eca: um conhecimento básico no exercício da cidadania mirim e · resumo o presente artigo tem...
TRANSCRIPT
1Licenciado em Letras e Especialista em Metodologia do Ensino Superior pelo IBEPEX – Curitiba – Pr; professor da Secretaria de Educação do Estado do Paraná. Pinhais - Pr, Brasil. E-mail [email protected] Professora Doutora em Teoria da Literatura, atuando como professora adjunta da Universidade Estadual de Londrina
2 Professora Doutora em Teoria da Literatura, atuando como professora adjunta da Universidade Estadual de Londrina(UEL)
ECA: um conhecimento básico no exercício da cidadania mirim e no desenvolvimento da habilidade da leitura e da escrita
amparados nos gêneros textuais.
Agnaldo Cezar Martins Lampa¹
Sueli de Jesus Monteiro²
RESUMO
O presente artigo tem como finalidade apresentar o procedimento e os resultados obtidos na implementação do projeto PDE 2012. O estudo se baseou no Estatuto da Criança e do Adolescente, escrito em tirinhas, voltado ao público infanto-juvenil. A intervenção se desenvolveu em várias etapas, abarcando metodologias e formas de avaliação. Primeiramente, os alunos responderam a uma avaliação prognóstica sobre os direitos do cidadão. Respondidas às indagações, tiveram contato inicial com o ECA em tirinhas, por meio de vídeos. Buscou-se, como finalidade principal, no decorrer da intervenção, o desenvolvimento da capacidade de compreensão através da leitura e da escrita, centrado nos direitos fundamentais da criança e do adolescente. E para isso, realizaram a leitura compreensiva do “ECA em tirinhas para crianças”. Em seguida, identificaram as ideias principais dos textos e as informações implícitas e explícitas, em linguagem verbal e não-verbal,1 sempre contextualizadas. O acesso ao material de pesquisa foi disponibilizado por meio de fotocópias e utilização de computadores na Sala de Informática. Após as primeiras pesquisas, os estudantes realizaram uma avaliação diagnóstica, para verificar as dificuldades individuais durante o processo de implementação da proposta. Exibiram visível progresso em relação ao entendimento dos direitos fundamentais. Devido à evolução dos alunos, passou-se a priorizar também os debates. Finalmente, responderam a um questionário de caráter classificatório, para verificar o progresso dos educandos em relação à compreensão de textos. Os resultados sugeriram que a capacidade para compreender textos é maior quando a linguagem é apropriada ao público almejado.
Palavras-chave: Direitos fundamentais. Cidadania. Textos. Leitura.
1. INTRODUÇÃO
A dificuldade enfrentada pelos estudantes em relação à interpretação e
compreensão de textos é histórica, gerando inúmeros estudos sobre o assunto. Os
autores, de modo geral, concordam que o problema está na base, pois é nela que as
crianças começam a construir as experiências de leitura e de compreensão. De
acordo com Braga & Silvestre (2002), à medida que as crianças crescem e ampliam
suas experiências, adquirem conhecimentos que as ajudarão nessa atividade.
Nesse sentido, a leitura não é compreendida como um processo de mera
decodificação do código impresso, pois envolveria o conhecimento prévio, como as
experiências cotidianas e as leituras anteriores. Assim, haveria uma integração com
o conhecimento adquirido no momento da leitura. Essa integração entre o
conhecimento anterior com as informações novas contidas no texto proporcionaria
aos estudantes uma condição maior à compreensão textual.
Ocorre, porém, que nem sempre os alunos possuem um histórico de leitura
suficiente, situação que prejudica a capacidade interpretativa deles. Tal fato foi
verificado nesta intervenção, que diagnosticou também outro problema em relação à
interpretação textual: o distanciamento entre o texto lido, apresentado nos livros
didáticos, e a realidade vivenciada pelos alunos que, muitas vezes, são obrigados a
analisar textos formais, enfadonhos e estranhos ao seu cotidiano. Por conta disso,
foi desenvolvido o projeto com textos em conformidade com a realidade dos alunos,
mais condizentes com o dia a dia dos adolescentes, de maneira que despertassem o
interesse de todos, possibilitando uma compreensão textual mais adequada.
A estratégia de leitura e compreensão se pautou na análise dos direitos
fundamentais inseridos no Estatuto da Criança e do Adolescente, tido como um texto
absolutamente formal e “cansativo”. Voltado, porém, ao público infanto-juvenil,
intitulado ECA em tirinhas para crianças. Isto porque os alunos do Colégio Tenente
Sprenger se deparam todos os dias com as situações dispostas no Estatuto, fato
que possibilitou a compreensão dos textos.
Primeiramente, discutiu-se com os estudantes a respeito dos direitos deles
como “brasileirinhos”. Após, foram analisadas tirinhas para a efetiva linguagem
verbal e não-verbal dos direitos da criança e do adolescente, por meio de uma
leitura significativa que os auxiliassem na apropriação de conhecimento. Com esta
intervenção, foi possível propiciar aos educandos o desenvolvimento de uma atitude
crítica, a partir de leituras significativas em linguagem apropriada ao público infantil,
dos tópicos referentes aos direitos fundamentais da criança e do adolescente,
dispostos no ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente). Com isso, visou-se à
formação de um sujeito crítico e atuante nas práticas de cidadania. O ensino e
compreensão de leitura do ECA em tirinhas para crianças, permitiu a cada aluno
conhecer todos os direitos das crianças e dos adolescentes,possibilitando que
entendesse melhor o papel de cidadão-mirim.
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
O presente estudo foi organizado a partir de uma constatação verificada no
decorrer de muitos anos de experiência, em sala de aula. Percebeu-se que os
alunos chegavam ao 6º ano do ensino fundamental apresentando muita dificuldade
para compreender textos básicos. Essa dificuldade, na visão da maioria dos
estudiosos, tem ligação direta com a falta do hábito de leitura, cuja consequência é o
distanciamento entre o leitor e o texto. Logo, para que haja uma compreensão
textual adequada é preciso a convergência de diversos fatores.
Considerando que os alunos participantes desta intervenção não possuem um
histórico de leitura, cabe aos professores
“... desenvolver uma intimidade com os textos utilizados junto a seus alunos e possuir justificativas claras para a sua adoção. E mais: precisam conhecer a sua origem histórica e situá-los dentro de uma tipologia. Essa intimidade e esse conhecimento exigem que os professores se situem na condição de leitores, pois sem o testemunho vivo de convivência com os textos ao nível da docência não existe como alimentar a leitura junto aos alunos.” (SILVA, 1988, p. 63).
Também é preciso destacar que os alunos, no momento de interpretar
qualquer texto, ainda que não tenham o hábito de leitura, trazem alguma experiência
já vivenciada, estabelecendo um ato dialógico, por mais precário que seja. De
acordo com as Diretrizes Curriculares da Educação Básica, entende-se a leitura
como um ato dialógico, interlocutivo, que abrange demandas sociais, políticas,
econômicas, históricas, pedagógicas e ideológicas de momentos definidos. Na
leitura, o leitor procura as suas experiências, os seus conhecimentos, a sua
formação familiar, religiosa, cultural, enfim, vários sentidos que compõem a
formação dele.
A leitura se concretiza no momento da recepção, denotando o caráter
individual que ela possui. Segundo Alba Maria Perfeito (2005, p.54-55 ), “depende
de fatores linguísticos e não linguísticos: o texto é uma potencialidade significativa,
mas necessita da mobilização do universo de conhecimento do outro - o leitor - para
ser atualizado.”
As DCEs de Língua Portuguesa, para a Educação Básica do Paraná definem que:
“Esse processo implica uma resposta do leitor ao que lê, é dialógico, acontece num tempo e num espaço. No ato de leitura, um texto leva a outro e orienta para uma política de singularização do leitor que, convocado pelo texto, participa da elaboração dos significados, confrontando-o com o próprio saber, com a sua experiência de vida. (SEED-PR, 2008, p. 57).”
O ato de ler, em vários contextos, requer que se compreendam as esferas
discursivas, nos quais os textos são feitos e circulam, bem como se identifiquem os
interlocutores e as intenções do discurso.
“... a prática de leitura é um princípio de cidadania, ou seja, o leitor cidadão, pelas diferentes práticas de leitura, pode ficar sabendo quais são suas obrigações e também pode defender os seus direitos, além de ficar aberto às conquistas de outros direitos necessários para uma sociedade justa, democrática e feliz.” (SILVA, 2005,p. 24).
É preciso, porém, ressaltar que os estudantes envolvidos neste estudo
não tinham a prática constante de leitura. Desse modo, para obter um
resultado satisfatório foi necessário buscar estratégias que cativassem esses
leitores, respeitando “as necessidades, as inquietações e os desejos de alunos-leitores. Simplesmente 'mandar o aluno ler' é bem diferente do que envolvê-lo significativa e democraticamente nas situações de leitura, a partir de temas culminantes.” (SILVA, 1988, p. 70).
Assim, os temas culminantes trabalhados visaram a uma proporção dialógica
e vivenciada pelos alunos, a partir de textos relacionados ao universo real deles, de
modo a obter o desenvolvimento do senso crítico desses cidadãos em formação.
Para a linguista Irandé Antunes, as leituras não podem ocorrer sem interesse,
inteiramente desvinculadas dos diferentes usos sociais e convertidas em momento
de treino para avaliação. É necessário trabalhar elementos indispensáveis para a
compreensão global e reflexão com vistas ao aumento da criticidade. Com o objetivo
de buscar caminhos alternativos para a melhoria do trabalho com leitura em sala de
aula, a autora aponta algumas sugestões:
“• Uma leitura de textos autênticos, contextualizados com a realidade dos alunos; leitura interativa que leitor e escritor encontrem-se; • Uma leitura em duas vias, ou seja, ler e escrever com relação de interdependência; • Uma leitura motivada, buscando a representação positiva do texto elencado pelo professor para o trabalho em sala de aula; • Uma leitura do todo, isto é, do global do texto; • Uma leitura crítica e não neutra, para perceber uma já conhecida visão de mundo ou outra percepção; • Uma leitura diversificada, para que o aluno reconheça os diferentes gêneros textuais e aumente seu vocabulário; • Uma leitura nunca desvinculada de sentido, permitindo, assim, a sua melhor compreensão.” (Antunes, 2010, p.79).
O desafio deste trabalho é justamente apresentar aos alunos, que não têm
grande experiência de leitura, textos que despertem o interesse deles, próximos de
sua realidade, capazes de transformá-los em cidadãos mais críticos e conhecedores
de seus direitos. Por isso a escolha do Estatuto da Criança e do Adolescente, escrito
em tirinhas, voltado ao público infantil.
Fundamentado nesses argumentos, entende-se que o Estatuto da Criança e
do Adolescente, em tirinhas, é um recurso textual que viabiliza a formação de um
adolescente capaz de adquirir um ponto de vista próprio para desenvolver o seu
papel na sociedade, de modo a não mais cumprir uma função coadjuvante na esfera
social a qual pertence. Logo, uma análise do Estatuto, com base bastante sólida,
permite a construção de uma sociedade mais igualitária.
Por fim, exposta a fundamentação teórica, passa-se ao relato da intervenção.
3. CONTEXTO DA INTERVENÇÃO A produção didático-pedagógica desenvolvida foi uma Unidade Didática,
centrada no ensino e compreensão de leitura, cujas atividades envolveram alunos
de 6º ano do ensino fundamental. Conforme já delineado, o objetivo deste estudo
pautou-se na dificuldade pontual enfrentada pelos alunos em relação à
compreensão de textos, mormente os apresentados em sala de aula. Ponderando
que a dificuldade na compreensão textual está relacionada a um contexto bem
maior, já mencionado, e de difícil solução em um prazo diminuto, a presente
intervenção procurou desenvolver um estudo específico que suprisse, ao menos em
parte, as dificuldades dos estudantes. Optou-se então por trabalhar com o tema
“Direitos Fundamentais”, contidos no Estatuto da Criança e do Adolescente, escrito
em tirinha se voltado ao público infantil. Essa estratégia se mostrou bastante eficaz,
uma vez que os diversos textos analisados se contrapuseram aos textos
tradicionais, tidos como enfadonhos e distantes da realidade dos alunos.
A estratégia de intervenção partiu do pressuposto de que os alunos têm mais
facilidade para compreender textos quando a linguagem apresentada se mostra
convidativa. Por isso a ideia de estudar o ECA em tirinhas para crianças, o qual está
diretamente ligado ao cotidiano desses estudantes, em oposição ao Estatuto da
Criança e do Adolescente tradicional, que possui uma linguagem absolutamente
formal e de difícil compreensão pelo seu público-alvo. As práticas pedagógicas
utilizadas na implementação do projeto estimularam a curiosidade dos educandos,
despertando o senso crítico deles.
É importante salientar que o processo de pesquisa foi um rico aprendizado
para todos os participantes, inclusive para o professor. Isto porque, durante todo o
percurso, o conhecimento e a compreensão integraram a parte prática da pesquisa.
Segundo Engel (2000, p.182), essa metodologia é conhecida pelo nome de
pesquisa-ação; nasceu da necessidade de superar a lacuna entre teoria e prática,
caracterizada pelo engajamento, em oposição à pesquisa tradicional. De acordo com
o mesmo autor, “No ensino, a pesquisa-ação tem por objeto de pesquisa as ações humanas em situações que são percebidas pelo professor como sendo inaceitáveis sob certos aspectos, que são suscetíveis de mudança e que, portanto, exigem uma resposta prática. Já a situação problemática é interpretada a partir do ponto de vista das pessoas envolvidas, baseando-se, portanto, sobre as
representações que os diversos atores (professores, alunos, diretores etc.) têm da situação. - A pesquisa-ação é situacional: procura diagnosticar um problema específico numa situação também específica, com o fim de atingir uma relevância prática dos resultados. (Engel, 2000, p.184).
Baseado na verificação de que os alunos apresentavam dificuldades para
compreender textos elitistas ou fora do seu universo, passa-se a tratar da efetiva
implementação do projeto, com o intuito de combater o problema específico, por
intermédio de práticas adequadas ao público-alvo.
4. METODOLOGIA DO PROCESSO DE INTERVENÇÃO Na primeira semana letiva, a turma de 6º ano foi informada sobre a presente
proposta, para que entendesse as etapas, as metodologias e as formas de
avaliação. Nesta primeira aula foi realizada uma avaliação prognóstica,
individualmente, com o objetivo de descobrir o conhecimento prévio dos alunos em
relação aos direitos das crianças e dos adolescentes, constantes no ECA e, ao
mesmo tempo, verificar a capacidade de interpretação deles. O resultado disso foi
relevante, pois serviu para perceber que a maioria dos alunos apresentava
dificuldade para produzir textos e para se expressar oralmente, além de
desconhecer seus direitos fundamentais. Com o fim de socializar a primeira
impressão, os alunos, organizados em duplas, fizeram comparações das atividades.
Em seguida, cada dupla teve oportunidade de expor suas respostas ao grande
grupo. Esta ação se mostrou muito dinâmica, porque aguçou sobremaneira a
curiosidade das crianças. Por outro lado, oportunizou-se aos educandos o exercício
da expressão oral.
Efetuada a situação inicial, os alunos tiveram um contato inicial com o
Estatuto da Criança e do Adolescente, a partir da apreciação de dois vídeos: um de
cinco minutos e cinqüenta e sete segundos, construído a partir dos quadrinhos da
Turma da Mônica, que mostra de forma clara o que é o Estatuto da Criança e do
Adolescente,disponívelem:http://www.youtube.com/watch?v=MJFYF9GITMM&featur
e=related. O segundo é um vídeo educativo sobre o Estatuto da Criança e do
Adolescente, de seis minutos e quarenta e seis segundos, produzido pelo Centro
Integrado de Aprendizagem em Rede da Universidade Federal de Goiás, disponível
em: http://www.youtube.com/watch?v=y5r6vThH_XU&feature=related. Essa ação
procurou abordar as diferenças entre as linguagens verbal e não verbal.
Em seguida, os alunos assistiram ao vídeo, sem som, para que analisassem
apenas a escrita. Depois, assistiram ao vídeo, com som, para que compreendessem
a mensagem dos quadrinhos, na voz de um adulto, que narrou e explicou os direitos
fundamentais inseridos no Estatuto da Criança e do Adolescente. Após o vídeo,
ouviram explicações das diferenças entre as linguagens verbal e não-verbal. Ao
final, foram lançadas perguntas a fim de que se expressassem, mostrando o que de
fato entenderam com a exibição do vídeo. A linguagem simples utilizada pelo ECA
direcionado às crianças contribuiu para que os alunos pudessem interpretar
adequadamente a proposta dos direitos fundamentais da criança e do adolescente.
Para promover uma interação maior entre os estudantes, o filme foi repetido, com
pausas, para questionamentos e análises das mensagens exibidas, proporcionando
ampla liberdade de expressão.
Como sequência da ação anterior, oportunizou-se aos educandos o primeiro
contato com o “ECA em tirinhas para crianças”. Sucede que esse contato deveria ter
ocorrido por meio de acesso eletrônico, no laboratório de informática. Não foi
possível, entretanto, uma vez que os computadores estavam passando por
manutenção. Por conta disso, tornou-se necessário fotocopiar o “ECA em tirinhas
para crianças”,aos alunos. Após a solução do imprevisto, a atividade cumpriu o
objetivo, a começar pela leitura das tirinhas, sem a intervenção do professor. Os
alunos, em dupla, releram as cinco primeiras tirinhas do ECA. Em seguida, foram
realizadas intervenções para assegurar a todos a compreensão e o sentido das
palavras empregadas nos textos. Nesta ação, as crianças demonstraram uma
capacidade de compreensão um pouco maior do que nas aulas anteriores. A leitura
dos textos citados, juntamente com as intervenções feitas pelo professor,
contribuíram significativamente para a compreensão das informações explícitas e
implícitas nas linguagens verbal e não verbal. Na exposição oral, mostraram-se em
sintonia com a mensagem simples e objetiva do “ECA emtirinhas para crianças”. Por
essa razão mostrou-se pertinente que pesquisassem no glossário o significado das
palavras mais importantes, solicitadas pelo professor, com a finalidade de aproximar
os alunos de uma linguagem mais técnica. Ao final, foi organizada uma discussão
em grupo sobre os termos pesquisados no glossário. A maioria dos alunos
conseguiu compreender bem o sentido dos termos pesquisados, em conformidade
com o resultado pretendido. Assim, constatou-se que a pretensão da atividade foi
alcançada, pois os alunos conseguiram assimilar os direitos fundamentais deles.
Para consolidar os primeiros estudos, responderam a um questionário,
exigindo-se a compreensão das ideias principais dos textos e das informações
explícitas e implícitas nas linguagens verbal e não verbal.. Em sequência,
produziram um texto, a partir dos direitos fundamentais inseridos nas cinco primeiras
tirinhas. Após a leitura e a discussão do texto produzido, cada aluno transformou o
texto escrito em linguagem não-verbal, buscando a mesma mensagem contida na
redação escrita anteriormente. E para conhecer o nível de interpretação dos
estudantes, trocaram os textos entre si, a fim de que pudessem verificar se havia ou
não coincidência de ideias. O resultado demonstrou que houve desenvolvimento das
habilidades de leitura e de oralidade. Demonstrou ainda que os alunos foram
capazes de realizar de maneira competente a leitura compreensiva dos textos, de
identificar as ideias principais dos textos e de compreender as informações explícitas
e implícitas nas linguagens verbal e não verbal.
Encerrada a primeira etapa, os estudantes fizeram uma avaliação diagnóstica,
para verificar as dificuldades individuais dos alunos durante o processo de
implementação da proposta. Cada um elencou os direitos que conseguiu assimilar.
A atividade e baseou em duas situações:as dificuldades enfrentadas por eles no que
tange à assimilação do conhecimento e a evolução apresentada em relação à
elaboração e compreensão textuais. A primeira parte da avaliação realizou-se com
uma produção de texto, acompanhada de ilustrações. Na segunda parte, os alunos
expuseram suas respostas ao grande grupo. Nesta etapa, exibiram visível progresso
em relação ao entendimento dos direitos fundamentais assegurados pelo ECA.
Igualmente ficou evidenciado que eles compreendem facilmente textos
correspondentes ao próprio universo. De igual forma, houve um progresso
considerável na produção de textos, uma vez que a maioria, mesmo cometendo
alguns erros gramaticais, conseguiu transmitir coerentemente as mensagens.
Na intervenção seguinte, a proposta foi encaminhada com os devidos ajustes,
para que todos os alunos tivessem a oportunidade de relembrar o conteúdo até
então visto. Isto realizado, deu-se sequência ao estudo das próximas tirinhas , com a
apresentação dos subsequentes direitos fundamentais da criança e do
adolescente.Esta ação foi desenvolvida no Laboratório de Informática Paraná Digital:
computadores com acesso à internet. Os alunos consultaram a página virtual da
Câmara dos Deputados
(http://bd.camara.gov.br/bd/bitstream/handle/bdcamara/3628/eca_tirinhas_criancas.p
df?sequence=1.) e fizeram a leitura compreensiva das tirinhas, sem intervenção do
professor.Depois, efetuaram-se intervenções para assegurar que todos os alunos
compreendessem o sentido das palavras empregadas nos textos, de acordo com o
glossário, numa linguagem apropriada à faixa etária dos alunos do 6º ano. No
segundo momento, fizeram atividades escritas para fixar melhor o conhecimento do
glossário e também para identificar as ideias principais dos textos, compreendendo
as informações explícitas e implícitas nas linguagens verbal e não -verbal. Os alunos
desenvolveram produção de textos e interpretação de textos, por oralidade.
Seguindo a mesma linha, estudaram as últimas tirinhas, convertendo-as em
linguagem não verbal. O interessante é que os desenhos produzidos explicitaram
que as crianças assimilaram bem as ideias principais e os objetivos contidos no ECA
em tirinhas para crianças.
Por fim, com o intento de oferecer aos educandos uma linguagem adequada e
instigante, disponibilizou-se a eles a leitura compreensiva do gibi “Turma da Mônica
em: O Estatuto da Criança e do Adolescente”, por meio do endereço eletrônico do
Portal Pró-Menino (http://www.fundacaofia.com.br/ceats/eca_gibi/capa.htm). Após a
leitura, produziram um texto relatando os direitos fundamentais da criança e do
adolescente inseridos no gibi da “Turma da Mônica em: O Estatuto da Criança e do
Adolescente.” Posteriormente, trocaram com outro colega de turma os textos
produzidos. Depois, cada aluno explicou à turma o que o outro colega havia escrito.
O resultado foi uma consonância de ideias entre a maioria dos alunos.
Ao final desta metodologia, para verificar quais alunos adquiriramas
habilidades previstas nos objetivos específicos, os educandos responderam a um
questionário de caráter classificatório, para análise dos resultados obtidos. Foram
preenchidas as linhas e colunas da avaliação classificatória, com o fim de qualificar
o conhecimento adquirido por eles. Por fim, compararam-se as avaliações
prognóstica, diagnóstica e classificatória, para verificar se “todos” os alunos
desenvolveram as habilidades almejadas. Ainda que nem todos tenham alcançado
uma média estabelecida, o mais importante foi verificar que houve progressão na
aprendizagem. Por meio das observações, foi possível perceber que os objetivos
foram atingidos. As atividades resolvidas pelos alunos foram elaboradas pelo
professor e resultaram em um portfólio que poderá ser utilizado por outros
professores.
Nesta intervenção, o Estatuto da Criança e do Adolescente foi estudado com
muita “leveza”, observando uma linguagem adequada às crianças de 6º ano do
ensino fundamental.Exatamente por isso, os alunos se mostraram capazes de
interpretar textos de maneira satisfatória. Desse modo, conclui-se que a apatia
demonstrada pelos estudantes em relação aos textos comumente tratados em sala
de aula e nos livros didáticos está diretamente ligada à apresentação de uma
linguagem distante do contexto desses jovens. E para reverter tal situação, os
próprios alunos observaram que o professor deve proporcionar a eles, dentre os
diversos gêneros textuais existentes, textos cativantes para que possam sentir-se
instigados à leitura.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A intervenção pedagógica proposta obteve os resultados almejados, pois no
decorrer do trabalho constatou-se um progresso significativo dos alunos em relação
à compreensão textual. Ao final da aplicação do projeto, a maioria dos educandos
demonstrou habilidade para interpretar textos, de diferentes gêneros textuais,
inclusive. Esse progresso, entretanto, só foi possível devido ao desenvolvimento de
um trabalho preventivo, que privilegiou a escolha de textos conforme a faixa etária
dos alunos, os interesses deles e os objetivos estabelecidos no currículo.
O Grande desafio das escolas e dos professores brasileiros é formar leitores
capazes de estabelecer uma interação harmônica com as mensagens contidas no
texto. A pesquisa apresentada mostrou que é factível formar leitores independentes,
críticos e reflexivos, a partir de quaisquer textos, desde que adequados ao seu
público-alvo. No caso em tela, a opção pelo Estatuto da Criança e do Adolescente é
bastante pertinente, uma vez que ele expõe uma linguagem “difícil, chata e
cansativa”, segundo a opinião dos próprios estudantes. Daí o desafio de transformá-
lo em uma linguagem estimulante e encantadora. A alternativa encontrada foi o
estudo do “ECA em tirinhas para crianças”, o qual atingiu o resultado esperado.
Para chegar ao resultado pretendido, tornou-se necessário oportunizar aos
alunos a aprendizagem dos conteúdos do Currículo Escolar, por meio de uma leitura
expressiva que os auxiliou na apropriação de conhecimento. Todos os objetivos
elencados foram alcançados. Um assunto de extrema importância e de linguagem
complexa foi compreendido por meio de uma metodologia que respeitou a faixa
etária do educando. A aprendizagem foi muito significativa para a formação cidadã
desses alunos. Todos os estudantes progrediram no conhecimento. Desenvolveram
habilidades da Língua Portuguesa e, com muita “leveza”, assimilaram conhecimento
capaz de auxiliá-los no exercício da cidadania.Cada aula trabalhada nesta proposta
foi planejada, de acordo com a necessidade de aprendizagem dos educandos. O
empenho dispensado no decorrer dos trabalhos associado à mediação das reflexões
individuais e em grupo resultaram no sucesso dos alunos, pois, sem exceção, todos
cresceram em conhecimento e aprenderam os conteúdos da Língua Portuguesa
num processo que privilegiou a qualidade da aprendizagem, e não a quantidade de
conceitos.
Em suma, é possível desenvolver habilidades de compreensão textual a partir
de uma intervenção voltada ao universo dos alunos. Para tanto, faz-se necessário
que os professores atentem para a importância de propiciar aos estudantes textos
socialmente relevantes, em consonância com a situação real do público envolvido.
Com base nessas exposições, acredita-se que esta proposta possa trazer novos
subsídios a professores que trabalham com crianças de ensino fundamental,
especialmente com aquelas que apresentam defasagem de leitura.
REFERÊNCIAS ANTUNES, Irandé. Aula de português: encontro & interação. São Paulo: Parábola Editorial, 2010. BRAGA, R. M. & SILVESTRE, M. F. B. Construindo o leitor competente: atividades de leitura interativa para a sala de aula. São Paulo: Petrópolis, 2002. ECA em tirinhas para crianças. Publicador: Câmara dos Deputados, Edições Câmara – Série ações de cidadania; n.6. Endereço eletrônico: http://bd.camara.gov.br/bd/bitstream/handle/bdcamara/3628/eca_tirinhas_criancas.pdf?sequence=1 ENGEL, Guido Irineu. Pesquisa-ação. Educar em Revista, núm. 16, 2000, pp. 181-191. Universidade Federal do Paraná, Paraná, Brasil. Estatuto da Criança e do Adolescente. Disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=MJfYF9giTmM&feature=related Estatuto da Criança e do Adolescente. Disponível em : http://www.youtube.com/watch?v=y5r6vThH_XU&feature=related
KLEIMAN, Ângela. Texto e Leitor. Campinas: Pontes, 2007. PARANÁ. Secretaria de Estado da Educação. Diretrizes Curriculares da Educação Básica – Língua Portuguesa, 2008. PERFEITO, Alba Maria. Concepções de Linguagem, Teorias Subjacentes e Ensino de Língua Portuguesa. In Concepções de linguagem e ensino de língua portuguesa (Formação de professores EAD 18). V.1. 1ed. Maringá, EDUEM, 2005. p 27–79. SILVA, Ezequiel Theodoro. Conferências sobre Leitura –trilogia pedagógica. 2. Ed. Campinas/SP, Autores Associados, 2005. -------------------. Publicação: Série Ideias n.5. São Paulo: FDE, 1988. Turma da Mônica em: O Estatuto da Criança e do Adolescente”. Publicador: Portal Pró-Menino – Endereço eletrônico: http://www.fundacaofia.com.br/ceats/eca_gibi/18.htm