Download - Eneia Livro II
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Eneida, Livro II
Narrativa de Eneias A
Destruio de Troia (804 Versos)
Milton Marques Jnior
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Dicionrio da Eneida, de Virglio
Livro II: Narrativa de Eneias A Destruio
de Troia (804 Versos)
Pesquisa e Organizao Prof. Dr. Milton Marques Jnior
Superviso Prof. Dr. Juvino Alves Maia Junior
Pesquisadores Colaboradores e Coautores
Alcione Lucena de Albertim
Danniele Silva do Nascimento
Felipe dos Santos Almeida
Juvino Alves Maia Junior
Nathlia Pinto do Rgo
Raphaella Barbosa Belmont
Vanessa Lima da Cunha
Yasmim Alcntara dos Santos Mendona
Joo Pessoa/Paraba
2011
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Sobre o Dicionrio
A nossa pesquisa consiste na dicionarizao da Eneida, de Virglio.
Como o poema Virgiliano composto de doze Livros, dividimos a
pesquisa em trs momentos: verbetizao dos Livros I a IV; dos Livros V-
VIII, e dos Livros IX-XII. A verbetizao dos Livros I-IV est terminada e
estamos dando a lume a publicao do Dicionrio do Livro II. A
publicao do Livro I, no incio de 2011, foi, para ns, um teste,
esperando que o pblico a quem o dicionrio se destinava
inicialmente, os estudantes do curso de Letras desse o seu retorno de
leitura, sem o que no poderamos corrigir as falhas, com o intuito de
tornar melhor esta obra de referncia.
Para a atual publicao do Dicionrio do Livro II da Eneida A
Narrativa de Eneias: A Destruio de Troia , realizamos algumas
mudanas nas informaes dos verbetes e na objetividade que se
espera de uma obra dessa natureza, mudanas provenientes do uso do
dicionrio em sala de aula. Por outro lado, procuramos melhorar o
aspecto visual do dicionrio, separando cada seo de verbete com a
letra capital correspondente e aumentando a fonte do verbete em
relao fonte que o descreve. A maior novidade a existncia de
ilustraes, fotos oriundas de uma viagem de estudos que fizemos a
Roma e Grcia Atenas, Epidauro, Micenas, Olmpia e Delfos ,
visitando museus e stios arqueolgicos importantes. Assim,
acreditamos que a informao foi qualitativamente melhorada, com as
ilustraes proporcionando ao leitor um prazer visual. No mais,
seguimos os mesmos critrios de verbetizao do volume anterior,
explicados a seguir.
A leitura frequente da Eneida, para ministrao de aulas na
graduao e na ps-graduao em Letras, na Universidade Federal da
Paraba, fez-nos constatar a necessidade de um texto de apoio, de uma
obra de referncia de que somos to carentes no Brasil , para a
compreenso dessa obra Virgiliana. Complexa na sua estrutura,
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complexa na sua linguagem, a Eneida tambm complexa pela
variedade e abundncia de informaes de toda sorte: histrica,
filosfica, geogrfica, religiosa... Apenas para estabelecer uma
caracterstica da Eneida, que nos parece bem ntida, impossvel ler e
compreender esse poema pico sem o conhecimento da histria de
Roma, de seus primrdios poca de Augusto.
Foi pensando na dificuldade que encontra o leitor no iniciado, e
mesmo alguns iniciados, nas obras clssicas, sem acesso ao texto em
latim, que intentamos a realizao de um dicionrio da Eneida. Trata-se
de trabalho lento e complexo, que faz jus s dificuldades que o texto nos
apresenta a todo o instante. frente do GREC Grupo de Estudos
Clssicos e Literrios, da Universidade Federal da Paraba , o professor
Juvino Alves Maia Junior e eu reunimos um grupo de pesquisadores, que
conta com professores do curso de Letras e com estudantes da
graduao e da ps-graduao, e comeamos um trabalho que, a
princpio, parecia de Ssifo, pois se rolar o rochedo ao cume do monte j
bastante difcil, rolar o rochedo sem saber que caminho tomar torna
bem pior esta empreitada. Contudo, uma vez traado o caminho, a
pesquisa pde avanar, e se o rochedo no chegou ao cume, pelo
menos no rolou mais montanha abaixo.
A primeira deciso que tomamos, que nos parecia bvia, foi no
sentido de realizar a verbetizao a partir do texto em latim e no a
partir de uma traduo. Embora nem sempre nosso pblico seja o aluno
de Lnguas Clssicas, entendemos que uma obra que tem inteno
elucidativa, como um dicionrio, no pode confiar seno no texto lido
na sua lngua de origem. Alm do mais, nossa experincia com
tradues nos mostra que o que se traduz e se coloca no mercado no
exatamente o que se encontra no texto. Pode ser na sua essncia, mas
no nos seus detalhes. Como nosso trabalho objetiva um estudo da
Eneida, o vis analtico se impe, obrigando-nos a ir aos detalhes do
original em latim.
O que verbetizar foi decidido ao longo do rolar a pedra montanha
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acima. Inicialmente, pensamos nos personagens heris e divindades ,
depois verificamos que era necessrio ampliar a verbetizao para os
espaos e acidentes geogrficos, alm de determinadas plantas e
expresses. Como compreender a viagem terra marique de Eneias, no
Livro III da Eneida, sem a preocupao de verbetizar cada local por onde
o heri passa? E as vrias expresses de relao metonmica, como um
velho Baco (ueteris Bacchi, Livro I, verso 215), por um vinho
envelhecido? Ou expresses estereotipadas como julgamento de Pris
(iudicium Paridis, Livro I, verso 27)? Deste modo, acreditamos ter dado
mais substncia ao nosso trabalho.
Uma vez que o texto latino naturalmente se imps, restava-nos
escolher que texto seguir. Para um trabalho como este, torna-se
evidente e imperioso o uso de um texto estabelecido filologicamente,
por ser o mais confivel para o estudo. Optamos, pois, pela lio
filolgica de Jacques Perret, de 2006, procurando sempre confrontar
com o texto estabelecido por Henri Goelzer e traduzido por Andr
Belessort, de 1952. Em ambos os casos, a edio da Les Belles Lettres
de Paris. Tais textos encontram-se devidamente referenciados na
bibliografia.
O uso de um texto crtico, estabelecido filologicamente, de suma
importncia, pois nos aproxima das sutilezas do texto virgiliano, o que
no encontramos em outras edies do texto latino. Por exemplo, fiis
ao texto estabelecido, mantivemos todas as formas arcaicas de Virglio,
como os acusativos plurais da terceira declinao em is, como nos
versos gens inimica mihi Tyrrhenum nauigat aequor/Ilium in Italiam
portans uictosque Penatis. (A gente minha inimiga navega o mar
Tirreno, levando lion e os Penates vencidos. Livro I, versos 67-68); ou as
formas em uom e um, do genitivo plural da segunda declinao, como
diuom pater (pai dos deuses, Livro I, verso 65) e pater optime Teucrum
(excelente pai dos Teucros, Livro I, verso 555), e outras formas
semelhantes.
As entradas no dicionrio mostram o verbete em sua traduo
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portuguesa, mantendo, entre parnteses, a forma latina, no caso em
que a palavra aparece no texto original. Quando o vocbulo vem
acompanhado da conjuno encltica que, como em Albanique (Livro I,
verso 7), consideramos apenas a parte lexical (Albani) e no a conjuno
coordenativa aditiva (-que).
Como verbetizar os nomes foi outra gande dificuldade. Decidimos
pela simplificao, para tornar a consulta mais rpida. Os nomes latinos
ou gregos sero traduzidos para o portugus e aproximados, at onde
for possvel, da lngua original. Em todo caso, simplificamos o y para i, o
ch para c ou qu, conforme o caso; o th para t e assim por diante.
Acreditamos que os problemas de traduo de nomes sempre existiro,
mas eles nos parecem minimizados, pelo fato de que eles se encontram
em sua forma original dentro dos parntesis, que acompanham o
verbete, e no ndice onomstico, ao final do dicionrio. Um caso parte
foi com relao a Jpiter. Optamos pela verbetizao das duas formas,
Jove e Jpiter, mesmo sabendo que a forma Jove o desdobramento em
outros casos do nominativo Jpiter. No entanto, na tradio potica da
lngua portuguesa, tanto permaneceu o caso lexicognico Jove (Iouem),
como o nominativo Jpiter (Iuppiter).
J os nomes acompanhados dos eptetos, como Pio Eneias, ou
apenas os eptetos, como Pai dos deuses e dos homens, foram
verbetizados, pois so comuns, frequentes e estruturais na poesia pica.
Com relao aos patronmicos, quer apaream isolados, como
Troianos ou Argivos, quer acompanhando um substantivo designando a
descendncia de um heri, como Anquises Dardnio, isto ,
descendente de Drdanos, quer como um adjetivo ligado a um
substantivo comum, eles sero sempre grafados com maiscula inicial.
Por outro lado, agrupamos todos os patronmicos iguais num mesmo
verbete, quando se trata das formas de masculino, feminino, singular e
plural Argivo, Argivos, Argiva, Argivas. Cumpre-nos, ainda, dizer que
procuramos observar ao mximo o texto original e manter o uso de
Argivos, Aqueus, Dnaos e Graios, em lugar de Gregos, traduo
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corrente, mas que no se coaduna com o esprito do texto, que remonta
a uma poca em que no havia a Grcia, mas cidades-reino, que
funcionavam independentemente, unindo-se contra o inimigo comum,
quando necessrio.
Por fim, mas no por ltimo, temos conscincia de quanto extensa
a tradio mitolgica, tanto de poetas, quanto de mitgrafos, no sendo
possvel, portanto, exauri-la nos limites deste trabalho. Faremos, no
entanto, todas as relaes transtextuais que nos forem possveis fazer,
de Homero aos tragedigrafos gregos squilo, Sfocles e Eurpides ,
chegando at os contemporneos de Virglio.
Entendendo o texto literrio como um tecido que se compe de
outros textos, vemos como, por exemplo, o poeta latino Ovdio (43 a. C.
18 a. D.) se torna uma fonte importante para a leitura da Eneida,
embora suas obras sejam posteriores obra-prima de Virglio. Mesmo
sendo as Metamorfoses do ano 1 a. C. e os Fastos do ano 3 a. D.,
podemos ver como alguns mitos que esto em Virglio so
desenvolvidos por Ovdio nessa duas obras, ajudando o leitor que
conhece ambos os autores a entender melhor o complexo tecido da
Eneida uma das fontes de Ovdio e a perceber a influncia do
mantuano sobre o poeta de Arte de amar.
Milton Marques Jnior
Professor de Literaturas Clssicas
Universidade Federal da Paraba
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Um Livro Augural
Milton Marques Jnior
No segredo para ningum que a Eneida um poema de forte
cunho religioso: a deciso de sada do heri de sua ptria, Troia, tomada
e destruda pelos Argivos, determinada pelos deuses, para que ele,
Eneias, funde uma nova Troia com a anuncia dos imortais habitantes
do Olimpo. Como caracterstico no poema pico, o seu argumento
encontra-se enunciado no Promio (Livro I, versos 1-11); esta parte
substancial do argumento, no entanto, s ser detalhada no Livro II,
levando-nos a conhecer os motivos por que o heri impelido fuga
pelo fado (fato profugus, Livro I, verso 2)1. Descortina-se, ento, para o
leitor, a essncia do poema de Virglio, a mais importante narrativa
pica do mundo latino: os deuses escolhem um heri insigne pela
piedade, determinam-lhe como destino a fuga, impem-lhe provaes e
orientam o seu caminho atravs das profecias dos vrios orculos de
Apolo. Deste modo, fatum, pietas, em seus desdobramentos de fas e
nefas; labor, prodigia, omina, augurium e pressagia, so palavras que
compem o texto e formam a sua estrutura. Acrescente-se a isto a forte
presena do verbo cano, desde o incio do poema, cujo um dos sentidos
profetizar Arma uirumque cano , e o elemento augural torna-se,
portanto, inquestionvel.
Tomamos a palavra augrio nesse ensaio com o sentido
etimolgico, que direciona a sua compreenso. Augurium proveniente
de augeo, augere, fazer crescer, aumentar, termo arcaico e potico,
conforme nos ensina Ernout, explicando a diferena entre esse termo e
auspicium:
Augurium o "pressgio" [favorvel] no sentido mais amplo da palavra; um
termo muito mais compreensivo que auspicium, que designa simplesmente a
1 Para a Eneida, usaremos a edio prepara por Jacques Perret (2006), que consta na
bibliografia.
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observao dos pssaros, e a poca arcaica distingue nitidamente os dois
termos." (ERNOUT, 2001, p.57)2
Recordemos que embora a Eneida seja uma obra do perodo
clssico latino, Virglio remonta em sua narrativa ao perodo arcaico, ao
princpio dos tempos ainda ditos mticos. Do mesmo modo como
alguma formas utilizadas pelo poeta so arcaicas, tambm alguns
significados, sobretudo os religiosos, guardam a sua substncia arcaica.
Augurium , pois, o aumento, o pressgio favorvel que far crescer.
Nada mais claro: Troia destruda dever crescer pelas mos pias de
Eneias, em outro lugar, pela anuncia e vontade dos deuses, como uma
cidade ainda mais florescente e rica do que aquela que, nas bordas do
Helesponto, ora desaparecia.
Faamos uma breve caminhada por este Livro II, no sentido de
mostrar o que ele representa dentro da Eneida, como ele difere da
Odisseia, embora tenha uma estrutura semelhante e, principalmente,
como diferem entre si os heris narradores de ambas estruturas,
Odisseu e Eneias, sendo este impelido pelos fados com uma misso
determinada e j anunciada no Promio do poema, e aquele no. Essa
caminhada faz-se necessria para podermos chegar com mais
propriedade aos augrios, que caracterizam esse episdio.
O Livro II da Eneida integra o segmento das Provaes composto
pelos quatro primeiros livros do poema, cuja narrativa se divide em dois
grupos, a narrativa do tempo presente (Livros I e IV) e a narrativa do
tempo passado (Livros II e III). O primeiro grupo narrativo, em terceira
pessoa, marca a chegada e sada de Eneias da Lbia de ento, mais
precisamente, do reino de Cartago, em construo pela rainha Dido. O
segundo grupo narrativo, em primeira pessoa, marca a sada de Eneias
de Troia, em destruio, e a atribulada e errante viagem que ele est
obrigado a fazer, em busca da nova terra, em que dever fixar-se. O
Livro II inicia-se com Eneias atendendo ao pedido da rainha Dido, para
2 Augurium est le "prsage" [favorable] dans le sens le plus large du mot; c'est un
terme beaucoup plus comprhensif que auspicium, qui dsigne simplement l'observation des oiseaux; et l'poque archaque distingue nettement les deux termes.
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narrar a sua histria. O narrador geral do poema ainda comanda os dois
primeiros versos e s retomar as rdeas de sua narrativa nos versos
716-718, fechando o Livro III e os relatos do heri Troiano. Nesse meio
tempo, Eneias comandar, em primeira pessoa, a narrativa. Assim
teremos, do verso 3 ao 804, o desenvolvimento do argumento do Livro
II A Destruio de Troia.
Ressaltemos que a narrativa de Eneias se encaixa perfeitamente na
mesma estrutura j utilizada na Odisseia (Cantos IX-XII), qual seja a de
uma narrativa dentro de outra narrativa. Igualmente Odisseia, o
personagem principal quem faz o relato, em meio a um banquete, para
uma plateia de uma localidade estranha, que o acolheu e quer conhecer
a sua trajetria. Assim, no poema homrico, Odisseu narra as aventuras
de sua partida de Troia at a sua chegada Fecia, em quatro cantos
(Cantos IX-XII). Eneias, por sua vez, no poema virgiliano, narra a sua
trajetria em dois livros (Livros II e III). A proporo a mesma. Dos
vinte e quatro cantos da Odisseia, Odisseu o responsvel pela
narrao de quatro; dos doze livros da Eneida, Eneias o responsvel
pela narrao de dois. A proporo de 1/6. Tal estrutura mais uma
constatao, dentre tantas fceis de fazer, da leitura que Virglio fez da
obra homrica, pois as pistas so muitas ao longo da Eneida. Que
Virglio, pois, procura Homero como imitao no resta dvida, mas
ressalte-se que a imitao que ocorre no no sentido de cpia, mas no
sentido de ter em mente um modelo de excelncia, a narrativa pica
homrica, e, principalmente, de recriar em cima desse modelo. o que
ocorre na Eneida. Aqui, o ponto de vista a respeito da Guerra de Troia se
desloca. Do vencedor passa para o vencido. Assim, se no Canto VIII da
Odisseia3 vemos Odisseu, ainda annimo, pedir ao aedo Demdoco para
cantar as faanhas do heri Odisseu e do estratagema do Cavalo de
Troia, devemos perceber a a celebrao do herosmo dos Argivos
vencedores em Troia, alm de uma deixa para que o convidado
3 Odisseia, Canto VIII, versos 487-497. Para a Odisseia, utilizaremos a edio preparada
por Victor Brard (2002), que consta na bibliografia.
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misterioso possa se apresentar a todos como o heri de taca,
responsvel direto pela destruio do reino de Pramo. A guerra j havia
virado narrativa e andava na boca dos aedos, imortalizando os heris.
Na Odisseia, portanto, a Guerra de Troia j poesia, j canto inspirado
pelos deuses (qe/spin a)oidh/n, Canto VIII, verso 497). Por outro lado,
Odisseu vai retornar para casa, taca, um local sabido e certo, embora
esteja sujeito pelos deuses a fazer muitas voltas, da o epteto de
poltropos (polu/tropoj), que aparece logo no primeiro verso da
Odisseia. Se Odisseu faz muitas voltas e erra em sua viagem pelo mar,
sentido primeiro do termo, no s isto, porm, o que o epteto indica.
O heri de taca um homem sabidamente astuto (polu/mhtij) e sua
narrativa recheada de aventuras, no necessariamente acontecidas,
mas com o intuito de emocionar os circunstantes que, condodos com
tantas desventuras, o enviaro para o seu destino. As muitas voltas do
pensamento de Odisseu o ajudaro no seu intento de voltar para casa.
Na Eneida, como j dissemos, a perspectiva passa do vencedor para
o vencido. Eneias vai apresentar a Guerra de Troia como uma dor
abominvel, que no pode ser dita (infandum dolorem, verso 3),
lembrando que infandum (infandus, a, um) deriva da mesma raiz de fas,
o verbo fari (*for, fari, fatus sum), com o sentido de falar, dizer, em
latim, de acordo com Ernout4. Mesmo o desfecho da guerra j sendo do
conhecimento de todos, como podemos perceber no Livro I, no
momento em que Eneias v as imagens da guerra nas pinturas que
cobrem as paredes do templo de Juno, erguido por Dido em Cartago5,
recordar o acontecido uma narrativa dolorosa que faz o heri chorar,
diante de tantos males j propagados pelo mundo6. Ao mesmo tempo, a
narrativa pictrica das paredes do templo a certeza de que ele e os
4 Cabe pensar em um estudo sobre o fas e o nefas, na Eneida, observando as vrias formas e vrios sentidos do emprego do verbo *for e seus derivados. 5 Eneida, Livro I, versos 446-493.
6 Eneida, Livro I, versos 459-460 (Constitit et lacrimans Quis iam locus inquit
Achate,/quae regio in terris nostri non plena laboris?).
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demais Troianos foram imortalizados7, assim como Odisseu e os Argivos
tambm o foram na voz de Demdoco. Eneias, portanto, apresenta a
guerra sob o ponto de vista do vencido, que tem sua cidade destruda, e
se v impedido de lutar por ela, pois os deuses j determinaram a sua
destruio; por isto mesmo, v-se obrigado a fugir do que restou da
destruio, para, por determinao divina, fundar uma nova Troia, em
terras cuja localizao ele desconhece. Se pudesse, Eneias faria
diferente, como podemos constatar, no Livro IV. Acusado por Dido de
ingrato e de querer abandon-la, aps tudo que ela fez por ele, Eneias
diz estar submetido ao destino e que, se fosse de sua vontade, ele
estaria em Troia, honrando os mortos queridos e onde sua mo teria
reconstrudo uma outra Prgamo (versos 340-344). Eis outra diferena,
em relao a Homero: Eneias no faz voltas no pensamento, com o
sentido de enganar Dido ou quem quer que seja. Ele cumpre as
determinaes dos Superorum sem subterfgios, porque submetido ao
destino e aos augrios.
As diferenas so muitas e no s seria cansativo tentar exauri-las,
mas tambm no o objetivo deste ensaio. Apresentaremos, contudo,
mais algumas, que serviro para confirmar o carter augural do Livro II.
Virglio, com a narrativa de Eneias, preenche uma lacuna deixada por
Homero sobre os detalhes da destruio de Troia. Odisseu pede a
Demdoco para cantar o acontecimento, mas ns leitores no lemos o
canto do aedo, como lemos o divertido episdio do tringulo amoroso
envolvendo Ares, Hefestos e Afrodite (Odisseia, Canto VIII, versos 266-
367), pois o narrador faz apenas um sumrio8 do que foi a destruio da
cidade Priameia (Odisseia, Canto VIII, versos 498-520), tendo em vista
que o mais importante centrar a ateno nas lgrimas de Odisseu 7 Eneida, Livro I, versos 457 (iam fama totum uolgata per orbem) e 463 (Solue metus; feret haec aliquam tibi fama salutem). 8 O sumrio apresentado na Odisseia apenas para os leitores e ouvintes. Entenda-se que os circunstantes, presentes ao banquete, ouviram detalhadamente o canto narrativo do aedo. Para ns leitores, o sumrio apresentado tem a funo de no desviar a nossa ateno do objetivo da Odisseia: fazer Odisseu retornar ptria e promover a retomada do seu lar.
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(versos 521-531), lgrimas no necessariamente sinceras, considerando
a sua decantada astcia, o que abrir espao para a narrativa dos quatro
cantos seguintes, pelo prprio heri9. A narrativa de Eneias sobre a
derrocada de Troia , portanto, a mais completa que nos chegou atravs
de um poema pico de qualidade inquestionvel.
Por fim, Eneias erra por terra e por mar tanto quanto Odisseu,
porm com objetivos diferentes, muito embora, ambos sejam provados.
Odisseu, para saber se tem prudncia e equilbrio (swfrosu/nh)
suficientes para retomar seu reino; Eneias, para saber se a sua piedade
(pietas), pela qual foi escolhido, o far merecedor de ser o fundador de
uma nova nao. A Odisseu, a volta ao lar; a Eneias, a fundao de uma
nova nao com perspectivas de ser a maior nao da terra, como se
pode ver nas vises profticas ao longo do poema Livros I, VI e VIII,
principalmente.
O forte componente religioso do poema j se faz presente nas
revelaes oraculares dos Livros II e III, envolvendo o fas (o que
permitido aos homens pelos deuses) e o nefas (o que no permitido
aos homens pelos deuses). Eneias, heri piedoso, dever realizar as suas
aes estritamente dentro do que permitido. Por isto mesmo, ele no
pode tocar nos Penates com as mos sujas de sangue da batalha,
embora deva lev-los consigo. A soluo o seu pai, Anquises, segur-
los nas mos, enquanto o heri carrega o velho pai nas costas (versos
717-720). Tambm o heri no poder levar consigo a esposa Cresa,
pois os deuses no permitiro que tal acontea (versos 778-779). As
diferenas existentes entre as revelaes dos dois livros da Eneida
9 A propsito da eloquncia astuta de Odisseu/Ulisses, lembremos que um dos episdios marcantes no Livro II da Eneida a fala de Snon, o grego que se diz desertor e aprisionado pelos Troianos. O discurso de Snon astutamente forjado por Ulisses apresenta grande fora persuasiva, pois est todo calcado na verossimilhana. Os fatos que ele narra aconteceram, mas no necessariamente da maneira como ele os apresenta aos Troianos. Alm de trazer tona a advertncia de Laocoonte assim que Ulisses conhecido? (Sic notus Ulixes?, verso 44) , o discurso de Snon se realiza como um dos exemplos mais marcantes do que verossimilhana, um conceito to caro aos estudos literrios, mas, at onde sabemos, nunca tomado como exemplo.
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consistem no fato de que, no Livro II as revelaes apontam para a
necessidade de Eneias deixar Troia entregue ao seu prprio destino, a
destruio. Trata-se de uma necessidade imposta pelos deuses, como
sabemos. J no Livro III, as revelaes orientam o caminho do heri ao
destino imposto pelos deuses. Essas orientaes, que se mostram
oraculares, aparecem de modo mais completo atravs da fala de
Heleno, o nico dos filhos de Pramo a ter sobrevivido runa do reino
mais importante da sia Menor de ento.
De que augrios falamos propriamente, conduzindo Eneias ao seu
destino florescente, uma vez vencidas as provaes? Heitor aparece em
sonhos a Eneias para dar as primeiras indicaes do novo destino do
heri (versos 287-297). Se Heitor do fundo do peito conduz os gemidos
(gemitus imo de pectore ducens, verso 288) para com esse ato
conduzir Eneias fuga ditada pelos deuses, fazendo-o procurar as
grandes muralhas que ele dever erigir (moenia quaere magna statues,
versos 294-295), metonmia da grande cidade, direcionando Eneias para
a glria futura, em troca de sua Troia, que naquele momento rua. A
complementar esta viso proftica, temos os augrios que ocorrem
quando Eneias tenta convencer Anquises a ir consigo. Diante da recusa
do pai, Eneias resolve combater, sendo impedido pela esposa e pelo
prodgio (mirabile monstrum, verso 680) da cabeleira de Iulo em
chamas, sem que ele se queime (versos 681-686. Vide o mesmo no Livro
VII, com relao a Lavnia). Tal prodgio leva Anquises a se dirigir a
Jpiter, para a confirmao do pressgio (omina, verso 691). O som
tonitroante do trovo e a estrela correndo como uma tocha e marcando
uma rota no cu so vistos por Anquises como o augrio que vem de
Jpiter e que determinam sua partida - Vestrum hoc augurium (verso
703). O coroamento dos augrios se d com a viso da imagem
(simulacrum, verso 772) de Cresa, instruindo Eneias sobre os detalhes
de seu destino (versos 776-789): passado o longo exlio e depois de
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arada a plancie do mar10, Eneias chegar a uma terra frtil, lavrada
pelos homens, onde corre o Tibre. Ali encontrar reino e esposa rgia, e
posses abundantes (res laetae, verso 783).
Os elementos aqui elencados so um exemplo pequeno do que os
augrios e os elementos religiosos, de modo geral, representam no
contexto da Eneida. Na nossa concepo, cremos que quanto mais
fazemos o estudo detalhado de termos e de expresses, mais
conseguimos nos aproximar da camada verdadeiramente substancial do
poema de Virglio, procurando novos significados, que nos ajudaro a
compreender melhor o porqu de sua permanncia na cultura
ocidental.
REFERNCIAS
ERNOUT, Alfred e MEILLET, Alfred. Dictionnaire tymologique de la
langue latine: histoire des mots. 4. d. Paris: Klincksieck, 2001.
HOMRE. Odysse; texte tabli et traduit par Victor Brard; introduction
d'Eva Cantarella; notes de Silvia Milanezi. Paris: Les Belles Lettres, 2001
(3 vol).
VIRGILE. nide; texte tabli et traduit par Jacques Perret. Paris: Les
Belles Lettres, 2006 (3 vol).
10 Entenda-se: Eneias, para ter direito ao que o augrio lhe prenuncia, dever arar o mar, assim como se aram os campos, para que eles possam ser semeados, possam germinar e frutificar. Depois de arado o mar, ultrapassando os obstculos e as provaes, Eneias se realizar como o grande heri fundador de uma nao vitoriosa.
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A tradio homrica de Eneias
Felipe dos Santos Almeida
evidente na Eneida o entrelaamento articulado por Virglio entre
o mtico e o histrico, tendo como base a lenda de Eneias, o mais
remoto antepassado dos romanos, e o Imprio de Augusto. Virglio, ao
se apropriar do mito da fundao das bases de Roma, elabora no
personagem central, Eneias, o modelo de ndole romana, baseado na
tradio, na religio e na virtude. A Eneida representa, no mbito
poltico, o encorajamento oficial de uma onda de orgulho nacional que
emergiu em Roma, aps anos de guerras civis que culminaram na vitria
de Otvio Augusto sobre Marco Antnio. Essa obra representa um
produto desse impulso, na qual Virglio aponta os valores romanos
resgatados e situa a atmosfera da era de Augusto. Assim, o carter de
Eneias desenvolvido para influenciar um momento histrico
determinado, o Imprio de Otvio, e torna-se necessrio que Virglio
manifeste um heri j romanizado, preconizando as virtudes que
Augusto reinstitui com o Imprio. Por isso, no momento do encontro de
Anquises e seu filho Eneias nos Infernos, o pai nomeia este heri de
Romane (Livro VI, verso 851), antecipando o povo que dele se origina e
homologando seu carter latino.
Com efeito, no Livro II, que compe o grupo de Livros que se refere
narrativa em flashback, o episdio da destruio de Troia est situado
muito prximo ao episdio dos ritos fnebres a Heitor que marca o
desfecho da Ilada. Dessa forma, a partir do Eneias estabelecido pela
tradio homrica, Virglio transfere o carter, sobretudo, ao
personagem desse Livro II, que partilha o mesmo momento mtico do
personagem da Ilada. O mpeto temerrio do heri, saliente na Ilada,
sobressai-se nesse momento da Eneida emparelhando-se com a piedade
evidenciada de Virglio, repercutindo em Eneias um extremo conflito
interior, que nada deixa a desejar aos personagens da Literatura da
Modernidade.
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Os Livros das Provaes divididos por Milton Marques Jnior, no seu
ensaio, em dois grupos narrativas do tempo presente (Livros I e IV) e
narrativas do tempo passado (Livros II e III) constituem um ponto
importante para as implicaes do discurso narrativo. O Eneias do Livro I
e o Eneias do Livro II, dentro da temporalidade narrativa, encontram-se
sete anos afastados um do outro. Como consequncia disso, esse heri
do primeiro Livro j ocupa o papel de rei e patriarca entre os Troianos,
pois distante de Troia, ele j passou por inmeras provaes,
especialmente a morte do pai, fato que lhe impe a liderana.
Entretanto, no Livro II, introduz-se um novo ato de narrao a partir do
personagem-narrador, Eneias. Nesse novo cenrio, no qual a
temporalidade narrativa se estabelece exatamente na noite da
destruio de Troia, o heri apresentado por iniciar as provaes que
o tornaro chefe dos Troianos sete anos frente. No h como estudar
a composio desse personagem sem observar o que representam os
eventos ocorridos nesses sete anos e nem como atribuir um mesmo
thos ao personagem Eneias apresentado na narrativa do tempo
presente e quele apresentado na narrativa do tempo passado. O
comportamento do primeiro est elaborado dentro do modelo romano,
j o do segundo praticamente o da tradio homrica. Assim, dentro
da Eneida, pode-se observar, a partir da lgica de causalidade proposta
por Virglio, o thos do personagem do tempo presente da narrativa
como uma consequncia do personagem do flashback.
A grande base de Virglio para conceber o carter guerreiro e
temerrio de Eneias est na Ilada, sobretudo nos Cantos V e XX, de
onde podemos retirar passagens representativas. Observa-se na Ilada
uma temeridade quase imprudente conferida s aes de Eneias que
nos evidenciam exatamente o seu carter. Essa capacidade de enfrentar
o perigo sem nunca recuar, no ceder aos assaltos, manter-se com
firmeza nos combates baliza as noes conferidas a a)lkh= (BENVENISTE,
1995, 73). O sentido que compe esse vocbulo grego constitui um dos
atributos tanto dos heris, quanto dos deuses. Dois momentos da Ilada
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so basilares na constatao dessa temeridade de Eneias: um em seu
confronto com Diomedes (Canto V) e o outro com Aquiles (Canto XX). O
Canto V da Ilada narra os grandes feitos guerreiros do Grego Diomedes.
Nesse momento, o heri avana causando vrias baixas aos Troianos, e
entre estes, a Pndaro, que ento atingido a ponto de desfalecer no
cho, tornando-se alvo fcil ao despojo de suas armas pelos inimigos.
Contudo, Eneias pe-se a proteger o corpo do companheiro, mesmo
que isso custe sua vida (Canto V, versos 289-302). isso que sugere o
narrador, se aps o golpe de Diomedes a Eneias, Afrodite no o tivesse
salvado (Canto V, versos 311-313).
No Canto XX, Eneias novamente observa uma carnificina, agora
gerada por Aquiles, sendo impelido pelas palavras de Apolo, em feies
de Lcaon, a lutar com o Pelida (Canto XX, versos 79-109). Assim, Eneias,
encontrando Aquiles, em resposta s provocaes do Argivo, revela-lhe
que palavras no podem amedront-lo (Canto XX, versos 251-258).
Certamente, em ocorrendo o confronto, Eneias teria morrido,
novamente sugere o narrador (Canto XX, versos 289-293), se Posdon
no o tivesse dali retirado (Canto XX, versos 318-329). No Livro II da
Eneida, esse carter guerreiro e temerrio de Eneias constituinte da
tradio homrica entra em confronto com a piedade virgiliana
apresentada no Livro I e que ainda ser desenvolvida nos livros
subsequentes. Assim, se vrios augrios impelem o heri a partir de
Troia, a possibilidade da glria eterna conferida pela bela morte o
impulsiona a permanecer na cidade.
A abundante presena de augrios nesse Livro II exprime bem
aquilo que percorre toda essa obra de Virglio. Ao se aprofundar a
leitura da Eneida, observa-se que o augrio responsvel por conduzir
as aes que movem a trama de seu incio ao seu desfecho. Dentro do
desenvolver dessa trama, salienta-se o papel central do personagem
Eneias, que ser o condutor da ao principal, a fundao das bases de
Roma. Como sabemos, atribuda a Eneias uma piedade insigne, uma
devoo e obedincia singulares, que propriamente justificam essa
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escolha dos deuses para promov-lo como agente dessa iniciativa de
fundao da nova cidade. exatamente por essa obedincia aos deuses,
que Eneias vai seguir os comandos divinos, objetivando cumprir o seu
destino assinalado e entrelaado ao da nova Troia. Nesse ponto,
encontramos a funo dos augrios, visto que a vontade dos deuses
expressa ao heri Troiano no s pela prpria presena fsica dos
deuses, mas especialmente pelos seus pressgios, muitas vezes
enigmticos. O augrio exerce seu papel, ou seja, a conduo da trama,
medida que Eneias pratica sua piedade. Augrio e ao esto presos
um ao outro na Eneida em funo dessa expresso da religiosidade
romana, a pietas.
A partir da histria narrada na Eneida se depreende o prprio
mito de Roma, mas tal associao se estabelece tambm com outras
naes. Da trama que se desenrola, fazem-se emergir outras histrias
que, a princpio, pareciam secundrias e escondidas, mas que tambm
encontram seu desfecho. Estas constituem a elaborao mtico-potica
de Virglio a outros povos que de alguma forma participaram da histria
que tornou Roma uma cidade soberana. Assim a histria que se
desdobra de Dido em relao aos Cartagineses, a do rei Latino em
relao aos nativos do Lcio, e a dos rcades e Rtulos, que salientam a
presena do mito grego nas terras da Itlia. Tambm nessas histrias, o
augrio exercer um papel importante. Na histria dos Latinos, o
augrio que conduz a ao o fogo que se apodera do cabelo de Lavnia
(Livro VII, versos 71-78), instigando os nativos do Lcio a receberem
bem os estrangeiros. Na dos Rtulos, o augrio a prpria presena de
Alecto nos sonhos de Turno (Livro VII, versos 411-456), conduzindo-o a
lutar contra os Troianos recm-chegados. Na histria dos rcades, o
augrio a apario de um parente e amigo, Eneias, durante os
sacrifcios solenes a Hrcules, tendo isso comprovado pela genealogia
compartilhada por ambas as raas e pelos presentes dados por Anquises
ao rei Evandro no passado (Livro VIII, versos 101-174). Dessa forma,
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constata-se que o papel do augrio em conduzir a trama no se reduz
apenas ao ncleo dos Troianos, representado por Eneias.
Certamente, essas tramas aparentemente secundrias tambm
se interligam com a principal por impulso dos augrios muitas vezes
externos ao campo de ao de Eneias, revelados aos leitores atravs de
uma focalizao onisciente do poeta-narrador. Entretanto, sobre o
heri Troiano que se concentram os sinais divinos que movem a trama,
e sobre o Livro II, que se concentram os augrios da Eneida. Com
efeito, essa obedincia de Eneias aos deuses entra em conflito com o
mpeto guerreiro homrico evidenciado nesse Livro II, repleto de
pressgios e ordens divinas. E no por menos, so cinco os augrios
necessrios para o heri se conscientizar de que seu destino est alm
da runa iminente de Troia e que a busca por uma nova fundao da
cidade em terras ocidentais inexorvel. Os cinco augrios se
manifestam diretamente para Eneias atravs de um sonho com Heitor,
do discurso de Panto, da advertncia de Vnus, dos pressgios de
Jpiter e do simulacro de Cresa. sob esses prenncios divinos que se
constata a grande inquietao do heri diante daquilo que ele deseja e
daquilo que designam os deuses. Verifica-se uma aflio inerentemente
humana atribuda ao heri, no qual, ora pesa a obedincia aos deuses,
que o incitam a partir, ora se pesam as suas emoes, diante da
destruio de Troia, que deixam aflorar seu mpeto guerreiro e o desejo
de morrer junto cidade.
Com efeito, os augrios que se apresentam a Eneias guardam em
si uma unidade, um fio condutor que os atravessa aprofundando aos
poucos seu significado e revelando a destruio de Troia e o destino do
heri Troiano. Alguns elementos dos augrios se repetem reforando-os
e estendendo seu sentido. Entre esses elementos esto declaraes
diretas da destruio de Troia por autoridades, a tomada das muralhas
da cidade, a anuncia de Jpiter perante os eventos estabelecidos pelo
destino e o carter religioso da famlia.
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A viso proftica de Heitor nos sonhos de Eneias (Livro II, versos
268-297) compe o primeiro dos augrios que anunciam a destruio de
Troia e o destino de Eneias. Heitor em suas palavras anuncia
explicitamente a runa da cidade ruit alto a culmine Troia e confirma
seu discurso indicando a tomada das muralhas da cidade pelos gregos
Hostis habet muros. Uma vez que as muralhas representam espaos
sagrados protegidos pelos deuses, a invaso grega s se d por
intermdio de um favorecimento divino. No s atravs das muralhas
que Troia rui, mas por meio delas que uma nova cidade deve ser
erigida. assim que Heitor tambm anuncia a misso de Eneias,
designando-o a procurar novas muralhas para a cidade moenia quaere
magna onde se possa estabelecer o fogo da cidade e a poderosa
Vesta, deusa que o mantm sempre aceso.
Diante desses desgnios, Eneias acorda e, ao percorrer a cidade,
ele encontra Panto, sacerdote de Apolo, que procura partir da Troia. A
prpria imagem do sacerdote augural, pois ele foge com seus deuses
domsticos e com seu neto, simbolicamente o que deveria fazer Eneias
(Livro II, versos 318-321). Panto tambm prenuncia o fim de Troia em
suas palavras fuimus Troes, fuit Ilium , apontando que tal desgnio se
d pela vontade de Jpiter ferus omnia Iuppiter Argos transtulit (Livro
II, versos 322-338). Sua posio sacerdotal lhe confere a manteia e o
discurso proftico, elementos que reforam o discurso de Heitor e
deveriam impulsionar Eneias a partir. Entretanto, a viso da guerra, o
bramido dos combatentes e o rudo das armas o impelem s chamas
que tomam a cidade e o impulsiona s armas.
O terceiro augrio presenciado por Eneias durante a invaso
grega a Troia se refere advertncia de Vnus. Esta se apresenta ao
heri e com palavras o impele a procurar seu pai, esposa e filho para,
junto com eles ir-se, complementando, assim, o destino apresentado
por Heitor. Nas suas palavras, a divina me revela que a famlia do
patriarca Anquises j teria sucumbido s espadas ou s chamas se no
fosse sua proteo. Para convencer o heri temerrio de que lutar
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intil, ela lhe revela que a destruio de Troia se d por vontade divina.
Assim, corrobora os discursos de Heitor e Panto, cujas palavras apontam
sempre a tomada das muralhas como uma prpria manifestao da
vontade divina, pois Eneias consegue observar o prprio Netuno,
construtor das muralhas de Troia, destruir tais fronteiras e as fundaes
da cidade com grande tridente Neptunus muros magnoque emota
tridenti fundamenta quatit (Livro II, versos 610-611); Juno, a frente de
todos, exortar os gregos pelas Portas Escaias; e Palas, triunfante,
estabelecer-se no alto das cidadelas. Assim, prometendo proteo,
Vnus com suas palavras conduz Eneias a procurar a casa do pai.
O penltimo augrio do Livro II da Eneida se manifesta atravs de
uma sequncia de sinais auspiciosos que direcionam Eneias a buscar seu
destino. Anquises, indicado no verso 287 como patriarca - pater
Anchises -, vai presidir todo este momento ritualstico do augrio
distinguindo os pressgios divinos, suplicando e pedindo confirmaes,
at que, por fim, reconhece atravs de uma sucesso de sinais a
vontade divina que o impele a desistir do anseio de morrer junto com a
cidade. Assim, ele decide viajar acompanhando seu filho. fundamental
apontar que Virglio no descreve apenas um sinal divino em
manifestao, pois com essa passagem reconstitudo o ritual arcaico
da manteia que acompanha os augrios. O augrio, ento, torna-se
todo o processo que contm tanto os sinais quanto as fases de sua
interpretao. Com o augrio presente no ambiente domstico, o autor
contrape o conhecimento portado pelo membro que exerce uma
funo sacerdotal ao presidir o culto familiar, o patriarca da famlia, ao
dos outros constituintes do corpo familiar.
O simulacro de Cresa configura o ltimo augrio a se manifestar a
Eneias, nesse Livro II. Iniciado por Heitor, o destino revelado a Eneias se
completa e se detalha pelas palavras de Cresa. Em sonhos, o heri
Troiano recebeu a incumbncia de partir de Troia e, aps atravessar os
mares, o dever de construir novas muralhas aos Penates Troianos.
Entretanto, o lugar onde essa edificao se realizaria estava incgnito.
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Os dizeres de Cresa indicam no s o lugar onde se estabelecer, mas a
sombra de sua mulher anuncia tambm uma esposa real. As terras a
serem procuradas so as da Hespria, que representam as terras
ocidentais, tomadas genericamente pelo Lcio. Este fato tarda a
chegada de Eneias Itlia, pois desconhecedor do exato lugar onde
erigir a cidade, o heri, no seu percurso at chegar ao Lcio, ter
construdo cidades na Trcia, em Creta, e ajudar a construir a prpria
Cartago, cidade da rainha Dido, que o recebeu como hspede.
Nesses ltimos trs augrios, a piedade, atravs de um de seus
aspectos, o respeito e a hierarquia familiar, torna-se saliente, contendo
aos poucos a temeridade de Eneias. No augrio de Vnus, Eneias se v
duplamente motivado a procurar a famlia, em primeiro lugar, pelo
discurso oriundo de uma deusa e, em segundo, pelo fato de que ela
sua me. No seu discurso, ela prpria se define como me e induz o
filho a no lhe desobedecer. Porm, tambm sob esse respeito
famlia, que Eneias, ento, ao encontrar o pai, decide armar-se
novamente para a guerra, pois Anquises, o patriarca da famlia, decidira
no partir de Troia. O heri Troiano, sabendo que deveria partir, escolhe
ficar, pois, atado s obrigaes da famlia, no pode deixar seu pai
morrer abandonado e possivelmente sem funerais adequados. O
augrio do simulacro de Cresa liberta Eneias das obrigaes de esposo,
deixando-lhe o nico dever de cuidar do filho comum, smbolo do
carter frtil do casal.
Durante a destruio de Troia encontram-se os primeiros augrios e
o incio das provaes de Eneias. Para o heri, um dos pontos mais
dolorosos dessas provaes est concentrado no Livro II, no momento
em que Troia rui, pois Eneias, ansiando a bela morte, guardando viva na
memria a imagem do Heitor, campeo dos Troianos, assinalado pelos
deuses a deixar a sua ptria. Confuso, tomado pelo seu impulso
guerreiro, o heri no meramente conduzido pelos augrios que se
mostram diante dele, mas por meio da sua insigne piedade, o heri,
lamentando e sofrendo, praticamente arrastado por uma srie de
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sinais divinos que confirmam a destruio de Troia e o seu prprio
destino. Essa elaborao mostra a grande habilidade de Virglio em
evidenciar na Eneida essa passagem do heri da tradio homrica, na
qual o prprio autor se baseia, para um novo paradigma, um Eneias
baseado na tradio, religio e virtude Romanas. O Livro II representa
exatamente o ponto intermedirio desses dois modelos de Eneias, o
momento em que Virglio expe, mtica e poeticamente, o comeo e
desenvolvimento do modelo da ndole Romana.
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Estrutura do Livro II da Eneida A Destruio de Troia
O Livro II da Eneida trata da destruio de Troia, sendo o incio da
narrativa de Eneias, que tem como sequncia sua viagem por mar e por
terra (Livro III) para chegar ao seu destino, o Lcio. Com uma conotao
augural muito forte, o Livro II apresenta em sua estrutura o componente
mais estritamente religioso do fas e do nefas, a saber, o que permitido
e o que no permitido pelos deuses aos homens. nesse Livro II que
se encontra, em sntese, o cerne da Eneida, pois Eneias saber o seu
destino, fatum, termo que decorre da mesma raiz de fas e nefas, o
verbo *for. 11
Para a contextualizao do Livro II, faz-se necessrio um retorno ao
Livro I A Chegada de Eneias Lbia. Eneias se encontra no Norte da
frica, na Lbia de ento (a Tunsia, na geografia atual), local onde a
rainha fencia Dido est construindo uma cidade, Cartago. O heri chega
quela regio depois de perseguido por Juno. Tendo sado de Drpano
na Siclia, onde lhe morreu o pai Anquises, Eneias deveria se encaminhar
para a Pennsula Itlica, local em que, depois de consultar a Sibila em
Cumas e descer aos infernos para entrevistar-se com o pai, ele seguiria
sua viagem at o Lcio, para a construo das bases da nova Troia.
Perseguido pela fria de Juno, os navios troianos so atingidos pela
tempestade desencadeada por olo, a pedido da rainha das deusas.
necessria a interveno de Netuno, expulsando os ventos do seu
domnio, para que Eneias chegue, em segurana, costa africana. Em l
chegando, Eneias encontra-se com Dido, que o acolhe, oferece um
banquete em sua homenagem, cumprindo os ritos da hospedagem, e
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Um dos sentidos de *for predizer, como se pode ver na prpria Eneida, Livro I, v.
261-262, momento em que Jpiter prediz para Vnus, a ttulo de ratificar suas
decises, o destino de Eneias e dos seus descendentes: fabor enim, quando haec te
cura remordet,/longius, et uoluens fatorum arcana mouebo Com efeito predirei, visto
que esta inquietao te remi, e desenrolando, mais longamente, manifestarei os
segredos dos destinos.
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pede ao heri que narre a sua histria. Em suma, isto o que ocorre no
Livro I. assim que vamos conhecer a queda de Troia com detalhes o
que no se encontra em Homero e a viagem dificultosa de Eneias,
impelido pelos fados. A narrativa de Eneias sobre a derrocada de Troia
, portanto, a mais completa que nos chegou atravs de um poema
pico de qualidade inquestionvel. Vamos a uma sinopse do Livro II da
Eneida.
O Livro II inicia com Eneias atendendo ao pedido da rainha Dido,
para narrar a sua histria. A narrativa de terceira pessoa, predominante
no poema, ainda comanda os dois primeiros versos do Livro II, mas o
narrador heterodiegtico s retomar as rdeas de sua narrativa nos
versos 716 a 718 do Livro III, para fechar o relato do heri Troiano.
Eneias, narrador autodiegtico de dois episdios Livros II e III
contar a histria das grandes dificuldades por que foi obrigado a
passar, comeando por desenvolver, do verso 3 ao 804, o argumento do
Livro II A Destruio de Troia , de que se destacam os seguintes
tpicos:
Introduo (Versos 3-12): Eneias diz da dor que ser narrar as
atribulaes por ele vistas. Anuncia que a noite aconselha a dormir, mas
que far o relato se for o desejo de Dido.
O cavalo de madeira (Versos 13-39): Os Dnaos constroem um
cavalo e fingem ser um objeto votivo deusa Palas Atena, garantia do
seu retorno ptria. Na realidade, o ventre da esttua guarda uma elite
de guerreiros Argivos, armados, enquanto os demais Dnaos,
escondidos na ilha de Tnedos, fingiram ter voltado para sua ptria. Os
Teucros se alegram e, acreditando na partida do inimigo, abrem suas
portas e visitam os campos abandonados. O cavalo causa admirao e
controvrsias: Timoetes quer introduzi-lo na cidadela; Cpis,
acreditando ser uma armadilha, quer jog-lo ao mar ou queim-lo ou,
ainda, furar seus flancos, explorando o que se encontra dentro do
cavalo.
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Advertncia de Laocoonte (Versos 40-57): Furioso, o sacerdote
Laocoonte adverte contra o perigo do cavalo, lembrando a astcia de
Ulisses, temendo qualquer presente dos Dnaos. Laocoonte fere o
ventre do cavalo com uma lana arremessada, mas sua advertncia
ignorada por todos.
Priso de Snon (Versos 58-75): Preso por pastores Troianos, o
Dnao Snon levado presena do rei. Eneias antecipa a Dido a
disposio de Snon tanto para a traio, convencendo os Troianos de
sua dissidncia, em relao aos seus companheiros Argivos, e assim
abrir as portas de Troia para os Aqueus, quanto para a morte, em caso
de seu dolo ser descoberto. Snon mostra-se desesperado, sem terra ou
gua que o abrigue; j no tem lugar entre os Dnaos e os Troianos
reclamam seu sangue. Os Troianos incitam Snon a falar, o que d
margem para que ele desenvolva com verossimilhana a farsa montada
pelos Dnaos.
Primeira narrativa de Snon (Versos 76-104): Snon diz-se de
descendncia Arglica, declara-se desventurado, mas no mentiroso.
Estava na guerra como companheiro de Palamedes, injustamente
acusado de traio por Ulisses e morto. Tendo-se disposto a vingar o
amigo, Snon sofre a perseguio de Ulisses. Aps despertar a
curiosidade de todos, Snon interrompe a narrativa, mostrando-se
vtima e incitando os Troianos a mat-lo, fato desejado por Ulisses e que
seria bem pago pelos Atridas.
Segunda narrativa de Snon (Versos 108-144): Snon diz dos planos
de fuga dos Dnaos sempre frustrados pelo mau tempo. Os Dnaos
haviam enviado Eurpilo ao orculo de Apolo, para saber a causa do mau
tempo, e conhecem que o deus exige uma vtima, do mesmo modo que
para ir a Troia eles tiveram que, anteriromente, em ulis, sacrificar uma.
Ulisses exige de Calcas o nome da vtima. Dez dias depois, o adivinho, de
comum acordo com Ulisses, indica Snon. Preparado para o sacrifcio,
Snon foge, sendo capturado pelos Troianos. Ao trmino da sua
narrativa, Snon diz-se sem esperana de rever a ptria, os filhos ou o
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pai, e teme que os Dnaos os faam pagar em seu lugar. Mostrando-se
uma vtima, Snon pede pelos deuses do alto, pelas potncias divinas,
que sabem a verdade, e pela confiana no corrompida dos mortais,
que os Troianos tenham pena dele.
Pramo d liberdade a Snon (Versos 145-153): Tocados pelo relato
de Snon, os Troianos concedem-lhe a misericrdia. Pramo manda
libertar suas mos e, considerando-o um dos seus, o inquire a respeito
do cavalo.
Terceira narrativa de Snon (Versos 154-198): Snon agradece aos
deuses do alto, tomando-os como testemunha, bem como aos fogos
eternos de inviolvel potncia. Ele tambm toma como testemunha os
altares, o gldio, as fitas dos deuses que o levariam ao sacrifcio de que
ele fugiu. Continuando com a sua farsa, Snon diz que, trado pelos
Gregos, as leis divinas o autorizam a romper os compromissos sagrados
com os antigos companheiros. Liberto do compromisso com a ptria,
Snon pede a fidelidade de Troia em troca dos segredos que vai revelar.
Os Dnaos confiavam em Palas Atena, porm, quando Ulisses e
Diomedes roubaram a sua sagrada efgie, o Paldio, e a conspurcaram
com as mos sujas, toda a esperana deles foi-se por terra. Diante da
fria da deusa, Calcas diz que os Dnaos partam e busquem em suas
terras os auspcios dos deuses, do mesmo modo que eles o tiveram
quando foram para Troia. Os Dnaos partem, ento, a Micenas, apenas
para preparar as armas e sob a vontade divina realizar nova investida
sobre Troia. Para expiar o sacrilgio cometido contra a deusa, os Dnaos
construram o cavalo, que deveria substituir o Paldio. Construdo com
grande porte, o cavalo no deveria ser levado para dentro das muralhas,
o que beneficiaria os Troianos. Tambm no poderia ser ultrajado, o que
traria desgraa a quem o fizesse. Snon revela ainda que se os Troianos
conseguissem colocar o cavalo dentro das muralhas, os Dnaos que
sofreriam o cerco dos Troianos dentro de seus prprios domnios.
Intervindo, Eneias fala da arte da insdia de Snon, ruinosa para os
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Troianos, que haviam resistido tanto tempo fora de Diomedes e de
Aquiles.
Morte de Laocoonte e seus filhos (Versos 199-227): Enquanto o
sacerdote Laocoonte realiza um sacrifcio na praia, os Troianos veem,
com horror, duas serpentes surgirem de Tnedos para sufocar e devorar
os filhos do sacerdote e, em seguida, o prprio Laocoonte. Aps a morte
do sacerdote e de seus dois filhos, as serpentes se retiram, para as
alturas, em busca dos templos, e se escondem aos ps da deusa Palas e
de seu escudo.
O cavalo levado para dentro das muralhas (Versos 228-249):
Diante da morte de Laocoonte e seus filhos, os Troianos acreditam no
que diz Snon. O sacerdote foi punido por haver ofendido a deusa Palas,
ferindo o cavalo com uma lana. Parte da muralha quebrada para o
cavalo entrar em Troia. Jovens cantam hinos sagrados, enquanto o
cavalo puxado para dentro das muralhas. Os Troianos, cegados pela
loucura, introduzem o monstro na cidadela sagrada, sem ouvir as
previses de Cassandra.
Os Argivos invadem Troia (Versos 250-267): Aproveitando a
escurido da noite e o fato de que a cidade dorme, sepultada pelo
vinho, Snon abre a barriga do cavalo e libera os guerreiros Dnaos de
dentro dele: Tessandros, Estnelos, Ulisses, Acamas, Thoas,
Neoptlemos, Macon, Menelau e Epeios. Os outros guerreiros, que se
encontravam escondidos em Tnedos, chegam com seus navios ao
litoral e, com as portas de Troia abertas, eles invadem a cidade.
Advertncia do esprito de Heitor a Eneias (Versos 268-297): Em
sonhos, Eneias cr ver o esprito de Heitor. O filho de Pramo lhe
aparece do modo como fora ultrajado por Aquiles, sujo, ensanguentado
e ferido, no como o Heitor vitorioso vestido dos despojos de Aquiles ou
o que comanda o incndio s naus dos Dnaos. Chorando Eneias lhe
dirige vrias perguntas, mas Heitor as ignora e lhe diz para fugir: o
inimigo conquistou as muralhas de Troia, Troia desaba de sua altura e
no pode ser defendida por braos mortais. Troia confia a Eneias seus
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Penates e seus objetos de culto. Eneias deve fugir e, seguindo seu
destino, procurar as grandes muralhas, que erguer, aps haver corrido
os mares. Heitor confia a Eneias a deusa Vesta, suas fitas e seu fogo
eterno, trazidos do fundo do santurio da deusa.
Despertar de Eneias (Versos 298-317): Eneias desperta do sono com
os Dnaos dentro de Troia. Gritos por todos os lados, os palcios de
Defobo e Ucalego ardendo em chamas, a traio dos Dnaos est
descoberta. Eneias pega as armas para defender a cidadela, num
arroubo herico de morrer pelas armas.
Revelao de Pantos (Versos 318-346): Eneias encontra Pantos,
sacerdote de Apolo, que lhe diz do ataque dos Aqueus, da traio de
Snon e da destruio de Troia pela vontade de Jpiter. Sados do cavalo,
os Dnaos tomaram a cidade. Diante de tais revelaes, Eneias se lana
no meio do combate com os companheiros, na tentativa v de defender
a sua ptria.
Eneias exorta os companheiros luta (Versos 347-369): Sabendo
tratar-se de uma luta v, Eneias anima os companheiros a lutar e a nada
esperar do combate, pois a nica salvao dos vencidos no esperar
nenhuma salvao. Troia desaba, um imprio termina; por toda a parte,
encontram-se o pavor e a imagem abundante da morte.
Confuso de Androgeu, nimo de Corebo (Versos 370-401):
Androgeu confunde os Troianos com os Dnaos, ao perceber o erro,
tenta fugir, mas sua tropa massacrada por Eneias e os companheiros.
Animado com o triunfo sobre Androgeu, Corebo incita os companheiros
a tomarem as armas dos Dnaos, de modo a engan-los, conseguindo,
assim, matar e fazer correr vrios inimigos.
Tentativa de salvao de Cassandra (Versos 402-452): Cassandra
puxada pelos cabelos pelas mos inimigas de dentro do santurio de
Minerva. Os Troianos tentam salv-la. Trava-se uma luta sangrenta, em
que tanto Eneias e seus companheiros so combatidos pelos Troianos,
enganados pelos trajes que eles usam, quanto pelos Dnaos, dentre eles
Ajax e os dois Atridas, que os reconhecem pela fala. Muitos Troianos
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morrem. Eneias tenta socorrer o palcio de Pramo, assediado pelos
Gregos.
Eneias no palcio de Pramo (Versos 453-485): Eneias tenta conter
o avano dos Dnaos ao palcio de Pramo, mas no consegue. A
investida ao recinto comandada por Pirro e pela juventude de Sciros,
que conseguem abrir uma brecha nos muros para invadir a morada de
Pramo.
Dor e sofrimento no interior do palcio de Pramo (Versos 486-
505): Diante do mpeto de Pirro, furioso, tendo a fora do pai Aquiles e
acompanhado dos dois Atridas, o que Eneias v dor e sofrimento:
Hcuba acompanhada de suas noras, ao p dos altares profanados de
sangue; as cmaras nupciais destrudas; os Dnaos ocupando os espaos
deixados pelo fogo.
Eneias testemunha a morte de Polites e a de Pramo (Versos 506-
558): O velho rei Pramo, vendo sua cidade tomada pelos Dnaos,
resolve envergar a armadura h muito no usada. Hcuba o faz desistir
da idia de lutar, chamando-o para ficar ao abrigo do altar, junto com
suas filhas. Pramo, no entanto, v Pirro matar-lhe o filho Polites, e,
indignado, tenta acert-lo com um tiro fraco de lana, recriminando em
Pirro o que ele, Pramo, no viu no prprio Aquiles. Pirro Neoptlemo
volta-se contra Pramo, desdenhando do velho rei, e o mata, diante do
altar domstico. Pramo, antigo dominador da sia, jaz, cabea sem
tronco, cadver sem nome.
Terror e dio de Eneias, ao presenciar a morte de Pramo (Versos
559-587): Lembrando-se do pai, da esposa e do pequeno filho, Eneias
sente-se envolvido pelo horror, ao presenciar a morte de Pramo.
Sozinho, pois o desespero levou seus companheiros, Eneias descobre
Helena, que procura se esconder no templo de Vesta, e o dio lhe toma
o esprito. O heri pensa em mat-la, mesmo que isto no lhe traga
nenhuma glria, pelo menos, ele teria vingado a morte de Pramo, a
destruio de Troia e livrado o mundo de uma abominao. Se no
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mat-la, ela voltar a Esparta com o marido, para viver no fausto, e
Eneias no vingar a cinza dos seus.
Vnus aparece a Eneias (Versos 588-633): A deusa Vnus aparece
ao heri e o impede de matar Helena, aconselhando-o a cuidar de sua
prpria famlia. Descortinando a nuvem que no deixa Eneias ver o que
se passa, ela lhe mostra que a queda de Troia uma deciso dos deuses:
Netuno abala a fundao das muralhas; Juno, nas Portas Escaias,
armada com espada, chama as tropas dos Dnaos; no alto da cidadela
encontra-se Palas com a Grgona, e Jpiter anima o ardor viril dos
Dnaos. Conduzido pela me, Eneias avana por entre as runas de
Troia, com as setas cedendo-lhe o lugar e as chamas se retirando sua
passagem.
Resistncia de Anquises em partir (Versos 634-670): Eneias chega
casa de seu pai, Anquises, e o velho rei se recusa a partir, negando-se a
sobreviver runa de Troia e ir para o exlio. Diante da resistncia do pai,
Eneias resolve ficar e dar novo combate aos Dnaos, pois no vai fugir e
deixar o pai morrer, mesmo que sua fuga seja por uma determinao
dos deuses. Eneias teme que Pirro faa com ele o mesmo que fez com
Pramo, matando o filho diante do pai e matando o pai no altar.
Temendo por sua casa, por sua mulher e seu filho, Eneias dispe-se a
nova luta contra o inimigo.
Prodgio em Iulo (Versos 671-691): Eneias empunha novamente a
espada, mas impedido por Cresa de se entregar ao combate. Sua
esposa lhe diz para defender, em primeiro lugar, sua prpria casa.
Enquanto Cresa suplicava a Eneias no voltar a combater, mas
defend-los, um prodgio se passa: a cabeleira de Iulo comea a pegar
fogo, sem queimar, no entanto, o menino. Eneias se apressa a apagar a
chama e Anquises, vendo ali um prodgio, pede a Jpiter a confirmao
do pressgio.
Confirmao do pressgio (Versos 692-704): Jpiter confirma o
pressgio a Anquises, fazendo ouvir o trovo e aparecer uma estrela
brilhante que marca o caminho para Eneias e os seus. Diante do
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prodgio, Anquises resolve acompanhar Eneias, pois sabe que Troia
ainda existe na vontade dos deuses.
Eneias decide partir (Versos 705-729): Eneias parte, levando nas
costas o velho pai, com Cresa e Iulo o seguindo de perto. O heri
marca com os companheiros, como ponto de encontro, um antigo
cipreste ao lado de um templo de Ceres, isolado de tudo. Como Eneias
est com as mos sujas do combate, Anquises leva consigo os Penates
de Troia. Impuro, o heri para portar os Penates deveria, antes,
purificar-se em gua corrente.
Perda de Cresa (Versos 730-751): Com a proximidade dos inimigos,
Eneias apressa o passo e perde Cresa de vista. Todos se renem no
local indicado, mas Cresa no se encontra. Eneias acusa os homens e
os deuses, em seu desespero, e empunhando novamente as armas,
depois de deixar todos em segurana, decide voltar cidade para
encontrar a esposa.
Eneias busca Cresa (Versos 752-767): Tentando encontrar Cresa,
Eneias volta a sua casa, para v-la em chamas; o heri percebe tambm
que a cidade foi pilhada e o butim est sendo guardado por Ulisses e
Fnix; ele v, ainda, a longa fila de crianas e mulheres pvidas com a
destruio.
A imagem de Cresa aparece a Eneias (Versos 768-795): Ousando
chamar por Cresa, Eneias v aparecer-lhe a imagem da mulher, que o
aconselha a esquec-la, pois os deuses a impedem de ir com ele e outro
destino o aguarda: um longo exlio pelo mar, depois do que o heri
chegar Hespria, terra do opulento Tibre, onde lhe esto reservados
um reino, uma fortuna prspera e uma esposa real. Eneias deve ficar
descansado, pois Cresa no ir ser escrava dos Gregos: Cibele, a me
dos deuses, a retm naquelas paragens. Eneias tenta abra-la, trs
vezes, e a imagem, trs vezes escapa de suas mos. O heri retorna aos
companheiros.
Eneias segue para o exlio (Versos 796-804): Eneias se surpreende
com o nmero de pessoas que vo partir com ele mes, homens, uma
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multido digna de piedade, que seguir com ele ao exlio. Pela manh,
com os Dnaos fechando as portas da cidade, o heri, sem muita
esperana, segue para as montanhas, com o pai nas costas.
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Dicionrio da Eneida, de Virglio
Livro II: Narrativa de Eneias A Destruio
de Troia (804 Versos)
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A
Acamas (Acamas, v. 262): Heri Grego que se encontrava dentro do
cavalo de madeira levado para Troia.
Acaicos (Achaica, v. 462): Relativo aos Aqueus. O termo se refere aos
acampamentos Aqueus (Achaica castra).
Ajax (Aiax, v. 414): O texto se refere ao aprisionamento de Cassandra
pelos Gregos e retomada da sacerdotisa por Corebo e pelos
companheiros de Eneias. Os Gregos ficam enfurecidos e atacam o
esquadro Troiano. Dentre os Dnaos est o feroz Ajax (acerrimus Aiax,
verso 414). Poderia haver dvidas sobre o Ajax a que o texto se refere,
se se trata do Telamonida ou do Oilida. Como Eneias est narrando a
destruio de Troia, no pode haver dvida: trata-se de Ajax Oilida ou
Ajax Menor, pois a este heri imputa-se o crime de violao de
Cassandra dentro do templo de Palas Atena ou Minerva. Na Odisseia
(Canto III, versos 134-135), Nestor se lamenta a Telmaco, referindo-se
aos muitos Argivos que pereceram sob a ira funesta de Palas Atena.
Quando Telmaco chega Lacedemnia, para saber de Menelau sobre
seu pai, Odisseu, o Atrida lhe diz da sua estada no Egito e como soube,
depois de aprisionar Proteu, dos fatos que se sucederam sua sada de
Troia. Dentre eles, Menelau sabe que Ajax Oilida, perseguido pela clera
de Palas Atena, salvo do naufrgio de suas naus, mas pela falta
cometida, morto afogado por Posdon (Canto IV, versos 499-509).
nas Troianas, de Eurpides, que vemos a falta cometida por Ajax. Atena
resolve punir os Gregos, pois Ajax feriu pela fora Cassandra dentro de
seu templo (versos 65-75).
Androgeu (Androgeos, v. 371; Androgeos, v. 382; Androgei, v. 392):
Grego, acompanhado de outros Gregos, que confunde Eneias e os
companheiros do heri com seus aliados. Androgeu e sua tropa so
mortos por Eneias. S depois de recriminar a preguia dos aliados e
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incit-los a rapinar as riquezas de Troia, que Androgeu percebe que
caiu no meio de inimigos.
Andrmaca (Andromache, v. 456): Mulher de Heitor, me de Astanax.
No Livro III da Eneida, Eneias se encontrar com Andrmaca no piro,
como esposa de Heleno.
Anquises (Anchisae, v. 300; Anchisen, v. 597; Anchises, v. 687;
Anchisen, v. 747): Anquises o pai de Eneias. O velho rei se pronuncia
entre os versos 638-649, deste Livro II da Eneida, demonstrando
resistncia em ir com Eneias. Ele que j vira e sobrevivera destruio
de Troia por Hrcules, recusa-se a sobreviver a mais uma. Anquises
sente-se velho e inutilizado desde que foi atingido pelo raio de Jpiter,
por ter revelado a sua unio com Vnus. Para ele, Facilis iactura
sepulcri, verso 646 A perda ou sacrifcio do sepulcro fcil. Anquises
s se decide a ir-se com Eneias, quando ele v o prodgio do fogo nos
cabelos de Ascnio. O velho pai de Eneias pede, ento, a Jpiter a
confirmao do pressgio, no que de imediato atendido: Jpiter
manda o trovo e uma estrela brilhante que percorre o cu por cima da
casa de Anquises, mergulhando na floresta do Monte Ida. Entendendo a
confirmao do pressgio e a proteo dos deuses, Anquises resolve
partir com Eneias.
Apolo (Apollo, v. 121; Apollinis, v. 430): Deus da profecia, do arco, da
poesia, da msica, da inspirao, da peste e da cura. Na Eneida, aparece
mais frequentemente como deus da profecia e como guia da fundao
da nova Troia. A primeira referncia a Apolo encontra-se no discurso
forjado de Snon aos Troianos: os Argivos teriam enviado Eurpilo para
interrogar o orculo de Apolo e saber quais as suas decises. A segunda
referncia diz respeito ao momento da morte do Troiano Panto,
sacerdote do deus.
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Apolo Dlfico. Fragmento de esttua em madeira, recoberta de ouro e marfim. Obra Jnica do sculo VI a. C. (Museu de Delfos).
Apolo sobre a trpode, acompanhado de rtemis e Leto, constituindo a trade Dlica. Relevo votivo do sculo V a. C. (Museu Nacional de Atenas).
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Aquiles (Achilles, v. 29; Achilles, v. 197; Achilli, v. 275; Achillis, v. 476;
Achilles, v. 540): Rei da Tesslia, maior heri dos Argivos, liderava os
Mirmides. As referncias ao heri so variadas e vo desde a crueldade
de Aquiles (saeuos Achilles, verso 29), ao Aquiles Larisseu (verso 197), a
Heitor vestido com as suas armas, visto em sonho por Eneias (verso
275); a Perifas, o cocheiro do Pelida, at a recriminao de Pramo,
comparando Pirro com o pai Aquiles, mas destacando a piedade deste
que concordou em devolver o corpo de Heitor, para o pai dar-lhe uma
sepultura (verso 540).
Aquiles Larisseu (Larisaeus Achilles, v. 197): Referncia cidade de
que Aquiles proveniente Larissa , na regio da Tesslia. Vide
Aquiles.
Aquivos (Achiui, v. 45; Achiuis, v. 60; Achiuos, v. 102; Achiuom, v. 318):
Relativo aos Gregos, aos Aqueus. Nome genrico para designar os
Gregos.
Argiva (Argiua, v. 254; Argiuom, v. 393): Referente aos Gregos. Vide
Falange Argiva.
Arglica (Argolica, v. 78; Argolica, v. 119): Referente aos Gregos. Vide
Raa Arglica.
Arglicos (Argolicas, v. 55; Argolicis, v. 177): Referentes a Argos, reino
do Peloponeso, capital da Arglida, e aos Gregos de modo geral. Vide
Refgios Arglicos.
Argos (Argos, v. 95; Argis, v. 178; Argos, v. 326): Reino no Nordeste do
Peloponeso, sob o comando de Agammnon. O termo comumente
tomado como metonmia da Grcia.
Arte Pelasga (arte Pelasga, v. 152): Refere-se eloquncia Grega
usada por Snon para enganar os Troianos.
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Ascnio (Ascanius, v. 598; Ascanius, v. 652; Ascanium, v. 666;
Ascanium, v. 747): Ascnio, tambm conhecido como Iulo, filho de
Eneias e de Cresa. A primeira referncia diz respeito a uma
admoestao de Vnus a Eneias, por querer lutar contra o inelutvel, a
destruio de Troia, tendo deixado de lado a salvao da famlia (verso
598). A segunda diz respeito tentativa de Eneias e seus familiares de
persuadir Anquises a partir com eles (verso 652). A terceira aluso
mostra Eneias indagando a sua me, Vnus, se foi para morrer em sua
prpria casa pelas mos de Pirro, como Pramo, que ela o retirou do
meio da batalha (verso 666). A ltima referncia ocorre no momento
em que Eneias parte em busca de Cresa, que havia desaparecido,
deixando o pai, o filho e os Penates em segurana com os seus
companheiros (verso 747). Vide Iulo.
sia (Asiam, v. 193; Asiae, v. 557): A sia. De acordo com as profecias
de Calcas, relatadas por Snon aos Troianos, o cavalo de madeira era um
oferenda para Minerva ou Palas, como reparao ofensa feita deusa,
no momento do roubo do Paldio por Ulisses e Diomedes. Caso o cavalo
permanecesse na praia, os Gregos voltariam para acabar com Troia; se
os Troianos o levassem para dentro da cidade, seriam eles, os Troianos,
designados por metonimia como a sia, que levariam a guerra aos
Gregos (ultro Asiam magno Pelopea ad moenia bello/uenturam et
nostros ea fata manere nepotes verso 193-194).
Astinax (Astyanacta, v. 457): Filho de Heitor e de Andrmaca. Na
tradio de Eurpides (As Troianas), uma vez Troia vencida, ele jogado,
ainda criana de colo, do alto das muralhas e morre. Virglio segue essa
tradio, j insinuada em Homero (Ilada, Canto XXII, versos 63-64), no
lamento de Pramo, tentando convencer Heitor a no enfrentar Aquiles.
Quando Eneias chega ao piro (Eneida, Livro III), encontra Andrmaca e
ela se lembra de Astanax ao ver Iulo.
Atridas (Atridae, v. 104; Atridae, v. 415; Atridas, v. 500): Os filhos de
Atreu, Agammnon e Menelau, maiores chefes Argivos na guerra de
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Tria. Juntamente com Pirro, os dois irmos ajudam na tomada do
palcio de Pramo.
Augusta Me (alma parens, v. 591; alma parens, v. 664): Referncia a
Vnus, me de Eneias. Vide Vnus.
Austro, Austros (Auster, v. 111; Austris, v. 304): O Austro a
personificao do vento Sul. Trata-se de vento violento, que traz a chuva
e a tormenta. Para Ovdio, nas Metamorfoses, o Austro o vento Sul e
chuvoso (Livro I, v. 65-66). desse modo que os Austros so vistos neste
Livro II da Eneida, ventos de speras tempestades e furiosos (furentibus
Austris, verso 304). Na Torre dos Ventos, em Atenas, o Austro, que
corresponderia ao Notos (No/toj), representado por um jovem
vertendo gua de uma nfora.
Torre dos Ventos (gora Romana, Atenas)
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Personificao de Notos, o Vento Sul, na Torre dos Ventos (gora Romana, Atenas).
Automedonte (Automedon, v. 477): Escudeiro de Aquiles e condutor
do seu carro de guerra. Depois da morte do heri, Automedonte se
encontra ao lado de Pirro, filho do Pelida, ajudando na tomada de Troia.
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B
Belida (Belidae, v. 82): Descendente de Belo, filho de Posdon e de
Lbia. Lbia, por sua vez filha de Epafo, filho de Zeus e de Io. Os
ancestrais de Belo e de seu irmo Agenor so os povos da frica do
Norte e da antiga Fencia. Seus descendentes que iro formar parte do
povo Grego. De Agenor vir Cadmo, futuro fundador de Tebas e o
introdutor do alfabeto, que os Gregos tomaro emprestado aos
Fencios. De Belo, viro Dnaos e Egipto, cujas filhas e cujos filhos,
respectivamente, casaro entre si. Da, restaro apenas Hipermnestra, a
nica das Danaides que no mata o marido-primo na noite de npcias, e
Linceu, o nico marido-primo sobrevivente, de quem sero
provenientes os povos Argivos.
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C
Calcas (Calchante, v. 100; Calchanta, v. 122; Calchas, v. 176; Calchas, v.
182; Calchas, v. 185): Sacerdote de Apolo junto aos Aqueus, Calcas
proveniente de Micenas ou de Mgara, filho de Testor, conforme est
na Ilada (Canto I, verso 69), e descendente de Apolo. Ele referido por
Snon como tendo previsto que s um sacrifcio de sangue humano, de
uma vida Argiva apaziguaria a deusa Minerva e garantiria a volta dos
Dnaos a sua terra, assim como o sacrifcio de Ifignia tinha garantido a
ida dos Dnaos para Troia. Como sempre, do relato de Snon aos
Troianos, apenas a metade verdadeira... Calcas teria dito, ainda,
interpretando os pressgios (Ita digerit omina Calchas, verso 182), que
como Troia no poderia ser tomada pelos Arglidas, ento eles
deveriam embarcar de volta, em busca de bons auspcios.
Cpis (Capys, v. 35): Troiano que, prevendo a armadilha que o cavalo
de madeira poderia ser aos seus compatriotas, partidrio de que o
joguem ao mar ou o queimem ou furem seus flancos para perscrutar
seus segredos profundos.
Cassandra (Cassandra, v. 246; Cassandrae, v. 343; Cassandra, v. 404):
Irm de Pris, sacerdotisa de Apolo, a quem o deus concedeu o dom da
profecia e retirou o da credibilidade (dei iussu non unquam credita
teucris Por ordem do deus, jamais crida pelos Teucros, verso 247).
Aps a invaso de Troia, Cassandra, a virgem Priameia, aprisionada e
puxada com as mos atadas, para fora do templo de Minerva. Corebo
tenta salv-la, mas morre diante do altar da deusa. Vide Ajax (Imagem
6, no Apndice Iconogrfico).
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Clitemnestra matando Cassandra, bronze do sculo VII a.C. (Museu Nacional de Atenas)
Cavalos Eoios (Eois...equis, v. 417-418): O termo se refere aos cavalos
Eoios ou cavalos Aurorais, guiados pelo alegre Euro.
Celcolas (caelicolae, v. 641): Habitantes do Cu, os deuses olmpicos.
Ceres (Cereris, v. 714; Cereris, v. 742): A deusa Ceres, vinculada
agricultura. As duas referncias a Ceres so feitas por Eneias. Trata-se
do ponto de encontro com os companheiros na fuga de Troia destruda.
Todos deveriam se encontrar perto do antigo templo de Ceres, sombra
de um velho cipreste, que protegia o culto aos ancestrais.
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Cipreste (cupressus, v. 714): Na fuga de Troia destruda, Eneias orienta
os companheiros para que todos se renam em um mesmo ponto de
encontro, sob um antigo cipreste, conservado pela religio dos
ancestrais, prximo a um antigo templo de Ceres. De acordo com
Gheerbrant e Chevalier (1982), rvore sagrada para vrios povos, graas
sua longevidade e sua verdura persistente, o cipreste (cupressus
sempervirens) nomeado de rvore da vida. Entre os Gregos e
Romanos, o cipreste tem uma relao com as divindades infernais.
rvore das regies subterrneas, ligada ao culto de Pluto (Hades), o
cipreste orna os cemitrios. Como rvore funerria em toda a bacia
mediterrnea, o cipreste deve este fato ao simbolismo das conferas
que, pela sua resina incorruptvel e sua folhagem persistente, evocam a
imortalidade e a ressurreio. No contexto deste Livro II da Eneida, o
cipreste est prximo a um antigo templo de Ceres, a deusa da
agricultura, cuja atividade cclica nos remete para a ressurreio e a
imortalidade, representadas por essa rvore, presena constante na
paisagem de Roma e de toda a Grcia.
Ciprestes do Palatino, Roma.
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Ciprestes no Santurio de Apolo, em Delfos (Grcia).
Corebo (Coroebus, v. 341; Coreobus, v. 386; Coroebus, v. 407;
Coroebus, v. 424): Companheiro de Eneias nos primeiros combates aos
Gregos, quando da invaso e tomada de Troia. Filho de Migdon, Corebo
foi a Troia prestar ajuda a Pramo, levado por amor insano a Cassandra.
O infeliz no soube ouvir as profecias da sua amada (infelix qui non
sponsae praecepta furentis/audierit! versos 345-346). Nos primeiros
combates, Corebo exorta os companheiros a se vestirem com as armas
dos Gregos mortos e assim confundirem o inimigo. Que importa contra
o inimigo que se use o dolo ou a virtude se eles mesmos fornecero as
armas? (Dolus an uirtus, quis in hoste requirat?/Arma dabunt ipsi,
versos 390-391). Corebo coloca em si mesmo o capacete de Androgeu e
empunha a espada do inimigo morto. Ao ver Cassandra ser arrastada de
mos atadas pelos Gregos, Corebo tenta salv-la, mas morre diante do
altar de Minerva, a deusa das armas poderosas (diuae armipotentis ad
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aram/procumbit, versos 425-426). Esta passagem nos faz lembrar o
momento em que Heitor veste as armas de Aquiles, que o Priamida
retira de Ptrocles, aps mat-lo, selando a sua prpria sorte por ter
vestido as armas de um heri morto (Ilada, Canto XVII, v. 198-209).
Corpo Heitreo (corpus...Hectoreum, v. 542-543): Referncia ao
resgate do corpo de Heitor por Pramo, que se d no Canto XXIV da
Ilada. Vide Heitor.
Cresa (Creusa, v. 562; Creusa, v. 597; Creusa, v. 651; Creusam, v. 666;
Creusa, v. 738; Creusam, v. 769; Creusae, v. 772; Creusam, v. 778;
Creusae, v. 784): Filha de Pramo e esposa de Eneias. Cresa, diante da
deciso de Eneias de retomar o combate, mesmo aps os conselhos de
Vnus para que ele partisse, implora por ela mesma, pelo filho e por
Anquises. Se Eneias tem que retomar as armas que comece defendendo
a sua prpria casa. Na fuga com Eneias, Cresa se perde e o heri,
depois de deixar a salvo os companheiros, o pai, o filho e os Penates,
retorna para busc-la. Cresa aparece a Eneias sob a forma de uma
imagem, um simulacro, para dizer da impossibilidade de segui-lo, pois
esta foi a vontade dos deuses. Ela mesma apresenta ao heri o ltimo
aviso, com detalhes sobre o seu destino: Eneias ter um longo exlio
pelo mar at chegar Hespria, onde corre o Tibre Ldio, atravs de
terras de rica cultura; l o esperam uma fortuna, um reino e uma esposa
real. Eneias deve ficar descansado, pois Cresa no servir de escrava
aos Gregos. Cibele, a grande me dos deuses, a reter nas plagas
Troianas.
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D
Dnaos (Danai, v. 5; Danaum, v. 14; Danaum, v. 36; Danaum, v. 44;
Danaos, v. 49; Danaum, v. 65; Danaos, v. 71; Danai, v. 108; Danai, v.
117; Danaum, v. 162; Danaum, v. 170; Danaos, v. 258; Danaum, v. 276;
Danaum, v. 309; Danai, v. 327; Danai, v. 368; Danaum, v. 370; Danaum,
v. 389; Danais, v. 396; Danaum, v. 398; Danai, v. 413; Danaum, v. 433;
Danaos, v. 440; Danaum, v. 462; Danaum, v. 466; Danai, v. 495; Danai,
v. 505; Danaum, v. 572; Danais, v. 617; Danais, v. 669; Danai, v. 757;
Danai, v. 802): Forma genrica para designar os Gregos. O termo
proveniente de Dnaos, ancestral dos Argivos. Vide Belida.
Dardnia (Dardaniae, v. 281; Dardaniae, v. 325): Regio da Trade,
fundada pelo heri Drdanos, filho de Zeus, de quem se originam, Tros e
Ilos, ancestrais dos Troianos.
Dardnidas (Dardanidae, v. 59; Dardanidae, v. 72; Dardanidum, v.
242; Dardanidae, v. 445): Os Troianos, descendentes de Drdanos. So
os pastores Dardnios que levam Snon, o Argivo, amarrado, para que
Pramo e os demais que esto na praia, em torno do cavalo de madeira,
possam ouvi-lo.
Dardnios (Dardanium, v. 582; Dardana, v. 618): Referncia aos
Troianos, de maneira geral.
Drdanos (Dardanis, v. 787): Ancestral dos Troianos, filho de Zeus, de
quem descendem Tros, Ilos, Laomedonte e Pramo. Cresa, como filha
de Pramo, diz-se descendente de Drdanos.
Defobo (Deiphobi, v. 310): Irmo de Heitor, referido por Eneias, por
ocasio da destruio de seu palcio pelo fogo, quando da tomada de
Troia pelos Gregos. Defobo aparece na Ilada, sobretudo no momento
em que Palas Atena toma a sua forma, de modo a enganar Heitor e
incit-lo a combater Aquiles (Canto XXII, versos 224-305).
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Deuses Paternos (di patrii, v. 702): Deuses olmpicos.
Dimas (Dymas, v. 340; Dymas, v. 394; Dymas, v. 428): Companheiro de
Eneias nos primeiros combates aos Gregos, quando da invaso e
tomada de Troia. A conselho de Corebo, Dimas toma para si as armas
dos Gregos mortos, de modo a causar confuso entre as hostes
inimigas. Confundido com um Grego, Dimas morto por outros
Troianos.
Dlopes (Dolopum, v. 7; Dolopum, v. 29; Dolopum, v. 415; Dolopum, v.
785): Assim tambm eram conhecidos os Tesslios, comandados por
Aquiles na guerra de Troia. Por extenso, pode referir-se aos Gregos
como um todo. No verso 785, Cresa tranquiliza Eneias, dizendo que
no ver as moradas soberbas dos Dlopes. Ela no ser, portanto,
escrava dos vencedores.
Dricos (Dorica, v. 27): Nome genrico dado aos Gregos. As invases
Dricas, dos povos ao Sul da sia Menor, contriburam para a formao
do povo Grego. Segundo Herdoto (Livro I, 56), os Dricos so de
origem Helnica, pois Doros filho de Helen e de rseis, e neto de
Deucalio e de Pirra. Os Dricos habitam primeiro a regio da Ftia,
depois a regio aos ps do Olimpo, at chegar ao Peloponeso.
Dricos Acampamentos (Dorica castra, v. 27): Os acampamentos
Gregos. Os Troianos achavam que os Gregos haviam partido e
abandonado a guerra, pois seus acampamentos estavam vazios. Na
realidade, eles estavam escondidos na ilha de Tnedos, esperando o
momento de atacar.
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E
Eneias (Aeneas, v. 2): Eneias, a pedido de Dido, comea a narrativa de
sua fuga de Troia at a chegada Lbia. Trata-se de uma narrativa de
primeira pessoa, obedecendo mesma estrutura utilizada por Homero
na Odisseia, quando Ulisses, ao longo dos Cantos IX a XII, narra as suas
aventuras para Alcnoos, o rei Fecio: heri perseguido pelos deuses,
procura de seu reino, tem contra si uma tempestade que o joga em
terra estranha; acolhido pelo rei da terra, instado, em meio a um
banquete em sua homenagem, a contar como chegara at ali. A
diferena est na viso de quem narra e do que narrado. Ulisses
centra o enfoque em si mesmo e nas andanas que fez por mar e por
terra, depois de sair vitorioso de Troia. Esta , portanto, a viso do
vencedor, confirmada pelo canto do aedo Fecio Demdoco (Odisseia,
Canto VIII). J Eneias divide o assunto da narrativa. No Livro II ele vai
tratar da destruio de Troia pelos Gregos e de sua fuga ordenada pelo
destino. No Livro III, Eneias trata de sua errncia por mares e por terras
at chegar Siclia, terra que seria o ltimo ponto antes de chegar
Pennsula Itlica, quando perseguido por Juno e, por conta da
tempestade desencadeada por olo, ele aporta na Lbia, onde Dido est
construindo o reino de Cartago. A viso de Eneias, pois, a viso do
derrotado, o que se pode confirmar nas dolorosas cenas da guerra de
Troia, representadas nas paredes do templo de Juno em Cartago
(Eneida, Livro I). Eneias comea a narrativa da destruio de Troia
fazendo aluso ao fato de os Dnaos terem fingido abandonar a guerra,
deixando uma oferenda um cavalo de madeira gigantesco para a
deusa Palas na praia. Reunidos em torno do cavalo de madeira, os
Troianos divergem quanto ao que fazer com o artefato: lev-lo para
dentro das muralhas, jog-lo ao mar, queim-lo ou perscrutar suas
entranhas, para ver o que l se esconde. A interveno de Laocoonte,
falando do perigo que o cavalo representa e atirando uma lana no
flanco do animal (feri, verso 51), interrompida pela chegada de um
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jovem Argivo, amarrado, levado por pastores Troianos. Ao curso de sua
narrao, Eneias vai lamentando a perda de Troia por causa do cavalo
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