um novo semiárido em alagoinha

2
Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Ano 8 nº1724 Janeiro /2014 Alagoinha Maria Lúcia Galindo tem 39 anos, e nasceu no sitio Belém no município de Alagoinha, Agreste de Pernambuco. Hoje mora no Sitio Canga na mesma cidade e sua propriedade é referência em Agroecologia, pois recebe grupos de agricultores e agricultoras da região em intercâmbios com o intuito de disseminar suas experiências. Por 12 anos morou em Recife, onde se casou e teve um filho. Mas sua ida ao Recife só trouxe danos à saúde como uma depressão, glaucoma crônico e epilepsia. Separou-se e voltou à sua terra, onde recomeçou a vida. Sem casa e terra, trabalhou em currais das propriedades vizinhas com o chamado “trabalho alugado”. E plantando a palma conheceu , Rubinho como ela o chama , com quem acabou se Rubens Nelson Miranda Galindo casando. O sonho em ter uma terra só sua foi realizado após conseguirem um empréstimo. E por seis anos, compraram tijolos, telhas usadas, e todas as estruturas para construir uma casa e começar a plantar. Em 1997, foi convidada a participar de uma reunião da Articulação do Semiárido Brasileiro (ASA) em Caruaru, onde pôde conhecer o projeto de construção de tecnologias para estocar águas da chuvas. Bastou sair da reunião que três convites para participar de outras reuniões da ASA em Petrolândia , Garanhuns e Araripina surgiram. Com essas andanças, minha depressão acabou. Eu precisava de uma coisa para me ocupar de verdade , ter uma responsabilidade maior, apenas ser dona de casa e cuidar das plantinhas não iria me fortalecer”. Um novo semiárido em Alagoinha “Minha infância não foi muito boa não. Aos 12 anos saí de casa para trabalhar, pois tinha que sustentar 03 irmãos, meu pai e mãe. Primeiro minha mãe, lavava roupa ou raspava mandioca nas casas de farinha,mas o dinheiro para alimentação era muito pouco e alguém tinha que trabalhar“.

Upload: articulacaosemiarido

Post on 23-Jul-2016

215 views

Category:

Documents


2 download

DESCRIPTION

A agricultora Lucia Galindo de Alagoinha, apresenta seu quintal produtivo e como a força de vontade em mudar transformou a sua vida, e de sua família.

TRANSCRIPT

Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas

Ano 8 nº1724

Janeiro /2014

Alagoinha

Maria Lúcia Galindo tem 39 anos, e nasceu no sitio Belém no município de Alagoinha, Agreste de

Pernambuco. Hoje mora no Sitio Canga na mesma cidade e sua propriedade é referência em Agroecologia, pois

recebe grupos de agricultores e agricultoras da região em intercâmbios com o intuito de disseminar suas

experiências.

Por 12 anos morou em Recife, onde se casou e teve um filho. Mas sua ida ao Recife só trouxe danos à

saúde como uma depressão, glaucoma crônico e epilepsia. Separou-se e voltou à sua terra, onde recomeçou a

vida. Sem casa e terra, trabalhou em currais das propriedades vizinhas com o chamado “trabalho alugado”. E

plantando a palma conheceu , Rubinho como ela o chama , com quem acabou se Rubens Nelson Miranda Galindo

casando. O sonho em ter uma terra só sua foi realizado após conseguirem um empréstimo. E por seis anos,

compraram tijolos, telhas usadas, e todas as estruturas para construir uma casa e começar a plantar.

Em 1997, foi convidada a participar de uma reunião da Articulação do Semiárido Brasileiro (ASA) em

Caruaru, onde pôde conhecer o projeto de construção de tecnologias para estocar águas da chuvas. Bastou sair

da reunião que três convites para participar de outras reuniões da ASA em Petrolândia , Garanhuns e Araripina

surgiram. “Com essas andanças, minha depressão acabou. Eu precisava de uma coisa para me ocupar de

verdade , ter uma responsabilidade maior, apenas ser dona de casa e cuidar das plantinhas não iria me

fortalecer”.

Um novo semiárido em Alagoinha

“Minha infância não foi muito boa não. Aos 12 anos saí de casapara trabalhar, pois tinha que sustentar 03 irmãos, meu pai e mãe.Primeiro minha mãe, lavava roupa ou raspava mandioca nas casas de farinha,mas o dinheiro para alimentação era muito pouco e alguém tinha que trabalhar“.

Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Articulação Semiárido Brasileiro – Pernambuco

Com sua participação em reuniões e a implementação das cisternas, surgiu a

oportunidade de Rubinho participar de uma capacitação de cisterneiros, deixando assim seu

oficio de “trabalhador de aluguel”. A partir daí dedicou-se às construções de cisternas e a facilitar

as capacitações,melhorando assim financeiramente a vida da família ,onde foi possível comprar

uma moto, e deixar de andar de carroça de burro e bicicleta.

O seu quintal é realmente produtivo. São mais de 192 espécies de hortaliças, como: couve

flor, alface,tomate cereja, pimentão, entre outras,além de fruteiras e plantas medicinais. “Sempre

produzi minhas hortaliças. Eu acho que qualquer pessoa pode ter uma hortinha em sua casa,

claro que a cisterna calçadão multiplicou a minha porque se eu tenho 52 mil litros para cuidar da

minha horta, então eu vou cuidar dela, que é para isso que eu tenho essa água. Esse é o meu

ponto de vista.Futuramente pretendo fazer um viveiro de mudas para vender nos intercâmbios e

aumentar a produção para comercializar na feira”, conta emocionada.

“Hoje eu estou dentro da minha casa, eu agradeço tudo a ASA e a Cáritas, que foi quem

nos abriu as portas, ensinaram as coisas. Ninguém dá nada pra ninguém, é aquela velha história.

Deus deu a vara, a linha e o anzol, te ensinou a pescar, agora você vai lá e pesca. É a mesma

coisa que a Cáritas e ASA fez com a gente. Ela ensinou, cabe a gente correr atrás e trabalhar”,

finaliza Lúcia.

“Depois disso, começou a mudança aqui no sítio. A primeira etapa de cisternas a gente conseguiu, terminamos a construção das cisternas de 16 mil litros, aí vamos para a etapa de calçadões, foram 02 anos correndo atrás disso, até os projetos chegarem até aqui. Não perdi nenhuma reunião, não perdi um só encontro, eu tinha a certeza de que iria chegar, como vai vir mais. Muita gente dizia “você tá perdendo seu tempo”. Eu dizia : não estou perdendo meu tempo” ”.

Realização Apoio