drake chronicles - bleeding hearts

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A prima de Lucy, Christabel passou a viver em Violet Hill, e ajustar-se à diferença entre a vida em uma pequena cidade montanhosa e sua casa na cidade é bastante difícil. O estrito toque de recolher que os pais de Lucy aplicam é a pior parte. Algo realmente perigoso não poderia acontecer nesta pequena cidade. Mas Christabel notou alguns acontecimentos misteriosos, e parece que Lucy, seu namorado, Nicholas e seu irmão Connor estão todos com um segredo que Christabel não entende, uma que parece sério. Embora ela não vai admitir isso, Christabel adoraria estar em qualquer segredo com Connor Drake. Mas quando ela é seqüestrada pelos implacáveis ​vampiros ​Hel-blar, Christabel deve causar mais e mais problemas em Violet Hill, Lucy e Connor finalmente informam Christabel de todo o drama mortos-vivos. Juntos, eles precisam encontrar uma maneira de acabar com o Hel-Blar para

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Prólogo Connor

— O fato de termos que levar nossa irmã mais nova para casa

porque ela esta fora até mais tarde que nós... É muito triste. — queixou-

se Quinn.

— No entanto, nos dá a oportunidade de examinar estas antenas.

— disse no meio de um cedro muito antigo. O tronco coberto de musgo

brilhante pelo dourado pó dos liquens era forte o suficiente para

suportar meia dúzia de ―casas na árvore―. Eu estava sentado

confortavelmente em um de seus enormes galhos, reposicionando o

ângulo de uma antena satélite escondida. — O que diz agora?

Quinn atualizou a tela do meu laptop embaixo, entre as raízes.

Eram como os retorcidos dedos de uma anciã, da minha perspectiva.

— Parece bem. — gritou para cima.

De qualquer modo, verifiquei a conexão com o meu Iphone antes

de descer os galhos como se fossem degraus. — Esse foi o último desta

vez. — anunciei, pulando os últimos dois metros. — Terei que desativar

as outras. Pode ser que estejam ao alcance do campo. Terei também que

patrulhar todas as noites para bloquear qualquer novo sinal, inclusive se

o acampamento estiver situado contra a montanha, o que seria pouco

provável.

Eu sabia que isso era um fato. Eu já havia tentado.

Bastante.

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A Lua de Sangue era uma rara reunião de vampiros, e nem meus

celulares e nem minha internet eram permitidos por questões de

segurança. Eu não esperava que acontecesse alguma coisa. Quero dizer,

não me importa os fanáticos que correm pelos arredores de espartilhos

ou em armaduras de prata do século XV para representar suas

linhagens, mas proibir o acesso à internet é simplesmente uma

barbaridade.

— Tenho um telefone com os números das garotas sexys, Connor.

— Quinn comentou enquanto eu escondia meu equipamento no

compartimento da minha motocicleta. — Antes que os apague

completamente, você deveria deixar a coisa de ―gêmeos idênticos―

para um bom uso.

Rolei meus olhos. — Gêmeos ou não, ninguém irá acreditar que eu

sou você.

— Bem, não se você se aparecer com uma camiseta de Star Trek.

Ok, sim, eu assisti a cada episódio de Star Trek, Battlestar

Galáctica e Stargate que já tenha passado, mas eu nunca havia tido uma

camiseta de Star Trek.

Eu apenas disse: — Esqueça.

— E sobre a sua amiga Hunter, Chloe? Vocês têm sua ―coisa

geek― até altas horas da noite a algumas semanas. — temos ajudado

Chloe e a namorada de Quinn, Hunter, a descobrir o que estava

adoecendo os estudantes na Academia Hélios-Ra. Encolhi os ombros. —

Ainda estamos enviando e-mails, mas nada mais.

Ele balançou a cabeça tristemente. — Quem poderá carregar a

minha ―boa reputação―?

— Você tem uma namorada, não uma doença terminal.

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— No entanto, eu te disse antes e direi outra vez: com tremenda

aparência, vem uma grande responsabilidade.

Apesar de Quinn usar o cabelo longo, temos praticamente o

mesmo rosto. Mas não é por isso que ele era tão popular com as garotas

mais jovens ou mais velhas – é algo mais difícil de explicar. E ele sempre

foi assim. Ele gosta das garotas e eu dos comics. Ainda assim, temos um

ao outro. Sempre foi assim. Poderia ter seis irmãos, mas apenas um

gêmeo.

Sorri para ele abertamente. — Experimente com Duncan.

— Sim, claro.

Pode ser que eu prefira os computadores a pessoas, mas Duncan

era, honestamente, antissocial... Isso sim, mas isso não parece deter as

garotas que o perseguem por todos os lados, também. Quinn gosta desse

tipo de coisa, mesmo que o enlouqueça um pouco, o que é parte da

diversão.

— Lembrem-se, às três em ponto. — disse em um suspiro.

Quinn fez um gesto e colocou sua motocicleta em movimento.

Sorriu para cada um de nós e foi embora.

As motocicletas rangiam enquanto nos apressávamos entre as

grossas e antigas árvores e através das samambaias. Entramos em um

estreito prado, que era na verdade uma faixa de ervas selvagens e

Goldenrods de florescimento tardio, e deixamos nossas motos em uma

fileira junto ao resto. No meio dos carvalhos havia um caminho que

levava a numerosas tendas e vampiros por todos os lados, conversando,

observando, desenrolando bandeiras de família e polindo espadas. Não

havia sinal de celulares... Mas as espadas estavam boas. Grunhi para

mim mesmo.

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Havia mais guardas dos quais eu nem sequer sabia que existiam,

usando variados brasões de família e colocados em cada tenda. O brasão

Drake atualmente excedia em número as outras, mas os vampiros

chegavam à noite vindos de todas as partes do mundo. Havia outra

guarda secreta, a Chandramaa, havia rumores que ela perambulava por

aí, mas ninguém de fato, os havia visto. Chandramaa era uma palavra

sânscrita para Lua e eles eram tão antigos quanto a própria linguagem.

Consciente de que, provavelmente, estávamos sendo observados,

seguimos cautelosamente o caminho para sair do bosque para o prado

aberto. Ia contra tudo o que a nossa mãe nos ensinou. Felizmente,

Solange foi fácil de achar, ela estava vadiando nos arredores com um

garoto, fora do alcance da luz das tochas. Ele estava de costas e não

parecia familiar. Não era Kieran... Os humanos eram permitidos apenas

quando estavam vinculados a uma família de vampiros e os caçadores

vampiros não estavam autorizados absolutamente.

Ele era alto, com cabelo escuro e estava muito perto dela.

Quinn franziu o cenho: — Quem diabos é esse?

Também franzi o cenho: — Não tenho nem ideia.

— Sol. — Quinn a chamou. — Vamos!

Ela olhou para nós, seus olhos com veias vermelhas se estreitaram

sigilosamente: — Em um minuto. — Ela claramente queria que nós

ficássemos onde estávamos e longe de seus assuntos.

Quinn e eu trocamos um olhar. Sem chance.

Estávamos atravessando o campo quando aconteceu. Um vampiro

saiu do meio de seu esconderijo entre as árvores. Ela parecia uma Hel-

Blar, exceto que sua pele era de um azul muito claro, não como a cor

usual de um hematoma. Seu cheiro era mais como a terra úmida de

primavera do que de cogumelos, mas ela se aproximava. Muito.

Segurava um arco com uma flecha colocada no centro da corda.

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— Solange, para baixo! — gritei, mesmo quando o vampiro com

quem ela estava falando tocou suas costas, cobrindo-a com o seu corpo.

Quinn se jogou sobre eles. Eu agarrei uma estaca para tentar desviar a

flecha de sua trajetória.

Atualmente havia assassinos por todo lugar, não necessariamente

caçando minha mãe ou minha irmãzinha, mas provavelmente eram

muito solitários.

A flecha atingiu uma árvore com um som oco. O papel envolto na

haste se desintegrou, palpitando como asas de mariposas.

Não era para Solange, depois de tudo.

Não importava.

A mulher era pó e cinzas com apenas um pequeno vestido e um

arco de madeira que caiu no chão para mostrar que alguma vez ela

havia existido. Mesmo o estranho odor de terra fértil havia sumido

levado pelo vento frio da montanha. Um parafuso de besta, pintado com

o mesmo vermelho de todas as armas Chandramaa, havia perfurado seu

coração, ainda quando a flecha de seu mensageiro se fazia em pedaços

contra a casca da árvore. Ela nunca teve chance.

Houve um momento de silêncio seguido pelo assustador som de

vampiros se movendo rapidamente como asas de morcegos. Presas e

espadas e inclusive uma katana brilharam. Solange foi colocada de pé

pelo estranho de cabelo escuro. Sua mão passou sobre seu ombro com

uma familiaridade que não me agradou. Havia uma multidão se

reunindo entre nós.

— Hey. — disse Quinn sombriamente, inclinando sua cabeça para

olhar ao redor e para um guarda com a constituição de um touro com

esteroides. — O que foi isso?

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Uma mulher que usava o brasão Real arrancou o papel da flecha,

abrindo a mensagem: — É para Helena.

Quinn e eu congelamos e logo giramos lentamente para olhá-la.

Solange fez o mesmo.

— Há uma Tribo que pede um lugar no Conselho da Lua de

Sangue. Está assinado por Saga.

— Quem diabos é Saga? — Quinn perguntou.

Houve um monte de encolhimentos de ombros e olhares curiosos.

— Mamãe não escolhe quem forma o Conselho. — acrescentei. —

Nós nem mesmo os chamamos à Lua de Sangue. — ninguém sabia quem

os havia convocado; eles só o faziam a cada cem anos ou algo assim.

Mantive minha mão para cima. — Dê-me a mensagem. Nós

entregaremos.

Coloquei-o no bolso interno do meu casaco junto com uma estaca

de ébano que eu havia encontrado em um baú de família no sótão. A

multidão se dispersou murmurando e nos lançando olhares escuros.

Alguns poucos pairavam, esperando mais drama. Não deixe que os

emocionais e melancólicos vampiros te enganem, a maioria ama as

fofocas e o melodrama tanto quanto sangue. Quanto mais velhos mais

parecem adorar isso. O que explicaria rapidamente porque minha vida

parece uma telenovela ultimamente e nem é uma do tipo de ficção

científica, o que teria sido ótimo.

O estranho de cabelo escuro murmurou algo no ouvido de Solange

antes de se afastar. Ainda não havíamos visualizado o seu rosto, mas

sabíamos que era vampiro. Ele havia se movido para proteger Solange

mais rápido do que qualquer humano poderia fazer.

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— Quem era esse, Solange? — Quinn perguntou quando ela se

aproximava de nós. Apesar de sua veia selvagem, Quinn tinha um lado

puritano quando se tratava de nossa irmã.

Todos nós temos.

— O nome dele é Constantine.

— E?

— E nada.

— E Kieran? — perguntei.

Ela rolou os olhos: — Eu só estava conversando e não fazendo

pole dance para ele.

Nós dois estremecemos. De fato, coloquei uma mão sobre os meus

olhos como autodefesa: — Nunca mais diga isso.

Ela apenas riu: — Vamos.

Ela tinha sua própria moto esperando do outro lado das árvores.

Levamos apenas meia hora para voltar para a fazenda e mamãe já

estava na varanda com as presas para fora quando chegamos lá. Papai

se encontrava no banco, bebendo brandi. Ele bebia brandi apenas

quando tentava não partir para o ataque. Mamãe nunca se incomodava

em se segurar. Eles nos alcançaram mesmo antes que pudéssemos

deixar nossas motos, os cachorros já davam voltas, abanando a cauda.

— Recebemos uma ligação. Alguém atirou em você? — mamãe

segurava Solange pelos ombros, olhando seu corpo inteiro.

Solange se contorceu: — Mamãe, eu estou bem.

— Era uma flecha com uma mensagem. — acrescentei

rapidamente, pegando o papel em meu bolso e entregando à mamãe. —

Nunca foi dirigida a Solange.

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— Oh! — disse mamãe.

— Mamãe? — disse Solange.

— Sim querida?

— Ai!

Mamãe a soltou: — Desculpe. — quase sorriu. — Estávamos

preocupados.

Papai correu e passou uma mão pelo cabelo de Solange, também

sorrindo: — É encorajador saber que você pode estar a noite toda fora

sem receber um disparo.

Ela bufou: — O que é uma boa mudança. Sabe o que seria mais

agradável?

— O que?

— Já que eu tenho, digamos três guardas me seguindo o tempo

todo, não ter também meus irmãos rondando por toda parte aonde eu

vou seria um presente.

Quinn e eu demos bufadas idênticas.

— Não há acordo. — papai replicou suavemente. — Agora, vamos

entrar.

Fomos para a cozinha, onde tio Geoffrey e Marcus ajudava Bruno a

despachar uma nova remessa de sangue. O sangue é armazenado em

vários refrigeradores e alguns eram transferidos em garrafas plásticas

de água antes de serem distribuídas. O odor sombrio impregnava a casa.

Minhas presas saíram um pouco das gengivas. Era como estar dentro de

uma padaria enquanto assavam todo tipo de pães imagináveis. Mamãe e

papai se sentaram à mesa e abriram o bilhete. Mamãe franziu o cenho:

— Quem diabos é Saga? — ela perguntou.

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Tio Geoffrey olhou para Solange: — Como você se sente?

— Bem. — sorriu sem mostrar suas grandes presas. Suas íris

estavam rodeadas por um vermelho vivo com veias como raios de sol.

— Você parece um pouco pálida. — jogou-lhe uma garrafa de

sangue. — Beba.

Ela pegou a garrafa com um suspiro.

Ele levantou as sobrancelhas: — Eu te disse, você precisa de mais

sangue do que os outros.

— Eu sei. — ela rosnou. Desenroscou a tampa e colocou a garrafa

em seus lábios. Parou um segundo, depois retrocedeu bruscamente.

Antes que pudesse tomar um gole, mamãe, que estava mais perto dela,

pulou por cima de uma cadeira e jogou a garrafa para longe da mão de

Solange. Solange piscou, sua cadeira deslizava pelo piso de madeira. O

sangue jazia esparramado sobre as paredes. Cheirava mal... muito forte,

muito amargo.

Os lábios de mamãe estavam crispados e suas narinas dilatadas.

— Veneno.

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Capítulo 01 Lucy

Eu nunca teria pensado que podia ter tanta diversão em um suado

ginásio, realizando lutas de treinamento até querer vomitar.

Muito menos em uma escola de Hélios-Ra.

Quero dizer, estes eram os tipos que anteriormente haviam se

dedicado a caçar minha melhor amiga e sua família. Além do mais, eles

agiam como se pensassem que eram superiores. Não é que eu não

amasse meu próprio tema musical e capa.

Ainda assim. Era questão de princípios. Família Drake: Bons.

Caçadores de Vampiros: Maus.

Exceto que agora mesmo uma caçadora de vampiros da Academia

Hélios-Ra não apenas estava saindo com o irmão da minha melhor

amiga, ela também estava me ensinando como me encarregar dos

vampiros. Não os Drake, óbvio, e sim os Hel-Blar, que atacam humanos

ou vampiros e também aos outros vampiros que queiram o trono Real

para eles mesmo ou simplesmente não queiram que Helena Drake o

tenha. Seja como for. Eles iam cair. De preferência no extremo da minha

muito afiada e polida ponta de estaca.

A bota de Hunter quase cortou minha mandíbula. Cambaleei para

fora do seu alcance, impressionada. — Menina. Você é flexível. — o que

não parecia muito justo já que eu era a única que fazia yoga. Mamãe e eu

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tínhamos um novo compromisso: para cada trabalho pouco orgânico e

pouco justo ou para cada barra de chocolate pouco light que eu comia,

tinha que fazer uma ronda de saudações ao sol.

Depois do tipo de verão que havia tido, eu estava fazendo um

montão de saudações ao sol.

Hunter atacou outra vez, movendo-se mais lentamente para que

eu pudesse ver o que ela estava fazendo e escolher um contra ataque.

Depois o repetiu mais rápido. Bloqueei seu golpe. A força rebateu

através dos meus ossos e praticamente em meus dentes. Segui o

impulso, empurrando contra o seu braço. Ela não deixou sua estaca cair,

mas ela sabia que tinha fazê-lo se ela fosse uma garota normal e não a

oradora oficial da Vampire Hunter High. Ela odiava que eu a chamasse

assim. Dizia que fazia soar como um filme ruim do tipo B.

Duh.

— Isso é bom. — Hunter disse, ofegando. — Continue sorrindo

assim para o seu atacante e ele pensará que você é muito lúgubre. E

louca.

Eu ampliei meu sorriso. — Adoro tudo isso. Em quem eu posso

bater depois?

Ela parou e riu. Seu longo cabelo loiro estava preso para trás e eu

estava feliz em ver que a gola de sua camiseta também estava úmida de

suor. Não queria ser uma presa fácil. Nunca. — Sobre isso. Eu sei que

você gosta de bater nas pessoas no nariz, mas é muito mais efetivo se

você apontar para a garganta ou os olhos. Nem mesmo os vampiros

podem ver onde você está se não tiverem olhos.

— Genial, e asqueroso.

— E você deveria usar lentes de contato.

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Pestanejei atrás dos meus óculos de aro escuro. — Por quê? Eu

odeio colocar os dedos em meus olhos.

Hunter não disse nada. Ela só estendeu a mão e agarrou meu

cotovelo, me fazendo girar com um puxão para que minhas costas

estivessem frente a ela. Depois usou sua outra mão e rápida e

casualmente puxou meus óculos do meu rosto. Eles deslizaram através

do piso de madeira polida. Tudo ficou borrado.

— Já entendi. — resmunguei. Logo eu tive que me colocar de

joelhos e procurar meus óculos tateando, que era completamente

embaraçoso. — Bem. — disse, colocando-o em meu nariz. As paredes de

espelhos refletiram três de mim, todas pareciam descontentes. Então,

me apoiei em meu bastão e repentinamente parecia como se eu devesse

estar em uma novela de fantasia. Eu queria que Solange atendesse o seu

maldito telefone para eu poder lhe contar isto. — Você provou o seu

ponto. De fato, eu vou conseguir uma cirurgia ocular a laser tão logo seja

possível.

— Normalmente é isso que fazemos também. — Hunter admitiu.

— É mais seguro. — ela me jogou uma toalha e nós limpamos nossos

rostos. Doíam-me todas as partes e meus pulmões ardiam. E ainda assim

eu adorava. A próxima coisa que eu saberia é que estaria levantando

pesos e bebendo shakes de proteína. E saberia a diferença entre minhas

coxas e meus glúteos.

Claramente, crescer com vampiros havia causado um estrago

psicológico irreparável.

O campus se estendia ao redor de nós, visível através da única

parede com janelas. Havia um lago, muita grama e várias casas de estilo

vitoriano e celeiros duplicados como dormitórios, residências de

professores, e áreas de treinamento, tudo agrupado sob o olhar vigilante

das montanhas Violet Hill. Segundo Kieran, o namorado de Solange, as

garagens estão cheias de motocicletas. Perguntei-me se poderia pedir a

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alguém que me ensinasse como pilotar uma. Assim eu não teria que

depender de Nicholas para me levar a todos os bons esconderijos de

vampiros e os Tribunais Reais.

Se algum dia me fosse permitido voltar, é claro.

Todos parecem pensar que eu sou muito delicada. Realmente não

sei de onde tiraram isso. Quando meus pais voltaram de sua visita anual

a Ashram com minha prima Christabel a tiracolo, Solange e os pais de

Nicholas tinham sentido a necessidade de contar-lhes tudo.

Mesmo isto sendo, obviamente, a pior ideia do mundo.

Papai deu uma pequena olhada na pequena cicatriz da minha nuca

de quando Solange e eu fomos atacadas por vampiros Hel-Blar e ali

mesmo, enlouqueceu. Agora ele tem uma úlcera, a qual aparentemente é

por minha culpa. Mas, na verdade, é culpa de Helena e de Liam por

contar-lhes tudo. Eu nunca teria feito algo tão tolo.

Acrescentarei isso ao fato de minha mãe ficar sabendo que

Nicholas é o meu primeiro namorado ―oficial― (ninguém conta Julian,

nem sequer mamãe, porque ele era um imbecil) e agora ela está me

perseguindo pela casa toda com folhetos de sexo seguro e desenhos de

vestidos para o baile de formatura. É outubro. O baile de formatura não

acontecerá até maio, sério, como se leva um jovem vampiro ao baile de

formatura? Nicholas nem mesmo sentará no mesmo carro comigo

porque o odor de sangue humano fresco ainda é muito tentador. A

transformação foi há pouco mais de um ano e leva tempo para ter sob

controle todos esses apetites. Penso nisso como um caso perpétuo de

TPM, onde você sente dentro dos seus ossos que se não conseguir um

sundae com calda imediatamente, você realmente poderia matar

alguém.

Seja como for, claramente me lembro da minha mãe dizendo que o

baile de formatura era um retrocesso Neandertal dos bailes de

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debutantes que sinalizavam que as senhoritas estavam prontas para o

matrimônio. Agora, repentinamente ela fala de cultivar orquídeas no

jardim de inverno para assim poder ter um buquê caseiro livre de

pesticidas. Eu disse a ela que se eu tivesse que fazer saudações para o

sol cada vez que comesse chocolate, ela teria que fazê-los cada vez que

trouxesse a colação de grau do baile de formatura ou qualquer coisa

relacionada a isso.

Alguma dúvida de que estou me divertindo com uma caçadora de

vampiros que está chutando o meu traseiro?

Uma garota com rabo de cavalo vermelho estava correndo na

pista abaixo de nós, sorrindo. Se não tivesse cuidado, essa seria eu. Senti

a repentina necessidade de uma barra de chocolate.

O sol estava começando se fundir atrás de uma fila de pinheiros,

deixando manchas de fogo. As sombras eram tão longas que pareciam

dedos escuros esticando-se para tocar em tudo e todos.

— Você deveria ir para casa. — disse com tristeza.

Deus. Eu lamentava ter que deixar os Hélios-Ra.

Eu tinha que recuperar minhas prioridades, o que seria mais fácil

de se fazer se eu pudesse ir para a casa dos Drake e ficar um tempo com

Solange, mas agora eu tinha um toque de recolher que irritava e Solange

estava agindo de forma estranha, o que irritava mais. Uma das muitas

novas regras impostas desde a volta de meus pais era que minha prima

e eu tínhamos que estar em casa antes do anoitecer, e ponto. Se

quiséssemos sair depois do pôr do sol, um deles tinha que nos levar e

buscar.

Não importava que eu soubesse mais do que meus pais amantes

da paz sabiam sobre lutas de vampiros ou que a namorada de Logan,

Isabeau, tivesse nos presenteado dois Rottweilers adultos e treinados

para nos proteger, nem que os Drake enviaram os seus guarda-costas

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humanos um par de vezes na noite. Eu os chamei de Van Helsing e

Gandhi. Os cachorros, não os guarda-costas.

Dissemos a Christabel que Violet Hill não era seguro à noite, que

havia algum tipo de guerra entre gangues. Isso era mais fácil do que lhe

dizer a verdade: que tinham muitos vampiros Hel-Blar na área e que

estavam se aproximando cada vez mais da cidade. Atacavam o gado e, às

vezes, pessoas. Até eu tinha cuidado e isso porque tinha crescido com

vampiros. Eles eram ferozes, tinham um monte de presas e fediam a

cogumelos podres e água podre. Não conheciam nenhuma lógica ou

domínio além da fome. Um vampiro normal tinha que te morder, te

drenar e se alimentar com seu sangue para te transformar. Um Hel-Blar

só tinha que te morder. Havia rumores de que só a sua saliva era

contagiosa, não somente para humanos como também para outros

vampiros. Os vampiros normais não mordiam outros vampiros; isso era

considerado asqueroso e de mau gosto. Literalmente. Uma vez que um

vampiro tenha ingerido sangue humano, não teria valor alimentício para

outro vampiro. Era tão repugnante, de qualquer maneira em que o visse.

Portanto, os Hel-Blar definitivamente eram os visitantes não

desejados da festa. Nós os evitávamos o quanto podíamos, mas isso

estava se tornando complicado. Havia mais deles do que nunca, graças à

política de vampiros que havia se enganado. Mas, pelo menos, a maioria

deles saía à noite, mesmo os mais velhos que, teoricamente, podiam

sobreviver à luz do sol.

Esse é o porquê Christabel e eu agora tínhamos um toque de

recolher. Não teria sido tão ruim se eu pudesse ir para a fazenda Drake.

Meu toque de recolher não me excluía de visitá-los.

Mas Solange sim.

E francamente, eu estava ficando doente com seu sofrimento

emocional.

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Se ela estava chateada, bem que poderia estar assim comigo em

seu quarto. Para isso serviam as melhores amigas e se ela se sentia

culpada porque eu tinha tido um pequenino corte na nuca, então ela

simplesmente tinha que superar isso. Tão logo eu pudesse dirigir até lá

e bater nela com algum sentido comum, ela o faria. Agora mesmo,

tínhamos tido toda a nossa discussão através de SMS e e-mails. O que

era apenas satisfatório.

Lancei minha toalha úmida na cesta da lavanderia, agarrei minha

mochila e segui Hunter pelas escadas. Alguns estudantes jovens

passaram por nós pelo caminho para o ginásio. Olhavam-me como se eu

fosse uma peça de museu. Mal pude resistir ao desejo de gritar: Bú!

— O que há com eles? — perguntei para Hunter.

— Está de brincadeira? Você é linda.

— Eu sou linda? — ela deve estar brincando. Os Drake eram

famosos. Hunter era famosa por deter um professor de Hélios-Ra que

tinha envenenado os estudantes. Eu era só a melhor amiga desbocada.

— Dá um tempo. Você pegou um professor.

— Sim, mas você é a melhor amiga dos membros da Família Real,

apesar de ser humana. — Hunter encolheu os ombros enquanto

corríamos pelo caminho para o estacionamento. Era um pouco mais

tarde do que eu havia pensado. O instinto paternal se fazia presente

agora.

— Agora veja. Os Drake foram excluídos do Tribunal por o que,

um século? Dois? Repentinamente são o máximo? Você sai com um

deles, deve saber que não é bom para eles você pensar assim.

Ela sorriu: — Sim, o ego de Quinn não precisa de estímulo. Eles

serão completamente insuportáveis se a humanidade começar a agir

como groupies.

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Levantei minhas sobrancelhas. — Eu não sou uma groupie. —

afirmei ferozmente.

— Eu sei. — ela levantou as mãos de forma conciliadora.

— Ainda bem. — balancei minhas chaves.

— No entanto, você é a primeira não estudante que foi permitida

entrar no campus para ter aulas em mais de cinquenta anos.

— Urra para mim. — abri a porta e deslizei no assento do

motorista. — Nada de seu avô ainda?

— Não. — ela respondeu quietamente. — Ele ainda não fala

comigo. — ele era um Hélios-Ra à moda antiga e não podia suportar o

fato de que sua neta caçadora de vampiros saísse com um vampiro,

sendo um Drake ou não. Sentia-me mal por ela. Ele era a única família

que ela tinha. Ela apenas encolheu os ombros e tentou parecer que não

se importava. — Tenha cuidado. — disse ela.

— Eu sempre tenho.

Ela bufou tão fortemente que fiquei surpresa de que não tivesse

um minitornado. — Lucy, eu só te conheço há poucas semanas, mas ser

cuidadosa é uma coisa que sei que você não é.

— Sim, sim. Todos precisam aprender um novo discurso. — o

motor arranhou um pouco, mas logo ligou. Francamente, era um milagre

cada vez que ele funcionava. Deveria usar isso com meu pai para

convencê-lo de me comprar um novo carro. Você sabe, para maior

segurança.

Despedi-me de Hunter com as mãos e saí velozmente pela calçada,

parando para digitar meu número do código a fim de que o portão de

segurança se abrisse. Apesar dos acontecimentos das últimas semanas,

o caminho para casa foi sem acidentes. Passei pelas fazendas, plantações

de abóbora e pomares de maçãs de sempre.

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As montanhas se erguiam de forma impressionante, com

coberturas de neve que pareciam quase púrpuras a esta hora da noite.

Falando nisso, nesta noite o crepúsculo foi rápido e firme. Telefonei para

casa com o meu celular. Christabel atendeu.

— Estou na rua de baixo. — eu disse. — Diga para os meus pais

não enlouquecerem.

— Eles acabaram de ligar. — ela disse. — Estão na cidade. Sua

mãe está fazendo com que seu pai vá a algum lugar budista de

meditação e relaxamento.

— Você disse a eles que eu estava em casa? — fiz a curva em nossa

rua.

— Eu disse para eles que vi seus faróis na calçada.

— Obrigada, Christa. Estarei aí em cinco minutos. — desliguei e

contei até três em voz alta. — Um... dois... três. — o telefone tocou, nesse

exato momento. Eu o atendi, colocando os olhos em branco.

— Estou na calçada, mamãe. — eu disse, indo para a garagem. —

Diga ao papai que pare de hiperventilar.

— Você está bem?

— Estou bem. Aprendi a dar socos na jugular de alguém.

— Estou tão orgulhosa. — seu tom era tão seco como frangos

assados sem graça. — Cuide da sua prima.

— Mamãe, ela é dois anos mais velha que eu. Ela pode se cuidar.

— Ela está passando por um mau momento, Lucky. — até o

telefone grunhiu com desaprovação diante desse apelido odioso.

— Eu sei. — eu disse rapidamente. — Eu só quis dizer que tenho

certeza que ela está bem.

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— Bem. Não chegaremos muito tarde em casa. Não tome sorvete

como jantar.

— Não tomarei. — prometi. Eu quis dizer, nem pensar, mas

apenas porque mamãe comprava para nós, sorvete de tofú. Argh. É

ainda mais asqueroso do que beber sangue, se me perguntarem.

A luz da varanda estava acessa e eu podia ver Christabel atrás da

cortina da sala de estar, acomodada no sofá com um livro. A garota lia

mais do que alguém que eu tivesse conhecido. Mesmo quando éramos

pequenas, ela preferia a biblioteca em vez da praia. A batida ao fechar a

porta do carro ecoou, perturbando a incontinente e velha poodle de

Jeffrie. Ela latiu para mim através da janela. Gandhi devolveu-lhe o

latido do interior da nossa casa, a poodle resmungou e se calou.

Olhei ao meu redor antes de ir para casa. Eu odiava que

repentinamente a noite parecesse perigosa e suspeita. Adoraria me

sentar no jardim e observar as estrelas, mas agora tinha que me

preocupar em ser esmagada a golpes até morrer pelos Hel-Blar. Um

movimento em um dos arbustos me fez parar. Meu coração pulsava

lenta e cuidadosamente. Inalei pelo nariz, mas não conseguia sentir

cheiro de cogumelo podre. Talvez o Hel-Blar tivesse aprendido a usar

perfume. No entanto, eu não podia sentir cheiro disso também. Tentei

alcançar vidro de Hypnos que o tio de Solange, Geoffrey, havia me dado.

Não estava dentro da minha manga. Estava em minha bolsa. Eu tinha me

esquecido de reatá-lo depois da minha aula com Hunter. Estúpida.

Tentei alcançar outra arma. Pelo menos meu bolso estava

convenientemente bem sortido.

Quase estaquei um gato de rua.

Ele rosnou para mim, arqueando-se com uma pelagem parecida

com espigas de ferro. Tropecei para trás, amaldiçoando.

Page 23: Drake Chronicles -  Bleeding Hearts

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— Desculpe. — disse a ele. — A vida é provavelmente dura o

suficiente vivendo nos canos de lixo e se escondendo dos cães, sem que

alguma garota esteja apontando um pau pontiagudo para você. Prometo

que te deixarei um pouco de leite, ok? — ele rosnou outra vez, depois se

sentou e lambeu o traseiro. Fascinado. — Não sei se isso significa que eu

estou perdoada, mas você poderia fazer isso em outro lugar?

Andei dando meia volta às palmas das mãos úmidas pela onda de

adrenalina. Todo esse medo era contagioso e não me agradava nem um

pouco. Limpei as mãos nas minhas calças.

— Você acaba de pedir perdão para um gato?

Não tive tempo de reconhecer a voz. Apenas ouvi o ruído de onde

não deveria ter nada. Mais adrenalina disparou através de mim e eu

senti como se minhas entranhas acabassem de ser eletrocutadas. Saltei

da varanda, dei um salto mortal na grama e me coloquei de pé,

ligeiramente enjoada.

Bem diante do meu sorridente namorado.

Não abaixei minha estaca. Em vez disso, eu a movi

ameaçadoramente. — Eu quase me caguei de susto. Nicholas.

— E foi essa a sua reação instintiva? — ele brincou, arqueando

uma sobrancelha. — Ginástica?

— Cala a boca. — queixei-me. Ele só ampliou o sorriso. Vestia

jeans escuros e uma camisa preta com um casaco de grife. Estava bonito,

como sempre. A adrenalina se transformou em algo muito mais

interessante que uma reação química. — Olá.

— Olá. — ele fechou a distância entre nós, afastando a ponta

afiada da estaca que eu ainda estava apertando em minha mão. — Seus

pais estão em casa?

— Não.

Page 24: Drake Chronicles -  Bleeding Hearts

24

Seu sorriso ficou seriamente delicioso. — Bem.

E então ele se inclinou para me beijar. Eu o encontrei no meio do

caminho, com meu próprio sorriso. Seus lábios eram ternos e suaves.

Seus braços deslizaram em volta de mim com uma mão afundando em

meu cabelo e a outra descansando em meu quadril. Apoiei-me mais

perto, mordiscando seu lábio inferior. Ele prendeu a respiração, o que

me fez sentir salva e linda apesar de ainda estar ruborizada e suada pelo

treino. Os vampiros não precisam respirar, só fazem isso por hábito,

especialmente os jovens como Nicholas. Cada vez que ele fazia esse som

estrangulado, eu sabia que ele estava fazendo algo bom.

E então, eu já não pude continuar me deleitando porque o beijo se

tornou sombrio e profundo e eu não podia pensar em nada. Senti o beijo

em todas as partes, em meus lábios, em minha barriga, nos dedos dos

meus pés. Eu estremecia. Adorava. Não havia nada, exceto sua boca e

suas mãos. Repentinamente a noite pareceu infinitamente mais perigosa

e mais bela. Tudo eram estrelas fugazes e luz de lua.

Depois ele se afastou e eu tive que me esforçar para voltar a

encontrar a minha respiração.

— Está pronta? — ele perguntou com a voz um pouco rouca.

— Huh?

— Está pronta para entrar? — ele explicou, um canto de sua boca

se levantou. Surpreendentemente, isso era uma distração.

— Entrar? — repeti torpemente.

— Noite de filmes, lembra?

Engoli. Meus joelhos pareciam mais fracos do que tinham estado

depois de quatro voltas em torno da malvada pista de exercícios do

campus dos Hélios-Ra. — Certo.

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— Lucy?

— Sim?

— Sua casa é para cá. — seus pálidos olhos riam de mim.

Eu estava caminhando para a porta da garagem.

Eu o afastei com um empurrão, rindo: — Oh, cale-se.

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Capítulo 02 Christabel

Lucy e seu namorado riam quando entraram na sala, onde eu

estava lendo Jane Eyre pela sexagésima vez. Era meu cantinho de

segurança, personagens que eu conhecia e amava, quartos vermelhos

cheios de fantasma e escuros mouros. Van Helsing estava dormindo no

outro extremo do sofá, sua enorme, pesada cabeça no meu pé. Levantou-

se para enxergar pela janela e cheirar a porta dianteira quando Lucy

chegou e depois voltou direto a seu lugar favorito de soneca.

— Oi — Lucy disse. — Obrigada por me cobrir com meus pais. —

Gandhi se arrastou atrás dela, cheirando a barra das calças de Nicholas e

balançando sua calda. Para serem ferozes cães guardiões, certeza que

não tinham problemas com os namorados.

— São apenas oito da noite e já estão aterrorizados porque ainda

não está em casa. Não é como se vivessem no gueto. — Parei, dobrando

o cantinho da página para marcá-la. Meu pai costumava fazer uma

careta cada vez que me via fazer isso, mas acredito que os livros

deveriam ser amados por partes.

— Existe sequer um gueto em Violet Hill?

— Não exatamente.

— Então o que está acontecendo? — Além do fato que minha mãe

estava tentando me matar. Não havia outra explicação. Não só me

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enviou ao povoado longínquo, mais estranho, no meio do nada, ainda

por cima antes do meu último ano do colégio.

Em um lugar onde todos haviam crescido juntos. Em um lugar

com praticamente nenhuma livraria (ao menos nenhuma com mais de

um andar e sem janelas repletas de vidro e incenso), um cinema, e mais

bares de sucos saudáveis do que cafés. Somente era um tédio.

Já estava com saudades de casa. Saudades do anonimato das ruas

repletas, das livrarias com livros raros, e o fato de que pudesse pegar o

metrô e parar em qualquer lugar. Mais do que nada, estava com

saudades de minha mãe. Sabia que era o melhor. Ela precisava de

tratamento; estava ficando pior e já não podia mais cuidar dela.

Quando meu tio veio para ficar com a gente depois de que sua

caminhonete hippie quebrou, podia ler em seu rosto. Estava

preocupado. Não disse que era a melhor aparência de mamãe em

semanas. Depois de que ela foi despedida do seu trabalho na papelaria

perdeu quase uma semana em uma caixa de vinho barato.

Ao menos bebeu uma coisa barata. De todas as formas, ela tentou.

Realmente o fez. Mas não parecia capaz de melhorar por si mesma. E o

tio Stuart era um desses caras familiares de amor e paz.

Antes que me desse conta, minhas malas estavam feitas e eu

estava na parte de trás de um vagão de patchouli a caminho de Violet

Hill.

Lucy deu de ombros. — Você sabe como são os pais. — Ela não

tinha nem ideia. — Vamos assistir a um filme. Você quer?

Sacudi a cabeça, ficando de pé. — Irei ler no meu quarto.

— Sei que você já leu esse livro uma centena de vezes. — apontou

Lucy.

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Lia muito. Amo os livros. Se viessem em garrafas seria uma

alcoólatra. Afogaria-me no vinho de Wordsworth, ou no Gin de Charles

Dickens, ou no licor de alcaçuz de Edgard Allan Poe.

Suponho que adivinharam que não tenho namorado. Mas vou citar

Orgulho e Preconceito por um momento: ―Adeus ao desengano e à

decepção! O que são homens ao lado das rochas e das montanhas?―.

Além do mais os garotos me temem. Oh, os pego me olhando às

vezes. Tenho o cabelo enrolado da cor loiro avermelhado, e por alguma

razão lhes fascina. Poderia facilmente estar usando um biquíni. Mas

depois vêm os jeans rasgados, as botas de combate, e o poema de Edgar

Allan Poe que estou lendo (porque o amo e não porque seja tarefa), e de

repente todo o cabelo comprido e loiro do mundo não é suficiente.

Claro que, Simon, meu melhor amigo em casa, diz que não tem

nada a ver com isso. Diz que é porque olho aos garotos como se fossem

estúpidos. Posso evitá-lo? Devo rir e flertar quando alguém diz algo

bobo? Simon diz que sim. Eu digo que não.

Por isso, nada de namorado. Também, uso as palavras ― por isso.

Não posso evitá-lo. Amo os livros antigos mais que tudo, com suas

palavras e descrições complexas das lâmpadas a gás e os batedores de

carteiras.

Também gosto de ficção histórica e de poesia. Não desses livros

vampiros de moda. Esses só me tiram do sério. Mas Drácula de Bram

Stoker tudo bem. Jane Eyre é meu livro favorito de todos os tempos. E

estive cultivando uma muito satisfatória paixão literária pelo poeta

Percy Bysshe Shelley. Amo que sua esposa, Mary Shelley, que escreveu

Frankenstein, manteve seu coração depois de que ele morreu em um

lenço na borda da lareira e lutou com seu amigo poeta Byron sobre

quem deveria ficar com ele.

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Quero dizer, fala sério. Que garoto poderia competir com isso?

Especialmente nessa pequena cidade rústica.

— Você não tem que ir — acrescentou Nicholas. Estava tão quieto,

que quase tinha esquecido que estava ali. Deu um sorriso sério. — Se

você ficasse, as escolhas de filme de Lucy ficariam em inferioridade

numérica. Poderia chegar a ver algo mais que John Hughes ou um filme

de zumbis.

— Hey! — Exclamou ela. — Os filmes classe B são uma forma de

arte.

— Me desculpe. — Devolvi o sorriso como desculpa. Tinha visto

muitos filmes com Lucy para saber que algum garoto lindo estaria ou

sem camiseta ou mutilado até a morte numa cabana deserta no bosque.

A única vez que tentei que visse Orgulho e Preconceito, não tinha sido

capaz de parar quieta. Aceito, era uma versão de seis horas, mas poxa. O

que não se faz por amor?

Caminhei pelo corredor decorado com quadros em bordas

douradas de vários deuses hindus com múltiplos braços.

Meu quarto era igual ao resto da casa: móveis simples de madeira;

um edredom feito à mão na cama; e uma desordem de caixas de

madeira, recipientes de incenso, e revistas de ioga e cestas.

Tinha inclusive um suporte de macramê para a planta aranha da

janela. No entanto tinha muito espaço para meus livros e nada cheirava

como vinho estragado. Inclusive com o bafo de cachorro de Van Helsing.

Ele gostava de me seguir por aí.

Era também oito da noite de sexta, e não havia nenhuma razão no

mundo pela qual eu deveria estar trancada enquanto Lucy e Nicholas se

beijavam no cômodo ao lado. Costumava passar os verões aqui vagando

ao redor com Lucy. Deveria ser capaz de encontrar o caminho ainda

depois de todo esse tempo. Depois que papai morreu e mamãe veio

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abaixo, eu não fui capaz de deixá-la só todo o verão. Teria se esquecido

de comer ou pagar o aluguel ou tirar o lixo pra fora. E então nosso

segredo teria sido descoberto.

Era mais fácil se ficava em casa. E usualmente não pensava nessas

coisas. Só fazia o que precisava fazer e obtinha boas notas para que

nenhum professor ou assistente social nos notasse.

Talvez não tenha estado nas montanhas há alguns anos, mas não

acreditei nem por um minuto que Violet Hill estivesse tão invadida por

crimes para que estivesse em perigo. Como se houvesse muitas gangues

de hippies vagando nas ruas, usando roupas de haxixe e empurrando

batidas de frutas orgânicas em caminhantes desprevenidos. Por favor.

Eu era da cidade. Uma vez peguei o metrô sozinha depois da meia-noite.

Nada muito inteligente, com certeza, mas acredito que posso lidar com o

povo da montanha.

Mas não preciso esfregar na cara de ninguém. Só sairia pela janela,

iria caminhar, e estaria de volta antes que minha tia e tio voltassem.

Estava no térreo, assim não teria que descer por nenhuma árvore. Joguei

meu livro na cama e coloquei a jaqueta e as botas pretas até o joelho que

encontrei no armário. Não eram tão rudes como minhas botas de

combate, obviamente, mas as amava. E eram silenciosas, então não

iriam fazer barulho.

Abri minha janela, o ar frio de outubro balançou as cortinas. Meu

quarto dava para o quintal atrás da casa com a parede de tijolos, a

grande horta, e as luzes brilhantes das fadas penduradas nas macieiras.

O terreno se estendia até a fronteira com o bosque.

Não iria ao bosque escuro; não podia lembrar se tinham ursos ou

leões da montanha por aí. Estava mais assustada por essa possibilidade

do que a violência ao azar no povoado.

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Deixei cair minha perna sobre o outro lado e me agachei, me

apertando pela janela. Uma farpa pegou meus jeans enquanto caía sobre

a grama, rasgando-o. Ao menos já estavam rasgados nos joelhos. As

estrelas estavam sobre minha cabeça tonta. Em casa, tínhamos sorte de

ver a Ursa Maior. Mas aqui as estrelas estavam por todos os lados,

parecendo cair no bosque ou sair das montanhas. Dentro do meu

quarto, Van Helsing gemeu. Coloquei minha cabeça pra dentro.

— Saia pela porta de cachorro na parte de trás tonto — lhe disse.

Estalei os dedos e apontei até a porta aberta do quarto atrás dele.

Lambeu meus dedos e depois se precipitou até o corredor como um

elefante. Virei-me sorrindo.

E de repente estava caindo de costas contra a casa, uma mão

contra a minha boca, um alto e magro corpo me pressionando contra a

parede. Meu coração batendo com um lento ritmo de medo, como um

tambor molhado sendo tocado. Claramente, tinha me equivocado.

Realmente não era seguro sair depois do anoitecer.

— Não grite — disse uma voz masculina, quase com vergonha. —

Por favor?

Agora estava confusa. Parecia da minha idade, com cabelo escuro

e o que minhas novelas chamariam de ―uma forma amigável―.

Mesmo me mantendo presa entre seu corpo e os tijolos.

Tentei chutá-lo, somente por princípios. Desejei estar usando

minhas botas de aço. Esquivou-se facilmente.

— Sou Connor Drake — disse, como se isso significasse algo. —

Sou o irmão de Nicholas — me informou quando eu não parecia

particularmente cômoda. Apenas lembrava-me de brincar com o

rebanho de irmãos quando era pequena. — Não vou te machucar —

prometeu. — De verdade.

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— Então me deixe ir — gritei contra sua palma. Soou mais como: –

Então demr!

— Oh, desculpa! — Deixou cair à mão. — Não grite, está bem?

— Não está nada bem — respondi. — Você é louco?

Van Helsing apareceu dando a volta no canto, chutando massas de

terras e grama. Sorri zombando pra Connor. Esperei que o cachorro o

mordesse direto do traseiro. Ao contrário, se sentou aos pés de Connor e

babou.

Suspirei desgostosa. — Sinceramente.

Connor acariciou sua cabeça. — Ele me conhece.

— Certo, mas eu não. — reclamei. — Sempre assedia as garotas?

— Não é seguro à noite por aqui.

O olhei com atenção. — Estou entendendo isso.

— Me desculpe. — Deu de ombros. Agora que tinha tempo para

olhá-lo, vi a semelhança familiar. Tinha cabelo escuro como Nicholas, e a

mesma beleza fina. Seus olhos eram azuis, mesmo no débil resplandecer

das luzes brilhantes. Estava usando jeans, uma camiseta preta, e algum

tipo de munhequeira de couro no pulso. Era realmente sexy.

Transtornado, mas sexy. E não era meu tipo. Usualmente ia pelos

garotos maus. E este garoto, apesar de estar escondido nos arbustos, era

claramente bom.

— Vou pra dentro agora — anunciei, desafiando-o a me

contradizer.

Colocou as mãos nos bolsos. — Ok.

Dei meia volta para olhar a janela. Logisticamente estaríamos em

apuros. Se subíssemos de volta para dentro, não seria apenas

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extremante indigno, mas estaria esfregando minha bunda diretamente

para ele. E ele de verdade não merecia olhar para a minha bunda.

Escorreguei fora de alcance, movendo-me tão lentamente quanto hera

subindo pelo muro do jardim. — Irei pela frente.

Van Helsing trotou a meu lado, como o traidor peludo que era.

Connor se arrastou atrás da gente, afável e, no entanto, ameaçador ao

mesmo tempo. Não era como se estivesse assustada com ele, não

realmente. Agora me lembrava dele. Era deselegante, todo cotovelos,

seu nariz sempre enterrado em algum comic. Mas tinha ouvido sermões

sobre os toques de recolher e saqueadores e o perigo desde que tinha

chegado, por isso os cabelos da minha nunca se arrepiaram, como o pelo

eriçado de um gato por nenhuma razão aparente.

Limpei a garganta. Estava sendo ridícula. — De qualquer jeito, o

que está fazendo aqui?

— Preciso falar com meu irmão.

— Oh.

Como alguém criava pequenas conversas que não incluíssem

insultos ou ameaças com alguém que tinha pulado de dentro dos

arbustos e te prendido? Ele teve sorte por não jogar gás de pimenta

nele. Só tinha estado aqui umas duas semanas e já tinha perdido minha

vantagem. Nada genial.

Preocupei-me com isso até que chegamos à varanda. As tábuas de

cedro estavam cinza pela idade e se fundiam alarmantemente no meio. E

próximo às vigas. Estava para cair a qualquer minuto. Subi as escadas

ruidosamente. Connor colocou a mão no meu cotovelo para me

estabilizar.

Fui estúpida ao pensar no senhor Darcy.

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Libertei-me ao me apressar para a porta dianteira. E quase causo

uma comoção cerebral em mim mesma. A parada repentina trouxe um

arrepio de medo através do meu braço e me fez tropeçar. Estava

fechada.

Bati fortemente, de mau humor. Praticamente podia ouvir Connor

rindo atrás de mim. Mantive-me de costas para ele, ainda que meu

pescoço formigasse.

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Capítulo 03 Lucy

Abri a porta com uma batida, Nicholas estava se movendo atrás de

mim.

— Você já olhou pelo olho mágico? — murmurou.

— Sim, aqui está. — Eu me livrei dele. — O quê? Você acredita que

um vam... uh, que garotos maus batem na porta? — Eu pisquei para

Christabel, confusa. — O que você está fazendo aí fora? — Van Helsing

passou perto de mim. Ela não parecia assustada, então eu também não

estava. Gandhi veio cheirar Connor antes de ir também, aborrecido. — O

que você está fazendo aqui? — Meu coração batia aceleradamente. —

Está tudo bem com a Solange?

Connor assentiu rapidamente. — Ela está bem.

— Ótimo. Porque só eu posso matá-la.

A mão do Nicholas que estava na parte de baixo das minhas costas

era reconfortante. — Ela só precisa de um tempo.

— Por favor. Isso não funciona comigo. Eu fui a exceção. — Franzi

o cenho. — Além disso, é isso o que a gente diz quando quer terminar

com alguém.

Christabel entrou praticamente colada contra a parede, como se

Connor fosse contagioso.

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Se ela soubesse.

Esperei até que ela fosse para o seu quarto. Cruzei meus braços,

virando para bloquear a saída. — Então, o que está acontecendo?

— Nicholas e eu precisamos ir pra casa.

Entrecerrei meus olhos. — Tudo bem. Só me fale o mais rápido

possível qual é o novo drama de morto-vivo.

Connor se movimentou, parecendo desconfortável. — Se supõe

que isso é um segredo.

Eu sempre tinha sido parte da família. Pelo amor de Deus, eu era

um dos seus segredos. Mas desde que meus pais voltaram de viagem, eu

estava recebendo vibrações estranhas. Eu não estava hospedada na

fazenda, então eu não tinha como escutar às escondidas. Eu estava

sendo deixada de fora das coisas. Inclusive a Solange estava me

evitando. Engoli seco, com medo de que talvez fosse chorar na frente

deles.

Nicholas manteve sua mão nas minhas costas. Ele era o único que

não estava agindo de forma estranha, o que acredito, era algo raro. Ele

era a única razão pela qual eu estava mantendo minha cabeça no lugar.

Eu estava acostumada a fazer parte dos Drake. Não sabia como ser esta

outra Lucy. Ela era muito infeliz.

Mas quando eu estava com o Nicholas, eu podia esquecer tudo

isso, ou pelo menos não ficar obcecada. Ele fazia com que todos os

sentimentos dolorosos desaparecessem um pouco. Ele talvez fosse

arrogante e mandão, mas não escondia de mim as coisas importantes.

— Nós não deveríamos ser vistos por aqui. — disse Connor. Ele

estava certo. A porta principal estava aberta. Qualquer um poderia nos

ver e ouvir a nossa conversa.

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Dei um passo pra trás, forçando o Nicholas a retroceder também

porque ele ainda estava atrás de mim. — Então entra.

— Oh, cara. — ele murmurou. — Lucy não faça isso comigo.

— Você que não faça isso comigo. — O repreendi com firmeza.

— Mamãe disse que eu e os outros não deveríamos te arrastar

para estas coisas.

Eu fiz uma careta. — Isso não é justo.

— Também não é justo ser comido por um Hel-Blar — assinalou

Nicholas. Ele acrescentou para o Connor. — Só entra. De qualquer

forma, Lucy vai descobrir de alguma maneira. Pelo menos desta forma

ela não poderá nos pegar de surpresa.

Connor fechou a porta detrás dele. — Está bem, mas se a mamãe

descobrir, a culpa é sua.

Um pouco da pressão no meu peito desapareceu. Connor farejou o

ar e deu um passo para trás, engolindo a saliva.

— Você poderia ser um alívio um pouco menos perfumado?

Minhas sobrancelhas baixaram para o Connor. — Você está

tentando dizer que eu tenho um cheiro ruim? Bonitos movimentos com

as garotas, gênio.

Connor revirou os olhos. — Como se fosse te conquistar.

— Hey, eu sou bonita. — Eu dei uma cutucada em Nicholas. —

Diga para ele o quanto eu sou bonita.

— Ela é linda. — Nicholas repetiu suavemente — Mas você não

pode tê-la.

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Connor revirou seus olhos com mais força ainda. — Me dá um

tempo. — Suas narinas se arregalaram. Ele olhou para o Nicholas. —

Como você faz? Esta casa é muito pequena.

Ele encolheu os ombros, mas eu vi os músculos do seu pescoço

saltarem. E eu sabia o que isso significava. — Ele às vezes usa tampões

no nariz. — Expliquei. Nicholas me deu um apertão. — O quê? Isso é um

segredo?

Connor olhou para o corredor. — Você disse para sua prima?

— Claro que não.

— Ela não deveria sair sozinha durante a noite. Ainda não

limpamos toda a praga do Hel-Blar.

— Eu sei. Já dissemos pra ela não sair, mas ela não é estúpida. Mal

acredita que Violet Hill só está cheia de gangues.

— Ela escapava para se encontrar com algum garoto?

Deixei escapar um suspiro. — Ela está se guardando para o Senhor

Darcy.

— Então, o que está acontecendo para você vir aqui em vez de só

me ligar? — Nicholas perguntou. Ele estava com a expressão intensa que

eu tanto amava: todo mal-humorado e sério.

— Primeiro me dá o seu celular. — Connor estendeu a mão.

Nicholas entregou. Connor colocou seu olhar em mim. — E o seu

também.

Eu pisquei, logo em seguida peguei o meu celular na mochila que

estava no chão atrás de nós. — Por quê?

— Não estou convencido de que a mamãe não tenha grampeado

os nossos telefones. — ele disse, percorrendo entre as opções do menu e

apertando um grupo de botões. Não tinha ideia do que ele estava

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fazendo. — Deixarei ativado o GPS, mas quero ter certeza de que

ninguém está nos escutando.

Ele devolveu nossos telefones, depois de abri-los para conferir o

seu interior.

— Então? — Perguntei. — Agora, o que é?

— A última entrega de fornecimento de sangue para a casa foi

envenenada.

Ambos nos olhamos. Os Drake estavam fugindo da intenção de

assassinatos desde antes do décimo sexto aniversário da Solange. E logo

que Helena matou Lady Natasha e se tornou a rainha, apareceu um novo

tipo de assassinos competindo pelo trono.

Ele concordou forçadamente com nossas expressões. — Solange

quase bebeu um pouco.

— O que? Ela está bem? — Perguntei. Não esperei uma resposta,

só apertei a ligação rápida no meu telefone.

— Ela está bem. — disse Connor. — De verdade.

O telefone tocou e tocou no meu ouvido. Eu desliguei frustrada. —

Ela não atende.

— Ela está bem.

— Então ela deveria atender ao telefone.

— Ela está bem. Mamãe e papai foram garantir-se de que eles

tenham se encarregado de todo o fornecimento contaminado e tio

Geoffrey está examinando a garrafa que a Solange quase bebeu.

Felizmente, ela foi a primeira da noite, senão, não teria sido lento o

suficiente para que a mamãe pudesse sentir o cheiro de algo ruim. — Os

vampiros recém-nascidos não eram exatamente conhecidos por seus

apetites delicados ou pelas maneiras refinadas quando acordavam pela

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primeira vez. — Mas agora mamãe e papai querem colocar mais

guardas, assumindo que isso é fisicamente possível. Eu não sei se você

entende, mas eu necessito tanto de mais guardas como necessito de um

bronzeado. — Ele parecia chateado, da mesma maneira que se via sobre

programação de computadores de má qualidade ou de filmes de ficção

científica quando não recebiam os elogios adequados. — Han Solo não

precisou de mais guardas. Nem Malcolm Reynolds. Ou Picard.

Eu tive que sorrir. — Você já percebeu que você não é o capitão de

uma nave intergaláctica?

— Assim como você não percebeu que realmente não é uma

super-heroína?

Estralei meus dedos. — Hunter está me ensinando novos truques.

— Isso é tudo que precisamos — reclamou. — De qualquer forma,

papai quer todos nós em casa — Acrescentou para o Nicholas.

— E sobre o que... — Nicholas congelou tão de repente que eu não

pude terminar a minha pergunta. — O quê foi? — Eu sussurrei.

Mas ele relaxou, apontando para a entrada através da janela,

pouco antes das luzes dos faróis aparecerem entre as árvores. — Carro.

Eu olhei para fora no momento em que o carro dos meus pais,

passava pela estrada de terra. — Merda.

— Nós iremos por trás. — disse o Nicholas.

Ultimamente meu pai ficava com uma cor estranha quando ele

chegava em casa à noite e encontrava o Nicholas no sofá comigo.

Nicholas me beijou rápido e quente como uma estrela cadente. Connor

só se foi pelo corredor.

— Isso não está terminado! — Eu gritei atrás deles.

De forma alguma eles vão me deixar de fora disso.

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Entrei no meu quarto, murmurando sob minha respiração em voz

baixa. Eu decidi me trocar e colocar um pijama mais confortável, que me

ajudasse a pensar. Abri a gaveta e tirei uma calça xadrez de flanela.

Preservativos retráteis caíram sobre o tapete.

— Inacreditável. — Andei pelo corredor. — Mamãe! — Eu ouvi

meus pais na cozinha, fervendo água para o chá de camomila. Como ele

tem uma úlcera, minha mãe obriga o meu pai a beber um copo de chá

todas as noites. Ele não conseguia convencê-la de que uma garrafa de

cerveja orgânica era tão eficaz quanto um chá.

— Pare de esconder preservativos nas minhas coisas. Isso aqui é

como uma corrida na caça de ovos de Páscoa.

Mamãe estava na mesa da cozinha, com uma xícara chinesa na

mão. Seus longos cabelos estavam pendurados em duas tranças, apenas

salpicados com um pouco de cinza. Ela usava um bindi prateado e uma

blusa com uma flor de lótus bordada na parte da frente de alguma loja

local Tibetana. — Eu só quero que você esteja segura, querida — ela

respondeu calmamente.

— Até agora eu já contei dezoito desses — eu soltei. — Quanto

maldito sexo acredita que estou fazendo? — Especialmente com um

toque de recolher às sete da noite, que era aproximadamente a hora que

o Nicholas acordava. Não era como se a gente pudesse ficar juntos na

hora da escola.

Papai ficou pálido, baixando sua xícara tão rapidamente na mesa

que o chá derramou todo na sua mão, queimando-o. Não acredito que

ele nem sequer tenha percebido. — Quem está fazendo sexo?

— Ninguém, papai.

Roubei um biscoito de aveia do prato na frente dele enquanto ele

estava hiperventilando, ocupado demais para perceber.

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— Você só tem dezesseis anos — ele disse metade acusando,

metade apavorado.

— Eu sei pai.

— Você é nova demais para fazer sexo!

— Eu não estou fazendo sexo! — Isso estava ficando muito

constrangedor, até mesmo para nossa família que sempre conversou

sobre tudo. Além disso, Nicholas e eu estamos juntos há menos de um

mês. Ele estava tentando não beber da minha jugular e evitando entrar

nas minhas calças. Ele era mais apreensivo sobre beber meu sangue do

que eu. Quando meu pai piscou pra mim, sua pele estava da mesma cor

que a barriga de uma rã, dei um olhar de reprovação para minha mãe. —

Veja o que você fez?

— Você tem dezesseis anos. — minha mãe disse calmamente,

como se isto não fosse humilhante. — Só quero que sejamos realistas.

Papai enxugou o rosto. Ele tinha um longo colar de pérolas malar

de cristal ao redor do seu pescoço. — Eu vou ter que arrumar uma arma,

né?

— Você não acredita em armas. — eu o lembrei. — Você se

lembra? Essa não era sua grande marcha política do ano passado?

Precisamos de gurus, não de armas? — Eles tinham um recorde de vinte

e três horas no gramado fora do município. Demorou uma hora antes

que eu ficasse entediada. Além disso, eu gosto muito de miniaturas de

bestas e revólveres UV, então me senti um pouco como uma hipócrita.

No lugar disso, me encontrei com a Solange para tomar um sorvete.

— Isso foi antes de ter uma filha de dezesseis anos. — disse papai,

com uma mão pressionando seu peito, uma clara indicação de que sua

úlcera o estava incomodando. Beijei a parte de cima da sua cabeça. Seu

rabo de cavalo era mais longo do que o da minha mãe.

Page 43: Drake Chronicles -  Bleeding Hearts

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— Beba seu chá, papai. — Então eu disse com firmeza para minha

mãe. — Estou falando sério, mãe. Nada de preservativos.

— Quero que você vá à minha ginecologista.

— Mamãe! — Girei sobre os meus pés. — Fim de conversa! —

Fechei a porta do meu quarto com uma batida atrás de mim no caso de

ela considerar me seguir para uma conversa entre mãe e filha. Eu amo a

minha mãe, mas não queria ter uma conversa sobre sexo.

Francamente, eu tinha problemas maiores.

O sexo não era nada comparado com às milhares de maneiras em

que Solange e seus irritantes irmãos poderiam morrer sem mim. Eu

merecia ser parte de seus planos secretos. Eu o ganhei. Eu tinha certeza

de que em algum momento eles precisariam de um toque humano. E se

pedissem ajuda a Hunter, ao invés de pedir pra mim, eu mesma

estacaria todos eles.

Minha mãe diz que ciúme não é nada atraente.

Também não é atraente um nariz quebrado.

Estou apenas dizendo.

Joguei-me sobre a cama, suspirando. Uma melhor amiga emo, uma

louca como mãe e vampiros selvagens na floresta.

Simplesmente outra noite de quinta-feira em Violet Hill.

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Capítulo 04 Christabel

— Você não levará nenhum livro para a festa da fogueira na praia.

— Lucy exclamou da porta do meu quarto. Ela vestia uma saia comprida

com uma camiseta sem mangas e uma jaqueta jeans enfeitada com um

enorme broche em forma de rosa cor de rosa.

— Nop — concordei. Eu vestia meus usuais jeans rasgados e botas

de combate. — Vou levar dois.

— Como vai ler na escuridão?

Mostrei para ela meu book light1 na pilha antes de deixá-lo cair

dentro da minha mochila preta favorita. Tem escrito trechos de poesia

por toda a mochila com marcador prateado.

— A única razão porque vou é porque não deixarei me incomodar

nisto.

— Cuidado, todo esse entusiasmo poderia te afogar – respondeu

secamente.

Coloquei minha mochila em cima do meu ombro. — Como

convenceu seus pais para que nos deixassem sair à noite?

1 é um marcador de livros feito de plástico transparente com pequenos Leds brancos em seu interior. Na

parte de cima contém pequenos botões que servem para acender ou apagar o aparato, e para modificar o grau de iluminação.

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45

— Nicholas e seus irmãos estarão lá. E dezenas de pessoas da

escola. Além do mais, lhes disse que você precisava sair e fazer algo

normal.

A olhei fixamente. — Responsabilizou a mim?

— Oh sim. – Ela deu de ombros sem arrependimento. — De todas

as formas, estou certa. E lhe prometo, as festas na praia são muito mais

geniais que as patéticas festas no campo aonde os idiotas bêbados se

manuseiam entre eles.

— Vocês realmente têm festas no campo? Carros estacionados em

círculo com luzes acesas e tudo? Pensei que isso apenas ocorria nos

filmes. — Cidade realmente estranha. Tínhamos festas normais nas

salas de estar das pessoas.

— Na praia temos as fogueiras, e podemos ver todas as estrelas, e

o lago sempre se vê como se estivesse cheio de brilho. Vai amar.

— Não soa de tudo horrível — admiti.

Tia Cass encontrava-se na entrada tentando não parecer

preocupada. Seus jeans estavam cobertos de remendos Mandalas (É um

termo de origem sânscrita, que significa diagramas ou representações

simbólicas bastante complexas, usadas tanto no budismo como no

hinduísmo) — Tenham cuidado garotas.

— Mamãe, é apenas uma festa — Lucy disse. Mas tinha algo em

seu tom. De repente me senti como se estivesse perdendo a conversação

real.

O sorriso de tia Cass era forçado. — Eu sei. — Ela entregou a Lucy

um saco Beatnik2. — Guardei uns pedaços para vocês. E água. Você sabe

como me sinto a respeito da soda.

2 É um termo com fim de parodiar e se referir desdenhosamente à geração beat e seus seguidores.

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Tive que sorrir. Ela não mencionou álcool como as mães normais.

No entanto, Lucy não pegou o saco; ela apenas entrecerrou seus

olhos com desconfiança. — Jura que não têm preservativos aí dentro?

Tossi. — O que?

— Mamãe está obcecada — Lucy respondeu sem me olhar. —

Você sabe, porque tenho dezesseis e sou uma velha grande vadia.

— Lucky! — Tia Cass exclamou. — Isso não é tudo e você sabe. —

Suspirou, remexeu no saco e tirou um punhado de embalagens que

enfiou no bolso traseiro. Então entregou o saco novamente. — Aqui está.

Lucy reclamou todo o caminho até seu carro. Tinha flores

artificiais pregadas na parte interior do teto. Era como conduzir com um

boné de jardim irregular. Ela ligou o motor e a música forte soava ao

nosso redor. Revisei meu celular enquanto avançávamos pelo caminho,

apesar de saber que minha mamãe não tinha permissão para manter

contato com o exterior durante pelo menos um mês mais. Ela tinha

permissão para escrever cartas, mas sabia que não o faria. E o pessoal

guardaria as minhas até que saísse da prisão ou o que quer que

chamassem. Era estranho não ter contato, não revisar que ela não tenha

desmaiado ou que tenha deixado uma vela acessa. Não ajudá-la a entrar

no banho dando tropeções. Não sustentar seu cabelo e passar lenços

quando ela caía em um ataque de depressão sobre a péssima mãe que

era.

Não tinha nada para fazer, exceto ir a uma festa.

Um Jeep saiu do bosque atrás de nós, seus faróis acessos. Lucy

tirou seu braço pela janela de seu carro e saudou com a mão.

— É Nicholas — explicou em voz alta, por sobre a música. Olhou

pelo espelho retrovisor. — E Quinn, acredito. Não posso ver bem daqui.

— O carro desviou para a vala. Segurei-me no painel.

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— Hei, presta atenção! — gritei.

Ela fez uma manobra brusca com o volante. — Sinto muito. — Fez

uma careta envergonhada. — Os garotos Drake podem fazer isso a uma

garota. — Conduzimos e passamos por pomares, um vinhedo decadente

e um montão de abóboras. Passamos pela única rua da cidade e

pegamos um caminho de terra, desviando ao redor de um bairro

adormecido pelo lago. Estacionamos próximo a uma sorveteria, fechada

para a temporada. Vi as fogueiras já acessas na praia e o brilho do lago.

Poderíamos ter entrado em uma pintura, ou melhor, ainda, em um

desses poemas sobre fadas e sereias. A fumaça fazia o ar parecer

perigoso, como uma espada enferrujada que parece inofensiva, mas que

ainda pode cortar sua pele.

“Vou usar calças de flanela branca e passear pela praia. Já escutei

as sereias cantando entre elas. Não acredito que cantem para mim”. Citei

T.S. Elliot em voz baixa.

— Não lhe disse — Lucy disse com ar arrogante, sem incomodar-

se. Estava tão acostumada a mim citando poemas como eu estava a ela

citando velhos filmes de John Hughes. — Às vezes meu amigo Patrick

traz sua bateria. — deu a volta abrindo o porta malas tirando um estojo

de guitarra enquanto o Jeep parou em seco ao nosso lado, levantando pó

e cascalhos.

— Não sabia que tocava — disse.

— Tive uma espécie de verão estressante – respondeu. – Assim

mamãe me deu seu velho violão. Ela decidiu que precisava de uma saída

criativa. Não lhe deu o seu discurso de ―a criatividade cura?―

— Graças a Deus não. Mas ela sabe que escrevo poemas.

— Não os deixe jogados, ela os pregará na geladeira.

— O que tenho, seis anos?

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— Ela colocou um faz alguns meses.

Pisquei. — O que? Como?

— Acredito que sua mãe o enviou.

— Minha mãe enviou um dos meus poemas? — Não estava certa o

que pensar sobre isso. Minha mãe sabia que ainda escrevia?

Nicholas saiu do assento dianteiro sorrindo. — Não toque músicas

populares – brincou com Lucy, esticando o braço para levar o violão

para ela. Ela lhe deu um soco. Ele me olhou. — Sua mãe ainda ensina

todas essas velhas canções hippies.

— Isso é tudo o que sabe. De qualquer forma estou em um estado

de ânimo beatnik whiskey3 — o informou com arrogância.

— É isso sequer um tipo de música? — lhe perguntei.

— Claro, é quando faço minha voz rouca e interessante.

— Na realidade ela é muito boa — admitiu o irmão de Nicholas. —

Para uma mucosa. — Primeiro pensei que era Connor; ele tinha os

mesmos olhos azuis e a mesma mandíbula. Mas seu cabelo era mais

comprido e seu sorriso era mau. Era muito encantador para um garoto.

— Christabel, se lembra do Quinn? — Lucy perguntou enquanto

nós começávamos a descer para a praia. — Ele é o gêmeo de Connor. E

vai paquerar com tudo que tenha peito, assim tenha cuidado.

— Ela está com ciúmes porque eu não paquero com ela. — O

sorriso de Quinn era preguiçoso. — Ela é territorial quando se trata de

nós, os irmãos Drake. — Lembrava-me muito bem. Inclusive quando ela

era pequena, Lucy costumava chutar qualquer um que brincasse

conosco e que houvesse olhado feio. Eu nunca pude decifrar isso. Não

3 Diz-se de um movimento da geração norte-americana da década de 1960 (beat generation), que contesta os

valores, padrões e modo de vida da sociedade materialista e afluente dos Estados Unidos da América. Diz-se também apenas beat.

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era como se fossem indefesos. Por um lado, eles superavam em número

a todos os outros. Além disso, sua mãe dava um pouco de medo.

Quinn nos abandonou quando chegamos à areia, dirigindo-se

diretamente a uma garota com cabelo comprido e loiro. Nicholas deixou

o violão e pegou a mão de Lucy em seu lugar. O primeiro fogo estava

cheio de gente; gente que dava cotovelada e derramava bebidas uns nos

outros. Outros dançavam música metal tentando valentemente fazer

rachar as caixas de som. As luzes de Violet Hill penduradas como

lanternas através das árvores atrás de nós, decorrendo as montanhas

antes que estas sumissem por completo. Diferentes tipos de fumos se

misturavam e penduravam grosseiramente no ar. Movi-me para o fogo

menor e me sentei em um banco, a pintura vermelha saindo em lascas.

Tive tempo apenas de tirar meu livro quando alguém se sentou ao

meu lado no chão, chutando areia sobre minhas botas.

— Sua camiseta diz ‘Heathcliff é um imbecil’?

Comecei. Connor Drake estava de repente ocupando a maior parte

do espaço, suas pernas compridas quase em chamas, seu corpo batendo

no meu. Tinha o costume de me pegar desprevenida. Seu cabelo caía em

seus olhos, que eram azuis, ainda hesitantes, como fogueira incerta. Seu

sorriso era torcido e um pouco autocrítico, tão diferente do seu irmão.

Era difícil acreditar que eram gêmeos. Ele apenas gritava ―bom

garoto―.

— Heathcliff não é aquele que faz as garotas rirem tolamente? —

continuou enquanto eu somente fiquei ali sentada e o observava como

se fosse uma idiota. Usualmente não era tão idiota ao redor dos garotos.

À noite não agi assim quando ele tinha me assustado. Tinha ficado

bastante ocupada tentando segurar meu coração que estava tentando

passar através da minha caixa torácica. Agora não podia me parar de

tentar decifrar qual era exatamente o tom de azul dos seus olhos; não

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tão turquesa, tão pálidos como um ovo de Robin4, mas sim como safiras.

Ou Cerulean5? Tive que deixar de me inclinar para frente para ter uma

melhor visão.

Que diabos estava mal comigo? Eu ia por garotos com tatuagens e

sorrisos sarcásticos.

— Você nunca leu O Morro dos Ventos Uivantes, não é? —

Finalmente perguntei antes que o silêncio se voltasse a esta coisa

ridícula que nos esmagava.

— Não. — Inclinou-se para trás contra o banco, afastando-se da

garota louca que catalogava seus olhos.

— Bom, Heathcliff é um idiota. Ele não é em nada um herói

romântico. Quero dizer, pendura um filhote na parte de trás de uma

cadeira! — Soava como se conhecesse pessoalmente Heathcliff, mas não

podia evitar. Tirava-me do sério essas coisas. — Bom livro, no entanto

— concordei. — E pelo menos ele não salta dos arbustos e agarra as

meninas apenas por diversão.

Connor fez uma careta. — Ops, sinto muito.

Um canto tremeu na minha boca. Ele desarmava de uma pobre e

inteligente maneira. Eu já sabia que ele era um gênio debaixo dessa

casual caída de ombros. Ele tinha esse olhar: bom coração, cabeça

inteligente. — Está tudo bem. —respondi.

Uma das garotas do outro lado do fogo se inclinou para frente. Seu

pescoço nos ameaçando todo o caminho até ali. Até o brilho dos seus

lábios era vagamente agressivo. — Você é um dos irmãos Drake? —

perguntou sem fôlego. Eu quase lhe perguntei se tinha asma e precisava

de um inalador.

4 ave americana

5 tipo de pássaro

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Connor assentiu.

— É verdade que Lucy está saindo com seu irmão Nicholas? —

pressionou ela soando duvidosa. Entrecerrei meus olhos. Se ela estava a

ponto de insultar Lucy, ela vai obter mais do que esperava. Não era tão

boa como as pessoas do campo. Uma vez fiz chorar um garoto no metrô.

— Sim — Connor confirmou, sem parecer particularmente

interessado. Se a garota se inclinasse mais, ela cairia diretamente nas

chamas. Perguntei-me se ele se deu conta de que ela o estava

paquerando. — Ele definitivamente está interessado nela. Todos

estamos. — adicionou enfaticamente.

A garota e seus amigos riram. Connor me olhou e se inclinou

ligeiramente para o meu joelho. Ele parecia pouco disposto a fazê-los rir

mais. Parecia como se na realidade ele quisesse falar comigo.

— Você sabe que essas garotas estão paquerando com você, não

é? — sussurrei.

Ele pestanejou. E logo se retorceu. — Não estão.

Ri. — Sim estão.

Ele parecia totalmente desconcertado. Era adorável.

— Salve-me. — ele sussurrou.

Ainda mais adorável.

— É sério. — adicionou.

— Então, o que está fazendo aqui? – perguntou, ainda rindo. Até o

homem que estava na margem da água olhou brevemente interessado

em Connor. Ele pode não ser meu tipo, mas não era cega. Pude ver a

apelação. — Não vai à escola no povoado, não é verdade?

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Eu sabia. Ele era um dos inteligentes. De repente ele era ainda

mais lindo, mesmo sem ter lido O Morro dos Ventos Uivantes.

— Você gosta de Violet Hill? – Connor perguntou enquanto

olhávamos a garota retorcer um bastão do diabo6 sobre sua cabeça. Ela

poderia ter viajado com um circo com seus dreads coloridos e os

piercings na cara. Ela era linda, como se pertencesse a Alice no País das

Maravilhas. Ela era a parte de Violet Hill que eu realmente gostava, e

disse isso a Connor.

— Eu gosto de toda a arte e os fanzines7 nos cafés — admiti. —

Mas não tem livrarias o suficiente. E a biblioteca é muito pequena.

— O diz como se sacrificássemos bebês. — Sorriu. — E há pelo

menos quatro livrarias no povoado.

— Sim, mas estão, sobretudo, cheia de livros de culinária

vegetariana e cristais. O que está bem, mas tenho a Tia Cass para esse

tipo de coisa.

— Entendo como se sente. Obter comics decentes ou peças de

computador é sempre um desafio.

Grunhi. — Não me lembre. Meu laptop tem tensão pré-menstrual.

Ele riu entre dentes. — Posso dar uma olhada nele se quiser. E o

Guilty Preasures no povoado tem um segundo piso cheio de romances,

— adicionou. — O primeiro piso é tudo chocolate e recortes de Johnny

Depp. Também há um posto de poesia no mercado do agricultor aos

sábados.

— Está bem, isso é genial. — Senti uma pequena semente de

esperança de sobreviver ao ano.

6 é um jogo de malabares que consiste em sustentar um bastão de medida, peso e forma no ar contra o chão

com outros bastões. 7 É uma abreviação de fanatic magazine, uma revista editada por um fã.

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— Posso te levar — disse timidamente. — Se quiser.

— Está bem. Certo. — A semente se converteu em um botão de

rosa. Seria bom ter um amigo aqui, embora ele não vá à nossa escola.

O vento mudou um pouco, reavivando o fogo e disparando faíscas

delicadas. Já não podia cheirar o lago, ou a fumaça, somente Connor. Era

algo picante e doce, como alcaçuz. Não tinha pensado que ele usava

colônia. E, no geral, odeio colônia. Mas esta era diferente. Inalei

sorrateiramente. Havia algo mais, como açúcar derretido ou a primeira

coisa em uma manhã na padaria. É canela? Não, não a canela. Algo mais.

Agora o estava cheirando?

É evidente que todo esse tempo livre para me sentar em festas não

era bom para mim.

Ele se sentou de repente, colocando-se de cócoras. Algo em sua

maneira de se mover fez meu coração acelerar. Não pude deixar de

pensar sobre lobos e tigres e animais com muitos dentes. Adrenalina e

algo que me fez sentir cândida guerrearam dentro do meu corpo,

confundindo-me. Isto era poesia, este empurrar e puxar, esta misteriosa

necessidade.

É evidente que tinha outro lado de Connor.

Colocou-se de pé, fazendo caso omisso do fato de que eu

aparentemente estava perdendo a cabeça.

Ele inclinou a cabeça como se estivesse escutando algo que eu não

poderia ouvir, algo mais adiante das vozes conversando, do crepitar do

fogo, e o amigo de Lucy tocando sua bateria. — Tenho que ir — disse em

voz baixa e talvez um pouco triste. — Fique perto do fogo. — Ele tinha

pulado o banco e estava entre a multidão antes que pudesse dizer algo.

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“Habitamos nas câmaras do mar por garotas marinhas coroadas de

algas vermelhas e marrons, até as vozes humanas acordar-nos e nos

afoguemos” Citei novamente T.S. Elliot, sentindo-me envergonhada.

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Capítulo 05 Lucy

Era quase normal.

Eu estava andando na praia com meu namorado e ele estava

segurando minha mão e continuou me dando aqueles olhares de soslaio

provocantes que eu tanto amava. Não que eu admitisse isso para ele,

mas ele provavelmente poderia ouvir a minha frequência cardíaca

acelerando. Às vezes, ter um namorado vampiro tinha suas

desvantagens.

Ele sorriu, como que para provar meu ponto.

Nós ficamos na beira da multidão. Eu sabia o que queria dizer

quando ele apertou sua mandíbula dessa forma particular: Tentação.

Embora houvesse muito espaço, o vento soprava pelo lago a maioria das

essências que o colocava faminto, como pele quente, sangue e suor das

garotas que dançavam..

Minha vida é simplesmente estranha.

Ainda assim, era uma noite linda. Estava fria e apenas um pouco

nebulosa à beira da água. A lua pendia para o lado, como se ela fosse cair

no lago e se afogar se o vento soprasse muito forte. As estrelas

brilhavam, muitas para contar. Meu amigo Nathan chamou minha

atenção e fez a cara que ele sempre faz quando acha que alguém é lindo.

Ele se abanou dramaticamente. Eu apenas ri.

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Teria sido perfeito se minha melhor amiga houvesse se

recuperado e descesse aqui.

— Então, Solange não está vindo, não é verdade? — Eu perguntei,

descontente. — Nem mesmo, assim por meia hora?

Nicholas balançou a cabeça suavemente. — Lucy, ela não pode. Ela

não é... sutil. Ela ainda não pode manter os dentes corretamente agora

— ele acrescentou em voz baixa.

— Ela está realmente começando a me irritar.

— Acredite em mim, eu sei. — Os músculos de sua garganta

deram um espasmo quando ele engoliu em seco. — Você poderia fazer

yoga para melhorar sua respiração, sua mãe lhe ensinou a se acalmar?

— ele perguntou, e então ele inclinou a cabeça para acariciar o lado do

meu pescoço. Eu vibrava toda, minha respiração estava mais curta, o

que era o oposto da respiração de yoga. Sua boca era suave, fazendo

cócegas em meu ouvido. Meus joelhos de repente ficaram vacilantes.

Virei um pouco, se todos fossem ver a minha vergonha, veriam com ele.

Enfiei minha mão em seu braço, até seus músculos estarem se

movimentando contra a minha mão. Ele estava usando mangas curtas,

como de costume, uma vez que vampiros raramente sentem frio. Ele só

usava um casaco em público no inverno para não chamar a atenção para

si mesmo. Como se aquele rosto bonito, não chamasse a atenção

suficiente.

Toquei seu ombro, deslizando os meus dedos para cavar seu

cabelo, sorrindo diabolicamente.

— Não é uma competição — ele sussurrou contra os meus lábios.

— Me mostre o que você sabe — eu sussurrei de volta, beijando-o

até que ele me puxou para mais perto, com as mãos em meus quadris.

Sua língua tocou a minha e meu presunçoso triunfo se transformou em

algo completamente diferente. Ele era mais gostoso do que chocolate.

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Alguém assobiou, o som veio através do espaço muito pequeno

deixado entre nossos corpos. Aplausos se seguiram. Eu abri meus olhos

para metade das minhas colegas que estavam nos observando. Nicholas

jurou suavemente sob sua respiração.

— Muito discretos — eu disse alegremente.

Ele se virou em direção ao precipício, me puxando para trás. Seus

dentes brilharam.

— Você está bem? — Perguntei.

Ele balançou a cabeça. — Apenas me dê um minuto. — Ele estava

muito pálido, como se ele fosse feito de conchas e pérolas. Foi

decepcionante. Nada cortava mais profundo do que uma concha

quebrada, apesar do delicado brilho opala.

Eu coloquei minhas mãos nos bolsos e virei sobre meus

calcanhares, observando o brilho dos fogos ainda no lago e as sombras

alongadas de meus amigos na areia. Nicholas era mais reservado do que

eu, e ele sempre quis fazer a sua coisa de vampiro lutar-sozinho. Eu

estava finalmente aprendendo a deixá-lo fazer isso, embora fosse contra

todos os meus instintos não chegar até seu rosto para ver se eu poderia

ajudá-lo. Ou, pelo menos, incomodá-lo até que ele mudasse novamente.

Eu vi Quinn e Connor tentando se aproximar, então Nicholas

xingou novamente, diferente desta vez. Quando eu olhei para ele, sua

cabeça estava inclinada, os olhos ferozes. Seus dentes estavam

totalmente para fora novamente. — Alguém está vindo — ele disse.

Quinn e Connor nos alcançaram antes que eu pudesse dizer

qualquer coisa. Ambos olharam sombrios. Hunter correu pela areia

atrás deles, carrancuda.

— Eu disse para esperar — ela murmurou. — Hey, Lucy.

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— Ei, Hunter. — Ela usava um vestido curto e tênis. Ela parecia

como qualquer outra garota em uma fogueira, mas eu sabia que ela

tinha pelo menos oito armas diferentes escondidas em seu corpo. Eu

tinha uma estaca na minha bota e mais duas no bolso de dentro do meu

casaco. As narinas Nicholas queimaram.

— Hel-Blar — ele vociferou. — Descendo a colina, por detrás da

caverna.

Eu não podia sentir o cheiro do cogumelo molhado, o cheiro verde

pântano de um vampiro Hel-Blar, mas eu tinha um nariz humano

aborrecido e o vento estava soprando do lago. Senti apenas o cheiro de

fumaça e água, mas eu inalei forte o suficiente para me fazer ficar tonta,

um cheiro fraco do shampoo de Hunter.

— Fique aqui — acrescentou. Ele e seus irmãos se foram em

borrão de pele pálida e olhos claros, antes que pudéssemos responder.

— Sim, claro— eu disse de qualquer maneira, sabendo que ele iria

me ouvir.

Hunter, de repente pegou uma estaca em uma mão e um punhal

na outra. Nem sequer se dignificou a esperar a resposta de sua ordem e

começou a correr. O fedor não nos atingiu até que rodeamos um lado do

penhasco. Quinn estava agarrando-se às raízes de ervas altas, fazendo

chover sujeira. Ele agarrou o vampiro de pele azulada pelo tornozelo e

jogou para seus irmãos que esperavam abaixo. Nicholas o estacou,

nuvens de cinzas giravam ao redor do seu tornozelo.

Da caverna escura à nossa frente, Hunter e eu escutamos um grito,

seguido de outro grito.

— Que diabo, homem? — Um cara berrou.

— Outro — Hunter disse. Ambas avançamos em direção à boca da

caverna. Hunter quebrou um bastão de luz, o puxando da bolsa e

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jogando para dentro. O brilho verde ácido me fez pensar em alienígenas

e filmes de ficção científica.

E de repente não houve tempo para pensar.

Um Hel-Blar tinha um casal encurralado no fundo da caverna,

ossos de peixes e cacos de vidro ao redor de seus pés. Em um espaço tão

estreito e úmido, os odores eram quase visíveis, cogumelos viscosos e

apodrecidos e uma capa de sujeira sobre a água, o tipo de lugar que nem

mesmo os insetos vão visitar. Uma menina fechava sua camisa

firmemente com uma mão e hiperventilada. O garoto estava tentando

parecer valente, mas quando viu o sangue no seu braço, seus olhos

ficaram em branco. Pelo menos ele não parecia ter marcas de dentes. Da

maneira como sua camisa estava rasgada, provavelmente ele tinha sido

jogado contra a parede da caverna.

— Fiquem juntos — Hunter gritou com essa voz militar dela. Suas

costas se ajeitaram antes que ela fosse conscientemente disso. O Hel-

Blar rangeu seus dentes, todos eles perversamente afiados como

agulhas. Ele usava um estranho, colar de cobre trançado em volta do

pescoço. Desde quando os Hel-Blar usavam acessórios?

— Que coisa é essa? — A menina perguntou.

— Apenas um garoto bêbado, que acabou de sair de uma rave—

Hunter respondeu. — Fique onde está — ela falou quando eles

tropeçaram para frente. O Hel-Blar rosnou.

Peguei um punhado de pedrinhas e joguei uma em sua cabeça. Ele

saltou fora de seu templo e sacudiu a cabeça. Eu apenas sorri,

mostrando todos os meus dentes como qualquer bom predador, e joguei

outra pedra. Eu continuei as atirando até que ele rosnou novamente,

saliva escorrendo em seu queixo e saltou para mim.

Ok, então o plano funcionou melhor na teoria.

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Porque não importava quão preparada eu era, ou quantas vezes

eu tive um vampiro pulando na minha cara, alguns fatos permanecem o

mesmo. Eles eram mais rápidos do que eu. Sempre.

— Agacha! — Hunter gritou enquanto eu tropeçava para trás. Caí

e bati forte meu tornozelo. Dor brotou. Teria uma contusão infernal pela

manhã.

Você sabe, se não me comerem.

Hunter pegou sua estaca com tanta facilidade e precisão que se

espera de um aluno excepcional em uma escola de caça vampiros.

Graças a Deus.

No momento que a estaca mordeu seu peito, o Hel-Blar parou

abruptamente. Caiu sobre seus pés, segurando firmemente a ferida.

Sangue grosso escorreu entre seus dedos. A estaca fez bastante dano o

atrasando, mas não tinha penetrado o suficiente em sua caixa torácica

indo para o carnudo coração. Assim, ele não estava morto.

Ainda.

Tirei vantagem de seus gritos dolorosos e me atirei para frente

com toda a minha própria estaca. Cravei na ferida ao lado da estaca de

Hunter. Então eu me inclinei de volta e usei o calcanhar da bota como

um martelo para empurrá-la através da pele, roupas, entre os ossos.

Hunter saltou sobre o corpo em decomposição para conduzir para fora o

casal. O Hel-Blar se desintegrou em pó e uma pilha de roupas com odor

de cogumelo.

Caminhei como um caranguejo para a boca da caverna e logo

fiquei de pé, ofegante. Nicholas caiu do penhasco na minha frente. Eu

gritei antes que eu pudesse me parar, engasgada com a adrenalina

quando se levantou ficando em pé.

— Você está bem? — Perguntou ele.

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Eu balancei a cabeça, tossindo. Meu corpo estava tentando

classificar através de todos os estímulos e estava momentaneamente

atordoada. — Estou bem — eu finalmente consegui murmurar.

— O que foi isso? — A menina perguntou estridentemente. — Foi,

algum tipo de monstro, você viu isso? Aonde ele foi?

— Nós o mandamos embora — Hunter lhe assegurou.

— Essa coisa não era humana — o cara insistiu.

Eu fiz a minha expressão calma e eles não se impressionaram. —

Você está bêbado — eu disse. — Você está vendo coisas.

Ele esfregou o rosto. — Uh...

Sua namorada o puxou para trás. — Podemos ir? Eu quero ir.

Agora.

Eles se afastaram, voltando para as fogueiras e as pessoas. Hunter

deixou escapar um suspiro. — Isso foi muito perto — ela disse, tirando o

celular do bolso. — Vou fazer uma ligação.

Nicholas me puxou para seu lado. — Você tem certeza que está

bem?

Eu balancei a cabeça. — O fizemos virar poeira — eu disse um

pouco orgulhosa.

— Eu... — Ele cortou abruptamente. Ele, Quinn, e Connor foram

em direção ao precipício.

— Vindo por trás — Quinn disse tão baixo que eu mal o ouvi.

Hunter correu para desligar seu telefone, mas eles já estavam saindo

como alguma ventoinha vampiresca. Tivemos de correr para alcançá-los

novamente.

Page 62: Drake Chronicles -  Bleeding Hearts

62

— Não é justo — Hunter murmurou. — Me exercito todo o

maldito dia e ele ainda é mais rápido.

— Eu sei — concordei, bufando. — Uma merda — E eu não era

nem tão rápida como Hunter. Por um lado, eu ainda podia correr e

conversar ao mesmo tempo.

A luz do luar fez que a Hel-Blar parecesse estranhamente formosa

como se estivesse cheia de opalas e lápis-lazúli8. Embora nada poderia

fazer o cheiro formoso.

Antes de Nicholas e os outros atravessarem a península rochosa

para alcançá-la, duas figuras caíram de cima da colina. O cara chutou a

Hel-Blar no pescoço com sua bota com ponta de aço, rendas de marfim

tremulavam quando ele puxou a mão para estabilizar o seu pouso. A

garota o seguiu, aterrissando com seu braço estendido, a estaca se

fundiu ao peito da Hel-Blar. A cinza se dispersou e desapareceu dentro

do lago.

O irmão mais velho de Nicholas, Logan e sua namorada, Isabeau,

sorriram um para o outro.

— Cuidado! — Hunter exclamou de repente. Seguimos o seu olhar.

No topo da colina tinha outro Hel-Blar e o cachorro-lobo de Isabeau,

Carlomagno. Ambos estavam rosnando.

— Merde — Isabeau disse quando o Hel-Blar se aproximou de seu

amado cão. — Eu vou matá-lo.

Ela foi correndo em direção à colina quando um som estranho saiu

dos bosques. Era uma combinação dessas trompas de caça antiga e uma

flauta quebrada. Foi assustador, mas forte o suficiente para que eu me

perguntasse se havia sangue saindo pelas minhas orelhas. Nós todos

estremecemos, especialmente os vampiros, com seus ouvidos sensíveis.

Quinn amaldiçoou em detalhes extremos. 8 Rocha metamórfica de cor azul

Page 63: Drake Chronicles -  Bleeding Hearts

63

O Hel-Blar gritou, segurando as orelhas. Então, ele olhou ao redor,

como se estivesse assustado.

Eu nunca tinha visto um Hel-Blar assustado assim antes.

E isso não era nada bom.

Ele estalou os dentes indo para longe de nós, do cão, e dos alunos

desprotegidos rindo na praia.

Isso era outra coisa que os Hel-Blar nunca fizeram: eles não fogem

dos alimentos. E é isso que nós somos para deles.

— O que maldito inferno foi isso? — Quinn perguntou.

Olhamos-nos perplexos.

— Eu nunca vi isso antes — Hunter disse. — Eu pensei que os Hel-

Blar eram tudo sobre a alimentação mecânica.

— Eu também. — Nicholas murmurou. — Eu odeio quando eles

mudam as regras. E porque é que todos estão usando aqueles colares?

— Participar-moi9 — Isabeau olhou para Carlosmagno. Ele

esperou pacientemente no topo do penhasco.

— Isabeau — eu exclamei. — Você está de volta.

Ela enxugou a mão na areia e sorriu seu sorriso, raro reservado. —

Oui. — Seu sotaque francês era tão grosso e ela ainda usava o mesmo

tipo de vestido de túnica, com cota de malha sobre o coração. Contas de

osso pendiam em seu cabelo. — Estive aqui há uma semana.

— Uma semana?

— Solange me pediu para vir.

9 espere-me.

Page 64: Drake Chronicles -  Bleeding Hearts

64

— Oh. — Eu não ia ser uma daquelas melhores amigas muito

ciumentas e estúpidas e inseguras sobre compartilhar. Eu estava

evoluindo e eu fiz yoga e eu era melhor do que isso, caramba. Nope.

Uma picada de orgulho passou através de mim. Um nódulo duro

de medo estava se formando na minha barriga, como se tivesse engolido

um caroço de pêssego. Em certo tipo de história, ia crescer uma árvore

da minha barriga e pêssegos cairiam fora da minha boca enquanto eu

falava.

Em vez disso, eu me senti como se eu estivesse ficando doente.

Eu tentei manter o meu sorriso firme no lugar. — Oh — eu disse

novamente.

Nicholas deu um passo em minha direção, mas eu dei um passo

para trás. Eu não queria compaixão. Foi humilhante. Logan apenas olhou

para mim por um longo momento antes de passar seu braço sobre meus

ombros. — Vamos Lucy, diga-me qual o nariz que você quebrou esta

semana.

— Nenhum. Talvez o seu agora — eu resmunguei. — Eu não sabia

que você estava de volta, também. — Eu sentia falta dele também, com

seus casacos e sorrisos perversos.

Ele usava contas de osso, como Isabeau usava em seu cabelo, mas

sobre uma tira de couro em torno de seu pulso. Ele tinha ficado com

pessoas como Isabeau, a CWN Mamau, aprendendo seus costumes desde

que ele tinha sido iniciado em sua tribo. Isabeau era uma serva

Shamanka e sabia tudo sobre os aspectos mágicos de ser um vampiro,

coisas que os Drakes nunca tinham realmente acreditado até que

Solange cumpriu dezesseis anos. Eu gostava dela. Não é que eu não

queria que Solange passasse um tempo com ela. Eu só não queria ficar

de fora. E esta foi apenas mais uma prova de que eu não era mais uma

Drake honorária.

Page 65: Drake Chronicles -  Bleeding Hearts

65

Pensar nisso me deu uma espécie de náusea.

Eu mandei uma mensagem Solange.

Você vai me encontrar amanhã à noite. 9 PM. Carvalho.

Nós nos conhecemos no carvalho, e sempre íamos lá quando

queríamos ter certa de privacidade. Aquela árvore tinha ouvido mais

histórias sobre garotos bonitos, mais do que qualquer outra coisa no

planeta. Era na propriedade Drake, por isso seria seguro o suficiente, e

eu levaria Gandhi para me proteger no carro e para apaziguar os meus

pais.

— Nós a rastreamos por três dos bosques — Isabeau contou aos

outros. — E ela tentou comer um cachorro.

Eu podia apenas imaginar o que Isabeu tinha feito. Os cães eram

sagrados para sua tribo. CWN Mamau significava ―Os cachorros da

Mãe.― Ela provavelmente não parou até que a outra tivesse virado

cinza.

— Eles devem estar desesperados — Hunter comentou

sombriamente. — Vou dar um telefonema anônimo e trazer os policiais

para acabar com a festa. Obviamente já não é seguro aqui.

— Eu vou esperar com você — Quinn disse.

— Leve minha moto. — Connor lhe jogou as chaves. — Vou pegar

uma carona com Nicholas.

Assenti. — Vou pegar Christabel.

Corri pela margem da água para mais distante fogueira. Eu sabia

que ela estaria lá, longe das multidões e tão perto do lago sem realmente

estar nele.

— Temos que ir — eu disse.

Page 66: Drake Chronicles -  Bleeding Hearts

66

Ela se virou. — Oh. Okay. — Ela franziu a testa para mim. — Você

está estranha. Você e Nicholas tiveram uma briga ou algo assim?

— Não, mas alguém contou a polícia sobre a festa e eu prefiro

estar fora daqui antes que eles apareçam.

— Bom plano. — Ela pegou sua mochila e me seguiu. Parei para

avisar Nathan sobre os policiais. Ele correu e na hora em que subíamos

as escadas para o estacionamento, podíamos ver a correria de fogueira

em fogueira. Nicholas e Connor estavam nos esperando no Jeep.

Nicholas estava ao telefone. Pulei no carro e partimos antes que a porta

de Christabel estive apropriadamente fechada.

Page 67: Drake Chronicles -  Bleeding Hearts

67

Capítulo 06 Connor

— Que inferno é isso? — eu perguntei, abrindo o meu notebook.

Eu o resgatei do bagageiro da motocicleta antes que Quinn fosse embora

com Hunter. Ele sequer se incomodou em me provocar a respeito disso,

o que somente provava o quanto os Hel-Blar nos atordoaram. Hel-Blar

nunca desistiam, nunca. E eles não se acovardavam. Nunca.

Lá se vai uma noite na praia com a prima bonita da Lucy.

Nicholas olhou para mim, pisando no acelerador. — Você está

procurando no Google por assovios?

— Estou procurando no Google cada maldita coisa que eu consigo

pensar — eu murmurei, digitando rapidamente. — Por que isso foi

totalmente estranho.

— Eu não acho que eles vendam apitos mágicos no ebay.

Eu funguei. — Você ficaria surpreso.

— Droga, Lucy - Nicholas murmurou de repente. – Ela está indo

muito rápido.

Eu olhei para ele incredulamente. — Cara. — Nicholas era

conhecido por dirigir rápido demais. Ele havia batido seu triciclo

Page 68: Drake Chronicles -  Bleeding Hearts

68

quando ele tinha cinco anos de idade, tentando apostar corrida com

Quinn.

— Bom, ela está. — ele insistiu. — Como nós iremos protegê-la?

Os campos e hortas de Violet Hill deram lugar a florestas densas

de pinheiros e carvalhos. As sombras ficaram turvas. Uma ficou turva de

uma maneira diferente das outras.

— À direita — eu disse abrindo a minha janela. Nós estávamos

indo rápido o bastante que o céu parecesse cheio de estrelas cadentes.

Estava muito rápido para diferenciar os cheiros; tudo era pinheiro e

cheiro fresco da montanha. Nenhum indício de cogumelos. Um uivo

tremulou entre as árvores.

— Provavelmente aquele lobo — Nicholas disse.

— Provavelmente. — Voltei para o meu notebook. A conexão da

internet caía e voltava. Mesmo eu gostando do isolamento de viver no

meio do nada, o Wi-Fi era horrível. — Eu preciso melhorar...

E então Nicholas apertou o freio com tanta força, que o meu

notebook voou para painel do carro.

— Hei! — eu gritei, agarrando-o antes que ele voltasse e batesse

no meu joelho. — Esta coisa é cara.

Nicholas xingou baixinho. Eu olhei para cima. Eu sabia que ele não

ligava para o meu computador, não o bastante para xingar desse jeito.

A sombra que nós havíamos visto na beira das árvores estava no

meio da rua, usando os restos de um vestido rasgado, lama, e não muito

mais. Ela estava curvada e rosnando, tentando proteger seus olhos

vermelhos não naturais do brilho dos faróis.

— Ligue o farol alto — eu disse.

Page 69: Drake Chronicles -  Bleeding Hearts

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A luz se converteu em lanças de luminosidade que teria feito até

mesmo os meus olhos lacrimejarem. Nós podemos não ser tão sensíveis

quanto os Hel-Blar, mas nossas pupilas não foram feitas para a luz

também. Sua pele azul parecia amoras amassadas, seus dentes afiados

como agulhas. Havia sangue no queixo dela, escorrendo pela sua

garganta onde a luz ricocheteava em um colar de metal.

— Deveria atropelar ela? — Nicholas perguntou, aturdido.

Eu estava igualmente confuso. Ela não estava atacando. E ela era

muito magra para ser uma ameaça, mas ela também estava coberta de

sangue. Ela mataria alguém antes que a semana acabasse, isso era uma

certeza. Os Hel-Blar não eram somente ferozes, eles eram loucos.

Mas não éramos assassinos.

Na maioria das vezes.

E então ela fez algo mais que os Hel-Blar nunca faziam.

Ela nos ignorou.

Ela ignorou dois irmãos Drake - claro que eu não iria me referir a

nós como príncipes - e encarou a linha das árvores rastejando.

— Algo é mais assustador para ela do que sua fome — murmurei.

— Isso não é bom — Nicholas murmurou em resposta, apertando

o botão de discagem rápida de seu telefone. Eu escutei Lucy do outro

lado.

— Vocês estão bem? — Nicholas perguntou.

— Sim — ouvi claramente.

— Então dirija, não olhe para trás. Só dirija! — Ele desligou antes

que ela pudesse responder.

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Uma mulher estava de pé perto dos cedros, descalça, mas usando

um casaco de couro coberto de armas. Um deles parecia um cutelo

daqui. Era de uma cor azul claro, como o brilho de uma aquarela, não

um azul escuro hematoma como os Hel-Blar. A pele dela era pálida, mas

suas veias eram tão proeminentes que era como se ela tivesse sido

pintada em cores pastéis como um acordo antigo ou os caras do filme

Coração Valente.

Mas ela tinha muitos dentes, até mesmo daqui eu via.

A mulher Hel-Blar, ainda recuando, agarrou seu colar, suas unhas

deixando marcas irregulares e sangrentas para trás.

Nicholas se virou para o clique dos meus teclados. — Você está

brincando? Você está online agora?

— Bem, você sabe que inferno está acontecendo?

— Não.

— Nem eu. — Cliquei em alguns dos meus arquivos particulares,

mas eu não tinha certeza do que estava procurando. O telefone dele

tocou em seu bolso. Nós dois sabíamos que era a Lucy sem ter que olhar.

Ele desligou o toque. Ela o mataria por isso depois.

Mas nós tínhamos problemas maiores do que o excelente gancho

de direita da Lucy.

O vampiro na floresta ergueu um apito que parecia uma flauta em

miniatura de madeira e soprou uma vez. Era o mesmo som que nós

escutamos na praia. Nicholas e eu trocamos um olhar severo.

A Hel-Blar guinchou. O som era animal em sua dor e ergueu os

cabelos da minha nuca. Eu esperava que eletricidade se arqueasse do

colar, mas não aconteceu. Algo mais estava acontecendo com ela, e o que

quer que fosse, era doloroso.

Page 71: Drake Chronicles -  Bleeding Hearts

71

Outro assovio. Ela correu na direção dele, ao invés de para longe,

inclinando a cabeça.

— Que mer...? – A porta fechou, batendo-a atrás dele enquanto ele

seguia.

— Merda, Nick, não vá lá sozinho! – Saí atrás dele.

Ele estava na frente das luzes quando a primeira faca cortou o

capô do Jeep. Ele recuou para trás e congelou. Outra faca atingiu a porta

do passageiro perto do meu cotovelo.

— Não ainda. – A mulher riu, seu cabelo vermelho ondeando atrás

dela quando ela virou e sumiu para dentro da floresta. Nem sequer

tínhamos atingido o outro lado da rua quando o som de mandíbulas

estalando deslizou em torno de nós como insetos famintos.

Hel-Blar. Eles corriam na nossa direção, fedendo a cogumelos e

morte, alimentados por uma necessidade viciosa que nunca poderia ser

aplacada. Havia três deles... e nenhum deles usava colar. Não havia

também apitos para chamá-los.

— Bom, merda. — disse alcançando uma estaca. Eu deslizei pelos

faróis, parando na frente do Nicholas. Nós nos viramos sem outra

palavra para que estivéssemos um de costas para o outro.

Havia quem gostasse de me provocar porque eu assistia a muitos

filmes de ficção científica e lia romances fantásticos sobre jornadas e

bem versus mal. Era de se admirar que um passeio causal na praia

virasse isso? Eles não eram livros de romances fantásticos para mim,

somente uma extensão da minha vida normal. E pelo menos nos meus

livros, o bem sempre vencia.

Bem, quase sempre.

Um enorme Hel-Blar, inchado de sangue, correu para mim. Ele era

alto o bastante para que ele me cortasse na orelha com o punho antes

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72

que ele mesmo chegasse ao alcance do meu chute lateral. Eu poderia ter

caído no chão, mas isso deixaria o Nicholas sem proteção. Meu ouvido

zuniu desconfortavelmente. Os dentes estalaram muito próximos para o

meu gosto. Eu chutei de novo e o acertei no esterno. Ele cambaleou para

trás um passo, mas não caiu. Isso me deu tempo o suficiente para atirar

a minha estaca. Ela não penetrou certeira em seu coração, então ele só

caiu de joelhos, chiando e xingando.

Eu ouvi um estalo atrás de mim. Cinzas passavam em frente aos

raios de luz do farol do carro. Havia sangue no braço do Nicholas, mas

era dele.

— Para um terreno alto — ordenei, e nos jogamos sobre o Jeep.

Vibrou quando subimos no teto, com as botas batendo forte. O Hel-Blar

que eu irritei com a minha estaca escalou atrás de nós, saliva e sangue

espumando pelos cantos da boca. Ele agarrou o tornozelo de Nicholas e

puxou. Nicholas caiu com força, meio deslizando do capô. Mas ele era

um Drake, então ele pegou o segundo Hel-Blar com sua bota enquanto

ele aterrissava. Eu levei um momento para mirar melhor e jogar outra

estaca, mais próxima que a primeira. Bateu de verdade dessa vez e

cinzas cheirando a mofo empoeiraram o teto.

Nicholas tinha deslizado por sua janela aberta. — Se segura! –

gritou para mim, colocando o Jeep de ré, eu me agarrei as beiradas do

capô, pernas penduradas. O Hel-Blar se virou, rosnando.

— Entre, Connor!

Consegui levantar as minhas pernas e caí para dentro do teto

solar, posando praticamente em cima do meu assento. Eu bati meu

cotovelo na janela e meu cóccix na trava do cinto de segurança. Nicholas

fez um movimento brusco sem qualquer aviso, e quando nós nos

lançamos para frente eu quase quebrei o meu nariz. Eu agarrei o painel

enquanto ele jogava com tanta força nos Hel-Blar que fez um som úmido

seguido de uma trituração que pode ser apenas do quebrar de ossos.

Page 73: Drake Chronicles -  Bleeding Hearts

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— Eles estão em todo lugar esta noite — disse cortante.

— Ligue para a Lucy de volta. — Nicholas disse saindo à toda

velocidade.

O olhei fixamente. — Sim claro. Você devolve a chamada.

— Connor, apenas faça.

— Você me deve — murmurei, então decidi enviar uma

mensagem para ela ao invés. O humor de Lucy poderia fritar os meus

globos oculares até mesmo através da linha telefônica. Chegou sua

resposta e soprei uma risada. — Não vou ler isso em voz alta.

Page 74: Drake Chronicles -  Bleeding Hearts

74

Capítulo 07 Christabel

Lucy estava dirigindo muito rápido, como de costume.

Fixei meu olhar no lago, onde estava meditando quando ela veio

por mim. Estava tentando não pensar nos meus pais. Era difícil não

fazer. Meu pai tinha amado pescar. Ele planejava cada verão para

sentar-se em seu bote no meio de um lago como esse esperando por

peixes. Mas em uma manhã, quando eu tinha onze anos, ele não voltou.

Seu barco, eventualmente, depois de ficar três dias à deriva, voltou

vazio. Mamãe começou a beber naquela semana e nunca mais parou.

Recorri à poesia, especialmente a de Percy Bysshe Shelley. Ele tinha se

perdido no mar também, mas quando seu corpo foi encontrado três dias

depois, eles o queimaram em uma pira funerária. Tudo exceto o coração

se converteram em cinzas. Às vezes eu gosto de pensar que o coração de

meu pai ainda está lá fora em algum lugar, como um precioso tesouro

debaixo d’água.

Ali estava o menor indício de que eu era incrivelmente mórbida.

O telefone de Lucy tocou. — Nicholas — disse a ela, quando li o

nome na tela.

— Atenda — ela disse. Eu apertei o botão e levei o telefone até o

seu ouvido para que ela pudesse manter suas mãos no volante. Eu não

podia ouvir o que Nicholas estava dizendo, mas seu rosto mudou.

Page 75: Drake Chronicles -  Bleeding Hearts

75

— O quê? O que você quer dizer? De jeito nenhum! Nicholas?

Nicholas! Nicky, maldição! — Suas mãos se fecharam. — Você poderia

retornar? — ela perguntou entre dentes, enquanto ligava o farol alto. Eu

me esquecia de que esse era um país onde veados podiam pular na

frente do carro sem aviso prévio. O telefone tocou e tocou. Eu

finalmente desliguei.

— Ele não está respondendo.

— Acredito que precisamos dar a volta — disse ela.

— Porque, a polícia os pegou?

— Não.

— Então o que há de errado?

— Eu não sei.

Fiz uma careta. — Lucy, isso não faz qualquer sentido.

— Eu sei — admitiu. Ela parecia dividida, com o pé no pedal do

acelerador.

— Já foi para a cadeia? — Perguntei, principalmente para distraí-

la.

Lucy revirou os olhos. — Olá? Claro que já. Quem você acha que

socorria os meus pais quando eles se deitavam na frente de caminhões

madeireiros ou quando subiam em árvores para se aconchegar com

corujas ameaçadas de extinção ou qualquer outra coisa?

— Certo. — Era uma história melhor do que a minha. Eu tinha

sido presa apenas uma vez, e não em uma cidade pequena, em uma

prisão de uma única célula. Minha mãe ficou presa uma vez no centro do

DUI. Ela perdeu sua licença. Isso foi no verão passado, antes do tio

Stuart inesperadamente encontrar sua irmã mais velha desmaiada no

sofá com vômito em seu cabelo. Não era exatamente seu melhor

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momento. Então tio Stuart soube a verdade e parou para nos ajudar, não

importava o que disséssemos.

Sinto falta dela. Ela não fez essas coisas de propósito. Eu sabia que

ela me amava. Ela era apenas fraca. Senti-me um pouco ruim por pensar

nela dessa forma, mas era verdade.

Sacudi o estado de ânimo antes que ele pudesse fechar seus

dentes afiados sobre a minha cabeça. Mamãe estava na reabilitação,

ficando cada vez melhor. Quando o telefone de Lucy tocou, ela gritou tão

alto que me assustou e me fez gritar também. Então nós rimos.

— Por que você está tão nervosa? — Perguntei enquanto ela se

atrapalhava com seu telefone. — Dê-me isso. — Eu olhei para a tela do

telefone antes que nós batêssemos em uma árvore. — É a sua mãe.

— Claro que é.

— Ela mandou uma mensagem. Dizendo que ela e seu pai vão no

cinema mais tarde.

— Responda dizendo que estamos a caminho de casa.

Quando terminei, balancei a cabeça. — Honestamente, é uma coisa

boa que vocês não vivam em uma cidade grande. Seus pais seriam um

desastre.

Lucy apenas bufou. Tenho tido essa sensação novamente, como se

tudo que eu visse tivesse uma camada e eu não pudesse ver totalmente.

Me deu vontade de avançar até que ela caísse. Ela reduziu a velocidade

do carro até que ficou em uma marcha lenta.

— Eu estou contando até dez — ela disse, buscando seu telefone.

— E então, se não houver resposta, voltaremos.

— Qual é o problema? — perguntei.

Page 77: Drake Chronicles -  Bleeding Hearts

77

— Seu carro é uma porcaria — respondeu, um pouco rápido

demais. — Quebra o tempo todo.

Levantei uma sobrancelha, incrédula. — E você sabe como

consertá-lo?

— Bem, não, mas me preocupo. Você sabe as gangues.

— Certo, nessa Nova Era os copos orgânicos flutuam pelo campo

com suas sementes de linhaça. Dá-me um tempo Hamilton.

Seu telefone vibrou, anunciando uma mensagem de texto. Ela o

pegou tão rápido que acidentalmente me arranhou. — Eles estão bem —

ela me assegurou, parecendo mais aliviada do que justificada. O que

diabos estava acontecendo? Ela colocou o carro em velocidade normal,

com os ombros visivelmente relaxados. Eu nem sequer sabia que seus

ombros estavam tensos. Ela relaxou mais ainda quando o Jeep de

Nicholas chegou a nós, os seguimos como uma sombra, enlameada.

Olhei no espelho retrovisor, franzindo a testa.

— Aquilo é uma faca no capô?

Ela olhou para trás. — Um truque de luz. Contei que estava caindo

aos pedaços.

Parecia que estava em ótimo estado para mim.

— Então — Lucy disse antes que eu pudesse pressioná-la. —Você

e Connor?

— Ele é legal, mas não é meu tipo.

Lucy me olhou como se eu estivesse louca. — Você é cega? Caras

quentes não são o seu tipo?

— Os bons meninos não são o meu tipo — eu corrigi. — Eu gosto

do perigo.

Page 78: Drake Chronicles -  Bleeding Hearts

78

Seu sorriso era mais do que um sorriso. — Dê-lhe uma chance.

— Absolutamente, vou passar um tempo com ele, mas não me

entenda mal. Ele é decente. Você sabe bonitinho.

Lucy piscou. — Ouch. Não é malvado o suficiente para você?

— Exatamente.

Ela ainda estava sorrindo quando paramos na frente de casa. Não

tinha ideia do que ela achava engraçado. Nicholas guinchou seus pneus

para parar atrás de nós. Lucy correu pela calçada para bater em seu

ombro. Duro.

— Não faça isso de novo! — explodiu.

— Você parou o carro — acusou ele — quando eu disse para

seguir!

— E?

— E, não faça isso de novo!

Destravei a porta da frente, bem ciente de que Connor estava

vagando na calçada atrás de mim, o que era estúpido. Eu não tinha

acabado de falar a Lucy que ele era bom demais?

— Eles estão brigando? — Perguntei, embora ela já tenha me dito

que não estavam.

— Não realmente. — Eu sorri. — Confie em mim, você saberá

quando eles estiverem brigando.

Os cães nos saudaram com movimentos da cauda e baba, como

sempre.

Nicholas seguiu Lucy para o quarto. Eles pareciam preocupados.

Page 79: Drake Chronicles -  Bleeding Hearts

79

Connor se virou para mim, fechando a porta com um chute. —

Onde está seu notebook?

— Oh, humm, no meu quarto. — Corri atrás dele, de repente

preocupada que tivesse deixado um sutiã em cima da cama ou que

tivesse uma calcinha para fora do cesto da lavanderia. As meninas nos

poemas nunca precisam se preocupar com essas coisas. Felizmente, meu

quarto estava relativamente inofensivo. A cama estava desfeita e tinha

uma linha de copos antigos de chá no peitoril da janela, mas a porta do

meu armário foi fechada e meu diário estava bem escondido. Connor foi

direto para minha mesa e levantou a tela do meu notebook.

— Então, o que está acontecendo?

Dei um meio sorriso. — Eu não tenho ideia. A internet não está

falando comigo.

Ele olhou para mim e devolveu o meio sorriso — Ok.

Seus dedos voavam pelas teclas e ele inclinou a cabeça, o cabelo

caindo na testa. — Quantas poesias têm aqui?

Meus olhos piscaram. — Você não está lendo, certo? Nunca deixei

ninguém ver algo que não tenha editado ou arrumado.

— Não vou ler — prometeu. — É só que tem um monte de

documentos do Word aqui. Você tem que se certificar de fazer backup

deles.

— Oh. Está bem.

— Então você realmente gosta de poesia, certo?

Eu balancei a cabeça. — Yeah. Eu não posso evitar.

— Quem é seu favorito?

Page 80: Drake Chronicles -  Bleeding Hearts

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— John Keats, neste momento, mas apenas por causa do filme

Bright Star. Eu amo Shelley também.

— Todos eles são caras antigos e mortos, certo?

— Hum, sim. — Dei de ombros. — Mas eles foram os melhores.

Ele sorriu lentamente. — Você é uma geek.

— Eu não sou.

Ele bufou. — Eu reconheço um companheiro geek quando o vejo.

Eu posso citar Firefly e Star Wars antigos até você vomitar.

Eu tive que rir. — Bonita imagem. Aposto que consigo citá-lo para

você, ou pelo menos as curiosidades interessantes.

— Por favor.

— Byron costumava beber vinagre para perder peso.

— A bandeira de Léia em Star Wars: Uma nova esperança era AA-

23.

— O nome da caneta de Charlotte Brontë era Currer Bell.

— Em Firefly, a arma favorita de Jayne era Vera.

— Orgulho e Preconceito foi inicialmente chamado de Primeiras

Impressões.

— Para se livrar dos meios de comunicação, Blue Harvest foi um

dos títulos falsos de O Retorno de Jedi. — Ele se recostou em sua

cadeira, sorrindo.

— Empate?

— Tudo bem, empate.

Page 81: Drake Chronicles -  Bleeding Hearts

81

Ele fechou meu notebook e se inclinou para trás para me mostrar

todos os botões. — Então você não pode se conectar à Internet? Certo?

— Correto.

— É apenas essa opção aqui do lado. Você provavelmente o

atingiu acidentalmente. Isso acontece o tempo todo.

— Oh. Obrigada.

— Claro.

Ele parecia confortável e confiante de uma maneira que eu não

tinha percebido enquanto ele estava com os seus irmãos. Ele ficou

quieto, com o seu charme menos chamativo, mas tinha um brilho em

seus olhos.

Eu não poderia evitar me perguntar se ele beijava bem.

Ele olhou para cima como se soubesse o que eu estava pensando.

O que não era possível, é claro. Eu realmente estava pensando em

como seria beijá-lo? Um cara que viveu em uma fazenda na área rural de

lugar nenhum e que citava Star Wars?

— Vou pegar umas bebidas — ofereci. — Sei onde é o esconderijo

secreto de refrigerantes da Lucy.

Ele murmurou alguma coisa ininteligível que eu tomei como um

assentimento. Lucy e Nicholas estavam na sala e muito tranquilos. Eu

desviei o olhar. A última coisa que eu queria ver era a minha prima

dando um amasso. Van Helsing me seguiu até o porão, que tinha

paredes de tijolos e painéis de madeira, a única coisa que faltava era um

tapete felpudo verde. A geladeira estava no canto, repleta com

prateleiras de picles e molho de tomate da tia Cass. Tive que escavar

fundo atrás de sacos e pacotes de sementes de abóbora.

Page 82: Drake Chronicles -  Bleeding Hearts

82

Eu sabia que havia cerveja de gengibre escondida dentro de uma

caixa que deveria ter sucos vegetais. Tive que mudar de lado as garrafas

de trigo, as vitaminas e uma garrafa com um líquido espesso de cor

vermelha framboesa. Coloquei as latas de refrigerante debaixo do braço

e peguei a garrafa, segurando-a contra a luz. Era viscoso e só um pouco

de luz passava por ele. Van Helsing arreganhou os dentes. Eu olhei.

— Eu sei, é ruim, certo? Pergunto-me o que a tia Cass está

tentando fazer.

Levei-o até lá em cima. — Que diabos é essa coisa nojenta? —

Exigi, agitando o frasco. O líquido não era tão grosso quanto eu pensava,

e uma gota desse líquido vermelho escorria do lado do vidro. Eu quase o

joguei em cima de uma pequena mesa que tinha uma estátua da

fertilidade esculpida em azul turquesa. — Eca!

Connor agora estava na sala de estar, ele e Nicholas se levantaram

tão rápido que apenas os vi passar. Pulei assustada. — O quê? —

Perguntei.

Van Helsing rosnou. Gandhi veio pelo corredor, também rosnando.

— Merda, Christa volte! — Lucy gritou, deslizando pelo chão de

madeira. Ela bateu em mim e eu bati na parede, e depois no chão. Uma

fotografia caiu de suas unhas, quebrando o vidro. Lucy virou, os joelhos

dobrados, olhando para Nicholas e Connor, que tinham começado a se

mover muito rápido do nada.

Eles estavam tão quietos, que parecia que estavam prendendo a

respiração. Van Helsing latiu uma vez. Nicholas estremeceu.

— Christa — Lucy sussurrou urgentemente quando me sentei. —

Não se mova.

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— O quê? Por quê? — me assegurei de que nenhum vidro tinha se

cravado na minha mão ou no meu bumbum enquanto eu mudava de

posição. — Eu estou bem.

— Confie em mim. — Ela engoliu em seco.

Eu não confiava nem um pouco no sorriso de Nicholas. Mesmo

Connor estava com um olhar estranho ao lado dele, pálido e elegante.

Foi-se o clima geek-quente amigável. Seus olhos pareciam ainda mais

azuis e ele parecia mais alto por algum motivo. Eu queria ficar perto

dele. Mudei de posição repentinamente, pensando em todos os tipos de

coisas más. Talvez houvesse um menino mau ali depois de tudo.

— Lucy. — A voz de Nicholas se quebrou.

— Christa me passe o frasco — disse Lucy, enquanto Gandhi e Val

Helsing se inclinavam em frente a nós.

— Você disse para eu não me mexer!

— Apenas faça!

Coloquei-me de cócoras.

— Mova-se lentamente! — Lucy acrescentou freneticamente

quando Nicholas ficou tenso e Connor colocou uma mão de restrição em

seu ombro. — Gandhi pare! — Vocês estão drogados? — eu perguntei,

irritada. Entreguei o frasco para ela. — Aqui.

Lucy apenas inclinou a mão para trás, sem tirar os olhos dos

irmãos, nem mesmo por um segundo. Quando ela pegou o frasco de

maneira segura, ela colocou-o no chão na sua frente.

— Ok, nada mais de drogas para vocês — eu disse. — Sério. Vocês

ficam estranhos.

Ela me ignorou e levantou a tampa. Então, ela usou a ponta da

bota para deslizar pela madeira polida na direção de Nicholas e Connor.

Page 84: Drake Chronicles -  Bleeding Hearts

84

Os cães enormes nos empurraram para trás, para a cozinha antes

que eu pudesse ver o que estava acontecendo.

— Que diabos? — Eu perguntei.

Ela empurrou o cabelo do rosto, as mãos tremendo levemente. A

porta da frente bateu e houve o barulho de um motor de carro dando

partida, seguindo pela estrada de cascalhos da entrada.

— Lucy?

Seu sorriso era tenso. — Não importa — ela disse. — Acho que

alguém alterou as nossas bebidas na festa.

De alguma forma, eu sabia que ela estava mentindo.

Por um lado, eu não a tinha visto tomar um só gole de qualquer

bebida enquanto estava na praia. E eu sabia exatamente como as

pessoas agiam quando tinham bebido muito. E não era assim.

No corredor, o frasco estava vazio.

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Capítulo 08 Lucy

Eu sabia que mamãe bateria em minha porta assim que chegasse

em casa e ouvisse The Smiths que tocava no meu som estéreo. Mamãe

tinha me dado todos os seus discos no dia em que fiz quatorze anos e

jurou que era a banda que a ajudou a superar o colégio.

— Oh! Oh! — Ela abriu a porta e colocou a cabeça para dentro. —

Ouvi a música. Isso não é um bom sinal.

Eu parecia uma bola em minha cama, a única luz vinha de uma

vela e da tela do meu computador em cima da escrivaninha. Eu tinha

mandado uma mensagem a Kieran para que ele viesse falar comigo, e

então me entreguei ao chocolate enquanto esperava. Mamãe caminhou

ao redor das roupas e das caixas de DVD espalhadas pelo chão. — O que

está acontecendo, Lucky Moon?

Apenas dei de ombros e comi mais chocolate. Ela sentou-se na

borda da cama e me deu uma cotovelada com cuidado até que me movi

e lhe dei espaço. Ela estirou-se ao meu lado e olhou para o sári que

estava pendurado no teto, ele parecia uma barraca de um sultão. As

paredes de meu quarto eram roxas e estavam cobertas por fotos

emolduradas e velhos frascos de cristal onde estavam pendurados todos

os meus colares.

— OH, mamãe — eu disse por fim, sentindo que minha garganta

queimava. — Está tudo confuso.

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86

— O que aconteceu querida? Você e Nicholas brigaram?

— Por que sempre me perguntam isso? Nem todos os problemas

são sobre meninos.

— Certo. É a escola? Sei que não é tão emocionante como garotos

e vampiros, mas espero que esteja se preocupando um pouco com ela.

Quando você tem provas?

— Mamãe.

— Sinto muito. Obviamente, não é a escola. Então, o que é?

— Solange.

Ela ficou surpresa. — Você e Solange brigaram? — Ela parecia

mesmo surpresa. A última vez que nós tínhamos brigado parecíamos

lobisomens sorrindo como cães molhados e eu tinha puxado o cabelo

dela. Tínhamos oito anos.

— Não é uma briga de verdade — expliquei. — Mas agora… é

estranho. Todos estão escondendo segredos de mim, e apenas me

permitem ir até a casa deles. E ela nunca atende ao telefone! — Mamãe

se calou um momento, e eu não gostei de seu olhar. — O que?

— Talvez seja para o seu bem.

Sentei-me. — O que? Não! Como pode dizer isso?

Ela também se sentou, levantando os joelhos. Os sinos de sua

tornozeleira soaram suavemente. Era um som que sempre me

tranquilizava. Desde criança, sempre sabia que minha mãe estava em

casa por esse som.

— Querida, sei que gosta dos Drakes. Nós também. Mas o fato é

que você é humana. Eles não. Não pode fingir que é de outra forma.

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87

Pisquei. — Você é a que sempre diz que nossas diferenças não

deveriam importar.

— Eu sei. — Ela respirou fundo. — E estou muito orgulhosa de

você por ser leal forte e respeitar as pessoas por quem são e não pelo

que são. Mas neste momento, os Drakes são perigosos. Helena e eu…

— Espere. — Engoli com ansiedade, como se a saliva estivesse

cheia de espinhos. — Você e a mãe de Solange falaram sobre isto pelas

minhas costas? Vocês fazem parte desta exclusão?

— Não é uma exclusão — ela insistiu, fazendo uma careta de dor.

— E sei que te magoa, mas estamos preocupados com você. Só

queremos que esteja segura.

De repente entendi como Solange se sentia.

E era um nojo.

— Eu posso cuidar de mim — falei com convicção.

— Você tem dezesseis anos.

— E? Eu estive treinando com os Helios-Ra, e antes disso Helena

me ensinou muitos movimentos de defesa — insisti. — Eu luto melhor

que papai.

Ela franziu os lábios. — Isso não é exatamente um bom

argumento, Lucky. Não queremos que lute.

— Eu tampouco! — O que era mentira. Agora mesmo sentia muita

vontade de quebrar o nariz de alguém. — Mas estou bem. Todos estão

bem. — Não ia mencionar o Hel-Blar na praia nem o incidente no

corredor com Christabel. Mamãe continua falando que não posso ser

como eles, mas também não posso ser como ela. — Simplesmente sou

eu — falei tranquilamente. — E não podem me tirar a metade de minha

família de repente e esperar que eu não me importe.

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— Eu sei. — Ela esfregou a mão no rosto, parecendo cansada e

mais velha do que o normal.

Fiquei gelada, como se meu ventre estivesse cheio de pedaços de

gelo. — E não pode me proibir ver o Nicholas. — Gostaria que minha voz

soasse forte, tranquila e madura, mas saiu igual a um chiado de criança

pequena.

— Não estamos fazendo isso — me assegurou mamãe. — Há

muito tempo eu venho sendo sua mãe. Acha que não sei o que

aconteceria se eu fizesse isso?

Eu quase podia respirar outra vez. — Certo. — Falei

bruscamente. — De acordo.

— Só pense no que lhe disse. — Ela deslizou para fora da cama. —

E arrume seu quarto, faça os deveres e coma as verduras. — Ela piscou

um olho para mim. — Só gostaria de dizer alguma coisa própria de uma

mãe que não tivesse nada a ver com um perigo mortal de nenhum tipo.

— Mamãe — Eu disse em voz baixa enquanto ela abria a porta.

Ela me olhou. — Não sou estúpida. E sou mais cuidadosa do que todos

pensam. Sendo assim, em algum momento terá que me deixar ser eu

mesma e confiar que eu sei o que faço. Os Drakes também terão que

aceitar que Solange não pode ser mais a princesa da torre — levantei o

queixo. — Porque ela não é Branca neve, ou seja lá o que for. E se isto é

algum tipo de conto de fadas, eu serei um lobo, ou uma bruxa ou uma

selvagem, não a mocinha em apuros.

Reacendi o abajur da minha mesa de cabeceira e caminhei pelo

meu quarto, esperando Kieran. Ao lado de meu computador, havia uma

estátua do Ganesh de bronze que papai tinha me dado em meu primeiro

dia de colégio. Ganesh era um deus com cabeça de elefante da Índia,

diziam que eliminava obstáculos. Ele ficava no meu quarto, porque fora

do mundo vampiresco, eu não conhecia um obstáculo maior que os

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deveres de casa. Que provavelmente eu deveria estar fazendo agora

mesmo, como disse mamãe, mas, como eu poderia me concentrar?

Cansada de esperar, abri minha janela e coloquei a cabeça para

fora. Meu rosto se chocou com o de Kieran. — Ow! — gritamos

juntos, segurando nossas cabeças.

— Eu sempre soube que você tinha a cabeça dura.

— Ha ha — grunhi, esfregando minha testa, logo acima da raiz dos

meus cabelos. — Eu estava certa de que a sua era suave.

Ele usava suas calças cargo pretas de sempre e uma camiseta. Ele

tinha cortado o rabo de cavalo, mas não tinha me dito o porquê ou como

aconteceu. Somente que era para uma prova e que havia uma boa

história por trás. Eu teria que descobri mais tarde quando tivesse

tempo. Eu deslizei para o jardim e cruzei os braços, esperando.

— O que há de errado com Solange?

Ele franziu o cenho. — Eu pensei que você soubesse. É sua melhor

amiga.

— Alguém deveria lembrar ela disso.

— Ela continua sem falar com você?

— Sim. — Eu sentia a relva fria sob meus pés descalços. Encolhi os

dedos do pé.

Kieran parecia preocupado. — Ela também não fala comigo —

admitiu ele.

— Como? — Eu perguntei. — Mas vocês se veem tanto.

Ele enfiou as mãos nos bolsos e parecia que tentava não se

ruborizar. — Ela não fala muito. Nem sequer tira os óculos de sol.

Somente nos beijamos. Apenas consigo que me diga três palavras. — Ele

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90

fez uma careta, aborrecido. — Céus, eu poderia soar mais como uma

garota?

— Por favor. Deveria se sentir muito agradecido.

Mesmo assim, Solange não era o tipo de ficar beijando o tempo

todo e nada mais. Era muito reservada para isso, muito elegante. Eu era

a que provavelmente gostava de muitos beijos.

— Isso não é próprio dela — eu respondi por fim.

— Imaginei isso. — Ele mudou o peso de um pé para o outro. —

Eu preciso falar com ela. Algo difícil de se fazer mesmo com plugues no

nariz. — Os feromônios dos vampiros eram perigosos porque aturdiam

e desconcertavam os humanos. Nicholas às vezes usava os seus para não

se distrair com o aroma de meu sangue, os caçadores de vampiros às

vezes usavam os plugues para que os feromônios dos vampiros não os

fizessem sofrer uma lavagem cerebral. Eu estava tão acostumada a eles

por ter crescido com os Drakes que quase sempre era imune. Até agora.

— Falar com ela sobre o que? — perguntei.

— Pois é… eu irei à universidade terminar meu treinamento.

Agora que o Hélios-Ra se encontra em boas mãos, quero ser um agente

de verdade. Não quero viver à custa do nome de minha família.

Tinha me esquecido de que tecnicamente ele não era um agente

Hélios-Ra oficial. Ele tinha deixado os dois últimos anos de treinamento

para procurar e matar o assassino de seu pai, que por engano tinha

pensando que era um vampiro, ou seja, um Drake.

— Bem, fico contente por você — respondi. — Suponho que você

não deva ser tão ruim para alguém que estava tentando matar a minha

melhor amiga e toda sua família.

— Nunca tentei matar Solange — respondeu. Ele parou de falar.

— A universidade é na Escócia.

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Eu pisquei. — Sério? Este dia poderia ser pior?

Ele encolheu os ombros. — Pode.

— Já disse a Solange?

Ele sacudiu a cabeça. — Não tive oportunidade.

— Eu não posso saber de algo assim se ela não souber! Temos um

pacto. Você tem que falar para ela. — Movi as mãos freneticamente. —

Agora!

— Acha que já não tentei? — Ele falou frustrado. — Falei para

você que não nos falamos muito.

— Ew. Tire a língua da boca dela e fale com ela, idiota.

Ele me olhou. — Não é tão simples.

— Sim é — eu insisti. — Eu estou namorando com um vampiro, eu

entendo. Eles são fascinantes.

Ele suspirou, parecendo um pouco envergonhado. Ele estava com

as orelhas vermelhas. — Lucy, você é praticamente imune aos

feromônios. Eu não. E os de Solange são mais fortes do que qualquer

outro vampiro que eu tenha conhecido. É… diferente.

Eu queria chutar alguma coisa. Eu deveria saber exatamente o que

estava acontecendo, por que e como Solange poderia ser diferente. Nem

a yoga iria neutralizar a raiva e a dor que queimava dentro de mim.

Fechei minhas mãos. — Ok, olhe. Vou ver Solange amanhã à noite

e eu vou descobrir o que diabos está acontecendo. É melhor você falar

com ela antes de mim.

— Como? — Ele perguntou impotente.

Eu revirei os olhos. — Use o seu telefone, seu idiota.

Page 92: Drake Chronicles -  Bleeding Hearts

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— Oh. — Ele piscou, como se nunca tivesse pensado nisso. —

Acho que eu poderia fazer isso.

Eu balancei minha cabeça. — Caçador de vampiros. Não te

ensinam nada nessa escola?

— Diga-me você. Você praticamente agora é uma de nós.

Eu olhei para ele de boca aberta. — Eu não sou. — Ele sorriu para

mim animado. Eu pisei. Não fui muito eficaz, porque estava descalça e

ele usava botas de combate. — Pare. — Ele olhou para o telefone, que

vibrou discretamente.

— Eu tenho que ir. Outro boletim.

— E agora o que é? — Eu perguntei, tentando ler a tela do

telefone. Ele rapidamente o colocou em seu bolso.

Desmancha-prazeres.

— Assassinato e caos, o de sempre. Estamos muito ocupados. Os

Hel-Blar estão se organizando.

— Isso é possível?

— O sangue esfria. — Ele fez uma careta, de acordo comigo.

— Antes estavam na praia.

— Eu sei. Hunter nos chamou.

— Nós ouvimos algo parecido com um assobio. E isso os assustou.

Estranho, não é?

Ele balançou a cabeça.

— Você sabe o que é?

— Não.

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— Maldição.

— Sim. Portanto, tenha cuidado, hippie.

— Você também 007.

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Capítulo 09

Christabel

A cafeteria consistia em linóleos arranhados, batatas fritas,

garotas gritando, e rapazes rindo muito alto. Mas com a ajuda de um

bom romance, eu estava em um salão iluminado por velas, com as

janelas envoltas em uma neblina úmida e perigosa que deslizava desde

os pântanos. A vibração das vozes convertia-se no crepitar do fogo e a

melodia de uma valsa tocada num piano por uma garota em um vestido

escuro. O plástico do banco em baixo de mim parecia um sofá de veludo.

— Ali está ela. — Lucy interrompeu minha viagem, sua voz soando

como se estivesse muito longe.

Mas não o suficientemente longe.

— Terra para Christa. — Ela riu, colocando a bandeja do almoço

sobre a mesa. A gelatina verde sacudia assustadoramente. Ela não

parecia estar de ressaca, apesar de afirmar que bebeu ontem à noite.

— Vai embora — eu resmunguei, tentando não perder o meu

lugar.

Eu lutava para cheirar a fumaça da lenha, e para sentir a névoa.

— Não preste atenção a ela — Lucy assegurou a seus amigos

animadamente. Ela tinha nos apresentado antes mas eu não tinha

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realmente prestando atenção. Eu imaginei que o cara era Nathan e a

garota era Linnet.

Linnet tinha uma bonita pele morena e olhos azuis e não falava

muito.

Lucy estava convencida de que se eu me sentasse sozinha no

almoço eu terminaria completamente sozinha. Eu não conseguia

convencê-la que se eu tivesse um livro comigo, eu não estava sozinha.

E era irônico que agora ela queria falar comigo. No caminho para a

escola ela colocou a música tão alto que ressoava nos meus ouvidos. Não

responderia uma única pergunta sobre ontem à noite. — Ela é

sempre assim quando ela está lendo — acrescentou. — E ela está

constantemente lendo.

A olhei sobre o topo do meu romance. — A sua mãe sabe que você

come gelatina? — Tia Cass pensa que o açúcar branco, a intolerância e

telefones celulares são o diabo. Nessa ordem.

Lucy me jogou um sorriso de cumplicidade. — Se você falar pra

ela que eu como açúcar branco, eu digo a ela que você é antissocial e

está deprimida na escola. Ela vai abraçar você.

— Ela não faria — eu disse, embora eu sabia que ela tinha razão.

Nathan bufou. — Quando eu saí do armário, ela me fez abraçá-la

— ele confirmou. — E ela me assou um bolo.

— Ela assou um bolo pra você? — repeti. — Por ser gay?

— Um bolo orgânico de trigo integral e adoçante por ser corajoso

o suficiente para sair do armário — Lucy disse com orgulho. Eu tinha

que admitir, tia Cass era bastante impressionante à sua maneira.

Somente ela poderia pegar uma tradição vinda das páginas de um dos

meus romances favoritos e mudá-la completamente.

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96

— Do que ela chamou isso? — Nathan sacudiu a cabeça com

carinho. — Um bolo de afirmação ou algo assim — Seu cabelo era curto

e espetado, pintado de branco osso.

— Sua mãe é louca.

— Sim — Lucy concordou alegremente.

— Minha mãe não é tão calma. Ela gritou por três dias seguidos.

Acha que a de vocês me adotaria?

— Provavelmente.

Roubei umas batatas fritas do prato da Lucy. Eles definitivamente

não permitiam isso na família Hamilton, como o contrabando de

gelatina. — Como Nicholas e Solange não vão à escola daqui? — eu

perguntei.

— Oh. — Nathan e Linnet suspiraram. — Nicholas. — Esta foi a

única coisa que eu tinha ouvido Linnet dizer. Ela estava silenciosa como

uma gata.

Lucy rolou os olhos. — Calem-se, vocês dois. — Ela sorriu para

mim. — Eles estão totalmente caídos pelo meu namorado. Nathan o viu

ontem à noite no lago e ele não parou de falar dele o dia todo.

— Ele é delicioso — Nathan disse. — Há uma nítida carência de

rapazes quentes nessa escola.

— Os Drakes estudam em casa. — Lucy respondeu minha

pergunta antes que Nathan conseguisse realmente sair pela tangente.

Connor contou para mim que tinha estudado em casa também. Deve ser

algum tipo de tradição familiar.

— Você irá com ele para o baile, né? — Nathan perguntou.

— Lucy gemeu. — Você é tão mau quanto a minha mãe com essa

coisa de baile.

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97

— Apenas acredito que lhe cairia bem um smoking.

— Para de babar. — Lucy apontou seu dedo para ele. — E procure

seu próprio namorado.

— Oh, está bem — ele grunhiu com boas maneiras. — Ele tem

irmãos, certo?

— Sim, zilhões. Mas não sei se algum deles joga no seu time.

— Bem, descubra mulher.

— O que supostamente eu tenho que fazer, uma pesquisa?

— Se você fosse uma amiga de verdade — Nathan disse

recatadamente, mas seus olhos brilhavam.

— Está fazendo que sua pequena amiga se prostitua como isca

para gay? — alguém desdenhou atrás de nós. Nathan ficou com a face

vermelha. Linnet parecia como se quisesse rastejar para baixo da mesa.

Lucy pulou sobre seus pés, com os punhos dela apertados. — Cale-

se, Peter.

Virei minha cabeça lentamente, dando a ele o meu melhor olhar

de desprezo que consegui mostrar, então eu me virei de costas como se

ele não valesse o meu tempo. E ele não merecia. Peter apenas riu com

seus amigos. Valentões.

Se há uma coisa que eu odeio, é um valentão.

Eu quase tinha sido pega por uma assistente social porque uma

valentona abriu a boca na escola depois que meu pai morreu.

Sara e eu tivemos que trabalhar em um projeto escolar, e quando

ela veio, minha mãe estava embriagada. Ela disse a todos na escola no

dia seguinte, e no dia seguinte àquele, até mesmo um dos professores foi

me perguntar se estava tudo bem em casa.

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Sara não parou até que eu me rompi em lágrimas na fila do almoço

na frente de todos.

Mas não foi até que eu lavei seu sutiã favorito, o qual derrubei no

vaso sanitário depois da aula de ginástica, que ela finalmente me deixou

em paz.

— Basta ignorar eles — Nathan disse tranquilamente.

Lucy estava da cor de uma beterraba perto dele. Ele, por outro

lado, parecia perfeitamente calmo.

— Sim, Lucy — Peter gargalhou. — Pelo menos o isca de gay aqui

sabe quando ser submisso.

Acreditava que Lucy fosse realmente saltar direito sobre a mesa,

espalhando as embalagens de leite e chocolate branco da bandeja do

almoço. Aparentemente, desde a última vez que eu a tinha visitado, Lucy

tinha decidido que ela era uma ninja.

Somente Nathan foi capaz de detê-la. Ele pôs a mão no seu braço.

— Não o faça — ele disse suavemente.

— Mas… — olhou para Peter. — Eu realmente quero isso.

— Por favor. Simplesmente não, Lucy.

Peter e seus macacos alados ficaram entediados e foram para

outra mesa. Nathan empurrou para fora a sua cadeira e levantou-se.

Seus ouvidos estavam vermelhos, mas sua expressão não mudou. Lucy

olhou em seu cotovelo, com o cenho franzido.

— Eu não preciso de um guarda-costas — afirmou.

— Eu também não — insistiu com rebeldia. — Eu poderia ter

enfrentado ele. Estou tendo aulas de defesa pessoal. Poderia tê-lo feito

chorar.

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Nathan meio que sorriu. — Você já é bastante assustadora sem as

aulas.

— Podemos ir agora? — Linnet perguntou, ela parecia a ponto de

chorar. — As pessoas estão olhando.

Lucy colocou suas mãos sobre seus quadris. — E?

— E Nathan odeia isso.

Lucy desinflou rapidamente; se ela fosse um balão de hélio ela

teria voado através da cafetaria. Ela ainda podia. — Oh. — Ela olhou

timidamente para Nathan. — Desculpe, Nate.

— Está tudo bem.

Me olhou. — Você vem?

Neguei com a cabeça. — Os alcançarei.

Eu conhecia Peter. Ele estava na décima segunda classe, como eu,

e ele era um babaca. Ele pertencia a um desses filmes de John Hughes

dos anos oitenta que Lucy ama tanto. Desacelerei meu passo me

aproximando da sua mesa, levando meu copo plástico cheio de soda. Ele

estava falando muito alto, como de costume.

— Qual é perdedor — ele meio que gritou. — Nós precisamos da

chave do seu carro.

— Ele vem de bicicleta para escola — um dos seus amigos disse.

— Faz sentido. Maricão.

Com isso eu não aguentei mais.

Estava tão acostumada a ter notas altas e minha cabeça baixa para

não atrair a atenção do conselheiro escolar que eu normalmente

guardava a raiva para mim.

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Não hoje.

Talvez nunca mais, se o tratamento da minha mãe ia bem.

Afinal, o pior tinha acontecido. Já sabiam o seu segredo. Não tinha

que ficar no fundo, se eu não quisesse.

E agora, eu realmente não queria.

Não pude evitar me lembrar de uma história que eu tinha lido

sobre Percy Bysshe Shelley quando ele estava na escola. Alguém bateu

nele até que ele finalmente apertou seu garfo através da mão do rapaz

por debaixo da mesa.

Se um poeta loiro e angelical de gravata podia dar um chute eu

também poderia.

Além disso, eu nunca arrumei uma detenção antes, e havia algo de

libertador sobre ter essa opção. E mais, Nathan não teria que lidar com

um Peter homofóbico pelo resto do ano. Alguém poderia ver que Peter

não ia parar de perseguir. A camisa de Peter estava afastada o suficiente

da parte de trás do seu pescoço. E tinha um monte de cubos de gelo no

meu copo.

Perfeito.

Inclinei minha bebida, derramando a minha soda fria e pegajosa

atrás do pescoço de Peter, me assegurando de que a maior parte colasse

em sua camisa.

Ele gritava como uma menina em seu primeiro filme de terror.

Ainda melhor.

Ele bateu nas suas costas enquanto simultaneamente mexia com

os seus pés, espalhando a bandeja do seu lanche e batendo sobre sua

cadeira. Todos giraram para olhar.

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O silêncio havia quebrado como um ovo, espalhando risos. Alguém

aplaudiu. Peter girou para mim, a raiva nele formou faíscas.

— Mas que diabos, sua puta! — Avançou um passo

ameaçadoramente. Era realmente alto e amplo como um boi. E

claramente estava acostumado que as pessoas retrocedessem

assustadas. Quando não me movi, somente levantei uma sobrancelha,

ele pareceu confuso por um momento.

Sorri, mostrando grande parte dos meus dentes, como um texugo

irado. — Oops — eu disse fingindo.

— Você está morta — enfureceu enquanto nosso público seguia

rindo.

Inclinei minha cabeça insolentemente e pisquei meus cílios. —

Ooh. Que medo.

Aproximou-se tanto que eu tive de esticar meu pescoço para trás

para olhar para ele. — Garota nova, você simplesmente cometeu grande

erro.

— Sério? — eu perguntei. — Quem escreve o seus diálogos?

Quando até seus amigos riram, me alcançou. Afundou a mão em

meu braço, enrugando minha camiseta favorita e fazendo um hematoma

na pele debaixo.

Eu dei uma joelhada direto na virilha dele.

Ele grunhiu se dobrou e perdeu totalmente o equilíbrio quando saí

me colocandofora de seu alcance. Uma das professoras se apressou em

nossa direção, soprando seu apito. Ela não parecia impressionada.

Tentei não sorrir, mas falhei. Ela apontou para mim. — Você.

Gabinete do Diretor. Agora.

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Soltei meu copo vazio, tirei minha cópia de Jane Eyre do bolso de

trás da minha calça jeans, onde a mantive segura da soda e concordei

educadamente. — Sim, Sra. Copperfield.

Lucy estava no corredor do outro lado do vidro, sorrindo e

balançando sobre seus pés como uma criancinha.

Devolvi o sorriso.

A severa palestra, o movimento de cabeça desaprovatório e as

ameaças de registros escolares manchados foram muito mais brutais do

que pode ser um castigo. E não eram nada comparadas com o que meus

tios pacifistas fariam quando chegasse em casa. Não acreditavam na

violência, nunca, por razão alguma. Mas não conheciam Peter.

Tinha a sensação de que realmente não se importariam muito com

isso.

Escapei por pouco das aulas de controle da raiva e que colocassem

Peter em um seminário sobre tolerância. Planejava utilizar o último

para difundir qualquer menção de ser castigada sem sair. Não poderia

sair quando estava escuro de qualquer jeito. Quero dizer, olhe a noite

passada. Enfim tinham nos deixado sair e então Lucy e seus amigos

estavam loucos.

Além disso, o diretor estava impressionado com minha amada

cópia de Jane Eyre e meu excepcional. Ninguém lhe diz que, se você tira

boas notas, os adultos às vezes deixam passar algumas más atitudes.

— Ficou claro Srta. Llewellyn? — O diretor tamborilou com os

dedos sua mesa. Queria dizer-lhe que sua gravata divergia

horrivelmente com sua camisa. Em vez disso, eu apenas assenti.

— Sim, Sr. Ainsley.

— Não quero ver você aqui de novo.

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— Sim, Sr. Ainsley.

— Você é uma garota brilhante, Christabel. Sei que se mudar para

uma nova escola em seu último ano pode não ser fácil, mas eu odiaria

que você sabotasse seu futuro.

Oh Deus, o discurso ―futuro―. — Sim, Sr. Ainsley.

Acho que disse isso cerca de seis vezes mais antes de finalmente

me deixar ir. Lucy estava esperando por mim no meu armário. — Isso

foi tão legal — soltou.

Joguei minhas pastas extras no meu armário. — Esse garoto me

incomoda de verdade.

— No ano passado ele deu a Nathan um olho roxo. — Lucy fez

uma careta. — Mas Nathan sempre diz coisas como ‘ignora-os’ ou ‘mate-

os com amabilidade’. — Bufou impacientemente. — Demorou muito

para fazer isso.

— Garota! — um aluno do oitavo ano nos interrompeu, os olhos

arregalados. — É verdade que você arrebentou as pernas de Peter?

— Não.

Lucy sorriu. — Mas doerá para ele urinar pelo resto do dia.

— Legal — ele respondeu. — Ele segurou minha cabeça uma vez

na privada. — Ele olhou para mim com adoração, como se ele tivesse

dois corações nos olhos, como nos desenhos animados. Envergonhada,

desviei o olhar.

— Vá embora — eu finalmente tive que lhe dizer. Ele fugiu.

— Agora te adora totalmente. — Lucy riu.

— Sorte minha.

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104

— E você é como a heroína da escola. — Ela estava

completamente feliz com isto.

— Herói com detenção. — Fechei a porta do meu armário. —

Começando hoje.

— Já?

— Sim, há uma reunião para os pais e professores da nona série.

Eu tenho que ajudar arrumar as cadeiras ou algo assim. — Franzi o

nariz. — Acredita que sua mãe vai ficar louca?

— Sobre a detenção não. Sobre o uso de violência física para

resolver os seus problemas? Definitivamente — ela confirmou. — Ah, e

pela manhã haverá um cartaz de Gandhi atrás da sua porta. O homem,

não o cão.

Pestanejei. — Hum, por quê?

— É um lembrete nada sutil da mamãe que a não-violência pode

mudar o mundo, blá, blá, blá. Você deveria imaginar Gandhi olhando

para você da próxima vez que você perdesse as estribeiras.

— Droga.

— Sim. Eu tenho meu cartaz desde a segunda série. Costumava ter

pesadelos que ele estava com tanta fome que ele tentava comer minha

cabeça como uma maçã — disse estremecendo. — Mas você pode

acalmá-la um pouco se você mencionar Nathan. Ela o ama.

— Legal.

Fez uma pausa. — Ah, mas hoje à noite eu vou na casa da Solange.

— Está bem. — Não entendi a mudança repentina de assunto.

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105

— Então vai estar escuro quando você finalmente sair daqui.

Essas coisas de pais e professores não costumam começar antes das sete

e meia.

Revirei os olhos. — Essa coisa de toque de recolher é estúpida,

Lucy. Eu sou da cidade. Você sabe, onde há crime real e outras coisas?

— Eu sei. — Ela mordeu o lábio por um momento e então se

animou. — Você pode levar meu carro para casa. Hoje a mamãe está

trabalhando, então eu vou até lá depois da escola e conseguir uma

carona para casa com ela. Meu pai tem o limpa-neve no caminhão, e por

isso ninguém tem permissão para conduzi-lo. Mas eu posso pegar o

carro da mamãe para ir até os Drakes.

— Ok. Obrigado.

Ela me entregou as chaves. — Você está brincando? Eu tenho

vontade de chutar Peter desde que eu tinha 13 anos.

— Sobre ontem à noite — eu disse. — O que aconteceu com você e

os caras?

— Nada!

Sabia que ela estava escondendo algo. Eu poderia simplesmente

dizer. Eu tinha experiência suficiente através das mentiras da minha

mãe.

— Lucy.

— Tenho que ir! — Ela praticamente gritou antes de girar sobre

seus calcanhares e sair correndo pelo corredor. Eu suspirei e fui para a

aula de matemática. Peter não estava em sua carteira. Eu provavelmente

deveria estar me sentido mal com isso.

Oh bem.

Como isso resultou estar de castigo é aborrecido.

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Ajudei o zelador colocar fileiras e fileiras de cadeiras, peguei

copos de plástico, e fiz ponche, e quando terminaram os pequenos

serviços, eu tive que ir limpar os quadros negros em todas as salas de

aula. Mesmo detenção parecia saudável neste povoado. Pelo lado

positivo, pelo tempo que os pais começaram a chegar, eu estava

autorizada a ir para casa.

O estacionamento estava cheio de carros e pais em sapatos

confortáveis e estudantes suados e nervosos. O céu estava escuro, com

uma linha fina de lilás no oeste. As montanhas já estavam negras, mas

eu ainda podia senti-las lá, altas e majestosas. A maior parte da rua

principal estava fechada, exceto pelos cafés e uma livraria. Eu teria

parado se eu não estivesse com problemas o suficiente. Abaixei as

janelas e o ar fresco da noite estava cheio de fumaça e agulhas de

pinheiro e árvores de maçã. Adorava Outubro.

Não amo o carro da Lucy.

Em um sinal de trânsito fora da cidade, ele parou. Nem sequer

teve a decência de parar em um poste ou um restaurante onde eu podia

beber cappuccinos e esperar por um caminhão de reboque. Eu saí do

carro, girando a gola da minha jaqueta quando uma leve chuva começou

a cair.

— Perfeito — murmurei. Abri o capô e olhei para dentro. Eu não

tinha ideia do que estava olhando. Se o motor fosse um haiku, eu teria

sido perfeitamente capaz de consertá-lo. Bati o capô fechando-o

novamente quando o vento chegou.

Cheirava pior aqui fora, como a lama e vegetação apodrecida. Ruas

desertas e em ruínas, fazendas abandonadas que davam medo, e

caminhos assustadores que davam nos bares de motoqueiros e os sem

tetos que jogavam latas de refrigerante quando você passasse.

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— Odeio esta cidade — grunhi comigo mesma, deslizando de volta

para o carro quente. Peguei minha mochila para pegar meu telefone

celular.

Assim foi como alguém chegou perto de mim.

— Que sorte — uma voz grave disse.

Retrocedi, com o coração saltando pela garganta e ocupando todo

o espaço disponível o que me resultou impossível abrir a boca e gritar.

Traguei. — Eu não sou...

— Durma agora. — Um sopro de pó branco flutuava em minha

direção. Tossi freneticamente. Era antraz? Algum tipo de droga? Quem

diabos fez isso? Tentei que meu medo e minha raiva queimassem o pó

que se colocava como redes de aranhas pegajosas sobre meus olhos,

minha boca e minhas pernas. Poderia jurar que o homem era azul.

Nunca teria pensado que podia ter tanta diversão em um ginásio

suarento, realizando combates de entretenimento até querer vomitar.

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Capítulo 10 Lucy

Fui mais cedo para evitar as conversas bem intencionadas e

preocupações da minha mãe. Ela sabia que eu estaria a salvo nos Drake;

eram cerca de mil hectares de terreno protegido e tenho ido lá desde

que era pequena. Havia passado por dois guardas já. Mas tudo era

diferente agora.

Ninguém sabia disso mais do que eu.

Concluí que seria a primeira a chegar e teria que esperar por

Solange. Às vezes precisava de uma ou duas horas depois do pôr do sol

para se encher de sangue, para que a sede não a machucasse tanto.

Tinha em meu Ipod a tarefa da qual não tinha nenhuma intenção de

fazer, e Gandhi no assento do passageiro – sujando a janela com seu

grande e úmido nariz.

Subiria até o velho carvalho e desfrutaria de um estranho e seguro

tempo sozinha essa noite, contando as estrelas e criando minhas

próprias constelações.

O tronco principal da árvore estava emaranhado e era grosso o

suficiente para suportar três galhos grandes. Parecia como se o carvalho

tivesse rachado em três. Um desses galhos levava até o chão, era como

um balanço feito a partir de cascas e folhas verdes e restos de nozes por

todos os lados. Se o pintasse de ouro não ficaria fora do lugar em um

filme de Tim Burton.

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Solange já estava empoleirada nele como um leopardo exausto.

Estava em um galho, mais acima do que estávamos acostumadas a subir,

deitada de bruços, seu cabelo longo à deriva como a asa quebrada de um

corvo. Estava pálida o suficiente como a luz das estrelas. E estava com

óculos de sol.

— Que? Agora é uma estrela de rock? — brinquei, tentando

manter a conversa leve. — Usando óculos de sol à noite? — senti certa

tensão entre nós e não gostei. Era irreconhecível pendurava

estranhamente, como um vestido que não se encaixa.

Ela não se moveu ou os tirou. — Me doem os olhos.

Eu sabia que ela mentia. Odiava isso mais do que qualquer coisa.

Joguei minha bolsa e me encostei no galho, olhando para cima. Não

sorri. — Wow, sério, é uma mentirosa horrível.

Suspirou, parecendo um pouco dolorida e mais como ela, antes

que a máscara fria fosse posicionada em suas feições. — Estou bem.

— Não perguntei — disparei secamente.

Ela quase sorriu. — É a única que não me pergunta a cada cinco

minutos.

Cruzei os braços, sentindo um pouco justificada. — Lembre-se

disso.

— Eu lamento Lucy — murmurou, tão suavemente que quase não

a ouvi sobre o ruído das folhas e plantas altas, como a chuva suave

golpeando ao nosso redor.

Permanecemos firmes no nosso trono de carvalho.

— Só não entendo porque está me excluindo. — Soei ofendida até

mesmo para meus ouvidos.

— Porque não quero te machucar.

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— Alô? Já o fez — espetei raivosa. — Assim supera isso e me diz o

que está acontecendo.

Observou-me por um estranho momento, antes de sair do galho,

pendendo nas pontas dos dedos, e aterrissando graciosamente ao meu

lado. O galho apenas balançou. Ela sempre havia tido graça, mas desde

que virou uma vampira, era como se fosse feita de porcelana, dura e

perfeita.

Odiava essa comparação, mas era adequada.

Pelo menos até que ela tirou os óculos.

Até mesmo Nicholas não tinha parecido tão mal depois da troca

durante tanto tempo.

Seus olhos eram do mesmo azul pálido, mas na parte branca havia

vestígios vermelhos, como as veias de uma folha antes de cair da árvore

em outono. Era estranhamente belo, de uma forma ameaçadora.

Christabel teria convertido em poesia. Eu só estremeci.

— Oh, Sol. Dói?

— Na verdade não. Já não.

— Seus dentes doem?

— Um pouco.

Agora tinha três conjuntos de presas, mais do que na última vez

que a vi. Só os Hel-Blar eram selvagens o suficiente para ter múltiplos

conjuntos de presas; incluindo a maioria dos Hounds tinham apenas

dois pares. Certamente, nenhum dos Drake que eu conhecia tinha

sequer mais do que o par normal – incluindo a prima de Solange,

London, e ela era realmente brutal.

— Oh! — exclamei de repente. — Kieran falou com você? —

porque isso era muito mais importante do que dentes adicionais.

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— O da Escócia, certo?

— Sim, isso. — Não parecia tão irritada como achei que estaria. —

Quero dizer, isso será realmente distante. Por, como dois anos.

Não é que eu queria que ela chorasse nem nada, mas algum tipo

de reação teria sido agradável.

Ela levantou o queixo. Seus olhos brilhavam como o de um animal,

como os olhos de um lobo. — Eu poderia fazê-lo ficar.

Não essa reação.

Eu fiquei fria de uma forma que nunca achei possível. — Sol?

Encolheu os ombros e voltou a colocar os óculos. — Apenas digo.

— Sim, e é um pouco assustador.

— Não posso evitar os meus feromônios. Estou um pouco cansada

de tentar.

— Oh tia! Se começar a usar uma coroa e fizer que todos te

chamem de Sua Majestade eu vou rir de você.

Bufou um surpresa e inteiramente sorrindo.

— Graças a Deus — disse fervorosamente — É você outra vez.

— Oh, Lucy — seus ombros caíram — está tudo arruinado.

— Eu sei — afirmei duramente. — E não está melhorando você

ficar toda emocional e com segredinhos. Está me irritando.

— Sabe, há algumas pessoas que me temem — apontou a si

altivamente, mas sorria.

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— Sim, bom, é porque nunca te viram rir tanto que o espaguete

saiu do teu nariz. — Eu sorri de volta. — Superei você, Drake.

Inclinamo-nos contra o tronco, observando um casal de morcegos

capturarem e soltar enquanto apanhavam mosquitos. A chuva estava à

distância. Solange fez um gesto. — Odeio essas coisas.

— O que? Os morcegos?

— Estão por todos os lados. É como se me seguissem.

— Eca.

— Sim. — Estava tão pálida quanto opaca, com veias delgadas e

translúcidas como fogo azul dentro de seus pulsos. Ela os esfregou. —

Não quero que se tornem azuis — disse. — E não quero que o tio

Geoffrey tire mais sangue de mim, ou comece seus experimentos e faça

carrancas cada vez que fica perplexo. Não quero ser um ―quebra-

cabeças,― — disse com veemência. — E realmente não quero cheirar a

mofo.

A cheirei. — Cheira a fumaça de lenha e rosas — a assegurei —

como sempre.

— Promete que me dirá se isso mudar.

— Eu farei se deixar de me evitar. E acho que me amordaçando

provavelmente me afastaria.

— Você é um conforto tão grande para mim, yak.

— O mesmo eu digo, cara de meleca.

Nós rimos abertamente como costumávamos fazer desde que

tínhamos quatro anos. Outro morcego mergulhou diante de nossos

olhos, um pouco mais perto do que eu gostava. Inclinei-me do outro lado

da árvore.

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— Tudo bem, um é fofo. Mas esse é o meu limite. — O som de asas

de couro nos rodeou. Eu levantei a minha camiseta. Até mesmo Gandhi

parecia desconcertado.

— Hum, Solange?

— Sim?

— Vamos sair desse maldito lugar! — corri, agachando-me com a

cabeça baixa. A grama alta era como uma pluma em torno dos meus

joelhos, e a chuva sacudia as folhas de carvalho.

Os morcegos pareciam uma nuvem grande e escura carregada de

trovão, prestes a liberar dentes e raiva e Deus sabe que outras coisas.

— Se uma dessas coisas bagunça meu cabelo, eu vou ficar louca

como o inferno. — Gandhi estava em meus calcanhares. Solange era um

esboço borrado atrás de mim, tentando diminuir o ritmo, diminuindo e

retrocedendo. Já estaria esperando por mim no carro, se houvesse se

permitido continuar. E seus pulmões não estariam ardendo como os

meus.

Ela parou tão rapidamente, a grama achatou ao redor dela. Eu

estava do outro lado do carro, minha mão na porta. Solange se virou

para poder encarar os morcegos próximos, da forma como teria

enfrentado um adversário com uma espada. Era magra e ficou de lado

para fazer um alvo menor. Eu fiz uma pausa.

— O que está fazendo? — perguntei freneticamente.

— Entra no carro! — Abri a porta traseira para Gandhi. Ao menos

ele foi esperto o suficiente para saltar para dentro.

— Espera — ela murmurou baixinho. A lua era uma pérola atrás

das nuvens, a luz tênue brilhando azul refletindo no seu top preto. A

chuva estava fria em meu cabelo.

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E os morcegos ainda vinham para nós.

— Bem agora, te odeio um pouco — disse entre dentes. Eu não

podia entrar no carro e deixá-la lá para se defender sozinha. Eu tinha

que ficar ali e esperar até que meu rosto estivesse cheio de pequenos

morcegos.

Regras básicas de melhores amigas.

Solange elevou sua mão, com a palma para cima. Parecia uma

bailarina orientando o trânsito.

Os morcegos se detiveram, pairando. O som de muitas asas fez os

cabelos de minha nuca se eriçar. Os morcegos ainda estavam no alto,

mas não estavam se aproximando.

— Como você fez isso?

— Não tenho a menor ideia — respondeu entredentes.

Com um movimento rápido de mão, os morcegos giraram como

um só e voaram para longe na direção que ela indicou para cima na

montanha. Quando finalmente ela virou para me encarar, seus olhos

estavam enormes. — Tudo bem, isso foi estranho.

Olhei fixamente. — Definitivamente poderíamos contratá-la para

fazer os efeitos especiais no Halloween. — Estremeci. — Agora sim

podemos entrar no carro?

Não esperei uma resposta e entrei no banco da frente. Abaixei-me

para vê-la através da janela. — Vai entrar ou o que?

Olhou insegura. Mordeu o lábio inferior, da mesma forma que

costumava fazer quando estava nervosa, esquecendo que agora tinha

presas. Uma delas cortou sua pele. O sangue a manchou como uma

ferida macabra. Ela lambeu.

— Não acredito que deva, Lucy.

Page 115: Drake Chronicles -  Bleeding Hearts

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— Tenho plugs de nariz — eu mantinha um esconderijo para eles

no meu porta-luvas, para Nicholas. O alcancei e puxei para abrir. Eu

parei, ―no meu carro―, me corrigi. — Esqueci que estou dirigindo o

carro da minha mãe. E - oh meu Deus — murmurei quando uma

camisinha caiu no chão. — Minha mãe está fora de controle.

— Isso é uma camisinha?

— Nem sequer pergunte — fechei o porta-luvas com uma batida.

— E verifica suas coisas na próxima vez que vier. Definitivamente te

deixará algumas, furtivamente no teu casaco e bolsa.

Ela piscou. — Ela faz com as camisinhas o que minha mãe faz com

as estacas?

— Definitivamente. Está bem, de volta ao que importa. — Sorri

abertamente. — Você podia colocar a cabeça pela janela, como o

cachorro.

— Acho que não.

— Vamos, Sol. Não fique relutante comigo – ainda é cedo. E você

me deve.

— Ok, está bem. — Ela subiu no teto do carro e sorriu com

satisfação através do teto solar. — Mas vou viajar aqui.

Dei de ombros. — Vai se molhar.

— Melhor isso do que o incômodo no meu nariz.

— Duvido que os policiais pensem do mesmo jeito. E pagará por

cada multa de condução imprudente que eu receber.

— Vamos permanecer na propriedade. Desça a estrada pelos

pântanos. Podemos caminhar a partir dali. É só meia hora ou algo assim.

Liguei o carro. — Genial. Quem nós estamos espionando?

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— O que te faz pensar que estamos espionando?

— Por favor, todas as nossas boas festas do pijama incluem

espionagem, de algum modo.

— Certo.

— E?

— Já vai ver.

Gandhi não estava muito orgulhoso de tirar sua cabeça pela janela

e tentar morder o vento enquanto nós entrávamos ruidosamente pelo

caminho sujo. Depois de quinze minutos, aproximadamente, diminuiu

em uma trilha estreita e terminou completamente. Havia uma parede de

pinheiros na nossa frente e terras úmidas, brejos, à nossa esquerda. Saí

do carro, colocando a minha jaqueta e puxando o capuz. Solange

aterrissou suavemente se agachando de cócoras, sorrindo. Estava se

exibindo por completo.

— Sim, sim — eu reclamei gentilmente. — Vamos embora agora.

Folhas de pinheiro rugiam debaixo dos meus pés. A chuva deixava

tudo mais brilhante, mas estava relativamente seco debaixo de todos os

galhos. A noite resplandecia verde e as samambaias oscilavam ao nosso

redor. Gandhi trotava contente a nossa frente, parando uma vez para

colocar sua cabeça em uma árvore de amora. Solange cheirou uma vez,

logo franziu o cenho. Provavelmente podia cheirar o musgo crescendo

agora. Uma coruja cantou uma canção suave e assustadora sobre nós,

breve e tão velha quanto às estrelas. Era uma perfeita noite de outono.

Você sabe, sem as mãos podres azuis cortadas, penduradas nos

pinheiros como enfeites insanos de Natal.

Engasguei na lufada súbita dos cogumelos viscosos e água parada.

Engoli em seco. — Concordo, isso é asqueroso.

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Solange se virou lentamente, olhando com atenção até as sombras.

— Acho que estamos sozinhas. — Cheirou uma vez. — Não cheiram a

frescos.

Tentei não vomitar. — Seriamente, quem faz isso? — Os Hel-Blar

eram repugnantes, não havia dúvida. Inclusive eram mais repugnantes

desmembrados. Recuei uns quatro passos. — Hélios-Ra? — eu deveria

reconsiderar as minhas novas aulas de autodefesa.

Solange sacudiu a cabeça, decodificando o que quer que seja que

ela pudesse ver no lodo e nas folhas secas do pinheiro. — Não acredito.

Praticamente não há pista alguma. Só os vampiros podem se mover tão

rápido que praticamente flutuam.

— Bom merda. Não estamos no território dos Drake?

— Não, aqui, não. Vou pedir ajuda. — Suspirou ao seu telefone. —

Não há sinal aqui. Me esqueci. Eles escolhem o prado mais isolado

possível para a Lua de Sangue.

— A Lua de Sangue? — animei, apesar das decorações macabras

ao nosso redor. Os humanos eram raros em um festival da Lua de

Sangue, inclusive só quando eram aprovados pelo líder da tribo de

vampiros. Já tinham me dito que não havia forma de que os Drake me

trariam para o festival. — Sério? Não achei que aconteceria em pelo

menos, uma semana.

— A estão preparando desde que fixou o dia — explicou Solange.

— E alguns dos dignitários já começaram a chegar de todas as partes do

mundo.

— Tudo bem, isso é muito legal — confirmei. — Está

definitivamente perdoada. Você pode ficar tão emocional quanto quiser.

— Eu fiz uma careta com as mãos. — Você pode querer decorações

novas, no entanto. Estas não são exatamente de bom gosto.

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— Alguém está matando Hel-Blar. Cortam as suas mãos antes de

transformá-los em pó, assim todos ficam sabendo. — Disse Solange. —

Mamãe diz que são troféus de guerra. E os troféus de guerra são motivos

de preocupação, especialmente quando demonstrado tão claramente.

— Além do que? Não muito higiênicos. — Não podia deixar de

imaginá-los me agarrando. — Podemos sair daqui?

Apressamo-nos para fugir enquanto eu tentava descobrir como

iria evitar os pesadelos essa noite. Eu estava realmente feliz de que

Christabel estava a salvo em casa, lendo algum livro chato, escrito há

duzentos anos atrás, e não tinha saído em uma de suas caminhadas. Eu

fiz aquela dança assustadora que se faz quando acha que tem uma

aranha rastejando em você. Eu senti como se tivesse centenas delas.

Falando sobre ter o formigamento do sentido aranha.

O resto do caminho foi definitivamente menos estranho. Eu não

conseguia deixar a tensão nos meus ombros, e eu continuava à espera

de encontrar mais partes de corpo de algum Hel-Blar.

— Lucy, eu posso ouvir você ranger os dentes desde aqui —

murmurou Solange.

— Não posso evitá-lo. Isso foi totalmente asqueroso.

— Eu sei, mas vai alertar aos... — Parou, quando um vampiro caiu

de uma árvore, na nossa frente. — Guardas. — Terminou secamente.

— Princesa — assentiu graciosamente. Havia uma fileira de

estacas em seu cinto e em uma correia cruzando seu peito. — Não

humana — disse amavelmente para mim.

Fiz uma careta. — Isso é racismo, ou espécie-cista, o que seja.

— Não, é só mais seguro, pequenina.

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Seu cabelo era comprido e branco e havia rugas ao redor de seus

olhos. Seu olhar era como o do avô de alguém em Coração Valente.

Solange avançou até ele, e se posicionou mais perto do que estava

acostumada com os outros.

— Está bem — Solange murmurou. — Pode descansar por um

momento.

De repente parecia sonolento. Lutava para não fechar os olhos.

Ainda que eu fosse à maior parte imune aos feromônios de vampiros,

me encontrei bocejando. Tampei o nariz. Gandhi se queixou.

Solange não estava brincando quando disse que os feromônios

estavam ficando mais fortes. Não se supõe que funcionam em outros

vampiros. Isso era porque a nova droga hipnotizante dos Hélios-Ra

tinha tal demanda... oferecia um efeito hipnótico temporário nos

vampiros.

Mas Solange evidentemente não precisava disso.

O guarda caiu e Solange o arrastou até uma moita de cedros.

— Sol, ele trabalha para a sua família? — perguntei, notando o

escudo real em sua camiseta antes que a mata o tragasse. Minha voz

soou nasalada porque ainda beliscava meu nariz para mantê-lo

tampado.

— Sim, mas nunca teria nos deixado escorregar. E você queria

espionar, não? — Solange deu de ombros. — Agora podemos.

Eu sabia que ele não estava ferido, mas a forma como Solange foi

tão arrogante sobre persuadi-lo, fez com que meu estômago se sentisse

como se estivesse cheio de ácido e insetos.

— Vamos — disse impaciente.

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Eu a segui, tentando ignorar a palpitação de terror dentro do meu

peito.

Mas eu sabia que ela podia ouvi-lo.

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Capítulo 11 Christabel

Quando acordei, o homem ainda era azul.

O que não fazia sentido algum.

Mas tampouco tinha o fato de que tudo se misturava como em

uma pintura a óleo úmida, ou a antiga qualidade dourada da luz, grossa

com partículas de pó. Inclusive o piso debaixo das minhas palmas eram

de madeira descolorida, como algo que encontraria em uma cabana de

outrora, especialmente com o fogão a lenha de ferro e uma chaleira no

canto.

Claramente tinha lido tanta ficção histórica que poderia ter

enlouquecido.

Exceto que eu não conseguia pensar em um único período

histórico, ou mesmo um romance para esse caso, com pessoas de pele

azul.

E na realidade, ao invés de correr através do índice de

trivialidades literárias em minha cabeça (Jane Eyre, sala vermelha;

Crime e Castigo, amarelo como uma azarada cor...), deveria me

concentrar no fato de que alguém havia me drogado e sequestrado.

Nada mais explicava as alucinações ou o estranho pó branco. Perguntei-

me de novo, espantada, se isso era antraz. Não se supõe que isso fosse

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um pouco esbranquiçado? Mas, quem demônios percorria por cidades

pequenas administrando antraz a garotas inocentes? Tinha algo a ver

com as vacas?

Eu recitei um pouco de ―O ladrão de Estradas― de Alfred Noyes

para me acalmar. “Não disseram palavra alguma ao proprietário, em

troca beberam sua cerveja inglesa. Mas amordaçaram sua filha e ataram

ao pé de sua cama; Dois deles se ajoelhou em sua janela, com mosquetes

ao seu lado! Tinha morte em cada janela”.

Não, definitivamente não estava me acalmando.

Procurei pelo o meu celular, discando 911 diante dos meus olhos

focados suficiente para ver que eu não tinha um sinal. Claro.

Teria chorado, mas minha cabeça doía como o diabo. Essa linha

parecia vagamente familiar, como se fosse de um livro velho. Orgulho e

Preconceito, talvez. Isso era reconfortante. Menos reconfortante era que

eu não conseguia me lembrar de que livro era. Eu sempre me lembrava

de coisas assim. Estava orgulhosa da minha reserva de detalhes

históricos e literários, mesmo se não tivesse provado particularmente

útil até agora. Ele certamente não tinha me salvado de ser sequestrado.

Fechei meus olhos novamente, ouvindo o movimento. O medo fez

me sentir confusa e difusa por dentro, como se eu estivesse cheia de ar

ao invés de sangue e ossos. Fixei minha mandíbula para baixo em um

miado de pânico, quando se escutaram pisadas. Minhas pestanas se

agitaram, tentando abrir embora as forçasse se manterem fechadas. Fez

o medo acido em minha; me doía todo o corpo com a necessidade de ver.

Mas queria ficar só ainda mais. Esperava, em vão, que se o homem azul

pensava que eu ainda estava inconsciente, me deixaria. Então

descobriria como escapar.

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— Não tem que se incomodar — disse suavemente, muito mais

perto do que eu acreditei que estava. — Posso escutar seu pulso

criança, e sei que está acordada.

Não sabia o que fazer. Ele poderia estar me testando, só para ver

se eu estava consciente ainda. Senti o cheiro de algo como terra

molhada. Era impossível não pensar úmidas e escuras masmorras. Meu

peito queimava enquanto eu tentava não engasgar ou gritar ou me

render.

— Você vai querer respirar — acrescentou calmamente, como se

ele estivesse me oferecendo chá e bolinhos. — Se você não quiser

desmaiar.

Abri meus olhos, mas somente porque ele usou a palavra

―desmaio― de uma forma muito antiquada, como se saído de uma

novela Vitoriana.

Não era.

Usava uma camisa de linho cor creme, jeans velhos, e um cinto de

pérolas que provavelmente roubou de algum museu. Seu cabelo era

longo e castanho, estava amarrado para trás com um pedaço de couro

cru. Talvez houvesse sido atrativo se não fosse um psicopata.

E muito levemente azul.

Além do mais, estávamos em uma cabana de um só quarto com

paredes de madeira reduzidas com o tempo. Tinha estantes antigas

garrafas e uma capa de poeira tão espessa como gelo em um bolo.

Esfreguei os olhos, apesar de mover meus braços senti como se

levantasse tijolos e pedras envoltas em cimento fresco. Nenhuma

quantidade de atrito retina mudou o fato de que ele era azul. E seus

olhos eram realmente vermelhos.

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Agachou-se na minha frente. Eu rabisquei para trás tão rápido que

bati minha cabeça na parede.

— O que você quer? — Resmunguei minha garganta tão apertada

com medo que senti como se tivesse comido facas.

— Você está segura, Lucky. Nós não estamos planejando feri-la.

— Eu não sou Lucy.

Ele sorriu um pouco. — Conhecemos o seu carro.

Tinha razão para odiar carro de Lucy. Seus pais não tinham sido

paranoicos com seu toque de recolher. Agora era tarde demais para

dizer a eles que eu estava feliz que me acolheram.

Muito tarde para decidir se eu queria ser uma poetisa ou uma

artista de tatuagens. Se eu quisesse ir para a faculdade imediatamente

ou viajar e ver Londres e França e Praga em primeiro lugar. Muito tarde

para ver minha mãe sóbria.

Demônios.

Não pensei; apenas me segurei para fazer. Meu estômago seguiu

um caminho e minha cabeça se sentia como se houvesse seguido o

caminho contrário. Não estava a ponto de deixar que o enjoo ou a fadiga

me detivesse. Iria alcançar essa porta e logo ia correr rua abaixo,

gritando a todo pulmão até que alguém parasse para me ajudar.

Nem sequer cheguei ao outro lado do quarto.

O homem estava de repente na minha frente. Me inclinei para ele,

ferindo a ponta do meu nariz com sua clavícula. Notei uma cicatriz,

longa e o suficientemente velha para parecer como cetim enrugado.

Suspirou. — Desejava que você não tivesse feito isso.

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125

Suas mãos estavam em meus cotovelos, tentando me firmar.

Arrisquei uma olhada. Má ideia. Tinha muitos dentes. E alguns deles

pareciam ficar mais longos. E mais afiados. Se eles se afiarem mais vou

começar a escutar a música tema de Tubarão em minha cabeça. Pisquei,

dizendo a mim mesmo que não deveria entrar em pânico e nem me

distrair. Provavelmente tinha ativado a última droga no meu sistema ao

correr, e isso além da adrenalina bombeando de repente através de

mim, me faziam alucinar. Parecia muito científico e lógico.

Contudo, ainda me sentia balbuciante, com um terror que nublava

minha mente.

Abri a boca para gritar e levantei meu pé para chutar.

— Não.

Algo na forma em que falou e seu estranho odor, fez com que

minha boca se fechasse de um golpe. Senti minha cabeça leve

novamente. De fato tinha me inclinado para ele. Isso não podia ser bom.

Eu sabia que estava aterrorizada, mas não parecia me importar. Senti-

me sonolenta e lânguida, como se recentemente houvesse tomado uma

longa e quente ducha.

— Você deve saber que não deve correr quando enfrenta um

vampiro, Lucky.

Vampiro. Ri tontamente. Então eu pisquei, tão impactada por ele

como por qualquer outra coisa que me tenha passado essa noite. Nunca

ri assim.

— Os vampiros não existem — respondi. Inclusive minha língua

parecia estranha em minha boca, como se estivesse inchada. — me dá

vergonha.

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126

— Feromônios. Desaparecerão. — Franziu o cenho. — Não há

razão para que finja que não nos conhece, nós conhecemos você.

Minha cabeça se sentia muito pesada que pendurava de novo para

trás, expondo meu pescoço. Lambeu os lábios.

— É tão irresponsável como dizem. — Sua voz era suave, faminta.

— Huh? — Eu soava como minha mãe depois de muito gin. Esse

simples pensamento cortou a crescente e sobrepujada sensação de tudo

que me rodeava. Era como estar mergulhada em água gelada. Até

mesmo estremeci. Logo fechei os punhos, cravando minhas unhas nas

palmas da minha mão, excluindo a dor na minha cabeça. O odor de terra

úmida se intensificou. Engasguei.

Seus olhos não eram apenas sanguinolentos; praticamente

brilhavam. Eram fascinantes, como rubis golpeados pela luz do sol.

Cravei minhas unhas mais forte em minhas palmas, com tanta força que

sangraram. Senti a pontada quando o suor escorria pelos cortes.

Afastando a neblina.

O que só deixou mais espaço para o cheiro do pântano.

O homem não pareceu notar. Ele simplesmente inalava

profundamente, como se tentadores biscoitos estivessem saindo do

forno. — Você está sangrando.

Algo sobre a forma que disse me fez empurrar-me para trás, mas

ele me sustentava no lugar. Seus dedos não se moveram em absoluto,

apenas cercando o meus braços como correntes de aço. Eu sabia que

teria hematomas depois. Assumindo que houvesse um depois.

— Cheira... espera. — Parou e franziu a testa. — Você está

cheirando... errado.

— Essa não seria eu idiota, e sim você. — Aí. Essa era eu. Apertei

minhas mãos mais fortemente.

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127

— Pare — disse ele, quase como um apelo. Ele cheirou de novo. —

Há apenas um traço mais básico dos Drakes em você. Isso não faz

sentido.

— Isso é o que não faz sentido? Olá? Você é azul! E um

sequestrador! E cara, você deve consultar um dentista.

— Continuará com esse engano? — Soava um pouco surpreso. —

Mesmo agora?

— Que engano? Eu te disse, eu não sou Lucy.

Encarou-me por um longo momento, então pegou minha mão e

obrigou meus dedos desenrolar-se. Minha palma exposta, coberta com

pequenas gotas de sangue como contas de vidro vermelhas. Eu tentei

me libertar de seu tato, mas seu agarre se intensificou em meu pulso.

— Fique parada — acrescentou, e seus olhos eram lindos

novamente. Estava entalhado em mármore pálido, misterioso e

primitivo. Fez-me pensar de caçadores e flechas quebradas e veados na

floresta. Quando ele abaixou a cabeça e lambeu meu sangue, eu fiz

apenas um pequeno miado de protesto. — Você não saboreia como eles

— disse suavemente, seus perigosos dentes manchados de vermelho. —

E você não é imune a mim.

— Por que, você está doente? Ou contagioso ou algo assim? —

perguntava em voz alta. Claro que ele estava doente. Estava provando

meu sangue. — Oh Deus — disse. Na minha cabeça soava aguda e

irônica, mas em voz alta saiu soou sonhador e etéreo. — Isso é algum

culto estranho vampírico? É por isso que você acha que eu sou Lucy? —

Concentrei-me nele em vez do fato de que estava permitindo percorrer

minha outra palma com sua língua. — Olha, sei que ela se interessa por

esses livros e filmes e coisas, mas não está louca. Tampouco cairia

rendida por isso. Ela sabe que os vampiros não são reais.

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Realmente empalideceu, o qual era estranho considerando sua

cor. — Realmente você não é ela.

— Eu realmente não sou.

Soltou minhas mãos tão rápido, que senti os músculos do meu

ombro estalarem.

— Isso é um problema — disse sombriamente. Ele ainda estava

entre mim e a porta, a qual se abriu de repente. Não tinha ouvido

alguém se aproximando e apenas poderia agora. Seus pés não fizeram

som algum. Tropecei ao retroceder um passo.

— Saga — disse, o que eu assumi era seu nome. Ela tinha longos

cabelos vermelhos, que deveria ter entrado em conflito com sua pele

azul pálido, mas de alguma forma não fez. Seus olhos eram cinzas, quase

brilhantes. Ela usava uma saia preta com uma bainha esfarrapada e uma

espécie de corset prateado como uma couraça, modelando seu peito e

gravado com espirais e motivos de videira. Parecia um pirata, exceto

que ela estava descalça. E os seus dentes eram tão nítidos como as

estacas de madeira e adagas de cravejadas de joias amarrados por todo

o corpo. Ela ainda tinha um facão em seu cinto.

— Aidan, isso é ela? — Sua voz pertencia a uma rainha, mas seus

olhos pertenciam à floresta, ou à toca de um texugo. Na verdade, um

longo capuz pendurava por suas costas para baixo, rodeada de pele.

Estava começando a me sentir enjoada novamente. Tinha medo e estava

confusa e só queria acordar desse pesadelo induzido pela droga. Abri

minha boca para soltar o mais ruidoso, assustador e quebra vidros grito

que poderia reunir. Apenas comecei quando ela falou.

— Avast.

Sua voz de aço fez o grito morrer dolorosamente na minha

garganta. Seus olhos eram como alfinetes de prata inseridos em

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delicadas asas de borboletas, pode ser também, que eu fosse uma

espécime cravado em um tabuleiro aveludado para sua coleção.

— Deve saber que ninguém lhe escutaria — disse. — é mais

estranha. Esperava que alguém debaixo da proteção dos Drakes fosse

mais esperto.

Ela acabou de me chamar estúpido. — Hey.

— Essa é a coisa — Aidan interrompeu. — Ela não é Lucy

Hamilton.

Saga empalideceu, um rosto de fada florida queimando com ira.

Mas a fúria veio e se foi tão rápido que pode ter sido um truque de luz

da única lamparina. — Então quem é moça? — ela perguntou.

— Christabel.

— E o que é você para os Drakes? — era sinistra, violenta, como

uma avalanche de lodo varrendo a metade das casas mais velhas de um

povoado.

— Nada. — Pensei em Connor e Nicholas e me perguntei em que

merda andavam metidos.

— Isso é uma lástima.

De repente, pareceu como disse. Uma enorme lástima.

— Ela conhece Lucky. Acredito que elas são parentes.

— Isso é sobre drogas? — perguntei sem jeito, lembrando o frasco

no corredor de Lucy na noite passada. Olhei ao redor, olhos

incomodamente amplos enquanto batalhava com uma inexplicável e

recente fadiga. Procurei, mas não podia ver nenhuma parafernália de

drogas, não que eu soubesse como se parece ou algo. Minha mãe era

estritamente licor puro. Mas se este fosse um laboratório de drogas,

certamente eu deveria falar sobre ele?

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— Ela dirigia o carro de Lucy — Aidan explicou desculpando-se.

— Filho da puta.

Enquanto se observavam mutuamente, usei a oportunidade para

sair correndo pela porta aberta. Quase quebrei meu tornozelo me

esquivando de uma tábua podre no piso. Quando saí pela varanda para o

caminho de terra, deveria ter continuado correndo por minha vida –

leões da montanha, florestas de neve e minha total falta de direção

maldita. Mas não podia me mover. Apenas podia observar como uma

criatura saiu da rua deserta arrastando os pés.

Ele era de um mais profundo e mais vibrante azul que Aidan e

Saga, e tinha inclusive mais dentes. Quando o vento mudou recebi um

pouco do seu cheiro: não apenas cogumelos e sim cogumelos podres,

não apenas umidade e sim um pântano de água parada. Me sufoquei.

Algo sobre sua forma de se mover fez que minhas mãos se apertassem e

que o suor empapasse as costas da minha camiseta. Não disse nada,

apenas lambeu os lábios. Seus olhos capturaram a fraca luz da lua

quando as nuvens se separaram. Inalou profundamente e estalou suas

mandíbulas novamente, com saliva gotejando de seus dentes.

Logo se aproximou de mim, grunhindo.

E eu sabia que não poderia escapar dele.

De toda forma tentei.

Virei, tentando retornar à relativa segurança da varanda e a casa

quebrada e ligeiramente menos louca, e com menos gente azul dentro.

Não consegui.

Agarrou minha mão, puxando-me para trás enquanto eu corria

para frente. Meu ombro balançou dolorosamente. Gritei. Estava presa no

lugar, retorcida de maneira pouco natural, e ele tentava lamber minha

mão.

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Nojento.

E estranho.

Puxei mais forte, a sensação de grave e repentino medo estavam

em cada parte do meu corpo – minha cabeça, meus joelhos, meu braço e

principalmente em minha pulsante mão.

De repente Aidan estava ali, mais rápido, forte e louco. Agarrou o

pulso do homem azul e o quebrou, estalando tão facilmente como se

fosse um ramo seco. O homem azul uivou em resposta desde a parte de

trás dos prédios, e não era um lobo. Não era um animal ou humano. E

não estava sozinho.

— Um dos cachorros se soltou, não é assim? — Aidan disse, suas

mãos de repente cheias de finos e afiados paus. Não, não paus. Estacas.

Uma pegou o homem pelo pescoço e, enquanto se sacudia, outra pegou

pelo peito. Aidan usou sua mão para empurrar a estaca através da pele e

carne e osso. Meu estômago ameaçou dar voltas.

Mas tinha que esperar enquanto meu cérebro ameaçava o mesmo,

porque a criatura se agarrou ao seu peito, gorgolejando em dor antes

que se derrubasse em cinzas. Parecia fuligem e cinzas esmagadas no

chão. Minha visão vacilou e meu ombro doeu. Eu tremia por completo.

Aidan me manteve no lugar, sua mão em meu pulso. Rezei para que não

a quebrasse também.

O uivo continuava mais forte, mais grave, tão frenético como um

uivo incorpóreo podia resultar. Saga caminhou fora da varanda e fez

soar um apito de madeira.

O uivo parou tão marcado em seu silêncio como tinha estado em

seu clamor.

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Capítulo 12 Connor

Nicholas e eu estávamos patrulhando na floresta perto da estrada

para a cidade quando a minha moto quebrou.

Posso cuidar de computadores, mas carros e motos nem tanto.

Estávamos longe da Terra Drake, a milhas realmente, mas havia tantos

Hel-Blar e com a Lua de Sangue se aproximando, não podíamos nos dar

ao luxo de correr riscos.

Não tínhamos a vitória assegurada com os Hel-Blar, apesar de não

ser tecnicamente nossa bagunça para limpar, mas seria ruim se não

fizéssemos. Sem mencionar que poderiam nos comer.

— Poderia ser os cabos da bateria — disse Nicholas. Ele levantou

o banco e depois balançou a cabeça. — Eles parecem estar bem.

— mexeu neles de qualquer forma e, em seguida, abaixou no

banco e girou a chave. Ainda não soava bem. Ele parecia irritado.

Duncan era o mecânico da família, mas Nicholas estava tentando chegar

ao seu nível. Murmurou para si mesmo enquanto eu mandei uma

mensagem para Duncan vir.

— Eu posso arrumar — disse Nicholas, lançando um olhar quando

me pegou tentando enviar uma mensagem. Começou a bater nas

entranhas da moto. Debrucei-me contra uma árvore e verifiquei minha

caixa de mensagens enquanto esperávamos Duncan. Tinha enviado uma

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133

mensagem para Christabel para ver se queria dar uma olhada nas

livrarias da cidade.

— Então... você e Christabel? — Nicholas perguntou.

Deslizei meu celular de volta no bolso, encolhendo os ombros. Ela

não respondeu. — Vamos ver.

— Mas você gosta?

Quando eu levantei minhas sobrancelhas, ele suspirou. — Lucy

queria perguntar-lhe — admitiu.

— Diga que não é da sua incumbência.

Ele bufou. — Diga você.

— Só se interceder por mim — eu corrigi.

— Então você gosta.

— O que eu não deveria gostar? É sexy e impressionante. — o que

fez soar como se gostasse só porque ela era bonita, o que não era

verdade. Ela era feroz em suas botas de combate, mas lia poesia. Não

flertava, mas era malditamente linda, e cheirava a canela. Era também a

primeira garota que invadia meus pensamentos dessa forma em um

longo tempo.

Mas não iria falar de uma forma tão brega com um de meus

irmãos. Isso nunca terminava bem.

Duncan parou, seguido por Quinn.

— Estava visitando Hunter — disse Quinn — e eu encontrei

com Duncan.

Duncan apenas grunhiu e foi direto para a minha moto. Suas

calças jeans e camisa branca manchada de graxa do motor, como de

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costume, e estava levando seu kit de ferramentas. Nicholas deu espaço e

ambos agacharam, parecendo sérios.

— Eu verifiquei os cabos da bateria — disse Nicholas. — Mas

ainda está preso. Deve ser o carburador novamente.

Duncan estendeu a mão para catraca. — Bom trabalho, irmão mais

novo.

Fizeram pequenos ajustes por um tempo. Pingava sujeira preta na

grama. Quinn deu-me uma garrafa de refrigerante. — O que faz

patrulhando quando você poderia estar flertando com a prima da Lucy?

Eu gemi. — O que, divulgaram um comunicado ou algo assim?

— Cara, eu sou o seu gêmeo. E é sobre uma menina. Me ofende

você pensar que eu não saberia.

— Não importa — sussurrei. — Não acho que ela está

interessada.

Quinn apenas bufou. — Ela está interessada.

Não pude evitar sorrir. — Apenas não a conhece.

— Connor — respondeu. — Nós somos lindos. Quanto mais cedo

você aceitar isso melhor.

Eu ri. — Não acredito que a ela atraia o lindo.

— Que diabos acontece?

Levou outra meia hora para que Nicholas e Duncan fizessem

funcionar o carburador ou o que seja que eles estavam fazendo. Duncan

o explicou em grandes detalhes, mas eu estava escutando tão

atentamente quanto ele escutava quando eu explicava por que o

computador travou. Sorriu presunçosamente quando o motor

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finalmente ronronou. Se fosse um gato, tinha acariciado a cabeça contra

o joelho de Duncan.

— Pronto para patrulhar? — perguntou Nicholas.

Duncan negou com a cabeça. — Não posso — disse ele, fazendo

uma careta. — Tia Ruby decidiu que quer o seu Mustang pronto para a

Lua de Sangue. Já sabem que o Mustang não vem sendo usado desde

1965?

— Como vai dirigi-lo até o acampamento? Não há nem mesmo

uma estrada.

Duncan encolheu os ombros. — Me moendo a golpes. — se foi sem

dizer uma palavra mais.

— Sempre estou disposto para patrulhar. — Quinn sorriu de

orelha a orelha. — Nós vamos para fora da cidade. Os Hel-Blar estão se

descontrolando novamente. Hunter diz que a escola recebe

comunicados todas as noites dos agentes Hélios-Ra da cidade.

Andamos um pouco, mas tudo estava quieto, até que estávamos

retornando entre as fazendas mais próximas a Violet Hill. Tinha um

carro amarelo brilhante no lado da estrada de Cedar Road com a porta

do condutor aberta. Não tinha ninguém no interior.

— Este é o carro de Lucy — disse Nicholas, praticamente jogando

a moto dele na vala quando viu que esta não se movia com rapidez

suficiente.

— Merda — Quinn sussurrou enquanto corríamos atrás dele. Eu já

tinha tirado meu telefone. Não tinha certeza se deveríamos chamar um

caminhão de reboque ou aos caçadores. Liguei primeiro para Lucy

enquanto Nicholas corria em volta do carro, gritando seu nome. Ela não

respondeu.

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— O telefone está fora da área de cobertura — disse Nicholas,

quando ele parou, com as mãos descansando sobre o capô, um olhar

doloroso de assistir. A chuva batia à nossa volta.

— Sinto o cheiro de cogumelos — Quinn disse severamente,

expandindo as narinas. Hel-Blar. — Ou terra molhada? — Nicholas

bateu no carro, amassando o capô. — Embora eu não consiga cheirar

sangue — disse Quinn. — Nicholas.

Nicholas assentiu, com sua mandíbula apertada. — Eu ouvi. —

Deslizou para o banco do motorista no carro. Suas presas estavam para

fora, seus olhos ligeiramente injetados de sangue. Estava pálido, mesmo

através da janela. — Há Hypnos no volante.

— Merda. — Peguei meu notebook e verifiquei todas as linhas e

sinais vindos de qualquer telefone ou computador da família. Mamãe e

papai não sabia que tinha instalado dessa forma.

— Alguma coisa? — Quinn perguntou em voz baixa. — Ele não

parece estar muito bem, cara. Apresse-se.

— Não, espere, não. — Eu fui à conta pessoal da minha mãe. — Eu

tenho você. Merda. Merda!

— O quê? — Quinn leu sobre o meu ombro, empalidecendo. —

Merda.

Nicholas finalmente olhou para cima a partir do trecho de estrada

de terra que estava investigando. — O quê?

— Mensagem para a mamãe. De Saga.

— Saga? A que pensamos que tinha atirado na Solange?

Assenti. — Nick.

— Pensa de uma vez. O que tem ela a ver com Lucy?

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— Ela sequestrou Lucy. A pegou como refém em troca de

reconhecimento oficial para os Hel-Blar.

Os olhos de Nicolas se voltaram loucos, um raio atingindo um lago

iluminado pela lua.

Quinn olhou para mim. — Vocês vejam se você podem rastreá-la.

Eu alertarei aos outros.

— Eles estarão fora de cobertura também.

— Eu sei — respondeu, saltando em sua moto. — Vou enviar

mensagens e, em seguida, irei para as cavernas e acampamentos. Não

deixe que ele faça nada estúpido.

— Tentarei — disse, enquanto ele saía a toda velocidade.

Aproximei-me cautelosamente de Nicholas. — Encontrou algumas

pistas?

— Não. — Sua voz era dura, fria como o aço.

Respirei fundo, catalogando o leve cheiro de cogumelos. — Não é

o cheiro normal de cogumelos, mais parecido com terra úmida e folhas

— disse, franzindo a testa. — Eu cheiro a pântano... e você? — Cheirou e

negou com a cabeça. Eu congelei. — Mas sinto o cheiro de canela.

— Lucy não tem cheiro de canela — disse Nicholas tenso. — Ela

tem cheiro de chiclete de cereja e pimenta.

— Eu sei — respondi igualmente tenso. — Mas isso cheira a

canela, a Christabel.

— Que diabos está acontecendo?

— Eu não sei. — Mas o que sabia é que ambos estávamos

lembrando aos Hel-Blar atacando a noite em que fomos para a praia. —

Lucy é preparada — acrescentei. Mas Christabel nem sabia que

vampiros existiam. — Merda. — disse encanto a chuva começou a cair

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com mais força. Minhas narinas se arregalaram. — Essa estrada vai para

a floresta.

Nicholas virou as costas. — Eu não cheiro a Lucy.

— Christabel pode ter pegado o carro de Lucy emprestado? —

perguntei.

— Eu acho. — Ele franziu a testa. — Eu não sinto o cheiro de Lucy

em nenhum lugar.

— E eu definitivamente sinto o cheiro de Christabel. — Limpei a

água do meu rosto, seguindo o caminho para o pântano.

— Aonde você vai? — Perguntou Nicholas.

— Eu não acredito que tenham levado Lucy, — disse sobre meu

ombro. Trovões rugiram e relâmpagos brilharam. — E perderemos o

cheiro de Christabel se continuar chovendo. — A frustração estava

fervendo no meu sangue.

— Espere-me!

— Não, fique aqui. Apenas por acaso. — Talvez ele estivesse certo.

Talvez eles tivessem Lucy também, ou talvez tivessem separado as

primas. No entanto, Nicholas era a melhor oportunidade de Lucy e eu a

de Christabel.

Não pensei. Apenas corri, tentando encontrar meu caminho

através da chuva sufocante e as centenas de cheiros na floresta durante

o Outono: de lama, folhas, maçãs. Concentrei-me em canela, só na

canela.

A trilha fraca me levou pela floresta profunda e antiga, onde o

dossel era tão espesso que a chuva raramente caía. Foi a única razão

para eu não perder o seu cheiro completamente. O calor picante dele

fazendo cócegas no meu nariz me empurrou para frente através do

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crescente rio e na vegetação no pé da montanha. Havia uma estrada de

terra coberta com vegetação, mas claramente um tipo de caminho

artificial. Ouvi gritos e grunhidos e não tinha certeza se eram animais ou

vampiros.

A estrada levou-me para as ruínas de uma cidade de fronteira,

cheia de troncos em decomposição e varandas afundados. Placas de

madeira rangendo. O cheiro de mofo era forte, rançoso. Deu-me

náuseas, mas ainda senti outro cheiro.

Porque sob a putrefação senti outro cheiro: canela.

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Capítulo 13 Lucy

Eu não sabia o que dizer.

E eu sempre tinha alguma coisa pra dizer, pra qualquer um, em

qualquer momento. Especialmente para Solange. Ela estava agachada

nas samambaias ao meu lado, pálida e delicada como uma pérola. O

velho e grisalho guarda estava caído nas raízes de uma árvore. Eu tentei

não ficar encarando ele.

— Ele está bem — Solange murmurou.

Ela estava certa. Tecnicamente ele estava bem. E eu iria arruinar

um momento perfeito com intrigas. Eu empurrei uma folha pra fora do

meu caminho, tentando espiar as sombras. Tinham algumas tochas em

suportes de ferro. A chuva continuava a cair com indiferença, apenas

capaz de deslizar entre os ramos para o chão da floresta. A clareira era

uma estreita faixa de grama e flores ao redor da base da montanha.

Tendas tinham sido levantadas, como se algum tipo de circo de

vampiros ou uma produção de Mil e Uma Noites tivesse vindo à cidade.

Havia um monte de seda, fios de ouro, peças entalhadas em mogno, e

uma longa mesa de madeira mais ou menos no comprimento da rua

principal da cidade. Lampiões lançavam um padrão caloroso de luz em

sua superfície.

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— Sua tia deve adorar isso. — A tia da Solange, Hyacinth ainda

acha que a única rainha por direito era a Rainha Victoria, e ela amava a

pompa e a circunstância de uma rebelião. Ela também quase foi morta

por agentes renegados da Hélios-Ra, e as queimaduras em seu rosto não

se curaram tão bem quanto deveriam. Pelo menos, isso é o que nós

presumimos, já que ela ainda se recusa a levantar o véu.

— Ela está na Inglaterra.

— O que? Desde quando?

— Ela foi em peregrinação ao túmulo do tio Edward e da Rainha

Victoria.

— Oh.

— Estará de volta para a Lua de Sangue.

Vimos dois grandes e fortes homens levarem uma vasilha de barro

enorme, como aquelas que os antigos Romanos usavam. Achei que não

era cheia de vinho tinto como nosso professor de história nos disse.

Bem, não com o vinho tinto tradicional, pelo menos.

— Hey. — Eu franzi as sobrancelhas. — Eles são humanos.

Solange assentiu. — Sim.

— E como é que eles são permitidos e eu não?

— Eles pertencem ao Bruno. — ela disse. Bruno era chefe da

segurança da família Drake. Ele tinha se esgueirado ao redor da nossa

casa algumas vezes, também.

— E ela? — Eu apontei para uma mulher com quadris grandes e

um sorriso ainda maior. — Ela não é um Guarda-Costas.

— Ela é... bem, Kieran chamaria ela de escrava de sangue.

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Meu queixo caiu. — Você está falando sério? Ele estava certo

sobre isso?

Ele tinha me acusado de ser uma escrava de sangue uma vez e

tinha procurado por cicatrizes reveladoras em meus braços. Eu o soquei

no nariz, justamente indignada em nome da minha família vampira.

— Ela não é nossa. — Solange se apressou pra dizer. — Ela veio

com uma delegação Europeia. Aparentemente, eles acham bonitinho nós

bebermos de bancos de sangue e animais. Um deles chegou a nos

chamar de coloniais. — Ela não parecia muito feliz com isso. — Somente

humanos que estão sob um transe feromônico podem participar do

evento, e eles não estão autorizados a falar.

— Sério? Isso é medieval. — Franzi o cenho. — Eu não posso

acreditar que seu pai concordaria com isso.

— Ele acha muito perigoso para os humanos comparecerem de

qualquer jeito. E você sabe o que ele diz: uma batalha de cada vez.

Eu sorri. — O oposto da sua mãe, que diz todas as batalhas, todo o

tempo.

— Exatamente. Também, é tradição. Humanos não precisam saber

como nós nos governamos.

— Em nome dos seres humanos, hei.

— Você sabe o que eu quero dizer.

Eu sabia o que ela queria dizer, e isso só piorou a situação.

— Quem é aquela? — Eu perguntei, mais pra me distrair. A garota

parecia em seus vinte e poucos anos e estava usando macacões jeans

cobertos de tinta. Seu cabelo era um afro suave decorado com uma

única flor rosa.

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— Sky. — Solange respondeu. — E aquela é Sabrielle. — ela

adicionou, quando outra garota passou usando um lindo sári azul com

bordados de fios prateados e pérolas de vidro.

— Eu com certeza quero aquele vestido para o baile, — disse.

— Ela serve com Constantine. — A voz de Solange mudou.

Eu olhei pra ela bruscamente. — Quem é ele?

— Ele é um dignitário.

Ele era alguma coisa mais que isso, eu podia dizer pelo tom dela -

ambos, cauteloso e quase reverente.

— E?

— E o que?

— Você pode tentar o quanto quiser Solange, mas você não pode

mentir pra mim.

— Não é... — Ela parou e levantou silenciosamente, se virando

pra olhar atrás de nós. Seus joelhos se flexionaram levemente, e ela

tinha uma longa adaga na mão. Eu nem tinha visto ela pegar. Eu pensei

nas partes desmembradas dos corpos dos Hel-Blar balançando nas

arvores e peguei uma estaca. Gandhi pulou na minha frente, rosnando.

Sua bunda me derrubou.

Quinn de repente estava de pé na frente da Solange. Seus longos

cabelos caindo em seus olhos. — Sol.

Solange relaxou sua postura. Gandhi também. — Merda. Você me

assustou.

Ela guardou sua adaga e em seguida, sacudiu as mãos, como se

elas estivessem cheias de adrenalina.

— Sol, meu Deus. — ele disse. — Eles pegaram a Lucy. Ela se foi.

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— Eu? — Eu me levantei das samambaias, confusa. — Eu estou

bem aqui. — Quinn me encarou boquiaberto, em seguida, me puxou em

um abraço feroz. — Força de vampiro. — gritei.

Ele me largou tão rápido que eu acabei de volta com minha bunda

na lama. Eu balancei a cabeça. — Qual o problema de vocês?

— Você está bem! — ele disse, me ajudando a levantar. Ele teria

me ajudado a limpar a sujeira do meu traseiro, mas eu bati em sua mão.

— O que está acontecendo? — Solange perguntou.

— Connor interceptou uma mensagem, — ele explicou, — fazendo

seu vodu no computador. Dizia que a Lucy é uma refém.

Eu estremeci, e então fiz uma careta, odiando o medo que corria

como patas de inseto na minha espinha.

— Quem mandou?

— Saga.

— Certo, mas eles claramente não estão comigo. Então o que está

rolando?

Quinn passou uma mão pelo cabelo. — Seu carro está parado na

Cedar Road.

— O que? — Eu me lembrei de Christabel, pegando meu carro

horroroso emprestado para ir pra casa depois da detenção. — Ah

merda. Merda! — Me senti doente. — Não sou eu que eles tem, é a

minha prima.

Solange xingou. — Nós temos que resgatá-la. Você já contou pra

mamãe e pro papai?

— Eu mandei mensagens, mas eles estão bem fora do alcance da

área do sinal, também. Eu tenho que falar para Nicholas que você está

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145

bem. — Quinn disse. — Ele não parecia... bem. Eu não sei se o Connor

consegue controlar ele.

Solange xingou de novo. — Tudo bem, Quinn, vai pra um lugar que

tenha sinal e mande o alerta. Eu vou com a Lucy achar o Nick.

— Ele estava no seu carro, te rastreando. Está na Cedar Road, na

borda da cidade, onde vira em uma estrada de terra. — Quinn já estava

correndo. Ele pulou um arbusto. — Qual o problema dele?

— Ele tá bem. — Solange disse. — Vai logo.

— Liga pros meus pais! — Eu gritei para ele. Eu estava correndo

também, mas ele já estava longe. Eu pulei a raiz de uma árvore e levei

um tapa na cara de um galho de pinho que estava baixo de mais, mas eu

mal notei.

Nicholas faria alguma coisa incrivelmente estúpida, se ele achasse

que isso me salvaria. E Christabel não estava com vampiros normais. Ela

estava com os piores dos piores.

— Corri mais rápido, embora eu estivesse começando a sentir

uma dor no meu abdômen e pontos dançando em meus olhos. Meus

pulmões podiam explodir mais tarde. Eu não tinha tempo. Eu tinha

tempo, entretanto, para estar completamente agradecida ao

treinamento da Hélios-Ra — não era capaz de correr a metade dessa

velocidade antes. Gandhi trotava ao meu lado e Solange era um borrão

na nossa frente, mal perturbando a vegetação. Ela estava esperando ao

lado do carro com as portas abertas. Gandhi subiu na parte de trás,

ofegante.

— Vai. — Solange gritou, fechando a porta.

Eu me atrapalhei, tentando colocar a chave na ignição. — Onde

você está indo?

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— Eu não posso ir no carro com você. — ela disse. — Eu vou

tentar acompanhar, mas não espere por mim.

Eu planejava ir muito acima do limite de velocidade, então eu

duvidava que ela pudesse acompanhar. Um vampiro não podia manter

esse tipo de velocidade por muito tempo. Ela estaria bem na pista

esburacada, mas assim que eu chegasse no asfalto, eu ficaria em pé no

acelerador se fosse preciso.

Eu sacudi nos buracos da pista enlameada, a chuva cobrindo meu

para-brisa. A respiração do Gandhi embaçava a janela do lado. Eu nem

conseguia ver a Solange mais. A transmissão do carro da minha mãe

protestou violentamente quando eu passei por outra pedra, mas eu

continuei indo. Eu finalmente virei em uma estrada de terra. Os pneus

deslizaram um pouco com o cheiro de borracha queimada, mas

felizmente não tinha outros carros. Eu voltei pro meu lado da pista.

— Vai ficar tudo bem. — disse ao Gandhi, mais para assegurar a

mim mesma. — Tem que ficar tudo bem. — Ele lambeu minha orelha. Eu

cortei através de um campo deserto e saí de uma moita de plantas

amarelas, paralelo ao meu carro abandonado. A porta do lado do

passageiro ainda estava aberta.

Nicholas estava de pé ao lado do capô, parecendo forte e um

pouco selvagem. Eu vi o pálido cinza de seus olhos, como raios, mesmo à

distância. Eu ia me atirar pra fora do carro, mas ele já estava lá, me

arrancando do cinto de segurança e me esmagando contra seu peito. Seu

rosto enterrado em meu pescoço e suas mãos se agarravam a mim como

se ele estivesse se afogando na chuva. Os lábios dele estavam se

movendo — eu conseguia senti-los contra minha pele molhada, mas não

conseguia decifrar o que ele estava dizendo.

E então sua boca estava na minha e eu conhecia suas palavras;

elas eram poesia, elas eram a chuva, lírios, chocolate, açúcar. Eu bebi

delas. Eu esqueci por um pequeno momento que tudo estava caindo aos

Page 147: Drake Chronicles -  Bleeding Hearts

147

pedaços e nós não sabíamos como juntá-los de novo. Ele me segurou e

eu o segurei e eu não tinha certeza de como a chuva conseguia escorrer

entre nós dois. Nós nos beijamos tão profundamente, tudo em mim

ardia e queimava e se espreguiçava como um gato na luz do sol.

— Eu pensei... — Ele parou de falar.

Toquei seu rosto. — Eu estou bem.

Ele assentiu uma vez, descansando a testa na minha, criando um

canto desse mundo molhado e com raiva que era só nosso. — Tem

vestígios de pó Hypnos em seu carro. — A mandíbula dele se apertou. —

Eu não conseguia te encontrar.

Meus dedos se enrolaram em seu cabelo. — Eu estou bem aqui. —

Minha garganta apertou. — É a Christabel.

— Sabemos disso agora. — ele disse meio sombrio.

Eu me afastei um pouco, olhando ao redor. — Cadê o Connor?

— Ele pegou o rastro de Christabel, — Nicholas disse

sombriamente. — Ele se foi.

— Ele foi sozinho?

— Ele não queria esperar. E eu não conheço o cheiro dela,

especialmente não com toda essa chuva. — Ele parecia arrependido. —

Você é tudo que eu cheiro.

De qualquer outra pessoa, aquilo teria soado estranho.

Limpei a chuva do meu rosto. — O que nós fazemos agora? —

sussurrei. — Pobre Christa. — Ela não saberia o que está acontecendo.

Ou como se defender. Eu mordi meu lábio pra não chorar. Isso

estrangulou o soluço em minha garganta, mas uma lágrima ainda

escapou quente em minha bochecha fria.

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148

— Nós vamos encontrá-la — Nicholas prometeu. — De algum

jeito, nós vamos encontrá-la.

— Já é quase de manhã.

— Eu sei. — disse sombriamente. — Vamos voltar pra fazenda. Eu

tenho certeza que os seus pais já devem estar lá.

Solange saiu do campo, encharcada até os ossos, seus olhos de um

cinza azulado como uma concha abalone polida. Nicholas franziu o

cenho.

— Você tá bem? — Ele perguntou.

— Sim. — Ela apontou para carro com a cabeça. — Vamos.

Ela pisou no capô e subiu no teto do carro, agachada como um

corvo. Nicholas a seguiu. Eu dirigi pelas ruas de Violet Hill no meio da

noite com minha melhor amiga e meu namorado sentados no teto do

carro da minha mãe.

Era a parte mais normal da minha noite até agora.

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Capítulo 14 Christabel

— O quê? — Gritei. — O quê? Que demônios?

Quando eles se voltaram e esses olhos estranhos se fixaram

apenas em mim, de repente lembrei que ser ignorada por psicopatas

drogados era algo bom. — Uh, gaguejei. — Não importa.

Saga suspirou. Seu cabelo era o suficientemente vermelho contra

sua pele azul para me distrair, quase da cor exata do pôr - do sol sob o

oceano. — Eu vou ver.

Parou o suficiente para que Aidan a beijasse tão profundamente e

tão apaixonadamente que tive que olhar para o outro lado. Gente velha

namorando. Não havia sofrido o suficiente?

Ela se foi, arrastando uma bainha esfarrapada, o cheiro da terra

molhada e folhas esmagadas, abaixo um fraco cheiro de lavanda e rum.

Aidan a observou ir, sorrindo um pouco antes de voltar sua atenção a

mim. Eu estava lançando olhares selvagens ao meu redor, tentando

encontrar uma maneira de escapar.

— Nunca poderá escapar da gente. — disse Aidan. — Mas você

não acredita, não? Olha ao teu redor Christabel. Não há para onde ir.

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Era um prédio velho, apropriado para velas e bules. As paredes

eram cinza pelo tempo e tinha um aviso de madeira com uma corrente

quebrada na qual se lia ―Boticário―. O caminho estava cheio de sujeira,

com mais prédios ao longo do caminho. Tinha uma loja, um salão e umas

poucas casas com valas submersas ao redor dos pomares. Um poste se

estendia através das varandas para atar os cavalos. Tudo o que faltava

era uma carroça.

Tinha sido sequestrada, drogada e jogada em um filme do velho

oeste?

Coloquei minha cabeça entre as mãos. — Aonde estou?

— Em um povoado na fronteira, tem estado aqui por três séculos

ao menos — Aidan respondeu. — Foi abandonado depois da Febre do

Ouro. Era algo pra se ver, não me importo em dizer. — Soava nostálgico

de uma maneira estranha, como se ele realmente tivesse estado aqui há

cem anos.

— Quanto tempo estive inconsciente?

— Uma hora mais ou menos.

Este era o sequestro mais estranho que tinha visto. Procurei

câmeras escondidas. — É um programa de televisão? Como alguma

brincadeira histórica?

— Não, Christabel.

Esfreguei meus braços para esquentá-los. A chuva estava se

convertendo em neve. — Então o que agora? Por que não acredito em

vampiros.

— Acreditará — disse calmamente. — Mas até então, olhe bem.

Não há nada mais que montanhas atrás desses prédios, e todo o resto é

bosque. Se faz um reconhecimento por ali, se perderá por horas... Por

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151

dias inclusive. Será mais provável que te coma um puma do que

encontre o caminho para o povoado.

Seus lábios se moveram sombriamente. — E existem monstros ali

afora, piores do que a gente, como você já viu. Você não quer enfrentar

sozinha um Hel-Blar. Assim, faça um favor a si mesma e fique aqui.

— É isso que é essa coisa?

Ele concordou. — Sim, o pior do pior.

— Não entendo, disse finalmente. — Estão esperando um resgate?

— Não sabia se deveria dizer que minha mãe estava em reabilitação e

meu tio estava longe de ser rico. A menos que quisessem um resgate de

coisas para fazer em casa e extração gratuita de neve, o Tio Stuart não

tinha a solvência necessária para um milhão de dólares em dinheiro sem

marcar, ou o que seja que os sequestradores demandam usualmente nos

filmes.

— Não, não queremos dinheiro.

— Então o que?

— É político. Queremos um representante no conselho. Queremos

ser reconhecidos e comprar segurança para nossos parentes.

Não tinha nenhuma ideia do que significava mas concordei de

todas as formas.

— Ninguém da minha família está na política.

— Não, mas os Drake sim, disse. — Da realeza, não?

Se Nicholas fosse um príncipe, eu garantia que Lucy tinha gozado

dele sem misericórdia. E passei um mal bocado tentando imaginar a

Connor usando uma coroa. Carregando uma pistola de raios, com

certeza, mas não uma coroa. Mas provavelmente era de má educação

corrigir a teu sequestrador. Perguntei-me se me deixaria ir se vomitasse

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em cima dele. Tremi e cruzei meus braços mais apertadamente sobre

meu peito. Minha jaqueta apenas protegia do frio, mas me sentia melhor

aqui do que fora. Menos como uma prisioneira. Preferia a hipotermia a

ser aprisionada.

Provavelmente deveria fazer como se ele não estivesse louco. O

manter falando. Não é o que fazem nas histórias? Tinha que ler mais

livros de espionagem quando saísse daqui, os livros históricos e a poesia

não estava me ajudando o suficiente agora mesmo.

— Porque você é... azul? — perguntei. Porque obviamente não era

uma alucinação. Talvez era algum tipo de tatuagem de gangue.

— Os Hel-Blar são diferentes de outros vampiros — explicou. Ele

estava usando uma bolsa de couro com pedras ao redor do pescoço. —

Qualquer vampiro pode se transformar num deles, se estão passando

fome por um tempo suficiente ou são infectados. O azul é um efeito

secundário de ter muito sangue depois de não ter tido o suficiente.

Engoli. — Oh. — Não perguntei sobre seus dentes. Claramente

tinha um dentista louco nesse louco povo fantasma.

Ele sorriu, apesar de que não tinha dito em voz alta. — Os dentes

nos ajudam a nos alimentar. Quanto mais profunda seja a fome, mais

dentes. Outro efeito secundário.

Não queria ouvir os detalhes. Sorri fracamente e me afastei um

pouco.

— Teria sido mais fácil se tivesse sido Lucky.

Congelei, e estreitei meus olhos. — Fique longe dela.

Ele se encolheu de ombros pragmaticamente. — Não posso. —

Tirou do seu bolso um pequeno cachimbo e acendeu um extremo. A

fumaça ondulava preguiçosa no ar frio.

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Me deu um olhar. — Está ficando nervosa de novo. Posso ouvir

seu coração batendo contra o seu peito.

Tentei respirar fundo.

— Você está segura — me disse. — Os Drake te resgatarão, e

finalmente os deixaremos.

Minha respiração ficou presa na minha garganta. Os Drake apenas

me conheciam.

— É uma pena que deixaram que esse lugar apodrecesse — disse

coloquialmente. — Está claro de que era algo, inclusive antes de que os

buscadores de ouro tontos viessem e levassem o ouro da corrente. Na

sua maioria, era pirita ou ouro de tontos, e algumas pedras brilhantes,

não valeu a pena todo o escândalo. Mas ninguém quis acreditar. —Por

um momento a ponta de seu cigarro brilhou da cor vermelha.

— Inclusive antes do povoado, este lugar era bonito. Me lembrava

minha casa.

— Casa? — Lhe perguntei. — Onde ficava? Essa parecia ser uma

informação que um policial iria querer saber mais tarde.

— Nasci em Upper Canadá em 1633 como um Huron. Nos

chamávamos Wendat. Éramos Attignawantan, um Povo Urso. —

Mostrou-me a garra de urso que ficava ao lado da bolsa de couro. — Fui

convertido em uma noite no bosque, em 1661 acredito. Não tenho

certeza agora. Tampouco tinha certeza aquela época. Despertei na toca

do urso depois da metade do inverno. Não poderia ter superado a

loucura sem o sangue de urso. — Ele levantou a mão ironicamente,

admirando suas escuras veias azuis e sua pálida pele branca como uma

pomba. — Quase não consegui.

Estava aterrorizada, não havia dúvida disso, mas Aidan não tinha

feito um só movimento ameaçador, não desde que tinha me medicado

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com esse pó branco. Estava falando comigo como se eu fosse sua irmã

menor. Até minha adrenalina estava confusa.

— Ainda sigo os costumes de minha tribo o melhor que posso... as

canções das festas e a maneira apropriada de construir uma casa

comunitária e como honrar os mortos. Da mesma forma que eu

esperava que Lucky aprendesse nossos costumes e se tornasse uma

conexão entre as tribos. Ela poderia ter levado as contas à lua de sangue.

Estava me perdendo outra vez. Mas a conversa sobre sua vida,

como se fosse algo tirado de um livro histórico era tranquilizante pra

mim. Realmente queria fazer perguntas, algo que era provavelmente

absurdo diante das circunstâncias. Mas nada poderia me deter.

— O que você comia? — Era algo que sempre me perguntava. Que

tipos de alimentos Henry VIII ou Joana D’Arc ou Coleridge? Comiam

salada de pepino e bebiam limonada? Colocavam mel nas torradas?

Irritava a meus professores com essas perguntas se alguma vez me

deixassem falar na aula como queria. Mas as pessoas lembravam-se da

garota que perguntava se de verdade Byron bebia vinagre para diminuir

o peso.

Aidan pareceu surpreso por um momento antes de franzir a testa

como se estivesse tentando lembrar. As pessoas loucas que pensavam

que eram vampiros me assustavam, mas as pessoas loucas que

pensavam que estavam em 1661 me caíam bem. E depois do que o tinha

visto fazer, não tinha nenhum problema o imaginando correndo através

dos veados com um mosquete.

— Quando era pequeno, na maioria das vezes comíamos

pãezinhos e carne de veado, e ervilhas cozidas. Chá aos domingos

quando tinha, depois que vieram os britânicos. Antes de cultivar

mandioca, abobrinhas e pescar nos lagos. — Lambeu os dedos. — Mas

agora, sangue.

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Ups, não deveria ter perguntado pela alimentação.

— E sobre a roupa? — Perguntei rapidamente, antes de que

voltasse a falar sobre vampiros. — O que usava?

— A mais bela pele de veado bordada com miçangas, suave como

a manteiga. E mocassins. Mais tarde, logo que a maioria dos Wendat

caíssem, vivi perto do povoado por um tempo, mas nunca pude me

acostumar a ter um teto sob a minha cabeça. E ninguém se acostumava a

mim. — Acrescentou friamente.

— Alguns podem se passar por humanos. Os Hel-Blar não podem

e tampouco a gente. Temos que abandonar tudo. Saga navegava no

Grace O’Malley — disse, as linhas ao redor de seus estranhos olhos

pálidos se enrugaram. — Ela era uma pirata irlandesa, falava com a

Rainha Elizabeth — explicou quando parecia confusa. — Mas finalmente

o sol pode alcançar qualquer lugar no barco...o calabouço não é uma

exceção.

Piratas e Povo de Urso. Inclusive capturada, de verdade me morria

por um lápis e um papel para tomar notas.

Estava tão louca como ele.

Votou ao presente com um suspiro. Olhou o céu. — Melhor entrar.

Temos coisas a fazer.

Entrei porque não sabia o que mais fazer. As garrafas de vidro nas

estantes faziam barulho enquanto cruzávamos o lugar. Como se

supunha que iria sair dali?

— Christabel.

Estava parada no meio do quarto, tentando não hiperventilar. E

ouvindo vozes. — Genial — murmurei.

— Psssst, Christa, maldição, venha depressa.

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Me tomou um minuto muito longo registrar a voz.

— Connor? — Dei meia volta, me sentindo instável. — São as

rogas outra vez? Ou de verdade você está aqui?

Ele estava se arrastando através da janela, seu cabelo e sua camisa

estavam cobertos de pó. Nunca tinha estado tão feliz em ver alguém em

toda a minha vida.

Mas a porta se abriu e Aidan estava ali, grunhindo.

— Corre! — Gritei. — Connor, corre!

Ele correu, mas estupidamente até a mim, não para fora. Estava

entre Aidan e eu antes que eu pudesse dizer algo mais. Ambos tinham

estacas nas mãos.

Espera. Connor também levava estacas? Todos em Violet Hill

estavam loucos?

— Christa, saia daqui — Connor disse calmamente. — Te

encontrarei. Só corre.

— Não — disse Aidan. — Se ela fugir morrerá.

— Pumas — disse a Connor.

— Ele sabe que não o digo por isso — disse Aidan. — Se correr,

liberaremos aos Hel-Blar. Eles nos obedecem.

Connor ficou pálido, ainda mais pálido do que era normalmente. E

agora estava me perguntando se na verdade era pálido porque passava

muito tempo no computador ou por razões completamente diferentes.

— E ainda tem o aroma de Christabel.

— Seu bastardo. — Connor foi para a garganta de Aidan.

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Aidan foi mais rápido. O que tinha sentido se você acreditasse que

ele tinha morrido em 1661 e que tinha passado vários séculos vagando

pelo continente.

Estupidez. Na verdade acreditava que tinha morrido em 1661 e

que tinha passado vários séculos vagando pelo continente?

Isso não importava. Ele estava a ponto de meter um pedaço de

madeira no peito de um cara que eu gostava, além de mim mesma. Mas

que demônios supunha-se que tinha que fazer com isso? Só conhecia os

pentâmetros iâmbicos10 e todos os versos de ―The Highwayman―11.

Ainda que tinha um bom gosto por sapatos. A ponta de aço das minhas

botas de combate poderia quebrar a madeira. E talvez ossos.

Tentei de chutar Aidan, mas foi surpreendentemente difícil

apontar apropriadamente quando dois caras estavam brigando.

Especialmente quando eles se movem tão rápido que às vezes parecem

borrões. Realmente queria acreditar que era um efeito secundário das

drogas. Chutei outra vez. Aidan lançou um grunhido.

— Desculpa — murmurei, porque ele não tinha me prendido no

bagageiro do carro ou matado me de uma maneira horrível quando

pôde. — Mas deixa de tentar matá-lo.

O cotovelo de alguém me deu no externo e voei pra trás, batendo

numa estante. Dezenas de garrafas caíram no chão e rodaram em todas

direções. Quase parecia que tinha presas. Seus olhos eram tão azuis,

doía olhá-los.

— Christabel, você está bem? — Estava arrastando as palavras.

Olhou a janela e amaldiçoou. Eu olhei também, meio esperando ver mais

dessas criaturas azuis se arrastando através da janela. Tudo o que vi foi

um clarear do céu, um toque dourado no leste. Era reconfortante.

10

é um tipo de métrica que é utilizado em poesia e em drama 11

Poema narrativo escrito por Alfred Noyes

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158

— O que? — Perguntei — O que está mal?

Ele parecia como se tivesse dor. — O amanhecer.

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Capítulo 15 Lucy

Havia passado quase um mês que eu tinha estado do lado de

dentro da fazenda Drake. Foi o período mais longo que fiquei sem

qualquer tipo de amigo, só passando o tempo com Solange enquanto ela

trabalhava em sua roda de cerâmica no galpão. Os carvalhos e os cedros

ainda eram os mesmos e as rosas ainda estavam desordenadas. Nicholas

e Solange pularam do teto antes do carro frear completamente.

Saí enquanto a porta da frente se abria e os cachorros saíam

disparados, latindo. Eu poderia ter me assustado se eles não tivessem

dormido na minha cabeça quando eram filhotes. Eles dançaram ao redor

das minhas pernas e eu me abaixei rapidamente para abraçá-los,

sentindo a pressão se aliviar no meu peito. Logo, me senti culpada por

me sentir melhor enquanto Christabel ainda estava desaparecida.

Meus pais saíram correndo, enquanto vários Drakes e Bruno se

aglomeravam na varanda atrás deles. Minha mãe me abraçava cheia de

felicidade. Meu pai não disse nada, apenas me abraçou, a tatuagem de

família em seu braço se destacava em contraste com o alívio sombrio.

Seus olhos estavam brilhantes.

— Papai, não. — sussurrei. Se ele chorasse, eu também iria chorar.

— Eu estou bem.

— Você está de castigo para sempre. — ele disse no meu ouvido.

— Na verdade, vou colocar um microchip em você.

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Eu ri e o som foi abafado pela sua camisa. — Pai, eu não sou um

cachorro.

— Porque não entramos? — Sugeriu Liam. Eu teria abraçado ele

também, mas meu pai não me largava. Minha mãe bagunçou o cabelo de

Nicholas, algo que ele detestava, mas ela não parou. Solange estava em

silêncio, andando atrás dos outros, indo para dentro da casa. Eu escutei

os morcegos sobre a copa das árvores. Abaixei minha cabeça e subi as

escadas correndo. Um lobo uivava em algum lugar do bosque. Gandhi

uivou em resposta antes se espremer pela saída de cachorro instalada

na porta que dava para o quintal. Isabeau a tinha instalado, insistindo

que os animais não deveriam ficar trancados.

As lâmpadas estavam acesas dentro da casa e o fogo estava aceso

na lareira, eu sabia que era para nosso benefício. Porque os vampiros

não sentiam frio, e agora que Solange estava transformada, o calor não

tinha muito uso para o resto da casa. A geladeira só tinha comida o

suficiente para o Bruno e a sua gangue. Não tinha chocolate e nem gelo,

desde que eu tinha feito a última visita há muito tempo. Eu me

perguntava se meu estoque de guloseimas ainda estava na escrivaninha

de Solange.

Liam parou ao lado da poltrona onde Helena estava sentada,

vibrando com a necessidade de ir e quebrar algumas pernas. Eu só

estava sentada aqui por que era nossa família. Seus dentes estavam

saindo. Até mesmo os dentes de Liam estavam alongados por completo,

o que era incomum perto do que ele considerava ―companhia

educada―. Mamãe, papai e eu compartilhávamos o sofá de veludo, e

Solange ficou justamente longe da luz da lareira. Ela estava usando

óculos escuros novamente. Quinn estava andando de um lado para o

outro com o rosto franzido. Ele deveria saber que o Connor também

estava desaparecido e por ser seu gêmeo isso seria muito pior para ele.

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Nicholas encostou-se à parede o mais perto de mim que podia,

como se não quisesse que eu ficasse fora do seu alcance, nem mesmo na

sua própria casa. Ele estava apertando sua mandíbula de forma

intermitente. Haviam muitos humanos sentados e estavam

perfumadamente ansiosos. Provavelmente, para os Drake, isso cheirava

como um banquete. Eu só sentia o cheiro de cera de limão e lírios

murchos em um vaso gigante em cima da lareira.

— Estou feliz em ter ver segura, Lucy. — disse Liam calmamente.

Olhou para o meu pai e disse. — Encontraremos sua sobrinha, Stuart.

Você tem a minha palavra.

Papai esfregou o local onde sua úlcera deveria estar em chamas.

Eu meio que esperava ver as chamas queimando através da sua camisa.

Tinha uma jarra de suco de amoras sobre a mesa de centro e um antigo

bule de prata cheio de chá. Eu me servi com um copo.

— Nós temos o Bruno nisso, e nossos três maiores estão

rastreando. — disse Helena misteriosamente. — E planejo estar do lado

de fora o mais rápido possível. — Ela olhou para minha mãe. Elas

tinham se conhecido quando eram crianças, quando Helena ainda era

humana. Mamãe concordou com firmeza.

— E Connor? — disse Nicholas. — Saiu quando captou o cheiro da

Christabel.

— Desde quando os Hel-Blar fazem reféns? — disse Quinn com

desgosto. — E por que diabos o deixaram ir sem mim?

— Isso é algo que eu também gostaria de saber — disse Helena.

Seu cabelo preto estava trançado como um chicote sobre as suas costas.

— Os Hel-Blar nunca tinham se organizado.

— Nós não sabemos como os Hel-Blar são entre eles — disse

Liam. — Nós vemos aqueles que são mais prejudicados pela loucura.

Muitas vezes me pergunto se há outros que sobreviveram. Os Hounds

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resgatam os restos de Montmartre, mas ele não é o único que faz Hel-

Blar. Nós sempre soubemos disso.

— A mulher que atirou a flecha mensageira não se parecia como

uma Hel-Blar comum — disse Quinn.

— Talvez eles tenham outros vampiros trabalhando com eles. —

Liam perguntou, franzindo a testa. — Ainda que isso pareça pouco

provável.

— Não, ela também não era como a gente. Ela era azul, mas não

tão azul. E cheirava a decomposição. Foi assim que ela chegou tão perto.

Bruno limpou a garganta perto da porta. Ele parecia cansado e

abatido, até em suas tatuagens na sua cabeça raspada. — Mensagem. —

ele anunciou sem rodeios.

Helena se levantou como a fumaça, seguida por seu marido, seus

filhos e sua filha. Meus pais correram atrás deles também. Bruno parou

o Quinn, Nicholas e a Solange. — Não há necessidade de ver isso.

— Realmente, vocês não acreditam que só vamos ficar esperando

aqui, né? — reclamei. — É a minha prima e seu irmão.

Quinn inclinou a cabeça e levantou a mão pedindo silêncio.

Nicholas estava logo atrás de mim, tão perto que cada vez que eu

inalava, meu ombro tocava seu peito. Lá fora, a chuva começou de novo,

como dedos nervosamente batendo no telhado.

— Para o hall de entrada — sussurrou Quinn.

Solange foi e parou ao lado dele. Nicholas e eu fomos para a

segunda entrada que levava da biblioteca para a cozinha. Se eu ficasse

no ângulo correto e fizesse um movimento ruim com o meu pescoço a

ponto de causar danos quase permanentes, eu podia ver todos eles

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163

refletidos em um espelho antigo. Na esperança de ter uma perspectiva

ainda melhor, eu fiquei na ponta dos pés e então, quase perdi o

equilíbrio. A mão forte e fria do Nicholas me impediu de cair. Eu me

perguntava como ele conseguia ouvir a conversa, mesmo com o som de

palpitação do meu coração. Ele lambeu os lábios e desviou o olhar. Se eu

podia resistir a um bolo de chocolate – bom eu já tinha feito isso, uma

vez - ele poderia resistir a mim.

— Assim que eles souberem que não têm mais a Lucy. Isso seria

melhor ou pior?

O som do meu nome me distraiu da forma como o cabelo Nicholas

caía sobre a sua testa e a linha de sua mandíbula, sua camisa molhada

pela chuva agarrando-se aos seus músculos esbeltos.

— Christabel é uma refém política — afirmou Liam, lendo o que

deveria ser algum tipo de nota. Sua boca se apertou. Ele era todo

tratados e honras e isso estava fora da minha mente. — Ela vai ficar

bem, se nós dermos para eles um lugar à mesa do conselho durante a

Lua de Sangue.

— Que descaramento. — Bruno sussurrou. — Tanta coisa para

isso.

— Isso não se encaixa com o que sabemos dos Hel-Blar. — Liam

concordou. — E Connor também está lá. — confirmou quase

inexpressivo. Isso nunca foi um bom sinal. — Ileso.

Os dentes Quinn estavam tão salientes, que entravam em seu lábio

inferior. Ele cerrou os punhos e as veias sobressaíram em seus braços.

— Eu vou matá-los. — prometeu Helena, quase agradavelmente.

Então, ela ergueu a mão azul decepada. — Para o inferno com o gesto

de boa vontade. — Ela olhou para minha mãe. — Não é fácil de cortar

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uma parte do corpo de um vampiro, e uma vez que é só pó, é impossível.

— disse. Mamãe engoliu. Ela não queria saber nada sobre essas coisas.

— Eu os quero, Liam. — Helena continuou com um sorriso frio —

em uma estaca. — De muitas maneiras, ela era dos mais medievais

membros da família Drake. Ela pertencia à época dos julgamentos por

fogo e as damas de ferro. Um dos cães, Byron, ouviu algo em sua voz e

uivou, encostando seu nariz molhado na minha mão.

— Depois da Lua de Sangue. — disse Liam. — Não antes. Temos

de aceitar o tratado proposto.

— Maldito seja seu tratado. Desde quando negociamos com

sequestradores?

— Desde que eles tenham uma menina inocente. — respondeu ele

gravemente. — E nosso filho.

— Isso abre um precedente ruim. — ela respondeu, mas

realmente não estava discutindo.

— Eles não podem por em risco a minha sobrinha. — disse papai

calmamente, como se ele estivesse usando uma espada em seu cinto e

não pudesse partir seu pescoço com um giro delicado do seu pulso.

— Eu sei. — respondeu. — Eles também têm o nosso filho. — Ela

tocou seu ombro, lembrando-lhe que ela sabia como ele se sentia. Pobre

Connor. Ele era realmente o mais gentil dos irmãos e agora estava à

mercê de vampiros que cerravam partes de corpos e as usavam como

cartas de apresentação.

— Na realidade eles não querem uma guerra. — Liam continuou a

ler, pensativo, com os lábios franzidos.

— Eles deveriam ter pensado nisso antes. — disse Helena

misteriosamente. — Antes de tocar na minha família.

Page 165: Drake Chronicles -  Bleeding Hearts

165

— Eles disseram que enviaram delegados para solicitar uma

audição privada, mas foram assassinados apenas por que vieram. — Ele

esfregou o rosto. — Isso é sobre nós, amor.

— O Chandramaa baleou esta menina, não fomos nós. — Helena o

olhou fixamente. — E se supõe que agora vamos deixar que os Hel-Blar

dancem valsa nos tribunais, Liam? Esqueceu-se como eles são? — Ela

lançou a mão sobre a mesa encostada na parede. O som ligeiramente

molhado fez minha mãe ficar verde. Liam moveu uma lâmpada de óleo

para esconder a mancha de sangue antiga de vampiro e a carne em

decomposição. Que nojo.

— Eles estão atacando fazendas isoladas agora. — disse Bruno. —

E pegou o gado perto da cidade. Inclusive os jornais locais estão

começando a reclamar da violência das gangues.

— Eu sei. — Liam suspirou, parecendo de repente, com cem anos,

apesar de ter a aparência de uma pessoa com apenas trinta anos de

idade. — A Saga quer nos fazer acreditar que é diferente e que pode

controlar os outros. Querem mostrar o seu valor.

Bruno leu sobre o seu ombro com a facilidade de alguém que já

tinha trabalhado com a família por mais de duas décadas. — Ela alega

que está por trás das mãos que foram encontradas na floresta. Essa é

uma forma maldita para limpar o seu quintal.

— O ruim disso é que ela tenha pegado mais Hel-Blar que os

outros, ultimamente. — disse Helena, chateada: — Mesmo com a nossa

nova aliança com a Hélios-Ra.

— O que isso tem a ver com a minha sobrinha? — interrompeu

papai. — Ou minha filha, nesse caso.

Liam sorriu. — Eu suspeito que eles quisessem usar Lucy como

uma ligação entre as tribos. — Nicholas fez um som que se parecia com

um rosnado. Senti um ruído surdo através do seu peito. — Ela é uma

Page 166: Drake Chronicles -  Bleeding Hearts

166

humana frágil. — Agora fui eu que rosnei. — E fácil de se sequestrar.

Mas ela também faz parte da nossa família e por isso tem uma influência

incomum.

Eu estava internamente orgulhosa por essa declaração. Era bom

que alguém se lembrasse de mim, mesmo que fosse uma mulher

vampira louca. Pelo menos Liam admitiu que éramos como uma família.

Eu realmente estava começando a acreditar que eles tinham esquecido.

— Eles têm algo planejado para pouco antes do amanhecer. —

Liam não precisou olhar para o relógio. Ele sentiu o cair da noite nos

seus ossos. Nicholas sentiu ainda mais, sendo tão jovem. Na verdade, ele

estava ficando mais pálido. E eu tinha a sensação de que os olhos de

Solange estavam muito vermelhos sob os óculos escuros. — Agora é

melhor levarmos vocês para casa em segurança. — Ele olhou para cima

e sorriu para o reflexo no espelho. Eu pulei. — Assim, você pode sair

agora, Lucy.

Eu puxei minha cabeça. — Você sabe, seria muito mais fácil se

você parasse de tentar me deixar de fora das coisas.

— Mm-hmm. Vamos discutir isso um dia, em breve. — Liam disse

um pouco surpreso. — Mas eu duvido que seus pais estejam de acordo.

Eu encontrei os olhos da minha mãe. Seu bindi agora estava

torcido, ele tinha mudado de lugar quando ela esfregou o rosto. Ela

sempre fazia isso quando estava perturbada. Eu me lembrei da conversa

que tivemos na minha cama. Foi na noite passada? Eu nunca acreditaria

que ficaria melhor sem os Drake e eles sem mim. Ao crescer, eu os tinha

visto com mais frequência do que os meus próprios avós. Eles faziam

parte da minha paisagem. E se aquela paisagem especial de repente

sofria com terremotos, vulcões e deslizamentos de terra, em seguida, eu

já tinha construído lá uma casa, cavado poços e cultivado plantas. Era

uma analogia que meus pais tinham que entender. Eles eram colonos e

Page 167: Drake Chronicles -  Bleeding Hearts

167

sabiam que uma vez que se constrói uma casa, você planta suas raízes.

Ponto.

— Eu já sou parte disso. — insisti gentilmente. — Você pode

desfazer toda a minha vida inteira e fingir que nada aconteceu da

maneira que ocorreu — Eu estava cansada de tomarem decisões por

mim. Eu tinha dezesseis anos, não seis.

Mamãe suspirou, olhando para longe.

— Nós vamos pegar o caminhão e alguém pode levar o carro de

Cass para casa mais tarde. — meu pai disse, sem dar qualquer indicação

de que tinha me escutado.

Liam assentiu. — Claro.

— Eu vou. — Nicholas se ofereceu.

Meu pai me cutucou para fora da porta. E nem sequer me deixou

dar um abraço de despedida em Nicholas. E Solange não disse nada ou

me defendeu como normalmente fazia.

Chamei Gandhi e ele avançou pesadamente no banco de trás

comigo, ocupando a maior parte do espaço. Ele se apoiou pesadamente

em mim e logo eu perdi a sensibilidade do meu braço. O caminhão era

tão velho que tinha um toca-fitas e nenhum lugar para conectar um

iPod. E nesta parte das montanhas, teríamos sorte de captar uma

estação de rádio para não mencionar algumas com uma pesada película

de estática. Mamãe o desligou, tocando as contas da pulseira em torno

de seu pulso. Papai estava dirigindo um pouco rápido, mas ninguém se

importava. Olhei pela janela para pinheiros e cedros.

Eu queria me arrastar para minha cama e acordar para um banho

quente, mas Christabel tinha acabado com a água quente, tentava me

ignorar enquanto comia seu café da manhã de granola e tentava

terminar seu livro antes de ir para a escola. Connor colocava seus olhos

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168

em branco para minha mãe quando na sua presença o computador

parava de funcionar.

Eu queria que as pessoas parassem de tentar matar o meu

namorado, a minha melhor amiga e sinceramente a mim.

Algo se moveu na frente do caminhão.

Poderia ter sido um cervo, prestes a pular na frente do caminhão.

Aqui fora todo tempo uns cervos passavam.

De alguma forma, eu duvidava.

Aparentemente, o papai também. Ele franziu a testa. — Agora o

que é?

Tive que empurrar o Gandhi para alcançar entre os bancos

dianteiros, a fim de obter uma melhor visão para fora do para-brisa. As

luzes atravessavam a estrada, envolviam de dourados as bordas dos

juncos e mostraram um brilho fraco de movimento no topo da colina. Eu

conhecia esse tipo de deslizamento, nem realmente engatinhando e nem

andando completamente. Engoli em seco.

— Pai.

— Sim?

— Isso não é bom. — Eu pressionei a discagem rápida no celular,

chamando Nicholas. Mamãe já estava discando, seus olhos nunca

deixaram as sombras que se reuniam na colina.

— Helena. — retrucou. — Agora. Passando no pomar de peras.

— Eu sei. Nós tivemos uma chamada. — Eu ouvi a sua voz

metálica através do celular. Desliguei a minha chamada para Nicholas.

— Como você soube?

— Estamos cercados. — mamãe disse entre os dentes.

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A chuva havia parado, mas as sombras brilhavam molhadas e

azuis. Gandhi rosnou com suas orelhas levantadas, seus ombros

tremendo com a vontade de saltar para fora.

— Eles estão cercados por Hel-Blar? — Helena gritou. — Vão, vão,

vão! — Eu não sabia se ela estava a gritando para nós ou para os outros.

Papai amaldiçoou e colocou o caminhão em marcha a ré. Os freios

gritaram. Mais os Hel-Blar deslizaram para fora da floresta em cada lado

e um grupo deles se reuniram na estrada atrás de nós. Papai não parou,

só pressionou o acelerador com mais força.

— Segure-se! — Ele gritou e eu agarrei Gandhi que não tinha o

benefício de um cinto de segurança. Golpeamos o primeiro Hel-Blar com

um duro golpe. Os próximos dois pularam na traseira do caminhão e

caminharam em direção à pequena janela entre eles e eu.

— Merda. — Pai sacudiu os pneus e derrapou lateralmente. Um

dos Hel-Blar voou para os arbustos. O outro não. Eu vi o brilho de seus

dentes. Gandhi estava rosnando e latindo, e sua baba golpeava o vidro.

Mamãe segurou a porta, enquanto outro vinha até nós pelo lado.

Havia muitos deles. Nunca tinha visto tantos. Normalmente eram

dois ou três apenas ocupados em grunhir entre eles e as suas presas.

Saber que existiam uma epidemia era diferente de estar dentro disso

como um turbilhão. Mesmo com o vidro grosso, os gases do carro e a

respiração do cão, o ar cheirava levemente a mofo e decomposição,

como sujeira molhada.

Um deles tinha sangue em seu queixo. E todos eles usavam estes

colares de cobre.

— Eles estão se alimentando. — eu disse lentamente, olhando

para as sombras. O sangue e a fome os deixavam loucos, tornando-os

ainda mais selvagens. Às vezes, quando cheios de sangue, eles ficavam

na floresta e não incomodavam ninguém.

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170

Esses não estavam inchados.

Ainda.

Eu tinha pensado antes sobre como seria se tornar um vampiro.

Seria ótimo.

Você sabe, é claro.

Mas não em uma Hel-Blar. Eu não tinha intenção de passar a

eternidade cheirando assim.

Parecia que o tempo tinha parado e graças por ter crescido com

Helena e passado um tempo com o Hunter, eu me vi fazendo um

inventário das armas que eu tinha a minha disposição. Eu tinha uma

estaca no bolso do meu casaco, tinha um gancho de metal embaixo do

assento da mamãe e uma caneta no porta-copo, o caminhão, Gandhi e o

nascer do sol. Nós poderíamos usar isso se tivéssemos que lutar. Eu

queria ter minha besta. Ela estava no carro da mamãe, inútil na entrada

dos Drake. Eu realmente tenho que me lembrar de manter tudo na

minha bolsa de agora em diante.

Mamãe conseguiu pegar minha mão, mas eu não precisava de

consolo. Eu precisava de minhas mãos livres para lutar.

— Ok, mãe — eu disse. — Nós vamos ficar bem.

Papai retrocedeu e logo avançou novamente, uma e outra vez,

atropelando tantos quanto ele podia. De tempos em tempos ele virava

para o lado para derrubá-los com o balanço do caminhão. Uma mão azul

bateu na janela perto do meu rosto e logo caiu. Um Hel-Blar aterrissou

no teto. O bater das botas sobre as nossas cabeças fizeram com que o

Gandhi latisse tão alto que meus ouvidos zumbiram. Eu apertei minha

estaca com mais força e tentei alcançar o telhado.

As mãos da minha mãe se apertaram sobre a minha

dolorosamente. — Lucky Moon, volte a se sentar.

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— Mãe, eu posso com ele. — disse, balançando sobre os meus pés.

— Eu sei como.

— Não! Fique aqui.

— Eu não disse que você estava de castigo? — Papai disse

rispidamente. — Muito castigada. Sente-se. Agora!

O Hel-Blar arranhava o teto, fazendo sons guturais com raiva e

com fome, como um urso raivoso escavando por comida. Eu não tinha

nenhuma intenção de ficar pálida e gorda sobre uma rocha.

— Papai.

— Não.

Gandhi tentou morder o teto. Mamãe puxou meu braço para trás e

eu caí de novo no assento, observando-a com o rosto franzido. — Os

Drake estão a caminho. Olhe.

Por trás dos rostos azuis que rangiam os dentes, nas profundezas

das sombras, eu vi um clarão branco. Se eu não soubesse o que eu estava

procurando, podia ter pensado que era um truque da luz ou a lua na

água. Só os vampiros tinham a pele tão pálida e apenas os vampiros

podiam se mover tão rápido, como umas cores de tinta manchando um

lenço escuro. Era quase tão rápido como o Bruno e som de sua quadrilha

vindo em equipe com seus caminhões.

O Hel-Blar que estava no teto caiu gritando pela rua, com uma

flecha de besta em seu peito. Ele se contorcia de dor, um momento antes

de uma segunda flecha se encontrar com a primeira, que atingiu o

centro de seu coração morto. Ele virou cinzas. Os outros Hel-Blar

pararam, rosnando e foram se afastando. Não se foram, só estavam em

dúvida. Nós ficamos paralisados em uma dança violenta e estranha.

Os Drake só se preocuparam em brigar com aqueles que cruzavam

o seu caminho. Helena despachou dois com a sua espada. Quinn jogou

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uma estaca em um. O resto deslizou entre os Hel-Blar e a fumaça mortal

que rodeava o nosso caminhão nos rodeando protetoramente. Eu vi a

Isabeau com uma pequena matilha de cães correndo em direção a nós

através das árvores. Nicholas pousou em minha janela e me lançou um

olhar, seus olhos eram cinzentos como uma tempestade nas montanhas.

Eu tentei chegar até a maçaneta da janela.

— Lucky, se você abaixar essa janela, eu vou te enviar a um

internato para meninas delinquentes. — disse papai de forma severa. Eu

não sabia como ele poderia ser tão ameaçador... Normalmente ele era

tão tranquilo que as pessoas até o acusavam de estar drogado.

Eu tinha certeza que o internato era só uma ameaça vazia.

Ainda.

Minha mão caiu enquanto Solange afirmou que o teto estava

deserto, pegando sua espada favorita. Eu podia vê-la através da janela

no teto, tão graciosa com sua espada desembainhada como uma

bailarina louca. Eu a invejei. Ela podia lutar por sua família e ao lado da

sua família. E eu, teria que ficar sentada aqui e ser resgatada.

O Hel-Blar com sangue no rosto lambeu seu queixo. Se era o cheiro

do sangue ou algo mais sutil, pareceu atuar como um sinal. E o resto

deles mudou prontos para atacar outra vez.

— Na colina. — Solange disse de repente.

No topo da colina, coroado pelo último fragmento frágil da luz da

lua e os faróis do caminhão, estava parada uma mulher. Era muito

pequena, seu cabelo vermelho brilhava, e estava usando uma armadura

que parecia esculpida em gelo. Estava tingida de azul, como opala raro.

Ela estava completamente sozinha, sem guardas, sem guerreiros e

definitivamente sem Christabel ou Connor.

Tinha que ser Saga, com a nota do resgate.

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Helena sibilou de verdade, como uma cobra trancada dentro de

um cesto por muito tempo.

Justo quando os Hel-Blar começaram a se mover em nossa direção

novamente, Saga levou alguma coisa aos lábios e soprou. Um apito

agudo e estridente tremeu através do ar. Nicholas e eu nos olhamos

através do vidro. Era o mesmo apito que tínhamos ouvido na praia.

E teve o mesmo efeito hoje, como teve naquela noite. Os Hel-Blar

se moveram bruscamente e gritaram. Eles cobriam os seus ouvidos

rangendo os dentes e gemendo. Eles não deram nem um passo em nossa

direção. Saga soprou novamente, três rajadas curtas e todo mundo

voltou-se, relutantemente se arrastando em sua direção, inclinando-se

como se estivessem lutando contra um vento de inverno. Esse apito era

mais poderoso que o pó de Hypnos, mas não parecia afetar qualquer

pessoa, apesar de ser um pouco desagradável. Gandhi inclinou

curiosamente sua cabeça.

Os Hel-Blar continuaram a sua marcha forçada. Estes eram

particularmente selvagens, apenas podiam falar. Eles eram selvagens,

furiosos e descontentes.

Escravizados.

Nós todos observamos, assombrados e em silêncio enquanto

subiam a colina, eles pararam em frente de Saga e se ajoelharam a seus

pés. Eles moveram suas cabeças e estalaram os dentes, arranhando seus

colares como se ela os mantivesse em correntes de ferro. Ela sussurrou

algo.

Eles pararam de uma vez e inclinaram suas cabeças para mostrar

o lado vulnerável de seus pescoços. Era um sinal de submissão entre os

mais antigos vampiros, algo que eu nunca tinha visto alguém fazer.

Ninguém na família Drake era bom em se submeter ou se render. Saga

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não sorriu ou reagiu, ela simplesmente sussurrou outra ordem. Eles se

dispersaram, correndo por entre as árvores como besouros ou texugos.

Ela simplesmente tinha provado que poderia controlá-los. Mas

não os tinha matado.

Porque se eles morressem, ela não poderia usá-los como armas

contra nós.

Eu captei um olhar de Isabeau. Ela estava enojada e

impressionada, mas principalmente triste. Ela nem sequer colocou a

corrente em seus cães. Solange olhava encantada.

Bruno foi o primeiro a falar, de pé sobre os passos de seu

caminhão.

— Bem, eu vou ser condenado.

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Capítulo 16 Christabel

— Sinto muito. — Connor murmurou para mim antes de encolher-

se caindo sobre as tábuas do chão. O amanhecer iluminava as partículas

de pó que dançavam sobre ele. Caí de joelhos, procurando por feridas.

Ele não se movia em absoluto. E estava frio ao toque, como se ele tivesse

estado escondendo-se toda a noite em um bosque de gelo empoeirado.

— O matou? — Olhei para Aidan com a boca aberta.

Aidan negou com a cabeça. — Estará bem quando o sol se por. Ele

é jovem, e a luz do dia os afeta muito.

Sentei-me sobre meus calcanhares, aturdida. — O que? — Para

alguém tão apaixonada pelas palavras, repeti ‘O que?’ um montão.

— O chamou de Connor. É um dos irmãos Drake? — Aidan se

agachou e levantou uma escotilha no chão. — Na verdade, isto pode

funcionar a nosso favor.

Ele se esticou para pegar o braço de Connor. Peguei seu outro

braço. — Não! — Não estava certa do que do que ele dizia nem do que

faria, mas de todas as formas tinha uma forte sensação sobre ele.

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— Não estou machucando ele — Aidan disse pacientemente. —

Estou ajudando-o. Ele estará doente como um cachorro se ficar no sol o

dia todo. E se alguém vem e ele estiver assim, estará indefeso.

— Oh.

Infelizmente, Aidan não tinha mentido ainda. Observei com

tristeza como ele rolava Connor sobre o chão e logo deixou cair em um

sótão que estava abaixo. A escotilha caiu de um golpe e uma nuvem de

pó.

— Pode tentar correr — Aidan disse com cansaço. — Mas ele

não moverá um músculo até o entardecer. Teria que deixá-lo para trás.

Está disposta a fazer isso?

Deixar ao garoto que se arrastou a essa antiga e destroçada casa

para me salvar?

Claro que não.

E Aidan sabia.

— Tenta descansar — sugeriu, não com más intenções. Ele parecia

cansado, mas não o suficiente para cair como Connor. — Tem água

nesse jarro e comida na cesta.

— Obrigada. — Estava agradecendo ao meu sequestrador, como

se ele estivesse me oferecendo chocolate? De repente senti-me como

uma heroína de Jane Austen, certa em face da adversidade. Não importa,

ainda vestia minhas botas de combate. Devo estar cansada, também.

Não tinha sentido, nem sequer em minha própria cabeça. Mas sabia que

não podia dormir, assim fui à varanda. Aidan já tinha ido. Não havia

ninguém ao redor exceto Connor que estava debaixo das tábuas do chão.

As montanhas eram de uma centena de tons de cinza e índigo enquanto

o sol se levantava.

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177

Realmente me encontrava em um povoado fantasma, cheio de

ervas daninha e faixas lamacentas e casas inclinadas que poderiam cair

se o vento mudasse de direção repentinamente. As portas do salão

rangiam. O armazém não tinha janelas, mas tinha cortinas cerejas

descoloridas. O cocho de madeira para cavalos do lado de fora estava

cheio de folhas mortas e gravetos de pinheiro. Não ficaria

completamente surpresa de ver uma carruagem dos correios ou um

delegado com uma pistola.

A aberração da história dentro de mim brincava sobre seus pés e

queria entrar em todos os edifícios abandonados. Uma fina camada de

gelo cobria as telhas lascadas, já derretendo pela luz da manhã. O céu

era um campo de rosas vermelhas, tulipas rosa e lilás.

Poderia ter sido formoso se não tivesse tido medo de ficar presa

aqui. Nenhuma cortina cereja de cem anos ou bonitos amanheceres

poderiam fazer que estivesse bem.

Classifiquei os cortes em minhas palmas, aonde cravei minhas

unhas. Os vampiros não existiam.

Não importava a pilha de cinzas azul e cinzas no meio da estrada

para a coisa que Aidan tinha estacado. Não importa o frio, pálido corpo

de Connor no sótão.

Não importa.

Desci as escadas, evitando o degrau podre. O sol estava mais alto

agora, disparando faíscas sobre o orvalho e derretendo o gelo. Decidi

explorar o resto do povoado fantasma, que na realidade era apenas uma

rua, desde que minha outra opção era ficar parada ali e silenciosamente

me tornar louca.

Por sorte, tudo de época, poético, ou simplesmente velho sempre

me distraía. Entrei primeiro no saloon, a pintura vermelha descascando

das rangentes portas de madeira. O piso estava enviesado, o bar era de

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madeira polida. Atrás dele havia uma estante cheia de whisky velho e

garrafas de salsaparrilha. Havia uma escada em um canto, faltando

vários degraus, que levava a um balcão aonde mulheres em espartilhos

vermelhos haviam vadiado. As mesas intitulavam embriaguês, pernas

faltavam e estavam cobertas de pó. Até encontrei um furo de bala na

parede e não pude resistir em enfiar meu dedo nele.

Logo fui xeretar o armazém, levantando tampas de frascos de

vidros cobertos de pó com açúcar dentro e caramelos estragados,

encontrando chapéus mordidos por ratos e flores mordiscadas por

mariposas, um barril de farinha cheio de insetos, e ferraduras

enferrujadas. Explorei uma pequena casa, o fogão de ferro ainda estava

cheio de brasas mortas há muito tempo. Havia uma cadeira com o

encosto de grades de ferro horizontais e vasos de barro em um canto e

ganchos com copos de estanho. Poderia escrever poesia sobre tudo isso,

uma vez que estivesse segura na casa do Tio Stuart.

Lá fora, o sol estava alto agora, quente o suficiente para perseguir

o sopro de inverno na montanha. Os pássaros cantavam e os esquilos

iam de um lado para o outro, levando pinhas e bolotas. Parei para

escutar um ronco estranho ou um ranger de mandíbula, tudo o que

poderia denunciar um desses monstros azuis. Quando escutei os sons

originados do outono, me lembrei de que estava tentando não pensar

sobre pele azul e cinza, e presas.

Sentia-me cansada, quase bêbada de fadiga, que para não pensar

mais era fácil. Na verdade estava arrastando meus pés porque sentia

muito trabalho levantá-los do chão. As botas de combate eram pesadas

quando se estava exausto. Deve ter sido um tiro de adrenalina... e o fato

de estar acordada por mais de vinte quatro horas. Precisava de um

cochilo e um pouco de comida. E ser resgatada, claro. Estava muito certa

que isso curaria todos os meus males.

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Parei ao final da rua, o vento levantando a sujeira ao redor dos

meus pés. Queria começar a correr e não parar.

— Quando a estrada era como uma faixa de ciganos ondulando

pelo pântano púrpura, um bando de casacos vermelhos veio marchando.

— Murmurei para mim mesma, mas não fez me sentir melhor.

Suspirando, voltei lentamente para o despedaçado povoado

fantasma.

— Não deixa um homem para trás — Saga disse da porta de uma

casa inclinada. — Boa garota. — Estava apoiada sobre um ombro, a luz

fazendo brilhar os botões de prata com falta de polimento em seu

casaco. Vestia uns jeans pretos e justos que estavam enrolados debaixo

de uma camiseta sem mangas plissada.

Fiquei imóvel, logo franzi o cenho. — Espera. A luz do sol—

Levantei meu queixo. — Sabia que vocês estavam loucos. Se fosse um

vampiro, se queimaria.

Ela esticou uma mão para que a luz caísse sobre sua pálida pele

azul. Era como se ela houvesse sido pintada com aquarelas, em

comparação com o homem que à noite se parecia como se ele houvesse

se manchado com pintura a óleo rançoso. Ela não se queimou ou

empelotou ou esfumaçou como carne queimada. As cicatrizes em suas

mãos e antebraços ficaram um pouco rosadas, mas isso era tudo. A coisa

de vampiros era um equívoco. Era um tipo de brincadeira histórica, ou

eles eram pessoas normais e loucas.

O que não explicava o desmaio repentino de Connor.

Ou fazia me sentir melhor.

— A luz do sol não me matará — disse divertida. — Sou muito

velha. Mas muitas coisas fariam me sentir pior que um barril ruim de

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rum — Ela se endireitou. — Entra garota. Aidan está roncando feito um

gnu e estou precisando de companhia tranquila.

Cruzei a rua, hesitante.

Ela sorriu. — Não vai virar covarde comigo, certo?

Esclareci a garganta. — Não. — Tropecei quando notei uma mão

azul cravada na porta.

Saga deu de ombros com tranquilidade, como se todo mundo

decorasse a casa com partes de corpo. — É uma advertência.

Traguei. — Para quem? — E do que exatamente? Porcaria

extrema?

— Aos Hel-Blar.

— Os Hel-Blar? Isso soa como uma péssima banda de rock.

Ela apenas me indicou que fosse para dentro da velha casa. Entrei

com uma grande quantidade de medo. Realmente não queria nada

cortado que fosse usado como decoração, mas alguém que serrava mãos

não era alguém a quem quisesse desafiar. Não para me orientar, de

todas as formas.

A casa foi varrida e estava livre do pó e tinha uma estante coberta

com copos de estanho e uma grande mesa farta. Várias espadas

penduradas na parede com algumas adagas curvas, mas nenhuma parte

de corpos. Uma cesta de estacas esculpidas tão afiadas que poderia ter

bordado com elas de pé na porta. Vasos enormes de barro preenchiam o

canto. Parecia antigo, mas normal.

Ela serviu algo de um jarro pequeno de cor âmbar e deslizou um

copo para mim. — Senta e bebe.

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Cheirei com cautela. Era como diluente de tinta. Enruguei meu

nariz e tomei o menor gole possível, e me engasguei violentamente

quando queimou a garganta e se converteu em fogo.

— Grog12 — Saga riu a gargalhadas e terminou sua bebida,

batendo-a sobre a mesa. Lambeu seus lábios. — Seu coração é como um

tiro de canhão.

Encolhi-me para trás, procurando uma arma. Havia dezenas em

todas as partes, mas nenhuma ao meu alcance. Ela passou uma mão

sobre sua boca. Puxou sua cadeira mais próxima de mim, e tudo o que

podia cheirar era terra úmida. — Relaxa — disse. Contra todo

prognóstico, o fiz. Meus ombros não se sentiam como se fossem

quebrar.

Ela se virou e bebeu de uma garrafa canelada estreita parecida

com um perfume. Tinha linhas apertadas ao redor dos seus olhos cinza e

seus lábios. Estava certa o bastante de que não havia álcool nessa

garrafa. Por um lado, era muito vermelho. — Não importa garota. Tenho

lutado batalhas mais difíceis do que esta. Nasci em Tortuga, e naveguei

com os melhores deles. Grace O´Malley, Anne Bonny, Mary Read. — ela

sorriu com o que se poderia classificar como nostalgia. — Uma vez

pirata sempre pirata.

— Por isso que me sequestrou? Para que pudesse ser um pirata?

— Isso tinha cada vez menos sentido.

— Te roubei porque eu sou um pirata. Isso é o que fazemos. — Ela

se aproximou, sussurrando com cumplicidade. Inclinei-me para trás,

mas seus olhos brilhavam com alegria, não com fome. O que seja que

tinha nessa garrafa a tinha saciado. — Gostamos de roubar coisas.

Quase sorri. Ela dá medo, com as adagas e as espadas penduradas

em todos os lugares, sem mencionar os dentes afiados, mas ela era

12

bebida quente à base de rum

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182

divertida, também. Não tinha sentido. Ela não agia como uma

sequestradora ou um monstro, ou inclusive como alguém que dizia ter

centenas de anos.

Talvez tenha sido realmente sequestrada por um pirata.

Isto era tão estranho, quase genial.

E o cheiro de mofo e sujeira, quando não estavam podres, não era

tão mau.

— Não importa a idade que tenha — exclamou. — Ainda sinto

falta do mar e da cobertura de um bom barco. Logo que a Lua de Sangue

acabe, irei desse maldito lugar. Eu não estou destinada a ser uma

marinheira de água doce.

— O que é uma Lua de Sangue?

— Uma reunião das tribos de vampiros. Muito rara. É minha

oportunidade de provar a mim mesma, de roubar um pouco de respeito

da minha gente e meus parentes de sangue. Estamos cansados de

receber um tiro quando nos veem. Merecemos algo melhor.

— Você e seus piratas? — Perguntei confusa. — Sabe que estamos

no século XX! Certo? Não há piratas — Bom não como Johnny Deep.

— Para nós — me corrigiu, sua expressão tão sombria como

bolinhos do mar. — O pior do pior, ou isso é o que eles te fizeram

acreditar. Ninguém pode nos controlar. — Ela soava mais do que um

pouco orgulhosa sobre isso. — Exceto eu e os meus. Não somos como

os Hel-Blar, apesar de nos parecermos. — Ela admirou sua pele. — O

azul põe temor neles, certo como o voo de cores que os piratas usam.

Gosto de pensar que essa é a cor do oceano. Os outros lhe dirão que é a

cor da morte. — Suspirou, inclinando levemente a cabeça para trás.

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183

— Terá que tomar sua própria decisão, supõe. De todas as formas,

você é nosso tiro de advertência através do alvo. E o que está feito, feito

está. — Bocejou — Agora vai de novo com seu príncipe.

Fiquei de pé, tropeçando um pouco sobre meus pés. A fadiga

voltou, de uma vez. Antes que fechasse a porta atrás de mim, ela voltou a

me falar.

— Christabel. — Quando dei a volta, ela me jogou um frasco de

prata. — Grog. Talvez precise. Espero que te ajude a passar as noites

seguintes. Digo sinceramente.

Levou muito tempo para voltar ao boticário. Estava tropeçando,

como se tivesse bebido uma jarra do horrível rum de Saga ao invés de

um gole. Brevemente contemplei comer uma maçã ou o pão que Aidan

me deixou na cesta. No entanto, mastigar parecia uma tarefa

monumental, assim que ao invés disso bebi um trago da jarra,

cheirando-a primeiro para me assegurar que era grog.

Apesar de a luz do dia queimar nas janelas, acendi uma das

lamparinas a óleo com os fósforos que encontrei em uma caixa de ferro

em forma de pássaro. Não queria despertar na escuridão, se eu

conseguisse dormir. Deitei no chão sobre meu ventre, olhando através

da ampla brecha entre as tabuas. O rosto de Connor estava tão pálido

como um tuberculoso poeta romântico. Sherley talvez houvesse

invejado essa espécie de transluscência. Seus olhos estavam fechados e

parecia tranquilo, como se fosse um tipo de sono comum, exceto que

não estava roncando e não se movia em absoluto, nem sequer quando

uma aranha se arrastou por sua bochecha. Estremeci em seu nome.

Mesmo deitado ali todo assustador e parecendo um cadáver, ele

era reconfortante. Assim, fiquei ali na poeira, com o olhar fixo nele até

que minhas pálpebras finalmente perderam a batalha com meu medo.

Naturalmente, sonhei com vampiros.

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184

Estava caminhando por uma estrada deserta, a mesma aonde

tinha sido pega. Estava chovendo, mas as estrela ainda se mostravam,

havia algo como um milhão delas, dando voltar brancas, como o creme

no café. Estava encharcada e tremendo. Estava correndo, mas não sabia

se estava fugindo de alguém ou indo para alguém. Então de repente

estava no meio de um campo de gravetos altos de São José e Rosas, a

sombra de um castelo cinza desmoronando para um mar que não

deveria estar ali.

Eu não estava sozinha.

Um homem em um traje escuro, com cabelo e barba castanhos,

estava de pé apoiado em um bastão. Ele era indubitavelmente Vitoriano.

Bram Stoker.

Outro homem vinha atrás de nós, através do gramado. Ele usava

uma echarpe branca e tinha o cabelo selvagem, repleto de papoulas

vermelhas. Duas mulheres iam atrás dele, uma em um vestido de seda e

com um sorriso frio, a outra mais jovem, em um vestido e chapéu. A

reconheceria em qualquer lugar. Christabel. A do poema, então o

homem era o poeta Samuel Taylor Coleridge. O seu, foi o primeiro

poema que memorizei sobre uma garota chamada Christabel que é

perseguida pela vampírica Geraldine.

Eles se aproximavam e minha única saída estava de repente

bloqueada por quem eu presumo era o mesmo Lorde Byron, mancando

para mim, espartilho rangendo. Ele segurava uma caveira branca cheia

de vinho tinto, do qual ele bebeu e logo me sorriu seus dentes

manchados de vermelho. Dei voltas, tentando achar uma saída, mas eles

se aproximavam de mim como uma flor venenosa fechando suas pétalas

pela noite.

Normalmente este seria um grande sonho, cheio de poetas e laços

e rendas.

Page 185: Drake Chronicles -  Bleeding Hearts

185

Mas sentia-me mal.

E meu pescoço doía.

Quando levantei minha mão do meu pescoço, estava coberta de

sangue.

Limpei-a freneticamente em meus jeans, mas o sangue continuava

acumulando, pingando entre meus nódulos. e então faiscou e queimou

como brasas antes de pegar fogo, como se minhas mãos estivessem

cheias de gasolina ao invés de sangue. Senti o cheiro de carne queimada,

fumaça, vinho derramado.

Acordei sufocando com um grito, meu cabelo úmido de suor.

Não compreendi imediatamente porque tudo doía e tinha poeira

em meu nariz. Estava feliz de não estar realmente me queimando. Fiquei

ali, catalogando minhas dores: o osso do quadril machucado de deitar

no chão, a dor no braço aonde Aidan me segurou. Não havia

queimaduras.

Sabia que o sol havia se posto porque estava quase na escuridão,

por exceção de uma faixa de luz cor de mel na lamparina de prata. Movi

ligeiramente a cabeça, a luz caía entre as tábuas de madeira para rosto

de Connor. Ele era realmente formoso, louco ou não. Arriscou-se para

me encontrar apesar de apenas nos conhecermos. E para um aficionado

em computadores, ele tinha todo o tipo interessante de músculos. Seus

olhos eram impossíveis, fascinantes.

Abertos.

Abriram-se abruptamente. Antes que eu pudesse dizer algo, seu

olhar azul viu o meu e me sustentou presa. Seus lábios afastaram-se de

seus dentes, os dentes brilhantes alongaram violentamente. Não o vi

atacar, mas a escotilha foi aberta sobre minha cabeça de repente em

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186

uma pancada, enchendo de lascas e sujeira. Engatinhei para trás

enquanto Connor aterrissava de cócoras, ainda me olhando com fome.

Com fome.

— Não é bom — murmurei me endireitando. — Não é bom, não é

bom — Engoli saliva, tentando sorrir, tentei fazer meu tom de voz

tranquilizador e não agudo. — Connor.

Levantou-se lentamente, tão lento que não pude fazer outra coisa

que ficar onde estava, fascinada. Sentia-me como um veado congelando

na sombra de um predador, com a esperança de não ser notado.

Não era uma sensação agradável.

Principalmente quando ele me fez sentir segura não fazia muitas

horas atrás. Mas seja Connor o que quer que fosse, não era humano.

Mesmo eu podia ver isso, como a não crente que era. Ele não estava

fingindo ou trapaceando. Ele era perigoso. E lutava por controle.

Coloquei minhas mãos para o alto, como se isso o detivesse. Ele

continuou se movendo, assediando-me, me fazendo retroceder em um

canto até que não tivesse para onde ir. Lembrei-me de Lucy, quando

achei que estava bêbada, dizendo para que me movesse lentamente, e

Aidan dizendo que nunca poderia fugir deles. Não era uma teoria que

gostaria de por à prova. Mas ficar ali de pé tampouco parecia uma boa

ideia. E estava me incomodando. Estava acostumada que as pessoas

tivessem medo de mim ou que não me vissem em absoluto. Esta não era

uma alternativa prazerosa.

— Connor pare.

Ele esboçou um meio sorriso. Era mais um sorriso de escárnio, e o

fazia parecer mais ao seu gêmeo. — Apenas quero provar um pouco,

Christabel.

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— O que? — Franzi o cenho. — E ew. — Deu um passo mais perto.

Bati uma mão em seu peito. — Hei! Afasta-se.

Parou, mas ainda estava próximo o suficiente para o que tudo o

que tinha que fazer era inclinar sua cabeça e guiar sua boca para um

lado do meu pescoço. Estremeci ao pensar. Seus dedos sujeitaram meu

pulso, tirando minha mão de seu peito. Seu peito imóvel. Franzi o cenho

outra vez enquanto ele levantou minha mão para seu nariz, cheirando

como se fosse uma rosa. Ele tinha uma perigosa vantagem que nunca

teve antes.

Não deveria fazê-lo mais atraente.

Maldita seja essa coisa de garoto mal.

Deveria estar furiosa. Não deveria ter sentido cócegas. Tentei tirar

minha palma longe de sua suave carícia. Suas narinas se abriram. Algo

se moveu em seu rosto, irritado e frio.

— Connor?

— Não. Não posso. — murmurou para si mesmo, como se fosse

uma garrafa de vinho transformado em vinagre. Ele inclinou sua cabeça.

— Mas...

E de repente se apertou contra mim e eu estava presa contra a

parede e não tinha mais nada que sua boca na minha. Suas mãos

estavam apoiadas contra as tábuas de madeira ao lado da minha cabeça.

Não podia me mexer mesmo se quisesse.

Não queria.

Ao invés disso lhe devolvi o beijo.

Seus beijos eram o oposto de sua relaxada e amistosa

personalidade. Eram selvagens e queimavam todo o caminho até meus

joelhos. Tive apenas tempo para recuperar meu fôlego entre beijos. Sua

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língua tocou a minha, mordi suavemente seu lábio inferior. Ele fez um

som em sua garganta que me deixou fraca.

De repente se afastou, apoiando-se na parede, sua cabeça ao lado

da minha. Seu cabelo fazia cócegas na minha bochecha e suas mãos

estavam fechadas em punhos. Seus olhos brilhavam como chamas.

— Connor?

Ele não disse nada, mas sabia que ele estava lutando um tipo de

batalha. Ele queria avançar, queria se retirar, queria algo que eu não

podia reconhecer e não sabia como dá-lo.

— Está bem?

Quando finalmente falou, era como se sua voz doesse. — Não—

forçou-se a dizer. — Vai daqui.

Aonde exatamente supõe-se que devo ir? Não somente estava me

bloqueando, mas eu estava sequestrada nas montanhas. Não tinha

muitas opções.

— Não estou... Seguro — disse. — Preciso de sangue.

— Que nojo.

— Estou falando sério — justificou. Levantou sua cabeça, suas

presas sobressaíram de sua gengiva, sua expressão mudou.

Antes que pudesse reagir, a porta se abriu e Aidan saiu disparado

através dela. — Christabel, se coloca atrás de mim! — Ordenou.

Mas Aidan tecnicamente era meu sequestrador, apesar de que já

tinha salvado minha vida uma vez. Dizer que estava confusa era

eufemismo.

— Christa, escute-o — Connor disse, adiantando-se para me dar

uma saída. Sua mandíbula se apertou. — Por favor.

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Foi o ―por favor― que me impulsionou a mover-me. Joguei-me

debaixo do seu braço. Aidan correu, encontrando comigo na metade do

caminho. Vi Connor contrair diante do movimento, como um gato que

de repente se concentrou em uma mosca, se preparando para apanhá-la

no ar e comer suas asas. Aidan empurrou um frasco para ele. Parecia

pesado, mas nenhum dos dois parecia notar. Connor começou a beber

dele e relaxei sobre o ombro de Aidan para olhá-lo, de repente franzi o

cenho. Era sangue?

Estava ficando muito difícil não acreditar em vampiros.

Connor me olhou, fez um ruído estranho, e de repente deu a volta

para que não pudesse vê-lo beber. Inclinou a cabeça para trás para

conseguir as últimas gotas.

— Ele é jovem — Aidan explicou. — O por do sol o faz um pouco

instável. Pode levar anos, inclusive décadas, antes que um vampiro

possa despertar facilmente. Ele já o fez melhor que a maioria. Dê-lhe um

minuto.

Connor finalmente deu a volta, limpando a boca. Parecia em parte

desgostoso e em parte desafiante. E sobretudo humano novamente.

Reprimi um pequeno suspiro de alívio. Aidan postado ao meu lado, ficou

difícil sentir um alívio real.

— Vamos — Aidan disse.

Sip, não tem alívio em absoluto.

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Capítulo 17 Lucy

Escapei depois que meus pais foram dormir.

Eu me senti mal com isso, mas não foi ruim o suficiente para me

fazer ficar em casa.

Eu tinha dormido até meio-dia e depois fui para minhas aulas da

tarde, onde Nathan me informou que eu estava mal-humorada e

distraída. Eu tive que caminhar até o trabalho da mamãe e esperar seu

turno acabar para que eu pudesse obter uma carona para casa. Meu

carro estava definhando em uma garagem em algum lugar com pouca

esperança de ressurreição. Eu teria que conseguir um emprego por

tempo parcial em breve para substituí-lo, mas não havia anúncios de

emprego para os simpatizantes de vampiros. Eu não estava

inteiramente certa que eu estava qualificada para fazer mais nada.

Quando o sol se pôs, meu dia não ficou exatamente melhor. Havia

mais Hel-Blar perambulando pelas bordas da cidade e quase todo

mundo estava caçando eles. Solange não respondia minhas mensagens

novamente, e até mesmo Nicholas estava nas cavernas e fora de alcance.

Christabel ainda estava desaparecida, embora aparentemente, os

Drakes tinham recebido uma foto dela para provar que ela não se

machucou. Isso era algo, pelo menos.

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Mas eu não poderia apenas me preparar para ir dormir e esperar

alguém me ligar.

Então, quando Hunter me mandou uma mensagem e perguntou se

eu não queria me juntar a eles em patrulha, na verdade eu fiz uma dança

da vitória, assustando um dos nossos gatos debaixo da minha cama.

Finalmente, alguém não achava que eu era inútil, porque eu era

humana ou porque eu tinha dezesseis anos. Eu coloquei um monte de

roupas dando forma a uma pessoa debaixo do meu cobertor e, em

seguida, coloquei uma nota debaixo de meu travesseiro apenas no caso

de minha mãe descobri-lo. Se meus pais encontrassem a minha cama

vazia sem nenhum aviso, eles iriam ter um ataque cardíaco fulminante e

morrer no local. A úlcera do papai poderia realmente explodir. Coloquei

um saco de chá de camomila ao lado da nota, apenas no caso.

Hunter parou no final da minha entrada e apagou as luzes

precisamente uma e meia da manhã, como previsto. Eu escapei pela

minha janela, caindo nos arbustos. Se meus pais me pegarem, eles

provavelmente vão mudar meu quarto até o sótão e investir em um

conjunto de barras de ferro para as janelas. Corri ao longo da calçada,

ficando próxima aos cedros e os arbustos de lilás. Eu tinha um frasco de

Hypnos na minha manga, uma caneta de gás lacrimogêneo que Hunter

tinha me dado, e na minha mochila estava meu celular, e uma sacola

cheia de água, alimentos, e uma besta de mão que eu tinha ―pegado

emprestado― dos Drakes. Eu estava preparada. Apesar do que todos

pareciam pensar sobre a minha suposta imprudência, eu não era uma

idiota.

Deslizei no banco de trás ao lado de uma mochila cheia de estacas

mais bestas, e jogos de adagas. A amiga de Hunter, Chloe estava no

banco da frente, franzindo a testa em seu laptop.

— Você não tem internet sem fio aqui? — Ela perguntou, em vez

de uma saudação.

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Eu bufei. — Por favor, temos dial-up.

Chloe olhou horrorizada. — Como você vive assim?

— Temos sorte por termos uma potencial linha de verdade. A

fazenda na estrada tem que usar óleo para aquecimento e painéis

solares e um gerador de eletricidade.

Chloe apenas piscou para mim como se eu fosse um projeto de

ciências particularmente estranho. Hunter ligou o carro e acendeu os

faróis novamente antes de terminarmos de conversar. Seu longo cabelo

loiro estava preso em uma trança apertada e ela estava usando calça

escolar de ginástica. Eu estava vestindo calças de brim pretas e um

capuz preto, que me fazia parecer uma militar.

— Você ouviu? — Hunter olhou no espelho retrovisor para

mim. — Espero que tenha se matado.

— Sério? — Hope tinha executado aos Hélios-Ra com o tio de

Kieran antes de a verdade vir à tona que ele tinha assassinado o diretor,

pai de Kieran.

Ela também enviou secretamente para fora unidades desonestas

para matar Solange. E ela se aliou a Lady Natasha. Os Hélios-Ra não

ficou impressionado.

— Aparentemente, ela não queria lidar com a Liga da Justiça.

— Me atrevo a perguntar o que é que é mesmo?

— Você não quer saber.

Eu realmente quis, na verdade. Mas eu sabia que ela não tinha

permissão para me dizer, desde que eu era uma forasteira e uma

estranha com conexões com vampiros. Ela estava começando a ter essas

mesmas conexões, através de Quinn. Gostaria de saber como os outros

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alunos estavam lidando com isso. Hunter tinha uma maneira diferente

de fazer as coisas.

Às vezes eu acho que ela poderia lidar com qualquer coisa. Fiz

uma nota para perguntar a Chloe mais tarde.

— Então, onde estamos indo? — Eu perguntei por agora.

— Estamos seguindo um mapa dos desertos em toda Violet Hill,

que está cheio de Hel-Blar. — Hunter respondeu. — Ainda estamos

limpando Montmartre e Greyhaven, e agora esta coisa nova com a sua

prima. Você está segurando bem depois da noite passada? Ouvimos

dizer que você foi emboscada.

— Foi bizarro. — admiti. — Eles estavam sendo controlados por

Hipnose ou algo assim, mas ela só tinha um apito. E eles usavam aqueles

colares de cobre.

— Nós não sabemos nada sobre ela. — Hunter disse, parecendo ao

mesmo tempo apologética e frustrada. — Nós nem sequer sabíamos

como os Hel-Blar poderiam aguentar o suficiente para ir atrás de algum

tipo de objetivo político.

— Eu sei. — resmunguei em acordo. — É muito chato.

— É realmente. — Hunter resmungou de volta. — Qualquer

palavra sobre sua prima?

— Todos os sinais apontam que ela está viva. — disse. — Eu me

lembrei disso cerca de mil vezes hoje.

— Ouvi dizer que eles estavam tentando levá-la. — Chloe disse. —

Vadia.

— Yeah. Como você ouviu sobre isso, afinal? Quinn?

Hunter concordou. — E as palavras através da Liga.

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— A Liga. — zombei, querendo que a queimação na parte de trás

dos meus olhos parasse, por que a minha garganta estava de repente

ficando apertada. — Estou surpresa que vocês meninas não saiam por aí

com as calcinhas da Mulher Maravilha.

— Hunter tinha um conjunto, quando era criança. — Chloe sorriu.

— Já vi as fotos.

Hunter estreitou os olhos. — Estamos compartilhando histórias

embaraçosas de crianças? Porque se estivermos eu vou lembrá-la de...

Chloe fez uma careta. — Desculpe! Eu vou ficar quieta!

Hunter sorriu presunçosamente.

— Eu tenho uma foto de Quinn vestido como o Batman, calças e

tudo mais. — eu ofereci.

O sorriso de Hunter se alargou. — Vou me lembrar disso.

— Será que os Drakes se sentam ao redor usando coroas? — Chloe

perguntou com ar sonhador. — Eu adoraria ser da realeza.

Hunter e eu trocamos um olhar.

— Os Drakes não são assim. — eu disse. — Bem, na maior parte.

São o tipo de irmãos que atuam como príncipes, mas isso não é nada

novo. Eles sempre foram mandões.

Chloe suspirou. — Você pode imaginar como é ser uma princesa?

Deve ser incrível.

Eu sabia que Solange prefere muito mais ser uma menina sentada

em um carro com seus amigos, como Chloe. Bem, a Solange minha amiga

teria preferido e agora... Realmente não podia dizer agora.

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— Então, qualquer outra coisa estranha acontecendo? — Eu

perguntei. Hunter e eu às vezes compartilhávamos algumas informações

estranhas quando podíamos.

— Além dos Hel-Blar, não realmente. — Ela virou pelo caminho

estreito quase imediatamente a um caminho de terra. Galhos de árvore

rasparam as janelas. — Há um monte de cabanas derrubadas aonde

termina o lago. — ela explicou. — Hel-Blar foram vistos aqui na noite

passada. — Ela parou o jipe, estacionando debaixo de um enorme

pinheiro. — Assim, é suposto fazer uma varredura. Você?

— Minha mãe disse que uma das lojas da Nova Era foi arrombada

nesta semana.

— Por que isso é estranho? — Hunter perguntou quando saímos

do veículo.

— A única coisa que faltava era uma cesta de pedras de sangue. —

As pedras de sangue não eram vermelhas como esperado, mais de um

verde escuro com veias cor de ferrugem. Foi usada para cura nos

círculos da Nova Era. Mas por causa do nome, detinha algum interesse

para as tribos de vampiros também. Eu teria que perguntar a Isabeau se

ela nunca usou para nada mágico.

— Pedra de Sangue? — Hunter repetiu intrigada, ajustando seu

cinto.

— Sim. — Estava um pouco orgulhosa. Não era fácil pegar a

Hunter de surpresa, especialmente se não era sobre os Drakes. — Não

tinha sumido um centavo sequer da gaveta.

— Huh. Isso é meio estranho.

— Eu sei certo?

Chloe checou suas armas e colocou para trás o enorme peso de

seus longos cachos negros, puxando-os para fora do rosto. — Prontas?

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Carreguei minha besta em miniatura com um parafuso, mantendo

o resto no bolso. Meu objetivo era a minha melhor arma, de longe, e

manteve-me fora do alcance fácil de todos os vampiros atacando. —

Pronta.

— Mantenha-se no meu alcance visual. — Hunter sussurrou,

balançando a cabeça para Chloe. — Você pega a traseira, vou pela frente.

Arrastamos-nos por entre as árvores, para a tênue luz da lagoa.

Uma das cabanas tinha uma luz de sensor de movimento que acendeu

quando passávamos. Hunter estava na borda da luz, fora do alcance.

Chloe e eu disparamos o alarme. Chloe parecia tão irritada quanto eu.

Nós patrulhamos a área, assustando um guaxinim, um porco-

espinho, e dois coelhos, mas não vampiros. Finalmente encontramos

marcas de garras na lama na beira de um jardim e uma trilha fina de

sangue levando de lá para a floresta.

— Está seco. — Hunter disse. — Não é desta noite, talvez nem

mesmo noite passada.

Mas terminou em uma pilha de ossos e peles.

— Isso poderia ter sido o animal de estimação de alguém. — disse

sinistramente.

Hunter sacudiu a cabeça. — Parece um texugo.

— Eu não vou nem perguntar como você sabe disso.

— Definitivamente não foi morto por um animal. — Chloe

acrescentou, apontando para a sujeira. — Isso é uma pegada.

Fizemos outra varredura, terminando de volta na pista principal

fora do bosque. Hunter franziu o cenho, levantando a mão e fazendo

uma pausa. Chloe franziu o cenho também, entrecerrando os olhos para

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ver o que Hunter viu. Não tinha captado nada fora do comum, apenas

uma caixa de cervejas dos moradores e o brilho de uma lata de soda.

— Ouviu isso? — Hunter perguntou com a voz tão baixa que eu

tive que me esforçar para ouvi-la. Ela apontou na direção de uma moita

de cedros. Foi muito fraco, como um porco farejando o terreno em busca

de trufas. Eu balancei a cabeça, arregalando os olhos. O barulho soou

mais feroz, agora que eu suspeitava que era um Hel-Blar e não alguém

procurando um porco. — Precisamos ir para fora. — Hunter falou.

Assenti, puxando uma faca de caça do meu cinto e picando a ponta

do meu polegar. Jurei sob a minha respiração. Doeu muito mais do que

parecia que doía nos filmes. Eu apertei o pequeno furo, deixando gota de

sangue no chão.

Os olhos de Chloe se arregalaram. — Você está louca! — Ela

exclamou, impressionada, e se atrapalhou para pegar suas armas.

Dei de ombros e limpei meu polegar para que o sangue não

deixasse o meu domínio sobre a besta escorregadio. Hunter levantou

uma sobrancelha e apontou para frente. O barulho ficou mais alto se

tornando um rosnando. Podíamos ouvir o estalo das mandíbulas, antes

que pudéssemos vê-los. Eu levantei minha besta, com apenas um

objetivo.

O som parou abruptamente. Foi tão assustador como o rosnar.

O Hel-Blar explodiu fora das árvores. Uma onda de cheiro podre

de cogumelo me fez vomitar. Havia quatro deles, vestindo trapos de

roupas enlameadas, provavelmente os mesmos que estavam usando

quando saíram para fora das suas sepulturas. Disparei a besta. O apito

fraco da seta no ar fez um deles endurecer e fazer uma pausa para que a

flecha acertasse a sua clavícula. Não foi o meu melhor tiro. Eu

recarreguei e disparei novamente, desta vez perfurando seu coração. Ele

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caiu em cinzas e roupas rasgadas. Ele não estava usando um colar de

cobre.

Hunter estava lutando contra dois deles e eu não poderia atirar

sem o risco de acertar nela. Chloe tinha um sangue, vermelho vivo

jorrando de um profundo corte em seu lado. Mesmo o sangue dela

cheirava a decadência.

— Chloe. — gritei. — se abaixe!

Ela caiu, acostumada a obedecer a ordens. Eu mirei e disparei, a

carga voou de verdade. O Hel-Blar desmoronou, ainda segurando as

suas feridas, saliva escorrendo de suas presas muito antes que ela

virasse pó. Chloe rolou se aproximando de Hunter. Outro Hel-Blar caiu

com uma combinação de socos e pontapés legendários de Hunter e uma

estaca. Ficava apenas um.

Ele girou e correu e não conseguimos pegá-lo. Eu mal vi a mancha

azul de sua pele na escuridão até que ele chegou à beira e pulou dentro

do lago. Sua silhueta era bastante clara e eu disparei novamente. O

perdi. Ele saltou por cima da borda e ouvimos o barulho de seu corpo

bater na água. Corremos para o topo da colina e Hunter acendeu a

lanterna, lodo e água negra. Ele poderia ficar sob a água por horas desde

que ele não precisa respirar. Ou ele pode já estar nadando para a praia

agora.

— Ele se foi. — ela finalmente disse, desligando a luz. — Maldição.

— Ainda assim. — disse Chloe, limpando lama com as mãos. —

Três em cada quatro é muito bom.

— Eu acho.

— Vamos sair daqui. — Chloe cutucou. — É tarde.

Voltamos para o Jeep. Eu chequei meu telefone quando a Hunter

saiu debaixo da árvore, mas ainda não havia mensagens de Solange.

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Vinte minutos depois, Hunter virou na minha rua e parou várias casas

de distância da minha garagem.

— Obrigado. — eu disse, reprimindo um bocejo. — Eu precisava

disso.

Hunter sorriu. — O que prova que você é tão estranha como nós

somos.

— Verdade. Boa noite.

Não havia luzes acesas, então eu assumi os meus pais estavam

dormindo, alegremente ignorantes. Ainda assim, eu circulei ao redor da

casa, mantendo-me na grama para que o meus passos fossem abafados.

Eu não estava prestes a entrar sem dar uma boa olhada ao redor. Eu me

senti melhor, como se eu tivesse feito alguma coisa. Eu provavelmente

deveria estar me preocupando que a minha versão de realizar algo

incluía matar monstros, mas eu tinha o suficiente para me preocupar.

Como o fato de que alguém estava de pé na janela do meu quarto,

se inclinando para dentro.

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Capítulo 18 Connor

— Nós devemos ir — Aidan disse. — Saga está esperando —

Insistiu Aidan quando nenhum de nós se moveu. — Nós tivemos que

roubar crianças — ele murmurou. — Tão jovens que ainda estão

molhados atrás de suas orelhas.

Incorporei-me.

Aidan suspirou. — Só vamos lá, antes que faça as coisas piores.

— Piores? — Christabel chiou. Eu me estiquei para alcançar sua

mão. Eu não podia imaginar o que ela estava sentindo agora. — Como

isso pode ficar pior? Espera. Você não vai chamar uma daquelas coisas

azuis, vai? Um vampiro é uma coisa, mas aquilo... — Ela estremeceu.

Franzi o cenho. — Você viu um Hel-Blar normal?

— Aquilo era normal?

— Pelo que sabemos — expressei. – Nunca conheci um Hel-Blar

que age como este aqui faz.

O rosto do Aidan estava implacável e levemente irônico. — Os

colonos costumavam dizer isso de nós quando chegamos. Selvagens e

tudo isso.

— Eu não quis dizer assim.

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— Humm.

— Aidan me salvou — Christabel admitiu.

Pisquei para ela. — De um Hel-Blar?

Ela assentiu.

— A guerra entre as tribos. — Aidan empurrou a porta aberta. —

Você perguntou o que poderia ser pior que os Hel-Blar — explicou

elaboradamente.

— Que tribos? — Christabel perguntou. — Tem a ver com a coisa

de Lua de Sangue?

— Eu explico depois — sussurrei.

— Nós explicaremos — Aidan corrigiu. — Sua gente não nos vê

como vampiros de verdade, e você certamente não sabe nada sobre o

quão duro nós lutamos para sobreviver.

— Você não é... Como os demais — acrescentei.

— Não. E também o fará você, se jogar bem suas cartas e manter

sua boca fechada. Saga é facilmente insultada por mais que pareça o

contrário. Levou troféus de guerra do seu próprio povo, não é? Imagine

o que ela fará com seus inimigos se houver guerra.

Nós seguimos Aidan até a varanda. A noite havia caído sobre os

telhados tortos e a estrada cheia de dentes-de-leão. Um uivo tremeu

pelo ar, não era um lobo ou um cachorro. Soava como Hel-Blar.

A mão de Christabel se apertou ao redor da minha. Ela enfiou os

calcanhares na terra. — Nós podemos correr? — ela perguntou

suavemente.

— Não. — Aidan interrompeu secamente. — Você não pode.

Page 202: Drake Chronicles -  Bleeding Hearts

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Christabel franziu o cenho. Ela não tinha ideia do quão bem nós

podíamos ouvir. — Eu realmente pensei que tinha gostado de Saga hoje

mais cedo. — ela sussurrou. — Ela era um pouco louca, claro, mas meio

divertida de um jeito estranho. Sabe, para um monstro que rouba

garotas de seus carros por diversão.

Sim, Saga iria pagar por isso. Em voz alta, porque eu sabia

exatamente o quão bem Aidan podia ouvir, eu apenas disse: — Ela acha

que está salvando o seu povo ou conseguindo poder político ou sei lá o

quê. Como a Princesa Léia.

— Você não está realmente comparando-a com a sua preciosa

Princesa Leia?

— Suponho que não. Ela tem mais da Xena nela.

Ela sorriu um pouco. — Eu aposto que você costumava ter

pôsteres da Xena em toda a sua parede.

— Demônios, não.

— Por que não? Eu pensei que seria totalmente a sua área.

— Ela é muito parecida com a minha mãe.

— Oh. Eca.

— Sim. Gabrielle é bonitinha, no entanto. — eu admiti. — E

Callisto.

— A Callisto não era psicótica?

— Eu tenho um fraco pelas loiras. — Não a olhei, mas sabia que

ela estava passando uma mão pelos seus cabelos loiros embaraçados e

empoeirados.

— Você deve ter amado a Buffy, então.

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— Não muito. Ela é gostosa, não me entenda errado, mas nós não

somos exatamente retratados bem. E o quê, os únicos vampiros bons

são o Angel e então o Spike? Eu escutei a Lucy falar e falar sobre o Spike

até que nós todos ameaçamos amordaçá-la. Acredite em mim, eu sei que

não posso me comparar.

— Você ficaria surpreso.

Este deveria ter sido o momento para beijá-la de verdade, sem

estar com presas e torturado. Mas nós estávamos meio que

sequestrados. Outra razão para odiar Aidan e Saga.

Saga estava esperando por nós em um campo perto da última casa

na estrada. Ela estava empoleirada na nova cerca de madeira da fazenda

que se esticava atrás dela. O vento brincava com sua bainha esfarrapada,

erguendo-o para revelar seus pés descalços. A espada presa ao seu lado

era curvada, o tipo de cutelo que um pirata ficaria orgulhoso de

carregar.

— Então nós ganhamos um príncipe na barganha. — Sacudiu a

cabeça. — Não posso afirmar que isso é uma ajuda. — Ela suspirou para

mim como se tivesse sido minha culpa. Ela deslizou para fora da cerca.

— Agora nós teremos os seus pais colocando o Mancha Negra atrás de

nós, marcando-nos para vingança. Há uma razão para nós termos ido

atrás de um humano. Ela ergueu um ombro prosaicamente. — Ah, bem.

— Tenho certeza que os meus pais concordarão com as suas

exigências. — disse firmemente. Christabel me lançou um olhar, como se

estivesse surpresa pela minha calma. Ela realmente não acreditava que

eu fosse um cara durão. Eu poderia ficar irritado por causa disso mais

tarde. — Então você vai manter sua palavra e nos deixar ir?

Saga ergueu uma sobrancelha. — Puxou o seu pai, não é, garoto?

Todo esse papo de honra e tratados. — Era fácil imaginá-la equilibrada

na proa de um navio. Ela tinha aquela marcha ao caminhar, mesmo

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depois de séculos, e aquele brilho nos olhos diziam que ela preferia lutar

a conversar em qualquer dia. — Primeiro nós temos algo para mostrar a

vocês. — Ela subiu em uma pilha de rochas, lançando um olhar

impaciente sobre o seu ombro. — Tally-ho, crianças.

Pisquei e olhei para Christabel, que apenas piscou de volta.

Saga suspirou. — De verdade, o que eles ensinam a vocês na

escola?

— Não é vocabulário pirata se é isso que você está perguntando,

— Christabel murmurou. — O sequestro mais estranho do mundo.

Subimos nas rochas, Aidan atrás de nós. — No terreno alto é

melhor. — ele murmurou.

Algo que a minha mãe havia inculcado em nós.

O que significava que isso não iria ser bom.

— Fique perto. — Mantive um aperto na mão de Christabel.

— Perdendo a sensibilidade nos meus dedos — exclamou.

— Desculpa. — Afrouxei meu aperto. Eu não havia segurado

muitas mãos desde que eu havia me transformado em um vampiro.

Rosnados e mandíbulas estalando satirizavam a escuridão. Saga e

Aidan eram provas de que havia Hel-Blar que podia falar bem o

bastante, mas estes não eram eles.

Então o cheiro chegou denso e reconhecível.

Christabel enrugou o nariz. — O que é esse cheiro de cogumelos

podres?

Amaldiçoei, ficando tenso. Não tinha estacas ou armas dentro do

meu casaco mais. Aidan deve ter me limpado ontem quando o nascer do

sol me derrubou. Mas ele não sabia sobre a adaga na minha bota

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esquerda e a estaca na minha direita. Eu estava me esticando para

alcançar uma quando a Saga soprou seu apito.

A cacofonia feroz dos vampiros foi desligada como se ela tivesse

pressionado um botão. Ela ficou mais próxima de cercas de metal,

alinhadas com arame farpado e fios elétricos. Atrás dela, os Hel-Blar

arranhavam e gritavam, colares de cobre brilhavam em torno de suas

gargantas.

— Fique atrás de mim. — disse para Christabel, me colocando em

frente a ela quando não se moveu rápido o bastante.

Saga acenou uma mão. — Se eu tivesse a intenção de alimentar

aos Hel-Blar com ela garoto, eu já teria feito isso.

Eu me ericei.

— Nós só queremos mostrar a vocês o que nós fizemos, e o que

nós podemos fazer. — Aidan disse. Ele estava segurando uma câmera de

vídeo agora.

Saga sorriu. — Então preste atenção.

Os Hel-Blar correram para sair de perto dela quando ela deu um

passo para se aproximar do portão. Um deles rugiu. Christabel recuou.

Eu engoli com dificuldade, deixando a minha boca fechada. A

proximidade com tanta raiva e adrenalina fez as minhas presas saírem

das minhas gengivas, e eu não queria assustá-la.

Não estava seguro do que estava acontecendo.

— Ela não precisa estar aqui. — disse tenso. — Deixe Christabel ir

e eu serei a sua testemunha.

Saga riu e balançou a cabeça. — Ela é mais forte do que você

pensa. E eu gosto dela.

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— Estou bem. — Christabel disse para mim. — E eu não vou te

deixar sozinho também. Eu quebrei as bolas do Peter na escola. Eu

posso quebrar as bolas de uns vampiros se eu for obrigada. — Não

apontei que nem a Saga e nem o Aidan eram fáceis de derrubar como

um valentão da escola. Ela já sabia disso. Ela ergueu seu queixo.

Aidan sorriu gentilmente, o que era incongruente atrás da câmera

assustadora. — Boa menina. — ele aprovou. Christabel apertou seus

dentes juntos. Ele provavelmente não queria soar tão condescendente;

ele tinha quase quinhentos anos afinal de contas.

Saga tirou um odre de seu cinto e tirou a tampa. O cheiro de

sangue formigou pelas minhas narinas. Os Hel-Blar pressionaram

freneticamente a cerca, babando e rosnando.

— Não deixe nenhuma saliva cair em você. — eu disse para a

Christabel.

— Aidan já lambeu os cortes na minha mão! — Ela pausou, de

olhos arregalados.

Congelei, e se o meu coração ainda batesse, teria se despedaçado

com a violência do frio dentro do meu peito.

Aidan havia infectado Christabel e ela não sabia.

Ele havia mantido isso como um segredo.

Era assim que os Hel-Blar eram feitos... Infectados através de

sangue ou saliva e então deixados para correr soltos durante a mudança

de sangue. Poucos sobreviviam.

Eu fui atrás da garganta do Aidan.

Ele era mais velho, mais forte, e mais rápido.

Eu sabia disso e não liguei.

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Eu mal o alcancei, apesar de todo o treinamento da minha mãe. E

eu havia quebrado a regra principal do meu pai: não aja com raiva.

Eu só consegui empurrar o Aidan, já que ele se virou para fora do

meu caminho antes que eu pudesse colocar qualquer força maior no

movimento. Saga jogou uma de suas facas em mim, pegando a parte de

trás do meu ombro direito. O golpe impulsionou-me para longe de Aidan

e de cara na terra. A dor me queimou, o aço cortando músculos e

tendões. Eu posso me curar rápido, mas isso não significa que as feridas

não doem como uma filha da puta. Os Hel-Blar uivaram e um deles riu.

— Connor! — Christabel foi tropeçando até chegar a mim. Ela caiu

com força de joelhos. — Connor, merda, não morra.

— Eu não estou morrendo. — disse enojado, sangue pingando do

meu nariz. Eu o quebrei de volta no lugar com um sibilo. ‘Ow’. Meu

ombro estava pegando fogo. — Maldita seja. Você pode tirar a adaga?

Com um gesto para defender a honra de Christabel, o meu ataque

claramente deixou muito a desejar.

Saga estava lá antes que Christabel pudesse se mover. Ela

arrancou a adaga e eu segurei um grito. Sangue quente se acumulou na

ferida e grudou na minha camiseta. Um Hel-Blar realmente chorou de

fome. Eu apertei minha mandíbula contra a dor.

Eu não iria gritar como um nerd mariquinhas adorador de

quadrinhos que a Christabel achava que eu era. Se eu ia sair da zona de

amigos com ela, eu tinha que demolir as expectativas dela. Eu estava

acostumado com isso. As pessoas sempre presumiam que eu era fraco e

socialmente estranho porque eu gostava de quadrinhos e

computadores. Eu usava isso contra eles o tempo todo.

— Isso foi um aviso, principezinho. Eu poderia ter o seu coração. E

se você atacar alguma vez o meu companheiro de novo, eu terei.

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Aidan olhou para mim. — Eu não sou contagioso. — ele disse. —

Eu não sou Hel-Blar, não como eles.

A esperança corria através de mim. — Mas você é azul, e você tem

todas estas presas.

— Menos azul menos presas. Faz toda a diferença. Você sabe que

aqueles que os cães de caça que vocês salvaram não são contagiosos. —

Ele estava certo. A namorada do Logan tinha mais presas que nós (mas

ainda menos do que a Solange) e ela não era azul ou louca, e ela deveria

ter sido um Hel-Blar. Ela havia sido deixada em um caixão por duzentos

mais ou menos, afinal.

Christabel encarou o Aidan. — A sua saliva poderia ter me

transformado? — Ela correu suas mãos por cima do jeans até que elas

ficaram irritadas. Os pequenos cortes abriram-se novamente. — Como

se aquele negócio todo de ficar lambendo já não fosse estranho o

bastante.

— Não faça isso. — eu disse tenso. O cheiro de sangue de quando

nós fomos feridos era ainda mais doce. Até mesmo aquela pequena gota

manchando o joelho dela fazia eu me afastar para que ela ficasse fora do

meu alcance.

— Vou vomitar — ela acrescentou, soando estranhamente calma.

— Você está bem — Saga disse despreocupada.

Christabel a observou com um impressionante olhar de aço. —

Você o esfaqueou.

— Ele está bem, também.

Fiquei de pé, e então ajudei Christabel a se levantar também. —

Ela tem razão. — respondi. — Estou bem. Já deixei de sangrar.

— Ela esfaqueou você.

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— Nós nos curamos de quase qualquer coisa, então você ficaria

surpresa com que frequência este tipo de coisa acontece. — expliquei

com ironia. — E eu tenho seis irmãos. — acrescentei.

— Se nós já estivermos parando com os mimos... — Saga inquiriu.

— Nós temos negócios para tratar, rapaz. — Pelo menos ela não me

chamou de ‘menino’ de novo. É difícil impressionar uma garota quando

uma pirata vampira louca te trata como uma criança.

Saga esticou o braço até a trava no portão.

— Merda. — Pulei na frente da Christabel, me perguntando como

eu iria nos tirar dessa. O corte no meu ombro iria ser um chamariz. Eu

dei um passo para longe da Christabel de novo. Estaria mais segura bem

longe de mim.

Saga derrubou o sangue do odre no chão e então respingou as

últimas gotas como pétalas de rosa.

Ela abriu a trava e deu um passo para trás.

Os Hel-Blar se enfiaram pelo portão, lutando entre si para passar,

se atirando em busca de sangue, comendo a terra onde ele havia caído.

Três deles se libertaram antes que Saga conseguisse fechar o portão

novamente deixando de fora os rugidos frustrados e enraivecidos do

restante do covil. O último que escapou farejou o ar, batendo seus olhos

vermelhos de raiva em mim, em seguida, ele saltou sobre seus

companheiros, sentindo o cheiro de sangue mais fresco. Eles eram o

único tipo de vampiro que bebiam de outros vampiros. Meu sangue não

o alimentaria, não o ajudaria a sobreviver... Somente sangue humano ou

animal podia fazer isso. Sangue humano funcionava melhor que todos.

Sangue de vampiro só funcionava se ele havia sido passado de um

vampiro mais velho para alguém mais jovem da mesma linhagem.

Tudo isso para dizer que ele não estava atrás de mim pela

sobrevivência... Apenas pelo prazer da matança.

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Ele estava no meio do ar, presas à mostra, mãos curvadas como

garras, quando Saga soprou seu apito.

O som o parou. Ele pausou lá, como um personagem de desenho

animado prestes a perceber que ele estava caindo de um penhasco, e

então ele atingiu o chão, gritando.

— Eu estava errada. — A voz de Christabel estava estrangulada,

assustada e irritada. — Eu não gosto nem um pouco dela.

Eu podia não admitir isso para ela, mas meu pescoço estava

fechado de pânico, também. Se eu respirasse, eu estaria arquejando. O

Hel-Blar contorcia-se no chão aos meus pés, alternando entre agarrar

sua cabeça e seu colar de cobre. O fedor de cogumelos queimados e água

verde me deram ânsia de vômito.

Os outros na jaula caíram de joelhos, esperando.

Saga era uma mulher muito assustadora.

— Vá. — Ela ordenou para outros três Hel-Blar voltarem à jaula.

Eles choramingavam e sibilaram. A jaula se fechou. — Viram o

bastante?

Christabel e eu assentimos com a cabeça bruscamente.

— Então venham comigo. — Ela estava sorrindo de novo,

orgulhosa e prestativa, como se nós estivéssemos em um passeio da

escola. Eles já foram pessoas uma vez. E Isabeau poderia ter se

transformado em um deles, se ela tivesse sido menos forte. Tinha a

esperança que Logan nunca visse isso.

Um labirinto complicado enchia o planalto à nossa frente,

chegando quase ao pé da montanha. Luzes de tochas brilhavam aqui e

ali, como olhos. As cercas de cedro eram grossas como paredes e

reforçadas em pontos mais fracos com arame farpado e videiras

espinhosas.

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— Você fez um labirinto? — perguntei. Era a última coisa que eu

esperava. Por um lado, era uma coisa totalmente legal parecendo que

tinha saído de um filme.

— Nós não fizemos. — Saga deu de ombros. — Alguém quis que

este lugar fosse um tipo de parque de diversões nos anos vinte, mas

então o mercado de ações quebrou e o negócio todo foi abandonado.

Havia uma pequena fogueira soltando fumaça de pinho. Havia

bancos espalhados com mais três vampiros levemente azuis esperando

por nós.

— Merda. — disse.

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Capítulo 19 Christabel

Connor levantou seu queixo. Eu sabia que ele imaginava a si mesmo

como um capitão do espaço indo para o capitão do barco dela. Ele

parecia maior, mais seguro.

Eu apenas me sentia como uma idiota.

— Vamos contar sobre nossa troca de sangue— Aidan explicou. —

E o que desejamos fazer como tribo. O Conselho precisa saber. —

Montou a câmera novamente e mirou em Connor. — Enviaremos isso a

sua mãe.

— Duvido que minha mãe faça o que vocês querem — Connor

respondeu suavemente. — A menos que comer seu próprio baço é o que

tenham em mente.

— Sim, tenho escutado as histórias — Saga confirmou. — É o que

me dá esperança. Não tinha sentido falar com Lady Natasha; ela era

pura vaidade. Sabe como se nomeou os Hel-Blar?

Connor assentiu com a cabeça. Eu não tinha ideia.

— É um termo Viking antigo, significa ‘azul como a morte’. —

Connor explicou para meu benefício. Notei que mantinha um olho

cauteloso nos outros vampiros.

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— Sim — Saga afirmou, jogando sua vermelha cabeleira sobre seu

ombro. — O termo escandinavo para vampiro é Draugur. E há dois tipos,

os Hel-Blar e os Na-Foir.

— Na-Foir? — Connor franziu o cenho. — Nunca escutei essa

palavra.

— Claro que não — ela respondeu. — Temos vivido em segredo

por séculos.

— Um pequeno artifício para ganhar tempo. Por muito tempo

temos sido confundidos com os Hel-Blar, sendo caçados ou usados como

bodes expiatórios. Mas não somos como eles.

Levantou seu braço, a luz do fogo fazia parecer mais saudável. —

Na-Foir significa ‘cadáver pálido’. — fiz uma careta. — Não é algo

lisonjeador. Estou segura. Mas estamos perdidos em contos e lendas por

tanto tempo que já quase não importa.

— Não somos contagiosos — continuou. — E alguns de nós

podem parecer mais como Hel-Blar do que os outros agora. Mas na

realidade somos mais como Hounds ou Host de Montmartre, apesar de

que nunca lhe servimos. Sobrevivemos à troca de sangue como eles

fizeram, apesar do desejo de caçar e a força... Apenas temos mais

cicatrizes para demonstrar.

Connor parecia levemente atordoado, como se não pudesse

processar toda a informação que nos haviam dado. Para mim, apenas

era outro capítulo de uma novela fantástica em que minha vida havia se

convertido; parecia com se estivesse ao ponto de cair em uma crise

existencial em todo o sentido.

— Esta cor... — Aidan subiu sua manga, mostrando seus músculos

tingidos de azul... — não é a cor da loucura. É a cor da sobrevivência. —

Seus olhos brilharam. — A fome que faz os Hel-Blar tão viciados e faria o

mesmo a qualquer um, a príncipe e mendigo igualmente. Tornam-se

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azuis porque estão inchados com sangue e ainda não se saciaram. Agora

somos tão pálidos como qualquer outro vampiro porque encontramos

um remédio para esta inanição, mas nossas veias recordam. —

Flexionou essas veias azuis tão danificadas como serpentes debaixo de

sua pele. — As presas são um efeito secundário da fome. — Havia dito

isso antes. O fato de que tudo começava a ter um pouco de sentido não o

tornava mais cômodo.

— Temos uma cientista — explicou para a câmera. — e ela

investiu anos trabalhando em seus laboratórios, testando os Hel-Blar e

descobrindo o que nos faz diferentes. Desejamos compartilhar nossas

descobertas com o conselho e com Geoffrey Drake.

— Meu tio. Ele é cientista. — Connor me explicou. — Você é a sua

cientista? — ele perguntou à única outra mulher vampira que tinha na

fogueira.

Ela moveu sua cabeça.

— Gretchen foi comida.

Traguei saliva. — Comida?

— Por um dos seus sujeitos de experimentação.

Tive que lembrar me parar de perguntar mais coisas. Ainda não

havia recebido nenhuma resposta que me agradasse.

— Temos gastado séculos nos escondendo de outros vampiros, de

nossa própria espécie. — Saga expressou tranquilamente. — Mas não

mais. Tenho uma família que proteger por vínculos de sangue. Talvez os

humanos nunca nos aceitem, mas maldito seja, os vampiros sim o farão

agora que uma nova Lua de Sangue será convocada.

— E os Hel-Blar que mantém no pátio? — Connor perguntou.

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Saga deu de ombros. — Talvez os necessite. Um exército é um

exército, e não podemos nos dar ao luxo de sermos exigentes.

— Isso é escravidão.

— Ou pragmatismo. E certamente não é pior do que vocês não

fazem a nós.

— Nós tentamos evitar que as pessoas sejam machucadas!

— Nós também, criança.

Eriçou-se diante isso. Eu também.

— Vocês pensam que todos somos iguais. — Aidan interviu

suavemente, olhando a câmera de novo. — É tempo de que escutem

nossas histórias. Simplesmente poderiam voltar para suas próprias. Esta

é a nossa corte, a qual assistirá a Lua de Sangue. Esperamos que seus

guardas lhes permitam entrar, Liam Drake, se suas conversas sobre

tratados de paz todos esses anos tem sido honestas. — Os Hel-Blar

gritavam desde seu curral, delatando as cercas. Levantou seu cinturão

de pérolas.

— Isto é um antecedente da minha gente, os Wendat, e de mim

mesmo, Aidan Hawkfeather. Depois de ser convertido estava desmaiado,

doente para notar o osso hibernando na parte traseira da cova a que eu

mesmo havia me arrastado. Naquela ocasião estava tão desesperado

para beber sangue, eu já tinha mudado de cor e tinha crescido mais

presas do que poderia ter, ao contrário. Mas nunca fui feroz. — elevou

um sorriso. — O poderia ter sido, se houvesse sido salvo por um espírito

de porco espinho ao invés do Grande Urso.

Tentei imaginar ele beber todo o sangue de um urso marrom

gigante, e me engasguei.

— E Emma — Saga disse.

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— Eu fui convertida faz três anos. — Emma disse suavemente.

Ela era uma mulher que rodeava os trinta. Parecia serena e tranquila,

exceto pelas estacas prateadas brilhando em uma correia entre seus

peitos e a cicatriz bem no meio da sua sobrancelha. — Minha família

pensou que estava morta. Os ouvi chorando e depois ouvi os

embalsamadores discutindo as químicas. Podia ouvi-los, enganadores e

venenosos, mas eu estava muito fraca para abrir meus olhos. — Eram de

um mármore azul e cinza pálido, de uma palidez branca. — Os venenos

não me mataram, mas evitaram que despertasse antes que fosse

sepultada, me mantiveram muito fraca para rasgar minha saída por

meses. — Apontou sua cicatriz, inclinando sua cabeça para que

pudéssemos ver aonde corria uma linha irregular para debaixo de seu

queixo e passando por sua clavícula, para seu coração. — Outro vampiro

me fez isso. Quando Saga me encontrou, eu nem sequer podia falar.

O homem ao seu lado usava um traje caro e um anel decorado com

uma esmeralda em seu dedo mindinho. Poderia ter sido advogado ou

um executivo endinheirado, exceto pela leve trilha de tatuagens em seu

pescoço e mãos.

— Max. — Saga assinalou com a cabeça.

— Maxixcatzin, como minha mãe me chamava. — adicionou

suavemente. — A fome me teve por cerca de uns cem anos. Vivia em um

bosque nativo, e quando me conheci o suficiente para saber que

precisava de sangue, não cana de açúcar ou mamões, bebi de jaguares e

panteras... E foi suficiente para sobreviver. Apenas. Nunca bebi de um

humano porque nunca cruzei com um. O xamã da minha tribo tinha me

vetado antes que me convertesse. Não sei o que haveria chegado a ser se

tivesse vivido em uma cidade ou tivesse estado enterrado debaixo do

concreto. No momento em que Saga me encontrou, eu era mais pantera

do que vampiro.

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— E eu nasci em Tortuga. — Saga disse com um sorriso

sanguinário. — Fui convertida no porto, mas não sabia o que a

enfermidade era até que estivemos no mar e muito longe da terra para

ter uma alimentação correta. Sabia que estava doente, sabia que algo

estava mal, assim, me fechei no calabouço e engoli a chave. Passaram

meses antes que chegássemos à costa. Quase não sobrevivi. — Neve

caía. Pousando em seu cabelo, e o fim do fogo dourava sua dura

expressão, seus pálidos, venenosos olhos como folhas de bordo no

outono. — Mas era sortuda e forte. Assim, passei séculos perseguindo

lendas, bruxas, doutores e cientistas. Levei bastante tempo para

encontrar uma forma de treinar aos Hel-Blar, tê-los aos meus pés para

que pudéssemos provar aos outros que somos diferentes. O apito que

uso foi pego de um encantador de serpentes na Índia, feito faz trezentos

anos atrás e desde ali benzido por um xamã. Os colares tem magia

neles... Magia e sangue antigo. — Seu sorriso se tornou lupino. — Mas

não precisam saber todos os nossos segredos. Nossa intenção era pegar

a sua Lucy para que ela fosse o vínculo entre nossas famílias. Mas

acredito que Christabel é uma melhor opção. Ela não vem com seus

prejuízos e vem com seu filho. Assim, pegaremos nosso lugar no

conselho por sua promessa — ameaçou sombriamente — ou o

roubaremos. Tenho Hel-Blar suficientes treinados com o apito para

levar a cabo meus planos, qualquer que seja a decisão que tomem.

Os grunhidos estavam próximos.

Muito.

Os vampiros ao redor da fogueira se elevaram sobre seus pés,

rápidos e suaves como a fumaça. A luz fez brilhar suas presas e estacas.

Grunhidos e dentes rangendo fizeram que todo o ar do meu corpo se

paralisasse. A pele de galinha apertou minha pele. Estava tão tensa que

me perguntava como é que não me quebrei em vários pedaços, como

porcelana batendo no chão.

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Hel-Blar riscavam para nós.

— Não treinou a todos. — Connor disse, batendo uma estaca fora

de sua bota enquanto o cheiro de cogumelos podres batiam a parte

traseira da minha garganta. Vomitei.

Saga levantou seu apito e soprou forte. Suas sobrancelhas se

encontraram fazendo-a parecer como um professor severo. Odiaria

saber o tipo de castigos que ela daria.

Connor pegou uma adaga de sua outra bota e me lançou. —

Acredito... se o precisar, saberá como usar. Mas tenta não se picar com

ela, entretanto.

O agarrei e fiz uns pequenos gestos de picar.

— Não está picando cebolas. — afirmou Connor, o canto da sua

boca se levantou apesar das circunstâncias. — Pega, segura assim. —

Ajustou de tal forma que ficou deitado ao longo do meu antebraço,

apontando para o meu cotovelo.

— Está ao contrário. E quando se tornou tão duro?

— É mais fácil apunhalar dessa forma, — disse, ignorando minha

pergunta. — Levanta seu braço. — O fiz. — Viu? Já esta mirando para

fora e não teve que mover absolutamente sua mão.

— Oh. Genial.

— E se te surpreenderem por trás, é mais fácil apunhalar ao

contrário.

Senti a necessidade de defender minha falta de atitudes de luta. —

Estou acostumada ao gás de pimenta.

— Pode correr? — perguntou.

— Claro que posso.

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— Talvez tenha que fazê-lo — me informou grunhindo quando

Saga soprou seu apito pela terceira vez e o Hel-Blar ainda corria para

nós.

— Cachorros sarnentos, vis e putrefatos. — gritou, trocando seu

apito por uma catana. Emma já estava jogando estacas com pontas

prateadas. Os Hel-Blar caíam como besouros canibais. Eles não usavam

colares. Os sons que fizeram e a forma em que se moveram, arrastando

os pés e silvando, me deram um calafrio por todo o corpo. Inclusive

meus dedos dos pés estavam tremendo.

Connor agarrou meu braço e me puxou do caminho. Saltou sobre

um banco e meio que me carregava meio me arrastava para o labirinto.

A batalha continuou atrás de nós, mandíbulas estalando, estacas voando,

Saga rindo.

— Entra no labirinto — me ordenou. — Antes que se deem conta

que saímos.

Bom, me retrato. Os garotos nerds bons são muito mais quentes

que os garotos maus.

Especialmente quando tiram suas camisetas.

— O que está fazendo? — perguntei. Eu pensava Wow. Olá.

— Há sangue nessa. — Se retorceu para limpar o último rastro de

sangue de sua ferida, depois jogou sua camiseta na direção oposta à que

nos dirigíamos. — Poderia nos dar alguns minutos.

A entrada do labirinto era estreita, com cedro alcançando meu

cabelo. Flores brancas brilhavam na escuridão, e gavinhas percorriam o

labirinto para cima. O chão era escova debaixo dos pés. Já estava

perdida e ainda não tínhamos entrado. Odiava os quebra-cabeças. Não

era boa neles, apesar das centenas de anos que Lucy me fez ver o filme

Labirinto para desfalecer por David Bowie em calças justas.

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— É sério, odeio a todos nesse momento — anunciei, correndo

para ir com seus grandes avanços. — Apenas gostaria de estar lendo

Orgulho e Preconceito pela centésima vez e comendo sorvete.

— Eu sei. — Connor disse, ainda segurando minha mão, e seus

frios polegares roçando o interior do meu pulso.

Uma coruja chamou de algum lugar no bosque, mas tudo o que

podia ver era o caminho através da verde escuridão e a trilha

fundamental de luz da lua batendo na neve acima da montanha.

Perguntei-me se minha mãe se sentia como eu agora, perdida em sua

própria batalha. Se ela poderia derrotar sua doença, eu podia derrotar

isso. Apenas teria que afirmar que era fácil.

Corremos, deslizando sobre as folhas de pinho e outras folhas

velhas. Cheirei cogumelos levemente. Os Hel-Blar nos pisavam nos

calcanhares, apesar da batalha.

— Espera. — sussurrei quando tive que dobrar de volta pela

segunda vez e atrasar nossos passos. Minha respiração queimava em

minha garganta. — Na historia de Teseu e o Minotauro, Ariadne da à

Teseu um fio vermelho para carregar consigo através do labirinto.

Assim não se perderia.

— Não tenho fio. — Connor disse duvidosamente. — Você?

— Bom, não. — admiti. — E ela o sustentou desde um extremo

para que depois pudesse encontrar seu caminho de volta desde o centro.

Mas nós queremos seguir direto.

— Ainda assim é uma boa ideia. Devemos encontrar uma forma de

marcar aonde temos estado para que não terminemos de volto ao

começo. — Seus punhos se fecharam. Se pensava mais atentamente,

certeza que se machucaria. — Já sei! Minha mãe nos contou sobre algo

como isso. Um truque militar para não se perder.

Page 221: Drake Chronicles -  Bleeding Hearts

221

— Sua mãe sabe coisas muito estranhas.

— Não tem ideia. — Colocou sua mão no cedro. —

Aparentemente, se sempre ficamos à nossa esquerda, não nos

perdemos. E um de nós deve permanecer tocando o muro o tempo todo.

O segui por trás, agachando debaixo de uma flor extraviada. — No

entanto, nem todas as voltas são à esquerda — apontei, quando

chegamos a um beco sem saída três voltas mais tarde.

— Mas é mais fácil dar um passo atrás. — disse, chegando

inclusive tão longe para voltar à última esquerda que tínhamos pegado.

Foi à direita, depois voltou para continuar pela esquerda do caminho e

pegar todas as voltas esquerdas. Poderíamos levar uma eternidade, mas

com sorte poderíamos encontrar a saída. — Precisamos de armas. —

Olhou ao chão. — Se ver alguma pedra que sirva, enche seus bolsos.

Corri para seguir com ele. Passou uma estatua de uma mulher

envolta em uma toga e musgos. Sua cabeça estava em seus pés, olhando-

nos inexpressivamente.

— Uh, Christa?

— Sim?

— Corre mais rápido!

Page 222: Drake Chronicles -  Bleeding Hearts

222

Capítulo 20 Lucy

Eu estava procurando por uma estaca antes que me desse conta

disso.

Eu reconheci o cabelo escuro, a pele pálida e os finos músculos

quando ele se esgueirou mais para dentro do meu quarto.

Nicholas.

― Lucy ― ele sussurrou. ― Lucy, acorde!

Provavelmente eu nunca teria outra oportunidade de surpreendê-

lo novamente. Ele normalmente tinha todas as vantagens: velocidade e

força sobrenatural . Mas justamente agora eu estava a favor do vento, e

ele não estava esperando. Eu sorri, pegando meu celular.

– Boo!

Ele saltou tão rápido e tão forte que a janela tremeu. Também fez

um estranho som, como um grito abafado, seguido por uma torrente de

palavrões. Depois se voltou, com a estaca em mão. Tudo aconteceu no

espaço de um simples piscar de olhos. Eu apertei o botão da câmera e

tirei uma foto do seu rosto surpreso, seus olhos cinzentos muito

arregalados.

Então eu ri tanto que me dobrei ofegante buscando pela

respiração.

Page 223: Drake Chronicles -  Bleeding Hearts

223

― Você sabe que algumas pessoas têm medo de vampiros ― ele

disse secamente, movendo-se lentamente para mim. Eu só bufei ainda

rindo. Não era muito atraente bufar como um porco na frente do seu

namorado, mas eu não conseguia evitar. Eu pulei na grama fria quase

me engasgando de tanto rir. Ele olhou para mim ― Você já terminou?

Limpei meus olhos, balançando a cabeça. Talvez eu risse até que o

sol saísse. Eu me sentia bem, ignorei minha histeria e minha respiração

ruidosa. Os músculos do meu estômago doíam. Ele sentou ao meu lado,

cheirando a fumaça e chuva.

E entre uma risada e outra, ele me pressionou contra a grama, a

boca se fechando sobre a minha.

Ele engoliu meu riso e me beijou intensamente, profundamente

como se eu fosse deliciosa. Eu correspondi ao beijo, me sentindo

poderosa e fraca em todos os lugares. Meus joelhos ficaram moles,

minha barriga estava quente como se tivesse bebido uma caneca de

chocolate quente. Eu não me importava com o chão frio e nem mesmo

com uma pedra machucando meu tornozelo esquerdo. Ele ficou em cima

de mim, e mesmo ele sendo pesado, eu me sentia bem. Sua mão foi um

pouco para o lado do meu corpo, me fazendo cócegas, até que seus

dedos se fecharam firmemente sobre meu quadril. Ele beijou minha

clavícula, meu pescoço e atrás da minha orelha. Ele mordeu meu lábio e

eu mordi de volta, tocando a ponta da sua língua com a minha. Eu

poderia ter ficado ali por horas. Mas ele se afastou, seus olhos cinzentos

estavam tão transparentes como uma concha marinha.

Eu não conseguia mais me lembrar do porque eu tinha rido tanto,

ou porque ele estava ali.

― Olá. ― ele disse suavemente.

― Olá ― eu respondi. ― O que você está fazendo aqui?

― Eu vim para te mostrar uma coisa ― ele se virou, sentando-se.

Page 224: Drake Chronicles -  Bleeding Hearts

224

Eu franzi o nariz e sentei-me também, fingindo estar interessada

na mochila que estava sob a minha janela. Eu só queria continuar

beijando. Ele puxou uma manta. Eu pisquei para ele.

― Você me trouxe uma manta?

― Espere. ― ele disse estendendo-a e, em seguida, empurrou-me

sobre ela. A espessa lã cortou a umidade fria da grama. Depois ele tirou

uma segunda manta e um travesseiro. ― Bem, agora se deite.

Eu lhe dei um olhar desconfiado.

Ele revirou os olhos. ― Só faça isso. Deus, você é teimosa. ―

Relutantemente eu me inclinei para trás e virei minha cabeça para olhar

para ele, ele fez o mesmo. ― E agora?

― Olhe para cima.

Eu olhei para cima, esperando ver estrelas e galhos de árvores.

Não eram apenas estrelas, embora houvesse milhões delas, eram tão

espessas que pareciam sal derramado, a Via Láctea brilhava perto o

suficiente para tocá-la, derramando-se sob o céu. A luz era claro como

cristal, o céu parecia um veludo arqueando sobre nós de tal forma que

me fez sentir pequena. Eu exclamei. ― Whoa.

Ele apontou para a esquerda. ― Ali.

O céu estava banhado nas cores verde, vermelho e azul, faziam

ondas como se as cores estivessem dançando. As cores piscavam como a

luz de tochas, movendo-se como se fossem água. Era lindo.

― As luzes do norte ― eu sussurrei.

Ele balançou a cabeça. ― Isabeau disse que era um sinal.

― Uh-oh, bom ou ruim?

Page 225: Drake Chronicles -  Bleeding Hearts

225

― Ela não disse. Ela correu lá para fora para fazer algum tipo de

magia. Solange e Logan foram com ela.

― Oh.

Ele olhou para mim. ― Mas ao invés disso eu queria vir aqui.

― Oh ― eu disse de novo, mais alegre. Eu me virei e abracei seu

braço. ― Você é um bom namorado.

― Você não tem ideia ― ele brincou. Eu beijei o canto da sua boca,

abraçando-o mais forte. Eu seria uma idiota se deixasse uma raridade

como Solange interferir na noite mais romântica da minha vida. E como

eu estava tão determinada em provar a todos que eu não era uma idiota,

eu começaria agora. Beijei-o de volta e inclinei minha cabeça novamente

para ver a dança das luzes do norte. Era como um caleidoscópio de

fumaça e cristais se formando e reinicializando o ciclo novamente de

diversas formas diferentes.

― Aquilo parece uma vaca de duas cabeças para você? ―

Perguntei.

― Eu vejo uma Fênix.

― Como assim uma Fênix?

― Aquela parte vermelha ali.

― Oh, eu estava me referindo ao verde. ― O verde mudou para um

dragão e depois para um barco. ― Essa parte azul parece um gato

sentado na cabeça do Bruno.

Nicholas riu. ― Tenho certeza de que ele ficaria encantado. Ali tem

um leão no topo de uma pirâmide.

Eu me aconcheguei melhor. ― Isso é bom.

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226

― Espere, eu esqueci a melhor parte. ― Ele se moveu e eu ouvi

alguns ruídos. Triunfante ele ergueu um saco.

― Chocolate! ― Eu sorri, colocando um na boca. ― Chocolate

verdadeiro e não Algarroba. Agora eu te amo completamente.

Fiz uma pausa, enquanto as palavras ecoaram em torno de nós.

Eu mastiguei o chocolate, o pé-de-moleque e tentei não corar. Nos

conhecemos desde sempre. Nos beijamos regularmente. Eu não deveria

me sentir envergonhada por ser a primeira que falava eu te amo. Mesmo

que ele ainda não tivesse dito isso também. Tínhamos salvado a vida um

do outro muitas vezes. As palavras eram apenas palavras, certo? Comi

outro chocolate antes de dizer algo realmente estúpido.

Ele mudou de posição, seu olhar era intenso. Eu desviei o olhar.

Seu dedo levantou meu queixo levemente de forma que eu tive que ouvi-

lo.

― Se você tirar sarro de mim, eu te estacarei ― eu murmurei.

Ele levantou uma sobrancelha. ― Que maneira de estragar um

momento, Lucky.

Oops.

A forma como ele olhou para mim, me fez me sentir de repente

tímida. Isso era algo definitivamente novo para mim. Eu nunca fui

tímida. E agora, eu tive que me deter para não me contorcer

desconfortavelmente. Provavelmente era apenas o açúcar. Ou uma

alergia ao pé-de-moleque.

Ele curvou-se, os lábios prestes a tocar os meus. Estava tão perto,

que se eu respirasse fundo estaríamos nos beijando. Alguma coisa

quente vibrou em mim. Eu nem sequer precisava dos feromônios dos

vampiros, que eram quentes.

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― Eu também te amo ― ele sussurrou, um canto da sua boca se

levantou em um sorriso. Eu sorri de volta, em seguida o beijei até sentir

minha cabeça leve e eu ficasse sem fôlego.

Meu celular vibrou no meu bolso justamente quando as coisas

estavam começando a ficar interessantes. Eu suspirei. ― Telefone

estúpido.

― O quê? ― Eu disse com raiva. Eu fiz uma careta. ― Kieran? É

você? ― Eu chequei o número, em seguida, assenti para Nicholas. Nós

nos sentamos. ―O que está acontecendo? ― Eu segurei o telefone longe

do meu ouvido para Nicholas poder ouvir.

― É Solange ― disse Kieran.

― Ela está bem? O que aconteceu?

― Ela está bem ― ele disse. Nicholas se levantou, pegando no meu

ombro tão rápido que eu senti um pouco tonta.

― Eu acho.

― O que está acontecendo?

― Nós ficamos de nos encontrar na floresta perto do pântano,

antes dos campos da lua de sangue que não é para sabermos a

localização. ― Os lábios de Nicholas se apertaram. ― No momento em

que cheguei, ela estava ... Um ...

― O quê? ― Quase gritei, depois baixei a minha voz, olhando para a

janela do quarto dos meus pais.

― Ela estava se alimentando. ― Sua voz era ainda mais tensa. ―

De um escravo de sangue.

Nicholas pegou o telefone.

― Você tem certeza? ― Perguntou.

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228

― Estou de olho nela, não é isso? ― Ele parecia assustado, e

definitivamente não era o caçador de vampiros arrogante com todas as

respostas prontas.

Nicholas pegou o telefone. ― Eu estou indo. Fique aí. Não ligue

para os meus pais!

Ele me entregou o telefone de volta e saiu da grama para os

arbustos de lilás.

Eu o segui.

― Com os diabos você vai sem mim, Drake ― eu o chamei.

Empurrando os ramos de lilases. Nicholas já estava me entregando um

capacete da moto que quase bateu no meu nariz. Eu o coloquei na minha

cabeça, brigando com as tiras enquanto Nicholas levava a moto para a

estrada, para longe de casa para que o ruído não acordasse meus pais.

― Suba ― ele disse, já sobre a moto.

O fato de que ele não estava tentando me deixar para trás me fez

querer beijá-lo ainda mais. Subi e passei meus braços em torno da sua

cintura, segurando-me tão forte quanto eu podia. De qualquer forma, ele

dificilmente teria notado, ele não precisava de ar para respirar. Ele

correu para a rua, passamos por hortas de abóbora, pomares de maçãs e

vinhedos a caminho das montanhas e florestas. Violet Hill era uma

pequena coleção de luzes atrás de nós.

Eu não podia acreditar que Solange estivesse bebendo de um ser

humano, uma coisa era beber dos bancos de sangue e doadores

voluntários, mas fazer uma festa na floresta com um escravo de sangue

era ... Desconcertante.

― Pode ir mais rápido? ― gritei sobre o rugir do vento.

― Segure-se ― ele gritou de volta.

Page 229: Drake Chronicles -  Bleeding Hearts

229

A noite era um borrão de sombras, asfalto e vento frio. Eu estava

perdendo a sensibilidade dos dedos e meus braços estavam ficando com

cãibras. Finalmente, saímos da estrada e cortamos através de um

campo. Salicáceas púrpuras roçavam meus joelhos.

Na floresta, o solo era ainda mais traiçoeiro. Nicholas fez o seu

melhor para manobrar por entre os galhos das árvores, pedras e troncos

caídos, bétulas cheias de musgos e liquens. Um galho de pinheiro bateu

no meu rosto. De repente, cheirava a Natal. Ele passou sobre um buraco

e meu capacete bateu na parte de trás da sua cabeça. O próximo buraco

fez meus dentes baterem. Os dois seguintes o fizeram parar

completamente.

― Nós vamos ter que ir a pé daqui ― ele disse, jogando o capacete

de lado. Eu desci da moto, minhas pernas estavam rígidas. Pendurei meu

capacete na moto e saí correndo atrás dele. Passamos pela moto de

Kieran sob uma cicuta. As árvores da floresta eram tão grandes e

espessas que não conseguíamos ver nenhum tipo de luz. Passamos por

muitos pés de samambaias.

No momento em que chegamos até Solange, eu estava suando e

com a respiração ofegante. Ela parecia pior do que eu, sentada em um

amontoado de raízes de musgo e recostada em um álamo, cujas folhas

amareladas balançavam sobre ela. Havia sangue em seu rosto e sua

blusa estava rasgada. Nicholas soltou uma maldição e chegou ao seu

lado em um piscar de olhos. Ele se agachou ao lado dela e ela sorriu

cansada.

― Eu estou bem, ― ela disse, parecia que estava bêbada.

Kieran estava parado no local. E ao lado de Solange estava a

escrava de sangue que eu tinha visto no acampamento de lua de sangue.

Ela estava quase tão pálida quanto Solange, mas sorrindo. Havia sangue

e marcas de dentes ao lado de seu cotovelo. Estas não eram tão

discretos quanto as cicatrizes do pescoço.

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230

― Ela está dormindo? ― Eu perguntei.

Kieran assentiu. ― Solange disse para ela dormir. ― Assim que ele

falou isso, trocamos um olhar sombrio. Passei por cima de sua mão, que

estava caída de lado como um lírio cansado.

Solange tinha sangue em um dos cantos da boca. Sua língua saiu

como uma flecha e o lambeu. Havia um corte profundo no braço e

arranhões no rosto. Seus óculos de sol estavam quebrados, e jogados em

cima de uma moita de primorosas.

― Oh, Sol. ― Me aproximei para tirar seu cabelo do rosto, o cabelo

já estava ficando colado em um corte que estava formando uma crosta.

Ela se sacudiu, gemendo.

― Não! Se afaste!

Afastei minha mão, aturdida. ― O que? Sol, sou eu.

Seus olhos se arregalaram, sua íris estava muito vermelha ao

redor do delicado tom azul. As três presas estavam expostas, mas isso

não era uma surpresa. Surpresa era o jeito como ela estava olhando para

mim, como se eu fosse machucá-la, como se eu fosse comida. Eu poderia

ficar nua com sangue escorrendo pelos meus pulsos e Nicholas não teria

me olhado dessa forma. Eu congelei confusa.

Nicholas amaldiçoou e inclinou a cabeça de Solange para trás para

poder ver seus olhos. ― Quanto você bebeu?

Ela sorriu preguiçosamente. ― Eu não sei. Ela era boa. ― Ela

passou a língua sobre os dentes. ― Como morangos cobertos com

chocolate.

― Ótimo ― eu murmurei. ― Eu nunca mais vou ser capaz de comer

isso de novo.

Page 231: Drake Chronicles -  Bleeding Hearts

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Nicholas olhou para mim. Ele não me parecia tão preocupado

desde a mudança de sangue de Solange, quando não tínhamos certeza se

ela iria sobreviver. Seu olhar mudou para Kieran. ― O que diabos

aconteceu?

― Eu não sei. Eu já a encontrei assim, ferida.

― Eu sofri uma emboscada ― ela disse, fechando os olhos. ― Eu o

matei de qualquer forma.

― Hel-Blar?

Ela assentiu com a cabeça. ― Um imundo fedorento. Na verdade,

eu odeio cogumelos ― disse ela, de repente, séria antes de cair na risada

sem nenhum motivo aparente.

Eu passei a mão sobre o meu rosto. ― Pelo menos ela é uma

bêbada feliz. ― eu disse.

― Constantine está aqui? ― Ela perguntou de repente.

Os olhos de Kieran se estreitaram. .

Eu também fiz o mesmo. ― Por quê? ― Eu perguntei. ― E quem

diabos é Constantine?

― Ele me disse que Penélope era boa. Ele estava certo.

- Bem, definitivamente eu bateria no nariz de Constantine ― eu

disse brilhantemente. ― E quem é Penélope? ― Eu apontei para a

mulher encolhida nas samambaias. ― Será que é ela?

― Ela está acostumada a isso ― Solange nos informou, arrastando

as palavras ligeiramente. Ela estava agindo como se Penélope tivesse as

veias cheias de vinho. Eu espero que tenha uma forte ressaca amanhã.

Ela claramente precisava de algo para despertá-la. ― Kieran só está

zangado porque eu não bebo dele. ― Ela se sentou, inclinou a cabeça na

direção dele e sorriu. ― Venha cá.

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Kieran deu um passo impressionante para frente. Eu bati nele e,

então me virei para Solange. ― Que diabos você está fazendo?

Ela encolheu os ombros. ― Eu estava pedindo ― resmungou,

fazendo beicinho.

― Isso não é pedir ― eu disse entre dentes. ― Isso é forçar. O que

há de errado com você?

― Penélope não me julgou. Ela disse que sim. ― Solange olhou

para mim. ― Mas você está julgando.

― Você está certa, eu estou julgando.

Nicholas levantou Solange. ― Preciso levá-la para casa.

Fui ajudá-lo, mas, ela resmungou. Nicholas apertou a mandíbula,

em seguida ele levantou uma mão. ― Pode deixar.

― Ela vai ficar bem?

― Sim vai. ― Ele disse, mas eu pude perceber que ele não tinha

certeza. E o fato de que ele não queria que fosse do conhecimento dos

pais, não era uma coisa boa.

― Vou levá-la para casa, Kieran você leva Lucy de volta para casa

dela.

― O que fazemos com ela? ― Kieran perguntou, parando perto de

Penélope.

― Precisamos acordá-la e enviá-la de volta ao acampamento ―

disse Nicholas. ― Posso chamar alguém para que venha buscá-la desde

que ela se mantenha em pé.

Agachei-me ao lado dela e sacudi seu ombro. Seu pescoço estava

impressionante com as marcas das mordidas, mesmo ela deitada de

costas dava para ver. ― Ei, acorde! ― Havia cicatrizes em sua clavícula

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também, como se fossem pequenas estrelas. Eu não conseguia parar de

observá-las. ― Penélope! ― Esbofeteei-a levemente. Nada aconteceu. Dei

um passo para trás repentinamente e aterrissei meu traseiro numa

pedra, a dor trespassou minha espinha. ― Ela não está morta, está?

― Não. ― Solange suspirou dramaticamente. ― Você está

exagerando.

― Os feromônios de Solange deverão acordá-la. ― Nicholas se

moveu com Solange, trazendo-a para junto de Penélope. Saí do caminho.

― Nós não podemos esperar que ela acorde por si mesma.

― Mas ela precisa descansar ― disse Solange, soando quase como

antigamente.

― Ela precisa descansar em sua própria cama.

― Oh. Ela se sentou ao lado de Penélope, inclinando-se para ela.

Com seu cabelo negro ela parecia letal e bonita como uma navalha

obsidiana que algumas tribos antigas usavam para fazer sacrifícios

humanos. ― Penélope? Você tem que acordar agora.

Penélope se moveu.

― Acorde agora! ― Solange ordenou.

Os olhos de Penélope se abriram abruptamente. Ela piscou, depois

sorriu.

― Viu ― disse Solange satisfeita. Nicholas a puxou para cima

novamente. ― Notaram? Ela não tem nenhum problema.

Penélope se sentou lentamente.

― Mande-a para a casa ― Nicholas ordenou.

Penélope sorriu. ― Não precisa ― ela falou com a voz

perfeitamente calma. Como se não estivesse usando marcas de

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234

mordidas como uma joia. ― Eu posso encontrar meu caminho sem

ajuda.

Nós olhamos para ela. Kieran foi o primeiro a falar. ― Alguém vem

ao seu encontro.

Ela assentiu com a cabeça, em seguida, curvou-se para Solange. ―

Obrigada, sua Alteza.

― Sua alteza? ― eu repeti enojada. Eu fiquei mais enjoada vendo

que Solange não ficou desconfortável sendo reverenciada. ― Sério?

Solange deu de ombros enquanto Penélope se virou e tomou seu

caminho entre os altos pinheiros.

Nicholas enviou uma mensagem de texto para que um dos guardas

viesse buscá-la.

― Constantine disse que eu não deveria brigar comigo mesma e

me aceitar como princesa. Não é um crime.

― Eu odeio esse Constantine ― eu murmurei. ― Ele é um asno.

Solange se voltou para mim tão rápido que seu cabelo se levantou

com a brisa que causou. Seus olhos ficaram ainda mais vermelhos, seus

dentes cresceram entre os lábios.

― Não fale isso sobre ele! ― Sua voz era como mil agulhas

perfurando minha pele, como uma queimadura solar ou como um vidro

quebrando.

Fiquei tão surpresa que nem mesmo tive uma reação. Se um dos

irmãos Drake falassem assim comigo, eu bateria neles.

Nicholas afastou Solange para longe de mim. ― Merda, Lucy. Saia

daqui ― ele ordenou, lutando para conter Solange, ela estava furiosa.

Kieran agarrou meu braço. ― Vamos.

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― Kieran, essa não é ela ― exclamei com lágrimas presas na

garganta.

― Eu sei.

Eu pensei nas cicatrizes de Penélope. ― Você pensou que eu era

como ela ― eu disse baixinho, lembrando da primeira vez que eu tinha

visto Kieran. Eu nunca tinha ouvido o termo ―escravo de sangue―

antes. Os Drakes estavam mais interessados em reformar o poder. E eles

tinham outros métodos de alimentação. Na verdade, eu nunca pensei

que os outros vampiros não tivessem os mesmos escrúpulos.

Não que eu me importasse tanto com sangue. Isto é, se Nicholas ou

Solange ou qualquer um dos Drakes precisassem de um pouco do meu

sangue para sobreviver, eu não me negaria a dar. E até mesmo Kieran

deu seu sangue para Solange na noite de seu aniversário de dezesseis

anos para salvá-la. Era o ar de felicidade no rosto de Penélope que me

fez sentir desse jeito.

― Mas eu acho que é uma escolha dela ― eu declarei

principalmente para mim mesma.

― Talvez ― disse Kieran. ― Ou talvez não.

Olhei em volta, vendo Nicholas levar Solange embora. Tudo

parecia errado. Eu deveria estar indo com eles, não voltando para casa

com um caçador de vampiros. E eu não deveria estar confiando mais em

um caçador de vampiros, do que em minha melhor amiga. Eu não sabia

como ajudá-la. Ela me deu uma olhada, então se virou como se estivesse

definhando.

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Capítulo 21 Christabel

Os Hel-Blar saíram em debandada através do campo para nós, e

quando o vento mudou, este estava cheio de cogumelos podres e água

viscosa parada. Os ouvi dando empurrões para entrar através da

estreita entrada do labirinto.

Corri mais rápido, agarrando a parte de trás do cinto de Connor.

Movia-se tão rapidamente que eu era como esses carros arrastados pelo

vento indo atrás dos caminhões-carreta. Fomos para a esquerda,

esquerda novamente, chegamos a outro beco sem saída, dobramos de

volta, fomos à direita, e logo esquerda de novo. Sentia os Hel-Blar se

aproximarem. O medo fez meu coração se sentir muito grande dentro do

meu peito. Meu estômago doía, meus pulmões se tencionaram, minhas

pernas se estremeceram. Quase podia sentir sua respiração podre atrás

do meu pescoço. Tentei, mas não podia correr mais rápido.

E em seguida Connor parou repentinamente, e deu voltas ao meu

redor, como se estivesse dançando, misturando-se nos cantos como se

fosse fumo. Mais tarde eu ficaria impressionada por ele. Parou atrás de

mim ao mesmo tempo em que um Hel-Blar pulou para fixar sua

mandíbula em mim. Connor me empurrou para trás com um braço e

afastou o Hel-Blar com o outro. Tropecei e tentei não apunhalar a mim

mesma com minha adaga. Girei exatamente a tempo de ver o pó de

cinzas ondeando como nuvens.

— Já era. — afirmou. — Como está sua pontaria?

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— Como demônios poderia saber?

— Bom, estamos a ponto de descobrir. Teremos que esperar aqui. — Assentiu com sua cabeça para a luz da tocha. — Assim você pode ver melhor do que eles. Os Hel-Blar não gostam da luz. Quando nós tivermos uma oportunidade, poderemos avançar para a seguinte tocha. Se mantenha atrás, ali atrás do arame farpado; estreitará seu caminho para nós.

— Connor? — minhas palmas suavam sobre o cabo da adaga e as

pedras do meu bolso.

— Sim?

— Obrigada por vir por mim.

— De nada.

— E lamento que esteja a ponto de morrer de uma maneira

horrível.

Sorriu amplamente. — Não vamos morrer Christa.

— Ah não? Talvez não esteja prestando atenção. Os monstros

estão a ponto de comer nossos cérebros.

— Não são zumbis.

O alcancei e o belisquei de verdade. — Sem semânticas estranhas.

Apenas tentei dizer que lamento ter lhe metido nisso.

— Não o fez. — Se virou e me puxou para ele, com sua mão

cobrindo a parte de trás do meu pescoço. Beijou-me duro e rápido. —

Está pronta?

— Demônios, não!

E então já não teve tempo para falar.

Estávamos seriamente excedidos em número.

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Os Hel-Blar se amontoaram entre os dois muros protegidos com

arame farpado. O sangue pingava para o chão dos seus cortes, de suas

bocas.

— NÃO DEIXE QUE NENHUM TE TOQUE! — me advertiu Connor.

Pegou um pela mandíbula com seu cotovelo e em seguida usou sua

estaca quando o Hel-Blar se lançou para trás.

A cinza me fez engasgar e tossir. Outro veio da entrada. E grunhiu

para Connor e ele o atravessou com uma estaca. Silvou como se

estivesse apontando para o coração de Connor.

Espera, eles também tinham estacas? Não apenas dentes e

mordidas contagiosas?

Isso é totalmente injusto.

Sufoquei-me com um grito de advertência. O tempo estava imerso

em mel, lento e pegajoso. Connor se inclinava para os lados e a madeira

rasgou seu braço como uma bala.

Isso demonstrava com que rapidez e força foi arremessado pelo

Hel-Blar. No entanto, Connor era mais rápido. Mesmo enquanto

cambaleava, usou seu pé para chutar meu joelho, empurrando-me fora

do caminho. A estaca passou rente a mim, tão próxima que pude ver a

ranhura que a faca tinha talhado na tocha.

— Christa, não se mova! — Connor gritou, pulando de volta a luta.

Certo. Ficar ali sentada, esperando ser comida, era mal.

E Connor estava cansado. Sempre zoava aquelas garotas que

esperavam ser resgatadas. Odiava isso nos livros. Então, eu devia fazer

algo. O que seja.

Tentei imaginar que estava de volta em casa, talvez viajando no

metrô, sozinha, altas horas da noite, ou cruzando através de um grande

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e escuro estacionamento. Tinha lidado com gente assustadora antes e

nunca tinha congelado. Chutei Peter quando tentou me agarrar, não?

Poderia fazer isso.

Joguei pedras como se fossem granadas. Acredito mesmo que

estava gritando. Minha pontaria não era excelente, mas eu era

persistente e irritante. Os distraía o suficiente para que Connor

obtivesse vantagem. E quando se aproximaram o suficiente para eu ver

a saliva pingando de seus assustadores dentes, chutei com minhas botas

de combate. Ouvi o estalar de uma tíbia quebrando quando alcancei uma

perna em um ângulo muito bom. Na maioria tive sorte, mas não ia ser

exigente por isso.

LUCY me devia muito.

Uma das pedras rebateu no ombro de um Hel-Blar e alcançou

Connor na bochecha, tirando-lhe sangue.

— Sinto muito! — joguei outra pedra, mais cuidadosamente desta

vez. Connor estacou a outro, e eu agarrei a tocha e a ziguezagueei

ameaçadoramente. Os dois mais próximos a nós sibilaram.

Isso me deu uma ideia.

Passei a mão pelo meu casaco, procurando freneticamente a

garrafa que Saga tinha me dado. Estava cheia dessa desagradável

beberagem, e eu estava muito segura que apenas o álcool de 90 graus

tinha maior conteúdo alcoólico que isso.

— Atrás de mim! — disse a Connor. — Agora!

Tomei um grande gole.

Sempre funcionava nos livros.

Não é como se ocorresse em algum nesses momentos, mas estava

certa de ter lido em algum lugar.

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240

Tentei soprar o rum como um grande spray em direção à chama,

esperando fervorosamente não atrair o fogo para a minha cara.

Houve um horrível momento em que nada aconteceu.

Em seguida, o fogo se intensificou. Choveu sobre a invasão de Hel-

Blar, os quais gritaram. Não foi muito, mas foi sim suficiente para detê-

los por um momento. Connor me tirou a garrafa e a verteu sobre os

cedros, logo lançou arcos de âmbar líquido sobre os Hel-Blar, adicionou

o gás de um isqueiro que tinha em seu bolso. O fogo cresceu e crepitou,

alimentando-se das sebes e lambendo ao frenético Hel-Blar. A seguinte

sebe dispersou e se incendiou.

— Wow. É ainda melhor que a Princesa Leia. — Connor me disse

enquanto a neve crepitava e se evaporava com as chamas.

— Sim. Sim. Não tenha ilusões sobre esse biquíni dourado. — Lhe

sorri abertamente. — Agora vamos, por aqui.

— Por onde? Isso é um muro.

— É cedro — brinquei — não cimento. Metemos-nos nele e

apontamos nessa direção e continuamos através dos galhos até

conseguirmos sair daqui.

— Yep, mais quente que a Leia.

Enfiamos-nos através dos galhos, resultando arranhões e picadas

de agulhas e espinhos das videiras. Pétalas de flores se dispersaram

como a neve, fazendo tudo mais frio e escorregadio. O fogo crepitou.

Tinha uma luz latente brilhando sobre o labirinto. Queimando folhas

permanentemente e mascarando a grossa lama de cogumelos. Era mais

complicado do que parecia, contorci para olhar entre os galhos que se

quebraram ou dobravam facilmente. Estátuas de mármore de deusas

romanas as quais faltavam várias partes do corpo nos observavam

frivolamente.

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— Arame farpado. — ele disse, parando antes que me rasgasse o

rosto descoberto.

Meu cabelo se embaraçou em um espinho de metal e se converteu

em um nó instantâneo. Deu-me um puxão, puxando meu couro

cabeludo. — Auch.

— Peguei. — Dobrou o longo da cerca, fazendo uma abertura.

Limpou suas mãos em seus jeans, deixando linhas sangrentas. — Vá.

Deu um olhar atrás de nós para se assegurar que ninguém corria

para nós enquanto eu subia no emaranhado de ferro oxidado da cerca

de espinhos.

— Acredita que sairemos disto logo? — perguntei, cortando o eixo

de outra barreira.

— Não acredito que seja com isso que tenhamos que nos

preocupar agora. — soava tenso e estava cheirando o ar.

Gemi. — Agora o que?

— O fogo vem nessa direção.

— Agora?

— Tem sido uma temporada seca. — Me empurrou ao longo mais

rápido. — As árvores são como isca agora, e o vento acaba de mudar.

Ele estava certo. Ar frio girava ao nosso redor e logo empurrava a

outra direção.

O cheiro de fumo picou minhas fossas nasais. Tossi. — Merda.

Tentamos correr enquanto empurrávamos através das enredadas

tramas e a estranha solidez de arames farpados. O fogo replicou suas

próprias mandíbulas em nós. Não podia ser contido nem previsto, e não

tinha neve suficiente perto para apagá-lo. As chamas lamberam o céu.

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Era simples ver para onde íamos agora – uma furiosa luz laranja perto o

suficiente para conceder-nos tempo, sombras frenéticas, as quais se

jogaram através dos cedros diante de nós.

Enlouquecidos, os Hel-Blar tinham tentado encontrar seu lugar ao

redor do fogo ante que esse se propagasse e logo saísse de controle.

Colidiram-se atrás de nós, alguns até pulando as cercas por completo.

Assim foi como eles acabaram de frente para nós e depois se viraram,

atraídos pelo cheiro de sangue espalhado nos jeans de Connor e

pontilhando completamente minhas mãos e meu rosto pelos arranhões.

O fogo estava atrás de nós, tão faminto quanto letal. Não podíamos dar a

volta, e o labirinto era muito complicado... Era igualmente provável que

nos levasse tanto ao ventre do fogo como fora dele. Uma Hel-Blar deu

um punho para mim. Tentando evitar seu cheiro e a fumaça, eu estava

respirando superficialmente pela boca. Estava fazendo me sentir

enjoada.

Connor estava lutando com o segundo Hel-Blar, que estava feito

um lutador furioso. Eu não podia ajudá-lo e ele não podia me ajudar.

Perfurei brutalmente com minha adaga, às cegas. Ela se jogou para

trás, sorrindo macabramente, e não parecia especialmente preocupada.

Maldita seja. Alguém ia ter que me ensinar como usar uma dessas coisas

corretamente. E pensar que antes tinha que me preocupar apenas com

assistentes sociais me levando. De repente se fez evidente que não tinha

forma que eu pudesse ganhar um combate contra uma criatura

enlouquecida com fome e um terror animal ao fogo. Eu não estava

equipada adequadamente para esse tipo de luta.

Portanto, apenas teria que usar a única arma com a qual poderia

fazer dano.

Fogo.

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Um muro de calor estava começando a fazer meu nariz e

bochechas se sentirem bronzeadas. Os botões metálicos da minha

jaqueta já estavam muito quentes para tocá-los, me queimando quando

os roçava. O vento jogava com as chamas, lançando-as ao redor como a

saia de uma bailarina. Um fino pinheiro cambaleou perigosamente.

Agora ou nunca.

Agarrei um galho ardente perto do meu pé, ignorando o calor que

crepitou em minha palma. O outro extremo ardia como uma das tochas,

então o joguei tão forte como pude na feroz mulher. Instintivamente ela

cambaleou um passo para trás, e as brasas se dispersaram sobre ela. O

pinheiro gemeu e crepitou e de repente cedeu ante o fogo, comendo

suas raízes. Ela caiu em um pedaço de fumaça e fogo, exatamente sob

ela. Ela gritou, batendo seu cabelo chamuscado e as bolhas em seu rosto,

imobilizada debaixo do tronco ardendo. A seiva do pinheiro ardeu.

Saltei em outra direção, gritando para Connor. — Cuidado!

Connor e o lutador caíram na terra, Connor caindo sobre suas

costas. Parecia sem fôlego e dolorido. Estava muito certa de ter escutado

alguém gritar. O lutador sorriu e estendeu a mão para pegar a camisa de

Connor, para puxá-lo de volta ao alcance de seus dentes gotejantes.

Connor virou e chutou de volta, derrubando-o através da parte de trás

de seus joelhos. Caiu e caiu forte. Connor deu a volta e dirigiu sua estaca

através das costas do Hel-Blar e para o seu coração. Houve um uivo e

depois as cinzas se misturaram com as brasas dos cedros caindo ao

nosso redor.

O fogo estava por todos os lados agora, e apenas pude escutar

meus pensamentos com o sibilar e crepitar das chamas tragando o que

tinha sido um caminho para as folhas verdes. Senti-me doente. Tinha

queimado viva uma mulher. Embora tenha tentado me morder e me

matar, não podia me sentir bem por isso. Mas na realidade, tampouco

tinha tempo para me sentir mal.

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— Vá. — Apressou Connor atrás de mim, tentando excluir a

explosão de calor por ambos.

Jogamos-nos através da barreira e finalmente caímos na neve fria,

a qual podia congelar o ar, e uma vista das montanhas. Arrastamos-nos

a uma distância segura e travamos. Tinha terra suficiente nua entre o

labirinto e os campos, estendendo-se até o bosque ao pé da montanha

que o fogo não consumiu. Contudo, as aves preencheram o céu sobre

nós, grasnando em pânico. Exalei ar para os meus pulmões. Meu peito

parecia um cinzeiro.

Connor se agachou perto de mim, mas eu não tinha intenção

alguma em tentar me por de pé novamente até que minhas pernas se

sentissem mais como pernas e menos como varetas de sorvete

descartadas no sol. A neve polvilhou as ervas daninhas e flores, formosa

como uma Madalena.

— Está bem? — Connor sussurrou em meu ouvido. Ele estava frio,

mais frio que um corpo normal deveria estar, mas eu me sentia muito

quente. Ele era como água fria em um dia úmido. Deslizei mais perto

dele.

— Não tenho ideia. — respondi. Talvez neste ponto devesse ter

recitado o “Ladrão de Caminhos” para mim mesma, mas nem sequer

recordava o primeiro verso. Isso me espantou mais que tudo.

Mas não tinha acabado.

Tinha sombras nas bordas flamejantes do labirinto e mais

descendo desde a ladeira da montanha.

— Agora o que?

— Mais Hel-Blar.

— Quantas dessas coisas há por ali? — perguntei, lutando com

meus pés perto dele.

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— Neste momento são como uma epidemia. — admitiu Connor.

— Odeio esse povoado.

Alguém irrompeu da escuridão lambida pelo fogo. Joguei minha

adaga. Chegou a um pé de distância, e Aidan a observou levemente já

que passou perto dele. — Terá que melhorar isso.

— Assustei-me pela mesma merda!

Recuperou minha adaga e me lançou de volta. — Aprende rápido.

— Onde está Saga?

— Ocupada.

Em seguida nos encontrávamos lutando de novo.

Ficaria encantada em dizer que tinha talento para isso. Que minha

atitude e minha habilidade para assustar molestadores me faziam feroz

de frente a batalha.

Mas a verdade era que minha pontaria era péssima e eu era muito

lenta.

Era pouco hábil e tinha menos armas. A única razão para que

estivesse de pé era que Aidan e Connor me resguardaram entre eles. E

então já não foi mais possível. Os Hel-Blar eram persistentes e

perversos. Connor apenas tinha uma estaca, e Aidan estava coberto de

sangue e lodo. Ele era o melhor lutador que jamais tinha visto, mas não

podia estar em todos os lados ao mesmo tempo. E alguns Hel-Blar

tinham estacas. Bom, paus talhados, mas dava na mesma. Jogaram-se

para nós como a chuva forte e letal. Um tropeçou em Aidan pelo braço

esquerdo e ele sibilou. O sangue enlouqueceu ao Hel-Blar mais distante,

o que eu não acreditava ser possível. A batalha era quase muito rápida

para que meus olhos humanos contemplassem.

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Não precisava ver a estaca para senti-la atravessar minha pele,

para senti-la penetrar através da carne e músculos, e deslizar além das

minhas costelas.

Houve um choque entorpecido. Eu gorgolejava um som.

A dor estalou como choques elétricos. Caí sobre meus joelhos.

Connor e Aidan se voltaram para me olhar. Fechei minha mão ao redor

da estaca improvisada e a tirei fora do meu peito, quando Connor

empalideceu e começou a gritar.

— Christabel! Não! Não a tire!

— Estou bem. — disse, logo caí completamente. Lanças pulsantes

ardiam através de mim. O sangue saiu borbulhante, empapando minha

jaqueta. Estava fria e confusa. Connor estava brigando para chegar a

mim, mas estava muito longe. Seus lábios se moviam. Dizia algo, mas

não podia escutá-lo. Porque não podia escutá-lo?

Aidan chegou a mim primeiro. — A estaca danificou uma artéria.

— disse sombriamente. — Está perdendo muito sangue, muito rápido.

— Subiu suas mangas enquanto Connor despachava outro Hel-Blar.

Tinha mais dois entre nós. Mas ele continuou lutando.

— Converta-a! — gritou, e finalmente pude escutá-lo, apesar de

que minha visibilidade era nebulosa. — Converta-a agora!

Aidan usou a ponta de suas presas para cortar através da pele

interior de seu pulso. O sangue gotejava, da cor das framboesas.

Pressionou a ferida contra minha boca.

— Bebe.

Lutei engasgando.

— Bebe ou morre Christabel.

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Minha boca estava aberta porque estava gritando. O sangue

deslizou por minha garganta, com gosto de cobre e espesso. Engasguei

novamente, mas estava muito fraca para qualquer coisa, exceto tragar.

Minhas pálpebras se fecharam enquanto Connor finalmente nos

alcançou, coberto de cinzas e sangue. Afastou-me de Aidan,

aconchegando contra seu peito. Estava frio. Ou eu estava fria?

— Vá. — Aidan disse. — Corre. Eu manterei ao resto dos Hel-Blar

fora do seu caminho. Tem que levá-la de volta à sua fazenda. Precisa de

sangue e não está a salvo aqui. — Fez um som, como se estivesse

jogando uma arma. Não tinha força para abrir meus olhos para ver. Nem

sequer tinha força para me importar se tinha cem Hel-Blar. — Ela é

minha parenta de sangue. — adicionou. — E a reclamarei como minha

filha.

— Agora, corre!

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Capítulo 22

Lucy

Eu estava rastejando para fora da janela quando ouvi o assoalho rangendo do lado de fora do meu quarto. Pulei na cama, arrumando a silhueta de almofadas e amassando o bilhete em uma pequena bola, bem quando minha mãe bateu na porta e a abriu. Parou por um segundo, me olhando com ar cansado.

― O que você está fazendo?

― Nada!

Abriu a porta toda e entrou, puxando com tudo a ponta do meu edredom. ― Lucky Moon, porque está vestida? Onde estava?

― Nicholas veio me mostrar as luzes do norte ― expliquei apressadamente. Tecnicamente não era mentira. E funcionou. Minha mãe se distraiu.

― Sério, a aurora boreal está aí fora. ―Geralmente isso significava que ela estaria fora no pátio, nua, cantando canções antigas.

― Finalmente, um bom presságio. ― Me colocou de volta na cama. ― Acabamos de ouvir sobre os Drake.

― Sobre Christabel?

Ela assentiu, parecendo triste. ― Sim.

Senti frio pelo corpo todo. ― Ela está bem, certo? E Connor?

Minha mãe forçou um sorriso. ― Ela está bem. Ambos estão. E deveriam estar na casa dos Drake antes do amanhecer.

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Eu franzi o cenho. ― Porque ela vai para lá, ao invés de voltar aqui?

Minha mãe suspirou. ― Foi convertida.

Minha boca se abriu. ― O que? Christabel será uma vampira? ― Pensei em Solange e todos os irmãos Drake e pelo o que eles tinham passado, e estremeci. Havia uma possibilidade de que Christabel não sobrevivesse. De repente me senti pesada, como se usasse uma roupa feita de pedra. ― Posso ir vê-la?

― Logo ― minha mãe assegurou. ― Eles estão cuidando dela. Tenta não se preocupar. ― Passei a mão nos meus cabelos, como se assim mostrasse a ela que eu estava bem. Supunha-se que seria eu, afinal. Supunha-se que eu me tornaria uma vampira, se o plano da Saga estivesse acontecido como esperava. ― Está tarde. Você deveria dormir. Não é um vampiro, querida, e não deveria seguir os horários deles. Não é saudável.

― Mamãe, eu estou bem.

― Me promete que vai tentar. ― Sua voz estava tensa e as linhas ao redor de seus olhos estavam mais pronunciadas. ― Poderia ter sido você.

― Mas não foi assim. ― Não disse a ela, mas poderia ter sido melhor se tivesse sido eu. Pelo menos eu estava preparada; eu sabia o que estava acontecendo. Pobre Christabel.

Não podia dormir, não até que recebi uma mensagem de Nicholas me dizendo que estava em casa e a salvo, e Christabel tinha sido colocada em uma de suas camas para hóspedes.

No dia seguinte tentei segui o conselho da minha mãe e atuar como uma típica adolescente, uma que não sabia nada sobre vampiros e cuja vida não estava em constante perigo.

Mesmo que fosse somente porque Christabel não podia mais.

Me sentei na luz do sol no almoço, com Nathan e Linnet.

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― Onde está sua prima? ― Nathan perguntou. ― Eu não a tenho visto por aqui desde que chutou as bolas de Peter.

― Está com gripe ― expliquei. ― Está toda suada e nojenta. ― Se embelezava uma mentira com todos os detalhes apropriados, as pessoas normalmente não queriam saber mais.

Linnet torceu o nariz. ― A sua mãe está fazendo ela beber esse negócio de ervas?

Assenti. ― E qualquer um que passe pela casa, no caso. ― Ambos, Linnet e Nathan, conheciam intimamente as misturas de ervas da minha mãe. Ela as fazia para os resfriados, dores de cabeça e alergias. Você tem que esfregar um punhado exorbitante de Valeriana nos dentes. Nathan estremeceu.

― Fale para ela que nós dissemos olá ― respondeu. ― E obrigado.

― Claro.

Nós conversamos sobre a escola e matamos a aula de ginástica, e com permissão ou não, conseguimos escapulir para fora do campus para tomar um café com leite antes da nossa próxima aula. Tentei não pensar em Christabel e Connor, o sangue contaminado sendo entregue para os Drake.

Depois da aula, vagamos pela Rua Principal com mocaccinos e muffins com pedaços de chocolate. Eles jogaram migalhas para as gaivotas e eu parei para comprar um incenso suave para meu pai. Compramos outro café com leite e Linnet começou a falar realmente rápido. Nathan e eu sorrimos.

― Nós temos que dar a você café com leite extra grande antes da sua apresentação na próxima semana ― decidiu Nathan. Linnet ficava apavorada ao falar em público. Ele deu um sorriso e lambeu a espuma do leite no topo do seu copo.

Estávamos atravessando o estacionamento em direção ao carro de Linnet, quando aconteceu.

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Tínhamos tido uma tarde muito agradável, e eu em particular, não tinha sentido medo. Além disso, o sol ainda estava fora, assim não havia necessidade de me preocupar.

Mas quando o cara nos seguiu em sua bicicleta, escutei o ranger de suas rodas, o toque macio da borracha no pavimento, e tudo em mim se acendeu em alerta. Especialmente quando um olhar rápido revelou que ele usava azul.

Gritei como uma guerreira, algo que Xena ficaria muito orgulhosa, virei jogando o copo pelo ar com uma mão e uma estaca na outra. A estaca bateu na roda e a desviou fora do curso. Ele foi para um lado e sua bicicleta para outro. Aterrissou desajeitadamente e rolou contra uma lata de lixo.

― Oh, meu Deus! ― gritei. ― Eu sinto muito!

― Oh meu Deus! ― gritou Nathan também. ― Qual é o seu problema? ― eu sabia que ele só disse isso porque o garoto era lindo. Se apressou para ver se precisava de ajuda. Agarrei a estaca antes que alguém pudesse dar uma boa olhada e começar a me perguntar porque eu carregava paus afiados em minha bolsa. O ciclista ficou de pé; seu jeans rasgado em um joelho, a sujeira se agarrando em sua camisa. Tirou o capacete e logo olhou para a bicicleta, e depois para mim.

― Sinto muito ― eu disse novamente ― De verdade.

― Merda ― murmurou. ― Você está louca? ― ele saiu antes que eu pudesse me desculpar outra vez.

Quase mutilei um garoto porque ele usava uma camisa azul.

Em minha defesa, eu associei essa cor especial com os Hel-Blar, determinados a arrancar a minha cabeça dos meus ombros.

Mesmo assim.

― Você precisa dizer adeus à cafeína também ― Nathan disse, com seus olhos bem abertos. ― Não existem muitos garotos bonitos nessa cidade para o qual você pode jogar merda e agradá-los.

Gemi e balancei a cabeça. ― Eu sei. É que ele me assustou.

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Deixando de lado minha estupidez, o dia tinha sido agradável. E eu realmente tentei.

Mas claro que essa garota não era eu.

Tampouco era a garota que só saía com os Drake e nunca com Nathan e Linnet, e menos ainda a que estava sendo monitorada por meus pais como uma criminal.

Além do mais, tive uma ideia melhor.

Só tinha que fazer uma parada primeiro.

― Ele te assustou? ― bufou Nathan, sem saber das conclusões que eu produzia na minha cabeça. ― É Violet Hill. Aqui nunca acontece nada.

Nathan me deixou em casa perto do anoitecer. Não entrei, apenas entrei no carro da minha mãe e saí antes que ela pudesse me deter. Enviei uma mensagem para ela, dizendo para onde eu ia e que não ia demorar. Quando me ligou, insistentemente, coloquei o telefone no modo silencioso.

No caminho até os Drake não tive incidentes. Passei por três guardas no caminho para a fazenda. O celeiro-laboratório do tio de Solange, Geoffrey, estava com todas as luzes acesas e a porta estava bem fechada, o que significava que estava trabalhando duro em algo científico. Os cachorros correram para me cumprimentar quando cheguei na casa e saí do carro. Me perseguiram até os degraus da varanda, babando no meu joelho. Bati forte na porta.

Nicholas respondeu. Ainda parecia sonolento, com seu cabelo bagunçado e sua camisa desabotoada.

Yum.

Me joguei nele e ele me segurou com um braço, enterrando a cabeça no meu cabelo. ― Bom dia! ― murmurou. Me agarrei a ele por um momento longo e maravilhoso antes de recuar com relutância.

― Ei, onde vai? ― perguntou. Seu sorriso sério tinha um lampejo perverso. ― Não tinha terminado.

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Eu sorri de volta, apesar de toda a ansiedade revirando em meu estômago. ― Christabel está bem?

Colocou o cabelo para trás. ― É muito cedo para confirmar ― disse suavemente.

― Posso vê-la?

― Está inconsciente ― disse. ― O que acontece? Você tem um olhar estanho no rosto.

― Você é tão romântico. ― Bufei.

― E você está sendo furtiva.

― Não sei do que você está falando. ― Eu o beijei.

― Distração ― ele disse contra os meus lábios, sorrindo de novo. Eu o beijei profunda e lentamente. Ele enfiou a mão no meu cabelo. ―Hey, o que há de errado? Há algo mais.

Ele me conhecia bem o suficiente para ler a borda frágil dos meus movimentos. Assenti. ― Primeiro, como está Solange?

― Ok. ― Baixou a voz, tocando meus lábios com seu dedo. ― Shh.

― Você sabe que eu ainda quero rastrear esse Constantine, certo?

― Eu sei.

― O que você faz aqui? ― Solange perguntou de repente, passando pelo corredor da cozinha até nós. Ela não parecia bêbada, ou ao menos com ressaca. Apenas brava. Comigo.

Eu também a fulminei com o olhar. ― O que você acha?

― Eu quero que você pare de ameaçar Constantine.

Pisquei. ― Sério, isso é tudo o que você tem a me dizer?

― Até que você prometa, sim. ― Ela cruzou os braços.

― Solange, você ao menos se lembra do que aconteceu ontem à noite?

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― Não quero falar sobre isso ― disse friamente.

Ri amargamente. ― É uma pena.

Nicholas deu de ombros e parecia terrivelmente assustado. Ele havia enfrentado a Senhora local Natasha com menos terror do que ele tinha agora com a sua namorada e sua irmã mais nova. Não que eu o culpasse. Eu estava com tanta raiva quanto parecia que a Solange tinha.

Bem, quase.

Ela apontou para a porta. ― Vai para a casa, Lucy.

Eu também cruzei meus braços. ― Me obriga. ― Não tínhamos tido uma briga infantil assim desde que tínhamos oito anos.

― Está bem, eu vou.

Ela se inclinou mais perto. ― Vai. Para a casa. Lucky.

Eu também me inclinei mais perto, como se fôssemos duas boxeadoras, praticamente nariz com nariz. ― Seus feromônios não funcionam em mim, princesa ― eu zombei, embora a sola dos meus pés coçavam com a vontade de avançar. Isso nunca tinha acontecido comigo antes.

― Mas funcionam com ele ― ela disse orgulhosamente, inclinando a cabeça na direção de Nicholas.

― Hey! ― Manteve as mãos para cima. ― Me deixa fora disso.

Ela o observou. ― Nicholas, faça com que ela vá.

Ele se sacudiu como se tivesse sido preso com um alfinete. ― Solange, não.

Ela estava ficando mais forte quando seus ferômonios funcionavam não apenas em outros vampiros, mas também em membros de sua própria família. Nicholas lutava, os músculos de seus antebraços e sobre seu peito ondulavam como se estivesse levantando peso. Sofria.

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De repente me deu vontade de socar Solange bem no nariz, e ela era uma das poucas pessoas as quais eu nunca quis bater.

― Deixa ele em paz! ― tentei dar a volta para alcançá-la, para tirá-la de seu espaço pessoal.

Ela apenas levantou o queixo. ― Agora, Nicholas.

Suas mãos se fecharam em torno dos meus braços, e me levou de volta para a porta, me obrigando enquanto meus pés arrastavam. Seus olhos estavam selvagens. Ele ainda lutava, mas ela era mais forte.

―Nicholas ― sussurrei, me apoiando nele, tentando desequilibrá-lo. ― Por favor.

― Eu lamento ― ele sussurrou de volta, com a mandíbula apertada.

Seus olhos cinza ainda estavam nos meus quando fechou a porta na minha cara, me deixando sozinha na varanda.

Eu amaldiçoei todo o caminho para casa.

Nem sequer tinha tido a oportunidade de dizer a Nicholas o que eu havia decidido.

Solange e eu tínhamos que resolver isso... Ela querendo ou não.

Eu tentei agir normal perto dos meus pais. Mamãe me deu o olhar por escapulir até a casa dos Drake. Esperei até que estávamos bebendo chá e comendo fatias de manga na mesa, as velas ainda queimavam no peitoril da janela. Papai não esfregava o peito. Mamãe tinha colocado Ravi Shankar no aparelho de CD. Até Gandhi e Van Helsing estavam felizes mastigando couros enormes.

Agora ou nunca.

― Hum, mamãe? Papai?

― Sim, querida? ― mamãe adicionou mel em sua taça.

― Eu preciso perguntar uma coisa.

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Papai fechou os olhos. ― Por favor, que seja sobre um carro novo.

Eu me distraí momentaneamente. ― Bem, isso... não ― respondi com firmeza, me ordenando a manter o foco. ― Não é isso. É sobre... já sabe.

Papai empalideceu seriamente, como leite de amêndoas coalhado. ― Sexo? É sobre sexo?

― Não! É sobre vampiros.

― Oh, graças a Deus. ― Pela primeira vez em meses parecia apavorada em falar sobre vampiros. Suponho que tudo era uma questão de perspectiva.

― Quero ir à Academia Helios-Ra ― exclamei. Soou estranho saindo da minha boca, até para mim.

Eles ficaram me olhando.

― É sério ― acrescentei, um pouco chateada de que eles não tinham se oposto. Peguei da minha bolsa o formulário de entrada que Hunter tinha me dado e deslizei pela mesa. Estava quase todo completo. Inclusive tinha usado tinta azul em vez da minha tinta habitual com brilho púrpura para fazê-lo parecer mais maduro.

― Oh, Lucky ― mamãe disse, tocando as folhas e parecendo chocada. ― Eu não sei. Você pensou bem?

Assenti, mordendo o lábio. ― Sim.

― Você sabe como me sinto sobre a violência crescente. E esse tipo de ambiente é tão restritivo. Você não se dá muito bem com as regras, querida. ― Minha mãe apontou, sorrindo. ― Nós te criamos dessa forma de propósito. Queríamos que questionasse a criação.

― Eu sei. E não é que eu não queira estar aqui ― me apressei a explicar. ― Mas eu não posso ter um toque de recolher à noite, durante o inverno. Estarei presa dentro das quatro e meia. Não posso lidar com isso. E eu não quero que o papai tenha outra úlcera. E ainda posso vir para casa nos fins de semana.

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― Mas... Um internato? ― papai exclamou.

Eu sabia que havia muito no que pensar. Francamente, eu ainda estava lidando com a ideia. Eles eram colonos hippies de coração, e para eles a família vivia junta. Não mandariam seus filhos para longe. E eu era uma amante de vampiros. Para mim, você não fugia para se juntar a uma liga devotada a matá-los.

Mas eu precisava de um lugar para chamar de meu e de pessoas que me entendessem. Nesse instante, me sentia perdida.

E eu quase matei um garoto que usava uma camisa azul.

Não que eu fosse contar isso para os meus pais.

E eu precisava de uma maneira para ajudar Solange.

Não que eu fosse contar isso para eles, tampouco.

― Eu estava brincando quando disse isso antes, Luce ― papai disse.

― Eu sei, mas você me deixou pensando.

― Eu achei que você não gostasse dos Helios-Ra. ― mamãe perguntou, perplexa.

― Sim ― admiti. ― Não gostava. E ainda acho que são algo bobo com todo isso de ritual machista e seus códigos orais defeituosos. Mas Kieran e Hunter são geniais. Nós compartilhamos da mesma linguagem. ― Dei de ombros. ― E eu acho que vi um novo lado neles. Vocês sabem, enquanto apenas ir atrás de Hel-Blar. No momento que eles romperem seu tratado com os Drake, eu saio. ― Brinquei com meus chá de camomila. ― Mamãe, eu sei que você acha que estou obcecada com toda essa coisa de vampiros, mas eles também são família. Não posso deixar de ser quem eu sou. Assim, vocês não teriam que se preocupar tanto e eu posso aprender a cuidar de mim mesma. Quero dizer, papai, pensa nisso. Não tem lugar mais seguro do que o campus Helios-Ra, rodeado vinte e quatro horas durante os sete dias por assassinos de vampiros. ― Esperem. Quando isso se tornou, realmente, uma coisa boa?

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Papai esfregou o rosto. ― Não posso negar que eu gosto do fato de que você estaria rodeada por pessoas que sabem o que fazer se um vampiro atacar.

― Papai, nem todos os vampiros atacam ― eu me senti obrigada a dizer, ainda quando minha melhor amiga tinha colocado temporariamente meu namorado contra mim, demonstrando que me equivocava.

― Eu sei. Mas os Drake estão no centro da tormenta agora. E você é conhecida como seus inimigos. ― Sua expressão estava rígida, com raiva. ― Olha o que aconteceu com a sua prima. Se supunha que seria você, Lucky. Você.

― Mais razões para me enviar para lá. Eu poderia começar na próxima semana. Eu tenho certeza que Liam poderia fazer com que Hart tivesse uma boa impressão de mim. E Kieran e Hunter me disseram que testemunhariam por mim. De qualquer forma eu vou.

―Eu acho.

―Por favor?

Eles trocaram olhares. Mamãe suspirou. ― Talvez. Vamos pensar.

Isso significava sim.

Tudo estava realmente mudando.

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Capítulo 23 Christabel

Eu me senti horrível.

Horrível demais para me mover ou mesmo abrir os olhos. Eu queria água. Eu estava com tanta sede que meus lábios estavam descascando e rachando, mas eu não tinha energia para engolir. Havia pessoas que se deslocavam ao redor do meu quarto, em pé, da minha cama, falando no tipo de sussurros silenciosos que são atados com medo.

Eu estava deitada em uma cama. Eu estava deitada em uma cama? Connor e eu não estávamos correndo pela floresta? Quando foi que paramos?

― Se ela não ficar melhor no por do sol, eu vou ter que chamar a sua mãe ― disse tio Stuart. Ele cheirava engraçado. Não é como os cogumelos, mas como o suor e preocupação e o café que tinha bebido. Eu não deveria ser capaz de sentir o cheiro do café na sua respiração, eu deveria? ― Ela vai querer saber. Ela vai querer estar aqui.

Tentei me mover, mas eu senti como picos que me prendiam ao colchão macio. Eu não queria que ninguém ligasse pra minha mãe. Ela estava ocupada ficando cada vez melhor. Se ela soubesse que eu estava doente, ela deixaria a reabilitação. E se eu não melhorasse, ela poderia retornar aos seus vícios. Eu não queria isso. Eu lutei novamente, mas nada aconteceu.

― Era para eu cuidar dela ― disse tio Stuart próximo. ― Pô, Liam!

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― Eu sei ― murmurou Liam. ― Então, nós estávamos. ― Ele parecia que estava andando.

― Eu não sou um homem violento, Liam ― disse meu tio. Seu tom disse algo completamente diferente.

Liam assentiu. Eu poderia realmente ouvir o seu movimento de cabeça, seu cabelo escovando contra o colarinho, o apertar dos lábios. Era normal? Eu não conseguia lembrar.

― Helena está contando as espadas, mesmo enquanto falamos.

― A minha sobrinha vai se transformar em uma dessas coisas? E como diabos eu vou explicar isso para sua mãe?

― Christabel não será Hel-Blar ― Liam garantiu-lhe. ― Mas ela vai se transformar, Stuart. Nós não podemos pará-lo. Se tentarmos, ela vai morrer.

Tio Stuart xingou e enxugou a minha testa com um pano frio e úmido. Doeu. Eu praticamente senti o cheiro da água que bateu na minha pele quente e evaporou.

Eu choraminguei na minha cabeça. Nenhum som saiu.

― Tem certeza de que não deveríamos chamar um médico? Ela está queimando. E suas veias estão tão azuis.

― Geoffrey está aqui ― Liam lembrou. ― Ele já viu esse tipo de coisa antes. E Connor disse-lhe tudo o que sabia sobre Aidan. Ele é seu procriador agora. Nós vamos ter que lidar com as implicações disso mais tarde.

― Você fez isso oito vezes? ― Tio Stuart deve ter enterrado seu rosto em suas mãos, porque sua voz estava abafada. Ou minha audição estava embaçada. Poderia ouvir borrado?

― Sim ― Liam disse severamente. ― É um pouco diferente em nossa família, mas, essencialmente, sim.

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Eu queria encolher para longe da luz do sol quente caindo sobre meu travesseiro, quase me esfaqueando. Senti ali, tão ameaçador como o fogo que destruiu o labirinto.

A noite não é fria e escura? A noite está fria, mas não escura...

Eu tentei dizer isso em voz alta, mas não consegui. Ainda assim, o ritmo

de um poema que eu conhecia tão bem era calmante. Eu só podia

lembrar trechos, no entanto. As estrofes não faziam sentido fora de

ordem. “Não veio no alvorecer, não veio ao meio-dia; E fora o pôr do sol

vermelho, antes do elevar da Lua, quando o caminho era uma faixa de

ciganos, ondulando o pântano roxo. Uma tropa de jaquetas vermelhas

vinham marchando... marchando... marchando...”

Isso não era Coleridge. Era outra pessoa e não o poema com o meu nome. Mas quem? Por que não poderia me lembrar?

― Ela tem sangue de Aidan em suas veias ― disse Liam. ― Tudo o que podemos fazer agora é esperar.

***

Flutuava dentro e fora da consciência, como se tivesse sido jogada em um oceano escuro. Tudo era poesia, cansaço e sangue. Bram Stoker estava ali outra vez, mas Saga correu através dele com um machado, e enterrou a cabeça em um cofre de madeira em uma praia arenosa. Era confuso.

Somente quando me senti tão febril que poderia me queimar como uma vela humana, o sol se pôs. Podia senti-lo, entre os sonhos secos. Suspirei com alívio, apenas.

— Escutaram isso? — era Connor. — Emitiu um som.

Tentei abrir minhas pálpebras. Tudo estava banhado em vermelho.

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— Está fraca. — Geoffrey disse um tempo depois. — Suas veias estão tão marcadas que parecem tão azuis como qualquer Hel-Blar que tenha visto.

— Ficará bem. — Connor protestou ferozmente. — Ela pode fazê-lo. Christabel, — me sussurrou. — tem que lutar.

Quatro para os quatro, e doce para a hora; alguma vez e sempre, pelo brilho pelo banho. Dezesseis pequenos uivos, não muito altos; alguns dizem que ela vê meu véu de dama.

Não me dei conta que estava murmurando em voz alta, até que o tio Stuart falou. — O que está dizendo? O que significa?

Connor respondeu, porque eu não podia. — Acredito que é um poema. Apenas faz isso. — Ouvi falar. Pensei que poderia ser capaz de sentir sua mão sustentando a minha. Só que não estava tão fria como antes. Ou talvez agora eu estivesse fria também?

— Coleridge. — respondi. Meus lábios se moveram, estava certa disso. Somente tinha algum som, mas Connor tinha audição de vampiro.

— Coleridge? — respondeu. — Está citando Coleridge agora?

Tentei sorrir. Devo ter desmaiado novamente, porque a seguinte pessoa que ouvi foi Liam.

— Ela já passou o pior. — disse. — Stuart, pode baixar o telefone.

— Ela vai querer saber.

— Não acredito que por meio de telefone. É melhor que Christabel lhe diga. Mais tarde.

Senti um frasco de vidro em meus lábios. Reconheci o cheiro, cobre e estranho.

— Beba-o Christa. — Connor sustentava o frasco. Reconheci seu cheiro de imediato, todo a alcaçuz e sabão. O sangue pingava entre meus lábios. Podia somente tragar. Inclinou minha cabeça para trás, para que minha garganta se abrisse. O sangue era de um sabor vil e formigava enquanto viajava através do meu corpo.

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Não tinha batimento. Bati em meu peito, entrando em pânico. Não ajudou.

— Está tudo bem. — respondeu Connor enquanto eu desabava na cama, bagunçando almofadas e mantas. Um vaso de água na mesa caiu no chão e se quebrou. O som cresceu e rasgou através dos meus nervos. Não respirava. Não respirava.

— Precisa de mais sangue. — Geoffrey exclamou, e de repente tinha uma garrafa onde o frasco tinha estado. Riachos implacáveis de sangue espesso encheram minha boca. Engasguei. Era como castigar moedas. Cobria meus dentes e língua.

Pelo menos me distraía do terror de não ter batimentos.

O que, de fato, não parecia me parar.

O repugnante sabor de sangue foi mais imediato. As náuseas me afogaram. Fiz um tipo de gesto reconhecível ou também tenha ficado verde ao invés de azul, porque um balde estava à mão de repente. Afastei a garrafa e vomitei. Já não me sentia como se estivesse morrendo. Sentia-me pior.

— Precisa beber mais — alguém insistiu.

Vomitei novamente.

Realmente esperava que Connor estivesse em qualquer outro lugar.

Sentia-me um pouco mais forte, o sangue estava curando, mas já não podia engolir mais. Minha garganta se fechou com o pensamento. Senti-me doente de novo. Mas eu estava consciente de muitas outras camadas no mundo. Podia ouvir um cachorro cheirando na porta, passos no hall. Podia cheirar o sangue e suor e o alecrim no jardim, fora da janela. Escutei um rato no muro atrás da minha cabeça.

— Não tem recebido sangue o suficiente. — Liam disse.

— Não posso. — disse com a voz rouca.

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— Tem que conseguir. Do contrário ficará faminta. Esse é o primeiro passo para se converter em um Hel-Blar.

— Tenho meu equipamento. — Geoffrey irrompeu no quarto, carregando uma mala antiga de médico em couro preto, enquanto eu me perguntava o quanto de azul eu estava. — Se não pode beber, — Geoffrey me disse, tirando uma agulha, um tubo e uma bolsa plástica de sangue — precisará de uma transfusão. Muitas na realidade.

Virei-me enquanto ele pegava amostras das dobras do meu cotovelo. A agulha picou minha pele, súbita e afiada e tão irritante como uma picada de vespa.

Ainda assim, era melhor que a alternativa.

Quando despertei novamente, a agulha tinha ido e eu estava sozinha pela primeira vez, o que eu pensei, foram dias. A janela ainda estava aberta, deixando que o ar noturno do jardim entrasse e limpasse os ares insalubres de doença. Três galhos rasparam o vidro, fazendo fendas vermelhas e folhas amarelas. A cama era antiga, com vários edredons e minha almofada afundada cheia de suor. Uma geladeira pequena zumbiu em voz baixa confrontando com a descolorida e elegante decoração. O papel de parede era de seda; a faixa da cadeira damasco estava enredada com o que possivelmente seriam pérolas.

Sentei-me, timidamente, esperando me sentir fraca e enjoada.

Sentia-me bem.

Bom, melhor.

Fui ao antigo lavabo e me coloquei de frente ao espelho. A vista era assustadora. De fato, foi uma prova de coragem apenas abrir meus olhos. Os quais agora eram de uma cor avelã claro, quando antes tinham sido de um simples e antigo marrom. Eram quase do mesmo tom que o Grog de Saga. Meu cabelo estava mole, com poeira e suor, e os arranhões do labirinto de cedro tinham cicatrizado, quase curado. Tinha lodo debaixo das unhas. Estava magra e asquerosa, trançada de veias muito marcadas.

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Mas não estava azul por completo e não cheirava como se estivesse apodrecendo desde o interior. Sorri.

E quase cortei meu lábio com minhas presas.

Agora tinha presas.

Ia matar minha mãe por me nomear como a garota de um poema, que caiu no feitiço de um vampiro.

Toquei minhas presas, as quais eram tão afiadas como a agulha que Geoffrey tinha enterrado em meu braço. As toquei mais forte, tentando retraí-las para minha gengiva, as quais estavam inchadas e doloridas. Não se moveram. Devia ter um truque para isso. Perguntaria para alguém, logo que pudesse tomar um banho. Meu estômago grunhiu enquanto me encaminhava para a porta. Estava faminta, mas não sabia do que.

Bom, sim sabia, mas estava certa de que tinha de ser um erro, apesar de tudo.

Deveria estar ansiando pizzas e copos de sorvete e sanduíches de queijo assado. Coisas normais. Mas ao invés disso, meu corpo ansiava sangue, apesar de que meu cérebro retrocedia e se fechava diante de tal ideia. Sem mencionar a cova vazia em meu peito. Pressionei minha mão sobre meu coração, mas me detive quando não senti nada. Poderia facilmente ter um ataque de pânico. Quanto me custaria me acostumar a isso? O faria alguma vez? Tinha notado alguma vez meus batimentos quando os tinha?

E o que aconteceria agora? Já não poderia ir à escola nunca mais, claro. Teria que ter aulas em casa. E teria que ficar aqui com os Drake? E agora teria que sair apenas com vampiros? O que tinha minha família? Como poderia ver minha mãe apenas pelas noites? Poderia suspeitar? Especialmente agora que nenhum pó de maquiagem no mundo podia cobrir as veias azuis. Se lhe dizia a verdade, acreditaria? Começaria a beber novamente? Minha cabeça doeu.

Agora, banho; pensamentos profundos mais tarde.

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O banheiro estava na porta seguinte, com uma grande ducha com azulejos de cerâmica pintados. Tinha toalhas felpudas e belos sabonetes. Fiquei debaixo da água quente por quase uma hora, lavando o pó do povoado fantasma, a sujeira do labirinto, as cinzas do fogo, o suor da minha troca de sangue. A água era marrom enquanto escorria. Lavei meu cabelo de novo. Meus dedos estavam enrugados quando finalmente avancei fora da nuvem de vapor, enrolada em uma toalha.

Observei o banheiro especulativamente. Os vampiros urinavam? Não tinha que fazer agora, mas isso era porque estava desidratada e febril há muito tempo?

Balancei minha cabeça. Tinha que deixar de pensar nestas coisas ou enlouqueceria a mim mesma. O ponto era, estava relativamente bem, para uma garota que de todas as formas está morta, e não estava sozinha. Poderia ter sido muito, muito pior. Poderia ter sido abandonada com uma fome terrível e convertida em uma Hel-Blar.

Quando voltei ao meu quarto para me vestir, cheirava diferente, como alcaçuz. Procurei ao redor para ver Connor, mas não tinha ninguém ali. De toda forma, tinha um livro sobre a cômoda, e uma nota escrita à mão. Para você, Christabel. Feliz Aniversário. Connor.

O livro era antigo e estava forrado com um tecido de cor verde opala. As páginas eram tão finas como as asas das mariposas, e cheias de poesia. Reconheci Shelley e Coleridge imediatamente. Cheirava a biblioteca e pó. Era uma antiguidade. Sentei-me na borda da cama e sorri estupidamente até que minha toalha úmida se secou e começou a pinicar.

Não é porque agora fosse uma vampira, significava que tinha deixado de ser eu. E não me sentei ali pensando em coisas de sonho e garotos lindos.

Vesti-me com minhas roupas e algumas de minhas coisas, que tio Stuart tinha trazido para mim. Os jeans estavam dobrados e suaves, a camiseta apertada tinha uma estampa descolorida dos Ramones. Enfiei-me em minhas botas de combate, como uma armadura, mesmo quando estava em uma casa amiga. A mãe de Connor era assustadora. Lembrava-me de churrascos pela tarde, no lago, quando eu era pequena.

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Agarrei meu novo livro de poesia como se fosse um escudo.

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Capítulo 24 Connor

Quando verifiquei Christabel, estava sentada na borda de sua

cama, segurando o livro de poesia que eu havia lhe presenteado.

Derrubou quando me viu, parecia envergonhada.

Esperava que fosse um bom sinal.

— Hey. — disse em voz baixa, apoiado no batente da porta. —

Está bem?

Ela assentiu com a cabeça. — Suponho que sim. — Estendeu seu

braço, trançado com veias azuis. — É apenas estranho. Muito, muito

estranho.

— Eu sei. — disse. — Lamento muito, não pude te salvar. —

adicionei. O conhecimento disso queimava.

Ela franziu o cenho. — Mas você me salvou. Me tirou dali. Correu

todo o caminho para casa me levando.

— Não a salvei da estaca.

Ela fez uma careta, suas presas sobressaíram um pouco. Foi lindo

como o inferno. — Isso não é uma história em quadrinhos Connor. Não

se pode estar em várias partes ao mesmo tempo. — Ela ainda parecia

confusa e, provavelmente estaria por um tempo. — Não parece real. —

Fez uma careta quando o vento bateu em uma das persianas do seu

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quarto contra a parede exterior. — Mesmo meus ouvidos são

terrivelmente sensíveis.

— Se acostumará a isso. — lhe prometi. — Todos o fazemos.

— Minha mãe vai claramente enlouquecer.

— A chamou? — Perguntei, entrando no quarto e fechando a

porta atrás de mim. Ela levantou uma sobrancelha. — Seis irmãos

intrometidos que escutam às escondidas. — lhe expliquei, sentando-me

ao seu lado.

— Oh. — Ela ligou seu reprodutor de MP3. A música nos inundou.

— E? — Insisti. — Sua mãe?

Ela sacudiu a cabeça. — De forma alguma. Como se pode mesmo

começar a explicar algo como isso pelo telefone? Além disso, ela estará

em reabilitação durante três meses pelo menos. Só contarei quando

estiver fora por um tempo e realmente possa vê-la. — Tragou. — O que

faço agora?

— O que você quiser.

Ela se aproximou mais de mim. Agora sentia-se diferente. Sua pele

era mais fria, seus olhos eram mais claros, e ela era menos frágil.

— Segue sendo Christabel. — sussurrei, levantando uma longa

mecha loira de seu ombro. — Continua sendo você.

— Me pergunta.

— Rápido, as primeiras três linhas de “O Bandido”13? — lhe

perguntei.

13

O Bandido ou melhor conhecido como The Highwamen, é um poema narrativo escrito por Alfred Noyes, publicado pela primeira vez em Agosto de 1906 na revista Blackwood. O poema, situado na Inglaterra do século dezoito, conta a historia de um bandido sem nome que está apaixonado por Bess, a filha de um proprietário de terras

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Ela respondeu como se fosse uma prova surpresa.

— “O vento era uma torrente de escuridão entres as árvores

agitadas. A Lua era um galeão fantasma aventurando-se em um mar de

nuvens. O caminho era um círculo de luz da Lua, sobre um anoitecer

púrpura”.

— Viu? — sorriu. — Ainda é você.

Parte da tensão deixou seus ombros. — É muito inteligente

Connor. — respondeu. — E também é agradável.

Eu sou agradável.

Também conhecido como o beijo da morte.

Se ela me chamar de “macaco”, minha humilhação estará

completa.

Retrocedi suspirando. Realmente podia sentir a mordida

enferrujada da decepção em meu peito. No entanto não me surpreendi.

Lucy já tinha me dito o tipo de garoto pelo qual Christabel ia. Era apenas

minha sorte que estava caindo por ela, e caindo duro.

— E você gosta dos garotos maus. — disse sem me alterar. Eu não

ia mendigar ou chorar ou ranger os dentes.

Ao menos não na frente dela.

Levantei para sair antes que fizesse de mim mesmo um idiota.

— Gosto de você. — me corrigiu suavemente, pegando minha mão

entre as suas antes que eu pudesse me afastar. Tomei um momento e

me sentei de novo, olhando-a fixamente.

Devo ter escutado isso mal.

— O que?

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Ao que parece Quinn obteve todo o “suave” na loteria genética, o

bastardo não deixou nada para mim.

— Gosto de você. — repetiu.

Talvez não precisasse ser suave depois de tudo.

O que era bom, porque sabia que meu sorriso era definitivamente

torpe.

— Sim?

— Sim.

— Bom, está bem então. — A puxei para se sentar em meu colo,

curvando minha mão ao redor da sua cintura. Seu cabelo cobria meu

braço. O calcanhar da sua bota bateu minha panturrilha. — Porque não

disse antes?

— Antes sempre ia pelos garotos maus. — e adicionou. — Éramos

quentes. Muito quentes.

— Não estou amando isso. — assinalei secamente.

Ela sorriu. — Apenas escuta. Não tínhamos nada mais do que

calor. Não sabiam nada de mim, e eu não sabia nada deles. Gostava

dessa maneira. Não tinha risco que um deles passasse por ali e

encontrasse minha mãe desmaiada na mesa da cozinha. — passou uma

mão pelo meu cabelo. Era realmente difícil me concentrar no que estava

dizendo. Ela cheirava a canela e estava passando os dedos pelo meu

cabelo. — Pensei que tinha que ser um ou outro, quente ou agradável.

Mas talvez não. Talvez tenha outras opções as quais valem a pena

explorar.

Fechei o pequeno espaço entre nós com toda a intenção de beijá-la

até que se esquecesse que alguma vez tinha gostado de garotos maus em

primeiro lugar.

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— Mas estou sob a influência dos infames feromônios Drake? —

Perguntou antes que meus lábios tocassem os seus. — Quer dizer, isso é

apenas biologia ou é química?

— Talvez eu esteja sob a influência dos seus próprios feromônios.

— assinalei.

Ela pestanejou. — Isso é possível?

Neguei com a cabeça. — Não. Os feromônios de vampiros não

funcionam em outros vampiros, — expliquei. Com exceção dos de

Solange, mas ela não precisava saber disso.

— Christa?

— Sim?

— Se cale.

Ela riu quando finalmente fechei minha boca sobre a dela. O beijo

nos acendeu como uma fagulha em um campo seco. Eu pensava que

tinha sentido sede de sangue comum naquela primeira noite na cidade

fantasma, mas não foi assim. Era ela. Apenas ela. Nossas línguas se

encontraram e eu podia prová-la, bebê-la, praticamente respirá-la. Não

podia me aproximar o suficiente. Sua mão se apertou em meu cabelo e

nos fundimos de novo na cama. Tinha lábios e mais, e a chama da

necessidade em minhas veias, mais doce que sangue. Quando levantou a

cabeça, seus lábios estavam levemente inchados, seus olhos com as

pálpebras pesadas.

— Vale a pena explorar? — Lhe perguntei com a voz rouca.

Ela sorriu de uma forma que me fez esquecer meu próprio nome.

— Definitivamente vale a pena explorar.

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Capítulo 25

Lucy

Eu era oficialmente uma estudante da academia Hélios-Ra.

Estranho.

Christabel estava bem. Eu queria ter ido visitá-la eu mesma, mas

eu não tinha mais um carro e mamãe precisava ir trabalhar. Eu teria que

acreditar em todos me assegurando que Christabel realmente estava

bem, especialmente porque ela ainda não estava pronta para a tentação

dos humanos. Ela estava com os Drakes, se recuperando e aprendendo

sobre sua nova vida. Ou morte. Que seja.

E eu estava aprendendo a ser uma caçadora de vampiros.

Minha mãe só saiu da escola depois de me fazer prometer pela

terceira vez que eu dobraria minhas saudações ao sol, meditar pelo

menos uma vez por semana, e voltar pra casa pra visitar o máximo

possível. Ela tinha algumas lágrimas nos olhos. Não foi nada comparado

com as de culpa que eu derramei com o Nathan.

E eu ainda não tinha falado com a Solange, mas Nicholas prometeu

que ela estava arrependida. Ele também prometeu que nós acharíamos

um jeito de nos ver. Vampiros não eram uma coisa muito comum no

campus, mesmo que fossem vampiros do acordo. Mas Quinn e Hunter

davam um jeito, então nós também daríamos.

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Era fim de tarde e o sol já estava atrás da montanha, tornando o

dia fresco de outono mais fresco e cheio de sombras azuis. Estudantes

corriam em volta da pista e passavam em um fluxo constante entre o

dormitório e a biblioteca e o ginásio. De acordo com meu horário, isso

era uma pausa entre aulas, que voltariam às oito e terminariam à meia-

noite. Eu já estava em um horário similar, ficando acordada até tarde

pra ficar com o Nicholas.

Eu tinha um mapa e o número do meu quarto e uma barriga cheia

de borboletas. Eu não ficava nervosa cercada de vampiros, mesmo

quando eles estavam mal-humorados. Mas essa escola já estava fazendo

minhas palmas suarem. Eu estava atrasada na matéria e eu sou amiga

dos vampiros - a maior parte do tempo.

Isso vai ser interessante.

Forcei-me a ignorar duas garotas que me encararam e começaram

a sussurrar assim que eu passei por elas. Eu ouvi “Drakes” e “Princesa”.

O caminho estava cercado com árvores e levava à porta da frente do

dormitório, que parecia vinda de alguma catedral medieval. Ela era de

carvalho maciço com dobradiças de metal e estreitas janelas

pontiagudas de cada lado.

Dentro, parecia a antiga casa que tinha sido antes há mais de cem

anos atrás, antes das adições modernas e dos estudantes andando em

volta. A escadaria parecia original, madeira polida com o corrimão

esculpido. Eu arrastei minhas coisas em direção a ela. Tinha portas para

todos os lados, levando a quartos e áreas comuns. Um cara com um boné

de baseball passou correndo por mim, gritando alguma coisa para o seu

colega de quarto e quase me jogando no chão. Ele tropeçou e parou,

deixando cair o Frisbee.

— Desculpa! Hey, você é a garota nova.

— É. — Eu admiti. — É tão óbvio assim?

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Ele deu de ombros. — Não tem muitos de nós aqui. E você parece

hippie.

— Culpada. — disse, sem me ofender. Eu estava usando o cristal

favorito da minha mãe afinal, e sandálias com calças jeans remendadas.

Também, meus pais eram lendários em Violet Hill.

— Eu sou Malcolm. — ele se apresentou. — Você deve ser a

famosa Lucky Hamilton.

Eu estremeci. — É Lucy e, meu Deus! — gemi. — O que eles estão

dizendo sobre mim?

— Que você estava lá quando Hope tentou pegar os Drakes.

— Ela era uma vadia. — Eu fiz uma pausa. — Por favor, me diz que

ela não é sua tia ou alguma coisa assim?

— Cara, não. — Ele parecia curioso. — Eu ouvi que seu namorado

é um vampiro. É verdade?

— Uh, é. É sim. — Eu levantei meu queixo, pronta pra defender a

honra do Nicholas.

— Que pena. — Malcolm disse, dentes brancos piscaram em seu

rosto escuro quando ele me lançou um sorriso que parecia quase

desapontado.

— Malcolm! — Um dos amigos dele gritou pela janela aberta. —

Vamos!

— Eles querem isso. — Ele levantou o Frisbee. — Te vejo por aí,

hippie.

Eu comecei a subir as escadas me sentindo um pouco melhor. Ele

parecia legal. E com Hunter e Chloe, agora eu conhecia um total de três

pessoas. Eu podia fazer isso.

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Então um grupo de garotas zombou de mim.

— Seu namorado é mesmo um vampiro? — uma delas perguntou.

— Deus, esse lugar costumava ter padrões.

Eu a olhei de cima em baixo em dúvida. — Se você diz.

Eu continuei subindo enquanto elas sussurravam umas com as

outras. Meu quarto era no segundo andar, no fim do corredor no canto

de trás. Número 207. Eu bati antes de entrar.

Eu tinha meio que esperado que minha colega de quarto não

estivesse lá, assim eu teria tempo pra me acomodar sozinha. Não tive

essa sorte. Ela estava sentada em sua mesa, vestindo uma camisa

passada da escola e as calças de cargo que estavam nas normas. Tinha

uma combinação idêntica de roupas dobradas perfeitamente na cama

vazia. Ah. Uniformes. Eu tinha esquecido essa parte.

— Olá. — Eu disse alegremente, determinada a não deixar o fim

da liberdade de me vestir me abalar. — Você é a Sarita?

— Olá. — Ela sorriu pra mim. — Lucky?

— Apenas Lucy.

Ela franziu o cenho, conferindo uma lista em uma pasta embaixo

do seu teclado. — Aqui diz Lucky Moon Hamilton.

— Eles colocaram até meu nome do meio? Eles estavam tentando

me mortificar? — Eu deixei cair minha mochila.

— É política da escola. — Sarita respondeu confusa.

Ela era assustadoramente organizada, entre aquela pasta e os

lápis perfeitamente apontados em um copo com o logo da escola ao

lado. A cama dela estava cuidadosamente arrumada com precisão

militar, e seus sapatos estavam alinhados na frente. Não tinha música

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tocando e nenhum pôster do lado dela do quarto. Eu estava planejando

cobrir a parede sobre minha mesa com Jensen Ackles e Johnny Depp.

Minha mãe já tinha enchido uma caixa com incensos Nag Champa

pra mim, e eu tinha colado lantejoulas em todas as minhas pastas pretas

chatas.

Sarita iria me odiar.

Eu rasguei o saco de lixo servindo de mala para meus lençóis e os

joguei sobre a cama. Meu cobertor de lã estava impresso com o rosto de

Jack Sparrow. Ele encarou Sarita. Ela sorriu fracamente. Eu puxei meu

Laptop e coloquei minha estátua Ganesha ao lado pra dar boa sorte.

Ela olhou confusa pra cabeça de elefante. — O que é isso?

— Meu pai me deu. Ele é um deus Indiano.

— Oh.

— Ele gosta de doces.

— Oh.

O silêncio pulsava entre nós. Minha colega de quarto me achava

uma aberração. Eu apenas estava com medo dela me fazer arrumar

minha cama toda manhã.

Isso iria ser ainda mais difícil do que eu pensava.

— Aquela cômoda ali é sua. — Sarita disse finalmente,

educadamente. Era de pinho e estava todo dentado. — E o armário lá.

Tem uma cozinha dando a volta naquele canto ali, e a sala comum é

perto das escadas. É lá que fica a TV.

— Tudo bem, obrigada.

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O quarto era pequeno. Entre as duas camas, duas cômodas, e as

duas mesas, não havia muito espaço sobrando. Eu gostava de dançar

enquanto estudava.

Isso poderia se provar difícil.

— Tem um toque de recolher para estudos de quatro e meia às

seis e meia, onde todos devem ficar quietos. — ela se sentiu obrigada a

adicionar. — E as luzes devem ser apagadas à uma e meia da manhã.

— Tem muitas regras na escola? — Eu perguntei cuidadosamente.

Eu tinha o pressentimento que ela saberia. — Elas são todas para o

nosso benefício. — ela disse. — E você ganha deméritos ou detenção se

você as quebrar.

— Qual é a detenção padrão? — perguntei, rindo. — Porque eu

tenho o pressentimento que eu vou precisar saber.

Ela realmente parecia escandalizada. Eu não sabia que garotas de

dezesseis anos que estavam aprendendo a enfiar estacas afiadas em

mortos-vivos da noite podiam ficar escandalizadas.

— Geralmente é serviço de cozinha. — ela finalmente respondeu.

— Eu na verdade nunca tive uma detenção.

Claro que não. Eu dei de ombros. — Bem, eu te conto como foi.

Ela engoliu em seco. — Ah... — Ela parou, desconfortável. —

Vampiros não são permitidos no campus.

Claramente minha reputação me precedia aqui também. Tudo que

eu precisava agora era que ela achasse as camisinhas que minha mãe

tinha, sem dúvida, colocado em todas as minhas malas.

— Não tem problema. Eu não acho que meu namorado iria gostar

muito daqui mesmo.

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Seus olhos se arregalaram tanto que quase saltaram.

Provavelmente foi errado da minha parte achar aquilo divertido. Ou

querer tirar uma foto do Nicholas com suas presas para fora e vestindo

uma capa preta forrada de cetim vermelho e depois pendurá-la sobre

meu travesseiro em uma moldura em forma de coração.

Antes do meu senso de humor distorcido aliená-la

completamente, houve uma batida na porta. Hunter enfiou a cabeça pra

dentro. — Olá garotas.

Sarita se endireitou na cadeira, como se Hunter fosse uma

professora. E como se ela não já estivesse se sentando tão reta como

uma espada antes. — Olá, Hunter. Eu posso te ajudar com alguma coisa?

Hunter sorriu. — Só quero pegar sua colega de quarto

emprestada. — Ela me olhou incisivamente. Ela parecia séria. Séria

como um vampiro. Eu conhecia aquela expressão intimamente. — Eu

preciso da ajuda dela. Agora.

— Claro. — me levantei provavelmente um pouco ansiosa demais.

Era definitivamente um mau sinal que qualquer que fosse a crise que

estava rolando parecia mais divertido do que sentar aqui em um silêncio

desconfortável com minha colega de quarto certinha. Um minuto já

passou, só faltam mais oito meses.

— Você conhece a Lucky? — Sarita perguntou.

— Claro, nós treinamos juntas.

— Malcolm disse que tinha uma hippie no prédio. — Chloe sorriu

sobre o ombro da Hunter. — Eu queria chamar um exterminador.

Eu sorri de volta. — Nós somos como baratas. Não pode nos

dedetizar. — Peguei minha bolsa. — Tchau, Sarita. — Fechei a porta

atrás de mim. — O que tá acontecendo? E também, bem na hora.

Page 280: Drake Chronicles -  Bleeding Hearts

280

— Vem para o nosso quarto. — Hunter disse calmamente. — É

mais privado.

Quando meu telefone vibrou, eu esperava que fosse Nathan com

outra viagem de culpa, mas a mensagem era de Hunter.

Câmeras e escutas nos corredores. Aja normalmente.

Câmeras escondidas e microfones? Em que diabos eu tinha me

metido?

— Merda, eles te colocaram com a Sarita? — Chloe disse enquanto

eu colocava meu telefone de volta no meu bolso. — Clássica atribuição

de quarto da Hélios-Ra. — Ela balançou a cabeça. — Eles fazem

isso de propósito.

— Eles fazem? Por quê?

— Para nos ensinar como nos entender com as pessoas e pra ver

como nós lidamos com o estresse. — Hunter explicou.

— Por favor. — Chloe bufou. — É simplesmente porque eles são

maus.

— Sarita não é tão ruim. — Hunter disse. — Ela só é... Organizada.

— Santinha. — Chloe corrigiu. Ela me lançou um olhar piedoso. —

E eu tenho certeza que ela vai fofocar. Para o seu próprio bem, claro.

Hunter torceu o nariz. — Você provavelmente está certa sobre

isso.

— Mas andar com a Hunter vai te dar uma brecha. — Chloe me

garantiu. — Sarita tem um caso sério de adoração heroica por ela.

— Ela não tem. — Hunter rolou os olhos.

— Ela tem sim.

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281

— Mesmo você tendo um namorado vampiro? — Eu levantei

minhas sobrancelhas. — Ela parecia bem rigorosa sobre isso. E eu só

conheci ela por uns cinco minutos.

— Ela acha que são só rumores horríveis. — Chloe disse. — A

santa Hunter nunca iria se contaminar dessa maneira. — Ela sorriu

lentamente. — Mas também, Sarita nunca viu o Quinn.

Hunter a empurrou de leve.

— O que? Ele é bonito.

O corredor parecia deserto, o dormitório mais quieto do que

estava quando eu cheguei. Até os gramados estavam vazios. — Onde

está todo mundo?

— No jantar. — Hunter esperou eu e Chloe entrar no quarto antes

de fechar a porta e pressionar a orelha contra ela. Chloe já estava em um

dos laptops, colocando a senha.

— Ok, o que tá rolando? — perguntei quando a Hunter cruzou o

carpete, segura de que ninguém tinha nos seguido. Ela ligou o rádio de

qualquer jeito, pra abafar o som de nossas vozes. Solange e eu usávamos

esse truque o tempo todo depois que Logan e Nicholas se

transformaram e nós queríamos ter certeza que eles não estavam

bisbilhotando agente.

— Chloe interceptou mensagens entre alguns dos caçadores que

se esconderam nas montanhas. — Hunter me contou sussurrando. —

Um deles estava voando em seu avião e achou os restos queimados de

um labirinto perto de uma abandonada cidade fantasma.

Eu exalei de repente. — Foi lá que eles mantiveram a Christabel.

— Eu sei. — Hunter disse sombriamente. — Tem no mínimo seis

deles indo pra lá agora. Eles querem eliminar todos os Hel-Blar e

qualquer coisa que se mover.

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— Merda, eles não sabem sobre Saga e o tratado do conselho. —

disse. — Se eles forem procurando por uma briga, eles podem começar

uma guerra civil entre as tribos. Ninguém acreditaria que os Drakes não

estavam envolvidos!

— O que você quer fazer?

— Nós temos que avisar a Christabel. — Eu peguei meu telefone.

— Quando ela estava doente, ela murmurou sobre o Aidan. Ele salvou a

vida dela, ironicamente. Nós não podemos o deixar cair em uma

emboscada!

— Eu já mandei uma mensagem para Quinn e para o Kieran. —

Hunter disse enquanto copiava minha mensagem para Christabel,

Nicholas e Connor. Eu não copiei para Solange. Geralmente ela seria

uma espada letal nessa briga, mas nesse momento ela era uma granada

viva. Ela podia explodir todos nós.

E também, eu estava guardando rancor.

Eu podia admitir pra mim mesma, se não pra mais ninguém.

— Você consegue falar com o Hart? Pedir pra ele cancelar?

— Ele não pode se envolver oficialmente nas políticas dos

vampiros, com ou sem tratado, do mesmo jeito que Liam não pode se

envolver nos negócios da Liga. — Hunter disse. — Além do mais, é o

direito e dever de um caçador eliminar um Hel-Blar. Sem falar que,

Aidan essencialmente matou sua prima.

— Transformou ela. Tem uma diferença.

— Ela nunca teria estado em perigo se ele não tivesse sequestrado

ela. De qualquer jeito, agora eles já estão fora do alcance, — Chloe disse.

— É um mundo diferente. — Hunter disse se desculpando. — Nós

não somos treinados pra salvar vampiros deles mesmos.

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— Se tiver uma guerra civil todos serão envolvidos. — eu

argumentei.

— Eu sei. — ela concordou calmamente.

— E os Drakes não estarão acordados por pelo menos mais uma

hora. — eu disse frustrada.

— Nós vamos levar esse mesmo tempo pra dirigir até o labirinto.

— Hunter disse, pegando sua mochila. Eu sabia que estaria cheia de

armas e equipamentos para escalada. Ela era preparada daquele jeito.

— Eles podem nos encontrar lá.

Chloe desconectou o laptop. — Pronta.

Eu pisquei. — Vocês vão? Vocês duas?

— Claro. Todas nós vamos. — Hunter disse. — Não seja estúpida.

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Capítulo 26 Christabel

Connor me agarrou no corredor e pressionou sua boca contra a

minha.

— Shhh. — ele murmurou contra meus lábios.

— Não disse nada. — eu murmurei de volta, perplexa. Mas como

sempre, a sensação de seus lábios nos meus era uma distração.

Ele sacudiu a cabeça em direção à janela. — Vem. — gesticulou

com a boca. O segui, olhando para os jardins. Os topos das roseiras

espinhosas me saudando. A luz da estufa se derramou no gramado em

perfeitas quadrados amarelos.

— É uma queda de dois andares. — sussurrei quando Connor

jogou sua perna por cima da soleira e esperou por mim para fazer o

mesmo. — Que eu saiba, não brotaram asas nos vampiros. — Olhei para

ele. — Nós não criamos, ou sim?

Ele riu, a despeito da forma solene que seus olhos estavam

moldados. — Não.

—Então que demônios?

— Não levanta a voz. — pediu. — Temos que ir. Agora.

— Existem essas coisas novas chamadas escadas. — sussurrei de

volta.

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Agitou sua cabeça. — Você é realmente prima de Lucy. De repente

eu posso ver a semelhança familiar. Por favor, poderia vir?

— Connor — disse pacientemente. — não posso saltar pela

janela e eu sou uma péssima alpinista. Apenas me deixe deslizar por

trás.

Suspirou. — Está bem. Mas se apresse. Encontre-me atrás

daqueles cedros.

— Mais cedros. — murmurei. — Isso não pode ser bom.

Connor não respondeu, apenas desceu saindo da minha vista. Eu

nem sequer o ouvi aterrissar. Escutei alguns dos irmãos andando no

terceiro andar. Desci silenciosamente pelas escadas, espiando dentro da

sala de estar. Ela estava vazia. Escapei pelo corredor em direção à estufa

do jardim. Senti como se estivesse de volta em casa, rastejando ao redor

de modo que eu não iria acordar minha mãe quando ela estava em um

de seus humores chorosos.

— Oi, Christa.

Gritei, pulando em um pé. Aparentemente, tinha perdido minha

discrição totalmente quando morri. — Solange!

Inclinou sua cabeça, sorrindo. Ela parecia menos desalinhada do

que ela costumava estar, vestindo uma camisa que flui e com os seus

cabelos em uma trança elegante. Mas suas íris eram delicadamente

rodeadas de sangue. Meus olhos estavam vermelhos, mas eu estava

certa de que iria desaparecer. Solange estava ficando cada vez mais

pronunciada.

— Você está escapando. — ela declarou conscientemente.

Merda.

— Um. Não?

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— Sim, está. — Ela agitou sua mão. — Não importa. Eu também

estou escapando.

— Você está? Para Onde?

— Não estaria exatamente escapando se te contasse. — ela disse,

sorrindo. — Você pode ir por esse caminho. — Apontou de volta para os

quartos. — Eu irei pela frente. — Ela se inclinou e o cheiro dela,

madeira queimada e rosas, me fez sentir confusa. — Não diga a ninguém

que você me viu.

Ela foi embora antes que eu pudesse responder. Corri pela sala

com paredes de vidro, em torno de vasos de laranjeiras e limoeiros, com

folhas brilhantes e bancos de lírios vermelhos. Erva se arrastava ao

redor da porta.

A calçada estava repleta de pétalas de rosa e bolotas. Avancei

sobre o gramado em um instante e corri para os cedros. Connor estava

deslocando impaciente de um pé para outro pé.

— Por aqui. — Ele se virou e se afastou. O persegui através do

campo. A grama era alta e úmida. Aves se erguiam de esconderijos

secretos quando passamos perto. Eu estava distraída

momentaneamente pela minha nova habilidade de correr rápido e não

perder o fôlego. Eu estava sorrindo quando nós paramos na periferia da

floresta. Luz da lua se infiltrou através dos galhos dos pinheiros.

— Você sabe sobre o Hélios-Ra? — Connor perguntou.

— Só que Lucy vai para a escola em sua academia fora da cidade.

Por quê?

— Eles são caçadores de vampiros.

— Sim, eu sei disso.

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— Bem, às vezes eles todos vão trabalhar pela manhã para a

sobrevivência nas montanhas. Alguns desses caras encontraram a

cidade fantasma, e eles voltaram para pegar todos completamente, não

apenas a Hel-Blar, mas Saga, Aidan, e seu povo, também.

— Como você se inteirou de tudo isso? — Eu perguntei.

— Lucy me ligou. — ele respondeu. — Ela esteve naquela escola

por menos de um dia. — Ele parecia impressionado, apesar da

preocupação em seus ombros.

— Essa é a Lucy. — eu concordei. — Não deveríamos dizer a seus

pais ou algo assim?

Quinn emergiu das árvores. — Não. Mamãe será acusada, e meu

pai será preso em alguma armadilha diplomática. Enquanto isso, os

caçadores vão matar os Hel-Blar, nós vamos ser culpados de alguma

forma, os animais de estimação mortos-vivos de Saga serão soltos, e

depois quem sabe o que vai acontecer? É ruim o suficiente a corte real

ter de negociar com sequestradores. Mas vamos enviar aos nossos pais

uma mensagem quando chegarmos lá.

— É por isso que estamos indo. — Connor explicou. — Mas você

não precisa. Aidan sequestrou você, afinal de contas. Você está

permitida a odiar ele um pouco.

— Mas ele salvou a minha vida também. — disse. — Duas vezes. E

se ele morre, eu nunca vou descobrir sobre mim mesma. Meu novo eu.

— corrigi.

— Nós poderíamos usar você. — admitiu Quinn. — Você pode ter

poder de negociação. Você é parente de sangue de Aidan agora.

Meu sangue gelou. Aidan não era meu pai, mas ele era a coisa mais

próxima a ele no meu novo mundo. Os Na-foir eram, basicamente uns

desconhecidos, segundo Connor e a sua família, segundo Aidan e Saga,

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também. Eu não iria obter respostas sobre o meu familiar de sangue de

ninguém. — Eu vou.

— Me dei conta. — Connor disse, vasculhando o pacote que seu

irmão entregou a ele. Ele pegou um punhado de estacas e as deu a mim.

— Aqui. Mas fique atrás de nós quando chegarmos lá. Você mal

sabe como usá-los.

— Vamos. — Quinn insistiu. — Lucy e Hunter talvez já estejam lá

perto agora. Os caçadores estavam tentando ir antes de anoitecer para

emboscar eles em seu horário mais fraco. Pode ser tarde demais.

Nicholas já foi.

— Sabe o caminho de volta? — perguntei para Connor.

— Eu deixei um rastro. — respondeu ele, fechando o capuz. —

Entre essa e as coordenadas do GPS que obtive do avião revestido dos

caçadores, estaremos bem.

— Vamos correr todo o caminho? — perguntei. Talvez não tivesse

que me preocupar que minha respiração falhasse até entrar em um

ataque de asma, mas correr demoraria muito. Lembrava o muito que

nos tinha custado encontrar nosso caminho de volta.

— Nós temos um caminho para as motocicletas, que nos levará a

maior parte do caminho. — disse Connor à medida que contornava a

orla da floresta, saltando sobre samambaias e troncos caídos.

Assustando os adormecidos esquilos gritando furiosamente sobre as

nossas cabeças. Nós mergulhamos pelo território da floresta, e no outro

lado do bosque de árvores de bétula. Alguns minutos mais tarde

chegamos aos arbustos aonde Quinn tinha escondido duas motos. Os

motores quebraram o silêncio da floresta, lançando nuvens do

escapamento. Agarrei a parte de trás do casaco de Connor com as duas

mãos, nos sacudimos e batemos sobre o terreno irregular. Não era uma

pista somente, um caminho sem obstáculos, tinha árvores quebradas ou

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pedras grandes. Quando a vegetação espessa deu lugar ao pinheiro

vermelho, paramos as motos e pulamos fora.

Podia sentir o tênue cheiro de fumaça, mesmo quando saímos das

arvores. Permanecemos nas sombras, rondando ao redor da rua torta

do povoado fantasma, para avaliar a situação de uma distância segura.

Os restos carbonizados do labirinto eram tristes pedaços negros de

troncos e cercas de arame farpado queimados. O curral aonde Saga

mantinha alguns Hel-Blar estava vazio. Tinha movimento, uma troca de

sombras nas casas de madeira. Uma janela quebrou e houve um grito.

Passos rasparam na terra. Uma porta se fechou com uma batida

repentinamente, presa pelo vento.

O telefone de Quinn vibrou no interior do bolso de sua jaqueta.

Não teria escutado se ainda fosse uma humana comum e atualmente

escuto. Jogou uma olhada no texto, depois nos fez um gesto para que o

seguíssemos. Fomos atrás, apontando para uma rua estreita entre duas

casas. Encontramos-nos com Nicholas no caminho.

— Qual é a notícia? — Quinn perguntou.

— Acabo de chegar. — disse Nicholas. — Tive alguns problemas

com um Hel-Blar.

— Eu irei por aqui. — Quinn apontou para uma das ruas. Ele e

Connor trocaram um olhar ante que saísse correndo. Uniu-se a Lucy,

Hunter e outra garota ao final, perto da rua. Estavam armados com

tantas estacas, que pareciam porcos-espinhos. Nicholas se adiantou.

Atrás de nós um Hel-Blar pulou de uma pilha de lenha. Ressoavam

suas mandíbulas, agarrando o ombro de Connor. Connor virou,

escapando do seu agarre. Nicholas virou para ajudar Connor, mas ele já

tinha estacado o Hel-Blar. Cinzas da cor de cogumelos caíram aos nossos

pés.

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290

— O pegou. — Lucy respirou. Estava fora do lugar sua blusa de

camponesa com cristais, junto ao carregamento militar de seus amigos.

Abraçou-me com força. — Está bem?

Pensei nisso. Não faz muito tempo não tinha sido capaz de recitar

meu poema favorito. Isso tinha sido a parte mais assustadora.

“Um beijo meu formoso amor, vou atrás de um prêmio essa noite, —

citei. — Mas devo regressar com o ouro amarelo antes da luz do

amanhecer.”

Lucy pôs os olhos em branco. — Normal de novo.

— Wow, — Chloe disse. — está meio azul.

— Não é Hel-Blar. — Connor explicou. — Na-Foir.

— Na-Foir? Que raios é isso?

— Uma nova raça de vampiros. — ele disse. — Bom, antiga raça.

Chloe se queixou. — Sério? Como se não tivéssemos já suficientes

nomes raros de tribos vampiras para memorizar para nossos exames?

— Os caçadores tem estacado a metade dos Hel-Blar até o

momento que cheguei. — Hunter anunciou. — Outro grupo inteiro foi

liberado depois disso. Estão em todos os lados, e a luta chamou aos

outros que estavam escondidos nas montanhas.

— E os caçadores? — Nicholas perguntou, encostando contra o

muro e lançando um olhar na estrada.

— A maioria está agora no telhado. — Hunter respondeu. — Onde

está o Quinn?

— Foi para o outro lado. — Connor respondeu. — De forma

sigilosa.

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Um grito de guerra e uma risada brincalhona desmentiam esse

comentário.

Hunter suspirou. — Está do outro lado da rua, sendo um lunático,

quer dizer.

— Isso é sigiloso para ele. — Connor nos lançou um sorriso antes

de se apressar para ajudar a seu gêmeo. O observei desaparecer para o

saloon. Soou como uma briga de bar acontecesse ali, entre o

estilhaçamento dos móveis e a quebradeira de garrafas.

Hunter olhou para Nicholas. — Ele não está seguindo nenhum

plano do qual tenha ouvido antes.

— Quinn alguma vez tem feito?

— Íamos fazer uma varredura tranquila.

Um Hel-Blar saiu voando das portas do saloon, rodeou o pórtico

de entrada e explodiu em cinzas.

— Essa é a versão de Quinn de uma varredura. — Nicholas

respondeu.

— Os Hel-Blar andam soltos, um dos caçadores está morto e o

resto está falando sobre incendiar todo o povoado. — nos atualizou

Lucy.

— Eu quase faço isso, — respondi. — infelizmente poderia

funcionar.

— Eles têm a gasolina para fazê-lo. — Hunter disse. — Há

tambores debaixo do labirinto e um tipo enorme com uma lanterna.

— Alguém tem visto Aidan ou Saga? — perguntei. Saga era mais

como Quinn; ela teria disparado nos caçadores que cruzaram seu

caminho com sua catapulta. O que não significava que não podia.

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Lucy balançou sua cabeça. — Cada vez que nos movemos neste

lugar, os Hel-Blar acreditam que está na hora de cear.

— Eu estava a ponto de ir ali e ser a distração — adicionou Chloe,

— até que Quinn decidiu que era o recreio.

— Aidan poderia estar com Saga na casa da direita. Essa com o

tipo de mão azul cravado na porta. — Avancei fora da rua para lá.

Nicholas e Lucy me puxaram para trás. — Wow. — Nicholas disse.

— Espera um minuto.

— Não temos um minuto. — assinalei.

— E você não tem o treinamento adequado, ainda. — disparou de

volta. — Assim, apenas espere. — Passou a mão através do seu cabelo

enquanto Quinn deixava sair outro grito, do outro lado da rua. Esperava

que não matasse Connor. — Lucy, Christabel e eu podemos nos dirigir

para a casa. — Nicholas sugeriu a Hunter. — Porque você e Chloe não

veem o que se pode fazer a respeito da gasolina. Não deixem que

ninguém a acenda.

Hunter assentiu. Ela e Chloe escaparam pela rua, aonde nós

tínhamos chegado. Nicholas agarrou uma estaca atrás dele alcançando

ao Hel-Blar que captou sua essência e se jogou atrás deles.

O Hel-Blar agarrou seu braço ferido, virando-se para grunhir-nos.

Sangue jorrava entre seus dedos. O pino da besta de Lucy bateu

diretamente no coração. Seu sangue ainda estava pingando, pego pelo

vento enquanto se convertia em cinzas.

Nicholas deslizou fora lentamente, verificando os telhados.

Quando nos agitou uma mão, seguiu rapidamente. Lucy cobria nossas

costas com sua, surpreendentemente letal, pequena besta. A luz refletia

em todas suas joias de prata. Descendo pela rua, as silhuetas de Hunter

e Chloe lutavam com o tremendamente musculoso caçador. Mesmo de

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umas cem jardas de distância, eu podia ver que ele estava como um

touro, puro pescoço e ombros.

No entanto, não podíamos ajudá-las agora, não com três Hel-Blar

de repente sobre nós. Nicholas estacou a um imediatamente, mas os

outros dois eram mais rápidos e mais selvagens. Eles mastigavam o ar,

tentando chegar a Lucy. Chutei, mas desde que não estava acostumada a

minha recente desenvolvida velocidade e força, apenas brinquei de

virar-me completamente. Tudo era nebuloso como se estivesse em um

carrossel. Virei-me de novo, tentando não enjoar. Nicholas pulou de

frente a Lucy, tão rápido que ela tropeçou para trás. Tropeçou caindo na

terra. Sua besta voou longe de seu alcance.

Um Hel-Blar pegou meu cabelo, e saliva pingava sobre meu

ombro. O golpeei com meu cotovelo e ouvi suas costelas trincar. Wow.

Super força. O cravei de novo, usando a estaca. O fedor de cogumelos e

sangue era palpável. Nicholas jogou sua própria estaca, despachando o

Hel-Blar antes que suas mandíbulas pudessem prender em minha

garganta. Caiu em cinzas.

O outro pegou a janela da momentânea distração de Nicholas e o

golpeou tão forte no estômago que Nicholas voou longe para trás,

passou por cima de Lucy e caiu com a metade do seu corpo em um cocho

vazio. Gemeu tentando se colocar de pé.

Um Hel-Blar lambeu os lábios para Lucy, com dentes brilhantes.

Ela procurou selvagemente, mas sua besta estava muito fora do seu

alcance. Ele arrastou seus pés mais próximos, com os olhos tão

vermelhos que até suas pupilas brilhavam sangrentamente. Nicholas

também estava muito longe. Minha pontaria estava em qualquer lado,

exceto próxima de ser boa. Joguei longe uma estaca, apenas para

quebrar sua concentração em minha prima como sua próxima refeição.

Ele enviou longe a estaca.

No entanto eu estava perto o suficiente para chutar a besta.

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— Lucy!

Ela agarrou e lutou para recarregá-la. Joguei outra estaca, com o

mesmo efeito relativamente inútil que a primeira. O Hel-Blar a ignorou e

pulou sobre Lucy.

Ela puxou o arco e soltou o pino exatamente quando ele caiu sobre

ela. Afogou-se em cinzas e pó, limpando sua cara. — Isso é asqueroso. —

ofegou, com suor empanando seus óculos.

Nicholas patinou até parar perto dela. — Lhe fez algo? Está bem?

— Estou bem. — ela disse, remexendo seus pés. Esfregou seu

joelho. — Ow.

Ele percorreu com sua mão sua cabeça e seus braços, com olhos

prateados que queimavam. Seu toque era terno, mas sua voz não era. —

Fica atrás de mim, maldita seja. — ele disse, como se em sua

garganta houvesse pedras e whisky.

— Eu estava atrás de você.— ela se queixou.

Inclinei-me para pegar uma correia com estacas de prata. Cinzas

empoeiraram minhas mãos.

— Oh não. — disse. — Essa era Emma.

Alguém gritou dentro da casa de Saga.

Corremos para lá. Connor e Quinn pularam do teto e aterrissaram

em nossa frente antes que Lucy chegasse até a porta. Lucy se voltou e

quase os golpeou. Mas eles já estavam afastando-se do caminho.

O sorriso brincalhão de Quinn se deslizou. — Cuidado com essa

coisa!

Connor me deu uma olhada. — Está bem?

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Assenti com a cabeça, aliviada de ver que, apesar de seu cabelo

estar de pé e seus jeans estarem rasgados, ele parecia ileso. Suas presas

estavam de fora e seus olhos pareciam como esferas de vidro azul da

Grécia. — Você?

— Bem. — Olhou para a casa. — Vamos dar a volta.

— Onde está a Hunter? — Quinn perguntou bruscamente.

— Ela e Chloe estão assegurando que não nos explodam. — lhe

informou Nicholas.

Quando ele alcançou o pomo da porta, um caçador saiu do lado da

casa. Lucy se jogou entre eles e o resto de nós, mesmo quando ele

sustentava um machado de lançamento e uma besta, por si apenas.

— Sou Hélios-Ra! — Lucy gritou. Quando ele relaxou ligeiramente,

vendo que ela estava apenas em seus dezesseis, ela se jogou para ele e o

golpeou exatamente no nariz. — Ou algo assim. — ela corrigiu enquanto

ele cambaleava para trás, batendo sua cabeça na varanda e caindo. A

estaca em sua mão bateu no piso.

— Não tem Hypnos? — Nicholas perguntou divertido.

— Oh sim, o esqueci. — Sacudiu seus dedos, seus nós já estavam

roxos. — E ele tem um nariz duro. Talvez tenha me ferido.

Escutamos outro grito do segundo piso e os sons reconhecidos de

uma luta. Um mosquete disparou por cima de nós, nos banhando de

lascas. Enfiei-me pelo resto e irrompi pela casa. A mesa estava virada e

os vasos estavam ao seu lado, derramando rum. Peguei as escadas,

pulando de dois em dois.

— Merda, Christa, me espera. — Connor chamou, me alcançando

com dificuldade.

Caos.

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Havia enormes buracos de balas nas paredes; a janela estava

pendurada em suas dobradiças. Um caçador humano jazia em uma pilha

próxima a porta, com sua perna claramente quebrada. Connor se

inclinou perto o suficiente para lhe tirar todas as suas armas.

Saga estava de pé em um banco, descalça e agitando seu machado.

Reduzindo outro caçador e o deixando cair pela janela, debaixo do teto

sobressalente e rua abaixo. Ela estava tão azul como o centro de uma

chama, azul como um vazamento de gasolina. Seus dentes eram mais

afiados que suas adagas. O cheiro de putrefação e cogumelos impregnou

em tudo. Dois Hel-Blar a rodearam no pequeno quarto. Negava-se a se

mover, mesmo quando tinha sangue em suas pernas. Seu apito,

usualmente preso em um cordão trançado em seu cinturão, já não

estava. Ela protegia Aidan.

— Temos Hel-Blar aqui embaixo! — Quinn gritou.

— Nós também temos! — lhe gritou Connor.

— Bom, estão a ponto de ter mais!

Connor amaldiçoou e se precipitou ao aterrissar para deter aos

Hel-Blar que chegavam, depois de ter superado ao resto.

Aidan estava cravado no muro atrás da cama, com uma estaca em

seu ombro. Sangrava abundantemente, mas ao menos não tinha

perfurado o coração.

No entanto, estava preso e fraco. Não tinha se alimentado. Até

mesmo eu podia notar. Tinha que soltá-lo.

— Christa, retrocede. — se engasgou.

Muito tarde.

Um dos Hel-Blar colidiu contra mim. Minha frente bateu com a

parede. A dor nublou minha visão por um momento. Forçou minha

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cabeça para o lado. Lutei, mas não podia perder. Aidan arrancou a

estaca, abrindo sua ferida. Cheirei seu sangue no ar. O Hel-Blar riu e

depois me lambeu. Graças a Deus todos os meus arranhões já tinham

sarado. Havia gritos atrás de mim, mas tudo o que ouvia eram essas

mandíbulas rangendo e dentes batendo. Tentei chutá-lo, mas o ângulo

não era o indicado. Inclinou mais no meu pescoço, e suas unhas eram

como garras.

Eu tinha uma estaca, e embora não pudesse alcançar seu coração,

poderia alcançar algo mais. O apunhalei as cegas, tão forte como pude.

Grunhiu, mas não se afastou. O cravei novamente. Desta vez o apunhalei

no olho e gritou, sacudindo-se para trás. A estaca ainda estava na cova

do seu olho. O chutei e bateu contra o piso. Um deles se quebrou debaixo

do seu peso. Ficou onde estava ainda gritando.

— Solte-o. — Saga me ordenou, pulando por cima das cinzas aos

seus pés e o Hel-Blar que eu tinha cegado. — Eu ajudarei ao resto.

Apressei-me para Aidan, parando quando cheguei à estaca. Engoli

saliva.

— Humm, como faço isso?

Ele fez uma careta, pálido debaixo do azul. — Apenas tira. Rápido.

— Oh Deus. — disse, enrolando meus dedos ao redor da estaca e

puxando. — Oh Deus. Oh Deus.

Havia resistência, um débil som de sucção, então, de repente saiu.

Cambaleei uns passos para trás. Aidan grunhiu com dor, empurrando a

ponta da manta ao redor do buraco em seu ombro. Seus olhos estavam

com veias vermelhas. — Maldita seja, isso dói. — Se afastou da parede.

— Despertei quando essa caçadora me apunhalou. Eu consegui afastá-la

o suficiente para trocar seu alvo. — Fez uma careta. — mas não o seu

treinador.

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Seus passos eram premeditados, como se doessem. Deixou o

punho de sua camiseta sobre sua ferida, enquanto se afastava da cama,

abandonando a manta. Pairou sobre a caçadora, seus lábios deixavam

ver as impressionantes presas.

— Escutem garotos? — Lucy nos gritou. — Acredito que

precisamos sair desse inferno agora! Talvez imediatamente fosse genial!

—Agora o que?

— O povoado está a ponto de ser reduzido a cinzas. — respondeu

como se fosse normal. — Talvez tenha dinamite também. Não estamos

seguros.

Aidan avançou longe do caçador e saiu cambaleando para a

entrada e desceu as escadas. — Christabel, vamos.

— Não podemos deixá-la aqui!

— Ela tentou me matar!

— Ainda assim, não podemos... Oh, não importa. — Eu sabia que

era uma causa perdida, especialmente quando ele tinha ainda um

enorme buraco através do seu ombro. Agachei-me para ajudar a

suarenta caçadora a se levantar. Gritou quando sua perna se moveu. Ao

menos tinha conseguido envolver em uma das espadas de Saga,

enquanto o resto de nós lutava por nossas vidas. Era difícil de manobrar,

como um enorme saco de areia úmido. Continuou trocando, seus olhos

procuravam ao redor freneticamente. Lutou como se eu fosse mordê-la.

— Para de fazer isso. — murmurei quando acidentalmente me deu

uma joelhada.

— A tenho. — Connor estava do outro lado, sustentando-a. A

olhou fixamente nos olhos se aproximou o suficiente que até podia

sentir o cheiro de alcaçuz e sabão dele, e disse: — Pare de lutar.

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Parou.

— Ok, esse é um truque que definitivamente devo aprender. —

disse enquanto a arrastávamos abaixo pelas escadas. Quinn estava nos

esperando na entrada.

— Rápido... Posso cheirar o combustível. — me disse firmemente.

Olhou a mulher, desgostoso. — Hunter também desejaria salvá-la. —

murmurou. Pegou a caçadora, a levantou sobre seu ombro e começou a

correr.

O vento era tão suave como água quando corria tão rápido, que o

mundo era um borrão de cores e aromas: cogumelo, terra, fumaça, suor

e tambor de gasolina, e algo mais que não pude reconhecer. Os demais

nos esperavam nos limites do bosque, machucados e exaustos. Hunter

tinha um olho roxo. Quinn soltou a caçadora no chão e depois envolveu

seus braços ao redor dela.

Houve um forte trovão, quase como uma profunda inalação e

depois uma forte exalação. Uma nuvem de fogo, fumaça e escombros

através do povoado fantasma. Choveu lascas e pó. Edifícios reduzidos.

Uma árvore se incendiou na borda do povoado. O chão tremeu debaixo

dos nossos pés, choveram abacaxis e nozes.

Saga observou, seu rosto pálido parecia furioso.

— Como seja, o que raios estão fazendo aqui? — Aidan perguntou,

apoiando-se contra uma árvore enquanto uma luz violenta tocava a

todos. Seu peito estava coberto de sangue e cinzas.

— Ela estava lhe salvando. — Lucy respondeu me apontando. — O

resto de nós estava evitando uma guerra civil de vampiros. Já sabe, o

usual.

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Nicholas deu um dos seus sorrisos desequilibrados, afastando seu

olhar da destruição do povoado. — Espero que esse maldito avião de

caçadores também exploda...

— Atrás de você! — Lucy gritou. Um Hel-Blar correu para ele,

enlouquecido pelo fogo e sangue.

Nicholas se esquivou, mas ele era lento pego de surpresa.

Seus irmãos tentaram alcançá-lo, mas eles estavam muito longe.

— Abaixo! — Lucy adicionou, tateando sua besta.

Nicholas caiu.

Lucy disparou.

Houve um momento de silêncio assombroso, enquanto nos

perguntávamos o que seria mais rápido, a gravidade ou o impulso desse

afiado pino.

E então Nicholas se endireitou, sacudindo as cinzas de seu cabelo.

— Maldição. — Quinn exclamou. — Bom disparo.

Lucy lhe sorriu, depois a Nicholas, que a beijou apaixonadamente

e com língua o suficiente para nos fazer olhar para outro lado. A blusa

de Lucy estava rasgada e a terra emaranhava seu cabelo, parecia tão

presunçosa como uma garota rodeada da apreciação dos irmãos Drake

poderia.

— O fato é — anunciou — que vocês Drakes estariam perdidos

sem mim.

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Epílogo Lucy

Havia apenas passado pela porta principal do dormitório quando

meu celular vibrou. Hunter e Chloe se arrastaram até seu quarto. A

caçadora ferida estava no hospital. Aidan e Saga haviam ido para algum

lugar. Christabel voltou com os Drake, e pela primeira vez não a

invejava. Helena e Liam estariam enfurecidos, até mais do que quando

Solange e eu fomos uma noite quando tínhamos doze anos explorar os

túneis subterrâneos que saíam da fazenda. Falando em Solange.

Carvalho. Já.

Por favor.

Olhei a tela. Tudo me doía. Estava coberta de cinzas e sujeira e

cheirava a cogumelos velhos. Queria apenas tomar uma ducha. E ainda

estava com raiva dela.

Mas a chamada ao carvalho ganhava de tudo.

Murmurando para mim mesma, dei a volta e pisei de novo fora.

Neste passo iam me expulsar da academia antes da minha primeira aula.

Boa coisa que Hunter já tinha me mostrado a melhor forma de escapar

do campus e onde a chave da van da escola estacionada ficava escondida

nos arbustos.

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Estacionei na esquina do campus assim eu não teria conseguido e

a van teria ficado presa na lama.

Solange estava em pé debaixo da árvore, pálida como uma nuvem

de inverno mesmo através dos galhos. Me apressei para ela.

— Melhor isto ser bom, Sol. — murmurei. — Eu preciso de

chocolate, sabão e dormir. Nessa ordem.

Ela caminhou para fora das folhas onde estava oculta. Seus olhos

estavam assombrados, espantados. E ela estava coberta de sangue. —

Oh Deus, Sol. — eu disse. — Você está ferida? — Ela balançou a cabeça.

— Não é o meu sangue.

— Bem, isso é bom. — Ela balançou a cabeça, chorando. — Isso

não é bom? — Eu corrigi. — De quem é o sangue? — Sua boca tremia,

sua voz era tão minúscula quanto impressões de rato na neve.

— De Kieran.

Fim...

Continua em: 05 - Blood Moon

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