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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
CURSO DE PEDAGOGIA
A EVOLUÇÃO DA EDUCAÇÃO AO LONGO DA
HISTÓRIA NACIONAL
Por: Elizabeth Pereira Simões Branco
Orientador: Professor Fernando César Ferreira Gouvêa
Rio de Janeiro, 2008
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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
CURSO DE PEDAGOGIA
Apresentação de monografia à Universidade Candido
Mendes / Instituto A Vez do Mestre, como requisito
parcial para obtenção do grau de LICENCIADA EM
PEDAGOGIA.
Por: Elizabeth Pereira Simões Branco
Rio de Janeiro, 2008
A EVOLUÇÃO DA EDUCAÇÃO AO LONGO DA
HISTÓRIA NACIONAL
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AGRADECIMENTOS
A Deus, meu amor maior, alicerce fundamental de minha vida. A minha mãe, tão viva em minhas ações pelos exemplos que me legou. Aos irmãos que se doaram para que este momento pudesse acontecer.
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MENSAGEM
“Tome o leitor as páginas seguintes como desafio e convite. Viaje segundo seu projeto próprio, dê mínimos ouvidos à facilidade dos itinerários cômodos e de rasto pisado, aceite enganar-se na estrada e voltar atrás, ou, pelo contrário, persevere até inventar saídas desacostumadas para o mundo. Não terá melhor viagem. E, se lho pedir a sensibilidade, registre por sua vez o que viu e sentiu, o que disse e ouviu dizer. Enfim, tome este livro como exemplo, nunca como um modelo. A felicidade, fique o leitor sabendo, tem muitos rostos. Viajar é, provavelmente, um deles. Entregue as suas flores a quem saiba cuidar delas, e comece. Ou recomece. Nenhuma viagem é definitiva”. (JOSÉ SARAMAGO, São Paulo, 1997)
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APRESENTAÇÃO
O objetivo deste trabalho é realizar um traçado da evolução da educação
nos diversos períodos da História do Brasil.
No Capítulo I, abordaremos o papel do Estado, a legislação, o direito e a
política. Quando nos propomos a estudar uma sociedade, o que melhor a define,
identifica o seu caráter, é uma abordagem, a legislação e a prática na área
educacional. Realizaremos uma breve retrospectiva da evolução da História da
Educação no Brasil Colônia.
Vamos, no capítulo II, comentar o Brasil Império, seu processo social,
educacional e político rumo a Independência Política.
O enfoque do capítulo III, é o período da República entre 1870/1959, e os
seus avanços na área educacional.
O conteúdo do capítulo IV compreende o período de 1960 até os dias atuais,
ressaltando os ideais políticos que favorecem os avanços e transformações do
processo educacional brasileiro. Com enfoque especial na primeira e na atual Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional, um panorama político, legal, social e
educacional da década de 1960 até os dias atuais.
Após realizaremos as considerações finais e a conclusão do trabalho.
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ÍNDICE
Introdução 10
Capítulo I
Estado, Direito, Política e a Educação no Brasil Colonial 13
1.1. A política, o Estado e a educação
1.2. A transferência da cultura europeia para o Novo Continente
1.3. Portugueses X Cultura Indígena
1.4. Período dos Jesuítas
1.5. Portugal sob o domínio Espanhol
1.6. A ocupação do Sul
1.7. Descoberta do ouro brasileiro
1.8. Portugal dependente da Inglaterra
1.9. O Marquês de Pombal e a expulsão dos Jesuítas
1.10. O domínio britânico
Capítulo II
O Brasil caminha para a Independência Política
2.1. A vinda da família real
2.2. A política educacional desenvolvida por D. João VI
2.3. No rumo da independência política
2.4. O Período Imperial (1822/1889)
2.5. A Constituição do Império
2.6. A influência de Augusto Comte na educação brasileira
2.7. A abolição da escravatura e os imigrantes
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Capítulo III
A Educação na República Brasileira de 1870/1959
3.1. A Primeira República Brasileira (1889/1929)
3.2. A Constituição promulgada de 1891
3.3. O Período da Segunda República
3.4. A Escola Nova
3.5. A Constituição promulgada de 1934
3.6. A Constituição Outorgada de 1937 – Período do Estado Novo
(1937/1945)
3.7. A Constituição Promulgada de 1946 – Período da Quarta República
(1946/1964)
3.8. Os “dois-Brasis”
Capítulo IV
A República da Década de 1960 aos Dias Atuais
4.1. Período Militar (1964/1985)
4.2. A Constituição Promulgada de 1967
4.3. A Década de 1980
4.4. O Período da abertura política e a Constituição de 1988
4.5. Princípios Constitucionais Fundamentais que regem a educação
4.6. Da Década de 1990 aos dias atuais
4.7. Lei de Diretrizes e Bases da Educação de 1996
4.8. Principais destaques da atual política educacional
4.9. O Estado Democrático de Direito
Conclusão
Referências Bibliográficas
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INTRODUÇÃO
A escolha do tema resultou das minhas dúvidas e inquietações acumuladas
e concretizou-se no decorrer da minha prática profissional, no magistério de
ensino superior e minha atuação como pública.
Nada como a vida e a história para nos ajudar a observar e entender os
paradigmas que foram se estabelecendo na educação brasileira, nas políticas
levadas a efeito e na própria legislação vigente.
Não podemos negar as experiências adquiridas historicamente, mas
devemos delas nos utilizar, reelaborando-as conforme as novas tendências e
necessidades. A educação desempenhada o papel de formação do sujeito,
agente de sua própria história. Os sistemas do poder político constituído
coordenam as estruturas educacionais, estabelecem normas na área
administrativa, objetivos pedagógicos e prioridades curriculares.
Na escola se defrontam as forças conservadoras e do progresso, porque
reproduz as estruturas existentes. Também, de maneira contraditória, permite a
libertação, na medida em que não é apenas um ambiente de reprodução mas a
alavanca que impulsiona a transformação da sociedade. A Escola é um espaço
caracterizado pela pluralidade de situações, experiências, realidades, contrastes,
objetivos de vida, relações sociais, estruturas de poder, tradições históricas e
culturais. É um dos principais instrumentos para a formação de um cidadão
autônomo, crítico, consciente, capaz de tomar decisões, fazendo valer o seu
direito pleno à cidadania.
A socialização do conhecimento eficaz eleva a compreensão da realidade,
da capacidade de questionamento, elevado a um comportamento ético-político,
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condições necessárias para uma prática social transformadora. Através da
educação o homem alcança a autonomia e a liberdade.
O processo de construção e socialização do conhecimento é fundamental
para a democratização da sociedade. Educação democrática supõe fazer
escolhas, entre múltiplas opções, elegendo e assumindo as escolhas efetuadas,
que elas sejam responsáveis. Cidadania consciente dos problemas próprios e da
sociedade.
Garante a Constituição Federal Brasileira de 1988, em seu artigo 206,
incisos I e VII: “O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios:
igualdade de condições para o acesso e permanência na escola; garantia de
padrão de qualidade.”
A expansão de escolas, de qualidade, que atendam a toda a população,
significa a democratização da educação. O art. 205, da Constituição Federal
vigente afirma que, todos têm direito à educação, impondo ao Estado o dever de
assegurar tal direito: “Educação, direito de todos e dever do Estado (...).
O art. 53, do Estatuto da Criança e do Adolescente, estabelece em relação
à educação:
“A criança e o adolescente têm direito à educação(...) assegurando-se-lhes I- Igualdade de condições(...) II- Direito de ser respeitado por seus educadores; III- Direito de contestar critérios de avaliação...; IV- Direito de organização e participação em entidades estudantis; V- Acesso a escola pública e gratuita próxima de sua residência.
Assim, tendo clareza da função política da escola que, necessita abranger
na prática pedagógica, a discussão dos problemas sociais, políticos, culturais,
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articulada com as experiências de vida do seu aluno, enquanto ser concreto e
histórico, o estudo fez uma retrospectiva da evolução da educação ao longo da
História Do Brasil.
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CAPÍTULO I
ESTADO, DIREITO, POLITÍCA E EDUCAÇÃO NO BRASIL
COLONIAL
1.1. A política, o Estado e a Educação
O uso do termo política dá margem a muitos significados, o enfoque aqui é
o conjunto de atividades que emanam do Estado. Frisando-se que, quando se
pretende estudar a evolução de uma sociedade, de um Estado o que melhor o
define e identifica seu caráter é a sua legislação educacional.
Em qualquer sociedade existe sempre um poder dominante, constituído e
organizado. As instituições políticas transformam preferências e aspirações de
grupos em decisões políticas. O poder político não é exercido somente pelo
Estado, mas por associações menores que dele fazem parte: - igrejas, sindicatos,
organizações profissionais, escolas...
As diretrizes, emanadas pelo Estado no que concerne à educação, são
executadas através da política educacional, que demonstra os propósitos de
conciliar a filosofia política dominante com os anseios de formação humana
inseridos nesta filosofia.
A política educacional, formulada pelo Estado, está voltada para os
aspectos pedagógicos enunciados, também, com aspectos que localizam o
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indivíduo em um contexto social. As várias políticas educacionais levadas a efeito
no Brasil, ao longo de sua História, proclamam sempre a ideia de que com elas
seriam asseguradas as condições básicas para uma mudança qualitativo na
sociedade.
Segundo Stavenhagem (1970,20-46) classe social é uma categoria
histórica. Não são imutáveis no tempo, formam-se, desenvolvem-se, modificam-
se à medida que se vai transformando a sociedade, são o resultado das
contradições e contribuem para o desenvolvimento das mesmas. As classes
atuam como forças motrizes na transformação das estruturas sociais. Constituem
parte integrante da dinâmica da sociedade, movidas, ainda, por sua própria
dinâmica interna.
Saviani (1984,11) ressalta o caráter contraditório da educação ao procurar
compreendê-la no movimento histórico da sociedade. A pedagogia histórico-
crítica, proposta por Saviani, envolve a possibilidade de se compreender a
Educação escolar tal como ela se manifesta no presente, mas entendida essa
manifestação atual, como resultado de um longo processo de transformação
histórico. O autor busca a compreensão da realidade escolar nas suas raízes
históricas. O que se chama desenvolvimento histórico, é o processo da qual da
qual o homem produz a sua existência no tempo. É isto que o caracteriza.
Agindo sobre a natureza, o homem vai construindo a história, vai construindo
a cultura, o mundo humano. E a educação tem suas origens nesse processo.
A escola tem uma função específica, pedagógica, ligada à questão do
conhecimento.
O Direito não é um sistema rígido, fechado em si mesmo. É o resultado de
ações e reações oportunas. Pode-se afirmar que a ação do ambiente é decisiva
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na formação do Direito, pois age sobre a inteligência, moderando-a, imprimindo-
lhe caracteres determinados.
A ciência jurídica evolui, a cada nova etapa redefine objetos,
conceitos, prioridades, fazendo surgir novos conceitos e novas prioridades.
Visando ao atendimento das necessidades sociais do homem em um determinado
momento, num determinado período histórico.
A vida está fora dos Códigos e em todos os lados vemos acontecimentos
diferentes, que repercutem na vida social, e é através da interpretação que se
obtém a necessária adequação do DIREITO. Carlos Maximiliano, em 1924 fez
uma afirmação que se mostra atual até os nossos dias:
“Hoje não mais se acredita na onipotência do legislador não: se interpreta o
Direito como obra artificial do arbítrio de um homem, ou de um grupo reduzido, e,
sim, elaboração espontânea da consciência jurídica nacional, fenômeno de
psicologia coletiva, um dos produtos espirituais da comunidade”. (MAXIMILIANO,
1988, p. 19).
A interpretação tem em vista a adequação do Direito às exigências
histórico-sociais. Ela funciona como instrumento de renovação e atualização do
ordenamento jurídico. O sentido da norma, no momento de sua aplicação ao
caso concreto, se faz com o sentido que possui no momento da aplicação, no
momento social atual, que pode não ser o mesmo sentido que possuía quando foi
elaborada: os valores e os fatos que deram origem à norma se tornam
compatíveis com os fatos e valores do momento presente da aplicação.
Hoje, o Direito é uma resultante da consciência jurídica da nação. A lei é a
mais importante fonte do direito, mas não é a única, devendo-se recorrer a outras
fontes quando a lei não dá solução para o caso. Para José Eduardo Faria (1989):
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“o Direito a mudar de eixo, na medida em que representar anseios e interesses diferentes, ele mesmo será um estimulador da transformação social no sentido de uma sociedade mais humana, ele mesmo será um libertador dos grilhões da dominação a nível da infra-estrutura, ele mesmo será uma variável para acelerar a superação das necessidades fundamentais do homem, abrindo caminho, talvez, no sentido de que o ser humano possa refletir sobre as questões da morte, do cosmos e do amor...” (p. 184)
O legislador é um representante do povo e, em sua maioria, desconhece a
Ciência Jurídica e o Direito, além disso, tão logo a lei entra em vigor e passa a ser
aplicada aos casos concretos, nenhuma ligação mais existe entre a norma e o
legislador que participou de sua elaboração.
Como a finalidade do Direito é garantir as condições de uma existência,
social e individual, digna e justa, há que se interpretar a norma segundo os valores
vigentes, portanto levando-se em conta não só o espaço mas, também, o tempo
em que sua aplicação se dará.
A Constituição Federal Brasileira de 1988, em vigor, determina que é
competência privativa da União legislar sobre “diretrizes e base da educação”,
artigo 22, inciso XXIV. Atribui, ainda, em seu artigo 24, inciso IX, a competência
concorrente à União, Estados-Membros e Distrito Federal para legislar sobre
educação. O que não significa que os detalhes de como alcançar os objetivos
serão ali tratados. Tornar eficazes as diretrizes é matéria técnica. As políticas
educacionais formuladas indicam o caminho, ficando as tarefas especificas a
cargo dos agentes que executam a educação. Desta maneira a responsabilidade
recai sobre a sociedade, em especial sobre os agentes que executam a educação.
A maioria dos Estados Modernos determinou os limites de sua política
educacional a partir de um mínimo de escolaridade para seus cidadãos. Desde a
Declaração Universal dos Direitos Humanos, de 1948, encontramos no art. 26, do
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citado documento, a determinação de que toda pessoa tem direito à educação,
que deve ser gratuita, pelo menos no que se refere à instrução elementar e
fundamental, que será obrigatória.
Em 1959, a Assembléia Geral das Nações Unidas, aprovou a Declaração
dos Direitos da Criança, figurando no seu Princípio 7 “que a criança tem direito de
receber educação gratuita e obrigatória pelo menos na etapas elementares”.
Hoje, no Brasil, o ensino obrigatório e gratuito só é dever do Estado em
relação ao ensino fundamental, obrigatório inclusive para aqueles que não tiveram
acesso a ele na época própria. É o que preceitua o inciso I, do artigo 208, da
Constituição Federal Brasileira de 1988 e reafirma o artigo 4º, inciso I, da Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional vigente.
Para exercer sua função política e escola necessita integrar, na prática
pedagógica, a discussão dos problemas sócio-culturais, em sintonia com as
experiências vivenciadas por seus alunos.
“Os estabelecimentos de ensino, respeitadas as normas comuns e as de seu sistema de ensino, terão incumbência de: articular-se com as famílias e a comunidade criando processos de integração da sociedade com a escola”. (artigo 12, VI, LDB/96).
A escolarização constitui um dos instrumentos fundamentais para a
formação do cidadão informado, participante, atuante no mundo em que vive.
Quando se propõe a socializar o conhecimento, de maneira que possibilite a
elevação do grau de compreensão da realidade social e política, condição
necessária para uma prática social transformadora. Levando, assim, a um
comportamento ético-político, de respostas criativas, desenvolvendo a
consciência crítica e maior capacidade de decisão. É o papel da educação na
formação de um novo sujeito, agente de sua própria história.
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1.2. A transferência da cultura europeia para o novo continente
A descoberta da América pelos europeus, nos fins do século XV, pretendeu
uma espécie de transferência da cultura europeia para o continente americano.
“Nem o Espanhol nem o Português que aqui apontaram traziam propósitos de criar, deste lado do Atlântico, um mundo novo. Encontram um mundo novo, que planejaram explorar, saquear e, assim enriquecidos, voltar à Europa. VianaMoog comentou, em páginas definitivas, o “sentido predatório” da aventura sul-americana com contraste com o “sentido orgânico” da formação norte-americana. Mundo novo “vinham fundar aqui” os peregrinos do Mayflower. Novo mundo encontraram aqui espanhóis e portugueses. O mundo novo dos americanos ia ser criado. O mundo novo dos espanhóis e portugueses iria ser saqueado. O saque prolongou-se, porém, e o regresso se retardou.” (TEIXEIRA, 1962, p. 9)
A diversidade linguística e cultural, existente hoje no Brasil é um reflexo da
formação de nosso povo. Os nativos (povos indígenas), os portugueses
colonizadores, de diversas regiões de Portugal e seus falares, os negros de
diferentes localidades trazidos para cá e, ainda, os diferentes imigrantes.
No período de 1501 a 1600, a ocupação européia limitava-se ao litoral.
Uma população que não se aventurava pelo interior, pois este era hostil e
desconhecido.
Nas Costas Norte e Sul os franceses contrabandeavam principalmente o
pau-brasil e o algodão. Já os corsários ingleses atacavam com a intenção de
contrabando e pilhagem.
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Para que se possa entender a educação no Brasil Colônia necessário
se faz uma breve retrospectiva histórica daquela época.
1.3. Portugueses X Cultura indígena
Os Portugueses, ao invadirem as terras indígenas, os obrigaram a fazer
coisas contrárias a sua cultura e hábitos, tais como: viverem em locais cercados,
trabalhando para alguém que não pertencia ao seu grupo, plantar e colher além
do necessário para comerem.
Os índios brasileiros transmitiam sua cultura oralmente, as meninas, ajudavam
as mães (fazendo vasos de cerâmica, cestas, colhendo frutas e raízes, plantando
mandioca, cultivando o milho, a batata-doce, o cará, o feijão, o amendoim, o
tabaco, a abóbora, o urucu, o algodão, o carauá, as pimentas, o abacaxi, o
mamão, a erva-mate, o guaraná; caju, pequi...). A agricultura assegurava a
fartura alimentar e grande variedade de matérias-primas, condimentos, venenos e
estimulantes. Os meninos aprendiam as tarefas masculinas (cortavam árvores,
limpavam os terrenos onde as mulheres semeavam e colhiam, aprendiam a lidar
com o arco e a flecha, a caçar, a fazer ocas...).
“Para os índios, a vida era uma tranquila fruição da existência, num mundo dadivoso e numa sociedade solidária. Claro que tinham suas lutas, suas guerras. Mas todas concatenadas, como prélios, em que se exerciam valentes. Um guerreiro lutava, bravo, para fazer prisioneiros, pela glória de alcançar um novo nome e uma nova marca tatuada cativando inimigos. Também servia para ofertá-lo numa festança, em que centenas de pessoas o comeriam convertido em paçoca, num ato solene de comunhão, para absorver sua valentia, que nos corpos continuaria viva. Uma mulher tecia uma rede ou traçava um cesto com a perfeição de que era capaz, pelo gosto de expressar-se em sua obra, como um fruto maduro de sua ingente vontade de beleza. Jovens adornados de plumas sobre seus corpos escarlates de urucu, ou verde-azulados de jenipapo,
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engalfinhavam-se em lutas desportivas de corpo a corpo, em que punham a energia de batalhas na guerra para viver o vigor da alegria. Para os recém-chegados, muito ao contrário, a vida era uma tarefa, uma sofrida obrigação, que todos condenava ao trabalho e tudo subomava ao lucro. Envoltos em panos, calçados de botas e enchapelados, punham nessas peças seu luxo e vaidade, apesar de mais vezes as exibirem sujas e molambentas, do que pulcras e belas... O contraste não podia ser maior, nem mais infranqueável, em incompreensão recíproca”. (RIBEIRO, 1995, pág. 47-48)
Os portugueses, em princípio, não se interessaram muito pelo Brasil,
consequência do fato de o comércio do Oriente oferecer maiores lucros. A
colonização do Brasil, naquele momento, não era interessante, pois sua riqueza
parecia limitar-se ao pau-brasil. Mas, mantê-la seria conveniente como “porto de
reabastecimento” para os navios que seguiam para as Índias.
O mercado do pau-brasil era limitado na Europa, pois abrangia somente
nobres e comerciantes, que eram os que usavam trajes luxuosos para demonstrar
poderio econômico. Como não iria desviar os recursos do Oriente para uma
empresa menos lucrativa, Portugal estabeleceu contratos com comerciantes
portugueses. Eles enviaram esquadras para explorar o litoral brasileiro e
ergueriam uma fortaleza. Em troca, poderiam comercializar os produtos daqui
retirados, inclusive o pau-brasil, desde que pagassem o imposto real. O pau-
brasil ficou tão famoso na Europa que, volta de 1510, seu nome já passaria a
designar a nossa terra, apesar de, oficialmente , ainda ser chamada Terra de
Santa Cruz.
“O lucro com a venda do pau-brasil era grande, porém seu comércio muito arriscado em virtude dos atos de pirataria dos franceses e dos perigos das travessias oceânicas. Não era, pois, o melhor negócio da época. Porém, se não era muito rendoso para os portugueses, comparativamente a seus interesses econômicos na África e na Índia, o mesmo não sucedia aos mercadores e corsários franceses que, não dispondo de escolha, podiam
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dedicar-se com razoáveis lucros à exploração das costas brasileiras”. (SOUTO MAIOR, 1974, p. 44)
A França não reconhecia os direitos de Portugal sobre a região e aqui
vinham para buscar o nosso pau-brasil, sem o consentimento do governo luso e
sem pagar impostos.
Para acabar com tais explorações, Portugal enviou esquadras. A principal
delas, com objetivo de explorar a região, aprisionar os navios contrabandistas de
pau-brasil e fundar núcleos para garantir a posse da terra, foi a esquadra de
Martin Afonso de Souza. Que atingiu o litoral de Pernambuco em 1531, fundando
vilas que, no entanto, se mostraram insuficientes para garantir a posse da terra.
Era necessária uma colonização efetiva.
“Embora no início do século XVI os portugueses ainda estivessem deslumbrados com o lucro que obtinham no comércio com a Índia, a madeira que deu nome a nossa terra, conhecida e cobiçada por estrangeiros, obrigou-os a colonizá-la. Caso contrário... talvez até a perdessem”. (Id., p. 45)
Portugal precisava encontrar um produto lucrativo que se adaptasse a
região, não exigindo técnicas complicadas, que fosse conhecido dos agricultores
portugueses, a escolha recaiu na cana de açúcar. A Metrópole não queria
gastar dinheiro com a terra, comprando máquinas, escravos, semeando. Assim,
vieram para cá alguns guerreiros que haviam feito fortuna nas campanhas
orientais e fidalgos empobrecidos. Eles se obrigavam a cultivar o solo, pagando
ao Rei um quinto do produzido. Foram as capitanias hereditárias (semelhante ao
arrendamento em nossos dias). Elas atingiram o objetivo português, colonizar a
terra. Porém, a área era muito extensa, e Portugal logo percebeu que não tinha
meios efetivos de ocupá-la eficazmente.
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“Alguns historiadores apresentam Martim Afonso de Souza como o introdutor da cana-de-açúcar no Brasil, que certamente a teria trazido da ilha da Madeira. Em 1561, quatorze anos antes, entretanto, D. Manuel já assinara um alvará mandando distribuir “machados e enxadas e todas as ferramentas às pessoas que fossem povoar o Brasil que procurassem e elegessem um homem prático e capaz de ir ao Brasil dar começo a um engenho de açúcar; que lhe desse uma ajuda e também todo o cobre e ferro necessário e mais coisas para o fabrico do dito engenho”. Informa Luiz Amaral que, em 1526, a alfândega de Lisboa já cobrava impostos da entrada ao açúcar brasileiro”. (Ibid., p. 72)
Portugal passou a se interessar pelo Brasil pelos seguintes motivos:
- primeiro, perdeu as terras no norte da África, acabando o controle das
rotas comerciais que uniam o interior africano, rico em ouro e marfim, ao litoral;
- o segundo motivo, por volta de 1550 a Espanha encontrou minas de Prata
em Potosi, na atual Bolívia;
- e o terceiro foi devido a necessidade de manter o controle da colônia
brasileira.
Para Brasil vinham indivíduos de todos os tipos, eram os degredados de
Portugal, criminosos, de maneira geral, que tinham como pena a expulsão para o
Brasil.
Em 1548, o rei português comprou a Capitania da Bahia para instalar a
sede do Primeiro Governo Geral. Foi a primeira Capitania da Coroa, tendo sido
fundada em 1549, tendo a cidade de Salvador como sede do Governo Geral.
Darcy Ribeiro (1995) relata:
“O primeiro governador chega ao Brasil em 1549, em três naus, duas caravelas e um bergantim. Traziam funcionários civis e militares, soldados e artesões. Mais de mil pessoas ao todo, principalmente degradados. Com eles vieram novos colonos, bem como os primeiros jesuítas. Nóbrega, mais velho e experiente, à frente, e mais três padres e dois irmãos; Anchieta, um rapagão de dezenove anos, veio na leva seguinte.
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O governo instala-se na Bahia, construindo a cidade com gente que trazia e com o apoio dos índios e mamelucos de Caramuru. É assinalável a quantidade e qualidade de profissionais que iam de cirurgiões, barbeiros, sangradores, a quantidade de pedreiros, serradores, tanoeiros, serralheiros, caldeireiros, cavaqueiros, carvoeiros, oureiros, canoeiros, pescadores e construtores de bergantins. Não vieram mulheres solteiras, exceto, ao que se sabe, uma escrava provavelmente moura, que foi objeto de viva disputa. Conseqüentemente, os recém-chegados acasalaram-se com as índias, tomando, como era uso da terra, tantas quantas pudessem, entrando a produzir mais mamelucos. Os jesuítas, preocupados com tamanha pouca-vergonha, deram para pedir socorro ao reino. Queriam mulheres de toda qualidade, até meretrizes (...) poucas conseguiram”. (RIBEIRO, D. 1995, p. 89)
1.4. Período dos Jesuítas
Em Salvador, no ano de 1549, foi criada a primeira escola do país. Os
jesuítas, de 1549 / 1759, foram praticamente os únicos educadores no Brasil,
reflexo da influência católica e sua ingerência junto a Corte Portuguesa.
Os Jesuítas estabeleceram os caminhos da educação, com finalidades de
organização social, cultural e catequese, baseada na “cristandade” (“Ratio
Studiorum”). Ainda, planos de estudos, de métodos, e a base filosófica dos
jesuítas. Representa o primeiro sistema organizado de educação católica
conservadora. A Companhia de Jesus imprimiu uma disciplina rígida, sendo
divulgada pela pedagogia dos jesuítas, que exerceram grande influência, em
quase todo o mundo, incluindo o Brasil. Aqui chegaram em 1549, foram expulsos
em 1759 e retornaram em 1847.
“O tipo de ensino e de educação, adotado pelos jesuítas, sistema aliás útil às necessárias de seu principal consumidor, a Igreja, e outrora organizado por ela, parecia satisfazer integralmente às exigências elementares da
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sociedade daquele tempo, de estrutura agrícola e escravocrata, em que o estudo, quando não era um luxo de espírito, para o grupo feudal e aristocrático, não passava de um meio de classificação social para os mestiços e para a burguesia mercantil das cidades”. (AZEVEDO, 1996, p. 545,546).
É correto afirmamos que a primeira política educacional no Brasil foi
empreendida pelos Jesuítas. Em 1554 é fundado o Colégio de São Paulo, pelo
Padre Manuel de Nóbrega.
Os engenhos brasileiros geralmente tinham uma capela particular, onde vivia
um padre. Era ele quem ensinava as crianças a ler e escrever. Eram os padres as
pessoas mais cultas e foram os primeiros professores. Fora as “escolas” das
fazendas havia o Colégio dos Jesuítas, que recebia auxilio do Rei.
Os escravos que aqui chegavam pertenciam a pontos do litoral das Costas
Atlânticas, sob o domínio português, pertenciam a tribos diversas com culturas
diferentes. Como as tribos Fula de Mandinga que haviam sofrido a influência da
religião muçulmana.
Preocupados em deter o avanço dos Protestantes, os jesuítas desenvolviam
atividades educativas voltadas para a conversão à fé católica dos povos nativos
das regiões colonizadas. A Reforma Protestante foi um movimento religioso
iniciado no interior da igreja romana pelo monge alemão Martinho Lutero no início
do século XVI. Meio século depois o protestantismo já se expandia por quase
metade da Europa Cristã. Lutero enfatizava que a tarefa da educação não era
uma prerrogativa exclusiva da Igreja, a família e o estado tinham
responsabilidades sobre a formação dos indivíduos. Defendia que o ensino
deveria ser estatal, gratuito e obrigatório. O protestantismo coincide com as idéias
renascentistas no tocante a valorização o indivíduo. A relação direta com Deus
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valoriza a personalidade autônoma, diminuindo a coação intelectual exterior e
enfraquecendo a autoridade dogmática.
Na educação jesuíta havia certo descompasso com as novidades
educacionais recém conquistas através das idéias dos livres pensadores
renascentistas. Não havia muita preocupação com as matérias cientificas,
retornando a formação clássica original cuja ênfase eram as letras, a formação
moral e religiosa. Didaticamente reproduzia os métodos medievais de cópia e
memorização, no tocante à disciplina era baseada em castigos, recompensa e
vigilância.
Darcy Ribeiro (1995) escreveu:
“Também foi evidentemente nefasto o papel dos jesuítas, retirando os índios de suas aldeias dispersas para concentrá-los nas reduções onde, além de servirem aos padres, e não a si mesmos, e de morrerem nas guerras portuguesas contra os índios hostis, eram facilmente vitimados pelas pragas de que eles próprios, sem querer, os contaminavam. É evidentemente que nos dois casos e propósito explícito dos jesuítas não era destruir os índios, mas o resultado de sua política não podia ser mais letal se tivesse sido programada para isso. A atuação mais negativa dos jesuítas, porém, se funda na própria ambiguidade de sua dupla lealdade frente aos índios e á Coroa, mais predispostos, porém, a servir a essa Coroa contra índios aguerridos que a defendê-los eficazmente diante dela. Isso sobretudo no primeiro século, quando sua missão principal foi minar as lealdades étnicas dos índios, apelando fortemente para o seu espírito religioso, a fim de fazer com que se desgarrassem das tribos e se atrelassem às missões. A eficácia que alcançam nesse papel alienador é tão extraordinária quanto grande a sua responsabilidade na dizimação que dela resultou”. (RIBEIRO, 1995, p. 56)
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O ano de 1570 marcou o início dos cursos regulares de bacharelado e
mestrado em artes no Colégio Máximo, da Bahia.
Em 1580 Portugal entrou para domínio espanhol, só se libertando em 1640.
1.5. Portugal sob o domínio Espanhol
A união das monarquias de Portugal e Espanha, na figura de um único
monarca, fez cair a linha de Tordesilhas, já que todas as terras estavam sob um
mesmo domínio. A aliança luso-espanhola permitiu a expulsão definitiva dos
franceses de nossas terras e penetração nas regiões do interior. O Governador
Geral saiu fortalecido.
“o período de dominação espanhola, que os espanhóis chamam de “união peninsular”, durou 60 anos (...) No Brasil, o domínio espanhol foi uma fase de penetração e conquista. Nos 60 anos de dominação espanhola vão ser expulsos os franceses, as bandeiras vão cortar o sertão e a expansão do gado vai fixar o homem em terras antes dominadas pelos índios. A mudança de coroa não atingiria muito a colônia. Filipe II, inteligentemente, mantivera toda a máquina administrativa de Portugal e das colônias, sem nada mudar. Todos os altos cargos ficaram nas mãos de portugueses; navegação, comércio, sob seu controle. O rei espanhol agia com prudência”. (SOUTO MAIOR, 1974, p. 109)
Nessa época, foi proibido o comércio com a Holanda. Muitos senhores de
engenho brasileiros tinham dívidas com os banqueiros holandeses. Eram eles que
tinham frotas para transportar o açúcar do Brasil à Europa, bem como a
distribuição era feita pelos Holandeses.
De 1630/1635, os holandeses se estabeleceram no Brasil. Durante sete anos
o Conde João Maurício de Nassau governou as possessões holandesas no Brasil
(Maranhão a Sergipe). Época de algum progresso. Nassau embelezou a cidade,
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construiu pontes, fortalezas, palácios, fundou um Jardim Zoológico, um Jardim
Botânico, um museu onde inúmeros artistas europeus expuseram seus trabalhos.
“Portugal e Holanda, anteriormente, haviam mantido grande intercâmbio comercial. Quando, em 1580, Portugal passou ao domínio espanhol, a Espanha tentou obstar esse ativo comércio com seus inimigos dos Países Baixos. A economia portuguesa, no entanto, estava de tal maneira ligadas às exportações e às importações holandesas que, prudentemente, a coroa espanhola cessou a série de restrições ao intercâmbio luso-flamengo.(...) A Holanda não desistia de suas intenções na América. No fim de cinco anos de guerra os holandeses dominavam do Rio Grande do Norte ao Recife. (...) A Companhia das Índias Ocidentais resolveu, então, nomear um governador para o Brasil holandês: o conde João Maurício de Nassau Siegen. (...) Nassau foi um magnífico administrador. Construiu duas grandes pontes, drenou os alagados por meio de canais e pavimentou grande parte da nova cidade, que substituiu o velho burgo de Olinda como capital. Na confluência dos rios Capibaribe e Beberibe, com frente para o nascente, avistando ao longe Olinda, construiu o seu próprio Palácio, o Vrijburg (Retiro), ao qual os da terra chamariam de Palácio das Torres; ao lado plantou um belíssimo pomar, entremeado de jardins, onde mais tarde instalada também um pequeno zoológico. Construiu também um outro, o da Boa Vista, na margem direita do Capibaribe, onde atualmente se ergue o convento do Carmo que, segundo Pereira da Costa, é parte do palácio nassoviano aproveitado e modificado pelos Carmelitas. Nassau era um autêntico espírito da Renascença. Com ele trouxe os artistas que fixaram em telas o encanto da flora tropical e os costumes dos seus habitantes: Franz Post é Albert Eckout”. (SOUTO MAIOR, 1974, p. 117, 118, 122, 126, 129)
Em 1644, Nassau voltou para a Europa, a situação dos holandeses no
Brasil começou a declinar.
“Em 1644, Nassau pedia demissão pela segunda vez. Seguia a cavalo até o Paraíba, acompanhado de numerosa comitiva a de lá para a Holanda. É provável que os holandeses não houvessem perdido seus domínios se a Companhia das Índias Ocidentais tivesse conservado Nassau.
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É duvidoso se disso resultaria algum bem para o Brasil. De maneira geral, como assinalou o historiador José Gonçalves de Melo Neto, “ os holandeses não se tinham apoderado do Brasil com a intenção de o colonizar, isto é, de para aqui se transferir com famílias e estabelecer um renova da pátria: movia-os, sobretudo, o interesse mercantil. Haviam-nos atraído os grandes lucros do açúcar, fabricados nos engenhos que os portugueses tinham fundado nas terras tropicais”. Foram os maranhenses os precursores da expulsão dos holandeses. No Maranhão o jugo, flamengo havia sido muito duro e além disso era recente: não criara raízes”. (id., 131)
A Holanda enfraquece a Espanha, que não consegue evitar a Revolução
Portuguesa de 1640. Um Tratado de Paz é assinado entre Portugal e Holanda. A
segunda se compromete a desistir do Brasil. Com a experiência adquirida no
Brasil, a Holanda passou a produzir açúcar nas Antilhas, fazendo com que nossa
produção entrasse em crise.
Por serem Protestantes os Holandeses intensificaram a campanha contra a
religião católica praticada pelos luso-brasileiros (Insurreição Pernambucana
1645/1654).
1.6. A Ocupação do Sul
Os Portugueses não se interessavam pelo Sul, um litoral arenoso, que
dificultava o acesso por mar, e não favorecia a implantação da cana. Para ocupar
a região mandou fundar núcleos de povoação, ocupando por famílias vindas do
arquipélago dos Açores. Tais famílias recebiam pequenos lotes onde plantavam a
oliveira e o trigo adaptados ao clima. A agricultura era para o consumo interno. Os
paulistas ocuparam o interior buscando rebanhos dispersos e chocando-se com
os espanhóis.
“O Rio Grande nascia do impulso de três correntes humanas, diferenciadas nos seus propósitos, mas semelhantes nas suas origens raciais. E o lastro, em que se fundiam as
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correntes alienígenas, era o índio – o tape, no litoral, o guarani nas missões e o charrua, nos plainos da Banda Oriental. Pelo oeste e sul, ingressavam os espanhóis com os estandartes cristãos dos jesuítas. Pelo nordeste, os mamelucos de Piratininga e Laguna, impelidos não mais pelo sonho do couro e das esmeraldas, mas à procura dos rebanhos espanhóis e do índio traficável. Pelo litoral, os ilhéus, simples arroeteadores de terra (...). Não obstante a imigração mais tardia, dos continentes étnicos da Itália e da Alemanha, os redutos democráticos primitivos conservaram os caracteres peculiares de sua origem. A influência castelhana emprestou uma fisionomia inconfundível ao tipo humano das Missões e das zonas de Campanha. A ascendência do caipira paulista é ainda sensível nas regiões do Planalto Médio e do Nordeste e as lembranças profundas do açoriano teimam e permanecem, evocativas, na vida e feição das nossas cidades fluviais e marítimas”. (ORNELLAS, 1952, p. 22/24)
A mistura de tradições espanholas, portuguesas, indígenas, fez com que os
gaúchos desenvolvessem uma cultura á parte, um povo de coragem, que exalta a
liberdade.
Durante o século XIX trata-se a luta pela posse dos rebanhos, cujo couro
era exportado. Em 1750 a carne passa a ser produto importante de exportação.
Ao findar do século XVII as fronteiras do Sul apresentavam-se semelhantes
ao que é hoje.
Todas as atividades, que viessem a concorrer com a Metrópole, eram
proibidas ou limitadas. Assim foi como sal, que era uma importante indústria
lusitana, e que não pode ser aqui extraído.
O vinho e a oliveira também sofriam restrições e era proibida a fabricação
de tecidos (SOUTO MAIOR, 1974).
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1.7. Descoberta do Ouro Brasileiro
No século XVIII, na região central da colônia, descobriu-se ouro mudando
toda a região. Por volta de 1690, jazidas foram encontradas, veios, rios que
provocaram transformações na Colônia.
De 1690 / 1711 a população do interior cresceu assustadoramente. O Rei
baixou uma série de Decretos (Regimentos) estabelecendo a Intendência do Ouro.
Para o transporte chegaram as mulas e os julgamentos do Sul. Do Norte
vinha o gado de corte. Por isso, Minas Gerais, Mato Grosso são zonas de
pecuária, pois, com o tempo, as regiões do ouro dedicaram-se à criação de gado.
O gado abriu novos caminhos no interior do Brasil, criando uma “civilização do
couro” e uma sociedade mais livre.
A Monarquia organizou a cobrança de impostos, fechou os caminhos para
evitar o contrabando. Distribuiu as “datas”, quando alguém descobria uma jazida
tinha que comunicá-la ao Intendente. Este fazia a distribuição dos lotes (ou
datas). Dois lotes eram dados ao descobridor, um ficava para o Rei e os demais
eram sorteados pelos donos de escravos que se inscreviam na Intendência. O
ouro encontrado era levado às Casas de Fundição, onde era derretido e
transformado em barra. Antes, retirava-se uma quinta parte que pertencia ao Rei
(“quintar o ouro”).
Mais tarde, foi criado um novo imposto, a Capitania devia dar ao Rei
anualmente, 100 arrobas de ouro, se faltasse era feita uma cobrança extra, “a
derrama”.
“Ávido de ouro, Portugal exigia que grandes recursos humanos de sua colônia fossem aplicados exclusivamente na mineração, proibindo o estabelecimento de engenhos na
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região das Minas e punindo severamente o contrabando de ouro e de pedras preciosas (...) Foram fechadas no Brasil as fábricas de tecidos, manteve-se o estanco do sal, proibiu-se o uso de estradas do interior para o litoral e ordenou-se a cobrança dos quintos atrasados; que não haviam sido pagos, evidentemente, pela exaustão em que já se encontravam as minas de ouro e pela resistência natural e compreensível, dos colonos aos seus opressores (...). Os “quintos” atrasados já tingiam a uma enorme cifra cuja cobrança arrasaria os mineiros. Não obstante, o governador da capitania Luís Antônio Furtado de Mendonça, Visconde de Barbacena, cumprindo ordens vindas da Metrópole, publicou oficialmente a “derrama”, isto é, a cobrança de ouro devido ao governo. Baseava-se a derrama no princípio de que a região deveria produzir 500 arrobas de ouro por ano e consequentemente, pagar 100 arrobas à Fazenda Real. O rendimento médio dos “quintos” de 1774 a 1785 fora de 68 arrobas anuais, deviam pois, as Minas ao Governo português 384 arrobas (5.760 quilos). A derrama não atingia apenas os mineradores. Toda a população era obrigada a contribuir, de acordo com as posses de cada um, calculadas segundo estimativas feitas pelo próprio governo. É perfeitamente compreensível o clima de apreensão em que se encontrava a Capitania”. (SOUTO MAIOR, 1974, p. 181, 182)
1.8. Portugal dependente da Inglaterra
Os diamantes foram descobertos, originando a criação do Distrito de
Diamantina, que só recebia ordens do Rei, através do Intendente. A Corte
Portuguesa neste período (1710/1760) foi uma das mais luxuosas da Europa. Os
mineradores, no entanto, viviam em dificuldades já que deviam pagar altos
impostos.
Portugal, em 1640, tornara-se dependente da Inglaterra, as maiores casas
comerciais em Portugal eram de banqueiros ingleses. Os produtos das Colônias
portuguesas seguiam a preço baixo àquele país, que lhe vendia produtos
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manufaturados bem mais caro. A diferença era paga com o ouro brasileiro, usado
para construir as primeiras indústrias inglesas, pagar operários e fabricar
máquinas, os soberanos ingleses eram os senhores dos mares.
O ciclo do ouro transformou o Rio de Janeiro em capital e porto exportador
do ouro. O Governador Geral passa a ter o título de Vice-Rei. Havia tributos para
importações, para cruzar rios, para abrir lojas, sobre produtos. O ouro aumentou a
população.
“Com efeito, a mineração de ouro (1701-80) e, depois a de diamante (1740-1828) vieram alterar substancialmente o aspecto rural e desarticulado dos primeiros núcleos coloniais. Sua primeira consequência foi atrair rapidamente uma nova população – mais de 300 mil pessoas, nos sessenta primeiros anos – para uma área do interior, anteriormente inexplorada, incorporando os territórios de Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso à vida e a economia da colônia. Para avaliar a importância da atividade mineradora, é suficiente considerar que teria produzido em ouro, cerca de mil toneladas e, em diamantes 3 milhões de quilates, cujo valor total corresponde a 200 milhões de libras esterlinas, o equivalente a mais da metade das exportações de metais preciosos das Américas. A região aurífera foi objeto da maior disputa que se deu no Brasil. De um lado, os paulistas, que haviam feito a descoberta e reivindicavam o privilégio de sua exploração. De outro lado, os baianos, que, havendo chegado antes a região com seus rebanhos de gado, tinham tido o cuidado de registrar suas propriedades territoriais (...) Mas seu impacto foi muito maior, o Rio de Janeiro nasce e cresce como o porto das minas. O Rio Grande do Sul e até a Argentina, provedores de mulas se atam a Minas, bem como o patronato e boa parte da escravaria do Nordeste. Tudo isso fez de Minas o nó que atou o Brasil e fez dele uma coisa só”. (RIBEIRO, 1995, p. 152, 153)
1.9. O Marquês de Pombal e a expulsão dos Jesuítas
Em 1750, foi escolhido, como Primeiro Ministro de Portugal o Marquês de
Pombal, que expulsou os Jesuítas da Metrópole e das Colônias visando uma
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reforma educacional. O Marquês alegava que os missionários estavam contra o
governo português. Ele foi o primeiro-ministro de Portugal de 1750 até 1777. A
esse respeito comentou Darcy Ribeiro (1995):
“No segundo século, já enriquecidos de seu triste papel, a também representados por figuras mais capazes de indignação moral, como Antonio Vieira, os jesuítas assumiram grandes riscos no resguardo e na defesa dos índios. Foram, por isso, expulsos primeiro, de São Paulo, e, depois do estado do Maranhão e Grão-Pará pelos colonos. Afinal, a própria Coroa, na pessoa do Marquês de Pombal, decide acabar com aquela experiência socialista precoce, expulsando-os do Brasil. Então, ocorre o mais triste. Os padres entregam obedientemente as missões aos colonos ricos, contemplados com a prioridade das terras e dos índios pela gente de Pombal, e são presos e recolhidos à Europa, para amargar por décadas o triste papel de sugadores que tinham representado”. (RIBEIRO, 1995, p. 56)
Implantada a Reforma Pombalina de Educação têm o objetivo de mudar o
Estado e a sociedade portuguesa. Com a expulsão dos jesuítas as missões na
Amazônia arruinaram-se.
“Expulsos os jesuítas, a situação piorou muito, porque as suas missões foram entregues, ao Norte, às famílias de contemplados que passaram a explorá-las como fazendas privadas. Nas outras regiões, algumas missões foram entregues a ordens religiosas consentidas nessa função, porque eram ainda mais propensas a servir ao governo e aos colonos do que seus escravos pela Companhia. Alguns foram postos sob a direção de administradores civis, podendo cobrar porcentagem sobre os índios que arredavam ou colocar os índios a trabalhar em suas próprias fazendas, fizeram disso um alto negócio. Tão bom que alguns deles se esforçaram e lograram o supremo favor de se tornarem hereditários das antigas missões. A quantidade de índios explorados dessa forma terá sido muito grande, uma vez que documentos do fim do século XVII falam de quatrocentos aldeias com administradores civis em São Paulo e de 4 mil nas outras capitanias (Gorender, 1978). A expulsão pombalina que visava,
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nominalmente, liberar os índios das missões jesuítas, integrando-os como iguais a até com certos privilégios na comunidade colonial, representou enorme logro”. (id., p. 105)
Pombal, além da expulsão dos jesuítas, centralizou administrativamente a
Colônia, elevando o Brasil à categoria de Vice-Reinado. Extinguiu as Capitanias
Hereditárias, mudou a capital de Salvador para o Rio de Janeiro.
É editado o “Alvará”, o documento cria o cargo de “Diretor de Estudos”,
para fiscalização, com sede em Portugal. Fiscalização que só aconteceu por volta
de 1799. Inaugura-se uma série de medidas intervencionistas, incoerentes e
fragmentárias da educação nacional.
“Ao extinguir as aulas jesuíticas, Pombal não tinha um sistema pedagógico capaz de substituí-las. Daí dizer com razão Fernando de Azevedo que, em 1759, o que ocorreu no Brasil “não foi uma reforma de ensino mas a destruição pura e simples de todo o sistema colonial I do ensino jesuítico”. Após a expulsão as antigas aldeias dos padres inacianos foram erigidas em vilas. Umas floresceram, outras entraram em acelerada decadência, pois muitos índios semicivilizados embrenharem-se nos matos á procura de melhor vida”. (SOUTO MAIOR, 1974, p. 144)
A Ordenação Real, de 1722, criou um Fundo para gerenciamento da
educação o “Subsídio Literário”. Um imposto de taxação, na venda dos produtos
da colônia. O valor teria como objetivo a manutenção dos ensinos primário e
médio. Restou uma baixa arrecadação e falta de controle. As “Aulas Régias”,
produto do Subsídio Literário, só foram implantadas nas cidades e vilas mais
importantes, assim mesmo de forma desorganizada. Importante ressaltar que, o
advento do Império não acabou com o Subsídio Literário.
“Com a expulsão dos jesuítas surgiram no Brasil colonial escolas de outras ordenas religiosas.
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Apareceram escolas beneditinas, carmelitas e franciscanas em substituição às antigas “escolas de ler, escrever e contar” e “colégios” jesuítas. Pombal ordenara, após a expulsão dos jesuítas, uma “reforma geral” no ensino, na qual se deveria voltar ao “método antigo, reduzido a seus termos mais simples e mais claros e duma maior facilidade, como o que se pratica atualmente nas nações policiadas da Europa”. Surgiram então as escolas elementares e as escolas de gramática latina, grego e retórica sob a orientação geral de um Diretor de Estudos. Permitia-se o magistério particular e, para o custeio da instrução pública, criou-se o subsidio literário, que incidia sobre a carne verde, o vinho, o sal, o vinagre e o aguardente. O subsídio literário nunca foi cobrado com regularidade e por isso os professores ficavam meses, sem receber vencimentos. A partir de 1774, o subsídio literário também deveria ser cobrado no Brasil, devendo por lei, o excedente da arrecadação ser enviado a Portugal para ai ser aplicado no ensino superior”. (SOUTO MAIOR, 1974, p. 144)
Na economia Pombal incentivou a produção de algodão no Brasil, passou a
vender para a Inglaterra, cuja indústria de tecido era muito desenvolvida,
enquanto àquele lutava com suas Colônias ao Norte (futuro EUA). Porém, como
os impostos portugueses encareciam o produto, logo que a paz foi restabelecida a
Inglaterra voltou a comprar na ex-colônia (EUA).
No Brasil, as lutas são frequentes: Mascates, Emboabas, a Conjuração
Mineira de 1789, a Conjuração Baiana.
Chegamos ao ano de 1800, na região das Minas Gerais esgotaram-se as
jazidas. Os seminários das ordens religiosas continuavam seus estudos, como o
Seminário de Olinda, instalado em 1800, por Dom Azevedo Coutinho, governador
interino e bispo de Pernambuco, que difundia idéias liberais, seus alunos e padres
participavam de movimentos revolucionários.
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“Proclamavam os europeus aqui chegarem para expandir nestas plagas o cristianismo, mas, na realidade, movia-os o propósito de exploração e fortuna. A história do período colonial é a história desses dois objetivos a se ajudarem mutuamente na tarefa real e não confessada da espoliação continental. A vida do recém-descoberto Continente foi, assim, desde o começo, marcada por essa duplicidade fundamental: jesuítas e bandeirantes; fé e império”; religião e ouro. O português e o espanhol que aqui aportavam não eram cristãos, mas, quando muito, “cruzados”. Não vinham organizar nem criar nações mas prear... esta obra destruidora e predatória nunca se confessava como tal, revestindo-se, nas proclamações oficiais, com o falso espírito de cruzada cristã. (TEIXEIRA, 1962, p. 7)
O século XVIII foi atingido. As colônias americanas se libertaram,
entusiasmadas com as idéias francesas de liberdade, igualmente e fraternidade.
Darcy Ribeiro (1995) assim descreve a nova fase:
“O ano de 1800 representou uma virada na história brasileira. A economia exportadora atravessava um período de declínio, o que constituía, certamente, um desafogo para a população. Com efeito, reduzido o ritmo da produção açucareira e superada a época de prosperidade das explorações de ouro e diamantes, que ocupavam os principais contingentes de trabalhadores negros e brancos, estes se dispersaram em busca de formas autárquicas de sobrevivência. A produção açucareira, que se debatia na crise desencadeada com a expansão dos novos centros produtores das Antilhas, passou a contribuir com metade do valor da exportação, que também havia diminuído bastante. A pecuária se estendeu prodigiosamente pelos sertões interiores e pelas pastagens sulinas. O setor mais dinâmico era, então, o cultivo de arroz e, depois, de algodão, no Maranhão, cujo principal comprador eram as manufaturas inglesas em conflito com os produtores norte-americanos”. (ibid., p. 158)
Em 1827, os primeiros Cursos Jurídicos do país foram criados. E a primeira
Lei de Ensino Primário foi promulgada. Segundo alguns autores, este ano marca
o fim do chamado período pombalino. Outros consideram o ano de 1808, como o
ano de término, coincidindo com a vinda da Família Real Portuguesa para o
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Brasil. Este fato teria trazido uma preocupação quanto a educação para a
formação das elites dirigentes do país.
O que as Reformas Pombalinas haviam proposto, em termos de uma escola
útil ao Estado, se concretizam apenas no que se relacionava ao ensino superior.
1.10. O Domínio Britânico
A Revolução Industrial promoveu o acirramento da disputa entre França e
Inglaterra. A segunda procurava se firmar como nação industrial. E a França,
governada por Napoleão Bonaparte, pretendia a hegemonia do continente
europeu, objetivando desenvolver seu mercado e dominar os consumidores da
Europa. Mas, após conscientizar-se da impossibilidade de conquistar a Inglaterra,
resolveu arruiná-la economicamente, decretando o Bloqueio Continental, em
1806. Pelo Bloqueio as nações européias continentais ficaram proibidas de
comercializar com a Inglaterra e de autorizar que navios ingleses atracassem em
seus portos.
“Alarmada com o poderio crescente de Napoleão, que conseguira coroar-se Imperador da França e influir fortemente na Itália e nos Países Baixos, a Inglaterra formou contra o mesmo uma coligação da qual participavam a Áustria, a Prússia e a Rússia. (...). (...) pós bater o exército prussiano em Lena entrou Napoleão triunfalmente em Berlim. Foi nesta cidade que o imperador francês decretou o famoso bloqueio continental contra a Inglaterra. Napoleão, com um bloqueio econômico, substituía assim seu antigo plano de invasão da Inglaterra: esperava solapar a riqueza britânica para obrigar o povo inglês a se voltar contra seu próprio governo”. (SOUTO MAIOR, 1974, p. 188)
Portugal, dependente do capital e comércio ingleses, não podia aderir ao
bloqueio, sob pena de ruína. A política expansionista de Napoleão Bonaparte não
aceitou a posição dúbia de Portugal em relação à França, exigindo que ele
tomasse uma posição declarando guerra à Inglaterra, ou seria invadido pelos
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franceses. Endividado com a Inglaterra o soberano português não obedeceu e foi
invadido pelas tropas francesas, restando a família Real e a corte portuguesa, tão
somente, fugir, mudando-se para o Brasil. (SOUTO MAIOR, p. 188/190)
Portugal e Inglaterra assinam uma convenção secreta que previa, entre
outras determinações, proteção da Marinha Inglesa para a Família Real e altos
funcionários da Corte na sua fuga para o Brasil e direito de utilização de portos
livres no Sul do Brasil, para facilitar o comércio inglês na região do Prata.
“Aos ingleses interessava que não caísse em poder dos franceses a esquadra portuguesa. Cinco dias antes do Tratado de Fontainebleau comprometia-se a Inglaterra, através de um convênio secreto, a dar cobertura naval à transferência da corte para o Brasil. Quando Lord Strangford, hábil ministro inglês, convenceu D.João da urgência de sua ida para o Brasil, as tropas francesas estavam em marcha contra Lisboa. Comandava o exército invasor o general Andoche Junot com ordens de deter a família real e a esquadra portuguesa. Sua marcha forçada através do país reduzia-lhe consideravelmente a eficiência militar. Entrou em Lisboa com dois regimentos famintos e exaustos, quase sem encontrar resistência. A corte se fizera ao largo”. (SOUTO MAIOR, 1974, p. 190)
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CAPÍTULO II
O BRASIL CAMINHA PARA A INDEPENDÊNCIA POLÍTICA
2.1. A vinda da Família Real
Sob a proteção britânica a Corte Portuguesa, uma classe feudal parasita,
foge para o Brasil. Enquanto a massa populacional em Portugal se desespera e
lamenta, D. João embarca disfarçado, para fugir da fúria do povo.
“O embarque da família real de Bragança realizara-se debaixo de chuvas torrenciais. A nobreza, o alto funcionalismo, os oficiais superiores, também acompanhavam D. João. Foi dramático o embarque de D. Maria I, cuja insanidade mental permitiu-lhe brado de desespero e protestos contra a retirada do governo para o Brasil. Houve lama, escândalo, choros e vaias à medida que entravam nos navios os que se retiravam juntamente com todas as riquezas transportáveis”. (SOUTO MAIOR, 1974, p. 190)
Em 1808, cerca de quinze mil pessoas chegam ao Brasil, protegidos por
uma esquadra inglesa.
Pela Convenção, assinada entre Portugal e Inglaterra, D. João se
comprometia a abrir os portos brasileiros e ceder privilégios especiais ao
comércio inglês. Assim, a Inglaterra garantiu o comércio com a Colônia e tirou o
intermediário, já que as mercadorias não seguiriam mais para Portugal e de lá
para a Inglaterra.
A abertura dos portos é a decretação de morte do pacto colonial, na
medida em que se extinguia o monopólio do comércio da colônia.
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Em 1808, D. João procurou amenizar a situação da Colônia tornando-a
mas desenvolvida. As ruas foram calçadas, novas propriedades surgiram, o
comércio se desenvolveu.
“A notícia da invasão de Portugal por tropas de Bonaparte, D. João de Bragança embarcara às pressas para o Brasil, nos restos de uma frota” comboiada por navios ingleses. Em 22 de janeiro de 1808, à sua chegada à cidade da Bahia decreta, por sugestão de José da Silva Lisboa, Visconde de Cairu, a abertura dos portos do Brasil ao comércio estrangeiro, estabelecendo essa franquia em Carta Régia de 28 de janeiro do mesmo ano: derroga, já no Rio de Janeiro, com a de 1° de abril, o alvará de 5 de janeiro de 1785 que ordenara o fechamento de todas as fábricas; e, além destes dois decretos, “equivalentes aos efeitos de duas revoluções liberais”, como escreve Euclides da Cunha, abriga ainda o alvará, de 6 de julho de 1747, fundando a Imprensa Régia, em que se imprimem as primeiras obras editadas no Brasil e se inicia, com a publicação da Gazeta do Rio de Janeiro de 1808, o jornalismo brasileiro. Com a vinda de D. João VI cerca e 15 mil pessoas chegadas com a família real, a velha cidade – “uma grande aldeia de 45 mil almas”, que dormia no marasmo – desperta para uma vida nova, sacudida do inesperado acontecimento e erguida de súbito à categoria de capital do Império Português. A cidade colonial, de ruas estreitas e tortuosas, transforma-se com o esplendor da corte e o impulso do seu comércio e, pela atração dos novos encantos da vida urbana, torna-se o centro da vida intelectual do país, para onde convergem brasileiros vindos de todas as províncias”. (AZEVEDO, 1996, pág. 550)
Como maior nação industrial e naval do mundo, de 1808 a 1814, a
Inglaterra gozou de quase exclusividade sobre o comércio brasileiro. Nenhuma
outra “nação amiga” possuía condições para competir.
“Para adaptar-se D. João às novas circunstâncias políticas e econômicas em que se encontrava, cinco dias após seu primeiro contato com a Colônia, expediu na Bahia uma famosa carta-régia abrindo os portos brasileiros, que, anteriormente, apenas comerciavam com Portugal em virtude do monopólio do comércio exterior. Não podia o Real Erário prescindir de sua principal fonte de rendas que eram as tarifas aduaneiras.
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Ao mesmo tempo, os grandes exportadores e importadores da Colônia desejavam o restabelecimento das correntes do comércio externo. É evidente que sendo a Inglaterra a nação aliada que maior frota possuía, forçosamente seria a grande beneficiada com a carta-régia da abertura dos portos”. (SOUTO MAIOR, 1974, p. 192)
Consolidou-se o Imperialismo Britânico sobre o Brasil com as assinaturas,
em 1810, dos Tratados de Comércio e Navegação e o de Aliança e Amizade.
A Inglaterra pagava taxas alfandegárias menores do que, até mesmo
Portugal. Os ingleses tinham taxas alfandegárias especiais de 15%, enquanto o
percentual para as demais nações era de 24%. Nosso mercado ficou abarrotado
de produtos ingleses. Nosso País era mercado consumidor dos produtos
industrializados ingleses. A Inglaterra também dificultava a importação de
máquinas para o Brasil, não podia haver concorrência. Não havia a mínima
possibilidade de crescimento industrial para o Brasil, a Inglaterra vendia produtos
mais baratos e de melhor qualidade.
Portugal exigia que todos os seus habitantes, inclusive os da colônia,
fossem católicos. Com o Tratado de 1810, os ingleses aqui se estabeleceram
livremente, sem precisarem abandonar a religião protestante. Nos Portos e
cidades brasileiras, de acordo com o que estabelecia o Tratado, havia juízes
especiais para resolver os problemas envolvendo ingleses, eleitos por eles,
diretamente subordinados ao governo inglês.
“Dentre as obrigações que compunham o tratado de “comércio e navegação”, destacam-se os seguintes: a) Os direitos aduaneiros sobre as mercadorias inglesas eram reduzidos a 15% imposto menor do que o pago pelas próprias mercadorias e artigos portugueses; b) O Príncipe Regente obrigava-se por si e pelos seus sucessores, a não consentir no estabelecimento da Inquisição na colônia portuguesa da América.
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c) O Príncipe aceitaria a abolição gradual do comércio de escravos e delimitavam-se na África os lugares onde se poderia fazer o tráfico; d) Os súbitos ingleses residentes no Brasil elegeriam seus próprios juízes, que seriam apenas confirmados pelo governo português. Nos domínios britânicos, contudo os súbitos portugueses seriam, igualmente como os outros estrangeiros, sujeitos “a reconhecida equidade da jurisprudência britânica e excelência de sua Constituição”. Com as facilidades obtidas a Inglaterra aumentou consideravelmente suas exportações para os portos brasileiros. Paralelamente, entretanto, não exportamos para os portos ingleses quantidade equivalente de produtos coloniais. Nosso açúcar e o café, já produzidos nas colônias inglesas, de acordo com as estipulações feitas no tratado de “comércio e navegação” eram excluídos dos mercados britânicos (...). O resultado final da balança comercial, entretanto, nos foi desfavorável, uma vez que compramos mais do que vendemos, tendo aumentado sensivelmente o custo de vida no Brasil” (id., p. 193)
2.2. Política Educacional Desenvolvida por D. João VI
A chegada da família Real Portuguesa ao Brasil, em 1808, influencia uma
nova política educacional. A chamada “política Joanina” implementa
modificações na educação brasileira. Consolida a perda pela Igreja da gestão da
educação escolar para o Estado. Concentra no Estado a educação secundária e a
superior. O Rio de Janeiro transforma-se em Sede do Reino Português de
1808/1821.
A presença da Corte gerou prejuízos, o Brasil precisava continuar
sustentando seus luxos e atendendo suas fúteis exigências. Aos mesmos da
Corte, o Rei concedeu cargos públicos em repartições desnecessárias e inúteis.
Advindo daí corrupção, roubo, emperramento da máquina administrativa,
incompetência, má utilização do dinheiro público. As despesas com o serviço
público aumentaram e foram criados novos impostos.
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“Não se havia mudado apenas a corte para o Brasil. Mudara-se um Estado, um governo inteiro, com os mais variados problemas administrativos e econômicos. D. João nomeou novos ministros. Para a pasta da Guerra e Estrangeiros foi escolhido a anglófilo D. Rodrigo de Sousa Coutinho cujo irmão continuaria como embaixador em Londres. Como ministro da Marinha foi escolhido o visconde de Anadia; D. Fernando José de Portugal e Castro foi nomeado ministro da Fazenda e Interior. Outras medidas foram tomadas visando ao funcionamento da maquina política e administrativa que os Braganças haviam transferido para o Brasil.” (SOUTO MAIOR, 1974, p. 195)
Também houve progresso foram criados o Banco do Brasil, a Casa da
Moeda, no Rio de Janeiro; a primeira Biblioteca Pública (1814), com 60.00
volumes cedidos pelo próprio D. João; a Imprensa Régia (1808) inaugurou a era
jornalística com a Gazeta do Rio de Janeiro.
(...) a primeira biblioteca pública, criada por D. João VI, (...) com os próprios livros de que se desfez, e que foi instalada e franqueada ao público em 1814, no Hospital dos Terceiros do Carmo. É nessa biblioteca, constituída inicialmente dos 60 mil volumes pertencentes à Real Biblioteca do Palácio da Ajuda e trazidos por D. João VI, que tem as suas origens a Biblioteca Nacional, hoje, uma das mais importantes senão a maior dessa parte do continente americano. As produções da literatura brasileira que Martins em vão procurava nas raras livrarias existentes começam a circular, publicadas na Imprensa Régia, de cujas oficinas, de 1808 a 1822, saíram 1.154 impressos vários, entre os quais avultam as poesias líricas de Tomás Antônio Gonzaga, o poema de Basílio da Gama, as obras do Visconde de Cairu e o dicionário de Morais. (...) a cidade do Rio de Janeiro, já com a sua imprensa, o seu jornal, a sua biblioteca e o seu museu se tornou o centro da vida intelectual do país; as escolas superiores, de que o grande criador de instituições lançou os fundamentos, ficam à base dos progressos das transformações da cultura nacional.” (AZEVEDO, 1996, pág. 551)
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Inaugurou, também, a Escola da Marinha (1808) e a Academia Real Militar,
no Rio de Janeiro em 1810. Ainda, o Jardim Botânico; a Escola Real de Ciências
Artes e Ofícios, em 1816, Rio de Janeiro; o Laboratório de Química, em 1812,
também no Rio de Janeiro; o Curso de Agricultura, na mesma Cidade, no ano de
1814; o Teatro Real; o Curso de Cirurgia e cadeia de Economia, em 1808, na
Bahia; o Curso de Química e Desenho Técnico, em 1817, na Bahia; a Escola
Médica do Rio de Janeiro. O campo musical também se desenvolveu. O Rio de
Janeiro transformou-se em Centro Cultural. Foram criadas Escolas Superiores e
Centros de Estudos.
“Sobre as ruínas do velho sistema colonial, limitou-se D. João VI a criar escolas especiais, montadas com o fim de satisfazer o mais depressa possível e com menos despesas a tal ou qual necessidade do meio a que se transportou a corte portuguesa. Era preciso, antes de mais nada, prover à defesa militar da Colônia formar para isso oficiais e engenheiros, civis e militares: duas escolas vieram a atender a essa necessidade fundamental, criando-se em 1808 a Academia de Marinha e, em 1810, a Academia Real Militar, com oito anos de Curso. Eram necessários médicos e cirurgiões para o Exército e Marinha: criaram-se então em 1808, na Bahia, o curso de cirurgia que se instalou o Hospital Militar e, no Rio de Janeiro, os cursos de anatomia e de cirurgia a que se acrescentaram, em 1809, os de medicina, e que ampliados em 1813, constituíram com os da Bahia, equiparados aos do Rio, as origens do ensino médico no Brasil”. (id., pág. 552)
A Corte trazia as necessidades da Europa, onde as artes e as ciências
ocupavam lugar de destaque. Na arquitetura copiamos o estilo europeu. Porém, a
maioria das repartições visavam – apenas – servir de “cabides de empregos” para
os fidalgos da Corte.
“Não eram menos necessários homens instruídos e técnicos em economia, agricultura e industria: fundaram-se, na Bahia, a cadeira de Economia em 1808, o curso de agricultura em 1812, o de química (abrangendo química industrial, geologia e mineralogia) em 1817, e de desenho técnico em 1818, e, no Rio de Janeiro, o laboratório de
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química (1812) e o curso de agricultura (1814), os quais todos se destinavam a suprir a deficiência absoluta de técnicos que satisfizessem às necessidades do meio brasileiro em tradição para um tipo de vida mais urbana e industrial e para uma melhor organização da economia agrícola do país. A Real Escola de Ciências, Artes e Ofícios, criada em 12 de agosto de 1816, e transformada somente em outubro de 1820 na Real Academia de Pintura, Escultura e Arquitetura Civil, acusava no esboço de seu plano primitivo (1816), que alias não chegou a realizar-se, o mesmo cuidado técnico: denominada, porém, Academia das Artes por outro decreto de 23 de novembro de 1920, só veio a funcionar, sob essa nova e definitiva orientação, em 1826, já no primeiro Império, e dez anos depois da chegada ao Rio de Janeiro da missão de artistas franceses. Se excetuarmos, pois algumas cadeiras que se instituíram para suprir as lacunas de ensino tradicional, e visando estudos desinteressados, como a matemática superior de Pernambuco (1809), a de desenho e história em Vila Rica (1817) e a de retórica e filosófica, em Paracatu, Minas Gerais (1821), quase toda obra escolar de D. João VI, impelida pelo cuidado de utilidade prática, pode-se dizer que foi uma ruptura completa com o programa escolástico e literário do período colonial. Circunscrita no espaço quase que exclusivamente à Bahia e ao Rio de Janeiro, foi certamente muito restrito o domínio que iluminou, deixando, fora de sua irradiação, toda a parte restante da Colônia que continuava mergulhada no mesmo atraso: ela representa, no entanto, não só uma das fases mais importantes de nossa evolução cultural, mais o período mais fecundo em que foram lançados por D. João VI, os gemes de numerosas instituições nacionais de cultura e de educação”. (AZEVEDO, 1996, págs. 552, 553)
Em 1815 o Brasil é elevado a categoria de Reino. O Brasil deixara de ser
colônia.
2.3. No rumo da independência política
Em 1816, o Nordeste brasileiro foi assolado pela seca, que afetou a
agricultura e provocou queda na produção do algodão e do açúcar.
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Os impostos aumentaram para manter o padrão de vida da Corte. O
contraste, entre o luxo da Corte e a baixa qualidade de vida da população, que
não conseguiam nem adquirir os gêneros de primeira necessidade, formaram o
pano de fundo para que a idéia de independência começasse a florescer. Os
rebeldes, entres eles a elite intelectual do Recife, comerciantes nacionais
interessados na expulsão dos comerciantes portugueses, oficiais, e outros
elementos das camadas populares, visavam a independência do Brasil e a
proclamação da República.
Pernambuco se levanta em um movimento nacionalista. O povo não
participava das decisões. O despreparo dos rebeldes e os seus desacordos
permitiram a reação oficial e a repressão portuguesa ocorreu de forma violenta e
cruel, tendo a maioria dos líderes sido condenados à morte.
“Paralelamente ao espírito nativista, as idéias de reforma política que geraram a Revolução Francesa, a independência dos Estados Unidos e o exemplo da emancipação política das colônias espanholas na América, encontravam em Pernambuco ampla repercussão” . (SOUTO MAIOR, 1974, p. 199)
Em Portugal, em 1820, ocorreu a Revolução Constitucionalista do Porto,
que objetivava resgatar a dignidade do País, como nação soberana, perdida
desde a invasão Napoleônica, em 1807.
A Revolução impôs uma Junta Provisória que redigiu a Constituição
Portuguesa. Os revolucionários exigiam a Volta de D. João VI para governar o
país, que seria regido por uma Constituição, que todos deveriam seguir, inclusive
o Rei. D. João voltou à Portugal em 1821. O Rei foi coagido por militares a jurar a
Constituição.
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A partir de D. João VI do Brasil foi tumultuada pela notícia de que este
havia roubado dinheiro de ouro do Banco do Brasil. O povo, revoltado, correu ao
porto mas, foi contido por forças militares.
Ficou no Brasil o filho de D. João, como Príncipe Regente D. Pedro.
“Portugal conseguiria livrar-se dos franceses com a forte ajuda militar que recebera dos ingleses (...). A ausência da família real, a grave situação econômica que atravessava o país, empobrecido pela guerra e prejudicado pelo decreto da abertura dos portos brasileiros, a difusão das idéias constitucionais e liberais geraram um clima propício para a revolta. A 24 de agosto de 1820 rebentava na cidade do Porto uma revolução, (...) Ao chegar ao Brasil a noticia da revolução agitara-se os meios liberais que viam numa constituição uma limitação do poder absoluto do rei. (...) Resolveu-se então que partiria D. João VI para Portugal, deixando seu filho o príncipe D. Pedro como regente; ao mesmo tempo determinou que deveriam ser realizadas as eleições dos deputados brasileiros que participariam das Cortes. (SOUTO MAIOR, 1974, p. 208)
Em 1822, os laços políticos que nos prendiam a Portugal foram desfeitos.
O governo português exigiu a volta do Príncipe, que seria substituído por um
governador nomeado em Lisboa. Pleitearam, ainda, extinção de todos os órgãos
que permitam ao Brasil um governo próprio.
Visualizou-se uma grande contradição, ao mesmo tempo que Portugal
definia a instalação de uma Monarquia Constitucional no Reino, exigia a
recolonização do Brasil. Não adiantaram os protestos e argumentações dos
deputados brasileiros em Lisboa. Portugal exigia a volta imediata de D. Pedro, a
criação de um imposto adicional nas alfândegas brasileiras, a nomeação de um
governador de armas para cada província, o envio de tropas para o Rio de
Janeiro, Pernambuco e Bahia e a extinção dos tribunais e repartições no Brasil.
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“A situação econômica e administrativa do Brasil com a saída da família real e sua comitiva tornou-se muito séria. Fora-se o ouro e o isolamento das províncias gerava um clima propicio para a agitação” (...) “A maçonaria que havia obtido legitima liberdade de ação em 1821, torna-se a maior propaganda a favor da emancipação brasileira. “A Maçonaria e a imprensa preparam o clima da Independência”. (SOUTO MAIOR, 1974, pág. 209, 210)
As camadas sociais urbanas e rurais procuravam convencer D. Pedro a
aceitar a idéia de realizar a emancipação. Mas, a elite aristocrática, queria manter
suas propriedades não incluíram as massas no processo.
Em 9 de janeiro de 1822, 8.000 assinaturas de aristocratas e comerciantes
foram entregues ao Príncipe, pedindo sua permanência no Brasil, propondo que
reinasse aqui como D. Pedro.
A decisão de ficar no Brasil, tomada por D. Pedro, ficou registrada, na
História, como o “Dia do Fico”. Como reação os ministros portugueses no Brasil
pediram demissão.
“O “Fico” fora um grande passo em prol de nossa independência. A expulsão das tropas de Avilez, a nomeação de José Bonifácio de Andrada como ministro foram também indícios de que D. Pedro já estava admitindo nossa separação política de Portugal” (id., p. 213)
D. Pedro nomeou um novo ministério, dominado pela aristocracia.
Em junho, convocou uma Assembléia Nacional Constituinte. Porém, o povo
não teria o direito de eleger representantes.
Em agosto, por Decreto, tornavam-se inimigas todas as tropas portuguesas
que desembarcassem no Brasil.
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2.4. Período Imperial (1822/1889)
Em 7 de setembro de 1822, é proclamada a Independência do Brasil. Uma
decisão da classe dominante.
Como uma ideologia conservadora e antidemocrática, a elite formou um
governo centralizado, submisso a Igreja, com voto censitário o que impedia as
massas de participarem do processo eleitoral. Um Império escravista.
Em 1825, em âmbito internacional, é reconhecido o Brasil como nação
independente.
Os Estados Unidos foi quem primeiro reconheceu a independência do
Brasil. O que o governo norte-americano objetivava era ampliar seu campo de
mercado internacional.
Seguindo as conveniências da Inglaterra, que estava interessada na
Independência pelas vantagens que lhe proporcionava os Tratados firmados
desde 1810, Portugal reconheceu a Independência brasileira, em 1825. No
entanto, Portugal exigiu, do Brasil, o pagamento de 2 milhões de libras. Dinheiro
que o Brasil pediu emprestado para a Inglaterra. Como Portugal era devedor da
Inglaterra tal valor nem chegou a sair dos cofres ingleses. Mas, o Brasil viu sua
dívida aumentar com a Inglaterra. Em 1827, o Brasil, por meio de Tratado,
concedeu mais quinze anos as taxas alfandegárias de 15% para os ingleses.
(SOUTO MAIOR, 1974, p. 219)
Convocada em 1822, a Assembléia Constituinte reuniu-se somente em
1823. O Partido Português queria defender os interesses da Corte e pretendia a
recolonização. A aristocracia agrária, do Partido Brasileiro, buscava a hegemonia
política em duas frentes, uma que defendia o Federalismo Democrático e a outra
50
ala, aristocrática, desejava uma Monarquia Centralista. Já as tendências
autoritárias do Imperador ficaram registradas na frase: -“quero uma Constituição
que seja digna do Brasil e de mim” (SOUTO MAIOR, 1974, p. 221;222)
O anteprojeto da Constituição criou o voto censitário, excluindo o povo do
processo político. A aristocracia buscou a supremacia do poder político e limitou
os poderes do Imperador. Em 1823, D. Pedro, que não admitia ter seus poderes
limitados, dissolveu a Assembléia Constituinte. Depois, nomeou um Conselho de
Estado, formado por dez nomes por ele escolhidos, que defendiam o ideário
Absolutista e Conservador. Sendo criados artigos que garantiam o Absolutismo do
Imperador.
2.5. A Constituição do Império
A Constituição do Império foi uma cópia quase fiel da Constituição
Francesa. Foi outorgada em 25 de março de 1824, determinando a existência de
quatro poderes a saber: Poder Executivo; Legislativo; Judiciário; e Poder
Moderador.
O último exclusivo do Imperador, dando-lhe o direito de:
Dissolver a Câmara;
Conceder anistia;
Convocar Assembléia geral;
Nomear senadores; nomear e demitir ministros;
Nomear e suspender juízes;
Aprovar e suspender resoluções dos Conselhos Provinciais;
e direito de vetar atos do Poder Legislativo.
“Proclamada a independência e fundado o Império do Brasil em 1822, a vitória dos liberais sobre os conservadores e os debates travados na Constituição de 1823 anunciavam uma orientação nova na política educacional, sob o impulso dos ideais da Revolução Francesa de que estavam imbuídos os liberais e pelo desenvolvimento do espírito nacional que
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obrigava e encarar sob um novo ângulo os grandes problemas do país. As idéias, como costuma acontecer nas crises das transformações políticas, tomam outro rumo e, pela primeira vez, as preocupações da educação popular – como base do sistema de sufrágio universal – passam a dominar os espíritos da elite culta, constituída de sacerdotes, bacharéis e letrados. Mas desse movimento político em favor da educação popular e que se manifesta nos debates e nas indicações apresentadas na Assembléia Nacional Constituinte, dissolvida em 1823, não resultaram senão a lei de 20 de outubro de 1823, que aboliu os privilégios do Estado para dar instrução, inscrevendo o principio da liberdade do ensino sem restrições; o artigo 179, n° XXXII, da Constituição outorgada pela coroa, em 11 de dezembro de 1823, que garante a “instrução primária gratuita a todos os cidadãos”; e, afinal, a lei de 15 de outubro de 1827 – a única que em mais de um século se promulgou sobre o assunto para todo o país e que determina a criação de escolas de primeiras letras em todas as cidades, vilas e lugarejos (art. 1°) e, no art. XI, “escolas de meninas nas cidades e vilas populares”. Os resultados, porém, dessa lei que fracassou por várias causas, econômicas, técnicas e políticas, não corresponderam aos intuitos do legislador; o governo mostrou-se incapaz de organizar a educação popular no país; poucas, as escolas que criaram, sobretudo as de meninas, que, em todo o território, em 1832, não passaram de 20 (...)”. (AZEVEDO, 1996, págs. 552, 553)
O voto continuava baseado no critério econômico e não cultural
(censitário). Sendo assim, a representação popular ficava excluída.
A Constituição estabelecida uma Monarquia Unitária e Hereditária.
Garantia o direito à liberdade religiosa, no entanto, a religião católica era
reconhecida como oficial, submetida ao Estado.
A Constituição de 1824 era, essencialmente, uma mistura de idéias
democráticas inglesas e francesas, com alguns pontos tradicionais, herdados da
antiga Metrópole. Se orientava no sentido de conciliar, um declarado idealismo
teórico, com a necessidade de atender aos interesses da classe social dominante
52
do país, os grandes proprietários rurais. Adotamos leis e idéias que não se
adaptavam a nossa realidade. Na prática, houve o afastamento do perigo da
reecolonização. Foram excluídas as camadas populares do exercício da
cidadania, os cargos de representação nacional ficaram reservados aos
proprietários rurais. Tendo entrado em vigor em 25 de março de 1824, a primeira
Constituição Brasileira vigorou até 1889, data da proclamação da República.
A Constituição de 1824, outorgada pela Assembléia Constituinte, instituiu a
instrução primária gratuita para todos os cidadãos. Interessante frisar que, não
tivemos escolas durante a Colônia, os brasileiros ou estudavam na Europa ou
seguiam para o Seminário. Isso tudo afastou o povo do movimento de
independência. Mas, era preciso encontrar soluções próprias, e é preciso
considerar que os fazendeiros do Império eram um pouco mais cultos do que os
da colônia.
“A instrução primária, confiada às províncias e reduzida quase exclusivamente ao ensino da leitura, escrita e cálculo, sem nenhuma estrutura e sem caráter formativo, não colhia nas suas malhas senão a décima parte da população em idade escolar, e apresentava-se mal orientada não somente em relação às necessidades mais reais do povo, mais aos próprios interesses da unidade e coesão nacionais”. (AZEVEDO, 1996, pág. 561)
A outorga da Constituição reforça a reação nordestina e Pernambuco mais
uma vez sai na frente lutando contra a arbitrariedade. A baixa produtividade e os
altos impostos resultaram no aumento dos preços dos gêneros de primeira
necessidade, sacrificando as camadas mais pobres da população. Defendiam, em
seu manifesto, “que as Constituições, as leis e todas as instituições humanas são
feitas para atender ao povo e não o contrário”.
O Governo Imperial mostrava-se incapaz de resolver os problemas sociais
e econômicos. Para defender-se impunha o autoritarismo, a repressão violenta.
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Vários líderes do movimento foram condenados à morte. (SOUTO MAIOR, 1974,
p. 234)
Os empréstimos, emissões de moeda, falência do Banco do Brasil, aumento
de custo de vida e inflação, tudo provocava os protestos da elite; que se juntou
aos reclamos das camadas média urbana, do povo e da imprensa no ataque ao
Imperador. Em 7 de abril de 1831, o Império abdica, deixando o trono brasileiro
para o se filho, D. Pedro de Alcântara, com 5 anos de idade. O Imperador volta a
Portugal, coroando-se Rei. Economicamente o Brasil tornara-se um protetorado
inglês, éramos devedores crônicos. (SOUTO MAIOR, 1974, p. 236)
Durante os nove anos, de duração do governo regencial, as lutas sociais
foram muitas. Lutas reivindicatórias das camadas mais pobres urbanas e rurais. E
dos conflitos políticos entre as classes dominantes. Nesse período, era evidente a
importância, econômica e política, dos grupos de exportadores de café. As
camadas populares foram usadas pela aristocracia, como massa de apoio, as
lideranças populares não tinham independência, nem a preparação para
defenderem um Projeto Político que as favorecesse.
Alguns historiadores entendem que, a proposta de uma legislação, voltada
para o ensino primário, popular e gratuito, não atingiu seus objetivos, pois as
condições técnicas e financeiras eram precárias.
Muito pouco foi feito pela formação dos professores durante o Império. As
Escolas Normais, criadas na Bahia e no Rio de Janeiro, na década de 1830, não
apresentaram fruto. Durante o Império, também nada foi feito quanto ao ensino
técnico-profissional.
Um Alto Institucional (também chamado Ato Adicional), de 12 de agosto de
1834, permitiu que as Províncias legislassem sobre a instrução pública e sobre os
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estabelecimentos próprios para promovê-la. Porém, as Faculdades de Medicina,
Academias, Cursos Jurídicos existentes e cursos que viessem a ser criados por
lei geral, estariam excluídos desta lei.
Assim, o Poder Central cuidou do ensino superior e as Províncias
promoveram, de maneira deficitária, o ensino primário e secundário.
“Ato Adicional de 1834, que foi uma das maiores aberrações na evolução da política imperial. Do ponto de vista educacional, o Ato Adicional, aprovado em 6 de agosto de 1834, e que resultou na vitória das tendências descentralizadoras, dominantes na época, suprimida de golpe todas as possibilidades de estabelecer a unidade orgânica do sistema em formação que, na melhor hipótese (a de estarem as províncias em condições de criá-los), se fragmentaria numa pluralidade de sistemas regionais, funcionando lado a lado – e todos forçosamente incompletos, com a organização escolar da União, na capital do Império, e as instituições nacionais de ensino superior, em vários pontos do território. Com efeito, pelo n° 2 do art. 10 do Ato Adicional, com que se introduziam importantes reformas na Constituição de 1824, se transferia às Assembléias Provinciais o encargo de regular a instrução primária e secundária, ficando dependentes da administração nacional e ensino superior em todo o país e a organização escolar do Município Neutro. O governo da União, a quem competia, como centro coordenador e propulsor da vida política do país, se exonerava por essa forma, segundo as expressões de Tavares Bastos, “do principal dos deveres públicos de uma democracia”, que é levar a educação geral e comum a todos os pontos do território e de organizá-la em bases uniformes e nacionais”. (AZEVEDO, 1996, pág. 555)
Após o Ato Institucional, os primeiros estabelecimentos provinciais públicos
de ensino secundário foram:
Os Liceus da Bahia e da Paraíba (1836);
E o Ateneu do Rio Grande do Norte (1835);
Em 1835 foi criada a primeira Escola Normal do país, na cidade de Niterói.
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“A própria Constituição reformada em 1834, estabelecida, em conseqüências o fracionamento do ensino e a dualidade de sistemas: - o federal e os provinciais; aqueles e estes, forçosamente mutilados e incompletos. Um sem a base necessária; os outros, sem o natural coroamento do ensino superior, profissional ou desinteressado. A profissionalização do ensino superior, inaugurada por D. João VI, e a fragmentação do ensino, consagrada pelo Ato Adicional, deviam marcar tão profundamente, através de mais de um século, a fisionomia característica da nossa educação institucional, que se teriam de malograr todas as tentativas para alterar o curso de sua evolução (...). Foi esse estado de inorganização social que dificultou a unificação política e impediu a consolidação educacional num sistema de ensino público, se não uniforme e centralizado, ao menos subordinado a diretrizes comuns. Mas a reforma de 1834, em vez de estabelecer medidas tendentes a resolver o problema o agravou, tornando impossível a solução dentro dos nossos quadros constitucionais. Nenhuma perspectiva, daí por diante, para uma política educacional de larga envergadura. A educação teria de arrastar-se, através de todo o século XIX, inorganizada, anárquica, incessantemente desagregada”. (AZEVEDO, 1996, p. 556)
No Município da Corte o Seminário de São Joaquim transforma-se em
estabelecimento de ensino secundário com o nome de Colégio Pedro II. Esta foi a
primeira tentativa do Poder Central em organizar o ensino secundário no país. Da
sua fundação em 1837, até o final do Império, o Colégio Pedro II, passou por oito
reformas em seus estudos.
“A única instituição de cultura geral criada, desde a Independência até a República, foi o Colégio D. Pedro II, fundado em 1837 – excelente estabelecimento de ensino secundário em que ao estudantes, terminado o curso de sete anos, recebiam o grau e as cartas de bacharel em letras, depois de prestarem o juramento perante o ministro do Império que lhes punha sobre a cabeça o barrete branco da Faculdade de Letras (art. 7° do decreto de 20 de dezembro de 1843). (id,. p. 558).
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Em 1835 na província do Grão Pará ocorreu o movimento popular
denominado a Cabanagem. As razões foram a fome, a miséria, a escravidão e o
latifúndio. Conhecidos como cabanos, pois viviam em cabanas miseráveis, eram
mestiços, negros e índios destribalizados. Foi o único movimento com raízes de
caráter verdadeiramente populares, que visava um governo do povo. Mas, em
1840, foram massacrados, cerca de 40.000 cabanos foram mortos. (SOUTO
MAIOR, 1974, p. 243)
Em 1837, na Bahia, explodiu a conspiração que levou o nome de
Sabinada. Foi uma revolta restrita às camadas médias urbanas de Salvador, junto
com algumas tropas militares. Não mobilizou a massa popular e nem a
aristocracia fundiária. Em 1838, as forças militares invadiram a Bahia e o
movimento acabou. Seus participantes foram castigados com requintes de
crueldade. O Tribunal do Júri que os julgou ficou conhecido como “Júri de
Sangue”. (SOUTO MAIOR, 1974, p. 244)
A massa de vaqueiros, camponeses e negros escravos iniciaram, em
1831/1841, um conflito no Maranhão, chamado a Balaiada. Sua maior
característica foi ser uma rebelião de massa. Inicialmente, a massa foi usada
pelos representantes da elite política, mas desvinculou-se, e iniciou sua própria
luta reivindicatória. Derrotados, pelas forças militares do governo, muitos
membros morreram, outros dispersaram em grupos pelo interior.
No Rio Grande do Sul, em 1835, aconteceu a Revolução Farroupilha ou
Guerra dos Farrapos, nome que se originou pela participação ativa dos
esfarrapados, ou seja, das camadas pobres da peonada gaúcha. A Farroupilha foi
diferente, porque sempre contou com a participação popular, em conjunto com a
liderança dos grandes estancieiros. A aliança entre a oligarquia e a massa
popular, em nenhum momento do movimento foi quebrada. Eles contestavam o
Centralismo e a política tributária do Governo Imperial. A luta durou até 1845
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quando os rebeldes aceitaram um acordo de paz, oferecido por Caxias. (SOUTO
MAIOR, 1974, p. 245/249)
O jogo político, no período regencial, deu origem a três partidos políticos,
que disputavam entre si o poder, e se orientavam de acordo com seus interesses
de momento:
O Partido Restaurador ou Caramuru, remanescente do Partido
Português, defendia a volta de D. Pedro I ao Brasil; a instalação do Absolutismo,
eram retrógrados e reacionários;
O Partido Liberal Moderado, cujos membros na maioria, eram
pertencentes à aristocracia rural. Era a direita liberal, que defendia a monarquia
escravista, não queriam reformas políticas que tirassem seus privilégios e
exclusivismo político, um liberalismo limitado as elites;
O Partido Liberal Exaltado, composto por liberais radicais ou esquerda
liberal., que defendiam a extinção do Poder Moderador, a autonomia das
províncias, o fim do voto censitário, o fim do Conselho de Estado e do Senado
Vitalício. Apenas uma pequena parte, defendia a Proclamação da República e a
abolição da escravidão. Próximos ao povo sempre foram minoria da Assembléia.
Estes partidos, durante toda a Regência, brigaram pelo Poder. Porém,
ideologicamente, não existiam diferenças.
Em 1840, subiu ao trono D. Pedro II, após a declaração da maioridade.
Para a maioria dos políticos, a maioridade significativa a restauração do Poder
Moderador e o reestabelecimento da ordem e o final das revoltas sociais. Com
esse “golpe palaciano” o período regencial termina, começa o Segundo Reinado.
Os Liberais pressionam o Imperador para que este dissolvesse a Câmara e
convocasse novas eleições legislativas. (SOUTO MAIOR, 1974, p. 251/260)
58
Durante o Segundo Reinado, o revezamento político, entre liberais e
conservadores era conseqüência natural em um painel partidário em que ambos
representavam os interesses dos grandes proprietários rurais. A partir da década
de 1850 a grande maioria dos políticos via, como premente, a realização de
reformas econômico-financeiras, que promovessem progresso e integração
nacional. Mas, a indústria brasileira só se firma em 1850.
2.6. A influência de Augusto Comte na Educação Brasileira
Por volta de 1850, a Filosofia Positivista de Comte tornou-se uma das mais
importantes vertentes intelectuais no Brasil. As idéias foram trazidas por
estudantes brasileiros que tinham contato com a Filosofia na França. Facilmente
absorvida por intelectuais brasileiros que procuravam reagir à doutrina
confessional católica, vigente.
A doutrina positivista ganha destaque no Brasil, com debates no Colégio
Militar e depois no Colégio Pedro II e outras escolas. Esses debates possibilitam
começar a pensar a educação brasileira como um projeto para alcançar a maioria
da população brasileira.
Essa corrente filosófica foi muito importante no pensamento da época.
Importância expressa no lema da bandeira brasileira – Ordem e Progresso –, um
dos principais preceitos do Positivismo, que afirma que, para que haja progresso,
é preciso que a sociedade seja organizada.
O pensamento Comtiano refletia o imaginário social da época, suas
principais características era:
A sacratização do método cientifico, do qual faz parte a observação e
preocupação com a verdade;
Rejeição do sobrenatural, reforçando ainda mais a idéia do interesse
pela verdade;
59
2.7. A Abolição da escravatura e os Imigrantes
Em 1888, a Assembléia Geral voltava a Lei Áurea, assinada pela Princesa
Isabel. Ao escravo não tinha sido dada oportunidade de estudo. Assim, quando
livre, teve que vencer a barreira da dor, a miséria, o analfabetismo involuntário.
Com a proibição do tráfico negreiro e a abolição surgem os imigrantes. Os
encarregados de conseguir os imigrantes na Europa não tinham critérios de
seleção, aqui chegava de tudo, era trabalhadores, enfermos, velhos, foragidos, da
justiça...
Face às lutas internas na Itália pela unificação a economia daquele país
fora atingida. Os camponeses italianos imigravam em massa. O governo Imperial
tomou a seu cargo a vinda dos imigrantes, pagando-lhes a passagem,
encarregando-se de distribuí-los pelas fazendas quando aqui chegavam. (SOUTO
MAIOR, 1974, p. 258)
A vinda do imigrante europeu, com melhor nível cultural, permitiu o maior
desenvolvimento das indústrias. Porém, o aparelhamento dos portos, as estradas
de ferro, a rede telegráfica, quase tudo, pertencia aos ingleses. Os empréstimos
continuavam e as dívidas aumentavam.
Apesar de o número de escolas terem aumentado, estudar ainda era
privilégio para os ricos. Para quem não fosse fazendeiro, mas desejasse ter uma
vida razoável, só restava ser padre ou funcionário público. Os últimos, por sua
vez, desejavam um futuro promissor a seus filhos que era o de ser médico ou
advogado. Os filhos de funcionários, que atingiram as faculdades, passaram a ser
os novos intelectuais.
60
Continuamos lentos quanto à expansão do sistema escolar. A classe
dominante parecia ter o propósito de manter restritas as facilidades de ensino. No
século XIX, o marco da cultura brasileira, foi usado a expressão de Souto Maior
“sua Europeização”.
“Os estudantes do Brasil, como aliás em toda a parte, vinham da elite da sociedade – do patriarcado rural ou daquela pequena burguesia que procurava ascender às camadas superiores – dirigiam-se às aulas e aos ginásios, e daí, às escolas das profissões liberais, especialmente às duas faculdades de direito. (...) mantinham-se, no Brasil, extremamente acentuados, os desníveis culturais entre as elites e o resto da população. Esse desnível, que já é um efeito normal da civilização agrária e escravocrata, foi notavelmente elevado pelo desenvolvimento que adquiriram, no sistema escolar em formação, as escolas destinadas às profissões liberais, sem um desenvolvimento paralelo da educação das camadas populares”. (AZEVEDO, 1996, p. 562, 563)
Os escravos livres chegaram às cidades, empregaram-se nas pequenas
indústrias, no comércio, em serviços sempre mal pagos. Como não havia
empregos para todos a miséria era grande, surgiram as primeiras favelas.
“A escravatura, que desonrou o trabalho nas suas formas rudes, o ócio e estimulou o parasitismo, contribuiu para acentuar, entre nós, a repulsa pelas atividades manuais e mecânicas, (...) submeter-se a uma regra, qualquer, era coisa de escravos”. Nessa sociedade, de economia baseada no latifúndio e na escravidão, e à qual, por isso, não interessava a educação popular, era para os ginásios e as escolas superiores que afluíam os rapazes do tempo com possibilidades de fazer os estudos (...). Segundo a opinião corrente, (...) os títulos concedidos pelo Imperador, contribuíram ainda mais para valorizar o letrado, o bacharel, e o doutor, constituindo, com as profissões liberais, o principal consumidor das elites intelectuais forjadas nas escolas superiores do país. Esse contraste, entre a quase ausência de educação popular e o desenvolvimento da formação das elites, tinha de forçosamente estabelecer, como estabeleceu, uma enorme desigualdade entre a cultura da classe dirigida, de nível
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extremamente baixo, e a classe dirigente, elevando sobre a massa de analfabetos – “a nebulosa humana desprendida do colonato” – uma pequena elite que figuravam homens de cultura requisitada e que, segundo ainda, em 1890, observada Max Leclerc, “não destoaria entre as elites das mais cultas sociedades europeias”. (AZEVEDO, 1996, p. 560, 561)
O Brasil Império era um governo feito para umas poucas famílias. A vida
cultural do Império foi uma das mais ativas. D. Pedro incentivou este movimento,
fundando escolas, patrocinando estudos de artistas brasileiros na Europa,
favorecendo associações culturais. Aqui chegaram óperas, musicas diversas,
escritores, pintores, arquitetos, cientistas, um país que se formava e se conhecia
melhor.
O Positivismo, de origem francesa, agiu de maneira decisiva na nossa
cultura, abrindo os olhos dos intelectuais para o Brasil como realmente era, e não
como eles gostariam que fosse. Era a consciência da Pátria.
As idéias do “Naturalismo” também chegarem, explicando que o homem é
um retrato do mundo em que vive, seus defeitos e qualidades encontram uma
explicação no estudo do ambiente onde nasceu e foi criado.
A estabilidade econômica, certa tranqüilidade política e o auxilio
governamental, permitiram que a Segunda Fase do Império se caracteriza-se pelo
desenvolvimento cultural. No entanto, ao final do Império, somando todos os
alunos inscritos, em idade escolar, tinham acesso á educação. O ensino primário
era ministrado na maioria dos casos, por professores leigos. Quanto ao ensino
secundário havia predominância dos cursos avulsos, de freqüência livre, com
ênfase em Humanidades. (AZEVEDO, 1996, p. 564, 565)
62
O ensino superior estava reduzido a poucas escolas isoladas, e eram
destinados à formação de profissionais liberais, especificamente no campo do
Direito.
Ao findar o Império o Brasil não tinha um sistema de ensino integrado. O
primário não tinha ligação com o secundário. E o Curso Secundário, a exceção
do Pedro II e outros poucos, não se constituíam como curso seriado ordenado.
Não haviam Universidades, e sim escola isoladas de nível superior, como as
Faculdades de Direito de São Paulo e do recife, as Faculdades de Medicina do
Rio de Janeiro e de Salvador e a Escola de Engenharia do Rio de Janeiro.
“Essa educação de tipo aristocrático, destinada antes à preparação de uma elite do que à educação do povo, desenvolveu-se no Império, seguindo, sem desvio sensível, as linhas de sua evolução, fortemente marcadas pelas tradições intelectuais do país, pelo regime de economia patriarcal e pelo ideal correspondente de homem e de cidadão. O tipo de cultura que se propunha servir não se explica apenas pela tradição colonial, de fundo europeu, que de certo modo o preparou, mas se liga estreitamente às formas e aos quadros da estrutura social que persistiram por todo o Império. De fato, com a mudança do estado político, de colônia para nação, e com a fundação, em 1822, da monarquia constitucional, não se operou modificação na estrutura da sociedade, que se manteve, como na Colônia, organizada sobre a economia agrícola e patriarcal, de base escravocrata, desde os engenhos de açúcar no Norte até as fazendas de café no Sul, já pelos meados do século XIX, em pleno desenvolvimento. Nesse regime de educação domestica e escolar, próprio para fabricar uma cultura anti-democrática, de privilegiados, a distancia social entre os adultos e as crianças, o rigor da autoridade, a ausência as colaborações da mulher, a grande diferença de educação dos dois sexos e o predomínio quase se absoluto das atividades puramente intelectuais, sobre as de base manual e mecânica, mostram em que medida influiu na evolução do nosso tipo educacional a civilização baseada na escravidão”. (AZEVEDO, 1996, p.560)
63
CAPÍTULO III
A EDUCAÇÃO NA REPÚBLICA BRASILEIRA DE
1870/1959
3.1. A PRIMEIRA REPÚBLICA (1889/1929)
Foi no plano do pensamento político, concebido na Primeira República, que
se construiu, pela primeira vez, uma representação sistemática e substantiva dos
trabalhadores, os pobres, o “povo brasileiro”, usando a linguagem dos autores
mais célebres do período. Articulada pela visão de uma sociedade fragmentada e
tendendo à decomposição diante dos imperativos históricos de mudança social.
A falta de homogeneização e identidade popular, bem como a falta de capacidade
de ação política, não é menos importante, na forma histórica desigual da
sociedade brasileira. (EDER SADER, 1989, p. 35)
“Nenhum fermento novo introduziu na massa do ensino, a não ser o que se preparava nos colégios leigos ou se formava, nos fins do Império, com o aparecimento das primeiras escolas protestantes, como a Escola Americana, fundada em 1870, em São Paulo, para o ensino elementar e a que se acrescentou em 1880, a escola secundária, ambas do Mackenzie College, ou Colégio Piracicabano (1881), para meninas, em São Paulo, e o Colégio Americano (1885), em Porto Alegre, ambos de iniciativa dos metodistas. No Brasil que começava apenas a dividir-se em duas crenças religiosas, ambas cristãs, a Igreja Romana, estreitamente ligada às origens de nossa formação social e histórica e unida ao Estado, mantinha distância, circunscrita a alguns círculos restritos, a influência do protestantismo, recém-vindo e ainda mal aclimado ao meio brasileiro tradicionalmente católico. No terreno educacional não haviam senão os primeiros contatos nem travado senão os primeiros combates as
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concepções escolares, às duas crenças religiosas e ligadas as duas culturas, já diferenciadas, a europeia e a norte-americana: a pedagogia protestante, progressista e libertadora, que atende antes à emancipação do espírito de que a uma domesticação intelectual, e o ponto de vista católico, mais conversador e autoritário, especialmente do jesuíta que, na frase de Macaulay, “parece ter encontrado o ponto até onde se pode impelir a cultura do espirito sem chegar à emancipação intelectual”. Em toda essa obra de ensino e de cultura, que se desenvolveu num ritmo irregular, sob o influxo da iniciativa privada, o governo imperial exerceu um papel mais incentivador do que empreendedor. (AZEVEDO, 1996, p.576)
A partir de 1870, o republicanismo passou a ter representação partidária,
com a criação do Partido Republicano, que defendia a extinção do Senado
Vitalício, do Conselho de Estado e do Poder Moderador, a separação entre Igreja
e Estado; as eleições diretas; e a instalação de um Regime Republicano
Federativo que assegurasse a autonomia das províncias.
“(...) somente depois de 1870 se construíram os primeiros edifícios escolares, com os recursos de uma subscrição feita para erguer uma estátua a Pedro II e convertida, por vontade expressa do Imperador”, na construção de edifícios apropriados ao ensino das escolas primárias”. Assim, em 1872, para uma população recenseada de cerca de 10 milhões de habitantes, a matrícula geral nas escolas primárias não excedia a 150 mil alunos, e se calculava, segundo os dados oficiais, em 66,4 a porcentagem de analfabetos”. (id., p. 571)
Em 1873, na Convenção Republicana de Itu, São Paulo, nasceu aquele
que articulou a Proclamação da República, o Partido Republicano Paulista, que
dominou a vida política até 1930.
Ano de 1889, dia 15 de novembro, na Câmara Municipal do Rio de Janeiro,
dá-se o Golpe Republicano.
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A Família Imperial foi exilada, seguindo para a Europa, a Monarquia havia
acabado. A bandeira Republicana recebeu o lema positivista – “Ordem e
Progresso”. No final do século XIX há uma grande influência dos ideais
positivistas que defendiam uma educação para todos. Os positivistas acreditavam
que a universalização da educação era a condição primordial para a evolução do
homem, com reflexos em seus direitos e garantias fundamentais. O Positivismo
procurava resolver os conflitos sociais por meio da exaltação à coesão e
harmonia entre os indivíduos e o bem-estar do todo social.
Mas, a estrutura econômica não mudou, o Brasil continuou dependente
do capital e dos mercados internacionais. Também, não aconteceram mudanças
nas relações sociais, a massa trabalhadora, rural e urbana, continuou
marginalizada. O povo ganhava mal, não podia estudar, não podia escolher seus
representantes. Quando chega a República há grandes fazendas, falta de
escolas, uma economia presa a um só produto. Quem proclamou a República,
verdadeiramente, foi a classe média (professores, militares, bacharéis), os
fazendeiros ajudaram não combatendo a propaganda republicana. A igreja foi
separada do Estado e houve a instituição do casamento civil.
“Como organizávamos as nossas escolas segundo os padrões europeus e como tais padrões presumiam níveis de educação coletiva e doméstica relativamente altos, comparados aos existentes em nossa população mais baixa, a escola, mesmo a que se designava de popular, não era popular, mas tipicamente de classe média. Não era só a roupa, e sapato, que afastavam o povo da escola, mas o próprio tipo de educação que ali ministrávamos e de que não podia aproveitar-se, em virtude da penúria do seu ambiente cultural doméstico. O “padrão europeu”, cuidadosamente mantido, servia assim para limitar a participação popular à própria escola popular. A escola primária e a escola normal prosperavam, mas como escolas de classe média; a escola acadêmica e o ensino superior ficavam ainda mais restritos, destinando-se dominantemente a grupos de classe superior alta. Abaixo dessas classes, média e superior, dormitiva, esquecido, o povo”. (ANÍSIO TEIXEIRA, 1996, p. 16)
66
Não havia mais Monarquia. Porém, quem permaneceu no poder foram os
velhos políticos, monarquistas, enriquecidos com a venda do café, tinham força
para impor suas vontades, escolhiam os presidentes. Somente quando a
exportação do café caiu, foi que perderam grande parte da força política.
Importante ressaltar que, a exploração da borracha minorou as conseqüências da
1ª crise do café.
3.2. A Constituição Promulgada em 1891
A Constituição foi promulgada em 24 de fevereiro de 1891, realizou-se nos
moldes da Constituição Norte-Americana. Estabelecia como forma de governo a
República Federativa Presidencialista. O país passava a se chamar Estados
Unidos do Brasil.
Determinava a existência de três Poderes a saber: Executivo, Judiciário e o
Legislativo. As antigas províncias forma transformadas em Estados, cada um
podendo elaborar sua própria Constituição, que não poderia, entrar em choque
com a Carta Magna. Cada Estado teria seu próprio Executivo, um governador
escolhido por eleição direta.
O Distrito Federal, no Rio de Janeiro, não possuía autonomia política, embora
tivesse seu Conselho Municipal. O Prefeito da Cidade era escolhido pelo
Presidente da república, assim como os ministros de Estado. Os Ministérios
passaram a ser em número de sete, denominados de Ministério da Guerra, da
Marinha, da Fazenda, da Justiça e Negócios Interiores, da Viação e Obras
Públicas e das Relações Exteriores. (SOUTO MAIOR, 1974, p. 309/310)
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Uma Constituição democrática e liberal, cujos princípios básicos eram o
federalismo, o presidencialismo e o regime de representatividade extinguindo-se,
assim com, o voto censitário. Na Constituição de 1891, não houve ensino
religioso. A Carta consagrou a descentralização do ensino. Os Estados receberam
o direito de criar instituições de ensino superior, delegou aos municípios a
competência para prover e legislar sobre a educação primária.
Instaurado o Governo Representativo (1891), Federal e Presidencial, o
federalismo torna autônomos os Estados, mas as desigualdades regionais geram
distorções. São favorecidos os Estados de Minas Gerais, Rio de Janeiro e São
Paulo. Em função da influencia, exercida pelos coronéis e criadores de gado, tal
período ficou conhecido pelo nome de República Velha. Como Minas Gerais e
São Paulo prevaleciam e influenciavam as decisões políticas, alternando-se no
poder mineiros e paulistas, tal realidade foi denominada de “política do café com
leite”.
No dia seguinte da promulgação da Constituição, aconteceu a primeira
eleição presidencial no Brasil, onde foi eleito o Marechal Manuel Deodoro da
Fonseca. O antagonismo entre governo e Congresso era enorme. Deodoro
dissolveu o Congresso em 3 de novembro de 1891. organiza-se a resistência e a
ação conspiratória toma força. Em 23 de novembro de 1891, o Marechal Deodoro
renuncia, entregando a chefia do governo ao vice-presidente Floriano Peixoto.
(SOUTO MAIOR, 1974, p. 311/313)
Floriano Peixoto (1891/1894) reintegrou o Congresso. Teve apoio das
oligarquias cafeeiras, sua política econômica e social favoreceu especialmente a
burguesia brasileira e as camadas médias e populares urbanas. Abaixou os
preços dos alugueis das casas operárias, da carne, do pescado, aprovou lei de
construção de casas populares, combateu os especuladores, e perseguiu a
estabilidade dos preços dos gêneros alimentícios. Tornou-se, assim, um ídolo
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popular, mas, suas medidas de ordem econômica e social, eram combatidas pelo
capital estrangeiro e pelas oligarquias cafeeiras. Apesar disso, Floriano consegue
apoio de uma parte da população, pela luta que promoveu contra o predomínio
inglês na economia nacional. Isso fazia com que alguns grupos o vissem como
combatente antiimperialista, apesar de ter solicitado o apoio da Marinha Norte-
Americana para reprimir revoltas internas.
Nesse período, o modelo educacional do Império, que privilegiava a
educação da elite, com enfoque nos cursos secundário e superior, é questionado.
A primeira Constituição da República propunha a gratuidade educacional, mas
não a sua obrigatoriedade. Teve um caráter Liberal-Federativo, não dedicando
qualquer recurso específico para a educação. A Educação Pública Primária ficou
sob a responsabilidade dos Estados e Municípios. A educação secundária sob a
responsabilidade dos Estados da Federação. Deixando o espaço para que a
educação fosse mantida, também, pela União e pela iniciativa privada. E o ensino
superior ficava a cargo da União. Apesar das dificuldades, com a República o
Brasil conhece um período de mudanças sociais. A imobilidade social rompe-se, e
começa, embora lentamente, a expansão do sistema escolar.
Proclamada a República, representantes do setor oligárquico modernizador,
em São Paulo, investem na criação de um “sistema de ensino modelar”. Marta
Maria Chagas de Carvalho (2000) escreve sobre o assunto:
“Tão logo proclamada a República, os governantes do Estado de São Paulo, representantes do setor oligárquico modernizador que havia hegemonizado o processo de instauração da República investem na organização de um sistema de ensino modelar. (...) em duplo sentido: na lógica que presidiu a sua institucionalização e na força exemplar que passa a ter nas iniciativas de remodelação escolar de outros estados. (...) Cumprindo essa lógica centrada na reprodução de um modelo escolar por dispositivos de produção de visibilidade
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das práticas escolares, o sistema de ensino público paulista se organiza nas duas primeiras décadas republicanas (...) É no início da década de 1920 que esse modelo paulista entra em crise. (...) A crise do modelo paulista não derivou apenas, entretanto, de mutação nos paradigmas de conhecimento. Ela foi determinada, também pelas motivações politicas, sociais e econômicas que confluíram para o chamado “entusiasmo pela educação”. O intento de expandir a escola, “nacionalizando” as populações operárias rebeldes à ordem republicana instaurada, exibirá os limites do modelo escolar paulista. No seu lugar a linguagem das cifras e a urgência das metas das providências de reforma escolar que então se inauguram, implodindo a lentidão pressuposta na lógica com o que os republicanos históricos o haviam institucionalizado. Na nova lógica, o analfabetismo é alçado ao estatuto de marca de inaptidão do país para o progresso. Erradicá-lo é a nova prioridade na hierarquia das providências de reformas educacional (...) Alçando o analfabetismo à “questão nacional por excelência” e priorizando a extensão da escola às populações até então marginalizadas é que se implanta em São Paulo a Reforma Sampaio Dória. (...) Em nome da erradicação do analfabetismo, a Reforma reduziu a escolaridade primária obrigatória de quatro para dois anos (...) Segundo essa aposta, dois anos de formação básica pareciam ser suficientes para que o aluno exercitasse as suas “faculdades perceptivas”, desenvolvendo a sua “capacidade de conhecer”. Estabelecida pelo Decreto 1.750, de 8 de dezembro de 1920 e revogada em 1925”. (p.225/9)
Em 15 de novembro de 1894, toma posse o presidente civil eleito Prudente
de Morais (1894/1898). Foi a vitória política da oligarquia cafeeira.
Nesse governo as rendas públicas da União regrediam, multiplicaram-se
os déficits orçamentários. O Governo, não era bem visto pelo exército, devido à
luta anterior com Deodoro em prol dos civis e contra os militares. Tal gestão,
embora tenha trazido mais abertura política, não freou o espírito revolucionário
que se desenvolvia no Rio Grande do Sul e também na Escola Militar. Foi neste
governo que aconteceu a destruição do Arraial do Bom Jesus, Canudo, no sertão
70
da Bahia. Canudos era visto como um movimento que tirava dos coronéis a mão-
de-obra de baixo custo do sertanejo. O movimento não pagava impostos a
Republica e interferia na vida religiosa, o arraial não precisava de padres, mas
possuía uma igreja e, embora não fosse atacada, a Igreja Católica se sentia
afetada. Assim, Canudos interferia na ORDEM da República. Então, visando
garantir o Progresso, durante o governo de Prudente de Morais, cinco mil
soldados atacaram e destruíram o Arraial. Sobre o extermínio de Canudos, Souto
Maior (1974) escreveu: A Campanha de Canudos poderia ter sido evitada com
escolas, saúde pública, ajuda econômica e assistência social. Preferiu-se a pior
solução: o extermínio pelo fogo de um pungente drama social”. (p. 319)
Nas eleições de 1898 saiu vitorioso o paulista Manuel Ferraz Campos
Salles (1898/1902), apoiado por Prudente de Morais.
A inflação galopante, a crise cafeeira, a queda do valor da moeda, a
impossibilidade de pagamento dos juros da divida ou amortização da divida
externa, fizeram com que Campos Salles renegociasse com os credores
internacionais. Em atendimento as exigências dos banqueiros, foram retiradas
moedas de circulação, houve contenção das despesas governamentais, foi
determinada a redução do credito, o cancelamento de obras públicas, o aumento
de arrecadação com criação de novos impostos, ainda, o aumento das alíquotas
existentes.
Para inibir as oposições oligárquicas, Campos Salles cria a Política dos
Governadores, que consistia numa troca mútua de favores, entre o Governo
Federal e os Governos Estaduais. O Presidente apoiava os Governadores, estes
apoiavam a política do Presidente. O resultado dessa política foi a supremacia
das oligarquias cafeeiras de São Paulo, representadas pelo Partido Republicano
Paulista. E de Minas Gerais, pelo Partido Republicano Mineiro, conhecida como
política do café-com-leite que durou até 1930. (SOUTO MAIOR, 1974, p. 32)
71
Em 1900, o percentual de analfabetos no país era de 75%, segundo
informação do Anuário Estatístico do Brasil, do Instituto Nacional de Estatística. A
Primeira República teve várias tentativas fracassadas de reformas educacionais,
destacando-se a de: Benjamin Constant, Rivadávia Corrêa em 1911, Carlos
Maximiliano em 1915, Rocha Vaz em 1925, de João Luiz Alves.
A República não correspondeu aos anseios do povo, massa alienada,
dependente dos granes latifundiários, seus votos eram “cabrestados” pelos
coronéis. Eram os votos de cabresto que faziam com que as grandes oligarquias
se eternizassem no poder. Em troca de absoluta fidelidade, o senhor de terra
cedia a seus eleitores agregados terras para o cultivo, condução, roupa, ajudava-
os nas doenças, protegia-se nas contendas jurídicas e policiais. Para os amigos e
parentes havia distribuição de cargos na Administração Pública, empréstimos,
livrava-os da ação da Justiça e Tributária. As eleições eram fraudadas
registrando-se votos de pessoas inexistentes (eleições a bico de pena).
A queda vertical dos preços gerou uma crise séria na economia cafeeira,
no governo Prudente de Moraes, que atravessou a Presidência de Campos Sales
e alcançou Rodrigues Alves (1902/1906).
Afonso Pena (1906/1909), com sua política de valorização do café, garantiu
a elevação dos preços evitando o colapso econômico. As cidades se
modernizaram, prosperaram com a abertura de novas industrias. Afonso Pena
morreu durante o mandato, foi substituído pelo Vice-Presidente Nilo Peçanha, no
período de 1909/1910. (SOUTO MAIOR, 1974, 325/6).
Assume a presidência Hermes da Fonseca (1911 até 1914), aliado das
oligarquias baianas. Em seu governo caiu o saldo das exportações cafeeiras,
houve aumento de emissão de papel moeda, novos empréstimos no exterior
foram contraídos.
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Com sua situação econômica instável torna-se Presidente Venceslau Brás
(1914/1918). Porém, a Primeira Guerra Mundial, durante o seu governo,
possibilitou aos industriais brasileiros, a criação e ampliação das industrias, para
suprir o mercado interno, face à queda das importações dos produtos
industrializados internacionais. Terminada a Primeira Guerra Mundial surge uma
burguesia industrial e urbana e, gradativamente, há uma mudança do modelo
econômico agrário. (SOUTO MAIOR, 1974, p. 330)
Em 1918, o ex-presidente Rodrigues Alves, candidato da oligarquia café-
com-leite, é eleito. Mas, morreu antes da posse, sendo substituído pelo Vice-
Presidente Delfim Moreira, que convocou novas eleições, da qual saiu vitorioso
Epitácio Pessoa, da Paraíba (1919/1922). Coerentemente com a economia do
pós-guerra, o dólar passou a substituir a libra, como padrão internacional, para a
conversão da moeda brasileira. Os Estados Unidos substituíram a Inglaterra na
subordinação econômica do Brasil. Os gatos excessivos aumentaram os déficits
orçamentários. A oposição ao presidente Epitácio Pessoa cresce.
Nos anos de 1920, há o crescimento da industrialização e da urbanização,
um grupo de intelectuais brasileiros se interessam pela educação. Vista como
elemento central para mudar o país. Inspirados nas idéias políticas de igualdade,
do direito de todos à educação, defendiam um sistema estatal de ensino público
livre e aberto, como o único meio efetivo de combate às desigualdades sociais.
Foi o movimento chamado de Escola Nova. Movimento de ruptura, que promoveu
novas formas nos saberes e fazeres a educação. A respeito do assunto Diana
Gonçalves (2000) escreveu:
“As mudanças operadas nas práticas e nos saberes escolares nos anos 20 e 30 ocorriam em função de um conjunto de preocupações. Por um lado, os educadores renovados pretendiam acompanhar as discussões teóricas e as inovações práticas realizadas na educação europeia e norte-americana. Nesse sentido, não apenas liam textos estrangeiros como empreendiam esforços para tornar a
73
bibliografia internacional acessível ao magistério público brasileiro, por meio da tradução e publicação no Brasil de várias obras (...). Mas essas preocupações não se resumiam a apresentar e discutir o pensamento exógeno. Adaptar as teorias estrangeiras à realidade nacional e produzir investigações sobre as características da escola, da criança e do adolescente brasileiro eram outros interesses manifestados pelos “escolanovistas” (...) Pretendiam, além de consultar especialistas para debate de questões pedagógicas, detectar aspectos quantitativos da escolarização no Brasil. Censos sobre a população em idade escolar foram apenas um exemplo. Estava claro para os educadores renovados que se para muitos países a escola já representava a incorporação de largas parcelas da sociedade, no Brasil ela era ainda insipiente, alcançando a alfabetização apenas 20% da população nacional. Estender para todo o território nacional as condições materiais e técnicas da escola de massas era o grande desafio que associava as largas dimensões do Brasil à sua diversidade cultural e populacional. Terra de imigrantes, educar o Brasil significava, para além de nacionalizar o estrangeiro, “abrasileirar o brasileiro”. (...) O método de projetos, ainda, organizava diferentemente o espaço escolar. As carteiras fixas, substituídas pelas móveis, abandonavam a ordenação em fileiras e buscavam, na associação, oferecer condições para o trabalho em grupo”. (p. 512/515)
A década de 1920 apareceu dentro de uma nova perspectiva histórica, os
setores cultural, econômico, social e político da vida brasileira entraram em crise,
bem como a educação elitista.
Na política, em 1922, assumiu Artur Bernardes (até 1926). O Brasil, neste
período, viveu em permanente estado de sítio. Foi um grande antidemocrático,
repressivo.
Surgi uma “classe média”, de características semi-aristocrática e semi-
feudal, que exigi uma educação acadêmica peculiar a da classe alta. Segundo
Anísio Teixeira (1962), “o ideal professado da expansão das oportunidades
educativas, ao invés de promover a educação real de um número maior de
74
indivíduos, determinou a degradação das próprias formas destinadas à
perpetuação da elite tradicional”. (p. 18)
Manteve-se, no ensino as leis antigas, elaboradas através de padrões de
estudos complicados, visando impedir a expansão. Era a educação apenas
formal, não havendo preocupação com a educação real. (TEIXEIRA, 1962, p. 16)
Nesse sentido, Anísio Teixeira (1962), afirma:
“Tratava-se de pura e simples burla, burla de currículos, burla de professores, burla de alunos. A educação fez-se um ritual, um processo de formalidades, como se tratasse de algo convencional, que se fizesse legal pelo cumprimento das formas prescritas”. (p. 18)
De 1926/1930 comanda o país Washington Luiz, que compõe um ministério
fraco e inerte, concentrando o poder em suas mãos. A Revisão Constitucional de
1926, legitimou a intervenção do Estado na educação e deu origem a Comissão
de Legislação Social da Câmara. O governo criou uma nova moeda o “cruzeiro”.
Sua política, de câmbio baixo e estável, favorecia os cafeicultores que o
apoiavam. Foi deposto pelo Almirante Isaias de Noronha, e pelos generais
Augusto Tasso Fragoso e João de Deus Menna Barreto. Foi detido e exilado para
a Europa.
Em “Reforma da Instrução Pública”, a autora Maria Marta Chagas de
Carvalho (2000) escreveu:
“Anísio Teixeira é convidado, em 1926, pelo então governador da Bahia, para reformar a Instrução Pública no estado. Filho de importante família da oligarquia baiana, Anísio era um jovem egresso do Colégio Jesuíta de Salvador que, a partir da leitura do livro de Omer Buyse, começa a rever suas convicções pedagógicas, até então batizadas pela ortodoxia católica. (...)
75
A Reforma empreendida por Anísio Teixeira, na Bahia, é politicamente respaldada pela mesma critica ao “fetichismo da alfabetização intensiva”, que se tornara lema de campanha educacional promovida pela ABAE e plataforma politica das iniciativas governamentais de reforma dos sistemas de instrução pública dos anos 20. Na lógica da reforma baiana, era preciso superar a solução paulista para o problema da educação popular, expressa nas medidas da Reforma de Sampaio Dória. Isso porque o problema do ensino na Bahia era o todo o país: “a mesma vastidão da terra, o mesmo disseminado da população diversa e desassimilada, o mesmo número vertiginoso de analfabetos” e as mesmas limitações de ordem econômica (...) É assim que, o mole escalanovista “educar para a vida” ganha, para Anísio Teixeira, um significado peculiar, que ressignificava a tópica da adaptação da escola ao meio, articulada nas críticas à “escola alfabetizante”. Sua crítica à “noção de educação como ajustamento estático em um ambiente fixo e sua concepção de educação com processo de continua transformação, reconstrução e reajustamento do homem ao seu ambiente social móvel e progressivo” marcavam distância relativamente às concepções dominantes no movimento educacional”. (p. 242)
Na área política e econômica nossa estabilidade foi afetada pela depressão
econômica mundial iniciada com o crack da Bolsa de Nova York, em 1929. Para o
Brasil, suja economia se assentava na agroexportação do café, os efeitos foram
de desmantelamento da referida estabilidade política e econômica. Justamente
em 1929 começa a campanha sucessória.
Júlio Prestes, com apoio oligárquico, vence as eleições. Contudo, os jovens
políticos, civis e tenentes, como Oswaldo Aranha, Lindolfo Collor, Assis Brasil,,
Juarez Távora, Siqueira Campos e outros, contestaram o resultado das eleições e
articularam a revolução.
Na República predomina a escola tradicional. Uma aprendizagem
mecânica, os conteúdos e valores sociais eram absolutos, inquestionáveis. Em
uma concepção, puramente industrial, os objetivos do ensino estavam voltados
para a preparação do indivíduo, visando atender ao mercado de trabalho. Um
76
ensino de conteúdos, que objetivavam a reprodução, mas não a transformação e
o progresso. Esse modelo de escola tradicional permaneceu durante todo o
período da República Velha.
Em 1930 chegava ao fim da República Velha, uma nova etapa surgia: a
Era de Vargas. Com a Revolução de 1930, e a tomada do poder, por Getúlio
Vargas começou a Segunda República.
3.3. O Período da Segunda República
A década de 1920 trouxe a Semana de Arte Moderna, onde alguns de
nossos intelectuais buscaram um modelo cultural genuinamente brasileiro,
defendendo a libertação dos modelos culturais europeus. A quebra da Bolsa de
Nova York (1929), abalou o mundo e desencadeou a crise do café no Brasil. Uma
década que presenciou a reação que levou ao crescimento interno e criou
oportunidades para a industria brasileira. Tudo isso favoreceu a Revolução de
1930, responsável por transformações que provocaram o avanço do processo
educacional brasileiro. Mas, os ideais republicanos foram frustrados, em outubro
de 1930, com apoio da classe média, instalou-se o governo provisório sob a
presidência de Getúlio Vargas.
A Revolução de 1930 nasce com a idéia de reconstrução da nação. Cada
segmento tinha o seu projeto de educação. Correspondente à entrada do país no
mundo capitalista de produção, gerando a necessidade de industrialização.
Porém, falta mão-de-obra especializada, o que exige investimentos em educação
objetivando atender às necessidades da produção industrial. A partir de 1930,
fundou-se muitas escolas e universidades. Começaram reformas públicas
importantes com a modificação do Código Eleitoral, introduzindo o voto secreto e
o voto feminino, a Justiça Eleitoral a quem coube regulamentar as eleições.
77
Também em 1930, é criado o Ministério da Educação e Saúde, órgão
incumbido de estruturar a universidade e fazer as reformas de âmbito nacional.
Assumiu a pasta o mineiro Francisco Campos, que decretou a organização da
Universidade do Rio de Janeiro e a criação do Conselho Nacional de Educação
do Ensino Secundário e Comercial. Ações e decretos que ofereceram uma nova
orientação, favorecendo a pesquisa, a difusão da cultura e uma maior autonomia
didática e administrativa. Inspirado nos ideais da Escola Nova defendeu idéias
modernas sobre educação, tais como: escola única, escola do trabalho e escola-
comunidade (ou escola do trabalho em cooperação).
3.4. Escola Nova
No Brasil, até o século XIX, a educação refletia o pensamento religioso da
igreja católica, a chamada Pedagogia Tradicional, nascida e sistematizada no
contexto da Revolução Francesa (1789). Politicamente destinava-se à
equalização social, através de indivíduos, preparados em condições iguais para
que pudessem defender seus direitos em sociedade. Perspectiva consagrada na
legislação burguesa expressa na frase “todo cidadão tem direito ao ensino”. Tal
garantia, porém, nunca foi cumprida integralmente. A Burguesia, no poder
descobriu que a escola era revolucionária. A equalização social negava o domínio
e a hegemonia burguesa.
Nos anos de 1930, ganhou força o Movimento da Escola Nova, com a
divulgação, em 1932, de um Manifesto. O documento pregava a universalização
da escola pública, laica e gratuita, de bandeiras de conteúdo liberal, pautada pelos
princípios pedagógicos renovados, inspirados nas teorias de Dewey e Kilpatrick, é
neste documento que encontramos as idéias mais fecundas para a educação no
Brasil.
78
Foi um grupo de 26 educadores que procederam ao lançamento do
Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova: A reconstrução educacional no
Brasil. Neste documento foram propostas e defendidas muitas soluções para a
educação brasileira, deu origem a todas as leis fundamentais da educação
nacional.
O Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova foi redigido por Fernando
Azevedo (responsável pela reforma do ensino em São Paulo nos anos 1930).
Congregava uma sistematizada concepções pedagógicas, abordando filosofia da
educação, formulação pedagógica e didática e política educacional. Entre os
nomes que o assinaram estavam também: Anísio Teixeira (mentor de duas
universidades a do Distrito Federal, no Rio de Janeiro, desmembrada pela
Ditadura de Vargas, e a de Brasília, na qual era Reitor quando aconteceu o golpe
militar de 1964), o professor Lourenço Filho, Cecília Meirelles entre outros. Muitas
vezes foram criticados pelos que defendiam a escola particular e religiosa.
Alem do Manifesto ser uma matriz para a Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional, são marcantes as influências das idéias de Anísio Teixeira na
defesa da escola pública e seu entendimento de que a revolução no Brasil tinha
que se operar através de uma revolução da educação.
A Escola Nova surge na tentativa de superar a rigidez da Escola Tradicional.
Apresenta uma nova maneira de interpretar a educação. Valoriza os jogos, os
exercícios físicos, as práticas de desenvolvimento da psicomotricidade, da
percepção, dos sentimentos, da biologia... De inspiração filosófica fundamentada
nas contribuições da Biologia e Psicologia. A Pedagogia da Escola Nova trabalha
com as diferenças individuais.
De 1930/1960 o ensino avançou com o movimento da Escola Nova,
representando o mais vigoroso movimento de renovação da educação no país.
79
O sucesso da Escola Nova foi perdendo sua força, não conseguindo se fixar
totalmente no dia-a-dia escolar. No entanto, ainda hoje, as idéias da Escola Nova
nos servem de fonte de inspiração pedagógica. Como toda teoria que se
apresenta discutindo a visão do mundo tradicionalizada, a Escola Nova recebeu
muitas criticas.
3.5. Constituição Promulgada de 1934
Convoca-se a Assembléia Constituinte que elaboraria a Constituição
promulgada em 1934. Onde foram estabelecidas novas leis favorecendo o
trabalhador. Primeira Constituição, após a Revolução de 1930, estabeleceu a
responsabilidade solidária da família e dos Poderes Públicos, atribuindo
competência aos Estados e ao Distrito Federal (10% de investimento na
educação). Foi a primeira Constituição a dedicar artigos a formação de um
“Fundo para a Educação”. Pioneira em apresentar percentuais de gastos
públicos com a educação (art. 156). Em seu artigo 157, criou os “Fundos
Especiais” de educação, formados pelos patrimônios territoriais, as sobras das
dotações orçamentárias, doações, percentuais sobre as vendas de terras públicas,
taxas especiais.
A Carta Magna, de 1934, reintroduziu o ensino religioso, mas de caráter
facultativo e confessional. A liberdade de ensino tornou-se principio
constitucional. Pela primeira vez aparece o direito Constitucional de educação,
para todos.
Porém, o advento do Estado Novo ceifou a Constituição de 1934. Após três
anos de sua promulgação, sem que os brasileiros pudessem colher os frutos dos
“Fundos Especiais para a Educação”. Assim como a educação como direito de
todos (esse direito somente reaparecerá em 1946).
80
3.6. Constituição Outorgada de 1937 – Período do Estado Novo
(1937/1945)
As tendências autoritárias (fascistas) marcam o novo período de nossa
República. Getúlio implanta a ditadura e, em 1937, é outorgada nova Constituição
e dissolvido o Congresso.
Estabelecida a Ditadura do Estado Novo a participação popular é impedida.
“A educação integral da prole é o primeiro dever e o direito natural dos pais. O Estado não será estranho a esse dever, colaborando de maneira principal ou subsidiária, para facilitar a sua execução de suprir as deficiências da educação particular” (art. 125, da Constituição Brasileira de 1937).
Na área educacional há um retrocesso. Como bem expressa Ghiraldelii
(2003): “A Constituição Federal de 1937 fêz com que o Estado assumisse uma
posição subsidiária em relação ao ensino, sem obrigação de manter ou expandir o
ensino público, até mesmo a gratuidade do ensino foi prejudicada”. (p. 83)
A política educacional virá estruturada na “Leis Orgânicas de Ensino”.
Reforma denominada “REFORMA GUSTAVO CAPANEMA”. Reforma
Educacional, onde o ensino secundário tinha uma dupla função: formação geral e
preparação para o ensino superior, mostrando a estrutura do ensino secundário
com sete amos de duração no total (semelhante aos objetivos da reforma de
Francisco Campos, em 1931).
A política implantada para Educação, através das Leis Orgânicas é
caracterizada pela diferença entre a escola para elite e a escola de natureza
profissional para os oriundos das camadas sociais populares. Ficando o acesso
ao Ensino Superior restrito a quem fazia o Colegial. O Normal só permitia o
81
acesso ao Curso de Filosofia; o Técnico Industrial aos Cursos Superiores
Técnicos.
Houve a criação do Técnico de 2º Ciclo (equivalente ao atual nível médio).
Os educadores inspiraram-se no fato de, nas Forças Armadas, existir a figura do
sargento, coordenando as tarefas rotineiras e que servia de elemento de ligação
entre soldados e oficiais. O que propiciava ao oficial as tarefas nobres. Em
decorrência de tal fato, entenderam que, na indústria e no comércio, deveriam
dispor de técnicos de natureza semelhante, daí a criação dos Cursos Técnicos.
Em 13 de janeiro de 1937, foi criado o INEP – Instituto Nacional de Estudos
Pedagógicos. Sua principal função era a pesquisa, para orientar a formulação de
políticas públicas e para atuar na seleção e treinamento do funcionalismo público
da União.
Em 1937, a economia brasileira voltou-se para o algodão. O governo
estimulou novas indústrias. Nossa siderúrgica é inaugurada em 1941. Começam
as obras da Hidrelétrica de São Francisco. Criou-se a Lei do Usucapião. Os
índices orçamentários para a Educação foram suspensos, e foi criado o “Fundo
Nacional do Ensino Primário”, em 1942. Ficou estabelecido o comprometimento
dos Estados e Municípios, permitindo a cooperação financeira da União, nos
limites dos recursos do Fundo. Porém, o regime autoritário não permitiu o
conhecimento dos resultados obtidos pelo Fundo.
O ensino técnico-profissional era um seguimento destinado às classes
menos favorecidas, passando a ter uma legislação própria para regulamentá-los:
Decreto-lei 4.073, de 31 de janeiro de 1942, tratava do ensino industrial;
Decreto-lei 6.141, de 28 de dezembro de 1943, que versava sobre o
ensino comercial, ou seja, regulamento o ensino comercial;
82
Decreto-lei 4.984, de 21/11/1942, prescreve que as empresas oficiais
com mais de cem empregados deveriam instalar e manter uma escola de
aprendizagem para formação profissional de seus aprendizes;
O Decreto – Lei 4.048, de 22 de janeiro de 1942, criou o SENAI –Serviço
Nacional de Aprendizagem Industrial, destinado a formação de mão-de-
obra de operários das indústrias;
16 de Julho, do ano de 1942, o Decreto-Lei nº 4.481 dispôs sobre a
obrigatoriedade dos estabelecimentos industrias empregarem um total de
8% do número de operários e matriculá-los nas escolas do SENAI;
Em 7 de novembro, daquele ano, é ampliado o âmbito do SENAI,
alcançado os setores de transportes, das comunicações e da pesca,
através do Decreto-Lei nº 4.436.
A ditadura durou 8 anos, com uma campanha nacionalista.
3.7. Constituição Promulgada de 1946 – Período da Quarta República
(1946/1964)
A partir de 29 de outubro de 1945, chega ao fim o Estado Novo. A
Assembléia Constituinte é formada. Em 1946 é promulgada uma Nova
Constituição. Uma Constituição de cunho liberal e democrática. Apesar disso, no
entanto, o Partido Comunista Brasileiro é casado em 1947. O General Dutra
preside o país de 1946/1950, com uma política conservadora.
O art. 169, da Constituição Brasileira de 1946, recolocou a questão dos
índices orçamentários para os gastos com a educação pela União, Estados e
Municípios. Porém, a Assembléia Constituinte não reiterou a criação dos “Fundos
Especiais”.
83
Novos Decretos-Lei são publicados:
Decreto-lei 8.530, de 02 de janeiro de 1946, cuidava do ensino
normal ;
Decreto-lei 9.613, de 28 de agosto de 1946, era dirigido ao ensino
agrícola;
pelo Decreto-lei 8.621, o SENAC é criado em 10 de janeiro de
1946.
A política é marcada por disputas de ordem partidária, o PTB de
origem getulista; o PSD oligárquico com bases agrárias; a UDN com idéias
antigetulistas. Assim, a educação sofre os efeitos das diferentes ideologias, a
discussão da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional dura de 1948 até
1961.
Getúlio retorna ao poder (1951/1954) e nacionaliza o Petróleo. Em 1954
Getúlio suicida-se. A crise torna-se aguda, o impacto do fato provoca grande
comoção popular.
Ano de 1955, novas eleições, Juscelino Kubitschek, é eleito presidente.
Um político conciliador e popular. Implanta uma política nacionalista
desenvolvimentista, assumindo como lema a frase “50 anos de progresso em 5”.
Funda novas industrias, sobretudo de automóveis. Leva avante as obras das
hidrelétricas de Furnas e Três Marias. Constrói estradas e a nova Capital Brasília.
As dividas também aumentam.
O governo de Juscelino, no plano político, deu força ao nacionalismo; no
entanto, no plano econômico desnacionalizou o processo de industrialização
acelerando a entrada, no país, das grandes empresas internacionais, visto que as
indústrias de consumo durável requeriam um alto investimento para sua
84
implantação. Era um modelo de Estado Nacionalista-Desenvolvimentista, com um
discurso político nacionalista e uma prática econômica internacionalista.
Novas eleições, Jânio Quadros é eleito Presidente com um número
expressivo de votos. No entanto, permanece no poder por apenas 6 meses,
apresentando sua renuncia em agosto do ano de 1961, alegando “forças ocultas”.
Durante o período de sua gestão houve aumento do custo de vida e um
empréstimo foi solicitado ao FMI.
3.8. Os “dois-Brasis”
A atenção para as camadas sociais populares aparecem na academia
através da temática da modernização, que exprimia, nos anos de 1950, a
sensação coletiva de uma transição entre sociedade pobre, atrasada e desigual,
para uma sociedade industrializada, urbanizada e universal.
A possibilidade de reflexão, vem de uma questão que se situa fora dessas
camadas, fora de suas relações sociais concretas e vividas. O descompasso
temporal e espacial da mudança social do país produziu a célebre imagem dos
“dois-Brasis”, onde:
Uma imensa parte da sociedade brasileira continuaria a se reger por
prescrições tradicionais, regionalidade, distribuídas por critérios rígidos
de participação familiar, por sexo, por parentesco, por prestigio local;
E outra parte desta sociedade já tinha entrado decisivamente na
modernidade e nos critérios mais universais de orientação.
Na década de 1950, uma das principais tarefas executadas pelo INEP –
Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais, foi a realização de
levantamento sobre as condições de ensino em cada uma das unidades
federativas.
85
Até a década de 1950 as raras creches existentes eram de responsabilidade
de entidades filantrópicas, pertencentes a Igreja e, principalmente, a religiosos. O
atendimento assistencial-protetoral era a finalidade do trabalho desenvolvido. A
maior procura por creches vinha por parte as operárias, empregadas domésticas,
comerciarias e funcionárias públicas, face a ampliação da indústria e a
urbanização crescente, fatores que propiciaram a entrada da mulher no mercado
de trabalho.
86
CAPÍTULO IV
A REPÚBLICA DA DÉCADA DE 1960 AOS DIAS
ATUAIS
A partir da década de 1960 o marco da educação brasileira é PAULO
FREIRE. Ele criou o método que foi utilizado no nordeste e revolucionou o
pensamento anterior de educação modeladora de indivíduos. O Método Paulo
Freire utiliza as experiências dos alunos como elemento base para a educação.
Método que logrou sucesso na educação para adultos do Rio Grande do Sul.
Também a formação profissional passou por transformações, sofreu uma
expansão, de quantidade e de qualidade, face às mudanças no contexto histórico-
social.
Período em que merece destaque, ainda, a entrada em vigor da Lei 4.024,
a nossa primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, que criou
“Fundos de Ensino”. A LDB define e regulariza o sistema de educação no Brasil.
Seu objetivo é possibilitar aos sistemas de ensino a aplicação dos princípios
educacionais constantes da Constituição Federal. A Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional, promulgada em 1961, durante 13 anos foi discutida no
Congresso Nacional.
A LDB continha as reivindicações da Igreja católica e donos de escolas
particulares, prevalecendo sobre os interesses dos que defendiam o ensino
público e oferta de educação aos brasileiros. Houve a ampliação da luta por uma
escola pública gratuita. Aconteceram movimentos e campanhas em prol de
educação popular e da alfabetização de adultos.
87
A Lei alterou a estruturação do ensino, onde o primeiro ciclo de ensino
médio não era voltado para a formação profissional, quem precisasse trabalhar
poderia optar pelo aperfeiçoamento profissional. Qualquer alternativa no 2º Ciclo
do ensino médio permitia o acesso ao ensino superior. Quanto aos conteúdos
curriculares, houve alguma diversificação, conforme a preferência dos
estabelecimentos em relação a matérias optativas. Passou a ser permitindo que,
na 3ª série do Colegial, o currículo possibilitasse a diversificação, preparando o
educando para o Curso Superior.
4.1. Período Militar (1964/1985)
Em 1964, João Goulart é deposto pelo Golpe Militar. Para governar é
escolhido o Marechal Humberto Castelo Branco.
A vida política brasileira se modifica muito a partir do movimento de 1964, o
golpe militar bloqueia as tendências educacionais, fruto das idéias de Anísio
Teixeira, Fernando Azevedo, Lourenço Filho, Carneiro Leão, Darcy Ribeiro,
Armando Hildebrand, Paschoal Lemme, Paulo Freire, Lauro de Oliveira Lima,
Dumerval Trigueiro, entre outros. A educação passa a ser tecnocrata, baseada
nas idéias expostas na Teoria do Capital Humano. Foi grande a perseguição a
educadores devido as suas convicções ideológicas (exílio, prisão, demissão...).
Há mudança política, ampla, a partir do movimento de 1964. É editado o
Ato Institucional nº 1, que mantem a Constituição de 1946 em vigor, porém,
estabelece normas para projetos de emenda constitucional, bem como projetos
de lei referentes à despesas públicas; outorga poderes ao presidente para
decretar Estado de Sítio; suspende as garantias de estabilidade e vitaliciedade;
estabelece normas para punição de funcionários públicos e a possibilidade de
cassação de mandatos.
88
“A Revolução vitoriosa se investe no exercício do Poder Constitucional. Este se manifesta pela eleição ou pela revolução. Esta é a forma mais expressiva e mais radical do Poder Constituinte. Assim, a revolução vitoriosa, como o Poder Constituinte, se legitima por si mesma. Ela destitui o governo anterior e tem a capacidade de construir novo governo”. (Preâmbulo do A. I. nº 1)
No cenário político reforma-se o processo eleitoral, são as eleições
indiretas.
Em nome da modernidade é firmado o acordo MEC/USAID (Conselho de
Cooperação Técnica de Aliança para o Progresso – United States Agency
International for Development) para assessoria no ensino primário com a vinda de
técnicos americanos.
Castelo Branco cassou os direitos políticos de 378 pessoas, inclusive os
três ex-presidentes (Kubitscheck, Goulart e Quadros), seis governadores, 55
membros do Congresso, diplomatas, lideres trabalhistas, oficiais discordantes,
intelectuais e funcionários públicos. No mês de julho de 1964, o mandato de
Castelo Branco, que deveria se expirar em janeiro de 1966, foi prolongado até
março de 1967.
Em 1965, o acordo MEC/USAID (Conselho de Cooperação Técnica de
Aliança para o Progresso) alcança o ensino médio, com objetivo de melhorá-lo.
Prevendo assessoria técnica americana para o planejamento do ensino e
treinamento de técnicos brasileiros nos Estados Unidos.
Castelo Branco, no ano de 1966, baixou o 2º Ato Institucional.
Com o Ato Institucional nº 2 os partidos políticos foram dissolvidos, o Poder
Executivo teve em mãos poderes extraordinários.
89
4.2. Constituição Promulgada de 1967
Em 24 de janeiro de 1967 foi promulgada pelo Congresso Nacional uma
Nova Constituição, posteriormente modificada pela Emenda Constitucional de 17
de outubro de 1969.
Essa nova Lei Magna institucionalizou o movimento de 1964.
O autoritarismo militar de 1964 faz com que, da Constituição de 1967, deixe
de constatar os “Fundos Especiais” para educação. A única verba específica para
a educação teria sua origem na Lei 4.440/64 que havia estabelecido o Salário-
Educação, mas face ao regime tal verba não tinha sua aplicação fiscalizada pela
sociedade.
Como consequência da tomada do poder pelos militares o Programa
Nacional de Alfabetização é extinto.
Março de 1967 sobe a presidência o Marechal Arthur da Costa e Silva. Ele
praticamente manteve o regime de Castelo Branco.
Em dezembro de 1968 é decretado o Ato Institucional nº 5, ao lado do Ato
Complementar nº 38. O Congresso entra em sucesso, novas cassações são
feitas, o controle retorna ao Executivo.
O Ato Institucional nº 5, de 1968, coexistiu com a Constituição de 1967.
Permitindo que, o Presidente da República, suspendesse direitos políticos e
cassasse mandatos eletivos de qualquer cidadão, sem as limitações da
Constituição que retifica a inviolabilidade dos membros do Congresso Nacional.
Decretasse o recesso da Assembléia Nacional, das Assembléias Legislativas e da
Câmaras de Vereadores; também é decretada a intervenção federal nos
90
municípios e Estados, sem limite previsto na Constituição. Decretasse ainda o:
estado de sítio; os confinamentos; limitações para a atividade política dos
cassados; passa a ser possível a demissão, aposentadoria ou até remoção de
juízes ou pessoas que gozassem das garantias de inviolabilidade, vitaliciedade ou
estabilidade; é viabilizado o confisco de bens; censurasse jornais, rádios e
televisões; o Poder Judiciário é impedido de se manifestar sobre qualquer ato
baixado com base na legislação excepcional; passa a ser proibida a concessão
de habeas Corpus às pessoas processadas por crime político.
A Lei 5.540/68 fixou as normas de organização e funcionamento do ensino
superior e sua articulação com o Ensino Médio. Foi a Reforma Universitária
levada a efeito pelos governos militares.
Costa e Silva foi afastado do poder, em 31 de agosto de 1969, por motivos
de saúde. Em seu lugar, subiu ao poder uma Junta Militar.
Junta Governativa que promulgou a Constituição de 1969. Parece a
vinculação orçamentária e dos fundos educacionais. A Emenda nº 1, de 1969,
limitou-se a obrigar a aplicação de 20% da receita tributária municipal no ensino
primário (artigo 15). Preservando, apenas, a vinculação para os Municípios.
Foram 17 anos sem exigência mínima para utilização de recursos financeiros na
educação nacional.
Foi fechada a União Nacional dos Estudantes (UNE); e criado os Diretórios
Acadêmicos, no âmbito de cada curso, e um Diretório Central no âmbito da
Universidade. No entanto, através do Decreto-Lei nº 477/69, ficou proibido que
professores, alunos e funcionários fizessem manifestações de caráter político.
91
Em outubro de 1969 assume a Presidência da República, o General Emílio
Garrastazu Médici, antigo diretor do Serviço Nacional de Informações. Um
governo com cunho patriótico e nacionalista.
No período do Governo Médici há prioridade para a economia em
detrimento dos temas políticos. A politica educacional ficou atrelada a politica do
desenvolvimento.
Na década de 1970, há aumento do numero de vagas. A rede pública
passa a absorver os que estavam marginalizados e excluídos do sistema. Era a
democratização da escola pública. No entanto, quantidade não significa
qualidade. A segunda restou prejudicada, pois faltavam recursos materiais,
humanos e técnicos. Os recursos disponíveis não eram suficientes para suportar
a inclusão daqueles que, até ali, estavam excluídos do processo. Tal quadro
resultou em aumento do índice de evasão, repetência, fracasso e frustração,
inclusive para os docentes.
Durante o governo militar, o tema do analfabetismo no Brasil foi objeto de
uma grande campanha nacional, o Movimento Brasileiro de Alfabetização
instituído pela Lei 1.124/70.
O MOBRAL foi um programa sem finalidade lucrativa para os investidores.
Pela Lei, tanto as pessoas físicas como as pessoas jurídicas, ficavam autorizadas
a deduzir 1% de seu Imposto de Renda para um programa que visava diminuir, e
até extingui, o analfabetismo no Brasil. A campanha buscava mobilizar as
comunidades locais para a eliminação do analfabetismo de adultos no país. O que
ocorria através de cursos intensivos, inspirados na metodologia de Paulo Freire.
A partir da década de 1970 a Escola Tecniscista ganha força no Brasil.
Partindo da premissa de que, a melhor forma de adaptar o indivíduo à sociedade
92
é treiná-lo, para obter uma profissão adequada ao mercado de trabalho. É a
formação de mão-de-obra especializada.
O chamado, “milagre brasileiro”, amplia e diversifica o processo produtivo
brasileiro. Incentiva as reformas educacionais, com a profissionalização aliada a
educação formal, em nível de ensino fundamental e superior. É o surgimento, na
década de 1970, dos cursos de terceiro grau com objetivo de atender à
necessidade de mão-de-obra operacional.
Em 1971, pela Lei Federal 5.692/71, Complementar de Diretrizes e Bases
da Educação (a LDB de 1961 foi substituída pela Lei nº 5.540/68 e 5.692/71), o 2º
grau torna-se profissionalizante. Assim, a LDB, do período militar, dá uma nova
identidade ao ensino médio, a profissionalização compulsória no 2º grau. O
Conselho Federal de Educação regulamentou 200 habilitações profissionais,
embora não houvesse condições reais. Muitos estabelecimentos cumpriam a lei
de maneira elementar ou simplesmente a burlavam. Ofereciam um currículo
oficial, para a fiscalização, e outro que preparava os alunos para o vestibular.
Implantavam habilitações baratas, que, em alguns casos, não ofereciam
oportunidades no mercado de trabalho. As disciplinas que levavam à reflexão
como Psicologia, Sociologia e Filosofia foram retiradas do 2º Grau. O núcleo
comum (disciplinas obrigatórias), era obrigatório em todo território nacional, com
dez conteúdos específicos. Tal situação prejudicou a liberdade dos sistemas
estaduais e dos estabelecimentos de introduzirem outras matérias.
Como Presidente da República, assume, em 1974, o General Ernesto
Geisel. É lançado o plano de “distensão”, que procura valorizar o Congresso. É
um caminhar, a passos bem lentos, em direção a democracia, com avanços,
recuos, cassações, censura prévia à imprensa...
93
Nas décadas de 1970 e 1980 houve mudanças na idéia de educação
profissional. A Lei 6.297 de 1975, oferecia incentivo, mediante dedução no
imposto de renda de pessoas jurídicas, às iniciativas de treinamento e
desenvolvimento.
4.3. A Década de 1980
A década de 1980 foi caminhar da ditadura à redemocratização. A
democracia torna-se tema central nos debates políticos e sociais.
O período trouxe um processo de reestruturação para o Instituto Nacional
de Estudos e Pesquisas Educacionais. O órgão foi dotado de melhor capacidade
técnica e de recursos humanos. Passa a ser priorizado, a partir de então, o
fomento a projetos de pesquisas, o suporte às Secretarias do Ministério da
Educação na avaliação da realidade educacional, bem como a ampliação do
processo de disseminação das informações captadas.
A Lei nº 7.044/82 dispensou as escolas de ensino de 2º Grau da
obrigatoriedade de oferecer a profissionalização ao final do 2º Grau, embora a
formação do técnico de 2º Grau tenha permanecido junto ao ensino médio.
4.4. O período da abertura política e a Constituição de 1988
A abertura política traz à luz a necessidade de uma Nova Constituição.
Após o regime de força, a nova Constituição, de 1988, foi chamada de
Cidadã.
94
A Carta Magna de 1988 estabeleceu seus objetivos, em termos
educacionais, no art. 205:
“A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando o pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho”.
Somente na Constituição de 1988 voltou a vinculação de recursos
financeiros para educação, incluindo a União, Estados e Municípios.
4.5. Princípios Constitucionais Fundamentais que regem a Educação
A Constituição Federal / 1988 em seu art. 206 estabeleceu princípios
fundamentais, que foram confirmados pela LDB, em seu art. 3º:
Igualdade de condições para acesso e permanência na escola
(art.206, inciso I, da CF; e art. 3º, inciso I, da LDB);
Igualdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar a cultura, o
pensamento, a arte e o saber (art.206, inciso II, da CF; e art. 3º, inciso
II, da LDB);
Pluralismo de idéias e de concepções pedagógicas (art. 206, inciso
III, primeira parte, da CF; e art. 3º, inciso III, da LDB);
Coexistência de instituições públicas e privadas de ensino (art. 206,
inciso III, segunda parte, da CF; e art. 3º, inciso V, da LDB);
Gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais (art. 206,
inciso IV da CF; e art 3º, inciso VI, da LDB);
Valorização do profissional da educação escolar (art. 206, inciso V,
primeira parte, da CF; e art. 3º, inciso VII, da LDB);
95
Gestão democrática do ensino público, na forma da lei e da
legislação dos sistemas de ensino (art. 206, inciso VI, da CF; e art 3º,
inciso VIII, da LDB);
Garantia de padrão de qualidade (art. 206, inciso VII, da CF; e art 3º,
inciso IX, da LDB).
Os indicadores educacionais nacionais demonstram que houve grande
evolução, desde a Constituição Federal de 1988, que definiu a educação básica
como um dever do Estado e um direito do cidadão.
4.6. Da Década de 1990 aos dias atuais
A década de 1990 é demarcada por praticas politicas neoliberais.
Discursos a respeito da globalização, livre mercado, competitividade,
produtividade, reestruturação produtiva, reengenharia, revolução tecnológica.
No início do período (1990), Fernando Collor de Mello, com seu programa
de reconstrução nacional e abertura de mercado, começa seu mandato. Mas,
causa espanto a todos, com o “confisco” das contas corrente e poupança. Dois
anos depois, acontece o impeachment. Em decorrência, assume o Vice-
Presidente da República, Itamar Franco, sem mudanças substancias.
Eleição seguinte, assume a Presidência Fernando Henrique Cardoso, que
é reeleito no pleito subsequente. Os seus dois governos consolidam as idéias
neoliberais de Estado mínimo e abertura ao capital internacional. A atual Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional foi promulgada pelo Presidente
Fernando Henrique Cardoso, em dezembro de 1996. A política governamental de
educação profissional foi marcada pelo Decreto nº 2208/97, consolidando a
separação entre o Ensino Médio e a Educação Profissional.
96
4.7. Lei de Diretrizes e Bases da Educação em 1996
Com a Constituição promulgada em 1988, ficava estabelecida a premente
necessidade de uma nova LDB. Assim, nasceu a Lei nº 9.394/96, que já vinha
sendo discutida desde os anos de 1990, ainda no Governo de Fernando Collor de
Melo.
A primeira versão do projeto foi apresentada à Câmara dos Deputados em
1988. Somente, em 1993, já na terceira versão, foi aprovado. Fragmentado, o
Projeto foi ao Senado, onde já corria um Projeto alternativo de autoria do Senador
Darcy Ribeiro. Foi este segundo que, incorporando 204 emendas, substituiu o
oriundo da Câmara, sendo finalmente aprovado em 1996.
A Lei foi sancionada como Lei 9.394/96, é a nova Lei de Diretrizes e Bases
da Educação Nacional. Que enfatiza que, o ensino médio, é a etapa final do
ensino básico. Caracterizado a proposta de identidade formativa para tal
segmento. O legislador afirma que, o ensino médio deve oferecer uma formação
baseada na ética, com autonomia intelectual e pensamento crítico. Em seu art. 1º,
§ 1º estabelece os limites jurídicos da educação, estabelecendo que a LDB
somente disciplina a educação escolar, vejamos:
Art 1º - Na educação abrange os processos formativos que se desenvolvem na família, na convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos movimentos sociais e organizações da sociedade civil e nas manifestações culturais. § 1º - Esta lei disciplina e a educação escolar, que se desenvolve, predominantemente, por meio do ensino, em instituições próprias.
97
No parágrafo 2º do artigo citado, a LDB vincula a educação com o trabalho
e a cidadania: “A educação escolar, deverá vincular-se ao mundo do trabalho e à
prática social”.
Baseada no princípio do direito universal à educação para todos, a LDB
trouxe diversas mudanças, em relação às leis anteriores, como a inclusão da
educação infantil, em creches e pré-escolas, como primeira etapa da educação
básica. Em seu art. 2º, a LDB repete a determinação do art. 205 da Constitiução
Federal de 1988:
Art 2º - A educação, dever da família e do Estado, inspirada nos princípios da liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.
4.8. Principais destaques da atual política educacional
A Resolução CNE/CEB nº 3, de 26 de junho de 1998, instituiu as Diretrizes
Curriculares para o Ensino Médio, um conjunto de definições doutrinárias sobre
os princípios, fundamentos e procedimentos que deverão ser considerados na
organização pedagógica e curricular de cada unidade escolar.
Com base na Portaria nº 2.255, de 25 de agosto de 2003, artigo 1º, o Instituto
Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais foi transformado em autarquia
federal, vinculada ao Ministério da Educação. Com o novo modelo o Instituto
ampliou seu potencial de trabalho, cumprindo seu papel de órgãos especializados
na avaliação e na informação educacional, objetivando a melhoria da Educação
no Brasil. Dos instrumentos de ação, do Instituto Nacional de Estudos e
Pesquisas, destaca-se:
98
O ANEC – Avaliação Nacional de Educação Básica, o antigo SAEB
(Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica), que realiza
pesquisa, por amostragem, dos ensinos Fundamental e Médio.
Destinados a acompanhar a evolução do desempenho dos alunos e os
diversos fatores incidentes na qualidade do ensino. Mas, não adianta
mudar de nome se a metodologia não mudar. A verba aplicada tem
que dar resultado prático;
Relevante, também, como ação do INEP, o Exame Nacional do
Ensino Médio – ENEM, exame de saída. Facultativo aos que já
concluíram e aos concluintes do Ensino Médio. Aplicado pela
primeira vez em 1997, parece ser o único com proveito concreto,
pois mostra o perfil do ensino médio e é muito bem elaborado. Na
prática, vem sendo utilizado pelo serviço de seleção e recrutamento
de pessoal de algumas empresas, além de permitir a entrada no
nível superior. É questionável sua utilização como instrumento de
avaliação no processo de avaliação profissional. Considerando-se
que, a intenção inicial, era que a informação do rendimento
individual fosse de caráter sigiloso. Torna-se, assim, uma prática
inadequada, pois utiliza um instrumento do Poder Público.
Em 1996, foi criado o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino
de Valorização do Magistério – FUNDEF. Que destinava 15% dos 25% dos
recursos para Educação, de cada Estado e seus Municípios, em um fundo único,
repartido entre governos estaduais e municipais, conforme o número de alunos
das respectivas redes de ensino fundamental. Posteriormente, O FUNDEF foi
substituído pelo Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica –
FUNDEB, que atende à escola pública, de educação básica, bem como aos
professores em atuação efetiva em sala de aula.
99
O Programa Universidade para Todos (Prouni), é destinado à concessão
de bolsas de estudos integrais e bolsas de estudos parciais de 50%, para cursos
de graduação e sequenciais de formação específica, em instituições privadas de
Ensino Superior com ou sem fins lucrativos. Conforme o estabelecido no Decreto
nº 5.245/04, artigo 3º, a pré-seleção dos estudantes a serem beneficiados pelo
Prouni, leva em conta o Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM), referente ao
ano anterior ao ingresso do estudante.
A politica educacional do governo Luis Ignácio Lula da Silva visa facilitar o
acesso das camadas menos favorecidas aos diferentes níveis de ensino.
Ideologicamente, a preocupação com o analfabetismo, faz recordar as teorias
pedagógicas de Paulo Freire, na década de 1960.
Em 2006, o Ministério da Educação reabriu a discussão sobre a questão
dos métodos de alfabetização, objetivando resolver o problema da alfabetização
funcional no país.
Cabe ressaltar quem a alteração promovida pela Lei 11.274/06, promoveu
alterações na LDB, objetivando elevar o ensino fundamental de 8 para 9 anos,
com início aos 6 anos de idade e não mais aos 7 anos.
4.9. O Estado Democrático de Direito
A prática da democracia exige a organização de instituições que
desempenham papel em nome do povo. Um grupo pode ser eleito pelo povo e
dele afastar-se, para beneficiar-se do poder, ou realizar suas próprias aspirações.
O Estado Democrático de Direito é legal, porque a lei predomina, e todos
estão a ela submetidos, governantes e governados. É uma combinação de três
princípios de:
100
Governo Representativo;
O Constitucionalismo;
E a democracia como exercício da soberania popular.
No Brasil, a expressão Estado Democrático de Direito, foi criada pela nossa
Constituição de 1988, em seu título I (referente aos Princípios Constitucionais
Fundamentais).
É o ideal de governo da maioria, limitando o poder estatal. Objetiva a
garantia dos direitos fundamentais e a preservação da separação dos Poderes,
assim as minorias e seus direitos serão também respeitados. O documento que
estrutura toda a vida em sociedade e que define direitos e deveres, é a
Constituição. A Lei Maior, à qual nenhuma outra lei pode contrapor.
É democrático, porque o poder de escolher os governantes reside no
cidadão comum, direito tutelado pela Constituição.
É representativo, porque o governo não se exerce diretamente pelo povo;
mas, mediante representantes por eles escolhidos; que exercerão suas funções
dentro de um quadro de poderes, atribuições e responsabilidades definidas em
lei, por períodos determinados (mandatos).
A idéia atual é que, a principal atribuição do Estado Democrático de Direito,
é:
O estabelecimento de políticas visando a eliminação das
desigualdades sociais e os desequilíbrios econômicos regionais;
Além de perseguir um ideal de justiça social, dentro de um sistema
democrático de exercício de poder.
101
A doutrina moderna afirma que a democracia se baseia nos seguintes
princípios:
O da soberania popular, que se manifestada através de
representantes políticos; consiste em considerar o povo como fonte
única de poder. “Todo poder emana do povo e em seu nome é
exercido” (de acordo com a Declaração dos Direitos do Homem e do
Cidadão);
O da Participação Popular cujo objetivo é assegurar que a vontade
do povo possa efetivamente ser expressa direta ou indiretamente, em
todos os setores da sociedade, desde a elaboração normativa até sua
aplicação e reformulação.
A democracia pressupõe a participação dos cidadãos, nela a educação
aparece como fator responsável pela sua manutenção e preservação, pois esta
só se mantém quando os indivíduos têm condições de refletir sobre suas vidas e
sobre a sociedade, em termos individuais e coletivos.
É um regime que esta fundamentado na liberdade e na participação
popular.
Estamos vivendo a década de 2000, no segundo mandato do Presidente
Luiz Inácio Lula da Silva, que defende o acesso a educação para todos.
Considerando-se que, o processo de construção e socialização do
conhecimento constitui elemento fundamental para o processo de democratização
da sociedade, precisamos pensar os conceitos e as perspectivas de
conhecimento, que possam contribuir para a construção da cidadania do
educando, enquanto sujeito de suas representações sociais e autor de sua
história.
102
O desafio que se impõe à educação refere-se não apenas a
instrumentalização do educando para o exercício profissional, mas, para a
capacidade de afirmação de sua condição de cidadão. Assim, necessário é que o
conhecimento seja um processo de busca de identidade do sujeito a partir da
transformação e afirmação da sua visão de mundo.
Uma das condições fundamentais de democracia é o respeito às diferenças,
pois a democracia engloba diferentes formas de relação entre os homens, que se
estabelecem a partir da consideração das diferenças e do diálogo.
103
CONCLUSÃO
A ocupação das terras brasileiras pelos ibéricos portugueses e
concomitantemente por incursões dos franceses, holandeses, ingleses, entre
outros, evidencia uma ação predatória da cultura brasileira, com invasão cultural
européia. O povo, no Brasil, atua como platéia e não como ator e autor de sua
própria História.
Na Colônia e no Império, raros foram os momentos de base popular. Os
Jesuítas vieram com objetivo de “catequizar” os índios. Executando a política
Católica, fiéis ao pensamento tradicionalista, por outro lado, aceitaram como
legítima a escravidão do negro.
A educação brasileira dói marcada pelo dualismo entre educação
acadêmica, destinada às elites; e o ensino profissional, visando as camadas
populares, resultado da própria formação histórica e social brasileira.
Na Republica, encontramos momentos de ditadura no cenário político
brasileiro. O período republicano surge como golpe de Estado. Tendo como
articuladores a elite intelectual-liberal brasileira, juntamente com grupo de
militares graduados de inspiração positivista. Também nesse momento, fica
estabelecida exclusão do homem-cidadão. Importante frisar que, chegamos ao
período Republicano ainda com a idéia de que o trabalho manual era vergonhoso,
não deveria ser exercido pelo homem livre, intelectual, pois era considerada
atividade de escravo.
Surge o Estado Republicano Paternalista e Protetor, a partir de 1930, com
Getúlio Vargas; era em que consolidam-se as lideranças latifundiárias, oriundas
do sistema escravista. Inegável que, o populismo e o coronelismo são elementos
importantes na democracia brasileira.
104
O regime militar consolidou o modelo de Estado Autoritário, limitando ao
máximo a participação do cidadão brasileiro. No entanto, foi nos anos de 1970,
durante o governo militar, que o analfabetismo foi objeto de campanha nacional, o
Movimento Brasileiro de Alfabetização – MOBRAL.
Mesmo considerando a herança republicana, com presença marcante do
autoritarismo, a partir da década de 1980 o país passou a experimentar uma
postura democrática. Em uma sociedade onde impera a força massificadora,
cresce a necessidade do desenvolvimento da consciência crítica, levando a um
comportamento ético/político, de respostas criativas e com maior capacidade
decisão.
A falta de unidade da população mais carente, a falta de homogeneidade,
proporciona a incapacidade para uma ação política realmente eficaz, tornando
ainda mais gritante as desigualdades sociais no Brasil. As camadas mais pobres
não geram política, por falta de praticas uniformes, dispersão e particularismo de
forças.
A educação espelha a estrutura social vigente. Por outro lado, fomenta as
transformações. Assim, a escola reflete as contradições do sistema. O espaço da
escola visão micro, reflete as realidades sociais em que vivem os educandos,
visão macro. Tenho convicção que, a escola deve atuar como fermento de
transformação, exercendo sua função política. Integrando, na sua prática
pedagógica, a discussão dos problemas sócio-cultural, em completa sintonia com
as experiências vivenciadas por seus alunos, e pela comunidade em que a escola
se encontra inserida.
105
Ao Estado, cumpre oferecer vagas para todos no ensino fundamental. O
não cumprimento, ou seja a falta de vagas, caracteriza uma ilegalidade, pois fere
determinação Constitucional.
Educar não é uma tarefa simples, envolve responsabilidades. A escola
deve incorporar as transformações do agir, do pensar de sua sociedade. Precisa
atuar para romper as barreiras que impedem o desenvolvimento da comunidade,
caso contrário terá estagnada sua prática educativa. A educação aparece como
um possível caminho, talvez o principal, para que possam ser alcançados os
objetivos relacionados à cidadania. Posto que, sem ela, é muito mais difícil fazer
emergir o cidadão.
106
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mais de cem empregados deveriam instalar e manter uma escola de
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111
________. Decreto – Lei no 4.048/1942. Cria o Serviço Nacional de Aprendizagem
Industrial.
________. Decreto – Lei no 4.481/1942. Dispõe sobre a obrigatoriedade dos
estabelecimentos industriais empregarem, e matricularem no SENAI, um total de
8% dos operários.
________. Decreto – Lei no 4.436/1942. Amplia o âmbito do SENAI.
________. Decreto – Lei no 6.141/1943. Regulamenta o ensino comercial.
________. Decreto – Lei no 8.530/1946. Dispõe sobre o Ensino Normal.
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funcionários fizessem manifestações de caráter político.
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________. Lei Federal no 4.024/1961. Lei que fixou as diretrizes e bases da
Educação Nacional.
112
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primeiro e segundo graus.
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________. http://pt.wikipedia.org/wikipedia.org/wiki/historia_do_Brazil
114
Índice
Introdução 10
Capítulo I
Estado, Direito, Política e a Educação no Brasil Colonial 13
1.11. A política, o Estado e a educação
1.12. A transferência da cultura europeia para o Novo Continente
1.13. Portugueses X Cultura Indígena
1.14. Período dos Jesuítas
1.15. Portugal sob o domínio Espanhol
1.16. A ocupação do Sul
1.17. Descoberta do ouro brasileiro
1.18. Portugal dependente da Inglaterra
1.19. O Marquês de Pombal e a expulsão dos Jesuítas
1.20. O domínio britânico
Capítulo II
O Brasil caminha para a Independência Política
2.8. A vinda da família real
2.9. A política educacional desenvolvida por D. João VI
2.10. No rumo da independência política
2.11. O Período Imperial (1822/1889)
2.12. A Constituição do Império
2.13. A influência de Augusto Comte na educação brasileira
2.14. A abolição da escravatura e os imigrantes
10
13
13
18
19
23
26
28
29
31
32
37
39
39
42
45
49
50
58
59
115
Capítulo III
A Educação na República Brasileira de 1870/1959
3.9. A Primeira República Brasileira (1889/1929)
3.10. A Constituição promulgada de 1891
3.11. O Período da Segunda República
3.12. A Escola Nova
3.13. A Constituição promulgada de 1934
3.14. A Constituição Outorgada de 1937 – Período do Estado Novo
(1937/1945)
3.15. A Constituição Promulgada de 1946 – Período da Quarta República
(1946/1964)
3.16. Os “dois-Brasis”
Capítulo IV
A República da Década de 1960 aos Dias Atuais
4.10. Período Militar (1964/1985)
4.11. A Constituição Promulgada de 1967
4.12. A Década de 1980
4.13. O Período da abertura política e a Constituição de 1988
4.14. Princípios Constitucionais Fundamentais que regem a educação
4.15. Da Década de 1990 aos dias atuais
4.16. Lei de Diretrizes e Bases da Educação de 1996
4.17. Principais destaques da atual política educacional
4.18. O Estado Democrático de Direito
Conclusão
Referências Bibliográficas
Índice
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