documentos ufológicos: o desafio para o acesso à informação · 2018-08-28 · ... gostaria de...

102
UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ CENTRO DE HUMANIDADES II DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS DA INFORMAÇÃO CURSO DE GRADUAÇÃO EM BIBLIOTECONOMIA RAFAELA OLIVEIRA CARNEIRO DOCUMENTOS UFOLÓGICOS: O DESAFIO PARA O ACESSO À INFORMAÇÃO FORTALEZA 2018

Upload: trankiet

Post on 02-Dec-2018

218 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: Documentos Ufológicos: o desafio para o acesso à informação · 2018-08-28 · ... gostaria de agradecer e relembrar todos os grandes guerreiros e percus-sores da ... humilhação

UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ

CENTRO DE HUMANIDADES II

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS DA INFORMAÇÃO

CURSO DE GRADUAÇÃO EM BIBLIOTECONOMIA

RAFAELA OLIVEIRA CARNEIRO

DOCUMENTOS UFOLÓGICOS: O DESAFIO PARA O ACESSO À INFORMAÇÃO

FORTALEZA

2018

Page 2: Documentos Ufológicos: o desafio para o acesso à informação · 2018-08-28 · ... gostaria de agradecer e relembrar todos os grandes guerreiros e percus-sores da ... humilhação

RAFAELA OLIVEIRA CARNEIRO

DOCUMENTOS UFOLÓGICOS: O DESAFIO PARA O ACESSO À INFORMAÇÃO

Trabalho de Conclusão de Curso apresentadoao Curso de Graduação em Biblioteconomiado Centro de Humanidades II da UniversidadeFederal do Ceará, como requisito parcial à ob-tenção do grau de bacharel em Biblioteconomia.

Orientador: Prof. Me. Márcio de As-sumpção Pereira da Silva

FORTALEZA

2018

Page 3: Documentos Ufológicos: o desafio para o acesso à informação · 2018-08-28 · ... gostaria de agradecer e relembrar todos os grandes guerreiros e percus-sores da ... humilhação

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação Universidade Federal do Ceará

Biblioteca UniversitáriaGerada automaticamente pelo módulo Catalog, mediante os dados fornecidos pelo(a) autor(a)

C29d Carneiro, Rafaela Oliveira. Documentos Ufológicos : o desafio para o acesso à informação / Rafaela Oliveira Carneiro. – 2018. 101 f. : il. color.

Trabalho de Conclusão de Curso (graduação) – Universidade Federal do Ceará, Centro de Humanidades,Curso de Biblioteconomia, Fortaleza, 2018. Orientação: Prof. Me. Márcio de Assumpção Pereira da Silva.

1. Ufologia. 2. Documentos. 3. Lei de Acesso a Informação. 4. Acobertamento. 5. Desinformação. I. Título. CDD 020

Page 4: Documentos Ufológicos: o desafio para o acesso à informação · 2018-08-28 · ... gostaria de agradecer e relembrar todos os grandes guerreiros e percus-sores da ... humilhação

RAFAELA OLIVEIRA CARNEIRO

DOCUMENTOS UFOLÓGICOS: O DESAFIO PARA O ACESSO À INFORMAÇÃO

Trabalho de Conclusão de Curso apresentadoao Curso de Graduação em Biblioteconomiado Centro de Humanidades II da UniversidadeFederal do Ceará, como requisito parcial à ob-tenção do grau de bacharel em Biblioteconomia.

Aprovada em:

BANCA EXAMINADORA

Prof. Me. Márcio de Assumpção Pereira daSilva (Orientador)

Universidade Federal do Ceará (UFC)

Prof. Dra. Isaura Nelsivânia Sombra OliveiraUniversidade Federal do Ceará (UFC)

Prof. Dr. Arnoldo Nunes da SilvaUniversidade Federal do Ceará (UFC)

Prof. Dr. Antônio Wagner Chacon SilvaUniversidade Federal do Ceará (UFC)

Page 5: Documentos Ufológicos: o desafio para o acesso à informação · 2018-08-28 · ... gostaria de agradecer e relembrar todos os grandes guerreiros e percus-sores da ... humilhação

A minha mãe Beatriz, pois tudo de bom que

eu tenho dentro de mim eu herdei dela e a Ja-

mes McDonald pela coragem e a inspiração em

momentos tão obscuros. Vocês eram bons de-

mais para esse mundo frio, injusto, corrupto e

ingrato.

Page 6: Documentos Ufológicos: o desafio para o acesso à informação · 2018-08-28 · ... gostaria de agradecer e relembrar todos os grandes guerreiros e percus-sores da ... humilhação

AGRADECIMENTOS

Será para mim muito difícil colocar aqui todas as pessoas que, de alguma maneira,

contribuíram para que esse trabalho e que essa graduação se tornasse possível, pois o caminho até

aqui não tem sido fácil. Foram provações e desafios que sei que muitas pessoas não suportariam.

Houve muita torcida contra, muitas noites em claro, muitas lágrimas e uma sensação de desespero

e abandono que achei que a qualquer momento fosse me matar, mas não matou e aqui estamos,

vivos para contar essa história e apresentar esse trabalho.

Primeiramente gostaria de agradecer à minha mãe, Beatriz Carneiro de Oliveira,

pelos poucos anos que passou ao meu lado. Acho que nunca em minha vida encontrei alguém

com a alma tão pura e tão boa, que fazia qualquer coisa pra ver todo mundo bem, até mesmo quem,

muitas vezes, não merecia. Foi uma lutadora, saiu do sertão de Boa Viagem e veio para Fortaleza

sozinha, enfrentou esse mundo, diversas vezes, e também enfrentou o preconceito por ser mãe

solteira. Estudou tudo o que pode, trabalhou duramente onde podia. Chegou a morar de favor na

casa dos outros, foi muito julgada e humilhada, sofreu com relacionamentos abusivos, traição

de pessoas em quem confiavam, injustiça, acusações e mentiras, mas venceu as adversidades

e pôde me dar uma vida mais digna e a Educação que lhe foi negada no interior. Infelizmente,

ela não está mais aqui pra ver esse dia tão importante, a depressão cruel e devastadora que a

atingiu e sua trágica morte ainda tão jovem, com 52 anos, impediu que isso acontecesse, mas

tento carregar dentro de mim, todas os exemplos e coisas boas que ela passou, a alegria que a

tornou tão conhecida entre as pessoas, a simplicidade e humildade de quem só quem lutou muito

na vida sabe apreciar, além do coração de ouro, provavelmente o maior tesouro que ela possuía.

Em seguida, gostaria de agradecer e relembrar todos os grandes guerreiros e percus-

sores da Ufologia, pessoas que enfrentaram todo o tipo de descrédito, humilhação e preconceito

para trazer um pouco de luz sobre um dos maiores mistérios de nossa história: O Fenômeno

UFO. Gostaria de agradecer a Coral e Jim Lorenzen, dois dos primeiros desbravadores dessa

nova realidade, fundadores do primeiro centro de pesquisa civil de UFOs. Pessoas comuns

que gastaram seu tempo e recursos para estudar e entender esse estranho fenômeno enquanto

as autoridades governamentais e científicas fechavam os olhos para ele. Coral Lorenzen, uma

mulher, em plena década de 50 que passou por cima de machismos, desconfianças e de todas

as dificuldades que estavam no caminho de uma mulher naquela época, para se tornar uma das

grandes ufólogas do planeta e um dos pilares da Ufologia até os dias de hoje. Agradeço também

ao seu marido Jim Lorenzen que não apenas a apoiou e acreditou nela, mas como também foi

Page 7: Documentos Ufológicos: o desafio para o acesso à informação · 2018-08-28 · ... gostaria de agradecer e relembrar todos os grandes guerreiros e percus-sores da ... humilhação

seu braço direito e principal suporte na vida e nas pesquisas. Um amor de uma vida inteira e que

nos presenteou com tudo de mais sincero e bom que só o amor verdadeiro pode trazer.

Gostaria de agradecer também a Josef Allen Hynek um homem que no começo era

um cético ferrenho da Ufologia e que foi jogado no meio desse mistério todo pelo governo

estadunidense com o único objetivo de desacreditar o Fenômeno UFO, para depois se tornar um

dos maiores defensores e divulgadores da realidade ufológica, Hynek era um homem no meio do

fogo cruzado, à frente da consultoria científica do Projeto Blue Book tinha o desafio de divulgar

a verdade sobre os UFOs, mas sem desagradar aos militares que tanto faziam para esconder

o assunto. Após se libertar do jugo das Forças Armadas, depois do encerramento do Projeto

Blue Book, em 1972 Hynek lançou o livro "Ufologia - Uma pesquisa científica", que é uma das

maiores obras em se tratando de Ufologia da história. Séria, sóbria e rica, Hynek usa todo o seu

conhecimento em Astronomia e Física para dar ao Fenômeno UFO a abordagem científica que

ela merece e foi uma das principais referências desse trabalho.

Gostaria de agradecer também a um dos primeiros ufólogos brasileiros e que tão

cedo partiu desse mundo: Dr. Olavo Fontes. Amigo próximo de Coral e Jim Lorenzen, ele foi

um dos responsáveis por levar a Ufologia Brasileira para o mundo. Investigou diversos casos

que ficaram na história da casuística ufológica mundial, também enfrentando o preconceito e

as ameaças daqueles que tem por interesse ocultar a verdade sobre os UFOs. Faleceu em 1968,

depois de um implacável câncer no estômago, mas sua obra e seu trabalho, não serão esquecidos.

Gostaria de agradecer também a Reginaldo de Athayde, o maior divulgador da

Ufologia Nordestina da História e um dos integrantes do grupo que lançou a campanha de

Liberdade de Informação para os documentos ufológicos. Ufólogo empenhado, organizado e

extremamente inteligente, ia até os mais profundos lugares do Sertão para investigar aterrorizantes

casos ufológicos sendo o mais famoso deles o Caso Barroso, cuja a vítima, depois de um contato

com seres de um objeto desconhecido que pousou numa estrada na cidade de Quixadá, foi

acometido de uma horrível enfermidade que o colocou num estado de coma por quase 20 anos.

As causas dessa doença jamais foram descobertas por nenhum médico nem daqui e nem do

exterior, permanecendo um mistério até os dias de hoje. Foi o primeiro ufólogo que conheci na

vida, ao vê-lo num programa de TV, quando eu ainda era criança, falando sobre Discos Voadores

no Ceará, foi a primeira vez que soube que eu não estava sozinha naquilo que acreditava. Athayde

tinha um amor verdadeiro pela Ufologia e foi um pesquisador atuante até a idade avançada o

impossibilitar disso. Lamentava imensamente não ter mais forças para buscar os ufos que tanto

Page 8: Documentos Ufológicos: o desafio para o acesso à informação · 2018-08-28 · ... gostaria de agradecer e relembrar todos os grandes guerreiros e percus-sores da ... humilhação

procurou em vida. Sucumbiu no dia 13 de outubro de 2014.

Gostaria de agradecer também a Comissão Brasileira de Ufólogos, Ademar Gevaerd,

Marco Antonio Petit, Alfonso Beck, Thiago Thichetti, Claudeir Covo e Fernando Ramalho, entre

outros integrantes da Revista UFO e todos os grupos que estiveram envolvidos na Campanha

UFOs: Liberdade de Informação Já!, que tiveram convicção e enfrentaram uma batalha pelo

direito de saber o que o Governo Brasileiro escondia sobre os UFOs. Houve muitas negações,

promessas não cumpridas por parte das Forças Armadas, mas a união e força de quem luta

e batalha pela verdade uma hora dá seus frutos. A batalha pelo acesso à informação apenas

começou e continua ativa na Comunidade Ufológica, pois temos convicção de que nada fica

muito tempo oculto debaixo do véu do segredo.

Por último nesse primeiro leva de agradecimentos, deixei aquele que pra mim, é o

mais especial, aquele cuja luta ultrapassou todas as dificuldades possíveis, passou por cima das

desconfianças, zombarias, perseguições e humilhações para se tornar, a meu ver, o grande mártir

da Ufologia: Dr. James E. McDonald.

Falar de James McDonald pra mim é muito mais do que uma emoção, é um orgulho,

pois ele representava tudo aquilo que um cientista deve ser: curioso, honesto, esperto, investi-

gativo e honrado, preocupava-se com o mundo e achava que a Ciência existia para melhorar a

vida das pessoas. McDonald era doutor em Física Atmosférica e professor pela Universidade

do Arizona, era extremamente produtivo, muito conhecido e respeitado em sua área de atuação,

com dezenas de artigos publicados. Ele também sempre esteve envolvido com questões sociais

da época, como a luta contra o armamento nuclear, contra a destruição da camada de ozônio

e contra a Guerra do Vietnã. James ou “Jim” como era conhecido pelos mais íntimos, era um

homem de hábitos simples, apegado à família e a pacata vida em Tucson no Arizona, até hoje

uma cidade universitária.

Um dia, num entardecer de 1954, enquanto realizava pesquisas meteorológicas no

deserto de Tucson com mais dois colegas, sua atenção se voltou para algo além das nuvens

no céu. O Objeto Voador Não Identificado que ele descreveu, tinha a forma de uma esfera,

uma coloração parecida com o alumínio e brilhava reluzindo os últimos raios de sol. Aquele

avistamento mudaria sua vida e com ela toda a história da Ufologia, pois a partir daquele

momento, McDonald passaria a ser um dos maiores investigadores de UFOs que se tem notícia.

Sozinho ele investigou centenas de casos e com o NICAP, um dos grandes centros de pequisas

civis de Ufologia, investigou mais outras centenas.

Page 9: Documentos Ufológicos: o desafio para o acesso à informação · 2018-08-28 · ... gostaria de agradecer e relembrar todos os grandes guerreiros e percus-sores da ... humilhação

Ele acreditava que os UFOs eram o maior desafio científico de todos os tempos, que

os cientistas tinham que tomar às rédeas do assunto e que as pessoas tinham que ser informadas

sobre o que era verdadeiro e o que não era. Ele sabia que os governos eram relapsos com relação

a esse tema e tentou trazer visibilidade e respeitabilidade para ele, sem se importar com que

iam pensar dele. Imaginem o desafio que era para um cientista de sua importância, naquela

época, se envolver ativamente na militância ufológica? Era um desafio sem precedentes! Muitos

julgamentos, zombaria e desconfiança, mas mesmo com tudo isso, ele não se importou e foi

em frente, pois tinha convicção dessa causa, confiava em suas pesquisas e no trabalho que os

ufólogos da época estavam fazendo.

James McDonald bateu de frente com personagens importantes do governo ameri-

cano, fez acusações diretas contra aqueles que sabia estarem trabalhando contra o reconhecimento

científico dos UFOs, escreveu diversos artigos sobre o assunto, palestrou em Universidades,

igrejas, associações e fez um pedido formal a ONU para que se envolvesse diretamente na

questão ufológica. Foi um dos percussores do “desacobertamento” do qual trataremos tanto

nesse trabalho e inspirou centenas de outros a seguirem seus passos. Jim McDonald era uma

inspiração, valente e inteligente ele fez o que pôde para trazer visibilidade e os cientistas para o

problema dos UFOs e continuou fazendo até não ter mais forças.

Um visionário, um pacifista, um ambientalista e um líder, a luta do Dr. McDonald em

prol da verdade e da Ciência não seria deixada de graça por forças ocultas trabalhando contra tudo

isso. Pouco depois de sua entrada na militância ufológica, McDonald sofreu com pressão de todas

as partes, foi perseguido, investigado pelo FBI, tentaram desqualificá-lo como cientista, foi vítima

de humilhações públicas e, cirurgicamente, essas forças ocultas, iam matado-o emocionalmente.

No início de 1971, no auge de uma grande depressão e sentido-se humilhado e

abandonado até pela própria família, James McDonald tentou o suicídio pela primeira vez.

Depois de ficar internado no hospital e aparentemente ter uma melhora em seu quadro de

depressão, ele fez planos para voltar a ativa, no entanto, no amanhecer do dia 13 de junho de

1971, sozinho, ele foi até o deserto do Arizona e tirou a própria vida com um tiro na cabeça.

Não era apenas a Ufologia que perdia seu maior lutador, era também o mundo que

perdia um gênio, um homem com uma visão muito a frente do seu tempo, que bem antes dos

poderosos falarem em “mudanças climáticas”, ele já alertava sobre esse perigo para o futuro

próximo. Um homem que achava que a Ciência tinha que salvar vidas, que a tecnologia tinha

que ajudar os menos favorecidos, que os cientistas tinham que estar a frente das batalhas pela

Page 10: Documentos Ufológicos: o desafio para o acesso à informação · 2018-08-28 · ... gostaria de agradecer e relembrar todos os grandes guerreiros e percus-sores da ... humilhação

paz e pelas descobertas. James McDonald amou profundamente tudo o que fez e por mais que a

crueldade dessa vida o tenha tirado de perto de nós, seu exemplo e seu trabalho jamais serão

esquecidos por aqueles que abraçam as causas que ele defendeu.

James McDonald é muito mais do que um ufólogo para mim, ele é tudo aquilo que eu

sempre quis ser, ele é um exemplo de homem e caráter que enfrentou tantos obstáculos naqueles

tempos tão sombrios. Ele era um cientista que tinha paixão verdadeira pelo que fazia e tentou

tornar esse planeta um lugar melhor para viver. Queria muito eu fazer pelo menos 1% das coisas

que você fez, queria eu ter, pelo menos, um 1% da sua capacidade e inteligência para ajudar esse

mundo e a Ufologia. Se eu tivesse o conhecido pessoalmente, provavelmente eu teria o amado

muito, mas infelizmente não tive essa sorte e tudo o que me resta hoje é admirá-lo e me inspirar

em seu exemplo, por toda a sua luta e por todo o seu trabalho e também a lamentar pela sua

partida trágica e precoce desse mundo.

Voltei para a Universidade depois de muito tempo parada, desnorteada, enfrentando

uma grande depressão e culpa por fracassos tanto reais quanto imaginários, e esse retorno foi de

uma imensa renovação na minha vida. Eu sabia que enfrentaria muitas dificuldades financeiras

por não poder mais trabalhar em tempo integral e que ficaria dependente de um salário menor

em possíveis estágios que faria, mas ainda assim eu aceitei os riscos e estava imensamente feliz

em poder voltar a estudar, eu que tanto incentivava aqueles ao meu redor a valorizar a educação

e idolatrava a Universidade, jamais poderia ficar de fora dela. Portanto, gostaria de agradecer

toda a Biblioteconomia por me receber e por todas as coisas que aprendi. Agradeço a todo o

corpo de professores, aos coordenadores, funcionários e meus colegas de formação. Agradeço

ao Professor Márcio Assumpção, meu orientador, por me aceitar com esse projeto relacionado a

Ufologia. De uma forma geral, esses quase 5 anos de graduação salvaram a minha vida de várias

maneiras possíveis.

Em especial gostaria de agradecer aqueles amigos que mais estiveram comigo

nessa jornada: Shirley Rodrigues, com quem passei por muitas coisas, noites mal dormidas

para entregar trabalhos, estudando para provas, enfrentando as dificuldades da vida comum e

principalmente ela, uma garota batalhadora, mãe, esforçada e ainda assim muito apaixonada pela

vida. Que as portas do sucesso e da felicidade estejam abertas para você sempre!

Alef Pereira, meu primeiro amigo no curso com quem compartilhava todas as minhas

ideias não ortodoxas sobre o espaço e a realidade. Muito inteligente, Alef também batalhou

muito para entrar na Universidade. Hoje ele não está mais na Biblioteconomia, mas sei que ele

Page 11: Documentos Ufológicos: o desafio para o acesso à informação · 2018-08-28 · ... gostaria de agradecer e relembrar todos os grandes guerreiros e percus-sores da ... humilhação

terá sucesso onde quer que esteja e sempre vou carregar comigo nossas conversas e boas risadas

nos corredores do curso.

Isa Garantizado, com quem tive a honra de não apenas estudar, mas também de

trabalhar com ela e testemunhar sua enorme doçura e talento. Uma garota também muito

trabalhadora que passou por grandes desafios para poder se formar na Universidade.

Débora Toledo, minha amiga gótica e do heavy metal, muito estudiosa e extrema-

mente talentosa, tanto canta como também toca e escreve maravilhosamente bem. Trabalhamos

juntas também, conversamos sobre tudo, é uma amiga que vem me ensinando muitas coisas

novas. Débora passou por uma grande batalha no inicio desse ano, mas como a lutadora que

sempre foi a vida toda, ela venceu as adversidades e em breve estará de volta com mais brilho do

que nunca.

Cássia Sousa, minha amiga e irmã jedi, uma guerreira do bem, como os cavaleiros

jedi são em Star Wars. Ajudou-me diversas vezes, não apenas com essa monografia, mas em

trabalhos e projetos tanto da faculdade, quanto mesmo da Ufologia. Cássia é uma das pessoas

mais inteligentes e espertas que eu conheço e ela me brindou com a sua amizade e companhia e

espero levá-las por toda a vida.

Estefferson Torres, muito mais do que um a amigo, ele também é meu irmão. Foi

meu colega no curso de Física e mesmo depois de eu ter ido embora, nossa amizade perdurou,

e olha a ironia! Essa amizade começou na Biblioteca do Curso de Física, um lugar do qual eu

guardo memórias maravilhosas. Ele me apoiou diversas vezes, conheceu meus piores dramas

e sofrimentos e se hoje eu estou aqui finalizando essa graduação, muito eu devo a ele que me

socorreu quando eu mais precisava. Juntos compartilhamos o amor pela ciência, pelos filmes,

séries e a literatura. Que a nossa amizade possa durar por toda a vida e se existir outras vidas,

que possa continuar nelas também. Eu devo muito a você, muito obrigada por tudo.

Agradeço imensamente à D. Anésia Bayma, Margarida Lydia, Elza, Sigefredo

Pinheiro e a toda equipe de trabalho da Biblioteca do DNCOS (Departamento Nacional de Obras

contra a Seca), um lugar que me acolheu, onde aprendi demais e onde eu fui muito feliz. A

lembrança dessa época guardarei eternamente na memória.

Gostaria de agradecer também a minha prima Pedrita Maria, provavelmente uma

testemunha ocular desses anos em que cacei óvnis incessantemente. Viu muitas vezes o quanto

eu chorei e briguei para defender a ufologia, além daquele imenso amor pelo Fox Mulder que ela

conhece bem. Uma menina que vi crescer e que mais do que uma prima é também a irmã que a

Page 12: Documentos Ufológicos: o desafio para o acesso à informação · 2018-08-28 · ... gostaria de agradecer e relembrar todos os grandes guerreiros e percus-sores da ... humilhação

vida me deu.

Há muitos outros que gostaria de agradecer e que por motivo de puro esquecimento

comum eu não coloquei aqui, mas que eu carrego no coração e na lembrança e que foram

essenciais para meu crescimento e vitórias nessa vida cheia de obstáculos. Muito obrigada a

todos.

Page 13: Documentos Ufológicos: o desafio para o acesso à informação · 2018-08-28 · ... gostaria de agradecer e relembrar todos os grandes guerreiros e percus-sores da ... humilhação

“Eu vi o céu ameaçando o futuro, através de so-

nhos à noite. Eu vi os cães de guerra à solta, eu

vi o céu vermelho-sangue”

(Tristania - Exile)

Page 14: Documentos Ufológicos: o desafio para o acesso à informação · 2018-08-28 · ... gostaria de agradecer e relembrar todos os grandes guerreiros e percus-sores da ... humilhação

RESUMO

O presente estudo apresenta uma abordagem sobre a pesquisa ufológica e de como o acoberta-

mento de documentos e estudos relacionados ao Fenômeno UFO, feito por órgãos governamentais

e pelas Forças Armadas, prejudicaram a legitimação do mesmo ao longo de sua história. Este

trabalho também analisa a importância das campanhas civis realizadas pelos ufólogos usando a

Lei de Acesso a Informação para liberar alguns desses documentos, focando que esse acoberta-

mento governamental, em torno do assunto, fere diretamente as bases fundamentais da Ciência

da Informação e da Cidadania. A pesquisa caracteriza-se por ser de abordagem qualitativa, o

que possibilitou uma maior aproximação entre pesquisador e o objeto de estudo e a responder os

objetivos propostos. Os instrumentos de coleta de dados escolhidos foram a revisão de literatura

e aplicação de questionário, onde foi possível obter uma quantidade satisfatória de informações

necessárias para a conclusão desta pesquisa. Os resultados apontam para um processo de de-

sinformação generalizada ao longo dos anos que dificultou todo um processo de estudo civil

como científico do Fenômeno UFO e gerou, consequentemente, a desinformação para o grande

público.

Palavras-chave: Ufologia. Documentos. Lei de Acesso a Informação. Acobertamento. Desin-

formação.

Page 15: Documentos Ufológicos: o desafio para o acesso à informação · 2018-08-28 · ... gostaria de agradecer e relembrar todos os grandes guerreiros e percus-sores da ... humilhação

ABSTRACT

The present study presents an approach to ufological research and how the cover-up of documents

and studies related to the UFO Phenomenon, made by government agencies and the Military

Forces, have undermined its legitimacy throughout its history. This work also analyzes the im-

portance of the civil campaigns carried out by ufologists using the Law of Access to Information

to release some of these documents, focusing that this government cover, around the subject,

directly hurt the fundamental bases of Information Science and Citizenship. The research is

characterized by being of a qualitative approach, which made possible a closer approximation

between the researcher and the object of study and to answer the proposed objectives. The

chosen data collection instruments were the literature review and questionnaire application,

where it was possible to obtain a satisfactory amount of information necessary for the conclusion

of this research. The results point to a generalized disinformation process over the years that

made it difficult for a whole process of civil study as a scientist of the UFO Phenomenon and,

consequently, generated disinformation for the general public.

Keywords: Ufology. Documents. Law of Access to Information. Overcoating. Disinformation.

Page 16: Documentos Ufológicos: o desafio para o acesso à informação · 2018-08-28 · ... gostaria de agradecer e relembrar todos os grandes guerreiros e percus-sores da ... humilhação

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Caso 1: Ocorrência sobre Objeto Voador Não Identificado . . . . . . . . . . 63

Figura 2 – Caso 1: Transcrição de Gravação, Folha 03 . . . . . . . . . . . . . . . . . . 64

Figura 3 – Caso 1: Transcrição de Gravação, Folha 04 . . . . . . . . . . . . . . . . . . 65

Figura 4 – Caso 1: Transcrição de Gravação, Folha 05 . . . . . . . . . . . . . . . . . . 66

Figura 5 – Caso 1: Transcrição de Gravação, Folha 06 . . . . . . . . . . . . . . . . . . 67

Figura 6 – Caso 2: Documento com dados de OVNIs . . . . . . . . . . . . . . . . . . 68

Figura 7 – Caso 2: Relatório da Operação Prato e foto do objeto avistado . . . . . . . . 69

Figura 8 – Caso 2: Várias fotos de OVNI com alguns dados . . . . . . . . . . . . . . . 70

Figura 9 – Caso 2: Outro relatório da Operação Prato com foto anexada . . . . . . . . 71

Figura 10 – Caso 2: Foto de objeto desconhecido fotografado durante as missões da

Operação Prato em 1977 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 72

Figura 11 – Caso 3: Documento do Comando Aéreo de Defesa Aérea com o carimbo

“CONFIDENCIAL” . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 73

Figura 12 – Caso 4: Documento da Base Aérea de Anápolis com assunto “Acionamento

de Alerta” . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 74

Figura 13 – Caso 4: Transcrição de ocorrência dos dias 19 e 20 de maio de 1986 . . . . 75

Figura 14 – Caso 4: Outro documento com o título “Acionamento de Alerta” . . . . . . 76

Figura 15 – Caso 4: Relatório dos fatos ocorridos no Vôo de Alerta do dia 19 de maio de

1986 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 77

Figura 16 – Caso 5: Ocorrência sobre Objeto Voador Não Identificado . . . . . . . . . . 78

Figura 17 – Caso 5: Outro documento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 79

Page 17: Documentos Ufológicos: o desafio para o acesso à informação · 2018-08-28 · ... gostaria de agradecer e relembrar todos os grandes guerreiros e percus-sores da ... humilhação

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Tipos de Informação de caráter público . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55

Tabela 2 – Graus de sigilo e prazos de restrição . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 58

Tabela 3 – Nível Hierárquico e Graus de Sigilo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59

Tabela 4 – Temas sobre acesso à informação e onde encontrá-los na lei . . . . . . . . . 61

Page 18: Documentos Ufológicos: o desafio para o acesso à informação · 2018-08-28 · ... gostaria de agradecer e relembrar todos os grandes guerreiros e percus-sores da ... humilhação

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ABIN Agência Brasileira de Inteligência

ADESG Associação de Diplomados da Escola Superior de Guerra

APRO Aerial Phenomena Research Organization

CBU Comissão Brasileira de Ufólogos

CIA Central Intelligence Agency

CINDACTA Centro Integrado de Defesa e Controle de Tráfego Aéreo

COMAR Comando Aéreo Regional

COMDABRA Comando de Defesa Aeroespacial

DAI Direito ao Acesso a Informação

FAB Força Aérea Brasileira

FBI Federal Bureau of Investigation

FID Federação Internacional de Documentação

GSI Gabinete de Segurança Institucional

LAI Lei de Acesso à Informação

OEA Organização dos Estados Americanos.

ONU Organização das Nações Unidas

OVNIS Objeto voador não identificado

SETI Search For Extraterrestrial Intelligence

SNI Serviço Nacional de Informação

SST Supersonic Transport

UFOS Unidentified flying object

USAF United States Air Force

Page 19: Documentos Ufológicos: o desafio para o acesso à informação · 2018-08-28 · ... gostaria de agradecer e relembrar todos os grandes guerreiros e percus-sores da ... humilhação

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20

2 UFOLOGIA: A HISTÓRIA DE UM MISTÉRIO . . . . . . . . . . . . . 25

3 DOCUMENTOS: ASPECTOS INTRODUTÓRIOS . . . . . . . . . . . . 47

3.1 O Surgimento da Documentação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48

3.2 Documentos e Lei de Acesso a Informação . . . . . . . . . . . . . . . . . 51

4 O CONCEITO DE LIBERDADE E DE ACESSO À INFORMAÇÃO . . 55

4.1 Diretrizes Gerais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55

4.2 Quais Os Tipos De Informações Que Podem Ser Pedidas Pela LAI? . . . 56

4.3 Classificação, Sigilo e Responsabilidades . . . . . . . . . . . . . . . . . . 58

5 O QUE OS DOCUMENTOS UFOLÓGICOS NOS DIZEM? . . . . . . . 62

5.1 Caso 1 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 62

5.2 Caso 2: Operação Prato . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 62

5.3 Caso 3 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 63

5.4 Caso 4: A Noite Oficial dos ÓVNIs . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 63

5.5 Caso 5 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 77

6 METODOLOGIA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 80

6.1 Instrumento de Coleta de Dados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 83

7 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DE CONTEÚDO . . . . . . . . . . . . 85

7.1 Primeira Pergunta: “Qual a importância que os documentos ufológicos

liberados pela Aeronáutica para a Ufologia Brasileira?” . . . . . . . . . 85

7.1.1 Primeiro Bloco de Respostas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 85

7.1.2 Segundo Bloco de Respostas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 86

7.1.3 Terceiro Bloco de Respostas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 87

7.1.4 Quarto Bloco de Respostas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 88

7.1.5 Quinto Bloco de Respostas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 89

7.2 Segunda Pergunta: “Você acha que o segredo imposto pelas Forças Ar-

madas prejudicou o estudo científico do Fenômeno UFO?” . . . . . . . . 90

7.2.1 Primeiro Bloco de Respostas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 90

7.2.2 Segundo Bloco de Respostas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 91

7.2.3 Terceiro Bloco de Respostas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 92

Page 20: Documentos Ufológicos: o desafio para o acesso à informação · 2018-08-28 · ... gostaria de agradecer e relembrar todos os grandes guerreiros e percus-sores da ... humilhação

8 CONSIDERAÇÕES FINAIS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 94

REFERÊNCIAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 97

Page 21: Documentos Ufológicos: o desafio para o acesso à informação · 2018-08-28 · ... gostaria de agradecer e relembrar todos os grandes guerreiros e percus-sores da ... humilhação

20

1 INTRODUÇÃO

De tempos em tempos, a Humanidade passa por momentos de grandes mistérios

e descobertas, já que nossa história como civilização tem aproximadamente 40 mil anos1 e

só agora começamos a explorar o quintal do Sistema Solar e mesmo nosso próprio planeta

e os desafios que a natureza coloca a nossa frente, nunca deixa de nos surpreender. A Era

dos Discos Voadores começou pouco depois de um dos momentos mais críticos da História, a

Segunda Guerra Mundial, e continua até os dias de hoje, exigindo uma explicação de todos nós,

cientistas ou não. A Ufologia surgiu naqueles anos do pós-guerra, em 1947, de maneira estranha

e ameaçadora, onde objetos desconhecidos avançavam sobre casas, pessoas, bases militares,

seguiam aviões, helicópteros e interrompiam o espaço aéreo de grandes nações, como os Estados

Unidos. Coral Lorenzen (1962, p.17), uma das primeiras ufólogas do mundo e fundadora do

primeiro centro de pesquisa civil sobre óvnis, a Organização de Pesquisa de Fenômenos Aéreos

(APRO), explicou sobre os anômalos eventos que ocorreram após junho de 1947: “Foi como se

o céu se abrisse e expulsasse todos os tipos de coisas estranhas”. O medo era evidente, muitos se

perguntavam se estariam diante de uma nova guerra, se aqueles aparelhos eram originários de

algum país rival ou mesmo remanescentes da Alemanha Nazista, pois deixavam claro, pela forma

como se moviam e da suposta capacidade tecnológica que demonstravam, que não poderiam vir

de nenhuma potência conhecida.

A opinião pública, contaminada por anos de desinformação em torno no assunto,

nunca olhou seriamente para a causa que, por mais que fosse defendida por alguns intelectuais e

cientistas em diversas épocas, continuava de olhos fechados para ela.

James E. McDonald (1968, p.1)2, Doutor em Física Atmosférica, da Universidade do

Arizona, dizia que o Fenômeno UFO nada tinha de um “problema sem importância”, como comu-

mente era visto, mas, era sim, um assunto de extraordinário valor e interesse científico. Dezenas

de milhares de testemunhas garantem que, o Fenômeno UFO é real; os casos e evidências físicas

de sua atuação mostram isso e muitas desses casos, em algum momento, foram investigados

e catalogados de perto por autoridades das Forças Armadas de diversos países, inclusive do

Brasil. No entanto, essa documentação permaneceu por muitos anos sob sigilo, sem qualquer

explicação, sendo mantida assim por mais tempo do que o exigido. Os ufólogos, pesquisadores

civis do Fenômeno UFO, sempre se sentiram prejudicados com relação ao segredo imposto pelos1 Homo Sapiens Sapiens: <https://www.estudopratico.com.br/homo-sapiens-sapiens/>. Acesso em: 22/07/20172 Ufos - A Internacional Scientific Problem. Disponível em: <http://physics.princeton.edu/ mcdonald/JEMcDo-

nald> Acesso em 22/07/2017

Page 22: Documentos Ufológicos: o desafio para o acesso à informação · 2018-08-28 · ... gostaria de agradecer e relembrar todos os grandes guerreiros e percus-sores da ... humilhação

21

governos e militares sobre esse assunto, já que uma das bases da pesquisa ufológica tem como

principal objetivo a disseminação da informação sobre o Fenômeno UFO.

O desejo dos pesquisadores sempre esteve no fato de provar cientificamente a

realidade dos óvnis, assim como sua origem. Contudo, graças a informações extraoficiais e

vazamentos de documentos ao longo dos anos, sabia-se que os governos, em parceria com suas

forças armadas, investigavam óvnis com muito mais recursos e adquiriam mais informações

daquilo que descobriam do que os pesquisadores civis conseguiam sozinhos, mas nunca as

compartilhavam totalmente com o público e, o mais grave de tudo, usavam casos ufológicos que

chegavam à mídia para fazer uma campanha de desinformação perante a opinião pública, o que

afastou ainda mais a comunidade científica do interesse para com o Fenômeno UFO. Entretanto,

os ufólogos nunca descasaram em sua tentativa de conseguir tais informações, sempre barradas

por diversas classificações de sigilo, e por dezenas de anos pressionaram os Governos e as Forças

Armadas de seus países para que fossem liberadas.

Alguns países saíram na frente nessa liberação como o Chile3 e a França4, outros,

continuam retendo com rigor, seus documentos referentes ao assunto, como os Estados Unidos.

Já outros países, assim como o Brasil, começaram a abrir seus arquivos, ainda que timidamente,

mas, mesmo assim, uma grande vitória a todos que lutaram tanto para que essas informações

finalmente viessem a público. Muito mais do que meramente uma descrição estatística dos casos

envolvendo óvnis ao longo dos anos, esses documentos contém informações importantes para um

possível estudo científico mais aprofundado do Fenômeno e, consequentemente, sua legitimação

perante a comunidade científica mundial, o maior desejo dos ufólogos. E por qual motivo essa

informação é tão valiosa? Uma das mais fortes hipóteses quanto a origem dos UFOs é de que os

mesmos são de origem extraterrestre, como indagam diversos pesquisadores. James McDonald

(1968, s/n, tradução nossa), um dos maiores investigadores de UFOs da história, explica que:

Os tipos de casos envolvendo UFOs que são mais intrigantes, e apontam direta-mente para a hipótese extraterrestre, são os de avistamento de objetos em for-mato de máquinas de natureza, características e performances não-convencional,vistos em baixa altitude e muitas vezes até mesmo no solo. O público em geralestá inteiramente desavisado do grande número desse tipo de casos que vemde testemunhas de credibilidade que temem a ridicularização e a zombaria, oque faz muitas dessas testemunhas relutarem na hora de reportar esses estra-nhos incidentes. Quanto mais cedo nós levarmos a sério essa nova estância e

3 Governo Chileno reconhece UFOs. Disponível em: <https://www.ufo.com.br/artigos/governo-chileno-reconhece-ufos> Acesso em 15/12/2017

4 Governo Francês libera documentos oficiais sobre óvnis. Disponível em:<https://www.ufo.com.br/noticias/governo-frances-libera-documentos-oficiais-sobre-ufos> Acesso em:15/12/2017

Page 23: Documentos Ufológicos: o desafio para o acesso à informação · 2018-08-28 · ... gostaria de agradecer e relembrar todos os grandes guerreiros e percus-sores da ... humilhação

22

confrontarmos o problema dos UFOs com uma adequada e talentosa equipecientífica, menos vergonhosa será admitir que estamos desconsiderando umpossível problema de grande importância científica.5

Se essa hipótese é ou não verdadeira, somente uma vasta e profunda pesquisa

científica poderia responder, no entanto, tudo isso se torna inviável quando os governos, com

suas Forças Armadas, sonegam informações, distorcendo-as fazendo cair no descrédito público.

É dever de uma nação proteger dados e informações que possam colocar sua soberania em risco,

entretanto essa máxima parece não se adequar a esse imenso segredo em torno do Fenômeno

UFO, já que ele acontece em várias partes do mundo e atinge milhares de pessoas. Além disso,

ainda há falta de explicação para o fato de que os governos se esforcem tanto para esconder

os casos a ponto de intimidar as testemunhas6 e fazer com que ninguém mais as levem a sério.

Muito mais do que meramente um segredo de Estado, esse tipo de política fere diretamente o

direito ao acesso à informação.

A ânsia por explicações levaram centenas de pessoas ao redor do mundo a, por si

mesmas, procurar as respostas que os governos estavam se negando a dar. A minha justificativa

pessoal para a escolha desse assunto vem de muitos anos atrás, desde da tenra infância. É algo

que me instiga, que me fascina e que me acompanha até os dias de hoje. Como pesquisadora do

Fenômeno UFO, conheço de perto as dificuldades e a insatisfação dos ufólogos para conseguir

informações sobre grandes casos da Ufologia como, por exemplo, a Operação Prato e o Caso

Varginha, por se encontrarem classificados há anos nos arquivos governamentais, mas tendo

muito pouco ou nada liberados para consulta pública, mesmo depois que uma vasta campanha

por liberdade de informação mobilizou toda a Comunidade Ufológica Brasileira.

Esta pesquisa justifica-se no âmbito acadêmico, pelo fato de que toda essa documen-

tação contendo informações legítimas e oficiais sobre o Fenômeno UFO, pelos anos que foi

ocultada, fere os direitos básicos de acesso à informação, indo de encontro a tudo aquilo que a

Biblioteconomia e a Ciência da Informação pregam e defendem.

Le Coadic (2004) explica que a Ciência da Informação estuda a informação que é

tida como uma matéria-prima em que se baseia o processo comunicativo e que também deve

se preocupar com sua disseminação na sociedade. O direito à informação é essencial para

o exercício da cidadania, está previsto na Constituição7 na Organização das Nações Unidas5 Are UFOs Extraterrestrial Surveillance Craft?. Disponível em: <http://physics.princeton.edu/ mcdonald/-

JEMcDonald/mcdonald_ aiaa _032668.pdf> Acesso em 15/12/20176 Fato que será abordado no Capítulo 1 deste estudo.7 Direito ao Acesso a Informação, art. 5o inciso XXXIII, bem como no inciso II do § 3 do art. 37 e no §

Page 24: Documentos Ufológicos: o desafio para o acesso à informação · 2018-08-28 · ... gostaria de agradecer e relembrar todos os grandes guerreiros e percus-sores da ... humilhação

23

(ONU)8, e negá-las à sociedade é negar o direito legítimo ao conhecimento de um assunto que

pode significar uma das maiores descobertas da história humana. Martins e Presser (2015, p.

141) apontam que o Direito de Acesso à Informação (DAI) precisa de proteção jurídica, pois

trata-se de um direito essencial que é defendido tanto por leis internacionais como pela nossa

legislação nacional e que é pertinente em qualquer atividade humana.

Na atualidade, o DAI é um direito reconhecido pelas leis mundiais de direitos

humanos9, assim como o dever dos governos informar. Informação é direito fundamental,

destaca programa da ONU em fórum de direitos humanos:

O acesso à informação é inerente ao exercício da cidadania, promovendo,assim, o desenvolvimento cultural e político, primeiramente, das pessoas, econsequentemente da sociedade como um todo. A informação sempre foirelevante para o desenvolvimento humano, por seu alto grau de importânciae penetrabilidade em todos os setores da sociedade, seja no campo científico,seja como necessidade intrínseca em todos os aspectos da atividade humana.(FREIRE, 2008 apud MARTINS; PRESSER, 2015)

Por menores que sejam, as campanhas civis feitas em torno da liberação dessas

informações têm dado alguns resultados e aqui no Brasil, onde se concentra o nosso estudo.

Milhares de páginas referentes ao Fenômeno UFO, estão hoje disponíveis no Arquivo Nacional

para consulta popular. O esforço da Comunidade Ufológica aqui deve ser sempre lembrado, pois

mesmo tratando-se de uma parte relativamente pequena da população brasileira, os ufólogos

conseguiram unir-se em torno de um objetivo único e fazer valer seus direitos. Infelizmente, anos

e anos de negação oficial em torno desse assunto não prepararam os civis e nem os cientistas

para a consulta e estudo desse material.

Diante dos documentos já disponíveis a consulta popular, graças a campanha de

liberdade de informação encabeçada pelos ufólogos brasileiros, pretendemos questionar nesse

estudo: Até que ponto o sigilo em volta desses arquivos prejudicou a legitimação do Fenômeno

UFO?

A pesquisa tem como objetivo geral: demonstrar que os governos, especificamente,

o Governo Brasileiro, tem ocultado informações documentais sobre óvnis e por consequência

prejudicado diretamente a pesquisa ufológica e o possível reconhecimento científico do Fenô-

2 do art. 216 da Constituição Federal de 1988: <http://www.normaslegais.com.br/guia/clientes/direito-ao-acesso-a-informacao.htm> Acesso em: 28/11/2017

8 Informação é direito fundamental, destaca programa da ONU em fórum de direitos huma-nos: <https://nacoesunidas.org/informacao-e-direito-fundamental-destaca-programa-da-onu-em-forum-de-direitos-humanos/>

9 Presidência da República Casa Civil Subchefia para Assuntos Jurídicos:<http://www.planalto.gov.br/ccivil_ 03/_ ato2011-2014/2011/lei/l12527.htm> Acesso em 12/02/2018

Page 25: Documentos Ufológicos: o desafio para o acesso à informação · 2018-08-28 · ... gostaria de agradecer e relembrar todos os grandes guerreiros e percus-sores da ... humilhação

24

meno UFO. Como objetivos específicos pretendeu-se analisar o impacto desse acobertamento na

Ufologia.

A partir dos autores e pesquisadores do Fenômeno UFO, no capítulo um faremos

uma abordagem geral da história da Ufologia Moderna, como ela surgiu e como impactou

a sociedade e os governos das grandes potências, assim como suas forças armadas, além do

descaso da Comunidade Científica em lidar com toda essa situação. Trataremos também mais

profundamente do envolvimento governamental no acobertamento de informações sobre o

assunto e falaremos sobre a participação do Brasil, tanto no estudo do Fenômeno UFO, como em

suas próprias maneiras de omitir informações sobre o mesmo. Na segunda metade dos anos 90,

a Comunidade Ufológica Brasileira, embalada pelas comemorações do cinquentenário da Era

Moderna dos Discos Voadores, lançou uma intensa campanha por liberdade de informação, que

culminou com a liberação de parte do que o Governo Brasileiro e as Forças Armadas detinham

sobre os óvnis. Para esclarecer melhor a importância desses documentos e da campanha de

liberdade de informação encabeçada pelos ufólogos brasileiros, trataremos sobre documentação,

arquivo e Lei de Acesso à Informação nos capítulos 2 e 3 respectivamente.

Para uma melhor visualização das informações contidas nesses documentos, no

capítulo 4 desse trabalho, faremos uma descrição de alguns casos ufológicos que estão nos

documentos liberados até o momento pelas Forças Armadas, mostrando a gravidade e o impacto

que eles tiveram em situações de extremo risco para a população, como contato direto com

aviões civis e invasão do espaço aéreo.

A metodologia usada para alcançar os objetivos propostos no trabalho é apresentada

no quinto capítulo, onde são abordados os instrumentos utilizados para a pesquisa, que configura-

se, quanto à natureza, como qualitativa; quanto aos fins, como exploratória que, segundo Gil

(2008, p. 41) tem “como objetivo proporcionar maior familiaridade com o problema, com vistas

a torná-lo mais explícito ou a construir hipóteses.” Quanto aos fins, a pesquisa classifica-se como

bibliográfica. O Instrumento de coleta de dados utilizado foi o questionário, que para Gil (2008,

p. 114) é “[. . . ] um conjunto de questões que são respondidas por escrito pelo pesquisado”. O

sétimo e último capítulo apresenta as considerações finais acerca da pesquisa, verificando se os

objetivos foram alcançados.

Page 26: Documentos Ufológicos: o desafio para o acesso à informação · 2018-08-28 · ... gostaria de agradecer e relembrar todos os grandes guerreiros e percus-sores da ... humilhação

25

2 UFOLOGIA: A HISTÓRIA DE UM MISTÉRIO

Em 1947 completava-se dois anos do fim da Segunda Guerra Mundial, o mundo

tentava reconstruir-se, contabilizam os mortos e os governos trabalhavam para organizarem-se

em torno do novo cenário gerado com resultado do conflito. Foi naquele ano também que, de

acordo com SUTHERLY (2009), vários novos marcos e padrões de voos foram estabelecidos

e superados. Não havia dúvidas da nova realidade que se desenvolvia. A corrida espacial já

começava a ganhar suas principais formas com os trabalhos de Wernher von Braun na Alemanha

e depois nos Estados Unidos10 e foi nesse palco de desenvolvimento tecnológico e científico

que se seguiram durante o pós-guerra que surgiu um dos maiores mistérios do Século XX: A

Ufologia. Para se entender melhor esse termo, deve-se falar sobre o caso específico que lhe deu

esse nome. Durante a tarde de 24 de junho de 1947, o piloto Kenneth Arnold, na época com

28 anos de idade, sobrevoou o Monte Rainer no estado de Washington a procura de um C-46

Marine, avião militar de transporte, acidentado naquela região. Foi nesse momento, segundo

SUTHERLY (2009, p. 7) que:

[ . . . ] surpreendido por um brilho refletido na lateral do avião. Quando observouum segundo brilho, Arnold localizou a fonte: nove objetos reluzentes ao solvoavam para o sul em direção ao monte Baker, de forma escalonada, indo parafrente e para trás, entre os picos. Impressionado, não teve a menor possibilidadede pensar com calma e calcular a velocidade dos objetos enquanto passavamentre os montes Rainier e Adams, a 88 quilômetros no sentido sul. Os cálculossugeriram o impossível: os objetos voavam a cerca de 2.600 quilômetros porhora, muito além do que qualquer aeronave conhecida.

Ao descrever os movimentos dos objetos, Arnold se referiu a eles como “um disco

[. . . ] se você o arremessar para quicar na água.” Esse avistamento o colocou na mídia e a

contragosto, o tornou uma celebridade. De sua história relatada surgiu o termo “Disco Voador”,

da expressão em inglês “Flying Saucer” (BUENO, p.6). Mesmo não se tratando do primeiro

relato de objetos voadores não identificados nos céus, muitos deles, inclusive, chegaram a ser

testemunhados durante as batalhas áreas na Segunda Guerra, ganhando o nome de Foo Figthers

(ALBINO, 2003). Outros relatos parecidos, ainda mais antigos, alguns datando de bem antes do

século XIX, anterior a invenção do avião, também eram conhecidos, mas foi só a partir daquele

momento que o mundo começava a tomar consciência do estranho fenômeno que intrigava as

maiores autoridades do mundo e a população em geral. Após o incidente com Kenneth Arnold,10 Wernher von Braun. Disponivel em <https://pt.wikipedia.org/wiki/Wernher_von_Braun> Acesso em

20/10/2016

Page 27: Documentos Ufológicos: o desafio para o acesso à informação · 2018-08-28 · ... gostaria de agradecer e relembrar todos os grandes guerreiros e percus-sores da ... humilhação

26

uma onda de avistamentos dos agora chamados “Discos Voadores”, se alastravam por todo

mundo (NAUD, 1979), o que levou às primeiras tentativas de estudo do fenômeno. Grupos

civis em diversos países, compostos de várias pessoas, com diferentes formações e profissões se

uniram na tentativa de explicá-los.

A definição da alcunha Objetos Voadores Não Identificados, do termo em inglês

Unidentified Flying Objects ou simplesmente OVNIs ou UFOs (KEYHOE, 1953) foi criado em

1953 pela Força Aérea dos Estados Unidos. Nascia ai o que até hoje é conhecido como Ufologia,

uma junção com as palavras UFO e Logia. Os ufólogos, como ficaram conhecidos, começaram

seu trabalho de investigar e catalogar centenas de relatos de óvnis em suas regiões de atuação

e, desde o princípio, estavam sozinhos em seus estudos, já que a Classe Científica apresentava

um intenso desdém a tudo o que fosse relacionado à Ufologia. Hynek, ufólogo e professor em

astrofísica da Universidade de Chicago discorre sobre isso (1972, p.16) ao dizer que:

O mundo científico, sem sombra de dúvida, não se mostrou ’ansioso paradescobrir’ o que seria o fenômeno OVNI e não deixou transparecer nenhumatendência para se mostrar admirado. A atitude universal de quase todos oscientistas têm sido agressivamente negativa. Na verdade, quer nos parecer quea reação tem sido exageradamente fora de proporção com relação ao estímulo.A reação sobrecarregada emocionalmente e altamente exagerada que, de ummodo geral, tem sido demostrada pelos cientistas ao somente mencionar OVNIsseria de grande interesse para os psicólogos.

Richard L. Thopson (2002) analisa que apesar de alguns cientistas identificarem

que os dados sobre o Fenômeno UFO eram verdadeiros, o posicionamento da classe científica

predominante é de que, se não é possível explicar esses dados com base nos termos científicos

que se conhecem atualmente, então eles não tem explicação e isso tem a ver com o fato de que, na

visão dos cientistas, se as provas acerca de um evento diverge da visão científica vigente, elas são

simplesmente descartadas. Esse desinteresse da Classe Científica com relação ao Fenômeno UFO

chegava a um nível de absurdo aberrante, que envolvia, inclusive, destruição de documentação e

provas. Jacques Vallee, astrônomo que também viria a se tornar ufólogo, relata uma experiência

pessoal que o incentivou de vez a entrar para a Ufologia.

Passei a interessar-me seriamente pelo assunto em 1961, quando presencieialguns astrônomos franceses apagando certa fita magnética onde nossa equipede rastreamento de satélites havia gravado onze dados de ocorrência sobre umobjeto voador desconhecido que não era avião, balão ou alguma nave conhecidaque estivesse em órbita. “As pessoas ririam de nós se relatássemos isto!” foi aresposta que me deram na ocasião. “Melhor esquecermos tudo isto e não exporo observatório ao ridículo.” (VALLEE, 1961 apud THOMPSON, 2002, p. 44)

Page 28: Documentos Ufológicos: o desafio para o acesso à informação · 2018-08-28 · ... gostaria de agradecer e relembrar todos os grandes guerreiros e percus-sores da ... humilhação

27

É de grande espanto um ato como esse, perpetrados por homens da ciências, que

supõe-se serem os primeiros a mergulharem no mistério das coisas e tentar desvendá-las, mesmo

em momentos de grande dificuldade, como enfrentaram cientistas do passado como Hipácia de

Alexandria11 e Giordano Bruno12.

Para grande parte dos cientistas da época, os óvnis causavam um nível estrondoso de

repulsa e medo, mas para uns poucos, eles representavam um enigma digno de ser desvendado

e, ao menos para um famoso cientista da época, os discos voadores se tornariam sua principal

missão de vida. James McDonald, doutor em Física Atmosférica pela Universidade do Arizona e

também pesquisador de óvnis, tratou diversas vezes da desconsideração dos demais cientistas

pelo assunto. Segundo escreveu em seu artigo A Need for an International Study of UFOs13 (A

necessidade de um estudo internacional sobre Óvnis), ele argumenta que: “Cientistas ao redor

do mundo tem a tendência de ignorar os Óvnis como se eles fossem algum tipo de bobagem.”

(1968, p.11, tradução nossa). Esse menosprezo científico pela questão dos óvnis nunca deixou

de existir, apesar de que o envolvimento pessoal de cientistas como McDonald e Hynek e de seu

pupilo Jacques Vallee também astrofísico, tenham dado alguma credibilidade ao assunto. Logo

após o surgimento dos primeiros grupos de Ufologia e consequentemente dos resultados de suas

pesquisas, as hipóteses relacionadas às origens e causas desses fenômenos também começaram

a aparecer. O termo Objeto Voador Não Identificado, abrange várias possibilidades e logo os

pesquisadores tiveram que lidar com diversas delas, no entanto a que mais se destacou e que

permanece como a hipótese mais provável até os dias de hoje, se encontra na sua suposta origem

extraterrestre. Dr. James McDonald, que durante anos estudou, pesquisou e analisou diversos

casos ufológicos, acreditava que essa hipótese era a mais provável. Em uma palestra dada para o

Distrito de Columbia, casa da Sociedade Americana de Meteorologia em 1967, ele explica que:

Cuidadosamente pesquisando centenas dos melhores casos envolvendo UFOsde várias testemunhas confiáveis durante mais de 20 anos, revela que nãoé só impossível explicar todos eles nos termos da física atmosférica, mastambém, como outras categorias oficiais de hipóteses geofísicas, astronômicas,tecnológicas e psicológicas falharam em explicar o Fenômeno UFO. Razõesforam dadas para dar que a hipótese mais provável e a menos insatisfatória paraa natureza dos UFOs seja a hipótese extraterrestre. (MCDONALD14, 1967, p.3)

11 Hipácia de Alexandria: A primeira cientista de todas. Disponível em: <https://canaltech.com.br/internet/mulheres-historicas-hipacia-de-alexandria-a-primeira-cientista-de-todas-73227/> Acesso em 29/06/2017

12 Quem foi Giordano Bruno? O visionário queimado vivo há 418 anos: <http://www.bbc.com/portuguese/geral-43081130> Acesso em 04/11/2016

13 A Need For International Study Of UFOs by MCDONALD, James. Disponível em <http://physics.princeton.edu/~mcdonald/JEMcDonald/mcdonald_fsr_14_2_11_68.pdf> Acesso em 04/11/2016

14 Unidentified Flying Objcets: The Greatest Scientific Problem of our times. Disponível em: <http://physics.princeton.edu/~mcdonald/JEMcDonald/mcdonald_nicap_67.pdf> Acesso em 15/12/2017

Page 29: Documentos Ufológicos: o desafio para o acesso à informação · 2018-08-28 · ... gostaria de agradecer e relembrar todos os grandes guerreiros e percus-sores da ... humilhação

28

Como doutor em física, McDonald era um conhecedor de astronomia e entendia que

o Universo possuía vários sistemas estelares, galáxias e planetas e por essa razão, era bastante

sensível à possibilidade de vida fora da Terra, mesmo antes do estudo ufológico entrar em sua

vida. Diante das evidências de que esses objetos não identificados vigiavam e observavam

o ambiente e as pessoas, a possibilidade de que essas máquinas se tratassem de algum tipo

de inteligência extraterrestre ganhava mais força. Os casos envolvendo Objetos Voadores Não

Identificados continuavam a ocorrer em todo o território americano e com isso, documentos sobre

esses eventos eram criados com bastante frequência pelos órgãos militares. Para exemplificar isso,

citaremos um relatório sobre avistamentos ufológicos feito pelo Comitê Nacional de Investigação

de Fenômenos Aéreos publicado em 1964 chamado “The UFO Evidence”. Neste documento

constava uma tabela de 92 visões de óvnis por partes dos oficiais da Força Aérea Americana

entre os anos de 1944 e 1961:

Há 92 casos nessa tabela. Estão incluídos 24 casos de aviões da Força Aéreaperseguindo óvnis, sendo perseguidos ou repetidas vezes ameaçados por eles.Em outros vinte casos, um óvni parecia deliberadamente seguir um avião daForça Aérea (mas não persegui-lo) ou fazer um voo rasante sobre uma basemilitar. É difícil conciliar essas estatísticas com a conclusão oficial da ForçaAérea de que os óvnis jamais foram encarados como uma ameaça militar. Seisto é verdade, é de se supor que, volta e meia, os pilotos da Força Aéreapensam estarem sendo perseguidos por balões meteorológicos, meteoros ou oplaneta Vênus, além de volta e meia saírem atrás de tais objetos aos trambolhões.(THOMPSON, 2002, p.108)

Ao contrário do comportamento da maioria dos cientistas ao tratar do problema dos

óvnis, o Governo Estadunidense demonstrou bastante interesse nos mesmos. Ainda em 1947,

respondendo ao clamor popular diante da intensa onda ufológica que se seguia, a Força Aérea

Americana (USAF) criou o Projeto Sign, encabeçado pelo aviador Nathan Twining, então chefe

do Comando do Serviço Técnico Aéreo, que começou a valer no ano seguinte. Segundo trata

Haines (1998) o projeto tinha por objetivo buscar explicações para esse novo fenômeno que

se apresentava, coletando e avaliando toda a informação relativa aos óvnis, sob a premissa que

poderiam ser reais e uma ameaça à segurança nacional (JACOBS, 1975). Um ano depois, o

projeto mudou de nome e passou a se chamar Grudge e em 1951 foi rebatizado de Projeto Blue

Book (Livro Azul), permanecendo assim até o seu encerramento e 1969 (HYNEK, 1972).

Foi ainda sob o nome de Projeto Sign que Josef Allen Hynek, professor e astrônomo,

que naquela época ocupava o cargo de diretor do Observatório McMillin da Universidade Esta-

dual de Ohio, assumiu o comando de consultor científico do projeto (Jacobs, 1975). Inicialmente

um cético a respeito do Fenômeno UFO, como seus demais colegas cientistas, Hynek viu ali

Page 30: Documentos Ufológicos: o desafio para o acesso à informação · 2018-08-28 · ... gostaria de agradecer e relembrar todos os grandes guerreiros e percus-sores da ... humilhação

29

uma oportunidade de demonstrar ao público como funcionava o método científico, usando a

análise dos relatórios sobre Discos Voadores como um meio para mostrar que nada mais eram do

que invenção da imaginação das pessoas (Hynek, 1972). No entanto, a medida que os anos se

passavam e Hynek tinha mais contato com os relatos e a consistência deles, assim também como

a boa reputação e honestidade das testemunhas a quem entrevistava, sua opinião pessoal com

relação aos discos voadores começou a mudar.

Os relatórios examinados por Hynek desafiavam seu senso crítico e cada vez mais

intrigado, ele se convencia irremediavelmente da realidade UFOs, mas em contra partida, os

objetivos da Força Aérea com relação ao Projeto ficavam mais escusos. Hynek por sua vez,

discordava, mas na época, não chegou a enfrentar abertamente o governo com suas inquietações.

Apenas depois de 1969, quando o Blue Book se encerrou, foi que decidiu criticar o posiciona-

mento governamental ao tratamento que dava aos relatórios de óvnis. Em sua mais famosa obra,

“Ufologia – Uma Pesquisa Científica” , Hynek sentiu-se livre para questionar as manobras de

desinformação que a Força Aérea usava para desacreditar os relatos e as testemunhas dos óvnis.

Ao tratar sobre os Encontros Imediatos, classificação que usou para catalogar os casos ufológicos

que estudou, ele descreveu o tratamento duvidoso que recebiam da Força Aérea:

Um caso, não só coloca em foco a natureza do Encontro Imediato mas tambémfica registrado como um exemplo da maneira absurda como o Projeto LivroAzul investigava, às vezes, um caso. Seria muito difícil encontrar uma ilus-tração mais clara para o desrespeito de provas quando desfavoráveis a umaexplicação preconcebida. Se um desrespeito tão gritante quanto este quanto àsprovas ocorresse num tribunal, seria considerada uma caricatura abomináveldos procedimentos legais. A assombrosa falta de consideração e a distorçãodos fatos relatados, o descaso de não ouvir as testemunhas e uma estreiteza demente renitente e inflexível podem ser explicados ou como uma incompetênciano mais elevado grau ou como uma tentativa deliberada para apresentar umaaparência de incompetência devido a objetivos ulteriores. (HYNEK, 1972,p.114)

Seu colega cientista e também ufólogo James McDonald foi duramente mais incisivo

com relação às manobras de desinformação da USAF com relação à ufologia, denunciando-as

abertamente. Seu principal foco de ataque foi o Relatório Condon, outro projeto do governo

americano que visava explicar o Fenômeno UFO, posto em atividade em 196615. McDonald

também questionava o tratamento dado aos casos pesquisados pelos pesquisadores governamen-

tais, a quem acusava de não terem nenhuma formação em física ou astronomia, afirmando que15 The Condon Report. Disponível em: <http://www.avia-it.com/act/biblioteca/libri/PDF_Libri_By_Archive.

org/AVIATION/Final%20report%20of%20the%20Scientific%20study%20of%20Unidentified%20Flying%20Objects%20-%20Condon%20E..pdf> Acesso em 12/12/2016

Page 31: Documentos Ufológicos: o desafio para o acesso à informação · 2018-08-28 · ... gostaria de agradecer e relembrar todos os grandes guerreiros e percus-sores da ... humilhação

30

as investigações eram levadas de maneira muito superficial e de baixo nível de competência

científica, algo que ele chegou a comparar a um: “escândalo científico da maior gravidade”

(MCDONALD, 1966, s/n, tradução nossa). Em um dos seus artigos mais famosos “UFOs and the

Condon Report” (Os UFOs e o Relatório Condon), McDonald faz uma lista de alguns casos mal

explicados do projeto e mesmo aqueles que sequer foi dada qualquer explicação, permanecendo

como “inexplicado”. Ele denunciou toda a espécie de falta de rigor científico na investigação

dos casos, onde os investigadores ligados a Condon ignoravam fatos, testemunhas e muitas

vezes ajudavam na ridicularização delas perante a mídia e o grande público. Em outro artigo,

complemento desse, chamado UFOs and the Condon Report – A Scientist’s Critique (Ufos e o

Relatório Condon – Criticas de um cientista), ele escreve que:

Argumentações suspeitas e de fraca natureza científica são abundantes nos casosanalisados pelo Projeto [. . . ] Minha própria estimativa é que absolutamentenenhum progresso com relação ao esclarecimento científico da problemáticados UFOs vai sair enquanto as inadequações do Relatório Condon estejamtotalmente esclarecidas de todas as maneiras possíveis. (MCDONALD16, 1969,p. 01, tradução nossa).

McDonald deixava claro sua insatisfação tanto com o Projeto Blue Book como

o Relatório Condon que, segundo ele, além de não investigarem os casos ufológicos com

competência, também passavam informações incorretas para o público. O mundo estava diante

de um fenômeno inquietante que demandava a mais alta prioridade, no entanto, objetivos ocultos

dentro do governo estadunidense afastaram um maior interesse científico do assunto, além de

minar com ele diante da opinião pública. A polêmica em torno desse assunto estava longe

de se encerrar, não apenas o Projeto Blue Book ou o Relatório Condon estavam a disseminar

inverdades sobre os óvnis, como também ganhavam o apoio da Central de Inteligência Americana

(CIA).

Seguindo as pesquisas oficiais que a Força Aérea Americana fazia sobre o fenômeno

UFO, em 9 de Janeiro de 1953, Chadwell e H.P. Robertson, físico nuclear do Instituto Tecnológico

da Califórnia, com outros cientistas civis, formaram um grupo que também tinha a intenção

de estudar óvnis. Esse projeto teve apoio direto da CIA, mas de forma secreta. Seu objetivo

inicialmente era de rever o que se sabia sobre o assunto, analisar o que a população entendia

sobre o mesmo e se o fenômeno representava algum perigo à segurança nacional dos Estados

Unidos. No entanto, o grupo estudou apenas superficialmente os casos já investigados nos16 UFOs and the Condon Report - A Scientist’s Critique James E. McDonald. Disponível em:<http://physics.

princeton.edu/~mcdonald/JEMcDonald/mcdonald_resa_021269.pdf> Acesso em 15/12/2017

Page 32: Documentos Ufológicos: o desafio para o acesso à informação · 2018-08-28 · ... gostaria de agradecer e relembrar todos os grandes guerreiros e percus-sores da ... humilhação

31

arquivos da USAF e declararam precipitadamente que a maioria dos avistamentos poderia ser

facilmente explicada, se não todos! Tais conclusões foram publicadas em um documento que

ficou conhecido como Relatório Robertson. Esse documento, além de concluir que não havia

nenhuma prova da origem extraterrestre do Fenômeno UFO e que eles não representavam

qualquer ameaça à segurança do país, indicou que a ênfase das informações dadas pela imprensa

a respeito do assunto poderiam gerar instabilidade dentro do governo (HAINES, 1998).

É importante que se lembre que os Estados Unidos e a União Soviética estavam

vivendo a Guerra Fria e que os cuidados com a segurança do Estado e o medo de um ataque

do país inimigo eram questões muito sérias, o que levou o Relatório Robertson a aconselhar

que houvesse um controle com relação às informações sobre óvnis que chegassem à mídia, caso

contrário, tais informações poderiam levar à população a histeria em massa. HAINES (1998, p.

20) explica que:

Para confrontar esses problemas, O Comitê Robertson recomendou que oConselho Nacional de Segurança instituísse uma política de acobertamentooficial – embora disfarçada de educativa – para “tranquilizar” a populaçãosobre os discos voadores. Sugeriu-se a utilização de meios de comunicação,campanhas de propaganda, clube de negócios, escolas e até mesmo empresascomo a Disney para atingir a toda população. O grupo também recomendou quegrupos privados de Ufologia, tais como a própria Organização de Pesquisade Fenômenos Aéreos, fossem monitorados por desenvolverem atividadessubversivas.

O Comitê submeteu o relatório ao secretário de Defesa os EUA, ao diretor federal da

Defesa Civil e ao presidente do Conselho de Segurança Nacional. Essa atitude foi interpretada

como um maior distanciamento do interesse científico sobre os óvnis, o que acabou estimulando a

CIA a recusar-se a prestar qualquer esclarecimento sobre o assunto à Imprensa, pois alegava não

promover debates sobre temas não autorizados. No entanto, a Agência continuava a monitorar

avistamentos de ufos em todo o país, por conta do interesse militar por eles. Nesse meio

tempo, ela procurou saber de alguma instituição americana que por acaso tivesse feito algum

estudo independente sobre os óvnis e que fossem melhores do que o Relatório Robertson. Seu

objetivo era monitorar, sem interferir, já que qualquer menção sobre a participação da Central de

Inteligência nessa questão havia sido proibida.

Há de se estranhar que mesmo depois de tantas negativas a respeito da realidade dos

UFOS, a CIA e o governo estadunidense ainda mantivessem seu interesse sobre eles, mantendo-

o, inclusive, em segredo e não apenas isso. A impressão que começava a circular dentro da

comunidade ufológica era de que os EUA investiam dinheiro público em uma suposta pesquisa

Page 33: Documentos Ufológicos: o desafio para o acesso à informação · 2018-08-28 · ... gostaria de agradecer e relembrar todos os grandes guerreiros e percus-sores da ... humilhação

32

sobre óvnis que tinha como único objetivo negar a existência deles. O que também não fazia o

menor sentido, era o porquê de já que os UFOs aparentemente não existiam, por qual motivo

o governo negava acesso aos documentos dos casos que supostamente investigaram? Durante

toda a década de 50 e 60, a CIA assim como a USAF investigaram, catalogaram e arquivaram

centenas de documentos sobre casos ufológicos, todos secretos. Raymond Fowler, engenheiro e

também pesquisador de ufos, declara que:

Após anos de estudo, estou certo da existência de provas de observação de altaqualidade, por parte de testemunhas habilitadas e confiáveis, para indicar ofato de haver, em nossa atmosfera, objetos sólidos, parecidos com máquinas,tripuladas por alguma forma de controle inteligente [. . . ] Parece-me sensatodeduzir, que se idôneos cientistas e investigadores civis conseguiram chegara esta conclusão, então, a Força Aérea dos Estados Unidos, apoiada pelostremendos recursos a sua disposição, já deve ter concluído o mesmo há muitotempo. (THOMPSON, 2002, p. 117)

Donald Keyhoe, ufólogo e major aposentado da Marinha dos Estados Unidos defen-

deu a liberação de todas as informações relacionadas aos UFOs em seu livro The Flying Saucer

Conspiracy (KEYHOE, 1955). Grupos ufológicos civis, como o Comitê Nacional de Investiga-

ções de Fenômenos Aéreos (NICAP) e a já citada Organização de Pesquisa de Fenômenos Aéreos

(APRO), também exigiam essa liberação por parte do governo. A pressão aumentava e sem outra

escolha, a USAF deu permissão parcial à CIA para revelar alguns documentos sobre os UFOS.

No entanto, Phillip Strong, que era o oficial da Agência responsável pelos documentos pedidos

pelos ufólogos, recusou-se terminantemente a liberá-los, principalmente os mais reveladores. A

disputa entre Keyhoe junto os outros ufólogos contra a política de acobertamento do governo

americano não pararia aí e ainda duraria mais alguns anos.

James McDonald entra e desempenha um papel fundamental nesse processo.McDonald era um notável físico atmosférico da Universidade do Arizona e, emjunho de 1966, conseguiu acesso pela primeira vez ao Caso Durant, investigadodentro do comitê. Isso se deu em Wright-Patterson, a toda-poderosa base daUSAF no Ohio. No entanto, quando o cientista retornou àquela base maistarde, para copiar o relatório, como lhe havia sido prometido, A Força Aérease recusou a deixá-lo ver novamente o material, alegando que se tratava de umdocumento secreto da CIA. (HAINES, 1998, s/n)

Não apenas isso o irritou profundamente, como também sua visita à base militar

confirmou suas suspeitas de que a Força Aérea estava guardando centenas de casos ufológicos

fora do conhecimento público, fato conhecido inclusive por Hynek, que era o consultor científico

do Projeto Blue Book. Indignado, McDonald foi até o escritório de Hynek e bateu os punhos

contra sua mesa dizendo: “Como você pôde sentar-se ai com toda essa informação, por tantos

Page 34: Documentos Ufológicos: o desafio para o acesso à informação · 2018-08-28 · ... gostaria de agradecer e relembrar todos os grandes guerreiros e percus-sores da ... humilhação

33

anos sem alertar a Comunidade Científica?” (JACOBS, 1975 apud MCDONALD, 1966, p. 196,

tradução nossa) Hynek incrivelmente não se zangou com a reação violenta de McDonald, pelo

contrário. Ter encontrado um colega cientista que também aceitava a realidade do Fenômeno

UFO foi, como o próprio disse, “Uma brisa de ar fresco”, que acabou o incentivando a também

denunciar as manobras de acobertamento perpetrados pelo governo, como assim o fez no futuro.

(JACOBS, 1975, tradução nossa).

Conhecido como uma das autoridades máximas da Ufologia, McDonald denunciou

publicamente que a CIA estava por trás da política de acobertamento desempenhada pela USAF,

assim como outros órgãos dentro do governo americano. Sem medo do ridículo e sendo um

homem extremamente franco e impulsivo (Fuller, 1980)17, a comunidade ufológica tinha em

James McDonald o líder que ela tanto buscou na cruzada para tirar o véu do segredo imposto

pelo governo sobre os óvnis. JACOBS (1975, p. 195, tradução nossa) explana bem isso:

[ . . . ] McDonald lançou uma cruzada para alertar a comunidade científica daseriedade do problema. Pelos próximos anos ele escreveu milhares de cartassobre a problemática dos UFOs para cientistas, ufólogos, militares e cidadãoscomuns. Ele cruzou o país dando inúmeras palestras, entrevistas, discursos econversas privadas. Seu método de argumentação era sobrecarregar os ouvintescom a riqueza e detalhes documentados nos relatórios de Ufos.

Enquanto faz isso, McDonald continua seus ataques violentos contra o Projeto

Condon e o Projeto Blue Book, assim como seus colaboradores a quem suspeita de serem

“simples forças entre as mãos da CIA e da Força Aérea dos EUA. Fantoches manipulados que

desonram a ciência pelas suas ações contra a verdade.” (McDonald, 1968 apud NAUD 1980,

p. 285). As atitudes agressivas do Dr. McDonald em sua cruzada contra o acobertamento de

informações sobre óvnis não seria deixado de graça por aqueles a quem ele diretamente atacava,

pessoas fortes, políticos e cientistas influentes dentro do complexo científico-militar americano.

Surge em cena Phillip Klass, engenheiro e editor da revista Aviation Week and Space Technology,

mais um cético da realidade dos óvnis e que afirmava categoricamente que eles não passavam de

fenômenos atmosférico, batendo de frente com McDonald que era físico meteorologista e que

discordava de toda e qualquer alegação de Klass (JACOBS, 1975).

Era de espantar a ousadia de um homem como Phillip Klass que, apesar de engenheiro

não tinha nenhuma outra formação em ciências espaciais ou atmosféricas, se arriscar a dar

explicações meteorológicas para os óvnis e não apenas isso, ele atacou diretamente McDonald,17 Carta de Fuller. Disponível em: <http://www.fenomenum.com.br/ufo/governos/documentos/brasil/1980/1980_

john_fuller.pdf> Acesso em 22/05/2017

Page 35: Documentos Ufológicos: o desafio para o acesso à informação · 2018-08-28 · ... gostaria de agradecer e relembrar todos os grandes guerreiros e percus-sores da ... humilhação

34

tentou desqualificá-lo como pessoa e tentou prejudicá-lo como profissional. Jacobs (1975, p.

196) cita que ele: “[. . . ]engajou uma dura batalha e atrito contra McDonald” e chegou a inventar

para ao Escritório de Pesquisa Naval dos Estados Unidos que o Dr. McDonald usou fundos

do governo para financiar suas pesquisas sobre UFOs. A Marinha chegou a fazer um inquérito

interno para verificar irregularidades nas contas de McDonald, mas não encontrou nada fora

do comum. Aos que viam de fora, estava claro que as intenções de Klass não eram meramente

discordar sobre a existência dos óvnis, mas destruir McDonald de todas as formas possíveis,

justamente ele que era a maior autoridade em ufologia do planeta e que estava pressionando o

governo dos Estados Unidos a liberar suas informações sobre os UFOs.

James McDonald era um homem íntegro e exímio profissional, apesar das tentativas,

sua reputação jamais foi abalada, no entanto os ataques não cessaram. David Jacobs em seu

livro “The UFO Controversy In America” (1975) trata muito a respeito da história de James

McDonald como ufólogo e como cientista e de como ele lutou o quanto pôde e o fez até não ter

mais forças e a cada dia que passava ele via o seu sonho de levar a Ufologia a um status científico

cada vez mais distante. Suas posições políticas contra a Guerra do Vietnã, o arsenal atômico

e contra a destruição da camada de ozônio o tornaram um alvo ainda mais visado pelos seus

inimigos políticos. Passando por graves problemas familiares, ele chegou a sofrer humilhações

públicas por conta de sua crença em ufos em uma conferência contra o uso do avião Supersonic

Transport (SST).

Segundo Jacobs (1975), McDonald havia descoberto que o combustível do SST

poderia ter um efeito negativo na camada de ozônio, causando um crescimento dos casos de

câncer de pele. Durante seu testemunho no painel de Mudanças Climáticas no Congresso dos

Estados Unidos, o senador de Masschusetts Silvio O. Conte (apud, JACOBS, 1975), interrompeu

seu depoimento, diversas vezes, dizendo que: “Um homem que vem até aqui dizer que o avião

SST voando na estratosfera vai causar milhares de cânceres de pele tem que rever sua teoria

de que existem homenzinhos verdes voando por ai no céu.” Outros congressistas seguiram

com os ataques iniciados por Conte e outros riram, transformando a sessão toda numa imensa

humilhação pública contra McDonald e um ataque aos seus conhecimentos científicos. Todos

esses fatos juntos, além de um anterior estado de depressão, podem ter contribuído para que

James McDonald fosse levado ao terrível ato de desespero no amanhecer do dia 13 de junho de

1971. Sozinho em pleno deserto do Arizona, o corajoso homem que tanto havia lutado pelo fim

do segredo imposto aos óvnis, grande cientista e professor universitário, morria com um tiro na

Page 36: Documentos Ufológicos: o desafio para o acesso à informação · 2018-08-28 · ... gostaria de agradecer e relembrar todos os grandes guerreiros e percus-sores da ... humilhação

35

cabeça disparado por ele mesmo.

A Ufologia perdia seu líder e com ele os ufólogos viam suas esperanças do fim do

acobertamento se esvaírem. Hynek também era um cientista influente, mas ele não tinham nem

a força e nem a coragem que McDonald possuía, no entanto fez o que pôde a favor da causa.

Mesmo tendo suas discordâncias, Hynek sentiu bastante a morte do colega e isso deu a ele mais

impulso no caminho de continuar seu legado. Em 1972, ele lançava sua maior obra Ufologia:

Uma pesquisa Científica onde contou todos os bastidores do Projeto Blue Book. Esse livro se

tornaria uma bíblia entre os estudantes de ufologia, nele Hynek classificou os tipos de contatos

que em 3 categorias usadas até os dias de hoje como padronização em pesquisas ufológicas

(HYNEK, 1972):

• Contato Imediato de Primeiro Grau: Quando a testemunha avista um objeto não identifi-

cado no céu.

• Contato Imediato de Segundo Grau: Quando o objeto deixa algum efeito físico tangível ao

solo ou no ambiente ao redor, como queda de energia ou efeitos eletromagnéticos

• Contato Imediato de Terceiro Grau: Quando a testemunha avista o objeto perto de si,

pousado no solo ou percebe algum ser perto dele.

O papel de Hynek aqui se torna decisivo quando ao falar do Projeto Blue Book

denuncia, não somente a ridicularização dos casos que eram enviados para a imprensa, mas

também um fator ainda mais preocupante, a intimidação que as testemunhas dos ufos passaram a

sofrer.

A ridicularização propagada contra aqueles que testemunhavam ou pesquisavam

óvnis já era bastante corriqueira, mesmo aqueles que nunca estiveram por dentro do assunto

podem atestá-la. No entanto, outro aspecto desse processo de desinformação é tratado por uma

autoridade científica como Hynek. Testemunhas e mesmo investigadores de ufos sofriam ameaças

diversas desde os anos 50, se falava muito disso no meio ufológico, no entanto Hynek atesta e dá

diversos exemplos de como isso acontecia. Um dos eventos analisados por ele durante o projeto

Blue Book fala de um Encontro Imediato em novembro de 1961, onde 4 homens testemunharam

um pouso de uma aeronave iluminada em um campo desimpedido e deserto. Achando se tratar

de um acidente aéreo, os homens se aproximaram do aparelho procurando ajudar alguma vítima

quando se deparam com seres humanoides em volta do objeto, um inclusive acenou para que

eles se afastassem. O relato, segundo Hynek, segue com um dos homens afirmando quê:

No dia seguinte, muito embora não tivessem contado a ninguém a sua bizarraexperiência, segundo fui informado, um dos homens foi chamado no emprego e

Page 37: Documentos Ufológicos: o desafio para o acesso à informação · 2018-08-28 · ... gostaria de agradecer e relembrar todos os grandes guerreiros e percus-sores da ... humilhação

36

conduzido à presença de alguns homens que nunca vira antes. Pediram-lhe paraque os levasse até sua casa, onde examinaram a roupa que ele usava na noiteanterior, sobretudo as botas, e partiram sem dar a menor explicação. (HYNEK,1972, p. 161)

James McDonald, chegou a sofrer com este tipo de intimidação. Documentos que

estavam em seu poder, depoimentos e gravações de entrevistas com testemunhas ufológicas

foram roubados de dentro de sua maleta durante a passagem por um aeroporto (DRUFFEL,

2018)18. Pouco antes de sua morte, ele denunciou que carros pretos sem placa rondavam a

sua casa e seu escritório na Universidade do Arizona. Podia parecer paranoia na época, mas

recentemente, documentos liberados através da Lei de Liberdade de Informação nos Estados

Unidos (FOIA) comprovam que o FBI de fato, estava investigando Dr. McDonald e sua família19.

O dossiê sobre ele é vasto e grave, já que sugere que agentes infiltrados chegaram a se aproximar

de sua mulher, na época envolvida com movimentos sociais, a fim de investigar sua militância

dentro da Ufologia, como contatos com outros cientistas estrangeiros, inclusive soviéticos, coisa

que o já colocava numa lista negra de suspeitos de atos subversivos.

McDonald morreu sem saber de nada sobre esse assunto, o que torna a liberação de

documentos secretos do governo de fundamental importância. O caso de McDonald foi apenas

um exemplo, vários outros pesquisadores passaram pela mesma situação de espionagem, entre

eles Frank Scully autor de Behind The Flying Saucer (Por trás dos Discos Voadores) e Dr. Morris

K. Jessup20. Não só o governo estadunidense estava escondendo fatos relacionados aos óvnis,

como estava investigando seus pesquisadores.

A política de segredo imposto aos óvnis pelos EUA foi seguido de perto por outros

países. No Brasil não foi diferente, no entanto, antes do Golpe Militar de 1964, os militares

brasileiros demonstraram um interesse genuíno de compartilhar essas informações com os

pesquisadores civis. Em 1954, segundo PETIT (2007), o ufólogo Fernando Cleto Nunes Pereira

foi uma peça fundamental para servir de ponte entre os demais ufólogos e os militares pelo

seu envolvimento com o I Inquérito Confidencial sobre Objetos Aéreos não Identificados, uma

resposta da Força Aérea Brasileira (FAB) à grande onda de aparições de óvnis nos céus do

Brasil do mesmo ano. Cleto enviou uma carta ao próprio Ministro da Aeronáutica, o brigadeiro

Eduardo Gomes, dando detalhes dessa onda ufológica. Como resultado, ele foi convocado a18 DRUFFEL, Allies on UFOs, Hynek & McDonald. 2018. (120 min.), son., color. Disponível em: <https:

//www.youtube.com/watch?v=_bQ_NglpUhU>. Acesso em: 22 fev. 2018.19 FBI Files of Dr. James McDonald. Disponível em: <http://www.cufon.org/cufon/fbimcdon.htm> Acesso em

12/11/201620 A estranha Morte do Dr. Morris Jessup. Disponível em:<https://mummuo.wordpress.com/2013/01/21/

a-estranha-morte-do-dr-morris-jessup> Acesso em 13/06/2017

Page 38: Documentos Ufológicos: o desafio para o acesso à informação · 2018-08-28 · ... gostaria de agradecer e relembrar todos os grandes guerreiros e percus-sores da ... humilhação

37

comparecer ao Estado-Maior da Aeronáutica para uma reunião especial, onde pôde conhecer

várias testemunhas ufológicas que como ele haviam sido convocadas.

O ufólogo teve a oportunidade de ouvir depoimentos impressionantes de aviadores

civis e militares e demonstravam que algo de muito importante estava acontecendo no espaço

aéreo brasileiro. Outro evento importante dentro da Ufologia no mesmo ano foi a conferência

proferida pelo coronel-aviador João Adil de Oliveira, então chefe do Serviço de Informações do

Estado-Maior da Aeronáutica, no auditório da Escola Técnica do Exército e patrocinado pela

Associação de Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG). O texto dessa conferência

mostra toda a visão do conhecimento do militar sobre o assunto e alertava sobre o desafio desse

fenômeno. Já no início da exposição ele fala:

O problema dos discos voadores tem polarizado a atenção do mundo inteiro.É sério e merece ser tratado como tal. Quase todos os governos das grandespotências se interessam por ele e o tratam com seriedade e reserva, dado seuinteresse militar. (PETIT, 2007, p. 27)

O militar não pararia por ali e iria mais longe ainda ao abordar a presença de óvnis

também no passado remoto da Humanidade onde os mesmos se confundiam com manifestações

de origem divina e completou tratando de um dos mais importantes casos ufológicos daquele ano,

quando uma formação de UFOs sobrevoou Washington, a capital Norte-Americana, cujos os

registros cinematográficos foram mostrados posteriormente a militares de vários países (PETIT,

2007). É interessante notar aqui um aspecto bem mais receptivo à confirmação da realidade do

Fenômeno UFO do que jamais se mostrou dentro do governo estadunidense. No caso citado da

formação de óvnis sobre a capital de Washington21, o governo do país negou terminantemente

que o que ocorrera tivesse sido de origem desconhecida, mesmo que a explicação dada, até hoje

seja extremamente questionada22

Os militares brasileiros demonstravam estarem não só a par dos casos ufológicos

vivenciados em outros países, como também faziam suas próprias investigações internas sobre

o assunto dentro de nosso país. Casos ufológicos famosos como o Caso Ilha de Trindade e a

Operação Prato, que será tratada de forma detalhada mais a frente, também foram investigados

de perto pela Aeronáutica e uma rica documentação formada, detalhando aspectos físicos,

fotografias, filmagens e depoimentos. Tudo isso de enorme importância para a pesquisa civil na21 The 1952 Washington, D.C., Ufo Incident, Explained. Disponível em: <https://www.gaia.com/article/

1952-washington-dc-ufo-incident-explained> Acesso em 10/03/201722 Washington D.C. UFO Incident. Disponível em <https://en.wikipedia.org/wiki/1952_Washington,_D.C.

_UFO_incident> Acesso em 10/03/2017

Page 39: Documentos Ufológicos: o desafio para o acesso à informação · 2018-08-28 · ... gostaria de agradecer e relembrar todos os grandes guerreiros e percus-sores da ... humilhação

38

tentativa de provar a realidade do fenômeno a nível científico. No entanto, a medida que o tempo

passava e as instabilidades políticas no Brasil se tornavam ainda mais insustentáveis, a distância

entre os militares e os ufólogos civis ficava maior, até ser cortada de vez com o Golpe de 64.

A Operação Prato foi um vasto estudo e investigação encabeçados pela Aeronáutica

Brasileira na região amazônica de Colares no Pará. Sob o comando do Coronel Uyrangê Bolívar

Hollanda Lima, entre os anos de 1977 e 1978, tinha como objetivo averiguar estranhos relatos

de aparições de luzes e aparelhos desconhecidos que perseguiam e muitas vezes atacavam à

população, o que deixou a região em pânico, a ponto de haver um êxodo em massa. Como

mostra o depoimento de um dos agentes A-223 em Colares:

“A cidade de Colares vive um estado de histeria coletiva. Seus moradores im-pressionados com o aparecimento de misteriosas luzes de origem desconhecida,não dormem, não pescam – principal atividade da população – e, sobretudo,se debilitam na bebida, gastando seus parcos recursos em fogos24 e bebidas.”(PETIT, 2007, p.161)

PETIT reforça que (2007, p.147) “Aqueles objetos desciam do céu, paralisavam as

pessoas e supostamente retiravam algum material mediante raios de luz”. Grande parte das

vítimas dos “aparelhos”, como ficaram conhecidos os objetos popularmente, sentiam paralisia

nos membros, seguida de um calor intenso e deixava pequenas cicatrizes de queimadura na pele.

Sem qualquer explicação médica, física ou psicológica que pudesse explicar os eventos na cidade

e as consequências no povo, O I Comando Aéreo Regional (COMAR) de Belém, a pedido do

prefeito da cidade, iniciou suas pesquisas em Colares em nas regiões vizinhas.

O que resultou dessa investigação foram impressionantes relatos, vídeos, fotos e

depoimentos que estão presentes em uma vasta documentação mantida em segredo pela Força

Aérea e que foi um dos principais alvos dos pedidos de Liberdade de Acesso à Informação feita

pelos ufólogos. Porém, antes das primeiras páginas deses documentos serem liberadas 30 anos

depois de forma oficial, como veremos mais adiante, a insatisfação por conta do segredo em

torno dessa investigação atingia até mesmo os oficiais envolvidos com a operação. Petit (2007)

relata sobre um militar que era contrário ao acobertamento em torno do caso, repassou para um

de seus contatos, de fora da estrutura militar, cópias de alguns relatórios das missões e fotos

durante as experiências de contato.

No ano de 2004, após uma série de conversas e reuniões que visavam o próximo

passo da ufologia brasileira, dois dos principais pesquisadores de óvnis do país, Ademar José23 Oficiais secretos da inteligência da Aeronáutica24 Os fogos eram utilizados pela população na esperança de que pudessem espantar os objetos.

Page 40: Documentos Ufológicos: o desafio para o acesso à informação · 2018-08-28 · ... gostaria de agradecer e relembrar todos os grandes guerreiros e percus-sores da ... humilhação

39

Gevaerd e Marco Antonio Petit se encontram para refletir sobre os desejos da Comunidade

Ufológica há muito negligenciada pelo Governo Federal. A Insatisfação dos pesquisadores com

relação ao acobertamento militar imposto aos casos de óvnis foi o estopim para o que se tornaria

um dos maiores movimentos de pressão popular em torno da revelação do Fenômeno UFO

em todo o mundo: “Ufos – liberdade de informação já”. Após essa reunião, os dois ufólogos,

convocaram os outros membros da Comissão Brasileira de Ufólogos (CBU), formada pelos mais

renomados pesquisadores do país no ano de 1997, quando se deu o I Fórum Mundial de Ufologia

em comemoração aos 50 anos da Era Moderna dos Discos Voadores. Dentro de poucas semanas

uma grande movimentação dentro dos bastidores da Ufologia se deu para que a Campanha

alcançasse as ruas, a internet e não apenas os ufólogos ou entusiastas do assunto, mas também a

população em geral.

O objetivo estava em recolher assinaturas pelo país, anexá-las ao Manifesto da

Ufologia Brasileira e levá-las ao encontro de nossos líderes governamentais e militares com

o objetivo de que a Lei de Liberdade de Informação fosse respeitada e que os arquivos e

documentos referentes aos casos ufológicos sob o poder do Governo Federal fossem, enfim,

divulgados para toda a população brasileira e consequentemente do mundo. O Manifesto também

solicitava como o marco inicial do processo de desacobertamento, que os militares abrissem seus

arquivos sobre dois dos grandes casos da Ufologia Nacional: A Operação Prato e a Noite Oficial

dos Óvnis, acorrida em maio de 1986, quando o espaço aéreo da região Sudeste foi invadida por

mais de vinte objetos voadores não identificados e que foram perseguidos de perto por caças da

Força Aérea Brasileira.25

O Manifesto é descrito a seguir esclarecendo todos os posicionamentos da Comuni-

dade Ufológica Brasileira, assim como seus pedidos:

A Comunidade Ufológica Brasileira, representada por ufólogos individuaise grupos de pesquisas, investigadores e estudiosos, simpatizantes e entusias-tas da Ufologia, que firmam o presente abaixo-assinado, reúnem-se atravésdesse documento, sob coordenação da REVISTA UFO, para dirigirem-se àsautoridades brasileiras, neste ato representadas pelo excelentíssimo senhorpresidente da República e pelo ilustríssimo senhor ministro da Aeronáutica,para apresentar os seguintes fatos:

1. É de conhecimento geral que o Fenômeno UFO, manifesto através deconstantes visitas de veículos espaciais ao planeta Terra, é genuíno, real econsistente, e assim vem sendo confirmado independentemente por ufólogoscivis e autoridades militares de todo o mundo, há mais de 50 anos.

2. O fenômeno já teve sua origem suficientemente identificada como sendoalheia aos limites de nosso planeta, e os veículos espaciais que nos visitam

25 Invasão. Disponível em: <http://www.ufo.com.br/artigos/invasao> Acesso em 22/05/2017

Page 41: Documentos Ufológicos: o desafio para o acesso à informação · 2018-08-28 · ... gostaria de agradecer e relembrar todos os grandes guerreiros e percus-sores da ... humilhação

40

de forma tão insistente são originários de outras civilizações, provavelmentemais avançadas tecnologicamente do que a nossa, que coexistem conosco nouniverso, ainda que não conheçamos seus mundos de origem.

3. Tais civilizações encontram-se num visível e inquestionável processo decontínua aproximação da Terra e de nossa sociedade planetária, e, assimagindo, em suas manobras e atividades, na grande maioria das vezes nãodemonstram hostilidade para conosco.

4. É notório que as visitas de tais civilizações não-terrestres ao nosso pla-neta têm aumentado gradativamente nos últimos anos, segundo comprovamas estatísticas nacionais e internacionais, tanto em quantidade quanto emprofundidade e intensidade, representando algo que requer legítima atenção.

5. Em virtude do que se apresenta, é urgente que se estabeleça um programa ofi-cial de conhecimento, informação, pesquisa e respectiva divulgação pública doassunto, de forma a esclarecer a população brasileira a respeito da inegável ecada vez mais crescente presença extraterrestre na Terra. Assim, considerandoatitudes assumidas publicamente em vários momentos da história, por paísesque já reconheceram a gravidade do problema, como Chile, Bélgica, Espanha,Uruguai e China, respeitosamente recomendamos que o Ministério da Aeronáu-tica da República Federativa do Brasil, ou algum de seus organismos, a partirdeste instante, formule uma política apropriada para se discutir o assunto,nos ambientes, formatos e níveis considerados necessários. A ComunidadeUfológica Brasileira, neste ato representada pelos estudiosos nacionais abaixoassinados, com total apoio da Comunidade Ufológica Mundial, deseja oferecervoluntariamente seus conhecimentos, seus esforços e sua dedicação para quetal proposta venha a se tornar realidade e que tenhamos o reconhecimentoimediato do Fenômeno UFO. Como marco inicial deste processo, e que sim-bolizaria uma ação positiva por parte de nossas autoridades, a ComunidadeUfológica Brasileira respeitosamente solicita que o referido Ministério abraseus arquivos referentes a pelo menos dois episódios específicos e marcantesda presença de objetos voadores não identificados em nosso Território:

(a) A Operação Prato, conduzida pelo I Comando Aéreo Regional (COMAR),de Belém (PA), entre setembro e dezembro de 1977, que resultou em volumosocompêndio que documenta com mais de 500 fotografias e inúmeros filmesa movimentação de UFOs sobre a Região Amazônica, da forma como foiconfirmado pelo coronel Uyrangê Bolívar Soares de Hollanda Lima.

(b) A maciça onda ufológica ocorrida em maio de 1986, sobre os Estados doRio de Janeiro e São Paulo, entre outros, em que mais de 20 objetos voadoresnão identificados foram observados, radarizados e perseguidos por caças ajato da Força Aérea Brasileira (FAB), segundo afirmou o próprio ministroda Aeronáutica na época, brigadeiro Octávio Moreira Lima. Absolutamenteconscientes de que nossas autoridades civis e militares jamais se descuidaramda situação, que tem sido monitorada com cuidado e atenção ao longo dasúltimas décadas, sempre no interesse da segurança nacional, julgamos que atomada da providência acima referida solidificará o início de uma próspera eproveitosa parceria. (GEVAERD et al., 2007)

A partir da edição 98 da Revista UFO, abril de 2004 e através do site da Revista

UFO (www.ufo.com.br), a petição para que Governo brasileiro libere as informações oficiais que

retém sobre os óvnis e que reconheça a atividade dos ufólogos brasileiros, que esforçadamente

lutam para que o assunto seja de conhecimento público. Fernando A. Ramalho26 destaca o

desenrolar do movimento:26 O fim do Segredo. Disponível em:<http://www.ufo.com.br/artigos/o-fim-do-segredo/> Acesso em 21/03/2017

Page 42: Documentos Ufológicos: o desafio para o acesso à informação · 2018-08-28 · ... gostaria de agradecer e relembrar todos os grandes guerreiros e percus-sores da ... humilhação

41

Em poucos meses o movimento atingiu número significativo de assinaturas,assim como quase apoio total dos integrantes da Comunidade Ufológica Bra-sileira e de outros ramos do conhecimento paracientífico e até científico naci-onal. No incio de 2005 já eram contabilizadas mais de 70 mil assinaturas noabaixo-assinado, assim como a propaganda junto às instituições governamentaiscomeçavam a surtir efeito. Em todo esse processo, a ajuda da imprensa foiimprescindível. (RAMALHO, 2009, n/p)

Tanta repercussão e tanto debate, além da visibilidade na mídia teria sua recompensa

no ano seguinte ao início da campanha. Em maio de 2005, a Comissão Brasileira de Ufólogos

(CBU) foi convidada pelo Comando da Aeronáutica, juntamente com o jornalista da Rede Globo

Luiz Petry, a verificar alguns dos documentos solicitados pelos ufólogos durante a Campanha.

Logo depois veio a histórica visita ao Centro Integrado de Defesa e Controle de Tráfego Aéreo

(CINDACTA). Nesse encontro, o Manifesto da Ufologia Brasileira foi entregue nas mãos dos

militares presentes no local. Em seguida, no Comando de Defesa Aeroespacial (COMDABRA),

a CBU teve acesso à algumas das pastas confidenciais e puderam ter a certeza de que os militares

brasileiros se interessavam por fenômenos ufológicos e tinham provas disso. Marco Antonio

Petit (2007) relata com entusiasmo suas impressões durante esse encontro:

Além das pastas a que tivemos acesso, os militares permitiram ainda queconhecêssemos o ambiente onde as mesmas estavam arquivadas. Em um arquivometálico com várias gavetas, que nos foi mostrado, havia pastas referentes amuitos casos de observação de discos voadores que envolvem diretamentemilitares da FAB. Algumas delas eram relativas a anos específicos. Na verdade,havia naquele arquivo pelo menos uma pasta para cada ano, desde 1954 –época em que foi realizado o primeiro estudo sobre Ufologia dentro das ForçasArmadas, o I Inquérito Confidencial sobre Objetos Aéreos Não Identificados.Uma daquelas pastas, referente ao ano de 2001, apesenta mais de 90 casos.(PETIT, 2007, p.214)

No entanto, naquela presente momento, os pesquisadores puderam apenas ver os

documentos, nenhum deles pode fotografar, tirar cópias ou escrever nada referente ao que tinham

visto. Questionados sobre o momento em que aquilo viria ao público, tudo o que receberam como

resposta foi a promessa de que, em breve, todas aquelas coisas seriam disponibilizadas. Durante

a visita, também foi pedido aos militares que fosse criado um grupo civil-militar que estudasse

e investigasse profundamente a atividade ufológica em nosso país e cuidasse do processo de

esclarecimento do fenômeno para o grande público, o que, infelizmente, até o presente momento,

não foi feito (Petit, 2007).

A visita ao CINDACTA e COMDABRA em Brasília foi acompanhada de perto pela

imprensa e teve uma reportagem especial exibida no programa Fantástico em 22 de junho daquele

ano. Entretanto, passaram-se meses e nenhuma resposta sobre a liberação dos documentos havia

Page 43: Documentos Ufológicos: o desafio para o acesso à informação · 2018-08-28 · ... gostaria de agradecer e relembrar todos os grandes guerreiros e percus-sores da ... humilhação

42

sido dada, nem pela Aeronáutica e nem pelo Governo Federal, forçando novamente a Comissão

Brasileira de Ufólogos a fazer uma Campanha, outra vez, através da Revista UFO N◦ 115, de

outubro de 2005, pedindo explicações sobre o que havia sido prometido durante a visita. Petit

(2007) reforça que durante as conversas com os militares da Aeronáutica ouviu diretamente de

Atheneu Azambuja, major-brigadeiro e figura máxima do COMDABRA na época que:

[ . . . ] apesar de serem detectados por nossos radares e de existirem registros dapresença dos artefatos não identificados em nosso céu, nós [os militares] nãonos consideramos em condições de dar o tratamento científico ou uma respostaapropriada para o que está acontecendo em nosso país. Isto é tarefa para ospesquisadores civis. (PETIT, 2007, p.218)

Todavia, como será mostrado mais a frente, os militares, em especial, os da Aeronáu-

tica, faziam sim pesquisas e estudos relacionado aos UFOs, como no caso da Operação Prato,

que pesquisou uma grande invasão de óvnis no Pará em 1977 e com o SIOANI, Sistema De

Investigação De Objetos Aéreos Não-Identificados, um grupo de estudos formado por militares

da Aeronáutica que pesquisava casos relacionados à Ufologia durante os anos 60 e 70. Contudo,

a afirmação do major-brigadeiro Azambuja teve um efeito imediato no que se refere à liberação

desses documentos. Se apenas os pesquisadores civis estavam aptos a analisar todos aqueles

casos, tal só poderia acontecer se essas informações fossem disponibilizadas ao público.

A legislação atual referente aos assuntos e características sigilosas, apesar de jáprever a desclassificação dos documentos reservados, confidenciais, secretose ultra-secretos, a partir de prazos diferenciados, nasceu sob a visão estreitados problemas relacionados aos interesses pessoais dos atingidos por fatores doregime militar. Um documento sigiloso que já tenha atingindo idade necessáriapara sua desclassificação, para ser acessado, por um dos eventuais envolvidoscitados no mesmo. Este é um entrave burocrático que torna o processo paraobtenção de documentos anteriormente sigilosos, pelo menos no caso dos docu-mentos ufológicos, algo sem sentido. Independente de uma revisão necessáriana atual Legislação, o assunto se reveste hoje de tamanha importância, a partirda crescente atividade ufológica constatada em termos planetários, que detalhesdeste tipo não podem continuar a impedir a população de ter acesso à verdade.(PETIT, 2007, p. 220)

O pedido que Petit tanto faz em sua obra, nada mais é do que o pedido de um cidadão

que anseia pela informação, que precisa dela para exercer o seu trabalho, aquilo que ama e que se

vê numa situação, como todos nós, de ter essa informação negada, mesmo sendo prevista por lei,

é desrespeitada e ignorada por conta de uma política de segredo ainda não totalmente esclarecida

e pela burocracia política que se coloca acima dos direitos da população. Outro problema,

segundo Ramalho (2009) reside no próprio Governo Federal, com seus relacionamentos civis e

militares pouco transparentes.

Page 44: Documentos Ufológicos: o desafio para o acesso à informação · 2018-08-28 · ... gostaria de agradecer e relembrar todos os grandes guerreiros e percus-sores da ... humilhação

43

Alguns anos se passaram depois dessa visita e mesmo com o silêncio das Forças

Armadas, a campanha continuou. Muita pressão foi feita depois disso, com matérias sendo

exibidas em canais de televisão e em reportagens da própria Revista UFO e em outros canais de

mídia escrita. Ficou também decidido que dever-se-ia acionar instâncias superiores da burocracia

governamental para abrir os primeiros arquivos. Até que no ano de 2007, a Aeronáutica começou

a liberar os lotes com documentos referentes a objetos voadores não identificados por décadas e

enviando-as ao Arquivo Nacional, começando pelos anos 50 e assim por diante, mas ainda não

era o suficiente. Ramalho (2009) também nos conta que naquele mesmo ano, entrou em ação do

Dossiê UFO Brasil, protocolada pela Casa Civil da Presidência da República instando todo o

Governo Federal a cumprir a então vigente Lei de Acesso à Informação 11.111/2005, revogada

depois pela 12.527/2011, e liberar suas informações ufológicas para consulta pública.

O governo deu sua resposta nos dias 31 de outubro e em 14 de dezembro de 2008,

quando foi enviado ao Arquivo Nacional um grande volume dos documentos da Aeronáutica

catalogados entre 1952 e 1969. Nesse volume também foi liberado aquele que é, segundo o

Gabinete de Segurança Institucional (GSI), o único registro ufológico do que foi o Serviço

Nacional de Informação (SNI), que hoje é conhecida como Agência Brasileira de Inteligência

(ABIN), que revelava a investigação feita por agentes civis de um dos mais temidos órgãos da

Ditadura Militar sobre a Operação Prato. No entanto, essa primeira leva de documentos liberados

foi extremamente frustrando para a maioria dos ufólogos. Ramalho (2009, s/n) ao falar sobre

essa primeira leva disponibilizada pela Ministério da Defesa, no Arquivo Nacional, definiu como

que as Forças Armadas tivessem usado o “jeitinho brasileiro” para enrolar os pesquisadores.

Os documentos liberados naquele momento não passavam de 1% do que havia sido pedido na

Campanha de Liberdade de Informação. Só tinha 231 páginas de cópias xerox mal feitas e

recortes de jornal.

“A sensação geral que ficou na CBU, após a confirmação do parco material, foi ade que esse primeiro ato do Ministério da Defesa não passou de uma brincadeirade mau gosto, tentando-se passar um atestado de estupidez e incompetência aosufólogos signatários do Dossiê UFO Brasil.” (RAMALHO, 2009, s/n)27

A desconfiança com relação as promessas que foram feitas em torno da liberação

do material ufológico ainda era muito grande, mesmo após a reunião e todas as promessas27 Documentos ufológicos já estão disponíveis para consulta pública no Ar-

quivo Nacional, em Brasília. Disponível em: <https://www.ufo.com.br/noticias/documentos-ufologicos-ja-estao-disponiveis-para-consulta-publica-no-arquivo-nacional-em-brasilia>Acesso em 22/11/2017

Page 45: Documentos Ufológicos: o desafio para o acesso à informação · 2018-08-28 · ... gostaria de agradecer e relembrar todos os grandes guerreiros e percus-sores da ... humilhação

44

que foram feitas aos representantes da CBU. Não era de se estranhar, depois de tantos anos de

negação oficial do Governo em ralação aos UFOs, era natural que houvesse um ar de ceticismo

por parte dos ufólogos, mas não passaria muito tempo para que as coisas começassem a dar um

resultado mais significativo, já que as ações da Campanha UFOs Liberdade de Informação Já,

não parariam:

Cientes da primeira fresta aberta na política brasileira de acobertamento mi-litar, a CBU entremeada por várias ligações telefônicas entre este autor e aSubchefia de Assuntos Jurídicos (SAJ) da Casa Civil, aguardou pacientementea manifestação do Governo sobre o que fora enviado ao Arquivo Nacional,para posteriormente darmos nosso parecer. Na segunda-feira, 05 de janeiro, talparecer – já apelidado de vírus do macaco – foi enviado à SAJ. O documentorelacionava vários casos faltantes no primeiro lote vindo do Comando da Ae-ronáutica principalmente a versão oficial daquela arma para a Operação Prato.Ora, como podia o SNI liberar uma versão e a Aeronáutica manter a sua emsigilo? (RAMALHO, 2009, p.14).

Novamente se mostravam claras, as dificuldades em se obter acesso a documentação

relacionado aos UFOs, mesmo com toda a campanha e a adesão não só dos pesquisadores

mas da sociedade. A questão é que no domingo, dia 11, uma matéria de página inteira e com

anúncio de capa saía no jornal Folha de São Paulo28 tratando dessa enorme façanha perpetrada

pelos ufólogos brasileiros em pressionar o governo a liberar os documentos referentes aos óvnis.

A reportagem também trazia a declaração de que nova solicitação fora feita à Presidência da

República e que se o Governo não cumprisse a Lei, um mandado de segurança a ser impetrado no

Supremo Tribunal Federal era a saída que a CBU tinha para conseguir a documentação solicitada.

Após 5 meses, mais 12 envelopes contendo documentos da década de 70 foram enviados ao

Arquivo Nacional, entre eles 30 depoimentos colhidos durante as investigações da Operação

Prato (Ramalho, 2009). Este presente momento de abertura ufológica mundial, que se tem visto

em outros países como Inglaterra29, Chile30 e França31 é uma resposta a tudo o que é e já foi

feito em prol da credibilidade e do esclarecimento público sobre a possibilidade das visitas de

seres extraterrestres ao nosso planeta serem reais e estarem acontecendo há anos. Essa é uma luta

que está longe de seu fim, atualmente o número de documentos liberados passa dos dez mil, mas

os ufólogos creem que ainda existam outros milhares aptos a serem disponibilizados ao público.28 SNI investigou óvnis durante a ditadura. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/fsp/brasil/

fc1101200907.htm> Acesso em 12/03/201729 Inglaterra revela seus segredos. Disponível em: <http://www.ufo.com.br/artigos/

a-inglaterra-revela-seus-segredos>. Acesso em 12/03/201730 Governo Chileno reconhece Ufos. Disponível em: <http://www.ufo.com.br/artigos/

governo-chileno-reconhece-ufos>. Acesso em 12/03/201731 Dossiê Cometa: <http://www.ufo.com.br/artigos/dossie-cometa-franca-revela-seus-segredos> Acesso em

12/03/2017

Page 46: Documentos Ufológicos: o desafio para o acesso à informação · 2018-08-28 · ... gostaria de agradecer e relembrar todos os grandes guerreiros e percus-sores da ... humilhação

45

O assunto em si parece ser um tema restrito a poucos, mas isso não é uma realidade.

Segundo a Equipe UFO (2013), este é um tema recorrente nos pedidos da Lei de Acesso à

Informação32:

Segundo a CGU, existe um número significativo de pedidos a respeito deobjetos voadores não identificados, que têm sido rejeitados sob a justificativade inexistência da informação. Alguns requerentes que tem seu pedido negadoestão recorrendo a CMRI [Comissão Mista de Reavaliação de Informações], aúltima instância prevista pela Lei de Acesso. Já são 73 recursos ao órgão, sendoque um terço está relacionado a pedidos feitos ao Comando da Aeronáutica.(REVISTA UFO, 2013, s/p)

Este resultado demonstra que a necessidade informacional sobre o assunto óvni é

um apelo de toda a sociedade brasileira, não se resumindo a um único grupo e que a negação

dessa informação caracteriza uma situação grave para o governo e seus representantes e fere

diretamente a ideia principal da Ciência da Informação: a cidadania criada a partir da dissemina-

ção da informação, quanto mais se tratando do que pode ser a maior descoberta da História da

Humanidade, a de que não estamos sós no Universo. Assim explica Ricardo VARELA (2014,

n/p), na época, conselheiro da Revista UFO: “Com a liberação destes documentos, pela primeira

vez na história da Ufologia Brasileira podemos observar que houve um estudo metódico sobre

o Fenômeno UFO por nossas Forças Armadas. Temos assim a comprovação de que devemos

procurar mais”. Um exemplo claro disso está, por exemplo, num tipo de documento que deixou

muitos pesquisadores impressionados. Dois calhamaços contendo 333 páginas semelhantes

a dois cadernos com o nome de Resumo Estatístico de Objetos Voadores Não Identificados.

Um deles contendo a descrição de ocorrências ufológicas entre os anos de 1954 a 1999, e o

outro que vai até o ano 2000. Esta classificação como “secreto” nos dois relatórios, segundo

Ramalho (2014) é provavelmente por conta de alguns dados muito peculiares neles contidos

sobre a suposta presença extraterrestre no Brasil, tais como referências ao contato de testemunhas

com tripulantes de UFOs e que são descritos nos calhamaços como contato com Ets em algum

tipo de contato imediato.

Ou seja, o que temos nestes documentos oficiais da Aeronáutica recém-liberadose agora disponíveis a todos é a admissão formal e taxativa de que ocorreramcontatos com ETs em nosso país. Um tiro certeiro no coração dos céticos, cujascríticas, em pleno ano 2014, ainda tratam os UFOs como ilusão. Outra peculia-ridade desses dois cadernos, vistos pelos militares como resumos estatísticos,está no fato de eles informarem o envolvimento do serviço de inteligência da

32 Ufos são assuntos recorrentes nos pedidos de lei de acesso a informação. Disponível em:<http://www.ufo.com.br/noticias/ufos-sao-assunto-recorrente-nos-pedidos-da-lei-de-acesso-a-informacao> Acessoem 12/03/2017

Page 47: Documentos Ufológicos: o desafio para o acesso à informação · 2018-08-28 · ... gostaria de agradecer e relembrar todos os grandes guerreiros e percus-sores da ... humilhação

46

Aeronáutica nas investigações de ocorrências ufológicas no país, o chamadoA2. Os ufólogos sempre souberam da relação direta entre os UFOs e o A2 noscasos oficiais, mas a arma nunca o havia citado abertamente. Mas, apesar dosavanços com a Aeronáutica, ainda se lastima a falta de engajamento de outrossetores do meio militar brasileiro. (RAMALHO, 2014, s/p)

Ou seja, mais uma vez estamos diante de uma realidade que não pode mais ser

negada. Os documentos liberados até o momento admitem a realidade de um fenômeno que há

muito tempo vem sendo investigado e registrado pelos ufólogos e agora se sabe que também

pelos militares da Aeronáutica, que além de tudo trata o assunto em nível de inteligência militar,

mostrando assim não só sua legitimidade como também sua seriedade. Ao se referir a esses

fenômenos como de origem extraterrestre, eles corroboram o que há 50 anos, nas primeiras

décadas da pesquisa ufológica, o que James E. Mcdonald afirmava em seus trabalhos.

“Segundo meu ponto de vista, a hipótese da origem extraterrestre para osUFOs, de acordo com a impressionante massa de evidências que se acumularamdurante esse vinte anos de avistamentos, aparece ser (eliminando todas as outraspossíveis possibilidades) a hipótese mais satisfatória ” (MCDONALD33, 1968,p.37, tradução nossa)

A hipótese extraterrestre aqui é tratada abertamente, quase aceita como uma una-

nimidade do que se diz respeito a investigação de óvnis, no entanto, somente uma pesquisa

aprofundada no assunto, feita por autoridades científicas competentes podem confirmar, com

certeza, ou não essa hipótese. A importância desse tipo de informação é extrema, não apenas se

tratando do ponto de vista da Ciência da Informação, mas também de que enquanto ela é negada

por tanto tempo, 70 anos aproximadamente, impede o estudo científico da mesma. Como já foi

discutido, uma das causas da negligência científica com relação ao Fenômeno UFO, tem a ver

com a má informação que ele tem e com acobertamento que lhe é imposto pelas altas esferas

governamentais e militares.

33 UFOS – A Internacional Scientific Problem. Disponível em: <Link>

Page 48: Documentos Ufológicos: o desafio para o acesso à informação · 2018-08-28 · ... gostaria de agradecer e relembrar todos os grandes guerreiros e percus-sores da ... humilhação

47

3 DOCUMENTOS: ASPECTOS INTRODUTÓRIOS

Neste capítulo, trataremos dos conceitos básicos sobre o termo documentos e tudo

mais que ele engloba e o que significa. Para falarmos de documentos, primeiro teremos que

falar sobre informação, que pode ser definida como um conjunto de elementos, que passam uma

mensagem sobre um certo evento ou acontecimento e que possibilita a resolução de problemas e a

tomada de decisões, quando levado em conta o seu conhecimento. Para CAPURRO; HJORLAND

(2007, p.149):

A palavra informação tem raízes latinas (informatio). Antes de exploramos estecaminho, deveríamos examinar este verbete no The Oxford English Dictionary(1989). Devemos considerar os dois contextos básicos nos quais o termoinformação é usado: o ato de moldar a mente e o ato de comunicar conhecimento

É um fenômeno que dá significado às coisas, através de um conjunto de signos e

dados. Nesse caso, por outro ângulo, é colocado que a informação é um fenômeno que garante

significado às coisas e é através desse aglomerado de signos e dados que se modela o pensamento

humano. Esses dados são assimilados pelos sentidos uma vez incorporados, acabam por gerar

a informação necessária para produzir conhecimento. Para uma melhor administração dessa

informação, a necessidade de organizá-la se tornou óbvia, os documentos, então, surgiram a

seguir.

ZAHER (1988 apud ALMEIDA, 2000 p.29) define que documentação é “o processo

de reunir, classificar e distribuir documentos em todos os domínios da atividade humana.” Lopes

(1996) discorre que: “os seres humanos produzem informação de modo arbitrário, de acordo

com as relações que estabeleçam entre si e a natureza.” E que seus atos, são em si uma fora

de produzir informação. Segundo VIEIRA (2005, p.1) “Documento é tudo que registra uma

informação independente do valor que a ela venha a ser atribuído. O mesmo documento ou

informação muda de valor pela ótica de quem visualiza.” Segundo CAUDE (s.d., p.8)

“A palavra ‘documento’ vem do latim ’DOCURE’ que significa ensinar. É umobjecto material que nos ensina algo de novo ou que nos recorda uma coisaesquecida. Na realidade, é um OBJECTO que representa factos, acontecimentos,situações mais ou menos simples, mas que nos são necessárias para viver.”

No entanto, é bom que se esclareça que, também segundo Vieira (2005) dentro desse

conceito, qualquer objeto pode ser considerado um documento, já que todo objeto, pelo simples

fato de existir já pode nos possibilitar um elemento de informação ou conhecimento. Com o

surgimento da ciência veio também a obrigação do objeto como elemento indispensável para ela.

Page 49: Documentos Ufológicos: o desafio para o acesso à informação · 2018-08-28 · ... gostaria de agradecer e relembrar todos os grandes guerreiros e percus-sores da ... humilhação

48

Com sua evolução, apareceram outros meios de prova e outras diversidades de documentos. Para

BELOTTO (2006, p.35): Segundo a conceituação clássica e genérica, documento é qualquer

elemento gráfico, iconográfico, plástico ou fônico pela qual o homem se expressa. É o livro, o

artigo de revista ou jornal, o relatório, o processo, o dossiê, a carta, a legislação, a estampa, a

tela, a escultura, a fotografia, o filme, o disco, a fita magnética, o objeto utilitário etc., enfim,

tudo o que seja produzido, por motivos funcionais, jurídicos, científicos, técnicos, culturais ou

artísticos, pela atividade humana.

Segundo a definição do Dictionnaire encyclopédique de l’information et docu-mentation (2001), a informação se define como um registro de conhecimentospara sua transmissão. Isso significa que os conhecimentos devam ser inscritosnum suporte que possibilitem a sua conservação. No entanto, muitas definiçõessobre informação são descritas pelos mais diversos autores da Ciência da Infor-mação, no nosso caso, vamos nos ater ao significado da informação dentro desua representação documental.

Um documento é criado por vários motivos e é isso que determina o seu uso e conse-

quentemente seu destino para armazenamento. No caso das bibliotecas e museus o documento

destino será didático, cultural, técnico ou científico. Os administrativos, jurídicos e históricos

são destinados aos arquivos.

3.1 O Surgimento da Documentação

No decorrer do tempo, com o aparecimento das instituições, empresas e governos,

as pessoas viram a necessidade de organizar seus documentos ou para atestar seus direitos ou

para usá-las como provas, dessa maneira surgiram os arquivos. Assim, de acordo com VIEIRA

(2005, p.4) “Com o aparecimento dos institutos de pesquisas e os históricos, o mundo foi

se documentando. Começou a preocupação do Estado com sua história; os pesquisadores e

historiadores, entretanto necessitavam de fontes para pesquisar”. Para o homem civilizado, o

conhecimento é uma condição prévia para todo o tipo de ação. Fora os atos que são meramente

reflexos ou involuntários, a vida é uma sequência de esforços de predição, organização e

ordenação das nossas atividades, como pessoas e como membros da sociedade. Dessa maneira,

como bem define CAUDE (s.d.,p. 25)

O documento não é apenas conservador do passado e veículo do amanhã, é tam-bém objeto real. Retomando uma definição da União Francesa dos Organismosde Documentação (U.F.O.D.), chamaremos documentos a: qualquer objectosusceptível de ser utilizado para consulta, estudo ou prova.

Page 50: Documentos Ufológicos: o desafio para o acesso à informação · 2018-08-28 · ... gostaria de agradecer e relembrar todos os grandes guerreiros e percus-sores da ... humilhação

49

Queiroz; Moura (2015 apud Pinheiro, 2002) explana que com o surgimento da

ciência moderna durante o século XVI se inciaram os encontros das sociedades científicas, onde

os cientistas através de cartas, comunicavam suas descobertas e pesquisas, afim também de

assegurar o direito autoral de suas descobertas. Foram essas cartas que foram responsáveis pelo

processo de informação no meio científico. Isso gerou uma grande quantidade de informação e

novos tipos de suporte para documentos como filmes, microfilmes, fitas magnéticas, discos e

etc. Essa transformação ficou conhecida como “explosão da informação”, o que incentivou o

aperfeiçoamento das técnicas de registro e análise dos documentos.

Segundo Meyriat (1981 apud Ortega 2016) um documento pode ser produzido ou

não com a intenção de ser um documento, no sentido de produção, e objeto que pode ser usado

como um documento, já que é o seu uso que definirá se isso acontecerá ou não. Ainda segundo

ORTEGA (2016, p.6-9):

Os documentos são objetos abordados informacionalmente. O documento sedefine por uma instância física (seu suporte material) e uma instância simbólica(informativa, conteudística), sendo que esta última é sempre uma atribuição, ouseja, não é inerente ao objeto. A dimensão informativa do documento não éprevia, é construída no momento da interpretação. Se o documento é objeto éconstruído, ou seja, não existe a priori, ou in natura, o documento bibliográficotambém não é objeto pré-existente, mas depende de ações de significação que otornem como tal.

Para SMIT (1986) a documentação como hoje é conhecida na atualidade surgiu

a partir do sonho de dois advogados belgas Henri La Fontaine e Paul Otlet, que em 1892

criaram o Instituto Internacional de Bibliografia que tinha por objetivo reunir em fichas toda

a produção bibliográfica mundial. Em 1931, esse instituto passaria a se chamar Instituto

Internacional de Documentação e desde então a palavra “Documentação” começa a tomar espaço

nas discussões e debates, apesar da ideia principal do instituto, que era a de reunir toda a produção

bibliográfica mundial em único lugar, não ter dado certo. No entanto, foi na década de 30 que

teve início as técnicas de documentação, onde em 1937 tem-se a realização do 1◦ Congresso

Mundial de Documentação em Paris e no ano seguinte, em 1938, é criado o FID (Federação

Internacional de Documentação). Durante a década de 40, a documentação se aproxima daquilo

que posteriormente seria conhecido como Informática e desde então sua evolução tem-se dado

de forma cada vez mais rápida. A documentação também vai arrumar a informação, já que ela é

a preocupação principal e para isso se torna necessário analisar o conteúdo dos documentos:

Esta análise significa, de fato, uma operação de resumo, sendo que os conceitosresumidos receberão nomes, por sua vez seguindo também de certas normas.

Page 51: Documentos Ufológicos: o desafio para o acesso à informação · 2018-08-28 · ... gostaria de agradecer e relembrar todos os grandes guerreiros e percus-sores da ... humilhação

50

Uma vez os documentos assim descritos e analisados, é possível estocá-los... eachá-los (SMIT, 1986, p.16)

Para o processo de análise informacional que vem a partir dos dados disponibilizados

por esses documentos, faz parte da área de atuação dos profissionais da informação ou como

afirma Belotto (2006) “Recolher, tratar, transferir, difundir informação, é o objetivo corrente

de arquivos, bibliotecas, museus, e centros de documentação. Existe um antigo ditado popular

que afirma que quem tem informação, tem poder e lhe dá vantagens com relação a dinheiro,

trabalho, investimentos e a documentação está conectada a esse poder. Um homem documentado

não é aquele que meramente possui uma quantidade enorme de informações de vários tipos,

mas é aquele que sabe como incorporar as suas informações e os conhecimentos dispersos em

documentos, num conjunto coeso e universal. Briet (1960 apud ALMEIDA, 2000) trata que uma

estrela no firmamento pode não representar em si um documento, porém se a mesma estrela é

identificada e acompanhada em um laboratório de astronomia, ela se torna um documento. O

conhecimento que ele trará para todos aqueles que se interessarem por ele será parte de pesquisas

científicas e para efeitos futuros.

Documentos, como define RONCAGLIO; SZVARÇA; BOJANOSKI (2015, p. 1) é

um termo também polissêmico e pode ser qualquer suporte que registre informações, desde de

escavações geológicas, registro de materiais de antigas civilizações, mapas, contatos privados

e etc. E a partir do momento em que tudo isso é considerado História, todos esses registros

deixados pela Humanidade servem para provar, informar, comprovar e refletir sobre determinado

caso ou fato.

Como já foi dito, um arquivo é um conjunto de documentos oficialmente produzidos

e recebido por um governo ou organização para uso posteriores, mas para usá-los adequadamente,

de maneira rápida e inteligente, eles devem ocupar um lugar apropriado e racional, um domicílio.

De acordo com CAUDE (s.d.) as ações que determinam esse lugar são de natureza intelectual

(classificação) e material (ordenação e arranjo). A classificação equivale a um certo número de

classes em que serão inseridos esses documentos, a principal característica dessa classificação

metódica é permitir a reunião por classes de elementos documentais entre si, facilitando assim a

ordenação e as pesquisas.

Page 52: Documentos Ufológicos: o desafio para o acesso à informação · 2018-08-28 · ... gostaria de agradecer e relembrar todos os grandes guerreiros e percus-sores da ... humilhação

51

3.2 Documentos e Lei de Acesso a Informação

Belotto (2006) nos diz que existe uma série de dúvidas com relação a origem do

temo arquivo. Ele pode ter surgido na Grécia sob a alcunha de arché que se referia ao palácio

dos magistrados e acabou evoluindo para archeion, um local onde se guardava documentos. Para

VIEIRA (2005, p. 9) “Os arquivos, embora ainda desprezados e desconhecidos, são sem dúvida,

os guardiões do elemento que moveu, move e moverá o mundo: A INFORMAÇÃO.” Todos

esses arquivos e documentos oficiais produzidos por uma instituição ou órgão federal como

as Forças Armadas e o Governo Federal estão sujeitos às regras e leis próprias desse governo.

As informações que eles contém são de grande importância não apenas histórica, mas também

estratégica:

A informação produzida, guardada, organizada e gerenciada pelo Estado é umbem público, e o acesso a ela deve ser restringido somente em casos específicos.O acesso a esses dados constitui-se em um dos fundamentos para a consolidaçãoda democracia, ao fortalecer a capacidade dos indivíduos de participar de modoefetivo da tomada de decisões que os afeta. (BRASIL. Controladoria Geral DaUnião, 2011, p.9)

Nessa questão, entramos na parte jurídica do que se refere ao direito do cidadão

de ter acesso a essas informações. Segundo o que nos diz a Cartilha de Procedimentos para

Classificação de Informação de Grau de Sigilo do Governo Brasileiro (2017), o primeiro marco

legal a respeito do direito ao acesso à informação aconteceu na Suécia no ano de 1766. Já

em 1888 a Colômbia estabeleceu um código que liberou o acesso aos documentos do governo.

Nos Estados Unidos a Liberdade de Informação foi aprovada em 1966, já no México em 2002,

assim como outros países da América Latina. O acesso à informação é um direito fundamental

reconhecido por Organismos como a Organização das Nações Unidas (ONU) e a Organização

dos Estados Americanos (OEA). No Brasil, o acesso à Informação está previsto na Constituição

Federal de 1988 (CF/88) como direito fundamental, em seu art. 5o, inciso XXXIII:

Todos têm direito a receber dos órgãos públicos informações de seu interesseparticular, ou de interesse coletivo ou geral, que serão prestadas no prazo da lei,sob pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindí-vel à segurança da sociedade e do Estado.

Este dispositivo é regulamentado pela Lei de Acesso à Informação, assim como os

artigos constitucionais 37 e 216:

Art. 37. § 3o A lei disciplinará as formas de participação do usuário naadministração pública direta e indireta, regulando especialmente: (. . . ) II – o

Page 53: Documentos Ufológicos: o desafio para o acesso à informação · 2018-08-28 · ... gostaria de agradecer e relembrar todos os grandes guerreiros e percus-sores da ... humilhação

52

acesso dos usuários a registros administrativos e a informações sobre atos degoverno, observado o disposto no art. 5o, X e XXXIII; (. . . ).

Art. 216. § 2o Cabem à administração pública, na forma da lei, a gestão dadocumentação governamental e as providências para franquear sua consulta aquantos dela necessitem.

Colocado esse direito em prática, o Brasil regulamenta o acesso à informação pública

sob tutela do Estado e estabelece procedimentos para que se responda às solicitações dos cidadãos

que assim desejam usá-la, definindo assim que o acesso se torna uma regra e o sigilo a exceção.

A instituição de um sistema que permita o acesso à informação tem como objetivo vencer uma

política de sigilo, também chamada pela Cartilha de Acesso à Informação Pública de “Cultura

do Segredo” (Brasília, 2011). Nesse tipo de cultura, a gestão pública é ordenada pelo princípio

de que a circulação e divulgação da informação representa um perigo. Isto causa a criação de

obstáculos para que as informações sejam disponibilizadas, sob alguns tipos de argumentos de

que:

• O cidadão só poderiam pedir informações que lhe digam respeito direto

• Os dados requeridos podem ser usados de forma indevida por grupos de interesse

• Os Pedidos dos cidadãos podem ser um problema, pois sobrecarregam os servidores

compromete e outras atividades

• É tarefa da chefia decidir pela liberação ou da informação requerida

• A população ainda não está preparada para desempenhar o direito de acesso à informação.

É interessante analisar o último item listado, pois uma das desculpas apontadas

pelos ufólogos de que, a documentação ufológica ainda não esteja totalmente disponibilizada

pelos governos, se encontra no fato de que a população ainda não está preparada para saber

o conteúdo dela, o que poderia ocasionar um choque que abalaria os alicerces da sociedade

moderna. O conceito de que não estamos sozinhos no Universo, é mais antigo do que se parece,

sendo proposto por Demócrito, no século quinto antes de Cristo, baseando-se na popularização

dessa ideia o neuropsicólogo Gabriel G. de la Torre, da Universidade de Cádiz divulgou um

estudo onde indaga se os astrônomos responsáveis pela procura de vida inteligente no Universo

através de sinais de rádio feitas pelo SETI, Search For Extraterrestrial Intelligence (Procura por

inteligências extraterrestres),também deveriam mandar mensagens ativamente para eles34 . O

questionamento de De la Torre é qual o impacto que essa decisão causaria no planeta e se as

pessoas estão preparadas para isso. Buscando por essa resposta, ele executou uma pesquisa com34 Are you ready for contact with extraterrestrial intelligence? Disponível em:<http://www.kurzweilai.net/

are-you-ready-for-contact-with-extraterrestrial-intelligence> Acesso em 12/03/2018

Page 54: Documentos Ufológicos: o desafio para o acesso à informação · 2018-08-28 · ... gostaria de agradecer e relembrar todos os grandes guerreiros e percus-sores da ... humilhação

53

116 estudantes universitários dos Estados Unidos, Espanha e Itália. O questionário usado, aborda

pontos relacionados às crenças religiosas, conhecimento de astronomia e suas opiniões com

relação a um possível contato extraterrestre. Os resultados colhidos por La Torre constatam que

a Humanidade ainda não está preparada para esse tipo de contato.

Esse estudo demonstrou que o conhecimento do público em geral sobre oUniverso e o lugar que temos nele muito pobre. Assim, uma conscientizaçãoglobal deve ser reforçada, utilizando a melhor ferramenta possível: a educação.Não podemos nos reduzir em nome de referências morais nesse ponto, pois defato é uma questão mundial com um componente ético muito forte, do qualtodos devemos participar. (DE LA TORRE, 2014, tradução nossa)

A questão do entendimento da vida extraterrestre como uma transformação social

não deve ser um empecilho para que as informações sobre esse assunto venham a público, pois

como frisa De La Torre, a educação é a melhor ferramenta para esclarecer as pessoas nesse

sentido. A própria cartilha nos explica a seguir que a cultura do segredo: “a informação é retida

e, muitas vezes, perdida. A gestão pública perde em eficiência, o cidadão não exerce um direito e

o Estado não cumpre seu dever.” (Brasil, 2011, p.12). Com a informação perdida, a oportunidade

de esclarecimento da população se torna cada vez difícil, negando assim aos cidadãos o direito a

uma informação de grande importância para a Humanidade. Esse pensamento nos leva a idealizar

a chamada “Cultura de Acesso”, onde os agentes públicos entendem que a informação pública

pertence a população e que é dever do Estado dispor de um jeito oportuno e compreensível,

atendido de forma eficaz aos pedidos da sociedade. Assim, segundo a Cartilha de Acesso à

Informação (Brasil, 2011), cinco pontos são destacados para que essa cultura do acesso seja

posta em prátia:

• Os requerimentos do cidadão são vistos como lícitos

• O cidadão tem o direito de pedir informação pública sem necessidade de uma justificativa

• São criados canais ativos de comunicação entre governo e população

• São colocadas normas claras e procedimentos para a administração das informações

• Os servidores são constantemente capacitados para agirem no estabelecimento de uma

política de acesso à informação

Na cultura de acesso, o fluxo de informações favorece a tomada de decisões,a boa gestão de políticas públicas e a inclusão do cidadão [. . . ] Pesquisasmostraram que a confiança da população no serviço público aumentou empaíses nos quais há lei de acesso. (Brasil, 2011, p.13)

Como pode se verificar, segundo o parágrafo acima, o Acesso à informação, além de

ser um direito, é também uma forma de manutenção da democracia vigente. Quando um governo

Page 55: Documentos Ufológicos: o desafio para o acesso à informação · 2018-08-28 · ... gostaria de agradecer e relembrar todos os grandes guerreiros e percus-sores da ... humilhação

54

oferece os meios viáveis para que a população tenha acesso aos documentos produzidos, ele

oferece transparência de suas ações e permite que o cidadão acompanhe de perto as ações de

seus representantes.

Page 56: Documentos Ufológicos: o desafio para o acesso à informação · 2018-08-28 · ... gostaria de agradecer e relembrar todos os grandes guerreiros e percus-sores da ... humilhação

55

4 O CONCEITO DE LIBERDADE E DE ACESSO À INFORMAÇÃO

Segundo a Cartilha de Classificação de Grau de Sigilo, produzida pelo Governo

Federal35, “Toda a informação pública está sujeita a publicidade”. Dentre essas informações

constam na :

Tabela 1 – Tipos de Informação de caráter público

Informação produzida ou acumulada por órgãos e entidades públicas;

Informação produzida ou mantida por pessoa física ou privada decorrente de um vínculocom órgãos e entidades públicas;

Informação sobre atividades de órgãos e entidades, inclusive relativa à sua política,organização e serviços;

Informações pertinentes ao patrimônio público, utilização de recursos públicos, licitaçãoe contratos administrativos;

Informações sobre políticas públicas, inspeções, auditorias, prestações e tomadas decontas.

Tabela adaptada da Cartilha de Classificação de Grau de Sigilo.

A LAI (Lei de Acesso à Informação) tem cunho nacional e utilização para a ad-

ministração direta e indireta de todos os três poderes da Federação: Executivo, Legislativo e

Judiciário.

4.1 Diretrizes Gerais

A LAI se torna fundamental no estado democrático de direito e sua atuação está

cada vez mais ligada a questão da cidadania do país, como cita a própria cartilha do Governo

Federal: “A Lei de Acesso à Informação tem o objetivo garantir o direito fundamental de acesso

à informação e para que a cultura de sigilo seja substituída por uma cultura de transparência.”

(BRASIL, 2017). Esse trecho é extremamente revelador, pois ele reflete o desejo intermitente

do povo por informação sobre a atuação dos órgãos públicos e seus representantes no âmbito

governamental, principalmente após o Regime Militar.

Para garantir o estabelecimento desse acesso à informação pública, O Governo

Federal nos diz que se deve atentar sobre um conjunto de padrões estabelecidos com base nos

critérios internacionais. O art. 3o da LAI define suas diretrizes gerais:35 Procedimentos para classificação de informação em grau de sigilo. Disponível em:<http://www.fazenda.gov.

br/sei/publicacoes/procedimentos-para-classificacao-de-informacao-em-grau-de-sigilo> Acesso em 12/01/2018

Page 57: Documentos Ufológicos: o desafio para o acesso à informação · 2018-08-28 · ... gostaria de agradecer e relembrar todos os grandes guerreiros e percus-sores da ... humilhação

56

• Publicidade é preceito geral e sigilo é exceção

• Divulgação independente de solicitação

• Utilização da Informação

• Desenvolvimento da cultura de transparência

• Controle social da administração pública

4.2 Quais Os Tipos De Informações Que Podem Ser Pedidas Pela LAI?

Basicamente toda informação produzida por órgão público pode ser solicitado,

segundo a Cartilha do Governo Federal (2017) dentre eles estão as orientações e os procedimentos

onde esse acesso pode ser obtido, tais como o local onde ela pode ser achada, informação

produzida ou mantida por pessoa física ou por entidades privada decorrente de vínculo com seus

órgãos ou entidades, mesmo após o fim desse vínculo.

No entanto, existem restrições à Lei de Acesso à Informação, nesse caso, mesmo

com a politica geral definia na LAI, não são todas as informações que podem ser disponibilizadas

ao conhecimento público. Ela, nesse caso, nos apresenta as seguintes situações:

As informações pessoais são aquelas informações relacionadas a uma determi-nada pessoa identificada ou identificável. Seu tratamento deve ser feito de formatransparente e com respeito à intimidade, à vida privada, à honra e à imagem,bem como a liberdades e garantias individuais. As informações pessoais nãosão públicas e têm seu acesso restrito, independentemente de classificação desigilo, pelo prazo máximo de 100 anos a contar da sua data de produção. Ouseja, não necessitam receber o tratamento dado às informações classificadas emgrau de sigilo. Somente terão acesso à informação pessoal os agentes públicosautorizados e as pessoas a quem a informação se referir. Havendo previsãolegal ou consentimento expresso da pessoa a quem a informação faz referência,terceiros podem ter acesso a tais informações. (BRASIL, 2017, p.18)

Outro tipo de informação que estaria fora da LAI são informações com caráter de

legislações específicas tais como sigilos bancários, fiscal, comercial, profissional ou segredo de

justiça. No caso do Sigilo Fiscal a Portaria MF no 233, de 2012, completa:

Art. 7o (. . . ) Parágrafo único. Consideram-se protegidas por sigilo fiscal asinformações que, embora não identifiquem diretamente o contribuinte, permitamsua identificação de forma indireta, seja pela quantidade de contribuintes, pelaconcentração econômica ou por qualquer outra forma de cruzamento de dados.

No entanto, como será visto em seguida, nenhuma dessas regras jamais se aplicou a

nenhum caso dos documentos sobre dados de objetos não identificados solicitados ao governo

pela campanha civil de liberdade de informação, já que a mesma trata unicamente da segurança

Page 58: Documentos Ufológicos: o desafio para o acesso à informação · 2018-08-28 · ... gostaria de agradecer e relembrar todos os grandes guerreiros e percus-sores da ... humilhação

57

pessoal e proteção do cidadão. Neste caso, a principal diretriz da LAI é o conceito de publi-

cidade e o sigilo como exceção. Dessa forma, a própria lei estabeleceu as possibilidades e a

temporalidade do sigilo em seu texto, que como uma regra geral, a LAI institui que a informação

pública só poderá ser classificada como sigilosa quando esta for considerada indispensável à

segurança da sociedade , tais como segurança, vida, e saúde, assim como também à soberania da

nação. Para exemplificar tudo isso, O artigo 23 especifica quais os tipos de informações podem

ser consideradas sigilosas:

Art. 23. São consideradas imprescindíveis à segurança da sociedade ou doEstado e, portanto, passíveis de classificação as informações cuja divulgaçãoou acesso irrestrito possam:

I – pôr em risco a defesa e a soberania nacionais ou a integridade do territórionacional;

II – prejudicar ou pôr em risco a condução de negociações ou as relaçõesinternacionais do País, ou as que tenham sido fornecidas em caráter sigilosopor outros Estados e organismos internacionais;

III – pôr em risco a vida, a segurança ou a saúde da população;

IV – oferecer elevado risco à estabilidade financeira, econômica ou monetáriado País;

V – prejudicar ou causar risco a planos ou operações estratégicos das ForçasArmadas;

VI – prejudicar ou causar risco a projetos de pesquisa e desenvolvimentocientífico ou tecnológico, assim como a sistemas bens, instalações ou áreas deinteresse estratégico nacional;

VII – pôr em risco a segurança de instituições ou de altas autoridades nacionaisou estrangeiras e seus familiares; ou

VIII – comprometer atividades de inteligência, bem como de investigação oufiscalização em andamento, relacionadas com a prevenção ou repressão deinfrações. (BRASIL. LEI No 12.527, DE 18 DE NOVEMBRO DE 2011)

Já nesta lei específica, principalmente em se tratando dos parágrafos V, VI e VIII,

podemos ter uma ideia do objetivo da manutenção do sigilo em torno das informações sobre

óvnis. Nesse caso, podemos citar o que Stanton Friedman, ufólogo e físico nuclear canadense,

explica a respeito do processo de acobertamento imposto pelos governos em torna da realidade

dos ufos. Ele enumera 5 razões principais para os governos acobertarem aquilo que ele considera

um “Watergate Cósmico”:

1. Os agentes dos governos querem descobrir como que as naves que caíramfuncionam. 2. Nenhum desses governos quer que um governo inimigo sabiao que já foi descoberto. 3. Se alguma personalidade importante e confiável,digamos a rainha da Inglaterra ou o papa, revelarem a respeito dos OVNIs, asociedade ficaria abalada nós ‘terráqueos’ pensaríamos em nós mesmos comoum só povo, ao invés de diferentes nações. 4. O quarto problema seria arespeito da perspectiva cristã fundamentalista, de que os alienígenas sejam o

Page 59: Documentos Ufológicos: o desafio para o acesso à informação · 2018-08-28 · ... gostaria de agradecer e relembrar todos os grandes guerreiros e percus-sores da ... humilhação

58

“trabalho do demônio”, como disseram o fundador do 700 Club, Pat Robertson,e o falecido Reverendo Jerry Falwell. Os dois disseram que a Terra possui aúnica vida inteligente no universo. 5. Uma confirmação pública levaria ao caoseconômico mundial. (FRIEDMAN,2012)36

Pelo que Friedman retrata, o Governo Brasileiro teria, de acordo com a lei N◦ 12.527

do artigo 23, dois principais motivos para manter uma politica de acobertamento dos ÓVNIS. A

primeira está no paragrafo II, quando justifica-se a manutenção dos arquivos sigilosos contra o

risco de prejudicar relações internacionais, a segunda se encontra no parágrafo IV quando se fala

dos riscos à estabilidade financeira do país. No entanto, o que se sabe de fato é que todas essas

suposições são de caráter especulativo, não se tem uma ideia real sobre se a revelação desses

documentos sobre óvnis realmente causaria algum dano à soberania do país e também não se

conhece nenhum estudo que aponte nessa direção. A LAI também admite a possibilidade que a

informação possa ser liberada apenas parcialmente. Assim, o interessado terá assegurado acesso

à parte que não foi censurada através de tarjas pretas e outras formas de ocultar informações em

documentos.

4.3 Classificação, Sigilo e Responsabilidades

A classificação da informação referente ao grau de sigilo, deve utilizar-se critérios

como a gravidade do risco à segurança da sociedade ou do Estado. Abaixo, um quadro que

exemplifica e determina essa classificação:

Tabela 2 – Graus de sigilo e prazos de restrição

Ultrassecreta Prazo de restrição de até 25 anos

Secreta Prazo de restrição de 15 anos

Reservada Prazo de Restrição de 5 anos (não-prorrogável)

Quadro adaptado do site http://www.fazenda.gov.br/sei/publicacoes/procedimentos-para-classificacao-de-informacao-em-grau-de-sigilo

A LAI especifica as autoridades que possuem o direito de classificar as informações

em vários graus de sigilo. A medida que o grau de sigilo cresce, maior o poder hierárquico da36 As 5 razões porque os governos não revelam a verdade sobre os OVNIs, de acordo

com Staton Friedman. 2012. Disponível em: <http://ovnihoje.com/2012/04/02/as-5-razoes-porque-os-governos-nao-revelam-a-verdade-sobre-os-ovnis-de-acordo-com-staton-friedman/>.Acesso em: 26 nov. 2017.

Page 60: Documentos Ufológicos: o desafio para o acesso à informação · 2018-08-28 · ... gostaria de agradecer e relembrar todos os grandes guerreiros e percus-sores da ... humilhação

59

autoridade que poderá classificá-la, assim também menor a quantidade de pessoas que poderão

ter acesso a ela, segundo mostra o quadro a seguir:

Tabela 3 – Nível Hierárquico e Graus de Sigilo

AutoridadeGraus de Sigilo

Reservado Secreto UltrassecretoPresidente da

RepúblicaSim Sim Sim

Vice-Presidente Sim Sim SimMinistros de Estado

com as mesmasprerrogativas

Sim Sim Sim

Comandantes daMarinha, Exército

ou Aeronáutica

Sim Sim Sim

Chefes de missãodiplomáticasconsulares

permanentes noexterior

Sim Sim Sim

Titulares deautarquias,

fundações ouempresas e

sociedades deeconomia mista

Sim Sim Não

Autoridades queexerçam funções deDireção, comando

ou chefia, deHierarquia

equivalente ousuperior ao Nível

DAS 101.5

Sim Não Não

Quadro adaptado de Entendendo a Lei Geral de Acesso à Informação (ARTIGO 19, 2011).

A classificação em grau de sigilo precisa ser realizada assim que a informação é

criada ou, quando for necessária37, posteriormente, pois a precisão de classificar pode surgir

somente depois de um pedido realizado.

A informação deve ser classificada em grau de sigilo somente se atender aos37 Art. 20 da Portaria MF no 233, de 2012.

Page 61: Documentos Ufológicos: o desafio para o acesso à informação · 2018-08-28 · ... gostaria de agradecer e relembrar todos os grandes guerreiros e percus-sores da ... humilhação

60

requisitos estabelecidos pelo art. 25 do Decreto no 7.724, de 2012, que pode sercombinado com o seu art. 20. No caso das demais hipóteses, não há previsãolegal para classificação da informação em grau de sigilo, de acordo com a Leide Acesso à Informação. Os procedimentos para classificação da informaçãosão apresentados nos próximos tópicos. (BRASIL, p.26, 2017)

A reclassificação e desclassificação, assim como as alterações do prazo de sigilo

resultam da reavaliação da informação classificada e essa reavaliação deve ser feita pelo órgão

classificador ou a hierarquia superior, através de um pedido ou de um ofício38. Já as informações

classificadas como secreta ou ultrassecreta, essa revisão deve ser feita pelos órgãos classificadores

no máximo a cada quatro anos, com o objetivo de auxiliar as atividades da Comissão Mista de

Reavaliação e Informações39.

Após os procedimentos de reavaliação serem feitos e se assim for concluído que a

informação deve ser desclassificada, o Decreto no 7.845, de 2012 nos diz: Art. 51 (...) § 1o A

informação classificada em qualquer grau de sigilo ou o documento que a contenha, quando de

sua desclassificação, manterá apenas o Número Único de Protocolo(NUP).40

A LAI prevê que o servidor público será responsabilizado caso haja descumprimento

da lei, como recusar-se a dar informações pretendidas, alterar ou destruir documentos ou impor

sigilo para conseguir proveito pessoal sobre alguma coisa. Tais atitudes são previstas como

conduta ilícita, caracterizando infração e até improbidade administrativa (art. 65 do Decreto no

7.724, de 2012).

A Lei de Acesso a Informação 12.527 de 18 de novembro de 2011, tornou mais

tangível aos cidadãos exigir seus direitos com relação à transparência, como ela também incentiva

isso. Foi um grande passo para a democracia do país e continua sendo uma das principais

ferramentas dos ufólogos para pedir a liberação dos documentos com informações sobre UFOS.

Muitos desses documentos contêm informações perturbadoras desses objetos interagindo com

aeronaves civis, com populações de vilarejos e invadido o espaço aéreo de grandes capitais do

país.

38 Art. 35 do Decreto no 7.724, de 2012.39 Inciso II do parágrafo único do art. 35, combinado com o art. 47 do Decreto no 7.724, de 201240 Decreto. Disponível em:<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2012/decreto/d7845.htm>

Acesso em 12/03/2018

Page 62: Documentos Ufológicos: o desafio para o acesso à informação · 2018-08-28 · ... gostaria de agradecer e relembrar todos os grandes guerreiros e percus-sores da ... humilhação

61

Tabela 4 – Temas sobre acesso à informação e onde encontrá-los na lei

Tema Onde encontrarAbrangência da Lei Arts. 1◦ e 2◦

Garantias do direito de acesso / Diretrizes Arts. 3◦, 5◦ e 6◦

Definição de termos utilizados na Lei Art. 4◦

Informações garantidas pela Lei Arts. 7◦ e 21

Divulgação proativa de informações /Transparência ativa Arts. 8◦ e 30

Procedimentos de acesso à informação Art. 9◦a 14

Prazos – recebimento de respostas einterposição de recursos Arts. 11, 15 e 16

Procedimentos em caso de negativa deacesso ou descumprimento de obrigações /Recursos

Arts. 11, § 4◦; 14 a 18; 20

Informações sigilosas / Classificação deinformações Arts. 7, § 1◦ e 2◦; 22 a 30; 36 e 39

Competências da Controladoria-Geral daUnião (CGU) Arts. 16 e 41

Competências da Comissão Mista deReavaliação de Informações (CMRI) Arts. 16, § 3◦; 17 e 35

Informações pessoais Art. 31

Responsabilização de agentes públicos Arts. 32 a 34

Quadro adaptado de Entendendo a Lei Geral de Acesso à Informação (ARTIGO 19, 2011).

Page 63: Documentos Ufológicos: o desafio para o acesso à informação · 2018-08-28 · ... gostaria de agradecer e relembrar todos os grandes guerreiros e percus-sores da ... humilhação

62

5 O QUE OS DOCUMENTOS UFOLÓGICOS NOS DIZEM?

Os documentos liberados pelas Forças Armadas, em especial, a Aeronáutica, nos

revelam situações de diversas magnitudes envolvendo os Objetos Voadores Não Identificados,

desde simples avistamentos, a ataques contra pessoas. A maioria desses documentos que se

encontram hoje à disposição do público estavam na categoria de “Confidencial”, “Reservado”

e “Secreto”. A forma como esse segredo imposto contra o assunto, ainda sem qualquer expli-

cação, prejudicaram a pesquisa e a legitimação do Fenômeno UFO, pode nunca ser medida ou

recuperada por completo. Muitos desses documentos relatam encontros de aeronaves da Força

Aérea com objetos celestes desconhecidos, com dados de radar e transcrição de conversas entre o

piloto e o operador de trafego. Todos esses dados, gravações e conversas do evento, poderiam ser

analisados e estudados de forma científica, com o objetivo de esclarecer o caráter desconhecido

do Fenômeno UFO.

5.1 Caso 1

Ocorrência sobre Objeto Voador Não identificado datado do dia 08/09/1980, mostra

parte da transcrição entre a torre de controle e o piloto da aeronave que estava nas proximidades

da cidade de Anápolis41.

5.2 Caso 2: Operação Prato

Um dos principais documentos que foram liberados da Aeronáutica é referente ao

Caso conhecido como Operação Prato que, como já foi falado aqui, foi uma enorme pesquisa

comandada pela Força Aérea Brasileira na Amazônia, entre os anos de 1977 e 1978, que

investigava aparições de óvnis e ataques dos mesmos contra a população da cidade ribeirinha de

Colares e adjacentes. Como constata Gustavo Moretti (2009, s/n):

[ . . . ] a população da região se viu cercada por objetos que sobrevoavam asembarcações, mergulhavam nos rios, embrenhavam-se entre copas das árvores eatacavam, através de um foco de luz que causava paresia [Paralisia Incompleta],hipertermia, cefaleia, queimaduras superficiais, calor intenso, náuseas, tremoresdo corpo, tontura e astenia [Fraqueza] (MORETTI, s/n, 2009)

Sabe-se que a documentação referente à Operação Prato é longa e não foi totalmente41 Caso Anápolis. Disponível em:<http://imagem.sian.an.gov.br/BR_DFANBSB_ARX/0/0/0207/BR_DFANBSB_

ARX_0_0_0207_d0001de0001.pdf>. Acesso em 22/05/2018

Page 64: Documentos Ufológicos: o desafio para o acesso à informação · 2018-08-28 · ... gostaria de agradecer e relembrar todos os grandes guerreiros e percus-sores da ... humilhação

63

Figura 1 – Caso 1: Ocorrência sobre Objeto Voador Não Identificado

disponibilizada ainda pela Aeronáutica. A principal delas são centenas de horas de vídeo de

óvnis gravados pelos militares durante os contatos com o Fenômeno. Contudo, o que foi liberado

até o momento impressiona pelos detalhes e mostra o esmero com que a Aeronáutica comandou

essa Operação. Nas Figuras 6 a 9 algumas páginas sobre o caso.42

5.3 Caso 3

O documento da Figura 11 trata de uma ordem dada pelo comando de Defesa Aérea

com data de 14 de agosto de 1978, onde recomenda que a Aeronáutica tomasse medidas que

visassem a coleta e a catalogação de dados de objetos voadores não identificados com objetivo

de pesquisá-lo. No entanto, deixa bem claro suas reservas em não divulgar essas informações

para a imprensa com medo de “ridicularizar” a instituição43.

5.4 Caso 4: A Noite Oficial dos ÓVNIs

O documento a seguir é parte de um relatório sobre um importante caso da Ufologia

Brasileira: “A Noite Oficial dos óvnis”, ocorrida em 19 maio de 1986. Nessa noite, dezenas de

objetos voadores não identificados foram vistos visualmente e por radar em torno de São José42 Disponível em: <http://www.portalburn.com.br/downloads/operacao_ prato/fotos/> Acesso em 22/05/201843 Disponível em: <http://www.fenomenum.com.br/ufo/governos/documentos/brasil/1980/1978_oficio_009_A_

2_78.pdf> Acesso em 22/05/2018

Page 65: Documentos Ufológicos: o desafio para o acesso à informação · 2018-08-28 · ... gostaria de agradecer e relembrar todos os grandes guerreiros e percus-sores da ... humilhação

64

Figura 2 – Caso 1: Transcrição de Gravação, Folha 03

Page 66: Documentos Ufológicos: o desafio para o acesso à informação · 2018-08-28 · ... gostaria de agradecer e relembrar todos os grandes guerreiros e percus-sores da ... humilhação

65

Figura 3 – Caso 1: Transcrição de Gravação, Folha 04

Page 67: Documentos Ufológicos: o desafio para o acesso à informação · 2018-08-28 · ... gostaria de agradecer e relembrar todos os grandes guerreiros e percus-sores da ... humilhação

66

Figura 4 – Caso 1: Transcrição de Gravação, Folha 05

Page 68: Documentos Ufológicos: o desafio para o acesso à informação · 2018-08-28 · ... gostaria de agradecer e relembrar todos os grandes guerreiros e percus-sores da ... humilhação

67

Figura 5 – Caso 1: Transcrição de Gravação, Folha 06

Page 69: Documentos Ufológicos: o desafio para o acesso à informação · 2018-08-28 · ... gostaria de agradecer e relembrar todos os grandes guerreiros e percus-sores da ... humilhação

68

Figura 6 – Caso 2: Documento com dados de OVNIs

Page 70: Documentos Ufológicos: o desafio para o acesso à informação · 2018-08-28 · ... gostaria de agradecer e relembrar todos os grandes guerreiros e percus-sores da ... humilhação

69

Figura 7 – Caso 2: Relatório da Operação Prato e foto do objeto avistado

Page 71: Documentos Ufológicos: o desafio para o acesso à informação · 2018-08-28 · ... gostaria de agradecer e relembrar todos os grandes guerreiros e percus-sores da ... humilhação

70

Figura 8 – Caso 2: Várias fotos de OVNI com alguns dados

Page 72: Documentos Ufológicos: o desafio para o acesso à informação · 2018-08-28 · ... gostaria de agradecer e relembrar todos os grandes guerreiros e percus-sores da ... humilhação

71

Figura 9 – Caso 2: Outro relatório da Operação Prato com foto anexada

dos Campos, se espalhando por Campinas até chegar ao Rio de Janeiro.

Como nos relata Petit (2007, p.98-99):

Os avistamentos tiveram início por volta das 18h30, quando da torre de controledo aeroporto foram notados dois objetos de cor laranja, a 15 km de distância doaeroporto da cidade. Os objetos estavam a aproximadamente 2.000 m de altura,alinhados om o eixo da pista de pouso e decolagem[. . . ] às 19:40, de dentroda torre de controle, foram avistados mais dois objetos que se movimentavamde norte a oeste e se posicionaram acima dos primeiros UFOs, permanecendoimobilizados durante longo tempo. Às 20h00, o Cindacta já captava em suastelas oito alvos desconhecidos. Mas os fenômenos estavam apenas começando.Às 20h30, outro UFO extremamente luminoso foi visto rumando em direçãoà Serra do Mar. O aparelho estava inicialmente a uma distância de 20 km datorre de controle do aeroporto, para logo depois se afastar, sendo acompanhadoatravés das telas do radar, além de visualmente.

Page 73: Documentos Ufológicos: o desafio para o acesso à informação · 2018-08-28 · ... gostaria de agradecer e relembrar todos os grandes guerreiros e percus-sores da ... humilhação

72

Figura 10 – Caso 2: Foto de objeto desconhecido fotografado durante as missões da OperaçãoPrato em 1977

Fonte: http://www.portalburn.com.br/wp-content/uploads/2013/08/chupa_chupa_operacao_prato.jpg

Logo após esses eventos, vários caças e aviões saíram para verificar a presença

desses objetos no ar, o que resultou em uma perseguição de nossas aeronaves contra os óvnis até

altas horas da madrugada. Os objetos em questão eram incrivelmente rápidos e não podiam ser

interceptados pelos nossos pilotos, como relata o capitão Armindo Souza Viriato de Freitas:

Segundo o piloto, em questão de segundos o objeto atingiu a velocidade deMach 15, ou seja, 10 vezes a velocidade pelo caça de fabricação francesa quepilotava. Era evidente que os nossos modernos aviões estavam longe de podercompetir com aqueles aparelhos. (PETIT, 2007, p.100)

No dia seguinte, o então Ministro da Aeronáutica, Brigadeiro Moreira Lima, com os

pilotos que participaram da perseguição contra os ufos, deram uma coletiva de imprensa relatando

o ocorrido e afirmando que um relatório de investigação do evento estava sendo produzido e

que estaria disponível para o público dentro de um mês mas, como nos lembra Petit (2007),

isso não aconteceu. Esse relatório só veio ser disponibilizado depois da campanha de liberdade

de informação feita pelos ufólogos e tratada largamente aqui. Algumas páginas podem ser

visualizadas abaixo.

Page 74: Documentos Ufológicos: o desafio para o acesso à informação · 2018-08-28 · ... gostaria de agradecer e relembrar todos os grandes guerreiros e percus-sores da ... humilhação

73

Figura 11 – Caso 3: Documento do Comando Aéreo de Defesa Aérea com o carimbo “CONFI-DENCIAL”

Page 75: Documentos Ufológicos: o desafio para o acesso à informação · 2018-08-28 · ... gostaria de agradecer e relembrar todos os grandes guerreiros e percus-sores da ... humilhação

74

Figura 12 – Caso 4: Documento da Base Aérea de Anápolis com assunto “Acionamento deAlerta”

Page 76: Documentos Ufológicos: o desafio para o acesso à informação · 2018-08-28 · ... gostaria de agradecer e relembrar todos os grandes guerreiros e percus-sores da ... humilhação

75

Figura 13 – Caso 4: Transcrição de ocorrência dos dias 19 e 20 de maio de 1986

Page 77: Documentos Ufológicos: o desafio para o acesso à informação · 2018-08-28 · ... gostaria de agradecer e relembrar todos os grandes guerreiros e percus-sores da ... humilhação

76

Figura 14 – Caso 4: Outro documento com o título “Acionamento de Alerta”

Page 78: Documentos Ufológicos: o desafio para o acesso à informação · 2018-08-28 · ... gostaria de agradecer e relembrar todos os grandes guerreiros e percus-sores da ... humilhação

77

Figura 15 – Caso 4: Relatório dos fatos ocorridos no Vôo de Alerta do dia 19 de maio de 1986

5.5 Caso 5

Novamente caso envolvendo contatos de operadores de radar seguido de uma breve

perseguição do mesmo por pilotos no espaço aéreo de Porto das Caixas. Consta nos documentos

que o Objeto Não Identificado foi filmado, no entanto essa gravação não foi liberada.

Page 79: Documentos Ufológicos: o desafio para o acesso à informação · 2018-08-28 · ... gostaria de agradecer e relembrar todos os grandes guerreiros e percus-sores da ... humilhação

78

Figura 16 – Caso 5: Ocorrência sobre Objeto Voador Não Identificado

Page 80: Documentos Ufológicos: o desafio para o acesso à informação · 2018-08-28 · ... gostaria de agradecer e relembrar todos os grandes guerreiros e percus-sores da ... humilhação

79

Figura 17 – Caso 5: Outro documento

Page 81: Documentos Ufológicos: o desafio para o acesso à informação · 2018-08-28 · ... gostaria de agradecer e relembrar todos os grandes guerreiros e percus-sores da ... humilhação

80

6 METODOLOGIA

Neste capítulo trataremos sobre a as ferramentas de pesquisa que foram utilizadas

nesse estudo para demonstrar o que a ocultação desses documentos prejudicaram a legitimação

do Fenômeno UFO. A metodologia é parte fundamental e indispensável para que os objetivos da

pesquisa sejam alcançados. Gil (2002, p.19) nos aponta que:

Como toda atividade racional e sistemática, a pesquisa exige que as ações de-senvolvidas ao longo de seu processo sejam efetivamente planejadas. De modogeral, concebe-se o planejamento como a primeira fase da pesquisa, que envolvea formulação do problema, a especificação de seus objetivos, a construção dehipóteses, a operacionalização dos conceitos etc. Em virtude das implicaçõesextracientíficas da pesquisa, consideradas na seção anterior, o planejamentodeve envolver também os aspectos referentes ao tempo a ser despendido napesquisa, bem como aos recursos humanos, materiais e financeiros necessáriosa sua efetivação.

Segundo Pradanov; Freitas (2013) a Metodologia é entendida como uma disciplina

que compõe estudar e compreender os vários tipos e métodos disponíveis para realizar uma

pesquisa acadêmica. Ela examina, avalia e descreve as técnicas de pesquisa que permitem

a coleta e o processamento de dados e informações, objetivando a resolução dos problemas

de investigação e aplicada a procedimentos que devem ser observados para a construção do

conhecimento e comprovação da validade e utilização nas diversas Esferas da sociedade.

De acordo com os objetivos propostos, a metodologia escolhida para a realização

dessa pesquisa é de natureza exploratória pois, ainda segundo GIL (2002, p.41): “Estas pesquisas

têm como objetivo proporcionar maior familiaridade com o problema, com vistas a torná-lo

mais explícito ou a constituir hipóteses.” Dessa forma, torna-se claro que a pesquisa exploratória

permite um maior envolvimento do pesquisador com tema proposto, auxiliando no processo

inicial de investigação do estudo a ser elaborado, colaborando-se assim com as descobertas de

ocorrência de um certo fenômeno.

Como há uma grande literatura sobre esse tema, utilizamos também a pesquisa

bibliográfica e a pesquisa documental, com o objetivo de conhecer em literaturas já publicadas a

visão e outros autores que abordam questões semelhantes, que podem despertar o entendimento

geral do assunto e obter uma maior compreensão do problema estudado. “A principal vantagem

da pesquisa bibliográfica reside no fato de permitir ao investigador a cobertura de uma gama de

fenômenos muito mais ampla do que aquela que poderia pesquisar diretamente.” (GIL, 2002,

p.45). De acordo com Pradanov; Freitas (2013) a pesquisa exploratória tem como objetivo

proporcionar mais informações sobre o assunto a ser investigado, possibilitando assim sua

Page 82: Documentos Ufológicos: o desafio para o acesso à informação · 2018-08-28 · ... gostaria de agradecer e relembrar todos os grandes guerreiros e percus-sores da ... humilhação

81

definição, facilitando a delineação do tema de pesquisa, orientando a fixação dos objetivos. Esse

tipo de pesquisa possui um planejamento flexível, o que possibilita o estudo do tema sob vários

tipos de aspectos e envolve, principalmente, o levantamento bibliográfico e entrevistas com

pessoas que tiveram relação com o problema que está sendo pesquisado.

Com respeito à pesquisa documental, apesar de ser muito semelhante à pesquisa

bibliográfica, a diferença se encontra no fato de que a documental colhe informações de materiais

onde estão guardados os testemunhos do passado, ao fato de que os mesmos ainda estão sem

tratamento científico, se tornando assim a base do trabalho de investigação. Prodanov; Freitas

(2013, p. 56) entende que:

[ . . . ] por documento qualquer registro que possa ser usado como fonte deinformação, por meio de investigação, que engloba: observação (crítica dosdados na obra); leitura (crítica da garantia, da interpretação e do valor internoda obra); reflexão (crítica do processo e do conteúdo da obra); crítica (juízofundamentado sobre o valor do material utilizável para o trabalho científico).

Segundo GIL (2002) a pesquisa documental tem muitas semelhanças com a pesquisa

bibliográfica, suas diferenças se encontram na natureza das fontes, pois a pesquisa bibliográfica

se utiliza das contribuições de diversos autores sobe determinados assuntos e a documental usa

materiais que não receberam ainda um tratamento analítico ou mesmo que ainda, de acordo com

os objetivos da pesquisa, podem ser reelaborados.

A pesquisa documental apresenta uma série de vantagens. Primeiramente,há que se considerar que os documentos constituem fonte rica e estável dedados. Como os documentos subsistem ao longo do tempo, tornam-se a maisimportante fonte de dados em qualquer pesquisa de natureza histórica. (GIL,2002, p. 46)

A utilização da pesquisa documental é destacada no momento em que podemos

organizar informações que se encontram dispersas, dando-lhe uma nova importância como fonte

de consulta (Pradanov; Freitas, 2013). Esses dois tipos de pesquisa nos proporcionou o material

teórico necessário para o desenvolvimento do projeto que buscamos e para atingir os objetivos

propostos. Neste caso, de acordo com tipos e dados que foram coletados, o presente estudo se

apresenta como pesquisa qualitativa. Para Pradanov; Freitas (2013) na pesquisa qualitativa existe

uma ligação dinâmica entre o mundo real e o sujeito que não pode ser traduzido meramente com

números, não requerendo estatísticas. O ambiente natural é o modo direto para a coleta de dados

e o pesquisador o seu instrumento-chave.

Os dados coletados nessas pesquisas são descritivos, retratando o maior númeropossível de elementos existentes na realidade estudada. Preocupa-se muito mais

Page 83: Documentos Ufológicos: o desafio para o acesso à informação · 2018-08-28 · ... gostaria de agradecer e relembrar todos os grandes guerreiros e percus-sores da ... humilhação

82

com o processo do que com o produto. Na análise dos dados coletados, não hápreocupação em comprovar hipóteses previamente estabelecidas, porém estasnão eliminam a existência de um quadro teórico que direcione a coleta, a análisee a interpretação dos dados. (PRADANOV; FREITAS, 2013, p.70)

Triviños (1987) cita que a pesquisa qualitativa compreende atividades de investigação

que podem ser tidas como específicas ou de traços comuns e esta ideia é fundamental para ajudar

o pesquisador a ter uma visão mais cara dos objetivos que se deseja atingir.

Por permitir uma interatividade entre o pesquisador e o objeto estudado, foram

usadas as ferramentas da abordagem qualitativa, o que permitiu uma melhor observação e um

detalhamento mais aprofundado do objeto de estudo, procurando explicar, da melhor forma

possível, de que ao longo da história, a ocultação dos documentos ufológicos, prejudicou não

apenas a legitimação do Fenômeno UFO, negando assim às pessoas o direito à informação sobre

algo de natureza tão importante. Para isso, fizemos a leitura do material onde identificamos as

informações e os dados nele impresso e estabelecemos relações entre as informações obtidas

com o problema em questão.

A leitura pode ter, entre suas finalidades, a busca da informação e o entreteni-mento. Como informação, visa à aquisição de conhecimentos relacionados àcultura geral (informativa) ou aquisição e ampliação de conhecimentos científi-cos, técnicos, filosóficos etc. (formativa). A leitura formativa tem por objetivoa coleta de elementos, dados e informações. Ao estudante e pesquisador, ela éfundamental para o desenvolvimento e a elaboração de trabalhos acadêmicos ecientíficos. (Prodanov; Freitas, 2013,p.144-145)

Para Gil (2002) essa etapa começa com a leitura exploratória que consiste com a

leitura do material bibliográfico, que tem como meta a verificar se a obra pesquisada interessa à

pesquisa. Após essa etapa, temos a leitura exploratória, onde faremos a seleção do material, se

ele de fato interessa ou não à pesquisa, a fim de evitar a leitura de textos que não interessem ao

que está sendo proposto. Em seguida temos a leitura analítica que é feita com base nos materiais

selecionados. É comum que no decorrer do projeto ocorra a adição ou suspensão de textos e

material selecionado, nesse caso a postura do pesquisador será de examiná-los como se fossem

definitivos. Por último temos a leitura interpretativa, que constitui no processo de leituras de

fontes bibliográficas. De todas, ela é a mais complexa, pois tem o objetivo de relacionar o que o

autor afirma com o problema proposto na pesquisa.

Page 84: Documentos Ufológicos: o desafio para o acesso à informação · 2018-08-28 · ... gostaria de agradecer e relembrar todos os grandes guerreiros e percus-sores da ... humilhação

83

6.1 Instrumento de Coleta de Dados

O instrumento de coleta de dados utilizado foi o questionário porque possibilita

avaliar, com maior precisão, o que se deseja, e por obtermos as respostas mais rápidas e exatas.

De custo razoável, ele pode ser enviado por e-mail ou compartilhado em grupos em redes sociais.

As grandes vantagens dos questionários se encontram no fato de ser uma técnica viável que pode

ser empregada quando as questões de cunho empírico envolvem a percepção e a posição dos

pesquisados. Como define Silva; Menezes (2005, p. 33)

[ . . . ] é uma série ordenada de perguntas que devem ser respondidas por escritopelo informante. O questionário deve ser objetivo, limitado em extensão e estaracompanhado de instruções As instruções devem esclarecer o propósito de suaaplicação, ressaltar a importância da colaboração do informante e facilitar opreenchimento.

Para Pradanov; Feitas (2013) a coleta de dados é a fase da pesquisa, do qual o

objetivo é tirar informações da realidade, é nessa etapa que será definida onde e como será

realizado o estudo, o tipo, o universo da pesquisa e a forma como serão analisados esses dados.

Na coleta de dados, é importante que o leitor seja informado dos objetivos do pesquisador em

obter as informações que precisa para responder ao problema, não deixando de correlacionar os

objetivos com os meios para se alcançá-los.

O objeto de um trabalho científico é a sistematização metódica e objetiva de in-formações fragmentadas, seguida da identificação de suas relações e sequênciasrepetitivas, com a finalidade de descobrir respostas para determinada questão-problema. Em geral, é impossível obter informações de todos os elementosou indivíduos que pretendemos estudar, seja em função da numerosidade dedados, da relação custo-benefício, da limitação de tempo ou da acessibilidadeaos dados. Para isso, a pesquisa científica pode buscar a identificação dessasrelações por meio do estudo de apenas uma parte dos elementos que formam ouniverso. (PRADANOV; FREITAS, 2013, p.97)

Segundo Triviños (1987) a coleta e análise de dados são de extrema importância para

a pesquisa qualitativa, pela implicância nelas do investigador, que necessitam de um ponto de

vista aprofundado. Ele ainda explica que:

[ . . . ] o pesquisador qualitativo, que considera a participação do sujeito comoum dos elementos de seu fazer científico, apoia-se em técnicas e métodos quereúnem características sui generis, que ressaltam sua implicação e da pessoaque fornece as informações. Neste sentido, talvez sejam a entrevista semi-estruturada, a entrevista aberta ou livre, o questionário aberto, a observaçãolivre, o método clínico e o método de análise de conteúdo os instrumentos maisdecisivos para estudar os processos e produtos nos quais está interessado oinvestigador qualitativo. E isto sem desconhecer a importância de outros meios

Page 85: Documentos Ufológicos: o desafio para o acesso à informação · 2018-08-28 · ... gostaria de agradecer e relembrar todos os grandes guerreiros e percus-sores da ... humilhação

84

que, como as autobiografias, os diários íntimos, as confissões, as cartas pessoaisetc., podem transformar-se em veículos importantes para que o estudioso atinjaos objetivos que se propôs ao iniciar a desenvolver seu trabalho. (TRIVIÑOS,1987, p.138)

Para essa pesquisa foi utilizado questionário, que, como define Pradanov; Freitas

(2013, p. 108): “é uma série ordenada de perguntas que devem ser respondidas por escrito pelo

informante (respondente). O questionário, numa pesquisa, é instrumento ou programa de coleta

de dados.” Além disso, um questionário é um meio rápido e barato de obter de informações,

além de não necessitar de treinamento de pessoal e assegurar o anonimato (Gil, 2002).

O questionário de nossa pesquisa foi montado a partir da plataforma do Google

Formulário44 e foi aplicado de três formas pela internet: A primeira delas foi através de e-mail

enviado para pesquisadores de óvnis; a segunda foi através de postagens em grupos dedicados

ao estudo e discussão ufológica no Facebook; a terceira foi através de postagem em grupos

ufológicos no aplicativo de mensagens “Whatsapp”. O questionário contém duas perguntas de

cunho aberto. As questões abertas foram escolhidas porque elas deixam o respondente livre

para manifestarem sua opinião usando suas próprias palavras, sem se limitarem a escolha de

alternativas pré-elaboradas (Pradanov; Freitas,2013)

44 Disponível em: Google Forms <https://www.google.com/intl/pt-BR/forms/about> Acesso em: 21/03/2018

Page 86: Documentos Ufológicos: o desafio para o acesso à informação · 2018-08-28 · ... gostaria de agradecer e relembrar todos os grandes guerreiros e percus-sores da ... humilhação

85

7 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DE CONTEÚDO

Bardin (1977, p. 31) define análise de conteúdo como:

[ . . . ] um método muito empírico, dependente do tipo de «fala» a que se dedicae do tipo de interpretação que se pretende como objectivo. Não existe o pronto-a–vestir em análise de conteúdo, mas somente algumas regras de base, porvezes dificilmente transponíveis. A técnica de análise de conteúdo adequada aodomínio e ao objectivo pretendidos, tem que ser reinventada a cada momento,excepto para usos simples e generalizados, como é o caso do escrutínio próximoda descodificação e de respostas a perguntas abertas de questionários cujoconteúdo é avaliado rapidamente por temas.

Nossa análise dos resultados foi feita depois de colhidas as respostas do questionário,

analisando todos os motivos que, para os ufólogos, o acobertamento desses documentos sobre

UFOs prejudicou a pesquisa ufológica. A pesquisa foi desenvolvida na Cidade de Fortaleza, no

período de outubro de 2017 a maio de 2018. Devemos destacar que os ufólogos pesquisados

são experientes na pesquisa e história ufológica e muitos participaram ativamente da campanha

“UFOs-Liberdade de Informação já!”

7.1 Primeira Pergunta: “Qual a importância que os documentos ufológicos liberados

pela Aeronáutica para a Ufologia Brasileira?”

Na primeira abordagem, foi perguntado aos pesquisadores: “Qual a importância

que os documentos ufológicos liberados pela Aeronáutica para a Ufologia Brasileira?” Essa

pergunta demonstrou ser relevante pois ela serve para demonstrar o porquê a ocultação dos

mesmos prejudicou tanto à Ufologia.

7.1.1 Primeiro Bloco de Respostas

Das respostas recebidas, a primeira categoria delas, se destacam o conhecimento

dos pesquisadores com relação ao interesse do governo e das forças armadas pelo assunto,

e que isso significa que ele é real e sério. Se destacam também que eles tem conhecimento

sobre politicas de acobertamento do governo brasileiro de casos que foram investigados e são

vastamente conhecidos pelos ufólogos. Vergueiro (1987, p.22) resume muito bem esse tipo de

política como censura: “um esforço por parte de um governo, organização, grupo ou indivíduo

de evitar que as pessoas leiam, vejam ou ouçam o que pode ser considerado como perigoso ao

governo ou prejudicial à moralidade pública.”

Page 87: Documentos Ufológicos: o desafio para o acesso à informação · 2018-08-28 · ... gostaria de agradecer e relembrar todos os grandes guerreiros e percus-sores da ... humilhação

86

Ainda não se conhece qualquer explicação sobre o porquê desses documentos terem

sido mantidos por tanto tempo sob sigilo ou que mesmo sua existência fosse negada tantas

vezes, o que torna todo esse processo de ocultação ainda mais grave e prejudicial para a pesquisa

ufológica.

Resposta 1: “Nós temos os maiores casos Ufológicos de todos os tempos: Operação Prato e o

Caso Varginha, ambos gerenciados pelas forças armadas. Com a liberação desses e de

todos os outros documentos, a consciência das pessoas despertará para um tema muito

importante que mudará nossas vidas.”

Resposta 2: “Excelente, pois mostra que o evento acontece realmente e é estudado pela aero-

náutica cientificamente.”

Resposta 3: “Isso mostra que o governo brasileiro pesquisou o Fenômeno UFO para tentar

entender o mesmo, porém de forma sigilosa.”

Resposta 4: “Imensa importância, pois nos informa que a FAB pesquisou UFOs de maneira

oficial.”

7.1.2 Segundo Bloco de Respostas

Em outro importante conjunto de respostas, destaca-se que os ufólogos entendem

a importância que esses documentos têm e que acreditam que eles possam trazer seriedade

para Ufologia, aumentando, inclusive, o interesse das pessoas quanto ao assunto. Ortega (2009

apud Woledge, 1983) explica que: “Qualquer coisa em que conhecimento é registrado é um

documento, e documentação é todo processo que serve para tornar um documento disponível

para alguém que busca conhecimento.” Nesse caso, os relatos de pilotos e oficiais treinados da

Aeronáutica que são reportados nesses documentos tem uma grande importância em nível de

estudo técnico, para uma possível pesquisa científica ou mesmo que apenas estatísticos, que

pudessem demonstrar qual a frequência que tais fenômenos assolam o espaço aéreo brasileiro.

Resposta 1: “Porque fortalece campo de pesquisa ufológica e aumenta o interesse das pessoas

sobre o assunto.”

Resposta 2: “A consolidação da realidade do fenômeno ufológico e a seriedade com que ele é

tratado pelas autoridades militares brasileiras.”

Resposta 3: “É importante que seja de conhecimento dos civis em geral a que o assunto deixe

Page 88: Documentos Ufológicos: o desafio para o acesso à informação · 2018-08-28 · ... gostaria de agradecer e relembrar todos os grandes guerreiros e percus-sores da ... humilhação

87

de ser ridicularizado.”

Resposta 4: “Muito importante pois aqueles que sabem é já aceitam o fato de não estarmos só,

ficará mais evidente como prova daqueles que ainda são incrédulos, nesse assunto.”

Resposta 5: “Sempre que apresenta informações de veracidade aos casos ufológicos , irão

sendo trazidos a luz da verdade o entendimento de anos de pesquisas que agora farão eco

na sociedade.”

Resposta 6: “Muito importante para a credibilidade do fenômeno UFO.”

Resposta 7: “Reforçam ao público leigo que o fenômeno ufológico é assunto sério e digno

de pesquisa, e serve de incentivo para que outras Forças Armadas também liberem

documentos de seus arquivos.”

7.1.3 Terceiro Bloco de Respostas

Um dos tipos de respostas que mais se destacou está no fato de que os ufólogos

acreditam que a liberação desses documentos, pode abrir precedentes para que outros, que ainda

estejam sob sigilo, também possam vir à tona logo. Como a campanha de Liberdade de Infor-

mação começou no final dos anos 90 e a liberação do primeiro conjunto de arquivos aconteceu

no início dos anos 2000, a nova Lei de Acesso à Informação, Lei n◦ 12.52745, aprovada em 18

de novembro de 2011, representa mudanças de paradigma em no que se refere à transparência

pública, pois estabelece que o acesso é a regra e o sigilo, a exceção. Como aponta Guedes (2014),

esta lei em especial repercute diretamente na Ciência da Informação, pois é uma ferramenta que

fomenta reflexões sobre os fazeres e deveres dessa área, que contribui com o cumprimento das

diretivas da legislação e garantam os direitos de informação fundamentais à sociedade.

Resposta 1: “Na minha opinião significa que, esta havendo um grande ’desacobertamento’

mundial em relação ao fenômeno UFO e o Brasil não poderia ficar de fora, tendo em vista

alguns casos ocorridos por aqui de grande relevância mundial, como o caso de Varginha

e vários outros."

Resposta 2: “Extremamente importante, pois esclarecem e enriquecem as pesquisas em nosso

país.”

Resposta 3: “Extremamente importante a liberação desses documentos, pois só assim vamos45 Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2011/lei/l12527.htm> Acesso em

22/04/2018

Page 89: Documentos Ufológicos: o desafio para o acesso à informação · 2018-08-28 · ... gostaria de agradecer e relembrar todos os grandes guerreiros e percus-sores da ... humilhação

88

chegando mais perto da verdade que está acobertada pelos governos.”

Resposta 4: “É uma forma de revelar o que está oculto, mediante aos arquivos secretos há

presença extraterrestres no país (Brasil), e com isso o Ministério da Aeronáutica todos os

arquivos secretos em relação há presença alienígena no país há disposição de qualquer

ufólogo e pesquisador que pedir a solicitação aos Arquivos Secretos.”

Resposta 5: “Na visão da ufologia brasileira que é a nossa, máxima importância, e fica bem

claro de se entender, pois seriam documentos oficiais de altíssima credibilidade, expedidas

pelo órgão militar especializado e competente.”

Resposta 6: “Reforçam ao público leigo que o fenômeno ufológico é assunto sério e digno

de pesquisa, e serve de incentivo para que outras Forças Armadas também liberem

documentos de seus arquivos.”

7.1.4 Quarto Bloco de Respostas

Atrelado a isso, existe uma grande preocupação entre os respondentes com relação

ao direito social das pessoas em ter acesso a esses documentos. Os pesquisadores demonstram ter

consciência social sobre o direito de acesso à informação e a importância dele para o crescimento

intelectual e mesmo espiritual da comunidade, novamente confirmando a importância da infor-

mação como base fundamental de uma sociedade civilizada. Isso vem corroborar a definição de

GUEDES (2014, p.60) que afirma que: “o acesso à informação sob a guarda do poder público,

garantido em forma de leis, representa um elemento-chave para o amadurecimento do regime

político brasileiro e para o desenvolvimento social, econômico, científico e cultural.”

Resposta 1: “Extremamente importante a liberação desses documentos, pois só assim vamos

chegando mais perto da verdade que está acobertada pelos governos.”

Resposta 2: “De suma importância para o ’desacobertamento’ dos casos”

Resposta 3: “Acredito que todos tem direito de saber a verdade em relação ao céu brasileiro.”

Resposta 4: “É o direito que todo cidadão tem”

Resposta 5: “É fundamental que as instituições operem com transparência, especialmente

sobre fenômenos que são de interesse comum.”

Resposta 6: “A verdade deve vir ao conhecimento de todos.”

Resposta 7: “Imprescindível ao ’desacobertamento’ da verdade que os governos escondem há

décadas da população civil.”

Page 90: Documentos Ufológicos: o desafio para o acesso à informação · 2018-08-28 · ... gostaria de agradecer e relembrar todos os grandes guerreiros e percus-sores da ... humilhação

89

Resposta 8: “Todos temos que estar informados”

Resposta 9: “Um marco para a história não revelada. Nós cidadãos precisamos ter acesso a

verdade documentada em qualquer área da vida nacional.”

Resposta 10: “Muito importante para o acesso público irrestrito às verdades e informações.”

Resposta 11: “Importante pelo compromisso com a verdade, não há necessidade de esconder

fatos reais.”

Resposta 12: “Quaisquer tipo de informação para um tema tão banalizado é válido, todos

deveriam ter acesso a qualquer tipo de informação”

Resposta 13: “Um marco para a história não revelada. Nós cidadãos precisamos ter acesso a

verdade documentada em qualquer área da vida nacional.”

Resposta 14: “É de suma importância. Somos um país democrático de direito e com total

liberdade de informações.”

7.1.5 Quinto Bloco de Respostas

Grande parte dos ufólogos são adeptos da hipótese extraterrestre para explicar a

origem do Fenômeno UFO e acham que a liberação desses documentos pode ajudar a Ciência a

provar que existe vida fora da Terra. James McDonald (1967) insistiu nessa hipótese durante

toda a sua vida, afirmando que os UFOs tinham características de máquinas manufaturadas, que

pareciam fazer observações da Terra. No entanto, para que tal coisa fosse levada em consideração,

ainda se faz necessário que os cientistas, de uma maneira geral, tenham acesso completo às

informações e dados que foram coletados pelas Forças Armadas. Todavia, a ânsia que essa

possibilidade causa nos pesquisadores é quase uma certeza prestes a ser confirmada.

Resposta 1: “A liberdade está em primeiro lugar, por isso a importância de conhecermos sobre

nosso planeta e outros.”

Resposta 2: “A comprovação do avistamento por parte dos militares de que nosso espaço aéreo

tem sido visitado por naves extraterrestres.”

Resposta 3: “De suma importância, pois é preciso conscientizar a humanidade de uma reali-

dade que está cada vez mais perto de ser revelada. A existência de vidas fora do nosso

Planeta Terra.”

Resposta 4: “Ajuda para desvendar o véu existente que nos impede de descobrir realmente

quem são estas inteligências e quem somos nós neste contexto universal.”

Page 91: Documentos Ufológicos: o desafio para o acesso à informação · 2018-08-28 · ... gostaria de agradecer e relembrar todos os grandes guerreiros e percus-sores da ... humilhação

90

Resposta 5: “Muito importante para contribuir com o conhecimento coletivo a respeito da

existência de seres extraterrestres, detentores de tecnologias bem mais avançadas do que

as terrestres.”

Resposta 6: “Muito importante pois aqueles que sabem é já aceitam o fato de não estarmos só,

ficará mais evidente como prova daqueles que ainda são incrédulos, nesse assunto."

Resposta 7: “É uma forma de revelar o que está oculto, mediante aos arquivos secretos há

presença extraterrestres no país (Brasil), e com isso Ministério da Aeronáutica todos os

arquivos secretos em relação há presença alienígena no país há disposição de qualquer

ufólogo e pesquisador que pedir a solicitação aos Arquivos Secretos.”

7.2 Segunda Pergunta: “Você acha que o segredo imposto pelas Forças Armadas preju-

dicou o estudo científico do Fenômeno UFO?”

Após analisados a importância que esses documentos têm para a Comunidade Ufo-

lógica Brasileira, vamos para a pergunta que representa a questão de pesquisa a ser discutida

nesse trabalho: “Você acha que o segredo imposto pelas Forças Armadas prejudicou o estudo

científico do Fenômeno UFO?”

Das respostas colhidas pelos pesquisadores, pudemos classificá-las em três blocos

principais, a primeira delas foi que, segundo os respondentes, a ocultação desses documentos não

prejudicou apenas a eles como indivíduos interessados e estudiosos no assunto, mas também à

sociedade como um todo, atrasando a evolução científica da Humanidade. Isso está diretamente

ligado ao próprio conceito de Ciência da Informação, que, segundo Garcia; Targino; Dantas,

(2012) é essencialmente social, que resulta diretamente do processo evolutivo da Biblioteconomia,

da Documentação, onde caracterizam-se a origem, coleta, organização, transparência e utilização

da informação.

7.2.1 Primeiro Bloco de Respostas

Notadamente o fato desse tipo de informação não estar disponível e ocultada por

razões desconhecidas, é um ataque direto ao coração da Ciência da Informação e a tudo o

que ela representa, sendo muito mais do que algo que atinge um grupo específico de pessoas,

no caso, os ufólogos. Como Martins; Presser (2015, apud Barreto, 1994) expressa, é apenas

quando informação é apropriadamente assimilada é que ela consegue gerar conhecimento, e

Page 92: Documentos Ufológicos: o desafio para o acesso à informação · 2018-08-28 · ... gostaria de agradecer e relembrar todos os grandes guerreiros e percus-sores da ... humilhação

91

dessa forma modificar o estoque mental de informações de uma pessoa, trazendo benefícios ao

seu desenvolvimento e o da sociedade em que ela vive.

Resposta 1: “Claro, tudo que fica escondido, no caso "em segredo "se torna prejudicial para

toda uma nação , pois assim não se tem o real acontecimentos dos fatos.”

Resposta 2: “Não só prejudicou como atrasou a evolução de conhecimentos da massa humana

onde todos nós fomos amordaçados e vendados, até mesmo pelas crenças, como eu mesmo

fui.”

Resposta 3: “Sim, em desenvolvimento científico, seja para tecnologia, seja para estudos de

outras raças e sistemas planetários.”

Resposta 4: “Muito, a verdade sempre aparece, quer as pessoas queiram ou não e isso que os

governos fazem retendo informações ou as entregando em doses homeopáticas, só torna

mais complexo e perigoso o primeiro contato, que na minha opinião está próximo e de

posse destas informações poderiam facilitar o entendimento de ambas as raças.”

Resposta 5: “Acho que já está na hora de todas essas forças se unirem para que todos saibam

de uma vez que o fenômeno existe e nos conscientizem disso.“

Resposta 6: “Sem dúvida, quanto mais demorarmos para entender esse fenômeno, mais tempo

perderemos na nossa evolução.”

7.2.2 Segundo Bloco de Respostas

Neste segundo bloco de respostas, os ufólogos criticam que o sigilo em torno desses

documentos como uma das coisas que ajudou a ridicularizar o Fenômeno UFO ao longo dos anos.

Cain (2006, p.7) descreve o ato de ocultar informações, quando diz que: “não importa a quão

bem-intencionada a razão, qualquer restrição liberdade de expressão e o direito à informação

constitui censura”. Além disso, algumas respostas chamam a atenção ao apontar sobre o poder

alienador desse tipo de política, pois uma das grandes características da censura, está no interesse

daqueles que a ocasionam, em manter o estado de sempre, o estado daquilo que para eles é

aceitável (Oliveira; Castro, 2017). Nesse caso específico dos documentos ufológicos, a censura

não apenas impediu que a informação fosse disseminada, como também contribuiu para que

a Ufologia sofresse com a falta de credibilidade, já que não é possível investigar um evento,

um avistamento ou verificar a veracidade de um depoimento quando as informações sobre ele

são ocultadas, afastando não só a maioria dos cientistas como também a Sociedade como um todo.

Page 93: Documentos Ufológicos: o desafio para o acesso à informação · 2018-08-28 · ... gostaria de agradecer e relembrar todos os grandes guerreiros e percus-sores da ... humilhação

92

Resposta 1: “Sim, menos informação menos credibilidade.”

Resposta 2: “Claro, tudo que fica escondido , no caso ’em segredo’ se torna prejudicial para

toda uma nação , pois assim não se tem o real acontecimentos dos fatos.”

Resposta 3: “Sim, ao ponto de transformá-lo em uma alegoria alienadora da opinião pública,

que permanece oprimida e manipulada por crendices e situações inverossímeis, distante

da análise científicas”

Resposta 4: “Evidente , como também acho que o fato da aeronáutica saber que a não di-

vulgação atrapalha é um dos principais motivos para que ela continue dificultando o

acesso.”

Resposta 5: “Com toda a certeza. No momento em que não há matérias documental para

pesquisa só se pode ir atrás de relatos pessoais, o que não são poucos mas carecem de fé

pública e aval técnico para um estudo mais aprofundado.”

Resposta 6: “Sim. E não apenas o segredo, mas também a contrainformação. Muitos casos

deixam de ser relatados, e por consequência estudados, em razão dessa política de segredo

sobre o assunto e do falso desdém que demonstram para com o mesmo, o que acaba por

desencorajar muitas testemunhas.”

Resposta 7: “Acho, sim! Contudo, foi necessário esconder da população todos os fatos rela-

cionados ao fenômeno, devido aos governos se unirem para a não divulgação dos fatos.

Sendo assim, o Brasil não poderia ficar de fora.”

Resposta 8: “Prejudicou não só os estudos como a seriedade do assunto.”

7.2.3 Terceiro Bloco de Respostas

No terceiro bloco de perguntas o que mais se destacou foi o fato dos pesquisadores

apontarem que informação retida e parada não serve para ninguém. Novamente aqui nos

confrontamos com a quebra de outro conceito relacionado a Ciência da Informação, definido por

Taylor (1963 apud GARCIA; TARGINO; DANTAS, 2012) como:

[ . . . ] ciência que investiga as propriedades e o comportamento da informação,as forças que governam o fluxo da informação e os meios de processar a informa-ção para ótimo acesso e uso. O processo inclui origem, disseminação, coleção,organização, estocagem, recuperação, interpretação e uso da informação

Ocultos, por quaisquer motivos que seja, esses documentos nunca chegaram as mãos

daqueles que se interessam por eles, não puderam passar por uma análise, nem por estudos, o

Page 94: Documentos Ufológicos: o desafio para o acesso à informação · 2018-08-28 · ... gostaria de agradecer e relembrar todos os grandes guerreiros e percus-sores da ... humilhação

93

que acabou fazendo com que muitas informações contidas neles se tornassem obsoletas. Muitos

dados que foram colhidos em locais de avistamentos, pilotos que tiveram contatos com obje-

tos não identificados em pleno voo, entre outros, foram apenas relatados e não passaram por

qualquer investigação para esclarecer aquilo que foi reportado, fazendo com o que informações

necessárias para o esclarecimento do evento se perdessem com o passar do tempo. Xavier; Costa

(2010) define que disponibilizar informação é fomentar a produção de conhecimento, que assim

produzirá mais informação. Sob um carimbo de sigilo, os documentos com informações sobre

Objetos Voadores Não-identificados, jamais poderão gerar informações e muito menos criar

conhecimento deles, afastando ainda mais o Fenômeno UFO do reconhecimento científico que

ela tanto almeja.

Resposta 1: “Certamente, com o agravante de que as forças armadas não tem interesse e/ou

mão de obra e recursos para investigar cientificamente o fenômeno.”

Resposta 2: “Sim. Porque mediante o silêncio militar os cientistas, tão necessários a este

estudo, não se envolveram nele. O efeito reverso, ou seja, a revelação dos segredos da

FAB, levaria à uma posição mais favorável do meio acadêmico.”

Resposta 3: “Não deixa de prejudicar, Pois se caminhasse junto com os ufólogos com certeza

os leques se abririam muito mais para analises e veracidades de fatos.”

Resposta 4: “Certamente. Vemos países na América Latina muito a frente do Brasil aonde ja

existem organização e órgãos governamentais oficialmente a funcionar. Quase uma UFO

governamental. s eventos são catalogados pesquisados e com credibilidade dada pelo

governo todos os cidadãos tem a cesso a informação.”

Resposta 5: “Sim, pois os pesquisadores amadores não possuem a mesma infraestrutura (física,

logística e econômica) que os órgãos oficiais, limitando a profundidade e, por vezes, a

credibilidade da pesquisa.”

Resposta 6: “Sim, porque é um estudo perdido, um estudo trancado. É como se você quisesse

ler um livro e a biblioteca tivesse fechado. Então esses documentos precisam ser libertos

para o estudo ufológico.”

Page 95: Documentos Ufológicos: o desafio para o acesso à informação · 2018-08-28 · ... gostaria de agradecer e relembrar todos os grandes guerreiros e percus-sores da ... humilhação

94

8 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O Fenômeno UFO é estudado em nossa sociedade moderna desde o final dos anos 40,

apesar de toda a detratação, desmentidos e a vasta batalha para o seu acobertamento, que tanto foi

tratado aqui, ele segue firme e seu mistério ainda está longe de ser desvendado. No entanto, esse

segredo se tornou um pouco mais real e próximo de nós quando os documentos oficiais referentes

a ele finalmente foram liberados e puderam ser conhecidos, não apenas por aqueles que se

dedicam ao estudo dos UFOs, mas também por toda a sociedade. No entanto, os ufólogos sabem

que ainda existe muito mais para ser liberado e que a campanha “UFOS-Liberdade de Informação

Já!” foi apenas a ponta do iceberg de muitos documentos que ainda estão retidos. Não existe

ainda qualquer explicação oficial que esclareça o motivo que esses arquivos não sejam totalmente

disponibilizados ao público, o que nos deixa apenas com a lamentável sensação de censura por

parte de nossas autoridades e essa é uma das primeiras considerações que podemos fazer. Numa

democracia, como o Brasil, os direitos civis, incluindo o direito de acesso à informação, devem

ser respeitados, mas o tratamento imposto pelo Governo Brasileiro, durante anos, foi e ainda é

de desrespeito a esses direitos quando o assunto se refere a Ufologia.

Como já foi falado, o Fenômeno UFO pode ser considerado um dos grandes mistérios

da Humanidade e nele pode estar também o que poderia significar a resposta para uma das

perguntas que instiga a imaginação humana há milênios: “Estaríamos sós ou não no Universo?”

Como também a de que o Fenômeno UFO poderia ser algo completamente novo e diferente

daquilo que achamos, mas tudo isso só pode ser verificado quando o véu do segredo imposto

a ele finalmente cair e tivermos acesso a tudo o que já foi pesquisado e analisado pelas nossas

autoridades sigilosamente. Tudo isso tem uma ligação direta com a Ciência da Informação, cuja

as bases se encontram na disseminação, no acesso e no bom uso das informações, o que nossas

autoridades não estão fazendo quando o assunto é Ufologia.

Levando tudo isso em consideração, o objetivo geral dessa pesquisa esteve em

demonstrar o prejuízo que essa censura está causando à Ciência de uma forma incalculável, um

atraso de no mínimo 70 anos, que foi o tempo em que esses objetos não identificados começaram

a ser relatados de maneira oficial. No que se refere à Ciência da Informação especificamente,

esse prejuízo é claro, pois sua condição de ciência social, ela tem como característica suprir

as demandas informacionais das pessoas, o que não está acontecendo quando tratamos de

informações oficiais referentes à Ufologia.

O posicionamento dos pesquisadores com relação a falta de informações, de acordo

Page 96: Documentos Ufológicos: o desafio para o acesso à informação · 2018-08-28 · ... gostaria de agradecer e relembrar todos os grandes guerreiros e percus-sores da ... humilhação

95

com o que foi apurado pelo questionário, é muito clara, ela fez com que a pesquisa ufológica

tomasse um caminho perigoso, que fosse desconsiderada e tomasse o rumo do deboche e da

chacota pública, que virasse uma piada, uma lenda urbana, afastando de vez todo e qualquer

interesse que a classe científica poderia ter no assunto. Claro que houve cientistas que se

interessaram pelos UFOs, lutaram pelo seu reconhecimento e que para que as informações sobre

eles fossem divulgadas como os já citados James McDonald e Josef A. Hynek entre outros, mas

apenas essas pessoas não poderiam mudar sozinhas a política de acobertamento e censura que

se instalou em cima do Fenômeno UFO e mesmo eles, que eram cientistas respeitados em seu

campo de atuação, não escaparam do escárnio de seus colegas e da negação dos governos.

A principal consequência dessa censura, também de acordo com o questionário

respondido pelos ufólogos, está na quantidade imensa de dados e informações que se perdem e

que deixam de passar por estudos e verificações de pessoas interessadas e qualificadas, afundando

ainda mais a legitimação de um Fenômeno que tanto intriga a Humanidade. Informações em

documentos que não podem ser acessados relatando eventos anormais com esses objetos não

identificados que se passam em nosso espaço aéreo, muitas vezes colocando em risco a vida

de pilotos e civis, assustando populações inteiras como no famoso Caso da Operação Prato. O

desrespeito às leis e ao direito da população aqui é gritante! Os cidadãos são deixados às escuras,

testemunhando situações estranhas e sem qualquer explicação por parte do governo ou o mesmo

negando que eles sequer existiram.

O Acobertamento Ufológico é uma dos maiores exemplos de como a censura e o má

disseminação da informação prejudicam a sociedade em todos os sentidos e essas duas coisas

vem de encontro a desafios que a Ciência da Informação enfrenta desde sempre, portanto, a

importância de se discutir uma situação como essa é fundamental, afinal, estamos num país

democrático, onde o direito à informação é protegido por lei e infelizmente pouco respeitado.

É muito difícil prever o que o futuro aguarda com relação a novas liberações de

documentos ufológicos, mas independentemente do que acontecer, o debate com relação a esse

segredo imposto ao Fenômeno UFO deve ser debatido no âmbito da Ciência e do profissional

da informação, as implicações que ele causa até os dias de hoje, impendido que pesquisas e

descobertas sejam feitas, afastando cientistas e interessados do tema, ajudando a transformar a

questão num imenso circo para a mídia. Todas essas coisas são efeitos de uma censura imposta e

também do péssimo uso que as informações sobre os UFOs foram divulgadas ao longo dos anos,

propositalmente ou não.

Page 97: Documentos Ufológicos: o desafio para o acesso à informação · 2018-08-28 · ... gostaria de agradecer e relembrar todos os grandes guerreiros e percus-sores da ... humilhação

96

Se a Ciência da Informação deseja respeitar seus pilares de disseminação e informa-

ção como ferramenta para a cidadania, tem que começar a prestar atenção e discutir as graves

situações de desrespeito que estão envolvidas quando o assunto é acobertamento ufológico,

pois como já demonstram os documentos que foram liberados, o Fenômeno UFO representa

um assunto sério, preocupante e que tem a atenção das Forças Armadas. É importante que se

comece a preparar o público para esses dados, que se aja para combater os danos que a má

informação desse assunto causou com tempo, que se faça uma pressão maior para que o governo

libere o que ainda retém sob sigilo e se comece a tratar a Ufologia com a seriedade que lhe foi

negada por tantos anos, e isso é algo que os pesquisadores de ufos não podem fazer sozinhos,

eles precisam do interesse e da ajuda da Ciência da Informação e seus profissionais para trazer

esses documentos e tudo o que eles contém para a visibilidade pública, que com a estimulação

desse interesse, outras áreas científicas também possam finalmente se interessar pelo tema, algo

incessantemente desejado pelos ufólogos.

Page 98: Documentos Ufológicos: o desafio para o acesso à informação · 2018-08-28 · ... gostaria de agradecer e relembrar todos os grandes guerreiros e percus-sores da ... humilhação

97

REFERÊNCIAS

A Estranha Morte do Dr. Morris K. Jessup. Disponível em: <https://mummuo.wordpress.com/

2013/01/21/a-estranha-morte-do-dr-morris-jessup/>. Acesso em: 4 nov. 2016.

ALBINO, Wallacy. UFOs: Casos em que alienígenas cruzam as rotas de aeronaves civis e

militares. Revista UFO, Curitiba, v. 94, n. 12, p. 10–19, dez. 2003.

BELOTTO, Heloísa Liberalli. Arquivos Permanentes: Tratamento Documental. Rio de Ja-

neiro: Fundação Gertúlio Vargas, 2006.

BRASIL. Procedimentos para classificação de informação em grau de sigilo: cartilha. 2. ed.

Brasília, 2017. 67 p.

CAIN, Charlene C. Librarians and censorship: the ethical imperative. Lousiana libraries.

Disponível em: <http://www.llaonline.org>. Acesso em: 2 jun. 2017.

CAMARGO, Jackson L. Os mistérios da caixa preta sobre UFOs nos arquivos militares. Revista

UFO, Curitiba, v. 31, n. 225, p. 10–16, ago. 2015. Disponível em: <http://www.ufo.com.br/

artigos/os-misterios-da-caixa-preta-sobre-ufos-nos-arquivos-militares>. Acesso em: 22 mar.

2017.

CAPURRO, Rafael; HJORLAND, Biger. O Conceito de Informação: Perspectivas em Ciência

da Informação. v. 12, n. 1, p. 148–207, jan. 2007.

CAUDE, Roland. Como se documentar. Lisboa: Editorial Pórtico, 1975.

CONDON, Edward Uhler. The Condon Report: Scientific Study of Unidentified Flying Objects.

1968. Disponível em: <http://www.avia-it.com/act/biblioteca/libri/PDF_Libri_By_Archive.org/

AVIATION/Final%20report%20of%20the%20Scientific%20study%20of%20Unidentified%

20Flying%20Objects%20-%20Condon%20E..pdf>. Acesso em: 4 nov. 2016.

DE LA TORRE, Gabriel G. Toward a new cosmic consciousness: Psychoeducational aspects

of contact with extraterrestrial civilizations. Acta Astronautica, v. 94, n. 2, p. 577–583, 2014.

ISSN 0094-5765. DOI: https: / /doi .org/10.1016/j .actaastro.2013.08.021. Disponível em:

<http://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S009457651300341X>.

DICTIONNAIRE. DICTIONNAIRE encyclopédique de l’information et la documentation.

2. ed. Paris: Nathan, 2001.

FBI File of Dr. James E. McDonald. Disponível em: <http://www.cufon.org/cufon/fbimcdon.

htm>. Acesso em: 21 jan. 2017.

Page 99: Documentos Ufológicos: o desafio para o acesso à informação · 2018-08-28 · ... gostaria de agradecer e relembrar todos os grandes guerreiros e percus-sores da ... humilhação

98

FRIEDMAN, Staton. As 5 razões porque os governos não revelam a verdade sobre os OV-

NIs, de acordo com Staton Friedman. 2012. Disponível em: <http://ovnihoje.com/2012/04/

02/as-5-razoes-porque-os-governos-nao-revelam-a-verdade-sobre-os-ovnis-de-acordo-com-

%09%09%09staton-friedman>.

GARCIA, Joana Coeli Ribeiro; GRAÇAS TARGINO, Maria das; DANTAS, Esdras Renan Farias.

Conceito De Responsabilidade Social da Ciência da Informação. Inf. Inf., Londrina, v. 17, n. 1,

p. 1–25, jan. 2012. Disponível em: <http://www.uel.br/revistas/uel/index.php/informacao/article/

view/12309>. Acesso em: 7 jun. 2018.

GEVAERD, Ademar José. Segredos Militares: Novos Documentos e fotos mostram como a FAB

pesquisava discos voadores em todo o país. Revista UFO, Curitiba, v. 26, n. 233, p. 12–16, out.

2009. Disponível em: <http://www.ufo.com.br/artigos/segredos-militares>. Acesso em: 12 out.

2017.

GEVAERD, Ademar José et al. Manifesto da Ufologia Brasileira. Revista UFO, Curitiba, v. 24,

n. 137, p. 7–9, dez. 2007. Disponível em: <http://www.ufo.com.br/artigos/segredos-militares>.

Acesso em: 22 mai. 2017.

GIL, Antônio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. São Paulo: Atlas, 2002.

GILLIAN, J. K. Looking Up: Professor James E. Mcdonald, 2013. Disponível em: <http :

//physics.princeton.edu/~mcdonald/JEMcDonald/gillin_senior_thesis_jem_0613.pdf>. Acesso

em: 12 jan. 2017.

GUEDES, Roger De Miranda. O Profissional da Informação frente À Lei De Acesso à Infor-

mação Pública: Condutas Possíveis. Biblos: Revista do Instituto de Ciências Humanas e da

Informação, v. 28, n. 2, p. 59–72, jul. 2014.

HAINES, Gerald K. O envolvimento da CIA na pesquisa dos Discos Voadores. Revista UFO,

Curitiba, v. 10, n. 60, p. 14–24, out. 1998.

HYNEK, Josef Allen. Ufologia: Uma Pesquisa Científica. Tradução: Wilma Freitas e Ronald

de Carvalho. Rio de Janeiro: Nórdica, 1972.

JACOBS, David Michael. The UFO Controversy In America. New York: Indiana University

Press, 1975.

KEYHOE, Donald Edward. Flying Saucers from Outer Space. 1. ed. Nova Iorque: Henry Holt

e Company, 1953.

Page 100: Documentos Ufológicos: o desafio para o acesso à informação · 2018-08-28 · ... gostaria de agradecer e relembrar todos os grandes guerreiros e percus-sores da ... humilhação

99

KEYHOE, Donald Edward. The Flying Saucer Conspiracy. 2. ed. Nova Iorque: Henry Holt e

Company, 1955.

LE COADIC, Yves-François. A ciência da informação. 2. ed. Brasília: Lemos Informação e

Comunicação, 2004.

LOPES, Luis Carlos. A Informação e os Arquivos: teorias e práticas. Niterói e São Carlos:

EDUFF e EDUFScar, 1996.

MCDONALD, James Edward. A Need For International Study Of UFOs. Disponível em:

<http://physics.princeton.edu/~mcdonald/JEMcDonald/mcdonald_fsr_14_2_11_68.pdf>. Acesso

em: 4 nov. 2016.

. Are UFOs Extraterrestrial Surveillance Craft? Talk given at the American Insti-

tute of Aeronautics and Astronautics. Los Angeles: [s.n.], 26 mar. 1968.

. UFOs and the Condon Report. Prepared for the Medical Students Coloquium of

the Arizona College of Medicine. Tucson, Arizona: [s.n.], 30 jan. 1969.

. . Presented to the Dupont of The Scientific Research Society of America

(RESA). Wilmington, Delaware: [s.n.], 12 fev. 1969.

. Unidentified Flying Objects: Greatest Scientific Problem of Our Times? Lectu-

res compiled, published and copyrighted at Dr. Mcdonald’s request by Pittsburgh Subcomitee,

National Investigations Comittee On Arial Phenomena (NICAP). Pittsburgh: [s.n.], 1967.

NAUD, Yves. Os OVNIS e os Extraterrestres na História. Rio de Janeiro: Otto Pierre Editores,

1980.

OLIVEIRA, Alessandra Nunes de; CASTRO, Jetur Lima de. ENTRE A CENSURA E A

DISSEMINAÇÃO: uma análise crítica sobre a prática profissional bibliotecária fundada na

emancipação de informação e dignidade humana. Páginas a&b, n. 7, p. 31–50, 3 2017. DOI:

10.21747/21836671/pag7a3.

ORTEGA, Cristina Dotta. Surgimento e consolidação da Documentação: Subsídios para a

compreensão da história da Ciência da Informação no Brasil. Perspectivas em Ciência da

Informação, v. 14, número especial, p. 59–79, 2009. Disponível em: <http://producao.usp.br/

handle/BDPI/15001>. Acesso em: 19 jun. 2018.

PETIT, Marco Antônio. Um Mergulho na Ufologia Militar Brasileira. Campo Grande: Centro

Brasileiro de Pesquisa de Discos Voadores (SBPDV), 2007.

Page 101: Documentos Ufológicos: o desafio para o acesso à informação · 2018-08-28 · ... gostaria de agradecer e relembrar todos os grandes guerreiros e percus-sores da ... humilhação

100

PRODANOV, Cleber Cristiano; FREITAS, Cesar Ernani de. Metodologia do trabalho cientí-

fico [recurso eletrônico] : métodos e técnicas da pesquisa e do trabalho acadêmico. Novo

Hamburgo: Feevale, 2013.

QUEIROZ, Daniela Gralha de Caneda; MOURA, Ana Maria Mielniczuk de. Ciência da Informa-

ção: história, conceitos e características. Em Questão, Porto Alegre, v. 21, n. 3, p. 25–42, ago.

2015.

RAMALHO, Fernando. O Fim do Segredo: O Governo finalmente começa a abrir seus arquivos.

Revista UFO, Curitiba, v. 26, n. 155, p. 10–15, jul. 2009. Disponível em: <http://www.ufo.com.

br/artigos/o-fim-do-segredo/>. Acesso em: 2 nov. 2017.

. Segredos Ufológicos: Os fatos, a mídia e governo brasileiro. Revista UFO, Curitiba,

v. 33, n. 235, p. 10–19, jun. 2009. Disponível em: <http://www.ufo.com.br/artigos/segredos-

ufologicos-os-fatos-a-midia-e-o-governo-brasileiro>. Acesso em: 2 out. 2017.

SILVA, Edna Lúcia da; MENEZES, Edna Estera Muszkat. Metodologia da pesquisa e elabora-

ção de dissertação. 4. ed. Florianópolis: UFSC, 2005. 138 p. Disponível em: <https://projetos.inf.

ufsc.br/arquivos/Metodologia_de_pesquisa_e_elaboracao_de_teses_e_dissertacoes_4ed.pdf>.

Acesso em: 19 jun. 2018.

SMIT, Johanna. O Que é Documentação. São Paulo: Editora Brasiliense S.A., 1986. SOBRE

DOCUMENTOS.

THOMPSON, Ricard L. Identidades Alienígenas: O Fenômeno Ufológico moderno sob a

ótica da sabedoria divina. Rio de Janeiro: Record, 2002.

TRIVIÑOS, Augusto Nibaldo Silva. Introdução à pesquisa em ciências sociais: a pesquisa

qualitativa em educação. São Paulo: Atlas, 1992.

UFOS são assunto recorrente nos pedidos da Lei de Acesso à Informação. Disponível em:

<http://www.ufo.com.br/noticias/ufos-sao-assunto-recorrente-nos-pedidos-da-lei-de-acesso-a-

informacao>. Acesso em: 23 set. 2017.

UNIÃO, CONTROLADORIA GERAL DA. Acesso à Informação Pública: Uma introdução

à Lei 12.527, de 18 de novembro de 2011. Unesco, Brasília, 25 p., 2011. Disponível em:

<http://www.acessoainformacao.gov.br/central-de-conteudo/publicacoes/arquivos/cartilhaaces

soainformacao.pdf>. Acesso em: 25 out. 2017.

Page 102: Documentos Ufológicos: o desafio para o acesso à informação · 2018-08-28 · ... gostaria de agradecer e relembrar todos os grandes guerreiros e percus-sores da ... humilhação

101

VERGUEIRO, Waldomiro de Castro Santos. Censura e seleção de materiais em bibliotecas:

o despreparo dos bibliotecários brasileiros. Ciência da informação, Instituto Brasileiro de

Informação em Ciência e Tecnologia, v. 16, n. 1, p. 21–26, 1987.

VIEIRA, Sebastiana Batista. Técnicas de Arquivo e Controle de Documentos. Rio de Janeiro:

Temas & Idéias, 2005.

WIKIPÉDIA. Wernher von Braun. 2016. Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/

Wernher_von_Braun>. Acesso em: 20 out. 2016.

XAVIER, Rodolfo Coutinho Moreira; COSTA, Rubenildo Oliveira da. Relações mútuas entre

informação e conhecimento: o mesmo conceito? Ci. Inf., Brasília, v. 39, n. 2, p. 75–83, mai.

2010.