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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
AVM FACULDADE INTEGRADA
A RESPONSABILIDADE DA ESCOLA E DA FAMÍLIA SOBRE O
DESENVOLVIMENTO HUMANO SOB A ÓTICA DA
PLASTICIDADE CEREBRAL
Por: Bruno Miranda Terra
Orientador
Prof. Marta Relvas
Rio de Janeiro
2013
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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
AVM FACULDADE INTEGRADA
A RESPONSABILIDADE DA ESCOLA E DA FAMÍLIA SOBRE O
DESENVOLVIMENTO HUMANO SOB A ÓTICA DA
PLASTICIDADE CEREBRAL
Apresentação de monografia à AVM Faculdade
Integrada como requisito parcial para obtenção do
grau de especialista em Neurociência Pedagógica.
Por: Bruno Miranda Terra.
3
AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus, em primeiro lugar, à
minha mãe e ao meu pai pela base, ao
meu irmão e toda minha família por
acreditarem nos meus ideias e por todo
apoio para que eu pudesse concretizá-
los.
Agradeço aos Mestres que me
proporcionaram os instrumentos para
chegar até aqui, em especial aos
Professores da Neurociência, por
compartilharem seu conhecimento e
por estimularem a vivência acadêmica.
4
DEDICATÓRIA
À toda minha família, aos meus amigos e
a todos os alunos que deixaram sua
marca na minha história e que me fazem
renovar, diariamente, a esperança por um
mundo melhor.
À Professora Doutora Marta Relvas, pelo
estímulo, paciência e todos os
ensinamentos, sempre permeados de
emoção e boa vontade.
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RESUMO
Este trabalho tem como objetivo realizar uma análise acerca da
importância que existe sobre a necessidade que o Professor tem de conhecer o
cérebro de seu aluno, para que seja possível potencializar as habilidades
inatas do mesmo, bem como a responsabilidade da família, do meio e da
cultura na garantia de um desenvolvimento humano adequado.
Diferentemente do que se imaginava no passado, o cérebro não é
limitado como uma máquina. O conceito de cérebro como estrutura estática foi
derrubado ao longo do tempo e, a partir do desenvolvimento dos
conhecimentos sobre Neurociência, a palavra chave passa a ser plasticidade,
ou seja, a capacidade de remodelação do sistema nervoso, como resposta aos
estímulos que são recebidos.
Diante deste novo conceito, observa-se que todo o desenvolvimento
motor e sensorial, bem como as habilidades intelectuais e as relações afetivas
podem ser potencializadas se existirem estímulos significativos e permeados
de emoção.
A plasticidade cerebral é o ponto culminante para este
desenvolvimento. É a partir das novas conexões sinápticas formadas que o
indivíduo adquire conhecimento, memoriza informações, recupera-se de
lesões, desenvolve-se motora e sensorialmente, aprende a gostar, a ver, a
falar, a ouvir, a ter medo, a ter apatia, etc..
O trabalho mostra que a plasticidade e a educação se associam no
desenvolvimento humano e que a responsabilidade docente perpassa os
limites de um quadro negro e integra, de maneira altamente significativa, a
emoção, a cultura, a família, a educação e o cérebro do indivíduo.
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Por fim, é possível concluir que os conhecimentos em Neurociência
devem levar o Professor e a família a uma intensa reflexão sobre as
necessidades exigidas pelo cérebro de suas crianças. Esta reflexão pode levar
a um processo de ensino-aprendizagem mais eficiente e significativo, bem
como a um desenvolvimento mais bem estruturado.
Palavras-chave: neuroplasticidade; neurodesenvolvimento; neurociência;
neuropedagogia; plasticidade cerebral.
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METODOLOGIA
O presente estudo foi fundamentado em pesquisas bibliográficas de
livros, revistas científicas, artigos acadêmicos e sites da internet. Foram
utilizados os pressupostos teóricos de Sérgio Linhares, Fernando
Gewandsznajder, Mauro Muszkat, Marta Pires Relvas, Roberto Lent e Ramon
Consenza.
O autor desta pesquisa baseou-se em sua própria vivência em sala de
aula para criar a situação problema referida no título do trabalho: a
responsabilidade que possui a educação e a plasticidade cerebral sobre o
desenvolvimento de um sujeito crítico, intelectualizado, emotivo e com sistemas
sensorial e motor bem desenvolvidos.
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 9
CAPÍTULO I 11
O cérebro: da Antiguidade à concepção atual
CAPÍTULO II - 21
Plasticidade cerebral, educação e desenvolvimento
CAPÍTULO III – 32
Reflexão e responsabilidade
CONCLUSÃO 42
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 43
ÍNDICE 45
ÍNDICE DE FIGURAS 47
9
INTRODUÇÃO
O século passado foi notável para o estudo sobre o funcionamento do
cérebro humano. Em outro momento visto como uma espécie de “caixa preta”,
o cérebro começa a ser desvendado e analisado sob a ótica de modernas
técnicas. Apesar disto, todo o conhecimento científico que existe sobre o
cérebro humano está e estará sempre em constante mudança. O cérebro,
outrora comparado a uma máquina, passa, atualmente, a ser entendido como
um ecossistema completo e no cérebro ecológico, as células nervosas vivem
em situação de competição pelos estímulos e pelos direcionamentos do
ambiente em que estão inseridas.
Diante deste novo paradigma, a expressão que se destaca é
plasticidade cerebral, que pode ser entendida como a capacidade que o
cérebro possui de modificar sua organização sináptica, bem como sua
funcionalidade para que possa atender a um estímulo significativo. Esta
modificação se dá ao longo da vida e é um processo essencial a todo o
processo de aprendizagem e desenvolvimento.
Neste contexto, destaca-se ação do Educador, como mediador do
processo. É a partir do conhecimento que se tem sobre o cérebro de seu
educando, que o Professor se torna capaz de promover uma aprendizagem
significativa e contribuir para o desenvolvimento adequado do mesmo, com a
missão de orientá-lo de acordo com as habilidades demonstradas em cada
fase do seu desenvolvimento.
Destaca-se também a ação da família, pois a mesma deve orientar as
escolhas de suas crianças, dar o apoio necessário às considerações feitas pela
escola e estimular o desenvolvimento sensorial e motor. É também função da
família dar a base emocional, que é estruturada pelo sistema límbico do sujeito
e influenciada pelas relações que a criança tem com o meio que a cerca.
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Este novo conhecimento proposto pela Neurociência deve levar a uma
profunda reflexão acerca da responsabilidade que o meio, a cultura e a
educação possuem para o desenvolvimento de indivíduos psicológica e
estruturalmente diferentes.
11
CAPÍTULO I
O cérebro: da Antiguidade à concepção atual
Deveria ser sabido que ele é a fonte do nosso prazer, alegria, riso e diversão,
assim como nosso pesar, dor, ansiedade e lágrimas, e nenhum outro que não o
cérebro. É especificamente o órgão que nos habilita a pensar, ver e ouvir, a
distinguir o feio do belo, o mau do bom, o prazer do desprazer.
É o cérebro também que é a sede da loucura e do delírio, dos medos e sustos
que nos tomam; é onde jaz a causa insônia e do sonambulismo, dos
pensamentos que não ocorrerão, deveres esquecidos e excentricidades.”
(HIPÓCRATES).
1.1. O cérebro
O cérebro é o principal órgão do sistema nervoso em todos os animais
vertebrados e muitos invertebrados. No homem, localiza-se no encéfalo,
protegido pelo crânio e é a estrutura responsável não apenas por suas funções
vitais, como também pelas questões comportamentais.
É uma estrutura consideravelmente complexa, apesar de representar
cerca de 2% da massa corpórea. Apesar disso, recebe, aproximadamente,
25% do sangue que é bombeado pelo miocárdio, uma vez que demanda uma
grande quantidade de energia, viabilizada pela circulação de oxigênio e glicose
feita pelo sangue.
O cérebro humano é composto por bilhões de neurônios, ligados por
mais de dez mil conexões cada. Os neurônios se comunicam por estruturas
denominadas axônios, que conduzem sinais de natureza elétrica pelo corpo,
12
para que sejam recebidos por células especificas. A área cortical do cérebro é
muito desenvolvida, em virtude da imensa quantidade de dobras, sendo
formados por inúmeros corpos celulares (que conferem uma cor acinzentada).
A parte inferior é formada pelos prolongamentos dos neurônios, que saem ou
chegam ao córtex, dando-lhe um coloração esbranquiçada.
Este órgão tão complexo tem sua origem no telencéfalo do embrião em
processo de desenvolvimento e está dividido em dois hemisférios ligados pelo
corpo caloso. O hemisfério esquerdo é responsável pelo raciocínio lógico e
pelas competências linguísticas, enquanto o direito é responsável pelo
pensamento simbólico e pela criatividade. Estes hemisférios se dividem em
lobos, separados por sulcos ou pregas que recebem os nomes dos ossos de
suas proximidades, que os envolvem.
1.1.1. Os lobos cerebrais
O córtex cerebral é dividido áreas denominadas lobos, tendo cada um
funções especializadas e diferenciadas. São eles:
Lobo frontal: localizado na parte da frente do cérebro. É responsável
pelo planejamento de ações, movimentos e pelo pensamento abstrato. No lobo
frontal encontram-se o córtex motor ( controla e coordena a motricidade
voluntária) e o córtex pré-frontal (relacionado a estratégia: decidir quais
sequências de movimentos serão ativadas bem como avaliação de seu
resultado).
Lobo occipital: localizado na parte inferior do cérebro, também é
chamado de córtex visual, uma vez que está envolvido com a percepção dos
estímulos visuais. Após a percepção por esta área (área visual primária), a
informação visual passa para a área visual secundária. A informação recebida
é comparada a informações anteriores para gerar a percepção do que se vê.
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Lesões na área do córtex occipital provocam, geralmente, agnosia, que
consiste na impossibilidade de reconhecer pessoas, palavras ou objetos.
Lobo temporal: localizado acima das orelhas, está associado ao
processamento dos estímulos auditivos oriundos do meio. É, assim como o
lobo occipital, considerada uma área de associação, que envia a informação
para outras áreas do cérebro permitindo que haja significado à informação que
está sendo ouvida.
Lobo parietal: localizado na região superior do cérebro e constituído por
duas subdivisões, a anterior e a posterior. A primeira está associada à
percepção de sensações, como a temperatura e o tato. Por esta razão, esta
zona também é conhecida como córtex somatossensorial. Já a área posterior,
é considerada secundária e tem como função analisar e integrar as
informações recebidas pela área anterior e permitir, desta forma, que o
indivíduo se localize no espaço, tenha percepção tátil sobre um objeto, etc.
14
1.1.2. Um novo conceito
Os conhecimentos acima expostos acerca da estrutura cerebral são
conhecimentos relativamente recentes. Durante muitos séculos, as crenças
sobre o funcionamento, as estruturas e as funções do cérebro mudaram
radicalmente.
Analisando-se os estudos do passado, são encontrados crânios com
perfurações feitas em vida (trepanações). Segundo Cosenza (2002), muito
provavelmente, essas trepanações eram realizadas no intuito de possibilitar a
saída dos maus espíritos que, em outro momento, teriam invadido o sujeito,
com a função de atormentar o cérebro do mesmo.
Com base histórica, as metáforas referentes ao cérebro, suas funções,
propriedades e as descrições sobre sua estrutura estão em constante recriação
e mudança. Além de modelos teóricos, a ciência construiu visões ideológicas a
respeito deste órgão, hoje sabe-se, tão importante e essencial à manutenção
da vida. Ao longo dos anos, no entanto, a forma com a qual o cérebro era visto
e analisado sofreu diversas mudanças.
1.2. Cérebro e mente na Antiguidade
Desde muitos anos, o homem associa o cérebro às funções da mente.
Crânios perfurados com sinais de cicatrização ( logo, conclui-se que as
perfurações foram feitas em vida) foram encontrados em locais que datam de
10.000 anos atrás. Segundo Cosenza (2002), essa ligação do cérebro com as
funções mentais era natural, pois os homens primitivos, em todas as eras,
podiam observar que fortes traumas cranianos induziam a perda da
consciência e da memória, e até convulsões, que levavam a alterações
substanciais da percepção e do comportamento.
15
Diversos pensadores, Filósofos e Médicos da Antiguidade propuseram
hipóteses acerca da estrutura cerebral. Todos concordavam em dizer que era
ele, o cérebro, que diferenciava o homem dos demais animais e que, de
alguma forma, ele estava envolvido com importantes funções reguladoras. Nem
todos, no entanto, fizeram a proposição acertada. As concepções sobre o
cérebro mudaram, mas o aspecto histórico deu, certamente, boas contribuições
para que se chegasse ao conhecimento atual.
1.2.1. Alcmaeon de Cronata
Na cultura ocidental, Alcmaeon de Crotona ( século V, A.C.) associou a
estrutura cerebral às sensações percebidas pelo corpo. O mesmo afirmava que
cada um dos sentidos ( tato, olfato, paladar, visão e audição) teriam uma área
específica de interpretação dentro do cérebro, sendo cada estímulo
transportado através dos nervos que, segundo Alcmaeon, seriam ocos.
1.2.2. Demócrito, Diógenes, Platão e Teófrasto
Ainda no século V A.C., Demócrito, Diógenes, Platão e Teófrasto
vincularam o cérebro às atividades desempenhadas pela estrutura corpórea.
Entre os gregos, Herófilo (335 – 280 A.C) foi o primeiro a descrever sobre as
cavidades e ventrículos cerebrais, que foram associados às funções mentais.
Este pensamento teve grande importância no campo das Neurociências nos
séculos seguintes.
1.2.3 Hipócrates
Hipócrates (460 – 379 A.C.) foi um médico da Antiga Grécia,
considerado por muitos como o Pai da Medicina devido às grandes
16
contribuições para a história da saúde. Hipócrates acreditava que o cérebro era
a sede de todas as atividades da mente, sendo ele o responsável por todos os
atos e todos os sentimentos.
Os homens deveriam saber que do
cérebro, e nada mais que do cérebro,
vem as alegrias, o prazer, o riso,
o ódio, os pesares, a dor e as
lamentações”.
(HIPÓCRATES).
Após seus registros, muitos Médicos e Filósofos retrocederam este
conceito ao deslocarem a sede da mente para o coração.
1.2.4. Aristóteles
Aristóteles (384 – 322 A.C.) afirmava que o pensamento, a inteligência e
as emoções eram funções associadas ao coração, enquanto o cérebro seria o
apenas responsável pela temperatura do corpo. Segundo ele, os nutrientes
absorvidos no intestino subiriam através dos vasos sanguíneos e seriam
resfriados no cérebro, transformando-se em um líquido.
1.2.5. Galeano
Galeano (130 – 200 A.C.) foi contra as ideias de Aristóteles e estudou as
meninges e cavidades encefálicas. Segundo Cosenza (2002), para Galeano, os
nutrientes absorvidos nos intestinos passavam ao fígado, onde era produzido o
espirito natural. Este era levado ao coração onde transformava-se em espírito
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vital, que pelas carótidas se dirigia a uma rede de vasos na base do crânio, a
rete mirabile. Aí, misturava-se ao ar inspirado, formando o espirito animal, que
era armazenado nos ventrículos cerebrais e deles difundia-se ao cérebro. Este
espirito animal era considerado a essência da vida e fonte das faculdades
intelectuais. Quando necessário, ele viajava, através dos nervos, para provocar
movimentos ou mediar sensações.
1.2.6. Nemésio
Nemésio (320 D.C.) usou as ideias de Galeano e concentrou a
responsabilidade das operações mentais, desde a mais tênue sensação à
memorização, aos ventrículos cerebrais. Os dois primeiros ventrículos seriam a
sede do senso comum. O ventrículo médio seria responsável pela capacidade
de racionalizar e o último ventrículo seria o grande responsável pelo
armazenamento de informações, a memória. A ideia de que os espíritos
circulavam nos ventrículos cerebrais foram abrangentes até o Renascimento.
1.2.7. Andrea Versalius
Segundo Cosenza (2002), apenas no século XVI, Andrea Versalius
(1514 – 1564) rompe com a teoria da localização ventricular dos processos
mentais, argumentando que outros mamíferos têm a mesma organização
anatômica e não possuem as mesmas capacidades intelectuais, apesar de
ainda acreditar que os ventrículos seriam a sede dos espíritos, por meio do
qual atingiam os órgãos sensoriais e os movimentos daquele que os possuísse.
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1.3. A concepção medieval a respeito do cérebro
A Idade Média foi um período da história da Europa, entre os séculos V
e XV. Diante da concepção medieval, marcada pela intensa valorização do
espiritual e do secular, o eu não era separado do mundo.
Para os medievais, a associação entre cérebro e mente já era algo real.
Estruturalmente, o cérebro seria uma massa homogênea e amorfa, uma
espécie de reservatório onde a energia vital, armazenada nos ventrículos
cerebrais era transmitida para o corpo por meio dos nervos, pelos fluidos e
humores. Além disso, o cérebro seria a estrutura capaz de ligar os quatro
elementos universais – água, ar, fogo e terra -, e o fluxo de fluidos seria
responsável pelo temperamento e comportamento instintivo do ser humano.
1.4 – A visão Racionalista a partir do Renascimento
O surgimento da concepção Racionalista, a partir do Renascimento,
permitiu uma explosão das artes e forneceu a base necessária para a
Revolução Científica. A visão Racionalista tem seu apogeu com Descartes,
Filósofo francês, no século XVII. Descartes comparou o cérebro a uma
máquina. Para ele, o cérebro abrigaria um centro geométrico ( a glândula
pineal – pequena glândula endócrina, localizada próximo ao centro do cérebro,
entre os dois hemisférios). Na superfície deste centro haveria um completo
mapa sensorial e motor. A vontade estaria sob o controle da pineal, que
poderia regular o fluxo dos espíritos animais para os diferentes nervos. De
acordo com suas representações em O tratado sobre o homem, as
estimulações periféricas teriam o poder de abrir poros existentes no interior do
cérebro e, desta forma, os espíritos seriam conduzidos até a glândula pineal,
na superfície da qual haveria um completo mapa sensorial e motor. A vontade
estaria sob o controle da pineal, que poderia regular o fluxo dos espíritos
animais para os diferentes nervos.
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1.5. A visão dos Frenologistas
A Frenologia é uma teoria que argumenta ser capaz de analisar o
caráter, bem como traços da personalidade de um indivíduo a partir do formato
da cabeça.
Segundo Muszkat, para os Frenologistas do século XIX, o cérebro era
compartimentalizado em diferentes áreas, abrigando desde comportamentos
muito simples, como piscar, até as funções psíquicas mais complexas.
Segundo o autor, os Frenologistas argumentavam que haveria uma localização
cerebral especifica até para o amor aos animais ou ao vinho. O cérebro,
segundo os teóricos da área do início do século XX, seria como uma máquina,
a qual a consciência e as funções psíquicas não passariam de um filme
sensorial, onde impressões são coletadas e armazenadas como um software
por um eu (hardware) construído e gerenciado pelas próprias emoções.
1.6. O conceito atual
Após uma série de trabalhos científicos e intenso desenvolvimento na
área da Neurociência, o cérebro perde a concepção de máquina e passa a ser
visto como um ecossistema completo, onde as próprias células nervosas vivem
em situação de competição pelo estimulo e direcionamento do meio em que
estão inseridas.
Atualmente, o ser humano possui conhecimento neurocientífico,
construído ao longo dos séculos e, diante deste conhecimento, atribui ao
cérebro a responsabilidade por todo o comportamento humano e pelas
faculdades mentais.
Diante desta nova concepção, a palavra de destaque é plasticidade,
que pode ser brevemente entendida como a capacidade adaptativa que o
20
sistema nervoso possui para adequar-se aos estímulos que recebe do meio em
que está inserido. Segundo diversos estudos, é a plasticidade o ponto
culminante da existência humana, necessária ao aprendizado, ao
desenvolvimento, à formação da personalidade e, até mesmo, a reabilitação
motora e sensorial em situações necessárias.
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CAPÍTULO II
Plasticidade cerebral, educação e desenvolvimento
“Durante muitas décadas, acreditou-se que o cérebro não possuía capacidade
de regenerar suas células nervosas, ou seja, de formar novas sinapses, e que
as conexões entre os neurônios congelavam-se em posições imutáveis. Hoje,
sabe-se que o cérebro muda durante a vida, e que essa mudança é benéfica.
Essa plasticidade dispara um mecanismo pelo qual o cérebro remodela-se para
aprender a sentir-se melhor, ou pode ser induzido a se autorreparar para
pensar melhor”.
(MARTA RELVAS).
2.1. O que é neuroplasticidade?
Segundo Muszkat, a plasticidade cerebral pode ser definida como uma
mudança adaptativa na estrutura e função do sistema nervoso, como atividade
de interações com o meio interno e externo, ou ainda como o resultado de
lesões que afetam o ambiente neural. É um fenômeno multidimensional e
dinâmico, que delimita as relações entre estrutura e função; uma resposta
adaptativa impulsionada por desafios do meio ou lesões e estrutura
organizacional intrínseca do cérebro, que se mantém ativo, em diferentes
graus, durante toda a vida, até a velhice.
A plasticidade cerebral envolve novas conexões entre os
prolongamentos dos neurônios. Estas conexões são caminhos anatômicos
estabelecidos a partir de uma nova experiência que tenha sido significativa
para aquele sujeito. O conhecimento, a formação da personalidade, a
consolidação de uma memória, a recuperação de uma lesão são exemplos de
22
processos associados a estas conexões. A plasticidade é um fenômeno que
ocorre, sobretudo, nas crianças, mas o adulto também é capaz de sofrer.
O processo exposto tem a propriedade de modificar a organização do
sistema nervoso em resposta a uma experiência significativa e é uma forma
adaptativa às condições mutantes do meio e a estímulos repetidos
provenientes do ambiente.
A plasticidade cerebral pode ser melhor compreendida por meio do
conhecimento prévio sobre os neurônios, as células nervosas, cujas conexões
formadas são responsáveis pelo processo.
2.2. O neurônio
No cérebro, há bilhões de neurônios, células altamente diferenciadas e
especializadas em transmitir impulsos nervosos a todas as partes do corpo.
Segundo Relvas (2009), os neurônios são feitos para receber certas conexões
específicas, executar funções apropriadas e passar suas decisões de um
evento particular a outros neurônios que estão relacionados.
As informações provindas do ambiente são recolhidas pelos órgãos dos
sentidos e levadas, por nervos, até a medula espinhal ou encéfalo, onde são
realizadas conexões entre os neurônios e uma mensagem é enviada,
novamente através dos nervos, para os músculos e glândulas, que esboçam
uma reação. Esta conexão entre as informações é possível devido a
especializações presentes nesta célula que possui características exclusivas
23
2.2.1 – As partes de um neurônio
Corpo celular: é a região citoplasmática do neurônio, rica em organelas.
É no corpo celular que ocorre a produção de proteínas necessárias às demais
partes do neurônio e, devido a intensa concentração de mitocôndrias, é no
corpo celular que a energia necessária a intensa atividade deste tipo celular é
produzida.
Membrana neuronal: é formada por uma bicamada fosfolipídica, além
de proteínas, colesterol e moléculas de carboidratos. É a estrutura responsável
por manter o isolamento do conteúdo intracelular. A membrana tem caráter
seletivo, isto é, é esta estrutura que determina o que sai e o que entra na
célula. A membrana do neurônio também é responsável pelo potencial elétrico
interno.
Dendritos: são ramificações responsáveis por receber sinalizações dos
órgãos dos sentidos e de outros neurônios e por passá-las para um músculo,
uma glândula ou outro neurônio através do axônio. Segundo Relvas (2009),
eles funcionam como ”antenas” , são cobertos por milhares de sinapses
(junções formadas com outras células nervosas) e possuem membrana coberta
por receptores, capazes de detectar neurotransmissores na fenda sináptica.
Axônio: é um prolongamento que conduz sinais elétricos ao longo do
neurônio. O axônio de muitos neurônios possui células de Schwann ( um tipo
de célula da glia) que geram um revestimento conhecido como bainha de
mielina ( revestimento lipídico, com função de isolamento elétrico), que torna a
condução do impulso nervoso mais rápida (condução saltatória).
Terminal do axônio: parte final do prolongamento axônico, rica em
vesículas que possuem neurotransmissores. Os neurotransmissores são
substâncias de natureza química capazes de estimular a membrana pós
sináptica a sofrer o processo de despolarização ( mudança de potencial elétrico
24
a ser explicado adiante). A liberação dos neurotransmissores ocorre por
exocitose das vesículas na membrana pré-sináptica. Os neurotransmissores
conectam-se a receptores da membrana pós-sináptica.
2.2.2 – O impulso nervoso
Um estímulo do ambiente pode fazer o corpo disparar um impulso
nervoso e isso ocorre porque os neurônios são células excitáveis. O ato de
enxergar, ouvir e falar são exemplos de fenômenos físicos que dependem de
impulsos nervosos ( derivados de fenômenos elétricos). Consequentemente, o
ato de aprender e de se desenvolver dependem deles.
A membrana neuronal possui bombas, denominadas bombas de sódio e
potássio, que são proteínas responsáveis por manter a diferença entre esses
íons dentro e fora da célula. Há trinta vezes mais íons potássio dentro da célula
e quinze vezes mais sódio fora do que dentro. Neste padrão, o neurônio está
polarizado (em repouso). Quando a membrana do neurônio é atingida por um
25
estímulo de intensidade mínima, ela despolariza, isto é, inverte as cargas. Esta
inversão de cargas é denominada potencial de ação, que se propaga pelo
neurônio.
Um impulso nervoso, para ocorrer, depende de uma intensidade mínima,
denominada limiar excitatório. Se o estímulo for fraco, com intensidade menor
que o limiar, não haverá impulso nervoso. Acima do limiar, o potencial de ação
será sempre o mesmo, qualquer que seja a intensidade do estímulo. Isso quer
dizer que o neurônio obedece à lei do tudo ou nada, isto é, ou responde ao
estímulo com capacidade máxima ou simplesmente não há resposta.
2.2.3. A relação entre os neurônios e a neuroplasticidade
A neuroplasticidade se insere na perspectiva maturacional do
desenvolvimento graças à capacidade que os neurônios possuem de
promoverem conexões entre si através de seus inúmeros prolongamentos.
Segundo Relvas (2009), a cada nova experiência de um indivíduo, redes de
neurônios são rearranjadas, outras tantas sinapses são reforçadas e múltiplas
possibilidades de respostas ao ambiente tornam-se possíveis. O cérebro pode
promover reconexão de circuitos neuronais até quando há uma pequena perda
26
de conectividade entre eles, pois os neurônios desenvolvem brotamentos
axonais, promovendo um aumento na habilidade funcional e um aumento
aparente na força por intermédio do aprendizado.
A plasticidade envolve diferentes padrões de conexões entre os
neurônios e opera modificando o número de sinapses ativas, alterando
estratégias cognitivas de acordo com o estímulo que aquele cérebro recebe do
meio. Além disso, a plasticidade também atua em nível neuroquímico,
modificando os tipos e concentrações de neurotransmissores para atender a
uma fase determinada do crescimento e desenvolvimento de um indivíduo.
2.3. Como a plasticidade cerebral está envolvida com o
desenvolvimento humano?
O ser humano possui cerca de 35 mil genes com associação direta às
sinapses neuronais, sendo estas conexões sinápticas sujeitas à modulação e
mediação do meio em que está inserido o individuo, pois trata-se uma resposta
adaptativa gerada a partir dos desafios propostos pelo meio. O
desenvolvimento do indivíduo, em grande parte, depende destas conexões.
“Desenvolver, no sentido cognitivo e orgânico,
significa estabelecer uma relação de
aprendizagem, troca e comunicação intensa
entre o organismo e o ambiente no qual esse
organismo vive e para o qual se direciona”.
(MAURO MUSZKAT).
27
O desenvolvimento motor e sensorial, bem como a formação das
habilidades intelectuais são processos diretamente interligados à plasticidade.
Nas crianças existe uma elevada potencialidade à formação de novas
conexões, as quais são essenciais para o estabelecimento dos
desenvolvimentos citados.
Há algum tempo, existia a ideia de que os neurônios eram incapazes de
estabelecer novas conexões sinápticas. Hoje, sabe-se que as conexões e
reconexões neuronais são as responsáveis pelas modificações observadas no
sistema nervoso do individuo.
Segundo Relvas (2002), o sujeito pode aprender e reaprender atividades
desenvolvidas por ele previamente de forma espontânea e harmoniosa. Porém,
este processo é gradual, dependendo do desenvolvimento do sistema nervoso,
devendo ser valorizados os pequenos progressos de cada dia.
2.3.1. O papel do Professor
"Cresce a necessidade de o Professor reconhecer e incorporar o conhecimento
do funcionamento do sistema nervoso e seu desenvolvimento para enriquecer
a sua prática de ensino."
(MARTA RELVAS).
Ao decorrer do desenvolvimento infantil, o cérebro adquire diferentes
potenciais de mutabilidade, pelas experiências que ocorrem com esta criança.
Assim, a plasticidade se insere na perspectiva maturacional. Os axônios no
cérebro em processo de maturação possuem uma capacidade de conexões
sinápticas intensa.
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O Professor possui função essencial neste desenvolvimento. É
fundamental que o Professor conheça a estrutura cerebral de seus discentes. É
essencial que o docente permeie sua forma de ensinar com emoção, tocando a
estrutura cerebral de seus alunos de modo significativo, no intuito de construir
uma forma de pensar mais humanizada, uma personalidade íntegra e um
conhecimento mais sólido. Quando o aluno não é emocionalmente tocado em
sala de aula, o conhecimento não se constrói. A motivação é essencial.
“Motivação é uma força interior que se modifica
a cada momento durante toda a vida, que
direciona e intensifica os objetivos de um
indivíduo”.
(GABRIELA CABRAL).
Existem fases ideias no processo de maturação para o desenvolvimento
de habilidades, sejam elas o aprendizado de idiomas, a música, as ciências
matemáticas ou artes. Cabe ao Professor reconhecer estas fases e orientar
seu educando de maneira eficaz para que ele se desenvolva de modo
potencial.
2.3.2. O papel da família
As novas sinapses não são formadas apenas no ambiente escolar. Em
casa, as experiências vividas por uma criança em desenvolvimento também
são altamente significativas. Faz-se extremamente necessário que a família
estimule intensamente esta criança no âmbito intelectual ( como forma
complementar à escola), motor e sensorial.
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Segundo Muszkat, a capacidade de modelação neuronal possui graus
de sensibilidade diferenciados ao longo do tempo. Esta lapidação, segundo ele,
depende da idade. Em experimentos de privação da visão, realizados com
animais, observou-se que, mesmo após a estimulação visual ser restabelecida,
se o período de privação exceder um ano de idade, a visão não poderá ser
restituída.
Com o exposto, conclui-se a responsabilidade da família neste sentido: a
capacidade sensorial e motora de uma criança em desenvolvimento precisa ser
aprendida. Este aprendizado está associado à formação de um caminho
anatômico de conexões sinápticas que só estabelecido se houver estímulos
significativos e repetitivos por parte dos membros desta família.
2.4. O papel da emoção no desenvolvimento humano
Emoção pode ser entendida como uma série de reações químicas e
elétricas que ocorrem no corpo, afetando órgãos específicos, como forma de
estimular o corpo a esboçar uma determinada reação, para manter sua
homeostase ( equilíbrio) ou responder a um determinado estímulo influenciado
pelo meio.
No cérebro, não se pode separar a emoção da cognição, pois tudo
possui algum elo emocional. Muitos pesquisadores acham que não é possível
existir memória se não houver emoção, pois é ela que motiva a aprender, a
descobrir, a criar e a realizar.
Os processos emocionais são desencadeados por diferentes áreas do
sistema nervoso humano, sendo o hipotálamo, a área pré-frontal do córtex
cerebral e o sistema límbico as áreas mais relevantes.
30
Hipotálamo: principal centro integrador das estruturas viscerais do
corpo humano e um dos grandes responsáveis pela homeostase corporal. Ele
realiza a ligação entre o sistema nervoso e o sistema endócrino, atuando na
ativação de diversas glândulas endócrinas, como, por exemplo, a tireoide
(responsável pela secreção de hormônios que mantém o metabolismo corporal)
e as adrenais (responsáveis pela secreção de diversos hormônios, como os
glicocorticóides e os mineralocorticóides). O hipotálamo é associado às
emoções, uma vez que suas partes laterais estão envolvidas com o prazer e a
raiva, enquanto a porção mediana está ligada à aversão, ao desprazer e à
tendência à gargalhada incontrolável.
Área pré-frontal do córtex: modula a energia límbica e tem a
possibilidade de criar comportamentos adaptativos adequados ao se tomar
consciência das emoções. Na ausência desta parte do córtex, as emoções
ficam fora de controle, são exageradas e persistem após cessar o estímulo que
as provocou, até que se esgote a energia nervosa.
Sistema límbico: comanda certos componentes necessários à
sobrevivência e permite ao organismo distinguir o que o agrada e o que o
desagrada. É este sistema que origina as emoções e os sentimentos, além de
ser responsável por aspectos da identidade pessoal e da memória.
31
No ser humano, as emoções e os sentimentos são aspectos
fundamentais ao seu desenvolvimento. Um Professor que não ensina com
emoção, por exemplo, não é capaz de despertar o sistema límbico (e,
consequentemente, o real interesse e excitação) de seu discente. Um pai de
personalidade agressiva faz com que as conexões das células nervosas do
sistema límbico de seu filho o façam analisar as situações do dia a dia de uma
maneira naturalmente agressiva. Uma escola ou família que não trabalha a
questão afetiva em suas crianças, gera indivíduos incapazes de se relacionar
de modo afetivo, pois os mesmo não “aprenderam” a fazê-lo, uma vez que não
criaram conexões neurais para tal.
As emoções e o equilíbrio psicológico são fatores dependentes do
exercício cerebral que devem ser realizados desde os primeiros anos de vida
de uma criança até a sua adolescência. É viável estimular e fortalecer as
conexões do sistema límbico de uma criança, basta que a educação desta seja
permeada por emoção, sentimento e afeto.
“O estímulo certo, na hora certa, pode proporcionar
à criança a capacidade de controlar suas emoções
ao longo da vida”.
(MARTA RELVAS).
32
CAPÍTULO III
Reflexão e responsabilidade
“ As mudanças nos conceitos de modulação cerebral, reorganização funcional
e sináptica do cérebro pela experiência e pela aprendizagem pressupõem que
novas formas de ensino e estimulação inovadoras deverão ser formuladas para
possibilitar as melhores estratégias para as várias definições.
(...) As novas dimensões do estimular, criar e fazer são também novas
dimensões neurobiológicas do ser”.
(MAURO MUSZKAT).
3.1 – Novos paradigmas
Os novos paradigmas da plasticidade cerebral devem nortear o olhar
dos estudiosos para as questões associadas ao neurodesenvolvimento, pois
hoje, sabe-se que um cérebro bem estimulado, provavelmente será um cérebro
bem desenvolvido.
O Professor, a escola como um todo e a família devem ser levados a
uma intensa reflexão sobre a responsabilidade que a cultura, o meio, a emoção
e a educação têm na construção de organismos de bases estruturais,
psíquicas, culturais e sociais tão diferentes.
É importante, também, ressaltar que a plasticidade cerebral não é um
processo exclusivo nas crianças. Estímulos significativos nos adultos e, até
33
mesmo, nos idosos, propiciam uma oportunidade para a formação de novas
conexões neuronais.
3.1.1. O desenvolvimento humano envolve toda a estrutura fisiológica
“A ciência tem confirmado o papel desempenhado
pelo exercício físico, o uso ativo do cérebro
e uma dieta bem equilibrada para desenvolver a
memória e reduzir o risco de desenvolver doenças
degenerativas”.
(UNDERSTANDING THE BRAIN, 2007, P. 121).
O ser humano é fisiologicamente programado e possui ciclos que
precisam ser respeitados. A noção de dia e noite, por exemplo, ocorre devido à
secreção de um hormônio denominado melatonina, derivado da glândula
pineal. Quando a noite se aproxima, o nível de melatonina aumenta. Quando o
dia chega, o nível de melatonina diminui. A fadiga muscular sinaliza ao corpo
que há algo fora do nível de normalidade, através de mecanismos geradores
de dor. A fome e a sede são percebidas pelo hipotálamo, responsável por
ajustar o corpo e permitir, desta forma, o retorno ao estado de homeostase.
Todos esses e tantos outros mecanismos estão intrinsicamente ligados à
capacidade que o cérebro tem de responder aos estímulos oriundos do meio,
pois esta resposta depende, diretamente, da integridade física do organismo.
O cérebro precisa de combustível para aprender e para construir novas
conexões sinápticas. Precisa também estar descansado para responder bem
aos estímulos do meio. Uma criança que não come bem, por exemplo,
certamente não aprenderá bem. Um adolescente que dorme mal,
34
provavelmente terá dificuldades em absorver novas informações. Um adulto
que fuma e/ou que não se exercita, certamente terá dificuldades em se
concentrar.
Diante de todas estas afirmativas, pode-se concluir que é
responsabilidade da escola e da família, sobretudo em relação às crianças e
aos adolescentes, o zelo pela integridade física dos mesmos. A saúde física é
a base para o desenvolvimento e aprendizagem adequados. É necessário
orientá-los e estimulá-los à prática de exercícios físicos, a uma alimentação
adequada, a um estilo de vida saudável e conceder a eles um ambiente
agradável, estimulante e impregnado de propostas desafiadoras para que seja
possível maximizar seu potencial cerebral.
3.1.2. A procura pelo significado é inata
O ser humano é geneticamente programado para procurar por
significado nas informações com as quais está em contato. Segundo Lynch e
Richard (2008), este princípio se orienta para a sobrevivência. O cérebro
precisa do que é familiar e, automaticamente, o registra, ao mesmo tempo em
que procura estímulos adicionais e reage a eles.
Segundo pesquisas da Neurocientista Marian Diamond, animais
expostos a um ambiente com jaulas mais arejadas, com mais atenção, com
chance de brincar livremente ou de pular sobre obstáculos, apresentaram um
maior número de células da glia, bem como maior número de conexões
sinápticas em comparação a ratos isolados em jaulas escuras, que foram
isolados e que não tiveram a oportunidade de brincar.
Com o exposto, conclui-se que, em relação ao Professor, tal conceito
registra a necessidade que seu aluno tem de fornecer familiaridade ao que é
aprendido em sala de aula. Faz-se necessária uma reflexão acerca do que o
35
cérebro de seus alunos pede, satisfazendo a sede de novidades e desafios,
com aulas estimulantes e verdadeiramente significativas. É importante fornecer
experiências ricas e dar tempo para que possam compreendê-las. Desta
forma, é possível adquirir conhecimento por meio das novas conexões
neuronais que se formam a partir destas experiências.
Em relação à família, é necessário que a mesma construa a base para
tornar o que é aprendido em sala de aula como algo “real”, pois o que foi
construído como conhecimento pode ser desfeito caso nunca seja utilizado fora
dela, uma vez que as conexões neuronais não acessadas acabam sendo
desfeitas.
3.1.3. A aprendizagem é inibida com as ameaças e estimulada com os
desafios
Determinadas condições possuem implicações no que um aluno é capaz
de aprender em sala de aula. Muitas crianças tem esta capacidade reduzida
por interpretarem a escola como algo ameaçador. O próprio desempenho, o
comportamento do Professor, as provas e a necessidade de ser aprovado são
exemplos de situações que, de maneira conjunta, contribuem para que o aluno
veja a escola desta forma. Somado a isso, existe a ameaça da família, pois há
sempre um castigo por trás da reprovação.
Um desenvolvimento adequado depende, em grande parte, de um
ambiente ordenado. É necessário que pais e Professores saibam que cada
criança tem seu tempo de aprender e necessidades específicas. O ritmo de
ordenação do cérebro se adquire com o tempo, cabendo aos sujeitos citados a
função de acompanhá-lo.
Em oposição à toda negatividade associada às ameaças, os desafios
são extremamente importantes para a geração do conhecimento e para o
36
desenvolvimento humano. O hipocampo, que faz parte do sistema límbico, é
essencial para que o ser humano consiga estabelecer novos conhecimentos no
cérebro. Os desafios abrem as possibilidades máximas de formação de novas
conexões sinápticas.
Com base nos conhecimentos de neuroplasticidade, passa a fazer parte
das funções do profissional de ensino estabelecer desafios pertinentes aos
seus educandos, pois esta é uma excelente ferramenta para motivá-los a
buscar o saber e cabe à família a responsabilidade de acompanhar o ritmo de
suas crianças, bem como proporcionar a elas um ambiente lúdico e estimulante
para seu desenvolvimento.
3.1.4. A plasticidade cerebral nos adultos
A partir do momento em que se começou a utilizar a expressão
plasticidade cerebral, observa-se que a mesma era comumente associada
apenas ao desenvolvimento das crianças. Sabe-se que os estímulos
proporcionados pelo meio e a motivação encontrada nos desafios propostos
pela escola e pela família permitem a potencialização das habilidades
matemáticas, musicais, da inteligência espacial, etc. e que estes devem ser
trabalhados de modo contínuo ao longo do desenvolvimento destas crianças
para que este desenvolvimento seja adequado. Mas e em relação aos adultos,
é possível haver plasticidade? A memorização complexa, a recuperação de
partes lesionadas e a aprendizagem escolar são viáveis num indivíduo adulto?
A resposta é sim.
O ser humano está em constante desenvolvimento. Certamente, há um
potencial sinaptogênico maior durante as fases iniciais do desenvolvimento e,
durante muitos anos, acreditou-se que, a partir de uma certa idade, o cérebro
estagnava-se e não poderia mais estabelecer novas conexões neuronais,
permanecendo imutável em relação à sua memória e à sua capacidade.
37
Segundos Relvas (2002), nos últimos anos, experiências diversas
revelaram que situações desafiadoras e ambientes ”complexos”, agradáveis e
divertidos fornecem a capacidade extra que o cérebro necessita para se
reconfigurar. Ainda segundo a autora, essa plasticidade dispara um mecanismo
pelo qual o cérebro se remodela, para aprender a sentir-se melhor, ou pode ser
induzido a se autorreparar, quando estimulado.
Os novos paradigmas da Neurociência criam diversas expectativas a
respeito da remodelação cerebral e exigem um olhar que integre formas
complementares de conhecimento. O real sentido da plasticidade cerebral deve
gerar uma profunda reflexão sobrea responsabilidade que a cultura, o meio e a
educação possuem na formação tanto de crianças, quanto de adolescentes ou
adultos.
A sinaptogênese é viável do início ao fim da vida e depende, apenas,
dos fatores aos quais os indivíduos estão vulneráveis. A exposição precoce de
um individuo à violência, por exemplo, poderia deflagrar circuitos amigdalianos
e límbicos associados ao pânico e à depressão. Assim como o retorno à escola
de uma pessoa de 50 anos pode propor um desafio completamente diferente
àquele sujeito, dando ao mesmo a oportunidade de criar novas conexões
sinápticas que poderiam, por exemplo, potencializar as habilidades
matemáticas adormecidas neste indivíduo.
3.1.5. Neuroplasticidade e envelhecimento
O processo de envelhecimento induz a uma série de modificações no
cérebro. O cérebro envelhece porque uma série de substâncias essenciais à
atividade dos neurônios deixa de ser produzida. Além disso, ocorre a síntese
de substâncias prejudiciais que podem se depositar no tecido nervoso. Na
prática, isso significa dizer que o sujeito fica vulnerável a uma série de
deficiências no sistema sensorial, sistema locomotor e cognitivas.
38
Segundo Perracini (2009), o peso do encéfalo pode diminuir e algumas
populações de neurônios podem ter seu número reduzido pela ocorrência de
morte celular. O comprimento dos axônios mielinizados e a comunicação entre
os neurônios ou mesmo entre neurônios e células musculares e epiteliais
glandulares diminuem no córtex cerebral. Há redução de arborização dendrítica
e da densidade de espinhos dendríticos dos neurônios piramidais.
Considerando que muitas das sinapses ocorrem nos espinhos, essa
diminuição de densidade pode causar prejuízos nas funções motoras e
cognitivas.
De acordo com algumas pesquisas, apesar de neurotransmissores como
acetilcolina, dopamina e noradrenalina diminuírem no idoso, o sistema nervoso
dos mesmos não é imutável, pois conexões sinápticas podem ser formadas.
“Quanto mais complexa e coordenada for a atividade, maior é o número de
áreas do córtex cerebral recrutadas. Em tarefas que exigem muita
coordenação, observaram uma ativação adicional de áreas responsáveis por
uma monitoração cognitiva da atividade motora nos idosos, sugerindo a
hipótese de compensação, caracterizando um aspecto plástico do sistema
nervoso”. (Perracini, 2009).
Diante das informações expostas pelo autor, conclui-se que um idoso, se
exposto a um ambiente estimulante, pode manter seu cérebro ativo e capaz de
continuar trabalhando com eficiência. Já um cérebro que cai no desuso, tende
a aumentar as alterações neuroquímicas.
39
3.2. A criança em desenvolvimento no século XXI
“ Ensinar não é transmitir conhecimentos, mas criar as possibilidades para a
sua produção ou sua construção”.
(PAULO FREIRE).
Estimular o desenvolvimento e motivar a aprendizagem da criança no
século XXI não tem sido uma tarefa simples. A infância mudou. A criança, nos
dias atuais, consegue se ver como cidadã e mostra um comportamento
diferente da subserviência demonstrada no passado. É possível observar que a
criança do século XXI é capaz de analisar seu lugar dentro da sociedade e que
não aceita falta de negociação, não responde bem às ameaças e não se
intimida com desafios e, ao contrário disso, deseja superá-los.
Entender o contexto da nova infância passa a ser uma tarefa
desafiadora para adultos e, sobretudo, para profissionais da área educacional.
A reflexão sobre as mudanças é algo necessário. Entender a revolução de
hábitos, as mudanças de conceitos, valores e formas de relacionamento é algo
essencial.
Toda essa mudança é um considerável reflexo da revolução tecnológica
do mundo moderno. A criança da “era digital” já não é atraída pela educação
tradicional, baseada no quadro negro e giz. O aluno do século atual exige
novidades, interatividade e desafios.
Segundo Amaral (2009), com a rapidez das mudanças nos dias de hoje,
é preciso descobrir como lidar com o acúmulo de conhecimento. O contexto
midiatizado do século XXI impõem desafios aos educadores e é preciso estar
atento para estender e reinventar a prática educativa, compreendendo o
cruzamento e a aproximação de três vetores: tempo, espaço e velocidade. O
educador deve ser flexível e se adaptar às novas regras para garantir uma boa
40
formação dos seus alunos. Neste contexto, enxergar a educação como um
processo de desenvolvimento do seu humano e lembrar constantemente que
ela não é estática porque acompanha a evolução do mundo é fundamental.
3.3. Todo cérebro é singular
Todo o contexto da plasticidade cerebral referente ao desenvolvimento
humano, faz parte de uma base diversificada de habilidades individuais.
Segundo Granger & Lynch (2008), estes caminhos, influenciados pelos genes e
pelo meio ambiente, jogam um papel na determinação das diferentes
habilidades para a música, o atletismo, a afabilidade – em uma ampla gama de
características que fazem uma pessoa ser o que ela é. Longe de determinar
uma ordenação linear se a pessoa vai “ganhar” ou “perder”, os diferentes
caminhos cerebrais podem conceder uma variedade de dons e talentos,
levando em direções diversas, ajudando a gerar populações de indivíduos,
cada um com trilhas originais que contribuem com a mistura humana.
No estudo do desenvolvimento humano sob a ótica da Neuroplasticidade
devem ser levadas em consideração diversas variáveis além das questões
neurobiológicas, como os fatores culturais e sociais. Segundo Muszkat (2009),
essas variáveis, embora múltiplas, podem ser determinantes na modificação
das respostas cerebrais nas várias fases do ciclo do desenvolvimento humano.
Ainda segundo o autor, os desafios no desenvolvimento humano nos dias de
hoje requerem uma verdadeira revolução das formas de olhar, interagir e
construir o conhecimento em bases flexíveis, sujeitas a múltiplas mediações.
Para tanto, devem ser consideradas as características dinâmicas e
moduladoras do cérebro, a especialização funcional e as realocações da rede
neural, assim como a cooperação intermodalidades, desde o nível sensorial até
o nível cognitivo (como memória, atenção e linguagem).
41
Diante dos novos conhecimentos acerca da Neuroplasticidade, a família
e os educadores, devem nortear o olhar para as questões associadas ao
neurodesenvolvimento. Fatores estruturais, genéticos e ambientais estão
intrinsicamente interligados dentro do perfil neuropsicológico. Deve-se atentar
às questões que diferenciam cada indivíduo estrutural e psicologicamente, pois
as oportunidades concedidas a cada um ao longo da vida são, inevitavelmente,
diferentes.
Faz-se necessário entender que as necessidades de cada ser humano
são distintas, pois o cérebro, uma das mais complexas e, definitivamente, mais
importantes estruturas do corpo humano, possui capacidade diferenciada de
indivíduo para indivíduo. A única informação a respeito do cérebro que é uma
realidade indissociável e comum a todos os organismos ( apesar de sua
singularidade) é o fato de que seu desenvolvimento e, consequentemente, todo
o desenvolvimento humano, desde simples organizações sensoriais até a
funções cognitivas complexas, não ocorrem sem que haja estímulos
significativos.
42
CONCLUSÃO
Com a evolução dos estudos em Neurociência, o cérebro, outrora visto
como uma espécie de “caixa preta”, passa a ser analisado e melhor
compreendido. Hoje, sabe-se que é o cérebro a estrutura responsável pelo
desenvolvimento sensorial e cognitivo, sendo ele essencial à existência
humana. No entanto, até ser possível se chegar a esta conclusão, diversos
Filósofos e Médicos propuseram uma série de hipóteses a respeito da estrutura
cerebral, quase sempre permeadas por metáforas e aspectos religiosos.
Nos dias atuais, os estudos em Neurociência trabalham a questão do
desenvolvimento humano com base nos conhecimentos sobre
neuroplasticidade, que pode ser definida como a capacidade que o sistema
nervoso humano possui de responder a certos estímulos do meio, através de
mudanças químicas e anatômicas das células nervosas.
O presente trabalho apresenta a responsabilidade que a escola e a
família possuem neste sentido, pois o conhecimento sobre as estruturas e
capacidades associadas ao cérebro, pode nortear uma reflexão acerca da
importância destas duas instituições no que se refere ao desenvolvimento
humano. Tanto o desenvolvimento sensorial e cognitivo quanto o
desenvolvimento intelectual.
Com o exposto ao longo da pesquisa, é possível concluir que para um
desenvolvimento humano adequado é necessário que o indivíduo seja
desafiado, pois o desafio estimula a busca. É necessário que este indivíduo
tenha contato com a emoção, para fortalecer as conexões dos circuitos
neuronais límbicos e amigdalianos. E, principalmente, é necessário que
existam estímulos significativos, pois são estes estímulos que permitem a
formação e o fortalecimento de circuitos neuronais associados ao
desenvolvimento intelectual, sensorial e cognitivo, aspectos essenciais dentro
das relações humana
43
BIBLIOGRAFIA
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www.psiqweb.med.br. Acesso em: 07.01.2013.
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Acesso em: 04.01.2013.
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LYNCH, Gary; GRANGER, Richard. The origins and future of human
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MUSZKAT, Mauro. Estudos sobre neuroplasticidade levantam questões sobre
a responsabilidade da cultura, do meio e da educação na constituição de
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44
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ou ficção?. Grupo de investigação em Neurociências cognitivas (GNC). Instituto
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não informado.
RELVAS, Marta Pires. Fundamentos Biológicos da Educação. 4ª edição. Wak
Editora.
RELVAS, Marta Pires. Neuropedagogia e a complexidade cerebral na sala de
aula. Revista Psique Ciência&Vida. N.64. Abril 2011, p. 40-47.
45
ÍNDICE
FOLHA DE ROSTO 02
AGRADECIMENTO 03
DEDICATÓRIA 04
RESUMO 05
METODOLOGIA 07
SUMÁRIO 08
INTRODUÇÃO 09
CAPÍTULO I
O CÉREBRO: DA ANTIGUIDADE À CONCEPÇÃO ATUAL 11
1.1. O cérebro 11
1.1.1. Os lobos cerebrais 12
1.1.2. Um novo conceito 14
1.2. Cérebro e mente na Antiguidade 14
1.2.1. Alcmaeon de Cronata 15
1.2.2. Demócrito, Diógenes, Platão e Teófrasto 15
1.2.3. Hipócrates 15
1.2.4. Aristóteles 16
1.2.5. Galeano 16
1.2.6. Nemésio 17
1.2.7. Andrea Versalius 17
1.3. A concepção medieval a respeito do cérebro 18
1.4. A visão Racionalista a partir do Renascimento 18
1.5. A visão dos Frenologistas 19
1.6. O conceito atual 19
46
CAPÍTULO II
PLASTICIDADE CEREBRAL, EDUCAÇÃO E DESENVOLVIMENTO 21
2.1. O que é neuroplasticidade 21
2.2. O neurônio 22
2.2.1. As partes de um neurônio 23
2.2.2. O impulso nervoso 24
2.2.3. A relação entre os neurônios e a neuroplasticidade 25
2.3. Como a plasticidade cerebral está envolvida com o
desenvolvimento humano 26
2.3.1. O papel do Professor 27
2.3.2. O papel da família 28
2.4. O papel da emoção no desenvolvimento humano 29
CAPÍTULO III
REFLEXÃO E RESPONSABILIDADE 32
3.1 Novos paradigmas 32
3.1.1. O desenvolvimento humano envolve toda a estrutura
fisiológica 33
3.1.2. A procura pelo significado é inata 34
3.1.3. A aprendizagem é inibida com ameças e estimulada
com os desafios 35
3.1.4. Plasticidade cerebral nos adultos 36
3.1.5. Neuroplasticidade e envelhecimento 37
3.2. A criança em desenvolvimento no século XXI 39
3.3. Todo cérebro é singular 40
CONCLUSÃO 42
BIBLIOGRAFIA 43
ÍNDICE DE FIGURAS 47