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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
AVM FACULDADE INTEGRADA
O CÉREBRO E AS EMOÇÕES – RELAÇÃO ENTRE AFETO E APRENDIZAGEM
Por: Rosangela da Silva Lorêdo e Silva
Orientadora Prof. Drª Marta Pires Relvas
Rio de Janeiro 2013
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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
AVM FACULDADE INTEGRADA
O CÉREBRO E AS EMOÇÕES – RELAÇÃO ENTRE AFETO E APRENDIZAGEM
Apresentação de monografia à AVM Faculdade
Integrada como requisito parcial para obtenção do
grau de especialista em Neurociência Pedagógica.
Por: . Rosangela da Silva Lorêdo e Silva
3
AGRADECIMENTOS
A minha orientadora e inspiradora
professora Marta Relvas, a minha mãe
e as amigas Adriana, Cíntia e Kênia.
4
DEDICATÓRIA
Ao meu amado esposo Alexandre Vargas.
5
RESUMO
O mundo vem sofrendo grandes transformações em diversas áreas, não
poderia ser diferente na área educacional, principalmente com o advento das
neurociências que desmistificaram muitos conceitos em relação ao
funcionamento do cérebro. Desta forma, cada vez mais torna-se possível
compreender as ações envolvidas na aprendizagem, destacando-se neste
item a afetividade como norteadora das relações entre professor e aluno no
processo ensino-aprendizagem.
Palavras chaves: Neurociência, educação, afetividade.
.
6
METODOLOGIA
Para elaboração deste trabalho utilizou-se como metodologia a pesquisa
teórica do tipo bibliográfica, procurando identificar diferentes teorias e analisar
os principais aspectos tratados na literatura científica sobre afeto e
aprendizagem relacionados a Neurociência que ajudem a compreender melhor
o tema em questão.
O presente trabalho está fundamentado em obras de importantes autores da
literatura neurocientífica como Roberto Lent, Marta Relvas, Daniel e Michel
Chabot, Antônio Damásio, Joseph LeDoux, Cosenza e Guerra,
7
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ........................................................................................... 09
CAPÍTULO I – O cérebro e sua função cognitiva e emocional................... 11
1.1 – Sistema Nervoso Central (SNC) ..................................................... 11
1.2 – O cérebro ........................................................................................ 13
1.3 – O cerebelo ...................................................................................... 16
1.4 – Troncos encefálicos ........................................................................ 16
1.5 – O cérebro emocional ...................................................................... 18
1.5.1 – Amígdala ................................................................................... 18
1.5.2 – A amígdala e as emoções ......................................................... 18
1.5.3 – O córtex pré-frontal ................................................................... 19
1.5.4 – O córtex insular ......................................................................... 20
1.5.5 – Córtex cingulado anterior .......................................................... 20
CAPÍTULO II – Emoção e aprendizagem .................................................. 28
2.1 – As emoções .................................................................................... 28
2.1.1 – As emoções primárias ............................................................... 28
2.1.2 – As emoções secundárias .......................................................... 29
2.1.3 – As emoções de fundo ............................................................... 30
2.2 – Sistema Límbico (SL) ..................................................................... 31
8
2.2.1 – Circuito de Papez ...................................................................... 31
2.3 – A aprendizagem.............................................................................. 34
2.4 – Emoção e aprendizagem ................................................................ 35
2.4.1 – As emoções e a dificuldade de aprendizagem .......................... 36
2.4.2 – O impacto das emoções sobre o aprendizado e o rendimento escolar
.............................................................................................................. 36
2.4.3 – Emoção e atenção .................................................................... 38
2.5 – A importância do afeto na aprendizagem ....................................... 38
CAPÍTULO III – Educação e Neurociência ................................................ 41
3.1 – Neuroplasticidade (sinapses e informação) .................................... 41
3.1.1 – Neuroplasticidade e educação .................................................. 45
3.2 – O cérebro e seus registros ............................................................. 46
3.3 – Neuroaprendência .......................................................................... 48
3.4 – Neurociência e educação ............................................................... 49
CONCLUSÃO ............................................................................................ 51
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................... 53
ÍNDICE ....................................................................................................... 54
9
INTRODUÇÃO
Pesquisas recentes revelaram o campo das competências emocionais,
que nos permitem sentir coisas, experimentar emoções, em consequência
reagir a elas. Sendo assim é possível afirmar que todos vivem experiências
que demonstram o quanto as emoções interferem nas demais competências
(competência cognitiva, competência técnica e competência
relacional).entende-se dessa forma que em algumas situações as emoções
acompanham as capacidades intelectuais, procedimentais ou relacionais.
Confirmando isso pode-se citar um exemplo muito comum de
experiências de estudantes que fracassaram em um exame escolar por culpa
do estresse, mesmo tendo domínio do assunto abordado, nesses casos as
emoções vieram perturbar as competências cognitivas. Portanto a busca de
um entendimento mais específico das relações entre afeto e aprendizagem, já
que a neurociência vêm demonstrando que o Sistema Límbico exerce grande
influência no córtex pré-frontal, se faz necessária.
É importante elencar os fatores internos e os externos que influenciam
significativamente na aprendizagem, como por exemplo, a relação de
afetividade entre professor e aluno, pois é primordial que o educador conceba a
educação com um olhar voltado para o desenvolvimento do sujeito,
possibilitando-o desenvolver a capacidade de encontrar respostas para seus
problemas, tornando-o responsável e, consequentemente, agente de seu
próprio processo de aprendizagem.
A retomada de uma concepção mais humanista da Educação, orientada
para o pleno desenvolvimento humano dos educandos, aponta para uma
solução promissora no processo ensino-aprendizagem, onde a relação entre
emoção e cognição pode influenciar na aprendizagem significativa do sujeito.
A Neurociência Pedagógica oportuniza conhecer mais e melhor as
implicações que a emoção exerce na cognição, portanto, na aprendizagem. E,
mais, procurando estudar a construção do conhecimento em toda a sua
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complexidade, colocando em pé de igualdade os aspectos cognitivos, afetivos
e sociais que lhe estão implícitos, favorecendo a resposta adequada ao
problema.
11
CAPÍTULO I
1. O Cérebro e sua função cognitiva e emocional.·.
"Nosso cérebro é o melhor brinquedo já criado: nele se encontram todos os segredos,
inclusive o da felicidade.” (Charles Chaplin)
1.1 O Sistema Nervoso Central (SNC)
A existência humana ainda guarda muitos mistérios, mas pode-se dizer
que o cérebro tem sido um alvo de pesquisas constantes na comunidade
científica. Os pesquisadores tentam responder a algumas perguntas, tais como:
Como é o funcionamento deste organismo? Como o cérebro decide? Como se
aprende? O que nos emociona?
Desta forma inicia-se este trabalho na busca por definições sobre este
importante organismo e gradativamente buscar explanações mais detalhadas
de acordo com estudiosos da neurociência. Segundo o Novo Dicionário Aurélio,
cérebro é definido como Centro nervoso situado no crânio dos vertebrados,
muito desenvolvido no homem, no qual se compõe de dois hemisférios
constituídos por numerosas circunvoluções (o cérebro é o centro da
sensibilidade consciente, dos movimentos voluntários e da atividade psíquica).
Citando outro dicionário encontra-se o termo cérebro como sendo porção mais
diferenciada do encéfalo que, no homem, se encontra na parte superior do
crânio. É formado de dois hemisférios, unidos na base por substância branca,
denominada corpo caloso.
Buscando-se definir conceitualmente o cérebro, evoluindo assim para
um melhor entendimento cita-se o Dr. Roberto Lent que apresenta o cérebro a
partir de uma visão contextualizada no Sistema Nervoso Central (SNC). Afirma
Lent:
“O Sistema Nervoso Central é um órgão de alta complexidade
anatômica: opaco ao que está no seu interior, convoluto e,
12
portanto, cheio de saliências e reentrâncias que escondem
umas às outras, variável entre outras espécies animais e
extensamente conectado com estruturas da periferia corporal.”
(LENT, 2008, P.20).
Surgem então dúvidas de como estudá-lo? Como entendê-lo? Como
visualizá-lo nas três dimensões, tendo a noção das suas estruturas internas,
das suas relações topográficas e das suas conexões?
De acordo com o Professor Lent os anatomistas dão conta desta tarefa
criando um (às vezes, mais de um) sistema de classificação das estruturas e
uma terminologia correspondente, facilitando a identificação das partes do
sistema nervoso e padronizar a linguagem. Embora essa classificação e essa
terminologia sejam normatizadas internacionalmente.
O primeiro nível de classificação do Sistema Nervoso (Tabela 1) divide-o
em Sistema Nervoso Central (SNC) e Sistema Nervoso Periférico (SNP). O
SNC é definido como o conjunto dos componentes do sistema nervoso
contidos em caixas ósseas (o crânio e a coluna vertebral), enquanto o SNP
apresenta seus elementos distribuídos por todo o organismo.
Em seguida, considera-se um segundo nível de classificação, dividindo-
se o SNC em encéfalo (contido dentro do crânio) e medula espinhal (contida no
interior da coluna vertebral) e, em seguida, um terceiro nível, dividindo-se o
encéfalo em cérebro, cerebelo e tronco encefálico. Nota-se aqui a diferença
conceitual anatômica entre cérebro e encéfalo, embora comumente os dois
termos sejam utilizados como sinônimos.
SNC
Encéfalo
Cérebro Cerebelo Troncos Encefálicos
Telencéfalo
Diencéfalo Córtex Núcleos
profundos Mesencéfalo Ponte Bulbo Córtex
cerebral
Núcleos
da base
Tabela 1 (fonte: LENT, 2008, p.21)
13
A tabela apresentada nos permite uma visão sintetizada. Desta forma,
se faz necessária uma apresentação mais detalhada dos elementos que
compõe o SNC.
1.2 O cérebro
Segundo Lent, o telencéfalo é a parte mais volumosa do encéfalo
humano, e pode ser dividido em núcleos da base e córtex cerebral.
Os núcleos da base são um conjunto de estruturas de substância
cinzenta que se posicionam entre o diencéfalo, posterior e medialmente, e o
córtex cerebral, anterior e lateralmente (vide figura 1). Atravessando os núcleos
da base passam a cápsula interna, a cápsula externa e cápsula extrema, três
feixes de fibras que comunicam o córtex com o diencéfalo e demais regiões
subcorticais.
Figura 1(fonte: Lent, 2008, p.32)
Entre esses núcleos pode-se destacar: o núcleo caudado e o núcleo
putâmen, que juntos são chamados de corpo estriado; e globo pálido, que é
possível associá-lo ao putâmen e identificá-lo como núcleo Lentiforme. A esses
núcleos da base mais proeminentes associam-se outros por afinidade
funcional, e que acabam por incorporar-se ao grupo apesar de não serem de
origem telencefálica: o núcleo subtalâmico, situado no diencéfalo, e substância
negra, situada no mesencéfalo. Veja a figura abaixo:
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Figura 2 (fonte: Lent, 2008, p.33)
O conjunto dos núcleos da base tem participação importante na
coordenação dos movimentos, junto com o cerebelo e o córtex cerebral.
O professor Roberto Lent identifica como a parte mais importante do
telencéfalo o córtex cerebral. É mais importante não apenas pelo seu volume,
mais pelo número, pela diversidade e pela complexidade das funções que
realiza. É o córtex cerebral, em última instância, que interpreta as informações
sensoriais gerando as percepções de que se é capaz; é também ele que
planeja, programa e envia à medula os comandos para a motricidade. É no
córtex que se situam muito dos “arquivos” da memória, e é ele que nos
possibilita focalizar a atenção em algo ou então dispersar e até dormir; é por
intermédio dele que compreende-se e emiti-se a fala e a mímica
correspondente, e é ele que nos permite entender e emitir comportamentos
emocionais, bem como sentir subjetivamente as emoções. E muito mais. São
inúmeras as funções atribuídas ao córtex cerebral humano.
Pode-se destacar alguns sulcos e giros importantes pelo seu tamanho,
pela sua consistência em todos os cérebros, e por definirem limites relevantes.
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São eles: O sulco longitudinal, que separa os hemisférios; o sulco lateral, que
separa o lobo temporal dos lobos frontal e parietal; o sulco central, que delimita
o lobo frontal do parietal e separa o giro pré-central; e o sulco calcarino, na face
medial do córtex, em cuja margens e fundo se situa a área visual primária.
Figura 3 (fonte: Lent, 2008, p.33)
A constituição do diencéfalo apresenta numerosos núcleos e feixes que
podem ser agrupados topograficamente em tálamo, epitálamo (acima do
tálamo) e hipotálamo (abaixo dele). O epitálamo é pequeno, contém alguns
núcleos associados à glândula pineal, uma estrutura ímpar que produz um
hormônio (melatonina) regulador de ciclos fisiológicos. O tálamo é formado por
vários núcleos importantes, sendo uma “estação intermediária” entre as regiões
subdiencefálicas e o córtex cerebral. Muitos desses núcleos são sensoriais,
envolvidos principalmente na visão, na audição e na sensibilidade corporal;
outros são motores participantes do circuito comunicação do córtex cerebral
dos núcleos da base, e do cerebelo; e outros ainda participam do chamado
Sistema Límbico, que cuida da vida emocional das pessoas. Por fim, o
hipotálamo é também formado por inúmeros núcleos e relaciona-se com o
controle das funções das vísceras, do balanço hormonal, além de participar de
modo importante da expressão das emoções.
16
1.3 O cerebelo
A palavra cerebelo como é um vocábulo originário do latim que significa
“pequeno cérebro”, este órgão apresenta semelhança ao cérebro não apenas
pela existência de numerosos giros e sulcos que se chamam folhas e fissuras,
e que são organizados de modo paralelo no eixo látero-lateral. Semelhante ao
cérebro, o cerebelo também apresenta a substância cinzenta externamente,
organizado em camadas celulares e chamada córtex cerebelar, é um conjunto
de núcleos internos denominados núcleos profundos, topograficamente
análogos aos núcleos da base do cérebro. O cerebelo pode ser dividido em
dois hemisférios, e estes em lobos. Entre os hemisférios não há um sulco
longitudinal nítido separando-os, mas sim uma estrutura alongada, denominada
verme. Os lobos do cerebelo são apenas três: o lobo anterior e o lobo posterior,
separados pela fissura prima, formam o corpo do cerebelo e uma estrutura bem
diferente, posicionada ventralmente e com uma forma florada característica,
constitui o lobo floculonodular. O cerebelo conecta-se ao restante do encéfalo
por meio dos pedúnculos cerebelares, calibrosos feixes de fibras ancoradas
principalmente na ponte.
1.4 Troncos encefálicos
O tronco encefálico é um pequeno talo que une a medula espinhal com a
parte mais rostral do SNC. Sua forma é grosseiramente de um tronco de cone
invertido, mais fino inferiormente. A. face dorsal é parcialmente coberta pelo
cerebelo. Desse modo, só pode ser completamente visualizada com a remoção
deste.
O Bulbo apresenta em seu interior um vasto número de núcleos, três
deles facilmente visíveis pela superfície externa dorsal, pois formam pequenos
relevos elipsoides na superfície. São os núcleos grácil e cuneiforme, que
participam da sensibilidade somática, e um núcleo que participa do sistema
motor, a oliva inferior. No interior do bulbo encontra-se a formação reticular,
envolvida na coordenação do ciclo vigília-sono e no controle da excitabilidade
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das regiões corticais. No interior do bulbo encontram-se também diversos
núcleos envolvidos no controle das funções orgânicas, especialmente a
cardiorrespiratória e a digestória. Além disso, é região de passagem de um
sem-número de feixes, destacando-se entre os últimos o feixe corticoespinhal,
também conhecido como feixe piramidal, importante via motora visível pela
superfície ventral como um par de elevações chamadas pirâmides bulbares.
A ponte é a estrutura que se segue ao bulbo em sentido rostral. Sua
superfície dorsal constitui o assoalho de uma importante cavidade encefálica, o
quarto ventrículo, cujo teto corresponde ao cerebelo. A superfície ventral
apresenta a forma de uma ponte medieval curvada, daí a sua denominação.
Não há acidentes importantes visíveis à superfície, exceto a emergência de
alguns nervos cranianos. Internamente, a ponte apresenta um núcleo
destacado (a oliva superior) envolvido na audição, entre muitos outros núcleos.
A formação reticular já mencionada apresenta também uma extensão pontina.
E pela ponte passam também inúmeros feixes de fibras a caminho de seus
alvos distantes. De certa forma as funções da ponte são similares às do bulbo,
envolvendo o controle do ciclo vigília-sono, a coordenação motora em conjunto
com o cerebelo e o controle das funções viscerais.
O mesencéfalo é a continuação do “talo” representado pelo tronco
encefálico, limitando-se caudalmente com a ponte e rostralmente com o
diencéfalo, sem que as bordas correspondentes sejam precisamente
determináveis. Visto pela superfície dorsal apresenta dois pares de elevações
muito nítidas chamadas colículos – dois superiores e dois inferiores. Pela
superfície ventral não é possível identificar com clareza o mesencéfalo, porque
ele fica no fundo de um recesso, “espremido” entre a ponte e o diencéfalo.
A principal função desempenhada pelo mesencéfalo é de natureza
sensorimotora, isto é, de integração entre o ambiente percebido pelos
principais sentidos e as respostas motoras necessárias. A parte que fica
dorsalmente à cavidade central é chamada tecto (como um teto, realmente), e
a que se posiciona ventralmente chama-se tegmento. No tecto os colículos –
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os superiores relacionados com a visão e à sensibilidade somática, e os
inferiores relacionados à audição. O tegmento, por sua vez, apresenta núcleos
motores que provêm às respostas reflexas dos olhos, das orelhas e do
pescoço, derivadas da estimulação sensorial. O mesencéfalo participa também
do controle da dor e de certas respostas motoras de origem emocional.
1.5 O cérebro emocional
Muitos trabalhos foram desenvolvidos nos últimos anos visando
identificar estruturas cerebrais relacionadas com as emoções. Algumas têm
sido frequentemente apontadas como essenciais e já foram amplamente
exploradas – como, por exemplo, a amígdala e o córtex pré-frontal. Serão
abordadas as quatro regiões cerebrais: a amígdala, o córtex pré-frontal, o giro
do cíngulo e a ínsula.
1.5.1 Amígdala
A amígdala parece ser uma estrutura chave para o processo de integrar
as informações sensoriais às respostas comportamentais e fisiológicas,
especialmente para estímulos que sinalizam perigo.
A amígdala é uma estrutura complexa formada por vários núcleos
distintos e localizada no pólo do lobo temporal, logo abaixo do córtex,
medialmente. Em geral os núcleos são divididos em três grupos: os núcleos
basolaterais, os núcleos corticomediais e o núcleo central. As aferências da
amígdala têm diversas origens, incluindo o neocórtex, o giro para-hipocampal e
o córtex cingulado. As informações de todos os sistemas sensoriais são
enviadas para a amígdala através do complexo basolateral, exceto a olfatória,
que é enviada para os núcleos corticomediais. A amígdala se conecta ao
hipotálamo através de dois grandes feixes, que são a estria terminal e a via
amigdalofugal ventral.
1.5.2 A amígdala e as emoções
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È notório, há mais de um século, que a destruição do lobo temporal em
primatas não humanos tem sido associada a mudanças drásticas no
comportamento emocional. O psiquiatra americano Sanger Brown, e o
fisiologista inglês Edward Schafer descreveram em 1888 que macacos reso se
tornavam mais mansos após sofrerem lesão nesta região. Essa descoberta
importante confirmada em 1937, quando Heinrich Klüver e Paul Bucy
realizaram uma série de experimentos envolvendo novamente a emoção
bilateral do lobo temporal, e descreveram as alterações comportamentais
apresentadas pelos macacos após a lesão.
Os sintomas apresentados pelos animais incluíam: agnosia visual – uma
falha no reconhecimento visual de objetos; perda da reatividade emocional;
oralidade – uma tendência a examinar os objetos com a boca;
hipermetamorfoso – uma tendência a trocar rapidamente um comportamento
para outro, frequentemente expressa como comportamento exploratório;
mudanças anormais na dieta – mais notavelmente a coprofagia. Esse conjunto
de alterações ficou conhecido como síndrome de Klüver-Bucy, e foi também
referida como “cegueira psíquica”, pois os animais eram dotados de perfeita
acuidade visual, mas pareciam cegos ao significado psicológico dos estímulos.
Estudos subsequentes, em que provocaram lesões mais seletivas, mostraram
que lesões bilaterais da amígdala, mais especificamente, eram suficientes para
produzir a maioria dessas mudanças descritas. Trabalhos feitos com lesão
bilateral da amígdala por ácido ibotênico revelaram que os animais
apresentavam aumento no desejo de comer carne, uma exacerbação na
tendência a pegar e explorar objetos que não fossem alimentos
(frequentemente levando-os à boca) e um declínio na reatividade emocional,
incluindo uma perda nas reações de medo e diminuição das respostas
agressivas (Lent, 2008).
1.5.3 O córtex pré-frontal
Não se trata de uma região homogênea. É composta por diversas sub-
regiões que apresentam diferenças anatômicas e funcionais. As regiões pré-
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frontais mais relacionadas com a emoção são a orbitofrontal e ventromedial.
Uma das primeiras descrições a evidenciar a importância do córtex pré-frontal
para as emoções e a tomada de decisões foi realizada no século XIX com o
famoso caso “Phineas Gage”. Esse episódio foi tão inusitado que o médico que
o atendeu, John Harlow, fez relatos bastante detalhados da lesão dos déficits
apresentados por Gage e de sua recuperação. Após aproximadamente dois
meses, o restabelecimento físico de Gage foi considerado completo. Todos os
sentidos haviam sidos preservados e também não apresentava qualquer déficit
motor aparente, nem tinha problemas na fala. Entretanto, o relato de todos que
o conheciam era de que “Gage não era mais Gage”, ou seja, uma mudança
drástica em sua maneira de agir e de se comportar havia ocorrido.
Estudos realizados por António e Hanna Damásio e sua equipe
indicaram que a região lesada fora o córtex pré-frontal ventromedial,
especialmente no hemisfério esquerdo. Atualmente, vários pesquisadores têm
mostrado a importância dessa região para o processamento emocional e a
tomada de decisões.
1.5.4 O Córtex insular
Situado no fundo e nas margens do sulco lateral do cérebro tem papel
central na atenção voltada para os estados corporais internos e as
consequentes sensações subjetivas dos estados emocionais. A ínsula tem sido
considerada o “córtex sensorial emocional” devido à convergência de
informações aferentes sobre as condições fisiológicas de todos os tecidos
corporais.
António Damásio propõe um papel central para o córtex insular na
hipótese dos marcadores somáticos, considerando-o o substrato de um circuito
que possibilita não só guiar as decisões comportamentais no presente, mais
também projetar uma ação futura pela representação mental dos estados
corporais.
1.5.5 Córtex cingulado anterior
21
Estudos (Lent, 2008) mostram envolvimento do córtex cingulado
durante tarefas de teor emocional. Uma proposta que abrange todas essas
situações é a de que o córtex cingulado anterior funcionaria como um detector
de conflito.
A parte mais dorsal do córtex cingulado anterior foi relacionada
recentemente como um “sistema de alarme” neural. As evidências são
provenientes de estudos recentes que mostraram que as representações da
dor física e da dor social são sobrepostas no córtex cingulado anterior, o que
sugere que podem compartilhar os mesmos mecanismos cerebrais. Esse
sistema seria responsável pela detecção de pistas que ponham em risco a
sobrevivência, como é o caso de um dano físico ou da separação social, e pelo
recrutamento da atenção e de recursos de enfrentamento para minimizar o
perigo.
Estudos de neuroimagem funcional têm revelado que circuitos neurais
envolvendo a ínsula e o cingulado anterior não só constituem a base da
capacidade humana de formar representações subjetivas de sentimentos
relativas a própria pessoa, mas também serve de base para a capacidade de
compreender a importância emocional de um determinado estímulo para uma
pessoa e prever as prováveis consequências a ele associadas.
O processo de cognição é definido como o conjunto de estímulos
recebidos pelos receptores sensoriais, que podem ser estímulos interiores e
exteriores. Assim, a informação é detectada pelos receptores sensoriais, que
posteriormente respondem aos estímulos gerando potenciais de ação que se
propagam até à medula espinhal e ao encéfalo, através dos nervos. Quando os
potenciais de ação atingem o córtex cerebral surgem às sensações.
Posteriormente acontece a fase de percepção de informação, em que o
cérebro efetua uma seleção, organização e interpretação das sensações
recebidas. Por fim, há manipulação da percepção de informações, designado
por fenômeno de cognição.
22
O cérebro é dividido em hemisfério direito e esquerdo pela fenda inter-
hemisférica. Cada hemisfério cerebral está dividido em lobos, que são
designados pelo nome do osso sob o qual se inserem (Seeley, Stephens et al,
apud, Pereira, 2011).
Desta forma, o lobo frontal é importante na função motora voluntária,
motivação, agressão, sentido do olfato e humor. O lobo parietal é o principal
centro de recepção e avaliação de informação sensorial, exceto informação
proveniente dos sentidos do olfato, audição e visão. Já o lobo occipital tem
como função a integração de informação proveniente dos estímulos visuais,
não estando claramente separado dos restantes lobos. Quanto ao lobo
temporal, este é responsável pela recepção e integração de estímulos olfativos
e auditivos, desempenhando um papel importante na memória (Seeley,
Stephens et al, apud, Pereira, 2011).
Para que a informação recebida em cada um dos hemisférios seja inter-
relacionada é necessária à existência de feixes nervosos, responsáveis pela
ligação das diferentes áreas do córtex dentro do mesmo hemisfério ou entre
hemisférios distintos, e ainda com outras partes do encéfalo e medula espinhal.
O lobo frontal contém áreas envolvidas no funcionamento cognitivo e
na produção da fala e linguagem. Neste lobo encontra-se ainda a área motora
primária e pré-motora que tem como função facilitar o movimento dos olhos e
está envolvida nos reflexos visuais assim como na dilatação e constrição da
pupila. Outra das áreas relaciona-se com processos cognitivos tais como a
razão e o julgamento e também funções executivas, e ainda a área de Broca,
responsável pela produção da fala.
O lobo parietal desempenha um papel importante nos processos
somatossensoriais. Neste lobo encontram-se áreas que são consideradas
primárias para o toque e a propriocepção, e ainda áreas de associação
responsáveis pelo pré-processamento sensorial (McCaffrey, apud, Pereira,
2011).
23
No lobo temporal encontra-se a integração de informação relativa à
audição e semântica, assim como de informação detectada pelo olfato. Uma
das áreas que se encontra neste lobo está envolvida na detecção e
reconhecimento da fala. Outra das áreas conhecidas como a área de Wernicke,
corresponde à área de associação auditiva.
O lobo occipital contém áreas responsáveis pelo processamento do
estímulo visual.
Segundo Capovilla, Assef et al. (apud,
Pereira, 2011), as funções executivas necessitam
de um conjunto de etapas, tais como seleção de
informação, integração dessa informação com
informação passada, planejamento, monitorização
e flexibilidade. Estas etapas representam a
complexidade de integração de informação
cognitiva, uma vez que são necessárias várias
conexões entre diferentes áreas cerebrais, especialmente o córtex pré-frontal
com outras regiões encefálicas. Mais concretamente, verifica--se que as áreas
envolvidas nas tarefas cognitivas localizam-se no córtex pré-frontal e no córtex
cingulado anterior.
O córtex pré-frontal (Vide figura 4) mantém diversas relações com as
diferentes estruturas encefálicas, que correspondem a conexões com regiões
de associação do córtex parietal, temporal e occipital, bem como diversas
estruturas subcorticais. Possui ainda as únicas representações corticais de
informações provenientes do sistema límbico. Segundo autores citados em
(Capovilla, Assef et al. apud, Pereira, 2011) , a localização do córtex pré-frontal
permite a integração de diferentes processos cognitivos e ainda é o local de
interferência entre a cognição e a emoção.
O córtex pré-frontal pode ser subdivido em diferentes regiões, tendo em
conta características funcionais. Segundo um conjunto de autores citados em,
o córtex pré-frontal pode ser dividido em: córtex pré-frontal lateral, ventromedial
Figura 4 (fonte: Pereira, 2011, p.18)
24
ou orbitofrontal e córtex cingulado anterior. No entanto, apenas o córtex pré-
frontal e o córtex cingulado anterior se encontram envolvidos no desempenho
das tarefas cognitivas, uma vez que o córtex ventromedial está relacionado
com as emoções(Capovilla, Assef et al. apud, Pereira, 2011).
De acordo com autores citados em (Capovilla, Assef et al. apud, Pereira,
2011), uma das tarefas cognitivas associada ao córtex pré-frontal lateral
relaciona-se com a memória operacional. Nesta zona do córtex há
armazenamento de informação temporária para que depois possa ser
processada e interpretada por outras zonas do cérebro. Estas informações
armazenadas podem corresponder a uma representação transitória de uma
dada tarefa, que podem corresponder a uma memória passada ou presente.
Apesar das memórias passadas de longa duração não estarem diretamente
relacionadas com o córtex pré-frontal, mas sim com o córtex parietal, verifica-
se que é o córtex pré-frontal que é capaz de utilizar essa informação de forma
a mantê-la ativa, ou seja, há associação de informação entre o córtex pré-
frontal e parietal. De forma a determinar qual a informação que deve ou não
estar ativa num determinado momento, o córtex pré-frontal desempenha
também o papel de selecionar informação relevante e ignorar a informação não
desejada, ou seja, funciona como um filtro que, continuamente, faz a triagem
de informação.
Para além do córtex pré-frontal lateral, também o córtex cingulado
anterior (Figura 5) desempenha uma função importante na realização de
tarefas executivas. Esta região é responsável pela monitorização as funções
cognitivas e também da resposta do sistema neurovegetativo a momentos de
dor e ameaça (Capovilla, Assef et al. apud, Pereira, 2011).
25
Figura 5 (fonte: Pereira, 2011, p.19)
Segundo estudos referidos em (Capovilla, Assef et al. apud, Pereira,
2011), o córtex cingulado anterior ativa-se em situações especificas tais como:
durante tarefas de atenção dividida e durante a emissão de uma resposta
errada a uma dada tarefa e em situações em que há conflito de respostas.
Desta forma, considera-se o córtex cingulado anterior como um sistema capaz
de supervisionar o desempenho das tarefas, tendo em conta o seu grau de
dificuldade, efetuando a correção de respostas erradas.
Os neurônios que se encontram conectados ao cérebro estabelecem
relações entre diferentes áreas de forma a fornecer a função comportamental e
cognitiva (Levin, apud, Pereira, 2011). A função cognitiva envolve a
participação de diferentes áreas cerebrais incluindo partes do Sistema Límbico,
como o hipocampo e a amígdala, assim como o córtex frontal e porções do
tálamo. A interação entre estes sistemas pode ser caracterizada por diferentes
neurotransmissores usados para comunicar entre diferentes regiões do
cérebro.
Um dos sistemas de neurotransmissores mais importantes na regulação
das funções cognitivas é o sistema colinérgico (Dumas, Saykin et al. apud,
Pereira, 2011). Este sistema de neurotransmissores está diretamente envolvido
em processos de alocação de atenção, memória operacional, inibição de
26
informação irrelevante e na melhoria do desempenho de tarefas que exigem
maior esforço.
O sistema de neurotransmissão colinérgico é regulado pela síntese e
degradação do neurotransmissor acetilcolina. A acetilcolina (Figura 6) é
considerada um mediador químico de sinapses no sistema nervoso central,
periférico e nas junções musculares, capaz de estimular um conjunto de
receptores específicos.
Figura 6 (fonte: Pereira, 2011, p.21)
O processo cognitivo engloba um conjunto de etapas que vão desde a
fase inicial de recepção dos estímulos sensoriais, por parte dos sentidos,
passando para a fase de percepção e compreensão da informação detectada
para que depois possa ser manipulada por um conjunto de funções cognitivas.
Relativamente às áreas cerebrais envolvidas no processamento destas
funções, verifica-se que as áreas do córtex pré-frontal lateral e do córtex
cingulado anterior são aquelas que apresentam uma maior atividade.
No córtex pré-frontal há armazenamento de informação temporária para
que depois possa ser processada e interpretada por outras zonas do cérebro.
Para além disso esta área do córtex tem como função determinar qual a
27
informação que deve ou não estar ativa num determinado momento,
selecionando informação relevante e ignorando a informação não desejada. Já
a região do córtex cingulado anterior é responsável pela monitorização das
funções cognitivas e também da resposta do sistema neurovegetativo a
momentos de dor e ameaça.
Estas áreas vão ser também responsáveis por um componente de
controle do sistema cognitivo, dadas as suas características nos mecanismos
de cognição, prevenindo possíveis situações de erro e efetuando a correção
desses mesmos erros.
Para que a informação presente em cada uma das áreas cerebrais
possa ser integrada e inter-relacionada com as restantes áreas cerebrais é
necessária à existência de um sistema de comunicação por
neurotransmissores. No caso das funções cognitivas o principal sistema de
neurotransmissores ativo é o sistema colinérgico, através da ação da
acetilcolina.
28
CAPÍTULO II
2. Emoção e Aprendizagem.
“As escolas deveriam entender mais de seres humanos e de amor do que de
conteúdos e técnicas educativas. Elas têm contribuído em demasia para construção
de neuroses por não entenderem de amor, de sonhos, de fantasias, de símbolos e de
sofrimento.” (Saltini, 2008).
2.1 As emoções
De acordo com Lent (2008), as emoções humanas podem ser
classificadas em três tipos: (1) emoções primárias; (2) emoções secundárias; e
(3) emoções de fundo, que foram mais recentemente propostas pelo famoso
neurologista português Antônio Damásio.
2.1.1 As emoções primárias
As emoções primárias são consideradas inatas ou não-aprendidas, ou
seja, são emoções comuns a todos os indivíduos da espécie humana,
independentemente de fatores socioculturais. Um dos primeiros relatos desse
tipo de emoção foi feito por Charles Darwin (1809-1882) e está descrito em seu
livro A expressão das emoções no homem e nos animais. Mediante
observação da expressão da emoção em seus próprios filhos e em pessoas de
outras culturas, Darwin observou que certos padrões de expressões
emocionais (especialmente as faciais) eram semelhantes entre as diferentes
culturas, o que indicava uma natureza hereditária, não-aprendida, dessas
expressões. Mais recentemente, o cientista Paul Ekman, da Universidade da
Califórnia (EUA), realizou importantes estudos mostrando que, de modo geral,
diferentes culturas e civilizações não tem dificuldade de reconhecer algumas
expressões faciais umas das outras.
29
Apesar das divergências entre estudiosos da emoção, pelo menos seis
emoções são consideradas primárias: alegria, tristeza, medo, nojo, raiva e
surpresa.
Figura 7 (fonte: http://pizzicaseafins.blogspot.com.br/2007/09/emoes-
bsicas.html)
2.1.2 As emoções secundárias
As emoções secundárias, por sua vez, são mais complexas e dependem
de fatores socioculturais. Culpa e vergonha são exemplos de emoções que
variam amplamente de acordo com a cultura, com a experiência prévia e com a
época em que o indivíduo está inserido. É possível que este tipo de emoção
varie tanto, que algumas civilizações podem vivenciá-las em excesso,
enquanto outras podem nem mesmo apresentá-las.
Alguns autores definem a emoção secundária como emoção secundária
e social ou apenas emoção social, como Damásio (2003) afirma que as
emoções sociais incluem a simpatia, a compaixão, o embaraço, a vergonha, a
culpa, o orgulho, o ciúme, a inveja, a gratidão, a admiração e o espanto, a
indignação e o desprezo. Numerosas reações regulatórias, bem como
componentes das emoções primárias, são parte integrante, em diversas
combinações, das emoções sociais. O encaixamento de componentes mais
30
simples é observável, por exemplo, quando o desprezo utiliza as expressões
faciais do nojo, uma emoção primária, que evoluiu em associação com a
rejeição automática e benéfica de alimentos tóxicos. Até mesmo as palavras
que se utiliza para descrever situações de desprezo e indignação moral –
confessamo-nos enojados ou desgostosos em relação a certas situações
sociais – giram à volta desse princípio de encaixamento e incorporação.
Ingredientes de dor e de prazer são igualmente bem evidentes na profundidade
das emoções sociais.
Só agora se começa a perceber a forma como o cérebro desencadeia e
executa as emoções sociais. Dado que a palavra “social” recorda
inevitavelmente as noções de sociedade e cultura, é importante notar que as
emoções sociais não se confinam, de forma nenhuma, aos seres humanos.
Encontra-se emoções sociais próximas as humanas em chimpanzés, golfinhos,
leões, lobos e, é claro, nos cães e nos gatos. Basta pensar no andar orgulhoso
de um macaco dominante, no comportamento aristocrático de um lobo
dominante que comanda o respeito de seu grupo, no comportamento
humilhado de um animal que não domina os seus pares e que é obrigado a
ceder espaço e precedência a outros no momento em que se alimenta, na
compaixão que um elefante demonstra para com outro que está ferido e sofre,
ou no embaraço de um cão que fez aquilo que não devia fazer.
Dado que é improvável que algum desses animais tenha sido ensinado a
exibir essas emoções, tudo indica que a disposição que permite uma emoção
social está profundamente gravada no cérebro desses organismos, pronta para
ser utilizada quando chega o momento apropriado. Não há dúvida de que o
arranjo cerebral que permite tais comportamentos sofisticados, na ausência de
linguagem ou instrumentos de cultura, é um notável dom do genoma de certas
espécies. É um dom que faz parte da lista dos dispositivos inatos da regulação
automática da vida.
2.1.3 As emoções de fundo
31
Como o termo sugere, as emoções de fundo não são especialmente
proeminentes, embora sejam notavelmente importantes. Se uma pessoa
costuma diagnosticar rapidamente a energia ou o entusiasmo de alguém que
acaba de conhecer, ou se é capaz de detectar mal-estar ou ansiedade nos
seus amigos e colegas, é bem provável que seja um bom leitor de emoções de
fundo.
Segundo Lent (2008) as emoções de fundo, estão relacionadas com o
bem-estar ou com o mal-estar, com a calma ou com a tensão. Os estímulos
que induzem estas emoções são geralmente internos, gerados por processos
físicos ou mentais contínuos, que nos levam a um estado de tensão ou
relaxamento, fadiga ou energia, bem-estar ou mal-estar, ansiedade ou
apreensão. Nessas emoções, o papel principal é desempenhado pelo meio
interno e pelas vísceras, embora se expressem em alterações complexas
musculoesqueléticas, tais como variações sutis na postura do corpo e na
configuração global dos movimentos. É interessante notar que essas emoções
não são consideradas nas discussões tradicionais sobre emoção, embora, em
geral sobrevivam a várias doenças neurológicas.
2.2 Sistema Límbico (SL)
2.2.1 Circuito de Papez
Lent (2008) descreve que durante o século XX, alguns pesquisadores
começaram a investigar de maneira mais sistemática as regiões cerebrais que
estariam envolvidas nas emoções. Uma das primeiras propostas da literatura
sobre um circuito relacionado com a emoção foi apresentada em 1937 pelo
anatomista norte-americano James Papez (1883-1958). Como anatomista,
Papez havia sido muito influenciado pelo trabalho de Charles Herrick (1866-
1960), grande nome da anatomia comparativa, que havia proposto uma
diferença evolutiva entre as partes laterais e mediais do cérebro. A parte medial
seria responsável pelas funções mais primitivas, e a parte lateral seria de
aparecimento mais recente na evolução. Essa região medial identificada por
Herrick, já havia sido denominada também lobo límbico pelo neurologista
32
francês Paul Broca (1824-1880). A atribuição do nome em francês, lobe
limbique, é um reflexo da sua forma característica de borda (limbus em latim).
Em seguida, foi proposto que o lobo límbico estaria envolvido na
percepção de odores, e ele recebeu então a denominação rinencéfalo, que
significa cérebro olfatório. A proposta de Herrick era de que as funções motoras
e sensoriais básicas, realizadas nos animais mais antigos pelo córtex medial,
tinham sido transferidas gradualmente para a região lateral, que teria sofrido
grande expansão de suas funções. Papez, ao publicar seu trabalho sobre as
emoções, agrupou as ideias sobre as diferenças evolutivas córtices lateral e
medial com as consequências de danos ao cérebro medial de humanos, junto
com as publicações sobre o envolvimento do hipotálamo no controle das
reações emocionais em animais, como havia sido apontado por Cannon. A
partir dessa síntese de ideias surgiu a teoria que explica a experiência subjetiva
da emoção como um fluxo de informações que obedecem a conexões
anatômicas entre o hipotálamo e o córtex medial, e deste de volta ao
hipotálamo. Esse circuito foi denominado circuito de Papez e teve uma
influência muito grande, sendo retomado e ampliado posteriormente por outros
pesquisadores. O circuito proposto por Papez foi fruto de muita especulação
pois a maioria das conexões propostas por ele na época ainda não havia sido
identificada. Embora quase todas as conexões propostas realmente existam,
algumas das estruturas cerebrais incluídas no circuito por Papez foram
questionadas em estudos posteriores como não envolvida nas emoções. No
entanto, o circuito de Papez é uma parte essencial da história sobre a base
neural das emoções.
Figura 8 (Fonte: LeDoux, 2011)
33
Em 1949, a teoria de Papez foi recuperada e ampliada pelo anatomista
norte-americano Paul MacLean. Naquela época, outros trabalhos importantes
já haviam sido publicados e apontavam para contribuição de outras estruturas
cerebrais. Um dos mais marcantes foi o trabalho realizado pelos neurologistas
americanos Heinrich Klüver (1897-1979) e Paul Bucy (1904-1992), que
apontaram para a contribuição das estruturas do lobo temporal para as
emoções. MacLean construiu uma proposta mais abrangente para o cérebro
emocional. Destacou a importância do hipotálamo para a expressão emocional
e do córtex cerebral para a experiência emocional. Em 1952, MacLean
introduziu na literatura a expressão sistema límbico, que incluiria as estruturas
do circuito de Papez mais outras regiões, tais como a amígdala, o septo e o
córtex pré-frontal.
A expressão sistema límbico continua sendo usada até hoje para se
referir ao conjunto de estruturas do SNC que participam da coordenação
subjetiva e comportamental das emoções. No entanto, algumas estruturas
ainda incluídas nesse sistema, pela sua origem conceitual a partir do circuito de
Papez, exercem influencia significativa em outras funções e podem estar pouco
relacionadas com as emoções. Um exemplo é o hipocampo, que se sabe
atualmente estar amplamente relacionado com a memória, enquanto sua
função para as emoções ainda não está plenamente esclarecida.
Figura 9 (fonte: http://www.kiaunoticias.com/2012/10/29/a-raiva-em-nosso-
corpo/sistema-limbico/)
34
Nos últimos anos muitos trabalhos foram desenvolvidos visando a
identificar estruturas cerebrais relacionadas com as emoções. Algumas têm
sido frequentemente apontadas como essenciais e já foram amplamente
exploradas – como, por exemplo à amígdala e o córtex pré-frontal.
2.3 A aprendizagem
Saltini (2008) declara que conhecer é pensar e inventar, é descobrir e
conectar as qualidades e atributos dos objetos recompondo com a minha
capacidade criadora, o real externo dentro de minha mente. Este é o
significado do aprender.
Não se aprende aquilo que o outro nos dá pronto. Aprende-se em função
daquilo que pode-se trabalhar sobre o que o outro nos diz, ou daquilo que o
objeto se mostra e descobre-se. Constrói-se, inventa-se sempre dentro das
necessidades humanas e do campo de possibilidades. Esta capacidade
confere a chance afetiva, por meio do nível simbólico e cognitiva por meio dos
níveis técnico-estruturais de sobreviver, adaptar-se e estar presente no mundo
podendo contribuir com o saber. Portanto, a transformação do real em uma
realidade interna é uma obra feita com o sistema biofisiológico, afetivo e
cognitivo, com a mente e, assim procede-se para aliviar em parte a dor.
Segundo Relvas (2012), a inteligência vista em sua totalidade ou em sua
parte funcional pode ser desenvolvida, quando exercitada, treinada ou, a mais
importante, educada. A educação ocorre principalmente quando aprende-se a
aprender.
Na formação integral do ser humano, são quatro os pilares da educação:
aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a conviver e aprender a ser.
Todo ser humano deve ser preparado, especialmente pela educação
que recebe na juventude, para elaborar pensamentos autônomos e críticos e
para formular os seus próprios juízos de valor, de modo a poder decidir, por si
35
mesmo, como agir nas diferentes circunstâncias da vida (DELORS, apud,
Relvas, 2012).
2.4 Emoção e aprendizagem
O Pesquisador Joseph LeDoux (2011) afirma que o sistema emocional
pode monopolizar todos os recursos do cérebro, ele explica que é mais fácil
uma emoção assumir o controle do pensamento do que o pensamento assumir
o controle das emoções.
De forma mais precisa, deve-se dizer que a amígdala, essa estrutura
nervosa central do “cérebro emocional”, emite projeções neuronais para
maioria das partes do cérebro, incluindo as regiões responsáveis pelas altas
funções cognitivas. Mas que, ao contrário, as projeções provenientes dessas
regiões em direção à amígdala são em número muito mais restrito. Isso pode
explicar por que as emoções possuem tamanho impacto sobre os
comportamentos e cognições e por que, quando atingem certo nível de
intensidade, pode-se perder o autocontrole.
Daniel e Michel Chabot (2005) dizem que se o ser humano é capaz de
falar quando está triste, com raiva ou com medo, isto se dá, talvez, por duas
razões: em primeiro lugar, porque o cérebro racional e o cérebro emocional
comunicam-se entre si e funcionam em complementaridade. A outra razão
mais perniciosa, vem do fato de que o cérebro emocional é capaz de dominar o
cérebro racional.
Levadas ao extremo, as reações emocionais vão alterar,
consideravelmente, o aprendizado. É sabido por todos apoiados por pesquisas
científicas, que o stress pode afetar a capacidade de aprendizagem. Mais isto
vai ainda mais longe. Os estudos da equipe do Dr. Douglas Bremner, junto a
veteranos da guerra do Vietnã que sofriam da síndrome do stress pós-
traumático, comprovaram que seu hipocampo encontrava-se atrofiado quando
comparado ao de sujeitos normais. Esse mesmo tipo de observação foi
também feito com crianças que haviam sido vítimas de intenso stress por um
36
período relativamente longo. Portanto, não apenas as emoções negativas
intensas possuem a capacidade de alterar as faculdades de aprendizado, mais
elas conduzem, além disso, à destruição das estruturas do cérebro neles
implicadas.
2.4.1 As emoções e a dificuldade de aprendizagem
As emoções negativas possuem um considerável poder de influência
sobre o conjunto de funções cognitivas e intelectuais. As conexões nervosas
governadas pela amígdala possuem ramificações que transformam esta última
em mestre e senhora quando irrompe uma emoção intensa. A atenção, a
percepção, a memória de trabalho, a capacidade de ajuizamento e o raciocínio
são, todos, afetados pelas emoções negativas. Uma série de dados científicos
que sustentam esta tese e pode-se, portanto, afirmar com certeza que as
emoções negativas são responsáveis por um número considerável de
dificuldades de aprendizado. E não é necessário que as emoções
experimentadas pelo educando sejam intensas e agudas, como são as
emoções primárias e secundárias. Elas podem ser mais difusas tais como as
emoções de segundo plano. São, aliás, as emoções de segundo plano que se
mostram mais ativas, pois, diferentemente das emoções primárias, elas podem
durar mais tempo e provocar malefícios consideráveis.
Se o aluno não for ajudado no plano emocional ao longo de seu período
escolar, é possível que seu cérebro guarde traços emocionais negativos que
afetarão suas capacidades intelectuais, relacionais e técnicas. Acredita-se que
a Pedagogia Emocional é tão importante, além de ser fundamental que todos
os educadores e formadores possam favorecer emoções de segundo plano
positivas, tanto relacionadas à disciplina e à matéria que lecionam quanto ao
simples fato de aprender.
2.4.2 O impacto das emoções sobre o aprendizado e no rendimento
escolar
37
Segundo Daniel e Michel Chabot (2005), quando se solicita à memória
que transporte o sujeito ao passado, as recordações que vêm à mente – como
o primeiro beijo, a morte de um ente querido, o primeiro dia na escola ou a
comemoração de um evento importante – têm todas um denominador comum:
são carregadas de emoções.
Isto quer dizer que os acontecimentos mais carregados de emotividade
inscrevem-se com mais força na memória declarativa. Mas nem sempre as
emoções reforçam a memória. Em casos de stress, por exemplo, a reação
emocional que o acompanha pode reduzir ou comprometer o desempenho da
memória. As emoções, portanto, são capazes de produzir um impacto tanto
reforçador quanto redutor sobre a memória e o aprendizado. A tabela abaixo
resume os efeitos das emoções positivas e das emoções negativas sobre o
rendimento escolar:
IMPACTO DAS EMOÇÕES SOBRE O RENDIMENTO ESCOLAR
EMOÇÕES NEGATIVAS EMOÇÕES POSITIVAS
BLOQUEIO MOTIVAÇÃO
EVASÃO INTERESSE
ABSENTEÍSMO ENGAJAMENTO
PERDA DE TEMPO PERSEVERANÇA
SABOTAGEM COLABORAÇÃO
PROCRASTINAÇÃO FLEXIBILIDADE
RESISTÊNCIA ABERTURA DE ESPÍRITO
MÁ COMUNICAÇÃO COMPLACÊNCIA
CONFLITOS INTERPESSOAIS ACEITAÇÃO
AUSÊNCIA DE COLABORAÇÃO CRIATIVIDADE
INSEGURANÇA HARMONIA
Tabela 2 (fonte: Daniel e Michel Chabot, 2005)
38
Como se pode explicar o fato das emoções tanto interferirem no
processo de aprendizado? A razão principal vem da constatação de que as
emoções possuem um forte impacto sobre a percepção, sobre a capacidade de
ajuizamento e sobre os comportamentos. Os processos fundamentais que
explicam essa alteração das faculdades mentais são por demais longos e
complexos para serem explanados em detalhes mas pode-se dizer, para
simplificar, que são todos de ordem biológica e química.
2.4.3 Emoção e atenção
De acordo com os irmãos Chabot (2005) atenção não é apenas o
primeiro elo da cadeia do aprendizado, mas também, muito provavelmente,
dentre todos, o mais sensível. Já se demonstrou que as emoções possuem um
impacto sobre os mecanismos de atenção. Descobriu-se também, que os
elementos carregados de negatividade têm o poder de captar a atenção. Para
estudar este fenômeno, uma equipe de pesquisadores desenvolveu uma
experiência em que se pedia aos sujeitos para que detectassem um intruso em
meio a um grupo de imagens neutras. Os intrusos podiam ser, por exemplo,
uma cobra entre várias flores, ou uma flor em meio a diversas cobras. Os
pesquisadores concluíram que o tempo que se leva para descobrir um intruso
amedrontador (a cobra entre as flores) é menor que para detectar um intruso
anódino (a flor entre as cobras).
2.5 A importância do afeto na aprendizagem
“Os gregos diziam que a filosofia nasce da surpresa.Em termos psicológicos,
isso é verdadeiro se aplicado a qualquer conhecimento no sentido de que todo
conhecimento deve ser antecedido de uma sensação de sede. O momento da emoção
e do interesse deve necessariamente servir de ponto de partida a qualquer trabalho
educativo.” (Vygotsky)
O afeto é uma mola propulsora das ações, e a razão está a seu serviço
(La taille,1992). Ele medeia o registro das informações e as transforma em
conhecimento. Favorece a lembrança dos registros e estimula a conexão dos
39
neurônios que criam os registros. Quanto maior for o número de conexões,
haverá mais registros e mais conhecimento.
António Damásio (2006), afirma que a função atribuída às emoções na
criação da racionalidade tem implicações em algumas das questões com as
quais a sociedade defronta-se atualmente e, entre elas, a educação.
O ambiente ensina o cérebro e as emoções também. Biologicamente
existe no cérebro a produção de impulsos eletroquímicos que resultam em
funções mentais, pensamentos, sentimentos, dor, alegria e movimentos. Essas
atividades mentais são decorrentes de estímulos que produzem as sinapses. A
sinapse ocorre pela conexão entre neurônios, ocasionando a liberação de uma
substância chamada neurotransmissor que emite respostas nervosas e
transmite informação.
A memória necessita de dois mecanismos fundamentais (Relvas, apud,
Cunha, 2010): a fixação, para o acréscimo de novas informações, e a
evocação, para a revivência dos traços anteriormente assimilados. O afeto
estimula os dois mecanismos. Por esta razão muitos estudiosos da
neurociência falam do cérebro afetivo-emocional, onde as emoções são
organizadas em regiões interconectadas, dando equilíbrio ao comportamento
humano. Elas ajudam ao aprendente na concentração, no fluxo de atenção, no
registro, na lembrança e, fundamentalmente, no prazer de aprender e ensinar,
estabelecendo vínculos educativos entre o professor e o aluno.
Para Wallon (apud, Cunha, 2010), é inevitável que as influências
afetivas, que rodeiam as crianças desde o berço, tenham sobre sua evolução
mental uma ação determinante. As emoções consistem essencialmente em
sistema de atitudes. Para ele, o social amalgama-se ao orgânico. Para o
aprendente, isto é imprescindível, pois todo conhecimento deve ser remetido a
um contexto de vivências, para promoção de habilidades socioafetiva.
O que vai dar qualidade ou modificar a qualidade do aprendizado será o
afeto. São as emoções que ajudam a interpretar os processos químicos,
40
elétricos, biológicos e sociais que se experencia, e a vivência das experiências
que são permeadas por sentimentos é que determinará a qualidade de vida do
ser humano. Por esta razão, todos estão aptos a aprender quando amarem,
quando desejarem, quando forem felizes.
Damásio (apud, Cunha, 2010) afirma que os sentimentos são tão
cognitivos como qualquer percepção. São resultado de uma curiosa
organização fisiológica que transformou o cérebro no público cativo das
atividades teatrais do corpo.
Como diz Relvas (2010) em seu livro Neurociência e Educação, a
serotonina é o hormônio do prazer, da felicidade e das emoções. Não há
fórmulas mágicas para se obter um aprendizado eficiente, usando a união entre
a razão e a paixão, mas o mais importante é conhecer a realidade dos
estudantes, estar presente naquilo que os interessam, isto é, trabalhar o
emocional, visto que o educador, consegue estabelecer vínculos com seus
estudantes e os mesmos jamais serão rompidos.
Leva-se muito tempo para se construir uma relação e pouco tempo para
destruí-la, portanto pensar sempre no que fala e como se expressa pode
influenciar o método de ensino por toda vida. Sendo assim, a razão e a paixão
dependem muito do fator inter-relacional, entre ensino e aprendizagem para
surtir efeitos nos processos cognitivos e na formação do estudante. Essa
relação depende muito mais do educador pois é o mediador do processo.
O principal nesse processo entre razão e paixão é que educadores
estimulem os sonhos de seus estudantes e façam de seus sonhos suas metas,
pois, assim, estará fazendo o principal papel de educador, e não apenas o de
transferir conteúdos, mas educando as emoções.
41
CAPÍTULO III
3. Educação e neurociência
“A mente que se abre a uma nova ideia jamais voltará ao seu tamanho original.”
Albert Einstein
3.1 Neuroplasticidade (sinapses e informação)
Relvas (2007) define a plasticidade cerebral como a denominação das
capacidades adaptativas do SNC e sua habilidade para modificar sua
organização estrutural própria e funcionamento. Ela é a propriedade do sistema
nervoso que permite o desenvolvimento de alterações estruturais em resposta
à experiência, e como adaptação a condições mutantes e a estímulos
repetidos.
Ao falar de neuroplasticidade é importante considerar como se inicia o
sistema nervoso humano, sendo assim, de acordo com Cosenza & Guerra
(2011), afirmam que tal sistema inicia-se nas primeiras semanas da vida
embrionária sob a forma de um minúsculo tubo cuja parede é formada por
células-tronco que vão dar origem a todos os neurônios e também à maior
parte das células auxiliares, as células gliais, que encontra-se no adulto.
Inicialmente, o tubo tem paredes finas e comprimento pequeno, pois nessa
fase todo o embrião não chega a medir 10mm. Contudo, em poucas semanas
ocorrerá uma imensa transformação para possibilitar que a criança nasça com
sistema nervoso já bem parecido com o que terá na vida adulta.
Em uma primeira fase, o evento mais importante é a contínua divisão
das células-tronco, formando novos neurônios que, de um número inicial
reduzido, irão se tornar bilhões em um curto espaço de tempo. À medida que
as paredes do tubo vão ficando mais espessas, sobretudo junto a cabeça, na
região que dará origem ao cérebro, os novos neurônios terão como primeira
tarefa deslocar-se, de uma forma ativa, para ocupar os lugares para os quais
42
estão predeterminados geneticamente. Essa migração programada é auxiliada
por células gliais específicas dessa etapa do desenvolvimento e pode-se
imaginar a complexidade das instruções que determinam, passo a passo, o
posicionamento correto de cada grupo de células que irão constituir o sistema
nervoso adulto. Qualquer erro nessa fase pode comprometer o funcionamento
do cérebro adulto, pois as conexões corretas podem ser impedidas de
acontecer posteriormente. Chegando ao seu destino, as células começam a
desenvolver seus prolongamentos, dendritos e axônios, que são indispensáveis
para a recepção e o envio de estímulos a outras células. Os neurônios podem
ter diferentes formatos e tamanhos, muitos têm características que são próprias
de determinada região do sistema nervoso.
Cumprida essa fase de diferenciação, tem início a formação das
conexões com os outros neurônios, para que sejam criados os circuitos
necessários para executar as mais diferentes funções. Não é uma tarefa
simples, pois muitas fibras (axônios) têm que crescer ao longo de extensos
trajetos, passando por territórios “desconhecidos” e cheios de obstáculos, uma
vez que outras estruturas, também em fase de diferenciação, estarão no seu
caminho. Nesse percurso, elas são auxiliadas por outras estruturas que, por
sinalizações químicas ou mecânicas, as orientam até alcançarem o objetivo
final.
Neurônios que têm origem no olho, por exemplo, tem que dar origem a
um circuito que levará informação até a área do córtex cerebral que se ocupa
da visão, a qual se localiza na posterior do cérebro, no lobo occipital. Portanto,
têm que atingir o extremo oposto da cabeça em relação à sua origem. Os
axônios vão abrindo caminho por vários centímetros, desviando-se de
obstáculos, cruzando de um lado para o outro do cérebro, até que tudo esteja
no seu devido lugar, completando-se assim a via visual.
Depois que os neurônios ocupam suas posições, emitem
prolongamentos e têm seus axônios nos lugares estabelecidos, ocorre então a
sinaptogênese, a formação das sinapses que irão completar efetivamente os
43
circuitos nervosos. Esse é um fenômeno extremamente importante que, vai se
estender bem além do período intrauterino.
No processo de construção do cérebro, na verdade, são formados
neurônios em um número muito maior do que o necessário para o seu
funcionamento. Muitas células são descartadas ao final, ou porque não se
localizaram no lugar certo, ou porque não conseguiram formar as ligações
necessárias, ou ainda porque as ligações formadas não eram corretas ou não
se tornaram funcionais. Muitas sinapses formadas inicialmente irão também
desaparecer, por um processo de retração axonal, ou de “desbastamento”
sináptico.
Durante muito tempo existiu a crença de que não se formavam novos
neurônios após o nascimento e que havia uma perda progressiva da população
neuronal à medida que se envelhece. Hoje sabe-se que algumas regiões do
cérebro mantêm a capacidade de produzir novas células pela vida inteira, ainda
que esse fenômeno seja muito limitado. Por outro lado, descobriu-se que as
perdas que ocorrem ao longo da vida são menos intensas do que se imaginava
inicialmente e nem de longe se comparam com a destruição de neurônios que
ocorre, por exemplo, antes do nascimento, e que visa eliminar todos aqueles
que não terão função.
Segundo Cosenza & Guerra (2011), pesquisas têm mostrado que a
estimulação ambiental é extremamente importante para o desenvolvimento do
sistema nervoso. Animais criados em ambientes empobrecidos apresentam,
mais tarde, um cérebro menos sofisticado, com menor quantidade de conexões
sinápticas. Ele pode ser, por exemplo, menos pesado, com um córtex mais
delgado. Certamente haverá alterações comportamentais, mostrando-se que
quando se retira a estimulação necessária para o desenvolvimento de
determinadas capacidades, elas simplesmente não se desenvolve, ou se
desenvolvem de forma inadequada. Isso levou ao conceito de períodos críticos
ou receptivos do desenvolvimento e desencadeou o receio de que, na espécie
humana, também existam períodos que, se não aproveitados, levariam a
44
perdas irreversíveis. Embora existam, realmente, períodos em que
determinadas aprendizagens ocorram de forma ideal, tudo indica que uma
eventual perda de oportunidade nesses períodos sensíveis pode ser corrigida
no futuro, embora somente ao custo de esforços muito maiores.
O aprendizado de uma segunda língua, por exemplo, é feito com
perfeição nos primeiros anos de vida, enquanto uma aprendizagem posterior
geralmente não pode evitar a presença de um sotaque evidente. Contudo,
mesmo isso pode, em certos casos, ser corrigido, mas acarreta um grande
esforço adicional.
O sistema nervoso é extremamente plástico nos primeiros anos de vida.
A capacidade de formação de novas sinapses é muito grande, o que é
explicável pelo longo período de maturação do cérebro, que se entende até os
anos da adolescência.
O cérebro adulto não tem a mesma facilidade de promover tão grande
modificação, e durante muito tempo acreditou-se que a capacidade de
aprendizagem era pequena nos adultos e quase nula na velhice. O
conhecimento atual permite afirmar que a plasticidade nervosa, ainda que
diminuída, permanece pela vida inteira; portanto, a capacidade de
aprendizagem é mantida.
Uma característica marcante do sistema nervoso é então a sua
permanente plasticidade. E o que entende-se por plasticidade é sua
capacidade de fazer e desfazer ligações entre os neurônios como
consequência das interações constantes com o ambiente externo e interno do
corpo.
O treino e a aprendizagem podem levar a criação de novas sinapses e à
facilitação do fluxo da informação dentro de um circuito nervoso. Do ponto de
vista neurobiológico a aprendizagem se traduz pela formação e consolidação
das ligações entre as células nervosas. É fruto de modificações químicas e
estruturais do sistema nervoso de cada um, que exigem energia e tempo para
45
se manifestar. Professores podem facilitar o processo, mas em última análise,
a aprendizagem é um fenômeno individual e privado e vai obedecer às
circunstâncias históricas de cada ser humano.
3.1.1 Neuroplasticidade e educação
Segundo Lent (2011), muitos neurocientistas trabalham para esclarecer
e viabilizar mecanismos cerebrais específicos envolvidos com os diversos
aspectos relevantes para a educação.
Recentemente, a Fundação Dana, uma organização privada norte-
americana dedicada a apoiar a ciência, a saúde e a educação, com ênfase
particular na neurociência, lançou o número de 2010 de Cerebrum, um livro
anual que debate os avanços e perspectivas desta disciplina. Nessa edição,
sobressai uma interessante discussão sobre as relações entre as ciências do
cérebro e educação. Dois chamaram a atenção do professor Roberto Lent: O
primeiro refere-se ao processo conhecido como transferência próxima. São
experimentos realizados por um grupo de neurocientistas liderados por
Gottfried Schlaug e Krista Hyde, do Instituto de Neurologia de Montreal, no
Canadá, e da Universidade Harvard, nos EUA.
O grupo de pesquisadores acompanhou, durante 15 meses, crianças de
seis anos de idade sob treinamento musical, comparadas a outras sem essa
atividade. Mesmo nesse curto período foi possível detectar alterações cerebrais
estruturais nas regiões motoras envolvidas com os instrumentos musicais
empregados, nas regiões auditivas e no circuito de integração entre os dois
hemisférios cerebrais.
A neuroplasticidade estrutural no cérebro de músicos adultos já havia
sido demonstrada anteriormente, mas persistia a dúvida sobre se o fenômeno
era causado pelo treinamento ou se esses indivíduos eram previamente
dotados de maior volume cortical nas regiões associadas ao processamento
musical. No experimento do grupo norte-americano, isso ficou esclarecido, pois
46
o estudo comparou as imagens obtidas antes e depois de um treinamento
musical de 15 meses.
O termo transferência próxima pode agora ser entendido: refere-se ao
efeito do treinamento sobre regiões funcionais relacionadas à função
aprendida. Nesse caso, as regiões motoras e auditivas são obviamente
relacionadas a aprendizagem musical.
O segundo grupo de resultados é mais impressionante, mas menos bem
documentado cientificamente. Aborda um processo mais sofisticado chamado
transferência distante (também chamada transmodal). Aqui, a influência do
treinamento (educação) se dá sobre funções menos relacionadas (distantes).
Uma avaliação do estado-da-arte nesse aspecto da neuroplasticidade foi
feita em Cerebrum 2010 por Michael Posner, professor hemérito da
Universidade de Oregon, e especialista nos mecanismos neurobiológicos da
atenção. O sistema em questão, neste caso, é o sistema atencional do cérebro,
por meio do qual se é capaz de focalizar as operações cognitivas sobre um
único alvo, e desse modo realizá-las de forma mais eficiente.
A ideia subjacente é que o treinamento focalizado em uma forma de arte
que atrai fortemente o interesse de uma criança (música, dança, teatro)
fortaleceria o sistema atencional do cérebro, repercutindo positivamente na
cognição em geral. Para aprender, é preciso prestar atenção. E pode-se
aprender a prestar atenção (Lent, 2011).
3.2 O cérebro e seus registros
“A inteligência se parece com as lâmpadas que servem para iluminar. Para isso, são
dotadas de potências e de iluminações diferentes.”
Marta Pires Relvas
De acordo com Cosenza & Guerra (2011) boa parte da aprendizagem e
da memória se faz por mecanismos que não envolvem processos conscientes
47
no cérebro. Convém lembrar que a memória processada de forma inconsciente
é chamada de memória implícita, enquanto chama-se de memória explicita,
aquela da qual se toma conhecimento, porque envolvem os mecanismos
conscientes.
Sabe-se que uma informação relevante deve passar pelo filtro da
atenção e em seguida por um processo de codificação quando a experiência
vivenciada ou a informação recebida provoca a ativação de neurônios,
caracterizando a memória operacional. Dependendo da relevância da
experiência ou da informação, poderão ocorrer alterações estruturais em
circuitos nervosos específicos cuja as sinapses se tornarão mais eficientes,
permitindo o aparecimento de um registro. Para uma informação se fixar de
forma definitiva no cérebro, ou seja, para que se forme o registro ou traço
permanente, é necessário um trabalho adicional. Os estudos da psicologia
cognitiva indicam que, nesta fase, são importantes os processos de repetição,
elaboração e consolidação.
Os processos de repetição e elaboração é que vão determinar a força do
registro ou traço de memória que será formado. Informações muito repetidas,
ou muito elaboradas, resultarão em novas conexões nervosas estabilizadas no
cérebro. Elas se constituirão em registros fortes, que tendem a resistir ao
tempo e mesmo a alterações do funcionamento cerebral.
A consolidação é o registro indispensável e que é retido por um tempo
maior e nele ocorrem alterações biológicas nas ligações entre os neurônios,
por meio das quais o registro vai se vincular a outros já existentes, tornando-se
mais permanentes. Essas alterações envolvem a produção de proteínas e
outras substâncias que são utilizadas para o fortalecimento ou a construção de
sinapses nos circuitos nervosos, facilitando a passagem do impulso nervoso.
Trata-se de um processo que não ocorre instantaneamente, que demora algum
tempo para ocorrer. Terminado o processo, novas memórias estarão
consolidadas e serão menos vulneráveis ao desaparecimento do que as
lembranças recentes.
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Segundo Relvas (2010) existem duas memórias: a emocional e a
racional. Mais conhecidas como razão e emoção, elas articulam-se e
complementam-se por meio de um mecanismo dinâmico, uma impulsionando a
outra com grande rapidez nas tomadas de decisões.
Nesta interação, um elemento importante para o cérebro é o Sistema
Límbico, pois é o responsável pelo prazer e aprendizado. A falta de libidinação
gera problemas conflitantes, inibindo o processo de aprendizagem.
Quando a história é construída, passa-se por um processo de
assimilação. Neste momento, o hipocampo é ativado. É por meio deste
processo que envia as informações para a memória de curta ou longa duração.
A memória não está localizada em uma estrutura isolada do cérebro: ela
é um fenômeno biológico e psicológico, envolvendo sistemas cerebrais que
funcionam juntos.
3.3 Neuroaprendência
De acordo com Relvas (2012) um dos temas mais fascinantes da ciência
é como surgiu a inteligência humana ao longo da evolução dos grandes
primatas aos hominídeos chegando até o ser humano. A inteligência nos dá a
chave para o tesouro do entendimento sobre nós mesmos e como a seleção
natural pôde produzir tamanha maravilha como o cérebro humano e sua
capacidade em tempo tão curto.
Muitas facetas da evolução da inteligência humana são ainda matéria de
considerável mistério porque ela não pode ser observada diretamente no
registro paleontológico, como um osso, ou dentes, por exemplo. A evidência
reunida por cientistas sobre a inteligência vem indiretamente a partir da
observação do tamanho da capacidade craniana, de artefatos produzidos como
resultado da inteligência humana, tais como: a fabricação de ferramentas, a
caça cooperativa e a guerra, o uso do fogo e o cozimento de alimentos, a arte,
o enterramento dos mortos e outras coisas mais (Relvas, 2012).
49
3.4 Neurociência e Educação
“Para ser válida toda educação, toda ação educativa, deve necessariamente ser
precedida de uma reflexão sobre o homem e de uma análise do meio de vida
concreto, do homem concreto a quem queremos educar ou melhor: a quem queremos
ajudar a que se eduque. Se vier a faltar tal reflexão sobre o homem corre-se o risco de
adotar métodos educativos e maneiras de agir que reduzem o homem a condição de
objeto, quando a sua vocação é a de ser sujeito e não objeto.”
Paulo Freire
Os autores Cosenza & Guerra (2011) afirmam que a educação tem por
finalidade o desenvolvimento de novos conhecimentos ou comportamentos,
sendo mediada por um processo que envolve a aprendizagem. Comumente,
diz-se que alguém aprende quando adquire competência para resolver
problemas e realizar tarefas, utilizando-se de atitudes, habilidades e
conhecimentos que foram adquiridos ao longo de um processo de ensino-
aprendizagem, ou seja, aprende-se quando se é capaz de exibir, de expressar
novos comportamentos que nos permitem transformar a prática e a sociedade
em se vive, realizando-nos como pessoas vivendo em grupos sociais..
Como os comportamentos humanos dependem do cérebro, a aquisição
de novos comportamentos, importante objetivo da educação, também resulta
de processos que ocorrem no cérebro do aprendiz. As estratégias pedagógicas
promovidas pelo processo ensino-aprendizagem, aliadas às experiências de
vida às quais o indivíduo é exposto, desencadeiam processo como a
neuroplasticidade, modificando a estrutura cerebral de quem aprende.
O cérebro é o órgão da aprendizagem. Essa constatação, hoje
aparentemente tão óbvia não foi sempre assim. Embora o educador atribuísse,
frequentemente, as dificuldades de aprendizagem a um problema neurológico,
não havia clareza de que o processo de aprendizagem normal fosse mediado
por estruturas cerebrais com suas respectivas propriedades e funções. Aliás,
50
boa parte dos conhecimentos acerca do funcionamento cerebral é
relativamente recente. O cérebro foi, por muitos anos um grande mistério.
Embora muitas vezes se observe certa euforia em relação às
contribuições das neurociências para a educação, é importante esclarecer que
elas não propõem uma nova pedagogia nem prometem soluções definitivas
para as dificuldades da aprendizagem. Podem, contudo, colaborar para
fundamentar práticas pedagógicas que já se realizam com sucesso e sugerir
ideias para intervenções, demonstrando que as estratégias pedagógicas que
respeitam a forma como o cérebro funciona tendem a ser as mais eficientes.
Os avanços das neurociências possibilitam uma abordagem mais científica do
processo ensino-aprendizagem, fundamentada na compreensão dos processos
cognitivos envolvidos (Cosenza & Guerra, 2011).
As neurociências são ciências naturais que estudam princípios que
descrevem a estrutura e o funcionamento neurais, buscando a compreensão
dos fenômenos observados. A educação tem outra natureza e finalidades,
como a criação de condições para o desenvolvimento de competências pelo
aprendiz em um contexto particular. Ela não é regulada apenas por leis físicas
ou biológicas, mas também por aspectos humanos que incluem, entre outras, a
sala de aula, a dinâmica do processo ensino-aprendizagem, a família, a
comunidade e as políticas públicas.
O trabalho do educador pode ser mais significativo e eficiente quando
ele conhece o funcionamento cerebral. Mas saber como o cérebro aprende não
é suficiente para a realização da “mágica do ensinar e aprender”, assim como o
conhecimento dos princípios biológicos básicos não é suficiente para que o
médico exerça uma boa medicina.
Desse diálogo, desejável e necessário entre educação e neurociência,
emergem, os desafios que podem contribuir para o avanço de ambas as áreas
(Cosenza & Guerra, 2011).
51
Conclusão
Como diz Saltini (2008), apenas o homem pode educar o homem. Sendo
assim este ser dotado de inteligência cada vez mais percebe a necessidade da
afetividade na educação dos seus pares. Para tanto se faz necessário um
estudo constante das áreas do cérebro que permeiam os sentimentos,
conhecê-los é de suma importância para direcionarmos a aprendizagem
significativa. A partir deste pressuposto caminha-se para uma nova postura
educativa, a de educar para uma integração mais harmoniosa entre cognição e
emoção. Como afirma Cunha:
“São as nossas emoções que nos ajudam a interpretar os
processos químicos, elétricos, biológicos e sociais que
experenciamos, e a vivência das experiências que amamos é
que determinará a nossa qualidade de vida. Por esta razão,
todos estão aptos a aprender quando amarem, quando
desejarem, quando forem felizes. Com efeito, precisamos
indagar o que é mais importante neste tempo: ensinar ou
semear no educando o desejo de aprender (Cunha, 2010)”.
Desta forma entende-se que um dos papéis do educador
emocionalmente inteligente consiste em estimular as competências emocionais
dos. seus alunos, pois de acordo com Chabot (2005) um importante princípio
que deve ser considerado no processo ensino-aprendizagem é que “o
verdadeiro aprendizado se dá não quando compreendemos, mas quando
sentimos”. Sendo assim o professor deve utilizar meios que permitam ao aluno
sentir as coisas que aprende.
As emoções afetam de forma significativa as funções cognitivas,
possibilitando melhorar a capacidade de aprendizado, tornando-o mais eficaz e
agradável.
Conclui-se que por tais razões faz-se necessário a elaboração de uma
nova pedagogia que aborde a questão do ensino considerando todas as
52
possibilidades de implementação das ferramentas científicas existentes, neste
caso, a educação sob o olhar neuropedagógico, o qual prioritariamente coloque
o ser humano como sujeito de sua aprendizagem. Como diz Paulo Freire
(apud, Saltini, 2008):
“Para que uma educação seja válida, toda a ação educativa
deverá necessariamente ser precedida de uma reflexão sobre
o homem, e uma análise profunda do meio de vida concreta
daquele que se quer educar, melhor dizendo, daquele que se
quer ajudar a se educar. Sem esta reflexão sobre o homem,
arriscamos adotar métodos educativos e de agir de tal modo
que o homem ficaria reduzido à condição de objeto. Sem a
análise do meio cultural e concreto, corremos o risco de
realizar uma educação pré-fabricada e castradora. Para ser
válida, a educação deverá levar em conta que o fator primordial
do homem, sua vocação ontológica, é aquela de Ser-Sujeito
nas condições em que ele vive; em um lugar preciso, em um
momento e num certo contexto (Freire, 1974)”.
Para tanto cabe à escola conhecer o universo de sua comunidade e
colocar em sua proposta curricular o respeito as diferenças e o incentivo as
habilidades diferenciadas que cada educando traz consigo,para que sua
aprendizagem se torne significativa e a ação do professor deve ser carregada
de afetividade.
53
Referências bibliográficas
CHABOT, Daniel. Chabot, Michel. Pedagogia Emocional: Sentir para
aprender – São Paulo: Sá editora, 2005.
Cosenza, R.M; GUERRA, L.B. Neurociência e Educação: como o cérebro
aprende – Porto Alegre: Artmed, 2011.
CUNHA, Eugênio. Afeto e aprendizagem: relação de amorosidade e saber
na prática pedagógica – Rio de janeiro: WAK, 2010.
DAMÁSIO, Antônio. Em busca de Espinosa: prazer e dor na ciência dos
sentimentos – São Paulo: Companhia das Letras, 2004.
LEDOUX, Joseph. O Cérebro emocional: Os misteriosos alicerces da vida
emocional. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001.
LENT, Roberto. Neurociência da Mente e do Comportamento – Rio de
Janeiro: Guanabara Koogan, 2008.
PEREIRA, Ana. Estudo sobre a relação entre os sistemas cognitivo e
motor no homem – Universidade do Porto, 2011
_____, Sobre neurônios, cérebros e pessoas – São Paulo: Atheneu, 2011.
RELVAS, Marta Pires. Neurociência na prática pedagógica – Rio de Janeiro:
Wak Editora, 2012.
_____, Neurociência e Educação – Rio de Janeiro: WAK, 2010.
_____, Neurociência e transtorno de aprendizagem – Rio de janeiro: WAK,
2010.
SALTINI, Cláudio J.P. Afetividade e Inteligência. Rio de Janeiro: Wak editora,
2008.
54
ÍNDICE
FOLHA DE ROSTO ................................................................................... 02
AGRADECIMENTO ................................................................................... 03
DEDICATÓRIA........................................................................................... 04
RESUMO ................................................................................................... 05
METODOLOGIA ........................................................................................ 06
SUMÁRIO .................................................................................................. 07
CAPÍTULO I – O cérebro e sua função cognitiva e emocional................... 11
1.1 – Sistema Nervoso Central (SNC) ..................................................... 11
1.2 – O cérebro ........................................................................................ 13
1.3 – O cerebelo ...................................................................................... 16
1.4 – Troncos encefálicos ........................................................................ 16
1.5 – O cérebro emocional ...................................................................... 18
1.5.1 – Amígdala ................................................................................... 18
1.5.2 – A amígdala e as emoções ......................................................... 18
1.5.3 – O córtex pré-frontal ................................................................... 19
1.5.4 – O córtex insular ......................................................................... 20
1.5.5 – Córtex cingulado anterior .......................................................... 20
CAPÍTULO II – Emoção e aprendizagem .................................................. 28
55
2.1 – As emoções .................................................................................... 28
2.1.1 – As emoções primárias ............................................................... 28
2.1.2 – As emoções secundárias .......................................................... 29
2.1.3 – As emoções de fundo ............................................................... 30
2.2 – Sistema Límbico (SL) ..................................................................... 31
2.2.1 – Circuito de Papez ...................................................................... 31
2.3 – A aprendizagem.............................................................................. 34
2.4 – Emoção e aprendizagem ................................................................ 35
2.4.1 – As emoções e a dificuldade de aprendizagem .......................... 36
2.4.2 – O impacto das emoções sobre o aprendizado e o rendimento escolar
.............................................................................................................. 36
2.4.3 – Emoção e atenção .................................................................... 38
2.5 – A importância do afeto na aprendizagem ....................................... 38
CAPÍTULO III – Educação e Neurociência ................................................ 41
3.1 – Neuroplasticidade (sinapses e informação) .................................... 41
3.1.1 – Neuroplasticidade e educação .................................................. 45
3.2 – O cérebro e seus registros ............................................................. 46
3.3 – Neuroaprendência .......................................................................... 48
3.4 – Neurociência e educação ............................................................... 49
CONCLUSÃO ............................................................................................ 51
56
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................... 53
ÍNDICE ....................................................................................................... 54