o GOVERNO e o resto do mundo podemtanto tomar quanto conceder empréstimos ao sistema financeiro nacional. O fluxo circularda riqueza expandido é mostrado na figura 4.

Figura 4. Fluxo circular da riqueza de uma economia fechada e com governo.

O fluxo circular da riqueza conecta os quatro setores da economia – famílias, empresas,governos e resto do mundo – através dos três tipos de mercados: os fundos fluem dasempresas para as famílias na forma de salários (remuneração do fator produtivo trabalho),juros (remuneração do fator produtivo capital) e aluguéis (remuneração do fator produtivoterra), por meio do mercado de fatores. Depois de pagar os impostos ao governo e receberdo governo as transferências, a família aloca a renda restante, ou seja, a renda disponívelentre poupança privada e gastos com o consumo. Por meio dos mercados financeiros, apoupança privada e os fundos do resto do mundo são canalizados para gastos deinvestimentos das empresas, tomada de empréstimo pelo governo, tomada e concessão decrédito de estrangeiros e transações de estrangeiros com ações. Além disso, os fundos fluemdo governo e das famílias para as empresas, para pagar pela compra de bens e serviços.Finalmente, exportações para o resto do mundo geram um fluxo de fundos que entra naeconomia, e as importações levam a um fluxo de fundos que sai da economia.

Assim, quando os gastos de consumo são somados aos bens e serviços, aos gastos deinvestimentos pelas empresas, às compras governamentais de bens e serviços e àsexportações, e, em seguida, subtrai-se o valor das importações, o fluxo total de riquezarepresentado por esse gasto é o gasto total com bens e serviços produzido em um país, umavariável muito importante para uma economia, conforme veremos adiante. De modoequivalente, esse é o valor de todos os bens e serviços produzidos no país, isto é, o ProdutoInterno Bruto (PIB) da economia.

Toda essa explicação está, de fato, extremamente simplificada, mas, como já haviamencionado, essa é uma definição de modelo menos complexa. Porém, depois de tudo queestudamos até aqui, o que de fato nos interessa em um primeiro estágio?

É interessante que você saiba que no mercado de bens e serviços não existe apenas um

tipo de mercado, mas ALGUMAS estruturas. São elas: Concorrência Perfeita, ConcorrênciaMonopolística, Oligopólio e Monopólio. Existem ainda outras, como o oligopsônio e omonopsônio, mas essas nunca são mencionadas nas provas. Há, ainda, o mercadocontestável, mas você vai ouvir falar sobre essa estrutura quando estudar as estruturas demercado em Concorrência Perfeita. Além disso, é interessante que você compreenda comoos consumidores e as empresas atuam no mercado de bens e serviços e como o governopode influenciar esse mercado. Por fim, é importante que você observe que esses mercadospodem ter falhas e que, quando essas falhas acontecem, cabe ao governo fazer intervençõesatravés de um processo regulatório!

Exercícios1. (Analista Judiciário – Economia – STM – 2010) A respeito dos conceitos básicos da teoria econômica, julgue a

questão subsequente.No fluxo circular de bens e serviços, as empresas demandam fatores de produção que são ofertados pelasfamílias e, nesse processo, os fluxos monetários vão das empresas para as famílias.

Comentários:Para responder a questão, basta dar uma olhada no fluxo circular da riqueza mais inicial.

Agora, vamos analisar ponto a ponto o que a questão afirma: primeiro, ela chama defluxo circular de bens e serviços, o que chamamos previamente de fluxo circular dariqueza. Embora a nomenclatura seja diferente, dizem respeito ao mesmo assunto.

Continuando, a questão afirma que as empresas demandam fatores de produção que sãoofertados pelas famílias. Pelo gráfico acima, podemos perceber que isso é verdade.

Pelo corte feito no fluxo, é possível ver que as setas mostradas no interior da figurarepresentam o fluxo real de fatores, “saindo” das famílias e “entrando” nas empresas. Ouseja, as famílias estão ofertando esses fatores e as empresas estão demandando(procurando) esses mesmos fatores. A explicação para esse processo, como já vimos, é que asempresas precisam desses fatores para que seja possível realizar a produção dos bens eserviços que serão ofertados às famílias. As famílias, por sua vez, precisam ofertar essesfatores para que seja possível adquirir os bens e serviços que serão oferecidos pelasempresas.

CURIOSIDADES

Um ponto importante aqui é que você não precisará, necessariamente, fornecer o fator para a empresa que você deseja comprar algo.Por exemplo, não é porque vou jantar na Pizza Hut que preciso, depois de jantar, lavar os pratos! Na verdade, presto meu serviço paraoutra(s) empresa(s) e, com o fluxo monetário recebido pelo(s) meu(s) fator(es), posso adquirir bens e serviços em quaisquer outroslugares! Esse formato de fluxo acabou por facilitar muito o processo de trocas. Ou seja, as pessoas não ficam mais atreladas àsempresas em que trabalham!

Concluindo, a questão afirma que “e, nesse processo, os fluxos monetários vão dasempresas para as famílias”. Como podemos perceber, nesse ponto, a questão está correta!Basta observar o sentido das setas que ficam no exterior da figura, “saindo” das empresas e“entrando” nas famílias!

Gabarito: CERTA.

2. (Economia e Estatística – IJSN-ES – 2010) O modelo do fluxo circular de renda possibilita mensurar o produto daeconomia pelas despesas ou pela renda. Na visão das famílias, e considerando o fluxo circular da renda, adespesa para a aquisição de bens e serviços é equivalente ao valor recebido pela venda dos bens e serviços. Assim,produto = renda = despesa.

Comentários:A assertiva afirma que o modelo do fluxo circular de renda possibilita mensurar o

produto da economia pelas despesas ou pela renda, o que é verdade. Apenas para que vocêcompreenda melhor, eu posso medir o Produto Interno Bruto – PIB – de uma economiautilizando três óticas diferentes: a produção propriamente dita, a despesa agregada e osrendimentos. Ou seja, de acordo com essa identidade, tudo que é produzido será compradopelos agentes econômicos (as famílias realizam consumo, as empresas fazem investimentos,o governo faz compras ou gastos governamentais e o resto do mundo compra as nossas

exportações); e, para que seja possível existir o processo de compras, é preciso que osagentes econômicos possuam renda, seja ela proveniente de trabalho (salário), do fatorterra (aluguéis) ou ainda do fator capital (juros). Então, podemos dizer que toda produçãoserá igual ao somatório das despesas que, por sua vez, será igual aos rendimentos. Dessemodo, é indiferente você medir o PIB por essa ou aquela ótica – nesse caso, todos oscaminhos levam a Roma!

Dessa forma, ATÉ AQUI, nada errado! Mas a questão continua... Na visão das famílias, econsiderando o fluxo circular da renda, a despesa para a aquisição de bens e serviços éequivalente ao valor recebido pela venda dos bens e serviços. E eis que achamos o erro!Vamos ler, novamente, com cuidado.

Veja que a alternativa diz que, para as famílias, a despesa para aquisição de bens (oconsumo das famílias) será equivalente ao valor recebido pela venda de bens e serviços. Masas famílias não vendem bens e serviços! Aliás, é importante observarmos que quem vendebens e serviços é o agente econômico empresa, não o agente econômico família! Nesse caso,a alternativa é falsa, já que as famílias vendem (ou ofertam) fatores produtivos! E assim, porcausa desse detalhe que passaria perfeitamente despercebido, a questão está incorreta!

Finalmente, a assertiva diz que: Assim, produto = renda = despesa. O que é verdadeiro,conforme vimos anteriormente!

Gabarito: FALSO.

1.3. As funções e as formas de atuação do governo

Lembra dessa figura?Na verdade, o que queremos que você analise agora é a função do governo, que está

marcada com o círculo. Veja que o governo se comunica, nesse diagrama, diretamenteapenas com o agente econômico família. Nesse contato, o governo tira dinheiro das famíliasricas (família do Sr. Silva) e transfere para as famílias pobres (família da Sra. Silva). Comesse movimento, o governo executa a sua primeira função na economia: a funçãoDistributiva. Vamos entender o que é essa função.

1.3.1. Função distributivaQuando ouvimos falar em função distributiva, lembramos imediatamente de impostos e

transferências! Por que isso? Porque o governo (quando atua como um bom planejadorsocial) deseja distribuir o dinheiro para todo mundo, ora! O governo não quer que odinheiro fique concentrado na mão de umas poucas famílias, ele deseja que o dinheiro sejao mais bem- distribuído possível entre todos que fazem parte de uma economia.

Esse é o caso que citamos acima do Sr. e da Sra. Silva. O governo não quer que o dinheirofique todo na mão do Sr. Silva, e vai aplicar um imposto sobre a riqueza dele: o nossofamoso Imposto de Renda.

Assim, quando o governo estabelece alíquotas de Imposto de Renda, por exemplo, eleestá, na verdade, aplicando um instrumento para efetivar a sua função distributiva,objetivando reunir recursos para promover uma melhor distribuição de renda na sociedade.

Entretanto, apenas a aplicação do Imposto de Renda (cujas alíquotas atuais variam de7,5% a 27,5% no Brasil, a depender da renda declarada da pessoa) não indica que ogoverno conseguirá realizar uma melhor distribuição. Nesse caso, ele também tem que fazeruma política de transferências.

As transferências, por sua vez, caminham no fluxo contrário ao dos impostos (comovimos na figura acima). Elas são destinadas às pessoas que possuem menor nível derendimentos. Exemplos de transferências, no Brasil, são as nossas bolsas: bolsas de estudo,bolsa família, auxílio gás etc., etc., etc.

No caso brasileiro, infelizmente, os indicadores não corroboram muito essa função dogoverno, pois, embora tenhamos uma carga tributária semelhante à observada nos paíseseuropeus, a renda é tão mal distribuída quanto nos países africanos, ou seja, o governo tirados ricos e não consegue repassar, integralmente, para os pobres, classificando o Brasilcomo um dos países de maior desigualdade de renda no mundo.

Observando o fluxo de saída de rendimentos das famílias ricas (impostos) e entrada derendimentos nas famílias pobres (transferências), é possível perceber que a funçãodistributiva, como mostrado acima no fluxo circular da riqueza expandido, diz respeitoapenas ao contato entre governos e famílias. E é dessa forma que o governo afetadiretamente os consumidores.

Mas, analisando de uma forma mais ampla, sabemos que o governo não implementaapenas impostos sobre as famílias, ele pode (e o faz com certa frequência) aplicar impostossobre os bens também! Esses tipos de impostos não incidirão diretamente sobre oconsumidor mais rico, mas sobre toda a economia. É como se, olhando o fluxo circular dariqueza, analisássemos o governo dentro do mercado de bens e serviços, gerando alteraçõesnos preços.

A partir de então, e até o final das funções do governo, ele não irá mais afetardiretamente os consumidores, mas atuará de forma indireta, via mercado de bens eserviços. Vamos ver.

Além do Imposto de Renda, temos ainda, no Brasil, o ICMS, o ISS, o Cide, todos tributosque não incidem diretamente sobre a renda das pessoas, mas sobre o preço dos bens eserviços utilizados. Logo, seguindo esse preceito, não serão apenas as famílias ricas quepagarão os impostos, mas as famílias mais pobres também.

E como esse tipo de imposto pode gerar redução na desigualdade de renda ou melhordistribuição dos recursos? Simples, a ideia é que esses impostos sejam direcionados, viatransferências, para as famílias mais pobres, fazendo com que elas sejam mais quereembolsadas pelos gastos com impostos, sendo beneficiados pela implementação dotributo.

O funcionamento desse tipo de tributação foi visto pelo último edital. De todo modo,faremos uma revisão para que não fique nenhuma dúvida. Vamos ver isso de forma maisanalítica.

Antes de falarmos sobre impostos, é preciso compreender o que existia antes deles paraque possamos saber qual o seu impacto. Assim, primeiramente, falaremos sobre excedentesdo consumidor e do produtor. Observe que não são excessos, mas excedentes. O que fará

toda a diferença. Para entender o que isso significa, comecemos por algo tipicamentebrasileiro.

Seu time está na final do campeonato estadual e você não tem o ingresso. Aliás, osingressos estão esgotados. O que você faz? Vai para a frente do estádio negociar com ocambista, claro!

Você leva no bolso R$ 100,00 e sabe que não poderá pagar mais do que isso (até porque ocambista não aceita cartão de crédito). Os seus R$ 100,00 são o que os economistas chamamde preço reserva.

O preço reserva é quanto, no máximo, você está disposto a pagar para adquirirdeterminado bem. Nem um centavo a mais. Para isso, basta você se perguntar quantopagaria até determinado valor para ter um bem, nem R$ 1,00 a mais.

Observe no gráfico a seguir que os consumidores estariam dispostos a pagar mais do queo preço de equilíbrio. A diferença entre esses valores corresponde a uma vantagem obtidapelo consumidor.

No exemplo acima, se você comprar o ingresso por R$ 70,00, terá um ganho de R$ 30,00.Essa vantagem ocorre até a quantidade de equilíbrio. Então, a região do gráfico delimitadapelo preço de mercado e a demanda é uma medida do beneficio do consumo, denominadaexcedente do consumidor (a área acima da linha de preços e abaixo da curva de demandano gráfico).

No caso dos produtores, o raciocínio é semelhante. O benefício na venda de cadaunidade também é definido pela diferença entre o preço que eles recebem e aquele queestariam dispostos a vender cada unidade.

Pense no cambista. Ele tem um ingresso e quer vendê-lo por R$ 30,00. Caso ele consigavender por R$ 50,00, terá um ganho de R$ 20,00. Essa diferença entre o preço que se estádisposto a vender (que normalmente estará associado aos custos) e o preço de venda é oque chamamos excedente do produtor.

Assim como para os consumidores, esse benefício existe até a quantidade de equilíbrio, eé denominado excedente do produtor. Graficamente, o excedente do produtor érepresentado pela região delimitada pelo preço de equilíbrio e a curva de oferta (a áreaacima da curva de oferta e abaixo da linha de preços no gráfico).

A soma do excedente do consumidor com o excedente do produtor pode ser entendidacomo uma medida de bem-estar.

E qual a relação existente entre o excedente dos consumidores e produtores e osimpostos governamentais? É isso que veremos agora.

Imagine que o governo implemente determinado imposto. O que isso significa,economicamente? Significa que nós, consumidores, pagaremos mais e as empresasreceberão menos. No gráfico a seguir, digamos que o imposto signifique uma alíquota totalde R$ 4,00. Nesse caso, essa alíquota é mostrada, graficamente, pela linha vertical que liga ademanda e a oferta. Veremos.

Nessa situação, o que acontece?Com a nova alíquota do imposto, os consumidores pagarão agora R$ 7,00 e as empresas

receberão R$ 3,00. No gráfico abaixo os novos preços são mostrados através das setas.Qual o ganho do governo? O ganho obtido pelo governo será dado pela soma dos

quadrados (A) e (B), mostrados abaixo.

Não é difícil fazer a conta dos ganhos do governo. Basta multiplicar a alíquota pela novaquantidade vendida, como demonstrado acima. Então, se o governo colocou imposto sobreum bem, ele vai ganhar uma boa grana. Mas, e o restante da sociedade, estará feliz (emtermos de bem estar) com essa política?

A primeira consequência que podemos observar é que haverá perdas de bem-estar(perdas de excedentes) tanto para o consumidor quanto para o produtor (veja também nográfico acima). Note que quando o governo instaura um imposto, ele ganha, mas asociedade perde. Os consumidores as áreas A e C em termos de bem estar e os produtores asáreas D e B! A questão é que essas não são as únicas perdas para a sociedade! Vejamos maisdetalhadamente no gráfico a seguir.

Observe o seguinte: antes, a nossa quantidade de equilíbrio era Q0, e agora Q0 não estámais disponível. Logo, também houve outra perda de bem-estar, porque houve umalimitação da quantidade de equilíbrio, como mostram os triângulos C e D.

Agora ficou fácil conhecer o saldo do imposto para os dois agentes econômicos. Para osconsumidores, a perda é dada pela soma do quadrado (A) e do triângulo (C). Para osprodutores, a perda é dada pela soma do quadrado (B) com o triângulo (D).

Fazendo uma conta simples, temos o seguinte:

Ganho para o governo = + A + B

Perda do consumidor = – A – C

Perda do produtor = – B – D

Resultado = – C – D

Ou seja, sempre que o governo implementar um imposto, haverá perda de bem-estarpara a economia. Essa perda é chamada perda de peso morto. Entendido?Para finalizar essa parte dos impostos, a perda de peso morto dependerá da elasticidade

do preço da demanda e da oferta. Quanto mais inelásticas forem as curvas, menor será aperda de peso morto. Logo, como os bens mais necessários possuem, normalmente, a menorelasticidade-preço da demanda, tendem a ser os bens mais tributados. Assim, justifica-se aintervenção do governo na imposição de impostos na água mineral, na gasolina etc.Infelizmente, em termos econômicos, é melhor tributar a água do que o anel de brilhantes.O anel possui uma grande elasticidade-preço da demanda. A água é quase perfeitamenteinelástica.

Assim, pode-se dizer que, no Brasil, o fato de os impostos incidirem sobre os bens(principalmente os inelásticos) pode ser considerado o maior problema do sistematributário nacional, já que esses bens serão consumidos, prioritariamente, pelas camadasmais desprovidas, fazendo com que o nosso sistema de arrecadação seja bastante ineficiente.

Exercícios

1. (FCC – Assembleia Legislativa-SP – Agente Técnico Legislativo – Direito (Finanças e Orçamento) – 2010) Suponha aimposição de um imposto sobre as vendas de um bem comercializado em um mercado em concorrência perfeita. Aarrecadação tributária gerada por esse imposto será:a) inferior à soma da perda do excedente do consumidor com a perda do excedente do produtor;b) igual à perda de excedente do produtor;c) igual à soma da perda do excedente do consumidor com a perda do excedente do produtor;d) superior à soma da perda do excedente do consumidor com a perda do excedente do produtor;e) igual à perda de excedente do consumidor.

Comentários:Para começar, observe que o enunciado da questão fala a respeito da imposição de um

imposto sobre as vendas de um determinado bem, logo, não estamos falando sobre Impostode Renda (ou qualquer tipo de imposto que possa incidir na riqueza de um indivíduo), massobre o que denominamos impostos indiretos.

Quando se fala sobre imposto sobre bens, lembramos, imediatamente, de peso morto, ouaquele valor do excedente do consumidor e do excedente do produtor que fica perdidocom a imposição de um imposto. Nesse caso, é possível observar, pelos gráficos anteriores,que o ganho com a arrecadação do imposto será menor que a perda gerada por esse.

A alternativa e afirma que a arrecadação tributária será igual à perda de excedente doconsumidor. Pelo que acabamos de dizer antes, esse item é falso. Mas, contudo, ele poderiaser considerado verdadeiro se estivéssemos falando de curvas de demanda e ofertainfinitamente inelásticas (ou verticais). Nessa situação, o peso morto seria zero e, de fato, aperda de bem-estar seria exatamente igual ao ganho com a arrecadação. Essa situação, porsua vez, é algo MUITO marginal na teoria econômica. Assim, via de regra, dizemos que aarrecadação de impostos será menor que a perda social provocada, gerando, dessa forma, oque já denominamos perda de peso morto. Vejamos o gráfico a seguir.

Observe que o triângulo que tem as margens mais escuras diz respeito ao peso mortogerado pela implementação do imposto, enquanto os quadriláteros A e B mostram os

ganhos com a arrecadação dos tributos.A alternativa d afirma que a arrecadação de impostos será superior à soma da perda do

excedente do consumidor com a perda do excedente do produtor. Em hipótese alguma hágarantias de que os ganhos com a arrecadação sejam maiores que a soma dos excedentes doconsumidor e do produtor. Logo, a alternativa d é falsa!

A letra c, por sua vez, diz que o ganho com a arrecadação será igual à soma da perda doexcedente do consumidor com a perda do excedente do produtor. Essa alternativa poderiaestar certa em casos bastante específicos, em que a soma dos quadriláteros A e B coincidisse,exatamente, com a soma dos triângulos C e D. Como não existe garantia alguma de que issoacontecerá em todos os casos, a alternativa c também está incorreta.

A letra b afirma que a arrecação dos tributos será igual à perda de excedente doprodutor. Essa afirmativa, assim como na alternativa c, poderia ser verdadeira, mas sobcondições muito específicas, não valendo para os casos mais gerais.

Finalmente, a alternativa a diz que o ganho da arrecadação será inferior à soma da perdado excedente do consumidor com a perda do excedente do produtor. A diferença entre oganho do governo e a perda da sociedade é o que já denominamos, mais de uma vez, dePERDA DE PESO MORTO!

Gabarito: Letra a.

2. (FunRio – InvestRio – Economia – 2010) A carga tributária brasileira é considerada elevada vis-à-vis os bens eserviços públicos ofertados, e é superior à de outros países de renda média. Assinale a alternativa que apresentaum dos problemas associados ao sistema tributário brasileiro.a) Elevada tributação sobre a renda de pessoas físicas.b) Concentração da arrecadação na produção e circulação de bens.c) Ampla participação de impostos sobre o valor adicionado.d) Alta ineficiência no processo de arrecadação.e) Reduzida autonomia fiscal de estados e municípios.

Comentários:Observe que a questão fala sobre a arrecadação tributária e os bens e serviços ofertados

pelo governo brasileiro, ou seja, o poder de o governo promover melhor distribuição derenda.

A alternativa e afirma que esse problema está ligado à Reduzida autonomia fiscal deestados e municípios. Ora, a autonomia fiscal de estados e municípios não pode serconsiderada o fator de maior relevância na provisão de bens públicos, já que, mesmo queexistisse mais autonomia, não há garantias de que houvesse melhor provisão dos bens eserviços de utilidade pública. Logo, tal situação não está atrelada, necessariamente, a umamelhora na provisão desses tipos de bens.

A letra d, por sua vez, fala sobre a Alta ineficiência no processo de arrecadação.

No caso dessa alternativa, nem é preciso saber economia para perceber que ela é falsa,não é verdade? Logo, não é possível dizer que a nossa arrecadação tributária é ineficiente,tendo em vista que o Brasil é um dos países que mais arrecada impostos no mundo!

Para analisar a assertiva c, que afirma que é a Ampla participação de impostos sobre ovalor adicionado que gera problemas no sistema tributário nacional, precisamoscompreender, antes de mais nada, o que vem a ser valor adicionado. O box a seguir mostraessa definição.

Imagine uma economia bastante simplificada, que produza apenas um bem: o pão.Como sabemos, para produzir o pão é necessário comprar a farinha de trigo, que, por sua

vez, para ser produzida, precisará de grãos de trigo, que precisarão de sementes etc.Imagine o seguinte: para produzir R$ 1.200,00 em pães, utilizamos R$ 1.000,00 em farinha

de trigo. Agora imagine que desejamos saber qual a colaboração do setor “produção depão” para a economia. Em quanto aumentou o valor produção da economia quandodecidimos produzir pães em vez de vender apenas a farinha de trigo?

Com base no exemplo acima, é possível perceber que a economia aumentou o seu valorem R$ 200,00 com a produção de pães. Ou seja, o valor adicionado pelo setor de pães naeconomia foi de R$ 200,00.

Em termos mais técnicos, o valor adicionado reside na contribuição que cada unidadeprodutiva acrescenta sobre o insumo para repassar o bem ou serviço.

O valor adicionado pode ser expresso pela seguinte fórmula:

Valor adicionado = consumo final – somatório dosconsumos intermediários.

Compreendido? Ou seja, se o governo desejar implementar impostos sobre o valoradicionado (como o ICMS, por exemplo) para a empresa que paga impostos, ela nãopagará sobre todo o valor de suas receitas, mas tirará o valor dos insumos utilizados para aprodução do bem final.

Quando isso acontece, em vez de termos um problema na arrecadação, teremos maioreficiência na arrecadação dos impostos, por uma razão simples: se o proprietário da padarianão pagar os impostos devidos, o dono do moinho de farinha de trigo o fará, logo, ogoverno não perderá grandes somas de impostos.

Assim, pode-se dizer que haverá mais problemas no sistema tributário de um país nãoquando os impostos são arrecadados em termos de valor adicionado, mas quando há aincidência de impostos em cascata (ou impostos sobre impostos). Ou seja, o último

produtor (no nosso caso, o dono da padaria) paga todos os impostos – ou ainda quando aempresa paga impostos sobre as suas receitas totais. Assim, se o produtor deixar de pagar, ogoverno perderá todo o ganho que teria com aquela determinada cadeia produtiva, o quegera muitas perdas para ele, governo. Além disso, os produtores possuem grande incentivopara fraudar o sistema, gerando, em grande parte dos casos, forte ineficiência naarrecadação.

Logo, a alternativa c é INCORRETA.De toda forma, mesmo que, em vez de impostos sobre o valor adicionado, a questão

falasse sobre impostos em cascata, ainda assim não estaria correta, já que a imposição deimpostos em cascata não gera, necessariamente, problemas ligados à não consonância entrevalores arrecadados e valores investidos. Os impostos em cascata explicam, sim, uma maiorineficiência na arrecadação, mas não respondem ao que a questão pede!

A letra b diz que o problema é a Concentração da arrecadação na produção e circulaçãode bens. Eis aí a resposta correta! Por que ela está correta? Porque é só lembrar do quefalamos sobre impostos que incidem sobre os bens. Quanto maior for a incidência dosimpostos sobre os bens, maior tende a ser a participação da população de renda mais baixana arrecadação de impostos. Logo, em vez de ser beneficiada com a imposição de umimposto, a população de menor renda é prejudicada. Esse fato explica por que o Brasilpossui uma forte diferença entre arrecadação tributária e bens e serviços ofertados.

A letra a afirma que a Elevada tributação sobre a renda de pessoas físicas é um dosproblemas associados ao sistema tributário brasileiro. Ora, note que esse é, na verdade, ométodo mais eficiente de equalizar a renda (dentre os métodos disponíveis). Quanto maiora renda, maior a alíquota do imposto. Com isso, o sistema tributário tende a ser maisequalizado. Logo, como a alternativa a afirma que esse é um problema, ela também éINCORRETA.

Gabarito: Letra b.

3. (FGV – Sefaz-RJ – Auditor Fiscal – 2010) A respeito do sistema de tributação, analise as afirmativas a seguir:I. Um sistema eficiente nem sempre é equitativo.II. Em termos de eficiência econômica, é mais eficiente em um sistema tributário elevar a cobrança de impostos

sobre produtos com baixa elasticidade do que sobre produtos com elevada elasticidade.III. A utilização de impostos sobre valor agregado introduz o efeito cascata, que eleva a eficiência.Assinale:a) se todas as afirmativas forem verdadeiras;b) se nenhuma afirmativa for verdadeira;c) se apenas as afirmativas I e II forem verdadeiras;d) se apenas as afirmativas I e III forem verdadeiras;e) se apenas as afirmativas II e III forem verdadeiras.

Comentários:Eis a última questão sobre impostos e a intervenção do governo na economia através da

função distributiva.

Para responder o item I, você precisa conhecer o Sr. e a Sra. Silva!

Para entender melhor a situação do Sr. e da Sra. Silva, é preciso que você lembre de umconceito econômico bastante importante: o ótimo de Pareto. De acordo com Pareto, paraque um sistema seja dito eficiente, não deve existir forma de melhorar a situação de umagente econômico sem piorar a de outro.

E nessa definição, qual a palavra que aparece? EFICIENTE! Assim, no caso do Sr. e daSra. Silva, fica claro que não é um sistema equitativo, mas é, certamente, um sistemaeficiente. Logo, o item I é verdadeiro. A prova disso é o que vemos através da situação do Sr.e da Sra. Silva.

E o que dizer sobre o item II? Em termos de eficiência econômica, é mais eficiente em umsistema tributário elevar a cobrança de impostos sobre produtos com baixa elasticidade doque sobre produtos com elevada elasticidade. É preciso dizer mais alguma coisa? Não né?

Quanto menor for a elasticidade de um bem com relação aos preços, menores tendem aser as perdas de peso morto geradas pela imposição de um imposto. Se um bem possuicurvas de demanda e de oferta com elevadas elasticidades-preço, a imposição de umimposto tende a gerar grandes perdas de peso morto. Logo, a alternativa II também éverdadeira.

Com isso, já podemos excluir as letras b, d e e, restando apenas as alternativas a e c.Para ver qual é a alternativa que gabarita a questão, vamos analisar o item III. Ele diz que

A utilização de impostos sobre valor agregado introduz o efeito cascata, que eleva aeficiência. Veja que, nesse caso, a alternativa está incorreta, já que os impostos em cascatatendem a reduzir o nível de eficiência da economia, enquanto os impostos sobre o valoradicionado (como vimos acima) tendem a aumentar a efiência já que os impostos incidirãoapenas sobre o valor de fato produzido pela empresa, não por toda a receita gerada.

Assim, como o item III é falso, temos que a letra CORRETA é a c. Apenas as afirmativas I eII são VERDADEIRAS.

Gabarito: Letra c.

Além das transferências e dos impostos, o governo também pode executar a sua função

distributiva via mercado de bens e serviços, através do controle de preços – seja por preçomáximo, seja por preço mínimo.

Uma das justificativas para que o governo utilize esse modelo de política é porque nessetipo de intervenção, em muitos casos, é possível gerar melhor distribuição de recursos entreos agentes econômicos. Uma forma de constatar essa prática é a implementação de teto depreços – ou preço máximo (como os observados para o caso da energia elétrica na maiorparte dos estados) – ou a instituição de um preço mínimo, como o caso do salário mínimo,que garante uma remuneração mínima para as pessoas que possuem menor qualificação.

Ocorrerá o preço máximo quando o governo instaurar um preço acima do qualdeterminada empresa não poderá fixar o seu preço. Isso acontece frequentemente no Brasilquando falamos das empresas que transmitem energia elétrica, como vimos no exemploanterior. Quais são os efeitos da implantação de um preço máximo? Simples, vejamos com aajuda do gráfico abaixo.

Primeiro ponto que você deve ter observado: quando falamos em preço máximo, estamosfalando, necessariamente, de um preço abaixo do preço de equilíbrio? Por quê? Porque, seo governo instituísse um preço máximo acima do preço de equilíbrio, não haveria distorção,uma vez que, se colocasse um preço muito alto, as empresas desejariam produzir mais,porém os consumidores só aumentariam o seu nível de consumo por um preço mais baixo.Nesse processo de ajuste, o preço voltaria ao seu equilíbrio inicial.

Agora que você compreendeu que preço máximo é um preço necessariamente menorque o preço de equilíbrio, vamos continuar analisando.

No gráfico acima, temos P2, o preço máximo do mercado em análise. Também é possívelperceber que P2 é um nível de preços menor que o preço de equilíbrio (P3). O queacontecerá nesse caso?

Com a instauração, pelo governo, de um preço mais baixo que o preço de equilíbrio, asempresas passarão a produzir menos e os consumidores desejarão consumir mais. Nessecaso, como visto no gráfico, haverá a formação de um excesso de demanda: mais bens serãodemandados do que ofertados.

Diferentemente do que acontece em um mercado não regulado, tal intervenção gera umadistorção que só poderá ser removida do mercado caso haja uma nova intervenção dogoverno no sentido de retirar a anterior.

Com o preço mínimo, a análise é exatamente contrária ao que foi visto no caso do preçomáximo. Nessa situação, o governo instaurará um preço mínimo, por exemplo, para umvelho conhecido nosso: o salário mínimo. Você já se perguntou por que existe o saláriomínimo? Ele existe para garantir que determinados funcionários, que não têm qualificaçãosuficiente, possam ter o mínimo para garantir o seu sustento.

CURIOSIDADES

No formato existente no Brasil, hoje, o salário mínimo pode ser considerado inconstitucional, uma vez que, de acordo com aConstituição, ele deveria garantir acesso a educação, saúde, alimentação e lazer. Entretanto, com o valor atual do salário mínimo, oassalariado não consegue atender a todas as suas necessidades.

No caso do salário mínimo ou de qualquer outro preço mínimo, não teremos um preçomenor que o preço de equilíbrio, mas um preço maior, como vimos anteriormente. O efeitodo preço mínimo é mostrado no gráfico abaixo:

Observe que no caso do preço mínimo haverá a formação de um excesso de oferta, e nãoum excesso de demanda. Em consequência do aumento do preço que anteriormenteprevalecia no mercado, mais empresas buscarão aumentar o volume ofertado e menosconsumidores irão adquirir o bem.

No que se refere ao salário mínimo, o raciocínio é exatamente o inverso: com o aumentodo salário mínimo, mais pessoas procurarão ofertar a sua mão de obra e menos empresasbuscarão contratar.

Para compreender ainda melhor, vamos dar um exemplo a partir de duas questões doCespe.

Exercícios1. (Cearáportos – Economia – Analista de Desenvolvimento Logístico – 2004) O binômio referente à escassez e à

escolha sintetiza o problema central da ciência econômica. A esse respeito, julgue a questão a seguir.

Políticas de salário mínimo, que levem à fixação das remunerações substancialmente acima daquelas queprevaleceriam no livre mercado, conduzem a economia para um ponto situado no interior da curva de possibilidadede produção.

Comentários:Analise o seguinte: se o governo aumentar os salários a partir de um aumento dos salários

mínimos, por exemplo, o que acontecerá? Mais pessoas desejarão trabalhar com esse salárioe menos empresas irão contratar, certo? Nesse caso, haverá excesso de oferta por parte dostrabalhadores. Em razão do aumento dos salários, menos vagas de trabalho estarãodisponíveis, logo, teremos trabalhadores desempregados.

Se você lembrar-se da curva de possibilidade de produção, vai recordar que só é possivelser eficiente se TODOS os fatores produtivos estiverem empregados. Com o aumento dosalário mínimo, isso gerará desemprego e o desemprego fará com que a economia se movapara um ponto dentro da curva de possibilidades de produção.

Gabarito: VERDADEIRA.

2. (Cespe – DPF – Escrivão – Polícia Federal – 2009) Julgue o próximo item, relativo ao estabelecimento de quotas epreços máximos e mínimos.Quando o governo adota uma política de preços mínimos para determinado produto, com vistas à garantia derenda e ao estímulo da produção, ao optar pela política de compra, pagará ao produtor a diferença entre o preçopago pelo consumidor no mercado e o preço mínimo definido.

Comentários:Observe, na questão acima, que o governo implementa uma política de preços mínimos.

Em princípio, o que esse procedimento gerará? Como vimos, gerará excesso de oferta. Aquestão diz que o excesso de oferta será comprado pela diferença entre o preço pago peloconsumidor no mercado e o preço mínimo definido, o que não é verdade, pois o preçopago pelo consumidor é exatamente o preço mínimo, e, nesse caso, o governo pagaria zero.Absolutamente!

Portanto, para que o governo possa manter a renda da economia, ele deverá pagarexatamente o preço mínimo, não a diferença.

Gabarito: FALSO.

Para terminar as formas de atuação do governo referentes à execução da funçãodistributiva, precisamos analisar os três últimos itens: os subsídios, as tarifas e as quotas.Como são itens de menor conteúdo, estão agrupados.

O subsídio é exatamente o oposto do que foi visto no imposto. Se a alíquota do impostopode ser vista como uma perda social, o imposto é visto como o ganho. Contudo, de formacontrária ao que acontece no caso do imposto, o subsídio aumenta a quantidade deequilíbrio.

As quotas referem-se à limitação da quantidade produzida. Nesse caso, embora asempresas desejem comercializar os bens, não poderão, porque o governo limita aquantidade.

Por fim, com relação às tarifas, elas são implementadas principalmente no comércioentre os países – são nada menos que um aumento de preços dos bens importados. Essaprática ajuda a aumentar a produção doméstica, além de gerar ganhos para os empresários.

Resumindo, toda vez que falarmos sobre a função distributiva do governo, é importante que você lembre primeiramente do objetivo:equidade de renda. Depois, você deve recordar as formas de atuação: impostos, transferências, preço máximo, preço mínimo. Háainda os subsídios, tarifas e as quotas que podem ser utilizados como formas de atuação.

1.3.2. Função alocativaAgora que já compreendemos de que forma o governo diminui a desigualdade de renda,

vamos compreender como o governo atua no sentido de prover bens e serviços públicos.Essa ação é o que chamamos de função alocativa.

Muitos alunos confundem as funções alocativa e distributiva, desempenhadas pelogoverno, já que são bastante semelhantes em um ponto: visam melhorar a qualidade de vidada população de menor renda. Contudo, diferentemente da função distributiva, a função

alocativa está ligada à atuação do governo enquanto provedor de bens públicos ousemipúblicos.

Antes de continuar, vale aqui uma explicação simples sobre os bens públicos. De maneiradiferente do que você viu no direito, em economia, um bem público pode ter origemprivada (embora na maior parte dos casos não haja a produção de bens públicos poragentes privados). Assim, um bem público é qualquer bem que seja não excludente (ou seja,de acordo com o Krugman, o fornecedor não pode impedir o consumo do bem por pessoasque não pagam por ele) e não rival (ou seja, ainda de acordo com o Krugman, quando maisde uma pessoa pode consumir a mesma unidade do bem ao mesmo tempo). Um bomexemplo de bens públicos puros seria o farol de navegação marítima. O produtor do farolnão pode impedir que os navios se guiem por ele. Além disso, o fato de uma pessoa utilizaro farol como guia não impede que outra também o utilize.

De fato não é simples encontrar um bem público puro, por essa razão, além de prover obem público puro, o governo também oferece os bens semipúblicos (bens que são rivais enão excludentes ou não rivais e excludentes).

Dessa forma, quando o governo produz, por exemplo, saúde pública, está atuandosegundo a sua função alocativa. É ainda dentro da função alocativa que podemos chamar ogoverno de produtor. Quando produz determinados bens, o governo acaba por proverprodutos e serviços que, no livre mercado, não seriam oferecidos pelas empresas.

Note que, no caso da execução da função alocativa, o governo não entra em contatodireto com qualquer agente econômico. Ele o faz de forma indireta, atuando no mercadode bens e serviços.

Para melhor compreensão do assunto, veja o exercício abaixo.

Exercícios1. (Cesgranrio – BNDES – Engenheiro – 2011) Uma característica fundamental de um bem ou serviço público é a não

rivalidade, isto é, ser:a) usado ou consumido por todos, a custo social zero;b) usado ou consumido por alguém, sem impossibilitar outro de fazê-lo também;c) produzido tanto por empresas públicas quanto por empresas privadas;d) produzido para mercados cooperativos, e não para mercados competitivos;e) difícil impedir que uma pessoa não o use, se assim o desejar.

Comentários:Observe na questão a definição que vimos antes.Um bem é não rival se, de acordo com o Krugman, mais de uma pessoa pode consumir a

mesma unidade do bem ao mesmo tempo. A partir dessa definição, vamos analisar cadauma das alternativas.

A letra a afirma que um bem é não rival se ele pode ser usado ou consumido por todos, acusto social zero. Definição importante: Custo social. Esse custo é dado pela soma do custo

privado com o custo externo (o custo gerado ao meio ambiente, por exemplo, quando háprodução de um bem. A poluição seria um bom exemplo para isso). Logo, se há produçãode um bem, mesmo que não exista o custo externo, existirá, necessariamente, o custoprivado (ou o custo de produção). Dessa forma, a alternativa está errada, por duas razões:(i) o custo social não é zero quando há utilização do bem; (ii) essa definição não está ligadaao conceito de não rivalidade.

A letra b diz que a não rivalidade é quando um bem pode ser usado ou consumido poralguém, sem impossibilitar outro de também fazê-lo. Ou seja, a alternativa b é justamente acorreta. Ela traz, em sua essência, todas as informações necessárias para que vocêcompreenda o que é a não rivalidade.

A alternativa c diz que a característica de não rivalidade de um bem público é quandoesse bem pode ser produzido tanto por empresas públicas quanto por empresas privadas. Aprincípio você pode pensar que essa é a alternativa verdadeira, já que os bens públicospodem, de fato, ser produzidos tanto por empresas públicas quanto por empresas privadas.Mas a questão fala, especificamente, sobre a característica da não rivalidade e, sobre isso, aalternativa não atende o que é solicitado. Logo, a alternativa c é falsa.

A alternativa d, por sua vez, afirma que a característica da não rivalidade é quando o bempúblico é produzido para mercados cooperativos, e não para mercados competitivos. Vejaque essa definição está extremamente distante do que vimos até então. Na verdade, ela nãocorresponde de modo algum ao que vimos anteriormente. Os bens públicos são produzidosnão para mercados, mas para agentes econômicos.

Finalmente, a letra e afirma que a característica da não rivalidade é quando é difícilimpedir que uma pessoa não o use, se assim o desejar. Difícil? Como assim, difícil? Naverdade, é impossível impedir que determinada pessoa utilize o bem. Essa é a definição denão rivalidade. Não que seja difícil, é simplesmente impossível proceder dessa maneira.

Gabarito: Letra b.Outra forma de atuação do governo quando da execução da função alocativa pode ser

observada através da emissão de subsídios às empresas. Nesse caso, o governo acaba gerandouma conexão direta com as empresas, provocando o aparecimento de uma nova seta nodiagrama do fluxo circular da riqueza, como vemos abaixo.

No caso acima, podemos observar claramente que esse tipo de intervenção governamentalfere o princípio do fluxo circular da riqueza justamente por cortar o círculo gerado. Emmuitos casos, o governo realiza esse tipo de intervenção via isenção de impostos,incentivando as empresas a produzir bens que seriam providos pela iniciativa pública.

Finalmente, vale notar que, muitas vezes, quando o governo executa a função alocativa,está também executando a função distributiva, já que está produzindo bens públicos queatendem à população de menor faixa de renda (como hospitais públicos, escolas públicasetc.), e acaba por melhor distribuir os recursos da economia também.

1.3.3. Função estabilizadoraEsta é uma função que o governo realiza na macroeconomia. Ele estabiliza o que

chamamos de ciclos econômicos. De que maneira?Simples: Todo mundo quer que o PIB (Produto Interno Bruto) do Brasil cresça 15% ao

ano. Certo? Com o crescimento do PIB, mais produtos são gerados, mais empregos sãocriados. O Brasil entra em um círculo virtuoso de crescimento. Mas qual o risco de crescerassim?

O risco é que tal crescimento, quando não realizado de forma sustentável, pode gerarinflação ou ainda uma recessão em um período posterior, o que seria muito ruim para asociedade.

Por esse motivo, o governo busca estabilizar a economia para que ela nem cresça de formadesordenada nem entre em uma recessão extrema.

Para executar a função estabilizadora, o governo utiliza o que chamamos de políticas

econômicas. As duas mais conhecidas são as políticas fiscal e monetária. A primeira é aatuação direta do governo no mercado de bens e serviços. A segunda é a atuação nomercado monetário (uma parte do mercado de ativos financeiros). Por hora, precisamosque você compreenda que, quando falamos em função estabilizadora, estamos falando daintervenção do governo na macroconomia, não na micro, como vimos com as funçõesdistributiva e alocativa.

A seguir, exercícios sobre as três funções estudadas.

Exercícios1. (FGV – Badesc – Economista – 2010) As funções do governo são:

X. alocativa;Y. distributiva;Z. estabilizadora.Em relação a essas funções são feitas as afirmativas a seguir.I. Utiliza os instrumentos macroeconômicos para manter adequado o nível de utilização dos recursos produtivos,

sem criar problemas inflacionários.II. Deve contrabalançar os princípios da equidade e eficiência de forma a não criar incentivos perversos para os

recipientes ou financiadores de políticas sociais.III. Estabelece incentivos para resolver problemas de ineficência em determinados mercados microeconômicos.Assinale a alternativa que apresenta a combinação correta entre as funções e as afirmativas.a) X-I, Y-II e Z-III;b) X-III, Y-II e Z-I;c) X-I, Y-III e Z-II;d) X-II, Y-I e Z-I;e) X-III, Y-I e Z-II.

Comentários:Essa questão é bem interessante, porque ela busca as palavras-chave que ligam as funções

do governo.O item I diz que o governo Utiliza os instrumentos macroeconômicos para manter

adequado o nível de utilização dos recursos produtivos, sem criar problemas inflacionários.Se a questão falou em instrumentos macroeconômicos, não há o que pensar, FunçãoEstabilizadora. Logo, Z-I.

Apenas com essa explicação, podemos excluir as alternativas a, c e e, restando somente asalternativas b e d.

O item II afirma que o governo Deve contrabalançar os princípios da equidade eeficiência de forma a não criar incentivos perversos para os recipientes ou financiadores depolíticas sociais. Falou-se em EQUIDADE? Vamos lembrar de quem? Da FunçãoDistributiva. Ora, o governo quer, através de impostos e transferências, reduzir a diferençade renda entre os ricos e os pobres sem gerar problemas sociais (ou grandes perdas de pesomorto.). Assim, Y-II também está correto.

Apenas com essas duas ligações, já podemos perceber que a alternativa CORRETA é aletra b. E para terminar a análise, vejamos o item III.

O item III afirma que o governo Estabelece incentivos para resolver problemas deineficência em determinados mercados microeconômicos. Esse será o caso da funçãoalocativa, que é utilizada pelo governo quando esse deseja reduzir as falhas de mercado coma provisão dos bens públicos!

Gabarito: Letra b.

2. (InvestRio – FunRio – Economia – 2010) Utilização de transferências, produção e provisão de bens ou serviçospúblicos e o uso da política econômica visando proteger a de flutua ções bruscas são conceitos ligados,respectivamente, às seguintes funções básicas da política fiscal:a) função alocativa – função produtiva – função estabilizadora;b) função estabilizadora – função alocativa – função distributiva;c) função alocativa – função distributiva – função estabilizadora;d) função distributiva – função alocativa – função estabilizadora;e) função distributiva – função estabilizadora – função alocativa.

Comentários:Vejamos o enunciado. Primeiro ele fala sobre: Utilização de transferências. Qual a

função do governo que fala de transferências? A FUNÇÃO DISTRIBUTIVA.Continuando, o enunciado fala sobre produção e provisão de bens ou serviços públicos.

Que função é essa? FUNÇÃO ALOCATIVA.Por fim, o enunciado fala sobre o uso da política econômica visando proteger de

flutuações bruscas. Tem o que pensar? FUNÇÃO ESTABILIZADORA.Gabarito: Letra d.

1.3.4. Função reguladora5

Antes de falarmos sobre a função reguladora propriamente dita, é preciso que você noteque na questão anterior ela não foi considerada como uma das funções do governo. Emborasua importância seja cada vez maior na economia, ainda não existe concordância entre oseconomistas sobre sua caracterização ou não como função do governo. Em alguns casos, elaé considerada como função do governo. Dessa forma, se na prova aparecerem apenas as trêsprimeiras funções, considere a alternativa como correta. Se aparecerem as quatro funções,considere essa a alternativa correta.

Primeiro ponto que precisamos saber: Por que os governos regulam?No Brasi, a preocupação com a regulação tem crescido ao longo dos últimos 20 anos.

Desde o governo Collor, em que se iniciou o processo de privatizações no país, a provisão deserviços de utilidade pública (como energia, telefonia, gás etc.) tem sido realizada porempresas privadas. Assim, para evitar que tais empresas realizem práticas abusivas, ogoverno atua na economia, regulando as suas ações.

Uma informação importante e que nem sempre é de conhecimento geral diz respeito aoprocesso de privatização. Veja que, nesse processo, o governo não deixa de ser o titular doserviço prestado. Na verdade, com a privatização, o governo apenas muda de posição: deixade ser o provedor ou prestador do serviço, e passa a ser o cedente (cede o direito deproduzir determinado bem ou serviço) e o regulador (verifica se os preços ou tarifascobrados estão de acordo com as estruturas de custos da empresa).

Entretanto, não são apenas as empresas privatizadas que sofrem regulação. Todo equalquer ato de empresas privadas que possam ser caracterizados como abusivos sãoanalisados pelo governo na implementação de sua função reguladora. Um exemplo não tãorecente diz respeito à parceria entre Tam e Gol na oferta de serviços de voos comerciais.Embora tal prática fosse extremamente interessante para as duas empresas, não foiautorizada pelo governo, uma vez que poderia caracterizar a formação de um cartel dentrodo setor aéreo comercial brasileiro.

Assim, seja regulando empresas privatizadas ou empresas privadas, o governo, por meioda função reguladora, consegue manter o grau de concorrência nos mercados, o que geraganhos de eficiência, originando, de forma mais ampla, ganhos de bem-estar.

Para que seja possível regular os mercados, é preciso que o governo utilize instrumentos.Entre os instrumentos mais frequentes citados nas provas de concurso, as AgênciasReguladoras se destacam, por se encarregarem de zelar pelo interesse público, garantindo o

fornecimento, a qualidade do serviço e a adequação das tarifas empregadas. De acordo como professor Heber Carvalho, os principais objetivos da regulação são:

• o bem-estar do consumidor;• a melhoria da eficiência alocativa, em que se realiza o maior volume de transações

econômicas, com a geração da maior renda agregada possível;• a melhoria da eficiência distributiva, em que, em virtude da regulação, é reduzida a

capacidade do produtor de apropriar excedentes econômicos;• a melhoria da eficiência produtiva, em que se busca o máximo de rendimento ao

menor custo;• a universalização e qualidade dos serviços (a serem prestados por um preço justo, não

o menor possível);• a interconexão entre os diferentes provedores (interoperabilidade da rede pública);• a segurança e proteção ambiental;• o estabelecimento de regras de concorrência, definindo quais mercados serão abertos,

para quantos concorrentes e como assegurar uma justa competição;• a determinação da estrutura tarifária, principalmente no que diz respeito ao tipo de

mecanismo de controle das tarifas dos segmentos regulamentados.Abaixo, vemos as principais funções do órgão regulador:

• a defesa e a interpretação das regras, além da sugestão de novas regras que facilitem asrelações que resolvam os conflitos entre os atores – incluindo os conflitos com o poderconcedente;

• a definição operacional de alguns conceitos fundamentais a serem incluí dos noscontratos de concessão;

• a investigação e a denúncia de atividades anticompetitivas ou abuso do monopólioconcedido (esse último ponto vale, principalmente, para as empresas privatizadas emque o serviço de utilidade pública é unicamente oferecido por elas).

• Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel): autarquia que tem como funçãoimplementar a política nacional de energia elétrica, assim como fiscalizar as atividadesdo setor e prevenir e repreender as infrações da ordem econômica, respeitando o que forde competência do Cade, além de participar das licitações de contratos de concessão deenergia elétrica.

• Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel): autarquia destinada a coordenar areestruturação do sistema de telecomunicações, além de participar das licitações decontratos de concessão de telefonia.

• Agência Nacional do Petróleo (ANP): autarquia vinculada ao Ministério de Minas eEnergia, que fiscaliza e regula as atividades relacionadas à indústria petrolífera.

• Agência Nacional de Saúde (ANS): autarquia vinculada ao Ministério da Saúde, que

controla e regula a relação entre prestadores e consumidores na área da saúde.• Superintendência de Seguros Privados (Susep): órgão do Ministério da Fazenda

responsável por fiscalizar o mercado de seguros e previdências privadas.• Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade): autarquia vinculada ao Ministério

da Justiça, que pune infrações à ordem econômica, controla condutas e previne atos deconcentração que possam apresentar danos à concorrência.

Exercícios1. (Cespe – DPU – Economista – 2010) Acerca do papel do governo na economia, assinale a opção CORRETA.

a) Se o objetivo da política econômica consiste em aumentar o nível de investimento do país, a autoridadegovernamental deverá reduzir a poupança bruta do setor privado, aumentar o saldo do governo em conta-correntee aumentar o déficit do Balanço de Pagamentos em transações correntes.

b) Para uma economia cuja finalidade da política econômica seja fazer a distribuição equitativa da renda, o governodeve adotar tributos indiretos e taxas proporcionais.

c) A existência de falhas de mercado que levem à desigualdade na distribuição da riqueza não está relacionada aosobjetivos do Estado, quais sejam eficiência, equidade e estabilidade.

d) Por eficiência, entende-se que os impostos devem ser progressivos, isto é, os agentes que recebem as maioresrendas devem se enquadrar em uma faixa de tributação mais elevada.

e) As políticas macroeconômicas de estabilização e crescimento econômico incluem as políticas fiscal e monetária,envolvendo o poder de cobrar impostos e a determinação da oferta de moeda e da sensibilidade da economia àstaxas de juros.

Comentários:Não iremos analisar a letra a pois o assunto abordado difere do que precisaremos

abordar para as provas. Então, foquemos nas demais alternativas a respeito do papel dogoverno.

A letra b diz que Para uma economia cuja finalidade da política econômica seja fazer adistribuição equitativa da renda, o governo deve adotar tributos indiretos e taxasproporcionais. Os impostos indiretos é o que já conhecemos como impostos sobre os bens.O que acontece quando o governo implementa impostos que incidem sobre os bens? Osmenos favorecidos arcam com a maior parte dos impostos, ou seja, em vez de melhorar adistribuição de renda, a existência de impostos indiretos tende a não reduzir a diferença derenda entre os agentes econômicos, podendo ainda aumentá-la, caso a distribuição não sejarealizada de forma adequada.

Dessa forma, a alternativa b está incorreta. Para que ela pudesse ser considerada correta,deveria afirmar que: Para uma economia cuja finalidade da política econômica seja fazer adistribuição equitativa da renda, o governo deve adotar tributos DIRETOS e taxasproporcionais.

Observação: A questão das taxas proporcionais está correta (seria como um Imposto deRenda).

A assertiva c diz que A existência de falhas de mercado que levem à desigualdade nadistribuição da riqueza não está relacionada aos objetivos do Estado, quais sejam eficiência,equidade e estabilidade. Essa aqui é muito boa! Primeiro: falhas de mercado acontecemquando o mercado, por alguma razão, não é capaz de funcionar adequadamente. Exemplo:Quando alguma empresa produz um determinado bem emitindo poluição no meioambiente. Nesse caso, cabe ao governo atuar no sentido de regular o mercado para que aempresa geradora de tal falha seja responsabilizada. Logo, podemos perceber que aalternativa é falsa, já que esse fato está diretamente ligado aos objetivos do Estado ou, parasimplificar em economia, do governo.

Porém, esse não é o único erro da alternativa. Ela afirma ainda que as funções do governosão eficiência, equidade e estabilidade.

Vimos que o governo possui quatro funções bem distintas:• Função Distributiva.• Função Alocativa.• Função Estabilizadora.• Função Reguladora.

Assim, apenas sabendo as funções do governo, podemos concluir que a alternativa estáincorreta.

A letra d afirma que Por eficiência, entende-se que os impostos devem ser progressivos,isto é, os agentes que recebem as maiores rendas devem se enquadrar em uma faixa detributação mais elevada. Essa aqui é aquela que nós chamamos de casca de banana! Paraque a alternativa estivesse certa, seria preciso que a palavra EFICIÊNCIA fosse trocada porEQUIDADE: Por equidade, entende-se que os impostos devem ser progressivos, isto é, osagentes que recebem as maiores rendas devem se enquadrar em uma faixa de tributaçãomais elevada.

O erro da questão é que ela dá a definição de equidade como se fosse de eficiência.Quem fala de redução de desigualdade é a equidade, não a eficiência.

Por fim, a letra e, que é a alternativa CORRETA. Ela diz que As políticasmacroeconômicas de estabilização e crescimento econômico incluem as políticas fiscal emonetária, envolvendo o poder de cobrar impostos e a determinação da oferta de moeda eda sensibilidade da economia às taxas de juros, o que está correto.

Gabarito: Letra e.

2. (Secont-ES – Ciências Econômicas – Auditor do Estado – 2009) A respeito da função de regulação do Estado e daatuação das agências reguladoras, julgue a questão a seguir.Com a introdução do conceito de Estado regulador, foi alterada a suposição de que os serviços públicos devemnecessariamente ser prestados diretamente pelos agentes públicos ou órgãos da Administração direta.

Comentários:A questão fala primeiro do surgimento da função reguladora do governo. Em seguida,

afirma que esse aparecimento desvinculou a provisão de serviços públicos pelos agentespúblicos ou órgãos da Administração direta, o que é verdadeiro. Lembre-se de que, nessasituação, embora o governo continue a ser o titular do serviço prestado, ele não é mais oprestador, cabendo à administração privada o fornecimento do bem ou serviço.

Logo, apenas a partir da função reguladora é que desvinculamos a prestação de serviçospúblicos dos órgãos estritamente públicos.

Gabarito: VERDADEIRA.

3. (Secont-ES – Ciências Econômicas – Auditor do Estado – 2009) A respeito da função de regulação do Estado e daatuação das agências reguladoras, julgue a questão a seguir.A CF veda que o Estado brasileiro atue diretamente no domínio econômico, explorando atividade econômica denatureza lucrativa, em qualquer situação.

Comentários:Economia não é Direito. Ou seja, quando se diz que o governo está atuando diretamente

na economia, isso pode ocorrer via empresas estatais (que caracterizariam a Administraçãoindireta). Dessa forma, seja via empresa ou não, diremos que há intervenção direta dogoverno na economia. As intervenções indiretas seriam via subsídios, por exemplo.

Logo, o governo pode, sim, atuar dentro do domínio econômico, gerando lucros para asnossas estatais.

Gabarito: FALSO.

1.4. A nova economia industrial brasileiraAgora que já entendemos o funcionamento geral do fluxo circular da riqueza expandido,

precisamos entender, com mais detalhes, como funcionava a economia mundial antes de1929.

No fluxo circular da riqueza abaixo, podemos observar o processo de aquecimento daeconomia norte-americana sendo alimentado pelas demandas do resto do mundo.

De acordo com o texto, houve aumento das exportações dos Estados Unidos para o restodo mundo em razão do período pós-guerra na Europa (o que leva ao envio de bens e aorecebimento de moeda – mostrado no fluxo acima como uma entrada do resto do mundopara o mercado de bens e serviços norte-americano).

Com isso, houve também um aquecimento no mercado de bens e serviços norte-americano, o que gera, por fim, aumento na produção, que por sua vez provoca aumentono volume de empregos, o que gera mais renda e aquece o consumo, levando, assim, a umefeito de mais aquecimento na economia daquele país.

Ainda como mencionado acima, não bastasse esse aumento via resto do mundo nosEstados Unidos, houve ainda incentivo ao consumo por parte do governo via expansão docrédito e pelo parcelamento do pagamento de mercadorias, o que levou a um crescimentoainda maior da produção e, em consequência, do consumo e da renda norte-americana.

Enquanto os Estados Unidos viviam um período de prosperidade, no Brasil passávamospor uma situação um tanto diferente. Com uma economia puramente agroexportadorabaseada na produção de café, o Brasil vinha, desde o início do século XX, observando umdesaquecimento de suas exportações para o resto do mundo.

Embora os Estados Unidos continuassem a importar nossa commodity, o aumento doconsumo era sempre menor que o aumento da produção. Assim, a partir do ano de 1906

(com o convênio de Taubaté) observou-se a necessidade da compra dos excessos daprodução pelo Governo Federal para que fosse possível garantir os empregos da mão deobra e a lucratividade do setor.

Com a política implementada pelo governo, os produtores de café entendiam de formaincorreta os recados do mercado: como os preços eram garantidos pelo governo (que, nessaépoca, era composto pela oligarquia produtora), os produtores de café passavam a produzirainda mais, gerando excedentes maiores, que seriam absorvidos pelo governo durante aRepública do Café com Leite.

Com o passar dos anos e o distanciamento dos efeitos da Primeira Guerra Mundial, aeconomia europeia se restabeleceu e passou a importar cada vez menos dos Estados Unidos.Com a retração do consumo na Europa, as indústrias norte-americanas não tinham maispara quem vender. Havia mais mercadorias que consumidores, ou seja, a oferta era maiorque a demanda. Com efeito, houve uma redução dos preços e da quantidade vendida, o quegerou um desaquecimento no mercado de bens e serviços dos Estados Unidos, levando auma forte redução da produção, o que acarretou redução do nível de emprego, da renda edo consumo. Ou seja, um círculo vicioso.

Como consequência desse fluxo, houve a queda dos lucros, a retração geral da produçãoindustrial e a paralisação do comércio, que resultaram na queda abrupta nos preços dasações da bolsa de valores e, mais tarde, na quebra da própria bolsa. Portanto, a crise de1929 foi uma crise de superprodução.

Dessa forma, o dia 24 de outubro de 1929 é considerado popularmente o início da

Grande Depressão, mas a produção industrial americana já havia começado a cair a partirde julho do mesmo ano, causando um período de leve recessão econômica que se estendeuaté 24 de outubro, quando valores de ações na bolsa de valores de Nova Iorque, a New YorkStock Exchange, caíram drasticamente, desencadeando a Quinta-Feira Negra.

Apenas para que você compreenda melhor os efeitos da crise, nos Estados Unidos aspessoas físicas possuem boa parte de suas poupanças aplicadas no mercado de ações,diferentemente do que acontece no Brasil. Com a redução dos lucros das empresas, asações, que são parcelas das empresas, passam a valer menos (você seria sócio de umaempresa que anda “mal das pernas”?). Assim, quando a lucratividade das empresascomeçou a cair, as pessoas passaram a, rapidamente, vender as suas ações, levando ao efeito“manada”, com todos os acionistas vendendo, simultaneamente, seus ativos. Com isso, ospreços das ações viraram “pó”.

Desse modo, milhares de acionistas perderam, literalmente da noite para o dia, grandessomas em dinheiro. Essa quebra na bolsa de valores de Nova Iorque piorou drasticamenteos efeitos da recessão já existente, causando grande inflação e queda nas taxas de venda deprodutos, que por sua vez obrigaram o fechamento de inúmeras empresas comerciais eindustriais, elevando assim de forma radical as taxas de desemprego. O colapso continuouna Segunda-Feira Negra (dia 28 de outubro) e Terça-Feira Negra (dia 29).

Outro aspecto que vem sendo apontado como uma das possíveis causas da GrandeDepressão nos anos 1930 foi a superprodução, provocada pelos grandes ganhos deprodutividade industrial, obtidos com os benefícios tecnológicos do taylorismo. Tanto Fordquanto Keynes já vinham há algum tempo alertando, sem serem ouvidos, que “a aceleraçãodos ganhos de produtividade provocada pela revolução taylorista levaria a uma gigantescacrise de superprodução se não fosse encontrada uma contrapartida em uma revoluçãoparalela do lado da demanda” que permitisse a redistribuição dos ganhos de produtividadecausados pelo taylorismo, de forma que houvesse redistribuição dessa nova renda gerada,para dirigi-la ao consumo. A Grande Depressão é considerada o pior e o mais longoperíodo de recessão econômica do século XX. Este período de depressão econômica causoualtas taxas de desemprego, quedas drásticas do PIB de diversos países, bem como quedasradicais na produção industrial, preços de ações e em praticamente todo medidor deatividade econômica, em diversos países no mundo.

Os efeitos da Grande Depressão foram sentidos no mundo inteiro. Essas consequências,bem como suas intensidades, variaram de país para país. Além dos Estados Unidos, aAlemanha, Países Baixos, Austrália, França, Itália, o Reino Unido e o Canadá foramfortemente atingidos pela crise.

Os efeitos negativos da Grande Depressão alcançaram o ápice nos Estados Unidos em1933. Naquele ano, o presidente americano Franklin Delano Roosevelt aprovou uma sériede medidas, conhecidas como New Deal. Essas políticas econômicas, adotadas quase

simultaneamente por Roosevelt, nos Estados Unidos, e por Hjalmar Schacht, na Alemanha,foram, três anos mais tarde, racionalizadas por Keynes em sua obra clássica A teoria geral doemprego do juro e da moeda, obra até hoje lida em todas as universidades de economia nomundo todo.

O New Deal, com outros programas de ajuda social, realizado por todos os estadosamericanos, ajudou a minimizar os efeitos da Depressão a partir de 1933. A maioria dospaíses atingidos pela Grande Depressão começou a recuperar-se economicamente desdeentão.

No Brasil, a Grande Depressão, inicialmente, também provocou efeitos significativos. Apartir da retração da economia mundial, e mais especialmente dos Estados Unidos, omercado consumidor se retraiu. E mais: nesse período, tivemos ainda crescimentoexpressivo da produção de café. Com a redução da demanda e o aumento da oferta, o paíspassou a sofrer, rapidamente, os efeitos da crise de 1929.

Nesse período, passávamos também por mudanças políticas: após a república “café comleite”, ingressávamos em uma nova era, com a posse do presidente gaúcho Getúlio Vargas.

Diante do quadro de total retração econômica mundial, Vargas adotou diversas políticasvisando ir de encontro ao ciclo de depressão mundial. Essas políticas, ratificadas por Keynes,proporcionaram ao Brasil uma posição de vanguarda no que diz respeito às políticaseconômicas dirigidas pelo governo central.

Porém, antes de comentarmos as mudanças instituídas por Vargas, vamos obsevar comonosso PIB se comportou nos últimos anos.

Fonte: A. Gremaud, Economia brasileira contemporânea.

Uma leitura rápida do gráfico mostra que o PIB brasileiro variou MUITO ao longo dosanos. Para sermos mais específicos, note que durante a crise de 1930 tivemos uma dasmaiores recessões vividas pelo país, comparada, apenas, à situação no final do regimemilitar (crise da dívida externa) e do governo Collor – assuntos que serão estudados mais àfrente.

Quando chegou ao poder, Vargas observou que não era mais possível manter umaeconomia voltada para fora, ou para o comércio exterior. Com a recessão mundialacentuada, o nosso café não tinha mais espaço nos mercados internacionais. Era precisopensar em dinamizar a economia interna, para que pudéssemos responder à criseinternacional.

Nesse sentido, a primeira política adotada por Vargas foi a política de manutenção darenda.

Essa é uma política fácil de entender: tinha como resultado a compra, estocagem eposterior queima do café.

Pois é, e vou dizer mais: existe lógica nessa política.Vejamos: Qual era a fonte de renda na economia brasileira nessa época?O café, certo?Vargas sabia que a economia mundial ia mal, e ainda mais: a economia brasileira

dependia, exclusivamente, do café. O que era preciso? Migrar do café para uma novaatividade que dependesse menos das oscilações no mercado internacional. Mas, enquanto aeconomia não se transformava, Vargas sabia que era necessário manter a renda nacionalpor meio da manutenção do centro dinâmico que gravitava em torno das vendas de café.Para isso, precisava assegurar a demanda do produto brasileiro. Uma vez que a demandainternacional estava retraída, a solução era garantir uma demanda doméstica. Como nós,brasileiros, não consumíamos uma quantidade tão grande de café, coube ao governo fazer acompra das sobras do produto.

A ideia inicial do governo brasileiro não era queimar o café comprado e estocado. Eleesperava que com o tempo e a retomada do crescimento o preço internacional do cafévoltasse a subir e, então, poderia ter lucro com a política de compra, vendendo o produto apreços mais elevados. Entretanto, a demanda internacional não cresceu depois da crise,portanto, o preço do café não subiu, o que levou o governo a queimar as sobras do produto.

CURIOSIDADES

Uma pergunta que você pode se fazer é: E por que, em vez de queimar, o governo não fez doação desse café para os mais pobres?A explicação para isso é simples: Se o governo agisse dessa forma, influenciaria ainda mais o preço para baixo, fazendo com quehouvesse uma redução do preço do café também no mercado doméstico, complicando ainda mais a situação da produção cafeeira.

O gráfico abaixo mostra o volume de café absorvido pelo governo.

Café Destruído pelo Governo Federal e Produção Nacional

(1931 – 1945) – toneladas

Ano(A)

Toneladas deCafé Destruídas

(B)Quantidade

Produzida de Café% de A sobre B

1931 169.547 1.301.670 13,03

1932 559.778 1.535.745 36,45

1933 821.221 1.776.600 46,22

1934 495.947 1.652.538 30,01

1935 101.587 1.135.872 8,94

1936 223.869 1.577.046 14,20

1937 1.031.786 1.460.959 70,62

1938 480.240 1.404.143 34,20

1939 211.192 1.157.031 18,25

1940 168.964 1.002.062 16,86

1941 205.370 961.552 21,36

1942 138.768 829.879 16,72

1943 76.459 921.934 8,29

1944 8.127 686.686 1,18

Total:1931 a 1944

4.692.855 17.403.717 26,96

Fonte: dados brutos Pelaez (1973) e IBGE (1990)

Fonte da figura: A. Gremaud, Economia brasileira contemporânea.

Garantida a renda, Vargas sabia que era necessário ainda mudar o eixo dinâmico daeconomia. Observou que a economia brasileira não poderia continuar à mercê dasoscilações da economia internacional, uma vez que, em consequência da retraçãointernacional, o problema não consistia apenas em não exportar. Havia ainda aimpossibilidade de importar. Em razão da taxa de câmbio extremamente desvalorizada,importar bens de consumo não duráveis tornou-se extremamente custoso para a sociedadebrasileira.

Só para que você entenda melhor o nosso problema, esse período estava fortementeligado ao Balanço de Pagamentos. Como, nessa época, importávamos praticamente tudo, apartir da redução das exportações, encontramos dificuldade para continuar importando,pois o governo havia desvalorizado o câmbio para incentivar, artificialmente, as exportações.

Nesse ponto, cabe um esclarecimento sobre o que é o Balanço de Pagamentos e como elepode ser afetado por uma política macroeconômica de alteração cambial.

Macroeconomia em análise

O Balanço de Pagamentos

Como entender um Balanço de Pagamentos de um país sem confundir com o Balanço Patrimonialde uma empresa?

O primeiro aspecto que você precisará compreender é que, de forma semelhante ao que acontececom as empresas, no Balanço de Pagamentos também é registrado o movimento de recursosfinanceiros. A diferença é que nesse caso tratamos de movimento financeiro entre países.

É no Balanço de Pagamentos que registramos a compra de um produto importado, as viagensinternacionais e o envio de dinheiro a um parente no exterior, por exemplo.

De forma mais conceitual, o Balanço de Pagamentos tem por objetivo registrar as operaçõeseconômicas entre um país e o resto do mundo. Os autores Simonsen e Cysne definem Balanço dePagamentos da seguinte forma: “Define-se Balanço de Pagamentos como sendo o registrosistemático das transações entre residentes e não residentes de um país durante umdeterminado período de tempo.”

O que precisamos esclarecer é o que está destacado na definição acima.

Veja que quando falamos em registro sistemático, estamos afirmando que, de forma semelhanteao que acontece com o Balanço Patrimonial, no Balanço de Pagamentos seguimos o princípio daspartidas dobradas, ou seja, quando se credita em uma conta, debita-se em outra.

No que diz respeito à diferença entre residentes e não residentes, podemos dizer que a separaçãose dá de acordo com o que chamamos de “centro de interesse”. Assim, no caso da Volkswagen,por exemplo, temos que essa empresa seria não residente, já que o seu “centro de interesses”não está no Brasil, mas no resto do mundo (nesse caso, na Alemanha). De outra forma, quandovocê compra uma passagem para passar um período em Paris, você será considerado umresidente já que o seu “centro de interesse” é o Brasil.

Finalmente, note que o Balanço de Pagamentos de um país considera um determinado período detempo, assim como o PIB. Desse modo, dizemos que o Balanço de Pagamentos é uma variável-fluxo, não variável-estoque.

Deve-se atentar para o fato de que o Balanço de Pagamentos considera que todos os pagamentossão realizados em dólares americanos. Essa medida é necessária para que se possa comparar osdiversos níveis de Balanço de Pagamentos de muitos países.

A seguir, veremos como o comércio entre dois países pode ser contabilizado.

Contabilização

Em um Balanço de Pagamentos de um determinado país existem dois conjuntos de contas que sãoconsiderados na hora de fazer os lançamentos: as contas operacionais e as contas de reservas (ouconta de caixa).

As contas operacionais correspondem ao fato gerador do recebimento ou transferência derecursos do exterior. São exemplos de contas operacionais, de lançamentos nas contasoperacionais: exportação, importação, empréstimos, financiamentos, transferências unilateraisetc.

Por outro lado, existem as contas de reservas (ou conta caixa). Para cada transação registrada emqualquer conta operacional, haverá uma contrapartida correspondente de sinal oposto na conta dereservas (ou conta de caixa).

E como essas entradas e saídas são registradas no BP?

De acordo com o professor Heber Carvalho:

É possível estatuir que a entrada de recursos (de meios de pagamento internacionais) éconsiderada um crédito e é lançada com sinal positivo na conta operacional (contacorrespondente ao fato gerador). Por outro lado, a saída de recursos é considerada umdébito e é lançada com sinal negativo na conta operacional.

Assim, veja que o raciocínio para Balanço de Pagamentos difere para o de Balanço Patrimonial deuma empresa. Quando há uma entrada de recursos, fazemos um crédito na conta operacional querecebeu os recursos e um débito de igual valor na conta de reserva.

O entendimento desse processo não é difíil. Basta que você imagine que, no Balanço dePagamentos, assim como no Balanço Patrimonial, temos que pensar na natureza das contas. Se ascontas operacionais são de natureza credora, aumentos nessas contas só são possíveis por meiode lançamentos de crédito. Por outro lado, para reduzi-las, é preciso que sejam feitoslançamentos de débito. Para o caso das contas de caixa, vale o raciocínio inverso, já que elas sãocontas de natureza devedora.

Exemplo 1: Importação de um automóvel

Nesse caso, como saiu recurso financeiro da conta operacional de importações (referente aopagamento do automóvel), há um débito nessa conta, pois haverá redução dos recursos. Por outrolado, haverá crédito na conta de reserva, chamada de reservas, contas haveres ou conta caixa demesmo valor.

Assim:

D Importações

C Reservas ou haveres ou conta caixa

O que você deve notar é que a conta de reservas acaba trabalhando como uma “vala comum” paratodos os lançamentos do Balanço de Pagamentos, o que não deixa de ser verdade. Uma informaçãoimportante sobre essa conta é que nela é registrada toda a movimentação dos meios depagamentos internacionais à disposição de um determinado país. Observe, ainda, que esses meiosde pagamentos são ativos que a autoridade monetária dispõe em seu caixa.

Outro assunto importante que pode ser abordado em provas é a possibilidade de não havercontrapartida na conta de caixa. Contudo, embora pareça pouco provável, existe tal possibilidade.Ela ocorre quando há uma doação de um país para outro.

Metodologia de cálculo

Desde 1993, o Balanço de Pagamentos, instituído pela Organização das Nações Unidas, pode serestruturado da seguinte forma:

DISCRIMINAÇÃO

(A) Balança Comercial

(B) Serviços

(C) Rendas

(D) Transferências Unilaterais Correntes

(E) Saldo em Conta Corrente / Transações CorrentesTC = A + B + C + D

(F) Conta Capital e Financeira (capitais autônomos)

(G) Erros e Omissões

(H) Saldo Total do Balanço de Pagamentos

BP = E + F + G

(I) Variação das Reservas Internacionais ou Haveres

VRI ou Haveres = -H

É importante citarmos que esta estrutura do Balanço de Pagamentos apresentada acima começoua ser utilizada em 1993. Antes, era usada uma metodologia semelhante. Atualmente, o Brasil usa anova metodologia, por isso, vamos focar nela. Mas é necessário que você saiba que existe umaanterior que ainda pode ser utilizada por alguns países.

Como entender a Balança Comercial?

Vamos analisar item a item.

A rubrica (A), Balança Comercial, mede os níveis de exportação e importação FOB (free on board,ou livre de fretes e seguros) de um determinado país. As nossas viagens internacionais, porexemplo, devem ser contabilizadas nesse item.

Note que a subtração entre exportação e importação origina o saldo da balança comercial,

Finalmente, lembre que as entradas de recursos via exportações geram crédito no Balanço dePagamentos, enquanto a saída de recursos, via importações, gera débito.

De forma mais sistemática, podemos representar a rubrica (A) como:

(A) BALANÇA COMERCIAL* Exportação (FOB)* Importação (FOB)

A rubrica (B), Serviços, é uma modalidade que está presente na nova metodologia de cálculo doBalanço de Pagamentos. Anteriormente, apenas para que você compreenda melhor, existia arubrica Serviços de Fatores e Outros Serviços de Não Fatores. Atualmente, existe a conta deserviços (que mede o que não foi gerado por algum fator de produção) e a conta renda (que mede oque foi gerado por algum fator de produção).

Dessa forma, é na rubrica Serviços que são contabilizados os transportes, as viagens

internacionais, os seguros, os serviços governamentais, os royalties e licenças, o aluguel deequipamentos, computação e informações, dentre outros.

Observe a seguir uma forma mais esquematizada de apresentar a balança de serviços:

(B) SERVIÇOS* Transportes* Viagens Internacionais* Seguros* Serviços governamentais* Royalties e licenças* Aluguel de equipamentos* Computação e informações* Outros

No que diz respeito à rubrica (C), Rendas, a forma mais simples de diferenciar o que vai para essarubrica ou o que vai para a rubrica (B) é pensar que irá para a rubrica (C) tudo o que for gerado porum dos fatores produtivos da economia. Assim, salários (remuneração do fator trabalho) e juros(remuneração do fator capital) são lançados nela.

A forma reduzida de apresentar a rubrica Rendas é mostrada abaixo.

(C) RENDAS* Remuneração do fator trabalho (salários e ordenados)* Rendas de investimentos** Rendas de Investimentos diretos (lucros e dividendos)** Rendas de Investimentos em carteira (juros)** Rendas de outros investimentos (juros)

A rubrica (D), transferências unilaterais correntes, refere-se a todos os lançamentos que nãopossuem contrapartida financeira. Nesse caso, contabilizam-se as situações em que, por exemplo,são realizadas doações. E como não há contrapartida financeira, é feito o lançamento na conta (D),sem que haja um crédito de mesmo valor na conta de reservas.

De forma mais sistemática:

(D) TRANSFERÊNCIAS UNILATERAIS CORRENTES* Movimento de transferências unilaterais na forma de bens e moeda

Fechando esse grupo de quatro rubricas, temos o Saldo em Conta Corrente ou TransaçõesCorrentes. Esse saldo mede o somatório das quatro contas anteriores. Assim,

TC = A + B + C + D

Aqui, não se tem muito o que pensar não. Os alunos muitas vezes confundem o saldo em

transações correntes com o saldo da balança comercial. Como você já deve ter percebido, falou-seem balança comercial e é preciso lembrar, necessariamente, da diferença entre exportação eimportação.

Mostrando a rubrica (E) de forma mais sistemática, temos:

(E) SALDO EM CONTA CORRENTE/TRANSAÇÕES CORRENTES* TC = A + B + C + D

Observe que todas as contas vistas até agora consideram os movimentos ocorridos no mercado debens e serviços e no mercado de fatores, por isso faz sentido gerar um saldo.

A partir da conta (F), veremos o que acontece no mercado financeiro, através da Conta Capital eFinanceira do Balanço de Pagamentos. Com a integração dessa conta, teremos contabilizado comotodos os mercados de um país se comunicam com o resto do mundo.

Observação: A conta capital e financeira mede os movimentos de capitais autônomos. A formasistemática dessa conta ajuda a compreender melhor.

(F) CONTA CAPITAL E FINANCEIRA(F.1) CONTA CAPITAL(F.2) CONTA FINANCEIRA* Investimentos diretos* Investimentos em carteira (ou portfólio)* Derivativos* Outros Investimentos

Observe que, na conta capital, contabiliza-se, por exemplo, os capitais oriundos de uma empresaestrangeira que decide investir no Brasil. Os exercícios de concursos e os exemplos delançamento ajudarão a compreender melhor.

Finalmente, temos a rubrica (G), Erros e Omissões. Nela são contabilizados todos os erros que nãoforam contabilizados nas demais rubricas. Assim como na contabilidade patrimonial, há ajustesnecessários que devem ser realizados para que possa existir o ajuste do balanço.

A rubrica (H), Saldo Total do Balanço de Pagamentos, é, assim como acontece com o saldo emconta-corrente, o somatório de todas as contas do Balanço de Pagamentos.

Logo: BP = E + F + G.

A última rubrica do Balanço de Pagamentos, Variação das Reservas Internacionais ou Haveres, éjustamente a nossa conta caixa, aquela que, como vimos anteriormente, mede toda amovimentação dos meios de pagamentos internacionais à disposição de um determinado país.

Apresentando a versão mais completa do Balanço de Pagamentos, temos o seguinte:

Estrutura do Balanço de Pagamentos

A) BALANÇA COMERCIAL

• Exportações (FOB)• Importações (FOB)

B) SERVIÇOS

• Transportes• Viagens internacionais• Seguros• Serviços governamentais• Royalties e licenças• Aluguel de equipamentos• Computação e informações• Outros

C) RENDAS

• Remuneração do fator trabalho (salários e ordenados)• Rendas de investimentos• Rendas de investimentos diretos (lucros e dividendos)• Rendas de investimentos em carteira (juros)• Rendas de outros investimentos (juros)

D) TRANSFERÊNCIAS UNILATERAIS CORRENTES

Movimento de transferências unilaterais na forma de bens e moeda.

E) SALDO EM CONTA CORRENTE/TRANSAÇÕES CORRENTES

TC = A + B + C + D

F) CONTA CAPITAL E FINANCEIRA (CAPITAIS AUTÔNOMOS)

F.1) CONTA CAPITAL

F.2) CONTA FINANCEIRA

• Investimentos diretos• Investimentos em carteira (ou portfólio)• Derivativos• Outros investimentos

G) ERROS E OMISSÕES

H) SALDO TOTAL DO BALANÇO DE PAGAMENTOS

BP = E + F + G

I) VARIAÇÃO DAS RESERVAS INTERNACIONAIS OU HAVERES

VRI ou HAVERES = – H

Vamos ver uma lista de exercícios para poder tirar todas as dúvidas sobre BP?

Exercício

1. (FCC – Sefaz-SP – Agente Fiscal de Rendas – 2006) Sobre o Balanço de Pagamentos é CORRETO afirmar que:

a) um superávit no saldo das transações correntes equivale a uma diminuição dos ativos externos líquidos em poder dos residentesdesta economia;

b) o pagamento de juros sobre empréstimos recebidos do exterior é registrado na conta de capital;

c) há diminuição das reservas internacionais do país, se o saldo do Balanço de Pagamentos é positivo;

d) o valor dos lucros reinvestidos na economia doméstica por residentes no exterior é computado no balanço de serviços;

e) há transferência líquida de recursos para o exterior quando as importações de bens e serviços não fatores apresentam valor maior

que as exportações de bens e serviços não fatores.

Comentários:

Vejamos item a item.

A letra a está incorreta, pois um superávit no saldo das transações correntes equivale aum aumento dos ativos externos líquidos em poder dos residentes desta economia.

Note que essa alternativa estaria correta se ela falasse em redução dos ativos líquidos em poderdos NÃO residentes desta economia.

Em seguida, a letra b está incorreta por afirmar que o pagamento de juros sobre empréstimosrecebidos do exterior é registrado na conta de capital. Na verdade, todos os tipos de remuneraçãodos fatores produtivos (trabalho, que tem como remuneração o salário, terra, que é remuneradacom o aluguel, e capital, que é remunerado com os juros) são lançados na conta de rendas, não naconta de capital. Dessa forma, a alternativa está incorreta.

A letra c, por sua vez, também está incorreta, pois todas as vezes que apresentamos saldo positivono Balanço de Pagamentos, implica que teremos, necessariamente, aumento nas reservasinternacionais, embora implique, ainda, a redução da poupança externa.

Finalmente, a alternativa d é a correta. De fato, quando fazemos rein vestimentos, esse valor serácontabilizado no balanço de serviços.

A letra e está errada por afirmar que há transferência líquida de recursos para o exterior quandoas importações de bens e serviços não fatores apresentam valor maior que as exportações debens e serviços não fatores. Na verdade, essa definição será verdadeira se considerarmos que asimportações de bens e serviços de não fatores apresentam valor MENOR que as exportações.

Gabarito: Letra d.

2. (Cespe – Auditor do Tribunal de Contas da União – 2007) Em um mundo onde o comércio entre países é cada vez mais intenso, o estudoda economia internacional é crucial para o entendimento das questões econômicas. Com relação a esse assunto, julgue a questão:

As vendas de bens e serviços para turistas estrangeiros nas praias nordestinas são contabilizadas, simultaneamente, como crédito nabalança de transações correntes e como débito na conta de capital do Balanço de Pagamentos brasileiro.

Comentários:

Praias nordestinas?

Isso deve ser em Porto de Galinhas, com certeza!

Brincadeiras à parte, a questão não está correta (embora a banca diga o contrário).

Quando algum não residente compra os nossos serviços, isso deverá gerar crédito (entrou umvalor) na conta de serviços, que faz parte das transações correntes (juntamente com a balançacomercial, a conta de renda e as transferências unilaterais).

Da mesma forma, a venda de bens levará a uma alteração na balança comercial (aumento dasexportações), o que gerará, também, crédito.

Como um balanço empresarial, toda vez que temos um crédito, em algum lugar aparecerá um

débito.

Normalmente, um crédito em qualquer conta do Balanço de Pagamentos leva a um débito na contade Haveres.

Contudo, a questão afirma que haverá uma variação na conta de capital, o que não é verdade, já queessa conta analisa, juntamente com a conta financeira, os investimentos diretos, os investimentosem carteira, os derivativos e outros investimentos.

Assim, em nenhuma hipótese essa questão poderia estar correta.

Gabarito: VERDADEIRA – mas cabe recurso.

3. (Cesgranrio – Analista do Banco Central do Brasil – Área 1 – 2006) É CORRETO afirmar que:

a) no modelo keynesiano de curto prazo, a taxa de juros nominal da economia é determinada por fatores reais enquanto, no modeloclássico, a taxa de juros real é função da demanda de moeda para fins de especulação;

b) quando um banco comercial adquire divisas de um exportador, há destruição de meios de pagamento da economia;

c) num país importador líquido de capitais, um superávit do Balanço de Pagamentos em conta-corrente implica uma redução de igualvalor em suas obrigações líquidas para com não residentes;

d) o modelo de crescimento de Solow sugere que, quanto mais alta a taxa de poupança da economia, mais baixo deve ser o nível derenda per capita no estado estacionário;

e) num país exportador líquido de capitais, usualmente o produto interno bruto apresenta valor superior ao do produto nacional bruto.

Comentários:

Vamos por partes, analisando item a item para encontrar o erro.

A letra a está incorreta justamente por dar uma definição equivocada da determinação da taxa dejuros de uma determinada economia. No caso do modelo keynesiano, a determinação da taxa dejuros ocorre no mercado monetário: a taxa de juros real é função da demanda de moeda para finsde especulação. Já no modelo clássico, essa variável era determinada pela interação entre duasvariáveis reais: a poupança e o investimento. Assim, a letra a não pode ser a alternativa correta daquestão.

Em seguida, a letra b afirma que todas as vezes que um banco comercial adquire divisas de umexportador, há destruição de meios de pagamento da economia. O que ocorre é justamente ocontrário: como os bancos comerciais estão “dando” moeda doméstica para o exportador, existe acriação dos meios de pagamentos, não a destruição deles.

A letra correta é a c. Se estamos tratando de um país importador líquido de capitais, um superávitdo Balanço de Pagamentos em conta-corrente implica uma redução de igual valor em suasobrigações líquidas para com não residentes. Isso deve ser feito para que haja um equilíbrio dosaldo em transações correntes. E deve acontecer, ainda, porque a questão afirma que esse país éum importador de capitais.

A letra d afirma que o modelo de crescimento de Solow sugere que, quanto mais alta a taxa depoupança da economia, mais baixo deve ser o nível de renda per capita no estado estacionário.Segundo a expressão que indica o equilíbrio no estado estacionário, s*f(k) = (sigma + n + m)k*, emque s é o coeficiente de poupança de determinada economia, vemos que quanto maior essecoeficiente, maior será o nível de renda per capita no estado estacionário, já que maior será o

stock de capital por unidade de trabalho.

Finalmente, a letra e está incorreta, já que não é verdade que em um país exportador líquido decapitais, usualmente, o Produto Interno Bruto apresenta valor superior ao do Produto NacionalBruto. Na verdade, esse país tenderá a apresentar um PNB superior ao PIB, não o contrário.

Gabarito: Letra c.

4. (Esaf – CVM – Mercado de Capitais – Inspetor da Comissão de Valores Mobiliários/Analista da Comissão de Valores Mobiliários – 2010)Considere o caso de uma economia aberta de um país pequeno em relação ao resto do mundo, com livre mobilidade de capitais:

a) um excesso de poupança interna sobre o investimento implica déficit na conta transações correntes;

b) um excesso de investimento sobre a poupança interna implica a necessidade de entrada de capital externo no país;

c) um excesso de investimento sobre a poupança interna implica aumento da taxa de juros no mercado internacional;

d) a livre mobilidade de capitais é suficiente para garantir a igualdade entre a poupança interna e o investimento;

e) um excesso de poupança interna sobre o investimento implica a entrada de poupança externa.

Comentários:

A letra a está incorreta por afirmar que o excesso de poupança interna sobre o investimentoimplica déficit na conta transações correntes. Na verdade, esse excesso mostra que o país podeenviar capital para o resto do mundo, não o contrário.

A alternativa b está correta justamente por contradizer a letra a. Veja que quando os investimentossão superiores ao nível de poupança interna, o país necessitará de capital externo (via poupançaexterna) para poder saldar as suas contas.

A letra c está incorreta por afirmar que o excesso de investimento sobre a poupança internaimplica aumento da taxa de juros no mercado internacional. Nesse caso, veja que, como existeperfeita mobilidade de capital, a taxa de juros doméstica não afeta a taxa de juros internacional, jáque essa é uma pequena economia.

A letra d está incorreta, porque afirma que a livre mobilidade de capitais é suficiente para garantira igualdade entre a poupança interna e o investimento. Na verdade, haverá igualdade entre as taxasde juros nacional e internacional.

Finalmente, a letra e afirma que o excesso de poupança interna sobre o investimento implica aentrada de poupança externa. Nesse caso, vale justamente o contrário. Haverá saída de poupançadoméstica para o resto do mundo!

Gabarito: Letra b.

5. (Esaf – MPOG – Analista de Planejamento e Orçamento – 2010) Quanto ao Balanço de Pagamentos de um país, sabe-se que:

a) o saldo total do Balanço de Pagamentos é igual à soma da balança comercial com o balanço de serviços e rendas e as transferênciasunilaterais correntes, salvo erros e omissões;

b) o saldo das transações correntes, se positivo (superávit), implica redução em igual medida do endividamento externo bruto, noperíodo;

c) o saldo total do Balanço de Pagamentos é igual à soma da balança comercial com a conta de serviços e rendas, salvo erros eomissões;

d) a conta Capital e Financeira iguala (com sinal trocado) o saldo total do Balanço de Pagamentos;

e) a conta Capital e Financeira iguala (com o sinal trocado) o saldo de transações correntes, salvo erros e omissões.

Comentários:

Vejamos item a item por que a questão foi anulada.

Note que a letra a está incorreta, pois o saldo em conta-corrente é dado pela soma da balançacomercial com o balanço de serviços e rendas e as transferências unilaterais correntes, salvoerros e omissões. O saldo do Balanço de Pagamentos considera ainda a conta de capitais efinanceira e os erros e omissões.

A letra b também está incorreta, já que o saldo de transações correntes é igual ao inverso dapoupança externa. Ou seja, quanto maior o saldo em transações correntes, menor será a poupançaexterna, o que não implica endividamento externo bruto, mas uma redução da poupança.

Seguindo raciocínio semelhante ao visto na letra a, podemos afirmar que a letra c está incorreta, jáque o saldo do BP é dado não apenas pela soma da balança comercial com a conta de serviços erendas, mas também pela conta de capitais e financeira e pelos erros e omissões.

A letra d está incorreta por afirmar que a conta Capital e Financeira iguala (com sinal trocado) osaldo total do Balanço de Pagamentos. Como já vimos, o saldo do Balanço de Pagamentos é dadopela soma analisada nas letras a e c. Além disso, esse saldo será igual (com o sinal trocado) àVariação das Reservas Internacionais ou Haveres.

Finalmente, a letra e também é falsa, uma vez que considera que a conta capital e financeira iguala(com o sinal trocado) o saldo de transações correntes, salvo erros e omissões. Como vimos, aconta de capital e financeira não será igual ao saldo em transações correntes. Na verdade, esseserá idêntico (com o sinal trocado) à poupança externa.

Como todas as alternativas estão erradas, a questão foi anulada.

Gabarito: ANULADA.

6. (FCC – Economia – Analista do Ministério Público da União – 2007) Instruções: Utilize as seguintes informações, e somente elas, pararesponder à questão.

Importações de bens e serviços não fatores 1.700

Consumo final 6.900

Variação de estoques 900

Formação bruta de capital fixo 2.800

Renda líquida recebida do exterior 100

Déficit do Balanço de Pagamentos em transações correntes 300

O valor das exportações de bens e serviços corresponde a:

a) 1.200;

b) 1.300;

c) 1.400;

d) 1.500;

e) 1.600.

Comentários:

Para resolver essa questão, precisaremos dos seguintes dados:

Importações de bens e serviços não fatores 1.700

Renda líquida recebida do exterior 100

Déficit do Balanço de Pagamentos em transações correntes 300

Veja que existe uma relação entre essas três variáveis e as exportaçãos de bens e serviços.

Exportações – importações + renda líquida recebida do exterior = saldo do Balanço dePagamentos em transações correntes.

Com base nessa expressão, fica simples encontrar o resultado:

Exportações – 1700 + 100 = -300

Nesse caso, note que o saldo é negativo, por isso, o sinal antes do valor.

Dessa forma,

Exportações = 1700 – 400 ==> Exportações = 1300, exatamente como afirmado na alternativa (B).

Gabarito: Letra b.

7. (FCC – Analista do Ministério Público da União – 2007) São dadas as seguintes transações de um país com o exterior:

Amortizações de empréstimos recebidos 300

Juros pagos ao exterior 200

Exportação de mercadorias (FOB) recebidas à vista 600

Fretes líquidos recebidos do exterior 120

Donativos recebidos em mercadorias 40

Importação de mercadorias (FOB) pagas à vista 470

Empréstimos líquidos recebidos 140

Investimentos líquidos recebidos 230

Considerando-se apenas essas informações, pode-se concluir que o saldo de transações correntes do país foi:

a) positivo e igual a 240;

b) positivo e igual a 50;

c) nulo;

d) negativo e igual a 40;

e) negativo e igual a 80.

Comentários:

Aqui, é preciso que você se lembre da definição de saldo em transações correntes.

Esse é dado pela seguinte expressão:

Saldo em transações correntes = balança comercial + balança de serviços + balança de rendas +transferências unilaterais

em que:

balança comercial = exportações FOB – Importações FOB

Para resolver mais facilmente, vamos fechar todas as balanças para só depois fazer a conta dosaldo em transações correntes.

balança comercial = 600 – 470 = 130

balança de serviços = fretes líquidos recebidos do exterior = +120

balança de rendas = juros pagos ao exterior = -200

transferências unilaterais = 0

Somando os valores, temos o seguinte:

saldo em transações correntes = 130 + 120 – 200 = + 50, exatamente como mostrado na letra b.

Gabarito: Letra b.

8. (FCC – Economia– Analista do Ministério Público da União – 2007) No Balanço de Pagamentos,

a) se o saldo de transações correntes for positivo, há exportação de poupança interna;

b) a soma algébrica do saldo de transações correntes com os da conta financeira e de capital é nula;

c) se o saldo de transações correntes for negativo, a poupança do resto do mundo é negativa também;

d) se o saldo da balança comercial for negativo, há transferência líquida de recursos para o exterior;

e) os lucros reinvestidos no país não afetam o volume das reservas internacionais.

Comentários:

A questão foi anulada.

Vejamos a razão da anulação da questão.

Observe que a letra a é falsa, pois o saldo em transações correntes positivo implica poupançaexterna negativa. Nesse caso, estamos importando a poupança externa, não exportando.

A letra b, por sua vez, também é falsa, pois a soma do saldo de transações correntes com os daconta de capital e financeira não é nula. Veja que a soma dessas contas com os erros e omissõesgera justamente o valor da balança de pagamentos.

Em seguida, a letra c é falsa, pois o saldo em transações correntes é o inverso da poupançaexterna. Assim, quando um é positivo, o outro será, necessariamente, negativo.

A letra d, por sua vez, é falsa porque se o saldo da balança comercial for negativo, há recebimentolíquido de recursos do exterior.

Finalmente, a letra e é falsa pois os lucros reinvestidos afetarão, sim, o volume de reservasinternacionais.

Como todas as alternativas estão INCORRETAS, a questão foi objeto de anulação.

9. (FGV – Sefaz-RJ – Analista de Controle Interno – 2011) Os dados abaixo são do Balanço de Pagamentos brasileiro de 2010. Assumindoque essas são as únicas subcontas discriminadas do Balanço de Pagamentos, o saldo da Balança de Serviços e Rendas é:

Discriminação do Balanço de Pagamentos U$ milhões

Viagens internacionais –10,503

Exportação de bens 201,915

Aluguel de equipamentos –13,683

Investimento brasileiro direto –11,500

Seguros –1,113

Empréstimos e financiamentos LP e CP 40,772

Investimento estrangeiro direto 48,462

Royalties e licenças –2,453

Importação de bens –181,649

a) -U$ 7,485 milhões;

b) -U$ 27,751 milhões;

c) U$ 70,249 milhões;

d) -U$ 39,251 milhões;

e) U$ 77,734 milhões.

Comentários:

Antes de responder essa questão, veja que a denominação do Balanço de Pagamentos está deacordo com a nova metodologia implementada a partir de 1993.

Com base nela, deixam de existir as contas de serviços de fatores e serviços de não fatores, sendosubstituídas pelas contas de serviços e renda.

Assim, entram na contabilidade das contas os seguintes itens:

Aluguel de equipamentos (conta de renda): -13,683

Royalties e licenças (conta de renda): -2,453

Viagens internacionais (conta de serviços): -10,503

Seguros (conta de serviços): – 1,113

Com base nesses valores, temos que o saldo conjunto das duas contas é de -27,751, exatamente oque é visto na alternativa b.

Gabarito: Letra c.

10. (Esaf – Analista de Comércio Exterior – Grupo 2 – 2012) Não faz parte da conta de serviço do Balanço de Pagamentos as despesas e/oureceitas realizadas entre residentes e não residentes de um país:

a) com corretagens;

b) com royalties e licenças;

c) com aluguéis de equipamentos;

d) com eventos culturais e recreacionais;

e) com as aplicações em fundos de renda fixa.

Comentários:

Nessa questão, deve-se notar que a banca pede para que se aponte o que NÃO faz parte do balançode serviços.

Para encontrar a questão errada, precisamos saber o que se contabiliza no balanço de serviços. Alista abaixo mostra os itens contabilizados.

(B) SERVIÇOS

** Transportes

** Viagens internacionais

** Seguros

** Serviços governamentais

** Royalties e licenças

** Aluguel de equipamentos

** Computação e informações

** Outros

A partir dos itens mostrados, podemos ver que as letras b, Royalties e licenças, e c, Aluguéis deequipamentos, são rapidamente excluídas de nossa resposta por estarem, claramente, apontadascomo itens do Balanço de Serviços.

As letras a, Corretagens, e d, Eventos Culturais e Recreacionais, devem ser lançadas como Outrosserviços.

Assim, a alternativa correta é a letra e, Aplicações em Fundos de Renda Fixa. Como estamosfalando de aplicações financeiras, deve-se contabilizar na Conta financeira e de capital.

Logo, a alternativa correta é a letra e.

Gabarito: Letra e.

11. (Esaf – Analista de Comércio Exterior – Grupo 2 – 2012) Com base nas identidades contábeis do Sistema Nacional de Contabilidade, éINCORRETO afirmar que:

a) para uma economia aberta e com o governo, a conta de distribuição secundária da renda explicita a segunda fase do processo dedistribuição da renda, discriminando os recebimentos e os pagamentos de transferências de renda com o resto do mundo;

b) em uma economia aberta e com o governo, um déficit em transação corrente do Balanço de Pagamentos de um país estádiretamente associado a uma poupança externa negativa;

c) em uma economia fechada e com o governo, os investimentos privados e públicos e os gastos correntes das administrações públicasdevem ser financiados pela poupança privada e pelas receitas líquidas do governo;

d) em uma economia fechada e com o governo, mesmo que exista poupança pública positiva, existirá déficit orçamentário toda vez que apoupança pública for inferior ao investimento público;

e) em uma economia aberta, a absorção doméstica coincidirá com o produto interno da economia independente do saldo dos balançoscomercial e de serviços.

Comentários:

Como a questão solicita apenas que se encontre a questão incorreta, vamos focar os comentáriossobre esse item, e explicar por que a questão foi anulada.

A letra prevista anteriormente no gabarito era a alternativa b. Ela não pode ser incorreta, já queexiste, de fato, uma relação entre déficit em transação corrente o que implica uma poupançaexterna negativa.

SEXT = -TC

Em que SEXT indica a poupança externa e TC indica o saldo em transações correntes.

Logo, tendo em vista que todas as questões são corretas, a questão foi anulada.

Gabarito: ANULADA

12. (Esaf – Analista de Comércio Exterior – Grupo 2 – 2012) Os dados extraídos do Balanço de Pagamentos de uma economia hipotética,expressos em milhões de reais em 2003, estão apresentados no quadro abaixo.

Déficit no balanço de transações correntes $ 1.200,00

Superávit em transferências unilaterais correntes $ 200,00

Déficit no Balanço de Rendas $ 800,00

Superávit Balanço de Serviços $ 700,00

Exportações de Mercadorias (FOB) $ 600,00

A partir dessas informações, um analista econômico apurou que o valor das importações de bens e serviços (FOB), em milhões dereais, realizado pela economia hipotética foi de:

a) $ 600,00;

b) $ 300,00;

c) $ 1.100,00;

d) $ 1.500,00;

e) $ 500,00.

Comentários:

Para resolver essa questão, você deve lembrar que o saldo em transações correntes é dado pelaseguinte expresão:

Saldo na balança comercial + Saldo na balança de serviços + Saldo na balança de rendas +Transferências unilaterais = Saldo em Transações Correntes

em que o saldo na balança comercial é dado por exportações FOB – Importações FOB

Substituindo os valores, temos o seguinte:

Saldo na balança comercial + 700 – 800 + 200 = -1200

600 – importações FOB + 700 – 800 + 200 = -1200

– importações FOB + 1500 – 800 = -1200

– importações FOB + 700 = -1200

– importações FOB = -1900

– importações FOB = 1900

Como não existe resposta para esse valor, a questão foi anulada.

Gabarito oficial: ANULADA.

Mas, o que aconteceu no Brasil nos anos 1930?Com a crise, houve uma redução drástica das nossas exportações associada a uma

reversão dos fluxos de capitais. Dessa forma, em vez de entrarem recursos financeiros nopaís, esses estavam saindo. Por outro lado, os níveis de importação eram mantidos, o quelevava a um sério problema no Balanço de Pagamentos: o déficit no saldo comercial e asaída de capitais acabavam por pressionar o Balanço de Pagamentos, o que gerava, em umaanálise, a uma total escassez de divisas. Sem moeda internacional, a manutenção daimportação dos bens se tornava impraticável.

Como resultado, as dificuldades de importações deslocaram a demanda doméstica paraos produtos que passaram a ser produzidos no país. Nesse processo, houve maiorrentabilidade do setor industrial perante o cafeeiro, o que gerou, em última instância, umfluxo de capitais do setor cafeeiro para o setor industrial. Esse processo de industrializaçãovivido pelo Brasil ficou conhecido como Programa/Modelo/Processo de Industrializaçãopor Substituição de Importações. Nesse processo, começamos a industrializar a nossaeconomia com base nos itens listados na pauta de importações.

1.5. Características do PSIQuando você vir na sua prova uma questão sobre PSI, o que precisará lembrar?

1. O programa de Industrialização por Substituição de Importações foi um programa deindustrialização fechada, ou seja, o país deixou de orientar a sua economia para fora epassou a orientar a sua produção para atender à demanda doméstica.Nesse processo, como a nossa indústria era extremamente incipiente, a formação do

parque industrial dependeu de medidas protecionistas por parte do governo. Dentre elas,devemos citar a política cambial adotada no período.

2. O motor do PSI foi o estrangulamento externo. O quadro abaixo, criado com base nolivro Economia brasileira contemporânea, de A. Gremaud, mostra tal processo.

Vamos entender o esquema.Com a redução das exportações e a permanência das importações, houve

estrangulamento externo, via déficit, no saldo no Balanço Comercial, processo em que asdivisas internacionais (volume de moeda do resto do mundo que está em nossa economia)foram insuficientes para atender aos anseios de importação da população.

Com receio dessa evasão de divisas e da escassez de entrada, o governo federal passou adificultar as importações (seja fazendo maxidesvalorizações no câmbio, seja fazendocontroles cambiais, taxas múltiplas de câmbio ou ainda implementando tarifas aduaneiras).Esse fato, além de controlar as importações, também beneficiou a indústria nacional, que setornou mais competitiva.

Com a indústria mais fortalecida, os outros setores passaram a migrar os recursos parainvestir nesse novo segmento lucrativo da economia. Nesse movimento, novos empregosforam criados, gerando aumento da renda da economia, o que pressionou o consumo tanto

de bens nacionais quanto de bens importados. Nesse último tipo de demanda, houvenovamente pressão e posterior geração de estrangulamento externo, o que levou a umaretroalimentação do ciclo.

3. Finalmente, é importante lembrar que o Processo de Industrialização por Substituição deImportações aconteceu em etapas ou rodadas. Nesse caso, era a pauta de importaçõesque ditava qual seria a indústria que passaria a ser implantada primeiro. A sequênciaabaixo mostra a ordem de implantação da indústria no Brasil. Apenas lembrando, esseprocesso foi iniciado no governo Vargas, mas perpassou vários governos, chegando até ofinal do regime militar.

Logicamente, esse processo não aconteceu sem problemas. É possível apontar quatrogrupos de problemas gerados no processo de industrialização no Brasil.

1.6. As dificuldades do PSI1.6.1. Tendência ao desequilíbrio externo

Existem várias razões que explicam esse desequilíbrio (a renda que sai é maior do que arenda que entra).(i) O primeiro motivo está ligado à política cambial adotada pelos governos. Como haviatransferência de renda da agricultura para a indústria, esse processo acabava pordesestimular ainda mais o processo de produção agrícola, levando a uma redução forte nasexportações nacionais.(ii) Tendo em vista que a nossa indústria era pouco competitiva, graças à proteção dogoverno, não conseguíamos ter forças para competir nos mercados internacionais. Logo,não era possível aumentar as divisas através da promoção da exportação dos bensindustriais.(iii) Finalmente, como já vimos, uma pressão contínua por bens importados, em razão doinvestimento industrial e do aumento da renda, forçava ainda mais o desequilíbrio noBalanço de Pagamentos nacional.

1.6.2. Aumento da participação do EstadoNo processo de industrialização via PSI, o governo possuía quatro funções fundamentais:

(i) adequação do arcabouço institucional à indústria;(ii) geração de infraestrutura básica;(iii) fornecimento de insumos básicos;(iv) captação e distribuição de poupança.

Com tantas demandas em cima do governo, esse precisava ter uma capacidade deplanejamento e financiamento crescentes, e como esses fatores não eram, no Brasil,plenamente organizados, houve uma séria dificuldade de industrialização no Brasil.

Apenas para você ter ideia da importância do governo no processo de industrialização,basta olhar o item (iv). Nele, é possível observar que era o governo o provedor de recursospara a industrialização. Nesse sentido, o governo financiava a industrialização tanto pelaemissão de moeda quanto pelo endividamento externo. Nos dois casos, o poder privado erabeneficiado pelas políticas governamentais de implantação da indústria nacional.

1.6.3. Aumento do grau de concentração de rendaO PSI aumentou ainda mais a concentração de renda graças a alguns fatores:

(i) o aumento do êxodo rural para os grandes centros urbanos (lembre que com aindustrialização houve também a urbanização da população brasileira);(ii) o investimento da indústria, diferentemente do que acontece no meio rural, é intensivoem capital, não em mão de obra. Nesse sentido, houve uma série de desequilíbrios nomercado de trabalho: escassez de oferta para os trabalhadores qualificados; e escassez de

demanda para os trabalhadores não qualificados.(iii) finalmente, o protecionismo e a concentração industrial permitiam a elevação depreços e a geração de elevadíssimas margens de lucros para as indústrias, o que tornava osindustriais cada vez mais ricos e os proletários cada vez mais pobres.

1.6.4. Escassez de fontes de financiamentosNão existiam fontes de financiamento adequadas para o projeto. Entre as explicações

para esse problema, tínhamos a “Lei da Usura”, que impossibilitava a cobrança de taxas dejuros superiores a 12% a.a., a fraca existência de um sistema financeiro nacional organizadoe a ausência de uma reforma tributária ampla na economia nacional.

Apesar de esses entraves dificultarem o Processo de Industrialização por Substituição deImportações implantado no Brasil, contudo não o extinguiram.

Capítulo 2Os Anos JK e a Transição para o Regime Militar

Apenas para reforçar, o PSI que tinha como objetivo industrializar os países da AméricaLatina (para pensar em PSI ou em MSI – Modelo de Substituição de Importações) fez com oque os governos brasileiros fechassem a economia nacional e passassem a incentivar,fortemente, o processo de transformação de uma economia inteiramente agroexportadorapara uma economia industrializada.

Nesse sentido, todos os governos entre 1930 e 1979 rezaram pela mesma cartilha. “Vamosfechar a economia e vamos olhar para dentro! Vamos produzir para os brasileiros e nãovamos deixar que as empresas estrangeiras tragam os seus produtos para cá!”

Era mais ou menos dessa forma que a economia funcionava.Como vimos, o primeiro a agir desse modo foi Getúlio Vargas. Para responder à crise de

1930, o governo brasileiro passou a comprar os excedentes de produção do café(posteriormente queimando ou jogando fora) para que, assim, fosse possível manter arenda da economia (alguns economistas dizem até que a política de Vargas era umavanguarda para a posterior economia keynesiana, que se concentra intensamente nos gastosdo governo). Com essa política, o governo Getúlio Vargas fez com que os efeitos da crise noBrasil fossem bem menores quando comparados com os demais países do mundo.

Após o término da ditadura de Vargas, chamada de “Estado Novo”, em 1945, foi eleito opresidente Eurico Gaspar Dutra (mandato de 1946 a 1951) que, entre outras iniciativas,institucionalizou o plano Salte: Saúde, Alimentação, Transportes e Energia. O plano,infelizmente, não surtiu bons resultados, já que não houve financiamento adequado paraque fosse plenamente implementado de forma eficiente.

Tão logo terminou o mandato de Dutra, Getúlio Vargas retornou ao poder e, com umamedida bastante contraditória (aumentou o salário de todos os trabalhadores em 100%),levou a economia a uma crise. Com essa medida, o grau de impopularidade do presidenteaumentou, o que levou à solicitação de seu impeachment. Segundo alguns historiadores, talfato teria induzido o presidente a cometer suicídio. É fato, porém, que o segundo governoVargas não passou despercebido. Dentre as medidas implementadas por Vargas, podemosdestacar a criação da Petrobras – ainda hoje uma das maiores estatais brasileiras.

Contudo, não houve no período do segundo governo Vargas qualquer plano econômicovoltado diretamente para o crescimento ou desenvolvimento que merecesse destaque.

O seu sucessor, Café Filho, concluiu o mandato e entregou o posto a Juscelino

Kubitschek, que tinha como objetivo fazer o Brasil crescer 50 anos em 5 durante o seu Planode Metas.

O Plano de Metas prezou, fundamentalmente, pelo crescimento do país. A ideia era fazero Brasil crescer na sua produção industrial. Foi justamente nesse período que vimos osurgimento da indústria automobilística no país e a construção da malha rodoviárianacional.

Um ponto importante que deve ser destacado é que a lógica do Plano de Metas vai alémdo PSI. Segundo A. Gremaud, o formato de industrialização realizado por JK nãorespondeu apenas ao estrangulamento externo. Para o autor, JK também gerou pontos degerminação, ou seja, ele criou áreas de geração de demandas derivadas da produçãoprincipal.

Como maiores metas dentro do seu governo, JK dividiu o programa em três grandesáreas:(i) investimentos em infraestrutura (transporte e energia elétrica);(ii) estímulo à produção de bens intermediários (aço, carvão, cimento, zinco etc.);(iii) incentivos à introdução dos setores de consumo duráveis e de capital.

É importante ressaltar que o Plano de Metas não tinha entre seus propósitos a construçãode Brasília. Esse é um assunto que as bancas gostam de abordar, mas que não deve serconfundido. Existem muitas explicações para a posição da capital nacional, mas emnenhum momento pode-se dizer que foi uma meta do Plano de Crescimento de Juscelino.

Taxas de crescimento do Produto e setores 1955-1961

Ano PIB Indústria Agricultura Serviços

1955 8,8 11,1 7,7 9,2

1956 2,9 5,5 –2,4 0

1957 7,7 5,4 9,3 10,5

1958 10,8 16,8 2 10,6

1959 9,8 12,9 5,3 10,7

1960 9,4 10,6 4,9 9,1

1961 8,6 11,1 7,6 8,1

Fonte: IBGE

taxas de crescimento da produção industrial no Plano de Metas 1955/62:

ð materiais de transporte: + 711%;

ð materiais elétricos e de comunicações: + 417%;

ð têxtil: + 34%;

ð alimentos: + 54%;

ð bebidas: + 15%.

Fonte da figura: A. Gremaud, Economia brasileira contemporânea.

Pelos dados da tabela anterior, retirada do livro Economia brasileira contemporânea, deA. Gremaud, observamos que o Brasil apresentou crescimento significativo durante ogoverno de JK (1956 a 1961), com destaque para o crescimento industrial, que alcançou,por quatro anos, dois dígitos. É importante notar ainda que, nas duas principais áreas doPSI, houve crescimento considerável, muito superior às metas previamente estabelecidaspelo governo, o que demonstra alto poder de crescimento nacional gerado pelo governo JK.

Um ponto importante do Plano de Metas foi o espólio que ele passou para o governoseguinte (Jânio Quadros). Como não tinha como pagar a conta do volume de gastos,Juscelino simplesmente mandou o governo, literalmente, imprimir moeda.

Foi dessa forma genial que pagamos a dívida de Brasília, gerando uma inflaçãogeneralizada. Então, o que temos de lembrar quando se fala de JK? Que em seu governotivemos forte crescimento associado a um grande processo de inflação. É como diz MiltonFriedman: “Não existe almoço grátis! Alguém está sempre pagando por ele!”

Deve-se ainda ressaltar que, do ponto de vista externo, houve maior deterioração do saldoem transações correntes nacionais, além de um significativo endividamento externo, que sótendeu a aumentar nos anos seguintes.

Após a saída de Juscelino do poder, Jânio Quadros tomou posse. Em um governo curto,Jânio não elaborou qualquer plano que tivesse relevante repercussão nacional. Um dosproblemas para essa ausência de planos foi a brevidade de seu governo. Após menos de setemeses da sua eleição, Jânio Quadros renuncia e passa o bastão para seu vice (que a essaaltura estava em visita à China), João Goulart. Jango, apesar dos inúmeros problemaspolíticos (a oposição achava que ele estaria alinhando muito os pensamentos com a Chinacomunista), dá início ao Plano Trienal, que tinha como objetivo fazer com que a economiavoltasse ao ritmo de crescimento observado durante o Plano de Metas (7% a.a.). Para isso,foram implementadas metas específicas para os setores de aço, automóveis e energia.

Assim como o Plano Salte, o Plano Trienal não deu certo. No caso desse último, aexplicação estaria ligada à brevidade de tempo em que o plano foi criado (teria sido criadoem três meses, por Celso Furtado).

João Goulart é deposto em 1o de abril (embora alguns livros indiquem que a deposiçãotenha acontecido em 31 de março), e tem início o regime militar.

CURIOSIDADES

Pois é, a revolução ou golpe militar aconteceu, de fato, no dia 1o de abril. No dia 31, contudo, existiam indícios de que a situação nãoia bem, uma vez que não houve transmissão do programa A Hora do Brasil.Um fato interessante é que, segundo relato de populares, quando a notícia se espalhou pela sociedade, todo mundo achava que eramentira, já que estávamos no dia 1o de abril.

E então, com o governo militar, realmente crescemos de uma forma “nunca antes vista no

Brasil” (e que não foi vista depois também). A justificativa para esse volume de crescimentoseria a legitimação dos militares no poder. Ou seja, uma vez fazendo o país crescer, nãoseria necessário mudar de regime político.

Mas o país não podia crescer sem que antes fosse composta a desordem que existia emnossas instituições. Foi pensando nisso que o Paeg – Plano de Ação Econômica do Governo,foi criado. Com as linhas de atuação focadas nas reformas estruturais e nas políticasconjunturais de controle à inflação, o Paeg “arrumou a casa” para que o Brasil pudesseviver, finalmente, o crescimento econômico visto durante os anos 1968 e 1973: o MilagreEconômico viabilizado com o I Plano Nacional de Desenvolvimento.

E sabe por que esse período foi chamado de Milagre Econômico? Porque durante esseperíodo a economia brasileira conseguiu crescer (cerca de 15% a.a.) sem inflação.

Importante: O crescimento nesse período não conseguiu garantir melhordesenvolvimento. Foi o que se chamou de Teoria do Bolo: primeiro fazer crescer, paradepois dividir. Infelizmente, não fomos tão bem na segunda parte!

Exercícios1. (Esaf – Sefaz-RJ – Tecnologia da Informação – 2010) Desde a década de 1940, diversos governos utilizaram o

planejamento como alavanca para o desenvolvimento nacional. Indique qual dos planos abaixo foi elaborado nafase do “milagre brasileiro”.a) Plano Salte.b) I Plano Nacional de Desenvolvimento.c) Plano Plurianual 1996-1999.d) Plano de Metas.e) Plano de Ação Econômica do Governo (Paeg).

Comentários:Essa é uma questão muito, muito, muito boa!Ficou bem mais fácil agora, né?Assim, como a letra a fala do governo Dutra, e não do regime militar, essa alternativa não

pode estar correta.Em seguida, a letra b fala sobre o I Plano Nacional de Desenvolvimento Econômico. Já

ouviu falar sobre ele? Não, né? Pois é, existe uma razão para isso: é porque ele ficou muitomais conhecido pelo seu resultado: O milagre econômico brasileiro. Ahá! Logo, essa é aresposta correta. Não apenas o I PND, mas também o subsequente II PND (implementado jána fase final do regime militar pelo presidente Geisel (1974-1979)), que veremos a seguir,tiveram como objetivos o crescimento econômico através da implementação das indústriasde base e de insumos produtivos.

A letra c, como veremos adiante, fala do governo FHC. Mas há um detalhe: o PlanoPlurianual é criado não apenas para um; todos os governos devem ter um PPA. O PPA é umplano que dita como a política econômica deverá se comportar ao longo de determinadomandato. Logo, não faz sentido dizer que essa alternativa é a correta.

A letra d afirma que é o Plano de Metas. Pelo que vimos acima, fica claro que não é doPlano de Metas que estamos falando. O Plano de Metas foi instituído pelo governo JK, queteve, de fato, forte ritmo de crescimento, mas nada comparado ao observado durante o“Milagre Econômico”. Por isso, não pode ser verdadeira.

Finalmente, a letra e fala do Paeg, um plano criado para montar os alicerces para averdadeira promoção do crescimento econômico, visto durante o período do “MilagreEconômico”.

2. (BNDES – Profissional Básico – Economia – 2008) Assinale, entre as opções abaixo, a que NÃO corresponde a umadas principais características da política de industrialização brasileira no pós-guerra.a) Fornecimento de crédito a longo prazo para implantação de novos projetos.b) Proteção à indústria nacional, mediante tarifas de importação e barreiras não tarifárias.c) Participação direta do Estado no suprimento da infraestrutura (energia, transporte).d) Participação direta do Estado na produção em alguns setores tidos como prioritários (siderurgia, mineração,

petróleo).e) Intensa preocupação de atender o consumidor doméstico com produtos de qualidade e baratos.

Comentários:Vamos analisar item por item para ficar claro. Veja que a questão pede o que NÃO

atende. O NÃO está bem tímido, mas merece muita atenção.Vamos por partes.A alternativa a afirma que houve fornecimento de crédito de longo prazo para a

implantação de novos projetos. De fato, para que os projetos industriais pudessem serimplantados, houve a necessidade de tomar crédito. Considerando ainda que as indústriassó dão retorno depois de um período de maturação, o crédito deveria ter, necessariamente,natureza de longo prazo. Dessa forma, a alternativa está correta.

A alternativa seguinte, b, afirma que houve proteção à indústria nacional, mediantetarifas de importação e barreiras não tarifárias. Ora, pelo que vimos, de fato, durante o PSI,o governo implantou diversos tipos de restrições à importação. Com isso, conseguia garantira competitividade das empresas nacionais, o que fortalecia, em última instância, a indústrianacional. Logo, a alternativa também está correta.

A letra c afirma que houve participação direta do Estado no suprimento da infraestrutura(energia, transporte). Para confirmarmos a veracidade dessa alternativa, basta pensar noPlano de Metas ou no Plano Salte. Quais eram os objetivos desses planos? Certamenteobjetivos ligados à infraestrutura. Logo, essa alternativa é verdadeira: A infraestruturanecessária ao processo de industrialização cabia, necessariamente, ao governo brasileiro.

Restam apenas as alternativas d e e. A letra d diz que é a participação direta do Estado naprodução em alguns setores tidos prioritários (siderurgia, mineração, petróleo). Verdadetambém. Basta lembrarmos que nesse período foram criadas diversas estatais pelo governo,como a Petrobras.

Logo, a resposta é a letra e. Contrariamente ao que afirma a alternativa, não houve

preocupação em fornecer produtos de qualidade e baratos. Uma vez que a indústria eraprotegida, não houve tamanha preocupação com o mercado interno.

Gabarito: Letra e.

2. (EPE – Economia da Energia – 2006) A política de valorização do café no Brasil, iniciada em 1906 no Convênio deTaubaté e recorrentemente utilizada para evitar quedas significativas no preço internacional do produto,apresentava como principais determinantes a(o):a) retenção de parcela da produção doméstica para reduzir as exportações do produto, prática possibilitada pela

participação brasileira no mercado internacional do café e por sua baixa elasticidade-preço;b) retenção da produção de café por alguns anos, eliminando as exportações, em decorrência das graves crises

internacionais que afetavam a demanda externa do produto, como ocorreu na década de 1930 (do século XX);c) punição de produtores de café que ultrapassassem as cotas de produção predeterminadas pelo governo central,

visando à manutenção dos preços internacionais do produto;d) busca de maior diversificação produtiva nas áreas de plantio do café, evitando a forte dependência dos produtores

em relação a um único item;e) impedimento do plantio de novas áreas para a produção de café, determinando uma drástica redução estrutural da

oferta internacional de café.

Comentários:Para ficar diferente, vamos responder essa da última para a primeira:A letra e afirma que um dos principais determinantes era o impedimento do plantio de

novas áreas para a produção de café, determinando uma drástica redução estrutural daoferta internacional de café. Ora, durante esse período não houve redução da produção decafé, muito menos impedimento do plantio. Lembre-se que durante a crise de 1929 houveum processo de superprodução, logo, é impossível que em 1906 tenha havido qualquer tipode restrição à produção desse bem.

A letra d, por sua vez, diz que era a busca de maior diversificação produtiva nas áreas deplantio do café, evitando a forte dependência dos produtores em relação a um único item.Muito pelo contrário! Antes da industrialização, o café era, de longe, o produto maisrentável a ser produzido no Brasil. Assim, os empresários destinavam todos os seus esforçospara a produção de café, não para a produção de outros tipos de bens.

A letra c é bem parecida com a letra e. Vejamos: punição de produtores de café queultrapassassem as cotas de produção predeterminadas pelo governo central, visando àmanutenção dos preços internacionais do produto. Punição?

Claro que não!Lembre-se que estamos na época da República do Café com Leite e, assim, há incentivo à

produção, nunca restrição. Dessa forma, assim como as demais questões, a letra c tambémestá incorreta.

A letra b afirma que era a retenção da produção de café por alguns anos, eliminando asexportações, em decorrência das graves crises internacionais que afetavam a demandaexterna do produto, como ocorreu na década de 1930 (do século XX). Eliminação dasexportações? Nada disso! Houve, de fato, redução das exportações, mas não eliminação!

Note que a questão estaria certa, não fosse essa palavra.Nesse caso, vale um conselho: leia com cuidado. Muitas vezes a alternativa tem um

detalhe mínimo que a torna errada. Eis aí o caso.Finalmente, a letra a é a alternativa correta, porque afirma que houve retenção de parcela

da produção doméstica para reduzir as exportações do produto, prática possibilitada pelaparticipação brasileira no mercado internacional do café e por sua baixa elasticidade-preço. Exatamente! Lembra que o governo passou a reduzir as exportações a fim de elevar opreço do produto no mercado internacional? Com essa prática, o governo objetivava elevar,pelo menos um pouco, o nível de preços do café que prevalecia internacionalmente.

Gabarito: Letra a.

3. (EPE – Economia da Energia – 2006) O Plano de Metas (1956-1961) marcou uma importante transformaçãoprodutiva brasileira, visando à maior integração da estrutura industrial no país. Para sua montagem, foifundamental a identificação de pontos de estrangulamento que representavam setores:a) cuja oferta não era capaz de responder rapidamente a uma elevação de demanda.b) cuja expansão era inviável e que deveriam ter prioridade nas importações.c) periféricos da indústria e com baixa capacidade de geração de emprego.d) capazes de gerar grande demanda para outras atividades produtivas.e) compostos por empresas de baixos níveis de produtividade e sofisticação tecnológica.

Comentários:Opa! Pontos de estrangulamento!Vamos reforçar:Toda vez que pensarmos em plano de metas, lembraremos que o governo implementou

diversos investimentos setoriais que serviram para atacar pontos de estrangulamento; outrosinvestimentos eram realizados para gerar pontos de germinação.

Mas o que seriam esses pontos?Pontos de estrangulamento: áreas de demanda insatisfeita em função das características

desequilibradas do desenvolvimento econômico.Pontos de germinação: áreas que geram demanda derivada.Nesse sentido, os pontos de estrangulamento eram setores em que seria necessário investir

para que fosse possível proporcionar, de fato, o desenvolvimento. Seriam como os gargalosque existem dentro da estrutura produtiva do país.

Com essa definição na cabeça, vemos que a letra correta é a alternativa a, que afirma queesses são pontos cuja oferta não era capaz de responder rapidamente a uma elevação dedemanda. Nesse quadro, merece destaque, por exemplo, a infraestrutura já debatida nasquestões anteriores. Como a oferta não crescia rapidamente para responder à demandaproveniente do setor automobilístico, por exemplo, era caracterizada como um ponto deestrangulamento para o crescimento da economia.

Vamos ver mais:A letra b está incorreta já que não se definem essas áreas como espaços cuja expansão era

inviável e que deveriam ter prioridade nas importações. Como já vimos, era possível haverexpansão dos pontos de estrangulamento. O problema é que essa expansão deveria serrealizada pelo setor público, por meio das políticas governamentais, já que ela exigia muitosinvestimentos e era de longo prazo. Além disso, veja que esses pontos não são prioridade nasimportações, até porque não é possível importar estradas.

As letras c, d e e, assim como a b, não estão de acordo com a definição dos pontos. A letrac afirma que eram periféricos da indústria e com baixa capacidade de geração de emprego.Veja que esses pontos, por definição, não são pontos periféricos, muito menos com baixacapacidade de geração de empregos. Lembre-se sempre de que, quando falarmos em obraspúblicas, estaremos falando, necessariamente, em setores de alta capacidade de geração deempregos.

Em seguida, a letra d afirma que esses pontos são capazes de gerar grande demanda paraoutras atividades produtivas. Essa seria, talvez, a questão que geraria mais dificuldades.Vamos entender por que ela está incorreta: veja que os pontos de estrangulamento não sãocapazes de gerar demanda para atividades. Pelo contrário, é a redução desses pontos deestrangulamento que viabiliza outras atividades produtivas. Dessa forma, a questão nãopode estar correta.

Finalmente, a letra e afirma que pontos de estrangulamento são compostos por empresasde baixos níveis de produtividade e sofisticação tecnológica, o que não tem nada a ver coma definição vista.

Gabarito: Letra a.

4. (EPE – Economia da Energia – 2006) As proposições abaixo dizem respeito ao Plano de Metas (1956-1961).I. Entre as técnicas de planejamento utilizadas no Plano de Metas destacaram-se a identificação de pontos de

estrangulamento e pontos de germinação.II. A elevação da produção de petróleo no País foi um fator essencial para o sucesso do Plano de Metas.III. A política de valorização do café foi um dos pontos mais importantes para viabilizar a implementação do Plano

de Metas.É(são) correta(s) apenas a(s) proposição(ões):a) I;b) II;c) III;d) I e II;e) I e III.

Comentários:O item I está, de cara, correto, pelo que vimos na questão anterior. Quando se falar em

planos de metas, teremos que lembrar que esse plano é responsável, sim, pela identificaçãodesses dois tipos de pontos que foram, em última instância, necessários para viabilizar oprocesso de industrialização no Brasil.

O item II fala sobre a produção de petróleo no país como fator para o sucesso do Planode Metas. Ora, o fator essencial para o sucesso do plano foi o investimento em

infraestrutura, não a produção de petróleo. Finalmente, o item III fala sobre a política devalorização do café no Plano de Metas.

Veja que essa política foi importante no governo de Getúlio Vargas, não nos demaisgovernos. A partir de 1945, passamos a dar menos importância ao café e muito maisimportância à indústria que, nesse tempo, já começava a ser mais rentável que o café.

Gabarito: Letra a.

5. (Petrobras – Economista Junior – 2005) Dentre as principais medidas do Plano de Metas, no governo JuscelinoKubitschek, destaca-se a:a) criação de comissões setoriais, como o geia;b) criação da Petrobras, para expandir a exploração de petróleo no país;c) imposição de uma política salarial concentradora de renda;d) realização de reformas tributária e administrativa;e) aplicação de políticas ortodoxas de combate à inflação.

Comentários:Vamos lá, da última para a primeira!A letra e afirma que houve aplicação de políticas ortodoxas de combate à inflação, o que

não foi verdade. Para que você se situe, essas políticas só começarão a acontecer, ainda emcaráter híbrido, durante o governo Sarney, nos planos Bresser e Verão. Como políticas defato de governo, apenas no Plano Real, no governo Itamar Franco.

A letra d afirma que JK realizou as reformas tributária e administrativa, o que tambémnão é verdade. De fato, essas reformas foram realizadas, mas alguns anos depois, quando ogoverno militar implantou o Paeg (Programa de Ação Econômica do Governo) entre 1964 e1968. Antes disso, nada tinha sido reorganizado.

A alternativa c afirma que JK realizou a imposição de uma política salarial concentradorade renda. Não houve uma política nesse sentido. O máximo que se pode dizer é que,durante o segundo governo de Getúlio Vargas, houve aumento salarial por iniciativa dopresidente, com fins muito mais políticos que de concentração de renda. Logo, a letra ctambém está incorreta.

Em sequência, a letra b está incorreta por afirmar que JK criou a Petrobras. Ora, aPetrobras foi criada em 3 de outubro de 1953, ainda, também, durante o segundo governode Getúlio Vargas.

Finalmente, a letra a é a alternativa correta. A criação do Geia (Grupo Executivo daIndústria Automobilística) foi iniciativa de JK, a fim de incentivar a entrada dessa indústriano país.

Gabarito: Letra a.

6. (Petrobras – Economista Pleno – 2005) Sobre a economia brasileira, considere as afirmações abaixo.I. O Plano de Metas teve por objetivo primordial aprimorar as medidas de combate à inflação no Brasil.II. Entre as principais ações estabelecidas no Plano de Metas estava a política de reserva de mercado.III. Atacar os pontos de estrangulamento e constituir pontos de germinação eram objetivos primordiais do Plano de

Metas.

Está(ão) correta(s) a(s) afirmação(ões):a) I, apenas.b) II, apenas.c) I e III, apenas.d) II e III, apenas.e) I, II e III.

Comentários:Novamente, mais uma questão que envolve o Plano de Metas do governo JK.O item I, aviso logo, não é verdadeiro. A razão para isso é simples: o Plano de Metas teria

sido maravilhoso, não fosse um absurdo erro causado na gestão do plano: o financiamento.Quando o presidente JK decidiu dar andamento ao Plano de Metas, não se preocupou emsaber como esse plano seria financiado. Assim, já na conclusão do plano, por não ter comopagar os gastos, JK emitiu moeda (siiimmm... ele mandou a Casa da Moeda imprimir!) e,com isso, houve forte aceleração inflacionária no período. Assim, a alternativa não éverdadeira.

Em seguida, o item II afirma que o Plano de Metas realizou a política de reserva demercado. De fato, para que as empresas pudessem se instalar no Brasil, elas solicitavam aogoverno brasileiro que fosse instalada uma reserva para que outras empresas do mesmosegmento não concorressem. Com esse tipo de política, o governo tornava interessante ainstalação de determinadas indústrias, como a automobilística, por exemplo.

Finalmente, com relação ao item III não há nem o que pensar, não é? De fato, o governobuscou reduzir os pontos de estrangulamento e criou os pontos de germinação, como vimosem praticamente todas as questões anteriores.

Gabarito: Letra d.

7. (IBGE – Análise Socioeconômica – 2010) Os estudiosos da história econômica do Brasil afirmam que a política deindustrialização pela substituição de importações já esgotara suas possibilidades de motivar o investimento e ocrescimento:a) antes do governo de Juscelino Kubitschek;b) no início dos governos militares da década de 1960;c) antes da crise de aumento do preço do petróleo em 1973;d) antes da crise da dívida externa no final da década de 1980;e) no início do governo de Fernando Henrique Cardoso.

Comentários:Essa é uma questão que acaba sendo bastante controvertida. Raciocine comigo: o PSI teve

início nos anos 1930 e se estendeu até, aproximadamente, 1980, quando perde força devidoàs duas crises do petróleo. Nesse sentido, as alternativas a, b e c não podem estar corretas,porque estariam dentro do período. Restam apenas as letras d e e. Então, aqui, cabe umraciocínio: como o PSI acabou em 1980, mais ou menos, isso não quer dizer que os efeitosdo PSI tenham acabado também nesse período, muitas iniciativas foram concretizadas nofuturo (imagine a instalação de uma fábrica). Assim, não podemos dizer que tão logo o PSI

foi extinto seus efeitos também cessaram. Dessa forma, não se pode dizer que não há efeitosdo PSI nos anos 1980. Logo, o que podemos afirmar, com certeza, é que durante o governoFHC não houve qualquer herança do PSI.

Gabarito: Letra e.Vamos em frente com mais teoria macroeconômica!

2.1. Macroeconomia em análise: a função estabilizadora do governo. Por que ogoverno precisa interferir na economia?

Para responder a essa questão, vamos ver o gráfico a seguir,1 que mostra a economiabrasileira ao longo de alguns anos:

Fonte da figura : A. Gremaud, Economia brasileira contemporânea.

Observe que o crescimento brasileiro ao longo de cem anos parece muito mais um exameneurológico. Com fortes altas e fortes processos de recessão. Então, será que foi bom para opaís crescer enormemente em um ano para no outro entrar em recessão? Não.

É por isso que o governo utiliza sempre a sua função estabilizadora para evitar essasgrandes variações no crescimento econômico. Assim, no final, o que o governo busca é o quechamamos de crescimento sustentado (a política do “é melhor crescer pouco por ano, mastodo ano, a crescer muito em um ano e entrar em recessão no outro”). Para isso, o governoutilizará dois tipos de política: a política fiscal e a política monetária.

Para que esse conhecimento seja bem aplicado, precisamos saber, primeiramente, como édeterminada a riqueza de um país para, a partir daí, sabermos como o governo podeinfluenciar na variação dos valores dessa riqueza, chamada PIB – Produto Interno Bruto –de uma determinada economia.

2.1.1. Produto Interno Bruto – PIBApenas revisando...O PIB pode ser assim definido: O valor de mercado de todos os bens e serviços finais

produzidos em um país em um dado período de tempo.Deve-se ressaltar que, nessa definição, é possível observar que todos os bens

contabilizados no PIB devem ser aqueles destinados ao consumo final. Bens intermediários(utilizados na fabricação de bens finais) não serão contabilizados no PIB, uma vez que ovalor do bem final já considera o valor de todos os bens intermediários utilizados.

Observe-se ainda que toda a produção contabilizada no PIB diz respeito ao que foifabricado em um determinado espaço geográfico, em uma unidade de tempo fixada. Assim,a compra de, por exemplo, apartamentos ou automóveis usados não é contabilizada no PIBno ano da troca, mas apenas no ano de fabricação.

E como seria determinada essa produção? De acordo com o que chamamos deidentidades contábeis, o PIB, ou seja, toda a produção de uma economia, pode ser obtidode três formas distintas: pela ótica do produto, da renda e da despesa. As três óticas demensuração do produto definem a identidade contábil básica:

PRODUTO = RENDA = DESPESA

Seguindo esse princípio, temos que toda a produção de uma determinada economia seráconsumida por um dos quatro agentes econômicos (famílias, empresas, governos e resto domundo). E, para que esses agentes possam adquirir tais bens, precisam de renda. É como seestivéssemos falando do fluxo real e do fluxo monetário no fluxo circular da riquezaexpandido (vamos ver novamente a figura a seguir).

O Produto Interno Bruto ou a produção da economia doméstica sai integralmente dasempresas, de forma simplificada, já que existem também as importações que acabamatendendo às demandas internas, e vai ser demandado por todo mundo. Veja que aprodução é direcionada para as famílias, o governo, as empresas e para o resto do mundo.

A pergunta que você pode estar se fazendo agora é: se os bens estão indo para os agenteseconômicos, por que as setas mostram saídas? Porque, nesse caso, para poder obter os bens,esses agentes econômicos precisam deixar dinheiro no mercado de bens e serviços. Assim, ofluxo monetário é nada mais que uma contrapartida do fluxo real ou físico.

Então, seguindo esse raciocínio, fica bem clara uma verdade:Quanto mais os agentes consumirem, mais as empresas produzirão, mais a economia

crescerá. Apenas lembrando, crescimento nada mais é do que uma variação positiva doPIB.

Simples, imagine que o PIB de determinado país seja de R$ 1.000,00. Agora suponha queo PIB alcance, no ano seguinte, o valor de R$ 1.200,00. Qual foi o crescimento do PIB nesseano? Em termos nominais, essa economia cresceu 20%. Esses 20% é o que chamamos decrescimento. Quando a economia desacelera, ou seja, quando sai de R$ 1.200 para R$1.000,00, dizemos que houve recessão. Isto é, recessão é o oposto de crescimento.

CURIOSIDADES

Em 2009, enquanto a China cresceu 9,2%, o Japão apresentou uma recessão de -6,3%. Esse foi um dos motivos para que a Chinapudesse ultrapassar o Japão em termos de PIB, ocupando a segunda posição do PIB mundial (perdendo apenas para os EstadosUnidos).

Em resumo, pode-se dizer que em contabilidade nacional toda produção gera renda etoda produção possui um destino.

Um aspecto que você deve ter observado no fluxo circular expandido da riqueza é que oagente governo também faz parte da formulação do PIB, logo, sempre que for do seuinteresse, ele pode se movimentar e alterar esse valor.

Certo! E o governo o fará com frequência (seja aumentando ou reduzindo o PIB), pelosmais diversos objetivos, como a indução da aceleração do crescimento, a redução dainflação, o aumento do nível de emprego etc.

Quando o governo opera, diretamente, no mercado de bens e serviços, ele fará o quechamamos de política fiscal.

2.1.2. Política fiscalA política fiscal se caracteriza pelos gastos do governo, pela tributação e pela política de

endividamento público.

TRIBUTAÇÃO?

Aqui vale um esclarecimento importantíssimo!

O governo pode utilizar os tributos (impostos, taxas e contribuições) não apenas para promover melhor distribuição de renda, mastambém para estabilizar a economia. A função que o governo quer atender quando altera os impostos deve estar clara no enunciado daquestão. Resolveremos algumas questões nesse sentido para que a diferença fique bem evidente.

A política fiscal é uma das principais ferramentas de que o governo dispõe para apromoção de pleno emprego, da estabilidade de preços e do rápido crescimentoeconômico. Como o governo faz isso?

O governo pode utilizar, fundamentalmente, dois instrumentos: os gastos do governo e osimpostos. Mais adiante explicaremos a política de endividamento público.

Vamos começar pelo mais simples: imagine que o governo está alterando os seus gastos.Suponha que o governo aumente as suas compras governamentais. Esse aumento vai

aquecer o mercado de bens e serviços. Como o governo está demandando mais, as empresasaumentarão a produção para atender a esse novo volume de compras. Nesse caso, haveráaumento do PIB da economia.

Assim, caso a economia esteja passando por algum problema de redução de PIB, porexemplo, o governo pode estabilizar a economia simplesmente aumentando seu volume degastos, já que isso implicaria aumento do PIB.

O impacto desse aumento de gastos não acaba por aí. Com o aumento da produção dasempresas, o que acontecerá? Elas contratarão mais, não é isso? O que implica que maisfamílias estarão trabalhando. Logo, se o governo quiser aumentar o número de empregos,basta tirar a mão do bolso e agir dessa forma.

Aumento de empregosO crescimento termina aqui? Não! Temos mais efeitos!Como as famílias possuem, agora, mais renda, vão comprar mais. Ou seja, haverá nova

injeção de compras na economia.Aumento do Consumo das famílias ↑E com o aumento do consumo das famílias, as empresas produzirão mais, empregarão

mais, e mais pessoas empregadas consumirão ainda mais, e assim a economia seguecrescendo e, se for o caso, saindo da recessão.

É o que chamamos de círculo virtuoso provocado pelo multiplicador de gastos dogoverno (ou seja, quando o governo gasta, esse valor é multiplicado inúmeras vezes).

Assim, quando o governo decide aumentar os seus gastos, ele deseja promover ocrescimento da economia, ou está procurando compensar alguma perda (por exemplo,redução das exportações porque o resto do mundo está em crise – qualquer semelhançanão é mera coincidência).

Veja que, para promover esse crescimento, o governo precisou apenas colocar a mão no

bolso uma única vez. Todo o restante do efeito foi consequência do fluxo de consumo dasfamílias. Assim, para compreender em sua integridade o efeito de uma política fiscal,precisamos compreender o que faz as famílias consumirem.

2.1.3. Funções consumo e poupança (C, S)

O consumo é o fim e a razão de ser de toda produção

Adam Smith

Quando se fala em variação de PIB no curto prazo, o mais importante componente dadespesa agregada é a despesa planejada com o consumo (C). O importante economistaKeynes acreditava que a renda corrente era o principal determinante das despesas com oconsumo. Segundo o autor, os homens (e principalmente as mulheres) desejam, em regra eem média, aumentar seu consumo à medida que sua renda aumenta, mas não na mesmaproporção do aumento da renda, ou seja, à medida que a renda disponível (parcela darenda nacional efetivamente canalizada para as famílias, depois da dedução de impostos eadição das transferências) das pessoas aumenta, o consumo também aumenta, mas a fraçãoda renda destinada ao consumo se mantém constante. De acordo com Keynes, a rendadisponível é, de longe, o principal determinante do consumo corrente de uma economia.Se a renda aumenta, os consumidores elevarão suas despesas planejadas.

Matematicamente, a função consumo é quase assumidamente linear. Se y é a rendadisponível, o consumo é função desta, ou seja, C = f(y). Essa função tem característicascrescentes, pois quando a renda cresce o consumo também cresce, e quando a rendadiminui o consumo também diminui. Se uma família tem uma despesa fixa b, e se sãoconsumidos a% da renda disponível, então a função consumo, denominada equaçãocomportamental (por captar o comportamento dos consumidores), é dada por:

C(y) = a y + b

Onde a = propensão marginal a consumir que mede o percentual da renda destinada aoconsumo.b = consumo autônomo independente da renda.

O gráfico abaixo apresenta a função de consumo agregado.

A propensão marginal a consumir (PMgC) é o acréscimo de consumo, dado umacréscimo na renda nacional:

Segundo a Lei Psicológica fundamental de Keynes, a PMgC é positiva, mas inferior a um.

0 < PMgC < 1

Isso significa que, dada uma variação positiva na renda (Δy), as pessoas reservam umaparcela para a poupança, de forma que o aumento de consumo (ΔC) é sempre menor queo aumento da renda, em termos agregados.

O intercepto (consumo autônomo) representa a parcela do consumo que não dependeda renda, mas de outros fatores (riqueza, renda futura, doações etc.). Ou seja, mesmoquando y = 0, então C = b (as pessoas não deixarão de consumir).

Logicamente, nem tudo é consumido em uma economia. Nesse caso, o que não seconsome se investe ou poupa. Podemos então definir poupança S como a diferença entre arenda disponível e o consumo. Assim:

S = y – C

S = y – a y – b

S = (1 – a)y – b

onde b é o consumo autônomo; a é a propensão marginal a consumir e (1 – a) é apropensão marginal a poupar, que é o acréscimo da poupança agregada, dado umacréscimo na renda nacional, isto é:

A função poupança também pode ser expressa graficamente:

É evidente que sabemos que esse conceito não é tão simples de ser compreendido. O quegostaríamos, agora, é que você tivesse em mente, principalmente, o conceito de propensãomarginal a consumir, pois ele será de imensa importância quando formos analisar osimpactos do gasto do governo e o multiplicador desses gastos.

2.1.4. Multiplicador dos gastos do governoImagine que o governo aumente os gastos de forma autônoma para fazer uma

determinada barragem. O que acontecerá com a renda dos trabalhadores dessa obrapública? Aumentará.

Com a renda maior, o que essas pessoas farão? Elas consumirão mais. Com o aumento doconsumo nos arredores, o Sr. João, dono de um pequeno mercado, terá que contratar maisfuncionários para poder atender ao aumento do consumo no seu estabelecimento. Com ascontratações, os novos funcionários do Sr. João terão mais renda e passarão a consumirmais. Esse ciclo de crescimento aumentará em um volume indefinido. Esse aumento édenominado efeito multiplicador dos gastos públicos.

Você deverá notar que à medida que andamos no ciclo o aumento do consumo será cadavez menor. Isso se deve a uma razão simples: não consumimos toda a nossa renda. Umaparte dela vai para a poupança (a função poupança é crescente em relação à renda, ou seja,

quando a renda aumenta, aumentará o volume poupado pela economia também).

E de que depende o poder da política fiscal? Podemos dizer que o efeito da política serámaior quanto maior for a propensão marginal a consumir da economia (ou seja, o quanto oconsumo aumenta quando a renda aumenta). Para analisar essa questão, basta verificarmosum fato extremo: imagine se as pessoas que trabalham na obra pública não consumissemnada. Haveria efeito multiplicador? Não. Por outro lado, se as pessoas consumissem toda asua renda, o efeito que o Sr. João sentiria no seu mercado seria total.

Todo esse multiplicador pode ser resumido em um cálculo simples, que determina emquanto a renda da economia crescerá, caso haja um aumento nos gastos autônomos.

2.1.4.1. Fórmula do multiplicador dos gastos do governoSuponha a equação do equilíbrio entre produção e despesa: Y = C + I + G,Onde:A função consumo é dada pela seguinte expressão: C = C0 + c(Y) (onde C0 é o consumo

autônomo e c(Y) mede a propensão marginal a consumir com relação à renda).O investimento das empresas (ou seja, o gasto que as empresas fazem no mercado de bens

e serviços) é, por simplificação, considerado constante e é dado pela seguinte expressão: I =I0.

Os gastos do governo, também chamados gastos autônomos, dizem respeito ao gasto dogoverno no mercado de bens e serviços. Esses gastos, por hipótese, também são constantes,em princípio, e dados pela seguinte expressão: G = G0

Para facilitar ainda mais a compreensão, vamos considerar que essa economia é fechada,ou seja, nem importa nem exporta.

Para que seja possível obter a fórmula do multiplicador, inicialmente consideraremos quea função investimento é totalmente autônoma e, por simplificação, igual a zero, de formaque I = I0 = 0.

Veja:

Y = C + I + G

Y = C0 + cY + I0 + G0

Y – cY = C0 + G0

Y(1 – c) = C0 + G0 (1)

Agora imagine que os gastos do governo saiam de G0 e vão para G1. Nesse caso teremos aseguinte expressão:

Y1(1 – c) = C0 + G0/G1 (2)

Observe que a diferença entre a primeira expressão e a segunda se dá na variação dosgastos e da renda. Não existe variação no consumo autônomo (C0) nem na propensãomarginal a consumir (c), já que esses termos são fixos no curto prazo, apenas sendoalterados no longo prazo.

Se subtrairmos a segunda expressão da primeira, teremos o seguinte:

Chamando ainda Y1 – Y de ∆Y e G1 – G0 de ∆G, poderemos reescrever da seguinte

forma:

∆Y . (1 – c) = ∆G

∆Y / ∆G = 1 /(1 – c)

Observando a expressão acima, é possível perceber que o termo na esquerda medequanto a renda variou (pode ser para mais ou para menos) quando houve uma variação

nos gastos do governo. A expressão que está no lado direito é justamente o multiplicadordos gastos do governo.

Como você pode observar, ele não pode ser negativo, já que a propensão marginal aconsumir é um número entre 0 e 1. Assim, o multiplicador dos gastos do governo medequanto a renda variou, dado que houve uma variação nos gastos do governo.

Pela simples análise matemática da fórmula, verificamos que, quanto maior a propensãomarginal a consumir (maior o c), maior será o multiplicador dos gastos do governo. Isto ébastante intuitivo, como já visto anteriormente: quanto mais as pessoas forem propensas agastar a renda adicional que obtiverem, mais facilmente a renda será circulada emultiplicada. Quanto menos as pessoas forem propensas a gastar, isto é, quanto maior apropensão marginal a poupar (1 – c), menos a renda adicional será circulada emultiplicada entre os agentes econômicos. Para compreender bem esse raciocínio, bastalembrar do que acontecerá na empresa do Sr. João, acima.

Exercícios1. (CESGRANRIO – EPE – Economia da Energia – 2006) Supondo que a propensão marginal a consumir de uma

economia seja igual a 1, o multiplicador dos gastos autônomos será igual a:a) 0;b) ∞;c) 1;d) – ∞;e) 100.

Comentários:Para responder a essa pergunta, basta apenas lembrar da fórmula do multiplicador dos

gastos autônomos do governo, dada por:

Substituindo c por 1, teremos:

Ora, você deve observar que se substituirmos por 1, teremos uma divisão por zero, o que é

uma inconsistência matemática. Para resolver essa questão, precisamos pensar que nãoteremos uma divisão por zero, mas uma divisão por um número muito, muito pequeno.

Nesse caso, qualquer número dividido por uma coisa muito pequena, digamos,0,00000000000000000001 tenderá ao infinito. Logo, a alternativa correta é a letra b.

A alternativa a diz que o multiplicador possui o valor 0. Para verificar por que essa letraestá incorreta, basta observar que em nenhuma hipótese o multiplicador dos gastos dogoverno tomará o valor zero, pois sempre estaremos dividindo 1 por alguma coisa. Assim, éverdadeiramente impossível que o multiplicador seja zero.

A alternativa c também está incorreta, por afirmar que o multiplicador é 1. Essaalternativa só estaria correta se, e somente se, o valor da propensão marginal a consumirfosse 0. Esse é o caso extremo que vimos para Sr. João, na explicação inicial. Contudo, comovimos também, na maior parte esmagadora das análises, a propensão marginal a consumirserá um número diferente de zero. Dessa forma, PMgC igual a zero só é válida paraexemplos mais didáticos.

A assertiva d, por sua vez, está incorreta por associar o multiplicador a um valor negativo.Como a propensão marginal a consumir é um número que está entre 0 e 1, o multiplicadornunca tomará um valor negativo. Por fim, a alternativa e está incorreta por afirmar que ovalor do multiplicador será 100. Ora, para alcançar esse valor, a propensão marginal aconsumir da questão deveria ser igual a 0,99.

Gabarito: Letra b.

2. (Cesgranrio – Petrobras – Economista Pleno – 2005) Considere o modelo keynesiano simplificado, em que oequilíbrio produto-despesa é descrito pela seguinte equação:Y = C0 + cY + I + G,onde Y é o produto, C0, o consumo autônomo, c, a propensão marginal a consumir, I, o investimento privado e G,os gastos do governo. Assumindo que a propensão marginal a consumir é igual a 1, um aumento nos gastos dogoverno de G para 2G faz o produto de equilíbrio:a) dobrar;b) aumentar infinitamente;c) aumentar em 2G;d) aumentar em C0 + i + 2G;e) manter-se constante.

Comentários:Como você pode observar, essa questão é simplesmente uma repetição do exercício

anterior, e tem a mesma resposta. Letra b.

Veja que, nesse caso, a alternativa a só seria verdadeira se estivéssemos falando de ummultiplicador quando a propensão marginal a consumir da economia é um valor muitopróximo de 1.

As alternativas c e d não estão corretas porque apenas para casos muito específicos nãoapenas da propensão marginal a consumir, mas também da variação dos gastos do governo,é que seria possível obter multiplicadores com os valores afirmados.

Por fim, seria impossível manter a renda (ou o produto) constante quando há variaçãonos gastos do governo. Importante: Se o governo consumir mais, as empresas produzirãomais, logo, o Produto Interno Bruto tem que aumentar também.

Gabarito: Letra b.

Veja esta matéria do jornal O Estado de S. Paulo2:

Gastos dos governos caem em ritmo recorde no 4o tri de 2011, diz OCDE.Gastos dos governos dos 34 países da OCDE recuaram 0,4% no quarto trimestre de2011, em relação ao terceiro trimestre; recorde anterior de queda nos gastos era de0,3%, registrado no primeiro trimestre de 1989.

05 de abril de 2012 | 10h 25Álvaro Campos, da Agência EstadoLONDRES – A Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE)divulgou hoje um relatório sobre o PIB dos países membros no quarto trimestre doano passado. O estudo aponta que os gastos dos governos do grupo caíram no ritmomais rápido desde que esse acompanhamento começou, em 1961, contribuindo parauma desaceleração no crescimento econômico.Os gastos dos governos dos 34 países da OCDE recuaram 0,4% no quarto trimestre de2011, em relação ao terceiro trimestre. O recorde anterior de queda nos gastos era de0,3%, registrado no primeiro trimestre de 1989.O PIB combinado dos 34 países da OCDE subiu 0,2% no quarto trimestre do anopassado, desacelerando em relação à expansão de 0,6% no terceiro trimestre. O PIBdo Brasil cresceu 0,3% nos últimos três meses de 2011, após a retração de 0,1% noterceiro trimestre.

Note que:i. a matéria fala de gastos do governo;ii. trata da política fiscal e seus efeitos nos produtos das economias;iii. por fim, o que vai acontecer nessas economias quando o governo altera os seus gastos.

Começando pelo título: Gastos dos governos caem em ritmo recorde no 4o tri de 2011,diz OCDE.

Observação: É justamente o contrário do que tínhamos visto acima.Redução dos gastos do governo ↓.Redução da renda ↓ (o fluxo que sai do governo para o mercado de bens e serviços

também será menor, logo, as empresas produzirão menos. Fluxo circular da riquezaexpandido).

A partir da redução da empresa por parte das empresas, existirá:redução do número de empregos ↓, o que implicará:redução do consumo das famílias ↓, que implicará um efeito multiplicador, como já

vimos antes.Logo, o que está acontecendo com a economia mundial, em termos de política fiscal, é

que a economia está em recessão. Todos os governos gastando menos agora provocamredução generalizada do consumo, o que leva a um aprofundamento da crise.

Quando os gastos do governo aumentam, dizemos que o governo está promovendo umapolítica fiscal expansionista, ou seja, ele deseja aumentar a renda e o emprego, porexemplo. Quando acontece o contrário, o governo está fazendo uma política fiscalretracionista ou contracionista. Os objetivos do governo quando ele age desse modo não sãoapenas reduzir renda e emprego. Como veremos mais adiante, o governo poderá desejar

reduzir a inflação ou o seu grau de endividamento.

2. (Cespe – MEC – FUB – Economista – 2009) A macroeconomia analisa a determinação e o comportamento dosgrandes agregados econômicos, como, por exemplo, renda, níveis de preços e desemprego. Com base nessateoria, julgue a questão:Se a propensão marginal a consumir for igual a 0,8 em uma economia fechada, então um aumento de R$ 1.000,00dos gastos públicos elevará a renda da economia em R$ 5.000,00.

Comentários:Conta simples, que já fizemos várias acima.

Dado que na questão a variação nos gastos foi de R$ 1.000,00 e a propensão marginal aconsumir é de 0,8, podemos escrever:

Passando o valor de R$ 1.000,00 para o lado direito e multiplicando por cinco, teremos oseguinte:

∆Y = 5 * 1.000

∆Y = 5.000

E... Voilà! Nesse caso, de fato, se a renda aumentar em R$ 1.000,00 e a propensãomarginal a consumir for de 0,8, a renda da economia será multiplicada por cinco, o queimplica que a nova renda será de R$ 5.000,00.

Gabarito: VERDADEIRA.

Você pode estar se perguntando se apenas o aumento de gasto público (aumento de G)tem esse efeito multiplicador. A resposta é NÃO. Na verdade, um aumento em qualquer doselementos autônomos da função Y sofrerá esse efeito multiplicador. Ainda no nossoexemplo numérico, se aumentarmos C0, I0 ou G0, qualquer destes aumentos sofrerá oefeito multiplicador. A questão é que o governo possui controle sobre o consumo autônomoou sobre o nível de investimentos das empresas, por isso, como estamos querendo analisaros efeitos das intervenções dos governos, não faz sentido estudar multiplicadores doconsumo autônomo ou dos investimentos empresariais.

Outro instrumento utilizado pelo governo como estabilizador da economia é a tributação.Quando o governo aumenta ou reduz o nível de impostos da economia, ele pode estarinteressado não apenas em fazer melhor distribuição da renda, mas também em, de algumaforma, estabilizar a economia.

Para ver a veracidade disso, basta lembrar de um exemplo real recente: a redução do IPIpara automóveis e eletrodomésticos da linha branca.

Pois é, a política de redução de impostos implementada pelo governo Lula em 2009 nãotinha nada a ver com melhor distribuição de renda. Na verdade, o objetivo era outro:aumentar a renda da população. Por que isso? Basta lembrar que em 2009 a economiabrasileira percebeu que a crise mundial não ia gerar apenas uma “marolinha”, como tinhaprevisto o então presidente Lula. Na época, a economia brasileira viveu uma recessãotrimestral de 0,9% no PIB. Ou seja, reduzimos o nosso PIB em praticamente 1%. Para evitarque a crise se aprofundasse na economia, o governo utilizou-se de suas ferramentasestabilizadoras para reverter o processo. É por isso que se diz, muitas vezes, que as políticaseconômicas implementadas pelos governos são anticíclicas: se a economia cresce demais, apolítica é utilizada para frear o ciclo de crescimento desordenado. Se a economia temrecessão forte, a política é direcionada para gerar maior crescimento.

Aqui vale um ponto de esclarecimento: diferentemente do que acontece com a políticafiscal, que utiliza os gastos do governo, a utilização dos impostos leva a um efeito menor doque o observado quando são utilizados os gastos do governo. O fluxo circular da riquezaexpandido explica a razão disso:

Veja que, quando o governo promove política fiscal através dos impostos ou dastransferências, ele, necessariamente, está falando com o agente econômico família.

O governo aumenta transferências ou reduz impostos não com o objetivo de intervirdiretamente no mercado de bens e serviços, mas de sugerir que as famílias o façam. Nessecaso, é como se o governo fizesse uma atuação indireta no mercado. Embora indireto, oefeito final será exatamente o mesmo do que se observa quando o governo varia os gastos.Ou seja, quando o governo aumenta os gastos ou as transferências para as famílias ou aindareduz os impostos, haverá aumento da renda ou do produto. De forma contrária, quando ogoverno reduz os gastos ou as transferências ou aumenta os impostos, o efeito será deredução da renda ou do produto. A diferença entre os instrumentos está na magnitude doefeito.

Quando o governo varia os gastos, ele injeta o dinheiro totalmente no mercado de bens eserviços. Assim, se o governo aumentar os gastos em infraestrutura em R$ 100 milhões,digamos, o aumento da renda considerará essa injeção financeira.

Contudo, quando o governo implementa uma política fiscal, via impostos, acontece um

amortecimento do efeito da política devido à propensão marginal a consumir.

∆Yd = Y – T

sendo Yd = Renda disponível; T = Tributação

Se a renda das famílias aumenta em R$ 100 milhões, elas vão consumir tudo? Não. Umaparte da renda vai para a poupança. Assim, se a propensão marginal a consumir for de 0,9,o que vai para o mercado de bens e serviços, via aumento do consumo e, assim, aumento doPIB, são R$ 90 milhões, ou seja, R$ 10 milhões a menos.

Resumindo, os tributos podem ser sim utilizados como instrumentos de política fiscal,mas deve-se sempre lembrar que o seu efeito será menor.

1. (Cespe – Ibram – Economista/Analista de Atividades do Meio Ambiente – 2009) Em relação às políticas fiscais emonetárias, julgue a questão a seguir.A implementação de uma política fiscal expansionista, por meio do aumento dos gastos públicos no âmbito doPrograma de Aceleração do Crescimento (PAC), no valor de R$ 100 milhões, produz a mesma expansão dademanda agregada que uma ampliação dos gastos com programas de transferência do governo federal, do mesmomontante.

Comentários:Na primeira parte do item, vemos que há um aumento dos gastos públicos do governo,

logo, se trata da política fiscal expansionista. O importante é saber que há aumento degastos públicos, independentemente de o governo promover obras públicas ou se vai abrir efechar buracos.

A questão continua dizendo que os gastos foram de R$ 100 milhões e que esses gastosproduzirão o mesmo efeito na demanda agregada, ou seja, no produto da economia(identidade: produto = despesa = renda) que os gastos com programas de transferências.

E é aí que está o erro. As transferências atuam no mercado de bens e serviços porintermédio dos consumidores, e, assim, através da propensão marginal a consumir, não épossível que as transferências gerem o mesmo efeito que os gastos do governo, tendo emvista que não serão todos os R$ 100 milhões que entrarão na economia via mercado de bense serviços, já que esse valor será multiplicado por um número, necessariamente, menor que1.

Mercado de bens e serviços Política Fiscal

Pelo fluxo circular da riqueza, quando o governo aumenta as transferências, esse valornão recai diretamente no mercado de bens e serviços, mas incidirá sobre os consumidores.E consumidores mais ricos fazem o quê? Compram mais. Mas também poupam mais.

Nesse caso, digamos que a propensão marginal a consumir seja de 0,8, o que levará a umaumento inicial no consumo de R$ 80 milhões, e não de R$ 100 milhões como visto naquestão. Logicamente, haverá um multiplicador nessa economia, mas ele terá efeito menorquando comparado com o efeito dos gastos autônomos.

Mercado de bens e serviços Política Fiscal

Gabarito: FALSA.

O que você deve estar pensando é como pagar essa conta de aumento de gastos etransferências ou redução de tributos.

Quando o governo faz determinada política fiscal via aumento de gastos, considerandoque a oferta de moeda é constante (ou seja, o governo não pode financiar os seus gastoscom emissão de moeda), ele dispõe apenas de duas alternativas para financiar os gastos:(1) receita de impostos, de taxas cobradas pela prestação de serviços e da venda de ativosou;(2) endividamento.

No caso brasileiro, nos últimos anos, o governo vem utilizando o primeiro tipo definanciamento. Contudo, no passado, como veremos, esse financiamento era realizado,fundamentalmente, via endividamento (externo ou interno).

Quando a receita do governo, proveniente da arrecadação de impostos e de taxas deserviços, é igual aos gastos do governo com a compra de bens e serviços mais o valor das

transferências para o público, dizemos que o governo tem seu orçamento equilibrado. Masnem sempre o orçamento do governo está equilibrado.

De acordo com o professor Heber, um déficit orçamentário ocorre quando o total dasdespesas do governo supera o somatório das receitas provenientes de todas as fontespossíveis. Quando há déficit orçamentário, o governo precisa tomar emprestado parafinanciar o excesso de gastos sobre a receita. Ele toma emprestado emitindo títulos públicosque prometem pagar determinada taxa de juros ao comprador. O total desses títulos empoder dos credores do governo, a qualquer momento no tempo, constitui a dívida nacional.

CURIOSIDADES

Um exemplo não muito distante é o que está acontecendo na Europa. A Grécia, na intenção de manter o nível da renda da economianacional, passou a se endividar emitindo títulos púbicos com vencimentos no futuro. Qual foi o problema da Grécia? Os vencimentoschegaram, mas não os recursos para pagar a conta. Assim, o governo agora faz um ajuste para tentar resolver o problema. Um ajustedoloroso, com a redução dos gastos públicos, o que gera redução da produção nacional, dos empregos e do consumo.

Por outro lado, um superávit orçamentário ocorre quando as despesas do governo sãoinferiores ao total de sua receita. Esse superávit orçamentário permite que o governo reduzaa dívida (caso o governo possua). Dentre os orçamentos federal, estadual e municipal, oorçamento da União é o principal instrumento do que denominamos de política fiscal. Se,de um lado, uma grande empresa administra seu orçamento de modo a aumentar suarenda e os lucros, do outro, o governo federal administra seu orçamento com o propósitode influenciar a direção da economia no futuro.

Assim, mudanças no tamanho do déficit ou do superávit do governo federal são usadaspara identificar se a política fiscal está estimulando ou impondo restrições à demandaagregada e ao crescimento do produto. É importante destacar, entretanto, que mudançasno tamanho do déficit público podem ter origem em fontes diferentes.

A primeira é que o estado da economia pode ser a causa da variação do déficit. Duranteuma recessão, como resultado do desaquecimento da economia, a receita tributáriageralmente fica reduzida e a despesa com programas de transferências do governo aumenta(como aconteceu na Grécia). Isso provocará pressão no orçamento do governo na direçãode um déficit, mesmo que a política não tenha sido alterada. O oposto ocorrerá durante afase de expansão do ciclo de negócios. A receita tributária aumenta e as despesas com osprogramas de transferência ficam reduzidas, em decorrência do crescimento mais aceleradoda renda. Nesse caso, haverá pressão no orçamento do governo na direção de um superávit(ou menor déficit).

A segunda é que a própria política fiscal discricionária pode ser a causa de uma variaçãono déficit. Os responsáveis pela política podem introduzir, deliberadamente, mudanças nalegislação tributária ou nos programas de gastos do governo, de modo a alterar o tamanhodo déficit (ou superávit) orçamentário. Quando nos referimos a mudanças na políticafiscal, estamos nos referindo a mudanças desse tipo – mudanças deliberadas nas despesas

governamentais, na política tributária ou em ambas, com o objetivo de afetar o tamanho dodéficit ou do superávit orçamentário.

2.2. O lado monetário da economia2.2.1. A política monetária

Se a política fiscal mexe no fisco do governo, a política monetária, como o próprio nomesugere, altera o movimento da moeda na economia. Então, para que se possa falar empolítica monetária, é necessário antes compreender o que se entende por moeda.

Conceitualmente, o termo “moeda” é usado para denominar tudo aquilo que geralmenteé aceito como meio de trocas de bens e serviços. Assim;

Contudo, a moeda que conhecemos hoje não foi sempre assim. Ao longo de muitos anosessa moeda foi alterada, até chegar ao que atualmente se convencionou chamar de moeda.

2.2.1.1. Tipos de moedaCronologicamente, temos os seguintes tipos de moeda:

a) Moeda-mercadoria: no passado, geralmente, escolhia-se uma mercadoria que fosserelativamente escassa e não facilmente perecível (nem sempre possível). A históriaregistra que, em diferentes locais e épocas, foram usados como moeda sal, gado, fumo,peles, trigo, rum, ostra, carne-seca, ferro, cobre etc.

CURIOSIDADES

Você sabia que o nome salário vem de sal? Pois é, no passado, os soldados recebiam as suas remunerações em sal. Além disso, o salfoi usado ainda como dotes dados pelos pais aos potenciais maridos de suas filhas.

b) Metais preciosos: sem dúvida, de todas as mercadorias, a preferência maior recaía,geralmente, sobre os metais, não só pela sua relativa escassez, mas também peladurabilidade e fácil divisibilidade. Muito embora o ferro, o cobre e o bronze tenhamsido bastante utilizados, houve predominância do uso dos metais preciosos, notadamentea prata e o ouro, como acontece hoje.

CURIOSIDADES

Você sabia que existe ouro na sua moeda de R$ 1,00? Pois é, conceitualmente, o valor impresso na moeda deve ser exatamente igualao seu custo de produção. Contudo, não apenas para o Brasil, mas para a maioria esmagadora dos países, moedas de menor valorcustam mais para ser fabricadas do que o que está impresso no seu valor de face. Assim, caso queira ficar mais rico, derreta asmoedinhas de R$ 0,10 e venda como prata. Você deverá receber um valor maior do que os R$ 0,10.

c) Moeda-papel: com o crescimento do volume e valor das transações, o manejo de grandesquantidades de metais preciosos tornou-se problemático pelas dificuldades de transportee pelos riscos envolvidos. Pouco a pouco, nota-se o aparecimento de casas de custódiadesses metais em diversos pontos, em diversos países. Essas casas passaram a receber emdepósito os metais preciosos dos comerciantes, emitindo em troca um recibo oucertificado de valor correspondente. Este certificado recebeu a denominação de moeda-papel, e em geral era aceito nas transações. Sua característica principal era o fato depossuir lastro integral em ouro, isto é, a qualquer momento o possuidor do certificadopoderia ir à casa de custódia emissora e reconvertê-lo em ouro ou prata. Daí suacrescente aceitabilidade como meio de pagamento em substituição aos próprios metaispreciosos.

d) Papel-moeda: com o tempo, e diante da crescente demanda por tais certificados – paraatender os negócios em franca expansão –, as casas de custódia passaram a emitircertificados cujo valor global em circulação excedia o valor total dos metais preciosos alidepositados. A experiência acumulada pelos custodiadores mostrava que nem todos osdepositantes resgatavam, ao mesmo tempo, seus depósitos. Além do mais, enquantoalguns iam para reconverter seus certificados em ouro, outros faziam depósitos de maisouro. Assim, com um encaixe metálico menor, era possível garantir a liquidez doscertificados, isto é, garantir as reconversões que, em média, na semana ou no mês,correspondiam a apenas uma fração do total dos certificados em circulação.

e) Moeda escritural bancária: é representada pelos depósitos à vista, do público, nos bancoscomerciais – ou seja, as contas-correntes das empresas e dos indivíduos – materializados,na prática, pelo cheque.

Quase moedas: compreendem o conjunto de ativos do sistema financeiro não monetário,constituídos por compromissos assumidos pelas instituições financeiras e pelo governo ecaracterizados por extrema liquidez e por possuírem muitas propriedades da moeda. Asprincipais são: Títulos da Dívida Pública que estejam fora do Banco Central; Depósitos dePoupança; Depósitos a Prazo.

Sabemos que muitos são os tipos de moeda e a diferença entre eles às vezes não é tãoclara. Como o programa da prova cita especificamente a Política Monetária, não seránecessário esquentar a cabeça para decorar todos os tipos de moeda. Mas é bom saber queexistem vários.

Além dos tipos, a moeda exerce três funções principais dentro de uma economia.

2.2.1.2. Funções da moedaA moeda exerce simultaneamente as funções de:

• Meio ou instrumento de troca: esta é a função mais importante da moeda, já quepermitiu que a economia como um todo aumentasse sua eficiência, fazendo com quenovos produtos e serviços fossem colocados à disposição dos indivíduos.

A compreensão de que a moeda exerce a função de instrumento de compra pode servista quando compramos algo no mercado de bens e serviços. Para adquirir qualquertipo de bem, precisamos dar, em contrapartida, moeda. É desse modo que a moedaexerce a sua primeira função.

• Medida de valor ou unidade de conta: para entender a função da moeda comomedida de valor, perguntamos: Como é que sabemos que um automóvel Golf é maiscaro que um Polo?

Porque para comprar um Golf precisamos de mais moeda. Ou seja, todos os bens eserviços de uma economia assumem a forma de preço, que é expresso em umaunidade monetária comum. Para isso, ela precisa também ter um valor, ser tambémuma mercadoria. Ela serve de unidade ou ponto de referência para avaliação dosbens;

• Reserva de valor: para entender a reserva de valor, podemos pensar da seguinteforma: quando dizemos que possuímos R$ 100,00 na carteira, estamos dizendo,também, que podemos comprar, quando quisermos ou precisarmos, tudo aquilo quetenha um preço igual ou menor que R$ 100,00.

Nesse sentido, a moeda exerce a função de reserva de valor, desde o momento em que arecebemos até o instante em que a utilizamos para consumo. Pode ser definida como arepresentante universal da riqueza.

No passado, toda moeda – ou papel-moeda – era lastreada em ouro (moeda lastreada), ochamado padrão-ouro. A partir do desenvolvimento do comércio internacional, não foimais possível fazer a conversão de moeda em ouro.

Atualmente, existe a moeda fiduciária (de fidúcia, confiança), sem lastro, e sua aceitaçãoé garantida por lei. Com a passagem do padrão-ouro para a moeda fiduciária, a moeda nãoé mais função do estoque de ouro, o que dá às autoridades monetárias maior capacidade deafetar a quantidade de moeda, de acordo com os objetivos da política monetária.

2.2.1.3. Demanda e oferta de moedaAssim como as mercadorias e os serviços em geral, a moeda também tem oferta e

demanda. Veremos inicialmente como se compõe a oferta de moeda; depois, analisaremosos determinantes da demanda de moeda; e, em seguida, verificaremos como se dá oequilíbrio do lado monetário da economia, para, finalmente, analisarmos os impactos dapolítica monetária!

2.2.1.4. Oferta de moeda

2.2.1.4.1. Conceito e composição dos meios de pagamentoOferta de moeda é sinônimo de meio de pagamento, que assim é definido:

Em macroeconomia, dizemos que é o Banco Central o responsável pela emissão demoeda em uma economia, assim, podemos dizer que ele é o órgão responsável pelamanutenção da base monetária.

Contabilmente, a base monetária é dada pela soma dos valores constantes do chamadopassivo monetário do Banco Central, que se compõe de:i) papel-moeda em poder do público (PMP);ii) caixa em moeda corrente dos bancos comerciais (R1);iii) depósitos voluntários dos bancos comerciais junto ao Banco Central (R2); eiv) recolhimentos compulsórios dos bancos comerciais, também junto ao Banco Central

(R3).

A base monetária objetiva medir a liquidez, ou seja, as necessidades do setor produtivoprivado (excetuando-se o setor bancário), para satisfazer as transações com bens e serviços.

2.2.1.4.2. Banco Central do BrasilO Banco Central (Bacen) é a instituição reguladora do sistema financeiro brasileiro

(moeda e crédito). O Bacen atua como banqueiro do governo federal e banco dos bancoscomerciais. Controla o volume de reservas estrangeiras e dos bancos comerciais e, portanto,

controla o volume de moeda escritural que os bancos comerciais podem criar.3

2.2.1.4.2.1. Funções do Banco CentralAs funções típicas ou clássicas de um Banco Central são:

a) banco emissor de papel-moeda: cabe ao Banco Central imprimir o papel-moeda e amoeda metálica dentro da uma economia. Nenhum outro banco pode fazer isso.

b) banqueiro dos bancos comerciais: quando o Banco Itaú, por exemplo, precisa dedinheiro, não vai pedir ao Bradesco, mas, sim, ao Banco Central. Como o Banco Centralestá emprestando dinheiro a outro banco, dizemos que o Banco Central é o banco dosbancos.

c) banqueiro do Tesouro Nacional: além de emprestar dinheiro aos bancos comerciais, oBanco Central também pode emprestar dinheiro ao governo federal via Tesouro. Assim,o Banco Central também é chamado de banco do governo federal.

d) depositário das reservas internacionais do país: quando se falar em compra e venda dedólar no Brasil, você vai lembrar do Banco Central, pois é nele que fica guardada toda areserva em moeda estrangeira do país.

Até aqui, eu sei, a coisa é bem mais descritiva! O que queremos que você note é bemsimples: quem está no controle do Banco Central? O GOVERNO!

Logo, percebemos que, se ele quiser mexer em moeda, ou seja, fazer política monetária, ofará por meio de intervenções na economia via Banco Central. Simples assim.

2.2.1.5. Demanda por moedaSe o governo define a oferta de moeda, através do Banco Central, são os outros agentes

(principalmente os consumidores) que determinam a demanda por moeda.

Existem três motivos para demandar moeda:• Motivo transação• Motivo precaução• Motivo especulação (ou portfólio)

O primeiro motivo seria o mais óbvio: precisamos de moeda para adquirir bens e serviços.Assim, para que os consumidores possam comprar, eles demandam moeda para poderpagar as suas novas aquisições. Nesse caso, é importante notar que, à medida que a rendaaumenta, as pessoas passarão a consumir mais. Para consumir, precisam de mais dinheiro,então, necessariamente, demandarão mais moeda. Nesse sentido, o aumento da renda levaao aumento da demanda por moeda para transação.

Renda ↑ Consumo ↑ Demanda por moeda ↑

Outro tipo de demanda por moeda é a demanda por moeda para precaução, ou seja, éaquele volume de moeda que os indivíduos retêm para emergências. À medida que a rendaaumenta acabamos por reter mais moeda, por precaução.

Renda ↑ Demanda por precaução ↑

Finalmente, um último tipo de demanda por moeda: a demanda por especulação. Essademanda por moeda surge de um trade-off entre o custo de oportunidade de mantermoeda e a liquidez que a moeda oferece.

O custo de oportunidade de manter moeda depende da taxa de juros de curto prazo. Ouseja, trocando em miúdos, nós também vamos demandar moeda para especular (para fazero nosso dinheiro gerar mais dinheiro). Nessa situação, quanto maior for a taxa de juros,menos vamos querer comprar bens e serviços, já que vamos querer colocar toda a nossa ricamoedinha no banco para obter rendimentos.

Taxa de juros ↑ Demanda porespeculação ↓

Taxa de juros ↓ Demanda por especulação ↑

É através da relação entre demanda e oferta por moeda que o governo implementa apolítica monetária.

MotivoVariável

dependenteRelação entre variável e demanda por moeda

Transação Renda Direta:Renda ↑ Demanda ↑Renda ↓ Demanda ↓

Precaução Renda Direta:Renda ↑ Demanda ↑Renda ↓ Demanda ↓

Especulação Taxa de juros Inversa:Taxa de juros ↑ Demanda ↓

Taxa de juros ↓ Demanda ↑

Observação: Motivos, Transação e Precaução não rendem juros por reter moeda.

2.2.2. Os bancos comerciais criam moedaQuando é depositado dinheiro em um banco, ele pode emprestar as reservas excedentes,

que levam a novos depósitos no sistema bancário e a um efeito multiplicador sobre a ofertade moeda. Na prática, como grande parte da base monetária é mantida como moeda, omultiplicador é menor do que as reservas bancárias divididas pelo coeficiente de reserva.

Veja que o dinheiro que depositamos não fica no banco. Parte dele é emprestada paraoutros agentes que, por sua vez, depositam o dinheiro nos bancos... Esse fluxo giraindefinidamente, fazendo com que se diga que os bancos “criam moeda”.

Veja que o Sr. Silva não sabe o que fazer com o seu dinheiro. Assim, para guardar os seusricos R$ 100,00, antes de fazer qualquer investimento, decide colocar no Banco 1. O Banco1, quando recebe o dinheiro, não vai deixar guardado como o tio Patinhas, ele emprestaráas suas reservas excedentes no mercado. Note que o Banco 1 não poderá emprestar ovolume integral recebido. Assim, uma parte do que é recebido deve ser depositada, viareservas compulsórias, no Banco Central. No caso da figura acima, 60% do que é recebidopelos bancos são direcionados para o Banco Central via reservas ou encaixes compulsórios.

Ao emprestar o volume excedente, no caso, R$ 40,00, o Banco 1 cria moeda. Ou seja, emvez de R$ 100,00, agora, nessa economia, “existe” R$ 140,00: os R$ 100,00 do Sr. Silva e os R$

40,00 que foram emprestados, digamos, para a Sra. Pereira. O Banco 1 criou, de fato,moeda? Não. Na verdade, é como se o banco colocasse moeda em circulação sem,necessariamente, imprimir mais moeda.

Esse processo segue indefinidamente pelos bancos 2, 3, 4 etc., e cria o que denominamosmultiplicador bancário.

Mas, finalmente, como podemos compreender a oferta de moeda? O tópico abaixomostra como isso pode ser feito.

2.2.2.1. Diagrama da oferta de moedaDigamos que, de forma simplificada, a oferta monetária é composta pelos meios de

pagamento de uma determinada economia, e é imposta pelo Banco Central de acordo comos objetivos da política econômica do governo. Chamaremos a oferta de moeda nominal deMs. Caso desejemos obter a oferta real de moeda, dividiremos a quantidade nominal de

moeda pelo nível de preços. Assim, a oferta real de moeda é dada por (Ms/P).

Veja que afirmamos que a oferta de moeda dependerá das políticas do governo e não deoutras variáveis. Assim, se o governo determinar que deverá haver aumento da renda viapolítica monetária, isso implicará, necessariamente, deslocamento da curva de ofertamonetária.

A curva abaixo mostra a oferta de moeda em uma determinada economia em função dataxa de juros.

Veja que o gráfico apresenta, no eixo das ordenadas (na vertical), a taxa básica de jurosda economia e no eixo das abscissas (na horizontal), os vários níveis de oferta real de moeda(Ms0/P, Ms1/P, Ms2/P). E o que o gráfico quer demonstrar? Que a oferta de moeda

independe da taxa de juros, tanto que a curva de oferta de moeda é infinitamenteinelástica. E o que faz a curva se deslocar de Ms0/P para Ms1/P? É justamente a política

monetária.A política monetária atua na oferta de moeda. Logo, quando saímos de Ms0/P para

Ms1/P estamos provocando aumento da quantidade de moeda na economia. Então,

estamos fazendo uma política monetária expansionista. De forma semelhante, se saírmos deMs2/P para Ms1/P, estaremos reduzindo a quantidade de moeda, ou seja, efetuando uma

política monetária retracionista.Apenas lembrando: essa variação da oferta de moeda pode ser dada pelos três

instrumentos: operações no mercado aberto, taxa de redesconto ou reservas compulsórias.

2.2.2.2. Demanda por moedaExistem três motivos para demandar moeda, isto é, para reter encaixes monetários:

*Motivo transação*Motivo precaução*Motivo especulação (ou portfólio)

A primeira pergunta que você pode fazer é: mas por qual razão as pessoas precisam demoeda?

Se lembrar do fluxo circular expandido da riqueza nos capítulos iniciais deste livro, vailembrar que os consumidores realizam consumo, pagam seus impostos e poupam.

Veja que para os consumidores poderem consumir e colocar suas poupanças nos bancosprecisam de moeda.

Assim, a demanda por moeda surge da necessidade de os agentes econômicos darem ascontrapartidas financeiras quando há determinados fluxos reais na economia.

O problema desse processo de contrapartidas é que existe custo em manter moeda emnosso poder.

Pois é, quando andamos com dinheiro no bolso, estamos deixando de ganhar osrendimentos que poderiam ser gerados pela aplicação desses recursos no mercado de ativosfinanceiros. Assim, existe um trade-off entre o custo de oportunidade de manter moeda e aliquidez que a moeda oferece. O custo de oportunidade de manter moeda depende da taxade juros de curto prazo.

Apenas para que você entenda melhor, quando dizemos que as pessoas demandammoeda para efetuar compras no mercado de bens e serviços, estamos dizendo também queisso se deve à demanda por moeda para transação. Desse modo, quanto maior a renda (pelafunção consumo), maior será o consumo e maior será, também, a demanda por moeda paratransação. Logo, podemos dizer que a demanda por moeda para transação é uma funçãopositiva da renda da economia.

Tudo o mais constante, a quantidade de moeda nominal demandada é proporcional aonível de preços agregado. Assim, a demanda de moeda pode ser representada também pormeio da curva de demanda de moeda real. Mudanças no gasto agregado real, na tecnologiae nas instituições deslocam as curvas de demanda de moeda real e nominal.

A demanda por moeda por motivos de transação mostra que as pessoas retêm moeda paraefetuar pagamentos que vencem antes da data de recebimento de sua renda, ou seja, parafazer face à diferença de datas entre os recebimentos e os gastos diários com alimentação,transporte etc.

Mas não usamos dinheiro apenas para o consumo. A maioria das famílias reserva umaparte do seu dinheiro para as emergências. Essa moeda que fica guardada para qualquereventualidade chama-se demanda de moeda para a precaução. Existem várias razões quelevam as pessoas a demandar mais ou menos moeda por precaução. Entre as justificativas,podemos dizer que o grau de incerteza sobre a economia faz com que os agenteseconômicos retenham mais moeda para as eventualidades.

De acordo com o professor Heber Carvalho, claramente, esses saldos monetários(encaixes monetários) de segurança ou precaução também devem depender da renda doindivíduo ou da empresa. Quanto maior a empresa, ou mais rica a pessoa, maior anecessidade de moeda por precaução. Dessa forma, assim como a demanda por transações,a demanda de moeda por precaução também pode ser escrita como uma proporção darenda monetária.

Veja que, para o caso da demanda por moeda por precaução, não falamos que ela gerajuros. De fato, a demanda por moeda por precaução seria como o saldo da nossa conta-corrente, que usamos para qualquer eventualidade.

Finalmente, Keynes deu nova dimensão à moeda ao colocá-la também como forma depoupança, de acumular patrimônio. Segundo Keynes, as pessoas demandam moeda nãoapenas para satisfazer as transações correntes, mas também para especular com títulos,imóveis etc.

A moeda não apresenta rendimentos nem riscos, especialmente quando a inflação ébaixa. As pessoas, para reduzir os riscos, podem diversificar sua carteira de títulos em váriostítulos e aplicações, inclusive guardando certa quantidade de moeda. Dessa forma, essaquantidade de moeda também dependerá da rentabilidade dos títulos, ou seja, da taxa dejuros.

Pode-se, então, estabelecer uma relação entre demanda de moeda por especulação e taxade juros de mercado. É de se esperar que essa relação seja inversa: quanto maior a taxa dejuros, menos moeda os agentes reterão (que não rende juros) em seu poder. Assim, quantomaior a taxa de juros, maior a compra de títulos e menor a quantidade de moeda paraespeculação.

Graficamente, a curva de demanda por moeda se apresenta negativamente inclinada,mostrando a relação inversa entre taxa de juros e demanda especulativa por moeda. Peloque observamos, quando a taxa de juros se situa em níveis elevados, a demanda por moedaé praticamente nula, mas à medida que r cai, a demanda especulativa por moeda vaiaumentando. Quando r atinge um nível considerado mínimo, a demanda por moeda setorna horizontal, indicando que, a esse nível de taxa de juros, todos os indivíduos preferirãomoeda em vez de títulos (tecnicamente, diz-se, então, que nesse ponto a demanda pormoeda é infinitamente elástica à taxa de juros).

E o que leva a curva de demanda por moeda a se deslocar?Como vimos, a demanda por moeda para especulação mede a relação negativa entre

demanda por moeda e taxa de juros. De acordo com o que mencionamos acima, quantomaior a taxa de juros, menor será a demanda por moeda. Assim, vamos ter menos moedas emais títulos, o que leva a um movimento ao longo da curva de demanda por moeda (a taxade juros nesse caso funciona como o preço do “bem” moeda. Logo, movimentos no preçolevam a deslocamentos ao longo da curva de demanda).

Contudo, não é apenas a taxa de juros que afeta a demanda por moeda. Como vimosacima, a renda também afeta a demanda por moeda. Logo, assim como no caso dademanda individual de um bem ordinário, a renda afetará a demanda por moeda dedeterminada economia. Dessa forma, aumentos na renda deslocam a curva de demandapor moeda para cima (a moeda é um bem normal), e reduções na renda levam a curva parabaixo.

2.2.3. Equilíbrio no mercado monetárioAssim como nos demais mercados da economia, também é possível estabelecer equilíbrio

no mercado monetário de determinada economia.A interseção entre as curvas de demanda e oferta monetária geram equilíbrio nesse

mercado:

E o que se gera no equilíbrio no mercado monetário?Dizemos que quando o mercado monetário está em equilíbrio é determinada a taxa

básica de juros (que, no caso brasileiro, é chamada Selic).

Exercício(FAURGS – Secretaria da Fazenda do Estado do Rio Grande do Sul – Agente Fiscal do Tesouro do Estado – 2006) Sobre

o estudo da moeda e dos instrumentos de política monetária, assinale a informação CORRETA.a) O conceito de base monetária inclui os títulos públicos em poder do público e as reservas mantidas pelos bancos

comerciais no Banco Central.b) O multiplicador do sistema bancário pode ser definido como o inverso da taxa de redesconto.c) A curva de preferência pela liquidez é negativamente inclinada, pois mostra que a demanda de moeda para

transações é uma função inversa da taxa de juros.d) A compra de títulos e a diminuição da taxa de redesconto pelo Banco Central são medidas que colaboram para

cair a taxa de juros.e) A troca de dólares dos exportadores por moeda nacional, pelo Banco Central, é um exemplo de destruição dos

meios de pagamentos.

Comentários:Analisaremos item por item.Para responder a alternativa a, vamos lembrar um conceito visto acima:Contabilmente, a base monetária é dada pela soma dos valores constantes do chamado

passivo monetário do Banco Central que se compõe de:i) o papel-moeda em poder do público (PMP);ii) o caixa em moeda corrente dos bancos comerciais (R1);iii) os depósitos voluntários dos bancos comerciais junto ao Banco Central (R2); eiv) os recolhimentos compulsórios dos bancos comerciais, também junto ao Banco Central(R3).

Ou seja, pela definição, a alternativa está incorreta por afirmar que O conceito de basemonetária inclui os títulos públicos em poder do público e as reservas mantidas pelosbancos comerciais no Banco Central. Veja que no conceito analisado os títulos públicos empoder do público não fazem parte da base monetária da economia. Dessa forma, aalternativa está incorreta.

Em seguida, a letra b afirma que O multiplicador do sistema bancário pode ser definidocomo o inverso da taxa de redesconto. Onde está o erro? Em afirmar que o multiplicador éo inverso da taxa de redesconto. Ora, pelo que vimos no quadro que mostra o Sr. Silva, épossível analisar que a força que os bancos possuem para criar moeda dependerá,necessariamente, dos encaixes compulsórios que vão para o Banco Central, não da taxa deredesconto. Logo, o multiplicador bancário dependerá, necessariamente, desses encaixes eé dado pela seguinte fórmula:

multiplicador bancário =1

reservas (ou encaixes) compulsórias

A letra c, por sua vez, afirma que A curva de preferência pela liquidez é negativamenteinclinada, pois mostra que a demanda de moeda para transações é uma função inversa dataxa de juros. Um conceito que você deve compreender diz respeito à “preferência pelaliquidez”. Essa curva é mostrada pela curva de demanda por moeda em relação à taxa dejuros. Assim, quanto maior a taxa de juros, maior será o custo de oportunidade de mantermoeda no seu bolso. Logo, os consumidores passarão a aplicar os seus recursos financeirosem títulos financeiros que gerem maiores rendimentos. O inverso vale quando falamos dereduções na taxa de juros. E onde está o erro da questão? Está em afirmar que a curva depreferência pela liquidez diz que a demanda por moeda para transação é uma função dataxa de juros. Na verdade, é a demanda por moeda para especulação que responde avariações na taxa de juros, não a demanda por moeda para transação.

Para responder à letra d, precisaremos do conceito de equilíbrio monetário visto acima etambém entender os instrumentos de política monetária. Vejamos: A compra de títulos e adiminuição da taxa de redesconto pelo Banco Central são medidas que colaboram para caira taxa de juros. Observe que a questão fala sobre a compra de títulos e a redução da taxa de

redesconto. A compra de títulos e a redução da taxa de redesconto são formas que ogoverno possui de aumentar a quantidade de moeda na economia, ou seja, essa compra levaao aumento da oferta de moeda. Vejamos graficamente:

Com o aumento de moeda na economia, haverá deslocamento da curva de oferta demoeda para a direita, o que levará, necessariamente, a uma taxa de juros mais baixa. Assim,a alternativa d está correta.

Finalmente, a letra e é falsa, por afirmar que A troca de dólares dos exportadores pormoeda nacional, pelo Banco Central, é um exemplo de destruição dos meios depagamentos. Note que a criação ou destruição dos meios de pagamentos envolverá umatransação entre os setores bancário e não bancário da economia. Nesse sentido, como oexportador está dando dólares ao setor bancário e está recebendo reais, está havendo umacriação dos meios de pagamentos, não a destruição.

Gabarito: Letra d.

2.3. Política monetáriaA política monetária pode ser definida como um conjunto de medidas adotadas pelo

governo com o objetivo de controlar a oferta de moeda e as taxas de juros, de forma aassegurar a liquidez ideal da economia do país.

Pelo controle da oferta de moeda, o governo visa à elevação do nível de emprego, àestabilidade dos preços e a uma adequada taxa de crescimento econômico.

As autoridades monetárias não podem interferir diretamente no cotidiano dos agenteseconômicos, mas através da ação sobre as reservas bancárias e das taxas de juros,indiretamente induzem o público a alterar o perfil de seus gastos.

Para executar esses objetivos, o governo utiliza três instrumentos fundamentais, que vãoafetar, diretamente, o setor bancário, representado no fluxo circular expandido da riquezacomo o mercado de ativos financeiros.

Os principais instrumentos são:• Operações no mercado aberto: consistem na compra e venda de títulos públicos por

parte do Banco Central, objetivando regular os fluxos gerais de liquidez da economia.O funcionamento não é difícil de compreender: imagine que você tenha R$ 50,00 em

títulos do governo. Ou seja, em vez de colocar o seu rico dinheirinho na poupança,você decidiu emprestar ao governo por meio do que conhecemos no Brasil comoTesouro Direto.

Suponha ainda que chegou o dia do governo pagar esse dinheiro, ou seja, ele vai“comprar” o título da dívida dele que estava na sua mão.

Você não vai ao Banco Central buscar esse dinheiro, não é? Ele vai depositar o valor emsua conta no Banco e você pode ou não retirar a quantia. Para simplificar, digamosque você não vá buscar o valor no banco. O que acontece? O Banco possui maisdinheiro para emprestar a outras pessoas (banco não tem dinheiro. Ele usa o dinheirodos correntistas para emprestar a outras pessoas). Como agora, nessa hipótese, ele temmuito dinheiro, já que o governo pagou a ele, pode emprestar o valor cobrando maisbarato pelo empréstimo. O preço do empréstimo é chamado taxa de juros.

Com uma taxa de juros mais baixa cobrada pelos bancos, mais pessoas se interessarãoem fazer empréstimos para, por exemplo, financiar um carro.

Assim, quando vamos ao Banco e fazemos um empréstimo para comprar um carro,estamos, na verdade, aumentando o nosso nível de consumo, o que vai gerar aumentoda renda da economia.

Logo, quando o governo compra títulos no mercado aberto está, na verdade, colocandomais dinheiro em circulação para que, com isso, possa baixar o preço do dinheiro (ataxa de juros), para que as pessoas demandem mais moeda para transação, compremmais bens e serviços e façam a produção e o emprego crescerem.

Imagine agora que o governo deseja vender títulos. O que acontece nessa situação? Em

vez de você comprar bens, você vai comprar os títulos que o governo colocou à venda.Nesse caso, ocorrerá justamente o inverso. Como estará comprando os títulos dogoverno, vai deixar de ir ao salão de beleza para comprar esse título. Assim, não vaimais consumir e, com essa redução do consumo, não serão produzidos mais bens, oque provocará, em última instância, redução de emprego.

Logo, se o governo quiser aumentar a renda da economia, ele irá, através da políticamonetária, com o uso das operações no mercado aberto, comprar títulos e, caso desejediminuir a renda da economia, vender títulos.

Objetivo do Governo Como? Consequências

Aumentara renda

economia

Comprar títulos

(Mais dinheiroem circulação)

Redução da taxa de juros;

Maior demanda por transação;

Maior Consumo;

Maior Produção

(Política Monetária Expansionista)

Reduzir arenda

economia

Vender títulos

(Menos dinheiroem circulação)

Aumento da taxa de juros;

Menor demanda por transação;

Menor Consumo;

Menor Produção

(Política Monetária

Retracionista)

• Fixação da taxa de reservas compulsórias ou encaixes compulsórios: instrumentoutilizado pelo governo para controlar a oferta de dinheiro dos bancos. Tambémconhecidas como depósitos compulsórios, são mantidas pelas instituições bancáriasjunto ao Banco Central, em uma proporção dos depósitos à vista mantidos pelosbancos.

Como funciona: para cada R$ 1,00 que é depositado em um banco comercial, cerca deR$ 0,60 não ficam no banco comercial para que ele empreste; esse valor vai para oBanco Central como uma reserva que deve ser feita obrigatoriamente pelo banco.

Assim, se o governo quiser aumentar a renda da economia, via política monetária, vaideixar mais moeda nos bancos para que possam emprestar à sociedade. Logo, vaireduzir as reservas compulsórias. Caso deseje que a economia não cresça, iráaumentar o nível de reservas compulsórias, deixando os bancos sem recursos paraemprestar.

Objetivo doGoverno

Ação do governo Como? Por quê?

Acelerar oCrescimento da economia

Aumentar a rendaRedução das reservas

compulsóriasBanco tem mais

dinheiro para emprestar à população

Desacelerar o crescimento da Economia Reduzir a rendaAumento das reservas

compulsóriasBanco tem menos

dinheiro para emprestar à população

• Fixação da taxa de redesconto: o redesconto é um empréstimo que os bancoscomerciais recebem do Banco Central para cobrir eventuais problemas de liquidez. Ataxa de juros sobre esses empréstimos é chamada taxa de redesconto. Uma elevaçãodesta induz os bancos comerciais a aumentarem suas reservas voluntárias.

Lembra que falamos que o Banco Central era o banco dos bancos? Pois é. É justamenteatravés dos empréstimos que o Banco Central faz aos bancos comerciais que podemosdizer que ele é o banco dos bancos. Nesse caso, quando o Banco Central emprestadinheiro aos bancos, ele cobra em contrapartida uma determinada taxa. Esse valor échamado taxa de redesconto.

Quanto maior for a taxa de redesconto cobrada pelo Banco Central aos outros bancos,menores serão os valores demandados pelos bancos ao Bacen. Assim, menores serão osvalores que esses bancos colocarão a nossa disposição para que possamos, porexemplo, financiar o nosso carro zero. Logo, se não vamos comprar o nosso carro, asempresas não produzirão carros novos, o que traz como consequência a redução nonível de empregos.

Taxa de redesconto cobrada pelo Bacen Consequências

AumentaReduzir a demanda por moeda pelos bancos comerciais

Bancos comerciais terão menor quantidade de moeda à disposição do público

DiminuiAumentar a demanda por moeda pelos bancos comerciais

Bancos comerciais terão maior quantidade de moeda à disposição do público

Resumindo:Variações na Política Monetária fazem ocorrer modificações no rendimento dos ativos

financeiros e no custo e disponibilidade de crédito. Tal como a Política Fiscal, ela dáorigem a um efeito multiplicador através de mudanças na taxa de juros que afetam os gastosagregados e a poupança.

Para consolidar tanta informação, veremos alguns exercícios.

Exercício1. (Cesgranrio – Inea – Economista – 2007) O aumento do percentual da reserva compulsória que o Banco Central

exige dos bancos reduz a(o):a) oferta de moeda;b) demanda por bens públicos;c) taxa de juros vigente na economia;d) spread cobrado pelos bancos;e) gasto do governo.

Comentários:A questão fala sobre reserva compulsória. Essa reserva diz respeito ao percentual dos

nossos depósitos que não fica com os bancos comerciais e sim com o Banco Central. Logo,quando o governo institui aumento percentual da reserva compulsória, está, no final dascontas, retirando dinheiro dos bancos comerciais.

Assim, sem dinheiro, os bancos não podem fornecer moeda para o restante da economia,logo, haverá menos empréstimos sendo concedidos, o que implica menos consumo, menosprodução e menos emprego.

Você deve ficar atento para o fato de que, quando o Banco Central altera as reservas dosbancos comerciais, está também alterando a base monetária da economia, ou a ofertamonetária, já que essa é composta pelos quatro itens abaixo.i) papel-moeda em poder do público (PMP);ii) caixa em moeda corrente dos bancos comerciais (R1);iii) depósitos voluntários dos bancos comerciais junto ao Banco Central (R2); e,iv) recolhimentos compulsórios dos bancos comerciais, também junto ao Banco Central(R3).

Como o R3 fala justamente das reservas compulsórias, o aumento dessas reservas noBanco Central levará a uma redução na base monetária da economia.

Nesse caso, para ficar claro, é como se esse percentual de aumento deixasse de existir por

um período.Dessa forma, a alternativa correta é a letra a. A letra b diz que haverá redução na

demanda por bens públicos, o que não tem nenhuma ligação com o enunciado. Naverdade, não há nenhum condicionante que leve a uma redução da demanda por benspúblicos em economia. Logo, essa alternativa só seria verdadeira sob condiçõesextremamente especiais.

A alternativa c diz que haverá redução da taxa de juros. Essa afirmação é interessante, jáque o que acontecerá é exatamente o contrário. Como os bancos terão menos dinheiro paraemprestar (já que o Bacen levou uma boa parte), cobrarão uma taxa de juros mais alta peloempréstimo, e não o contrário. Assim, quanto maior for a oferta de moeda, menorestenderão a ser as taxas de juros cobradas pelos governos.

Alteração nas reservas compulsórias Consequências Efeito na taxa de juros

Redução das reservas compulsórias Banco tem mais dinheiro para emprestar à população Baixas taxas de juros

Aumento das reservas compulsórias Banco tem menos dinheiro para emprestar à população Elevadas taxas de juros

Em sequência, a letra d afirma que existirá redução no spread dos bancos. O primeiroponto que deve ficar claro é o que chamamos de spread bancário, que é a diferença entre ataxa de juros cobrada pelos bancos para empréstimos e a taxa de juros com que elesremuneram o detentor do capital. Por exemplo, se o banco cobra 5% por um empréstimo epaga 0,5% pelo dinheiro do correntista que está aplicado no banco, o spread bancário seráde 4,5%.

A alternativa acima afirma que haverá redução do spread bancário. Será? Nesse caso, nãopodemos dizer com certeza que haverá redução nesse percentual, já que nada indica queisso acontecerá de fato. Logo, esse item também é falso.

Por fim, a assertiva e diz que haverá redução dos gastos do governo, o que não pode serverdade, já que uma política monetária não necessariamente terá contrapartidas nos gastosdo governo!

Gabarito: Letra a.

2. (Cespe – EEPG – Economia e Estatística – IJSN II – 2010) Julgue a próxima questão, relativa à criação e destruiçãode moeda, ao multiplicador dos meios de pagamento e aos instrumentos de política monetária.A expansão monetária origina-se do aumento das operações ativas do Banco Central, do aumento da relaçãoentre encaixe total sobre depósitos à vista nos bancos comerciais e do aumento da proporção dos meios depagamento retidos pelo público em forma de depósitos à vista nos bancos comerciais.

Comentários:Essa é boa porque considera todos os instrumentos que o governo possui para fazer a

política monetária. O item considera que o governo desejará fazer expansão monetária, quenada mais é do que uma política monetária expansionista.

Prosseguindo, a alternativa diz que essa expansão será possível se houver aumento da

relação entre encaixe total sobre depósitos à vista nos bancos comerciais. Pelo que vimosacima, quando o governo deseja fazer expansão da base monetária, não fará aumento dosencaixes compulsórios, mas redução deles.

Assim, já é possível dizer que a questão é falsa. Em seguida, a questão diz que a expansãomonetária também se origina do aumento da proporção dos meios de pagamento retidospelo público em forma de depósitos à vista nos bancos comerciais. Para que você entendamelhor, quanto maior for a quantidade de dinheiro das pessoas nos bancos, mais elespodem emprestar a outras pessoas. Nesse caso, se a questão considerasse apenas esse ponto,ela estaria correta.

Gabarito: FALSO.

3. (Cespe – EEPG – IJSN II – Economia e Estatística – 2010) Julgue a próxima questão, relativa à criação e destruiçãode moeda, ao multiplicador dos meios de pagamento e aos instrumentos de política monetáriaO Banco Central que pretenda expandir os meios de pagamentos pode obter esse resultado por meio do aumentodos empréstimos do governo e da compra de títulos da dívida pública em operações de mercado aberto comoinstrumentos de política monetária.

Comentários:Caso o governo queira expandir os seus meios de pagamentos ou a sua base monetária ou

ainda a sua oferta monetária, deve fazê-lo por meio do aumento dos empréstimos dogoverno e da compra de títulos da dívida pública em operações de mercado aberto comoinstrumentos de política monetária. Nesse caso, temos que o aumento dos empréstimos dogoverno expandirá sim a oferta monetária, já que ele poderá conceder mais empréstimosaos bancos. Além disso, quando o governo compra títulos no mercado aberto está, naverdade, colocando mais moeda em circulação. Dessa forma, estará fazendo uma políticamonetária expansionista.

Gabarito: VERDADEIRA.

4. (Cespe – Sefaz – Ciências Econômicas – Consultor Executivo – 2010) Julgue questão relativa à moeda e à políticamonetária.Os instrumentos mais utilizados pelo Banco Central do Brasil (Bacen) para atuar na execução da políticamonetária são alterações nos níveis de reserva legal dos bancos, operações de mercado aberto e alterações nastaxas de redesconto.

Comentários:Questão corretíssima. Existem três instrumentos utilizados pelo governo para promover a

política monetária. São eles:• alterações nos níveis de reserva legal dos bancos (ou as reservas compulsórias ou ainda

os encaixes compulsórios);• operações de mercado aberto (através da compra e venda de títulos)• taxas de redesconto. A taxa cobrada pelo Banco Central para emprestar dinheiro aos

bancos!

Gabarito: VERDADEIRA.

2.4. O modelo IS-LMO estudo da atuação, simultânea ou não, e dos efeitos das políticas fiscal e monetária

sobre o nível da renda ou produto de equilíbrio é feito, em macroeconomia, através dochamado sistema IS-LM – materializado em duas curvas que representam situações deequilíbrio no mercado de bens e serviços e no mercado monetário.

Tudo o que vimos acima, quando analisamos as políticas fiscal e monetária, pode serrealizado através do modelo IS-LM. Esse modelo se refere a muitas situações da políticaeconômica, por meio de duas curvas: curva IS (que representa o mercado de bens eserviços) e curva LM (que representa o mercado monetário). O modelo IS-LM representa oequilíbrio do lado monetário e do lado real da economia, determinando a taxa de juros e arenda de equilíbrio que controle a inflação e não desestimule o empresário nacional ainvestir, e o nível nacional ou produto de equilíbrio da economia.

No lado real da economia, referente ao mercado de bens e serviços para níveis de jurosmais baixos, teremos níveis de investimento privado das empresas maiores (isso faz com queo I da identidade Y = C + I + G + X – M aumente) e, consequentemente, níveis de rendamais elevados. E, para dado nível de juros mais elevados, observa-se queda no investimento ena renda. Essa combinação de taxas de juros e níveis de renda é conhecida como curva IS.A curva é afetada por políticas fiscais expansionistas ou contracionistas, já que políticasfiscais alteram os gastos do governo (G), o que afetará o nível de renda da economia nomercado de bens e serviços.

O mercado monetário, que estudamos anteriormente, por sua vez, é representado pelacurva LM, que é formada por uma demanda de moeda para transação positivamenterelacionada com a renda e uma demanda para fins especulativos (que está relacionada coma taxa de juros).

O equilíbrio da economia ocorre no ponto em que as duas curvas, IS e LM, se cruzam.

Equilíbrio da Economia IS-LM

2.4.1. A curva ISA IS é uma curva que mostra combinações de níveis de renda (Y) e de taxa de juros (r)

que equilibram o chamado “mercado de bens e serviços”, no sentido de que a poupança

social – dada pela soma da poupança propriamente dita (S) e dos impostos (T) – é igual àsoma dos gastos de investimentos (I) e dos gastos do governo (G).

Ou seja, S + T = I + G.

Por essa definição, constata-se que, para cada nível de renda (Y) existe uma e somenteuma taxa de juros (r) que equilibra ou torna iguais a chamada poupança social (S+T) e osgastos de investimentos (I) mais as despesas governamentais (I+G).

2.4.1.1. Derivação da curva ISDe onde vem a curva IS? A explicação está nos investimentos realizados pelas empresas no

mercado de bens e serviços.Vamos raciocinar juntos. O que faz as empresas investirem mais no curto prazo? De forma

simplificada, os economistas afirmam que a taxa de juros afeta os níveis de investimentosdas empresas.

De acordo com esses economistas, taxas de juros mais altas fazem com que menosempresas possam investir ou, o que é ainda pior: taxas de juros mais altas levam a umaredução nos investimentos, já que os empresários poderiam encerrar as suas atividades eaplicar no mercado de títulos do governo, por exemplo.

Logo, com a elevação da taxa de juros, haveria uma redução nos investimentos, o queprovocaria a redução da renda pela identidade contábil analisada anteriormente.

Y = C + I + G + X – M

2.4.1.2. A inclinação da curva ISComo se pode verificar pela figura acima, a curva IS é negativamente inclinada,

refletindo o fato de que um aumento na taxa de juros reduz os gastos de investimentos,reduzindo a demanda agregada e, consequentemente, reduzindo o nível da renda deequilíbrio. De que, então, depende a inclinação da curva IS? Ou seja, o que faz a curva ISser mais ou menos inclinada?

Em primeiro lugar, a inclinação da IS depende da elasticidade do investimento em

relação à taxa de juros, isto é, depende da sensibilidade ou resposta do investimento emrelação às variações na taxa de juros. Quanto mais elástico ou mais sensível for oinvestimento em relação às variações na taxa de juros, menos inclinada (mais deitada) é acurva IS, e vice-versa.

Em segundo lugar, a inclinação da IS depende, também, da magnitude do multiplicadordos gastos do governo. Quanto maior o multiplicador, maior será o efeito de uma variaçãodos investimentos sobre o nível da renda de equilíbrio e, portanto, menos inclinada é acurva IS, e vice-versa. É bom lembrar que a magnitude do multiplicador depende,essencialmente, da propensão marginal a consumir (b) e da alíquota do imposto (t) –relembrando, também, que quanto maior b e menor t, maior será o multiplicador.

2.4.1.3. A posição da curva ISSe movimentos na taxa de juros levam a movimentos ao longo da curva IS, alterações nas

outras variáveis provocam deslocamentos na curva IS.De tudo o que foi dito até aqui, deve ficar claro que a curva IS se deslocará para a

esquerda sempre que houver redução nos gastos do governo e/ou aumento no nível dosimpostos. Pelo mesmo raciocínio, a curva IS se deslocará para a direita sempre que ogoverno aumentar seus gastos e/ou reduzir os impostos.

A curva IS é deslocada por todas as variáveis exógenas (variações em G, T, X, M, C, I), quenão são induzidas pela variação de renda (isto é, por outros fatores, que não variações derenda). Mais uma vez não deve ser confundida uma variação endógena (que seria ummovimento ao longo da curva IS, motivada por alterações da taxa de juros e da renda) comuma variação exógena (que representa um deslocamento da curva IS). Assim, um aumentodo consumo, devido a aumento da renda, é uma variação induzida, ao longo da curva IS;todavia, um aumento do consumo, devido a aumento de patrimônio, é uma variaçãoexógena, deslocando a IS. O gráfico abaixo representa uma alteração positiva nos gastos dogoverno (política fiscal expansionista), o que desloca a curva IS para a direita (linhatracejada).

O exemplo mais comum que teremos sobre deslocamentos da curva IS diz respeito àpolítica fiscal. Quando o governo aumenta os gastos do governo, acarreta, via multiplicadordos gastos do governo, aumento da renda. O que leva, por fim, ao deslocamento da curva IS,como mostrado abaixo.

Nesse ponto, você deve notar que a partir do aumento dos gastos do governo haveráaumento da renda e, também, aumento da taxa de juros (veremos esse efeito maisdetalhadamente adiante).

Gráfico da política fiscal expansionista.

2.5. A curva LMA curva LM mostra combinações de níveis de renda (Y) e de taxas de juros (r) que fazem

o mercado monetário ficar equilibrado, no sentido de que a demanda por moeda é igual àoferta de moeda.

2.5.1. Derivação da curva LMNa figura abaixo, à esquerda, observam-se as combinações de taxas de juros e níveis de

renda que tornam a demanda por moeda (ou por encaixes reais) igual à oferta monetária.Ao nível da renda Y1, a curva de demanda por moeda corresponde a L1. Com a ofertamonetária dada por Ms/P, a oferta e a demanda por moeda se igualam no ponto E1 – quecorresponde à taxa de juros r1. Na figura, o ponto E1 corresponde à combinação do nívelde renda Y1 com a taxa de juros r1, que equilibra o mercado monetário. O ponto E1corresponde, assim, a um ponto na curva LM.

Suponha, agora, que a renda cresça até Y2. Na figura, à esquerda, este aumento na rendaprovoca aumento na demanda por moeda para transação, deslocando a curva de demandapor moeda para L2. Com a oferta monetária mantida constante, o aumento na demandapor moeda faz com que a taxa de juros se eleve até r2 – para que o equilíbrio no mercadomonetário seja restabelecido.

Tem-se, então, um novo ponto de equilíbrio (E2) que, transportado para a figura dadireita, nos dá uma nova combinação de renda e taxa de juros (Y2 e r2) que equilibra aoferta com a demanda por moeda. Repetindo a mesma experiência para outros níveis derenda, geraremos mais pontos que mostram combinações de Y e de r que equilibram aoferta e a demanda de moeda. Ligando todos esses pontos teremos a curva LM.

Como é possível observar, a curva LM é positivamente inclinada, refletindo o fato de que,com uma dada oferta monetária, um aumento no nível de renda aumenta a demanda porencaixes monetários – o que, como já foi explicado, força o aumento na taxa de juros.

2.5.2. A inclinação da curva LMEm princípio, podemos afirmar que quanto maior for a demanda por moeda para

transações, isto é, quanto maior for a elasticidade da demanda por moeda em relação àrenda e quanto menos sensível ou menos elástica à taxa de juros for a demanda por moeda,

mais inclinada será a curva LM. Em outras palavras, se a demanda por moeda for muitoinsensível à taxa de juros, a curva LM é quase vertical. Se, por outro lado, a demanda pormoeda é muito sensível à taxa de juros, a curva LM é quase horizontal.

Desta forma, a curva LM é afetada por políticas monetárias expansionistas econtracionistas, como os exemplos citados, respectivamente, abaixo:i) Política monetária expansionista: aumento do redesconto (empréstimos do Bacen aos

bancos comerciais) que gerará uma liquidez maior no mercado monetário e, com isso,haverá uma expansão de renda, ou seja, deslocará a cuva LM para a direita. Adiminuição da taxa de redesconto, que nada mais é do que a taxa de empréstimocobrada pelo Bacen aos bancos comerciais pelo redesconto realizado, deslocaria a LMpara a direita, pois haveria maior incentivo à tomada de empréstimos pelo Bacen,considerando que a taxa é baixa, resultando em uma maior liquidez na economia. Acompra de títulos (operação de open market) por parte do governo acarretaria umainjeção de moeda no mercado, e, com isso, maior liquidez, deslocando a LM para adireita. E também o recolhimento compulsório mais baixo, que significa que o Bacenrecolherá menos moeda dos depósitos à vista dos bancos comerciais, o que gera maiorliquidez, levando a LM para a direita. O gráfico abaixo mostra esse movimento.

Gráfico da política monetária expansionista.

ii) Política monetária contracionista ou restritiva: diminuição do redesconto (empréstimosdo Bacen aos bancos comerciais) que gerará menos liquidez no mercado monetário e,com isso, haverá uma retração da renda, ou seja, deslocará a LM para a esquerda. Oaumento da taxa de redesconto, que nada mais é que a taxa de empréstimo cobrada peloBacen aos bancos comerciais pelo redesconto realizado, deslocaria a LM para a esquerda,pois haveria menor incentivo à tomada de empréstimos do Bacen, considerando que ataxa é alta, implicando menor liquidez da economia. A venda de títulos (operação de

open market) por parte do governo levaria a uma retração de moeda no mercado e, comisso, haveria menos liquidez, deslocando a LM para a esquerda. E também orecolhimento compulsório mais elevado, que significa que o Bacen recolherá maismoeda dos depósitos à vista dos bancos comerciais, gerando uma menor liquidez,deslocando a LM para a esquerda.Vamos aos exercícios!

1. (FAURGS – Secretaria da Fazenda do Estado do Rio Grande do Sul – Agente Fiscal do Tesouro do Estado – 2006)Suponha no modelo IS-LM o caso de uma curva IS negativamente inclinada e LM vertical. Este caso exemplificauma situação em que:a) não existe demanda especulativa de moeda e a política fiscal é ineficaz para expandir o nível de renda real;b) a demanda de investimento é inelástica com relação à taxa de juros;c) há uma armadilha da liquidez e a política monetária é totalmente ineficaz para expandir o nível de renda real;d) a expansão do investimento impulsiona o crescimento da renda real, expansão esta que pode ser medida pela

magnitude do multiplicador keynesiano;e) tanto a política fiscal quanto a política monetária são eficazes, embora apenas parcialmente, para expandir o nível

de renda real.

Comentários:Aliás, antes ainda de responder às aternativas, vamos desenhar o que a questão está

pedindo:

A curva IS, mostrada negativamente inclinada, está negativamente inclinada, como pede aquestão, e a curva LM é mostrada em formato vertical.

A letra e afirma que tanto a política fiscal quanto a política monetária são eficazes,embora apenas parcialmente, para expandir o nível de renda real. Você deve notar que, seo governo fizer política fiscal (que levará a um deslocamento da curva IS), tal procedimentonão levará a efeitos no nível de renda da economia, mas, apenas, na taxa de juros, comomostrado na figura abaixo:

Dessa forma, como podemos ver na figura, a alternativa está incorreta, porque a políticafiscal, diferentemente do que é afirmado na questão, é ineficiente para expadir a renda.Assim, se a questão falasse exclusivamente da política monetária, estaria correta.

A letra d afirma que a expansão do investimento impulsiona o crescimento da renda real,expansão esta que pode ser medida pela magnitude do multiplicador keynesiano. Paraverificar a veracidade da letra d, basta lembrar de como o multiplicador mostra essa relação.Pelo que vimos, o multiplicador dos gastos dependerá, exclusivamente, da propensãomarginal da economia. Assim, o multiplicador dos gastos não mede as variações dosinvestimentos dentro de uma economia. Logo, a alternativa está incorreta.

Em seguida, a letra c afirma que há uma armadilha da liquidez e a política monetária étotalmente ineficaz para expandir o nível de renda real. Para melhor compreensão, existiráarmadilha da liquidez quando a LM for, necessariamente, horizontal ou ainda se na parterelevante da economia o equilíbrio macroeconômico se der na parte horizontal. Comoestamos falando de uma curva LM vertical, também chamada de “caso clássico”, aalternativa c não está correta.

Restaram as letras b e a.A letra b afirma que a demanda de investimento é inelástica com relação à taxa de juros.

Veja que a demanda por investimento não afeta a curva LM, e sim a curva IS. Uma vez que a

curva IS é negativamente inclinada, não é possível afirmar que a demanda por investimentoé inelástica. Essa afimação apenas seria possível se a curva IS fosse inelástica. Dessa forma, aletra b não é a correta.

Finalmente, temos apenas a letra a, que afirma que não existe demanda especulativa demoeda e a política fiscal é ineficaz para expandir o nível de renda real. Veja que, de fato,quando a economia se encontra em uma situação de curva LM vertical, é porque temos umademanda especulativa por moeda inelástica. Como vimos acima, a política fiscal se tornaineficaz na expansão da renda da economia. Logo, a alternativa a é, de fato, a verdadeira.

Gabarito: Letra a.

2. (BNDES – Profissional Básico: Administração – 2009) Para expandir a demanda agregada por bens e serviços, osgovernos podem adotar políticas fiscais expansivas. No gráfico do modelo IS/LM, isto pode ser representado pelamudança na(s):a) inclinação da curva LM (mais vertical);b) inclinação da linha de pleno emprego (mais vertical);c) posição da curva IS;d) posição da curva LM;e) posições de ambas as curvas IS e LM.

Comentários:Vamos resolver por partes!Veja que a questão fala, inicialmente, sobre alterações no mercado de bens e serviços.

Logo, quando se fala nesse mercado, estamos falando, necessariamente, sobre a curva IS,que representa as variações entre renda e taxa de juros ocorrida no mercado de bens eserviços.

Apenas com esse dado, já podemos afirmar que as alternativas a, d e e estão erradas, umavez que a questão não fala sobre alterações no mercado monetário.

Note ainda que, por eliminação, a letra b não pode ser verdadeira, já que no modelo IS-LM não existe uma linha de pleno emprego. Na verdade, a única curva que expressa arelação de pleno emprego em uma economia é a curva de oferta agregada de longo prazo.Assim, ainda por eliminação, a resposta correta passa a ser a letra c, que afirma que existiráuma mudança na posição da curva IS.

Para responder de forma mais completa, é possível afirmar que, como se trata de umapolítica expansionista, podemos dizer, ainda, que haverá deslocamento para a direita dacurva IS.

Gabarito: Letra c.

3. (Termorio – Economista Júnior – 2009) O gráfico abaixo mostra as curvas IS e LM para uma certa economia.

Afirma-se que, neste caso:a) há uma situação de armadilha da liquidez;b) o gráfico ilustra a neutralidade da moeda;c) a inclinação da curva IS no gráfico está errada;d) a política fiscal seria impotente para estimular a economia;e) a política monetária seria potente para estimular a economia.

Comentários:Para simplificar, toda vez que uma determinada economia tiver uma curva LM horizontal

estará, necessariamente, na situação de armadilha da liquidez.Essa situação é explicada quando a política monetária implementada por determinado

governo não tem qualquer efeito na renda daquela economia. Keynes afirmava que, nessasituação, os agentes não reagem a variações da taxa de juros no mercado monetário,fazendo com que a curva LM seja horizontal, como mostrado na figura acima.

Outra hipótese extrema é quando a LM é vertical, chamada de caso clássico. Nessasituação é a política fiscal que passa a não ter efeito sobre a economia.

Finalmente, vale lembrar que sempre que uma determinada política for impotente, aoutra será, necessariamente, superpotente.

Após essa explicação, é possível verificar que a alternativa correta é a letra a. Comoacabamos de dizer, a economia mostrada na figura está, de fato, em uma situação dearmadilha da liquidez.

A letra b está incorreta, já que quando estamos em armadilha da liquidez não podemoster a neutralidade da moeda.

Em seguida, a letra c está incorreta porque a inclinação da curva IS está correta. Lembre-se que no mercado de bens e serviços (representado pela curva IS) existe uma relaçãonegativa entre renda e taxa de juros que é verificada pela relação entre a taxa de juros e oinvestimento produtivo.

Finalmente, as alternativas d e e estão erradas justamente por mostrarem o inverso dopoder das políticas. A letra d erra ao afirmar que a política fiscal seria impotente nessascircunstâncias, e a letra e também erra por afirmar que a política monetária seria potentepara estimular a economia. Vale notar que, pelo que vimos, a política monetária serácompletamente impotente e a política fiscal será superpotente.

Gabarito: Letra a.

4. (EPE – Analista Economia de Energia – 2007)

O gráfico acima mostra as curvas IS e LM. Uma política monetária contracionista:a) não afetaria nenhuma curva do gráfico;b) deslocaria a curva IS para uma posição como AB;c) deslocaria a curva LM para uma posição como CD;d) deslocaria ambas as curvas IS e LM para posições como AB e CD;e) teria o efeito de aumentar a taxa de juros para um nível maior que i*.

Comentários:Política monetária contracionista: que curva temos que alterar? A curva LM, que

representa as alterações no mercado monetário. Logo, quando se fala em políticasmonetárias, haverá necessariamente um movimento da curva LM e não existirá movimentona curva IS.

Com essas informações, podemos dizer que as letras a, b e d estão incorretas.Como sabemos que a política é de cunho retracionista, a curva LM deverá ser deslocada

para a esquerda, não para a direita (esse movimento é resultado de políticasexpansionistas). Dessa forma, a letra c também não está correta.

Resta apenas a letra e. Nesse caso, de fato, como há uma política monetária retracionista,haverá deslocamento da curva LM para a esquerda da curva original. Com isso, ocorreráaumento da taxa de juros associado a uma redução do nível de renda da economia.

Gabarito: Letra e.

5. (Casa da Moeda – Economia e Finanças – 2009) O gráfico abaixo mostra, em linha cheia, as posições iniciais dascurvas IS e LM para um determinado país.

Se um governo adotar uma política fiscal expansiva, ocorrerá que, no gráfico, a:a) nova posição da IS será como a tracejada;b) nova taxa de juros da economia será menor que i0;c) renda tenderá a diminuir abaixo de y0;d) posição da IS não deverá mudar;e) taxa de juros não se alterará.

Comentário:Falou-se, agora, em política fiscal expansiva ou expansionista? Nesse caso, qual curva será

alterada?Como vimos, a curva a ser alterada será a curva IS. E como sabemos, quando a política é

expansionista (seja ela fiscal ou monetária), a curva será deslocada para a direita. Logo,com essas duas informações, é possível verificar que a alternativa correta é a letra a, queafirma que a nova posição da IS será como a tracejada. Veja que a letra b está incorreta,pois um aumento na IS levará ao deslocamento para a direita o que implicará, em últimainstância, o aumento das taxas de juros e do nível de renda da economia. Dessa forma, aalternativa está incorreta por afirmar que haverá redução da taxa de juros.

Em seguida, a letra c está incorreta por afirmar que a renda tenderá a diminuir. Naverdade, o efeito de uma política expansionista será o aumento da renda, não a redução.

A letra d erra por afirmar que a posição da IS não deverá mudar. Note que essa questãoestaria correta SE falasse sobre a curva LM, não sobre a curva IS.

Finalmente, a letra e está incorreta por afirmar que não haverá alteração na taxa de juros.Como acabamos de ver, haverá sim aumento nessa taxa.

Gabarito: Letra a.

6. (Casa da Moeda – Analista de Finanças – 2005) No modelo IS-LM, uma curva de oferta de moeda perfeitamenteelástica resulta em uma curva LM:a) parcialmente inelástica;b) parcialmente elástica;c) de elasticidade igual a 1;d) perfeitamente inelástica;e) perfeitamente elástica.

Comentários:

Para responder a essa questão, vale uma dica: se a curva de oferta de moeda forperfeitamente elástica, a curva LM também será prfeitamente elástica. Assim, não há o quepensar: a alternativa correta é a letra e.

Gabarito: Letra e.

7. (BNDES – Profissional Básico – Economia – 2008) O gráfico abaixo mostra as curvas IS e LM numa certa economia.

Maiores gastos públicos financiados por novas emissões monetáriasa) expandiriam a produção e a renda acima de yo;b) reduziriam necessariamente a taxa de juros para baixo de io;c) reduziriam as importações;d) deslocariam a IS e a LM para posições tais como AB e CD;e) provocariam, necessariamente, aumento dos preços.

Comentários:Essa questão é SUPERINTERESSANTE porque fala da ação combinada das duas políticas:

fiscal e monetária.Observe que a questão fala que o governo está financiando os seus gastos (opa, falei em

aumento de gastos? Falei em política fiscal expansionista.) com emissão monetária (ouaumento da oferta de moeda, uma política monetária expansionista). Nesse caso, como háuma combinação das duas políticas, haverá um deslocamento conjunto das duas curvas paraa direita. Assim, haverá, necessariamente, aumento da renda, como afirmado na alternativaa.

Vamos analisar por que as demais estão incorretas.A letra b afirma que haverá, necessariamente, redução da taxa de juros. Veja que esse fato

não pode ser verdadeiro, já que com o deslocamento da IS devido à política fiscalexpansionista haverá pressão para o aumento dos juros, enquanto o deslocamento da curvaLM tenderá a levar à redução dos juros. Logo, a depender do tamanho do deslocamento,pode ser que a taxa de juros aumente ou diminua.

A letra c é curiosa por afirmar que existirá redução das importações. Até aqui, pelo quevimos, as importações são uma variável exógena, logo, não haverá qualquer alteração nessavariável. Contudo, uma análise mais exigente diz que as importações, assim como oconsumo, dependem positivamente da renda. Assim, aumentos na renda (como o visto na

questão) levariam também a aumento nas importações. Nesse sentido, nos dois casos, aalternativa não pode ser verdadeira.

A letra d, por sua vez, está incorreta por afirmar que a LM se deslocaria para a esquerda.Já vimos que políticas monetárias expansionistas provocam deslocamento para a direita dacurva LM.

Finalmente, a letra e é falsa por afirmar que essa combinação de políticas acarretará,necessariamente, aumento nos preços. Como vimos, políticas governamentais não implicamaumento de preços no curto prazo.

Gabarito: Letra a.

8. (TCE-RO – Economista – 2007)

O gráfico acima mostra as curvas IS e LM. Uma política fiscal expansiva deslocaria a curva IS de sua posiçãoinicial?a) Sim, para a posição A B.b) Sim, para a posição A D.c) Sim, para a posição C D.d) Não deslocaria a curva IS.e) Deslocaria a curva LM.

Comentários:Tem o que pensar para resolver essa questão? Não, né?!Quando falamos em política fiscal expansionista, estamos falando, necessariamente, em

deslocamentos da curva IS para a direita. Nesse caso, não há o que pensar: a respostacorreta é a letra a.

Gabarito: Letra a.

9. (Inea – Economista – 2007) Considere o gráfico usual do modelo IS/LM.

Segundo os economistas da escola clássica, neste gráfico, a(s):a) curva IS deveria ser vertical;b) curva LM deveria ser vertical;c) curva LM deveria ser horizontal;d) curva IS deveria ser horizontal;e) duas curvas, IS e LM, deveriam ser horizontais.

Comentários:Essa aqui também não tem o que pensar.Falou-se no caso clássico, estaremos falando, necessariamente, em curva LM vertical.Assim, como é mostrado na letra b, a LM será vertical.Vale notar que o gráfico em nada ajudou na nossa resolução. E nem sempre os gráficos

estarão nas provas para auxiliar.Gabarito: Letra b.

10. (Transpetro – Economista Júnior – 2006) No modelo IS-LM, assumindo a ocorrência da armadilha de liquidez, apolítica fiscal será:a) ineficaz;b) plenamente eficaz;c) duas vezes mais eficaz que o multiplicador dos gastos autônomos;d) afetada pelo efeito da variação da taxa de juros sobre o investimento;e) afetada pelo efeito da variação da taxa de juros sobre o gasto público.

Comentários:Armadilha da liquidez?Resultado: POLÍTICA FISCAL PLENAMENTE EFICAZ.Nesse caso também não há o que pensar: a resposta correta é a letra b.Mais uma dica: falou-se em caso clássico, temos a política monetária plenamente eficaz.

Para o caso da armadilha da liquidez, temos que é a política fiscal que se torna plenamenteeficaz.

Gabarito: Letra b.

11. (Petrobras – Economista Júnior – 2008) A gráfico abaixo mostra o modelo IS/LM com duas posições possíveis paraa curva LM: LM1 e LM2.

Em relação à figura apresentada, pode-se afirmar que a(o):a) armadilha da liquidez do Modelo Keynesiano pode ser representada pela LM2;b) política fiscal fica impotente no caso da LM ser como a LM2;c) política monetária fica impotente no caso da LM ser como a LM2;d) curva IS representa os pontos de equilíbrio no mercado monetário;e) modelo clássico supõe a LM como a LM1.

Comentários:

A resposta é a letra b. LM vertical, ou caso clássico, e a política monetária passa a serineficiente.

Capítulo 3Os Governos Militares – Parte 1: O Plano de AçãoEconômica do Governo

Terminamos o capítulo passado falando sobre o governo JK e seu Plano de Metas.Embora tenhamos visto ainda alguns pontos dos demais governos, chegando, inclusive, aogoverno militar, vamos rever com detalhes esse período. Quais suas características, seusobjetivos e por que precisamos lembrar sempre do governo militar quando falamos sobre aeconomia recente.

Fonte da figura: A. Gremaud, Economia Brasileira Contemporânea.

Só para que você entenda, já vimos a maior parte do governo brasileiro, indo dos anos1930 (ou um pouco antes disso) para o ano 1960, com o plano de Metas (as linhashorizontais demarcam esses períodos: antes da crise de 1929, o governo Getúlio Vargas e ogoverno JK). Hoje, veremos a linha vermelhão quarto segmento de reta horizontal, com ogoverno militar (1964-1984).

Antes, porém, de falarmos sobre o governo militar propriamente dito, precisamos falarsobre a crise dos anos 1960, período que antecedeu o regime militar.

No final dos anos 1960, a situação econômica nacional sofreu um retrocesso. Nesseperíodo ocorreu uma forte queda nos investimentos, o que levou a uma retração da renda.Ainda como resultado do Plano de Metas – uma vez que JK não encontrou uma fonteconveniente de financiamento para o seu plano e optou pela emissão de moeda –, o paíspassou por um período de forte aceleração inflacionária.

A tabela abaixo, extraída do livro de Economia brasileira contemporânea, de A.Gremaud, mostra o retrato da economia brasileira no período.

PRODUTO E INFLAÇÃO: 1961-1965

AnoCrescimento do

PIB (%)

Crescimentoda ProduçãoIndustrial (%)

Taxa de inflação(IGP-DI) (%)*

1961 8,6 11,1 33,2

1962 6,6 8,1 49,4

1963 0,6 –0,2 72,8

1964 3,4 5,0 91,8

1965 2,4 –4,7 65,7

Fonte da figura: A. Gremaud, Economia brasileira contemporânea.

É importante ressaltarmos que nessa época o índice de inflação alcançou 91,8% a.a., umataxa extremamente alta para um país que praticamente não apresentou crescimento.

Em 1o de abril de 1964, então, nesse cenário de inflação e estagnação econômica, ocorreo golpe militar – ou a revolução.

E é assim, de forma autoritária, que damos início a um período bastante singular daeconomia brasileira, que modificará, para sempre, a estrutura nacional.

O primeiro presidente do regime militar no Brasil, Castelo Branco, lançou o PLANO DEAÇÃO ECONÔMICA DO GOVERNO – Paeg. Um plano de reestruturação com duaslinhas de atuação:

è Políticas conjunturais de combate à inflação;

è Reformas estruturais;

Os militares perceberam que, para justificar a presença no poder, seria necessário fazer aeconomia crescer. Entretanto, sabiam que antes de aumentar a produção precisariamorganizar o país. E com esse objetivo surge Paeg, criado para reorganizar o país econômica eestruturalmente.

O primeiro ponto observado pelos militares é que não seria possível crescer com inflação.Dessa forma, o governo passou a analisar quais eram as ações que poderiam estarinfluenciando no processo de aumento de preços:a) déficit público;b) política salarial frouxa;c) falta de controle sobre a expansão do crédito.

Para reduzir o processo inflacionário, o governo passou a adotar diversas políticas quepudessem estabilizar os preços. As principais medidas estabilizadoras do Paeg são as

seguintes:a) redução do déficit público;b) restrição do crédito e do aperto monetário;c) política salarial.

O governo adotou também novas formas de financiamento e aumentou as tarifas públicas,visando reduzir o déficit público (gerado pelas diversas políticas que tinham o governocomo promotor da industrialização). Com essa política, o governo provocou a redução dosgastos, o que implicou a redução da renda, que por sua vez acarretou a redução doconsumo, o que induziu, finalmente, a retração nos preços e a diminuição da inflação.

No que diz respeito à restrição de crédito, o governo aumentou as taxas de juros emelhorou os mecanismos de controle. Essa retração reduziu o nível de endividamento dasfamílias e, assim, o nível de consumo. Finalmente, a fim de diminuir os custos das empresascom salários, o governo, através da Circular no 10, gerou o arrocho salarial.

Além dessas resoluções, os militares necessitavam desenvolver um processo que pudessecontrolar e criar uma forma de conviver com a alta da inflação. A solução encontrada foi acorreção monetária.

A correção monetária era uma forma “amigável” de conviver com a inflação. O raciocínioera o seguinte: como a inflação eleva os preços dos bens de consumo, isso faz com que apopulação fique mais pobre. A solução para essa “pobreza” era fazer com que os saláriosfossem reajustados de acordo com a inflação de bens e serviços. Assim, se os preçosaumentassem 10% e o salário também aumentassem 10%, não sentiríamos a inflação, logo ainflação não existiria.

Exercícios1. (EPE – Analista Economia de Energia – 2007) Em 1964 o governo brasileiro começou a implementar um novo

programa econômico conhecido como Paeg, visando, entre outros objetivos:a) conter paulatinamente o processo inflacionário brasileiro;b) conter a entrada de investimentos externos especulativos;c) promover aumentos salariais e a redistribuição de renda no Brasil;d) reorganizar o mercado financeiro brasileiro e eliminar a correção monetária;e) aumentar substancialmente o comércio externo brasileiro com os países do Mercado Comum Europeu.

Comentários:Quando o governo militar instaurou o Paeg (Plano de Ação Econômica do Governo),

tinha como objetivo reorganizar a estrutura nacional e criar um processo de redução dainflação, que ficou conhecido como correção monetária. Nesse sentido, podemos dizer quea letra correta que responde à questão é a, que aponta a contenção da inflação como umdos objetivos da política do governo.

Vejamos por que as demais estão incorretas.A letra b não pode ser a correta porque o governo militar não conteve a entrada de

investimentos externos especulativos. Na verdade, durante o regime militar houve aumentodo fluxo de capitais estrangeiros para o Brasil, o que levou, inclusive, a um aumento dadívida externa.

A letra c também está incorreta. E para que você compreenda por que ela está incorreta,vai ter que lembrar de uma coisa quando ouvir falar em regime militar:

A teoria do bolo de Delfim Netto. Já ouviu falar sobre ela?

CURIOSIDADES

A teoria do bolo recebeu essa denominação por afirmar que em uma economia era preciso primeiro fazer crescer o PIB para depoisrepartir os ganhos. De fato, há bastante nexo nessa explicação: para que uma economia cresça, é preciso que existam investimentos eesses só são possíveis quando as empresas geram algum nível de lucratividade, que só acontece quando elas têm poder de monopólio.Logo, para que esses investimentos existissem, de fato, era preciso colocar o dinheiro nas mãos dos proprietários, em detrimento dostrabalhadores. Foi o que Delfim chamou de crescer o bolo. O problema, no Brasil, esteve ligado ao processo de distribuição.

A letra d tem uma pegadinha bem interessante: de fato, houve uma reorganização domercado financeiro brasileiro (com a criação do Banco Central, do Conselho MonetárioNacional etc.), mas não houve eliminação da correção monetária. O que ocorreu, de fato,nesse período, foi a criação da correção. Como vimos, foi uma forma de o país aprender aconviver de forma pacífica com o processo inflacionário.

Finalmente, a letra e é falsa, porque não houve um aumento substancial do comércioexterno entre o Brasil e o Mercado Comum do Sul. Na verdade, esse Mercado Comum foicriado apenas em 1994, quando o presidente Collor estava no poder.

Gabarito: Letra a.

2. (BNDES – Economia – Profissional Básico – 2008) O Paeg (Plano de Ação Econômica do Governo) e as reformasimplementadas em 1964 e nos anos imediatamente subsequentes, no Brasil,a) aumentaram substancialmente os salários;b) aumentaram as restrições à entrada de capitais externos;c) diminuíram a carga fiscal dos contribuintes;d) criaram o Banco Central do Brasil;e) eliminaram a correção monetária no país.

Comentários:Falou-se em reformas promovidas pelo Paeg e você vai lembrar, direto, da criação do

Banco Central (as bancas, de forma geral, adoram esse evento).Vamos fazer um tour pelas outras alternativas para ver o que está errado nelas. A letra a

está errada porque, como já vimos, não há política governamental de aumento de saláriosnessa época, à exceção do aumento salarial dado por Getúlio Vargas no seu segundomandato, que acabou gerando o processo de deposição do cargo. Nos demais casos, nãohouve política governamental de aumento de salários.

A letra b também não é verdadeira, já que não houve restrições à entrada de capitalestrangeiro no Brasil. Você precisa lembrar que quando se fala em regime militar estamosconversando sobre endividamento externo no Brasil, logo, era preciso entrar capital

estrangeiro para financiar as nossas contas.Em seguida, a letra c está errada porque não houve redução da carga tributária dos

contribuintes. Lembre-se que, nessa época, houve ainda a reforma tributária, que criou umasérie de tributos nacionais, estaduais e municipais.

E finalmente, a letra e está incorreta porque a correção monetária foi criada nessa época,e não extinta.

Gabarito: Letra d.

3. (Petrobras – Economista Junior – 2005) O Plano de Ação Econômica do Governo (Paeg), iniciado no governo domarechal Humberto de Alencar Castello Branco, tinha como objetivo fundamental o combate à inflação. Osgestores do Plano defenderam o diagnóstico de inflação:a) de custos;b) estrutural, setorialmente localizada;c) inercial, determinada por elevação do dólar;d) causada por excesso de demanda;e) determinada por preços de commodities.

Comentários:Essa questão vale uma diferenciação: quando falarmos em Paeg, estaremos falando,

necessariamente, em inflação de demanda, o que é comprovado pela letra d. No períodoimediatamente seguinte, no “milagre econômico”, a inflação foi diagnosticada como deoferta ou de custos. Somente durante a redemocratização é que a inflação foi diagnosticadacomo inercial

Logo, não há o que analisar: a inflação durante o início do regime militar estárelacionada, necessariamente, aos excessos de demanda.

Gabarito: Letra d.

Macroeconomia em análise

Inflação

A inflação pode ser definida como o processo persistente de aumento do nível geral de preços,resultando assim em uma perda do poder aquisitivo da moeda.

Então, quando se fala em aumento generalizado do nível de preços, estamos falando,necessariamente, da sempre preocupante inflação. E por que essa mocinha é tão preocupante?Explico.

Primeiro, porque gera um efeito sobre a distribuição de renda da economia: a inflação provocaredução do poder aquisitivo dos segmentos da população que dependem de rendimentos fixos,com prazo legal de reajuste (os assalariados). Aqueles com renda livre, como empresas eespeculadores são favorecidos pelo processo inflacionário.

O segundo efeito da inflação incide sobre a alocação de recursos: o processo inflacionário tende amodificar o perfil de investimentos dos agentes da economia. Os investidores resistem em alocarseus recursos em projetos de longa maturação, preferindo os de curto prazo.

Quando esse segundo efeito se torna muito forte (nos casos de hiperinflação), os investidores nãoaplicam seus recursos em investimentos que podem gerar o crescimento econômico (e deslocara nossa curva de possibilidade de produção), preferindo, como vimos acima, os investimentosfinanceiros, que possuem um prazo de maturação menor. Assim, além de nos deixar mais pobres,a inflação ainda condena o ritmo de crescimento da economia.

Finalmente, o último efeito é sobre o Balanço de Pagamentos: se a elevação de preços internos sedá em ritmo superior aos aumentos de preços internacionais, os produtos produzidos dentro dopaís tornam-se mais caros que os produzidos externamente. Isso pode gerar dificuldades deexportação e estimular as importações, prejudicando os resultados da balança comercial.

Pelos três motivos citados acima, é possível observar que a inflação deve ser evitada. Isso não querdizer que devemos ter um processo de deflação, mas um processo de estabilidade de preços.Assim, nem alto demais nem baixo demais.

Mas de onde vem esse aumento de preço? No item a seguir estudaremos os três tipos de inflação.

Tipos de inflação

Inflação de demanda

Acontece inflação de demanda quando há excesso de demanda agregada em relação à produçãodisponível de bens e serviços (oferta agregada). Pode ser entendida como “dinheiro demais àprocura de poucos bens”.

Como comprimir a demanda agregada? Reduzindo o grau de investimento dos agenteseconômicos ou através do governo, aumentando imposto e/ou reduzindo seus gastos. Pelo quepodemos ver, quando o governo gasta demais (através da política fiscal expansionista), gera, nocurto prazo, aumento da renda, mas... pode gerar também aumento da inflação.

Foi exatamente isso que aconteceu no governo Lula. Como o governo gastou demais em 2010, apresidente Dilma teve que cortar todos os gastos para poder colocar a inflação dentro da meta (quehoje é de 4,5%, podendo ser 2% para cima ou 2% para baixo).

Inflação de custos

Como o próprio nome diz, a inflação de custos está ligada diretamente aos custos das empresas.Existem muitos fatores que fazem o preço aumentar do lado da oferta. Abaixo, alguns deles:

• Quedas de produção (ou choques de oferta): ocorrem quando as empresas reduzem,significativamente, os volumes de produção, devido a greves, falta de matérias-primas ou

quebras de safras.

• Aumento nos preços de produtos importados: os custos de produção das empresasaumentam e estas repassam a elevação para os preços do produto final.

• Aumentos excessivos de salários: por iniciativa do governo ou decorrente da capacidade denegociação dos sindicatos dos trabalhadores. Se além da inflação e dos índices reais deprodutividade eleva os custos de produção e pressiona os preços para cima.

• Atuação dos oligopólios: através da “inflação administrada”, quando as empresas aumentamseus preços visando um lucro maior. Se seus produtos são insumos para a produção deoutras empresas, gera-se a chamada “espiral inflacionária”.

Por fim, a inflação mais complicada: a inflação inercial.

Inflação inercial

Lembra-se de inércia da física? Segundo eu me lembro (eu era péssima em física), a inércia dizque um corpo em repouso tende a ficar em repouso se nenhuma força for aplicada sobre ele.Além disso, um corpo em movimento uniforme tende a ficar nesse movimento se nenhuma forçafor implementada sobre ele.

Ocorre inflação inercial quando os agentes econômicos adaptam suas expectativas a uma dadataxa de inflação. A taxa de inflação passa a ser incorporada por diferentes instituições nodesenvolver de suas atividades.

Ou seja, a inflação inercial acontece quando os preços sobem hoje porque eles, simplesmente,subiram ontem. Simples assim. E por que eles subiram ontem? Porque já subiram antes de ontem.Ou seja, eles não vão parar de subir até que uma “força” consiga pará-los. E para encontrar essaforça para parar é um problema, viu!

Só para você ter uma ideia, como veremos mais na frente, o Brasil lutou durante praticamente 10anos contra essa danada para poder, finalmente, controlá-la!

Exercícios

1. (FGV – Sefaz-RJ – Auditor Fiscal – 2011) A inflação acumulada nos últimos doze meses encontra-se no mês de abril de 2011 acima dameta de inflação adotada no país. Para trazer de volta a inflação para a meta, a melhor combinação de políticas monetária e fiscal é,respectivamente,

a) elevação da Selic e dos gastos do governo;

b) redução da Selic e dos gastos do governo;

c) elevação da Selic e contração dos gastos do governo;

d) redução dos gastos do governo e da Selic;

e) redução dos gastos do governo e elevação da Selic.

Comentários:

Primeiro ponto a se observar ainda no enunciado. Ele fala de inflação e a associa às políticas fiscale monetária. Logo, é possível dizer que se trata de uma inflação de demanda: como o governoaqueceu a economia (seja por aumento da oferta de moeda, seja por aumento dos gastos ouredução de tributos), isso influenciou o consumo das famílias. Contudo, no curto prazo, a produçãodas empresas não responde a esse aumento da demanda, levando a um aumento de preços (lei dademanda e da oferta: o que está acontecendo é simplesmente um deslocamento da curva dedemanda para cima e para a direita para todos os bens, o que acarreta aumento generalizado nonível de preços, caracterizando a inflação. Lembre-se de que se o preço de apenas um bemaumentar, isso não caracteriza inflação. A inflação ocorre quando há aumento generalizado donível de preços).

Ainda no enunciado, temos que esse aumento impulsionou a economia a um nível de aquecimentotão alto que colocou a inflação fora da meta estabelecida pelo governo (máximo de 6,5% a.a.). Pararesolver esse problema, o que o governo deve fazer?

Antes de pensar nas políticas, temos que pensar no resultado e depois voltar para as políticas.Veja, os preços estão aumentando porque as pessoas estão comprando mais. O que precisamosfazer? Precisamos fazê-las comprar menos. Como faremos isso? Reduzindo a renda delas.

Quando se fala em redução de renda estamos falando, necessariamente, de políticasretracionistas.

Logo, para que o governo possa reduzir a inflação, ele terá de adotar as políticas fiscal e monetáriaretracionistas.

Vejamos as alternativas.

A alternativa a diz que o governo deve promover a elevação da Selic e dos gastos do governo. Se ogoverno aumentar a Selic (a taxa básica de juros da economia, através de uma política monetáriaretracionista, via um dos seus instrumentos – operação em mercado aberto, taxa de redesconto ouencaixes compulsórios), isso deverá gerar, sim, uma redução na renda da economia, já que comjuros mais altos as pessoas irão comprar menos para depositar mais moedas em aplicaçõesfinanceiras. Então, até aqui, tudo certo. De fato, um aumento da taxa Selic provoca uma redução darenda da economia, o que freia a inflação. Contudo, a questão está errada por considerar que ogoverno deve aumentar os seus gastos. Como vimos, o aumento dos gastos do governo implicaaumento da renda e aquecimento do mercado de bens e serviços, trazendo como consequênciauma pressão inflacionária.

Logo, a alternativa a não é verdadeira.

A letra b diz que o governo deve fazer uma redução da Selic e dos gastos do governo. Essa éjustamente o inverso do que vimos na alternativa a. Se a primeira alternativa peca quando fala emaumento dos gastos do governo, a questão atual erra quando diz que o governo deve fazer umaredução da Selic. Como observamos, para que o governo possa reduzir a renda da economia e,assim, reduzir a inflação, terá que aumentar a taxa de juros, não o contrário.

Assim como a anterior, a alternativa também não é verdadeira.

A letra c afirma que deverá existir uma elevação da Selic e contração dos gastos do governo.Finalmente a resposta correta.

Como já demonstramos acima, para que o governo possa reduzir a inflação, ele precisa adotar acombinação das políticas fiscal e monetária retracionistas. Ou seja, reduzir gastos, aumentartributos e ainda aumentar a taxa de juros.

Assim, alternativa correta é a c. Vejamos porque as demais estão incorretas.

A letra d diz que é preciso haver uma redução dos gastos do governo e da Selic. Essa alternativa éexatamente igual à letra b, apenas com outras palavras, Logo, assim como a anterior, também estáincorreta.

Por fim, a letra e afirma que deverá ser feita uma redução dos gastos do governo e elevação daSelic. Pois é, exatamente igual à alternativa correta, a letra c.

Logo, não há o que discutir. Nessa prova temos duas alternativas corretas: as letras c e e.

Gabarito Oficial: Letra c – Cabe recurso

2. (Cespe – MPU – Analista de Economia – Perito – 2010) A respeito do desenvolvimento brasileiro no pós-guerra, julgue a questão aseguir.

Inflação inercial, que é um tipo de inflação de demanda, surgiu no Brasil nos anos 1970 como um padrão autorreprodutor das elevações depreços e salários.

Comentários:

Bem, pelo que vimos até agora, fica bem claro que a questão está incorreta. A explicação para issoé que a inflação inercial não é um tipo de inflação de demanda, mas uma inflação específica. Assim,a questão, já com esse erro conceitual está errada.

Continuando a análise da questão, contudo, podemos notar que todo o resto está correto. De fato, ainflação inercial se retroalimenta, provocando um efeito em espiral.

Gabarito: FALSO.

Continuando no regime militar...A correção monetária resolvia o problema apenas parcialmente, uma vez que com o

aumento dos salários haveria aumento nos custos, o que geraria, em última análise,aumento nos preços dos bens. Assim, podemos verificar que a correção monetária geraredução na inflação no curto prazo. Além disso, essa redução terá um preço que deverá ser

pago em algum ponto no tempo. A tabela abaixo, também extraída do livro de A. Gremaud,Economia brasileira contemporânea, mostra como a redução foi desacelerada.

PRODUTO E INFLAÇÃO: 1964-1968

AnoCrescimento do

PIB (%)

Crescimentoda ProduçãoIndustrial (%)

Taxa de inflação(IGP-DI) (%)

1964 3,4 5,0 91,8

1965 2,4 –4,7 65,7

1966 6,7 11,7 41,3

1967 4,2 2,2 30,4

1968 9,8 14,2 22,0

Fonte da figura: A. Gremaud, Economia brasileira contemporânea.

Resolvido, em princípio, o problema da inflação, os militares observaram que era precisoorganizar o Brasil para que pudéssemos ter, finalmente, um grande processo decrescimento. Para tal, o Paeg desenvolveu três reformas institucionais:a) reforma tributária;b) reforma monetário-financeira;c) reforma do setor externo.

3.1. Reforma tributáriaQuando entraram no governo, os militares observaram que o nosso sistema tributário era

extremamente defasado para a realidade da época. Sabendo disso, implementaram asseguintes medidas para torná-lo mais eficiente:

• Transformaram os impostos em cascata (em que você acaba pagando um “imposto emcima do outro”) em impostos de valor adicionado, como o IPI e o ICM (que maistarde seria chamado de ICMS).

• Redefiniram o espaço tributário entre as diversas esferas do governo. Assim, caberia àUnião o valor arrecadado com o IPI, o Imposto de Renda, os impostos únicos, oimposto sobre a exportação, o imposto sobre a importação e o ITR. À UnidadeFederativa caberia o ICM e ao município, o ISS e o IPTU.

Foi ainda no período dos militares no poder que foi criado o Fundo de Participação dosEstados e dos Municípios.

Além desses impostos, o governo estabeleceu vários fundos parafiscais. Entre os maisimportantes, destacamos o PIS e o FGTS. A criação do FGTS merece destaque. Até antes doregime militar havia uma lei que dizia que, se o trabalhador tivesse mais de 20 anos comofuncionário de determinada empresa, não poderia ser demitido, o que acabava engessandoo mercado de trabalho. Para tirar esse benefício do trabalhador sem prejudicá-lo demais, osmilitares desenvolveram o Fundo de Garantia por Tempo de Serviço. Com isso, caso otrabalhador fosse demitido, ele não seria tão prejudicado a ponto de ficar sem nenhumrecurso financeiro, principalmente os mais idosos. Assim, o FGTS surge também como umapossibilidade de dar dinamismo ao mercado de trabalho.

Como principais consequências da reforma tributária promovida pelos militares,podemos citar o aumento na arrecadação, o que possibilitou que o governo tivesse maisuma forma de financiar os seus gastos que impulsionariam, por fim, o crescimentoeconômico.

3.2. Reforma monetária-financeiraAté 1964, o sistema financeiro brasileiro era hiperconfuso. Nesse período, a autoridade

monetária era exercida por quatro instituições diferentes: Sumoc – Superintendência daMoeda e do Crédito, Conselho da Sumoc, Tesouro Nacional e Banco do Brasil. Observandotamanha dispersão de autoridade no sistema financeiro e notando ainda a existência deuma maior complexidade nesse sistema no Brasil, o Paeg desenvolveu uma reforma quetinha como objetivo criar condições de condução independente da política monetária edirecionar os recursos da atividade econômica.

Para isso, o governo militar criou quatro grandes medidas:1. Instituição das Obrigações Reajustáveis do Tesouro Nacional

Com essa medida, o governo tornava os títulos públicos novos instrumentos definanciamento, evitando, assim, o financiamento público via emissão de moeda. Como ostítulos não estavam indexados anteriormente (indexados = reajustados por um índice quenesse caso é o índice de preços), não eram interessantes de ser comprados pelosinvestidores. A partir do reajuste via índice de preços, esses títulos passaram a ser maisinteressantes para a compra.

2. Criação do Banco Central e do Conselho Monetário NacionalSim... somente naquele período foram criados o Banco Central e o CMN. No apagar das

luzes de 1964 (31/12) foram criadas as duas instituições mais importantes do sistemafinanceiro brasileiro. Deve-se notar que cabe ao CMN a normatização do sistema financeiroe ao Banco Central a execução da política monetária e a fiscalização do sistema financeiro.

3. Criação do Sistema Financeiro de Habitação e do Banco Nacional de HabitaçãoA criação desses dois agentes do sistema financeiro está ligada, diretamente, à restrição de

crédito necessária para a redução da inflação. Assim, como o financiamento para ahabitação ficou mais escasso, o governo objetivou, com essa criação, reduzir o déficithabitacional.

4. Reforma no sistema financeiro e do mercado de capitaisFinalmente, com o objetivo de melhorar o acesso ao crédito para o investimento das

empresas, foi criado o mercado de capitais, que tinha como objetivo direcionar o créditopara as empresas. Além disso, o sistema financeiro como um todo foi reestruturado. Nessaestruturação, os agentes financeiros foram caracterizados pela sua especialização, o que iade acordo com o modelo do sistema financeiro norte-americano.

Com essas quatro medidas, o governo conseguiu estruturar o sistema financeiro. Faltavaentão reorganizar o setor externo, para aprontar a economia para a decolagem.

3.3. Reforma do setor externoA última reforma promovida pelo governo brasileiro foi ligada ao setor externo. Como

esse setor ficou esquecido por muito tempo e o governo queria retirar recursos para investirtambém no exterior, adotou algumas políticas de incentivos.

Para a melhoria do comércio externo, o governo criou incentivos fiscais para a exportaçãoe modernizou os órgãos ligados ao comércio internacional. Do lado da importação, ogoverno retirou os limites quantitativos que existiam e adotou, para proteger a nossaindústria, um sistema de minidesvalorizações cambiais. Finalmente, no que diz respeito àatração do capital estrangeiro, houve uma renegociação da dívida externa e o acordo degarantias para o capital estrangeiro.

Com as reformas consolidadas, pudemos preparar a nossa economia para decolar juntocom o período seguinte, carinhosamente chamado de “milagre econômico”.

3.4. O milagre econômicoEntre os anos 1968 e 1973, o Brasil experimentou as maiores taxas de crescimento do

produto nacional na história recente: taxas de crescimento acima de 10% a.a.Esse desempenho decorreu de alguns fatores, que vale a pena mencionarmos:

• as reformas institucionais anteriores;• a capacidade ociosa da indústria;• o crescimento da economia mundial;• mudança do diagnóstico da inflação: passou-se a acreditar que a inflação estava ligada

aos custos. Assim, o governo tirou a mão do bolso e começou a gastar via políticasmonetária, fiscal e creditícia.

As principais fontes de crescimento da economia brasileira que possibilitaram ocrescimento foram a retomada do investimento público (sim... governo gastando de novo)em infraestrutura e das empresas privadas. Além disso, houve ainda um aumento dademanda por bens duráveis e por bens produzidos pela construção civil. Por fim, vivíamosainda um processo de forte exportação. Assim, sob o governo Médici, o mais autoritário detodos os governos, tivemos os maiores indícios do milagre econômico.

Um ponto importante nesse período foi o plano econômico que governava as políticas dogoverno. Embora normalmente não seja dito pela maioria dos livros, foi nesse período quetivemos a implantação do I PND – Plano Nacional de Desenvolvimento.

Mas o milagre não se resumiu a flores. Foi também nessa época que engrossamos o nossoendividamento externo: com um crescimento de US$ 9 bilhões de dólares.

O problema é que o milagre demorou pouco... com o fim dos anos de ouro no Brasil,passamos por dificuldades de ordem interna e externa. E não conseguíamos mais crescercomo antes. Além do problema econômico, temos um problema de legitimidade política:sem crescer, não há mais a justificativa de manter os militares no poder. É isso que veremosno ponto seguinte.

1. (Petrobras – Economista Júnior – 2005) O período conhecido como “milagre econômico” (1968-1973) foi marcadopor uma forte expansão do nível de atividade no Brasil e em vários outros países em desenvolvimento. No planointernacional, qual fator contribuiu para esse crescimento?a) Grande aumento da liquidez no mercado financeiro internacional, representado pelos eurodólares.b) Ajuda americana através do Plano Marshall e de outras formas de transferências unilaterais.c) Forte expansão das exportações de produtos manufaturados e semimanufaturados para a Europa e os Estados

Unidos.d) Surgimento dos petrodólares, com influência na composição dos novos empréstimos externos.e) Aquecimento da demanda mundial por commodities, resultante do grande crescimento da economia chinesa.

Comentários:Essa questão é bem interessante. E é possível cancelar a maioria das alternativas.Vejamos:A letra b fala do Plano Marshall, que foi criado depois da Segunda Guerra Mundial para

reconstruir a Europa abalada pela guerra. Isso ocorreu nos idos dos anos 1940, muito longeda nossa realidade entre os anos de 1968 e 1973. Assim, a alternativa não pode serverdadeira.

Pulando a letra c, a letra d afirma que os petrodólares surgiram apenas depois doprimeiro choque do petróleo, em 1973. Logo, essa alternativa também não está correta.

A letra e também não é verdadeira, porque, a essa época, a economia chinesa era de basesocialista e, nesse regime, não se comunicava com o resto das economias de mercado.

Restaram apenas as alternativas a e c. Analisando a última, vemos que não houve, donosso lado, uma exportação de produtos manufaturados e semimanufaturados. Lembre-seque ainda estávamos em processo de industrialização via substituição de importações e,embora tivéssemos um parque industrial bem considerável nesse período, não tínhamoscompetitividade suficiente para fazer frente às produções americanas e europeias.

Dessa forma, fica como alternativa correta a letra a. De fato, o nosso milagre foifinanciado, em grande medida, pelos eurodólares.

Gabarito: Letra a.

2. (Petrobras – Economista Pleno – 2005) A crise econômica brasileira na década de 60 do século passado combinoubaixo crescimento e alta das taxas de inflação. O Plano Trienal e o Plano de Ação Econômica do Governo (Paeg)visavam, fundamentalmente, criar mecanismos de estabilização de preços e retomada das condições decrescimento da economia brasileira. Como principal diferença entre esses planos, no que se refere ao diagnósticoda inflação do período, é CORRETO afirmar que o Plano Trienal:a) assumia um diagnóstico estruturalista, enquanto o Paeg apontava para o combate a uma inflação de demanda;b) assumia um diagnóstico de inflação de custos, enquanto o Paeg apontava para o combate a uma inflação de

demanda;c) fazia um combate de longo prazo à inflação, enquanto o Paeg assumia uma inflação de custos;d) destacava um diagnóstico estruturalista, enquanto o Paeg apontava para o combate a uma inflação de custos

associada à retração do nível de atividade;e) supunha uma redução da inflação a partir de reformas estruturais, enquanto o Paeg assumia a necessidade de

forte expansão da economia.

Comentários:Para responder a essa questão, você precisa lembrar que, para o Paeg, a inflação era

gerada por um excesso da demanda. Assim, apenas com esse dado, vemos que as letras c, d ee não podem ser verdadeiras.

Restam apenas as alternativas a e b. Nesse caso, para usar o critério de desempate, vocêterá que saber que, segundo o Plano Trienal do governo de João Goulart, a inflação eraestrutural, ou seja, só seria possível extinguir a inflação se o governo promovesse diversasreformas na estrutura da economia.

Gabarito: Letra a.

3. (Termorio – Economista Junior – 2009) No período de 1968 a 1973, conhecido como fase do “milagre”, a economiabrasileira apresentou taxas elevadas de crescimento real do PIB, mas a tendência de aumento da inflação foicontida. Para tal, um fator importante foi a(o):a) capacidade ociosa da economia;

b) contenção da demanda via política monetária expansiva;c) redistribuição da renda para as classes de menor poder aquisitivo;d) desvalorização cambial da moeda brasileira;e) crescimento vigoroso das exportações no período.

Comentários:Essa questão é interessante e vamos responder imediatamente. A alternativa correta é a

letra a. O milagre só conseguiu taxas de crescimento tão expressivas porque havia muitacapacidade ociosa criada nos períodos anteriores e que foram sendo absorvidas apenasnesse período.

Veja que é impossível um país crescer tanto em tão pouco tempo se não houver uma boacapacidade ociosa a ser ocupada. E foi justamente esse fator que nos ajudou no período domilagre.

A letra b, por sua vez, está errada, já que não houve qualquer contenção da demanda.Como a oferta foi diagnosticada como de custos, o governo não sentiu qualquer necessidadede fazer políticas de restrição de demanda.

A letra c pode ser respondida lembrando da “teoria do bolo”.A letra d é verdadeira, contudo, não foi um fator importante para o período do milagre.

Assim, veja que uma alternativa ser verdadeira para o período não implicará ser a respostada questão, ok?

Finalmente, a letra e é falsa, já que não houve crescimento vigoroso das exportações nesseperíodo.

Gabarito: Letra a.

4. (IBGE – Análise Socioeconômica – 2010) Durante o período de 1968 até 1973, a economia brasileira apresentoutaxas de crescimento real do PIB bem elevadas, taxas de inflação diminuindo, redução e eliminação de déficit noBalanço de Pagamentos. Tal evolução se tornou possível por causa de vários fatores, dentre os quais NÃO seencontra o(a):a) quadro de ampla liquidez no mercado financeiro internacional;b) política deliberada de captação de recursos externos para financiar o balanço de pagamentos.c) política de minidesvalorizações cambiais, de acordo com a inflação, evitando variações bruscas no câmbio real.d) redistribuição de renda para os pobres, expandindo rapidamente a demanda interna.e) existência de capacidade ociosa na economia.

Comentários:Como essa questão pede a alternativa errada, vamos direto a ela.Você acha que o governo olhou para as pessoas mais pobres? (Teoria do bolo, teoria do

bolo...) A resposta é NÃO. O governo militar não se interessou em fazer a redistribuião derenda para os mais pobres. Assim, a letra que responde essa questão é d.

Gabarito: Letra d.

Capítulo 4Os Governos Militares – Parte 2

4.1. A economia brasileira e a última fase do regime militar: O II PNDO período entre os anos de 1974 e 1985 marca o processo de distensão e finalização do

regime militar, iniciado em 1964 com o governo Castello Branco, seguido dos mandatos dospresidentes Ernesto Geisel (1974-1979) e João Figueiredo (1979-1985). Economicamente, osanos entre 1974 e 1985 representam o auge e o esgotamento do processo de industrializaçãopor substituição de importações no Brasil e delimitam um conturbado contextointernacional, assinalado pela crise da ordem de Bretton Woods, pelos dois choques dopetróleo e pelo aumento da taxa de juros norte-americana.

Apenas para que você entenda melhor o processo de industrialização por substituição de importações, ele foi iniciado ainda no ano de1930 pelo então presidente da república Getúlio Vargas. Esse processo de industrialização colocava o governo como a máquinapropulsora do crescimento econômico, protegendo a indústria nacional e incentivando a produção nacional. Assim, entre 1930 e 1979prevaleceu esse modelo de industrialização na economia brasileira.

Os anos 1970 são marcados pelo fim do período de Bretton Woods e por suasconsequências: redução do crescimento do produto, perda do dinamismo do comérciomundial, aumento da inflação e da taxa de juros. Entre as causas que geraram o fim desseperíodo, pode-se apontar o esgotamento da onda de inovações, fator que, até então, geravacrescimento nas economias capitalistas. Assim, a redução das inovações altera a distribuiçãofuncional da renda em favor dos trabalhadores (uma vez que os lucros, remuneração dosempresários, não crescem sem inovações), gerando um desestímulo ao investimentoprivado. Dessa forma, a redução do crescimento mundial esteve associada à perda dodinamismo do investimento empresarial.

Contudo, esse processo poderia ter sido evitado caso houvesse aumento dos gastospúblicos nacionais, pois, uma vez um desses setores fortalecido, tal fato geraria expectativasde lucros e redirecionaria novos recursos para investimentos. A impossibilidade desseevento esteve ligada, no que diz respeito aos gastos públicos, à impossibilidade de aumentaros gastos devido aos crescentes déficits fiscais dos governos.

A economia mundial altera bastante a sua configuração nos últimos dez anos do governomilitar em razão, também, dos dois grandes choques do petróleo. Nos paísesindustrializados, os choques representam, além do aumento da inflação (originada noaumento dos preços dos produtos derivados da commodity), a redução das importações e oposterior aumento das taxas de juros para controle das elevações dos níveis de preços. Para

os países em desenvolvimento/periféricos (onde se enquadra o Brasil), os impactos foramainda mais severos: aumento da inflação e dos preços dos produtos importados dos paísescentrais, redução do comércio internacional (devido à redução da importação dos paísesdesenvolvidos), perda das relações de troca, escassez de divisas e déficits comerciais, alémdo aumento das taxas de juros domésticas em resposta ao aumento das taxas internacionais.Esses efeitos, contudo, foram suavizados no período posterior ao primeiro choque pelaentrada dos petrodólares, que injetaram liquidez ao sistema financeiro e financiaram tantopaíses industrializados quanto países em desenvolvimento. Fato semelhante não foiobservado durante o segundo choque, em 1979, o que levou os países desenvolvidos aaumentarem as taxas de juros, ampliando os efeitos recessivos nos países periféricos.

Foi durante o período após o primeiro choque do petróleo que o governo Geisel (1974-1979) instituiu o II Plano Nacional de Desenvolvimento – II PND. O último planoeconômico do regime militar foi caracterizado pelo crescimento do PIB e portransformações na estrutura produtiva nacional, e marca a resposta do Brasil à criseinternacional. No desenvolvimento do plano, optou-se pela ampliação da capacidade deprodução doméstica de bens de capital e petróleo, o que marca o II PND como um planode ajuste estrutural, em contraposição às alternativas disponíveis de ajuste conjuntural.

Assim, o II PND foi constituído como um programa de investimentos públicos e privadosque buscava atingir os pontos de estrangulamento que aumentavam a dependência e avulnerabilidade externa do Brasil: infraestrutura, bens de produção, energia e exportação,levando o Brasil a um estágio de potência intermediária. O financiamento desse plano seriarealizado pelo BNDES e pela União através de impostos e empréstimos externos. Os últimossendo possíveis graças às melhores condições de crédito originadas da liquidez dospetrodólares.

As estratégias do plano estavam alicerçadas em quatro pontos:(i) modificação da matriz industrial, através da ampliação da participação da indústria

pesada;(ii) mudança na organização industrial, com ênfase na importância da empresa privada

nacional;(iii) desconcentração regional da atividade produtiva, gerando uma menor centralização

espacial da produção; e, por fim,(iv) melhoria da distribuição da renda.

Segundo os objetivos do plano, as inversões em bens de capital e intermediárioscombinadas com a modificação das matrizes energéticas e de transportes gerariam, deforma autônoma, a demanda pela implementação da indústria de bens de capital no Brasil.

O II PND resultou, dessa forma, em avanços para as indústrias de bens intermediários ede energia, embora esse progresso estivesse ligado à presença de filiais de empresasmultinacionais no Brasil, representando, assim, alta ociosidade e pouca especialização. Emsíntese, pode-se dizer que o ajuste estrutural por meio do II PND não foi capaz de constituirum novo padrão de crescimento para a economia brasileira, deslocando seu eixo dinâmicopara a indústria de bens de capital. Ao mesmo tempo, não foi capaz de remover avulnerabilidade externa expressa nos déficits comerciais elevados e ampliados após osegundo choque externo.

As figuras 1 e 2 em destaque a seguir mostram, respectivamente, o Produto Interno Brutoreal e a balança comercial durante o governo Geisel (1974-1979).

Produto Interno Bruto Real Brasileiro (destaque para o período do governo Geisel) –1974-2009. Fonte: IBGE.

Balança Comercial Brasileira (destaque para o período do governo Geisel) – 1974-2009.Fonte: Banco Central do Brasil, Boletim/BP.

4.2. O governo Figueiredo, a ruptura do padrão de financiamento e a décadaperdida

Com o segundo choque do petróleo, no último ano da década de 1970, as condições deliquidez internacional mudaram fortemente. A inexistência de petrodólares associada aoaumento do preço da principal commodity da matriz energética mundial representaramfortes consequências para a economia brasileira. E é um pouco antes desse período que seinicia o mandato de João Figueiredo, último governo do regime militar (1979-1985),marcado por três fases distintas do comportamento do PIB:(i) 1979-1981: elevadas taxas de crescimento;(ii) 1981-1983: recessão;(iii) 1984: recuperação, puxada pelas exportações.

O gráfico mostra, entre os anos de 1979 e 1985, o comportamento da taxa de crescimentodo PIB real brasileiro durante o governo Figueiredo.

Taxa de Crescimento do Produto Interno Bruto Real Brasileiro (destaque para o governoFigueiredo – na área circulada – e para a segunda metade da década de 1980) – 1974-2009.Fonte: IBGE.

Os anos 1980 apresentaram várias diferenças quando comparados com os anos dodecênio de 1970. Entre elas, a conclusão do padrão de industrialização, iniciado em 1930 (oprocesso de industrialização por substituição de importações), e a alternância de cicloseconômicos breves de recessão e expansão, aspecto comum a todas as variáveis econômicas,conforme apresentado no período posterior (entre 1985 e 1989) no último gráfico anterior.Além disso, o período foi marcado por uma taxa de crescimento próxima ao aumento dapopulação e pela redução absoluta do investimento, caracterizando os anos 1980 como umadécada de profunda incerteza e ausência de um padrão de crescimento sustentado. Outroaspecto singular diz respeito à contínua transferência de recursos reais para o exterior viaobtenção de superávits comerciais, em contraposição à absorção sistemática desses nos anos1970.

A fim de cumprir a obrigatoriedade de transferir recursos reais para o exterior para pagara dívida externa, o governo Figueiredo adota uma política econômica com medidas fiscais emonetárias restritivas e desvalorizações reais da taxa de câmbio com o objetivo de melhorse ajustar à nova conjuntura internacional. Tal política gera resistências no setor privado enas estatais, o que leva a uma nova solução baseada na maxidesvalorização cambialimplementada pelo novo ministro do Planejamento, Antônio Delfim Netto. O ministroinstitui, ainda, a correção das tarifas e o controle dos gastos públicos com o objetivo de retero crescimento dos preços.

Embora essa nova solução objetivasse a redução dos níveis de preços, a inflaçãocontinuava seguindo tendência de crescimento devido, entre outros fatores, à emissão demoeda necessária para pagar aos exportadores pelos dólares obtidos com as vendas para oexterior. O crescimento dos níveis de preços foi ainda potencializado pela nova política deajuste salarial trimestral, o que deu à inflação o caráter inercial. A figura 4, a seguir, mostra,em destaque, a evolução do IPCA entre os anos de 1980 e 1984. Vale salientar que, emboraquando comparada com os períodos subsequentes, como será visto a seguir, a inflação nãoaparente ser de grandes proporções, deve-se ter em consideração que, a partir dessemomento, essa variável passa a ser um ponto de grande preocupação para osdesenvolvedores da política econômica brasileira. O gráfico a seguir apresenta ocomportamento da inflação durante o governo João Figueiredo.

Variação anual do Índice de Preços ao Consumidor Amplo – IPCA (destaque para ogoverno João Figueiredo) – 1980-2009. Fonte: IBGE.

Variação anual do Índice de Preços ao Consumidor Amplo – IPCA – 1980-1984. Fonte:IBGE.

Os problemas de ajuste externo no governo Figueiredo aumentaram com a adição dosefeitos da crise latino-americana (moratória da dívida externa do México em setembro de1982) do insucesso das medidas anteriores, além do padrão de financiamento utilizadodurante o II PND baseado no endividamento externo, na utilização dos recursos fiscais eparafiscais e na criação da moeda indexada. Para resolver a situação, foi adotado um ajusterecessivo cujo objetivo era reduzir o consumo para aumentar as exportações, através do usode política monetária restritiva, o que levou a uma retração do PIB, gerando, por fim, umprocesso de recessão na economia nacional. Dessa forma, a considerável redução docrescimento, a estagnação do produto per capita e a regressão dos investimentos teriam,durante a década de 1980, associação direta com o desequilíbrio externo pelo qual o paíspassava. O gráfico abaixo mostra o comportamento da balança comercial brasileira noperíodo.

Balança Comercial Brasileira (destaque para o período do governo Figueiredo e o drive

exportador) –– 1974-2009. Fonte: Banco Central do Brasil, Boletim/BP.

No que diz respeito às finanças governamentais, os anos 1980 apresentaram odesequilíbrio do setor público por meio da crise do seu padrão de financiamento externo.Essa restrição de crédito internacional originada com o segundo choque do petróleoimpacta, duplamente, sobre as finanças públicas. Por um lado, o setor público passa aampliar a sua renúncia fiscal e o volume dos subsídios a fim de viabilizar, rapidamente, ageração de um superávit comercial para fazer face à transferência de recursos reais. Poroutro lado, por ser o principal devedor em moeda estrangeira (nessa época, o setor privadose endividava junto ao setor público e esse buscava crédito internacional), o governo arcacom o ônus do pagamento de uma carga de juros em elevação.

Como consequência da nova conjuntura de insuficiência de financiamento externo pelaqual passa o setor público, observa-se o aumento da dívida pública interna, efeito originadoda própria rolagem da dívida externa. A expansão da dívida interna está associada àelevação das taxas de juros que pressionam fortemente para a manutenção dos subsídioscreditícios e a renúncia fiscal durante o período. O gráfico abaixo mostra o comportamentoda dívida do setor público entre os anos de 1981 e 2009, com destaque para a primeirametade dos anos 1980. No gráfico, observa-se uma taxa de crescimento constante ao longodos anos 1980, à exceção do ano de 1985, que detém uma menor taxa devido à melhora dascontas externas e à redução do desequilíbrio das contas públicas. O gráfico em seguidamostra a evolução da taxa de crescimento da dívida externa, com destaque, também, para aprimeira parte da década de 1980.

Evolução da taxa de crescimento da dívida do setor público (com destaque para aprimeira metade dos anos 1980) – 1981-2009. Fonte: Banco Central do Brasil, Boletim/BP.

Evolução da taxa de crescimento da dívida externa brasileira (com destaque para aprimeira metade dos anos 1980) – 1981-2009. Fonte: Banco Central do Brasil, Boletim/BP.

1. (BNDES – Economia – Profissional Básico – 2008) O período de 1974-78 foi de adaptação da economia brasileira emundial à enorme alta dos preços do petróleo. Nesse período houve mudanças importantes, tais como:a) redução substancial dos gastos brasileiros com a importação de petróleo;b) redução das taxas de juros no mundo e no Brasil, devido à grande oferta de “petrodólares” pelos países

exportadores de petróleo;c) aumento considerável dos déficits em conta-corrente dos países importadores de petróleo, financiados pela

reciclagem dos “petrodólares” via sistema financeiro internacional;d) expansão econômica mundial, financiada pela reciclagem dos “petrodólares” promovida pelo sistema financeiro

internacional;e) grande aumento das exportações brasileiras, mais do que compensando os maiores gastos com a importação de

petróleo.

Comentários:Quando as bancas falam sobre o período entre 1974-1978 você tem que lembrar da

primeira crise do petróleo ocorrida em 1973. Nesse período, houve um forte aumento nopreço do petróleo, mas, diferentemente do que aconteceu no período anterior, os efeitos

desse aumento foram suavizados pela injeção dos petrodólares: os dólares oriundos doslucros exorbitantes gerados pela venda do petróleo.

Nesse caso, a resposta correta é a letra c. Com o aumento do preço do petróleo que é,ainda hoje, a matriz energética mundial, os países não tiveram muito o que fazer: como atroca por outra fonte de energia não ocorre rapidamente, houve um aumento nasimportações de petróleo (não porque houve aumento do volume, mas, sim, aumento nospreços), o que levou a uma retração na conta-corrente dos países importadores. Parafinanciar esses déficits, os países passaram a tomar empréstimos externos que viriam dospróprios exportadores de petróleo. A esses dólares, chamamos de petrodólares.

Vejamos porque as demais alternativas são incorretas.A letra a está incorreta por afirmar que houve uma redução substancial dos gastos

brasileiros com a importação do petróleo. Pelo que acabamos de ver, houve aumento dosgastos. Aliás, lembre-se sempre que não houve aumento do volume importado, masaumento nos preços, o que impulsionou o aumento nos gastos.

A letra b é bastante interessante. Veja que, com o aumento do preço do petróleo, houveuma onda de inflação em todos os países importadores já que, como o petróleo estava nabase de praticamente todos os tipos de produção, ocorreu também aumento de custos, oque ocasionou elevação dos preços dos bens finais. Observando isso, todos os governospassam a adotar uma política de taxas de juros mais altas, a fim de conter o surtoinflacionário via redução de consumo. Assim, não houve redução das taxas de juros, comoafirmado na alternativa, mas um aumento que tinha como objetivo reduzir o processoinflacionário.

A letra d também é falsa. A justificativa para essa alternativa é bem simples: é impossívelhaver expansão mundial quando há um aumento tão grande no custo dos insumos. Logo,essa alternativa não pode estar correta.

Finalmente, a letra e também é errada, já que não conseguimos elevar a nossa exportaçãono período. Veja que não é apenas o Brasil que entra em crise, mas todos os demais paísesimportadores de commodity.

Gabarito: Letra c.

2. (EPE – Economia da Energia – 2006) As afirmações abaixo se referem ao II Plano Nacional de Desenvolvimento (IIPND), de 1974.I. Concentrou seus esforços de investimentos nos setores de infraestrutura, com particular atenção para a área

de energia.II. Contou com investimentos basicamente implementados pelas empresas estatais.III. Marcou um período de forte desaceleração do ritmo de crescimento da economia brasileira.É(são) correta(s) a(s) afirmação(ões):a) I;b) II;c) III;d) I e II;e) II e III.

Comentários:Nessa questão, vamos direto para o item que está errado. Nesse caso, é o item III, pois

durante o II PND ainda conseguimos bons índices de crescimento econômico, chegando a 5ou 8% a.a. Esse crescimento veio como um efeito do período imediatamente anterior vividono milagre econômico. Logo, embora tenhamos observado um certo desaquecimento daeconomia (uma vez que crescíamos a uma taxa de até 15% a.a.), não houve uma fortedesaceleração, como é afirmado no item.

Para os demais itens, I e II, como houve um forte aumento no setor de energia, graças aoaumento nos preços do petróleo, o governo passou a buscar formas de se desvincular dadependência do petróleo.

Finalmente, o item II é o verdadeiro, porque, como ainda estávamos no último elo do PSI,os investimentos ainda eram implementados via empresas estatais.

Gabarito: Letra c.

3. (Petrobras – Economista Júnior – 2005) O II Plano Nacional de Desenvolvimento (1974 a 1979) compreendeu umconjunto de ações voltadas para a complementação do processo de substituição de importações e a expansão daatividade exportadora no Brasil. Além disso, procurou incentivar a mudança da matriz energética para umamenor dependência do petróleo. Com relação a esse último objetivo, qual ação foi prioritária?a) Implementação do Proálcool e do projeto nuclear.b) Redução dos investimentos em hidroelétricas no país e aumento do investimento em termoelétricas.c) Expansão das estradas de acesso às rodovias principais e criação da Rodovia Rio-Bolívia.d) Proibição do uso de rodovias federais para transporte de cargas e incentivo ao uso do álcool.e) Estímulo à redução dos investimentos na petroquímica e aumento do número de estudantes de engenharia.

Comentários:Com o aperto causado pela crise do petróleo, o governo brasileiro sentiu uma

necessidade enorme de reduzir a nossa dependência dessa commodity. Analisando isso,decidiu incentivar a produção de outras matrizes energéticas. Nesse sentido, implementou oproálcool, uma política direcionada ao aumento da produção de álcool combustível e deautomóveis movidos a esse tipo de fonte de energia. Além disso, instaurou, no Brasil, osprojetos de criação de energia nuclear Angra 1 e 2, como mostrado na alternativa a.

Entre os demais itens falsos, a letra b seria aquela que geraria mais dúvidas, uma vez quepossuímos, no Brasil, muitas hidroelétricas. Veja que a alternativa fala que haveria umaredução nos investimentos de hidroelétricas, o que não é verdade. Nessa fase, tivemosinvestimentos ostensivos em todos os tipos de energias alternativas no país. E como o paíspossui muitos rios, nada como aumentar os investimentos nesse tipo de energia.

As alternativas seguintes c e d fazem bem pouco sentido. Tanto a expansão das estradasquanto a proibição do uso das rodovias federais não influenciam a redução da dependênciado petróleo, logo, não podem ser verdadeiras. Contudo, deve-se notar que, de fato, houveuma expansão das estradas de acesso às principais rodovias, mas isso não pode sercontabilizado como um incentivo à mudança da matriz energética.

Finalmente, a letra e erra porque não houve um estímulo à redução dos investimentos napetroquímica, mas um aumento dos investimentos. Como você vai lembrar, a intenção dogoverno era reduzir a dependência do petróleo importado e isso incluía gerar fontesalternativas e criar um petróleo brasileiro.

Gabarito: Letra a.

4. (Petrobras – Economista Pleno – 2005) O II Plano Nacional de Desenvolvimento (PND), no governo Geisel, foimontado no sentido de complementar o processo de substituição de importações no Brasil, além de estimular acriação de setores exportadores e reduzir a dependência de petróleo da economia brasileira. Com relação aosetor externo, é correto afirmar que:a) aumentou bastante o fluxo de empréstimos externos para o Brasil, sobretudo os assumidos pelas empresas

estatais;b) houve uma rápida reversão do saldo comercial brasileiro ainda na década de 1970;c) observou-se uma grande retração das transferências unilaterais no Balanço de Pagamentos;d) criou-se uma dívida externa fundamentalmente privada no Brasil naquele momento;e) foram fortemente elevadas as exportações de petróleo do Brasil com a descoberta dos campos gigantes da Bacia

de Campos.

Comentários:Falou-se em II PND e não poderemos abrir mão de lembrar da crise do petróleo. Sempre.

Nesse sentido, a única alternativa que responde à questão adequadamente é a a. De fato,como vimos anteriormente, o volume de empréstimos externos aumentou muito nesseperíodo para fazer frente aos aumentos de preços do petróleo.

A letra b não é verdadeira, já que não houve uma rápida reversão do saldo comercialbrasileiro. De fato, houve uma redução bastante significativa, mas não se pode afirmar quehouve reversão.

Em seguida, a letra c está incorreta, pois não se observa uma enorme variação dastransferências unilaterais no BP. Observe que esse tipo de transferência de valor acontecequando um familiar ou qualquer outra pessoa envia recursos que não são contrapartida deserviços. Assim, nada se pode afirmar sobre fortes variações desse tipo de transação noBalanço de Pagamentos.

A letra d falha por afirmar que a dívida externa era privada no Brasil. Ao contrário. Eradívida fundamentalmente pública. Na verdade, isso não quer dizer que as empresasprivadas não ficaram endividadas, elas ficaram, e muito. Contudo, a dívida contraída poressas empresas era de caráter doméstico. Assim, para poder emprestar recursos para asempresas privadas, o governo (através de suas estatais) saía em campo para angariar fundosque pudessem ser emprestados às empresas privadas.

Finalmente, a letra e está errada porque, nesse período, não fazíamos exportações depetróleo. Lembre-se, fazíamos importação de commodity (aliás, se tivéssemos feitoexportação nessa época, era provável que tudo fosse diferente hoje).

Gabarito: Letra a.

5. (Termorio – Economista Junior – 2009) O Plano Nacional de Desenvolvimento II (II PND), anunciado em 1974, visou,

fundamentalmente, a:a) promover o desenvolvimento das regiões mais pobres do país;b) conter a inflação causada pelo período de forte crescimento de 1968 a 1973;c) fazer um ajuste estrutural na economia brasileira, investindo nos “pontos de estrangulamento”;d) redistribuir a renda para as classes mais pobres e expandir o mercado interno;e) colocar a economia brasileira em recessão para equilibrar seu Balanço Comercial.

Comentários:Essa questão pode ser uma pegadinha para muitas pessoas. Explico a razão justificando

por que a letras b, c, d e e são falsas.Veja que a letra e não pode ser verdadeira porque o II PND não visou colocar a economia

brasileira em recessão. Ao contrário. Como para se justificar no poder, os militaresprecisavam gerar crescimento econômico, jamais objetivariam colocar a economia emrecessão econômica.

Em seguida, a letra d é falsa, pois não houve redistribuição de renda nesse período. Logo,a alternativa não é verdadeira.

A letra c foi observada durante o Plano de Metas que analisou os pontos de germinação ede estrangulamento.

A letra b falha, pois o objetivo do governo não era conter a inflação. Assim, restou a letra acomo verdadeira. Realmente, nesse período, a industrialização se concentrou nas regiõesmais pobres do país, como o nordeste.

Gabarito: Letra a.

6. (IBGE – Análise Socioeconômica – 2010) O aumento do endividamento externo brasileiro, durante os anos domilagre econômico (1968-73), tornou a economia do país vulnerável a eventos externos nos anos imediatamentesubsequentes. Assim, o Brasil foi muito prejudicado pelo(a):a) fim da guerra do Vietnã e a consequente redução das importações americanas de petróleo;b) forte aumento dos preços do petróleo em 1973 e em 1979;c) expansão de crédito no mundo e pela redução das taxas de juros internacionais;d) mudança no padrão monetário europeu para o euro;e) mudança política nos EUA, com o impeachment do presidente Nixon.

Comentários:Depois do milagre econômico o que aconteceu? Os dois choques do petróleo, que

aconteceram em 1973 e 1979, pontuados na letra b. Esses foram os eventos mais importantesque ocorreram na segunda fase do regime militar.

Gabarito: Letra b.

Capítulo 5A Economia Brasileira e a Nova República (1985 –1989)

É com a herança de déficit público crescente e de problemas de restrição de créditointernacional que se inicia o processo de redemocratização brasileira. O período entre osanos de 1985 e 1989 é marcado por um conjunto de experiências malsucedidas deestabilização da inflação que, embora não tenham logrado sucesso duradouro no combateao aumento generalizado dos níveis de preços, conseguem gerar momentos de rápidocrescimento.

Do lado político, a nova República passou por dificuldades no processo deredemocratização, uma vez que o sentimento social já originado com o movimento das“Diretas já” associava a democracia não apenas à volta das liberdades civis e políticas, mastambém ao fim da inflação, ao retorno do crescimento econômico e à redistribuição darenda. Além disso, a morte do presidente eleito pelo colegiado, Tancredo Neves, e osurgimento de uma coalizão partidária heterogênea enfraqueceram o governo de JoséSarney que busca, nas ruas, a legitimidade não validada no Congresso.

A fim de resolver dois problemas simultaneamente (redução da inflação ereconhecimento da liderança política), Sarney institui o Plano Cruzado. Um planoheterodoxo (plano que tem a atuação direta do poder político na esfera econômica) quebuscava desindexar a economia, marcado pelo congelamento de preços. Esse plano surgecomo a união de duas propostas distintas: a reforma monetária e o choque heterodoxo.

Os economistas ligados à proposta do choque heterodoxo pregavam que a inflação nãoestava associada ao aquecimento da demanda (aquilo que vimos na parte de política fiscal,inflação e crescimento). Segundo essa análise, através de estudos econométricos, concluía-seque a causa principal da inflação era a própria inflação no período anterior (componenteinercial). Dessa forma, a proposta política desses economistas (personificados na pessoa deFrancisco Lopes) era a promoção da desindexação da economia, através do congelamentode preços. Essa proposta foi implementada também durante os planos subsequentes Bressere Verão.

No que diz respeito à proposta da reforma monetária, essa partia do mesmo princípio dochoque heterodoxo. A diferença entre as duas propostas é a introdução de uma moedaindexada que circularia paralelamente à nacional (essa proposta ficou conhecida,

posteriormente, como proposta Larida, em homenagem aos economistas Pérsio Arida eAndré Lara).

Embora a proposta tenha sido aceita, a reforma monetária e o choque heterodoxo nãoforam as únicas propostas entregues ao governo. Além dessas e da proposta Larida, umaoutra, chamada Pacto Social, merece destaque, por ser a proposta “queridinha” das bancas.

Para entender o que essa proposta pontuava, pense que os economistas dessa linhadefendiam que os preços dos bens subiam pela ambição de empresários e trabalhadores. Deum lado, os trabalhadores queriam mais aumentos, salários mais altos e maior poder decompra, o que acabava refletindo em um aumento de custos para o empresário. Como essetambém não queria sair perdendo, aumentava os preços, o que impactava na inflação, quelevava a um aumento nos salários, alimentando a espiral inflacionária.

Assim, segundo os economistas do pacto social, para que a inflação cessasse, eranecessário que empregados e empregadores se unissem, e através de um acordo resolvessemo “conflito distributivo” das riquezas da economia. Com os trabalhadores secomprometendo em não pedir mais aumentos, os empresários também se comprometeriamem não aumentar os preços dos bens. Dessa forma, estaria finalizado o processo de inflação.

Vejamos um exercício sobre essa proposta.

1. (BNDES – Economia – Profissional Básico – 2008) Em 1984, a inflação no Brasil atingiu percentuais acima de 200%a.a. Alguns economistas defendiam o ponto de vista de que tal situação era causada pelo chamado “conflitodistributivo”. Segundo os proponentes desse diagnóstico,a) o “conflito distributivo” ocorria, fundamentalmente, entre o setor público e o setor privado, o primeiro,

aumentando os impostos e o segundo, aumentando os preços;b) o “conflito” poderia ser resolvido através de um Pacto Social, obtido com uma plena redemocratização do país e a

formação de um governo de coalisão;c) o controle rigoroso do deficit orçamentário do setor público levaria à resolução do “conflito distributivo”;d) os grupos sociais causadores do conflito deveriam ser contidos e excluídos do processo de redemocratização que

estava ocorrendo;e) apenas a dolarização da economia poderia resolver o “conflito”, pois os preços e os custos em dólar ficariam

estáveis com a taxa de câmbio estável.

Comentários:E, aqui, fica BEM CLARA a presença do pacto social nas questões. Para resolver a questão,

vale um bizu: Se surgir “pacto social” no enunciado da questão, procure conflito distributivoentre as alternativas. Lembre-se ainda que esse conflito acontece entre os empresários eempregados. Dessa forma, não tem como errar.

Mas a questão acima não deixa isso tão claro.E foi proposital. A letra correta é a alternativa b. Esse pacto só poderia ser obtido através

da formação de um governo de coalisão.As demais alternativas estão incorretas.A letra a é falsa por afirmar que o conflito se dava entre o setor público e o setor privado.A letra c fala de um rigoroso controle do déficit orçamentário, e, como veremos mais à

frente, não é verdade.A letra d afirma que os grupos deveriam ser excluídos do processo de redemocratização.

(Como excluir trabalhadores e empresários desse processo?)Finalmente, a letra e afirma que apenas a dolarização pode resolver o conflito, o que

também já vimos, não pode ser verdadeiro.Gabarito: Letra b.

5.1. O Plano Cruzado (1986)Na sua constituição, o Plano Cruzado pregava que a inflação no Brasil possuía forte

caráter inercial. Em economias indexadas, a tendência inflacionária é dada pela própriainflação no período anterior, podendo ainda ser agravada por choques de oferta oudemanda.

Desta forma, o Plano Cruzado, instituído em 28 de fevereiro de 1986, possuía as seguintesmetas que deveriam ser cumpridas, a fim de controlar o processo inflacionário existente noBrasil:1. Reforma monetária e congelamento de preços: essa medida pregava o estabelecimento

da nova moeda, denominada cruzado, para passar uma imagem de moeda forte. Alémdisso, houve a promoção de intervenções nos contratos, associada ao congelamento dospreços e taxa de câmbio.

2. Desindexação da economia: as Obrigações Reajustáveis do Tesouro Nacional (ORTNs)foram substituídas pelas Obrigações do Tesouro Nacional (OTNs) com valorescongelados por um ano. Houve ainda a proibição da indexação dos contratos com prazoinferior a um ano.

3. Índices de preço e poupança: o IPCA substituído pelo IPC para evitar contaminação dainflação de fevereiro. A poupança passa a ter rendimentos trimestrais para evitar a ilusãomonetária.

4. Política salarial: os salários seriam dados pelo valor médio dos últimos seis meses edissídios anuais com correção inferior a 100%. Foi concedido, ainda, um abono de 8%sobre os salários e de 16% sobre o salário mínimo. Nessa situação, os salários seriamrevistos sempre que a inflação acumulada ultrapassasse 20%. Nessas circunstâncias, seriaacionado o gatilho salarial que daria até 20% de aumento nos salários. Caso a inflaçãoacumulada superasse esse valor, o gatilho garantiria o reajuste dos 20%. O percentualrestante seria dado quando do acionamento do próximo gatilho.

Inicialmente, o Plano Cruzado obteve sucesso, a inflação nos meses posteriores foipraticamente nula, e houve crescimento do emprego e dos salários. Mas, enquanto isso, asituação fiscal piorava, houve redução das receitas, devido aos menores ganhos comsenhoriagem (quanto o governo aufere quando emite moeda para pagar suas dívidas) e ocongelamento de algumas tarifas, além de aumento de gastos (principalmente compessoal).

Associadas a esses fatores, a política monetária acomodatícia, a expansão do crédito e otemor de que a estabilização fosse passageira resultaram na expansão da demanda e naescassez de muitos produtos. Nesse momento, o governo notou que havia promovido umaexpansão exagerada na oferta de moeda, passando a discutir a viabilidade dodescongelamento (total ou parcial) de preços.

Então, é lançado o Cruzadinho, um pacote fiscal para desaquecer o consumo e financiar

investimentos em infraestrutura e metas sociais. Os aumentos de preços gerados por essespacotes foram expurgados do cálculo da inflação, para evitar o gatilho salarial, causando odescontentamento da população. Além disso, o plano não foi bem- sucedido nodesaquecimento da demanda ou no financiamento da demanda.

No fim de 1986, foi lançado o Cruzado II com o objetivo de aumentar a arrecadação. Naverdade, o plano foi a válvula de escape para o abandono do congelamento de preços. Ospreços aumentaram, o gatilho salarial foi acionado, e, em fevereiro de 1987, o planoCruzado teve fim. Com a piora da situação externa, foi decretada a moratória (ou o calote)da dívida externa.

De acordo com os próprios formuladores do Plano Cruzado, vários erros foramcometidos na elaboração e execução do plano, entre eles, destacam-se o diagnóstico de quea inflação era puramente inercial (desconsiderando a demanda), as políticas fiscal emonetária frouxas e o congelamento de preços demasiadamente longo e inadequado comrelação aos preços relativos.

5.2. O Plano Bresser (1987)O plano Bresser, procurando evitar os erros cometidos durante o plano Cruzado,

promoveu um choque deflacionário. A inflação foi diagnosticada como de demanda einercial, e o plano tinha elementos heterodoxos e ortodoxos. As principais medidas foram:1. Juros reais positivos para contrair o consumo.2. Aumento de tarifas mais corte nos gastos e subsídios para reduzir o déficit público.3. Congelamento de preços e salários (por três meses), mas não da taxa de juros para evitar

a deterioração das contas externas.

O plano Bresser teve sucesso inicial (inflação reduzida nos dois primeiros meses), mas otemor de novos congelamentos motivou a remuneração prévia de muitos preços, e aflexibilização anunciada do congelamento contribuiu para que aumentos fossem repassadosa outros preços, desequilibrando os preços relativos. Somados a isso, os acordos salariaiscom categorias do funcionalismo minaram a redução do déficit público. Todos esses fatorescontribuíram para o crescimento da inflação.

5.3. O Plano Verão (1989)A insatisfação gerada pelos resultados obtidos nos planos anteriores motivou a

radicalização das propostas de indexação, e foi anunciado o Plano Verão. O plano foinovamente classificado como híbrido, pois apresentava elementos ortodoxos (redução dedespesas, reforma administrativa, limitações à emissão de títulos pelo governo e restrição aocrédito) e heterodoxos (congelamento de preços e salários, desta vez, por tempoindeterminado). Uma das medidas do Plano Verão foi a mudança da moeda, para oCruzado Novo, com paridade de 1:1 com o dólar.

Como 1989 foi ano eleitoral, o ajuste fiscal não ocorreu. Além disso, os juros foramincapazes de conter o consumo, pois a população estava preocupada com a explosão dospreços ao fim do congelamento. O período foi marcado ainda pela insatisfação crescentedos trabalhadores, que reivindicavam reposições salariais. O resultado de todos esses fatoresfoi o crescimento da inflação, já no segundo mês.

5.4. Restrição cambial e crescimento econômicoOs anos de 1980 foram caracterizados pela alternância de ciclos breves de recessão e

expansão, e por uma taxa de crescimento próxima à de aumento da população. Esseperíodo foi marcado também pela contínua transferência de recursos reais para o exteriorvia obtenção de superávits comerciais recorrentes. A obrigatoriedade de transferir recursosreais para o exterior para servir à dívida externa criou um constrangimento aodesenvolvimento nacional.

Existem interpretações distintas sobre as razões para o fraco desempenho da economiabrasileira durante a década de 1980. Para uma delas, a necessidade de gerar elevadossuperávits comerciais para fazer face ao serviço da dívida restringiu o crescimentoeconômico, pois a taxa de acumulação de capital teria que ficar abaixo da taxa depoupança interna para viabilizar a transferência de recursos.

Todas as variáveis econômicas durante os anos de 1980 revelaram uma grandevariabilidade, com curta duração dos ciclos econômicos. Evidências empíricas permitiramassociar a incompatibilidade entre a geração de superávits e o crescimento. No períodorecessivo, os investimentos e as importações caíram, enquanto as exportações cresceram.Entretanto, no período da retomada de crescimento interno, a situação se inverteu.

Essa incompatibilidade apresentou maior expressão no fraco desempenho dosinvestimentos. A dissociação entre investimentos privados e públicos indicava oesfacelamento do padrão de crescimento que até então existia. Observam-se redução dosinvestimentos do setor produtivo estatal, insustentabilidade dos gastos públicos e baixopatamar de investimentos privados.

A orientação exportadora atuou como elemento dinâmico da economia brasileiradurante o período. Mas, assim como em períodos anteriores, a inserção das exportações foifruto dos mecanismos do mercado interno, que promoveu a diversificação da pautaprodutiva. Para um conjunto de setores produtivos, a inserção das exportações foi relevantecomo fator de explicação do crescimento.

No entanto, os mercados adicionais originados pela nova inserção das exportações foraminsuficientes para assegurar a elevação e a sustentação da taxa de investimento.Desempenho medíocre dos investimentos se refletiu negativamente no comportamento dasatividades produtivas.

5.5. O desequilíbrio do setor públicoDurante a década de 1980, o setor público intensificou sua ação para viabilizar a geração

de superávits comerciais de modo a fazer face à dívida, o que implicou ampliação darenúncia fiscal e do volume de subsídios. Paralelamente, o setor arca com o ônus crescentedos juros da dívida por ser o principal devedor em moeda estrangeira.

A inflação crescente e a retomada do nível de atividade a partir do crescimento dasexportações reduzem a carga tributária em função da renúncia fiscal. Mas a reorientaçãodo crescimento para as exportações aparece como fator mais relevante para o crescimentodo déficit público. Isso ocorre porque os efeitos da inflação e da recessão podem serrevertidos pela estabilização e indexação dos impostos, mas o impacto da reorientação docrescimento necessita de uma reforma tributária.

Entre 1980 e 1984, a redução do déficit público passou a exigir cortes de gastos parapatamares baixíssimos, abaixo das necessidades mínimas para o crescimento econômico,comprometendo inclusive investimentos de empresas estatais de caráter estratégico.

O período de 1982 a 1984 constitui o de maior crescimento do endividamento públicodurante a década, com expansão das dívidas interna e externa como proporção do PIB. Adívida externa cresce devido à maxidesvalorização cambial e à assunção pelo governofederal de parte da dívida externa de responsabilidade do setor privado.

A combinação entre cortes de investimentos públicos com a manutenção de incentivos esubsídios e aumento da taxa de juros criou uma situação de desequilíbrio no financiamentopúblico. Até 1984 esse desequilíbrio foi contornado pelo financiamento externo, o que nãoocorreu no período seguinte.

Entre 1987 e 1989 a carga tributária bruta sofre queda continuada, tanto pela estagnaçãoda economia, como pela reorientação do crescimento e aceleração inflacionária. Adefasagem entre preços e tarifas públicas amplia-se durante 1984 e 1989, obrigandocrescentes transferências do Tesouro Nacional às empresas, cujas tentativas de mudançacontribuíram para o crescimento da inflação.

Dada a restrição financeira sobre o setor público nos anos de 1980 foram tentados doispadrões de ajustamento inconsistentes. Na primeira metade da década, a obtenção de umsuperávit primário insustentável, acompanhado da perda de receita e fundado no corte dosinvestimentos.

Na segunda metade, a recuperação dos gastos ativos não contribuiu para amenizar asdificuldades de financiamento do setor público. Além disso, o Tesouro foi obrigado a arcarcom o ônus crescente dos desequilíbrios das empresas estatais, que se tornou um fator deconstrangimento dos gastos públicos.

Apesar dos elevados déficits públicos, a participação da dívida líquida no PIB se manteveperto de 50% durante o período, e o estoque da dívida foi desvalorizado. Em parte, essadesvalorização se deve à defasagem entre a inflação que corrige o PIB e os indexadores que

corrigem o valor da dívida. No caso da dívida externa, uma contribuição se deve àapreciação cambial como efeito do processo inflacionário.

Essa estabilidade da dívida líquida do setor público indica que a questão a ser analisada éa composição da dívida interna (composição entre as formas de financiamento do déficit).Nesse sentido, observa-se o crescimento da participação da dívida mobiliária. Ofinanciamento assume caráter de curtíssimo prazo, com taxas elevadas de juros como formade recompensar os riscos de perda patrimonial. Para aplicadores, essa parcela da dívidapública possui liquidez imediata, de modo que a contrapartida da deterioração dofinanciamento público é a possibilidade de conversão dessa liquidez em poder de compra,gerando hiperinflação. Essa situação ocorreu em 1988 e 1989, apesar dos patamareselevados para a taxa de juros real.

Assim, o processo de reorientação do crescimento e o déficit público decorrente setraduziram na mudança da forma de financiamento e ruptura com o investimento público,promovendo crise de desconfiança e fuga da riqueza para ativos reais e de risco, como a quese inicia em 1989.

Capítulo 6Comportamento da Economia Brasileira entre 1990 e1994

6.1. A primeira metade dos anos 1990O governo Collor, que substituiu o governo Sarney, deu início a um novo período na

economia nacional. Além de escândalos políticos que resultaram no processo deimpeachment, o governo de Fernando Collor é marcado pela ruptura com o modelobrasileiro de crescimento com elevada participação do estado, proteção tarifária, e dapolítica industrial subordinada ao combate da inflação. O governo de Itamar Franco, porsua vez, inicia processo de estabilização que daria fim à indexação.

6.2. A mudança de modeloComo vimos anteriormente, as principais características do modelo de industrialização

brasileiro do pós-guerra eram:

1. Participação direta do Estado, através de suprimento de infraestrutura e alguns setores prioritários.

2. Proteção à indústria nacional, por meio de tarifas à importação e diversas barreiras não tarifárias.

3. Fornecimento de crédito em condições favoráveis a novos projetos.

Esse modelo brasileiro era compatível com o de substituição das importações (MSI),defendido pelos economistas da Cepal. Dentre as consequências dessa estratégia para aeconomia brasileira, podemos citar: formação de uma estrutura de incentivos distorcida,viés antiexportador e endividamento do estado. Além disso, as tentativas malsucedidas pararesolver a crise fiscal ocorreram de forma simultânea ao atraso tecnológico da indústrianacional (especialmente bens de capital).

6.3. Privatização e aberturaPara o governo Collor, a recuperação do atraso industrial passa a ser vista como

necessária para a estabilização duradoura dos preços. Nesse sentido, a nova PolíticaIndustrial e de Comércio Exterior (Pice), implementada ainda no governo Collor, tinhacomo objetivo incentivar a competição e a competitividade.

A ênfase da Pice se deu na estratégia de privatização e reforma tarifária no comércioexterior. Com isso, esperava-se aumento da competição interna e, assim, da eficiência, eaumento da competitividade das empresas. No entanto, as privatizações no período forammodestas em razão de diversos fatores: má situação das empresas públicas; dificuldade emavaliar ativos de diversas estatais por causa da inflação; resistência da população; governosem credibilidade; impossibilidade de venda a estrangeiros em alguns setores (previsto naConstituição); falta de experiência em privatizações; dificuldade em vencer a inflação (quecontinuava a ser a principal preocupação do governo).

Macroeconomia em análise

A taxa de câmbio e o modelo IS-LM-BP

E eis que vamos falar de um assunto muito estimado por economistas do mundo inteiro: o modeloIS-LM-BP. A explicação para que esse modelo seja tão apreciado pelos macroeconomistas é queele consegue explicar o que acontece na economia quando o país realiza trocas com outraseconomias. É por isso que, nesse caso, há a introdução do Balanço de Pagamentos.

Vamos compreender um pouco mais desse modelo.

O primeiro ponto que você precisará entender é que, com esse modelo, a interação entre aeconomia local e a economia do resto do mundo é dada pelo fluxo de importações e exportaçõesentre esses países. E você deve estar se perguntando: Mas o que leva uma economia a exportarmais ou menos?

A taxa de câmbio

A variável mais importante que afeta o nível de exportações e importações entre os países é a taxade câmbio. Essa taxa mede a relação de “preço” entre as moedas de dois países.

No caso do câmbio do dia 21/1/2013, tínhamos o seguinte:

CÂMBIO

Dólar $

–0.15 %

R$ 2,0420

Euro €

–0.22 %

R$ 2,7190

Nesse caso, de acordo com o site do jornal O Estado de S. Paulo, temos que o dólar pode ser“comprado” por R$ 2,04 e o euro, por R$ 2,7190.

Em termos matemáticos, podemos representar a taxa de câmbio da seguinte forma:

Câmbio =valor da moeda doméstica

valor da moeda estrangeira

A metodologia utilizada no Brasil leva em conta que o denominador sempre considera o valorunitário da moeda estrangeira. Dessa forma, para o câmbio do dia 21/01/2013, teríamos o seguinte:

Como, no Brasil, esse valor é alterado diariamente (vamos explicar a razão disso mais à frente), épreciso saber qual a variável que afeta a taxa de câmbio.

Grosso modo, podemos dizer que tanto a taxa de juros doméstica quanto a taxa de jurosestrangeira afetam a taxa de câmbio de um país. A explicação para isso é simples e ocorre nomercado de ativos financeiros no fluxo circular da riqueza expandido. Quando há um aumento dataxa de juros doméstica, por exemplo, isso induz um movimento de capitais para o Brasil. Oraciocínio é válido porque, quando a taxa de juros aumenta, investir em capital financeiro no paísse torna mais atrativo, levando os investidores do mundo inteiro a direcionar seu capital para onosso país.

Assim, como os investidores não podem investir diretamente com suas moedas no nosso mercadode ativos financeiros, precisam fazer a conversão entre as moedas estrangeira e nacional, nomercado cambial. Com isso, há um aumento da oferta de moeda estrangeira no nosso mercadocambial, o que faz com que o preço da nossa moeda aumente (já que ela está ficando relativamenteescassa) e o preço da moeda estrangeira diminua (uma vez que ela está ficando excedente). Issoocorre em termos de taxa de câmbio. Nesse caso, haverá uma redução da taxa, o que implica dizerque a nossa moeda está apreciada.

Se fosse o contrário, se houvesse uma saída de capitais para o resto do mundo (no caso da nossataxa ser menor que o resto do mundo), nossa moeda seria depreciada, enquanto a moedaestrangeira seria apreciada. Nesse caso, dizemos que o câmbio está depreciado.

Logicamente, todo esse processo é válido para a situação em que o câmbio pode ser alterado semproblema algum.

Entretanto, em algumas situações, não é possível alterar a taxa de câmbio facilmente. Nessescasos, estamos diante de um regime cambial fixo. Nessa situação, é o governo quem determinaqual será o valor da moeda nacional ante a moeda estrangeira, e é ele quem vai manter essa taxa

em um dado patamar.

Para o exemplo anterior, estamos falando de um câmbio flutuante, ou regime de câmbio flutuante.Há outra variante desse regime: o regime de flutuação suja. Nesse caso, o governo não determinaqual será a taxa de câmbio do país, mas estabelece uma margem em que essa taxa pode variar, é oque chamamos de bandas cambiais.

Compreendido um pouco sobre taxa de câmbio, passamos a analisar melhor o modelo.

As hipóteses do Modelo IS-LM-BP

Existem duas hipóteses básicas do modelo:

1. Níveis de preços interno e externo são constantes.

2. Mobilidade perfeita de capitais.

Dentre as duas hipóteses, a segunda é, definitivamente, a mais importante.

Uma economia pode apresentar perfeita mobilidade de capital, imperfeita mobilidade de capital ouausência de mobilidade de capital. Vamos analisar unicamente o caso da perfeita mobilidade decapital, porque após tantos anos de experiência em concursos na área de economia, vimos apenasquatro questões extremamente específicas em relação aos outros tipos de mobilidade.

O modelo com perfeita mobilidade de capitais é conhecido na literatura internacional comomodelo Mundell-Fleming. A característica mais importante desse modelo é que a pequenaeconomia local possui livre acesso ao mercado de capitais internacional e o resto do mundo, livreacesso ao seu mercado de capitais. Com isso, a única variável relevante no modelo passa a ser ataxa de juros, tanto doméstica (i) quanto internacional (i*).

Desse modo, logo constatamos uma primeira diferença entre o nosso modelo IS-LManteriormente analisado: nesse há outras variáveis que afetarão o nível de renda e juros deequilíbrio. A taxa de câmbio é uma delas. Como sabemos que a taxa de câmbio afeta ainda oBalanço de Pagamentos, via balança comercial, temos que colocar, no modelo, o nosso BP.Graficamente, o equilíbrio macroeconômico pode ser estabelecido da seguinte forma:

Aqui, algumas explicações são válidas:

Como estamos tratando de perfeita mobilidade de capitais, temos que a curva BP (que mostra ocomportamento do Balanço de Pagamentos) será horizontal.

Além disso, a região acima da curva BP mostra um superávit no Balanço de Pagamentos (viaaumentos na conta de capital). Por outro lado, a parte inferior à curva mostra regiões de déficit noBP (via reduções ou saídas na conta de capital).

De acordo com o professor Heber Carvalho:

Nessa situação, ainda é importante destacarmos que o Balanço de Pagamentos estaráautomaticamente em equilíbrio. Deixe-me explicar por quê: o Balanço de Pagamentos (BP)registra a entrada e saída de moeda estrangeira do país e é dividido em balanço de transaçõescorrentes e balanço de capitais autônomos. Se há mobilidade perfeita de capitais e as taxasinternas são iguais às externas, então, a entrada de capitais é igual à saída, de forma que o balançode capitais autônomos estará em equilíbrio. Por outro lado, se houver déficit no balanço detransações correntes, isto poderá ser solucionado de forma bastante fácil: basta tomarempréstimos no exterior, pois há livre acesso ao mercado internacional. No caso de superávit,basta aplicar no mercado internacional. Ou seja, o balanço de transações correntes estará sempreem equilíbrio, devido a essa extrema facilidade em se financiar ou investir junto ao exterior.

No equilíbrio, ou seja, sobre a curva BP, vemos que a taxa de juros doméstica é idêntica à taxa dejuros internacional. Nesse caso, o volume de entrada de capitais é igual ao volume de saída decapitais.

Mas, o que diferencia esse modelo do modelo IS-LM no caso da economia fechada? A diferençanão está apenas na apresentação da curva BP, mas em como a economia reage de acordo com otipo de regime cambial a que está submetida.

Assim, para entender melhor, analisaremos o que acontece na economia quando estamos sob umregime de câmbio fixo ou câmbio flutuante.

Regime de câmbio fixo

Como vimos, sob o regime de câmbio fixo, o governo não permitirá que o câmbio tenha o seu valoralterado. Isso significa dizer que o governo também não permitirá que a taxa de câmbio domésticaseja diferente da taxa de câmbio internacional, já que desse modo incentivaria movimentos decapitais para a economia local, o que força alterações no câmbio.

Assim, sob o regime de câmbio fixo, se o governo desejar fazer uma política fiscal expansionista,teremos o seguinte efeito:

Observe que, no caso acima, haverá um deslocamento da curva IS para a direita, exatamente comovimos anteriormente. Nesse caso, a nossa taxa de juros doméstica descola da taxa de jurosinternacional. Mas, como estamos em um regime de câmbio fixo, isso não pode ter um caráterperene. Observando esse descolamento, o governo prontamente faz uma política “corretiva” como objetivo de reverter tal situação. Para tanto, ele desloca a curva LM para a direita (como sehouvesse uma política monetária expansionista). De forma gráfica:

Ou seja, o governo só estabilizará o mercado monetário quando a taxa de juros doméstica voltar àigualdade com a taxa de juros internacional. Nesse caso, dizemos que a política fiscal éplenamente eficaz sob o regime de câmbio fixo.

Um ponto importante de frisar antes de dar continuidade ao assunto é o que acontece assim que acurva IS é deslocada (ou seja, antes do deslocamento da LM). Note que há um superávit no Balançode Pagamentos. Isso acontece por que como a taxa de juros está temporariamente maior que ataxa internacional, há entrada de capitais autônomos, o que gera um superávit do BP.

No que diz respeito à política monetária, se o governo desejar fazer uma política expansionista, porexemplo, isso levará a um deslocamento da curva LM para a direita, como visto abaixo.

Nesse caso, como a taxa de juros doméstica está abaixo da taxa de juros internacional, haverá umdéficit no Balanço de Pagamentos (via saída de capital da conta de capital do BP). Para controlar asaída de capital, que pressiona a taxa de câmbio da economia, o governo deverá,sistematicamente, fazer movimentos contrários na curva LM. Desse modo, o governo adotaráferramentas como se o objetivo fosse fazer uma política monetária retracionista e se manteráagindo assim até que a taxa de juros volte ao patamar de igualdade, o que acontecerá quando a LM

estiver de volta a sua posição inicial. Assim, podemos dizer que sob o regime de câmbio fixo, apolítica monetária é completamente ineficiente.

Regime de câmbio flutuante

Se no regime de câmbio fixo, a política fiscal é plenamente eficaz, o mesmo não é válido quandofalamos do regime de câmbio flutuante. Aliás, como você verá, o resultado é exatamente o inverso.

Vejamos.

Primeiramente, analisemos o caso em que o governo decide fazer uma política fiscalexpansionista. Nessa situação, como já vimos, haverá um deslocamento para a direita da curva IS.

Primeiro aspecto que você deve observar é que com o aumento dos gastos do governo, haveráaumento da taxa de juros doméstica, fazendo com que haja uma apreciação cambial (lembre-seque haverá um movimento de capitais para o nosso país, fazendo com que a taxa de câmbio sereduza). Nesse caso, como não há a intervenção do governo para ajustar a taxa de câmbio, asimportações acabam se tornando mais interessantes (o produto estrangeiro fica relativamentemais barato) e as exportações ficam menos interessantes. Nessa situação, com o aumento dasimportações e redução das exportações, haverá um deslocamento da curva IS para a esquerda (jáque com a redução das exportações, ocorrerá também uma redução do emprego, do consumo, darenda...). Isso continuará até que a IS volte a sua posição inicial. Logo, sob o regime de câmbioflutuante, a política fiscal passa a ser pouco eficaz.

Finalmente, analisemos o caso da política monetária sob o regime de câmbio flutuante. Nessecaso, se o governo adotar uma política monetária expansionista, isso levará a um deslocamento dacurva LM para a direita. Graficamente:

Nessa situação, como observamos, há um déficit no BP proveniente da saída de capitais da contade capitais. Com isso, como vimos, haverá uma depreciação da moeda local.

Com a depreciação, ocorrerá também aumento das exportações e redução das importações,fazendo com que a curva IS (a única que se movimenta quando há alterações do saldo da balançacomercial) se desloque para a direita, à medida que as exportações aumentam. O gráfico abaixomostra isso.

Assim, com base no gráfico, podemos observar que, sob o regime de câmbio flutuante, a políticamonetária é plenamente eficaz.

Vejamos os exercícios.

1. (Cespe – Auditor do Tribunal de Contas da União – 2007) A macroeconomia lida com os grandes agregados econômicos e, por essarazão, é importante para se avaliar o desempenho global das economias de mercado. Acerca desse assunto, julgue a questãosubsequente.

Políticas de liberalização do comércio, que resultam em uma maior propensão a importar, não afetam o multiplicador keynesiano,porque a demanda por bens e serviços importados, atendida por empresas estrangeiras, não altera o PIB local.

Comentários:

Para responder essa questão, precisamos lembrar da seguinte identidade:

Y = C(Y, T, i) + I(Y,i) + G + X(e,Y*) – M(e,Y)

Em que:

E = taxa de câmbio nominal

Y* = Renda do resto do mundo

Veja que a importação depende da renda. Dessa forma, políticas que influenciam a propensãomarginal a importar tendem a aumentar o vazamento do crescimento do PIB da economia localpara o resto do mundo.

O raciocínio é simples:

Um aumento da renda leva a um aumento do consumo, mas não apenas do consumo doméstico,como também do consumo de bens produzidos fora do país. Dessa forma, ao invés de ter um

crescimento maior da renda, o vazamento levará a um menor crescimento.

Para ficar mais claro, em uma economia aberta, o multiplicador dos gastos do governo é dado pelaseguinte expressão:

Variação da renda / variação dos gastos = 1 / (1 – PMgC + PMgM)

em que PMgM é a propensão marginal a importar.

Como ela aparece na soma no denominador, vai levar a uma redução da razão.

Logo,

Gabarito: FALSO.

2. (Cesgranrio – Analista do Banco Central do Brasil – Área 3 – 2006) No modelo de Mundell-Fleming para uma pequena economia abertacom perfeita mobilidade de capitais e taxas de câmbio flexíveis, onde se observa a existência de desemprego no curto prazo, umapolítica de expansão da oferta de moeda praticada pelo Banco Central terá como uma de suas consequências:

a) a diminuição do produto real;

b) a valorização da taxa de câmbio;

c) o aumento da entrada líquida de capitais externos;

d) o aumento das exportações líquidas;

e) a permanência da taxa de desemprego nos mesmos níveis anteriores.

Quando se falar em economia aberta, você terá que lembrar que, agora, as políticas econômicasirão afetar não apenas a economia doméstica, como também o resto do mundo.

Comentários:

No caso da questão acima, note que o governo implementou uma política monetária expansionistaatravés da elevação da oferta de moeda na economia (que pode ter sido realizada via operação decompra de títulos no mercado aberto, redução da taxa de redesconto ou redução das reservascompulsórias).

Nesse caso, com o aumento da oferta monetária, há uma redução da taxa de juros da economianacional, o que leva a um aumento da produção nacional e do nível de emprego. No lado monetário,com a redução das taxas de juros (como se observa hoje), há uma saída de capital financeiro dopaís, o que acarreta uma maior demanda por moeda estrangeira, depreciando a moeda nacional.

Nesse sentido, por fim, com a moeda nacional depreciada, haverá aumento das exportações eredução das importações, aumentando as exportações líquidas do país, como afirmado na letra d.

Gabarito: Letra d.

3. (Cesgranrio – Banco Central do Brasil – Analista – 2009) O gráfico abaixo ilustra o modelo IS/LM/BP, representando uma economia emregime de taxa de câmbio fixa.

Na situação representada no gráfico, a(o):

a) política monetária é impotente;

b) política fiscal é impotente;

c) taxa de desemprego é elevada;

d) mobilidade internacional do capital financeiro é reduzida;

e) Balanço Comercial é superávitário.

Comentários:

Quando determinado governo adota a política de câmbio fixo, ele também abre mão da sua políticamonetária, já que existe uma relação forte entre taxa de câmbio e mobilidade de capitais.

Veja que o gráfico da questão mostra uma curva BP perfeitamente horizontal, o que implicaperfeita mobilidade de capitais.

Assim, em uma situação sem câmbio fixo, qualquer movimentação da taxa de juros que sejapromovida pelo governo levará a um movimento de divisas dentro do país, o que modificará a taxade câmbio então vigente.

Como a questão fala, em câmbio fixo, o governo sabe que não poderá utilizar esse instrumentocom o objetivo de variar a renda. Dessa forma, a política monetária é completamente ineficaz,como afirma a alternativa a.

Note que com o regime de câmbio fixo, a política fiscal tende a ser perfeitamente eficaz no curtoprazo. Uma vez que uma variação dos gastos do governo ou dos tributos também acaba afetando omercado monetário, o governo atuará via variação na oferta de moeda no sentido de estabilizar ataxa de juros para manter a paridade cambial. Isso é o que se chama de endogenia da moeda.

Gabarito: Letra a.

4. (Esaf – Inspetor da Comissão de Valores Mobiliários – 2010) Considere o caso de uma economia aberta de um país pequeno em relaçãoao resto do mundo, com livre mobilidade de capitais:

a) um excesso de poupança interna sobre o investimento implica déficit na conta transações correntes;

b) um excesso de investimento sobre a poupança interna implica a necessidade de entrada de capital externo no país;

c) um excesso de investimento sobre a poupança interna implica aumento da taxa de juros no mercado internacional;

d) a livre mobilidade de capitais é suficiente para garantir a igualdade entre a poupança interna e o investimento;

e) um excesso de poupança interna sobre o investimento implica a entrada de poupança externa.

Comentários:

A letra a está incorreta por afirmar que o excesso de poupança interna sobre o investimentoimplica déficit na conta transações correntes. Na verdade, esse excesso mostra que o país podeenviar capital para o resto do mundo, não o contrário.

A alternativa b está correta justamente por contradizer a letra a. Veja que quando os investimentossão superiores ao nível de poupança interna, o país necessitará de capital externo (via poupançaexterna) para poder saldar as suas contas.

Em seguida, a letra c está incorreta por afirmar que o excesso de investimento sobre a poupançainterna implica aumento da taxa de juros no mercado internacional. Nesse caso, como há perfeitamobilidade de capital, a taxa de juros doméstica não afeta a taxa de juros internacional, já que essaé uma pequena economia.

A letra d está incorreta porque afirma que a livre mobilidade de capitais é suficiente para garantir aigualdade entre a poupança interna e o investimento. Na verdade, haverá uma igualdade entre astaxas de juros nacional e internacional.

Finalmente, a letra e diz que o excesso de poupança interna sobre o investimento implica a entradade poupança externa. Nesse caso, vale justamente o contrário. Haverá uma saída de poupançadoméstica para o resto do mundo.

Gabarito: Letra b.

5. (Ceperj – Sefaz-RJ – Oficial de Fazenda – 2011) Em uma economia com perfeita mobilidade de capitais, partindo-se de uma situação deequilíbrio nos mercados interno e externo, caso o governo adote uma expansão da oferta monetária, as consequências sobre a taxa dejuros do país e a renda seriam:

a) no regime de câmbio fixo, no final do processo de ajuste, o estoque de reservas internacionais do banco central é maior, e a taxa dejuros do país é igual à taxa de juros internacional;

b) no regime de taxa de câmbio flutuante, o novo equilíbrio ocorre com uma taxa de juros do país maior do que a internacional;

c) no regime de taxa de câmbio flutuante, no novo equilíbrio, a renda é inferior à renda de equilíbrio no regime de taxa de câmbio fixa;

d) no regime de câmbio flutuante, no novo equilíbrio, a taxa de câmbio estará em um nível mais elevado, e o Balanço de Pagamentospossuirá um saldo mais favorável em transações correntes;

e) No regime de câmbio fixo, no novo equilíbrio, a taxa de juros do país seria inferior à taxa de juros internacional, e o Balanço dePagamentos não seria afetado.

Comentário:

A primeira coisa que temos que pensar é: caso o governo adote uma expansão monetária, haveráum aumento da renda nacional e uma redução da taxa de juros da economia.

Vejamos item a item.

A letra a é falsa. Você deve lembrar que no regime de câmbio fixo não é indicado que o governoadote políticas monetárias expansionistas, mas, se ainda assim ele o fizer, ocorrerá uma saída decapitais, o que indica que o estoque de reservas internacionais do Banco Central será maior. Alémdisso, no processo de ajuste, as taxas de juros voltam a ser idênticas.

A letra b também é falsa, pois se o regime é de câmbio flutuante, haverá redução da taxa de jurosda economia em relação à taxa de juros internacional.

A letra c, por sua vez, é falsa porque a renda de equilíbrio no câmbio flutuante será maior do queaquela observada no câmbio fixo, quando o governo faz política monetária expansionista.

A letra d é verdadeira, pois no regime de câmbio flutuante, no novo equilíbrio, a taxa de câmbioestará em um nível mais elevado (já que haverá saída de capitais), e o Balanço de Pagamentospossuirá um saldo mais favorável em transações corrente (pois haverá um aumento dasexportações).

Finalmente, a letra e é falsa porque no regime de câmbio fixo, no novo equilíbrio, a taxa de juros dopaís SERÁ EQUIPARADA à taxa de juros internacional.

Gabarito: Letra d.

6. (FCC –TCE-PR – Economia – Analista de Controle – 2011) No modelo IS-LM para uma economia aberta, em que a taxa de desempregoestá acima da taxa natural, as taxas de câmbio são flexíveis e há mobilidade perfeita de capitais,

a) uma diminuição da tributação, tudo o mais constante, aumentará o produto e a taxa de juros da economia;

b) o resgate de títulos públicos por parte do Banco Central aumentará as importações, se estas forem uma função crescente da rendado país;

c) a prática de uma política fiscal expansiva provocará uma saída líquida de capitais do país;

d) um aumento da oferta monetária provocará uma entrada líquida de capitais no país;

e) somente a política monetária expansiva é eficiente no sentido de aumentar o produto da economia no curto prazo.

Comentários:

Nessa questão, note que há um fato interessante. Pelo que se tem no enunciado, não é possívelsaber se a questão pede a alternativa correta ou incorreta.

Nesse caso, analisando todos os itens, verificamos que a questão pede a alternativa INCORRETA.

Nesse sentido, a letra e é falsa, pois como estamos falando de perfeita mobilidade de capital, apolítica fiscal também pode ser utilizada para aumentar o nível de produto no curto prazo. Assim,considerando a alternativa falsa, eis o gabarito da questão.

A letra a é verdadeira porque uma diminuição da tributação leva a um deslocamento da curva ISpara a direita. Nesse caso, haverá um aumento da renda e também da taxa de juros, como afirmadona questão.

A letra b é também verdadeira, pois como o resgate dos títulos públicos é um instrumento depolítica monetária expansionista, haverá aumento da renda. Nesse caso, se as importações foremfunção da renda nacional, também haverá aumento dessas.

Em seguida, a letra c merece um recurso, por uma razão simples.

Então, nesse caso, pode-se dizer se há uma saída líquida de capitais do país ou uma entrada. Comoa política fiscal eleva a taxa de juros da economia, ocorrerá um movimento de entrada de divisas nopaís. Por outro lado, a elevação do nível de renda provocará aumento das importações, o que leva auma saída de divisas. Como não se pode dizer qual movimento predominará, não é possível afirmar

que a alternativa c é verdadeira ou não.

Finalmente, a letra d também merece recurso. Com o aumento da oferta monetária, haveráredução da taxa de juros. Com isso, deverá haver um movimento de saída de capitais do país, nãode entrada.

Considerando o volume de inconsistências, pede-se o anulamento da questão.

Gabarito: Letra e, mas caberia recurso.

7. (FCC –TCE-PR – Economia – Analista de Controle – 2011) No modelo IS-LM para uma economia aberta, em que a taxa de desempregoestá acima da taxa natural, as taxas de câmbio são fixas e há mobilidade imperfeita de capitais,

a) aumentos da oferta monetária pelo Banco Central somente atingem o objetivo de aumentar o produto real da economia se ainclinação da curva BP for maior que a da curva LM;

b) a diminuição da tributação pelo Governo aumenta o nível de produto real da economia, mas em um montante menor do que se aeconomia fosse fechada, caso a curva BP seja mais inclinada que a curva LM;

c) o aumento dos gastos do Governo atingirá o objetivo de aumentar o nível de produto real da economia, mas apenas no caso de ainclinação da curva BP ser menor que a da curva LM;

d) tanto a política monetária quanto a política fiscal expansiva são incapazes de aumentar o nível de produto real da economia porqueas taxas de câmbio são fixas;

e) o resgate de títulos públicos pelo Governo é uma medida eficiente para aumentar o produto real da economia, independentemente dainclinação das curvas BP e LM.

Comentários:

Note que a letra a é falsa, pois o governo conseguirá aumentar a renda da economia mesmo que acurva BP seja mais inclinada que a curva LM.

A letra b é verdadeira porque, se a economia for aberta, a redução nos impostos induzirá aoaumento do consumo de bens nacionais e também de bens importados. Logo, há um “vazamento”da política.

Assim como a letra a, a alternativa c não pode ser verdadeira, pois o governo conseguirá aumentaro volume de renda via política fiscal independentemente da inclinação da curva BP.

Por sua vez, embora a taxa de câmbio seja fixa, a imperfeita mobilidade de capital permite que ogoverno possa aumentar o volume da renda da economia via políticas fiscal e monetária. Dessaforma, a letra d também está incorreta.

Finalmente, a letra e está incorreta, pois, caso a curva BP seja horizontal, o resgate de títulospúblicos pelo governo pode não se mostrar eficiente sob o regime de câmbio fixo.

Gabarito: Letra b.

Os dois Planos Collor

Com o objetivo de combater a inflação, o Plano Collor I reintroduziu o cruzeiro, promoveu ocongelamento de preços e aumentou a arrecadação através de novos tributos, reajustes emalgumas alíquotas, suspensão de benefícios e subsídios, redução de ministérios e extinção deautarquias. A principal medida, no entanto, foi o sequestro da liquidez (ou o confisco daspoupanças) – todas as aplicações que ultrapassavam NCr$ 50.000 (o que equivaleria

aproximadamente US$ 1,200,00) foram bloqueadas por 18 meses e seriam devolvidas em 12 vezesadicionadas de juros e correção monetária.

Essa mudança recebeu diversas críticas, dentre as quais: comprometia a confiança dosinvestidores, limite muito reduzido, prejudicando pequenos poupadores, remuneração propostamuito inferior a outras operações. Com relação às demais medidas, o plano Collor I também foicriticado pelo desgaste da estratégia de congelamento dos preços, pelo ajuste fiscal baseado emaumento de receitas, e pelo seu caráter recessivo. A principal crítica ao plano Collor I foiformulada por Afonso Pastore, para quem o bloqueio dos ativos monetários restringia apenas oestoque de moeda indexada, mas não acabava com o processo que a criava, ou seja, não eliminavaseu fluxo.

Após o fracasso do Plano Collor I, foi adotado o Plano Collor II, que pretendia controlar a inflaçãopor meio da racionalização dos gastos públicos, modernização do parque industrial e término dequalquer tipo de indexação na economia. Esse plano estava baseado na ideia do Neogradualismo,segundo a qual a indexação passa a ser baseada na inflação futura.

Segundo a ideia do Neogradualismo, as pessoas se baseariam no comportamento fiscal correntedo governo, e dele infeririam suas expectativas de inflação. Assim, os cortes fiscais reduziriam ainflação, o que permitiria novos cortes fiscais, gerando um círculo virtuoso. O plano possibilitouqueda na taxa de inflação por alguns meses, porém, por depender da credibilidade do governo,essa estratégia logo foi inviabilizada pelos escândalos políticos ocorridos na época e osubsequente impeachment do presidente Collor.

Plano Real: concepção e prática

Após a deposição do presidente Collor, o mineiro Itamar Franco, seu vice, toma posse. Além dereintroduzir o “fusquinha” na frota brasileira, o então presidente implementou o Plano Real decombate à inflação, tendo como condutor o então ministro da Fazenda Fernando HenriqueCardoso.

Diferentemente dos demais planos implementados no Brasil até então, o Plano Real foioriginalmente concebido como programa de três fases:

1. ajuste fiscal;

2. criação de um padrão estável de valor, a URV, como estratégia de desindexação daeconomia;

3. estabelecimento de uma nova moeda, o real.

Um primeiro erro comum de muitos candidatos é achar que o Plano Real aconteceu no governoFHC, o que não é verdade. Como acabamos de ver, o plano acontece ainda no governo anterior.Outro erro também frequente nas provas é achar que o Plano Real foi iniciado em 1994, com aintrodução da moeda real. De fato, o Plano Real começa ainda antes, em 1993, quando o governopassa a adotar políticas de ajuste fiscal para controlar os efeitos da inflação de demanda naeconomia.

Vejamos um exercício sobre o início do plano.

1. (Cespe – TC-DF – Auditor de Controle Externo – 2012) Com relação a políticas econômicas, à dívida pública e ao comportamento daeconomia brasileira, julgue a questão seguinte.

Diferentemente de outros planos de estabilização econômica, adotados no Brasil até 1994, o Plano Real, além de não prever ocongelamento de salários, foi abertamente discutido por representantes do governo, pelo Congresso Nacional e pelo públicoespecializado.

Comentários:

Essa questão poderia gerar certa dúvida quando aponta que o plano foi abertamente discutido porrepresentantes do governo, pelo Congresso Nacional e pelo público especializado.

De fato, isso é verdade. Diferentemente dos outros planos, implementados entre os governosSarney e Collor, o plano Real contou com o apoio não apenas da parte política, mas da eliteintelectual brasileira também. Muitos economistas estiveram envolvidos na elaboração do planoque não previa o congelamento de preço, mas a ancoragem da inflação na taxa de câmbio. Saibatambém que esse plano se originou na proposta Larida, elaborada pelos economistas Pérsio Aridae André Lara-Resende, na época do Plano Cruzado.

Gabarito: VERDADEIRO.

O ajuste fiscal era visto como uma das condições principais para o fim da inflação. Oplano Real interpretava o desajuste fiscal da seguinte forma: como, segundo a concepção doplano real, a inflação possuía um componente de demanda, o plano afirmava que essa seriaoriginada nas contas orçadas. Uma vez que elas estariam em desequilíbrio, isso acabavagerando uma pressão nos preços para o consumidor. Considerando que os gastos eramcorroídos pela inflação, e não as receitas, devido à indexação, o déficit fiscal era moderado.

Na fase de ajuste fiscal foram elaborados dois programas: Programa de Ação Imediata –PAI – e Fundo Setorial de Emergência – FSE. O primeiro teve como objetivo redefinir arelação entre a União e os estados e municípios, e do Banco Central com os bancosestaduais e federais, além de combater a sonegação. O PAI ainda estabelecia novos tributose incluía um acordo de dívida externa com o FMI e bancos credores.

O FSE era constituído pela desvinculação de algumas receitas do governo federal, paraatenuar a rigidez dos gastos do governo e resolver a questão do financiamento de programassociais. O FSE existe até hoje, mas com outro nome: Desvinculação das Receitas da União –DRU.

Apesar dos esforços implementados pelo governo, o desajuste fiscal não foi revertido,apenas deixou de se refletir na inflação e passou a se espelhar na relação da dívida sobre oPIB. Como posteriormente a estabilização foi alcançada, o ajuste fiscal não se mostrou umaprecondição para o combate à inflação.

A segunda fase do Plano Real buscava eliminar o componente inercial da inflação,partindo do princípio de que seria necessário zerar a memória inflacionária. Mas, em vez decongelamento de preços, o Plano Real introduziu uma “quase moeda”. O plano erasemelhante à proposta Larida anunciada como alternativa ainda antes do Plano Cruzado,

mas que não previa a criação de uma nova moeda, a “quase moeda” circularia de modosimultâneo com a anterior, para evitar que a inflação da antiga contaminasse a nova moeda.

Foi estabelecida a Unidade Real de Valor (URV), que recuperou primeiramente afunção unidade de conta, e então a função de reserva de valor. Os preços e salários erammedidos em URV, mas pagos em cruzeiros com correção diária dos valores.

O entendimento da URV é de fundamental importância para que você compreenda oPlano Real. A economia do país estava toda indexada, ou seja, todos os contratos estavamsempre reajustados com base no índice de preço oficial do governo, que passou do IPC parao IPCA. Assim, era consenso dos economistas de que para desindexar a economia erapreciso indexar a moeda. A criação da URV era justamente isso. Vamos entender comofuncionava.

Aqui, toda a atenção é pouco.O primeiro problema da inflação nesse período era a sua memória, ou seja, a inflação de

hoje era influenciada pela inflação do mês passado, pela inflação de setembro, agosto,julho, junho, maio, por exemplo. Ou seja, nesse caso, a inflação, no Brasil, possuía umamemória longa.

Exemplo:

πoutubro = 0,8 * πsetembro + 0,6 * πagosto + 0,4 * πjulho + 0,2 * πjunho + 0,1 πmaio

Em que π é o símbolo que os economistas utilizam para definir inflação.Imagine que a inflação do mês de setembro tenha sido de 1, a inflação de agosto de 2,

julho, 3, junho, 0,5 e maio, 4. Nesse caso, veja que essas inflações acumuladas acabam porinfluenciar a inflação em outubro, o que gera um efeito ruim na economia hoje.

Assim, para zerar a memória da inflação, os economistas observaram que seria precisofazer com que as pessoas notassem que a única inflação importante para determinar o nívelde preços de hoje é a inflação de ontem e, para fazer isso, ou seja, para fazer com que amemória inflacionária fosse mais curta, era preciso simular uma hiperinflação.

Pois é, eis a verdade dos fatos: para poder controlar o ritmo absurdo da inflação, ogoverno precisava fazer com que os preços subissem todos os dias, não apenas todos osmeses.

A estratégia é semelhante ao que vemos nos mercados de ações hoje. Se você vai comprar uma cota de ações da Petrobras, porexemplo, você não vai se preocupar com o preço da ação na semana passada, mas apenas em como ela fechou ontem. O raciocíniopara o caso da inflação seria semelhante.

Nesse sentido, os preços em cruzeiros reais passaram a ser ajustados diariamente, combase na URV.

Vamos entender como isso aconteceu.É nesse momento que surge a introdução da URV – Unidade Real de Valor.Assim, na segunda fase do Plano Real, todos os preços, incluindo os salários, passaram a

ser contabilizados em Unidades Reais de Valor – URV, e essas unidades tinham umaparidade com o dólar norte-americano.

Dessa forma, como o dólar norte-americano variava todos os dias, diariamente os preçoseram revisados em cruzeiros reais.

Nesse sentido, o preço da semana passada passou a ter cada vez menos importância naexpectativa de preços hoje, o que encurtou a memória inflacionária da empresa. Assim:

π10 de outubro = 0,8 * π09 de outubro

Com a série de memória eliminada, era necessário, para reduzir a inflação, zerar ainflação do dia anterior. Se a inflação de 9 de outubro fosse zero, a inflação de hoje seriazero também. Com essa sistemática, seria possível zerar, de uma vez por todas, a memóriainflacionária das pessoas.

Para compreender como a inflação foi zerada, precisamos, antes, entender como aeconomia brasileira tomou a URV como “moeda”, mesmo sem ela ser uma moeda de fato.

A figura abaixo ajuda a compreender esse processo:

Veja que, embora o valor em cruzeiros reais seja variável (como mostra o peso dopêndulo), o valor em URV fica constante e igual ao dólar.

Como já mencionamos, a partir de 1o de março de 1994, a economia brasileira passou ater todos os seus preços em URV, incluindo os salários. Com o passar do tempo, as pessoasdeixaram de pensar a sua moeda como cruzeiros reais e passaram a considerar a URV comoa moeda corrente. Nesse sentido, os cruzeiros reais eram utilizados, apenas, como meio de

pagamento, mas não tinham valor para as pessoas.O raciocínio para essa conversão era simples: se os preços em cruzeiros reais subiam todos

os dias e o preço em URV se mantinha estável, as pessoas passaram a observar que nãoexistia inflação nos preços em URV, logo, com essa “moeda”, era possível fazer previsão doquanto é possível poupar, por exemplo.

E, com a mente das pessoas URVezida, o governo decidiu igualar a URV à nova moedacriada, o real. Com isso, a não inflação da URV migrou para o real. Assim, em 1o de julhode 1994, demos início à terceira fase do Plano Real, quando passou a circular a moeda real,que usamos hoje.

A terceira fase do plano foi caracterizada pela introdução da nova moeda, o real, e pelafixação da taxa de câmbio. A Medida Provisória no 542 deu início a essa fase, e apresentavaum conjunto de medidas sobrepostas, dentre as quais: lastreamento da oferta monetáriadoméstica em reservas cambiais (na equivalência de R$ 1 por US$ 1), fixação de limitesmáximos para o estoque de base monetária por trimestre, mudanças no funcionamento doConselho Monetário Nacional, para aumentar a autonomia do Banco Central.

A Medida Provisória no 542 foi criticada pela indefinição de certos mecanismos presentesno documento, em especial o que previa o controle cambial e de estoque monetáriosimultaneamente em uma economia com mobilidade de capitais – logo foi esclarecido queo governo adotaria âncora monetária e câmbio com banda assimétrica (livre para baixo).No entanto, nenhuma das medidas citadas foi integralmente mantida, e, devido aoinsucesso das metas monetárias, o governo passou a adotar a âncora cambial após apenastrês meses.

Exercícios1. (Cesgranrio – Banco Central – Área 1 – Analista – 2009) O Plano Real de estabilização da economia brasileira, de

1994, levou inicialmente ao(à):a) congelamento geral de preços e salários;b) congelamento da taxa de câmbio R$/US$;c) estabelecimento de metas de inflação para o Banco Central do Brasil;d) valorização do real em relação ao dólar norte-americano;e) forte expansão das exportações.

Comentários:Observe que essa questão fala sobre a fase INICIAL do Plano Real. Dessa forma, assim que

o Plano Real foi implementado, houve uma valorização da nossa moeda ante o dólar norte-americano, embora o objetivo do governo fosse manter a paridade de US$ 1,00 = R$ 1,00.

As alternativas a e b dizem respeito aos planos anteriores aplicados durante o GovernoSarney.

A letra c, por sua vez, diz respeito à segunda fase do Plano Real, iniciada em meados de1999, quando a âncora cambial foi trocada pelo regime de metas de inflação.

A letra d é a alternativa correta, pois, como vimos, houve um processo de ancoragementre a moeda nacional e o dólar norte-americano.

Nesse sentido, a moeda estrangeira podia valer menos que o real, mas nunca mais.Por fim, a letra e é falsa, pois houve uma forte elevação das importações associada a uma

contração das exportações devido à valorização cambial.Gabarito: Letra d.

O comportamento da economia brasileira entre 1990-94 pode ser resumido da seguinteforma:1. O crescimento do PIB foi instável, marcado pela retração durante o governo Collor e pela

recuperação de taxas positivas significativas em 1993-1994.2. A inflação apresentou o mesmo comportamento da década anterior entre 1990-1993, com

baixas significativas apenas após a introdução dos planos econômicos.3. Houve retração das exportações entre 1990-1991, que voltaram a crescer durante os três

anos seguintes.4. As importações aumentaram continuamente ao longo de todo o período.5. Os fluxos de capital para o Brasil também apresentaram um crescimento significativo

durante o período.6. As contas públicas apresentaram melhora desde o Plano Collor I.

6.4. Os anos FHC6.4.1. A batalha da estabilização

O primeiro governo FHC foi dominado pelo tema da estabilização, e teve início sob fortepressão em consequência do superaquecimento da economia; temia-se o crescimento doconsumo que, por ter sido mal-administrado provocou o colapso da estabilidade durante oplano Cruzado, a crise no México, que aumentava a suspeita de que o regime de câmbiofixo era inadequado, e a queda das reservas internacionais.

As autoridades reagiram a esse ambiente por meio de um conjunto de medidas queincluía fundamentalmente uma desvalorização controlada e uma elevação da taxa nominalde juros. Os efeitos não tardaram a aparecer: a inflação começou a ceder (caindo porquatro anos consecutivos) e, em contrapartida, o PIB diminui durante o ano de 1995, commaior impacto sobre a indústria.

Pode-se concluir que, nas difíceis condições de 1995, o Plano Real foi salvo por doisfatores: a política monetária e a situação do mercado externo. Dificilmente o plano teriaescapado do mesmo destino dos antecessores se não fossem os juros altos, a ampla liquidez ea busca por atratividades dos mercados emergentes.

6.4.2. A crise em formaçãoParalelamente ao êxito no controle da inflação, a gestão macroeconômica deixava dois

flancos expostos: um desequilíbrio externo e uma séria crise fiscal. A razão do desequilíbrioexterno foi o grande crescimento das importações, combinado com um fraco desempenhodas exportações. Os desequilíbrios eram financiados com novos endividamentos e entradade IDE. O resultado foi a quase duplicação do déficit de serviços e rendas durante oprimeiro governo FHC.

Todos esses fenômenos eram consequência da forte apreciação cambial verificada nosprimeiros meses do real. Por que as autoridades deixaram a situação chegar a esse ponto ématéria sujeita a controvérsia. Há três fortes razões: temor de uma repetição dos efeitos dadesvalorização mexicana, que acabou gerando inflação; os anos em que poderia ter sidocolocada em prática eram politicamente cruciais; e manter o câmbio sobrevalorizado era aesperança de que o resto do mundo continuasse a financiar o país em um processo deajustes graduais.

A situação fiscal era caracterizada por déficit primário do setor público consolidado,equivalente a 7% do PIB em termos nominais, e dívida pública crescente. Muito se discutiuo papel dos juros, mas, em termos reais, percebe-se a responsabilidade da política fiscalexpansionista. As autoridades imaginavam que os ajustes poderiam esperar até asprivatizações, que cumpririam o duplo propósito de garantir o financiamento externo eevitar uma maior pressão sobre a dívida pública, sendo um contrapeso à pressão fiscal.

Após três crises externas – México (1994), Ásia (1997) e Rússia (1998) –, nas quais o país

sofreu pelo “efeito contágio”, os ajustes que o governo pretendia fazer ao longo de quatroanos tiveram que ser implementados imediatamente. Ainda, o instrumento clássico decombate aos ataques especulativos (taxa de juros elevada) não se mostrava mais eficiente,além de contribuir para o agravamento da questão fiscal. Foi nesse contexto de crise que seinicia o segundo governo FHC.

6.4.3. O segundo governo FHCFaltando poucas semanas para as eleições de 1998, o governo brasileiro começou a

negociar um acordo com o FMI que lhe permitisse enfrentar um quadro externoextremamente adverso, caracterizado pelo esgotamento da disposição do resto do mundoem continuar a financiar déficits elevados em conta-corrente.

O acordo contemplava um importante aperto fiscal, sem alterar a política cambial. OBrasil enfrentou dois obstáculos que se mostraram insuperáveis. O primeiro foi o ceticismodo mercado, que não acreditava que o país escaparia de uma desvalorização. O segundo foia rejeição, pelo Congresso, da cobrança de contribuição previdenciária dos servidorespúblicos inativos. Nessas circunstâncias o pessimismo externo aumentou, assim como aperda de divisas.

No início de 1999, a desvalorização se tornou inevitável, e o governo então deixou ocâmbio flutuar. A desvalorização não teve os efeitos inflacionários, o que pode serexplicado pelos seguintes fatores:

• A desvalorização ocorreu em um momento de fraco desempenho da produçãoindustrial, gerando uma contração na demanda que diminuiu as chances de repassesdo câmbio aos preços.

• Desindexação da economia.• A baixa inflação inicial diminuiu o temor de uma grande elevação dos preços.• Política monetária rígida, que cumpriu o papel de conter o ritmo de remarcações e de

apreciar o real.• O cumprimento sucessivo das metas fiscais acertadas com o FMI, aumentando a

confiança na estabilidade econômica.• Aumento de salário mínimo inferior à taxa de inflação esperada, reduzindo os

reajustes.• Definição de uma meta de inflação de apenas um dígito.

O panorama começa a mudar quando Armínio Fraga se torna presidente do BC. Foramanunciadas duas medidas: elevação da taxa de juros básica, e o início dos estudos para aadoção do regime de metas de inflação. A partir do começo de 1999, o país iniciou umprocesso de retomada do crescimento que só viria a ser abortado pela combinação de crisesem 2001, incluindo a crise energética e o “contágio” argentino, que diminuíram a entradade capitais, e os ataques terroristas, que abalaram os mercados mundiais. O balanço do

período de 1999 a 2002 é ambíguo. O crescimento continuou baixo, as taxas de juroselevadas, mas houve melhora da balança comercial, no ajuste fiscal e em termos de inflação.

6.4.4. As reformas do períodoOs anos FHC foram caracterizados por marcas positivas importantes: a estabilização dos

preços e as reformas, que deixaram marcas mais profundas na economia. Dentre asreformas, destacam-se as privatizações, que transferiram para o setor privado empresasdeficitárias e superavitárias com níveis inadequados de investimento. Com a desestatização,esses gastos deixaram de pressionar as contas públicas.

A mudança no tratamento do capital estrangeiro possibilitou explorar os setores demineração e energia. Por outro lado, também mudou o conceito de empresa nacional,permitindo que firmas com sede no exterior passassem a dispor do mesmo tratamento dadoàs empresas constituídas por brasileiros.

No que se refere ao setor financeiro, o governo: instituiu o Programa de Estímulo àReestruturação e ao Fortalecimento do Sistema Financeiro Nacional, concedendo umalinha especial de assistência que evitou uma crise financeira como a vivida no México;privatizou a maioria dos bancos estaduais; facilitou a entrada de bancos estrangeiros,buscando ampliar a concorrência; favoreceu um processo de conglomeração, que deixou omercado com um número menor, porém mais fortes, de instituições; ampliou os requisitosde capital para a constituição de bancos; e melhorou o acompanhamento e omonitoramento do nível de risco do sistema por parte do Banco Central.

Outra reforma importante foi a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), que estabeleceutetos para as despesas com pessoal em cada um dos poderes nas três esferas da Federação, e,entre vários dispositivos de controle das finanças públicas, proibiu novas renegociações dedívidas entre entes da Federação. O governo também implementou um rígido programa deajuste fiscal – uma restrição orçamentária efetiva, baseada em metas fiscais rígidas. E,finalmente, o sistema de metas de inflação, ainda que institucionalmente precário pelaausência de autonomia do Banco Central, caracterizou o compromisso formal com aestabilização dos preços.

Visto como um todo, esse conjunto de novidades moldou um país mais parecido com asnações desenvolvidas caracterizadas por economias com menor presença do Estado nasatividades produtivas, sistemas financeiros sólidos, contas fiscais sob controle e níveis deinflação relativamente baixos.

6.4.5. As privatizaçõesAs razões do processo de privatização, explicitadas no Programa Nacional de

Desenvolvimento lançado em 1990, seriam: transferir à iniciativa privada atividadesindevidamente exploradas pelo setor público, permitindo que os investimentos fossem

retomados, além de contribuir para a redução da dívida pública e para o fortalecimento domercado de capitais.

As privatizações na gestão FHC caracterizaram-se pela venda de empresas prestadoras deserviços públicos, com ênfase nas áreas de telecomunicações e energia. Durante o primeirogoverno, a privatização era funcional, porque permitia que os déficits públicos nãopressionassem a dívida, e garantia o financiamento de parte do desequilíbrio em conta-corrente.

As privatizações apresentaram consequências positivas, dentre elas: redução da dívidapública, aumento da eficiência das empresas privatizadas, redução dos preços(especialmente no setor de telefonia) e evolução positiva dos resultados fiscais de empresasestatais.

Por outro lado, o efeito negativo foram os resultados do processo, que ficaram aquém doplanejado.

Dois elementos concorreram para tanto. Primeiramente, a ideia equivocada de que emrazão da desestatização o governo teria mais recursos para gastar em áreas sociais; e a faltade uma regulação clara que incentivasse o setor privado, combinada com a falta deinvestimentos estatais, provocou uma crise energética.

6.5. Uma década de transformações• 1991-1994: o binômio privatização/abertura introduziu um choque de competição na

economia.• 1995-1998: a estabilização associada ao Plano Real marcou uma revolução no setor

privado; a possibilidade de comparar preços aumentou a competição entre asempresas.

• 1999-2002: ocorreu uma mudança do regime. Até 1998, alta inflação, crise externae/ou descontrole fiscal sempre estiveram presentes nas crises brasileiras. Mas a partirde 1999, o Brasil passa a ter condições de atacar os principais desequilíbriosmacroeconômicos.

6.6. O ajuste não foi percebidoEntre 1994 e 2002 não houve um único ano no qual a relação dívida pública/PIB não

tenha aumentado em comparação ao ano anterior. Além disso, o déficit em conta-correntepermanecia elevado. Desse modo, entre a maioria dos analistas imperava grande ceticismosobre o Brasil.

Ao mesmo tempo, o ambiente externo foi desfavorável. As crises econômicas culminaramem uma maior necessidade de desvalorização cambial, com efeitos negativos sobre adinâmica de preços e dos juros. Adiciona-se a esse fato, a inevitável redução dos saláriosreais como resultado das condições para o ajustamento externo, e o baixo crescimento doproduto no período. Esse desempenho negativo foi condenado pelo eleitorado em 2002.

Finalmente, com o ingresso do então eleito presidente Lula houve uma reversão da dívidaexterna brasileira. Contudo, no que diz respeito à dívida pública interna, persiste oaumento, tendo em vista que os tributos não conseguem fazer frente aos gastos dos governos.

Exercícios1. (Cespe – Inmetro – Ciências Econômicas –2010) Com relação à evolução do déficit público e da dívida pública no

Brasil a partir da década de 80 do século passado, assinale a opção Correta.a) A redução significativa do superávit primário contribuiu para elevar a dívida pública no período 2003-2006.b) A expansão acelerada do investimento público foi o fator predominante no aumento do gasto público, ocorrido

durante a recente crise mundial.c) Na década de 80 do século passado, a dívida interna líquida do setor público constituía a quase totalidade da dívida

líquida total.d) No período anterior à implementação do Plano Real, somente as receitas do governo eram indexadas, e as

despesas do governo, em termos reais, eram reduzidas pela hiperinflação, fato que contribuiu para diminuir odéficit operacional.

e) A partir de 2003, registrou-se aumento contínuo da relação dívida-PIB.

Comentário:Atenção para essa questão!Ela é uma daquelas com grande chance de aparecer na prova.Ao trabalho!Primeiro ponto a ser observado: a questão fala sobre déficit e dívida pública a partir da

década de 1980, uma combinação de assuntos que temos que saber muito bem para poderfazer uma boa prova.

Vejamos item por item para analisar onde está o erro.Na alternativa a, temos que A redução significativa do superávit primário contribuiu para

elevar a dívida pública no período 2003-2006. Lembre-se de que quando falamos de 2003 até2006, estamos falando sobre o período do primeiro governo Lula. Nesse período, o governointensificou a luta na promoção do que se chamou de superávit primário (receitas dogoverno – despesas do governo (sem considerar as despesas com taxa de juros)) para fazerfrente ao pagamento da dívida externa brasileira. Então, analisando somente esse dado, é

possível notar que não há uma redução significativa do superávit primário, mas justamenteo efeito contrário. Apenas com essa informação é possível afirmar que a questão é falsa.

Em seguida, a alternativa b afirma que A expansão acelerada do investimento público foio fator predominante no aumento do gasto público, ocorrido durante a recente crisemundial. Essa crise recente a que se refere a questão é justamente a crise de 2008, iniciadano mercado imobiliário norte-americano. O aumento da presença do governo na economianão se deu via aumento do investimento público, mas, sobremaneira, a partir da redução deimpostos. IPI. Então, a questão está incorreta justamente por identificar de forma errada aintervenção do governo.

Vamos mais à frente!A letra c diz que Na década de 80 do século passado, a dívida interna líquida do setor

público constituía a quase totalidade da dívida líquida total. Essa alternativa não é correta.Veja que a dívida interna líquida do setor público não constituía a totalidade da dívidalíquida total, conforme dito na questão.

A alternativa d diz que No período anterior à implementação do Plano Real, somente asreceitas do governo eram indexadas, e as despesas do governo, em termos reais, eramreduzidas pela hiperinflação, fato que contribuiu para diminuir o déficit operacional. Eis aía alternativa correta. No período antes do Plano Real, o governo implementava a seguintepolítica: cobrava os impostos hoje para pagar pelos serviços depois. Com isso, ganhava umbom volume de recursos financeiros, o que acabou por reduzir o seu déficit operacional.Era como se o governo recebesse o dinheiro agora, comprasse um serviço e pagasse com umcheque pré-datado. Como a inflação era muito alta, quando a pessoa ia descontar o cheque,aquele valor nominal não valia a metade do que valia quando o serviço fora contratado. É oque se conheceu como “Efeito Tanzi às avessas”, já que o economista italiano Tanzi diziajustamente o contrário.

Logo, a alternativa correta é a letra d.Finalmente, a letra e afirma que A partir de 2003, registrou-se aumento contínuo da

relação dívida-PIB. Essa, pelo que vimos acima, está claramente errada. Basta lembrarmosque a partir do governo Lula houve uma verdadeira luta para reduzir essa relação.

Gabarito: Letra d.

2. (Cespe – Previc – Finanças – Especialista em Previdência Complementar – 2011) Acerca de conceitos relativos àeconomia e, especialmente, à economia brasileira, julgue a seguinte questão:Em um país qualquer, se o governo centralizar sua política econômica somente na estabilização da inflação, issonão contribuirá para a melhoria do grau de distribuição de renda.

Comentários:Eis aí uma questão muito interessante.Para responder a essa questão, basta lembrar do seguinte conceito:A inflação gera um efeito sobre a distribuição de renda da economia; a inflação provoca

uma redução do poder aquisitivo dos segmentos da população que dependem derendimentos fixos, com prazo legal de reajuste (os assalariados). Aqueles com renda livre,como empresas e especuladores são favorecidos pelo processo inflacionário.

Logo, a questão está incorreta por afirmar que se o governo centralizar a sua política nacontenção da inflação, não melhorará o grau de distribuição de renda da economia.Quanto mais estabilizados estiverem os preços, mais igualitária será a distribuição dosganhos na economia.

Gabarito: FALSO.

3. (Cespe – MPU – Analista de Economia – Perito – 2010) Acerca dos conceitos de déficit e dívida pública e do papel dogoverno na economia, julgue a questão subsequente.Um imposto progressivo estabelece uma relação decrescente entre carga tributária e renda.

Comentários:Veja que ela fala sobre um imposto progressivo. E quando se fala em imposto progressivo,

isso quer dizer que à medida que a renda aumenta, o imposto também aumenta. Logo, nãohá uma relação decrescente, mas uma relação crescente entre carga tributária e renda,exatamente como acontece no Brasil atualmente. Quanto mais você ganha, mais você paga,podendo chegar a 27,5% da sua renda bruta.

Gabarito: FALSO.

Capítulo 7A Economia Brasileira Recente e as Políticas deDesenvolvimento dos Governos Lula e Dilma

Finalmente, vamos compreender um pouco mais da economia do Brasil recente.

7.1. O primeiro mandato do governo LulaEm janeiro de 2003, Luiz Inácio Lula da Silva assumiu a Presidência da República. Eleito

sob o signo da mudança, o presidente Lula e o PT decepcionaram parte de seus eleitores.Para conseguir ganhar a eleição para presidente, Lula mudou seu discurso (como ficouevidente na “Carta ao Povo Brasileiro”, na qual se comprometia a honrar os compromissoscom os credores internacionais) e fez alianças com partidos de centro-direita erepresentantes das elites tradicionais. O objetivo era obter credibilidade no mercadofinanceiro e conseguir o apoio de frações das classes dominantes brasileiras.

A continuidade das medidas conforme a estratégia neoliberal foi efetivada com a reformada previdência, a reforma tributária e a aprovação da lei de falências. A estratégianeoliberal continuou em curso com a unificação e maior liberalização do mercado decâmbio e retomada das privatizações. Permanecem em suspenso a questão daindependência do Banco Central, a continuidade da reforma trabalhista e sindical e a novareforma tributária, bem como o aprofundamento de outras reformas aprovadasanteriormente. Neste processo foram criados vários benefícios para o capital, enquanto oprograma Fome Zero deu lugar ao programa Bolsa Família, e era esquecida a promessa decriação de novos empregos.

Após as turbulências decorrentes da transição em 2003, e com o cenário internacionalfavorável, em 2004, o governo Lula obteve o maior crescimento do PIB (5,3%) desde 1994.Todavia, a verdade é que foi alcançado sem nenhuma mudança na políticamacroeconômica, que constituía na abertura comercial e financeira e na privatização dasempresas estatais, e resultou no aumento da volatilidade e da instabilidade da economia,assim como uma tendência de estagnação.

De acordo com o ponto de vista do Consenso de Washington, não haveria alternativa parao crescimento a não ser com estabilidade monetária mediante uma política altamenterestritiva e a redução do intervencionismo estatal. Somente assim a política econômicaganharia credibilidade, e o país seria premiado com a entrada de capitais necessários parao crescimento sustentado. Com base nesse pensamento, a Taxa Selic foi mantida na posiçãode taxa real de juros mais alta do mundo.

A principal justificativa apresentada para a manutenção dessa política era que a pressãoinflacionária decorria do crescimento da demanda. Por outra perspectiva, a crítica doseconomistas heterodoxos defende que o aumento da taxa de juros, apesar de atrair capitaisestrangeiros, desestimula o investimento privado e o consumo, reduzindo o crescimentoeconômico, além de aumentar o endividamento interno e os encargos da dívida.

Alheio a esses argumentos, o governo Lula realizou um superávit fiscal efetivo maior doque havia sido acordado com o FMI. Para tanto, cortou sistematicamente recursos decusteio e investimento, agravando as condições de infraestrutura do Brasil. Contudo, oargumento de que esse maior superávit conduziria à redução da dívida não se comprovou.

O comportamento da relação dívida/PIB revela as principais variáveis que o influenciame que ajudam a entender por que, apesar de todo o esforço realizado, têm sido medíocres osganhos obtidos nessa questão: as variações no PIB, do câmbio e dos juros, as quais, quandose apresentam adversas, exigem maior esforço fiscal por meio da geração de superávitsprimários mais elevados para impedir o crescimento. Além disso, revela o trade off existenteentre ajuste externo e equilíbrio fiscal, pois, para garantir o primeiro, mediante adesvalorização do câmbio e/ou elevação dos juros, aumentam os encargos da dívida, umavez que boa parcela de seu montante está indexada ao dólar e à taxa de juros interna,contaminando-a e exigindo maior esforço fiscal para evitar seu aumento descontrolado.

Em relação às contas externas, contudo, as condições da economia mundial revelaram-sefavoráveis. Com a mudança no regime cambial e a desvalorização do real em 1999, a balançacomercial iniciou o processo de reversão do déficit. Essa trajetória afetou positivamente osaldo do Balanço de Pagamentos, reduzindo as exigências de financiamento externo e avulnerabilidade externa.

Isso não significou, no entanto, uma redução dos gigantescos compromissos da economiabrasileira em termos de pagamentos de juros da dívida externa e remessa de lucros. Alémdisso, o governo pôde apenas aproveitar esse período favorável de ingresso de capitais e decrescimento no saldo da balança comercial para recompor as reservas internacionais apartir de 2005.

Beneficiado por um cenário externo favorável e pelo ciclo de alta das commodities, ogoverno Lula conseguiu reduzir a vulnerabilidade externa da economia brasileira,reforçando, aparentemente, a tese do pensamento econômico dominante. Mas comoresultado desse processo, continuava a situação de fragilidade fiscal do estado, agravadapela substituição da dívida externa pela interna com elevado custo fiscal devido àmanutenção das taxas de juros elevadas.

7.2. O segundo mandato do governo LulaContando com considerável apoio popular, Lula foi reeleito para um segundo mandato

em 2006. No primeiro mandato, toda a gestão econômica do governo foi dirigida para aestabilidade monetária, ficando o crescimento da economia dependente, em grande parte,das decisões privadas dos capitalistas nacionais e internacionais.

Não foi diferente a política durante o segundo mandato, apesar de certa flexibilização dapolítica fiscal e da apresentação de projetos de longo prazo. O país continuou aproveitandoas condições externas favoráveis até agosto de 2007, se beneficiando do ciclo de alta dascommodities, além da descoberta de grandes jazidas de petróleo.

No entanto, esse otimismo começou a enfraquecer com a crise de títulos imobiliários. Asituação das contas externas ingressou em progressiva deterioração, em razão davalorização cambial, da desaceleração mundial e da queda dos preços das commodities.Diante dessas pressões, e tendo sido praticamente intocado o modelo econômico, o BancoCentral retornou à trajetória de elevação da taxa de juros.

A intensidade da crise pareceu indicar que os ensaios de projetos estratégicos e de longoprazo divulgados pelo governo poderiam não ser viabilizados, pois não houve modificaçãonas bases do modelo. Por isso, é importante destacar seus principais aspectos, não somentepara avaliar sua viabilidade, como também para verificar em que medida representaram, defato, uma mudança de rumos da política econômica.

O Programa de Aceleração do Crescimento – PAC foi lançado em janeiro de 2007, comprojeções iniciais de investimentos para um período de quatro anos nas áreas de energia,infraestrutura e logística. Embora espelhasse uma mudança em relação à política de curtoprazo em vigor desde 1980, já que introduzia preocupações estratégicas e decisivas para odesenvolvimento sustentável, o PAC não pode ser visto mais do que como um instrumentode centralização e de coordenação de recursos que já estavam, em sua maior parte,previamente decididos e alocados nos orçamentos das empresas estatais, acrescidos daampliação do superávit primário destinado ao Projeto Piloto de Investimentos, e de apostasde que o setor privado se mostraria disposto a realizar os investimentos pretendidos.

A flexibilização da política fiscal não pode ser entendida como uma mudança da políticamacroeconômica de estabilização: apenas a convicção do governo de que o ajuste já estavaconcluído e de que chegara o momento de explorar as brechas oferecidas pelo modelo.

A Política de Desenvolvimento Produtivo – PDP, por sua vez, listou quatro metas paraserem atingidas até 2010: a) aumento da taxa de investimento para 21% do PIB; b) aumentodos gastos em pesquisa e inovação para 0,65% do PIB; c) aumento da participação dasexportações brasileiras no mercado internacional; d) aumento de 10% no número de microe pequenas empresas exportadoras. A PDP foi viabilizada pela concessão de desoneraçõesfiscais e financiamentos do BNDES com taxa de juros reduzida.

A política PDP foi orientada para: a) contrapor-se aos prejuízos provocados pela

excessiva valorização do real, fortalecendo o setor exportador; b) expandir a capacidadeprodutiva nacional com aumento dos investimentos privados, de modo a fortalecer omercado interno; c) em sintonia com o PAC, assegurar a expansão da infraestruturarequerida para viabilizá-la.

Outra sugestão que ganhou força na imprensa foi a criação de um Fundo Soberano doBrasil (FSB), que seria alimentado por receitas do governo equivalentes a 5% do PIB, sendonecessário elevar o superávit para 4,3% do PIB. Isso contribuiria para reduzir a força dademanda interna, daria melhores condições para o Banco Central intervir no mercado paraatenuar a apreciação do real, e para financiar empresas brasileiras no exterior, evitando aremonetização.

Na verdade, a não ser pela dimensão de suas reservas externas, o Brasil não apresentavaas condições que justificaram a criação desse fundo em outros países. Seria mais sensatoutilizar o superávit excedente para o abatimento da dívida pública, criando um cenáriopropício para a redução da taxa de juros.

Outros planos que foram surgindo ainda no governo Lula e se intensificaram no governoDilma dizem respeito ao Plano Brasil Maior, Plano Brasil sem Miséria e o Plano deDesenvolvimento da Educação.

O que você precisa saber sobre esses planos para as provas?O primeiro, Plano Brasil Maior, está diretamente ligado, de acordo com a cartilha do

próprio plano, à política industrial, tecnológica, de serviços e de comércio exterior. Nesseplano, o governo objetiva estimular a inovação e a produção nacional aumentando, dessaforma, a competitividade tanto no mercado interno quanto no mercado externo.

A figura abaixo, extraída da cartilha do plano, mostra os objetivos do Plano Brasil Maior.

Observe que o plano possui três pontos fundamentais: dimensões sistêmica e estruturantee a organização setorial. O primeiro, dimensão sistêmica, mostra as áreas nas quais ogoverno deseja aumentar a eficiência nos próximos anos. Isso seria válido para todos ossetores de forma geral, por isso, diz-se que esse ponto traz temas transversais. Já o segundoponto mostra quais aspectos serão tratados de forma específica. Por fim, a organizaçãosetorial traz quais sistemas serão analisados com mais cuidado. Dessa forma, quando se falarem Plano Brasil Maior, precisaremos lembrar dessas análises.

No que diz respeito ao lado social do nosso país, vivemos uma situação de, ainda, grandedesigualdade de renda.

Para medir o nível de desigualdade de renda de um país, os economistas utilizam, comoindicador social, o Índice de Gini.

E o que o Índice de Gini mede?

Macroeconomia em Análise

Desenvolvimento Econômico:

Medidas de Desenvolvimento Econômico: o Índice de Gini e o Índice de Desenvolvimento Humano-IDH

O Índice de Gini mede o grau de concentração de renda de uma determinada economia, podendovariar entre 0 – maior grau de igualdade de renda e 1 – maior grau de desigualdade de renda.

A ideia por trás do Índice de Gini é medir o quanto da renda nacional está na posse das pessoasmais ricas e o quanto está na posse das pessoas mais pobres. Logicamente, através da funçãodistributiva do governo, que vimos no capítulo 1, ele deseja que essa diferença seja a menorpossível, fazendo diversas transferências para os mais pobres e tributando cada vez mais os maisricos.

Contudo, infelizmente, o Brasil ainda está muito longe do que seria o ideal. De um total de 136países listados pela CIA (Central Intelligence Agency, nos Estados Unidos), o nosso país figura na120a posição, com um índice de 0,519, perdendo apenas para Chile (0,521, em 2009), Paraguai(0,532, em 2009), Hong Kong (0,533, em 2007), Tailândia (0,536, em 2009), Guatemala (0,551, em2007), Colômbia (0,53, em 2010), Honduras (0,577, em 2007), Bolívia (0,582, em 2009), Haiti (0,592, em2001), República Centro-Africana (0,613, em 1993 – sim, esses são os dados mais atualizados queforam disponibilizados), Serra Leoa (0,629, em 1989), Bostwana (0,63, em 1993), Lesoto (0,632, em1995), África do Sul (0,65, em 2005) e Namíbia, o país que possuía, em 2007, a renda maisconcentrada do planeta, 0,707. Note que a maior parte desses países não atualizou os índices, ouseja, corre o risco de possuirmos uma situação ainda pior.

Por outro lado, os dez países de melhor distribuição de renda encontram-se, exclusivamente, nohemisfério norte. Com a melhor distribuição de renda mundial, destacam-se a Suécia, com umíndice de 0,23, em 2005, seguida por Montenegro, Hungria, Dinamarca, Noruega, Áustria, Malta,Luxemburgo, Eslováquia, Cazaquistão e Finlândia.

Pois é, se o Cazaquistão possui um PIB extremamente menor que o Brasil, ocupando a 50a posição

no ranking do PIB mundial, como pode estar numa posição melhor que a nossa?

A razão é simples. Veja que o Índice de Gini mede a concentração de renda, não a riqueza de umadeterminada economia. Nesse sentido, um país pode ser completamente pobre (embora não sejao caso do Cazaquistão) e, assim, possuir um baixo Índice de Gini.

Se entre alguns outros países não estamos em uma boa situação, dentro do país a situação nãomelhora. O Brasil apresenta concentração de renda não apenas entre as pessoas, mas tambémentre as Unidades Federativas.

A tabela abaixo, extraída do site do IBGE, mostra essa desigualdade.

Tabela 1722 – Índice de Gini da distribuição do rendimento nominal mensaldas pessoas de 10 anos ou mais de idade, com rendimento, por situação

do domicílio e sexo

Situação do domicílio = Total

Sexo = Total

Ano = 2010

Brasil e Unidade da Federação

Brasil 0,525

Rondônia 0,489

Acre 0,524

Amazonas 0,538

Roraima 0,535

Pará 0,518

Amapá 0,536

Tocantins 0,529

Maranhão 0,521

Piauí 0,536

Ceará 0,528

Rio Grande do Norte 0,531

Paraíba 0,53

Pernambuco 0,53

Alagoas 0,529

Sergipe 0,543

Bahia 0,526

Minas Gerais 0,494

Espírito Santo 0,506

Rio de Janeiro 0,53

São Paulo 0,502

Paraná 0,486

Santa Catarina 0,454

Rio Grande do Sul 0,489

Mato Grosso do Sul 0,508

Mato Grosso 0,485

Goiás 0,495

Distrito Federal 0,591

Pelos dados do IBGE, podemos perceber que apenas o estado do Maranhão possui um Índice deGini inferior ao nacional na região nordeste. Assim, todos os demais estados dessa regiãopossuem elevados valores do Índice de Gini. Logo, além de possuir uma população bastante pobre,o nordeste também é muito pobre quando comparado com as demais regiões.

Caso semelhante se observa quando analisamos a região norte. À exceção do estado de Rondônia,que figura com a 4a melhor distribuição de renda, e do Pará, na 11a posição, todos os demaisestados possuem Índice de Gini inferiores ao observado no país.

Entre os estados que possuem a renda mais igualmente distribuída, podemos citar, em primeirolugar, Santa Catarina (com índice de 0,454), Mato Grosso (com 0,485) e o Paraná (com 0,486).Podemos observar ainda que todos os estados da região sul estão na lista dos cinco melhoresÍndices de Gini do país.

Finalmente, merecem destaque o Rio de Janeiro (com Índice de Gini de 0,53, ocupando a 21aposição) e o Distrito Federal, com o pior Índice de Gini (0,598). Essas duas unidades vão justamenteno contrafluxo do que foi observado para as demais unidades federativas.

A tabela abaixo mostra o Índice de Gini ordenado pelos maiores níveis de distribuição de renda.

Tabela 1722 – Índice de Gini da distribuição do rendimento nominal mensaldas pessoas de 10 anos ou mais de idade, com rendimento, por situação

do domicílio e sexo

Situação do domicílio = Total

Sexo = Total

Ano = 2010

Brasil e Unidade da Federação

Santa Catarina 0,454

Mato Grosso 0,485

Paraná 0,486

Rondônia 0,489

Rio Grande do Sul 0,489

Minas Gerais 0,494

Goiás 0,495

São Paulo 0,502

Espírito Santo 0,506

Mato Grosso do Sul 0,508

Pará 0,518

Maranhão 0,521

Acre 0,524

Brasil 0,525

Bahia 0,526

Ceará 0,528

Tocantins 0,529

Alagoas 0,529

Paraíba 0,53

Pernambuco 0,53

Rio de Janeiro 0,53

Rio Grande do Norte 0,531

Roraima 0,535

Amapá 0,536

Piauí 0,536

Amazonas 0,538

Sergipe 0,543

Distrito Federal 0,591

Exercícios

1. (Esaf – Sefaz-RJ – Tecnologia da Informação – 2010/Esaf – MPOG – Tecnologia da Informação – 2010) O estudo das desigualdades derendas no Brasil aponta de forma sistemática um elevado grau de desigualdade regional. O indicador usado para auferir o grau deconcentração de renda, que consiste em um número entre zero (0) e um (1), em que 1 corresponde à completa desigualdade, é:

a) Índice de Laspeyres;

b) Índice de Desenvolvimento Humano;

c) Índice de Gini;

d) Índice de Fisher;

e) Índice de Paasche.

Comentário:

Essa questão é muito interessante. Primeiro porque ela caiu em duas provas da Esaf, e segundoporque levaria você a pensar que a reposta é o IDH. Mas não é ele. O Índice de Gini medeexatamente o que está dito na questão: o grau de concentração de renda da economia. Assim,

segundo Gini, quanto maior for esse número (que pode chegar até 1), maiores serão asdesigualdades de renda presente em determinada economia.

Infelizmente (infelizmente, mesmo), o Brasil possui esse indicador em um valor bem alto, ou seja,de fato, a renda é muito concentrada, o que nos coloca praticamente no final da fila de algunsoutros países.

O que está errado nos demais itens?

Os índices de Laspeyres (letra a), Fisher (letra d) e Paasche (letra e) são índices de preços quemedem o quanto o custo de vida variou, não implicando concentração de renda no primeiro ponto.

Finalmente, a questão não fala sobre IDH porque esse índice diz respeito à qualidade de vida (deforma geral) da população, não à concentração de renda.

Gabarito: Letra c.

2. (Cespe – STM – Economia – Analista Judiciário – 2011) No que concerne a desenvolvimento econômico e social, julgue a questãosubsecutiva.

O desenvolvimento sustentável pode ser definido como aquele que atende às necessidades do presente sem sacrificar a possibilidadede atendimento das necessidades futuras.

Comentários:

Embora não tenhamos visto exatamente a definição de desenvolvimento sustentável, vale notarque essa é de fato a definição utilizada para o conceito criado em 1987 no Relatório Brundtland,elaborado pela Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, criada em 1983 pelaAssembleia das Nações Unidas.

Segundo esse conceito (que engloba o desenvolvimento social, o desenvolvimento econômico e osdesenvolvimentos cultural e ambiental), uma determinada nação alcança o desenvolvimentosustentável se ela tiver todos os desenvolvimentos enumerados acima juntos. A figura abaixo ajudaa compreender melhor.

A figura mostra que apenas quando há interseção dos três tipos de desenvolvimento é que épossível dizer que existe desenvolvimento econômico.

Gabarito: VERDADEIRO.

3. (Cespe – Tribunal de Contas-ES – 2012) A respeito de economia, julgue a questão seguinte.

O índice de Gini mede o grau de desigualdade na distribuição da renda domiciliar per capita entre os indivíduos. O valor desse índicevaria de zero, quando não há desigualdade, até um, quando a desigualdade for máxima.

Comentário:

Essa é a definição exata do que chamamos de Índice de Gini.

Gabarito: VERDADEIRO.

A história dessa desigualdade não é de hoje. Desde o deslocamento do centro dinâmicodo país (do nordeste, produtor de açúcar, para o sudeste, produtor de café e, em seguida,centro industrializado), há uma grande concentração de renda no Brasil. A diferença ficoutão evidente que o maior PIB nacional é o do estado de São Paulo, seguido pelo da cidadede São Paulo. Ou seja, a renda é, ainda hoje, setorialmente concentrada.

Mas esse não é o único indicador de bem-estar social. Existe outro que é mais vastamenteutilizado.

Para medir o desenvolvimento econômico de um país, podem ser utilizados diversosíndices. Entre os de maior destaque, está o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), quemede o nível de desenvolvimento humano dos países utilizando como critérios indicadoresde educação (alfabetização e taxa de matrícula), longevidade (esperança de vida ao nascer)e renda (PIB per capita).

O índice varia de zero (nenhum desenvolvimento humano) a 1 (desenvolvimentohumano total). Países com IDH até 0,499 têm desenvolvimento humano considerado baixo,os países com índices entre 0,500 e 0,799 são considerados de médio desenvolvimentohumano, e países com IDH superior a 0,800 têm desenvolvimento humano considerado alto(segundo a última pesquisa, o país que apresenta o melhor IDH do planeta é a Noruega.Durante muito tempo, esse índice era encabeçado pelo Canadá).

O IDH consiste numa medida que resume os diversos índices de desenvolvimento

humano. Mede os progressos registrados, em média, num determinado país, em trêsdimensões básicas do desenvolvimento humano.

• Vida longa e saudável, medida por meio da esperança de vida no nascimento.• Nível de conhecimentos, medido através da taxa de alfabetização de adultos (com

ponderação de dois terços) e da taxa de escolarização bruta combinada dos ensinosfundamental, médio e superior (com ponderação de um terço).

• Nível de vida digno, medido através do PIB per capita (Paridade de Poder de Compra– PPC – em dólares norte-americanos).

Antes de se chegar ao IDH propriamente dito, é necessário criar um índice para cadauma destas três dimensões. Para o cálculo desses índices – índices de esperança de vida, degrau de instrução e de PIB – são selecionados valores mínimos e máximos (margens) paracada indicador primário. O gráfico abaixo mostra os balizadores para valores máximo emínimo.

Balizadoras para o cálculo do IDH:

Indicador Valor máximo Valor mínimo

Esperança de vida ao nascer (anos) 85 25

Taxa de alfabetização de adultos (%) 100 0

Taxa de escolarização bruta combinada (%) 100 0

PIB per capita (em termos de paridade de poder de compra em dólares norte-americanos) 40.000 100

O desempenho em cada dimensão é expresso em termos de valor entre 0 e 1, utilizando aseguinte fórmula geral:

índice de dimensão =valor efetivo – valor mínimo

valor máximo – valor mínimo

A partir da equação acima, o IDH é, então, calculado como uma média simples dos váriosíndices de dimensão. A caixa abaixo ilustra o método de cálculo do IDH de um país.

O quadro abaixo mostra um resumo bastante didático para o cálculo do IDH:

Método de cálculo do IDH

Existem duas formas para se calcular o IDH.

Neste exemplo, utilizaremos dados relativos ao Brasil em 2004 e calcularemos o indicador pelametodologia antiga.

1. Cálculo do índice de esperança de vida

O índice de esperança de vida mede os progressos relativos de um país em termos de esperança devida à nascença. No caso do Brasil, com um valor observado de 70,8 anos em 2004, o índice deesperança de vida é de 0,764.

O gráfico abaixo mostra a posição do Brasil.

índice de esperança de vida = = 0,764

2. Cálculo do índice de instrução

O índice de instrução mede os progressos relativos de um país tanto na alfabetização de adultoscomo na escolarização bruta combinada com os ensinos fundamental, médio e superior. Primeiro sãocalculados os índices de alfabetização de adultos e da escolarização bruta combinada.Posteriormente, estes dois índices são combinados para se obter o índice do grau de instrução, sendoatribuída uma ponderação de dois terços à alfabetização de adultos de 88,6% em 2004 e uma taxa deescolarização combinada de 86% em 2004, o índice de educação é 0,876. Os gráficos abaixoapresentam a posição brasileira.

índice de alfabetização de adultos = = 0,886

índice de escolarização bruta = = 0,857

índice do grau de instrução = 2/3(índice de

alfabetizaçãode adultos)

+ 1/3(índice de

escolarizaçãobruta)

índice do grau de instrução = 2/3 (0,886) + 1/3 (0,857)

índice do grau de instrução = 0,876

3. Cálculo do PIB

O índice do PIB é calculado com base no PIB per capita ajustado (em termos de paridade de poderde compra em dólares norte-americanos). No IDH, o rendimento entra como substituto de todas asdimensões do desenvolvimento humano não refletidas na vida longa e saudável e no nível deconhecimentos. O rendimento é ajustado porque, para atingir um nível elevado de desenvolvimentohumano, não é necessário um rendimento ilimitado. Sendo assim, utiliza-se o logaritmo dorendimento. No caso brasileiro, com um PIB per capita de 8.195 (PPC em US$) em 2004, o índice doPIB é 0,735.

índice do PIB = = 0,735

4. Cálculo do IDH

IDH = = 0,735

Pela nova metodologia, adotada a partir de 2010, é possível observar uma série de mudanças nocálculo de alguns dos indicadores que compõem o IDH. As fórmulas dos indicadores são apresentadasa seguir:

índice de expectativa de vida ao nascer =

índice de anos médios de estudo =

índice de anos esperados de escolaridade =

Até aqui, notamos poucas diferenças entre os índices atualmente calculados e os previamentecontabilizados. A diferença substancial poderia ser considerada como a variação dos mínimos emáximos.

No que diz respeito ao cálculo do índice de educação, esse apresenta diferenças maisconsideráveis, vejamos:

índice de educação =

Por fim, o cálculo do PIB segue de forma semelhante (apenas com poucas mudanças nos valores):

índice do PIB ou índice de renda =

Finalmente, o IDH será calculado como a média geométrica dos três índices anterioresnormalizados. Ou seja:

IDH =

E por que precisamos saber esses índices? Porque o Brasil ainda tem muito que melhoraraté alcançarmos o que se chama de desenvolvimento econômico. O nosso país cresceumuito nos últimos anos (somos a 6a maior economia do mundo), mas ainda temos índicessociais e regionais muito distantes da nossa posição mundial.

Pensando nisso foi que o governo decidiu montar dois planos de cunho social. Oprimeiro, chamado Plano Brasil sem Miséria, tem como objetivo resgatar a população quevive, ainda hoje, na linha da pobreza no nosso país. Durante esse plano, o país buscouretirar a pobreza não apenas das cidades, mas também da zona rural.

Finalmente, o último plano, o Plano de Desenvolvimento da Educação, lançado em 2007,e que tem continuidade até hoje, cujo objetivo é reformular o que entendemos comoEducação no Brasil. Desde a formatação da educação básica, passando pela educaçãosuperior e a educação técnica (ainda sem muito respaldo na economia brasileira), esseprograma tem como alicerces fundamentais a melhora da educação como promotora dodesenvolvimento econômico.

Exercícios

1. (Cespe – MPOG – Analista de Infraestrutura – 2012) Julgue a questão seguinte, relativa às funções e ao papel doEstado.Em uma economia, a redistribuição direta da renda pode ser promovida por meio da tributação de bens e serviços.

Comentários:Aqui, vale um aviso aos navegantes.Quando se fala em melhoria de vida para a população de menor nível de renda, não se

pode pensar em tributação em bens e serviços, também chamada de tributação indireta.A justificativa para isso é que esse tipo de tributação acaba prejudicando as pessoas que

consomem mais em relação à renda, ou seja, os mais pobres.Assim, quando o governo deseja fazer uma política de distribuição de renda mais efetiva,

não pode pensar em fazer isso via tributação indireta, mas via tributação direta (como nocaso do Imposto de Renda: quanto mais você tem, mais você paga).

Gabarito: FALSO.

2. (Cespe – MPOG – Analista de Infraestrutura – 2012) Considerando os planos de desenvolvimento recentementeformulados pelo governo brasileiro, julgue a questão subsequente.A transferência de renda constitui meta do programa Bolsa Família, enquanto a promoção do acesso a serviçospúblicos integra o Plano Brasil sem Miséria.

Comentários:Para resolver essa questão, lembre-se da definição vista logo acima.O Plano Brasil sem Miséria tem como objetivo resgatar a população que vive, ainda hoje,

na linha da pobreza no Brasil. Durante esse plano, o país buscou retirar a pobreza nãoapenas das cidades, mas também da zona rural.

Logo, a alternativa não é verdadeira. Note que tanto o Bolsa Família quanto o PlanoBrasil sem Miséria são direcionados a políticas de redistribuição de renda.

Gabarito: FALSO.

3. (Cespe – MPOG – Analista de Infraestrutura – 2012) Considerando os planos de desenvolvimento recentementeformulados pelo governo brasileiro, julgue a questão subsequente.O Plano Brasil Maior não contempla o apoio às micro e pequenas empresas, entidades já beneficiadas por outroplano do governo.

Comentários:Segundo a sua definição, o Plano Brasil Maior está diretamente ligado, de acordo com a

cartilha do próprio plano, a política industrial, tecnológica, de serviços e de comércioexterior. Com esse plano, o governo objetiva estimular a inovação e a produção nacional,aumentando, dessa forma, a competitividade tanto no mercado interno quanto no mercadoexterno.

Veja que, nesse caso, de acordo com a sua definição, ele não exclui as empresas jábeneficiadas por outros programas.

Essa questão foi uma pegadinha das grandes. De fato, o Plano Brasil Maior contempla,sim, as entidades já beneficiadas por outro plano do governo.

Gabarito: FALSO.

4. (Cespe – MPOG – Analista de Infraestrutura – 2012) Considerando os planos de desenvolvimento recentementeformulados pelo governo brasileiro, julgue a questão subsequente.Entre as medidas do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) inclui-se a recriação da Sudene, da Sudeco eda Sudam.

Comentários:Sim!Como o objetivo do PAC é dar melhores condições de infraestrutura ao país, os

idealizadores do plano consideraram que, para que esse processo fosse posto em prática deforma mais efetiva, era necessário pensar as regiões separadamente. Para solucionar essaproblemática foi preciso recriar as Superintendências Regionais: do nordeste (Sudene), docentro-oeste (Sudeco) e da Amazônia (Sudam), exatamente como afirma a questão.

Gabarito: VERDADEIRO.

5. (Cespe – MPOG – Analista de Infraestrutura – 2012) O Brasil apresenta péssima distribuição de renda, apesar deestar entre os dez países mais ricos do mundo. Com relação a esse assunto, julgue a questão seguinte.O programa Bolsa Família é o principal responsável pela redução da desigualdade de rendimentos no Brasil.

Comentários:Essa aqui foi outra pegadinha da prova do MPOG.Gabarito: FALSO.

Embora o Bolsa Família tenha importância considerável na redução da desigualdade derendimentos no Brasil, está longe de ser o principal responsável pela redução dadesigualdade.

Hoje, não é possível dizer que um programa é determinante para a redução da diferençade renda do país. Com o aumento da renda das regiões menos favorecidas, como onordeste, há uma redução gradativa da diferença de renda entre as regiões. Assim, não sepode creditar tal redução a um programa.

Gabarito: FALSO.

6. (Cespe – MPOG – Analista de Infraestrutura – 2012) O Brasil apresenta péssima distribuição de renda, apesar deestar entre os dez países mais ricos do mundo. Com relação a esse assunto, julgue a questão seguinte.O federalismo fiscal auxilia no combate a desigualdades regionais de renda, enquanto a competição tributáriahorizontal, em regra, resulta na provisão de bens públicos abaixo do nível ótimo.

Comentários:Exatamente. Para que isso fique bem claro, é preciso entender o que é federalismo fiscal.

Grosso modo, ele acontece quando a Federação se apropria dos impostos arrecadados.Quando isso não acontece, são os estados que fazem essa arrecadação. Nesse caso, como osestados têm interesse em aumentar o seu volume de arrecadação, acabam fazendo o quechamamos de guerra fiscal. E é o que a questão denominou de competição tributáriahorizontal.

Quando ocorre esse processo, surge um comportamento predatório entre os estados, oque faz com que eles reduzam o volume arrecadado e, assim, não possam proveradequadamente os bens à população.

Gabarito: VERDADEIRO.

7. (Cespe – MPOG – Analista de Infraestrutura – 2012) O Brasil apresenta péssima distribuição de renda, apesar deestar entre os dez países mais ricos do mundo. Com relação a esse assunto, julgue a questão seguinte.O sistema tributário brasileiro, por ser progressivo, contribui para mitigar a má distribuição da renda.

Comentários:Mais uma questão sobre sistema tributário brasileiro. Mais uma questão que vale um

esclarecimento.No Brasil, infelizmente, os tributos recaem, fundamentalmente, sobre os bens. Nesse caso,

como a parcela de menor rendimento consome mais em relação à renda, são eles quearcam com a maior parte do imposto.

Dessa forma, longe de ser progressivo, o sistema tributário brasileiro é bastante regressivo.Gabarito: FALSO.

8. (Cespe – MPOG – Analista de Infraestrutura – 2012) No que concerne a desenvolvimento nacional, especialmentecom relação à infraestrutura e a fatores críticos para o crescimento sustentável do país a taxas mais elevadas,julgue a próxima questão.Independentemente de sua implementação e dos resultados obtidos ou a alcançar, pode-se definir o PAC comoiniciativa do poder público para incrementar investimentos na área da infraestrutura. Ao elencar obras, metas,valores e cronogramas, o PAC pretende associar planejamento, execução e controle.

Comentários:Quando se fala em PAC, temos que lembrar, necessariamente, do plano que objetiva

modificar a infraestrutura nacional.Gabarito: VERDADEIRO.

9. (Cespe – MPOG – Analista de Infraestrutura – 2012) No que concerne a desenvolvimento nacional, especialmentecom relação à infraestrutura e a fatores críticos para o crescimento sustentável do país a taxas mais elevadas,julgue a próxima questão.Entre os mais conhecidos obstáculos ao desenvolvimento do Brasil estão o estado precário de rodovias, aincapacidade dos portos em dar vazão à demanda, a fragilidade da malha ferroviária e os problemas comuns emaeroportos.

Comentários:Outra questão verdadeira.Para comprovar o que a questão afirma, basta ir, por exemplo, ao aeroporto de

Guarulhos, em São Paulo, ou ainda vivenciar os problemas diários do trânsito em todo opaís.

E foi justamente com o objetivo de eliminar esses gargalos de infraestrutura que o PAC foicriado.

Gabarito: VERDADEIRO.

10. (Cespe – MPOG – Analista de Infraestrutura – 2012) A Constituição Federal de 1988 (CF) foi elaborada em umcontexto histórico marcado, por um lado, pela ânsia de consagrar o moderno conceito de democracia, menosformal e mais identificado com as práticas de cidadania; por outro, pela acelerada urbanização, que leva àmobilização de crescente número de setores da sociedade em busca de soluções para os problemas que a novarealidade urbana fez emergir. Não por acaso, a CF dedica um capítulo às políticas urbanas. Da criação deSecretaria, em 1995, passando pelo Estatuto das Cidades, em 2001, e chegando ao Ministério das Cidades, em2003, um importante caminho foi percorrido, culminando com a aprovação da Política Nacional deDesenvolvimento Urbano.Considerando o texto acima, relativamente à caracterização da sociedade brasileira contemporânea e a aspectosligados ao planejamento e à gestão de serviços públicos no Brasil, julgue a questão seguinte.Programas de transferência de renda, que se intensificaram a partir da estabilização da economia, têmcontribuído para a redução das desigualdades sociais. Na mesma direção, implementam-se políticas de combateàs diversas formas de exclusão, como a adoção de cotas para o ingresso na educação superior pública, cujaconstitucionalidade foi reconhecida pelo STF.

Comentários:Mais uma questão verdadeira.O governo vem, desde a estabilização da moeda, em 1994, criando programas de redução

da pobreza, distribuição de renda e exclusão social. Entre esses programas, podemosdestacar o Bolsa Família e as cotas nas universidades federais.

Gabarito: VERDADEIRA.

Capítulo 8A Crise Econômica Global de 2008

A maioria dos bancos concede alegremente um empréstimo; aliás, eles até o fazemrapidamente. A única coisa de que necessitam é uma prova de que você precisadele.

F.G. Kernam

Um porco comprado a crédito grunhe o ano inteiro.Provérbio espanhol

A crise global de 20081 custou a milhões de pessoas suas economias, seus trabalhos e seuslares.

CURIOSIDADES

Economia da Islândia.

População: 320 mil habitantes;

Produto Interno Bruto: US$ 13 bilhões;

Prejuízo dos bancos: US$ 100 BILHÕES.

De onde veio essa crise?Todo o problema teve origem com uma palavra que ficou muito conhecida ainda na

segunda metade anos 1990: GLOBALIZAÇÃO.Entre as muitas definições que podem explicar a globalização, ficamos com a que diz que

ela permite que os países se comuniquem não apenas politicamente, mas, de forma bastanteincisiva, economicamente também.

É por meio da globalização que podemos estreitar o contato entre a nossa economia e oresto do mundo, que, a partir de agora, será um agente cada vez mais presente na economianacional.

A partir da globalização começamos a conhecer produtos da IBM produzidos na Chinaou ainda roupas íntimas da Victoria Secrets fabricadas na Indonésia. Hoje, produtosnacionais têm perfil de produto mundial.

Logicamente, essa ligação entre o resto do mundo e a economia nacional não se deuapenas via mercado de bens e serviços (lembra do fluxo circular da riqueza do capítulo 1?),mas também via mercados financeiros e, de alguma forma, via mercado de fatores também.

Com a internet cada vez mais veloz, os mercados financeiros passaram a se comunicar de

forma cada vez mais instantânea.Assim, um aposentado na Islândia poderia comprar facilmente um título de dívida

privada de alguém dos Estados Unidos, simplesmente indo ao seu banco e pedindo paraque o seu gerente verificasse a possibilidade de obter mais retornos sobre os rendimentosaplicados. Logicamente, como estamos falando de títulos da dívida privada, quanto maior orendimento esperado maiores serão os riscos associados à operação.

A questão é que os bancos passaram a observar que poderiam ganhar ainda mais dinheirocaso o sistema financeiro (que inclui também outros agentes financeiros, mas tem nosbancos os seus maiores e mais importantes representantes) fosse menos regulado. Commenos regulação e mais globalização, o dinheiro circularia em maior velocidade e maiorvolume, fazendo com que esses agentes financeiros e seus diretores ganhassem ainda maisdinheiro.

Foi assim, com a vontade de ganhar ainda mais dinheiro, que começamos a gestar a crisede 2008.

A crise foi oficialmente declarada quando a bolha estourou no dia 15 de setembro de2008. Nesse dia, com a quebra forçada do banco norte-americano de investimentos LehmanBrothers e a venda (também forçada) do também americano banco Merrill Lynch,começamos a ver a economia entrar em um verdadeiro colapso.

Mas isso não foi tudo: quando esses bancos quebraram, levaram junto a maior seguradorado mundo, a AIG, e o resto do mundo à maior crise financeira mundial desde 1929.

O resultado das quebras foi a crise mundial de 2008, que enxugou dezenas de trilhões dedólares da economia global, deixou 30 milhões de pessoas desempregadas, levou 50 milhõesde pessoas para a linha da pobreza e duplicou a dívida pública dos Estados Unidos.

Macroeconomia em análise

Essa crise não foi um acidente

A crise de 2008 foi causada por um setor completamente sem controle: o setor financeiro. Assim,antes de começarmos a falar da crise, vamos analisar o funcionamento do sistema financeirodentro de uma economia. Mais à frente, veremos os problemas causados quando esse sistemaentra em colapso.

Apenas como revisão, vamos pensar nesse setor com calma. Cada vez que esse setor recebe maisdinheiro, ele pode influenciar não apenas o fluxo monetário da economia, mas também o fluxoreal. A ideia é semelhante ao que acontece quando o governo faz uma política monetáriaexpansionista (semelhante, não igual).

Como sabemos, os mercados financeiros vivem das movimentações das poupanças. Ofuncionamento não é complicado. Os agentes financeiros utilizam o dinheiro das poupanças parafazer empréstimos ou conceder financiamentos àqueles que precisam de algum volume de capital.

Como exemplo, pensemos que D. Maria tenha R$ 100 mil e, como colocar o dinheiro no colchãonão é uma boa ideia, ela vai depositá-lo no Banco do Brasil.

O que o banco faz com o dinheiro? Ele vai emprestar uma parte desse recurso para o Sr. João, queestá precisando comprar um carro novo.

Como os bancos ganham dinheiro? Justamente nesse processo de intermediação financeira. Osbancos conseguem, entre outras coisas, unir quem possui e quem precisa de dinheiro porqualquer razão.

Nessa intermediação financeira, os bancos lucram através do que chamamos de spread bancário.Ou seja, a diferença entre o que ele recebe de juros do Sr. João e o que ele paga de juros a D.Maria.

E como ele influencia a economia real? Lembre-se que o Sr. João tomou um financiamento paracomprar um carro, ou seja, um bem real. Logo, é possível dizer que a economia financeira iráinfluenciar a economia real, já que com a compra do carro mais empregos serão gerados, oconsumo aumenta, e mais renda será criada. Em um fluxo virtuoso de crescimento.

Assim, sistema financeiro forte, economia mais forte ainda. Alguns economistas dizem que éimpossível a economia andar bem se o sistema bancário estiver defasado.

Exercícios

1. (Esaf – CVM – Normas Contábeis e Auditoria – Analista – 2010) A lógica da composição do mercado financeiro tem como fundamento:

a) facilitar a transferência de riscos entre agentes;

b) aumentar a poupança destinada a investimentos de longo prazo;

c) mediar as relações entre agentes deficitários e os superávitários visando o bem-estar geral;

d) preservar as funções da moeda;

e) garantir retornos aos aplicadores de recursos financeiros.

Comentários:

Como de costume, vamos analisar item a item como se fosse uma questão diferente. A letra aafirma que o fundamento da composição do mercado financeiro está ligado à facilitação detransferência de riscos entre agentes. Essa questão, a princípio, faria você imaginar que ela estácorreta, mas existe um detalhe que passaria, certamente, despercebido. Veja que ela afirma que ofundamento do sistema financeiro é transferir riscos. Ora, a função do sistema financeiro não étransferir riscos, mas recursos entre os agentes. Dessa forma, a questão está incorreta.

A alternativa b, por sua vez, afirma que a função do sistema financeiro é aumentar a poupançadestinada a investimentos de longo prazo. Mais uma vez, uma afirmação que possui um erromínimo. A função do sistema financeiro é sim aumentar o volume de poupança a ser canalizadapara os investimentos. E não apenas investimentos de longo prazo, mas qualquer tipo deinvestimento, seja ele de curto ou longo prazo. Desse modo, a alternativa b também não estácorreta.

Em seguida, a letra c diz que o fundamento é mediar as relações entre agentes deficitários e ossuperavitários visando o bem-estar geral, o que, assim como nas afirmações anteriores, não estácorreto, por um detalhe mínimo: o bem-estar geral.

Os bancos não estão interessados no bem-estar dos clientes, que dirá no bem-estar geral. Naverdade, eles estão interessados em tornar o sistema mais eficiente e rentável, além de garantirbons lucros. Em nenhum desses objetivos é possível incluir bem-estar geral. Logo, a alternativa ctambém é falsa.

Finalmente, a letra d afirma que o fundamento do sistema financeiro é preservar as funções damoeda, o que é, de fato, verdade. A explicação para isso é que a moeda possui três funções: (i)meio de troca, (ii) unidade de conta e (iii) reserva de valor. No caso da terceira função, de reserva,essa é garantida pelo sistema financeiro. Logo, o fundamento do sistema financeiro estácompletamente atrelado à moeda e as suas funções. Assim, a letra d é a alternativa correta.

E por que a letra e está incorreta?

Porque ela afirma que o fundamento do sistema financeiro é garantir retornos aos aplicadores de

recursos financeiros (é nada!), o que não é nem de longe a verdade. Basta pensarmos que quandoos agentes decidem aplicar em ativos arriscados, isso não implica que eles terão,necessariamente, maiores rendimentos, sempre. Eles poderão, de fato, perder recursos. Logo, afunção do sistema financeiro não está ligada à garantia de retornos, embora, a depender do banco,ele buscará esses retornos.

Gabarito: Letra d.

2. (Esaf – CVM – Normas Contábeis e Auditoria – Analista – 2010) A multiplicidade de instrumentos financeiros oferecidos nos mercadosfavorece:

a) a escolha de riscos separando agentes a eles avessos dos propensos;

b) a criação de instituições que administram riscos;

c) a análise e a avaliação do comportamento ético de investidores a operadores;

d) a transparência na formação de preços de valores mobiliários;

e) o desenvolvimento econômico.

Comentários:

Essa não é uma questão tão simples de resolver. Mas vamos olhar devagarzinho para entendermelhor.

A letra a afirma que o grande número de instrumentos financeiros nos mercados favorece aescolha de riscos separando agentes a eles avessos dos propensos. Essa afirmação não éverdadeira, pois não é possível escolher riscos. Na verdade, ela favorece a escolha dos agentes,separando ativos mais arriscados dos menos arriscados, a depender do perfil de cada agenteeconômico. Veja que a diferença é extremamente sutil, o que dificulta a interpretação.

Apenas para reforçar: a multiplicidade de produtos favorece a escolha dos agentes, não a escolhados riscos.

A alternativa b diz que haverá um favorecimento da criação de instituições que administramriscos. Essas instituições não existem. Na verdade, o risco pode ser medido dentro do própriosistema financeiro, mas não existirá a criação de qualquer instituição que o administre de formaexterna.

A letra c afirma que serão favorecidas a análise e a avaliação do comportamento ético deinvestidores a operadores. Essa alternativa nem de longe é verdadeira. Os produtos não indicamque podemos analisar o comportamento ético dos agentes envolvidos no sistema. Dessa forma, aalternativa não está correta.

Em seguida, a letra d diz que haverá um favorecimento na transparência na formação de preços devalores mobiliários. Essa alternativa, assim como as anteriores, não é verdadeira, já que o preçode qualquer ativo financeiro não é claramente definido por ser alvo muitas vezes de processosespeculativos.

Finalmente, a letra e, que é a alternativa correta. Como dissemos acima, não existe qualquerpossibilidade de um país se desenvolver sem desenvolver em paralelo o seu sistema financeiro.Logo, uma vez tendo o sistema financeiro mais desenvolvido e, assim, com mais produtos,teremos mais possibilidades de alcançar o desenvolvimento econômico.

Gabarito: Letra e.

A partir da globalização, o poder do sistema financeiro ficou ainda maior. As economiasficaram mais integradas, com pessoas depositando e tomando empréstimos em bancosestrangeiros, uma vez que é possível aplicar dinheiro em qualquer banco do mundo (mas épreciso, antes, avisar ao governo brasileiro sobre transações financeiras efetuadas noexterior). Como o crédito é dado para todos, as economias crescem e observamos um ritmoacelerado de crescimento entre os anos de 1990 e 2000. Economia real edesregulamentações crescentes.

Desde os anos 1980, o setor financeiro dos Estados Unidos vem causando diversaspequenas crises que, com o passar do tempo, foram gerando prejuízos cada vez maiores àsociedade, enquanto o sistema ganhava cada vez mais dinheiro.

A desregulamentação do sistema financeiro norte-americano começou nos anos 1980,quando os bancos passaram a abrir o capital e a captar recursos de forma mais ativa(lembre-se: para poder emprestar dinheiro, os bancos precisam ter dinheiro). Com anecessidade de superar a crise mundial provocada pelos dois choques do petróleo (oprimeiro em 1973 e o segundo em 1979), o sistema financeiro passou a se fortalecer,ganhando destaque dentro da economia norte-americana. Fazendo uso do dinheiro dosdepositantes para realizar investimentos.

Nos anos 1990, o sistema financeiro norte-americano se concentrou em poucas empresasgigantescas, todas tão grandes que a quebra de uma delas comprometeria todo o sistemafinanceiro nacional. E o problema não parou por aí. Ainda durante o governo de Clinton, adificuldade se agravou. Em consequência das grandes fusões, o sistema se tornaria aindamais poderoso e mais instável.

Para entendermos como o sistema se tornou instável por causa das fusões, imaginemosum navio de grande porte (esqueça o Titanic, ele afundou!). A única maneira de diminuiro risco de ele afundar é dividi-lo em diversos compartimentos. Assim, se determinadocompartimento tiver qualquer vazamento, será fechado, impedindo que a água passe paraoutro.

No sistema financeiro, o raciocínio é semelhante. Se os bancos forem separados pormodalidades, será mais difícil que um processo de quebra passe de um tipo para o outro.

Contudo, o processo de fusões agrava o problema – é como se estivéssemos retirando oscompartimentos do navio. Assim, enquanto o navio anda em águas tranquilas, não surgemdificuldades. Entretanto, se acontecer qualquer tipo de adversidade e o navio sofrerqualquer acidente, a água se espalhará por todas as partes, fazendo com que o navio (ou osistema) naufrague.

Logicamente, até agora, o mar está bem tranquilo, e não enfrentamos qualquerproblema. Logo, é o momento ideal para (assim como fez o capitão do Titanic) fazer o

barco andar mais rápido e, assim, ganhar mais dinheiro.E foi isso o que os banqueiros norte-americanos fizeram: lavaram dinheiro, ludibriaram

clientes e manipularam, reiteradas vezes, os livros de contabilidade.No final dos anos 1990, com a desregulamentação do sistema financeiro e a internet,

surgiu um produto financeiro bastante complexo: os derivativos.2

De acordo com a sua natureza, os derivativos permitiam que os bancos apostassem empraticamente tudo: do mercado de ações ao clima, o que era interessante do ponto de vistaespeculativo, mas completamente incerto do ponto de vista sistêmico. E, na sede de ganharainda mais dinheiro, os derivativos passaram, ainda no final dos anos 1990, a representarum mercado não regulado de US$ 50 trilhões.

Já no início dos anos 2000, o sistema financeiro norte-americano estava alicerçado emcinco grandes bancos de investimento (Goldman Sachs, Morgan Stanley, Lehman Brothers,Merrill Lynch e Bear Stearns), dois conglomerados financeiros (Citigroup e JP Morgan),três seguradoras de títulos (AIG, MBIA e AMBAC) e três agências de classificação (Moody’s,Standard & Poor’s e Fitch).

A relação entre esses quatro agentes não era difícil de se compreender, sendo chamada,muitas vezes, de cadeia alimentar da securitização: um sistema que distribuía trilhões dedólares em hipotecas e outros empréstimos a investidores ao longo do globo. A figura

abaixo, baseada no documentário Trabalho interno3, mostra essa relação.

Para compreender a figura acima, vamos entender como funcionava o sistemaanteriormente:

No sistema antigo, quando íamos ao banco tomar um empréstimo, o banco se preocupavacom um detalhe verdadeiramente importante: se iríamos pagar as parcelas do empréstimo.

Como os empréstimos poderiam levar muito tempo para serem saldados, os bancosprecisavam ser cuidadosos com relação a quem emprestariam recursos. Lembre-se de que,

se o cliente se tornasse insolvente, esse ativo não seria reincorporado à carteira do banco.Assim, ele teria menos dinheiro para emprestar a outros clientes, comprometendo a suafunção de intermediário financeiro.

O que acontecia no sistema nos anos 2000?Nesse sistema, os ofertantes de crédito (os bancos comerciais) vendiam os títulos da dívida

privada (no caso dos Estados Unidos, as hipotecas das casas) aos bancos de investimentosque reuniam esses títulos e outros tipos de empréstimos (como empréstimos de carros ouempréstimos para estudantes) para criar complexos derivativos, chamados de obrigações dedívidas colateralizadas (ou CDO, do nome original em inglês) e, então, vendiam essesCDOs para os investidores.

Para validar os derivativos, os bancos de investimento solicitavam às agências declassificação que emitissem notas para os produtos, dando, assim, credibilidade aosprodutos criados, que seriam comprados por fundos de pensão na Islândia, por exemplo.

O sistema, até então, funcionava perfeitamente. Com os compradores pagandocorretamente, os investidores mantinham as suas poupanças e todo mundo era feliz,ganhando.

O problema é que esse tipo de sistema era uma verdadeira bomba-relógio.O raciocínio para entender a gravidade do problema é simples. Eu, banqueira, para

ganhar dinheiro, preciso emprestar dinheiro, certo?Se antes eu tinha que ter cuidado com o tipo de cliente que tomava dinheiro emprestado,

agora, que vendo os títulos para o banco de investimento, não preciso mais me preocupar sea pessoa vai pagar ou não, não é? Afinal, se ela não pagar, eu já estou garantido, com o meuno bolso (quando os bancos vendem as suas carteiras, ganham um percentual elevado emcima do valor total, digamos, 95%), e o aposentado da Islândia, que entrou como investidor,não é um problema meu. A ganância de ganhar dinheiro fez com que os bancos

começassem a financiar casa para todos os clientes prime (clientes com bom perfil decrédito) e eles começaram a comprar, pagando em dia. Observando que o mercado primeestava esgotando a sua capacidade de compra, os bancos comerciais passaram a vender parauma categoria de clientes menos capitalizada, com um histórico de crédito não tão bometc.: os subprime. Aqueles que no Brasil não têm renda, tiveram o nome incluído no SPC eno Serasa, e que, por isso, para comprar uma casa, devem pagar juros mais elevados. O queé “bom” para a pessoa que compra a casa, porque terá um imóvel, e bom para o banco, queterá mais um cliente. Como os bancos vivem de “vender dinheiro”, estava na hora de tentaralgo mais arriscado.

E assim começaram as vendas para os clientes subprimes. A lógica criada pelos bancos eramuito interessante: Vejamos um exemplo:

Mr. John vai ao banco para financiar a compra de uma casa em Springfield (ele quermorar perto de Homer Simpson). A sua gerente Ms. Mary diz o seguinte:

Mr. John, que bom revê-lo! Tenho uma oferta maravilhosa para o senhor. Veja, jápodemos fazer o financiamento da sua casa! E o melhor, o senhor ainda vai ganharmuito dinheiro com isso! Vamos compreender o raciocínio?O senhor compra a sua casa hoje por, digamos, US$ 20 mil. Todo mundo estácomprando a sua casa, rapaz! Essa é a sua hora! O que nós vamos fazer? O senhorfinancia o seu imóvel hoje. Como todo mundo está fazendo isso, haverá um processode valorização imobiliária, ou seja, se a sua casa hoje vale US$ 20 mil, daqui a doisanos, valerá US$ 100 mil!O que o senhor vai fazer? Vai vender a sua casa, quitar a dívida com o banco e aindavai ficar com, pelo menos, uns US$ 60 mil! Um valor maravilhoso para que o senhorcompre uma casa na cidade dos artistas, em Beverly Hills! O que o senhor acha?

Com esse canto da sereia, Mr. John e mais alguns milhares de americanos foram tomandofinanciamentos para comprar suas casas na ilusão de poder pagar e ainda sair com umtroco no bolso. Logicamente, como eles não possuíam bons históricos de crédito, pagavamaltas taxas de juros pelo financiamento.

Se do lado dos bancos comerciais não havia critério de seleção dos clientes, os bancos deinvestimentos também não estavam nem um pouco preocupados com que tipo de crédito osbancos comerciais estavam trabalhando: quanto mais financiamentos saíssem dos bancoscomerciais, mais derivativos poderiam ser criados, mais dinheiro os bancos de investimentosganhavam, mais os seus diretores seriam ricos. Uma verdadeira ciranda financeira criadaem Wall Street.

As agências de classificação, pagas pelos bancos de investimentos para analisar os seusderivativos, seguiam o ritmo da dança atribuindo altos coeficientes para os derivativosbaseados em financiamentos dos subprimes (em 2/3 dos casos, esses derivativos recebiamAAA na classificação, o maior escore alcançável). Como essas agências não perdiam a

credibilidade por emitir uma nota baixa a determinado título, a dança ficava ainda maisfeliz!

Para se ter ideia do tamanho do crescimento dos empréstimos para os subprimes, onúmero de hipotecas entre 2000 e 2003 praticamente quadruplicou.

E como isso chegava na mão de um aposentado na Islândia? A partir da globalização, osbancos podem comprar ativos de outros localizados não necessariamente no mesmo país.Assim, o gerente de um banco da Islândia dizia ao cliente que era um título mais arriscado,mas que gerava bons rendimentos. Então, como todo mundo quer ganhar dinheiro, oaposentado da Islândia adicionava esse ativo a sua carteira de investimentos. Lembre-se queo derivativo ainda possui uma nota muito alta dada pela agência de classificação!

E foi assim, juntando a globalização, a desregulamentação e a ânsia de ganhar dinheirodos banqueiros que teve início a bolha imobiliária dos Estados Unidos.

E o que aconteceu em seguida?Como a concessão de empréstimos para os subprimes crescia de forma enlouquecedora e

todo mundo estava pagando os financiamentos em dia, os preços de mercado das casasdispararam. O resultado desse aumento? A maior bolha financeira da história, com ospreços dos imóveis praticamente dobrando em 2007.

Durante os anos de 2001 e 2007, os bancos de investimento tomaram fortes empréstimospara comprar mais hipotecas dos bancos comerciais e criar ainda mais CDOs. Esses bancosficavam alavancados em até 33:1. Ou seja, os seus passivos poderiam ser 33 vezes maior doque os seus ativos, o que implicava que qualquer variação de 3% nos ativos dos bancospoderia levar o banco à insolvência.

Mas esse risco não veio apenas do lado dos bancos.Do outro lado do mercado, a maior seguradora do mundo, a AIG, vendia vultosas

quantidades de derivativos, os “swaps de crédito” (ou CDS, da sigla em inglês).Os CDS funcionavam como seguros dos CDOs. Assim, os investidores que comprassem os

CDS pagavam um prêmio trimestral à AIG (como se fosse a parcela do seguro de carro, porexemplo, no Brasil). Se os CDOs gerassem algum problema, era a AIG que precisavareembolsar o valor ao investidor, uma indenização.

(Tá sentindo o tamanho do buraco que vem chegando? Tem mais complicação ainda...)Contudo, diferentemente de um seguro-padrão, os investidores podiam comprar da AIG

CDS para apostar contra os CDOs dos outros. Assim, era como se eu comprasse um seguropara a sua casa! Ou seja, se a sua casa pegar fogo, sou eu que vou receber o valor do seguro!Ora, mas se você também tiver comprado um seguro para a sua casa (a minha compra nãoinvalidaria a sua) e ela pegar fogo, nós dois teremos de ser indenizados pela AIG.

Logicamente, quando se fala de uma casa pegar fogo, a coisa é muito mais remota.Contudo, estamos falando de derivativos, que, como vimos, são baseados em financiamentosdos subprimes. Ou seja, se o sistema quebra (e ele quebrou um pouco depois), a AIG teria

que pagar muito dinheiro para muita gente.Mas ainda estamos na boa época em que todo mundo paga as contas em dia. Com isso, os

bancos comerciais, os bancos de investimentos, os investidores e os diretores da AIG ganhamdinheiro. Sem regulação, a AIG não precisou fazer qualquer reserva de recursos,direcionando o valor dos seguros pagos pelos investidores para os bônus dos seus diretores.Esse valor alcançou a soma de nada menos do que US$ 3,5 bilhões entre os anos de 2000 e2007.

A questão é que os preços das casas valorizaram muito, o problema se tornava iminente.Com a valorização das casas, cada vez menos mutuários poderiam pagar o valor daamortização, mas, ainda assim, as agências de classificação continuavam apontando pelomenos 2/3 desses títulos como de alta credibilidade, assemelhando-os aos títulos da dívidanorte-americana.

Em 2006, não se contentando em colocar CDOs de péssima qualidade no mercado, ospróprios bancos de investimento passaram a apostar contra os próprios derivativos. Assim,enquanto indicavam os derivativos para os clientes, compravam CDS da AIG torcendo paraque os mutuários dessem o calote nas hipotecas.

Um dos bancos, o Goldman Sachs comprou cerca de US$ 22 bilhões em CDS da AIG epassou a torcer para que o sistema quebrasse. Em seguida, vendo que a AIG também iriafalir, o Goldman se assegurou contra essa quebra e ainda lançou outro CDO que tinhacomo premissa o seguinte: quanto mais os clientes perdessem mais lucros o banco teria.

Finalmente, a crise começou em outubro de 2007. Nessa época, 1/3 dos financiamentosestavam inadimplentes e uma boa parte passou a dar calote nos bancos. Com os clientesmais pobres, os banqueiros ficariam ainda mais ricos.

As agências de classificação, por sua vez, não sofreram qualquer efeito danoso. Uma vezque suas classificações eram baseadas em “opiniões”, afirmavam que ninguém seriaobrigado a segui-las.

Em 2008, as execuções das hipotecas se tornaram vultosas, e a cadeia da securitizaçãocomeçava a sofrer um processo canibalizador.

Os imóveis devolvidos aos bancos comerciais eram recolocados à venda, mas os bancosnão conseguiam novos clientes. Com o aumento da oferta de imóveis, os preços caíramconsideravelmente, e houve uma total desvalorização dos imóveis já comprados. Esse ciclovicioso permaneceu, levando ao aumento do número de imóveis devolvidos e do número deimóveis à venda, bem como à redução dos preços dos imóveis.

Com o fim dos financiamentos, a venda dos CDOs também terminou. Em 12 de setembrode 2008, o Lehman Brothers ficou sem dinheiro e a estabilidade do sistema financeiroglobal estava completamente ameaçada. Na tentativa de salvar o Lehman, foi marcada umareunião com os grandes bancos de investimentos. Foi então que se viu que o rombo era, defato, bem maior, do que o imaginado.

O Merril Lynch também estava prestes a falir. No domingo, 14 de setembro de 2008, foicomprado pelo Bank of America. O único interessado no Lehman seria o banco inglêsBarclays, mas a legislação inglesa apenas permitia a aquisição se a compra tivesse garantiafinanceira dos Estados Unidos, que se recusaram a prestar socorro financeiro ao banco. Ogoverno achava que, com a falência do Lehman, o mercado ficaria mais calmo (comoassim?? Cadê as aulas de economia, povo do Banco Central dos EUA??)

Finalmente, o Lehman faliu. Como nem o banco nem o governo tinham planos para essapossibilidade, a crise foi instaurada. Uma vez que o governo norte-americano não secomunicou com o resto do mundo antes de decretar a falência, não pôde perceber otamanho da catástrofe.

Em Londres, o Lehman teve que ser fechado imediatamente e as milhares de operaçõesforam, simplesmente, congeladas. O que gerou um processo de pânico nos mercados.

Após o fechamento do Lehman, outros agentes do sistema financeiro norte-americanotambém decretaram falência. Na mesma semana (e que semana, hein?), a AIG devia US$ 13bilhões de dólares aos detentores de CDS e não tinha dinheiro para pagar a conta. Oproblema é que, se a AIG parasse, até os aviões (segurados por ela) teriam que ficar nochão. Para evitar uma calamidade ainda maior, o governo dos Estados Unidos socorreu aempresa e solicitou ao congresso US$ 700 bilhões para socorrer os bancos.

Uma vez que a AIG foi socorrida pelo governo, os proprietários dos CDS puderam serreembolsados pelas perdas. Entre eles, o Goldman Sachs receberia US$ 61 bilhões no diaseguinte.

Esse socorro à AIG custou US$ 150 bilhões aos cofres públicos dos Estados Unidos.Com a crise instaurada, o desemprego nos Estados Unidos e na Europa chegaria à casa

dos 10%. Nesse ponto, a crise deixa de ser financeira, e passa a ser global, se espalhando portodo o mundo.

E como a crise se espalhou para o resto do mundo? Analisemos o fluxo circular dariqueza expandido novamente.

Demirguç-Kunt e Detragiache (1998) enfatizam que uma crise bancária pode ainda sedifundir por outros setores da economia, uma vez que o volume de crédito disponível éretraído. Segundo os autores, esse tipo de crise pode gerar uma redução no investimento eno consumo e, possivelmente, levar empresas que apresentam solvência financeira àfalência. Esse efeito pode ainda ser mais agressivo para a economia, pois pode afetar osistema de pagamentos, uma vez que falhas no sistema bancário reduzem a confiança dosagentes econômicos nas instituições financeiras, reduzindo, assim, a poupança doméstica eo fluxo de capital em larga escala.

Em particular, durante esses períodos de instabilidade econômica, em virtude da reduçãodo nível de consumo das famílias, cresce o número de empréstimos não saldados pelasempresas (que passam a vender menos), o que implica aumento do risco e da volatilidadeno mercado. Nessa etapa, segundo Barnhil & Souto (2008), os efeitos da crise bancáriacomeçam a se generalizar por todo o sistema de intermediação financeira, com os bancossendo afetados por outros fatores vinculados ao risco de mercado, aumentando, dessaforma, o número de bancos comprometidos pela crise, o que acarreta um problemasistêmico no mercado financeiro.

Vale ainda ressaltar que, como estamos falando do sistema financeiro da maior economiado mundo, os efeitos nas economias reais foram sentidos em todo o planeta. Como osEstados Unidos são os maiores consumidores do mundo, uma vez que o sistema financeiroentrou em colapso, as poupanças desapareceram, reduzindo o fluxo de consumo nacional.

O problema é que estamos falando dos Estados Unidos! E quando eles consomem menos,o fazem não apenas com os produtos nacionais, mas também com os produtos importados.E, assim, China, Japão, Europa, México e todo o restante dos países sofreram com os cortesdas compras norte-americanas.

E o que aconteceu na Islândia (a economia vista no início do capítulo)?

Com a quebra geral dos três bancos norte-americanos, o desemprego triplicou em seismeses e ninguém saiu ileso no país. As pessoas perderam suas economias e as agênciasreguladoras do governo, que deveriam proteger os cidadãos, não fizeram nada.

E o Brasil?A figura abaixo, extraída do site do jornal O Estado de S. Paulo mostra o tamanho do

problema na nossa economia.

Pois é, diferentemente do que foi dito pelo então presidente Lula, a onda de crisemundial não foi uma marolinha na economia brasileira. Na verdade, também fomos vítimasda crise que assolou o mundo. Contudo, diferentemente do que aconteceu no resto domundo, demos uma resposta mais rápida.

8.1. A resposta da política macroeconômica do BrasilQuando a crise foi verdadeiramente instaurada no país, através da divulgação, pelo IBGE,

da recessão técnica, Lula não teve dúvida: adotou um conjunto de políticas expansionistascom o objetivo de aumentar o PIB nacional.

As medidas não foram complicadas: aumento dos gastos governamentais (como, porexemplo, aumento das nomeações do governo), redução dos impostos (IPI sobre osautomóveis e produtos da linha branca) e vários cortes sucessivos na taxa básica de juros,como mostra o gráfico abaixo.

Observe que a taxa básica de juros da economia passou a sofrer um processo notório dedecrescimento já no primeiro semestre de 2009.

Todas essas decisões foram tomadas com o objetivo de reduzir os efeitos externos da crisejá que, por causa da redução das exportações brasileiras (por parte dos países mais afetadospela crise), o Brasil sentiria, e muito, todos os efeitos da recessão. Dessa forma, quando sefalar em crise de 2008, devemos lembrar SEMPRE das políticas governamentais adotadas nosentido de reduzir os efeitos da crise, ou seja, políticas expansionistas.

Exercícios1. (Cesgranrio – BNDES – Engenheiro – 2011) A crise econômica mundial de 2008 afetou fortemente a indústria

automobilística no Brasil, gerando acúmulo de veículos em estoque.As vendas da indústria automobilística no Brasil foram alavancadas pelo mercado doméstico, bastante dependentede crédito.Analisando-se as afirmações acima, conclui-se que:a) as duas afirmações são verdadeiras, e a segunda justifica a primeira;b) as duas afirmações são verdadeiras, e a segunda não justifica a primeira;c) a primeira afirmação é verdadeira, e a segunda é falsa;d) a primeira afirmação é falsa, e a segunda é verdadeira;e) as duas afirmações são falsas.

Comentários:Essa questão é, por um lado, superinteressante e, por outro, superconfusa. É interessante

porque traz os efeitos da crise de 2008 para o Brasil, mas é confusa porque o gabarito,segundo o nosso ponto de vista, não é o mais adequado. Vamos analisar.

Na primeira parte da questão, temos que a crise mundial fez com que ocorresse uma forteredução das vendas, com grande acúmulo de automóveis nos pátios, o que é verdade.

Para responder à primeira parte da questão, basta lembrarmos que a GM e a Volkswagenpassaram por uma grande crise, dando, inclusive, férias coletivas para os seus funcionários.

A segunda parte afirma que as vendas foram alavancadas pelo mercado doméstico, muitodependente do crédito.

Assim como a primeira, essa informação também está correta. Com a redução do IPI dosautomóveis, as pessoas voltaram a comprar carros e, como a indústria automobilística possuiforte multiplicador, por possuir grandes ramificações, a economia acabou saindo da crisede forma mais rápida.

Assim, as duas alternativas estão corretas. O problema é que o gabarito aponta comocorreta a letra b, que diz que a segunda sentença justifica a primeira, o que, para nós, nãofaz muito sentido, pois as ligações entre as duas não são claras.

Pensando com muita calma, diríamos que a alternativa teria alguma chance de estarcorreta SE pensássemos no momento imediatamente posterior à deflagração da crise eanterior ao momento em que o governo toma qualquer atitude.

Desse modo, como a crise provocou retração do crédito, menos pessoas puderamcomprar e mais carros ficaram disponíveis nos pátios.

Por essa ótica, e só por essa, a alternativa b, gabarito oficial, está correta.Gabarito: Letra b.

2. (Cesgranrio – Petrobrás – Economista Júnior – 2010) Uma crise financeira e econômica nos Estados Unidos, que seespalhe pelo mundo, reduz a demanda externa pelos produtos e serviços brasileiros e também diminui a entradalíquida de capital financeiro externo (ou mesmo provoca a saída líquida de capitais). Em consequência, se nãohouver nenhuma política compensatória pelo governo brasileiro, a curto prazo, tende a acontecer:a) desvalorização do real em relação ao dólar, caso o regime cambial brasileiro seja de câmbio flutuante;b) valorização do real em relação ao dólar, caso o regime cambial brasileiro seja de câmbio fixo;c) valorização das ações das empresas brasileiras;d) forte expansão do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro, devido à maior demanda externa;e) aumento do superávit comercial do Balanço de Pagamentos brasileiro.

Comentários:Essa questão é muito boa para resolver. Pensemos juntos.Estamos em crise, certo? Vamos pensar no fluxo circular da riqueza expandido. Com os

Estados Unidos em crise, o que vai acontecer? Todo mundo fica pobre do lado de lá e issovai se refletir do lado de cá também. Vamos analisar todas as alternativas para verificar cadaum dos pontos.

Para ser diferente, comecemos da última para a primeira.A letra e afirma que haverá aumento do superávit comercial do Balanço de Pagamentos

brasileiro. Só para que você entenda, o superávit comercial existe quando nós, brasileiros,exportamos mais do que importamos. Mas estamos exportando mais? Não. Como os Estados

Unidos entraram em recessão, simplesmente reduzimos o nosso volume de exportações.Logo, a alternativa acima está incorreta.

A alternativa d é ainda mais clara. Ela afirma que haverá uma forte expansão do ProdutoInterno Bruto (PIB) brasileiro, devido à maior demanda externa. E essa questão, de formaalguma, está correta. Primeiro, como vimos na figura do jornal O Estado de S. Paulo, nãohouve expansão do PIB brasileiro no período. Em seguida, como acabamos de ver naquestão acima, não houve maior demanda externa, mas justamente o contrário, umarecessão profunda da demanda externa (isso prejudicará a Grécia mais à frente).

Para responder à letra c, vejamos uma matéria também extraída do jornal O Estado de S.Paulo:Pacote dos EUA fracassa e Bovespa tem pior dia desde 199929 de setembro de 2008Aluísio Alves – Reuters

Numa segunda-feira negra dos mercados internacionais, a Bolsa de Valores de SãoPaulo refletiu a sensação de pânico provocada pelo aprofundamento da crisefinanceira nos Estados Unidos e na Europa e teve o pior dia em quase uma década.Depois de ter chegado a beliscar os 14 por cento de queda, o Ibovespa reduziu asperdas para fechar com desvalorização de 9,36 por cento, aos 46.028 pontos, o menorpatamar em 17 meses.Isso, depois de as negociações terem sido interrompidas pelo circuit break,mecanismo acionado automaticamente quando o índice ultrapassa os 10 por cento dequeda, o que não acontecia desde 14 de janeiro de 1999.O giro financeiro do pregão atingiu 5,73 bilhões de reais.A rejeição de congressistas ao pacote do governo dos Estados Unidos para tentar evitaruma quebradeira de bancos do país ao mesmo tempo surpreendeu e coroou um diarecheado de notícias assustadoras do setor financeiro global.

Observe que a matéria se refere justamente ao início da crise. Então, pelo que estamosvendo, as ações das empresas brasileiras não foram valorizadas no período imediatamenteposterior à crise.

Isso faz sentido? Se as ações dos Estados Unidos vão mal, por que as pessoas não investemno Brasil, por exemplo?

Porque elas não têm mais dinheiro para investir. Em consequência da crise, o dinheirosimplesmente sumiu das contas. As pessoas ficaram realmente pobres. Assim, precisarãovender as ações no resto do mundo (incluindo aí o Brasil) para poder cobrir as perdas nosEstados Unidos. Como resultado, as ações das empresas brasileiras não devem aumentar oseu valor, mas diminuir, já que as pessoas passarão a vender as suas ações para levar odinheiro de volta aos Estados Unidos.

Outra explicação para a redução do preço das ações das empresas brasileiras está ligada

ao próprio processo que deu início à crise. Observe que os títulos que entraram em criseforam justamente os títulos classificados com o mais alto coeficiente pelas agências declassificação. Ora, os títulos das empresas brasileiras não recebem, nem de longe (salvoalguma exceção), uma classificação como essa.

Sabendo que os títulos de classificação máxima faliram, o que as pessoas irão pensar? Queos títulos de classificação inferior vão entrar em falência também. Então, executam ordemde vendas das ações por recearem sofrer qualquer outro efeito da crise. O resultado disso éjustamente uma queda arrasadora nos preços das ações brasileiras.

Logo, a alternativa c está incorreta.A letra b diz que haverá uma valorização do real em relação ao dólar, caso o regime

cambial brasileiro seja de câmbio fixo. Note que nessa alternativa há uma inconsistênciateórica. Se o câmbio é fixo, ele não pode sofrer valorizações ou desvalorizações, salvo se ogoverno assim o quiser. Como não há qualquer indicação de que o governo queira, essaalternativa não está correta.

Logo, nos resta, como alternativa correta, a letra a, que afirma que haverá umadesvalorização do real em relação ao dólar, caso o regime cambial brasileiro seja decâmbio flutuante. O que é verdade. Reunindo tudo que afirmamos anteriormente, se omundo estiver mais pobre, as pessoas irão retirar o seu dinheiro de mercados menosconsolidados, como o Brasil, e, com isso, do lado financeiro, o preço das ações irá desabar.Como as pessoas não podem, simplesmente, pegar os seus reais e sair do país, irão aomercado cambial demandar dólares. E assim, através de uma força entre demanda e oferta,mais reais serão ofertados e mais dólares serão demandados. E o resultado é umadesvalorização da moeda nacional, vista durante a crise de 2008.

Gabarito: Letra a.

3. (FCC – Metrô – Economia – Analista Trainee – 2010) A crise financeira internacional, fortemente vivenciada pelosEstados Unidos em 2008 em seu mercado de hipotecas, provocou o renascimento do interesse pela teoriaeconômica desenvolvida pelo economista.a) John Stuart Mill.b) John Maynard Keynes.c) Jean Baptiste Say.d) Adam Smith.e) Karl Marx.

Comentários:Essa é SUPERINTERESSANTE!Como a crise de 2008 suscitou uma maior presença do governo na economia, essa

premissa vai exatamente na mesma linha da resposta que havia sido dada pelo economistaJ.M. Keynes para a crise de 1929. Assim, toda vez que se falar de uma maior presença dogoverno na economia, estaremos falando, necessariamente, da economia keynesiana.

Gabarito: Letra b.

4. (FGV – Sefaz-RJ – Auditor Fiscal da Receita Estadual – 2011) A crise mundial de 2008 atingiu a economia brasileirano último trimestre do mesmo ano, causando uma queda de produto de 2,7% em relação ao trimestre anterior.Nessa situação, qual combinação de política monetária e fiscal deve ser adotada?a) Política monetária expansionista com redução da Selic e fiscal contracionista com redução do IPI.b) Política monetária expansionista com elevação das reservas compulsória e fiscal expansionista com redução do

IPI.c) Política monetária expansionista com redução da Selic e fiscal expansionista com elevação dos gastos do governo.d) Política monetária contracionista com redução da Selic e fiscal contracionista com redução do IPI.e) Política monetária expansionista com redução da Selic e fiscal contracionista com redução do IPI.

Comentários:A crise de 2008 obrigou o governo brasileiro a adotar uma série de medidas

expansionistas com o objetivo de reduzir os efeitos da crise internacional.Nesse sentido, quando se ouvir falar na crise de 2008, teremos que lembrar,

necessariamente, de políticas de aumento de renda. Dessa forma, as alternativas a, d e e nãosão verdadeiras.

No que diz respeito à letra b, observe que a questão fala de política fiscal expansionistacom elevação das reservas compulsórias. Ora, quando há um aumento nessas reservas, ogoverno está fazendo políticas retracionistas e não expansionistas.

Dessa forma, a alternativa correta é a letra c. O governo reduziu a Selic e aumentou osseus gastos. Podemos dizer ainda que o governo também reduziu o IPI dos automóveis e doseletrodomésticos.

Gabarito: Letra c.

Referências Bibliográficas

ACEMOGLU, D., AGHION P., ZILIBOTTI, F. Distance to frontier, selection, and economic

growth. Working Paper no. 9.066. National Bureau of Economic Growth.ALEXANDER, C. Model of markets, BM&F, 2007.BAGEHOT, W. Lombard street, 1962 ed. Irwin, Homewood, IL, 1873.BAER, W., A economia brasileira, Editora Nobel, 2009.BARNHILL, T., SOUTO, M. R. Stochastic volatilities and correlations, extreme values andmodeling the financial and economic environment under which brazilian banks operate,IMF Working Paper, 2007.

BARNHILL, T., MAXWELL, W. “Modeling correlated interest rate, exchange rate, andcredit risk in fixed income portfolios”, Journal of Banking and Finance 26, 347-374, 2002.

BARNHILL, T., PAPAPANAGIOTOU, P. e SOUTO, M. R. “Preemptive strategies for theassessment and management of financial system risk levels: an application to Japan withimplications to emerging economies”. Review of Pacific-Basin Financial Markets andPolicies 7 (1), 1-42, 2004.

BARNHILL, T., PAPAPANAGIOTOU, P. e SCHUMACHER, L. measuring integrated marketand credit risk in bank portfolios: an application to a set of hypothetical banks operating inSouth Africa, Financial Markets, Institutions, and Instruments, forthcoming.

BBC Londres (2011), crédito cria ‘fachada de prosperidade’ no Brasil, diz financial times,18 de maio. Página consultada em 20 de abril de 2012.http://economia.estadao.com.br/noticias/economia,credito-cria-fachada-de-prosperidade-no-brasil-diz-financial-times,67493,0.htm.

BANCO CENTRAL, www.bc.gov.br. Acessado em 15 de janeiro de 2012.BLACKBURN, K., HUNG. Y. “A theory of growth, financial development and trade”.Econômica 65, 104-124, 1998.

BIRCHLER, U., BÜTLER. M. Information economics. Routledge Press, 2007.BMF & BOVESPA, www.bovespa.com.br. Acessado em 15 de janeiro de 2012.CANUTO, O., LIMA. G., “Price stability and banking sector distress in Brazil after 1994”. Riode Janeiro: UERJ, Instituto de Economia, Texto para discussão 388, 1996.

CORRAR, J., PAULO, E., DIAS FILHO, E. Análise multivariada: para os cursos deadministração, ciências contábeis e economia, 2007.

CAVALCANTI, T., VILLAMIL, A. On the welfare and distributional implications of

intermediation costs. Anais do X Encontro Regional de Economia do Nordeste, Fortaleza,2005.

CHERUBINE, G., DOWBOR, L. “O mapa da crise financeira”. Le Monde Diplomatique,jan/2009.

DEMIRGÜÇ-KUNT, A., DETRAGIACHE, E., The determinants of baking crises: evidencefrom developing and developed countries. IMF Working Paper, 1997.

DIAMOND, D. V. DYBVIG, P. “Bank Runs, Deposit Insurance, and Liquidity”. Journal ofPolitical Economy 91 (3), 401-419, 1983.

ELSINGER, H., LEHAR, A., SUMMER, M. Risk assessment for banking systems, WorkingPaper, University of Vienna, 2003.

FEIJÓ, C., Contabilidade social. Editora Campus, 2004.FERGUSON, C., Inside job, 02 de fevereiro, DVD, 2010.FERREIRA, R. Matemática financeira aplicada. Editora Atlas, 2008.FILGUEIRAS, C., Manual de contabilidade bancária, Editora Campus, 2010.FREITAS, M. Os efeitos da crise global no Brasil: aversão ao risco e preferência pela liquidezno mercado de crédito, Estudos Avançados, 2009.

FRASCAROLI, B., COSTA SILVA, L., SILVA FILHO, O. (2009). “Os ratings de risco soberanoe os fundamentosmacroeconômicos dos países: um estudo utilizando redes neuraisartificiais”, Revista Brasileira de Finanças, vol. 7, nº1, pp 73-106.

FROUFE, C. (2011), Cade aprova compra do Panamericano pelo BTG Pactual, 04 de maio.Página consultada em 20 de abril de 2012.http://economia.estadao.com.br/noticias/negocios+geral,cade-aprova-compra-do-panamericano-pelo-btg-pactual,65479,0.htm.

FUCIDJI, J., MENDONÇA, D. Determinantes do crédito bancário: uma análise com dadosem painel para as maiores instituições. Anais do XII Encontro Regional de Economia doNordeste, Fortaleza, 2007.

GALETOVIC, A. “Specialization, intermediation and growth”. Journal of MonetaryEconomics 38, 549-559, 1996.

GATELY, E. Neural networks for financial forecasting. John Wiley & Sons, Inc, United States,1996.

GIAMBIAGI, Fábio e VILLELLA, André. Economia brasileira contemporânea. Ed. Campus.GOLDSMITH, R. Financial structure and development. Yale University Press, New Haven,CT, 2010.

GORTON,G., Banking panic and business cycles. Oxford Economic Papers, 1988.GREMAUD, A. Economia brasileira contemporânea. Ed. Atlas.GURLEY, J., SHAW, E. “Financial aspects of economic development”. American EconomicReview, 45, 515-538, 1955.

HALL, M., MULJAWAN, D., SUPRAYOGI & MOORDENA, L., Using the artificial neuralnetwork (ANN) to assess bank credit risk: a case study of Indonesia, LoughboroughUniversity, Working Paper, 2008.

HALL, M., MULJAWAN, D., SUPRAYOGI & MOORDENA, L., Using the artificial neuralnetwork (ANN) to assess bank credit risk: a case study of Indonesia, LoughboroughUniversity, Working Paper, 2008.

HARDY, D. C., PAZARBASIOGLU, C. Leading indicatores of banking crises: was Asiadifferent? Washington: International Monetary Fund, 1998. (IMF Working Paper, n. 91.)

HAUSMANN, R., The roots of banking crises: the macroeconomic context. Inter-AmericanDevelopment Bank, Working Paper 318, 1996.

JANOT, M., Modelos de previsão de insolvência bancária no Brasil. Trabalhos paraDiscussão nº 13, Brasília: Banco Central do Brasil, 2001.

KING, R., LEVINE, R. “Finance and growth: Schumpeter might be right”. Journal ofMonetary Economics 108, 717-738, 1993.

KRUGMAN, P. Introdução à economia, Editora Campus, 2008.LAFFONT, J., MARTIMORT, D. The theory of incentives – the principal-agent model,Princeton University Press, 2002.

LEVINE, R., “Finance and Growth: Theory and Evidence”. In.: AGHION, P., DURLAUF, S.(Ed.). Handbook of economic growth, vol. 1A. Elsevier, 2005.

LI, Z., ZHAO, X. Macroeconomic effect in corporate default. Department of Economics,York University, 2006.

LUCAS, R. “On the mechanisms of economic development”. Journal of MonetaryEconomics. 22, 3-42, 1988.

MCKINNON R. Money and capital in economic development. Brooking Institution,Washington DC, 1973.

MCNELIS, P., Neural networks in finance: gaining predictive edge in the market, ElsevierAcademic Press, 2005.

MEIER, G., SEERS, D., Pioneers in development. Oxford University Press, New York,MILLER, M. “Financial markets and economic growth”. Journal of Applied CorporateFinance 11, 8-14, 1998.

MORALES, F. “Financial intermediation in a model of growth through creative destruction”.Macroeconomics Dynamics 7, 363-393, 2003.

MOREIRA, T., “Fatores determinantes de crises cambiais e bancárias”. Revista Econômica doNordeste, Fortaleza, v. 33, n. 2, 2002.

ROCHA, F., “Previsão de Falência Bancária: Um modelo de risco proporcional”. Pesquisa e

Planejamento Econômico¸ Rio de Janeiro, v. 29. no 1, abril, 1999.ROCHET, J-C; TIROLE, J. “Inter-bank Lending and Systemic Risk”, Journal of Money,

Credit, and Banking 28 (4), 733-762, 1986.RUMELHART, D. E., MCCLELLAND, J., Parallel Distributed Processing, vol. 1, MIT Press,1986.

SAMUELSON, P., NORDHAUS, W. Economics. Berkeley Publication, 1991.SCHUMPETER, J., Die Theorie der Wirschaftlichen Entwicklung, 1911.SILVA, E., PORTO JÚNIOR, S., Sistema financeiro e crescimento econômico: uma aplicaçãode regressão quantílica. Anais do IX Encontro Regional de Economia do Nordeste,Fortaleza, 2004.

STIGLITZ, J., GREENWALD, B. Rumo a um novo paradigma em economia monetária.Tradução por Laura Knapp e Cecília Camargo Bartalotti. Tradução de: Towards a newparadigm in monetary economics. Ed. Francis, São Paulo – SP, 2004.

STIGLITZ, J. E. “Some aspects of the pure theory of corporate finance: bankruptcies andtakeovers”. Bell Journal of Economics, v. 3, p. 458-82, l972.

VIEIRA, A. Avaliação de insolvência no sistema bancário: uma aplicação para o casobrasileiro. UFPE, Dissertação de Mestrado, 2010.

WHALEN, G. “A proportional hazards model of bank failure: an examination of itsusefulness as an early warning tool”. Economic Review, Federal Reserve Bank of Cleveland,First Quarter, p. 21-31, 1991.

Notas

Capítulo 11 Figura disponível em: http://talleyrandezvous.jimdo.com/3%C3%A8me/histoire/.2 De acordo com Rossetti (2010), sistemas econômicos são arranjos historicamente constituídos, a partir dos quais osagentes econômicos são levados a empregar recursos e a interagir via produção, distribuição e uso dos produtos gerados,dentro de mecanismos institucionais de controle e de disciplina, que envolvem desde o emprego dos fatores produtivos atéas formas de atuação, as funções e os limites de cada um dos agentes.3 Figura inspirada no diagrama do fluxo circular da riqueza expandido do livro Introdução à economia, de Paul Krugman.4 O mercado financeiro é formado por quatro segmentos de mercado:1. mercado de crédito: destinado, prioritariamente, a fornecer recursos financeiros para as famílias;2. mercado de capitais: destinado, fundamentalmente, à emissão de crédito para capital de giro das empresas;3. mercado monetário: utilizado pelo governo para emitir moeda e fazer política monetária;4. mercado cambial: utilizado para a conversão entre a moeda nacional e as demais moedas estrangeiras.5 Agradeço, em especial, ao Prof. Heber Carvalho por ter sido fonte de inspiração neste capítulo. Os meus agradecimentosmais profundos.

Capítulo 21 A. Gremaud, Economia brasileira contemporânea.2 Retirada do site do jornal O Estado de S. Paulo. Disponível em:http://economia.estadao.com.br/noticias/economia,gastos-dos-governos-caem-em-ritmo-recorde-no-4-tri-de-2011-diz-ocde,108557,0.htm. Acesso em: 5/4/20123 Para que você entenda esse “economês”, dizemos que os bancos comerciais (como o Itaú, o Bradesco etc.) criam moedaquando fazem empréstimos. Isso não quer dizer que podem imprimir moeda. Não, eles não podem. O único órgão quepode fazer isso é o Banco Central, através da Casa da Moeda. O funcionamento dessa criação de moeda pelos bancoscomerciais é chamado multiplicador bancário.

Capítulo 81 Para saber mais sobre a crise de 2008, assista ao documentário: Inside Job.2 Segundo a Bovespa, derivativos são instrumentos financeiros que têm seus preços derivados (daí o nome) do preço demercado de um bem ou de outro instrumento financeiro. Por exemplo, o mercado futuro de petróleo é uma modalidadede derivativo cujo preço é referenciado dos negócios realizados no mercado à vista de petróleo, seu instrumento dereferência. No caso de um contrato futuro de dólar, ele deriva do dólar à vista; o futuro de café, do café à vista, e assim pordiante.3 O documentário Trabalho Interno (Inside Job) foi premiado no Oscar de 2011.