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 DOCUMENTO SÍNTESE Guararema / Brasil, 28 a 31 de julho de 2015

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DOCUMENTO

SÍNTESE

Guararema / Brasil, 28 a 31 de julho de 2015

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INDICE

I – Palestras

Palestra inauguralJoão Pedro Stédile –  MST / Brasil Pg. 04

Palestra inaugural

David Harvey –  Universidade de Nova York / EU Pg. 06

Plenária 1: Crise e Contradições do Sistema Capitalista

Silvia Ribeiro –  ETC / México Pg. 18

Plenária 2: Situação da Crise e comportamento da Classe TrabalhadoraGustavo Codas –  Fundação Perseu Abramo / Brasil Pg. 30

Plenária 3: Desafios Políticos da Classe Trabalhadora

Irvin Jim –  NUMSA / Africa do Sul Pg. 34

Plenaria 4. O que é construir o Projeto Socialista Hoje

Qiu Shike e Yan Hairong –  China Pg. 44

Plenaria 4. O que é construir o Projeto Socialista HojeJesus Arboleia –  Cuba Pg. 52

GT 4. Raça, Etnia, Territórios e Criminalização das Lutas Sociais

Aghsan Barghouti –  UAWC / Palestina Pg. 59

Plenaria 6. Desafios da Formação de Quadros Políticos da ClasseTrabalhadora

Ranulfo Peloso –  CEPIS / Brasil Pg. 63

Plenaria 6. Desafios da Formação de Quadros Políticos da ClasseTrabalhadora

Ishrath Nisar –  SAMVADA / India Pg. 67

Palestra de Encerramento

João Pedro Stédile –  MST / Brasil Pg. 78

II – Carta Final Pg. 81

III – Relação de Participantes Pg. 84

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I  –  PALESTRAS

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Palestra inaugural

João Pedro Stédile – MST / Brasil

VIVEMOS UM TEMPO DE MUITAS PERGUNTAS E POUCAS CERTEZAS...

UM longo período histórico de crises.

1. Crise econômica de dominação capitalista

- Muitos vão falência... outros acumulam e a riqueza a concentram ainda mais;- Ofensiva do capital pela apropriação privada dos recursos naturais (em busca da

renda extraordinária);- O dólar é instrumento de dominação, mas perde credibilidade e não tem substituto;- A guerra mundial é impossível e as guerras regionais não resolvem os problemas

econômicos;

- A disputa entre EUA + Europa X Russia + China, não é uma solução para a classetrabalhadora;

- Os organismos internacionais a serviço do capital (FMI, Banco Central Europeu,Banco Mundial, G-7, OMC) não resolvem mais nada. Só agravam a crise.

2. Crise ambiental resultante da agressão do modo capitalista sobre o meio ambiente

- O capital está se apropriando de tudo o que pode, transforma em mercadoria ebusca apenas lucro x a função social da natureza;

-

Alterações no clima;- A soberania alimentar dos territórios está em perigo- A água está mudando de local rapidamente e escasseia para a população;- Os capitalistas não tem nenhum compromisso com a sobrevivência do planeta;- Nenhuma medida foi tomada ate agora que resultasse em solução.

3. Crise social

- Estima-se em mais de um bilhão de seres humanos na pobreza extrema, sem asmínimas condições de sobrevivência digna;

- Um bilhão passam fome todos os dias;- Milhões de trabalhadores não tem emprego, em especial jovens;- Aumento das favelas e bairros precarizados em todas as capitais do mundo;- Multiplicação da violência urbana e da xenofobia contra os diferentes;- Migração alcança 70 milhões de pessoas por ano, que saem de seus países;- Apesar de tanta riqueza produzida no mundo e de tanto conhecimento cientifico

acumulado, os governos não conseguem resolver os problemas sociais.

4. Crise política

- Os estados burgueses não conseguem regular a economia - são os gruposeconômicos que o fazem. Há uma contradição entre a e economia e a política;

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- As eleições burguesas são uma farsa. São cartas marcadas;- A participação popular nos destinos das sociedades é mínima;- Os fundamentos da republica, dos três poderes, estão abalados, pois o capital

domina os três poderes: judiciário, legislativo e executivo;- Os de cima não representam, não tem legitimidade sobre os de baixo. E os de baixo

não tem força ou vontade de trocar os de cima !!

5. Crise de valores humanitários

- O capitalismo representou o progresso social frente ao feudalismo, mas agorarepresenta o atraso;

- O capital hegemonizou sua visão de mundo baseado na ganância, noindividualismo, no consumismo e no egoísmo. E são falsos valores antissociais;

- A humanidade precisa reconstruir a solidariedade, a igualdade e a justiça comoparâmetros para seu funcionamento.

6. O PROJETO DA CLASSE TRABALHADORA TAMBEM ESTA EM CRISE

- A classe trabalhadora, através de suas mediações organizativas (sindicatos, partidos,movimentos), não conseguiu construir um programa unitário, para as massas, querepresentasse uma alternativa ao capitalismo;

- Não construímos uma alternativa clara, política e econômica;- A maioria dos partidos se iludiu com a via eleitoral e esqueceu a força da luta de

massas.

7. MUITAS DUVIDAS

- Muitos acreditavam que a crise abriria portas para a classe trabalhadora. Outrosdizem, não, nas crises a classe fica lutando apenas pela sobrevivência. Bem, equando o capitalismo vai bem, ninguém quer muda-lo.

- Certamente nenhuma das duas assertivas representa solução para a classe.- São tempos de crises –  e as crises engendram duvidas, confusões. Mas também

promovem transição, mudanças. Para o bem da classe ou para pior. O fato é quenesse momento, não temos claro para onde seguir?

- Temos muitas perguntas e poucas respostas.- Temos muitas duvidas e poucas certezas.- Porem, sabemos de que a melhor forma de encontrar o melhor caminho será:

a) Compreender a historia da luta de classes, dos períodos anteriores, e para isso ospensadores clássicos podem nos ajudar a interpreta-las;b) Buscar a reflexão coletiva, buscando as respostas com humildade e pluralidade;c) Buscar na práxis, na luta de massas concreta;d) Temos uma certeza: só o povo trabalhador, organizado e disposto a lutar, podemudar a sociedade.

FOI PARA ISSO QUE MARCAMOS ESSE ENCONTRO, AQUI NUMA ESCOLA DA CLASSETRABALHADORA....para ouvir perguntas, duvidas e encontrar respostas coletivamente.

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Palestra inaugural

David Harvey – Universidade de Nova York / EUA

Eu gostaria de agradecer imensamente esse convite e essa oportunidade. De todas as

organizações com que eu me deparei quando viajo pelo mundo, eu preciso dizer que oMST é a minha favorita. E eu não estou dizendo isso só porque estou aqui e estouquerendo ser legal. Eu realmente penso isso. É muito especial, eu acredito, a ênfase naeducação e na educação de militantes que intervêm no processo. É muito importante,porque significa que o MST não está simplesmente preocupado com a terra e com osmovimentos camponeses, mas também está exercendo uma função educacional para todaa esquerda. E eu acredito que fazer isso de uma maneira internacional, que seja nãosomente transfronteiriça, mas que misture tradições e, é claro, tem uma grande ênfase nasrelações entre prática e teoria.

Então eu gostaria de falar sobre alguns dos temas levantados por Pedro, particularmente,penso eu, sobre a sexta crise. Embora tenha que começar dizendo que não desejo paraninguém o destino de ser técnico do time inglês. Então, deixe-me começar com algunscomentários sobre como eu vejo o estado do capital global hoje. O capitalismo hoje estáuma bagunça, uma terrível, terrível, bagunça. Nós presenciamos uma situação de muitobaixo crescimento na maior parte do mundo capitalista. A Europa está estagnada. Por umcerto tempo, as novas economias emergentes, como o Brasil, estavam surgindo, mas agoraestão todas se movendo em direção à recessão. China tem sido a fonte de energia quevem puxando o capitalismo para fora da tendência de crise desde 2008, e agora está ela

mesma à beira de uma grande crise. Ninguém sabe o que pode acontecer.

E então, na realidade, e curiosamente nesse momento, a única economia que estámostrando qualquer sinal de que está fazendo alguma coisa é a dos Estados Unidos. E emalgum grau a Grã-Bretanha dá finalmente alguns sinais de vida. Mas é muito tentador. Asituação se dá em parte porque nós estamos nos movendo para uma condição a qualalgumas pessoas da economia convencional chamam de estagnação secular. Isso éestagnação completa da dinâmica capitalista.

E essa estagnação secular é caracterizada por algumas propriedades bem peculiares,

como, por exemplo, nos Estados Unidos, onde a taxa de lucro do capital nunca foi tão alta,é muito alta. Mas a taxa de retorno de um novo investimento é muito baixa. Então, issoleva a que nos Estados Unidos um monte de dinheiro esteja sendo ganho pelo capital, masnenhum sendo reinvestido. Não que nada seja reinvestido, mas muito pouco. E se estásendo reinvestido, está sendo largamente reinvestido em inovações que poupam otrabalho, que na realidade diminuem as perspectivas de emprego ao invés de aumenta-las.Essa é uma condição muito peculiar para o capital e leva, eu penso, a algumas soluções umtanto ridículas para a natureza do problema. Veja, a estagnação secular tem sido mapeadapor bancos centrais para aumentar o suprimento de dinheiro atrás de algo chamadoFlexibilização Quantitativa. E, como resultado disso, na realidade, a acumulação de dinheirovem crescendo enquanto a acumulação de commodities e de capacidade produtiva vemestagnando.

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Agora, normalmente, isso produziria inflação. Mas a classe capitalista se depara com oproblema de onde colocar seu excesso de dinheiro. Então, cada vez mais, o que aconteceué que eles investiram em novas formas de fazer dinheiro que acabaram por ser formasbem antigas. E as formas antigas de fazer dinheiro são coisas como roubar das pessoas,furtar, extorquir. Eu pensava que fosse possível para o capitalismo ser um sistema ético,mas sua ética atual é a ética da máfia. É uma máfia coletiva.

E não é nenhuma surpresa que, na verdade, em alguns países, se você quer que as coisassejam feitas, você recorra à máfia e não ao governo. A Itália é um desses países. Isso nosleva a uma estrutura muito peculiar na qual o capitalismo está se saindo muito mal, massegmentos da classe capitalista estão se saindo extremamente bem. Se você olhar osdados desde 2008, em quase todos os países aonde há dados confiáveis, o 1% do topoaumentou seu valor enormemente. O número de bilionários na Índia triplicou, se não meengano, nos últimos 5 a 10 anos. O número de bilionários na China disparou. O número de

bilionários no México ultrapassa agora o número de bilionários na Arábia Saudita. O 1% dotopo, ou o 0,1%, está se saindo extremamente bem. Não porque investiu em produção,mas porque investiu no que eu chamaria de acumulação por desapossamento.

Roubo, furto, extorsão. E eles fazem isso por todos os meios possíveis e algumas vezes elessão pegos. Por exemplo, uma das formas nos Estados Unidos pelas quais eles têm feitoisso são as cartas de crédito dos grandes bancos, que sempre vêm atreladas a certascondições e certas sugestões sobre onde você talvez possa querer investir, um tipo desegurança para sua estrutura de crédito ou algo deste tipo. Todo grande banco nos EstadoUnidos foi multado em pelo menos um bilhão, e em alguns casos em mais de um bilhão

de dólares, por falsa representação de sua de carta de crédito. Eles pagam um bilhão emmultas.

Agora veja, e isso é ótimo, porque quem acaba pagando aquele bilhão em multa? Bom, osacionistas, não os gerentes do banco, e, ao final, os clientes, porque as taxas das cartas decrédito precisam subir para pagar a multa de um bilhão por fraude nas cartas de crédito. Eme parece interessante que um país que tem saído da crise muito bem, muito bem, é aIslândia. E a Islândia coloca seus banqueiros na cadeia. É o único país que colocabanqueiros na prisão. Em qualquer outro lugar, eles multam os bancos em um bilhão dedólares, o que significa que nós terminamos pagando e eles não colocam ninguém nacadeia e os banqueiros ganham milhões em bônus. Então eles se saem muito bem.

Agora, uma das maneiras, é claro, pela qual o 1% do topo está armazenando sua riqueza éem propriedade e terra. Cerca de 2/3 da riqueza do 1% do topo é em propriedade e terra.E uma das coisas que eles vêm fazendo é pegar seu excesso de dinheiro e investir nacompra de ativos. E eu tenho certeza que todos sabem sobre o que estou falando quandofalo sobre grilagem de terras. Todas as pessoas ao redor do mundo estão vivenciando aapropriação de terras, que assume a forma de ativos, que são terras, terras agriculturáveis,mas também tomando posse de recursos, minas, madeira, pesca... investindo no controle

de ativos. Agora, eu sou um urbanista, o torna um pouco estranho para mim estar aquicom o MST, mas nós temos muito o que falar.

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E uma das coisas que estão acontecendo nas cidades é muito interessante. Muito estásendo construído nas cidades, mas o que eles estão construindo? Eles estão construindopropriedades e coisas para os ricos investirem, eles não estão mais construindo cidadespara as pessoas moraram. Eles estão construindo cidades para que pessoas possaminvestir. Então, em Nova York, nós temos esses imensos condomínios nos quais ninguémvive. Eles são simplesmente investimentos para pessoas ricas, que talvez os visitem umavez por ano por duas semanas. E, de fato, essa foi a política do último prefeito, queesperava que cada bilionário do mundo quisesse ter um apartamento de luxo na cidade daNova York. Então você constrói apartamentos de luxo, ruas inteiras de Londres estão vaziasde pessoas, porque essas ruas são simplesmente para investir.

E isso está acontecendo em todo o mundo. Eu visitei a Turquia, e na Turquia eu encontrei amesma coisa acontecendo. O resultado é que, na realidade, os preços das terras e daspropriedades nas cidades estão fazendo assim... então é cada vez mais difícil para pessoasordinárias encontrarem um lugar para morar. Porque os preços são dados pelas pessoas

que estão investindo nas cidades feitas para investir. E isso é uma loucura. Quer dizer,quando você para para pensar nisso, é ridículo. Há uma crise mundial de habitaçõesacessíveis, quantidades massivas de investimentos estão sendo canalizados para cidadespara construir coisas que não tem nenhuma relação com a construções de habitaçõesacessíveis, porque as pessoas querem comprar aquela propriedade e deixa-la vazia comouma forma de poupar. E isso está ocorrendo somente alguns anos após uma crise degrandes proporções acontecer no mundo por causa da especulação nos mercados deterras e propriedades.

Então porque estamos entrando em outro boom do mercado de propriedades seis ou sete

anos depois do estouro da bolha que provocou a crise global? Vocês estão presenciando acriação das condições para a próxima crise. E aonde ela começa a ser mais óbvia é naChina. A China saiu da crise de 2008-2009 com perda de aproximadamente 30 milhões deempregos por causa do choque no mercado de exportações dos Estados Unidos. Em 2009,30 milhões de pessoas perderam o emprego. Ao final de 2009, a rede de perda deempregos na China era de 3 milhões, o que significa que a China criou, efetivamente, 27milhões de empregos em 9 meses.

Como ela fez isso? O governo central disse para todos os bancos e para todo mundo“construa!”, disse para todas as municipalidades “construa, construa, construa!”. E entãoessa imensa explosão de construções tomou conta da China. E o resultado foi, e por issoeu acredito que condomínios vazios nos Estados Unidos são um crime, que você encontrapelo menos seis, possivelmente uma dúzia, de cidades na China que estão vazias. Vocêtem cidades vazias. Grandes somas de capital e trabalho foram investidas em cidades nasquais ninguém vive. E agora o mercado de propriedades na China também faz o mesmo eestá colapsando. As pessoas tiraram seu dinheiro das propriedades e colocaram nomercado de ações. Agora o mercado de ações está colapsando.

O que a China vai fazer? Bem, a última proposta insana da China é que eles irão construir

uma mega, megacidade, 130 milhões de pessoas, 130 milhões de pessoas em uma cidade.Isso são as populações da Grã-Bretanha e da França combinadas em uma cidade. Em umespaço, que é do tamanha da Inglaterra e da Escócia, ou do tamanho do Kansas, para

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mostrar pela perspectiva dos Estados Unidos. E será bem conectada, com vias de altavelocidade, centradas em Beijing, 130 milhões de pessoas em uma cidade. E os chinesespodem fazer isso porque eles controlam seu próprio endividamento. China é hoje um dospaíses mais endividados do mundo. A grande diferença é que a China está endividada emsua própria moeda, e não em dólares. Então não pode ser controlada pelos detentores dasobrigações, ela simplesmente imprime mais demanda. Então a China está fazendo essacoisa louca, louca. E você olha para os padrões de urbanização ao redor do mundo, e tudoque você vê são imagens dos Estados do Golfo, Dubai, etc.

Isso é uma loucura? E o que me surpreende, porque eu sou marxista, é que a maioria daspessoas nos Estados Unidos pensam que eu sou louco. E eu digo: “Não, eu não sou louco.Eu sou muito lúcido. Eu estou dizendo que não gasto coisas nisso”. Então eu digo para osestudantes de arquitetura, eu digo: “E se nós tomarmos um desses grandes edifícios queforam construídos para investir e colocarmos um grande cartaz dizendo –  isso é umaloucura?”, que realmente é.

E claro, grande parte do mundo se beneficia disso porque, por exemplo, a demanda daChina por matérias primas força o preço das commodities para cima, em um patamarmuito mais alto que o dos últimos seis ou sete anos. A Austrália não experimentou muitosproblemas. Chile não experimentou muitos problemas. O Brasil, em partes, se saiu bem emfunção do comércio com a China. Qualquer um que forneça matérias primas para a Chinaconseguiu sair dos problemas de 2007-2008 quase sem traumas e relativamente bem.Muitos países da América Latina, claro, se transformaram em uma vasta plantação de sojapara o comércio com a China. Mas agora toda a demanda da China está colapsando. Opreço do cobre está caindo, baixando muito. O Chile está em dificuldades. A moeda

Australiana está caindo. Então, tudo depende dessa interconexão, mas a interconexão estána raiz desse projeto insano de investir mais e mais dinheiro em coisas inúteis que nãocontribuem para a qualidade da vida urbana e da vida cotidiana.

O 1% do topo ainda está extraindo grandes quantidades de riqueza em tal gradação queo 1% do topo está controlando a oligarquia de muitas formas. Isso impede uma mudançaem qualquer forma de política. Então a acumulação e o desapossamento são, de fato,centrais para o que o FMI chama de Programas de Ajuste Estrutural. O FMI tem forçado aacumulação pelo desapossamento desde a crise da dívida do México, em 1982, na qual osmexicanos tiveram que pagar seus débitos, isto é, pagar os banqueiros por suas másdecisões, através da redução dos padrões de vida em 25%.

Agora nós vemos a mesma história se repetir na Grécia, embora ainda pior. E isso énovamente pagar os banqueiros por suas más decisões. E, claro, no caso da Grécia, umacoisa muito inteligente aconteceu. Não somente o Euro permitiu que os negócios alemãesdominassem os mercados gregos, então eles venderam... os alemães venderam BMWs, osalemães da Siemens aguardam tudo o que acontece na Grécia, a Grécia era uma imensafonte de lucros para as companhias alemãs e os bancos alemães e franceses emprestaramdinheiro para a Grécia para que os gregos pudessem gastar em produtos das indústrias

alemãs. Esse foi um bom tipo de sistema. Mas então, finalmente, os gregos não podemmais pagar e os bancos estão ameaçados. Agora, no momento em que foram ameaçados,no meu ponto de vista, e eu estive na rádio grega e disse isso, o governo grego tinha a

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opção de ou quebrar a confiança de seus emprestadores, ou quebrar a confiança de suaprópria população. E eles decidiram resgatar os bancos.

Mas o que os europeus fizeram é que a Alemanha não queria ser vista salvando seuspróprios bancos. A França também não queria ser vista salvando seus próprios bancos.Então o que eles fizeram foi dizer: “Bem, toda a dívida dos bancos privados vai sertransformada em uma dívida possuída pelo Banco Central Europeu, pelo Fundo deEstabilidade Europeu e pelo FMI”. Em outras palavras, o débito foi transferido dasinstituições privadas, que tomaram decisões de empréstimos muito ruins, para essas outrasinstituições, que são instituições estatais, e são elas que tornaram as negociações tãodifíceis. E isso salvou Angela Merkel de ter que dizer para sua própria população: “Nóstemos que resgatar nossos próprios bancos”.  Porque o dinheiro que eles estavamemprestando para a Grécia voltava diretamente para os bancos. Em outras palavras, eraum resgate disfarçado dos bancos. Eles não o faziam diretamente. Eles esconderam isso. Equando as pessoas disseram como podemos estar mandando todo esse dinheiro para a

Grécia? Então os alemães começaram a dizer: “bem, eles são um povo preguiçoso e elessão mediterrâneos e eles têm algumas características culturais bem feias e é claro que seeles fossem racionais como nós eles não...” Esse tipo de disparate racista.

Então esse é o momento em que vivemos, e se você olhar para ele você diz algo do tipo,você sabe, isso se dá de tal forma que não há meio de que a austeridade, o ajusteestrutural ou qualquer dessas coisas que estão acontecendo agora realmente reavivem ocapitalismo. Ele está emperrado, com taxas baixas, muito baixas, de crescimento. Nada realirá mudar. A única coisa que irá mudar é um incremento da política de desapossamento.Porque essa é a forma pela qual a classe capitalista está acumulando mais e mais riquezas.

Então nós temos uma situação em que o capitalismo está indo muito mal, mas aquelesegmento de capitalistas está indo muito bem. De tal modo que que o capitalismo ir malserve aos interesses daquele segmento da classe capitalista, que vai manter as coisas dessaforma até que seu poder se quebre.

E a questão que se levanta é: quem irá quebrar esse poder? Agora, é possível que certossegmentos da própria classe capitalista que não fazem parte dessa acumulação de riquezase revoltem contra o 1% do topo. É possível. E eles o farão dizendo: “Nós devemos voltar aalgum tipo de solução social-democrática Keynesiana”. Você pode ver elementos dessetipo emergindo na campanha de Hillary Clinton nesse momento. O fato de que ela vemsendo puxada pela esquerda... para a esquerda por um socialista a está ajudando muito. Eeu voltarei mais tarde a esse ponto. Então é possível que isso aconteça.

Mas então surge a questão: e todas essas pessoas que não possuem habitação acessível? Etodas essas pessoas que estão desempregadas? E todas essas pessoas vivendo na miséria?João Pedro estava falando sobre isso. Eles podem fazê-lo? E aqui eu quero passar umpouco para a questão da sexta crise que você mencionou, que é o que o movimento daclasse trabalhadora irá fazer? E eu tenho um comentário de abertura que pode causar

desconforto em alguns de vocês e é esse: que qualquer modo dominante de produção esua forma de articulação política, produz uma oposição que é funcional à sua própriareprodução.

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Deixe-me dar um exemplo mais concreto. A organização do capital corporativo nasdécadas de 1950 e 1960, a organização do sistema fabril, do capitalismo industrial, docapitalismo manufatureiro produziu uma oposição que era muito bem organizada,sindicatos, partidos socialdemocratas, e enquanto eles eram em alguns momentosanticapitalistas, de um certo modo eles se tornaram funcionais para a reprodução docapital. Quer dizer, a oposição ao capital durante aqueles anos tomou uma forma que foiútil ao capital, porque o capital era, como é agora, inclinado a ser absolutamente estúpidopor si próprio.

Agora, Marx tem um exemplo muito interessante disso em seu capítulo sobre a jornada detrabalho, quando ele diz que “o capitalista deixado aos seus próprios recursos e emcompetição um com o outro irá conduzir seus trabalhadores de tal maneira que os matarápor força-los a trabalhar mais e mais e mais. O que os impede de faze-lo?”. Bem, aorganização da classe trabalhadora diz o limite da jornada de trabalho, e acaba sendo útil

ao capital. Isso impõe uma imperfeição à sua competição, então eles não matam seustrabalhadores de tanto trabalhar.

E, como Marx sugere, a organização da classe trabalhadora, apoiada por outras classes quenão tem interesse direto na questão, referindo-se aos movimentos de reforma burguesa,os movimentos de reforma burguesa mais a classe trabalhadora forçaram o capital àlimitar a duração do dia de trabalho e, eventualmente, a duração da semana de trabalho, eentão a duração do ano de trabalho, de tal modo que os trabalhadores se mantivessempelo menos suficientemente saudáveis para voltar e continuar a trabalhar e não caíssemmortos no trabalho.

Agora, e aqui é onde Marx, penso eu, tem algo interessante a dizer sobre a relação entrereforma e revolução. Reforma é a limitação do dia de trabalho a 10, 8 horas. Revolução équando a classe trabalhadora diz: “Bom, nós reduzimos para 8 horas, porque nãoreduzimos para 3 horas, 2 horas?”. Aí então é revolução. Então você tem uma reforma quete move para um ponto que é conveniente para o capital, mas estão há um ponto que vaialém daquele. E há uma maravilhosa passagem no volume três do Capital, onde Marx falaque o começo do reino da liberdade começa quando o reino da necessidade é deixadopara trás.

Liberdade é ter tempo livre, livre para fazer o que você bem entender. E então Marx falasobre quando temos tudo organizado, e podemos cuidar de todas as nossas necessidadesem duas horas por dia e ter o resto do dia para fazermos o que quisermos. E, ao final dapassagem, ele diz: “Portanto, o primeiro passo para isso é a limitação da duração do dia detrabalho para 10 horas”. E você diz: “O quê? Esse é o princípio do reino da liberdade?”. MasMarx está dizendo que há movimentos reformistas que te levam a uma trajetóriarevolucionária. O truque é saber quando o capital vai te parar em 8 horas e não dizer maisnada. Tem havido um grande esforço nesse sentido na França, certo? Você sabe, semanade 35 horas. “Não”, eles dizem, “Voltem a 40”.

Eu acho que, parte do que eu estou dizendo aqui é que, na verdade, o movimento daclasse trabalhadora, na medida em que neutraliza a insanidade do capital pode, em

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realidade, reproduzir o capital. Por exemplo, uma grande campanha para parar todo esseinvestimento que está indo para propriedades de alto valor, alto rendimento, e aplica-loem moradias acessíveis, seria realmente útil para reavivar o crescimento capitalista. Desdeque isso não vá longe demais. Desde que, é claro, isso não leve à expropriação de todosaqueles condomínios de luxo. O sonho de uma organização em Nova York que algunschamam Picture the Homeless  é que eles irão entrar em um desses condomínios, e há umpara baixo de Wall Street que tem banheiros folheados a ouro. Então todos eles têm umsonho de que talvez entrarão em um desses com o banheiro folheado a ouro quando nosapropriarmos de todas as propriedades e as socializarmos, então elas se tornarão parte daestrutura de moradias acessíveis para toda a população.

Assim, a relação entre reforma e revolução me parece ser algo em que devemos pensar,porque quase invariavelmente no ponto dado em que devemos começar nossa luta nósquase sempre estamos próximos ao ponto de reforma. Eu não acredito que nessemomento nós tenhamos nenhuma opção dada a situação do mundo, exceto começar no

ponto de reforma, mas nós podemos começar aí e então dizer: “Vamos força-lo agora,para além do ponto de revolução”.

E essa questão do tempo livre é extremamente importante, essa é uma das grandescontradições do capital agora. Nós temos todas essas inovações que poupam tempo, umgrande número delas. Nós poderíamos haver pensado que a essas alturas as pessoasteriam uma grande quantidade de tempo livre, mas pergunte a qualquer pessoa quantotempo livre elas têm, e todas vão dizer: “Eu não tenho nenhum tempo livre. Eu estou tãoocupado lidando com meus problemas com o cartão de crédito ou com a companhiatelefônica e, você sabe, as agências burocráticas. Eu não tenho nenhum tempo livre”. Então

você diz: “Bem, o que aconteceu com essa ideia de que tempo livre é a medida de umacivilização decente?”.

E claro que eu amo a evidência antropológica que sugere que as populações indígenasfrequentemente trabalhavam por três horas e então eles paravam pelo resto do dia esocializavam. Eles são considerados incivilizados. Me parece que esse é o tipo maiscivilizado de mundo para se viver. Trabalhar por três horas e então dizer, que se dane isso,vamos nos sentar e nos divertir, ficar juntos, conversar, dialogar, cantar, fazer coisas. O queaconteceu com o tempo livre? E é claro que muitas dessas inovações são, na realidade,muito bem estruturadas para parecer que poupam tempo, quando na verdade oconsomem. É incrível hoje em dia, as pessoas pegam essas coisas, você sabe. No outro dia,eu estava no elevador, 10 pessoas no elevador... o que aconteceu com a socialização?

Tudo isso... na verdade, muitas dessas inovações absorvem o tempo. É tão incrível estar emum lugar onde você não pode acessar a internet. Tão repousante. Eu costumava gostar deaviões, mas agora, caramba, eles colocaram internet nos aviões. Então esse é o mundo,mas ocorreram algumas grandes transições. Nós gostaríamos de falar sobre a classetrabalhadora, que é a classe trabalhadora nos dias de hoje? Os maiores empregadores detrabalho nos Estados Unidos em 1970 eram a General Motors, a Ford e a U.S. Steel, a

companhia de aço americana. Essa era sua classe trabalhadora.

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Eu me mudei para a cidade de Baltimore em 1969. Haviam 37 mil pessoas empregadas naindústria do aço. Se você quisesse que alguma coisa fosse feita na cidade, você ia e falavacom o sindicato dos trabalhadores do aço. Trabalhadores do aço sairiam e diriam isso e aspessoas falariam: “Oh, meu Deus”. Em 1990, 2.500 pessoas trabalhavam na indústria do açoe eles seguiam produzindo a mesma quantidade de aço.

O mesmo é verdade para a indústria automobilística. O maior empregador dos EstadosUnidos atualmente são Wal-Mart, que é uma companhia comerciante capitalista,McDonalds e Kentucky Fried Chicken. Agora, o imaginário da esquerda é que a classetrabalhadora é formada por trabalhadores do aço e da indústria automobilística e eles têmbastante dificuldade em se adaptar à ideia de que a classe trabalhadora é esse carafazendo hambúrgueres. Mas porque devemos dizer que fazer um carro é produzir valor efazer hambúrgueres não é? De fato, hambúrgueres são coisas que são produzidas, valia emais valia são geradas na produção de hambúrgueres. Mas nós sabemos sobre a força detrabalho no McDonalds. E não é em nada nossa força de trabalho clássica, nem a do

Kentucky Fried Chicken, nem a do Wal-Mart. Mas eu sou um urbanista, e moro na esquinada 86ª rua com a 2ª avenida em Manhattan, e o que eu vejo? Eu vejo um McDonaldsproduzindo valor.

Marx assinalava que todas as pessoas envolvidas em transporte estão criando valor. Todosos entregadores passando, os motoristas de ônibus, até mesmo o cara de bicicletaentregando comida chinesa. Eles estão produzindo valor. As companhias telefônicasinstalando fios e cavando a rua. A companhia elétrica fazendo o mesmo. Pessoasmontando andaimes para reparar um lugar em um lado da rua e pessoas demolindo nooutro lado da rua. E então existem novas indústrias. Por exemplo, uma que tem se tornado

um grande problema em Nova York, são os Nail Parlors, onde as pessoas entram paraterem as unhas feitas. Esse tem se tornado um grande negócio. E as condições de trabalhosão absolutamente espantosas.

De fato, muitos trabalhadores ilegais entram e são trancados dentro das casas e estão deplantão 24 horas para fazer as unhas de alguém. Essa é a nossa classe trabalhadoracontemporânea. E a grande questão é: que consciência eles têm da posição de sua classe?Que formas de organização eles podem construir? Como podem haver campanhasorganizadas? E essas campanhas estão começando. Vocês têm algo a ver com ostrabalhadores do McDonalds, eu penso. Mas a esquerda, acredito, ainda tem em mente ostrabalhadores fabris como a imagem de quem a verdadeira classe trabalhadora é. Eles sãoa vanguarda e têm dificuldades em imaginar todas essas pessoas no McDonalds comosendo a vanguarda da classe trabalhadora. Mas eles são, é lá que está a classetrabalhadora agora. Eu acho que essa é uma grande questão.

Sobre o estado de conscientização, o que me afetou muito quando eu entrevistei ex-trabalhadores do aço na Inglaterra quando eles perderam o emprego para adeinsdustrialização, foi que eles disseram que eles tinham um sentimento... uma dasperdas não era somente do emprego, mas eles tinham um sentimento de orgulho no

trabalho que realizavam. Existia algum propósito em ser um trabalhador do aço, existiamalgum propósito em ser minerador. Existiam forma de solidariedade social e assim pordiante. E alguns deles eram muito masculinos, muito machos, todos os tipos de problemas

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com isso, mas ainda assim havia um senso de propósito. Quase todos os trabalhosdisponíveis agora são desprovidos de propósito. Eles não significam nada. Quem seesforçaria e lutaria para manter seu emprego como trabalhador do McDonalds? A maioriados trabalhadores do McDonalds trabalham lá por pouco tempo e depois passam paraoutra coisa. Não importa. Ok, então eles passam a trabalhar em um café. Eles fazem caféao invés de hambúrgueres. E eles fazem isso por um tempo e depois eles vão para outrolugar.

Então, se os trabalhadores querem se organizar em torno de algo, uma das grandesquestões, me parece, é a alienação em um processo de trabalho desprovido de qualquertipo de significado. E o número de trabalhos com algum significado é cada vez menor. Foifeita uma pesquisa nos Estado Unidos sobre a atitude das pessoas em relação ao trabalhoe descobriu-se que 70% das pessoas entrevistadas odiavam seu trabalho ou eramcompletamente indiferentes a ele, e que não se importavam se ficariam em seu trabalhoou não. O que me surpreendeu é que havia 30% que realmente acreditava que possuía um

trabalho significativo, mas sim, alguns acreditam que têm. E, para mim, isso nos diz algosobre o estado do mundo contemporâneo, a profunda alienação em relação ao processode trabalho que é atualmente oferecido. Esses processos de trabalho, é claro, foramfortemente afetados pelas mudanças tecnológicas. Nós estamos vendo agora o mesmoprocesso de mudança tecnológica que ocorreu no setor de serviços. Minha própriauniversidade reorganizou, efetivamente, toda a sua estrutura administrativa paradesqualificar quase todas as pessoas que pensavam que tinham um bom trabalhogerenciando um departamento de algum tipo. Agora elas foram destituídas desse poder, evocê tem que preencher as informações em um formulário, e é tudo feitoautomaticamente.

Então nós estamos vendo ocorrer uma desqualificação no setor de serviços de uma formaparalela àquela que ocorreu no setor manufatureiro nas décadas de 1970 e 1980. E eu nãosei se vocês notaram, na realidade, agora o consumidor é quem faz a maior parte dotrabalho. Quando você vai a um supermercado nos Estado Unidos, você passa a suaprópria compra. Quando você vai pegar um avião, você se registra no voo sozinho. Então,gradualmente, os consumidores estão se tornando de fato produtores. E é claro que emalgumas áreas como Google e Facebook e todo o resto disso, nós somos os produtores.

Então você diz, se nós somos os produtores, como pode ser que essas pessoas quecomandam essas companhias se tornaram de alguma forma extremamente ricas? O queeles estão fazendo? Bem, eles estão fazendo outra coisa. Eles estão extraindo renda. E, naverdade, mais e mais a classe capitalista está vivendo de renda. É isso que estáacontecendo nos mercados de propriedade e é claro que estão vivendo de renda emtermos de direitos de propriedade intelectual. Existe uma grande luta em curso sobreextração de renda e renda na terra. Então, na realidade, nós estamos nos movendo parauma classe capitalista que está longe de investir em qualquer coisa, que só quer sentar eextrair renda. E é claro que todo mundo tenta viver de renda e ninguém investe em fazernada, essa é uma sociedade ridícula. Isso é basicamente para onde estamos indo. Agora,

há algo significante aqui. O que eu aprendi trabalhando muito com o volume dois doCapital é uma proposição bem simples, que eu acredito ser muito importante, que é o

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lugar do excedente... onde valia e mais valia são produzidos não é o mesmo lugar onde avalia e a mais valia são realizadas.

E, assim, existe uma distinção entre produção de valia e mais valia e realização de valia emais valia. O cara lá atrás tem um McIntosh. O McIntosh é feito provavelmente pelaFoxconn na China. A taxa de retorno no capital para a Foxxcon, eu creio, é algo em tornode 3%. Em outras palavras, os produtores têm uma margem de lucro muito, muitopequena. Porquê? Porque a Apple pega os computadores e os vende nos Estados Unidos,então a Apple tem uma taxa de retorno de 27%. Existe valia e mais valia sendo produzidana China e realizada nos Estados Unidos. Foxconn muito pouco, Apple muito. Agora isso é,é claro, uma forma de transferir valor de uma parte do mundo para outra.

Mas veja, isso também nos diz algo mais. Marxistas são obcecados com a questão daprodução. Parcialmente devido à forma como Marx estruturou seu argumento, nós nãofalamos muito sobre as políticas de realização. Mas, em realidade, é no ponto da

realização que a maior parte da renda e a maior parte dos lucros estão sendo extraídospelo capital. E, dessa forma, as políticas de realização são absolutamente cruciais paradelinear sobre o quê um programa de esquerda deveria ser. É muito difícil conseguir queMarxistas levem isso a sério, mas nós levamos. E é muito importante levar isso a sério,porque as pessoas entendem as políticas de realização muito bem. Eu já falei sobre ascompanhias de cartas de crédito que extraem muito de você, as pessoas entendem issoem suas vidas cotidianas.

Eu não sei vocês, mas quando chega minha conta de telefone, vem a conta e outrascobranças de coisas que eu nem tenho ideia. Então é briga com a companhia telefônica,

briga com o proprietário do imóvel onde você mora, e se eu converso com as pessoas edigo, “Bem, você sabe, você tem lutas diárias no seu trabalho, mas e as lutas na sua vidacotidiana em casa?” “Sim”. E, na realidade, historicamente, os capitalistas algumas vezessemearam melhores salários no trabalho, e quando o fizeram, o recuperaram através doaumento do aluguel. Então a burguesia pode realmente semear aqui e recuperar ali. Entãoexistem vastas políticas de realização e isso está colocando a vida cotidiana como umaquestão política central. Eu indiquei que as pessoas estão alienadas em relação ao seuambiente de trabalho; as pessoas estão gradualmente se alienando em relação à qualidadede suas vidas cotidianas. Muito de seu dia a dia é vivido em áreas urbanas, então sua vidadiária acontece nas cidades.

E então você diz “Bem, como as pessoas estão se organizando em torno disso?” . E aresposta é o descontentamento que se revela. Por exemplo, aqui no Brasil, em julho de2013, vocês tiveram um movimento que não era sobre o trabalho fabril e que não erasobre o processo de trabalho, era sobretudo sobre a qualidade da vida cotidiana. Custosde transporte. Porque estamos gastando todo esse dinheiro em megaprojetos ao invés dehabitações acessíveis? E assim por diante. Um pouco antes disso, ocorreram manifestaçõesem Istambul, Gezi Park, que criaram algo interessante na Turquia chamado “ProcessoGezi”. E o interessante sobre Gezi Park é que não foi simplesmente sobre o parque. Foi

sobre a qualidade da vida urbana. E quando se tornou sobre isso, o movimento Gezi foirepentinamente experimentado em Ankara, Izmir, e se alastrou direto por todo o sistema

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urbano. Todas as cidades têm sua forma particulares de problemas, mas foi tudo sobre aspolíticas da vida diária.

Em outras palavras, nós estamos vendo a erupção de movimentos de profundodescontentamento com a qualidade da vida urbana. E nós temos que pensar sobre comonos organizar em torno disso tanto quanto sobre como organizar o processo de trabalho.Por favor, não pensem que eu estou dizendo que organizar o processo de trabalho éirrelevante. Não, não é, ainda é crucial. Mas como Gramsci certa vez salientou em algumade suas pequenas coisas, a luta no ambiente de trabalho, em torno dos conselhos fabrisprecisa ser suplementada pela organização nas comunidades. E ele disse algo muitosignificante, ele disse: “Quando você organiza na comunidade você entende algo sobre asituação da classe trabalhadora como um todo”. Que é uma perspectiva que você não temquando se organiza em um conselho fabril, porque lá você tem o problema do trabalhadordo aço, do trabalhador automobilístico ou o problema do trabalhador têxtil. E eles nãoestão conectados. As organizações do processo de trabalho com a organização das

comunidades são absolutamente cruciais.

E se você olhar a história das lutas, por exemplo as dos trabalhadores automobilísticos nosEstados Unidas na década de 1930. Eles ganharam com a greve, porque a comunidadeorganizada foi 100% solidária em seu suporte. Sem o apoio da comunidade, o apoio davizinhança, é bem improvável que a luta fabril funcione. Nós vemos isso na Argentina comas fábricas recuperadas. As fábricas recuperadas foram tomadas pela cooperativa dostrabalhadores. Quando os proprietários voltaram e tentaram reocupá-las, quem defendeuas fábricas contra eles? A comunidade e isso porque a fábrica também se tornou umcentro de controle organizacional para toda a vizinhança. Isso reintroduz o nível de

significância que havia sido destituído em outras partes.

Então esses são, me parece, alguns dos termos. O que me traz talvez ao ponto final que eugostaria de fazer, o qual é muito difícil. Eu sou muito afeiçoado aos escritos de um homemchamado Murray Bookchin. Murray Bookchin foi em algum momento Marxista, mas depoisdecidiu que o Marxismo era muito dogmático e se tornou um Anarquista. Ele foiAnarquista por muitos anos e então, perto do fim de sua vida, ele decidiu que serAnarquista era tão impossível que ele não queria ter nada a ver com eles também. Mas, emseu último livro, ele disse: “Veja, eu penso que o futuro da esquerda realmente dependeem se tomar o melhor do Anarquismo e o melhor do Marxismo e juntá-los”. E isso é muitodifícil para um Marxista levar em conta, e eu posso dizer que para os Anarquistas tambémo é. Mas existem lugares onde isso está começando a acontecer. Porque Anarquistasrealizam um trabalho muito melhor de olhar para a política da vida diária. Eles são muitomais integrados às políticas da vida urbana. Eles são muito sobre criar uma ilha designificância em um mar de completa insignificância. E eles têm muito a nos ensinar sobrea política da realização.

E nós começamos a ver um pouco disso se juntando. Por exemplo, o PKK na Turquiacomeçou a ler Bookchin e meio que disse: “Essa forma de pensar sobre as coisas é

importante”. Então, em Rojava, eles introduziram estruturas de governança completamentenovas, que são baseadas em assembleias democráticas e socialismo conferencial, o que éuma tentativa, de certo modo, de unir as visões Anarquista e Marxista. E, é claro, Rojava

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está agora sob ameaça. Parece que os Estados Unidos e a Turquia estão agoraconspirando para destruir esse experimento em Rojava através da ocupação efetiva, datomada de toda aquela parte norte da Síria aonde o movimento independentista curdoestabeleceu essa nova dinâmica. Eu tenho escrito recentemente sobre essa nova questão esobre a relação entre as tradições Marxista e Anarquista. Como geógrafo, eu acho issomuito intrigante, porque as figuras radicais na história da geografia eram todasAnarquistas. Kropotkin era um geógrafo. Outro, Eliseé Reclus, um geógrafo. Geógrafosfamosos eram anarquistas. Eles eram muito sensíveis sobre localidades e lugares e culturae significado. De maneiras que muitas vezes os Marxistas não o são.

E eu tive um a pequena briga com a tradição marxista para tentar transformar Marxistasem melhores geógrafos, um pouco mais sensíveis à cultura local, à variação. E trabalharisso não como um problema, mas como uma força. Que nosso objetivo não seja ahomogeneidade, mas a diversificação. Mas a diversificação de uma forma criativa. Entãoem algum sentido, eu chego à minha abordagem do Marxismo com um pequeno

empurrão do Anarquismo. E é claro que os anarquistas inspiraram muito do planejamentourbano em seus primeiros anos. Kropotkin, que era anarquista, inspirou Louis Munford. Étoda uma tradição. E Louis Munford era fantástico na forma como falava sobrebirregionalismo. E sobre como começar a pensar sobre unidade urbana e rural e sobre oque deve ser ao mesmo tempo tecnicamente e politicamente.

Então, de algumas formas, eu penso que esse é um momento ao mesmo tempo difícil,perigoso, insano, em muitos aspectos. Mas é também um momento em que a esquerdapode se recalibrar em torno de algumas dessas coisas, e pode realmente começar aconstruir uma grande estrada em direção a uma situação na qual, desde a perspectiva do

capital e do capitalismo, não faça nenhum sentido. Mas aí nós voltamos à dinâmica dareforma versus revolução. Como eu comecei falando, eu não acredito que haja nenhumaperspectiva de revolução nesse momento. Existe uma perspectiva para reforma e reformasestratégicas calculadas, o que nos coloca no caminho da transformação revolucionária.Essa é a forma como realmente deveríamos estar pensando sobre as coisas. Com essepensamento, eu agradeço muito a todos.

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Plenária 1: Crise e Contradições do Sistema Capitalista

Silvia Ribeiro – ETC / México

Capitalismo, tecnologia e devastação ambiental

Capitalismo e meio ambiente

•  A destruição do meio ambiente é parte inerente do modelo industrial de produçãoe consumo dominante, que não considera a natureza nem o meio ambiente comosustento da vida, mas unicamente como substrato para obter ganhos.

•  O atual sistema, não é o único que foi depredador do meio ambiente, mas tem sidoo único que globalizou a destruição convertendo-a em um grave problemaplanetário.

Corporações + Tecnologias= Erosão

•  A fusão de grandes empresas e capitais financeiros que de fato governam o planeta,com o desenvolvimento de tecnologias cada vez mais poderosas nas manos destas,e politicas que as favorecem (TLCs, investimentos, propriedade intelectual, etc)criam uma situação global de desastre econômico, ambiental, social e de saúde.

•  A busca ilimitada de lucro de una ínfima minoria, através de empresastransnacionais, e com enorme poder sobre os estados, é o principal motor da causadas crises, a devastação social, ambiental e o caos climático.

Dados de contexto econômico

•  40 das 100 maiores economias mundiais são corporações transnacionais – o restopaíses. (40%)

•  87 das 150 maiores, são corporações (58%)•  O mercado agroalimentar superou o de energia. É atualmente o maior mercado

global.

Fortune 500, 2015

The Transnational Institute, State of Power, 2014Who will control de Green Economy, ETC Group, 2013

As maiores empresas:

1 Wal-Mart Stores2 Royal Dutch Shell3 Sinopec Group4 China National Petroleum5 Exxon Mobil

6 BP7 State Grid

8 Volkswagen9 Toyota Motor10 Glencore11 Total12 Chevron

13 Samsung Electronics14 Berkshire Hathaway

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15 Apple16 AXA17 Gazprom18 E.ON19 Phillips20 Daimler21 General Motors22 ENI23 Japan Post Holdings

24 EXOR Group25. Industrial &Commercial Bankof China26 Ford Motor27 General Electric28 Petrobras29 McKesson30 Valero Energy

Fonte: Fortune 500, 2014  

Dezena tóxica

• 

Das 12 maiores empresas do planeta, a primeira é um supermercado(WalMart) , 9 são empresas de petróleo, energia y mineração, 2 sãofabricantes de automóveis: coincidem com os itens que estão

identificados como principais fatores da mudança climática:  Sistema alimentar agroindustrial  Extração e geração de energia  Urbanização e transportes. 

Fontes: Fortune 500, 2015  

Rede de controle corporativo global

•  1318 corporações transnacionais têm 2 ou mais interconexões entre si,em media 20, formando una teia de aranha global .

•  737 dessas corporações detêm 80% das vendas de todas as corporaçõesno mundo.

•  147 corporações detêm 40% desse valor e controlam o resto da rede,mas ninguém as controla. (“a aranha” na rede). 

(Fonte: Vitali , Glatfelder y Battiston, The network of corporate control, 2011  

Cada vez mais desigualdade

•  1% mais rico detém 50 % da riqueza global•  50% mais pobre detêm menos que 1% da riqueza (90% deles vivem no

Sul global)•  20 % da população detêm 94.5% da riqueza global•  80% da população somente detêm 5.5%•  Os 80 super milionários mais ricos do mundo detém hoje a mesma

riqueza que os 3,500 milhões de pessoas mais pobres (50% de populaçãomundial)

Fonte: Credit Suisse, Global Wealth Report 2012, 2014

Oxfam, 2014, 015

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As crises enriqueceram os ricos

•  A desigualdade aumentou mais nos últimos 30 anos, especialmente apartir das crises 2007-2009.

•  A riqueza global aumentou 68% nos últimos 10 anos. O 1% mais ricocapturou 95% da renda, enquanto que 90% ficou muito mais pobre,marginalizado, desempregado e precarizado.

Fonte: Oxfam, 2014

Tecnologias, ganhos e crises

•  A tecnologia sempre foi um fator para gerar vantagens comparativas e

ganhos extraordinários.•  Frente às crises (econômica, financeira, alimentar, ambiental, climática, desaúde), as empresas e governos propõem, como um fator importante,mais tecnologia.

•  A resposta tecnológica frente às crises justifica que nunca se vai àscausas dos problemas (mito de que a tecnologia sempre poderá resolvertodo)

Convergências de alto impacto

  Vivemos em um ritmo de aceleração de inovação tecnológica semprecedentes: ninguém pode compreender todas suas implicações eimpactos, mas as tecnologias chegam igualmente aos mercados.

•  Convergência tecnológica em busca de maior eficiência, novos materiais,novas plataformas de manufatura

•  Informática, nanotecnologia, biotecnologia, genômica, neurociências,

robótica, inteligência artificial, aeronáutica… 

Robótica, informática, drones

•  3D printing: impressoras em três dimensões: Desde drones até armas•  Drones: para guerra, vigilância transportes comerciais, mineração e

outros (Rio Tinto, Google, Amazon…)•  Robots, não trabalhadores. Fox Conn (fabricante chinês de eletrônicos,

planeja substituir 1,200,000 trabalhadores)•  Algo-trading: algoritmos para comércio de bolsas financeiras (Já  

produzido dos “flash crash” da bolsa de valores )  

Transgênicos, biologia sintética, tecnologia satelital… 

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•  Bioinformática, Big data•  Mais de 60,000 mil mapas genômicos, dados e publicações sobre

funções genômicas•  Engenharia de rotas metabólicas: novas fábricas biológicas  •  “Edição genômica” Ex: Multiplex automated genomic engineering

(MAGE) Milhares de construções genéticas sintética são testadassimultaneamente em milhares de células animais, plantas,microrganismos.

Biohackers biologia Do it yourself (Faça você mesmo)  Vigilância satelital e genômica, novas formas de exploração e biopirataria(aplicado por ex. no REDD)

A era do desconhecimento

•  Na chamada “era do conhecimento” mais da metade dos idiomas domundo estão em perigo de extinção.

•  Na era do “conhecimento” será a primeira onde a humanidade perderámuito mais conhecimento do que o que gera.

Necessitamos capacidade social de avaliar tecnologia

•  Durante o século XXI, o capital demoliu o principio de precaução e todas

as instituições de mínimo “controle” e o monitoramento das tecnologias.Otimismo tecnológico avassalador

•  ONU acaba de restabelecer um mecanismo que poderia recuperar partedessa função Mas não existe capacidade social de avaliar as implicaçõesdas novas tecnologias (exceto algumas tecnologias, isoladas, em alguns

casos e regiões)  

Manifestações da devastação ambiental planetária

•  Superexploração dos recursos naturais: petróleo, fracking, gás, velhas enovas minerações, desmatamento, imensos monocultivos que devastamos ecossistemas… 

•  Industrialização do sistema agroalimentar controlado por umas poucastransnacionais, apropriação das sementes, transgênicas, contaminaçãomassiva da terra, água e saúde com agrotóxicos.

Devastação ambiental planetária

•  Urbanização selvagem, marginalização, contaminação, mega-atteros.

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•  Infraestruturas e transportes para as necessidades corporativas, no paraas pessoas.

•  Contaminação e esgotamento da água, solos, ar limpo•  Erosão da biodiversidade natural e cultivada.•  Erosão da saúde, aumento exponencial de enfermidades, alergias,

epidemias

Crise de limites ecológicos planetários•  Mudança climática•  Erosão da biodiversidade•  Ciclo do nitrogênio (fluxo biogeoquímico)•  Ciclo do fósforo•  Acidificação dos oceanos• 

Esgotamento de água doce•  Mudança de uso e erosão de solos•  Destruição da camada de ozônio estratosférico•  Contaminação química•  Contaminação atmosférica (carga de aerosóis)

Fonte: Stockholm Resilience Center

Limites planetários (Stockholm Resilience Center)

Antropoceno?

•  No é “antropoceno”:á a era da plutocracia e sua ambição ilimitada o que está destruindo as

comunidades y o planeta.

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•  Ainda que os países industrializados tenham desenvolvidos muita maistecnologias, todos os governos têm um modelo de “desenvolvimento” ytecnocientífico de matriz industrial e capitalista.

•  Necessitamos questionar, além do poder das corporações e o sistemaque as sustenta, o modelo industrial de produção e consumo, o modelode “desenvolvimento” e de tecnociência

Exemplo: caos climático

•  A mudança climática é provavelmente a devastação ambiental globalmais grave e de maior impacto econômico e social.

•  Suas causas são conhecidas y estão claras: expansão do industrialismobaseado em combustíveis fósseis (petróleo, gás y carvão), principalmente

para geração de energia, sistema alimentar agroindustrial e urbanizaçãoselvagem•  Governos e empresas só propõem falsas soluções, enquanto os

movimentos sociais identificaram soluciones reais e viáveis.

Responsabilidade histórica

•  A responsabilidade histórica da mudança climática é extremamentedesigual:

•  10 países, principalmente Estados Unidos e países europeus, foram

reesposáveis por mais de 2/3 dos gases emitidos desde 1850.(Acumulado em toneladas métricas per cápita: USA 1133, China 85)

•  90 empresas responsáveis por 65% dos gases emitidos (empresas depetróleo, carvão e cimento)

•  2/3 da emissão de GEI depois de 1972, quando se podia ter optado poroutras formas de energia y tecnologia.

Falsas e perigosas “soluções 

•  Mitos tecnológicos: transgênicos, “intensificação sustentável”,“agricultura climaticamente inteligente”; sementes  Terminator , geo-engenharia, captura e armazenamento de carbono… 

•  Mitos de mercado: mercados de carbono, pagamento por serviçosambientais, REDD para bosques, compensações pela biodiversidade… 

•  São “remédios” piores que a doença, não reduzem as emissões,provocam novos problemas e evitam atacar as causas.

Mudança climática, setores

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•  Segundo o IPCC (2014), as principais emissões de gases de efeito estufapor setor:

•  25% - extração e queima de combustíveis fósseis para produção deenergia e eletricidade

•  24% - agricultura industrial, desmatamento e mudança no uso do solo•  21% -Industria•  14% - transporte.

Sistema alimentar agroindustrial: esquentando o planeta

•  Sem considerar a parte de cada sector que sinaliza o IPCC comoprincipais emissores, e o relacionarmos com sistema agroalimentarindustrial, encontraremos que este, desde as sementes corporativas, os

agrotóxicos, transportes, embalagens, processados hasta os grandessupermercados, ele é responsável por emissão de 44 a 57% de gases deefeito estufa. (GRAIN, 2014 )

•  A extrapolação da urbanização selvagem alcança também porcentagensmuito altas, isto se soma ao relacionado anteriormente. Não pode haversupermercados sem grandes concentrações urbanas.

Sistema alimentar agroindustrial: esquentando o planeta (44-57% GEI)

•  15 - 18% Desmatamento (a maioria para expansão de fronteira agrícola

industrial)•  11-15% Processos agroindustriais•  5 - 6% Transportes•  8 - 10% Processamento e embalagens•  2 - 4% Refrigeração e venda ao varejo•  3 - 4% Desperdícios: emissão de gases de lixo orgânico

Fonte: Grain/Vía Campesina, 2014

Quem NÃO nos alimenta

•  O sistema alimentar agroindustrial somente chega a um 30% da

população, mas usa a maior parte das terras, da água, dos combustíveis:•  75-80 % da terra arável•  70% de água de uso agrícola•  80% dos combustíveis fósseis usados na agricultura•  Grandes volumes de produção tecnificados, uniformes, sem diversidade,

pobres em nutrientes, com enormes desperdícios (33-40%), altacontaminação de solos, água e ar, principal fator da mudança climática,relacionado aos maiores problemas de saúde atuais. 

Fontes: “Quem nos alimentará”, ETC Group, 2014  

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Quem nos alimenta hoje

•  70 % da população mundial é alimentada pelos “pequenos”: camponesase camponeses, indígenas, pescadores artesanais, pastores, hortasurbanas, colheita e caça silvestre, que apenas ocupam 25% da terra:

•  35 - 45% é colheita de parcelas de terras camponesas•  15 - 20% hortas urbanas•  5 - 10 % pesca artesanal•  10 - 15% caça e colheita silvestre•  80-90% das sementes da produção em pequenas parcelas são sementes

camponesas.Fontes: “Quién nos alimentará”, ETC Group, 2014  

Quem cuida da diversidade e nos protege contra a mudança climática

•  Rede camponesa•  7000 espécies de cultivos•  2 milhões de variedades

alimentares adaptadas amilhares de geografias,microclimas e ecossistemas.

•  50-60,000 plantas parentessilvestres

  40 espécies pecuárias•  7000 raças locais, adaptadas à

uma grande diversidade decondições

•  Todas em mãos de camponesase outros pequenos provedoresde alimentos, em famílias ecomunidades, com livreintercambio.

•  Cadeia industrial•  150 cultivos, focados em 12•  80,000 variedades, uniformes,

somente para terras planas eirrigadas, a maioria variedadesornamentais

•  5 espécies pecuárias•  Menos de 100 raças híbridas•

  Todas propriedade de umavintena de transnacionais, sobpatente ou propriedadeintelectual.

Fotes: “Quem nos alimentará”, ETC Group, 2014  

Sistemas alimentares camponeses e locais esfriam o planeta

•  Os sistemas camponeses agroecológicos, cuidando solos, corpos de águae bosques, poderiam absorver e reter 2/3 do excesso de gases de efeitoestufa, em 50 anos.

•  Os mercados locais, hortas urbanas, eliminação de embalagens yrefrigeração, etc, evitam outra grande parte dos gases. E melhoram asaúde, a biodiversidade, etc.

•  Mas não é o que se discute… 

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COP 21 / 2015: acordo global para aumentar el caos climático?

•  Emissões líquidas zero ( “zero net emissions”) : armadilha a se consolidarem Paris, dezembro 2015

•  Não são reduções, pelo contrario, aumentarão mais, argumentando queao “sequestrar” o dióxido de carbono emitido, a soma dará “zero”. 

•  Esconde a intenção de implantar geoengenharia y mais mercados decarbono e outras compensações (offsets)  

Manipular o clima? Geoengenharia

•  Ante a ausência de metas reais de redução de GEI, propostas para

manipular o clima global tecnologicamente.•  MRS: Manejo da radiação solar (bloquear parte dos raios solares que

chegam à terra)•  RDC: Remover dióxido de carbono da atmosfera

Propostas de geo-engenharia

•  Mega escala (pretende modificar o clima global)•  Invade um ecossistema vital para tudo e todos, pouco conhecido,

interconectado y dinâmico

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•  Desequilibra MAIS o clima, sobretudo nos trópicos, na Ásia, África eAmérica Latina

•  Impacta principalmente sobre os pobres e vulneráveis: camponeses,pescadores, pobres urbanos

•  Desculpa para NÃO reduzir emissões, alegando que se deve focar nos

sintomas. Cria mercados cativos•  Potencial uso bélico (tem origem militar)•  ONU/CDB estabeleceu uma moratória contra a geoengenharia em 2010,

por seus altos riscos. Grande pressão para reverte-la.

CCS: Captura e armazenamento de carbono

CCS: nova armadilha das petroleiras

•  CCS –   carbon capture and storage   / captura e armazenamento decarbono em fundos geológicos. Vem da indústria petroleira: injeção degases para recuperar suas reservas profundas (Enhanced Oil Recovery

EOR).

•  “Legitimado” por IPCC no 5to. Informe, junto a energia nuclear e BECCS

(bioenergia com CCS), por lobby das petroleiras.

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•  Seria nova subvenção pública a empresas para explorar mais e cobrar por“sequestrar” os gases.

•  Promove novos acumulação de subsolo.•  Implica grandes riscos (fugas, movimentos geológicos, etc).

De CCS a geoengenharia

•  CCS (captura y armazenamento de carbono) é parte do pacote dageoengenharia.

•  Caso seja legitimado o uso de CCS, ainda que não funcione para removeros gases da atmosfera, abre a porta para outras formas ainda maisperigosas de geoengenharia.

•  Como CCS não pode absorver o excesso de gases (não há suficientes

subsolos e condições, implica seguir emitindo gases), em pouco anos, asempresas dirão que o única coisa que resta fazer será a manipulação declima, com manejo da radiação solar e outras técnicas.

•  Isto implica em entregar o controle do termostato planetário aosmesmos que provocaram a mudança climática e a devastação global.

Algumas propostas pontuais

•  Rejeitar os agrotóxicos, transgênicos, sementes Terminator .Isso temefeitos positivos para todos y questiona o paradigma e as ferramentas

chave dos agronegócios que controlam o sistema alimentar.•  Resistir e denunciar a energia nuclear, a CCS y a BECCS. Assalto à

biodiversidade e territórios com nova geração “bicombustíveis”.•  Criar plataformas/redes de análise e ação sobre os impactos de novas

tecnologias. Nenhum movimento pode compreender e atuar somentesobre a complexidade da convergência tecnológica.

Pontos para o debate estratégico

•  A raiz da crise ambiental é o sistema capitalista. As resistências maiscríticas são desde o local, a diversidade y defesa de território,defendendo culturas e formas de vida. Como articularmos desde adiversidade?

•  As crises ambiental e social não estão separadas. O ecologismo populartem controlado um desastre pior no planeta. A esquerda convencional

está em “dívida” por n o ver-lo. •  Todos os governos, também progressistas, têm a mesma visão de raiz

capitalista sobre, recursos, industrialismo e tecnologias. Temos quequestiona-lo.

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Pontos para pensar

•  Urge derrubar os mitos. Por exemplo, que necessitamos agricultura eenergia produzida industrialmente para nos manter. É falso.

•  O sistema alimentar afeta tudo e a todos (subsistência, saúde, ambiente,

clima, território, recursos, urbes) não é um tema somente “camponês”, écentral em todas as crises.

•  Mudança climática como paradigma. Impactos muito graves. Governos eempresas só empurram as falsas soluções, os movimentos se identificamcom as soluciones reais.

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Plenária 2: Situação da Crise e comportamento daClasse Trabalhadora

Gustavo Codas – Fundação Perseu Abramo / Brasil

Desafios ao ciclo progressista na América Latina

Atravessamos uma conjuntura singular na América Latina. Em vários paísesgovernados por forças progressistas, uma combinação de crises políticas eeconômicas parece colocar em questão as conquistas do ciclo pós-neoliberaliniciado com o presente século.

No entanto, para se ter uma justa dimensão do presente, seria interessante daruma olhada para trás. Há 10 anos, em novembro de 2005, a Cúpula dasAméricas, em Mar del Plata, por iniciativa dos primeiros governos progressistasda região, truncava o projeto de hegemonia estadunidense da Área de LivreComércio das Américas (ALCA). Se retrocedermos uma década mais, veremosque em meados dos anos 90 o projeto da ALCA foi a principal iniciativa lançadapelo governo dos EUA para consolidar sua dominação econômica regional emum contexto onde esse país havia vencido a Guerra Fria e buscava impor ummundo unipolar. Vinte anos atrás estávamos no auge da globalização neoliberalcom os Estados retrocedendo na economia, o desemprego crescendo, os

mercados de trabalho sendo precarizados, os salários reais reduzidos e apobreza avançando.

Os negociadores da ALCA esperavam assinar o tratado em dez anos. De fato,ainda em abril de 2001 em Quebec, no Canadá, durante a Cúpula das Américas,apenas um governo da região apresentava questionamentos (ainda bastantetímidos) à negociação da ALCA, o da Venezuela, do presidente Hugo Chávez.Ou seja, a essa altura, os negociadores norte-americanos podiam estarotimistas.

Não obstante, a convergência de dois processos abriu espaços para umamudança de época. Em 1990, em plena crise da esquerda no mundo com aderrocada do socialismo burocratizado da URSS e do Leste europeu, e a crise dasocialdemocracia europeia, o PT do Brasil e o PC de Cuba convocaram umareunião aberta das forças políticas progressistas e de esquerda da AméricaLatina que resultou na constituição do Foro de São Paulo, uma articulação paraenfrentar o ciclo conservador e neoliberal que estava em seu auge.Simultaneamente, diversos movimentos sociais de todo o continenteorganizaram e desenvolveram a Campanha contra os 500 anos de colonização,

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colocando em destaque os movimentos indígenas, camponeses, deafrodescendentes, populares, entre outros.

O ciclo aberto pela eleição de candidatos progressistas, começando por HugoChávez em 1998 e reforçado com Lula em 2002, é herdeiro dessas iniciativas deresistência e relançamento das forças políticas no começo dos anos 90. E teveimportantes repercussões em nossas sociedades: houve uma recuperação dopapel do Estado na economia, foram implementadas políticas sociais queredundaram em uma redução da pobreza, em números absolutos eporcentagens. Em vários países houve melhorias no terreno laboral queresultaram em aumentos dos salários reais (inclusive do salário mínimo), voltado crescimento do mercado formal de trabalho, fortalecimento da negociaçãocoletiva e da atividade sindical, em alguns casos chegou-se a níveis próximos do

pleno emprego, houve recuperação da economia camponesa com apoio depolíticas públicas. As diferenças são óbvias e marcantes em relação à décadaneoliberal.

Se olharmos para esses 20 anos de história, veremos três etapas muito claras:auge neoliberal e defensiva popular em meados dos anos 1990, lançamento dociclo progressista e derrota do imperialismo norte-americano em sua principalestratégia continental em meados da década de 2000, e agora, em 2015, ummomento em que o progressismo está sob ataque em diversos países.

Venezuela, Brasil e Equador, cada um com especificidades próprias, enfrentamuma combinação de problemas econômicos com grande mobilização dasdireitas locais que sentem haver chegado o momento de derrubar essesgovernos progressistas articulando poderes fáticos e forçando os limites dainstitucionalidade (no que o Golpe de Estado parlamentar no Paraguai em 2012foi o precursor). Argentina se dirige às eleições com uma solução eleitoral decompromisso entre o progressismo K e a centro-direita peronista de Scioli,onde a “caneta” do poder estará pela primeira vez desde 2003 com ocomponente conservador da aliança.

A direita latino-americana caracteriza esse cenário como o “fim do cicloprogressista” e afirma que estão criadas as condições para a volta dos temposconservadores como nos anos 80 e 90 do século passado. Mas onde conseguiuavançar derrotando o progressismo nas urnas, como com Sebastián Piñera noChile em 2010, ou por Golpe de Estado, como com Federico Franco em 2012seguido da eleição de Horacio Cartes no Paraguai tem, no entanto, fracassadoem seus resultados políticos. O Chile entregou quatro anos depois o governo auma proposta política liderada por Bachelet encabeçando a coalizão NuevaMayoría, mais progressista que a aliança com que foi eleita para seu primeiro

governo com a Concertación; e os dois governantes neoliberais paraguaios

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cujos mandatos foram obtidos com o golpe parlamentar estão entre os políticosmais rejeitados pela opinião pública desse país. A “oferta” conservadoraneoliberal não parece entusiasmar as pessoas quando chega ao governo.

Entretanto, existe um sentimento cada vez mais difundido entre os setoresprogressistas e da esquerda de que o impulso e a orientação com que foilançado o ciclo progressista e os programas e estratégias com que se obteve asconquistas econômicas, políticas e sociais em nossos países não são suficientespara continuar, avançar, aprofundar o ciclo, e que, na ausência dessa atualizaçãoe renovação, podem ocorrer retrocessos.

Existem pelo menos três questões que lançam dúvidas sobre os projetosprogressistas. Primeiro, avançamos em um contexto de convivência com muitos

elementos-chave da globalização neoliberal. Esta tem como uma de suascaracterísticas lançar mão dos piores padrões salariais e laborais do mundo (porexemplo, os asiáticos) para pressionar as conquistas da classe trabalhadoranaqueles países com estado de bem-estar e diminuir direitos e salários.Contudo, nossos governos realizaram a façanha oposta, proporcionandomelhoras salariais e sociais, mantendo nossos países inseridos na globalizaçãoneoliberal. Aqui existe uma contradição a se enfrentar.

Segunda questão. O ciclo progressista derrotou o neoliberalismo em váriosaspectos. Mas não enfrentou um que é chave: o legado consumista do “modo

de vida americano” e a indústria cultural que o promove. É assim que oaumento dos níveis de vida de amplos setores sociais impulsionado peloprogressismo se traduziu em mais consumo “globalizado”, pressionando paraque aquilo que está sendo lançado no centro capitalista esteja disponível paraconsumo imediato em nossos países. A pressão para financiar importações demanufaturados é liderada pelos consumidores que serão eleitores na próximaeleição presidencial e não devem ser contrariados pelo governo, se querem acontinuidade do projeto. É mais uma pressão que se junta à dos empresáriosque preferem se transformar em representantes comerciais de produtosimportados da Ásia.

Há muito a se discutir em relação a esses dois primeiros aspectos críticos, mas oque queremos expor preliminarmente aqui é que o progressismo, se quiseravançar e aprofundar-se, não o poderá fazer fora de uma estratégia deintegração regional que lhes dê condições de mercados maiores, de constituir“cadeias de valor regionais”, de obter financiamento para a produção e acesso atecnologias para fazer frente ao mercado mundial. Na ausência dessa via, comum processo de integração entorpecido, hoje se recorre a financiamentoschineses, o que agrega ao alívio momentâneo novos problemas a médio e

longo prazo (uma vez que tende a subordinar exclusivamente aos interesses

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desse país, que está muito enfocado em obter em troca produtos primários doextrativismo mineiro ou do agronegócio).

Mas há um terceiro aspecto. Um dos resultados do progressismo nos governostem sido o fortalecimento de uma certa burguesia “nacional” tanto em setoresprodutivos quanto em serviços. Mas qual é a relação dessas frações daburguesia com o projeto progressista? Esse não é um tema novo na AméricaLatina. O abandono das veleidades nacionais das burguesias latino-americanasfoi uma das armadilhas em que caíram os projetos desenvolvimentistas demeados do século passado. Estará politicamente disposta a integrar uma aliançaque impulsione um projeto de contestação da ordem mundial imposto pelosEstados Unidos ou a integrar as conspirações para “fechar” o ciclo progressista?E esse problema é parte de uma questão maior: que setores sociais compõem o

sujeito histórico que impulsionará a continuidade do nosso projeto?

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Plenária 3: Desafios Políticos da ClasseTrabalhadora

Irvin Jim – NUMSA / Africa do Sul

Crises e contradições do sistema capitalista 

Permitam-me agradecer aos organizadores desta Conferência pelo convite parafalar.

Estas oportunidades internacionais permitem diferentes vozes de diferentespartes do mundo compartilharem suas experiências cotidianas locais do sistema

capitalista global.

Da África, nossas esperanças – estou certo de que estas visões são divididas portodos os participantes da África – são de que tal partilha possa também levar àsolidariedade global e à ação global confrontando não apenas os desafios,crises e contradições impostas pelo sistema capitalista global às populaçõesmundiais, mas que possamos então avançar para uma visão global partilhadade um novo mundo, uma nova civilização baseada em valores humanos plenose dignidade humana e liberdade e respeito pela Terra e pelo sistema planetárioque sustenta toda a vida.

Como sindicalista, não quero entediá-los com grandes palavras, linguagemintelectual altissonante e citações. Falarei sobre as crises e contradições docapitalismo, como a maioria das pessoas no mundo –  que são a classetrabalhadora e os camponeses –  experienciam o capitalismo nas suas vidascotidianas.

Venho dessas classes e as represento. Ao final, fornecerei alguma bibliografiaútil para os que quiserem saber mais sobre o que digo nesse texto.

Ao mesmo tempo que muitas pessoas no mundo hoje podem hoje celebrar oque pensam ser o fim da chamada “Guerra Fria”, o que está claro, no entanto, éque a derrota e a destruição do comunismo no Leste Europeu pelo capitalismoocidental não criou o tão desejado mundo de paz e de existência pacífica daspopulações e nações mundiais.

Destruição ambiental, aquecimento global, ascensão de movimentos religiososviolentos e extremos, fome massiva, pobreza, aprofundamento do desempregono Sul global, novas expropriações de terra, instabilidade nos preços mundiais

de alimentos, energia e moradia, retrocessos massivos nas conquistas sociais e

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econômicos das antigas colônias, e, o pior em toda a história até então: a crisesistêmica e estrutural do sistema capitalista global e sua promessa de piora damiséria humana ao redor do globo rapidamente substituíram a “Guerra Fria”como as novas ameaças à humanidade.

Estamos despertando agora para a terrivelmente dolorosa percepção de quecom todas as positivas revoluções em curso nas tecnologias de comunicação,incluindo a internet; na matemática, química, física, biologia, medicina,agricultura, construção civil, engenharia, mineração, processamento dealimentos e provisão em massa de água encanada e eletricidade, a maioria dospovos do mundo afundam mais e mais na pobreza, desemprego e são vítimasde desigualdades sociais, econômicas e culturais extremas e cruéis.

Capitalismo enquanto crise humana permanente e negação dahumanidade!

Como é possível que quando a capacidade produtiva mundial e o progressocientífico estão tão avançados que é literalmente possível enviar humanos à luacomo turistas, ter instantânea comunicação textual, visual ou de voz comqualquer um em qualquer parte do mundo, ver graficamente e em tempo realcada atividade de órgãos, tecidos e células humanas, ser capaz de literalmenteviajar a velocidades maiores que as da luz, clonar qualquer ser vivo, produzir acura para qualquer doença humana, como é possível, quando literalmente

estamos prestes a ser capazes de substituir completamente por máquinas todoo pensamento humano e funções mecânicas, que tantos bilhões de sereshumanos sofram tão terríveis fome, doenças, sejam vítimas de guerras sem fim,vivam em condições que repugnariam a Idade Média?

O que há de errado com um mundo no qual tudo pode ser produzido paraassegurar que cada ser humano viva uma vida plena, feliz e segura, e que maisda metade da população mundial tem vidas miseráveis, curtas, brutais e vazias?

Porque, quando há tamanha quantidade de conhecimento no mundo atual queé possível realizar as mais complicadas operações num corpo humano vivo,mais alguns milhares de africanos recentemente morreram de Ebola?

Como pode que, quando há tanta ciência e tecnologia médica que é possívelcongelar espermatozoides e óvulos e trazê-los à vida mil anos depois e obteruma nova vida, há milhões de mulheres africanas, asiáticas, latino-americanas,estadunidenses e europeias que sofrem de excruciante dor emocional e socialdevido à infertilidade?

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Porque, devo perguntar, não há cura para o HIV/AIDS, quando nós podemosagora ver imagens de Plutão, um planeta distante tantos bilhões de milhas?

Alguém deve me dizer porque há tantos milhões de pessoas no mundo quevivem em barracos e dormem nas ruas quando os mais caros e massivosestádios olímpicos ou de futebol são construídos com tanta frequência eregularidade?

Porque um bebê deve morrer, qualquer bebê, porque grandes multinacionaisda indústria farmacêutica destroem remédios para proteger seus preços elucros?

Porque bilhões na população mundial não devem fazer parte da economia

global por estarem desempregados, quando há tanta ciência e tecnologia paratodos que podem e querem se envolver na atividade econômica e social?

Porque há tanto medo, intolerância, ódio, racismo, xenofobia, fanatismo epreconceito religioso, nacionalismo violento, tribalismo, regionalismo, quandomais do que em qualquer momento da história humana estamos cada um maispróximo do outro, podemos alcançar e tocar o outro, e ainda estamos tãoseparados!

A resposta está nos mirando bem diante de nossos rostos, em todos os

momentos de nossas vidas: “capitalismo”. Quando um trabalhador vai para seutrabalho, é porque ele ou ela “encontrou um emprego”, assim dizemos. O queisso realmente significa é que alguém, alguma empresa ou departamentoestatal, comprou a força de trabalho desse trabalhador.

No sistema capitalista, a força de trabalho do trabalhador nunca é compradapara algo além de criar ou contribuir para a criação de capital. Nós, a classetrabalhadora, chamamos isso de “sistema capitalista” porque o capital ésuperior ao trabalho humano e um trabalhador só consegue trabalho (e“sentido” e “valor” na vida) se sua força de trabalho pode criar riqueza oucontribuir para criar riqueza para o sistema capitalista.

Nós, a classe trabalhadora, sabemos e somos educados pela selvagem, brutal ealienante experiência do “trabalho”, que o capital é superior aos seres humanosno sistema capitalista porque se sua força de trabalho não é comprada, emmuitas partes do mundo corre-se o risco de morrer de fome, sede, falta demoradia, doenças e tudo o que não se pode comprar porque você não ganhadinheiro.

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O sistema capitalista em si é uma operação complexa e massiva para aprodução de mercadorias para o lucro, nada mais. A produção de mercadoriaspara o lucro é a razão para a produção, nada mais. Hoje, algumas dessas“mercadorias” são “invisíveis” e existem apenas na imaginação dos capitalistas:mesmo assim, essas mercadorias invisíveis e os lucros que geram aos donos docapital ainda são superiores aos seres humanos vivos.

Um ser humano no sistema capitalista apenas tem valor se pode criar oucontribuir para criar capital. O valor do ser humano no sistema capitalista éequivalente ao capital que ele pode criar. Portanto, não é por acidente que cadaser humano num sistema capitalista tem um preço: tudo o que você precisapara conseguir que faça algo é perguntar: “qual é o seu preço?” 

Nós, a classe trabalhadora mundial, acreditamos tolamente em qualquer donoou dona de capital (capitalista) que finge lutar contra a corrupção. Num sistema(o sistema capitalista) no qual o valor da vida humana equivale ao capitalrealizável, e no qual ela não tem valor se não consegue aumentar o capital,como você elimina a corrupção? A corrupção num sistema capitalista ésimplesmente o preço dos recursos morais de um ser humano, e eles estão àvenda.

O que significa serem os humanos comprados e vendidos na produção demercadorias como qualquer outra mercadoria? Significa que o ser humano, que

é o dono do trabalho, separa-se do seu trabalho, torna-se alienado do produtodo seu trabalho. Esse produto é o capital. O capital então torna-se superior aoser humano.

Esperem um minuto! Trabalho humano cria capital. O capital então oprime,suprime o dono do mesmo trabalho que o criou. O que o ser humano crioutransforma-se num poder exterior ao ser humano, tão poderoso que o controlae governa. O ser humano de repente não tem outro valor além daquele que criaou contribui para criar capital – um poder que o suprime, oprime e explora.

Uma vez entendida essa relação fundamental, essa crise humana inicial dosistema capitalista – a crise da subordinação do ser humano ao capital, algo quenão pode existir sem trabalho humano –  nós entenderemos não somente opoder extremamente destrutivo que o capital tem, mas também ver o quanto osistema capitalista aliena.

Nós, a classe trabalhadora consciente, não simplesmente conhecemos as“crises” periódicas do capitalismo: nós conhecemos a “crise” original docapitalismo! Mesmo nos bons tempos, essa crise original ainda existe, e

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suprime, domina e aliena o ser humano daquilo que não pode existir sem ele – a mercadoria, o capital.

O capitalismo é uma permanente crise humana – esteja ele funcionando bemou não. Precisamente porque o sistema capitalista baseia-se na conversão dapessoa humana em mercadoria, em capital, em lucro, e nada mais.

É errado reduzir a luta por libertação do capitalismo à simples luta para resolveras crises periódicas e inevitáveis do capitalismo. A crise real é a destruição daliberdade humana, o roubo da vida humana, a alienação do ser humano daquiloque ele produz, que então se torna um poder que o governa. Esta é a luta real eo desafio que a raça humana como um todo enfrenta hoje.

Todos nós, seres humanos, temos a tarefa de lutar para recuperar nossahumanidade, que tem sido destruída pelo mesmo capital que produzimos.Socialismo para nós é a restauração da humanidade a uma posição desuperioridade, acima de qualquer coisa que a pessoa humana possa criar.

Para fazê-lo, primeiramente temos que conscientizar e organizar os reaisprodutores de riqueza numa classe consciente, capaz de compreender suasituação de opressão, supressão, dominação e exploração pelos frutos de seutrabalho – capital – e, em seguida, devemos promover o desenvolvimento dessaclasse em uma posição politicamente dominante nessa sociedade. Assim essa

classe poderá então assumir o controle da função econômica da sociedade,tirando-a da classe capitalista – a classe de assassinos em massa, destruidoresde nossa Terra, ladrões e exploradores e parasitas em nosso sangue, suor elágrimas dos reais produtores e donos da riqueza no mundo, a classetrabalhadora realmente humana, em que todos darão sua contribuição justapara o bem comum, e receber da sociedade o que necessitam para prosperar.Aí então poderemos simultaneamente reconstruir nossa Terra arrasada eproteger o sistema planetário.

Capitalismo é contradição! 

A busca por lucros é a razão para a existência do sistema capitalista, nãoimporta o quanto esse fato óbvio possa estar bem ocultado.

No capitalismo mais bem-sucedido, fazendeiros muito eficientes não produzemcomida motivados pelo desejo de ver uma população bem alimentada esaudável: eles estão nisso por dinheiro.

Num capitalismo bem-sucedido, os setores de saúde privado e público não

existem porque o setor de saúde deve fornecer atendimento sanitário de

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qualidade para uma população sadia e livre de doenças; o primeiro existe parafazer dinheiro e o segundo para auxiliar o sistema capitalista a fazer dinheiro!

Quem ainda acredita que advogados num sistema capitalista são lutadores pela justiça precisa ter sua cabeça examinada (me desculpem os advogadospresentes!). O advogado mais poderoso é aquele com o cliente mais rico, quecometeu a maior e mais séria infração à lei. Tais firmas de advocacia correm orisco de falir caso os capitalistas comecem a agir dentro da lei – o que remete aoutra contradição do sistema capitalista: ele prospera a partir da criminalidade eda corrupção, ambas mercadorias essenciais e necessárias ao sistema!

Apenas abra uma empresa funerária para ver quão fracassado você será sesomente pessoas pobres morrerem. Confie em mim, você será capaz de pagar

por suas férias se alguns clientes realmente ricos aparecerem mortos e suasfamílias usarem seus serviços. Isso é capitalismo.

Não nos enganemos. Se o ato de proteger a Terra pode ser transformado emuma mercadoria, os capitalistas o farão! Eles já estão à frente: tendo porcentenas de anos agora nos vendido substâncias químicas prejudiciais à saúdesob a alcunha de “comida”, agora descobriram mercadorias nos “estilos de vidasaudáveis”, “comidas saudáveis”, “comidas orgânicas” e “vida sustentável”. 

O capital é viciado por adaptação: o que não surpreende, se você sempre

lembrar que capitalismo é crise permanente. Para sobreviver, ele precisaperturbar constantemente todas as condições existentes e submetê-las às suasnecessidades, mantendo as antigas quando úteis, destruindo as novas quandoelas ameaçam perturbá-lo, subornando classes sociais quando ameaçam realizara revolução, recompensando a classe média por pregar a aceitação do sistemaetc.

O permanentemente instável equilíbrio dinâmico, a permanente crise dosistema capitalista é, ironicamente, sua maior força. Pois esta crise não toleraficar parada!

O capitalismo é um sistema de contradições.

Riqueza imensa existe lado a lado com a mais excruciante e desumanizadorapobreza.

Assassinato em massa, denominado guerra, existe lado a lado com os maisavançados meios para assegurar a existência pacífica de seres humanos.

Desemprego é produto da superprodução!

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Os sentimentos vazios e estressantes de pequenez, isolamento, desesperança,medo e miséria que isso ocasiona ao ser humano são produto da massivacapacidade produtiva humana que o trabalho humano alcançou!

A produção massiva de músicas de amor e seu sucesso de mercado é produtode níveis extremos de ódio e desamor entre seres humanos, reduzidos amercadorias e meros consumidores de mercadorias!

Um ser humano é considerado bem-sucedido quando é mais explorado,quando a maioria de seus atributos são usados no processo de produção demercadorias! Aí eles têm um preço mais alto para seus salários! Assim a pessoamenos livre é tida como a mais livre – porque pode comprar e consumir muitas

mercadorias!

O ser humano mais mercantilizado, o mais alienado, é considerado o mais livre!

Não é por acidente que a nação mais assassina (beligerante) nação na Terra, osEUA, clama por ser a mais livre!

Não se enganem, cada uma dessas contradições são essenciais para a vida dosistema capitalista, sem as quais ele não pode viver.

Vocês podem querer saber que na África do Sul, minha terra de nascimento,temos mais de 80% da população composta por negros, e pouco menos de10% por brancos – o restante pode ser dividido em “mestiços” (coloureds, nooriginal), indianos e “outros”. 

Para nós, as origens da África do Sul capitalista moderna jazem na revoluçãocapitalista importada – o imperialismo financiou e forneceu os meios militarespara estabelecer a moderna África do Sul racista, patriarcal e capitalista.

A classe capitalista original da África do Sul emergiu no bojo de um arranjocolonial.

Para aumentar e aperfeiçoar suas oportunidades de lucro, a revoluçãocapitalista sul-africana confiou na divisão racial do trabalho, codificada numconjunto de leis racistas e de exclusividade política racial.

  De suas origens ao presente, a dominação racial tem sido mantida sobcondições mutantes e por vários meios, mas sempre foi a espinha dorsaldo capitalismo sul-africano. No entanto, em todos os aspectos essenciais

a situação colonial da maioria negra permanece . 

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Esse é o retrato de nossa história e tipo de colonização criou para nós:

•  Em média, os brancos ganham 8 vezes mais do que os negros ganham.•  Os 50% sul-africanos mais pobres vivem com 8% da renda nacional, e os

50% mais ricos vivem com assombrosos 92% da renda nacional!•  Os 5% que mais ganham tiram trinta vezes o que ganham os 5% que

recebem menos.•  Os diretores das 20 maiores empresas listadas na bolsa de valores de

Johanesburgo ganham 1728 vezes mais do que o trabalhador médio,enquanto nos EUA essa diferença é de 319 vezes.

•  Aproximadamente 71% dos lares chefiados por mulheres negras têmrenda menor doque 65 dólares mensais e 59% deles não têm renda

alguma.•  58% dos lares chefiados por homens negros têm renda mensal menor

que 65 dólares mensais e 48% deles não têm renda alguma.•  Em média um homem negro ganha US$ 194 por mês, enquanto um

homem branco ganha US$ 1532 por mês.•  A maioria das mulheres brancas ganha US$ 775 dólares por mês,

enquanto a maioria das mulheres negras ganha US$ 97/mês.•  56% dos brancos não ganham menos do que US$ 484/mês, enquanto

81% dos negros não ganham mais do que US$ 484/mês.•  Entre os negros, 55% vivem em moradias com menos de 3 quartos e 21%

vive em moradias de 1 quarto, enquanto pelo menos 50% dos laresbrancos tem mais de quatro habitações.

•  70% das matrículas estão contabilizadas para 11% das escolas, que sãohistoricamente brancas, indianas e mestiças.

•  As taxas médias de aprovação nas escolas negras são de 44%, enquantonas brancas são de 97%.

•  Quantidade média de alunos por sala nas escolas brancas é de 24,enquanto nas negras é de 32 –  embora em Lipopo, Cabo Oriental eMpumalanga estejam entre 40 e 50 alunos.

•  A expectativa de vida de um sul-africano branco está em 71 anos agora,enquanto a de um sul-africano negro é de 48 anos. Brancos esperamviver 23 anos a mais que os negros.

•  Apenas 9% da população negra faz parte do sistema de assistênciamédica, enquanto para a população branca o número atinge 74%

O desemprego entre os negros é muito alto, especialmente entre jovens emulheres, e isso está aperfeiçoando a manutenção de seu status colonial de“nativos”! 

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Nós fomos expulsos do Congresso Sindical Sul-Africano (COSATU), umaorganização que ajudamos a criar a 30 anos atrás, em 1985, porque nosrecusamos a nos curvar diante dos desmandos do capitalismo sul-africano pós-1994. Sempre anunciamos orgulhosamente que somos um sindicato socialista eque devemos continuar a luta onde o Congresso Nacional Africano, o PartidoComunista Sul-Africano e o COSATU a abandonaram. Todos eles setransformaram em meros peões nas mãos das classes capitalistas global e sul-africana – essas organizações foram “mercantilizadas!” 

Hoje muitos irmãos nossos tentam vir da Ásia, África e de outros lugares para aÁfrica do Sul, procurando trabalho e oportunidades econômicas. Eles achamque devem lutar pela sobrevivência em bairros da classe trabalhadora lotados,infestados pelo crime e extremamente pobres. Enquanto isso, os patrões, os

donos do capital, os exploram como trabalhadores vulneráveis, colocando aclasse trabalhadora contra si mesma.

Essas condições levaram à violência contra nossos irmãos e irmãs nessascomunidades.

Nós condenamos a xenofobia, o racismo, o sexismo, o patriarcado, aintolerância e o fanatismo religiosos e todos estes comportamentos que nosdificultam a organização de toda a classe trabalhadora contra o sistemacapitalista, que nos trata a todos como mercadorias e nos divide, a fim de

reduzir nossos salários ao encorajar a competição mortal por escassasoportunidades de trabalho (escravidão).

Nós condenamos o sistema capitalista sul-africano e mundial que rouba a vida ea dignidade dos seres humanos num tempo em que o trabalho humano tantoalcançou.

O que precisa ser feito para eliminar a permanente crise do capitalismo esuas contradições?

Tentei ilustrar acima que, para nós:

1. O sistema capitalista é ruim tanto se vai bem ou não, se está em uma de suascrises periódicas ou não, precisamente porque no sistema capitalista nós, osdonos da força de trabalho, e as mercadorias, somos idênticos.

2. No sistema capitalista, o capital que produzimos nos oprime, suprime,brutaliza e explora.

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3. No sistema capitalista o capital é superior ao ser humano, não importa oquanto possamos protestar contra seus fatos mais óbvios.

4. Os produtos do trabalho dos seres humanos vivem fora deles, destroemnossa liberdade e nos alienam.

5. Devido aos quatro fatos acima (e mais), para nós, a classe trabalhadora, osistema capitalista simplesmente precisa ser destruído se quisermos ter nossasvidas plenas de volta.

Para onde vamos daqui?

Em cada localidade no mundo, as operações específicas do sistema capitalista

podem variar, mas o método e as bases principais permanecem os mesmos: aexploração do trabalho para produzir mercadorias e lucrar!

1. As maiores possibilidades para uma revolução socialista mundial existemhoje, mais do que em qualquer outro momento na história humana. 

2. Deve haver uma renovação e fé nas massas expropriadas, oprimidas,dominadas e exploradas no mundo.

3. Mais do que em qualquer momento, o marxismo se tornou muito relevante

como um guia para a ação revolucionária das pessoas e classes exploradas nomundo, e para a luta pelo socialismo.

4. Podemos trabalhar para derrotar o imperialismo na África e organizar,mobilizar e educar para o socialismo como a única cura real para racismo,xenofobia, patriarcado e todas as fobias capitalistas!

5. Essencialmente, precisamos perceber que a luta contra o capitalismo deve seruma luta internacional precisamente porque o capitalismo é global, universalhoje, e para derrotá-lo nós precisamos nos dar as mãos através do globo.

Obrigado.

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Plenaria 4. O que é construir o Projeto SocialistaHoje

Qiu Shike e Yan Hairong – China

O Novo Socialismo é uma escolha para o futuro da humanidade

I. Propondo o conceito de novo socialismo na China

Nas últimas décadas, a esquerda intelectual da China incluiu a velha esquerda, anova esquerda e a esquerda da Revolução Cultural. Mas não se conseguido

muito. Alguns intelectuais começaram a buscar um novo caminho. Em 2006,comecei a discutir o novo socialismo. Há também outras pessoas na China, p.ex. He Xin, Lu Qiyuan , Guo Songmin, Xu Liang etc., que mais cedo ou maistarde propuseram o conceito de novo socialismo. Apesar destas propostasdiferirem no conteúdo, eles compartilham a posição de que o socialismo tem deemergir mais uma vez. Na minha opinião, muitas ideias de Fidel Castro e HugoChavez, e o modelo Chongqing na China pertencem à categoria de novosocialismo.

Desde junho de 2014, tem havido um grande debate no interior da esquerda na

China sobre o novo socialismo. Tenho sido um participante ativo. Portanto, vouintroduzir a minha compreensão do novo socialismo para vocês discutirem ecriticarem.

Na minha opinião, o colapso do socialismo tradicional, representado pela UniãoSoviética, assinala a falência do socialismo tradicional. Muitos na esquerdafocam sua atenção nos fatores externos causadores do colapso, tais como aintervenção do Imperialismo Ocidental. No entanto, eu penso que o fatorprincipal é interno. Então, meu esforço tem sido procurar pelos fatores (teóricose práticos) que contribuíram para o fracasso do socialismo tradicional e propor

a ideia do novo socialismo que é baseado nas experiências e lições do velhosocialismo.

A ideia do novo socialismo é construída sobre o anticapitalismo, o socialismotradicional, o marxismo, leninismo e particularmente sobre a ideia de revoluçãocontínua de Mao; também é construída numa filosofia que unifica o subjetivo eo objetivo; é uma política da propriedade pública sobre a qual as pessoastenham controle direto (e não controle indireto através de delegados). É umaeconomia que pratica a regulação macroeconômica combinada com umamicroeconomia flexível. É uma economia abrangente que gere a distribuição de

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acordo com o tamanho da população, a contribuição do trabalho e do capital. Éuma prática cultural voltada para o altruísmo e a pluralidade. É uma sociologiavoltada para a nova humanidade e um estilo de vida de baixo consumo decarbono.

II. Os fatores que levaram à falência do socialismo tradicional

No período final do século XX, o movimento socialista internacional viveram umrevés fatal. A União Soviética, o primeiro país socialista, colapsou quase que danoite pro dia. Por volta do mesmo período, todo o bloco do Leste Europeutambém veio abaixo. Seguindo o fracasso da Revolução Cultural e a chegada aopoder de Deng Xiaoping, a China que foi criada com a liderança de Maotambém mudou gradualmente a sua natureza socialista. Seja União Soviética ou

China, o socialismo tradicional foi abandonado. A diferença é que a ex-UniãoSoviética é abertamente oposta ao socialismo e descaradamente restaura ocapitalismo, enquanto que a China, passo a passo, restaurou a maior parte docapitalismo e do feudalismo dissimuladamente. Mas os resultados sãoparecidos.

Qual seria o substituto para o capitalismo? O socialismo não é a melhorescolha? Se é, então porque o socialismo tradicional morreu? Quais são osproblemas? Vamos examinar os fatores que levaram ao seu fracasso.

São dez fatores:

Fator 1: O fracasso da Grande Revolução Cultural Proletária

A Revolução Cultural na China, no período socialista, é uma luta de vida e morteentre o proletariado e a burguesia, entre socialismo e capitalismo, entre omarxismo e o revisionismo. Devido a motivos complexos a Revolução Culturalafinal falhou. Desde então, apareceu uma enxurrada de pensamentosrevisionistas. Na maioria dos países socialistas, a facção pró-capitalista dentrodo Partido Comunista controlou o poder político e criou as condições maisdiretas para a restauração do capitalismo.

Fator 2: Problemas com o “coração” e a “mente”do socialismo tradicional 

A morte do velho socialismo foi diretamente causada por danos cerebrais eataque do coração. Quer dizer, o socialismo foi vendido barato pela sua cabeça.Sobre isso, existem análises convincentes. O livro dos acadêmicosestadunidenses David Kotz e Fred Weir, Revolução vinda de cim, oferece umaanálise detalhada sobre o falecimento da União Soviética. Ele conclui que a

principal razão para o falecimento reside no topo. Mao Zedong, pai da

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revolução chinesa, também viu claramente nos últimos anos de sua vida que omaior perigo para o socialismo vinha da facção pró-capitalista no topo daliderança dentro do partido.

Fator 3: Um forte alicerce para a restauração capitalista

Pra usar a China como um exemplo. Além da força reacionária da burguesiaainda existente, o fator mais importante para isto é o fato de que o capitalismofoi uma escolha natural para uma China recém saída do semi-feudalismo e dosemi-colonialismo. Contra o pano de fundo do semi-feudalismo e semi-colonialismo, o capitalismo também foi uma coisa nova com vitalidade. Com oapoio de milhões de pequeno-burgueses, o poder da burguesia obtinhaabastecimento contínuo. A realidade da China no período de reforma é que a

burguesia na China não só atingiu um novo padrão de vida, mas prosperoucomo nunca antes. O outro solo fértil para a burguesia chinesa é a forte basematerial deixada pelo falecido socialismo. O Capitalismo burocrático e[comprador?] cresceu rápido sobre esse alicerce.

Fator 4: A superestrutura não era socialista

No socialismo tradicional, o socialismo não era hegemônico na superestrutura,O sistema educacional, o sistema cultural e até mesmo o sistema político nãoestava nas mãos dos comunistas, não era proletário no caráter e não servia aos

interesses da nova sociedade. A Revolução não teve muito espaço nasuperestrutura. Na China, durante a Revolução Cultural, a revolução teve lugarna superestrutura, mas não foi bem sucedida. Isso também foi um fator quelevou ao fracasso do socialismo tradicional.

Fator 5: Questões ideológicas

Como uma ideologia, o Comunismo se opõe a todas as ideologias dominantesno passado. As ideias de propriedade privada dominaram as ideologias dopassado. Para o Comunismo triunfar é necessário que a propriedade pública eos pensamentos ligados à propriedade pública substituam a propriedadeprivada e os pensamentos ligados à propriedade privada. O socialismotradicional não foi fundo na luta ideológica para derrotar a burguesia. O interiorda mente das pessoas é um reuni burguês. Mao Zedong em seus últimos anoslevantou a questão da luta contra o revisionismo e contra os pensamentosligados à propriedade privada. Mas a luta fracassou. Portanto, a velha ideologiapoderosa foi outro fator que levou ao fracasso do socialismo.

Fator 6: A força da burguesia internacional

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O desenvolvimento do capitalismo tem seu próprio curso. Seu falecimento nãofoi rápido, como esperaram Marx ou Lenin. Seu falecimento é um longoprocesso.

Enfrentando os desafios do socialismo tradicional, a burguesia inteira sentiuuma ameaça contra sua vida. Ela teve três estratégias contra s revoluçãosocialistas:

Primeiro, promoveram guerras quentes e frias a fim de isolar todos os paísessocialistas e buscaram derrotar a economia socialista. Segundo, para reduzir osconflitos de classe e evitar a revolução em seus próprios países, eles assumiramcompromissos de classe em casa. Isso resultou em nacionalização e Welfare

State . Terceiro, eles encorajaram [r]evolução pacífica nos países socialistas. Os

países capitalistas basicamente foram bem sucedidos em suas estratégias. Aconsequência é que isso evitou que os países socialistas fossem modelo, e issotambém aliviou as contradições de classe em casa. Ao mesmo tempo, os paísessocialistas experimentaram contradições internas e os delegados burguesesgradualmente conquistaram mais poder.

Fator 7: Problemas com teorias para o movimento comunista

Esses problemas incluem

1) Teoria problemática do socialismo. Isso impactou na natureza do estadosocialista. Os trabalhadores não se tornaram donos do estado. O estado nosocialismo era meramente um estado controlado ditatorialmente por umaclasse burocrática sem burguesia.

2) Materialismo vulgarA filosofia do materialismo não fez as pessoas se afastarem da busca pelosganhos materiais. Isso não é fundalmente diferente das sociedades no passado.O movimento comunista deveria ser um movimento que orienta as pessoas emdireção a ganhos espirituais. A desistência da luta de classes e das lutasideológicas e a busca unilateral de desenvolvimento material levarianecessariamente ao fracasso do socialismo.

3) O determinismo das forças produtivasOs movimentos comunistas reais, fossem liderados por Lenin ou Mao, nãotinham relação determinista com o desenvolvimento das forças produtivas. Defato, a revolução não aconteceu em países que desenvolveram as forçasprodutivas. O fracasso do socialismo tradicional não teve relação deterministacom o nível das suas forças produtivas. O problema reside na superestrutura. A

superestrutura teve um papel decisivo. Quando as forças produtivas foram

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vistas como determinantes, elas se tornaram a base teórica para a restauraçãodo capitalismo.

4) A teoria da “etapa” O marxismo considerou um desenvolvimento linear do feudalismo procapitalismo e então para o socialismo. Os países socialistas tradicionais semoveram para o socialismo sem passar pelo capitalismo. Portanto, o socialismoera considerado um desenvolvimento que pulou o capitalismo. O revisionismousou a dogmática “teoria da etapa” como uma ferramenta para justificar arestauração capitalista. Essa é a principal raiz teórica do fracasso do socialismo.Aqui, esse problema foi exagerado no marxismo e usado pelos revisionistas.

5) Ao contrário de Mao na China, países socialistas tradicionais como a União

Soviética não propuseram uma teoria da luta de classes contra a restauraçãocapitalista no socialismo, levando ao falecimento do socialismo.

6) Insuficiência teoria do socialismo. A importante teoria de Mao sobre ahegemonia proletária foi formada muito tarde. Ela não serviu como a baseteórica principal para os países socialistas tradicionais. Esse é o fator que maiscontribuiu com o fracasso do socialismo tradicional. Mao pensou que osocialismo seria um longo processo, no qual sempre haveriam classes e luta declasses, haveria duas frentes de luta e haveria riscos de restauração capitalista.Teria de se lidar com o risco com uma revolução contínua sob a hegemonia

proletária. Essa teoria enriqueceu enormemente o marxismo e é a teoria dosocialismo de mais alto nível. Ela será a estrela guia do renascimento dosocialismo.

Fator 8: Problemas com o sistema socialista em si

Houveram muitos problemas. Mas existem sobretudo dois.

1) O direito burguês foi afirmado, de modo que existiam produção demercadoria e diferenças salariais. A propriedade privada dos meio desubsistência ficou intacta e, sobretudo, construiu um sistema de privilégio parao partido e os dirigentes do governo.

O socialismo tradicional tinha sido um movimento liderado por um partidoproletário. Antes de tomar o poder, o partido comunista e o povocompartilhavam o mesmo interesse e o partido era apoiado pelo povo. Depoisde tomar o poder, com um novo sistema de privilégio, o interesse daslideranças do partido se divorciou, aos poucos, dos interesses do povo. Issolevou ao crescimento de uma relação antagônica entre a liderança do partido e

o povo. Tornou-se natural que as pessoas abandonassem esses parasitas e os

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odiassem ainda mais do que odiavam os capitalistas. Então, quando oscapitalistas chegaram, as pessoas escolheram os capitalistas. Claro que,eventualmente, a classe privilegiada emergeria com a classe capitalista econstruiria um sistema capitalista. Então, o despertar do povo veio tarde demais.

2) O sistema político tinha um caráter feudal

Os países socialistas tradicionais não foram capazes de construir um sistemamaduro de democracia popular ou centralismo democrático. Isso tem umcontexto histórico. De um lado, tanto a União Soviética quanto a China tinhamuma base feudal. A China tinha acabado de emergir do semi-feudalismo e semi-colonialismo. Por outro lado, muitas das atividades revolucionárias eramclandestinas, organizadas de uma forma centralizada sob circunstâncias

excepcionais, antes dos comunistas chegarem ao poder. Mas depois de chegarao poder, a forma centralizada não foi abandonada, mas institucionalmentefortalecida. A consequência é que o destino do socialismo se tornouimprevisível. Os membros da base do partido e as massas não tinham umaalavanca nas suas mãos. Se as lideranças da cúpula do partido fossem boas, osocialismo ia bem, mas se as lideranças fossem más, então tudo mudava.

Mao Zedong descobriu esse problema. De um lado, ele começou a restringir odireito burguês, por outro, ele encorajou novas formas de expressões e debatesdemocráticos, bem como de governança democrática que envolvia a

participação das pessoas. Ele tentou resolver o problema da falta dedemocracia. Mas isso foi interrompido quando a Revolução Cultural falhou.

Fator 9: Erros políticos nos países socialistas

Todos os países socialistas cometeram alguns equívocos políticos. Alguns foramcomuns a todos os países socialistas. Um dos equívocos foi o de confundircontradições antagônicas com contradições não antagônicas em meio ao povo.A consequência foi o exagero das contradições antagônicas e o tratamento decamaradas com visões dissidentes como inimigos. Isso feriu muita gente e criouentre algumas pessoas uma tendência a serem contrários à revolução.

Equívocos políticos levaram a muitos fracassos do socialismo e contribuíram proseu falecimento, sendo associados com a falta de democracia política.

Fator 10: Os fatores sociais no fracasso do socialismo tradicional

O socialismo tradicional não era de natureza pura e simples. Ele continhainstituição política feudal, propriedade pública socialista, economia planificada,

direito burguês, coexistência de diferentes ideologias. Era complexo e misto.

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Sua corrente principal era socialista, mas não completamente socialista. Para sermais preciso, deveria ser chamado de socialismo feudal. Enquanto a economiaera socialista, existiam hierarquia e privilégio na distribuição. Contradiçõessociais interagiram umas com as outras e criaram incertezas. Portanto, não ésurpresa ver a restauração do capitalismo. O fracasso do socialismo tradicionalnão pode ser tido como o fracasso do socialismo, mas sim o de um socialismodoentio e deficiente. O movimento comunista internacional não morreu. Ele iráganhar nova vida e um escopo mais amplo e triunfará.

Para que a China tenha um futuro real, terá de praticar o socialismo real, ouseja, o novo socialismo. E o novo socialismo deve refletir seriamente sobre ofracasso do socialismo tradicional.

III. Sobre a categoria de Novo Socialismo

Escrevi dez teses sobre o novo socialismo. Meu novo socialismo é tanto contrao capitalismo, quanto contra o velho socialismo. Ele propõe o novo socialismomaoísta. Mesmo entre os camaradas que apóiam o novo socialismo, hádiferentes opiniões sobre como definir a categoria de novo socialismo. Então,isso precisa de mais discussões no futuro.

Entre os dez ensaios sobre o novo socialismo, vamos apresentar somente umaqui.

O Quinto Ensaio sobre “as políticas do novo socialismo” argumenta que entreos vários problemas enfrentados pelos países socialistas, o fundamental é a faltade democracia política. Portanto, a democratização das instituições políticas nosocialismo tem de ser a questão mais importante. Baseado no pensamento deMao sobre a grande democracia, que foi formulado nos seus últimos anos,penso que o novo socialismo precisa de democracia política e de propriedadepública do poder político. Como a democracia socialista é baseada dapropriedade pública dos meios de produção, sua administração tem de serescolhida e aprovada pelo povo.

O conteúdo mais importante no modelo político do novo socialismo são asorganizações de massa e sua autonomia política. Todos os níveis de governodeveriam ter delegados de massa. Todas as instituições sociais tem de organizaras massas. Sem organização, as massas não têm força e não podem se tornar onúcleo da política. As políticas do Partido deveriam ser enfraquecidas, abrindocaminho para a política da classe e da massa. Ou seja, as massas deveriam ser oator central na política.

Algumas pessoas dizem que eu sou anti-marxista. Isso é correto e incorreto.

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Correto, pois eu não economizo esforços em criticar as insuficiências domarxismo. Incorreto, porque eu não nego o marxismo, e sim basicamenteafirmo marxismo. Por exemplo, Marx possui alguns determinismos que sãocorretos. Eu sou contra determinismos unidimensionais. Não sou contra o pontode vista de Marx e sua teoria da mais-valia, da revolução e da ditaduraproletárias.

Marx não disse que haveria exceções à regra geral de que a vitória comunistaseria alcançada em países capitalistas avançados, sendo que a exceção foi que avitória pôde ser realizada em somente um país, e este era pobre. Mas Lenincompletou esse tarefa. Quando digo insuficiências marxistas, é a uma desse tipoa que me refiro.

Para concluir, há muitos indícios de que o marxismo está experimentando umamorte e um renascimento sem precedentes. Nós devemos claramenteabandonar as suas insuficiências e desenvolvê-las. Do contrário, o marxismoperderá sua vitalidade e não poderemos cumprir com a integração e inovaçãoteóricas exigidas pelo novo movimento comunista.

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Plenaria 4. O que é construir o Projeto SocialistaHoje

Jesus Arboleia – Cuba

PARTICULARIDADES DO SOCIALISMO CUBANO

República de Cuba (1902): Primeira Neocolônia do Mundo

Diferenças entre o Colonialismo e o Neocolonialismo - Papel da BurguesiaNativa:

  Colonialismo: representante da nação frente ao poder estrangeiro (As

revoluções Anticoloniais foram dirigidas pelas burguesias nativas)  Neocolonialismo: representante do poder estrangeiro dentro da nação,

em função do controle político (As revoluções anti-neocoloniais foramcontra as burguesias nativas)

A Dominação Imperialista no século XX não transitou para a Colônia, comopensava Lenin, mas sim para o Neocolonialismo.

Cuba (1959): Primeira Revolução Anti-neocolonial vitoriosa da história

  Determina a sua especificidade e explica sua conotação internacional  Ocorre precisamente quando os EUA estão estendendo o Modelo

Neocolonial para todo o Terceiro Mundo (Kennedy).  Ameaça o Sistema Imperialista pelo seu exemplo e trajetória

A partir da Prática:  Principal contribuição cubana para a experiência revolucionária

contemporânea.  Escassamente estudada pela Teoria Revolucionária e pelo Marxismo em

particular.  Conflito que caracteriza internamente os processos revolucionários

atuais.

Origem do Socialismo Cubano

  Chega ao Poder via luta armada  Forças Revolucionárias heterogêneas  Não se definem como comunistas nem propõe um Programa Socialista  Não existe uma base material que o sustente (Necessidade do

Desenvolvimento, não sua consequência)

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  Não existe um projeto teórico de desenvolvimento socialista para oterceiro mundo

  Tem vases teóricas marxistas muito precárias, tanto na escala nacionalquanto internacional

  Socialismo é percebido como um Projeto de justiça social baseado norespaldo popular (capacidade convocatória de Fidel Castro)

Base Ideológica é a recuperação do Pensamento nacionalista Martiano.Estados Unidos definem os grupos em conflito desde a Revolução de 1930Estados Unidos é o inimigo principal

Deve se empreender nas piores condições:  Base econômica absolutamente dependente do mercado norte-

americano  Grande ignorância cultural e técnica, agudizada pela emigração dos

setores mais preparados (estatização da economia)

Política dos Estados Unidos = destruir a revolução  Asfixia econômica  Isolamento Internacional  Desestabilização interna através da contrarrevolução  Criar condições para a intervenção militar direta

A defesa passa a ser o principal objetivo da revolução:  Consome boa parte dos recursos econômicos e humanos (milícias

nacionais revolucionárias)  Estabelece as regras do debate político e o funcionamento da

democracia  Unidade como requisito de resistência

Integração ao campo socialista  Razões de segurança nacional  Acesso a um segmento do mercado internacional  Apoio econômico para o desenvolvimento  Coincidência ideológica e política frente ao imperialismo

Consequências positivas para Cuba  Melhora da situação econômica  Se institucionaliza o país (órgãos do poder popular)  Se cria o Partido Comunista (processo de unidade)  Garante aspectos vitais para a defesa  Limita o isolamento internacional 

Se estabelecem bases legais do Socialismo (Constituição de 1976)

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Consequências negativas para Cuba  Insere Cuba no contexto da Guerra Fria a partir de uma perspectiva do

terceiro mundo (Excluída da coexistência pacífica)  Contradições com outras forças de esquerda (pró-chineses e trotskistas)  Internacionalismo Cubano = Contradições com a URSS, outros países

socialistas europeus e partidos comunistas pró-soviéticos  Influência do Modelo Econômico e Político Soviético no desenho estatal

cubano (burocratismo)  Influência da Teoria Soviética na Concepção do Socialismo (contradições

ideológicas internas e com outros setores marxistas estrangeiros)  Dependência Econômica em relação ao campo socialista

Cuba não foi um satélite da URSS, mas sim uma influência revolucionáriaterceiro-mundista dentro do campo socialista.

Ainda que Cuba tenha desenvolvido experiências novas no que diz respeitoao papel das massas na construção socialista (Che e Fidel), isto não setraduziu em um corpo teórico coerente.

Ruína do campo socialista:  Ante a perestroika, Fidel alertou sobre a desfuncionalidade do sistema

soviético (“Retificação de erros e Tendências Negativas) e alertou sobre

sua possível implosão.  Maior crise econômica da história cubana.  Necessidade de incorporar-se ao mercado internacional capitalista, sem

renunciar às conquistas essenciais do socialismo  Não foi um modelo de desenvolvimento socialista, mas sim um plano de

resistência e sobrevivência, baseado nas virtudes equitativas dosocialismo e da consciência nacional-

Consequências do chamado período especial  Foi uma vitória da resistência, baseado exclusivamente na unidade e na

consciência revolucionária.  Demonstrou a capacidade distributiva do socialismo para sobreviver e

garantir apoio popular nas piores condições.  Emergência de vícios e deformações, antes superadas pela sociedade

socialista (desigualdades não geradas pelo trabalho, prostituição ecorrupção)

  Aumentou o individualismo (Deterioração da consciência socialista)

Como se concebe o socialismo em Cuba atualmente?

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  Se coloca a economia no centro da Batalha Política (“SocialismoSustentável”)

  Se conserva a propriedade estatal dos meios fundamentais de produçãoe dos bens nacionais.

  Se descentraliza e esclarece a função do estado na Economia.  A empresa e o planejamento estatal socialista continuarão prevalecendo

no modelo.  Se desenha um sistema econômico híbrido aonde se convive com a

pequena propriedade privada e com as cooperativas.  Propicia a inversão estrangeira sob controle estatal  Se revisa o funcionamento das empresas estatais buscando melhor

eficiência em sua gestão.  Se potencializa o desenvolvimento da ciência e da técnica na produção e

nos serviços especializados.  Se trabalha na informatização da sociedade.  Se mantém os programas de benefício social (educação, saúde pública e

assistência social).  Se revisam as bases do consenso social e aumentos os cenários do

debate político (nem sempre refletido pela imprensa oficial)

Virtudes desse Modelo  Rechaço ao Neoliberalismo e às terapias de choque  Proteção do cidadão e limite às desigualdades  Visão internacionalista que prioriza a integração com o terceiro mundo,

especialmente América Latina e Caribe

Principais Problemas

1. A base econômica ainda não é capaz de satisfazer as necessidades deconsumo e financiar o desenvolvimento.

-  O salário é insuficiente (insatisfação social, deterioração dos valorescívicos, tendência ao individualismo e corrupção de setores sociais)

-  O mercado de trabalho não é capaz de absorver em plenitude ocapital humano prodizido pelo país (emigração e nova políticamigratória).

-  A burocracia resiste às mudanças e os sistema de participaçãopopular ainda tem limitações.

2. A integração com a América Latina e o Caribe é complicada:-  Não se trata de economias complementares-  O entorno político é instável e heterogêneo-  O imperialismo não esgotou sua capacidade de reverter processos

progressistas

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Neste contexto é que o reestabelecimento de relações com os EstadosUnidos tem lugar

  Deve ser interpretado como uma vitória do povo cubano, dasolidariedade internacional e um rechaço do mundo.

  Reflete a falta de funcionalidade da política norte-americana para Cuba,como resultado relativo da queda relativa de sua hegemonia,especialmente na América Latina e no Caribe.

  Também reflete os problemas domésticos dos Estados Unidos(polarização política).

A partir da perspectiva norte-americana, se trata de uma mudança demétodos, mas não de seus objetivos de mudança do regime em Cuba.

Persistem problemas essenciais, como o bloqueio econômico e a promoção dasubversão interna, que impedem falar de normalização das relações.

Cuba nunca teve relações “normais” com os Estados Unidos e dificilmente

chegará a ter = contradições antagônicas sistêmicas.O novo status  não elimina estas contradições, nem garante sua solução, por issoé previsível que continuem se manifestando, tanto no plano bilateral como nocampo das relações internacionais.

Não obstante:

-  É um reconhecimento da legitimidade do regime cubano e dasoberania do país.

-  Amplia as possibilidades de Cuba de lidar com a política norte-americana e estabelecer um balanço mais positivo internamente nosEUA.

-  Facilita a inserção de Cuba no mercado mundial e suas relações comterceiros

-  É um respiro para a economia interna

Também aumenta as possibilidades de influência dos Estados Unidos emCuba, que constitui um desafio para o socialismo cubano

-  Esta influência esteve presente em toda a história cubana e não podeimpedir que se fizera uma revolução anti-imperialista.

-  Influencia negativamente em certos aspectos da cultura cubana atual,como o consumismo, mas também serve de antídoto para enfrentarsuas expressões mais antinacionalistas.

-  Com relações ou sem elas, a influencia norte-americana resulta serinevitável no contexto da globalização.

-  A revolução cubana não tem outra alternativa que enfrentar esta

realidade.

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O que é decisivo nesta confrontação entre capitalismo e socialismo emCuba, e continuará sendo, é conservar a essência popular desse processo.

-  Manter as vantagens concretas e o maior nível possível de igualdade.-  A construção dialética do consenso mediante o aperfeiçoamento da

democracia socialista.-  A sustentabilidade do modelo econômico e seu desenvolvimento.-  O desenvolvimento da consciência nacional e o aprofundamento da

teoria revolucionária.

As particularidades e os traumas implícitos no processo socialistas cubanogeraram solidariedade com as lutas do povo cubano, mas não a filiação aomodelo aplicado em Cuba.

Em parte, é consequência da ameaça imperialista e sua influencia na opiniãopública, mas também de nossos próprios erros práticos e limitaçõesdoutrinarias.

Apesar da influência política de pensadores revolucionários, como Fidel eChe, Cuba não tem sido uma referência teórica para o terceiro mundo:

-  Deficiências na formação sobre Marxismo e subestimação daimportância das ciências sociais.

-  Pouco acesso a fontes históricas estrangeiras.-  Escassa produção e difusão dos teóricos cubanos.

-  Desqualificação por parte dos Centros Acadêmicos e InformativosHegemônicos.

O modelo socialista cubano não se definiu por uma teoria, mas sim pelasdecisões práticas direcionadas para garantir um Projeto Popular e Patrióticocomo resposta à agressão imperialista (Revolução de contragolpe).

Isso se refletiu nas suas leis, na organização social e nos seus planos dedesenvolvimento, definindo um modelo a partir dessas premissas.

O socialismo foi assumido como uma resolução que não requeria maisexplicações e o modelo adotado como referência foi o “socialismo real”soviético.

Qualquer crítica a este modelo era localizada dentro do conceito de“revisionismo” e “falta de pureza do marxismo”. 

Hoje está em dúvida se é possível um modelo único de socialismo:-  Marx o concebeu como uma transição a um Estado social inexorável,

devido aos desenvolvimento das forças produtivas e suas

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contradições com as relações de produção capitalista (um produto dodesenvolvimento social).

-  Lenin falou da “construção do socialismo” e a doutrina marxista foiinterpretada a partir de um Projeto concreto (contribuições edeformações do marxismo).

-  Cuba se afiliou a esta concepção (o homem novo).

Segundo essa premissa não existe um modelo único de socialismo, e sim acondição de se ajustar ao momento e às condições concretas de cada país (oque importa é a tendência do processo).

Está por se demonstrar se o desenvolvimento da humanidade transita por umcaminho previsto por Marx rumo ao fim do capitalismo.

Fenômenos como a globalização do capital e a internalização das lutas contraisso, devem ser aprofundadas à luz dos princípios da doutrina marxista.

O terceiro mundo adquire uma dimensão neste processo que não pode seranalisada em toda a sua dimensão por Karl Marx.

VII Congresso do PCC (Abril de 2016)-  Revisão da realização das Linhas Econômicas aprovadas no VI

Congresso.

-  Plano de Desenvolvimento Econômico até o 2030.-  Revisão da Lei Eleitoral (Aperfeiçoamento da Democracia).-  Pela primeira vez, aprovará o “conceito teórico do socialismo em

Cuba”. -  Será um processo de consulta popular com toda a sociedade cubana.

Que deve responder:  À necessidade do processo de transformações econômicas e

política que vive a nação  À mudança do cenário que implica a relação com os Estados

Unidos.  À mudança geracional da direção do país em 2018  Às mudanças da situação internacional, especialmente no

processo de integração da América Latina e Caribe.

Sem dúvida será uma visão muito específica de Cuba, mas pode contribuircom a teoria revolucionária em geral e ao marxismo em particular.

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GT 4. Raça, Etnia, Territórios e Criminalização dasLutas Sociais

Aghsan Barghouti – UAWC / Palestina

O Racismo do Sionismo e a Criminalização da ResistênciaPalestina

A Palestina é o país que precisa de uma longa explicação para ajudar o públicoa reconhecer de que país estamos falando. A Palestina foi ocupada por muitasnações até o colonialismo sionista, que considerou um modelo superior docolonialismo ocidental.

A essência do sionismo é confiscar as terras palestinas, obliterar sua história eidentidade nacional, e substituir a Palestina por Israel. Assim, eles se aproveitamda ideologia colonial ocidental: o direito de sacrificar o outro.

Os britânicos, que mantiveram um mandato colonial na Palestina até maio de1948, impuseram a criação de um estado judeu na Palestina. As ganguessionistas cometeram uma série de massacres repreensíveis, mataram milharesde palestinos, destruíram cerca de 500 vilas, expulsaram 850 mil palestinos, querepresentam 61% da população palestina total e, finalmente, anunciaram a

criação do Estado de Israel sobre 54% das terras palestinas.

O estado colonial ocidental rapidamente reconheceu o novo estado com baseem considerações ideológicas e geopolíticas racistas, e para se livrar dos judeusna Europa também - sem mover um cílio sobre os massacres sionistas contrapalestinos desarmados.

Desde 1947, Israel não parou com sua política sionista de limpeza étnica daPalestina, construindo instituições legislativas, políticas, judiciais e de segurança,militares, sociais, econômicas e culturais para atingir o argumento sionista "uma

terra sem povo para um povo sem uma terra ", ou melhor, substituir pessoaspor outras.

Israel está acima da lei internacional

Israel, desde a sua criação, tem se comportado como se fosse um país acima dalei internacional e não tem respeitado os princípios da Carta das Nações Unidas.Além disso, por razões geopolíticas, os estados ocidentais protegeram Israel dasua responsabilidade na violação dos direitos humanos, o que encorajou Israel a

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iniciar a guerra de 1967 e ocupar o resto da Palestina, Colinas de Golã na Síria,sul do Líbano e o deserto de Sinai no Egito.

No auge da vitória dos movimentos de libertação nacional na década desetenta do século passado e no âmbito de um mundo polar bilateral, aAssembleia Geral das Nações Unidas adotou a resolução 3379: o sionismo éuma forma de racismo e discriminação racial. A resolução conclamou todos ospaíses do mundo a resistir à ideologia sionista, que se constitui como umaameaça à paz e à segurança internacional.

Enquanto a luta africana foi bem sucedida em sua resistência ao sistema doapartheid na África do Sul, Israel tem sido capaz de revogar a determinação daResolução 3379 por meio da Resolução 46/86, que foi adotada em 16 de

dezembro 1991 como uma precondição para o processo de paz no OrienteMédio.

Em 1993, a OLP reconheceu o direito do Estado de Israel de existir em paz esegurança, sem reconhecer o direito do povo palestino de existir e alcançar asua independência e autodeterminação.

O Acordo de Oslo dividiu a Cisjordânia em três divisões: as áreas A, B e C. A áreaA está sob o controle palestino, a área B está sob o controle conjunto de Israel ePalestina, e a área C, que constitui 60% da Cisjordânia, esta sob o controle total

israelense, assim, Israel controlou os recursos naturais palestinos.

Aqueles que observam a realidade palestina atual vão verificar que a questãopalestina está excluída do processo de aplicação das leis e convençõesinternacionais, e vão perceber a cumplicidade global na ocupação Israelense esua incapacidade para forçar Israel a respeitar o direito internacional e pararcom suas práticas ilegais contra o povo palestino.

Desde 1948, a potência ocupante tem realizado a limpeza étnica dos palestinos,forçando o deslocamento da população palestina na área C para a construçãode novos assentamentos e a expansão dos assentamentos já existentes. Onúmero de colonos atingiu 650.000 na Cisjordânia e em Jerusalém, de acordocom Ministério de Assuntos Internos da ocupação.

Quem visita a Palestina hoje pode ver por si mesmo o sistema racista de Israel,incluindo o muro do apartheid de 720 km de comprimento que dividiu aCisjordânia em cantões, anexou os mais importantes poços de águassubterrâneas palestinos e impôs os assentamentos como um fato consumado.Também fez com que mais terras palestinas fossem confiscadas a fim de

construir novas estradas, com uma distância de mais de 1400 km, para ligar

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assentamentos específicos um com o outro. Além disso, 34 postos de controle epassagens de fronteira, que separaram o sul das áreas centrais e do norte daCisjordânia e isolaram Jerusalém, preveniram o acesso dos palestinos a essaárea.

Hoje, o regime israelense representa um caso de genocídio politico, “Politicídio”,que visa:1.  O contínuo desmantelamento das infraestruturas com base no argumento

de "eliminação de valores coletivos palestinos", especialmente os seusativistas de resistência popular e os detidos, que são a vanguarda da luta,levando à diminuição do povo palestino e o aumento do extermínio físico.

2.  O desmantelamento das infraestruturas e instituições econômicas, culturais eda sociedade civil palestinas, não completamente, mas de uma forma em

que permaneçam no caos.3.  A adaptação do desenvolvimento da informação e da comunicação paracriar um regime totalitário para controlar a vida palestina.

A criminalização da resistência palestina

A Carta das Nações Unidas e a declaração de princípios do direito internacional,no que diz respeito às relações e a cooperação entre os estados, enfocam odireito dos povos em lutar por sua autodeterminação e contra a dominaçãocolonial e estrangeira, bem como contra regimes racistas.

Israel ampliou seu controle militar sobre o território palestino em junho de1967, recusando-se a aplicar o direito internacional humanitário e as quatroConvenções de Genebra. 

Em 1967, Israel impôs mais de 1.700 ordens militares nos territórios palestinosocupados, visando atingir o controle total sobre a vida política, legislativa,econômica, cultural e educacional, além de criminalizar todas as formas de lutapalestina. O direito aqui é apenas uma ferramenta para atender aos objetivosdas instituições militares.

As campanhas de encarceramento formaram o coração da política sionista deobliteração da identidade nacional palestina e de paralisação da habilidade emlidar com o projeto sionista. As forças de ocupação estão recorrendo à políticade encarceramento por razões que não são de segurança, mas sim, como umaferramenta para destruir a infraestrutura social e política da sociedade palestina,a fim de perpetuar o seu controle sobre o povo palestino e seus recursos eimpedi-los de exercer seu direito à autodeterminação.

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Os dados mostram que as forças de ocupação detiveram mais de 800.000palestinos desde 1967, o que representa cerca de 40% da população total, dosquais 10.000 eram mulheres e 50.000 foram detidos sob ordens de detençãoadministrativa, sem acusação e sem julgamento.

A campanha de encarceramento perpetrada pela ocupação israelita foidirecionada à todos os setores da sociedade palestina, incluindo homens,mulheres, idosos, crianças, defensores dos direitos humanos, médicos,representantes eleitos, professores, acadêmicos, ativistas, jornalistas eestudantes.

A ocupação muitas vezes prendeu ativistas de resistência popular por meio dedetenção administrativa, um procedimento em que uma pessoa é privada da

sua liberdade por ordem do poder executivo, e não do judiciário, sem que odetido seja suspeito de ter cometido um delito de segurança. A QuartaConvenção de Genebra afirmou que a detenção administrativa é usada parafortalecer o controle sobre os palestinos, com as autoridades de ocupaçãorecorrendo a este método contra "civis", fingindo que eles representam umaverdadeira ameaça à segurança presente ou futura e isso deve ser por razõesimperativas como o artigo 78 afirma.

Durante anos, a ocupação israelense promulgou leis contra ativistas deresistência popular, incluindo a lei recentemente aprovada pelo Knesset

israelense, que estabeleceu uma punição de até 20 anos de prisão para quematirar pedras contra Israel, assim como a decisão do ministério públicoisraelense de emitir acusações contra centenas de palestinos acusados deincitamento por meio de mídias sociais. Todas essas ações são uma tentativa deerradicar e criminalizar a resistência palestina.

Mais do que isso, muitos dos ativistas palestinos são mortos por tropasisraelenses, como o que aconteceu hoje, em 27 de Julho de 2015, no campo derefugiados de Qalandiya, ao norte de Jerusalém, onde Muhammad Abu Latifa,de 18 anos, foi morto a tiros por forças israelenses em um crime hediondo,acrescentando mais um caso à série de execuções de campo levadas a cabopelas forças de ocupação israelenses.

Há cerca de 6.000 prisioneiros definhando nas prisões israelenses, dos quais 460sob a chamada detenção administrativa, incluindo 5 membros do ConselhoLegislativo, 26 mulheres, 162 crianças (21 delas entre 14 e 16 anos de idade),498 condenados à punição eterna, 458 condenados a mais de 20 anos , 15condenados a mais de 15 anos, 30 condenados a mais de 25 anos, e 30 naprisão antes do acordo de Oslo, de acordo com a Addameer, Associação para o

Suporte de Prisioneiros e Direitos Humanos.

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Plenaria 6. Desafios da Formação de QuadrosPolíticos da Classe Trabalhadora

Ranulfo Peloso – CEPIS / Brasil

Desafios da Formação de Quadros

Abertura

Um abraço a cada participante presente. A equipe do Cepis agradece o convitepara participar neste Seminário. O Cepis, criado em ’77, durante a ditaduramilitar, se define como um centro de formação política, no campo da Educação

Popular. Presta assessoria junto à legítimos processos de luta e organizaçãopopular de grupos que se dispõem a transformar, pela raiz, a estrutura do

capitalismo.  Contribui na qualificação de militantes e articulação de suaspráticas. Tem como horizonte a construção da ordem social socialista.

Este roteiro sobre “Desafios da Formação Política” reúne reflexões do Cepis eincorpora reflexões deste seminário sobre a crise que se abate sobre o mundo esobre o Movimento Popular. O roteiro reúne os desafios em forma de 5afirmações, exatamente para estimular o debate. Quem discute formação nãopode esperar respostas prontas. Ao contrário, sente-se desafiado buscar, certo

que fazer a pergunta certa já é metade da resposta  e que a humanidade nuncafez uma pergunta que não tenha sido capaz de respondê-la. 

1.  Primeira afirmação - Escola (ócio) Popular, se dá em um campo emdisputa Um militante não se ilude na euforia, nem se afunda no derrotismo. Sabeque, na luta de classe, deve ser sempre realista. Um camponês, um dia, dissena reunião:  “a luta pela causa da justiça vale, mesmo quando não se vê

resultados” . Ou seja, a luta pela vida independe da conjuntura, não pedepermissão –  vai continuar dentro, fora ou contra a institucionalidade. No

filme “Queimada” (Burn!), que retrata a luta do Haiti pela liberdade) o heróiafirma: “antes da consciência eu sabia como  , mas não sabia para onde;

agora, sei para onde ... o como eu invento ” . A primeira afirmação é - nãocabe ao militante da luta popular ter dúvida sobre as razões de suaesperança; por isso, cria espaços coletivos de ócio, tempo livre, tempo depensar (escola) para entender a realidade com a intenção de transformá-la .O encontro valeu por si mesmo. As nações que nos antecederam devemexultar com a promoção de Encontro como esse.

2.  Segunda afirmação - A formação, necessidade da luta pela vida 

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Só o entusiasmo e a força são insuficientes para vencer o poder do capital. Aclasse oprimida precisa descobrir as raízes da exploração; precisa juntar suaforça e seu pensamento para vencer a dominação e inventar respostas paraseus anseios. Sem formação, a luta mais feroz não passa da luta espontâneacontra os efeitos da exploração. Por isso, cada movimento precisa organizarum programa de formação como  processo permanente - bem além depalestras, jornadas e eventos –  que venha responder à demanda deformação de sua base social, militância, direção e formadores.

3.  Terceira Afirmação – Uma Concepção político-pedagógica de formação Formação não é remédio para todos os males; é mais que escolarização,cursos, aulas, leituras. As informações só se tornam conhecimento quandosão incorporadas no comportamento e na prática da militância – quem sabe

como fazer, mas ainda não fez, ainda não sabe . Formação política é “todoesforço de mobilização, organização e capacitação que preparam o povo

para o exercício do poder que necessariamente deve conquistar  (P. Freire). É,então, uma ferramenta de uma organização  popular que ajuda aelaborar e tornar comum uma estratégia de poder. Seu papel é traduzir,divulgar e recriar o conhecimento para elevar o nível de consciência declasse trabalhadora. Serve para qualificar militantes para a luta de classes,incorporar a massa como protagonista (e não massa de manobra), facilitar aassimilação dos conteúdos e comprometer cada participante com ametodologia participativa e a multiplicação criativa do aprendizado.

4.  A afirmação central – Os grandes Desafios da formação “Nossa marcha é um misto de sonho, ciência e arte” (adapt. de L.Tolstoi). Aluta popular pressupõe a vontade, mas é mais do que vontade. A formaçãoPopular precisa envolver todas as dimensões da pessoa: física, intelectual,sentimental, espiritualidade, ambiental. Requer fundamentaçãocientífico/teórica que permita apreender a realidade, o potencial  e ascarências do Movimento. Deve recorrer ao acúmulo histórico da práticasocial, de todo o povo, como fonte de inspiração  para o presente. Exigecriatividade para fazer propostas justas, em cada formação socioeconômica.

Os 3 aspectos, integrados e em tensão, exigem sintonia entre ointelectual orgânico que investiga o real, o político que formula projetos epropostas e os educadores que transformam as ideias em força materialcapaz de revolucionar o mundo. Mas, o campo popular só terá uma escolade formação política, se um núcleo, um grupo, um coletivo assumir para sia tarefa de encarar três grandes desafios:

a.  Elaboração teórica do conhecimento que afirme, reafirme, recrie... e,sobretudo, dê conta da realidade concreta; dê unidade de leitura eorientação para a prática; construa identidade da classe trabalhadora,

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diversificada e fragmentada. Na falta dessa base teórica, reina adiversidade e o ecletismo que dividem e imobilizam a esquerda. Valerecordar que “sem teoria revolucionária, não há movimento

revolucionário ” (Lenin). b.  Formulação de uma estratégia política criativa, em cada

organização capaz de responder às demandas da classe do trabalhonão pago  e, no meio do fogo cruzado da ofensiva do capital. Essaelaboração constitui um Projeto político, com metas concretas, amédio e a longo prazo. Mas, também sugere mediações, formasorganizativas (movimentos, instrumentos políticos, frentes populares),assim como programa unitário, princípios, modelo orgânico emetodologia de como trabalhar com o povo e incorporar a massacomo protagonista.

c. 

Qualificação de quadros políticos  ou dirigentes políticospreparados para o enfrentamento tático da luta de classes, hoje, ecapazes de pensar (projetar) o amanhã de nosso mundo e de nossautopia. Um quadro político qualificado tem ética, projeto, estratégia,organização, método e atua em qualquer conjuntura (de guerralatente ou aberta), sob quaisquer condições e em qualquer lugar.

i.  Existe quadro quando se crê na massa como a  força  dastransformações e o núcleo de direção como sua consciência;que o sonho da sociedade sem exploração não nasce espontaneamente; que a justa reação contra a injustiça se

torna apenas revolta se não é fermentada pelaintencionalidade do quadro político.

ii.  No descenso da luta, o quadro político fermenta a resistência,a partir da agitação (denúncia) a pretexto de qualquer formade exploração econômica e dominação político-ideológica efaz a propaganda (anúncio) de um modo de vida decente paraa classe trabalhadora e toda a sociedade.

iii.  É nos momentos de crise que se prepara a guerra e os quadrosdirigentes. Se os quadros estiverem metidos na luta concretade classes serão capazes de dirigir politicamente o momentodo ascenso da luta de massas porque se fizeram referências.

iv.  O quadro político é quem faz o trabalho de base – Mete seucorpo em uma base social real e, com ela,  resolve osproblemas do cotidiano, liga a luta imediata com a luta geral,descobre novos militantes e articula o passo individual com ospassos da multidão.

v.  Não existe formação popular fora dos processos de lutapopular –  é na luta que se prepara os quadros. Formaçãodescolada do movimento de massa é puro exercício de ficção

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acadêmica. Porque, afinal, o grande educador popular é oquadro dirigente, metido na luta concreta de classes.

5.  Quinta afirmação – Quem ousar lutar, ousar vencer Os revolucionários são radicais porque são ousados, não são aventureiros.Na crise, optam pela possibilidade do rompimento e não vendem seussonhos por migalhas ou por um prato de lentilhas . Empurram sempre maisos limites das reformas para conseguir mais tempo livre para viver. Quando

se quer pegar um gato, se deixa uma saída; se o gato fica sem saída,

improvisa , dizem os orientais. Hoje, o gato é a parte da classe trabalhadoraque está encurralada e sem perspectiva, sobretudo a juventudetrabalhadora. Na ordem social capitalista, não há lugar para ela . A juventudetem a linguagem contemporânea, a disposição da entrega, o dinamismo, a

coragem de encarar o risco e cortar raízes. Mas, como a fé revolucionárianão brota, vem pela convocação, é preciso apostar na nova geração para suasobrevivência, para a superação da crise, para a continuidade da luta, aconstrução da nova ordem social e a revolução socialista.

Enceramento – a mística do educador – homenagem a Antônio VIEIRA dosSantos 

Aprendemos que para recriar a vida, sempre; para despertar novas paixões; para

sintonizar o cotidiano com o sonho e fazer a parte fermentar o tod o… é preciso

entregar-se, com dedicação e ter esse jeito louco de amar o povo. Sem o vulcãodessa mística, não dá para educar, para viver, para vencer, para ser feliz…

Neste pensamento, recitamos o poema de Ho Chi Minh para homenagearAntônio Vieira dos Santos que faleceu há 10 dias, depois de ter entregue toda asua vida, na tarefa da Educação Popular.

Marco de estrada - Ho Chi Minh

Nem muito alto, nem muito largo,

Nem imperador, nem rei.Você é só um marco de estrada,

Que se ergue junto à rodovia.

As pessoas passam.

Você indica a direção certa,

E impede que elas se percam.

Você informa a distância

Que se precisa ainda percorrer.

Sua tarefa não é pequena

E toda gente lembrará sempre de você.

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Plenaria 6. Desafios da Formação de QuadrosPolíticos da Classe Trabalhadora

Ishrath Nisar – SAMVADA / India

Educação da Classe Trabalhadora: Questões, Desafios e Ideias

O que você quer dizer com classe trabalhadora no contexto indiano?

- “Classe trabalhadora” tem diferentes conotações em diferentes partes domundo, com algumas semelhanças e diferenças

- No contexto indiano, temos trabalhadores extremamente bem-pagos ,

que são considerados “profissionais” - As pessoas que consideramos serem da classe trabalhadora são aquelas

que estão no setor organizado, cujo trabalho é economicamentesubvalorizado e cujo emprego é inseguro e não é visto como importante

- Trabalhadores rurais e pequenos/marginais proprietários- Trabalhadores industriais/fabris- Trabalhadores do setor de serviços –  enfermeira, atendentes de call

centers , artesãos- Mais abaixo, estão:- catadores, empregados domésticos, garis, vendedores ambulantes,

comerciantes e aqueles que fazem trabalhadores braçais/motoristas

Classe é o único ângulo pelo qual se pode entender a classe trabalhadora?

Classe intersecciona com- Idade?- Gênero?- Casta?- Religião?- Etnia/Raça?- Região?

Garis enfrentam desvantagens relacionadas a- Casta- Gênero- Classe- Migração- Dignidade- Contratos laborais

- Idade

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Impacto de múltiplas desvantagens

Sobre indivíduos/juventude- Inferioridade- Lutas contínuas- Irrealista ou cínico- Medo- Comportamento autodestrutivo- Raiva- Vulnerabilidade ao machismo/terrorismo/fundamentalismo –  qualquer

coisa que prometa poder, identidade, enriquecimento rápido, heroísmo- Sendo instrumentalizado – não encontrando a própria voz ou agência

Sobre a sociedade- Cíclico – armadilha da desigualdade- Falta de mobilidade social- Alargamento das disparidades- Aumento da violência de gênero- Conflitos comunais- Polarização- Guetificação

Qual deve ser o propósito da educação da classe trabalhadora?

•  Subsistência/Sobrevivência ou mobilidade social?•  Cidadania… ou sociedade civil? •  Conscientização e libertação de ideologias opressoras ou conhecimento

que perpetua/aceita minha opressão?•  Novas masculinidades?•  Nova espiritualidade?•  Novos ideais de relacionamento?•  Consumidores? Ou seres humanos com práticas de vida responsáveis?•  Entrar em uma profissão ou influenciá-la?•  Líderes ou seguidores?•  Aprendizagem intelectual ou emoções e crescimento intelectual?•  Conclusão de curso OU aprendizagem e apoio contínuos?•  Indivíduos apenas ou sistemas de amparo através de grupos, associações

baseadas nas profissões?•  Carreiras ou empregos? Profissão ou vocação? Mercado de trabalho ou

necessidade social?

Educação questionadora?

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•  Socialização é uma forma de educação?•  Ir à escola/faculdade = conseguir uma educação?•  Posso ir à escola e mesmo assim ser não-educado?•  Posso desistir da escola e ainda ser “educado”? •  A educação acontece apenas dentro de instituições educacionais?•  A educação deve disciplinar mentes ou torná-las livres e críticas?•  A educação deve ser sobre reafirmar a tradição ou questioná-la de

maneira construtiva?•  Quem decide o que é conhecimento e o que não é conhecimento?

Ambedkar

• 

Desigualdade na sociedade são causadas por desigualdades na educação•  As comunidades excluídas tem direito à educação e através disso elas se

 juntarão ao “mainstream”

“As classes tem percebido que, no final, a educação é o maior benefício m aterial

pelo qual podem lutar. Nós podemos nos abster de benefícios materiais da

civilização, mas não podemos nos abster do nosso direito e das oportunidades

de extrair o resultado da mais alta educação, em toda sua extensão. Essa é a

importância dessa questão do ponto de vista das classes excluídas, que têm

percebido que sem educaç ão sua existência não está segura.”  

•  Por favor, note que Ambedkat via a educação como um direito, como umtipo de capital/ativo para crescimento e segurança.

•  O sistema educacional é a maior causa por trás da manutenção dosistema de castas e da desigualdade

•  O conteúdo da educação não é emancipatório – não desafia a sociedade•  Acesso à educação não é igualitário•  Classes baixas e mulheres devem ter acesso à educação•  Ele acreditava que a educação poderia criar uma sociedade igualitária•  Não deu muita ênfase ao conteúdo, processo de educação.

Ivan Illich – “Desescolarizando” a sociedade 1971 Inglaterra 

•  Ele reagiu ao sistema escolar na Inglaterra, onde escolas são geridas pelogoverno. Ele disse que educação de massa, compulsória e pública erauma indução a um modo de vida consumista, empacotado,institucionalizado e empobrecido. Escolas eram como fábricasproduzindo e consumidores, não seres humanos.

•  Ele disse que aprender não é resultado de ensinar

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•  Professores são meros mantenedores de certos rituais e exercendo opapel de pregadores

•  A educação não está questionando o mito do “progresso”, estáfortalecendo o mito do progresso ilimitado.

•  Escolas como um caso de instituições modernas que persuadem as

pessoas a trocarem suas vidas reais por substitutos empacotados –  éuma forma de colonização e produz novas elites

•  Ele até diz que “infância” foi construída como uma fase separada, em queo professor tem mais autoridade que crianças

•  Escolas não são geridas democraticamente e então não podem preparara comunidade para a democracia

•  Illich vê a educação como consumo de pacotes –  professor como merodistribuidor, entregando os pacotes desenhados por tecnocratas para os

alunos-consumidores. É dessa maneira uma formação em “consumodisciplinado” •  Educação deve ser afetuosa, amigavelmente humana, não manipulação

de massas

Recomendações de Illich

•  Illich vislumbra 3 tipos de redes de troca de aprendizagem: (i) entre umprofessor de habilidades e um aluno; (ii) entre as pessoas mesmas,engajadas em um discurso crítico; (iii) entre um mestre e um estudante.

•  Aprendizagem não-oficial de toda uma vida•  Desinstitucionalização de recursos•  Sem instituições especializadas para aprendizagem•  Aprendizagem não-hierárquica facilitada•  Esquemas de voucher   que possibilitam às pessoas selecionarem sua

própria educação ou aprendizagem facilitada•  O homem moderno pensa que a humanidade precisa de instituições para

sobreviver. Ele esquece que precisa mais da natureza e de outrosindivíduos.

Freire

•  Fomento de consciência crítica para humanização de indivíduos e dasociedade –  não fazê-lo torna-os culpados/coniventes com a opressão(FREYRE, 1970)

•  Desmistificar a realidade e transformá-la através de um entendimentoholístico e da reflexão crítica na existência e na relação entre indivíduo esociedade

•  Uma pedagogia libertadora é baseada numa inter-relação entre

realidade e consciência humana.

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•  O suprimento de metanecessidade pode ser fomentado através doreconhecimento and imposição da busca individual instintiva porverdade, beleza, etc… Riqueza experencial. As necessidades espirituais ou“metanecessidades” são metamotivação

•  A prática da pedagogia libertadora começa com a resolução da

contradição professor/estudante, pai/filho, através do diálogo•  Sentimentos são a fonte do conhecimento da humanidade de um

indivíduo. A capacidade humana de sentir é a base para a sociedadehumanizada.

•  A teoria de Dobrin coloca a libertação na agência do indivíduo (SidneyDorbin, 1999)

•  Freire alerta: “O educador ou a educadora progressista deve sempreestar em processo de mudança, reinventando-se continuamente e

reiventando o que significa ser democrático em seu contexto cultural ehistórico específico” (Freire, 1997, p. 308) 

Krishnamurthy

•  O propósito da educação é libertar a mente do pensamentocondicionado, estreito e desintegrado por ideias. Ir além do pensamentose faz necessário, uma vez que ideias, crenças, opiniões não são livres enão correspondem à verdade. O pensamento é finito.

•  A educação é para a mente e também para o coração•  Professores industrializam a mente e criam seres de segunda mão•  Ideias como o nacionalismo e a religião criam violência e ódio•  A educação não deve criar hindus ou muçulmanos, ricos ou pobres, mas

sim humanos compassivos, que conhecem a si mesmos e estão nocaminho da autodescoberta

•  Aprendizagem não é acumular fatos e conhecimento – é ver o que está aícom a mente aberta

•  Disciplina é contra a aprendizagem –  cria resistência e oposição. Aeducação deve estimular estudantes a entenderem a sua própriadesordem interna e sentirem Amor=a mente vigilante observa a simesma

•  A educação deve se dar sem medo, comparação e competição•  A ambição é algo inclemente, que cria autoengrandecimento e conflito – 

desejar sucesso torna uma pessoa egoísta e cruel, porque a mente nãoencontra limites buscando sua meta

•  A educação destrói a inteligência natural do corpo e dos sentidos•  A exposição à natureza, arte e música desenvolve todos os sentidos•  A educação não consiste em acumular títulos acadêmicos, empregos e

acomodar-se. Tem a ver com qualidade de vida e paz interior

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•  Seres humanos que são livres de preconceito, ansiedade, ambiçãopodem conformar um mundo em que a humanidade compartilharecursos

•  Você é o mundo – a transformação do mundo passa pela transformaçãodos indivíduos

A Contextualização na Sociedade Indiana Contemporânea exige oenfrentamento de múltiplas fontes e formas de opressão

•  O legado do Feudalismo na forma de pobreza, marginalização ealargamento das desigualdades

•  Novas equações de casta, expressões e formas da Exclusão Social•  Incremento do Fundamentalismo e desapropriação / terrorismo de

muçulmanos e minorias religiosas•  Patriarcado internalizado, subordinação de mulheres e violência

(especialmente sexual), em meio à alienação masculina e dificuldadescom a masculinidade

•  Homofobia institucional e intolerância com relação a transgêneros•  Nacionalismo cultural com a cultura sendo venerada e usada como

mecanismo para ofuscamento e silenciamento•  Machismo linguístico, violência contra migrantes / “outsiders”, beirando à

xenofobia•  Consumismo e meio ambiente•  Obsessão com o PIB, Industrialismo e destituição de proprietários e

artesãos. Falta de outros parâmetros para medir o progresso dasociedade

•  Hipernacionalismo / Estatismo e aspirações do Kashmir/NE•  Crianças e juventude como “ ainda não gente”

Quais são os pressupostos e visões do mundo que moldam a educação indianacom relação a isso tudo? Vamos olhar para cada uma das opressões: elas nãosão naturalizadas, justificadas, ofuscadas e até promovidas? Não é tarefa depedagogias críticas desconstruir esses pressupostos? E a pedagogia, não asconfronta?

Fundamentalismo crescente e rechaço/terrorização de Muçulmanos eminorias religiosas

- A educação produz exclusão?- A educação pode transformar a sociedade?- As experiências e emoções da exclusão encontram articulação e espaço?- Como alguém trabalha com a juventude muçulmana?

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- O Islã é o problema? Ou o fundamentalismo islâmico? Ou ofundamentalismo Hindu?

- O que seria a pedagogia da libertação para jovens muçulmanos?Libertação da alienação e do medo

- O que seria a pedagogia da libertação para jovens hindus radicais?Libertação do ódio e da superioridade? O que seria a pedagogia dalibertação para agnósticos, ateus?

Parte IIPedagogia da libertação no contexto da juventude na sociedadeindiana

Juventude: Triunfos, Transições e Tiranias•  Quem são juventude?•  Pressupostos/Percepções da juventude e das pessoas jovens?•  Conceitualizando Juventude•  Dilemas/Pressões/Conflitos que são integrais à juventude•  Jovens/Juventude na transformação social

Entendendo a Juventude•  12-15 puberdade•  15-24 como período de múltiplas transições•  25-30 menor turbulência•  Da escola/faculdade ao local de trabalho•  Da casa dos pais à construção de um novo lar•  De ser um criança de uma família a estar a frente de uma•  Tornar-se sexualmente ativo•  De conformidade a questionamento e formação de crenças•  Poder votar e ser cidadão

Dificuldades de Transição & Dilemas•  Dificuldades comuns para toda a juventude•

  Dificuldades relacionadas ao lugar social•  Dificuldades relacionadas a família/experiências da infância•  Formação da Personalidade•  Descobrindo a Sexualidade•  Negociando com percepções/expectativas da família, comunidade,

Estado e sociedade civil•  Repensando cultura, religião, etnia e identidade•  Explorando afiliações políticas

Lutas comuns de toda a juventude:

- Pressão do grupo: Amigos Vs Eu

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- Conflito Intergeracional: Pais Vs Eu- Quem sou eu?- O que estudar? Que carreira/profissão devo seguir?- Minha família Vs Eu- Devo explorar minha sexualidade e desejos sexuais ou fazer o que a

sociedade espera de mim?- Com quem casar?

A vida da juventude Dalit é diferente da vida da juventude Marwari ou da decastas mais altas da juventude?A juventude de um muçulmano pobre é a mesma que a de um menino hindupobre?As pressões sobre meninas jovens são diferentes das pressões que sofrem

rapazes?Jovens de Karnataka do Norte têm as mesmas oportunidades que os deKarnataka do Sul?A juventude Adivasis se sente alienada sem motivo?Por que um jovem agricultor está mais confuso que um jovem trabalhador deuma fábrica? Como um menino novo conta a sua família que é homossexual?Hierarquias múltiplas: Casta, Classe, Gênero, Sexualidade, Religião, Etnia,Ocupação, Região – Estrutura Vs Agência, Poder e Falta de Poder

Parte III

Pedagogia da Libertação Contextualizada: Abordagem Samvadae Resultados

Samvada é uma organização com mais de 25 anos que trabalha com jovenspara a construção de um mundo justo, sustentável e humano

CENTROS DE RECURSOS PARA JOVENS•  Arivu•  Sakhi•

  Signa•  Samvada

COLÉGIO COMUNITÁRIO DE BADUKU•  Centro para a juventude e justiça de gênero•  Centro para a juventude e o pluralismo•  Centro para a juventude e o desenvolvimento sustentável•  Centro para a juventude e inclusão social•  Centro para a promoção do trabalho de jovens•  E direitos da juventude

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Pedagogias da Libertação para a Juventude: objetivos e métodos Samvadaque têm evoluído por mais de duas décadas

Objetivos•  Conscientização dos jovens e tomada de conhecimento do lugar social e

de estruturas sociais•  Fomento do entendimento crítico da socialização e facilitação da

compreensão das hegemonias silenciosas, para que os jovens asquestionem, examinem mitos e redefinam relações entre Self  e sociedadecom autonomia e agência

•  Sensibilizar jovens ao sofrimento, raiva, medo e frustrações daqueles quesão oprimidos e excluídos

•  Construir capacidades, sistemas de suporte e formar aspirações que

transcendam inferioridades dos jovens, inculcadas em nome de castas,gênero, classe e hierarquias societais•  Mobilizar jovens lideranças e oferecer plataformas para articulação e

ação•  Facilitar a inclusão em profissões socialmente críticas e apoiar sua

 jornada da exclusão à transformação da profissão

Métodos- Oficinas Básicas de Self -Sociedade- Oficinas temáticas sobre Gênero, Sexualidade, Casta, Estilos de vida e

Pluralismo- Exposição a questões & lutas- Plano de Carreira & Oficinas de construção de aspirações- Campanhas lideradas por jovens- Formação em modos alternativos de sustento

Abordagem Samvada•  Sensibilização – reflexividade, entendimento do lugar social, localizando

o ‘outro’ humanizante •  Mobilização – uma habilidade de construir o entendimento para a ação,

de comunicar, de agência… construir pequenas comunidades de amor…unir-se

•  Apoio para jovens, proficiência em inglês e informática, mentoriaindividual, apoio em crises, apoio educacional

•  Preparação para o auto-sustento

Abordagem & Resultados

Nosso curso de Agricultura Sustentável é um exemplo de contextualização – 

reivindicando identidades indígenas e validando sistemas de conhecimento,

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transformando relações agricultura-mercado/agricultor-sociedade/agricultor-Estado, desafiando o feudalismo e o patriarcado e confrontando oindustrialismo e o neocolonialismo na agricultura

A Nota Vruti desconstrói aspirações socialmente construídas e ajuda jovens avislumbrarem e planejarem suas vidas em consonância com suas aptidõessociais e visões de sociedade

A Nota Pluralismo ajuda jovens a repensarem religiões e desmistificaremdogmas, ao contribuir para formas próprias de cultivo da espiritualidade eadesão ao pluralismo

O Curso de Jornalismo forma jornalistas com capacidades e ao mesmo tempo

socialmente comprometidos e críticos com relação ao papel dos meios decomunicação para a transformação social

Resultados no nível individual- Repensando a educação e aspirações profissionais- Reorientando estilos de vida- Construindo e renegociando relacionamentos- Redesenhando afiliações políticas- Você não pode esperar, como Stanely Cavell diz, pelas grandes e

perfeitas comunidades sem antes formar Pequenas comunidades de

amor

Impactando geografías: Transformando a sociedade através do trabalhocom jovens

- Sensibilizados e empoderados jovens em distritos e cidades taluk- Negociando & Redefinindo relacionamento com família e pares- Desafiando Hegemonias no colégio/comunidade/ hostel/local de

trabalho- Construindo e liderando plataformas vinculadas a iniciativas progressistas- Impactando a o cenário sociopolítico e cultural da cidade

Trabalhando com Jovens para Impactar Profissões Socialmente Críticas

Algumas das profissões socialmente críticas identificadas por Baduku:Jornalismo, Tutoria, Cuidado Infantil, Agricultura, Ecoturismo

- Jovens equipados com habilidades, perspectiva& Valores- Inclusão de jovens da comunidades excluídas em profissões socialmente

críticas- Negociando e influenciando práticas profissionais-

Desafiando e transformando discursos profissionais

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- Profissões Humanizadas com uma força de trabalho ética, diversa,contribuindo para a transformação social

Desafios e Potenciais- Juventude como recurso e lugar de mudança pessoal e societal- Necessidade de inovar, ser relevante para as aspirações da juventude e

para a sociedade, sem se tornar uma agência prestadora de serviços de jovens

- Falta de entendimento do trabalho da juventude –  complexidades epotencial - na sociedade civil - curso de trabalho juvenil

- Enraizando trabalho de jovens em teoria e mesmo assim sendo cético detudo

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Palestra de Encerramento

João Pedro Stédile – MST / Brasil

Nossos compromissos para o futuro

Chegamos aqui com muitas duvidas e perguntas. E poucas certezas. Nosso debate,motivação e intercambio de ideias nos ajudou muito a ter uma visão mais clara docaminho, e pelo menos começar acertar nas perguntas.

Não tenho a pretensão de fazer uma síntese. Cada um de nós, terá sua própriasíntese, sua própria conclusão com base na sua experiência e no que pode interagircom os demais companheiros e companheiras.

Todos aprendemos muito nesses quatro dias. Me atrevo então, por dever damissão, fazer um breve resumo, como uma opinião pessoal, do que podemosacumular, relacionados a três tópicos complementares: na teoria reflexiva; noscompromissos de nosso que-fazer e nas articulações internacionais.

I - REFLEXOES E DEBATES NO CAMPO DA ELABORAÇÃO TEORICA

1.  Precisamos aprofundar, mais além do que já debatemos sobre a natureza,amplitude e profundidade da crise internacional que está em curso.Compreender as contradições que ela provocará e tirar lições para asmudanças estruturais necessárias.

2.  Aprofundar o estudo e pesquisa sobre a gravidade das consequências dacrise sobre a classe trabalhadora e a população em geral, em todo mundo.E como aproveitar da crise, para provocar mudanças a favor da classetrabalhadora. Ou seja, como a classe trabalhadora deve se aproveitar dacrise do capital?

3.  Seguir acompanhando com atenção e profundidade os processos em cursoem alguns países emblemáticos, por toda sua experiência histórica detentativa de mudanças do modo de produção capitalista, como: Rússia,China, Vietnam, Cuba e mais recentemente o que ocorre na Venezuela,

Equador e Bolívia. Para podermos compreender os desafios, limites,dificuldades e as alternativas encontradas em cada povo.

4.  Afinal que socialismo queremos? Ainda que em cada pais, sociedade eterritório teremos experiências especificas determinadas pelas condiçõesobjetivas e subjetivas, da consciência do povo e da correlação de forças dasclasses, é certo também que há concepções, valores universais que devemorientar a nossa busca de um projeto socialista comum. Precisamos seguir autopia de construir sociedades justas, igualitárias, incorporando as novasrelações sociais, a cultura, a beleza, as artes e os esportes populares. Osocialismo deve ser uma sociedade muito bonita e prazerosa!

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5.  Já sabemos para onde ir, qual nosso destino. Como fazer para chegar lá?Não haverá respostas nem manuais. Cada povo deve ter a criatividade deinventar o caminho, de acordo com sua realidade. Todos os que copiaram,erraram! Sejam criativos, inventem o caminho para o futuro!

II - NOSSOS COMPROMISO DO QUE FAZER EM NOSSOS PROPRIOSMOVIMENTOS E ORGANIZAÇÕES.

1.  Priorizar o trabalho de formação política e ideológica, em todos os níveis,desde a massa, a base, a militância e os quadros. Todas as experiênciaspodem ser necessárias. A formação é um processo de práxis cotidiana epermanente. (E nos alegramos com o anuncio de diversas regiões comsuas iniciativas de escolas de quadros que vão aglutinar vários

movimentos).2.  Priorizar e utilizar todos os meios de comunicação de massa possíveis,para disputar a hegemonia das ideias da classe trabalhadora nasociedade como um todo. Por isso, precisamos atuar por dentro dosmeios de comunicação existentes, da burguesia. Atuar contra eles, paraderrota-los, e atuar por fora deles, construindo nossos próprios meiosde comunicação comprometidos com a classe e as mudanças sociais.Aproveitar os avanços tecnológicos da internet e o conhecimentocientifico da informática, para transforma-los em instrumentos da classe,na sua luta pela hegemonia na sociedade.

3.  A solidariedade é um valor e um principio de todos os que queremosconstruir um mundo melhor. Não pode ser pontual ou apenas parasituações conflitivas. Deve ser norteador de nossa pratica permanente,de indignar-se sempre, contra qualquer injustiça, contra qualquer pessoa,em qualquer parte do mundo!

4.  Nossa missão histórica como movimentos, e organizações é sempreORGANIZAR O POVO, para que ele ela tenha consciência de classe e lutepor mudanças.

5.  Priorizar o trabalho político organizativo com a Juventude. Somente a juventude pode fazer as mudanças que sonhamos, assim foi em todas as

experiências históricas.6.  Perseguir permanentemente a construção da unidade entre as forças

populares, das mais diferentes formas de organização que ostrabalhadores desenvolvem em cada pais. Sem a unidade nãoacumularemos força necessária para derrotar a classe dominante.

III - A NECESSIDADE DAS ARTICULAÇÕES INTERNACIONAIS

1.  Estimular todas as formas de intercâmbios bilaterais, entre todos osmovimentos e organizações, dos mais diferentes países. A troca de

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experiências nos permite encurtar caminhos. A constituição de Brigadasinternacionalistas se revelou historicamente um excelente método deformação de quadros.

2.  Contribuir com todas as energias possíveis para consolidar a articulaçãointernacional de movimentos populares de juventude. Adotar epropagandear o dia 8 de outubro (em homenagem ao Che Guevara)como dia internacional de luta da juventude. E contribuir para realizaçãono segundo semestre de 2016, do ENCONTRO MUNDIAL DEMOVIMENTOS POPULARES D AJUVENTUDE (ainda sem data e paisdefinido).

3.  Desenvolver a pratica de fazer circular todos nossos documentos eexperiências traduzindo para os diferentes idiomas.

4.  Construir em cada continente, espaços de articulação continental, que

reúnam todos os movimentos e forças populares. Já há indicativos dediversas assembleias continentais (África, América do Norte e AméricaLatina) durante 2016, e quem sabe possamos caminhar para realizar em2017, um ENCONTRO MUNDIAL DE MOVIMENTOS POPULARES, comoparte desse processo de acúmulo de forças coletivo a nível internacional.

5.  Seguir debatendo essas ideias, reflexões e propostas, com toda nossabase social, em nossos países – construindo espaços unitários - e a nívelde continentes. Usar mais a internet para o intercambio e debate dasideias entre nós.

Assim, poderemos superar alguns dilemas que o Capitalismo nos impõe, e nospróximos encontros possamos debater apenas as soluções coletivas..Para isso, lembrar-se sempre do poema de Ho Chi Min, que nos propõe asermos um marco, uma placa, no caminho povo, indicando a direção certa parao socialismo.

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II  –  CARTA FINAL

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Este é um tempo de crise. Sob a falsa promessa do progresso e dodesenvolvimento, o capitalismo se espalhou através de todos os continentes,como um vírus carregando miséria e exploração. A história do capital é ahistória da violência, da opressão, de submissão humana e ambiental acondição de consumo e mercadoria. É também a história de crises em que estesistema demonstrou a sua capacidade para transformar-se e reconstruir-se, paradesenvolver novas formas de exploração e acumulação, sustentado peladominação tecnológica e ideológica.

Nas décadas recentes, o capital assumiu sua configuração mais perversa edestrutiva. Sob a hegemonia do capital financeiro, a concentração de rendaacentuou-se assim como a desigualdade econômica entre classes, regiões epaíses. O Trabalho é desumanizado e se torna mais precarizado. Fugindo de

regiões empobrecidas pelas crises, milhões de migrantes em busca de trabalhosão alvos da superexploração, xenofobia e intolerância.

O Estado é propriedade e refém deste sistema que, ao mesmo tempo, é incapazde representar as demandas e ansiedades da maior parte da população. Asforças armadas imperialistas invadem nações, submetendo povos inteiros aosinteresses dos barões do mercado mundial, muitas vezes aliados com as eliteslocais. A democracia não rima com o capital. Quando julga necessário, aburguesia não pensa duas vezes em desrespeitar a vontade popular e derrubargovernos democraticamente eleitos. Enquanto os meios de comunicação

omitem qualquer possibilidade de resistência e criminalizam aqueles que nãose submetem a lógica do mercado sobre a vida. Eles expressam e transmitem osvalores de competição e individualidade.

Entre estas muitas crises, talvez a mais grave e perigosa delas seja a criseambiental. A Mãe-Terra é incapaz de sustentar por muito tempo a destruiçãosem limites de seus recursos naturais, que ocorre em um nível nunca imaginadona história da humanidade. A contaminação das águas, florestas, do ar e do solo–  causado pelo envenenamento do agronegócio, pela extração parasita dosrecursos naturais e a incessante emissão de gases tóxicos disparou uma bomba-relógio. Depois de extinguir inúmeras espécies e destruir de forma irreversíveldiversos ecossitemas, o Capital agora ameaça a própria existência humana.

São tempos de crises. Mas são tempos de esperança. Em todos momentos decrises, a classe trabalhadora construiu as plataformas e ferramentas necessáriaspara combater a exploração, a injustiça e a opressão. Reivindicamos estaexperiência histórica da classe trabalhadora e inspirados pelo projeto humanode emancipação, nos encontramos neste seminário para estudar, debater econfrontar os dilemas da humanidade. Não somos todos. Nós somos parte.

Parte dos trabalhadores, dos indignados e oprimidos. Somos parte de muitas

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ferramentas – partidos, sindicatos, movimentos, organizações. Somos de todosos genêros e todas etnias. Somos de muitos locais e nações, mas não temosfronteiras, porque nossa pátria é a humanidade.

O que nos une é o compromisso com o princípio que nenhuma propriedade oulucro pode estar acima da vida de qualquer ser humanos. E a convicação de queo Socialismo representa o mais profundo anseio da classe trabalhadora pelaemancipação humana.

Ainda há um longo caminho que precisamos caminhar para avançar para aconstrução das novas formas que o Socialismo deverá assumir neste século.Para construi-lo, é necessário que ele se transforme em mobilizações de massase em lutas diárias em todas as suas dimensões – na política, educação, relações

de gênero, a superação do patriarcado, em uma nova cultura, comunicação,repensando as noções de progresso e desenvolvimento baseados numa novarelação com a natureza, como nos ensina o conceito de “bem viver”. Por essarazão, é necessário superarmos a fragmentação, compreender as diferentesformas que a classe trabalhadora assume, respeitar e manter as ferramentas deluta e organização que construímos, mas ao mesmo tempo construir novasformas de organização e luta, onde todos participem e sintam-se presentes,respeitando a pluralidade e a diversidade, porque são elas que nos aproximam.Mais do que nunca, a alternativa entre “socialismo e barbárie” é atual. E uma vezmais é verdadeira e urgente a convicção: Trabalhadores e trabalhadoras do

mundo, uni-vos!

Guararema, Escola Nacional Florestan Fernandes, 31 de julho de 2015

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III  –  RELAÇÃO DEPARTICIPANTES

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INTERNACIONAIS - INGLES

PAÍS NOME ORGANIZAÇÃO CORREIO ELETRONICO

Canada Chandni Desai Students Against Israeli Apartheid [email protected]

Canada Dylani Shea York university [email protected] 

Canada Julian Theodore Ichim Hugo Chavez Peoples Defense Front [email protected] 

Canada Linda Tabar University of Toronto [email protected] 

Canada Raul Burbano Fronteras Comunes [email protected] 

China Lao Kin Chi Lingnan University [email protected] 

China Sit Tsui Rural Reconstruction Institute [email protected][email protected] 

China Yan Hairong Hong Kong Polytechnic University [email protected] 

Egypt Ahmad Shokr Bread and Freedom [email protected] 

Egypt Tarek Mahmoud Bread and Freedom [email protected] 

India Kiran Chandra Yarlagadda Swecha [email protected] 

Índia Ishrath Nisar Samvada [email protected] 

Índia Prabir Purkayasth [email protected] 

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Índia Sainath Palagummi People’s Archive of Rural India  [email protected] 

Índia Sanober Keshwaar Trade Union Solidarity Commettee [email protected] 

Jamaica Mark Figueroa University of West Indies [email protected] 

Kenya Firoze Manji Pan African Baraza [email protected] 

Madagascar Micheline Ravololonarisoa Collectif pour la defense des terres malgaches [email protected] 

Nigeria Baba Aye United Actions for Democracy [email protected] 

Pakistan Taimur Rahman Peoples Mazdoor Kissan Party [email protected] 

Palestina Aghsan Barghouthi UAWC [email protected] 

Palestine Awad Abdel Fatah The National Democratic Assembly [email protected] 

Palestine Jamal Jumma Stop the Wall [email protected] 

Palestine Mahmoud Ziadeh General Federation of Independent Unions [email protected] 

Palestine Nithya Nagarajan General Federation of Independent Unions [email protected] 

Palestine Nivin Rizq UPWC – Union of Palestinian WomenCommittees

[email protected] 

South Africa Brian Hotz AIDC [email protected]

South Africa Suraya Jawoodeen NUMSA [email protected] 

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South Africa Vusumzi Tyhallwa NUMSA [email protected] 

South Africa Irving Jim NUMSA [email protected] 

Spain Rafael Mayoral Podemos [email protected] 

Tunisia Ayman Aloui Parti des Patriotes Democtes Unifié [email protected] 

Tunisia Fathi Chamkhi Front Populaire [email protected] Turkey Abdullah Aysu Turkish Peasant Confederation (CIFTCI-SEN) [email protected] 

US Alex Main CEPR [email protected] 

US Antony White [email protected] 

US Carlos Marentes Border Agricultural Workers Project [email protected] 

US Jodie Evans CodePink [email protected] 

US Peter Kuhns ACCE [email protected] 

US Selena Zelaya Farmworkers Association of Florida [email protected] 

US Stephanie Waterbee UNITE HERE [email protected] Claudia de La Cruz Rebel Diaz [email protected] 

US Daniel Benjamin Hernandez Rebel Diaz [email protected] 

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US David Harvey City University of New York [email protected] 

US Glen Rutherford Black Agenda Report [email protected] 

US Gonzalo Francisco Venegas Rebel Diaz [email protected] 

US Mark Weisbrot Center for Economic and Policy Research [email protected] 

US Rodrigo Francisco Venegas-P. Rebel Diaz [email protected] 

Zambia Cosmas Musumali Rainbow Party [email protected] 

Zambia Fred Mmembe Post Newspapers Limited [email protected] 

Zimbabwe Elizabeth Mpofu Zimbabwe Small Holder Organic FarmersUnion

[email protected] 

LATINOAMERICANOS - ESPANHOL

PAÍS NOME ORGANIZAÇÃO CORREIO ELETRONICO

Argentina Carina Mara Lopez Monja Frente Popular Dario Santillán [email protected] 

Argentina Fernando R. Cardoso CTA [email protected] 

Argentina Juan Javier Balsa Universidade Nacional de Quilmes  [email protected] 

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Argentina Manuel Bertoldi Patria Grande [email protected] 

Argentina Martin Ogando Patria Grande [email protected] 

Argentina Silvana Broggi Patria Grande [email protected] 

Chile Felipe Andres Gajardo Briones Izquierda Libertaria [email protected] 

Chile Owana Herminia Madera Casa Bolivar [email protected] Colombia Carlos Eduardo Ramirez Jimenez Congreso de los Pueblos [email protected] 

Colombia Javier Aristobulo Calderon Marcha Partriotica [email protected] 

Colombia Julisa Pilar Ramos Quintero Congreso de los Pueblos [email protected] 

Colombia Luz Perly Cordoba Marcha Partriotica [email protected]

Costa Rica Rocio Alfaro Molina Movimento Alternativa de Izquierdas (MAIZ) [email protected] 

Costa Rica Wilman Matarrita Matarrita COMUM [email protected] 

Cuba Llanisca Lugo González Centro Martin Luther King [email protected] 

Cuba Mario Manuel Molina OSPAAAL [email protected] Cuba Rosario Rodriguez CTC [email protected] 

Cuba Jesus Arboleya [email protected] 

Ecuador Maria Clementina FENOCIN [email protected] 

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Ecuador Maria del Pilar Troya Fernandez [email protected] 

Ecuador Milton Rene Chamorro Bejarano Cooperativa San Juan Bosco de Quito [email protected] 

El Salvador Leonardo Peña Sanchez CONPHAS [email protected] 

El Salvador Vidalina Morales de Gamez ADES [email protected] 

Guatemala Amalia Asucena Lemus Solares Comite de Defensa de la Vida y la Paz de SanRafael Las Flores [email protected] 

Guatemala Carlos Wilfredo BarrientosAragón

CUC [email protected] 

Haiti Doudou Pierre Festile MPNKP [email protected]

Haiti Loudbery Plancher PAPDA

Honduras Elias Cruz Villatoro FNRP [email protected] 

Honduras Luis Alberto Mendéz Torres INEHSCO [email protected] 

Mexico Sílvia Ribeiro ETC Group [email protected] 

México Juan Melchor Roman Sección XVIII SNTE – CNTE Michoacán [email protected] 

México Marcos Tello Chávez Movimento de Liberación Nacional [email protected] 

México Ana Esther Ceceña Universidad Autonoma de Mexico [email protected] 

7/24/2019 Documento Sintese Dilemas da Humanidade

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Nicaragua Aleyda del Carmen Aragon Roa CNOR [email protected] 

Nicaragua Mariana Ixil Toscana Trujillo Escuela Francisco Morazan / ATC [email protected] 

Nicaragua Yolanda Areas Blas ATC [email protected] 

Panamá Eric Arnulfo Fernandez Conte UPC FRENADESO [email protected] 

Paraguay Perla Alvarez Britez CONAMURI [email protected] Paraguay Rosana Caballero Movimiento 15 de junio [email protected] 

Peru Bárbara Paloma Duarte La Junta [email protected] 

Peru Franklin Alberto Velarde Herz Protesta Juvenil “Pulpin”  [email protected] 

Peru Paulo César Beltrán Ponce Mov Perú Libre [email protected] 

Peru Ricardo Andrés Jimenez Ayala Capítulo Perú de ALBA Movimientos [email protected] 

Porto Rico Hilda Guerrero Comuna Caribe Grito De l@s Excluid@s [email protected] 

Porto Rico Roger P Dill Barea Boricua [email protected] 

Trinidad Ernesto Kesar Movement for Social Justice [email protected] Uruguay Myriam Elisabeth Centurión CNDAV [email protected] 

Uruguay Nicolás Ferreira Mateus CNDAV [email protected] 

Venezuela Edwin Jose Rodriguez Useche ASGDRe [email protected] 

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Venezuela Hernan Jose Vargas Perez Movimento Pobladoras y Pobladores [email protected] 

Venezuela Almircar Carbajal PSUV [email protected] 

BRASILEIROS – PORTUGUES

PAÍS NOME ORGANIZAÇÃO CORREIO ELETRONICO

Brasil Sérgio Amadeu Actantes [email protected] 

Brasil Ranulfo Peloso CEPIS [email protected] 

Brasil Cleber Buzzato CIMI – Conselho Indigenista Missionário [email protected]

BrasilEduardo Cardoso -

CMP - Central de Movimentos Populares doBrasil

[email protected]

Brasil Olívia Carolino Pires Consulta Popular [email protected]

Brasil Ricardo Gebrim Consulta Popular [email protected]

Brasil Irithelia Carvalho Ferreira ENFF - NE [email protected]

Brasil Gustavo Codas Fundação Perseu Abramo [email protected]

Brasil Gerson Luiz Castellano FUP - Federação Única dos Petroleiros [email protected]

Brasil José Maria Rangel FUP - Federação Única dos Petroleiros [email protected]

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Brasil Ricardo Saraiva “Big”  INTERSINDICAL [email protected]

Brasil Rodrigo Suñe Levante Popular da Juventude [email protected]

BrasilMárcio Zonta

MAM – Movimento pela Soberania Frente àMineração

[email protected]

Brasil Tabata Neves MCP – Movimento Camponês Popular [email protected]

Brasil Noeli Taborda MMC – Movimento de Mulheres Camponesas [email protected]

Brasil Maria Fernanda Marcelino MMM - Marcha Mundial da Mulheres [email protected]

Brasil Marcelo Leal Teles MPA – Movimento dos Pequenos Agricultores [email protected]

Brasil Milton Rondo MRE – Ministério das Relações Exteriores [email protected]

Brasil Rafael Vilas Boas MST - DF [email protected] 

Brasil Maria Cristina Vargas MST - GEA [email protected]

Brasil Maria Alcione Manthay MST – BA [email protected]

Brasil José Ricardo Basílio da Silva MST – CE [email protected]

Brasil Francisco Flávio Barbosa MST – CE [email protected]

Brasil Marcos Barato MST – DF [email protected]

Brasil Rosmeri Witcel MST – DF [email protected]

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Brasil Rosana Fernandes MST – ENFF [email protected]

Brasil Djacira Maria de Oliveira MST – ENFF [email protected]

Brasil Maria de Fátima Ribeiro MST – ES [email protected]

Brasil Alexandre Conceição MST – Escritório de Brasília [email protected] 

Brasil Joaquín Piñero MST – Escritório do Rio de Janeiro  [email protected] Brasil Débora Nunes MST – GEA [email protected]

Brasil Gilmar Mauro MST – GEA [email protected]

Brasil João Pedro Stédile MST – GEA [email protected]

Brasil Lúcia Marina MST – GEA [email protected]

Brasil Neuri Rosseto MST – GEA [email protected]

Brasil Valdir Misnerovicz MST – GO [email protected]

Brasil Miguel Stédile MST – ITERRA [email protected] 

Brasil José Jonas Borges MST - MA [email protected]

Brasil Zaira Sabry Azar MST – MA [email protected]

Brasil Enio Bohnenberger MST – MG [email protected]

Brasil Charles Trocate MST – PA [email protected]

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Brasil Simone Aparecida Rezende MST – PR [email protected]

Brasil Marcos Araújo MST – RJ [email protected]

Brasil Rosa Maria MST – RN [email protected]

Brasil Alex Sandro Possamai da Silva MST – RO [email protected]

Brasil Ernesto Puhl MST – SC [email protected] Rosivaldo dos Santos MST - SE [email protected]

Brasil Gislene dos Santos Reis MST – SE [email protected]

Brasil João Paulo Rodrigues MST – Secretaria Nacional [email protected]

Brasil Júlio Moreti MST – Setor de Cultura [email protected]

Brasil Geraldo Gasparin MST – Setor de Formação [email protected]

Brasil Delwek Matheus MST – SP [email protected]

BrasilIasmim Chéquer Cavalcanti

MTD - Movimento de trabalhadoras etrabalhadores por Direitos

[email protected]

Brasil Paulo Mansan PJR – Pastoral da Juventude Rural [email protected]

Brasil Gerwim Gustavo – PR Professor [email protected]

Brasil Marcelo Buzetto Professor Convidado [email protected]

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Brasil Dep. Federeal João Daniel –  PT – Partido dos Trabalhadores [email protected]

Brasil Célia Rocha de Lima Sindicato dos Metalúrgicos do ABC [email protected]

Brasil Rafael Marques Sindicato dos Metalúrgicos do ABC [email protected]

Brasil Patrícia Pereira SindiUTE -MG [email protected]

Brasil Ronaldo Melo Tought Works [email protected] Adelaide Gonçalvez UFC – Universidade Federal do Ceará [email protected]

Brasil Rejane Cleide UFT - Universidade Federal do Tocantis [email protected]

Brasil Wellington UNEAFRO [email protected]

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