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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATU SENSU” INSTITUTO A VEZ DO MESTRE QUALIDADE DE VIDA E O DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA DE 0 A 5 ANOS NO CENTRO MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO INFANTIL : “ELI FORTE”. Por: Marta Lucia Santos Orientadora: Professora Maria Poppe Goiânia, 2011. DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL

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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATU SENSU”

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

QUALIDADE DE VIDA E O DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA DE 0 A 5 ANOS NO CENTRO MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO INFANTIL : “ELI FORTE”.

Por: Marta Lucia Santos

Orientadora: Professora Maria Poppe

Goiânia, 2011.

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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

QUALIDADE DE VIDA E O DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA DE 0 A 5 ANOS NO CENTRO MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO INFANTIL : “ELI FORTE”.

Apresentação de monografia à Universidade Cândido Mendes como

requisito parcial para obtenção do grau de especialista em Educação e Desenvolvimento Infantil.

Por: Marta Lucia Santos.

AGRADECIMENTOS

Este trabalho contou com a colaboração de vários profissionais

através de sua atenção e disposição em fornecer as informações solicitadas.

Agradeço a todos e em especial ao meu cônjuge e companheiro de todos os

momentos.

DEDICATÓRIA

Para todos os educadores que ajudam os educando a elaborar suas

vivencias reais, a adquirir um conhecimento mais amplo de si, dos que os cercam,

da realidade, do espaço onde vivem e da comunidade da qual participam.

RESUMO

Este trabalho visa apresentar os resultados e as reflexões

decorrentes de um estudo sobre a qualidade de vida das crianças de 0 a 6 anos

que freqüentam o CMEI (Centro Municipal de Educação Infantil) “Eli Forte” em

Goiânia. São aqui discutidos os dados de observações de três turmas e suas

respectivas professoras, focalizando principalmente os critérios de condução da

aprendizagem. Por meio da apresentação de teorias sobre a formação do

pensamento infantil e a visão do escritor Augusto Jorge Cury, no que se refere a

formação da Inteligência Multifocal e suas interferências na ação pedagógica. O

que faz um educador para que seu pequeno aluno consiga construir seus

pensamentos através de um enfoque qualitativo, ou seja, protegendo-se de

futuros entraves emocionais.

Consegui-se com este estudo, evidenciar algumas aplicações da

Teoria Multifocal da Inteligência para o efetivo trabalhado pedagógico; propõe-se

orientações educacionais com a intenção de promover a qualidade dos

sentimentos/emoções das crianças; delimitou-se alguns caminhos por onde o

pensamento infantil é construído dentro do contexto do CMEI e são relacionados

itens para nortear o trabalhado dos educadores que desejam cuidar do território

da sua emoção e dos solos da sua memória.

Assim, será possível confiar no futuro, se a educação de hoje partir

de um segmento que privilegie o emocional, que dê à criança a oportunidade de

sonhar, superar seus limites e buscar novos desafios para a construção de sua

própria história.

METODOLOGIA

Neste momento, é importante esclarecer que o uso de uma teoria

pode estimular a trajetória de uma pesquisa e a produção de conhecimento, mas,

pode também reduzir a revolução das idéias e provocar uma ditadura dos

discursos teóricos. Outro fator a considerar é que para se realizar uma pesquisa é

preciso promover o confronto entre os dados, as evidências, as informações

coletadas sobre determinado assunto e o conhecimento acumulado a respeito

dele. Esta concepção de pesquisa, com um caráter social, destaca-se nos

escritos de Pedro Demo (1981) e viabiliza este trabalho.

Pretende-se então, refletir sobre a qualidade de vida e do

desenvolvimento da criança de 0 a 6 anos que freqüenta o CMEI do Bairro Eli

Forte, na região sudoeste de Goiânia, no que se refere à formação e/ou

construção do pensamento infantil. A sua emoção, propriamente dita. Observou-

se que as crianças atendidas neste CMEI são provenientes de famílias de classe

baixa que residem nas proximidades e que trabalham fora de suas casas por um

período médio de 8 a 10 horas por dia. Pesquisando suas fichas de dados

pessoais, detectou-se ainda, a fraca ou inexistente formação escolar dos demais

familiares.Todas estas informações são tomadas como itens que estariam

interferindo na formação emocional e multifocal de seus pequenos filhos e filhas;

porque, segundo Cury:

"Todo ser humano que possui uma memória preservada, capaz de

armazenar as experiências psíquicas (construções psicodinâmicas)

produzidas pelos processos de construção da psique em forma de RPS

(Representações Psicossemânticas¹) desenvolverá, paulatinamente, ao

longo do seu processo existencial, sua história intrapsíquica.” (CURY,

2006: 86)

______________________________

¹ “São representações psicossemânticas das experiências psíquicas (ex: pensamentos, angústias, ansiedades) na

memória (córtex cerebral). As RPSs são arranjos multifocais físico-químicos (eletrônicos ou atômicos) na memória. Por

isso, elas sempre representam as experiências psíquicas de maneira limitada, reducionista. As RPS são diretivas (RPSd),

ou seja, ligadas diretamente ao estímulo ou associativas (RPSa), ou seja, relacionadas com ele. Elas formam a história

intrapsíquica.” (CURY, 2006:334)

Para tanto, consideraremos as aplicações da Teoria da Inteligência

Multifocal proposta pelo Dr. Augusto Jorge Cury (1). Onde este autor enfatiza a

necessidade urgente de aprendermos a intervir no nosso mundo interno e

gerenciar nossos pensamentos e emoções.

Os instrumentos utilizados para a realização desta pesquisa foram

relatórios de observação diária do tipo de orientação do trabalho pedagógico

realizado no CMEI em questão e a realização de entrevistas com a comunidade

escolar (professoras, pais, coordenação, direção, etc.), que permitiram um maior

aprofundamento das informações obtidas de modo mais livre, menos estruturado.

Os procedimentos envolveram ainda, o questionamento contínuo do

conhecimento produzido, a dúvida e a crítica para expandir as possibilidades de

compreensão sobre as origens, limites, alcance e práxis, natureza dos

pensamentos e da consciência existencial. Levando em conta sempre, a

inesgotabilidade da ciência. Pois não há teoria acabada: todas aperfeiçoam sendo

reescritas e desenvolvidas.

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO............................................................................................08

CAPÍTULO I – A Criança e seu Pensamento Criador........................11.

CAPÍTULO II – A Visão Multifocal da Construção do Pensamento...21

CAPÍTULO III – A Inteligência Multifocal na Ação Pedagógica..........29

CONCLUSÃO.......................................................................................36

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS........................................................44

ANEXOS.............................................................................................45

INTRODUÇÃO

“ Só treinando e educando a emoção poderemos revolucionar nossa qualidade de vida”. (Augusto Cury, 2002: 14)

Esta monografia, visando compreender sob quais aspectos do

trabalho pedagógico a Teoria Multifocal poderia garantir mais qualidade de vida

para a criança de 0 a 5 anos, é um estudo da aplicação da Teoria Multifocal no

trabalho pedagógico diário com as crianças que utilizam os serviços do CMEI

(Centro Municipal de Educação Infantil)-GYN.

Este estudo vem de encontro com uma preocupação que se tornou

fundamental nos dias de hoje dentro do processo socioeducacional: a qualidade

de vida dos educando. Neste sentido, é importante saber que a concepção de

criança é uma noção historicamente construída e vem sofrendo diversas

alterações e definições que levam em conta seu ambiente de nascimento e

formação. Ou seja, há uma grande contradição em nossa sociedade ao levar em

conta a classe social a qual pertence à criança e a atenção com sua saúde,

alimentação, lazer, formação e porque não, com a formação das estruturas de

seu pensamento.

A criança como todo ser humano, é um sujeito social e histórico

(Pode-se afirmar que a condição de sujeito histórico foi atribuída, ao longo da

história, ora ao indivíduo, ora ao grupo ou a uma convergência de ambas as

posições. Sendo esta última uma posição análoga à de A. Touraine, na teoria da

ação “... os atores são definidos como aqueles que criam a situação, mas dentro

também dos limites da ação histórica.” (TOURAINE, 1973: 24) Faz parte de uma

organização familiar que está inserida em uma sociedade, com uma determinada

cultura, em determinado momento histórico. As crianças possuem uma natureza

singular, que as caracteriza como seres especiais que sentem e pensa o mundo

de um jeito todo próprio; daí sua capacidade de construir o conhecimento a partir

das interações que estabelecem com as outras pessoas e com o meio em que

vivem, permitindo assim, uma grande interferência na construção de seus

pensamentos e emoções.

Compreender, conhecer e reconhecer respeitando o jeito particular

das crianças serem, estarem e agirem no mundo que as pertence é e será por

muito tempo o maior desafio da educação infantil e de seus profissionais. Nesse

sentido, entender a emoção como um dos grandes enigmas da inteligência que

não tem relação direta com os princípios da inteligência lógica, garantirá uma boa

qualidade de vida às nossas crianças.

As primeiras experiências de uma criança são marcantes e podem

influenciar, positiva ou negativamente, toda a sua vida futura. Estudos recentes

têm destacado a importância da interação entre crianças desde bebês. Está é

uma idéia nova, uma vez que, até bem pouco tempo, acreditava-se que o

comportamento do bebê não era influenciado pela presença de outro, de faixa

etária semelhante.

É indiscutível a importância do convívio social no desenvolvimento e

na aprendizagem da criança. As trocas de informações, as ajudas mútuas entre

crianças de várias idades e entre crianças e adultos são basicamente

responsáveis pelas condições de desempenho de cada criança.

Sem dúvida o período anterior aos 7 anos é da maior importância na

formação do indivíduo, pois é nele que se organiza a personalidade, o EU de

cada um.

Se até os 3 anos as grandes conquistas da criança são a locomoção

e a fala, dos 4 aos 6 anos há também uma sucessão de novas experiências que

lhe permitem estruturar sua personalidade ou ainda seu pensamento e sua

emoção.

A interação cada vez maior com grupos de crianças ou adultos, a

percepção mais clara de si mesma e dos outros, a capacidade de raciocinar e de

expressar com bastante clareza esse raciocínio, a possibilidade de contrapor suas

idéias e vontades às de outras pessoas são algumas dessas experiências que, se

bem alicerçadas em sentimentos e emoções saudáveis, produzirão adultos

tranqüilos e felizes.

De acordo com Augusto Cury, criador da teoria da Inteligência

Multifocal:

“Diariamente pensamos, refletimos, raciocinamos, sentimos solidão,

medo, ansiedade, alegria, tranqüilidade. Não temos consciência de

como isso é complexo. Explorar e cuidar carinhosamente desse

pequeno e infinito mundo que somos é a nossa grande

responsabilidade.” (CURY, 2002:11)

Sabemos também que os “ganhos” emocionais da criança,

perdurarão até a fase adulta, que estes dependem do ambiente afetivo/emocional

do qual participa e é claro de como foi conduzida, treinada e cuidada a sua

emoção.

Nesse sentido, são propostos os seguintes objetivos para este

estudo. Primeiro, identificar as possíveis aplicações da Teoria da Inteligência

Multifocal de Augusto Cury ao trabalho pedagógico realizado com as crianças de

0 a 6 anos no CMEI/GYN; segundo, propor alternativas pedagógicas aos

educadores sobre a relação entre qualidade de vida/desenvolvimento infantil e a

utilização dos princípios da Inteligência Multifocal; terceiro, identificar as principais

fontes que alimentam/promovem o processo de construção dos pensamentos

infantis na realidade escolar em estudo; por último, examinar as possibilidades

dos educandos aprenderem a cuidar carinhosamente do território da sua emoção

e dos solos da sua memória.

Para realizar o complexo, sofisticado e rico processo de formação de

educandos com seriedade, acredita-se que os princípios da Teoria da Inteligência

Multifocal podem promover ou garantir uma melhor qualidade de vida aos

educandos que freqüentam os CMEIs de Goiânia, a partir do momento em que

houver um gerenciamento dos pensamentos de todas as pessoas (educadores,

educandos, familiares), no sentido de privilegiar as emoções de cada um.

Este trabalho está organizado em três capítulos. Sendo que no

primeiro (A Criança e seu Pensamento Criador) é apresentado um histórico-social

da conceituação do termo criança e de como se a construção de seu

pensamento; e ainda a contribuição de Augusto Cury para a compreensão de

como ocorre a construção da vida mental infantil em quatro momentos decisivos.

O segundo capítulo (A Visão Multifocal da Construção do Pensamento) compõe-

se da apresentação resumida das contribuições da Teoria Multifocal, divulgada

no livro Inteligência Multifocal do autor Augusto Jorge Cury, com primeira edição

em 1998, para a composição das argumentações tecidas neste trabalho. O

terceiro capítulo (A Inteligência Multifocal na Ação Pedagógica) é o momento em

que fica esclarecido qual deve ser o “fazer pedagógico” que leva em consideração

as contribuições/explicações da Teoria Multifocal para que ocorra um aprendizado

questionador, criativo e de qualidade, já na educação infantil.

CAPÍTULO I

A Criança e seu Pensamento Criador

“Cada ser humano é um mundo complexo e sofisticado a ser descoberto.” (Augusto Cury, 2006: 31)

No decorrer do século XX têm sido feitas leituras da criança a partir

de parâmetros e teorias que têm servido para compreender como se dão os

processos de desenvolvimento e de aprendizagem. Deve-se continuar utilizando

uma única lente ou usar várias para conseguir enxergar o ser humano inteiro sob

olhares cognitivos, corporais, emocionais, anímicos, sociais, morais? Essas

diversas lentes são, sem dúvida, extremamente importantes de serem

experimentadas como base para a compreensão de ser humano. Porém, tem-se

nos distanciado mais ainda daqueles que se pretende melhor compreender:

chegamos na criança com verdades que vestimos como uniforme, ingênuos para

a possibilidade de “ouvir, olhar, observar, ver e sentir” o que acontece com

aquelas crianças ou grupos de crianças que estão à nossa frente.

O que é criança? Ser humano de pouca idade, menina ou menino;

pessoa ingênua, infantil, é o que é novo. É importante uma simples definição de

criança à qual refere-se este estudo pois, é este dado diferencial e fundamental

para a compreensão, junto com as contribuições das teorias sobre

desenvolvimento infantil que transitam desde os estudos cognitivos, emocionais,

de personalidade, físico-motor até os anímico-espirituais e que partem de uma

criança idealizada para realizar suas afirmações, pode-se ter um panorama mais

próximo desta criança real com a qual convive-se diariamente. Historicamente,

segundo Ariès (1981), as instituições sociais, os adultos e, de modo geral, as

sociedades, têm mudado de atitudes em relação à família e à criança devido à

maneira como as representam.

Como está na contracapa do livro de Chombart de Lauwe, “em cada

época, cada sociedade tem um modo particular de representar para si a criança;

ela propõe imagens de criança que revelam e refletem os sistemas de valores e

aspirações das quais nem sempre ela tem consciência” (Chombart de Lauwe,

1979). Para os que pensam que a família nuclear, a criança e a escola sempre

existiram mais ou menos da forma que está aí e que sempre continuarão

existindo assim, estes estudos relatam as transformações ocorridas na

valorização e significação do conceito de criança, se não decorrentes de

modificações econômicas e políticas da estrutura social, bem como de condições

culturais, pelo menos acompanhando-as.

No trabalho realizado por Camargo e Lauand (1976), duas

pesquisadoras brasileiras, abrangendo o léxico português da Idade Média; elas

encontraram somente dois verbetes para o conceito criança: “menino” e “infante”.

Apenas no século XVI surge o verbete “criança” e nos fins do século XVIII e

começo do XIX, aparecem muitos outros sinônimos neste campo conceitual. Se

considerarmos que a importância de um conceito na história da cultura de

qualquer povo está diretamente relacionada com a riqueza ou pobreza de sua

sinonímia, constataremos como o conceito de criança vai se complexificando com

o passar dos séculos.

Hoje em dia, pode-se depreender da literatura científica na área,

algumas posições que expressam desde uma visão romântica de criança

(anjinho) até a do miniadulto (homenzinho), passando por visões mais realistas

como algumas que apontam para a opressão e as condições desfavoráveis em

que vivem muitas crianças. Os sistemas pedagógicos apresentam uma imagem

ideológica e metafísica, pois ambos os sistemas (escola tradicional e nova) estão

apoiados na idéia de natureza infantil e não na condição de ser criança,

socialmente determinada pelos diversos fatores (biológicos, psicológicos, social)

que geram uma realidade concreta: ...”a pedagogia não considera a educação

concebida como cultura; a imagem da criança traduz a concepção da natureza

humana, de seu desdobramento e de sua cultura” (Charlot, 1983:116).

As contradições imputadas à natureza infantil são, portanto,

múltiplas e a imagem que se faz da criança hoje em dia leva a duas atitudes

contraditórias que caracterizam o comportamento dos adultos e, porque não

educadores: uma é a da “paparicação” achando a criança ingênua, graciosa,

pura, inocente; a outra considera a criança como um ser imperfeito, um ser que

na verdade é um vir-a-ser, alguém incompleto que precisa da moralização e da

educação dada pelo adulto. No entanto, estas duas atitudes são apenas

aparentemente contraditórias. Aí subjaz uma concepção de infância enquanto

essência ou natureza infantil que seria encontrada em toda e qualquer criança,

mas que obedeceria a um padrão coincidente com o modelo das classes

dominantes e que coloca a dependência social que a destas classes tem do

adulto como dependência natural, usufruída de forma absoluta.

Nas duas atitudes, uma claramente paternalista e a outra

“autoritarista” (onde o adulto sabe tudo e a criança deve somente aprender), as

relações que se constituem são relações de opressão e domínio; sendo assim, as

relações afetivas entre adulto e criança tendem a ser, em sua maioria enviesadas,

com poucas chances de haver respeito para com o mais fraco. Charlot diz que:

(...) de maneira geral, a criança cuja inferioridade social é interpretada em

termos de natureza torna-se o símbolo de todos aqueles de quem se

preocupa justificar a inferioridade social, de fato, por uma pretensa

inferioridade natural: o proletário, o 'primitivo', a mulher, o louco. A

desvalorização da infância é também a de todas essas personagens; sua

idealização é também a deles. Quer seja positiva, quer seja negativa, essa

assimilação, fundada em uma comum condição natural, justifica a analogia

entre o comportamento com relação a essas pessoas e que se adota com

relação á criança: por exemplo, na interpretação desvalorizadora, no

paternalismo (palavra significativa) do patrão ou do colono e na proteção,

por bem ou por mal, da mulher ou do louco. (CHARLOT,1983:135).

Pode-se verificar que, hoje, ao mesmo tempo em que se valoriza a

criança, uma auréola de depreciação está ao seu redor. Isto ocorre, apesar da

evolução das idéias no decorrer dos tempos, da tentativa de valorização da

criança a partir do século XVIII, exaltando-a com a imagem pura e natural; apesar

da importância dos primeiros anos de vida para o desenvolvimento do ser

humano ter sido constatada cientificamente através do surgimento de incontáveis

trabalhos e estudos; apesar de centenas de publicações sobre e para criança;

apesar de centenas e constantes evidência da qualidade dos cuidados

dispensados à criança ser de fundamental importância para o futuro adulto.

Apesar dos apesares.

Assim, o conceito de criança nascido em uma perspectiva do

contexto histórico onde ela se acha inserida, mostra uma maneira, diferente e

mais abrangente, de ver o problema, não sendo tratado simplesmente como um

problema em si, nem descontextualizado. Mas é necessário ampliar este perfil

que se tem de infância e considerar os vários contextos e situações das crianças

reais com as quais se convive:

- a criança mais idealizada, globalizada, bem alimentada, limpa e

educada, membro de família tradicional nuclear (com pai, mãe, irmãos) ou as

estendidas (avós, tios, primos): é a referência veiculada pela mídia em geral;

- a criança provinda de famílias desestruturadas, desde a família de

mãe solteira, pais separados onde só a mãe ou só o pai são os responsáveis, até

crianças adotadas;

- a criança discriminada pelas mais variadas razões: sexo, raça,

origem socioeconômica, coeficiente intelectual ou necessidade especial (cegos,

mudos, surdos, crianças com síndrome de Down, paralisias diversas, gagueira,

etc.);

- a criança criada em orfanatos ou instituições que abrigam crianças

abandonadas, violentadas ou que sofreram algum tipo de abuso;

- a criança das periferias das cidades que vivem em barracos,

favelas, ou na rua;

- a criança doente, internada em hospitais;

- a criança de diversas origens étnicas: orientais, indígenas, judeus,

italianos, latinos,

- a criança que trabalha; etc.

Estas informações são fundamentais para uma compreensão mais

profunda da formação do emocional infantil, sobre tudo daquelas crianças com

quem estamos em contato, é preciso poder olhar para elas. E este olhar não tem

como fundamento somente uma teoria vinda de fora, mas a coragem de acreditar

nas nossas próprias percepções, intuições, sentimentos, sinais e imagens. A fonte

mais segura é a observação que cada um faz da criança com quem convive da

sua gestualidade, dos seus movimentos, do seu jeito de relacionar-se com os

outros, com ela mesma com os objetos, com o mundo. A observação e a tentativa

de compreensão das emoções e simbolismos que aparecem nos seus processos

e nas suas produções e vivencias.

O mundo está cheio de oportunidades para a produção de

memórias, e muitos fatores podem interferir nos mecanismos da persistência e da

evocação. Os professores devem utilizar os novos conhecimentos provenientes

da neurociência e da psicologia a fim de melhor qualificar o ensino.

Muitos estudiosos e pesquisadores têm trabalhado na tentativa de

compreender a elaboração do pensamento do ser que aprende, ou seja,

entender, por exemplo, como funciona o pensamento da criança quando está

aprendendo a ler e a escrever. Piaget se preocupou em explicar a maneira como

a criança interage com o mundo e com as pessoas para chegar ao conhecimento.

Emília Ferreiro, discípula de Piaget, vem desenvolvendo teses sobre as hipóteses

de pensamento que a criança pode apresentar a respeito da linguagem escrita.

Vygotsky e seus seguidores estudaram o desenvolvimento das capacidades

intelectuais superiores do homem, acreditando que a linguagem atuaria como o

principal fator para que esse desenvolvimento ocorresse. Nada é tão fascinante

quanto a inteligência do ser humano. Durante séculos os homens valorizavam a

inteligência lógica e raramente se questionavam se havia outras inteligências que

formavam a personalidade humana.

Os últimos 20 anos registraram um avanço importante na

compreensão dos mecanismos biológicos da memória, entendida como a

aquisição, a conservação e a evocação de informações. A aquisição corresponde

ao que se denomina habitualmente de aprendizado. Para ter algo de que lembrar

é preciso primeiro aprendê-lo. Só se lembra daquilo que se aprende que se vive

que se sente. As informações que se aprendem e não se perdem no processo

consolidam-se, formando memórias.

Como se aprende? Certamente, de diversas maneiras. Os

mecanismos através dos quais se aprende a fugir de uma ameaça e aquele que

se utiliza para aprender a amar, para aprender um poema ou um percurso

determinado são, sem dúvida, diferentes. No entanto, todos têm em comum o fato

de que só se aprende por associação. Isso de discutia anos atrás, porém hoje já

não mais. A apresentação de estímulos dissociados permite que sejam

percebidos, mas não ensina nada. Os mesmos estímulos associados a um

pedaço de carne subjazem à aquisição de um reflexo condicionado: os cachorros

de Pavlov aprendiam a salivar em resposta a um som após associá-lo com a

carne. A aprendizagem associada ao prazer, à recompensa de adquirir

conhecimentos, um conjunto de informações para se realizar uma brincadeira ou

um jogo, envolve uma típica associação; para aprender, é preciso adquirir “gosto”,

fazer com que o ato de aprender envolva uma forma de recompensa aliada ao

lazer.

Assim acontece com as crianças pequenas. Ninguém aprende aquilo

pelo qual não sente gosto. O gosto muitas vezes inclui a – ou consiste na –

percepção da utilidade, da aplicação daquilo que se aprende. O contexto em que

ocorre cada aprendizado é de importância crucial. Esse contexto inclui uma

grande quantidade de fatores moduladores, que nos últimos anos a pesquisa

demonstrou com clareza que influem diretamente sobre aquilo que se adquiri em

relação à formação de memórias.

Foram vários os estudiosos que afirmaram que apenas poderiam se

compreender o mundo por meio da lógica da matemática. Tudo isso tem sua

importância ainda hoje, porém seus alcances são limitados quando se quer

compreender a abrangência da emoção e da memória da mente humana (Cury,

2006). Sabe-se que ensinar é uma atividade cognitiva e emocionalmente muito

complexa e exigente. O ensino – ou, em sentido mais amplo, a educação – não

apenas é possível, como também é necessário. Não há sociedade humana sem

educação, pois sem ela não se poderia transmitir nem conservar a cultura de um

povo (Pozo, 2004). Para isso, é preciso ler a mente das crianças, entender, o

modo como aprendem e as dificuldades que têm de enfrentar, como se sentem e

como influenciar/auxiliar em suas relações afetivas e sociais, etc. Em suma,

precisa-se melhorar a compreensão da atividade mental das crianças para então

poder ajudá-las a apreender cada vez mais e com maior qualidade.

Neste sentido os estudos de Augusto Cury provoca boas e

necessárias reflexões, ao fazer a seguinte afirmação:

"Na criança, em seus primeiros anos de vida, o Eu constrói

conscientemente pensamentos simples, que expressam pequenos

desejos, tais como tomar água, deslocar-se para determinado ambiente,

querer determinado objeto etc., embora a leitura da história intrapsíquica e

a produção inconsciente das matrizes de pensamentos, que estão na base

desses simples pensamentos, sejam altamente complexas. Com o passar

do tempo, à medida que o eu aprende com os mordomos da mente os

caminhos psicodinâmicos da leitura e utilização da memória, ele começa a

enriquecer a construção de pensamentos e o gerenciamento dessa

construção. (...) Os mais complexos trabalhos intelectuais da mente

humana (...) são a leitura da memória, a construção dos pensamentos e o

gerenciamento dessa construção, pois esses trabalhos, além de serem

sofisticadíssimos, são produzidos por processos totalmente

inconscientes." (CURY, 2006: 126 e 127)

Cabe ressaltar ainda, dentro desta concepção teórica, que Cury

defende a existência de quatro momentos nos quais ocorre a construção da vida

mental infantil.1

1 1º A partir das matrizes dos pensamentos essenciais (não conscientes) que são provocados pelos estímulos intra-uterinos. Esses pensamentos reorganizam os micros campos de energia emocional e motivacional fetal, expandindo as possibilidades de produção de experiências emocionais e motivacionais através do conjunto de estímulos intra-uterinos interpretados. 2º A partir da iniciação da leitura multifocal da memória histórico-existencial pelos fenômenos inconscientes da psique: o fenômeno da autochecagem da memória, âncora da memória e complexo do autofluxo. Todos os pensamentos essenciais (básicos e inconscientes), as emoções, os desejos e as sensações se tornam em experiências psíquicas que são registradas automaticamente pelo fenômeno RAM (registro automático da memória) na memória histórico-existencial (mais tarde memória autobiográfica). Destaque-se o papel da memória genético-instintiva que não tem apenas a função de perpetuar a vida, mas, também de enriquecer a memória histórico-existencial pois cada reação instintiva produzida é arquivada como RPS (representações psicossemanticas), expandindo, assim, a história intrapsíquica. 3º A partir das substâncias neuroendócrinas do metabolismo da mãe e que passam pela barreira da placenta. Essas substâncias são produzidas, principalmente, em situações de tensão emocional e stress psicossocial. Assim, o feto pode ter taquicardias, contrações musculares e ansiedades decorrentes do estado emocional da mãe que vão influenciar a construção da mente, nomeadamente o perfil emocional e a personalidade (mães muito ansiosas geram crianças ansiosas). Na verdade, os níveis de timidez, de ansiedade diante das situações stressantes, de intolerância diante de frustrações, de excitabilidade diante de novas situações, de estabilidade emocional, de insegurança, etc., formam-se logo na vida intra-uterina. 4º A partir da leitura da memória genético-instintiva e das substâncias neuroendócrinas fetais, produzidas pela carga genética, que transmutam micro campos de energia físico-química no campo de energia psíquica. A história intrapsíquica – ou seja, a história da mente de cada um de nós – é, pouco a pouco, arquivada e produzida inevitavelmente pelo fenômeno RAM (registro automático da memória) ao longo de todo o processo existencial desde a vida intra-uterina. Ou seja, as estruturas da nossa mente e que influenciam a nossa vida psíquica e os comportamentos no futuro têm uma origem anterior ao nascimento. Na verdade, toda a produção intelectual possui uma relação direta com a história intrapsíquica. Todas as ideias, pensamentos, análises, reações fóbicas, prazeres, angústias existenciais, desejos, impulsos, enfim, todas as construções psicodinâmicas produzidas pelos processos de construção da mente durante a vida fetal são geradas a partir da leitura da história intrapsíquica. Sem esse tempo de vida fetal em que se constrói a psique, sem essa história intrapsíquica anterior ao nascimento, não seriamos seres

Assim, de acordo com Cury, torna-se primordial conhecermos os

processos de construção da inteligência de maneira profunda e os fenômenos

que produzem idéias indesejadas e/ou negativas, desenvolvendo algumas

importantes funções da inteligência, tais como: a arte da crítica, da contemplação

do belo, e o gerenciamento dos processos de construção do pensamento.

Ou ainda, para Cury, cabe aos professores aprender a “administrar o

deslocamento de suas âncoras da memória” na formação das crianças. Cuidar do

desenvolvimento dos pensamentos/idéias das crianças e levá-las também a

governar os movimentos de suas “âncoras da memória,” para originar uma

construção de pensamentos que desencadeie o desenvolvimento do humanismo,

da cidadania, da capacidade crítica de pensar, da capacidade de contemplação

do belo diante dos pequenos eventos da vida, da capacidade de superar as dores

e perdas; é uma das mais importantes tarefas que os educadores deveriam

realizar no processo socioeducacional.

Neste sentido, é extremamente positivo levar em conta o ambiente

escolar que, deve constituir uma energia causadora de situações emocionais e

cognitivas de bem-estar e confiança; deve deixar a criança desenvolver

sensações físicas, psicológicas, olfativas, auditivas e táteis. Cabe aqui ainda, a

criatividade, enquanto sabedoria, que tem suas raízes naquilo que é próprio da

criança no seu patrimônio cultural, seus gostos e sua intuição. Crescer

aprendendo a intervir no mundo exterior é algo comum nos dias atuais, mas

ficam-se inerte diante de tantos problemas emocionais, pensamentos

antecipatórios e ansiedades.

Os professores devem aprender a reger o “deslocamento de suas

âncoras da memória” na educação dos alunos. Organizar e direcionar o ciclo das

idéias dos alunos e levá-los também a conduzir os deslocamentos de suas

pensantes, não construiríamos ideias, nem tão pouco, teríamos uma consciência existencial. Por isso se pode dizer que os fetos pensam muito, mas pensam matrizes de pensamentos essenciais, que são inconscientes. Assim, todo o ser humano inicia o desenvolvimento da sua inteligência, a construção dos pensamentos e a consciência do EU durante a vida intra-uterina. Aqui convém destacar o que Augusto Cury chama de “mordomos da mente”: o fenômeno da autochecagem da memória, a âncora da memória e o complexo do autofluxo. São eles que “alimentam” a mente e promovem o seu desenvolvimento.

âncoras da memória, para assim promover uma construção de pensamentos que

corrobore para o desenvolvimento do humanismo, da cidadania, da capacidade

crítica de pensar, da capacidade de contemplação do belo diante dos pequenos

eventos da vida, da capacidade de superar as dores e perdas; é uma das mais

importantes tarefas que o professor deve realizar no processo socioeducacional.

É preciso então conhecer o que é a Inteligência Emocional e Multifocal.

As bases da Psicologia Multifocal foram pela primeira vez tornadas

públicas em 1998, pelo médico psiquiatra Augusto Cury, através do seu livro

"Inteligência Multifocal". É a partir de então que ela se apresenta como uma nova

ciência da mente. Ela explica a psique não como um conjunto organizado e

equilibrado de faculdades e aptidões, mas como um sistema complexo,

extraordinariamente dinâmico, acionados por uma poderosa energia em

permanente estado de caos e transformação a um nível não consciente. É

essa sua natureza - caótica e instável - que dá origem à formação de ideias,

pensamentos, emoções e sentimentos e que nos permite uma constante

adaptação ao mundo. Um estado de equilíbrio e de apaziguamento dessa energia

não consciente conduz à fragilização do Eu, à diminuição da inteligência e à

fixidez mental.

Para Cury, a Neurociência conhece cada vez melhor o cérebro e o

seu funcionamento, mas está longe de compreender o funcionamento da mente.

Esta continua inacessível à pesquisa científica clássica mais avançada, pois a

mente é algo que não se pode ver. Por outro lado, a mente expande-se por

territórios onde há uma total inacessibilidade: cerca de 95%, da atividade mental

opera-se em níveis a que não se tem acesso consciente, ou seja, a existência de

muitos mistérios e incógnitas, são uma verdade.

Por natureza, a mente não é um campo de energia estático e

tranqüilo. A sua forma de atuar é enérgica e desordenada. Escreve Cury: é um

campo de energia em contínuo estado de desequilíbrio psicodinâmico, em

contínuo estado de transformação essencial onde se processam as faculdades

intelectuais ou processos de construção da mente e que garantem a origem e à

produção de pensamentos, emoções e motivações diárias. Ou seja, jamais a

mente pode ser considerada um campo onde a estabilidade é uma constante.

O que caracteriza a nossa mente e a torna fonte de criatividade é

precisamente o seu estado natural de desequilíbrio dinâmico. Esclarece Augusto

Cury: "só conseguimos produzir milhares de pensamentos diariamente porque

todos eles experimentam continuamente o caos "existencial".

A nossa mente fervilha de atividade. Segundo alguns cientistas, o

nosso cérebro produz cerca de 500 mil operações mentais a cada segundo para

que sejamos capazes de ver, ouvir, pensar, sentir emoções, registrar memórias,

etc. É um trabalho incessante! "A psique humana vive um fluxo vital de

transformações essenciais" - acentua Cury.

Assim, completando a extrema necessidade de se conhecer a mente

e de melhor viver, diz Cury: "sem o caos da energia psíquica, o ser humano não

existiria". Apenas quando há extremos de desequilíbrio atmosférico prolongado é

que surgem os problemas: seca, inundações, etc. Assim é também com a mente

das crianças! A irritação do caos psíquico é que gera perturbações. É o caso da

Síndrome do Pensamento Acelerado devido ao estilo de vida (muitas pressões,

preocupações, excesso de informação não organizada, etc.) e que gera muita

ansiedade marcada por uma série de sensações desagradáveis: irritabilidade,

dificuldade de concentração, fadiga excessiva, sono alterado, flutuação emocional

excessiva, etc.

Chegado aqui se pode perguntar: que espaço de manobra resta

para que se tenha algum controle sobre a mente? A resposta pode estar contida

nesta afirmação de A. Cury, ( no livro Revolucione Sua Qualidade de Vida):

"Sábio é o ser humano que tem a coragem de ir diante do espelho da sua alma

para reconhecer seus erros e fracassos e utilizá-los para plantar as mais belas

sementes nos terrenos da sua inteligência". Tudo está em aberto. Inclusive a

mente das crianças, para que tudo ocorra bem e sua saúde intelectual seja

garantida.

CAPÍTULO II

A VISÃO MULTIFOCAL DA CONSTRUÇÃO DO

PENSAMENTO

“A emoção é a grande libertadora ou a grande vilã da inteligência”. (Augusto Cury, 2002: 132)

Apresenta-se neste capítulo, o entendimento da teoria multifocal formulada

por Augusto Cury (2006) e dissertada em sua obra “Inteligência Multifocal :

análise da construção dos pensamentos e da formação de pensadores”, a qual é

aplicada atualmente nas áreas de medicina, filosofia, psiquiatria, psicologia e mais

recentemente na educação.

Nesta obra, o autor defende que o homem deve ser um sujeito passível de

exploração interna com o foco em sua psique, emoção, inteligência, capacidades

e personalidade. Cury (2006) defende que o homem deve:

Aprender a se interiorizar; a criar raízes mais profundas dentro de si mesmo; a explorar a história intrapsíquica arquivada na memória; a questionar os paradigmas socioculturais; a trabalhar com maturidade as dores, perdas e frustrações psicossociais; aprender a desenvolver consciência crítica, a conhecer os processos básicos que constroem os pensamentos e que constituem a consciência existencial são direitos fundamentais do homem (CURY, 2006:17).

Com isso, entende-se que o homem é capaz de si conhecer além de seus

paradigmas cotidianos a partir do momento em que têm a consciência de que a

sua aprendizagem está incutida em sua memória existencial diante das

experiências vividas desde à vida intra-uterina. Caso contrário, o homem tem a

capacidade interiorizada de buscar novos conhecimentos e assim induzir-se a um

ser crítico e detentor de um raciocínio lógico.

De acordo com CURY (2006),

Procurar a si mesmo é explorar e produzir conhecimento sobre os processos de construção da inteligência, ou seja, sobre os processos de construção dos pensamentos, sua natureza, cadeias psicodinâmicas, limites, alcance, lógica, práxis, bem como sobre a formação da consciência existencial, da história intrapsíquica arquivada na memória, as bases que sustentam o processo de interpretação e as variáveis que participam do processo de transformação da energia emocional (CURY, 2006:19)

A partir do momento que o homem passa a se conhecer

intrapsiquicamente, o que ocorre é que busca interiorizar e criticar suas verdades,

seus dogmas e seus paradigmas socioculturais estimulando assim, a adoção de

uma nova filosofia de vida, de raciocínio, de sentimento existencial e finalmente,

de um novo traço personalístico. Diante dessa afirmação, o homem passa a ser

capaz de desenvolver sua própria inteligência mental e humana concluindo de

forma racional e sistemática os seus processos de aprendizagem, de inteligência

psíquica e de vivência quotidiana. Essa afirmação é aceita por CURY (2006)

quanto ela diz que “o direito de pensar com liberdade e consciência crítica é um

direito fundamental de todo ser humano” (CURY, 2006:23).

A partir dessa liberdade clamada por Cury (2006), pode-se entender que o

resultado final dessa nova forma de ser para o homem é desenvolvimento da

inteligência condicionado pela mente e pela sua personalidade.

Cury (2006) entende que a mente é um ambiente onde se processam os

registros intelectuais envolvidos por lapsos da psique, da alma e da energia

psicossomática. Quanto a inteligência está é vista pelo autor como sendo um

conjunto de estruturas psicodinâmicas advindas do funcionamento da mente

humana, a qual se amplifica através do pensar, do emocionar e do conscientizar.

Aqui o sujeito passa por processos que constituem em construção de

pensamentos, transformação da energia emocional, formação da consciência

existencial e finalmente, formação da história existencial arquivada em sua

memória. Nesta equivalência também percebe a questão da personalidade.

A Teoria Multifocal é aplicada na educação no sentido de ensinar ao

aprendiz a arte formular perguntas, de desmistificar dúvidas e impercurtir críticas

referentes à aprendizagem contextualizada aos interesses de uma comunidade

específica na qual irá atuar após ter concluído seus estudos pré-

profissionalizantes.

Isto pois, para Cury (2006), o sistema acadêmico é excessivamente

organizado, institucionalizado e preocupado com a transmissibilidade unifocal do

conhecimento, o quem vêm a limitar a formação de pensadores e críticos, até

mesmo porque, quaisquer idéias consideradas como verdades científicas não

podem ter fins em si mesmas por não serem consensuais à verdade essencial,

pois esta é simplesmente inatingível.

De acordo com Cury (2006), as idéias são vistas como um conjunto

organizado de pensamentos e servem para definir, conceituar e caracterizar os

fenômenos os quais observamos. Já o discurso teórico tendo como fundamento

um conjunto organizado de idéias age como subsídio para a criação de teorias,

conceitos, hipóteses e postulados, os quais, constituem-se nas partes essenciais

para a criação e constatação de uma teoria.

Através das idéias podemos desenvolver relações interpessoais, nos comunicar, desenvolver atividades no trabalho. Por sua vez, através de discursos teóricos (...) podemos produzir conhecimentos, construir argumentações científicas, organizar postulados, derivar hipóteses, predizer fenômenos (CURY, 2006:44).

Por conseguinte, o homem em qualquer idade, personalidade e transtornos

psíquicos, pode e tem o direito de se tornar um engenheiro de idéias que constrói

e reconstrói a sua história psicossocial. E na visão de Cury (2006) essa realidade

pode é avaliada e construída através da inteligência multifocal.

“A teoria multifocal do conhecimento não é uma teoria que procura anular as demais teorias, tais como a psicanalítica, cognitiva, comportamental; (...) procura contribuir para explicá-las, criticá-las, recicla-las (...) A teoria multifocal do conhecimento estuda as variáveis universais que estão presentes nos próprios alicerces, ou seja, estuda os fenômenos que promovem a própria construção dos pensamentos” (CURY, 2006:47).

Da mesma forma que a teoria de pesquisa científica é metodológica e

sistemática na aprovação ou negação de uma hipótese, a teoria de Cury (2006)

também segue os seus preceitos vistos como procedimentos de pré-requisitos.

Os princípios da Teoria da Inteligência Multifocal que mais se relacionam

com este estudo são os seguintes:

• Formar pensadores e não repetidores de idéias: pensadores que

desenvolvam as funções multifocais da inteligência, tais como pensar antes

de reagir, expor e não impor as idéias, auto-crítica, altruísmo, libertar a

criatividade, gerenciar pensamentos e trabalhar em equipe;

• Formar líderes no teatro social para serem agentes transformadores da

sociedade e não vítimas passivas do sistema;

• Formar líderes no teatro psíquico fazendo com seres humanos que saibam

investir em qualidade de vida, que aprendam a proteger a emoção,

trabalhar perdas e frustrações e a filtrar estímulos estressantes;

• Formar empreendedores que desenvolvam os hábitos dos profissionais

excelentes, que saibam construir oportunidades, surpreender, fazer

escolhas, usarem suas dificuldades como desafios, investir em seus

projetos de vida e lutar pelos seus sonhos;

• Formar seres humanos sem fronteiras que saibam se colocar no lugar dos

outros, que desenvolvam os mais notáveis de tolerância religiosa, cultural,

racial, social e sejam capazes de batalhar contra toda forma de

discriminação;

• Formar seres humanos que aprendam a ser autores da sua própria

história, diretores do script da sua peça existencial.

Cury (2006) entende que tais procedimentos podem ser assim descritos:

(a) a arte da formulação de perguntas; (b) a arte da dúvida; (c) a arte da crítica;

(d) a busca do caos intelectual para se processar a descontaminação da

interpretação; (e) a busca do caos intelectual2 para expandir as possibilidades de

2 A busca do caos intelectual leva-nos a uma postura continuamente crítica e aberta no processo de observação e interpretação e um questionamento de nossa história intrapsíquica, que gera,

construção do conhecimento; (f) a análise das causalidades históricas e das

circunstancialidades biopsicossociais; e (g) a análise dos processos de

construção das variáveis de interpretação na mente.

Além dos sete procedimentos acima descritos, a Inteligência Multifocal

coexiste com as cinco mesclagens de contrapontos intelectuais (MCI) de acordo

com Cury (2006) a saber:

• Mesclagem entre a liberdade contemplativa de observar os fenômenos com a disciplina empírica no processo de observação e seleção dos mesmos;

• Mesclagem entre a liberdade de interpretar os fenômenos com a reorganização e reorientação contínua do processo de interpretação;

• Mesclagem entre a utilização do caos intelectual para esvaziar, tanto quanto possível, as distorções preconceituosas e os referenciais históricos contidos no processo de formação da personalidade com a utilização desse caos para expandir as possibilidades de compreensão dos fenômenos e de construção do conhecimento;

• Mesclagem entre a liberdade de produção do conhecimento com a reciclagem critica e continua da mesma;

• Mesclagem entre a análise das variáveis da interpretação com a análise dos sistemas de cointerferências que elas organizam para gerar o funcionamento da mente e a construção das cadeias de pensamentos (CURY,2006:51).

Na visão de Cury (2006) diante da Teoria Multifocal é mais importante

saber perguntar e formular uma pergunta do que simplesmente responder por

saber a resposta, pois, a maneira com a qual se pergunta abre-se legalidades

para produzir autoritarismo nas idéias ao estabelecer diretrizes para as respostas.

A arte de perguntar gera complexidade na dúvida que busca respostas

proporcionalmente aprofundadas, ou seja, a dúvida questionada traz

conhecimentos refinados. Este procedimento dúvida x crítica gerando

conhecimento, para CURY (2006:51) “é um processo contínuo de duvidar e

criticar um sistema contínuo de aprimoramento da observação e questionamento

do conhecimento”.

A partir desse estudo, conclui-se que todo conhecimento é produzido

momentaneamente, um estado de desorganização intelectual que nos imerge num mar de dúvidas sobre os fenômenos que investigamos e estudamos, fazendo-nos enfrentar nossos próprios limites intelectuais e

invariavelmente pelo processo de interpretação multifocal, advindo da leitura e

utilização da história intrapsíquica, debaixo da influência dos sistemas de co-

interferência das variáveis da interpretação. Todos os objetos e fenômenos de

estudos intrapsíquicos e extrapsíquicos não são acessíveis essencialmente à

consciência existencial ou intelectual, pois está é virtual, antiessencial.

Por isso, o processo de interpretação tem a complexa tarefa de reconstruí-

los interpretativamente através da construção de pensamentos dialéticos3 e

antidialéticos4. A construção desses pensamentos produz a consciência

existencial, que nos tira da dramática e indescritível condição da solidão da

inconsciência existencial.

A análise do funcionamento da memória tem grande importância para este

estudo por ser entendida como uma das estruturas mais misteriosas e

fundamentais da inteligência humana.

De acordo com Cury (2006) quem registra automaticamente as

experiências do passado é o fenômeno RAM – Registro Automático da Memória,

em forma de sistemas de códigos físico-químicos que representam

semanticamente as experiências psíquicas e as Representações

Psicossemanticas5.

Cury (2006) afirma não ser apenas o eu que faz a leitura da memória, mas

que existem três outros fenômenos nos bastidores inconscientes da mente

humana que também lêem a memória e constroem cadeias de pensamentos, os

quais podem ser identificados como sendo o fenômeno da autochecagem da

memória, o fenômeno do auto fluxo e a âncora da memória.

A autochecagem da memória é o primeiro que atua na inteligência e diante

perceber a facilidade com que contaminamos o processo de interpretação e distorcermos a construtividade do conhecimento sobre esses fenômenos. CURY (2006:60). 3 Pensamentos antidialéticos: cadeia de pensamento consciente que tem uma construção psicodinâmica antipsicolingüística, ou seja, que não mimetiza psicodinamicamente os símbolos da linguagem sonora e visual.. (CURY, 2006:333). 4 Pensamentos dialéticos: cadeia de pensamento consciente que tem uma construção psicodinâmica psicolingüística, pois mimetiza os símbolos da linguagem sonora ou visual. (CURY, 2006:333).

de um estímulo é acionado em milésimos de segundo lendo a memória,

assimilando seu conteúdo e consequentemente, produzindo as primeiras reações

no cerne da inteligência. O fenômeno do auto fluxo proporciona uma viagem

intelectual distanciando-nos da realidade e aproximando-nos das nossas idéias. A

ancora da memória é deslocada pela autochecagem, pelo autofluxo e pelo eu.

Neste sentido, Cury (2006) chama a atenção para os deslocamentos da

âncora da memória que direcionam a qualidade das idéias e reações emocionais

que produzimos num determinado momento da existência.

Dirigir a construção dos pensamentos, a transformação da energia

emocional e a formação da memória significam realizar um gerenciamento com

consciência crítica e maturidade, embora tendo limites.

“Os pais devem aprender a administrar o deslocamento de suas ancoras da memória da educação dos filhos. Catalisar a revolução das idéias dos filhos e leva-los também a administrar os deslocamentos de suas ancoras da memória, para promover uma construção de pensamentos que promova o desenvolvimento do humanismo, da cidadania, da capacidade crítica de pensar, da capacidade de contemplação do belo diante dos pequenos eventos da vida, da capacidade de superar as dores e perdas, é uma das mais importantes tarefas que os pais e professores devem realizar no processo sócio-educacional.” (CURY, 2006:140).

No gráfico abaixo podemos verificar esquematicamente esse processo na

visão de Cury (2006):

Gráfico 01: Fenômeno da autochecagem da memória (gatilho)

5 Referem-se pensamentos, angústias, ansiedades mentais, córtex cerebral.(CURY 2006).

Fonte: Cury (2006:117)

É importante compreender que a inteligência envolve toda produção

intelectual, histórica, cultural, emocional e social produzida na trajetória existencial

humana. O desenvolvimento da inteligência também está na base da formação da

personalidade e dos problemas psicológicos. Privilegiar e cuidar da construção de

nossos pensamentos e daqueles que estão sob a nossa orientação, ou seja, as

crianças é a melhor escolha para uma boa qualidade de vida.

CAPÍTULO III

A INTELIGÊNCIA MULTIFOCAL NA AÇÃO PEDAGÓGICA

“As escolas, principalmente as universidades, deveriam se tornar academias de formação de pensadores.” (Augusto Cury, 2006: 320)

A personalidade humana e as sociedades evoluem, não apenas porque o

homem é capaz de realizar uma produção de conhecimento científico e

socioeducacional com coerência e lógica, mas também porque a fonte que gera

essa produção é sustentada por processos que ultrapassam os limites da lógica.

Todas as idéias, pensamentos, análises, reações fóbicas, prazeres, angústias

existenciais, desejos, impulsos, enfim, todas as construções psicodinâmicas são

geradas a partir da leitura da história intrapsíquica.

Para CURY (2006), a inteligência é um conjunto de mecanismos

psicodinâmicos provenientes do extenso funcionamento da mente. É a aptidão de

pensar, se emocionar, ter consciência. Ela é formada de quatro grandes

procedimentos, tais como a constituição de pensamentos, modificação da energia

emocional,constituição da consciência existencial e formação da história

existencial conservada na memória.

Sabemos que através da inteligência, o homem sai da categoria de animal

não pensante para ser um simbólico ser que pensa e tem consciência disso.

Assim, é possível retirar dos processos que constroem à inteligência múltiplas

conseqüências educacionais. A memória das crianças é uma excelente esponja

que absorve os mínimos detalhes das atuações dos adultos. As crianças formam

os fundamentais tópicos de suas vidas, mais pelo que proclamamos

inconscientemente diante delas do que falamos diretamente com elas. O

importante seria os professores educarem a emoção e trabalharem nos terrenos

da inteligência para que os educandos nunca deixem de sonhar.

É função de a educação trabalhar o ser criança para conseguir a

perfeição, ou seja, o pleno alcance de toda a sua potencialidade, da sua liberdade

e da consciência total, resultando, portanto, em um sistema educacional que

privilegie as teorias que compreendam o funcionamento multifocal da mente

humana e o processo de construção dos pensamentos.

Neste momento se faz necessário demonstrar como se dá a organização

pedagógica do CMEI – Centro Municipal de Educação Infantil onde este trabalho

foi realizado.

A Educação Infantil vem angariando reconhecimento público cada vez

maior. Da necessidade de dar atenção e educação aos filhos pequenos, enquanto

os pais trabalhavam foram de casa, nasceu a Educação Infantil, que aos poucos

foi demonstrando ser um instrumento valioso para o desenvolvimento da criança.

Por essa razão, mesmo as famílias que tinham condições de prover os meios de

atenção e cuidado de seus filhos na idade pré-escolar, começaram a buscar o

atendimento em centros pré-escolares, interessadas mais na função educacional

do que assistencial.

Assim, ao longo do tempo, foram se consolidando a creche de caráter mais

assistencial por todo o dia e a pré-escola ou jardim de infância que geralmente se

estendia somente por quatro horas e voltada para objetivos educacionais. Até

hoje, não totalmente resolvido, o problema começa a encontrar o caminho, pois, a

Constituição Federal de 1988 situa a creche no âmbito da educação e a LDB –

Leis de Diretrizes Básicas determinar que, no período de três anos, a contar de

sua sanção, todas as creches passem para a administração educacional, o que

implica não apenas arranjos administrativos, mas, sobretudo, sua transformação

em instituições de educação.

Hoje a educação infantil se posiciona entre as prioridades sociais e

educacionais, pelo papel que cumpre na formação de base, na construção das

estruturas cognitivas, sociais e afetivas da pessoa, que a acompanharão como

constituintes nas diversas circunstâncias da vida, na formação do cidadão. A

educação infantil, ao ser definida pela Lei das Diretrizes e Bases da Educação

Nacional como primeira etapa da educação básica significa ter recebido a missão

de estabelecer os fundamentos sobre os quais se assentam os níveis seguintes

da escolarização. Mais do que um simples escalonamento, trata-se da construção

de estruturas de bases sociais, afetivas e cognitivas que determinam e

possibilitam as novas construções e aprendizagens. Conseqüentemente, a

tendência e a universalização do seu atendimento.

“Educar é muito mais do que transmitir o conhecimento; é duvidar do conhecimento, é questionar seu processo de produção. Educar é transmitir o conhecimento estimulando os princípios psicossociais e filosóficos que inspiram a formação de pensadores; é levar os alunos a serem caminhantes nas trajetórias do próprio ser. Educar não é dar títulos acadêmicos e nem convencer os alunos do tanto que eles sabem, mas convencê-los do tanto que eles não sabem, da inesgotabilidade da ciência, dos limites e alcance dos pensamentos. Educar é uma aventura, uma arte, uma poesia; é expandir o mundo das idéias dos alunos e transformá-los em eternos aprendizes.” (CURY, 2006: 301)

Cury (2006) relata ainda que, a sala de aula, desde os primeiros anos da

educação, deveria funcionar como um ambiente onde se processa um debate vivo

das idéias, um ambiente que abriga a democracia das idéias, que estimula a arte

de pensar, o questionamento, o respeito pelo pensamento do outro, a troca de

informações.

Analisando, portanto, a necessidade do homem em relacionar-se com o

seu meio, seja em qualquer uma de suas fases evolutivas, temos que entender

que a teoria de Cury é moderna, mas que na verdade, ela existe incutida no

inconsciente da humanidade desde os seus primórdios.

A educação é tão antiga quanto a humanidade. Na pré-história, os pais

ensinavam os filhos os requisitos da sobrevivência, como caçar e pescar.

Também tiveram que aprender a se relacionar com as diversas comunidades,

pois só através de uma convivência harmônica e de ajuda mútua poderiam

manter-se vivos num mundo tão inóspito. A educação ensinou-lhes certas regras

e desse modo tornou-se possível a sociedade.

Uma sociedade que alcança um nível relativamente complexo de

desenvolvimento é chamada de civilização. Para que se alcance este patamar, é

preciso que seus membros adquiram certos conhecimentos, principalmente

aqueles referentes à garantia de sua vida: agricultura, comércio, indústria e

estabelecer um governo que mantenha a ordem e faça cumprir as leis. A

educação é o principal meio para o homem adquirir e transmitir os conhecimentos

e as técnicas essenciais. Hoje, mais do que nunca, ela possibilita ao indivíduo sua

inserção numa sociedade em constante transformação, e seu aperfeiçoamento e

atualização com relação às modernas tecnologias, uma garantia a mais de uma

vida profissional profícua. Ajustar-se às mudanças e delas usufruir são fatores

fundamentais dentro da celeridade que rotula os avanços científicos da nossa era.

É preciso que a cidadania receba um tratamento digno de realce, para que,

através do respeito da dignidade individual se construa um mundo mais seguro e

justo para se viver. Com a evolução dos sistemas educacionais surgiu a

necessidade de se estabelecer um conjunto de doutrinas, princípios e métodos

para reger a educação, obedecendo a objetivos práticos. Surge então a

pedagogia, que é a ciência da educação e do ensino, com raízes na Grécia e em

Roma, ainda no período antigo da história da humanidade. Sua evolução

acompanhou as tendências de cada época.

O ensino, logicamente, percorreu o mesmo trajeto, variando de acordo com

a mentalidade vigente e dominante em cada área do planeta. Conseqüentemente,

a docência – exercício do magistério – teve que adaptar-se às novas modalidades

pedagógicas. Hoje, o docente arca com muitas responsabilidades, tendo em vista

que estamos vivenciando sérios problemas sócio-econômicos e de formação de

base – na família – o que torna a docência um constante desafio.

A pedagogia moderna fundamenta-se no conhecimento adequado das leis

que regem o desenvolvimento psicofisiológico do educando e, sobretudo, dos

fatores de ordem social que o condicionam. As doutrinas pedagógicas, embora

pareçam refletir o pensamento filosófico individual dos seus autores, exprimem,

de fato, a realidade social econômica e política da época em que surgiram.

Na antiguidade, destacam-se os filósofos Platão e Aristóteles, que

desenvolveram os primeiros trabalhos sobre o problema educacional

evidenciados por questões que permearam os tempos subseqüentes e que são

relevantes mesmo nos dias atuais, como as relações entre o indivíduo e o Estado,

escola pública e privada, formação de líderes etc. Embora divergentes em alguns

pontos, devido à posição filosófica de cada um, os dois filósofos apresentaram

idéias comuns. Amos consideravam que o objetivo da educação é a vida

contemplativa. A teoria de Platão é atribuída a criação de uma escola – A

Academia , e Aristóteles fundou uma escola semelhante, o Liceu. As duas eram,

de certa forma, sociedades religiosas, e se mantinham unidas através de laços

sagrados e cerimônias religiosas.

A concepção de Platão era a de que o saber é uma virtude e considerava

que a escola deveria ser monopólio estatal. Defendia uma instrução

especializada, sem distinção entre os sexos. De acordo com os seus conceitos

sobre educação, esta deveria dedicar os seis primeiros anos à formação de bons

hábitos; dos seis aos dezesseis, à ginástica para o corpo e música para a alma, a

fim de desenvolver o senso de ritmo e de harmonia. Após este período, alguns se

integravam às profissões que haviam escolhido, enquanto que outros estudavam

por mais quatro anos a arte militar. Somente os mais capacitados

intelectualmente eram selecionados para o estudo de determinadas ciências,

como a astronomia, a aritmética, geometria e música. As funções públicas só

podiam ser exercidas após dez anos do estudo dessas disciplinas, e os que

registravam melhor desempenho continuavam estudando até os 35 anos, quando

então tornavam-se guardiões do Estado. Quinze anos mais tarde, retiravam-se

para a vida contemplativa, e só eventualmente interferiam nos negócios do

Estado, a fim de aconselhar seus concidadãos.

Aristóteles também atribuía grande importância à formação de bons

cidadãos, com a diferença de que Platão concebia a idéia de maior liberdade

individual. Para este, a finalidade da educação era o desenvolvimento das

faculdades intelectuais, obtidas através das ciências e da filosofia.

A pedagogia progressista manifesta-se em três tendências: a libertadora, a

libertária e a crítico-social dos conteúdos. A educação libertadora questiona

concretamente a realidade das relações do homem com a natureza e com os

outros homens, visando a uma transformação. A libertária espera que a escola

exerça uma transformação na personalidade dos alunos num sentido libertário e

autogestionário. A difusão de conteúdos vivos, concretos e indissociáveis das

realidades sociais é a tarefa primordial da tendência progressista “crítico-social

dos conteúdos”. As três têm objetivos díspares e, no entanto, se integrados,

formam um só conceito: o desenvolvimento do ser humano, através de suas

ações, visando sua integração no meio em que vive. Se dissociadas, correm o

risco de se perderem dentro de suas metas, pois faltam os requisitos necessários

a uma educação completa, o que se consegue, justamente, se aplicadas

concomitantemente. Um argumento viável, que baseia-se no contexto da

realidade, visto sob o prisma do educador que “gerencia” a liberdade dos alunos,

que não pode e nem deve ser absoluta, principalmente nas primeiras séries do

primeiro grau. Posteriormente, ou seja, com alunos já devidamente preparados

para o uso devido de sua liberdade, de seus limites e possibilidades, é possível

que uma educação libertária consiga se firmar sozinha. Não que seja necessária

uma educação autoritária, mas que se tenha um direcionamento das atividades,

baseado nas diferenças individuais e nas experiências anteriores dos alunos. Isto

porque a liberdade não é uma coisa que se acha pronta, embalada, mas que se

consegue, que se conquista.

No entanto, a função do educador infantil é de mediador das

aprendizagens. Não apenas organizador dos meios materiais e de condições

sócio-ambientais, mas mediador entre o que a criança sabe e o que pode saber.

Para chegar a este, precisa da mediação dos outros como os adultos, as demais

crianças com quem interage e, fundamentalmente, do professor, uma vez que

este é quem se põe, como profissional dessa matéria, a serviço da aprendizagem

da criança. A função deste não é a fonte, mas o articulador dos diversos

ambientes de aprendizagens mais relevantes que o educador deve mediar são as

relativas às estruturas cognitivas, afetivas e sociais da pessoa como a auto-

estima, a confiança em sua capacidade para conhecer e fazer, o respeito às

diferenças, a prática democrática, os valores humanos que dão sentido ao mundo

de conhecimentos e oportunidades que se abrem às crianças atuais.

Um ensino eficaz, dentro da ótica da inteligência multifocal, deve sempre

cuidar da qualidade daquilo que é registrado na memória, pois, na memória

depositamos as bases que financiarão a nossa maneira de ver a vida e reagir ao

mundo. A segurança, prazer de viver, criatividade, ansiedades, hiperatividades,

dependem da história retida na memória. O que uma criança armazena

diariamente no inconsciente da memória definirá o seu futuro. Por que, como

afirma CURY:

“À medida que as experiências são registradas automaticamente

na memória ocorre a formação da história de vida ou história da

existência. Os beijos dos pais, as brincadeiras de crianças, os

desprezos, os fracassos, as perdas, as reações fóbicas, os elogios,

enfim toda e qualquer experiência do passado formam a colcha de

retalhos do inconsciente.”(CURY, 2006: 304)

Para se chegar ao desenvolvimento qualitativo da inteligência é

necessário ficar atônito com o processo de construção da inteligência, é

igualmente necessário compreender o conjunto de variáveis psicossociais que

influenciam essa construção. Desenvolvimento e aprendizagem são os objetivos

da Educação Infantil, mas eles estão estreitamente ligados à auto-estima e alegria

dos educadores enquanto profissionais que entregam o melhor de si mesmos

para um projeto coletivo de formar pessoas cidadãs.

C O N C L U S Ã O

“Não podemos nos esquecer de que a última fronteira da ciência é saber quem somos.”

(Augusto Cury, 2002:43)

No universo cada vez mais competitivo que ora vivemos, cabe à

escola infantil também acumular ou priorizar a educação como forma de preparar

para a vida como um todo. Formar pessoas capazes de entender a vida como um

todo. Para tanto, concluí-se que, uma boa educação, acompanhada de boas

doses de afeto e direcionamento multifocal, é capaz de descobrir, na

criança/aluno, um indivíduo ímpar, com uma história de vida rica e que precisa ser

cuidada e protegida. No processo de aprendizagem, o educador deve estar atento

a isso para levar o pequeno estudante a descobrir toda a sua riqueza interior.

Hoje, vivemos a busca da construção de uma sociedade

democrática; com isso, os espaços devem se modificar, buscando formas de

traduzir novas idéias e relações. A escola deve ser um ambiente no qual todos –

crianças, pais e funcionários – sintam-se seguros, acolhidos e respeitados. Um

lugar para o qual as crianças possam ir com prazer, sentindo-se bem-vindas. Mas

o espaço para as crianças não se restringe ao espaço físico: é um espaço de

vida, com tudo aquilo que dele participa – os móveis, as cores, a arrumação, os

objetos, os cheiros, os sons, as pessoas, as memórias, as emoções de cada um.

E esse ambiente diz muitas coisas que influenciam nossa forma de ver o mundo e

de agir no mesmo.

Neste sentido, é fundamental, a todos que participam da educação

de uma criança, estudar e compreender os processos de construção dos

pensamentos. Isto porque, conforme os relatos nas entrevistas para este

trabalhado, os profissionais da pedagogia que lidam diretamente com as crianças,

pouco se lembravam de seus estudos relacionados ao desenvolvimento do

pensamento infantil e menos ainda, de fazer uso desse conhecimento em seu dia

a dia com os educandos. O desenvolvimento qualitativo de inteligência, objetiva

melhorar a qualidade de vida emocional, intelectual e social de todo ser humano,

e ficou evidente neste estudo a urgência de seguir neste sentido. Pode-se ter

confiança no futuro que se constrói hoje a partir de uma “educação” emocional,

que dá ao semelhante a oportunidade de sonhar, superar seus limites e buscar

novos desafios para a construção de sua própria história e o alcance da cidadania

plena. Portanto, afirma CURY:

“O processo educacional, independentemente da

metodologia pedagógica, não foi ancorado, ao longo dos séculos,

na compreensão dos processos de construção das cadeias

essenciais, dialéticos e antidialéticos, e nem no processo de

formação da consciência existencial ou na leitura da memória.

O processo educacional ortodoxo é exteriorizante, pois leva os

jovens a conhecer muito o mundo em que estão, mas pouquíssimo

o mundo que eles são. É 'a-histórico-crítico-existencial' porque

pouco expande a inteligência, a democracia das idéias e o

gerenciamento dos pensamentos e das emoções; porque pouco

conduz os alunos ao processo de interiorização e ao debate de

idéias sobre sua própria história existencial, suas experiências,

dores, perdas e frustrações; (...)” CURY, 2006: 312.

Após observar a rotina escolar do CMEI “Eli Forte” durante uma

semana por no mínimo duas horas por dia, acompanhar o planejamento de

algumas atividades para serem realizadas em sala de aula e estudar

detalhadamente as respostas das entrevistas realizadas com alguns

profissionais, conclui-se com muito pesar, que ainda será necessário realizar

muito para garantir aos pequenos educando um desenvolvimento saudável de

suas emoções. As entrevistas permitiram concluir também que as professoras

que declaram estarem se sentindo “bem-sucedidas” estabelecem relações

afetivas muito fortes com as crianças, não apenas porque utilizam expressões no

diminutivo ou gestos formais, mas porque cria-se todo um “clima” na sala,

construído através de pequenas manifestações de identificação com as crianças,

de auxílio no cumprimento das atividades, das reações do grupo de crianças e do

compromisso profissional com o pensamento de cada criança. Vale ressaltar que

este assunto é apresentado por Wallon (1963), pois, para ele:

“... é a emoção que estabelece a ligação entre a vida orgânica e a vida

psíquica. (...) para Wallon, a inteligência não se desenvolve sem

afetividade e vice-versa, pois ambas ajeitam-se em uma unidade de

contrários, a emoção e a inteligência, em sua origem, constituem pólos

opostos, como norte e sul. Ambas têm propriedades diversas e forças

que as opõem. No entanto, uma pressupõe a outra para desenvolver o

indivíduo. Em nossas vidas, freqüentemente, somos surpreendidos

pelos surtos emotivos que nos deixam incapazes de perceber a

situação à nossa volta e reagir tranqüilamente. Nesses momentos, a

emoção sofre por não dispor de uma força, pelo menos por um

determinado tempo, suficientemente capaz de impor o estado de

equilíbrio. Assim, nosso comportamento é intercalado por estados de

serenidade e de crises emotivas. Em outras palavras, parte do

funcionamento humano e sua intensidade da personalidade individual,

isto é, de como cada um integra a relação emoção inteligência.”

(WALLON, 1963, em Módulo IV – Recreação e Artes, p. 6 e 7).

É neste sentido que se destaca algumas características

fundamentais da Teoria Multifocal, para o processo de formação dos profissionais

da educação infantil: – É necessário conhecer as origens da inteligência humana,

seus limites, alcance, práxis. – Reconhecer que o ato de pensar é um processo inevitável e

impossível de ser interrompido, apenas direcionado. Daí ser fundamental

aprender a administrar o fenômeno do autofluxo e não permitir que ele

gerasse idéias fixas e negativas. – Incentivar e treinar a pensar multifocalmente com liberdade e

consciência crítica, objetivando romper a mesmice das idéias e libertar a

criatividade. – Aprender a gerenciar os pensamentos e emoções, resgatando

a liderança do eu nos focos de tensão psicossocial. – Desenvolver a arte da pergunta, ter consciência da ditadura

da resposta e de que cada resposta é o começo de novas perguntas.

– Aprender a se proteger emocionalmente filtrando os estímulos

estressantes e trabalhando as contrariedades existenciais. – Ter prazer nos desafios intelectuais, sociais e profissionais;

impedindo que o medo trave a capacidade de pensar, impeça a leitura ampla

da memória. – Trabalhar as dores, perdas, frustrações e utilizá-las como

bases para a maturidade da inteligência. – Desenvolver e ensinar a arte da contemplação do belo não

apenas diante dos grandes eventos da existência, mas principalmente diante

dos pequenos estímulos da rotina da vida. – Aprender a se colocar no lugar do outro e perceber suas

dores e necessidades psicossociais. – Produzir um clima de cooperação no ambiente social e

socioprofissional através da práxis, do humanismo e da expressão das artes

da inteligência e não através da pressão social ou da imposição das idéias. – Aprender e ensinar a falar não apenas do mundo

extrapsíquico, mas também a falar de si mesmo e trocar experiências de vida. – Aprender a trabalhar o caos emocional e social e usá-los para

expandir as possibilidades de construção psicossocial.

E ainda mais, segundo Cury:

“Deveria haver em todas as escolas cursos

que abordassem o processo de construção de pensamentos

e de formação de pensadores humanistas, que

promovessem um debate de idéias sobre o funcionamento

da mente e sobre os grandes problemas biopsicossociais da

nossa espécie. Esses cursos deveriam fornecer subsídios

aos estudantes para desenvolverem a arte de pensar e a

consciência sociopolítica.” (CURY, 2006: 329.)

Ou ainda, “É preciso que a educação dê à criança um sentimento

de segurança afetiva que lhe será necessário para aceitar as mudanças de um

mundo perpetuamente em transformação e nele participar com confiança.”

(Módulo IV – Psicomotricidade, p.10) Observou-se, nas entrevistas, que o fazer

pedagógico destas professoras não é um bloco monolítico, mas sujeito a

infiltrações de suas próprias vivências, lembranças, concepções, etc. Assim,

primordialmente, nas palavras de Jean Piaget alertando os professores para que

aprendam sobre psicologia infantil e para que se tornem pesquisadores e

ultrapassem o nível de simples transmissores, enfatizando “em particular a

preparação psicológica, tão indispensável aos professores primários – cujo ensino

é, deste ponto de vista, visivelmente mais complexos e difícil que um ensino

secundário” (PIAGET, 1970: 131).

Neste sentido, o termo “preparação psicológica” não deveria ser mais

abrangente? Com efeito, a indicação decorrente deste estudo é exatamente a

preparação dos docentes para este nível, no que concerne à sua própria infância,

suas reminiscências e como são vividas no atual momento, bem como as

interferências no relacionamento interpessoal com suas crianças/alunos. Levada

a se colocar no lugar da criança, a lembrar como ela própria apreendeu suas

dificuldades, seus primeiros dias na escola, suas recordações etc., a educadora

não estaria desenvolvendo uma maior capacidade empática que promoveria uma

real interação entre ela e a criança?

Uma das maiores críticas que o autor Augusto Cury faz contra o

processo socioeducacional, lembra esta questão da formação profissional:

“As universidades têm seus méritos relevantes, têm

professores e cientistas que são amantes do conhecimento.

Porém, apesar disso, o sistema acadêmico desrespeita

freqüentemente os princípios psicossociais e filosóficos

derivados da democracia das idéias e do humanismo, por

isso ele forma, com as devidas exceções, profissionais com

baixo nível de cidadania; profissionais que apenas

retransmitem o conhecimento e pouco expandem as idéias;

que incorporam o conhecimento acadêmico quase que

exclusivamente para benefícios próprios; que possuem

minimamente a preocupação humanística de atuar

psicossocialmente nos vasos sangüíneos da sociedade.”

(CURY, 2006: 205).

É de extrema importância citar aqui um resumo sobre as contribuições da

Teoria Multifocal realizado pelo Doutor Nelson Lima em seu site; este deixa

evidente a necessidade de priorizar a qualidade do trabalho com a as crianças

nas escolas (o caso desta monografia, no CMEI):

“Segundo Augusto Cury, a esperança do mundo está sobre os

ombros da educação. Infelizmente, a educação é freqüentemente

geradora de muito stress e ansiedade. As salas de aulas estão

superlotadas, as aulas tornam-se freqüentemente entediantes, os

professores têm dificuldade em ensinar e os alunos andam muito

desmotivados, aprendendo muito pouco de verdadeiramente sólido

e duradouro. O ensino está em crise!

Augusto Cury tem, ao longo de várias obras, proposto uma série de

ideias para diminuir o estado lastimoso da situação. Eis algumas

pistas para ajudar a criar motivação e interesse pelas

aprendizagens nos nossos alunos:

1º Apostar numa Educação Participativa. Objetivamente pretende-

se evitar que os alunos aprendam de forma passiva, pegando na

memorização intensiva para usar nas avaliações. Os professores

devem provocar o diálogo, injetar curiosidade, promover o interesse

pelas diferentes matérias. A transmissão simples e direta de

assuntos é perniciosa. É preciso que os alunos sejam envolvidos

podendo expressar as suas ideias, opiniões e sugestões. As

matérias dadas não podem ser opacas! É um grande desafio para

os professores.

2º A postura dos professores deve facilitar a exposição dialogada.

Os professores não devem apenas ser veículos de transmissão de

saberes. Têm de aprender a estabelecer a comunicação nos dois

sentidos com os alunos, evitando os monólogos por mais de 3 ou 4

minutos. Devem incentivar os alunos a fazerem perguntas!

3º O ser humano gosta de ouvir contar histórias. As matérias

escolares devem ser acompanhadas de relatos de casos da vida

real para que os alunos façam uma ligação com a vida dos autores

que fizeram a História, a Ciência, a Arte e a Política evoluir. (...)

4º Reconstruir o rosto do Conhecimento. Esta técnica é o

seguimento do ponto anterior. Significa reconstruir o clima

emocional em que os diversos personagens reais da História, das

Ciências, da Arte e da Política atuaram. Assim, os alunos passam a

gostar das aulas, pois elas deixam de ser insípidas, sem rostos,

sem vida.

5º Saber elogiar os alunos, evitando a crítica banal e pública. Para

muitos alunos, a chamada de atenção frente aos colegas pode

fazer desmoronar a sua autoconfiança e até a auto-estima. Criticar

sem valorizar os alunos trava a sua inteligência!

6º Cruzar o mundo do ensino com o dos alunos! Em muitas escolas

existem três instituições distintas e separadas por grandes

barreiras: o mundo dos alunos, o mundo dos professores e o

mundo da escola (seus anexos administrativos, etc.). Isto tem de

ser demolido. Não pode haver tanta separação. Ninguém perde

autoridade se houver permuta, partilha e ligação. A autoridade que

melhor se impõe é aquela que é naturalmente reconhecida. (...)

7º Desenvolver a emoção e a arte de gerir o pensamento! Não

importa a quantidade das matérias dadas, mas a qualidade do que

se ensina e como se ensina. A educação deve ser multifocal, não

apenas acadêmica. É necessário, pois que os professores

desenvolvam essa arte.”. (Fonte: entrevista de Elisangela Farias,

2008).

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Módulos do Curso de Pós-Graduação Lato Sensu em Educação Infantil e Desenvolvimento, versão 2007. Instituto a Vez do Mestre.

PERIÓDICOS: - Revista Editora Construir, janeiro a dezembro de 2003.

-Revista Nova Escola: 2007/2008.

ANEXOS

Anexo I

Questionário aplicado durante a pesquisa:

Marta Lucia Santos – E-mail: [email protected].

Cara Professora você está recebendo um questionário com 10

perguntas. Este instrumento de pesquisa tem como objetivo

compreender o papel/significado da prática pedagógica quanto ao

suporte dado ao educando para a sua formação “emocional”.

Solicito sua colaboração para responder as questões na íntegra e

com bastante atenção, as informações – inclusive seu nome – terão

anonimato.

Agradeço sua disponibilidade.

1)Dados de identificação:

Nome: ____________________________________________________________

Idade:_____________________Estado Civil:__________________.

2)Formação:

Curso de graduação: __________________________________________

Curso de pós-graduação:_______________________________.

Outros:_____________________________________________.

- O trabalho de professora:

3)Em que ano começou seu trabalho de professora?

_____________________________________________________

4)Qual o motivo principal pelo qual você atualmente exerce este

trabalho?__________________________________________________________

_________________________________________________________________.

5)Atualmente você trabalha em qual função?

_________________________________.

6)Em geral, você se considera satisfeita com o que faz atualmente?

Explique:__________________________________________________________

_________________________________________________________________

________________________________________________________________.

7)Quais são as bases principais para exercer o seu trabalho de professora?

(coloque em ordem de importância, marcando 1 na principal fonte, 2 na segunda

mais importante, e assim por diante)

( ) A observação do trabalho de colegas.

( ) A experiência e a prática profissional.

( ) A formação inicial.

( ) A formação na pós-graduação.

( ) A formação continuada.

( ) A experiência pessoal e familiar.

( ) A pesquisa acadêmica.

( ) Livros e revistas.

( ) A troca de idéias com os colegas no grupo de trabalho.

8)Complete a frase.

Ensinar é____________________________________________________

________________________________________________________________.

9)Você considera que o conteúdo de seu curso superior lhe preparou para realizar

seu trabalho na Educação Infantil?

Explique.___________________________________________________

_____________________________________________________________

10)Quais as condições de trabalho necessárias para você desenvolver sua

função?

_________________________________________________________________

________________________________________________________________

11)Considera que exista uma aplicação do seu conhecimento sobre o

desenvolvimento do pensamento infantil em seu trabalho hoje em dia?

Explique.__________________________________________________________

_________________________________________________________________

________________________________________________________________.

Anexo II Questões que nortearam os relatórios de observação: 1)Há espaços no processo de aprendizagem para atividades,

interações e experiências dos alunos? Como elas se relacionam com o

aprendizado da leitura e da escrita ? A professora utiliza as “manifestações

culturais” das crianças? A professora, no desenvolvimento das atividades

cotidianas, possibilita a expressão das experiências, vivências e conhecimentos

das crianças? Como?

2)Como se dão as manifestações afetivas da professora para com

as crianças? Qual a relação dessas manifestações com os sentimentos que a

criança desenvolve para com aprendizagem, os objetos e as pessoas do

ambiente escolar?

3)Quais situações cotidianas são criadas para que a criança vivencie

suas alegrias, tristezas, perdas, sonhos...? Quais são as estratégias utilizadas

para se ter conhecimento de quais tipos de pensamentos estão predominantes na

mente das crianças? Etc.

FOLHA DE AVALIAÇÃO

Nome da Instituição: Título da Monografia: Autor: Data da entrega: Avaliado por: Conceito: