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resultado de 12 meses de pesquisa do grupo MIDCID - PPGCC - Uniso Sorocaba/spTRANSCRIPT
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MDIA & CIDADE
Paulo Celso da Silva
Wilton Garcia
Organizadores
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Paulo Celso da Silva
Wilton Garcia
Organizadores
MDIA & CIDADE
Carlos Fernando Leite Cecilia Noriko Ito Saito
Daniela Ferreira Lima de Paula Fabio Ramos Melo
Felipe Parra Joana Fernandez
Jos Francisco B. Calderon Mauro Maia Laruccia
Osmar Siqueira Roger dos Santos
Sandra Yukari Shirata Lanas Paulo Celso da Silva
Thfani Postali Wilton Garcia
Sorocaba, 2014
Grupo de Pesquisa: Mdia, Cidade e Prticas Socioculturais MidCid
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Agora, estamos descobrindo que,
nas cidades, o tempo que comanda
ou vai comandar, o tempo dos homens lentos...
A cidade o lugar onde h mais mobilidade
e mais encontros.
Milton Santos A natureza do espao, 1996, p. 255-260
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Autores 2014
A reproduo no autorizada desta publicao, total ou em parte, constitui violao do copyright (Lei 5.988)
Todos os direitos reservados.
Projeto Editorial: Wilton Garcia
Reviso: Carlos Fernando Leite
Desenho da capa: So.k Ttulo: Osasco Tcnica: leo sobre papel Ano: 2014
Dados Internacionais de Catalogao na Publicao (CIP)
Silva, Paulo Celso da e Garcia, Wilton (orgs.)
Mdia & cidade / Paulo Celso da Silva e Wilton Garcia (organizadores)
Sorocaba: MidCid, 2014.
Vrios autores
100 pgs.
ISBN 978-85-89909-47-1
Bibliografia
1. Comunicao 2. Cultura 3. Mdia 4 Cidade 5. Contemporneo
CDD 302
Conselho Editorial
Cecilia Noriko Ito Saito Mauro Maia Laruccia Paulo Celso da Silva
Wilton Garcia
Sorocaba, 2014
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SUMRIO
Apresentao 6 Paulo Celso da Silva Wilton Garcia Prefcio 8 Rosalina Burgos A comunicao na cidade: 7 movimento no espao pblico Sandra Yukari Shirata Lanas Paulo Celso da Silva A pichao e outras inscries 18 como canal popular de comunicao urbana Thfani Postali Paulo Celso da Silva Cidades conectadas: 32 estudos contemporneos Osmar Siqueira Wilton Garcia Cidade digital: 43 imagens de Sorocaba no aplicativo Instagram Daniela Ferreira Lima de Paula Fabio Ramos Melo Mauro Maia Laruccia Refletir sobre o pensar: 56 um ensaio Wilton Garcia Carlos Fernando Leite Jos Francisco B. Calderon Representao e corpo, 69 materialidade e transcendncia Cecilia Noriko Ito Saito Roger dos Santos EXPERIMENTAES POTICAS 79 (Im)previstos 80 Daniela F. Lima de Paula Umbra 89 Felipe Parra Imerso 93 Joana Fernandez
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Apresentao
Saudades do futuro no uma alegoria.
o desejo de ultrapassar a eternidade das coisas e dos homens.
Armando Corra da Silva Saudades do futuro (1993)
Talvez, essa seja a inspirao de todos ns, urbanoides do sculo XXI:
ultrapassar! Dizia um amigo que ontem tarde, foi a quinze dias e ria muito com a ultrapassagem. Dessa forma, a cidade vai sendo esquadrinhada na
velocidade que cada um consegue desenvolver.
Diz Milton Santos que a cidade dos Homens Lentos, aqueles que
esto fora da lgica do capital e, portanto, podem percorr-la com ritmo e
visibilidade que faltam queles que, motorizados, ficam parados no trnsito
espera da ordem de prosseguir para os prximos dois metros. Ou outros,
velozes em suas mquinas, nada observam, olham sem ver.
Assim com a mdia, tanta informao em todos os lugares. Parados no
trnsito, navegam em celulares, tablets, pelo rdio do carro ou GPS,
conservando o imvel motor em funcionamento.
Mdia e Cidade, dessa forma, so modos complementares de
ultrapassar coisas e homens na eternidade dos momentos que vivemos, nicos
e intransferveis, deixam como resultado, a saudade ou poderamos avanar.
Deixam a nostalgia, que a saudade do que no aconteceu de fato, feito uma
saudade em potncia que mdia e cidade nos reservam.
Prof. Dr. Paulo Celso da Silva Coordenador do PPGCC UNISO Universidade de Sorocaba/SP/BR
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MidCid
Grupo de Pesquisa Mdia, Cidade e Prticas Socioculturais
Fundado em meados de 2012, o MidCid promove uma agenda mensal
de encontros acadmicos, com seus pesquisadores, alunos e professores, que
participam de estudos, discusses, leituras e debates, sobre determinado tema
ou assunto, a partir dos campos contemporneos da comunicao e da cultura,
os quais abrangem a diversidade de olhares e experincias. Esses campos da
esfera do simblico portam significaes e oferecem novos referenciais nas
leituras que se estabelecem sobre o cotidiano na contemporaneidade.
As atividades do Grupo de Pesquisa MidCid Mdia, Cidade e Prticas
Socioculturais so executadas por pesquisadores da Uniso e de outras
universidades e instituies nacionais e estrangeiras, e por pesquisadores
visitantes. O MidCid parte do trabalho de ensino e pesquisa que vem sendo
realizado na ps-graduao.
Os estudos articulam-se com a Linha de Pesquisa do Programa da Ps-
Graduao em Comunicao e Cultura da Uniso que esto em
desenvolvimento no campo das mdias. As atividades se desenvolvem
apoiadas na viso multidisciplinar com o intuito de produzir e divulgar
conhecimentos relevantes na contemporaneidade. Considerando que a cidade
o locus, por excelncia, da circulao das Prticas Sociais, busca-se pensar os modos como tais fenmenos delimitam o espao (concreto ou imaginrio) e
condicionam a gerao de sentidos nos ambientes urbanos.
O MidCid objetiva realizar trabalhos de integrao entre pesquisadores e
estudantes de diferentes nveis interessados nas questes ligadas pesquisa
em comunicao com seus desdobramentos em Mdia, Cidade e Prticas
Socioculturais. Assim, investiga os mltiplos fenmenos de comunicao que
pontuam o espao urbano, especialmente os que se relacionam arte,
cincia, ao corpo, cultura popular, ao consumo, as instituies, s novas
tecnologias. E propomos a produo de cursos, seminrios, conferncias,
eventos multimiditicos e publicaes de artigos e livros.
Registro no CNPq: http://dgp.cnpq.br/dgp/espelhogrupo/3050092199393304
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Prefcio
Rosalina Burgos1
Mdia & Cidade rene uma importante mostra do percurso de trabalho e debate realizado pelo Grupo de Pesquisa Mdia, Cidade e Prticas
Socioculturais MidCid, junto ao Programa de Mestrado em Comunicao e
Cultura da Uniso.
Seu espectro temtico permite entrever mltiplas abordagens
terico-conceituais acerca da relao entre comunicao, cultura e espao
urbano, resultante da composio transversal do prprio Grupo de Pesquisa,
cuja formao atual existe desde meados de 2012.
Partindo da anlise das formas de manifestao dos movimentos
sociais nos espaos pblicos, ou ainda, sobre processos de (re)significao do
prprio corpo no mundo do consumo, Mdia & Cidade nos convida a percorrer caminhos interpretativos sobre a sociedade contempornea em suas diversas
formas de linguagem e expresso.
Tendo como substrato a materialidade e fruio das imerses nos
contedos socioculturais da cidade, a obra contribuio inegvel busca de
entendimento sobre este complexo universo de investigao cientfica e criao
artstica: a cidade e seus atores ou agentes sociais, numa mirade de
paisagens que denotam (geo)grafias apreendidas em insurgncias imagtico-
sonoras. o que podemos encontrar nos temas abordados nos artigos e,
tambm, nos ensaios de Experimentaes Poticas que encerra Mdia & Cidade, abrindo-a para inusitadas reflexes artstico-filosficas sobre a relao entre ser e estar na urbanidade.
Por sua vez, as contribuies tericas aqui reunidas permitem
avanar na compreenso sobre o vertiginoso processo de insero e
fragmentao da cidade e das prticas citadinas nos circuitos virtuais,
apontando para a urgncia e necessidade de compreenso sobre a relao
local-global em suas mltiplas dimenses. 1 Gegrafa. Doutora em Geografia Humana pela Universidade de So Paulo. Docente do Curso
de Licenciatura em Geografia da UFSCar Campus Sorocaba.
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Nesse sentido, com base na cidade de Sorocaba, uma parte dos
artigos se dedica a investigar inovaes tecnolgicas inseridas
compulsoriamente na cotidianidade, a exemplo do uso do aplicativo Instragram
para captura e projeo das imagens da cidade nas redes sociais virtuais.
Noutra perspectiva, possvel mergulhar nos interstcios do urbano
partindo das inscries contidas na pichao e outros grifos, aproximando
extremos de uma realidade difusa e diversa: a cidade digital ora se conecta,
ora se aparta do cho propriamente dito das manifestaes sociais
contemporneas que, contraditoriamente, seguem condensando a novidade e
o abandono, o grotesco e o sublime, prprios do urbano.
Aos interessados nas questes que concernem comunicao e
cultura e temticas relativas sociedade urbana na atualidade, esta obra
convite para um profcuo dilogo com pesquisadores e especialistas de
diversas reas do conhecimento, artistas, gestores e educadores. Suas
pginas denotam a inquietude que move a busca pela compreenso das
transformaes socioculturais desta sociedade, cuja complexidade requer
caminhos interpretativos que renam mltiplos olhares.
Mdia & Cidade, por fim, provoca questionamentos e instiga a busca por novas descobertas acerca dos nveis e desnveis de uma realidade
constituda pelas contingncias da materialidade inerente cidade, bem como
sobre as dimenses objetivas e subjetivas da virtualidade que a projeta para
alm do seu prprio espao e tempo.
Sorocaba, outubro de 2014.
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A comunicao na cidade: movimento no espao pblico
Sandra Yukari Shirata Lanas2 Paulo Celso da Silva3
Resumo Este artigo, ao abordar movimentos sociais contemporneos, pretende oferecer subsdios e dados que levem reflexo da importncia dos espaos urbanos na comunicao, no caso estudado a escala da cidade. Experincias nacionais e internacionais pretendem dar conta da complexidade dos fenmenos contemporneos que so engendrados pela relao global-local e, muitas vezes, respostas globais no oferecem resultados satisfatrios para as demandas locais. Assim tambm com a cidade enquanto locus comunicacional na conformao de espaos pblicos.
Palavras Chave: Comunicao, Cidade, Espaos Pblicos Resumen En este artculo, al tratar de los movimientos sociales contemporneos, planea ofrecer subsidios y datos que lleven a reflexin sobre la importancia de los espacios urbanos en la comunicacin, en el caso estudiado la escala es de la ciudad. Experiencias nacionales e internacionales tienen pretenden dar cuenta de la complejidad de los fenmenos contemporneos engendrados por la relacin global-local y, a menudo las soluciones globales no ofrecen resultados satisfactorios para las exigencias locales. As tambin con la ciudad comprehendida como locus comunicacional en la conformacin del espacio pblico.
Palabras clave: Comunicacin, Ciudad, Espacios Pblicos. Abstract This article, by dealing with contemporary social movements, amy to offer subsidies and data to reflect on the importance of urban spaces in communication, in the studied case it is the scale of the city. National and international experiences are intended to account for the complexity of contemporary phenomena engendered by the global-local relationship and often global solutions do not offer satisfactory results for the local requirements. So also with the city as a communication comprehended locus in shaping the public space. Keywords: Communication, City, Public Spaces. 2 Arquiteta e Urbanista, docente no curso de Arquitetura e Urbanismo (Universidade de
Sorocaba) Doutoranda na rea de Planejamento Urbano e Regional FAU/USP. Pesquisadora no Grupo de Pesquisa MidCid (Mdia, Cidade e Prticas Socioculturais) da Uniso. E-mail: [email protected]
3 Professor e Coordenador do PPG Comunicao e Cultura, lder do Grupo de Pesquisa MidCid (Mdia, Cidade e Prticas Socioculturais) . E-mail: paulo.silva @prof.uniso.br
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Introduo
O Brasil um grande pas, monumental desde seu Achamento,
documentado pela carta escrita ao rei poca de Portugal, D. Manuel I, por
Pero Vaz de Caminha. Parte dessa grandeza se anuncia desde a descrio
feita por aquele, e ainda que os ibricos da poca tentassem esconder estas
informaes, a fim de poder explorar suas riquezas sem maiores interferncias,
isto foi feito, no entanto, estabelecendo-se um padro de desequilbrio desde o
incio de sua histria, ao menos sob o ponto de vista econmico.
Para o urbanismo brasileiro, mesmo que incipiente no incio da sua
histria ocidental, podem-se considerar as linguagens utilizadas para a
comunicao geogrfica que pontuaram o espao antes do urbano: a
linguagem falada, principalmente dos ndios catequizados, e os escritos e os
desenhos (principalmente dos estrangeiros), que podem ser desde garatujas
mo, croquis, mapas e cartas. Em um tempo em que adentrava selvas, muitas
vezes sem bssolas, orientados por ndios que liam os acidentes geogrficos
mais comuns das paisagens e outras caractersticas eletivas que eram
anotadas e desenhadas por estrangeiros, na maioria das vezes, pois os
primeiros brasileiros eram pouqussimos letrados.
1. Espao e poltica
A questo urbana resolvida poca pela obedincia s verticais ordens
militares, sem opo de contestao, mas resolvida primeiramente pelos
engenheiros militares e depois pelos homens bons, ou seja, grandes
proprietrios, ricos e brancos, nas cmaras municipais, (instaladas pelo imprio
portugus quando as localidades eram elevadas condio de Vila), contribuiu
enormemente para a falta da participao popular e democrtica generalizada
do povo brasileiro para as questes do espao urbano. Nesse sentido, o
espao urbano brasileiro no incio de nossa histria, conforme nos indica
Lefebvre (2008, p. 44) um agente da manipulao poltica, inclusive de sua
representao que se apresenta como estratgia de classes e seus
representantes.
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Seja por falta de possibilidades, tanto sociais quanto informacionais, o
espao urbano brasileiro foi conformado por 500 anos de baixssimo grau de
participao democrtica pela sua populao; e as decises geralmente sobre
a conformao desses espaos urbanos, e os recursos destinados para tais
obras estavam mais atrelados at o final do sculo XX s percepes e
necessidades das classes dominantes.
Obviamente a mudana de um costume de 500 anos acerca de decises
de como conformar, utilizando recursos pblicos, o espao urbano no
modificado facilmente. No sculo XX praticamente samos de uma sociedade
escravocrata, agrcola, rural, para uma sociedade que recebeu mais imigrantes
de outros pases, muitos advindos de situaes de guerra civil, e recebeu a
implantao de indstrias de base. O crescimento do espao urbano,
entretanto, no veio acompanhado de melhor qualidade de vida urbana para as
populaes de baixa renda.
Articulaes polticas permitiram a volta de eleies diretas, os servios
pblicos foram privatizados, com nfase nos sistemas virios e nas
comunicaes. Informao era e ainda importante, para a sade, para a
educao, para os negcios, para o desenvolvimento econmico. Passou-se
da valorizao exacerbada da linha telefnica pblica, durante a expanso da
telefonia brasileira nos anos 1970 a 1990, para proprietrios de chips e
aparelhos celulares, no incio do sculo XXI.
Vieram os planos diretores municipais, obrigatrios para municpios com
mais de 20.000 habitantes, que para ser validados necessria a realizao de
audincias pblicas com a populao local, para expor diagnsticos e
propostas aos rumos do desenvolvimento fsico territorial destes municpios,
com a conotao da funo social da cidade e da propriedade urbana. Os
planos diretores municipais, as obrigatrias audincias pblicas,
paulatinamente fizeram um retrato, mas acurado dos problemas urbanos mais
especficos de cada localidade e sua populao; e contriburam para se
levantar tecnicamente o problema habitacional e a ocupao de reas de risco
e/ou de preservao permanente (APP).
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Avanos foram feitos nos ltimos anos pelo programa federal Minha Casa Minha Vida, de 2009, particularmente ligados aprovao do Estatuto da Cidade (2001) e questo da propriedade urbana agora ter a meno jurdica
funo social da propriedade urbana.
2 A cidade e o urbano
Henri Lefebvre conceitua a questo da cidade e o urbano, separando-a
primeiro da questo industrializao; uma vez que faz a periodizao histrica
do Urbanismo em trs fases: a era agrria, a industrial, a urbana. E que a era
urbana, est s comeando; sendo que o urbano, um continente que se
descobre e que se explora medida que construdo. (LEFEBVRE, 2008, p.
81).
Para uma anlise do que o espao urbano, Caiado, em 2003,
questionava a dicotomia rural-urbano, baseada na lei do permetro-urbano,
(utilizada pelo IBGE desde 2010); aps anlise de informaes coletadas no
Plano Municipal Unificado/1999 do Sistema Estadual de Anlise de Dados
(SEADE), o pesquisador afirma que em todos os municpios paulistas havia
ocupaes urbanas em reas rurais: loteamentos sem aprovao, loteamentos
aprovados por lei especial, grandes equipamentos de lazer e indstria, e
processos de conturbao com outros municpios. Trazem tona a
necessidade de novas questes instrumentais de anlise para a representao
de uma realidade mais complexa de uma sociedade urbana, cada vez mais
metropolitana, principalmente no Estado de So Paulo. Trata-se, portanto, da
definio das formas de comunicao de parmetros instrumentais e jurdicos
inclusive, para se fazer um ajuste mais contemporneo ao que est
acontecendo nas bordas entre o antigo campo e a rea urbanizada (ou do que
considerado permetro urbano).
2.1. Reivindicao da cidadania
O artista Eduardo Srur, conhecido por suas intervenes nos espaos
pblicos urbanos, fez a instalao A Arte Salva, em que boias foram lanadas
em frente ao Congresso Nacional, propondo o resgate da conscincia cvica
por meio da arte socializada, em espao fsico e virtual.
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Na ocupao irregular de rea particular prxima do Rodoanel, na zona
norte de Osasco, SP, no h gua e luz na maioria dos barracos, embora haja
numerao deles, afirma a matria do jornal Estado em abril de 2014. Como
se faz a comunicao de resolues, com tantas pessoas? "Aqui, todas as
decises so coletivas", garante Ventura, ento presidente da Frente Popular
de Favelas de Carapicuba. Depois de uma invaso da ocupao no incio de
fevereiro/2014, pela Guarda Municipal de Osasco, que investiu contra a
Comunidade Nelson Mandela, segundo os moradores sem qualquer aviso
prvio, e acabou expulsa a pedradas. "Chegaram atirando, mano, foi tiro de
tudo, de borracha, de calibre 12, de 38", conta um dos mandelenses que tem
no celular o vdeo do momento em que o contingente bateu em retirada pelo
Portal D'Oeste II, o bairro vizinho. ", bala demais", mostra. Ao menos dois
ocupantes ficaram feridos. "Agora eles vo ter que responder na corregedoria
por tentativa de homicdio qualificado e abuso de poder", diz Carlos Eduardo
Ventura, o lder mais experiente.
A comunicao no influencia apenas tecnicamente a mensurao da
dicotomia antiga campo x cidade, mas tem consequncias impactantes na
visibilidade dos processos de ocupao urbana, pelos grupos desprivilegiados
econmica e socialmente. A premncia da sada de uma precariedade
econmica onde o preo da terra, e do morar j seja um coletivo urbano, faz
com que a comunicao linear traga manifestaes concretas.
3 Mudanas
3.1. A hora da verdade
Experincia distinta de participao no espao urbano podemos
encontrar no documento A hora da verdade (A time for truth), que foi elaborado pela Los Angeles Comission, formada por treze cidados e presidida
e organizada pelo ex-Secretrio de Comrcio Mickey Kantor e que indica, entre
outros informes, que a cidade atingiu a cifra de 40% da populao vivendo na
misria; resultado, como indica o informe, de dcadas de lento crescimento do
emprego e desemprego maior que a mdia nacional e com quase 30% de
empregados recebendo menos do que necessitam para sobreviver (KANTOR,
2013, p. 1).
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A lista de dificuldades e melhorais pela qual necessita Los Angeles ainda
inclui um problema crnico de comunicao urbana, motivado pelo trnsito
excessivo que, conforme a Comisso, a cidade estadunidense com mais
congestionamentos e a quarta no mundo e, para piorar a situao, se todos os
projetos de melhorias do transporte pblico fossem colocados em prtica, nada
resolveriam de efetivo.
A educao formal segue as mesmas condies dos demais setores
com a expectativa de que menos de 60% dos alunos completem a graduao
superior. O documento questiona: Como podero competir em um mercado
global em que a formao e os salrios andam juntos? (KANTOR, 2013, p. 13).
Contudo, a Comisso enviar um estudo com indicativos prticos do que
possvel ser feito, visto que acredita nas potencialidades da cidade e conclui
afirmando que encaminhar os estudos para enfrentar os problemas presentes.
Mas: O objetivo de tais medidas ser garantir que outra comisso no emita
um relatrio, daqui 25 anos, com muitos dos mesmos problemas listados
novamente (KANTOR, 2013, p. 19).
3.2. Londres, o melhor lugar para crescer
A experincia cidad em Londres (Inglaterra), iniciada em 2013 e
publicada em julho de 2014 por David Robinson e Will Horwitz, intitula-se
Changing London, A vision for Londons next Mayor. The best place in the world to grow up (Mudando Londres, uma viso da cidade para o prximo prefeito). Essa iniciativa recebeu cerca de 150 posts com ideias e propostas para melhorar a capital Inglesa. E o objetivo propor uma viso possvel para
o prximo prefeito de Londres: uma cidade reorientada para nossas crianas,
garantindo prxima gerao um conjunto de direitos (ROBINSON; HORWITZ,
2014, p. 23).
Os autores so taxativos em lembrar que participaram da encosta
crianas e jovens que lamentavam a escassez de confeitarias e os custos das
consolas de games, mas foram contundentes em exigir tambm escolas
decentes, melhores transportes e habitao, mais o que fazer, a desigualdade
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reduzida e mais oportunidades (ROBINSON; HORWITZ, 2014, p. 24), nada
diferindo daquilo que os adultos indicavam como mudanas necessrias.
3.3 Comunicao e cidade: estudos contemporneos
Outro estudo sobre a comunicao e as cidades que merece ateno
intitulado The scaling of human interactions with city size. Nele, os autores, indicam a importncia da relao entre o tamanho da cidade e sua vida
socioeconmica. O estudo levantou e analisou uma enorme quantidade de
dados annimos na rede inalmbrica de Portugal e Reino Unido, para tentar
determinar um padro entre as redes sociais que criamos e a escala da cidade,
e concluram que quanto maior a cidade em que se vive, maior sero as
relaes e as ligaes.
Assim, a cidade, enquanto locus comunicacional e interacional, tem as chances da ampliao de suas ideias e conhecimentos para seus moradores e
frequentadores; apenas isso j seria bastante interessante em termos de
melhoria da vida urbana atravs da comunicao.
Contudo, pode ser interessante refletir acerca de outro conjunto de
ideias que, no limite, complementa a proposta da participao comunitria nas
decises sobre o espao urbano, exatamente por contrariar, ou seja,
dialeticamente, a comunidade pode, tambm dificultar o trabalho e as relaes
na cidade, quando o peso das decises apenas o da populao.
O planejador urbano Reuben Duarte em seu blog, no post de 10/06/2014
questionava o peso decisrio de todos os envolvidos e interessados no
planejamento da cidade e, como resultado, os peritos so mais hostilizados na
hora das negociaes, e a populao local indica que aqueles que moram h
muito tempo na rea sabem mais das necessidades que os planejadores.
Sem dvida, aceita o Blogger, que planejadores erram e se equivocam,
mas as propostas leigas, geralmente, tem custo altssimo para o poder pblico
na hora da adaptao do que foi planejado e daquilo que foi acatado das
demandas comunitrias. A comunidade nem sempre considera as ocorrncias
de mdio e longos prazos, o senso comum exige aplicaes e resultados
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imediatos, no sendo assim, tem a percepo que os resultados foram
insatisfatrios.
Dessa forma, podemos pensar em, ao menos, duas reflexes
importantes para a relao entre a comunicao e a cidade. A primeira delas
diz respeito a descentralizao em escala macro, uma tendncia generalizada
que as tecnologias de comunicao e informao facilitaram bastante o trnsito
das ideias e conhecimentos e, sem dvida nenhuma, a socializao desses
conhecimentos em redes sociais. O barateamento dos custos da comunicao
e das transmisses foi um dos pilares e continua sendo da globalizao e
tambm da descentralizao que segue.
O outro ponto importante destacado a sabedoria das multides contra
a tecnicidade dos peritos. Ainda que seja positiva tal situao, tambm inclui
desvantagens tais como a impossibilidade do groupthik, ou seja, aquelas ideias fora da zona de conflito que, seguramente, dificultariam as decises, das quais,
so exemplos, os movimentos NIMBY (Not In My Back Yard, que significa no em meu quintal), uma expresso utilizada na rea do planejamento e do
urbanismo.
Por fim, se o planejador ser ou no uma figura descartvel nas
situaes futuras, isso depender de como ser a composio das foras
polticas e sociais nos espaos especficos e como essa composio particular
dialogar com processos mais totalizantes da globalizao na busca de
solues; incluise a, o que ser feito com os dados e conhecimentos
disponveis e socializados.
3.4 De volta ao Brasil
O Brasil, apesar de ter tido uma dcada de desenvolvimento econmico
positivo, ainda precisa de novas leis e/ou paradigmas para o desenvolvimento
do espao urbano para sua sociedade? Como fazer chegar a visibilidade, a
efetividade da legislao urbanstica a quem mais precisa dela? Como produzir
esta comunicao, que suporte miditico seria mais adequado? Mas a
populao no est resolvendo seu problema? preciso mais recurso
financeiro do governo? Ele est chegando a quem precisa de fato?
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Pelos protestos de junho de 2013, verificamos que os espaos pblicos
podem ser velozmente apropriados pela populao, pelo fenmeno da
comunicao em massa. Em junho de 2013, ocorreram diversas manifestaes
contguas aps o aumento anunciado de R$ 0,20 centavos na tarifa de nibus
metropolitano So Paulo pela Prefeitura Municipal de So Paulo. A partir da,
brasileiros de vrias partes do pas, e em outros pases tambm, protestaram,
solidarizando-se contra com o aspecto econmico e injusto de quem pouco
ganha para pagar e sobreviver.
Desde 2003, e a cada binio, realizam-se sistematicamente
Conferncias Municipais nas Cidades que queiram faz-las. A sociedade civil
organizada se rene e debate temas relativos s prioridades, para tentar
estabelecer polticas pblicas que possibilitem a implantao de medidas
visando melhoria da qualidade de vida das pessoas.
Nas Conferncias Municipais, de acordo com regras estabelecidas, so
eleitos por segmentos da sociedade (por exemplo os Movimentos Populares,
ONGs, Acadmicos) vrios delegados, que representaro sua cidade na
conferncia estadual das cidades, e depois por sua vez, so eleitos dentre
todas as cidades, os delegados que iro representar na conferncia nacional,
seu estado federativo. Em novembro de 2013, aps um processo de
aproximadamente seis meses, discutiram-se propostas de prioridades para o
Ministrio das Cidades com os temas de: saneamento ambiental, mobilidade
urbana e trnsito, capacitao e assistncia tcnica, financiamento da poltica
urbana, participao, controle social e conselhos temticos municipais, poltica
territorial e regularizao fundiria, habitao de interesse social e
desenvolvimento econmico.
Concluso
A Cidade Rebelde, para uma usar uma expresso do gegrafo David Harvey, que despontou pelo Brasil, em 2013, e j vinha despontando em outras
partes do mundo, coloca-se como um processo em progresso. As novas
configuraes miditicas surgidas atravs do uso macio das mdias mveis e
de aparatos tradicionais (cmeras, filmadoras) utilizados em conjunto com
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distribuio em rede, trouxe para o citadino uma fora que estava em potncia
e aflorou.
De um pas no qual as decises tinham uma nica direo de cima
para baixo a cidade mostrou que transformar o modus operandi das prticas sociais uma das prioridades para a construo de um espao urbano que
atenda melhor maior parcela da sociedade brasileira; e a comunicao tem
um papel importante para isto.
As mdias convencionais e as alternativas, assim como as academias e
seus grupos de investigao de fatos e fatores so chamados a
compreenderem o que se passa e a melhor maneira de veicular os
acontecimentos.
Contudo, ao menos com relao s academias e seus grupos de
investigao, a eles caberia antecipar e no apenas alardear posteriormente,
assim teramos a comunicao sempre como projeto, tendo o global e o local
como concretos para compreender o agora e projetar o futuro. Parodiando
Milton Santos que aceitava o futuro como tendncia, teramos a
comunicao como tendncia, tendo em vista que a leitura do presente est
feita de maneira a clarificar e no clarividenciar as aes na cidade.
Foram mostrados exemplos de como a participao da cidadania pode
ajudar a indicar tendncias para os novos prefeitos ou mesmo para trabalhar
em prol de toda a comunidade pensando como ser em 2020 e escolher,
politicamente, que no queremos repetir as mesmas lamentaes de hoje
nesse futuro to prximo.
Ainda nessa proposta do futuro, Londres quer ser a melhor cidade do
mundo para uma criana crescer. Nos prximos meses, assim que comear a
campanha eleitoral na capital inglesa, saberemos como o trabalho foi
apropriado politicamente e, em seguida, seus discursos miditicos e suas
aes efetivas no espao.
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Referncias
CAIADO, Aurlio Srgio Costa. Fim da dicotomia rural-urbano? um olhar sobre os processos scio-espaciais. Revista So Paulo em perspectiva. n. 17. p. 114-124, 2003.
CONFERNCIA NACIONAL DAS CIDADES. Disponvel em , acesso em 26/4/14.
DUARTE, Reuben. The fall of planning expertise. Disponvel em . Acesso em 13.06.2014.
LEFEBVRE, Henri. Espao e poltica. Trad. Margarida M. de Andrade e Srgio Martins. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2008.
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A pichao e outras inscries como canal popular de
comunicao urbana
Thfani Postali4 Paulo Celso da Silva5
Resumo A cidade apresenta ao observador, vrias inscries em seu trajeto pelas ruas e avenidas. Edifcios deixam marcas na paisagem, estimulam os sentidos estticos pela exuberncia, beleza, feiura de suas formas e interpretaes. Assim tambm com a pichao, uma marca urbana contempornea incorporada por cidades em quase todo o mundo. Dessa forma, este artigo tem o objetivo de apresentar o panorama das inscries urbanas e suas especificidades. Vale-se para isso de autores como Rubem Alves, Jung Mo Sung, Luiz Beltro, Ciro Marcondes, Gustavo Lassala, no percurso terico do pensamento comunicacional e, principalmente, na teoria da folkcomunicao. Palavras Chave: Pichao; Cidade; Cultura Urbana; Folkcomunicao. Resumen La ciudad presenta a los observadores, variadas inscripciones por el trayecto hecho en calles y avenidas. Rascacielos marcan el paisaje, estimulan nuestros sentidos estticos por su exuberancia, belleza o fera, de sus formas y interpretaciones. As tambin con el grafiti, marca urbana contempornea incorporada por ciudades, en casi, todo el mundo. Este artculo tiene por objetivo presentar el panorama del grafiti sus especificidades. Sern utilizados autores como Rubem Alves, Jung Mo Sung, Luiz Beltro, Ciro Marcondes, Gustavo Lassala en el camino terico del pensamiento comunicacional y, principalmente, de la Folkcomunicacin. Palabras Clave: Grafiti, Ciudad, Cultura Urbana, Folkcomunicacin. Abstract The city presents to observers, varied entries for the ride made in streets and avenues. Skyscrapers dot the landscape, stimulate our aesthetic senses for its exuberance, beauty or ugliness, its forms and interpretations. So too with graffiti, urban contemporary brand embedded by cities, almost everyone. This article aims to present the picture of graffiti and their specificities. They will be used as Rubem Alves authors, Jung Mo Sung, Luiz Beltro, Ciro Marcondes, Gustavo Lassala in the theoretical way of thinking and communication principally of Folkcomunicacin. Keywords: Graffiti, City, Urban Culture, Folkcomunicacin. 4 Mestre em Comunicao e Cultura pela Uniso. Professora da Uniso. Pesquisadora do Grupo
de Pesquisa MidCid. Email: [email protected] 5 Professor do PPG-Comunicao e Cultura da Uniso. Pesquisador do Grupo de Pesquisa
MidCid. Email: [email protected]
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Introduo
Compreender as cidades contemporneas se tornou um desafio
multidisciplinar, o que inclui estudos na comunicao e cultura, campo desta
investigao. Ao longo de suas histrias, as cidades tornaram-se centros de
elementos, formas, informaes, condies geogrficas, saturao entre outras
qualidades que fizeram e fazem cada espao possuir caractersticas prprias.
Este artigo tem como objetivo apresentar as inscries urbanas,
conhecidas popularmente como pichaes e que so especficas de cada
ambiente social. Para tanto, se respaldou em tericos como Rubem Alves,
Jung Mo Sung, Luiz Beltro, Ciro Marcondes, Gustavo Lassala, entre outros
que julgamos fundamentais para a construo deste pensamento. Como base
terica para explicar o discurso popular, utilizamos a teoria da folkcomunicao
que se trata por natureza e estrutura de um processo artesanal e horizontal,
que pode ser entendido como o conjunto de procedimentos de intercmbio de
informaes, ideias, opinies e atitudes dos pblicos marginalizados urbanos e
rurais [...] (BELTRO, 1980, p. 24).
Assim, procuramos apresentar as inscries aplicadas nos ambientes
das cidades como comunicaes especficas que retratam contedos diversos
e particulares de cada ambiente.
A cultura Urbana
em especial nos grandes centros urbanos, que podemos observar um
maior nmero de pichaes expostas, em maioria, em locais de grande fluxo
de pessoas, como as marginais, avenidas e demais vias principais. Todavia,
antes de falarmos sobre o contexto contemporneo, cabe-nos refletir sobre o
desenvolvimento das cidades industriais que tiveram um crescimento rpido e
desenfreado, resultado do processo maior como a industrializao, que
provocou o deslocamento dos moradores dos ambientes rurais para os
urbanos, em busca de melhoria nas condies de vida.
No final do sculo XIX e ao longo do XX, intensificou-se o trnsito de
pessoas em busca das facilidades que as cidades e a urbanizao oferecem e,
ainda, dentro da lgica do modelo de produo capitalista, a imposio das
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ideias de crescimento contnuo e de bem estar para todos, o que na prtica se
mostrou como acumulao e concentrao de muitos recursos, ganhos, bens
culturais para poucas pessoas, j que, desde seus incios, o modo de produo
capitalista acumulativo e no distributivo. E, como sistema socioeconmico,
est baseado na produo para um mercado consumidor, na poltica
monetria, na gesto privada da produo e tambm dos servios e na relao
com o capital financeiro (indstria-bancos para garantir e/ou ampliar
investimentos).
Sendo assim, os valores criados e desenvolvidos no sistema capitalista
favorecem uma minoria em detrimento da imensa maioria. Como apresenta
Jung Mo Sung (2010), os desejos so apresentados como necessidades
(comer, beber, morar, sade), o que provoca confuso j que o sentido de
necessidade esquecido, ficando em evidncia apenas a produo de desejos
infinitos. Com isso, o capitalismo transformou o modo de perceber o mundo, a
ideia de trabalho resumiu-se ao ganho do dinheiro que gasto nos momentos
de lazer. A publicidade, junto ao marketing e os meios de comunicao,
encarregam-se de despertar desejos nos indivduos que percebem o consumo
como necessidade.
Imagem: Mensagem na porta de uma loja de culos localizada no Lincoln Road Mall, Miami Beach, FL, jun. de 2013. "Voc no pode comprar felicidade, mas pode comprar novos culos, que quase a mesma coisa". Foto de Thfani Postali.
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A sociedade de consumo foi descrita por Victor Lebow (1955, p. 3) como
uma exigncia da maneira de viver na qual sempre se deve adquirir mais e
mais, sem o que nossa satisfao espiritual no estaria completa, um
verdadeiro ritual de consumir, queimar, gastar, substituir, descartar velozmente
tudo.
Com esses valores, os indivduos buscam reconhecimento social pelo
ter, o que os leva a imitar o desejo de consumo dos ricos consumidores dos
pases ricos". Isso pode levar a modelo que mais prejudicaria a busca por uma
sociedade com melhor distribuio dos recursos e mais humanidade (SUNG,
2010, p. 13), alm da ameaa ao meio ambiente causada pela obsesso pelo
consumo.
Reduzir o consumo cria uma contradio e questiona as (j citadas)
bases do sistema econmico capitalista. A resistncia pode ajudar na criao
de outras solidariedades, a cidad por exemplo, e ainda outras liberdades e
possibilidades auxiliadas pelas comunicaes, tais como as informaes em
tempo (quase) real, as reinvindicaes em massa, as chamadas para
concentraes, atitudes artsticas no espao urbano, entre tantas.
Essas condies tm se tornado temrio das pichaes praticadas nas
cidades. Partcipes da alienao geral na sociedade capitalista, a prtica da
pichao oferece tambm a possibilidade de uma retomada da conscincia
social a partir da descoberta do discurso ideolgico presente nas coisas e
fatos.
Para tanto, devemos esclarecer que a palavra alienante refere-se a um
sentido de processo externo ao ser humano, ou seja, uma ideia que pertence a
outrem e que transferida propositalmente a fim de que se torne natural
(ALVES, 2008).
Assim, os indivduos que percebem o processo alienante procuram
formas para se comunicar com a massa, a fim de despertar a reflexo sobre os
problemas que envolvem o ambiente formado por inmeros grupos sociais que
se distinguem em etnia, grupos de associao, prticas culturais e,
principalmente, condio econmica.
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A comunicao popular das cidades
O discurso capitalista traz em seu bojo a lgica do consumo irrefletido,
ou seja, ocorre em um processo alheio conscincia das pessoas, portanto
alienante, o que leva os indivduos a assimilar a felicidade ao consumo, no qual
seu trabalho necessrio unicamente para o consumo e, o seu lazer como
recompensa disso.
Em contato com as propostas tericas da folkcomunicao verificamos
que, mesmo nas sociedades de classes, encontramos o que Beltro traduziu
socialmente como lderes-comunicadores (1980), aqueles que recebem,
interpretam e retransmitem as informaes de interesse e que sensibilizem seu
grupo social ou comunidade para as intervenes na realidade imediata. A
ttulo de exemplo, podemos citar Silvrio de Jesus, um dos fundadores, em
2005, do Movimento Periferia Ativa, o qual lembrado pelos companheiros
como: um exemplo de liderana comunitria. Com simplicidade e conversa
fcil, ele vivia o dia-a-dia da periferia, percebia os problemas do bairro e
transformava isso em organizao. (PERIFERIA ATIVA, p. 2).
No protesto de Julho de 2014, voltado para reivindicar melhores
condies de sinal inalmbrico para as periferias, os diversos lderes-
comunicadores indicaram para as operadoras de celular uma cartografia da
qualidade do sinal nas periferias de So Paulo. A estratgia foi dividir os grupos
e entregar as cartas, nas principais sedes, e ao mesmo tempo. Um grupo foi
at a Anatel na Vila Mariana (Zona Sul), outro fez protesto na Avenida Giovanni
Gronchi, local da sede da TIM, no Morumbi (Zona Oeste); outro grupo na porta
da operadora OI na Vila Olmpia (Zona Oeste) e ainda nas sedes das
operadoras Vivo e claro, no Itaim Bibi (Zona Sul). As reivindicaes incluam:
mais antenas e investimentos principalmente nas periferias de So Paulo e
regio metropolitana, barateamento de tarifas, melhor qualidade de
atendimento para reclamaes e cancelamentos de planos (SEM-TETO
FAZEM PROTESTOS 2014).
Em se tratando do espao urbano, podemos considerar como veculos
folk canais como a msica, as inscries em muros e tapumes, ambientes
pblicos, discursos em praas e eventos, notas de dinheiro, folhetos, cartazes
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expostos em espaos pblicos e at inscries nos interiores e exteriores de
transportes (nibus e trens) que levam as mensagens para alm da cidade.
De todas essas possibilidades comunicativas, vamos nos ater nas
inscries em muros e tapumes dos centros urbanos. De acordo com Beltro,
na cidade contempornea, incisos e desenhos acompanham as geraes
como expresso do pensamento e dos desejos dos menos favorecidos [...]
(1980, p. 227). Porm, no podemos nos referir s inscries apenas como
manifestaes de grupos desfavorecidos, pois diversos grupos procuram
exteriorizar suas ideologias utilizando a pichao.
Lassala ressalta que a pichao a forma que deve ser considerada
como "produto das primeiras manifestaes de expresso visual humana, visto
que o ser humano, por meio de sua necessidade de se expressar, usou como
primeiro suporte a parede" (2010, p. 46). As pictografias de cenas de caa,
animais, utenslios entre outros, foram as primeiras imagens representativas da
comunicao humana, antecedendo os cdigos ideogrficos e a linguagem
escrita.
De acordo com Lassala, a pichao surgiu do registro de nomes nas
paredes, sendo praticada na cidade de Pompia - Itlia, h mais de 1.500
anos. J as frases de protestos, de reflexo, foram uma constante na Frana,
em meados do sculo XX, contra a opresso e a rigidez de um modelo social
que os jovens consideravam ultrapassado. Assim, podemos considerar a
pichao resistiva, fruto da rigidez que imperava no modelo fordista, industrial,
assumido e reproduzido pelas sociedades capitalistas. Munidos de tinta, os
ativistas procuravam registrar frases legveis e de fcil entendimento para a
massa urbana, j que tratavam dos problemas sociais surgidos nas cidades em
transformao, principalmente nos pases desenvolvidos, nos quais o modelo
de acumulao j caminhava para a flexibilizao.
A expresso proibido proibir, utilizada nas barricadas dos estudantes
em Paris correu o mundo. Inclusive no Brasil, no mesmo ano de 1968, foi tema
da letra de Caetano Veloso que dizia: E eu digo no ao no/ E eu digo/
proibido proibir/ proibido proibir. No ano anterior, o compositor baiano tinha
apresentado, no 3 festival da TV Record, a cano Alegria, Alegria que, em
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ritmo da que se acentuava no Brasil, mas com leveza em suas denncias,
destoava das palavras de ordem de outras canes de protesto da poca. A
Coca-Cola, a banca de Revista, o jornal O Sol, as mdias, tudo indicado e
criticado com leveza (FAVARETTO, 1996, p. 18-20). Podemos dizer que foi
algo muito parecido com uma das propostas do grafite nos EUA, o qual
trabalharam no nvel dos signos, sem objetivo, sem ideologia e sem
contedo... e ataca a mdia na sua forma, isto , no seu modo de produo
difuso (LASSALA, 2007, p. 16).
No Brasil, os maiores registros de pichao ocorreram durante a
ditadura militar, entre os anos de 1964 e 1985. Na ocasio, ativistas
procuravam protestar contra o regime e expressar opinies a favor da
democracia.
Junto com o uso da pichao como ferramenta de protesto, surge o
grafite nos Estados Unidos, por volta de 1970, quando afroestadunidenses,
jamaicanos e porto-riquenhos comearam a praticar o Hip Hop, movimento que
envolve manifestaes culturais como msica, dana, MCs, rappers, grafite,
entre outros elementos, utilizados com o intudo de diminuir a violncia
exercida pelas gangues dos guetos Nova Iorquinos. Assim, o grafite j surgiu
como ferramenta de protesto e esforo para provocar a reflexo sobre os
problemas sociais. importante esclarecer que no Brasil e alguns outros
pases, o grafite percebido como diferente de pichao, o primeiro
considerado arte, estando presente em diversos locais autorizados da cidade.
Todavia, em outros territrios, considerado pichao, portanto, ilegal.
De modo geral, as inscries so produzidas a contragosto das classes
dominantes e procuram exprimir ideias, protestos, solues, lamentos, crtica
politica local e/ou externa, frases religiosas, de amor ou repulsa a algum ou
simplesmente, o registro de alguma pessoa ou grupo. Referindo-se as
manifestaes que apresentam contedos ideolgicos, Beltro (1980, p. 227)
sustenta que essas inscries desafiam, estimulam, excitam e incitam os
transeuntes ao. Ou seja, se comunicam com a populao por meio de um
meio possvel de ser utilizado por aqueles que tm o acesso aos meios de
comunicao convencionais (rdio, televiso, revista, jornal), porm, no so
representados por eles.
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Para que haja maior esclarecimento sobre o nosso objeto de estudo,
listaremos alguns conceitos de inscries urbanas e suas finalidades. De
acordo com Lassala (2010), h pelo menos oito conceitos, que apresentaremos
a seguir.
O Stiker se refere a Adesivos colados em placas, hidrantes, postes,
viadutos, portas de lojas entre outros elementos que possibilitam a fixao.
Esse material exige que o criador tenha conhecimento de informtica e saiba
manipular softwares grficos. Sua composio faz uso de linguagens
publicitrias, tais como slogans, personagens, logotipos, o que torna o material
possuidor de bastante apelo visual. Nem sempre os Stiker conseguem se
comunicar com a maioria urbana, j que retratam smbolos e mensagens
especficas dos grupos que os criaram. Em cidades que possuem grandes
reas tursticas, como Miami Beach, o Stiker a inscrio mais utilizada nos
ambientes mais bem cuidados. Isso ocorre pelo fato de ser a prtica mais
eficaz quanto a tempo de fixao.
Imagem: Stikers fixados em placas da Collins Av. Miami Beach, FL, jul. de 2014. Foto de Thfani Postali.
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O Letreiro um elemento, geralmente, recomendado ou produzido pelo
proprietrio do local, que tem como objetivo informar sobre alguma situao. O
mais comum de se observar em vias de bastante movimento, so os recados
de proibido estacionar, sujeito a guincho. Outras frases comuns so as de
venda de produtos ou servios. Os letreiros normalmente so produzidos em
muros, portas de lojas, portes de garagem e placas artesanais, portanto,
possuem a inteno de se comunicar com a populao urbana.
O Grafite uma manifestao contempornea, oriunda do movimento
Hip Hop e que procura, muitas vezes, expressar crtica social. De acordo com
Lassala (2010, p. 31) os grafiteiros tm a expectativa de trazer populao a
desmistificao dos cones e smbolos da cultura dominante, trazendo em seu
bojo a denncia e a crtica social.
Em grande parte dos casos, essas inscries so realizadas em locais
abandonados ou deteriorados, fazendo com que a imagem da manifestao
seja mais positiva que as outras. Reconhecido hoje como arte, tambm
possvel encontrar grafite em muros particulares e pblicos que foram
autorizados, escolas, centros educacionais e culturais, galerias de arte, interior
de bares, lojas e demais propriedades particulares. Essa aceitao se deu pelo
fato de o grafite possuir maior elaborao. O grafite um elemento criado para
a comunicao, de incio a um pblico especfico, entretanto, podemos
observar que hoje pretende provocar a reflexo de todos.
A Pichao, que o termo mais usual, principalmente para tratar de
quase todos os elementos aqui apresentados, est relacionada transgresso.
De acordo com Lassala (2010), ela no define um padro esttico em relao
forma e contedo, portanto, a inscrio mais fcil de ser produzida.
Geralmente se utiliza apenas uma cor de tinta.
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Imagem: Pichao localizada na rua Sarutai, Sorocaba, So Paulo, abril de 2014. Foto de Thfani Postali.
Cabe ressaltar que os suportes em que ela realizada, tais como muros,
monumentos, espaos pblicos e privados, rvores e espaos internos como
transporte pblico, banheiros e escolas no so autorizados, o que a refora
como manifestao delinquente. Por ser de fcil produo, a forma que mais
se diversifica quanto ao contedo, sendo produzida no s por grupos
marginalizados, mas por outros que procuram expressar suas ideologias,
sejam polticas ou religiosas. Recados romnticos tambm so bastante
comuns por meio da pichao. Assim, a pichao a manifestao em que
mais podemos encontrar comunicao com a urbe.
Lassala diferencia os termos pichao de pixao. Para o autor, o
segundo um tipo especifico de pichao cuja prtica torna-se mais
caracterstica e difcil de ser realizada. Desenvolvida por grupos de So Paulo,
a pixao possui letras que so entendveis apenas pelos grupos que a
praticam ou conhecem. Uma de suas funes a disputa entre os grupos que
procuram pixar locais de difcil acesso, muitas vezes, se arriscando para a
realizao. Para o autor, a manifestao percebida como negativa, como
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poluio urbana, especialmente porque parecem rabiscos sem lgica,
produzidos em espaos no autorizados. Portanto, no possuem comunicao
macia.
O Grapixo uma fase intermediria entre pixao e o grafite, pois se
utiliza da TAG Reta que a fonte desenvolvida pelos pixadores de So Paulo e
de tintas e formas utilizadas pelo grafite. Assim, so produzidas com contornos,
sombreamentos e preenchimento com cores vivas. Esse conceito tambm se
relaciona com o grafite quanto a sua aceitao, pois por ser mais elaborado,
muitas vezes produzido em locais autorizados e em conjunto com grafiteiros.
Devido a sua relao com o grafite, pode tambm possuir interesse em se
comunicar.
Bomb outra tcnica possvel de ser vista nos ambientes urbanos.
Desenvolvida nos Estados Unidos, durante a segunda metade do sculo XX,
tambm se relaciona com as produes de grafite e pichao, entretanto, est
mais prxima da pixao, pois praticada geralmente em suportes no
autorizados. De acordo com Lassala (2010), se assemelha com o grafite, j
que possui formas arredondadas com contornos, preenchimento e traos para
simular volume, com o uso de duas ou mais cores. A tcnica bomb no possui
comunicao direta com a populao, j que seu intuito marcar territrio de
gangues ou indivduos separados.
Outra manifestao que tem ganhado visibilidade nos grandes centros
urbanos o Estncil, que uma tcnica que reproduz imagens com o apoio de
uma matriz de impresso. Com o uso de tinta spray, o suporte permite registrar
uma mesma imagem ou frase por diversas vezes. Essa prtica carrega
comunicao direta, pois possui contedos ideolgicos. Na cidade de So
Paulo, possvel observar diversas manifestaes de grupos ativistas como os
vegetarianos; j em Montevideo UY, podemos observar movimentos a favor da
unio entre pessoas do mesmo sexo, sistema educacional, entre outros.
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Imagem: Parede com Estncil localizada no centro de Montevideo, UY, mai. de 2011. Foto: Thfani Postali.
Por fim, existe a miscelnea que a mescla das prticas apresentadas.
Isso tem se tornado cada vez mais comum nos grandes centros urbanos. A
mistura realizada por diferentes interventores (de letreiros, stikers, grafite,
pichao, bomb, pixao entre outros), faz o suporte confuso e que atrapalha a
comunicao.
Percebemos, ento, que existem inmeras formas de inscries
praticadas nos grandes centros urbanos, sejam prticas que visam comunicar
com a populao em geral, ou que tm como funo comunicar
especificamente com o grupo social. Alguns exemplos que podemos tratar
como comunicao mais geral so as frases pichadas ou realizadas com uso
de estncil, que apresentam a frase bastante comum sorria, voc est sendo
manipulado se referindo ao universo televisivo.
Outras inscries que podemos observar com frequncia so as
pichaes, os grapixos e uso de estncil que fazem apelo ao amor. Um
movimento que teve bastante repercusso foi o do artista plstico paulistano
Ygor Marotta, que, em 2009, comeou a registrar tags nos orelhes pblicos de
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So Paulo, com a frase mais amor, por favor. O movimento teve repercusso
em diversas regies do Brasil, sendo posteriormente aplicado em pichaes,
cartazes, stikers e outras formas de inscrio urbana. Tambm possvel
observar registros que chamam a ateno para a preservao do meio
ambiente. Na cidade de Sorocaba, interior de So Paulo, possvel observar
na Avenida Santa Cruz, a frase em Grapixo Salve a Natureza, em um muro
de obras realizadas por uma grande construtora.
Isso leva a crer que as inscries urbanas continuam sendo eficazes
veculos de comunicao entre grupos e a massa. Logo, as mudanas sociais
propiciam novas formas de produzir contedos.
Consideraes finais
Como pudemos observar, nem todas as inscries possuem
compromisso direto com a comunicao ideolgica. Dos oito conceitos
apresentados, possvel identificar que apenas o Grafite, a Pichao, o
Grapixo e o Estncil podem ter a finalidade de comunicar diretamente com o
grosso da populao. Esses elementos culturais so compostos por frases e
imagens, ou ambos que, segundo Beltro (1980), cumprem o papel da
comunicao, pois carregam as quatro funes principais da comunicao:
informar, opinar, fornecer elementos da educao e divertir (227). Iniciamos
este artigo apresentando o discurso dominante das cidades industrializadas,
pois em muitas inscries urbanas, podemos identificar contedos que
resistem a esse discurso. Os agentes-comunicacionais ou lderes-
comunicadores como coloca Beltro (1980), so indivduos que apontam que,
nem sempre a comunicao provoca a alienao total das pessoas, j que o
receptor recebe a informao a partir de seu repertrio cultural, ou seja, de
acordo com o seu grupo ou classe social, etnia, educao e contatos que teve
ao longo de sua vida. Deste modo, a teoria da folkcomunicao aponta e
existncia de indivduos que so capazes de captar a comunicao a partir de
outras vivncias, sentindo-se responsveis por despertar as pessoas dos
discursos dominantes. Cabe ressaltar que nem sempre esses contedos so
positivos. Temos ideia de que o lder-comunicador, por ser livre para produzir o
contedo, apresenta aquilo que de seu interesse ou de seu grupo.
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Todavia, possvel perceber uma concentrao de inscries urbanas
que procuram apresentar as condies de alienao, preservao ao meio
ambiente, o apelo ao amor, situaes comuns da vida coletiva. Portanto, talvez
possamos considerar que as inscries urbanas sejam os veculos de
comunicao mais eficazes, quando grupos diversos pretendem alcanar a
urbe.
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YGOR MAROTTA. Disponvel em: . Acesso em 07 jul. 2014.
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Cidades conectadas: estudos contemporneos
Osmar Siqueira6 Wilton Garcia7
Resumo O presente texto trata das relaes entre a cultura emergente nos espaos digitais e o varejo eletrnico. A reflexo visa a estimular um pensar sobre processos de transformao na forma de consumo de bens e servios que a sociedade contempornea atravessa. Sendo assim, o texto aborda alguns pontos que caracterizam e diferenciam o consumo em lojas virtuais do consumo nos espaos fsicos das cidades, a partir dos estudos contemporneos. Palavras-chave: Varejo eletrnico. Cidade. Estudos Contemporneos. Rede social. Consumo.
Resumen Este texto se ocupa de las relaciones entre la cultura emergente en los espacios digitales y el comercio minorista. La reflexin tiene como objetivo estimular la reflexin sobre los procesos de transformacin en la forma de consumo de bienes y servicios que la sociedad contempornea est experimentando. De este modo, el texto se analizan algunos puntos que caracterizan y diferencian a consumo en el consumo de las tiendas virtuales en los espacios fsicos de las ciudades, de los estudios contemporneos. Palabras clave: Electronic Retail. City. Estudios Contemporneos. Red social. Consumo
Abstract This text deals with the relationships between the emerging culture in the digital spaces and retailing. The reflection aims to stimulate thinking on transformation processes in the form of consumption of goods and services that contemporary society is experiencing. Thus, the text discusses some points that characterize and differentiate consumption in virtual shops consumption in physical spaces of cities, from contemporary studies. Keywords: Electronic Retail. City. Contemporary Studies. Social network. Consumption. 6 Graduado em Sistemas de Informao (2005), ps-graduado em Gesto Estratgica de
Negcios (2007) e mestrado do Programa de Ps-Graduao em Comunicao e Cultura pela Universidade de Sorocaba. Pesquisador do Grupo de Pesquisa MidCid. Atua como Assessor de Relaes Nacionais e Internacionais da Universidade de Sorocaba. http://superpanoptico.wordpress.com Email: [email protected]
7 Artista visual. Professor do PPG-Comunicao e Cultura da Uniso. Pesquisador do Grupo de Pesquisa MidCid. Autor do livro Feito aos poucos_anotaes de blog (2013), entre outros. Email: [email protected]
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No es una metfora potica
decir que la inteligencia artificial que est a su servicio
soborna y sensualize a nuestros rganos pensantes
(VARGASLLOSA, 2013, p. 210)
Aps o perodo da histria no qual o homem comercializou suas
mercadorias atravs do escambo, surgiu a moeda e a mercadoria se tornou
independente da fora de trabalho, ou seja, passou a ter valor de acordo com a
lei da oferta e da procura. A partir desse momento surgiram os
estabelecimentos comerciais, popularmente conhecidos como loja.
Tais estabelecimentos podem ser encontrados em ruas ou em centros
comerciais, conhecidos no Brasil como shopping centers. Lojas de shopping centers ou localizadas prximas s ruas de maior movimento so os principais locais, nos quais produtos divulgados pelos meios de comunicao so
expostos nas vitrines, em forma de mercadorias ressemantizadas. Isto , com
significados que no so o seu original.
O conceito contemporneo de loja tambm deve contemplar a
alternativa virtual, ou seja, a loja virtual. Trata-se de uma pgina na internet, um
website, com um programa de computador composto por uma sequncia de instrues interpretadas e executadas por um processador que gerencia
pedidos (carrinho de compras). Um nmero crescente de empresas oferecem
bens e/ou servios em lojas virtuais, sendo que a transao deve ocorrer
integralmente pela internet desde a escolha da mercadoria at o pagamento.
Por isso, surgem algumas questes:
x Elementos facilitadores do processo de compra on-line e a exposio a contedos publicitrios na internet, particularmente nas redes sociais, podem potencializar o desejo de usurios-interatores pelo consumo?
x Lojas virtuais podem substituir determinados segmentos de lojas fsicas por completo?
x Quais so as possveis consequncias dessa mudana na forma de consumir, para a sociedade?
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Pode-se acessar lojas virtuais de qualquer lugar, por meio de aparelhos
eletrnicos portteis com acesso a internet; buscar uma determinada
mercadoria e finalizar uma compra digitalmente, sem que haja qualquer contato
com a mercadoria no-presente. Essa seria uma noo de cidades conectadas.
Lvy (1996, p. 21) afirma que quando uma pessoa, uma coletividade, um ato,
uma informao se virtualizam, eles se tornam no-presentes, se
desterritorializam. A conexo, aqui, realiza a aproximao virtual.
E essa desterritorializao pode ocorrer em sistemas de comrcio
eletrnico, ao viabilizar a comunicao entre cliente e negociador, via
aplicaes de conversao em tempo real, e-mail ou telefone, contexto que indica uma relao social e tecnolgica da cincia. Em alguns casos, a
informao (CASTELLS, 2000), que chega at o usurio-interator, por exemplo,
origina-se de programas que simulam o raciocnio de um profissional
especializado na rea relacionada ao comrcio em questo.
O varejo eletrnico introduz novas caractersticas a uma forma de
comrcio que teve incio h mais de dois sculos. Entre as novas
caractersticas pode-se mencionar a possibilidade do usurio-interator
visualizar a mercadoria na tela de dispositivos eletrnicos que acessam a
internet. A internet, por sua vez, deve ser vista/lida como a tecnologia que
tornou possvel introduzir tais inovaes ao segmento de conectividade.
Essas novas caractersticas do varejo eletrnico tornaram a funo
vendedor desnecessria. No varejo eletrnico, o prprio consumidor faz o
pedido da mercadoria, que entregue, diretamente, na sua residncia. Como
observa Lvy (1996, p. 62) esse novo meio coloca em risco classes de
profissionais. Comerciantes podem passar a ser vistos como intermedirios
parasitas da informao ou da transao, passando a ter seus papis habituais
ameaados. A funo dos correios e as transportadoras, assim, continua sendo
de suma importncia para ambos os meios de comrcio. Tanto a venda direta
quanto o varejo eletrnico tm os correios e transportadoras como meios para
o transporte de mercadorias. A funo dos correios e transportadoras continua
sendo de suma importncia para ambos os meios de comrcio.
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O comrcio e a distribuio fazem viajar signos e coisas. Os meios de comunicao eletrnicos e digitais no substituram o transporte fsico, muito pelo contrrio: comunicao e transporte, como j sublinhamos, fazem parte da mesma onda de virtualizao geral (LVY, 1996, p. 51).
A partir das leituras de estudos contemporneos (BAUMAN, 2013, 2008; CANCLINI, 2008; EACLETON, 2012; VARGAS-LLOSA, 2013), a forma de
comunicao de lojas virtuais apresenta caractersticas distintas das vendas
diretas e de lojas fsicas. Mercadorias do comrcio eletrnico no so dispostas
em prateiras de corredores por onde consumidores possam caminhar, observar
e, se necessrio, testar antes de comprar, como acontece em uma loja fsica.
De maneira similar s vendas diretas, mercadorias de lojas virtuais so
dispostas na tela de maneira intuitiva, por meio de um ndice digital. Em menus
de lojas virtuais, porm, cada item pode levar a subitens, o que pode acelerar a
busca por mercadorias. Tambm possvel buscar um produto no computador,
de maneira similar solicitao de auxlio de um vendedor em loja fsica, ao
encontrar dificuldade para localizar determinado item.
Em lojas virtuais, ao localizar a mercadoria, algumas lojas apresentam
descrio detalhada e podem usar recursos de texto, imagem e vdeo. Em
alguns casos a descrio do produto minuciosa, imagens apresentam riqueza
de detalhes e vdeos acrescentam outras caractersticas. A informao
fornecida por lojas virtuais deve suprir a inexistncia de vendedores. Mesmo
nos casos de empresas que descrevem as caractersticas de suas mercadorias
de maneira clara, importante que seja oferecido um mecanismo eficiente de
comunicao, como por exemplo, contato via chat e/ou telefone.
Apesar do crescente nmero de lojas virtuais e adeptos ao comrcio
eletrnico, a cultura contempornea do consumo excessivo, ainda, tem seu
maior pblico no comrcio fsico. A questo comunicacional uma barreira na
conquista de novos adeptos. Algumas lojas com menos recursos tecnolgico
e humano no interagem com o seu pblico de maneira satisfatria, fato que
pode ser agravado em casos que a mercadoria, por exemplo, no entregue
no prazo determinado ou apresenta algum defeito. Lojas virtuais que recebem
reclamaes recorrentes e contnuas entram na lista de lojas no
recomendadas pela Fundao de Proteo e Defesa do Consumidor.
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O segmento de comrcio eletrnico tambm apresenta deficincias na
sua regulamentao, mas tem mostrado melhoras na proteo ao consumidor.
Algumas caractersticas intrnsecas ao segmento passaram a ser lei no Estado
de So Paulo no ano de 2009. E, no Brasil, por meio do Cdigo Brasileiro de
Defesa do Consumidor no ano de 2013, De acordo com a Lei N 8.078, de 11
de setembro de 1990.
Com objetivos diferentes, muitas empresas esto migrando parte de
seus esforos para as lojas virtuais, seja para iniciar um negcio, continuar no
mercado, manter ou ampliar os lucros. Notadamente, cresce o nmero de
empreendedores do varejo eletrnico. De acordo com Keen (2012, p. 39):
A empresa de comrcio eletrnico social Groupon, cuja base de 35 milhes de assinantes e cujo faturamento anual em torno de US$2 bilhes, so responsveis pelo fato de a empresa ser aquela com crescimento mais rpido na historia dos Estados Unidos da Amrica.
Algumas das vantagens de vender pela internet so os baixos custos de
entrada, de manuteno, necessidade de um nmero menor de colaboradores
para atingir o mesmo pblico de uma loja fsica, entre outras.
Da mesma forma que existem lojas fsicas de diferentes tamanhos, no
comrcio eletrnico o mesmo tambm verdade. possvel abrir uma loja
virtual sem gastar nada, usando plataformas de comrcio eletrnico de cdigo
aberto8, ou optar pelo desenvolvimento de lojas virtuais atravs de empresas
especializadas. Lojas virtuais tm custo inferior s lojas fsicas com
manuteno, pois no h aluguel, manuteno do prdio, no h custo com
vendedores, pessoal de limpeza. O custo com consumo de gua, energia,
telefone, tambm, inferior.
Esses dados mostram que apesar do faturamento do comrcio
eletrnico ser inferior ao faturamento do comrcio fsico, o percentual de
crescimento das vendas em lojas virtuais bastante superior. O crescimento
do faturamento do comrcio eletrnico tem aumentado medida que a
comunicao via internet chega a um nmero crescente de indivduos.
8 A expresso cdigo aberto, ou open source em ingls, foi criada pela OSI (Open Source
Initiative) e refere-se a software tambm conhecido por software livre.
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Alm do acesso internet, dispositivos mveis como smartphones e tablets digitais9, que podem ter preos menores que notenooks, tornam-se mais acessveis s classes mais baixas. Com o acesso rede de internet e um
smartphone, possvel acessar lojas virtuais e consumir.
O crescimento do comrcio eletrnico implica em consequncias
socioeconmico-culturais que no so evidentes. Apesar da aparente euforia
relacionada ao crescimento do faturamento do comrcio eletrnico no Brasil, as
consequncias para a sociedade podem significar uma contribuio para o
aumento da desigualdade social. Por trs do otimismo comunitarista dos
utilitaristas digitais est uma verdade vertiginosa e socialmente fragmentada do
sculo XX. uma verdade ps-industrial, a comunidade cada vez mais fraca e
o exagerado individualismo de supernodes e superconectores (KEEN, 2012, p. 129).
A possibilidade de interao propiciada pela internet permite que o
comrcio seja mediado eletronicamente, e as redes sociais so meios
importantes de comunicao com pblicos em potencial. O nmero de
usurios-interatores que fazem parte e continuam aderindo aos websites de redes sociais grande, e o tempo de permanncia on-line tambm tem aumentado. Como quem divulga, o faz para um determinado pblico, redes
sociais on-line tornaram-se interessantes para empresrios, pois dados de usurios-interatores transformam-se em informao valiosa para o mercado
publicitrio.
O problema que nossa cultura on-line onipresente do grtis significa que toda empresa de mdia social do Facebook ao Twitter, passando por servios de geolocalizao como Foursquare, Hitlist e Plancast dependem exclusivamente de publicidade para faturar (KEEN, 2012, p. 88).
A prtica de investigar informaes pessoais atravs de programas, sem
autorizao do usurio-interator, conhecida como spyware, se assemelha aos adwares na sua forma de infeco e desinstalao e, frequentemente, recebe crticas relacionadas invaso de privacidade.
9 Tablet digital um dispositivo pessoal em formato de prancheta que pode ser usado para
acesso internet, organizao pessoal, visualizao de fotos, vdeos, leitura de livros, jornais e revistas e para entretenimento com jogos. Apresenta uma tela sensvel ao toque.
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Em uma traduo literal, spyware significa aplicativo ou programa espio. So tantas as inseguranas da Rede que j se est pedindo a criao
do defensor do internauta (CANCLINI, 2005, p. 29).
Enquanto isso, os novos meios geram desafios para os quais a maioria dos cidados no foi treinada: como usar o software livre ou proteger a privacidade no mundo digital, o que fazer para que as brechas no acesso no agravem as desigualdades histricas entre naes ou etnias, campo e cidade, nveis econmicos e educacionais? (CANCLINI, 2008, p. 30)
O advento da internet mudou muitos aspectos da sociedade global,
como a comunicao, que tem implicaes nos relacionamentos humanos, na
questo da privacidade e no consumo. No caso do consumo, as mudanas
causadas pela internet como os negcios so conduzidos tm um impacto
direto na forma como consumidores adquirem seus bens e servios. A era do
acesso virtual alterou e continua alterando a comunicao e interferindo nas
culturas, de maneiras positivas e negativas.
A tecnologia aproximou a distncia entre oferta e demanda, pois
consumidores podem encontrar produtos dentro da regio onde vivem ou em
locais muito distantes. Conceito similar ao sistema de venda direta ou venda
por catlogo, que tem os correios e distribuidoras como imprescindveis no
processo. Entre as principais diferenas de ambos os segmentos de comrcio,
est o fato de o vendedor ser desnecessrio no comrcio eletrnico.
Com muita rapidez, a internet deixou de ser apenas uma opo entre
muitas, para se tornar o endereo default de um nmero crescente de homens e mulheres de todas as idades. Bauman (2008) observa que o nmero de
pessoas com acesso internet se espalha velocidade de uma infeco
virulenta ao extremo. Essa infeco causada por bits e bytes deve continuar colonizando a rede com pginas de diversos segmentos de lojas virtuais,
inflamando ainda mais a deciso de usurios-interatores, pela escolha entre
comprar em lojas virtuais ou fsicas.
Em determinados segmentos do comrcio, ainda que o mundo virtual
coloque os consumidores em contato com uma gama infindvel de lojas
virtuais, a presena de uma loja fsica continua sendo vista como porto seguro.
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Para determinados usurios-interatores lojas virtuais que tambm
possuem lojas fsicas so como amortecedor, caso a venda pela internet no
ocorra conforme o esperado. E a importncia das lojas fsicas ainda depende
do que est sendo comercializado, mas esse cenrio deve continuar mudando
medida que emergirem novas tecnologias, como, por exemplo, a utilizao da
realidade aumentada. A tecnologia possibilita que o indivduo vivencie uma
experincia de imerso, tendo sensaes reais de pertencer ou interagir com
elementos que s h virtualmente, e ser usada para vendas em lojas virtuais.
O novo ambiente econmico do varejo eletrnico, da publicidade on-line, da sociedade em rede digital muito mais favorvel aos fornecedores de espaos, aos arquitetos de comunidades virtuais, aos vendedores de
instrumentos de transao e de navegao, que aos clssicos difusores de
contedos.
difcil ponderar acerca das consequncias positivas e negativas desta
realidade, em que a vida social mediada eletronicamente e o consumo por
intermdio de lojas virtuais aumenta a cada dia. Algumas possveis
consequncias positivas dessa mudana na forma de consumir so a reduo
do custo de bens e servios e o aumento no nmero de empreendedores, caso
seja possvel competir com grandes empresas do ramo.
A consequncia negativa pode ser a diminuio do nmero de vagas de
trabalho, pois de acordo com pesquisa do Instituto de Pesquisa Econmica
Aplicada, das quase 5 mil empresas comerciais que vendem pela internet,
cerca de mil tem menos de 20 empregados. O nmero de colaboradores
necessrios para manter uma loja virtual parece ser inferior ao nmero de
funcionrios necessrios para manter uma loja fsica.
Apesar disso, o movimento observado entre os empresrios,
consumidores e usurios-interatores parece ser de migrao para o virtual,
tendncia que no deve ser revertida no futuro, uma vez que os gastos de
investimento e manuteno do varejo eletrnico so, sensivelmente, menores.
Nos anos vindouros devem surgir, de maneira exponencial, comrcios apenas
virtuais altamente especializados.
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Conforme exemplifica Bauman (2008), na Coreia do Sul grande poro
da vida social j , como parte da rotina, mediada eletronicamente; ou melhor,
a vida social dos sul-coreanos j se transformou em vida eletrnica ou no que Bauman (2008) chama de cibervida, e a maior parte dela se passa na
companhia de um computador, um iPad ou um celular. Na Coreia do Sul, levar uma vida social eletronicamente mediada no mais uma opo, mas uma
necessidade do tipo pegar ou largar.
Conforme relata Lvy (1996), o mercado on-line no conhece distncias geogrficas. Computadores com acesso internet esto, em princpio,
igualmente prximos uns dos outros para o comprador potencial, alm desse
tipo de mercado ser mais transparente que o mercado clssico. Ainda segundo
Lvy, essa transparncia deveria beneficiar os consumidores, os pequenos
produtores e acelerar a desterritorializao ou virtualizao da economia. Alm
desta desterritorializao, o crescimento acelerado do segmento pode causar a
desmaterializao do mercado clssico.
Assim, a sociedade contempornea incorporou o consumo exagerado e
a exposio da vida pessoal como parte da cultura. Usurios-interatores agora
esto em exposio permanente, somos apenas imagens de ns mesmos
neste mundo novo transparente. Como paradoxo, a irrealidade absoluta seria
uma possvel presena real e, como seres humanos, mesmo se assim
desejarmos no temos mais direito privacidade e solido. A progresso
para uma sociedade mais pblica parece inevitvel.
Nessa mesma linha da exposio permanente tambm est a
publicidade on-line. Afinal, quanto maior o tempo gasto na internet, maior o contato com a publicidade e, provavelmente, maior ser o desejo pela
aquisio de mercadorias e servios. Se a sociedade consume mais tendo o
melhor preo e a facilidade de comprar sem sair de casa, a problemtica sobre
o meio ambiente torna-se maior, especialmente para as prximas geraes. As
tecnologias digitais emergentes tm um papel fundamental para o sistema
econmico globalizado, pois delas depende a parcela economicamente ativa
da populao.
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Para uma parcela da sociedade contempornea, muitas atividades so
organizadas em rede, ao invs de em estruturas verticais. O que faz a
diferena so as tecnologias de rede. Existem diversos tipos de rede, mas a
conexo entre todas elas sejam os mercados financeiros, a poltica, a cultura,
a mdia, as comunicaes, etc. , nova por causa das tecnologias digitais
emergentes.
No modelo contemporneo de rede digital, muitas indstrias distriburam
a produo e o investimento por todo o planeta, em busca dos lucros mais
imediatos. Uma parte da produo industrial passou a contar com a mo de
obra de regies com baixos salrios, talvez os mais baixos do mundo. As
tecnologias digitais emergentes tambm podem passar a ser usadas para
comercializar mercadorias dos locais onde so produzidas para qualquer lugar
do mundo. A eventual substituio do comrcio fsico pelo varejo eletrnico
tambm pode contribuir, assim como ocorre com a produo industrial
automatizada, que usada mo de obra barata, com o aumento do desemprego.
Responder s perguntas listadas na problematizao deste estudo no
cabe nas suas pretenses limitadas, pois tratam de temas complexos da
contemporaneidade. O fato que a internet est mudando a maneira como um
nmero crescente de pessoas se comunicam e consomem (LEMOS, 2004).
So muitos os fatores que levam a essas mudanas, tais como a ampliao do
nmero de pessoas com acesso rede, o incremento no nmero de lojas
virtuais, o aumento do tempo que pessoas passam conectadas internet.
Preos competitivos, comodidade e confiabilidade esto tambm diretamente
ligados ao aumento no nmero de usurios-interatores que consomem no
varejo eletrnico.
Mas pode ser, tambm, que esse fenmeno da comunicao, via
internet, seja usado para transformar o mundo em um lugar melhor, para um
nmero crescente de pessoas, pois uma ferramenta de comunicao de
grande potencial, que pode ser usada pelo povo e para o povo. As cidades
conectadas legitimam esse tipo de ao, que transversaliza o cotidiano
tecnolgico. Cada vez mais, assistimos variedade de aes possveis e
inimaginveis sobre esse tipo de debate, em que a cidade, a tecnologia e o
consumo entrelaam os caminhos.
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Consideraes finais
Em sntese, realizamos um ensaio reflexivo sobre comunicao, cultura
e consumo da sociedade contempornea. De um tempo para c, no
saberamos precisar o incio, ao acessar os websites mais comentados do momento, comunicar com amigos, conhecidos e/ou desconhecidos da internet,
assim como comprar uma quantidade crescente de mercadorias em lojas
virtuais nacionais e estrangeiras. As cidades conectadas potencializam esse
viver tecnolgico experimentado pelas facilidades do mundo virtual.
Essas so questes instigantes a respeito do que pode vir a ser
sociedade do futuro. Sabendo-se que, o futuro no algo determinado, e sim
uma pgina em branco na qual a sociedade escreve a histria com decises e
omisses que em algum momento sejam elas boas ou ruins impactam a
parcela da populao, que faz parte do sistema contemporneo.
Referncia
BAUMAN, Zygmunt. Danos colaterais. Rio de Janeiro: Zahar, 2013. ______. Vida para consumo: a transformao das pessoas em mercadoria. Rio de Janeiro: Zahar. 2008.
CANCLINI, Nstor Garca. Leitores, espectadores e internautas. So Paulo: Iluminuras, 2008.
CASTELLS, M. A sociedade em rede: a era da informao: economia, sociedade e cultura. So Paulo: Paz e Terra, 2000.
EACLETON, Terry. Marx estava certo. Bonsucesso-SP: Nova Fronteira, 2012. KEEN, Andrew. Vertigem digital: por que as redes sociais esto nos dividindo, diminuindo e desorientando. Rio de Janeiro: Zahar, 2012.
LEMOS, A. Cibercultura: tecnologia e vida social na cultura contempornea. 2. ed. Porto Alegre: Sulina, 2004.
LVY, Pierre. Cibercultura. So Paulo: Editora 34. 1999. ______. O que o virtual? So Paulo: Editora 34, 1996. SPYER, Juliano. Para entender a internet: noes, prticas e desafios da comunicao em rede. No zero, 2009. Disponvel em: . Acesso em: 20 jun. 2013.
VARGAS-LLOSA, Mario. A civilizao do espetculo. Rio de Janeiro: Objetiva, 2013.
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Cidade digital: imagens de Sorocaba
no aplicativo Instagram Daniela Ferreira Lima de Paula10
Fabio Ramos Melo11 Mauro Maia Laruccia12
Resumo Este trabalho prope um olhar crtico acerca de comunicao e imagem a partir do aplicativo Instagram ao se debruar sobre as imagens compartilhadas com a hashtag Sorocaba. Reflete-se sobre as paisagens digitais criadas pelo usurio-interator inserido na sociedade hipermiditica. As reflexes apontadas neste trabalho no buscam encerrar o tema, mas apontar desfechos intrigantes ao relacionar imagem, cidade, cultura digital e participao. Palavras-chave: Comunicao. Cultura Digital. Instagram. Sorocaba. Resumen Este trabajo propone una mirada crtica sobre la comunicacin y la imagen desde la aplicacin Instagram para estudiar las imgenes compartidas con el hashtag Sorocaba. Se refleja en los paisajes digitales creados por el usuario-interactor insertada en la sociedad hipermedia. Las consideraciones expuestas en el presente documento no busca contener el tema, pero apuntando resultados interesantes relacionados con la imagen, la ciudad, la cultura y la participacin digital. Palabras clave: Comunicacin. La cultura digital. Instagram. Sorocaba Abstract This paper proposes a critical look about communication and image from the Instagram app to look into the shared images with the hashtag Sorocaba. It reflects about digital landscapes created by the user-interactor inserted in hypermediatic society. The considerations outlined in this paper do not seek to enclose the subject, but pointing intricate outcomes relate to the picture, city, digital culture and participation. Keywords: Communication. Digital culture. Instagram. Sorocaba.
10 Mestranda em Comunicao e Cultura pela Universidade de Sorocaba Uniso. Graduada
em Administrao de Empresas pela ESAMC. Fotgrafa. E-mail: daniellasilva2112@gmail. 11 Mestrando em Comunicao e Cultura pela Universidade de Sorocaba Uniso. Ps
Graduado em comunicao com o mercado pela ESPM. Graduado em Propaganda e Marketing pela Esamc. E-mail: [email protected]
12 Doutor em Comunicao e Semitica pela Pontifcia Universidade Catlica de So Paulo, Professor do Programa de Ps-Graduao em Comunicao e Cultura da Universidade de Sorocaba. E-mail: [email protected]
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Introduo
Este texto nasce dos encontros e reflexes realizados no grupo de
pesquisa Mdia, Cidade e Prticas Socioculturais (MidCid) do programa de
mestrado em Comunicao e Cultura da Uniso. A inteno articular as
discusses provenientes do grupo s pesquisas desenvolvidas pelos autores.
Para tanto, optamos por lanar um olhar sobre as imagens produzidas e
compartilhadas na mdia social a partir do aplicativo Instagram, e vinculadas a
hashtag (#) Sorocaba. Tambm, verificar quais contedos imagticos so
veiculados pelos usurios-interatores da cidade.
As tecnologias integradas aos espaos de nosso dia-a-dia proporcionam
uma visualidade na vida das cidades, expressada tanto pelos registros
imagticos como pelos rastros geolocalizados na rede. A ideia seria justapor
essas imagens, ao aproximarmos fenmenos culturais nas marcaes
localizadoras de presena nos ambientes online. Assim, criar e registrar experincias nos espaos urbanos. A fotografia, neste espao, pode ser
entendida como consumo de informao sem experincia (SONTAG, 2004),
alm de emergir traos visuais dos espaos cotidianos de representao da
subjetividade e da experincia nas cidades.
Os dispositivos em rede de localizao espacial, como o Instagram,
alm de indicarem o onde estou ou o que fao aqui, representam, ainda que
de natureza diversa, a promoo de lugares e experincias conectada com o
atual do fluxo de dados e inf