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1 UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES AVM – FACULDADE INTEGRADA PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU BLOG DE VIAGEM: UMA PODEROSA FERRAMENTA NO MUNDO DO MARKETING Kamylle Alves Bruno ORIENTADOR: Prof. Jorge Vieira Rio de Janeiro 2016 DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL

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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

AVM – FACULDADE INTEGRADA

PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

BLOG DE VIAGEM: UMA PODEROSA FERRAMENTA NO

MUNDO DO MARKETING

Kamylle Alves Bruno

ORIENTADOR: Prof. Jorge Vieira

Rio de Janeiro 2016

DOCUMENTO PROTEGID

O PELA

LEI D

E DIR

EITO AUTORAL

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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

AVM – FACULDADE INTEGRADA

PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

Apresentação de monografia à AVM Faculdade Integrada como requisito parcial para obtenção do grau de especialista em Comunicação Social. Por: Kamylle Alves Bruno

BLOG DE VIAGEM: UMA PODEROSA FERRAMENTA NO

MUNDO DO MARKETING

Rio de Janeiro 2016

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AGRADECIMENTOS

A Deus e a minha família, grandes inspirações da minha vida; ao meu marido, por caminhar sempre em frente e ao meu lado; e aos meus amigos de trabalho, por dividirem comigo uma incrível, surpreendente e inesquecível jornada profissional e pessoal.

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DEDICATÓRIA

Dedico esse trabalho a todos que me inspiraram, de alguma forma, durante a minha trajetória profissional e me fizeram entender que todo esforço traz sempre uma recompensa.

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RESUMO

Este trabalho tem como objetivo analisar o universo de blogs de

viagem, ressaltando os elementos presentes no conteúdo das páginas, que são

capazes de transformar os diários virtuais em ferramentas eficazes para uso no

mundo do marketing. Por meio de correlações teóricas com as forças da Cauda

Longa propostas por Chris Anderson, será feita uma análise das estratégias de

conteúdo e divulgação dentro dos blogs de viagem, a fim de observar a relação

entre blogueiros e leitores, bem como essa interação pode influenciar na

decisão do consumidor final.

Em uma breve passagem pelo conceito de marketing turístico,

veremos de forma a antecipação dos desejos pode criar uma relação

sustentável de troca com o público-alvo. Além disso, o estudo propõe um olhar

sobre os conceitos de shopper e neuromarketing que norteiam o

comportamento dos novos consumidores, destacando como fatores subjetivos

e emocionais podem ser altamente eficientes e inovadores para o marketing

digital.

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METODOLOGIA

O presente trabalho se trata de uma investigação explicativa, de

acordo com as taxionomias de Vergara (2013), por buscar o esclarecimento de

fatores que reconhecem o blog de viagem como uma relevante ferramenta do

marketing. Para isso, a pesquisa teve como base uma bibliografia específica

sobre o tema e dois blogs brasileiros de viagem como objetos de estudo.

Os blogs analisados no trabalho serão: “Viaje na viagem” e “Viajo

logo existo”. A escolha se deu pela popularidade das páginas e pela

diversidade de informações convenientes e relevantes à pesquisa. O estudo

será realizado por meio do emparelhamento dos dados observados com as três

forças a teoria da Cauda Longa (ANDERSON, 2011): a democratização das

ferramentas de produção, a democratização da distribuição e a ligação entre

oferta e demanda.

Outro recurso metodológico utilizado foi a aplicação de um

questionário entre os visitantes de blogs de viagem para melhor compreensão

de como as técnicas inseridas entre o blog e seus autores podem ser vistas

pela ótica do conceito de neuromarketing.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 08

CAPÍTULO I

1.0 Diários virtuais: uma nova era da comunicação virtual 09

1.1 O universo dos blogs de viagem 11

1.2 Uma rede conectada aos quatro cantos do mundo 12

1.3 O papel do marketing de turismo 13

1.4 Conteúdo relevante como alma do negócio 17

CAPÍTULO II

2.0 As forças da Cauda Longa 19

2.1 Prosumidores: os novos consumidores 23

2.2 Na mira do Shopper Marketing 24

2.3 Os blogs pela ótica do Neuromarketing 25

CAPÍTULO III

3.0 Análises dos blogs de viagem 26

3.1 Viaje na viagem, por Ricardo Freire 28

3.2 Viajo logo existo, por Leonardo Spencer e Rachel Paganotto 31

CONCLUSÃO 36

BIBLIOGRAFIA 38

ANEXOS 39

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INTRODUÇÃO

As mídias sociais provocaram uma grande mudança no

comportamento do consumidor, de forma que este público já não demonstra

tanta passividade diante de campanhas de marketing. Segundo Kotler, com a

nova onda de tecnologia, os consumidores assumem o papel de prosumidores

(KOTLER, 2010, p.07), termo criado por Alvin Toffler que se refere àqueles

consumidores que também produzem conteúdo.

Hoje as redes sociais possibilitam uma comunicação mais fácil e

eficaz, além de abrir espaço para que os usuários possam expressar opiniões.

Esses relatos, positivos ou negativos, de produtos ou serviços, são

compartilhados e disponibilizados na rede, e podem influenciar ou não o

consumidor direto.

Este trabalho pretende analisar como os blogs de viagem podem ser

uma poderosa ferramenta de marketing por meio de estratégias de conteúdo e

interação com os leitores. Sabemos que o blog tem grande alcance de público-

alvo e de baixo custo. Desta forma, analisaremos como a força da influência de

alguns blogs de viagem pode ser eficiente para comercialização e ações

publicitárias.

A partir do momento que “blogueiro” assume papel de “autoridade no

assunto”, veremos como potenciais consumidores podem ser mais facilmente

influenciados e a interatividade pode se transformar em uma espécie de

relacionamento com o cliente. Essa aproximação de públicos transmite mais

confiança e o blog ganha ainda mais uma função e credibilidade no mundo do

marketing.

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CAPÍTULO I

1.0 BLOGS: UMA NOVA ERA DA COMUNICAÇÃO

VIRTUAL

Os blogs surgiram na última década do século XX, junto com as várias

novidades da rede como os chats (salas de bate-papo online. Ex.: ICQ, mIRC).

O termo weblog foi criado por Jorn Barger 1 há mais de 15 anos, no entanto, a

sua abreviação “blog” surgiu de uma brincadeira de Peter Merholz em seu blog

(Peterme.com), na qual ele fragmentou a palavra “weblog” e formou a frase

“We Blog” (“Nós blogamos”).

Os weblogs, inicialmente, eram usados para que os autores pudessem

descrever outras páginas, além de ser um espaço para expressar opiniões de

forma livre e criativa. Para Barger, um blog é um registro de todas as URLs que

o usuário quer guardar e compartilhar (VAZ, 2010, p. 444). As páginas

pessoais formavam algo como um “diário virtual”, como popularmente era

chamado.

Como os primeiros blogs eram programados por de códigos HTML,

ainda havia resistência daqueles que não tinham habilidade e conhecimento

em programação para aderir à novidade. Mas, foi com o lançamento do

Blogger que eles se popularizaram, pois ficou mais fácil produzir e publicar

conteúdo em um espaço na web, com uma interface muito mais interativa.

O Blogger é uma ferramenta gratuita de publicação de blogs e foi criada

pela empresa Pyra Labs, adquirida pelo Google. Em uma entrevista para a

Folha Online, em 2003, o ex-funcionário Matthew Haughey declarou: "As

1 Adaptado de: http://pt.wikipedia.org/wiki/Blog - último acesso em 14/03/2016

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pessoas vão começar a levá-lo a sério. Se estiver bem ligado ao Google, não

será necessário sequer explicar o que é um blog para as pessoas”.2

Vaz explica que os blogs não só permitiram que as pessoas tivessem

um espaço dentro da Internet, mas também possibilitaram a descentralização

da informação. Se antes, as opiniões e a disseminação de informação estavam

apenas nas mãos das mídias de massa, com os blogs qualquer pessoa passou

a produzir o seu próprio conteúdo sobre assuntos de seu interesse.

Por meio da opinião do usuário que se dá a grande revolução dos blogs

(VAZ, 2010, p. 446). De acordo com o autor, os blogs unem dois fatores

necessários na web: facilidade de criação e manutenção. Foi dessa forma que

as ferramentas gratuitas de publicação (Ex.: Blogger e Wordpress)

proporcionaram o aumento da interação entre os usuários.

Os blogs cresceram rapidamente e se disseminaram no Brasil, gerando

o uma “explosão” de “blogueiros”. Em 2003, havia uma média de três milhões

de blogs, quantidade que, em 2008, atingiu mais de 50 milhões. Segundo a

revista “Época Negócios”, em 2014, o Brasil já era o quarto país com o maior

número de autores dos mais variados blogs. Essas páginas passaram a

agregar informações, dicas de produtos e serviços, experiências reais,

positivas e negativas, que passaram a ser referência para quem está à procura

de uma informação específica.

Dessa forma, se o usuário procura informações sobre viagem ou

tecnologia, ou quer saber uma opinião mais pessoal sobre algum produto, ficou

mais fácil encontrar um blog que fale sobre o assunto de seu interesse. E a

opinião de terceiros vai além do relato do autor do blog, pois a área

disponibilizada para comentários dos visitantes possibilita uma conversa ainda

maior com outras pessoas que têm ou não outros julgamentos.

2 Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/folha/informatica/ult124u12288.shtml - último acesso em 20/03/2016

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É por esse grande alcance que as marcas começaram a investir em

relacionamento com blogueiros para despertar o interesse em seus produtos e

serviços. O marketing boca a boca vai se reinventando na web participativa e

gerando motivação entre os possíveis consumidores. Heckhausen (1967) diz

que:

Motivação é o empenho de aumentar ou manter tão alto quanto possível a capacidade de um indivíduo, a fim de que este possa alcançar excelência na execução das atividades das quais dependam o sucesso ou o fracasso da organização a que pertence. (HECKHAUSEN, 1967, p.32)

1.1 O universo dos blogs de viagem

Sabemos, pelo senso comum, que a dedicação a algo com o qual temos

mais afinidade, torna tudo muito mais inspirador e produtivo. Seguindo essa

lógica, os blogueiros têm apostado em uma infinidade de temáticas para o

conteúdo para seus blogs e, entre elas, está o tema objeto do nosso estudo: as

viagens e todo o universo relacionado ao turismo.

Conforme publicação do blog “Melhores Destinos”, que está no ar há

mais de sete anos, “está cada dia mais comum, pessoas apaixonadas por

viagens criarem blogs para registrar em detalhes as suas viagens. Estes blogs

são uma excelente fonte de informação para quem pretende visitar um local,

mas não tem referências ou quer pegar algumas dicas para aproveitar melhor

sua viagem”.3

A Associação Brasileira dos Blogs de Viagem (ABBV), criada em 2012,

define blog de viagem como os blogs que reúnem relatos pessoais de viagens

efetivamente feitas pelo autor ou por colaboradores do blog. “Não se

enquadram, portanto, blogs de notícias sobre o mercado de turismo ou

aviação, de promoções de passagens aéreas ou blogs cujo conteúdo seja uma

reedição de informações pesquisadas na internet ou tiradas de folhetos

turísticos”.

3 Disponível em: http://www.melhoresdestinos.com.br/20-melhores-blogs-sobre-viagens-turismo.html - último acesso em 21/03/2016

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Tendo por finalidade e objetivos principais promover a integração e

cooperação entre os associados e os interesses coletivos, a ABBV foi a

primeira associação de blogs de viagem da América Latina. O surgimento de

uma entidade de classe por si só é uma prova de que há uma articulação

definitiva entre os produtores de conteúdo desse segmento.

Outro fato que reforça a organização do segmento é que,

aproximadamente um ano antes da criação da ABBV, foi formada a Rede

Brasileira de Blogueiros de Viagem (RBBV): “uma comunidade composta por

mais de 650 blogueiros que publicam sobre diferentes temas diretamente

ligados a turismo e viagens”.

Inicialmente restrita, a RBBV lançou, em maio de 2012, um site aberto

ao público para aproximar leitores, mídia e entusiastas dos diversos temas

discutidos. Hoje o espaço online funciona também como um diretório de

blogueiros viajantes e posts publicados divididos por temas.4

Entre os objetivos estão: o compartilhamento de informações sobre a

profissionalização dos blogs de viagem, a discussão acerca dos aspectos

técnicos e práticos sobre a manutenção dos blogs, e também a divulgação dos

próprios trabalhos.

1.2 Uma rede conectada aos quatro cantos do mundo

Um blog de viagem possibilita qualquer indivíduo percorrer, por meio de

informações e imagens, qualquer lugar do continente. Na rede existe uma

infinidade de blogs onde pessoas divulgam suas próprias cidades ou sua

cidade temporária, no caso daqueles que estão passando um período no

exterior ou que definitivamente vivem em um novo país. A troca de ideias, dicas

e experiências é o maior atrativo entre o público leitor.

Em artigo publicado online Cláudio Torres, autor de “A Bíblia do

Marketing Digital”, diz que “não há mais dificuldade alguma de se obter

informações sobre um local no planeta e instantaneamente saber de hotéis,

4 Disponível em: http://www.rbbv.com.br/sobre-a-rbbv/ - último acesso em 21/03/2016

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restaurantes, passeios, museus e belezas naturais. Tudo, absolutamente tudo

pode ser pesquisado, selecionado, programado, reservado e pago através da

Internet”.5

Os blogs oferecem conteúdo útil para viajantes e amantes do turismo,

mas também permitem a criação de um novo modelo de negócios se houver

planejamento de marketing digital, o que inclui atividades nas mídias sociais,

ações de marketing de conteúdo e marketing viral, por exemplo.

Torres (2009) divide os blogs em três categorias: pessoais, profissionais

e empresariais. Para ele, os blogs pessoais podem abranger múltiplos

assuntos e chegar a atingir uma considerável audiência de um determinado

público. A partir desse nível, as páginas passam a ter interesse para o

marketing digital que, por sua vez, pode restringir e analisar o comportamento

do consumidor na rede.

Os blogs profissionais tratam da mesma forma de assuntos variados,

porém, estão à procura de um público determinado para alcançar seus

objetivos comerciais. É nesses casos que os blogs vão atrair marcas

interessadas a pagaram por espaços publicitários. Os blogs empresariais,

normalmente, se relacionam com o público interno, divulgam ações internas e

integram informações institucionais. Estes também podem “falar” com o público

externo, fornecendo informações relacionadas ao negócio da empresa.

1.3 O papel do marketing de turismo

Segundo artigo publicado no site Revista Turismo, “o turismo é uma

atividade econômica que mobiliza diversos setores produtivos de bens e

serviços, requerendo o trabalho de inúmeras categorias técnicas e

profissionais. Incorpora os serviços de dezenas de tipos de organizações que

integram e complementam o produto turístico, como hotéis, restaurantes,

5 Disponível em: http://imasters.com.br/artigo/16508/midia/a_industria_do_turismo_tambem_precisa_conquist/ttp://imasters.com.br/artigo/16508/midia/a_industria_do_turismo_tambem_precisa_conquist/- último acesso em 22/03/2016

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centros de entretenimento e cultura, centros de reuniões, empresas de serviço

receptivo, transportadoras, operadoras e agências de viagens.6

Não podemos falar dos blogs de viagem e todo o seu potencial na rede,

sem consideramos alguns conceitos do marketing de turismo. Esse aspecto

pode ser considerado, em linhas gerais, uma busca das empresas do ramo e

dos governos pelo oferecimento da satisfação a um grupo específico de

consumidores (turistas ou não), visando ao lucro gerado pela movimentação

econômica da área.

Em tese, o marketing turístico engloba as ações no mercado turístico

que visam atender às necessidades dos clientes consumidores de produtos

turísticos, antecipando seus desejos e criando uma relação sustentável de

trocas.

“Para a Organização Mundial do Turismo, o turismo sustentável pode ser definido como a atividade que satisfaz as necessidades dos turistas e as necessidades socioeconômicas das regiões receptoras, enquanto a integridade cultural, a integridade dos ambientes naturais e a diversidade biológica são mantidas para o futuro” (Segmentação do Turismo e o Mercado. Brasília, 2010, p.152).

A publicação “Estratégias de Marketing para Agências de Turismo

Receptivo”, produzida entre Sebrae e Associação Brasileira de Agências de

Viagens (ABAV) enfatiza: “o que o mercado atual exige é um agente de

viagens capaz de ser um Consultor de Turismo. Cabe a ele sugerir as melhores

formas de aperfeiçoar a viagem do cliente de acordo com os seus objetivos e

peculiaridades, otimizando os resultados, minimizando custos e gerenciando

dificuldades, de forma a transformar cada viagem numa experiência

inesquecível para seus clientes”.

Esse papel é assumido pelo próprio blogueiro de viagem a partir do

momento que ele assume o papel de um consultor de viagem. Não é mais

necessário ir a uma agência física para obter informações precisas sobre todo

6 Disponível em: http://www.revistaturismo.com.br/artigos/pref-3idade.html - último acesso em 22/03/2016

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o trâmite de viagem. Uma simples busca na internet permite que se encontrem

dados suficientes para a montagem de um roteiro turístico, desde a compra da

passagem até a reserva de passeios. Tudo planejado da forma mais

personalizada possível.

E a tendência dos blogs de viagem vai ao encontro das mudanças do

cenário mundial. A globalização e as tecnologias de comunicação têm sido os

grandes propulsores do mercado turístico atual. De acordo com a publicação

“Plano Aquarela 2020: Marketing Turístico Internacional do Brasil”, do

Ministério do Turismo (PLANO AQUARELA 2020, 2009), cerca de um bilhão de

turistas viajaram pelo mundo no ano de 2008, movimentando 1,1 trilhão de

dólares.

Veja a figura:

Visto que o turismo se transformou em uma das atividades econômicas

que mais crescem no mundo, houve uma mudança natural nos roteiros de

viagens. “Esse quadro, ainda em desenvolvimento, exige dos países grande

ofensiva de marketing para disputar o mercado - que deve movimentar 1,6

bilhão de turistas pelo mundo em 2020, segundo a Organização Mundial do

Turismo (OMT). Essa previsão foi mantida mesmo com as dificuldades vividas

em 2009, ano em que a crise econômica global trouxe consequências para o

setor em praticamente todo o mundo” (PLANO AQUARELA 2020, 2009).

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Um dos fatores determinantes da qualidade dos serviços de uma

agência de turismo é confiabilidade. O cliente espera que haja atendimento a

todos os itens previstos no roteiro adquirido, o cumprimento dos prazos, bem

como o fluxo de informações. Ele também espera que haja segurança na

aquisição de serviços e empatia, de modo que receba atenção individual aos

seus interesses.

O conjunto desses elementos citados somados à praticidade é que vai

atrair autores e leitores para os blogs de viagem. O uso da internet para

divulgação dos produtos já se mostra como um fator relevante no processo de

escolha e compra de produtos, sejam eles turísticos ou não.

O blog se unirá às ferramentas do marketing de conteúdo a fim de atrair

o público-alvo e, dependendo do objetivo, gerar publicidade e receita. Este

conteúdo poderá incluir posts, vídeos, artigos etc. O conceito baseia-se em

gerar fidelização por meio de informações capazes de despertar o interesse do

leitor ao invés de produtos ou marcas.

1.4 Conteúdo relevante como alma do negócio

“O marketing tem sido definido como a tarefa de ‘descobrir e satisfazer necessidades’. Essa é uma forma louvável de marketing. É quando existe uma necessidade de fato, e uma empresa a identifica e prepara uma solução cabível”. (KOTLER, 1999, p.35)

O marketing de conteúdo na web reúne uma série de estratégias para

criação de conteúdo a fim de informar, atrair usuários e “vender” serviços ou

divulgar uma marca. Como hoje o consumidor é que dita suas regras e toma

suas decisões sem precisar de publicidade invasiva, o conteúdo tornou-se a

nova “alma do negócio” na rede.

Veja o esquema explicativo a seguir:

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Fonte: Resultados Digitais

Como apontado no esquema acima, o marketing de conteúdo visa à

atração do público-alvo para retê-lo no final. A atração de visitantes pode ser

conquistada com a produção de conteúdo, as técnicas de Search Engine

Optimization (SEO) e/ou mídias pagas.

Entre as vantagens do marketing de conteúdo está permitir melhor

relacionamento com os consumidores, reduzindo a possibilidade da desistência

de um produto ou o afastamento no meio do caminho. Além disso, aumenta o

engajamento com o produto, por meio da construção de uma relação de

confiança. O relato de experiências nos blogs de viagem, por exemplo, pode ir

além do mero entretenimento, faz também com que o autor se aproxime da

realidade do leitor, o ajude a solucionar problemas e, por que não comprar

produtos e serviços recomendados?.

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CAPÍTULO II

2.0 AS FORÇAS DA CAUDA LONGA

“A primeira força, democratização da produção, povoa a Cauda. A segunda força, democratização da distribuição, disponibiliza todas as ofertas. Mas isso não é suficiente. Só quando essa terceira força, que ajuda as pessoas a encontrar o que querem nessa nova superabundância de variedades, entra em ação é que o potencial do mercado da Cauda Longa é de fato liberado” (ANDERSON, 2006, p. 75)

Como proposto por Anderson (2011), podemos afirmar que os blogs

agregam as três forças da Cauda Longa: a democratização das ferramentas de

produção, a democratização da distribuição e ligação entre oferta e demanda.

Em uma pesquisa preliminar realizada no Google, com o termo “blogs de

viagem”, foram encontrados aproximadamente 402.000 resultados. O número

comprova o quanto a ferramenta se disseminou na rede de forma democrática,

uma vez que está acessível para todos.

A maioria dos blogueiros de viagem não possui graduação específica em

jornalismo ou turismo, ou qualquer curso preparatório e de especialização na

área. Eles conseguem atrair a atenção do público na medida em que postam

suas rotinas e experiências em lugares ou seus pontos de vista sobre produtos

relacionados ao turismo. Dessa forma, o veículo do blog ganha força não

apenas no processo de decisão de compra dos consumidores, mas também no

processo de democratização do próprio ato de viajar.

Os blogs possuem conteúdo livre e pessoal. Diferente de uma revista de

turismo que carrega diversos patrocinadores por trás de cada matéria. De

acordo com as proposições de McLuhan, pode-se concluir que, em relação aos

blogs, as revistas a são meios de comunicação “quentes” (“hot”), já que

possuem muita definição e informação, permitindo pouca interação e sem

complementos pela audiência. Já os blogs podem ser considerados como

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meios “frios” (“cool”), pois reduzem a quantidade de informação e necessitam

de participação e envolvimento, tornando-os mais leves:

Há um princípio básico pelo qual se pode distinguir um meio quente de um meio frio, como o rádio, do telefone, ou o cinema, da televisão. Um meio quente é aquele que prolonga um único de nossos sentidos e em “alta definição”, enquanto um meio frio prolonga em “baixa definição” (MCLUHAN, 1996, p. 20).

A primeira força da Cauda Longa, a democratização das ferramentas de

produção, refere-se às possibilidades da tecnologia, não só o computador, mas

celulares, câmeras etc. Com essas ferramentas, é possível produzir e

compartilhar seu próprio produto, seja ele um livro, um documentário ou até

mesmo, uma notícia em primeira mão através do 3G de um dispositivo móvel.

De acordo com Anderson (2011), essa produção alternativa abrange a

quantidade de nichos que alongam cada vez mais a cauda.

O poder do computador possibilitou que os indivíduos passassem a

serem capazes de fazer tarefas que antes eram atividades exclusivas de

profissionais, conforme destaca Anderson, ao afirmar que “hoje, milhões de

pessoas têm a capacidade de produzir pequenos filmes ou álbuns e publicar

seus pensamentos para todo o mundo – o que de fato é feito por quantidade de

pessoas surpreendentemente grande” (ANDERSON, 2006, pág.38).

Nos blogs de viagem é fácil perceber o quanto essas ferramentas estão

presentes. Com o auxílio de uma câmera fotográfica ou mesmo um

smartphone, os blogueiros compartilham com seus leitores desde passeios em

sua cidade a viagens para lugares mais inusitados do mundo. Os vídeos

incluem visitas a restaurantes, lojas, museus, hotéis que, por sua vez, ganham

a avaliação pessoal e a recomendação ou não do blogueiro.

Cabe ressaltar que esse tipo de postagem é bastante comum nos blogs

deste segmento, pois é o que mais o público viajante e amante de viagens

espera ver nas publicações. A imagem auxilia na criação de um imaginário ao

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leitor, visto que o blogueiro passa a ser uma espécie de vitrine online do

mundo. Sendo que, diferentemente de uma agência de viagem, o blogueiro

personaliza a figura do turista, se aproximando por meio do discurso do leitor.

Da mesma forma também é possível identificar a segunda força da

Cauda Longa: a democratização das ferramentas de distribuição. Através das

já citadas ferramentas de produção, como câmeras digitais e smartphones, as

fotografias podem ser compartilhadas nos próprios blogs e redes sociais,

distribuindo conteúdo personalizado para usuários de diferentes nichos. Além

disso, assim que o post é publicado, as blogueiros também divulgam o

conteúdo através dos seus perfis pessoais e nas páginas das redes sociais do

blog, fazendo com que o conteúdo do posto alcance um número ainda maior de

pessoas. As ferramentas de distribuição, além de gratuitas, também quebram

fronteiras.

A terceira força da Cauda Longa, a ligação entre oferta e demanda, é

responsável por apresentar aos consumidores os mercados alternativos

disponíveis na web e que alongam a Cauda. Relacionando a teoria com a

temática do trabalho, é possível ver que além de ser uma ferramenta usada

para encontrar um determinado conteúdo, também funciona como fonte de

recomendação, ou seja, um intermediário entre o consumidor e conteúdo. Os

blogs podem apresentar ofertas alternativas, estendendo as opções de

consumo dando visibilidade para novos ou velhos negócios.

Antes, a publicidade era distribuída em diversos anúncios impressos ou

em propagandas nas mídias de massa. As marcas eram vistas em grande

quantidade e direcionadas para pessoas de diferentes perfis. Agora, as marcas

estão conectadas com seu público-alvo pelas redes sociais e direcionam suas

campanhas através de segmentação.

Além das situações já discutidas no presente trabalho, os blogs fazem

parte das estratégias de marketing de diversas empresas através da

divulgação de banners onlines que direcionam leitores para compras e

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cadastros em lojas virtuais, fazendo com que o produto esteja visível ao seu

público. É o caso dos anúncios de passagens aéreas, hotéis e tudo o que pode

ser relacionado ao universo do turismo.

Assim como as marcas, os blogs também possuem um público alvo

bastante definido, de modo que todas as publicações são voltadas para

atender aos interesses dos leitores cativos. Nesse sentido, é possível perceber

que se trata de um nicho diversificado, visto que os autores dos blogs

apresentam diferentes perfis, preferências etc.

É preciso lembrar que uma estratégia de Branding7 bem desenvolvida

possibilita que uma marca se construa ou se reposicione no mercado a fim de

se diferenciar das outras pelos seus valores. Estes valores devem estar

alinhados com seus anunciantes e, por isso, a relação entre blog e marca deve

ser mútua, em que um deve reforçar e dar sentido ao outro. O produto

anunciado em um blog deve condizer com o estilo que ele carrega, não só

através do conteúdo abordado, mas também pelo conjunto de produtos e

marcas já presentes nos posts.

Como poderosas ferramentas de recomendação, os blogs também são

procurados pelas empresas para divulgar seus produtos de maneira mais

íntima, pelo fato de que, não só são mais próximos ao consumidor, mas por

serem também clientes. Dessa forma, as marcas se expõem de forma mais

humana para os leitores que podem vir a se interessar pelo produto indicado.

Notamos que os blogs, por serem um estratégico canal de informação,

devem ser coerentes com a publicidade presente no espaço virtual. A ausência

dessa correspondência poderá acarretar a perda de identificação do leitor com

o veículo, levando, inclusive, a questionamentos sobre a ética da autora do

blog. Por isso, a escolha do blog para divulgação de um determinado produto

7 Branding - Branding significa dotar produtos e serviços com o poder de uma marca. Está totalmente relacionado a criar diferenças. Para colocar uma marca em um produto, é necessário ensinar aos consumidores quem é o produto batizando-o, utilizando outros elementos de marca que ajudem a identificá-lo bem como a que ele se presta e por que o consumidor deve se interessar por ele". (KOTLER, 2005, pág. 269/270).

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deve obedecer aos mesmos critérios rigorosos existentes para a escolha de

uma personalidade para um comercial. Uma escolha equivocada pode resultar

numa má avaliação dos clientes pelo produto e, consequentemente, numa

queda das vendas do mesmo.

2.1 Prosumidores: os novos consumidores

O visionário Alvim Toffler criou o neologismo “prosumidores” para indicar

o novo papel do consumidor no mundo pós-moderno. Hoje o consumidor é

muito mais exigente e a indústria precisou se adaptar a esta condição para

produzir aquilo que o cliente quer comprar, quebrando o paradigma de que a

indústria é que detém o poder da cadeia de suprimentos.

Essa transformação de perfil de consumidor é resultado da alta

competitividade do mercado que a todo instante direciona suas estratégias

para satisfazer o cliente, customizando produtos e serviços. O termo de Toffler

refere-se a um segmento de clientes com foco em produtos de tecnologia de

ponta cujos recursos são mais extensos que os disponibilizados ao restante do

mercado de massa.8

Muitos dos mesmos dispositivos eletrônicos que usaremos em casa para fazer trabalho remunerado também tornarão possível produzir mercadorias ou serviços para nosso próprio uso. Neste sistema o prossumidor, que dominou as sociedades da Primeira Onda, será trazido de volta ao centro da ação econômica – mas numa Terceira Onda, em base de tecnologia. (TOFFLER,1980, p. 275)

Prosumidor é, portanto, o consumidor que produz conteúdo, ou seja, ele

é produtor e consumidor, capaz de dividir suas experiências, pautar tendências

e também contribuir no processo de criação de novos produtos e serviços. Com

a internet o consumidor deixou de ser passivo, pois além da informação estar

muito mais acessível, o consumidor pode facilmente recorrer a outras fontes.

8 Adaptado de: https://pt.wikipedia.org/wiki/Prosumer

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2.2 Na mira do Shopper Marketing

O conceito de Shopper Marketing é muito utilizado para atingir um

público-alvo no ponto de venda. Mas vamos falar sobre o que significa isso na

prática. Segundo os autores Rafael D’Andrea, Matheus Alberto Cônsoli e

Leandro Angotti Guissoni no livro “Shopper Marketing - A nova estratégia

integrada de marketing para a conquista do cliente no ponto de venda”, o

conceito pode ser compreendido como uma evolução do marketing ao

consumidor e do gerenciamento de categoria.

De acordo com eles, o shopper marketing é o elo entre o trade

marketing (andamento das negociações) e os clientes. A estratégia é

construída em cima de todos os pontos de contato com o consumidor, a partir

das decisões que ele toma ao adquirir um produto, desde a escolha da marca

até a compra final. Mas com o aumento do nível de exigência do consumidor,

passou a ser necessário identificar os desejos e a necessidade de quem

compra.

O Shopper, diferente do consumidor comum, é o cliente que pensa,

pondera e decide a sua compra. O custo X benefício, a imagem da empresa no

mercado, o relacionamento com o cliente e a experiência passaram a ser

fatores decisivos de escolha. Dessa forma, uma estratégia direcionada é mais

eficaz para atingir o consumidor. A partir das mídias sociais e a, consequente,

maior facilidade de acesso à informação, o consumidor passou certamente a

ter mais conhecimento sobre o produto que deseja e, por isso, tornou-se ainda

mais exigente.

2.3 Os blogs pela ótica do neuromarketing

Compreendemos que o blogueiro pode orientar o seu leitor a se

tornar um potencial cliente através de uma comunicação mais funcional e

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próxima da realidade do mesmo. No entanto, algumas questões ainda ficam

em aberto. Por que esses consumidores se sentem mais seguros na compra

de um produto ou serviço após ler uma indicação em um blog? O que atrai a

atenção e fidelização dos leitores e estimula o consumo?

Em seu livro, “A Lógica do Consumo”, Martin Lindstrom comenta sobre

diversos estudos do neuromarketing, técnica cada vez mais usada pela

publicidade para entender o comportamento dos consumidores. O capítulo

“Quero o mesmo que ela pediu” se encaixa muito bem em nosso estudo. Nele

o autor explica como os neurônios-espelho entram em ação no despertar de

um desejo de consumo.

Os estudos dos neurônios-espelho iniciaram-se em 1992 com o cientista

italiano Giacomo Rizzolati. A fim de descobrir como o cérebro de uma espécie

de macaco organiza os comportamentos motores, o cientista investigava uma

região especifica do cérebro conhecida como área pré-motora. Em uma das

tardes de pesquisa, durante o verão, um de seus alunos retornou ao laboratório

segurando um sorvete e foi observado que, toda vez que o estudante levava o

sorvete até a boca, o eletrodo conectado a região pré-motora do macaco

ativava, sem que o animal tenha feito algum movimento, apenas pelo simples

fato de observar o sorvete (LINDSTROM, 2009, p. 55).

Giacomo Rizzolati denominou este fenômeno de “neurônios-espelho”,

que se ativam não só quando uma ação está sendo realizada, mas também

quando está sendo observada. Estudos de imagens de Ressonância Magnética

funcional (IRMF) e Eletroencefalograma TEE das regiões do cérebro humano

comprovam que as regiões que contém os chamados neurônios-espelhos

também são ativadas quando observamos alguém realizando certa ação. O

autor afirma que, assim como os neurônios fizeram com que o macaco imitasse

mentalmente o movimento do estudante, eles nos fazem imitar o

comportamento de outras pessoas, inclusive de consumo. Ou seja, a partir do

momento que passamos por alguém e nos deparamos com um acessório

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interessante, por exemplo, isso desencadeará um desejo de obter aquele

objeto para nós.

Na prática quando uma pessoa assiste a um vídeo de viagem em um

blog, em que o blogueiro visita lugares e consome determinados produtos ou

serviços – conscientemente ou não – esta pessoa pensa na possibilidade de

fazer o mesmo e que seria tão agradável quanto parece no vídeo que mostra

aquela experiência.

De acordo com Lindstrom, os neurônios-espelho subjugam o

pensamento racional e fazem com que as pessoas inconscientemente imitem

ou comprem o que está sendo exposto na sua frente (LINDSTROM, 2009, p.

59). E, assim como os neurônios reagem às vitrines de lojas, por exemplo, eles

também reagem ao que vemos online.

Dessa forma o blogueiro, através de seu “papel” de formador de

preferências, também é visto por seus leitores como um modelo a ser seguido.

Sobre isso, Lindstrom diz: “Imagine como o comportamento de outras pessoas

afeta a nossa experiência de consumo e, em última instância, influencia as

nossas decisões de compra” (LINDSTROM, 2009, p. 23).

De acordo com Anderson, os blogueiros também são considerados “ex-

público”, ou seja, consumidores que antes eram passivos, mas que hoje atuam

como produtores, expressando suas reações sobre produtos e serviços em

seus espaços virtuais. Entretanto, muitos desses blogs firmam parcerias com

diversas marcas que, a fim de propagar seus serviços e produtos pela Internet,

patrocinam posts, os chamados “publis”.

Diante disso, identifica-se a ação dos neurônios-espelho e o poder de

influência dos blogueiros, não só na formação de opinião, mas também no que

se refere à motivação de experimentar algo diferente.

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CAPÍTULO III

3.0 ANÁLISE DOS BLOGS DE VIAGEM

Sabemos que, segundo Kotler, marketing é a arte de descobrir

oportunidades, desenvolvê-las e lucrar com elas. Ao criar um blog, o objetivo

nem sempre é monetizá-lo, mas o fato é que, nos últimos tempos, os diários

virtuais tornaram-se fonte de renda para alguns profissionais ou amadores.

Em nossa análise, vamos observar algumas particularidades de dois

blogs brasileiros: o “Viaje na Viagem” e o “Viajo logo existo”. O primeiro foi o

primeiro blog de turismo profissional do Brasil, criado há 11 anos, e já

considerado referência para quem planeja seu próximo destino. O segundo é

feito por um casal que trabalhava no mercado financeiro e largou tudo depois

que um deles fez uma viagem “divisora de águas”, em 2012.

Nos dois casos, o blog se transformou em um guia online para os

viajantes. A partir de experiências compartilhadas os blogueiros geram

conteúdo relevante e ganham credibilidade com o tempo. Mas como um

blogueiro consegue convencer os seus leitores?

Em entrevista publicada na revista Época, em 2006, Chris Anderson

falou sobre o predomínio de vídeo em sites como o YouTube, feitos por

pessoas anônimas e avaliou o século XXI como um século não só de

amadores, mas um tempo em que os amadores irão dividir status com os

profissionais. “O século 20 foi dos profissionais, o século 21 será o século onde

amadores e profissionais competem”, afirmou. Isso se aplicará não só em

vídeos, mas na produção de conteúdo online como um todo.

A identificação do público com o estilo de vida e opiniões dos blogueiros

é um fator que aproxima o discurso dos blogueiros de seu público-alvo. Como

abordamos nos capítulos anteriores, o público busca exatamente o que ele

quer ver e os blogs, talvez por serem feitos por pessoas comuns, viraram a

fonte mais fácil, rápida, barata e eficaz de informações.

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Hoje há blogueiros que conseguem obter renda com a produção do blog

a partir da divulgação de produtos e serviços. Os anúncios pagos na página,

os chamados “publiposts” (conteúdos patrocinados) e a prestação de serviços,

como criação de roteiros personalizados de viagem, são alguns exemplos de

como é possível ter lucro com o blogs. De acordo com a quantidade de acesso

à página e com a reputação do blog é que os anunciantes e patrocinadores

poderão firmar parcerias.

Em pesquisa para este trabalho realizada online com um grupo de

pessoas que costumam acessar blogs de viagem, 59% responderam que

costumam acompanhar os blog esporadicamente, em sua maioria por meio do

site e também pelos links compartilhados nas redes sociais, como Facebook,

Instagram, YouTube.

As categorias de posts maior preferência entre os participantes da

pesquisa foram as dicas de viagem/passeios e os relatos de experiências

pessoais. Nota-se que grande parte do grupo costuma viajar uma vez por ano

ou várias vezes ao ano. 82,1% respondeu que já viajou ou fez algum passeio

seguindo dicas “garimpadas” em blogs de viagem.

Ao serem questionados sobre o que os convence a seguir uma dica de

viagem, a credibilidade, o relato pessoal e as informações úteis foram alguns

dos fatores citados. “O meu próprio interesse pelo lugar, o custo X benefício, as

informações passadas e a experiência vivida e relatada pelo blogueiro”,

respondeu um dos participantes da pesquisa.

Apesar de 61,5% afirmarem que não costumam clicar em anúncios,

35,9% dos respondentes disseram clicar somente quando há interesse. Além

disso, 76,9% nunca comprou produto anunciado por blog de viagem. Ainda

assim, é visível pela própria interação dos leitores nas área destinadas aos

comentários no blog ou nas redes sociais, que produtos/serviços apresentados

pelo blogueiro têm grande aceitação.

Desta forma, ao fazer uma resenha positiva de um restaurante em

Dubai, por exemplo, o blogueiro faz “propaganda” do local, funcionando como

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uma espécie de “marketing boca a boca” que trata de divulgar o bom serviço na

rede. Isso pode ser espontâneo ou não. Também é comum que empresas

firmem parcerias com blogueiros, que por sua vez, são convidados para

experimentar um determinado produto/serviço e divulgar em seus posts e redes

sociais, aumentando o alcance da divulgação entre o público-alvo.

Veremos a seguir algumas particularidades dos dois blogs escolhidos

para serem analisados no trabalho.

3.1 “Viaje na viagem”, por Ricardo Freire

O blog existe há 11 anos sob o comando do ex-publicitário Ricardo Freire,

que conta com mais cinco colaboradores em sua equipe. Além do ”Viaje na

Viagem”, Ricardo assina colunas de viagem no Estado de S. Paulo ("Turista

Profissional"), na Bandnews FM ("Sua Viagem") e na Revista da Gol ("Postais

por escrito"). No questionário aplicado, o blog aparece como o preferido de

79,5% dos participantes da pesquisa.

Em entrevista ao Portal Imprensa, em dezembro de 2014, o criador do

“Viaje na Viagem” contou que o blog surgiu no fim de 2004 quando ele

percebeu que a ferramenta estava bastante amigável e era gratuita, ao

contrário da hospedagem de sites, que ainda era cara na época. Segundo ele,

inicialmente o blog era de nicho, visitado geralmente por aqueles que se

identificavam com o tema e usava a caixa de comentários do post mais recente

para interagir com outros visitantes.

“Com o crescimento do conteúdo, porém, o blog passou a ser

encontrado, via Google, por pessoas que pensam em viagem somente duas

vezes por ano, ao planejar suas férias -- e que são a maioria dos viajantes na

vida real. As caixas de comentários deixaram de ser salas de chat exclusivas

dos habituês e se tornaram um SAC trepidante de perguntas e respostas sobre

dúvidas práticas de viagem”, contou.

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Para isso, foi criada uma seção chamada “Perguntódromo”, onde

ficam reunidas as dúvidas mais relevantes dos leitores que podem ser úteis

para outros. O espaço serve para que haja interação entre os autores e leitores

e que funciona como uma espécie de SAC.

Veja o exemplo abaixo:

Como funciona a política editorial para anúncios e publiposts?

Da mesma forma que há troca de informações entre os usuários, o

próprio autor posta as dicas e resenhas pessoais sobre determinado local. No

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post “Berlim: 3 hotéis superdescolados (nos dois lados da cidade), 9Freire faz

uma breve descrição dos hotéis, reservados pelo Booking (site de busca e e

reservas de hotéis e parceiro do blog), apontando o que há de interessante

pelas redondezas, explicando como chegar de vários pontos da cidade.

Em um dos comentários no post, notamos o quanto o relato de

experiências é positivo e atrai tanto o público leitor quanto o consumidor final

do hotel: “Ola Ricardo Freire, estou aqui para agradecer imensamente o seu

trabalho sério, profissional e competente! Ficamos 4 dias no Circus Hotel por

causa de seu site e adoramos o hotel. Pelo preço de sua diária, melhor

impossível! O Hotel é excelente!! Mais uma vez, muito obrigado!!”

Segundo informação que consta no “Expediente”, o blog conta

com parceiros comerciais e é remunerado por vendas feitas através dos links

publicados no site. Os parceiros são: Booking, Mondial Assistance, Submarino

Viagens, Rentcars, Viator e ClickBus, todos de grande interesse do público

leitor que gosta de viajar e/ou está planejando o próximo destino.

Exemplo de banner da Mondial Assistance na parte superior da página:

Sobre a veiculação de campanhas publicitárias, Freire contou ma

entrevista que elas são veiculadas normalmente, sem nenhuma vinculação

editorial. Por outro lado, os publieditoriais têm textos elaborados pela equipe de

conteúdo, além de serem claramente informados como tais. “Já têm a hashtag

#ad incorporada ao título. Só aceitamos posts patrocinados de produtos que

aprovamos e que achamos úteis e vantajosos para o leitor”, ressaltou.

9 Disponível em: http://www.viajenaviagem.com/2014/10/berlim-onde-ficar-3-hoteis-descolados-dicas. Acesso em 30/03/2016.

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O sucesso do blog rendeu a Ricardo um programa fixo sobre dicas de

viagem pelo Brasil e pelo mundo na rádio Band News FM, o que não só

comprova sua credibilidade, mas o coloca dentro do que se chama

convergência, onde o blog estende-se para além das telas do computador,

adaptando-se para outros tipos de mídia. Neste sentido, a convergência

midiática se tranforma em uma tendência dos meios de comunicação a se

adaptarem à internet e a usarem como suporte para distribuição de conteúdo.

Neste caso, o blog torna-se um complemento na programação de um programa

de rádio, criando assim uma nova experiência de entretenimento.

E os números continuam corroborando: no Facebook, a página oficial do

“Viaje na Viagem” possui mais de 280 mil curtidas e no Instagram, mais de 57

mil. No canal do Youtube, onde o Freire publica vídeos com dicas fundamentais

para os viajantes, são 8 mil inscritos.

3.2 “Viajo logo existo”, por Leonardo Spercer e Rachel Paganotto

O projeto do casal Leonardo Spenser e Rachel Paganotto, ex-

funcionários do mercado financeiro, é mais recente, mas já tem mais de meio

milhão de seguidores no Facebook (600 mil), mais de 4 mil inscritos no canal

do YouTube e mais de 35 mil seguidores do Instagram. A média de leitores

atingidos por semana é de 700 mil, segundo o Mídia Kit 10disponibilizado no

blog. Recentemente, o projeto virou programa no canal SBT, exibido aos

domingos, às 7h30.

O blog intitulado “Viajo,logo existo” surgiu quando os dois resolveram

sair pelo mundo em busca de realização pessoal e qualidade de vida. Após

voltar de uma viagem à Costa Rica com amigos, em 2012, Spencer resolveu

apostar na sua ideia inspirada o livro “Challenging your Dreams – Uma

aventura pelo Mundo”, que conta a história de um casal de jovens que dá a

volta ao mundo em uma Land Rover. “Comecei a ler e pensei que poderíamos

10 Disponível em: http://www.viajologoexisto.com.br/midia-kit-vle/. Acesso em: 30/03/2016

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fazer a mesma coisa”, contou em uma entrevista à InfoMoney11. Hoje é o maior

projeto de viagem com conteúdo real-time do Brasil.

Desde maio de 2013, o casal viaja pelo mundo de carro, compartilhando

suas experiências com os leitores do blog. A jornada se iniciou no sul do Brasil

e já passou pela América do Sul, América do Norte, Europa e África. No “Diário

de Bordo” do blog, por exemplo, o leitor pode clicar nos países do mapa por

onde o casal já passou e conferir dicas e fotos dos locais.

11 Disponível em: http://www.infomoney.com.br/onde-investir/acoes/noticia/4333540/conheca-brasileiros-que-largaram-mercado-financeiro-busca-qualidade-vida. Acesso em: 30/03/2016.

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Enquanto percorrem os lugares mais diferentes do planeta, eles também

dedicam horas do dia para trabalhar, atualizando o blog, as redes sociais e já,

inclusive lançaram livros sobre parte da aventura. Os exemplares são vendidos

no blog, onde eles também comercializam guias com roteiros, atrações,

histórias dos locais, canecas e camisas com a marca do blog. Há ainda uma

opção de Assinatura Digital onde o comprador recebe todos os livros e guias

do “Viajo logo existo” que forem lançados nos próximos 12 meses.

Segundo informações do anúncio no blog, o guia da Patagônia foi

lançado em janeiro e ainda no primeiro semestre de 2016 será lançado o

terceiro livro com relatos sobre a passagem do casal pela África. Eles ainda

planejam fazer um guia de Dubai/Abu Dhabi e um livro sonre a estadia na Ásia

e Oceania, no final de 2016 ou início de 2017.

Link para compra dos livros lançados:

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De acordo com os números divulgados no blog, além dos dois livros

lançados de forma independente, eles já levantaram mais de 130 mil reais pelo

financiamento coletivo e somam mais de 1.400 colaboradores na plataforma

colaborativa. Entre os parceiros do “Viajo logo Existo” estão o Airbnb, HSBC,

SBT, GlaxoSmithKline, Skyscanner e Expedia.

Veja exemplos de parcerias bem sucedidas:

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Um Publieditorial no Viajo logo existo tem me média 40 mil pessoas

atingidas, com alto graude engajamento e Click Through Rate (CTR) 12médio

maior que 2%. O CTR, neste caso, é um dos indicadores mais importantes de

uma campanha de marketing online, pois expressa o potencial de comunicação

de uma determinada peça publicitária e indica a capacidade que o anúncio tem

de chamar a atenção do público.

Além da produção de conteúdo, o blog oferece serviço de consultoria de

projetos, pesquisa de mercado e workshop. É um bom exemplo de como três

anos de estrada podem trazer não só qualidade de vida, mas também

realização profissional.

12 Percentual de usuários que clicam num anúncio exposto numa página web.

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CONCLUSÃO

Uma das novas possibilidades que a Internet trouxe para o mercado

publicitário foi o blog. De diários virtuais, eles se transformaram em grandes

fontes de informação e recomendação. Com o crescimento dos blogs, as

marcas perceberam uma nova forma de comunicação e interação com o seu

público-alvo. Diante disto, ao longo do trabalho foi analisado como as três

forças da Cauda Longa podem auxiliar e serem identificadas dentro das

estratégias de conteúdo dos blogs de viagem.

Por manterem um diálogo constante, os blogs criam vínculos com os

leitores, que acabam se sentindo mais confiantes em relação às indicações

feitas pelas blogueiros. Por meio da pesquisa realizada para complemento

deste trabalho, confirma-se que a maioria dos leitores se sente motivada a

experimentar algo indicado por um blog devido à opinião pessoal e experiência

própria em relação aos produtos. Por meio de uma análise das respostas dos

entrevistados sobre o que os convence na hora de realizar a compra, a

sinceridade e proximidade com o leitor foram fatores apontados pelos leitores

dos blogs.

A sintonia entre marca e blog atrai leitores interessados nos temas

abordados na linha editorial do espaço, fazendo com que os usuários possam

sentir-se motivados a consumir algo divulgado. Como visto, o blog também é

produto, e por isso também possui um valor embutido, não só no conteúdo

produzido, mas também na reputação do blogueiro, em como ele apresenta o

conteúdo e como o público responde a isso.

Como novos formadores de opinião, os blogueiros tornam-se referências

para viajantes e apaixonados por viagens que acompanham suas rotinas e

experiências pelo Brasil e pelo mundo. Isso foi analisado e exemplificado

através da ação dos neurônios-espelho. Assim como uma vitrine desperta o

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interesse daqueles que passam a sua frente, o blogueiro também desperta o

desejo de consumo dos leitores que acompanham seu blog. Através dos

relatos, publiposts, vídeos de viagem, mais recentemente, pelas fotos

compartilhadas no Instagram, os consumidores se deparam com novas

possibilidades. O que seria apresentado de forma superficial em um comercial,

por exemplo, o blogueiro torna mais próximo da realidade. Isso faz com que o

leitor tenha confiança e passe a desejar o que é divulgado de forma mais

íntima, criando assim uma relação de fidelidade.

Os blogs passaram a criar tendências, influenciando diretamente nos

processos de compra do consumidor por meio de um conteúdo colaborativo,

reunindo opiniões de diversos usuários, quebrando barreiras geográficas e

democratizando as informações de moda de forma mais leve em relação às

revistas do segmento de turismo, por exemplo.

Portanto, os consumidores são agora protagonistas da construção dos

valores e estratégias de uma marca. O blog tem o papel de aproximar essas

marcas do seu público-alvo. Nesse “novo” mundo do marketing, as empresas

se diferenciam pelos seus valores capazes de serem traduzidos por pessoas

próximas da realidade de seu público consumidor, como os blogueiros. Criar

laços emocionais com o cliente gera empatia, fidelidade e, claro, vendas. E os

os blogs, definitivamente, conquistaram seu espaço e mostraram seu valor.

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BIBLIOGRAFIA:

ANDERSON, Chris. A Cauda Longa. 1. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2011

KOTLER, Philip; KARTAJAYA, Hermawan; SETIAWAN, Iwan (orgs.).

Marketing 3.0 – As Forças Que Estão Definindo o Novo Marketing

Centrado no Ser Humado. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010

KOTLER, Philip. Marketing para o século XXI: como criar, conquistar e

dominar mercados. São Paulo: Futura, 1999

LINDSTROM,Martin. A Lógica do Consumo. 1. ed. Rio de Janeiro: Nova

Fronteira, 2009.

TORRES, Cláudio. Bíblia do Marketing Digital. São Paulo: Novatec, 2009.

VAZ, Conrado Adolpho. Google Marketing - O Guia Definitivo do Marketing

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ANEXO 1

01/09/2006 - 21:04 | EDIÇÃO Nº 433

Íntegra da entrevista com Chris Anderson GUILHERME RAVACHE

Chris Anderson tem 44 anos e escreveu o livro A Cauda Longa (Campus/Elsevier), no qual defende o crescimento dos mercados de nicho. É formado em Física, trabalhou nas revistas Science, Nature e The Economist. Hoje é editor-chefe da revista americana Wired.

Atualmente, duas coisas são indispensáveis nas apresentações em empresas americanas, principalmente as do Vale do Silício: uma exibição em Power Point e a menção ao conceito "Long Tail". Criada em 2004 pelo jornalista Chris Anderson, editor-chefe da revista Wired, a expressão surgiu por causa do gráfico matemático que lembra uma "cauda longa" e demonstra que a cultura e a economia estão rapidamente mudando seu foco - de um relativamente pequeno número de hits (produtos que vendem muito no grande mercado) para um grande número de produtos de nicho. No mês passado, Anderson lançou o livroLong Tail nos Estados Unidos, no qual explica a teoria. Agora a obra, traduzida como A Cauda Longa (Campos/Elsevier), é lançada no Brasil. A seguir, o autor fala da teoria e suas aplicações.

ÉPOCA - O que é a teoria da Cauda Longa? Chris Anderson - A teoria da Cauda Longa diz que nossa cultura e economia estão mudando do foco de um relativo pequeno número de 'hits" (produtos que vendem muito no grande mercado) no topo da curva de demanda, para um grande número de nichos na cauda. Como o custo de produção e distribuição caiu, especialmente nas transações online, agora é menos necessário massificar produtos em um único formato e tamanho para consumidores. Em uma era sem problema de espaço nas prateleiras e sem gargalos de distribuição, produtos e serviços segmentados podem ser economicamente tão atrativos quanto produtos de massa.

ÉPOCA - Por que as empresas aderiram com tanto entusiasmo à teoria da Cauda Longa? Chris Anderson -Porque a teoria é verdadeira. Mas também porque ela é uma figura de linguagem que descreve um fenômeno que está à nossa volta. Todos vemos a internet, todos vemos a mudança que ela está provocando, mas não tínhamos uma boa maneira para descrever essa mudança. Uma frase que descreve, de maneira simples, um fenômeno complexo é muito útil.

ÉPOCA - Sua teoria prega o crescimento dos nichos. Mais produtos, mais escolhas, para grupos menores de consumidores. Os hits estão com os dias contados? Chris Anderson -Algumas pessoas que analisaram a teoria disseram que seria o fim dos hits, mas elas se enganaram. O livro não diz isso. O que digo é que o monopólio dos hits está comprometido. No século 20 havia os hits ou nada, no século 21 teremos os hits e os nichos. Os hits irão competir com milhares de produtos de nicho, mas sempre teremos hits. A conseqüência é que os mercados serão mais diversificados e cada vez menos concentrados.

ÉPOCA - Muito se comentou a respeito do filme Serpentes a Bordo como uma demonstração do poder da internet e dos mercados de nicho. Mas o filme decepcionou com uma bilheteria de US$ 15,2 milhões no primeiro final de semana de estréia nos EUA. Talvez o nicho não seja tão poderoso e eficiente, não? Chris Anderson -A teoria prediz o surgimento de microhits e pequenas estrelas. Eles não são blockbusters, não são os mais populares livros, filmes ou discos. A questão é: o filme decepcionou ao estrear nos Estados Unidos? Mas esse era um filme destinado a ir a lugar nenhum. Era um filme que iria direto para o DVD, tradicionalmente seria ignorado no mercado. O ponto é que ele foi melhor do que poderia ter ido de outra forma. Aplique as regras de blockbusters para todos os filmes, a maior parte vai falhar porque a maioria não é blockbuster. E o modelo antigo diz: se você não é um blockbuster, um grande sucesso, você falhou. No mundo do blockbuster, US$ 100 milhões é pouco, mas no nicho, US$ 10 milhões pode ser muito. No nicho você não precisa gastar milhões em publicidade.

ÉPOCA - Em artigo na revista eletrônica Slate.com, Tim Wu, professor da Universidade Columbia, afirmou que a teoria da Cauda Longa não é aplicável, por exemplo, no negócio da exploração de petróleo. As pessoas que compram gasolina não teriam a possibilidade de recorrer ao nicho, quando o monopólio prevalece nesse setor. Chris Anderson -Na verdade, ele está errado sobre o petróleo. Mas o ponto principal dele está certo, a teoria não pode ser aplicada em todo lugar. A teoria sobre o petróleo está errada. Os preços sobem porque as grandes companhias são ineficientes na exploração, mas estão surgindo pequenas

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companhias eficientes na exploração de petróleo com custos menores. Ele está certo ao dizer que a teoria não se aplica a tudo, mas eu nunca disse que ela se aplicava a tudo.

ÉPOCA - Em 2000 houve o estouro da bolha da internet. A teoria da Cauda Longa e a internet estão diretamente relacionadas. Se ocorrer um novo estouro da bolha, sua teoria não explode também? Chris Anderson -Primeiro é preciso dizer que o estouro da bolha não foi um estouro da bolha da internet, foi um estouro da bolha de ações na bolsa de valores. A internet é definida pelo número de PCs, conexões e usuários, enfim, toda essa infra-estrutura. Todos esses números apontam que nada afetou a internet. Desde os anos 90, eles crescem. A avaliação que o mercado de ações fazia dessas empresas é que explodiu. Olhe o crescimento das empresas de internet e a bolha nunca existiu. Olhe para o mercado de ações e você verá grandes variações.

ÉPOCA - Como explicar o caso da American On Line, que já foi uma das maiores empresas de internet e hoje está em crise? Chris Anderson -Isso acontece, companhias caem. A AOL era uma companhia de linha discada que não esteve apta para migrar para o mercado de conexões de banda larga. E provavelmente isso acontecerá com grandes companhias atuais. Yahoo, eBay, Google, Microsoft, Oracle. Algumas dessas empresas talvez tenham problemas no futuro e não estarão aptas a continuar dominando. Uma bolha estourando significa simplesmente que a evolução continua a acontecer no mercado.

ÉPOCA - Hoje, uma das expressões que mais se discutem é a cultura wiki, colaborativa. Seu livro surgiu de um artigo que você publicou em 2004, "A Cauda Longa", na revista Wired, e desde então você manteve um blog sobre o assunto. Como foi esse trabalho de colaboração? Chris Anderson -Não escrevi o livro de maneira colaborativa, escrevi sozinho, mas a pesquisa foi feita de forma colaborativa. Quando você divide seus dados, idéias e informações, as pessoas respondem dando mais em troca. Você coloca uma idéia, pessoas ampliam e te devolvem. Essa é a natureza humana, pessoas querem colaborar e isso é muito legal. Wikipédia e muitas coisas funcionam com esse princípio. Isso aprimorou minha análise. Novas aplicações para as idéias surgiram. Talvez tenha sido mais uma conversa do que propriamente uma colaboração, mas a escrita foi totalmente individual e off-line, da maneira antiga.

ÉPOCA - Um livro à moda antiga? Como editor da Wired, uma revista de tecnologia, as pessoas não têm uma expectativa de algo inovador e moderno? Chris Anderson -Nunca pensei nas coisas dessa maneira. Acho que se eu escrevo um livro da velha forma também é bom. Acontece que vivo neste mundo que descrevo, faço parte da indústria do blockbuster também, estou na grande mídia. Faço parte do mainstream, trabalho para a CondéNast (editora americana que publica revistas como Vogue, New Yorker e Vanity Fair). Mas na outra parte da minha vida, sou um blogueiro, estou no mercado de nicho. Mas é um mundo misturado, onde profissionais competem com amadores, a grande mídia concorre com mercados de nicho e o novo modelo, mas acho que vivo em ambos.

ÉPOCA - Grandes companhias americanas estão fazendo campanha junto a políticos e ao governo para passarem a cobrar um "pedágio" na internet, onde quem pagasse mais teria privilégios na rede. O que você acha disso? Chris Anderson -Não gostaria de entrar nesse assunto. Acho um tema complicado e geralmente as pessoas interpretam de maneira errada comentários sobre o tema. Mas não penso que isso vá acontecer. Não acho que eles vão conseguir controlar a internet. Ela é muito distribuída, tem muitos participantes. Não estou preocupado com essa possibilidade.

ÉPOCA - Companhias de telecomunicação são inovadoras como deveriam? Chris Anderson -Não, mas não devemos olhar para companhias de telecomunicação esperando inovações. Eles criam algumas inovações em infra-estrutura como fibra ótica, mas são basicamente empresas de infra-estrutura, o que eles devem fazer é estar disponíveis para todos.

ÉPOCA - Blogs, Wikipédia, sites como o YouTube, onde vídeos de pessoas anônimas são predominantes. Pode-se dizer que o século 21 será a era dos amadores? Chris Anderson - Não um século só de amadores, mas os amadores irão dividir status com os profissionais. Será de ambos. O século 20 foi dos profissionais, o século 21 será o século onde amadores e profissionais competem.

ÉPOCA - Você é um dos palestrantes do Fórum Econômico Mundial. Por que aceitou o convite? Chris Anderson -É uma oportunidade de conversar com muitas pessoas que, de outra maneira, eu não iria encontrar, pessoas de fora do mundo que eu freqüento. É uma chance para aprender sobre Oriente Médio, Ásia, Rússia, política petrolífera. Falo sobre tecnologia e pessoas podem aprender comigo, mas há outros aspectos do mundo com os quais não tenho contato no meu dia-a-dia.

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ÉPOCA - Marx descreveu uma sociedade comunista como um lugar no qual "ninguém tem uma esfera exclusiva de atividade, mas cada um pode se aperfeiçoar em cada atividade que ele deseje... caçar pela manhã, pescar à tarde, cuidar do gado à noite e criticar depois do jantar". A teoria da Cauda Longa é de certa forma marxista? Chris Anderson -Não vamos confundir. Marx foi um grande economista e estava certo em muitas coisas. Marx é lembrado pelo comunismo e a noção de que o Estado deveria controlar a economia, o que estava completamente errado. Mas como eu disse, foi um grande economista e fez observações muito perspicazes. Ele deveria ser lembrado pelos seus vários acertos.

ÉPOCA - Não seriam a internet e o sistema colaborativo de código aberto (Open Source) um tipo de socialismo eficaz? Chris Anderson -Não acho. No socialismo, você tem o Estado no controle, a propriedade é coletiva mas controlada por um pequeno número de burocratas. Acho que o sistema Open Source se aproxima mais da anarquia, ninguém está no controle. E os comportamentos surgem dos indivíduos, e muitas vezes contrários ao poder institucional. É totalmente contrário ao Estado e o socialismo é favorável ao Estado.

ÉPOCA - Você é formado em Física, por que decidiu se tornar jornalista? Chris Anderson -Essa é uma história complicada. A razão para eu ter estudado Física é que meus heróis eram cientistas como Robert Oppenheimer, físicos envolvidos no Projeto Manhattan (de 1942-1946, o projeto uniu cientistas em uma base militar para a construção da bomba atômica). Mas quando comecei a exercer a Física, todos os experimentos importantes desse tipo estavam sendo feitos em aparelhos que demandavam bilhões de dólares, como aceleradores de partículas, aquilo que meus heróis tinham feito não poderia ser feito nunca mais. A Física ficou menos empolgante e percebi que tinha escolhido o lado errado da ciência, talvez devesse ter feito Biologia. Então decidi escrever sobre Física e procurei jornais científicos. Trabalhei para a Science e Nature, isso me levou para a The Economist e, finalmente, aWired. A Física me ajudou na análise de gráficos e interpretação de número

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ANEXO 2

Ricardo Freire, do blog Viaje na Viagem, fala sobre pioneirismo no segmento de turismo

Danúbia Paraizo | 19/12/2014 14:15

Dos mais de quarenta países que visitou, o publicitário Ricardo Freire não precisa pensar duas vezes para dizer qual é seu destino favorito: "Se me perguntarem por que viajo tanto, vou responder: é para ver se encontro algum lugar mais encantador que o Rio de Janeiro. Ainda não encontrei". Figura conhecida na publicidade, por ter criado bordões como “não é assim nenhuma Brastemp”, Freire também é criador do primeiro blog de turismo profissional do Brasil. Há exatos dez anos surgia o Viaje na Viagem, considerado hoje referência para quem está planejando seu próximo destino. “O Viaje na Viagem surgiu no finzinho de 2004, quando eu percebi que a ferramenta blog estava bastante amigável - e o que era melhor: era gratuita, ao contrário da hospedagem de sites, que ainda era caríssima”, conta Freire. Com uma média de 800 mil visitantes únicos por mês, o espaço mantém sete colaboradores e recebe todos os dias de 60 a 200 perguntas de internautas. Apesar de trabalhar na editoria desde 1998 - Freire é autor de dois livros sobre turismo e fez inúmeras colaborações em revistas – o publicitário explica que demorou pelo menos cinco anos para que o site se tornasse seu ganha-pão. Isso porque o objetivo não era financeiro. “A intenção inicial era somente ser dono de um espaço onde eu pudesse mostrar na íntegra minhas viagens para o público que me conhecia dos livros e das revistas, sem estar subordinado à pauta do mês de nenhum veículo, sem limitação de espaço, sem deadline, sem interferência de editor ou de diretor de arte”. À IMPRENSA, o editor do Viaje na Viagem e colunista da rádio Band News FM falou sobre o mercado de blogs de turismo, a ilusão de quem quer ser blogueiro pelo glamour da profissão e a rotina de trabalho no Viaje na Viagem. IMPRENSA – Antes do Viaje na Viagem você trabalhava com publicidade. Quando decidiu mudar de área? Ricardo Freire - A profissionalização do blogueiro surgiu por necessidade. O Viaje na Viagem já nasceu no canal "Blogs legais" do Uol, e de vez em quando ganhava chamadas na home do portal. Isso nos fez ganhar audiência rapidamente e tomar tamanha importância na minha pauta pessoal, que chegou o momento em que era desonesto eu continuar no meu emprego formal, se a minha cabeça estava no hobby. Em agosto de

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2005, pedi demissão da agência - na ilusão de que em pouquíssimo tempo choveriam patrocinadores para minhas aventuras. Sabe de nada, inocente! Aliás, a ideia de ser blogueiro de turismo e ganhar rios de dinheiro passa pela cabeça de muita gente, né? A partir de que momento conseguiu faturar com o negócio? Passei os quatro anos seguintes sem conseguir comercializar o blog (a única receita que entrou foi durante os 15 meses em que o Viaje na Viagem foi âncora da área de blogs do portal ViajeAqui, da Abril, e eu recebia um cachê fixo, sem participação comercial). Tive que queimar patrimônio - e diminuir meu padrão de vida (e de viagens). Por incrível que pareça isso foi excelente para o meu trabalho. Deixei de ser o publicitário mauricinho que ia atrás apenas da última novidade e do luxo. Houve muitas mudanças no site desde sua criação? Nesses 10 anos o blog mudou muito - a internet mudou muito. No início era um blog de nicho, frequentado por gente que só pensa em viagem e se encontrava na caixa de comentário do post mais recente, não importa o assunto, pra bater papo. Com o crescimento do conteúdo, porém, o blog passou a ser encontrado, via Google, por pessoas que pensam em viagem somente duas vezes por ano, ao planejar suas férias -- e que são a maioria dos viajantes na vida real. As caixas de comentários deixaram de ser salas de chat exclusivas dos habituês e se tornaram um SAC trepidante de perguntas e respostas sobre dúvidas práticas de viagem. E quanto ao conteúdo? Os posts precisaram ficar menos divertidos e mais objetivos, para que as informações sejam encontradas com facilidade (e resultem em menos perguntas). Muita gente tem uma saudade meio idealizada de quando o blog era pequeno - mas é uma saudade do esconderijo, do mocó, da sala de chat privativa. Hoje o site é incomparavelmente melhor. Quando revejo posts anteriores a 2010, pouquíssima coisa se salva. Como funciona a política editorial para anúncios e publiposts? Campanhas publicitárias (na forma de banners) são veiculadas normalmente, sem nenhuma vinculação editorial. Já os publieditoriais têm texto elaborado por nós e são claramente informados como tais; a partir deste ano, já têm a hashtag #ad incorporada ao título. Só aceitamos posts patrocinados de produtos que aprovamos e que achamos úteis e vantajosos para o leitor. Aceitam viagens patrocinadas Aceitamos convites de viagem quando o destino é de interesse do leitor. Dificilmente essas viagens resultam em guias definitivos - é difícil pôr o destino em perspectiva quando a programação é rígida e corrida - mas funcionam como o caldo de cultura que nos permite começar a processar melhor a informação que nos chega via caixa de comentários e que encontramos na net sobre o destino. Algumas dessas viagens são repassadas a leitores "históricos", como um agradecimento pela participação ativa no site. Esses leitores viram

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"enviados especiais" e voltam com incrivelmente profissionais. Conte um pouco da experiência como colunista de turismo na rádio Band News FM. Os boletins são muito gostosos de fazer; eu escrevo os textos pensando na coloquialidade e depois gravo tentando passar a impressão de que estou improvisando. A gravação é feita no meu computador, onde quer que eu esteja, e é então enviada por FTP. A cada série eu indico à técnica uma canção para servir de base, sempre tentando coordenar a letra ou o estilo da música com o tema da semana. Dessa maneira os programas ficam "coloridos"; a canção funciona um pouco como imagem. O mercado está repleto de sites e blogs sobre turismo. Dá para sobreviver trabalhando apenas como “turista profissional”? Eu dividiria os blogs de viagem brasileiros em três tipos, segundo suas pautas. Um é o blog de autor, em que o blogueiro cumpre exclusivamente a sua pauta pessoal de viagem. Em 99% dos casos ele tem uma ocupação principal e viaja apenas nas brechas do trabalho. Quando feitos com talento, são blogs extraordinários. O segundo tipo é o blog cuja pauta é viajar de graça para onde convidarem. Não é um blog naturalmente rentável, porque a viagem pode ser de graça, mas não há remuneração para o blogueiro. Tampouco é um blog que proporcione realização pessoal; viajar de graça uma, duas, três vezes pode ser divertido, mas quando todas as suas viagens são a convite, viajar deixa de ser um prazer para virar um compromisso. O terceiro tipo é o blog cuja pauta é a prestação de serviço. O blogueiro identifica o seu público e produz o conteúdo que responde as suas dúvidas, organiza as suas preocupações e resolve as suas viagens. Os blogs com esse foco são os que podem se profissionalizar: a audiência cresce naturalmente, e com isso aparecem as oportunidades para publicidade, e-commerce e produtos editoriais.

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