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Disciplina: Metodologia do Trabalho CientíficoProfessora: Iane Cruz Obando.Email: [email protected]

EMENTALeitura, análise e interpretação de textos. Ciência e senso comum. O método e a construção do conhecimento científico. O conhecimento científico. Planejamento, projetos de pesquisa científica, construção de artigos, segundo as normas da ABNT.

CARGA HORÁRIAA carga horária desta disciplina é de 80 horas.

OBJETIVO Sensibilizar o aluno para a importância dos métodos técnicas na formação

universitária. Elaborar etapas do método científico. Praticar os tipos de leitura. Apresentar estudos de textos de acordo com o direcionamento. Conhecer os tipos de métodos e técnicas para a elaboração de trabalho científicos. Conhecer as diretrizes das normas científicas. Apresentar um trabalho científico.

METODOLOGIA Aulas expositivas; Discussão de exemplos práticos e técnicos; Aplicação de trabalho prático e teórico; Seminários; Pesquisas bibliográficas; Leitura críticas de textos em trabalhos individuais e de grupo.

CONTEÚDO PROGRAMÁTICO Universidade e a pesquisa científica; O conhecimento: evolução do conhecimento; A ciência e suas características; Métodos científicos; Elaboração do trabalho científico; Fichamentos; Artigos; Resumos; Relatórios;

Seminários; Estudo de textos; Documentação pessoal; Preparação para a comunicação; A Redação Diretrizes para elaboração e apresentação de trabalhos científicos.

AVALIAÇÃO1.º. Avaliação: Estudos dirigidos individuais e em grupo;2.º. Avaliação: Seminário;3.º. Avaliação: Freqüência;4.º. Avaliação de rendimento escolar.

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REFERÊNCIAS:

ALVES, RUBEM. Entre a ciência e a sapiência: o dilema da educação. 3 ed. São Paulo: Loyola, 1999.ANDRÉ, MARLI & LÜDKE, MENGA. Pesquisa em educação: abordagens qualitativas. São Paulo: EPU, 1986.FAZENDA, IVANI. (org.) Metodologia da pesquisa educacional. São Paulo: Cortez, 2000. FURASTÉ, PEDRO AUGUSTO. Normas Técnicas para trabalho científico: Elaboração eFormatação. Explicando as normas da ABNT. 14. ed. Porto Alegre: s.n., 2006. GIL, ANTÔNIO CARLOS. Métodos e técnicas de pesquisa social. 5. ed. São Paulo: Atlas, 1999. GONÇALVES, Hortência de Abreu. Manual de Artigos Científicos. São Paulo: Avercamp, 2004.HÜHNE, LEDA MIRANDA (org.). Metodologia Científica: caderno de textos e técnicas. 7ª. ed. 3ª. imp. Rio de Janeiro: Agir, 2000.LAKATOS, EVA MARIA E MARCONI, MARINA DE ANDRADE. Metodologia do trabalho científico. São Paulo: Atlas 2001.MINAYO, MARIA CECÍLIA DE SOUZA (org.). Pesquisa social: Teoria, método e criatividade. 21ª. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 1994. MINAYO, MARIA CECÍLIA DE SOUZA (org). Pesquisa social: Teoria, método e criatividade. 13ª ed. Petrópolis, RJ. Vozes, 1999.RIBEIRO, JOANA D’ARC. Guia para a elaboração de projetos de pesquisas. Manaus: EDUA, 2003. TEIXEIRA, ELIZABETH. As três metodologias: acadêmica, da ciência e da pesquisa. 2ª. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2005. TRIVIÑOS, AUGUSTO NIBALDO SILVA. Introdução à pesquisa em ciências sociais: a pesquisa qualitativa em educação. São Paulo: Atlas, 1987.

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SUMÁRIO:

1. LEITURA, ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DE TEXTO.......................................... 051.1. SOBRE LEITURA E BURRICE (RUBEM ALVES).......................................................051.2. O ATO DE LER (ELIZABETH TEIXEIRA)....................................................................07

2. CIÊNCIA E SENSO COMUM.........................................................................................092.1. CONHECIMENTOS: POPULAR, FILOSÓFICO, RELIGIOSO E CIENTÍFICO (LAKATOS)............................................................................................................................ 09

3. ENFOQUES NA PESQUISA EM CIÊNCIAS SOCIAIS (TRIVIÑOS).......................123.1. ENFOQUE POSITIVISTA................................................................................................123.2. ENFOQUE FENOMENOLÓGICO...................................................................................183.3. ENFOQUE MARXISTA...................................................................................................23

4. TIPOS DE PESQUISA (FACHIN)...................................................................................274.1. O PROJETO DE PESQUISA............................................................................................31

5. TRABALHO CIENTÍFICO (FURASTÉ)........................................................................335.1. NORMAS DA ABNT – ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS E TÉCNICAS...............................................................................................................................335.2. ARTIGO CIENTÍFICO.....................................................................................................405.2.1. Características básicas de um artigo...............................................................................415.2.2. Estruturação do artigo.....................................................................................................41

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1. LEITURA, ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DE TEXTO

1.1. SOBRE LEITURA E BURRICE1

Ler pode ser uma fonte de inteligência. Freqüentemente é uma fonte de emburrecimento. Muitas pessoas, inteligentes por nascimento, ficaram burras por excesso de leitura.

Essa afirmação contraria aquilo que os professores normalmente dizem e fazem. Eles acreditam que livros, quanto mais, melhor. E a partir desse princípio, emprestado por analogia da antiga etiqueta culinária mineira, obrigam seus alunos a ler listas infindáveis de livros - provas da seriedade de seu saber e do rigor de seus cursos. Na antiga culinária mineira era assim: vinha a dona da casa e enchia o prato da gente - e a gente comia com prazer. Aí, quando o prato estava raspado e limpo, a gente feliz com a barriga cheia, vinha ela com outra concha cheia e, sem pedir licença, reenchia o prato vazio, que a gente era obrigado a comer. Essa prática se baseava em duas pressuposições. A primeira dizia que os estômagos são muito maiores do que parecem. A segunda dizia que as pessoas sempre querem comer mais, e não o fazem por acanhamento.

"Livros, quanto mais, melhor" é tão verdadeiro quanto, "comida, quanto mais, melhor".

Nietzsche disse que leva muito tempo para a gente ter coragem de dizer o que sabe. Faz muito tempo que sei que excesso de leitura faz mal para a inteligência, mas nunca me atrevi a dizê-lo. Tinha medo de ser condenado à fogueira. A coragem me veio quando descobri um aliado: um livrinho muito pequeno - pode ser lido em meia hora -, Sobre livros e leitura2. Autor: Arthur Schopenhauer. Como ninguém se atreverá a acusar o filósofo de inimigo da leitura e do pensamento, transcrevo o que ele escreveu: "Quando lemos outra pessoa pensa por nós: só repetimos seu processo mental. Durante a leitura nossa cabeça é apenas o campo de batalha de pensamentos alheios”.

Em outras palavras: ler é um exercício de alienação. Alienação é palavra que os ativistas políticos de eras passadas cobriram de excrementos. Nome feio e malcheiroso. Foi identificada com um estado no qual a pessoa não tem consciência do que está acontecendo no mundo em que vive, o oposto da tão louvada "consciência crítica", expressão obrigatória em todo documento sobre educação. A palavra vem do latim, alius, "outro". O alienado é uma pessoa que está fora de si, caminha num mundo que não é o seu; é de outro. Mas isso, precisamente, é o que a leitura faz. Para ler é preciso fazer "parar meu mundo". Se o mundo que me é próprio não for "desligado", não poderei entrar no mundo que se encontra no livro. Abro o livro. Desligo meu mundo. Começo a leitura. Entro num mundo que não é meu; é de outro.

A alienação é uma das fontes do prazer da leitura. Por meio dela sou capaz, ainda que por um curto espaço de tempo, de sair de minha realidade e viver a realidade de outro.

Ainda ontem, relendo a parte final do livro Zorba3, pus-me a chorar. O feitiço da leitura faz com que eu me esqueça de meu mundo e me transporte para o lado de Zorba. Esse exercício voluntário de alienação é parte da boa saúde mental, e quem não consegue fazêlo é porque está meio enlouquecido.

Mas aquilo que é remédio, no varejo, vira veneno, no atacado. Schopenhauer continua: "Daí se segue que aquele que lê muito e quase o dia inteiro, e que nos intervalos se entretém

1 ALVES, Rubem. Entre a ciência e a sapiência: o dilema da educação. 3 ed. São Paulo: Loyola, 1999.2 Arthur Schopenhauer, Sobre livros e leitura, Porto Alegre, Paraula, s.d .3 Nikos Kazantzakis, Zorba The Greek, New York, Simon & Schuster, 1997.

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com passatempos triviais, perde, paulatinamente, a capacidade de pensar por conta própria. Porque quanto mais lemos menos rastro deixa no espírito o que lemos: é como um quadro negro, no qual muitas coisas foram escritas, uma sobre as outras. Assim, não se chega à ruminação: é só com ela que nos apropriamos do que lemos da mesma forma como a comida não nos nutre pelo comer, mas pela digestão”.

Ele continua: "É por isso que, no que se refere a nossas leituras, a arte de não ler é sumamente importante". Por vezes, ao ver as listas de livros indigestos e sem sabor que os professores obrigam seus alunos a ler, tenho visões infernais de um buffet imenso, centenas de pratos que os alunos são obrigados a comer (digerir e assimilar é outra coisa. Via de regra a refeição acadêmica termina em vômito ou diarréia. O engolido é esquecido).

"Esse é o caso de muitos eruditos: leram até ficar estúpidos. Porque a leitura contínua, retomada a todo instante, paralisa o espírito ainda mais que um trabalho manual contínuo, já que neste ainda é possível estar absorto nos próprios pensamentos. "

Nietzsche pensava o mesmo. Eis o que ele disse no Ecce homo4: "Os eruditos, que hoje nada mais fazem que 'dedar' livros [ir virando as páginas com o dedo], acabam por perder inteiramente a capacidade de pensar por eles mesmos. Enquanto vão lendo não pensam. Os eruditos gastam todas as suas energias dizendo Sim e Não na crítica daquilo que outros pensaram – eles mesmos não têm mais a capacidade de pensar. Vi com meus próprios olhos: pessoas bem-dotadas e com liberdade de espírito que, aos trinta anos, já haviam lido a ponto de se arruinar...”.

É um equívoco imaginar que a quantidade de livros lidos desenvolve a capacidade de pensar. Comida ingerida em grande quantidade provoca perturbações digestivas ou obesidade. Eruditos, com freqüência, são obesos do espírito.

Livros lidos em grande quantidade provocam perturbações no pensamento. Borges, numa conferência sobre "O livro", cita Sêneca, que censura o dono de uma biblioteca de cem livros. "Quem", ele pergunta, "é capaz de ler cem livros?" Nietzsche, no mesmo espírito, diz que ele se contentava em ler poucos livros. E acrescenta: "Uma sala de leitura [salas enormes, nas bibliotecas, onde se vai ler] me deixa doente”.

Pelo que conheço das práticas escolares, esse é um dos resultados da leitura, nas escolas. Os alunos aprendem que as coisas importantes estão escritas em livros, e com isso eles são desencorajados de pensar seus próprios pensamentos. Pesquisar é fazer resumo de artigos da Barsa. Num trabalho acadêmico, tudo o que o aluno diz tem de ser confirmado por aquilo que outro disse num livro - um nome e uma data entre parênteses. Os alunos terminam por pensar que a educação é parar de pensar seus próprios pensamentos e pensar os pensamentos de outros - pelos quais eles não têm o menor interesse. Valendome das metáforas culinárias atrevo-me a dizer que, com freqüência, as chamadas avaliações escolares (as provinhas) são ocasiões pós-refeição em que se provocam vômitos intelectuais nos alunos, para verificar se o vomitado é idêntico ao que foi engolido.

Eu me alimento de alguns livros diariamente: eles podem ser maravilhosos. Mas é preciso que sejam comidos com prazer para fazer bem à inteligência. E note que "prazer" não quer dizer "facilidade". Existe um prazer imenso em escalar uma montanha... Livros comidos com prazer são livros a ser ruminados pelo resto da vida. Livros não-ruminados são livros esquecidos. Não entraram no sangue, não viraram carne. Mas ruminação é virtude que se deve aprender com as vacas. Rumina-se num tempo de vagabundagem, de paciência e pachorra, tempo quando não se pasta. Mas essas são virtudes que os educadores não conseguiram incluir em suas pedagogias e psicologias.

4 F. W. Nietzsche, Bee homo, São Paulo, Cia. das Letras, s.d .

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1.2. O ATO DE LER E ESCREVER5

Necessitamos, para produzir qualquer trabalho, desenvolver a técnica de leitura, que denominaremos de leitura dirigida. A leitura envolve a prática de dar significado ao mundo que nos cerca. Vejamos os momentos da leitura dirigida:

MOMENTO 1 DO ATO DE LER:Ler para identificar a fonte do texto, o autor. Fazer uma leitura geral para apreender a

idéia/mensagem central. Não sublinhe nada, não anote nada ainda, só leia o texto inteiro.

MOMENTO 2 DO ATO DE LER:Ler para procurar os significados, idéias correlatas, conceitos, para destacar os trechos

significativos e informações complementares à idéia central. Sublinhe, destaque tais trechos no texto. Não anote nada ainda. Só na terceira leitura é que você deve iniciar o seu trabalho de escrita.

MOMENTO 3 DO ATO DE LER:Ler para discutir com o autor, nesse momento deve ser comparado as idéias do autor com

o seu pensamento, com o que já leu, para definir o que você percebe de interessante no texto.

Portanto, o ato de ler caminha de um ato mais simples, o de entender o que está escrito através da decifração da escrita (nível 1), para um ato mais elaborado, quando ler é para se informar (nível 2), avança para uma interpretação autônoma onde se compreende criticamente o autor lido ou a realidade observada (nível 3) culminando com o ato de contraler, que é o nível mais complexo do ato de ler, pois aí o leitor briga com o autor, contesta-o e refaz idéias. Vejamos algumas pistas para o ato de ler:

- Descobrir os conceitos-chave e compreendê-los; - Identificar os autores que o autor cita e suas idéias e concepções; - Descobrir a contribuição própria do autor lido ao tema em questão; - Verificar se o pensamento do autor está vinculado a algum paradigma.

Para Martins6, a leitura do mundo, como pensava e afirmava Paulo Freire, precede sempre a leitura da palavra e a leitura desta implica a continuidade da leitura daquele. Vejamos algumas indicações facilitadoras do ato de ler:

Percorra o livro, verificando a contracapa e/ou as orelhas, o índice e examinando rapidamente as páginas, para um reconhecimento geral;

Sublinhe e destaque trechos; Faça perguntas: estabelecendo comparações; questionando a verdade das proposições;

verificando a validade dos argumentos e localizando generalizações e suposições; Faça uma revisão.

O leitor que deseja RESUMIR UM TEXTO poderá lê-lo e a partir daí hierarquizar as idéias que se destacaram nos títulos, subtítulos e dentro do próprio texto (palavras-chave). Depois poderá criar um sistema de códigos, setas, desenhos e/ ou um diagrama. O Resumo

5 Baseado no livro de TEIXEIRA, Elizabeth. As três metodologias: acadêmica, da ciência e da pesquisa. 2.ed.Petrópolis, RJ: Vozes, 2005.6 MARTlNS, Maria Helena. O que é leitura. São Paulo: Brasiliense, 1994. Coleção Primeiros Passos.

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poderá ser produzido com base no esquema elaborado, como se estivéssemos escrevendo o que o esquema representa e/ ou destaca.

O leitor que deseja ANALISAR UM TEXTO poderá, após elaborar o resumo, procurar resposta para as seguintes questões e conforme essas estará utilizando uma função mental mais ou menos elaborada:

Apreensão: O que o autor afirma? Qual o significado da afirmação do autor? Entendimento/Aplicação: Onde verifica tal problema? Quais as partes constituintes do

texto? Análise/Síntese/Julgamento: Quais as idéias essenciais? Qual o valor lógico das

idéias? Criatividade: Como pensar ou agir perante o conhecimento adquirido?

O ATO DE ESCREVER TEXTOSOs textos serão tratados como unidades de significação, de acordo com Sayeg-

Siqueira7. Os textos assim considerados são unidades com completude, um conjunto coerente e ordenado de idéias. Os textos deverão ter:

a) UMA REFERÊNCIA: o assunto a que se refere;b) UMA TEMATIZAÇÃO: o enfoque, a delimitação do assunto.

Os textos se organizam e se expandem na seguinte seqüência: Uma situação inicial onde recupera um saber partilhado, já conhecido. Uma informação nova, uma proposição que se quer defender ou propor. Um conjunto de justificativas relativas ao item anterior. Uma conclusão.

Os problemas mais encontrados nos textos segundo o autor são os seguintes: Digressões: trechos que se desviam da referência e da tematização; Redundâncias: uso repetitivo de termos desnecessários; Inadequações: comentários que tomam os conteúdos falseáveis, vagos, pouco claros; Lacunas: ausência de uma parte ou de uma idéia responsável pela ligação entre duas

ou mais partes do texto; Deslocamentos: uma parte ou idéia em local inadequado; Contradições: idéias que se contradizem.

Vejamos os tipos de textos que podemos produzir e algumas de suas características definidoras:

a)Texto Descritivo: descrevem a situação, os aspectos externos, históricos, informações. É a representação verbal de uma coisa, ser, paisagem, estado de espírito, através da indicação dos seus aspectos mais característicos. É preciso mostrar as relações, saber selecionar os detalhes, saber reagrupá-los e analisá-los.

b)Texto Narrativo: sua matéria é o fato (acontecimento).

c)Texto Dissertativo: É o desenvolvimento de uma idéia geral, baseado na divisão e enumeração de seus vários aspectos, seguindo-se a sua comprovação ou justificação. Consideramos o texto dissertativo o mais complexo, e, para auxiliar na sua construção.

7SAYEG-SIQUEIRA, João Hiltom. O texto. São Paulo: Selinunte, 1996.

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2. CONHECIMENTO CIENTÍFICO E SENSO COMUM8

Ao se falar em conhecimento científico, o primeiro passo consiste em diferenciá-lo de outros tipos de conhecimento existentes. Para tal, analisemos uma situação histórica, que pode servir de exemplo.

Desde a Antigüidade, até aos nossos dias, um camponês, mesmo iletrado e/ou desprovido de outros conhecimentos, sabe o momento certo da semeadura, a época da colheita, a necessidade da utilização de adubos, as providências a serem tomadas para a defesa das plantações contra ervas daninhas e pragas e o tipo de solo adequado para as diferentes culturas. Tem também conhecimento de que o cultivo do mesmo tipo, todos os anos, no mesmo local, exaure o solo. Já no período feudal, o sistema de cultivo era em faixas: duas cultivadas e uma terceira "em repouso", alternando-as de ano para ano, nunca cultivando a mesma planta, dois anos seguidos, numa única faixa. O início da Revolução Agrícola não se prende ao aparecimento, no século XVIII, de melhores arados, enxadas e outros tipos de maquinaria, mas à introdução, na segunda metade do século XVII, da cultura do nabo e do trevo, pois seu plantio evitava o desperdício de se deixar a terra em repouso: seu cultivo "revitalizava" o solo, permitindo o uso constante. Hoje, a agricultura utiliza-se de sementes selecionadas, de adubos químicos, de defensivos contra as pragas e tenta-se, até, o controle biológico dos insetos daninhos.

Mesclam-se, neste exemplo, dois tipos de conhecimento: o primeiro, vulgar ou popular, geralmente típico do camponês, transmitido de geração para geração por meio da educação informal e baseado em imitação e experiência pessoal; portanto, empírico e desprovido de conhecimento sobre a composição do solo, das causas do desenvolvimento das plantas, da natureza das pragas, de ciclo reprodutivo dos insetos etc.; o segundo, científico, é transmitido por intermédio de treinamento apropriado, sendo um conhecimento obtido de modo racional, conduzido por meio de procedimentos científicos. Visa explicar “por que" e "como" os fenômenos ocorrem, na tentativa de evidenciar os fatos que estão correlacionados, numa visão mais globalizante do que a relacionada com um simples fato - uma cultura específica, de trigo, por exemplo.

2.1. CONHECIMENTOS: POPULAR, FILOSÓFICO, RELIGIOSO E CIENTÍFICO.Verificamos que o conhecimento científico diferencia-se do popular muito mais no

que se refere a seu contexto metodológico do que propriamente a seu conteúdo. Essa diferença ocorre também em relação aos conhecimentos filosófico e religioso (teológico).

CONHECIMENTO POPULARO conhecimento popular é valorativo por excelência, pois se fundamenta numa seleção operada com base em estados de ânimo e emoções: como o conhecimento implica uma dualidade de realidades, isto é, de um lado o sujeito cognoscente e, de outro, o objeto conhecido, e este é possuído, de certa forma, pelo cognoscente, os valores do sujeito impregnam o objeto conhecido. É também reflexivo, mas, estando limitado pela familiaridade com o objeto, não pode ser reduzido a uma formulação geral. A característica de assistemático baseia-se na "organização" particular das experiências próprias do sujeito cognoscente, e não em uma sistematização das idéias, na procura de uma formulação geral que explique os fenômenos observados, aspecto que dificulta a transmissão, de pessoa a pessoa, desse modo

8Retirado de LAKATOS, Eva Maria e Marconi, Marina de Andrade. Metodologia do trabalho científico. São Paulo: Atlas 2001.

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de conhecer. É verificável, visto que está limitado ao âmbito da vida diária e diz respeito ao que se pode perceber no dia-a-dia. Finalmente, é falível e inexato, pois se conforma com a aparência e com o que se ouviu dizer a respeito do objeto. Em outras palavras, não permite a formulação de hipóteses sobre a existência de fenômenos situados além das percepções objetivas.

CONHECIMENTO FILOSÓFICOO conhecimento filosófico é valorativo, pois seu ponto de partida consiste em

hipóteses, que não poderão ser submetidas à observação: "as hipóteses filosóficas baseiam-se na experiência, portanto, este conhecimento emerge da experiência e não da experimentação" (Trujillo,1974, p.12), por este motivo, o conhecimento filosófico é não verificável, já que os enunciados das hipóteses filosóficas, ao contrário do que ocorre no campo da ciência, não podem ser confirmados nem refutados. É racional, em virtude de consistir num conjunto de enunciados logicamente correlacionados. Tem a característica de sistemático, pois suas hipóteses e enunciados visam a uma representação coerente da realidade estudada, numa tentativa de apreendê-la em sua totalidade. Por último, é infalível e exato, já que, quer na busca da realidade capaz de abranger todas as outras, quer na definição do instrumento capaz de apreender a realidade, seus postulados, assim como suas hipóteses, não são submetidos ao decisivo teste da observação (experimentação).

Portanto, o conhecimento filosófico é caracterizado pelo esforço da razão pura para questionar os problemas humanos e poder discernir entre o certo e o errado, unicamente recorrendo às luzes da própria razão humana. Assim, se o conhecimento científico abrange fatos concretos, positivos, e fenômenos perceptíveis pelos sentidos, pelo emprego de instrumentos, técnicas e recursos de observação, o objeto de análise da filosofia são idéias, relações conceptuais, exigências lógicas que não são redutíveis a realidades materiais e, por essa razão, não são passíveis de observação sensorial direta ou indireta (por instrumentos), como a que é exigida pela ciência experimental. O método por excelência da ciência é o experimental: ela caminha apoiada nos fatos reais e concretos, afirmando somente aquilo que é autorizado pela experimentação. Ao contrário, a filosofia emprega "o método racional, no qual prevalece o processo dedutivo, que antecede a experiência, e não exige confirmação experimental, mas somente coerência lógica" (Ruiz, 1979, p.110). O procedimento científico leva a circunscrever, delimitar, fragmentar e analisar o que se constitui o objeto da pesquisa, atingindo segmentos da realidade, ao passo que a filosofia encontra-se sempre à procura do que é mais geral, interessando-se pela formulação de uma concepção unificada e unificante do universo. Para tanto, procura responder às grandes indagações do espírito humano e, até, busca as leis mais universais que englobem e harmonizem as conclusões da ciência.

CONHECIMENTO RELIGIOSOO conhecimento religioso, isto é, teológico, apóia-se em doutrinas que contêm

proposições sagradas (valorativas), por terem sido reveladas pelo sobrenatural (inspiracional) e, por esse motivo, tais verdades são consideradas infalíveis e indiscutíveis (exatas); é um conhecimento sistemático do mundo (origem, significado, finalidade e destino) como obra de um criador divino; suas evidências não são verificadas: está sempre implícita uma atitude de fé perante um conhecimento revelado. Assim, o conhecimento religioso ou teológico parte do princípio de que as "verdades" tratadas são infalíveis e indiscutíveis, por consistirem em "revelações" da divindade (sobrenatural). A adesão das pessoas passa a ser um ato de fé, pois a visão sistemática do mundo é interpretada como decorrente do ato de um criador divino, cujas evidências não são postas em dúvida nem sequer verificáveis. A postura dos teólogos e cientistas diante da teoria da evolução das espécies, particularmente do Homem, demonstra as abordagens diversas: de um lado, as posições dos teólogos fundamentam-se nos ensinamentos

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de textos sagrados; de outro, os cientistas buscam, em suas pesquisas, fatos concretos capazes de comprovar (ou refutar) suas hipóteses. Na realidade, vai-se mais longe. Se o fundamento do conhecimento científico consiste na evidência dos fatos observados e experimentalmente controlados, e o do conhecimento filosófico e de seus enunciados, na evidência lógica, fazendo com que em ambos os modos de conhecer deve a evidência resultar da pesquisa dos fatos, ou da análise dos conteúdos dos enunciados, no caso do conhecimento teológico o fiel não se detém nelas à procura de evidência, mas da causa primeira, ou seja, da revelação divina.

CONHECIMENTO CIENTÍFICOFinalmente, o conhecimento científico é real (factual) porque lida com ocorrências ou

fatos, isto é, com toda "forma de existência que se manifesta de algum modo" (Trujillo, 1974: 14). Constitui um conhecimento contingente, pois suas proposições ou hipóteses têm sua veracidade ou falsidade conhecida por meio da experimentação e não apenas pela razão, como ocorre no conhecimento filosófico. É sistemático, já que se trata de um saber ordenado logicamente, formando um sistema de idéias (teoria) e não conhecimentos dispersos e desconexos. Possui a característica da verificabilidade, a tal ponto que as afirmações (hipóteses) que não podem ser comprovadas não pertencem ao âmbito da ciência. Constitui-se em conhecimento falível, em virtude de não ser definitivo, absoluto ou final, por este motivo, é aproximadamente exato: novas proposições e o desenvolvimento de técnicas podem reformular o acervo de teoria existente.

Apesar da separação "metodológica" entre os tipos de conhecimento popular, filosófico, religioso e científico, no processo de apreensão da realidade do objeto, o sujeito cognoscente pode penetrar nas diversas áreas: ao estudar o homem, por exemplo, pode-se tirar uma série de conclusões sobre sua atuação na sociedade, baseada no senso comum ou na experiência cotidiana; pode-se analisá-lo como um ser biológico, verificando, com base na investigação experimental, as relações existentes entre determinados órgãos e suas funções; pode-se questioná-los quanto a sua origem e destino, assim como quanto a sua liberdade; finalmente, pode-se observá-lo como ser criado pela divindade, a sua imagem e semelhança, e meditar sobre o que dele dizem os textos sagrados.

Por sua vez, essas formas de conhecimento podem coexistir na mesma pessoa: um cientista, voltado, por exemplo, ao estudo da física, pode ser crente: praticante de determinada religião, estar filiado a um sistema filosófico e, em muitos aspectos de sua vida cotidiana, agir segundo conhecimentos provenientes do senso comum.

CONCEITO DE CIÊNCIADiversos autores tentaram definir o que se entende por Ciência. Os conceitos mais

comuns, mas, a nosso ver, incompletos, são os seguintes:

"Acumulação de conhecimentos sistemáticos." "Atividade que se propõe a demonstrar a verdade dos fatos experimentais e suas

aplicações práticas." "Caracteriza-se pelo conhecimento racional, sistemático, exato, verificável e, por

conseguinte, falível." "Conhecimento certo do real pelas suas causas." "Conhecimento sistemático dos fenômenos da natureza e das leis que o regem, obtido

pela investigação, pelo raciocínio e pela experimentação intensiva." "Conjunto de enunciados lógica e dedutivamente justificados por outros enunciados." "Conjunto orgânico de conclusões certas e gerais, metodicamente demonstradas e

relacionadas com objeto determinado."

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"Corpo de conhecimentos consistindo em percepções, experiências, fatos certos e seguros."

"Estudo de problemas solúveis, mediante método científico." "Forma sistematicamente organizada de pensamento objetivo."

3. ENFOQUES NA PESQUISA EM CIÊNCIAS SOCIAIS9

Apresentaremos, a seguir, uma sucinta caracterização do positivismo, da fenomenologia e do materialismo dialético. Pretendemos, com isso, clarear os caminhos teóricos para os principiantes em pesquisa educacional. Isto leva implícito terminar com certos preconceitos que circulam em nosso meio (por exemplo, a dicotomia quantitativa-qualitativa, o que tem estado significando a eliminação do quantitativo na pesquisa educacional; a rejeição da experimentação no ensino, considerada como herança nefasta do positivismo etc.).

3.1. IDÉIAS BÁSICAS DO POSITIVISMO

1. No quadro geral de referência, em torno do problema fundamental da Filosofia, o positivismo é uma tendência dentro do Idealismo Filosófico e representa nele uma das linhas do Idealismo Subjetivo.

2. O positivismo, sem dúvida, não nasceu espontaneamente, no século XIX, comAugusto Comte. Suas raízes podem ser encontradas no empiricismo, já na antiguidade. Mas as bases concretas e sistematizadas desde estão, seguramente, nos séculos XVI, XVIIe XVIII, com Bacon, Hobbes e Hume, especialmente.

3. O fundador do positivismo foi Augusto Comte. Podemos distinguir no pensamento de Comte três preocupações fundamentais. Uma filosofia da história (na qual encontramos as bases de sua filosofia positiva e sua célebre "lei dos três estados" que marcariam as fases da evolução do pensar humano: teológico, metafísico e positivo); uma fundamentação e classificação das ciências (Matemática, Astronomia, Física, Química, Fisiologia e Sociologia); e a elaboração de uma disciplina para estudar os fatos sociais, a Sociologia que, num primeiro momento, ele denominou física social. Também Comte elaborou um esquema de uma religião da humanidade. Pensava ele que a pregação moral abrandaria os capitalistas e assim seriam mais humanos com os proletários e as mulheres, eliminando os conflitos de classes, mantendo, porém, a propriedade privada.

4. Os grandes traços podem distinguir três momentos na evolução do positivismo. Uma primeira fase, que chamaremos positivismo clássico, na qual, além do fundador Comte, sobressaem os nomes de Littré, Spencer e MiIl. Em seguida, ao final do século XIX e princípios do XX, o empiriocriticismo de Avenarius (1843-1896) e Mach (1838-1916). A terceira etapa denomina-se, em geral, de neopositivismo e compreende uma série de matizes, entre os quais se podem anotar o positivismo lógico, o empirismo lógico, estreitamente vinculados ao Círculo de Viena; o atomismo lógico (Russell, 1872-1970, e Witgenstein, 1889-1951); a filosofia analítica (Witgenstein e Ayer, n. 1910) que acham que a filosofia deve ter por tarefa elucidar as formas da linguagem em busca da essência dos problemas; o

9TRIVIÑOS, Augusto Nibaldo Silva. Introdução à pesquisa em ciências sociais: a pesquisa qualitativa em educação. São Paulo: Atlas, 1987.

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behaviorismo (Watson, 1878-1958) e o neobehaviorismo (Hull, 1884-1952, e Skinner, n.1904). O neobehaviorismo tomou as idéias de Pavlov e substituiu a base materialista deste pelas concepções do positivismo lógico e do operacionalismo. O pragmatismo, James (1842-1910), irracionalista e empirista radical, e Dewey (1859-1952), primeiro seguidor dos pontos de vista de Hegel, em seguida do positivismo para terminar criando uma nova escola, denominada instrumentalismo ou naturalismo humanista, de grande influência na filosofia norte-americana. Dewey influenciou na educação dos países da América Latina. Na política, desenvolveu os princípios da democracia liberal e do individualismo. Todos estes matizes do neopositivismo conservam os traços fundamentais do pensamento de Comte: os de serem idealistas e subjetivos.

5. Não compreenderemos cabalmente o surgimento do positivismo e seus postulados se não o entendermos como uma reação à filosofia especulativa, especialmente a representada pelo idealismo clássico alemão (Fichte, Schelling, Kant e Hegel) que imperava no pensamento europeu da época de Comte. Facilmente se observa que a filosofia positivista se colocou no extremo oposto da especulação pura, exaltando, sobretudo, os fatos.

6. Uma caracterização mais sistemática do que temos chamado o "positivismo clássico", segundo as obras de Comte, permite-nos apontar para as seguintes idéias básicas:

a) Frente ao problema da possibilidade do conhecimento humano, Comte manifesta-se claramente céptico. "No estado positivo, o espírito humano, reconhecendo a impossibilidade de obter noções absolutas, renuncia a procurar a origem e o destino do universo, a conhecer as suas causas íntimas, para descobrir, graças ao raciocínio e à observação, suas leis efetivas suas relações invariáveis de sucessão e de similitude. A explicação dos fatos resume-se de agora em diante na ligação estabelecida entre os diversos fenômenos particulares e alguns fatos gerais...” Nestas idéias de Comte descobrimos alguns dos princípios fundamentais do positivismo, cujo emprego se considera como de prática comum entre os pesquisadores. Estes princípios são: a busca da explicação dos fenômenos através das relações dos mesmos e a exaltação da observação dos fatos, mas resulta evidente que para ligar os fatos existe a "necessidade de uma teoria". De outra maneira, seria impossível que os fatos sejam percebidos. "Desde Bacon se repete que são reais os conhecimentos que repousam sobre fatos observados, mas para entregar-se à observação nosso espírito precisa de uma teoria”.

b) Comte declara-se partidário da especialização, mas chama a atenção sobre os perigos, para a unidade do conhecimento, que pode ter a especialização exagerada. Por outro lado, fala do estudo "das generalidades científicas como de outra grande especialidade!” Não é possível, porque foge à capacidade humana, o ensino de todas as disciplinas científicas por separado. Deve existir primeiro, "uma instrução fundamental sobre todas as grandes classes de fenômenos naturais". "As classificações dos fenômenos acrescenta - não devem ser realizadas a priori. Elas devem provir do próprio estudo dos objetos a serem classificados”.

c) Talvez um dos assuntos mais discutidos no seio da cultura contemporânea seja o da relação teoria-prática. Comte acha que o estudo das ciências possui algo muito mais elevado que o de atender o interesse da indústria, que é o de "satisfazer a necessidade fundamental sentida por nossa inteligência, de conhecer as leis dos fenômenos", "prescindindo de toda consideração prática".

d) Comte prega a submissão da imaginação à observação, mas isto não deve transformar "a ciência real numa espécie de estéril acumulação de fatos incoerentes", porque

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devemos entender "que o espírito positivo não está menos afastado, no fundo, do empirismo do que do misticismo".

e) O positivismo proclama como função essencial da ciência sua capacidade de prever. "O verdadeiro espírito positivo consiste em ver para prever”. Por outro lado, o exercício das funções intelectuais "exige uma combinação de estabilidade e atividade, donde resultam as necessidades simultâneas de ordem e progresso, ou de ligação e extensão".

f) Comte assinala cinco acepções para a palavra positivo. A primeira delas designa o real em oposição a quimérico. Isto significa que o espírito humano deve investigar sobre o que é possível conhecer, eliminando a busca das causas últimas ou primeiras das coisas. O positivo é um estado sobre o útil ao invés do ocioso. Nada que não seja destinado ao aperfeiçoamento individual ou coletivo deve ficar de lado. A filosofia positiva deve guiar o ser humano para a certeza, distanciando-o da indecisão; deve elevá-lo ao preciso, eliminando o vago, tão característico da filosofia tradicional. A quinta acepção do vocábulo positivo aparece como contrária a negativo. Assim, a filosofia tem por objetivo não destruir, mas organizar.

g) É interessante a opinião de Comte em relação a uma prática comum, ainda, em nossos meios intelectuais: a do ecletismo. "Este é absurdo e perigoso, não só em política, mas também na filosofia. Ele é uma vã intenção de conciliar, sem princípios próprios, opiniões incompatíveis”.

7. A seguir, vamos comentar brevemente as características principais do positivismo, fazendo menção, especialmente, aos traços que singularizam, o neopositivismo e o positivismo lógico:

a) Uma das características que mais têm pesado sobre a prática da pesquisa na educação, ainda que ela não seja a mais importante do positivismo, é a de considerar a realidade como formada por partes isoladas, de fatos atômicos, segundo a expressão de Russell e Witgenstein (atomismo lógico). Esta visão isolada dos fenômenos sociais, oposta à idéia de integridade e de transformação dialética hegeliana, permitiu que nossos pesquisadores realizassem estudos, por exemplo, sobre o fracasso escolar, desvinculados de uma dinâmica ampla e submetidos a relações simples, sem aprofundar as causas. A evasão na primeira série surgia como relacionada com os anos de magistério dos professores, com seu grau de formação profissional, seu nível sócio-econômico etc. O mundo era um amontoado de coisas separadas, fixas.

b) O positivismo não aceita outra realidade que não sejam os fatos, fatos que possam ser observados. "Para que determinados estudos sejam considerados ciência eles devem recair sobre fatos que conhecemos, que se realizem e sejam passíveis de observação”.Isto originou um problema. Que se passava com os estados mentais? Todos reconheciam que eles eram diferentes dos fatos do mundo material e da realidade social. O behaviorismo, em busca da cientificidade, eliminou a introspecção, método clássico da psicologia tradicional, e chegou à conclusão de que os estados mentais, de qualquer natureza e complexidade se manifestavam através do comportamento e este podia ser observado. Desta maneira, o positivismo conservava incólume um de seus princípios básicos.

c) Mas ao positivismo não interessavam as causas dos fenômenos, porque isso não era positivo, não era tarefa da ciência. Buscar as causas dos fatos, sejam elas primeiras ou finais,

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era crer demasiado na capacidade de conhecer do ser humano, era ter uma visão desproporcionada da força intelectual do homem, de sua razão. Isso era metafísico. Assim, tendo os fatos como único objeto da ciência, fatos que podiam ser observados, a atitude positiva consistia em descobrir as relações entre as coisas. Para atingir isto, nas ciências sociais, criaram-se instrumentos, elaboraram-se determinadas estratégias (questionários, escalas de atitudes, escalas de opinião, tipos de amostragem etc.) e se privilegiou a estatística e, através dela, o conhecimento deixou de ser subjetivo, alcançando a desejada "objetividade científica". Desta maneira, eliminava-se a busca inadequada do porquê. O que interessa ao espírito positivo é estabelecer como se produzem às relações entre os fatos.

d) Este conhecimento objetivo do dado alheio a qualquer traço de subjetividade eliminou qualquer perspectiva de colocar a busca científica ao serviço das necessidades humanas, para resolver problemas práticos. O investigador estuda os fatos estabelece relações entre eles, pela própria ciência, pelos propósitos superiores da alma humana de saber. Não está interessado em conhecer as conseqüências de seus achados. Este propósito do espírito positivo engendrou uma dimensão que foi defendida com muito entusiasmo e ainda hoje, em alguns meios, se levanta como bandeira verdadeira: a da neutralidade da ciência. "A ciência estuda os fatos para conhecê-los, e tão-somente para conhecê-los, de modo absolutamente desinteressado”. "Quando o sábio cientificamente investiga, ele se desinteressa das conseqüências práticas. Ele diz o que é; verifica o que são as coisas, e fica nessa verificação. Não se preocupa em saber se as verdades que descobre são agradáveis ou desconcertantes, se convém que as relações que estabeleça fiquem como foram descobertas, ou se valeria a pena que fossem outras. Seu papel é exprimir a realidade, não julgá-la." Este ponto de vista, o de ser o conhecimento científico neutro, foi combatido, primeiro, no mundo dos cientistas sociais que não podiam conceber que a ciência humana pudesse ficar à margem da influência do ser humano que investigava. São poucos agora os que ainda defendem a neutralidade da ciência natural.

e) Um dos traços mais característicos do positivismo está representado por sua rejeição ao conhecimento metafísico, à metafísica. Para alguns esta peculiaridade é a que melhor define a filosofia positiva comtiana. Por isso, o cepticismo metafísico se conhece também como positivismo. "Devemos limitar-nos ao positivamente dado, aos fatos imediatos da experiência, fugindo de toda especulação metafísica. Só há um conhecimento e um saber, aquele que é próprio das ciências especiais, mas não um conhecimento e um saber filosófico-metafísico”.

Mais tarde, o empirismo lógico, neopositivismo, rejeita também a metafísica, mas por razões diferentes das sustentadas por Comte: não acha que o conhecimento metafísico deva ser rejeitado porque seja falso, mas porque suas proposições carecem de significado. E esta é uma das muitas diferenças que se podem estabelecer entre o positivismo clássico e o neopositivismo, especialmente pelo que está representado pelo Círculo de Viena, o denominado positivismo lógico.

f) Precisamente foi o positivismo lógico que formulou o célebre princípio da verificação (demonstração da verdade). Segundo este princípio, será verdadeiro aquilo que é empiricamente verificável, isto é, toda afirmação sobre o mundo deve ser confrontada com o dado. Desta maneira, o conhecimento científico ficava limitado à experiência sensorial. A estreiteza deste princípio, que deixava fora da ciência muitos conhecimentos que não podiam ser comprovados pela via experimental, reduziu rapidamente sua importância, obrigando os criadores dele a formularem critérios mais amplos sobre o particular, como, por exemplo, admitindo a concordância geral da teoria com o dado na experiência.

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g) Uma das afirmações básicas do positivismo está representada pela sua idéia da unidade metodológica para investigação dos dados naturais e sociais. Partia-se da idéia de que tantos os fenômenos da natureza, como os da sociedade estavam regidos por leis invariáveis. O problema residia para o investigador na busca dos procedimentos adequados tendo em vista os objetos que se pretendia atingir.

h) Um dos elementos principais no processo de quantificação dos fatos sociais foi o emprego do termo variável. A variável permitiu não só medir as relações entre os fenômenos, mas também testar hipóteses e estabelecer generalizações. Para que a variável fosse verdadeiramente eficaz, devia ser operacionalizada, isto é, ter um significado específico, verificável. Os conceitos operacionalizados formavam as proposições que permitiam formular as teorias.

Uma das aspirações mais notadamente abrigadas pelos positivistas foi a de alcançar resultados na pesquisa social que pudessem generalizar-se. As técnicas de amostragem, os tratamentos estatísticos e os estudos experimentais severamente controlados foram instrumentos usados para concretizar estes propósitos. Partiam do princípio positivista da unidade metodológica entre a ciência natural e a ciência social. Os reiterados reveses, observados à simples vista, destas pretensões não foram, porém, obstáculo para defender a validade da idéia. A flexibilidade da conduta humana, a variedade dos valores culturais e das condições históricas, unidas ao fato de que na pesquisa social o investigador é um ator que contribui com suas peculiaridades (concepção do mundo, teorias, valores etc.), não permitirão elaborar um conjunto de conclusões frente a determinada realidade com o nível de objetividade que apresenta um estudo realizado no mundo natural.

i) Os positivistas lógicos, especialmente Camap e Neurath, desenvolveram a idéia denominada fisicalismo, numa tentativa de buscar uma linguagem única, comum para toda a ciência. O fisicalismo consistia em traduzir todo postulado científico a linguagem da física.Se esse postulado podia ser traduzido como forma de expressar suas verdades dessa ciência, então era científico. Os mesmos positivistas lógicos concordaram que esse esforço não alcançou resultados satisfatórios.

j) Se o que reconhecemos como conhecimento é aquilo que pode ser testado empiricamente, os positivistas determinaram que não podia existir qualquer tipo de conhecimento elaborado a priori. Isto significava rebater a tese kantiana de que a consciência era capaz de conhecer antes e independentemente da experiência e aceitar como fidedigno o conhecimento a posteriori, obtido da percepção sensorial.

l) O positivismo estabeleceu distinção muito clara entre valor e fato. Os fatos eram objeto da ciência. Os valores, como não eram "dados brutos" e apenas expressões culturais, ficavam fora do interesse do pesquisador positivista, nunca podiam constituir-se num conhecimento científico.

m) O positivista reconhecia apenas dois tipos de conhecimentos autênticos, verdadeiros, legítimos; numa palavra, científicos: o empírico, representado pelos achados das ciências naturais, o mais importante de ambos; e o lógico, constituído pela lógica e pela matemática.

Os ataques mais relevantes contra o positivismo, em geral, se dirigiram aos positivistas lógicos, especialmente aos integrantes do Círculo de Viena. Na realidade, eles eram a cabeça

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mais visível desta tendência filosófica com indiscutíveis raízes no pensamento comtiano. Talvez concentraram os ataques porque esses pensadores pretendiam fazer do positivismo lógico uma filosofia geral da ciência. Mas sua tentativa estava tão sobrecarregada de tópicos polêmicos que ofereciam facilmente brechas para as investi das dos filósofos que sustentavam pontos de vista teóricos diferentes.

É curioso que uma das principais limitações ao positivismo lógico tenha sido levantada por um dos que integravam, talvez de modo circunstancial, os colóquios que se realizavam no Círculo de Viena: Karl Popper. Este filósofo escrevia em 1974: "Em virtude da publicação do livro Logik der forschung, publicado em 1934, fui situado como membro dissidente do positivismo lógico que apenas sugeria uma substituição do critério de verificabilidade pelo critério de falseabilidade..." "Não obstante, os próprios positivistas lógicos preferiam ver-me como aliado do que crítico. Todos sabem atualmente que o positivismo lógico está morto... Receio que eu deva assumir essa responsabilidade”.

Popper formulou o que se denomina racionalismo crítico, tendência filosófica contemporânea que também tem recebido outros nomes (empirismo crítico, critinismo, falsificacionismo etc.) cujos princípios não estão claramente estabelecidos. Mas, em geral, podemos dizer que o racionalismo crítico postula explicar o comportamento humano, o saber, as idéias, as organizações sociais etc., procurando realizar sobre eles uma crítica tendente a seu aperfeiçoamento constante. O racionalismo crítico representa uma linha dentro das filosofias pós-positivistas. Defende o caráter hipotético de todo conhecimento científico, a possibilidade de estabelecer que hipóteses são mais indicadas que outras etc. Popper rejeitou, nas ciências empíricas, o emprego do método indutivo e sua idéia de inferir de enunciados singulares (ou particulares) enunciados universais, como teorias e hipóteses. E propôs como método da ciência o método hipotético-dedutivo. "A teoria do método dedutivo de prova ou de concepção segundo a qual uma hipótese só admite prova empírica e tão-somente após haver sido formulada, opõe-se frontalmente a todas as tentativas de utilizar as idéias da Lógica Indutiva”. Este problema do método indutivo, que Popper denomina o "Problema de Hume", por haver sido este filósofo o primeiro a denunciar suas limitações, está em relação com o critério da demarcação. Para os positivistas era científico, legítimo, só o que "derivasse da experiência". "Os positivistas modernos têm condição de ver mais claramente que a ciência não é um sistema de conceitos, mas, antes, um sistema de enunciados”. ”... Contudo, só reconhecerei um sistema como empírico ou científico se ele for passível de comprovação pela experiência. Essas considerações sugerem que devem ser tomados como critério de demarcação não a verificabilidade, mas a falseabilidade de um sistema. Em outras palavras, não exigirei que um sistema científico seja suscetível de ser dado como válido, de uma vez por todas, em sentido positivo; exigirei, porém, que sua forma lógica seja tal que se torne possível validá-lo através de recurso a provas empíricas; em sentido negativo, deve ser possível refutar pela experiência um sistema científico empírico. Assim, "Choverá ou não choverá aqui, amanhã" não será considerado empírico, simplesmente porque não admite refutação, ao passo que será considerado empírico o enunciado "Choverá aqui, amanhã".

Devemos reconhecer que Popper, seguindo a linha de Hume, assestou um golpe decisivo nas bases das idéias que permitiam aos positivistas, especialmente aos primeiros representantes dessa corrente do pensamento, considerar um conhecimento como científico ou não, mas foi a Escola de Frankfurt, sem dúvida, a que cavou o túmulo, com maior responsabilidade, do positivismo, especialmente o que se abrigava no denominado Círculo de Viena. A crítica da Escola de Frankfurt foi profunda, demolidora. Seus principais representantes, Horkheimer, Adorno, Marcuse, Benjamim, Fromm, Habermas, dirigiram suas flechas ao positivista que aparecia como um alvo cheio de pontos vitais, fáceis de acertar e de destruir.

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Habermas, por exemplo, examina extensamente o positivismo. Critica-lhe o haver terminado com a teoria do conhecimento e sua substituição pela teoria das ciências. "A questão lógico-transcendental acerca das condições do conhecimento possível visava, simultaneamente, à explicação do sentido inerente ao conhecimento enquanto tal. O positivismo amputa esse questionamento”. Habermas não aceita estabelecer o conhecimento científico como o unicamente válido e não investigar o que não seja objeto de percepção sensível.

Horkheimer e Adorno revisam, especialmente numa obra, a concepção de sociologia de Comte e apontam as suas limitações.

Pode-se aprofundar no conhecimento das críticas que a Escola de Frankfurt realiza ao positivismo e no sentido geral das reflexões desse grupo de pensadores nas obras de Giroux, Freitag e Jay e, naturalmente, nas publicações dos integrantes da denominada Escola de Frankfurt, corrente neomarxista de extraordinária influência na década de sessenta. As idéias dos filósofos de Frankfurt, que pretendiam a "reconstrução do marxismo", alimentaram alguns grupos de esquerda que lutaram, entre outras coisas, pela reforma universitária de 1968 que teve a sua origem em Nanterre, França, e que, em seguida, se estendeu pelo mundo.

O positivismo, sem dúvida, representa, especialmente através de suas formas neopositivistas, como o positivismo lógico e a denominada filosofia analítica, uma corrente do pensamento que alcançou, de maneira singular na lógica formal e na metodologia da ciência, avanços muito meritórios para o desenvolvimento do conhecimento. Se bem que possamos considerar o Círculo de Viena o centro irradiador por excelência do neopositivismo, também devemos destacar o grupo de Moore na Inglaterra, a "Sociedade de Filosofia Empírica de Berlim" de Reichenbach e Hempel, o grupo de "filosofia da ciência" da América do Norte com figuras importantes como as de Nagel e Brigman e outros nomes de diferentes países. Muitos dos neopositivistas, na década de trinta, se deslocaram para a América do Norte, fortalecendo os princípios que, nessa linha, se cultivavam naquela nação. Uma das idéias que postulava Comte, da "necessidade de estabelecer uma relação fundamental entre a ciência e a técnica". O "concretizou de maneira extraordinária no meio norte-americano, o que significou que a técnica não foi mais unicamente geometria, mecânica, química etc., mas também política e moral". O resultado desta união da ciência e da técnica manifestou elevado desenvolvimento espiritual e material no país, que influenciou a vida social, econômica, política e, especialmente em relação às nações da América Latina, educacional, de outros povos.

3.2. AS IDÉIAS DA FENOMENOLOGIA

1. Em nosso quadro geral de referência, que gira em torno do problema fundamental da filosofia, a fenomenologia representa uma tendência dentro do idealismo filosófico e, dentro deste, ao denominado idealismo subjetivo.

2. A fenomenologia de Husserl, que é a que destacaremos neste breve enfoque, teve grande influência na filosofia contemporânea. Correntes do pensamento que foram extraordinariamente populares nos tempos de pós-Segunda Guerra Mundial, como o existencialismo, se alimentaram na fonte fenomenológica. Heidegger, Sartre, Merleau-Ponty, por um lado, representam o existencialismo ateísta, e, por outro, Van Breda, Marcel e Jaspers, entre outros, cultivam uma linha de crença em Deus, cujas raízes principais estão em Soeren Kierkegaard (1813-55), filósofo dinamarquês, para o qual o pensar deve ser "existencial". O que importa é o homem como "existência", como um ser intimamente pessoal. Kierkegaard introduziu na linguagem filosófica alguns termos, segundo ele, próprios do mundo íntimo do

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ser humano, como angústia, temor, desesperação etc., que tiveram notável desenvolvimento entre os existencialistas que cultivaram a literatura, como Sartre,MareeI, Camus etc.

3. As origens da filosofia de Edmund Husserl (1859-1938) talvez estejam principalmente em Platão, Leibnitz, Descartes e Brentano. De Franz Brentano (1838-1917), filósofo idealista austríaco, quiçá proceda a um dos conceitos fundamentais da fenomenologia husserliana, o da intencionalidade. Segundo Brentano, a psique sempre está dirigida para algo. É "intencional".

4. Como ocorreu com o positivismo, também, dentro da fenomenologia, podemos assinalar "grupos de pensadores" que apresentam suas próprias peculiaridades, introduzindo mudanças no pensamento original da fenomenologia, aprofundando certos aspectos dela, lutando por manter as idéias iniciais etc. Na França, por exemplo, ressaltam os nomes de Sartre, Merleau-Ponty e Ricoeur; na Alemanha, além de Husserl e seus discípulos (Pfânder, Ingarden etc.), defensores da fenomenologia pura, estão Heidegger e também Max Scheler com sua fenomenologia das essências. Mais tarde se constituíram outros grupos de fenomenólogos na América do Norte e na Inglaterra, especialmente. Neste último país, na década de setenta, iniciou-se uma corrente fenomenológica fundamentalmente de natureza sociológica, que, em seguida, avançou com seus princípios no campo da educação, determinando ações e maneiras de encarar o desenvolvimento do currículo na escola e, de maneira singular, a pesquisa no ensino.

5. Os grandes centros que zelam pelo pensamento de Husserl estão em Lovaina (Bélgica), na Universidade Católica, e na Sociedade Fenomenológica Internacional, em Búfalo, na América do Norte, que publica regularmente uma revista, Filosofia e Investigações Fenomenológicas. Em Lovaina, sob o espírito do professor H. L. Van Breda, notável husserliano, diretor do Arquivo Husserl, foi realizada uma atividade extraordinária para manter vivo o pensamento do pai da fenomenologia.

6. Husserl pretendeu inicialmente fazer da filosofia uma ciência rigorosa. Mais tarde, o que significou uma renúncia às suas declarações primeiras, voltou-se para a investigação do "mundo vivido" pelos sujeitos considerados isoladamente. A filosofia como "ciência rigorosa" deveria ter como tarefa estabelecer as categorias puras do pensamento científico. Para alcançar este objetivo, Husserl falou da "redução fenomenológica". Através desta, na qual o fenômeno se apresentava puro, livre dos elementos pessoais e culturais, chega-se a um nível dos fenômenos que se denomina das essências. Desta maneira, a fenomenologia apresenta-se como um "método" e como um "modo de ver" o dado.

7. A idéia fundamental, básica, da fenomenologia, é a noção de intencionalidade. Esta intencionalidade é da consciência que sempre está dirigida a um objeto. Isto tende a reconhecer o princípio que não existe objeto sem sujeito.

8. O que é a fenomenologia? "A fenomenologia é o estudo das essências, e todos os problemas, segundo ela, tornam a definir essências: a essência da percepção, a essência da consciência, por exemplo. Mas também a fenomenologia é uma filosofia que substitui as essências na existência e não pensa que se possa compreender o homem e o mundo de outra forma senão a partir de sua "facticidade". É uma filosofia transcendental que coloca em "suspenso", para compreendê-las, as afirmações da atitude natural, mas também uma filosofia segundo a qual o mundo está sempre "aí", antes da reflexão, como uma presença inalienável, e cujo esforço está em reencontrar esse contato ingênuo com o mundo para lhe dar enfim um

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status filosófico. É ambição de uma filosofia que pretende ser uma "ciência exata", mas também uma exposição do espaço, do tempo e do "mundo vivido". É o ensaio de uma descrição direta de nossa experiência tal como ela é, sem nenhuma consideração com sua gênese psicológica e com as explicações causais que o sábio, o historiador ou o sociólogo podem fornecer dela; entretanto, Husserl, em seus últimos trabalhos, menciona uma "fenomenologia genética" e mesmo "uma fenomenologia construtiva".

"Trata-se de descrever, e não de explicar nem de analisar. Esta primeira conotação que Husserl dava à fenomenologia nascente de uma 'psicologia descritiva', ou de retomar às 'coisas mesmas' foi primeiramente o desmentido da ciência... Tudo o que sei do mundo, mesmo devido à ciência, o sei a partir de minha visão pessoal ou de uma experiência do mundo sem a qual os símbolos da ciência nada significariam. Todo o universo da ciência é construído sobre o mundo vivido e, se quisermos pensar na própria ciência com rigor, apreciar exatamente seu sentido e seu alcance, convém despertarmos primeiramente esta experiência do mundo da qual ela é a expressão segunda”.

Esta descrição do conceito de fenomenologia, feita por Merleau-Ponty, entre as idéias que conhecemos desta corrente filosófica, nos parece a mais completa. O pensador francês Merleau-Ponty (1908-1961), segundo nosso ponto de vista, diz que a fenomenologia é, colocando as idéias básicas que achamos conveniente sublinhar, para, em seguida seguindo o pensamento de Husserl, tratar de esclarecer.

9. O primeiro problema que coloca Husserl é o da "questionabilidade do conhecimento". "Como pode o conhecimento estar certo de sua consonância com as coisas que existem em si, de as 'atingir'?" Este questionamento do conhecimento significa para Husserl a possibilidade da metafísica. E admite que o exame do conhecimento tem de ter um método e este é o da fenomenologia, que é "a doutrina universal das essências, em que se integra a ciência da essência do conhecimento".

Mas questionar o conhecimento não é negá-lo, não é ter uma concepção céptica com respeito a ele. Por outro lado, o método fenomenológico parte da idéia da necessidade de ter um conhecimento indubitável ou possível, ainda que, de "início, não nos é permitido admitir conhecimento algum como conhecimento". Então Husserl, recorrendo à meditação cartesiana sobre a dúvida, atinge um conhecimento que é absoluto; as vivências "são os primeiros dados absolutos". E por que este conhecimento é inquestionável? Porque o conhecimento intuitivo da vivência é imanente; entretanto, o conhecimento das ciências naturais e matemáticas são transcendentes.

10. A possibilidade do conhecimento não se encontra no conhecimento transcendente das ciências, Estas não são sistemas de verdades, senão apenas "fenômenos de ciência". Para determinar a possibilidade do conhecimento, "precisa-se da redução fenomenológica”. Este é o segundo passo no método fenomenológico. O primeiro é o do questionamento do conhecimento, o que significa a suspensão, a colocação entre parênteses das crenças e proposições sobre o mundo natural. É a denominada epoché entre os gregos, mas para os antigos a epoché era cepticismo, A epoché permite ao fenomenólogo uma descrição do dado em toda sua pureza. O dado não é o empírico e tampouco um material que se organiza através de categorias estabelecidas em forma apriorística e intuitivamente. Para Husserl não existem conteúdos da consciência, mas exclusivamente fenômenos. O dado é a consciência intencional perante o objeto.

A "redução fenomenológica" não é o fenômeno psicológico da percepção do dado. O dado absoluto não é a vivência que eu tenho como ser humano. Não é o que eu percebo."A 'existência' da cogitatio é garantida pelo seu absoluto dar-se em si mesma, pelo seu caráter de dado na pura evidência". "Sempre que temos evidência pura, puro intuir e apreender de

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uma objetividade, diretamente e em si mesma, temos então os mesmos direitos, a mesma inquestionabilidade." "Este passo forneceu-nos uma nova objetividade como dado absoluto, a objetividade da essência, e visto que, desde o início, os atos lógicos, que se expressam na enunciação com base no visto, permanecem inadvertidos, revela-se aqui, ao mesmo tempo, o campo dos enunciados sobre essências, respectivamente dos estados de coisas genéricos, dados no ver puro."

Assim, segundo Husserl, as essências são dadas intuitivamente. Mas estas essências não constituem uma espécie de mundo das idéias platônicas nem são conceitos lógicos. Elas são as que se apresentam à intuição quando existe realização dos significados da consciência. A redução fenomenológica, além desta redução eidética que conclui com as essências, apresenta a redução transcendental. Através dela se questiona a existência mesma da consciência que elimina o que a ela é dado e se dirige a sustentar sua pureza intencional. E assim, segundo Husserl, surge a consciência pura.

11. No processo do desenvolvimento da primeira etapa da redução fenomenológica, quando Husserl estabelecia as essências, pensava-se que a fenomenologia seria uma ciência-base de todas as outras ciências. Mas quando começou a desenvolver idéias sobre o eu transcendental, o "mundo vivido", a fenomenologia genética (como está constituída a consciência transcendental?) e a fenomenologia construtiva (como se podem reorganizar os dados não dados diretamente?) separaram-se evidentemente de seus propósitos iniciais. O termo intencionalidade, considerado como primordial no sistema filosófico de Husserl, o foi também importante na filosofia de Brentano. Em geral, podemos dizer que "intenção" é a tendência para algo que, no caso de Husserl, como já o expressamos, é a característica que apresenta a consciência de estar orientada para um objeto. Isto é, não é possível nenhum tipo de conhecimento se o entendimento não se sente atraído por algo, concretamente por um objeto.

Para Husserl, a intencionalidade é algo "puramente descritivo, uma peculiaridade íntima de algumas vivências". Desta maneira, a intencionalidade característica da vivência determinava que a vivência era consciência de algo.

A importância do conceito de intencionalidade, para a fenomenologia, é fundamental, e pensa que a vivência e a consciência são idéias básicas nessa filosofia. Ainda queHusserl reconheça que existem vivências não intencionais, lembremos que as essências surgem como processos de reduções fenomenológicas que se iniciam com a intuição das vivências. Dirá Husserl: "as investigações fenomenológicas são investigações universais de essências, para objetividades universais", porque "a fenomenologia quer ser ciência e método". Assim, a fenomenologia, visando constituir-se num pensar de verdades universais,"o fenômeno cognitivo singular que, no fluxo da consciência, vem e desaparece, não é o objeto da averiguação fenomenológica". É indispensável, para compreender esta afirmação, esclarecer como a fenomenologia passa da vivência, que sempre é singular, para a universalidade. "Importa justamente clarificar que o fenômeno absoluto, a cogitatio reduzida, não vale para nós como absoluto dar-se em si mesmo por ser uma singularidade, mas porque se revela precisamente como auto-apresentação absoluta ao puro olhar, após a redução fenomenológica. Puramente vendo, podemos, não menos, encontrar como justamente um tal modo dado absoluto, a universalidade”.

12. Quando desenvolvíamos as idéias fundamentais do positivismo, pareceu-nos que, de maneira natural, essas noções básicas cobravam significado claro na prática da pesquisa educacional. Estabelecer, por exemplo, que à ciência interessava o estudo dos fatos e das relações entre os mesmos, à fixação das modalidades imediatas da investigação. Mac, ao que

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parece, esta "instrumentalização" do pesquisador não se apresenta com tanta evidência no enfoque fenomenológico.

Por isso, é conveniente ressaltar algumas idéias da fenomenologia para assinalar, considerando as dificuldades que tal tarefa impõe, suas possibilidades de concretização.

13. Percebe-se que da análise dos conceitos fenomenológicos em nenhum momento esta corrente do pensamento está interessada em colocar em relevo a historicidade dos fenômenos. A busca da essência, isto é, o que o fenômeno verdadeiramente é, depois de sofrer um isolamento total, uma redução, eliminando o eu que vivencia e o mundo com seus valores, cultura etc., carece de toda referência que não seja a de sua pureza como fenômeno, de modo que o componente histórico, que tão pouco interessava ao positivismo, não é tarefa que preocupe o pesquisador que se movimenta orientado pelos princípios da fenomenologia.

Esta dimensão a-histórica do estudo fenomenológico, precisamente, tem servido muitas vezes de alvo para os ataques de seus adversários, especialmente daqueles que provêm dos países do Terceiro Mundo, convictos de que muitos problemas destas nações têm as suas explicações, as suas raízes, nas características de seu desenvolvimento social, econômico e cultural.

14. Esta visão a-histórica da fenomenologia tem originado outra crítica forte: a de ser ela conservadora, o mesmo que o positivismo. Isto significa que o fenomenólogo estuda a realidade com o desejo de descrevê-la, de apresentá-la tal como ela é, em sua experiência pura, sem o propósito de introduzir transformações substanciais nela.

15. A fenomenologia exalta a interpretação do mundo que surge intencionalmente à nossa consciência. Por isso, na pesquisa, eleva o ator, com suas percepções dos fenômenos, sobre o observador positivista.

16. Os positivistas retificaram o conhecimento, transformaram-no num mundo objetivo, de "coisas". A fenomenologia, com sua ênfase no ator, na experiência pura do sujeito, realizou a desretificação do conhecimento, mas a nível da consciência, em forma subjetiva.

17. A reificação do conhecimento teve conseqüências extraordinárias para a elaboração do currículo escolar. Este transformou-se numa "soma de informações" que era transmitida e devia ser assimilada pelos alunos. O currículo era algo construído, elaborado, terminado, alheio fundamentalmente aos sujeitos. A fenomenologia, baseada na interpretação dos fenômenos, na intencionalidade da consciência e na experiência do sujeito, falou do currículo construído, do currículo vivido pelo estudante.

18. O pesquisador da corrente fenomenológica não realizará pesquisas para determinar, por exemplo, a ideologia do currículo, porque esse tópico não foi à preocupação da fenomenologia. A busca do fenômeno, da essência do mesmo, através da experiência pura, elimina toda possibilidade de que ele se apresente além da máscara que a ideologia pode oferecer.

19. Tampouco o pesquisador imbuído dos princípios fenomenológicos, salvo nos níveis de interpretação de percepções, abordará os conflitos das classes sociais e das mudanças estruturais que se apresentam nos povos. Naturalmente, isto não rege para aqueles fenomenólogos que trabalham com elementos do marxismo.

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20. Os estudos de sala de aula, separados de todos os elementos históricos e sociais amplos, são uma amostra muito clara do isolamento do fenômeno em foco.

21. Por outro lado, a interpretação dos fenômenos que se apresentam numa sala de aula oferece a possibilidade de esclarecer alguns elementos culturais, como es valores, que caracterizam o mundo vivido dos sujeitos.

22. O contexto cultural onde se apresentam os fenômenos permite, através da interpretação deles, estabelecer questionamentos, discussões dos pressupostos e uma busca dos significados da intencionalidade do sujeito frente à realidade. Desta maneira, o conhecer depende do mundo cultural do sujeito.

23. A fenomenologia ressalta a idéia de "ser o mundo criado pela consciência". A realidade é construída socialmente. A educação era vista principalmente como agente da socialização; na fenomenologia, a própria socialização é considerada como uma relação recíproca.

A fenomenologia, sem dúvida, representa uma tendência filosófica que, entre outros méritos, parece-nos, tem o de haver questionado os conhecimentos do positivismo, elevando a importância do sujeito no processo da construção do conhecimento. Na pesquisa educacional, através especialmente dos estudos de sala de aula, permitiu a discussão dos pressupostos considerados como naturais, óbvios. Mas o esquecimento do histórico na interpretação dos fenômenos da educação, sua omissão do estudo da ideologia, dos conflitos sociais de classes, da estrutura da economia, das mudanças fundamentais, sua exaltação da consciência etc. autorizam a pensar que um enfoque teórico dessa natureza pouco pode alcançar de proveitoso quando se está visando os graves problemas de sobrevivência dos habitantes dos países do Terceiro Mundo.

3.3. IDÉIAS DO MARXISMO, MATERIALISMO DIALÉTICO E MATERIALISMOHISTÓRICO.

1. Karl Marx (1818-1883), ao fundar a doutrina marxista na década de 1840, revolucionou o pensamento filosófico, especialmente pelas conotações políticas explícitas nas suas idéias, colocadas, em seguida, também por Friedrich Engels (1820-1895). Mais tarde, Vladimir Lênin (1870-1924) teve a singular capacidade de unir sua vida ao mais elevado pensamento criativo, e a uma prática revolucionária intensa. Com efeito, escreveu obras fundamentais como: O materialismo e o empiriocriticismo, Cadernos filosóficos e O estado e a revolução, onde coloca as principais bases ao que hoje se denomina marxismo- Ieninismo. Ao mesmo tempo, participou ativamente nas revoluções russas de 1905 e de fevereiro e outubro de 1917.

2. Desta maneira, na evolução do marxismo, podemos assinalar uma primeira fase, representada por Marx; uma segunda, na qual trabalham juntos Marx e Engels, e uma terceira etapa que, em geral, resume as contribuições de Lênin. O quarto período na existência do marxismo, que seria o contemporâneo, apresenta várias tendências, mas as principais são a soviética e a chinesa, que reclamam para si a continuação genuína das idéias de Marx.

3. Numa visão esquemática do marxismo, que é o que pretendemos, conscientes plenamente das dificuldades que para isso temos, e de acordo com os objetivos básicos deste livro, quais sejam os de ajudar a esclarecer este enfoque na prática da pesquisa educacional, não podemos deixar de mencionar brevemente alguns temas. Com efeito, não seria possível

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esquecer algumas idéias com respeito à dialética, às categorias e às leis da dialética. Tampouco devemos fugir de sua caracterização do materialismo dialético e do materialismo histórico.

4. O marxismo compreende, precisamente, três aspectos principais: o materialismo dialético, o materialismo histórico e a economia política.

5. De acordo com o quadro geral de referência em relação ao problema fundamental da filosofia, o marxismo se inclui como uma tendência dentro do materialismo filosófico que, como sabemos, apresenta várias linhas de pensamento.

6. As raízes da concepção do mundo de Marx estão unidas às idéias idealistas de Hegel (1770-1831). O idealismo objetivo de Hegel aceitava que todos os fenômenos da natureza e da sociedade tinham sua base na Idéia Absoluta. Marx tomou de Hegel várias idéias que foram fundamentais para o marxismo, como, por exemplo, o conceito de alienação e, de maneira essencial, seu ponto de vista dialético da compreensão da realidade. Mas, ao invés de vincular essas idéias ao espírito absoluto hegeliano, desenvolveu-as dentro de sua concepção materialista do mundo.

7. Reconhecem-se como fontes diretas do marxismo o idealismo clássico alemão (Hegel, Kant, Schelling, Fichte), o socialismo utópico (Saint-Simon e Fourier, na França, e Owen, na Inglaterra) e a economia política inglesa (D. Ricardo e Smith).

8. A importância que apresenta para o marxismo a concepção materialista da realidade torna necessário referir-se brevemente ao materialismo filosófico. Já sabemos que ele considera que a matéria é o princípio primordial e que o espírito seria o aspecto secundário. A consciência, que é um produto da matéria, permite que o mundo se reflita nela, o que assegura a possibilidade que tem o homem de conhecer o, universo.

A idéia materialista do mundo reconhece que a realidade existe independentemente da consciência. Já os gregos buscaram intensamente o princípio capaz de criar todas as coisas, o elemento básico - que para alguns foi a água, para outros o ar, o fogo, a terra etc. Estes primeiros materialistas, e )litros como Bruno, na Renascença, foram hilozoístas, isto é, atribuíam ao físico as mesmas propriedades (por exemplo, ter sensações) que ao psíquico. Alguns que tinham a concepção material da realidade, inclusive, foram dialéticos. Na Idade Média podemos dizer que encontramos os materialistas na corrente filosófica denominada nominalismo. Em seguida, com a exaltação dos valores helênicos, e a rejeição do espírito medieval que se havia imposto durante mais de quinze séculos, nasceu uma visão panteísta do mundo e reviveu também a idéia hilozoísta da natureza. Logo surgem outras grandes figuras que, de algum modo, sustêm pontos de vista materialistas Bacon, por exemplo, considerado o pai do materialismo moderno, e outros, como Hobbes, Spinoza e Locke, ressaltaram o valor da experiência e do conhecimento direto da natureza.

O progresso das ciências, especialmente da física e da matemática, originou o que se denomina o materialismo mecanicista. O século XVIII é particularmente interessante porque durante essa época se desenvolveu o materialismo francês, de grande influência no pensamento universal desse tempo. La Metrie, Diderot e Holbach, em forma especial sobressaíram por seu materialismo ateísta. Feuerbach possivelmente seja a figura de mais alto relevo de todo o período que se designa como pré-marxista. Feuerbach (1804-1872) destacou-se por seu apoio ao materialismo e seu ataque às idéias de Hegel, especialmente àquelas que identificavam a essência humana com a autoconsciência. Marx e Engels seguiram o

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pensamento de Feuerbach em sua idéia materialista da realidade. Mas Marx, em suas célebres Teses sobre Feuerbach, em 1845, rebate sua concepção filosófica geral ao mesmo tempo que traça as bases principais do que mais tarde constituiria o corpo teórico do denominado marxismo.

9. O materialismo dialético é a base filosófica do marxismo e como tal realiza a tentativa de buscar explicações coerentes, lógicas e racionais para os fenômenos da natureza, da sociedade e do pensamento. Por um lado, o materialismo dialético tem uma longa tradição na filosofia materialista e, por outro, que é também antiga concepção na evolução das idéias, baseia-se numa interpretação dialética do mundo. Ambas as raízes do pensar humano se unem para constituir, no materialismo dialético, uma concepção científica da realidade, enriquecida com a prática social da humanidade. Mas o materialismo dialético não só tem como base de seus princípios a matéria, a Dialética e a prática social, mas também aspira ser a teoria orientadora da revolução do proletariado. O materialismo dialético significa a superação do materialismo pré-marxista, no que este tem de metafísico e de idealista. A filosofia, na concepção do materialismo dialético, sofreu modificação substancial. Ao invés de ser um saber específico e limitado a determinado setor do conhecimento, o pensar filosófico tem como propósito fundamental o estudo das leis mais gerais que regem a natureza, a sociedade e o pensamento e, como a realidade objetiva, se reflete na consciência. Isto leva ao estudo da teoria do conhecimento e à elaboração da lógica. Através do enfoque dialético da realidade, o materialismo dialético mostra como se transforma a matéria e como se realiza a passagem das formas inferiores às superiores.

10. Talvez uma das idéias mais originais do materialismo dialético seja a de haver ressaltado, na teoria do conhecimento, a importância da prática social como critério de verdade. E ao enfocar historicamente o conhecimento, em seu processo dialético, colocou em relevo a interconexão do relativo e do absoluto. Desta maneira, as verdades científicas, em geral, significam graus do conhecimento, limitados pela história, mas, como já dissemos em outro lugar, este relativismo não significa reconhecer a incapacidade de o ser humano chegar a possuir a verdade.

11. O materialismo histórico é a ciência filosófica do marxismo que estuda as leis sociológicas que caracterizam a vida da sociedade, de sua evolução histórica e da prática social dos homens, no desenvolvimento da humanidade. O materialismo histórico significou uma mudança fundamental na interpretação dos fenômenos sociais que, até o nascimento do marxismo, se apoiava em concepções idealistas da sociedade humana. Marx e Engels colocaram pela primeira vez, em sua obra A ideologia alemã (1845-46), as bases do materialismo histórico. Nela criticam os jovens hegelianos e Feuerbach, que acham ainda que a história era resultado das ideologias e da presença dos "heróis", ao invés de buscar nas formações sócio-econômicas e nas relações de produção os fundamentos verdadeiros das sociedades. O materialismo histórico ressalta a força das idéias, capaz de introduzir mudanças nas bases econômicas que as originou. Por isso, destaca a ação dos partidos políticos, dos agrupamentos humanos etc., cuja ação pode produzir transformações importantes nos fundamentos materiais dos grupos sociais.

O materialismo histórico esclarece conceitos como ser social (relações materiais dos homens com a natureza e entre si que existem em forma objetiva, isto é, independentemente da consciência); "consciência social" (são as idéias políticas, jurídicas, filosóficas, estéticas, religiosas etc.), assim como a psicologia social das classes etc., que se tem constituído através da história; meios de produção: tudo o que os homens empregam para originar bens materiais (máquinas, ferramentas, energia, matérias químicas etc.); forças produtivas: são os meios de

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produção, os homens, sua experiência de produção, seus hábitos de trabalho. Não obstante, sem considerar a importância única do homem, a força de produção depende fundamentalmente dos instrumentos da tecnologia. As relações de produção não podem ser separadas das forças de produção. Podem ser de relações mútuas de cooperação, de submissão ou de um tipo de relações que signifique transição entre as formas assinaladas. São os vínculos que se estabelecem entre os homens. Os modos de produção: historicamente se indicam cinco modos de produção - própria da comunidade primitiva, escravagista, feudalista, capitalista e comunista (com duas fases: socialista e comunista). O materialismo histórico define outra série de conceitos fundamentais para compreender suas cabais dimensões, como: sociedade, formações sócio-econômicas, estrutura social, organização política da sociedade, vida espiritual, a cultura, concepção do homem, a personalidade, progresso social etc.

12. De maneira muito geral, pode-se dizer que a concepção materialista apresenta três características importantes. A primeira delas é a da materialidade do mundo, isto é, todos os fenômenos, objetos e processos que se realizam na realidade são materiais, que todos eles são, simplesmente, aspectos diferentes da matéria em movimento. A segunda peculiaridade do materialismo ressalta que a matéria é anterior à consciência. Isto significa reconhecer que a consciência é um reflexo da matéria, que esta existe objetivamente, que se constitui numa realidade objetiva. E, por último, o materialismo afirma que o mundo é conhecível. Esta fé na possibilidade que tem o homem de conhecer a realidade se desenvolve gradualmente. No começo, apenas o homem pode distinguir o objeto, fenômeno ou processo por sua qualidade. Só depois de um processo que pode levar milhares de anos, séculos, meses ou diferentes dimensões de duração, o homem é capaz de conhecer os aspectos quantitativos, a essência, a causa etc. do objeto.

Estas três características são próprias também do materialismo dialético. Mas é importante salientar que este se distingue por outros princípios, unidos estreitamente ao conceito de dialético. Como se sabe, em sua origem, a dialética, nos tempos de Platão e Aristóteles, era entendida como a arte da discussão, à base de perguntas e respostas, e como uma técnica capaz de servir para classificar os conceitos e dividir os objetos em gêneros e espécies. Mas, desde os tempos de Heráclito, começava-se a defender outra idéia básica da dialética: a da mutabilidade do mundo e a da transformação de toda propriedade em seu contrário. A filosofia grega antiga pode-se dizer, especialmente com Platão e Aristóteles, ressaltou o aspecto "contraditório" do ser que, ao mesmo tempo em que se transforma em outro, é único e múltiplo, imutável e passageiro.

Uma notável contribuição realizou, mais tarde, no século XVIII, o idealismo clássico alemão para a consolidação da dialética e, em seguida, do materialismo dialético. Os idealistas alemães entenderam a realidade não só como objeto de conhecimento, mas também como objeto da atividade. Kant, o fundador do idealismo clássico alemão, seguindo Descartes, destacou a força dos aspectos contraditórios no processo de desenvolvimento, uma idéia totalmente contrária aos postulados de muitos dos filósofos do idealismo clássico. Mas é com Hegel que, "por primeira vez... se concebe todo o mundo da natureza, da história e do espírito como um processo, isto é, em constante movimento, mudança, transformação e desenvolvimento, intentando, além disso, pôr em relevo a conexão interna deste movimento de desenvolvimento”. "A mistificação que a dialética sofre nas mãos de Hegel de modo nenhum impede que tenha sido ele a expor, pela primeira vez, de modo abrangente e consciente, as suas formas de movimento universais. Nele, ela está de cabeça para baixo. Há que virá-Ia para descobrir o núcleo racional no invólucro místico”.

Sobre as bases da dialética hegeliana, mas rejeitando o conteúdo idealista das mesmas, e colocando a concepção materialista do mundo, da história e do pensamento, e apoiando-se nas conclusões da ciência, Marx e Engels elaboraram o materialismo dialético. Neste sentido,

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o materialismo dialético não é só uma dimensão ontológica, mas também gnosiológica, já que estuda o conhecimento e a teoria do conhecimento como expressões históricas.

As definições da dialética materialista dos clássicos do marxismo ressaltam os aspectos que se referem às formas do movimento universais e as conexões que se observam entre elas. Engels a define como a ciência "das leis gerais do movimento e desenvolvimento da natureza, da sociedade humana e do pensamento". E Lênin a define como "a doutrina do desenvolvimento na sua forma mais completa, mais profunda e mais isenta da unilateralidade, a doutrina da relatividade do conhecimento humano, que nos dá um reflexo da matéria em eterno desenvolvimento". Engels, na obra citada, define a dialética como "a ciência da interconexão universal". Lênin destaca também este traço e outros da dialética ao expressar que ela se apresenta na compreensão do desenvolvimento como a ciência que vê na realidade do mundo dos fenômenos "a interdependência e a mais íntima e indissolúvel conexão entre todos os aspectos de cada fenômeno (a história desvendando sempre novos aspectos), uma interconexão da qual resulta um processo de movimento único e universal, com leis imanentes...". Estes conceitos de conexão, interdependência e interação são essenciais no processo dialético de compreensão do mundo.

4. TIPOS DE PESQUISA E PLANEJAMENTO (FACHIN)

Pesquisa é um procedimento intelectual em que o pesquisador tem como objetivo adquirir conhecimentos por meio da investigação de uma realidade e da busca de novas verdades sobre um fato (objeto, problema). Com base em métodos adequados e técnicas apropriadas, o pesquisador busca conhecimentos específicos, respostas ou soluções para o problema estudado.

Ao resultado de uma pesquisa, não se deve atribuir verdade absoluta, pois as descobertas são sempre renovadas e toda análise sobre um fato (objeto, problema) apresenta várias implicações de ordem apreciativa e analítica. Contudo, o pesquisador deve procurar mostrar aquilo que está enquadrado no conhecimento empírico, visando explicar com segurança a validade de suas descobertas por meio do conhecimento científico.

A pesquisa surge quando se tem consciência de um problema e nos sentimos pressionados a encontrar sua solução. A indução realizada para alcançar essa solução constitui a pesquisa propriamente dita10. Para tal, necessitamos da aplicação de procedimentos metodológicos com a intenção de desenvolver, modificar e ampliar conhecimentos que possam ser testados, por meio das investigações, e transmitidos. A pesquisa de cunho científico estabelece parâmetros necessários entre causa e efeito e suas constatações.

Ela visa descobrir respostas para perguntas pelo emprego de procedimentos científicos, que são processos criados para aumentar a probabilidade de que a informação obtida seja significativa para a pergunta proposta e, além disso, seja precisa e não-viesada (ou não-tendenciosa)11.

A atividade científica é, acima de tudo, o resultado de uma atitude do ser humano diante do mundo - do qual ele mesmo é parte integrante para entendê-lo, reconstruí-lo e, conseqüentemente, torná-lo inteligível. Assim, as novas descobertas contribuem para o aperfeiçoamento e o progresso da humanidade.

Para desenvolver uma pesquisa, é necessário um planejamento, no qual se correlaciona cada fase envolvida. O planejamento é uma forma de se executar um trabalho racional e mais

10MONDOLFO, Rodolfo. Problemas y métodos de investigación en Ia historia de Ia filosofia. Lima: Instituto de Filosofía, 1969.11SELLTIZ et al. Métodos de pesquisa nas relações sociais. São Paulo: EPU, 1981. p. 6.

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econômico. Entendemos que o planejamento de uma pesquisa, para obter conhecimentos sistematizados e seguros, deve coordenar as suas diversas fases. Vale lembrar que facilita a orientação do estudioso, ao planejá-la, questionar-se com antecipação a respeito de:

a) o que será feito;b) como as coisas serão efetuadas;c) quem desempenhará cada atividade;d) quando cada atividade será realizada;e) onde será desenvolvida cada etapa; ef) por que serão feitas de tal forma, a determinadas pessoas, em determinado espaço

geográfico e em determinado período.

A realização da pesquisa, para ser produtiva e eficaz, não deve ser desligada de um elenco de etapas. Cada etapa, por sua vez, ocupa-se de atividades metodológicas especiais conforme o objetivo e a natureza de cada pesquisa. Isso não significa que, necessariamente, deva-se seguir rigidamente todas as etapas do planejamento, pois este depende do objetivo e do tipo de pesquisa e do estudo em questão.

Toda pesquisa de certa magnitude tem de passar por uma fase preparatória de planejamento. A própria necessidade de sua realização deve ser obrigatoriamente, posta em questão. Algumas diretrizes de ação devem ser estabelecidas e, também, deve-se fixar uma estratégia global. Certas decisões importantes precisarão ser colocadas em primeiro plano, embora a vitalidade da pesquisa dependa de certo grau de flexibilidade que se deve manter. A realização desse trabalho prévio é imprescindível12.

Por meio do planejamento, o pesquisador estabelece com maior precisão os objetivos da pesquisa, determina a metodologia a ser empregada e enumera os recursos tanto materiais quanto humanos a ser utilizados e, ainda, fixa a duração das tarefas a ser desenvolvidas.

No contexto da realidade social figuram vários tipos de pesquisa. As mais utilizadas e referenciadas no decorrer deste capítulo são a pesquisa bibliográfica, a de laboratório, a de campo e a documental.

PESQUISA BIBLIOGRÁFICA

A pesquisa bibliográfica diz respeito ao conjunto de conhecimentos humanos reunidos nas obras. Tem como finalidade fundamental conduzir o leitor a determinado assunto e proporcionar a produção, coleção, armazenamento, reprodução, utilização e comunicação das informações coletadas para o desempenho da pesquisa.

Ela constitui o ato de ler, selecionar, fichar, organizar e arquivar tópicos de interesse para a pesquisa em pauta13; é a base para as demais pesquisas e, pode-se dizer, é uma constante na vida de quem se propõe estudar.

A literatura mostra que a humanidade sempre se preocupou com esse tipo de atividade intelectual. Sabe-se que as Tábuas de Calímaco (25 a.c.) continham 120 volumes com dados detalhados sobre autor, título e tamanho dos livros, além da época em que foram escritos. A primeira bibliografia, De viris illustribus, foi compilada por Jerônimo, no século IV.Cerca de 150 anos mais tarde, apareceram os primeiros livros compostos, e os periódicos científicos começaram a surgir contemplando os cientistas com novas publicações. Na metade

12CASTRO, Cláudio de Moura. Estrutura e apresentação de publicações cientificas. São Paulo: McGraw- Hill do Brasil, 1978.13ARANTES, Ferraz. Pesquisa bibliográfica nas ciências biomédicas. Revista da Faculdade de Odontologia - USP, São Paulo, n. XIII, 1971.

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do século XVIII, Diderot e D' Alembert publicaram a Enciclopédia ou Dicionário Universal de Artes e das Ciências.

No princípio do século XIX, com o aparecimento das primeiras revistas de resumos e artigos interpretativos, iniciava-se a construção de uma bibliografia nacional. Esse tipo de documentação passou a ter função de grande importância no cenário das obras científicas e apareceu devido à necessidade social, que conduziu ao aumento do número e da variedade de literatura científica.

São diversos os tipos de fontes secundárias: literatura de referência, revistas, resumos, catálogos, índices bibliográficos e bibliografias, entre outros. Com essas fontes, o consulente pode encontrar algo substancial sobre determinado assunto ou pode ser notificado periodicamente sobre novas publicações relativas àquela matéria.

Em qualquer área do saber em que as fontes primárias são numerosas, as secundárias representam importantes guias, pois possibilitam rápida pesquisa bibliográfica preliminar em grande número de fontes primárias, por meio de listas e resumos, sem os quais, praticamente, a maior parte das fontes primárias não seria encontrada.

Às vezes, além de servirem como orientadoras das fontes primárias, as fontes secundárias podem ser a própria fonte de informação. Por exemplo, uma fórmula de medicamento pode vir explicitada num resumo, sem o consulente precisar recorrer ao artigo.Contudo, o consulente deve ter consciência de que não poderá confiar totalmente na fonte secundária e deve estar pronto, se preciso for, para pesquisar o documento original.

Por ser mais prático, o consulente popular prefere consultar as fontes como um todo, enquanto o consulente cientista se detém nas fontes específicas. Há uma diferença entre eles: o primeiro faz uma pesquisa ocasional, enquanto o segundo faz pesquisas contínuas e com maior seriedade, como parte de uma pesquisa científica, e por isso usa a fonte específica, ou seja, a indicada ao assunto não somente para consultar textos exclusivos, mas também como respostas parciais.

Todo tipo de estudo deve ter o apoio e o respaldo da pesquisa bibliográfica, mesmo que se baseie em pesquisa de campo ou de laboratório, ou ainda de outro tipo qualquer.

PESQUISA DE LABORATÓRIO

A pesquisa de laboratório tem a propriedade de permitir ao pesquisador a manipulação das variáveis independentes. Dessa maneira, se D implica F, o estudioso pode atuar sobre D estabelecendo variações e verificando o grau em que F varia. A atuação do estudioso também pode fazer-se no trabalho, quando relacionado a comportamentos ou características dos grupos sociais ou experimentais.

A pesquisa de laboratório é realizada, geralmente, em recinto fechado e com instrumentos próprios. Ela cria o contexto do objeto, ao meso tempo que provoca os fenômenos e os observa. Oferece a imediata vantagem de controlar toda a cronologia da pesquisa, desde o instante inicial do contexto. É possível verificar situações como: se a causa for aumentada, constata-se se houve um aumento do efeito ou não; se for diminuída, se houve decréscimo do efeito ou vice-versa. Se a causa for afastada, pode-se verificar se o efeito continuará existindo.

A verificação da relação entre as variáveis tem por finalidade minimizar, o quanto for possível, os erros que possam surgir na observação de uma variável controlada na pesquisa de laboratório. Essas verificações, quando solidificadas na forma de atividades, podem até transferir a observação de caracteres ou influências capazes de interferir ou ainda chegar a interrompê-las.

A pesquisa de laboratório caracteriza-se como estudos experimentais nos quais o investigador cria uma situação isolada num ambiente artificial, com variáveis elaboradas

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hipoteticamente. As relações entre variáveis são testadas pela manipulação de uma ou mais variáveis independentes e pelo controle da potencial influência de variáveis que são extrínsecas à hipótese que está sendo testada.

PESQUISA DE CAMPO

A pesquisa de campo detém-se na observação do contexto no qual é detectado um fato social (problema), que a princípio passa a ser examinado e, posteriormente, é encaminhado para explicações por meio dos métodos e das técnicas específicas. Trabalha com a observação dos fatos sociais colhidos do contexto natural – são formas de um problema meramente observado, sem qualquer interferência, apresentados simplesmente como eles se sucedem em determinada sociedade.

A primeira e a mais fundamental regra é considerarmos os fatos sociais como coisa. Em outras palavras, a pesquisa de campo é a que se realiza com o fato social situado em seu contexto natural, ou seja, em seu campo ou hábitat, sem nenhuma alteração imposta pelo pesquisador. Esse tipo de pesquisa é aplicado ao ser humano, que é dotado de razão ou de psiquismo. Nunca poderia ser efetuado com animais irracionais, a exemplo de outros tipos de pesquisa, que usam esses animais como cobaias.

Dentre as pesquisas apresentadas podemos classificar os seguintes procedimentos técnicos:

Pesquisa Bibliográfica – desenvolvida com base em outros teóricos, buscando informações em livros e artigos científicos.

Pesquisa Documental – também busca informações em outros teóricos, utilizando materiais que ainda não receberam tratamento analítico, ou que ainda podem ser reelaborados de acordo com os objetivos da pesquisa.

Pesquisa-Ação – nessa pesquisa os participantes representativos da situação ou do problema são envolvidos de modo cooperativo, tomando decisões sobre os procedimentos.

Pesquisa Participante – caracteriza-se pela interação entre pesquisador e membros das situações investigadas.

Estudo de Caso – consiste no estudo profundo e exaustivo de um ou poucos objetos, de maneira que permita seu amplo e detalhado conhecimento, tarefa quase impossível mediante outros os aspectos variados da vida, seja, de indivíduos, grupos ou comunidade.

Estudo de Campo – constitui o modelo clássico de investigação no campo da Antropologia, onde se originou. O pesquisador realiza maior parte do trabalho pessoalmente, pois enfatiza a experiência direta do pesquisador com a situação de estudo. Exige que o pesquisador permaneça o maior tempo possível na comunidade.

4.1. O PROJETO DE PESQUISA

O projeto de pesquisa é uma seqüência de etapas estabelecida pelo pesquisador, que direciona a metodologia aplicada no desenvolvimento da pesquisa. O pesquisador obedece a um elenco de etapas metodológicas necessárias ao desenvolvimento da pesquisa científica. Ele tem como prioridade demonstrar as atividades indispensáveis para o desenrolar da pesquisa. No campo das ciências, não se trabalha com pesquisa por casualidade; o resultado é fruto de um projeto elaborado, que tem em vista conduzir à cientificidade.

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Um projeto traça os pontos de que a pesquisa tratará como assunto, problema, delimitação do problema, objetivos, justificativas, hipóteses variáveis, delimitação do universo, procedimentos metodológicos, definições de conceitos e pressupostos. Essas etapas devem ser adequadas ao espírito científico do pesquisador e aos procedimentos da metodologia científica para que não sejam despendidos esforços em vão.

O projeto de pesquisa envolve a mobilização de recursos para a consecução de um objeto predeterminado, justificado econômica ou socialmente, em prazo também determinado, com o equacionamento da origem dos recursos e detalhamento das diversas fases, que devem ser finalizadas até sua execução. Um projeto serve essencialmente para responder às seguintes perguntas: o que fazer?, por quê, para que e para quem fazer, como, com quê, quanto e quando fazer?, com quanto fazer?, como pagar, quem vai fazer?

Sobretudo, o projeto de pesquisa é uma construção lógica e racional, que se baseia nos postulados da metodologia científica a ser empregados no desenvolvimento de uma série de etapas, para facilitar o plano de trabalho que envolve uma pesquisa. Portanto, não há apenas um único modelo de projeto. São vários os tipos, e eles dependem em grande parte da área de formação acadêmica do pesquisador, da natureza do assunto, dos objetivos do estudo, para que se possa administrar de forma correta a metodologia específica de cada projeto.

ASSUNTOO assunto de pesquisa é qualquer tema, exposto ou não em forma de enunciados, cujos

aspectos obscuros nele contido necessitam de melhor definição, distinções mais precisas, desenvolvimento e explanação posteriores, com o objetivo de responder aos problemas que levanta. É o ponto inicial de toda pesquisa científica.

Mesmo depois de sua escolha, ainda deve passar por várias apreciações de ordem reflexiva para confirmar se o pesquisador está no caminho certo e se o problema a ser estudado se correlaciona com o assunto. Deve-se pensar em um assunto que apresente alguma contribuição para a sociedade contemporânea, de certa forma ligado à atualidade.

A princípio, esse conhecimento deve ser assumido de forma genérica. A partir daí, o pesquisador tem condições de definir uma área específica e, em seguida, uma particularidade dessa área a ser desenvolvida no decorrer da pesquisa.

PROBLEMAEntende-se como problema uma questão sem solução, objeto de discussão e de muito

estudo. É um fato, algo significativo que, a princípio, não possui respostas explicativas, pois a solução, a resposta ou a explicação será dada por intermédio do desenvolvimento da pesquisa. O problema é uma das fases do projeto de pesquisa, oriundo da observação dos fatos - objetos - no contexto de uma particularidade do assunto. Normalmente, o pesquisador se depara com inúmeros problemas, por isso sua escolha deve ser criteriosa, pois é a partir de um deles que o pesquisador desenvolverá sua pesquisa científica.

Um problema surge da descoberta de que algo não está em ordem com o nossosuposto conhecimento. Ou ainda, a partir de uma observação lógica, surge da descoberta de uma contradição entre nosso suposto conhecimento e os fatos. Para ser resolvido, o problema requer um tratamento específico.

Como Descobrir os Problemas?Entre as habilidades do pesquisador, é essencial que ele saiba detectar um problema,

apresentando as possíveis soluções; eis algumas formas para descobrir os problemas:a) a melhor maneira de descobrir problemas genuinamente experimentais é tomar-se

estudioso de uma especialidade o mais cedo possível;b) não enxergar cada obstáculo como uma barreira, mas como uma oportunidade para

exercitar a engenhosidade;

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c) ler e trabalhar crítica e refletidamente;d) começar a investigação e prestar atenção aos problemas que vão surgindo;e) procurar não esquecer os problemas já encontrados. Eles podem ser resolvidos pela

pesquisa;f) investigar cada problema, pois sempre é possível obter dados válidos para sua

solução.O exame dessas diretrizes para identificar o problema facilita a ação do pesquisador,

que o circunscreve aos meios disponíveis para sua resolução. Enfatizamos que problema é uma dificuldade detectada ou uma espécie de necessidade sentida e, como tal, merece estudo aprofundado, com o propósito de obter soluções ou possíveis soluções.

DELIMITAÇÃO DO PROBLEMAÉ imprescindível que o pesquisador procure delimitar corretamente o problema, pois

cada área de investigação possui inúmeras particularidades que conduzem aos problemas, e a cada um deles poderá corresponder uma pesquisa científica ou um estudo separado, dependendo do propósito.

A partir da delimitação, o investigador poderá dar o enfoque necessário ao que realmente lhe interessa, não esquecendo de verificar o aspecto mais significativo ou importante a ser tratado. Ele deve ter sempre em mente que contribuição vai dar e quem a fará.

Quando se delimita um tema, estreitando a matéria a que ele se refere, permite-se a concentração da pesquisa e um aprofundamento de seu conteúdo.

Assim, em primeiro lugar, parece melhor conceber por inteiro o campo de investigação que interessa. Esse campo deve ser imediatamente dividido nos seus problemas componentes e apenas um deve ser selecionado para estudo.

Para ter uma visão ampla do campo dos problemas, é melhor partir imediatamente para a análise e a subdivisão, de maneira a poder isolar projetos que possam ser atacados com êxito. Essa análise (decomposição) pode ser feita na forma de uma longa lista de subproblemas relacionados até que apareçam um ou mais problemas que o estudo possa responder. Então, esses devem ser cuidadosamente examinados. Convém arrumar as questões listadas na ordem de sua importância e praticabilidade.

OBJETIVOSO objetivo é um fim a que o trabalho se propõe atingir. A pesquisa científica atinge

seu objetivo se todas as suas fases, por mais difíceis e demoradas que sejam, forem vencidas e o pesquisador puder dar uma resposta ao problema formulado.

O objetivo é o resultado que se pretende em função da pesquisa. Geralmente, é uma ação proposta para responder à questão que representa o problema. De acordo com a abrangência dos objetivos, podem ser gerais ou específicos. No primeiro caso, indicam uma ação muito ampla do problema e, no segundo, procuram descrever ações pormenorizadas, aspectos detalhados das raízes que se supõe merecerem uma verificação científica.

Os objetivos indicam o que se pretende conhecer, medir ou provar no decorrer da investigação. Nessa etapa, deve-se demonstrar a relevância do problema, com o intuito de despertar o interesse do leitor. Os objetivos também demonstram a contribuição que se tenciona alcançar com a pesquisa, para as possíveis soluções do problema.

JUSTIFICATIVANa justificativa, faz-se uma narração sucinta, porém completa, dos aspectos de ordem

teórica e prática necessários para a realização da pesquisa. Devem ficar claras as raízes da preferência pela escolha do assunto e sua importância em relação a outros.

Page 32: Apostila de Metodologia do Fazer Um Trabalho Academico Sem Erros

2 cm

33

Quando as etapas antecedentes forem bem focalizadas e logicamente ordenadas, a justificativa torna-se uma atividade simples.

A justificativa destaca a importância do tema abordado, levando-se em consideração o estágio atual da ciência, as suas divergências ou a contribuição que se pretende proporcionar ao pesquisar o problema abordado.

Ela envolve aspectos de ordem teórica, quando se faz uma reflexão crítica, e aspectos de ordem pessoal, que englobam o interesse e a finalidade da pesquisa. É uma fase que leva o pesquisador a repensar a escolha do assunto e a razão de sua escolha.

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOSÉ a etapa da adequação metodológica conforme as características da pesquisa a ser

realizada.A pesquisa bibliográfica é o primeiro passo de qualquer tipo de trabalho científico.Pode ser desenvolvida independentemente ou com outras modalidades de pesquisas,

como a de campo, de laboratório e documental.No caso da execução de uma pesquisa de campo, deve-se fazer uma descrição da

população a ser pesquisada e a maneira de realizar a amostragem. Deve-se indicar, também, o instrumento de pesquisa (como questionário, formulário, entrevista), e como ele será aplicado na coleta de dados. E, ainda, como será conduzido o registro das informações a serem coletadas.

Em procedimentos metodológicos, deve-se explicar os métodos que serão empregados (comparativo, histórico, estatístico etc.). Se a pesquisa for trabalhada com o método estatístico, será necessário explicar também o tipo de amostragem. É oportuno mencionar que nem todos os projetos seguem essas mesmas orientações metodológicas, uma vez que tal fato depende do objetivo de cada pesquisa.

A estruturação do projeto de pesquisa está detalhado nas normas da ABNT na unidade seguinte.

5. TRABALHO CIENTÍFICOTodo trabalho científico segue a normas estabelecidas, estas são apresentadas para que

haja uma regularidade entre os trabalhos, não escrevendo cada um de seu jeito. As normas que direcionam os trabalhos científicos é a ABNT.

5.1. Normas da ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas/2006. Trabalhos Digitados; Papel Ofício formato A4; Única folha escrita no verso é a ficha catalográfica (atrás da folha de rosto); Cor preta; Tipo de letra (fonte): Times New Roman ou Arial; Tamanho da letra: pitch 12 para o corpo do texto e pitch 10 para citações longas, notas

de rodapé, paginação e legenda de ilustrações e tabelas; Títulos devem ter o mesmo tamanho de letra.

MARGENS: Margem superior: 3cm; Margem inferior: 2cm; Margem esquerda: 3cm; Margem direita: 2cm.

____________________________________________________________________________________________________________

3 cm

Page 33: Apostila de Metodologia do Fazer Um Trabalho Academico Sem Erros

2 cm

34

TÍTULOS: Centralizados (sem numeração) Títulos com indicativo numérico: à esquerda, a 3cm da borda (Ex: 1. A Escola...) Subtítulos sempre alinhados a esquerda.

ESPACEJAMENTO: Espaço em branco entre a seção e o texto anterior; Entre as linhas de textos: espaço 1,5; Citações longas, notas, referências, resumos, obras consultadas ou rodapé: espaço

simples;

INÍCIO DE PARÁGRAFOS E CITAÇÕES: Início de parágrafo: 1,5cm da margem; Citações longas: 4cm da margem esquerda mantendo 1,5cm para o início do

parágrafo.

PAGINAÇÃO: No canto direito da página; Capa não conta; Contagem inicia com a página de rosto; Numeração somente a partir da página textual (introdução).

ESTRUTURA DO TRABALHO CIENTÍFICO: Teses, Dissertações e Trabalhos Acadêmicos Elementos Pré-textuais: Capa (obrigatório) Lombada (opcional) Folha de rosto (obrigatório)

____________________________________________________________________________________________________________

Page 34: Apostila de Metodologia do Fazer Um Trabalho Academico Sem Erros

35

Errata (opcional) Folha de aprovação (obrigatório) Dedicatória (opcional) Agradecimentos (opcional) Epígrafes (opcional) Resumo na língua vernácula (obrigatório) Resumo na língua estrangeira (obrigatório) Sumário (obrigatório) Lista de ilustrações (opcional) Lista de abreviaturas e siglas (opcional) Lista de símbolos (opcional)

Elementos Textuais: (obrigatório) Introdução Desenvolvimento Considerações Finais

Elementos Pós-textuais: Referências (obrigatório) Apêndices (opcional) Anexo (opcional) Glossário (opcional)

Relatórios de Estágio: Elementos Pré-textuais: Capa (obrigatório) Lombada (opcional) Folha de rosto (obrigatório) Errata (opcional) Sumário (obrigatório) Listas (opcional)

Elementos Textuais: (obrigatório) Introdução Desenvolvimento Considerações Finais

Elementos Pós-textuais: Referências (obrigatório) Apêndices (opcional) Anexo (opcional)

Projeto de Pesquisa, Pré-Projeto/Anteprojeto Folha de rosto (obrigatório) Dados de Identificação (obrigatório) Sumário (obrigatório) Introdução (opcional) Desenvolvimento do projeto (obrigatório)

Seqüência dos itens de um Projeto:

Page 35: Apostila de Metodologia do Fazer Um Trabalho Academico Sem Erros

36

Tema (obrigatório) Delimitação do tema (obrigatório) Formulação do Problema (obrigatório) Hipóteses (obrigatório) Definição dos termos (opcional) Objetivos gerais e específicos (obrigatório) Justificativa (obrigatório) Metodologia (tipo de pesquisa) (obrigatório) População e amostra (opcional) Fundamentação teórica(obrigatório) Cronograma (obrigatório) Recursos (opcional) Referências (obrigatório) Anexos (opcional)

CAPA: Capa padronizada por cada instituição

PÁGINA DE ROSTO:

a) Nome do autor, a 5 cm da borda superior, centrado, em negrito e letras versais (12 a 14)b) Título principal do trabalho, a 11 cm da borda superior, centrado, em negrito e letras versais (12 a 14)c) a 17cm da borda superior, do centro para direita, pitch 12, deve conter as especificações do trabalho: sua natureza, objetivo para que esta sendo apresentado, nome da Instituição e da disciplina.d) Nome do orientador a 22,5 cm, centrado, letras maiúsculas (12)e) Local (25,5 cm) e data (26,5) centrado, letra maiúscula, fonte 12.

3cm Nome da Instituição

5cm Nome do Autor

11cm Título do Trabalho12cm Subtítulo (se houver)13cm Número do volume (se houver)

25.5 Local26,6 Ano de Entrega

5cm Nome do Autor

11cm Título do Trabalho12cm Subtítulo (se houver)13cm Número do volume (se houver)

Page 36: Apostila de Metodologia do Fazer Um Trabalho Academico Sem Erros

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DEDICATÓRIA, AGRADECIMENTOS E EPÍGRAFE:

Fonte, tipode letra emoldura acritério doautor.

RESUMO EM LÍNGUA VERNÁCULA e ESTRANGEIRA:

Apresentação fiel, breve e concisa dos aspectos mais relevantes do trabalho. Deve ressaltar o Objetivo, o Método, os Resultados e as Considerações finais Recebe o nome de Resumo Espaço simples entre as letras ABNT recomenda que se use de 150 a 500 palavras para trabalhos científicos e de 100

a 250 em artigos. Encerra com as palavras-chave

SUMÁRIO: Apresentar apenas as seções primárias, secundárias e terciárias O Espacejamento é simples entre as linhas e deixa-se uma linha em branco entre um

título e outro.

5cm Nome do Autor

11cm Título do Trabalho12cm Subtítulo (se houver)13cm Número do volume (se houver)

AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA

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38

Ex:

INTRODUÇÃO.................................................................101. AS NORMAS TÉCNICAS.............................................15

Capa......................................................................16Página de Rosto......................................................18

2. LISTAS.........................................................................20Lista de Figuras......................................................22Lista de Tabelas......................................................26

CITAÇÕES: Citações indiretas ou livres: Quando usa a idéia do autor com suas palavras.

Ex: Depois da análise realizada, Freire (1998) chegou a afirmar que o adulto.... Depois da análise realizada, chegou-se a afirmar que o adulto....(FREIRE, 1998).

Citações diretas ou textuais (transcrição) podem ser: Breves, quando não ultrapassa três linhas, estando dentro do texto e vindo entre aspas;

Ex: Vimos que, para nosso esclarecimento, precisamos seguir os preceitos encontrados, já que Guimarães estabelece: “A valorização da palavra pela palavra...” (1985, p.32).OU

Vimos que, para nosso esclarecimento, precisamos seguir os preceitos encontrados, já que ficou estabelecido que “a valorização da palavra pela palavra...” (GUIMARÃES, 1985, p.32).

Longas: maiores que três linhas, tendo um destaque com recuo de 4cm da margem esquerda, e mais 1,5cm para marcar o início de parágrafos, não fica entre aspas.

Letras menores, pitch 10. Para suprimir pedaços das citações usamos colchetes [...]

Ex: Há uma certa dificuldade quanto ao reconhecermos como pronome demonstrativos, Segundo isso Fernandes diz que:

Os pronomes O e A passam a ser pronomes demonstrativos sempre que numa frase puderem ser [...] utilizados... (1994, p.19)OU

Há uma certa dificuldade quanto ao reconhecermos como pronome demonstrativos, Segundo isso Fernandes (1994, p.19) diz que:

Os pronomes O e A passam a ser pronomes demonstrativos sempre que numa frase puderem ser [...] utilizados...OU

Há uma certa dificuldade quanto ao reconhecermos como pronome demonstrativos, Segundo isso verificamos que:

Os pronomes O e A passam a ser pronomes demonstrativos sempre que numa frase puderem ser [...] utilizados... (FERNANDES, 1994, p.19)

Citação de Citação: usa-se a palavra apud (Ex: FREIRE apud FRIGOTTO, 1992, p. 13)

NOTAS DE RODAPÉ:

Page 38: Apostila de Metodologia do Fazer Um Trabalho Academico Sem Erros

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Pode ser uma nota de referência ou nota de explicação. Espaço simples e pitch 10.

ILUSTRAÇÕES: Podem figurar no corpo do trabalho ou anexadas no seu final

TABELAS: Tabelas devem ser numeradas consecutivamente com algarismos arábicos que seguem

a palavra Tabela (Tabela 1, Tabela 2, Tabela 3...)

REFERÊNCIAS (NBR 6023/2002): Lista ordenada dos documentos efetivamente citados no texto. Elementos essenciais/obrigatórios: autor(es), título, subtítulo (se houver), edição (a

partir da 2ª) e Imprenta (local, editora, ano de publicação).

Ex: ARAÚJO, Fernando. A criança e a escola. Porto Alegre: Duplex, 2001

Vários autores:MOREIRA, Marília; FERNANDES, Lourdes; CASTRO, Vera Lúcia. Os lobos do

asfalto. Campinas: Verbo, 2003, p.325.FALCONE, Francesco. et a.l. Como interpretar o choro do bebê. Porto Alegre: Luzes,

2000.MOREIRA, Marília (org.). Os lobos do asfalto. Campinas: Verbo, 2003.

Sem autor (não utilizar anônimo)A GRANDE Magia do Circo. São Paulo: Contrex, 1987.

Subtítulo:MOREIRA, Marília; FERNANDES, Lourdes; CASTRO, Vera Lúcia. Os lobos do

asfalto: uma aventura imperdível. Campinas: Verbo, 2003, p.325.

Edição:FALCONE, Francesco. Como interpretar o choro do bebê. 4.ed. ver. e aum. Porto Alegre:

Luzes, 2000. Séries e Coleções:FALCONE, Francesco. Como interpretar o choro do bebê. Porto Alegre: Luzes, 2000.

(Visão do Futuro, v.1).

Mais de uma obra utilizada do mesmo autor:ARAÚJO, Fernando. A criança e a escola. Porto Alegre: Duplex, 2001______. Diálogos. São Paulo: Cultrix, 1985.

Teses, dissertações, relatóriosTEDESCO, Paulo Ricardo Oliveira. Conversação: Uma Proposta Alternativa para o

Ensino de Língua Inglesa no Ensino Médio. Porto Alegre: UFRGS, 1992. Dissertação (Mestrado em Educação), Faculdade de Educação, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 1992.

Leis:

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BRASIL. Lei 8.078, de 11 de setembro de 1990. Dispõe sobre a proteção do consumidor e dá outras providências. In: Diário Oficial da União, Brasília, v.138, n.87, p.8065, 12 set.1990. Suplemento. BRASIL. Código Civil. Organização dos textos, notas e índices por Juarez de Oliveira. 46.ed. São Paulo: Saraiva, 1995.

Artigos em revistas ou periódicos:FERREIRA, Jéferson. As Abelhas como Elementos de Ligação. Saúde e Vida, BeloHorizonte, v. 24, n.1334, p.23-4, jan.-fev. 1998.CABELOS por um fio. Criativa, São Paulo, v.IX, p.59-60, jul.1999.

Internet:SILVA, I. G. Pena de morte para o nascituro. O Estado de São Paulo. São Paulo, 19

set.1998. Disponível em: <http://www.providafamilia.org/pena_morte_nascituro.htm> Acesso em: 17 jan. 2001.

DICIONÁRIO da Língua Portuguesa. Lisboa: Priberam Informática, 1998. Disponível em: <http://www.priberam.pt/dlDLPO> Acesso em: 8 mar. 2000.

5.2. Artigo cientifico. O artigo científico é um texto para ser publicado, escrito a partir de uma pesquisa

documental ou experimental, possuindo três definições conforme a ABNT:1. Artigo Científico: parte de uma publicação com autoria declarada, que apresenta e

discute idéias de diversas áreas do conhecimento.

2. Artigo de Revisão: parte de uma publicação que resume, analisa e discute informações já publicadas.

3. Artigo Original: parte de uma publicação que abordem temas originais. Antes de iniciar a redação de um artigo científico, é conveniente considerar alguns aspectos sobre o que escrever, levando em consideração o interesse do autor pelo tema abordado, seu estilo próprio e a pesquisa realizada.

5.2.1. Características básicas de um artigo.Um bom artigo caracteriza-se por sua qualidade, atualidade e cientificidade,

considerando-se (GONÇALVES, 2004): Clareza: já no resumo o leitor tem que ter clareza do que trata o artigo. Concisão: o assunto deve ser abordado com clareza. Criatividade: o texto deve ser criativo para chamar a atenção do leitor.

Encadeamento: o texto deve ter uma seqüência lógica entre parágrafos, tendo início, meio e fim.

Precisão: as informações devem ser precisas e verdadeiras. Originalidade: o assunto deve ser tratado de forma original, sem utilização de

palavras rebuscadas. Extensão: o tamanho do artigo vai depender do número de páginas exigidos Fidelidade: o texto deve ser escrito dentro de parâmetros éticos, tendo respeito pelo

objeto estudado.

Page 40: Apostila de Metodologia do Fazer Um Trabalho Academico Sem Erros

41

5.2.2. Estruturação do artigoOs Artigos científicos possuem os seguintes elementos: pré-textuais, textuais e

póstextuais.

Pré-textuais Textuais Pós-textuais

Título e subtítulo

Nome do autor

Resumo na língua vernácula do texto

Palavras-chave na língua vernácula do texto

Introdução

Desenvolvimento

Considerações Finais

(argumentação)

Título e subtítulo em língua estrangeira

Resumo em língua estrangeira

Palavras-chave em língua estrangeira

Notas explicativas Referências Glossário Apêndice Anexo

ELEMENTOS PRÉ-TEXTUAIS: Título: aparece na abertura do artigo, apresenta a idéia geral do tema estudante. Nome do autor: deve ser acompanhado por breve currículo em nota de rodapé,

quando há mais de um autor, colocar em ordem de importância na elaboração do artigo.

Resumo: elemento obrigatório que apresenta, através de frases concisas, a natureza do problema, os objetivos, a metodologia e os resultados alcançados, contendo entre 100 a 250 palavras.

Palavras-chave: são palavras que descrevem as categorias utilizadas no texto, a quantidade de palavras é determinada pelo periódico a que se destina.

3 cm

3 cm 2cm

Título (fonte 16)

Page 41: Apostila de Metodologia do Fazer Um Trabalho Academico Sem Erros

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ELEMENTOS TEXTUAIS: Introdução: apresenta o assunto e delimita o tema, analisando o problema que será

investigado. Deve conter o objetivo da pesquisa e a justificativa. Desenvolvimento: parte principal do artigo, contendo os argumentos pesquisados, os

debates, as idéias de outros teóricos. Considerações Finais: Apresentação das conclusões alcançadas, o autor pode

apresentar seu ponto de vista e sugestões.

3 cm

3 cm 2cm

Título (fonte 16)

3cm 2 cm

3 cmIntrodução: (fonte 14)______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________(fonte 12)__________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

Desenvolvimento:______________________________________________________________________

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ELEMENTOS PÓS-TEXTUAISOs elementos pós-textuais apresentam, quando solicitado pelo periódico, o título e

resumo em língua estrangeira. Notas Explicativas: utilizadas quando o texto exige uma explicação. Referências: nome e obra dos autores utilizados na construção do texto (seguir normas

da ABNT) Glossário: quando há necessidade de explicar algumas palavras contidas no texto. Apêndices: quando utiliza outros elementos elaborados pelo próprio autor. Anexos: utilizado para os elementos de autoria de terceiros.

3cm 2 cm

3 cmIntrodução: (fonte 14)______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________(fonte 12)__________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

Desenvolvimento:______________________________________________________________________


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