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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO MESTRE CURSO DE PEDAGOGIA A EVOLUÇÃO DA EDUCAÇÃO AO LONGO DA HISTÓRIA NACIONAL Por: Elizabeth Pereira Simões Branco Orientador: Professor Fernando César Ferreira Gouvêa Rio de Janeiro, 2008 DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

CURSO DE PEDAGOGIA

A EVOLUÇÃO DA EDUCAÇÃO AO LONGO DA

HISTÓRIA NACIONAL

Por: Elizabeth Pereira Simões Branco

Orientador: Professor Fernando César Ferreira Gouvêa

Rio de Janeiro, 2008

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

CURSO DE PEDAGOGIA

Apresentação de monografia à Universidade Candido

Mendes / Instituto A Vez do Mestre, como requisito

parcial para obtenção do grau de LICENCIADA EM

PEDAGOGIA.

Por: Elizabeth Pereira Simões Branco

Rio de Janeiro, 2008

A EVOLUÇÃO DA EDUCAÇÃO AO LONGO DA

HISTÓRIA NACIONAL

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AGRADECIMENTOS

A Deus, meu amor maior, alicerce fundamental de minha vida. A minha mãe, tão viva em minhas ações pelos exemplos que me legou. Aos irmãos que se doaram para que este momento pudesse acontecer.

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DEDICATÓRIA

Aos amigos, professores e colegas.

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MENSAGEM

“Tome o leitor as páginas seguintes como desafio e convite. Viaje segundo seu projeto próprio, dê mínimos ouvidos à facilidade dos itinerários cômodos e de rasto pisado, aceite enganar-se na estrada e voltar atrás, ou, pelo contrário, persevere até inventar saídas desacostumadas para o mundo. Não terá melhor viagem. E, se lho pedir a sensibilidade, registre por sua vez o que viu e sentiu, o que disse e ouviu dizer. Enfim, tome este livro como exemplo, nunca como um modelo. A felicidade, fique o leitor sabendo, tem muitos rostos. Viajar é, provavelmente, um deles. Entregue as suas flores a quem saiba cuidar delas, e comece. Ou recomece. Nenhuma viagem é definitiva”. (JOSÉ SARAMAGO, São Paulo, 1997)

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APRESENTAÇÃO

O objetivo deste trabalho é realizar um traçado da evolução da educação

nos diversos períodos da História do Brasil.

No Capítulo I, abordaremos o papel do Estado, a legislação, o direito e a

política. Quando nos propomos a estudar uma sociedade, o que melhor a define,

identifica o seu caráter, é uma abordagem, a legislação e a prática na área

educacional. Realizaremos uma breve retrospectiva da evolução da História da

Educação no Brasil Colônia.

Vamos, no capítulo II, comentar o Brasil Império, seu processo social,

educacional e político rumo a Independência Política.

O enfoque do capítulo III, é o período da República entre 1870/1959, e os

seus avanços na área educacional.

O conteúdo do capítulo IV compreende o período de 1960 até os dias atuais,

ressaltando os ideais políticos que favorecem os avanços e transformações do

processo educacional brasileiro. Com enfoque especial na primeira e na atual Lei de

Diretrizes e Bases da Educação Nacional, um panorama político, legal, social e

educacional da década de 1960 até os dias atuais.

Após realizaremos as considerações finais e a conclusão do trabalho.

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ÍNDICE

Introdução 10

Capítulo I

Estado, Direito, Política e a Educação no Brasil Colonial 13

1.1. A política, o Estado e a educação

1.2. A transferência da cultura europeia para o Novo Continente

1.3. Portugueses X Cultura Indígena

1.4. Período dos Jesuítas

1.5. Portugal sob o domínio Espanhol

1.6. A ocupação do Sul

1.7. Descoberta do ouro brasileiro

1.8. Portugal dependente da Inglaterra

1.9. O Marquês de Pombal e a expulsão dos Jesuítas

1.10. O domínio britânico

Capítulo II

O Brasil caminha para a Independência Política

2.1. A vinda da família real

2.2. A política educacional desenvolvida por D. João VI

2.3. No rumo da independência política

2.4. O Período Imperial (1822/1889)

2.5. A Constituição do Império

2.6. A influência de Augusto Comte na educação brasileira

2.7. A abolição da escravatura e os imigrantes

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Capítulo III

A Educação na República Brasileira de 1870/1959

3.1. A Primeira República Brasileira (1889/1929)

3.2. A Constituição promulgada de 1891

3.3. O Período da Segunda República

3.4. A Escola Nova

3.5. A Constituição promulgada de 1934

3.6. A Constituição Outorgada de 1937 – Período do Estado Novo

(1937/1945)

3.7. A Constituição Promulgada de 1946 – Período da Quarta República

(1946/1964)

3.8. Os “dois-Brasis”

Capítulo IV

A República da Década de 1960 aos Dias Atuais

4.1. Período Militar (1964/1985)

4.2. A Constituição Promulgada de 1967

4.3. A Década de 1980

4.4. O Período da abertura política e a Constituição de 1988

4.5. Princípios Constitucionais Fundamentais que regem a educação

4.6. Da Década de 1990 aos dias atuais

4.7. Lei de Diretrizes e Bases da Educação de 1996

4.8. Principais destaques da atual política educacional

4.9. O Estado Democrático de Direito

Conclusão

Referências Bibliográficas

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Índice

Folha de Avaliação

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INTRODUÇÃO

A escolha do tema resultou das minhas dúvidas e inquietações acumuladas

e concretizou-se no decorrer da minha prática profissional, no magistério de

ensino superior e minha atuação como pública.

Nada como a vida e a história para nos ajudar a observar e entender os

paradigmas que foram se estabelecendo na educação brasileira, nas políticas

levadas a efeito e na própria legislação vigente.

Não podemos negar as experiências adquiridas historicamente, mas

devemos delas nos utilizar, reelaborando-as conforme as novas tendências e

necessidades. A educação desempenhada o papel de formação do sujeito,

agente de sua própria história. Os sistemas do poder político constituído

coordenam as estruturas educacionais, estabelecem normas na área

administrativa, objetivos pedagógicos e prioridades curriculares.

Na escola se defrontam as forças conservadoras e do progresso, porque

reproduz as estruturas existentes. Também, de maneira contraditória, permite a

libertação, na medida em que não é apenas um ambiente de reprodução mas a

alavanca que impulsiona a transformação da sociedade. A Escola é um espaço

caracterizado pela pluralidade de situações, experiências, realidades, contrastes,

objetivos de vida, relações sociais, estruturas de poder, tradições históricas e

culturais. É um dos principais instrumentos para a formação de um cidadão

autônomo, crítico, consciente, capaz de tomar decisões, fazendo valer o seu

direito pleno à cidadania.

A socialização do conhecimento eficaz eleva a compreensão da realidade,

da capacidade de questionamento, elevado a um comportamento ético-político,

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condições necessárias para uma prática social transformadora. Através da

educação o homem alcança a autonomia e a liberdade.

O processo de construção e socialização do conhecimento é fundamental

para a democratização da sociedade. Educação democrática supõe fazer

escolhas, entre múltiplas opções, elegendo e assumindo as escolhas efetuadas,

que elas sejam responsáveis. Cidadania consciente dos problemas próprios e da

sociedade.

Garante a Constituição Federal Brasileira de 1988, em seu artigo 206,

incisos I e VII: “O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios:

igualdade de condições para o acesso e permanência na escola; garantia de

padrão de qualidade.”

A expansão de escolas, de qualidade, que atendam a toda a população,

significa a democratização da educação. O art. 205, da Constituição Federal

vigente afirma que, todos têm direito à educação, impondo ao Estado o dever de

assegurar tal direito: “Educação, direito de todos e dever do Estado (...).

O art. 53, do Estatuto da Criança e do Adolescente, estabelece em relação

à educação:

“A criança e o adolescente têm direito à educação(...) assegurando-se-lhes I- Igualdade de condições(...) II- Direito de ser respeitado por seus educadores; III- Direito de contestar critérios de avaliação...; IV- Direito de organização e participação em entidades estudantis; V- Acesso a escola pública e gratuita próxima de sua residência.

Assim, tendo clareza da função política da escola que, necessita abranger

na prática pedagógica, a discussão dos problemas sociais, políticos, culturais,

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articulada com as experiências de vida do seu aluno, enquanto ser concreto e

histórico, o estudo fez uma retrospectiva da evolução da educação ao longo da

História Do Brasil.

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CAPÍTULO I

ESTADO, DIREITO, POLITÍCA E EDUCAÇÃO NO BRASIL

COLONIAL

1.1. A política, o Estado e a Educação

O uso do termo política dá margem a muitos significados, o enfoque aqui é

o conjunto de atividades que emanam do Estado. Frisando-se que, quando se

pretende estudar a evolução de uma sociedade, de um Estado o que melhor o

define e identifica seu caráter é a sua legislação educacional.

Em qualquer sociedade existe sempre um poder dominante, constituído e

organizado. As instituições políticas transformam preferências e aspirações de

grupos em decisões políticas. O poder político não é exercido somente pelo

Estado, mas por associações menores que dele fazem parte: - igrejas, sindicatos,

organizações profissionais, escolas...

As diretrizes, emanadas pelo Estado no que concerne à educação, são

executadas através da política educacional, que demonstra os propósitos de

conciliar a filosofia política dominante com os anseios de formação humana

inseridos nesta filosofia.

A política educacional, formulada pelo Estado, está voltada para os

aspectos pedagógicos enunciados, também, com aspectos que localizam o

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indivíduo em um contexto social. As várias políticas educacionais levadas a efeito

no Brasil, ao longo de sua História, proclamam sempre a ideia de que com elas

seriam asseguradas as condições básicas para uma mudança qualitativo na

sociedade.

Segundo Stavenhagem (1970,20-46) classe social é uma categoria

histórica. Não são imutáveis no tempo, formam-se, desenvolvem-se, modificam-

se à medida que se vai transformando a sociedade, são o resultado das

contradições e contribuem para o desenvolvimento das mesmas. As classes

atuam como forças motrizes na transformação das estruturas sociais. Constituem

parte integrante da dinâmica da sociedade, movidas, ainda, por sua própria

dinâmica interna.

Saviani (1984,11) ressalta o caráter contraditório da educação ao procurar

compreendê-la no movimento histórico da sociedade. A pedagogia histórico-

crítica, proposta por Saviani, envolve a possibilidade de se compreender a

Educação escolar tal como ela se manifesta no presente, mas entendida essa

manifestação atual, como resultado de um longo processo de transformação

histórico. O autor busca a compreensão da realidade escolar nas suas raízes

históricas. O que se chama desenvolvimento histórico, é o processo da qual da

qual o homem produz a sua existência no tempo. É isto que o caracteriza.

Agindo sobre a natureza, o homem vai construindo a história, vai construindo

a cultura, o mundo humano. E a educação tem suas origens nesse processo.

A escola tem uma função específica, pedagógica, ligada à questão do

conhecimento.

O Direito não é um sistema rígido, fechado em si mesmo. É o resultado de

ações e reações oportunas. Pode-se afirmar que a ação do ambiente é decisiva

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na formação do Direito, pois age sobre a inteligência, moderando-a, imprimindo-

lhe caracteres determinados.

A ciência jurídica evolui, a cada nova etapa redefine objetos,

conceitos, prioridades, fazendo surgir novos conceitos e novas prioridades.

Visando ao atendimento das necessidades sociais do homem em um determinado

momento, num determinado período histórico.

A vida está fora dos Códigos e em todos os lados vemos acontecimentos

diferentes, que repercutem na vida social, e é através da interpretação que se

obtém a necessária adequação do DIREITO. Carlos Maximiliano, em 1924 fez

uma afirmação que se mostra atual até os nossos dias:

“Hoje não mais se acredita na onipotência do legislador não: se interpreta o

Direito como obra artificial do arbítrio de um homem, ou de um grupo reduzido, e,

sim, elaboração espontânea da consciência jurídica nacional, fenômeno de

psicologia coletiva, um dos produtos espirituais da comunidade”. (MAXIMILIANO,

1988, p. 19).

A interpretação tem em vista a adequação do Direito às exigências

histórico-sociais. Ela funciona como instrumento de renovação e atualização do

ordenamento jurídico. O sentido da norma, no momento de sua aplicação ao

caso concreto, se faz com o sentido que possui no momento da aplicação, no

momento social atual, que pode não ser o mesmo sentido que possuía quando foi

elaborada: os valores e os fatos que deram origem à norma se tornam

compatíveis com os fatos e valores do momento presente da aplicação.

Hoje, o Direito é uma resultante da consciência jurídica da nação. A lei é a

mais importante fonte do direito, mas não é a única, devendo-se recorrer a outras

fontes quando a lei não dá solução para o caso. Para José Eduardo Faria (1989):

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“o Direito a mudar de eixo, na medida em que representar anseios e interesses diferentes, ele mesmo será um estimulador da transformação social no sentido de uma sociedade mais humana, ele mesmo será um libertador dos grilhões da dominação a nível da infra-estrutura, ele mesmo será uma variável para acelerar a superação das necessidades fundamentais do homem, abrindo caminho, talvez, no sentido de que o ser humano possa refletir sobre as questões da morte, do cosmos e do amor...” (p. 184)

O legislador é um representante do povo e, em sua maioria, desconhece a

Ciência Jurídica e o Direito, além disso, tão logo a lei entra em vigor e passa a ser

aplicada aos casos concretos, nenhuma ligação mais existe entre a norma e o

legislador que participou de sua elaboração.

Como a finalidade do Direito é garantir as condições de uma existência,

social e individual, digna e justa, há que se interpretar a norma segundo os valores

vigentes, portanto levando-se em conta não só o espaço mas, também, o tempo

em que sua aplicação se dará.

A Constituição Federal Brasileira de 1988, em vigor, determina que é

competência privativa da União legislar sobre “diretrizes e base da educação”,

artigo 22, inciso XXIV. Atribui, ainda, em seu artigo 24, inciso IX, a competência

concorrente à União, Estados-Membros e Distrito Federal para legislar sobre

educação. O que não significa que os detalhes de como alcançar os objetivos

serão ali tratados. Tornar eficazes as diretrizes é matéria técnica. As políticas

educacionais formuladas indicam o caminho, ficando as tarefas especificas a

cargo dos agentes que executam a educação. Desta maneira a responsabilidade

recai sobre a sociedade, em especial sobre os agentes que executam a educação.

A maioria dos Estados Modernos determinou os limites de sua política

educacional a partir de um mínimo de escolaridade para seus cidadãos. Desde a

Declaração Universal dos Direitos Humanos, de 1948, encontramos no art. 26, do

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citado documento, a determinação de que toda pessoa tem direito à educação,

que deve ser gratuita, pelo menos no que se refere à instrução elementar e

fundamental, que será obrigatória.

Em 1959, a Assembléia Geral das Nações Unidas, aprovou a Declaração

dos Direitos da Criança, figurando no seu Princípio 7 “que a criança tem direito de

receber educação gratuita e obrigatória pelo menos na etapas elementares”.

Hoje, no Brasil, o ensino obrigatório e gratuito só é dever do Estado em

relação ao ensino fundamental, obrigatório inclusive para aqueles que não tiveram

acesso a ele na época própria. É o que preceitua o inciso I, do artigo 208, da

Constituição Federal Brasileira de 1988 e reafirma o artigo 4º, inciso I, da Lei de

Diretrizes e Bases da Educação Nacional vigente.

Para exercer sua função política e escola necessita integrar, na prática

pedagógica, a discussão dos problemas sócio-culturais, em sintonia com as

experiências vivenciadas por seus alunos.

“Os estabelecimentos de ensino, respeitadas as normas comuns e as de seu sistema de ensino, terão incumbência de: articular-se com as famílias e a comunidade criando processos de integração da sociedade com a escola”. (artigo 12, VI, LDB/96).

A escolarização constitui um dos instrumentos fundamentais para a

formação do cidadão informado, participante, atuante no mundo em que vive.

Quando se propõe a socializar o conhecimento, de maneira que possibilite a

elevação do grau de compreensão da realidade social e política, condição

necessária para uma prática social transformadora. Levando, assim, a um

comportamento ético-político, de respostas criativas, desenvolvendo a

consciência crítica e maior capacidade de decisão. É o papel da educação na

formação de um novo sujeito, agente de sua própria história.

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1.2. A transferência da cultura europeia para o novo continente

A descoberta da América pelos europeus, nos fins do século XV, pretendeu

uma espécie de transferência da cultura europeia para o continente americano.

“Nem o Espanhol nem o Português que aqui apontaram traziam propósitos de criar, deste lado do Atlântico, um mundo novo. Encontram um mundo novo, que planejaram explorar, saquear e, assim enriquecidos, voltar à Europa. VianaMoog comentou, em páginas definitivas, o “sentido predatório” da aventura sul-americana com contraste com o “sentido orgânico” da formação norte-americana. Mundo novo “vinham fundar aqui” os peregrinos do Mayflower. Novo mundo encontraram aqui espanhóis e portugueses. O mundo novo dos americanos ia ser criado. O mundo novo dos espanhóis e portugueses iria ser saqueado. O saque prolongou-se, porém, e o regresso se retardou.” (TEIXEIRA, 1962, p. 9)

A diversidade linguística e cultural, existente hoje no Brasil é um reflexo da

formação de nosso povo. Os nativos (povos indígenas), os portugueses

colonizadores, de diversas regiões de Portugal e seus falares, os negros de

diferentes localidades trazidos para cá e, ainda, os diferentes imigrantes.

No período de 1501 a 1600, a ocupação européia limitava-se ao litoral.

Uma população que não se aventurava pelo interior, pois este era hostil e

desconhecido.

Nas Costas Norte e Sul os franceses contrabandeavam principalmente o

pau-brasil e o algodão. Já os corsários ingleses atacavam com a intenção de

contrabando e pilhagem.

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Para que se possa entender a educação no Brasil Colônia necessário

se faz uma breve retrospectiva histórica daquela época.

1.3. Portugueses X Cultura indígena

Os Portugueses, ao invadirem as terras indígenas, os obrigaram a fazer

coisas contrárias a sua cultura e hábitos, tais como: viverem em locais cercados,

trabalhando para alguém que não pertencia ao seu grupo, plantar e colher além

do necessário para comerem.

Os índios brasileiros transmitiam sua cultura oralmente, as meninas, ajudavam

as mães (fazendo vasos de cerâmica, cestas, colhendo frutas e raízes, plantando

mandioca, cultivando o milho, a batata-doce, o cará, o feijão, o amendoim, o

tabaco, a abóbora, o urucu, o algodão, o carauá, as pimentas, o abacaxi, o

mamão, a erva-mate, o guaraná; caju, pequi...). A agricultura assegurava a

fartura alimentar e grande variedade de matérias-primas, condimentos, venenos e

estimulantes. Os meninos aprendiam as tarefas masculinas (cortavam árvores,

limpavam os terrenos onde as mulheres semeavam e colhiam, aprendiam a lidar

com o arco e a flecha, a caçar, a fazer ocas...).

“Para os índios, a vida era uma tranquila fruição da existência, num mundo dadivoso e numa sociedade solidária. Claro que tinham suas lutas, suas guerras. Mas todas concatenadas, como prélios, em que se exerciam valentes. Um guerreiro lutava, bravo, para fazer prisioneiros, pela glória de alcançar um novo nome e uma nova marca tatuada cativando inimigos. Também servia para ofertá-lo numa festança, em que centenas de pessoas o comeriam convertido em paçoca, num ato solene de comunhão, para absorver sua valentia, que nos corpos continuaria viva. Uma mulher tecia uma rede ou traçava um cesto com a perfeição de que era capaz, pelo gosto de expressar-se em sua obra, como um fruto maduro de sua ingente vontade de beleza. Jovens adornados de plumas sobre seus corpos escarlates de urucu, ou verde-azulados de jenipapo,

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engalfinhavam-se em lutas desportivas de corpo a corpo, em que punham a energia de batalhas na guerra para viver o vigor da alegria. Para os recém-chegados, muito ao contrário, a vida era uma tarefa, uma sofrida obrigação, que todos condenava ao trabalho e tudo subomava ao lucro. Envoltos em panos, calçados de botas e enchapelados, punham nessas peças seu luxo e vaidade, apesar de mais vezes as exibirem sujas e molambentas, do que pulcras e belas... O contraste não podia ser maior, nem mais infranqueável, em incompreensão recíproca”. (RIBEIRO, 1995, pág. 47-48)

Os portugueses, em princípio, não se interessaram muito pelo Brasil,

consequência do fato de o comércio do Oriente oferecer maiores lucros. A

colonização do Brasil, naquele momento, não era interessante, pois sua riqueza

parecia limitar-se ao pau-brasil. Mas, mantê-la seria conveniente como “porto de

reabastecimento” para os navios que seguiam para as Índias.

O mercado do pau-brasil era limitado na Europa, pois abrangia somente

nobres e comerciantes, que eram os que usavam trajes luxuosos para demonstrar

poderio econômico. Como não iria desviar os recursos do Oriente para uma

empresa menos lucrativa, Portugal estabeleceu contratos com comerciantes

portugueses. Eles enviaram esquadras para explorar o litoral brasileiro e

ergueriam uma fortaleza. Em troca, poderiam comercializar os produtos daqui

retirados, inclusive o pau-brasil, desde que pagassem o imposto real. O pau-

brasil ficou tão famoso na Europa que, volta de 1510, seu nome já passaria a

designar a nossa terra, apesar de, oficialmente , ainda ser chamada Terra de

Santa Cruz.

“O lucro com a venda do pau-brasil era grande, porém seu comércio muito arriscado em virtude dos atos de pirataria dos franceses e dos perigos das travessias oceânicas. Não era, pois, o melhor negócio da época. Porém, se não era muito rendoso para os portugueses, comparativamente a seus interesses econômicos na África e na Índia, o mesmo não sucedia aos mercadores e corsários franceses que, não dispondo de escolha, podiam

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dedicar-se com razoáveis lucros à exploração das costas brasileiras”. (SOUTO MAIOR, 1974, p. 44)

A França não reconhecia os direitos de Portugal sobre a região e aqui

vinham para buscar o nosso pau-brasil, sem o consentimento do governo luso e

sem pagar impostos.

Para acabar com tais explorações, Portugal enviou esquadras. A principal

delas, com objetivo de explorar a região, aprisionar os navios contrabandistas de

pau-brasil e fundar núcleos para garantir a posse da terra, foi a esquadra de

Martin Afonso de Souza. Que atingiu o litoral de Pernambuco em 1531, fundando

vilas que, no entanto, se mostraram insuficientes para garantir a posse da terra.

Era necessária uma colonização efetiva.

“Embora no início do século XVI os portugueses ainda estivessem deslumbrados com o lucro que obtinham no comércio com a Índia, a madeira que deu nome a nossa terra, conhecida e cobiçada por estrangeiros, obrigou-os a colonizá-la. Caso contrário... talvez até a perdessem”. (Id., p. 45)

Portugal precisava encontrar um produto lucrativo que se adaptasse a

região, não exigindo técnicas complicadas, que fosse conhecido dos agricultores

portugueses, a escolha recaiu na cana de açúcar. A Metrópole não queria

gastar dinheiro com a terra, comprando máquinas, escravos, semeando. Assim,

vieram para cá alguns guerreiros que haviam feito fortuna nas campanhas

orientais e fidalgos empobrecidos. Eles se obrigavam a cultivar o solo, pagando

ao Rei um quinto do produzido. Foram as capitanias hereditárias (semelhante ao

arrendamento em nossos dias). Elas atingiram o objetivo português, colonizar a

terra. Porém, a área era muito extensa, e Portugal logo percebeu que não tinha

meios efetivos de ocupá-la eficazmente.

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“Alguns historiadores apresentam Martim Afonso de Souza como o introdutor da cana-de-açúcar no Brasil, que certamente a teria trazido da ilha da Madeira. Em 1561, quatorze anos antes, entretanto, D. Manuel já assinara um alvará mandando distribuir “machados e enxadas e todas as ferramentas às pessoas que fossem povoar o Brasil que procurassem e elegessem um homem prático e capaz de ir ao Brasil dar começo a um engenho de açúcar; que lhe desse uma ajuda e também todo o cobre e ferro necessário e mais coisas para o fabrico do dito engenho”. Informa Luiz Amaral que, em 1526, a alfândega de Lisboa já cobrava impostos da entrada ao açúcar brasileiro”. (Ibid., p. 72)

Portugal passou a se interessar pelo Brasil pelos seguintes motivos:

- primeiro, perdeu as terras no norte da África, acabando o controle das

rotas comerciais que uniam o interior africano, rico em ouro e marfim, ao litoral;

- o segundo motivo, por volta de 1550 a Espanha encontrou minas de Prata

em Potosi, na atual Bolívia;

- e o terceiro foi devido a necessidade de manter o controle da colônia

brasileira.

Para Brasil vinham indivíduos de todos os tipos, eram os degredados de

Portugal, criminosos, de maneira geral, que tinham como pena a expulsão para o

Brasil.

Em 1548, o rei português comprou a Capitania da Bahia para instalar a

sede do Primeiro Governo Geral. Foi a primeira Capitania da Coroa, tendo sido

fundada em 1549, tendo a cidade de Salvador como sede do Governo Geral.

Darcy Ribeiro (1995) relata:

“O primeiro governador chega ao Brasil em 1549, em três naus, duas caravelas e um bergantim. Traziam funcionários civis e militares, soldados e artesões. Mais de mil pessoas ao todo, principalmente degradados. Com eles vieram novos colonos, bem como os primeiros jesuítas. Nóbrega, mais velho e experiente, à frente, e mais três padres e dois irmãos; Anchieta, um rapagão de dezenove anos, veio na leva seguinte.

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O governo instala-se na Bahia, construindo a cidade com gente que trazia e com o apoio dos índios e mamelucos de Caramuru. É assinalável a quantidade e qualidade de profissionais que iam de cirurgiões, barbeiros, sangradores, a quantidade de pedreiros, serradores, tanoeiros, serralheiros, caldeireiros, cavaqueiros, carvoeiros, oureiros, canoeiros, pescadores e construtores de bergantins. Não vieram mulheres solteiras, exceto, ao que se sabe, uma escrava provavelmente moura, que foi objeto de viva disputa. Conseqüentemente, os recém-chegados acasalaram-se com as índias, tomando, como era uso da terra, tantas quantas pudessem, entrando a produzir mais mamelucos. Os jesuítas, preocupados com tamanha pouca-vergonha, deram para pedir socorro ao reino. Queriam mulheres de toda qualidade, até meretrizes (...) poucas conseguiram”. (RIBEIRO, D. 1995, p. 89)

1.4. Período dos Jesuítas

Em Salvador, no ano de 1549, foi criada a primeira escola do país. Os

jesuítas, de 1549 / 1759, foram praticamente os únicos educadores no Brasil,

reflexo da influência católica e sua ingerência junto a Corte Portuguesa.

Os Jesuítas estabeleceram os caminhos da educação, com finalidades de

organização social, cultural e catequese, baseada na “cristandade” (“Ratio

Studiorum”). Ainda, planos de estudos, de métodos, e a base filosófica dos

jesuítas. Representa o primeiro sistema organizado de educação católica

conservadora. A Companhia de Jesus imprimiu uma disciplina rígida, sendo

divulgada pela pedagogia dos jesuítas, que exerceram grande influência, em

quase todo o mundo, incluindo o Brasil. Aqui chegaram em 1549, foram expulsos

em 1759 e retornaram em 1847.

“O tipo de ensino e de educação, adotado pelos jesuítas, sistema aliás útil às necessárias de seu principal consumidor, a Igreja, e outrora organizado por ela, parecia satisfazer integralmente às exigências elementares da

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sociedade daquele tempo, de estrutura agrícola e escravocrata, em que o estudo, quando não era um luxo de espírito, para o grupo feudal e aristocrático, não passava de um meio de classificação social para os mestiços e para a burguesia mercantil das cidades”. (AZEVEDO, 1996, p. 545,546).

É correto afirmamos que a primeira política educacional no Brasil foi

empreendida pelos Jesuítas. Em 1554 é fundado o Colégio de São Paulo, pelo

Padre Manuel de Nóbrega.

Os engenhos brasileiros geralmente tinham uma capela particular, onde vivia

um padre. Era ele quem ensinava as crianças a ler e escrever. Eram os padres as

pessoas mais cultas e foram os primeiros professores. Fora as “escolas” das

fazendas havia o Colégio dos Jesuítas, que recebia auxilio do Rei.

Os escravos que aqui chegavam pertenciam a pontos do litoral das Costas

Atlânticas, sob o domínio português, pertenciam a tribos diversas com culturas

diferentes. Como as tribos Fula de Mandinga que haviam sofrido a influência da

religião muçulmana.

Preocupados em deter o avanço dos Protestantes, os jesuítas desenvolviam

atividades educativas voltadas para a conversão à fé católica dos povos nativos

das regiões colonizadas. A Reforma Protestante foi um movimento religioso

iniciado no interior da igreja romana pelo monge alemão Martinho Lutero no início

do século XVI. Meio século depois o protestantismo já se expandia por quase

metade da Europa Cristã. Lutero enfatizava que a tarefa da educação não era

uma prerrogativa exclusiva da Igreja, a família e o estado tinham

responsabilidades sobre a formação dos indivíduos. Defendia que o ensino

deveria ser estatal, gratuito e obrigatório. O protestantismo coincide com as idéias

renascentistas no tocante a valorização o indivíduo. A relação direta com Deus

25

valoriza a personalidade autônoma, diminuindo a coação intelectual exterior e

enfraquecendo a autoridade dogmática.

Na educação jesuíta havia certo descompasso com as novidades

educacionais recém conquistas através das idéias dos livres pensadores

renascentistas. Não havia muita preocupação com as matérias cientificas,

retornando a formação clássica original cuja ênfase eram as letras, a formação

moral e religiosa. Didaticamente reproduzia os métodos medievais de cópia e

memorização, no tocante à disciplina era baseada em castigos, recompensa e

vigilância.

Darcy Ribeiro (1995) escreveu:

“Também foi evidentemente nefasto o papel dos jesuítas, retirando os índios de suas aldeias dispersas para concentrá-los nas reduções onde, além de servirem aos padres, e não a si mesmos, e de morrerem nas guerras portuguesas contra os índios hostis, eram facilmente vitimados pelas pragas de que eles próprios, sem querer, os contaminavam. É evidentemente que nos dois casos e propósito explícito dos jesuítas não era destruir os índios, mas o resultado de sua política não podia ser mais letal se tivesse sido programada para isso. A atuação mais negativa dos jesuítas, porém, se funda na própria ambiguidade de sua dupla lealdade frente aos índios e á Coroa, mais predispostos, porém, a servir a essa Coroa contra índios aguerridos que a defendê-los eficazmente diante dela. Isso sobretudo no primeiro século, quando sua missão principal foi minar as lealdades étnicas dos índios, apelando fortemente para o seu espírito religioso, a fim de fazer com que se desgarrassem das tribos e se atrelassem às missões. A eficácia que alcançam nesse papel alienador é tão extraordinária quanto grande a sua responsabilidade na dizimação que dela resultou”. (RIBEIRO, 1995, p. 56)

26

O ano de 1570 marcou o início dos cursos regulares de bacharelado e

mestrado em artes no Colégio Máximo, da Bahia.

Em 1580 Portugal entrou para domínio espanhol, só se libertando em 1640.

1.5. Portugal sob o domínio Espanhol

A união das monarquias de Portugal e Espanha, na figura de um único

monarca, fez cair a linha de Tordesilhas, já que todas as terras estavam sob um

mesmo domínio. A aliança luso-espanhola permitiu a expulsão definitiva dos

franceses de nossas terras e penetração nas regiões do interior. O Governador

Geral saiu fortalecido.

“o período de dominação espanhola, que os espanhóis chamam de “união peninsular”, durou 60 anos (...) No Brasil, o domínio espanhol foi uma fase de penetração e conquista. Nos 60 anos de dominação espanhola vão ser expulsos os franceses, as bandeiras vão cortar o sertão e a expansão do gado vai fixar o homem em terras antes dominadas pelos índios. A mudança de coroa não atingiria muito a colônia. Filipe II, inteligentemente, mantivera toda a máquina administrativa de Portugal e das colônias, sem nada mudar. Todos os altos cargos ficaram nas mãos de portugueses; navegação, comércio, sob seu controle. O rei espanhol agia com prudência”. (SOUTO MAIOR, 1974, p. 109)

Nessa época, foi proibido o comércio com a Holanda. Muitos senhores de

engenho brasileiros tinham dívidas com os banqueiros holandeses. Eram eles que

tinham frotas para transportar o açúcar do Brasil à Europa, bem como a

distribuição era feita pelos Holandeses.

De 1630/1635, os holandeses se estabeleceram no Brasil. Durante sete anos

o Conde João Maurício de Nassau governou as possessões holandesas no Brasil

(Maranhão a Sergipe). Época de algum progresso. Nassau embelezou a cidade,

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construiu pontes, fortalezas, palácios, fundou um Jardim Zoológico, um Jardim

Botânico, um museu onde inúmeros artistas europeus expuseram seus trabalhos.

“Portugal e Holanda, anteriormente, haviam mantido grande intercâmbio comercial. Quando, em 1580, Portugal passou ao domínio espanhol, a Espanha tentou obstar esse ativo comércio com seus inimigos dos Países Baixos. A economia portuguesa, no entanto, estava de tal maneira ligadas às exportações e às importações holandesas que, prudentemente, a coroa espanhola cessou a série de restrições ao intercâmbio luso-flamengo.(...) A Holanda não desistia de suas intenções na América. No fim de cinco anos de guerra os holandeses dominavam do Rio Grande do Norte ao Recife. (...) A Companhia das Índias Ocidentais resolveu, então, nomear um governador para o Brasil holandês: o conde João Maurício de Nassau Siegen. (...) Nassau foi um magnífico administrador. Construiu duas grandes pontes, drenou os alagados por meio de canais e pavimentou grande parte da nova cidade, que substituiu o velho burgo de Olinda como capital. Na confluência dos rios Capibaribe e Beberibe, com frente para o nascente, avistando ao longe Olinda, construiu o seu próprio Palácio, o Vrijburg (Retiro), ao qual os da terra chamariam de Palácio das Torres; ao lado plantou um belíssimo pomar, entremeado de jardins, onde mais tarde instalada também um pequeno zoológico. Construiu também um outro, o da Boa Vista, na margem direita do Capibaribe, onde atualmente se ergue o convento do Carmo que, segundo Pereira da Costa, é parte do palácio nassoviano aproveitado e modificado pelos Carmelitas. Nassau era um autêntico espírito da Renascença. Com ele trouxe os artistas que fixaram em telas o encanto da flora tropical e os costumes dos seus habitantes: Franz Post é Albert Eckout”. (SOUTO MAIOR, 1974, p. 117, 118, 122, 126, 129)

Em 1644, Nassau voltou para a Europa, a situação dos holandeses no

Brasil começou a declinar.

“Em 1644, Nassau pedia demissão pela segunda vez. Seguia a cavalo até o Paraíba, acompanhado de numerosa comitiva a de lá para a Holanda. É provável que os holandeses não houvessem perdido seus domínios se a Companhia das Índias Ocidentais tivesse conservado Nassau.

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É duvidoso se disso resultaria algum bem para o Brasil. De maneira geral, como assinalou o historiador José Gonçalves de Melo Neto, “ os holandeses não se tinham apoderado do Brasil com a intenção de o colonizar, isto é, de para aqui se transferir com famílias e estabelecer um renova da pátria: movia-os, sobretudo, o interesse mercantil. Haviam-nos atraído os grandes lucros do açúcar, fabricados nos engenhos que os portugueses tinham fundado nas terras tropicais”. Foram os maranhenses os precursores da expulsão dos holandeses. No Maranhão o jugo, flamengo havia sido muito duro e além disso era recente: não criara raízes”. (id., 131)

A Holanda enfraquece a Espanha, que não consegue evitar a Revolução

Portuguesa de 1640. Um Tratado de Paz é assinado entre Portugal e Holanda. A

segunda se compromete a desistir do Brasil. Com a experiência adquirida no

Brasil, a Holanda passou a produzir açúcar nas Antilhas, fazendo com que nossa

produção entrasse em crise.

Por serem Protestantes os Holandeses intensificaram a campanha contra a

religião católica praticada pelos luso-brasileiros (Insurreição Pernambucana

1645/1654).

1.6. A Ocupação do Sul

Os Portugueses não se interessavam pelo Sul, um litoral arenoso, que

dificultava o acesso por mar, e não favorecia a implantação da cana. Para ocupar

a região mandou fundar núcleos de povoação, ocupando por famílias vindas do

arquipélago dos Açores. Tais famílias recebiam pequenos lotes onde plantavam a

oliveira e o trigo adaptados ao clima. A agricultura era para o consumo interno. Os

paulistas ocuparam o interior buscando rebanhos dispersos e chocando-se com

os espanhóis.

“O Rio Grande nascia do impulso de três correntes humanas, diferenciadas nos seus propósitos, mas semelhantes nas suas origens raciais. E o lastro, em que se fundiam as

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correntes alienígenas, era o índio – o tape, no litoral, o guarani nas missões e o charrua, nos plainos da Banda Oriental. Pelo oeste e sul, ingressavam os espanhóis com os estandartes cristãos dos jesuítas. Pelo nordeste, os mamelucos de Piratininga e Laguna, impelidos não mais pelo sonho do couro e das esmeraldas, mas à procura dos rebanhos espanhóis e do índio traficável. Pelo litoral, os ilhéus, simples arroeteadores de terra (...). Não obstante a imigração mais tardia, dos continentes étnicos da Itália e da Alemanha, os redutos democráticos primitivos conservaram os caracteres peculiares de sua origem. A influência castelhana emprestou uma fisionomia inconfundível ao tipo humano das Missões e das zonas de Campanha. A ascendência do caipira paulista é ainda sensível nas regiões do Planalto Médio e do Nordeste e as lembranças profundas do açoriano teimam e permanecem, evocativas, na vida e feição das nossas cidades fluviais e marítimas”. (ORNELLAS, 1952, p. 22/24)

A mistura de tradições espanholas, portuguesas, indígenas, fez com que os

gaúchos desenvolvessem uma cultura á parte, um povo de coragem, que exalta a

liberdade.

Durante o século XIX trata-se a luta pela posse dos rebanhos, cujo couro

era exportado. Em 1750 a carne passa a ser produto importante de exportação.

Ao findar do século XVII as fronteiras do Sul apresentavam-se semelhantes

ao que é hoje.

Todas as atividades, que viessem a concorrer com a Metrópole, eram

proibidas ou limitadas. Assim foi como sal, que era uma importante indústria

lusitana, e que não pode ser aqui extraído.

O vinho e a oliveira também sofriam restrições e era proibida a fabricação

de tecidos (SOUTO MAIOR, 1974).

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1.7. Descoberta do Ouro Brasileiro

No século XVIII, na região central da colônia, descobriu-se ouro mudando

toda a região. Por volta de 1690, jazidas foram encontradas, veios, rios que

provocaram transformações na Colônia.

De 1690 / 1711 a população do interior cresceu assustadoramente. O Rei

baixou uma série de Decretos (Regimentos) estabelecendo a Intendência do Ouro.

Para o transporte chegaram as mulas e os julgamentos do Sul. Do Norte

vinha o gado de corte. Por isso, Minas Gerais, Mato Grosso são zonas de

pecuária, pois, com o tempo, as regiões do ouro dedicaram-se à criação de gado.

O gado abriu novos caminhos no interior do Brasil, criando uma “civilização do

couro” e uma sociedade mais livre.

A Monarquia organizou a cobrança de impostos, fechou os caminhos para

evitar o contrabando. Distribuiu as “datas”, quando alguém descobria uma jazida

tinha que comunicá-la ao Intendente. Este fazia a distribuição dos lotes (ou

datas). Dois lotes eram dados ao descobridor, um ficava para o Rei e os demais

eram sorteados pelos donos de escravos que se inscreviam na Intendência. O

ouro encontrado era levado às Casas de Fundição, onde era derretido e

transformado em barra. Antes, retirava-se uma quinta parte que pertencia ao Rei

(“quintar o ouro”).

Mais tarde, foi criado um novo imposto, a Capitania devia dar ao Rei

anualmente, 100 arrobas de ouro, se faltasse era feita uma cobrança extra, “a

derrama”.

“Ávido de ouro, Portugal exigia que grandes recursos humanos de sua colônia fossem aplicados exclusivamente na mineração, proibindo o estabelecimento de engenhos na

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região das Minas e punindo severamente o contrabando de ouro e de pedras preciosas (...) Foram fechadas no Brasil as fábricas de tecidos, manteve-se o estanco do sal, proibiu-se o uso de estradas do interior para o litoral e ordenou-se a cobrança dos quintos atrasados; que não haviam sido pagos, evidentemente, pela exaustão em que já se encontravam as minas de ouro e pela resistência natural e compreensível, dos colonos aos seus opressores (...). Os “quintos” atrasados já tingiam a uma enorme cifra cuja cobrança arrasaria os mineiros. Não obstante, o governador da capitania Luís Antônio Furtado de Mendonça, Visconde de Barbacena, cumprindo ordens vindas da Metrópole, publicou oficialmente a “derrama”, isto é, a cobrança de ouro devido ao governo. Baseava-se a derrama no princípio de que a região deveria produzir 500 arrobas de ouro por ano e consequentemente, pagar 100 arrobas à Fazenda Real. O rendimento médio dos “quintos” de 1774 a 1785 fora de 68 arrobas anuais, deviam pois, as Minas ao Governo português 384 arrobas (5.760 quilos). A derrama não atingia apenas os mineradores. Toda a população era obrigada a contribuir, de acordo com as posses de cada um, calculadas segundo estimativas feitas pelo próprio governo. É perfeitamente compreensível o clima de apreensão em que se encontrava a Capitania”. (SOUTO MAIOR, 1974, p. 181, 182)

1.8. Portugal dependente da Inglaterra

Os diamantes foram descobertos, originando a criação do Distrito de

Diamantina, que só recebia ordens do Rei, através do Intendente. A Corte

Portuguesa neste período (1710/1760) foi uma das mais luxuosas da Europa. Os

mineradores, no entanto, viviam em dificuldades já que deviam pagar altos

impostos.

Portugal, em 1640, tornara-se dependente da Inglaterra, as maiores casas

comerciais em Portugal eram de banqueiros ingleses. Os produtos das Colônias

portuguesas seguiam a preço baixo àquele país, que lhe vendia produtos

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manufaturados bem mais caro. A diferença era paga com o ouro brasileiro, usado

para construir as primeiras indústrias inglesas, pagar operários e fabricar

máquinas, os soberanos ingleses eram os senhores dos mares.

O ciclo do ouro transformou o Rio de Janeiro em capital e porto exportador

do ouro. O Governador Geral passa a ter o título de Vice-Rei. Havia tributos para

importações, para cruzar rios, para abrir lojas, sobre produtos. O ouro aumentou a

população.

“Com efeito, a mineração de ouro (1701-80) e, depois a de diamante (1740-1828) vieram alterar substancialmente o aspecto rural e desarticulado dos primeiros núcleos coloniais. Sua primeira consequência foi atrair rapidamente uma nova população – mais de 300 mil pessoas, nos sessenta primeiros anos – para uma área do interior, anteriormente inexplorada, incorporando os territórios de Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso à vida e a economia da colônia. Para avaliar a importância da atividade mineradora, é suficiente considerar que teria produzido em ouro, cerca de mil toneladas e, em diamantes 3 milhões de quilates, cujo valor total corresponde a 200 milhões de libras esterlinas, o equivalente a mais da metade das exportações de metais preciosos das Américas. A região aurífera foi objeto da maior disputa que se deu no Brasil. De um lado, os paulistas, que haviam feito a descoberta e reivindicavam o privilégio de sua exploração. De outro lado, os baianos, que, havendo chegado antes a região com seus rebanhos de gado, tinham tido o cuidado de registrar suas propriedades territoriais (...) Mas seu impacto foi muito maior, o Rio de Janeiro nasce e cresce como o porto das minas. O Rio Grande do Sul e até a Argentina, provedores de mulas se atam a Minas, bem como o patronato e boa parte da escravaria do Nordeste. Tudo isso fez de Minas o nó que atou o Brasil e fez dele uma coisa só”. (RIBEIRO, 1995, p. 152, 153)

1.9. O Marquês de Pombal e a expulsão dos Jesuítas

Em 1750, foi escolhido, como Primeiro Ministro de Portugal o Marquês de

Pombal, que expulsou os Jesuítas da Metrópole e das Colônias visando uma

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reforma educacional. O Marquês alegava que os missionários estavam contra o

governo português. Ele foi o primeiro-ministro de Portugal de 1750 até 1777. A

esse respeito comentou Darcy Ribeiro (1995):

“No segundo século, já enriquecidos de seu triste papel, a também representados por figuras mais capazes de indignação moral, como Antonio Vieira, os jesuítas assumiram grandes riscos no resguardo e na defesa dos índios. Foram, por isso, expulsos primeiro, de São Paulo, e, depois do estado do Maranhão e Grão-Pará pelos colonos. Afinal, a própria Coroa, na pessoa do Marquês de Pombal, decide acabar com aquela experiência socialista precoce, expulsando-os do Brasil. Então, ocorre o mais triste. Os padres entregam obedientemente as missões aos colonos ricos, contemplados com a prioridade das terras e dos índios pela gente de Pombal, e são presos e recolhidos à Europa, para amargar por décadas o triste papel de sugadores que tinham representado”. (RIBEIRO, 1995, p. 56)

Implantada a Reforma Pombalina de Educação têm o objetivo de mudar o

Estado e a sociedade portuguesa. Com a expulsão dos jesuítas as missões na

Amazônia arruinaram-se.

“Expulsos os jesuítas, a situação piorou muito, porque as suas missões foram entregues, ao Norte, às famílias de contemplados que passaram a explorá-las como fazendas privadas. Nas outras regiões, algumas missões foram entregues a ordens religiosas consentidas nessa função, porque eram ainda mais propensas a servir ao governo e aos colonos do que seus escravos pela Companhia. Alguns foram postos sob a direção de administradores civis, podendo cobrar porcentagem sobre os índios que arredavam ou colocar os índios a trabalhar em suas próprias fazendas, fizeram disso um alto negócio. Tão bom que alguns deles se esforçaram e lograram o supremo favor de se tornarem hereditários das antigas missões. A quantidade de índios explorados dessa forma terá sido muito grande, uma vez que documentos do fim do século XVII falam de quatrocentos aldeias com administradores civis em São Paulo e de 4 mil nas outras capitanias (Gorender, 1978). A expulsão pombalina que visava,

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nominalmente, liberar os índios das missões jesuítas, integrando-os como iguais a até com certos privilégios na comunidade colonial, representou enorme logro”. (id., p. 105)

Pombal, além da expulsão dos jesuítas, centralizou administrativamente a

Colônia, elevando o Brasil à categoria de Vice-Reinado. Extinguiu as Capitanias

Hereditárias, mudou a capital de Salvador para o Rio de Janeiro.

É editado o “Alvará”, o documento cria o cargo de “Diretor de Estudos”,

para fiscalização, com sede em Portugal. Fiscalização que só aconteceu por volta

de 1799. Inaugura-se uma série de medidas intervencionistas, incoerentes e

fragmentárias da educação nacional.

“Ao extinguir as aulas jesuíticas, Pombal não tinha um sistema pedagógico capaz de substituí-las. Daí dizer com razão Fernando de Azevedo que, em 1759, o que ocorreu no Brasil “não foi uma reforma de ensino mas a destruição pura e simples de todo o sistema colonial I do ensino jesuítico”. Após a expulsão as antigas aldeias dos padres inacianos foram erigidas em vilas. Umas floresceram, outras entraram em acelerada decadência, pois muitos índios semicivilizados embrenharem-se nos matos á procura de melhor vida”. (SOUTO MAIOR, 1974, p. 144)

A Ordenação Real, de 1722, criou um Fundo para gerenciamento da

educação o “Subsídio Literário”. Um imposto de taxação, na venda dos produtos

da colônia. O valor teria como objetivo a manutenção dos ensinos primário e

médio. Restou uma baixa arrecadação e falta de controle. As “Aulas Régias”,

produto do Subsídio Literário, só foram implantadas nas cidades e vilas mais

importantes, assim mesmo de forma desorganizada. Importante ressaltar que, o

advento do Império não acabou com o Subsídio Literário.

“Com a expulsão dos jesuítas surgiram no Brasil colonial escolas de outras ordenas religiosas.

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Apareceram escolas beneditinas, carmelitas e franciscanas em substituição às antigas “escolas de ler, escrever e contar” e “colégios” jesuítas. Pombal ordenara, após a expulsão dos jesuítas, uma “reforma geral” no ensino, na qual se deveria voltar ao “método antigo, reduzido a seus termos mais simples e mais claros e duma maior facilidade, como o que se pratica atualmente nas nações policiadas da Europa”. Surgiram então as escolas elementares e as escolas de gramática latina, grego e retórica sob a orientação geral de um Diretor de Estudos. Permitia-se o magistério particular e, para o custeio da instrução pública, criou-se o subsidio literário, que incidia sobre a carne verde, o vinho, o sal, o vinagre e o aguardente. O subsídio literário nunca foi cobrado com regularidade e por isso os professores ficavam meses, sem receber vencimentos. A partir de 1774, o subsídio literário também deveria ser cobrado no Brasil, devendo por lei, o excedente da arrecadação ser enviado a Portugal para ai ser aplicado no ensino superior”. (SOUTO MAIOR, 1974, p. 144)

Na economia Pombal incentivou a produção de algodão no Brasil, passou a

vender para a Inglaterra, cuja indústria de tecido era muito desenvolvida,

enquanto àquele lutava com suas Colônias ao Norte (futuro EUA). Porém, como

os impostos portugueses encareciam o produto, logo que a paz foi restabelecida a

Inglaterra voltou a comprar na ex-colônia (EUA).

No Brasil, as lutas são frequentes: Mascates, Emboabas, a Conjuração

Mineira de 1789, a Conjuração Baiana.

Chegamos ao ano de 1800, na região das Minas Gerais esgotaram-se as

jazidas. Os seminários das ordens religiosas continuavam seus estudos, como o

Seminário de Olinda, instalado em 1800, por Dom Azevedo Coutinho, governador

interino e bispo de Pernambuco, que difundia idéias liberais, seus alunos e padres

participavam de movimentos revolucionários.

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“Proclamavam os europeus aqui chegarem para expandir nestas plagas o cristianismo, mas, na realidade, movia-os o propósito de exploração e fortuna. A história do período colonial é a história desses dois objetivos a se ajudarem mutuamente na tarefa real e não confessada da espoliação continental. A vida do recém-descoberto Continente foi, assim, desde o começo, marcada por essa duplicidade fundamental: jesuítas e bandeirantes; fé e império”; religião e ouro. O português e o espanhol que aqui aportavam não eram cristãos, mas, quando muito, “cruzados”. Não vinham organizar nem criar nações mas prear... esta obra destruidora e predatória nunca se confessava como tal, revestindo-se, nas proclamações oficiais, com o falso espírito de cruzada cristã. (TEIXEIRA, 1962, p. 7)

O século XVIII foi atingido. As colônias americanas se libertaram,

entusiasmadas com as idéias francesas de liberdade, igualmente e fraternidade.

Darcy Ribeiro (1995) assim descreve a nova fase:

“O ano de 1800 representou uma virada na história brasileira. A economia exportadora atravessava um período de declínio, o que constituía, certamente, um desafogo para a população. Com efeito, reduzido o ritmo da produção açucareira e superada a época de prosperidade das explorações de ouro e diamantes, que ocupavam os principais contingentes de trabalhadores negros e brancos, estes se dispersaram em busca de formas autárquicas de sobrevivência. A produção açucareira, que se debatia na crise desencadeada com a expansão dos novos centros produtores das Antilhas, passou a contribuir com metade do valor da exportação, que também havia diminuído bastante. A pecuária se estendeu prodigiosamente pelos sertões interiores e pelas pastagens sulinas. O setor mais dinâmico era, então, o cultivo de arroz e, depois, de algodão, no Maranhão, cujo principal comprador eram as manufaturas inglesas em conflito com os produtores norte-americanos”. (ibid., p. 158)

Em 1827, os primeiros Cursos Jurídicos do país foram criados. E a primeira

Lei de Ensino Primário foi promulgada. Segundo alguns autores, este ano marca

o fim do chamado período pombalino. Outros consideram o ano de 1808, como o

ano de término, coincidindo com a vinda da Família Real Portuguesa para o

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Brasil. Este fato teria trazido uma preocupação quanto a educação para a

formação das elites dirigentes do país.

O que as Reformas Pombalinas haviam proposto, em termos de uma escola

útil ao Estado, se concretizam apenas no que se relacionava ao ensino superior.

1.10. O Domínio Britânico

A Revolução Industrial promoveu o acirramento da disputa entre França e

Inglaterra. A segunda procurava se firmar como nação industrial. E a França,

governada por Napoleão Bonaparte, pretendia a hegemonia do continente

europeu, objetivando desenvolver seu mercado e dominar os consumidores da

Europa. Mas, após conscientizar-se da impossibilidade de conquistar a Inglaterra,

resolveu arruiná-la economicamente, decretando o Bloqueio Continental, em

1806. Pelo Bloqueio as nações européias continentais ficaram proibidas de

comercializar com a Inglaterra e de autorizar que navios ingleses atracassem em

seus portos.

“Alarmada com o poderio crescente de Napoleão, que conseguira coroar-se Imperador da França e influir fortemente na Itália e nos Países Baixos, a Inglaterra formou contra o mesmo uma coligação da qual participavam a Áustria, a Prússia e a Rússia. (...). (...) pós bater o exército prussiano em Lena entrou Napoleão triunfalmente em Berlim. Foi nesta cidade que o imperador francês decretou o famoso bloqueio continental contra a Inglaterra. Napoleão, com um bloqueio econômico, substituía assim seu antigo plano de invasão da Inglaterra: esperava solapar a riqueza britânica para obrigar o povo inglês a se voltar contra seu próprio governo”. (SOUTO MAIOR, 1974, p. 188)

Portugal, dependente do capital e comércio ingleses, não podia aderir ao

bloqueio, sob pena de ruína. A política expansionista de Napoleão Bonaparte não

aceitou a posição dúbia de Portugal em relação à França, exigindo que ele

tomasse uma posição declarando guerra à Inglaterra, ou seria invadido pelos

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franceses. Endividado com a Inglaterra o soberano português não obedeceu e foi

invadido pelas tropas francesas, restando a família Real e a corte portuguesa, tão

somente, fugir, mudando-se para o Brasil. (SOUTO MAIOR, p. 188/190)

Portugal e Inglaterra assinam uma convenção secreta que previa, entre

outras determinações, proteção da Marinha Inglesa para a Família Real e altos

funcionários da Corte na sua fuga para o Brasil e direito de utilização de portos

livres no Sul do Brasil, para facilitar o comércio inglês na região do Prata.

“Aos ingleses interessava que não caísse em poder dos franceses a esquadra portuguesa. Cinco dias antes do Tratado de Fontainebleau comprometia-se a Inglaterra, através de um convênio secreto, a dar cobertura naval à transferência da corte para o Brasil. Quando Lord Strangford, hábil ministro inglês, convenceu D.João da urgência de sua ida para o Brasil, as tropas francesas estavam em marcha contra Lisboa. Comandava o exército invasor o general Andoche Junot com ordens de deter a família real e a esquadra portuguesa. Sua marcha forçada através do país reduzia-lhe consideravelmente a eficiência militar. Entrou em Lisboa com dois regimentos famintos e exaustos, quase sem encontrar resistência. A corte se fizera ao largo”. (SOUTO MAIOR, 1974, p. 190)

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CAPÍTULO II

O BRASIL CAMINHA PARA A INDEPENDÊNCIA POLÍTICA

2.1. A vinda da Família Real

Sob a proteção britânica a Corte Portuguesa, uma classe feudal parasita,

foge para o Brasil. Enquanto a massa populacional em Portugal se desespera e

lamenta, D. João embarca disfarçado, para fugir da fúria do povo.

“O embarque da família real de Bragança realizara-se debaixo de chuvas torrenciais. A nobreza, o alto funcionalismo, os oficiais superiores, também acompanhavam D. João. Foi dramático o embarque de D. Maria I, cuja insanidade mental permitiu-lhe brado de desespero e protestos contra a retirada do governo para o Brasil. Houve lama, escândalo, choros e vaias à medida que entravam nos navios os que se retiravam juntamente com todas as riquezas transportáveis”. (SOUTO MAIOR, 1974, p. 190)

Em 1808, cerca de quinze mil pessoas chegam ao Brasil, protegidos por

uma esquadra inglesa.

Pela Convenção, assinada entre Portugal e Inglaterra, D. João se

comprometia a abrir os portos brasileiros e ceder privilégios especiais ao

comércio inglês. Assim, a Inglaterra garantiu o comércio com a Colônia e tirou o

intermediário, já que as mercadorias não seguiriam mais para Portugal e de lá

para a Inglaterra.

A abertura dos portos é a decretação de morte do pacto colonial, na

medida em que se extinguia o monopólio do comércio da colônia.

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Em 1808, D. João procurou amenizar a situação da Colônia tornando-a

mas desenvolvida. As ruas foram calçadas, novas propriedades surgiram, o

comércio se desenvolveu.

“A notícia da invasão de Portugal por tropas de Bonaparte, D. João de Bragança embarcara às pressas para o Brasil, nos restos de uma frota” comboiada por navios ingleses. Em 22 de janeiro de 1808, à sua chegada à cidade da Bahia decreta, por sugestão de José da Silva Lisboa, Visconde de Cairu, a abertura dos portos do Brasil ao comércio estrangeiro, estabelecendo essa franquia em Carta Régia de 28 de janeiro do mesmo ano: derroga, já no Rio de Janeiro, com a de 1° de abril, o alvará de 5 de janeiro de 1785 que ordenara o fechamento de todas as fábricas; e, além destes dois decretos, “equivalentes aos efeitos de duas revoluções liberais”, como escreve Euclides da Cunha, abriga ainda o alvará, de 6 de julho de 1747, fundando a Imprensa Régia, em que se imprimem as primeiras obras editadas no Brasil e se inicia, com a publicação da Gazeta do Rio de Janeiro de 1808, o jornalismo brasileiro. Com a vinda de D. João VI cerca e 15 mil pessoas chegadas com a família real, a velha cidade – “uma grande aldeia de 45 mil almas”, que dormia no marasmo – desperta para uma vida nova, sacudida do inesperado acontecimento e erguida de súbito à categoria de capital do Império Português. A cidade colonial, de ruas estreitas e tortuosas, transforma-se com o esplendor da corte e o impulso do seu comércio e, pela atração dos novos encantos da vida urbana, torna-se o centro da vida intelectual do país, para onde convergem brasileiros vindos de todas as províncias”. (AZEVEDO, 1996, pág. 550)

Como maior nação industrial e naval do mundo, de 1808 a 1814, a

Inglaterra gozou de quase exclusividade sobre o comércio brasileiro. Nenhuma

outra “nação amiga” possuía condições para competir.

“Para adaptar-se D. João às novas circunstâncias políticas e econômicas em que se encontrava, cinco dias após seu primeiro contato com a Colônia, expediu na Bahia uma famosa carta-régia abrindo os portos brasileiros, que, anteriormente, apenas comerciavam com Portugal em virtude do monopólio do comércio exterior. Não podia o Real Erário prescindir de sua principal fonte de rendas que eram as tarifas aduaneiras.

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Ao mesmo tempo, os grandes exportadores e importadores da Colônia desejavam o restabelecimento das correntes do comércio externo. É evidente que sendo a Inglaterra a nação aliada que maior frota possuía, forçosamente seria a grande beneficiada com a carta-régia da abertura dos portos”. (SOUTO MAIOR, 1974, p. 192)

Consolidou-se o Imperialismo Britânico sobre o Brasil com as assinaturas,

em 1810, dos Tratados de Comércio e Navegação e o de Aliança e Amizade.

A Inglaterra pagava taxas alfandegárias menores do que, até mesmo

Portugal. Os ingleses tinham taxas alfandegárias especiais de 15%, enquanto o

percentual para as demais nações era de 24%. Nosso mercado ficou abarrotado

de produtos ingleses. Nosso País era mercado consumidor dos produtos

industrializados ingleses. A Inglaterra também dificultava a importação de

máquinas para o Brasil, não podia haver concorrência. Não havia a mínima

possibilidade de crescimento industrial para o Brasil, a Inglaterra vendia produtos

mais baratos e de melhor qualidade.

Portugal exigia que todos os seus habitantes, inclusive os da colônia,

fossem católicos. Com o Tratado de 1810, os ingleses aqui se estabeleceram

livremente, sem precisarem abandonar a religião protestante. Nos Portos e

cidades brasileiras, de acordo com o que estabelecia o Tratado, havia juízes

especiais para resolver os problemas envolvendo ingleses, eleitos por eles,

diretamente subordinados ao governo inglês.

“Dentre as obrigações que compunham o tratado de “comércio e navegação”, destacam-se os seguintes: a) Os direitos aduaneiros sobre as mercadorias inglesas eram reduzidos a 15% imposto menor do que o pago pelas próprias mercadorias e artigos portugueses; b) O Príncipe Regente obrigava-se por si e pelos seus sucessores, a não consentir no estabelecimento da Inquisição na colônia portuguesa da América.

42

c) O Príncipe aceitaria a abolição gradual do comércio de escravos e delimitavam-se na África os lugares onde se poderia fazer o tráfico; d) Os súbitos ingleses residentes no Brasil elegeriam seus próprios juízes, que seriam apenas confirmados pelo governo português. Nos domínios britânicos, contudo os súbitos portugueses seriam, igualmente como os outros estrangeiros, sujeitos “a reconhecida equidade da jurisprudência britânica e excelência de sua Constituição”. Com as facilidades obtidas a Inglaterra aumentou consideravelmente suas exportações para os portos brasileiros. Paralelamente, entretanto, não exportamos para os portos ingleses quantidade equivalente de produtos coloniais. Nosso açúcar e o café, já produzidos nas colônias inglesas, de acordo com as estipulações feitas no tratado de “comércio e navegação” eram excluídos dos mercados britânicos (...). O resultado final da balança comercial, entretanto, nos foi desfavorável, uma vez que compramos mais do que vendemos, tendo aumentado sensivelmente o custo de vida no Brasil” (id., p. 193)

2.2. Política Educacional Desenvolvida por D. João VI

A chegada da família Real Portuguesa ao Brasil, em 1808, influencia uma

nova política educacional. A chamada “política Joanina” implementa

modificações na educação brasileira. Consolida a perda pela Igreja da gestão da

educação escolar para o Estado. Concentra no Estado a educação secundária e a

superior. O Rio de Janeiro transforma-se em Sede do Reino Português de

1808/1821.

A presença da Corte gerou prejuízos, o Brasil precisava continuar

sustentando seus luxos e atendendo suas fúteis exigências. Aos mesmos da

Corte, o Rei concedeu cargos públicos em repartições desnecessárias e inúteis.

Advindo daí corrupção, roubo, emperramento da máquina administrativa,

incompetência, má utilização do dinheiro público. As despesas com o serviço

público aumentaram e foram criados novos impostos.

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“Não se havia mudado apenas a corte para o Brasil. Mudara-se um Estado, um governo inteiro, com os mais variados problemas administrativos e econômicos. D. João nomeou novos ministros. Para a pasta da Guerra e Estrangeiros foi escolhido a anglófilo D. Rodrigo de Sousa Coutinho cujo irmão continuaria como embaixador em Londres. Como ministro da Marinha foi escolhido o visconde de Anadia; D. Fernando José de Portugal e Castro foi nomeado ministro da Fazenda e Interior. Outras medidas foram tomadas visando ao funcionamento da maquina política e administrativa que os Braganças haviam transferido para o Brasil.” (SOUTO MAIOR, 1974, p. 195)

Também houve progresso foram criados o Banco do Brasil, a Casa da

Moeda, no Rio de Janeiro; a primeira Biblioteca Pública (1814), com 60.00

volumes cedidos pelo próprio D. João; a Imprensa Régia (1808) inaugurou a era

jornalística com a Gazeta do Rio de Janeiro.

(...) a primeira biblioteca pública, criada por D. João VI, (...) com os próprios livros de que se desfez, e que foi instalada e franqueada ao público em 1814, no Hospital dos Terceiros do Carmo. É nessa biblioteca, constituída inicialmente dos 60 mil volumes pertencentes à Real Biblioteca do Palácio da Ajuda e trazidos por D. João VI, que tem as suas origens a Biblioteca Nacional, hoje, uma das mais importantes senão a maior dessa parte do continente americano. As produções da literatura brasileira que Martins em vão procurava nas raras livrarias existentes começam a circular, publicadas na Imprensa Régia, de cujas oficinas, de 1808 a 1822, saíram 1.154 impressos vários, entre os quais avultam as poesias líricas de Tomás Antônio Gonzaga, o poema de Basílio da Gama, as obras do Visconde de Cairu e o dicionário de Morais. (...) a cidade do Rio de Janeiro, já com a sua imprensa, o seu jornal, a sua biblioteca e o seu museu se tornou o centro da vida intelectual do país; as escolas superiores, de que o grande criador de instituições lançou os fundamentos, ficam à base dos progressos das transformações da cultura nacional.” (AZEVEDO, 1996, pág. 551)

44

Inaugurou, também, a Escola da Marinha (1808) e a Academia Real Militar,

no Rio de Janeiro em 1810. Ainda, o Jardim Botânico; a Escola Real de Ciências

Artes e Ofícios, em 1816, Rio de Janeiro; o Laboratório de Química, em 1812,

também no Rio de Janeiro; o Curso de Agricultura, na mesma Cidade, no ano de

1814; o Teatro Real; o Curso de Cirurgia e cadeia de Economia, em 1808, na

Bahia; o Curso de Química e Desenho Técnico, em 1817, na Bahia; a Escola

Médica do Rio de Janeiro. O campo musical também se desenvolveu. O Rio de

Janeiro transformou-se em Centro Cultural. Foram criadas Escolas Superiores e

Centros de Estudos.

“Sobre as ruínas do velho sistema colonial, limitou-se D. João VI a criar escolas especiais, montadas com o fim de satisfazer o mais depressa possível e com menos despesas a tal ou qual necessidade do meio a que se transportou a corte portuguesa. Era preciso, antes de mais nada, prover à defesa militar da Colônia formar para isso oficiais e engenheiros, civis e militares: duas escolas vieram a atender a essa necessidade fundamental, criando-se em 1808 a Academia de Marinha e, em 1810, a Academia Real Militar, com oito anos de Curso. Eram necessários médicos e cirurgiões para o Exército e Marinha: criaram-se então em 1808, na Bahia, o curso de cirurgia que se instalou o Hospital Militar e, no Rio de Janeiro, os cursos de anatomia e de cirurgia a que se acrescentaram, em 1809, os de medicina, e que ampliados em 1813, constituíram com os da Bahia, equiparados aos do Rio, as origens do ensino médico no Brasil”. (id., pág. 552)

A Corte trazia as necessidades da Europa, onde as artes e as ciências

ocupavam lugar de destaque. Na arquitetura copiamos o estilo europeu. Porém, a

maioria das repartições visavam – apenas – servir de “cabides de empregos” para

os fidalgos da Corte.

“Não eram menos necessários homens instruídos e técnicos em economia, agricultura e industria: fundaram-se, na Bahia, a cadeira de Economia em 1808, o curso de agricultura em 1812, o de química (abrangendo química industrial, geologia e mineralogia) em 1817, e de desenho técnico em 1818, e, no Rio de Janeiro, o laboratório de

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química (1812) e o curso de agricultura (1814), os quais todos se destinavam a suprir a deficiência absoluta de técnicos que satisfizessem às necessidades do meio brasileiro em tradição para um tipo de vida mais urbana e industrial e para uma melhor organização da economia agrícola do país. A Real Escola de Ciências, Artes e Ofícios, criada em 12 de agosto de 1816, e transformada somente em outubro de 1820 na Real Academia de Pintura, Escultura e Arquitetura Civil, acusava no esboço de seu plano primitivo (1816), que alias não chegou a realizar-se, o mesmo cuidado técnico: denominada, porém, Academia das Artes por outro decreto de 23 de novembro de 1920, só veio a funcionar, sob essa nova e definitiva orientação, em 1826, já no primeiro Império, e dez anos depois da chegada ao Rio de Janeiro da missão de artistas franceses. Se excetuarmos, pois algumas cadeiras que se instituíram para suprir as lacunas de ensino tradicional, e visando estudos desinteressados, como a matemática superior de Pernambuco (1809), a de desenho e história em Vila Rica (1817) e a de retórica e filosófica, em Paracatu, Minas Gerais (1821), quase toda obra escolar de D. João VI, impelida pelo cuidado de utilidade prática, pode-se dizer que foi uma ruptura completa com o programa escolástico e literário do período colonial. Circunscrita no espaço quase que exclusivamente à Bahia e ao Rio de Janeiro, foi certamente muito restrito o domínio que iluminou, deixando, fora de sua irradiação, toda a parte restante da Colônia que continuava mergulhada no mesmo atraso: ela representa, no entanto, não só uma das fases mais importantes de nossa evolução cultural, mais o período mais fecundo em que foram lançados por D. João VI, os gemes de numerosas instituições nacionais de cultura e de educação”. (AZEVEDO, 1996, págs. 552, 553)

Em 1815 o Brasil é elevado a categoria de Reino. O Brasil deixara de ser

colônia.

2.3. No rumo da independência política

Em 1816, o Nordeste brasileiro foi assolado pela seca, que afetou a

agricultura e provocou queda na produção do algodão e do açúcar.

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Os impostos aumentaram para manter o padrão de vida da Corte. O

contraste, entre o luxo da Corte e a baixa qualidade de vida da população, que

não conseguiam nem adquirir os gêneros de primeira necessidade, formaram o

pano de fundo para que a idéia de independência começasse a florescer. Os

rebeldes, entres eles a elite intelectual do Recife, comerciantes nacionais

interessados na expulsão dos comerciantes portugueses, oficiais, e outros

elementos das camadas populares, visavam a independência do Brasil e a

proclamação da República.

Pernambuco se levanta em um movimento nacionalista. O povo não

participava das decisões. O despreparo dos rebeldes e os seus desacordos

permitiram a reação oficial e a repressão portuguesa ocorreu de forma violenta e

cruel, tendo a maioria dos líderes sido condenados à morte.

“Paralelamente ao espírito nativista, as idéias de reforma política que geraram a Revolução Francesa, a independência dos Estados Unidos e o exemplo da emancipação política das colônias espanholas na América, encontravam em Pernambuco ampla repercussão” . (SOUTO MAIOR, 1974, p. 199)

Em Portugal, em 1820, ocorreu a Revolução Constitucionalista do Porto,

que objetivava resgatar a dignidade do País, como nação soberana, perdida

desde a invasão Napoleônica, em 1807.

A Revolução impôs uma Junta Provisória que redigiu a Constituição

Portuguesa. Os revolucionários exigiam a Volta de D. João VI para governar o

país, que seria regido por uma Constituição, que todos deveriam seguir, inclusive

o Rei. D. João voltou à Portugal em 1821. O Rei foi coagido por militares a jurar a

Constituição.

47

A partir de D. João VI do Brasil foi tumultuada pela notícia de que este

havia roubado dinheiro de ouro do Banco do Brasil. O povo, revoltado, correu ao

porto mas, foi contido por forças militares.

Ficou no Brasil o filho de D. João, como Príncipe Regente D. Pedro.

“Portugal conseguiria livrar-se dos franceses com a forte ajuda militar que recebera dos ingleses (...). A ausência da família real, a grave situação econômica que atravessava o país, empobrecido pela guerra e prejudicado pelo decreto da abertura dos portos brasileiros, a difusão das idéias constitucionais e liberais geraram um clima propício para a revolta. A 24 de agosto de 1820 rebentava na cidade do Porto uma revolução, (...) Ao chegar ao Brasil a noticia da revolução agitara-se os meios liberais que viam numa constituição uma limitação do poder absoluto do rei. (...) Resolveu-se então que partiria D. João VI para Portugal, deixando seu filho o príncipe D. Pedro como regente; ao mesmo tempo determinou que deveriam ser realizadas as eleições dos deputados brasileiros que participariam das Cortes. (SOUTO MAIOR, 1974, p. 208)

Em 1822, os laços políticos que nos prendiam a Portugal foram desfeitos.

O governo português exigiu a volta do Príncipe, que seria substituído por um

governador nomeado em Lisboa. Pleitearam, ainda, extinção de todos os órgãos

que permitam ao Brasil um governo próprio.

Visualizou-se uma grande contradição, ao mesmo tempo que Portugal

definia a instalação de uma Monarquia Constitucional no Reino, exigia a

recolonização do Brasil. Não adiantaram os protestos e argumentações dos

deputados brasileiros em Lisboa. Portugal exigia a volta imediata de D. Pedro, a

criação de um imposto adicional nas alfândegas brasileiras, a nomeação de um

governador de armas para cada província, o envio de tropas para o Rio de

Janeiro, Pernambuco e Bahia e a extinção dos tribunais e repartições no Brasil.

48

“A situação econômica e administrativa do Brasil com a saída da família real e sua comitiva tornou-se muito séria. Fora-se o ouro e o isolamento das províncias gerava um clima propicio para a agitação” (...) “A maçonaria que havia obtido legitima liberdade de ação em 1821, torna-se a maior propaganda a favor da emancipação brasileira. “A Maçonaria e a imprensa preparam o clima da Independência”. (SOUTO MAIOR, 1974, pág. 209, 210)

As camadas sociais urbanas e rurais procuravam convencer D. Pedro a

aceitar a idéia de realizar a emancipação. Mas, a elite aristocrática, queria manter

suas propriedades não incluíram as massas no processo.

Em 9 de janeiro de 1822, 8.000 assinaturas de aristocratas e comerciantes

foram entregues ao Príncipe, pedindo sua permanência no Brasil, propondo que

reinasse aqui como D. Pedro.

A decisão de ficar no Brasil, tomada por D. Pedro, ficou registrada, na

História, como o “Dia do Fico”. Como reação os ministros portugueses no Brasil

pediram demissão.

“O “Fico” fora um grande passo em prol de nossa independência. A expulsão das tropas de Avilez, a nomeação de José Bonifácio de Andrada como ministro foram também indícios de que D. Pedro já estava admitindo nossa separação política de Portugal” (id., p. 213)

D. Pedro nomeou um novo ministério, dominado pela aristocracia.

Em junho, convocou uma Assembléia Nacional Constituinte. Porém, o povo

não teria o direito de eleger representantes.

Em agosto, por Decreto, tornavam-se inimigas todas as tropas portuguesas

que desembarcassem no Brasil.

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2.4. Período Imperial (1822/1889)

Em 7 de setembro de 1822, é proclamada a Independência do Brasil. Uma

decisão da classe dominante.

Como uma ideologia conservadora e antidemocrática, a elite formou um

governo centralizado, submisso a Igreja, com voto censitário o que impedia as

massas de participarem do processo eleitoral. Um Império escravista.

Em 1825, em âmbito internacional, é reconhecido o Brasil como nação

independente.

Os Estados Unidos foi quem primeiro reconheceu a independência do

Brasil. O que o governo norte-americano objetivava era ampliar seu campo de

mercado internacional.

Seguindo as conveniências da Inglaterra, que estava interessada na

Independência pelas vantagens que lhe proporcionava os Tratados firmados

desde 1810, Portugal reconheceu a Independência brasileira, em 1825. No

entanto, Portugal exigiu, do Brasil, o pagamento de 2 milhões de libras. Dinheiro

que o Brasil pediu emprestado para a Inglaterra. Como Portugal era devedor da

Inglaterra tal valor nem chegou a sair dos cofres ingleses. Mas, o Brasil viu sua

dívida aumentar com a Inglaterra. Em 1827, o Brasil, por meio de Tratado,

concedeu mais quinze anos as taxas alfandegárias de 15% para os ingleses.

(SOUTO MAIOR, 1974, p. 219)

Convocada em 1822, a Assembléia Constituinte reuniu-se somente em

1823. O Partido Português queria defender os interesses da Corte e pretendia a

recolonização. A aristocracia agrária, do Partido Brasileiro, buscava a hegemonia

política em duas frentes, uma que defendia o Federalismo Democrático e a outra

50

ala, aristocrática, desejava uma Monarquia Centralista. Já as tendências

autoritárias do Imperador ficaram registradas na frase: -“quero uma Constituição

que seja digna do Brasil e de mim” (SOUTO MAIOR, 1974, p. 221;222)

O anteprojeto da Constituição criou o voto censitário, excluindo o povo do

processo político. A aristocracia buscou a supremacia do poder político e limitou

os poderes do Imperador. Em 1823, D. Pedro, que não admitia ter seus poderes

limitados, dissolveu a Assembléia Constituinte. Depois, nomeou um Conselho de

Estado, formado por dez nomes por ele escolhidos, que defendiam o ideário

Absolutista e Conservador. Sendo criados artigos que garantiam o Absolutismo do

Imperador.

2.5. A Constituição do Império

A Constituição do Império foi uma cópia quase fiel da Constituição

Francesa. Foi outorgada em 25 de março de 1824, determinando a existência de

quatro poderes a saber: Poder Executivo; Legislativo; Judiciário; e Poder

Moderador.

O último exclusivo do Imperador, dando-lhe o direito de:

Dissolver a Câmara;

Conceder anistia;

Convocar Assembléia geral;

Nomear senadores; nomear e demitir ministros;

Nomear e suspender juízes;

Aprovar e suspender resoluções dos Conselhos Provinciais;

e direito de vetar atos do Poder Legislativo.

“Proclamada a independência e fundado o Império do Brasil em 1822, a vitória dos liberais sobre os conservadores e os debates travados na Constituição de 1823 anunciavam uma orientação nova na política educacional, sob o impulso dos ideais da Revolução Francesa de que estavam imbuídos os liberais e pelo desenvolvimento do espírito nacional que

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obrigava e encarar sob um novo ângulo os grandes problemas do país. As idéias, como costuma acontecer nas crises das transformações políticas, tomam outro rumo e, pela primeira vez, as preocupações da educação popular – como base do sistema de sufrágio universal – passam a dominar os espíritos da elite culta, constituída de sacerdotes, bacharéis e letrados. Mas desse movimento político em favor da educação popular e que se manifesta nos debates e nas indicações apresentadas na Assembléia Nacional Constituinte, dissolvida em 1823, não resultaram senão a lei de 20 de outubro de 1823, que aboliu os privilégios do Estado para dar instrução, inscrevendo o principio da liberdade do ensino sem restrições; o artigo 179, n° XXXII, da Constituição outorgada pela coroa, em 11 de dezembro de 1823, que garante a “instrução primária gratuita a todos os cidadãos”; e, afinal, a lei de 15 de outubro de 1827 – a única que em mais de um século se promulgou sobre o assunto para todo o país e que determina a criação de escolas de primeiras letras em todas as cidades, vilas e lugarejos (art. 1°) e, no art. XI, “escolas de meninas nas cidades e vilas populares”. Os resultados, porém, dessa lei que fracassou por várias causas, econômicas, técnicas e políticas, não corresponderam aos intuitos do legislador; o governo mostrou-se incapaz de organizar a educação popular no país; poucas, as escolas que criaram, sobretudo as de meninas, que, em todo o território, em 1832, não passaram de 20 (...)”. (AZEVEDO, 1996, págs. 552, 553)

O voto continuava baseado no critério econômico e não cultural

(censitário). Sendo assim, a representação popular ficava excluída.

A Constituição estabelecida uma Monarquia Unitária e Hereditária.

Garantia o direito à liberdade religiosa, no entanto, a religião católica era

reconhecida como oficial, submetida ao Estado.

A Constituição de 1824 era, essencialmente, uma mistura de idéias

democráticas inglesas e francesas, com alguns pontos tradicionais, herdados da

antiga Metrópole. Se orientava no sentido de conciliar, um declarado idealismo

teórico, com a necessidade de atender aos interesses da classe social dominante

52

do país, os grandes proprietários rurais. Adotamos leis e idéias que não se

adaptavam a nossa realidade. Na prática, houve o afastamento do perigo da

reecolonização. Foram excluídas as camadas populares do exercício da

cidadania, os cargos de representação nacional ficaram reservados aos

proprietários rurais. Tendo entrado em vigor em 25 de março de 1824, a primeira

Constituição Brasileira vigorou até 1889, data da proclamação da República.

A Constituição de 1824, outorgada pela Assembléia Constituinte, instituiu a

instrução primária gratuita para todos os cidadãos. Interessante frisar que, não

tivemos escolas durante a Colônia, os brasileiros ou estudavam na Europa ou

seguiam para o Seminário. Isso tudo afastou o povo do movimento de

independência. Mas, era preciso encontrar soluções próprias, e é preciso

considerar que os fazendeiros do Império eram um pouco mais cultos do que os

da colônia.

“A instrução primária, confiada às províncias e reduzida quase exclusivamente ao ensino da leitura, escrita e cálculo, sem nenhuma estrutura e sem caráter formativo, não colhia nas suas malhas senão a décima parte da população em idade escolar, e apresentava-se mal orientada não somente em relação às necessidades mais reais do povo, mais aos próprios interesses da unidade e coesão nacionais”. (AZEVEDO, 1996, pág. 561)

A outorga da Constituição reforça a reação nordestina e Pernambuco mais

uma vez sai na frente lutando contra a arbitrariedade. A baixa produtividade e os

altos impostos resultaram no aumento dos preços dos gêneros de primeira

necessidade, sacrificando as camadas mais pobres da população. Defendiam, em

seu manifesto, “que as Constituições, as leis e todas as instituições humanas são

feitas para atender ao povo e não o contrário”.

O Governo Imperial mostrava-se incapaz de resolver os problemas sociais

e econômicos. Para defender-se impunha o autoritarismo, a repressão violenta.

53

Vários líderes do movimento foram condenados à morte. (SOUTO MAIOR, 1974,

p. 234)

Os empréstimos, emissões de moeda, falência do Banco do Brasil, aumento

de custo de vida e inflação, tudo provocava os protestos da elite; que se juntou

aos reclamos das camadas média urbana, do povo e da imprensa no ataque ao

Imperador. Em 7 de abril de 1831, o Império abdica, deixando o trono brasileiro

para o se filho, D. Pedro de Alcântara, com 5 anos de idade. O Imperador volta a

Portugal, coroando-se Rei. Economicamente o Brasil tornara-se um protetorado

inglês, éramos devedores crônicos. (SOUTO MAIOR, 1974, p. 236)

Durante os nove anos, de duração do governo regencial, as lutas sociais

foram muitas. Lutas reivindicatórias das camadas mais pobres urbanas e rurais. E

dos conflitos políticos entre as classes dominantes. Nesse período, era evidente a

importância, econômica e política, dos grupos de exportadores de café. As

camadas populares foram usadas pela aristocracia, como massa de apoio, as

lideranças populares não tinham independência, nem a preparação para

defenderem um Projeto Político que as favorecesse.

Alguns historiadores entendem que, a proposta de uma legislação, voltada

para o ensino primário, popular e gratuito, não atingiu seus objetivos, pois as

condições técnicas e financeiras eram precárias.

Muito pouco foi feito pela formação dos professores durante o Império. As

Escolas Normais, criadas na Bahia e no Rio de Janeiro, na década de 1830, não

apresentaram fruto. Durante o Império, também nada foi feito quanto ao ensino

técnico-profissional.

Um Alto Institucional (também chamado Ato Adicional), de 12 de agosto de

1834, permitiu que as Províncias legislassem sobre a instrução pública e sobre os

54

estabelecimentos próprios para promovê-la. Porém, as Faculdades de Medicina,

Academias, Cursos Jurídicos existentes e cursos que viessem a ser criados por

lei geral, estariam excluídos desta lei.

Assim, o Poder Central cuidou do ensino superior e as Províncias

promoveram, de maneira deficitária, o ensino primário e secundário.

“Ato Adicional de 1834, que foi uma das maiores aberrações na evolução da política imperial. Do ponto de vista educacional, o Ato Adicional, aprovado em 6 de agosto de 1834, e que resultou na vitória das tendências descentralizadoras, dominantes na época, suprimida de golpe todas as possibilidades de estabelecer a unidade orgânica do sistema em formação que, na melhor hipótese (a de estarem as províncias em condições de criá-los), se fragmentaria numa pluralidade de sistemas regionais, funcionando lado a lado – e todos forçosamente incompletos, com a organização escolar da União, na capital do Império, e as instituições nacionais de ensino superior, em vários pontos do território. Com efeito, pelo n° 2 do art. 10 do Ato Adicional, com que se introduziam importantes reformas na Constituição de 1824, se transferia às Assembléias Provinciais o encargo de regular a instrução primária e secundária, ficando dependentes da administração nacional e ensino superior em todo o país e a organização escolar do Município Neutro. O governo da União, a quem competia, como centro coordenador e propulsor da vida política do país, se exonerava por essa forma, segundo as expressões de Tavares Bastos, “do principal dos deveres públicos de uma democracia”, que é levar a educação geral e comum a todos os pontos do território e de organizá-la em bases uniformes e nacionais”. (AZEVEDO, 1996, pág. 555)

Após o Ato Institucional, os primeiros estabelecimentos provinciais públicos

de ensino secundário foram:

Os Liceus da Bahia e da Paraíba (1836);

E o Ateneu do Rio Grande do Norte (1835);

Em 1835 foi criada a primeira Escola Normal do país, na cidade de Niterói.

55

“A própria Constituição reformada em 1834, estabelecida, em conseqüências o fracionamento do ensino e a dualidade de sistemas: - o federal e os provinciais; aqueles e estes, forçosamente mutilados e incompletos. Um sem a base necessária; os outros, sem o natural coroamento do ensino superior, profissional ou desinteressado. A profissionalização do ensino superior, inaugurada por D. João VI, e a fragmentação do ensino, consagrada pelo Ato Adicional, deviam marcar tão profundamente, através de mais de um século, a fisionomia característica da nossa educação institucional, que se teriam de malograr todas as tentativas para alterar o curso de sua evolução (...). Foi esse estado de inorganização social que dificultou a unificação política e impediu a consolidação educacional num sistema de ensino público, se não uniforme e centralizado, ao menos subordinado a diretrizes comuns. Mas a reforma de 1834, em vez de estabelecer medidas tendentes a resolver o problema o agravou, tornando impossível a solução dentro dos nossos quadros constitucionais. Nenhuma perspectiva, daí por diante, para uma política educacional de larga envergadura. A educação teria de arrastar-se, através de todo o século XIX, inorganizada, anárquica, incessantemente desagregada”. (AZEVEDO, 1996, p. 556)

No Município da Corte o Seminário de São Joaquim transforma-se em

estabelecimento de ensino secundário com o nome de Colégio Pedro II. Esta foi a

primeira tentativa do Poder Central em organizar o ensino secundário no país. Da

sua fundação em 1837, até o final do Império, o Colégio Pedro II, passou por oito

reformas em seus estudos.

“A única instituição de cultura geral criada, desde a Independência até a República, foi o Colégio D. Pedro II, fundado em 1837 – excelente estabelecimento de ensino secundário em que ao estudantes, terminado o curso de sete anos, recebiam o grau e as cartas de bacharel em letras, depois de prestarem o juramento perante o ministro do Império que lhes punha sobre a cabeça o barrete branco da Faculdade de Letras (art. 7° do decreto de 20 de dezembro de 1843). (id,. p. 558).

56

Em 1835 na província do Grão Pará ocorreu o movimento popular

denominado a Cabanagem. As razões foram a fome, a miséria, a escravidão e o

latifúndio. Conhecidos como cabanos, pois viviam em cabanas miseráveis, eram

mestiços, negros e índios destribalizados. Foi o único movimento com raízes de

caráter verdadeiramente populares, que visava um governo do povo. Mas, em

1840, foram massacrados, cerca de 40.000 cabanos foram mortos. (SOUTO

MAIOR, 1974, p. 243)

Em 1837, na Bahia, explodiu a conspiração que levou o nome de

Sabinada. Foi uma revolta restrita às camadas médias urbanas de Salvador, junto

com algumas tropas militares. Não mobilizou a massa popular e nem a

aristocracia fundiária. Em 1838, as forças militares invadiram a Bahia e o

movimento acabou. Seus participantes foram castigados com requintes de

crueldade. O Tribunal do Júri que os julgou ficou conhecido como “Júri de

Sangue”. (SOUTO MAIOR, 1974, p. 244)

A massa de vaqueiros, camponeses e negros escravos iniciaram, em

1831/1841, um conflito no Maranhão, chamado a Balaiada. Sua maior

característica foi ser uma rebelião de massa. Inicialmente, a massa foi usada

pelos representantes da elite política, mas desvinculou-se, e iniciou sua própria

luta reivindicatória. Derrotados, pelas forças militares do governo, muitos

membros morreram, outros dispersaram em grupos pelo interior.

No Rio Grande do Sul, em 1835, aconteceu a Revolução Farroupilha ou

Guerra dos Farrapos, nome que se originou pela participação ativa dos

esfarrapados, ou seja, das camadas pobres da peonada gaúcha. A Farroupilha foi

diferente, porque sempre contou com a participação popular, em conjunto com a

liderança dos grandes estancieiros. A aliança entre a oligarquia e a massa

popular, em nenhum momento do movimento foi quebrada. Eles contestavam o

Centralismo e a política tributária do Governo Imperial. A luta durou até 1845

57

quando os rebeldes aceitaram um acordo de paz, oferecido por Caxias. (SOUTO

MAIOR, 1974, p. 245/249)

O jogo político, no período regencial, deu origem a três partidos políticos,

que disputavam entre si o poder, e se orientavam de acordo com seus interesses

de momento:

O Partido Restaurador ou Caramuru, remanescente do Partido

Português, defendia a volta de D. Pedro I ao Brasil; a instalação do Absolutismo,

eram retrógrados e reacionários;

O Partido Liberal Moderado, cujos membros na maioria, eram

pertencentes à aristocracia rural. Era a direita liberal, que defendia a monarquia

escravista, não queriam reformas políticas que tirassem seus privilégios e

exclusivismo político, um liberalismo limitado as elites;

O Partido Liberal Exaltado, composto por liberais radicais ou esquerda

liberal., que defendiam a extinção do Poder Moderador, a autonomia das

províncias, o fim do voto censitário, o fim do Conselho de Estado e do Senado

Vitalício. Apenas uma pequena parte, defendia a Proclamação da República e a

abolição da escravidão. Próximos ao povo sempre foram minoria da Assembléia.

Estes partidos, durante toda a Regência, brigaram pelo Poder. Porém,

ideologicamente, não existiam diferenças.

Em 1840, subiu ao trono D. Pedro II, após a declaração da maioridade.

Para a maioria dos políticos, a maioridade significativa a restauração do Poder

Moderador e o reestabelecimento da ordem e o final das revoltas sociais. Com

esse “golpe palaciano” o período regencial termina, começa o Segundo Reinado.

Os Liberais pressionam o Imperador para que este dissolvesse a Câmara e

convocasse novas eleições legislativas. (SOUTO MAIOR, 1974, p. 251/260)

58

Durante o Segundo Reinado, o revezamento político, entre liberais e

conservadores era conseqüência natural em um painel partidário em que ambos

representavam os interesses dos grandes proprietários rurais. A partir da década

de 1850 a grande maioria dos políticos via, como premente, a realização de

reformas econômico-financeiras, que promovessem progresso e integração

nacional. Mas, a indústria brasileira só se firma em 1850.

2.6. A influência de Augusto Comte na Educação Brasileira

Por volta de 1850, a Filosofia Positivista de Comte tornou-se uma das mais

importantes vertentes intelectuais no Brasil. As idéias foram trazidas por

estudantes brasileiros que tinham contato com a Filosofia na França. Facilmente

absorvida por intelectuais brasileiros que procuravam reagir à doutrina

confessional católica, vigente.

A doutrina positivista ganha destaque no Brasil, com debates no Colégio

Militar e depois no Colégio Pedro II e outras escolas. Esses debates possibilitam

começar a pensar a educação brasileira como um projeto para alcançar a maioria

da população brasileira.

Essa corrente filosófica foi muito importante no pensamento da época.

Importância expressa no lema da bandeira brasileira – Ordem e Progresso –, um

dos principais preceitos do Positivismo, que afirma que, para que haja progresso,

é preciso que a sociedade seja organizada.

O pensamento Comtiano refletia o imaginário social da época, suas

principais características era:

A sacratização do método cientifico, do qual faz parte a observação e

preocupação com a verdade;

Rejeição do sobrenatural, reforçando ainda mais a idéia do interesse

pela verdade;

59

2.7. A Abolição da escravatura e os Imigrantes

Em 1888, a Assembléia Geral voltava a Lei Áurea, assinada pela Princesa

Isabel. Ao escravo não tinha sido dada oportunidade de estudo. Assim, quando

livre, teve que vencer a barreira da dor, a miséria, o analfabetismo involuntário.

Com a proibição do tráfico negreiro e a abolição surgem os imigrantes. Os

encarregados de conseguir os imigrantes na Europa não tinham critérios de

seleção, aqui chegava de tudo, era trabalhadores, enfermos, velhos, foragidos, da

justiça...

Face às lutas internas na Itália pela unificação a economia daquele país

fora atingida. Os camponeses italianos imigravam em massa. O governo Imperial

tomou a seu cargo a vinda dos imigrantes, pagando-lhes a passagem,

encarregando-se de distribuí-los pelas fazendas quando aqui chegavam. (SOUTO

MAIOR, 1974, p. 258)

A vinda do imigrante europeu, com melhor nível cultural, permitiu o maior

desenvolvimento das indústrias. Porém, o aparelhamento dos portos, as estradas

de ferro, a rede telegráfica, quase tudo, pertencia aos ingleses. Os empréstimos

continuavam e as dívidas aumentavam.

Apesar de o número de escolas terem aumentado, estudar ainda era

privilégio para os ricos. Para quem não fosse fazendeiro, mas desejasse ter uma

vida razoável, só restava ser padre ou funcionário público. Os últimos, por sua

vez, desejavam um futuro promissor a seus filhos que era o de ser médico ou

advogado. Os filhos de funcionários, que atingiram as faculdades, passaram a ser

os novos intelectuais.

60

Continuamos lentos quanto à expansão do sistema escolar. A classe

dominante parecia ter o propósito de manter restritas as facilidades de ensino. No

século XIX, o marco da cultura brasileira, foi usado a expressão de Souto Maior

“sua Europeização”.

“Os estudantes do Brasil, como aliás em toda a parte, vinham da elite da sociedade – do patriarcado rural ou daquela pequena burguesia que procurava ascender às camadas superiores – dirigiam-se às aulas e aos ginásios, e daí, às escolas das profissões liberais, especialmente às duas faculdades de direito. (...) mantinham-se, no Brasil, extremamente acentuados, os desníveis culturais entre as elites e o resto da população. Esse desnível, que já é um efeito normal da civilização agrária e escravocrata, foi notavelmente elevado pelo desenvolvimento que adquiriram, no sistema escolar em formação, as escolas destinadas às profissões liberais, sem um desenvolvimento paralelo da educação das camadas populares”. (AZEVEDO, 1996, p. 562, 563)

Os escravos livres chegaram às cidades, empregaram-se nas pequenas

indústrias, no comércio, em serviços sempre mal pagos. Como não havia

empregos para todos a miséria era grande, surgiram as primeiras favelas.

“A escravatura, que desonrou o trabalho nas suas formas rudes, o ócio e estimulou o parasitismo, contribuiu para acentuar, entre nós, a repulsa pelas atividades manuais e mecânicas, (...) submeter-se a uma regra, qualquer, era coisa de escravos”. Nessa sociedade, de economia baseada no latifúndio e na escravidão, e à qual, por isso, não interessava a educação popular, era para os ginásios e as escolas superiores que afluíam os rapazes do tempo com possibilidades de fazer os estudos (...). Segundo a opinião corrente, (...) os títulos concedidos pelo Imperador, contribuíram ainda mais para valorizar o letrado, o bacharel, e o doutor, constituindo, com as profissões liberais, o principal consumidor das elites intelectuais forjadas nas escolas superiores do país. Esse contraste, entre a quase ausência de educação popular e o desenvolvimento da formação das elites, tinha de forçosamente estabelecer, como estabeleceu, uma enorme desigualdade entre a cultura da classe dirigida, de nível

61

extremamente baixo, e a classe dirigente, elevando sobre a massa de analfabetos – “a nebulosa humana desprendida do colonato” – uma pequena elite que figuravam homens de cultura requisitada e que, segundo ainda, em 1890, observada Max Leclerc, “não destoaria entre as elites das mais cultas sociedades europeias”. (AZEVEDO, 1996, p. 560, 561)

O Brasil Império era um governo feito para umas poucas famílias. A vida

cultural do Império foi uma das mais ativas. D. Pedro incentivou este movimento,

fundando escolas, patrocinando estudos de artistas brasileiros na Europa,

favorecendo associações culturais. Aqui chegaram óperas, musicas diversas,

escritores, pintores, arquitetos, cientistas, um país que se formava e se conhecia

melhor.

O Positivismo, de origem francesa, agiu de maneira decisiva na nossa

cultura, abrindo os olhos dos intelectuais para o Brasil como realmente era, e não

como eles gostariam que fosse. Era a consciência da Pátria.

As idéias do “Naturalismo” também chegarem, explicando que o homem é

um retrato do mundo em que vive, seus defeitos e qualidades encontram uma

explicação no estudo do ambiente onde nasceu e foi criado.

A estabilidade econômica, certa tranqüilidade política e o auxilio

governamental, permitiram que a Segunda Fase do Império se caracteriza-se pelo

desenvolvimento cultural. No entanto, ao final do Império, somando todos os

alunos inscritos, em idade escolar, tinham acesso á educação. O ensino primário

era ministrado na maioria dos casos, por professores leigos. Quanto ao ensino

secundário havia predominância dos cursos avulsos, de freqüência livre, com

ênfase em Humanidades. (AZEVEDO, 1996, p. 564, 565)

62

O ensino superior estava reduzido a poucas escolas isoladas, e eram

destinados à formação de profissionais liberais, especificamente no campo do

Direito.

Ao findar o Império o Brasil não tinha um sistema de ensino integrado. O

primário não tinha ligação com o secundário. E o Curso Secundário, a exceção

do Pedro II e outros poucos, não se constituíam como curso seriado ordenado.

Não haviam Universidades, e sim escola isoladas de nível superior, como as

Faculdades de Direito de São Paulo e do recife, as Faculdades de Medicina do

Rio de Janeiro e de Salvador e a Escola de Engenharia do Rio de Janeiro.

“Essa educação de tipo aristocrático, destinada antes à preparação de uma elite do que à educação do povo, desenvolveu-se no Império, seguindo, sem desvio sensível, as linhas de sua evolução, fortemente marcadas pelas tradições intelectuais do país, pelo regime de economia patriarcal e pelo ideal correspondente de homem e de cidadão. O tipo de cultura que se propunha servir não se explica apenas pela tradição colonial, de fundo europeu, que de certo modo o preparou, mas se liga estreitamente às formas e aos quadros da estrutura social que persistiram por todo o Império. De fato, com a mudança do estado político, de colônia para nação, e com a fundação, em 1822, da monarquia constitucional, não se operou modificação na estrutura da sociedade, que se manteve, como na Colônia, organizada sobre a economia agrícola e patriarcal, de base escravocrata, desde os engenhos de açúcar no Norte até as fazendas de café no Sul, já pelos meados do século XIX, em pleno desenvolvimento. Nesse regime de educação domestica e escolar, próprio para fabricar uma cultura anti-democrática, de privilegiados, a distancia social entre os adultos e as crianças, o rigor da autoridade, a ausência as colaborações da mulher, a grande diferença de educação dos dois sexos e o predomínio quase se absoluto das atividades puramente intelectuais, sobre as de base manual e mecânica, mostram em que medida influiu na evolução do nosso tipo educacional a civilização baseada na escravidão”. (AZEVEDO, 1996, p.560)

63

CAPÍTULO III

A EDUCAÇÃO NA REPÚBLICA BRASILEIRA DE

1870/1959

3.1. A PRIMEIRA REPÚBLICA (1889/1929)

Foi no plano do pensamento político, concebido na Primeira República, que

se construiu, pela primeira vez, uma representação sistemática e substantiva dos

trabalhadores, os pobres, o “povo brasileiro”, usando a linguagem dos autores

mais célebres do período. Articulada pela visão de uma sociedade fragmentada e

tendendo à decomposição diante dos imperativos históricos de mudança social.

A falta de homogeneização e identidade popular, bem como a falta de capacidade

de ação política, não é menos importante, na forma histórica desigual da

sociedade brasileira. (EDER SADER, 1989, p. 35)

“Nenhum fermento novo introduziu na massa do ensino, a não ser o que se preparava nos colégios leigos ou se formava, nos fins do Império, com o aparecimento das primeiras escolas protestantes, como a Escola Americana, fundada em 1870, em São Paulo, para o ensino elementar e a que se acrescentou em 1880, a escola secundária, ambas do Mackenzie College, ou Colégio Piracicabano (1881), para meninas, em São Paulo, e o Colégio Americano (1885), em Porto Alegre, ambos de iniciativa dos metodistas. No Brasil que começava apenas a dividir-se em duas crenças religiosas, ambas cristãs, a Igreja Romana, estreitamente ligada às origens de nossa formação social e histórica e unida ao Estado, mantinha distância, circunscrita a alguns círculos restritos, a influência do protestantismo, recém-vindo e ainda mal aclimado ao meio brasileiro tradicionalmente católico. No terreno educacional não haviam senão os primeiros contatos nem travado senão os primeiros combates as

64

concepções escolares, às duas crenças religiosas e ligadas as duas culturas, já diferenciadas, a europeia e a norte-americana: a pedagogia protestante, progressista e libertadora, que atende antes à emancipação do espírito de que a uma domesticação intelectual, e o ponto de vista católico, mais conversador e autoritário, especialmente do jesuíta que, na frase de Macaulay, “parece ter encontrado o ponto até onde se pode impelir a cultura do espirito sem chegar à emancipação intelectual”. Em toda essa obra de ensino e de cultura, que se desenvolveu num ritmo irregular, sob o influxo da iniciativa privada, o governo imperial exerceu um papel mais incentivador do que empreendedor. (AZEVEDO, 1996, p.576)

A partir de 1870, o republicanismo passou a ter representação partidária,

com a criação do Partido Republicano, que defendia a extinção do Senado

Vitalício, do Conselho de Estado e do Poder Moderador, a separação entre Igreja

e Estado; as eleições diretas; e a instalação de um Regime Republicano

Federativo que assegurasse a autonomia das províncias.

“(...) somente depois de 1870 se construíram os primeiros edifícios escolares, com os recursos de uma subscrição feita para erguer uma estátua a Pedro II e convertida, por vontade expressa do Imperador”, na construção de edifícios apropriados ao ensino das escolas primárias”. Assim, em 1872, para uma população recenseada de cerca de 10 milhões de habitantes, a matrícula geral nas escolas primárias não excedia a 150 mil alunos, e se calculava, segundo os dados oficiais, em 66,4 a porcentagem de analfabetos”. (id., p. 571)

Em 1873, na Convenção Republicana de Itu, São Paulo, nasceu aquele

que articulou a Proclamação da República, o Partido Republicano Paulista, que

dominou a vida política até 1930.

Ano de 1889, dia 15 de novembro, na Câmara Municipal do Rio de Janeiro,

dá-se o Golpe Republicano.

65

A Família Imperial foi exilada, seguindo para a Europa, a Monarquia havia

acabado. A bandeira Republicana recebeu o lema positivista – “Ordem e

Progresso”. No final do século XIX há uma grande influência dos ideais

positivistas que defendiam uma educação para todos. Os positivistas acreditavam

que a universalização da educação era a condição primordial para a evolução do

homem, com reflexos em seus direitos e garantias fundamentais. O Positivismo

procurava resolver os conflitos sociais por meio da exaltação à coesão e

harmonia entre os indivíduos e o bem-estar do todo social.

Mas, a estrutura econômica não mudou, o Brasil continuou dependente

do capital e dos mercados internacionais. Também, não aconteceram mudanças

nas relações sociais, a massa trabalhadora, rural e urbana, continuou

marginalizada. O povo ganhava mal, não podia estudar, não podia escolher seus

representantes. Quando chega a República há grandes fazendas, falta de

escolas, uma economia presa a um só produto. Quem proclamou a República,

verdadeiramente, foi a classe média (professores, militares, bacharéis), os

fazendeiros ajudaram não combatendo a propaganda republicana. A igreja foi

separada do Estado e houve a instituição do casamento civil.

“Como organizávamos as nossas escolas segundo os padrões europeus e como tais padrões presumiam níveis de educação coletiva e doméstica relativamente altos, comparados aos existentes em nossa população mais baixa, a escola, mesmo a que se designava de popular, não era popular, mas tipicamente de classe média. Não era só a roupa, e sapato, que afastavam o povo da escola, mas o próprio tipo de educação que ali ministrávamos e de que não podia aproveitar-se, em virtude da penúria do seu ambiente cultural doméstico. O “padrão europeu”, cuidadosamente mantido, servia assim para limitar a participação popular à própria escola popular. A escola primária e a escola normal prosperavam, mas como escolas de classe média; a escola acadêmica e o ensino superior ficavam ainda mais restritos, destinando-se dominantemente a grupos de classe superior alta. Abaixo dessas classes, média e superior, dormitiva, esquecido, o povo”. (ANÍSIO TEIXEIRA, 1996, p. 16)

66

Não havia mais Monarquia. Porém, quem permaneceu no poder foram os

velhos políticos, monarquistas, enriquecidos com a venda do café, tinham força

para impor suas vontades, escolhiam os presidentes. Somente quando a

exportação do café caiu, foi que perderam grande parte da força política.

Importante ressaltar que, a exploração da borracha minorou as conseqüências da

1ª crise do café.

3.2. A Constituição Promulgada em 1891

A Constituição foi promulgada em 24 de fevereiro de 1891, realizou-se nos

moldes da Constituição Norte-Americana. Estabelecia como forma de governo a

República Federativa Presidencialista. O país passava a se chamar Estados

Unidos do Brasil.

Determinava a existência de três Poderes a saber: Executivo, Judiciário e o

Legislativo. As antigas províncias forma transformadas em Estados, cada um

podendo elaborar sua própria Constituição, que não poderia, entrar em choque

com a Carta Magna. Cada Estado teria seu próprio Executivo, um governador

escolhido por eleição direta.

O Distrito Federal, no Rio de Janeiro, não possuía autonomia política, embora

tivesse seu Conselho Municipal. O Prefeito da Cidade era escolhido pelo

Presidente da república, assim como os ministros de Estado. Os Ministérios

passaram a ser em número de sete, denominados de Ministério da Guerra, da

Marinha, da Fazenda, da Justiça e Negócios Interiores, da Viação e Obras

Públicas e das Relações Exteriores. (SOUTO MAIOR, 1974, p. 309/310)

67

Uma Constituição democrática e liberal, cujos princípios básicos eram o

federalismo, o presidencialismo e o regime de representatividade extinguindo-se,

assim com, o voto censitário. Na Constituição de 1891, não houve ensino

religioso. A Carta consagrou a descentralização do ensino. Os Estados receberam

o direito de criar instituições de ensino superior, delegou aos municípios a

competência para prover e legislar sobre a educação primária.

Instaurado o Governo Representativo (1891), Federal e Presidencial, o

federalismo torna autônomos os Estados, mas as desigualdades regionais geram

distorções. São favorecidos os Estados de Minas Gerais, Rio de Janeiro e São

Paulo. Em função da influencia, exercida pelos coronéis e criadores de gado, tal

período ficou conhecido pelo nome de República Velha. Como Minas Gerais e

São Paulo prevaleciam e influenciavam as decisões políticas, alternando-se no

poder mineiros e paulistas, tal realidade foi denominada de “política do café com

leite”.

No dia seguinte da promulgação da Constituição, aconteceu a primeira

eleição presidencial no Brasil, onde foi eleito o Marechal Manuel Deodoro da

Fonseca. O antagonismo entre governo e Congresso era enorme. Deodoro

dissolveu o Congresso em 3 de novembro de 1891. organiza-se a resistência e a

ação conspiratória toma força. Em 23 de novembro de 1891, o Marechal Deodoro

renuncia, entregando a chefia do governo ao vice-presidente Floriano Peixoto.

(SOUTO MAIOR, 1974, p. 311/313)

Floriano Peixoto (1891/1894) reintegrou o Congresso. Teve apoio das

oligarquias cafeeiras, sua política econômica e social favoreceu especialmente a

burguesia brasileira e as camadas médias e populares urbanas. Abaixou os

preços dos alugueis das casas operárias, da carne, do pescado, aprovou lei de

construção de casas populares, combateu os especuladores, e perseguiu a

estabilidade dos preços dos gêneros alimentícios. Tornou-se, assim, um ídolo

68

popular, mas, suas medidas de ordem econômica e social, eram combatidas pelo

capital estrangeiro e pelas oligarquias cafeeiras. Apesar disso, Floriano consegue

apoio de uma parte da população, pela luta que promoveu contra o predomínio

inglês na economia nacional. Isso fazia com que alguns grupos o vissem como

combatente antiimperialista, apesar de ter solicitado o apoio da Marinha Norte-

Americana para reprimir revoltas internas.

Nesse período, o modelo educacional do Império, que privilegiava a

educação da elite, com enfoque nos cursos secundário e superior, é questionado.

A primeira Constituição da República propunha a gratuidade educacional, mas

não a sua obrigatoriedade. Teve um caráter Liberal-Federativo, não dedicando

qualquer recurso específico para a educação. A Educação Pública Primária ficou

sob a responsabilidade dos Estados e Municípios. A educação secundária sob a

responsabilidade dos Estados da Federação. Deixando o espaço para que a

educação fosse mantida, também, pela União e pela iniciativa privada. E o ensino

superior ficava a cargo da União. Apesar das dificuldades, com a República o

Brasil conhece um período de mudanças sociais. A imobilidade social rompe-se, e

começa, embora lentamente, a expansão do sistema escolar.

Proclamada a República, representantes do setor oligárquico modernizador,

em São Paulo, investem na criação de um “sistema de ensino modelar”. Marta

Maria Chagas de Carvalho (2000) escreve sobre o assunto:

“Tão logo proclamada a República, os governantes do Estado de São Paulo, representantes do setor oligárquico modernizador que havia hegemonizado o processo de instauração da República investem na organização de um sistema de ensino modelar. (...) em duplo sentido: na lógica que presidiu a sua institucionalização e na força exemplar que passa a ter nas iniciativas de remodelação escolar de outros estados. (...) Cumprindo essa lógica centrada na reprodução de um modelo escolar por dispositivos de produção de visibilidade

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das práticas escolares, o sistema de ensino público paulista se organiza nas duas primeiras décadas republicanas (...) É no início da década de 1920 que esse modelo paulista entra em crise. (...) A crise do modelo paulista não derivou apenas, entretanto, de mutação nos paradigmas de conhecimento. Ela foi determinada, também pelas motivações politicas, sociais e econômicas que confluíram para o chamado “entusiasmo pela educação”. O intento de expandir a escola, “nacionalizando” as populações operárias rebeldes à ordem republicana instaurada, exibirá os limites do modelo escolar paulista. No seu lugar a linguagem das cifras e a urgência das metas das providências de reforma escolar que então se inauguram, implodindo a lentidão pressuposta na lógica com o que os republicanos históricos o haviam institucionalizado. Na nova lógica, o analfabetismo é alçado ao estatuto de marca de inaptidão do país para o progresso. Erradicá-lo é a nova prioridade na hierarquia das providências de reformas educacional (...) Alçando o analfabetismo à “questão nacional por excelência” e priorizando a extensão da escola às populações até então marginalizadas é que se implanta em São Paulo a Reforma Sampaio Dória. (...) Em nome da erradicação do analfabetismo, a Reforma reduziu a escolaridade primária obrigatória de quatro para dois anos (...) Segundo essa aposta, dois anos de formação básica pareciam ser suficientes para que o aluno exercitasse as suas “faculdades perceptivas”, desenvolvendo a sua “capacidade de conhecer”. Estabelecida pelo Decreto 1.750, de 8 de dezembro de 1920 e revogada em 1925”. (p.225/9)

Em 15 de novembro de 1894, toma posse o presidente civil eleito Prudente

de Morais (1894/1898). Foi a vitória política da oligarquia cafeeira.

Nesse governo as rendas públicas da União regrediam, multiplicaram-se

os déficits orçamentários. O Governo, não era bem visto pelo exército, devido à

luta anterior com Deodoro em prol dos civis e contra os militares. Tal gestão,

embora tenha trazido mais abertura política, não freou o espírito revolucionário

que se desenvolvia no Rio Grande do Sul e também na Escola Militar. Foi neste

governo que aconteceu a destruição do Arraial do Bom Jesus, Canudo, no sertão

70

da Bahia. Canudos era visto como um movimento que tirava dos coronéis a mão-

de-obra de baixo custo do sertanejo. O movimento não pagava impostos a

Republica e interferia na vida religiosa, o arraial não precisava de padres, mas

possuía uma igreja e, embora não fosse atacada, a Igreja Católica se sentia

afetada. Assim, Canudos interferia na ORDEM da República. Então, visando

garantir o Progresso, durante o governo de Prudente de Morais, cinco mil

soldados atacaram e destruíram o Arraial. Sobre o extermínio de Canudos, Souto

Maior (1974) escreveu: A Campanha de Canudos poderia ter sido evitada com

escolas, saúde pública, ajuda econômica e assistência social. Preferiu-se a pior

solução: o extermínio pelo fogo de um pungente drama social”. (p. 319)

Nas eleições de 1898 saiu vitorioso o paulista Manuel Ferraz Campos

Salles (1898/1902), apoiado por Prudente de Morais.

A inflação galopante, a crise cafeeira, a queda do valor da moeda, a

impossibilidade de pagamento dos juros da divida ou amortização da divida

externa, fizeram com que Campos Salles renegociasse com os credores

internacionais. Em atendimento as exigências dos banqueiros, foram retiradas

moedas de circulação, houve contenção das despesas governamentais, foi

determinada a redução do credito, o cancelamento de obras públicas, o aumento

de arrecadação com criação de novos impostos, ainda, o aumento das alíquotas

existentes.

Para inibir as oposições oligárquicas, Campos Salles cria a Política dos

Governadores, que consistia numa troca mútua de favores, entre o Governo

Federal e os Governos Estaduais. O Presidente apoiava os Governadores, estes

apoiavam a política do Presidente. O resultado dessa política foi a supremacia

das oligarquias cafeeiras de São Paulo, representadas pelo Partido Republicano

Paulista. E de Minas Gerais, pelo Partido Republicano Mineiro, conhecida como

política do café-com-leite que durou até 1930. (SOUTO MAIOR, 1974, p. 32)

71

Em 1900, o percentual de analfabetos no país era de 75%, segundo

informação do Anuário Estatístico do Brasil, do Instituto Nacional de Estatística. A

Primeira República teve várias tentativas fracassadas de reformas educacionais,

destacando-se a de: Benjamin Constant, Rivadávia Corrêa em 1911, Carlos

Maximiliano em 1915, Rocha Vaz em 1925, de João Luiz Alves.

A República não correspondeu aos anseios do povo, massa alienada,

dependente dos granes latifundiários, seus votos eram “cabrestados” pelos

coronéis. Eram os votos de cabresto que faziam com que as grandes oligarquias

se eternizassem no poder. Em troca de absoluta fidelidade, o senhor de terra

cedia a seus eleitores agregados terras para o cultivo, condução, roupa, ajudava-

os nas doenças, protegia-se nas contendas jurídicas e policiais. Para os amigos e

parentes havia distribuição de cargos na Administração Pública, empréstimos,

livrava-os da ação da Justiça e Tributária. As eleições eram fraudadas

registrando-se votos de pessoas inexistentes (eleições a bico de pena).

A queda vertical dos preços gerou uma crise séria na economia cafeeira,

no governo Prudente de Moraes, que atravessou a Presidência de Campos Sales

e alcançou Rodrigues Alves (1902/1906).

Afonso Pena (1906/1909), com sua política de valorização do café, garantiu

a elevação dos preços evitando o colapso econômico. As cidades se

modernizaram, prosperaram com a abertura de novas industrias. Afonso Pena

morreu durante o mandato, foi substituído pelo Vice-Presidente Nilo Peçanha, no

período de 1909/1910. (SOUTO MAIOR, 1974, 325/6).

Assume a presidência Hermes da Fonseca (1911 até 1914), aliado das

oligarquias baianas. Em seu governo caiu o saldo das exportações cafeeiras,

houve aumento de emissão de papel moeda, novos empréstimos no exterior

foram contraídos.

72

Com sua situação econômica instável torna-se Presidente Venceslau Brás

(1914/1918). Porém, a Primeira Guerra Mundial, durante o seu governo,

possibilitou aos industriais brasileiros, a criação e ampliação das industrias, para

suprir o mercado interno, face à queda das importações dos produtos

industrializados internacionais. Terminada a Primeira Guerra Mundial surge uma

burguesia industrial e urbana e, gradativamente, há uma mudança do modelo

econômico agrário. (SOUTO MAIOR, 1974, p. 330)

Em 1918, o ex-presidente Rodrigues Alves, candidato da oligarquia café-

com-leite, é eleito. Mas, morreu antes da posse, sendo substituído pelo Vice-

Presidente Delfim Moreira, que convocou novas eleições, da qual saiu vitorioso

Epitácio Pessoa, da Paraíba (1919/1922). Coerentemente com a economia do

pós-guerra, o dólar passou a substituir a libra, como padrão internacional, para a

conversão da moeda brasileira. Os Estados Unidos substituíram a Inglaterra na

subordinação econômica do Brasil. Os gatos excessivos aumentaram os déficits

orçamentários. A oposição ao presidente Epitácio Pessoa cresce.

Nos anos de 1920, há o crescimento da industrialização e da urbanização,

um grupo de intelectuais brasileiros se interessam pela educação. Vista como

elemento central para mudar o país. Inspirados nas idéias políticas de igualdade,

do direito de todos à educação, defendiam um sistema estatal de ensino público

livre e aberto, como o único meio efetivo de combate às desigualdades sociais.

Foi o movimento chamado de Escola Nova. Movimento de ruptura, que promoveu

novas formas nos saberes e fazeres a educação. A respeito do assunto Diana

Gonçalves (2000) escreveu:

“As mudanças operadas nas práticas e nos saberes escolares nos anos 20 e 30 ocorriam em função de um conjunto de preocupações. Por um lado, os educadores renovados pretendiam acompanhar as discussões teóricas e as inovações práticas realizadas na educação europeia e norte-americana. Nesse sentido, não apenas liam textos estrangeiros como empreendiam esforços para tornar a

73

bibliografia internacional acessível ao magistério público brasileiro, por meio da tradução e publicação no Brasil de várias obras (...). Mas essas preocupações não se resumiam a apresentar e discutir o pensamento exógeno. Adaptar as teorias estrangeiras à realidade nacional e produzir investigações sobre as características da escola, da criança e do adolescente brasileiro eram outros interesses manifestados pelos “escolanovistas” (...) Pretendiam, além de consultar especialistas para debate de questões pedagógicas, detectar aspectos quantitativos da escolarização no Brasil. Censos sobre a população em idade escolar foram apenas um exemplo. Estava claro para os educadores renovados que se para muitos países a escola já representava a incorporação de largas parcelas da sociedade, no Brasil ela era ainda insipiente, alcançando a alfabetização apenas 20% da população nacional. Estender para todo o território nacional as condições materiais e técnicas da escola de massas era o grande desafio que associava as largas dimensões do Brasil à sua diversidade cultural e populacional. Terra de imigrantes, educar o Brasil significava, para além de nacionalizar o estrangeiro, “abrasileirar o brasileiro”. (...) O método de projetos, ainda, organizava diferentemente o espaço escolar. As carteiras fixas, substituídas pelas móveis, abandonavam a ordenação em fileiras e buscavam, na associação, oferecer condições para o trabalho em grupo”. (p. 512/515)

A década de 1920 apareceu dentro de uma nova perspectiva histórica, os

setores cultural, econômico, social e político da vida brasileira entraram em crise,

bem como a educação elitista.

Na política, em 1922, assumiu Artur Bernardes (até 1926). O Brasil, neste

período, viveu em permanente estado de sítio. Foi um grande antidemocrático,

repressivo.

Surgi uma “classe média”, de características semi-aristocrática e semi-

feudal, que exigi uma educação acadêmica peculiar a da classe alta. Segundo

Anísio Teixeira (1962), “o ideal professado da expansão das oportunidades

educativas, ao invés de promover a educação real de um número maior de

74

indivíduos, determinou a degradação das próprias formas destinadas à

perpetuação da elite tradicional”. (p. 18)

Manteve-se, no ensino as leis antigas, elaboradas através de padrões de

estudos complicados, visando impedir a expansão. Era a educação apenas

formal, não havendo preocupação com a educação real. (TEIXEIRA, 1962, p. 16)

Nesse sentido, Anísio Teixeira (1962), afirma:

“Tratava-se de pura e simples burla, burla de currículos, burla de professores, burla de alunos. A educação fez-se um ritual, um processo de formalidades, como se tratasse de algo convencional, que se fizesse legal pelo cumprimento das formas prescritas”. (p. 18)

De 1926/1930 comanda o país Washington Luiz, que compõe um ministério

fraco e inerte, concentrando o poder em suas mãos. A Revisão Constitucional de

1926, legitimou a intervenção do Estado na educação e deu origem a Comissão

de Legislação Social da Câmara. O governo criou uma nova moeda o “cruzeiro”.

Sua política, de câmbio baixo e estável, favorecia os cafeicultores que o

apoiavam. Foi deposto pelo Almirante Isaias de Noronha, e pelos generais

Augusto Tasso Fragoso e João de Deus Menna Barreto. Foi detido e exilado para

a Europa.

Em “Reforma da Instrução Pública”, a autora Maria Marta Chagas de

Carvalho (2000) escreveu:

“Anísio Teixeira é convidado, em 1926, pelo então governador da Bahia, para reformar a Instrução Pública no estado. Filho de importante família da oligarquia baiana, Anísio era um jovem egresso do Colégio Jesuíta de Salvador que, a partir da leitura do livro de Omer Buyse, começa a rever suas convicções pedagógicas, até então batizadas pela ortodoxia católica. (...)

75

A Reforma empreendida por Anísio Teixeira, na Bahia, é politicamente respaldada pela mesma critica ao “fetichismo da alfabetização intensiva”, que se tornara lema de campanha educacional promovida pela ABAE e plataforma politica das iniciativas governamentais de reforma dos sistemas de instrução pública dos anos 20. Na lógica da reforma baiana, era preciso superar a solução paulista para o problema da educação popular, expressa nas medidas da Reforma de Sampaio Dória. Isso porque o problema do ensino na Bahia era o todo o país: “a mesma vastidão da terra, o mesmo disseminado da população diversa e desassimilada, o mesmo número vertiginoso de analfabetos” e as mesmas limitações de ordem econômica (...) É assim que, o mole escalanovista “educar para a vida” ganha, para Anísio Teixeira, um significado peculiar, que ressignificava a tópica da adaptação da escola ao meio, articulada nas críticas à “escola alfabetizante”. Sua crítica à “noção de educação como ajustamento estático em um ambiente fixo e sua concepção de educação com processo de continua transformação, reconstrução e reajustamento do homem ao seu ambiente social móvel e progressivo” marcavam distância relativamente às concepções dominantes no movimento educacional”. (p. 242)

Na área política e econômica nossa estabilidade foi afetada pela depressão

econômica mundial iniciada com o crack da Bolsa de Nova York, em 1929. Para o

Brasil, suja economia se assentava na agroexportação do café, os efeitos foram

de desmantelamento da referida estabilidade política e econômica. Justamente

em 1929 começa a campanha sucessória.

Júlio Prestes, com apoio oligárquico, vence as eleições. Contudo, os jovens

políticos, civis e tenentes, como Oswaldo Aranha, Lindolfo Collor, Assis Brasil,,

Juarez Távora, Siqueira Campos e outros, contestaram o resultado das eleições e

articularam a revolução.

Na República predomina a escola tradicional. Uma aprendizagem

mecânica, os conteúdos e valores sociais eram absolutos, inquestionáveis. Em

uma concepção, puramente industrial, os objetivos do ensino estavam voltados

para a preparação do indivíduo, visando atender ao mercado de trabalho. Um

76

ensino de conteúdos, que objetivavam a reprodução, mas não a transformação e

o progresso. Esse modelo de escola tradicional permaneceu durante todo o

período da República Velha.

Em 1930 chegava ao fim da República Velha, uma nova etapa surgia: a

Era de Vargas. Com a Revolução de 1930, e a tomada do poder, por Getúlio

Vargas começou a Segunda República.

3.3. O Período da Segunda República

A década de 1920 trouxe a Semana de Arte Moderna, onde alguns de

nossos intelectuais buscaram um modelo cultural genuinamente brasileiro,

defendendo a libertação dos modelos culturais europeus. A quebra da Bolsa de

Nova York (1929), abalou o mundo e desencadeou a crise do café no Brasil. Uma

década que presenciou a reação que levou ao crescimento interno e criou

oportunidades para a industria brasileira. Tudo isso favoreceu a Revolução de

1930, responsável por transformações que provocaram o avanço do processo

educacional brasileiro. Mas, os ideais republicanos foram frustrados, em outubro

de 1930, com apoio da classe média, instalou-se o governo provisório sob a

presidência de Getúlio Vargas.

A Revolução de 1930 nasce com a idéia de reconstrução da nação. Cada

segmento tinha o seu projeto de educação. Correspondente à entrada do país no

mundo capitalista de produção, gerando a necessidade de industrialização.

Porém, falta mão-de-obra especializada, o que exige investimentos em educação

objetivando atender às necessidades da produção industrial. A partir de 1930,

fundou-se muitas escolas e universidades. Começaram reformas públicas

importantes com a modificação do Código Eleitoral, introduzindo o voto secreto e

o voto feminino, a Justiça Eleitoral a quem coube regulamentar as eleições.

77

Também em 1930, é criado o Ministério da Educação e Saúde, órgão

incumbido de estruturar a universidade e fazer as reformas de âmbito nacional.

Assumiu a pasta o mineiro Francisco Campos, que decretou a organização da

Universidade do Rio de Janeiro e a criação do Conselho Nacional de Educação

do Ensino Secundário e Comercial. Ações e decretos que ofereceram uma nova

orientação, favorecendo a pesquisa, a difusão da cultura e uma maior autonomia

didática e administrativa. Inspirado nos ideais da Escola Nova defendeu idéias

modernas sobre educação, tais como: escola única, escola do trabalho e escola-

comunidade (ou escola do trabalho em cooperação).

3.4. Escola Nova

No Brasil, até o século XIX, a educação refletia o pensamento religioso da

igreja católica, a chamada Pedagogia Tradicional, nascida e sistematizada no

contexto da Revolução Francesa (1789). Politicamente destinava-se à

equalização social, através de indivíduos, preparados em condições iguais para

que pudessem defender seus direitos em sociedade. Perspectiva consagrada na

legislação burguesa expressa na frase “todo cidadão tem direito ao ensino”. Tal

garantia, porém, nunca foi cumprida integralmente. A Burguesia, no poder

descobriu que a escola era revolucionária. A equalização social negava o domínio

e a hegemonia burguesa.

Nos anos de 1930, ganhou força o Movimento da Escola Nova, com a

divulgação, em 1932, de um Manifesto. O documento pregava a universalização

da escola pública, laica e gratuita, de bandeiras de conteúdo liberal, pautada pelos

princípios pedagógicos renovados, inspirados nas teorias de Dewey e Kilpatrick, é

neste documento que encontramos as idéias mais fecundas para a educação no

Brasil.

78

Foi um grupo de 26 educadores que procederam ao lançamento do

Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova: A reconstrução educacional no

Brasil. Neste documento foram propostas e defendidas muitas soluções para a

educação brasileira, deu origem a todas as leis fundamentais da educação

nacional.

O Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova foi redigido por Fernando

Azevedo (responsável pela reforma do ensino em São Paulo nos anos 1930).

Congregava uma sistematizada concepções pedagógicas, abordando filosofia da

educação, formulação pedagógica e didática e política educacional. Entre os

nomes que o assinaram estavam também: Anísio Teixeira (mentor de duas

universidades a do Distrito Federal, no Rio de Janeiro, desmembrada pela

Ditadura de Vargas, e a de Brasília, na qual era Reitor quando aconteceu o golpe

militar de 1964), o professor Lourenço Filho, Cecília Meirelles entre outros. Muitas

vezes foram criticados pelos que defendiam a escola particular e religiosa.

Alem do Manifesto ser uma matriz para a Lei de Diretrizes e Bases da

Educação Nacional, são marcantes as influências das idéias de Anísio Teixeira na

defesa da escola pública e seu entendimento de que a revolução no Brasil tinha

que se operar através de uma revolução da educação.

A Escola Nova surge na tentativa de superar a rigidez da Escola Tradicional.

Apresenta uma nova maneira de interpretar a educação. Valoriza os jogos, os

exercícios físicos, as práticas de desenvolvimento da psicomotricidade, da

percepção, dos sentimentos, da biologia... De inspiração filosófica fundamentada

nas contribuições da Biologia e Psicologia. A Pedagogia da Escola Nova trabalha

com as diferenças individuais.

De 1930/1960 o ensino avançou com o movimento da Escola Nova,

representando o mais vigoroso movimento de renovação da educação no país.

79

O sucesso da Escola Nova foi perdendo sua força, não conseguindo se fixar

totalmente no dia-a-dia escolar. No entanto, ainda hoje, as idéias da Escola Nova

nos servem de fonte de inspiração pedagógica. Como toda teoria que se

apresenta discutindo a visão do mundo tradicionalizada, a Escola Nova recebeu

muitas criticas.

3.5. Constituição Promulgada de 1934

Convoca-se a Assembléia Constituinte que elaboraria a Constituição

promulgada em 1934. Onde foram estabelecidas novas leis favorecendo o

trabalhador. Primeira Constituição, após a Revolução de 1930, estabeleceu a

responsabilidade solidária da família e dos Poderes Públicos, atribuindo

competência aos Estados e ao Distrito Federal (10% de investimento na

educação). Foi a primeira Constituição a dedicar artigos a formação de um

“Fundo para a Educação”. Pioneira em apresentar percentuais de gastos

públicos com a educação (art. 156). Em seu artigo 157, criou os “Fundos

Especiais” de educação, formados pelos patrimônios territoriais, as sobras das

dotações orçamentárias, doações, percentuais sobre as vendas de terras públicas,

taxas especiais.

A Carta Magna, de 1934, reintroduziu o ensino religioso, mas de caráter

facultativo e confessional. A liberdade de ensino tornou-se principio

constitucional. Pela primeira vez aparece o direito Constitucional de educação,

para todos.

Porém, o advento do Estado Novo ceifou a Constituição de 1934. Após três

anos de sua promulgação, sem que os brasileiros pudessem colher os frutos dos

“Fundos Especiais para a Educação”. Assim como a educação como direito de

todos (esse direito somente reaparecerá em 1946).

80

3.6. Constituição Outorgada de 1937 – Período do Estado Novo

(1937/1945)

As tendências autoritárias (fascistas) marcam o novo período de nossa

República. Getúlio implanta a ditadura e, em 1937, é outorgada nova Constituição

e dissolvido o Congresso.

Estabelecida a Ditadura do Estado Novo a participação popular é impedida.

“A educação integral da prole é o primeiro dever e o direito natural dos pais. O Estado não será estranho a esse dever, colaborando de maneira principal ou subsidiária, para facilitar a sua execução de suprir as deficiências da educação particular” (art. 125, da Constituição Brasileira de 1937).

Na área educacional há um retrocesso. Como bem expressa Ghiraldelii

(2003): “A Constituição Federal de 1937 fêz com que o Estado assumisse uma

posição subsidiária em relação ao ensino, sem obrigação de manter ou expandir o

ensino público, até mesmo a gratuidade do ensino foi prejudicada”. (p. 83)

A política educacional virá estruturada na “Leis Orgânicas de Ensino”.

Reforma denominada “REFORMA GUSTAVO CAPANEMA”. Reforma

Educacional, onde o ensino secundário tinha uma dupla função: formação geral e

preparação para o ensino superior, mostrando a estrutura do ensino secundário

com sete amos de duração no total (semelhante aos objetivos da reforma de

Francisco Campos, em 1931).

A política implantada para Educação, através das Leis Orgânicas é

caracterizada pela diferença entre a escola para elite e a escola de natureza

profissional para os oriundos das camadas sociais populares. Ficando o acesso

ao Ensino Superior restrito a quem fazia o Colegial. O Normal só permitia o

81

acesso ao Curso de Filosofia; o Técnico Industrial aos Cursos Superiores

Técnicos.

Houve a criação do Técnico de 2º Ciclo (equivalente ao atual nível médio).

Os educadores inspiraram-se no fato de, nas Forças Armadas, existir a figura do

sargento, coordenando as tarefas rotineiras e que servia de elemento de ligação

entre soldados e oficiais. O que propiciava ao oficial as tarefas nobres. Em

decorrência de tal fato, entenderam que, na indústria e no comércio, deveriam

dispor de técnicos de natureza semelhante, daí a criação dos Cursos Técnicos.

Em 13 de janeiro de 1937, foi criado o INEP – Instituto Nacional de Estudos

Pedagógicos. Sua principal função era a pesquisa, para orientar a formulação de

políticas públicas e para atuar na seleção e treinamento do funcionalismo público

da União.

Em 1937, a economia brasileira voltou-se para o algodão. O governo

estimulou novas indústrias. Nossa siderúrgica é inaugurada em 1941. Começam

as obras da Hidrelétrica de São Francisco. Criou-se a Lei do Usucapião. Os

índices orçamentários para a Educação foram suspensos, e foi criado o “Fundo

Nacional do Ensino Primário”, em 1942. Ficou estabelecido o comprometimento

dos Estados e Municípios, permitindo a cooperação financeira da União, nos

limites dos recursos do Fundo. Porém, o regime autoritário não permitiu o

conhecimento dos resultados obtidos pelo Fundo.

O ensino técnico-profissional era um seguimento destinado às classes

menos favorecidas, passando a ter uma legislação própria para regulamentá-los:

Decreto-lei 4.073, de 31 de janeiro de 1942, tratava do ensino industrial;

Decreto-lei 6.141, de 28 de dezembro de 1943, que versava sobre o

ensino comercial, ou seja, regulamento o ensino comercial;

82

Decreto-lei 4.984, de 21/11/1942, prescreve que as empresas oficiais

com mais de cem empregados deveriam instalar e manter uma escola de

aprendizagem para formação profissional de seus aprendizes;

O Decreto – Lei 4.048, de 22 de janeiro de 1942, criou o SENAI –Serviço

Nacional de Aprendizagem Industrial, destinado a formação de mão-de-

obra de operários das indústrias;

16 de Julho, do ano de 1942, o Decreto-Lei nº 4.481 dispôs sobre a

obrigatoriedade dos estabelecimentos industrias empregarem um total de

8% do número de operários e matriculá-los nas escolas do SENAI;

Em 7 de novembro, daquele ano, é ampliado o âmbito do SENAI,

alcançado os setores de transportes, das comunicações e da pesca,

através do Decreto-Lei nº 4.436.

A ditadura durou 8 anos, com uma campanha nacionalista.

3.7. Constituição Promulgada de 1946 – Período da Quarta República

(1946/1964)

A partir de 29 de outubro de 1945, chega ao fim o Estado Novo. A

Assembléia Constituinte é formada. Em 1946 é promulgada uma Nova

Constituição. Uma Constituição de cunho liberal e democrática. Apesar disso, no

entanto, o Partido Comunista Brasileiro é casado em 1947. O General Dutra

preside o país de 1946/1950, com uma política conservadora.

O art. 169, da Constituição Brasileira de 1946, recolocou a questão dos

índices orçamentários para os gastos com a educação pela União, Estados e

Municípios. Porém, a Assembléia Constituinte não reiterou a criação dos “Fundos

Especiais”.

83

Novos Decretos-Lei são publicados:

Decreto-lei 8.530, de 02 de janeiro de 1946, cuidava do ensino

normal ;

Decreto-lei 9.613, de 28 de agosto de 1946, era dirigido ao ensino

agrícola;

pelo Decreto-lei 8.621, o SENAC é criado em 10 de janeiro de

1946.

A política é marcada por disputas de ordem partidária, o PTB de

origem getulista; o PSD oligárquico com bases agrárias; a UDN com idéias

antigetulistas. Assim, a educação sofre os efeitos das diferentes ideologias, a

discussão da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional dura de 1948 até

1961.

Getúlio retorna ao poder (1951/1954) e nacionaliza o Petróleo. Em 1954

Getúlio suicida-se. A crise torna-se aguda, o impacto do fato provoca grande

comoção popular.

Ano de 1955, novas eleições, Juscelino Kubitschek, é eleito presidente.

Um político conciliador e popular. Implanta uma política nacionalista

desenvolvimentista, assumindo como lema a frase “50 anos de progresso em 5”.

Funda novas industrias, sobretudo de automóveis. Leva avante as obras das

hidrelétricas de Furnas e Três Marias. Constrói estradas e a nova Capital Brasília.

As dividas também aumentam.

O governo de Juscelino, no plano político, deu força ao nacionalismo; no

entanto, no plano econômico desnacionalizou o processo de industrialização

acelerando a entrada, no país, das grandes empresas internacionais, visto que as

indústrias de consumo durável requeriam um alto investimento para sua

84

implantação. Era um modelo de Estado Nacionalista-Desenvolvimentista, com um

discurso político nacionalista e uma prática econômica internacionalista.

Novas eleições, Jânio Quadros é eleito Presidente com um número

expressivo de votos. No entanto, permanece no poder por apenas 6 meses,

apresentando sua renuncia em agosto do ano de 1961, alegando “forças ocultas”.

Durante o período de sua gestão houve aumento do custo de vida e um

empréstimo foi solicitado ao FMI.

3.8. Os “dois-Brasis”

A atenção para as camadas sociais populares aparecem na academia

através da temática da modernização, que exprimia, nos anos de 1950, a

sensação coletiva de uma transição entre sociedade pobre, atrasada e desigual,

para uma sociedade industrializada, urbanizada e universal.

A possibilidade de reflexão, vem de uma questão que se situa fora dessas

camadas, fora de suas relações sociais concretas e vividas. O descompasso

temporal e espacial da mudança social do país produziu a célebre imagem dos

“dois-Brasis”, onde:

Uma imensa parte da sociedade brasileira continuaria a se reger por

prescrições tradicionais, regionalidade, distribuídas por critérios rígidos

de participação familiar, por sexo, por parentesco, por prestigio local;

E outra parte desta sociedade já tinha entrado decisivamente na

modernidade e nos critérios mais universais de orientação.

Na década de 1950, uma das principais tarefas executadas pelo INEP –

Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais, foi a realização de

levantamento sobre as condições de ensino em cada uma das unidades

federativas.

85

Até a década de 1950 as raras creches existentes eram de responsabilidade

de entidades filantrópicas, pertencentes a Igreja e, principalmente, a religiosos. O

atendimento assistencial-protetoral era a finalidade do trabalho desenvolvido. A

maior procura por creches vinha por parte as operárias, empregadas domésticas,

comerciarias e funcionárias públicas, face a ampliação da indústria e a

urbanização crescente, fatores que propiciaram a entrada da mulher no mercado

de trabalho.

86

CAPÍTULO IV

A REPÚBLICA DA DÉCADA DE 1960 AOS DIAS

ATUAIS

A partir da década de 1960 o marco da educação brasileira é PAULO

FREIRE. Ele criou o método que foi utilizado no nordeste e revolucionou o

pensamento anterior de educação modeladora de indivíduos. O Método Paulo

Freire utiliza as experiências dos alunos como elemento base para a educação.

Método que logrou sucesso na educação para adultos do Rio Grande do Sul.

Também a formação profissional passou por transformações, sofreu uma

expansão, de quantidade e de qualidade, face às mudanças no contexto histórico-

social.

Período em que merece destaque, ainda, a entrada em vigor da Lei 4.024,

a nossa primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, que criou

“Fundos de Ensino”. A LDB define e regulariza o sistema de educação no Brasil.

Seu objetivo é possibilitar aos sistemas de ensino a aplicação dos princípios

educacionais constantes da Constituição Federal. A Lei de Diretrizes e Bases da

Educação Nacional, promulgada em 1961, durante 13 anos foi discutida no

Congresso Nacional.

A LDB continha as reivindicações da Igreja católica e donos de escolas

particulares, prevalecendo sobre os interesses dos que defendiam o ensino

público e oferta de educação aos brasileiros. Houve a ampliação da luta por uma

escola pública gratuita. Aconteceram movimentos e campanhas em prol de

educação popular e da alfabetização de adultos.

87

A Lei alterou a estruturação do ensino, onde o primeiro ciclo de ensino

médio não era voltado para a formação profissional, quem precisasse trabalhar

poderia optar pelo aperfeiçoamento profissional. Qualquer alternativa no 2º Ciclo

do ensino médio permitia o acesso ao ensino superior. Quanto aos conteúdos

curriculares, houve alguma diversificação, conforme a preferência dos

estabelecimentos em relação a matérias optativas. Passou a ser permitindo que,

na 3ª série do Colegial, o currículo possibilitasse a diversificação, preparando o

educando para o Curso Superior.

4.1. Período Militar (1964/1985)

Em 1964, João Goulart é deposto pelo Golpe Militar. Para governar é

escolhido o Marechal Humberto Castelo Branco.

A vida política brasileira se modifica muito a partir do movimento de 1964, o

golpe militar bloqueia as tendências educacionais, fruto das idéias de Anísio

Teixeira, Fernando Azevedo, Lourenço Filho, Carneiro Leão, Darcy Ribeiro,

Armando Hildebrand, Paschoal Lemme, Paulo Freire, Lauro de Oliveira Lima,

Dumerval Trigueiro, entre outros. A educação passa a ser tecnocrata, baseada

nas idéias expostas na Teoria do Capital Humano. Foi grande a perseguição a

educadores devido as suas convicções ideológicas (exílio, prisão, demissão...).

Há mudança política, ampla, a partir do movimento de 1964. É editado o

Ato Institucional nº 1, que mantem a Constituição de 1946 em vigor, porém,

estabelece normas para projetos de emenda constitucional, bem como projetos

de lei referentes à despesas públicas; outorga poderes ao presidente para

decretar Estado de Sítio; suspende as garantias de estabilidade e vitaliciedade;

estabelece normas para punição de funcionários públicos e a possibilidade de

cassação de mandatos.

88

“A Revolução vitoriosa se investe no exercício do Poder Constitucional. Este se manifesta pela eleição ou pela revolução. Esta é a forma mais expressiva e mais radical do Poder Constituinte. Assim, a revolução vitoriosa, como o Poder Constituinte, se legitima por si mesma. Ela destitui o governo anterior e tem a capacidade de construir novo governo”. (Preâmbulo do A. I. nº 1)

No cenário político reforma-se o processo eleitoral, são as eleições

indiretas.

Em nome da modernidade é firmado o acordo MEC/USAID (Conselho de

Cooperação Técnica de Aliança para o Progresso – United States Agency

International for Development) para assessoria no ensino primário com a vinda de

técnicos americanos.

Castelo Branco cassou os direitos políticos de 378 pessoas, inclusive os

três ex-presidentes (Kubitscheck, Goulart e Quadros), seis governadores, 55

membros do Congresso, diplomatas, lideres trabalhistas, oficiais discordantes,

intelectuais e funcionários públicos. No mês de julho de 1964, o mandato de

Castelo Branco, que deveria se expirar em janeiro de 1966, foi prolongado até

março de 1967.

Em 1965, o acordo MEC/USAID (Conselho de Cooperação Técnica de

Aliança para o Progresso) alcança o ensino médio, com objetivo de melhorá-lo.

Prevendo assessoria técnica americana para o planejamento do ensino e

treinamento de técnicos brasileiros nos Estados Unidos.

Castelo Branco, no ano de 1966, baixou o 2º Ato Institucional.

Com o Ato Institucional nº 2 os partidos políticos foram dissolvidos, o Poder

Executivo teve em mãos poderes extraordinários.

89

4.2. Constituição Promulgada de 1967

Em 24 de janeiro de 1967 foi promulgada pelo Congresso Nacional uma

Nova Constituição, posteriormente modificada pela Emenda Constitucional de 17

de outubro de 1969.

Essa nova Lei Magna institucionalizou o movimento de 1964.

O autoritarismo militar de 1964 faz com que, da Constituição de 1967, deixe

de constatar os “Fundos Especiais” para educação. A única verba específica para

a educação teria sua origem na Lei 4.440/64 que havia estabelecido o Salário-

Educação, mas face ao regime tal verba não tinha sua aplicação fiscalizada pela

sociedade.

Como consequência da tomada do poder pelos militares o Programa

Nacional de Alfabetização é extinto.

Março de 1967 sobe a presidência o Marechal Arthur da Costa e Silva. Ele

praticamente manteve o regime de Castelo Branco.

Em dezembro de 1968 é decretado o Ato Institucional nº 5, ao lado do Ato

Complementar nº 38. O Congresso entra em sucesso, novas cassações são

feitas, o controle retorna ao Executivo.

O Ato Institucional nº 5, de 1968, coexistiu com a Constituição de 1967.

Permitindo que, o Presidente da República, suspendesse direitos políticos e

cassasse mandatos eletivos de qualquer cidadão, sem as limitações da

Constituição que retifica a inviolabilidade dos membros do Congresso Nacional.

Decretasse o recesso da Assembléia Nacional, das Assembléias Legislativas e da

Câmaras de Vereadores; também é decretada a intervenção federal nos

90

municípios e Estados, sem limite previsto na Constituição. Decretasse ainda o:

estado de sítio; os confinamentos; limitações para a atividade política dos

cassados; passa a ser possível a demissão, aposentadoria ou até remoção de

juízes ou pessoas que gozassem das garantias de inviolabilidade, vitaliciedade ou

estabilidade; é viabilizado o confisco de bens; censurasse jornais, rádios e

televisões; o Poder Judiciário é impedido de se manifestar sobre qualquer ato

baixado com base na legislação excepcional; passa a ser proibida a concessão

de habeas Corpus às pessoas processadas por crime político.

A Lei 5.540/68 fixou as normas de organização e funcionamento do ensino

superior e sua articulação com o Ensino Médio. Foi a Reforma Universitária

levada a efeito pelos governos militares.

Costa e Silva foi afastado do poder, em 31 de agosto de 1969, por motivos

de saúde. Em seu lugar, subiu ao poder uma Junta Militar.

Junta Governativa que promulgou a Constituição de 1969. Parece a

vinculação orçamentária e dos fundos educacionais. A Emenda nº 1, de 1969,

limitou-se a obrigar a aplicação de 20% da receita tributária municipal no ensino

primário (artigo 15). Preservando, apenas, a vinculação para os Municípios.

Foram 17 anos sem exigência mínima para utilização de recursos financeiros na

educação nacional.

Foi fechada a União Nacional dos Estudantes (UNE); e criado os Diretórios

Acadêmicos, no âmbito de cada curso, e um Diretório Central no âmbito da

Universidade. No entanto, através do Decreto-Lei nº 477/69, ficou proibido que

professores, alunos e funcionários fizessem manifestações de caráter político.

91

Em outubro de 1969 assume a Presidência da República, o General Emílio

Garrastazu Médici, antigo diretor do Serviço Nacional de Informações. Um

governo com cunho patriótico e nacionalista.

No período do Governo Médici há prioridade para a economia em

detrimento dos temas políticos. A politica educacional ficou atrelada a politica do

desenvolvimento.

Na década de 1970, há aumento do numero de vagas. A rede pública

passa a absorver os que estavam marginalizados e excluídos do sistema. Era a

democratização da escola pública. No entanto, quantidade não significa

qualidade. A segunda restou prejudicada, pois faltavam recursos materiais,

humanos e técnicos. Os recursos disponíveis não eram suficientes para suportar

a inclusão daqueles que, até ali, estavam excluídos do processo. Tal quadro

resultou em aumento do índice de evasão, repetência, fracasso e frustração,

inclusive para os docentes.

Durante o governo militar, o tema do analfabetismo no Brasil foi objeto de

uma grande campanha nacional, o Movimento Brasileiro de Alfabetização

instituído pela Lei 1.124/70.

O MOBRAL foi um programa sem finalidade lucrativa para os investidores.

Pela Lei, tanto as pessoas físicas como as pessoas jurídicas, ficavam autorizadas

a deduzir 1% de seu Imposto de Renda para um programa que visava diminuir, e

até extingui, o analfabetismo no Brasil. A campanha buscava mobilizar as

comunidades locais para a eliminação do analfabetismo de adultos no país. O que

ocorria através de cursos intensivos, inspirados na metodologia de Paulo Freire.

A partir da década de 1970 a Escola Tecniscista ganha força no Brasil.

Partindo da premissa de que, a melhor forma de adaptar o indivíduo à sociedade

92

é treiná-lo, para obter uma profissão adequada ao mercado de trabalho. É a

formação de mão-de-obra especializada.

O chamado, “milagre brasileiro”, amplia e diversifica o processo produtivo

brasileiro. Incentiva as reformas educacionais, com a profissionalização aliada a

educação formal, em nível de ensino fundamental e superior. É o surgimento, na

década de 1970, dos cursos de terceiro grau com objetivo de atender à

necessidade de mão-de-obra operacional.

Em 1971, pela Lei Federal 5.692/71, Complementar de Diretrizes e Bases

da Educação (a LDB de 1961 foi substituída pela Lei nº 5.540/68 e 5.692/71), o 2º

grau torna-se profissionalizante. Assim, a LDB, do período militar, dá uma nova

identidade ao ensino médio, a profissionalização compulsória no 2º grau. O

Conselho Federal de Educação regulamentou 200 habilitações profissionais,

embora não houvesse condições reais. Muitos estabelecimentos cumpriam a lei

de maneira elementar ou simplesmente a burlavam. Ofereciam um currículo

oficial, para a fiscalização, e outro que preparava os alunos para o vestibular.

Implantavam habilitações baratas, que, em alguns casos, não ofereciam

oportunidades no mercado de trabalho. As disciplinas que levavam à reflexão

como Psicologia, Sociologia e Filosofia foram retiradas do 2º Grau. O núcleo

comum (disciplinas obrigatórias), era obrigatório em todo território nacional, com

dez conteúdos específicos. Tal situação prejudicou a liberdade dos sistemas

estaduais e dos estabelecimentos de introduzirem outras matérias.

Como Presidente da República, assume, em 1974, o General Ernesto

Geisel. É lançado o plano de “distensão”, que procura valorizar o Congresso. É

um caminhar, a passos bem lentos, em direção a democracia, com avanços,

recuos, cassações, censura prévia à imprensa...

93

Nas décadas de 1970 e 1980 houve mudanças na idéia de educação

profissional. A Lei 6.297 de 1975, oferecia incentivo, mediante dedução no

imposto de renda de pessoas jurídicas, às iniciativas de treinamento e

desenvolvimento.

4.3. A Década de 1980

A década de 1980 foi caminhar da ditadura à redemocratização. A

democracia torna-se tema central nos debates políticos e sociais.

O período trouxe um processo de reestruturação para o Instituto Nacional

de Estudos e Pesquisas Educacionais. O órgão foi dotado de melhor capacidade

técnica e de recursos humanos. Passa a ser priorizado, a partir de então, o

fomento a projetos de pesquisas, o suporte às Secretarias do Ministério da

Educação na avaliação da realidade educacional, bem como a ampliação do

processo de disseminação das informações captadas.

A Lei nº 7.044/82 dispensou as escolas de ensino de 2º Grau da

obrigatoriedade de oferecer a profissionalização ao final do 2º Grau, embora a

formação do técnico de 2º Grau tenha permanecido junto ao ensino médio.

4.4. O período da abertura política e a Constituição de 1988

A abertura política traz à luz a necessidade de uma Nova Constituição.

Após o regime de força, a nova Constituição, de 1988, foi chamada de

Cidadã.

94

A Carta Magna de 1988 estabeleceu seus objetivos, em termos

educacionais, no art. 205:

“A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando o pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho”.

Somente na Constituição de 1988 voltou a vinculação de recursos

financeiros para educação, incluindo a União, Estados e Municípios.

4.5. Princípios Constitucionais Fundamentais que regem a Educação

A Constituição Federal / 1988 em seu art. 206 estabeleceu princípios

fundamentais, que foram confirmados pela LDB, em seu art. 3º:

Igualdade de condições para acesso e permanência na escola

(art.206, inciso I, da CF; e art. 3º, inciso I, da LDB);

Igualdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar a cultura, o

pensamento, a arte e o saber (art.206, inciso II, da CF; e art. 3º, inciso

II, da LDB);

Pluralismo de idéias e de concepções pedagógicas (art. 206, inciso

III, primeira parte, da CF; e art. 3º, inciso III, da LDB);

Coexistência de instituições públicas e privadas de ensino (art. 206,

inciso III, segunda parte, da CF; e art. 3º, inciso V, da LDB);

Gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais (art. 206,

inciso IV da CF; e art 3º, inciso VI, da LDB);

Valorização do profissional da educação escolar (art. 206, inciso V,

primeira parte, da CF; e art. 3º, inciso VII, da LDB);

95

Gestão democrática do ensino público, na forma da lei e da

legislação dos sistemas de ensino (art. 206, inciso VI, da CF; e art 3º,

inciso VIII, da LDB);

Garantia de padrão de qualidade (art. 206, inciso VII, da CF; e art 3º,

inciso IX, da LDB).

Os indicadores educacionais nacionais demonstram que houve grande

evolução, desde a Constituição Federal de 1988, que definiu a educação básica

como um dever do Estado e um direito do cidadão.

4.6. Da Década de 1990 aos dias atuais

A década de 1990 é demarcada por praticas politicas neoliberais.

Discursos a respeito da globalização, livre mercado, competitividade,

produtividade, reestruturação produtiva, reengenharia, revolução tecnológica.

No início do período (1990), Fernando Collor de Mello, com seu programa

de reconstrução nacional e abertura de mercado, começa seu mandato. Mas,

causa espanto a todos, com o “confisco” das contas corrente e poupança. Dois

anos depois, acontece o impeachment. Em decorrência, assume o Vice-

Presidente da República, Itamar Franco, sem mudanças substancias.

Eleição seguinte, assume a Presidência Fernando Henrique Cardoso, que

é reeleito no pleito subsequente. Os seus dois governos consolidam as idéias

neoliberais de Estado mínimo e abertura ao capital internacional. A atual Lei de

Diretrizes e Bases da Educação Nacional foi promulgada pelo Presidente

Fernando Henrique Cardoso, em dezembro de 1996. A política governamental de

educação profissional foi marcada pelo Decreto nº 2208/97, consolidando a

separação entre o Ensino Médio e a Educação Profissional.

96

4.7. Lei de Diretrizes e Bases da Educação em 1996

Com a Constituição promulgada em 1988, ficava estabelecida a premente

necessidade de uma nova LDB. Assim, nasceu a Lei nº 9.394/96, que já vinha

sendo discutida desde os anos de 1990, ainda no Governo de Fernando Collor de

Melo.

A primeira versão do projeto foi apresentada à Câmara dos Deputados em

1988. Somente, em 1993, já na terceira versão, foi aprovado. Fragmentado, o

Projeto foi ao Senado, onde já corria um Projeto alternativo de autoria do Senador

Darcy Ribeiro. Foi este segundo que, incorporando 204 emendas, substituiu o

oriundo da Câmara, sendo finalmente aprovado em 1996.

A Lei foi sancionada como Lei 9.394/96, é a nova Lei de Diretrizes e Bases

da Educação Nacional. Que enfatiza que, o ensino médio, é a etapa final do

ensino básico. Caracterizado a proposta de identidade formativa para tal

segmento. O legislador afirma que, o ensino médio deve oferecer uma formação

baseada na ética, com autonomia intelectual e pensamento crítico. Em seu art. 1º,

§ 1º estabelece os limites jurídicos da educação, estabelecendo que a LDB

somente disciplina a educação escolar, vejamos:

Art 1º - Na educação abrange os processos formativos que se desenvolvem na família, na convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos movimentos sociais e organizações da sociedade civil e nas manifestações culturais. § 1º - Esta lei disciplina e a educação escolar, que se desenvolve, predominantemente, por meio do ensino, em instituições próprias.

97

No parágrafo 2º do artigo citado, a LDB vincula a educação com o trabalho

e a cidadania: “A educação escolar, deverá vincular-se ao mundo do trabalho e à

prática social”.

Baseada no princípio do direito universal à educação para todos, a LDB

trouxe diversas mudanças, em relação às leis anteriores, como a inclusão da

educação infantil, em creches e pré-escolas, como primeira etapa da educação

básica. Em seu art. 2º, a LDB repete a determinação do art. 205 da Constitiução

Federal de 1988:

Art 2º - A educação, dever da família e do Estado, inspirada nos princípios da liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.

4.8. Principais destaques da atual política educacional

A Resolução CNE/CEB nº 3, de 26 de junho de 1998, instituiu as Diretrizes

Curriculares para o Ensino Médio, um conjunto de definições doutrinárias sobre

os princípios, fundamentos e procedimentos que deverão ser considerados na

organização pedagógica e curricular de cada unidade escolar.

Com base na Portaria nº 2.255, de 25 de agosto de 2003, artigo 1º, o Instituto

Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais foi transformado em autarquia

federal, vinculada ao Ministério da Educação. Com o novo modelo o Instituto

ampliou seu potencial de trabalho, cumprindo seu papel de órgãos especializados

na avaliação e na informação educacional, objetivando a melhoria da Educação

no Brasil. Dos instrumentos de ação, do Instituto Nacional de Estudos e

Pesquisas, destaca-se:

98

O ANEC – Avaliação Nacional de Educação Básica, o antigo SAEB

(Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica), que realiza

pesquisa, por amostragem, dos ensinos Fundamental e Médio.

Destinados a acompanhar a evolução do desempenho dos alunos e os

diversos fatores incidentes na qualidade do ensino. Mas, não adianta

mudar de nome se a metodologia não mudar. A verba aplicada tem

que dar resultado prático;

Relevante, também, como ação do INEP, o Exame Nacional do

Ensino Médio – ENEM, exame de saída. Facultativo aos que já

concluíram e aos concluintes do Ensino Médio. Aplicado pela

primeira vez em 1997, parece ser o único com proveito concreto,

pois mostra o perfil do ensino médio e é muito bem elaborado. Na

prática, vem sendo utilizado pelo serviço de seleção e recrutamento

de pessoal de algumas empresas, além de permitir a entrada no

nível superior. É questionável sua utilização como instrumento de

avaliação no processo de avaliação profissional. Considerando-se

que, a intenção inicial, era que a informação do rendimento

individual fosse de caráter sigiloso. Torna-se, assim, uma prática

inadequada, pois utiliza um instrumento do Poder Público.

Em 1996, foi criado o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino

de Valorização do Magistério – FUNDEF. Que destinava 15% dos 25% dos

recursos para Educação, de cada Estado e seus Municípios, em um fundo único,

repartido entre governos estaduais e municipais, conforme o número de alunos

das respectivas redes de ensino fundamental. Posteriormente, O FUNDEF foi

substituído pelo Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica –

FUNDEB, que atende à escola pública, de educação básica, bem como aos

professores em atuação efetiva em sala de aula.

99

O Programa Universidade para Todos (Prouni), é destinado à concessão

de bolsas de estudos integrais e bolsas de estudos parciais de 50%, para cursos

de graduação e sequenciais de formação específica, em instituições privadas de

Ensino Superior com ou sem fins lucrativos. Conforme o estabelecido no Decreto

nº 5.245/04, artigo 3º, a pré-seleção dos estudantes a serem beneficiados pelo

Prouni, leva em conta o Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM), referente ao

ano anterior ao ingresso do estudante.

A politica educacional do governo Luis Ignácio Lula da Silva visa facilitar o

acesso das camadas menos favorecidas aos diferentes níveis de ensino.

Ideologicamente, a preocupação com o analfabetismo, faz recordar as teorias

pedagógicas de Paulo Freire, na década de 1960.

Em 2006, o Ministério da Educação reabriu a discussão sobre a questão

dos métodos de alfabetização, objetivando resolver o problema da alfabetização

funcional no país.

Cabe ressaltar quem a alteração promovida pela Lei 11.274/06, promoveu

alterações na LDB, objetivando elevar o ensino fundamental de 8 para 9 anos,

com início aos 6 anos de idade e não mais aos 7 anos.

4.9. O Estado Democrático de Direito

A prática da democracia exige a organização de instituições que

desempenham papel em nome do povo. Um grupo pode ser eleito pelo povo e

dele afastar-se, para beneficiar-se do poder, ou realizar suas próprias aspirações.

O Estado Democrático de Direito é legal, porque a lei predomina, e todos

estão a ela submetidos, governantes e governados. É uma combinação de três

princípios de:

100

Governo Representativo;

O Constitucionalismo;

E a democracia como exercício da soberania popular.

No Brasil, a expressão Estado Democrático de Direito, foi criada pela nossa

Constituição de 1988, em seu título I (referente aos Princípios Constitucionais

Fundamentais).

É o ideal de governo da maioria, limitando o poder estatal. Objetiva a

garantia dos direitos fundamentais e a preservação da separação dos Poderes,

assim as minorias e seus direitos serão também respeitados. O documento que

estrutura toda a vida em sociedade e que define direitos e deveres, é a

Constituição. A Lei Maior, à qual nenhuma outra lei pode contrapor.

É democrático, porque o poder de escolher os governantes reside no

cidadão comum, direito tutelado pela Constituição.

É representativo, porque o governo não se exerce diretamente pelo povo;

mas, mediante representantes por eles escolhidos; que exercerão suas funções

dentro de um quadro de poderes, atribuições e responsabilidades definidas em

lei, por períodos determinados (mandatos).

A idéia atual é que, a principal atribuição do Estado Democrático de Direito,

é:

O estabelecimento de políticas visando a eliminação das

desigualdades sociais e os desequilíbrios econômicos regionais;

Além de perseguir um ideal de justiça social, dentro de um sistema

democrático de exercício de poder.

101

A doutrina moderna afirma que a democracia se baseia nos seguintes

princípios:

O da soberania popular, que se manifestada através de

representantes políticos; consiste em considerar o povo como fonte

única de poder. “Todo poder emana do povo e em seu nome é

exercido” (de acordo com a Declaração dos Direitos do Homem e do

Cidadão);

O da Participação Popular cujo objetivo é assegurar que a vontade

do povo possa efetivamente ser expressa direta ou indiretamente, em

todos os setores da sociedade, desde a elaboração normativa até sua

aplicação e reformulação.

A democracia pressupõe a participação dos cidadãos, nela a educação

aparece como fator responsável pela sua manutenção e preservação, pois esta

só se mantém quando os indivíduos têm condições de refletir sobre suas vidas e

sobre a sociedade, em termos individuais e coletivos.

É um regime que esta fundamentado na liberdade e na participação

popular.

Estamos vivendo a década de 2000, no segundo mandato do Presidente

Luiz Inácio Lula da Silva, que defende o acesso a educação para todos.

Considerando-se que, o processo de construção e socialização do

conhecimento constitui elemento fundamental para o processo de democratização

da sociedade, precisamos pensar os conceitos e as perspectivas de

conhecimento, que possam contribuir para a construção da cidadania do

educando, enquanto sujeito de suas representações sociais e autor de sua

história.

102

O desafio que se impõe à educação refere-se não apenas a

instrumentalização do educando para o exercício profissional, mas, para a

capacidade de afirmação de sua condição de cidadão. Assim, necessário é que o

conhecimento seja um processo de busca de identidade do sujeito a partir da

transformação e afirmação da sua visão de mundo.

Uma das condições fundamentais de democracia é o respeito às diferenças,

pois a democracia engloba diferentes formas de relação entre os homens, que se

estabelecem a partir da consideração das diferenças e do diálogo.

103

CONCLUSÃO

A ocupação das terras brasileiras pelos ibéricos portugueses e

concomitantemente por incursões dos franceses, holandeses, ingleses, entre

outros, evidencia uma ação predatória da cultura brasileira, com invasão cultural

européia. O povo, no Brasil, atua como platéia e não como ator e autor de sua

própria História.

Na Colônia e no Império, raros foram os momentos de base popular. Os

Jesuítas vieram com objetivo de “catequizar” os índios. Executando a política

Católica, fiéis ao pensamento tradicionalista, por outro lado, aceitaram como

legítima a escravidão do negro.

A educação brasileira dói marcada pelo dualismo entre educação

acadêmica, destinada às elites; e o ensino profissional, visando as camadas

populares, resultado da própria formação histórica e social brasileira.

Na Republica, encontramos momentos de ditadura no cenário político

brasileiro. O período republicano surge como golpe de Estado. Tendo como

articuladores a elite intelectual-liberal brasileira, juntamente com grupo de

militares graduados de inspiração positivista. Também nesse momento, fica

estabelecida exclusão do homem-cidadão. Importante frisar que, chegamos ao

período Republicano ainda com a idéia de que o trabalho manual era vergonhoso,

não deveria ser exercido pelo homem livre, intelectual, pois era considerada

atividade de escravo.

Surge o Estado Republicano Paternalista e Protetor, a partir de 1930, com

Getúlio Vargas; era em que consolidam-se as lideranças latifundiárias, oriundas

do sistema escravista. Inegável que, o populismo e o coronelismo são elementos

importantes na democracia brasileira.

104

O regime militar consolidou o modelo de Estado Autoritário, limitando ao

máximo a participação do cidadão brasileiro. No entanto, foi nos anos de 1970,

durante o governo militar, que o analfabetismo foi objeto de campanha nacional, o

Movimento Brasileiro de Alfabetização – MOBRAL.

Mesmo considerando a herança republicana, com presença marcante do

autoritarismo, a partir da década de 1980 o país passou a experimentar uma

postura democrática. Em uma sociedade onde impera a força massificadora,

cresce a necessidade do desenvolvimento da consciência crítica, levando a um

comportamento ético/político, de respostas criativas e com maior capacidade

decisão.

A falta de unidade da população mais carente, a falta de homogeneidade,

proporciona a incapacidade para uma ação política realmente eficaz, tornando

ainda mais gritante as desigualdades sociais no Brasil. As camadas mais pobres

não geram política, por falta de praticas uniformes, dispersão e particularismo de

forças.

A educação espelha a estrutura social vigente. Por outro lado, fomenta as

transformações. Assim, a escola reflete as contradições do sistema. O espaço da

escola visão micro, reflete as realidades sociais em que vivem os educandos,

visão macro. Tenho convicção que, a escola deve atuar como fermento de

transformação, exercendo sua função política. Integrando, na sua prática

pedagógica, a discussão dos problemas sócio-cultural, em completa sintonia com

as experiências vivenciadas por seus alunos, e pela comunidade em que a escola

se encontra inserida.

105

Ao Estado, cumpre oferecer vagas para todos no ensino fundamental. O

não cumprimento, ou seja a falta de vagas, caracteriza uma ilegalidade, pois fere

determinação Constitucional.

Educar não é uma tarefa simples, envolve responsabilidades. A escola

deve incorporar as transformações do agir, do pensar de sua sociedade. Precisa

atuar para romper as barreiras que impedem o desenvolvimento da comunidade,

caso contrário terá estagnada sua prática educativa. A educação aparece como

um possível caminho, talvez o principal, para que possam ser alcançados os

objetivos relacionados à cidadania. Posto que, sem ela, é muito mais difícil fazer

emergir o cidadão.

106

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113

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para o Ensino Médio.

________. http://inep.gov.br

________. http://pt.wikipedia.org/wikipedia.org/wiki/historia_do_Brazil

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Índice

Introdução 10

Capítulo I

Estado, Direito, Política e a Educação no Brasil Colonial 13

1.11. A política, o Estado e a educação

1.12. A transferência da cultura europeia para o Novo Continente

1.13. Portugueses X Cultura Indígena

1.14. Período dos Jesuítas

1.15. Portugal sob o domínio Espanhol

1.16. A ocupação do Sul

1.17. Descoberta do ouro brasileiro

1.18. Portugal dependente da Inglaterra

1.19. O Marquês de Pombal e a expulsão dos Jesuítas

1.20. O domínio britânico

Capítulo II

O Brasil caminha para a Independência Política

2.8. A vinda da família real

2.9. A política educacional desenvolvida por D. João VI

2.10. No rumo da independência política

2.11. O Período Imperial (1822/1889)

2.12. A Constituição do Império

2.13. A influência de Augusto Comte na educação brasileira

2.14. A abolição da escravatura e os imigrantes

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Capítulo III

A Educação na República Brasileira de 1870/1959

3.9. A Primeira República Brasileira (1889/1929)

3.10. A Constituição promulgada de 1891

3.11. O Período da Segunda República

3.12. A Escola Nova

3.13. A Constituição promulgada de 1934

3.14. A Constituição Outorgada de 1937 – Período do Estado Novo

(1937/1945)

3.15. A Constituição Promulgada de 1946 – Período da Quarta República

(1946/1964)

3.16. Os “dois-Brasis”

Capítulo IV

A República da Década de 1960 aos Dias Atuais

4.10. Período Militar (1964/1985)

4.11. A Constituição Promulgada de 1967

4.12. A Década de 1980

4.13. O Período da abertura política e a Constituição de 1988

4.14. Princípios Constitucionais Fundamentais que regem a educação

4.15. Da Década de 1990 aos dias atuais

4.16. Lei de Diretrizes e Bases da Educação de 1996

4.17. Principais destaques da atual política educacional

4.18. O Estado Democrático de Direito

Conclusão

Referências Bibliográficas

Índice

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Folha de Avaliação

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