e matérias gordas, especialmente de óleos e matérias · ... e 22.°, n.° 1.°, do código da...

7
Cópias do acórdão da Relação de Lisboa e da sentença do 8.° juízo cível da comarca de Lisboa proferidos no processo de patente de invenção n.° 38 190. Acórdão do Tribunal da Relação de Lisboa. Acordam, em conferência, na Relação de Lisboa: Extraction Continue de Smet, cuja denominação actual, por alteração da firma, é Extraction de Smet, interpôs para o 8.° juízo cível de Lisboa recurso do despacho do Ex.mo Director-Geral do Comércio, de 9 de Outubro de 1961, que concedera a patente de inven- ção n.° 38 190 a Ernesto Bernardini e Mário Bernardini, com os seguintes fundamentos: A patente n.° 38 190, concedida pelo despacho recor- rido, respeita a processo de neutralização dos óleos vegetais e animais de forte acidez, que é caracterizado por três reivindicações, constantes do requerimento de pedido de depósito, e foi requerida em 21 de Março de 1961, com prioridade reportada a 26 de Março e 26 de Julho de 1960, data do primeiro depósito em Itália ; Mas que é titular da patente n.° 30 144, que lhe foi concedida, em 27 de Outubro de 1953, com prioridade reportada a 31 de Dezembro de 1951, para o processo de refinação dos óleos e das matérias gordas e instala- ção para execução do mesmo processo, e que se propõe o mesmo objectivo. Efectivamente, neutralização e refinação de óleos são uma e a mesma coisa, visto que a refinação consiste precisamente em neutralizar a acidez do óleo, em ordem a reduzi-la ou eliminá-la. Ora, o processo de refinação ou neutralização de óleos, ou substâncias gordas, e de instalação para essa neutralização a que faz referência a patente n.° 38 190 carece completamente de novidade, por já se achar incluído na patente n.° 30 144, que é anterior. Por isso, não pode obter protecção, pois lha recusam os artigos 5.0, n.° 7.°, e 22.°, n.° 1.°, do Código da Pro- priedade Industrial. Na verdade, refere-se o começo da reivindicação 1 da patente n.° 38 190 a: «Processo de neutralização dos óleos vegetais de forte acidez pelo emprego de um hidrato de sódio em meio dissolvente, caracterizado pelo facto de comportar...» e a reivindicação 17 da patente n.° 30 144 a: «Processo de refinação dos óleos e matérias gordas, especialmente de óleos e matérias gordas vegetais, por meio de tratamento em meiodis- solvente como descrito atrás». Ora, diz-se na memória descritiva que precede as reivindicações desta última patente que este processo permite tratar matérias gordas de acidez que pode chegar até 80 por cento e que o neutralizanteutilizado em meio dissolvente é a soda cáustica, ou seja, um hidróxido ou hidrato de sódio. Daí que o início da reivindicação 1 da patente n.° 38 190 não constitua mais do que uma reprodução da reivindicação 17 da patente n.° 30 144. Indica depois a reivindicação 1 da patente n.°38190 os ingredientes utilizados no processo de neutralizarão, que vêm a ser todos misturados entre si e que são: o hidrato ou hidróxido de sódio, o etanol e a água. Da alínea c) da reivindicação 2 vê-se que o dissol- vente do óleo a neutralizar é o hexano, mas do segundo parágrafo da memória descritiva da patente n.°30144 já constava que no misturador é a miscela brutapor soda cáustica, ou seja, por hidrato ou hidróxido de sódio, a que se junta um «terceiro dissolvente» eágua. E a miscela bruta é constituída pelo óleo a neutra- lizar e pelo respectivo dissolvente, que no quarto pará- grafo da memória descritiva se diz ser precisamente o hexano, assim como na reivindicação 2 da mencio- nada patente n.° 30 144 se diz que o terceitodissolvente é um composto químico tendo, pelo menos, um grupo polar e uma cadeia alifática de 1 a 5 átomos de carbono, fórmula que abrange um álcool primário, como oeta- nol, álcool etílico ou álcool comum, ou ainda um álcool isopropílico. Deste modo, constata-se que todos os ingredientes referidos na patente n.° 38 190 já se achavam expres- samente mencionados, para o mesmo efeito, na patente n.° 30 144, e nem sequer as proporções indicadas nas reivindicações daquela petente contêm novidadealguma. C o m efeito, embora ali se diga que o hidrato ou hidróxido de sódio (soda cáustica) é diluído numa solução de 60 por cento de etanol (álcool) e 40 porcento de água, logo se acrescenta que estas percentagens podem variar em função das características própriasdo óleo a tratar. Ora, no primeiro parágrafo da memória descritivada patente n.° 30 144 só se salientava que depende da acidez da miscela a quantidade de soda cáustica a adicionar e que a concentração desta pode variardentro de largos limités. E, no que respeita à concentração do óleo no res- pectivo dissolvente, aponta-se na reivindicação 1da patente n.° 38 190 que varia de 1 para 3 e de 1para5, ou seja, em percentagem de 33,333 a 20, enquanton° terceiro parágrafo da memória descritiva da patente n.° 30 144 se falava já em concentração de óleo ou matéria gorda da ordem de 40 e 20 por cento, percen- tagens em que situam aquelas outras. E m seguida à operação de neutralização alude a reivindicação 1 da patente n.° 38 190 a estas outras: «A decantação e a separação por simples densidadedas duas bases formadas e não nocivas, nas quais a fase superior é constituída por óleo neutro dissolvido no dissolvente e a fase inferior por sabão dissolvido na mistura água-etanol». Mas esta operação não poderá deixar de se conside- rar senão uma versão da que já referia a reivindicaçãol e correspondentes precisões contidas na memória des- critiva da patente n.° 30 144. Efectivamente, diz-se nos dois últimos parágrafosda memória descritiva da patente n.° 30 144 que a miscela

Upload: doanngoc

Post on 12-Nov-2018

214 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Cópias do acórdão da Relação de Lisboa e da sentença do 8.° juízo cível da comarca de Lisboa proferidos no processo de patente de invenção n.° 38 190.

Acórdão do Tribunal da Relação de Lisboa. Acordam, em conferência, na Relação de Lisboa: Extraction Continue de Smet, cuja denominação

actual, por alteração da firma, é Extraction de Smet, interpôs para o 8.° juízo cível de Lisboa recurso do despacho do Ex.mo Director-Geral do Comércio, de 9 de Outubro de 1961, que concedera a patente de inven- ção n.° 38 190 a Ernesto Bernardini e Mário Bernardini, com os seguintes fundamentos: A patente n.° 38 190, concedida pelo despacho recor- rido, respeita a processo de neutralização dos óleos vegetais e animais de forte acidez, que é caracterizado por três reivindicações, constantes do requerimento de pedido de depósito, e foi requerida em 21 de Março de 1961, com prioridade reportada a 26 de Março e 26 de Julho de 1960, data do primeiro depósito em Itália ; Mas que é titular da patente n.° 30 144, que lhe foi

concedida, em 27 de Outubro de 1953, com prioridade reportada a 31 de Dezembro de 1951, para o processo de refinação dos óleos e das matérias gordas e instala- ção para execução do mesmo processo, e que se propõe o mesmo objectivo. Efectivamente, neutralização e refinação de óleos são

uma e a mesma coisa, visto que a refinação consiste precisamente em neutralizar a acidez do óleo, em ordem a reduzi-la ou eliminá-la. Ora, o processo de refinação ou neutralização de

óleos, ou substâncias gordas, e de instalação para essa neutralização a que faz referência a patente n.° 38 190 carece completamente de novidade, por já se achar incluído na patente n.° 30 144, que é anterior. Por isso, não pode obter protecção, pois lha recusam

os artigos 5.0, n.° 7.°, e 22.°, n.° 1.°, do Código da Pro- priedade Industrial. Na verdade, refere-se o começo da reivindicação 1

da patente n.° 38 190 a : «Processo de neutralização dos óleos vegetais de forte acidez pelo emprego de um hidrato de sódio em meio dissolvente, caracterizado pelo facto de comportar...» e a reivindicação 17 da patente n.° 30 144 a : «Processo de refinação dos óleos

e matérias gordas, especialmente de óleos e matérias gordas vegetais, por meio de tratamento em meio dis- solvente como descrito atrás». Ora, diz-se na memória descritiva que precede as

reivindicações desta última patente que este processo permite tratar matérias gordas de acidez que pode chegar até 80 por cento e que o neutralizante utilizado em meio dissolvente é a soda cáustica, ou seja, um hidróxido ou hidrato de sódio. Daí que o início da reivindicação 1 da patente

n.° 38 190 não constitua mais do que uma reprodução da reivindicação 17 da patente n.° 30 144. Indica depois a reivindicação 1 da patente n.° 38 190

os ingredientes utilizados no processo de neutralizarão, que vêm a ser todos misturados entre si e que são: o hidrato ou hidróxido de sódio, o etanol e a água. Da alínea c) da reivindicação 2 vê-se que o dissol-

vente do óleo a neutralizar é o hexano, mas do segundo parágrafo da memória descritiva da patente n.° 30144 já constava que no misturador é a miscela bruta por soda cáustica, ou seja, por hidrato ou hidróxido de sódio, a que se junta um «terceiro dissolvente» e água. E a miscela bruta é constituída pelo óleo a neutra-

lizar e pelo respectivo dissolvente, que no quarto pará- grafo da memória descritiva se diz ser precisamente o hexano, assim como na reivindicação 2 da mencio- nada patente n.° 30 144 se diz que o terceito dissolvente é um composto químico tendo, pelo menos, um grupo polar e uma cadeia alifática de 1 a 5 átomos de carbono, fórmula que abrange um álcool primário, como o eta- nol, álcool etílico ou álcool comum, ou ainda um álcool isopropílico. Deste modo, constata-se que todos os ingredientes

referidos na patente n.° 38 190 já se achavam expres- samente mencionados, para o mesmo efeito, na patente n.° 30 144, e nem sequer as proporções indicadas nas reivindicações daquela petente contêm novidade alguma. C o m efeito, embora ali se diga que o hidrato ou

hidróxido de sódio (soda cáustica) é diluído numa solução de 60 por cento de etanol (álcool) e 40 por cento de água, logo se acrescenta que estas percentagens podem variar em função das características próprias do óleo a tratar. Ora, no primeiro parágrafo da memória descritiva da

patente n.° 30 144 só se salientava que depende da acidez da miscela a quantidade de soda cáustica a adicionar e que a concentração desta pode variar dentro de largos limités. E, no que respeita à concentração do óleo no res-

pectivo dissolvente, aponta-se na reivindicação 1 da patente n.° 38 190 que varia de 1 para 3 e de 1 para 5, ou seja, em percentagem de 33,333 a 20, enquanto n° terceiro parágrafo da memória descritiva da patente n.° 30 144 se falava já em concentração de óleo ou matéria gorda da ordem de 40 e 20 por cento, percen- tagens em que situam aquelas outras. E m seguida à operação de neutralização alude a

reivindicação 1 da patente n.° 38 190 a estas outras: «A decantação e a separação por simples densidade das duas bases formadas e não nocivas, nas quais a fase superior é constituída por óleo neutro dissolvido no dissolvente e a fase inferior por sabão dissolvido na mistura água-etanol». Mas esta operação não poderá deixar de se conside-

rar senão uma versão da que já referia a reivindicação l e correspondentes precisões contidas na memória des- critiva da patente n.° 30 144. Efectivamente, diz-se nos dois últimos parágrafos da

memória descritiva da patente n.° 30 144 que a miscela

bruta misturada com soda cáustica em presença do terceiro dissolvente (o que corresponde ao óleo num dissolvente como o hexano, ao hidrato ou hidróxido de sódio, que é a soda cáustica, e a água e álcool) é levada pelo tubo a decantar pela decantador. A fase superior contém essencialmente a miscela neutralizada e a fase inferior principalmente o sabão dissolvido no terceiro dissolvente (que, como se viu, é um álcool a que se adicionou água). A fase superior no decantador é cons- tituída essencialmente por óleo neutro e hexano. Por fim, refere-se a reivindicação 1 da patente n.° 38 190 a recuperação do óleo e do dissolvente por destilação da fase óleo-fraco dissolvente e das oleínas, assim como do etanol ou álcool para tratamento a quente da fase saponária. Tendo-se em atenção que a fase óleo-dissol- vente (sendo este hexano) e oleínas é a fase superior proveniente da decantação e que o etanol ou álcool se situam na fase inferior, verifica-se que, por virtude de destilação da fase superior, se liberta por evaporação o dissolvente hexano e que o tratamento a quente da fase superior liberta igualmente por evaporação o álcool ou etanol, o que equivale a dizer que tanto na fase superior como na inferior resultantes da decantação são subme- tidas a evaporação. Ora, já no final das reivindicações 4 e 5 da patente n.° 30 144 se apontava que as fases supe- rior e inferior resultantes da decantação são submetidas a evaporação. E a memória descritiva desta última pa- tente igualmente já indicava a destilação da fase supe- rior para recuperação do óleo e oleínas e do dissolvente hexano, bem como o tratamento a quente da fase infe- rior para recuperação do álcool. Se analisarmos agora a reivindicação da segunda patente n.° 38 190, verifi- caremos que ela carece inteiramente de novidade, por se reportar à reivindicação 1, de que é um novo desen- volvimento. Sucede até que ela apenas apresenta que o dissolvente do óleo na matéria posta a neutralizar é o hexano que se ajusta à mistura dos ingredientes utilizados, e que se mantém o conjunto a uma tem- peratura que varia entre 15°C e 40°C, de forma a evitar reacções secundárias de esterificação. Mas isto também já se encontrava referido na memória descritiva da patente n.° 30 144, pois ali se diz que o dissolvente de óleo ou matéria gorda é o hexano e que os ingredientes se levam a um misturador que, por meio de forte agi- tação, os transformou num conjunto homogéneo. E re- lativamente ao requisito temperatura, para se evitar a esterificação ou saponificação, também ali se diz: «Para que o processo possa ser aplicado com bom rendimento é absolutamente necessário evitar qualquer saponifi- cação do óleo neutro. Uma tal saponificação produz-se a frio com álcoois primários e é tanto mais rápida quanto mais curta a cadeia alifática dos álcoois e mais fraca a concentração em água do sistema». A alínea b) da reivindicação 2 da patente n.° 38 190 limita-se a indicar detalhes de tratamento das fases superior e infe- rior e da decantação, detalhes estes que constituem um mero desenvolvimento do que se contém no último período da reivindicação 1, que não apresenta qualquer novidade. Finalmente, a reivindicação 3 reporta-se a um processo de instalação para a neutralização que se diz caracterizada por compreender um aparelho de pre- paração da solução de hidrato de sódio em água e etanol e, pelo menos, um aparelho de centralização munido de instrumentos de agitação e medida de volume, um decantador, dois grupos de destilação e um conjunto de aparelhagem de doseamento, de condensação, de bom- bagem e de armazenamento em reservatórios. Faz-se no fim de contas uma enumeração de aparelhos bem conhecidos, aliás destinados a actuar as operações indi-

cadas nas duas reivindicações anteriores, que se acham já referidas na patente n.° 30 144. Terminou pedindo que se desse provimento ao re-

curso, revogando-se o despacho recorrido. Dado cumprimento ao disposto no artigo 206.° do

Código da Propriedade Industrial, sustentou o Ex.mo Di- rector-Geral do Comércio o seu despacho nos termos seguintes: O proémio da reivindicação 1 da patente n.° 38 190 não produz qualquer das reivindicações da patente n.° 30 144, antes apresenta novidade. Com efeito, por neutralização deve entender-se a reacção de um ácido com uma base em proporções convenientes, enquanto que a refinação abrange a eliminação de albuminóides, matérias corantes e mucilagens, isto em relação aos óleos. Constata-se assim que a refinação é uma separação que, embora possa englobar a neutra- lização, tem o efeito mais profundo. O óleo refinado estará neutralizado, mas o óleo neutralizado pode não não estar refinado. No que respeita à utilização do hidróxido de sódio, hidrato de sódio ou soda cáustica (diferentes designações do composto da fórmula OHNa) nos dois processos, também daí se não poderão tirar argumentos em contrário, porque a soda cáustica é uma das bases mais utilizadas em inúmeras reacções, que, na maioria das vezes, só tem de comum o príncipio ele- mentar. Embora a simples enumeração dos reagentes empre-

gados nos dois processos pouco esclareça quanto à se- melhança ou diferença deles, não é indiferente a utiliza- ção do álcool etílico ou etanol ou de álcool isopropílico, porque, com a utilização daquele, a recorrente verifica que na fase superior ainda se encontra um pouco de sabão dissolvido no álcool e que na fase inferior está ainda presente um pouco de óleo neutro, enquanto o utente da patente n.° 38 190, utilizando o álcool metí- lico, encontra na fase superior óleo neutro e hexano e na fase inferior uma solução aquosa de sabão e etanol. É assim flagrante a utilização de um ou outro dos ál- coois no que respeita à facilidade de separação dos gases e pela ausência da interfase como se utiliza o etanol. Também não é inútil a especificação da con- centração da soda cáustica, muito embora o recorrente tenha tido o cuidado de lhe não fixar limite sob o ponto de vista numérico. É, porém, na operação de decanta- ção que se tornam mais salientes as diferenças dos dois processos, embora, na essência, se trate de uma decan- tação como separação por densidades. Com efeito, na reivindicação 1 da patente n.° 38 190 diz-se que «a decantação e a separação por simples densidades das duas fases formadas e não nocivas, nas quais a fase superior é constituída por óleo neutro dissolvido no dissolvente e a fase inferior por sabão dissolvido na mistura água-etanol», enquanto na patente n.° 30 144 se refere que «a miscela bruta, misturada com soda cáustica, em presença do terceiro dissolvente, é levada pelo tubo a decantar no decantador.» E acrescenta-se: «Pela decantação produzem-se no decantador duas fases contínuas e uma interfase. A fase superior contém essencialmente a miscela neutralizada e a fase inferior principalmente o sabão dissolvido no terceiro dissol- vente. A interfase, situada na separação da miscela e do sabão, é constituída por mucilagens e pelas impure- zas do óleo ... ela é objecto de tratamento especial. A fase superior do decantador é constituída essencial- mente por óleo neutro e hexano. Contudo, devido a solubilidade parcial do álcool isopropílico diluído no hexano, encontramos ainda nesta fase superior um pouco de sabão dissolvido no álcool. Do mesmo modo, na fase inferior, constituída por sabão solúvel no álcool

isopropílico diluído, ainda está presente um pouco de óleo neutro devido à solubilidade do hexano no álcool isopropílico.» Destas transcrições se verifica que se trata de técnicas

diferentes com resultados práticos distintos, dado que o processo usado pela patente n.° 38 190 torna mais fáceis e económicas as operações seguintes: relativa- mente à parte final da reivindicação 1 da patente n.° 38 190, também não poderá deixar de se considerar que ela importa um processo mais simples comparado com o que se refere nas reivindicações 1 a 5 da patente n.° 30 144, já que algumas operações efectuadas pelo processo desta patente foram eliminados, tais como lavagens, novas decantações e outros tratamentos; o processo de instalação da patente n.° 38 190 também se apresenta muito mais simples. Constata-se, assim, que a patente n.° 38 190 apresenta

um processo novo, com introdução de melhoramentos e simplificações, tanto no que diz respeito ao processo pròpriamente dito, como ao esquema de instalação. Cumprido o disposto no artigo 207.° do Código da

Propriedade Industrial, disseram os ora apelantes o seguinte : As duas patentes são diferentes porque se propõem

a objectivos industriais distintos. Efectivamente, neu- tralização e refinação de óleos não são operações iguais, visto que com a primeira se pretende levar um ácido a uma forma neutra e com a segunda eliminar simples- mente impurezas ; O processo que se propõe a patente n.° 38 190 tem

novidade porque evita qualquer reacção de esterifica- ção entre álcool primário (álcool etílico) e ácidos gordos em fase de neutralização, enquanto a concentração da solução hidroalcoólica não ultrapassa os 55 por cento em volume e, além disso, se dá a operação de neu- tralização à baixa temperatura de 24°C-25°C; Nenhum método conhecido trabalhou com álcool

etílico a tal concentração. O da recorrente, que se destina a óleo de baixa acidez, opera com álcool secun- dário (álcool isotropílico), impondo-se recorrer às difí- ceis operações de reconcentração do álcool empregado, dado que a concentração das soluções aquosas se alcoo- liza durante o ciclo de laboração e à custa de aparelha- gem de rectificação cara e complicada ; Contràriamente, o processo dos recorridos, criado es-

pecialmente para o tratamento dos óleos de alta acidez, opera com soluções hidroalcoólicas de álcool etílico muito diluídas (50-55 por cento do volume) em presença de soluções hexano-óleo, o que evita da forma mais absoluta (e antes não se conseguira) de entrarem em solução na fase hexano-óleo as pequenas percentagens de sabões que finalmente viriam a encontrar-se depois no óleo neutro ; Outro alcance inédito da presente invenção consiste

na simplificação da fase mais delicada de todos os pro- cessos de neutralização, ou seja, a de recuperação dos dissolventes, no caso específico as soluções hidroalcoo- lizadas e álcool etílico e hexano. Tudo mercê de se haver posto em função os ingredientes de modo di- verso e por uma ordem de sucessão e em proporções que a recorrente não prova serem idênticas ou inope- rantes. As diferenças técnicas e materiais que separam os

dois processos podem enunciar-se assim: O processo de patente n.° 30 144 dissolve o óleo num

dissolvente polar da cadeia alifática, neutralizando-o com um meio alcalino e, depois, adiciona-lhe um ter- ceiro dissolvente; o processo da patente n.° 38 190 solubiliza óleos ou gorduras em hexano ou éter de

petróleo e neutraliza essa solução com uma solução alcalina água-álcool etílico; O processo da patente n.° 30 144 emprega como ter-

ceiro dissolvente o álcool secundário isopropflico; o pro- cesso da patente n.° 38 190 usa alcool primário etílico; O processo da patente n.° 30 144 não pode empregar

os álcoois primários porque nas várias fases de labora- ção se formam ésteres ; no processo da patente n.° 38 190. embora se use álcool primário etílico, não se podem formar ésteres, visto que a neutralização se efectua com soluções hidroalcoólicas fortemente diluídas e a baixa temperatura; No processo da patente n.° 30 144 deve recorrer se

a prolongadas e custosas lavagens das duas fases líqui- das, a fim de se evitar a passagem dos sabões para a solução ázeo-trópica dissolvente polar óleo-álcool isotro- pílico; no processo da patente n.° 38 190 não se formam soluções ázeo-trópicas hexano ou éter de petróleo-óleo- -álcool etílico, dado que este último está em fase aquosa muito diluente; No processo da patente n.° 30 144 deve-se reconcen-

trar e rectificar o álcool isopropílico para o poder repor em ciclo; no processo da patente n.° 38 190 não se deve reconcentrar e rectificar o álcool de recuperação, visto que o que se recupera por uma simples destilação tem uma concentração mais elevada do que a do que serve para o processo de neutralização; O processo da patente n.° 30 144 é contínuo; o pro-

cesso da patente n.° 38 190 é descontínuo; A aparelhagem dos dois processos é diferente preci-

samente por um ser contínuo e o outro descontínuo. Conclui pela improcedência do recurso. E, por fim, decidindo, concedeu o M.mo Juiz a quo

provimento ao recurso, revogando o despacho recorrido, com custas pelos ora apelantes. Não se conformando, porém, com a sentença, inter-

puseram estes o competente recurso. E, minutando, ale- garam, em conclusão: a) A sua invenção diverge da oposta pelo objecto e

pelo processo; b) São tantas as diferenças entre os seus inventos e

da apelada que no desta é impossível conter-se o seu; c) A invenção é patenteável, nos termos do artigo 4,°,

alíneas b) e c), do Código da Propriedade Industrial; d) Com efeito, por ela se obteve um resultado prático

industrial, qual o de neutralizar óleos de alta acidez por modo mais fácil e mais barato e a instalação mecâ- nica concebida e prevista pelos apelantes é muito mais simplificada e contribuiu, portanto, para a economia e maior rendimento - utilidade da exploração; f) Dos exames e pareceres técnicos oficiais sobressai

o facto; g) A própria sentença recorrida exprime inequivoca-

mente que deparou com um processo diferente; h) A sentença recorrida só por desvio de integração

no preceito aplicável (artigo 4.° do citado código) subes- timou a novidade que reconhecera; i) E daí haver caído no arbítrio - grande novidade,

pequena, invenção simples, complexa, sobre o que a lei em parte alguma, aliás, não dá uma escala de gran- deza; j) Logo a sentença recorrida, por não haver aplicado

o preceita adequado, que permitia a concessão da pa- tente, converteu-se em ilegal e injusta; l) Por todo o exposto, deve ser concedido provimento

ao recurso, revogando-se a sentença recorrida e man- tendo o despacho que concedeu a patente n.° 38 190. E, na contraminuta, termina a apelada por dizer que,

verificando-se, por tudo quanto expôs, que improcedem

inteiramente as conclusões em que os apelantes pre- tendem fundar o seu recurso, espera que seja negado provimento ao recurso e confirmada a sentença, com as legais consequências. Tudo visto. R recurso que este tribunal vai apreciar emerge da

douta sentença do M.mo Juiz do 8.° juízo cível da comarca de Lisboa, revogatória do despacho do Ex.mo Director-Geral do Comércio que concedeu a patente de invenção n.° 38 190 a Ernesto Bernardini e Mário Ber- nardini, químicos, residentes em Roma. E revogatória porque, segundo o dizer da sentença, não são acentua- das as diferenças entre ela e a anteriormente protegida sob o n.° 30 144, concedida à firma Extraction do Smet, com sede em Antuérpia. Aí se acrescenta que aquela carece de novidade quando em confronto com esta, visto que ambas utilizam os mesmos produtos químicos, sem diferirem sensivelmente nos processos adoptados. O problema assume acuidade, dado as patentes em causa conterem em si alguma semelhança, embora se descortine que uma, em relação a outra, contém um acentuado aperfeiçoamento, que as distingue, tornando uma delas, n.° 38 190, de maior utilidade. Este facto poderá ser considerado factor de mérito para a elevar ao nível de invenção patenteável, apesar de anterior- mente ter sido concedida patente à que se encontra registada sob o n.° 30 144. É que podem ser objecto da patente não só a invenção de algum novo artefacto ou produto material comerciável que tenha fim lícito e utilidade industrial, como o aperfeiçoamento ou melho- ramento de invenção que já fora objecto da patente mas que torne mais fácil e económico o fabrico do produto ou o uso do invento ou lhe aumente a utili- dade. É isto o que dispõe o artigo 4.° do Código da Propriedade Industrial. Consequentemente, para ser passivo da patente não é necessário que o produto seja novo, bastando que seja susceptível de melhorar as suas condições de modo a torná-lo apto a uma função mais económica e aumentativa de utilidade. Na observação do descritivo do preceito da alínea c) desse artigo 4.° é evidente que, para orientação do julgador, há necessidade do técnico, que, por certo, o esclarecerá devidamente. Ora, segundo o que foi dito pelo Ex.mo Director-

-Geral do Comércio na sua exposição de fls. 46 e seguin- tes, os tópicos salientes de uma e outra das patentes conduzem sem dificuldade à constatação de que a patente n.° 38190 obedece a método que a torna tècnicamente superior. E isto quer quanto à neutrali- zação e refinação, quer no que se refere aos reagentes utilizados nos processos, quer ainda à operação de decantação. Assim, com relação à primeira, ou seja, a neutralização e refinação, a refinação é, portanto, atento que esta respeita a uma operação química menos pro- funda que a refinação, por não abranger a eliminação de certas substâncias existentes no óleo, como sejam as de natureza albuminóide, as matérias corantes e outras. Também em relação à segunda a utilização dos rea- gentes nos processos não são totalmente comuns, visto que na patente n.° 30 144, consoante a sua memória descritiva, se emprega álcool isopropílico e na patente n.° 38 190 se utiliza o álcool metílico, de efeitos dife- rentes, porquanto o uso deste, como tècnicamente se afirma a fl. 49, facilita a separação das fases e provoca a ausência da interfase quando é usado o etanol. Ainda a concentração da soda cáustica utilizada é diferente, sendo a da patente n.° 38 190 superior em 20 por cento, o que modifica o objectivo, tornando-o, na prática, bem mais conveniente. Mas, a superar a distinção, salienta-se

a operação chamada de decantação que, no caso, é uma separação por simples densidade das duas fases forma- das e não nocivas, que na reivindicação 1 da patente n.° 38 190 é constituída na fase superior por óleo neutro dissolvido no dissolvente e na fase interior por sabão dissolvido na mistura água-etanol, e na patente n.° 30144 é decantada por meio de uma miscela bruta mistu- rada com soda cáustica e com um terceiro dissolvente. Da maneira como se operam as reivindicações resulta que, no cotejo, as dessemelhanças são patentes e de tal modo sensíveis que a hipótese bem pode ser moldada ao princípio estabelecido na alínea c) do artigo 4.°, já citado, sendo, por isso, estabelecido ser patenteável. Com efeito, é manifesta a viabilidade da invenção, como manifestas são a utilidade, a novidade e o pro- gresso técnico, condições indispensáveis para a distin- guir da patente n.° 30 144. O primeiro destes requisitos invade o campo da indústria, mostrando que o sistema traz consigo economia; o segundo revela uma certa originalidade no sentido da obtenção de um resultado industrial ; o terceiro, o mais evidente de todos, melhora consideràvelmente o método usado na patente n.° 30144. Destarte se conseguem neutralizar óleos de alta acidez por um processo relativamente fácil e menos dispen- dioso, dando a instalação mecânica, por mais simpli- ficada, um maior rendimento. Isto basta para que pro- ceda o despacho do Ex.mo Director-Geral do Comércio. Assim, acordam em conceder provimento ao recurso,

mantendo-se o douto despacho que concedeu a patente de invenção n.° 38 190. Custas pela apelada.

Lisboa, 27 de Novembro de 1964. - (Três assinatu- ras ilegíveis).

Está conforme.

Lisboa, 18 de Março de 1965. - O Escrivão de Di- reito, Maria Eugénia Duarte Bicho.

Sentença de fl. 72. Extraction Continue de Smet, Societé Anonyme, cuja

denominação actual, por alteração da firma, é Extrac- tion de Smet, S. A., sociedade comercial anónima, belga, com sede em Antuérpia, Avenue de France, 38, interpôs recurso de despacho do Ex.mo Director-Geral do Comér- cio, de 9 de Outubro de 1961, que concedeu a patente de invenção n.° 38 190 a Ernesto Bernardini e Mário Bernardini, nos termos e fundamentos seguintes: A pa- tente n.° 38 190, concedida pelo despacho recorrido, diz respeito a: «Processo de neutralização dos óleos vegetais e animais de forte acidez», que é caracterizado pelas três reivindicações constantes do requerimento do pedido de depósito e foi recorrido em 21 de Março de 1961, com prioridade reputada a 26 de Julho de 1960, data do primeiro depósito em Itália. Mas a recorrente é titular da patente n.° 30 144, que lhe foi concedida em 27 de Outubro de 1953, com prioridade reputada a 13 de Dezembro de 1951, para: «Processo de refinação dos óleos e das matérias gordas e instalação para a execução do mesmo processo e que se propõe o mesmo objectivo que aquele. Com efeito, neutralização e refi- nação de óleos são uma e a mesma coisa, pois a refina- ção consiste precisamente em neutralizar a acidez do óleo, em ordem a reduzi-la ou eliminá-la. Ora o processo de refinação ou neutralização de óleos, ou substâncias gordas, e de instalação para essa neutralização a que

se refere a patente n.° 30 190 carece inteiramente de novidade, por já se encontrar incluído na patente n.° 30 144, da recorrente, que é anterior. Consequentemente, não pode obter protecção, visto

que lha recusam os artigos 5.°, n.° 7.°, e 22.0, n.° 1.0, do Código da Propriedade Industrial. Na verdade, refe- re-se o começo da reivindicação 1 da patente n.° 38 190 a: «Processo de neutralização dos óleos vegetais de forte acidez pelo emprego de um hidrato de sódio em meio dissolvente, caracterizado pelo facto de os com- postos ...», e a reivindicação 17 da patente n.° 30 144 a: «Processo de refinação de óleos e matérias gordas, espe- cialmente de óleos e matérias gordas vegetais, por meio de tratamento em meio dissolvente como o descrito atrás». Ora atrás diz-se na memória descritiva que pre- cede as reivindicações desta última patente referida que este processo permite tratar matérias gordas de acidez que pode chegar até 80 por cento e que o neutralizante utilizado em meio dissolvente é a soda cáustica, ou seja, um hidróxido ou hidrato de sódio. Daí que o início da reivindicação 1 da patente n.° 38 190 não constitui mais do que uma reprodução da reivindicação 17 da patente n.° 30 144. Indica depois a reivindica- ção 1 da patente n.° 38 190 os ingredientes utilizados no processo de neutralização, que vêm a ser todos mis- turados entre si, e que são: o hidrato ou hidróxido de sódio, o etanol e a água. Da alínea a) da reivindicação 2 vê-se que o dissolvente do óleo a neutralizar é o hexano. Mas do segundo parágrafo da memória descritiva da patente n.° 30 144 já consta que no misturador é a miscela bruta tratada por soda cáustica, ou seja, por hidrato ou hidróxido de sódio, a que se junta um ter- ceiro dissolvente, a água. E a miscela bruta é consti- tuída pelo óleo a neutralizar e pelo respectivo dissol- vente que no quarto parágrafo da memória descritiva se diz ser precisamente o hexano, assim como na reivin- dicação 2 da referida patente n.° 30 144 se diz que o terceiro dissolvente é um composto químico tendo, pelo menos, um grupo polar e uma cadeia alifática de 1 a 5 átomos de carbono, fórmula que abrange um álcool primário, como o etanol, álcool etílico ou álcool comum, ou ainda um álcool isopropílico. Vê-se assim que todos os ingredientes mencionados na patente n.° 38 190 já se encontram expressamente e para o mesmo efeito na patente n.° 30 144 e nem sequer as proporções indica- das nas reivindicações daquela patente contêm qual- quer novidade. Com efeito, embora ali se diga que o hidrato ou

hidróxido de sódio (soda cáustica) é diluído numa solu- ção de 60 por cento de etanol (álcool) e 40 por cento de água, logo se acrescenta que estas percentagens podem variar em função das características próprias do óleo a tratar. Ora no primeiro parágrafo da memória descri- tiva da patente n.° 30 144 já se salientou que depende da acidez da miscela a quantidade de soda cáustica a adicionar e que a concentração desta pode variar dentro de largos limites. E no que respeita à concentração do óleo no respectivo dissolvente aponta-se na reivin- dicação 1 da patente n.° 38 190 que varia de 1 para 3 e de 1 para 5, ou seja, em percentagem, de 33,333 a 20, enquanto no terceiro parágrafo da memória descri- tiva da patente n.° 30 144 se falou já em concentra- ção de óleo ou matéria gorda da ordem de 40 a 20 por cento, percentagens em que se situam aqueles outros. A seguir à operação de neutralização alude a reivin-

dicação 1 da patente n.° 38 190 a estoutro: «A decan- tação e a separação por simples densidade das duas fases formadas e não nocivas, nas quais a fase superior é constituída por óleo neutro dissolvido no dissolvente

e a fase inferior por sabão dissolvido na mistura água- -etanol». Mas esta operação não poderá deixar de se considerar senão uma versão da que já referia a rei- vindicação 1 e correspondentes precisões contidas na memória descritiva da patente n.° 30 144. Com efeito, diz-se nos dois últimos parágrafos da

memória descritiva desta referida patente n.° 30144 que a miscela bruta, misturada com soda cáustica em presença de terceiro dissolvente (o que corresponde ao óleo um dissolvente como o hexano, ao hidrato ou hidróxido de sódio, que é a soda cáustica, e a água e álcool) é levada pelo tubo a decantar no decantador. A fase superior contém essencialmente a miscela neu- tralizada e a fase superior principalmente o sabão dis- solvido no terceiro dissolvente (que, como se viu, é um álcool a que se adicionou água). A fase superior no decantador é constituída essencialmente por óleo neutro e hexano. Por fim, refere-se a reivindicação 1 da pa- tente n.° 38 190 à recuperação do óleo e do dissolvente, por destilação da fase óleo-dissolvente e das oleínas, assim como do etanol (álcool), por tratamento a quente da fase saporária. Tendo-se em atenção que a fase óleo-dissolvente (sendo

este hexano) e oleínas é a fase superior proveniente da decantação e que o etanol ou álcool se situam na fase inferior, constata-se que, por virtude da destilação da fase superior, se liberta, por evaporação, o dissolvente hexano e que o tratamento a quente da fase inferior liberta, igualmente por evaporação, o álcool ou etanol. O que equivale a dizer que tanto a fase superior como a fase inferior, resultantes da decantação, são subme- tidas a evaporação. Ora, já no final da reivindicação 4 e 5 da patente

n.° 30 144 se ajustava que a fase superior e a fase infe- rior, resultantes da decantação, são submetidas a eva- poração. E a memória descritiva desta última patente também já indicava a destilação da fase superior para recuperação do óleo e das oleínas e do dissolvente he- xano, bem como o tratamento a quente da fase inferior para recuperação do álcool. Se analisarmos agora a reivindicação 2, vemos que

ela carece inteiramente de novidade, por se reportar à reivindicação 1, de que é um novo desenvolvimento. Acontece até que ela apenas acrescenta que o dissolvente do óleo na matéria gorda a neutralizar é o hexano, que se agita à mistura dos ingredientes utilizados e que se mantém o conjunto a uma temperatura que varia en- tre 15°C e 40°C, de forma a evitar as reacções secun- dárias de esterificação. Mas também isto já se encontra referido na memória descritiva da patente n.° 30 144. pois ali se diz que o dissolvente do óleo na matéria gorda é o hexano e que os ingredientes se levam a um misturador que, por forte agitação, os transformam num conjunto homogéneo. E quanto ao requisito tempera- tura, para se evitar a esterificação ou a saponificação, também ali se diz: «Para que o processo possa ser apli- cado com bom rendimento é absolutamente necessário evitar qualquer saponificação do óleo neutro. Uma tal saponificação produz-se a frio com álcoois primários e é tanto mais rápida quanto mais curta for a cadeia ali- fática dos álcoois e mais fraca a concentração em água do sistema». A alínea b) da reivindicação 2 da patente n.° 38 190 limita-se a indicar detalhes do tratamento das fases superior e inferior e da decantação, detalhes estes que constituem um mero desenvolvimento do que se contém no último período da reivindicação 1, que não apresenta novidade. Finalmente, a reivindicação 3 reporta-se a um pro-

cesso de instalação para a neutralização que se

caracterizada por compreender um aparelho de pre- paração da solução de hidrato de sódio em água e etanol e, pelo menos, um aparelho de neutralização munido de instrumento de agitação e medida de vo- lume, um decantador, dois grupos de destilação e um conjunto de aparelhagem de doseamento, de conden- sação, de bombagem e de armazenamento em reserva- tórios. Faz-se, no fim de contas, uma enumeração de aparelhos bem conhecidos destinados a efectuar as ope- rações indicadas nas duas reivindicações anteriores, que já se encontram referidos na patente n.° 30 144. Conclui pedindo que se dê provimento ao recurso e

se revogue o despacho recorrido. Cumpriu-se o disposto no artigo 206.° do Código da Propriedade Industrial, vindo o Ex.mo Director-Geral do Comércio a sustentar o seu despacho, nos termos seguintes: O proémio da reivindicação 1 da patente n.° 38190 não reproduz qualquer das reivindicações da patente n.° 30 144, antes apresenta novidade. Na ver- dade, por neutralização deve entender-se a reacção de um ácido com uma base em proporções convenientes, enquanto a refinação abrange a eliminação de albu- minóides, matérias corantes e mucilagens, e isto em relação aos óleos. Vê-se assim que a refinação é uma separação que, embora possa englobar a neutralização, tem um efeito mais profundo. U m óleo refinado estará neutralizado, mas um óleo neutralizado pode não estar refinado. No que diz respeito à utilização do hidróxido de sódio, hidrato de sódio ou soda cáustica (diferente designação do composto da fórmula única OHNa), nos dois processos, também daí se não poderá tirar argu- mento em contrário, porque a soda cáustica é uma das bases mais utilizadas em inúmeras reacções que, na maioria das vezes, só têm de comum o princípio ele- mentar. Embora a simples enumeração dos reagentes empre- gados nos dois processos pouco esclareça quanto à semelhança ou diferença deles; não é indiferente a utilização do álcool isopropílico ou do álcool etílico (etanol), porque com a utilização daquele a recorrente verifica que na fase superior ainda se encontra um pouco de sabão dissolvido no álcool e que na fase infe- rior está ainda presente um pouco de óleo neutro, enquanto o utente da patente n.° 38 190, utilizando o álcool metílico, encontra na fase superior óleo neutro e hexano e na fase inferior uma solução aquosa de sabão ou etanol. É assim flagrante a utilização de um ou outro dos álcoois no que respeita à facilidade de separação dos gases e pela ausência da interfase quando se utiliza o etanol. Também não é indiferente a especi- ficação da concentração da soda cáustica, muito embora o recorrente tenha tido o cuidado de lhe não fixar limite sob o ponto de vista numérico. É, porém, na operação de decantação que se tornam mais salientes as diferenças dos dois processos, embora, na essência, se trate de uma decantação com separações por densi- dades. Efectivamente, diz-se na reivindicação 1 da pa- tente n.° 38 190 que «a decantação e a separação por simples densidades das duas fases formadas e não noci- vas, nas quais a fase superior é constituída por óleo neutro dissolvido no dissolvente e a fase inferior pelo sabão dissolvido na mistura água-etanol», enquanto na patente n.° 30 144 se refere que «a miscela bruta, mis- turada com soda cáustica, em presença do terceiro dissolvente, é levada pelo tubo a decantar no decan- tador. E acrescenta-se: «pela decantação produzem-se no decantador duas fases contínuas e uma interfase. A fase superior contém essencialmente a miscela neu- tralizada e a fase inferior principalmente o sabão dissol-

vido no terceiro dissolvente. A interfase, situada na separação da miscela e do sabão, é constituída por mucilagens e pelas impurezas do óleo ... ela é objecto de tratamento especial. A fase superior do decantador é constituída essencialmente por óleo neutro e hexano. Contudo, devido à solubilidade parcial do álcool iso- propílico diluído no hexano, encontramos ainda nesta fase um pouco de sabão dissolvido no álcool. Do mesmo modo, na fase inferior, constituída por sabão solúvel no álcool isopropílico diluído, ainda está presente um pouco de óleo neutro devido à solubilidade do hexano no álcool isopropílico». Destas transcrições se verifica que se trata de técni-

cas diferentes com resultados práticos distintos, visto que o processo usado pela patente n.° 38 190 torna mais fáceis e económicas as operações seguintes: rela- tivamente à parte final da reivindicação 1 da patente n.° 30 190 também não poderá deixar de se considerar que ela importa um processo mais simples comparado com o que se refere nas reivindicações 1 a 5 da patente n.° 30 144, já que algumas operações efectuadas pelo processo desta patente foram eliminadas, tais como lavagens, novas decantações e outros tratamentos; o processo de instalação da patente n.° 38 190 também se apresenta muito mais simples. Vê-se, assim, que a patente n.° 38 190 apresenta um

processo novo, com introdução de melhoramentos e simplificação, tanto no que respeita ao processo prò- priamente dito, como ao esquema de instalação. Cumpriu-se o disposto no artigo 207.° do Código da

Propriedade Industrial e, em consequência, veio a parte contrária dizer o seguinte: As duas patentes são diferentes porque se propõem

a objectivos industriais distintos. Com efeito, neutra- lização e refinação de óleos não são operações iguais, pois com a primeira pretende-se levar um ácido a uma forma neutra e com a segunda eliminar-se simplesmente impurezas; O processo que se propõe a patente n.° 38 190 tem

novidade porque evita qualquer reacção de esterifica- ção entre álcool primário (álcool etílico) e ácidos gordos em fase de neutralização, enquanto a concentração da solução hidroalcoólica não ultrapassa os 55 por cento em volume e, além disso, se dá a operação de neutra- lização à baixa temperatura de 24°C a 25°C; Nenhum método conhecido trabalhou com álcool etí-

lico a tal concentração. O da recorrente, que se destina a óleos de baixa acidez, opera com álcool secundário (álcool isopropílico), impondo-se recorrer às difíceis ope- rações de reconcentração do álcool empregado, dado que a concentração das soluções aquosas se alcooliza durante o ciclo de laboração e à custa de aparelhagem de rectificação cara e complicada ; Contràriamente ao processo dos recorridos, criado

especialmente para o tratamento dos óleos de alta acidez, opera com soluções hidroalcoólicas de álcool etílico muito diluídas (50 a 55 por cento do volume) em presença de soluções hexano-óleo, o que evita da forma mais absoluta (e antes não se conseguira) de entrarem em solução na fase hexano-óleo as pequenas percenta- gens de sabões que finalmente viriam a encontrar-se depois no óleo neutro; Outro alcance inédito da presente invenção consiste

na simplificação da fase mais delicada de todos os pro- cessos de neutralização, ou seja, a de recuperação dos dissolventes, no caso específico as soluções hidroalcoó- licas de álcool etílico e hexano. Tudo mercê de se haver posto em função os ingredientes de maneira diversa e

por uma ordem de sucessão e em proporções que a recorrente não provou fossem idênticas ou inoperantes. As diferenças técnicas e materiais que separam os

dois processos podem enunciar-se assim: O processo da patente n.° 30 144 dissolve o óleo num

dissolvente polar da cadeia alifática, neutraliza-a com um meio alcalino e, depois, adiciona-lhe um terceiro dissolvente; o processo da patente n.° 38 190 solubiliza óleos ou gorduras em hexano ou éter de petróleo e neutraliza essa solução com uma solução alcalina água- -álcool etílico; O processo da patente n.° 30 144 emprega como ter-

ceiro dissolvente o álcool secundário isopropílico; o pro- cesso da patente n.° 38 190 usa álcool primário etílico; O processo da patente n.° 30 144 não pode empregar

os álcoois primários porque nas várias fases de laboração se formam ésteres; no processo da patente n.° 30 190, embora se use álcool primário etílico, não se podem formar ésteres, dado que a neutralização se efectuou com soluções hidroalcoólicas fortemente diluídas e a baixa temperatura; No processo da patente n.° 30 144 deve recorrer-se a

prolongadas e custosas lavagens das duas fases líquidas, a fim de se evitar a passagem dos sabões para a solu- ção ázeo-trópica dissolvente polar óleo-álcool isopropí- lico; no processo da patente n.° 30 190 não se formam soluções ázeo-trópicas hexano ou éter de petróleo-óleo- -álcool etílico, dado que este último está em fase aquosa muito diluente; No processo da patente n.° 30 144 deve-se reconcen-

trar e rectificar o álcool isopropílico para o poder repor em ciclo; no processo da patente n.° 38 190 não se deve reconcentrar e rectificar o álcool de recuperação, dado que o que se recupera por uma simples destilação tem uma concentração mais elevada do que a do que serve para o processo de neutralização; O processo da patente n.° 30 144 é contínuo; o pro-

cesso da patente n.° 38 190 é descontínuo; As aparelhagens dos dois processos são diferentes,

por uma ser contínua e outra descontínua. Conclui pela improcedência do recurso. Estes os termos em que está posto o litígio que im-

porta decidir. Vê-se do que acaba de ser exposto que as partes

interessadas fazem grande cavalo de batalha das epí- grafes ou títulos das duas patentes, estabelecendo logo a distinção entre refinação e neutralização dos óleos. E m nosso entender este problema não passa de uma questão de palavras. Muito embora se considerem regu- larmente sinónimas as expressões óleos refinados e óleos neutros, não pode haver dúvidas de que num sentido rigoroso a refinação importa em mais qualquer coisa do que a neutralização. Mas também nenhumas dúvidas poderá haver de que os interessados neste processo pretendem alcançar com os seus inventos um objectivo precisamente igual, pois são bem eloquentes as memó- rias descritivas das duas patentes. Resta agora anali- sar se a patente n.° 38 190 traduz qualquer novidade em frente da patente n.° 30 144, já concedida. Do confronto das suas reivindicações e esclarecimen-

tos constantes das suas memórias descritivas não se vê que grande novidade possa oferecer a patente n.° 38 190, já que se podem considerar os mesmos produtos químicos utilizados por ambas as patentes e não diferem sensivelmente do processo adoptado. Com efeito, ambos utilizam um hidrato ou hidróxido

de sódio, ambos utilizam o álcool, ambos utilizam o hexano e ambos utilizam a água, sem que se possa afirmar que estes elementos sejam combinados em pro-

porções diferentes nos processos das duas patentes, e os seus processos comportam fundamentalmente as mes- mas operações, que, no fim de contas, se resumem na mistura de óleo a tratar e no agente de neutralização e com o dissolvente, a decantação e a separação e trata- mento das duas fases. Certamente que os dois processos em alguma coisa devem ser diferentes, mas essas dife- renças não são tão acentuadas que justifiquem a con- cessão da patente n.° 38 190, tanto mais que se não fez demonstração justificativa que convença de que o seu processo torne mais fácil ou mais económica a refi- nação ou a neutralização dos óleos. Nos termos expostos, concedo provimento ao recurso

e revogo o despacho recorrido, não devendo, por isso conceder-se protecção à patente n.° 38 190. Custas pelos recorridos, com imposto que fixo em

metade. Fixo em 50 001$ o valor da acção. Registe e notifique.

Lisboa, 7 de Março de 1964. - Licurgo Augusto dos Santos.

Está conforme.

Lisboa, 1 de Abril de 1965. - O Escrivão de Direito, Maria Eugénia Duarte Bicho.