documento protegido pela lei de direito autoral · desconsideração e não de anulação ou...

45
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” AVM FACULDADE INTEGRADA DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA Por: Rafael Bandeira de Serpa Corte Real Orientador Prof. Dr. Willian Rocha Rio de Janeiro 2014 UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL

Upload: others

Post on 01-Dec-2020

0 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · desconsideração e não de anulação ou negação da personalidade jurídica para certos efeitos. Decorre dessa afirmação que

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA

Por: Rafael Bandeira de Serpa Corte Real

Orientador

Prof. Dr. Willian Rocha

Rio de Janeiro

2014

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

DOCUMENTO PROTEGID

O PELA

LEI D

E DIR

EITO AUTORAL

Page 2: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · desconsideração e não de anulação ou negação da personalidade jurídica para certos efeitos. Decorre dessa afirmação que

2

PROJETO A VEZ DO MESTRE

DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA

Apresentação de monografia à Universidade

Candido Mendes como condição prévia para a

conclusão do Curso de Pós-Graduação “Lato Sensu”

em Direito de Empresa. São os objetivos da

monografia perante o curso e não os objetivos do

aluno esclarecer o estudo da teoria da

desconsideração da personalidade jurídico para a

preservação de uma empresa.

Por: . Rafael Bandeira de Serpa Corte Real

Page 3: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · desconsideração e não de anulação ou negação da personalidade jurídica para certos efeitos. Decorre dessa afirmação que

3

AGRADECIMENTOS

Agradeço a toda minha família, ao meu

professor e todas as pessoas que me

incentivaram a realizar esta

monografia.

Page 4: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · desconsideração e não de anulação ou negação da personalidade jurídica para certos efeitos. Decorre dessa afirmação que

4

DEDICATÓRIA

Dedico esse trabalho a minha mãe, meu

pai, minha tia e toda a minha família e

amigos.

Page 5: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · desconsideração e não de anulação ou negação da personalidade jurídica para certos efeitos. Decorre dessa afirmação que

5

RESUMO

O presente trabalho analisa o instituto da personalidade jurídica, bem

como os seus efeitos na sociedade limitada, na sociedade anônima e no

empresário individual de responsabilidade limitada (EIRELI). A personificação

das sociedades pode ser considerada um grande avanço no Direito

Empresarial, pois atribui à pessoa jurídica, direitos e obrigações que

contribuem para que as empresas cumpram a sua função social. Porém, a

autonomia patrimonial e a limitação de responsabilidade – como principais

efeitos da personificação – também passaram a ser utilizadas para prejudicar

terceiros por meio de fraude e atos ilícitos. A desconsideração da

personalidade jurídica é o instituto jurídico que passa a ser utilizado justamente

para coibir essas situações de abuso e fraude através da pessoa jurídica.

Page 6: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · desconsideração e não de anulação ou negação da personalidade jurídica para certos efeitos. Decorre dessa afirmação que

6

METODOLOGIA

Pesquisa bibliográfica e documental através de

análise de livros e sites jurídicos.

Page 7: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · desconsideração e não de anulação ou negação da personalidade jurídica para certos efeitos. Decorre dessa afirmação que

7

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 08

CAPÍTULO I - Pessoas Jurídicas 10

CAPÍTULO II - Desconsideração da Personalidade Jurídica 13

CAPÍTULO III – Teoria da Desconsideração da Personalidade Jurídica 32

CAPÍTULO IV – Da Dissolução da Pessoa Jurídica 35

CONCLUSÃO 41

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 43

ÍNDICE 44

FOLHA DE AVALIAÇÃO 45

Page 8: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · desconsideração e não de anulação ou negação da personalidade jurídica para certos efeitos. Decorre dessa afirmação que

8

INTRODUÇÃO

O presente trabalho volta-se ao estudo da teoria da desconsideração da

personalidade jurídica, partindo-se de uma abordagem primeiramente das

noções gerais de personalização e pessoa jurídica para, então, adentrar no um

estudo teórico sobre a atividade lúdica e o aprendizado sobre as sociedades

empresárias.

Nesse desiderato, buscar-se-á desenvolver, de modo sintético, as

principais teorias da desconsideração da personalidade jurídica, de forma a

propiciar ao operador do Direito um excelente panorama no ordenamento

jurídico brasileiro. Para tanto, além das formulações teóricas, serão objeto de

breve análise as bases normativas que abarcam a teoria da desconsideração

no Direito pátrio, sem olvidar dos necessários auxílios da mais abalizada

doutrina.

Ao longo da exposição, algumas questões polêmicas e muitas das

manifestações teóricas serão cotejadas com o entendimento jurisprudencial

atualizado das Cortes brasileiras, permitindo que se transmitam as nuances da

teoria da desconsideração da personalidade jurídica de maneira mais

contextualizada com o cenário jurídico brasileiro contemporâneo.

A teoria da desconsideração da personalidade jurídica deve ser

entendida da gramatical forma em que está nominada: trata-se de uma

desconsideração e não de anulação ou negação da personalidade jurídica

para certos efeitos. Decorre dessa afirmação que a personalidade própria da

sociedade se mantém, mas, para certos efeitos, ela será desconsiderada.

Assim como o Direito pode considerar como pessoa uma sociedade regular,

pode desconsiderá-la para certas finalidades. Como consequência disso, pode

Page 9: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · desconsideração e não de anulação ou negação da personalidade jurídica para certos efeitos. Decorre dessa afirmação que

9

o patrimônio particular dos sócios ou dos administradores servir para

satisfação dos credores da sociedade, se desconsiderada sua personalidade.

Em última análise, o objetivo da desconsideração da personalidade

jurídica é o de atingir os bens dos sócios, associados ou administradores da

pessoa jurídica por obrigações que, embora formalmente sejam da pessoa

jurídica, foram contraídas por ato abusivo dos sócios, associados ou

administradores. Por ter esse objetivo prático, alguns juristas dizem que a

desconsideração da personalidade jurídica não seria propriamente uma

“doutrina”, mas sim uma técnica ou expediente judicial.

Page 10: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · desconsideração e não de anulação ou negação da personalidade jurídica para certos efeitos. Decorre dessa afirmação que

10

CAPÍTULO I

PESSOAS JURÍDICAS

...Deus é maior que todos os obstáculos.

Na evolução histórica, podemos verificar que o antigo direito romano

não conhecia a figura da personalidade jurídica. Tampouco o direito germânico

admitia tal concepção. As pessoas naturais eram os verdadeiros detentores

dos direitos. No entanto, no início do Império Romano existiam certas

associações com interesse público, tais como universitates, solidalitates,

corpara e collegia.

Justiniano acrescentou ao rol de pessoas jurídicas as fundações, que a

princípio, eram subordinadas à Igreja, e que se tornaram mais tarde

independentes. Mas, foi com o direito canônico que o instituto da

personalidade jurídica assistiu a sua maior transformação, por meio da

incrementação das fundações chamadas corpus mysticum, pelo qual o ofício

eclesiástico, provido de patrimônio próprio, era considerado entre autônomo.

No entanto, o conceito moderno de pessoa jurídica começou a tomar

forma somente com a Revolução Francesa, com a valorização do indivíduo e a

política do liberalismo. Na revolução industrial, igualmente, com a soma maior

de capital para o sucesso empresarial, sendo aí, o nascedouro da

personalidade societária, fruto da não intervenção do Estado na atividade

econômica e da insuficiência de recursos financeiros individuais frente ao novo

momento histórico.

Assim, no direito moderno, as pessoas jurídicas foram designadas da

seguinte forma: no Direito Francês: como pessoas morais; no Direito

Page 11: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · desconsideração e não de anulação ou negação da personalidade jurídica para certos efeitos. Decorre dessa afirmação que

11

Português: como pessoas coletivas; Pessoa jurídica é a denominação dada

pelo nosso Código Civil, pelos códigos alemães, italiano e espanhol.

No direito brasileiro, cita-se o Código Comercial de 1850, que não

reconhecia expressamente a personalidade jurídica das sociedades

comerciais. Porém, o ordenamento jurídico reconheceu o instituto da

personalidade jurídica com o Decreto nº 1.102 de 1903, o qual estabelecia

normas sobre os armazéns gerais, e com a Lei nº 1.637 de 1907, que

possibilitava a personalidade civil aos sindicatos. Mas sua definição ainda não

estava consolidada.

Recentemente, o Estado despertou seu interesse pelas associações e

instituições, principalmente do ponto de vista político, a exemplo das autarquias

(Decreto-Lei nº 6.016/43, art. 2º; Lei nº 4.717/65, art. 20 e Decreto-Lei nº 200/67,

art. 5º, I), entidades paraestatais, sociedades de economia mista, previdenciárias,

beneficentes, artísticas e muitas outras. Enfim, ampliou-se o conceito técnico-

jurídico da pessoa jurídica.

Todavia, importante salientar que antes da sanção do Código Civil de

1916, o rol de pessoas jurídicas não estava solidificado. Nota-se que duas

correntes doutrinárias surgiram na tentativa de conceituar o que seria a

personalidade jurídica: A) MINIMALISTA: A corrente minimalista, liderada por

Clóvis Beviláqua, reduzia o número de regras, ampliando-se o reconhecimento

de personalidade jurídica a todas as sociedades civis ou comerciais, “a

qualquer grupamento ou entidade que satisfaça determinados requisitos. B)

MAXIMALISTA: A corrente maximalista fazia distinção entre as corporações e as

sociedades, negando a personalidade jurídica às sociedades civis, sociedades em

nome coletivo e sociedade em comandita simples. Como relata Rubens Requião ¹.

O Código Civil brasileiro trata da pessoa jurídica nos artigos 40 ao 69,

conceituando e dispondo acerca dela, e admitindo duas espécies de pessoas: a

natural e a jurídica. A natural é a pessoa encontrada como tal na natureza, são os

seres humanos, capazes de direitos e obrigações na esfera civil; já a pessoa

Page 12: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · desconsideração e não de anulação ou negação da personalidade jurídica para certos efeitos. Decorre dessa afirmação que

12

jurídica se encontra subdividida em direito público interno e externo, e direito

privado, no qual se encontram as associações, as sociedades e as fundações,

dentre as demais do art. 44 do Código Civil.

Embora a teoria da desconsideração da personalidade jurídica seja

reconhecida no Código Civil, CTN, CDC, Lei Antitruste e Lei de Crimes

Ambientais, a Legislação Trabalhista não possui em seu bojo a pertinência

específica regulamentada de sua aplicabilidade, gerando interpretações

equivocadas e conturbadas.

Page 13: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · desconsideração e não de anulação ou negação da personalidade jurídica para certos efeitos. Decorre dessa afirmação que

13

CAPÍTULO II

TEORIA DA DESCONSIDERAÇÃO DA

PERSONALIDADE JURÍDICA

2.1 – Conceito e Aspectos Relevantes

É comum na doutrina comercialista, evitar a discussão acerca do

conceito e da natureza da pessoa jurídica. Para alguns autores, o exame do

complicado tema não é imprescindível à compreensão do direito positivo

aplicável às sociedades.

Em razão do princípio da autonomia patrimonial, as sociedades

empresárias podem ser utilizadas como instrumento para a realização de

fraude contra os credores ou mesmo abuso de direito. Na medida em que é a

sociedade o sujeito titular dos direitos e devedor das obrigações, e não os seus

sócios, muitas vezes os interesses dos credores ou mesmo abuso de direito.

Na medida em que é a sociedade o sujeito.

A desconsideração da pessoa jurídica é instituto com raízes do Common

Law (disregard of legal entity) e, não constitui a anulação da personalidade

jurídica em toda a sua extensão, mas a penas a declaração de sua ineficácia

para determinado efeito concreto. Assim, somente em casos determinados,

quando se verificar que houve abuso de direito ou fraude nos negócios e atos

jurídicos da pessoa jurídica, é que o juiz ignora a sua personalidade jurídica e

projeta os efeitos desde logo em face da pessoa física que se beneficiou ou

que praticou o ato.

A desconsideração da pessoa jurídica subsiste o princípio da autonomia

da pessoa coletiva, distinta da pessoa de seus sócios ou componentes, mas

essa distinção é afastada, provisoriamente e tão só para o caso concreto.

Page 14: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · desconsideração e não de anulação ou negação da personalidade jurídica para certos efeitos. Decorre dessa afirmação que

14

Mostra-se relevante a previsão da desconsideração da pessoa jurídica

na Parte geral do novo Código Civil porque assim os juízes podem aplicar o

instituto nos casos que lhe são submetidos, como lhes recomenda

veementemente o disposto no art. 4º da Lei de Introdução ao Código Civil, sem

que se vejam forçados a se socorrer da na analogia com a previsão legislativa

que já existe no Código de Defesa do Consumidor ou na Lei das Execuções

Fiscais.

Com a finalidade de conceituar o instituto em estudo, deve-se desdobrar

a presente análise e verificar a acepção jurídica do termo pessoa. A palavra pessoa advém do latim persona, emprestada à linguagem

teatral na antiguidade romana. Primitivamente, significava máscara. Os atores

adaptavam ao rosto uma máscara, provida de disposição especial, destinada a

dar eco às suas palavras. Personare queria dizer, pois, ecoar, fazer ressoar. A

máscara era uma persona, porque fazia ressoar a voz da pessoa. Por papel

que cada ator representava e, mais tarde exprimiu a atuação de cada indivíduo

no cenário jurídico. Por fim, completando a evolução, a palavra passou a

expressar o próprio indivíduo que representava esses papéis”. Vejamos o

entendimento de alguns conceitos de pessoa: A pessoa é a unidade

personificada que representa um complexo de direito e deveres.

Pessoa é o ente físico ou coletivo suscetível de direitos e obrigações,

sendo sinônimo de sujeito de direito. Sujeito de Direito é aquele que é sujeito

de um dever jurídico, de uma pretensão de uma titularidade jurídica, que é o

poder de fazer valer, através de uma ação, o não cumprimento do dever

jurídico, ou melhor, o poder de intervir na produção da decisão judicial.

A pessoa jurídica surge para suprir a própria deficiência humana,

Frequentemente o homem não encontra em si forças e recursos necessários

para uma empresa de maior vulto, de sorte que procura, estabelecendo

sociedade com outros homens, constituir um organismo capaz de alcançar o

fim almejado.

Page 15: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · desconsideração e não de anulação ou negação da personalidade jurídica para certos efeitos. Decorre dessa afirmação que

15

Adiante, se define como pessoa jurídica, as entidades a que a lei

empresta personalidade, isto é, são seres que atuam na vida jurídica, com

personalidade diversa de indivíduos que os compõe, capazes de serem

sujeitos de direitos e obrigações na ordem civil.

O ordenamento nacional imputa personalidade jurídica tanto ao homem

ao nascer com vida (pessoa física), como preconiza o artigo 2º do Código Civil,

quanto à pessoa jurídica ao cumprir os requisitos do artigo 45 do mesmo

diploma legal.

Também em face da efetiva existência de sociedade ainda sem registro,

mas que atuam no mundo dos fatos, uma solução ampliativa se fez necessária

no plano processual. Desta forma, há previsão legal de representação em juízo

de sociedade sem personalidade jurídica, conforme dispõe o artigo 12, VII, do

Código de Processo Civil.

Diante disso, um dos princípios que fundamentam o conceito de pessoa

jurídica é a personalidade da sociedade distinta de seus membros, ou seja,

pessoa física e pessoa jurídica não se confundem, sendo que a primeira

adquire patrimônio autônomo, pelo qual assegura sua responsabilidade em

relação a terceiros e pode atuar em juízo. Entretanto, esta norma está

presentemente abalada pela teoria da desconsideração da pessoa jurídica,

objeto do presente estudo.

Tais princípios fundamentam o que estabelece o artigo 20 do Código

Civil, que confere autonomia patrimonial à pessoa jurídica. O artigo 596 o

Código de Processo Civil corrobora tal princípio, estabelecendo que os sócios

não respondem pelas dívidas contraídas pela sociedade.

Adiante, a personalidade jurídica caracteriza-se por três requisitos

essenciais: a) Organização de pessoas e bens patrimoniais; b) Objetivos em

Page 16: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · desconsideração e não de anulação ou negação da personalidade jurídica para certos efeitos. Decorre dessa afirmação que

16

conformidade com a lei ou não proibidos; c) Reconhecimento pelo

ordenamento jurídico como sujeito de direitos e obrigações.

As pessoas jurídicas, uma vez personificadas, nos termos do artigo 18,

tornam-se entidades autônomas, inteiramente distintas das pessoas físicas

que as compõe: universitas distat a singulis. Podem exercer todos os direitos

subjetivos, exceto aqueles inerentes ao ente humano. As suas deliberações

constituem atos próprios da sua qualidade de entidade moral ou coletiva, nada

tendo haver com atos individuais e seus sócios.

A pessoa jurídica é uma construção elaborada pela ciência do Direito

em decorrência da necessidade de criação de entidades capazes de

realizarem determinados fins que não são alcançados normalmente pela

atividade individual.

Dessa forma, aprende-se o conceito de pessoa jurídica como sendo um

instituto voltado a conceder direitos e incutir obrigações a determinados entes

na esfera legal, objetivando a concretização de certos propósitos.

A ideia de sociedade personalizada surge justamente com o

propósito de titularizar (a pessoa coletiva) seus próprios direitos e obrigações.

Pretendia-se, com o ente criado, a construção normativa de uma pessoa

distinta da do sócio criador, com o intuito de estimular o desenvolvimento

econômico, a circulação de riqueza e a segurança para o investidor.

Em que pese o embate entre as teorias pré-normativistas e as

normativistas, é fato que hoje a pessoa jurídica não pode ser concebida

apenas como realidade preexistente; o arcabouço normativo regulatório da

constituição e funcionamento cada vez mais aproxima o ente moral do Direito

que o criou.

Nesse contexto, a pessoa jurídica qualifica-se como um “ente incorpóreo

que, como as pessoas físicas, pode ser sujeito de direitos”, ou também como

Page 17: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · desconsideração e não de anulação ou negação da personalidade jurídica para certos efeitos. Decorre dessa afirmação que

17

um “sujeito de direito inanimado personalizado”, distinguindo-se, assim, dos

seres humanos.

Veja-se que a personalização, como criação do Direito (na concepção

normativista), apresenta alguns efeitos necessários. Com a constituição da

pessoa jurídica, a titularidade das relações negociais passa a ser própria,

estabelecendo-se os mais diversos vínculos jurídicos em nome do próprio ente

moral. Também no plano processual se percebe o reflexo da personalização,

já que a titularidade processual passa a ser da pessoa constituída, e não dos

sócios constituidores.

Talvez, porém, a consequência mais significativa seja aquela afeta à

responsabilidade patrimonial. De fato, ao enlaçar obrigações no desempenho

do objeto social, a pessoa jurídica passa a responder, de per si e com seu

próprio patrimônio, pelos resultados obtidos no desempenho da atividade

(notadamente atividade econômica, de produção e circulação de bens e de

prestação de serviços).

Desta forma, assim que constituída a pessoa jurídica, passa ela a ter

patrimônio próprio. Esse patrimônio pertence à sociedade, e não aos sócios; é

justamente a totalidade do patrimônio que vai responder, perante terceiros,

pelas obrigações assumidas pela sociedade.

Em suma, é o patrimônio do sujeito passivo da relação obrigacional que

responde pela dívida. E daí advém a tão propagada autonomia patrimonial

entre os bens e direitos dos sócios e os bens e direitos da pessoa jurídica.

Portanto, há, de regra, a separação entre o acervo patrimonial do ente criado e

do criador, respondendo apenas os bens da entidade coletiva pelas obrigações

sociais.

Page 18: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · desconsideração e não de anulação ou negação da personalidade jurídica para certos efeitos. Decorre dessa afirmação que

18

A desconsideração da personalidade jurídica somente pode ser

efetuada pelo juiz, mediante pedido das partes ou, se for o caso de

intervenção, do Ministério Público, no bojo de um processo judicial, nas

hipóteses cabíveis. A desconsideração não será objeto de um processo

autônomo, isto é, a parte não irá propor uma ação judicial para desconsiderar a

personalidade jurídica da sociedade; ao revés, o pedido de desconsideração

será efetuado para que possa o requerente efetivar o pedido principal da ação

judicial no qual o pedido de desconsideração é formulado (pouco importa se

essa ação é uma cautelar ou não).

Vejamos as hipóteses que, segundo a doutrina, podem ensejar a

aplicação da teoria da desconsideração da personalidade jurídica. Os autores

costumam divergir quanto a forma de classificação dessas hipóteses, embora

exista uma certa concordância quanto a elas.

Em sentido estrito, fraude é o artifício malicioso para prejudicar

credores. A doutrina, porém, utiliza esse vocábulo como um alcance mais

amplo, com o sentido de dolo, de modo a aplicar a teoria da personalidade

jurídica quer os prejudicados pelo artifício malicioso sejam credores ou não,

exigindo apenas que os atos sejam lícitos, mas não os fins almejados. Vale

dizer: os sócios, associados ou administradores utilizam a sociedade

personificada para causar danos a outrem. Exemplos: os sócios, associados

ou administradores vendem os bens da sociedade (ato lícito), mas desviam o

dinheiro para contas secretas no exterior (finalidade ilícita); ou contraem

enormes dívidas (ato lícito) em proveito próprio (finalidade ilícita), mas em

nome da pessoa jurídica, que não tem como pagar. Os sócios, associados ou

administradores fogem com o dinheiro ou bens, a pessoa jurídica fica

insolvente e, por tal razão, os credores ficam "a ver navios", sem ter bens da

pessoa jurídica a penhorar em uma execução para satisfação do crédito. Parte

Page 19: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · desconsideração e não de anulação ou negação da personalidade jurídica para certos efeitos. Decorre dessa afirmação que

19

da doutrina entende que sempre deve existir o elemento fraude, ou seja, a

intenção de se furtar ao cumprimento de uma obrigação para que possa ser

aplicada a desconsideração da personalidade jurídica. À luz do direito positivo

brasileiro, discordo dessa posição, como veremos abaixo.

A doutrina entende que existe abuso de direito nas hipóteses em que

alguém extrapola os limites permitidos pelo ordenamento para o exercício de

direitos subjetivos, já que nenhum direito é absoluto ou ilimitado. Há abuso de

direito quando a conduta contraria os fins econômicos e sociais da norma

jurídica. O art. 187 do novo Código Civil estabelece que é ato ilícito o exercício

manifestamente excessivo de direitos além dos limites impostos pelos fins

econômicos ou sociais, pela boa-fé ou pelos bons costumes. É necessário o

elemento fraude, ou seja, a intenção de prejudicar terceiros para a

caracterização do abuso do direito? A doutrina tradicional entendia que sim;

em virtude do novo Código Civil, entendo que está acertada a doutrina que,

interpretando o art. 187, sustenta que nem mesmo o elemento culpa é

necessário para a configuração do abuso do direito.

Já o abuso da personalidade jurídica ocorre quando a pessoa jurídica é

criada para finalidades que não são condizentes com a função jurídica a ele

determinada (ex. no caso de uma sociedade, é a de exercer atividade

econômica). É o caso do “negócio indireto”: alguém não pode praticar

determinado ato em nome próprio, por impedimento legal ou contratual, e

decide criar uma pessoa jurídica para praticar esse ato (para alguns autores, o

“negócio indireto” é enquadrado como fraude e não como abuso da

personalidade) Exemplo: um pai deseja vender um imóvel para o seu filho

preferido sem anuência dos demais; o filho preferido cria uma pessoa jurídica,

que adquire o imóvel. Também ocorre o abuso da personalidade ou desvio de

função quando, embora criada legitimamente, os sócios ou os administradores

utilizam-se da pessoa jurídica para finalidades outras, que não as devidas.

Page 20: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · desconsideração e não de anulação ou negação da personalidade jurídica para certos efeitos. Decorre dessa afirmação que

20

Nessa modalidade de abuso da personalidade jurídica, os atos também são

praticados para benefício puro e simples dos sócios, associados ou dos

administradores. Exemplo: os sócios gastam o dinheiro da sociedade com

viagens de lazer que não dizem respeito às atividades da sociedade.

Se os sócios deliberarem de forma contrária à lei ou ao contrato social,

poderá existir desconsideração da personalidade jurídica. Exemplo. O contrato

social veda a prestação de aval. O administrador ou sócio avaliza uma

operação qualquer em nome da sociedade, que é reputada válida pela teoria

da aparência, e posteriormente a empresa é chamada a responder. Não

existindo bens da sociedade hábeis a saldar o compromisso assumido, os

bens do administrador ou sócio responderão pela dívida decorrente do aval.

O novo Código Civil tem dispositivo específico a respeito do tema:

“Art. 50. Em caso de abuso da personalidade jurídica,

caracterizado pelo desvio de finalidade, ou pela confusão

patrimonial, pode o juiz decidir, a requerimento da parte,

ou do Ministério Público quando lhe couber intervir no

processo, que os efeitos de certas e determinadas

relações de obrigações sejam estendidos aos bens

particulares dos administradores ou sócios da pessoa

jurídica.”

Esse dispositivo, tal como redigido, afirma que pode o juiz desconsiderar

a personalidade jurídica para atingir bens de sócios ou administradores quando

ocorrer abuso da personalidade jurídica ou confusão patrimonial.

Page 21: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · desconsideração e não de anulação ou negação da personalidade jurídica para certos efeitos. Decorre dessa afirmação que

21

O abuso da personalidade jurídica, de acordo com o art. 50, decorre do

desvio de finalidade. Desvio de finalidade é a utilização da pessoa jurídica para

fins distintos dos objetivos ou valores que motivaram a criação dessa figura

jurídica. Vimos o que motivou a criação, pelo Direito, da personificação das

sociedades que, em última análise, foi uma necessidade da atividade

econômica. Portanto, a grosso modo, quando existe a utilização da

personalidade jurídica de uma sociedade para fins que não se coadunam com

esses objetivos ou valores, há desvio de finalidade a caracterizar o abuso da

personalidade jurídica.

A confusão patrimonial é a hipótese em que os sócios ou

administradores utilizam em proveito próprio os bens e recursos da pessoa

jurídica. Trata-se de uma “promiscuidade” entre bens dos sócios, associados

ou administradores e bens da sociedade. Penso que a confusão patrimonial

não deixa de ser uma modalidade de abuso da personalidade jurídica da

sociedade, pois a autonomia patrimonial tem uma função jurídica que restou

violada pelos sócios ou administradores. Se os sócios, associados ou

administradores usam em proveito próprio ou desviam bens da sociedade,

também podem os credores da sociedade buscar os bens dos sócios ou

administradores, conforme o caso, para a satisfação dos seus créditos.

Portanto, agora também com respaldo no Código Civil, pode o Juiz de

Direito decidir, a requerimento da parte ou do MP, quando lhe couber intervir

no processo, que os efeitos de determinadas obrigações sejam estendidas aos

bens particulares dos administradores, associados ou sócios da pessoa

jurídica, no caso de abuso da personalidade ou confusão patrimonial.

Page 22: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · desconsideração e não de anulação ou negação da personalidade jurídica para certos efeitos. Decorre dessa afirmação que

22

2.2 - Posição da Jurisprudência Acerca da Teoria da

Desconsideração da Personalidade Jurídica

Aplicar a desconsideração da pessoa jurídica não é uma tarefa fácil, é

preciso antes de tudo, verificar a existências dos pressupostos basilares para

que ocorre perante o magistrado a aplicação da teoria.

Esse cuidado é devido ao aumento de processos contra empresas que

se escondem atrás da pessoa jurídica para burlar a lei, e fraudar contra os

credores de boa fé. Assim, vejamos algumas jurisprudência acerca do tema:

DESCONSIDERAÇÃO DA PESSOA JURÍDICA –

INADMISSIBILIDADE. A alegação de infração contratual

pela só transposição de sócios não comporta a aplicação

da teoria da desconsideração da pessoa jurídica, que só

deve ser invocada em hipóteses excepcionais, sob pena

de negar-se vigência ao princípio básico da teoria da

personalidade jurídica, segundo o qual a pessoa jurídica

tem existência distinta de seus membros. Ap. c/ Rev.

224.624 - 5ª Câm. - Rel. Juiz RICARDO BRANCATO - J.

3.11.88.36 COMERCIAL. PROCESSO CIVIL.

EMBARGOS DE TERCEIROS. PERSONALIDADE

JURÍDICA. SÓCIO COMUM. RESPONSABILIDADE

FISCAL. INEXISTÊNCIA. - A SEMELHANÇA (QUASE

IDENTIDADE) DE DENOMINAÇÃO E A PRESENÇA DE

UM SÓCIO COMUM NÃO SÃO ELEMENTOS

SUFICIENTES PARA A CONCLUSÃO DE QUE DUAS

PESSOAS JURÍDICAS, COM SÓCIOS DIVERSOS,

ENDEREÇOS E CGC DIFERENTES, SEJAM UMA SÓ E

MESMA PESSOA. - IMPOSSIBILIDADE DA APLICAÇÃO

DA TEORIA DA DESCONSIDERAÇÃO DA

PERSONALIDADE JURÍDICA, POSTO QUE O

Page 23: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · desconsideração e não de anulação ou negação da personalidade jurídica para certos efeitos. Decorre dessa afirmação que

23

EXEQUENTE AQUI PRETENDE RESPONSABILIZAR

NÃO OS SÓCIOS DO DEVEDOR, MAS OUTRA

PESSOA JURÍDICA. - APELAÇÃO PROVIDA.

EMBARGOS DE TERCEIRO ACATADOS. TRF5 -

Apelação Civel: AC 151534 RN 98.05.49374-1. Relator:

Desembargador Federal Paulo Roberto de Oliveira Lima

(Substituto). Julgamento: 17/05/1999. Órgão Julgador:

Segunda Turma. Publicação: DJ DATA-13/08/1999

PAGINA-566.

AGRAVO DE INSTRUMENTO. RECURSO DE REVISTA.

EXECUÇÃO. NEGATIVA DE PRESTAÇÃO

JURISDICIONAL. LEGITIMIDADE ATIVA.

INOCORRÊNCIA DE SOCIEDADE ENTRE O TERCEIRO

EMBARGANTE E A EXECUTADA. ANTERIORIDADE DA

PENHORA. IMPOSSIBILIDADE DE APLICAÇÃO DA

TEORIA DA DESCONSIDERAÇÃO DA

PERSONALIDADE JURÍDICA. NULIDADE DA

PENHORA. 1) Não se há falar em negativa de prestação

jurisdicional quando, da detida análise dos autos, verifica-

se que todas as matérias submetidas ao crivo desta

Justiça Especial foram devidamente analisadas,

ocorrendo apenas e tão-somente decisão contrária ao

interesse perseguido pela parte, não se configurando,

portanto, qualquer omissão do julgado. 2) Não se manda

processar recurso de revista em fase de execução

quando não demonstrada ofensa direta à literalidade de

dispositivo constitucionais (art. 896, § 2º, da CLTe

Enunciado 266/TST). Agravo a que se nega provimento.

TST - AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RECURSO DE

REVISTA: AIRR 4384 4384/2002-900-03-00.7. Relator:

Page 24: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · desconsideração e não de anulação ou negação da personalidade jurídica para certos efeitos. Decorre dessa afirmação que

24

João Ghisleni Filho. Julgamento: 02/10/2002. Órgão

Julgador:5ª Turma, Publicação: DJ 18/10/2002.

EXECUÇÃO - PENHORA - SOCIEDADE - BENS

PESSOAIS DOS SÓCIOS -DESCONSIDERAÇÃO DA

PESSOA JURÍDICA NÃO JUSTIFICADA -

INADMISSIBILIDADE. A desconsideração da pessoa

jurídica pode ser excepcionalmente decretada,

contrariando a parêmia "universitas distat singulis", mas

para tanto, quando se tratar de sociedade limitada, prova

inequívoca deve haver de que os sócios não

integralizaram suas cotas sociais ou maliciosamente

praticaram atos ilegais e ruinosos na sua administração,

transferindo para seu patrimônio pessoal bens ou valores

da sociedade." (Segundo Tribunal de Alçada Civil de São

Paulo, Ap. c/ Re 18 548.474-00/0 - 4ª Câm. - Rel. Juiz

AMARAL VIEIRA - J. 29.6.99 Referências: Ap. s/ Rev.

494.427 - 1ª Câm. - Rel. Juiz SOUZA ARANHA RTJ

85/945, 82/936, 83/893, 101/1263, 112/812 ALEXANDRE

DE PAULA - "Código de Processo Civil Anotado", RT, vol.

III, 6ª ed., pág. 2.495. ANOTAÇÕES No mesmo sentido:

JTA (RT) 108/456 (em.) EI 246.230 - 7ª Câm. - Rel. Juiz

GILDO DOS SANTOS - J. 6.2.91 Ap. c/ Rev. 288.136 - 6ª

Câm. - Rel. Juiz LUIZ HENRIQUE - J. 9.4.91 E. Dcl.

335.204 - 4ª Câm.).

AGRAVO DE INSTRUMENTO ¿ APLICAÇÃO DA

TEORIA DA DESCONSIDERAÇÃO DA

PERSONALIDADE JURÍDICA ¿ EMPRESA

INTEGRANTE DE CONGLOMERADO FAMILIAR EM

QUE A REPRESENTAÇÃO E O PATRIMÔNIO SE

Page 25: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · desconsideração e não de anulação ou negação da personalidade jurídica para certos efeitos. Decorre dessa afirmação que

25

CONFUNDEM ¿ ATIVIDADES EMPRESARIAIS

INTERLIGADAS ¿ IRREGULARIDADE ¿

ESGOTAMENTO DAS DILIGÊNCIAS PARA

LOCALIZAÇÃO DE BENS PASSÍVEIS DE PENHORA ¿

CARACTERIZAÇÃO DE CONFUSÃO PATRIMONIAL ¿

APLICAÇÃO DA TEORIA MAIOR ¿ INTELIGÊNCIA DO

ART. 50, CC/2002. A desconsideração da personalidade

jurídica só é admissível em situações excepcionais, como

na hipótese, em que a existência de indícios do desvio de

finalidade da empresa, associada à insuficiência de saldo

em conta corrente e à confusão patrimonial entre a

sociedade ou os sócios da executada, autoriza o

redirecionamento da execução para os sócios. A

incidência da regra da desconsideração não acarreta a

dissolução da pessoa jurídica, constituindo-se apenas em

medida de efeito provisório, destinado a determinado

caso concreto, no qual os sócios incluídos no pólo

passivo da demanda executiva dispõem de meios

processuais de impugnação. Recurso manifestamente

procedente (DES. EDSON VASCONCELOS -

Julgamento: 05/08/2014 - DECIMA SETIMA CAMARA

CIVEL, 0021161-76.2014.8.19.0000 - AGRAVO DE

INSTRUMENTO).

AGRAVO DE INSTRUMENTO. PEDIDO DE

DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA.

IMPOSSIBILIDADE. APLICAÇÃO DA TEORIA MAIOR. A

teoria da desconsideração da pessoa jurídica, quanto aos

pressupostos de incidência, subdivide-se em duas

Page 26: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · desconsideração e não de anulação ou negação da personalidade jurídica para certos efeitos. Decorre dessa afirmação que

26

categorias: teoria maior e teoria menor da

desconsideração. A teoria maior não pode ser aplicada

com a mera demonstração de estar a pessoa jurídica

insolvente. Exige-se, aqui, para além da prova de

insolvência, ou a demonstração de desvio de finalidade,

ou a demonstração de confusão patrimonial. In casu,

pedido de desconsideração da personalidade deve

obedecer à teoria maior, respaldando-se no abuso de

personalidade jurídica e confusão patrimonial.

Compulsando os elementos de prova trazidos aos autos,

caracteriza-se perfeitamente o abuso de personalidade

jurídica. Com efeito, a sociedade executada, apesar de

possuir como objeto social a exploração de

estacionamentos, sequer possui uma conta bancária (fls.

72), sendo certo, portanto, que as receitas obtidas pela

sociedade são apropriadas diretamente pelo sócio, a

demonstrar a confusão patrimonial. Além disso, em

cumprimento a mandado de verificação (fls. 85/88), o

oficial de justiça consignou que a sociedade executada

não explora qualquer atividade empresarial no endereço

de sua sede, que é o imóvel objeto do contrato de aluguel

que gerou a dívida. Na verdade, no endereço de sua sede

funcionam apenas outros três estabelecimentos

empresariais: Banco BMG, Só A Rigor e Meyer Park.

Quanto à sociedade Meyer Park, importante destacar que

se trata uma sociedade formada pelo filho do sócio da

sociedade executada (Sérgio Cláudio de Castro Junior) e

um segundo sócio (Wilton Alves). Curiosamente, a

sociedade Meyer Park possui o mesmo objeto social da

sociedade executada, exploração de estacionamentos, e

celebrou com esta contrato cujo objeto é a "Prestação de

Serviços de Administração e Operações do

Page 27: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · desconsideração e não de anulação ou negação da personalidade jurídica para certos efeitos. Decorre dessa afirmação que

27

Estacionamento estabelecido na Rua Dias da Cruz no.

298/302 e Travessa Valdir Augusto no. 156". Some-se a

isso o fato de que os recibos de estacionamento apontam

a sociedade Meyer Park Ltda. como a exploradora do

estacionamento situado no endereço do imóvel objeto do

contrato de aluguel (fls. 75), que funciona ainda como

sede da sociedade Meyer Park (fls. 65). Dessa forma,

plenamente caracterizada a existência de abuso da

personalidade jurídica, uma vez que não possuindo bens

ou conta bancária a sociedade SWS Imóveis e

Empreendimentos Ltda. funciona como escudo para o

cumprimento forçado das obrigações resultantes da

exploração de sua atividade empresarial, que, na prática,

é exercida pela sociedade Meyer Park. Com tal

engenharia societária, a sociedade Meyer Park aufere a

renda dos estacionamentos sem ter qualquer obrigação

perante o dono do imóvel enquanto a sociedade SWS

contrai todas as obrigações sem no entanto possuir

qualquer ativo ou receita. Assim, não como se negar a

existência de profundo abuso da personalidade jurídica,

não merecendo qualquer reparo a decisão recorrida.

Recurso a que se nega seguimento (0031952-

07.2014.8.19.0000 - AGRAVO DE INSTRUMENTO, DES.

RENATA COTTA - Julgamento: 28/07/2014 - TERCEIRA

CAMARA CIVEL).

APELAÇÃO CÍVEL. DIREITO DO CONSUMIDOR. AÇÃO

DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. CONTRATO

DE PROMESSA DE COMPRA E VENDA DE IMÓVEL EM

CONSTRUÇÃO. ATRASO NA ENTREGA.

Page 28: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · desconsideração e não de anulação ou negação da personalidade jurídica para certos efeitos. Decorre dessa afirmação que

28

PROCEDÊNCIA. RESPONSABILIDADE OBJETIVA

FUNDAMENTADA NA TEORIA DO RISCO DO

EMPREENDIMENTO, DEVENDO O EMPREENDOR

SUPORTAR OS RISCOS DE SUA ATIVIDADE, TAL

COMO DELA AUFERE OS LUCROS. INTELIGÊNCIA DO

ART. 14 DO CDC. PRELIMINAR DE EXISTÊNCIA DE

CONVENÇÃO DE ARBITRAGEM. CUIDANDO-SE DE

CONTRATO DE ADESÃO, A 1ª APELANTE NADA

CONVENCIONOU, APENAS ADERINDO AOS TERMOS

DO CONTRATO, ACEITANDO AS CONDIÇÕES

IMPOSTAS PELA 2ª APELANTE, SOB PENA DO

NEGÓCIO NÃO SER CONCLUÍDO. NULIDADE DA

CLÁUSULA DE COMPROMISSO ARBITRAL

COMPULSÓRIA, ENTENDIDA ESTA COMO AQUELA

QUE OBRIGA O CONSUMIDOR A UTILIZAR O JUÍZO

ARBITRAL PARA A SOLUÇÃO DE CONTROVÉRSIA EM

DETRIMENTO DA UTILIZAÇÃO DA VIA JUDICIAL.

APLICAÇÃO DO ART. 51, INCISO VII DO CDC.

QUALQUER INTERPRETAÇÃO CONTRÁRIA

TORNARIA INÓCUA A DISPOSIÇÃO ALI CONTIDA QUE

VISA RESGUARDAR A PARTE ECONOMICAMENTE

MAIS FRACA NA RELAÇÃO DE CONSUMO, COMO

BEM AFIRMADO PELO JUÍZO A QUO. ILEGITIMIDADE

PASSIVA DA 2ª RÉ. PRETESÃO DA

DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA

DA 2ª APELANTE, SEM QUE TIVESSE HAVIDO, ATÉ

AQUELA DATA, QUALQUER JUSTIFICATIVA, O QUE

DEVE SER PROMOVIDO, ENTRETANTO, NA FASE DE

EXECUÇÃO DA SENTENÇA, SE FOR O CASO.

INCONTROVERSA A FALHA DO SERVIÇO, TENDO A

2ª APELANTE CONFESSADO O ATRASO OCORRIDO

QUANTO À ENTREGA DO IMÓVEL, O QUE SOMENTE

Page 29: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · desconsideração e não de anulação ou negação da personalidade jurídica para certos efeitos. Decorre dessa afirmação que

29

OCORREU EM 5.9.12, COM MAIS DE DOIS ANOS DE

ATRASO. NÃO COMPROVAÇÃO DE QUALQUER

HIPÓTESE DE CASO FORTUITO OU FORÇA MAIOR,

NÃO O CONFIGURANDO A FALTA DE MÃO-DE-OBRA

OU CHUVAS ABUNDANTES, POR SE TRATAR DE

FATO PREVISÍVEL E POR SER RISCO DA ATIVIDADE

ECONÔMICA DESENVOLVIDA PELA 2ª APELANTE,

NÃO OPONÍVEL À 1ª APELANTE, RAZÃO DA JÁ

MENCIONADA TEORIA DO RISCO DO

EMPREENDIMENTO. LUCROS CESSANTES

PREVISÍVEIS, NÃO DEPENDENDO, ASSIM, DE

QUALQUER PROVA, DIANTE DO DIREITO DO

PROPRIETÁRIO DE USAR, GOZAR E FRUIR DO BEM

COMO LHE APROUVER, O QUE NÃO PODE FAZER A

1ª APELANTE EM VIRTUDE DO ATRASO NA ENTREGA

DO IMÓVEL ALÉM DO PRAZO CONVENCIONADO.

PRECEDENTES DO STJ. EM RAZÃO DO ATRASO NA

ENTREGA DO IMÓVEL, A 1ª APELANTE EFETUOU O

PAGAMENTO DO SALDO DEVEDOR COM

ATUALIZAÇÃO MONETÁRIA, JUROS E MULTA.

PAGAMENTO EFETUADO NO MOMENTO DEVIDO,

QUANDO DO RECEBIMENTO DAS CHAVES DO

IMÓVEL. NÃO PODEM INCIDIR ENCARGOS DE MORA,

OU SEJA, JUROS DE MORA E MULTA. CORREÇÃO

MONETÁRIA, POR SE TRATAR DE MERA

ATUALIZAÇÃO DO PODER DE COMPRA DA MOEDA, É

DEVIDA. DA MESMA FORMA QUE OS JUROS

REMUNERATÓRIOS, ATÉ PORQUE O CONSUMIDOR

ESTÁ SENDO INDENIZADO PELAS PERDAS

SOFRIDAS PELO ATRASO. NÃO PODEM SER

APLICADOS OS ÍNDICES DO CONTRATO, ÍNDICE DE

VARIAÇÃO DE CUSTO DA CONSTRUÇÃO CIVIL, UMA

Page 30: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · desconsideração e não de anulação ou negação da personalidade jurídica para certos efeitos. Decorre dessa afirmação que

30

VEZ QUE O CONSUMIDOR NÃO TEM COMO SE

PROTEGER CONTRA A EVOLUÇÃO DESTE ÍNDICE

PORQUE NÃO HÁ APLICAÇÃO NO MERCADO

FINANCEIRO QUE GARANTA RETORNO NESTE

NÍVEL. ATUALIZAÇÃO DO SALDO DEVEDOR APÓS O

PRAZO EM QUE DEVERIA TER SIDO ENTREGUE O

IMÓVEL DEVE SE DAR PELO ÍNDICE DE

REMUNERAÇÃO DA CADERNETA DE POUPANÇA. 1ª

APELANTE DEVE SER REEMBOLSADA PELA

DIFERENÇA ENTRE O VALOR PAGO NA DATA DA

EFETIVA QUITAÇÃO, E O VALOR QUE SERIA DEVIDO

CORRIGIDO PELOS ÍNDICES DA CADERNETA DE

POUPANÇA A PARTIR DO VENCIMENTO (1.11.09),

BEM COMO DAS PARCELAS REFERENTES À MULTA

E JUROS DE MORA. DANOS MORAIS COFIGURADOS,

DIANTE DA FALHA NA PRESTAÇÃO DO SERVIÇO E

EM RAZÃO DO ABORRECIMENTO E

CONSTRANGIMENTO CAUSADOS, O QUE DISPENSA

COMPROVAÇÃO, POR SER IN RE IPSA,

DECORRENTE DO PRÓPRIO FATO, DISPENSANDO

COMPROVAÇÃO, CONFORME REITERADA

JURISPRUDÊNCIA DE NOSSOS TRIBUNAIS.

PRECEDENTES DESTA CORTE. O VALOR FIXADO DE

R$ 8.000,00 É SUFICIENTE, ATENDENDO AOS

CRITÉRIOS DA RAZOABILIDADE E DA

PROPORCIONALIDADE, CONSIDERANDO O GRAU DA

LESÃO E A CAPACIDADE ECONÔMICA E FINANCEIRA

DAS PARTES, DE MODO QUE NÃO CAUSE

ENRIQUECIMENTO EXORBITANTE PARA QUEM

RECEBE NEM SEJA INSIGNIFICANTE PARA QUEM

PAGA. DADO PARCIAL PROVIMENTO AO RECURSO

DA 1ª APELANTE, PARA O FIM DE CONDENAR A 2ª

Page 31: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · desconsideração e não de anulação ou negação da personalidade jurídica para certos efeitos. Decorre dessa afirmação que

31

APELANTE AO PAGAMENTO DA DIFERENÇA ENTRE

O VALOR PAGO NA DATA DA EFETIVA QUITAÇÃO, E

O VALOR QUE SERIA DEVIDO CORRIGIDO PELOS

ÍNDICES DA CADERNETA DE POUPANÇA A PARTIR

DO VENCIMENTO (1.11.09), BEM COMO DAS

PARCELAS REFERENTES À MULTA E JUROS DE

MORA, A SER APURADO EM LIQUIDAÇÃO, E NEGADO

PROVIMENTO AO RECURSO DA 2ª APELANTE

(0000244-25.2013.8.19.0209 – APELACAO, JDS. DES.

MARCIA CUNHA DE CARVALHO - Julgamento:

24/07/2014 - VIGESIMA SEXTA CAMARA CIVEL

CONSUMIDOR).

Page 32: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · desconsideração e não de anulação ou negação da personalidade jurídica para certos efeitos. Decorre dessa afirmação que

32

CAPÍTULO III

INEXISTÊNCIA DE PATRIMÔNIO DA

SOCIEDADE EMPRESÁRIA

A distinção entre a pessoa jurídica e os seus sócios tem por escopo

basilar resguardar os bens pessoais de empresários e sócios em caso de

eventual insucesso do empreendimento. Contudo, muitas vezes, há o abuso

desta proteção legal no intuito de não cumprir obrigações e lesar credores.

Em resposta a este abuso da utilização da pessoa jurídica surgiu o

instituto da desconsideração da pessoa jurídica através do qual há o

afastamento da separação existente entre o patrimônio da pessoa jurídica e o

patrimônio particular dos sócios para efeito de determinar obrigações.

Assim, preenchidos os seus requisitos a desconsideração da pessoa

jurídica faz com que se chegue ao patrimônio dos sócios, os quais não

poderão se utilizar da figura da pessoa jurídica para eximir-se do pagamento

de obrigações.

Nesse passo, para ocorrência da desconsideração da personalidade

jurídica, existem na doutrina duas correntes: a teoria maior, também

denominada de subjetiva e a teoria menor, ou, teoria objetiva.

A teoria maior encontra-se expressa no artigo 50 do Código Civil o qual

dispõe que, para que a personalidade jurídica seja desconsiderada, é

necessário o preenchimento dos seguintes requisitos: prova do

descumprimento da obrigação ou comprovação da insolvência; e existência de

Page 33: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · desconsideração e não de anulação ou negação da personalidade jurídica para certos efeitos. Decorre dessa afirmação que

33

fraude ou abuso de direito, quer seja, para a teoria maior é necessária a

comprovação do agir do sócio no intuito de prejudicar terceiros.

Ainda, ao adotar-se a teoria maior entende-se que o sócio minoritário,

sem poderes de gestão exime-se de responsabilização, uma vez que não deu

causa, assim como não se beneficiou do uso indevido da pessoa jurídica.

Já para a teoria menor a desconsideração da pessoa jurídica dá-se

desde que comprovada à insolvência ou o descumprimento de uma obrigação.

Sua utilização baseia-se no disposto no artigo 28 do CDC e no artigo 4º da Lei

nº 9.605/1998.

No âmbito do direito do trabalho, em especial na execução trabalhista

adota-se a teoria menor, ou objetiva, da desconsideração da pessoa jurídica

em virtude do princípio da proteção ao trabalhador e da natureza alimentícia do

crédito advindo do título judicial trabalhista.

Assim, na seara trabalhista não é necessária a comprovação de fraude

ou abuso de poder para que os bens dos sócios venham a responder pelas

dívidas da empresa, bastando simplesmente que transitada em julgado à

sentença trabalhista não possa a mesma ser cumprida em razão da

inexistência de bens em nome da empresa aptos a responder pela dívida.

Outrossim, tratando-se de aplicação da teoria menor não há que se falar

em sócio majoritário/minoritário, assim como administrador ou não

administrador, respondendo todos os sócios de forma igualitária pela totalidade

da dívida independentemente da sua posição no âmbito da sociedade.

Page 34: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · desconsideração e não de anulação ou negação da personalidade jurídica para certos efeitos. Decorre dessa afirmação que

34

Importante inferir, ainda, que a retirada ou exclusão do sócio não o

exime do pagamento de eventuais dívidas trabalhistas decorrentes diretas ou

indiretamente do período em que integrou os quadros societários da empresa

executada, na medida em que também se beneficiou da força de trabalho dos

empregados contratados naquele período.

Assim, perante a Justiça do Trabalho, não socorre o ex-sócio o disposto

no artigo 1032 do Código Civil, o qual limita a sua responsabilidade há dois

anos após a sua retirada da sociedade. Contudo, resta a mesma limitada ao

interregno em que integrou a sociedade e desde que o crédito executado

corresponda a tal época.

Page 35: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · desconsideração e não de anulação ou negação da personalidade jurídica para certos efeitos. Decorre dessa afirmação que

35

CAPÍTULO IV

DA DISSOLUÇÃO DA PESSOA JURÍDICA

A personificação da pessoa jurídica termina, de modo geral, com o

cancelamento da sua inscrição no registro próprio (Registro Civil das Pessoas

Jurídicas ou Junta Comercial), que ocorrerá somente após a sua liquidação.

É imperioso salientar que a liquidação, prevista no capítulo IX do Código

Civil, visa a solução das pendências obrigacionais contraídas pelos sócios em

nome da sociedade, e definir a destinação dada ao o patrimônio

remanescente, ou seja, a realização do ativo e a satisfação do passivo da

pessoa jurídica.

Sobre o tema, cabe destacar o disposto nos artigos 1.107, 1.108 e 1.109

do Código Civil, in verbis:

Art. 1.107. Os sócios podem resolver, por maioria de

votos, antes de ultimada a liquidação, mas depois de

pagos os credores, que o liquidante faça rateios por

antecipação da partilha, à medida em que se apurem os

haveres sociais.

Art. 1.108. Pago o passivo e partilhado o remanescente,

convocará o liquidante assembleia dos sócios para a

prestação final de contas.

Art. 1.109. Aprovadas as contas, encerra-se a liquidação,

e a sociedade se extingue, ao ser averbada no registro

próprio a ata da assembleia.

Page 36: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · desconsideração e não de anulação ou negação da personalidade jurídica para certos efeitos. Decorre dessa afirmação que

36

Com efeito, pelo exposto, verificamos que a lei, na mesma medida que

exige formalidades para a constituição regular da sociedade, exige o

cumprimento de requisitos, como os acima elencados, para a sua dissolução

regular.

Como visto, todas as obrigações da sociedade devem ser cumpridas

antes da sua extinção, sendo certo que a não observância desta norma,

caracterizará a dissolução como irregular, como bem asseverado pelo Ilmo.

Desembargador Antônio Felipe da Silva Neves:

“... a não localização da empresa, ou sua extinção

irregular, sem antes cumprir cabalmente todas as suas

obrigações, é atentatório à dignidade da Justiça, devendo

serem tomadas todas as providências para a obtenção de

seus bens, sob pena de, com a ocultação dos mesmos,

se abrir oportunidade à fraude, de legítimos créditos, que

a executada e seus sócios objetivam frustrar”.

Tal conclusão não é gratuita, mas decorre do fato da realização do ativo

e a liquidação do passivo serem os únicos instrumentos que permitem que a

sociedade transforme seu patrimônio em dinheiro, quitando os compromissos

assumidos e realizando o devido rateio proporcional dos valores restantes

entre os sócios.

Por outro lado, diante do encerramento irregular da sociedade, inegável

que os sócios se utilizaram da autonomia inerente à pessoa jurídica, para a

realização do rateio patrimonial sem a observância das normas necessárias à

dissolução regular da sociedade.

Em outras palavras, apenas o estrito cumprimento das etapas

necessárias à liquidação da sociedade é capaz de afastar a presunção de

fraude cometida pelos administradores da sociedade, na medida em que, com

Page 37: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · desconsideração e não de anulação ou negação da personalidade jurídica para certos efeitos. Decorre dessa afirmação que

37

o encerramento de suas atividades, realizaram entre si o rateio do patrimônio

restante de maneira a não cumprir às obrigações assumidas pela sociedade já

que, com o seu fim, suas dívidas não poderiam ser cobradas diretamente das

pessoas físicas.

Neste caso, se percebe claramente que os sócios e/ou administradores

da sociedade agiram com abuso da personalidade jurídica, tomando para si,

irregularmente os bens que cabiam à sociedade.

Caracterizado tal fato, além de comprovar a fraude perpetuada com a

dissolução irregular, implica em confusão patrimonial, e, nesse sentido, aplica-

se o disposto no artigo 50 do Código Civil.

Não se fala aqui apenas em desvio de finalidade strictu sensu constante

no estatuto social, mas refere-se também àquela finalidade social da pessoa

jurídica prevista na Constituição Federal. Em seqüência a este elenco, cumpre

trazer a manifestação abalizada do mestre Sérgio Campinho², em textual:

Os sócios cotistas, reafirme-se, têm suas

responsabilidades limitadas à importância total do capital

social (...). Entretanto, essa prerrogativa de limitação da

responsabilidade não se traduz na irresponsabilidade

desses sócios, que devem sempre moldar suas condutas

dentro da legalidade, abstendo-se de realizar atos

violadores da lei ou do próprio contrato social, além de

absterem-se de fazer uso fraudulento ou abusivo da

pessoa jurídica.

Assim não procedendo, passarão a responder pessoal e ilimitadamente

pelas dívidas sociais, decorrentes do ato ilícito para cuja prática concorreram,

Page 38: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · desconsideração e não de anulação ou negação da personalidade jurídica para certos efeitos. Decorre dessa afirmação que

38

ou resultantes do abuso da personalidade jurídica da sociedade, o que, neste

último caso, autorizaria sua desconsideração.

Além disso, a Teoria da Desconsideração Jurídica, para Fabio Ulhôa

Coelho³, tem por objetivo não só coibir a fraude e o abuso de direito, busca

também garantir o direito de receber do credor nos casos em que no

comportamento do devedor se manifesta o intuito deliberado e consciente de

prejudicar seus credores, diminuindo maliciosamente seu patrimônio.

Se assim não fosse, teríamos que a má administração da empresa por

parte de seus sócios jamais seria punida, pois com o encerramento da mesma,

todas as suas dívidas estariam terminadas. Quer dizer, em dadas

circunstâncias, é inaceitável que se prestigie a autonomia da pessoa jurídica

sob pena de perpetuar o ilícito cometido por seus sócios e não obter a

satisfação dos direitos do credor.

Ora, é evidente que se assim for, sendo respeitada a autonomia da

sociedade, não será possível a satisfação do crédito do credor uma vez que

aquela não possui bens suficientes para tal, na realidade, no mundo real,

deixou de existir.

Assim, resta clara a necessidade da desconsideração jurídica da pessoa

jurídica que encerrou ilicitamente as suas atividades, caracterizando atos de

fraude e desvio de finalidade.

Convém notar a jurisprudência do Ministro Luis Felipe Salomão,

processo nº AgRg no AREsp 478914 / MG

Agravo Regimental No Agravo Em Recurso Especial

2014/0037948-1 que segue abaixo transcrito:

Page 39: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · desconsideração e não de anulação ou negação da personalidade jurídica para certos efeitos. Decorre dessa afirmação que

39

“AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO

ESPECIAL. EXECUÇÃO. DESCONSIDERAÇÃO DA

PERSONALIDADE JURÍDICA. DISSOLUÇÃO

IRREGULAR. CONFORMIDADE DO ACÓRDÃO

RECORRIDO COM PRECEDENTES DO STJ. 1. "A mera

demonstração de insolvência da pessoa jurídica ou de

dissolução irregular da empresa sem a devida baixa na

junta comercial, por si sós, não ensejam a

desconsideração da personalidade jurídica" (AgRg no

REsp 1173067/RS, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI,

TERCEIRA TURMA, julgado em 12/06/2012, DJe

19/06/2012). 2. Ademais, a convicção formada pelo

Tribunal de origem acerca da ausência dos requisitos

necessários para ensejar desconsideração da

personalidade jurídica da empresa recorrida decorreu dos

elementos existentes nos autos, de forma que rever a

decisão recorrida, nesse aspecto, importaria

necessariamente no reexame de provas, o que é vedado

em sede de recurso especial, nos termos do enunciado

da Súmula 7 do STJ. 3. Agravo regimental a que se nega

provimento”.

Além disso, é imperioso ressaltar que a dissolução irregular acarreta em

confusão patrimonial, já que todos os ativos da sociedade dissolvida foram

assumidos pelos sócios, situação que, ao lado do desvio de finalidade, permite

ao Juiz que, a requerimento da parte interessada, desconsidere a

personalidade jurídica da sociedade.

Ora, a confusão patrimonial ocorre, normalmente, quando há a mistura

entre patrimônios de duas ou mais pessoas, sem a possibilidade de clara

distinção. É o caso, por exemplo, dos sócios que pagam contas pessoais com

Page 40: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · desconsideração e não de anulação ou negação da personalidade jurídica para certos efeitos. Decorre dessa afirmação que

40

recursos que seriam destinados à própria empresa, ou transferem os bens da

esfera societária para a esfera pessoal, o que ocorre com a dissolução

irregular.

Ressalte-se, por oportuno, que tal hipótese decorre da simples lógica

segundo a qual, se operou a desconsideração para ganho patrimonial dos

sócios, não havendo razão em não admiti-la para o cumprimento das

obrigações assumidas pela sociedade.

Page 41: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · desconsideração e não de anulação ou negação da personalidade jurídica para certos efeitos. Decorre dessa afirmação que

41

CONCLUSÃO

Em suma, a aplicação da teoria da desconsideração não importa a

dissolução ou anulação da sociedade. Apenas no caso específico, em que a

autonomia patrimonial foi fraudulentamente utilizada, ela não é levada em

conta, é desconsiderada, o que significa a suspensão episódica da eficácia do

ato de constituição da sociedade, e não o desfazimento ou a invalidação desse

ato. Preserva-se, em decorrência, a autonomia patrimonial da sociedade

empresária para todos os demais efeitos de direito.

Desta forma, é fundamental a diferença entre a teoria da

desconsideração e os demais instrumentos desenvolvidos pelo direito para a

coibição de fraudes viabilizadas através de pessoas jurídicas. Antes da

elaboração, sistematização e difusão da teoria, a repressão às irregularidades

e abusos de forma significativa, via de regra, a dissolução da pessoa jurídica.

Isso, no caso de sociedades empresárias, importa o sacrifício da atividade

econômica por elas explorada, o fim de postos de emprego, da geração de

riquezas e tributos. A partir da teoria da desconsideração, podem-se reprimir

as fraudes e os atos abusivos sem prejudicar interesses de trabalhadores,

consumidores, fisco e outros que gravitam em torno da continuidade da

empresa.

Portanto, a aplicação da teoria da desconsideração da personalidade

jurídica independe de previsão legal. Em qualquer hipótese, mesmo naquelas

não abrangidas pelos dispositivos das leis que se reportam ao tema (Código

Civil, Lei do Meio Ambiente, Lei Antitruste ou Código de Defesa do

Consumidor), está autorizado a ignorar a autonomia patrimonial da pessoa

jurídica sempre que ela for fraudulentamente manipulada para frustrar

interesse legítimo de credor. Por outro lado, nas situações abrangidas pelo art.

50 do Código Civil e pelos dispositivos que fazem referência à

Page 42: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · desconsideração e não de anulação ou negação da personalidade jurídica para certos efeitos. Decorre dessa afirmação que

42

desconsideração, não pode o juiz afastar-se da formulação doutrinária da

teoria, isto é, não pode desprezar o instituto da pessoa jurídica apenas em

função do desatendimento de um ou mais credores sociais. A melhor

interpretação judicial dos artigos de lei sobre a desconsideração (arts. 28 do

CDC, 18 da Lei Antitruste, 4º da Lei do Meio Ambiente e 50 do CC) é a que

prestigia a contribuição doutrinária, respeita o instituto da pessoa jurídica,

reconhece a sua importância para o desenvolvimento das atividades

econômicas e apenas admite a superação do princípio da autonomia

patrimonial quando necessário à repressão de fraudes e à coibição do mau

uso da forma da pessoa jurídica.

Page 43: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · desconsideração e não de anulação ou negação da personalidade jurídica para certos efeitos. Decorre dessa afirmação que

43

BLIOGRAFIA CONSULTADA

CAMPINHO, Sérgio. O Direito de Empresa à Luz do Novo Código Civil. Editora Renovar, 2ª Edição, p 188/189. COELHO, Fabio Ulhôa. Direito antitruste brasileiro: Comentários à Lei 8.884/94. São Paulo, Saraiva,1995, p.46. REQUIÃO, Rubens. Abuso de direito e fraude através da personalidade jurídica. Revista dos Tribunais, São Paulo, ano 2002, v. 803, p. 751-764, set. 2002. REQUIÃO, Rubens. Curso de Direito Comercial. São Paulo: Saraiva 1998, v. 1, p. 347.

Page 44: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · desconsideração e não de anulação ou negação da personalidade jurídica para certos efeitos. Decorre dessa afirmação que

44

ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO 2

AGRADECIMENTO 3

DEDICATÓRIA 4

RESUMO 5

METODOLOGIA 6

SUMÁRIO 7

INTRODUÇÃO 8

CAPÍTULO I 10

CAPÍTULO II 13

2.1- Conceito e Aspectos Relevantes 13

2.2 – Posição da Jurisprudência Acerca da Teoria 22

Da Personalidade Jurídica

CAPÍTULO III 32

CAPÍTULO IV 35

CONCLUSÃO 41

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 43

ÍNDICE 44

Page 45: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · desconsideração e não de anulação ou negação da personalidade jurídica para certos efeitos. Decorre dessa afirmação que

45

FOLHA DE AVALIAÇÃO

Nome da Instituição:

Título da Monografia:

Autor:

Data da entrega:

Avaliado por: Conceito: