e ganhar hábitos de poupança: dois reptos para o · conjunta da real vida seguros, dinheiro vivo,...

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Poupança para a Vida Crescer em número e ganhar hábitos de poupança: dois reptos para o futuro Poupança e demografia são dois temas-chave para o futuro da sociedade e economia nacionais. Estiveram em debate na Fundação Champalimaud, na semana passada. SUSANA TORRÃO [email protected] Poupança e demografia foram os principais temas em debate no passado sábado, dia 13 de outubro, na Fundação Champalimaud, em Lisboa. A conferência Uma Pou- pança para a Vida, uma iniciativa conjunta da Real Vida Seguros, Dinheiro Vivo, TSF e Diário de No- tícias, trouxe para junto do Tejo a discussão em torno de problemá- ticas como o atual défice demográ- fico nacional, envelhecimento e longevidade - e respetivas conse- quências na sustentabilidade do atual sistema da Segurança Social - ou a necessidade de incentivar a poupança para garantir não ape- nas uma velhice segura e confor- tável como o próprio dinamismo da economia do país. ElizaFilby, especialista britânica em história e comportamento ge- racional, deu o pontapé de saída no debate com a comunicação "O fu- turo do país e a sua demografia". Partindo da análise das quatro ge- rações que hoje coexistem na so- ciedade - baby boomers, geração X, millennials e geração Z - Filby tra- çou as expectativas sobre a vida e o comportamento em relação às fi- nanças e à poupança dos quatro grupos. Antecipando cenários, Filby es- timou que a população portugue- sa com 80 anos ou mais pode vir a duplicar até 2060 e deixou um alerta: se o nível de poupança não aumentar - e tendo em conta os 14% do PIB atualmente canaliza- dos para o pagamento de pensões -, é de esperar que os reformados do futuro venham a receber me-

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Page 1: e ganhar hábitos de poupança: dois reptos para o · conjunta da Real Vida Seguros, Dinheiro Vivo, TSF e Diário de No-tícias, trouxe para junto do Tejo a ... de hoje para o mercado

Poupança para a VidaCrescer em númeroe ganhar hábitosde poupança: doisreptos para o futuroPoupança e demografia são dois temas-chave para o futuro da sociedade e economianacionais. Estiveram em debate na Fundação Champalimaud, na semana passada.

SUSANA TORRÃO

[email protected]

Poupança e demografia foram os

principais temas em debate nopassado sábado, dia 13 de outubro,na Fundação Champalimaud, emLisboa. A conferência Uma Pou-

pança para a Vida, uma iniciativaconjunta da Real Vida Seguros,Dinheiro Vivo, TSF e Diário de No-tícias, trouxe para junto do Tejo adiscussão em torno de problemá-ticas como o atual défice demográ-fico nacional, envelhecimento e

longevidade - e respetivas conse-

quências na sustentabilidade doatual sistema da Segurança Social- ou a necessidade de incentivar a

poupança para garantir não ape-

nas uma velhice segura e confor-tável como o próprio dinamismoda economia do país.

ElizaFilby, especialista britânicaem história e comportamento ge-racional, deu o pontapé de saída nodebate com a comunicação "O fu-turo do país e a sua demografia".Partindo da análise das quatro ge-rações que hoje coexistem na so-ciedade - baby boomers, geração X,millennials e geração Z - Filby tra-

çou as expectativas sobre a vida e

o comportamento em relação às fi-

nanças e à poupança dos quatrogrupos.

Antecipando cenários, Filby es-timou que a população portugue-sa com 80 anos ou mais pode vir a

duplicar até 2060 e deixou um

alerta: se o nível de poupança nãoaumentar - e tendo em conta os

14% do PIB atualmente canaliza-dos para o pagamento de pensões-, é de esperar que os reformadosdo futuro venham a receber me-

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nos 20% do que os atuais pensio-nistas.

Perante esta situação - e tendoem conta os fracos hábitos de pou-pança das gerações X e millennial-é necessário não só fomentar a

poupança como preparar os jovensde hoje para o mercado de trabalhodo século XXI, no qual a educaçãoao longo da vida, a agilidade e a tec-

nologia vão desempenhar um pa-pel cada vez mais fundamental.

No debate que se seguiu, TeimoFrancisco Vieira, coordenador doObservatório da Natalidade e En-velhecimento, Jorge Malheiro,geógrafo do Instituto de Geografiae Ordenamento do Território da

Universidade de Lisboa, Maria Fi-lomena Mendes, presidente da As-

sociação Portuguesa de Demogra-fia e Fernando Ribeiro Mendes,vice-presidente do think tarik Ci-dadania Social, puseram a tónicano atual défice demográfico portu-guês - desde 1982 que os nasci-mentos não são suficientes parafazer a reposição de gerações -, noenvelhecimento da população enas respetivas consequências nofuturo da economia e sistema de

pensões público, sublinhando anecessidade de fomentar hábitosde poupança junto das famílias.

Foi também esta a tónica prin-cipal da segunda oradora da ma-nhã, Jasmine Britles, jornalista e

especialista em temáticas finan-ceiras e de negócios. Traçando o

paralelo entre as realidades portu-guesa e britânica, a jornalista sub-linhou a necessidade prementede incentivar a poupança nos dois

países. Para Jasmine Britles, o

atual modo de gestão do sistemade pensões público assemelha-se

a um esquema de Ponzi, em que o

dinheiro entra e sai sem que sejafeito investimento. Assim, talcomo nos esquemas de Ponzi, adi-vinha-se que mais tarde ou maiscedo o sistema se torne insusten-tável.

A necessidade da aposta na li-terária financeira e uma atuaçãodo Estado que fomente a poupan-ça das famílias foram dois aspetossublinhados por Britles, que deuainda como exemplo o sistema

que entrou em vigor no ReinoUnido em 2012 dirigido aos traba-lhadores por conta de outrem.No referido sistema - que poderiadepois ser adaptado à realidadedos trabalhadores independentes-, a partir do momento em que é

contratado, cada trabalhador pas-sa a descontar de forma automáti-ca para um fundo de poupança.Para Jasmine Britles, é a situaçãomais fácil em países com uma fra-ca taxa de poupança, já que esta éautomática e, de certa forma, im-percetível.

No debate, Luís Laginha de

Sousa, administrador do Banco de

Portugal (BdP), Fernando Alexan-dre, professor associado da School

of Economics and Managementda Universidade do Minho, e o

economista João Duque refleti-ram sobre as alterações dos hábi-tos de poupança nacionais ao lon-go das últimas décadas, em parti-cular nos anos da crise. Laginhade Sousa explicou a forma comoas atuais recomendações do BdP -embora criadas para asseguraruma maior estabilidade do siste-ma financeiro - podem ser refle-tidas positivamente nos hábitosde poupança individuais. João

Duque alertou para as conse-quências da ausência de poupan-ça na economia nacional - que, a

longo prazo, se torna cada vezmais dependente do capital e in-vestimento externos, levando a

que a riqueza produzida saia do

país. Por seu turno, Fernando Ale-xandre lembrou o facto de muitasfamílias portuguesas não teremsequer o rendimento necessário

para, depois de suprir as necessi-dades quotidianas, constituirpoupança, estando o aforro con-centrado numa faixa muito redu-zida da população.

A conferência foi encerrada porJorge Braga de Macedo, ex-minis-tro das Finanças e professor daNova School of Business & Econo-mics, que também sublinhou a

importância da poupança das fa-mílias para o futuro da economianacional.

A poupança entrou no vocabulário dos portugueses e dos europeus, depois de muitos anos em que as palavrasde ordem eram consumo e crédito. Em Portugal, poupa-se pouco e os indicadores revelam que apenas 20%

das famílias são responsáveis por cerca de 80% da poupança. Poupar para a vida deve ser um desígnionacional e o Dinheiro Vivo e a TSF juntam-se à Real Vida Seguros neste projeto editorial para sensibilizar

os portugueses para a necessidade de fazerem poupança para o futuro.

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1 400 pessoas encheram o au-ditório da Fundação Champali-maud para ouvir debates sobre

poupança, moderados porRosália Amorim (DV).2 Os economistas FernandoAlexandre e João Duque à con-versa sobre as dificuldadesde poupar em Portugal.3 Gonçalo Pereira Coutínho,presidente da Real Vida Segu-ros.

4 Jorge Braga de Macedo,

professor da Nova SBE e antigoministro das Finanças.5 Oaniet Proença de Carvalho,chairman do Global Media

Group.FOTOS: FILIPA BERNARDO/GI

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12 medidaspara 100 milnascimentos

Observatório

para a Natalidadee Envelhecimento

quer que a natalidadeaumente para cem milnascimentos anuais.

Mais creches, redução ou flexi-bilização do horário de trabalhodos pais durante os primeirostrês anos de vida da criança,abono de família universal e a

gratuitidade dos manuais esco-lares do primeiro ao quarto anodo primeiro ciclo de escolarida-de são algumas das 12 medidas

propostas - e quantificadas -pelo Observatório para a Natali-dade e Envelhecimento em Por-

tugal. O objetivo é potenciar anatalidade em Portugal, cujo ín-dice de fertilidade realizada não

ultrapassa os 0,84% (muito lon-

ge dos 2,14 filhos por mulhernecessários para repor a popula-ção) e alcançar os cem mil nas-cimentos por ano - um númeroque atenuaria o défice demográ-fico, mas não o suficiente para o

reverter.Estas medidas vêm no segui-

mento de um estudo realizadopelo observatório ao longo dedois anos, o qual contou com1173 questionários validados,respondidos por indivíduos deambos os sexos, com idades en-tre os 18 e os 59 anos, residentesnas cidades de Lisboa, Évora,Coimbra e Faro. O inquérito re-velou que 15% dos inquiridosnão planeia ter filhos - dois ter-ços dos quais apontam "opçõespessoais de vida" como motivopara não procriar - e 75% dos

que já são pais não querem termais filhos.

As medidas apresentadas cor-

respondem às iniciativas maisvalorizadas pelos participantesdo estudo. E se a maioria é diri-

gida especificamente às famí-lias - aumento do número de

berçários e creches disponíveis;aumento de vagas no ensinopré-escolar; abono de famíliauniversal ou o alargamento da

licença de maternidade -, da lis-ta também constam medidas

dirigidas às empresas, como umprémio anual para aquelas quetenham na sua gestão práticasde apoio à natalidade.

Para deixar claro quanto é

que a passagem à prática destasmedidas custaria ao erário pú-blico, o observatório quantifi-cou o custo individual de cadauma. Assim, uma maior dispo-nibilidade de creches e berçá-rios, caso fosse apoiado a 100%

pelo Estado, implicaria um in-vestimento de 215 milhões deeuros anuais; já o abono de fa-mília universal (calculando 75euros por criança até ao segun-do filho e cem euros a partir do

terceiro) necessitaria de 43 mi-lhões de euros/ano e o alarga-mento da licença de maternida-de para os 180 dias mais 64 mi-lhões de euros.