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Ecologia para uma Aldeia de Pesquisa de Paz Parte I: O Centro de Pesquisa de Paz Tamera, em Portugal está a desenvolver um modelo de grande escala para renaturalização da paisagem e produção de alimentos em cooperação com Sepp Holzer e a sua Permacultura.

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Ecologia para uma Aldeia de Pesquisa de Paz

Parte I:

O Centro de Pesquisa de Paz Tamera, em Portugal está a desenvolver um modelo de grande escala para renaturalização da

paisagem e produção de alimentos em cooperação com Sepp Holzer e a sua Permacultura.

“Se a nossa Terra fosse pacificamente cultivada, ela produziria alimentos suficientes para 12 biliões de pessoas.

A realidade, porém, é que diariamente 100.000 pessoas morrem como resultado da fome ou malnutrição”

Jean Ziegler

Enviado Especial das Nações Unidas para o Direito de Alimentação

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Índice

0. Prefácio: Antes que a Terra se torne num deserto: porque que é que devemos agir agora

1. O local de Tamera – exemplo da situação da Natureza na Península Ibérica

a) A história cultural e da exploração do Monte do Cerro b) A situação da água c) Desflorestação d) Política agrícola, migração para as cidades e mudança estrutural

2. Como podemos agir. A Permacultura Holzeriana.

a) Uma Quinta na Estremadura: Um exemplo da aplicação da Permacultura Holzeriana em Espanha

b) A filosofia de Sepp Holzer e a sua aplicação c) Quem é Sepp Holzer? Um retrato de um ser humano inspirado

3. Tamera, a Aldeia de Pesquisa de Paz

a) A ideia básica de Tamera: Quem não quer guerra precisa de uma visão para a paz

b) O estabelecimento de Tamera c) Comunidade – a forma de viver do futuro d) Educação para a paz “Monte Cerro”: formação de trabalhadores globais

pela Paz e) A Aldeia Solar: planeado modelo de sobrevivência para áreas de crise f) A auto-suficiência regional – criação de rede no Alentejo

4. A realização

a) Porquê introduzir a Permacultura Holzeriana em Tamera? b) A visita de Sepp e Veronika Holzer em Março de 2007 – análises e visões c) Projectos concretamente planeados de 2007 a 2009 d) Possível plano de etapas e temporal e) Financiamento

Brochura: Texto: Leila Dregger e Dörthe Goschin Layout: Leila Dregger e Jana Mohaupt

Fotos: Versch. Quellen Editor: Equipa do Solarvillage em Tamera, Barbara Kovats

Monte do Cerro 7630 Colos

Portugal Tel: +351 283 635 306 Fax: +351 283 635 374 [email protected]

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0. Prefácio: Antes que a Terra se torne num deserto. Porque que temos de agir agora A situação ecológica da Terra é dramática. A destruição das florestas pluviais, dos oceanos e sistemas Ecológicos, a propagação dos desertos, o desaparecimento diário de espécies animais, a fome e o começo das guerras pela água: todos eles sintomas e efeitos directos de uma forma de vida humana e de métodos de economia e de cultivo que perdeu a ligação ao ciclo da Natureza. O homem moderno trata o solo, as plantas, a água, os animais sem nenhum contacto, como se tivesse esquecido, o que é vida e como a devia tratar. A natureza responde – tempestades e inundações são apenas o princípio de uma abrangente catástrofe climática, que em muitas partes do Mundo já tornou-se uma realidade dolorosa. As previsões para a Península Ibérica são inequívocas: Espanha e Portugal tornar-se-ão um deserto se não agirmos. Tanto as previsões climáticas quanto a aproximação do “Peak Oil” fazem-nos imaginar um tempo no qual as pessoas que vivem nas grandes cidades e nas zonas costeiras irão deixar as suas formas actuais de viver e terão que aprender novamente a viver no campo e da terra. Para isso ainda de forma nenhuma estamos preparados. As mudanças vindouras irão ser drásticas e atingirão todos os aspectos da vida. Mas será que isso significa que, por regra, terão que acabar em pânico, em guerras e violência? Ou será que até lá vai haver lugares nos quais se possa aprender globalmente como resolver pacificamente conflitos, como produzir energia, como tratar a natureza e a terra de maneira a que ela nos forneça alimentos e água em abundância? Este conhecimento já existe hoje, espalhado por muitos cantos do mundo, e em muitos aspectos é demasiado invulgar para hoje ser usado. O que falta são a interligação e as redes deste conhecimento, a sua concreta implementação, pelo menos como um modelo em diversos sítios do mundo, e também a transferência do saber às novas gerações. Tamera é um lugar de investigação e formação para a realização mundial deste projecto modelo. De forma exemplar, aqui é pesquisado e estudado um modo de vida no qual as pessoas estejam outra vez integradas no Todo da Criação, no qual as separações são ultrapassadas a todos os níveis: a separação entre pessoas, entre gerações, entre campos de conhecimento, a separação da natureza e da nossa fonte espiritual. O estabelecimento destas chamadas Aldeias de Pesquisa de Paz e Biótopos de Cura desenvolve, une e implementa o conhecimento e as soluções nas áreas da tecnologia e do abastecimento de energia, da solução de conflitos e da criação de comunidade, da prática de vida espiritual e da arquitectura ecológica. Hoje, vivem e estudam em Tamera 160 pessoas de diferentes partes do mundo. Entre outros, desenvolve-se um modelo concreto de uma aldeia auto-suficiente a “Aldeia Solar”: um modelo habitacional sustentável ecológica e socialmente, que pode ser reconstruído em qualquer parte do mundo onde haja sol. O trabalho e a pesquisa do agricultor de Permacultura de montanha austríaco Sepp Holzer, o seu saber sobre a cooperação com a Natureza, a sua intuição e experiência na produção de alimentos naturais e na renaturalização do terreno, para nós é como uma área central da pesquisa para o estabelecimento de Aldeias de Pesquisa de Paz a nível mundial. O seu trabalho numa quinta em “Valedepajares del Tajo” na Estremadura da Espanha nos dá confiança de que algo semelhante possa também ser possível aqui. Há dois anos, a proprietária, a Princesa Nora von Liechtenstein, contratou Sepp Holzer para a renaturalização do seu terreno. Os resultados surpreenderam de igual maneira os meios de comunicação social e o mundo profissional. Aqui, um mundo completamente diferente espera os convidados surpreendidos. Numa área de 270 hectares, que há dois anos ainda sofria de seca no verão, onde campos secos predominavam e as azinheiras morriam, hoje se estende

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uma área de 50 hectares de paisagem aquática. Nas margens, vegetais crescem abundantemente, azinheiras adoecidas servem de protecção às árvores saudáveis e jovens, as oliveiras já não necessitam de irrigação. Uma brisa fresca traz uma nota de frescura paradisíaca e de abundância. Libelinhas, grandes grupos de pássaros e peixes já estão presentes depois de uma estação de crescimento! E tudo isto numa área com significante menos precipitação que no Alentejo. Tamera – a propriedade do Monte do Cerro – exemplifica, na sua beleza mas também na sua destruição ecológica, Portugal e também toda a Europa do Sul. Um projecto de renaturalização ecológica nesta propriedade pode e vai ser um impulso para toda a região. Exemplos de soluções de problemas que funcionam neste Centro de Pesquisa de Paz são levados pelos estudantes para os seus países de origem e são usados para o estabelecimento de futuras Aldeias de Pesquisa de Paz. Como seria um mundo se em todos os países, em todas as áreas e em todas as zonas de vegetação, primeiro pelo menos um local pudesse ser estabelecido, onde o conhecimento, as sementes e a diversidade da natureza fossse guardada e cuidada, e que se mostraria como exemplo e um impulso para toda a região? Nós convidamos pessoas interessadas e motivadas a obterem uma visão geral do projecto através desta brochura e contactarem-nos. Por favor, ajudem a tornar esta visão uma realidade. Barbara Kovats Coordenadora da Equipa da Aldeia Solar, Tamera

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Impressions from Tamera, from top left: In the 'Source Garden', overview from the mountain village, 'Shepherd Garden', green oasis, in the auditorium, celebration at the inauguration of the auditorium, Sepp Holzer in Tamera, visitors from Colombia inform themselves about solar energy. Photos: Tamera Archive

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1. A situação inicial do local de Tamera Tamera situa-se no Sul de Portugal, na província do Alentejo, uma das regiões menos densamente povoadas da Europa, a uma distância de 30 km da costa este. A propriedade, cuja área tem 134 hectares, é composta por terrenos de algum declive onde crescem sobreiros e eucaliptos, pastagens e terras de cultivo. O solo é na maior parte de barro e a rocha mãe é o xisto; nos vales há depósitos de aluviões com 1 a 2 metros de profundidade e ricos em húmus. O que se tem passado nas últimas décadas no Monte do Cerro (originalmente o nome de Tamera), é a evidência de uma falta de compreensão do homem moderno e mesmo de exploração e de indiferença para com a natureza. Imaginemos que a propriedade fosse um ser vivo! Ela teria experimentado um grande sofrimento e testemunhado muita loucura. E o Monte do Cerro não é um caso raro: os seres humanos trataram a terra desta maneira em toda a parte; em Portugal, na Espanha, em toda a Europa – em toda a parte do mundo, onde o homem moderno tentou fazer da natureza o seu submisso. No caso do Monte do Cerro é um milagre de regeneração que a terra ainda transpire tanta beleza e charme, tantos nichos ecológicos, sítios com sombra, vales férteis e que tenha várias nascentes e represas. Na Primavera narcisas raras crescem nas terras húmidas; cágados, lagostins e peixes vivem nas represas e por vezes vê-se uma lontra; um par de águias voltea nas alturas sobre o terreno. Assim, os fundadores de Tamera adquiriram a propriedade em 1995. a) A história cultural e da exploração do Monte do Cerro Até 1974, durante a ditadura de Salazar em Portugal, a propriedade era cultivada intensivamente. Os proprietários moravam em Lisboa e a mesma era cultivada por um gestor. Muitos dos vizinhos mais velhos de hoje, que antigamente trabalhavam na propriedade ainda se lembram como ao longo de quase todo o ano as árvores davam frutos e as flores desabrochavam. Cultivava-se aqui principalmente o linho e a vinha e a exploração pecuária estava sempre presente. Durante o período da industrialização da agricultura controlada centralmente por Salazar, quando todo o Alentejo foi transformado no celeiro de Portugal, o Monte do Cerro e principalmente as encostas de maior declive, foram lavradas profundamente com tractores de rastos. Isto apenas levou a um sucesso de pouca dura. As camadas do solo superficiais foram destruídas e o húmus das encostas foi lixiviado para os vales. Ainda hoje, algumas décadas depois, há muitas encostas nas quais apenas poucas plantas se conseguem instalar. Depois da revolução em 1974 a propriedade foi transferida para um veterano de guerra. Subsidiado pela União Europeia, ele arrancou as vinhas, terraplanaou colinas inteiras e construiu um armazém industrial com o objectivo de abrir uma fábrica de carne. Mas, pouco antes de começar com o negócio, foi à falência e vendeu a terra. A seguir o solo foi utilizado intensivamente para pastagens levou à compactaçào do solo e consequente esgotamento da vegetação. Este processo de sobrepastoreio é sintomático de toda a Península Ibérica e não só. Se aqui puderem ser encontradas soluções, elas poderão ser utilizada em muitas regiões da Terra. b) A situação da água Tamera tem hoje quatro nascentes de água, muitas represas e bacias de captação de água de cerca de 500 hectares. A precipitação anual média é de 600 mm, e esta ocorre quase toda no Inverno. Comparada com os seus arredores, Tamera é abençoada com água. E mesmo assim a água falta no Verão quente, porque grande parte da chuva do Inverno escorre rapidamente, não é usada pela propriedade e ainda por cima leva consigo a terra fértil. A terra perdeu uma grande parte da sua capacidade de reter a água; Isto deve-se à compactação do solo, à desflorestação (morte dos sobreiros e limpeza das matas) e ao total empobrecimento da vegetação. A situação da água no país inteiro, assim como em toda a Península Ibérica está a piorar de

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ano para ano. As previsões climáticas são inequívocas: Espanha e Portugal irão tornar-se num deserto. As chuvas anuais de Inverno estão a ficar cada vez mais incertas. Os rios grandes de Portugal nascem todos na Espanha, onde a sua água está a ser cada vez mais utilizada na cultura industrial de frutos e vegetais. Em Portugal, ainda há poucos anos, foi construída a barragem do Alqueva, mesmo tendo sido provado há muito quão prejudicial e não económica é uma barragem desta dimensão. É um ciclo vicioso: quanto menor a capacidade da terra em absorver e reter a água, menos plantas crescem. Quanto mais magra a camada de vegetação, menos a terra pode absorver e reter a água. Os fogos devastadores nas monoculturas, por exemplo do eucalipto, são um dos resultados e ao mesmo tempo pioram a situação. Tamera até hoje foi poupada destes fogos. c) Desflorestação A produção extensiva de suínos, sobreiros e cereais tradicional na região também foi praticada no Monte do Cerro. No entanto, nos anos 70, quando o preço e a procura da cortiça aumentou, a descasca já não era feita com os mesmos cuidados e a mesma profissionalidade. O “Kambium” (a fina camada por baixo da cortiça) foi muitas vezes danificado através do método moderno de descasca com facas de metal. E ainda por cima descascavam em alturas do ano erradas. No cultivo do solo era utilizado cada vez mais maquinaria pesada o que danifica as raízes não muito profundas. Todos os danos causados às árvores diminuem o fornecimento de água e de nutrientes às mesmas e favorecem a sua infestação com pragas e doenças. A somar a isto, enfraquecidas pela compactação de solo e pela falta de água, começam então a morrer lentamente. Hoje, toda a região é afectada pela morte massiva dos sobreiros. Há cientistas que presumem que a causa é um vírus; porém, já apenas a descasa intensiva com mira no lucro de curto prazo, como também a deterioração geral das condições da água e do solo chegam para explicar a morte dos sobreiros. É notória a escassez em Tamera dos poucos sobreiros que sobreviveram. Teme-se que ao longo dos anos vindouros irão morrer ainda mais. Com a ajuda da UE, os ecologistas de Tamera replantaram 20.000 árvores para criar uma floresta mista. A monocultura florestal habitual provavelmente não será o suficiente para deter a desflorestação e a desertificação. d) Política agrícola, migração para as cidades e mudança estrutural Em Portugal, 90% da ajuda financeira da UE, vai para 10% das empresas agrícolas. Desde a adesão de Portugal á UE, há 20 anos, desapareceram 600.000 empresas agrícolas no país; por outras palavras, em cada 20 minutos um agricultor deixa de o ser. E isto num país com uma óptima situação climática e de solo! Hoje em dia já só subsistem 200.000 explorações agrícolas em Portugal, e o país importa 80% dos alimentos que precisa. Por exemplo: a produção de trigo em Portugal foi sendo abandonada, já que o custo de produção é o dobro do preço de compra no mercado mundial. No resto da Europa, os resultados da política agrícola não são muito diferentes: nos 27 países da UE, em cada minuto uma empresa agrícola é encerrada. A consequência disto é o crescente empobrecimento do território, baixa qualidade dos alimentos, um aumento da concentração da produção de animais, e assim produção animalindustrializada em massa com os seus horrores éticos e ecológicos. Especialmente em Portugal, houve uma migração massiva nos últimos 30 anos; 80% da população Portuguesa vive agora nas grandes cidades e junto á costa. No Alentejo a mudança estrutural foi a mais dramática . Esta região é a das mais despovoadas e nas aldeias a proporção de idosos aumenta de dia para dia. Contudo esta tendência não ajuda á regeneração, mas sim a um abandono da terra. Todos os verões existem aqui incêndios florestais devastadores. Cada vez mais, a cultura hortícola tradicional está-se a desaparecer em Portugal. Durante dezenas de anos esta mantinha-se ao lado da agricultura industializada. O povo vivia em íntimo contacto com a Natureza, tratavam da terra de forma sustentável, porque eles

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dependiam das suas hortas para sobreviverem. Hoje cada vez mais pessoas preferem comprar os legumes baratos nos supermercados, em vez de fazer o esforço de os plantar por si próprios. Só muito lentamente é que começam a aperceber-se do que perderam. Muitas das variedades regionais, como o tomate, a couve e outros tipos de legumes desaparecem para sempre, se não agirmos agora. Nos últimos cem anos a nível mundial, notou-se uma redução da variedade dos legumes disponíveis de 80 a 95%. Hoje ainda vive a última geração com as sementes e guarda-as muitas vezes como um tesouro. Ainda temos uma chance de entrar em intercâmbio com ela. A alternativa para a organização global da indústria agrária consiste na produção local para o consumo local; cultivar os seus alimentos é o direito de cada pessoa e de de cada país. Que os jovens deixam o campo e se mudam para as grandes cidades é compreensível para todos aqueles que conhecem a vida do campo. Mas, nas cidades também não encontram o que procuram. O jovens precisam de uma perspectiva para o futuro. No mundo rural eles precisam de modelos de vida que lhes dêem esperança e inspiração para o seu futuro e lhes ofereça uma vida iteressante e com sentido. Eles precisam de uma possibilidade de trabalhar num ambiente livre para um mundo no qual valha a pena viver. Um projecto global de formação com dedicados especialistas para as profissões de futuro, um ponto de encontro vivo e aberto para encontros internacionais e partilha: o Projecto de Pesquisa de Paz de Tamera está a mais e mais a tornar-se neste lugar. Com a Permacultura Holzariana ele integrará uma área de pesquisa a mais, o que aumenta a sua força de atracção para jovens para o local, e a sua relevância global ainda mais.

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Impressions from a finca in Spain. 2nd from top, left: owner. Photos: Tamera archive

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2. Como podemos agir. A Permacultura Holzeriana. a) Uma quinta na Estremadura: Um exemplo de aplicação da Permacultura Holzeriana em Espanha (Em Janeiro de 2007 uma delegação de Tamera visitou a quinta. Dörthe Goschin acompanhou esta visita e relata) A transformação bem sucedida de uma paisagem semi-árida num paraíso de água com um luxuriante biótopo de plantas: A Sul de Madrid, em plena região da Estremadura pode-se encontrar um exemplo de revitalização de um biótopo ameaçado pela desertificação extrema. Baseada nos conceitos da Permacultura Holzeriana a quinta, com 270 hectares, é um modelo pioneiro para um futuro verde na Península Ibérica. Longos períodos de seca com chuvas fortes no Inverno e uma erosão massiva do solo levaram à desertificação da paisagem. Esta foi a situação inicial quando foi feita a análise e foi desenvolvido o conceito para a renaturalização sustentável da área. Outro aspecto tomado em consideração foi o facto de, nos últimos anos, se assistir a um aumento na morte das azinheiras em toda a Espanha. A tese científica de que se trata de um vírus foi examinada. No todo, a situação não é muito diferente da das azinheiras no Alentejo. Quando Sepp Holzer se perguntou porque é que as azinheiras morriam, chegou a uma resposta lógica e simples. A partir da sua estimativa, o desenvolvimento agrário e económico dos últimos 50 anos onerou demasiado as azinheiras com centenas de anos de idade. É visível que o corte das árvores deixa feridas de grande dimensão. Estas desencadeiam problemas comuns nas árvores tais como: quebras no fornecimento de água e nutrientes devidas à entrada de ar nos sistemas capilares das árvores, infestação por fungos e parasitas nas árvores enfraquecidas. Por fim a árvore morre. Este processo também é favorecido pelas condições ambientais extremas. Como uma árvore endémica do mediterrâneo a azinheira está habituada a longos períodos de seca. Mas devido à exploração excessiva das pastagens nas últimas centenas de anos e a consequente compactação do solo e redução da capacidade de campo1, as fortes precipitações de Inverno escoam à superfície não chegando a penetrar o solo. Além disto o pastoreio reduz a diversidade da flora e a regeneração do montado. Por falta de coberto vegetal o húmus do solo perde-se por erosão hídrica e eólica. Este ciclo cria uma situação de stress geral para as azinheiras velhas e enfraquece a capacidade de auto-regeneração. Para Sepp Holzer, esta interligação de influências faz com que a teoria do vírus seja uma história pobre. A aconselhada vacina das árvores só o faz abanar de cabeça, tendo em vista a cegueira acerca do que está tão claramente descrito no “livro da Natureza”. Para a regeneração do “cemitério de árvores” ele sugeriu uma alteração radical do conceito de uso. Um importante passo foi tomado com a suspensão do pastoreio por vários anos, que permitiu o estabelecimento duma floresta jovem. Além disso, foram tomadas medidas adicionais como a lavra da terra com o objectivo de abrir o solo compactado, melhorando as condições para a germinação das sementes. Seguiu-se a florestação com uma mistura de árvores de fruto e de plantas como por exemplo as alfaces, as leguminosas e os vegetais subterrâneos. Isto tudo levou ao melhoramento da condição de solo e ajudou a um desenvolvimento mais rápido do húmus. Numa visita realizada, um ano após esta intervenção, era possível passear numa área repleta de alimentos no meio da árida e pobre Estremadura. No meio do prado, por baixo das árvores, cresciam nabos, rabanetes e alfaces, desenvolviam-se magnificamente, e eram uma

1 parâmetro que mede a capacidade de um solo para reter a água

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delícia durante os nossos longos passeios pelo terreno. Mas muito mais impressionados ficamos com a mudança da área onde, há dois anos, construíram os lagos. Estes encheram-se apenas pela precipitação do Inverno e agora aninham-se suavemente na paisagem como um colar de pérolas. A combinação das grandes variedades de aves aquáticas com o cintilar dos lagos, cada um com 10 hectares de superfície, encantam o espectador. Por um momento esquecemos que nos encontramos numa das áreas da Europa mais ameaçadas pela desertificação. “Água é vida” – Esta afirmação base de Sepp Holzer é visível neste projecto de Permacultura de forma tão impressionante que é de tirar o fôlego. Após um Inverno apenas, os oito lagos atingiram a sua capacidade máxima com preciosa água. Agora a terra tem tempo para absorver ao longo do ano toda a água que precisar. O microclima é assim vitalizado a longo prazo e a grande variedade de espécies na flora e fauna ganha vida numa paisagem que até aqui era inóspita. Podemos já hoje antecipar a atmosfera paradisíaca, e o vislumbre das oportunidades de evolução ecológica no futuro não requer muito esforço à imaginação, mesmo para um leigo em ecologia. A verdade visível fala claramente. Sepp Holzer implementou ao todo 50 hectares de superfície de água na propriedade. Estes constituem a base ecológica para a renaturalização do biótopo durante os próximos anos. Este projecto consegue expandir o horizonte de pensamento a qualquer pessoa, para o facto de existirem soluções para questões aparentemente irresolúveis e inelutáveis. A quinta é sinal impressionante para toda a Península Ibérica, uma resposta importante para a pergunta sobre o que será possível no futuro desta região: reter a água como o bem mais precioso em vez de a deixar escorrer para longe. Um biótopo rico de culturas mistas irá mudar a paisagem da Península Ibérica transformando uma área quase declarada como um deserto, num jardim de Eden. Em nome de toda a vida e das gerações vindouras, estamos profundamente gratos a Sepp Holzer pela sua perspectiva visionária e impulso firme.

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b) A filosofia de Sepp Holzer e a sua aplicação. Ao ler no “livro da Natureza”: cada situação contém a solução para o seu problema Sepp Holzer afirma que em qualquer área e em qualquer zona climática, seja num vale, na tundra ou no deserto, existe a possibilidade de cooperar com a Natureza, de guiá-la e de plantar os alimentos indicados para o ecossistema para os seus habitantes. Nisto, a Permacultura Holzeriana não é uma metodologia que oferece um mesmo procedimento para cada situação. Muito pelo contrário, a raiz desta Permacultura baseia-se na observação da Natureza, pondo-nos na posição dos seus seres vivos, e, a partir desta compreensão, reconhecer interiormente quais as medidas saudáveis e sensatas a tomar para o seu bom desenvolvimento. Sepp Holzer diz: “No livro da Natureza, a verdade sempre está escrita, apenas temos de aprender a lê-lo.” Um esquimó chega a soluções diferentes das de um habitante do deserto ou da floresta húmida da América central. Mas, ainda assim, existem princípios que surgem recorrentemente e experiências com os quais se pode aprender. Para mais informações sugere-se a leitura dos livros de Sepp Holzer. A água é mais preciosa do que a terra: aumentar a fertilidade da terra através da construção de lagos e charcos. Na Permacultura Holzeriana a água é o aspecto mais valorizado. A água é mais preciosa do que a terra e o valor de um terreno está intrinsecamente ligado à quantidade de água que possui e à sua capacidade de a reter. Isto vale principalmente para as regiões ameaçadas pela desertificação como é o caso do Sul da Europa. Sepp Holzer diz: “Deixar escorrer a água pelo terreno é comportar-se como alguém que guarda todas as suas moedas num suposto mealheiro, sem querer saber do buraco no seu fundo”. O método de Sepp Holzer de usar e reter a água da chuva no terreno consiste, entre outras coisas, na criação de charcos e lagos. Porque água é vida. Em todos os locais onde existem habitats húmidos, lagos, rios e charcos, uma grande variedade de plantas e animais prospera; eles são uma base ideal para biótopos utilitários e para paisagens comestíveis – tanto aquáticas (na água), como ripícolas (nas margens) e rupícolas (nas redondezas). A água das charcos e lagos percorre o solo movida pela tensão capilar e aumenta a formação de orvalho. Esta água, que chega às raízes directamente por baixo, promove e desenvolve o crescimento radicular e consequentemente das plantas, melhor do que a rega à superfície do solo. E, caso seja necessário, a água dos lagos pode sempre ser usada para regar – e está onde faz falta, não precisando de regos muito compridos. Os lagos e charcos não servem apenas para o armazenamento da água no terreno – mas também como uma superfície de produção de culturas especiais, que podem ser adequadas para a venda, especialmente em áreas onde a água é escassa: por exemplo, criação de peixes de água doce, criação de lírios ou outros tipos de plantas da água. A criação dos lagos é uma medida única, e é como a base para todo o desenvolvimento subsequente de um biótopo. Por isso, Sepp Holzer não hesita em trabalhar com maquinaria pesada. Cada mudança de uma área começa com uma cuidadosa observação das disponibilidades da água e da bacia hidrográfica, medindo as curvas de nível e desenvolvendo cuidadosamente o plano geral. Sepp Holzer trabalha entre outros com escavadoras especiais tal como com maquinistas por ele próprio educados. Algumas experiências e princípios do “trabalho da água”: - Tanta intervenção quanto seja necessária, mas a mínima indispensável. Impermeabilizar a terra com telas ou betão não apenas é desnecessário, mas também prejudicial. - A construção de lagos e charcos deve utilizar as condições naturais. Nunca devem parecer artificiais nem ser desenhados em forma de rectângulo. Holzer diz: “Se um lago parece ter surgido naturalmente, então fizemos um bom trabalho”. - Os lagos devem sempre ter uma bacia de sedimentação na qual as partículas em suspensão

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possam assentar como lodo fértil. Assim os lagos ficam claros e transparentes e estas zonas servem de preciosos reservatórios de húmus que podem ser dragados de tempos em tempos. - A protecção criada através de plantações e áreas de diferentes profundidades permitem a convivência de espécies predadoras com as suas presas: assim, a auto-regulação natural do ecossistema torna-se possível. - Também para as plantas aquáticas é válido: a diversidade é melhor do que a uniformidade. - As margens são áreas de grande produtividade e excelentes para cultivar vegetais. - Áreas de diferentes profundidades e sombras criam diferenças de temperatura e de vegetação, que trazem múltiplas vantagens ecológicas. Economia e ecologia: “Usar a Natureza, mas não explorá-la.” “Se temos um terreno devemos usufruir dele e não abandoná-lo. É uma responsabilidade nossa fazer algo dele, por isso ele nos foi dado.” Esta é a convicção de Sepp Holzer. Economia e ecologia, agricultura e protecção da Natureza não são para ele contradições. Pois tanto faz tratar-se de agricultura extensiva ou intensiva: quem souber compreender e utilizar a Natureza e também tirar proveito económico da sua abundância é parte interessada na sua protecção. Então, o seu interesse na saúde do seu terreno nunca colidirá com o interesse com a sua própria sobrevivência. Sepp Holzer, agricultor de montanha, aprendeu isto logo de princípio e está convencido de que o Ser humano só poderá sobreviver se voltar a reflectir e a pôr em prática a sabedoria da Natureza. Assim, quando altera uma área tem sempre três pontos em vista: o sonho da paisagem e dos seus seres vivos, o abastecimento dos habitantes com alimentos frescos e saudáveis, e a possibilidade de plantar algo especial, que se possa comercializar – numa área em que possivelmente exista um nicho de mercado. A combinação da agricultura de subsistência com a especialização num produto comerciável é um elemento para uma auto-suficiência em rede regional. A auto-suficiência regional é necessária à sobrevivência – por exemplo, em áreas de conflito, onde o fornecimento central ou global já não esteja garantido. Juntos é melhor do que sozinho: A simbiose das interdependências Na Natureza é raro aparecerem monoculturas, e quando aparecem é geralmente sob condições extremas, já desequilibradas. As zonas do transição com grande variedade de espécies são as zonas de produção da Natureza. Entre as diferentes plantas e animais de um habitat existe uma enorme variedade de simbioses, que ainda se encontram pouco exploradas cientificamente. Diferentes plantas utilizam de modo diferente a luz, o solo, os nutrientes e a água, para que todos os recursos e nichos ecológicos estejam preenchidos. Uma planta liberta resinas, que previne a outra de ser atacada por parasitas. Uma planta liberta subprodutos que para outra servem de alimento. O canto dos pássaros fomenta o crescimento das plantas. “Uma floresta é mais que a soma das suas árvores.” Ou: “Juntos é melhor do que sozinho.” Os biótopos são comunidades de apoio mútuo. Em interacção com a totalidade da natureza, as comunidades de apoio mútuo optimizado desenvolvem-se por si próprias. Por isso, Sepp Holzer não cultiva em primeira linha uma só variedade de culturas, mas concebe e cria as condições ideais para que biótopos se desenvolvam. Assim ele nunca semeia uma só variedade de plantas mas inclui sempre sementes de plantas simbióticas. Estas podem ser captadoras de azoto como a ervilha, ou com grandes raízes que desagregam o solo, ou até plantas venenosas que segregam substâncias que aumentam o sabor e as propriedades medicinais dos vegetais. O Ser humano é a parte perceptiva e orientadora de um biótopo. Ele faz parte dos processos simbióticos se aprende a intervir na comunidade seres de uma forma atenta e curadora. Dirigir a Natureza, não lutar contra ela: Animais como colaboradores Um ecossistema desenvolve toda a sua força quando todo e cada ser se encontrar no seu devido local. A tarefa do Ser humano é dirigir a Natureza e não lutar contra ela. Cada ser que aparece num biótopo tem o seu significado. Quando aparecem as chamadas

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pragas, Sepp Holzer não pergunta: como me posso livrar delas? Mas sim: para que servem? Como posso utilizá-las? O Ser humano tem a capacidade de indicar a cada componente de um biótopo o sítio e a tarefa através dos quais possam servir melhor o todo. O que significa isto, por exemplo, uma infestação por praga ou um excesso de plantas espontâneas? Em primeiro lugar, são indicadores muito importantes da condição do terreno. Sepp Holzer retira as suas conclusões; são indícios que algo tem que ser mudado. Talvez os vegetais tenham sido plantados em locais demasiado húmidos? Talvez a clareira tenha demasiada sombra para as maçãs? A próxima pergunta é sempre: Como posso tirar proveito de uma situação negativa? Como posso dirigir as forças da natureza para que ela trabalhe para mim? Na Permacultura de Sepp Holzer os animais desempenham um grande papel. Para ele, nunca apenas servem como alimento. Quer sejam domesticados ou selvagens, para Sepp Holzer, eles têm que “trabalhar”. Para um porco, por exemplo, significa que vai ter que apanhar a sua comida por entre as silvas. Assim ele escava, desenterra as silvas e fertiliza a terra para, por exemplo, logo depois se poder plantar ou semear árvores de fruto. Para o porco, por sua vez, este “trabalho” é muito mais natural do que estar na pocilga. Uma boa cooperação com os animais poupa trabalho que o Ser humano teria de realizar utilizando ferramentas, maquinaria ou químicos.

Sepp Holzer no Krameterhof (www.krameterhof.at)

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c) Quem é Sepp Holzer? Um retrato de um Ser humano inspirado Sepp Holzer desenvolveu na sua quinta na montanha, uma forma de Permacultura Alpina muito antes de ter ouvido esse conceito: um tipo de agricultura que aproveita e conduz as simbioses e interacções da Natureza, que trabalha com essas forças ao invés de as quebrar. Os seus sucessos espectaculares fizeram-no famoso. Hoje em dia ele e a sua esposa Veronika Holzer viajam pela Mundo para planear e apoiar projectos ecológicos. Quem tenha conhecido Sepp Holzer, irá lembrar-se dele. Com uma aparência típica de um duro agricultor de montanha à primeira vista, tem uma é comovente subtilidade na sua percepção dos processos naturais, mostrando uma empatia amorosa e tanto conhecimento que não é possível aprender nos livros. Além disso é uma pessoa altamente dotada capaz de deixar outros partilharem o seu conhecimento, e de fazê-los ver pelos seus olhos. Na sua companhia, até pessoas que cresceram com pouco ou nenhum contacto com a Natureza, têm a agradável experiência de quão vital e individual é cada árvore, cada insecto e cada mão cheia de terra tem. As primeiras tentativas de pesquisas quando era criança Desde criança, Sepp Holzer, que nasceu em 1942, na quinta “Krameterhof”, em Lungau, Áustria, com a altitude de 1.500m, interessou-se em todos os processos na natureza. Ficava fascinado quando observava na soleira da janela o germinar e os processos de crescimento das plantas e quando isto se tornou demais para os pais, ele usou a semanada que recebia para arrendar uma pequena parcela de terra do pai. Sem perturbações, ele seguiu a sua alegria de descoberta como rapaz, criou formigas e estudou a diversidade da vida que se congregava à volta da primeira lagoa que ele construiu, formando um biótopo húmido. Trocava as sandes do intervalo na escola por uma truta, e mediante alguns cêntimos, deixava os seus colegas desfrutarem da riqueza da sua lagoa. Assim, ele começou a conhecer os ciclos da natureza em escala pequena e cedo se apercebeu da abundância que a natureza pode produzir mesmo numa quinta árida nas montanhas em Lungau, a chamada “mancha fria” da Áustria. Estas experiências feitas enquanto criança até hoje lhe influenciam e são ainda a fonte profundamente enraizada do seu conhecimento. Ele permaneceu sempre fiel a elas, mesmo tendo de, muitas vezes, opôr-se aos seu pais, às autoridades ou aos peritos. “Nunca paro de aprender”, diz ele. “Se observarmos com um olhar vigilante e nos pusermos no lugar dos seres vivos, cada momento nos oferece a possibilidade de aprender algo de novo. Cada momento gasto a não lidar com a natureza é um desperdício.” A transformação da quinta “Krameterhof” Ainda antes de ser maior de idade, aos 19 anos, ele ficou com a quinta do pai e começou a reestruturá-la de acordo com as suas próprias ideias. Ele trocou parcelas de terra com os vizinhos para que, aos poucos, ficasse com uma propriedade de contornos realinhados. Ele tinha especial interesse em terrenos alagadiços, aparentemente de menor valor, especialmente se tivessem nascentes. Finalmente ele possuía uma área de captação água contínua, com muitas descidas íngremes e uma diferença total de altitude de 600 metros. Ele começou a escavar lagos e charcos e iniciou uma criação de peixe. Esta foi só uma das suas actividades. À medida em que se tornou cada vez mais difícil a sobrevivência como agricultor, ele estava sempre à procura de fontes de rendimento adicionais. Em conjunto com a sua esposa Veronika Holzer, ele construiu sucessivamente: uma coutada de caça, uma casa de hóspedes, a produção de várias espécies de animais e plantas, e outros projectos. Em todas as áreas ele pôde aplicar o seu conhecimento da natureza e a sua energia, mas em alguns pontos ele também remou contra muitas marés. Seja o alargamento da UE para o Leste, que destruiu a viabilidade económica da sua criação de animais, seja um concorrente à sua produção de trutas, capaz de sobreviver melhor no mercado devido á sua marca tradicional, ou o fisco que “penalizava” o aumento de valor da sua propriedade através de maiores impostos. Mas Sepp Holzer nunca se deixava intimidar pelos fracassos, e talvez o seu maior segredo de

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sucesso seja: ele parece sair mais forte e mais sábio após cada insucesso, cada erro. A ligação à natureza ajuda-o nisso. “Muitas vezes estou acordado no meio da noite a pensar sobre o meu caminho de vida percorrido. Nestes momentos nada me segura na cama. Vou então apanhar ar fresco e faço um pequeno passeio nocturno. Estes passeios ajudam-me muitas vezes a clarificar os meus pensamentos e volto normalmente com novos planos ou com respostas que eu tinha tentado encontrar desde há muito tempo. Sozinho no meio da noite encontro a minha paz e calma, e sinto a minha ligação com a natureza.” O Rebelde Agrário Demorou algum tempo até encontrar a actividade, na qual o seu saber acerca dos ciclos da natureza e a cooperação com a natureza se pudesse revelar em toda a sua extensão. A experiência chave para isto veio quando participou num seminário técnico sobre piscicultura. Até então, ele tinha seguido os pontos de vista da ciência agrária; ele tinha usado fertilizantes artificiais e aplicado pesticidas. Agora, durante o seminário, ele viu com os seus próprios olhos os efeitos dos químicos nos microrganismos no solo e na água. A percepção de que, se ele seguisse os aconselhamentos de consultores e exigências legais, ele próprio ajudava na destruição da vida e da diversidade que amava tão profundamente, causou-lhe o efeito de um relâmpago. O véu dourado que encobria o mundo dos especialistas e da indústria levantou-se e revelou o fatal beco sem saída do nosso tempo, que consiste numa incompreensão dos processos da natureza e no vício do lucro excessivo. Sepp Holzer tornou-se num “rebelde agrário”. Em todo o lado ele começou a ver os efeitos da forma errada de pensar da indústria e da ciência, desligadas da Natureza: nas monoculturas das florestas e do sistema agrícola, no menosprezo dos agricultores, em regras e métodos que prescrevem sempre as mesmas receitas para diferentes zonas climáticas e biótopos. Ele decidiu aceitar apenas as leis que estejam em ressonância com a natureza. Por isso, foi muitas vezes denunciado. Lucrativas como elas eram, as criações de florestas mistas, em locais nos quais antes estavam apenas desertos de secos pinheiros, foram descritas como “destruição do biótopo”. Mas ele ganhou todos os processos, porque os acusadores nunca puderam negar que a que a fertilidade do solo e a diversidade tenha crescido por causa do seu trabalho. Ele introduziu múltiplas variedades de peixes nos lagos, e se eles são protegidos por diferentes profundidades e pela vegetação, peixes predadores e peixes de presa, prosperam em conjunto. Ele plantou biótopos “comestíveis” nos diques, ao longo das estradas e nas monoculturas de pinheiros. Com apenas poucas mudanças, ele usou as encostas íngremes dantes sem uso como armadilhas solares e semeou plantas subtropicais e sensíveis à geada. “Kiwis nas Pastagens dos Alpes” foi uma notícia que o fez famoso para além de todas as fronteiras. Canteiros elevados construídos nas colinas com uma escavadora e com biomassa integrada tornaram-se zonas agrícolas altamente produtíveis. Culturas especiais como a da genciana, dos cogumelos silvestres, dos cereais primitivos, e das batatas silvestres, prosperaram como parte de um biótopo com aspecto natural. Alface, ervilhas e rabanetes crescem onde quer que se vá em toda a quinta, semaadas ao passear em cada espaço livre. Muitos deles não são colhidos, mas afinal “legumes que ficam no solo são o melhor tipo de fertilizante”. Sepp Holzer torna-se internacionalmente famoso Finalmente, o mundo profissional tomou conhecimento dele. Paralelamente, a ciência agrária oficial tinha começado a reconhecer os seus erros. O beco sem saída para o qual o caminho da indústria agrária a tinha conduzido, finalmente tornou-se óbvio, e assim foram procurados novos caminhos. Nos anos 70 na Austrália, Bill Mollison tinha desenvolvido uma agricultura a que deu o nome de Permacultura. No seu Instituto de Permacultura, investigou os princípios de cooperação com a natureza, segundo os quais não eram plantadas culturas singulares, mas sim biótopos inteiros, que se sustentam a si próprios porque todos os elementos apoiam-se mutuamente.

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Para Mollison, Permacultura significava não só um método de agricultura, mas uma abordagem e uma forma de lidar com a natureza holísticas, segundo a qual também cooperou com a natureza quando se tratava de construção, de nutrição e de outras áreas. Em muitos lugares do mundo são feitas experiências com Permacultura. Apesar de nunca ter ouvido essa palavra antes, Sepp Holzer tinha criado o provavelmente maior, mais abrangente e convincente projecto de Permacultura na Europa, um tipo de Permacultura alpina. Hoje ele chama ao seu método a “Permacultura Holzeriana”. Entretanto já foram escritas teses para obtenção de diplomas universitários, foram feitos programas de televisão e publicados artigos na imprensa sobre os seus métodos. Grupos de mais de cem pessoas interessadas têm visitado o “Krameterhof” e quase diariamente Sepp Holzer guiava pessoas, atónitas, pelos seus biótopos. A ligação de Sepp e Veronika Holzer parece confirmar uma velha sabedoria: “Atrás de cada grande homem existe uma grande mulher.” Sem ela, provavelmente muitas vezes ele não teria tido a força para continuar o caminho, muitas vezes difícil e cheio de conflitos. Mesmo que ela pareça muito mais silenciosa do que o seu marido, não quer dizer que tenha menos conhecimentos. Quando ela o expressa, os interessados podem aprender o mesmo que com ele. Entretanto Sepp e Veronika Holzer também começaram a dedicar-se por projectos internacionais, disponibilizando a sua sabedoria para outros. Eles viajam através do mundo – para a Escócia, Rússia, Chile, Médio Oriente, Colômbia, Espanha, Ilhas Canárias – para aconselhar e ajudar com a renaturalização de biótopos. Para eles é especialmente importante apoiar projectos que tenham propósitos humanitários ou que sirvam como modelos para toda uma região. Depois de dezenas de anos de aprendizagem no “Krameterhof”, a sua esposa e ele começaram agora a implementar a sua sabedoria para uma mudança global no pensamento.

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Photos: On the Krameterhof. (Photos from www.krameterhof.at))

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Impressions from Tamera, from above left: Entrance gate, inauguration of Monte Cerro, the founders Sabine Lichtenfels and Dieter Duhm, Jürgen Kleinwächter, visitors to the Solar Village, in the garden, celebration of the inauguration of the assembly hall, students at Monte Cerro. Photos: B.B.

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3. Tamera, a Aldeia de Pesquisa de Paz Tamera, a Aldeia de Pesquisa de Paz no Alentejo, no Sul de Portugal, deverá ser a área de teste para um novo grande projecto de Permacultura Holzeriana. A intenção é ser um modelo, um projecto de pesquisa e de formação, no âmbito do “Campus Global”, para a renaturalização do terreno, para a auto-suficiência alimentar de uma comunidade mais grande e para o desenvolvimento de uma ecologia para Aldeias Globais Futuras. Em Tamera, o conhecimento e a pesquisa sobre cooperação com a natureza representa uma área que, até agora, não estava suficientemente representada no desenvolvimento de um modelo para o futuro. a) A ideia básica de Tamera: quem não quer guerra precisa de uma visão para a paz A humanidade só vai sobreviver se abandonar os sistemas destrutivos da violência. Mas a maioria só irá abandoná-los quando existirem modelos convincentes para entrar numa cultura de paz – modelos que funcionem não-violentamente em todas as áreas da vida humana. Isto requer uma nova orientação para a economia, para a ecologia e a tecnologia, tanto como para a comunicação e a resolução de conflitos, para o estabelecimento de comunidades, o amor e a sexualidade. Tamera é um lugar de experiência e de pesquisa para o estabelecimento de de Aldeias de Pesquisa de Paz em todo o mundo. Em Tamera- primeiro a pequena escala- as bases e as condições para uma convivência não-violenta entre as pessoas e com a natureza têm sido pesquisadas. Se isto for bem sucedido num lugar, então os resultados desta pesquisa podem ser usados e mais desenvolvidos em outras partes do mundo. O objectivo é a criação de uma rede mundial de Aldeias de Pesquisa de Paz como modelos de instituições sustentáveis a nível ecológico e social. Juntas, estas Aldeias de Pesquisa de Paz deverão desenvolver em conjunto o conhecimento de paz e de sobrevivência do futuro, para um mundo onde o “Peak Oil” e as mudanças climáticas nos terão obrigado a viver e operar de modo diferente. Dieter Duhm, fundador de Tamera, diz: “Os padrões de ordem da sociedade humana têm de corresponder aos padrões da vida e da Criação. Sem a harmonização da biosfera com a sociosfera, da vida humana com a universal, a cura do mundo já não será possível.” Entretanto, está a ser criada uma rede mundial de apoiantes e parceiros de cooperação para este plano. b) O estabelecimento de Tamera Tamera foi fundada em 1995 pelo sociólogo e psicanalista Dieter Duhm, pela teóloga e mensageira de paz Sabine Lichtenfels e pelo físico e músico Rainer Eherenpreis, depois de muitos anos de preparação. Na propriedade de 134 hectares foi construída uma infraestrutura inicialmente improvisada para o estudo teórico e prático e a pesquisa nas áreas do estabelecimento de comunidades, da ecologia e da tecnologia. Foram plantadas 20.000 árvores, construídas casas e oficinas provisórias e criadas hortas para auto-abastecimento de alimentos e os primeiros biótopos experimentais. Mas principalmente foi iniciado um programa de formação para jovens e jovens adultos, e o estabelecimento de uma comunidade de pessoas com diferentes profissões e de diferentes idades. Entretanto, 160 pessoas de todas as partes do mundo trabalham e estudam em Tamera.

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c) Comunidade – a forma de viver do futuro O foco principal da pesquisa e experiência em Tamera situa-se na área do estabelecimento de comunidade e da competência social; o conhecimento de comunidade e a resolução de conflitos constituem os pontos principais dos programas de formação em Tamera. O que Sepp Holzer diz sobre a criação de comunidade na Natureza, vale de forma similar para a criação de comunidade entre pessoas. A sua orientação ética é baseada na verdade entre as pessoas, no apoio mútuo e na participação responsável no todo. Não é a separação nem a marginalização que promovem a individualidade, mas sim a cooperação e a comunicação autêntica. Em Tamera, por assim dizer, é pesquisado e estudado o interior humano de uma ecologia saudável. Comunidade é também a forma de vida, na qual nós estaremos melhor preparados para os desafios vindouros. Tomemos Cuba no início dos anos 90 como exemplo: muito de repente e inesperadamente uma nação inteira teve que se adaptar ao fim da riqueza em petróleo. Como era uma sociedade com um relativamente alto grau de coesão social – ironicamente protegidos pelas condições ditatoriais existentes – os cubanos puderam, com relativa facilidade, desenvolver em conjunto soluções efectivas a nível local. Na maioria dos países teria provavelmente sido diferente. Embora conhecimento comunitário - sem dominação ou ditadura – já tenha existido na Terra, ele foi perdido ao longo dos milénios. Culturas após culturas foram extirpadas das suas conexões sociais: tribos, grandes famílias e culturas de aldeia desapareceram, e o que restou foram sociedades de solteiros e de guerreiros solitários. Para hoje constituir comunidades modernas, são necessárias pesquisas e experiências, para traduzir o antiquíssimo conhecimento comunitário para os contextos modernos, nos quais também haja espaço para a necessidade de liberdade individual, de aventura e de amor. Em Tamera existe um conhecimento de comunidade sustentável e generalizável que se desenvolveu ao longo de dezenas de anos. Conhecimento sobre uma prática de vida espiritual, sobre comunicação verdadeira, sobre o crescer das crianças num ambiente livre e seguro, sobre uma relação viva e de parceria entre os sexos e sobre uma cooperação complementar entre jovens e pessoas mais experientes. d) Educação para a paz “Monte Cerro”: formação de trabalhadores globais pela paz Desde Maio de 2006, trabalhadores/as pela paz provenientes de todo o Mundo, também de áreas de crise e regiões de conflito, podem fazer uma formação na experiência “Monte Cerro” em Tamera. Aqui, eles estudam o conhecimento teórico e prático necessário para sobreviver na era actual de transformação e para estabelecer alternativas para a era pós-industrial. Um objectivo da formação é capacitá-los à ajuda no estabelecimento de Aldeias pela Paz como instituições auto-suficientes funcionais. A formação inclui os campos de conhecimento tecnológico, ecológico, social, e espiritual. No seu centro estão os tópicos do estabelecimento de comunidades, da resolução de conflitos e da competência social. Uma ideia central subjacente à formação Monte do Cerro poderia ser formulada como a seguir, parafraseando Gandhi: “Temos de operar em nós próprios as mudanças que gostaríamos de ver no Mundo”. A formação é liderada pela primeira geração dos jovens professores que já frequentaram a Escola da Paz de Tamera. Pessoas qualificadas e especialistas de diferentes áreas, como a energia solar, a arquitectura, a prática da vida espiritual, o jornalismo de paz e, agora mais profundamente, a ecologia, complementam o conhecimento da comunidade de Tamera. A Permacultura de Sepp Holzer é agora um importante novo campo de estudo. Está planeada a constituição da Universidade do Monte do Cerro. O primeiro edifício foi iniciado em 2006: o auditório, construído com fardos de palha e terra e com um telhado de relva, com 30 metros de comprimento e 8 metros de largura. Abrange até 300 pessoas. Através da cooperação com parceiros internacionais tornou-se possível em Tamera uma formação em rede global. Tamera oferece cursos de formação em planeamento e design de ecoaldeias (EDE - Ecovillage Design Education) em conjunto com a GAIA Education. E devido

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á cooperação com a GaiaUniversity, a partir do verão 2007, estudantes poderão completar estudos em Tamera e receber um diploma final oficial (Bacharel ou Mestre). A iniciativa “Campus Global” é outra iniciativa de formação, em rede internacional, para trabalhadores pela paz. Para isto, os parceiros de cooperação de Tamera são os seguintes: The Barefoot College, India (www.barefootcollege.org) O Barefoot College foi fundado em 1972 e formou até agora mais de 125.000 pessoas de zonas rurais em tecnologia ecológica para a vida e a sobrevivência em aldeias. Aqui os estudantes do “Campus Global” aprenderão a dominar tecnologias solares simples e adquirirão as competências necessárias para instalar projectos comunitários em zonas rurais pobres. HolyLand Trust, Palestina (www.holylandtrust.org) O Holy Land Trust (HLT) foi fundado em 1998 em Belém, para ajudar o povo palestiniano a resistir à ocupação de modo não-violento. Com um inovador programa de formação em acção e comunicação não-violentas, desenvolvido por Sami Awad, os estudantes vão adquirir o conhecimento necessário para resolver conflitos de forma pacífica. San José de Apartadó, Colômbia (www.sos-sanjose.org) Numa das regiões mais violentas do mundo, a Comunidade de Paz de San José de Apartadó toma partido incondicional para a paz e a não-violência. Os estudantes do “Campus Global” vão viver em conjunto com os 450 habitantes, apoiar de forma activa a aldeia e pôr aqui em prática o que aprenderam nos outros projectos. e) A Aldeia Solar: planeado modelo de sobrevivência para áreas de crise Uma das áreas centrais do trabalho de pesquisa em Tamera é o estabelecimanto da chamada Aldeia Solar. Numa parte de 5 ha da propriedade de Tamera, a Aldeia Solar juntará os campos da ecologia, da tecnologia, da arquitectura e da comunidade, formando um modelo piloto holístico. Está planeada como um modelo habitacional generalizável para uma comunidade futura ou uma Aldeia pela Paz, que poderá ser replicada em cada região da Terra que tenha muito sol. O planeado modelo será uma aldeia amplamente auto-suficiente para 50 pessoas. Pretende-se que a Aldeia Solar seja uma estação de pesquisa para o conhecimento solar do futuro, de uma era pós-industrial; a sua tecnologia foi desenvolvida pelo físico e inventor Jürgen Kleinwächter de Lörrach/ Alemanha. Em 2006 a direcção foi tomada, os planos foram apresentados, o local de construção foi preparado, uma estufa experimental foi construída, e a primeira séria de testes efectuada. f) A auto-suficiência regional – criação de rede no Alentejo O estabelecimento de uma auto-suficiência regional através da criação de rede de parceiros no Alentejo é uma nova área de trabalho em Tamera. Aos poucos e poucos queremos renunciar ao consumo e utilização de alimentos, da energia, e de outros bens oriundos da circulação global e substitui-los por bens da nossa própria produção ou da região. Actualmente, Tamera já produz parte dos seus alimentos. No que toca à produção de energia, está planeado que no próximo ano Tamera irá passar completamente para as energias renováveis. Para o tratamento de água, nós procuramos métodos que sejam aplicáveis também em zonas secas. Sendo um local com várias centenas de colaboradores e estudantes, Tamera representa um certo factor económico na região, que pode dar a pequenos produtores, por exemplo artesãos e agricultores biológicos, uma certa segurança. Assim nós começámos a inspirar e a encorajar empresas locais para planearem a sua produção não apenas de acordo com as normas da economia global, mas também, por exemplo, a produzir cereais ou mel biologicamente, ou outras produções de forma ecológica. Assumimos que as Aldeias de Pesquisa de Paz, como Tamera, têm uma responsabilidade especial para com a sua região. Elas têm uma função modelo, e podem assim trazer inovação

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técnica e ecológica à população, fazendo-as visíveis e tangíveis. Esta tarefa das Aldeias de Pesquisa de Paz vai ajudar a garantir que a transformação para uma sociedade do futuro, que seja independente de sistemas indústrias ocorra pacificamente.

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4. A realização

a) Porquê introduzir a Permacultura Holzeriana em Tamera? A Permacultura de Sepp Holzer introduzirá no trabalho de Tamera, nos campos de pesquisa até agora activos da criação de comunidade, do trabalho de rede político, da economia de paz e da tecnologia solar, o importante campo de cooperação com natureza. Uma Aldeia de Pesquisa de Paz, tanto faz em que sítio do mundo seja estabelecida, precisa de um bom conceito para a sua integração na natureza e para um alto grau de auto-suficiência de alimentos. Acreditamos que o trabalho de Sepp Holzer pode oferecer isto. Através do encontro com Sepp Holzer e da visita a projectos anteriores seus, reconhecemos que é verdadeiramente possível criar um paraíso na Terra: um lugar no qual o ser humano e a natureza cooperam em confiança. O foco de Tamera no conhecimento sobre comunidade e na competência social faz com que as ideias e a prática da Permacultura sejam especialmente compreensíveis; pois se trata dos mesmos princípios universais, aplicados a diferentes campos de conhecimento. O carácter de Centro de Formação de Tamera vai apoiar a divulgação da Permacultura Holzeriana. Estudantes e trabalhadores pela paz internacionais vão aqui estudar a Permacultura Holzeriana, experimentar a sua implementação e levar os conhecimento às suas regiões de origem, onde a poderão aplicar. A crescente importância de Tamera como um modelo para o futuro da região, requer que uma resposta, local e generalizável, seja encontrada para a destruição ecológica no Alentejo e também em toda a Península Ibérica. Os nossos amigos e parceiros de rede na região, estão a seguir o projecto com grande interesse e se o conceito ou partes dele tiverem sucesso, também o utilizarão e implementarão eles próprios. Por todas estas razões, vemos como uma prioridade implementar a Permacultura Holzeriana em Tamera. b) A visita de Sepp e Veronika Holzer em Março de 2007 – análises e visões Em 3 e 4 de Março Sepp Holzer e a sua mulher Veronika Holzer visitaram Tamera. Ao longo dos dois dias, eles e um grande grupo de trabalhadores e estudantes, percorreram a propriedade, inspeccionaram as hortas, as reflorestações e a planeada Aldeia Solar. Nisto, ele esboçou a grande visão de um projecto modelo ecologicamente saudável para o abastecimento com alimentos vegetarianos para algumas centenas de pessoas e para a renaturalização da paisagem. “Vocês têm uma propriedade maravilhosa” disse ele. “É ja quase visível a paisagem com lagos, árvores de fruto, culturas hortícolas e florestas saudáveis que aqui, com pouca intervenção, pode ser criada. Não é difícil cultivar aqui alimentos suficientes para todos os habitantes. Mas de momento a terra ainda sofre muito com a exploração errada em toda a região, nas últimas décadas; a natureza grita por socorro, temos de agir muito em breve.” Ele fez recomendações muito concretas para o melhoramento de cada parte da propriedade e para cada problema ecológico: isto incluiu a reflorestação com árvores de fruto (em vez da monocultura de sobreiros que é predominante em grandes zonas da região do Alentejo), e também a cultura hortícola em canteiros elevados, uma reestruturação do viveiro de árvores, mudança de lugar do olival, plantação das bermas dos caminhos com hortícolas e frutícolas, utilização das florestas como lugares de pastagem para os cavalos e muito mais. Mas a sua sugestão principal foi a construção de um completo sistema de charcas e lagos como a base fundamental da renaturização da propriedade. “As vossas condições aqui são particularmente favoráveis. A situação da água é excelente”, disse ele. Ele declarou a sua disponibilidade para cooperar e fornecer consultoria se Tamera decidisse realizar esta visão. Entretanto, a comunidade tomou tempo para criar o conceito interno e a força de vontade para o projecto. O primeiro resultado é o seguinte plano por etapas.

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c) Projectos concretamente planeados de 2007 a 2009 Plantações piloto Imediatamente após a visita de Sepp Holzer, as primeiras plantações piloto foram criadas na forma de canteiros elevados para culturas hortofrutícolas.

Criação do conceito, licença de construção, angariação de fundos Todos os colaboradores de Tamera decidiram realizar a visão de Sepp Holzer. Uma equipa de ecologistas e hortelãos está disposta para transformar o conceito de Sepp Holzer em realidade, com a sua ajuda. O conceito global para a propriedade será desenvolvido durante o ano de 2007. Parte disto são trabalhos de agrimensura, análises do solo, etc. Autorizações serão obtidas e parceiros de cooperação serão procurados na região.

Grandes projectos: paisagem de lagos e culturas hortícolas para 300 a 500 pessoas A base de todo o projecto de Permacultura Holzeriana em Tamera consiste no trabalho de escavação para criar os lagos e as regiões da margem e para criar canteiros elevados. O mais cedo possível, preferencialmente já no Outono de 2007, deverá ser construído um dique para armazenar parte da água da chuva do próximo Inverno, represando-a para formar um lago. O planeado lago vai estender-se desde o auditório e a casa de hospedes até abaixo da planeada Aldeia Solar. Formação Todo o trabalho durante o estabelecimento da Permacultura Holzeriana em Tamera será uma parte integrante da formação de paz no âmbito de Monte Cerro; tanto quanto possível, ele acontecerá sob as instruções directas de Sepp Holzer. Desta forma queremos assegurar, desde o princípio, que o conhecimento sobre a cooperação com a natureza seja transmitido. Nós convidamos aquelas pessoas que, tendo lido os livros de Sepp Holzer, estão interessadas neste trabalho e procuram uma forma de obter formação mais aprofundada, a colaborar connosco durante algum tempo em Tamera e assim conhecer este trabalho. d) Possível plano de etapas e temporal O estabelecimento da planeada “paisagem comestível” em Tamera requer uma série de passos para a sua realização. Estes passos estão listados abaixo, constituindo um primeiro esboço. Para implementar o plano, nós estamos a planear campos de trabalho regulares e aprendizagem para estudantes e convidados interessados, nos quais a Permacultura Holzeriana possa ser directamente aprendida e experimentada na prática. - Início de Março de 2007: a primeira visita de consultoria de Sepp Holzer em Tamera e o começo dos primeiros testes com canteiros elevados (300m² para a produção de hortícolas, 75m² para o viveiro de árvores, principalmente de fruto). - Primavera/Verão 2007: os passos de planeamento são desenvolvidos: criação de um conceito global, produção de uma brochura de trabalho (em alemão, português e inglês), aquisição de informação sobre e requerimento de licenças oficiais (renaturalização com zona de retenção) etc. - Primavera de 2007: princípio da colheita e da sistemática multiplicação das sementes locais para árvores de fruto, legumes e plantas de apoio. (começo da procura de fontes convenientes para árvores de fruto e sementes, colheita das sementes do nosso próprio terreno e da região). - Desenvolvimento de ideias para a criação de um centro opracional ecológico, actualmente necessário principalmente para o armazenamento das sementes, e no futuro também para um parque de máquinas, etc. - Maio/Junho 2007: planeamento pormenorizado com Sepp Holzer do primeiro grande lago por baixo do auditório e, se também possível - da primeira paisagem de lagos no vale Sul principal de Tamera (na “zona da cauda”). - Setembro/Outubro 2007: criação do lago, construção dos terraços nas margens, dos diques

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e dos canteiros elevados à volta do lago – em combinação com o desenho exterior do auditório. - Outono 2007: sementeira dos legumes de Inverno e das plantas de apoio à volta do auditório e zona do lago (também para obter sementes.) - Outono/Inverno 2007/08: expansão do viveiro de árvores de fruto (durante um ano plantamos as árvores de fruto de viveiros comerciais nos canteiros elevados para se desacostumarem das condições da produção e se adaptarem ao futuro local de plantação). - Princípio da Primavera de 2008: semear e plantar as árvores de fruto, introdução das misturas de sementes de Primavera em alguns terraços e canteiros elevados. - Outono 2008: próxima fase de construção de lagos – repetição dos trabalhos cíclicos ao longo do ano (criação de lagos, terraços, canteiros elevados, semear e plantar as árvores de fruto, legumes e plantas de apoio, colheita, grangear experiência e sementes…) - Fevereiro / Março 2009: começo do enxerto das árvores de fruto plantadas, com variedades regionais e antigas. Adicionalmente a estas medidas iniciais, nas quais repousa o fundamento para uma nova paisagem, consideramos fazer um primeiro teste da florestação sugerida por Sepp Holzer, com a ajuda de porcos que, com a sua actividade de fossar e estrumar, preparam o solo para uma nova plantação. Para isto, zonas destinadas a florestação serão usadas por agricultores vizinhos como pastagem para porcos e posteriormente variadas árvores de fruto e floresta serão semeadas. e) Financiamento Actualmente são investidos biliões de euros no litoral para o desenvolvimento do turismo, em terrenos que, baseado no prognóstico climático, irão estar submersos em poucas dezenas de anos. Nós procuramos doadores e investidores dedicados e de vistas largas. O estabelecimento da Permacultura Holzeriana, à escala em que Tamera pode oferecer e com as condições que oferece, como um projecto internacional de pesquisa pela paz, é uma grande oportunidade com efeitos que vão muito para além do projecto em si. Os custos exactos são difíceis de estimar antecipadamente. Para a primeira fase, no Outono de 2007, esperamos custos de aproximadamente 65.000 €.

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1ª Fase: Construção do lago e das correspondeste paisagem à volta do auditório - Construção do dique, dos canteiros elevados e da paisagem de terraços - Compra e adaptação das árvores de fruto, sementes e tecnologia de irrigação - Adicionais custos para a maçonaria e os degraus para o auditório 2ª Fase: Construção da paisagem de lagos no vale Sul principal de Tamera - Construção dos lagos, dos canteiros elevados e da paisagem de terraços - Compra e adaptação das árvores de fruto, tecnologia de irrigação 3ª Fase: Construção da paisagem de lagos na área da planeada Aldeia Solar (zona noroeste da propriedade) - Construção da paisagem de lagos, dos canteiros elevados e da paisagem de terraços - Compra e adaptação das árvores de fruto, tecnologia de irrigação Faremos um orçamento mais preciso após as primeiras experiências e depois de um planeamento mais pormenorizado com Sr. Holzer.

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Casa de hóspedes Dique Ribeira Possível campo de arroz Dique Terraços planeados Biblioteca planeada ao lado do lago Auditório Estacionamento Toldo de sombra Área para as tendas Voleibol Ribeira O esboço da paisagem aquática do Campus De Sepp Holzer Desenhado por: Beate Möller

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Os interessados são convidados para a Universidade Internacional de Verão de 2007 em Tamera 19 a 28 de Julho de 2007 Para mais informações: www.tamera.org ou Tamera, Monte do Cerro, P-7630 Colos, Portugal Tel: +351-283 635 306, Fax: +351-283 635 374 Pessoa de contacto: Barbara Kovats E-mail: [email protected] Para apoio financeiro: Alemanha: Netzwerk für eine Humane Erde e.V., GLS-Bank Bochum Conta N°.: 400 141 9100 Código bancário (BLZ): 430 609 67 . BIC: GENODEM1GLS IBAN: DE60 4306 0967 4001 4191 00 Portugal: Associação para um Mundo Humanitário, Caixa de Crédito Agrícola de S. Teutónio NIB: 0045 6332 4018 1786 5584 5 BIC: CCCMPTPL Suíça Verein Netzwerk/Tamera, Freie Gemeinschaftsbank Basel, Stiftung Förderfond Conta N°.: 400.631.3, Clearing N°.: 8393, BIC: RAIFCH22XXX, IBAN: CH20 0839 2000 0040 06313 EUA: Através de IHC (International Humanities Center), uma organização sem fins lucrativos com 501 (c), pode enviar um donativo para os EUA. Cheques: por favor enviar directamente para: IHC - International Humanities Center, PO Box 923, Malibu, CA 90265, USA. Como razão para pagamento, por favor escreva: IHC/IGF Cartões de crédito: por favor ligue: +1- 310-579.2069; Fax: +1-206-333.1797, Steve Sugarman: [email protected]

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