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  • RICARDO DALLA COSTA

    ECONOMIA BRASILEIRA

    de 1930 aos dias de hoje

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    RICARDO DALLA COSTA

    ECONOMIA BRASILEIRA

    de 1930 aos dias de hoje

    1 edio 2005 1 edio revisada 2007

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    TODOS DIREITOS RESERVADOS Nos termos da Lei 9.610 de 1998 e o artigo 5 da Constituio Federal de 1988, pargrafo XXVII que resguarda os direitos autorais, proibida reproduo total ou parcial, bem como a duplicao sob qualquer forma, inclusive em apostilas, seja por meio eletrnico, mecnico, gravao, fotocpia, distribuio na Internet ou outros mtodos similares. A violao sem prvia autorizao do autor crime e est estabelecido no artigo 184 do Cdigo Penal.

    Pedidos: Ricardo Dalla Costa Rua Carlos Gomes, 204 Cornlio Procpio PR. CEP: 86.300-000

    ndice para catlogo sistemtico

    COSTA, Ricardo Dalla. Economia Brasileira: de 1930 aos dias de hoje. 1 ed. Cornlio Procpio, 2005. (1 ed. rev. 2007). 1 Economia Brasileira 2 Economia Brasileira Contempornea 3 Histria Econmica do Brasil CDD - 330

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    Ricardo Dalla Costa Bacharel em Cincias Econmicas pela Faculdade de Filosofia, Cincias e Letras de Cornlio Procpio. Especialista em Administrao Financeira pela Fundao de Estudos Sociais do Paran. Mestre em Teoria Econmica pela Universidade Estadual de Maring. Autor das obras A Estrutura Econmica do Brasil, Coletnea de Artigos de Economia e de vrios artigos cientficos destinados pesquisa.

    ECONOMIA BRASILEIRA

    de 1930 aos dias de hoje

    1 edio 2005 1 edio revisada 2007

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    A Juliana, que me fez acreditar em tantos impossveis.

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    APRESENTAO

    A oportunidade de escrever este livro foi justamente a experincia de lecionar na disciplina afim, onde aos poucos fui sentido a necessidade de passar o contexto de forma agradvel e participativa. Em 1996, quando estudante de economia, publiquei o livro a Estrutura Econmica do Brasil, onde mencionei alguns aspectos da economia brasileira com nfase no processo inflacionrio, juros e o Plano Real. Nesta obra, a semente foi lanada e a oportunidade veio ao encontro de formular a obra na qual est inserido o contexto histrico econmico dos planos governamentais, com incio no Governo de Getlio Vargas. Alm do mais, consagrei neste estudo, uma ateno especial ao Plano Real, de grande sucesso ao combate a inflao e de certa forma, um acompanhamento par a passo com o desenvolvimento brasileiro. Agradeo ainda, direta ou indiretamente aqueles que colaboraram de alguma forma para que esta obra fosse enriquecida no decorrer do desenvolvimento.

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    SUMRIO LISTA DE TABELAS 15 LISTA DE QUADROS 16 LISTA DE FIGURAS 17 LISTA DE GRFICOS 18 CAPTULO 1 - PERODO 1930/45 19 1.1 A Grande Depresso 20 1.2 Crise do Caf 21 1.3 A Industrializao (no) Intencional 23 1.4 A Segunda Guerra Mundial 23 1.5 Testes para reviso. Assinale a alternativa correta 24 1.6 Questes para reviso 25 CAPTULO 2 - PERODO 1946/55 27 2.1 O lado econmico da dcada de 1940 27 2.2 Conferncia de Bretton Woods 28 2.3 Plano Salte 29 2.4 A Volta de Getlio Vargas 30 2.5 Testes para reviso. Assinale a alternativa correta 31 2.6 Questes para reviso 32 CAPTULO 3 - PERODO 1956/60 33 3.1 A Ideologia Desenvolvimentista 33 3.2 O Plano de Metas 33 3.3 Objetivos e Instrumentos de Poltica Econmica 33 3.4 Modificaes na Estrutura Industrial - As Indstrias Dinmicas 34 3.4.1 O Estrangulamento 34 3.4.2 Metas 35 3.4.3 Financiamento 39 3.4.4 Investimento 39

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    3.4.5 Mercado, Exportao e Cmbio 41 3.4.6 Crise no Setor Cafeeiro 42 3.4.7 Poltica Salarial 43 3.4.8 Ps-Guerra 43 3.4.9 Crise Poltica Demisses 43 3.4.10 Conseqncias 44 3.4.11 Anlise Final 44 3.5 Testes para reviso. Assinale a alternativa correta 45 3.6 Questes para reviso 46 CAPTULO 4 - PERODO 1961/67 47 4.1 O Esgotamento do Modelo Substituio de Importao 47 4.2 Desacelerao do Crescimento Econmico 49 4.3 Plano Trienal 50 4.3.1 Conseqncias 51 4.4 PAEG: Programa de Ao Econmica do Governo 51 4.4.1 Conseqncias 52 4.4.2 Medidas para modernizar e fortalecer os mercados financeiros 53 4.4.3 Resultado do PAEG entre 1965 e 1968 55 4.5 Testes para reviso. Assinale a alternativa correta 56 4.6 Questes para reviso 56 CAPTULO 5 - PERODO 1968/73 - MILAGRE BRASILEIRO 57 5.1 A Poltica Comercial: tentativa de reorientao do modelo do cenrio internacional 58 5.2 O I PND - Plano Nacional de Desenvolvimento 60 5.3 A Exausto do Milagre 63 5.4 Testes para reviso. Assinale a alternativa correta 64 5.5 Questes para reviso 65 CAPTULO 6 - DCADA DE SETENTA (1974/80) 67 6.1 O Impacto do 1 Choque do Petrleo (1973) 67 6.2 A opo pela Continuidade do Desenvolvimento 69 6.2.1 O II PND 69 6.3 O Estado Empresrio e a ltima fase do Modelo de Subdesenvolvimento Industrializado 70 6.3.1 A Crise do Petrleo de 1979 70 6.4 A Questo da Dvida Externa 71 6.4.1 Inflao Administrada e Compensatria 72 6.4.2 Inflao de Demanda e Inflao de Custos 73 6.4.3 Dvida Externa 74 6.4.4 Conjuntura Econmica 75 6.5 Coeficientes 76

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    6.6 Sntese 77 6.7 Testes para reviso. Assinale a alternativa correta 77 6.8 Questes para reviso 78 CAPTULO 7 ANOS OITENTA: A Dcada Perdida 79 7.1 O Impacto do 2 Choque do Petrleo e a elevao dos juros internacionais 79 7.2 FMI e Recesso 82 7.3 Crise do Endividamento Pblico 83 7.4 A Nova Repblica e os Planos de Estabilizao de curto prazo: Cruzado, Bresser e Vero 86 7.4.1 Plano Cruzado 86 7.4.2 Plano Bresser 93 7.4.3 Plano Vero 95 7.5 Testes para reviso. Assinale a alternativa correta 96 7.6 Questes para reviso 99 CAPTULO 8 - DCADA DE NOVENTA 101 8.1 Plano Collor 101 8.1.1 Plano Collor I 101 8.1.2 Plano Collor II 105 8.1.3 Desregulamentao dos Planos Collor I e II 105 8.1.4 Dvida Externa 106 8.1.5 Impeachment 106 8.1.6 O Vice-presidente 106 8.2 Testes para reviso I. Assinale a alternativa correta 108 8.3 Plano Real 110 8.3.1 O Incio do Plano Real 110 8.3.2 Aplicaes 111 8.3.3 O Real de 1995 111 8.3.4 Papel Moeda 113 8.3.5 O Real de 1996 114 8.3.6 O Real de 1997/98 116 8.3.7 O Brasil de 1999-2000 121 8.3.8 Lei de Responsabilidade Fiscal - 2000 123 8.3.9 Dvida Externa e os ndices 124 8.4 Consenso de Washington 125 8.4.1 Abertura Comercial 126 8.4.2 Seqncia de Liberalizao 127 8.5 Resultados 127 8.6 Testes para reviso II. Assinale a alternativa correta 128 8.7 Questes para reviso 131 CAPTULO 9 SCULO XXI 133

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    9.1 A Conjuntura Econmica 134 10 REFERNCIAS 143 ANEXOS 147 Anexo 1 Coeficientes 148 Anexo 2 Polticas Fiscal, Monetria e Cambial 149 Anexo 3 Modelos de Clculo 150 Anexo 4 Dados Conjunturais 151 Anexo 5 Inflao brasileira 152 Anexo 6 Salrio Mnimo Nacional 154 Anexo 7 Balano de Pagamentos (US$ Milhes) 155 Anexo 8 - Saldo de Transaes Correntes e Necessidade de Financiamento Externo 156 Anexo 9 Vargas e Companhia Siderrgica Nacional 157 Anexo 10 Presidentes do Brasil 158 Anexo 11 Gabarito dos testes para reviso 160

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    LISTA DE TABELAS TABELA 1 Percentual das participaes do Plano de Metas 36 TABELA 2 Plano de Metas: previso e resultados (1957/61) 38 TABELA 3 Inflao na dcada de 1950 42 TABELA 4 Inflao de 1961/64 e PNB 52 TABELA 5 Inflao e Salrio (1964/67) 53 TABELA 6 Produto Interno Lquido segundo ramos de atividade (taxa anuais de crescimento por perodos em %) 55 TABELA 7 Taxas anuais de crescimento do PIB real, PIB per capita, Indstria e Agricultura (em %) 58 TABELA 8 Crescimento na produo de Bens Durveis 59 TABELA 9 Desempenho da Agricultura: taxas mdia de crescimento anual (%) 59 TABELA 10 Crescimento da Indstria de Transformao (%) 60 TABELA 11 Petrleo na Arbia Saudita (1955/73) 68 TABELA 12 Balano de Pagamento da Dvida Externa Brasileira (1967/81) 76 TABELA 13 Bacia de Campos RJ 80 TABELA 14 Participao do Produto Nacional 80 TABELA 15 Combustveis lquidos para veculos 80 TABELA 16 Principais produtos agrcolas 81 TABELA 17 Produtos industrializados para exportao (1979/84) 83 TABELA 18 Importao de petrleo bruto e produo mdia de petrleo nacional 84 TABELA 19 ndice inflacionrio (1979/85) 84 TABELA 20 Inflao no governo Sarney 96 TABELA 21 Programa Nacional de Desestatizao (1991/2002) (US$ milhes) 102 TABELA 22 Inflao no governo Collor 105 TABELA 23 Inflao mensal em 1994 108 TABELA 24 ndices inflacionrios internacionais (1995) 113 TABELA 25 Balana Comercial em 1996 115 TABELA 26 Dvida Externa Brasileira em 2000 126 TABELA 27 Taxas de inflao em pases selecionados (1996/2004) 135 TABELA 28 Conjuntura Econmica 151 TABELA 29 Inflao brasileira (1946/2004) 152 TABELA 30 Salrio Mnimo (1994/2004) 154 TABELA 31 Balano de Pagamentos simplificado (US$ milhes) 155 TABELA 32 Saldos Transaes Correntes e Necessidade de Financiamento Externo 156

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    LISTA DE QUADROS QUADRO 1 Crescimento Industrial 37 QUADRO 2 Produo Industrial Brasileira (principais indstrias de 1950/60) 37 QUADRO 3 Indstria Automobilstica Nacional 38 QUADRO 4 Capital norte-americano Aplicao pela Instruo 113 da Sumoc (1955/59) 41 QUADRO 5 Resultado do trinio 1972/74 63 QUADRO 6 Referencial da situao brasileira entre 1984 e 1985 85 QUADRO 7 Presidentes do Brasil de 1930 a 2004 158

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    LISTA DE FIGURAS FIGURA 1 Trip do investimento e desenvolvimento industrial brasileiro 36 FIGURA 2 Cdula de 50.000 cruzeiros carimbada com valor de 50 cruzados 87 FIGURA 3 Cdula de um Real 114 FIGURA 4 Moeda de um Real 114

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    LISTA DE GRFICOS GRFICO 1 Alquotas nominais mdias de importao 103 GRFICO 2 Inflao no governo FHC 129 GRFICO 3 Inflao de 2002/04 135 GRFICO 4 Reajustes percentuais da Inflao e do Salrio Mnimo (1995/2004) 136 GRFICO 5 Taxa de desemprego (1994/2005) 137 GRFICO 6 Taxa de juros Selic (2002/04) 138 GRFICO 7 Taxa de cmbio: dlar preo de venda (2002/04) 139 GRFICO 8 Reservas Internacionais (1994/2004) 139 GRFICO 9 Taxa de crescimento do Produto Interno Bruto (1980/2004) 140 GRFICO 10 Balana Comercial (1994/2004) 140 GRFICO 11 Balano de Pagamentos (1997/2004) 141 GRFICO 12 Dvida Externa Brasileira (1980 a 2004) 150 GRFICO 13 Inflao brasileira (1946/2004) 153 GRFICO 14 Investimentos Estrangeiros Diretos (IED), Transaes Correntes (TC) e Necessidade de financiamento externo (NFE) 156

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    CAPTULO 1

    PERODO 1930/45 Em 1930, a poltica do caf-com-leite (entre So Paulo e Minas Gerais) formava a oligarquia nacional onde ora um representante de cada Estado permanecia no poder, ora outro. Era um ambiente de coronelismo de corrupo e de voto de cabresto. O rompimento da oligarquia comeou quando a vez de governar o Brasil era de Minas Gerais com Antnio Carlos como indicado para o cargo, porm So Paulo no aceitou e lanou seu candidato, Washington Luis, agravando a poltica tradicional. Minas Gerais, no aceitando, uniu-se com os Estados do Rio Grande do Sul e Paraba para formar a Aliana Liberal para derrubar o governo paulista. Com essa revolta, Washington Luiz cai e a Velha Repblica1 exterminada pelo gacho Getlio Dornelles Vargas, de carter forte, fez-se popular pelo povo brasileiro, da o termo populismo ou pai dos pobres. Vargas assumiu o governo provisoriamente de 1930 a 1934 pela Lei Orgnica de 06 de novembro de 1930. Vargas modificou as regras do jogo intervindo e substituindo os interventores nomeados. Assim:

    O governo provisrio assumiu imediatamente para si todo o poder de legislar e decidir sobre impostos, moeda, cmbio, tarifas pblicas, crdito, negociao das dvidas pblicas dos Estados e do governo federal (...) J em 1931 era criado o Conselho Nacional do caf (...) o Conselho Federal do Comrcio Exterior (...) Em 1934 com a aprovao do novo cdigo de guas e Minas, o governo da Unio (o governo federal) assumia a propriedade exclusiva de todas a riquezas do subsolo nacional, cuja explorao passava para a sua responsabilidade. E com a criao do Ministrio do Trabalho, Indstria e Comrcio (TEIXEIRA e TOTINI, 1993, p. 164 e 165).

    Eleito constitucionalmente pelo Congresso de 1934 a 1937 e como ditador2, permaneceu no perodo de 1937 a 1945. Tinha viso industrial para uma

    1 A Velha Repblica constituiu no perodo de 1889 a 1930. 2 Em 1937 atravs de uma conspirao contra o governo de Washington Luiz, Vargas chegou a Presidncia da Repblica, eleito indiretamente.

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    modernizao econmica e no seu governo contou com apoio do Congresso e promulgou uma nova Constituio, criando um Estado Novo. Entre seus pontos estratgicos de acordo com a literatura da poca e com dados de Teixeira e Totini (1993, p. 173) esto: a) Diversificao da produo agrcola, dando prioridade ao caf e ao lcool, contudo, incentivando o cultivo do algodo. Assim, o Departamento Nacional do Caf (DNC) e Instituto do Acar e do lcool (IAA) foram criados em 1933; b) Melhorias do transporte e na comunicao; c) nfase do ensino tcnico e paralelamente, com apoio dos empresrios Roberto Simonsen e Evaldo Lodi, surgiu o Servio Nacional da Indstria (SENAI), em 1942; d) Modificao no sistema trabalhista, com a criao do salrio mnimo no valor de 220 mil-ris. Em 1943, houve a reforma monetria: 1 cruzeiro igual a 1 conto de ris; e) Criao do voto feminino; f) Criao do Estado Industrial (empreendedor), no que tange a recursos minerais e indstrias estratgicas, como: - o Conselho Federal do Comrcio Exterior (CFCE) e o Departamento Nacional de Poltica Mineral (DNPM), em 1934; - o Conselho Tcnico de Economia e Finanas (CTEF) e o Departamento Nacional de Estradas de Rodagem (DNER) em 1937; - o Instituo Nacional do Mate (INM), Departamento Administrativo do Servio Pblico (DASP) e o Conselho Nacional do Petrleo (CNP), em 1938; - o Conselho Nacional de guas e Energia Eltrica (CNAEE) e a Companhia Siderrgica Nacional (Usina de Volta Redonda), em 1941; - a Companhia do Vale do Rio Doce (CVRD) e a Companhia Nacional de Navegao Costeira (CNNC), em 1942; - a Fbrica Nacional de Motores (FNM), e a Companhia Nacional de lcalis (CNA), em 1943; - o Conselho de Poltica Industrial e Comercial (CNPIC) em 1944; - a Companhia Hidreltrica do So Francisco (CHESF) e a Superintendncia da Moeda e do Crdito (SUMOC), em 1945. 1.1 A Grande Depresso A Grande Depresso ocorreu em outubro de 1929 com a quebra da bolsa de valores de Nova Iorque3 (o colapso ou crack da bolsa), o que alterou as economias 3 Estados Unidos da Amrica . No desenvolver da obra ser abreviado para EUA.

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    do Globo Terrestre. No governo americano, o Presidente Franklin Delano Roosevelt tentou inverter a situao, porm as posies e at mesmo o modelo clssico da economia j no mais respondia a altura, pois abalou convices arraigadas em termos de poltica econmica. A especulao na bolsa americana motivada pelo estmulo consumista fez com que as aes despencassem de seus valores reais. Assim, uma srie de converses monetrias entre a Alemanha e a ustria eram feitas pela unio alfandegria. A Alemanha era a principal receptadora de emprstimos britnicos e americanos. Com isso as pessoas saram desesperadas (o que se denominou a Corrida para os Bancos) retirando suas economias at que em ordem crescente da populao fez o sistema bancrio entrar em colapso. Quebravam-se bancos, um atrs do outro, pois a liquidez instantnea no era possvel. Conseqentemente houve reduo no ritmo das vendas e da estagnao das indstrias. Estas no podiam obter emprstimos e os agricultores vender seus produtos, resultando em uma retrao econmica e na demisso em massa. O pensamento clssico laissez-faire, laissez-passer, le monde v de lui mne,4 j no mais surtia efeito, pois a mo invisvel da obra Riqueza das Naes de Adam Smith j no acompanhava as novas foras do mercado. Embora o comrcio internacional era da ordem das grandes naes, como os Estados Unidos, Inglaterra, Frana e Alemanha, o mundo inteiro estava paralisado at futuras solues que poderiam surgir. Em 1936 o economista John Maynard Keynes5 escreveu sua celebre obra A Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda, que ps fim teoria da Escola Clssica e revolucionou o sistema do intervencionismo do Estado, principal soluo para o desenvolvimento das naes e do desemprego em massa.6 Um exemplo citado por Sandroni (1994), que o desemprego resultado de uma demanda insuficiente de bens e servios, e s pode ser resolvido por meio de investimentos. A obra de Keynes repercutiu no mundo inteiro, inclusive no Brasil. Talvez, tanta reestruturao de um modelo para outro venha conter na frase de Bertil Ohlin,7 Prmio Nobel de Economia (1977), retratado por Joelmir Betting, o que h de mais moderno no capitalismo? O mercado de aes em bolsa. E pensar que ele foi inventado pelos belgas, em Anturpia, em 1531. 1.2 Crise do Caf

    4 Do francs, deixa fazer, deixa passar, o mundo anda por si mesmo. Princpio do liberalismo. 5 Notadamente, o economista do sculo XX. 6 A Alemanha o grande exemplo da aplicao da teoria keynesiana. 7 O economista sueco Bertil Ohlin demonstrou em sua obra publicada em 1933, que a especializao internacional deriva das diferenas na dotao de fatores entre pases. Assim, pases com estoque maior de mo-de-obra, e portanto, custos salariais menores, iro especializar-se na produo e exportao daqueles produtos, utilizando tcnicas intensivas em trabalho.

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    O Brasil tambm foi atingido pela Grande Depresso. O pas contava com a monocultura do caf, ou seja, sua principal fonte (dependncia) de recursos externos, onde os preos caram e o mercado internacional no compensou a altura. As reservas brasileiras eram da ordem de 31,1 milhes8 em setembro de 1929, desaparecendo em dois anos. O Brasil adotava o padro ouro em suas reservas. No perodo de 1930 a 1931, houve moratria e a desvalorizao da moeda em 55% (mil-ris). Segundo Furtado (1999), a poltica monetria e a poltica fiscal praticadas at ento eram orientadas no sentido de manter o ajuste do balano de pagamentos e a estabilidade cambial, no sendo levada em conta sua importncia para o crescimento da economia interna. Sem as reservas, em setembro de 1931 a situao do pas piorou, pois no tinha mais receitas cambiais associadas exportao. A dvida pblica externa brasileira era a relao de 65% com ttulos em libras. Os adiantamentos das amortizaes da dvida externa, os funding loans9, eram caracterizados por emisso de ttulos com vencimento dentre 20 e 40 anos, a taxa de 5% ao ano.10 O novo emprstimo de capital foi de US$ 1,250 bilho, sendo US$ 600 milhes dos britnicos e US$ 200 milhes dos americanos, sendo o restante de outras naes. O presidente Getlio Vargas iniciou seu governo com uma srie de entraves polticos, principalmente quanto recuperao econmica, que no atendeu aos interesses da indstria, mas sim dos agricultores, com a compra de estoques de caf pelo governo federal, financiado por crditos do Banco do Brasil e taxao das exportaes para posteriormente iniciar a queima do caf para equilibrar o estoque e o preo no mercado mundial. O excesso de estoque desequilibrava a lei da oferta e demanda, pois o mercado externo no acompanha o ritmo da produo nacional e a poltica de sustentao do preo j no surtia mais efeito. Bem antes da crise de 1929, o caf j apresentava problemas, pois a produo no parava de crescer enquanto a exportaes estavam estacionadas. Com a Grande Depresso, o principal comprador do caf (EUA) fechou seu mercado. A realidade escondida apareceu e os preos caram a 1/3 do normal. O desemprego brasileiro chegou a nveis alarmantes, aproximadamente 65% da PEA11 e no foi pior por causa da concentrao da populao que se encontrava no campo. Mesmo assim, a queda da produo do caf favoreceu a oferta de outros produtos, que at ento eram tmidos no mercado, como a mandioca, o feijo, a cana-de-acar, o milho, o arroz e o algodo. O algodo foi um grande meio alternativo para a substituio do caf, conservando a mo-de-obra no campo e gerando renda. Em 1940, com a deteriorao do sistema de trocas, novamente o pas decreta a moratria.

    8 Libras esterlinas. 9 Emprstimos atravs do qual substitudo o ttulo vencvel no curto prazo por de longo prazo. Na prtica, uma rolagem da dvida. 10 No desenvolver da obra, ao ano ser abreviado para a.a. 11 Populao Economicamente Ativa.

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    1.3 A Industrializao (no) Intencional12 A economia cafeeira era a principal fornecedora de recursos para o Brasil. A poltica de industrializao vem ao encontro da falta de capitais externos. Os produtos importados ficaram caros e o consumidor brasileiro optou por adquirir mercadorias nacionais. O Brasil aumentou e se beneficiou com o crescimento da poupana interna, provinda das receitas de importao de mercadorias diversas e da exportao do caf. Os setores que envolviam o uso da borracha, ferro, cimento, qumica, txtil, farmacutica, agricultura (alimentao, caf e algodo), bebidas, papel, carvo, material de limpeza, indstrias mecnicas, de material eltrico, naval, area e madeireira desenvolveram-se. Porm o Brasil ainda no tinha contingente e nem renda necessria para absorver toda a produo e ainda era muito carente em tecnologia. A industrializao particularmente aos poucos foi sentindo a falta dos setores bsicos, onde o governo entra para atender as necessidades objetivadas. Mesmo assim, no perodo de 1934 a 1937, o Brasil cresceu a taxa de 6,5% a.a., sendo o setor industrial despontando em 11% a.a. e o setor agrcola em pouco mais de 2% a.a. Em 1938 foi criado o Departamento Administrativo do Servio Pblico (DASP) e no mesmo ano, o Conselho Nacional do Petrleo (CNP). Em 1939 foi descoberto o petrleo no Brasil, em Lobato, Bahia. Contudo, um acordo com os americanos resultou da negociao comercial brasileira13, onde o Brasil oferecia concesses tarifrias aos EUA aos quais os mesmos manteriam nossas principais exportaes livres de tributos. Do lado brasileiro, as concesses eram para os bens de consumo durvel, e do lado dos americanos, a compra do caf, o minrio de mangans, as bragas de mamona e a castanha do Par. Outro acordo foi com a Alemanha, onde o Brasil expandiu nas vendas de algodo e caf. 1.4 Segunda Guerra Mundial A Segunda Guerra Mundial iniciou em 1939 e foi at 1945. O governo brasileiro posicionou-se a favor dos Aliados, conseqentemente perdendo os mercados europeus, que ocupado pelo Eixo,14 destruiu quase toda Europa Ocidental15 e prejudicou o trfego martimo.

    12 Levando em conta que o Brasil j tinha indstrias no perodo de D. Pedro I, ento, a partir de 1930 houve uma intensificao na industrializao para suprir a demanda interna e mesmo para diversificar a pauta de exportaes. Logo, para muitos autores, a industrializao no Brasil no teve carter no intencional, e sim, intencional. 13 Conhecida como Misso Aranha (Oswaldo Aranha), onde tinha como pauta de negociao s relaes comerciais, a dvida pblica externa e os investimentos americanos no Brasil. 14 Formada pela Alemanha, Itlia e Japo. 15 Formada por naes aliadas contra o Eixo.

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    Em 1940, a deciso de construir a primeira usina siderrgica utilizando o coque mineral marcou a posio do Estado como empreendedor. Em 1942, o Brasil cresceu vertiginosamente no seu setor industrial. Os investimentos americanos comeavam a migrar aps um longo perodo de hibernao. A inflao em 1941 manteve-se no patamar dos 15% a.a. e 20% a.a.. A origem da inflao foi por causa das exportaes como a carne (o alto consumo interno) e restries ao acesso das importaes. Com a aproximao do fim da guerra, os EUA comearam a endurecer nas negociaes, no aceitando reajustes no preo do caf em relao ao aumento dos custos de produo. Com a economia destruda, os europeus fecharam-se e os americanos abriram mo de sua poltica passando a adotar como soluo ao impasse um pequeno subsdio. A implantao do projeto siderrgico se deu por conta e iniciativa brasileira, no tendo a participao americana, uma vez que os grandes produtores de ao norte-americanos no ficaram suficientemente convencidos, apesar do apoio dos Estados Unidos.16 Em 1945, com a Europa em reconstruo, tornou-se interessante para os investidores americanos quanto ao projeto siderrgico, havendo a retificao da posio anterior. 1.5 Testes para reviso. Assinale a alternativa correta 1) No governo de Getlio Vargas o Estado empreendedor foi marcado por

    indstrias estratgicas, como: a) Companhia Siderrgica Nacional (CSN) b) Usina de Volta Redonda (UVR) c) Fbrica Nacional de Motores (FNM) d) Companhia do Vale do Rio Doce (CVRD) e) Todas as alternativas anteriores esto corretas 2) A Grande Depresso afetou o Brasil: a) Nas exportaes de capitais b) Nas produes de caf c) Nas exportaes de tecnologia d) Aumento dos juros internos e) Nenhuma das anteriores (N.d.a.)

    16 O projeto siderrgico s foi possvel graas a tecnologia americana, uma vez que o Brasil (Amrica) cedeu parte de seu territrio (Natal-RN) como base estratgia militar para o americanos na Segunda Guerra Mundial. Natal um dos pontos mais privilegiados para o abastecimento de avies para a travessia do Atlntico para bombardear a Alemanha (Europa). Num Mapa Mundi possvel perceber as distncias, que so semelhantes, formando um tringulo geopoltico. Veja Anexo 9.

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    3) A principal fonte de recursos da industrializao no Brasil foi: a) O Setor Siderrgico b) A Economia das indstrias mecnicas e navais c) Economia Cafeeira d) Investimentos dos setores bancrios e) N. d. a. 1.6 Questes para reviso 1) Cite trs pontos da Constituio no governo de Getlio Vargas na criao do

    Estado Novo. 2) O que foi a Grande Depresso? Quais as repercusses no mundo? E no Brasil? 3) Comente sobre a industrializao intencional e no intencional. D seu ponto de

    vista. 4) Que poltica os americanos praticaram com o Brasil no final da 2 Guerra

    Mundial?

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    CAPTULO 2

    PERODO 1946/55 2.1 O lado econmico na dcada de 1940 O exame desta fase particularmente importante para a compreenso das etapas posteriores do desenvolvimento, fruto dos estmulos intencionais devido necessidade de acelerao econmica. Em metade dos anos 40, o processo inflacionrio voltou. Esta poltica encontrou suporte na demanda contida. De 1945 a 1947, o pas conduziu uma rpida diminuio das reservas, e na metade de 1947, o estrangulamento externo j se fazia sentir vultosos dficits nas transaes correntes. Com a volta dos dficits do balano de pagamentos, adotou-se a introduo de rgidos controles administrativos nas importaes. O caf era o problema, pois era o principal opositor poltica de desvalorizao cambial. O caf vinha de uma longa fase depressiva. Temia-se que em 1948 a desvalorizao cambial jogasse por terra o preo internacional do produto. Quando uma forte taxa de inflao se reintroduz no cenrio interno, melhora-se o preo internacional do caf causada pela exausto dos estoques cafeeiros. Como conseqncia de fortes estmulos ao Modelo de Substituio de Importao, processou-se uma industrializao predominantemente extensiva e pouco integrada. O setor primrio aproveitou a reserva de mercado interno na faixa de bens de consumo. O setor pblico no esteve aparelhado nem financeiramente nem intencionalmente para fazer face s crescentes necessidades de capital social bsico de suporte a esta industrializao acelerada. Forjou-se assim energia e transporte que continuou a repousar nas velhas invenes do modelo primrio-exportador levando o registro da valorizao cambial sobre a pauta de exportao, com exceo do caf.

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    2.2 Conferncia de Bretton Woods Nome pelo qual ficou conhecida a Conferncia Monetria e Financeira das Naes Unidas, realizada em julho de 1944, em Bretton Woods, New Hamphire, EUA. A Conferncia envolvia representantes de 44 pases para planejar a estabilizao da economia internacional e das moedas nacionais prejudicadas pela 2 Guerra Mundial. Os acordos assinados em Bretton Woods tiveram validade para o conjunto das naes capitalistas lideradas pelos Estados Unidos, resultando na criao do Fundo Monetrio Internacional (FMI) e do Banco Internacional para Reconstruo e Desenvolvimento (BIRD), mais conhecido como Banco Mundial (BM). Assim, ficou definido: - volta do padro-ouro17; - Os pases aliados aos EUA ficam dependentes; - Paridades monetrias estveis; - Eliminao dos controles cambiais; - Incluso do dlar como moeda mundial e forte; - Objetivo de fortalecer uma nova ordem mundial atravs da reconstruo das economias devastadas pela guerra. O GATT (Acordo Geral de Tarifas e Comrcio) foi celebrado em 1947 na Genebra sobre o comrcio internacional. Em 1948 comeou a regulamentar as discrepncias tarifrias entre naes. Os princpios que incorporavam o acordo eram: - O comrcio dever ser conduzido de forma no discriminatria (sem protecionismo); - Deve ser condenado o uso de qualquer restrio quantitativa; - As disputas devem ser resolvidas atravs de consultas; Quanto s excees: - Os pases que estejam enfrentando dificuldades em seus balanos de pagamentos podem estabelecer tarifas restritivas, depois do aval do FMI; - As regras do GATT podem ser quebradas pelos pases subdesenvolvidos, quando isso for necessrio para acelerar seu desenvolvimento econmico; - Quando a produo nacional de artigos agrcolas e de pesca estiver sujeita a restries e controles, esses controles de restries podem ser extensivos aos importados. O GATT no probe a formao de Blocos Econmicos ou acordos de Unio Aduaneira desde que as tarifas sejam reduzidas entre seus membros. Tambm no se podem aumentar as tarifas para os pases no membros do Bloco.

    17 Os EUA tornaram-se a grande potncia econmica. Os americanos nunca foram grandes produtores de ouro, mas com o fim da 2 Guerra Mundial, detinham 80% do ouro do mundo. A explicao que muitas pessoas que viram suas naes serem destrudas, como refugiados (judeus), cientistas, empresrios e trabalhadores emigraram para os Estados Unidos, levando de uma forma ou de outra todo o ouro que possuam, transformando na moeda local.

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    2.3 Plano Salte Criado no governo de Eurico Gaspar Dutra (1946-51) foi o primeiro plano-modelo econmico brasileiro. Elaborado pelo Departamento Administrativo do Servio Pblico (DASP), tinha como prioridades: sade, alimentao, transporte e energia. A iniciais da sigla SALTE, em 1949, so na verdade as prioridades do plano. Os recursos disponveis tinham como fonte os emprstimos externos e da receita do governo federal. O Plano vigorou no perodo de 1949 a 1954. O Plano Salte mal saiu do papel quando veio a deteriorar-se com a promulgao do Congresso dos Estados Unidos, na insero do Ponto IV, ou seja, uma estratgia de desenvolvimento internacional em auxlio tcnico aos pases pobres. A denominao Ponto IV era por causa do quarto ponto do discurso de posse do presidente norte-americano Harry Truman, em 1949. Chegou ao Brasil em 1950 mas no obteve o sucesso esperado uma vez que tinha como meta a educao e a rea sanitria, no almejando um macro desenvolvimento nacional. As conseqncias do plano para o pas foram: - A agricultura e a indstria de transformao (navios e veculos) expandiram-se significativamente; - Maior ajuste nas contas pblicas;18 - Inflao na faixa de 11% a.a.; - Equilbrio nas contas externas. Em relao a Poltica Cambial, foi criada a CACEX (Carteira de Comrcio Exterior), substituindo a CEXIM (Carteira de Exportao e Importao), ocorrendo uma reforma cambial bem mais ampla e profunda, com estabelecimento do Sistema de Taxas Mltiplas de Cmbio (Instruo n 70 da Sumoc, de out. 53) (FURTADO, 2000, p. 178). Essa poltica foi muito til at 1961, uma vez que encareceu o produto importado, subsidiou o cmbio na importao de bens de capital (mquinas e equipamentos) e insumos bsicos permitindo recursos para o governo investir na infra-estrutura social. Em contrapartida,

    esse subsdio no era concedido s empresas nacionais, que j enfrentavam normalmente em condies de inferioridade a concorrncia com empresas estrangeiras, que quase sempre importavam mquinas e equipamentos de segunda mo, resultantes de linhas de produo obsoletas e j desativadas em seus pases de origem (REGO e MARQUES et al, 2001, p. 85).

    No perodo de 1951 a 1954, Getlio Vargas foi eleito por sufrgio universal (votao). 18 No incio de 1949, o Brasil fez o seu primeiro financiamento junto ao FMI, no valor de 15 milhes de dlares, em abril daquele mesmo ano (FURTADO, 2000, p. 172).

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    2.4 A volta de Getlio Vargas No final de seu governo, em 1951, Vargas encaminhou ao Congresso o projeto de lei para a criao da Petrobrs, uma vez que existiam muitos conflitos e discordncias, pois a empresa petrolfera monopolizaria a prospeco de petrleo e deixaria de fora os interesses particulares. Em 1953 o projeto foi aprovado e criou-se uma polmica empresa estatal. Vargas foi acusado de vrias formas, inclusive sobre um novo golpe de Estado, chegando a escrever uma carta testamento antes de seu suicdio, em 24 de agosto de 1954. O vice-presidente Caf Filho assume o governo e fica at 1955.

    Carta-testamento de Getlio Vargas Mais uma vez, as foras e os interesses contra o povo coordenaram-se e novamente desencadeiam sobre mim. No me acusam, insultam; no me combatem, caluniam, e no me do o direito de defesa. Precisam sufocar a minha voz e impedir a minha ao para que eu no continue a defender, como sempre defendi, o povo e principalmente os humildes. Sigo o destino que me imposto. Depois de decnios de domnio e espoliao dos grupos financeiros internacionais, fiz-me chefe de uma revoluo e venci. Iniciei o trabalho de libertao e instaurei o regime de liberdade social. Tive de renunciar. Voltei ao governo nos braos do povo. A campanha subterrnea dos grupos internacionais aliou-se dos grupos nacionais revoltados contra o regime de garantia do trabalho. A lei de lucros extraordinrios foi detida no Congresso. Contra a justia da reviso do salrio mnimo desencadearam os dios. Quis criar a liberdade nacional na potencializao das nossas riquezas atravs da Petrobrs e, mal comea esta a funcionar, a onda de agitao se avoluma. A Eletrobrs foi obstaculada at o desespero. No querem que o trabalhador seja livre. No querem que o povo seja independente. Assumi o governo dentro da espiral inflacionria que destrua os valores do trabalho. Os lucros das empresas estrangeiras alcanavam at 500% ao ano. Nas declaraes de valores do que importvamos existiam fraudes constatadas de mais de 100 milhes de dlares por ano. Veio a crise do caf, valorizou-se o nosso principal produto. Tentamos defender seu preo e a resposta foi uma violenta presso sobre a nossa economia, a ponto de sermos obrigados a ceder. (...) Lutei contra a espoliao do Brasil. Lutei contra a espoliao do povo. Tenho lutado de peito aberto. O dio, as infmias, a calnia no abateram meu nimo. Eu vos dei a minha vida. Agora vos ofereo a minha morte. Nada receio. Serenamente dou o primeiro passo no caminho da eternidade e saio da vida para entrar na Histria.19

    No ltimo governo de Vargas (1951-54), a poltica desenvolvimentista caracterizou: - A Comisso Mista Brasil-Estados Unidos para o Desenvolvimento Econmico, de 1951 a 1953; - Criao do Plano do Carvo Nacional, em 1951. Devido s reservas localizadas na regio sul do Brasil20, surgiu a Superintendncia do Carvo Nacional; - Criao do Banco Nacional de Desenvolvimento (BNDE), em 195221;

    19 Fonte: CARONE, E. A Quarta Repblica (1946-1964). So Paulo: Diefel, 1980, p. 58-59) apud MAXI, vol. 4, p. 7-8, 1989. 20 Com nfase em Santa Catarina. 21 Lei n. 1.628/52.

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    - Criao da Petrobrs, empresa estatal petrolfera, onde tinha o monoplio da extrao e refinao de petrleo, em 195322. Conclui-se que Vargas fez do Brasil um Estado Intervencionista23 e uma poltica da qual todos se tornam dependentes do Estado. Foi criticado pelos liberais por no deixar espao na poltica econmico-financeira, no controle da moeda, no cmbio, no crdito e no comrcio exterior. Com posio aos Estados Unidos, foi rgido e manteve uma posio independente. Vargas24 no era s centralizador, intervencionista, populista, autoritrio e nacionalista, mas sim, um lder nato com capacidade poltica extremamente forte. Sendo assim, deixou o Brasil propcio industrializao, porm sem recursos financeiros, uma vez que o Estado estava no seu limite oramentrio. 2.5 Testes para reviso. Assinale a alternativa correta 1) A poltica de substituio das importaes ocasionou: a) Uma industrializao predominantemente extensiva b) Reforo no crdito agrcola c) Crise internacional d) A queima do caf e) N.d.a. 2) A conferncia de Bretton Woods resultou na: a) Criao do Banco Central b) Criao das Naes Unidas c) Criao do GATT d) Criao do FMI e) N.d.a.

    22 A Petrobrs (Petrleo Brasileiro S.A.), criada pela Lei n. 2004/53, tinha como finalidade de pesquisar, explorar, produzir, refinar e transportar o leo e derivados de produo nacional. (FURTADO, 2000, p. 175). 23 Segundo as teorias keynesianas. 24 Para muitos brasileiros, Getlio Vargas foi o melhor presidente que o Brasil j teve.

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    3) O Plano Salte no tinha como objetivo: a) Sade b) Alimentao c) Transporte d) Energia e) Educao 2.6 Questes para reviso 1) O que ficou definido na conferncia de Bretton Woods? 2) Qual a finalidade do GATT? 3) O que foi o Ponto IV? 4) Na carta testamento de Getlio Vargas citado uma srie de denncias. Faa um resumo com pelo menos trs pontos de foras alheias que prejudicaram o Governo. 5) Cite trs pontos da poltica desenvolvimentista no final do governo de Vargas.

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    CAPTULO 3

    PERODO 1956/60 3.1 A Ideologia Desenvolvimentista O perodo que se inicia em 1956 marcado por reformas institucionais e instrumentais ao nvel da poltica econmica corrente, de que resultou numa profunda transformao qualitativa do Estado, acompanhamento do alargamento de suas funes como agente empresarial. A idia era fazer um plano em que o Brasil crescesse 50 anos em apenas 5. 3.2 O Plano de Metas O primeiro grande plano de desenvolvimento posto em prtica foi o Plano de Metas ou Plano Nacional de Desenvolvimento. Elaborado e executado pelo governo Kubitschek (1956/61), partiu da concepo de que o Estado deveria criar condies necessrias e suficientes para que as empresas privadas desenvolvessem indstrias de transporte, setores agrcola e pecurio. 3.3 Objetivos e Instrumentos de Poltica Econmica Tinha como principal objetivo a: - industrializao; - expanso das oportunidades de emprego no setor dinmico-urbano; - identificao dos pontos de estrangulamento25 existentes; - plos de germinao de crescimento26; - catalisar recursos e orientar os projetos decorrentes das metas setoriais; - criao de instituies financeiras de fomento. Para que fosse possvel a implantao do Plano de Metas, foi preparado o levantamento estrutural da economia brasileira entre 1951/53 por uma comisso

    25 Gargalos do desenvolvimento econmico. 26 Regies propcias a vocaes de determinados setores da economia.

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    mista de brasileiros27 e americanos. Esse levantamento, constitudo por dezessete volumes, indicou os setores de germinao do crescimento acelerado e sugeriu mais de quarenta projetos especficos. O Plano de Metas visava romper pontos de estrangulamento em reas caracterizadas por uma demanda insatisfeita e comprometedora do crescimento harmnico e auto-sustentado28 atravs do Modelo de Substituio de Importaes. A eliminao dos pontos de estrangulamento caberia ao setor pblico, que caracteriza por investimentos de longo prazo. Ainda assim, os plos de germinao eram conseqncia, na qual caberia ao setor privado. Destacaram-se no governo JK no que diz respeito poltica industrial, a criao do Grupo Executivo da Indstria Automobilstica (GEIA), em 1956. Outros Grupos Executivos da Indstria foram tambm criados, como o Grupo de Construo Naval (GEICON), Grupo de Mquinas Agrcolas e Rodovirias (GEIMAR), Grupo Mecnica Pesada (GEIMAP), Grupo de Exportao do Minrio de Ferro (GEIEMF), Grupo de Armazenamento (Silos) e de Material Ferrovirio (GEIMF). Para frisar o impacto do avano da industrializao brasileira, o Jornal Folha de So Paulo lanou um almanaque intitulado de So Paulo 110 anos de Industrializao (1955-1961, p. 129) com os seguintes dizeres:

    Graas ao Geia, no incio da dcada dos 60, 12 empresas j produziam veculos automotores no Brasil. Os nmeros da indstria de autopeas eram ainda mais animadores: cinco fbricas existentes no Pas em 1941, saltara-se, em 1962, para 1650, das quais 1470 em So Paulo.

    3.4 Modificaes na Estrutura Industrial - As Indstrias Dinmicas 3.4.1 O Estrangulamento O Plano de Metas visava romper o estrangulamento, realizando o Modelo Substituio de Importao nos setores de bens de capitais e bens de consumo durveis. Para o primeiro setor, os recursos continuariam sendo fornecidos pelo Estado atravs de novas emisses de moeda e da moderao de emprstimos externos. O segundo setor de maior lucratividade que deveria atender a crescente demanda interna se faria pela internacionalizao da economia abrindo ao Capital Estrangeiro. A Instruo 113 da SUMOC (Superintendncia da Moeda e do Crdito),29 aproveitando-se de capital estrangeiro, franqueava a estes a importao sem cobertura cambial de mquinas e equipamentos com a condio apenas de se

    27 Destaca-se tambm o grupo misto entre a CEPAL (Comisso Econmica para a Amrica Latina) e os tcnicos do BNDE. 28 O Plano de Metas estimulou decisivamente o PSI (Programa de Substituio por Importaes), especialmente no setor de bens de consumo durvel, e mesmo em importantes reas do setor de bens de capital, como nos ramos de mquinas-ferramentas e de equipamentos sob encomenda, particularmente no setor eltrico pesado. (REGO e MARQUES et al, 2001, p. 95). 29 A SUMOC fazia o papel do Banco Central.

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    associar ao capital nacional30. Teixeira e Totini (1993, p. 197) do nfase nesta Instruo, pois o governo brasileiro faz inmeras concesses s empresas estrangeiras, no que diz respeito livre importao sem cobertura cambial, remessa de lucros com cmbio favorecido, alm de facilidades de crdito nos bancos oficiais. Contudo,

    num relatrio de 1956, a prpria Sumoc alertava para o fato de o Brasil, em lugar de estar recebendo novos investimentos externos, estar promovendo um desinvestimento de capitais. (...) O que estava saindo para o exterior na forma de pagamentos de lucros, juros e amortizaes superavam em muito os novos ingressos de capital (Idem, p. 198).

    O governo no s queria romper o problema de estrangulamento, mas tambm, preencher lugares vagos no pas, atraindo o capital externo assim como sua tecnologia para o crescimento industrial. 3.4.2 Metas O Plano de Metas compreendia trinta metas programadas para abranger cinco setores. De acordo com Furtado (2000, p 181) e Teixeira e Totini (1993, p. 187) os setores so: - Energia (meta de 42,4%): Energia eltrica, energia nuclear,31 carvo mineral e petrleo (produo e refinaria); - Transportes (meta de 28,9%): Ferrovias (reaparelhamento e construo), rodovias (pavimentao e construo), servios porturios e de dragagens, marinha mercante e transportes aerovirios; - Alimentao (meta de 3,6%): Trigo, armazns e silos, armazns frigorficos, matadouros industriais, mecanizao da agricultura e fertilizantes; - Indstrias de base (meta de 22,3%): Siderurgia, ao, alumnio, metais no ferrosos, cimento, lcalis, celulose e papel, borracha, indstria de construo naval, indstria mecnica e de material eltrico pesado. Como principal plo de germinao, indstria automobilstica; - Educao (meta de 2,8%): Formao de pessoal tcnico, manuteno e ampliao do ensino pblico. A Figura 1 ilustra o trip do investimento.

    30 Segundo Pereira, (1968, p. 119), a Instruo 113 da Sumoc e o sistema de proteo tarifria, que levariam a um grande nmero de associaes entre empresas nacionais e estrangeiras. 31 Atravs do Instituto de Energia Atmica, em 1956. De 1958 a 1961, acordos internacionais foram assinados para o desenvolvimento dessa tecnologia.

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    FIGURA 1 - Trip do investimento e desenvolvimento industrial brasileiro Governo

    Capital Capital Privado Privado Nacional Estrangeiro Deve-se levar em conta que no havia proporcionalidade no esquema ilustrado, pois a maior parte dos investimentos eram feitos pelo governo e pela iniciativa privada estrangeira. A Tabela 1 ilustra as metas aplicadas nos cinco setores chaves da economia brasileira. Compare as porcentagens estabelecidas com as alcanadas.

    TABELA 1 Percentual das participaes do Plano de Metas

    Principais Setores

    Esfera Privada

    Conjugao das esferas pblica e privada

    (sociedades de economia mista)

    Esfera pblica (autarquias e

    governos federal e estadual)

    Destinao dos recursos aos

    setores principais

    Energia 10,49 23.72 9.14 43.35 Transporte 4,49 11,46 13,65 29,60 Alimentao 2,35 0,01 0,88 3,24 Indstria de base 13,18 6,74 0,51 20,43 Educao - - 3,38 3,38 TOTAL 30,51% 41,93% 27,56% 100,00%

    FONTE: ROSSETTI, (Tabela 3.2, 1987) Os Quadros a seguir mostram o crescimento industrial brasileiro. O Quadro 1 faz uma comparao entre os governos antes e depois de JK. O desempenho da economia brasileira no perodo 1956-62 mostrou ndices ligeiramente superiores ao de Vargas com destaque a produo de bens de consumo durvel e bens de capital.

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    QUADRO 1 Crescimento Industrial Produto

    Perodos PIB Agricultura Indstria Construo civil

    1947-1955 6,8 4,7 9,0 5,5 1956-1962 7,1 4,5 9,8 5,1 1962-1967 3,2 1,7 2,6 - 2,8

    Produto Industrial

    Bens de consumo no-durveis

    Bens de consumo durveis

    Bens Intermedirios

    Bens de capital

    6,7 17,1 11,8 11,0 6,6 23,9 12,1 26,4 0,0 4,1 5,9 - 2,6

    FONTE: TEIXEIRA e TOTINI, (1993, p. 201) O Quadro 2 mostra as indstrias bsicas e as indstrias leves na dcada de 1950. Em negrito o perodo do governo JK eleva os ndices de produtividade rapidamente.

    QUADRO 2 Produo Industrial Brasileira (principais indstrias de 1950/60) Discriminao Quan-

    tidade 1950 1952 1954 1956 1958 1959 1960

    Indstrias bsicas Petrleo 1000 bar 338 750 992 4059 18923 23590 29613 Gusa 1000 ton 729 812 1089 1152 1384 1479 (*) 1600 Folha-de-flandes 37 42 41 77 79 90 94 Trilhos - 77 53 123 57 53 14 Cimento 1386 1619 2490 3275 3790 3841 4447 Carvo Mineral 1959 1960 2055 2234 2240 2330 (*) 2500 Soda custica - - - 30 60 64 - Geradores eltricos 1000 un - - - 7 9 (*) 10 (*) 10 Motores eltricos - - - 384 484 (*) 500 (*) 500 Caminhes - - - - 36 48 51 Automveis para Passageiros

    - - - - 2 12 37

    Indstrias leves Pneumticos para veculos a motor

    1000 un 1354 1635 2054 1919 2141 2738 (*) 2800

    Cmaras-de-ar para Veculos

    883 988 1257 1257 1547 1774 (*) 1800

    Papel 1000 ton 248 262 314 380 416 (*) 450 (*) 500 Celulose - 33 - 110 170 (*) 177 467

    FONTE: TEIXEIRA e TOTINI, (1993, p. 189) NOTA: (*) Estimativa

    Outra evidncia das metas vem a ser ilustrado na Tabela 2.

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    TABELA 2 Plano de Metas: previso e resultados (1957/61) Meta Previso Realizado %

    Energia Eltrica (1000 kw) 2000 1650 82 Carvo (1000 ton.) 1000 230 23 Petrleo-Produo (1000 barris/dia) 96 75 76 Petrleo-Refino (1000 barris/dia) 200 52 26 Ferrovias (1000 km) 3 1 32 Rodovias-Construo (1000 km) 13 17 138 Rodovias-Pavimentao (1000 km) 5 - - Ao (1000 ton.) 1100 650 60 Cimento (1000 ton.) 1400 870 62 Carros e caminhes (1000 un.) 170 133 78 Nacionalizao (carros - %) 90 75 - Nacionalizao (caminhes - %) 95 74 -

    FONTE: REGO e MARQUES et al., (2001, p. 92) O Quadro 3 mostra as metas e os resultados da produo automobilstica no Brasil.

    QUADRO 3 Indstria Automobilstica Nacional Veculos

    Automotores Metas Resultados ndice de

    Nacionalizao (junho/62)

    Caminhes 170.800 154.700 Caminhes: 93,0% nibus: 86,4%

    Jipes 66.800 61.300 90,9% Utilitrios 52.600 53.200 94,3% Automveis 58.800 52.000 89,3% Total 347.700* 321.200 Mdia: 92,3%

    FONTE: FURTADO, (2000, p. 186) NOTA: (*) Meta inicial: 100.000 veculos automotores em 1960. Tratores (incio da produo em fins de 1960). Produo em 1962: 1.984 tratores leves; 4.779 mdios; 823 pesados. Total: 7.586 tratores (aumento de 352% em relao ao ano anterior). Como exemplos das indstrias automobilsticas32 nacionais destacaram-se: - Fbrica Nacional de Motores (FNM), fundada em 1940, com os tratores Fiat e automveis FNM 2000 JK; - Ford, fundada em 1919, com os caminhes F-600, F-350, pick-up F-100 e o trator Ford 8 BR Diesel; - Vemag S/A, Veculos e Mquinas Agrcolas, em 1956, produzindo o automvel DKM Vermaguete (Decav) e motores para equiparem as motos Lambrettas (1954);

    32 Dados retirados do almanaque SO Paulo - 110 anos de Industrializao (1955-1961).

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    - Volkswagem, com a Kombi (1957) e posteriormente o Fusca 1200 (1959); - Mercedes Benz, produzindo os primeiros caminhes a diesel, em 1956; - Simca do Brasil, com os automveis de alto padro, com o Simca-Chambord, em 1960; - Fbrica de Mquinas Agrcolas Romi, lanando o primeiro motor nacional equipado pelo veculo Romi-Isetta, em 1955; - Scnia-Vabis, produzindo caminhes em 1957 e nibus em 1961; - General Motors, fundada em 1925, lanou o automvel Veraneio, em 1964; - Willys-Overland, com os carros Jeep e Rural; - Indstria Villares, Elevadores Atlas e Grassi S/A, com a fabricao do primeiro nibus eltrico. 3.4.3 Financiamento As atividades do setor pblico eram basicamente controladas pelo BNDE (Banco Nacional de Desenvolvimento Econmico), pois controlava os mecanismos de financiamento, diretos ou indiretamente ligados s metas de infra-estrutura. Diretamente, atravs dos recursos do programa de reaparelhamento econmico e dos avais e garantias que eram indispensveis para a obteno de financiamento no exterior; indiretamente, porque os recursos vinculados, mesmo quando no manipulveis discricionariamente pelo BNDE, eram a depositados, constituindo-se em garantias para os financiamentos internacionais.

    para tornar possvel a transformao econmica brasileira numa economia industrial, questes importantes deveriam ser resolvidas. Entre elas, a questo do financiamento. Tanto os empresrios quanto as autoridades do governo sabiam que os recursos internos do pas (basicamente as rendas das exportaes do setor primrio) eram da base industrial brasileira. Teriam que ser aplicados recursos financeiros em grande volume, em investimentos a longo prazo. Assim, a utilizao de recursos externos, emprstimos e investimentos estrangeiros era absolutamente necessria (TEIXEIRA e TOTINI, 1993, p. 193-194).

    3.4.4 Investimento O desenvolvimento do Plano de Metas foi apoiado na captao de investimentos externos de indstrias de ponta que pudessem produzir no pas produtos acabados at ento importados. Cerca de 41,9% dos recursos previstos destinavam-se importao de bens e servios. Aos poucos, grandes empresas monopolistas internacionais transferiram-se para o Brasil, principalmente as indstrias de eletrodomsticos, aparelhos eletrnicos, algumas indstrias de mquinas, equipamentos e comunicaes e indstria automobilstica. Assim o modelo de desenvolvimento adotado, apoiado na internacionalizao da economia conduziu o pas a um maior grau de endividamento. Apesar de algumas metas no terem sido alcanadas integralmente, outras superaram a previso. O setor pblico no Brasil tornou-se proprietrio das atividades de transportes martimo, fluvial e ferrovirio, de produo e refino de petrleo e

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    combustveis atmicos. Passou a controlar a maior parcela do setor siderrgico, caminhando a passos largos para se constituir no principal produtor de energia eltrica. Passou a intervir diretamente nas atividades de exportao, comercializando parcela substancial da produo exportvel e regulando direta e indiretamente o mercado cambial. Ainda assim, tornou-se regulador direto de atividades de extrao do subsolo, vias de comunicao e canais de radiodifuso, atravs de concesses, transformando-se no maior banqueiro comercial, outorgando, aproximadamente, 35% do crdito geral ao setor privado e a maior parcela do crdito agrcola. Salrios, taxas de juros, aluguis e o preo mnimo para a agricultura era o Estado que determinava. Destacam-se como investimentos significativos: - Energia nuclear: cooperao pacfica com a Itlia em 1958; - Energia eltrica: construo das Hidreltricas de Furnas e Trs Maria; - Meta sntese: construo de Braslia, em 1960; - Estaleiros: indstria naval; - Ferro e ao: construo de usinas siderrgicas; - Alumnio: atravs de capitais privados. Surgiu a Cia. Brasileira de Alumnio, fundada em 1955; - Telefonia: sistema DDD (discagem direta distncia), onde a primeira chamada foi realizada entre So Paulo e Santos; - Curso de Engenharia Mecnica, no Instituto Mackenzie, em 1959; - Curso de aprendizagem atravs do Servio Nacional de Aprendizagem (SENAI), em 1955; - Petrleo: crescimento exponencial para atender a frota de veculos aqui produzidos; - Estradas rodovirias: 460.000 km em 1955 e 475.000 km em 1959; - Avies: jatos da Varig realizaram vos regulares para Nova Iorque, com subsdio nacional, em 1955. Para vos domsticos, o Bandeirante foi primeira aeronave nacional a sobrevoar o Brasil; - A SUDENE (Superintendncia do Desenvolvimento do Nordeste) surgiu em 1959 atravs dos artigos 34/18 (artigo 34 da Lei 3995/61 e artigo 18 da Lei 4239/63), de Celso Furtado, que via o sistema de incentivos fiscais para transferir o capital industrial do Sul para o Nordeste com intuito de equilibrar os desequilbrios regionais. Pereira (1982, p. 87) faz a anlise dos programas de investimento para minimizar os desequilbrios regionais, como o caso da Sudene:

    Em sntese, o planejamento regional, apesar do esforo realizado, no foi capaz de reduzir o desequilbrio entre o Sul e o Nordeste porque permaneceu submetido lgica do capital e no foi sequer capaz de se contrapor s estruturas mercantis desse capital dominantes no Nordeste. Entretanto, graas s transferncias reais de recursos, impediu que o desequilbrio se aprofundasse. E serviu como mais um instrumento de dominao da burguesia mercantil e latifundiria local que lentamente se transforma em burguesia industrial.

    Por outro lado, Teixeira e Totini (1993, p. 200) frisam que de acordo com informaes do Banco Central, os seis pases estrangeiros com maior volume de

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    capital investido no Brasil em 1960 eram: Estados Unidos (38% sobre o total); Sua (13%); Canad (11%); Alemanha Ocidental (9%); Frana (2%); Japo (2%). Os investimentos dos Estados Unidos so mostrados no Quadro 4. Com destaque os setores de siderurgia-metalurgia, mquinas-automveis e qumica-farmacutica receberam mais de 10% dos investimentos aplicados.

    QUADRO 4 Capital norte-americano - Aplicao pela Instruo 113 da Sumoc (1955/59)

    Setores de atividade Milhes de dlares

    Percentagem

    No-manufatureiro 1,7 0,43 Servios pblicos 0,3 0,08 Minerao 14,2 3,59 Siderurgia-metalurgia 41,8 10,56 Mquinas-automveis 213,3 53,90 Material para construo 9,1 2,30 Txtil 17,9 4,52 Qumica-farmacutica 41,5 10,49 Madeira-borracha 26,6 6,72 Papel 11,0 2,78 Alimentos 11,4 2,88 Diversos 2,0 0,51 Plsticos 4,9 1,24 Total 395,7 100,00

    FONTE: TEIXEIRA e TOTINI, (1993, p. 199) 3.4.5 Mercado, Exportao e Cmbio Extrados pelo elenco de incentivos cambiais, benefcios fiscais, financiamentos, ampliao de infra-estrutura econmica e, principalmente, pelo potencial do mercado interno, grande foi o nmero de empresas multinacionais que se instalaram e se expandiram no pas, no setor da indstria de produtos de consumo durvel. Como exemplo, o desenvolvimento33 da indstria automobilstica e no setor ferrovirio, criando a RFFSA (1958).34 Como meta sntese, a construo da nova Capital Federal. Um aspecto importante da poltica de programao de exportaes durante um processo de inflao galopante35 deveria ter sido a depreciao da taxa de cmbio para acompanhar mudanas nos preos internacionais relativos. No obstante, a poltica foi anulada pela atuao do Banco do Brasil num esforo da taxa cambial. Assim a taxa de cmbio no acompanhou a inflao interna. Em 1961, o processo inflacionrio foi acelerado consideravelmente e era bvio que naquele ano a inflao seria incontrolvel. A renda demonstrou pequeno

    33 Ao contrrio de outras naes, o Brasil investiu mais em rodovias do que em ferrovias, pois o primeiro tem um custo menor no curto prazo em relao ao segundo, invertendo-se no longo prazo. 34 Rede Ferroviria Federal Sociedade Annima 35 Inflao galopante ou hiperinflao.

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    aumento que no entanto deve-se abundante safra de caf. Subtraindo tal aspecto, mais o da produo agrcola no ano, como foi sugerida pela conjuntura econmica naquela ocasio, a expanso da renda seria bastante inferior ao nvel antes indicado. A produo industrial continuou a expandir-se apesar da rpida inflao e dos dficits externos, o setor real da economia brasileira continuou a mostrar elevadas taxas de crescimento. O ano foi basicamente o ltimo de rpida expanso real aps 1957. Politicamente foi cheio de aspectos pitorescos, contando at com a renncia do Presidente em agosto. Durante um pequeno perodo do ano, um grupo distinto de tcnicos voltou a tentar a reforma dos mercados monetrios. Mas esse esforo pereceu devido aos problemas polticos da poca. A Tabela 3 mostra os ndices.

    TABELA 3 Inflao na dcada de 1950 Ano % 1949 9,0 1950 13,4 1951 19,8 1952 10,3 1953 15,1 1954 30,3 1955 13,1 1956 19,2 1957 12,5 1958 12,2 1959 37,7 1960 30,9 1961 38,1

    FONTE: CONJUNTURA Econmica 3.4.6 Crise no Setor Cafeeiro Com a safra abundante de 1957/58 era esperada uma queda no preo, o que obrigou o governo at mesmo adquirir 1/3 da safra e fazer acordo com a Produtora Colmbia, de maneira aos dois pases regularem os seus estoques no mercado. Esta funo se agravou ainda mais na safra seguinte 1958/59 por esta tambm se apresentar volumosa, conseqncia essa que levou queda no cmbio-caf e retirada de estoques do mercado. Tal problema significou importante fator a influenciar a crise do Balano de Pagamentos, dado que as exportaes brasileiras atingiram nveis consideravelmente baixos. Alm disso, o pas despendia boa parte de suas reservas pagando emprstimos anteriores. medida que se agravava tal crise no setor cafeeiro temia-se tambm que at o progresso rpido da indstria poderia ser inibido. A soluo foi atravs da lei das tarifas, que se acreditava que geraria supervit na Balana Comercial. Assim, em 1958, a lei das tarifas restringia a importao de mquinas e equipamentos por empresas estrangeiras.

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    3.4.7 Poltica Salarial Com relao ao salrio mnimo, definiu-se como sua funo primria, a garantia mnima de subsistncia. Mas no obstante, argumentou-se que um rpido aumento poderia reduzir os fundos disponveis afetando a produtividade futura. Da ento se props o reajuste do salrio mnimo em proporo ao incremento ao custo de vida deste ltimo acrscimo, j fixados aos princpios de 1959. Contudo, anteriormente a isso,

    o custo de vida no parava de subir revelando-se em taxas de inflao sempre mais elevadas. Com isso, os salrios perdiam o valor real, o que provoca forte reduo dos trabalhadores, como a famosa greve dos 400.000 em So Paulo, em 1957 (TEIXEIRA e TOTINI, 1993, p. 189).

    3.4.8 Ps-Guerra No imediato ps-guerra, os investimentos norte-americanos em pases dependentes como o Brasil no eram muito significativos. Os pases dependentes eram considerados ainda como fornecedores de produtos primrios para as economias capitalistas dominantes. Mas os EUA no podiam evitar nem deixar de reconhecer, o crescimento industrial do Brasil no governo de JK. A comisso criada por JK para superar os estrangulamentos propunha uma poltica antiinflacionria que exigiria um controle maior dos salrios. 3.4.9 Crise Poltica Demisses Apesar dessas e outras metas fixadas pelos planejadores do PNE (Plano Nacional de Estabilizao), o plano criou antipatia por grandes correntes (economistas, polticos e empresrios), e em agosto, o presidente substituiu os tcnicos. O efeito veio atravs da exploso inflacionria, o caos econmico, tenso social e crise poltica, tudo estourou como um barril de plvora em meio a fogos. 3.4.10 Conseqncias O crescimento industrial provocou profunda modificao na estrutura econmica do pas. O oramento monetrio, a partir de 1948, favoreceu a indstria, com sacrifcio da agricultura que se mantinha como principal gerador de divisas cambiais. A demasiada nfase na industrializao, contudo, sem atender um planejamento global, determinou: - gradativo abandono da agricultura e conseqente aumento do xodo rural, com intensificao dos centros mais industrializados que tiveram suas condies de vida deterioradas; - expanso exagerada do crdito, com elevao dos meios de pagamento;

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    - desvalorizao da moeda, como seqncia natural de alta taxa de inflao; - com a entrada de capital estrangeiro, aumentou consideravelmente a dvida externa; - com o avano da industrializao, o Brasil torna-se mais dependente da tecnologia; - as multinacionais investiram mais no setor de bens durveis (carros, sofs-cama, televiso, rdio, refrigeradores) do que em bens de capital (mquinas e equipamentos), quando deveria ser o inverso; - as irregularidades contbeis36 e a Instruo 113 da Sumoc possibilitaram as multinacionais a remeterem lucros, dividendos e royalites para o exterior, promovendo um desinvestimento de capitais; - a estrutura econmica-social sofreu com o agravamento da distribuio de renda, o subemprego e os desequilbrios regionais, principalmente no nordeste e centro-oeste; - as multinacionais impulsionaram a industrializao brasileira de forma excludente e concentradora de renda, condicionado a acumulao de capital. No mbito interno, o governo para atenuar os efeitos depressivos da inflao sobre os ativos imobilizados das empresas facultou a correo monetria desses ativos, com uma incidncia de 10% no Imposto de Renda, sobre a correo aplicada. 3.4.11 Anlise Final Com o Programa de Metas processou-se um alargamento das funes do Estado na economia brasileira. A extenso da profundidade e a diversidade do setor pblico modificaram-se profundamente aps esse programa. Dessa forma Carlos Lessa [19-] analisa que

    ocorreu, por assim dizer, uma estatizao formal da economia, que implica a existncia de um Estado importante produtor direto nos setores estratgicos da economia e controlador indireto de substanciais faixas de deciso privada. Foi visivelmente alterado o balano de poder, agora inclinado a fazer do setor pblico.

    Chegamos tambm concluso de que o governo no s queria romper o

    problema do estrangulamento, mas sim preencher lugares vagos no pas. Dessa forma o governo imps a autoridade e afastou o capital privado da direo econmica do pas. Segundo JK, o Pas marchou 50 anos em 5, porm deixou problemas sociais e polticos, uma expanso inflacionria, agravamento na distribuio da renda, desequilbrios regionais e problemas para a prxima administrao.

    36 Releia a Carta Testamento de Getlio Vargas.

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    3.5 Testes para reviso. Assinale a alternativa correta 1) O primeiro grande plano de desenvolvimento posto em prtica foi: a) PAEG b) Plano Trienal c) I PND d) Plano de Metas e) Plano Qinqenal de Desenvolvimento 2) O estrangulamento visava a: a) substituio das importaes no setor agrcola b) substituio das importaes do consumo de bens durveis e de capitais c) substituio das importaes somente nos setores automobilsticos d) existem mais de uma alternativa correta e) n.d.a 3) A seguir encontra-se um Quadro de caa-palavras onde esto ocultos cinco dos principais setores envolvidos no Plano de Metas no governo de Juscelino Kubitschek (1956/61). Marque as palavras no Quadro com um circulo.

    N A S F A L T O C A R V A O A L I M E N T A C A O Z S A V E N A N C I M E N T O Z S A C D T E R R A A R E I A B L O U T R A N S P O R T E J P N S R G P A P E L A F M I M O T I I E D U C A C A O S E M R G A X I S T O R O C H T I I O J J U C E L I N O P A A A S T G O V E R N O F Q S E S A D M I S T R A C A O

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    3.6 Questes para reviso 1) O que foi o Plano de Metas? 2) Cite os principais objetivos e instrumentos de poltica econmica. 3) Explique o que foi o estrangulamento no governo de JK. 4) Quais setores foram alvo das Metas compreendidas? 5) Faa uma resenha do perodo 1956/60. 6) Com base na Tabela 3: (a) monte um Grfico cartesiano onde no eixo da ordenada seja os valores percentuais e no eixo horizontal os anos. Analise cada pico e a tendncia inflacionria; (b) faa uma regresso linear simples atravs do Mtodo dos Mnimos Quadrados (MMQ) e analise a equao economtrica assim como a tendncia inflacionria.

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    CAPTULO 4

    PERODO 1961/67

    4.1 O Esgotamento do Modelo de Substituio de Importao Em 1961, o Brasil tinha uma taxa de renda per capita de 3%37. O modelo proposto pelo Plano de Metas j estava naufragando e crises polticas e econmicas prejudicavam o andamento do pas. Segundo Furtado (2000, p. 187):

    A taxa de crescimento do produto real que fora de 10,3% em 1961 baixou, aos saltos, para 5,3% em 1962 e 1,5% em 1963. A taxa anual de inflao, contida em 30,5% em 1960, passou a aumentar em ritmo acelerado: 47,7% em 1961, 51,3% em 1962 e 81,3% em 1963, chegando a 91,9% em 1964.

    J Teixeira e Totini (1993, p. 207) expressam da seguinte maneira:

    Enquanto isso, o salrio mnimo real perdia o valor a cada ano: de 1958 a 1966, a perda foi de 38%. De 1961 a 1964, a renda per capita teve uma reduo de 6,1% no seu crescimento. E a distribuio da renda global apresentava, ao final da dcada, maior concentrao.

    Neste perodo o Presidente da Repblica era Jnio Quadros, eleito e aclamado pelo povo brasileiro (tomou posse em 31/01/1961), no contava que o pas estava sem representatividade e sob a ameaa do militarismo intervencionista. Na questo monetria, Quadros desvalorizou a moeda nacional para unificar o cmbio usando a Instruo n 204 da SUMOC. Assim, segundo Rego e Marques (2001, p. 101), em maro de 1961, foi feita uma reforma cambial, com desvalorizao em 100% para o chamado cmbio de custo, aplicado s importaes preferenciais, como petrleo e papel de imprensa. O objetivo foi diminuir a presso dos subsdios cambiais sobre o dficit pblico. Com todos esses problemas, a idia de criar um parque industrial de forma a substituir as importaes j no era mais um modelo de desenvolvimento, mas sim um modelo de endividamento sem sada e irreversvel. Quadros embora fosse da direita, aclamava Cheguevara (guerrilheiro marxista cubano) e recusava apoiar os Estados Unidos em expulsar Cuba da 37 Correspondente a 3,9% de crescimento per capita.

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    Organizao dos Estados Americanos, o que deixava os militares agitados.38 Tambm queixava de um inimigo oculto, que lhe atormentava constantemente.39 Renunciou com 7 meses de governo. Talvez, a frase mais celebre de ser lembrando quando perguntaram para Quadros porque renunciara a presidncia, e ento respondeu: fi-lo porque qui-lo. Na sua renncia, em 25/08/1961, com poucas palavras deixa o governo, como segue. Nesta data e por este instrumento, deixando com o ministro da Justia as razes do meu ato, renuncio ao mandato de presidente da Repblica. Dias depois, em desabafo ao Jornal Folha de So Paulo, Jnio fala: Fui obrigado a renunciar, mas, tal como Getlio, voltarei um dia, se Deus quiser, para revelar ao povo quem foram os canalhas neste pas (Folha de So Paulo, 110 anos de industrializao, 1955-61, p. 144). Entre 1930 e 1960 o Modelo de Substituio de Importao vigorou como marco da Revoluo Industrial Brasileira. Contudo, com o capital estrangeiro (multinacionais) e o grande capital nacional (Estado e empresrios nacionais) o modelo se esgota e um novo entra em cena, como o Modelo de Subdesenvolvimento Industrializado, que inicia na dcada de 1960 e vai at 1980. Pereira (1982, p. 46, 66-67 e 163) descreve com clareza essa passagem de um modelo para outro.

    (...) a limitao na capacidade de poupana interna, especialmente quando, durante a segunda metade dos anos cinqenta, com a baixa dois preos internacionais do caf, comea a esgotar-se a possibilidade de transferir recursos da agricultura de exportaes para a indstria; assim teremos as bases para a penetrao das multinacionais e para o desenvolvimento das empresas estatais, inaugurando-se um novo padro de acumulao: o modelo de desenvolvimento industrializado. (...) No modelo de substituio de importao a tecnologia industrial era simples e trabalho-intensiva, as empresas relativamente pequenas (atividades sem grandes economias de escala). No modelo de subdesenvolvimento industrializado a tecnologia complexa e capital-intensiva, as empresas so muito maiores. (...) No modelo de substituio de importaes aproveitamos a reserva de mercado representada pela prpria possibilidade de substituir importaes. Nossa prioridade no era ento reduzir os custos industriais, mas ocupar o mercado, instalar a indstria. Na primeira fase do modelo de subdesenvolvimento industrializado a situao j comea a modificar-se medida que cresciam nossas exportaes industriais, mas ainda foi possvel aumentar o mercado para os bens industriais, principalmente durveis de consumo via criao do crdito direto ao consumidor e concentrao de renda das camadas mdias para cima.

    Contudo, importante frisar os Departamentos40 da economia que estruturou os modelos citados e dinamizaram a industrializao nacional. So eles: - departamento I: so os bens de capital ou bens de produo (mquinas e equipamentos, a indstria de base ou pesada que fabrica produtos qumicos, ao (siderurgias), cimento, energia eltrica (usinas hidreltricas) e faz a pesquisa e prospeco do minrio de ferro e petrleo; - departamento II: so os bens de consumo dos trabalhadores (bens simples e no durveis);

    38 A interferncia poltica dos EUA nessa poca foi mais agressiva. 39 Segundo alguns estudiosos, o problema estava no alcoolismo. 40 Alguns autores consideram os Departamentos II e III apenas como Departamento II e que o Modelo de Substituio de Importao a partir de 1960 passava para uma segunda etapa.

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    - departamento III: bens durveis ou bens de consumo de luxo (produtos da indstria automobilstica). A passagem do Modelo de Substituio de Importao para o Modelo de Subdesenvolvimento Industrializado consiste no investimento dos departamentos, como o Departamento II no perodo 1930/60 e o Departamento III no perodo 1960/80, e, na segunda metade dos anos setenta, quando o modelo comea a esgotar-se e a entrar em crise, ao setor de bens de capital (Departamento I) (PEREIRA, 1982, p. 67). O novo modelo torna-se mais concentrador de renda, grande acumulador de capital e fortemente excludente, pois visa a produo de bens durveis de consumo e tem como pblico a classe mdia. Contudo, esse modelo vigorou no perodo de 1980/90, quando ento passa para a segunda fase, que o Modelo de Subdesenvolvimento Industrializado Maduro, segundo Pereira.

    Continuaremos subdesenvolvidos, porque as desigualdades gritantes, o subemprego, a marginalizao econmica e social permanecero presentes. Mas trata-se de um modelo de industrializao madura, porque no Sul do pas o parque industrial brasileiro, ainda que sem plena autonomia tecnolgica, atingiu um volume e um grau de integrao (complementaridade), de diversificao e de sofisticao tecnolgica que o coloca entre as grandes naes industriais do mundo (Idem, 1982, p. 162).

    4.2 Desacelerao do Crescimento Econmico No perodo de 1962 a 1966, no governo Joo Goulart,41 o Brasil entrou em regresso econmica, gerando efeitos como: - quedas nas vendas dos bens durveis; - reduo da produo com a suspenso dos investimentos nacionais e estrangeiros; - frias coletivas, dando origem reduo da jornada de trabalho e dispensa de empregados; - primeiro desemprego industrial, com auge em 1965, onde alcanou o ndice de 13% da fora de trabalho industrial na cidade de So Paulo, ou seja, mais de 80 mil pessoas sem trabalho. J para o Estado de So Paulo, eram mais de 140 mil. J era considerado um desemprego em massa.

    No de se estranhar que, nesse perodo de agravamento da crise econmica, tenha ocorrido por todo o pas movimentos sociais de revolta e protesto contra a carestia e o desemprego, como os violentos saques feitos pela populao da Baixada Fluminense em 1962-1963 (TEIXEIRA e TOTINI, 1993, p. 207).

    41 Tambm conhecido como Jango, Joo Belchior Marques Goulart era simpatizante da ala esquerda. Goulart estava em Hong Kong (China) quando tomou conhecimento da renuncia de Quadros retornou imediatamente para o Brasil.

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    4.3 Plano Trienal O Plano Trienal de Desenvolvimento Econmico e Social foi elaborado para o perodo de 1963 a 1965 pelo ministro do Planejamento Celso Furtado.42 O objetivo era planejar um plano que permitisse um desenvolvimento econmico rpido e simultaneamente agilizasse uma estabilizao dos preos. Em outras palavras, o plano abordou com objetividade o problema do desequilbrio regional e destacou a importncia das reformas agrria, fiscal, bancria e administrativa (FURTADO, 2000, p. 188). O desenvolvimento utilizava como referencial o perodo de 1957 a 1961, quando o PNB43 cresceu em 7% ao ano. Essa acelerao econmica deveria ser compatvel com as condies de vida da populao. Os 7% deveriam ser repassados aos salrios reais, com base na produtividade, numa tentativa de distribuir melhor a renda, privilegiando as faixas inferiores da estratificao social. As propostas do Plano Trienal foram: - educao; - reformas de base principalmente a reforma agrria; - necessidade de importar por meio de refinanciamento da dvida externa do pas; - poltica antiinflacionria recessiva; - reduo da inflao com aumento da carga fiscal; - reduo do dispndio pblico (para aproximar a 10% a.a.); - captao de recursos do setor privado no mercado de capitais; - forte contrao monetria. Com o anncio dessas propostas, principalmente a reforma agrria, houve a interveno do regime militar, comprometendo a carreira de Goulart. Assim, em 25 de maro de 1964 houve

    uma rebelio de marinheiros; o presidente no pune nenhum deles. No dia 30, fala Associao Beneficente de Sargentos da Polcia Militar. Os militares vem o princpio da hierarquia militar ferido por esses atos (...). No dia 31, as Foras Armadas depem Joo Goulart (So Paulo, 110 anos de industrializao, 1962-1966, p. 153).

    Teixeira e Totini (1993) tambm argem sobre o assunto, como:

    Do confronto entre a unio dos conservadores de direita e os radicais de esquerda (este, divididos entre a oposio e o apoio ao governo) resultou o impasse poltico-institucional resolvido pelo golpe militar de 1964. A burguesia nacional e as multinacionais participaram ativamente da composio contra o governo Goulart e dela saram vitoriosas. Mas acabou sendo uma vitria em um tanto amarga. Como a sociedade, tambm a burguesia teve que se submeter s imposies do Estado autoritrio que se instalava (TEIXEIRA e TOTINI, 1993, p. 209).

    42 Um dos principais pensadores da CEPAL Comisso Especial da Amrica Latina. 43 Produto Nacional Bruto.

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    4.3.1 Conseqncias Houve perseguio poltica e uma srie de Atos Institucionais (AI). Contudo: - a inflao no foi contida; - o crescimento do produto foi interrompido e houve retrao dos investimentos (o PIB caiu de 7,7% em 1961 para 2,1% em 1964); - a Eletrobrs (Centrais Eltrica Brasileira) que fora projetada em 1954 e obstaculada no governo de Vargas44 agora (1961) inicia seu funcionamento; - Joo Goulart deposto pelos militares. 4.4 PAEG Programa de Ao Econmica do Governo O PAEG foi criado em novembro de 1964-66, elaborado pelos Ministros45 Roberto Campos e Octvio Gouva de Bulhes, no governo do General Castello Branco46 (governo militar), tinha o objetivo de interpretar o desenvolvimento recente do pas e formular uma poltica capaz de eliminar as fontes internas de estrangulamento que haviam bloqueado o crescimento econmico desde 1962. Passou-se ento a aplicar polticas de cunho monetarista. Sendo assim, segundo os articuladores do Plano, as causas eram as seguintes: - o ponto de vista do novo regime presumia o controle da inflao como soluo da recuperao econmica, eliminando-se assim as distores nos preos durante 1964 e 1965; - a modernizao dos mercados de capitais que conduziriam a uma crescente acumulao de poupana; - a criao de um sistema de incentivos que dirigisse os investimentos para reas e setores considerados essenciais pelo governo na atuao de capital externo (tanto privado como oficial) para financiar a expanso da capacidade produtiva do pas e assegurar a capacidade de mo-de-obra; - a promoo de investimentos pblicos em projetos de infra-estrutura e em indstrias pesadas controladas pelo governo; - a melhora da estrutura do balano de pagamentos (atravs de maxidesvalorizaes), que revelava dificuldades devido estagnao e desorganizao das exportaes e ao baixo nvel de entrada de capitais privados; - a neutralizao dos desequilbrios estruturais (regionais e setoriais), agravados pela industrializao, mediante melhoria das condies de vida da populao.

    44 Releia a Carta-testamento. 45 Economistas da doutrina monetarista tradicional. 46 Como poltico-militar, sua posio era centrista, autoritria e tecnocrtica.

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    4.4.1 Conseqncias O PAEG foi marcado por crticas da burguesia e do empresariado nacional, pois era um plano econmico recessivo e de carter monetarista, ou seja, tinha o objetivo de garantir a estabilizao dos preos e da moeda. Para Teixeira e Totini (1993, p. 211), com o regime autoritrio, os partidos polticos foram extintos, os parlamentares foram caados, a imprensa censurada e a represso poltica e policial aos sindicatos e s greves. a) reduo da demanda: severa poltica salarial, como conteno dos salrios e aumento da inflao47 no curto prazo, como a elevao dos preos; b) reduo do crdito: conteno do crdito, como menor oferta de dinheiro e maiores taxas de juro; c) reduo do dficit pblico: reduo dos gastos do governo em vrios setores, como por exemplo, o dficits nos transportes e nos subsdios (trigo, papel e petrleo) e aumento das receitas fiscais atravs de melhoramentos introduzidos no mecanismo de arrecadao de impostos (o Imposto de Renda elevou-se em 1000% alm de outros aumentos como os servios de utilidade pblica); Dessa forma o dficit em proporo ao PNB ficou em 4,2% em 1963 e 0,3% em 1964. J a inflao e o PNB ficaram assim distribudos:

    TABELA 4 Inflao de 1961/64 e PNB

    Ano Inflao (%) a.a.

    Produto Real PNB (%)

    1961 30,5 1961 47,7 10,3 1962 51,3 5,3 1963 81,3 1,5 1964 91,9 2,4

    FONTE: CONJUNTURA Econmica

    A inflao estava sem controle, chegando a 100% em meados de 1964. Com a hiperinflao, houve o achatamento salarial, de forma a ter proibies de greves e enfraquecimento dos sindicatos. Conseqentemente, as empresas e o setor financeiro se capitalizaram auto-suficientes. A populao constituda pela PEA48 em 1964 era de 32 milhes.

    47 i) Inflao de demanda: inadequao a distribuio de renda (assalariados com forte poder de compra); ii) Inflao de custos: substituio das importaes (barreiras alfandegrias com protecionismo) e aumentos dos custos de produo. 48 Populao Economicamente Ativa.

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    TABELA 5 Inflao e Salrio (1964/67) Ano Inflao Reajuste

    Salarial 1964 91% 57% 1965 44% 27% 1966 37% 25% 1967 25% 25%

    FONTE: CONJUNTURA Econmica

    4.4.2 Medidas adotadas para modernizar e fortalecer os mercados financeiros i) Correo Monetria em 1964: O reajustamento do valor dos dbitos e dos juros sobre os mesmos, de acordo com a taxa de inflao. Sendo assim, favoreceu: - emisso de ttulos do governo com as LTN (Letras do Tesouro Nacional) e ORTN (Obrigaes Reajustveis do Tesouro Nacional); - aumento da poupana interna; - criao de poupanas compulsrias PIS (Programa de Integrao Social)49 e PASEP (Programa de Assistncia ao Servidor Pblico)50, com o intuito de propiciar a participao do assalariados no lucro das empresas; - aprovada a lei de remessa de lucros ao exterior. ii) Banco Nacional de Habitao (BNH) e Sistema Financeiro Nacional (SFN)51 em 1965: - atender o dficit de moradia; - possibilitar a compra de casa prpria em longo prazo; - estimular o setor de construo civil e oferta de novos empregos; - captar recursos do FGTS que na prtica constituam 85% de seus recursos. iii) Fundo de Garantia por Tempo de Servio (FGTS) em 1965. A criao do Fundo ( uma poupana compulsria do empregador para o empregado) vem a substituir o antigo sistema de indenizaes e estabilidade;52 iv) Lei de Mercado de Capitais em 1965: - fortalecimento do mercado de aes; - informaes financeiras; - proteo aos acionistas minoritrios; - regulamentaes comerciais. v) Novo Cdigo Tributrio Nacional onde houve a criao do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) e do ICM (Imposto sobre Circulao de Mercadorias) em 1966. Esses encargos faziam com que a Unio arrecadasse mais do que os Estados; vi) Criao do BACEN (Banco Central do Brasil) em substituio da SUMOC e criao do Conselho Monetrio Nacional (CMN) em 1964, onde o primeiro um

    49 Especfico para o setor privado. 50 Especfico para o setor pblico. 51 Vigorou at 1966 quando a Caixa Econmica Federal assumiu. 52 Considerava-se estvel o funcionrio depois de 10 anos de servio, o qual a empresa tinha que pagar uma indenizao muito alta pelo seu afastamento.

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    rgo executivo e o segundo normativo. Institudo para controlar todos os bancos, de forma a assegurar o controle do crdito e a estabilidade da moeda. Sua funo monopolizar a emisso de papel-moeda e tambm fiscalizar todos os bancos e fazer a realizao de compra e venda de ttulos do governo; vii) Reforma monetria: criado o cruzeiro novo, com valor de 1.000 cruzeiros. Em 1966, a relao dlar versus cruzeiro era: 1 US$ = Cr$ 2,767; viii) Fundo Nacional de Mquinas e Equipamentos (FINAME) em 1965. Este fundo era para o fornecimento de crdito direto para financiar a compra de equipamentos nacionais; ix) Incentivos Fiscais Regionais: Criao de recursos para atrair investimentos, tais como: - Superintendncia do Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE), criada em 1959, destacou projetos como rodovias, energia eltrica, abastecimento de gua e esgoto, habitao popular, treinamento de pessoal, recursos naturais, agricultura e industrializao. Posteriormente no final dos anos 1960 e 1970 outros incentivos foram criados como: rea amaznica: - Plano de Valorizao Econmica da Amaznia; - Fundo de Investimentos Privados no Desenvolvimento da Amaznia (FIBAM); - Superintendncia do Desenvolvimento da Amaznia Legal (SUDAM); - Banco da Amaznia (BASA); - Superintendncia da Zona Franca de Manaus (SUFRAMA). Outros programas: - Superintendncia do Desenvolvimento do Centro-Oeste (SUDECO); - Superintendncia da Regio Sul (SUDESUL); - Programa de Integrao Nacional (PIN); - Polonordeste; - Polocentro; - Polamaznia; - Projeto Sertanejo (irrigao do Nordeste). Entre as metas almejadas: - exportaes para estimular a gerao de supervit; - turismo para trazer novas divisas ao pas; - reflorestamento como conscincia ecolgica para promover o reflorestamento de diversas regies. x) Prioridades: Mesmo com dificuldades oramentrias, o Estado no reduziu seu investimento, como: - infra-estrutura urbana, como saneamento bsico; - energia eltrica, como as usinas hidreltricas; - sistemas de transportes como o rodovirio e o ferrovirio; - indstrias pesadas como a siderurgia, minerao e petroqumica; - comunicaes e agropecuria.

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    4.4.3 Resultado do PAEG entre 1965 e 1968

    No primeiro semestre de 1965 houve queda de 6,4% na produo, caracterizando-se assim: - presso para reduo de horas de trabalho para que no fossem obrigados a dispensar operrios qualificados; - as lojas varejistas de artigos de eletrodomsticos faziam liquidaes perigosas para fazer caixa; - o crdito tornava-se fcil demais uma vez que os bancos, pela primeira vez, ofereciam o mesmo; - sem vendas no havia giro de mercadorias e no havia duplicatas para descontar e fazer caixa. No segundo semestre houve recuperao de 6,0% na produo, caracterizando-se um processo de recuperao industrial e um crescimento na agricultura de 3,8%. Por outro lado, a crise continuava forte e o desemprego aumentava (4,5% em dezembro).

    Em 1966 houve recuperao industrial com crescimento de 7,5%. A Tabela 6 mostra esse panorama:

    TABELA 6 - Produto Interno Lquido segundo ramos de atividade (taxas anuais de crescimento por perodos em %)

    Discriminao 1956-62 1962-66 1961-62 1962-63 1963-64 1964-65 1965-66 Agricultura 5,7 2,4 5,5 1,0 1,3 13,8 -5,7 Indstria 10,7 2,3 8,3 0,1 5,5 -3,6 7,6 Minerao 10,8 19,4 1,5 18,4 22,4 21,4 14,6 Manufaturas 10,8 1,8 8,1 -0,3 5,1 -4,7 7,5 Eletricidade 9,8 5,3 11,3 2,6 7,2 4,1 7,3 Construo 5,4 -4,4 0,6 1,3 2,2 -24,0 6,4 Transportes 8,4 3,7 6,7 6,2 3,6 0,8 4,4 Outros servios 4,5 3,1 3,2 2,3 3,0 3,7 3,6 TOTAL 6,7 2,6 5,3 1,6 3,1 3,8 1,9

    FONTE: PEREIRA, (1985)

    Entre 1967 e 1968 o Brasil volta a crescer principalmente com a

    recuperao do setor de exportao agrcola e um aumento das exportaes de manufaturados (...). O PIB cresceu 4,8% em 1967, empurrado pela agricultura, e 8,4% em 1968, apoiado pelo excelente desempenho do setor industrial. Depois de trs anos de crescimento negativo (1963-1965), a renda per capita voltou a ter um crescimento real de 3,5% em 67 e 8,4% em 68 (TEIXEIRA e TOTINI, 1993, p. 213).

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    4.5 Testes para reviso. Assinale a alternativa correta 1) As propostas do Plano Trienal eram: I educao II reforma agrria III criao de usinas nucleares IV gerar inflao em longo prazo Marque a alternativa que melhor atende as propostas. a) I e IV esto corretas b) III e I esto corretas c) II e IV esto incorretas d) I e II esto incorretas e) III e IV esto incorretas 2) Sobre o Plano de Ao Econmica do Governo, as medidas adotadas foram: a) Sistema Fiscal