dona luzinete: a força de uma grande mulher do semiárido

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Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Ano 7 • nº 1173 Outubro/2013 Riachão do Jacuípe Dona Luzinete: a força de uma grande mulher do semiárido A história dessa mulher guerreira é o retrato de muitas mulheres do Território do Sisal e do semiárido brasileiro. Ela trabalha todos os dias para garantir a qualidade de vida para a família. Consegue organizar seu tempo cuidando da casa e dos afazeres na roça com muita força de vontade. Estamos falando de dona Luzinete de Santana Silva, de 44 anos, moradora da comunidade de Salgado município de Riachão do Jacuípe. “Eu nasci na Mandassaia, saí com 13 anos de lá, fui pra cidade de Pé de Serra e depois meu pai comprou uma terra aqui em Salgado. Desde os meus 15 anos estou morando aqui, me casei e construí minha família. Já sou casada há 26 anos e tenho três filhos que moram na cidade de Camaçari.” Dona Luzinete fala de sua vida com um carinho e amor pelo lugar onde viveu e por tudo que faz. Apesar dos três filhos, Jailma, Joel e Gilvan, morarem em outra cidade, e mesmo diante da saudade, ela segue cuidando da propriedade de 25 tarefas de terra ao lado de seu esposo Genaro da Silva. “A gente cria o porco, ovelha, galinha e temos umas cabeças de gado. Eu gosto de plantar ervas medicinais: o pejo, a água de alevante, arruda, alecrim. Essas ervas servem muito pra qualquer doença, o chá ou as folhas pisadas, tudo é bom. E na nossa horta nós temos as plantações de alface, coentro, caxixe que muitos conhecem como pepino, pimenta, pimentão, tomate, cenoura e couve. Temos um pouco de cada pra viver bem.” O casal cuida das hortaliças que além de consumirem nas refeições, comercializam no município. “Meu esposo compra cebola branca e roxa, batatinha e cenoura. Juntamos com o que temos aqui na propriedade e ele sai vendendo. A gente entrega em clínicas, casas, comunidades. Nos dias de quarta, sábado e domingo são certas as encomendas. É nossa forma de ganhar um dinheirinho a mais.” Seu Genaro fala dos afazeres e se diz satisfeito com tudo que eles dois produzem. “Eu nunca esperava uma coisa tão boa como essa cisterna. A vida era muito difícil, já melhorou muito. Hoje a gente come o que a gente planta”, diz seu Genaro.

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Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas

Ano 7 • nº 1173

Outubro/2013

Riachão do Jacuípe

Dona Luzinete: a força de uma grande mulher do semiárido

A história dessa mulher guerreira é o retrato de muitas mulheres do Território do Sisal e do semiárido brasileiro. Ela trabalha todos os dias para garantir a qualidade de vida para a família. Consegue organizar seu tempo cuidando da casa e dos afazeres na roça com muita força de vontade.

Estamos falando de dona Luzinete de Santana Silva, de 44 anos, moradora da comunidade de Salgado município de Riachão do Jacuípe. “Eu nasci na Mandassaia, saí com 13 anos de lá, fui pra cidade de Pé de Serra e depois meu pai comprou uma terra aqui em Salgado. Desde os meus 15 anos estou morando aqui, me casei e construí minha família. Já sou casada há 26 anos e tenho três filhos que moram na cidade de Camaçari.”

Dona Luzinete fala de sua vida com um carinho e amor pelo lugar onde viveu e por tudo que faz. Apesar dos três filhos, Jailma, Joel e Gilvan, morarem em outra cidade, e mesmo diante da saudade, ela segue cuidando da propriedade de 25 tarefas de terra ao lado de seu esposo Genaro da Silva. “A gente cria o porco, ovelha, galinha e temos umas cabeças de gado. Eu gosto de plantar ervas medicinais: o pejo, a água de alevante, arruda, alecrim. Essas ervas servem muito pra qualquer doença, o chá ou as folhas pisadas, tudo é bom. E na nossa horta nós temos as plantações de alface, coentro, caxixe que muitos conhecem como pepino, pimenta, pimentão, tomate, cenoura e couve. Temos um pouco de cada pra viver bem.” O casal cuida das hortaliças que além de consumirem

nas refeições, comercializam no município. “Meu esposo compra cebola branca e roxa, batatinha e cenoura. Juntamos com o que temos aqui na propriedade e ele sai vendendo. A gente entrega em clínicas, casas, comunidades. Nos dias de quarta, sábado e domingo são certas as encomendas. É nossa forma de ganhar um dinheirinho a mais.”

Seu Genaro fala dos afazeres e se diz satisfeito com tudo que eles dois produzem. “Eu nunca esperava uma coisa tão boa como essa cisterna. A vida era muito difícil, já melhorou muito. Hoje a gente come o que a gente planta”, diz seu Genaro.

Realização Apoio

Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Articulação Semiárido Brasileiro – Bahia

Dona Luzinete é uma mulher motivada pelo que faz. Muito disposta a enfrentar as dificuldades ela prova todos os dias a força da mulher sertaneja. “Oxe, aí é que eu não paro. Meu esposo vai trabalhar, mas eu não fico parada não. Eu me viro pra dá conta das coisas. Eu destoco roça, cuido da horta, o que for pra fazer eu faço. Além disso, tem a casa que tem que limpar, fazer comida e os outros serviços. E depois da cisterna a gente trabalha mais, porque precisamos cuidar mais da nossa produção. É um trabalho maior pra molhar de dia e de noite. A gente tem que cuidar muito bem do que nós temos pra ter sempre algo a mais no final do mês. Mas, mesmo com muito trabalho depois da cisterna tudo ficou melhor. De tudo que a gente planta dá e podemos vender tudo. Isso tudo acontece porque nós temos vontade de trabalhar.”

duas vezes daquele canteiro coloca esterco mais uma vez pra ele poder ficar mais forte.” Ela garante que os produtos ficam mais cheios e melhor pra comercializar.

Um destaque sobre o trabalho de Dona Luzinete é a forma como ela já pensa no futuro: as sementes crioulas guardadas no quartinho ao lado da casa. “Estamos guardando aqui a semente crioula, porque no ano que vem a gente já vai ter as nossas sementes. Ela já está acostumada com a nossa terra, é mais fácil pegar e crescer com mais qualidade. Temos a semente do feijão curió e de corda, temos também a semente do coentro, da abóbora, da alface, do quiabo e do milho. Essas hortaliças mesmo já são de sementes que guardamos. Porque tudo que a gente compra nunca tem a qualidade do que a gente planta. Nós temos os cuidados, as sementes são naturais. Ano passado mesmo plantamos a semente do milho mandada pelo governo, nasceu um ou dois pé de milho, mas não cresceu. Elas não são boas. E nós agricultoras e agricultores temos que valorizar e guardar o que é nosso”

Dona Luzinete fala como cuida das plantações. “Aqui a gente pega o esterco de galinha e do gado e também o resíduo de sisal. Deixa os estercos separado pra curtir e depois de uns 15 dias coloca na terra. A nossa terra é um pouco fraca, misturando os adubos ela se fortalece e produz os alimentos com mais qualidade. Depois que a gente retira

Dona Luzinete é uma mulher de fibra que muda a sua realidade acreditando sempre no potencial que tem. Ela é um modelo de a g r i c u l t o r a q u e p o t e n c i a l i z a a s oportunidades no seu dia a dia através da agroecologia e do envolvimento que tem com o lugar onde vive. “Aqui a gente passa a vida com muito orgulho por que aqui está a nossa história e tona tudo isso ainda melhor pra viver.”

Armazenamento de sementes de dona Luzinete