doenças de plantas

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UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DE PERNAMBUCODEPARTAMENTO DE AGRONOMIA REA DE FITOSSANIDADE

FITOPATOLOGIA I

CLASSIFICAO DE DOENAS DE PLANTASProf. Sami J. Michereff

1. INTRODUODoena resultante da interao entre hospedeiro, agente causal e ambiente. Diversos critrios, baseados no hospedeiro e/ou no agente causal, tm sido usados para classificar doenas de plantas. Quando o hospedeiro tomado como referncia, a classificao rene as doenas que ocorrem numa determinada espcie botnica. Desta forma tem-se, por exemplo, as doenas do feijoeiro, do tomateiro, da cana-de-acar, etc. Esse tipo de classificao tem um carter eminentemente prtico, pois de interesse dos tcnicos envolvidos com cada cultura especfica. Outra possibilidade, ainda ligada ao hospedeiro, classificar doenas de acordo com a parte ou idade da planta atacada. Assim, as doenas podem ser agrupadas, por exemplo, em doenas de raiz, de colo, de parte area, etc. A classificao de doenas tomando por base a natureza dos patgenos define os grupos de doenas causadas por fungos, por bactrias, por vrus, etc. Este sistema de classificao tem como ponto desfavorvel agregar, num mesmo grupo, patgenos que, apesar da proximidade taxonmica, atuam de forma diferente em relao planta. Como evidncia, pode-se mencionar o contraste entre uma bactria que provoca murcha (Ralstonia solanacearum, por exemplo), cujo controle estaria mais prximo de uma murcha causada por fungo (Fusarium oxysporum, por exemplo), e outra bactria que causa podrido em rgos de armazenamento (Erwinia carotovora, por exemplo). Esta ltima teria, do ponto de vista do controle, maior similaridade com um fungo causador de podrido, como Rhizopus, por exemplo. O processo doena envolve alteraes na fisiologia do hospedeiro. Com base neste aspecto, George L. McNew, em 1960, props uma classificao para as doenas de plantas baseada ! ! ! ! ! ! Grupo Grupo Grupo Grupo Grupo Grupo I II III IV V VI Doenas Doenas Doenas Doenas Doenas Doenas que que que que que que

nos processos fisiolgicos vitais da planta interferidos pelos patgenos. Os processos fisiolgicos vitais de uma planta, em ordem cronolgica, podem ser resumidos nos seguintes: I - Acmulo de nutrientes em rgos de armazenamento para o desenvolvimento de tecidos embrionrios. II - Desenvolvimento de tecidos jovens s custas dos nutrientes armazenados. III - Absoro de gua e elementos minerais a partir de um substrato. IV - Transporte de gua e elementos minerais atravs do sistema vascular. V - Fotossntese. VI - Utilizao, pela planta, das substncias elaboradas atravs da fotossntese. Assim, de acordo com McNew, o desenvolvimento de uma planta a partir de uma semente contida num fruto envolveria vrias etapas seqenciais, como o apodrecimento do fruto para a liberao da semente; o desenvolvimento dos tecidos embrionrios da semente a partir das reservas da mesma; a formao dos tecidos jovens, como radcula e caulculo, ainda a partir das reservas nutricionais da semente; a absoro de gua e minerais pelas razes; o transporte de gua e nutrientes minerais atravs dos vasos condutores; o desenvolvimento das folhas, que passam a realizar fotossntese, tornando a planta independente das reservas da semente; o desenvolvimento completo da planta, tanto vegetativa como reprodutivamente, graas aos materiais sintetizados por ela. Considerando que estes processos vitais podem sofrer interferncias provocadas por diferentes patgenos, McNew props grupos de doenas correspondentes:

destroem os rgos de armazenamento causam danos em plntulas danificam as razes atacam o sistema vascular interferem com a fotossntese alteram o aproveitamento das substncias fotossintetizadas

Esta classificao conveniente pois, apesar de diferentes patgenos atuarem sobre um mesmo processo vital, o modo de ao dos mesmos em relao ao hospedeiro envolve procedimentos semelhantes (Tabela 1). Assim, diversos fungos e diversas bactrias podem causar leses em folhas; a doena provocada por estes patgenos, porm, interfere no mesmo processo fisiolgico vital, ou seja, a fotossntese. Em adio, doenas pertencentes a um mesmo grupo apresentam caractersticas semelhantes quanto s diversas fases do ciclo de relaes patgeno-hospedeiro, no raro apresentando idnticas medidas para seu controle.

2 Tabela 1. Grupos de doenas segundo a classificao de McNew, baseada no processo fisiolgico interferido pelo patgeno. Grupo 1 Processo Interferido Armazenamento de nutrientes Doenas/Sintomas Doenas ps-colheita, podrides moles ou secas em sementes, frutos, etc. Patgeno Parasitas facultativos ou acidentais - Rhizopus spp. - Penicillium spp. - Erwinia spp. Parasitas facultativos - Pythium spp. - Rhizoctonia solani - Phytophthora spp. Parasitas facultativos - Fusarium solani - Sclerotium rolfsii - Thielaviopsis basicola Parasitas facultativos - Fusarium oxysporum - Verticillium albo-atrum - Ralstonia solanacearum Parasitas facultativos - Alternaria spp. - Cercospora spp. - Colletotrichum gloeosporioides - Xanthomonas spp. Parasitas obrigados - Plasmopara viticola - Bremia lactucae - Pseudoperonospora cubensis Parasitas obrigados - Oidium spp. Controle - Evitar ferimentos - Armazenamento adequado - Uso de fungicidas Tratamento do solo Tratamento de sementes Uso de sementes sadias Prticas culturais

2

Formao de tecidos jovens

Damping-off ou tombamento de plntulas

3

Absoro de gua e nutrientes

Podrides de razes e do colo

- Tratamento do solo - Rotao de cultura - Cultivares resistentes Tratamento do solo Rotao de cultura Cultivares resistentes Controle de nematides

4

Transporte de gua e nutrientes

Murchas vasculares com sintomas externos e internos

5

Fotossntese

a) Manchas e crestamentos

- Cultivares resistentes - Controle qumico - Medidas de sanitizao

b) Mldios

-

Controle qumico Cultivares resistentes Medidas de sanitizao Rotao de cultura Controle qumico Cultivares resistentes Medidas de sanitizao Rotao de cultura Controle qumico Cultivares resistentes Medidas de sanitizao Rotao de cultura

c) Odios

d) Ferrugens

Parasitas obrigados - Puccinia spp. - Uromyces spp. - Hemileia vastatrix

3 Tabela 1. Continuao .... Grupo 6 Processo Interferido Utilizao das substncias elaboradas Doenas/Sintomas a) Carves Patgeno Parasitas obrigados - Ustilago scitaminea. - Ustilago maydis - Entyloma spp. Parasitas obrigados e facultativos - Plasmodiophora brassicae - Agrobaterium tumefaciens - Meloidogyne spp. Parasitas obrigados - Tobacco mosaic virus TMV - Cucumber mosaic virus - CMV Parasitas obrigados - Fitoplasmas - Spiroplasma citri Controle Rotao de cultura Cultivares resistentes Tratamento de sementes Medidas de sanitizao Cultivares resistentes Rotao de cultura Medidas de sanitizao Tratamento do solo Controle biolgico

b) Galhas

c) Viroses

- Cultivares resistentes - Controle de vetores - Eliminao de hospedeiros alternativos - Cultivares resistentes - Controle de vetores - Eliminao de hospedeiros alternativos - Uso de tetraciclina

d) Amarelos Fitoplasmoses Espiroplasmoses

4

Finalmente, este sistema de classificao permite, tambm, uma ordenao dos agentes causais de doena segundo os graus de agressividade, parasitismo e especificidade (Fig. 1). Assim, de um modo geral, medida que se caminha do grupo I para o grupo VI, constata-se menor grau de agressividade no patgeno, maior grau de evoluo no parasitismo e maior especificidade do patgeno em relao ao hospedeiro. Em relao agressividade, os patgenos dos grupos I e II apresentam alta capacidade destrutiva, pois em curto espao de tempo provocam a morte do rgo ou da planta atacada; so organismos saprofticos que, atravs de toxinas, levam, antes, o tecido morte para, depois, coloniz-lo. Quanto evoluo do parasitismo, os patgenos encontrados nos grupos

V e VI so considerados mais evoludos, pois convivem com o hospedeiro, no provocando sua rpida destruio; ao invs de toxinas, estes patgenos, geralmente, produzem estruturas especializadas em retirar nutrientes diretamente da clula sem, no entanto, provocar sua morte imediata. A especificidade dos patgenos em relao ao hospedeiro tambm aumenta do grupo I para o VI. Nos primeiros grupos comum a ocorrncia de patgenos capazes de atacar indistintamente uma grama de diferentes hospedeiros; por outro lado, nos ltimos grupos esto presentes patgenos que causam doena apenas em determinadas espcies vegetais. A ocorrncia de raas patognicas, com especificidade a nvel de cultivar, so de comum ocorrncia nesses grupos superiores.

Figura 1. Grupos de doenas de plantas e sua relao com especificidade, agressividade e evoluo do parasitismo do agente patognico [segundo Bedendo (1995)].

2. BIBLIOGRAFIA CONSULTADABALMER, E.; GALLI, F. Classificao das doenas segundo a interferncia em processos fisiolgicos da planta. In: GALLI, F. (Ed.). Manual de fitopatologia: Principios e conceitos. 2. ed. So Paulo: Agronmica Ceres, 1978. v.1, p.261-288. BEDENDO, I.P. Classificao de doenas. In: BERGAMIN FILHO, A.; KIMATI, H.; AMORIM, L. (Eds.). Manual de fitopatologia: princpios e conceitos. 3. ed. So Paulo: Agronmica Ceres, 1995. v.1, p.805-809. BEDENDO, I.P. Podrides de rgos de reserva. In: BERGAMIN FILHO, A.; KIMATI, H.; AMORIM, L. (Eds.). Manual de fitopatologia: princpios e conceitos. 3. ed. So Paulo: Agronmica Ceres, 1995. v.1, p.810-819. BEDENDO, I.P. Damping off. In: BERGAMIN FILHO, A.; KIMATI, H.; AMORIM, L. (Eds.). Manual de fitopatologia: princpios e conceitos. 3. ed. So Paulo: Agronmica Ceres, 1995. v.1, p.820-828. BEDENDO, I.P. Podrides de raiz e colo. In: BERGAMIN FILHO, A.; KIMATI, H.; AMORIM, L. (Eds.). Manua de fitopatologia: princpios e conceitos. 3. ed. So Paulo: Agronmica Ceres, 1995. v.1, p.829-837.

BEDENDO, I.P. Doenas vasculares. In: BERGAMIN FILHO, A.; KIMATI, H.; AMORIM, L. (Eds.). Manual de fitopatologia: princpios e conceitos. 3. ed. So Paulo: Agronmica Ceres, 1995. v.1, p.838-847. BEDENDO, I.P. Manchas foliares. In: BERGAMIN FILHO, A.; KIMATI, H.; AMORIM, L. (Eds.). Manual de fitopatologia: princpios e conceitos. 3. ed. So Paulo: Agronmica Ceres, 1995. v.1, p.849-858. BEDENDO, I.P. Mldios. In: BERGAMIN FILHO, A.; KIMATI, H.; AMORIM, L. (Eds.). Manual de fitopatologia: princpios e conceitos. 3. ed. So Paulo: Agronmica Ceres, 1995. v.1, p.859-865. BEDENDO, I.P. Odios. In: BERGAMIN FILHO, A.; KIMATI, H.; AMORIM, L. (Eds.). Manual de fitopatologia: princpios e conceitos. 3. ed. So Paulo: Agronmica Ceres, 1995. v.1, p.866-871. BEDENDO, I.P. Ferrugens. In: BERGAMIN FILHO, A.; KIMATI, H.; AMORIM, L. (Eds.). Manual de fitopatologia: princpios e conceitos. 3. ed. So Paulo: Agronmica Ceres, 1995. v.1, p.872-880. BEDENDO, I.P. Carves. In: BERGAMIN FILHO, A.; KIMATI, H.; AMORIM, L. (Eds.). Manual de fitopatologia: princpios e conceitos. 3. ed. So Paulo: Agronmica Ceres, 1995. v.1, p.881-888.

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BEDENDO, I.P. Galhas de etiologia fngica e bacteriana. In: BERGAMIN FILHO, A.; KIMATI, H.; AMORIM, L. (Eds.). Manual de fitopatologia: princpios e conceitos. 3. ed. So Paulo: Agronmica Ceres, 1995. v.1, p.889-898.

BEDENDO, I.P. Viroses. In: BERGAMIN FILHO, A.; KIMATI, H.; AMORIM, L. (Eds.). Manual de fitopatologia: princpios e conceitos. 3. ed. So Paulo: Agronmica Ceres, 1995. v.1, p.899-906.