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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENDU” AVM FACULDADE INTEGRADA CONTRATO DE ADESÃO E AS CLÁUSULAS ABUSIVAS EM FACE DO CDC Por: Lowigi dos Santos Souza Orientador Professor: Willian Rocha RIO DE JANEIRO 2014 DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENDU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

CONTRATO DE ADESÃO E AS CLÁUSULAS ABUSIVAS EM

FACE DO CDC

Por: Lowigi dos Santos Souza

Orientador

Professor: Willian Rocha

RIO DE JANEIRO

2014

DOCUMENTO PROTEGID

O PELA

LEI D

E DIR

EITO AUTORAL

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENDU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

CONTRATO DE ADESÃO E AS CLÁUSULAS ABUSIVAS EM

FACE DO CDC

Apresentação de monografia à Universidade

Candido Mendes como requisito parcial para

obtenção de grau de especialista em

Responsabilidade Civil e Direito do Consumidor.

Por: Lowigi dos Santos Souza

3

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AGRADECIMENTO

À minha querida mãe, por todo o

incentivo e dedicação, maior guerreira

e responsável pela minha formação

pessoal.

4

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DEDICATÓRIA

À minha família, por todo apoio e

carinho, sempre.

Ao Raphael, meu namorado, pela

colaboração, pesquisa e estímulo.

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RESUMO

Trata o presente trabalho, da abordagem das cláusulas abusivas nas

relações contratuais consumeristas. Analisa as cláusulas abusivas inseridas

naqueles contratos celebrados entre fornecedor e consumidor, e suas

consequências no ordenamento jurídico. A interpretação dessas cláusulas sob

o enfoque do Código de Defesa do Consumidor, sua evolução histórica, seus

princípios e causas de nulidade.

Através do contorno da evolução da sociedade, a qual originou a

necessidade da elaboração do referido código, da modalidade contratual que

permeia sobremaneira as relações consumeristas e de grande volume, e,

também, os princípios norteadores, aqueles que direcionam uma atuação

equânime no momento da contratação, a fim de se evitar uma onerosidade

excessiva para o consumidor, considerado hipossuficiente nas questões de

consumo. Servindo-se dos ensinamentos doutrinários, bem como da

jurisprudência pertinente às questões demonstradas, em suma, utilizando-se

de pesquisa bibliográfica para tecer os contornos condizentes aos

contratantes/consumidores.

6

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METODOLOGIA

Buscou-se, com a escolha desse tema tão amplamente discutido por

inúmeros doutrinadores, dar uma visão geral do referido instituto, com a

finalidade de produzir naqueles que tem o desejo de militar nesta seara tão

promissora do Direito das Obrigações, sobretudo, atuando no âmbito da

Defesa do Consumidor, através de pesquisa bibliográfica, artigos,

jurisprudência e posições doutrinárias.

Observa-se na trajetória deste trabalho que o fator decisivo na

efetivação dos contratos deve ser a livre manifestação de vontade, mas que

nem sempre isso é verdadeiro. Os contratos nem sempre expressam essa

realidade assegurada em lei, especialmente no Código de Defesa do

Consumidor, onde muitos dos contratos trazerem cláusulas leoninas, abusivas

e muitas vezes que visam tão somente a proteção das instituições de crédito,

deixando o contratante completamente indefeso ante as arbitrariedades que

muitas vezes são impostas ao mesmo.

Nessa perspectiva, dentro de um sistema moderno complexo, como o

atual pelo qual passa o mundo e a sociedade mundial, o sistema de crédito de

um modo geral ocupa ponto de destaque no universo econômico, posto que,

sua função não se limita apenas a atender as necessidades pessoais, mas

também dar segurança e propiciar o desenvolvimento de uma nação, trazendo

modelo de sustentação para a economia.

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SUMÁRIO

FOLHA DE ROSTO 2 AGRADECIMENTO 3 DEDICATÓRIA 4 RESUMO 5 METODOLOGIA 6 INTRODUÇÃO 9 CAPITULO I - PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS APLICÁVEIS AOS CONTRATOS EM GERAL 11 1.1. Princípio da Autonomia da Vontade 11 1.2. Princípio da força obrigatória 11 1.3. Princípio da Relatividade das Convenções 12 1.4. Princípio da Boa-fé 13 1.5. Função Social 14 CAPITULO II - CONTRATOS DE ADESÃO 16 2.1. Evolução histórica/Massificação contratual 16 2.2. Propriamente dito 20 CAPITULO III - CLÁUSULAS ABUSIVAS 24 3.1. A definição de cláusulas abusivas 24 3.2. Mecanismo de modificação ou extinção do contrato de adesão 26 3.3. Efeitos produzidos nos contratos de adesão 31 3.4. Reconhecimento judicial da cláusula abusiva 37

8

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CONCLUSÃO 41

BIBLIOGRAFIA 43

INDICE DOS ANEXOS 45

ANEXO I 46

ANEXO II 51

ANEXO III 53

FOLHA DE AVALIAÇÃO 57

9

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INTRODUÇÃO

A emergência do mercado de massa, fenômeno social, econômico e

cultural do século XX, decorrente do período de expansão industrial e da

implementação do comércio do século XIX, alterou as estruturas tradicionais do

contrato, exigindo que tais negócios jurídicos impulsionassem a economia, de

forma a agilizar a prestação de bens e serviços para atender o crescente

consumismo. Os negócios deixaram de ser objeto de contratos assentes na

igualdade das partes, que livremente conformavam o seu conteúdo, de acordo

com seus interesses. O comércio jurídico massificou-se, em decorrência da

produção e distribuição em massa dos produtos e serviços.

As grandes empresas buscaram em modelo contratual capaz de atender

à aceleração das operações necessárias à colocação dos produtos no mercado

de consumo e atender aos seus objetivos de racionalização, diminuição de

custos e aumento de lucros. Introduziram, assim, uma nova maneira de

contratar: os contratos celebrados mediante adesão a condições gerais pré-

elaboradas e pré-dispostas por elas, não precedidos de qualquer fase de

negociação. Esse modelo se impôs no mercado de consumo, de tal sorte que a

autonomia privada, na forma concebida originalmente, como poder das partes

contratantes de auto-regulamentarem seus interesses privados, deixou de

existir. Foi substituída pela vontade soberana da parte que predispõe, de modo

uniforme, as condições gerais, para serem incorporadas a múltiplos contratos

singulares, celebrados em série, sem liberdade dos aderentes de conformação

do seu conteúdo.

Paralelamente a essas grandes transformações econômicas, O

Estado Liberal cedeu vez ao Estado Social de Direito, das liberdades positivas,

criando o ambiente favorável à intervenção do Estado no domínio econômico e

no âmbito dos contratos, em busca do equilíbrio nas relações contratuais, já, de

forma expressiva, representadas por contratos em série ou de massa, os

chamados contratos de adesão, que surgiram à sombra da liberdade

contratual.

10

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Tais negócios jurídicos consistem em verdadeiros impressos, com

condições contratuais previamente estipuladas pelos fornecedores, sem que

haja possibilidade do cliente discutir o seu conteúdo. Isso significa que o

esquema contratual vem pronto, devendo aceitá-lo integralmente aquele que se

propõe a travar a relação. Essa modalidade contratual tem suscitado

pertinentes controvérsias. No contrato de adesão, o contratante aderente não

discute as cláusulas, o conteúdo do contrato, limitando-se apenas a aderir

àquilo que lhe é oferecido.

Mas, se por um lado, o novo instrumento contratual facilitou a

aquisição de bens e serviços, por outro tornar-se fonte de desequilíbrio

contratual entre as partes. A explicação não é outra: os empresários, os

fornecedores, valendo-se da posição economicamente favorável, muitas vezes

acabam por trazer ao contrato cláusulas abusivas que afrontam ao princípio da

boa-fé, da lealdade, da tutela da confiança e do equilíbrio contratual.

Dependente de explicações ou de informações técnicas alheias à sua

compreensão, o consumidor contraente, então, adere a uma situação

contratual sem conhecer a carga obrigacional e seu alcance, o que evidencia

sua vulnerabilidade técnica e jurídica.

Com o advento do Código Brasileiro de Defesa do Consumidor (Lei

n.º 8.078/1990), as cláusulas abusivas passaram a ser combatidas de uma

forma mais rígida, célere e eficaz. O conceito e a natureza jurídica das

cláusulas abusivas constituem matéria de longa discussão. De modo geral,

poder-se-ia concebê-las como aquelas notoriamente desfavoráveis ao sujeito

mais fraco da relação contratual, no caso, o consumidor, consoante o art. 4º,

inciso I, do CDC. Tais cláusulas ofendem o postulado do equilíbrio e a cláusula

geral de boa-fé contidos nos art. 4º, III, e art. 51, IV do CDC. As normas que

proíbem as cláusulas abusivas são de ordem pública e, portanto, inafastáveis

por vontade das partes. Essas normas aparecem como instrumento do Direito

para restabelecer o equilíbrio entre as partes, compensando, assim, a

hipossuficiência do consumidor, com a adesão a cláusulas abusivas.

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CAPÍTULO I

PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS APLICÁVEIS AOS

CONTRATOS EM GERAL

1.1 - Princípio da Autonomia da Vontade

Atualmente, considerando a massificação das relações contratuais é

inegável fator de restrição à possibilidade de escolha, quer quanto com quem

contratar, quer quanto ao conteúdo do negócio. Tanto consumidor, como

microempresas ou empresas de pequeno porte que para a sua sobrevivência

necessitam se submeter ao poderio econômico de grandes grupos e

conglomerados capitalistas fica evidente que não se pode falar em paridade no

momento da contratação. Essa situação fica bem ilustrada pela crescente

utilização do contrato de adesão em que o Código Civil de 2002 estabeleceu

limites expressos à autonomia da vontade, o qual estabelece que seu exercício

deva se limitar à função social do contrato; vedando e tornando anulável

determinados conteúdos que representam desigualdade material entre as

partes, exigindo transparência, lealdade e correção nos negócios.

1.2 - Princípio da Força Obrigatória

Também conhecido como pacta sund servanda, expressão latina que

significa (os pactos devem ser cumpridos), o contrato vale como se fosse lei

entre as partes. O Novo Código Civil, atento a essa tendência de amenização

do rigor que este princípio impõe aos contratantes incorpora expressamente a

cláusula rebus sic stantibus, enquanto as coisas estiverem assim aos contratos

de execução são continuados e diferidos (art. 478 e 480), assim como o estado

de perigo (art. 156) e os institutos da lesão (art. 157), o qual trata da Teoria da

Imprevisão, onde se a prestação se tornar excessivamente onerosa para uma

das partes, em razão de acontecimentos extraordinários e imprevisíveis, em

princípio serve de pressuposto para revisão contratual.

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O estado de perigo e a lesão são dois institutos trazidos ao novo Código,

asseguratório de justiça contratual, onde a onerosidade excessiva ocorre

independentemente de causa superveniente.

Então, houve uma reestruturação do Princípio da Obrigatoriedade,

tornando-o mais flexível com a interferência do Estado para corrigir os rigores

do contrato, ante o desequilíbrio de prestações e pela alteração radical das

condições de seu cumprimento.

1.3 - Princípio da Relatividade das convenções

Este princípio consiste nos efeitos do contrato que ficam restritos

somente entre as partes contratantes, não atingindo terceiro, exceto quando se

estipula no contrato. Essa concepção clássica é também a posição do Código

Civil de 1916, entretanto foi relativizada no Novo Código Civil, que inspirado no

princípio da sociabilidade, não concebe mais o contrato apenas como

instrumento de satisfação de finalidade egoísta dos contratantes, porém lhe

reconhece um valor social. E nesse aspecto, ao se fixar a função social como

limite da liberdade contratual, não poderia deixar de admitir, a operatividade

dos efeitos dos contratos sobre terceiros, no caso, a coletividade. Então, não

há como negar que este princípio foi reestruturado pelo reconhecimento de

seus efeitos a terceiros no cumprimento da função social.

Na intangibilidade dos contratos, os seus princípios basilares revelaram-

se instrumentos de grande valia no desenvolvimento da vida econômica da

época, pois garantiam a regulação de interesses individuais com igualdades

entre as partes contratantes, ao mesmo tempo em que atendiam as

necessidades de ampliação e difusão das relações econômicas.

Entretanto, com a constitucionalização do direito civil e a recente entrada

em vigor do novo Código Civil, propõe-se, dessa forma, mitigar o postulado da

autonomia da vontade e a da obrigatoriedade dos contratos e outros instituindo

mecanismo de combate à desigualdade substancial entre as partes, com

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assunção de uma postura mais ativa do Estado, através do dirigismo

contratual. Enfim, propõe uma reestruturação do direito obrigacional,

especialmente em relação aos contratos.

1.4 - Princípio da Boa-fé

Na sequência, o art. 422 defini como segunda norma que “os

contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão do contrato, como

em sua execução, os princípios da probidade e boa-fé.” O que relega ao direito

privado noções e valores próprios do público, de forma a priorizar a ética

jurídica no novo Código Civil, perspectivas essenciais a justiça e regra de

conduta.

É importante considerar a boa-fé no Código Civil sob o aspecto

destacado por Alípio Silveira apud Bierwagem (2007, p.77).

A boa-fé objetiva pode ser definida, na esfera jurídica,

como comportamento inspirado no senso de probidade,

quer no exercício leal e não caviloso dos direitos e das

obrigações que dele derivam, quer no modo de fazê-los

valer e de observá-los, respeitando em qualquer caso o

escopo visado pelo ato jurídico, a harmonia dos

interesses das partes e as exigências do bem comum.

Esta evolução a respeito das relações contratuais que invadiu o espaço

reservado e protegido pelo direito passando-o da à livre e soberana

manifestação da vontade das partes para instauração de um instrumento

jurídico mais social, controlado e submetido a uma série de imposições

coibentes, mas equitativas.

Nesse horizonte, o resgate de princípios como o da

função social e da boa-fé, ao lado da relativização do

direito de propriedade, elevam-se como elementos-chave

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para a convivência social, dando passos largos

especialmente na segunda metade do século XX, quando

os direitos hum anos entram, definitivamente, como

prioridade na agenda internacional (BIERWAGEN, 2007,

p. 123).

Então, sob o édito da boa-fé não se deve orientar apenas pela vontade

dos contratantes, mas agregar ao contrato a lealdade e honestidade,

respeitando os direitos e deveres estabelecidos pela lei e vontade das partes.

Assim, incorporar o princípio da boa-fé torna-se um inegável avanço na

legislação brasileira aliada a razão e equidade social.

1.5 - Função Social

É a função que permite que o controle social não se limite ao exame de

estruturas ou tipos abstratamente considerados – segundo o qual, por exemplo,

uma locação cujo objeto fosse lícito seria sempre legítima – dando lugar ao

exame do merecimento de tutela do tipo em concreto – a verificar qual a função

econômico-individual que desempenha aquela locação no caso concreto.1 Por

isso, a função consiste em elemento interno e razão justificativa da autonomia

privada.

A função social, assim, definirá a estrutura dos poderes dos contratantes

no caso concreto, e será relevante para se verificar a legitimidade de certas

cláusulas contratuais que, embora lícitas, atinjam diretamente interesses

externos à estrutura contratual – cláusulas de sigilo, de exclusividade e de não

concorrência, dentre outras. Se assim é, nos termos do art. 421 do Código

Civil, toda situação jurídica patrimonial, integrada a uma relação contratual,

deve ser considerada originariamente justificada e estruturada em razão de sua

1 “Em um ordenamento no qual o Estado não assiste passivo à realização dos atos dos particulares, mas exprime juízos sobre eles, o ato meramente lícito não é por si só valorável em termos positivos. Para receber um juízo positivo, o ato deve ser também merecedor de tutela” (Pietro Perlingieri, Perfis do Direito Civil: Introdução ao Direito Civil Constitucional, cit., p. 92).

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função social. Como ocorrido em relação à propriedade, opera-se a

transformação qualitativa do contrato, que passa a consubstanciar instrumento

para a concretização das finalidades constitucionais.2

Em definitivo, a função social – elemento interno do contrato – impõe

aos contratantes a obrigação de perseguir, ao lado de seus interesses

privados, interesses extracontratuais socialmente relevantes, assim

considerados pelo legislador constitucional, sob pena de não merecimento de

tutela do exercício da liberdade de contratar.

O debate acerca do conteúdo e do papel da função social do contrato no

ordenamento jurídico brasileiro se insere no âmbito deste processo de

funcionalização dos fatos jurídicos, impondo-se ao intérprete verificar o

merecimento de tutela dos atos de autonomia privada, os quais encontrarão

proteção do ordenamento se realizarem não apenas a vontade individual dos

contratantes, mas, da mesma forma, os interesses extracontratuais

socialmente relevantes vinculados à promoção dos valores constitucionais.3

2 Gustavo Tepedino et alii, Código civil interpretado conforme a Constituição da República, vol. 2, Rio de Janeiro: Renovar, 2006, p. 10. 3 “Os atos de autonomia têm, portanto, fundamentos diversificados; porém encontram um denominador comum na necessidade

de serem dirigidos à realização de interesses e funções que merecem tutela e são socialmente úteis (...) a autonomia privada não é um valor em si e, sobretudo, não representa um princípio subtraído ao controle de sua correspondência e funcionalização ao sistema das normas constitucionais” (Pietro Perlingieri, Perfis do Direito Civil: Introdução ao Direito Civil-Constitucional, cit., pp. 18-19 e 277).

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CAPITULO II

CONTRATOS DE ADESÃO

2.1. Evolução Histórica/Massificação Contratual

A população do planeta já ultrapassa 6 bilhões de pessoas. As cidades

são aglomerados humanos cada vez maiores. Mas mesmo em escalas

colossais os seres humanos não deixam de ser seres humanos: continuam

tendo necessidades de comer, beber, vestir, locomover-se, divertir-se, entre

tantas outras. O direito, como produto da sociedade, também teve que se

compatibilizar com as proporções épicas que tudo tomou. Talvez nenhum

instituto demonstre isso tão bem quanto o contrato, e suas graduais

metamorfoses para se adaptar a uma sociedade de massas, a uma sociedade

de consumo.

Como bem anota Marcos Mendes Lyra, “se no século XIX as relações de

consumo se travavam entre minorias, pois a população rural era preponderante

e auto-suficiente, na sociedade do século XX, em especial na segunda metade,

estas passaram a se dar em larga escala e marcadas pelo anonimato dos

sujeitos”.4

Diante de tamanha alteração no modo como se pensa e como se dá o

contrato, não se concebem mais demoradas tratativas entre as partes, a não

ser excepcionalmente. A concepção tradicional de contrato como obra de duas

partes em posição de igualdade que discutem cláusula por cláusula ainda

existe, mas em número mais limitado e geralmente nas relações entre

particulares. As exigências geradas pelo novo tráfico mercantil fizeram com que

“se abandonassem as técnicas negociais baseadas em oferta e contra-oferta,

para dar lugar a um mecanismo mais adequado, mais rápido, ágil e seguro”.5

4 LYRA, Marcos Mendes. Controle das cláusulas abusivas nos contratos de consumo. São Paulo: Juarez de Oliveira, 2003. p. 2.

5 MANDELBAUM, Renata. Contratos de adesão e contratos de consumo. São Paulo: RT, 1996. p. 126.

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A celeridade da contratação pressupõe, para o atendimento de seus

objetivos, um contrato já pronto, pensado de forma a se aplicar ao máximo de

pessoas possível.

Por óbvio, o fenômeno da contratação em massa não se explica apenas

pela praticidade que propicia ao consumidor. As empresas certamente não

adeririam a um sistema que não lhes propiciasse vantagens. Além de

praticamente eliminarem o risco de perdas que pode ser gerado pela

negociação gré a gré, a estandardização de cláusulas a um sem número de

consumidores quase sempre conduz o consumidor a um beco sem saída:

necessitado que está do produto, quer por sua real indispensabilidade, quer

pelo induzimento a que foi levado pela publicidade, o consumidor muitas vezes

tolera (quando não desconhece) eventuais abusos para não ficar sem o

produto ou serviço de que precisa. Os contratos de adesão são por excelência

contratos em bloco, ou, como bem expressa a doutrina norte-americana,

contracts in a take-it-or-leave-it basis – ou aceitam-se as cláusulas como são,

ou não é celebrado o contrato.

Para Claúdia Lima Marques, a predisposição de cláusulas e o

fechamento de contratos de adesão “tornaram-se inerentes à sociedade

industrializada”, e já são a “maneira normal de concluir contratos” em diversos

quadrantes da vida social, notadamente aqueles em que “há superioridade

econômica ou técnica entre os contratantes, seja com seus fornecedores, seja

com seus assalariados”.6

Note-se que hipossuficiência não significa necessariamente pobreza,

mas menor vantagem e menor poder de determinar as cláusulas (tome-se

como exemplo uma empresa de pequeno porte, que tem um produto exclusivo,

vendido a uma grande rede de supermercados). Além disso, observa Paulo

Luiz Neto Lôbo que “as condições gerais têm sido utilizadas não apenas nos

setores monopolizados ou oligopolizados. É comum seu emprego no mercado

6 4 MARQUES, op. cit. p. 54.

18

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competitivo e nos pequenos negócios, como lavanderias e oficinas, por

exemplo”.

A Revolução Industrial foi o fato histórico responsável por criar e

impulsionar a utilização dos contratos de massa. Tais foram as alterações

desencadeadas nos processos de produção e distribuição de bens e serviços

que, em virtude de a produção em massa exigir também a comercialização em

massa, a contratação se viu obrigada a perder o estigma de demorada

negociação em prol de um caráter mais geral. A economia de mercado atingiu

todas as zonas da vida social, mesmo a cultura e o lazer, necessitando,

também estes, de métodos de contratação céleres e eficazes, da mesma forma

que com as outras mercadorias. Declinou a produção individual e familiar: a

vida econômica “empresariou-se”. A pressão por redução de custos,

maximização de lucros e previsibilidade que permita segurança jurídica e

planejamento. Os contratos estandardizados coadunam-se perfeitamente a

isso: são baratos, pois elaborados apenas uma vez, e geralmente prevêem

vantagens muito maiores (ou, no mínimo, não geram surpresas) para quem os

estipula. Por fim, houve o estreitamento da interdependência nas relações

gerais em sociedade, decorrentes do progressivo abandono da vida rural, da

satisfação das próprias necessidades, em favor da vida urbana, com trabalho

remunerado em dinheiro, meio para compra de bens e serviços. A necessidade

de contratar tornou-se, assim, diária, corriqueira e, célere, por vontade de

ambas as partes.

Durante muito tempo, o Estado não se comoveu com a série de abusos

vindos do livre poder de disposição das partes. Circundados pelo paradigma de

que os homens nasciam livres e iguais, os juristas do século XIX cristalizaram

“a concepção do contrato como consenso e da vontade como fonte dos efeitos

jurídicos”.7 Como decorrência, o conhecido princípio pacta sunt servanda, pois

quem diz contratual diz justo. “A presunção de que o contrato foi livremente

7 GOMES, Orlando. Contratos. 24. ed.,atual. e notas Humberto Theodoro Júnior. Rio de Janeiro: Forense, 2001. p. 6.

19

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concluído significava que suas cláusulas tinham força obrigatória para os

contratantes”.

A preocupação do Estado em estabelecer marcos regulatórios para a

autonomia privada é bastante recente. A necessidade de mitigação dos

princípios clássicos foi sentida com certo vagar e resignação por juristas e

legisladores, mas hoje é fato inconteste, acolhido pela lei e pela sociedade,

especialmente no que tange às relações de consumo, vez que, como disse

Kennedy, o termo consumidor, por definição, abrange a todos (“consumers, by

definition, include us all”).

Os contratos passam a ser concebidos em termos

econômicos e sociais. Nasce a teoria preceptiva, segundo

a qual as obrigações oriundas dos contratos valem não

apenas porque as partes a assumiram, mas porque

interessa à sociedade a tutela da situação objetivamente

gerada, por suas consequências econômicas e sociais.

Isso se deu sobretudo com a edição de normas de ordem pública, como

o Código de Defesa do Consumidor, que estabeleceu parâmetros

interpretativos e nreguladores das relações de consumo, entendidas como

aquelas desenvolvidas entre fornecedor e consumidor, tendo este como

destinatário final de produtos e serviços. São demonstrativos dessa

preocupação o rol de cláusulas abusivas elencado no art. 51, o princípio

interpretatio contra proferentem acolhido no art. 47, o direito à informação clara

do contrato exposto no art. 46, e outros.

O que ocorreu, em linhas gerais, foi que:

“Importantes e abundantes leis dispensaram especial

proteção a determinadas categorias de pessoas para

compensar juridicamente a debilidade da posição

contratual de seus componentes e eliminar o

20

[Digite texto]

desequilíbrio.8 [...] O Estado ditou normas impondo o

conteúdo de certos contratos, proibindo a introdução de

certas cláusulas, [...] e mandando inserir na relação

inteiramente disposições legais ou regulamentares. “9

Há estreita relação entre contratos de massa e cláusulas abusivas. Por

importarem em reduzido ou nulo poder de discussão, e por geralmente estarem

fundados em necessidades de um lado e domínio econômico de outro, tem-se

um campo propício para vantagens indevidas – daí a imperatividade de

regulação e fiscalização por parte do Estado.

Sem dúvida que os contratos-tipo são instrumento de racionalização do

comércio e elemento de celeridade e eficiência do abastecimento. Em si

mesma, a tipificação contratual não é lesiva aos interesses dos consumidores.

Mas, sendo um fenômeno da oferta oligopolística, redunda facilmente em

resultados abusivos.

A doutrina tradicional, ao se deparar com o fenômeno da contratação em

massa, chegou a proclamar a crise do contrato, quando não a sua morte15.

Não é para tanto. Indispensável entender que o direito precisa se adequar às

necessidades de seu tempo. E se a massificação parece uma tendência

inevitável para quase tudo, da cultura dos blockbusters à comida do fast-food,

não é possível simplesmente ignorá-la. Pelo contrário, é preciso compreender o

atual sistema para bem resolver seus conflitos.

2.2 - Propriamente Dito

Os contratos de adesão são os “actos jurídicos cujas cláusulas (na

totalidade ou em seus elementos mais importantes) são impostos por uma das

partes à outra, conforme um modelo genericamente aplicável”.

8 FIÚZA e ROBERTO, op. cit. p. 58.

9 GOMES, op. cit. p. 7.

21

[Digite texto]

De acordo com Orlando Gomes, “no contrato de adesão, uma parte tem

que aceitar, em bloco, as cláusulas estabelecidas pela outra, aderindo a uma

situação contratual que encontra definida em todos os seus termos. O

consentimento manifesta-se por simples adesão a conteúdo pré-estabelecido

da relação jurídica”.10

Para Cláudia Lima Marques, contrato de adesão: “é aquele cujas

cláusulas são preestabelecidas unilateralmente pelo parceiro contratual

economicamente mais forte (fornecedor), ne variatur, isto é, sem que o outro

parceiro (consumidor) possa discutir ou modificar substancialmente o conteúdo

do contrato escrito. [...] Oferecido ao público em modelo uniforme, geralmente

impresso, faltando apenas preencher os dados referentes à identificação do

consumidorcontratante, do objeto e do preço. [...] Limita-se o consumidor a

aceitar em bloco as cláusulas.11

Frise-se que “o contrato de adesão não é uma categoria autônoma, nem

um tipo contratual, mas, sim, uma técnica diferente de formação do contrato,

podendo ser aplicada a inúmeras categorias contratuais”.12 Assim, não se pode

falar do contrato de adesão da mesma forma que se fala de locação, compra e

venda, mandato, pois todos estes podem ser celebrados por adesão – é o que

ocorre com freqüência, respectivamente, em imobiliárias, em concessionárias

de veículos, e com procurações ad judicia.

Como lembra Caio Mário da Silva Pereira, os contratos de adesão

geralmente são utilizados em casos de oferta permanente de um produto ou

serviço a um público numeroso. Embora tal situação descreva bem as relações

de consumo, em que o produto ou serviço do fornecedor é ofertado e exposto

aos consumidores potenciais, nem todo contrato de adesão é contrato de

consumo. Vejam-se, a propósito, certos contratos administrativos precedidos

10 GOMES, op. cit. p. 109. 11 MARQUES, op. cit. p. 58. 12 FIÚZA e ROBERTO, op. cit. p. 68.

22

[Digite texto]

de licitação, nos quais o contrato é celebrado pela administração pública em

um modelo previamente aprovado, ao qual o contratado apenas adere.13

Já houve certa polêmica doutrinária em que se questionava o caráter

contratual do contrato de adesão – advogava-se a tese de que não haveria um

real acordo de vontades, mas um ato unilateral. Entretanto, embora o

fornecedor continue a deter um maior poder de barganha, considera-se que,

ainda que pequena, há liberdade de contratar ou não. Verdadeiramente, é

apenas com a adesão do consumidor que o contrato nasce, que deixa de ser

um mero pedaço de papel (Stückpapier, na doutrina alemã).

É bom ressaltar que a presença de algumas cláusulas datilografadas ou

escritas à mão não descaracteriza o contrato como de adesão, pois a grande

maioria delas continua sendo imposta. Aliás, as cláusulas escritas à mão ou à

máquina devem prevalecer sobre as cláusulas impressas, no que com estas

conflitarem, justamente por deixar claro que, naqueles pontos específicos,

houve real negociação das partes.

O Código Civil encampou, em seu art. 423, o princípio interpretatio

contra proferentem ou interpreatatio contra stipulatorem, segundo o qual,

havendo obscuridade ou dubiedade na interpretação do contrato, esta será

feita de forma mais favorável ao aderente.

Por fim, a expressão “contrato de adesão” também carrega polêmicas

terminológicas.

A doutrina faz distinção entre os contratos de adesão e os

contratos por adesão. Aqueles seriam forma de contratar

onde o aderente não pode rejeitar as cláusulas uniformes

estabelecidas de antemão, o que se dá, geralmente, com

estipulações unilaterais do Poder Público (v.g., cláusu

lasgerais para o fornecimento de energia elétrica). Seriam

13 PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de direito civil: contratos. 12. ed., rev. e atual. por Regis Fichtner. Rio de Janeiro: Forense, 2007. v. III. p. 73.

23

[Digite texto]

contratos por adesão aqueles fundados em cláusulas

também estabelecidas unilateralmente pelo estipulante,

mas que não seriam irrecusáveis pelo aderente: aceita-as,

em bloco, ou não as aceita.

De qualquer forma, pondera Nelson Nery Junior que “o Código de

Defesa do Consumidor fundiu essas duas situações, estabelecendo um

conceito único de contrato de adesão”, previsto no art. 54 do referido diploma

legal. O antônimo de contrato de adesão seria o contrato de comum acordo, ou

contrato negociável, como prefere César Fiúza.

24

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CAPITULO III

CLÁUSULAS ABUSIVAS

3.1 - A Definição de Cláusulas Abusivas

A lei visa criar um regime de proteção, por meio do qual a administração

pública e a privada possam equilibrar as relações de consumo, com base nos

princípios da boa-fé objetiva e da equidade, com o objetivo de o contrato

alcançar a sua função social. Principalmente no que tange às cláusulas

abusivas nos contratos de adesão, que colocam o consumidor em extrema

desvantagem e são nulas de pleno direito.

Por abusiva, tem-se as cláusulas que excluem a responsabilidade do

produtor ou fornecedor por vícios e defeitos de qualidade. A previsão de

nulidade das cláusulas abusivas encontra-se no art. 51 do CDC, cujo rol é

apenas exemplificativo. Ademais, a teoria da imprevisão e a cláusula de eleição

do foro são exemplos comuns de cláusulas abusivas que não estão previstas

no dispositivo em voga.

Em relação à eleição do foro, é abusiva a cláusula que o fornecedor ou

produtor estabelece como foro o local onde reside, em detrimento do

consumidor, com base no disposto no art. 112, parágrafo único, do Código de

Processo Civil (CPC) combinado com os arts. 51, IV e 101, I, do CDC. Tal

cláusula afronta o sistema de proteção ao consumidor, pois reduz ou

impossibilita a defesa de seus direitos.

Já, no que tange à teoria da imprevisão, prevista no art. 6º, V, do CDC e

arts. 478 e 317, do CC, esta estabelece como um dos direitos do consumidor a

possibilidade de modificação das cláusulas contratuais, que estabeleçam

prestações desproporcionais ou sua revisão, em razão de fatos

supervenientes, que as tornem excessivamente onerosas.

25

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Outrossim, de acordo com a teoria da imprevisão, é abusiva a cláusula

que veda qualquer alteração contratual, independente do fato ser

superveniente e imprevisível.

Frisa-se que contrato de adesão é reflexo do mundo globalizado, onde a

necessidade econômico-social exige a uniformidade, a redução dos custos e a

racionalização contratual dentre outras vantagens.

Assim, é abusiva a cláusula que obriga o consumidor abrir mão de seu

direito de reembolso das parcelas já pagas, em caso de rescisão, bem como a

cláusula que transfere a responsabilidade contratual a terceiros, prática que

apesar de comum, é extremamente repreensiva e lesiva ao consumidor.

Também é condenável a exigência de representante para concluir ou realizar

negócio pelo consumidor, como tem acontecido comumente com os contratos

de leasing, também deve ser considerada abusiva.

Ressalta-se que o ônus da prova da veracidade da informação ou da

comunicação publicitária incumbe ao seu patrocinador, logo, tal ônus não pode

ser imposto ao consumidor.

O Código de Defesa do Consumidor proíbe também o arrependimento

unilateral, isto é, a cláusula que deixa ao fornecedor a obrigação de concluir ou

não o contrato e veda, que os reajustes nos preços sejam feitos de maneira

unilateral, pois certamente o consumidor seria prejudicado, com base no art.

51, IX, X, XI e XII, do CDC.

Assim, é considerada nula qualquer cláusula que autorize o fornecedor a

realizar modificações unilaterais nos contratos, segundo o princípio da

inalterabilidade dos contratos, que proíbe que as cláusulas estejam em

desacordo com o sistema de proteção do consumidor.

No entanto, não se pode afirmar que, a cláusula abusiva seja uma

consequência do contrato de adesão. E sim, uma decorrência lógica de seu

26

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caráter econômico, em virtude de atribuir ao consumidor, contratante mais

fraco, tanto economicamente quanto tecnicamente, maior ônus e peso no

contrato.

Dessa forma, o contrato de adesão é mais favorável ao surgimento

dessas cláusulas abusivas, uma vez que o fornecedor sempre tende a querer

assegurar sua posição, através de condições que romperão com a boa fé ou

com o equilíbrio entre as prestações da outra parte.

Destarte, deve o contrato de adesão ser escrito de forma clara, acessível

ao leitor e que não se crie embaraços a sua rápida compreensão. A Lei nº

11.785, de 22 de setembro de 2008, alterou o art. 54, § 3º, do CDC, de modo

que foi reforçado o princípio da legibilidade das cláusulas contratuais, cujo

objetivo é coibir a redação confusa, assistemática e com caracteres (fontes)

minúsculos desse tipo de contrato.

Tal preocupação é inclusive externada pelo legislador no art. 46 do CDC,

que permite considerar como abusiva e nula de pleno direito à corriqueira

cláusula de presunção de conhecimento, inserida nos contratos de adesão, por

meio da qual se afirma que o consumidor leu e compreendeu o inteiro teor do

contrato, assim como de documentos que integram o contrato e que sequer

lhes foram exibidos ou, ainda, que apresentem dificuldade para a sua

obtenção.

3.2 - Mecanismo de Modificação ou Extinção do Contrato de Adesão

Os mecanismos de modificação e extinção do contrato de adesão

podem ser encontrados no Código de defesa do consumidor e,

subsidiariamente, também, no Código Civil brasileiro. Cabendo destacar que

existem meios e mecanismos para a modificação e extinção deste contrato,

sendo que todos esses meios serão acompanhados dos direitos e garantias

constitucionais.

27

[Digite texto]

Na opinião de Humberto Theodoro Junior (2008, p. 49): Prevê o novo

Código Civil, por outro lado, que a regra não deve ser sempre a resolução do

contrato atingindo pela superveniência de onerosidade excessiva, pois essa

medida extrema poderá ser evitada desde que o réu se dispuser a modificar

equitativamente as condições do negocio (art. 479).

Preocupa-se, desta forma, com a conservação do vinculo negocial, ao

mesmo tempo em que se procura adaptá-lo, por meio de revisão, a condições

compatíveis com a boa - fé objetiva e a função social que se reconhece ao

contrato (arts. 421 e 422).

Buscando o entendimento de José Carlos de Oliveira (2002, p. 191), vê-

se que a modificação da cláusula abusiva ocorrerá nas circunstâncias em que

não são preenchidos os requisitos do art. 51, do Código de Defesa do

Consumidor. Aplicar-se-á, para efeito do exercício do direito de

arrependimento, previsto no art. 49 do CDC. Equipara-se à contratação

realizada fora do estabelecimento comercial, aquela em que o consumidor,

comparecendo em local indicado pelo fornecedor, em razão da estratégia

adotada, é submetido à forte pressão psicológica que o coloca em situação

desvantajosa, que o impede de refletir e manifestar livremente sua vontade.

O arrependimento foi tema de jurisprudência no Egrégio Tribunal de

Justiça do Paraná:

APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO DECLARATÓRIA DE

RESCISÃO DE CONTRATO, INEXISTÊNCIA DE DÉBITO

C/C INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS C/C

OBRIGAÇÃO DE FAZER E NÃO-FAZER - DIREITO DE

ARREPENDIMENTO EXERCIDO PELO APELADO -

OBSERVADO O PRAZO DO ART. 49, DO CDC -

APELANTE NÃO PROVOU QUE O CONTRATO NÃO

FOI FIRMADO NA CASA DO APELADO - O ÔNUS ERA

DA APELANTE EM RAZÃO DA INVERSÃO DO ÔNUS

28

[Digite texto]

DA PROVA - INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS

FIXADA EM VALOR ADEQUADO - APESAR DE NÃO

SER PESSOA DE POSSES, O APELADO FOI

CAUTELOSO AO NOTIFICAR A APELANTE E A

EMPRESA RENOVAR DE QUE A COBRANÇA E A

INSCRIÇÃO NO SPC ERAM INDEVIDAS - GRAVIDADE

DO ATO PRATICADO POR ESSAS JUSTIFICA A

INDENIZAÇÃO FIXADA - FIXAÇÃO DOS HONORÁRIOS

ADVOCATÍCIOS MANTIDA - NEGADO PROVIMENTO

AO RECURSO DE APELAÇÃO. Vistos, relatados e

discutidos estes autos de Apelação Cível nº 424.972-1 da

4ª Vara Cível do Foro Central da Comarca da Região

Metropolitana de Curitiba em que é Apelante Máxima

Promotora de Vendas Ltda. e é Apelado Emerson Ewald

Dircksen. (TJ-PR - AC: 4249721 PR 0424972-1, Relator:

Antenor Demeterco Junior, Data de Julgamento:

27/11/2007, 7ª Câmara Cível, Data de Publicação: DJ:

7512).

Uma das propostas deste capítulo é o estudo da equiparação, da

modificação, ou extinção dos contratos de adesão. Enfim, a resolução e revisão

dos contratos de adesão, tendo como fundamentos o Código Civil, o Código de

Defesa do Consumidor e a Constituição Federal. Trazendo uma visão

científica, para aqueles que posteriormente venham ler este trabalho científico,

cientificarem dos meios que poderão tomar para a modificação e extinção do

contrato.

Roberto A. C. Pfeiffer e Adalberto Pasqualotto (2005, p.232 e 233): O

novo Código Civil cuidou da resolução do contrato por onerosidade excessiva,

mas não regulou de forma explicita a hipótese de revisão judicial. O Código

Civil de 1916, a seu turno, não tratou da matéria. Como se vê, o dispositivo

fala em resolução e não em revisão. E é bastante rigoroso quanto às

29

[Digite texto]

exigências: onerosidade excessiva da prestação para uma da partes, vantagem

extrema para outra e ocorrência de fatos extraordinários e imprevisíveis.

O que se pode observar, neste tópico, diz respeito ao avanço que o

Legislador garantiu ao abrir possibilidades, para a modificação e a extinção da

cláusula abusiva. Merecendo refletir que o Código Civil não mais estava

acompanhando o avanço da sociedade, razão pela qual era preterido pelo

Código de Defesa do Consumidor.

A visão que o Código de Defesa do consumidor nos trás, por Humberto

Theodoro júnior (2008, p.32), é de que o consumidor valoriza o aspecto ético

das relações negocias de massa. Assim, o que pode ocorrer naturalmente em

uma relação de consumo, que posteriormente não venha ser bem sucedida, é

a revisão do contrato. Nesse sentido, o inciso V do art. 6° assegura ao

consumidor não a rescisão do contrato, mas a “modificação das cláusulas que

estabeleçam prestações desproporcionais” (lesão) ou “sua revisão e razão de

fatos supervenientes que as tronem excessivamente onerosas” (teoria da

revisão).

Silvio de Salvo venosa (2007, p. 431) salienta que: Outras correntes

partem para explicações objetivas. Pelo princípio da reciprocidade ou

equivalência das condições, nos contratos bilaterais, ou unilaterais onerosos,

deve existir certo equilíbrio nas prestações dos contratantes, desde o momento

da estipulação até o momento de seu cumprimente. Se um fator externo rompe

esse equilíbrio, estará autorizada a intervenção. Para outros, como o contrato

desempenha uma função social e econômica, o desequilíbrio da sociedade e

da economia autoriza a revisão.

Pode-se afirmar que o contrato de adesão deverá ser sempre conduzido

com muito equilíbrio. Todavia, quando fugir da sua finalidade ou seu objetivo

final, poderá o prejudicado ajuizar uma das modalidades de pedidos, a fim de

se proteger e garantir os seus direitos. Aliás, a mais utilizada tem sido os

pedidos nas ações revisionais de contratos.

30

[Digite texto]

O entendimento de Cáio Mário da Silva Pereira (2007, p. 149), neste

particular, é que a cessação da relação contratual resultará em quatro meios ou

mecanismos, são eles: resilição voluntária, cláusula resolutiva: tácita ou

expressa, exceptio non adimpleti contractus, (exceção de contrato não

cumprido), resolução por onerosidade excessiva e teoria da Imprevisão.

Todos esses fatos jurídicos serão determinados por ação judicial. O

termo técnico aplicado será a inversão do ônus da prova. Uma vez configurada

esta para o juiz, nos termos do artigo 6° VIII do CDC, todos esses mecanismos

serão realizados em juízo, para provar o fato controvertido.

Neste particular, cabe colacionar lição jurisprudencial, adiante

transcrita: (THEODORO JÚNIOR, 2008, p.202): A existência ou não de

legitimidade da ré para o encaminhamento do aponte no SPC, se caracteriza

como fato constitutivo do direito do A. em tese, pois, lhe caberia a prova nos

termos do art.333, I, do CPC. Daí a decisão do fls. Porém, como exigir-se do

locatário a prova de que inexiste relação jurídica entre a administradora e o

locador? È óbvio que é a administradora que detém o poder de documentação

de tal prova. Por esta razão, à espécie de rigor a aplicação do art.6°, VIII, do

CPC, que determina a possibilidade de inverter-se o ônus da prova a critério do

juiz. Mais, ainda, na espécie, onde o poder de documentação pertence à

administradora. Esta, no entanto, em face de decisão de fls. Desinteressou

pela prova de existência jurídica de administração do imóvel. Tenho que a

inversão do ônus da prova, nos termos do supracitado dispositivo legal, para

ser eficaz no processo deve ser expressamente determinada pelo juiz, sob

pena de implicar em cerceamento de defesa para a parte, a quem passa a se

imputar o ônus da prova. (Acórdão AP. Cív. 194.110.664 – RS – 4° C. – j.

18.08.94 – Rel. Juiz Márcio Oliveira Puggina.)

Atenta assim Gisele de Lourdes Friso (2007, p.60 – 61), que ocorrendo

prejuízo existente em desfavor ao hipossuficiente, terá uma regra prevista no

artigo 333 do Código de Processo Civil, que impõe o ônus da prova dos fatos

constitutivos de direito ao autor da ação. Tendo como a parte vulnerável pedir

31

[Digite texto]

em juízo o melhor procedimento cabível, sejam eles os fatos modificativos,

impeditivos e extintivos de direito, devem sempre ser provas pelo réu.

Todos esses procedimentos serão realizados segundo os princípios

acauteladores da Constituição Federal e as leis infraconstitucionais. O mais

levantado durante o tramitar em juízo é o devido processo legal e o direito de

ampla defesa e contraditório.

Segundo Nelson Nery Junior (2009, p.76) O direito processual

consumerista está subordinado aos princípios constitucionais gerais, entre os

quais ressaltamos o princípio da dignidade humana, que se apresenta como

fundamento da República do Brasil (CF 1º. III), tal a sua importância e

magnitude no direito constitucional brasileiro.

O princípio constitucional fundamental do processo civil, que

entendemos como a base sobre a qual todos os outros princípios e regras se

sustentam, é o do devido processo legal, expressão oriunda da inglesa due

process of Law. A Constituição Federal brasileira de 1998 fala expressamente

que ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido

processo legal (CF 5º. LIV).

Portanto, vê-se que existem mecanismos para extinção e modificação

dos contratos, mas que serão aplicados, apenas quando forem preenchidas as

hipóteses e situações, que justifiquem a resolução ou a rescisão contratual.

Nestes casos, necessários serão fundamentos para tal aplicação judicial.

3.3 - Efeitos Produzidos nos Contratos de Adesão

Silvio Salvo Venosa (2007, p. 435), leciona que a análise dos efeitos

produzidos no contrato de adesão deve ser realizada com a necessária

intervenção judicial. O devedor onerado deve ingressar com ação, requerendo

o reconhecimento da teoria da imprevisão. O pedido terá por intuito a

32

[Digite texto]

reformulação da cláusula abusiva. Este pedido terá como objeto as obrigações

ainda não cumpridas. Aquelas cumpridas já estão extintas.

Leciona o autor Luiz Antonio Rizzatto Nunes sobre os efeitos da compra

e venda no contrato de adesão (2005, p.616): A condição estabelecida no

art.49 é do tipo que, uma vez exercida, faz com que o efeito retroaja ao inicio

do negocio, para caracterizá-lo como nunca tendo existido.Dessa forma,

operada a desistência, os efeitos da revogação do ato são ex tunc, ou seja,

retroagem ao início para repor as partes ao status quo ante, como se nunca

tivessem efetuado a venda e compra.Aliás, é que está expressamente

estabelecido no parágrafo único do art.49, que prevê, inclusive, que, se

eventualmente algum pagamento tenha chegado a ser feito (entrada, por

exemplo), as importâncias devem ser imediatamente devolvidas.

Os fundamentos jurídicos em relação aos efeitos onerosos da cláusula

abusiva serão alcançados no Código de Defesa do Consumidor e o Código

Civil. Desta maneira, deverá a parte prejudicada formular pedido, alegando

excesso de onerosidade, desequilíbrio contratual na relação de consumo e

outros.

Segundo Leonardo Roscoe Bessa (2008, p.298): O inciso II do art.51

fulmina de nulidade as cláusulas contratuais que subtraiam ao consumidor a

opção de reembolso da quantia já paga, nos casos previstos neste código.

O CDC, como indicado pelo dispositivo, em algumas passagens garante

ao consumidor o reembolso da quantia paga. O caso mais ilustrativo decorre

da possibilidade de arrependimento nas compras de produtos e serviços

realizadas ‘fora do estabelecimento comercial’, com fundamento no art.49 do

CDC, o qual estabelece que os valores pagos pelo consumidor a qualquer

título, durante o prazo de reflexão, serão devolvidos, de imediato,

monetariamente atualizados (art.20, II).

33

[Digite texto]

A respeito das despesas ocorridas neste contrato Luiz Antonio Rizzatto

Nunes (2005, p.617), analisa que qualquer despesa levantada durante a

constância da relação de consumo, ou seja, todo risco do empreendimento é

do fornecedor, assim como sendo o efeito deste contrato abusivo é ex tunc,

toda e qualquer despesa necessária à devolução do produto ou serviço é de

responsabilidade do vendedor, inclusive transporte, caso seja preciso.

Ministra bem o teor deste assunto logo acima o Egrégio Tribunal de

Justiça de Santa Catarina:

AÇÃO REVISIONAL E DOIS EMBARGOS À EXECUÇÃO.

FEITOS CONEXOS. DECISÃO CONJUNTA.

CONFISSÃO DE DÍVIDA. TÍTULO EXECUTIVO

EXTRAJUDICIAL. SÚMULA N. 300 DO SUPEROR

TRIBUNAL DE JUSTIÇA. ANÁLISE DOS CONTRATOS

ANTERIORES EMPREENDIDA NO FEITO REVISIONAL.

ATENDIMENTO DO DISPOSTO NA SÚMULA N. 286 DA

CORTE SUPERIOR. INCIDÊNCIA DO CÓDIGO DE

DEFESA DO CONSUMIDOR. SÚMULA N. 297 DO STJ.

DECLARAÇÃO DE NULIDADE DE CLÁUSULAS

ABUSIVAS. EFEITOS EX TUNC. As cláusula abusivas

são nulas de pleno direito, segundo a dicção expressa do

Código de Defesa do Consumidor. CORREÇÃO

MONETÁRIA. AUSÊNCIA DE INTERESSE RECURSAL

DO BANCO PARA MODIFICAR O ÍNDICE IMPOSTO

PELA SENTENÇA EM RELAÇÃO AOS CONTRATOS

QUE NÃO PREVIAM FORMA DE ATUALIZAÇÃO.

MANUTENÇÃO DA TAXA REFERENCIAL NOS

CONTRATOS EM QUE FOI PREVISTA. SENTENÇA

PARCIALMENTE REFORMADA. "A Taxa Referencial

(TR) e a Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP) podem ser

utilizadas como fatores de correção monetária em

contratos bancários, desde que expressamente

34

[Digite texto]

pactuadas" (Enunciado n. VI do Grupo de Câmaras de

Direito Comercial). TAXA DE JUROS

REMUNERATÓRIOS. LIMITAÇÃO A 12% AO ANO NAS

NOTAS E CÉDULAS DE CRÉDITO RURAL, QUE PODE

SER ELEVADA EM ATÉ 1% AO ANO, TOTALIZANDO

13% ANUAIS, EM CASO DE MORA. REDUÇÃO À

MÉDIA DE MERCADO NO CONTRATO DE CRÉDITO

ROTATIVO EM CONTA CORRENTE, DITO "CHEQUE

OURO". "Esta Corte já pacificou o entendimento no

sentido de que, às cédulas de crédito rural, comercial e

industrial, não se aplicam as disposições contidas na Lei

4.595/64, uma vez que seu regramento advém de

legislação específica (artigo 5º do Decreto-lei nº 413/69,

aplicável também às notas de crédito comercial, por força

do artigo 5º da Lei nº 6.840/80, ao estabelecer a

competência do Conselho Monetário Nacional para fixar a

taxa de juros e ante a sua inércia em fazê-lo, incide a

limitação de 12% ao ano prevista no artigo 1º do Decreto

nº 22.626/33). In casu, inexistente expressa autorização

do Conselho Monetário Nacional, os juros remuneratórios

são limitados a 12% ao ano"(AgRg no REsp n.

782.992/SE, rel. Min. Jorge Scartezzini, DJ 7-8-

2006)."Nos contratos bancários, com exceção das

cédulas e notas de crédito rural, comercial e industrial,

não é abusiva a taxa de juros remuneratórios superior a

12 % (doze por cento) ao ano, desde que não

ultrapassada a taxa média de mercado à época do pacto,

divulgada pelo Banco Central do Brasil" (Enunciado n. I do

Grupo de Câmaras de Direito Comercial).

CAPITALIZAÇÃO DE JUROS. COBRANÇA PREVISTA

NAS NOTAS DE CRÉDITO. INCIDÊNCIA PERMITIDA.

PACTUAÇÃO AUSENTE DA CÉDULA DE CRÉDITO E

INADEQUADA NO CONTRATO DE CRÉDITO

35

[Digite texto]

ROTATIVO. ANATOCISMO VEDADO NESTES

NEGÓCIOS. "É lícita a capitalização mensal de juros nos

contratos bancários celebrados a partir de 31.03.2000

(MP 1.963-17, atual MP nº 2.170-36), desde que

pactuada" (AgRg no Ag n. 953.299/RS, rel. Min. Humberto

Gomes de Barros, j. 12-2-2008). "Desde que pactuada,

afigura-se lícita a capitalização mensal dos juros nas

cédulas de crédito" (AgRg nos EDcl no REsp n.

531.823/PR, rel. Min. Nancy Andrighi, DJ 13-12-2004).

COMISSÃO DE PERMANÊNCIA. ENCARGO

MORATÓRIO NÃO CONTRATADO NO PACTO DE

CRÉDITO ROTATIVO E PROIBIDO EM NOTAS E

CÉDULAS DE CRÉDITO. COBRANÇA VEDADA.

SENTENÇA CORRETA. "É cabível a cobrança da

comissão de permanência, exceto nas cédulas e notas de

crédito rural, comercial e industrial, quando contratada,

respeitado o limite de juros remuneratórios pactuados,

desde que não superiores à taxa média de mercado

divulgada pelo Banco Central do Brasil, não sendo viável

a cumulação do encargo com a correção monetária, juros

remuneratórios, multa contratual ou com juros moratórios"

(Enunciado n. III de seu Grupo de Câmaras de Direito

Comercial). MULTA MORATÓRIA. LIMITAÇÃO A 2%

ACERTADA. "Nos contratos bancários, ainda não

quitados, a multa contratual moratória de 2% retroage à

data do início da vigência do Código de Defesa do

Consumidor" (Enunciado n. V do Grupo de Câmaras de

Direito Comercial). REPETIÇÃO DE INDÉBITO.

INEXIGIBILIDADE DE PROVA DO ERRO. SÚMULA N.

322 DO STJ. SUCUMBÊNCIA. MAJORAÇÃO DA VERBA

EM FAVOR DOS MUTUÁRIOS. CONDENAÇÃO DESTES

EM RAZÃO DA DERROTA RECÍPROCA. RECURSOS

DA INSTITUIÇÃO FINACEIRA CONHECIDOS EM

36

[Digite texto]

PARTE E, NESTA, PROVIDOS PARCIALMENTE.

CONHECIDOS E PARCIALMENTE PROVIDOS OS

APELOS DOS MUTUÁRIOS. (TJ-SC - AC: 82708 SC

2005.008270-8, Relator: Jorge Luiz de Borba, Data de

Julgamento: 13/01/2010, Segunda Câmara de Direito

Comercial, Data de Publicação: Apelações Cíveis ns. , e ,

de Lages).

Os efeitos produzidos no contrato de adesão por uma cláusula abusiva

será a nulidade deste contrato. Embasado no artigo 51 de CDC, tentando de

certa forma o legislador chegar ao meio mais concreto e conciso. O prazo para

a nulidade não é absoluto, seja qual for a sua maneira assim nunca haverá

prazo para a propositura deste pedido quanto aos efeitos produzidos.

Gisele de Lourdes Friso (2007, p.203): Afirma que o artigo 51 inicia o

estudo das cláusulas abusivas, proclamando-as como nulas de pleno direito e

expondo um rol meramente exemplificativo de cláusulas assim consideradas. A

nulidade de tais cláusulas guarda respaldo no artigo 1º do Código de Defesa do

consumidor, que dispõe que as normas nele contidas são de ordem pública e

interesse social. Assim, em caso de abusividade de cláusula, esta será

desconsiderada, como se não fosse escrita.

Não se exige, portanto, atividade jurisdicional para que a cláusula seja

desconsidera. Além disso, a cláusula abusiva, por ser nula, não surte nenhum

efeito, sendo certo que eventual declaração judicial de nulidade terá efeitos ex-

tunc, retroagindo a decisão à data do contrato.

Luiz Antonio Rizzatto Nunes (2005, p.611), faz uma menção sobre o

artigo 49 do Código de Defesa do consumidor, a maneira que antes do

cumprimento do contrato firmado, o consumidor verificando que este contrato

gerará algo abusivo durante o tramite poderá desistir do contrato. É o chamado

prazo de reflexão ou arrependimento. Para o autor o uso que ele prefere e de

reflexão, porque, a desistência por parte do consumidor não depende de

37

[Digite texto]

qualquer justificativa ligada a sua vontade. E sim de um arrependimento pelo

fato do parágrafo único abrir essa possibilidade.

Os efeitos produzidos nos contratos, ocorrendo onerosidade excessiva

em relação à parte hipossuficiente, de certo modo, trarão aos contratos dois

procedimentos costumeiramente adotados: à modificação do contrato previsto,

ou extinção do contrato pela falta de requisitos necessários para seu

cumprimento final, surgindo também um terceiro elemento a nulidade do

contrato. Assim, analisando estes procedimentos, pode-se deduzir que para

cada caso, dentro da relação de consumo, que envolva cláusulas abusivas no

contrato de adesão, poderá ser aplicada uma solução válida judicialmente.

3.4 - Reconhecimento Judicial da Cláusula Abusiva

Inicialmente, é importante destacar que para o reconhecimento de uma

cláusula abusiva, nos termos da sistemática adotada pelo Código de Defesa do

Consumidor e pelos princípios constitucionais, não é necessária a observação

subjetiva da conduta do fornecedor, se houve ou não malícia, maneira de

adquirir vantagem indevida ou exagerada. A lei 8.078 não exigiu em nenhum

momento a demonstração da má-fé, a vontade do fornecedor em praticar fato

maléfico, para caracterização da abusividade da cláusula.

Segundo esclarece Cláudia Lima Marques (2007, p.292): Para definir a

abusividade da cláusula contratual, dois caminhos podem ser seguidos: 1) uma

aproximação subjetiva, que conecta a abusividade mais com a figura do abuso

do direito, como se sua característica principal fosse o uso (subjetivo) malicioso

ou desviado de suas finalidades sociais de um poder (direito) concedido a um

agente; 2) ou uma aproximação objetiva, que conecta a abusividade, mas com

paradigmas modernos, com a boa-fé objetiva ou a antiga figura da lesão

enorme, como sem seu elemento principal fosse o resultado objetivo que causa

a conduta do indivíduo, o prejuízo grave sofrido objetivamente elo consumidor,

o desequilíbrio resultante da cláusula imposta, a falta de razoabilidade ou

comutatividade do exigido no contrato.

38

[Digite texto]

A caracterização do abuso no contrato de adesão pode ser reconhecida

de ofício pelo juiz, segundo Cláudia Lima Marques (2007, p.294): as normas de

proteção ao consumidor da Lei 8.078/90 são de ordem pública e interesse

social (artigo 1º do CDC). A sanção específica para as cláusulas abusivas é a

nulidade de pleno direito (art.51, caput) ou nulidade absoluta, utilizando-se da

terminologia do Código Civil (arts. 166 a 170).

O assunto sobre a caracterização das cláusulas abusivas está prevista

também nos tribunais brasileiros, vejamos o entendimento do Egrégio Tribunal

de Justiça do Paraná:

AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER - PLANO DE SAÚDE

- ALIMENTAÇÃO ENTERAL - COBERTURA NEGADA -

PROCEDÊNCIA - APELAÇÃO - CLÁUSULA LIMITATIVA,

REDIGIDA SEM DESTAQUE - AFRONTA AO ARTIGO

54, § 4º, DO CDC - PARECER MÉDICO ATESTANDO A

NECESSIDADE DE ALIMENTAÇÃO ESPECIAL PARA

SOBREVIVENCIA DO PACIENTE E TRATAMENTO

PREVISTO NO PLANO - CLÁUSULA CONTRATUAL

ABUSIVA - COBERTURA DEVIDA - DANO MORAL

CARACTERIZADO - PRECEDENTES STJ - VALOR DA

INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS - REDUÇÃO

PARA R$ 10.000,00, POR ATENDER AOS

PARÂMETROS DA CÂMARA E AO PRINCÍPIO DA

RAZOABILIDADE - RECURSO PARCIALMENTE

PROVIDO. 1. "As cláusulas que implicarem limitação de

direito do consumidor deverão ser redigidas com

destaque, permitindo sua imediata e fácil compreensão."

(artigo 54, § 4º, do CDC). 2. Ademais, revela-se abusiva a

exclusão de cobertura de alimentação enteral, quando

esta, por indicação médica, mostra-se necessário para o

êxito do procedimento cirúrgico coberto pelo plano de

saúde. 3. Na esteira de diversos precedentes do STJ,

39

[Digite texto]

verifica-se que a recusa indevida à cobertura médica

pleiteada pelo segurado é causa de danos morais, pois

agrava a situação de aflição psicológica e de angústia no

espírito daquele. (REsp 907.718/ES, Rel. Ministra NANCY

ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 07/10/2008,

DJe 20/10/2008) 4. O valor do dano moral deve ser

estimado por eqüidade, levando-se em consideração

todas as condições das partes, as circunstâncias em que

os fatos ocorreram, os princípios da razoabilidade e da

proporcionalidade e, ainda, os parâmetros da Câmara.

(TJ-PR - AC: 5488059 PR 0548805-9, Relator: Carvilio da

Silveira Filho, Data de Julgamento: 30/09/2010, 8ª

Câmara Cível, Data de Publicação: DJ: 503)

Uma das consequências mais visíveis dessas características é

justamente a possibilidade de o juiz declarar a nulidade independentemente de

pedido. O parágrafo único do art. 168 do Código de Defesa do Consumidor é

claro: As nulidades devem ser pronunciadas pelo juiz, quando conhecer do

negócio jurídico ou dos seus efeitos e as encontrar provadas, não lhe sendo

permitido supri-las, ainda que a requerimento das partes.

Em 5 de maio de 2009, o STJ publicou a súmula 318 que no meio

jurídico levantou críticas e discórdias contra o seu teor, a súmula enfatiza a

vedação ao julgador para conhece de ofício a abusividade das cláusulas

abusivas.

Recentemente o Superior Tribunal de Justiça aprovou a súmula 381, que

trata de contratos bancários, nos seguintes termos: Nos contratos bancários, é

vedado ao julgador conhecer, de ofício, da abusividade das cláusulas. Com

esta súmula, o STJ define seu posicionamento onde proíbe o julgador de ofício

declarar abusividade de cláusulas abusivas em contratos bancários, sendo

agora necessário que a matéria seja suscitada pela parte interessada, neste

caso o consumidor.

40

[Digite texto]

Ao analisar o teor desta súmula observamos que o tribunal foi

extremamente infeliz em editá-la, pois a mesma padece de vício insanável de

ilegalidade e inconstitucionalidade.

O microssistema onde está inserido o Direito do Consumidor tratou das

cláusulas abusivas de forma extremamente inteligente ao dispor que estas são

nulas de pleno direito. Desta forma não seguiu o parâmetro dualista utilizado

pelo Código Civil, onde observamos a existência de dois tipos nulidades, as

absolutas e as relativas.

Verificamos que o teor da súmula, vai contra a Constituição Federal, pois

garante a Carta que o Estado promoverá a defesa do consumidor, estatuindo a

defesa do consumidor como direito fundamental, artigo 5º inciso XXXII, em

consequência veio à lei 8.078/90 (CDC) para garantir a ordem pública e o

interesse social, o Egrégio Tribunal move-se na contramão dos anseios da

sociedade.

Portanto, o reconhecimento da abusividade e consequente declaração

de nulidade das cláusulas inseridas em contratos de consumo podem e devem

ser conhecidas de ofício (ex officio) pelo magistrado, portanto,

independentemente da formulação de qualquer pedido na ação ajuizada pelo

consumidor ou até mesmo quando o consumidor figurar como réu. Trata-se,

portanto, de exceção à regra de que o juiz decidirá a lide nos limites em que foi

proposta, artigo 128 do Código de Defesa do Consumidor.

41

[Digite texto]

CONCLUSÃO

Sendo o objetivo deste trabalho o estudo das cláusulas abusivas nos

contratos de adesão, conclui-se que, estes instrumentos contratuais surgem da

necessidade que tinha a sociedade de agilizar as relações comerciais, de modo

que houvesse maior circulação de mercadorias e serviços.

É indiscutível que os contratos de adesão trazem muitas vantagens

posto que se consegue grande economia de tempo pelo fato de um único

modelo contratual ser utilizado para várias relações. Porém, estes também

acarretam desvantagens, na medida em que a elaboração das cláusulas é feita

apenas pelo fornecedor, este instrumento acaba sendo utilizado mais pra

atender aos interesses deste do que aos direitos do consumidor. Os contratos

de adesão são constantemente utilizados para negociações em que os

princípios contratuais são feridos, uma vez que, entre as cláusulas pré-

elaboradas existem muitas abusivas, pois desequilibram sobremaneira a

relação contratual, seja onerando excessivamente e o consumidor ou

suprimindo seus direitos.

Embora as cláusulas abusivas não se encontrem presentes somente nos

contratos de adesão, cabe destacar que estes são os maiores veiculadores

daquelas, justamente pelo fato de o consumidor somente manifestar sua

vontade quando do aceite, fato que dá margem para que o estipulante, numa

visão individualista, busque somente seus interesses ainda que em detrimento

dos direitos do aderente.

Portanto, é importante que se busque a justiça social via o combate à

inserção destas cláusulas e proteção ao consumidor, pois o CDC reza a

nulidade absoluta destas cláusulas. Tais insertos não geram nenhum efeito e,

não estando o aderente obrigado a cumpri-las.

42

[Digite texto]

Só com o combate destas e com a proteção ao consumidor é que se

alcançará o equilíbrio contratual, preservando-se assim, o princípio da

igualdade entre as partes contratantes.

43

[Digite texto]

BIBLIOGRAFIA

AZEVEDO, Álvaro Azevedo. Contratos inominados e atípicos e negócio

fiduciário. 3º Edição. Belém: Cejup, 1988.

BITTAR, C. A.; GARCIA JÚNIOR, A. B.; FERNANDES NETO, G.. Os contratos

de adesão e o controle de cláusulas abusivas. São Paulo: Saraiva, 1991.

FIUZA, C. A. de C.; ROBERTO, G. B. S. Contratos de adesão de acordo com o

novo Código Civil. Belo Horizonte: Livraria Mandamentos, 2002.

MARQUES, C. L. Contratos no Código de Defesa do Consumidor: o novo

regime das relações contratuais. 3ª.ed. São Paulo: Revista dos Tribunais,

1998.

NERY JR., Nelson. et al. Código Brasileiro de Defesa do Consumidor. 6º

edição. Rio de Janeiro: forense Universitária, 1999.

THEODORO JR., Humberto. O contrato e seus princípios. Rio de Janeiro: Aide,

1993.

VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil-Teoria Geral das Obrigações e Teoria

Geral dos Contratos. 2º edição. São Paulo: Atlas, 2002. v. 2.

PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de direito civil: contratos. 12. ed.,

rev. e atual por Regis Fichtner. Rio de Janeiro: Forense, 2007, v. III.

GOMES, Orlando. Contratos. 24. Ed. Atual e notas Humberto Theodoro Júnior.

Rio de Janeiro: Forense, 2001.

PERLINGIERI, Pietro, Perfis do Direito Civil: Introdução ao Direito Civil

Constitucional, 3ª edição. 2007.

44

[Digite texto]

TEPEDINO, Gustavo et alii, Código civil interpretado conforme a Constituição

da República, vol. 2, Rio de Janeiro: Renovar, 2006.

LYRA, Marcos Mendes. Controle das cláusulas abusivas nos contratos de

consumo. São Paulo: Juarez de Oliveira, 2003.

MANDELBAUM, Renata. Contratos de adesão e contratos de consumo. São

Paulo: RT, 1996.

45

[Digite texto]

ANEXOS

Índice de anexos

Espaço reservado para conteúdos de apoio, objetivando aprofundar o

estudo da matéria e pesquisa.

Anexo 1 >> Lista das Cláusulas Abusivas

Anexo 2 >> SECRETARIA DE DIREITO ECONÔMICO

PORTARIA Nº 3, DE 19 DE MARÇO DE 1999

Anexo 3 >> SECRETARIA DE DIREITO ECONÔMICO PORTARIA N.º 4, DE 13 DE MARÇO DE 1998

46

[Digite texto]

ANEXO I

Lista das Cláusulas Abusivas

A. Cláusulas de Abuso do Poder Econômico

A.1. Multa Excessiva:

• Estipulação de carência para cancelamento nos contratos de cartão de crédito

(item 4 da Portaria 3/99);

• Estabelecimento de carência em caso de impontualidade das prestações e

mensalidades (item 1, da Portaria 4/98);

• Estipulação de multa moratória superior a 2% em contratos educacionais e

similares (item 11 da Portaria 3/99);

• Cobrança cumulativa de comissão de permanência e de correção monetária;

(item 7 da Portaria 4/98);

A.2. Perda das Prestações Pagas:

• Perda das prestações pagas como multa por inadimplemento em caso de

financiamentos. (art. 51, II, do CDC)

• Recebimento de valor inferior ao valor contratado na apólice de seguro. (item

13 da Portaria 3/99)

• Perda total ou desproporcionada das prestações pagas pelo consumidor em

razão da desistência ou inadimplemento, ressalvada a cobrança judicial de

perdas e danos comprovadamente sofridos. (item 5 da Portaria 4/98)

• Devolução das prestações pagas, sem correção monetária. (item 13 da

Portaria 4/98)

A.3. Reajuste Unilateral

• Reajuste de preços excessivo; (art. 51, X, do CDC)

• Aumento unilateral em planos de saúde por mudança de faixa etária. (item 1

da Portaria 3/99)

• Escolha unilateral por parte do fornecedor quanto aos índices de reajuste a

serem utilizados (item 11 da Portaria 4/98)

47

[Digite texto]

A.4. Pagamento Antecipado

• Imposição do pagamento antecipado referente a períodos superiores a 30

dias em contratos de prestação de serviços educacionais e similares. (item 5

da Portaria 3/99)

• Exigência de parcelas vincendas, no caso de restituição do bem em contratos

de leasing. (item 14 da Portaria 3/99)

• Imposição do pagamento de percentual a título de taxa de administração

futura em consórcio. (item 10 da Portaria 3/99);

• Exigência do pagamento do valor residual antecipadamente sem previsão de

devolução desse montante, corrigido monetariamente, se não exercida a opção

de compra do bem nos contratos de leasing. (item 15 da Portaria 3/99);

A.5. Reconhecimento de Dívida

• Estipulação da fatura de cartões de crédito e de conta corrente como dívida

líquida certa e exigível. (item 8 da Portaria 3/99)

• Capitalização de juros

• Capitalização mensal dos juros. (item 9 da Portaria 3/99)

B. Cláusulas de Vantagem Excessiva

• Assinatura de títulos de crédito em branco (item 12 da Portaria 3/99)

• Emissão de títulos de crédito em branco ou livremente circuláveis por meio de

endosso ou representação de toda e qualquer obrigação assumida pelo

consumidor (item 12 da Portaria 4/98);

• Cobrança de outros serviços sem autorização prévia do consumidor em

faturas de serviço essencial. (item 3 da Portaria 3/98);

• Venda casada em contrato de prestação de serviços educacionais. (item 6 da

Portaria 3/98)

• Impedimento ao consumidor de benefício do evento constante do termo de

garantia contratual que lhe seja mais favorável. (item 4 da Portaria 4/98);

• Estabelecimento de sanções por descumprimento somente em desfavor do

consumidor. (item 6 da Portaria 4/98)

• Opção unilateral do fornecedor de concluir ou não o contrato, não

estabelecendo igual opção para o consumidor. (art. 51, IX, do CDC)

48

[Digite texto]

• Autorização de cancelamento unilateral do contrato pelo fornecedor, não

estabelecendo igual opção para o consumidor (art. 51, IX, do CDC);

• Ressarcimento de custos de cobrança da obrigação do consumidor, não

estabelecendo o mesmo para o fornecedor (art. 51, XVII);

• Modificação unilateral do contrato após sua celebração por parte do

fornecedor (art. 51, XIII, do CDC);

• Não restabelecimento dos direito integrais do consumidor, após a purgação

da mora. (item 3 da Portaria 4/98)

• Interrupção de serviço essencial sem aviso prévio em caso de

impontualidade. (item 2 da Portaria 4/98)

• Cobrança de honorários sem ajuizamento da ação correspondente. (item 9 da

Portaria 4/98)

• Limitação de riscos e minimização de garantias para eventuais danos do

produto. (art. 51, I, do CDC)

• Afastamento contratual do CDC nos contratos de transporte aéreo (item 10 da

Portaria 4/98);

• Autorização do envio do nome do consumidor, e/ou seus garantes, a bancos

de dados e cadastros de consumidores, sem comprovada notificação prévia;

(item 1 da Portaria 5/02)

C. Cláusulas de exoneração de responsabilidade

• Limitação de riscos e minimização de garantias para eventuais danos do

produto. (art. 51, I, do CDC)

• Restrição além dos limites do dever de indenizar do contratante, por eventuais

violações das obrigações contratuais. (art. 51, I, do CDC)

• Verificação unilateral pelo fornecedor da qualidade de produto ou serviço,

bem como da conformidade com o pedido. (art. 51, I, do CDC)

• Limitação ou restrição procedimentos médicos e internações hospitalares em

contratos de planos de saúde. (item 2 da Portaria 3/99);

• Imposição de limite de tempo de internação hospitalar (item 14, Portaria 4/98)

• Transferência da responsabilidade a terceiros (art. 51, III, CDC)

• Renúncia do direito de indenização por benfeitorias necessárias (art. 51, XVI,

do CDC)

49

[Digite texto]

D. Cláusulas de disparidade no acesso à justiça

• Eleição de foro diferente daquele onde reside o consumidor. (item 8 da

Portaria 4/98)

• Inversão do ônus da prova em prejuízo do consumidor. (item 51, VI, do CDC)

• Utilização compulsória de arbitragem. (item 1, VII, do CDC);

• preposto para concluir ou realizar negócio pelo consumidor (item 51, VIII do

CDC);

• Apresentação de extrato bancário como título executivo extrajudicial. (item 7

da Portaria 3/99).

• Imposição de representante para concluir ou realizar negócio jurídico pelo

consumidor (art. 51, VII do CDC)

E. Cláusulas Gerais

Além das cláusulas previstas na lista, no mesmo artigo 51 do CDC, encontram-

se nos incisos IV, XIV e XV as seguintes cláusulas gerais:

• Da cláusula geral da boa-fé; (art. 51, IV, do CDC);

• Da cláusula geral da eqüidade; (art. 51, IV, do CDC);

• Desrespeito às normas ambientais (art. 51, XIV, do CDC, do CDC);

• Inobservância do sistema de proteção ao consumidor (art. 51, XV, do CDC).

Tanto as hipóteses integrantes da lista como das cláusulas gerais tem como

punição a declaração da nulidade das cláusulas.

F. Revisão contratual

Reconhecendo uma cláusula como abusiva por enquadrar-se em uma das

hipóteses do art. 51 do CDC, o juiz deverá proceder às seguintes etapas:

1) Declarar a cláusula nula de pleno direito (art. 51, IV do CDC):

Estabeleçam obrigações consideradas iníquas, abusivas, que coloquem o

consumidor em desvantagem exagerada, ou sejam incompatíveis com a boa-fé

ou a equidade.

2) Integrar o contrato, se necessário (art. 6º, V, do CDC):

Modificação das cláusulas contratuais que estabeleçam prestações

50

[Digite texto]

desproporcionais ou sua revisão em razão de fatos supervenientes que as

tornem excessivamente onerosas.

3) Preservar o contrato, se possível (art. 51, §2° do CDC):

A nulidade de uma cláusula contratual abusiva não invalida o contrato, exceto

quando de sua ausência, apesar dos esforços de integração, decorrer ônus

excessivo a qualquer das partes.

51

[Digite texto]

ANEXO II

SECRETARIA DE DIREITO ECONÔMICO

PORTARIA Nº 3, DE 19 DE MARÇO DE 1999

O Secretário de Direito Econômico do Ministério da Justiça, no uso de suas

atribuições legais, CONSIDERANDO que o elenco de Cláusulas Abusivas

relativas ao fornecimento de produtos e serviços, constantes do art. 51 da Lei

n0 8.078, de 11 de setembro de 1990, é de tipo aberto, exemplificativo,

permitindo, desta forma a sua complementação;

CONSIDERANDO o disposto no artigo 56 do Decreto n0 2.181, de 20 de março

de 1997, que regulamentou a Lei n,0 8.078/90, e com o objetivo de orientar o

Sistema Nacional de Defesa do Consumidor, notadamente para o fim de

aplicação do disposto no inciso IV do art. 22 deste Decreto, bem assim

promover a educação e a informação de fornecedores e consumidores, quanto

aos seus direitos e deveres, com a melhoria, transparência, harmonia,

equilíbrio e boa-fé nas relações de consumo, e

CONSIDERANDO que decisões administrativas de diversos PROCONs,

entendimentos dos Ministérios Públicos ou decisões judiciais pacificam como

abusivas as cláusulas a seguir enumeradas, resolve:

Divulgar, em aditamento ao elenco do art. 51 da Lei n0 8.078/90, e do art. 22 do

Decreto n0 2.181/97, as seguintes cláusulas que, dentre outras, são nulas de

pleno direito:

1. Determinem aumentos de prestações nos contratos de planos e seguros de

saúde, firmados anteriormente à Lei 9.656/98, por mudanças de faixas etárias

sem previsão expressa e definida;

2. Imponham, em contratos de planos de saúde firmados anteriormente à Lei

9.656/98, limites ou restrições a procedimentos médicos (consultas, exames

médicos, laboratoriais e internações hospitalares, UTI e similares) contrariando

prescrição médica;

3. Permitam ao fornecedor de serviço essencial (água, energia elétrica,

telefonia) incluir na conta, sem autorização expressa do consumidor, a

52

[Digite texto]

cobrança de outros serviços. Excetuam-se os casos em que a prestadora do

serviço essencial informe e disponibilize gratuitamente ao consumidor a opção

de bloqueio prévio da cobrança ou utilização dos serviços de valor adicionado;

4. Estabeleçam prazos de carência para cancelamento do contrato de cartão

de crédito;

5. Imponham o pagamento antecipado referente a períodos superiores a 30

dias pela prestação de serviços educacionais ou similares;

6. Estabeleçam, nos contratos de prestação de serviços educacionais, a

vinculação à aquisição de outros produtos ou serviços;

7. Estabeleçam que o consumidor reconheça que o contrato acompanhado do

extrato demonstrativo da conta corrente bancária constituem título executivo

extrajudicial, para os fins do artigo 585, II, do Código de Processo Civil;

8. Estipulem o reconhecimento, pelo consumidor, de que os valores lançados

no extrato da conta corrente ou na fatura do cartão de crédito constituem dívida

líquida, certa e exigível;

9. Estabeleçam a cobrança de juros capitalizados mensalmente;

10. Imponham, em contratos de consórcios, o pagamento de percentual a título

de taxa de administração futura, pelos consorciados desistentes ou excluídos;

11. Estabeleçam, nos contratos de prestação de serviços educacionais e

similares, multa moratória superior a 2% (dois por cento);

12. Exijam a assinatura de duplicatas, letras de câmbio, notas promissórias ou

quaisquer outros títulos de crédito em branco;

13. Subtraiam ao consumidor, nos contratos de seguro, o recebimento de valor

inferior ao contratado na apólice.

14. Prevejam em contratos de arrendamento mercantil (leasing) a exigência, a

título de indenização, do pagamento das parcelas vincendas, no caso de

restituição do bem;

15. Estabeleçam, em contrato de arrendamento mercantil (leasing), a exigência

do pagamento antecipado do Valor Residual Garantido (VRG), sem previsão de

devolução desse montante, corrigido monetariamente, se não exercida a opção

de compra do bem;

RUY COUTINHO DO NASCIMENTO

Secretário de Direito Econômico

53

[Digite texto]

ANEXO III

SECRETARIA DE DIREITO ECONÔMICO

PORTARIA N.º 4, DE 13 DE MARÇO DE 1998

O Secretário de Direito Econômico do Ministério da Justiça, no uso de suas

atribuições legais, CONSIDERANDO o disposto no artigo 56 do Decreto n.º

2.181, de 20 de março de 1997, e com o objetivo de orientar o Sistema

Nacional de Defesa do Consumidor, notadamente para o fim de aplicação do

disposto no inciso IV do art. 22 deste Decreto;

CONSIDERANDO que o elenco de Cláusulas Abusivas relativas ao

fornecimento de produtos e serviços, constantes do art. 51 da Lei n.º 8.078, de

11 de setembro de 1990, é de tipo aberto, exemplificativo, permitindo, desta

forma a sua complementação, e

CONSIDERANDO, ainda, que decisões terminativas dos diversos PROCON’s e

Ministérios Públicos, pacificam como abusivas as cláusulas a seguir

enumeradas, resolve:

Divulgar, em aditamento ao elenco do art. 51 da Lei n.º 8.078/90, e do art. 22

do Decreto nº 2.181/97, as seguintes cláusulas que, dentre outras, são nulas

de pleno direito:

1. estabeleçam prazos de carência na prestação ou fornecimento de serviços,

em caso de impontualidade das prestações ou mensalidades;

2. imponham, em caso de impontualidade, interrupção de serviço essencial,

sem aviso prévio;

3. não restabeleçam integralmente os direitos do consumidor a partir da

purgação da mora;

4. impeçam o consumidor de se beneficiar do evento, constante de termo de

garantia contratual, que lhe seja mais favorável;

5. estabeleçam a perda total ou desproporcionada das prestações pagas pelo

consumidor, em benefício do credor, que, em razão de desistência ou

54

[Digite texto]

inadimplemento, pleitear a resilição ou resolução do contrato, ressalvada a

cobrança judicial de perdas e danos comprovadamente sofridos;

6. estabeleçam sanções, em caso de atraso ou descumprimento da obrigação,

somente em desfavor do consumidor;

7. estabeleçam cumulativamente a cobrança de comissão de permanência e

correção monetária;

8. elejam foro para dirimir conflitos decorrentes de relações de consumo

diverso daquele onde reside o consumidor;

9. obriguem o consumidor ao pagamento de honorários advocatícios sem que

haja ajuizamento de ação correspondente;

10. impeçam, restrinjam ou afastem a aplicação das normas do Código de

Defesa do Consumidor nos conflitos decorrentes de contratos de transporte

aéreo;

11. atribuam ao fornecedor o poder de escolha entre múltiplos índices de

reajuste, entre os admitidos legalmente;

12. permitam ao fornecedor emitir títulos de crédito em branco ou livremente

circuláveis por meio de endosso na representação de toda e qualquer

obrigação assumida pelo consumidor;

13. estabeleçam a devolução de prestações pagas, sem que os valores sejam

corrigidos monetariamente;

14. imponham limite ao tempo de internação hospitalar, que não o prescrito

pelo médico.

RUY COUTINHO DO NASCIMENTO

Secretário de Direito Econômico

55

[Digite texto]

ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO 2

AGRADECIMENTO

DEDICATÓRIA 4

RESUMO 5

METODOLOGIA 6

SUMÁRIO 7

INTRODUÇÃO 8

CAPÍTULO I

PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS APLICÁVEIS AOS

CONTRATOS EM GERAL 10

1.1 - Princípio da Autonomia da Vontade 10

1.2 - Princípio da Força Obrigatória 10

1.3 - Princípio da Relatividade das convenções 11

1.4 - Princípio da Boa-fé 12

1.5 - Função Social 13

CAPITULO II

CONTRATOS DE ADESÃO 16

2.1. Evolução Histórica/Massificação Contratual 16

2.2 - Propriamente Dito 20

CAPITULO III

CLÁUSULAS ABUSIVAS

3.1 - A Definição de Cláusulas Abusivas 24

3.2 - Mecanismo de Modificação ou Extinção do Contrato

de Adesão 26

3.3 - Efeitos Produzidos nos Contratos de Adesão 31

3.4 - Reconhecimento Judicial da Cláusula Abusiva 37

CONCLUSÃO 41

56

[Digite texto]

BIBLIOGRAFIA 43

INDICE DOS ANEXOS 45

ANEXO I 45

ANEXO II 51

ANEXO III 53