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  • Elementos de Ecologia e Conservao

    1VolumeBenedita Aglai O. da SilvaDeia Maria FerreiraMargarete MacedoPaulo Pedrosa Andrade

    Mdulo 12 edio

  • Benedita Aglai O. da Silva

    Deia Maria Ferreira

    Margarete Macedo

    Paulo Pedrosa Andrade

    Volume 1 - Mdulos 1 2 edio

    Elementos de Ecologia e Conservao

    Apoio:

  • Material Didtico

    2008/2Referncias Bibliogrfi cas e catalogao na fonte, de acordo com as normas da ABNT.

    Copyright 2007, Fundao Cecierj / Consrcio Cederj

    Nenhuma parte deste material poder ser reproduzida, transmitida e gravada, por qualquer meio eletrnico, mecnico, por fotocpia e outros, sem a prvia autorizao, por escrito, da Fundao.

    ELABORAO DE CONTEDOBenedita Aglai O. da SilvaDeia Maria FerreiraMargarete MacedoPaulo Pedrosa Andrade

    COORDENAO DE DESENVOLVIMENTO INSTRUCIONALCristine Costa Barreto

    DESENVOLVIMENTO INSTRUCIONAL E REVISOAlexandre Rodrigeus AlvesJane CastellaniMarcia PinheiroMrcio PaschoalMarta Abdala

    COORDENAO DE LINGUAGEMMaria Anglica Alves

    S586e Silva, Benedita Aglai O.da.

    Elementos de ecologia e conservao. v. 1. / Benedita Aglai O. da Silva. 2 ed. Rio de Janeiro: Fundao CECIERJ, 2008.

    238p.; 19 x 26,5 cm.

    ISBN: 85-7648-342-4

    1. Ecologia. 2. Ecossistemas. 3. Fatores abiticos. 4. Transfernciade energia 5. Ciclos biogeoqumicos. I. Ferreira, Deia. Maria, II. Macedo, Margarete, III. Andrade, Paulo PedrosaIV. Ttulo.

    CDD: 519.5

    Rua Visconde de Niteri, 1364 - Mangueira - Rio de Janeiro, RJ - CEP 20943-001Tel.: (21) 2299-4565 Fax: (21) 2568-0725

    Fundao Cecierj / Consrcio Cederj

    PresidenteMasako Oya Masuda

    Vice-presidenteMirian Crapez

    Coordenao do Curso de BiologiaUENF - Milton Kanashiro

    UFRJ - Ricardo Iglesias RiosUERJ - Cibele Schwanke

    EDITORATereza Queiroz

    COORDENAO EDITORIALJane Castellani

    REVISO TIPOGRFICAPatrcia Paula

    COORDENAO DE PRODUOJorge Moura

    PROGRAMAO VISUALAlexandre d'OliveiraAndr Freitas de OliveiraBruno GomesMarta StrauchReinaldo Lee

    ILUSTRAO E CAPAAlexandre d'OliveiraBruno GomesDavid AmielEduardo BordoniReinaldo Lee

    PRODUO GRFICAAndra Dias FiesFbio Rapello Alencar

    Departamento de Produo

  • Universidades Consorciadas

    Governo do Estado do Rio de Janeiro

    Secretrio de Estado de Cincia e Tecnologia

    Governador

    Alexandre Cardoso

    Srgio Cabral Filho

    UENF - UNIVERSIDADE ESTADUAL DO NORTE FLUMINENSE DARCY RIBEIROReitor: Almy Junior Cordeiro de Carvalho

    UERJ - UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIROReitor: Ricardo Vieiralves

    UNIRIO - UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESTADO DO RIO DE JANEIROReitora: Malvina Tania Tuttman

    UFRRJ - UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIROReitor: Ricardo Motta Miranda

    UFRJ - UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIROReitor: Alosio Teixeira

    UFF - UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSEReitor: Roberto de Souza Salles

  • Elementos de Ecologia e Conservao

    SUMRIO

    Volume 1 Mdulo 1

    Aula 1 Ecologia: histrico ___________________________________________7Deia Maria Ferreira

    Aula 2 O mbito da Ecologia: defi nies e perspectivas ___________________ 23Deia Maria Ferreira

    Aula 3 Nveis de organizao e o estudo ecolgico ______________________ 41Margarete Macedo

    Aula 4 O meio ambiente: introduo aos fatores fsicos e aos fatores limitantes ____________________________________ 53

    Benedita Aglai O. da Silva

    Aula 5 Fatores abiticos: luz e temperatura ____________________________ 67Benedita Aglai O. da Silva

    Aula 6 Fatores abiticos: umidade e salinidade _________________________ 83Benedita Aglai O. da Silva

    Aula 7 Substratos slidos: solos e sedimentos __________________________ 99Paulo Pedrosa Andrade

    Aula 8 Adaptaes _____________________________________________ 117Benedita Aglai O. da Silva

    Aula 9 Transferncia de energia e biomassa I _________________________ 131Benedita Aglai O. da Silva

    Aula 10 Transferncia de energia e biomassa II ________________________ 149Benedita Aglai O. da Silva

    Aula 11 Ciclos biogeoqumicos I ___________________________________ 161Paulo Pedrosa Andrade

    Aula 12 Ciclos biogeoqumicos II __________________________________ 181Paulo Pedrosa Andrade

    Aula 13 Sucesso ecolgica ______________________________________ 201Benedita Aglai O. da Silva

    Pesquisa de campo Ecossistemas do Estado do Rio de Janeiro: Mata Atlntica ______________________________ 213

    Deia Maria Ferreira

    Referncias __________________________________________________ 231Gabarito _____________________________________________________ 201

  • Ecologia: histrico

    Ao longo da aula, vamos discorrer sobre as origens da Ecologia. Ao fi nal da aula, voc dever ser capaz de:

    Reconhecer os fatores que diferenciam o Homem do restante do conjunto de seres vivos na Terra,

    Reconhecer os caminhos que tornaram possvel a existncia da Ecologia como cincia.

    objet

    ivos

    1AULA

  • Elementos de Ecologia e Conservao | Ecologia: histrico

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    O QUE ECOLOGIA?

    Esta uma pergunta para a qual a maioria das pessoas tem

    uma resposta. Quase todos os dias, os jornais, a televiso, as revistas

    trazem alguma matria sobre ecologia e meio ambiente. Os polticos, os

    professores, as secretrias, os artistas, o seu vizinho e, certamente voc,

    todos devem ter a sua defi nio sobre ecologia. Assim, vamos comear

    tecendo um breve histrico do desenvolvimento dos conceitos em

    ecologia. Vamos buscar algumas das razes da ecologia na Idade Antiga

    e no desenvolvimento da Histria Natural, que to antiga quanto a

    existncia dos humanos.

    Para situar melhor nossa histria do desenvolvimento da ecologia,

    vamos falar um pouco sobre o que diferencia o homem dos outros

    animais, motivo pelo qual ele desenvolve conceitos, cultura, arte, cincia,

    tecnologia e implementa grandes mudanas na superfcie da terra.

    H cerca de 10 mil anos, o homem j havia se estabelecido em

    quase todas as partes do mundo, tornando-se, assim, uma das espcies

    mais disseminadas do mundo vivo. Isto, em parte, deveu-se a sua

    capacidade de deslocamento, ao apoio de ferramentas, dos agasalhos e

    do fogo, que tornaram o homem um animal diferenciado dos demais.

    Sua capacidade de andar ereto e apoiado em apenas dois ps libertou as

    mos (com polegar oponvel), permitindo aperfeioar a caa, a pesca e a

    coleta. Essas caractersticas, associadas ao aumento do volume cerebral,

    tornaram o homem uma espcie que desenvolveu capacidade criadora

    e, ao mesmo tempo, a capacidade de modifi car o ambiente, tornando-se

    um ser social e cultural.

    Com essas caractersticas que o diferenciaram dos outros

    animais, comeam a surgir, ento, os conhecimentos sobre a natureza

    e, simultaneamente, a capacidade de alter-la. O homem adquire uma

    srie de conhecimentos empricos sobre seu entorno.

    Tribos primitivas, que dependiam da caa, pesca e coleta, sabiam

    onde e quando podiam encontrar suas fontes de energia, que eram os

    seus alimentos. Construam seus conhecimentos sobre o meio em que

    viviam atravs da experincia de encontrar abrigo, local de acasalamento,

    descobrir a poca dos frutos dos quais se alimentavam, as pocas de caa,

    de reproduo de suas presas.

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    Povos muito antigos, como os egpcios e os babilnios, por exemplo,

    temiam as pragas de gafanhotos que eram sempre atribudas a causas

    sobrenaturais. O xodus (7,14-12,30), livro que conta a sada dos

    hebreus do Egito, descreve pragas que Deus invocava sobre os egpcios. O

    problema das pragas, a luta contra os insetos parasitos das culturas atrai

    a ateno dos primeiros escritores e surgem provavelmente associados

    inveno da agricultura, que, j em 4.000 a.C, estava bem desenvolvida,

    inclusive com o uso do arado. No entanto, nessa poca, as divindades

    ainda recebiam a responsabilidade pelas mudanas no ambiente. No

    havia, contudo, conhecimentos cientfi cos sobre os fenmenos naturais.

    Voltaremos a falar mais detalhadamente das pragas e outras alteraes

    nas populaes naturais nas prximas aulas.

    CONHECIMENTOS SOBRE A NATUREZA NA IDADE ANTIGA

    No sculo IV a.C., ARISTTELES, um filsofo grego da poca,

    escreveu a Historia animalium, uma enciclopdia ilustrada da vida

    animal. Pelas tcnicas de descrio e ordenao das noes utilizadas na

    obra, considerado um dos primeiros autores a sistematizar e a organizar

    conhecimentos sobre a natureza. Ele descreveu na obra muitas espcies

    animais e deu uma explicao para as pragas de gafanhotos e dos ratos

    do campo. Sobre os ratos do campo, escreveu que a taxa de reproduo

    desses animais produzia mais indivduos do que seus predadores naturais

    ou os esforos de controle pelo homem eram capazes de eliminar. Para o

    fi lsofo, nada poderia deter a praga, somente fortes chuvas eram capazes

    de fazer os ratos desaparecerem. Numa poca em que as divindades eram

    responsabilizadas pelas alteraes na natureza, o fi lsofo atribui s fortes

    chuvas o possvel controle das pragas de ratos do campo. Isso resultou de

    observaes ao longo do tempo, e representa uma ruptura com o pensamento

    da poca, que atribua a causas sobrenaturais as possveis alteraes nos

    ecossistemas. Aristteles fazia uma distino entre os saberes desenvolvidos

    pela necessidade de sobrevivncia e os saberes resultantes de investigao.

    Ele dizia que os caadores e os pescadores no observavam os animais por

    amor investigao, eles os observavam pela necessidade de sobrevivncia.

    Completava seu pensamento dizendo que esses saberes, passados atravs

    das geraes, permaneciam no nvel de manuteno das atividades bsicas

    de sobrevivncia, ou seja, no eram saberes cientfi cos.

    AR I S T T E L E S

    Filsofo grego, nascido na Macednia no ano

    384 a.C. Estudou fi losofi a em Atenas na

    Academia de Plato durante vinte anos.

  • Elementos de Ecologia e Conservao | Ecologia: histrico

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    Os trabalhos botnicos de Teofrasto se seguem obra de Aristteles,

    de quem foi discpulo. Em seu livro Historia plantae, como numa rplica

    dos livros de Aristteles, aborda os lugares mais favorveis para a existncia

    de diversas plantas e sua distribuio em diferentes reas geogrfi cas.

    Mais tarde, Plnio, o Velho, em Roma, extrai informaes das obras

    anteriores para escrever a Historia naturalis, em 37 volumes (75 d.C.).

    A obra, a primeira enciclopdia de histria natural, inclui observaes

    zoolgicas de valor, assim como animais muito pouco provveis de terem

    existido. um misto de reproduo da realidade e descrio de animais

    que tm origem apenas no imaginrio.

    Na Idade Antiga, ento, os conhecimentos sobre a natureza foram

    compilados em livros de Histria Natural, que descreviam a fauna e a

    fl ora e sugeriam algumas poucas indagaes sobre a ecologia de grupos

    de seres vivos.

    CONHECIMENTOS SOBRE A NATUREZA NA IDADE MDIA

    At os sculos XV e XVI, os livros de Histria Natural que continham

    conhecimentos mais prximos aos de ecologia se constituam principalmente

    em BESTIRIOS ou HERBRIOS ilustrados, muitos dos quais refl etindo uma mistura

    de mito, folclore e fato. Os herbrios e bestirios eram confeccionados a

    partir de observaes em jardins e no entorno dos castelos.

    A cincia pouco progrediu na Idade Mdia, um perodo prejudicado

    pelas invases brbaras, no qual a igreja possua o monoplio da cultura e

    controlava todo o acesso escrita, um mundo sem universidade, onde apenas

    a Corte ou uma escola da igreja oferecia oportunidade de ensino. Apesar

    da estagnao da produo do conhecimento em geral durante a Idade

    Mdia, os avanos no conhecimento registrados durante a Idade Antiga

    pelos gregos so recuperados atravs das atividades dos monges copistas,

    que reproduziam as obras, em vrias rplicas. Estes feitos impediram que

    obras importantes tivessem desaparecido por completo.

    HE R B R I O

    Coleo de plantas e partes de plantas conservadas para estudo.

    BE S T I R I O

    Coleo medieval de fbulas em que se descreviam animais fi ctcios ou reais e seus costumes.

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    CONHECIMENTOS APSA IDADE MDIA

    Os sculos XV e XVI caracterizam-se

    pelo desejo de elaborar um amplo inventrio

    da natureza. Isso se relaciona conquista de

    novos mundos, os tropicais, inclusive o Brasil,

    e caracteriza o projeto enciclopdico, para o qual

    concorrem os gabinetes cientfi cos. Vocs esto

    lembrados que nessa poca que se desenvolve

    o mtodo cientfi co e que as atividades cientfi cas

    eram promovidas em academias de cincia? Caso

    no se lembre, volte ao Volume 1 da disciplina

    de Grandes Temas em Biologia.

    Nessa poca, os registros feitos por

    escrives, cartgrafos e naturalistas, levam a

    cultura ocidental a tomar conhecimento da

    diversidade biolgica tropical.

    Na Amrica, a contribuio dada

    Histria Natural resulta de diferentes formas

    de olhar a natureza. Ainda no sculo XVI,

    Andr Thevet, acompanhando a expedio de

    Villegagnon, chega a Cabo Frio, em 1555, onde

    seria fundada a colnia Frana Antrtica. Sua obra

    Les singularits de la france antarticque (1557)

    traz observaes de animais existentes na Baa de

    Guanabara, como a preguia, o quati, o moleiro

    e a arara canind. Essa obra contm inmeras

    informaes botnicas sobre o Brasil. Alm da

    descrio, o livro traz ilustraes perfeitamente

    reconhecveis, como, por exemplo, do caju e do

    abacaxi. Os ecossistemas litorneos tropicais

    brasileiros cedem suas primeiras contribuies

    ao mundo cientfi co.

    Figura 1.1: Herbrio: local onde so conservadas colees de plantas desidradatas que se destinam pesquisa cientfi ca e de onde, constantemente se uti-liza, extrai e adiciona informaes sobre cada espcie (data, local de coleta, coletor, observao sobre o habitat, etc.).

    Figura 1.2: Bestirio: gnero literrio, bastante popular na Idade Mdia, em prosa ou verso, que combina recursos da fbula e descrio de animais reais ou lendrios.

  • Elementos de Ecologia e Conservao | Ecologia: histrico

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    Ainda no sculo XVII, a experincia dos artistas holandeses,

    por exemplo, fi xa um momento peculiar do conhecimento da natureza

    americana. A obra da comitiva dos sbios e artistas que veio ao Brasil

    durante o governo de Nassau destaca-se pelo carter pioneiro e pela

    abrangncia das observaes dos astrnomos, naturalistas e cartgrafos.

    Espcimes coletados, desenhos e registros originam no Brasil um museu

    de Histria Natural, um jardim botnico e um jardim zoolgico,

    mantidos junto ao palcio de Nassau. Trazidos por Maurcio de Nassau,

    chegaram ao Brasil Marcgrave e Guilherme de Piso. O primeiro escreveu

    a Historia naturalis brasiliae, publicada por Joo de Laet, em 1648. Esse

    trabalho representa a primeira contribuio para os estudos fl orsticos

    do Nordeste. As plantas herborizadas, suas descries e desenhos foram

    usados no sculo XIX pelo naturalista von Martius, autor da Flora

    brasiliensis.

    Figura 1.3: Um retrato do Brasil Holands do sculo XVII. Prancha 1 Historia naturalis brasilie, folha de rosto. Fonte: Historia Naturalis Brasilie. Prancha 1. In: WHITEHEAD, Peter James Palmer; BOESEMAN, Martin. Um retrato do Brasil holands do sculo XVII: animais, plantas e gente, pelos artistas de Johan Maurits de Nassau. Rio de Janeiro: Kosmos, 1989. 358 p., il. color.

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    SCULO XVIII

    GEORGE LOUIS BUFFON, um naturalista francs, publica, em 1756,

    Historia natural e contesta a idia de Aristteles sobre a diminuio das

    densas populaes de ratos do campo pelas chuvas torrenciais. Buffon

    pensava que as populaes eram controladas por agentes biolgicos,

    como doenas ou aumento do nmero de predadores. Afirmava,

    ainda, que os coelhos poderiam transformar um campo num deserto

    pela ausncia de predadores e dessa forma tratou de problemas de

    regulao de populaes, problemas que ainda hoje constituem objeto

    de inmeros estudos em Ecologia. Vejam que at o momento algumas

    poucas suposies surgiam como eventuais causas para alteraes nos

    ambientes naturais, mas nenhuma delas se utilizava de uma metodologia

    para comprovar tais suposies. Os estudos sobre os ambientes naturais

    priorizavam, ainda, a descrio da fl ora e da fauna.

    Esta descrio de fl ora e fauna uma forma de perceber, entender

    o mundo vivo. Nomear, dar nome s coisas, aos animais e s plantas d

    um passo decisivo, no mbito do conhecimento cientfi co, com a obra

    de CARL VON LINN, que prope um sistema universal de catalogao de

    plantas, animais e minrios o Systema Naturae. A obra um marco

    nas cincias naturais, pois cria condies que viabilizam o intercmbio

    cientfi co, dada a utilizao de uma linguagem universal para registro e

    catalogao dos seres vivos e minerais. Essa obra rene

    todas as espcies conhecidas poca e lhes confere um

    sistema de classifi cao escrita em lngua latina ou em

    forma alatinizada e com regras claras. A obra de Lineu,

    como conhecido no mundo cientfi co brasileiro, inclui

    informaes sobre o Brasil, originria de informaes

    obtidas pelos holandeses.

    Figura 1.4: A nomenclatura cientfi ca criada por Lineu aplicada na litografi a de Jean Thodore Descourtilz (naturalista e ilustrador de aves, Esprito Santo). Fonte: DESCOURTILZ, Jean Thodore. Ampelis fasciata, Ampelis cucculata, Ampelis arcuata, Ampeli carnifex 1852. In: MARTINS, Carlos. O Brasil redescoberto. Rio de Janeiro: Pao Imperial / Minc /IPHAN, 1999.

    Ampelis fasciata Ampelis cucculata

    Ampelis arcuata

    Ampelis carnifex

    GE O R G E LO U I S LE C L E RC BU FF O N

    (1707-1778)

    Naturalista francs nascido na Borgonha.

    CA R L V O N L I N N (1707-1778)

    Mdico e naturalista sueco. Professor

    de botnica e organizador de uma

    classifi cao universal de plantas, animais e minerais utilizada

    ainda na atualidade.

  • Elementos de Ecologia e Conservao | Ecologia: histrico

    CEDERJ14

    J na segunda metade do sculo XVIII, multiplicam-se as expedies

    cientfi cas aos trpicos, sob o impulso dos soberanos europeus e das academias

    cientfi cas. ALEXANDER VON HUMBOLDT viaja durante cinco anos nos trpicos

    sul americanos e, mais tarde, em Paris, expe resultados cientfi cos

    em Botnica, Zoologia, Geologia, Astronomia e inclui dois atlas. Ele

    se distancia dos botnicos tradicionais, que se preocupavam apenas

    com a descoberta e a classifi cao das plantas, e considera a vegetao

    segundo as associaes locais em diferentes climas. Ao longo da obra de

    Humboldt, denota-se a viso de totalidade quando relaciona plantas e

    animais, temperatura, presso atmosfrica, assim como a diversidade em

    cada localidade. Percebe-se uma forma ecolgica de descrever o mundo.

    At o sculo XVIII, os estudos sobre a natureza limitavam-se a

    descrever e compilar informaes sobre a fl ora e a fauna. Humboldt d

    um passo a mais em direo moderna Ecologia. A nova concepo de

    paisagem criada por Humboldt motiva grande nmero de viajantes,

    incluindo KARL PHILIPPE VON MARTIUS, Alfred Wallace, Charles Darwin,

    entre muitos outros. Com Humboldt, surgem os primeiros registros de

    relao entre o mundo vivo e o mundo inanimado, os fatores biticos e

    abiticos e a diversidade que resultava em diferentes paisagens.

    Figura 1.5: Plantas prensadas Alexander von Humboldt. Fonte: HUMBOLDT, Alexander Von. Plantas prensadas. Revista Humboldt, ano 33, n.63, 1992.

    AL E X A N D E R V O N HU M B O L D T(1769-1859)

    Cientista e explorador alemo. Viaja Amrica espanhola ainda no explorada e traz importantes contribuies a todos os ramos das cincias naturais. Sua obra mais importante uma sntese secular das cincias naturais.

    KA R L PH I L I P P E V O N MA R T I U S(1794-1868)

    Naturalista alemo. Reuniu valiosos dados sobre a fl ora brasileira e publicou, entre outras obras, Flora brasiliensis, o maior monumento da fi tologia contempornea, em 40 volumes.

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    SCULO XIX

    Uma parte signifi cativa do que se conhece hoje em dia sobre os

    distintos ecossistemas resultado das expedies cientfi cas do sculo XIX.

    Cartgrafos e desenhistas acompanhavam cientistas, que procuravam retratar

    com fi delidade as imagens encontradas em outros mundos, em especial, no

    mundo tropical. As grandes viagens revelam, concretamente, a imensa

    diversidade das fl oras e das faunas de mundos at ento desconhecidos.

    Como forma de registro, essas viagens foram estimuladas pelo novo, pelo

    desconhecido, principalmente pelos trpicos, por sua riqueza e por sua

    beleza e porque representavam novas conquistas.

    No Brasil, a partir de 1808, com a vinda da corte portuguesa e a

    conseqente abertura dos portos s naes estrangeiras, iniciou-se o ciclo

    das grandes viagens cientfi cas ao continente sul-americano, base de enorme

    progresso no campo da Histria Natural.

    Karl Frederich Phillip von Martius chegou ao Rio de Janeiro em 1817,

    integrando uma comisso de sbios que acompanhava Dona Leopoldina.

    Visitou as matas de Santa Teresa, Tijuca e Niteri e coletou material e

    informaes em So Paulo, Minas Gerais, Bahia, Pernambuco, Piau,

    Maranho, Par e Amazonas, em viagens cuja durao foi de trs anos.

    Figura 1.6: MARTIUS, Karl F.P. von. Flora Brasiliensis. vol 1. In: Agenda UFRJ/1999. Rio de Janeiro: UFRJ, 1999.

  • Elementos de Ecologia e Conservao | Ecologia: histrico

    CEDERJ16

    Von Martius publicou sua mais importante obra Flora Brasiliensis

    entre meados do sculo XIX e incio do sculo XX. A obra contm 130

    fascculos reunidos em quarenta volumes, com aproximadamente vinte mil

    espcies catalogadas, das quais quase seis mil eram novas para a cincia.

    Ilustrada com mais de trs mil estampas, a fl ora completa precisou de 66

    anos para ser publicada e colaboraram 65 botnicos de diversos pases.

    No Volume 1, Parte 1, Von Martius descreveu o conjunto das paisagens

    brasileiras em 59 pranchas. O volume apresenta dois mapas, apontando as

    rotas seguidas por vrios naturalistas. Essa obra , ainda hoje, considerada

    pelos botnicos como a mais importante de nossa fl ora. As cinqenta e nove

    pranchas que abrem a obra registram paisagens dos diferentes ecossistemas

    brasileiros. Em todas elas possvel detectar a presena do homem.

    CHARLES DARWIN, autor de A origem das espcies, viajando a bordo

    do Beagle, desembarcou pela primeira vez na Amrica do Sul no Brasil

    em 28 de fevereiro de 1832, no estado da Bahia. Com a teoria da

    seleo natural, a Biologia, e, em particular a Ecologia, tem um grande

    avano. Todas as atribuies em relao criao das espcies estavam

    at Darwin e Wallace vinculados ao sobrenatural. A partir de ento os

    cientistas admitem a evoluo dos seres vivos pela seleo natural.

    Darwin, acompanhado de mais cinco pessoas, saiu para uma

    marcha a cavalo de trs semanas de durao, perodo em que viajou pelo

    atual Estado do Rio de Janeiro. Em uma ocasio de ida e volta a Maca,

    teve a oportunidade de conhecer distintos ecossistemas no Rio de Janeiro.

    Em sua rotina de trabalho, a cada dois dias dedicava um coleta de

    objetos para sua coleo, enquanto passava os outros dias guardando e

    etiquetando as amostras e lendo. Apesar de seu interesse pela Geologia,

    fazia diariamente observaes de histria natural, com especial ateno

    aos colepteros (besouros). O Beagle deixa o Rio de Janeiro em 5 de

    julho de 1832, em direo ao sul da Amrica do Sul.

    CH A R L E S RO B E R T DA R W I N(1809-1882)

    Naturalista ingls. Formulou a Teoria da Seleo Natural aps viagem pela Amrica Tropical; desembarcou no Brasil em 1832.

  • CEDERJ 17

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    Iglesias (1999) considera Darwin como o fundador da moderna

    Ecologia, pois, na primeira edio de A origem das espcies, o cientista

    utiliza com freqncia a expresso economia da natureza, que pode ser

    perfeitamente compreendida como ecossistema. Os lugares e as vagas

    que as espcies ocupam na economia da natureza podem ser traduzidas

    por nicho e nicho vago, conceitos que vamos abordar num futuro

    prximo. O autor tambm identifi ca em diversas partes do livro de Darwin

    referncias explcitas ao princpio de excluso competitiva, formulado

    matematicamente e confi rmado (em laboratrio) pelo bilogo G. F. GAUSE.

    Observou, alm disso, uma nfase na obra de Darwin importncia das

    interaes entre os seres vivos (competio e mutualismo) e da infl uncia

    dos fatores no biolgicos: As espcies interagem umas com as outras

    e com o ambiente. Esta uma frase tpica de Darwin. De acordo ainda

    com Iglesias, se juntarmos estes conceitos bsicos defi nidos por Darwin

    aos modelos matemticos criados pelo austraco Alfred Lotka (1880-

    1949) e pelo italiano Vito Volterra no incio do sculo passado, nos quais

    se baseia a ecologia de populaes, teremos algo muito semelhante

    Ecologia moderna.

    ALFRED RUSSEL WALLACE permaneceu no Brasil por quatro anos e

    no Arquiplago Malaio por oito anos. A infl uncia da natureza tropical

    foi marcante para este naturalista por ter formulado independente e

    simultaneamente a Darwin a hiptese da seleo natural para a origem

    das espcies.

    Referindo-se a Darwin, o zologo ERNEST HAECKEL, em 1869, introduziu

    o termo ecologia, defi nindo-a como sendo a cincia das relaes entre o

    organismo e o mundo externo circunvizinho. Haeckel escreveu:

    Por ecologia, ns queremos dizer o corpo de conhecimentos relativo

    economia da natureza a investigao de todas as relaes do animal, tanto com seu ambiente orgnico quanto com seu ambiente

    inorgnico, incluindo acima de tudo suas relaes amigveis e no

    amigveis com aqueles animais e plantas com os quais ele entra

    em contato direto ou indireto ; em outras palavras, Ecologia o

    estudo de todas as complexas relaes referidas por Darwin como

    as condies da luta pela existncia (RICKLEFS, 1996 p. 1).

    G. F. GA U S E

    Eclogo que formulou

    matematicamente o princpioda excluso

    competitiva.

    AL F RE D RU S S E L WA L L A C E

    (1823-1913)

    Naturalista ingls. Formulou,

    independentemente de Darwin, a hiptese da seleo natural para a

    origem das espcies.

    ER N E S T HA E C K E L(1834-1919)

    Naturalista alemo. Adotou a teoria da

    evoluo de Charles Darwin de quem foi

    o foi o mais ardoroso defensor. Introduz o

    termo ecologia em sua obra Generelle

    morphologie der organismen.

  • Elementos de Ecologia e Conservao | Ecologia: histrico

    CEDERJ18

    A palavra ecologia deriva das razes gregas okos com o sentido

    de casa, o nosso ambiente mais prximo) e logos (estudo, cincia).

    O vocbulo ecologia signifi cava, para Haeckel, a cincia da casa, das

    relaes do organismo com o meio ambiente.

    No fi nal do sculo XIX, evoluem, paralelamente, em publicaes

    cientfi cas, a ecologia americana, a europia e a russa. KARL MBIUS, em

    1877, escreve em alemo sobre comunidades de organismos num recife

    de coral como uma biocenose. At esse momento, a cincia no tinha

    uma palavra que pudesse designar uma comunidade de seres vivos na

    qual a soma das espcies e dos indivduos, sendo mutuamente limitada

    e selecionada pelas condies mdias de vidas exteriores, continuou,

    via reproduo, a ocupar um territrio dado. Assim, Mbius defi ne

    biocenose. Em 1887, o americano S. A. FORBES escreveu seu ensaio clssico

    The lake as a microcosm, sobre o lago como um microcosmo. Forbes

    defi ne assim seu trabalho: um lago (...) constitui um pequeno universo

    em si mesmo, um microcosmo no seio do qual intervm todas as foras

    elementares e onde o jogo da vida se desenvolve na sua totalidade, mas

    numa escala to pequena que o pensamento o apreende facilmente.

    Forbes sugeriu que o conjunto de espcies em um lago constitua um

    complexo orgnico, no qual, ao se afetar uma espcie, podia-se exercer

    algum tipo de infl uncia sobre todo o conjunto.

    A pesquisa mdica sobre doenas infecciosas, como a malria, em

    1890, impulsiona o estudo da epidemiologia e da propagao da doena em

    uma populao. Antes de poder controlar a malria, foi necessrio conhecer

    a ecologia do mosquito transmissor. Em uma dada rea, a propagao

    da malria determinada por dois processos contnuos e simultneos:

    1) o nmero de novas infeces depende do nmero e da capacidade de

    infeco dos mosquitos; 2) a capacidade de infeco dos mosquitos depende

    do nmero de pessoas que existem em uma localidade. Esses trabalhos

    desenvolveram modelos que permitiam analisar e predizer novas situaes

    da doena, porque estudavam as populaes de mosquitos.

    H. C. COWLES, em 1899, descreveu a sucesso de plantas sobre dunas

    de areia no extremo sul do Lago Michigan.

    KA R L M B I U S

    Pesquisador alemo, que em 1877, escreve sobre comunidades de organismos num recife de coral e introduz o termo biocenose.

    S. A. FO R B E S

    Pesquisador americano que descreve em 1877 um lago como um microcosmo, um universo de trocas e relaes.

    H. C. CO W L E S

    Pesquisador americano que descreveu a sucesso ecolgica de plantas em dunas de areia no Lago Michigan.

  • CEDERJ 19

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    Dessa maneira, por volta de 1900, a Ecologia estava no caminho

    de se converter numa cincia que permitisse compreender os inmeros

    problemas das populaes e das comunidades. As razes da Ecologia, se

    apiam, pois, na Histria Natural, na demografi a humana, na biometria

    e nos problemas aplicados da agricultura e da Medicina.

    O pioneiro russo V. V. Dockuchev e seu discpulo G. F. Morozov

    enfatizaram o conceito de biocenose, conceito expandido por Sukatchev,

    em 1944, para biogeocenose. O termo usado por Sukatchev no livro

    On the principles of genetic classifi cation in biocenoly e corresponde a

    um sinnimo de ecossistema, no que diz respeito s trocas de matria e

    energia. Fosse qual fosse o ambiente estudado, os bilogos dessa poca

    comeavam a considerar a idia de que a natureza realmente funciona

    como um sistema.

    medida que informaes diversas reunidas pelos naturalistas

    durante o sculo XIX vo se consolidando, emergem vrios conceitos novos

    que levam o estudo da Ecologia para novas direes, diferentes das dos

    naturalistas. Um desses conceitos surgiu da percepo de que as relaes

    de alimentao ligam organismos numa entidade funcional nica, a

    comunidade biolgica. O primeiro entre os proponentes desse ponto de

    vista foi o eclogo ingls CHARLES ELTON. Segundo esse pesquisador, cada

    organismo encontra a forma de alimentar-se para fi car nutrido, de modo

    que cada um pode ser o alimento do outro. O fato de que essas relaes

    de alimentao defi niam uma unidade ecolgica era uma idia nova.

    O segundo conceito, desenvolvido depois pelo eclogo A. G. TANSLEY,

    levou a idia de Elton adiante. Tansley considerava os animais e as plantas

    em grupos, juntamente com os fatores fsicos de seus arredores, como um

    sistema ecolgico fundamental. Em 1935, Tansley denominou esse sistema

    ecolgico fundamental de ecossistema. Ele visualizou as partes fsicas e

    biolgicas da natureza unifi cadas pelas interdependncias dos animais e das

    plantas de sua vizinhana fsica e da sua contribuio ao mundo fsico.

    Mais tarde, em meados do sculo XX, uma teoria geral de sistemas

    foi desenvolvida pelo fsico Bertanlaffy (1950 e 1968) e eclogos, como

    Hutchinson, Margalef, Watt, Patten e H. T. Odum comearam a

    desenvolver o campo quantitativo da ecologia de ecossistemas, o grau em

    que os ecossistemas operam como sistemas fsicos bem compreendidos.

    CH A R L E S EL T O N

    Pesquisador ingls, que em

    1927, estabeleceu relaes alimentares introduzindo a idia

    de cadeias trfi cas.

    A.G.TA N S L E Y

    Pesquisador que em 1935 ampliou a idia de Elton sobre

    cadeias trfi cas, introduzindo o termo

    ecossistema.

  • Elementos de Ecologia e Conservao | Ecologia: histrico

    CEDERJ20

    Um sistema consiste em componentes interdependentes que interagem

    regularmente e formam um todo unifi cado (Odum, 1983). Segundo

    Iglesias, quando algum desses elementos um ser vivo, podemos falar

    de sistemas ecolgicos ou ecossistemas.

    O grande desenvolvimento tecnolgico da dcada de 60 traz um novo

    olhar sobre a Terra, um planeta que tem, reconhecidamente, como partes

    integrantes os seres vivos e os componentes do meio ambiente em diversas

    escalas, desde um microcosmo at a totalidade da Terra.

    James Lovelock desenvolve a Hiptese Gaia, em 1972, considerando

    que a vida evoluiu na Terra, que a atmosfera se modifi cou numa forma de

    ao-reao com os seres vivos e admite que os limites entre as partes vivas

    e no-vivas dos ecossistemas so muito sutis. Lovelock publica, em 1972,

    sua idia num artigo intitulado Gaia as seen trough the atmosphere. Lynn

    Margulis, uma microbiologista interessada em entender os gases atmosfricos

    que provm da vida, como o oxignio e o dixido de carbono, entre outros, se

    associa a Lovelock, que tenta responder s mesmas questes com concepes

    da qumica, da termodinmica e da ciberntica, para fazer avanar seus

    estudos. A auto-regulao do sistema planetrio, proposta por Lovelock e

    Margulis, consiste na ligao de sistemas vivos e no-vivos, considerando

    a Terra quase como um superorganismo.

    Essa hiptese controversa e, durante muitos anos, grupos renomados

    de pesquisadores em Ecologia sequer faziam referncia a ela. Recentemente,

    a revista Nature, vol. 406 de 17/08/2000 publica uma resenha da 2a

    Conferncia sobre a Hiptese Gaia, considerando que muitas pesquisas

    cientfi cas sero necessrias, ainda, para sua comprovao total ou parcial,

    ou mesmo rejeio.

    A Teoria de Sistemas e a hiptese de Gaia se somam s

    informaes sobre o desenvolvimento da Histria Natural, que juntas

    apontam para um ser humano que vem h muitos milhares de anos

    modifi cando os ecossistemas naturais para obteno de recursos para

    sua sobrevivncia. As aes humanas provocam acentuada modifi cao

    na paisagem. preciso, no entanto, conhecer mais do que a paisagem,

    preciso compreender como esto distribudos os seres vivos nos diferentes

    ecossistemas e se essa distribuio defi ne padres; preciso compreender

    o comportamento das populaes e comunidades no tempo e no espao.

    sobre isso que versa a Ecologia.

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    Voc viu que o Homem tenta compreender a natureza e seus fenmenos naturais

    desde a sua existncia. Desde os primeiros registros sobre a Histria Natural, na

    Grcia Antiga, at a Teoria de Sistemas e a formulao da controvertida Hiptese

    Gaia, muitas condies tiveram de ser cumpridas para a evoluo do conceito de

    Ecologia e, em particular, o de ecossistema. Essas condies se originaram dos avanos

    em paralelo da agricultura, biometria e histria natural. O desenvolvimento de

    equipamentos, como o microscpio e o telescpio, fornecem ao cientista-naturalista

    instrumentos que permitem avanos no campo da Medicina e da Histria Natural, que

    contriburam para formar os conceitos em ecologia. A partir do sculo XVIII, surgem

    observaes sobre predao, herbivoria, controle biolgico, assim como relaes de

    plantas com o meio fsico, o que caracteriza avanos para a ecologia atual. Um marco

    importante se refere Origem das espcies pela seleo natural, desvinculando

    a criao das espcies ao sobrenatural. A idia de que a natureza funciona como

    sistemas se consolida e, a partir dos anos 60 do sculo XX, o crescimento acelerado

    das populaes humanas, a destruio do meio ambiente natural com a substituio

    dos ecossistemas naturais pelos agrcolas; e o uso intensivo de defensivos de aditivos

    qumicos nos solos despertaram a ateno para os problemas ambientais.

    R E S U M O

    Bibliografia sobre A Hiptese Gaia

    Gaia A new look at life on Earth by J E Lovelock, publ. Oxford University Press 1979.

    GAIA. Uma cincia para curar o planeta, 1992

    http://www.marxists.org/reference/subject/philosophy/works/us/gaia.htm

  • Elementos de Ecologia e Conservao | Ecologia: histrico

    CEDERJ22

    EXERCCIOS

    Tente responder s questes propostas e leve as respostas para discusso com o

    seu tutor no plo.

    1. Por que consideramos a contribuio de Lineu como um marco no desenvolvimento

    da pesquisa nas cincias naturais e na Ecologia?

    2. Que avanos para o conhecimento em Ecologia traz o pesquisador Alexander

    von Humboldt, que escreveu a Geografi a das plantas?

    3. Por que Charles Darwin contribui para o desenvolvimento da Ecologia?

    4. Uma fl oresta signifi ca mais do que uma mera coleo de rvores est associado

    a que momento da evoluo de conceitos em ecologia?

    AUTO-AVALIAO

    Se voc capaz de identifi car os avanos nas pesquisas em ecologia ao longo do

    tempo que permitiram compreender a complexidade dos sistemas naturais ou

    ecossistemas...

    Parabns, voc pode passar para a aula seguinte.

    No entanto...

    Se voc encontrou difi culdades para compreender os diferentes momentos da

    histria da Ecologia, procure seu tutor no plo para decidirem o que fazer.

  • O mbito da Ecologia: defi nies e perspectivas

    Ao fi nal desta aula, voc dever ser capaz de:

    Reconhecer a interdependncia entre o meio fsico e o meio biolgico.

    Reconhecer que os seres vivos so sensveis a variaes no tempo e no espao.

    Reconhecer que perturbaes no meio fsico, dependendo de intensidade e freqncia, atuam selecionando caractersticas nos organismos que geram diferentes distribuies na Terra.

    objet

    ivos

    2AULA

  • Elementos de Ecologia e Conservao | O mbito da Ecologia: defi nies e perspectivas

    CEDERJ24

    Nesta aula, estudaremos sobre o mbito da ecologia, a organizao da natureza

    de acordo com processos fsicos e biolgicos, e o espectro de perturbaes aos

    quais os organismos vivos so submetidos. Como resultantes desse espectro,

    surgem as diferentes distribuies de organismos na terra, sobre o que trata a

    ecologia. Pretende-se que esse captulo introdutrio proporcione um quadro

    geral para o estudo da ecologia.

    Voc est lembrado que a palavra ecologia comeou a ser usada na ltima

    metade do sculo XIX? Ernest Haeckel foi quem primeiro a defi niu como o

    estudo cientfi co das interaes entre organismos e seu ambiente. Essa defi nio

    de ecologia foi sendo aperfeioada medida que novos conhecimentos eram

    incorporados ao meio cientfi co. Krebs, em 1972, ao considerar que o ambiente

    de um organismo consiste em todos os fatores e fenmenos externos a ele

    que tm infl uncia sobre ele, avana nas discusses e defi ne a ecologia como:

    estudo cientfi co das interaes que determinam a distribuio e abundncia

    dos organismos. Essas interaes consistem em todos os fatores e fenmenos

    externos aos organismos e que tm infl uncia sobre eles. Esses fatores e

    fenmenos so fsicos e qumicos (abiticos) ou outros organismos (biticos).

    Assim, os eclogos, na atualidade, esto interessados em saber:

    Onde se encontram os organismos?

    Quantos organismos existem?

    Por que esto, onde esto e por que so tantos ou to poucos? (O que fazem?

    Como se relacionam?)

    Um exemplo desse tipo de abordagem pode ser observado na pesquisa de

    Aguiaro, 1994, que estudou lagoas costeiras no Municpio de Maca, RJ.

    INTRODUO

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    O Municpio de Maca apresenta em sua rea costeira vrias

    lagoas, de formato e tamanhos variados, cujo contato com o mar foi

    interceptado pelo depsito de uma BARRA ARENOSA. A Lagoa Imboassica,

    a maior delas (rea 2,15 km2), esporadicamente aberta para o mar pela

    prefeitura, para escoar excesso de gua em perodos de chuva; as Lagoas

    Cabinas (0,35 km2) e Comprida (0,11 km2) so menores e sua barra

    algumas vezes ultrapassada pelo mar em perodos de mar muito alta.

    Durante os anos de 1990 e 1992, foram feitas coletas padronizadas de

    peixes nas trs lagoas e o resultado foi:

    Lagoa/ Parmetros Nmero de espcies(Riqueza de spp)

    Nmero de indivduos Biomassa

    Imboassica 25 208 12. 689 gCabinas 13 200 11. 469 gComprida 4 32 2. 981 g

    Aguiaro observou a distribuio de espcies de peixes, percebendo

    que a abundncia variou em funo da salinidade. Aparentemente, essa

    abundncia, representada pelo nmero de indivduos capturados,

    no tem muita diferena quando observamos as Lagoas Imboassica

    e Cabinas. No entanto, quando relacionamos o nmero de espcies

    presentes, ou seja, a riqueza de espcies, Imboassica tem praticamente o

    dobro de Cabinas. Segundo a pesquisadora, essa diferena se relaciona

    diferena de salinidade, possvel pela abertura peridica da barra da

    Lagoa Imboassica. Veja que no estamos aqui discutindo o melhor para

    cada uma das lagoas, nem se a abertura de barra deva ou no ser feita.

    Estamos apenas relacionando fatos: a distribuio de peixes, nesse caso,

    se relaciona salinidade das lagoas.

    Essa pesquisa concluiu que a diferena na composio de espcies

    entre as trs lagoas refl ete a intensidade de contato com o mar. A Lagoa

    Imboassica apresentou o maior contato com o mar e o maior nmero

    de espcies presentes, sendo vrias delas de peixes marinhos. A Lagoa

    Comprida foi considerada essencialmente de gua doce e apresentou o

    menor nmero de espcies presentes.

    BA R R A A RE N O S A

    Cordo de sedimentos arenosos

    que separa a lagoa do mar.

    Quadro 2.1: Distribuio de espcies de peixes em 3 lagoas de Maca, RJ e entorno.

    Aguiaro, 1994

  • Elementos de Ecologia e Conservao | O mbito da Ecologia: defi nies e perspectivas

    CEDERJ26

    Os fatores que afetam a distribuio de organismos podem ser

    analisados em nvel de populao de uma s espcie ou em nvel de

    comunidade que contm muitas espcies, como o caso desse estudo. A

    anlise se torna tanto mais complexa quanto mais espcies consideradas

    estejam numa comunidade.

    RELAES ENTRE O MEIO FSICO E O MEIO BIOLGICO

    Todos os organismos so tanto dependentes da natureza para suas

    necessidades fundamentais quanto agentes de mudana nos sistemas

    naturais nos quais vivem. Podemos falar em interaes do meio fsico

    com o meio biolgico, interaes que determinam a distribuio e a

    abundncia de organismos nos diferentes ecossistemas. Para isso vamos

    discutir alguns exemplos.

    Se pensarmos em tempo geolgico, o ambiente no qual os

    organismos evoluram sofreu muitas mudanas. A atmosfera, por

    exemplo, antes da origem da vida no planeta era redutora, ou seja, no

    tinha oxignio livre. A evoluo de organismos fotossintetizantes criou

    h cerca de 3,2 bilhes de anos, uma atmosfera oxidante. Esse assunto

    ser melhor tratado na Aula 12. Os solos orgnicos tambm so produto

    de comunidades vegetais terrestres que, entrando em decomposio, so

    misturados ao sedimento. Este um efeito biolgico no ambiente, cujos

    organismos vivos e o ambiente fsico formam um todo integrado, que

    se modifi ca no decorrer do tempo.

    Vejamos nos ecossistemas tropicais alguns exemplos dessas relaes

    entre o meio fsico e meio biolgico. Para isso, observe as fi guras a seguir:

    Figura 2.1: Restinga no Parque Nacional de Restinga de Jurubatiba, Maca, RJ.

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    carrefourHighlight

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    Figura 2.2: Trecho de Floresta Ombrfi la Densa, do bioma Mata Atlntica, RJ.

    Tanto a fl oresta quanto a restinga so ecossistemas tropicais que

    ocorrem no Estado do Rio de Janeiro, na regio litornea, e esto muitas

    vezes sob o mesmo regime climtico. Os dois possuem uma organizao

    espacial, uma estrutura que resultante de diferentes tipos de plantas,

    formatos e tamanhos.

  • Elementos de Ecologia e Conservao | O mbito da Ecologia: defi nies e perspectivas

    CEDERJ28

    Figura 2.3: Cordes arenosos no Parque Nacional de Restinga de Jurubatiba, Maca, RJ.

    A Figura 2.3 nos mostra que as restingas so ecossistemas que se

    desenvolveram em substratos arenosos. Esses cordes arenosos foram

    formados por variaes no nvel do mar. Essas variaes ocorreram, no

    caso do litoral do Estado do Rio de Janeiro, h cerca de 10.000 anos,

    resultante de avanos do mar para dentro do continente seguidos de

    recuo. Essas transgresses marinhas, seguidas de regresses, deixaram

    cordes de sedimentos arenosos, formando grandes plancies. O que h

    10.000 anos era um grande areal, hoje forma as nossas restingas.

    Vamos analisar algumas particularidades

    do ecossistema restinga. A areia, como substrato

    slido, fragmento de rocha, aquece muito durante

    o horrio de insolao, e resfria, perdendo muito

    calor noite. As restingas do litoral fl uminense

    apresentam temperaturas mdias no vero, na

    areia nua, por volta das 12 h, que esto entre

    40 e 60C. No entanto, temperaturas tomadas

    sob uma pequena palmeira o guriri chegam

    a ser 5C mais baixas. Temperaturas tomadas no

    solo dentro de uma moita grande podem reduzir

    essa temperatura em at 15C.

    Figura 2.4: Allagoptera arenaria, palmeirinha no Parque Nacional de Restinga de Jurubatiba, Maca, RJ.

    37C

    42C

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    A cobertura vegetal e a formao de solo orgnico so os

    responsveis pela atenuao da temperatura do ar. medida que plantas

    como a palmeirinha guriri se instalam, paralelamente evolui o solo,

    que atenua a temperatura da areia e progressivamente outras plantas

    se instalam, aumentando a complexidade dos habitats na restinga. As

    condies estressantes iniciais (ampla variao de temperatura, perda

    rpida de gua quando chove etc), da areia so modifi cadas gradualmente

    pela ocorrncia da vegetao. Os extremos de temperatura entre dias e

    noites so reduzidos onde h colonizao por organismos.

    Continuando ainda nas restingas, podemos observar, numa

    aproximao maior, que a faixa de vegetao que ocorre junto praia

    formada por uma vegetao rasteira. Essa vegetao est localizada

    em rea de infl uncia da MARESIA e dos ventos. As espcies que a

    ocorrem geralmente so rasteiras, rentes ao solo, tm caules longos

    e enterrados, que respondem s condies salinas e intensidade dos

    ventos. Essas espcies funcionam como fi xadoras dos gros de areia nas

    dunas. Os sedimentos de areia, facilmente movimentados pelo vento,

    aps a entrada da vegetao fi cam fi xados pelo entrelaamento dos

    caules da cobertura vegetal.

    Figura 2.5: Vegetao rasteira de beira de praia no Parque Nacional de Restinga de Jurubatiba, Maca, RJ.

    MA RE S I ABorrifo do mar,

    colides carregados de sais, que fi cam

    em suspenso no ar e se depositam na

    restinga.

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  • Elementos de Ecologia e Conservao | O mbito da Ecologia: defi nies e perspectivas

    CEDERJ30

    Algumas bromlias, localizadas na parte interior das restingas,

    tm suas folhas formando um copo. Esses copos armazenam gua,

    o que possibilita a ocorrncia de vida de organismos aquticos em

    meio ao areal. Elas representam para esses organismos aquticos

    uma possibilidade de ocorrncia e distribuio num ambiente onde

    aparentemente isso seria impossvel, e funcionam como microlagos em

    vrios e numerosos pontos da restinga. Novamente um componente do

    meio biolgico, a bromlia, proporciona a existncia de vida aqutica

    em ambiente totalmente terrestre e adverso.

    Figura 2.6: Aechmea nudicaulis, bromlias que formam tanque e acumulam gua no Parque Nacional da Restinga de Jurubatiba.

    Figura 2.7: Neoregelia cruenta, bromlia-tanque com gua, onde so encontrados distintos grupos de seres vivos.

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    Figura 2.8: Floresta Atlntica, RJ. Litografi a de Charles Ribeyrolles, 1861. Fonte: agenda UFRJ/1999.

    Observe como as plantas se distribuem no espao ocupado pela

    fl oresta. Existem rvores e arbustos de diversas alturas, sendo alguns

    superpostos aos outros. Essa organizao espacial, entre outras coisas,

    responsvel pela distribuio de gua, de luz e de nutrientes que entram

    na mata. Tente imaginar, numa fl oresta, cada ser vivo (do microcosmo

    invisvel s arvores mais altas), cada folha, cada inseto, cada animal

    pequeno ou grande, visvel ou no, ingerindo e eliminando gua ao mesmo

    tempo, o tempo todo. Os seres que voc imaginou esto respirando,

    urinando, transpirando, eliminando ltex, bebendo gua, transportando

    gua e nutrientes para a fotossntese, entre outros processos, ou seja,

    esto participando ativamente do ciclo da gua na regio. No podemos

    esquecer, tambm, que os corpos dos seres vivos so em maioria formados

    por gua, o que signifi ca que uma imensa quantidade de gua est retida,

    fazendo parte do corpo dos animais e plantas na fl oresta. Este ciclo passa

    por uma distribuio e esta distribuio envolve, alm da passagem da

    gua por dentro do corpo dos seres vivos, uma passagem atravs das

    plantas e dos animais, por entre os mesmos.

  • Elementos de Ecologia e Conservao | O mbito da Ecologia: defi nies e perspectivas

    CEDERJ32

    Quando chove, muito ou pouco, o primeiro impacto da gua se

    d junto ao conjunto de copas das rvores mais altas, o que chamamos

    de dossel. O dossel atua como uma espcie de amortecedor inicial e

    da em diante a gua vai descendo, ramo por ramo, folha por folha,

    rugosidade por rugosidade, at chegar ao solo. Chegando ao solo, essa

    mesma gua encontra uma camada de folhas mortas, a SERRAPILHEIRA OU

    FOLHIO, que novamente a redistribui at que esta penetre no solo. Essa

    distribuio lenta impede um grande impacto no solo, que poderia ser

    responsvel por intensos processos de eroso. Ao penetrar no solo, uma

    parte fi ca retida entre os gros e a outra escoa pelos sistemas de drenagem,

    alimentando os rios e riachos. Gradualmente, a gua vai sendo distribuda

    pela fl oresta, que, dessa forma, participa ativamente do ciclo da gua.

    Em contrapartida, somente possvel a existncia de uma fl oresta com

    tal estrutura e exuberncia em locais onde existe gua em abundncia e

    onde o ndice pluviomtrico, determinado pelo clima, elevado.

    As fl orestas pluviais, como a nossa Floresta Atlntica, so, ao

    mesmo tempo, conseqncia do alto ndice pluviomtrico na regio

    e mantenedoras do grau de umidade local, sendo responsveis pela

    distribuio de gua para os rios e guas subterrneas, os lenis

    freticos. Por isso, as fl orestas protetoras de mananciais de gua so

    por lei preservadas.

    Observe a Figura 2.9. A foto nos mostra uma ponta de costo

    rochoso, onde podemos encontrar um habitat resultante de ao

    totalmente biolgica. Os 2 ourios, as algas e as 2 ANMONAS DO MAR

    Figura 2.9: Costo rochoso: ourios, anmonas do mar e algas crescendo sobre tubos de poliquetos construdos com areiae muco.

    ANMONAS DO MARCnidrios, animais marinhos ssseis que vivem em regies permanentemente inundadas.

    SERRAPILHEIRAOU FOLHIOConjunto de folhas e restos de animais que se acumulam acima do solo e constituem importantes fontes de nutrientes para os ecossistemas.

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    esto abrigados, incrustrados numa formao, onde POLIQUETOS

    construram com muco e areia um substrato duro, cuja funo a mesma

    da rocha. No detalhe ampliado, aparecem os tubos desses animais de

    corpo mole que se abrigam nessa construo rgida elaborada dentro

    dgua. Um novo espao, uma nova rea, um novo habitat que resulta de

    ao biolgica, utilizando sedimentos para edifi cao de um habitat.

    Nesse pequeno conjunto de exemplos que registram interaes

    do meio fsico e do meio biolgico, podemos perceber que cada um

    deles agrega formas de vida distintas: as copas das rvores, as plantas

    da beira da praia, os seres aquticos no interior das bromlias-tanque.

    Cada um deles representa um ou mais tipos de habitats, de reas nas quais

    os organismos vivem. A idia de habitat enfatiza as diversas condies

    s quais os organismos esto expostos na superfcie da Terra, ao mesmo

    tempo que os organismos contribuem para a formao daquele ou de novos

    habitats. Uma bromlia se instala no habitat observado na Figura 2.6 ao

    mesmo tempo que promove um tipo de habitat totalmente diverso, um

    aqutico e outro terrestre, pois entre as folhas das bromlias vivem e se

    alimentam pequenos animais, como aranhas e anfbios. A distribuio dos

    anfbios no interior da restinga est diretamente relacionado s bromlias,

    pois os girinos so de habitat aqutico. O conceito de habitat reala a

    estrutura do ambiente como ele percebido por cada tipo de organismo.

    POLIQUETOSAneldeos, animais marinhos de corpo

    mole.

    Os organismos so tanto infl uenciados pelo meio fsico, como

    so capazes de modifi c-lo. medida que plantas e animais se

    instalam, passam a integrar a paisagem, assim como a modifi c-la

    esttica e fi sicamente.

    Voltaremos a falar sobre a gua e outros fatores do meio fsico e

    suas aes diretamente relacionadas aos seres vivos nas Aulas 4, 5 e 6.

    carrefourHighlight

  • Elementos de Ecologia e Conservao | O mbito da Ecologia: defi nies e perspectivas

    CEDERJ34

    PERTURBAES E DISTRIBUIO DE ORGANISMOS

    A variao espacial e temporal das condies fsicas para a vida

    freqentemente est associada direta ou indiretamente variabilidade

    dos seres vivos. As estaes do ano so produzidas pela rbita anual da

    Terra em torno do sol e, tambm, pela inclinao da Terra. Essa inclinao

    determina a distribuio desigual de energia pelas diferentes latitudes.

    Isso gera uma distribuio igualmente distinta de formaes vegetais

    por toda a Terra. O fotoperodo apresenta variao pelas diferentes

    latitudes. Nas altas latitudes, o excesso de luz no vero est equilibrado

    pelo dfi cit no inverno. Ainda que as temperaturas venham modifi cadas

    por ventos, pela topografi a, a altitude, a proximidade de massas dgua e

    outros fatores, as variaes anuais da temperatura mdia diria refl etem

    o movimento da Terra ao redor do sol. Assim, as temperaturas mdias

    dirias do Equador variam muito pouco estacionalmente, enquanto as

    temperaturas de altitudes mais altas fl utuam muito mais.

    No Estado do Rio de Janeiro, sabemos que uma parte do ano

    quente e chuvosa e a outra fria e seca. Conhecemos a freqncia com que

    essas variaes ocorrem. Grandes chuvas de vero causam transtornos,

    enchentes, mas no ocorrem todos os anos, portanto, acontecem com menor

    freqncia. As mars variam diariamente, mas as ressacas so espordicas,

    ocorrem em intervalos maiores e nem sempre conhecidos. Outros eventos

    que envolvem maiores dispndios energticos, como por exemplo, os tufes

    e os maremotos, so menos freqentes, e sua ocorrncia gera grandes

    modifi caes no conjunto de seres vivos. Em geral, quanto mais extrema

    a condio, quanto maior a energia envolvida no evento, mais raro ele

    e menor a sua freqncia. A severidade e a freqncia dos eventos so

    medidas relativas, dependendo de qual organismo a experimente.

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    Os organismos so submetidos a perturbaes naturais, como

    representado no grfi co a seguir. As distintas espcies de um ecossistema

    no tm a mesma capacidade para suportar estas perturbaes. Margalef,

    em 1993, elaborou o grfi co que resume os eventos que ocorrem na

    Terra de acordo com a energia envolvida e as freqncias com que esses

    eventos ocorrem.

    As perturbaes mais intensas so menos freqentes e utilizam

    muita energia. O autor cita como exemplo as colises de planetas e

    as glaciaes que ocorrem em escala geolgica, promovendo grandes

    modifi caes na superfcie terrestre, deixando um rastro de extino

    de um grande conjunto de organismos. O degelo, aps as glaciaes,

    tem como uma das conseqncias as transgresses marinhas que,

    numa viso simplifi cada, transforma temporiamente num perodo

    que pode durar milhares de anos, ambientes terrestres em ambientes

    aquticos. No h como os organismos terrestres permanecerem, em

    sua maioria, como aquticos durante tanto tempo. J as variaes

    de mar, internalizadas pelos organismos dos costes rochosos,

    deixam expostos ao ar organismos marinhos quatro vezes ao dia.

    Figura 2.10: Relaes entre as perturbaes de diferentes nveis de energia e a freqncia com que cada perturbao ocorre.

    Ada

    ptad

    o de

    Mar

    gale

    f, 1

    993.

    Frequncia das Perturbaes

    Pert

    urba

    es

  • Elementos de Ecologia e Conservao | O mbito da Ecologia: defi nies e perspectivas

    CEDERJ36

    No entanto, esses organismos sobrevivem num habitat aparentemente

    hostil e estressante, desenvolvendo numerosas populaes e comunidades.

    Essa freqncia do vai-e-vem das ondas, selecionou caractersticas

    anatmicas, fi siolgicas e comportamentais as adaptaes que foram

    internalizadas pelos organismos, ou seja, o impacto das ondas, variando

    de acordo com as horas do dia, no constitui obstculo ocupao

    desse ambiente.

    Figura 2.11: Zona de batimento de onda de alta freqncia em costo rochoso de Maca.

    Foto

    : Rei

    nald

    o Lu

    iz B

    ozze

    liMuitos organismos se antecipam, segundo Margalef, programando

    o tempo que fi caro expostos ao ar, por exemplo, com fechamento

    temporrio de concha, retendo gua que serve como refrigerao. Aves

    migratrias que vivem em regies temperadas antecipam a ocorrncia

    do inverno rigoroso, migrando para regies de clima mais ameno.

    A severidade e a freqncia dos eventos so medidas relativas, dependendo

    de qual organismo as experimente. A chuva e o vento afetam de maneira

    muito diferente os habitantes de uma poa temporria e de um riacho.

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    Uma tromba dgua, um evento que no ocorria h oito anos,

    portanto, com mais energia do que o das chuvas de vero, no Rio da

    Fazenda, Picinguaba, SP, entre 11/99 e 05/2000, redistribuiu sedimentos

    grossos e alterou a paisagem. As trombas dgua, eventos menos freqentes

    do que as chuvas esperadas de vero, no podem ser internalizadas pela

    eventualidade de sua ocorrncia, logo no geram adaptaes. Atualmente,

    a paisagem j no apresenta mais os sedimentos expostos como em 2000,

    mas no exatamente igual a 1999, uma nova paisagem, resultante do

    processo de SUCESSO ECOLGICA, uma nova distribuio dos organismos

    no espao, num intervalo de tempo de apenas poucos anos.

    Figura 2.12: Rio da Fazenda Picinguaba, SP, antes e depois de uma tromba d'gua: perturbao natural.

    SUCESSOECOLGICA

    Desenvolvimento dos ecossistemas no

    tempo.

  • Elementos de Ecologia e Conservao | O mbito da Ecologia: defi nies e perspectivas

    CEDERJ38

    Vimos at agora que segmentos de tempo que marcam as

    mudanas podem ser classificados em duas categorias: 1) mudanas

    rpidas, associadas com uma simplificao do sistema, iniciadas

    por entradas violentas de energia no sistema, como a queda de

    meteoritos; 2) mudanas lentas e graduais, que incrementam

    pouco a pouco a organizao e conduzem a motivos de distribuio

    relativamente persistentes, como os batimentos freqentes de ondas

    nos costes rochosos.

    A BIOSFERA est sujeita a um processo generalizado de sucesso,

    interrompido ou pontuado por desastres e catstrofes, que so

    relativamente benignos. Morte e mudana, pois, so constantes na

    natureza e representam renovao na distribuio das espcies.

    Pelo que acabamos de ver, a Ecologia no uma cincia com

    estrutura linear simples: tudo afeta tudo, segundo Begon 1996. Para

    estudar e compreender como funcionam os sistemas naturais, preciso

    lanar mo de conhecimentos de outros campos, como a Evoluo, a

    Fisiologia, a Matemtica, a Geologia, a Geomorfologia, assim como

    estudos comportamentais. Os eclogos modernos querem compreender

    e explicar, em termos gerais, a origem e os mecanismos de interaes

    dos organismos entre si e com o mundo vivo. Os eclogos constroem

    modelos da realidade que geram a possibilidade de fazer predies.

    Os modelos e as teorias que no se ajustam de modo adequado realidade,

    so substitudos por novos modelos que refl itam o mundo real.

    Hoje, o crescimento populacional, a organizao social, poltica e

    econmica representam grandes mudanas no mundo moderno. preciso

    contextualizar a presena dos humanos na Terra como dependentes dos

    processos naturais. Entre outras coisas, os conhecimentos ecolgicos

    permitem fazer previses sobre os ecossistemas e seu funcionamento

    e, para isso, preciso entender como o mundo natural funciona e este

    entendimento faz parte dos princpios da Ecologia. A Ecologia est

    dividida em trs nveis fundamentais de hierarquia: os organismos, as

    populaes de organismos e as comunidades de populaes. sobre isso

    que vamos tratar na prxima aula.

    BIOSFERACamada da Terra onde so encontrados os organismos.

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    Nesta aula, aprendemos como o meio fsico e o meio biolgico interagem de

    um modo geral e determinam a distribuio e abundncia dos organismos, o

    que constitui o interesse dos eclogos em ambientes naturais e/ou artifi ciais.

    Introduzimos a noo de perturbao no meio fsico como geradora de respostas

    biolgicas para eventos com pouca energia e muito freqentes.

    EXERCCIOS

    1. Escolha um grupo de organismos no quintal de sua casa, no rio de seu bairro

    ou na mata perto de casa e observe- o atentamente.

    Descreva o local onde se encontram os organismos escolhidos. Tente descobrir por

    que esses organismos conseguem viver nessa localidade.

    Discuta com seu tutor o caminho que voc vai seguir para responder s questes.

    2. Formule perguntas complementares sobre os organismos que voc escolheu

    para descobrir mais a respeito deles.

    3. Todos os organismos so tanto dependentes da natureza para suas necessidades

    fundamentais quanto agentes de mudana nos sistemas naturais nos quais vivem.

    Nesse mesmo grupo de organismos que voc vai observar, encontre uma relao

    entre o meio fsico em que ele vive e o meio biolgico no qual est inserido.

    4. Procure trs exemplos que se encaixem no grfi co proposta por Margalef e que

    no estejam citados no texto da aula.

    R E S U M O

  • Nveis de organizao e o estudo ecolgico

    Ao longo desta aula, vamos aprender sobre os nveis de organizao estudados pela Ecologia e como estes objetos de estudo podem ser pesquisados. Ao fi nal desta aula, voc dever ser capaz de:

    Reconhecer os nveis de organizao estudados pela Ecologia, reconhecendo que cada um deles tem propriedades exclusivas.

    Perceber que para chegarmos a uma teoria ecolgica partimos, freqentemente, de uma observao para o teste de hipteses, onde a experimentao tem papel crucial na Cincia.

    objet

    ivos

    3AULA

  • Elementos de Ecologia e Conservao | Nveis de organizao e o estudo ecolgico

    CEDERJ42

    O MUNDO NATURAL

    A primeira coisa que deve ter chamado sua ateno a paisagem

    de uma forma geral: uma mata cortada por um rio. Entrando nesta

    mata podemos discriminar vrias espcies de plantas, algumas espcies

    de animais, as formas e as cores de cada uma.

    Se cuidadosamente analisarmos cada ESPCIE na Figura 3.2, anotando

    suas caractersticas, como por exemplo, localizao, tamanho, espcies

    de animais ou plantas associadas, podemos concluir, por exemplo, que

    algumas ocupam preferencialmente locais prximos ao rio, outras s

    ocorrem sobre outras plantas, alguns animais alimentam-se de fl ores,

    outros de frutos.

    ES P C I E

    Para este momento vamos fi car com a defi nio biolgica de espcie, que o conjunto de populaes naturais intercruzantes, que so isolados reprodutivamente de outros grupos.

    Figura 3.1: Foto do interior de uma fl oresta.

    Observe a Figura 3.1:

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    Veja que at aqui observamos os organismos apenas em uma escala

    espacial. Se incluirmos o tempo em nossa anlise, que, evidentemente,

    no poderia ser analisado exclusivamente com base numa figura,

    poderamos fazer vrias outras observaes, como por exemplo, a estao

    de reproduo de um inseto, o perodo de fl orao e frutifi cao de uma

    planta, entre outros.

    Este tipo de anlise detm-se na descrio do ambiente, saindo de

    uma escala macro, onde observamos a paisagem de uma forma geral,

    at uma escala menor, onde observamos indivduos.

    Figura 3.2: Detalhes de animais e plantas que ocorrem na fl oresta.

  • Elementos de Ecologia e Conservao | Nveis de organizao e o estudo ecolgico

    CEDERJ44

    OS NVEIS DE ORGANIZAO

    A ecologia abrange o estudo destes diferentes nveis de organizao,

    indo desde o estudo de organismos individuais, passando por populaes,

    comunidades, at o estudo dos ecossistemas. De uma forma esquemtica

    poderamos representar:

    Com isso podemos chegar a defi nio de cada um dos nveis

    de organizao estudados pela Ecologia. O indivduo uma entidade

    representante de uma espcie localizada espacial e temporalmente, que

    tem comeo e fi m no tempo. Populao o conjunto dos indivduos de

    uma mesma espcie em um determinado local. A comunidade refere-se

    ao conjunto de todas as populaes presentes no mesmo local e que

    usualmente interagem. Para considerar um ecossistema, alm do conjunto

    de organismos, ou seja, a comunidade, devemos considerar tambm os

    FATORES ABITICOS que atuam sobre esta comunidade, como por exemplo,

    a temperatura, a umidade, o solo etc.

    FATORES ABITICOS

    So componentes fsico-qumicos do ecossistema, isto , que no incluem os seres vivos, como por exemplo, as substncias minerais, os gases e os elementos climticos.

    Figura 3.3: O conjunto unitrio A representa o indivduo; o conjunto B, de 6 elementos iguais, representa uma populao; e o conjunto C, de 36 elementos, est representando a comunidade, que, neste caso, tem 5 populaes diferentes. Considere cada smbolo uma espcie.

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    DENSIDADE

    Voc aprender com mais detalhes

    sobre densidade na disciplina

    de Populaes, Comunidades e

    Conservao. Por agora, basta voc

    saber que densidade o nmero de indivduos por

    unidade de rea ou volume.

    As fronteiras das cincias no so ntidas, assim, a ecologia se

    sobrepe bastante a outras cincias. Dependendo do nvel de organizao

    e do enfoque de estudo considerado, esta sobreposio ser maior ou

    menor. Quando estudamos o indivduo, por exemplo, a interseo

    com FISIOLOGIA considervel. No estudo do ecossistema, a abordagem

    ecolgica se funde com a meteorologia, por exemplo. Assim, cada vez

    mais, estudos multidisciplinares, que abrangem mais de uma rea do

    conhecimento, devem ser implementados para que se tenha maior

    compreenso do mundo natural.

    Cada nvel de organizao apresenta diferentes caractersticas e

    propriedades que s so observadas naquele nvel especfi co de organizao.

    Por exemplo, um indivduo tem sexo, idade; uma populao tem DENSIDADE,

    RAZO SEXUAL. Como propriedades de comunidades podemos citar a

    riqueza de espcies, que o nmero de espcies de uma comunidade. Dos

    ecossistemas, como voc ver em aulas posteriores, a produtividade uma

    das propriedades exclusivas deste nvel de organizao.

    Perceba bem que cada uma das propriedades citadas s tem

    sentido naquele nvel especfi co. Por exemplo, no podemos falar de

    riqueza de espcies para uma populao, que de apenas uma espcie.

    Assim, no podemos tambm estimar a densidade e a razo sexual de

    um indivduo, pois necessitamos considerar os vrios indivduos de uma

    mesma populao para avaliar estes parmetros.

    RAZO SEXUAL

    Este tema tambm ser desenvolvido em detalhes quando voc

    cursar Populaes, Comunidades e

    Conservao. Por enquanto, bom

    saber que a razo sexual pode ser expressa de

    vrias maneiras. A mais comum refere-

    se ao nmero de machos pelo nmero

    de fmeas. Assim, dizer que a razo sexual de

    uma populao 1:1 (l-se um para um), quer dizer que existe um macho para cada fmea. Ou, em outras palavras, h nmero

    igual de fmeas e machos.

    FISIOLOGIA

    Cincia que estuda o funcionamento do

    corpo.

    carrefourHighlight

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  • Elementos de Ecologia e Conservao | Nveis de organizao e o estudo ecolgico

    CEDERJ46

    ATIVIDADE PROPOSTA 1

    No exemplo acima, identifi que os nveis de organizao

    estudados e as propriedades que foram caracterizadas em

    cada nvel. Na sesso de tutoria referente a esta aula voc

    discutir no plo esta questo com seu tutor presencial.

    Figura 3.4: Em A voc pode observar um adulto do besouro Mecistomela marginata, que mede cerca de 3,0 cm de comprimento. Em B, vemos um indivduo da palmeirinha Allagoptera arenaria, com cerca de 1,0 m de altura, que a planta hospedeira de M. marginata, no Parque Nacional da Restinga de Jurubatiba.

    O PARQUE NACIONAL DA RESTINGA DE JURUBATIBA

    Abrange os municpios de Maca, Carapebus e Quissam, no Estado do Rio de Janeiro. Apresenta uma rea total de 14.451ha e objetiva assegurar a preservao de seus recursos naturais, proporcionando oportunidades controladas para uso pblico, educao e pesquisa cientfi ca. Apresenta enorme diversidade de habitats, como, por exemplo, restinga de moitas, restinga paludosa, mata, brejos, rios, lagoa, entre outros. A importncia ecolgica do trecho do litoral compreendido entre os municpios de Maca e Quissam j foi reconhecida pela Unesco, que em 1992 considerou esta rea como reserva da Biosfera.

    a partir da descrio destas propriedades que caracterizamos

    nosso objeto de estudo. Assim, posso dizer, por exemplo, que estudo

    uma populao de insetos da espcie Mecistomela marginata, um

    besouro, cujos indivduos apresentam colorao preta com os bordos

    amarelos, medindo cerca de 3,0 cm. Minha populao de estudo, no

    PARQUE NACIONAL DA RESTINGA DE JURUBATIBA, alimenta-se, principalmente,

    de folhas de Allagoptera arenaria, uma palmeirinha com o nome vulgar

    de guriri ou palmeirinha da praia. Nesta restinga, M. marginata tem

    densidade de 1,3 besouros por palmeira e sua razo sexual de 3:1 (trs

    para um), ou seja, 3 machos para cada fmea. Veja a fi gura do besouro

    e de sua planta hospedeira.

    BA

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    CEDERJ 47

    O ESTUDO ECOLGICO

    Voltando a nossa FIGURA 3.2 que j descrevemos com algum nvel

    de detalhamento, poderamos passar a uma nova fase de seu estudo:

    perguntar sobre os fatores que determinam a estrutura e o funcionamento

    dos sistemas ecolgicos. Algumas questes possveis seriam:

    O que determina que a espcie vegetal X s ocorra prxima ao rio?

    Que efeito tem a espcie A de animal sobre a espcie Y de planta?

    O que determina quantas espcies existem naquele ambiente?

    A espcie D camufl ada no substrato em que vive; como ocorre esta

    camufl agem?

    ATIVIDADE PROPOSTA 2

    Seria muito interessante que voc tambm comeasse a pensar em algumas

    questes deste tipo. Procure elaborar algumas perguntas e discuta-as com o

    tutor no plo.

    Nessa fase, partimos da descrio dos sistemas na busca de padres

    para a compreenso dos processos, isto , os mecanismos que explicam

    tais padres.

    Para responder s perguntas propostas, estudamos a natureza pela

    observao, HIPTESE e experimentao.

    No desenvolvimento da cincia, freqentemente um padro observado

    precede a descoberta das causas que produzem tal padro. Assim, em

    geral, depois da observao, de uma constatao de padro ou fenmeno

    na natureza, surge logo a questo de como ou por que do padro.

    Vrias hipteses podem ser formuladas para responder s questes.

    Tais hipteses podem ser testadas por meio de mais observaes ou

    experimentos adequados. Se os resultados obtidos esto de acordo com

    as hipteses, podemos generalizar as concluses chegando a uma teoria

    ecolgica e passar a fazer previses baseadas nos novos conhecimentos.

    Se, por outro lado, os resultados no so consistentes com a hiptese,

    ela rejeitada. A observao dos resultados experimentais pode gerar

    novas perguntas, ou a reformulao de questes antigas; desta forma o

    fazer cientfi co vai sempre se retroalimentando.

    HIPTESE

    Proposio ou suposio no

    comprovada, para explicar certos fatos ou para

    oferecer de base a uma investigao ou argumentao

    subseqente.

  • Elementos de Ecologia e Conservao | Nveis de organizao e o estudo ecolgico

    CEDERJ48

    Poderamos, ento, voltar Figura 3.2 e constatar, por exemplo,

    que uma das espcies de planta parece ocorrer preferencialmente perto do

    rio. Como testar se esta hiptese, de ocorrncia preferencial de indivduos

    da espcie vegetal X prxima ao rio, procedente?

    Que tal, para estudarmos este nvel de organizao, populao,

    marcarmos uma rea que se estenda desde a margem do rio at o interior

    da mata e nela verifi carmos como os indivduos da espcie X esto

    distribudos? Para melhor avaliarmos sua distribuio importante que

    esta rea esteja quadriculada e as parcelas menores sejam numeradas

    para avaliao posterior.

    Vamos ver como poderia ser.

    No campo, ento, contaremos o nmero de indivduos da espcie

    X em cada parcela.

    Veja que, para estudar as caractersticas da populao precisamos

    estudar o nvel de organizao anterior, ou seja, os indivduos que

    compem esta populao.

    Os dados sero analisados estatisticamente e saberemos ento se

    esta espcie ocorre em maior nmero mais prximo ao rio. Supondo

    que sim, isto , que as parcelas mais prximas da margem do rio tm

    signifi cativamente mais indivduos do que aquelas que esto mais

    distantes, teremos detectado um padro da natureza.

    Figura 3.5: Represen-tao esquemtica do parcelamento de uma rea de mata adjacente a um rio. A marcao destas parcelas pode ser feita, por exemplo, usando-se estacas de madeira nos vrtices dos pequenos quadra-dos delimitando-se cada quadrado, ou par-cela, com barbante.

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    CEDERJ 49

    PLNTULA

    Pequena planta recm-nascida.

    Perceba que partimos de uma observao inicial, que gerou

    uma hiptese a ser testada, para um trabalho que envolveu uma

    metodologia adequada ao teste da hiptese formulada. Depois desta

    fase de deteco de um padro, podemos ento nos perguntar sobre

    o que determina que este padro ocorra. Em nosso trabalho com a

    espcie X, podemos perguntar: o que determina que esta espcie ocorra

    principalmente perto do rio? Quando j conhecemos um pouco sobre a

    espcie ou sobre o grupo que estamos trabalhando, podemos ter algumas

    hipteses, como por exemplo: a) as sementes precisam de muita gua

    para germinar, morrendo em locais secos; b) suas sementes so dispersas

    pela gua, assim, somente prximo s margens do rio que esta planta

    se estabelecer; c) as PLNTULAS necessitam de muita umidade para

    crescer rapidamente e atingir, num tempo mais curto, um determinado

    tamanho onde estejam mais resistentes ao ataque de insetos que podem

    mat-las quando ainda possuem poucas folhas; d) o animal que

    dispersa suas sementes vive em locais prximos ao rio, o que determina

    que a planta somente se estabelecer nestes locais.

    Poderamos pensar em outras hipteses, na verdade em muitas

    outras... Veja que h claramente hipteses que esto relacionadas a fatores

    FATORES BITICOS

    Infl uncias provocadas direta ou indiretamente por um

    ser vivo, como, por exemplo, a predao

    e o parasitismo.

    fsicos do ambiente, como as duas primeiras hipteses, que tratam da

    necessidade de caractersticas fsicas do ambiente para a sobrevivncia e

    estabelecimento da planta num dado local. A terceira hiptese considera,

    simultaneamente, a importncia de FATORES fsicos e BITICOS, ou seja,

    de interao com outros organismos vivos, que no caso so os insetos

    inimigos naturais da planta. A ltima hiptese considera somente um

    fator bitico, a interao da planta com seu dispersor de sementes que

    determina sua distribuio.

    Ento, h duas das hipteses que consideram a importncia

    da interao de nossa planta de estudo com outros organismos,

    inimigos naturais na hiptese c e dispersores de sementes na hiptese

    d. Evidentemente, existem ainda outras espcies de plantas e animais

    no local, interagindo entre si em maior ou menor grau; tais espcies

    caracterizam um outro nvel de organizao que estudamos, a comunidade.

  • Elementos de Ecologia e Conservao | Nveis de organizao e o estudo ecolgico

    CEDERJ50

    Por outro lado, as hipteses a, b e c evocam a importncia dos fatores

    abiticos do ambiente sobre os organismos vivos. Quando considerados,

    conjuntamente, a comunidade e os fatores abiticos, estamos lidando

    com um nvel de organizao mais amplo, o ecossistema.

    Se as observaes preliminares realizadas no campo, ou se as

    informaes da literatura, indicam que alguma das hipteses mais

    plausvel, esta, ento, ser testada em primeiro lugar. O tipo de teste,

    experimentao ou prioritariamente observao, depender da natureza

    da hiptese. Contudo, cada vez mais, vemos que a experimentao d

    muito maior sustentao e confi abilidade aos resultados obtidos.

    ATIVIDADE PROPOSTA 3

    Que tal se voc pensasse em um experimento para testar uma das hipteses

    apresentadas? H um frum chamado teste de hipteses em nossa disciplina,

    onde voc deve fazer sugestes de testes das hipteses apresentadas e/ou discutir

    as sugestes j presentes no frum.

    Perceba que questes como as que foram formuladas so de

    extrema importncia quando pensamos em conservar ou recuperar

    uma rea com suas caractersticas originais. Como poderamos pensar

    num refl orestamento com espcies nativas tentando plantar esta espcie

    de planta em um local distante de um corpo dgua? Se detectada a

    importncia de um organismo dispersor das sementes desta planta, como

    querer que ela se reproduza no ambiente se, por exemplo, a rea que o

    tal agente dispersor necessita para sobrevivncia for maiore do que a rea

    mantida preservada?

    Assim, buscar padres na natureza e compreender os mecanismos

    que os explicam so de extrema importncia para que intervenes

    no meio ambiente, quer sejam de manejo quer sejam de conservao,

    sejam bem-sucedidas. O manejo correto exige primeiro o conhecimento

    profundo, baseado em teorias ecolgicas slidas, do ecossistema para o

    qual ele aplicado. Tambm para conservao, ou seja, a manuteno de

    reas naturais preservadas, critrios cientfi cos, alm dos legais, so de

    extrema importncia.

  • AU

    LA 3

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    R E S U M O

  • Elementos de Ecologia e Conservao | Nveis de organizao e o estudo ecolgico

    CEDERJ52

    EXERCCIOS

    Tente responder s seguintes questes e leve as respostas para discusso com seu

    tutor no plo. Se voc conseguir respond-las adequadamente voc certamente

    teve um bom aproveitamento desta aula.

    1. Pode haver mais de uma populao da mesma espcie na mesma comunidade?

    Justifi que.

    2. Uma mesma espcie pode apresentar duas populaes diferentes? Justifi que.

    3. Voc acha que uma mesma pesquisa feita conjuntamente por pesquisadores de

    diferentes reas do conhecimento pode trazer bons resultados? Justifi que.

    4. O grande eclogo americano Robert H. MacArthur disse uma vez Fazer cincia

    procurar padres que se repetem e no simplesmente acumular fatos. Discuta

    esta afi rmao.

    AUTO-AVALIAO

    Se voc...

    j capaz de enumerar os nveis de organizao estudados em ecologia, defi nindo-os

    e compreendendo que cada um tem suas caractersticas exclusivas;

    j compreende, em linhas gerais, como se desenvolve um estudo ecolgico, identifi cando

    padres na natureza e investigando os processos responsveis por tais padres;

    Ento...

    Parabns, voc j pode passar para a prxima aula!

    Entretanto...

    Se voc encontrou difi culdades para compreenso dos conceitos tratados nesta

    aula, procure seu tutor no plo para decidirem juntos o que fazer.

  • O meio ambiente: introduo aos fatores fsicos

    e aos fatores limitantes

    No decorrer desta aula, voc aprender sobre a infl uncia do ambiente fsico na sobrevivncia e distribuio dos seres vivos. Ao fi nal dela, voc dever ser capaz de:

    Identifi car os fatores fsicos mais importantes na distribuio dos animais e dos vegetais em seus ambientes.

    Reconhecer alguns processos atravs dos quais os fatores fsicos atuam nos seres vivos.

    objet

    ivos

    4AULA

  • Elementos de Ecologia e Conservao | O meio ambiente: introduo aos fatores fsicos e aos fatores limitantes

    CEDERJ54

    INTRODUO Voc j deve ter percebido que freqentemente recorremos a conceitos

    intuitivos, independentes do nosso aprendizado escolar ou formal, para explicar

    determinadas questes que observamos no nosso dia-a-dia. Principalmente as

    questes relacionadas com o ambiente que nos rodeia ou, melhor dizendo,

    com o nosso ENTORNO. Nossa curiosidade nos conduz a verifi car se existem

    interaes entre os diferentes componentes ambientais que vivenciamos, se

    podemos estabelecer relaes que possam se repetir em ciclos; se possvel

    quantifi car, medir, essas interaes, cclicas ou no.

    Sabemos que todos os organismos que habitam terras e guas podem ser

    considerados como parte de uma imensa comunidade mundial que, juntamente

    com seu entorno, recebe o nome de BIOSFERA. Essa comunidade viva o resultado

    da integrao de todos os ecossistemas terrestres e aquticos. Deste modo,

    podemos entender a biosfera como o nvel maior de integrao da matria

    viva. E o entorno da biosfera? De que composto? Essa justamente a parte

    que vamos estudar nesta aula.

    EN T O R N O

    A totalidade de tudo o que nos rodeia. No caso, estamos tratando do ambiente em sua totalidade.

    Por ora, podemos considerar o entorno dos seres vivos como o meio no qual eles

    desempenham suas funes. Esse meio, ou ambiente, constitudo de todos

    os fatores e fenmenos, externos aos seres vivos, que podem infl uenci-los.

    Nosso estudo nos levar a entender a qualidade desses fatores e de que maneira

    eles atuam na vida dos organismos em todos os ecossistemas.

    Os fatores do meio, ou fatores ambientais, podem ser divididos em duas grandes

    categorias: fatores biticos e fatores abiticos. O primeiro caso ocorre quando

    os organismos so infl uenciados por outros seres vivos. Um exemplo dessa

    infl uncia voc pode encontrar na atividade do mosquito da dengue, que

    provoca vrios sintomas adversos ao ser humano, podendo lev-lo inclusive

    morte. A outra categoria representada por fatores qumicos (SALINIDADE, por

    exemplo) e fsicos (temperatura, umidade) que atuam fortemente na distribuio

    e na quantidade dos organismos.

    Neste ponto, podemos perguntar: de que maneira os fatores abiticos

    infl uenciam a vida dos organismos?

    BI O S F E R A

    Parte do planeta que inclui todos os organismos e ambientes sobre a crosta da Terra.

    SA L I N I D A D E

    Quantidade de sais dissolvidos em gua. Unidade mais freqente: partes de sais por mil partes de gua (ppm).

  • AU

    LA 4

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    LO 1

    CEDERJ 55

    Observe a Figura 4.1. Ela representa um urso polar em seu ambiente natural.

    Mesmo que voc, neste momento, s disponha daquele conhecimento intuitivo

    a que nos referimos anteriormente, resultante da observao diria do nosso

    entorno, possvel apreender conceitos fundamentais dos fenmenos que

    regulam a vida no nosso mundo. Mesmo simples, a Figura 4.1 nos mostra

    algumas informaes interessantes. Por exemplo: verifi cando a paisagem geral

    da fi gura, podemos dizer se ela variada ou uniforme? Qual a sensao mais

    importante despertada em voc? Muito frio? Muito quente? E o urso, magro

    ou muito gordo?

    Recorrendo aos nossos conhecimentos anteriores, que tanto podem

    resultar do senso comum ou de nossas diferentes leituras, podemos afi rmar

    que os seres vivos so influenciados de