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DOCUMENTOS Teses sobre o Socialismo Por Comité Central do Partido Comunista da Grécia (KKE) Sumário: A. A contribuição do Sistema Socialista B. Posições teóricas sobre o Socialismo como primeiro estádio, inferior, do Comunismo C. Socialismo na URSS – Causas da vitória da contra-revolução Avaliação da Economia no decurso da construção Socialista na URSS Conclusões sobre o papel do Partido Comunista no processo de construção Socialista O desenvolvimento do Poder Soviético Desenvolvimentos no Movimento Comunista Internacional e a sua estratégia Avaliação da posição do KKE D. A necessidade e importância do Socialismo. Enriquecimento da nossa concepão programática do Socialismo A necessidade e importância do Socialismo Enriquecimento da nossa concepção programática do Socialismo Epílogo A. A contribuição do Sistema Socialista 1. O desenvolvimento do capitalismo e a luta de classes trouxe inevitavelmente o comunismo para a luz da ribalta da História em meados do século XIX. O primeiro programa comunista científico é o “Manifesto Comunista” escrito por K. Marx e F. Engels há 160 anos em 1848. A primeira revolução proletária foi a Comuna de Paris em 1871. No século XX triunfou a Revolução Socialista de Outubro na Rússia em 1917, que foi o ponto de partida para uma das maiores conquistas da civilização na História da humanidade, a abolição da exploração do homem pelo homem. A seguir, após a II Guerra Mundial, foi conquistado o poder do Estado, a fim de realizar a construção do socialismo, numa série de países da Europa e Ásia, bem como no continente americano, em Cuba. Apesar dos vários problemas dos países socialistas, o sistema socialista do século XX demonstrou a sua superioridade sobre o capitalismo e as enormes vantagens que proporciona para a vida e as condições de trabalho dos povos. A União Soviética e o sistema socialista mundial constituiu a única força real contra a agressão imperialista.

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DOCUMENTOS Teses sobre o Socialismo Por Comité Central do Partido Comunista da Grécia (KKE) Sumário: A. A contribuição do Sistema Socialista B. Posições teóricas sobre o Socialismo como primeiro estádio, inferior, do Comunismo C. Socialismo na URSS – Causas da vitória da contra-revolução Avaliação da Economia no decurso da construção Socialista na URSS Conclusões sobre o papel do Partido Comunista no processo de construção Socialista O desenvolvimento do Poder Soviético Desenvolvimentos no Movimento Comunista Internacional e a sua estratégia Avaliação da posição do KKE D. A necessidade e importância do Socialismo. Enriquecimento da nossa concepão programática do Socialismo A necessidade e importância do Socialismo Enriquecimento da nossa concepção programática do Socialismo Epílogo A. A contribuição do Sistema Socialista 1. O desenvolvimento do capitalismo e a luta de classes trouxe inevitavelmente o comunismo para a luz da ribalta da História em meados do século XIX. O primeiro programa comunista científico é o “Manifesto Comunista” escrito por K. Marx e F. Engels há 160 anos em 1848. A primeira revolução proletária foi a Comuna de Paris em 1871. No século XX triunfou a Revolução Socialista de Outubro na Rússia em 1917, que foi o ponto de partida para uma das maiores conquistas da civilização na História da humanidade, a abolição da exploração do homem pelo homem. A seguir, após a II Guerra Mundial, foi conquistado o poder do Estado, a fim de realizar a construção do socialismo, numa série de países da Europa e Ásia, bem como no continente americano, em Cuba. Apesar dos vários problemas dos países socialistas, o sistema socialista do século XX demonstrou a sua superioridade sobre o capitalismo e as enormes vantagens que proporciona para a vida e as condições de trabalho dos povos. A União Soviética e o sistema socialista mundial constituiu a única força real contra a agressão imperialista.

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O papel da União Soviética na vitória antifascista dos povos durante a II Guerra Mundial foi decisiva. A União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) esmagou a máquina militar das forças alemãs e aliadas que tinham invadido o território soviético. Ela libertou das forças alemãs de ocupação uma série de países da Europa. Mais de 20 milhões de cidadãos soviéticos deram vida pela pátria socialista e 10 milhões foram feridos ou ficaram inválidos. O grau de devastação do território soviético foi enorme. As vitórias do Exército Soviético impulsionaram de forma importante o desenvolvimento dos movimentos de libertação nacional e antifascistas, que foram conduzidos por Partidos Comunistas. Em muitos países da Europa Central e Oriental, a luta antifascista, com a contribuição decisiva do Exército Vermelho, levou ao derrube do regime burguês. O sistema socialista deu exemplos históricos de solidariedade internacionalista com povos que lutavam contra a exploração, a ocupação estrangeira e a intervenção imperialista; contribuiu decisivamente para a dissolução do sistema colonial e para a limitação de confrontações e conflitos militares. As conquistas dos trabalhadores nos Estados socialistas foram um ponto de referência durante muitas décadas e contribuíram para os avanços conseguidos pela classe trabalhadora e o movimento popular em sociedades capitalistas. O equilíbrio internacional de forças que formou após a II Guerra Mundial obrigou, até certo ponto, Estados capitalistas a recuar e a manobrar a fim de limitar a linha revolucionária de luta e criar condições de poderem assimilar o movimento da classe trabalhadora. A abolição das relações capitalistas de produção libertou a humanidade das sujeições da escravidão assalariada e abriu caminho para a produção e desenvolvimento das ciências com a finalidade de satisfazer as necessidades do povo. Deste modo, todos tinham trabalho garantido, cuidados médicos e educação gratuitos, o fornecimento de serviços baratos por parte do Estado, habitação e acesso a actividades culturais. Em 1913, os camponeses, trabalhadores e empregados do Império Russo detinham 53% do rendimento nacional, enquanto às classes exploradoras correspondiam 47%, ou seja quase metade. Depois da Grande Revolução Socialista de Outubro, a parte do rendimento que não provinha do trabalho caiu abruptamente; contudo em 1927-1928, os elementos exploradores ainda expropriavam 8,1 % do rendimento nacional. Em meados de 1930, o rendimento total do Estado pertencia inteiramente aos trabalhadores. A erradicação completa do terrível legado da iliteracia, juntamente com o aumento do nível geral de educação e especialização e a abolição do desemprego, constituem feitos únicos do socialismo. Na União Soviética, segundo um inquérito do censo de 1970, mais de ¾ da população das cidades e 50% dos trabalhadores nas áreas rurais tinham completado educação de nível médio ou superior.

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A URSS, durante os 24 anos anteriores do assalto nazi, deu passos importantes no seu desenvolvimento industrial e económico, tentando ultrapassar o atraso que tinha herdado do capitalismo. A revolução cultural, como elemento inseparável da construção socialista, proporcionou ao povo trabalhador a possibilidade de conhecer e fruir as conquistas da cultura humana. Na União Soviética, em 1975, estava garantido por lei que o número de horas de trabalho não podia exceder as 41 horas por semana, um dos horários menores do mundo. A todos os trabalhadores eram garantidos dias para descanso e relaxamento e férias anuais pagas. O tempo livre foi alargado e o seu conteúdo mudou. O tempo livre deixou de ser tempo para a reprodução da mercadoria força de trabalho, com o objectivo de a manter apta para a exploração capitalista. Era dada oportunidade aos trabalhadores de utilizarem o tempo livre para elevarem o seu nível cultural e educacional e de participarem em comissões dos trabalhadores e na administração da produção. A Segurança Social para os trabalhadores tinha alta prioridade para o Estado socialista. Foi criado um sistema integral de benefícios na reforma com a importante direito a baixos limites de idade para a reforma (55 anos para as mulheres, 60 para os homens). O financiamento do fundo estatal de pensões era garantido pelo orçamento estatal (apropriações fiscais) e contribuições de seguro derivadas de empresas e fundações. Condições similares existiam nos restantes Estados socialistas europeus. O poder socialista lançou os fundamentos para a abolição da desigualdade que sofriam as mulheres, vencendo as grandes dificuldades que objectivamente existiam. O socialismo assegurava na prática o carácter social da maternidade e cuidados socializados à criança. Foram instituídos direitos iguais para mulheres e homens no campo económico, político e cultural, sem que isso significasse, como é natural, que todas as formas das relações desiguais entre os dois géneros desenvolvidas durante um espaço de tempo tão longo pudessem ser anuladas imediatamente. A ditadura do proletariado, o poder revolucionário dos trabalhadores, como Estado que exprimia os interesses da maioria social do povo explorado, e não da minoria dos exploradores, era a prova de uma forma superior de democracia, com a participação de representantes do povo trabalhador no poder e na administração, a possibilidade de eleger e revogar representantes para participarem em níveis superiores de poder. O poder dos trabalhadores retirou as massas da margem, desenvolvendo grande número de organizações de massas: sindicatos, organizações culturais e educacionais, em que a maioria da população estava organizada. A propaganda burguesa e oportunista, falando de falta de liberdade e de regimes antidemocráticos, projecta os conceitos de “democracia” e “liberdade” no conteúdo burguês destes, identificando democracia com o parlamentarismo burguês e

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liberdade com o individualismo e a propriedade capitalista privada. A real essência da liberdade e da democracia no capitalismo é a coerção económica é a escravidão do salário e a ditadura do capital em geral na sociedade e especialmente no interior das empresas capitalistas. A nossa abordagem crítica do controlo e da participação dos trabalhadores e dos povos não tem nada que ver com as abordagens burguesas e oportunistas da democracia na URSS. A Revolução de Outubro lançou um processo de igualdade entre nações e nacionalidades no quadro de um gigante estado multinacional e deu uma direcção para a resolução do problema das nacionalidades, ao abolir a opressão nacional sob todas as formas e manifestações, Este processo foi minado, contudo, no decurso da erosão das relações comunistas e parou completamente com os desenvolvimentos contra-revolucionários na década de 1980. Os Estados socialistas fizeram grandes esforços por desenvolver formas de cooperação e relações económicas baseadas no princípio do internacionalismo proletário. Com a fundação em 1949 do Conselho de Assistência Mútua Económica (CAME) foi feito um esforço para formar um tipo novo, sem precedente, de relações internacionais que se baseava em princípios de igualdade, de vantagem e ajuda mútuas entre Estados que estavam a construir o socialismo. Um assunto que precisa mais investigação é o das relações entre os Estados membros do CAME, bem como as relações económicas entre os estados membros do CAME com estados capitalistas, em especial durante o período em que a construção socialista começou a retroceder. Os avanços que indubitavelmente foram conseguidos nos Estados socialistas, tendo em conta o ponto de partida e o padrão de vida dos trabalhadores no mundo capitalista, provam que o socialismo possui um potencial intrínseco para uma melhoria impressionante da vida da humanidade e o desenvolvimento da personalidade humana. O nível de desenvolvimento do socialismo em cada Estado revolucionário dos trabalhadores não era o mesmo e dependia em grande parte do nível de desenvolvimento capitalista existente na altura da tomada do poder – uma questão que tem de ser considerada quando se fazem avaliações e comparações. Contudo, o mais significativo é o facto de o salto histórico que foi tentado e realizado com a Revolução de Outubro na Rússia, como ponto de partida, ter dado um importante impulso ao desenvolvimento do homem, como principal força produtiva, nas suas conquistas científicas e tecnológicas, no avanço dos seus padrões de vida, do nível educacional e cultural. Historicamente novo era a particularidade de este desenvolvimento dizer respeito às massas como um todo, em contraste com o desenvolvimento capitalista que está interligado com a exploração e a injustiça social, com grande devastação, como a que ocorreu com as populações nativas no continente americano e na Austrália, com o sistema de escravidão em massa nos EUA nos séculos precedentes, com a exploração colonial, com a anarquia da produção e a consequente destruição provocada pelas grandes crises económicas, com guerras imperialistas, trabalho infantil e muito mais.

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A contribuição e a superioridade da construção do socialismo na URSS devem ser ajuizadas em correlação com a estratégia imperialista de cerco que causou grande destruição, obstáculos e ameaças contínuas. A estratégia imperialista tomou várias formas durante períodos diferentes do poder revolucionário dos trabalhadores (ataque imperialista directo em 1918 e 1941, declaração da Guerra Fria em 1946, relações diplomáticas políticas diferenciadas com outros Estados da Europa Central e Oriental). Este facto não anula a necessidade de focar a nossa atenção nas condições internas, nas relações económico-políticas, com o papel decisivo do factor subjectivo no predomínio, desenvolvimento e supremacia das novas relações sociais. B. Posições teóricas sobre o socialismo como primeiro estádio, inferior, do Comunismo. 2. O socialismo é o primeiro estádio da formação económico-social; não é uma formação económico-social. É um comunismo imaturo, não desenvolvido. Para o estabelecimento completo das relações comunistas é necessário ultrapassar os elementos de imaturidade que caracterizam o seu estádio inferior, o socialismo. Comunismo imaturo significa que as relações comunistas na produção e distribuição ainda não prevalecem completamente. É válida a lei básica do modo de produção comunista: “Produção para ampla satisfação das necessidades sociais.” Os meios de produção concentrados são socializados, mas inicialmente ainda persistem formas de propriedade individual e de grupo que constituem a base da existência das relações mercadoria-dinheiro. Grande parte do produto social para consumo individual é distribuída com base no trabalho, e não nas necessidades, de acordo com o princípio “a cada um segundo o seu trabalho, cada um trabalhando segundo as suas capacidades.” Nas condições do comunismo desenvolvido o princípio que predomina é: “de cada um segundo as suas capacidades, a cada um segundo as suas necessidades” para a totalidade do produto social. No socialismo ainda continuam a existir desigualdades sociais, estratificação social, diferenças importantes ou mesmo contradições, tais como entre a cidade e o campo, trabalhadores intelectuais e operários manuais, trabalhadores especializados e não especializados. Todas estas desigualdades têm de ser completamente erradicadas, gradualmente e de maneira planeada. Quanto mais imaturo é o desenvolvimento socialista, mais o nível educacional e tecnológico da massa dos trabalhadores não permite ainda o seu papel substantivo na organização do trabalho, na sua percepção dos diferentes

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segmentos do processo de produção, no trabalho administrativo. Nestas condições, trabalhadores em posições de gestão tendem a isolar do interesse social o interesse individual e o interesse da unidade de produção, enquanto trabalhadores que executam trabalho intelectual e têm alta especialização científica tendem a reclamar uma maior parte do produto social total, visto que a “posição comunista” para com o trabalho ainda não prevaleceu. Para que o modo de produção comunista se amplie, se desenvolva e prevaleça inteiramente, a luta de classes da classe trabalhadora tem de continuar – em novas condições, com outras formas e meios em comparação com a luta travada sob o capitalismo e durante o primeiro período do poder revolucionário em que as relações capitalistas estão a ser abolidas. É uma batalha contínua pela abolição de qualquer forma de propriedade de grupo e individual, assim como da consciência pequeno-burguesa que tem profundas raízes históricas; é uma luta pela formação da consciência e atitude sociais correspondentes ao carácter social do trabalho. Por esta razão, é necessária a existência de um Estado com o poder revolucionário da classe trabalhadora, a ditadura do proletariado. O salto que ocorre durante o período revolucionário da transição do capitalismo para o comunismo desenvolvido é qualitativamente superior a qualquer verificado no passado, uma vez que as relações comunistas – que não são de natureza exploradora – não se formam no seio do capitalismo. É um combate das “sementes” do novo contra os “vestígios” do velho sistema em todas as esferas da vida social. A luta pela transformação de todas as relações económicas e, por extensão, de todas as relações sociais em relações comunistas significa que a revolução social não pode limitar-se à tomada do poder ou à formação de uma base económica inicial, tendo sim de prolongar--se por todo o período de socialismo. 3. A construção do socialismo é um processo ininterrupto, que começa com a tomada do poder pela classe trabalhadora. Ao princípio é formado o novo modo de produção, que prevalece essencialmente com a completa abolição das relações capitalistas, da relação do capital com o trabalho assalariado. Posteriormente, as relações comunistas e o novo tipo de homem continuam a desenvolver-se para um nível que garante o seu predomínio irreversível. A construção do socialismo contém a possibilidade de uma inversão do seu curso e um retrocesso para o capitalismo, como derrota da luta pelo completo desenvolvimento das novas relações comunistas contra os remanescentes das velhas relações capitalistas. Um tal retrocesso não é um fenómeno novo na História social. É um facto irrefutável que nenhum sistema económico-social alguma vez se consolidou imediatamente na história da humanidade. A passagen de uma fase inferior para uma fase superior de desenvolvimento não é um processo rectilíneo de ascensão. Isto é demonstrado pela própria história da evolução do capitalismo. 4. Consideramos como incorrecta a abordagem que, falando de “sociedades de transição”, atribui características autónomas e uma existência a longo prazo ao período de “transição do capitalismo para o socialismo” (construção da base da

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nova formação económico-social). Deste ponto de vista, os actuais sistemas na China e no Vietname são interpretados como “sociedades multi-sectoriais” em que relações comunistas “coexistem” com relações de produção exploradoras durante décadas. Não menosprezamos as características especiais do período conhecido na bibliografia marxista como “período de transição”, durante o qual a revolução socialista procura vencer, uma eventual guerra civil se desenvolve, é travada a luta aguda das relações comunistas, que começam precisamente a desenvolver-se, contra as relações capitalistas de exploração, que ainda não foram abolidas. A duração deste período depende do atraso que o socialismo herdou do capitalismo. A experiência histórica mostrou que este período não pode durar muito tempo. Na URSS este período estava terminado em meados da década de 1930. A luta contra as relações capitalistas, as dificuldades de construção de uma base socialista foram agudizadas devido à herança feudal e patriarcal nas antigas colónias da Rússia carista. Nesta altura, Lenin sublinhou que em países onde a indústria é mais desenvolvida, as medidas de transição para o socialismo são limitadas ou em certos casos tornam-se inteiramente desnecessárias. O chamado período de transição não é independente do processo de construção do socialismo, visto que é durante ele que se estabelece a base para o desenvolvimento de uma sociedade comunista na sua primeira fase. 5. A formação do modo de produção comunista começa com a socialização dos meios de produção concentrados, com o planeamento central, com a afectação da força de trabalho aos diferentes ramos da economia, com a distribuição planeada do produto social. Com base nestas novas relações económicas, as forças produtivas desenvolvem-se a ritmos rápidos: o homem e os meios de produção, a organização da produção e de toda a economia. Atingiu-se a acumulação socialista, um novo nível de prosperidade social. Este novo nível torna possível a extensão gradual das novas relações à área de forças produtivas que anteriormente não estavam suficientemente maduras para ser incluídas na produção directamente social. Mais ainda, estão formados os pré-requisitos para a abolição das diferenças na afectação do produto social entre os trabalhadores do sector estatal (social). O predomínio das relações comunistas, a passagem para a fase superior da nova formação económico-social requer a abolição não só da propriedade capitalista mas também de qualquer forma de propriedade privada dos meios de produção e do produto social. A erradicação completa da diferença entre cidade e campo, que é a completa abolição das classes, a erradicação da diferença entre trabalho manual e intelectual, uma das raízes mais fundas de desigualdade social que tem de ser abolida, a completa extinção de conflitos nacionais. De acordo com a lei social geral da correspondência entre relações de produção e o nível do desenvolvimento das forças produtivas, cada nível de desenvolvimento historicamente novo das forças produtivas que é inicialmente atingido pela construção do socialismo exige uma nova “revolucionarização” das relações de

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produção e de todas as relações económicas em direcção à sua completa transformação em relações comunistas, por meio de políticas revolucionárias. Como a prática mostrou, qualquer atraso ou, ainda mais importante, um retrocesso do desenvolvimento das relações comunistas, leva a uma agudização da contradição entre forças produtivas e relações de produção. Por isso, as contradições e diferenciações sociais atrás mencionadas poderão tomar a forma de antagonismos sociais e levar a uma agudização da luta de classes. No socialismo existe uma base objectiva que permite, em certas condições, que forças sociais actuem como potenciais suportes de relações de exploração, como se viu na URSS na década de 1980. 6. O desenvolvimento do modo de produção comunista no seu primeiro estádio, o socialismo, é um processo pelo qual é abolida a afectação do produto social de forma monetária. A produção comunista – mesmo no seu estádio imaturo – é directamente produção social: a divisão do trabalho não se realiza pela troca, não se efectua através do mercado e os produtos do trabalho consumidos individualmente não são mercadorias. A divisão do trabalho nos meios de produção socializados baseia-se num plano que organiza a produção e determina as suas proporções com o fim de satisfazer necessidades sociais e a distribuição de bens (valores de uso). Por outras palavras, é uma divisão centralmente planeada do trabalho social e integra directamente – não através do mercado – o trabalho individual como parte do trabalho social. O planeamento central distribui o tempo de trabalho societário total, de modo que as diferentes funções do trabalho estão em proporções correctas a fim de satisfazer diferentes necessidades sociais. Planeamento não deve ser entendido como um instrumento tecno-económico, mas sim como uma relação comunista de produção e afectação que liga os trabalhadores aos meios de produção, a órgãos socialistas. Inclui uma escolha conscientemente planeada de motivos e metas de produção, não com o objectivo de troca de mercadorias, mas com o objectivo da satisfação alargada de necessidades sociais (lei económica básica do modo de produção comunista). Um problema essencial do planeamento central é a questão complexa da determinação das “necessidades sociais”, especialmente em condições internacionais em que o capitalismo dá uma forma bastante distorcida do que realmente são as necessidades sociais. As necessidades sociais são determinadas com base no nível de desenvolvimento das forças de produção que foi alcançado num dado período histórico. Estas necessidades têm de ser entendidas no seu contexto histórico, mudando em relação ao desenvolvimento das forças de produção. 7. Uma característica básica do primeiro estádio das relações comunistas é a distribuição “segundo o trabalho” de uma parte dos bens produzidos. A “medição” originou um debate teórico e político. A distribuição duma secção da produção socialista “segundo o trabalho” (que formalmente se assemelha a troca de mercadorias) é um vestígio do capitalismo. O novo modo de produção ainda não a conseguiu descartar, porque não desenvolveu todo o poder produtivo humano

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necessário e todos os meios de produção nas suas dimensões apropriadas, com o amplo uso de nova tecnologia. A produtividade do trabalho ainda não permite uma redução decisivamente grande do tempo de trabalho, a abolição do trabalho pesado e do trabalho unilateral, de modo que a necessidade social de trabalho compulsivo seja abolida. A distribuição planeada da força de trabalho e dos meios de produção implica a distribuição planeada do produto social. A distribuição do produto social não pode acontecer através do mercado, com base nas leis e categorias da troca de mercadorias. De acordo com Marx, o modo de distribuição mudará o modo particular do organismo social de produção e o correspondente nível histórico de desenvolvimento das forças produtivas muda igualmente (p. ex., estas estavam a certo nível na URSS na década de 1930 e a nível diferente na URSS dos anos 50 e 60). O marxismo define claramente tempo de trabalho como a medida de participação individual do produtor no trabalho comum. Por consequência, o tempo de trabalho do produtor é também definido como uma medida da parte que lhe cabe do produto destinado a consumo individual e é distribuída com base no trabalho. A outra parte (educação, cuidados de saúde, etc.) já está distribuída com base em necessidades. “Tempo” como medida de trabalho em produção socialista tem de ser visto “meramente num paralelismo com a produção de mercadorias.” “Tempo de trabalho” no socialismo não é o “tempo de trabalho socialmente necessário” que constitui uma medição de valor para a troca de mercadorias em regime de produção de mercadorias. “Tempo de trabalho” é a medida da contribuição individual para o trabalho social na produção do produto total. É dito caracteristicamente no “Capital”: “o capital monetário não tem lugar em produção socializada. A sociedade distribui a força de trabalho e os meios de produção por diferentes ramos de produção. Os produtores receberiam, digamos, vouchers de papel com os quais podem tomar do stock de produtos de consumo da sociedade uma quantidade análoga ao tempo que trabalharam. Estes vouchers não são dinheiro. Não circulam.” O acesso a essa parte do produto social que é distribuído “segundo o trabalho” é determinado pela contribuição de trabalho individual de cada pessoa na totalidade de trabalho social, sem distinção entre trabalho manual complexo e simples ou de qualquer outra maneira. A medida de contribuição individual é o tempo de trabalho que o plano determina com base nas necessidades totais de produção social, nas condições materiais do processo de produção em que o trabalho “individual” está incluído; nas necessidades especiais de produção social para a concentração de força de trabalho em certas áreas, ramos, etc.; nas necessidades sociais especiais tais como maternidade, indivíduos com necessidades especiais, etc.; na atitude pessoal de cada indivíduo em relação à organização e a execução do processo produtivo. Por outras palavras, o tempo de trabalho tem de estar ligado a metas, tais como conservação de materiais, aplicação de tecnologias mais

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produtivas, uma organização mais racional do trabalho, controlo pelos trabalhadores da administração e gestão. O desenvolvimento planeado das forças de produção em regime de modo de produção comunista deve libertar do trabalho cada vez mais tempo, que deve então ser usado para elevar o nível educacional e cultural dos trabalhadores; para permitir a participação do trabalhador no desempenho das suas actividades relacionadas com o poder dos trabalhadores e a gestão da produção, etc. O desenvolvimento integral do homem como a força de produção na construção de um novo tipo de sociedade e de relações comunistas (incluindo a atitude comunista para com o trabalho directamente social) é uma dupla relação. Conforme a fase histórica, terá prioridade um ou outro aspecto. O desenvolvimento do planeamento central e a extensão da propriedade social em todas as áreas torna o dinheiro gradualmente supérfluo, retirando-lhe o conteúdo como forma de valor. 8. O produto da produção individual e cooperativa, a maior parte do qual deriva da agricultura, é trocado pelo produto socialista por meio de relações mercadoria – dinheiro. A produção cooperativa está subordinada em certo grau ao planeamento central, que determina o plano para uma parte da produção e estabelece o preço estatal. O método para resolver as diferenças entre cidade e campo, entre produção industrial e agrícola é a inclusão de agricultores-produtores no uso conjunto de grande extensões de terra, para a produção de produto social com a utilização de mecanização moderna e outros meios do progresso técnico-científico para fomento da produtividade do trabalho, a criação de forte infra-estrutura para a conservação do produto ao abrigo de calamidades meteorológicas imprevistas, a atribuição de trabalho social para a produção de matérias primas agrícolas e o seu processamento industrial em organizações socialistas unificadas. Este método serve para transformar a totalidade da produção agrícola numa parte da produção socializada. C. Socialismo na URSS – Causas da vitória da contra-revolução 9. Estudámos a experiência da URSS porque ela constituiu a vanguarda da construção do socialismo. É necessário estudar mais o decurso do socialismo nos restantes estados europeus, bem como a evolução do poder socialista nos países asiáticos (China, Vietname, RPD da Coreia) e em Cuba. O carácter socialista da URSS baseia-se no seguinte: abolição das relações de produção capitalistas, existência de propriedade socialista à qual (apesar de várias contradições) está submetida a propriedade cooperativa, planeamento central, poder dos trabalhadores e conquistas sem precedentes a bem de todo o povo trabalhador. Isto não pode ser negado pelo facto de, após certo período, o Partido ter perdido gradualmente as características revolucionárias e, como resultado disso, forças

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contra-revolucionárias terem podido dominar o Partido e o governo na década de 80. Caracterizamos os desenvolvimentos de 1989-1991 como uma vitória da contra-revolução, como uma destruição da construção do socialismo, como um retrocesso social. Não é por acaso que estes desenvolvimentos foram apoiados pela reacção internacional; que a construção do socialismo, em especial durante o período de abolição das relações capitalistas e de criação das bases do socialismo, até à II Guerra Mundial, foi alvo do ataque ideológico e político do imperialismo internacional. Rejeitamos o termo “colapso” (“implosão”) porque ele subestima o grau de actividade contra-revolucionária e a base social sobre a qual ela pode desenvolver-se e predominar devido às fraquezas e desvios do factor subjectivo durante a construção do socialismo. A vitória da contra-revolução em 1989-1991 não revela uma falta de nível mínimo de desenvolvimento dos pré-requisitos materiais necessários para começar a construção do socialismo na Rússia. Marx apontou que a humanidade não se põe senão problemas que pode resolver, porque o próprio problema só surge quando se formaram as condições materiais para a sua solução. Desde o momento em que a classe operária, a principal força de produção, luta para realizar a sua missão histórica, ainda mais com o início da revolução, as forças de produção desenvolveram-se até ao nível de conflito com as relações de produção, com o modo de produção capitalista, por outras palavras, existem os pré-requisitos materiais para o socialismo, que deram forma às condições revolucionárias. Com base nos dados estatísticos desse período, predominavam na Rússia relações de produção capitalistas no estádio monopolista do seu desenvolvimento. Era desta base material que dependia o poder revolucionário para a socialização dos meios concentrados de produção. A classe trabalhadora da Rússia, especialmente o seu segmento industrial, criou os Sovietes como núcleos organizativos da acção revolucionária na luta para a tomada do poder sob a chefia do PC (Bolchevique). O Partido Bolchevique, sob a liderança de Lenin, estava teoricamente preparado para a revolução socialista: análise da sociedade russa, a teoria do elo fraco da cadeia imperialista, avaliação da situação revolucionária, a teoria da ditadura do proletariado. O Partido mostrou uma capacidade característica em servir a sua estratégia com as correspondentes tácticas, alianças, palavras de ordem, manobras, etc., em cada estádio do desenvolvimento da luta de classes. Contudo, o socialismo enfrentou dificuldades adicionais específicas porque a construção do socialismo começou num país com baixo nível de desenvolvimento das forças de produção (nível médio-fraco, como V. I. Lenin o caracterizou) em comparação com os países capitalistas avançados e uma distribuição muito desigual do grau de desenvolvimento devido à ampla existência de relações pré-capitalistas.

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A construção do socialismo começou a seguir à enorme destruição causada pela I Guerra Mundial e no meio da guerra civil. Posteriormente enfrentou a destruição imensa provocada pela II Guerra Mundial, ao passo que potências capitalistas, como os EUA, nunca sofreram guerra dentro das suas fronteiras. Pelo contrário, elas usaram a guerra para ultrapassar a grande crise económica dos anos 30. O gigantesco desenvolvimento económico e social realizado nestas condições demonstra a superioridade das relações de produção comunistas. Os desenvolvimentos não confirmam as avaliações feitas por várias correntes oportunistas e pequeno-burguesas. O ponto de vista social-democrata quanto à imaturidade da revolução socialista na Rússia não se confirmou. As posições trotskistas que afirmavam ser impossível construir o socialismo na URSS foram desmentidas. A opinião de que a sociedade que emergiu após a Revolução de Outubro não era de carácter socialista ou rapidamente degenerou depois dos primeiros anos de existência, e portanto era inevitável a interrupção do decurso de 70 anos da história da URSS, é subjectiva e não pode apoiar-se nos factos. Opomo-nos a teorias que afirmam que estas sociedades eram uma espécie de “novo sistema de exploração” ou uma forma de “capitalismo de estado”, como várias correntes oportunistas defendem. Além disso, os desenvolvimentos não validam a posição geral de tendências “maoistas” a respeito da construção do socialismo na URSS, a caracterização da URSS como social-imperialista, semelhante aos EUA, assim como as inconsistências em aspectos da construção socialista na Chima (p.ex. o reconhecimento da burguesia nacional como um aliado da construção do socialismo, etc.). A avaliação crítica que fazemos considera como necessária a defesa da construção do socialismo na URSS e noutros países. 10. Ao estudar a contra-revolução na URSS, damos prioridade aos factores internos (sem ignorar a influência de factores externos), porque a vitória da contra-revolução não resultou de uma intervenção militar imperialista, veio de dentro e a partir do topo, através das políticas do PC. Com base na teoria do comunismo científico, formulámos um estudo segundo as seguintes linhas: § A economia, isto é, os desenvolvimentos nas relações de produção e

distribuição no socialismo como base para a emergência e resolução de contradições e diferenciações sociais.

§ A acção da ditadura do proletariado e o papel do PC na construção do socialismo.

§ A estratégia e os desenvolvimentos do movimento comunista internacional

11. O evoluir da construção de uma nova sociedade na União Soviética foi determinado pela capacidade do PC bolchevique para cumprir o seu papel

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dirigente, revolucionário. Antes de mais e sobretudo, para processar e formular a estratégia revolucionária necessária a cada passo; para enfrentar o oportunismo e dar resposta decisiva às novas exigências e desafios do desenvolvimento do socialismo-comunismo. Até à II Guerra Mundial foi criada a base da nova sociedade: afirmou-se a produção socialista baseada no planeamento central e foram abolidas as relações capitalistas. Foi realizada com sucesso a luta de classes para acabar com os exploradores; conseguiram-se resultados impressionantes quanto ao crescimento da prosperidade social. Depois da II Guerra Mundial, a construção do socialismo entrou numa nova fase. O Partido defrontou-se com novas exigências e desafios respeitantes ao desenvolvimento do socialismo-comunismo. O XX Congresso do PCUS (1956) marca um ponto de viragem, visto que nesse congresso foram adoptadas uma série de posições oportunistas sobre questões económicas, sobre a estratégia do movimento comunista e sobre relações internacionais. A luta que se desenrolava antes do congresso continuou e consolidou-se com uma viragem a favor das posições oportunistas-revisionistas. Daí resultou que o Partido começou a perder gradualmente as suas características revolucionárias. Nos anos 80, com a perestroika, o oportunismo transformou-se numa força contra-revolucionária, traidora. As forças comunistas coerentes que reagiram na fase final da traição, no XXVIII Congresso do PCUS, não conseguiram desmascará-lo a tempo e organizar a reacção revolucionária da classe operária. Avaliação da economia no decurso da construção do socialismo na URSS 12. Com a formulação do primeiro Plano do Planeamento Central, no centro do conflito teórico e da luta política colocavam-se já as seguintes questões acerca da economia: A produção de mercadorias é produção socialista? Qual é o papel da lei do valor, das relações mercadoria-dinheiro na construção do socialismo? A discussão e as polémicas foram interrompidas pela II Guerra Mundial; mas continuaram e agudizaram-se depois da guerra. Consideramos incorrecta a abordagem teórica segundo a qual a lei do valor é uma lei de movimento do modo de produção comunista no seu primeiro estádio. Esta abordagem tornou-se dominante desde os anos 50 na URSS e na maioria dos PCs. Esta posição ganhou força devido à expansão da produção não capitalista de mercadorias, que emergiu objectivamente através da passagem planeada das relações pré-capitalistas na produção agrícola para relações cooperativas mercadoria-dinheiro. Esta base material exacerbou as insuficiências teóricas e as fraquezas do factor subjectivo na formulação e aplicação do planeamento central. Criou-se uma base teórica para políticas oportunistas que enfraqueceram o planeamento central, provocaram a erosão da propriedade social e fortaleceram forças contra-revolucionárias. 13. O primeiro período da construção do socialismo até à II Guerra Mundial enfrentou o problema primário, básico, de abolir a propriedade capitalista e de

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tratar de maneira planeada os problemas sociais e económicos herdados do capitalismo e exacerbados pelo cerco e pela intervenção imperialistas. A partir de 1917-1940, o poder soviético registou em grande parte progressos. Realizou a electrificação e a industrialização da produção, a expansão dos meios de transporte e a mecanização de grande parte da produção agrícola. A produção planeada foi iniciada e atingiu ritmos impressionantes no desenvolvimento da produção industrial socialista. Desenvolveu com sucesso as capacidades produtivas nacionais em todos os ramos industriais. Foram criadas as cooperativas de produção (kolkhozes) e as fazendas estatais (sovkhozes), estabelecendo-se deste modo a base para a expansão e o predomínio das relações comunistas na produção agrícola. Realizou-se a “revolução cultural”. Começou a ganhar forma uma nova geração de especialistas e cientistas comunistas. O feito mais importante é a completa abolição das relações de produção capitalistas, com a abolição de força de trabalho assalariada, criando assim os alicerces para o desenvolvimento do comunismo. 14. A aplicação de certas “medidas de transição”, na perspectiva da completa abolição das relações capitalistas, era inevitável num país como a Rússia dos anos de 1917-1921. Os factores que obrigaram o PC Bolchevique a aplicar uma política temporária com conservação, até certo ponto, das relações de produção capitalistas foram: a composição de classe, em que o elemento agrário pequeno-burguês estava em maioria, a falta de um mecanismo de distribuição, aprovisionamento e controlo, a pequena produção atrasada e principalmente o dramático agravamento das condições de subsistência e de vida devido à destruição causada pela guerra civil e a intervenção imperialista. Todos estes factores tornaram difícil nessa altura o desenvolvimento do planeamento central a médio prazo. A Nova Política Económica (NEP), executada a seguir à guerra civil, tinha o objectivo básico de restaurar a indústria após as devastações da guerra e, nesta base, criar na área da produção agrícola relações que “atraíssem” agricultores para as cooperativas. Constituiu uma política de concessões temporárias ao capitalismo. Um certo número de companhias foram entregues a capitalistas para uso (sem que eles tivessem direitos de propriedade sobre estas companhias), desenvolveu-se o comércio, a troca entre produção agrícola e a indústria socializada foi regulada com base no conceito de “imposto em géneros”. Foi dada aos camponeses a possibilidade de porem no mercado o restante da produção agrícola. Estas medidas e concessões temporárias a relações capitalistas, exigidas em certas circunstâncias e em condições especiais não são, de modo algum, uma característica inevitável do processo de construção do socialismo. A NEP foi usada nos anos 80 para esconder e justificar a inversão histórica do socialismo para o capitalismo realizada pelas políticas da Perestroika.

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15. A nova fase de desenvolvimento das forças de produção no fim dos anos 20 permitiu a substituição da NEP pela política de “ataque socialista contra o capitalismo” que tinha como principal objectivo a completa abolição das relações capitalistas. Foram retiradas as concessões aos capitalistas e desenvolveu-se a política de colectivização, ou seja a completa organização cooperativa da economia agrícola, principalmente na sua forma desenvolvida, o kolkhoze. Ao mesmo tempo, foram desenvolvidos (embora de forma limitada) os sovkhozes, as unidades socialistas estatais de produção agrícola baseadas na mecanização da produção e cuja totalidade da produção era propriedade social. Em 1928 começou o primeiro plano quinquenal, 7 anos depois da vitória da revolução (a guerra civil terminou em 1921). O poder soviético teve dificuldade em formular um plano central da economia socialista logo desde o princípio, devido principalmente à existência continuada das relações capitalistas (NEP) e a um número excepcionalmente grande de produtores individuais de mercadorias, na maioria agricultores Eram também evidentes debilidades do factor subjectivo – o Partido – que não tinha um quadro de especialistas para guiar a organização da produção e foi assim obrigado a depender durante certo tempo quase exclusivamente de especialistas burgueses. As condições específicas (cerco imperialista, a ameaça de guerra juntamente com um grande atraso) obrigaram à promoção da colectivização a ritmos acelerados, o que agudizou a luta de classes, especialmente nas áreas rurais. Apesar de erros e certos exageros burocráticos no desenvolvimento do movimento de colectivização na produção agrícola, que foram de algum modo considerados em decisões do Partido, a orientação do poder soviético para o reforço e a generalização deste movimento estava na direcção correcta. Tinha em vista desenvolver uma forma de transição da propriedade (cooperativa) que contribuiria para a transformação da pequena produção individual de mercadorias em produção socializada. 16. A política de “ataque do socialismo contra o capitalismo” foi executada em condições de intensa luta de classes. Os kulaks (a classe burguesa nas aldeias) estratos sociais que beneficiaram da NEP [NEPmen], secções da intelectualidade originadas a partir das antigas classes exploradoras reagiram de muitas maneiras com acções de sabotagem na indústria (p. ex. o “caso Shakhty”) e acções contra-revolucionárias nas aldeias. Estes interesses anti-socialistas, com base de classe, reflectiram-se no PC, onde se desenvolveram correntes oportunistas. As duas tendências básicas da “oposição” (Trotsky–Bukharin) que actuaram durante esse período tinham uma base comum ao absolutizarem o elemento de atraso na sociedade soviética e nos anos 30 as suas opiniões convergiam quanto ao modo como os problemas da economia soviética deviam ser enfrentados. As suas posições foram rejeitadas pelo PC Pan-Russo Bolchevique (AUCP (b)) e não foram confirmadas pela realidade.

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Forças oportunistas e forças abertamente contra-revolucionárias que estavam a organizar planos para derrubar o poder soviético uniram-se, em colaboração com serviços secretos de países imperialistas. O facto de alguns dos principais quadros do Partido e do poder soviético terem chefiado correntes oportunistas indica ser até possível quadros de vanguarda se desviarem, claudicarem, quando confrontados com o carácter agudo da luta de classes, e acabarem por cortar os laços com o movimento comunista e aliarem-se com a contra-revolução. 17. Desenvolveram-se duas correntes básicas da teoria e das políticas entre os quadros e economistas do Partido. A corrente coerente do pensamento e das políticas marxistas, sob a liderança de Stalin, era da opinião que a lei do valor é incompatível com as leis que regem a produção socialista, que não é produção de mercadorias. Defendia que a acção da lei do valor (de relações mercadoria-dinheiro) na URSS tinha as suas raízes na produção agrícola cooperativa e individual. A lei do valor não regula a produção-distribuição socialista. Os produtos de consumo são produzidos e consumidos como mercadorias. Os meios de produção não são mercadorias, não obstante eles aparecerem como mercadorias “na forma mas não em conteúdo”. Eles tornam-se mercadorias somente no comércio externo. Travaram-se polémicas contra os economistas e chefes políticos de “mercado” que acreditavam que os produtos de produção socialista são mercadorias, quer se destinem a consumo individual ou ao processo de produção e defendiam que a lei do valor é em geral igualmente uma lei da economia socialista. Característica, a este respeito, é a rejeição das posições de Voznesensky (chefe do GOSPLAN) de que a lei do valor actua não só na distribuição dos produtos mas também na própria distribuição do trabalho entre os diversos ramos da economia nacional da URSS. Nesta esfera, o plano estatal utiliza a lei do valor para garantir a correcta distribuição do trabalho social entre os diferentes ramos da economia no interesse do socialismo.” Ao mesmo tempo, dirigiam-se críticas justas aos economistas que defendiam a completa abolição da afectação em forma monetária, sem ter em conta as restrições objectivas impostas pela base produtiva da sociedade nesse tempo. Na sua obra “Problemas Económicos do Socialismo na URSS”, Stalin refere, muito correctamente, o facto de também se manifestar no socialismo a contradição entre as forças de produção que estão a desenvolver-se e as relações de produção que estão em atraso. Ele considerava que na URSS a propriedade cooperativa (kolkhoze) e a circulação de produtos de consumo individual sob a forma de mercadorias tinha começado a actuar como um travão do poderoso desenvolvimento do planeamento central em toda a dimensão da produção–afectação. Ele delineava as diferenças entre as duas classes em cooperação, a classe operária e a classe agrária dos kolkhozes, mas também via a necessidade de as banir através da abolição planeada da mercadorização na produção agrícola.

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A corrente coerente defendia a aceleração da socialização da produção agrícola por meio da fusão dos pequenos kolkhozes em grandes unidades e a transformação gradual dos kolkhozes em sovkhozes, sendo o primeiro passo a atribuição ao Estado de toda a produção agrícola. Quanto à questão do conflito relacionado com as proporções entre a subdivisão I da produção social (produção dos meios de produção) e a subdivisão II (produção dos produtos de consumo), esta corrente defendia, correctamente, que o principal critério para a distribuição proporcional planeada do trabalho e da produção entre os diferentes ramos da indústria socialista deve ser a prioridade dada à subdivisão I. A reprodução alargada, a acumulação socialista (riqueza social) necessária para a futura expansão da prosperidade social, depende desta categoria da produção (subdivisão I). Um ponto fraco da corrente revolucionária era a interpretação incompleta das relações de distribuição quanto à parte do produto social que é distribuída em proporção com o trabalho. 18. Depois da II Guerra Mundial, a discussão sobre a economia continuou e agudizou-se. Desenvolveu-se um conflito em torno da interpretação de certos problemas. Consideramos correcta a posição da liderança soviética tomada no princípio dos anos 50, no sentido de que os problemas a nível económico exprimiam a agudização da contradição entre as forças de produção em desenvolvimento e as relações de produção que estavam atrasadas. O desenvolvimento das forças de produção tinham atingido um novo nível depois da reconstrução da economia no pós-guerra. Um novo estímulo dinâmico para maior desenvolvimento das forças produtivas exigia um aprofundamento e a extensão das relações comunistas. O atraso destas últimas dizia respeito ao planeamento central, ao aprofundamento do carácter comunista das relações de distribuição, a uma participação mais enérgica e consciente dos trabalhadores na organização do trabalho e no controlo da sua administração a partir da base, à transformação das relações de propriedade cooperativa (ao lado da qual sobrevivia a propriedade privada de mercadorias) em propriedade social. Estava madura a necessidade de expandir as relações comunistas, conscientemente, de maneira bem planeada, quer dizer, teórica e politicamente preparada, e de as fazer predominar nas áreas de produção social onde, no período anterior, o seu completo domínio ainda não era possível (do ponto de vista da sua maturidade material, da produtividade do trabalho). Resistência social a esta perspectiva (agricultores dos kolkhozes, executivos na indústria) exprimia-se a nível ideológico e político numa luta partidária interna. O aceso debate de que resultou a aceitação teórica da lei do valor como uma lei do socialismo, significou opções políticas com consequências mais imediatas e de maior peso para o desenvolvimento do comunismo em comparação com o período pré-guerra, quando o atraso material tornava o efeito destas posições teóricas menos doloroso. Depois do XX Congresso do PCUS, adoptaram-se gradualmente opções políticas que alargaram as relações mercadoria–dinheiro (potencialmente

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capitalistas), a título de correcção de fraquezas do planeamento central e da administração de órgãos socialistas (empresas). A fim de resolver os problemas que surgiram na economia, usaram-se métodos e meios que pertenciam ao passado. Com a promoção de políticas de “mercado”, em vez de reforçar a propriedade social e o planeamento central, a homogeneização da classe trabalhadora (com o alargamento das capacidades e possibilidades para multi-especialização, para alternância na divisão técnica do trabalho), controlo e participação dos trabalhadores na organização do trabalho, de modo que começasse a ser auto-administração comunista, começou a desenvolver-se a tendência inversa, com o correspondente efeito, como é natural, a nível da consciência social. Não se utilizou a experiência anterior e a eficácia do soviete de fábrica, o movimento stakhanovista no controle de qualidade, a organização e administração mais eficaz, invenções inteligentes para a conservação de material e o tempo de trabalho. Os economistas de “mercado” (Lieberman, Nemtsinov, Trapeznikov, etc.) interpretavam erradamente os problemas existentes na economia, não como fraquezas subjectivas no planeamento, mas como consequências da incapacidade objectiva de o planeamento central responder ao desenvolvimento do volume de produção e às suas novas capacidades e ao desenvolvimento de necessidades multifacetadas. Eles defendiam que a causa teórica era a negação voluntarista do carácter de mercadoria da produção no socialismo, a subavaliação do desenvolvimento da agricultura, a sobrevalorização da possibilidade de intervenção subjectiva na administração económica. Eram da opinião da impossibilidade de os órgãos centrais determinarem a qualidade, a tecnologia, os preços de todas as mercadorias e salários, e de que o uso de mecanismos de mercado também era necessário para atingir os objectivos duma economia planeada. Eles argumentavam que os problemas de adaptação do volume e estrutura da produção às necessidades de consumo e os problemas das proporções inter-ramos devem ser tratados por meio da influência da procura e dos preços que são determinados com base na lei do valor. Gradualmente, a nível teórico, prevaleceram teorias da “produção socialista de mercadorias” ou “socialismo com um mercado”, a aceitação da lei do valor como uma lei do modo de produção comunista, que actua mesmo na fase de construção do socialismo desenvolvido. Estas teorias constituíram a base para a formulação de políticas económicas. 19. O enfraquecimento político do planeamento central e da propriedade social teve um ponto alto a seguir ao XX Congresso. Em vez de planear a transformação dos kolkhozes em sovkhozes, em 1958, os tractores e outra maquinaria passaram para propriedade do kolkhoze, numa altura em que a sua produção se tinha desenvolvido adequadamente e em que a cada kolkhoze correspondiam cerca de 10 tractores. A directiva promulgada em princípios dos anos 50, por iniciativa dos comunistas, de um vasto movimento de membros

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dos kolkhozes para a unificação de pequenos kolkhozes em unidades maiores, foi revista na prática. Em 1957, os ministérios dos ramos que dirigiam a produção industrial da URSS e em cada república foram dissolvidos e formados os Órgãos de Administração Regional “Sovnarkhoz” (Concelhos Económicos Regionais). Deste modo, saiu enfraquecida a direcção central de planeamento. Estas alterações não só não resolveram os problemas como, pelo contrário, trouxeram novos problemas à superfície ou criaram outros, tais como a escassez na alimentação animal, o abandono da renovação tecnológica no kolkhoze. Em meados dos anos 60, erros de natureza subjectiva na administração do sector agrícola da economia foram identificados como causa dos problemas. Reformas subsequentes incluíram: a redução das quantidades dadas ao Estado pelo kolkhoze, a possibilidade de vender as quantidades em excesso por preços mais altos, o fim das restrições as transacções das famílias dos kolkhozes e do imposto sobre a propriedade animal privada. As dívidas dos kolkhozes ao Banco do Estado foram perdoadas, os prazos para liquidar a dívida por adiantamentos monetários foram alargados, foi permitida a venda de rações para animais directamente a proprietários privados de animais. Deste modo, foi conservada e aumentada a porção da produção agrícola proveniente de agregados familiares individuais e dos kolkhozes e que era livremente vendida no mercado, ao passo que se acentuou o atraso da produção de gado e aumentou a desigualdade da satisfação das necessidades em produtos agrícolas entre as várias regiões e repúblicas da URSS. Uma política semelhante de reforço do carácter mercantil da produção (à custa do carácter directamente social) foi aplicada na indústria, conhecida como “Reformas de Kosygin” (“O sistema de autogestão de empresas” – com carácter substantivo e não formal). Dizia-se que isto combateria a redução da taxa de crescimento anual da produtividade do trabalho e da produção anual que se registou nos primeiros anos da década de 1960, como resultado das medidas que minaram o planeamento central na direcção dos sectores industriais (Sovnarkhoz, 1957). A primeira onda de reformas foi lançada no intervalo entre os Congressos XXIII (1966) e XXIV (1971). De acordo com o Novo Sistema, as remunerações adicionais (bónus) para directores seriam calculadas não com base no cumprimento em excesso do plano de produção em função do volume da produção, mas sim com base na taxa de lucro da empresa. Uma parte da remuneração adicional dos trabalhadores também resultaria do lucro, como também seria o caso da satisfação acrescida de necessidades da habitação, etc. Deste modo, o lucro foi adoptado como motivo da produção. As diferenças de salário aumentaram.

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Foi dada a possibilidade de transacções horizontais mercadoria-dinheiro entre empresas, de acordos directos com “unidades de consumo e organizações comerciais”, de fixação de preços, da formação de lucros com base nestas transacções, etc. O Plano Central determinaria o nível total de produção e investimentos somente para as novas empresas. A modernização de velhas empresas seria financiada com os lucros das empresas. Este deslizar teórico e o correspondente retrocesso político na URSS ocorreu durante uma nova fase de maior desenvolvimento das forças produtivas que exigia incentivos e índices mais eficazes de planeamento central e no seu nível de aplicação sectorial, trans-sectorial e de empresa. Isto é, necessitava de um correspondente desenvolvimento de planeamento central no sentido de reforçar o modo de produção comunista. Através das reformas do mercado, através da separação da unidade de produção socialista do planeamento central, enfraqueceu-se o carácter socialista de propriedade dos meios de produção. Criou-se a possibilidade da violação do princípio de distribuição “segundo o trabalho”. Ao mesmo tempo foram rejeitadas propostas e planos para a utilização de computadores e tecnologia de informação, o que podia ter contribuído para melhor tratamento técnico de dados, a fim de aperfeiçoar a observação e controlo da produção por meio de indicadores físicos. O XXIV Congresso do PCUS (1971), com as suas directivas para a formulação do 9.º plano quinquenal (1971-1975), inverteu a prioridade proporcional da Subdivisão I sobre a Subdivisão II. A inversão da proporção tinha sido proposta no XX Congresso mas não tinha sido aceite. A modificação era justificada como opção para reforçar o nível de consumo popular. Era, na realidade, uma opção que violava lei socialista e teve consequências negativas no crescimento da produtividade do trabalho. O desenvolvimento da produtividade do trabalho – um elemento fundamental para o aumento da riqueza social, para a satisfação de necessidades e para o desenvolvimento integral do homem – pressupõe o desenvolvimento dos meios de produção. O planeamento devia ter lidado com maior eficácia com a seguinte necessidade: a introdução de tecnologia actualizada na indústria, nos serviços de transporte, armazenagem e distribuição de produtos. Esta opção de inverter as proporções não só não ajudou para lidar com as contradições que se tinham expresso (p. ex., o excesso de receita sob a forma monetária e a falta de quantidade adequada de bens de consumo, tais como artigos domésticos electrónicos, TVs a cores), mas distanciou o planeamento central da sua finalidade básica (a elevação da prosperidade social). Agravou mais a contradição entre o nível de desenvolvimento das forças produtivas e o nível das relações comunistas de produção–distribuição.

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O período em que Andropov foi Secretário-geral do CC do PCUS (Novembro 1982 a Fevereiro 1984), que precedeu o período de perestroika, é demasiado breve para ser definitivamente julgado. Contudo, em artigos e documentos do PCUS deste período fazem-se referências à necessidade de intensificar a luta contra opiniões burguesas e reformistas sobre a construção do socialismo, bem como à necessidade de vigilância face à sabotagem pelo imperialismo. Nos anos 80, a nível político, as decisões do XXVII Congresso (1986) constituíram mais uma opção oportunista. Posteriormente, a contra-revolução foi também fomentada com a promulgação da lei (1987) que legitimou institucionalmente as relações económicas capitalistas, com o pretexto da aceitação de várias formas de propriedade. No início dos anos 90, a abordagem social-democrata da “economia planeada de mercado” (a plataforma do CC no XXVIII Congresso) foi rapidamente abandonada a favor da posição da “economia de mercado regulada” e esta foi ainda substituída pela “economia de mercado livre”. 20. A direcção dominante pode ser julgada hoje não só teoricamente mas também pelos resultados. Após duas décadas de aplicação destas reformas, os problemas tinham-se agudizado claramente. A estagnação imperou pela primeira vez na história da construção do socialismo. O atraso tecnológico continuou a ser uma realidade para a maioria das indústrias. Apareceu escassez de muitos produtos de consumo, assim como problemas adicionais no mercado, porque havia empresas quq estavam a causar uma alta artificial de preços, acumulando mercadorias em armazéns ou fornecendo-as em quantidades controladas. O crescente envolvimento de elementos de mercado directamente na produção social do socialismo estava a enfraquecê-lo. Conduziu a uma queda da dinâmica do desenvolvimento do socialismo, fortaleceu os interesses individuais e de grupo a curto prazo (com significativas diferenças de rendimento entre os trabalhadores em cada empresa, entre os trabalhadores e o mecanismo de gestão, entre diferentes empresas), contra os interesses globais da sociedade. Com o tempo, criaram-se as condições sociais para que a contra-revolução florescesse e por fim vencesse, usando a perestroika como veículo. Por meio destas reformas criou-se a possibilidade de quantidades monetárias que tinham sido acumuladas primariamente por meios ilegais (contrabando, etc.), serem investidas no mercado “negro” (ilegal). Estas oportunidades diziam respeito primariamente a funcionários nas camadas de gestão de empresas e sectores, aos quadros do comércio externo. Dados sobre a chamada “para-economia” foram também fornecidos pelo Procurador-Geral da URSS. De acordo com estas estatísticas, uma proporção importante da produção agrícola cooperativa e estatal era também canalizada para os consumidores por meios ilegais. As diferenças de rendimento entre os produtores agrícolas individuais, os kolkhozniks, alargaram-se, aumentando também a oposição à tendência para reforçar o carácter social da produção agrícola. Os produtores agrícolas que

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estavam a enriquecer ganharam força como camada da sociedade que era um obstáculo à construção do socialismo. As diferenças sociais na indústria eram ainda mais marcantes devido à concentração dos “lucros de empresa”. O chamado “capital sombra”, resultante não só de lucros de empresa mas também do mercado negro e de actos criminosos de desfalque do produto social, procurou funcionamento legal como capital na produção, isto é, na privatização dos meios de produção, no restabelecimento do capitalismo. Os “donos” deste capital formaram a força social motora da contra-revolução. Serviram-se da sua posição nos mecanismos estatais e partidários, do apoio de sectores da população vulneráveis à influência da ideologia burguesa e à vacilação, p. ex. de uma parte importante da intelectualidade, de secções da juventude, especialmente estudantes, que não estavam satisfeitos por diferentes razões. Directa ou indirectamente estas forças influenciaram o Partido, reforçando a sua erosão oportunista e a sua degenerescência contra-revolucionária, que se expressou através das políticas de “perestroika” e procurou a consolidação institucional das relações capitalistas. Isto foi alcançado depois da perestroika com o derrube do socialismo. Conclusões sobre o papel do Partido Comunista no processo de construção do socialismo 21. O papel indispensável do Partido no processo de construção do socialismo exprime-se na sua liderança do poder estatal detido pela classe operária, na mobilização das massas para participarem neste processo. A classe trabalhadora constitui a força dirigente deste novo poder estatal, antes de mais através do seu Partido. A luta para o desenvolvimento da nova sociedade é realizada pelo poder revolucionário dos trabalhadores com o partido comunista, que utiliza as leis de movimento da sociedade socialista-comunista, como seu núcleo dirigente. O ser humano, tornando-se senhor dos processos sociais, passa gradualmente do reino da necessidade para o reino da liberdade. Disto decorre o papel superior do factor subjectivo, em comparação com todas as formações económico-sociais precedentes, onde a actividade humana era dominada pela imposição espontânea de leis sociais baseadas no desenvolvimento espontâneo das relações de produção. Consequentemente, a natureza científica de classe das políticas do PC é uma precondição crucial para a construção do socialismo. Na medida em que se perdem tais características, aloja-se o oportunismo – o qual, se não é combatido, vai desenvolver-se com o tempo numa força contra-revolucionária. A tarefa de desenvolver as relações de produção comunistas requer o desenvolvimento da teoria do comunismo científico por meio do estudo científico pelo PC para fins orientados de classe, o estudo das leis de movimento da formação económico-social comunista. A experiência mostrou que os partidos

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no governo, na URSS e noutros Estados socialistas, não cumpriram esta tarefa com sucesso. A consciência de classe não se desenvolve espontaneamente nem de maneira uniforme no conjunto da classe trabalhadora. A elevação da consciência comunista das massas da classe trabalhadora é determinada sobretudo pelo reforço das relações de produção comunistas e pelo nível de participação da classe trabalhadora com a liderança do PC, que é o principal veículo para a difusão da consciência revolucionária entre as massas. Juntamente com esta base material, tem de enraizar-se o trabalho ideológico, o impacto do partido revolucionário que consolida o seu papel dirigente na medida em que mobiliza a classe trabalhadora para a construção do socialismo. A consciência da vanguarda tem de estar sempre à frente da consciência formada à escala de massas no seio da classe trabalhadora pelas relações económicas. Daqui surge a necessidade de o Partido ter um alto nível teórico-ideológico e consistência, não vacilar contra o oportunismo, não só nas condições do capitalismo, mas ainda mais nas condições de construção do socialismo. 22. A viragem oportunista que dominou desde os anos 50 após a II Guerra Mundial, a perda gradual do papel revolucionário do Partido, confirmam que o perigo do desenvolvimento de desvios na sociedade socialista nunca desaparece. Para além do cerco imperialista e do seu impacto indubitavelmente negativo, persiste a base social do oportunismo enquanto persistirem formas da propriedade privada e de grupo, enquanto existirem relações mercadoria–dinheiro, bem como diferenças sociais. A base material para o oportunismo continuará a existir durante toda a construção do socialismo e enquanto o capitalismo continuar no Mundo, em particular os poderosos Estados capitalistas. A nova fase após a II Guerra Mundial encontrou o Partido ideologicamente enfraquecido e, em termos de classe, com perdas maciças de quadros experientes e temperados na luta de classes, com fraquezas teóricas em resposta a novos problemas que se agudizavam. Estava vulnerável a luta partidária interna que reflectia diferenças sociais existentes. Nestas condições as balanças tipped a favor da adopção de posições oportunistas e revisionistas que tinham sido derrotadas em fases anteriores da luta partidária interna. A adopção de opiniões oportunistas e revisionistas pela liderança do PCUS e doutros PCs transformou por fim estes partidos em veículos que levaram à contra-revolução nos anos 80. A viragem oportunista realizada no XX Congresso (1956) do PCUS e a posterior perda gradual das características revolucionárias do Partido, um partido governante que era ao mesmo tempo o alvo da agressão imperialista, tornou mais difícil despertar e juntar forças comunistas coerentes. Deste modo, as forças comunistas coerentes não foram capazes de revelar a natureza contra-revolucionária de traição pela linha que venceu no Plenário do CC de Abril de 1985 e no XXVII Congresso do PCUS (1986). Não foram capazes de juntar um

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pólo de defesa do socialismo, a fim de marcar a sua posição e enfrentar com êxito as forças contra-revolucionárias. Não se formou a tempo uma vanguarda comunista revolucionária capaz de dirigir a classe operária, ideologica, politica e organizativamente em luta com a contra-revolução que se desenvolvia. Mesmo se este desenvolvimento não pudesse ser tido detido, em especial nos anos 80, certamente a resistência, tanto nos partidos governantes como no seio do movimento comunista internacional teria assegurado melhores condições para a actual luta de reconstrução do movimento internacional e a existência das precondições para ultrapassar a sua profunda crise. Não consideramos inevitável o rápido desenvolvimento e predomínio de posições ideológicas revisionistas e de políticas oportunistas, a gradual erosão oportunista do PCUS e dos outros PCs governantes, a degenerescência do carácter revolucionário do poder estatal. Estamos a investigar todos os factores que contribuíram para este desenvolvimento. Podíamos incluir os seguintes numa lista de factores contributivos: A) Declínio do nível de educação política marxista na liderança dos PCs e em geral no Partido, devido às condições específicas da guerra, às grandes perdas de quadros e o súbito aumento do número de membros do partido, o que teve como resultado, entre outros, o desenvolvimento retardado da economia política do socialismo.

§ As alterações da composição de classe do Partido, da sua estrutura e funcionamento e o impacto dessas alterações a nível ideológico e nas características revolucionárias do Partido, dos seus membros e quadros, tudo isto precisa ser mais investigado. § A relativa dependência de quadros administrativos e científicos de origem burguesa que o poder estatal comunista teve desde início. § A herança histórica da URSS do ponto de vista do grau de atraso pré-capitalista e o seu desenvolvimento capitalista desigual. § As perdas maciças durante a II Guerra Mundial e os sacrifícios da prosperidade social exigidos pela reconstrução pós-guerra, nas condições de concorrência com a reconstrução capitalista na Europa Ocidental, que foi apoiada de forma importante pela capacidade de necessidade de os Estados Unidos exportarem capital. § Problemas e contradições da integração dos países da Europa oriental e central no sistema socialista. § O medo de uma nova guerra, devido às intervenções imperialistas na Coreia, etc., a Guerra-Fria, o dogma Hellstein da Alemanha Ocidental (o não reconhecimento da RDA e a sua caracterização como uma “zona de ocupação soviética”).

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B) A intervenção política diferenciada do imperialismo internacional, com apoio da social-democracia, por meio de transacções comerciais mais flexíveis com certos Estados da Europa central e oriental entre os países da construção do socialismo e pressão ideológica e política mais directa sobre a URSS. C) Problemas de estratégia e a cisão do movimento comunista internacional. O desenvolvimento do Poder Soviético 23. O fundamento teórico para a análise da evolução do poder soviético é o de que o poder estatal socialista é a ditadura do proletariado. É o poder estatal da classe operária que não é partilhado com ninguém, que é o que ocorre em todas as formas de poder estatal. A ditadura do proletariado é o órgão da classe trabalhadora na luta de classes que continua com outros meios e formas. A classe trabalhadora, como suporte das relações comunistas que estão a formar-se, como proprietária colectiva dos meios de produção socializados, é a única classe que pode dirigir a luta pelo total predomínio das relações comunistas, pelo desaparecimento das classes e pelo definhamento e extinção do Estado. Por meio do seu poder estatal revolucionário, a classe trabalhadora como a classe governante realizará uma aliança com outros estratos populares que ainda não trabalham na produção socializada (socialista) – p. ex. os pequenos proprietários cooperativos da cidade e do campo, os empregados por conta própria no sector dos serviços, intelectuais-cientistas e técnicos de fundo burguês ou oriundos de estratos médios-superiores na administração da produção). Através desta aliança, a classe trabalhadora procurará dirigir estes estratos na construção do socialismo, no sentido do total predomínio das relações comunistas. A necessidade da ditadura do proletariado resulta também da continuação da luta de classes internacionalmente. Ela será mantida até que todas as relações sociais se tornem comunistas, isto é, enquanto houver necessidade de um Estado como mecanismo de domínio político. 24. As opções políticas respeitantes à superstrutura, as instituições da ditadura do proletariado, o controle operário, etc. estão intimamente ligados com as opções políticas a nível da economia. Uma questão importante a esclarecer é o desenvolvimento dos sovietes como uma forma da ditadura do proletariado. Na primeira Constituição da RSFSR e na primeira Constituição da URSS de 1924 (tal como nas constituições das Repúblicas de 1925), o relacionamento comunista entre as massas e a máquina estatal era assegurado através da representação eleitoral indirecta dos trabalhadores que se realizava com a unidade de produção na qualidade de unidade eleitoral. O direito de voto era assegurado somente para o povo trabalhador (não geralmente para os cidadãos). Era negado o direito de voto à classe burguesa, aos proprietários agrários, a qualquer que explorava o trabalho

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doutro, aos padres e monges, aos elementos contra-revolucionários. As concessões aos capitalistas no período da NEP não incluíam direitos políticos. Na constituição de 1936 a representação eleitoral directa era estabelecida através de círculos eleitorais geográficos (a região tornou-se a unidade eleitoral e a representação era proporcional ao número de habitantes). A realização de eleições em assembleias-gerais foi abolida, substituída por estes círculos eleitorais. O direito de voto era conferido a todos através da votação secreta. As alterações da constituição em 1936 visavam a resolução de certos problemas, tais como a falta de comunicação directa dos funcionários do partido e dos sovietes com a base, o funcionamento dos sovietes, fenómenos burocráticos, etc. e também uma estabilização do poder soviético face à guerra que se aproximava. A desclassificação da unidade de produção como pilar da organização do poder estatal da classe operária (devido à abolição da eleição indirecta de delegados através de congressos e assembleias gerais) tem de ser mais estudado. O seu impacto negativo na composição de classe dos órgãos superiores do estado e na aplicação do direito de revogação de delegados (o que segundo Lenin constitui um elemento básico de democracia na ditadura do proletariado) também tem de ser estudado. 25. Após o XX Congresso (1956) os poderes dos sovietes locais foram reforçados em questões respeitantes à “autogestão” e “auto-suficiência” das empresas socialistas. Deste modo, o centralismo democrático a nível político retrocedeu pondo-o a par do retrocesso do planeamento central a nível económico. Foram tomadas medidas que reforçavam a “permanência” de funcionários nos sovietes, através do gradual aumento das funções dos seus órgãos e maior possibilidade da isenção de delegados das suas funções na produção. No XXII Congresso do PCUS (1961) foram adoptadas avaliações não-objectivas a respeito do “socialismo desenvolvido” e do “fim da luta de classes”. Em nome de “contradições não antagónicas” entre classes e grupos sociais, foi adoptada a posição de que a URSS era um “estado de todos os povos” (consolidada na revisão constitucional de 1977) e o PCUS, um “partido de todos os povos”. Este desenvolvimento contribuiu para alterar as características do Estado revolucionário dos trabalhadores, para a degenerescência da composição de classe do Partido e dos seus quadros, para a perda de vigilância revolucionária, que era teorizada com a tese da “irreversibilidade” da construção socialista. Através da perestroika e da reforma do sistema político de 1988, o sistema soviético degenerou em órgão burguês. 26. A experiência prática revela o afastamento gradual das massas da participação no sistema soviético, que nos anos 80 tinha carácter puramente formal. Este afastamento não pode ser atribuído exclusivamente ou primariamente às alterações do funcionamento dos sovietes, mas sim às

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diferenciações sociais que foram reforçadas pelas políticas económicas, à agudização de contradições entre interesses individuais e de grupo, por um lado, e o interesse social colectivo, por outro lado. À medida que a liderança do PCUS adoptava políticas que enfraqueciam o carácter social da propriedade e reforçavam os estreitos interesses individuais e de grupo, criava-se um sentimento de alienação relativamente à propriedade social e a consciência sofria erosão. Estava aberta a via para a passividade, a indiferença e o individualismo, à medida que a realidade ficava cada vez mais longe das declarações oficiais, caíam os níveis da produção industrial e agrícola, caindo também a capacidade de satisfazer as crescentes necessidades sociais. Deste modo, os critérios do controlo operário degeneraram e ganharam um carácter puramente formal. A classe operária, as massas populares em geral, não viraram as costas ao socialismo. É de notar que os slogans usados durante a perestroika foram “revolução na revolução”, “mais democracia”, “mais socialismo”, porque grande parte do povo via os problemas e queria mudanças no quadro do socialismo. Por esta razão as medidas que inicialmente enfraqueceram as relações comunistas e reforçaram as relações mercadoria-dinheiro e as que posteriormente abriram caminho para o regresso à propriedade privada dos meios de produção foram fomentadas como medidas de reforço do socialismo. Uma questão que exige um futuro estudo comparativo específico são as formas de organização da participação dos trabalhadores, os seus direitos e deveres, nos diferentes períodos do poder soviético – no tempo de Lenin as comissões operárias, o movimento stakhanovista, em oposição aos “conselhos de autogestão no período de Gorbachev – em relação ao planeamento central e à realização do carácter social da propriedade dos meios de produção. Como parte do estudo da construção do socialismo noutros países da Europa e da Ásia devia ser incluído o seguinte: De que forma o poder estatal da classe operária se exprimia nas Democracias Populares, a aliança da classe operária com os estratos pequeno-burgueses e a luta entre eles. As influências nacionalistas burguesas em certas políticas dos PCs no poder, p. ex. o PCC, a União dos Comunistas Jugoslavos. De que modo a unificação depois de 1945 com secções da social-democracia afectou o carácter dos PCs no poder, p. ex. o Partido Unido dos Trabalhadores Polaco, o Partido da Unidade Socialista na Alemanha, o PC da Checoslováquia e o Partido Húngaro dos Trabalhadores. Desenvolvimentos no Movimento Comunista Internacional e a sua estratégia 27. Na luta de classes à escala mundial e na forma que tomou o equilíbrio de forças, tiveram importante papel os desenvolvimentos no movimento comunista internacional e as questões da sua estratégia. Problemas da unidade ideológica e estratégica exprimiram-se durante todo o tempo da Internacional Comunista (IC), relacionados com a natureza da revolução, o carácter da guerra esperada. Os grupos oportunistas do PC dos Bolcheviques (trotskistas – bukharinistas)

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estavam ligados à luta que se desenvolveu no seio da Internacional Comunista (IC) a respeito da estratégia do movimento comunista internacional. Em finais dos anos 20, Bukharin. como presidente da IC, apoiou forças nos PCs que davam excessiva ênfase à “estabilização do capitalismo” e à possibilidade de um novo surto revolucionário e exprimiam um espírito de compromisso com a social-democracia, em especial com a sua “ala esquerda”, etc. O enfraquecimento do funcionamento da IC como centro unido tinha aparecido muitos anos antes da sua dissolução (Maio de 1943). Um desenvolvimento negativo para o movimento internacional foi a falta de um centro para a elaboração coordenada de uma estratégia revolucionária para a transformação da luta contra a guerra imperialista ou a ocupação estrangeira numa luta pelo poder estatal, como tarefa comum de cada PC nas condições do seu próprio país. Não obstante os factores que levaram à dissolução da IC, há uma necessidade objectiva de o movimento comunista internacional formar uma estratégia revolucionária unificada, de planear e coordenar a sua actividade. Um estudo aprofundado da dissolução da IC tem de ter em consideração uma série de desenvolvimentos, tais como o fim da actividade da Internacional Vermelha dos Sindicatos, em 1937, porque a maioria das suas secções fundiu-se com os sindicatos reformistas de massas ou juntou-se a estes sindicatos. A decisão do VI Congresso da Internacional Comunista da Juventude (1935), segundo a qual a luta contra o fascismo e a guerra exigia mudança do carácter das uniões de juventude comunista, o que em certos casos levou à unificação de organizações da juventude comunista com juventudes socialistas (p.ex. na Espanha, na Lituânia, etc.). Ao passo que a guerra levou a uma maior agudização das contradições de classe em muitos países, só nos países da Europa Central e Oriental a luta antifascista levou ao derrube do poder burguês, com o apoio decisivo que o Exército Vermelho deu aos movimentos populares. No Ocidente capitalista, os PCs não elaboraram uma estratégia para a transformação da guerra imperialista ou a luta de libertação nacional numa luta para a tomada do poder estatal. A estratégia do movimento comunista não o usou o facto de a contradição entre capital e trabalho era em muitos países parte integrante da luta antifascista de libertação nacional, a fim de pôr a questão do poder estatal, visto que o socialismo e a perspectiva do comunismo são a única solução alternativa para a barbaridade capitalista. Houve um recuo em relação à tese de que entre capitalismo e socialismo não existe nenhum sistema social intermédio e, portanto, nenhum poder político intermédio entre o poder estatal burguês e o da classe operária. Esta tese mantém-se válida, seja qual for o equilíbrio de forças, independentemente dos problemas que podem actuar como catalisador para a aceleração dos desenvolvimentos que podem ocorrer, p. ex., agudização das

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contradições inter-imperialistas, guerra imperialista, mudanças na forma do poder estatal burguês. 28. Após o fim da II Guerra Mundial as alianças foram realinhadas. Os Estados capitalistas e as forças burguesas e oportunistas que participaram na luta de libertação nacional em cada país (p. ex., as forças sociais-democráticas) uniram-se contra o movimento comunista e os Estados onde ocorria a construção do socialismo. Nestas condições tornaram-se ainda mais claros os efeitos negativos do aumento da erosão oportunista de algumas secções do movimento comunista internacional. A ausência de uma ligação organizativa entre os PCs, depois da dissolução da IC, e a unidade ideológica gravemente lesada, não permitiram a formulação de uma estratégia unificada do movimento comunista internacional contra a estratégia do imperialismo internacional. O COMINFORM, estabelecido em 1947 e dissolvido em 1956, bem como os posteriores encontros internacionais dos PCs não puderam lidar adequadamente com estes problemas. O sistema imperialista internacional manteve-se forte depois da guerra, apesar do reforço indubitável das forças do socialismo. Imediatamente após o fim da guerra, o imperialismo, sob a hegemonia dos EUA, começou a Guerra-Fria. Foi uma estratégia cuidadosamente elaborada de subversão do sistema socialista. A “Guerra-Fria” incluiu a organização de guerra psicológica, a intensificação das despesas militares para esgotar economicamente a URSS, redes de subversão e erosão do sistema socialista a partir de dentro, provocações abertas e o incitamento a acontecimentos contra-revolucionários (p. ex., na Jugoslávia 1947-48, na RDA, 1953, na Hungria em 1956, na Checoslováquia em 1968, etc.). Foi seguida uma estratégia económica e diplomática diferenciada em relação aos novos estados socialistas a fim de quebrar a sua aliança com a URSS, reforçar as condições para a sua corrupção oportunista. Ao mesmo tempo, o sistema imperialista, com os EUA à cabeça, criou uma série de alianças militares, políticas, económicas e de organizações internacionais de financiamento (NATO, CE, FMI, Banco Mundial, acordos internacionais de comércio) que asseguraram a coordenação de Estados capitalistas, e acalmaram algumas das contradições entre eles ao serviço do objectivo estratégico comum de uma pressão asfixiante sobre o sistema socialista. Organizaram intervenções imperialistas, provocações sistemáticas e multifacetadas e campanhas anticomunistas. Usaram as armas ideológicas mais modernas para manipular os povos e para criar um clima hostil contra os Estados socialistas e o movimento comunista. Serviram-se dos desvios oportunistas e dos problemas da unidade ideológica do movimento comunista. Apoiaram económica, política e moralmente qualquer forma de descontentamento ou discordância com o PCUS e a URSS. Com este fim puseram à disposição biliões de dólares a partir dos orçamentos de estado. 29. A linha de “coexistência pacífica”, desenvolvida no período pós-II Guerra Mundial, em certa medida no XVIV Congresso (Outubro de 1952) e

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completamente no XX Congresso do PCUS (1956) reconheceu a barbárie imperialista e a agressão pelos EUA e pela Inglaterra e por certas secções da burguesia e suas respectivas forças políticas nos estados capitalistas da Europa ocidental, mas não como elemento integrante do capitalismo monopolista, do imperialismo. Deste modo permitiu o desenvolvimento de concepções utópicas, tais como a de ser possível o imperialismo aceitar com o tempo a coexistência com forças que tinham quebrado o seu domínio à escala mundial. Desde o XX Congresso esta noção estava também ligada à possibilidade de uma transição parlamentar para o socialismo na Europa. Secções do movimento comunista (no poder ou não) sobrestimavam a força do sistema socialista e subestimavam a dinâmica da reconstrução pós-guerra do capitalismo. Ao mesmo tempo, aprofundou-se a crise do movimento comunista internacional, que se exprimiu inicialmente na ruptura das relações entre o PCUS e o PCC e mais tarde com a criação da corrente conhecida como “euro-comunismo”. Na Europa ocidental, nas fileiras de muitos PCs, com o pretexto das peculiaridades nacionais de cada país, predominou este “euro-comunismo”, que rejeitava as leis científicas da revolução socialista, a ditadura do proletariado e a luta revolucionária em geral. Adoptou o “caminho parlamentar” para o socialismo, que é, em geral, uma estratégia social-democrata reformista. Em geral, a ideia de que a social-democracia estava dividida numa ala “esquerda” e numa ala “direita” dominava nos PCs, enfraquecendo a luta ideológica contra ela. Em nome da unidade da classe operária, os PCs fizeram uma série de concessões ideológicas e políticas, ao passo que as declarações sobre a unidade vindas do lado da social-democracia não tinham em vista a derrota do sistema capitalista, mas sim afastar a classe operária da influência das ideias comunistas e da sua alienação como classe. A posição de muitos PCs relativamente à social-democracia como parte da estratégia do “governo antimonopolista”, uma espécie de estádio entre socialismo e capitalismo, que também teve expressão em governos que geriam o capitalismo em aliança com a social-democracia. Esta estratégia baseou-se inicialmente na avaliação de que havia uma relação de “subordinação e dependência” de todo o país capitalista face aos EUA. Contudo, ela foi adoptada mesmo pelo PC dos EUA, no país que estava no topo da pirâmide imperialista, Esta estratégia predominou especialmente depois do XX Congresso do PCUS, com a sua tese sobre “uma variedade de formas de transição para o socialismo em certas condições”. Esta tese era essencialmente uma revisão das lições da experiência revolucionária soviética. A estratégia unida do capitalismo contra os Estados socialistas e o movimento operário nos países capitalista foi subestimada. As contradições entre os países capitalistas, que continham naturalmente o elemento de dependência, como é inevitável no seio da pirâmide imperialista, não foram analisadas correctamente. Assim, PCs optaram por uma política de alianças que incluía forças burguesas, definidas como “de pensamento nacional”, ao contrário das que trabalhavam para o imperialismo estrangeiro. Tais ideias predominavam também na secção do movimento comunista que depois de 1960 se orientou para o PC da China.

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A interacção mútua do oportunismo contemporâneo entre os PCs dos países capitalistas e os PCs no governo foi reforçada nas circunstâncias do medo de um ataque nuclear contra os países socialistas, de agudização da luta de classes nos Estados socialistas (Europa central e oriental) e de novas guerras imperialistas (Vietname, Coreia). As tácticas flexíveis do imperialismo tiveram impacto no desenvolvimento do oportunismo nos PCs dos Estados socialistas, na subversão da construção do socialismo e da luta revolucionária na Europa capitalista e à escala mundial. Fortaleceu-se deste modo, directa e indirectamente, a pressão imperialista sobre os estados socialistas. Avaliação da posição do PC da Grécia 30. O XIV Congresso do PC da Grécia (1991) e a Conferência Nacional (1995) fez autocrítica a respeito do seguinte: Não evitámos, como partido, a idealização do socialismo, tal como foi construído no século XX. Subestimámos os problemas que detectávamos, atribuindo-os principalmente a factores objectivos. Justificámo-los como problemas no desenvolvimento do socialismo, algo que se provou não corresponder à realidade. A capacidade para chegarmos às conclusões correctas limitada por o nosso Partido não dar a necessária atenção ao requisito de aquisição de suficiência teórica, de promover o estudo criador e a assimilação da nossa teoria, de utilizar a rica experiência da luta de classes e revolucionária, de contribuir com as suas próprias forças para a formulação criativa de teses ideológicas e políticas. Como partido, adoptámos em grande parte avaliações teóricas e opções políticas erradas do PCUS. Adaptámo-nos e tolerámos a formalidade de relações entre os partidos comunistas, adoptámos de forma acrítica teses do PCUS sobre questões de teoria e ideologia. Da nossa experiência emerge a conclusão de que o respeito pela experiência doutros partidos tem de combinar-se com um juízo objectivo das suas políticas e práticas, com o uso da crítica, baseado na camaradagem, acerca de erros e com a oposição a desvios. A conferência de 1995 criticou o facto de o nosso partido ter aceite acriticamente a política da Perestroika, avaliando-a como uma política de reforma de que o socialismo beneficiaria. Este facto reflectiu o fortalecimento do oportunismo no seio das fileiras do Partido neste período. Este tratamento crítico da posição do PC da Grécia em relação à construção do socialismo não desvaloriza o facto de o nosso Partido, fiel ao seu carácter internacionalista, ter defendido ao longo da sua história o processo de construção do socialismo no século XX com as vidas de milhares dos seus membros e quadros. Ele propagandeou o socialismo de modo militante. A defesa da contribuição do socialismo no século XX foi no passado e é hoje uma opção consciente do nosso Partido, após os desenvolvimentos negativos. O PC da Grécia não se põe ao lado das forças que, originadas no movimento comunista e em nome da crítica à URSS e a outros países, foram levadas à rejeição do carácter socialista destes países, à adopção da propaganda do

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imperialismo; nem fez a revisão da defesa do socialismo, apesar das suas fraquezas.

D. A necessidade e a importância do Socialismo. Enriquecimento da nossa concepção programática do Socialismo

A necessidade e a importância do Socialismo

31. O programa do Partido declara: “os êxitos contra-revolucionários não mudam o carácter da época. O século XXI será o século de um novo surto do movimento revolucionário mundial e de uma nova série de revoluções sociais”.

As lutas que se limitam a defender alguns ganhos, não obstante serem necessárias, não podem proporcionar reais soluções. A única saída e a perspectiva inevitável continua a ser o socialismo, apesar da derrota em finais do século XX. A necessidade do socialismo emerge da agudização das contradições do mundo capitalista contemporâneo, do sistema imperialista. Deriva do facto de no estádio imperialista de desenvolvimento do capitalismo, caracterizado pelo domínio dos monopólios, terem amadurecido completamente as condições materiais que exigem a transição para um sistema económico-social superior. O capitalismo socializou a produção para um nível sem precedentes. Contudo, os meios de produção, os produtos do trabalho social constituem propriedade privada, capitalista. Esta contradição é a fonte de todos os fenómenos de crise das sociedades capitalistas contemporâneas: desemprego e pobreza, que atingem níveis explosivos durante crises económicas, aumento do tempo diário de trabalho, apesar da maior produtividade do trabalho, a incapacidade de satisfazer as necessidades sociais actuais de educação e especialização profissional, de cuidados de saúde baseados nos avanços científicos e tecnológicos modernos, a destruição irresponsável do ambiente com graves consequências para a saúde pública e a saúde dos trabalhadores, a falta de protecção contra catástrofes naturais apesar das novas possibilidades tecnológicas, a destruição provocada por guerras imperialistas, o tráfico de drogas e o comércio de órgãos humanos, etc. Ao mesmo tempo, estas contradições do capitalismo apontam a solução: adaptação das relações de produção de forma a corresponderem ao nível de desenvolvimento das forças produtivas. Abolição da propriedade privada dos meios de produção, a começar pelos mais concentrados, a sua socialização, o seu uso planeado na produção social a fim de satisfazer as necessidades sociais. Planeamento da economia pelo poder estatal revolucionário da classe operária, controlo operário. O objectivo do socialismo é realista, porque tem as raízes no desenvolvimento do próprio capitalismo. A sua realização não depende da relação de forças; as condições em que a acção revolucionária se desenvolve podem acelerar ou retardar os acontecimentos. A vitória da revolução socialista num país ou num grupo de países deriva da acção da lei do desigual desenvolvimento económico e político do

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capitalismo. As condições para a revolução socialista não amadurecem simultaneamente à escala mundial. A cadeia imperialista romper-se-á no seu elo mais fraco. A tarefa “nacional” específica de cada PC é a realização da revolução socialista e a construção do socialismo no seu país, como parte do processo revolucionário mundial. Isso contribuirá para a criação de um “socialismo plenamente consumado” no quadro da “colaboração revolucionária dos proletários de todos os países”. A tese leninista acerca do elo fraco não ignora a relação dialéctica do nacional com o internacional no processo revolucionário, que se exprime no facto de a passagem para a fase mais alta do comunismo exigir a vitória do socialismo à escala mundial, ou pelo menos a sua vitória nos países desenvolvidos e dominantes do sistema imperialista. Enriquecimento da nossa concepção programática sobre o Socialismo 32. O grau de maturação das precondições materiais para o socialismo difere entre as várias sociedades capitalistas como resultado da lei do desenvolvimento desigual do capitalismo. O critério básico para o desenvolvimento das relações capitalistas é a extensão e concentração do trabalho assalariado. Nas condições de imperialismo, o atraso capitalista relativo pode desencadear uma agudização súbita de contradições, daí uma crise revolucionária e a possibilidade de vitória. Contudo, o grau de atraso económico-social tornará correspondentemente mais difícil a futura construção do socialismo, a luta do novo contra o velho. A construção do socialismo e a rapidez da construção do socialismo é influenciada pelo que ele herda. Em qualquer caso, o nível do passado capitalista que o poder operário revolucionário herda não justifica pôr em causa as leis básicas da revolução e construção socialistas. Estas leis têm aplicação geral em todos os países capitalistas, independentemente das suas peculiaridades historicamente condicionadas que existiram sem dúvida no decurso da construção do socialismo no século XX e existirão certamente durante uma futura construção do socialismo. 33. O XV Congresso do PC da Grécia definiu como socialista a revolução vindoura na Grécia. Também definiu o carácter anti-imperialista, antimonopolista e democrático da Frente como a aliança da classe operária com os outros estratos populares. Os Congressos posteriores, em especial o XVI, enriqueceram o conteúdo programático da Frente. No Programa do PC da Grécia sobre o socialismo, exprimiram-se as nossas conclusões básicas, que hoje podemos enriquecer servindo-nos das respeitantes à construção do socialismo na URSS durante o século XX baseadas nas teses marxistas-leninistas desenvolvidas no 2.º capítulo.

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34. O alto nível de monopolização, especialmente em anos recentes, é a condição prévia material para a socialização dos meios de produção na indústria, comércio e turismo, de modo que a riqueza produzida possa tornar-se propriedade social. Todas as formas de actividade privada de negócios nas áreas da saúde, de bem-estar, segurança social e educação devem ser imediatamente abolidas. A propriedade social e o planeamento central criarão a possibilidade do desaparecimento do desemprego. O planeamento central e a economia baseada na propriedade social dos meios de produção concentrados é uma relação de produção comunista. Os planos estatais cobrirão objectivos a longo, médio e curto prazo do planeamento da construção do socialismo e da prosperidade social. A execução do planeamento central será organizada por sector, através de uma única autoridade estatal unificada com ramos regionais e a nível da indústria. O planeamento basear-se-á numa totalidade de objectivos e critérios tais como:

§ Na energia: o desenvolvimento de infra-estrutura para fazer face às necessidades de produção centralmente planeada, a redução do nível de dependência energética do país, a salvaguarda de consumo popular adequado e barato, a segurança dos trabalhadores do sector e de áreas residenciais, a protecção da saúde pública e do ambiente. Nesta direcção, as políticas energéticas terão os seguintes pilares: a utilização de todas as fontes nacionais de energia (lenhite, hidroeléctrica, eólica, etc.), investigação sistemática e descoberta de novas fontes, a prossecução e colaborações mutuamente benéficas. § Nos transportes será dada prioridade ao transporte colectivo e não ao transporte individual, ao transporte ferroviário na parte continental do país. Todas as formas de transporte serão planeadas com o critério de serem interligadas e complementares e com os objectivos de movimento barato e rápido de pessoas e bens, a poupança de energia e a protecção do ambiente, o desenvolvimento planeado e medidas de correcção do desenvolvimento regional desigual, o cabal controlo da segurança e defesa nacionais. Precondição para a realização destes objectivos no desenvolvimento dos transportes é o planeamento de infra-estruturas importantes (portos, aeroportos, estações de caminho de ferro) e de uma indústria de produção de meios de transporte. O mesmo se aplica às telecomunicações, ao processamento de matérias-primas, à manufactura, em especial produção de máquinas, visando uma economia auto-suficiente (na medida do possível), reduzindo a dependência de comércio externo e transacções com economias capitalistas nestes sectores cruciais. § A terra será socializada, assim como as grandes empresas agrícolas capitalistas. Serão estabelecidas unidades produtoras estatais para a

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produção e processamento de produtos agrícolas como matéria primas ou como artigos de consumo. § Serão fomentadas cooperativas de produção na pequena produção agrícola e na pequena produção de mercadorias nas cidades. Cooperativas de produção criarão as precondições para extensão de relações comunistas em todos os sectores da economia por meio da concentração da pequena produção de mercadorias, a sua organização, a divisão do trabalho no seio de cooperativas, o aumento da produtividade do trabalho e a utilização de nova tecnologia. Será criado um sistema de distribuição de produtos das cooperativas através de lojas estatais e cooperativas. O planeamento central determinará as proporções entre o produto distribuído através do mercado cooperativo (e seus preços) e o produto distribuído através do mecanismo estatal. O objectivo é que todos os produtos das cooperativas sejam distribuídos através de um mecanismo estatal unificado. § As cooperativas de produção são ligadas ao planeamento central por meio da fixação de metas e planos de produção para o consumo de matérias-primas e energia. § Os novos avanços da tecnologia e da ciência serão usados a fim de reduzir o tempo de trabalho, o aumento de tempo livre que pode ser utilizado para elevação do nível de educação e cultura dos trabalhadores, para a real aptidão dos trabalhadores participarem no controlo da gestão e nas instituições do poder estatal. § A investigação científica será organizada por instituições estatais – órgãos superiores da educação, institutos, etc. – e estará ao serviço do planeamento central, da administração da produção social, para desenvolvimento da prosperidade social.

35. Uma parte do produto social será distribuída segundo as necessidades através de serviços públicos e gratuitos – cuidados de saúde, educação, segurança social, ocupação de tempo livre, protecção das crianças e dos idosos, bem como transportes baratos (e nalguns casos gratuitos), serviços de telecomunicações, fornecimento de energia e água para consumo popular, etc. Será criada uma infra-estrutura social estatal para proporcionar serviços de alta qualidade destinados a satisfazer necessidades que hoje são pagas pelo rendimento do indivíduo ou da família (p. ex., cantinas no local de trabalho, em escolas). Todas as crianças em idade pré-escolar receberão educação pré-primára gratuita, pública e obrigatória. Será assegurada educação escolar gratuita, pública, geral e básica de 12 anos para todos, através de uma escola unificada na sua estrutura,

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programa, administração e funcionamento, infra-estrutura e com pessoal especializado e devidamente treinado. Educação profissional gratuita, exclusivamente pública, será assegurada após completar a educação básica obrigatória. Através de um sistema unificado de educação superior pública gratuita será formado pessoal científico capaz de ensinar nas instituições de educação e fornecer pessoal especializado em áreas da investigação, produção socializada e serviços estatais. Será estabelecido um sistema de saúde pública e de previdência inteiramente gratuito. A produção directamente social (meios de produção socializados, planeamento central, controlo operário) cria a base material de modo que uma economia socialista em desenvolvimento – conforme o nível de desenvolvimento – pode assegurar equidade para todos os membros da sociedade, condições para cuidados de saúde e previdência, bem como bens sociais, proporcionados como condição prévia para o bem-estar físico e psicológico, o desenvolvimento intelectual e cultural de qualquer pessoa, que depende das condições de vida e de trabalho, as condições ambientais e sociais gerais que afectam a aptidão de cada um para o trabalho e para a actividade social. 36. Com a criação e execução do primeiro plano estatal, a vigência das relações mercadoria-dinheiro já serão restringidas. A sua contínua restrição, com vista ao completo desaparecimento, está ligada com o alargamento das relações comunistas na totalidade da produção e distribuição, com a expansão dos serviços sociais para satisfazer uma parte cada vez maior das necessidades de consumo individual. O dinheiro perde gradualmente o seu conteúdo como forma de valor, a sua função de troca de mercadorias e é transformado numa forma de certificação do trabalho realizado, de modo que os trabalhadores possam ter acesso à secção do produto social que é distribuído de acordo com o seu trabalho. O acesso a estes produtos é determinado pela contribuição de trabalho individual no quadro da totalidade de trabalho socialmente útil. A medida da contribuição dum indivíduo é o tempo de trabalho, que é determinado pelo Plano segundo os seguintes critérios: necessidades globais da produção social (p. ex. transferência de força de trabalho para regiões específicas ou industrias prioritárias), outras necessidades sociais especiais (p. ex. maternidade, indivíduos com necessidades especiais), postura de vanguarda na organização e execução do trabalho. Cada política de formação do “salário” baseia-se nos princípios acima indicados. Quaisquer desvios existentes, como sejam diferenças herdadas baseadas em determinações do “valor” (que reduzem trabalho complexo e especializado a trabalho simples) serão tratadas de maneira planeada, dando prioridade a melhorar o rendimento das secções de trabalhadores que ganham menos.

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A finalidade do planeamento central é, a médio e longo prazos, desenvolver de modo generalizado a capacidade de execução pelos trabalhadores de trabalho especializado, bem como alterações da divisão do trabalho para conseguir o desenvolvimento generalizado da produtividade do trabalho e a redução do tempo de trabalho. O papel e a função do Banco Central mudarão. A regulação da função do dinheiro, como meio de circulação de mercadorias será limitada à troca entre produção socialista e a produção das cooperativas agrícolas, em geral a produção de certos bens de consumo, até ao desaparecimento final da produção de mercadoria. Nesta base, serão controladas as funções de certos organismos estatais de crédito a cooperativas de produção, agrícolas e outras, e a determinados pequenos produtores. O mesmo se aplicará a transacções inter-estatais internacionais (comércio, turismo), enquanto existir capitalismo na Terra. Por consequência, como departamento do planeamento estatal, regulará as reservas de ouro ou reservas doutras mercadorias que operam como dinheiro mundial. O novo papel do Banco Central no exercício da contabilidade social geral tomará forma e estará ligado com os órgãos e os objectivos do planeamento central. 37. A construção do socialismo não é compatível com a participação dum país em formações imperialistas, tais como a UE e a NATO. O poder estatal revolucionário procurará, de acordo com a situação internacional e regional, desenvolver relações inter-estatais com benefício mútuo entre a Grécia e outros países, especialmente com países em que o nível de desenvolvimento, os problemas e os interesses imediatos podem assegurar essa cooperação benéfica. O estado socialista procurará cooperação com países que têm objectivamente interesse directo em resistir aos centros económicos, políticos e militares do imperialismo, e sobretudo com outros povos que estão a construir o socialismo. Procurará servir-se de qualquer ruptura que possa existir na frente imperialista, devido a contradições inter-imperialistas a fim de defender e dar força à revolução e ao socialismo. Uma Grécia socialista, fiel aos princípios do internacionalismo proletário, será, na medida das suas capacidades, um baluarte do movimento anti-imperialista, revolucionário e comunista mundial. 38. O poder estatal revolucionário da classe operária, a ditadura do proletariado, tem o dever de impedir as tentativas da classe burguesa e da reacção internacional de restaurar o domínio do capital. Tem o dever de criar uma nova sociedade, com abolição da exploração do homem pelo homem. As suas funções – organizacionais, culturais, políticas, educacionais e defensivas – serão guiadas pelo Partido. Será a expressão de uma forma superior de democracia, com a enérgica participação da classe operária, do povo, na resolução dos problemas básicos da construção da sociedade socialista e do controlo do poder estatal e os seus órgãos, que é a sua base característica. É um órgão da luta de classes da classe operária, que continua sob novas formas em novas condições.

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O centralismo democrático é um princípio fundamental da formação e do funcionamento do Estado socialista, do desenvolvimento da democracia socialista, da administração da unidade de produção, de qualquer serviço social. O poder operário revolucionário basear-se-á nas instituições que nascerão com a luta revolucionária da classe operária e seus aliados. As instituições parlamentares burguesas serão substituídas pelas novas instituições do poder operário. Os núcleos do poder estatal da classe operária serão as unidades de produção, os locais de trabalho, através das quais será exercido o controlo social e pela classe operária da administração. Os representantes dos trabalhadores nos órgãos do poder estatal serão eleitos (e se necessário revogados) a partir das “comunidades de produção”. O exercício do controlo social e pelos trabalhadores será institucionalizado e salvaguardado na prática, como também o será a crítica livre de decisões e manobras que obstruem a construção do socialismo, a denúncia sem restrições da arbitrariedade subjectiva e do comportamento burocrático de funcionários e de outros fenómenos negativos e desvios dos princípios socialistas-comunistas. A representação dos agricultores cooperativos e dos pequenos produtores de mercadorias salvaguarda a sua aliança com a classe operária. A composição dos órgãos mais elevados é constituída por delegados eleitos a partir dos órgãos inferiores através dos órgãos correspondentes. Será assegurado que a maioria dos representantes destes órgãos sejam trabalhadores das unidades de produção socialista e dos serviços sociais públicos. O órgão mais elevado do poder estatal é um corpo expedito – legisla e governa ao mesmo tempo – e a atribuição de autoridades executivas e legislativas é feita no seu âmbito. Não é um parlamento, os representantes não são permanentes, podem ser revogados, não estão separados da produção; estão em alternativa do seu trabalho pela duração do seu termo, conforme os requisitos das suas funções como representantes e não têm qualquer benefício económico especial por participar nos órgãos do poder do Estado. A partir do órgão mais elevado, o governo, são escolhidos os chefes das várias autoridades executivas (ministérios, administrações, etc.). Será promulgada uma constituição revolucionária e legislação revolucionária de acordo com as novas relações sociais – propriedade social, planeamento central, controlo operário – em defesa da legalidade revolucionária. Nesta base será configurada a Lei do Trabalho, a Lei da Família e toda a consagração legal das novas relações sociais. Será formado um novo sistema judicial, baseado em instituições do poder revolucionário para o funcionamento da justiça. As novas autoridades judiciais estarão sob a supervisão directa dos órgãos do poder estatal. O corpo judicial será constituído por juízes não profissionais eleitos e revogáveis, bem como por

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pessoal permanente que presta contas às instituições do poder estatal revolucionário da classe operária. Entre as tarefas do poder estatal da classe operária estará a revisão radical do mecanismo administrativo do estado burguês inevitavelmente herdado na primeira fase do socialismo. Tempo de trabalho, os direitos e deveres dos trabalhadores serão regulados de acordo com a lei revolucionária. A liderança do partido, sem quaisquer privilégios, salvaguardará a transformação revolucionária da administração pública. Os novos órgãos da segurança e defesa revolucionárias basear-se-ão na participação dos trabalhadores e do povo, existindo também pessoal especializado permanente. No lugar do exército e dos mecanismos de segurança burgueses, que foram completamente dissolvidos, serão criadas novas instituições, baseadas na luta revolucionária armada para destruição da resistência dos exploradores e para defesa da revolução. O controlo directo do exército e das forças de defesa da revolução pelo poder estatal da classe operária será assegurado. Os seus quadros serão criados na base da sua postura face à revolução. Gradualmente, através de novas escolas militares, criar-se-á um novo corpo, principalmente a partir da juventude oriunda da classe operária. Será educada nos princípios do novo poder estatal. Utilizar-se-á a experiência positiva da construção do socialismo, onde as tarefas de defesa da revolução foram não só executadas por forças permanentes especiais mas também com a responsabilidade do povo por meio de comissões operárias, etc. 39. O PC da Grécia, como vanguarda da classe operária, tem o dever de conduzir a luta para a completa transformação de todas as relações sociais em relações comunistas. O papel revolucionário de vanguarda do Partido consolida-se através do esforço constante para aprofundar e desenvolver a compreensão do marxismo-leninismo, do comunismo científico, com a assimilação das conquistas científicas actuais e a compreensão classista dos problemas que surgem durante o desenvolvimento da formação económico-social comunista. Em cada fase é importante garantir a composição proletária do partido, visto que a sociedade socialista não é homogénea e tem contradições sociais. O papel revolucionário e dirigente de vanguarda do partido radica na sua capacidade de activar a participação dos trabalhadores e o controlo operário, sobretudo na unidade de produção (local de trabalho) e nos serviços sociais, a fim de a classe operária se desenvolver e se tornar o sujeito da auto-gestão comunista.

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O papel do Partido não é simplesmente ideológico-educacional. É o partido da classe que tem o poder do Estado. O papel dirigente do Partido no exercício do poder estatal é uma tarefa decisiva. Por consequência, o PC tem de ter uma relação organizativa directa com todas as estruturas da ditadura do proletariado. Tem de estar implicado em todas as questões políticas importantes que têm que ver com o exercício do poder estatal; tem de mobilizar a classe operária no controlo do poder estatal e com a administração da produção. Está obrigado a dar a direcção estratégica sem se desviar por questões secundárias. Epílogo O nosso Partido continuará a estudar e a investigar, no sentido de uma melhor expressão das nossas conclusões, incluindo as questões que não foram completamente tratadas. Igualmente importante é a assimilação das nossas presentes elaborações acerca do socialismo-comunismo por todos os membros do Partido e pela Juventude Comunista. É esta tarefa que determinará a capacidade do Partido de ligar cabalmente a sua estratégia com a luta do dia-a-dia, de formular objectivos para os problemas imediatos do povo trabalhador em ligação com a estratégia para a conquista do poder operário revolucionário e para a construção do socialismo. O Comité Central do Partido Comunista da Grécia 19 de Outubro de 2008 Notas: (N. do T.: Não foram incluídas na tradução as referências bibliográficas que dizem respeito a obras e outras publicações em língua grega ou russa. Todas as notas que se seguem não estavam numeradas no original nem referenciadas no texto) Relações de produção capitalistas, como forma historicamente nova de exploração do homem pelo homem caracterizada pela relação trabalho assalariado-capital, apareceram e expandiram-se na segunda metade do século XIV nas cidades do Norte de Itália (Génova, Veneza, etc.). Contudo, por várias razões, elas não puderam passar a um nível superior de desenvolvimento e tornar-se dominantes, o que teve como resultado o regresso a relações feudais. O desenvolvimento de relações capitalistas mais tarde na Inglaterra e na Holanda no século XVI trouxeram a burguesia para o primeiro plano e levaram a uma série de revoluções burguesas até que, finalmente, por um processo de conflito e compromisso com as classes feudais, foi-lhes possível estabelecerem-se no século XIX. Na História Mundial da Academia de Ciências da URSS, Vol. C2, p. 943-983, descreve-se em pormenor o processo de extensão das relações capitalistas nas cidades do Norte de Itália, assim como a sua decadência e derrota, que levou ao regresso e domínio das relações feudais. Uma característica que revela a extensão que as relações capitalistas tinham alcançado nas cidades

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italianas são os conflitos acérrimos, incluindo revoltas e greves, que ocorreram entre trabalhadores assalariados artesãos, mercadores e banqueiros burgueses. Um acontecimento característico refere-se ao levantamento de 4.000 trabalhadores das manufacturas têxteis em Florença em 1343. No século XV a indústria manufactureira era limitada e os residentes ricos das cidades transferiram fundos para actividades agrícolas. Um indicador do retrocesso das relações capitalistas é o seguinte facto: enquanto no século XIII a servidão tinha sido abolida ou mitigada, verificou-se um regresso a ela na segunda metade do século XV. Classe operária na Rússia – Nas vésperas da I Guerra Mundial houve um crescimento e concentração da classe operária na Rússia. Estimou-se em 15 milhões o total de trabalhadores, 4 milhões dos quais eram trabalhadores industriais e dos caminhos-de-ferro. Além disso, estimou-se que 56,6% dos trabalhadores industriais estavam concentrados em grandes indústrias com mais de 500 operários. A Rússia era o 5.º país do mundo e o 4.º da Europa em termos da proporção da produção industrial internacional. É verdade que o aumento da produção industrial tinha começado no fim da primeira década do século XX. Os ramos dos meios de produção aumentaram a produção em 83% no período 1909 – 1913 (um aumento médio de 13%). Contudo a grande indústria capitalista estava concentrada em seis áreas: Central, Noroeste (Petrogrado), Báltico, Sul, Polónia, Urais, que perfaziam cerca de 79% dos trabalhadores industriais e 75% da produção industrial. A profunda desigualdade que caracterizava a economia do Império Russo na véspera da I Guerra Mundial está expressa em dados estatísticos dessa época, apesar das suas insuficiências. A classe trabalhadora era aproximadamente 20% da população total (conforme a fonte situava-se entre 17% e 19,5%). Os pequenos produtores de mercadorias (camponeses, artesãos, etc.) perfaziam 66,7% e as classes exploradores 16,3%, dos quais 12,3% eram kulaks, Em 1913 o Produto Nacional Bruto per capita era 11,5% do dos EUA. Aproximadamente 2/3 da população era iletrada. XX Congresso do PCUS. Como pode deduzir-se da história do PCUS, houve uma luta aguda no Presidium do CC em Junho de 1957, um ano após o XX Congresso (1956). Os membros do Presidium do CC, Malenkov, Kaganovitch, Molotov, opuseram-se à linha do XX Congresso, em políticas tanto internas como externas: contra a expansão dos direitos das repúblicas da união na construção económica e cultural. contra medidas que restringiam o mecanismo estatal e de reorganização do Departamento de Indústria e Reconstrução, contra a decisão de aumentar incentivos materiais para os agricultores dos kolkhozes, contra a abolição da entrega obrigatória de produtos agrícolas pelos agregados familiares dos kolkhozniks. Molotov também se opôs à ampliação das terras virgens. Os três tomaram posição contra a linha política internacional do partido. Malenkov, Kaganovitch Molotov e Shepilov foram retirados da sua posição no CC e no Presidium do CC na Sessão Plenária do CC em Junho. Bulganin recebeu uma severa censura com uma advertência. Outros membros foram penalizados. Pervukhin foi despromovido de membro efectivo a membro substituto do

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Presidium do CC. Saburov foi excluído de membro substituto do Presidium. Em Outubro de 1957 o Presidium e o Secretariado foram alargados com novos membros. Directiva emanada do XV Congresso (1927). O PC Pan-Russo(b) deu peso ao aumento da produtividade dos pequenos e médios agregados familiares e da tecnologia e equipamento proporcionados. A nacionalização da terra não entrou em conflito com os direitos de uso da terra dos pequenos e médios camponeses. Ela beneficiou o pequeno agregado familiar e as formas de cooperação dos agregados familiares agrícolas dispersos. A posição acerca do pequeno agregado familiar, a pequena produção, era de ajuda, não de luta. Rejeitava a destruição das formas inferiores de organização em nome das formas grandes. Ao mesmo tempo, eram destacadas as vantagens do kolkhoze e do sovkhoze. Paralelamente, ela visava derrotar certas secções do kulak nas aldeias e, posteriormente, extinguir a classe kulak. Os sovkhozes eram unidades agrícolas estatais organizadas com base na mecanização da produção agrícola. Os primeiros sovkhozes foram criados em 1918 a partir da terra expropriada aos grandes agrários. O seu produto era totalmente entregue ao Estado. Os trabalhadores do sovkhoze tinham rendimento em salário, eram considerados trabalhadores na propriedade social. Contudo, tinham direito de manter um pequeno agregado familiar agrícola privado, tal como todos os trabalhadores que viviam em áreas agrícolas. Tinham direito, tal como os agricultores do kolkhoze, acolocar no mercado uma parte da produção dos seus agregados familiares. Certas fontes estimam em 21.600 o número de sovkhozes existentes, com 12 milhões de trabalhadores (26.400 kolkhozes com 13 milhões de trabalhadores). A decisão do CC de 15.3.1930 e o artigo de Stalin Estonteados com o êxito [“Dizzy from success”] abordaram os erros que agravaram a desestabilização da aliança operário-camponesa, sendo tomadas posições a favor do reconhecimento dos erros e de os corrigir, nas áreas e circunstâncias onde os erros não tinham criado situações irreversíveis devido a desvios ou evolução incorrecta. O caso Shakhty diz respeito à sabotagem realizada na indústria mineira da área Donbass por especialistas burgueses, quadros industriais que tinham sido empregados pelo poder soviético para organizar e administrar a produção. Durante o julgamento realizado em 1928 provou-se que estes quadros executivos tinham ligações com os anteriores capitalistas donos da mina de carvão que tinham ido para o estrangeiro. A sabotagem fazia parte de um plano global de subversão da indústria socialista e do poder soviético. Trotsky e os seus apoiantes (mais tarde também Zinoviev, Kameniev) defendiam que a URSS não podia construir o socialismo se a revolução socialista não vencesse numa série de países capitalistas desenvolvidos, de outro modo o poder soviético degeneraria inevitavelmente. Esta posição levou-o, no início da revolução, a lançar o ponto de vista de que a produção

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agrícola devia ser submetida pela força à indústria (“ditadura da indústria”). Contudo, depois (1932) ele condenou a colectivização e os esforços na industrialização como “aventureirismo burocrático”. N Bukharin defendia que, a fim de construir o socialismo na URSS, o capitalismo tem de ser desenvolvido primeiro nas secções atrasadas da economia, e especialmente na produção agrícola. Por isso, ele reagiu à promoção da colectivização da produção agrícola, defendendo que só através de cooperativas de consumo e de abastecimento e da libertação do mercado é que a produção agrícola podia iniciar o caminho do socialismo. Bukharin e os seus apoiantes afirmavam que os kulaks podiam ser gradualmente assimilados para o socialismo e defendiam a continuação da NEP. Na sua essência, esta tendência exprimia os interesses dos kulaks, os homens da NEP e as tendências pequeno-burguesas no seio da sociedade soviética. Não é por acaso que as ideias de Bukarin foram adoptadas nas políticas da Perestroika em 1988. Centros contra-revolucionários. A existência de centros contra-revolucionários foi revelada em meados dos anos 30. Apesar de alguns excessos nas medidas tomadas para lidar com estes centros, nos julgamentos de 1936 e 1937, revelou-se que havia cooperação entre estes centros e secções do exército (caso Tukhasevsky, que foi reabilitado após o XX Congresso), e igualmente com os serviços secretos da Alemanha, Grã Bretanha, França, etc. Mais ainda: fontes de Estados capitalistas confirmaram a existência de tais planos, com a participação de quadros dirigentes como Bukharin. Exemplo característico é o relatório de Joseph Davis (então embaixador dos EUA em Moscovo) acerca do julgamento de Bukharin, a que ele assistiu do princípio ao fim. Em 17 de Março de 1938 Davis enviou um memorandum confidencial para a Secretaria de Estado dos EU, em Washington: “Não obstante as reservas contra um sistema judicial que praticamente não proporciona qualquer protecção ao acusado, depois da observação diária das testemunhas, a sua maneira de depor, as confirmações inconscientes desenvolvidas e outros factos no decorrer do julgamento, é minha opinião, no respeitante aos réus políticos, que suficientes crimes ao abrigo da lei soviética, entre eles os imputados na acusação, foram estabelecidos como provados, para além de qualquer dúvida razoável, para justificar o veredicto de culpados de traição e a atribuição da pena prevista no código penal soviético. Em geral a opinião dos diplomatas que assistiram ao julgamento com maior regularidade foi a de que houve uma formidável oposição política e uma conspiração extremamente grave.”Joseph Davis, Mission to Moscow, Simon & Suster Publications, New York, 1941, “Sem dúvida, com a abolição do capitalismo e do sistema de exploração no nosso país e com a consolidação do sistema socialista, o antagonismo de interesses entre a cidade e o campo, entre a indústria e a agricultura, também estava destinado a desaparecer. E isso foi o que aconteceu…Naturalmente, os operários e os camponeses das unidades colectivas representam duas classes de estatutos diferentes entre si. Mas esta diferença não enfraquece de nenhum modo a sua amizade. Pelo contrário, Os seus interesses estão numa linha comum, a de fortalecer o

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sistema socialista e alcançar a vitória do comunismo…Vejamos, por exemplo, a distinção entre camponeses e operários consiste não só no facto de as condições de trabalho na agricultura serem diferentes das da indústria, mas principalmente e sobretudo no facto de que, enquanto na indústria temos a propriedade pública dos meios de produção e do produto da indústria, na agricultura não temos propriedade pública, mas sim de grupo, da fazenda colectiva. Já tem sido dito que este facto leva à continuação da circulação de mercadorias e que só quando esta distinção entre indústria e agricultura desaparecer, pode também desaparecer a produção de mercadorias com todas as suas consequências. Portanto, não se pode negar que o desaparecimento desta distinção essencial entre indústria e agricultura tem de ser para nós um assunto da maior importância”. Stalin, Economic Problems of Socialism na URSS Havia muitos pequenos kolkhozes com 10-30 agregados familiares em pequenas parcelas, onde os meios tecnológicos não eram adequadamente utilizados e os custos de gestão era muito elevados. Apesar dos êxitos conseguidos com o cumprimento do 4.º plano quinquenal (1946-1950), a liderança do PCUS notou os seguintes problemas durante esse período: ritmos lentos na introdução de novos avanços científicos e tecnológicos numa série de ramos da indústria e de produção agrícola. Fábricas com velho equipamento técnico e baixa produtividade, produção de máquinas-ferramentas de tecnologia obsoleta. Fenómenos de abrandamento, rotina, inércia na gestão de fábricas, indiferença em relação à introdução do progresso técnico como estímulo constante para o desenvolvimento das forças produtivas. Atraso na recuperação da produção agrícola, baixa produtividade por hectare na cultura de trigo, baixa produtividade da produção de gado, cuja produção total não tinha sequer atingido níveis de antes da guerra, com o resultado de escassez de carne, leite, manteiga, frutos e vegetais que afectava o objectivo geral do aumento do nível de prosperidade social. Atraso no desenvolvimento de um mecanismo que reflectisse no planeamento central as reais proporções necessárias entre ramos e sectores da economia. É importante verificar como as forças burguesas caracterizavam nessa altura as reformas de 1965: O pensamento económico burguês caracterizava-as como um regresso ao capitalismo (material publicado no Economist, no Financial Times). Elas tinham o apoio dos economistas burgueses ocidentais da escola de Keynes e da docial-democracia que caracterizavam as “reformas” como um progresso do planeamento e da batalha contra a burocracia. Estações de máquinas e tractores (MTS). Os tractores e outra maquinaria eram propriedade do Estado. Estavam concentrados nas estações de máquinas e tractores (MTS) e eram operados por operários. Em Fevereiro de 1958 uma sessão plenária do CC do PCUS decidiu a dissolução das MTS e a venda do seu equipamento técnico aos kolkhozes.

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Esta política resultou numa grande expansão da propriedade kolkhoziana à custa da propriedade social. O Sovnarkoze foi abolido em 1965, quando foram restabelecidos ministérios separados. Até 1958, na URSS, usavam formas de aquisição de produtos agrícolas a partir dos kolkhozes, que limitavam o elemento mercado ou o retinham na forma mas não no conteúdo; aquisições obrigatórias a baixos preços de abastecimento, que tinham a força de um imposto; venda de produtos pelos kolkhozes com base num contrato com organizações de abastecimento; pagamento em géneros pelo trabalho da MTS; compras de produtos acima das aquisições obrigatórias a preços ligeiramente superiores aos preços estabelecidos. O sistema de aquisições foi instituído em 1932-1933. O contrato apareceu mais cedo e foi alargado ao abastecimento de colheitas técnicas. Em 1970 o agregado familiar suplementar produzia 38% dos vegetais, 35% da carne e 53% dos ovos. No seu conjunto os agregados familiares suplementares produziam 12% de todos os produtos agrícolas que eram vendidos no mercado (14% dos produtos pecuários, 8% dos produtos não pecuários). Os agregados familiares suplementares produziam 41% das batatas, 13% dos vegetais, 17% da carne, 9% dos ovos, 6% do leite, 15% da lã que eram vendidos como mercadorias. As reformas na indústria foram aplicadas experimentalmente em 1962, na laboração de duas empresas têxteis, segundo um sistema de administração proposto pelo professor Liebermann (conhecido como Sistema Kharkov). Liebermann defendia que o cálculo de bónus aos directores proporcionalmente ao excesso de cumprimento do Plano criava uma contradição entre os interesses dos directores e o interesse soviético como um todo. Isto porque directores ocultavam a real capacidade produtora das empresas, acumulavam reservas de matérias-primas e mercadorias e não se interessavam pela interrupção da produção de “bens inúteis”. Bloqueavam a aplicação de nova tecnologia para não alterarem as “normas”, isto é, os índices de produção social que serviam para medir o cumprimento do plano. Deste modo, p. ex., produziam papel espesso em vez de papel fino porque as normas eram medidas pelo peso. Liebermann fez algumas observações correctas, mas propôs políticas erradas. Com base nisso, comunistas e operários convenceram-se da necessidade destas medidas. V. Tiulkin, primeiro secretário do CC Partido Comunista Operário Russo – Partido Revolucionário dos Comunistas (PCOR_PRC), na sua alocução na conferência internacional acerca do 80º aniversário da Grande Revolução Socialista de Outubro em Moscovo, nota que

• A XIX Conferência do PCUS declarou o pluralismo político. • A via para as políticas de mercado foi aberta no XXVIII Congresso

do PCUS.

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• O Plenário do CC do PCUS (Abril de 1991) abriu caminho para políticas de privatização.

• A política de “independência” nacional (cortando com a URSS) foi seguida por grupos de comunistas nos congressos de sovietes.

• A dissolução da URSS foi carimbada pela chamada maioria comunista no Soviete Supremo.

Num artigo no ano 2000, no 10º aniversário da convocação do XXVIII Congresso do PCUS, Tiulkin refere que na Conferência Pan-Russa que criou o Partido Comunista da Federação Russa (no quadro do PCUS) apareceu pela primeira vez a facção “Movimento da Iniciativa Comunista” que, juntamente com outros, votou contra a decisões do XXVIII Congresso do PCUS. O relatório de A. Jdanov na sessão do CC do do PCUS (Fevereiro-Março de 1937) menciona os seguintes problemas que o novo sistema eleitoral procurava resolver: “temos de ultrapassar a psicologia nefasta, que têm certos quadros do nosso partido e sovietes que supõem que podem ganhar facilmente a confiança das pessoas e dormir sossegadamente, esperando em casa que lhes ofereçam posições parlamentares, com formidáveis aplausos pelos seus serviços passados. Por meio do voto secreto pode-se considerar como garantida a confiança das pessoas…Temos uma importante camada de quadros em organizações do partido e dos sovietes que pensam que a sua tarefa acaba quando são eleitos para o soviete. É testemunha disto o grande número de quadros que não assistem às sessões dos sovietes, dos grupos parlamentares e departamentos soviéticos, que evitam cumprir deveres parlamentares básicos… muitos dos nossos quadros nos sovietes tendem a adquirir traços burocráticos e têm muitas insuficiências no seu trabalho e estão prontos a responder pelo seu trabalho 10 vezes perante a direcção do Partido num restrito ambiente ”familiar”, em vez de aparecerem numa sessão do soviete e criticarem e ouvirem as críticas das massas. Penso que sabem disto tão bem como eu.” As comissões operárias foram órgãos do controlo operário no período 1917-1918. Apareceram em Março de 1917. O controlo operário baseava-se no decreto de Novembro de 1917. Em 1919 as comissões operárias fundiram-se com os sindicatos. Mais tarde, nos anos 20, os Concelhos de Produção funcionavam como órgãos do controlo operário nas fábricas. Inicialmente o Secretariado da Comissão Executiva da Internacional Comunista, em 9 de Setembro de 1939, caracterizou a guerra como imperialista e de pilhagem de ambos os lados, apelando às secções da IC nos países envolvidos na guerra para lutarem contra ela. Deve notar-se que no VII Congresso do PC da Grécia (1945) foi votada uma decisão sobre A “unidade internacional da classe operária” que referia, entre outras coisas: “O VII Congresso do PC da Grécia exprime o desejo de que todos os partidos operários do mundo que acreditam no socialismo,

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apesar das diferenças, devem ser incorporados tão rapidamente quanto possível numa organização política internacional da classe operária.” Já em 1935 o VII Congresso da Internacional Comunista “recomendava à CE da IC para deslocar o centro de gravidade da sua actividade para a elaboração de teses políticas básicas e de teses sobre as tácticas do movimento operário mundial, tomando em consideração as condições específicas e as peculiaridades de cada país”, aconselhando ao mesmo tempo a CE da IC a “evitar como regra o envolvimento directo nos assuntos de organização interna dos partidos comunistas”. Depois do VII Congresso começou a chamada reorganização do mecanismo da Internacional Comunista, por meio da qual “a liderança operacional dos partidos passou para as mãos dos próprios partidos; (…) foram abolidos os secretariados regionais que até certo ponto exerciam alguma direcção operacional; (…) Em lugar dos departamentos do Comité Executivo da IC foram criados só dois órgãos: o departamento de quadros e o departamento de propaganda e de ´organizações de massas.” (Academia de Ciências da URSS, História da Terceira Internacional) No COMINFORM (Bureau de Informação dos PCs) estavam representados os seguintes partidos comunistas e operários: Bulgária, Hungria, Itália, Polónia, Roménia, URSS, Checoslováquia e França. A preparação de uma nova guerra está integralmente ligada com a subordinação dos países europeus e doutros continentes ao imperialismo dos Estados Unidos. O Plano Marshall, a União Europeia, a NATO, todos estes elos da cadeia duma conspiração contra a paz são ao mesmo tempo elos da cadeia com que os monopólios ultramarinos estão estrangulando os povos. O dever dos partidos comunistas e operários dos países capitalistas é unirem a luta pela independência nacional com a luta pela paz, revelarem o carácter antinacional e de traição das políticas dos governos burgueses que se transformaram em lacaios directos do imperialismo dos EUA, e juntarem as forças patrióticas democráticas em cada país à volta de palavras de ordem da independência nacional e da soberania dos povos. (Resoluções da Conferência dos Partidos Comunistas e Operários, Atenas, Novembro 1949) Lenin era da opinião que nos países com nível intermédio de desenvolvimento capitalista é “mais fácil começar, mas mais difícil continuar” a revolução socialista. Original em inglês da responsabilidade do Partido Comunista da Grécia. Publicado em odiario.info a 30 de Abril de 2009 Tradução: João Alves Falcato