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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” AVM FACULDADE INTEGRADA FINANÇAS CORPORATIVAS: TEORIA E PRÁTICA EMPRESARIAL NO BRASIL Por: Alexandre Franco da Veiga Orientador Prof. ª Aleksandra Sliwowska Rio de Janeiro 2016 DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEIDE DIREITO AUTORAL

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

FINANÇAS CORPORATIVAS:

TEORIA E PRÁTICA EMPRESARIAL NO BRASIL

Por: Alexandre Franco da Veiga

Orientador

Prof. ª Aleksandra Sliwowska

Rio de Janeiro

2016

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

FINANÇAS CORPORATIVAS:

TEORIA E PRÁTICA EMPRESARIAL NO BRASIL

Apresentação de monografia à AVM Faculdade Inte-

grada como requisito parcial para obtenção do grau

de especialista em Finanças e Gestão Corporativa.

Por: Alexandre Franco da Veiga

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AGRADECIMENTOS

Agradeço aos meus pais; a minha es-

posa; as minhas filhas; a minha profes-

sora e orientadora e aos demais Mes-

tres da casa, pelos conhecimentos

transmitidos.

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DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho primeiramente a

Deus, pois sem ele, nada seria possível

e não estaríamos aqui reunidos, desfru-

tando, juntos, destes momentos que

nos são tão importantes.

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RESUMO

Este trabalho aborda a importância atribuída a finanças corporativas, tendo em

vista a relação entre a teoria e a prática da geração de valor empresarial no

Brasil. O objetivo geral está centrado nos fundamentos teóricos e práticos das

finanças corporativas, apresentando conceitos e técnicas de análise utilizados

na gestão financeira das empresas, além de abordar questões acerca do ambi-

ente competitivo, regulatório e dos movimentos financeiros que envolvem as

empresas no Brasil. Os objetivos específicos buscam mostrar a simultânea

maximização da valorização da sociedade e a administração dos riscos finan-

ceiros das empresas brasileiras. A abordagem do problema está voltada a arti-

culação da moderna teoria de finanças com a realidade das empresas do Bra-

sil. O método utilizado na pesquisa foi analítico e bibliográfico, onde se consta-

tou que a partir dos princípios de governança corporativa e sustentabilidade,

desenvolve-se um conjunto de instrumentos e ferramentas de gestão financeira

de curto e longo prazo para apoiar o executivo no processo decisório.

Palavras-chave: Finanças Corporativas. Empresas. Gestão Financeira.

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METODOLOGIA

A metodologia a ser utilizada na elaboração deste trabalho concentra-se

no estudo de fontes bibliográficas, revistas especializadas no assunto, leitura

de artigos eletrônicos que abordam o tema e estudos acadêmicos que colabo-

raram com informações preciosas para a confecção deste trabalho.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO...................................................................................... 9 CAPÍTULO I INTRODUÇÃO ÀS FINANÇAS CORPORATIVAS.............................. 10 1.1 Finanças Corporativas e a Empresa............................................... 10 1.2 A Importância da Administração Financeira.................................... 12 1.3 Princípios Fundamentais das Finanças Corporativas...................... 14 1.3.1 O Princípio do Investimento......................................................... 14 1.3.2 O Princípio do Financiamento...................................................... 14 1.3.3 O Princípio do Dividendo.............................................................. 14 1.4 Evolução das Finanças Empresariais............................................. 15 1.4.1 Gestão Baseada em Valor........................................................... 16 1.4.2 Teoria do Mercado Eficiente.......................................................... 16 1.4.3 Teoria da Estrutura e Custo do Capital......................................... 17 1.4.4 Teoria do Portfólio........................................................................ 18 1.4.5 Modelo de Precificação de Ativos (CAPM)................................... 18 1.4.6 Teoria de Opções........................................................................ 18 1.4.7 Teoria de Agência....................................................................... 19 1.5 Decisões de Finanças Corporativas e Valor da Empresa............... 19 1.6 Administração Financeira e o Objetivo da Empresa no Brasil.......... 20 CAPÍTULO II GESTÃO DE FINANÇAS E RISCO CORPORATIVO........................... 23 2.1 Gestão de Finanças e suas Ações................................................... 23 2.2 Procedimentos Financeiros............................................................... 24 2.3 Planejamento Financeiro.................................................................... 25 2.3.1 Planos Financeiros a Longo Prazo................................................ 26 2.3.2 Planos Financeiros a Curto Prazo................................................. 27 2.4 Análise Financeira............................................................................. 27 2.4.1 Equilíbrio Econômico Financeiro..................................................... 28 2.4.2 Crescimento................................................................................... 29 2.4.3 Indicadores Econômicos................................................................ 29 2.5 Controle das Atividades Financeiras das Empresas......................... 30 2.5.1 Orçamento de Capital..................................................................... 30 2.5.2 Estrutura de Capital........................................................................ 30 2.5.3 Administração de Capital de Giro.................................................. 31 2.6 Conceituação de Risco...................................................................... 31 2.7 Principais Fatores de Risco Corporativo............................................ 32 2.7.1 Risco de Mercado.......................................................................... 33 2.7.2 Risco de Liquidez........................................................................... 34 2.7.3 Risco de Crédito............................................................................. 34 2.7.4 Risco Operacional.......................................................................... 35 2.7.5 Risco Legal..................................................................................... 37

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CAPÍTULO III GOVERNANÇA CORPORATIVA E SUSTENTABILIDADE NAS EMPRESAS BRASILEIRAS........................................................ 39 3.1 Origem da Governança Corporativa............................................... 39 3.2 Institucionalização da Governança................................................ 40 3.3 Princípios da Governança Corporativa.......................................... 41 3.3.1 Transparência............................................................................. 42 3.3.2 Equidade..................................................................................... 42 3.3.3 Prestação de Contas................................................................... 43 3.3.4 Responsabilidade Corporativa.................................................... 43 3.4 O Sistema de Governança Corporativa......................................... 44 3.5 Governança e Sustentabilidade..................................................... 45 3.6 Sustentabilidade Empresarial......................................................... 46 CONCLUSÃO............................................................................................ 49 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS......................................................... 51

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INTRODUÇÃO

O interesse pelo assunto em estudo decorre pela importância atribuída ao

tema finanças corporativas, tendo em vista a relação entre a teoria e a prática

da geração de valor empresarial no Brasil. As Finanças Corporati-

vas ou Finanças Societárias é a área responsável por tomar todas as decisões

financeiras no que se refere a um negócio, utilizando as ferramentas e análises

para tomar estas decisões. O objetivo principal da finança corporativa é poten-

cializar a valorização da empresa e, concomitantemente, administrar

os riscos financeiros presentes.

De forma geral, as finanças corporativas fazem parte da rotina, no con-

trole dos recursos para compras e aquisições, bem como no gerenciamento e

própria realidade da empresa, nas suas referentes áreas, seja na contabilidade,

produção, marketing e, particularmente na administração geral de nível estra-

tégico, operacional e gerencial em que se sustentam dados e informações fi-

nanceiras para a tomada de decisão no comando da empresa.

Neste estudo, estamos abordando toda a parte teórica das finanças cor-

porativas brasileiras e procurando meios práticos para se tomar as decisões

corretas para alavancar os resultados e o desenvolvimento dos negócios das

empresas.

Assim sendo, o primeiro capítulo trata respectivamente da parte introdu-

tória às Finanças Corporativas em seus questionamentos, importância, funda-

mentações, princípios e pilares, decisões financeiras, valoração da empresa,

abordagens no que diz respeito à gestão financeira e o objetivo maior da em-

presa brasileira.

O segundo capítulo mostra a Gestão de Finanças e o Risco Corporati-

vo em suas ações, procedimentos, planejamento, controle das atividades fi-

nanceiras das empresas e identificação dos principais fatores de risco.

Na seqüência, o terceiro capítulo retrata a Governança Corporativa e

Sustentabilidade nas Empresas Brasileiras, enfatizando sua importância para o

tema.

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CAPÍTULO I

Introdução às Finanças Corporativas

Para se tornar um bom administrador financeiro de uma empresa, é pre-

ciso conhecer minuciosamente os parâmetros das finanças empresariais, tam-

bém conhecida como corporate finance ou finanças corporativas. O que é a

administração financeira? Qual sua importância para as empresas? Quais os

princípios e pilares das finanças corporativas? Como são tomadas as decisões

financeiras? Qual o objetivo maior da administração financeira brasileira? A

resposta a essas e outras questões pertinentes, constitui a preocupação fun-

damental desse capítulo inicial, primordial ao estudo das finanças corporativas.

1.1 Finanças Corporativas e a Empresa

As finanças corporativas podem ser descritas como o estudo das deci-

sões que toda empresa tem de tomar, mas o que é uma empresa? Podemos

dizer que é uma atividade econômica exercida profissionalmente pelo empresá-

rio por meio da articulação dos fatores produtivos para a produção ou circula-

ção de bens ou de serviços.

Na prática as finanças corporativas integram em seu propósito os gran-

des progressos do mundo moderno. As técnicas de avaliação e conteúdo con-

ceitual assumiram um feitio bem mais extensivo, aumentando sua relevância

para as empresas. O administrador financeiro, em contrapartida, passou a ser

mais requerido, sendo distinguida uma imprescindibilidade de especialização e

atualização cada vez maiores.

A administração financeira corresponde aos esforços aplicados desig-

nando a formulação de um esquema que seja adequado à intensificação dos

retornos dos proprietários das ações ordinárias da empresa, ao mesmo tempo

em que possa fornecer a conservação de um processo de liquidez.

Essencialmente, podem-se entender a administração financeira como

área de conhecimento e subdividi-la em três grandes partes: mercado financei-

ro, finanças corporativas e finanças pessoais, conforme diagrama a seguir:

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Diagrama 1 - Administração Financeira e suas Subdivisões

Fonte: Assaf Neto, 2012, p.01

O segmento de mercado financeiro estuda os comportamentos dos

mercados, seus diferentes títulos e valores mobiliários negociados e as

intituições financeiras que atuam nesse segmento. Já a parte de finanças

corporativas estuda os processos e as tomadas de decisões nas empresas.

Enquanto as finanças pessoais vem ganhando grande importância com os

estudos dos investimentos e financiamentos das pessoas físicas, encontrando

alta relação com a área de mercado financeiro.

A crescente complexidade do mundo dos negócios determinou, ainda,

que o responsável pela área financeira desenvolvesse uma visão mais

integrativa da empresa e de seu relacionamento com o ambiente externo. O

conhecimento restrito às técnicas e os instrumentos tradicionais da

administração financeira já se mostram insuficientes no atual mundo dos

negócios, necessitando o executivo de maior sensibilidade relativa a outros

valores e informações estratégicos.

De acordo com ASSAF NETO (2012):

O gestor financeiro moderno deve possuir uma visão do todo da

empresa, destacando suas oportunidades, tanto internas como externas.

Deve ainda apresentar capacidade de bem interpretar os dados e infor-

mações e inferir, a partir deles, comportamentos e ações futuras. (p.02)

ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA

MERCADO FINANCEIRO

FINANÇAS CORPORATIVAS

FINANÇAS PESSOAIS

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O método de tomada de decisões transparece o âmago do conceito de

administração. Reconhecidamente administrar é decidir, e a continuidade de

qualquer negócio depende da qualidade das decisões tomadas por seu

administradores nos vários níves organizacionais. E essas decisões, por sua

vez, são tomadas com base em dados e informações viabilizados pelos

negócios, levantamentos do comportamento do mercado e do desempenho

interno da empresa.

Esse processo decisorial básico ao sucesso de toda empresa vem

assumindo complexidades e riscos cada vez maiores na economia brasileira.

Altas taxas de juros, carga tributária elevada, baixo volume de crédito de longo

prazo, intervenções nas regras de mercado da economia, comportamento das

taxas de inflação, desafios para o crescimento de nossa economia, entre outros

aspectos, vêm exigindo uma capacidade mais questionadora e analítica das

unidades decisórias.

1.2 A Importância da Administração Financeira

A administração financeira, também conhecida como gestão financeira é

um conjunto de procedimentos e ações administrativas que envolvem o

planejamento, a análise e o controle das atividades financeiras. É a disciplina

que trata dos assuntos relacionados à administração das finanças de empresas

e organizações. Trata-se de um ramo privativo à Administração. É o gestor de

finanças quem dirige e administra as finanças de uma empresa, (OLIVEIRA,

2005).

O objetivo da administração financeira é melhorar os resultados

apresentados pela empresa, aumentando a geração de lucro. No entanto, é

muito comum que as empresas deixem de realizar uma adeguada gestão

financeira. A falta de informações financeiras precisas para o controle e

planejamento financeiro, acarreta na falência até o quinto ano de existência da

maioria das pequenas empresas no Brasil.

A falta da administração financeira adequada pode causar os seguintes

problemas:

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• Não ter as informações corretas sobre saldo do caixa, valor dos

estoques das mercadorias, valor das contas a receber e das

contas a pagar, volume das despesas fixas e financeiras. Isso

ocorre porque não é feito o registro adequado das transações

realizadas;

• Não saber se a empresa está tendo lucro ou prejuízo, porque não

é elaborado o demonstrativo de resultados;

• Não calcular corretamente o preço de venda, porque não são

conhecidos seus custos e despesas;

• Não conhecer corretamente o volume e a origem dos

recebimentos, bem como o volume e o destino dos pagamentos,

porque não é elaborado um fluxo de caixa, um controle do

movimento diário do caixa;

• Não saber quanto os sócios retiram de pró-labore, porque não é

estabelecido um valor fixo para a remuneração dos sócios;

• Não saber administrar corretamente o capital de giro da empresa,

porque o ciclo financeiro de suas operações não é conhecido;

• Não fazer análise e planejamento financeiro da empresa, porque

não existe um sistema de informações gerenciais (fluxo de caixa,

demonstrativo de resultados e balanço patrimonial).

Como forma de prevenção o administrador financeiro deve conseguir

controlar, analisar, planejar e decidir de maneira mais assertiva possível, para

que sua organização seja mais competitiva no mercado. Precisará ter domínio

de mercado para analisar as melhoras propostas de crédito bem como as

melhores formas de investimento além de acompanhar os resultados

financeiros, implantando em tempo hábil as ações corretivas e propondo

sempre ações de melhoria.

Com uma administração financeira eficiente, a empresa terá informações

históricas e atuais sobre suas finanças e com isso, diante de uma mudança

repentina, o administrador poderá tomar decisões rápidas e seguras, mantendo

assim a organização estabilizada mesmo em momentos de crise. Esta

estabilidade trás confiança aos acionistas e atrai novos investidores, bem como

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facilita a tomada de crédito o que possibilita novos investimentos, garantindo

assim o crescimento da empresa.

1.3 Princípios Fundamentais das Finanças Corporativas

Toda disciplina tem seus princípios fundamentais. A disciplina das

finanças corporativas é construída sobre três princípios desta natureza que

denominamos o princípio do investimento, o princípio do financiamento e o

principio dos dividendos (Damodaran, 2004).

1.3.1 O Princípio do Investimento

O princípio do investimento coloca simplesmente que as empresas

devem investir em ativos somente quando esperam obter um retorno maior do

que um retorno mínimo aceitável. Esse retorno mínimo, que denominamos taxa

de corte, deve refletir se o dinheiro é obtido de dívida ou patrimônio líquido e

que retornos aqueles que investiram o dinheiro poderiam ter obtido em outro

lugar, em investimentos similares.

1.3.2 O princípio do Financiamento

O princípio do financiamento postula que o mix de dívida e patrimônio

líquido escolhido para financiar os investimentos deve maximizar o valor dos

investimentos feitos. No contexto da taxa de corte especificada no princípio do

investimento, escolher um mix de dívida e patrimônio líquido que minimize essa

taxa, permite que a empresa faça novos investimentos e aumente o valor de

investimentos existentes.

1.3.3 O Princípio do Dividendo

Algumas vezes as empresas não conseguem encontrar investimentos

que ofereçam o retorno mínimo exigido ou a taxa de corte. Se essa

insuficiência persiste, as empresas têm de devolver qualquer caixa que

gerarem para os proprietários.

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1.4 Evolução das Finanças Empresariais

As teorias de finanças vêm descrevendo ao longo do tempo um proces-

so consistente de evolução conceitual e técnica. O estudo de finanças vem-se

ajustando aos diversos momentos da economia e encontra seu maior desafio

atualmente, diante das evidências de fim da era industrial e surgimento de uma

era de informação e, mais adiante, de conhecimento.

As finanças apresentaram importantes evoluções teóricas e instrumen-

tais nos últimos anos de uma posição mais normativa, onde as decisões eram

tomadas sob o ponto de vista do administrador financeiro, em verdade através

de uma postura interna da empresa. As finanças passaram para uma postura

mais investigativa, mais questionadora, onde eram analisados os efeitos das

decisões financeiras sob o valor da empresa.

Até o final da década de 40 a visão de finanças estava restrita a capita-

ção de recursos e seu relacionamento com os fornecedores de fundos. A preo-

cupação básica eram as decisões de financiamento. No início da década de

1950, no entanto, a atuação de finanças tornou-se mais ampla, passando a

preocupar-se também com as aplicações de recursos, ou seja, com as deci-

sões de investimentos.

A postura atual das finanças é oferecer através de teorias positivas as

melhores explicações para as conseqüências de suas decisões. Para toda de-

cisão financeira é fundamental que se conheçam os aspectos principais que

afetam a decisão financeira que afetam o retorno esperado. Por exemplo, ao

decidir sobre as decisões de financiamento as teorias positivas modernas de-

vem oferecer condições ao administrador financeiro para avaliar como a estru-

tura de capital selecionada afeta o risco da empresa e conseqüentemente o

seu valor.

Assaf Neto (2012) informa que o estudo de finanças das empresas evo-

luiu bastante, exigindo do administrador a compreensão de um contesto maior

e mais complexo. São inseridos nessas exigências uma sofisticada avaliação

de riscos, novas formas de avaliação do mercado, gestão baseada em valor,

governança corporativa, fatores jurídicos, entre outros assuntos importantes.

Alguns dos mais importantes pilares das finanças corporativas construí-

dos principalmente, a partir da década de 1950, são os seguintes:

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• Gestão Baseada em Valor

• Teoria do Mercado Eficiente

• Teoria da Estrutura e Custo do Capital

• Teoria do Portfólio

• Modelo de Precificação de Ativos (CAPM)

• Teoria de Opções

• Teoria de Agência

1.4.1 Gestão Baseada em Valor

Foi construída a partir do objetivo da empresa de maximizar a riqueza

dos proprietários, dos acionistas. Em verdade a responsabilidade de gestão de

uma empresa é com seus acionistas e todas as suas decisões devem ser to-

madas no sentido de atender da forma mais eficiente possível os interesses de

seus proprietários.

A continuidade e o sucesso de um empreendimento para as finanças

são demonstrados pela sua capacidade de produzir um retorno acima do seu

custo de oportunidade e assim gerar um valor econômico aos acionistas. O

lucro genuíno é apurado, após serem descontados todos os custos e despe-

sas, inclusive o custo de oportunidade do capital. Existe lucro somente acima

do custo de oportunidade do capital próprio.

A gestão baseada em valor oferece um conjunto de modelos e instru-

mentos voltados à criação de valor econômico e riqueza aos investidores e

ações. Identificando direcionadores de valor, medidas de desempenho e estra-

tégias financeiras voltadas à maximização do retorno dos acionistas.

1.4.2 Teoria do Mercado Eficiente

A teoria do mercado eficiente de grande importância para o estudo de

finanças destaca que é impossível para um agente obter ganhos econômicos

no mercado a partir de investimentos orientados pelas informações disponíveis.

Se o mercado é eficiente, então o valor de um ativo representa o valor presente

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de um fluxo futuro esperado de benefícios de caixa. Em outras palavras, ele

está avaliado pelo seu valor justo.

Essa teoria propõe que os preços dos ativos devem refletir a informação

disponível, sendo formados no mercado pelo consenso geral dos investidores.

Assim um mercado eficiente, os investidores não devem gerar expectativas e

obterem retorno de suas aplicações acima dos padrões de mercado, ou seja,

lucro econômico com base nas informações disponíveis. Os investidores são

racionais, e o mercado é bastante sensível a esse fundamento de racionalida-

de.

1.4.3 Teoria da Estrutura e Custo de Capital

Trata da composição ótima das fontes de financiamento da empresa, ou

seja, aquela proporção que minimiza o custo do capital e maximiza ao mesmo

tempo seu valor econômico. A principal questão dessa teoria é se a escolha de

financiamento por endividamento, ou seja, capital de terceiros ou capital próprio

afeta efetivamente o custo total de capital da empresa.

A alavancagem ao mesmo tempo em que pode elevar o retorno dos aci-

onistas, promove um aumento do risco financeiro e em conseqüência do custo

de capital. O aumento dos lucros para os acionistas pode muitas vezes com-

pensar somente o risco adicional produzido pela alavancagem. Essa decisão

de estrutura de fontes de financiamento requer uma avaliação bem mais pro-

funda.

As teorias de estrutura de capital disponíveis na literatura, em especial,

as de Modigliani e Miller, trouxeram extensas aplicações paras as finanças cor-

porativas. O trabalho de Modigliani e Miller foi desenvolvido para as condições

de mercado perfeito e sinalizou o início de inúmeras pesquisas sobre as finan-

ças corporativas inseridas em mercados imperfeitos.

1.4.4 Teoria do Portfólio

Envolve a seleção de uma carteira eficiente definida como aquela que

oferece para um determinado nível de risco que o investidor esteja disposto a

assumir o maior retorno possível. As técnicas de portfólio apresentam grandes

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aplicações nas finanças corporativas. Onde as informações relevantes em de-

cisões de investimento são as taxas médias de retorno dos títulos e o risco

medido pelo desvio padrão e também a correlação verificada entre os ativos da

carteira. O modelo explica como a diversificação pode otimizar as carteiras de

investimentos. Essa teoria alterou bastante os padrões de tomadas de deci-

sões de investimentos.

1.4.5 Modelo de Precificação de Ativos (CAPM)

O principal modelo de precificação de ativos conhecido pela sigla CAPM

(Capital Asset Pricing Model), juntamente com a teoria do portfólio promoveu

enormes transformações em finanças. Sendo utilizado para determinar a taxa

de retorno justa de um ativo para um determinado nível de risco. É considerado

o mais importante modelo voltado a explicar a relação risco e retorno de um

ativo. Para o CAPM a taxa do retorno requerida é calculada pela taxa livre de

risco acrescida de uma compensação pelo risco. Esse prêmio pelo risco é co-

nhecido pelo coeficiente beta.

O modelo do CAPM surgiu de uma linha de pensamento iniciada pela

teoria de portfólio. Para o CAPM, o retorno do mais alto embute o maior risco e

o investidor precisa ser recompensado por essa incerteza.

O beta é uma medida de risco e exprime o retorno em excesso de um

ativo em relação ao retorno em excesso da carteira de mercado.

1.4.6 Teoria de Opções

Uma opção pode ser definida como um direito de um investidor em reali-

zar uma operação de compra ou venda baseada em condições previamente

definidas sem que tenha qualquer obrigação de concluir fisicamente o negócio.

O titular de uma opção decide se o seu direito será ou não exercido no venci-

mento do contrato.

As diversas oportunidades de investimento de uma empresa podem ser

tratadas também como opções, como por exemplo: O projeto de investimento

indica uma oportunidade de novo investimento no qual está implícita a opção

de postergar a locação do capital. A empresa tem o direito, porem não a obri-

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gação de realizar o projeto a um preço de exercício que equivale ao montante

do investimento inicial do projeto. Esta postergação do investimento se mantém

até que as condições de mercado e conjunturais se tornem mais favoráveis ao

projeto e também para que a empresa possa levantar informações dos fatores

que influenciam a decisão, procurando com isso reduzir o risco do investimen-

to. Dessa forma as decisões financeiras das empresas podem ser avaliadas

como se fossem opções reais oferecendo uma nova e importante abordagem

para as finanças corporativas.

1.4.7 Teoria de Agência

É considerada a principal contribuição formal para a governança corpo-

rativa. Esta teoria propõe que um agente ao procurar maximizar suas preferên-

cias pessoais nem sempre agira de maneira a atender aos interesses do prin-

cipal. As decisões são muitas vezes tomadas pelos agentes, visando atender

suas utilidades pessoais e não a maximização da riqueza dos acionistas, obje-

tivo básico das finanças corporativas.

A teoria de agência permite que se expliquem certos comportamentos

que ocorrem na vida das empresas. Sua origem decorre da separação da pro-

priedade e administração das empresas, estabelecendo mecanismos de moni-

toramento e incentivos voltados a garantir o alinhamento de interesse dos

stakeholders.

Assaf Neto (2012) classifica os stakehoders como as partes envolvidas

(interessadas, intervenientes) no ambiente da empresa, como acionistas, for-

necedores, empregados, credores, clientes, comunidade e governo. São partes

que de alguma forma, influenciam ou são influenciadas pelas decisões toma-

das pela empresa.

1.5 Decisões de Finanças Corporativas e Valor da Empresa

Se o objetivo das finanças corporativas é maximizar o valor das empre-

sas, segue que o valor das empresas tem de ser ligado a três decisões de fi-

nanças corporativas (decisões sobre investimento, financiamento e dividen-

dos). Mas afinal, o que determina o valor da empresa? Em um nível de análise,

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pode ser argumentado que o valor de um ativo é o que se pagou por ele. Os

contadores muitas vezes usam esta como sua medida de valor e a chamam de

valor contábil. Existem dois problemas com essa definição. O primeiro é que o

que se pagou por um ativo, especialmente se o ativo foi adquirido ou desenvol-

vido há bastante tempo, pode não refletir o que este ativo vale hoje em dia. O

segundo é que esta definição deixa passar quase inteiramente o valor que será

criado por investimentos futuros. O valor dos ativos de uma empresa e, por ex-

tensão, da própria empresa é determinado pelos fluxos de caixa. Essas expec-

tativas vão mudar de um dia para o outro à medida que surgem novas informa-

ções sobre a empresa e mudanças no ambiente macroeconômico. Essa medi-

da é chamada de valor de mercado.

Visto que a empresa é financiada com uma combinação de dívida e pa-

trimônio líquido, o valor do patrimônio líquido de uma empresa não será geral-

mente igual ao valor da empresa, exceto no caso em que uma empresa não

tenha dívida a pagar. Em geral, o valor do patrimônio líquido na empresa deve

ser o que resta após o valor de toda dívida a pagar ter sido descontado do va-

lor da empresa. Por extensão, o valor do patrimônio líquido de uma empresa

não pode exceder o valor da empresa.

O valor de uma empresa não é determinado apenas por meio de uma

avaliação de quão bem ela administra seus ativos existentes, mas também

quão bem investe em novos ativos. Investidores baseiam expectativas sobre o

futuro de uma empresa na qualidade dos projetos da empresa (suas decisões

sobre investimento) e no montante de suas receitas que ela reinveste (sua de-

cisão sobre dividendos). As decisões sobre financiamentos afetam o valor de

uma empresa por meio da taxa de corte. Esta forma de valor concisa é coloca-

da à prova pelas interações entre as decisões sobre investimento, financiamen-

to e dividendos, e os conflitos de interesses que surgem entre acionistas e cre-

dores por um lado, e acionistas e administradores por outro lado (Damodaran,

2004).

1.6 Administração Financeira e o Objetivo da Empresa no Brasil

A análise do objetivo da empresa nacional no contexto da administração

financeira consiste no processo de seleção das decisões financeiras. A

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empresa brasileira deve delinear seu objetivo a perseguir, de maneira que

essas decisões sejam tomadas segundo critério mais racional. A definição de

objetivo deve ainda permitir que as empresas nacionais possam avaliar os

vários resultados provenientes das decisões financeiras tomadas, o que não é

tarefa fácil, requerendo algumas reflexões diante de seu caráter controvertido e

muitas vezes, complexo. O propósito da empresa brasileira deve estar voltado

para a satisfação do retorno exigido por seus proprietários ou por algum

parâmetro de desempenho mais abrangente que incorpora o bem estar da

sociedade.

Assaf Neto (2012) explica que o objetivo da administração financeira é

mensurado a partir do valor que suas ações ordinárias alcançam no mercado,

refletindo em última análise, as expectativas dos acionistas com relação aos

resultados das decisões financeiras tomadas.

A origem de valor é o objetivo maior da administração financeira brasilei-

ra. O pensamento de gerar valor é focado no acionista. O objetivo é fazer com

que o rendimento dos investimentos das empresas nacionais seja melhor do

que a sua despesa de financiamento. Desta forma, a origem de valor ocorre

quando o retorno de seus ativos é maior que a despesa total de seus passivos

e patrimônio líquido. Todavia, um rendimento de investimento superior a des-

pesa de financiamento, sozinho, não indica geração de valor. A atual geração

de valor só ocorre quando os rendimentos superam a despesa de financiamen-

to e a despesa de oportunidade.

Gerar valor é uma incumbência do administrador financeiro brasileiro

que vêm sendo cada vez mais atribuída diante do mercado integrado e da dis-

puta implacável. A geração de valor requer atenção e cuidado redobrado na

compreensão e uso de modelos matemáticos de avaliação financeira. Efetiva-

mente, o administrador financeiro deve ser um especialista em Finanças e Con-

troladoria, pois as decisões financeiras que envolvem o levantamento e aplica-

ção de recursos requerem, atualmente, grande conhecimento e especialização,

além de uma visão total, planejada e simultânea com relação ao futuro da em-

presa no Brasil.

Perante a crescente dificuldade do mercado empresarial, o administra-

dor financeiro brasileiro não pode ficar reduzido apenas ao departamento fi-

nanceiro. As decisões financeiras devem levar em deferência totalmente a em-

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presa. No entanto, todas as ações empresariais devem ser avaliadas em ter-

mos econômicos e financeiros, pois o produto econômico e financeiro de uma

empresa é resultado de todas as decisões e ações empresariais.

Enfim, a administração financeira brasileira deve retratar uma atitude in-

dagadora sobre o desempenho do mercado em geral e também da empresa

para possibilitar a tomada de decisão empresarial assertiva. Essa postura facili-

ta o acréscimo de bases lógicas e completas dos fenômenos financeiros, o que

estende seu universo de atuação e relevância.

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CAPÍTULO II

GESTÃO DE FINANÇAS E RISCO CORPORATIVO

O principal objetivo de uma empresa é gerar valor e lucro aos seus acio-

nistas, mas isso é impossível de se conseguir sem uma boa gestão na área de

finanças. Para que o administrador financeiro possa efetivamente identificar,

priorizar e garantir uma gestão eficaz da exposição da organização aos diver-

sos riscos que podem afetar a sua empresa. Ele deve apresentar uma atitude

pró-ativa e apresentar bons conhecimentos sobre o assunto, determinar as

ações, procedimentos, planejamento, análise e ter um controle total das ativi-

dades financeiras para minimizar os riscos da corporação.

2.1 Gestão de Finanças e suas Ações

A gestão financeira se desenvolveu ao longo dos anos acompanhando

sempre a dinâmica do mercado e as novas regras legais do país. Ela trabalha

com vários estágios, de curto, médio e longo prazo, de forma preventiva, para

que as obrigações sejam cumpridas sem que isso gere impacto desnecessário

no planejamento e as metas sejam alcançadas dentro do possível.

Como um conjunto de ações e procedimentos administrativos que inclu-

em o planejamento, a análise e o controle das atividades financeiras da empre-

sa, sua finalidade é melhorar os resultados apresentados pela empresa e au-

mentar seu valor patrimonial, com geração de lucro líquido proveniente das

atividades operacionais.

Logo, a administração financeira exige uma visão geral da empresa, a

partir de registros contábeis bem elaborados, relatórios e demonstrações

transparentes, para se planejar ações e estabelecer metas.

A gestão financeira, bem estruturada, de uma empresa consiste nas se-

guintes ações:

• Indicadores financeiros bem definidos para as principais atividades dos pro-

cessos;

• Metas definidas para todos os indicadores financeiros;

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• Comunicação clara para todos os níveis da organização com relação às

metas de cada colaborador, área e empresa;

• Reuniões de resultados implantados, para analisar o desempenho dos indi-

cadores financeiros;

• Gatilhos de atuação definidos, em caso do indicador financeiro não atingir a

meta definida;

• Colaboradores preparados para atuar estruturadamente sobre os problemas

e na correção destes.

Desta maneira, o grupo de ações descritas, assumi o nome de sistemática

de gestão, que é a forma de avaliar se a empresa está atendendo aos seus

objetivos estratégicos, se as metas da empresa serão atingidas no final do pe-

ríodo, o que será feito para corrigir rumos e como será a comunicação para

toda a organização dos resultados e da correção de rumo.

2.2 Procedimentos Financeiros

A maioria das decisões empresariais são medidas em termos financeiros.

Todas as áreas da empresa: contabilidade, produção, marketing, recursos hu-

manos, pesquisas e outras necessitam interagir com a área de finanças apara

realizarem seu trabalho.

Principais Procedimentos que a empresa deve tomar em relação às fi-

nanças:

• Organizar os registros e conferir se todos os documentos estão sendo

devidamente controlados.

• Acompanhar as contas a pagar e a receber, montando um fluxo de pa-

gamentos e recebimentos.

• Controlar o movimento de caixa e os controles bancários.

• Classificar custos e despesas em fixos e variáveis.

• Definir a retirada dos sócios.

• Fazer previsão de vendas e fluxo de caixas.

• Acompanhar a evolução do patrimônio da empresa, conhecer lucrativi-

dade e rentabilidade.

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Assim sendo, o administrador financeiro deve realizar esses procedimen-

tos para obter uma boa gestão dos recursos financeiros da empresa. Cabe a

esse profissional estar preocupado com a obtenção, a análise e o controle dos

recursos financeiros, e dos resultados econômicos da empresa ou de uma de

suas atividades.

2.3 Planejamento Financeiro

Em um cenário econômico cheio de incertezas, crises econômicas e

grande concorrência, o planejamento financeiro mostra-se não somente como

uma ferramenta para a boa gerência, mas sim como algo necessário a sobrevi-

vência da empresa. De acordo com o conceito, planejar é traçar metas, elabo-

rar planos direcionados a peculiaridades do projeto que se almeja por em práti-

ca, e finanças significa dinheiro, riqueza, ciência da variação da moeda. Desta

forma, planejar as finanças da empresa é criar uma estratégia econômica, para

que se atinjam os objetivos que podem ser de curto ou longo prazo, da maneira

mais estruturada e precisa possível. Realizando este processo, a empresa ob-

tém o seu crescimento financeiro e estrutural planejado com maior facilidade e

auxilia a mesma a possuir sustentabilidade em seus empreendimentos.

Segundo Gitman (1997):

O planejamento financeiro é um aspecto importante para o funci-onamento e sustentação da empresa, pois fornece roteiros para dirigir, coordenar e controlar suas ações na consecução de seus objetivos. (p.589)

O planejamento é uma ferramenta administrativa, que possibilita perce-

ber a realidade, avaliar os caminhos, construir um referencial futuro, que orga-

niza e define as ações a serem utilizadas. Sendo, portanto, o lado racional da

ação. É uma maneira de antecipar (por suposições e/ou análises estatísticas)

os resultados esperados e a possibilidade de concretização dos mesmos. A

intenção do planejamento dentro de uma organização é buscar racionalmente o

melhor caminho para se chegar ao lugar esperado.

Para planejar é preciso partir da renda que se tem, e estabelecer as prio-

ridades em seu orçamento. Alguns passos devem ser seguidos: Liquide suas

dívidas, comece a poupar, monte uma reserva financeira, planeje o futuro, quite

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seu financiamento imobiliário, pense na família, continue poupando e aproveite

a vida (Herckert, 2000).

Dentro da estratégia financeira de uma empresa, o planejamento é fer-

ramenta de vital importância, uma vez que o caixa determina a sobrevivência

da empresa, e é através dele que se saberá se a empresa possui liquidez para

saudar seus compromissos ou se necessitará fazer financiamentos. O plane-

jamento financeiro evita surpresas e cria planos alternativos caso ocorram im-

previstos.

Quando as estimativas e previsões a respeito do futuro revelam que a

empresa não terá o resultado desejado por falta de recursos, cabe à mesma

adquirir outras fontes de recurso ou rever suas estimativas. No processo de

planejamento financeiro é necessário levar em conta as incertezas internas e

externas da empresa para que estas forças não afetem a mesma, uma vez que

não se pode considerar a administração financeira como uma área isolada.

Para isso, é necessário um vasto conhecimento do negócio, dentre os fatores

externos citam-se a situação geral da economia, taxas de inflação, taxas de

juros correntes e projetadas, aspectos tributários e aumento nos custos.

As empresas utilizam-se de planos financeiros para direcionar suas

ações com vistas a atingir seus objetivos imediatos e a longo prazo (Gitman,

1997).

Os planejamentos financeiros costumam ser iniciados focando o alcance

de objetivos em longo prazo e depois passam a visar os objetivos de curto pra-

zo. O planejamento a curto prazo é denominado operacional e o a longo prazo

estratégico.

2.3.1 Planos Financeiros a Longo Prazo

São ações elaboradas para objetivos previstos para um futuro distante,

compreendido geralmente num período de dois a dez anos. Por haver natural-

mente muitas mudanças ao longo destes períodos, estes planos são revisados

constantemente com o uso das informações atualizadas. Estes horizontes de

planejamento variam de empresa para empresa, pois quando se possui um

ciclo de produção curto e incertezas operacionais, estes horizontes de plane-

jamento são mais curtos.

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2.3.2 Planos Financeiros a Curto Prazo

Estas ações são planejadas para períodos mais curtos, geralmente de

um a dois anos, e são compostas na sua maioria por previsões de vendas e

dados operacionais e financeiros.

A partir das previsões de venda são desenvolvidos planos de produção

que consideram tanto o tempo necessário para converter a matéria prima em

produto acabado (lead time), como os tipos e quantidades de matérias-prima

exigidos (Gitman, 1997).

Desse modo, tendo como base esses planos, a empresa pode ainda es-

timar as necessidades de mão de obra direta, as despesas gerais de fabrica e

as despesas operacionais. Tendo preparado essas estimativas, pode-se prepa-

rar a demonstração do resultado e o orçamento de caixa projetado. Assim, com

os insumos básicos da demonstração do resultado projetado, o orçamento de

caixa, o plano de financiamento em longo prazo, o plano de investimento de

capital, e o balanço patrimonial do período corrente, o balanço projetado da

empresa pode ser finalmente desenvolvido.

2.4 Análise Financeira

A análise financeira através do monitoramento dos fatos e dos resulta-

dos, bem como, do planejamento de novos fatos e resultados deve tornar-se

uma ação gerencial estratégica constante das empresas. Devem ser analisa-

dos com grande destaque os seguintes pontos:

• Equilíbrio econômico e financeiro

• Crescimento

• Indicadores econômicos

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2.4.1 Equilíbrio Econômico e Financeiro

Primeiramente deve-se realizar um estudo sobre a viabilidade do negó-

cio através da análise da estabilidade e capacidade de geração de lucro, as

quais podem ser medidas através da análise dos seguintes desempenhos:

a) Faturamento periódico: Conhecer e monitorar as vendas diárias, conhe-

cendo o quê, quanto, por quanto e para quando é vendido;

b) Custos variáveis: conhecer quais são e quanto representam os custos que

estão diretamente associados ao volume de vendas, oriundo da revenda,

industrialização ou da prestação de serviços. Transformar ao máximo os

custos fixos em custos variáveis deve ser uma das grandes estratégias da

empresa;

c) Custos fixos: conhecer quais são e quanto representam os custos represen-

tados pelas contas de estrutura, ou seja, todos os custos para a manuten-

ção e/ou existência da empresa. O monitoramento do montante dos custos

fixos deve ser permanente, tanto quanto as ações para reduzi-los;

d) Margem de contribuição: conhecer a margem de contribuição de sua ativi-

dade. Trata-se do seu grande índice mágico que permitirá realizar as análi-

ses de viabilidade, de lucratividade, de ponto de equilíbrio e da análise de

novos projetos. Também, quanto maior for este índice maior será a saúde

financeira da empresa;

e) Lucro operacional: representa o resultado final depois de remunerados to-

dos os custos variáveis e fixos no período;

f) Preços de vendas: Determinar os preços de vendas dos produtos e serviços

deve ser uma ação técnica e estratégica, considerando-se os fatores de lu-

cratividade, competitividade e posicionamento de mercado;

g) Fluxo de Caixa: Não tão somente a elaboração do fluxo de caixa com base

nas informações operacionais, quanto à projeção estratégica deste fluxo de

caixa mediante negociações de compras, de vendas e da estrutura de cus-

tos fixos de forma a compatibilizar o fluxo e o volume de entradas e saídas,

resultando em saldos continuamente positivos.

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2.4.2 Crescimento

A análise do crescimento diz respeito ao crescimento patrimonial da em-

presa, representado pela análise do patrimônio liquido. Aumento de estrutura,

elevação nos volumes de faturamento e novas imobilizações não representam

necessariamente crescimento.

2.4.3 Indicadores Econômicos

Os indicadores econômicos são medidas de desempenho utilizadas para

mensurar o desenvolvimento econômico da empresa. Expressos através de

índices demonstram parâmetros da saúde da empresa e permitem comparati-

vos de desempenho entre diferentes períodos, de maneira a avaliar o resultado

atual em relação a outros períodos históricos, por exemplo:

a) Índices de liquidez: avalia a capacidade de pagamentos da empresa para

fazer frente as suas obrigações. Representa um grande referencial de lon-

gevidade da empresa. É muito importante saber calcular e avaliar os índices

de liquidez geral e líquido;

b) Índice de endividamento: avalia a representatividade do volume de obriga-

ções (capital de terceiros: fornecedores, bancos, ...) comprometidos frente

ao capital próprio da empresa;

c) Índice de rentabilidade sobre vendas: demonstra a relação do lucro opera-

cional com as vendas realizadas;

d) Índice de atividades – prazo médio de recebimento: avalia o número médio

de dias que a empresa leva para receber o valor de suas vendas;

e) Índices de atividades – prazo médio de pagamento: avaliar o número médio

de dias que a empresa leva para pagar seus fornecedores.

Portanto, é de suma importância o bom gerenciamento das finanças para

o alcance do desenvolvimento empresarial, utilizando ações gerenciais estraté-

gicas, onde os pontos abordados acima são fundamentais para a análise finan-

ceira que mensura a situação da empresa, pois segundo Silva (2004) a análise

financeira de uma empresa consiste num exame minucioso dos dados financei-

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ros disponíveis sobre a empresa, bem como as condições endógenas e exóge-

nas que afetam financeiramente a empresa.

2.5 Controle das Atividades Financeiras das Empresas

O controle das finanças é algo muito importante para se manter uma boa

saúde financeira da empresa, e o controle de informações das contas a pagar e

a receber se torna essencial para a boa gestão financeira.

Para que a empresa tenha uma boa gestão financeira é necessário ter o

controle de suas operações, sendo muito importante a realização de relatórios

de fluxo de caixa. Assim, o gerenciamento de contas a pagar e a receber fica

mais preciso.

Para obter o controle das atividades financeiras das empresas, o gestor

financeiro deve preocupar-se com três tipos de áreas:

2.5.1 Orçamento de Capital

É o processo de planejamento e gestão dos investimentos de uma em-

presa em longo prazo. Nessa função o gestor financeiro procura identificar as

oportunidades de investimento cujo valor para empresa é superior ao seu custo

de aquisição. Em termos amplos, isto significa que o valor do fluxo de caixa

gerado por um ativo supera o custo desse ativo.

2.5.2 Estrutura de Capital

Combinação de capital de terceiros e capital próprio existente na empre-

sa. O administrador financeiro tem duas preocupações no que se refere a essa

área. Primeiramente quando se deve tomar emprestado? Em segundo lugar

quais são as fontes menos dispendiosas de fundos para empresa? Além des-

sas questões, o gestor financeiro precisa decidir exatamente como e onde os

recursos devem ser captados, e, e também cabe a esse gestor a escolha da

fonte e do tipo apropriado que a empresa, por ventura tomará emprestado.

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2.5.3 Administração de Capital de Giro

Capital de giro é os ativos e passivos circulantes de uma empresa. A

gestão do capital de giro de uma empresa é uma atividade diária que visa as-

segurar que a empresa tenha recursos suficientes para continuar suas opera-

ções e evitar interrupções muito caras.

Assim sendo, com o controle destas áreas bem definidas, o administra-

dor financeiro tem tudo para executar uma boa gestão financeira, onde a orga-

nização pode programar as ações de maneira correta, buscando respeitar o

cumprimento dos prazos e evitando o pagamento de juros, o grande vilão para

os bons resultados da empresa. Isso permite que o negócio usufrua de boa

saúde financeira, sem a necessidade de passar por dificuldades para honrar os

compromissos.

2.6 Conceituação de Risco

O termo risco é proveniente da palavra risicu ou riscu, em latim, que signi-

fica ousar (to dare, em inglês). Costuma-se entender risco como possibilidade

de algo não dar certo, mas seu conceito atual envolve a quantificação e qualifi-

cação da incerteza, tanto no que diz respeito às perdas como aos ganhos, com

relação ao rumo dos acontecimentos planejados, seja por indivíduos, seja por

organizações.

Quando investidores compram ações, cirurgiões realizam operações, en-

genheiros projetam pontes, empresários abrem seus negócios e políticos con-

correm a cargos eletivos, o risco é um parceiro inevitável. Contudo, suas ações

revelam que o risco não precisa ser hoje tão temido: administrá-lo tornou-se

sinônimo de desafio e oportunidade (Bernstein,1996).

O risco é inerente a qualquer atividade na vida pessoal, profissional ou

nas organizações, e pode envolver perdas, bem como oportunidades. Em Fi-

nanças, a relação risco-retorno indica que quanto maior o nível de risco aceito,

maior o retorno esperado dos investimentos. Esta relação vale tanto para in-

vestimentos financeiros como para os negócios, cujo retorno é determinado

pelos dividendos e pelo aumento do valor econômico da organização.

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Empreender significa buscar um retorno econômico-financeiro adequado

ao nível de risco associado à atividade. Ou seja, o risco é inerente à atividade

de negócios, na qual a consciência do risco e a capacidade de administrá-lo,

aliadas à disposição de correr riscos e de tomar decisões, são elementos-

chave. Assumir riscos diferencia empresas líderes, mas também pode levá-las

a estrondosos fracassos. O resultado das iniciativas de negócios revela que o

risco pode ser gerenciado a fim de subsidiar os administradores na tomada de

decisão, visando a alcançar objetivos e metas dentro do prazo, do custo e das

condições pré- estabelecidas.

Conseqüentemente, a aplicação do conceito de risco no contexto empre-

sarial requer a definição de indicadores de desempenho (geração de fluxo de

caixa, valor de mercado, lucro, reclamações de clientes, quebras operacionais,

fraudes, entre outros) associados a níveis de volatilidade, ou seja, à variação

dos resultados em torno de uma média. Essas possibilidades, tanto de ganho

como de perda, que podem ter causas de natureza externa (ambiente competi-

tivo, regulatório, financeiro) ou de natureza interna (diferencial tecnológico, con-

troles, capacitações, conduta) são oriundas do contexto em que cada organiza-

ção atua.

2.7 Principais Fatores de Risco Corporativo

No ambiente corporativo, encontram-se, por vezes de forma combinada,

múltiplas possibilidades causadoras dos fatos geradores de riscos, e quando se

estuda riscos financeiros, deve-se atentar para os efeitos gerados pela materia-

lização do risco e, neste ponto, converge o conceito de tipo de risco para o

conceito de conseqüência do risco.

Conforme Cocurullo (2003) os riscos são subdivididos em: estratégicos;

operacionais; de conformidade; e financeiros, os quais são classificados da

seguinte forma:

• Riscos Estratégicos – riscos associados ao modo que uma organização

é gerenciada.

• Riscos Operacionais – riscos associados às condições operacionais dos

processos, controles, sistemas e informações.

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• Riscos de Conformidade – riscos associados à habilidade da organiza-

ção de cumprir normas reguladoras, legais e exigências fiduciárias.

• Riscos Financeiros – riscos associados à exposição financeira de uma

organização.

Verifica-se que em todos os conceitos dos tipos de riscos destacados, o

objeto de classificação são as conseqüências causadas pela materialização do

risco. Deste modo, a categorização dos riscos advém do seu impacto direto ou

indireto nas operações da organização.

O gerenciamento de riscos corporativos ao considerar a atual configura-

ção do mercado corporativo deve cobrir os cinco principais fatores de risco de

qualquer empresa: Risco de Mercado, de liquidez, de crédito, operacional e

legal.

2.7.1 Risco de Mercado

O risco de mercado é o constante potencial que a sua carteira de títulos

tem de sofrer perdas devido a flutuações nos fatores de risco do mercado. Es-

tes são os componentes de um mercado que são freqüentemente voláteis e

exercem uma pressão significativa nos preços. Os fatores de risco de mercado

mais relevantes são:

• Preços das ações

• Taxas de juro

• Taxas de câmbio estrangeiras

• Preços das commodities

Estes são os quatro fatores chave, dado que são os que mais pressão

exercem no mercado. Outro nome para o risco de mercado é volatilidade.

Uma variação muito grande ou inesperada de um desses elementos po-

de levar a instituição a grandes perdas, ou até mesmo, à falência. É fundamen-

tal o gerenciamento desses riscos com a finalidade de evitar grandes perdas.

Uma ferramenta fundamental para amenizar e se proteger melhor do ris-

co de mercado é o beta do ativo. O índice beta é um indicador que mede a

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sensibilidade de um ativo em relação ao comportamento de uma carteira que

represente o mercado. É a relação entre a variação do retorno de um ativo e o

mercado. Ele diferencia ativos mais agressivos dos mais conservadores, me-

dindo a sensibilidade destes em relação ao comportamento de uma carteira

que represente o mercado.

2.7.2 Risco de Liquidez

Risco de Liquidez é relacionado ao descasamento da estrutura de ativos

e passivos com relação aos fluxos efetivos de pagamento destes. O controle de

risco de liquidez é efetuado diariamente através da análise estática da estrutura

de descasamentos da Instituição, especialmente no curto prazo. São também

efetuadas simulações desta estrutura com estimativas de renovação de cartei-

ras. Em paralelo são analisados mensalmente indicadores de liquidez oriundos

dos saldos de contas do balanço. Por último são também efetuadas análises de

cenários de estresse voltados especificamente para liquidez.

Para ter um maior controle e evitar o risco de liquidez é preciso fazer

uma boa gestão dos fluxos de caixa, atentar-se aos volumes, prazos e indexa-

dores dos ativos e passivos. O conceito da gestão de ativos e passivos é útil

para esse gerenciamento, pois auxilia os tomadores de decisão quanto à alo-

cação de recursos, e inclui as análises de gap (descasamento de volumes e

prazos) e deduration (prazo médio dos vencimentos das operações pondera-

dos pelos fluxos de caixa a valores presente).

2.7.3 Risco de Crédito

Está relacionado à possibilidade do não recebimento do pagamento da

contraparte na hora de pagar a dívida, em uma relação de crédito. Em outras

palavras, risco de crédito está relacionado ao não pagamento da contraparte,

seja por vontade ou por incapacidade de honrar suas dívidas. Os principais

elementos do risco de crédito são:

• Alteração do valor das dívidas;

• Grande concentração em um único ou em poucos credores;

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• Avaliação errada da situação econômica da contraparte;

• Perda de valor das garantias dadas em um empréstimo.

Uma variação muito grande ou inesperada na taxa de juro, por exemplo,

pode levar a dificuldades do pagamento de uma dívida pós-fixada.

Por se tratar de um dos mais importantes produtos oferecidos, foram cri-

ados diversas centrais de informação do crédito, em especial o SERASA (cria-

do pelas instituições financeiras) e o SPC, com o fim de minimizar o risco de

crédito.

A melhor avaliação das garantias, bem como uma eficiência maior do

sistema judiciário, em especial nos processos que envolvem cobranças, tam-

bém podem auxiliar na prevenção deste risco.

2.7.4 Risco Operacional

O risco operacional diz respeito à implementação de sistemas inadequa-

dos, erros no controle dos processos e falhas de diversos tipos. De aplicação

bastante ampla, esse risco não costuma ser considerado nas previsões orça-

mentárias da empresa, o que tende a aumentar os efeitos dos seus danos. Os

principais elementos relacionados ao risco operacional são:

• Erros;

• Fraudes ou roubos;

• Tecnologia defasada;

• Falhas nos processos operacionais da empresa;

• Fatores externos não previstos.

Os riscos operacionais podem ser reduzidos através de uma estrutura

bem desenvolvida de gestão empresarial dividida em cinco estágios:

Estágio I - Base tradicional: nesse estágio, não existe uma estrutura formal pa-

ra tratamento dos riscos operacionais. Assim, considerando-se que os riscos

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operacionais sempre existiram, esses são administrados isoladamente por

seus gestores, que dependem demasiadamente da auditoria interna para verifi-

cação de perdas. Além disso, existe total dependência da qualidade e integri-

dade dos funcionários e acionistas.

Estágio II - Conscientização: atingem esse estágio as organizações que desen-

volvem área específica para gerenciamento de riscos operacionais, com defini-

ções de políticas, responsabilidade e ferramentas de apoio. As ferramentas,

nessa fase, normalmente incluem mapeamento dos processos com a identifi-

cação de riscos e formalização dos controles utilizados, estruturação de banco

de dados com histórico de eventos de perdas, criação de indicadores de efici-

ência e rentabilidade.

Estágio III - Monitoramento: Depois de identificar todos os riscos operacionais,

é importante entender quais suas implicações para os negócios. O enfoque,

então, torna-se o acompanhamento do nível atual de risco operacional e a efe-

tividade das funções de gerenciamento. Indicadores de risco (quantitativos e

qualitativos) e metas ou limites são estabelecidos para monitoramento. As me-

didas de exposição ao risco são consolidadas. Nessa fase, as áreas de negó-

cios percebem a importância do gerenciamento do risco operacional e desti-

nam funcionários para a analisarem e monitorarem os processos e atividades.

Estágio IV - Quantificação: nesse estágio, a empresa possui uma melhor com-

preensão da sua situação de exposição ao risco operacional, assim já conse-

gue focar-se na quantificação dos riscos e predizer acontecimentos futuros.

Para tanto, são utilizadas ferramentas mais analíticas, baseadas em dados re-

ais, uma vez que o banco de dados de evento de perda, iniciado no estágio II,

agora tem informações suficientes.

Estágio V - Integração: O valor agregado pela gestão do risco operacional é

plenamente reconhecido pelas áreas de negócios, que já se preocupam com a

integração completa da quantificação de todos os riscos da organização, não

apenas os operacionais. A quantificação, também, é aplicada na definição do

planejamento estratégico e na melhoria da qualidade dos processos.

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A segregação da gestão do risco operacional nessas cinco fases permite

ações que possam orientar as empresas em seu processo de desenvolvimento

da gestão do risco operacional.

2.7.5 Risco Legal

Relacionado à legislação, o risco legal pode implicar prejuízos financei-

ros quando a justiça é acionada. O título ou contrato pode ter defeitos jurídicos

que impeçam ou dificultem o exercício dos direitos nele estabelecidos, permi-

tindo o devedor ou tomador não honrar as obrigações assumidas.

Para evitar o risco legal, pode valer à pena contar com uma assessoria

jurídica, prestando atenção principalmente aos direitos do consumidor e às leis

trabalhistas. É muito importante somente aplicar em investimentos regulamen-

tados, nos quais o risco legal diminui bastante.

Assim sendo, as empresas devem tomar as medidas necessárias para

minimizar ou até mesmo anular os efeitos adversos que estes cinco principais

riscos financeiros podem ocasionar. Os riscos financeiros variam para cada tipo

de empresa, e de acordo com as operações realizadas, mas é importante des-

tacar que é fundamental que os riscos atuais e potenciais sejam conhecidos e

gerenciados apropriadamente. Deve-se reunir o maior número possível de in-

formações, analisando o segmento ao qual está inserido cada tipo de risco,

tornando-se mais fácil compreender o contexto geral, a fim de antecipar ten-

dências. A forma de gerenciá-los depende das estratégias de alocação dos

ativos e dos passivos, bem como das particularidades inerentes de cada em-

presa (tolerância a riscos, políticas corporativas, etc.).

Desta forma, o conhecimento dos principais fatores de risco financeiro,

garante ao gestor de riscos maior segurança no desenvolvimento de estraté-

gias de gerenciamento e produz resultado direto na empresa, pois com o en-

tendimento dos critérios de classificação dos ricos os gestores das diversas

áreas que compõem a empresa tendem a ter percepção dos riscos relaciona-

dos ao seu cotidiano. O processo de levantamento e gestão dos riscos depen-

de criticamente das classificações e conceituações dos riscos que a organiza-

ção monitora e gerencia, esta fase do processo pode ser considerada como

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decisiva para o sucesso ou insucesso do plano de gerenciamento dos riscos

corporativos.

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CAPÍTULO III

GOVERNANÇA CORPORATIVA E SUSTENTABILIDADE

NAS EMPRESAS BRASILEIRAS

Governança corporativa e sustentabilidade estão entre os temas mais

importantes debatidos no mundo corporativo hoje em dia. Enquanto a susten-

tabilidade tornou-se um conceito bastante difundido, referindo-se à preocupa-

ção com o meio ambiente e aspectos sociais da criação de riqueza e para o

debate em torno do papel das empresas no desenvolvimento sustentável, seu

aspecto de longo prazo encontra-se alinhado com a essência da proposta de

governança corporativa, que é o de garantir a longevidade e sucesso contínuo

da empresa. Na conjuntura brasileira, diferente dos outros países, a governan-

ça corporativa surgiu com o intuito de modernizar as empresas e as formas de

administração das organizações para que possam ser inseridas no mercado

mundial e torná-las mais atraente no cenário da globalização. No tempo em

que a sustentabilidade tem tido uma projeção cada vez maior na sociedade. As

empresas brasileiras têm procurado integrar atitudes e comportamentos soci-

almente responsáveis e relatar o impacto que os mesmos têm ao nível interno

e externo, nas vertentes econômica, ambiental e social.

3.1 Origem da Governança Corporativa

A expressão “governança corporativa” ainda não se tornou totalmente

compreendida no mercado econômico mundial, porém, sua aplicação prática é

reconhecida como de fundamental importância para o crescimento sólido da

economia mundial. Essa expressão teve origem no ano de 1991, sendo que o

primeiro código de melhores práticas de governança corporativa foi elaborado

em 1992. Já no ano de 1995 surgiu o primeiro livro sobre o tema, intitulado

Corporate Governance, escrito por R. Monks e N. Minow.

No Brasil, a governança corporativa teve início em 1994, quando come-

çaram as discussões em torno da criação de um órgão que definisse padrões a

serem adotados pelos conselhos de administração no intuito de reduzir suas

deficiências. Com esse objetivo, segundo Hallqvist (2003), foi fundado, em 27

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de novembro de 1995, o Instituto Brasileiro de Conselheiros de Administração

(IBCA). No entanto, o IBCA sentiu a necessidade de ampliar suas atividades,

focando não somente os conselhos de administração, mas abrangendo tam-

bém a propriedade, a diretoria, o conselho fiscal e a auditoria independente.

Desse modo, passou a denominar-se, em 1999, Instituto Brasileiro de Gover-

nança Corporativa (IBGC), o qual não possui fins lucrativos. Silveira (2006) su-

gere que o século XIX caracterizou-se como a era dos empreendedores, o sé-

culo XX, como a era do gerenciamento, e o século atual, o XXI, como a era da

governança corporativa. Nessa linha de raciocínio, Steinberg (2003) acrescenta

que, além de proteger os investidores, a adoção da política da boa governança

tende a valorizar as empresas que a praticam, pois os investidores entendem

que os retornos de suas aplicações implicarão ganhos generalizados, podendo

contribuir para o crescimento mútuo, aumentando o nível de satisfação de to-

dos os stakeholders relacionados à empresa.

As origens da governança corporativa como teoria remetem a conflitos

inerentes à propriedade dispersa, à divergência entre os interesses dos diver-

sos sócios e os interesses dos gestores, muitas vezes, pouco organizados. Es-

te modelo é comum em sociedades como os Estados Unidos e Inglaterra. No

Brasil, em que a propriedade concentrada predomina, os conflitos de gover-

nança ocorrem à medida que a empresa cresce e novos sócios, sejam investi-

dores ou herdeiros, passam a fazer parte da sociedade.

Conforme Silveira (2006), a governança corporativa pode ser influencia-

da pela estrutura de propriedade existente na organização. As empresas maio-

res e com melhor desempenho financeiro são as que apresentam, em média,

melhor governança corporativa. Ao confrontar-se a afirmação anterior com a

conclusão de Okimura, Silveira e Rocha (2004), que defendem que “a concen-

tração média de votos dos acionistas controladores é alta nas empresas brasi-

leiras”, chegando a apresentar uma média geral de 76,1%, pode-se concluir

que a introdução dos princípios fundamentais da boa governança corporativa

como transparência, equidade, prestação de contas, cumprimento de leis e éti-

ca, ainda encontra dificuldades para vencer a barreira da concentração de capi-

tal votante nas companhias brasileiras.

3.2 Institucionalização da Governança

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Governança nada mais é do que um sistema de administração e exercí-

cio do poder em organizações. Como todo sistema, é composto de estruturas,

relações, processos e um objetivo a ser alcançado. Entre as estruturas de go-

vernança estão à assembléia de sócios (ou reuniões de sócios), o conselho de

administração e a diretoria. As relações referem se a toda a interface entre es-

sas estruturas, enquanto os processos são a forma como as atividades são

desempenhadas, avaliadas e monitoradas. E o objetivo do sistema é gerir a

empresa ou organização da melhor forma possível, para que tenha maiores

chances de alcançar seus objetivos com sucesso e favorecer sua longevidade.

Numa definição mais formal, podemos entender governança corporativa

como “o sistema pelo qual as organizações são dirigidas, monitoradas e incen-

tivadas, envolvendo os relacionamentos entre proprietários, Conselho de Ad-

ministração, Diretoria e órgãos de controle e demais partes interessadas”

(IBGC, 2015, p. 19).

A necessidade de um sistema de governança estruturado surge con-

forme a empresa vai ficando maior e mais complexa, com o aumento do núme-

ro de sócios, a impossibilidade de assumirem todas as responsabilidades da

condução do negócio e a conseqüente contratação de executivos para gerir o

dia a dia.

Quando incorporadas às leis, algumas práticas de governança corporati-

va tornam se obrigatórias para todas ou determinadas empresas atuantes onde

essa legislação é vigente. Outras práticas são exigidas como instrumentos de

auto-regulação, ou seja, tornam-se obrigatórias para empresas que desejam

fazer parte de um grupo, por exemplo, o grupo de empresas com ações nego-

ciadas em bolsa de valores, sujeitas aos órgãos públicos reguladores e às

normas de funcionamento da empresa responsável pela negociação das

ações. Contudo, em grande parte, as boas práticas de governança corporativa

são propostas sob forma de recomendações por organizações nacionais e in-

ternacionais e por pesquisadores, podendo ser voluntariamente adotadas nas

empresas, bem como adaptadas a particularidades de suas trajetórias, culturas

e estratégias.

3.3 Princípios de Governança Corporativa

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Ainda que existam normas impostas por instituições financiadoras, ór-

gãos reguladores, bolsas de valores e legislações, a adoção de grande parte

das boas práticas de governança corporativa é voluntária, ou seja, cabe às

empresas a decisão de incorporar ou não as recomendações elaboradas. Além

disso, as recomendações de boas práticas desenvolvidas nacional e internaci-

onalmente passaram a ser voltadas não apenas a empresas de propriedade

dispersa, mas a empresas familiares e a organizações de naturezas diversas.

As recomendações dos diversos códigos de governança costumam ba-

sear-se em princípios. No Brasil, o código mais reconhecido é o Código das

Melhores Práticas de Governança Corporativa do IBGC, que se norteia por

quatro princípios: transparência, equidade, prestação de contas e responsabili-

dade corporativa.

3.3.1 Transparência

Mais do que a obrigação de informar, o principio da transparência é o

desejo de disponibilizar para as partes interessadas as informações que sejam

de seu interesse e não apenas aquelas impostas por disposições de leis ou

regulamentos. A adequada transparência resulta em um clima de confiança,

tanto internamente quanto nas relações da organização com terceiros. Não

deve restringir-se ao desempenho econômico-financeiro, contemplando tam-

bém os demais fatores (inclusive intangíveis) que norteiam a ação gerencial e

que conduzem a criação de valor. As organizações que baseiam suas ações na

transparência propiciam a todos os interessados uma maior aproximação ao

seu negócio, seja para investidores ou para clientes, passando pela atração e

retenção de talentos. A título de exemplo, no Brasil as empresas de capital

aberto, através da diretoria de Relações com Investidores e do Formulário de

Referência, instituído pela Instrução CVM nº 480, proporcionam uma maior cla-

reza de suas ações e atividades desenvolvidas, sejam elas de caráter apenas

financeiro ou incluindo informações de cunho social e ambiental.

3.3.2 Equidade

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Caracteriza-se pelo tratamento justo de todos os sócios e demais partes

interessadas (stakeholders). Nas empresas, independentemente das formas de

controle e das características do controlador (estatal, familiar, institucional,

etc.), é recomendável que haja tratamento equânime entre todos os cotistas,

seja no conhecimento de informações importantes para a tomada de decisões,

seja nos benefícios ao conjunto de stakeholders.

3.3.3 Prestação de Contas

Os agentes de governança devem prestar contas de sua atuação, as-

sumindo integralmente as conseqüências de seus atos e omissões.

3.3.4 Responsabilidade Corporativa

Os agentes de governança devem zelar pela sustentabilidade das orga-

nizações, visando a sua longevidade, incorporando considerações de ordem

social e ambiental na definição dos negócios e operações.

O resultado da empresa não deve basear-se apenas no seu retorno fi-

nanceiro. O foco das ações da empresa deve se pautar na preservação de seu

valor como organização, levando em conta as externalidades, efeitos positivos

ou negativos sobre terceiros e a influência na sociedade como um todo.

É natural dentro de empresas que os acionistas, principalmente os ma-

joritários e investidores institucionais, influenciem a tomada de decisão do Con-

selheiro de Administração buscando a defesa de seus interesses na organiza-

ção. Porém, o princípio da responsabilidade corporativa indica que o adminis-

trador deve tomar suas decisões sempre pensando na perenidade da empresa,

preservando seu valor e os benefícios para todos os envolvidos com a organi-

zação.

Um bom exemplo de Responsabilidade Corporativa são as ações de-

senvolvidas pelas empresas para a obtenção de matérias primas para seus

produtos sem, no entanto, destruir ou exaurir os recursos naturais ou prejudicar

aspectos sociais das comunidades onde atua.

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Portanto os princípios da governança são a base das práticas que po-

dem ser aplicadas por qualquer organização, independente do porte, natureza

jurídica ou tipo de controle. O conhecimento dos princípios pode tornar-se ins-

trumento útil nas organizações ao embasar as decisões tomadas quando existi-

rem dúvidas sobre qual caminho seguir na adoção das boas práticas.

3.4 O Sistema de Governança Corporativa

A figura abaixo representa o sistema de governança corporativa ideal e

seus agentes, conforme as recomendações do Código das Melhores Práticas

de Governança Corporativa:

Figura 1 – Contexto e estrutura do sistema de governança corporativa

Fonte: IBGC, 2015, p.18

Os sócios ou a assembléia de acionistas são a instância máxima de de-

cisão dentro da organização. São eles que escolhem e destituem os membros

do conselho de administração. Em empresas familiares pode ser criado o con-

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selho de família, que irá discutir as questões relativas à família, de forma a se-

pará-las das questões da empresa.

O conselho de administração, de acordo com a legislação brasileira e

segundo o Código das Melhores Práticas de Governança Corporativa do IBGC,

é considerado o principal componente do sistema de governança, exercendo o

papel de órgão máximo na fixação das diretrizes da companhia.

Em linhas gerais, é ele quem decide o rumo do negócio, sendo respon-

sável por seu direcionamento estratégico e pela escolha, orientação e pelo mo-

nitoramento dos executivos. Para questões que demandem um maior aprofun-

damento de temas específicos, o conselho pode fazer uso de comitês para co-

laborar na eficiência de sua atuação.

Os executivos ou diretores são responsáveis pela gestão do negócio.

São eles que operacionalizam e executam as diretrizes estratégicas traçadas

pelo conselho, a quem devem prestar contas de sua atuação. São responsá-

veis pelo relacionamento com os diversos públicos que são impactados ou im-

pactam a atuação da companhia.

Conselho fiscal e auditoria independente são órgãos de controle. O pri-

meiro verifica se conselheiros e executivos estão atuando de forma a cumprir

seus deveres e responsabilidades, enquanto o segundo visa atestar se as de-

monstrações financeiras apresentadas pela empresa refletem, de fato, a reali-

dade constatada na companhia.

3.5 Governança e Sustentabilidade

Governança Corporativa é o sistema pelo qual as organizações são diri-

gidas, monitoradas e incentivadas, envolvendo os relacionamentos entre pro-

prietários (sócios), Conselho de Administração, diretoria e órgãos de controle.

As boas práticas de Governança Corporativa convertem princípios em reco-

mendações objetivas, alinhando interesses com a finalidade de preservar e

otimizar o valor da organização, facilitando seu acesso a recursos e contribuin-

do para sua longevidade.

Uma das práticas da boa Governança Corporativa é que o Conselho de

Administração tem o dever de prover a orientação estratégica para a empresa.

No desenvolvimento da estratégia empresarial, os aspectos de curto e longo

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prazos precisam ser considerados. Especialmente no que diz respeito ao últi-

mo, deve-se levar em conta os temas da sustentabilidade. Pode-se deduzir,

então, que governança, estratégia e sustentabilidade se tornaram inseparáveis.

Não se pode mais planejar estrategicamente sem levar em conta os temas da

sustentabilidade.

Dessa forma, pelos seus benefícios diretos na gestão e por facilitar o

acesso ao capital, a boa Governança Corporativa vem sendo assimilada rapi-

damente pelas empresas e, por isto, pode funcionar como uma porta de entra-

da para a sustentabilidade no ambiente corporativo. Em um segundo momento,

pode assumir o papel de guardiã do alinhamento da empresa com a sustentabi-

lidade.

3.6 Sustentabilidade Empresarial

Nos anos 1980, sustentabilidade foi inicialmente definida como o pro-

cesso de “satisfazer as necessidades do presente sem comprometer a possibi-

lidade das gerações futuras suprirem suas próprias necessidades” (Relatório

Brundtland/ONU). Décadas mais tarde, ao adotar tal conceito, as organizações

incorporaram o triplo alicerce econômico-financeiro, social e ambiental à sua

estrutura (tripple bottom-line), cabendo aos administradores a responsabilidade

de integrá-lo à estratégia de negócios, por cujo processo de implementação os

gestores devem responder.

Neste sentido, os aspectos intangíveis ou não financeiros como goodwill,

marca, reputação, respeito ao meio ambiente, aos direitos humanos, entre ou-

tros, tornaram se temas relevantes para as organizações. A partir de diferentes

motivações, a Responsabilidade Corporativa, um dos princípios básicos da go-

vernança corporativa, ganhou relevância, envolvendo noções de longo prazo e

impactos globais.

Conforme argumenta Brandão (2006), tais temas têm o potencial de afe-

tar o ambiente de negócios das empresas, pois estão intimamente ligados ao

comportamento de acionistas, clientes, fornecedores, funcionários, legisladores

e comunidades ligadas direta ou indiretamente às atividades da empresa, as

chamadas partes interessadas (stakeholders). Trata-se, portanto, de um enten-

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dimento mais abrangente dos aspectos que interferem na estratégia de negó-

cios da organização.

No plano internacional, uma das primeiras propostas da Organização

das Nações Unidas (ONU) tratando do tema responsabilidade social corporati-

va foi o Pacto Global, em 2000. Ainda sob âmbito da ONU, em 2002, a Carta

da Terra buscou a mesma abrangência da Declaração Universal dos Direitos

Humanos no que se refere à sustentabilidade, equidade e justiça.

No Brasil, país importante no cenário internacional sobre meio ambiente

e desenvolvimento sustentável, o Instituto Brasileiro de Governança Corporati-

va refletiu a crescente atenção aos aspectos de ordem social e ambiental da

agenda contemporânea. O alinhamento das organizações com as questões de

sustentabilidade foi definido como agenda temática de 2007, que culminou com

o congresso anual sobre o assunto e foi objeto da publicação, no mesmo ano,

do Guia de Sustentabilidade para as Empresas.

Em 2012, o Brasil foi sede da Conferência das Nações Unidas sobre

Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20. Na oportunidade, a

exemplo de outras iniciativas de governança corporativa, as diversas entidades

e participantes do mercado de capitais brasileiro demonstraram estar alinhados

com os temas de sustentabilidade, dos quais são destacados:

• A criação, pela Comissão de Valores Mobiliários, de categoria no Siste-

ma de Envio de Informações Periódicas e Eventuais - IPE para o arqui-

vamento de “Relatório de Sustentabilidade”;

• A proposta da BM&FBovespa de adoção ao modelo “relate ou explique”

para relatórios de sustentabilidade ou similares;

• A recomendação do Código Abrasca no sentido da divulgação de um re-

latório de sustentabilidade.

A experiência recente atesta o adensamento de um modelo que tem

como base não apenas o aspecto econômico-financeiro (single bottom-line),

mas também os aspectos sociais e ambientais de forma integrada. Trata-se de

adotar um plano de gestão que se define pela relação ética com todos os

stakeholders com os quais a organização se relaciona, bem como investir no

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aperfeiçoamento das ferramentas de administração e no desenvolvimento pro-

fissional dos diversos agentes da governança.

Uma vez que a extensão das responsabilidades corporativas ampliaram

as fronteiras da governança, novas demandas passaram a integrar as estraté-

gias de desenvolvimento das empresas. Nesse sentido, um posicionamento

mais consistente relacionado às questões ambientais e sociais passou a cor-

responder tanto à maximização do valor da empresa quanto a um gerencia-

mento eficaz das vulnerabilidades e dos riscos corporativos.

Sujeitas a uma nova realidade econômica, social e ambiental, as organi-

zações deverão estabelecer metas empresariais compatíveis com o desenvol-

vimento sustentável da sociedade. Para tanto, a adoção das boas práticas de

governança corporativa poderá afetar decisivamente as chances de as empre-

sas satisfazerem as demandas legítimas de todas as partes interessadas.

Deste modo, a despeito dos rigorosos padrões de governança corporati-

va no que tange demonstrações contábeis e transparência nas informações

das organizações, é a partir do despertar para a responsabilidade corporativa,

via estratégias para o desenvolvimento de longo prazo, que as práticas de sus-

tentabilidade poderão garantir as expectativas dos sócios e demais stakehol-

ders.

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CONCLUSÃO

Diante do exposto, é possível concluir que as finanças corporativas no

âmbito empresarial brasileiro confirmam a falta de acesso aos mercados de

capitais e de crédito e o elevado custo de capital no Brasil.

Pode-se observar que um dos impactos fundamentais referentes aos re-

sultados desejados pelas empresas brasileiras recai na cooperação significati-

va da gestão das finanças. Tendo o administrador financeiro o objetivo principal

de maximizar a riqueza do acionista a longo prazo, dado um nível de risco. Es-

se é o objetivo maior e não mudou, devendo se apresentar como função eco-

nômica e objetivo para todas as decisões empresariais.

Com relação à relevância do tema gestão de riscos no ambiente empre-

sarial, como forma de gerenciamento das rotinas operacionais das empresas,

destaca-se a importância da busca por qualificação dos profissionais envolvi-

dos diretamente ou indiretamente no processo de tomada de decisões, com

vistas à gestão eficiente dos riscos corporativos.

Assim sendo, as empresas brasileiras procuram formas de minimizar

seus custos e riscos corporativos e maximizar seu faturamento, objetivando o

crescimento econômico e financeiro de forma planejada e controlada. Algumas

razões devem ser observadas por partes das empresas nacionais, os custos e

as despesas são questões essenciais e estão diretamente ligadas à governan-

ça corporativa.

Verificou-se que a adoção de boas práticas de governança corporativa

por parte das empresas tende a propiciar redução do custo de capital no médio

e longo prazos, proporcionado pela redução do risco para os stakeholders,

além de melhorar a qualidade e transparência das informações prestadas pelas

companhias. Tudo isso impacta de forma positiva, direta ou indiretamente, o

resultado da companhia e, conseqüentemente, gera condições para aumento

da riqueza dos acionistas.

Na prática, cada vez mais empresas brasileiras estão implementando

estratégias de desenvolvimento sustentável. O maior desafio em relação à sus-

tentabilidade é sensibilizar empresários sobre a necessidade de mudar a cultu-

ra organizacional, alterar modelos já consolidados e adotar um sistema de ges-

tão ambiental.

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Portanto, as aplicações das teorias e práticas das finanças corporativas

nas empresas brasileiras estão alinhadas com uma boa gestão dos negócios,

onde o administrador financeiro tem grande importância no que se refere ao

valor da empresa. Implementando práticas de governança corporativa e sus-

tentabilidade para garantir o sucesso e longevidade contínua das empresas no

Brasil.

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