dona ilca e seu miguel convivem com o semiárido há 40 anos e co

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Dona Ilca e Seu Miguel convivem com o Semiárido há 40 anos e compartilham conhecimento na comunidade Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Ano 9 • nº2058 Março/2015 Cachoeira de Pajeú Maria Ilca Gonçalves Costa e Miguel Soares Costa, mais conhecidos como Dona Ilca e Seu Miguel, só precisam ir à mercearia quando falta macarrão ou arroz. Na casa deles se planta de tudo: alface, coentro, couve, beterraba, cenoura, pimentão, tomate, melancia, milho, feijão, coco, urucum, café, cana, mandioca, abóbora, além dos pomares de frutas. Também há criação de galinha, porco e gado. Naturais de Santa Cruz de Salinas, no Norte de Minas, os dois iniciaram o ofício como trabalhadores rurais há 40 anos, quando se mudaram para o Vale do Jequitinhonha. Há 15 anos vivem em uma casa na Comunidade de São Sebastiao do Pezinho, em Cachoeira de Pajeú. Além das hortas e da roça que fornecem o alimento diário, e ainda geram renda por meio da comercialização, o casal de agricultores conta com uma fábrica de farinha comunitária. “Quando morávamos em uma comunidade vizinha, tínhamos uma casa de farinha particular. Ao chegarmos aqui em Pezinho, tivemos a ideia de montar uma fábrica comunitária que envolvesse e ajudasse outras famílias”, conta. Da fábrica sai farinha de mandioca, beiju, goma e até um adubo orgânico conhecido por manipueira. Manipulado de forma correta, o líquido pode ser utilizado para fertilizar o solo, tornando-o mais rico em nutrientes, e serve também para controlar os insetos que prejudicam o desenvolvimento das plantas. Esse conhecimento todo só foi adquirido com muito esforço e vontade de aprender cada vez mais. Por meio de intercâmbios e capacitações, Seu Miguel e Dona Ilca tiveram o primeiro contato com as tecnologias sociais e aprimoraram seu conhecimento em agroecologia. D. Ilca exibe os tomates sem agrotóxicos. Seu Miguel faz a colheita do feijão. Na casa de farinha autossustentável, todas e todos se ajudam

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Maria Ilca Gonçalves Costa e Miguel Soares Costa, mais conhecidos como Dona Ilca e Seu Miguel, só precisam ir à mercearia quando falta macarrão ou arroz. Na casa deles se planta de tudo: alface, coentro, couve, beterraba, cenoura, pimentão, tomate, melancia, milho, feijão, coco, urucum, café, cana, mandioca, abóbora e pomares de frutas. Também há criação de galinha, porco e gado. Contam ainda com uma fábrica de farinha comunitária.

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Page 1: Dona Ilca e Seu Miguel convivem com o Semiárido há 40 anos e co

Dona Ilca e Seu Miguel convivem com o Semiárido há 40 anos

e compartilham conhecimento na comunidade

Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas

Ano 9 • nº2058

Março/2015

Cachoeira de Pajeú

Maria Ilca Gonçalves Costa e Miguel Soares Costa, mais conhecidos como Dona Ilca e Seu Miguel, só precisam ir à mercearia quando falta macarrão ou arroz. Na casa deles se planta de tudo: alface, coentro, couve, beterraba, cenoura, pimentão, tomate, melancia, milho, feijão, coco, urucum, café, cana, mandioca, abóbora, além dos pomares de frutas. Também há criação de galinha, porco e gado.

Naturais de Santa Cruz de Salinas, no Norte de Minas, os dois iniciaram o ofício como trabalhadores rurais há 40 anos, quando se mudaram para o Vale do Jequitinhonha. Há 15 anos vivem em uma casa na Comunidade de São Sebastiao do Pezinho, em Cachoeira de Pajeú.

Além das hortas e da roça que fornecem o alimento diário, e ainda geram renda por meio da comercialização, o casal de agricultores conta com uma fábrica de farinha comunitária. “Quando morávamos em uma comunidade vizinha, tínhamos

uma casa de farinha particular. Ao chegarmos aqui em Pezinho, tivemos a ideia de montar uma fábrica comunitária que envolvesse e ajudasse outras famílias”, conta.

Da fábrica sai farinha de mandioca, beiju, goma e até um adubo orgânico conhecido por manipueira. Manipulado de forma correta, o líquido pode ser utilizado para fertilizar o solo, tornando-o mais rico em nutrientes, e serve também para controlar os insetos que prejudicam o desenvolvimento das plantas.

Esse conhecimento todo só foi adquirido com muito esforço e vontade de aprender cada vez mais. Por meio de intercâmbios e capacitações, Seu Miguel e Dona Ilca tiveram o primeiro contato com as tecnologias sociais e aprimoraram seu conhecimento em agroecologia.

D. Ilca exibe os tomates sem agrotóxicos. Seu Miguel faz a colheita do feijão.

Na casa de farinha autossustentável, todas e todos se ajudam

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Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Articulação Semiárido Brasileiro – Minas Gerais

“Tinha épocas em que ficávamos sem água. Tínhamos que buscar muito longe. Depois que construímos a cisterna de placas, em 2003, nossa vida melhorou muito. Com a chegada da cisterna-calçadão, em 2014, a tendência é melhorar ainda mais. Ao acompanhar a experiência de outras famílias com as cisternas de produção, vimos que a tecnologia faz uma grande diferença em nossas vidas”, conta Miguel.

Dona Ilca sempre cuidou da horta, mas essa ficava longe da casa. Hoje, fica ao lado da cozinha, em torno da cisterna-calçadão. “Antigamente chovia mais, tinha água permanente, a gente pegava no rio com as cacimbas... Depois tivemos que cavar um poço. Então tinha que puxar a água dali de longe, mas nem sempre resolvia”, relembra a agricultora. “Antes a gente plantava, mas com a seca morria tudo. A água não bastava. Agora não. Com as tecnologias sociais fica mais fácil pra cuidar. Mesmo com o calor, conseguimos manter a horta”, acrescenta.

Atuação comunitáriaSeu Miguel é presidente da Associação Comunitária e membro do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Cachoeira de Pajeú. O envolvimento com essas entidades possibilitou que ampliasse a sua visão enquanto agricultor. E é essa visão que ele tenta passar para a comunidade. “No ano passado participei de um curso de três dias no Instituto de Ciências Agrárias da Universidade Federal de Minas Gerais, em Montes Claros, e aprendi bastante coisa sobre agroecologia e agropecuária. São conhecimentos importantes para os agricultores e as agricultoras daqui”, relata.

Seu Miguel diz que, quando finaliza uma atividade externa como essa, esforça-se em organizar encontros e reuniões para socializar esse aprendizado, mas que a adesão ainda é baixa. Por isso trabalha no sentido de estimular a participação ativa dos membros da comunidade nesses eventos. Sempre animado, ele segue militando em favor da convivência com o Semiárido, e disseminando conhecimento por onde passa.

Realização Apoio

Dona Ilca e Seu Miguel com a neta Irizane

Acima, algumas das muitas belezas do quintal da agricultora e do agricultor