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SÉRIE QUESTÕES CONCURSOS Inclui questões de provas para , Anpec, IRB e MPOG. Receita Federal Inclui questões de provas para , Anpec, IRB e MPOG. Receita Federal 125 questões comentadas de provas e concursos ECONOMIA BRASILEIRA Da Primeira República ao Plano Real Fernando Soares Fernando Soares

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Economia

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  • S R I E Q U E S T E S

    C O N C U R S O S

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    Anpec, IR

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    Anpec, IR

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    al

    125 questes comentadasde provas e concursos

    ECONOMIA BRASILEIRA

    Da Primeira Repblica

    ao Plano Real

    Fe r n a n d o S o a r e sFe r n a n d o S o a r e s

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  • S R I E Q U E S T E S

    C O N C U R S O S

    125 questes comentadasde provas e concursos

    ECONOMIA BRASILEIRA

    Da Primeira Repblica

    ao Plano Real

    Fe r n a n d o S o a r e s

  • CIP-Brasil. Catalogao-na-fonte.Sindicato Nacional dos Editores de Livros, RJ

    _________________________________________________________________________

    _________________________________________________________________________

    S652eSoares, Fernando Antnio Ribeiro Economia brasileira [recurso eletrnico]: questes / Fernando Antnio Ribeiro Soares. Rio de Janeiro: Elsevier, 2012. recurso digital Formato: PDF Requisitos do sistema: Adobe Acrobat Reader Modo de acesso: World Wide Web ISBN 978-85-352-5598-0 (recurso eletrnico) 1. Economia Brasil Histria. 2. Brasil Codies econmicas. 3. Economia Problemas, questes, exerccios. 4. Servio pblico Brasil Concursos. 5. Livros eletrnicos. I. Ttulo. II. Srie.

    11-7626 CDD: 330.981CDU: 338.1(81)

    2012, Elsevier Editora Ltda.

    Todos os direitos reservados e protegidos pela Lei no 9.610, de 19/02/1998.Nenhuma parte deste livro, sem autorizao prvia por escrito da editora, poder ser reproduzida ou transmitida sejam quais forem os meios empregados: eletrnicos, mecnicos, fotogrficos, gravao ou quaisquer outros.

    Reviso: Hugo de Lima CorreaEditorao Eletrnica: SBNigri Artes e Textos Ltda.

    Coordenador da Srie: Sylvio Motta

    Elsevier Editora Ltda.Conhecimento sem FronteirasRua Sete de Setembro, 111 16o andar20050-006 Centro Rio de Janeiro RJ Brasil

    Rua Quintana, 753 8o andar04569-011 Brooklin So Paulo SP Brasil

    Servio de Atendimento ao [email protected]

    ISBN 978-85-352-5598-0 (recurso eletrnico)

    Nota: Muito zelo e tcnica foram empregados na edio desta obra. No entanto, podem ocorrer erros de digitao, impresso ou dvida conceitual. Em qualquer das hipteses, solicitamos a comunicao ao nosso Servio de Atendimento ao Cliente, para que possamos esclarecer ou encaminhar a questo.

    Nem a editora nem o autor assumem qualquer responsabilidade por eventuais danos ou perdas a pessoas ou bens, originados do uso desta publicao.

  • Dedicatria

    minha me (in memoriam)

  • pgina deixada intencionalmente em branco

  • Agradecimento

    Agradeo, sobretudo, minha esposa, Ana Cristina, e milha filha, Vitria, que me

    deram o suporte emocional necessrio para que eu pudesse concluir esta obra. Alm disso,

    agradeo o imenso companheirismo por elas devotado a mim. Agradeo tambm aos meus

    pais, Alpio e Maria de Lourdes (in memoriam), que me deram os primeiros ensinamentos

    e tanto me ajudaram na minha formao profissional. Aos meus amigos, que no pretendo

    cit-los, tendo em vista o risco de cometer alguma injustia, que participaram a partir de

    um mero apoio afetivo ou mesmo contriburam nas discusses de elementos que viriam

    a constituir o presente livro. Aos meus alunos, que, com as diversas discusses em sala

    de aula, propiciaram sobremaneira o engrandecimento desta obra. Por fim, agradeo

    Raquel Zanol, editora da Campus/Elsevier, que vem apoiando fortemente nosso trabalho

    frente Editora.

  • pgina deixada intencionalmente em branco

  • O Autor

    Fernando Antnio Ribeiro Soares

    Graduado em Economia pela Universidade Federal de Minas Gerais. Mestre e Doutor

    em Economia pela Universidade de Braslia. Com 14 anos de experincia em instituies

    de ensino superior, atualmente leciona em curso preparatrio para a carreira de diploma-

    cia (Instituto de Relaes Internacionais O Diplomata), onde professor das disciplinas

    Noes de Economia e Formao Econmica do Brasil. servidor pblico federal da

    carreira de Especialista em Polticas Pblicas e Gesto Governamental do Ministrio do

    Planejamento, Oramento e Gesto. autor de diversos artigos publicados em revistas

    nacionais e internacionais.

  • pgina deixada intencionalmente em branco

  • Apresentao da Obra

    Este livro de exerccios vem a complementar o j publicado Economia Brasileira: da

    Primeira Pblica ao Plano Real.1 Os exerccios resolvidos, em grande medida, so aqueles

    apresentados no livro terico lanado em 2010. Surge, portanto, uma concluso natural:

    trata-se de obras complementares, em que o primeiro d as bases tericas para as aplicaes

    deste que ora se publica. Sua estrutura compreende as disciplinas Formao Econmica

    do Brasil,2 Economia Brasileira e Economia Brasileira Contempornea, que so lecionadas

    tanto em cursos universitrios de economia quanto de outras reas, tais como adminis-

    trao de empresas, relaes internacionais, cincias contbeis, cincias sociais e histria.

    Alm da importncia em diversos cursos de graduao, sua leitura representa material

    de primeira necessidade para os diversos postulantes s carreiras pblicas. Neste quesito,

    pode-se dizer que este livro aplica-se aos candidatos ao Instituto Rio Branco (Itamaraty),

    bem como aos candidatos das carreiras de Especialista em Polticas Pblicas e Gesto

    Governamental (EPPGG), do Ministrio do Planejamento, Oramento e Gesto (MPOG);

    Analista de Planejamento e Oramento (APO), tambm do Ministrio do Planejamento;

    Analista do Tesouro Nacional e Auditor da Receita Federal, ambos do Ministrio da

    Fazenda; dentre outras. Ademais, os exerccios resolvidos neste trabalho tambm so

    fundamentais para aqueles que desejam fazer mestrado em economia, ou seja, este livro

    preparatrio da matria economia brasileira cobrada nos exames da Associao Nacional

    de Ps-Graduao em Economia (Anpec).

    Feitas as consideraes acerca de sua aplicabilidade, importante discutir sua meto-

    dologia e evoluo ao longo dos captulos. Metodologicamente, como este livro no se

    destina apenas a estudantes de economia, fundamental que sejam criadas as bases para

    o entendimento da economia para, posteriormente, apresentar a evoluo da histria

    econmica brasileira. Neste livro, como no publicado anteriormente, buscou-se aplicar

    1 Fernando Antnio Ribeiro Soares. 2010. Economia Brasileira: da Primeira Repblica ao Plano Real. Rio de Janeiro: Campus/Elsevier. 2 Inicia-se, porm, com a Repblica no ano de 1889.

  • um linguajar diferente da tradicional complexidade vista na rea. Para tanto, ao longo do

    texto, alm do contedo terico atinente aos exerccios, foram construdos quadros em

    que so tratados elementos de economia do setor pblico, economia monetria, histria

    econmica geral, macroeconomia, macroeconomia aberta, dentre outros.

    Quanto a sua estrutura e evoluo, buscou-se neste trabalho resolver exerccios que

    abarcam quase toda a histria republicana do pas. Sua anlise se estendeu, portanto, de

    1889 a 2000. Os exerccios resolvidos de Economia Brasileira: da Primeira Repblica ao

    Plano Real, como coloca o prprio ttulo, apresentam, passo a passo, a evoluo econmica

    do Brasil. Inicia-se com a proclamao da Repblica e os eventos a ela relacionados. Traz

    exerccios dos dois perodos Getulio Vargas e a construo do Estado nacional, sendo os

    mesmos intercalados pelo governo Dutra. Consideraes sobre o interregno Caf filho

    so feitas como uma prvia para a anlise do governo Juscelino Kubitscheck e seu Plano

    de Metas. Em seguida, discute-se o conturbado perodo de Jnio Quadros e Joo Goulart

    at a deposio do governo civil pelos militares.

    As vrias aes desenvolvidas nos governos militares tambm so objeto de questes.

    So discutidos o Programa de Ao Econmica do Governo (Paeg) e as reformas institu-

    cionais estabelecidos no governo Castelo Branco; o Milagre Econmico, que mostrou a

    possibilidade de altas taxas de crescimento com estabilidade macroeconmica, durante

    os governos Costa e Silva e Mdici; o II PND (Plano Nacional de Desenvolvimento) e a

    tentativa do governo Geisel de superar os efeitos do Primeiro Choque do Petrleo; e, por

    fim, aps anos de fortes taxas de crescimento, o ajuste externo e a crise da dvida que

    marcaram o governo Figueiredo.

    Findo o regime militar, no ano de 1985, so trazidos exerccios e discusses sobre a

    Nova Repblica. So tratados os aspectos econmicos da redemocratizao e o governo

    Sarney com seus diversos planos de estabilizao: Cruzado, Cruzado II, Bresser e Vero.

    Tm enfoque as tentativas (frustradas) de superao do crnico processo inflacionrio

    brasileiro. Em seguida so apresentadas questes sobre o governo Collor e seus dois

    pilares: a continuidade na busca do combate inflao, apoiada nos Planos Collor I e II,

    e a reforma do Estado, marcada pela liberalizao comercial e financeira e pelo processo

    de privatizao.

    Como o ltimo elemento, so elaborados exerccios sobre os governos Itamar Franco

    e Fernando Henrique Cardoso e a perspectiva do Plano Real. So analisadas as medidas

    prvias instalao do Plano, a prpria instalao do Plano e sua evoluo. Merecem

    exerccios especiais a adoo da ncora cambial e os diversos choques a que ela foi aco-

    metida. Os ltimos exerccios se voltam para a discusso da crise de janeiro de 1999, a

    flutuao cambial e a inaugurao do modelo de metas para inflao.

  • ndice de Tabelas

    Tabela 1 Produto Interno Bruto (PIB) indstria variao real anual

    (% ao ano 1901 a 1930) .........................................................................9

    Tabela 2 Produto Interno Bruto (PIB) indstria variao real anual

    (% ao ano 1930 a 1947)........................................................................... 14

    Tabela 3 Taxa de Juros Real (% 1951 a 1965) ....................................................50

    Tabela 4 Produto Interno Bruto (PIB) variao real anual (% ao ano

    1960 a 1965) ...........................................................................................56

    Tabela 5 Produto Interno Bruto (PIB) e PIB do Setor Agropecurio variao

    real anual (% ao ano 1960 a 1965) ......................................................59

    Tabela 6 Resultado do Balano de Pagamentos (US$ milhes 1960 a 1965) .......61

    Tabela 7 Dvida Externa (US$ milhes 1960 a 1990) ..........................................77

    Tabela 8 Saldo em Conta de Transaes Correntes e Reservas Internacionais

    (US$ milhes 1960 a 1990) ..................................................................80

    Tabela 9 Saldo da Balana Comercial e Conta de Transaes Correntes

    (US$ milhes 1960 a 1990) ................................................................100

    Tabela 10 Saldo da Balana de Servios e de Renda (US$ milhes 1970 a 2000) .101

    Tabela 11 Exportaes, Importaes e Saldo da Balana Comercial

    e Conta de Transaes Correntes (US$ milhes 1970 a 2000) .............112

    Tabela 12 Necessidade de Financiamento do Setor Pblico Operacional

    (% do PIB 1990 a 1999) .....................................................................130

    Tabela 13 Exportaes, Importaes e Saldo da Balana Comercial e Conta

    de Transaes Correntes (US$ milhes 1980 a 2000) ..........................144

  • pgina deixada intencionalmente em branco

  • Sumrio

    Captulo 1 a primeira repbliCa (1889-1930) ................................................. 1

    Captulo 2 primeiro governo getulio vargas (1930-1945) ........................... 11

    Captulo 3 o governo Dutra (1946-1950) ................................................... 23

    Captulo 4 segunDo governo De getulio vargas (1951-1954) ...................... 31

    Captulo 5 o interregno Caf filho (1954-1955) ........................................ 39

    Captulo 6 JusCelino KubitsCheK e o plano De metas (1956-1960) ................ 45

    Captulo 7 Jnio QuaDros e Joo goulart (1961-1964) ................................ 55

    Captulo 8 programa De ao eConmiCa Do governo paeg (1964-1967) .... 63

    Captulo 9 milagre eConmiCo (1968-1973) ................................................ 75

    Captulo 10 ii pnD (1974-1978) ................................................................... 87

    Captulo 11 o governo figueireDo e o aJuste externo (1979-1980) ............... 97

    Captulo 12 a Crise Da DviDa (1981-1984) ................................................. 105

    Captulo 13 o governo sarney e a busCa Da estabilizao monetria

    (1985-1989) .............................................................................. 117

    Captulo 14 o governo Collor (1990-1992) ................................................ 129

    Captulo 15 o plano real ............................................................................ 139

    refernCias bibliogrfiCas .................................................................................. 153

  • pgina deixada intencionalmente em branco

  • Captulo

    1A Primeira Repblica (1889-1930)

    1. (Anpec 2010) No que concerne ao Modelo Primrio-Exportador e expanso

    industrial antes de 1930, correto afirmar que a substituio de importaes

    nos ramos industriais j existentes era mais fcil quando havia depreciao do

    mil-ris, mas a diversificao dos investimentos para novos ramos industriais

    era desestimulada.1

    Comentrio:Deve-se nesta questo entender o efeito da variao da taxa de cmbio sobre as

    importaes. Uma depreciao do mil-ris, que corresponde a um aumento da taxa de cmbio,2 se traduz numa maior competitividade dos produtos produzidos domes-ticamente. De outra forma, houve uma reduo dos preos das mercadorias brasileiras em relao s mercadorias importadas. Pode-se considerar a seguinte expresso para a taxa de cmbio real, que apresenta a relao entre os preos nacionais e estrangeiros:

    = = MeP* PP P

    (1)

    onde a taxa de cmbio real; e a taxa de cmbio nominal; P* so os preos das mercadorias importadas; P so os preos das mercadorias produzidas domesticamente; e P

    M so os preos das mercadorias importadas em moeda domstica.

    Uma desvalorizao do mil-ris, que equivale na equao (1) a um aumento no valor de e, mantendo-se tudo o mais constante, ir produzir um aumento da taxa de cmbio real ( ). Este aumento na taxa de cmbio real significa um aumento dos preos das mercadorias importadas relativo aos preos das mercadorias produzidas

    1 Anpec Associao Nacional de Ps-Graduao em Economia. Exame nacional de seleo para os candidatos a curso de mestrado em economia. 2 H a necessidade de uma maior quantidade de moeda domstica para comprar uma unidade de moeda estrangeira.

  • Srie Questes: Economia Brasileira: Da Primeira Repblica ao Plano Real2 ELSEVIER

    domesticamente. Com isso, h um encarecimento dos bens importados. Como os consumidores tentaro realizar a substituio dessas mercadorias importadas, excludas do consumo pelo maior preo, por mercadorias produzidas domesti-camente, haver naturalmente um estmulo produo nacional. Isso ocorreria particularmente nos ramos industriais j existentes, ou seja, nos ramos industriais que j contassem com alguma capacidade instalada, que, a partir do estmulo da demanda domstica, passariam a ampliar seus nveis de produo.

    Na outra ponta, deve-se discutir por que a depreciao cambial no estimulou a diversificao dos investimentos para novos ramos industriais. A diversificao da in-dstria se traduz na instalao de novos ramos industriais. Para tanto, so necessrias novas mquinas, equipamentos e bens de capital. Como as importaes eram dificul-tadas quando da ocorrncia de depreciaes cambiais as mercadorias importadas tornavam-se mais caras , no eram obtidos as citadas mquinas, os equipamentos e os bens de capital necessrios ao desenvolvimento de novas indstrias.

    Gabarito: Verdadeira.

    2. (Anpec 2010) Ainda no que concerne ao Modelo Primrio-Exportador e expan-

    so industrial antes de 1930, correto afirmar que o desenvolvimento do setor

    exportador implicou um processo de urbanizao e impulsionou significativa-

    mente o desenvolvimento da indstria de bens de capital.

    Comentrio:Efetivamente o crescimento do setor exportador, representado no sculo XIX e no

    perodo anterior Revoluo de 1930 pelo setor cafeeiro, implicou um processo de urbanizao da sociedade brasileira. Isso pode ser verificado a partir dos comentrios de Gremaud, Saes e Toneto Jr. (1997, p. 52):

    Embora a atividade agrcola seja o ncleo da economia cafeeira, seria um engano imagin-la como uma sociedade estritamente rural. A economia cafeeira gerou ampla diversificao da atividade econmica (antes mes-mo do desenvolvimento da indstria) de modo a estimular a expanso das cidades. (...)A diversificao da economia ampliou-se com a construo das estradas de ferro. As dificuldades e o custo do transporte de mulas estimularam a construo de ferrovias. (...) Formaram-se, ento, empresas nacionais que ocuparam progressivamente o interior paulista (como a Companhia Paulista, a Mojiana, a Sorocabana, a Ituana, a Bragantina, a Rio Claro, a Araraquarense e, j no comeo do sculo XX, a Noroeste e outras

  • 3Captulo 1: A Primeira Repblica (1889-1930)CAMPUS

    de menor expresso). A maior parte dessas empresas formou-se com capitais nacionais, originrios da atividade rural ou do comrcio e teve algum impacto sobre o processo de urbanizao. Suas sedes e oficinas localizaram-se em ncleos urbanos (como Jundia, Campinas, Rio Claro, Sorocaba), criando novos empregos e estimulando a economia dessas cidades. Em particular, a capital da ento Provncia a cidade de So Paulo foi beneficiada pelo surto ferrovirio, pois ela adquiriu um novo carter: alm de ser o centro administrativo provincial, muitos fazen-deiros vieram a residir na capital (pois agora, com a ferrovia, era fcil o deslocamento at suas fazendas no interior). (...)

    Como pode se depreender da leitura dos trechos anteriores, efetivamente o desen-volvimento do setor exportador levou urbanizao da sociedade brasileira. Porm, no que tange segunda afirmativa da questo, a resposta no to conclusiva.

    De fato, o desenvolvimento do setor exportador, segundo a tica da industrializao liderada pelas exportaes, descrita por Suzigan (2000), permitiu a industrializao da economia brasileira. De acordo com esta tese, estabelecida uma relao direta entre o desempenho do setor exportador e o desenvolvimento industrial, em que a indstria se desenvolveria durante os perodos de bom desempenho das exportaes e retrairia durante os perodos de crise do setor exportador. Na prtica, considera-se que os recursos acumulados no setor exportador financiariam as atividades industriais.

    No entanto, a tica da industrializao liderada pelas exportaes no uma unanimidade entre os historiadores econmicos. Alguns historiadores defendem a teoria dos choques adversos, em que a industrializao ocorria nos momentos de crises externas que diminuam a capacidade de importar da economia. Porm, o elemento mais contundente para afirmar a falsidade da questo refere-se ao de-senvolvimento do setor produtor de bens de capitais com base no crescimento do setor exportador.

    O caf apoiou a diversificao e a instalao de novos setores na economia brasi-leira, inclusive de alguns setores industriais. Entretanto, o incio da industrializao foi marcado por investimentos com predominncia no setor de bens de consumo no durveis ou bens de consumo leves, como deve ser feito no incio de um processo de industrializao, e no no de bens de capital. Colocando em outros termos, no incio da industrializao de uma economia deve-se instalar primeiramente os setores me-nos complexos, tal como o citado setor produtor de bens de consumo no durveis. A instalao de setores complexos como o de bens de capital requer a existncia de uma base industrial pr-instalada.

    Gabarito: Falsa.

  • Srie Questes: Economia Brasileira: Da Primeira Repblica ao Plano Real4 ELSEVIER

    3. (Anpec 2010) Dentre as anlises tradicionais a respeito da crise da economia

    cafeeira e do crescimento industrial do Brasil, destaca-se a de Celso Furtado.

    Segundo esse autor havia uma tendncia de longo prazo de queda nos preos do

    caf, impulsionada pela disponibilidade de mo de obra e terras subocupadas,

    e tambm pela maior rentabilidade relativa do produto, que atraa os capitais

    formados no pas.

    Comentrio:

    A questo pode ser respondida conforme os prprios dizeres de Celso Furtado

    (1975, p. 177):

    A elasticidade da oferta de mo de obra e a abundncia de terras, que

    caracterizavam os pases produtores de caf, constituam clara indicao

    de que os preos desse artigo tenderiam a baixar a longo prazo, sob a ao

    persistente das inverses em estradas de ferro, portos e meios de transporte

    martimo que se iam avolumando no ltimo quartel do sculo passado. (...)

    No caso do Brasil, o produto que apresentava maior vantagem relativa era

    o caf. Enquanto o preo desse artigo no baixasse a ponto de que aquela

    vantagem desaparecesse, os capitais formados no pas continuariam acor-

    rendo para a cultura do mesmo. Portanto, era inevitvel que a oferta de

    caf tendesse a crescer, no em funo do crescimento da procura, mas sim

    da disponibilidade de mo de obra e terras subocupadas, e da vantagem

    relativa que apresentasse esse artigo de exportao.

    Essa passagem de Furtado comprova o enunciado da questo. As vantagens compa-

    rativas apresentadas pelo Brasil na produo de caf, representada pela oferta elstica

    de mo de obra e de terras, faziam com que a rentabilidade deste produto em relao

    aos demais fosse superior. Consequentemente, a realizao de novos investimentos na

    produo cafeeira teria continuidade. A expanso da oferta, ento, trataria de reduzir

    no longo prazo os preos do produto.

    Gabarito: Verdadeira.

    4. (Anpec 2010) Ainda em relao anlise de Furtado a respeito da crise da eco-

    nomia cafeeira e do crescimento industrial do Brasil, pode-se considerar que a

    defesa da cafeicultura atravs da poltica de valorizao do produto, como no

    Convnio de Taubat, era um mecanismo que postergava a soluo do problema

    crnico de superproduo.

    Comentrio:O caf, conforme as anlises de Furtado, apresenta baixa elasticidade-renda da

    demanda. De outra forma, o aumento da renda no gera um aumento significativo da

  • 5Captulo 1: A Primeira Repblica (1889-1930)CAMPUS

    demanda por caf. Do lado da oferta, por outro lado, o Brasil mostrava uma grande elasticidade, ou seja, as condies apresentadas pelo pas favoreciam o crescimento da produo de caf.

    Dada a baixa elasticidade da procura, mas, por outro lado, a forte elasticidade da oferta, o mercado do caf tendia a apresentar desequilbrios estruturais, em que prevaleciam as crises de superproduo. Visando manter a rentabilidade setorial, o governo realizava sucessivas desvalorizaes cambiais. Com isso, reduzia-se o preo do produto em moeda estrangeira (aumento do poder de compra dos importadores), o que abria espao para o aumento da demanda externa.

    A desvalorizao cambial, no entanto, no age somente sobre as exportaes. Ela tambm apresenta efeitos sobre as importaes. Considerando que a economia brasileira ao final do sculo XIX e incio do XX importava uma parte considervel considervel dos bens manufaturados que consumia, as desvalorizaes cambiais, que buscavam manter a rentabilidade do setor cafeeiro, impunham grande nus aos consumidores urbanos na forma de inflao sobre os produtos industriais. Furtado (1975, p. 178), a respeito do assunto, afirma que os efeitos da crise de 1893 puderam ser absorvidos por meio de depreciao externa da moeda, a situa-o de extrema presso sobre a massa de consumidores urbanos, que j existia em 1897, tornou impraticvel insistir em novas depreciaes. (...) essa excessiva presso levou a uma crescente intraquilidade social e finalmente adoo de uma poltica tendente recuperao da taxa de cmbio.

    Dessa passagem, pode-se depreender que a poltica de defesa do setor cafeeiro, no incio do sculo XX, no poderia ter mais como instrumento a taxa de cmbio. A nova poltica se basearia na reteno de estoques do produto. Sua inaugurao se deu com o Convnio de Taubat, assinado em fevereiro de 1906. Seus princpios, segundo Furtado (1975, p. 179), eram os seguintes: a) com o fim de restabelecer o equilbrio entre oferta e procura de caf, o governo

    interviria no mercado para comprar os excedentes; b) o financiamento dessas compras se faria com emprstimos externos; c) o servio desses emprstimos seria coberto com um novo imposto cobrado em

    ouro sobre cada saca de caf exportado; d) a fim de solucionar o problema a mais longo prazo, os governos dos estados

    produtores deveriam desencorajar a expanso das plantaes. Da leitura dos princpios do Convnio de Taubat pode-se perceber a inconsis-

    tncia da poltica. Caso houvesse uma crise de superproduo, haveria interveno governamental no mercado mediante a compra de estoques. Ora, independentemente se pblica ou privada, seria criada demanda pela produo de caf. Os cafeicultores, dessa forma, manteriam a lucratividade decorrente da atividade a despeito do excesso

  • Srie Questes: Economia Brasileira: Da Primeira Repblica ao Plano Real6 ELSEVIER

    de oferta. Se se mantida a lucratividade, geram-se incentivos a novos investimentos na produo de caf. Logo, ter-se- novamente a expanso da produo e a criao de um cenrio propcio a novas crises de superproduo. Seria o que Soares (2010) chamou de processo endgeno de superproduo de caf.

    Gabarito: Verdadeira.

    5. (Anpec 2010) Novamente com relao anlise de Furtado a respeito da crise

    da economia cafeeira e do crescimento industrial do Brasil, pode-se considerar

    que o mercado cafeeiro era caracterizado por um desequilbrio estrutural entre

    oferta e demanda; esta ltima no crescia proporcionalmente elevao da renda

    disponvel para consumo nos pases importadores.

    Comentrio:De acordo com uma anlise de mercado, temos que o caf no Brasil se expandia

    devido a trs fatores: (i) oferta elstica de mo de obra; (ii) oferta elstica de terras; e (iii) maior rentabilidade do caf em relao a outras culturas. Conclui-se, portanto, que o Brasil apresentava vantagens comparativas na produo de caf. No bastassem os fatores ligados ao processo produtivo, a oferta tambm era dinamizada pela inter-veno do governo no mercado por meio das compra dos excedentes e formao de estoques, que teve incio com o Convnio de Taubat.3 Ambos os fatores contribuam sobremaneira para a expanso da oferta de caf.

    A demanda, por outro lado, no reagia grande expanso da oferta. Como afirma Furtado, o caf apresentava tanto uma baixa elasticidade-preo da demanda quanto uma baixa elasticidade-renda da demanda. Especificamente, Furtado (1975) comenta que a procura continuava a evoluir dentro das linhas tradicionais de seu comporta-mento. Contraa pouco nos perodos de depresso (ou recesso), mas tambm pouco se expandia nos momentos de grande crescimento econmico, o que confirma a assertiva colocada na questo. E ainda continua, no obstante a grande elevao de renda real, ocorrida nos pases industrializados no decnio dos 20, essa prosperidade em nada modificaria a dinmica prpria da procura de caf, a qual cresce lenta, mas firmemente com a populao e a urbanizao. Nos Estados Unidos, principal impor-tador, em que a renda real per capita aumentou cerca de 35 por cento no correr desse decnio, o consumo de caf se manteve em torno de 12 libras-peso por habitante, se bem que os preos no varejo se mantivessem estveis.

    Furtado (1975), ainda em relao ao desequilbrio entre a oferta e a demanda de caf, faz a seguinte afirmao:

    3 Furtado (1975) afirma que a reduo artificial da oferta, possibilitada pela compra dos excedentes, engendrava a expanso dessa mesma oferta, o que resultava na mera postergao de um problema estrutural de superproduo.

  • 7Captulo 1: A Primeira Repblica (1889-1930)CAMPUS

    Existia, portanto, uma situao perfeitamente caracterizada de dese-quilbrio estrutural entre oferta e procura. No se podia esperar um aumento sensvel da procura resultante de elevao da renda disponvel para consumo nos pases importadores. Tampouco se podia pensar em elevar o consumo desses pases baixando os preos. A nica forma de evitar enormes prejuzos para os produtores e para o pases exportador era evitar retirando do mercado parte da produo que a oferta se elevasse acima daquele nvel que exigia a procura para manter um con-sumo per capita mais ou menos estvel a curto prazo. Era perfeitamente bvio que os estoques que se estavam acumulando no tinham nenhuma possibilidade de ser utilizados economicamente num futuro previsvel. Mesmo que a economia mundial lograsse evitar nova depresso, aps a grande expanso dos anos 20, no havia nenhuma porta pela qual se pudesse antever a sada daqueles estoques, pois a capacidade produtiva continuava a aumentar. A situao que se criara era, destarte, absoluta-mente insustentvel.

    Tendo em vista as discusses apresentadas, em particular as consideraes retiradas de Furtado, confirma-se a tese de existncia de um desequilbrio estrutural entre a oferta e a demanda de caf, bem como a caracterizao da baixa elasticidade-renda da demanda pelo produto, em que o crescimento de sua demanda no acompanhava o ritmo de crescimento da economia. Logo, com a contnua ampliao da oferta, era inevitvel o surgimento de sucessivas crises de superproduo.

    Gabarito: Verdadeira.

    6. (Cespe IRB 2008) Julgue se a proposio verdadeira ou falsa. Na Repblica

    Velha, a desvalorizao cambial usada para proteger, em moeda nacional, os lu-

    cros do setor cafeeiro repassava, por meio da inflao, ao conjunto da sociedade

    as perdas do setor cafeeiro, o que resultou no que Celso Furtado denominou de

    socializao das perdas.4

    Comentrio:Quando ocorria uma baixa dos preos internacionais do caf ao longo do scu-

    lo XIX e no incio do XX, o governo recorria desvalorizao da taxa de cmbio como uma forma de compensar a perda no valor unitrio das exportaes por meio de uma expanso do quantum exportado. De outra forma, a desvalorizao da taxa de cmbio ao tornar os produtos produzidos domesticamente mais baratos em moeda estrangeira estimulava as exportaes de caf.

    4 IRB Instituto Rio Branco, Ministrio das Relaes Exteriores. Prova elaborada pelo Cespe Centro de Seleo e de Promoo de Eventos da Universidade de Braslia.

  • Srie Questes: Economia Brasileira: Da Primeira Repblica ao Plano Real8 ELSEVIER

    O resultado da desvalorizao da taxa de cmbio era, portanto, o barateamento das exportaes do caf em moeda estrangeira, estimulando as vendas externas desse produto, o que, por sua vez, limitava as perdas do setor.

    A desvalorizao cambial, no entanto, no afetava to somente as exportaes. A modificao no cmbio tambm afetava as importaes. Efetivamente, o aumento da taxa de cmbio (a desvalorizao cambial) reduzia o poder de compra da mo-eda domstica. Logo, as importaes tornavam-se mais caras. Como no perodo em anlise boa parte das manufaturas consumidas no Brasil era importada, dada a incipincia da indstria domstica, o aumento do preo das importaes se traduzia em um importante aumento de preos para a sociedade. Colocando de outra forma, a poltica de defesa do setor cafeeiro mediante a realizao de desva-lorizaes da taxa de cmbio, ao encarecer as mercadorias importadas, provocava o aumento de preos dos bens manufaturados para a sociedade dando origem a um processo inflacionrio.

    Gabarito: Verdadeira.

    7. (Cespe IRB 2009) Julgue se a proposio verdadeira ou falsa. H consenso

    entre os historiadores econmicos a respeito dos efeitos favorveis do encilha-

    mento sobre a indstria brasileira.

    Comentrio:No h consenso entre os historiadores econmicos sobre os efeitos favorveis

    do encilhamento em termos de crescimento da indstria brasileira. Tal afirmao pode ser vista em Suzigan (2000), em que so apresentados autores que defendem a ocorrncia de efeitos positivos do encilhamento sobre a industrializao, bem como autores que apontam a inexistncia de efeitos do encilhamento sobre a in-dustrializao.

    Pelo lado da defesa dos efeitos positivos do encilhamento sobre a indstria brasi-leira, pode-se citar, por exemplo, Stein (1979). Stein afirma que a expanso da oferta de moeda e do crdito propiciou o aumento do investimento industrial. Por outro lado, Versiani e Versiani (1977) apontam que a expanso do estoque de capital, o que reafirmaria os efeitos do encilhamento sobre a industrializao, foi mnima.

    Gabarito: Falsa.

    8. (Cespe IRB 2009) Julgue se a proposio verdadeira ou falsa. A produo

    industrial cresceu significativamente entre os anos 1915 e 1917 a despeito das

    dificuldades enfrentadas, pelo pas, na importao de mquinas e equipamentos,

    em razo da Primeira Guerra Mundial.

  • 9Captulo 1: A Primeira Repblica (1889-1930)CAMPUS

    Comentrio:A afirmativa verdadeira. Para confirm-la, ser feito uso dos dados de Produto

    Interno Bruto do setor industrial conforme a Tabela 1.

    Tabela 1 Produto Interno Bruto (PIB) indstria variao real anual (% ao ano)

    Ano Taxa Ano Taxa Ano Taxa1901 2,7 1911 9,0 1921 -1,81902 3,5 1912 10,7 1922 18,81903 2,6 1913 0,9 1923 13,31904 5,0 1914 -8,7 1924 -1,11905 2,4 1915 12,9 1925 1,11906 5,4 1916 11,4 1926 2,41907 8,8 1917 8,7 1927 10,81908 0,0 1918 -1,1 1928 7,01909 21,6 1919 14,8 1929 -2,21910 4,4 1920 5,2 1930 -6,7

    Mdia 4,45 Varincia 25,55

    Fonte: Haddad, Claudio Luiz da Silva. 1978. Crescimento do Produto Real no Brasil: 1900-1947. Rio de Janeiro: Fundao Getulio Vargas. Apud Abreu, Marcelo de Paiva (org.). A Ordem do Progresso: Cem Anos de Poltica Econmica Republicana. Rio de Janeiro: Editora Campus, 1990.

    Como pode ser visto na Tabela 1, a taxa de crescimento do produto industrial para os anos de 1915, 1916 e 1917 foi de, respectivamente, 12,9; 11,4 e 8,7%. Portanto, a taxa de crescimento do produto industrial para os anos considerados na questo foi efetivamente elevada a despeito das dificuldades de importao de mquinas e equipamentos dificuldades essas decorrentes da escassez de divisas e de problemas logsticos. Pode-se ainda considerar que o crescimento da produo industrial se deu a partir da capacidade instalada preexistente que se encontrava ociosa.

    Gabarito: Verdadeira.

    9. (Cespe IRB 2010) Julgue se a proposio verdadeira ou falsa. A reforma

    monetria promovida por Rui Barbosa resultou em intenso processo de espe-

    culao financeira, obrigando o governo de Deodoro da Fonseca a adotar um

    conjunto de medidas conhecido como encilhamento.

    Comentrio:Conforme Suzigan (2000, p. 49), o Encilhamento geralmente descrito na his-

    toriografia brasileira como um perodo de intensa especulao seguido de grave crise no mercado de valores. Esses eventos so relacionados com a adoo de uma reforma bancria, que levou a macio aumento no estoque de moeda e facilidade de crdito, e com a introduo de normas mais liberais para a formao de sociedades annimas.

  • Srie Questes: Economia Brasileira: Da Primeira Repblica ao Plano Real10 ELSEVIER

    Observando-se, ento, os dizeres de Suzigan, pode-se concluir que a reforma mo-netria promovida por Rui Barbosa efetivamente resultou em um intenso processo de especulao, sendo que tal reforma bancria e seus efeitos na economia foram denomi-nados de Encilhamento. Portanto, o Encilhamento resultado da reforma monetria produzida por Rui Barbosa e no o enfrentamento dos efeitos deletrios da reforma monetria, contrariando, dessa forma, a afirmativa da questo. Alm disso, o governo Deodoro da Fonseca no enfrentou os efeitos negativos do Encilhamento. Pelo contrrio, foi este governo que deu origem ao Encilhamento.

    Por fim, cabe ressaltar que o Encilhamento resultou em uma srie de instabili-dades econmicas, dentre as quais pode-se destacar os desequilbrios no balano de pagamentos e a acelerao do processo inflacionrio. O combate desses desequilbrios macroeconmicos s veio a ser efetivamente realizado no governo Campos Salles, que teve lugar entre os anos de 1898 e 1902.

    Gabarito: Falsa.

    10. (Anpec 1997) Julgue se a proposio verdadeira ou falsa. Antes de 1930, a

    poltica econmica governamental no teve qualquer efeito sobre a evoluo da

    indstria brasileira.

    Comentrio:A falsidade da afirmativa pode ser vista to somente observando o perodo do

    Encilhamento (1890-1891), em que a reforma bancria propiciou forte aumento da oferta de moeda e do crdito, o que, por sua vez, favoreceu a realizao de investi-mentos na indstria, sendo esta tese defendida por Stein (1979) e Suzigan (2000).

    Alm disso, pode-se tambm considerar que as sucessivas desvalorizaes cambiais realizadas para defender o setor cafeeiro, ao aumentar os preos das manufaturas importadas, propiciavam maior competitividade das manufaturas produzidas domes-ticamente, o que estimulava a realizao de investimento nesse setor (manufatureiro).

    Gabarito: Falsa.

  • Captulo

    2Primeiro governo Getulio Vargas

    (1930-1945)

    1. (Anpec 2010) Dentre as anlises tradicionais a respeito da crise da economia

    cafeeira e do crescimento industrial do Brasil, destaca-se a de Celso Furtado.

    Segundo esse autor, a Grande Depresso, iniciada em 1929, foi varivel funda-

    mental para explicar a opo do novo governo, ao assumir em 1930, de imple-

    mentar um projeto deliberado com o propsito de industrializar o pas.

    Comentrio:Os reflexos da Crise de 1929 sobre o Brasil se deram inicialmente por meio de fortes

    desequilbrios no balano de pagamentos. Primeiramente, pode-se tratar dos fatores asso-ciados ao comrcio exterior. A superproduo de caf num momento de estagnao dos mercados provocou excesso de oferta desse produto. Logo, os preos internacionais do caf caram fortemente, o que reduziu o valor total das exportaes brasileiras. Colocando em outros termos, o pas passou a enfrentar problemas comerciais.

    Em segundo lugar, e no menos importante que a situao referente ao comrcio exterior, importante considerar os fluxos de capitais. Deve-se ter em mente que a Grande Depresso, iniciada em 1929, resultou numa enorme crise financeira global. Como no poderia ser diferente, a crise financeira foi traduzida em uma grave crise de liquidez. O Brasil no estava imune crise. O pas passou a enfrentar fugas de capitais, bem como teve que conviver com a no entrada de capitais novos. Em consequncia, a conta financeira do balano de pagamentos tambm deu sinais de desequilbrios.1

    1 A conta financeira do balano de pagamentos, conforme Feij et al. (2008), registra todos os tipos de fluxos de capitais entre um pas e o resto do mundo.

  • Srie Questes: Economia Brasileira: Da Primeira Repblica ao Plano Real12 ELSEVIER

    Como assinalado, tanto o comrcio exterior brasileiro quanto os fluxos de capitais foram atingidos negativamente pelos eventos de 1929. O resultado foi a produo de desequilbrios no balano de pagamentos e, obviamente, o esgotamento das reservas internacionais. Tal condio desequilbrio nas contas externas e virtual desaparecimento das reservas internacionais reduziu enormemente a capacidade de importar brasileira. No entanto, deve-se lembrar que no incio dos anos 1930 o pas era fortemente dependente da importao de manufaturas, pois ainda vivia-se o modelo primrio-exportador.

    O pas era ento dependente da importao de manufaturas, mas, ao mesmo tem-po, no possua as divisas internacionais necessrias realizao das importaes. Ou era encontrado um caminho alternativo ou ter-se-ia crises de desabastecimento dos mais variados produtos. A opo recaiu sobre a utilizao da capacidade instalada na indstria preexistente crise mundial. Ou seja, partiu-se para a utilizao da capa-cidade ociosa de forma a aumentar a produo industrial e, dessa forma, abastecer o mercado interno tendo em vista a impossibilidade das importaes.

    Percebe-se, ento, que o surto industrializante iniciado na dcada de 1930 no se tratou de um projeto deliberado do governo, mas, na verdade, de uma reao a um monumental choque externo e impossibilidade de continuar adquirindo manufa-turas importadas.

    Gabarito: Falsa.

    2. (Anpec 2010) Dentre as anlises tradicionais a respeito da crise da economia

    cafeeira e do crescimento industrial do Brasil, destaca-se a de Celso Furtado.

    Segundo esse autor, o governo brasileiro, na dcada de 1930, implementou uma

    poltica anticclica, viabilizada principalmente pela adoo de novos impostos,

    inclusive sobre o setor cafeeiro, o que mostrou-se como verdadeiro programa

    de sustentao da demanda agregada.

    Comentrio:Na dcada de 1930, sob os efeitos da Grande Depresso de 1929, efetivamente

    o governo brasileiro ps em prtica uma poltica anticclica com vistas a mitigar os efeitos da crise sobre os nveis de renda e de emprego. Em particular, a poltica foi direcionada para a manuteno de um preo mnimo do caf. Esperava-se, dessa forma, possibilitar a manuteno de uma renda mnima para esse setor.

    Era importante evitar a derrocada do setor cafeeiro, pois este representava grande parcela do valor das exportaes, bem como do prprio produto interno do pas. Alm disso, a falncia do setor cafeeiro representaria a gerao de um enorme contin-gente de mo de obra desempregada. Por fim, deve-se ainda salientar que uma srie

  • 13Captulo 2: Primeiro governo Getulio Vargas (1930-1945) CAMPUS

    de atividades econmicas sobrevivia a partir da demanda gerada pela renda do setor cafeeiro (comrcio, bancos etc.). Portanto, a falncia do setor cafeeiro representaria a falncia dessas atividades.

    Com o objetivo de evitar os efeitos adversos da crise, principalmente sobre o se-tor cafeeiro, o governo deu continuidade poltica de defesa do produto mediante a compra de estoques. Uma das inovaes na poltica foi a compra para a posterior queima de parte desses estoques. Outra inovao foi o seu financiamento. Anterior-mente ao evento da Grande Depresso, o financiamento dos estoques se dava via endividamento externo. Essa opo, no entanto, no estava mais disponvel. A crise internacional rompeu os fluxos de capitais. Logo, no havia a possibilidade de contrair novos emprstimos.

    Como a contratao de novos emprstimos estava inviabilizada, o governo deveria obter uma nova forma de financiamento das compras de estoques do caf. A opo recaiu sobre a emisso monetria e do crdito. De outra forma, o governo expandiu a oferta de moeda para dar consecuo poltica. Pode-se concluir, portanto, que a poltica anticclica empregada no incio dos anos 1930 conjugou polticas fiscais e monetrias expansionistas. A primeira representava o aumento das despesas para a compra dos estoques de caf e a segunda, a expanso da base monetria para finan-ciar a compra dos estoques. Dessa forma, chega-se concluso que, diferentemente do que coloca a questo, a poltica anticclica no foi financiada fundamentalmente pela criao de novos impostos, mas pela emisso matemtica.

    Gabarito: Falsa.

    3. (Cespe IRB 2009) Julgue se a proposio verdadeira ou falsa. A Crise de

    1929 proporcionou maior influxo de investimentos estrangeiros no Brasil.

    Comentrio:A Crise de 1929 foi um somatrio de crise do sistema financeiro com profunda

    recesso. Logo, o resultado foi uma restrio de liquidez em nvel mundial. Havendo essa restrio de liquidez em termos mundiais, o Brasil no seria afetado de maneira diversa, ou seja, a Crise de 1929, diferentemente do que coloca a questo, reduziu o influxo de capitais no pas e, dessa forma, de investimentos estrangeiros.

    Gabarito: Falsa.

    4. (Cespe IRB 2009) Julgue se a proposio verdadeira ou falsa. A desvalori-

    zao cambial provocada pela Crise de 1929 encareceu as importaes de m-

    quinas e equipamentos, o que resultou em declnio considervel da produo

    da indstria brasileira na dcada de 30 do sculo XX.

  • Srie Questes: Economia Brasileira: Da Primeira Repblica ao Plano Real14 ELSEVIER

    Comentrio:A Crise de 1929 colocou o Brasil dentro de uma grave crise do balano de paga-

    mentos. Os preos das mercadorias exportveis caram sem a devida compensao no quantum exportado. Em consequncia, foram produzidos importantes desequilbrios comerciais. De outro lado, a crise no s interrompeu os influxos de capitais novos como gerou fuga dos capitais anteriormente instalados no pas.

    O resultado dos desequilbrios comerciais e financeiros foi, como dito, o desequi-lbrio no balano de pagamentos e o surgimento de uma crise cambial. Com isso, a taxa de cmbio sofreu uma acentuada desvalorizao. O aumento da taxa de cmbio efetivamente encareceu as importaes de mquinas e equipamentos, sendo a questo at a presente afirmativa verdadeira.

    A desvalorizao cambial e o consequente aumento dos preos dos bens de capitais, no entanto, no diminuram a produo industrial. Pelo contrrio, como pode ser visto na Tabela 2, a partir de 1933 a produo industrial apresenta um forte crescimento.

    Tabela 2 Produto Interno Bruto (PIB) indstria variao real anual (% ao ano)

    Ano Taxa Ano Taxa1930 -6,7 1939 9,31931 1,2 1940 -2,71932 1,4 1941 6,41933 11,7 1942 1,41934 11,1 1943 13,51935 11,9 1944 10,71936 17,2 1945 5,51937 5,4 1946 18,51938 3,7 1947 3,3

    Fonte: Haddad, Claudio Luiz da Silva. Crescimento do Produto Real no Brasil: 1900-1947. Rio de Janeiro: Fundao Getulio Vargas, 1978. Apud Abreu, Marcelo de Paiva (org.). A Ordem do Progresso: Cem Anos de Poltica Econmica Republicana. Rio de Janeiro: Campus, 1990.

    O fator causador dessa expanso na produo industrial est associado prpria na-tureza da crise externa e do anterior modelo de desenvolvimento (agrrio-exportador). No perodo pr-crise uma parte considervel do consumo de manufaturas era satisfeita por meio de importaes, que, por sua vez, eram financiadas com as divisas oriundas das exportaes de bens primrios. Com a crise as divisas estrangeiras tornaram-se escassas e, portanto, a capacidade de importar. Para superar o desabastecimento o mercado interno passou a ser suprido pela produo de manufaturas domsticas, sendo que isso s foi possibilitado pela existncia de capacidade ociosa na indstria herdada do perodo anterior crise.

    Gabarito: Falsa.

  • 15Captulo 2: Primeiro governo Getulio Vargas (1930-1945) CAMPUS

    5. (Cespe IRB 2009) Em Formao Econmica do Brasil, Celso Furtado analisa os

    efeitos diretos e indiretos da Crise de 1929 sobre a economia brasileira. Segun-

    do o autor, a poltica de defesa do setor cafeeiro implementada no perodo teria

    favorecido a rpida recuperao da economia: , portanto, perfeitamente claro

    que a recuperao da economia brasileira que se manifesta a partir de 1933 no

    se deve a nenhum fator externo e sim poltica de fomento seguida inconscien-

    temente no pas e que era um subproduto da defesa dos interesses cafeeiros.

    Com relao economia brasileira no perodo posterior Crise de 1929, assinale

    a opo que apresenta afirmativa consistente com a anlise de Celso Furtado

    resumida.

    a) As alteraes na poltica de defesa do setor cafeeiro introduzidas a partir da Crise

    de 1929 tiveram como principal objetivo manter relativamente estvel a demanda

    agregada pelos bens produzidos internamente, evitando-se, assim, a acumulao de

    estoques indesejados e a consequente reduo nos nveis de produo.

    b) Dificuldades de importao associadas conjuntura de crise nos pases industrializa-

    dos impediram o crescimento da produo industrial brasileira nos anos 30 do sculo

    passado, retardando o processo de industrializao no Brasil.

    c) A alta elasticidade-renda dos principais produtos brasileiros exportao, associada

    recuperao dos pases industrializados, promoveu crescimento significativo dos

    saldos positivos na Balana Comercial brasileira a partir de 1936.

    d) De acordo com Celso Furtado, a alta elasticidade-preo da demanda pelo caf permitiu

    aumento das receitas dos cafeicultores, a despeito de queda substancial nos preos

    do caf.

    e) Os efeitos da poltica de defesa dos cafeicultores sobre o mercado cambial provocaram

    aumento na demanda dos brasileiros por bens produzidos internamente, incentivando

    o processo de substituio de importaes na dcada de 30 do sculo passado.

    Comentrio:Como forma de responder presente questo, vejamos o que est incorreto nas

    alternativas apresentadas. A letra a est incorreta porque as alteraes na poltica de defesa do caf in-

    troduzidas a partir de 1929 compra, via emisso monetria, dos excedentes de caf para posterior queima no tinham como objetivo estabilizar a demanda agregada, mas defender o setor cafeeiro. No entanto, o efeito multiplicador dessa poltica, conforme analisa Celso Furtado, minorou os efeitos da crise sobre a economia brasileira.

    A letra b associa as dificuldades de importao com o no crescimento do setor ou da produo industrial no perodo. De fato, a crise, ao comprimir o valor das ex-portaes brasileiras e ao reduzir os influxos de capitais, diminuiu a disponibilidade de divisas necessrias realizao de importaes, inclusive de bens de capitais. Essa dificuldade, no entanto, no impediu o crescimento da produo industrial, que se deu a partir da capacidade ociosa que estava disponvel no setor.

  • Srie Questes: Economia Brasileira: Da Primeira Repblica ao Plano Real16 ELSEVIER

    A letra c est incorreta porque a anlise de Celso Furtado aponta que os produtos produzidos pelo Brasil e pelos demais pases em desenvolvimento, agrrios e extrativos minerais, no apresentavam alta elasticidade-renda da demanda, mas, por outro lado, baixa elasticidade-renda da demanda.

    A letra d est incorreta porque a anlise de Celso Furtado aponta para a baixa elasticidade-preo da demanda pelo caf e no elevada elasticidade-preo da demanda. Alm disso, a queda dos preos do caf decorrente dos efeitos da Crise de 1929 no foi compensada por um aumento da demanda (baixa elasticidade-preo da demanda). Com isso, no houve aumento da receita dos cafeicultores.

    Gabarito: Letra E.

    6. (Anpec 1997) O preo do caf no comrcio internacional caiu drasticamente

    poca da Grande Depresso, o que levou o governo brasileiro a implementar uma

    poltica de defesa do setor cafeeiro. Em relao a esses fatos, pode-se afirmar

    que:

    a) A intensidade de queda nos preos internacionais do caf, no incio dos anos 1930,

    relaciona-se expanso da oferta brasileira do produto, nos anos 1920.

    Comentrio:Dentre outros fatores, a intensidade de queda nos preos internacionais do caf,

    no incio da dcada de 1930, efetivamente deveu-se expanso da oferta do produto durante a dcada de 1920 (aumento do nmero de cafezais). A confirmao dessa anlise pode ser feita a partir de Furtado (1975, p. 186):

    Ao deflagrar-se a crise mundial a situao da economia cafeeira apresen-tava-se como segue. A produo, que se encontrava a altos nveis, teria de seguir crescendo, pois os produtores haviam continuado a expandir as plantaes at aquele momento. Com efeito, a produo mxima seria alcanada em 1933, ou seja, no ponto mais baixo da depresso, como reflexo das grandes plantaes de 1927-29. Por outro lado, era totalmente impossvel obter crdito no exterior para financiar a reteno de novos estoques, pois o mercado internacional de capitais se encon-trava em profunda depresso e o crdito do governo desaparecera com a evaporao das reservas (...).

    Outros fatores tambm contriburam para a queda dos preos do caf no mercado internacional. Conforme Furtado (1975, p. 187), a grande acumulao de estoques de 1929, a rpida liquidao das reservas metlicas brasileiras e as precrias perspec-tivas de financiamento das grandes safras previstas para o futuro, aceleraram a queda do preo internacional do caf iniciada conjuntamente com a de todos os produtos primrios em fins de 1929.

  • 17Captulo 2: Primeiro governo Getulio Vargas (1930-1945) CAMPUS

    Voltando questo dos estoques de caf originados na dcada de 1920, Furtado (1975, p. 187) faz ainda as seguintes consideraes:

    Dadas as caractersticas da procura do caf, cujo consumo no baixa durante as depresses nos pases de elevadas rendas, essa tremenda reduo de preos teria sido inconcebvel sem a situao especial que se havia criado do lado da oferta. (...) Acumularam-se, portanto, os efeitos de duas crises: uma do lado da procura e outra do lado da oferta.

    Com base nas passagens de Celso Furtado, pode-se reiterar a veracidade acerca do excesso de oferta de caf, decorrente dos investimentos feitos na dcada de 1920, como um fator que ampliou a queda dos preos do caf na dcada de 1930.

    Gabarito: Verdadeira.

    b) A poltica econmica ento implementada pode ser vista, pelos seus resultados, como

    uma poltica anticclica keynesiana.

    Comentrio:Anteriormente Crise de 1929 e seus efeitos sobre a economia na dcada de 1930,

    a poltica de defesa do caf, baseada na compra e formao de estoques pelo governo, era financiada em sua grande maioria a partir de emprstimos externos. Com a crise o cenrio se altera. Os recursos necessrios ao financiamento da compra de estoques no estavam mais disponveis tendo em vista a grande crise de liquidez em que o mundo encontrava-se.

    A manuteno da poltica de defesa do caf demandaria uma fonte alternativa de financiamento. A opo do Governo Provisrio, inaugurado com a Revoluo de 1930, foi a emisso monetria e creditcia. De outra forma, seria feita a expanso dos meios monetrios para a compra dos excedentes de caf.

    Pode-se, ento, relacionar as polticas de defesa do caf da dcada de 1930 com as polticas anticclicas keynesianas. A poltica de compra dos excedentes de caf pelo governo, financiada por meio de emisso monetria, trata-se claramente da conjugao de uma poltica fiscal expansionista com uma poltica monetria tambm expansionista e, portanto, constitui uma poltica anticclica keynesiana. Na verdade, uma poltica anticclica pr-keynesiana, dado que a Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moe-da, obra basilar da anlise keynesiana, de 1936 enquanto as polticas do Governo Provisrio j foram adotadas logo aps o incio da Crise de 1929.

    Gabarito: Verdadeira.

    c) A poltica de defesa dos cafeicultores foi totalmente financiada por emisso de

    papel-moeda lastreada por emprstimos externos.

  • Srie Questes: Economia Brasileira: Da Primeira Repblica ao Plano Real18 ELSEVIER

    Comentrio:A poltica de defesa dos cafeicultores a partir da Crise de 1929 foi financiada em

    grande parte por emisses monetrias e de crdito. A explicao para isso simples. Dados os efeitos da crise, a liquidez mundial se reduziu enormemente. Portanto, havia grandes dificuldades para se contratar emprstimos externos no perodo.

    Gabarito: Falsa.

    d) A expanso da produo industrial nos anos 1930 foi devida, em parte, a essa poltica

    de defesa do setor cafeeiro.

    Comentrio:A poltica anticclica descrita na letra b desta questo intencionava, a princpio,

    salvaguardar a renda do setor cafeeiro. Mas medida que permitiu uma renda mnima para este setor, permitiu que outros setores sobrevivessem crise, inclusive o setor industrial.

    Ainda importante ressaltar que a escassez de divisas derivada da Crise de 1929 (reduo no valor das exportaes e na entrada de capitais) impediu a continuidade da importao generalizada de bens manufaturados. Portanto, surgiu um importante espao para o desenvolvimento da indstria nacional, que, como visto, tambm foi beneficiada colateralmente pelas polticas de defesa do setor cafeeiro. De outra forma, a poltica de defesa do caf permitiu a manuteno de uma renda mnima para este setor. Como havia graves dificuldades para a realizao de importaes (escassez de divisas), o consumo de manufaturas foi reorientado para a demanda domstica.

    Gabarito: Verdadeira.

    7. (Esaf MPOG APO2 2009) Com relao ao desenvolvimento do setor industrial

    no Brasil, a partir da dcada de 1930, marque a opo incorreta.

    a) Uma das caractersticas da industrializao substituidora de importaes foi a adoo

    de um modelo de industrializao aberta.

    b) As principais dificuldades na implementao do PSI (Processo de Substituio de Im-

    portaes) foram: a tendncia ao desequilbrio externo, o aumento do grau de concen-

    trao de renda, a escassez de fontes de financiamento e o aumento da participao

    do Estado.

    c) O processo de substituio de importao do PSI foi concentrador em termos de renda,

    em funo do carter capital intensivo do investimento industrial.

    d) O perodo 1940-1950 foi caracterizado pelo incio da formao do setor produtivo

    estatal.

    e) Em 1931, foi introduzido o controle de cmbio, com o objetivo de racionar as divisas

    e cujo efeito indireto foi a proteo do setor industrial.

    2 Ministrio do Planejamento, Oramento e Gesto, Analista de Planejamento e Oramento.

  • 19Captulo 2: Primeiro governo Getulio Vargas (1930-1945) CAMPUS

    Comentrio:O modelo de industrializao via substituio de importao, inclusive o aplicado

    no Brasil, foi voltado para a industrializao com vistas ao abastecimento do mercado interno, diferentemente do que coloca a questo: adoo de um modelo de indus-trializao aberta.

    Alm disso, com vistas a desenvolver a indstria brasileira, o governo utilizou-se intensivamente de mecanismos protecionistas. Analisava-se que a indstria nascente no teria capacidade de competio com a indstria madura dos pases desenvolvidos. Portanto, aplicou-se a proteo por meio de diversos mecanismos: barreiras tarifrias, barreiras no tarifrias, taxa de cmbio, subsdios, dentre outros mecanismos.

    Gabarito: Letra A.

    8. (Anpec 1998) Julgue se a proposio verdadeira ou falsa. Segundo a inter-

    pretao clssica, a poltica de defesa do setor cafeeiro implementada nos anos

    de depresso teria sido, em parte, responsvel pelo crescimento industrial da

    dcada de 1930. Com respeito a tal interpretao, pode-se afirmar que o de-

    sempenho do setor industrial no pode ser explicado pela poltica de defesa

    do setor cafeeiro, pois tal poltica j existia desde 1906 sem qualquer impacto

    significativo sobre a indstria.

    Comentrio:A poltica de compras dos excedentes de caf, aplicada desde o Convnio de Tauba-

    t, de 1906, na maior parte das vezes foi financiada via contratao de dvida externa. Portanto, a expanso monetria necessria poltica de compra do caf estava lastreada a cambiais (reservas internacionais). Ou seja, a compra do caf tinha como contrapartida o pagamento dos servios da dvida externa (juros e amortizao do principal).

    No intuito de pagar os servios da dvida externa, o governo utilizava as cambiais derivadas das vendas ao exterior do caf (exportaes). Essa passagem pode ser in-terpretada conforme Furtado (1975, p.193):

    Consideremos o problema sob outro aspecto. A acumulao de estoques de caf realizada antes da crise tinha a sua contrapartida em dbito con-trado no exterior. No existia, portanto, nenhuma inverso lquida, pois o que se invertia dentro do pas, acumulando estoque, se desinvertia no exterior contraindo dvidas. Tudo ocorria como se o caf acumulado tives-se sido comprado por firmas estrangeiras que, no seu prprio interesse, postergavam o transporte da mercadoria para fora do pas. A acumulao de caf financiado do exterior se assemelha portanto a uma exportao.

    Como o financiamento dos excedentes de caf no perodo pr-crise se assemelhava a uma exportao, mantinha-se o modelo vigente agrrio-exportador, em que as di-visas originadas no setor cafeeiro financiavam as importaes de manufaturados pelo

  • Srie Questes: Economia Brasileira: Da Primeira Repblica ao Plano Real20 ELSEVIER

    Brasil. Por isso, as compras de caf anteriores Crise de 1929 no geravam suficientes incentivos a um maior desenvolvimento do setor industrial. A diviso internacional do trabalho, com a economia brasileira exportadora de bens primrios e importadora de bens manufaturados, era mantida.

    Com a Crise de 1929 a poltica de defesa do caf alterada. As compras do pro-duto feitas pelo governo continuavam, mas no havia mais os emprstimos externos necessrios ao seu financiamento. Basta dizer que a Crise de 1929, dentre outros aspectos, representou uma importante crise de (reduo de) liquidez. Portanto, no havia agentes propensos a emprestar recursos no perodo. Deveria, ento, ser utilizada uma fonte alternativa de financiamento, que adiante ser discutida.

    Outra transformao na poltica de defesa do caf refere-se exatamente destina-o dos estoques. Verificou-se a partir da Crise de 1929 que os estoques disponveis eram invendveis. Mesmo que houvesse uma recuperao da demanda esta no faria frente oferta disponvel e projeo de produo de curto prazo. Consequentemen-te, mantendo-se os estoques de caf no seria obtida uma soluo estrutural para os preos do produto. Diante desse cenrio, o governo optou pela compra de estoques para a posterior destruio de parcelas desses estoques.

    Voltando ao financiamento da poltica de defesa do caf, como visto, os emprs-timos externos no estavam disponveis no momento. A poltica foi ento mantida pela expanso da moeda e do crdito. Tem-se, dessa forma, a seguinte configurao: a compra de estoques pelo governo configurava uma poltica fiscal expansionista; o financiamento via expanso da moeda, por sua vez, representava uma poltica mone-tria expansionista. Era a consecuo de polticas anticclicas de demanda.

    Resta-nos relacionar a poltica anticclica de defesa do caf citada com o aumento da produo industrial. No momento a escassez de divisas no permitia suficiente importao de bens manufaturados consumidos pela sociedade brasileira, indepen-dentemente se o setor institucional referia-se s famlias, firmas ou governo. vlido ainda ressaltar que a pauta de importao desses bens manufaturados se estendia desde bens de consumo leves a bens de capitais. A poltica anticclica gerou renda suficiente para manter alguma demanda por bens, inclusive bens industrializados. Porm, no havia oferta estrangeira decorrente da baixa capacidade de importar do pas no perodo (escassez de divisas). Logo, a indstria existente poca passou a produzir para mercados anteriormente abastecidos pelas mercadorias importadas. Tambm importante salientar que isso foi possvel em decorrncia da capacidade ociosa existente na indstria brasileira no perodo.

    Gabarito: Falsa.

    9. (Anpec 1998) Julgue se a proposio verdadeira ou falsa. A desvalorizao

    cambial do incio dos anos 1930 decorreu do decrscimo das receitas de expor-

    tao e tambm da significativa reduo da entrada de capitais estrangeiros.

  • 21Captulo 2: Primeiro governo Getulio Vargas (1930-1945) CAMPUS

    Comentrio:O caf, conforme os ensinamentos de Celso Furtado e dos desenvolvimentistas

    da Cepal, apresenta baixa elasticidade-preo e elasticidade-renda da demanda.3 Colocando em outros termos, a variao dos preos e da renda no suscita grandes variaes na quantidade demandada de caf. Portanto, a demanda isoladamente no traria significativas mudanas ao mercado do produto.

    Durante a Grande Depresso, conforme Furtado (1975), a demanda pelo produto no se alterou significativamente. Diante dessa afirmao, pode-se concluir que a baixa nos preos deveu-se a condicionantes da oferta. Logo, o excesso de oferta do produto sobre uma demanda estagnada provocou a baixa dos preos do produto e, portanto, reduziu as receitas de exportao.

    No que tange entrada de capitais estrangeiros a anlise direta. A crise interna-cional se transformou em uma crise de liquidez. Consequentemente, reduziram-se os fluxos de capitais, inclusive os fluxos de capitais para o Brasil.

    O somatrio da reduo das receitas de exportaes com a diminuio dos influxos de capitais, ou mesmo a fuga de capitais que tomou lugar no perodo, conduziu ao desequilbrio do balano de pagamentos. O desequilbrio do balano de pagamentos invariavelmente desemboca em uma crise cambial, sendo o que ocorreu no incio da dcada de 1930 com a desvalorizao da moeda brasileira.

    Gabarito: Verdadeira.

    10. (Anpec 1999) Julgue se a proposio verdadeira ou falsa. Os efeitos da crise

    mundial de 1929 foram transmitidos economia brasileira pelo comrcio inter-

    nacional. No que se refere aos primeiros anos da dcada de 1930, verifica-se que

    as desvalorizaes cambiais do perodo reduziram a demanda por importaes

    e beneficiaram a produo domstica.

    Comentrio:A desvalorizao cambial no incio da dcada de 1930, decorrente da reduo das

    receitas de exportao e dos influxos de capitais, tornou as mercadorias importadas mais caras, o que, associado escassez de divisas, reduziu a capacidade de importar brasileira.

    Como a demanda domstica, seja das famlias, firmas ou do governo, no podia ser atendida pela oferta de mercadorias importadas, a indstria j instalada no pas passou a ocupar sua capacidade ociosa ampliando a produo manufatureira.

    Gabarito: Verdadeira.

    3 Para o perodo da Grande Depresso, ainda fazendo uso de Furtado (1975), poder-se-ia dizer que o efeito-preo seria anulado pelo efeito-renda. A baixa dos preos do produto causaria um aumento da demanda, mas, por outro lado, esse aumento seria compensado negativamente pela efeito-renda, ou seja, a baixa da renda causaria a reduo da demanda de caf.

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  • Captulo

    3O governo Dutra (1946-1950)

    1. (Anpec 2010) Julgue se a proposio verdadeira ou falsa. A poltica econ-

    mica do governo Eurico Dutra iniciou reduzindo a proteo da indstria local,

    mas posteriormente adotou uma poltica cambial que favoreceu a substituio

    de importaes.

    Comentrio:

    No imediato ps-guerra a economia brasileira se encontrava com um volume con-

    sidervel de reservas internacionais.1 Ademais, o bom relacionamento entre o Brasil

    e os Estados Unidos construdo no perodo da guerra gerou expectativas positivas

    quanto atrao de investimentos desse pas. Havia tambm expectativas positivas

    quanto evoluo do mercado do caf.

    Por todos os fatores citados mais os preceitos do Acordo de Bretton Woods,

    desenvolvido em julho de 1944, o incio do governo Dutra foi marcado pela iluso

    liberal. Em outros termos, as expectativas de que haveria abundncia na entrada de

    moeda estrangeira conduziu o governo adoo de polticas liberais e no restriti-

    vas referentes taxa de cmbio e ao comrcio exterior, como coloca a afirmativa da

    questo. Particularmente no que tange ao mercado cambial, a liberalizao no uso das

    divisas, inclusive para a aquisio de bens de consumo, representou maior liberdade

    para a realizao de importaes. Logo, houve reduo do protecionismo concedido

    indstria instalada no pas.

    1 No entanto, parte no desprezvel dessas reservas estava vinculada a moedas no conversveis, que, na prtica, pouco poderiam ser utilizadas para a realizao de transaes internacionais.

  • Srie Questes: Economia Brasileira: Da Primeira Repblica ao Plano Real24 ELSEVIER

    Quadro 1 O Acordo de Bretton Woods2

    O Acordo de Bretton Woods (1944-1971) pode ser sintetizado como o resta-belecimento do sistema de padro-ouro no mercado cambial, porm, dessa vez, objetivou-se ao estabelecimento do padro-ouro no mercado cambial internacional (pases ocidentais) tendo como referncia o dlar norte-americano.

    Com base em Bretton Woods, o dlar norte-americano se tornaria a principal moeda de troca internacional, sendo, alm disso, transformado na moeda de re-serva internacional. O Acordo de Bretton Woods pode ser sintetizado de acordo com Krugman e Obstfeld (2010, p. 389-99):

    O sistema elaborado pelo acordo de Bretton Woods exigia taxas de cmbio fixas em relao ao dlar norte-americano e um preo do ouro em dlar invarivel US$35 por ona. Os pases membros mantinham suas reservas internacionais ofi-ciais em grande parte na forma de ativos em ouro ou dlares e tinham o direito de vender dlares para o Federal Reserve em troca de ouro ao preo oficial. Tratava-se, assim, de um padro cmbio-ouro, tendo o dlar como principal moeda reserva.

    2

    O liberalismo no que tange poltica cambial, principalmente em relao ao uso das cambiais, resultou, a partir de 1947, no esgotamento das reservas internacionais e no acmulo de atrasados comerciais. O pas estava diante de um importante desequil-brio do balano de pagamentos. Por isso, ainda em 1947, a poltica cambial alterada. Foram novamente impostos controles sobre a taxa de cmbio o governo no mais disponibilizaria as cambiais para qualquer tipo de importao e sobre as importaes.

    No que tange ao estmulo substituio de importaes, pode-se afirmar que as divisas conversveis disponveis foram direcionadas para a aquisio de importaes consideradas essenciais, inclusive mquinas e equipamentos. Tambm foi introduzido, em fevereiro de 1948, o sistema de licenas prvias de importao, que obedecia s prioridades definidas pelo governo, inclusive as prioridades relativas industrializao. Por fim, deve-se considerar que o controle de cambiais e de importaes foi acoplado a uma taxa de cmbio supervalorizada (ou sobrevalorizada).

    3

    Quadro 2 Taxa de cmbio real, valorizao e desvalorizao3

    A taxa de cmbio real pode ser definida como o preo relativo entre as merca-dorias importadas e as mercadorias produzidas domesticamente. Portanto, a taxa de cmbio real um importante indicador da competitividade das mercadorias exportveis de um pas. O cmbio real pode ser definido a partir da seguinte equao:

    2 Quadro retirado de Soares (2010).3 Adaptado de Soares (2010).

  • 25Captulo 3: O governo Dutra (1946-1950)CAMPUS

    = e P*P

    (3.1)

    onde a taxa de cmbio real; e a taxa de cmbio nominal; P* o preo em moeda estrangeira da mercadoria estrangeira; e P o preo da mercadoria do-mstica em moeda nacional.

    Pode-se ainda inferir que o numerador do lado direito da equao (3.1) igual ao preo da mercadoria importada valorado em moeda domstica:

    PM = e P* (3.2)

    Substituindo a equao (3.2) em (3.1), temos que:

    = MPP

    (3.3)

    Da observao de (3.3) pode-se inferir que um aumento da taxa de cmbio real (P

    M > P) corresponde a um aumento dos preos das mercadorias importadas

    relativamente aos preos das mercadorias produzidas domesticamente. Logo, temos uma desvalorizao da taxa de cmbio real e um aumento da competitividade dos produtos produzidos domesticamente.

    Analogamente, uma reduo da taxa de cmbio real (PM < P) corresponde a

    uma diminuio dos preos das mercadorias importadas relativamente aos preos das mercadorias produzidas domesticamente. Logo, ter-se- uma valorizao da taxa de cmbio real e uma reduo da competitividade dos produtos produzidos domesticamente.

    A supervalorizao da taxa de cmbio real favoreceu as importaes. Isso agiria contrariamente proposta de industrializao da economia brasileira. Porm, conjun-tamente com a supervalorizao cambial, o governo imps um importante controle na disponibilizao de divisas estrangeiras (disponibilizao para a realizao de importaes). O governo, neste controle, desestimulava, fortemente, a importao de bens de consumo no durveis e durveis. Consequentemente, o cerceamento da competio proveniente das mercadorias importadas gerou incentivos ao desen-volvimento de setores industriais, principalmente dos citados setores produtores de bens de consumo no durveis e durveis. Alm disso, a supervalorizao cambial favoreceu a importao de insumos, matrias-primas e bens de capital necessrios ao processo de industrializao. Como resultado final, a poltica cambial adotada, tanto da supervalorizao quanto a do controle de cambiais, favoreceu o processo de

    industrializao via substituio de importaes.

    Gabarito: Verdadeira.

  • Srie Questes: Economia Brasileira: Da Primeira Repblica ao Plano Real26 ELSEVIER

    2. (Anpec 2010) Sobre o processo de crescimento e diversificao da indstria

    manufatureira na primeira dcada aps a Segunda Guerra Mundial, correto

    afirmar que o setor privado continuou o principal responsvel pela expanso

    da oferta de insumos bsicos, como minrio de ferro e ao.

    Comentrio:A primeira dcada aps a Segunda Guerra Mundial compreende, fundamentalmen-

    te, o governo Dutra e o segundo governo Getulio Vargas. Nesse perodo, o processo de crescimento e diversificao da indstria manufatureira, consubstanciada no processo de industrializao via substituio de importaes, ainda se dava no setor de bens de consumo no durveis e nos demais bens de consumo denominados leves.

    A afirmativa feita no pargrafo anterior no implica inexistncia de investimentos em outros setores manufatureiros, tais como o de insumos intermedirios e o de bens de capital, mas a preponderncia foi, como dito, no setor de bens de consumo leves. Esta preponderncia coincide com o ciclo de desenvolvimento do processo de industrializao via substituio de importaes, em que o processo segue a seguinte ordem de instalao dos setores industriais:

    1o) bens de consumo no durveis;2o) bens de consumo durveis; 3o) bens intermedirios; e 4o) bens de capital. Como o processo de substituio de importaes comeou no Brasil com o advento

    da Crise de 1929, pode-se dizer que o perodo entre 1945 e 1955, que compreende o perodo apresentado na questo, ainda seria recente. Nesse sentido, a expanso industrial ainda no seria voltada para o setor intermedirio. Ademais, a instalao de um setor industrial produtor de bens intermedirios, tais como o minrio de ferro e o ao, despendia poca uma grande quantidade de recursos, alm de requerer um longo prazo de maturao dos investimentos.

    A condio de elevados custos de investimentos com longo prazo de maturao afugentou os investimentos privados. Portanto, os investimentos na indstria pro-dutora de bens intermedirios no Brasil, principalmente no perodo do ps-Segunda Guerra Mundial, no podem ser atribudos ao setor privado, mas ao Estado mediante sua interveno no domnio econmico. Particularmente no que tange ao governo Vargas, isso pode ser visto no investimento realizado nas indstrias de base, entre as quais podem ser citados os exemplos da Companhia Siderrgica Nacional (CSN), da criao da Petrobras e da Vale do Rio Doce.

    Gabarito: Falsa.

  • 27Captulo 3: O governo Dutra (1946-1950)CAMPUS

    3. (Anpec 1998) Julgue se a proposio verdadeira ou falsa. Em relao s pol-

    ticas cambiais executadas no perodo 1945-56, pode-se afirmar que tais polticas

    cumpriram as regras cambiais estabelecidas nos acordos de Bretton Woods.

    Comentrio:A poltica cambial determinada pelo Sistema de Bretton Woods preconizava o esta-

    belecimento de um padro-ouro, em que a fixao desse metal se daria em termos do dlar norte-americano (US$35,00 por ona de ouro). As demais moedas, por sua vez, teriam suas respectivas paridades estabelecidas em relao ao dlar norte-americano. Tratava-se efetivamente de um regime de cmbio fixo em que o dlar se tornou a moeda de reserva internacional.

    A questo pergunta se no perodo de 1945 a 1956, compreendendo os governos de Eurico Gaspar Dutra, Getulio Vargas, Caf Filho e o primeiro ano da administrao Juscelino Kubistchek, o Brasil adotou as regras cambiais ditadas por Bretton Woods, ou seja, se o Brasil adotou um regime de taxas de cmbio fixas. Tal discusso ser feita a seguir. Governo Dutra

    O governo Dutra tem seu incio marcado pela euforia relativa s cambiais acu-muladas no perodo de guerra. Alm disso, havia a expectativa positiva, tambm herdada do perodo de guerra, da continuidade do bom relacionamento entre o Brasil e os Estado Unidos, o que resultaria na atrao de investimentos norte-americanos para o pas; e na melhoria do mercado do caf. Diante de tal cenrio e do prprio estabelecimento do Sistema de Bretton Woods, o pas adentrou na chamada iluso liberal. Ou seja, as expectativas positivas com relao ao equilbrio do balano de pagamentos fizeram com que, pelo menos a princpio, o governo adotasse uma poltica externa liberal.

    Foi adotado o mercado livre de cmbio (no havia a centralizao cambial por parte do governo), que resultava em maior liberalidade no uso das divisas disponveis.4 A taxa de cmbio, por sua vez, que apresentava paridade fixa em relao ao dlar no perodo de guerra (Cr$18,50 por US$1,00), foi mantida ao longo do governo Dutra. Assim, confirmado o cumprimento da regra de Bretton Woods nesse governo.

    A fixao da taxa de cmbio num ambiente de ascenso dos preos causou, no entanto, a sobrevalorizao (ou supervalorizao) da taxa de cmbio, o que, con-juntamente com a liberalizao do mercado de cmbio (e no da taxa de cmbio), conduziu escassez das reservas internacionais e produo de atrasados comerciais.

    4 A centralizao cambial ocorre quando o governo controla as divisas estrangeiras e as disponibiliza de acordo com algum critrio poltico ou de poltica econmica.

  • Srie Questes: Economia Brasileira: Da Primeira Repblica ao Plano Real28 ELSEVIER

    Diante dos desequilbrios do balano de pagamentos, a partir de 1947 instalado um sistema de controle de importaes. Conforme Bergsman (1970), de 1947 a 1953, um sistema de licenas foi usado para controlar tanto o nvel quanto a estrutura das importaes brasileiras. O cmbio foi centralizado e as cambiais foram alocadas de acordo com cinco categorias de prioridade:

    (i) superessenciais: equipamentos agrcolas, combustveis, petrleo, lubrificantes, metais no disponveis domesticamente e referentes s necessidades das agncias governamentais;

    (ii) essenciais: outras matrias-primas, mquinas, equipamentos e bens de capital em geral, alm de alguns produtos farmacuticos;

    (iii) transferncia de capital e remessa de lucros; (iv) outros bens; e (v) viagens etc. (Bergsman, 1970, p. 28).

    Governo Getulio VargasA paridade da taxa de cmbio em relao ao dlar norte-americano (Cr$18,50 por

    US$1,00) foi mantida at 1953. Portanto, no perodo apresentado na questo, 1945 a 1956, num total de 11 anos, o sistema de cmbio fixo foi mantido por oito anos. Tambm foi mantido no governo Vargas, at o ano de 1953, o sistema de licenas de importao.

    Em 1953 a poltica cambial , no entanto, alterada. Foi adotado o sistema de taxas mltiplas de cmbio, que buscava estimular as exportaes ao mesmo tempo em que pretendia limitar as importaes consideradas no essenciais. Conforme Bergsman (1970), do lado das exportaes foi estabelecido um sistema de diferentes taxas de cmbio para diferentes produtos. Do lado das importaes, por outro lado, o anterior sistema de licenas de importaes foi substitudo por cinco categorias de taxas de cmbio. As divisas existentes eram disponibilizadas em um leilo de cmbio, que se dividia nas citadas cinco categorias de taxa de cmbio para as importaes. Pode-se considerar, portanto, que a partir de 1953 a poltica cambial brasileira no continuou a seguir as regras estabelecidas em Bretton Woods.

    Governos Caf Filho e Juscelino Kubistchek Por fim, pode-se dizer que esse sistema assinalado de taxas mltiplas de cmbio foi

    mantido durante o governo Caf Filho e no incio do governo Juscelino Kubistchek. Em agosto de 1957 o regime , no entanto, alterado. No foi eliminado o sistema de taxas mltiplas de cmbio, mas, por outro lado, ele foi simplificado. Particularmente, no que tange s importaes, as taxas de cmbio caram de cinco para duas categorias.

    Gabarito: Falsa.

  • 29Captulo 3: O governo Dutra (1946-1950)CAMPUS

    4. (Anpec 1998) Julgue se a proposio verdadeira ou falsa. Em relao ainda

    s polticas cambiais executadas no perodo de 1945-56, pode-se afirmar que

    alternaram, nessa ordem: liberalizao cambial; controles de cmbio; e taxas

    mltiplas de cmbio.

    Comentrio:Como visto na questo anterior, no perodo de 1945 a 1956 a poltica cambial bra-

    sileira seguiu a ordem a seguir assinalada. Primeiramente, no incio do governo Dutra, sob a gide da iluso liberal, foi promovida a liberalizao do mercado de cmbio.

    No perodo marcado pela iluso liberal, o mercado cambial foi liberalizado e foram eliminadas as restries ao uso das cambiais, inclusive foram possibilitadas importaes generalizadas de bens de consumo. Tal condio, no entanto, resultou em drstica reduo das reservas internacionais, o que, no ano de 1947, se transformou no ac-mulo de atrasados comerciais. Como resultado, o liberalismo cambial deixado de lado e inicia-se o processo de controle das importaes.

    A poltica cambial a partir de 1947 caracterizada pelo controle do mercado de cmbio pelo governo. As divisas no mais seriam disponibilizadas para quaisquer tipos de importaes. Pelo contrrio, passariam a ser disponibilizadas segundo critrios de essencialidade definidos pelo governo. Soma-se ao controle cambial no perodo o controle de importaes e, posteriormente, no ano de 1948, a adoo do sistema de licenas (prvias) de importao, que reforaram o papel do governo em limitar as importaes no essenciais.

    Em 1953, prevalecendo at meados de 1957, foi introduzido o sistema de taxas mltiplas de cmbio cujo objetivo era, como citado anteriormente, estimular as ex-portaes e desestimular as importaes consideradas no essenciais.

    Gabarito: Verdadeira.

    5. (Anpec 2000) Julgue se a proposio verdadeira ou falsa. Em relao s pol-

    ticas cambial e de comrcio exterior adotadas pelo governo Dutra nos anos que

    se seguiram Segunda Guerra e aos efeitos dessas polticas, correto afirmar

    que as importaes foram contingenciadas e tornaram-se sujeitas a licenas

    prvias.

    Comentrio:Aps a iluso liberal do incio do governo Dutra, em que as reservas internacionais

    acumuladas no perodo da Guerra foram dissipadas e passou-se a acumular atrasados comerciais, a poltica cambial e a poltica de comrcio exterior foram efetivamente alteradas com vistas a reduzir os desequilbrios externos.

  • Srie Questes: Economia Brasileira: Da Primeira Repblica ao Plano Real30 ELSEVIER

    A taxa de cmbio de Cr$18,50 por dlar norte-americano permaneceu inalterada ao longo do governo Dutra. Os ndices de preos, por sua vez, cresceram 285% entre 1945 e 1953, conforme observa Bergsman (1970). Em consequncia, houve uma progressiva supervalorizao (ou sobrevalorizao) da taxa de cmbio brasileira. A despeito da manuteno da taxa de cmbio fixa, o controle das importaes foi posto em prtica como mecanismo para tentar reequilibrar o balano de pagamentos. Isso equivale a dizer que o liberalismo no uso das cambiais disponveis estava abolido, passando ao controle do governo. Alm disso, conforme assinala Bergsman (1970, p.28), um sistema de licenas de importaes foi utilizado para controlar o nvel e a estrutura das importaes brasileiras e as reservas internacionais passaram a ser alocadas de acordo com um sistema de prioridade subdividido em cinco categorias.

    A princpio esta poltica objetivava reverter o acmulo de atrasados comerciais e desequilbrios do balano de pagamentos. A partir de 1949, ao invs da busca do reequilbrio das contas externas, a poltica cambial e de comrcio exterior passou a ser orientada para um protecionismo mais deliberado, inclusive com a proibio de importaes que possussem similares nacionais. Era visada a promoo da indus-trializao via substituio de importaes.

    Gabarito: Verdadeira.

  • Captulo

    4Segundo governo de Getulio Vargas

    (1951-1954)

    1. (Cespe IRB 2010) Julgue se a proposio verdadeira ou falsa. O Plano Salte

    foi adotado por Getulio Vargas, no seu perodo de governo, com o objetivo de fo-

    mentar o desenvolvimento nas reas de sade, alimentao, transporte e energia.

    Comentrio:O Plano Salte efetivamente visava ao desenvolvimento nas reas de sade, alimen-

    tao, transporte e energia, mas, no entanto, no foi adotado por Getulio Vargas. O Plano foi adotado no governo Dutra.

    Gabarito: Falsa.

    2. (Anpec 1997) Julgue se a proposio verdadeira ou falsa. O sistema de taxas

    mltiplas de cmbio, institudo em 1953, e a Instruo no 70 da Sumoc, que vi-

    goraram at meados de 1957, criaram uma fonte significativa de recursos para

    o Estado.

    Comentrio:Em 1953, ano de instalao das taxas de cmbio mltiplas a partir da Instruo

    no 70 da Sumoc Superintendncia da Moeda e do Crdito, o pas enfrentava dificulda-des no fronte externo com a acumulao de atrasados comerciais. Havia, portanto, um colapso cambial. No que tange aos aspectos domsticos da conjuntura econmica, no era obtido xito no controle da inflao, que era gerada pelo financiamento monetrio do dficit pblico. Diante desse cenrio, o novo ministro da Fazenda, Osvaldo Aranha, passou a conduzir uma tentativa de estabilizao da economia, que se sustentava na

  • Srie Questes: Economia Brasileira: Da Primeira Repblica ao Plano Real32 ELSEVIER

    correo da situao cambial e no financiamento do dficit pblico sem a emisso de moeda e expanso do crdito (Vianna, 1990, e Vianna e Villela, 2005).

    Mesmo antes de ser adotada a poltica econmica do ministro Osvaldo Aranha, o governo iniciou sua tentativa de ajuste por meio da criao do sistema de taxas de cmbio mltiplas, o que foi feito a partir da Lei no 1.807, de 17 de janeiro de 1953, que ficou conhecida como Lei do Mercado Livre. O objetivo da Lei, conforme assi-nalam Vianna e Villela (2005, p. 33), era aumentar as exportaes e desestimular as importaes consideradas no essenciais. Alm disso, permitia-se a entrada de capi-tais taxa de cmbio do mercado livre, o que, esperava-se, estimularia o ingresso de recursos do exterior. Pretendia-se, dessa forma, regularizar a situao cambial do pas.

    A continuidade do enfrentamento dos desequilbrios cambiais e fiscais (e, logica-mente, da inflao derivada do financiamento monetrio do dficit pblico) foi feita, em 9 de outubro de 1953, com a edio da Instruo no 70 da Sumoc. Conforme Vianna e Villela (2005, p. 33), as principais mudanas introduzidas no sistema cambial brasileiro foram as seguintes: (i) restabelecimento do monoplio cambial do Banco do Brasil; (ii) extino do controle quantitativo das importaes e instituio de leiles de cmbio; e (iii) (quanto s exportaes) substituio das taxas mistas por um sistema de bonificaes incidentes sobre a taxa oficial.

    1

    Quadro 3 O financiamento monetrio do dficit pblico1

    O mecanismo de gerao de inflao a partir do dficit pblico denominado financiamento monetrio do dficit pblico. Esse mecanismo ocorre como se segue. H a ocorrncia de um dficit pblico: as despesas governamentais, em excesso, superam as receitas governamentais (tributao e outras receitas). Para financiar o excesso de despesas, o governo lana mo da emisso monetria. Essa moeda excedente colocada na economia (sem lastro) gera um excesso de demanda. O excesso de demanda, por definio, no encontra oferta suficiente. Em conse-quncia, o equilbrio de mercado obtido a preos maiores, dando causa ao processo inflacionrio.

    O entendimento do papel da Instruo no 70 como fonte significativa de recursos para o Estado e, portanto, seu papel na busca do equilbrio fiscal passa pelo enten-dimento dos leiles de cmbio. Para tanto, ser feito novamente o uso de Vianna e Villela (2005, p. 34). A partir da Instruo no 70 passaram a existir trs tipos bsicos de cobertura cambial: (i) taxa oficial, sem sobretaxa, vlida para certas importaes especiais, tais como trigo e material ou papel de imprensa; (ii) taxa oficial, acrescida

    1 Quadro retirado de Soares (2010).

  • 33Captulo 4: Segundo governo de Getulio Vargas (1951-1954)CAMPUS

    de sobretaxas fixas, para as importaes diretas dos governos Federal, estaduais e municipais, autarquias e sociedades de economia mista, alm da importao de pe-trleo e derivados; e (iii) taxa oficial, acrescida de sobretaxas variveis (segundo os lances feitos em leiles de cmbio realizados em bolsa