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  • Antnio Corra de LacerdaProfessor da FEA-PUC/SP

    Ex-Presidente do Conselho Federal de Economia (Cofecon)

    Joo Ildebrando BocchiProfessor da FEA-PUC/SP

    Jos Mrcio RegoProfessor da FEA-PUC/SP e da FGV-EAESP

    Maria Anglica BorgesProfessora da FEA-PUC/SP

    Rosa Maria MarquesProfessora da FEA-PUC/SP

    Ex-Presidente da Sociedade Brasileira de Economia Poltica (SEP)

    ECONOMIA BRASILEIRA

    Organizadores:Jos Mrcio Rego

    Rosa Maria Marques

    Colaborao Especial:Rodrigo Antonio Moreno Serra

    4a Edio

  • Rua Henrique Schaumann, 270 CEP: 05413-010Pinheiros Tel.: PABX (0XX11) 3613-3000Fax: (11) 3611-3308 Televendas: (0XX11) 3613-3344Fax Vendas: (0XX11) 3611-3268 So Paulo - SPEndereo Internet: http://www.editorasaraiva.com.br

    Filiais:

    AMAZONAS/RONDNIA/RORAIMA/ACRERua Costa Azevedo, 56 CentroFone/Fax: (0XX92) 3633-4227 / 3633-4782 Manaus

    BAHIA/SERGIPERua Agripino Drea, 23 BrotasFone: (0XX71) 3381-5854 / 3381-5895 / 3381-0959 Salvador

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    CAMPINAS/SO PAULO(sala dos professores)Rua Camargo Pimentel, 660 Jd. GuanabaraFone: (0XX19) 3243-8004 / 3243-8259 Campinas

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    SO PAULOAv. Antrtica, 92 Barra FundaFone: PABX (0XX11) 3613-3000 / 3611-3308 So PauloISBN 9788502109704

    CIP-BRASIL CATALOGAO NA FONTESINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ

    E22

  • 4.ed.

    Economia brasileira / Antnio Corra de Lacerda [et al.]; organizadores JosMrcio Rego, Rosa Maria Marques; colaborao especial Rodrigo AntonioMoreno Serra. 4.ed. So Paulo : Saraiva, 2010.

    Contm questes de revisoInclui bibliografia e ndiceISBN 9788502109704

    1. Brasil Condies econmicas. 2. Brasil Poltica econmica. I.Lacerda, Antnio Corra de. II. Rego, Jos Mrcio. III. Marques, Rosa Maria.

    10-1264 CDD: 330.981CDU: 338.1(81)

    Copy right Antnio Corra de Lacerda, Joo Ildebrando Bocchi, JosMrcio Rego, Maria Anglica Borges e Rosa Maria Marques2006, 2010 Editora SaraivaTodos os direitos Reservados

    Direo editorial: Flvia Alves BravinCoordenao editorial: Rita de Cssia da Silva (Aquisio)

    Gisele Folha Ms (Negcios)Juliana Rodrigues de Queiroz (Universitrios)

    Produo editorial: Daniela Nogueira SecondoRosana Peroni Fazolari

    Marketing editorial: Nathalia SetriniProjeto Grfico: Hamilton Olivieri Jr.Capa: Roberto BressanDiagramao e edio: Cia. Editorial

    Atualizao da 4a Edio e Capa: ERJ Composio Editorial

    Imagens de Capa: Paisagem Brasileira (1925, pintura a leo sobre tela, 64 X54cm) Lasar Segall, 1891 Vilna 1957 So Paulo Acervo do Museu LasarSegall IPHAN/MINC. Foto: Luis Hossaka

    Cana: Social Cenas de Trabalho Cultura de Cana (1938, pintura mural afresco,280 X 247cm) Candido Portinari, 1903-1962 Uma das doze pinturas murais

  • dos Ciclos Econmicos executadas para decorar o salo de audincias do PalcioGustavo Capanema, sede do antigo Ministrio da Educao e Sade, Rio deJaneiro, RJ.

    Contato com o editorial: [email protected]

    4a edio

    Nenhuma parte desta publicao poder ser reproduzida por qual-quer meio ouforma sem a prvia autorizao da Editora Saraiva.A violao dos direitos autorais crime estabelecido na Lei n. 9.610/98 e punidopelo artigo 184 do Cdigo Penal.

  • SOBRE OS AUTORES

    Antnio Corra de Lacerda professor do departamento de Economia daFaculdade de Economia, Administrao e Contabilidade da PUC/SP, alm deatuar na iniciativa privada. Foi presidente do Conselho Federal de Economia(Cofecon), em 1999, e do Conselho Regional de Economia de So Paulo(Corecon-SP), de 1995 a 1999. Atualmente, presidente da SOBEET (SociedadeBrasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e da GlobalizaoEconmica). Contato com o autor: [email protected].

    Joo Ildebrando Bocchi doutor em Cincias Sociais pela PontifciaUniversidade Catlica de So Paulo e professor titular do departamento deEconomia da Faculdade de Economia, Administrao e Contabilidade daPUC/SP. Foi professor da FGV-EAESP. Contato com o autor:[email protected].

    Jos Mrcio Rego doutor em Economia pela Fundao Getulio Vargas Escola de Administrao de Empresas de So Paulo e professor do departamentode Economia da FEA-PUC/SP e da FGV-EAESP. autor e coordenador dediversos livros na rea de Economia. Contato com o autor:[email protected].

    Maria Anglica Borges doutora em Histria pela Pontifcia UniversidadeCatlica de So Paulo. Atualmente, professora titular da Faculdade deEconomia, Administrao e Contabilidade da PUC/SP. Foi professora da FGV-EAESP e diretora da FEA-PUC/SP. Contato com a autora:[email protected].

    Rosa Maria Marques economista, professora titular do Departamento deEconomia e do Programa de Estudos Ps-graduados em Economia Poltica daPUC-SP e especialista em polticas sociais. Foi presidente da Sociedade Brasileirade Economia Poltica durante o perodo 1998-2002. organizadora, junto comJos Mrcio Rego, da obra Formao Econmica do Brasil. Contato com aautora: [email protected].

  • PREFCIO

    Este um livro didtico, introdutrio, que adota uma perspectiva histricasobre as origens do nosso (sub)desenvolvimento e sobre as caractersticasfundamentais da evoluo da economia brasileira, de sua situao atual e dasperspectivas para o novo milnio.

    Podemos, grosso modo, dividir a histria econmica do Brasil em duasgrandes etapas: o perodo mercantil, at 1930, e o perodo industrial, de 1930 emdiante. No perodo mercantil, destacam-se duas fases: a fase colonial, compostade dois grandes ciclos o da cana-de-acar no sculo XVII e o do ouro nosculo XVIII e a fase primrio-exportadora, caracterizada principalmentepela expanso cafeeira iniciada no sculo XIX quando se verificou umsignificativo processo de desenvolvimento que entraria em declnio na dcadade 1930. nessa fase primrio-exportadora que comea a ocorrer,efetivamente, a acumulao primitiva de capital na economia brasileira, com aformao de uma burguesia local detentora de capital prprio, a burguesiacafeeira.

    O primeiro surto industrial, no final do sculo XIX, j acontece como fruto daexpanso cafeeira, mas com a crise de 1930 que o processo de industrializaose acelera, consubstanciando o perodo industrial do desenvolvimento brasileiro,que se desenrola por intermdio de um processo de substituio de importaes.A crise da dcada de 1960 assinala um ponto de inflexo no processo desubstituio de importaes. A manuteno dessa estratgia pelo regime militar(1964-1984) resultou no agravamento das distores estruturais da economiabrasileira, particularmente a concentrao de renda, a inflao e oendividamento externo.

    A partir do segundo choque do petrleo e do significativo aumento das taxasde juros internacionais, em 1979, tem incio a crise dos anos 1980. Na definiode Bresser Pereira, trata-se da crise fiscal do Estado, uma crise do modo deinterveno do Estado na economia e na sociedade e da forma de administraodesse Estado. O Brasil enfrenta o problema da dvida externa e interna, anegociao com o Fundo Monetrio Internacional, o crescimento poucoexpressivo (quando no negativo) de seu produto e a persistncia do processoinflacionrio. Depois de vrias tentativas de promover a estabilizao, o pas tema experincia da URV e do Plano Real. O Plano Real, de 1994, o mais bem-sucedido plano de estabilizao inflacio nria desse perodo de crise fiscal doEstado, foi precedido, e foi complementado, por um conjunto de reformaseconmicas ajuste fiscal, liberalizao comercial, reestruturao dasempresas privadas, privatizao das empresas estatais e reforma daadministrao pblica de cujos resultados ainda no possvel extrairconcluses definitivas.

  • Depois da desvalorizao ocorrida em 1999, porm, tornou-se claro que opas ainda teria de enfrentar perodos de grandes dificuldades, expressas,sobretudo, pela necessidade de supervits expressivos na conta capital, pela noretomada do crescimento e pela manuteno de elevadas taxas de desemprego,nunca antes registradas. No ano de 2010, decorrido o primeiro ano aps a maiorcrise mundial dos ltimos setenta anos, o Brasil realou suas qualidades e no foiafetado pela crise como os pases desenvolvidos. Fatores como: democraciaconsolidada e estabilidade poltica; mercado domstico robusto, equivalente a85% do PIB; elevado nvel de reservas internacionais, prximas de US$ 200bilhes; baixa vulnerabilidade externa do pas, em comparao com outrosmomentos de crise; reduzida dependncia do comrcio exterior, correspondentea 15% do PIB; sistema financeiro e bancrio relativamente slido eregulamentado; bancos pblicos fortes, que financiam o pas em momentos derestrio de liquidez e/ou contribuem para a expanso dos investimentos; entreoutros, contriburam para a estabilidade econmica neste perodo.

    Todo esse longo processo de evoluo da economia brasileira est aquiretratado. Por no ter sido escrito por um s autor, mas sim por professores dediversas disciplinas macroeconomia, histria econmica, metodologia daeconomia, economia do trabalho e economia do setor pblico , o livro ganhouuma abordagem bastante rica e diferenciada. Comum a todos os autores, noentanto, foi a constante preocupao de no se descuidar do aspecto didtico daobra.

    Seria quase desnecessrio registrar, no obstante, que esperamos de nossoscolegas de profisso sugestes de melhorias, tanto de forma como de contedo,para o aperfeioamento desta obra.

    Por fim, gostaramos de agradecer a oportuna iniciativa da Editora Saraiva,que a ns demonstrou, de forma reiterada, atitudes de incentivo e deprofissionalismo mpares.

    Jos Mrcio Rego e Rosa Maria Marques

  • SUMRIO RESUMIDO

    PARTE 1 Economia Colonial sculos XVI a XIX1. A empresa mercantil, colonial e escravocrata2. Os ciclos econmicos

    PARTE 2 Expanso cafeeira e origens da indstria3. A economia cafeeira4. Origens da indstria

    PARTE 3 Processo de substituio de importaes: da crise de 1930 ao II PND5. A crise de 1930 e o avano da industrializao brasileira6. Anos 1950: Getlio Vargas e o desafio da indstria pesada7. Plano de Metas de Juscelino Kubitschek planejamento estatal econsolidao do processo de substituio de importaes8. A crise de 1962-1967, o PAEG e as bases do milagre econmico9. O milagre brasileiro auge e crise10. O II PND fim de um ciclo

    PARTE 4 Anos 1980: Crise e inflao11. Choques externos e desestruturao interna a recesso de 1981-

    198312. A crise da dvida externa e a crise fiscal do Estado13. Teoria da inflao inercial e polticas de o

    PARTE 5 Anos 1990: A modernizao conservadora14. Abertura comercial e o governo Collor15. Novo modelo de insero da economia brasileira16. Plano Real e seus desdobramentos

    PARTE 6 Um retrato do Brasil atual17. Indicadores de crescimento e de desenvolvimento18. A populao brasileira e a transio demogrfica19. Transformaes no mercado de trabalho e a reforma da previdncia

    social

  • SUMRIO

    PARTE 1 Economia Colonial sculos XVI a XIX

    1. A empresa mercantil, colonial e escravocrata1.1. As trs vias de constituio do capitalismo

    Acumulao geral e primitiva1.2. Objetivao da lgica do capital e sua expanso1.3. Ascenso da burguesia e o pacto colonial

    Mercantilismo Pacto colonial

    1.4. A marca da colonizao de explorao Plantation

    1.5. A questo da mo-de-obra

    Questes de reviso2. Os ciclos econmicos

    2.1. A produo aucareira2.2. O ciclo do ouro2.3. O renascimento agrcola2.4. Entraves consolidao do capitalismo

    Vantagens comparativas

    Questes de reviso

    PARTE 2 Expanso Cafeeira e origens da indstria

    3. A economia cafeeira3.1. O comerciante de caf e o crdito agrcola

    As relaes transcendiam os limites comerciais3.2. Esgotamento do sistema de financiamento da economia cafeeira3.3. A questo da mo-de-obra

    Questes de reviso4. Origens da indstria

    4.1. Consolidao das condies para o desenvolvimento industrial4.2. A formao da indstria

    A importncia dos investimentos estrangeiros4.3. A classe industrial

    4.3.1. As indstrias Matarazzo4.3.2. O grupo Votorantim4.3.3. Outros grandes grupos industriais

    4.4. Aprofundamento da crise da economia tradicional

  • Questes de reviso

    PARTE 3 Processo de substituio de importaes: da crise de 1930 ao II PND

    5. A crise de 1930 e o avano da industrializao brasileira5.1. A Grande Depresso5.2. A poltica de defesa do caf5.3. O crescimento industrial durante a Grande Depresso5.4. Celso Furtado e o modelo de industrializao por substituio de

    importaes5.5. O Estado Novo e a Segunda Guerra Mundial5.6. O ps-guerra e o crescimento industrial

    Questes de reviso6. Anos 1950: Getlio Vargas e o desafio da indstria pesada

    Padres de acumulao na economia uma anlisedepartamental

    6.1. O projeto nacionalista de Vargas6.2. O suicdio de Vargas Caf Filho e Eugnio Gudin

    FMI Fundo Monetrio Internacional

    Questes de reviso7. Plano de Metas de Juscelino Kubitschek planejamento estatal e

    consolidao do processo de substituio de importaes7.1. Planejamento estatal 50 anos em 5

    CEPAL Comisso Econmica para a Amrica Latina7.2. Capital estrangeiro e oligoplios7.3. A consolidao da estrutura industrial brasileira

    Questes de reviso8. A crise de 1962-1967, o PAEG e as bases do milagre econmico

    8.1. A primeira crise industrial endgena os limites do processo desubstituio de importaes

    8.2. Crise poltica e o Plano Trienal de Celso Furtado8.3. 1964 ruptura democrtica e o modelo dependente e associado8.4. PAEG estabilizao e mudanas institucionais

    Questes de reviso9. O milagre brasileiro auge e crise

    9.1. A expanso da economia mundial e a economia brasileira entre ops-guerra e os anos 1970

    9.2. Financiamento externo necessidade ou convenincia?9.3. As contradies do milagre a questo social

  • 9.4. Os limites estruturais do crescimento dependente

    Questes de reviso10. O II PND fim de um ciclo

    10.1. O II PND (1975-1979) a fuga para a frente10.2. O financiamento externo a reciclagem dos petrodlares10.3. Os limites do II PND10.4. A desacelerao e o alongamento do II PND a colheita nos

    anos 1980

    Questes de reviso

    PARTE 4 Anos 1980: crise e inflao

    11. Choques externos e desestruturao interna a recesso de 1981-198311.1. O retorno de Delfim Netto um breve crescimento11.2. A recesso brasileira e a moratria mexicana11.3. A retomada do crescimento em 1984

    Questes de reviso12. A crise da dvida externa e a crise fiscal do Estado

    12.1. Dvida externa origem e crescimento Dvidas bruta elquida e transaes correntes

    12.2. Desequilbrio externo e a crise fiscal12.3. A especulao financeira

    Questes de reviso

    Apndice: alguns indicadores econmicos13. Teoria da inflao inercial e polticas de estabilizao

    13.1. A tentativa de decifrar a inflao brasileira diagnstico dainflao inercial

    13.2. Uma nova estratgia de combate inflao as propostas dechoque heterodoxo e de moeda indexada

    13.3. O fracasso das tentativas ortodoxas de estabilizao13.4. Planos de estabilizao heterodoxos

    13.4.1. Plano Cruzado13.4.2. Plano Bresser13.4.3. Malson da Nbrega da poltica do feijo-com-arroz

    ao Plano Vero

    Questes de reviso

  • PARTE 5 Anos 1990: A modernizao conservadora

    Consenso de Washington Modernizao conservadora

    14. Abertura comercial e o governo Collor14.1. Abertura comercial nos pases em desenvolvimento14.2. Abertura comercial brasileira o governo Collor

    14.2.1. Os Planos Collor I e II

    Questes de reviso15. Novo modelo de insero da economia brasileira

    15.1. A nova poltica industrial15.2. O programa de privatizaes

    15.2.1. Resultados das privatizaes aps a criao do PND de 1991 a 2001

    15.3. Balano de pagamentos, fluxo de capitais e investimentosdiretos estrangeiros

    15.4. Debate acerca da viabilidade do modelo de inserointernacional da economia brasileira15.4.1. Argumentos favorveis posio do governo15.4.2. Crticas posio do governo

    Questes de reviso16. Plano Real e seus desdobramentos

    16.1. O plano em si16.1.1. Fase 1 o PAI16.1.2. Fase 2 a URV16.1.3. Fase 3 a nova moeda

    16.2. Nvel de atividade, renda e emprego16.3. Avaliao do Plano Real e perspectivas

    16.3.1. Setor externo16.3.2. O retorno ao FMI

    16.4. A transio de governo em 2002/2003: de FHC a Lula16.4.1. As bases da poltica macroeconomica ps ano 200016.4.2. Exportaes e ajustes das contas externas

    Questes de reviso

    PARTE 6 Um retrato do Brasil atual

    17. Indicadores de crescimento e de desenvolvimento17.1. Evoluo do PIB17.2. Indstria17.3. Comrcio exterior

  • 17.4. O ndice de Desenvolvimento Humano (IDH)17.4.1. O Brasil no IDH17.4.2. O IDH nas regies e nos estados brasileiros

    17.5. Distribuio de renda

    Questes de reviso18. A populao brasileira e a transio demogrfica

    18.1. A populao brasileira18.2. O novo padro demogrfico

    Leitura complementar18.3. Os impactos da nova estrutura etria sobre as polticas pblicas

    Alguns conceitos demogrficos

    Questes de reviso19. Transformaes no mercado de trabalho e a reforma da

    previdncia social19.1. O aumento do desemprego e a precarizao do emprego19.2. O seguro-desemprego19.3. A crise financeira e a reforma da previdncia social

    Alguns conceitos relativos previdncia social

    Questes de reviso

    Referncias

    Siglas e abreviaturas

    ndice onomstico

    ndice analtico

    No site Recursos disponveis para o professor: Manual do Professor com asrespostas das Questes de reviso, Banco de Testes e Transparncias

  • PARTE 1

    Economia Colonial

    sculos XVI a XIX

    1. A empresa mercantil, colonial e escravocrata

    2. Os ciclos econmicos

  • CAPTULO1

    A empresa mercantil, colonial e escravocrata

  • cedido por Editora nova cultural

    Escravos negros vindos da frica rugendas Biblioteca municipal de sopaulo

  • No sculo XVI, a Pennsula Ibrica destacava-se como um dos agentes maisdinmicos do capitalismo comercial. O Brasil, domnio portugus inserido naempresa mercantil, colonial e escravocrata que caracterizou a expansoultramarina, figurava como uma das peas centrais do intrincado mosaico criadopelo priplo dos portugueses. Vrias fontes nos ajudam a desvendar essa rica

    histria, na qual a economia ocupa lugar nobre1.

    A acumulao primitiva gerada nas colnias determinou um dos veios maissignificativos da acumulao geral do capitalismo. O Brasil participava desseprocesso como plo exportador de riquezas para todo o continente europeu, porintermdio de sua Metrpole. Essa marca na formao econmica brasileiraviria a constituir a matriz da estrutura colonial do pas, que perdurou mesmo apsa emancipao poltica para a forma estado-nao ocorrida no sculo XIX.

    1.1 AS TRS VIAS DE CONSTITUIO DO CAPITALISMO

    H trs casos particulares de construo do modo de produo capitalista: ocaminho clssico, o prussiano e o colonial, que envolvem, nos planos terico eprtico, questes que devem ser respondidas de acordo com as possibilidadesreais de cada caso. As mudanas possveis em cada uma das vias so dadas noitinerrio da insero de cada regio no capitalismo mundial.

    Os pases lderes do capitalismo construram seu desenvolvimento pela viaclssica forma sustentada de realizar a industrializao beneficiando-se dosganhos da era colonial. Nos sculos XVIII e seguintes, ocorreramtransformaes poltico-econmicas a partir das revolues democrtico-burguesas.

    A via prussiana foi seguida pelos pases de industrializao retardatria, nosculo XIX. Marcados pela ausncia de processos democrticos deemancipao, esses pases conquistaram, no entanto, sua autonomia econmica.

    J os pases de via colonial somavam ao atraso democrtico o econmico.Vale lembrar que existem algumas semelhanas entre o capitalismo de viaprussiana e o de via colonial que os afastam da via clssica, colocando-os sob omesmo manto das formas no clssicas de transio para o capitalismo. Porm,apesar das semelhanas (como a ausncia de revolues democrtico-burguesasou a existncia de grandes propriedades de terra), h tambm diferenassubstantivas entre as duas formas: enquanto a via prussiana representou umapassagem do feudalismo para o capitalismo, a via colonial no o fez, pois nasceu

    inserida no sistema j dominado pelo capital2. Toca-se, portanto, na questocentral da forma de propriedade fundiria implementada nas colnias, olatifndio. Alm disso, a forma colonial de construo capitalista criou uma

  • burguesia sem condies de obter autonomia poltica para seus pases e incapazde contribuir para que eles escapassem dos marcos da dependncia colonial, ouseja, da subordinao aos plos dinmicos das economias centrais. Em outraspalavras, a burguesia dos pases de via colonial no realizou nem suas tarefaseconmicas, nem as polticas, diferentemente da prussiana, que deixou apenas derealizar suas tarefas polticas.

    ACUMULAO GERAL E PRIMITIVA

    A acumulao de capitalfoi teorizada pelo filsofo eeconomista alemo KarlMarx. Com sua contribuiocrtica economia poltica,a esteira ricardiana,sistematizou as leis gerais daproduo. Ao comprar afora de trabalho, ocapitalista apropria-setambm do excedente de suaproduo, denominado mais-valia. A realizao dessa

  • mais-valia promove areproduo ampliada dosistema econmico, poisparte do excedente reinvestido na produo.Como a fora de trabalho denominada de capitalvarivel que cria valor, aacumulao capitalistadecorre da explorao docontingente detrabalhadores, associada utilizao de mquinas,edifcios, insumos, ou seja, ocapital constante.

    A acumulao geral decapital pressupe a

  • acumulao primitiva, queocorrera na passagem dofeudalismo para o modo deproduo capitalista naEuropa. Esse processooriginrio de acumulaocaracterizou-se pelaseparao do trabalhadordas condies objetivas detrabalho, principalmente aterra e as ferramentas. Demaneira concomitante a essaseparao, formou-se ocapital comercial advindodas trocas. Portanto, aacumulao originria deve-se reunio de riquezaspelos negociantes de

  • mercadorias durante orenascimento comercial eurbano (a partir do sculoXI), ao trfico de escravos e apropriao das terras doscamponeses fenmenohistrico identificado comocercamentos.

    A Inglaterra o exemploclssico de desenvolvimentoeconmico burgus e beroda Revoluo Industrial,resultado da acumulaoprimitiva.

    1.2 OBJETIVAO DA LGICA DO CAPITAL E SUA EXPANSO

    Situada a importncia do contexto histrico para entendermos as relaesbrasileiras com as demais regies do globo no momento atual, passemos

  • anlise da economia colonial brasileira.

    Os textos clssicos discutem o tema da ocupao territorial durante acolonizao da Amrica com base na diviso entre colnias de povoamento e deexplorao.

    As colnias de povoamento dizem respeito ao estabelecimento definitivo deeuropeus no Novo Mundo; caracteriza-se, como o prprio nome indica, pelopovoamento, pela busca de um novo lar, por pessoas que procuravam afastar-sede conflitos internos da Europa. No sculo XI, o continente europeu desenvolvia-se comercialmente, tendo alcanado notvel situao socioeconmica no sculoXV, principalmente na Inglaterra. Ocorriam, no entanto, simultaneamente, lutaspoltico-religiosas e transformaes econmicas considerveis, particularmente ofenmeno dos cercamentos. Durante dois sculos, grandes contingentespopulacionais migraram para regies de clima similar ao de seu local de origem,

    concentrando-se, prioritariamente, na zona temperada3.

    As colnias de explorao centravam-se na produo de gneros queinteressassem ao mercado internacional. A diversidade de condies naturais,em comparao s europias, propiciava a obteno de gneros diferentes eatrativos, considerados artigos de luxo, como o acar, chamado, ento, de ourobranco. Tais produtos ofereciam altas taxas de retorno para quem nelesinvestisse.

    Atrados por esses estmulos, que eram diferentes daqueles dos colonos dazona temperada, esses ocupantes buscavam enriquecer, para depois usufruir, naMetrpole, a sua nova condio. Seus interesses estavam voltados para o usufrutodas vantagens potenciais, porm o esforo fsico em ambiente to inspitodeveria ficar a cargo de outros. Os colonos eram empreendedores, masraramente trabalhadores propriamente ditos.

    O sentido ltimo das aes dos donos das novas terras era o comrcio, pois,com sua realizao, obtinha-se o lucro. Sendo assim, como a princpio as novasdescobertas no contemplaram nenhum bem comercializvel, a idia de povoaras terras brasileiras no surgiu de imediato.

    Entretanto, outras circunstncias, advindas da disputa de novos aventureirosde alm-mar, colocaram a necessidade da ocupao efetiva do solo e aconstruo de laos para alm do habitual estabelecimento de feitorias formaque assumiram as primeiras possesses portuguesas na frica. Foi, portanto, porintermdio das colnias de explorao que o capital comercial se objetivou noBrasil.

    Inicialmente, o problema a ser resolvido dizia respeito determinao danatureza dos gneros que poderiam ser aproveitados no novo territrio. De

  • imediato, a soluo vislumbrada recaiu sobre os produtos naturais, comomadeiras, destinadas construo ou obteno de tinturas, cujo exemploclssico o pau-brasil.

    Posteriormente, o extrativismo viria a ser substitudo pela agricultura. Suaexplorao seria feita em grande escala, gerando unidades monocultoras comelevado nmero de trabalhadores. A necessidade de mo-de-obra abundanteconheceu sua soluo definitiva na escravido africana o trfico negreiro viriaa ser a soluo encontrada dentro das regras da economia poltica praticada pelomercantilismo, indo ao encontro das necessidades da acumulao primitiva, queconheceu na empresa mercantil, colonial e escravocrata um dos momentos daconstruo do modo de produo capitalista.

    1.3 ASCENSO DA BURGUESIA E O PACTO COLONIAL

    Inicialmente, durante meio sculo, o descobrimento das terras nativaspareceu ser um episdio secundrio para os portugueses. Enquanto os espanhiscolheram imediatamente os frutos aurferos da conquista bastava estender amo e alcan-los , os portugueses no tiveram a mesma sorte. Por isso, osprincipais objetivos da empreitada lusa foram comprometidos: primeiro, nohaviam encontrado a almejada passagem para as ricas ndias, centro dasespeciarias, alvo maior das navegaes. Segundo, no desfrutavam as vantagensextrativas de que gozavam os espanhis.

    A notcia da existncia de riquezas metlicas no Novo Mundo, contudo,espalhava-se pela Europa e fazia aumentar a cobia em relao ao outro lado doAtlntico. As colnias ibricas tornavam-se alvos de possveis invases europias.Diante de tal quadro, a ocupao efetiva revelava-se prioritria, pois, antes dequalquer outra providncia maior, era necessrio garantir a posse do territriocolonial portugus para alm dos prprios interesses mercantis imediatos.

    Sendo assim, a gnese da nossa civilizao ocorreu por presses polticas daslutas no continente europeu. Os rivais europeus entendiam que os ibricospoderiam desfrutar somente dos territrios que realmente ocupavam. E noforam poucas as vezes que esse reconhecimento caiu por terra, nas vriasinvases ocorridas. Por todos esses motivos, a ocupao tinha de ser realizada,concorrendo com os recursos escassos antes destinados, prioritariamente, aoOriente. Coube alta administrao lusa encontrar, de forma criativa, os meiosprodutivos adequados para maximizar as fontes de recursos.

    Reiteradamente, os diferentes analistas da economia poltica domercantilismo sustentam a importncia cabal do comrcio na transio dofeudalismo para o capitalismo e, conseqentemente, o papel das navegaes edos descobrimentos na acelerao da dinmica mercantil. Sem dvida, as trocas

  • mereciam papel de destaque, porm o desenho estaria incompleto se noadicionssemos fatores internos e externos economia europia que facilitarama realizao dos grandes empreendimentos capitalistas.

    Como fator externo, deve-se destacar a influncia dos rabes, queintroduziram novos hbitos, tcnicas e conhecimentos gerais no territrioeuropeu. Como fatores internos, houve o crescimento da produtividade agrcola eos avanos tecnolgicos nas manufaturas, criando, assim, excedentes dealimentos e produtos manufaturados que podiam ser exportados com atrativastaxas de lucro. As feiras (ncleos das primeiras cidades modernas) e as Cruzadastambm contriburam, respectivamente, de forma local e internacional, paradesenvolver o sistema econmico nascente.

    Essas condies estimulavam o comrcio de longa distncia. O incrementoprodutivo verificado nas atividades primrias e secundrias da economia, criandouma nova agricultura de escala diferenciada e impulsionando a manufatura,tornou-se pressuposto da expanso ultramarina e da colonizao das novas terras.Essa nova realidade fez surgir novos grupos sociais, que se fortaleceram econheceram sua ascenso poltica devido fora econmica e financeira dasatividades mercantis. Surgiam as grandes Companhias de Comrcio, organizadasem monoplios e ligadas ao aparelho de Estado, que estava passando portransio, pois era disputado por grupos de interesses antagnicos: clero, nobrezae a burguesia nascente.

    Ao mesmo tempo que a nobreza e a Igreja detinham a hegemonia poltica,dividiam com a burguesia uma legislao que se coadunava com as necessidadesdas novas atividades econmicas o comrcio e a manufatura. A burguesia seapresentava como contrapeso monarquia feudal, jogando hbil xadrez naconquista de espaos polticos correspondentes a cada avano econmico. Classeoprimida pelo despotismo medieval, avanava paulatinamente das comunasurbanas aos governos recm-unificados. A burguesia, constituda nos marcos docapitalismo, viu finalmente seus anseios de classe social serem traduzidos pelaeconomia poltica do mercantilismo, por meio de uma legislao que era oreflexo dessa poltica: o Estado absolutista.

    MERCANTILISMO

    O Mercantilismo foium conjunto de prticas

  • econmico-comerciaisque serviu de base formao dos Estados daEra Moderna. Para aburguesia nascente, eraindispensvel a unio dosterritrios visando ahomogeneizao legal,lingstica, monetria edos costumes em geral.

    A poltica econmicamercantilista sustentava oprojeto do capitalismocomercial. Recomendavaa busca de supervit dabalana comercial e dobalano de pagamentos, o

  • controle da oferta dasmercadorias paramaximizar os lucros e aorganizao dasCompanhias de ComrcioMonopolista, quecriavam leis, tarifas,selos e outras medidaspara viabilizar osnegcios.

    Entre as aes de sua plataforma poltica, podemos destacar o bulionismo oumetalismo, balana comercial e balano de pagamentos favorveis e o pactocolonial, os quais, somados criao de tarifas, selos e atos reguladores,realizavam o projeto da fora econmica emergente, circunscrita, nessemomento histrico, s tarefas da acumulao originria.

    PACTO COLONIAL

    O pacto colonial foi

  • um dos elementos bsicosconstituintes da polticaeconmica mercantilista.Consistia basicamente noexclusivismo comercialda Metrpole em relaos suas colnias,subordinando-as pormeio de um conjunto demedidas econmicas epolticas. Osrepresentantes locais dasnaes europiascontrolavam as relaescomerciais e defendiamos interesses da Coroa edas Companhias deComrcio, organismos de

  • capital misto ou estatal.

    Aps o perodo em que prevaleceu a busca por metais preciosos ou seja, ademanda por maximizar ouro e prata circunscritos s fronteiras nacionais ,cresceu o desejo pelas garantias de sempre obter saldo favorvel na balanacomercial. Dessa maneira, as exportaes de bens foram incentivadas e asimportaes foram inibidas. Para tanto, os monoplios agiram com firmeza,dado que a regulamentao existente fortalecia essa poltica econmica,alimentando o pacto colonial nas colnias. Era uma lgica carregada decontradies, pois as medidas beneficiavam alguns setores do capital comercial,prejudicando outros. Essa marca da concorrncia capitalista, j presente emgerme no nascedouro do sistema, determinaria a poltica de alianas do poderreal com grupos comerciais visando um retorno maior de seus prpriosinvestimentos.

    Futuramente, na era industrial, a classe comerciante teria de romper todosesses laos que haviam garantido sua ascenso, pois a senda que a fortificaratornar-se-ia uma camisa-de-fora. Em razo de seu poder econmico-financeiro, a burguesia suportaria essa transio para dar o xeque-mateposteriormente, a partir das revolues democrtico-burguesas da via clssica edas reformas pelo alto da via prussiana.

    1.4 A MARCA DA COLONIZAO DE EXPLORAO

    Coube ao colonizador sistematizar o pacto colonial nos moldes dos interesseseuropeus, criando, no solo nativo, alternativas que permitissem auferir o lucroalmejado e aproveitar as potencialidades da colnia, transformando-a emprodutora efetiva de riquezas. As solues encontradas a princpio oextrativismo e mais tarde a plantation de cana-de-acar, seguidos daminerao, do renascimento agrcola e da cafeicultura inscreveram aeconomia colonial na histria metropolitana. As Terras de Vera Cruzconsubstanciaram-se em uma inesgotvel fonte de recursos, responsvel junto economia do Velho Mundo por um dos veios mais promissores da construo docapitalismo, sobretudo o ingls.

    A maneira encontrada pelos colonizadores para ocupar a colnia foi aexplorao agrcola, superando a mera atividade extrativa realizada segundo osmoldes do Oriente. A empresa foi ideada levando em conta todas as dificuldades:

  • era preciso encontrar um produto favorvel s novas condies existentes emterras virgens, sem contingente trabalhista respeitvel e que gerasse altas taxas deretorno aos seus investidores.

    Para tal empreitada, a experincia dos portugueses desempenhou papelrelevante, pois j praticavam a plantation aucareira nas ilhas do Atlntico. Porisso, j dispunham de conhecimento tcnico e de uma indstria fornecedora dainfra-estrutura necessria.Com produo em escala, as mercadorias portuguesasconseguiam concorrer com as italianas, a preos baixos, difundindo o hbito deconsumo do acar. Sem dvida, o fornecimento do acar brasileiro para omercado europeu tornou-se pgina importante da era colonial, transformandoessa especiaria em um bem de consumo to importante que passou a interferirat mesmo nos costumes da poca.

    Colaborando para a edificao dessa atividade com sabores lucrativos,contou-se com o capital holands, uma vez que parte significativa dosinvestimentos proveio dos Pases Baixos. Os batavos integraram as vrias etapas,financiaram o comrcio e a refinao e participaram da importao de mo-de-obra africana. Vislumbrada a viabilidade da nova empresa, tornou-se mais fcilatrair a ateno dos empreendedores.

    Desde o incio, o problema maior, sem sombra de dvida, havia sido osuprimento de mo-de-obra; sem esse efetivo, pouco teriam valido a experincialusa e o capital neerlands. Como sabemos, a mo-de-obra nativa brasileira,apesar de diversas tentativas, no se apresentou como soluo definitiva daquesto. A Europa no tinha condies de sofrer grandes sangrias populacionais,principalmente para cumprir esse papel, como vimos nas pginas precedentes.Somente se a paga fosse muito boa, o colono europeu se disporia a trabalhar nostrpicos. No era o caso, pois a prpria acumulao estaria comprometida se umdos fatores essenciais da produo, a fora de trabalho, exigisse remuneraoelevada. Mesmo a possibilidade de distribuio de terras, como ocorreu no nortedos Estados Unidos, no se mostrava vivel. As populaes destinadas zonatemperada davam conta dos sacrifcios de receber lotes que careciam de total

    investimento para dar algum retorno4.

    A unio de todos os elementos descritos tcnica de produo, mo-de-obra, investimentos, mercado consumidor , somada necessidade daocupao definitiva, tornou o empreendimento um sucesso. Aliados lgica docapital comercial, foram a marca da colonizao, gerando vantagenscomparativas que determinaram a opo de ocupar o Brasil e romper a linha doTratado de Tordesilhas.

    PLANTATION

  • Sistema depropriedades agrcolasde grandes proporesem que se praticava amonocultura por meio daexplorao de mo-de-obra escrava, durante aera colonial. A produooriunda dessas terrasdestinava-se,prioritariamente, exportao. Foiintroduzido pelosportugueses, queoriginariamente opraticavam na ilha de SoTom. No continente

  • americano, foiimplantadoprincipalmente no Brasil,nas Antilhas e no sul dosEstados Unidos. Essesistema era um dos elosque sustentavam aempresa mercantil,colonial e escravocrata.

    1.5 A Q UESTO DA MO-DE-OBRA

    A acumulao capitalista est centrada no binmio propriedade privada etrabalho. A natureza a fonte potencial de todos os valores de uso, e o trabalho a mediao de sua apropriao gerador da sociedade. A economia polticaclssica, desde a sua edificao, preocupou-se em teorizar como essa dinmica,combinada de forma eficiente, poderia gerar lucros. Na Europa, bero docapitalismo, esses elementos uniram-se por meio de variados desenhos, desde amanufatura at o sistema fabril.

    A forma gremial foi o germe da futura fbrica. O mestre arteso era oproprietrio da oficina, das ferramentas e das matrias-primas (que, em algunscasos, eram recebidas no ato da encomenda) e trabalhava comseus jornaleiros.Estes, em troca de aprendizado, moradia e alimentao, ajudavam a fabricar asmercadorias cujo destino era o mercado.

    As indstrias txteis desenvolveram-se a partir desse sistema, criandopaulatinamente um controle autnomo da produo. Com o crescimento da

  • economia e o desenvolvimento urbano, deu-se a separao crescente dotrabalhador de seus meios de produo terra e ferramentas , restando-lhe avenda de seu potencial de trabalho como nica fonte de subsistncia. Oscercamentos constituem um dos elementos histricos mais importantes noprocesso de acumulao primitiva.

    Entretanto, o trabalho assalariado forma clssica do sistema capitalista,pois tornou-se dominante e estendeu-se em vrios ramos no foi a nicaforma de trabalho presente na histria do capitalismo. A escravido modernaparticipou ativamente do crescimento das riquezas geradas no perodo mercantil,seja como plo acumulativo no trfico negreiro e no escambo, seja como

    importante fonte de lucros nas plantations5.

    No caso brasileiro, houve vrias tentativas de aproveitamento do gentio.Inicialmente, a mo-de-obra indgena foi utilizada na extrao do pau-brasil edepois, timidamente, na lavoura da cana-de-acar. Nesta ltima atividade, osesforos necessrios para a compulso no compensavam a empreitada. Com

    exceo dos jesutas6, que lograram um real aproveitamento desse contingenteprodutor local nas suas misses, boa parte dos demais colonizadores resolveudefinitivamente suas necessidades de fator trabalho com o uso dos escravos

    africanos7:

    () A partir do alvar de 29 de maro de 1559, dirigido ao capito da Ilha deSo Tom e ordenando que, vista de certido passada pelo governador doBrasil, cada senhor de engenho pudesse resgatar at 120 escravos do Congo,pagando apenas um tero de direitos, que comea a ser menor a penria de

    braos africanos na colnia8.

    No incio, registrou-se escassez no fornecimento da mo-de-obra escrava.Somente a partir do final do sculo XVII, os traficantes inicialmenteportugueses, substitudos por franceses e depois ingleses atenderiam commaior regularidade demanda brasileira de escravos.

    Na anlise dos ciclos econmicos do prximo captulo, demonstraremos arelao entre a acumulao predatria realizada na era colonial e o escravismo,forma de superao dos problemas encontrados pelo colono em relao forade trabalho.

    QuestesDE REVISO

  • 1.

    Quais as diferenas entreas vias colonial, clssicae prussiana deconstituio docapitalismo?

    2.

    Como podemoscaracterizar a forma deinsero da economiabrasileira no cenriocolonial internacional?

    3.

    Quais as diferenas maismarcantes entre colniasde explorao e depovoamento?

    Quais as principais

  • 4. caractersticas daempresa colonial?

    5.

    Qual foi a influnciaexercida pelas idiasmercantilistas sobre apoltica econmicacolonial?

    6.

    Que marcas acolonizao deexplorao deixou noBrasil?

    7.Como foi equacionada aquesto do suprimento demo-de-obra?

  • CAPTULO2

    Os ciclos econmicos

    cedido por Editora Nova Cultural

    Engenho Rugendas Biblioteca Municipal de So Paulo

  • Foram imensas as dificuldades para a implantao da agricultura e de atividadesextrativas no perodo do Brasil Colnia. Para atrair o colono, que deveria superaras dificuldades da zona tropical, era necessrio oferecer-lhe grandespropriedades de terra, como recompensa pelo grande sacrifcio. Convencidos danecessidade de ocupao das terras brasileiras, os portugueses dividiram-na emlotes, denominados capitanias hereditrias, e deram incio produo agrcola naforma de plantation, como vimos nas pginas precedentes. O Brasil conheceu,ento, certo florescimento econmico, mas que no se deu de maneira regular elinear, e sim sob a forma de ciclos econmicos.

    A teoria econmica afirma que os ciclos so flutuaes nas atividadeseconmicas da era industrial, ou seja, alternncia de perodos de expanso e decontrao da economia. Tendencialmente, as crises cclicas ocorrem emintervalos peridicos relativamente constantes. H diversas explicaes para ofenmeno e inmeras propostas para o enfrentamento da questo.

    Na histria econmica brasileira, o conceito de ciclos econmicos utilizadopara identificar os movimentos de crescimento e declnio das atividadesextrativas (ciclo do pau-brasil), da produo agrcola (borracha, cana-de-acar,cacau, caf) e mineradora (ouro).

    2.1 A PRODUO AUCAREIRA

    O processo de mudana da mo-de-obra nativa para a negra ocorreu durantea era colonial. Foi mais rpido na regio Nordeste, principalmente na Bahia e emPernambuco, dois grandes ncleos iniciais da produo aucareira, quedemandavam a fora de trabalho proveniente da frica. Em um segundo estgioviriam os vizinhos do Rio de Janeiro e So Vicente. Ao redor de Pernambuco, amudana da mo-de-obra estendeu-se tanto nos eixos norte-sul como para ointerior. Podemos detectar sua expanso at a fronteira com o Rio Grande doNorte. No mais, s surgiriam pequenos ncleos de menor importncia no

    Maranho e na foz do Rio Amazonas1.

    No resto do pas, a implantao do sistema foi mais lenta. Seu custo fora daszonas nobres do eixo econmico era alto, pois as condies de viagem e os maus-tratos impostos aos escravos reduziam seus quadros pela metade, aumentandoseu valor. Resolvido o fator trabalho, a monocultura pde iniciar-se; eramextensas unidades com grande nmero de braos tocando a produo, sob o olharameaador de um feitor, homem de confiana do proprietrio. O engenho, cujafuno era produzir acar, constitua o centro dessas fazendas. L, manipulava-

    se a cana e criava-se o produto final2. Com o passar do tempo, o conceito deengenho se estendeu a todas as terras e culturas, tornando-se equivalente a

  • propriedade canavieira3. As extensas terras eram ocupadas principalmente comas grandes plantaes, mas tambm com a agricultura de subsistncia epastagens dos animais.

    Desde a sua implantao, no sculo XVI, at quase o final do sculo XVIII, aproduo aucareira foi o eixo da economia colonial. O acar constitua umproduto nobre de exportao, por seu destaque no plano internacional. At osculo XVII, a produo cabocla era lder no mercado mundial, s vindo aperder esse lugar quando entraram no cenrio americano as produesconcorrentes, realizadas na Amrica Central e nas Antilhas.

    Destarte, os produtores locais tiveram de comear a investir em outrosprodutos. O tabaco baiano no s teve boa receptividade na Europa comocumpria papel similar aguardente no escambo feito na costa africana.Sintomaticamente, sua decadncia se deu poca da proibio do trficonegreiro, no sculo XIX.

    Ainda durante o ciclo aucareiro, Lisboa enfrentaria dificuldades advindasdas invases holandesas na regio Nordeste. Com o domnio castelhano sobre aCoroa lusa, durante o sculo XVII, unindo a Pennsula Ibrica sob um nicogoverno, os neerlandeses tornaram-se inimigos de Portugal e, conseqentemente,do Brasil. A manuteno dos interesses portugueses na regio Nordeste tornou-se

    mais difcil, sendo garantida na ponta das baionetas4.

    Outro dado que nos aponta a relevncia do perodo em pauta o aumentoterritorial brasileiro. A defesa do monoplio aucareiro levou ao alargamento dasnossas fronteiras sob o domnio ibrico, com o estmulo ao povoamento de outrasfaixas de terras, atingindo a regio amaznica.

    2.2 O CICLO DO OURO

    O ouro brasileiro provocaria grandes mudanas, que levariam aoesgotamento da primeira fase do acar. Contudo, o metal no superaria, emcifras de produo global, o montante de recursos que o acar forneceu aolongo da histria da colnia. Quando surgiu no palco nacional, porm, fez grandealarde, atraindo todas as atenes locais e internacionais. As demais atividadesdeclinaram diante da importncia desse metal. O ouro atraiu para Minas Gerais,junto com as classes dominantes, um contigente populacional carregado pelailuso do enriquecimento rpido.

    verdade que se buscava ouro desde o incio da empreitada mercantil. Adescoberta imediata desse metal pelos espanhis sempre havia alimentado afantasia lusa de que todo o territrio americano estivesse repleto de jazidasaurferas, e essa esperana permaneceu viva durante dois sculos de

  • explorao5. Comprovam-no as vrias expedies que, desde o incio, tinham seembrenhado mata adentro. Muitos membros dessas empreitadas pagaram com aprpria vida a ousadia, pois quase todas se perderam, vtimas dos ndios ou daprpria natureza.

    Essas expedies assumiam diversas formas, dentre as quais destacaram-seas bandeiras paulistas, que tinham como objetivo a captura de ndios. Foramesses aventureiros que encontraram o ouro mineiro na regio das cidadeshistricas de Minas Gerais. Comeou, ento, a corrida ao ouro brasileiro, que,durante um sculo, ocuparia o centro nervoso da economia.

    A repercusso da descoberta do metal ocasionou um movimento migratrioindito para o Brasil, alterando o perfil populacional, sobretudo pelo surgimentode uma camada mdia na escala social. A minerao atraiu colonos de menoresposses, devido ao tamanho mais modesto das minas brasileiras em relao s dascolnias castelhanas. No que diz respeito importncia dessa migrao, Furtadoafirma: No se conhecem dados precisos sobre o volume da correnteemigratria que, das ilhas do Atlntico e do territrio portugus, se formou comdireo ao Brasil no decorrer do sculo XVIII. Sabe-se, porm, que houvealarme em Portugal, e que se chegou a tomar medidas concretas para dificultar

    o fluxo migratrio6. A indstria da minerao consubstanciava-se naexplorao das jazidas, a qual se dava, de um lado, nas lavras e, de outro, pelotrabalho dos faiscadores homens livres e nmades que produziamisoladamente e j faziam parte do cenrio europeu. Seu volume tendeu aaumentar na fase de decadncia do ouro. A produo maior, no entanto, eraobtida nas grandes lavras, que reuniam um nmero elevado de trabalhadores, amaioria dos quais era escrava. No se registra a presena do ndio.

    No se pode ignorar que a produo aurfera conheceu novas modalidades detrabalho escravo em virtude de sua organizao geral. Diferentemente do cicloeconmico anterior, alguns escravos gozavam de uma posio diferenciada naeconomia mineira, com maior mobilidade social. Podiam mesmo chegar a seestabelecer por conta prpria, trabalhando por quotas e acumulando o suficientepara adquirir a prpria liberdade.

    Essas diferenas sociais atingiam os homens livres tambm. No passado,somente os grandes proprietrios gozavam do status advindo de sua posiodominante na estratificao social vigente. Em Minas, porm, as possibilidadeseram outras e vrios empreendedores de menor porte logravam sucesso na novaatividade.

    Vale lembrar que a atividade aurfera exigia um controle maior por parte doscolonizadores, devido sua importncia como fonte de riqueza. O controle era

  • praticado por meio de atos, regimentos, regulamentos e vigilncia local, pelosuperintendente da Intendncia de Minas, forma de administrao especial daCoroa. dessa poca a determinao da quinta parte o quinto comotaxao sobre o ouro extrado.

    A Fazenda Real enfrentava muitos contratempos para a fiscalizao dacobrana desse imposto. Tratava-se de um tributo alto para os mineradores, queno pouparam criatividade para burlar o fisco e maquiar o montante da produoobtida. Foi uma longa disputa que desembocou na criao das Casas de Fundio.Todo o ouro extrado tinha de passar por esse local para ser fundido e cunhado,quando, ento, no ato da colocao do selo rgio, era recolhido o tributo. Estavaterminantemente proibida a circulao de metal que no tivesse sidoanteriormente quintado. As conseqncias para os infratores eram severas,chegando at o degredo para fora dos domnios luso-africanos.

    Todas essas medidas foram somadas a outra, mais drstica para osenvolvidos no atraente negcio das minas de ouro: a decretao da quotamnima, por volta de 100 arrobas ou 1.500 quilos. Espontaneamente ou de formacompulsria, por meio do derrame, a quantia tinha que ser entregue fiscalizao. Tamanho abuso de Lisboa determinou um clima de revolta,culminando com a Inconfidncia Mineira, que, apesar de todos os percalos,conseguiu pr um fim nesses atos predatrios para a colnia.

    O sculo XVIII chegou ao seu final conhecendo a decadncia da mineraobrasileira. O ouro que ainda era encontrado, geralmente nos leitos e nas margensdos rios, na forma de aluvio, diferentemente daquele extrado de rochasmatrizes, era pouco abundante, o que explica seu precoce esgotamento. Somava-se a esse fato o baixo nvel tecnolgico empregado pelo explorador, sem pesquisaou aprofundamento de seus conhecimentos. A administrao colonial, devido aseu carter exploratrio, nunca investira em educao nem na racionalizao deprocessos produtivos, comportamento que teve reflexos na economia local eacelerou a decadncia da minerao.

    Outra preciosidade explorada poca foram os diamantes. O Brasil tomou olugar antes ocupado pela ndia como grande produtor de diamantes para,posteriormente, perd-lo para a frica do Sul, onde ocorreriam descobertas degrandes jazidas dessa pedra.

    Em comparao com o ouro, a produo brasileira de diamantes foipequena, mas conheceu a mesma lgica exploratria. Nesse caso, a Corteacabou por assumir totalmente a questo, com controle direto sobre o Distrito deDiamantina e demais reas.

    A minerao, apesar de relativamente efmera, ocupou um lugar dedestaque na histria da colnia. No perodo de sua vigncia, foi o foco das

  • atenes no pas e cresceu em detrimento das demais atividades. Houve umacorrida ao ouro de outras regies do pas em direo a Minas Gerais, a qualalterou o quadro populacional interno, promovendo a ocupao do Centro-Oestee a mudana do eixo econmico (que at ento estava localizado nas reas deproduo aucareira). Desenvolveram-se tambm, na regio, a agricultura e apecuria, como atividades acessrias para a manuteno da produo

    mineradora7. Outra conseqncia foi a transferncia da capital, em 1763, daBahia para o Rio de Janeiro, pois as comunicaes entre Minas e a Metrpoleseriam estabelecidas com mais facilidade por intermdio do porto carioca.

    2.3 O RENASCIMENTO AGRCOLA

    Com o florescimento da minerao, a agricultura atravessou um perodo dedecadncia. Fenmeno oposto ocorreria no sculo XVIII, quando, novamente, aagricultura se tornaria a maior fonte de recursos da colnia. Sob os auspcios dasvantagens trazidas pela Revoluo Industrial e os progressos obtidos no mundorecm-industrializado, novas oportunidades surgiram no mercado internacional.

    Em consequncia da aliana portuguesa com o governo ingls, que colocavaPortugal numa posio privilegiada no emaranhado das guerras europias, oBrasil pde aproveitar as novas oportunidades emergentes para oferecer, comvantagens, suas mercadorias tropicais nas rotas comerciais e investir em umnovo produto: o algodo. Com novas tecnologias desenvolvidas na RevoluoIndustrial, esse tecido tornou-se a principal matria-prima da poca. Devido aoaumento incessante da produo fabril, o Oriente no conseguiu dar conta dademanda. A Amrica, com suas reservas de terras virgens, foi chamada afornecer a matria-prima, e o Brasil passou a ocupar um lugar de des-taquenaquela nova corrida.

    O algodo originariamente americano. As populaes nativas, inclusive osindgenas brasileiros, j o conheciam antes dos descobrimentos. At o ltimoquartel do sculo XVIII, esse produto era usado para fabricar vestimentas rudese, ocasionalmente, exportado. Com o surto industrial, passou a ser produzido emtodo o pas, do Par ao Paran, passando por Gois e chegando at o Rio Grandedo Sul.

    O acar acompanharia o algodo no renascimento agrcola da colnia. Apsum centenrio de decadncia, as antigas regies produtoras renasceram. Aregio paulista tambm participou dessa nova fase, comeando a demarcar suafutura posio na economia nacional.

    Outra produo que floresceu nesse ciclo foi a do arroz. Embora secundrioem relao ao acar, teve certa expresso na pauta de exportaes. Asprincipais lavouras estavam localizadas, primeiro, no Maranho e, depois, no

  • Par e no Rio de Janeiro.

    O anil foi uma esperana frustrada. Os americanos se tornaram, no sculoXVIII, os maiores produtores mundiais, superando a produo indiana, que era agrande fornecedora de ento. Esse produto foi cultivado nos Estados Unidos, emSo Domingos e tambm no Brasil, que chegou a exportar cinco mil arrobas pelacapitania do Rio de Janeiro. Porm, nesse mesmo sculo comeou a decadnciae a liderana comercial voltou a ser exercida pela ndia. Os ingleses, com aperda de suas colnias americanas, voltaram a investir na sia, e a cultura deanil brasileira conheceu o declnio.

    Ainda no sculo XVIII, o cacau apareceu no cenrio baiano e na regioparaense. Complementarmente, observou-se no Par a exportao de produtosflorestais, tais como baunilha, cravo e canela, juntamente com as resinasaromticas, explorando a mo-de-obra indgena, apesar de todas as dificuldadesconhecidas.

    O caf, proveniente da Abissnia, passou pela Europa antes de atingir aAmrica e chegou ao Brasil na primeira metade do sculo XVIII. Adaptando-seperfeitamente ao nosso solo e sendo plantado e consumido como bebida no pas,causou grande expanso na economia brasileira depois da Independncia. Suaanlise merecer, na Parte 2 deste livro, um estudo minucioso, pois sua ascensoe seu auge ocorreram j fora dos marcos da poca colonial.

    Por ora, suficiente lembrar que esse produto surgiu, paradoxalmente, comoum gnero de menor importncia. No incio, foi desprezado em favor do acar,mas acabaria por figurar praticamente isolado na balana comercial cabocla apartir do Segundo Imprio. Esse fato deveu-se, em grande parte, posioadotada pelos Estados Unidos, que, menosprezando os grandes centros, at entoos maiores produtores, voltaram os olhos para a produo brasileira. Caio PradoJr. relata que:

    Os Estados Unidos, grandes consumidores de caf, voltar-se-o () para osnovos produtores (). Em particular o Brasil, favorecido alm do mais, comrelao a eles, pela sua posio geogrfica. A produo cafeeira encontrarnos Estados Unidos um dos seus principais mercados; em meados do sculo,quando o caf se torna o grande artigo de exportao brasileira, aquele pasabsorver mais de 50% dela. E essa porcentagem ainda crescer com o

    tempo8.

    O renascimento agrcola colonial marcou a superao da era da minerao.Definitivamente, a agricultura retomou sua importncia e foi reconhecida comoa base da economia local. Novamente, o Brasil voltou-se do interior para a costa,cumprindo um papel de colnia de explorao.

  • Esse novo surto no teve uma longa vida no Nordeste, pois, j na segundametade do sculo XIX, o Centro-Sul tomaria a liderana, enquanto se assistia aodeclnio das regies Norte e Nordeste e ascenso do Sul e do Sudeste, na pocado Brasil politicamente independente.

    2.4 ENTRAVES CONSOLIDAO DO CAPITALISMO

    Um dos ndulos mais significativos no desenvolvimento da sociedadecapitalista a formao do mercado interno. A economia colonial do Brasil, nafase aucareira, era orientada apenas para o mercado externo. As exportaesde acar geraram um enorme afluxo de receitas em direo colnia, mas ariqueza obtida acabou sendo despendida com importaes, ou seja, retornou seconomias centrais, enriquecendo um seleto grupo de colonizadores ecomerciantes. A economia brasileira no logrou frutos substantivos que fossemresponsveis por inaugurar uma nova era. Ao contrrio, entrou e saiu dos cicloseconmicos da era colonial com a marca de uma economia subordinada aoscentros hegemnicos do capital. O pas permanecia povoado por uma massahumana em sua maioria escravizada ou vivendo de subsistncia, impossibilitadade formar um contingente consumidor relevante que gerasse um mercado localnos moldes daqueles dos pases de capitalismo desenvolvido.

    A economia mineira foi mais propcia formao de um mercado interno,ainda que restrito, do que a economia centrada no acar. Apesar de ter geradouma lucratividade inferior da sua antecessora, a economia mineira criou umcenrio um pouco mais promissor para a colnia. De fato, longe da costa, emalguns casos compensava atividade local suprir necessidades antes satisfeitaspela importao. Acrescente-se tambm a menor concentrao de renda dociclo aurfero com relao ao ciclo aucareiro, propiciando maior mobilidadesocial com um padro de consumo mais elevado do que o encontrado no cenrioanterior.

    Entretanto, o fator mais dinmico que efetivamente poderia tirar o pas de seuatraso estrutural a produo manufatureira no vingou. Em vista dasdificuldades existentes na prpria Metrpole, dificilmente a colnia apresentariafaceta diferenciada nesse setor. So famosas as anlises do Tratado de Methuene suas conseqncias para a manufatura portuguesa:

    O pequeno desenvolvimento manufatureiro que tivera Portugal a fins dosculo anterior resulta de uma poltica ativa que compreendera a importaode mo-de-obra especializada. O acordo de 1703 com a Inglaterra (Tratadode Methuen) destruiu este comeo de indstria e foi de conseqnciasprofundas tanto para Portugal como para sua colnia. Houvessem chegado aoBrasil imigrantes com alguma experincia manufatureira, e o mais provvel

  • que as iniciativas surgissem no momento adequado, desenvolvendo-se uma

    capacidade de organizao tcnica que a colnia no chegou a conhecer9.

    Nessa fase da indstria nascente, contudo, no se logrou dar um passoadiante. O ouro brasileiro, provavelmente, foi o maior responsvel por todosesses entraves, pois entorpeceu a Metrpole, desest-imulando avanos dadinmica fabril. Usado para vencer a decadncia do fim do perodo aucareiro,foi consumido nas trocas com produtos ingleses, baseadas no Tratado deMethuen, favorecendo os produtores de vinho portugueses.

    Por diversas razes, como vimos, o Brasil no foi capaz de adentrar o sculoXIX com uma ampla e dinmica economia de mercado. Inserido desde o inciona periferia do sistema capitalista, no pde converter as imensas riquezas quetinha produzido durante trs sculos de sua histria em desenvolvimentoeconmico e social. Sua passagem de uma era para outra de colnia paraestado-nao seria carimbada pela permanncia do atraso estrutural vividopelo maior pas do continente sul-americano. Na primeira metade do sculoXIX, aps o fim do perodo colonial, na poca do renascimento agrcola, no seregistravam alteraes substantivas nessa estrutura brasileira arcaica.

    Mesmo com essas vicissitudes, a explorao lusa conseguiu dominar, porlongo tempo, um vasto imprio colonial e determinar esse modus vivendi.Encontrando-se a Europa dividida em lutas internas, havia menos motivaoainda para que Portugal mudasse sua poltica colonial. Portugal perdera suaautonomia para a Espanha quando ainda gozava, com os holandeses, dasbenesses do acar brasileiro. No foram poucas as sangrias financeiras duranteos 60 anos em que ficou subordinado aos castelhanos. Quando retomou o controlesobre seus territrios, temeu ser atropelado pelas naes europias concorrentesdo perodo setecentista. A neutralidade era impossvel nesse cenrio de naesbem mais fortes que o enfraquecido reino luso. Restava-lhe a aliana dos inglesescomo ltimo recurso. Com a busca pelo apoio britnico, o Brasil sofreria umanova sangria de riquezas.

    No sculo XIX chega a famlia real ao Brasil, fugindo das guerrasnapolenicas. Mesmo podendo-se registrar algumas modificaes na colnia,nada realmente diferenciado do que descrevemos at aqui ocorreu. Ao contrrio,o Brasil firmou-se definitivamente como dominao inglesa intermediada pelosportugueses, afastando-se de uma economia capitalista dinmica.

    Diferentemente do capitalismo de via clssica e de via prussiana, ocapitalismo de via colonial no consegue realizar uma poltica econ-micaautnoma e um capitalismo sustentado. A acumulao capitalista advinda daproduo de tantas riquezas no Brasil migrou para a Europa, plo hegemnico do

  • capitalismo mundial, ou seja, produziu-se para a Metrpole, no se retendo nacolnia o resultado de tantos esforos.

    As relaes arcaicas de produo e comercializao que procediam daorganizao do sistema produtivo brasileiro emperravam as leis da acumulaocapitalista. No Brasil, bem como nas demais colnias, a evoluo do capitalismono foi acompanhada de um perodo de idias iluministas, que gerassepensamentos humanistas, mesmo que utpicos, para formar o cidado conscientee uma comunidade democrtica, como lembra Coutinho, na sua anlise sobre osdilemas brasileiros:

    Os movimentos neste sentido, ocorridos no sculo passado e no incio destesculo, foram sempre agitaes superficiais, sem nenhum carterverdadeiramente nacional e popular. Aqui, a burguesia se ligou s antigasclasses dominantes, operou no interior da economia retrgrada efragmentada. Quando as transformaes polticas se tornaram necessrias,elas eram feitas pelo alto, atravs de conciliaes e concesses mtuas, semque o povo participasse das decises e impusesse organicamente a suavontade coletiva. Em suma, o capitalismo brasileiro, em vez de promoveruma transformao social revolucionria o que implicaria, pelo menosmomentaneamente, a criao de um grande mundo democrtico contribuiu, em muitos casos, para acentuar o isolamento e a solido, a

    restrio dos homens ao pequeno mundo de uma mesquinha vida privada10.

    A economia talvez seja uma das reas mais ricas em que se faziam maisevidentes esses sinais de isolamento e concentrao. Durante mais de trs sculosde colonizao da Coroa portuguesa, o Brasil no organizou, de forma autnoma,uma produo agrcola. As vicissitudes que acompanharam a histria produtivainicial trazem, at os dias atuais, suas cores estampadas nas contradies de umaforma capitalista que ainda no consegue propiciar chances reais de ascensosocial para a grande maioria da populao.

    A esperana de muitos economistas de que o capitalismo poderia, por seudesenvolvimento crescente e pelas leis da economia de mercado, resolver osproblemas materiais dos pases perifricos ainda no se concretizou. J segundo aescola estruturalista, a Teoria das Vantagens Comparativas, fruto daquelaesperana e modelo de interpretao da dinmica capitalista, no passou peloteste da histria colonial, colocando novas questes para a teoria econmicaresolver. Tais questionamentos dizem respeito relao entre a anlise da pocacolonial e a dos demais captulos da economia poltica geral e brasileira,desafiando o economista a buscar novas criaes analticas que dem conta dopassado e do presente. O passado no poder ser mudado, mas a sua elucidao

  • gerar, para o presente e o futuro, novas perspectivas.

    VANTAGENS COMPARATIVAS

    Possuem vantagenscomparativas os bens,produzidos em umdeterminado pas, cujoscustos de produo sejammenores que os de outropas. As vantagenscomparativas podem sernaturais ou adquiridas.As naturais so aquelasligadas aos produtosagrcolas e as adquiridasso aquelas ligadas produo de bensindustriais. Esse conceito

  • econmico originrioda economia polticaclssica e foi seguidopela escola marginalista.Aps a Segunda GuerraMundial, a Teoria dasVantagens Comparativasfoi criticada pelosestruturalistas cepalinos,como Ral Prebisch eCelso Furtado11.

    A insero da economia brasileira na diviso internacional do trabalho definida, desde a colonizao da Amrica, pela empreitada comercial martimada Europa. No sculo XIX, mesmo conquistando sua independncia poltica, oBrasil no rompeu os laos de subordinao estrutural aos plos hegemnicos docapitalismo internacional. Desde o incio de sua histria como colnia o pas seencontra diante da problemtica da emancipao, que perdura at os dias atuaise tem alimentado um rico debate, no qual podemos vislumbrar pelo menos trsgrandes correntes de pensamento.

    A primeira delas identifica a soluo dos problemas econmicos do pas nasua incorporao ao mercado internacional de forma passiva, isto , sem acirraras contradies com o sistema financeiro arquitetado pelos pases hegemnicos e

  • aceitando pacificamente as regras do jogo ditadas por eles. Trata-se da aberturapara o capital externo em nome da integrao com o mercado mundial e da

    aceitao da livre concorrncia12.

    A segunda corrente defende a possibilidade de o pas ainda ser um centroautnomo dentro do capitalismo, conseguindo sua emancipao econmica comum controle prprio da lgica do capital. O desenvolvimento econmico poderiaser alcanado desde que certas polticas econmicas garantissem nossasoberania, por meio de protecionismo e de uma participao agressiva do Estadona economia, quer como catalisador e financiador do processo deindustrializao, quer como produtor direto de servios pblicos e mesmo de bens

    intermedirios como ao, petrleo e produtos qumicos13.

    A terceira posio defende a superao da dependncia econmica brasileirapelo rompimento com o modo de produo capitalista. No existiria possibilidadede emancipao econmica e, conseqentemente, poltica, nas hostes do capital,mas apenas para alm de sua tutela. Romper com a subordinao e com osubdesenvolvimento, segundo essa corrente de pensamento, seria romper com o

    capitalismo14.

    QuestesDE REVISO

    1.Qual foi o legado scio-poltico-econmico dociclo do acar?

    2.

    Que relao pode serestabelecida entreminerao e formao domercado interno?

  • 3.Que razes explicam orenascimento agrcolabrasileiro?

    4.

    Aponte que produtostiveram algumaimportncia econmicadurante o perodocolonial, alm daquelesrepresentativos dosgrandes cicloseconmicos.

    5.

    Quais foram os principaisobstculos aodesenvolvimentocapitalista no Brasil

  • Colnia?

    6.

    Que herana restou-nosda era colonial, traduzidanas contradies daeconomia brasileira?

    7.De que maneira o Brasilpoderia alcanar suaemancipao econmica?

  • PARTE 2

    Expanso cafeeira

    e origens da indstria

    3. A economia cafeeira

    4. Origens da indstria

  • CAPTULO3

    A economia cafeeira

    caf - 1935 Pintura a leo/tela - 130x195 cm cndido Portinari Projeto Portinari

  • A lavoura de caf do incio do sculo passado no enfrentou nenhuma crise maissria de escassez de mo-de-obra. O mercado de trabalho para a produofuncionava adequadamente, pois a questo da mo-de-obra fora resolvida apartir da dcada de 1870, com a abundante imigrao europia. Alm disso, aterra no constitua obstculo expanso da produo do caf, j que vastasregies do Estado de So Paulo encontravam-se desocupadas, podendo vir a sercultivadas no futuro, ainda mais na presena de uma rede ferroviria que seexpandia na medida da necessidade de ocupao das terras novas.

    Assim sendo, a lavoura do caf e, portanto, a produo possuam amplascondies de crescimento no estado, sem enfrentar obstculos de monta. Emconseqncia, mtodos produtivos rudimentares eram perfeitamente adequados,sem reclamar nenhuma mudana que exigisse absoro de recursos de capitalpara o prosseguimento dessa empresa, cuja aplicao mais lucrativa encontrava-se na esfera comercial. Visto que a formao da lavoura e a produo de cafnecessitavam de financiamento, coube ao comerciante ocupar o espao deixadopela inexistncia de vnculos diretos entre o fazendeiro e os bancos.

    3.1 O COMERCIANTE DE CAF E O CRDITO AGRCOLA

    Durante o longo perodo do sculo XIX em que a economia cafeeira seassentou sobre o regime de trabalho escravo (e mesmo nas duas dcadasseguintes, ao final da escravido), o mecanismo de financiamento da produonas lavouras de caf vinculava-se profundamente comercializao do produto.Nesse sistema, adquiriam um papel central os comerciantes (ou comissrios) decaf das praas de Santos e do Rio de Janeiro, dos quais dependiam, em grandemedida, os fazendeiros de caf, para:

    a) realizar seus lucros, com a venda do produto; e

    b) obter os recursos financeiros necessrios produo.

    O que diferenciava um comerciante de caf de um comerciante comum,portanto, era o fato de exercer a atividade de financiador da lavoura.

    Como em qualquer atividade produtiva no sistema capitalista, seria razovelsupor que a principal fonte de financiamento de capital residisse nos lucrosgerados na prpria produo, ou, em outras palavras, no autofinanciamento.Contudo, isso no se deu na lavoura cafeeira at pelo menos a crise desuperproduco do final do sculo XIX e princpio do sculo XX, em razo dascaractersticas de exigncia de recursos para a formao e operao da lavoura.

    Os recursos financeiros na lavoura de caf so importantes por duas razes.Primeiro, por se tratar de uma cultura permanente que exige um perodorelativamente longo para sua formao. As variedades de caf correntes no

  • comeo do sculo passado produziam seus primeiros frutos somente no quartoano aps o plantio, e mesmo essa colheita inicial era modesta. A lavoura eraconsiderada formada e em plena produo apenas no quinto ou sexto ano devida. Em conseqncia, os gastos com a formao exigiam uma inverso derecursos cujos primeiros retornos tardariam longo tempo para aparecer. Asegunda razo refere-se s elevadas exigncias do trato do cafezal. Sonecessrias diversas carpas durante o ano para conservar a lavoura limpa a fimde preservar a produtividade da planta. assim evidente que, se o regime detrabalho envolvia remunerao monetria da fora de trabalho, a lavoura exigiamuito capital de giro para sua operao. Tais observaes merecem atenoquando se busca explicar a dependncia do fazendeiro de caf diante docomerciante, na poca.

    Havia, ainda, outra explicao para essa dependncia. A funo decomercializao do caf era extremamente especializada, pois envolvia opreparo de mistura de diversos tipos de caf, uma ateno especial com a bebidae outras caractersticas que refletiam as exigncias das demandas externas, dediversas procedncias. O comrcio concentrava-se, inclusive por essas razes,nos portos de Santos e do Rio de Janeiro. Assim sendo, ao fazendeiro no restavaseno a entrega de todas essas responsabilidades ao comerciante de suaconfiana, criando-se laos comerciais que acabavam por atingir o campo dofinanciamento da produo.

    As relaes entre o comerciante e o produtor assentavam principalmente nanecessidade de fornecer o primeiro a massa de recursos indispensveis parao desenvolvimento das operaes de cultura a cargo do segundo durante operodo da formao dos cafezais e posteriormente na rotao anual dascolheitas, com a obrigao taxativa da consignao do produto para a

    amortizao dos adiantamentos e dos nus que lhes so correlatos.1

    Um conjunto de circunstncias a cercar o mecanismo de comercializao efinanciamento da lavoura de caf, no incio do sculo XX, transparece da leiturado trecho anteriormente citado, escrito em 1923. Em particular, deve serdestacada a nfase no relacionamento entre o comerciante e o fazendeiro: nose tratava simplesmente de uma intermediao comercial, e sim de uma relaocomplexa na qual a funo financiadora do primeiro adquiria relevo essencial.Cabia ao comerciante a funo de prover ao fazendeiro os recursos necessriospara a formao da lavoura e para o trato do cafezal e a colheita do caf. Emoutras palavras, cabia ao comerciante fornecer os recursos para a formao docapital fixo e de giro da produo. Era o comerciante, pois, o banqueiro dalavoura. Na ausncia de um sistema bancrio, pblico ou privado, ligadodiretamente produo, o comerciante de caf assumia o papel fundamental de

  • suprir o crdito necessrio. Em contrapartida, exigia reciprocidade do fazendeiro,pois a produo era entregue aos seus cuidados, que consistiam no preparo e navenda do caf, com uma comisso que na poca era fixada em 3% do valor davenda. O comerciante fornecia o crdito ao fazendeiro; em troca, adquiria umcliente cativo. No era, contudo, um cativeiro to difcil de suportar.

    AS RELAES TRANSCENDIAM OS LIMITES COMERCIAIS

    A dar-se crdito aosescritos da poca, asrelaes entre ofazendeiro e ocomissrio, durante longotempo, no apenas eramamistosas, mastranscendiam os limitesdos negcios. Aoobjetivo do lucro,fazendeiros e comissriosmesclaram uma fortedose do sentimentalismo

  • das relaes de famlia,do viver patriarcal quelevavam. O comissriono se limitava a ser ocomerciante incumbidoda venda do caf dofazendeiro e o seufornecedor de capitais;era tambm o mentor, oparente ou amigo maisavisado que lhe impunhamoderao nas despesase o assistia nas principaisemergncias da vida comseus conselhos e seusrecursos. Achou-se assima assumir funes, quepor muito tempo manteve,

  • de regulador da atividadedos lavradores,disciplinando-os naexplorao das lavourasj existentes eestabelecendo-lhes ajusta medida na expansode novas culturas.

    E como agia essementor, ou amigo maisavisado, em que setransformou ocomissrio? Ele serviapara tudo: acharhospedagem permanenteaos filhos, sobrinhos ouparentes do comitente,

  • distribuir-lhes mesadapara os estudos, comprar-lhes roupas, livros,mandar acompanh-los ateatros, centros dediverses, enfim, assisti-los nas menores coisas.Vinham tambm oscomitentes, s vezes,hospedar-se na casacomercial, e as mesas docomerciante assumiampropores de hotis.

    A ao do comissriocom relao aofazendeiro ultrapassava,pois, os limites

  • comerciais. Alm dofornecimento de crdito eda venda do caf por eleproduzido, o comissrioencarregava-se daprestao de inmerosservios pessoais aofazendeiro, adquirindodessa forma a condiode seu amigo econselheiro.Evidentemente, asrelaes de amizadeencontravam viabilidadee fundamento nas basesde interesses comerciaisco muns.

  • O relacionamento comercial entre a casa comissria e a fazenda principiavapelo fornecimento de crdito ao fazendeiro, tanto para a formao da lavouraquanto para o custeio da fazenda. Os juros cobrados pelo comrcio comissriosobre tais adiantamentos variavam entre 9% e 12% ao ano. Ao que tudo indica,ao fazer o repasse do crdito bancrio ao fazendeiro, o comissrio no auferialucro. Isto , a taxa cobrada ao fazendeiro era a mesma cobrada pelo banco casa comissria. Assim, como o dinheiro fornecido ao fazendeiro tomava aforma de adiantamento para cobrir as despesas ao longo do ano agrcola,tambm o emprstimo bancrio era pouco formalizado: os bancos emprestavamsob crdito pessoal do comissrio (firma social ou individual) a descoberto,mediante simples comprovao de existncia de conta corrente. Mais tarde,exigiam-se letras da terra, depois letras com endosso; raramente eramnecessrias outras garantias. Assim sendo, a estrutura do sistema de crdito erainformal dos dois lados, tanto do banco ao comissrio como deste ao fazendeiro.

    Durante todo o sculo XIX, ainda sob o regime de escravido nas fazendas decaf, esse papel de comerciante-banqueiro era o exigido do comissrio. Osistema geral de venda de caf no Estado de So Paulo, desde os mais remotostempos a que nos chega a tradio, era, depois de transportado o produto aoporto, consign-lo a um comerciante; este, por uma comisso sobre o valor davenda, transferia-o a um exportador, o qual, por sua vez, colocava o caf nomercado consumidor. O comissrio continuou a exercer suas funes at pelomenos os primeiros anos do sculo XX. Mesmo depois, at a crise de 1929,conservou ainda parte da sua importncia na ausncia de um sistema bancrioligado produo:

    Era, embora em estado rudimentar, o mesmo comerciante que hojedesignamos por comissrio, e que, com pequenas variaes naturais daevoluo dos tempos, perdura at nossos dias, como principal agente de

    negcios de caf, no que toca ao produtor, em nosso porto de exportao2.

    Ao citar um trabalho de Paulo Porto Alegre, de 1878, Taunay afirmava quepelos anos em que ele escreveu, no havia ainda casas exportadoras e scomissrias. Eram os comissrios, os banqueiros dos lavradores. Concentravam,em seus armazns, as colheitas que as tropas faziam descer do planalto aolitoral. E, em seguida, observava que no havendo crdito agrcola no Brasil,

    via-se o comissrio forado a servir como banqueiro da lavoura3. O comissrioocupa, pois, um espao deixado pela inexistncia do crdito agrcola no pas.Como era possvel ao comissrio financiar a formao e o custeio das lavouras?Continua Taunay : Os bancos emprestavam sob o crdito do comissrio, de suafirma ou pessoal, sob letras endossadas por outros comerciantes, pois recusavam-

  • se, sistematicamente, a aceitar endossos de lavradores, de modo que se criavam

    interdependncias comerciais perigosas e por vezes ruinosas4. Dessa forma, afuno de intermedirio financeiro, exercida pelo comissrio, equivalia a um tipode especializao do sistema bancrio, j que este ltimo, nas condies vigentesna poca, no possua vnculo financeiro com a produo de caf.

    Por que era possvel ao comissrio o que era vedado ao fazendeiro? Quecaractersticas permitiam ao comissrio obter crdito com os bancos, enquantoaos fazendeiros o mesmo crdito era negado? Uma razo bsica residia no fatode que o crdito, durante todo o sculo XIX e at 1930, era basicamenteconstitudo de emprstimos pessoais. Em conseqncia, o conhecimento e asrelaes pessoais assumiam relevncia na concesso do financiamento. Ocomrcio comissrio situava-se, dessa forma, em posio privilegiada junto aosbancos, enquanto os fazendeiros encontravam enorme dificuldade. As casascomissrias no Estado de So Paulo localizavam-se na praa de Santos, centro docomrcio interno e de exportao de caf. Por conseguinte, essas casasmantinham um relacionamento constante com os bancos, que, mesmo quandosediados na capital, atuavam diretamente nas atividades comerciais de Santos. Osfazendeiros, ao contrrio, tinham pouca oportunidade de manter qualquerrelacionamento com os bancos, pois residiam em regies distantes de Santos e dacapital. Evidentemente, isso fazia sentido apenas pelo fato de o sistema bancrioser pouco desenvolvido, contando-se nos dedos o nmero de agncias localizadasfora de So Paulo e Santos. A abertura de agncias dos bancos nacionais e doBanco do Brasil no interior de So Paulo, que aproximaria os bancos dosfazendeiros, somente tomaria vulto nos anos 1920. o que se conclui dapassagem a seguir:

    () em 1918, os bancos nacionais, em So Paulo, dispunham de 11agncias no interior do estado. Em 1924 esse nmero subiu a 53, para atingir88 agncias em 1927. O Banco do Brasil em 1918 contava 28 agncias, dasquais quatro ficavam no Estado de So Paulo. Em 1927 o principalestabelecimento bancrio brasileiro dispe de 70 agncias, das quais 16 em

    nosso estado5.

    Havia ainda outras razes que possibilitavam aos comissrios o acesso aocrdito bancrio. Entre elas, seguramente, o fato de que no era incomumexistirem vnculos pessoais entre os comissrios e os bancos. O conselheiroAntonio Prado, por exemplo, alm de grande fazendeiro na regio de RibeiroPreto e Sertozinho (desde o final do sculo XIX), era proprietrio, juntamentecom outros membros de sua famlia, de uma casa comissria em Santos aPrado & Chaves e, ao mesmo tempo, era o controlador de um dos mais

  • importantes bancos da poca o Banco do Comrcio e Indstria de So Paulo

    (Comind)6.

    A razo principal, contudo, para o acesso dos comissrios ao financiamentobancrio, bem como para a inexistncia de um vnculo efetivo entre os bancos eos fazendeiros no comeo do sculo XX, residia na prpria natureza da empresado caf. De um lado, os capitais da poca, fossem eles nacionais ou estrangeiros,estavam aplicados basicamente no grande negcio que era o comrcio do caf.Sendo o produto uma das mercadorias de maior valor no comrcio internacional,era na esfera da comercializao que se realizavam os grandes negcios,acumulavam-se fortunas e prosperavam as empresas. Evidentemente, aproduo de caf proporcionava lucros ao fazendeiro; no entanto, tais lucroseram, seguramente, menores do que aqueles auferidos na sua comercializao,no apenas no mbito domstico, mas tambm, e sobretudo, nas exportaes.

    3.2 ESGOTAMENTO DO SISTEMA DE FINANCIAMENTO DAECONOMIA CAFEEIRA

    Sendo informal, o sistema creditcio revelava-se flexvel e adequado aofazendeiro. Se por acaso a colheita fosse pequena, ou se baixassem as cotaesdo caf no mercado internacional e os preos no mercado interno, o pagamentodo emprstimo era muitas vezes postergado. As vantagens que um sistema decrdito como esse proporcionava tanto ao comissrio quanto ao fazendeiro eramevidentes. A este ltimo, em particular, era altamente favorvel: tinha acesso aocrdito de que necessitava a juros razoveis e ainda contava com flexibilidadeem perodos de aperto financeiro. Ao comissrio, por sua vez, mesmo noauferindo lucros no repasse, cabia a vantagem de assegurar para si a colheita dofazendeiro, cuja comercializao lhe proporcionava os lucros da sua atividade.

    O ponto fraco do sistema estava, a par de suas vantagens, precisamente nocarter pessoal do crdito: com a expanso da lavoura e o conseqente aumentodo volume de negcios, as somas emprestadas cresceram e passaram a exigirgarantias mais slidas. Entretanto, mesmo essa debilidade do sistema encontrousoluo nos primeiros tempos da grande expanso da lavoura (a partir de meadosda dcada de 1880), pois o aumento do nmero de casas comissrias fazia comque os riscos maiores se dilussem. parte possveis exageros, as casascomissrias surgiram em grande nmero, acompanhando a expanso dosnegcios. Taunay chega a apontar cerca de duas mil firmas comissrias no Riode Janeiro.

    Em entrevista a um jornal do Rio de Janeiro em 1927, um antigo comerciantede caf assim descrevia o sistema:

  • () havia at 15 anos passados trs classes distintas no comrcio de caf doRio: o comissrio, o ensacador e o exportador. O comissrio recebia o cafdo interior. Adiantava dinheiro ao fazendeiro, representando em face doprodutor, o papel de banqueiro. O fazendeiro, alm dos juros, que variavamentre 9 e 12%, pagava ao comissrio uma comisso de 3% como, de resto,acontece ainda hoje. O ensacador comprava por conta prpria o caf aoscomissrios. Era esse intermedirio quem manipulava e classificava os tiposde caf. () O exportador no fazia, como hoje, a classificao do caf paraos mercados externos. Ele se limitava a compr-lo j manipulado doensacador para a exportao. Ensacador e comissrio, via de regra, eram oubrasileiros ou portugueses. O exportador era uma classe na sua quasetotalidade constituda do elemento estrangeiro, ingleses principalmente. Notinham nenhum armazm de depsito. Possuam apenas escritrios. ()Atualmente no existe mais a distino entre ensacador e exportador, hapenas duas classes de intermedirios entre o produtor e o mercadoexportador, e que so o comissrio e o exportador. A existncia outrora deuma classe intermediria entre o comissrio e o exportador era vantajosapara aquele, pois que o ensacador ajudava o comissrio a resistir desvalorizao do produto. O ensacador era um interessado na alta, tantoquanto o comissrio. E assim toda vez que o caf tendia para baixa, era elequem, via de regra, ajudava o comissrio obter crdito nos bancos, para o

    caf no ir parar a preos no-remuneradores s mos do exportador7.

    O autor da entrevista referia-se ao comrcio do caf no perodo anterior Repblica, na praa do Rio de Janeiro. Contudo, adianta que tal sistemaprevaleceu at 15 anos passados, ou seja, at por volta de 1912. Descontando-se o papel do ensacador, importante principalmente no Rio de Janeiro do sculoXIX, em essncia era esse tambm o sistema na praa de Santos, no incio dosculo XX.

    Muitas so as informaes importantes nesse depoimento. A primeira delas o interesse altista do comissrio e o interesse do exportador na baixa do caf. Aresidia um ponto de convergncia de interesses do comissrio e do fazendeiro.Ao comissrio, assim como ao fazendeiro, s interessava a alta, pois suacomisso repousava sobre o valor da venda. Ao exportador, ao contrrio, era abaixa do preo interno que interessava, pois ganhava na diferena entre essepreo e o de exportao. Nesse sentido, pode-se concluir que a casa comissriaera o representante do fazendeiro nas praas de Santos e do Rio de Janeiro.

    Outra informao importante diz respeito ao controle do comrcioexportador. Da mesma forma que no Rio, os maiores exportadores da praa deSantos eram estrangeiros. Do total de sacas exportadas pelo porto de Santos, no

  • perodo de 1895 a 1907, verifica-se que os dez maiores exportadores foramresponsveis por mais de 70% das exportaes. Dentre eles figura apenas umaempresa brasileira, a Prado & Chaves. Mesmo assim, essa firma brasileira foiresponsvel pelo equivalente a menos de 4% do total exportado no perodo. Ocontrole das casas exportadoras por firmas estrangeiras, na praa de Santos, era,pois, absoluto. Em conseqncia, uma parcela considervel da renda gerada naeconomia cafeeira era apropriada por capital estrangeiro e drenada para oexterior.

    medida que crescia a rea de atuao das casas exportadoras, emdetrimento das casas comissrias, maior era a capacidade baixista do exportadore, portanto, maior a importncia da renda apropriada e transferida para oestrangeiro. O comrcio funcionava de tal modo que queda dos preosinternacionais no se seguia uma correspondente baixa dos preos no varejo.Esse mecanismo funcionou entre 1894-1904, provocando o aumento da margemde comercializao dos intermedirios, que passou de 13 centavos por libra-pesoem 1892-1895 para 17,4 centavos por libra-peso em 1901. Em outros termos, osexportadores estrangeiros da praa de Santos exerciam um papel de oligopsniosobre vendedores, enquanto as casas comissrias organizavam-se numa estruturaconcorrencial. Decorre desse fato um confronto desigual entre fracos interessesaltistas e poderosos interesses baixistas, verificados, sobretudo, em perodos desuperproduo, como o que teve lugar no final do sculo XIX e princpios dosculo XX.

    Se de um lado os comissrios trabalhavam pela alta das cotaes, e assimrepresentavam interesses que eram seus e dos fazendeiros, por outro lado suaatividade inclua prticas que contrariavam interesses dos proprietrios de terra,como manipulaes com o caf adquirido em consignao dos fazendeiros.Quando um tipo de caf de qualidade era misturado com outros, de qualidadeinferior, alcanavam-se preos mais baixos. Para o comissrio, essa prtica erainteressante, pois assim encontrava colocao para produtos que, de outro modo,no teriam mercado. Isto , ao comissrio interessava vender pelo maior preo,mas vender todo o caf de que dispunha em consignao, o que acarretavaperdas para o fazendeiro que enviava um caf fino a Santos.

    Outras prticas tambm prejudicavam o fazendeiro. O caf vendido pelocomissrio ao exportador era acompanhado de uma simples conta de venda docomissrio ao fazendeiro, relatando as condies da venda e o crdito que ofazendeiro possua em sua conta na casa comissria. Nada impedia que estaemitisse a conta de venda em data posterior data em que a transao fora defato realizada. Tais prticas