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Dos jornais-fax de Moçambique aos web-jornais * Fernando Zamith Índice 1 Introdução ............. 1 2 Os jornais gratuitos ........ 1 3 Os jornais-fax de Moçambique . . 2 3.1 Breve história e descrição de conteúdo ............. 3 4 Os “web-jornais” ......... 5 5 Conclusão ............. 6 1 Introdução A procura de formas alternativas de fazer um jornal sempre foi algo que me interessou. As limitações do jornal tradicional, simul- taneamente exposto a variações do mercado publicitário e do volume de vendas e depen- dente de um parque gráfico e de uma rede de distribuição, constituem, na minha perspec- tiva, uma das principais causas das sucessi- vas (para não dizer permanentes) crises da imprensa, particularmente a portuguesa. Para evitar tanta dependência de factores fundamentalmente externos e, ao mesmo tempo, reduzir custos, nada melhor do que eliminar algumas daquelas componentes * III Lusocom – Encontro Lusófono de Ciências da Comunicação, Universidade do Minho, Braga, 28 de Outubro de 1999 tradicionais da produção e distribuição de um jornal. Jornais gratuitos, de difusão por fax e de busca na Internet são algumas experiências que me proponho analisar e que poderão ser exploradas como alternativas de auto- emprego para recém-licenciados em Comu- nicação Social. Importa notar que esta comunicação não resulta, de forma alguma, de um trabalho de investigação. Constitui apenas uma pequena compilação de ideias e experiências. 2 Os jornais gratuitos Uma das minhas primeiras experiências profissionais foi numa publicação que intro- duziu um elemento inovador na imprensa portuguesa, cortando precisamente uma das componentes tradicionais de distribuição de um jornal: a venda. Falo do (saudoso) “Metro”, o jornal/revista do Porto lançado em 1988 pelos irmãos Nuno e Paulo Abru- nhosa e que, infelizmente, já não existe, após muitos anos de “resistência” e tentativas de adaptação às condições do mercado e aos in- teresses dos leitores. Dirigido em particular aos frequentadores da “noite portuense”, o “Metro” fornecia quinzenalmente um roteiro das actividades culturais e recreativas programadas para a cidade, a par de artigos e reportagens so-

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Dos jornais-fax de Moçambique aos web-jornais∗

Fernando Zamith

Índice

1 Introdução. . . . . . . . . . . . . 12 Os jornais gratuitos. . . . . . . . 13 Os jornais-fax de Moçambique. . 23.1 Breve história e descrição de

conteúdo. . . . . . . . . . . . . 34 Os “web-jornais” . . . . . . . . . 55 Conclusão. . . . . . . . . . . . . 6

1 Introdução

A procura de formas alternativas de fazer umjornal sempre foi algo que me interessou.As limitações do jornal tradicional, simul-taneamente exposto a variações do mercadopublicitário e do volume de vendas e depen-dente de um parque gráfico e de uma rede dedistribuição, constituem, na minha perspec-tiva, uma das principais causas das sucessi-vas (para não dizer permanentes) crises daimprensa, particularmente a portuguesa.

Para evitar tanta dependência de factoresfundamentalmente externos e, ao mesmotempo, reduzir custos, nada melhor doque eliminar algumas daquelas componentes

∗III Lusocom – Encontro Lusófono de Ciências daComunicação, Universidade do Minho, Braga, 28 deOutubro de 1999

tradicionais da produção e distribuição deum jornal.

Jornais gratuitos, de difusão por fax e debusca na Internet são algumas experiênciasque me proponho analisar e que poderãoser exploradas como alternativas de auto-emprego para recém-licenciados em Comu-nicação Social.

Importa notar que esta comunicação nãoresulta, de forma alguma, de um trabalho deinvestigação. Constitui apenas uma pequenacompilação de ideias e experiências.

2 Os jornais gratuitos

Uma das minhas primeiras experiênciasprofissionais foi numa publicação que intro-duziu um elemento inovador na imprensaportuguesa, cortando precisamente uma dascomponentes tradicionais de distribuição deum jornal: a venda. Falo do (saudoso)“Metro”, o jornal/revista do Porto lançadoem 1988 pelos irmãos Nuno e Paulo Abru-nhosa e que, infelizmente, já não existe, apósmuitos anos de “resistência” e tentativas deadaptação às condições do mercado e aos in-teresses dos leitores.

Dirigido em particular aos frequentadoresda “noite portuense”, o “Metro” forneciaquinzenalmente um roteiro das actividadesculturais e recreativas programadas para acidade, a par de artigos e reportagens so-

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bre temas variados da vida do Porto, comomúsica, teatro, cinema, pintura, dança emoda, E também sobre os bares e discotecasonde era oferecido.

Após ter colaborado nos primeirosnúmeros do “Metro”, transferi-me para umprojecto concorrente de existência efémera,o jornal “Grátis”, dirigido pelo primeirochefe de redacção do “Metro”, DanielGuerra. Mais tarde, eu mesmo liderei umoutro projecto (“Palco”), que não chegousequer a ser impresso, desta vez por difi-culdades dos promotores na angariação depublicidade, única fonte de receita deste tipode jornais.

Apesar dos fracassos destes projectos e deoutros da mesma época, como o desportivo“Drible”, lançado por alunos da Escola Su-perior de Jornalismo, do Porto, foi abertauma nova via de produção de jornais, quehoje adquire um novo “fôlego” com asrestrições introduzidas pelo Governo à dis-tribuição de panfletos de publicidade nascaixas de correio.

Adaptando-se às novas condições, surgi-ram recentemente, sobretudo em Lisboa ePorto, jornais e revistas de cariz marcada-mente publicitário e que podem ser coloca-dos nas caixas de correio “amarelas” (comautocolantes “Publicidade Aqui Não”). Se éverdade que é a publicidade que “domina”este tipo de publicações, também é certo queela não condiciona de todo o trabalho jor-nalístico, sendo mesmo possível oferecer-seum produto com alguma qualidade e quecative os leitores. Exemplo disso são asrevistas “Viva” que surgiram este ano emvárias zonas das cidades de Lisboa e doPorto.

3 Os jornais-fax de Moçambique

Projectos alternativos extremamente interes-santes que tive oportunidade de acompanharde perto são os jornais de difusão por fax deMoçambique.

Nos dois anos (entre Dezembro de 1995e Dezembro de 1997) que estive em Ma-puto como delegado da Agência Lusa, foramlançados três novos jornais-fax (um quarto,vespertino, não vingou), “Diário de Negó-cios”, “Correio da Manhã” e “Metical”, quese vieram juntar aos pioneiros “Mediafax” e“Imparcial”.

Foi um período muito rico (que julgo queteve continuidade), em que os jornalistasmoçambicanos provaram que, numa jovemdemocracia de um país africano pobre, épossível ter uma imprensa independente dospoderes político e económico.

Com poucos meios, todos os dias úteiseram produzidos cinco pequenos jornais (detrês a seis páginas A4) por cinco pequenasequipas, nalguns casos com apenas três ouquatro jornalistas.

O mercado destes jornais-fax moçambi-canos está sobretudo em embaixadas, or-ganizações não governamentais e grandesempresas, mas abrange também organismospúblicos, quadros superiores, instituiçõesculturais e um leque variado de outros profis-sionais. As únicas condições para se sercliente destes jornais são ter um aparelho defax e poder pagar uma soma que, não sendobaixa, pudesse ser compensada pelo acessodiário a informação e opinião independentesque o único jornal diário clássico publicadonaquele período em Maputo, o “Notícias”,de tendência pró-governamental, não forne-cia.

Enquanto o “Notícias” custava 4.000

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meticais (cerca de 56 escudos), a assinaturamensal dos jornais-fax custava entre 20 e 40dólares norte-americanos, o que correspon-dia (ao câmbio de então) a um preço unitáriode 180 a 360 escudos, que centenas de insti-tuições estavam dispostas a pagar.

Os principais jornais-fax de Maputotinham então cerca de 300 assinantes, queeram “alimentados” por vários aparelhos defax durante toda a madrugada. Isto permi-tia que os clientes encontrassem no seu gabi-nete logo que lá chegassem a(s) edição(ões)do dia do(s) seu jornal(is)-fax.

À semelhança destes projectos privadoslocais, também as agências noticiosas deMoçambique (AIM) e Portugal (Lusa) di-fundiam diariamente (de segunda a sexta-feira) boletins, com distribuição por fax e aodomicílio.

A experiência que adquiri na edição do“Boletim Lusa” de Maputo permitiu-meperceber melhor as vantagens e desvantagensdeste tipo de jornais.

Como vantagens, destaco desde logo osbaixos custos de instalação (investimento) ede produção. Com menos de mil contos, épossível criar uma estrutura mínima de pro-dução e distribuição de um jornal-fax.

A equipa de jornalistas pode ser tambémpequena, porque é inviável distribuir por faxum jornal com mais de seis páginas. A pro-dução do jornal-fax é toda feita em computa-dor (texto, grafismo e imagem) e com três ouquatro linhas de fax é possível distribuir cen-tenas de jornais num horário de baixo custo(madrugada).

O fecho da edição pode ser feito às 23 ou24 horas, o que significa ganhos compara-tivos face aos jornais tradicionais. Acresceainda, como já destaquei, que o cliente temo jornal no seu escritório quando lá chega

de manhã, não necessitando de o comprar narua ou esperar que chegue o correio ou o pa-quete da distribuição.

As desvantagens são, desde logo, o re-duzido mercado (só quem tem fax é que podeser cliente) e a limitação de espaço (cada jor-nal tem apenas seis a 12 textos). Os cus-tos de distribuição não são muito elevados,mas são fixos, isto é, não diminuem pro-porcionalmente com o aumento de clientes,como acontece com os custos de produção.

Outra desvantagem é o facto de o jornalser facilmente reproduzível, pelo que váriaspessoas podem ter acesso a cópias (entreguesem mão ou também enviadas por fax) doúnico exemplar pago.

3.1 Breve história e descrição deconteúdo

Apesar da escassez de meios, os jornais-faxmoçambicanos conseguem ter, na generali-dade, uma qualidade razoável, atestadas pelafidelidade de um leque de leitores que nãodeixam de ser exigentes, apesar de sabermosque a oferta de informação em Moçambiqueé ainda muito reduzida, quando comparadacom o que existe em países do chamado“Primeiro Mundo”.

Criado em 1992 por uma cooperativade experientes jornalistas (Mediacoop), o“Mediafax” conquistou rapidamente um es-paço nobre na imprensa moçambicana,transformando-se num título de referência ede leitura “obrigatória”. Nos primeiros anosde publicação, o “Mediafax” viveu sobre-tudo do carisma do seu editor, Carlos Car-doso, ex-director da Agência de Informaçãode Moçambique e que, tal como muitos ou-tros jornalistas moçambicanos, se afastara docírculo dos apoiantes do poder, passada que

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fora a euforia pós-independência. Este es-tatuto de jornalista independente que CarlosCardoso criou reflectiu-se no “Mediafax”,dando aos leitores do jornal garantias deque, na generalidade, as notícias eram ver-dadeiras, credíveis e não tendenciosas.

Se a relação com o poder político (emesmo em relação à Renamo e a outros par-tidos da oposição) teve resultados positivos,o mesmo já não se poderá dizer em relaçãoa algumas empresas privadas, notável no ex-cessivo espaço dado por Carlos Cardoso aosseus textos de opinião, em que roçava umcerto “fundamentalismo” económico.

Com a saída de Carlos Cardoso, em 1997,o “Mediafax” ressentiu-se um pouco, atéporque outros jornalistas se transferiram como editor para um novo jornal-fax, o “Metical”(nome da moeda moçambicana). Contudo,o novo editor, Fernando Veloso, conseguiudar ao “Mediafax” um segundo “fôlego”,criando-se uma saudável concorrência, àqual entretanto se tinha juntado outro título,o “Correio da Manhã”.

O segundo jornal-fax a surgir em Moçam-bique, em 1994, foi o “Imparcial”, com umaténue ligação ao homónimo angolano, mascom uma redacção e edição completamenteautónoma. Por ironia (ou talvez não), o “Im-parcial” era, pelo menos nos anos em que o liquotidianamente, o mais parcial dos jornais-fax moçambicanos, com uma exagerada edemasiado visível tendência pró-Renamo.

O surgimento do “Correio da Manhã”, noinício de 1997, constituiu uma “lufada de arfresco”, nomeadamente no grafismo e na dis-tribuição alternativa por correio electrónico,mas o nível editorial baixou pouco tempo de-pois, com a saída do seu fundador, LeandroPaul.

O “Diário de Negócios”, lançado em

1996, nunca se conseguiu impor. As suas la-cunas e fragilidades foram sempre notórias,com destaque para o seu quadro de jorna-listas, reduzido, sem experiência e de poucaqualidade. Raras vezes este jornal conseguiudivulgar verdadeiras novidades, notando-sefrequentemente que era com dificuldade quepreenchia o seu mínimo diário (três páginas),amiúde recorrendo a textos alheios. Comoagravante, o “Diário de Negócios” envere-dou por caminhos pouco recomendáveis, deuma certa xenofobia, à semelhança do queaconteceu na segunda fase do “Correio daManhã”.

Apesar destes vários “pecados deontológi-cos” e da exiguidade de meios materiais ehumanos de qualidade, o desenvolvimentodestas experiências privadas de jornais-faxfoi extremamente positivo para a imprensamoçambicana, conferindo-lhe o equilíbrionecessário entre a informação oficial dosjornais controlados pelo poder político ea “visão alternativa” da imprensa indepen-dente, que conheceu nos últimos anos tam-bém um grande impulso nos jornais tradi-cionais, sobretudo semanários.

Outro aspecto curioso, paralelo ao fenó-meno dos jornais-fax moçambicanos, foi apublicação de boletins diários por parte dasagências noticiosas moçambicana (AIM) eportuguesa (Lusa).

Relativamente ao “Boletim Lusa” difun-dido em Maputo, aquele que, naturalmente,melhor conheço, surgiu ainda durante aguerra civil, período em que escasseavam asinformações, quer sobre o conflito quer so-bre o que se passava fora do país. O “Bole-tim Lusa” ainda hoje se publica de segundaa sexta-feira, com uma distribuição predomi-nantemente por fax, mas ainda também aodomicílio. Nas quatro páginas diárias, sem

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gravuras nem publicidade, este boletim a-presenta uma selecção das notícias de todo oMundo difundidas pela Lusa, com destaquepara as que dizem respeito a Moçambique eà restante África Austral.

4 Os “web-jornais”

A evolução tecnológica abriu novas portasà comunicação social, trazendo consigo ino-vações constantes, que ainda hoje não estãoa ser aproveitadas na sua capacidade total.

A evolução das tecnologias multimédia e,paralelamente, a rápida expansão da Internet,criaram condições para o surgimento de umnovo tipo de meios de comunicação social,os “web-jornais”. Primeiro foram os jor-nais tradicionais (principalmente os diários)que criaram edições próprias na Internet, de-pois as rádios e televisões seguiram o mesmocaminho e agora já há em Portugal um jor-nal que apenas está disponível na Internet, o“Diário Digital”.

Lançado em 19 de Julho último, o “DiárioDigital” soube apostar num nicho de mer-cado que as chamadas “edições electrónicas”dos jornais não tinham explorado. Vivendoapenas das receitas publicitárias, este jor-nal colocou-se num espaço até então vazio,ao actualizar permanentemente as suas duasedições diárias. Desta forma, o “Diário Digi-tal” não só marcou uma posição como ousoudesafiar outros órgãos de informação, tes-tando uma certa concorrência com as rádios,televisões e agências noticiosas, sem se es-quecer de aproveitar outra das grandes van-tagens da Internet, a disponibilização em ar-quivo de todas as edições anteriores.

Um jornalista, um computador portátilcom modem e um telemóvel é o suficientepara que, com grande rapidez, as notícias

possam chegar à “redacção” (até o tradi-cional conceito de redacção foi posto emcausa) de um “web-jornal” e a qualquer mo-mento possam ser editadas e difundidas.

No dia do lançamento, o director do“Diário Digital”, Luís Delgado, referiu queos estudos de mercado encomendados pelospromotores do projecto apontavam para umaquota de publicidade de três a quatro porcento para os “web-jornais”, o que revela aspotencialidades que este tipo de meio já pro-porciona.

A reduzida equipa redactorial com que o“Diário Digital” surgiu (12 jornalistas) de-nota, contudo, alguma precaução e demons-tra que o “ataque” à concorrência de outrotipo de media só poderá ser feito mais tarde,dada a estrutura que cada um desses “con-correntes” tem.

O aparecimento deste primeiro “web-jornal” português veio, definitivamente,julgo eu, provar aos mais cépticos que a In-ternet não veio necessariamente “matar” osjornais e pôr em perigo os postos de trabalhodos jornalistas.

Os jornais de papel sobreviveram à expan-são dos audiovisuais e vão sobreviver tam-bém a esta revolução tecnológica. Não po-dem, contudo, ignorar as novas condiçõesdo mercado. Ainda este mês o “FinantialTimes” anunciou a actualização permanente(24 horas por dia) da sua edição electrónica(projecto que implica a contratação de 100novos jornalistas) e o diário espanhol “ElMundo” lançou uma segunda edição vesper-tina, exclusivamente disponível na Internet.

O que os jornais de papel têm de fazeré baixar os preços das suas edições em pa-pel (em Portugal, os primeiros passos jáforam dados com a redução para 100 escu-dos do preço da maioria dos diários) e simul-

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taneamente apostar em força nas chamadas“edições electrónicas” (na Internet). Com aredução do preço de capa, poderão aumentara tiragem e, com isso, justificar um aumentonas tabelas de publicidade e baixar os custosde produção por unidade.

Com o desenvolvimento das edições na In-ternet, os jornais diversificam a sua oferta econseguem uma nova fonte de receita pub-licitária. O resultado de tudo isto será, ameu ver, um maior número de leitores de jor-nais, melhores perspectivas para os propri-etários da imprensa e para os novos investi-dores e alguma esperança de intensificaçãoda procura de jornalistas.

É claro que este panorama optimista nãopode ser visto separadamente de outros fenó-menos, que no caso português estão a terdesenvolvimentos bem mais sombrios paraos actuais e futuros jornalistas. Refiro-meà excessiva concentração de órgãos de co-municação social em três ou quatro gru-pos empresariais e ao ainda mais exces-sivo número de licenciados que as univer-sidades “produzem” anualmente para o sec-tor. Este último fenómeno está, ao mesmotempo, a lograr as expectativas de muitosjovens (que acabam por ir para o desempregoou para outras profissões) e a degradar ascondições salariais de quem trabalha no sec-tor, independentemente da sua experiência,capacidade, profissionalismo e qualificaçõesacadémicas.

É pelo exposto anteriormente que con-sidero que a solução para alguns dos pro-blemas referidos está na imprensa alterna-tiva, de certa forma liderada neste momentopelas potencialidades que a Internet veioproporcionar, rompendo um dos obstácu-los tradicionais mais importantes, o da dis-tribuição.

A experiência do “Diário Digital” não é,de forma alguma, redutora e acabada. Muitomais pode ainda ser explorado pelos “web-jornais”. A especialização será, na minhaperspectiva, um dos mais viáveis e interes-santes caminhos a seguir. Porque não um“web-jornal” só sobre cultura?... ou au-tomóveis... ou moda... ou economia... oucoleccionismo? E porque não um “web-jornal” local ou regional? Só com notícias,por exemplo, do Minho, Trás-os-Montes,Alentejo ou Madeira. E que possa ser lidoem Braga, Lisboa, Paris, Joanesburgo, Cara-cas, Nova Iorque e Montreal. Ou entãoum “web-jornal” em língua portuguesa so-bre África ou sobre o espaço lusófono, quechegasse a todos os países onde a Internetjá chega e que fosse feito por jornalistas dosoito países de língua portuguesa e lido simul-taneamente no Porto, em Maputo, na Cidadeda Praia, no Rio de Janeiro e em Díli.

5 Conclusão

A evolução das tecnologias da informaçãoestá a abrir inúmeras portas aos comuni-cadores sociais, que permitem romper comalguns obstáculos tradicionais que se de-param a quem quer ou já está a trabalharnesta área.

Os leitores/consumidores de jornais estãoprogressivamente a mudar os seus hábitos.Hoje já muitos consultam as edições elec-trónicas dos jornais nos seus computadoresenquanto tomam o pequeno-almoço, dandoordens de impressão apenas aos artigos quelhes interessam.

Não estar atento a este fenómeno é deixar-se ultrapassar pelos outros e pelo tempo. Nãoestar atento a este fenómeno poderá não serfatal, mas será, com certeza, um rude golpe.

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A tecnologia não constitui, no entanto, aresposta a todas as necessidades. O “se-gredo” está em saber potenciar os pontosfortes de cada projecto alternativo, seja eleum jornal gratuito, por fax, por “e-mail” ouna Internet. O conhecimento do público-alvo e uma clara definição dos objectivos quese pretendem atingir são, por isso, indispen-sáveis.

Deixei aqui algumas ideias, mas muitasoutras existem, algumas delas na minhagaveta, em forma de ante-projecto e à es-pera de quem me desafie a comigo pô-las emprática. O que digo aos jovens licenciados oufinalistas de Comunicação Social, das áreasde Jornalismo e/ou de Publicidade, é que nãotenham receio e avancem com pequenos pro-jectos de auto-emprego ou de parceria entrecolegas.

Uma palavra também para os investi-gadores. Está aqui um campo que, julgo eu,não foi ainda suficientemente investigado.A imprensa alternativa tem uma história,uma evolução e muitas variantes que não seresumem às apresentadas. Disponham daminha modesta contribuição, se dela neces-sitarem.

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