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EDUCAÇÃO FÍSICA E ALFABETIZAÇÃO: OPERACIONALIZAÇÃO DE
ATIVIDADES INTERDISCIPLINARES
Physical Education and literacy: operational interdisciplinary activities
Ana Cristina Calábria Mangi
Colégio Pedro II1
Renata Vieira Monteiro
Colégio Pedro II2
Sandra Rosa Freire
Colégio Pedro II3
Yvone de Lima e Silva
Colégio Pedro II4
Resumo: o presente relato é resultado de uma experiência realizada nas aulas de Educação Física referenciada na metodologia interdisciplinar para a alfabetização. O trabalho desenvolvido realizou-se no campus Engenho Novo I do Colégio Pedro II, sendo fruto do grupo de pesquisa sobre interdisciplinaridade desenvolvido pelo referido campus e tem como base o encontro entre a aprendizagem significativa lúdica e a interdisciplinaridade, através de atividades complementares às aulas de núcleo comum. A amostra desta pesquisa foi composta por 86 alunos de 1º ano do Ensino Fundamental. É uma pesquisa-ação com abordagem qualitativa, realizada por meio da observação participante. Através da observação do comportamento dos estudantes, foi constatado o desenvolvimento da expressão verbal e não verbal, do raciocínio, da socialização e da linguagem corporal. Conclui-se que ministrar atividades de movimento com enfoque interdisciplinar é uma contribuição valiosa ao processo de alfabetização e que são possíveis iniciativas que caminhem para uma educação mais integradora.
Palavras Chave: Interdisciplinaridade. Alfabetização. Educação Física.
1 E-mail: [email protected] 2 E-mail: [email protected] 3 E-mail: [email protected] 4 E-mail: [email protected]
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RELATOS DE
EXPERIÊNCIA
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Abstract: this report results from an experiment carried out in Physical Education classes, referenced on the interdisciplinary approach to education. The work took place on Engenho Novo I campus of Colégio Pedro II, a project of its research group on interdisciplinarity developed by that campus. It is based on the union between playful, meaningful learning and interdisciplinarity, through complementary activities to the common core classes. The sample included 86 students of first year of elementary school. It is an action research with qualitative approach, carried out through participant observation. By observing student behavior, it was noticed the development of verbal and non-verbal expression, reasoning, socialization and body language. Therefore it is concluded that providing activities with movement through the interdisciplinary approach is a valuable contribution to the education process and that there are possible initiatives towards a more inclusive education. Keywords: Interdisciplinarity. Education. Physical Education. Introdução
Na atualidade, em função do reconhecimento das tendências da Educação no
Brasil e da reflexão teórica em relação ao objetivo da Educação Física, fica evidente
a necessidade de iniciativas educacionais que venham explorar as múltiplas
possibilidades pedagógicas que levem à construção do conhecimento. O Projeto
Ateliê Interdisciplinar tem a pretensão de se lançar neste universo reavaliando e
qualificando o exercício pedagógico por meio de uma aliança entre a pesquisa e a
prática.
A presente experiência é resultado do trabalho de um grupo de pesquisa
sobre interdisciplinaridade, desenvolvido pelo Colégio Pedro II no campus Engenho
Novo I. Esse projeto teve origem na necessidade de preencher dois tempos de aula
para complementar a carga horária dos professores do Departamento do 1º
Segmento. Com isso, o campus Engenho Novo I criou um espaço lúdico onde os
estudantes dos 1ºs, 2ºs e 3ºs anos tivessem a oportunidade de, através de jogos e
brincadeiras, desenvolverem habilidades fundamentais para o ano escolar no qual
se encontram. Dentro dessa perspectiva interdisciplinar, a equipe de Direção do
campus, coordenadora do projeto, convidou outros departamentos, como Música e
Educação Física, a fazer parte do mesmo, denominado “Núcleo Ateliê
Interdisciplinar”.
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O Ateliê Interdisciplinar se baseia no encontro entre a aprendizagem
significativa, que Ausubel (apud MOREIRA; MASINI, 2001, p. 18) define como
aprendizagem de novas informações que tenham interação com conceitos
relevantes existentes na estrutura cognitiva, as atividades lúdicas e a
interdisciplinaridade, que despertem o interesse pela investigação, ação, reflexão e o
entendimento do processo de ensino-aprendizagem.
A proposta tem como finalidade lançar um novo olhar sobre o currículo, que
deve começar desde a alfabetização, em que a linguagem começa a esboçar as
suas primeiras nuanças na leitura e escrita. Para isso, começamos a refletir em
como aplicar intencionalmente atividades específicas da Educação Física em uma
perspectiva interdisciplinar enfatizando o processo de alfabetização.
Para desenvolver essa questão optou-se, no ano letivo de 2015, em
sistematizar essas atividades apenas para um grupo, o 1º ano do Ensino
Fundamental. Escolhemos trabalhar com essa amostra intencionalmente devido aos
seguintes pontos: desenvolvimento das atividades com um grupo de alunos recém-
ingressados na instituição e adequação no horário da Educação Física e do espaço
Ateliê, em que as aulas são no mesmo dia, em tempos sucessivos para cada turma.
O projeto objetiva construir um ambiente de aprendizagem, segundo uma
perspectiva interdisciplinar pautada na ludicidade e na dialogicidade. Então,
podemos afirmar que ele tem o grande desafio de vencer a visão fragmentada e
descontextualizada do ensino, além de estimular o diálogo.
Sendo assim, os jogos, desafios e materiais concretos são ferramentas para
que o ensino-aprendizagem seja mais significativo, visando à formação da
curiosidade científica e o desenvolvimento da autonomia na alfabetização dos
alunos.
A Educação Física, como componente curricular escolar, possui uma gama
de opções, como esportes, lutas, ginástica, jogos e brincadeiras, permitindo que os
alunos construam conhecimento através da cultura corporal. Segundo os PCN’s
(BRASIL, 1998), um de seus objetivos é que os alunos do Ensino Fundamental
sejam capazes de:
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utilizar as diferentes linguagens, verbal, musical, matemática, gráfica, plástica e corporal, como meio para produzir, expressar e comunicar suas ideias, interpretar e usufruir das produções culturais, em contextos públicos e privados, atendendo as diferentes intenções e situações de comunicação (p. 7-8).
O relato dessa experiência interdisciplinar foca seus esforços no processo de
alfabetização dos alunos do 1º ano do Ensino Fundamental do campus Engenho
Novo I, através de atividades corporais desenvolvidas nas aulas de Educação
Física.
Discussão teórica
O projeto interdisciplinar está sendo desenvolvido em três vertentes. Como o
próprio nome sugere, a interdisciplinaridade é uma delas. Ela objetiva a formação
integral das crianças, “substituindo uma concepção fragmentária pela concepção
unitária do ser humano e que exige uma mudança de atitude diante do problema do
conhecimento” (FAZENDA, 2011, p. 162).
Em seguida, podemos citar a metodologia lúdica, que segundo Kishimoto
(2000) favorece o gosto pelo ensino-aprendizagem e a autonomia, por meio do
desenvolvimento de regras e da cooperação, muito presente nas aulas de Educação
Física. Pode-se dizer também, que a atividade lúdica funciona como um elo
integrador entre os aspectos motores, cognitivos, afetivos e sociais.
Por fim a dialógica, que fundamenta a teoria freiriana (1987; 1996) em uma
“educação para a libertação, que se constitui como um ato de saber, um ato de
conhecer e um método de transformar a realidade que se procura conhecer”
(GADOTTI, 1996, p. 721). Viabilizando o desenvolvimento do aprendiz pesquisador
crítico.
Refletindo sobre estes conceitos, a postura do mediador deve ser de
pesquisador, com a função de jogador, orientador e aprendiz. Vygotsky (1984) deixa
explícita a sua ideia de ser humano, no sentido de um ser com muitas
possibilidades, e aponta para a necessidade de ambientes que oportunizem essas
possibilidades, salientando o papel do mediador na criação desse ambiente.
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Falar em interdisciplinaridade significa recolocar a questão das disciplinas, a
relação entre elas, é pensá-la como atitude pedagógica, comprometida em superar a
fragmentação do conhecimento escolar, compreendendo que só a reflexão
complexa pode levar à reforma do pensamento na direção da contextualização, da
articulação e da interdisciplinarização (GADOTTI, 1993; FAZENDA, 2011; MORIN,
2005).
Na análise de Frigotto (1995, p. 26), a interdisciplinaridade impõe-se pela
própria forma de o “homem produzir-se enquanto ser social e enquanto sujeito e
objeto do conhecimento social”, ela surge como uma necessidade imposta pelo
aparecimento cada vez maior de novas disciplinas que levaram a necessidade de
pontes de ligação entre as disciplinas (JAPIASSU, 1976).
Portanto, o conhecimento interdisciplinar depende, entre outras coisas, do
intercâmbio de forma contextualizada entre as disciplinas, com o propósito de
fomentar uma compreensão mais abrangente da realidade atual, marcada pela
complexidade e pela pluralidade dos problemas.
Conforme Hoffmann (2003), a interdisciplinaridade não nega as especificidades
de cada Ciência, ela respeita o território de cada campo de conhecimento, bem
como distingue os pontos que os unem e aqueles que os diferenciam. Olga Pombo
(2003, apud THIESEN, 2007, p. 98) afirma que “há um alargamento do conceito de
ciência e, por isso, a necessidade de reorganização das estruturas da aprendizagem
das ciências e por consequência das formas de aprender e de ensinar”.
De acordo com Gadotti (1993) são essas as dimensões que orientam a
qualidade do projeto interdisciplinar: a integração dos conteúdos; a transcrição de
uma concepção fragmentária para uma concepção unitária do conhecimento; a
superação da dicotomia entre ensino e pesquisa, considerando o estudo e a
pesquisa, a partir da contribuição das diversas ciências; o ensino/aprendizagem
centrado numa visão de que aprendemos ao longo de toda vida (educação
permanente).
Para tal, a disciplina de Educação Física trabalhou com os alunos de 1º ano do
Ensino Fundamental atividades que relacionaram a especificidade da disciplina e a
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alfabetização. Nosso trabalho consistiu em repensar a pedagogia utilizada para o 1º
ano, sob uma perspectiva interdisciplinar para o desenvolvimento dos alunos,
experienciando uma relação entre linguagem motora, linguagem escrita e linguagem
falada. Todas essas linguagens são formas de expressão e comunicação, em que,
com a interação dos sujeitos com seu meio são desenvolvidas.
Segundo Mattos e Neira (2007), a escrita é um dos melhores exemplos de
manifestação expressiva. É um ato objetivo determinado pela cultura, assim como o
jogo de regras, em que há uma necessidade de controle do movimento e uma
capacidade de expressão. Os jogos com regras simples, bem como as atividades
rítmicas e expressivas, possuem grande importância para o desenvolvimento da
criança no primeiro ciclo do ensino fundamental.
Tendo em vista o exposto, a integração entre as disciplinas, particularmente a
Educação Física, é fundamental para ampliar as possibilidades e descobertas dos
alunos nesse ano escolar. As atividades motoras desenvolvidas nas aulas de
Educação Física sustentaram uma formação básica mais totalitária, sem que a
disciplina perdesse a sua especificidade, considerando assim, a formação de um
corpo operatório5 fundamental para a aprendizagem de forma geral.
A Educação Física do Colégio Pedro II tem como princípios orientadores a
inclusão, a diversidade, a contextualização e a interdisciplinaridade (DEF, 2014b).
Os eixos de ação para o 1º ano do Ensino Fundamental são as aprendizagens
perceptivo-motoras e as habilidades motoras fundamentais; através de atividades
que buscam desenvolver a consciência corporal – propriocepção, coordenação
motora, equilíbrio, ritmo – e a estruturação espaço-temporal - orientação espacial,
percepção temporal.
Na busca por ajudar a formar o indivíduo não fragmentado, a Educação Física utiliza recursos lúdicos como jogos, brincadeiras, esportes e outras formas de atividades motoras, que não são fim em si mesmo, mas são meios que facilitam o alcance dos objetivos aos quais ela se propõe. Esses objetivos se colocam nas dimensões afetivas, cognitivas e motoras do ser, mais enfatizado através da dimensão motora, uma vez que o corpo é o
5 Segundo Le Boulch (1987), o corpo operatório diz respeito à fase na qual a motricidade da criança está alinhada com suas representações mentais, ou seja, a partir do controle de seus movimentos com autonomia, usa o seu corpo intencionalmente para efetuar e programar ações.
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instrumento privilegiado para se dialogar, expressar, comunicar, cooperar, em síntese, viver (DEF, 2014ª, s/p).
Dessa forma, o objetivo desse nosso projeto foi desenvolver um trabalho
pedagógico com atividades de movimento que estimulem o interesse pela
alfabetização utilizando os princípios e recursos específicos da Educação Física.
Metodologia
Neste estudo qualitativo, os procedimentos adotados se baseiam nas
orientações metodológicas de Costa e Costa (2012). Trata-se de uma pesquisa-
ação, pois há uma relação estreita entre ação e resolução de problema, visto que
pesquisador e participantes estão envolvidos de modo cooperativo. Como fonte de
coleta de dados, optou-se pela observação participante legítima, quando o
observador está inserido e participa do contexto em questão.
O campus Engenho Novo I possuía quatro turmas do 1º ano do Ensino
Fundamental no ano letivo de 2015, duas no turno da manhã e duas no turno da
tarde. Cada turma tinha em média 20 estudantes, na faixa etária compreendida entre
6 e 8 anos. Para ingressar no Colégio, esses estudantes participaram de um sorteio
feito no final do ano letivo anterior. A heterogeneidade é uma característica relevante
das turmas, percebida em três dimensões: cognitiva, motora e afetiva.
As aulas de Educação Física têm a frequência de duas vezes por semana
com 45 minutos de duração cada. O mesmo acontece no espaço do Ateliê, quando
uma turma está na Educação Física, a outra está no Ateliê alternadamente.
O espaço de aula destinado às atividades corporais é uma quadra de cimento
pintado, com algumas demarcações não desportivas, duas cestas de basquete e
ganchos que possibilitam armar redes e prender diversos materiais. Está localizado
à frente do campus e separado do campus Engenho Novo II por uma tela de ferro.
Há diversos materiais disponíveis para essa faixa etária, tais como: bolas (meia,
basquete, vôlei, bolão, borracha, de encher, de tênis, de iniciação), arcos, cordas
(individual, grande e elástica), pneus, banco sueco, colchões, cones, giz, hidrocor e
folhas de papel.
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O desafio para o professor que ministra aulas nessa quadra está em
conseguir uma concentração adequada dos estudantes à execução e reflexão sobre
as atividades propostas, visto que os estímulos externos são muitos, dentre os quais
o barulho da rua, alunos do outro campus, calor excessivo, áreas molhadas quando
chove, pombos. Por outro lado, há um empenho de toda a equipe gestora em
melhorar o ambiente de aula e propiciar um contexto favorável à implantação de
novas ideias e ao princípio da interdisciplinaridade.
O trabalho da interdisciplinaridade é operacionalizado através de ações tais
como: divulgação do planejamento de todas as disciplinas; estabelecimento de
reuniões trimestrais entre todos os docentes que atuam em cada ano de
escolaridade, refletindo e discutindo projetos; disponibilidade de toda a equipe
gestora em atender às solicitações dos professores, desde as questões pedagógicas
até as questões estruturais e administrativas; empenho dos setores do campus no
sentido de qualificar a prática pedagógica do professor. Em suma, a postura
receptiva e integradora de todos os profissionais tem sido um dos fatores mais
relevantes que possibilitam a efetivação desse tipo de projeto.
Com o acesso aos planejamentos e sem perder de vista os princípios da
Educação Física, transportamos para a realidade das aulas uma proposta integrada
à alfabetização dos alunos. Dentro das falas e atividades desenvolvidas, o grupo era
constantemente estimulado a solucionar problemas utilizando o raciocínio lógico e
desenvolvendo a expressão oral e escrita.
Durante o ano, foram desenvolvidas diversas atividades. Selecionamos as
principais, realizadas com as turmas de 1º ano do Ensino Fundamental, focadas no
desenvolvimento do projeto de interdisciplinaridade.
Importante registrar que os responsáveis pelos alunos cederam o direito de
uso de imagem para fins acadêmicos. Apesar disso, optamos pelo anonimato
considerando a preservação da imagem de menores em veículo de ampla
divulgação.
Na figura 1, podemos apreciar atividades de movimento desenvolvidas com
diferentes tipos de bola. Somente essa atividade foi desenvolvida com as duas
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turmas ao mesmo tempo pelas professoras do Ateliê e da Educação Física. Para
realizá-la, ocorreu a formação livre de quatro grupos de estudantes. Utilizamos
diversos tipos de bola: de meia, de iniciação, de voleibol, de sabão e bexigas.
Como proposta, trabalhamos: a análise dos diferentes tipos de bola (tamanho,
cor, textura, peso etc.); a exploração dessas bolas; construção de palavras e frases
com cartelas de sílabas.
Figura 1 – Atividades com bolas
Fonte: próprios autores.
Na figura 2, encontramos o registro de uma atividade realizada em circuito
com diversos tipos de amarelinha, em que os alunos as experienciavam por meio de
rodízio. A atividade foi realizada com giz e bola de meia, em que os alunos teriam
que explorar os três diferentes tipos de amarelinha, numerando-as, criando regras,
brincando e nomeando-as.
Em uma das estações, os alunos encontravam o chão sem traçado algum,
nesta eles criavam suas próprias amarelinhas (desenhando, numerando, brincando
e nomeando). Anteriormente a esta aula, os alunos já haviam explorado, de outra
forma, a amarelinha.
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Figura 2 – Circuito de Amarelinha: 4 estações
Fonte: próprios autores.
Na figura 3, ilustramos uma atitude espontânea de um dos alunos: a
organização do grupo para iniciar o jogo da amarelinha. Um aluno aproveitou a
numeração que continha nos coletes, e organizou seu grupo em ordem numérica
crescente.
Figura 3 – Circuito de Amarelinha: organização dos alunos em ordem crescente dos números do colete para iniciar a brincadeira (atitude espontânea
de um aluno)
Fonte: próprios autores.
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Foi realizado, também, um circuito de criação de brincadeiras, do qual
podemos visualizar alguns momentos na figura 4. Nesse circuito, em cada estação
foram disponibilizados dois tipos diferentes de material, como: corda e bola de
iniciação; pneus e bolas de borracha; arcos e bolas de tênis; cones e bolas de meia.
Os alunos criaram as suas brincadeiras em grupo, atribuíram a ela um nome e
escreveram o nome criado no chão.
Figura 4 – Circuito de criação de brincadeiras
Fonte: próprios autores.
Outra atividade desenvolvida foi em dupla, em que, com um giz, realizavam o
contorno do corpo do colega no chão e escreviam o nome do colega no corpo
desenhado. Em seguida os alunos trocavam a posição e repetiam as etapas
anteriores. O registro dessa atividade pode ser visto na figura 5.
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Figura 5 – Desenho do corpo em duplas
Fonte: próprios autores.
Ao fim de cada aula, acontecia a verbalização das atividades desenvolvidas.
Nesse momento aconteciam questionamentos como: o que foi mais fácil, mais difícil,
o que foi bom, o que poderia ser melhor.
Resultados e discussão
A importância da mediação para a elaboração do pensamento foi percebida
quando se constata que é o pensamento que significa qualquer material e este
significado pode ser dado por intermédio da ação sobre o mesmo, e também pelas
relações construídas pelo indivíduo e o mediador. Nesta intenção, cabe aos
educadores criarem meios de concretização, incluindo objetos do cotidiano do
educando e ações significativas que promovam a integração dos conteúdos e o fim
do distanciamento entre as disciplinas.
A proposta desse trabalho interdisciplinar foi muito bem recebida pelas
crianças. Através da observação do comportamento dos alunos percebeu-se uma
enorme satisfação ao executar as atividades sugeridas, bem como a evolução em
resolver os problemas apresentados, ao vencer os desafios e as conexões com
outras áreas de conhecimento. Constatou-se um nítido desenvolvimento da
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expressão verbal e não verbal, da construção de pensamento, do raciocínio, do
trabalho em conjunto, do diálogo, da linguagem corporal, dentre outros. No final do
ano essas atitudes já eram realizadas de forma espontânea.
Os estudantes do 1º ano esperavam ansiosamente pelas sessões de
Educação Física e, com essa animação, a disponibilidade, o interesse e a
criatividade afloraram durante o processo. Às professoras se abriram inúmeras
possibilidades de, em cada aula, elevar a complexidade dos desafios. Foram
estabelecidos vínculos afetivos sólidos e, com isso, a dinâmica da aula fluiu com
muita satisfação. Atribui-se esse contexto à sintonia da linguagem utilizada pelo
docente e o que era significativo para o discente.
É importante ratificar a importância da aplicação de atividades de movimento
com enfoque interdisciplinar como uma contribuição valiosa ao processo de
alfabetização, seja constatado pelo comportamento dos alunos como também pela
atitude de todos os envolvidos no processo do 1º ano, professores regentes,
coordenadores e os professores diretamente envolvidos no projeto: intencionalidade,
motivação, disponibilidade e muito prazer.
Considerações finais
As relações contemporâneas provocaram uma dificuldade em se delimitar
quais conceitos pertencem a determinado campo disciplinar, retirando as arcaicas
divisórias das disciplinas e compondo um cenário no qual novas visões curriculares
são emergenciais.
No entanto, a Escola, como instituição, ainda está aprisionada a essas
divisórias, principalmente em termos administrativos. Esse fato não impede que os
profissionais, envolvidos na missão de educar para contemporaneidade, busquem
modificar as estruturas disciplinares e fragmentadas do nosso atual sistema
educacional. Para tanto, se faz necessário o rompimento com o senso comum, com
os costumes apreendidos sem reflexão ou questionamento e se desenvolva diversas
formas de ensinar e aprender, como o Núcleo Ateliê Interdisciplinar se propõe.
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EXPERIÊNCIA
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O relato aqui compartilhado é um exemplo real de que podemos ser agentes
desse rompimento. Não há manual de instrução, receitas a serem seguidas. O
princípio que norteia cada ação é fator relevante a ser considerado, pois a partir dele
podem-se estruturar inúmeras possibilidades de atividades que propiciem desafios,
interligações, conexões e que sejam significativas para os alunos.
No decorrer do processo aqui exposto foi percebida uma enorme satisfação
entre o grupo. Pelos alunos que se envolveram de forma intensa na proposta, pelas
professoras, que com a mesma intensidade, demonstraram o seu envolvimento nas
diferentes etapas que fazem parte da composição de uma aula. Simultaneamente
surgiu um desejo enorme de compartilhar essa experiência a fim de contribuir na
qualificação da prática pedagógica de outros profissionais, através de palestras e
oficinas a respeito do projeto, bem como no próprio enriquecimento profissional dos
envolvidos. Enfim, essa experiência demonstrou que são possíveis iniciativas que
caminhem para uma educação mais integradora, com o público que se tem, no
espaço que se possui.
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