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resenhade política exterior do brasil

ministério das relações exterioresDocumento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulgação Científica em Relações Internacionais (http://www.mundorama.net).

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chanceler brasileiro abre a xxxvm

assembleia geral das nações unidas

Discurso do Ministro de Estado das Relações Exteriores,Ramiro Saraiva Guerreiro, em Nova York, em 26 de setembrode 1983, por ocasiffo da abertura da X X X V I I I AssembleiaGeral da Organização das NaçOes Unidas.

Senhor Presidente,

E com grande prazer que cumprimentoVossa Excelência por sua eleição ao cargode Presidente da 38a Assembleia Geral.

A escolha de Vossa Excelência é o justo re-conhecimento pelos serviços que tem pres-tado às Nações Unidas. Estou seguro deque, graças às qualidades profissionais epessoais de Vossa Excelência, nossos traba-lhos serão conduzidos de maneira hábil ecompetente.

Desejo expressar o reconhecimento de meuGoverno pela forma segura e produtiva comque o seu antecessor, Senhor Imre Hollai,conduziu os trabalhos da 37a Sessão.

Desejo saudar Vossa Excelência tambémcomo representante de um país latino-ame-ricano, no ano em que comemoramos o bi-centenário de Simon Bolívar e é justo e gra-tificante prestar mais uma vez nossa home-nagem ao Libertador, cujos ideais devemser lembrados neste momento em que a A-mérica Latina precisa dar prova reiterada desua histórica vocação para a paz e o diálogo.

Nesse sentido, permito-me salientar as im-portantes contribuições que seu país, o Pa-namá, vem dando, em sua atuação interna-cional, às causas da concórdia e do progres-so.

Gostaria de congratular Saint Christophere Nevis por sua admissão como membro dasNações Unidas. Ao novo Estado-membroestendemos nossos melhores votos para umfuturo de paz e de prosperidade.

Senhor Presidente,

O privilégio de abrir o debate geral nos con-fere tradicionalmente o encargo de fazerum balanço da situação internacional, oque nos obriga a uma reflexão sobre o queé hoje um inusitado estado de crise.

No ano passado, a gravidade sem preceden-tes da conjuntura internacional trouxe, pelaprimeira vez, um Chefe de Governo de meupaís à Assembleia Geral. O Presidente JoãoFigueiredo lançou então um alerta necessá-rio quanto aos riscos e perigos que amea-çam a própria convivência internacional.

Diante de uma conjuntura que lembra sinis-tramente a crise dos anos 30, o Chefe do

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Governo brasileiro formulou veemente ape-lo a que, de novo, nos congreguemos na ta-refa da construção da paz e reerguimentoda cooperação internacional para o desen-volvimento. Estou certo de que o Presiden-te Figueiredo articulou anseios e preocupa-ções compartilhados pela imensa maioria depovos e nações.

Durante os últimos doze meses, no entanto,nossa reserva de fé e confiança foi submeti-da a duras provas. O próprio Secretário-Ge-ràl, em seu primeiro relatório à Assembleia,advertia que estávamos "perigosamentepróximos de uma nova anarquia internacio-nal". A despeito da seriedade dessas pala-vras, muito pouco se fez para aliviar as ex-traordinárias tensões, que a todos afetam,nos planos político e económico.

Senhor Presidente,

Na verdade, as tensões se avolumam; a eco-nomia e o comércio languescem em seu ci-clo deprimido — e a recuperação de unscoincide com o agravamento dos problemasdos demais; a miséria e a desordem prevale-cem; a corrida dos mísseis nucleares prospe-ra; os poderosos parecem inibidos para amoderação e o diálogo.

A Trigésima-Oitava Sessão da AssembleiaGeral das Nações Unidas se realiza sob osigno negativo de uma crise orgânica e pro-longada que exige soluções estruturais. Éapropriado lembrar que a palavra crise con-serva um radical originariamente sânscritoque significa também "limpar", "desemba-raçar", "purificar". A crise é em sua pró-pria raiz, um convite ao critério, isto é, àdepuração e à renovação. Cabe-nos a todoschegar a decisões que permitam a evoluçãosem ruptura, a transformação dentro da or-dem. Ora, a boa ordem internacional sefundamenta numa compreensão adequadadas necessidades diferenciadas de cada na-ção e é justamente isso que incumbe às Na-ções Unidas, como instituição dedicada àconvivência democrática e igualitária entreos Estados.

Ao referir as flagrantes imperfeições na or-dem internacional, o Brasil não se afasta desua tradicional política de moderação e deequilíbrio, que se inspira na formação plu-ralista da sociedade nacional. O Brasil é umpaís do Ocidente e do Terceiro Mundo, e apolítica exterior brasileira traduz, no planointernacional, a inestimável riqueza de nos-sa -experiência histórica. Somos herdeirosde diferentes culturas e temos naturalmenteum arraigado respeito pela diferença, condi-ção indispensável para a harmonia.

Senhor Presidente,

Na esfera da política, já são muitos os anosque completamos sem apresentar um sóêxito multilateralmente significativo, umasó questão importante bem resolvida: Ori-ente Médio, América Central, África Aus-tral, Sudeste da Ásia, Afeganistão, Malvi-nas, mísseis nucleares estratégicos e de al-cance médio. A lista é longa.

Quando posições de força, como as da Uni-ão Soviética no Afeganistão, parecem con-solidar-se ao invés de ceder à justiça e à ra-zão, é o sistema internacional como um to-do que se deteriora. Da mesma forma, émotivo para aguda preocupação e condena-ção o incidente que levou à derrubada, poraviões soviéticos, de um avião comercial sul-coreano, com a inexcusável perda devidasinocentes. O princípio da rejeição do usoda força — que é um dos pilares essenciaisdesta Organização — não pode admitir des-vio na sua aplicação, em todas as áreas detensão.

Com relação aos problemas que afetam aAmérica Central, a posição do Brasil é clarae por todos conhecida. É preciso que se a-pliquem os princípios básicos da autodeter-minação e da não-ingerência nos assuntospróprios de cada país. Favorecemos a con-dução diplomática e negociada das tensõespara que se possa criar um clima de descon-tração, ao invés de confrontação e polariza-ção ideológica, de modo a que se ponha fimao processo de transferência das tensõesglobais para aquela área.

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Confiamos no espírito de responsabilidadee de independência dos países centro-ame-ricanos. Confiamos na democracia e no plu-ralismo, não só como sistema de convivên-cia interna, mas também como norma deconvivência entre países. Desejamos umaAmérica Central em que nenhuma nação setransforme nolens, volens em satélite oumassa de manobra de qualquer outra.

Mas não nos devemos limitar aos aspectosconjunturais da crise centro-americana. Osproblemas reais não serão resolvidos en-quanto não forem corrigidas as deficiênciasestruturais básicas, as décadas ou mesmo sé-culos de constante frustração, de ingentesdesequilíbrios internos e externos. Enten-demos que se deva empreender um esforçosério e concentrado de cooperação interna-cional, sobretudo em termos sócio-econô-micos, dirigido à erradicação efetiva dosproblemas crónicos da América Central.

Na América Latina, estão fortemente enrai-zadas as práticas que favorecem as soluçõespacíficas de controvérsias e o respeito aosprincípios básicos do direito internacional.Por isso mesmo, atuando sobretudo atravésdos países que integram o Grupo de Conta-dora, a América Latina tem as melhorescondições de_ proximidade e afinidade cul-tural para prestar uma contribuição valiosano sentido da solução pacífica dos proble-mas centro-americanos. Devemos todos a-poiar as gestões desinteressadas, articuladasnesse contexto e que incorporam as melho-res possibilidades de um equacionamentodiplomático positivo para essa grave situa-ção.

As presentes dificuldades não podem serisoladas do prolongado contexto de criseinternacional em que vivemos. A problemá-tica centro-americana não pode ser reduzi-da ao ângulo da confrontação ideológica.Nem é possível extirpar seus males pela for-ça. A solução dos problemas da região de-manda, claramente, além de iniciativas emprol da descontração, o esforço de cada qualpara demonstrar que não constitui risco de

segurança para seus vizinhos. A experiêncianos ensina que a polarização não favoreceas soluções duradoras. No caso centro-ame-ricano, os países pequenos seriam as gran-des vítimas de uma indesejável radicaliza-ção. Mais uma vez é indispensável restabele-cer um clima de confiança para o diálogo.

Os princípios fundamentais que orientam apolítica externa brasileira são os mesmosque constituem a melhor tradição da atua-ção diplomática da América Latina. O Bra-sil renova a expressão de seus propósitospermanentes de estreitar as relações de soli-dariedade e de cooperação igualitária comtodos os seus vizinhos. O respeito mútuo, abusca de coincidências leg ítimas e a estreitaadesão às normas do Direito e da boa convi-vência constituem, na prática tanto quantona teoria, o melhor padrão de comporta-mento internacional.

Nesse contexto, o Governo brasileiro reafir-ma seu apoio à implementação integral daResolução 502 do Conselho de Segurança,referente à questão das Ilhas Malvinas. É defundamental importância o papel que asNações Unidas podem e devem desempe-nhar no encaminhamento de uma soluçãopacífica e negociada para essa questão queafeta de perto os países latino-americanos.O Brasil reitera, a esse respeito, seu apoioaos direitos de soberania argentina sobreas Ilhas Mal vi nas'e expressa sua preocupa-ção crescente com que se possa cogitar deuma militarização daquela área. É posiçãobrasileira que o Atlântico Sul deve perma-necer uma área de paz e concórdia.

Senhor Presidente,

Não posso deixar de refletir a ansiedadeque sentimos diante do quadro de insegu-rança e violência no Líbano, tantas vezesvitimado pela agressão. É preciso deter comurgência essa nova escalada de violência.Renovo o empenho do Brasil em que sejampreservadas a independência, a soberania ea integridade do território desse país quetanto contribuiu, pelo trabalho de seus f i-lhos, para o progresso do Brasil.

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Torna-se cada vez mais premente dar cum-primento às resoluções das Nações Unidasque expressam o consenso internacional embusca de uma solução abrangente, justa eduradora para a sucessão de crises no Orien-te Médio. Meu Governo adere com firmezaaos termos dessas resoluções e condena ve-ementemente a política de fatos consuma-dos que têm dificultado o encaminhamentode negociações naquela região.

Devemos insistir no prevalecimento da jus-tiça, na desocupação dos territórios retidospela força, na implementação dos direitosdo povo palestino, na criação de condiçõespara que todos os Estados da região possamviver em paz dentro de suas fronteiras.

O Brasil, Senhor Presidente, como país de-dicado aos ideais da harmonia social e raci-al, reitera sua condenação enfática à práticainstitucionalizada do racismo que caracteri-za o regime da África do Sul. A políticaadotada por Pretória alimenta na ÁfricaAustral um foco de tensão que desserve in-clusive às causas e interesses do Ocidente. Épreciso pôr fim às incursões militares con-tra Angola, Moçambique e Lesoto. É preci-so com urgência que cesse a ocupação ilegalda Namíbia, cuja independência vem sendoretardada pela intransigência da África doSul. Não há pretexto que justifique evadira implementação da Resolução 435 doConselho de Segurança das Nações Unidas.

Por outro lado, meu Governo deseja con-gratular-se com o Secretário-Geral pelo em-penho em cumprir o mandato que recebeudo Conselho de Segurança para estabelecerconsultas com vistas à solução desse graveproblema.

Senhor Presidente,

Cabe à nossa geração não apenas reconstru-ir um mundo em crise: cabe-nos antes demais nada evitar que ele se destrua. Comoafirmou o Presidente Figueiredo "não hánem pode haver futuro no triste e inaceitá-vel sucedâneo que é o equilíbrio do terror.

Não é possível persistirmos na ilusão de quea harmonia mundial poderá alicerçar-se noexcesso de capacidade de destruição".

O desejo de segurança absoluta por parte deum Estado representa ameaça de inseguran-ça absoluta para todos os outros. A paz nãonascerá da multiplicação dos arsenais. É ur-gente buscar entendimentos objetivos paracriar um mínimo de confiança e de mútuainformação e recriar mecanismos de diálo-go que reduzam as tensões, as oportunida-des de equívoco e o risco de incidentes.

As Nações Unidas não podem ser mantidasà margem das negociações realmente impor-tantes em matéria de desarmamento. Écompreensível que quaisquer concessõesnesse campo sejam extremamente comple-xas, mas o que afeta a todos por todos deveser considerado. O realismo não deve levara esquecer que o exercício equilibrado dainteligência política é, em última instância,mais poderoso que o exercício unilateral daforça.

É alarmante notar que, só em 1983, os re-cursos gastos em armamentos chegam a 800bilhões de dólares, cifra superior à dívidaexterna global dos países em desenvolvi-mento. Esta simples menção nos faz com-preender a magnitude do desafio que deve-mos enfrentar.

Senhor Presidente,

Em 16 de maio de 1975, o Brasil acedeu aoTratado da Antártida. Desde então, dentrodas possibilidades da economia brasileira, foiestabelecido um programa voltado inteira-mente para o desenvolvimento da pesquisacientífica. Nosso empenho em participarplenamente do Tratado da Antártida decor-reu, inclusive, do fato de ser aquele instru-mento internacional o único diploma legalpara o Sexto Continente. Pode-se afirmarque o Tratado criou uma nova situação ju-rídica objetiva.

No dia 12 de setembro corrente, as PartesConsultivas do Tratado, reunidas em Cam-

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berra, reconheceram ao Brasil a qualidadede Membro Consultivo. Ao assumir essa res-ponsabilidade, o Brasil reafirma sua adesãoaos princípios de paz, cooperação e liberda-de de investigação científica, consagradosno Tratado e nas recomendações que foramadotadas ao longo de mais de vinte anos pe-las Partes Consultivas.

Senhor Presidente,

A recessão atual é a mais longa e possivel-mente a mais profunda contração da ativi-dade económica nos últimos cinquentaanos. Não é mais possível alimentar a ilusãode que essa crise seja momentânea. Suascausas profundas estão na própria estruturado relacionamento internacional como de-monstra a globalização da crise.

A despeito da profundidade e abrangênciada crise, perderam-se, nos últimos tempos,valiosas oportunidades para deter o proces-so de deterioração que, a esta altura, já setornou cumulativo. Da reunião de cúpulade Cancún até hoje, o diálogo entre o Nortee o Sul regrediu. A crise prosseguiu seu do-loroso trajeto, passando de comercial a f i -nanceira, em vivo testemunho da interrela-ção entre os diversos aspectos do sistemaeconómico global e da fragilidade dos me-canismos de cooperação multilateral.

O total da dívida externa dos países em de-senvolvimento aproxima-se celeremente dacifra do trilhão de dólares. As taxas de cres-cimento dessa dívida, alimentadas por ní-veis de juros absurdamente altos, superamem muito as taxas de crescimento real dequalquer país do mundo. Superam mesmoas melhores taxas de crescimento dos me-lhores períodos dos países que mais rapida-mente se desenvolveram. O que hoje é in-sustentável, amanhã será sensivelmentepior.

O comércio internacional , no passado re-cente a grande alavanca do progresso tantodo Norte quanto do Sul, entra em estagna-ção e retrocesso, sufocado por barreiras

protecionistas crescentes — resposta inade-quada aos problemas de recessão e desem-prego — e pelos próprios encargos da dfvidaexterna que restringem além dos limites to-leráveis a capacidade de importação dos pa-íses devedores, impedindo-os de sustentaros níveis de atividade económica requeridospara atender às necessidades de seus povos,e para gerar os próprios recursos com queressarcir seus compromissos.

A comunidade internacional precisa de pro-postas inovadoras e eficazes mas trabalhaainda com um instrumental conceituai einstitucional desgastado que fornece res-postas padronizadas, mecanicamente aplica-das. Se essa é a resposta intelectual domi-nante, já no nível dos fatos não é menor afrustração: aumenta-se o protecionismoquando mais que nunca é necessária a ex-pansão do comércio; aumentam-se os encar-gos financeiros quando é imprescindível suaredução; retrai-se a capacidade de empres-tar quando é fundamental que ela se am-plie; proliferam as políticas geradoras de re-cessão quando nunca foi tão necessário odesenvolvimento.

A VI UNCTAD, em junho último, foi oexemplo mais eloquente da crónica de frus-trações que têm sido as negociações econó-micas multilaterais. No início da reunião deBelgrado — para a qual os países em desen-volvimento se preparam cuidadosamente —afirmei que a comunidade internacionalnão se podia permitir novo fracasso, e queera urgente lançar um esforço amplo de co-operação entre o Norte e o Sul. Lamenta-velmente, a atitude moderada e construtivaadotada pelos países em desenvolvimentonão foi capaz de levar os países desenvolvi-dos a uma atuação mais flexível. De Can-cún a Belgrado, perderam ambos, Norte eSul, valiosas oportunidades de diálogo e en-tendimento, só restando neste momento àeconomia internacional a aposta, incerta earriscada, nas ações tópicas e de emergênciacomo resposta ao que são em verdade pro-blemas estruturais e duradouros. Não é esteo momento, diante de tanta instabilidade e

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incerteza, de proceder a comunidade inter-nacional a uma reflexão cuidadosa sobre osreajustamentos a efetuar nas instituições deBretton Woods e no GATT, para torná-lasmais adequadas às condições e necessidadesda economia internacional de hoje, profun-damente diversa daquela em que, por trêsdécadas após a 2? Guerra Mundial, foi pos-sível manter elevadas taxas de crescimentodo produto e do comércio mundiais?

O Brasil tem sido dos países mais afetadospela atual crise, e isso, ironicamente, emgrande parte porque o modelo de desenvol-vimento por ele seguido representou um vo-to de confiança na capacidade da comuni-dade internacional de prover maiores opor-tunidades a todos os países nos mercadosinternacionais de comércio e finanças.

Meu país tem feito, e continuará decidida-mente a fazer, árduos sacrifícios para ajus-tar-se às novas e mais difíceis circunstânciasno campo financeiro e cumprir com seuscompromissos como tomador de capital. Opovo brasileiro não pode, entretanto, serprivado da perspectiva do desenvolvimento,sobretudo quando as causas principais desuas agruras não estão em limitações intrín-secas à estrutura produtiva do país, mas simem inusitada conjunção de fatores externosrelacionados com as políticas económicas eas posturas negociadoras de algumas dasgrandes potências de nossos dias.

Nessas circunstâncias, os problemas que nosafligem não são exclusivamente nossos, masdizem respeito também aos países que tan-tos benefícios tiram da exportação de capi-tais a custos que têm o poder de unilateral-mente definir e reajustar. Não faz sentidoque, agindo por vezes contraditoriamentecom seus interesses quanto ao retorno deseus empréstimos, tais países neguem aquem lhes deve, pela via do protecionismomais estreito, as oportunidades de exporta-ção necessárias para o correto ressarcimen-to das dívidas.

Foi por essa razão que o Presidente Figuei-redo, ao dirigir-se.a esta Assembleia um ano

atrás, afirmou que "a solução da presentecrise não é uma questão de ajuda para ospaíses em desenvolvimento. Trata-se, sim,de assegurar condições para que eles pos-sam saldar seus compromissos com a justaremuneração de seu trabalho".

Senhor Presidente,

Antes de encerrar minhas palavras, desejotratar de um problema específico, de natu-reza crítica e que não deve ser visto apenasdo ângulo puramente emergencial.

Meu país vem sofrendo, há cinco anos, osefeitos trágicos da seca. 0 Nordeste semi-árido do Brasil atravessa um período parti-cularmente difícil, que desafia a coragem ea resignação das populações locais e impõeenormes obstáculos à planificação do de-senvolvimento regional brasileiro. Os efei-tos da seca que se prolonga são assunto deresponsabilidade nacional brasileira e sãoobjeto de uma ação integrada por parte doGoverno, mas não podem deixar de ter re-flexos evidentes em sua ação externa.

O Brasil tem consistentemente apoiado asatividades das Nações Unidas de combate àdesertificação, em especial aquelas referen-tes à recuperação e ao progresso da regiãosudano-saheliana. Da mesma forma, acom-panhamos atentamente o debate das medi-das destinadas a. mobilizar recursos paraaplicação do Plano de Combate à Desertifi-cação, aprovado em 1977. Partilhamos a o-pinião de que a questão de fenómenos cli-máticos como a seca e a desertificação deveser examinada no contexto mais amplo dacooperação internacional, numa perspectivade longo prazo.

Senhor Presidente,

Para extrairmos da crise atual seu efeito re-novador e purificador, é indispensável revi-talizar o sistema internacional no sentidoautenticamente democrático. A democra-cia, no plano internacional, se traduz pelorespeito às individualidades nacionais e pelo

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reconhecimento da igualdade soberana dosEstados. Isso significa, em essência, que aconvivência internacional deve pautar-se pe-la rigorosa observância dos princípios deautodeterminação e de- não-intervenção edeve orientar-se para a busca de soluçõespacíficas, racionais e equilibradas.

O fato de que as Nações Unidas se aproxi-mam dos 40 anos constitui uma razão amais para que saibamos extrair da crise con-temporânea uma lição renovadora. É indis-pensável que preservemos o testemunho da-queles que participaram da construção econsolidação das Nações Unidas. A revisãocrítica do passado só terá verdadeiramentesentido se nos servir como orientação práti-ca para a ação presente e futura.

bedoria inerente aos princípios e propósitosda Carta de São Francisco. É particular-mente urgente aplicá-los para manter a paz,preservar a segurança, e retomar o desenvol-vimento.

O importante, como afirmou o PresidenteFigueiredo, em seu discurso no ano passa-do, é que temos "o dever comum de corres-ponder às expectativas de nossos antecesso-res que, havendo experimentado eles pró-prios as duras consequências da desorgani-zação política, da depressão económica eda guerra, comprometeram seu empenho eo nosso na promoção da paz e do desenvol-vimento".

O ritmo da história se acelera e esta institui-ção não pode imobilizar-se. Existe uma sa- Muito obrigado.

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a entrevista do chanceler saraivaguerreiro ao canal 7, de buenos aires

Entrevista do Ministro de Estado das Relações Exteriores,Ramiro Saraiva Guerreiro, ao Canal 7, de Buenos Aires,concedida em Brasília, em 4 de julho de 1983.

Canal 7 — No Palácio Itamaraty temos oprazer de ter uma reunião com o ChancelerSaraiva Guerreiro a quem queremos pergun-tar sobre o problema dos aviões inglesescom rumo às ilhas Malvinas que têm aterris-sado em território brasileiro. Concretamen-te, para introduzirmos o tema, SenhorChanceler, qual é a sua posição a respeito?

Ministro de Estado — Não há propriamenteuma posição minha, há uma posição do Go-verno brasileiro. Agora, faz uma hora, esti-ve com o Senhor Presidente Figueiredo, emuma audiência e tratei do assunto. E o quedissemos em agosto do ano passado, quereiteramos em nota de Chancelaria recente-mente, é uma posição do Presidente mes-mo, quer dizer, o Brasil não servirá em ne-nhuma situação de base regular de interme-diação para transportes do Reino Unido pa-ra as Malvinas e que somente se admitirá autilização de aeroportos ou portos brasilei-ros em casos de emergência (casos, por defi-nição, não previsíveis) ou por razões huma-nitárias especiais consideradas caso a caso.Esta é a política do Governo do PresidenteFigueiredo, sem nenhuma dúvida. Nós te-mos, como sabe o Senhor, excelentes rela-ções com a Argentina. Tanto Argentinaquanto Brasil têm interesses e se estão es-

forçando para manter as relações no altonível a que chegaram. E eu estou seguroque vamos encontrar o caminho para evitarque estas aterrissagens possam criar um pro-blema entre os dois países. Todos os sinaissão muito positivos nas relações dos doispaíses. Agora mesmo decidimos de novoco-patrocinar a resolução que na AssembleiaGeral das Nações Unidas será apresentadapelos países Latino-Americanos com respei-to a negociações entre Argentina e o ReinoUnido sobre as Malvinas. Há uma coopera-ção inclusive entre as Forças Armadas emvários setores e uma facilidade de comuni-cação considerável. Compreendemos muitobem que os fatos recentes relativos a essasaterrissagens tenham criado um clima demal-estar, de preocupação e é uma questãode fato que estamos verificando com a Ae-ronáutica, em cooperação com ela. E possoafirmar que a posição do Governo, ou seja,a posição do Presidente é de que devemosser rigorosos quanto às autorizações paraaterrissagens de emergência.

Canal 7 — Porque essas aterrissagens se têmreiterado sobretudo nos últimos dias, en-tão, dava margem a duvidar que realmentese tratasse de aterrissagens por razões hu-manitárias ou de emergência.. .

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Ministro de Estado — As aterrissagens deemergência por natureza podem até ser fre-quentes em um período curto ou passar lon-gos períodos sem ocorrer. Mas de todas asmaneiras, como você disse, o fato de que setenham repetido em um período curto, cri-ou uma preocupação na Argentina e aquitambém, devo dizer. E todas as medidas se-rão tomadas. O Ministro da Aeronáutica,Brigadeiro Délio Jardim de Matos, está mui-to atento dentro desse espírito de evitarque se crie a ideia ou sequer a impressão deque haja uma regularidade nesses voos.

Canal 7 — 0 Senhor crê que isso terá umcorte definitivo em breve ou poderá seguirsucedendo quando uma situação de emer-gência se apresente?

Ministro de Estado — Quando se verificaruma situação de emergência, seguramente. OBrasil como qualquer outro país daria direi-to de aterrissagem. Eu imagino que até aArgentina não deixaria que um avião caísseno mar. Mas esse é o espírito que deve pre-sidir a essas aterrissagens.

Canal 7 — Senhor Ministro, 28 milhões deargentinos estão escutando o Senhor e real-mente seria importante que o Senhor disse-se algo de concreto sobre esse fato que nostem, insisto, muito preocupado.

Ministro de Estado — Eu creio que disse al-go muito concreto: que é uma decisão doPresidente, que sempre existiu desde o fimdo conflito das Malvinas; esta é a posição,uma decisão do Governo, não é uma posi-ção só da Chancelaria, ou da Aeronáutica,

ou o que seja, e, portanto, que a práticatem que trabalhar, tem que atuar de abordocom esta decisão de Governo.

Canal 7 — 0 ex-Ministro Costa Mendez ma-nifestou em Buenos Aires que havia um a-cordo entre Argentina e Brasil, ainda quenão tenha se explanado sobre os elemen-tos básicos desse acordo. O Senhor conhecealgo sobre isso e poderia me dizer algo arespeito?

Ministro de Estado — O que eu posso imagi-nar é que o Dr. Costa Mendez não teria uti-lizado o termo "acordo" em um sentidotécnico porque não existe um acordo entreos dois Governos. Houve uma decisão unila-teral brasileira, uma decisão política, deadotar esta norma de não permitir em seusportos e aeroportos tráfego regular para asMalvinas. Apenas daríamos permissão paracasos de emergência ou por motivos huma-nitários. Nós declaramos isso publicamente.Nunca houve um acordo com o Governo ar-gentino. Formalmente não há um acordocom qualquer sentido jurídico. Há uma po-lítica brasileira nesse sentido, declarada pu-blicamente — eu creio que pela primeira vezem agosto do ano passado — e que temosmantido como posição e vamos executar.

Canal 7 — Senhor Ministro, agradecemosmuito sua deferência, muitíssimo obrigadoe que realmente a preocupação se distenda.

Ministro de Estado — Assim esperamos, por-que é muito importante que nossas relaçõescontinuem a se reforçar.

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ministro das relações exteriores

da frança visita o brasil

Discurso do Ministro de Estado das Relações Exteriores,Ramiro Saraiva Guerreiro, no Palácio do Itamaraty, emBrasília, em 26 de julho de 1983, por ocasião de almoço ofere-cido ao Ministro das Relações Exteriores da França,Claude Cheysson.

Senhor Ministro,

Em nome do Governo brasileiro, é meu pri-vilégio acolher, em nosso país, Vossa Exce-lência e a ilustre comitiva que o acompa-nha.

Ao visitar oficialmente o Brasil, Vossa Ex-celência nos permitirá dar continuidade àsérie de contactos que vêm sendo mantidosentre as autoridades francesas e brasileirase, assim, concorrer para uma aproximaçãoainda maior entre os nossos dois países.

Antes de mais nada, a visita de Vossa Exce-lência expressa o espírito do entendimentoe cooperação que existe entre nossos povos.

Na verdade, a França e o Brasil estão uni-dos por laços seculares, cujas origens se en-contram na irradiação da presença francesano mundo e na própria contribuição queseu país permanentemente presta à culturaocidental. No Brasil, essa presença se fezsentir praticamente desde a descoberta e le-vou à construção de uma sólida tradição deapreço pela França, por suas realizações noplano da liberdade humana, assim como nasartes, nas ciências e na cultura. Criou, tam-

bém, um valioso património de amizade en-tre os nossos povos, amizade cuja têmperafoi forjada em variadas circunstâncias histó-ricas e que hoje constitui motivo de satisfa-ção para ambos os países.

É conhecida e apreciada a inspiração que,no Brasil, antes mesmo de nossa indepen-dência, retiramos do pensamento e dos ide-ais libertários franceses. E tão marcantetem sido a presença francesa entre nós, queainda em anos recentes foi muito importan-te a contribuição dos intelectuais de seu pa-ís para a renovação e modernização da vidauniversitária brasileira, assim como perma-nece crucial a visão que a França projeta so-bre a própria aventura humana em nossa é-poca. A contribuição francesa tem lugar derealce no processo de formação da maneirabrasileira de encarar o mundo.

De nossa parte, talvez tenhamos, desdemuito cedo, fornecido à França — e por seuintermédio ao resto da Europa Ocidental —parcela ponderável das percepções que fun-damentaram o mito edênico do bom selva-gem. Na quadra atual, pretendemos trans-mitir-lhes a imagem de um povo que lutacotidianamente pelo desenvolvimento, deci-

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dido a alcançar um melhor padrão de bem-estar, mas também de uma sociedade quenão relaxa sua adesão aos valores da demo-cracia e das liberdades individuais às virtu-des da cordialidade e da tolerância.

É com esse embasamento que o Brasil assu-me, hoje, sua inegável vocação pluralista euniversalista, que se identifica com os valo-res permanentes do mundo ocidental e nasrelações de fraterna amizade que mantémcom as demais nações do Terceiro Mundo.

Senhor Ministro,

A dramática realidade mundial que se nosapresenta exige redobrados esforços de co-operação e entendimento por parte de to-das as nações.

Mais do que nunca, observamos, com apre-ensão, o constante acirramento das tensões1

internacionais.

Vemos com preocupação a persistência detendências a enfocar aspectos importantesdo relacionamento internacional a partir dediagnósticos unilaterais, definidos em fun-ção do exercício do poder, e que dificul-tam o diálogo e estorvam a negociação.

Verificamos -a deterioração da conjunturaeconómica internacional que, além dosóbvios prejuízos que acarreta, é tambémresponsável pelo renovado alargamento dohiato entre países desenvolvidos e em de-senvolvimento.

O Brasil tem consciência de que este qua-dro crítico não é coerente com os valoresbásicos de nossa civilização.

Nossa atitude prática, e não apenas teórica,incorpora de forma sistemática a defesa ve-emente dos ideais de paz, dignidade e pro-gresso e do respeito à soberania e indepen-dência, essenciais à boa convivência interna-cional.

Acreditamos que o sistema das Nações Uni-das, ao lado dos mecanismos bilaterais de

entendimento, deve ser valorizado, com vis-tas à composição de interesses, tanto noplano pol ítico, quanto no económico. A su-cessão de crises e impasses em diversos te-mas como o da redução de armamentos nu-cleares e em diversas regiões do globo, co-mo o Oriente Médio, África Austral, e, maisrecentemente, o próprio Atlântico Sul,constitui sintoma claro da deterioração dospadrões de relacionamento internacional.Sua superação dependerá essencialmente deesforços diplomáticos lúcidos que levem àcorreta aplicação dos mecanismos consagra-dos para a solução pac íf ica das controvérsias.

Tal é o caso da América Central, em parti-cular, afetada por sérios problemas de raí-zes estruturais, cuja resolução demanda,claramente, iniciativas políticas em prol dadescontração de tensões, com base no res-peito efetivo e geral aos princípios básicosdo Direito Internacional, entre os quais sedestacam a não-intervenção e a autodeter-minação dos povos e requer, igualmente, oesforço de cada qual para demonstrar quenão constitui risco de segurança para seusvizinhos, e ações diversas para restabelecera confiança.

Não será através da radicalização de confli-tos que se chegará a uma solução duradourapara os problemas da área. Ls pequenos pa-íses são os que mais têm a perder com essaradicalização, que só pode levar a criar de-pendências. A América Latina, atuando so-bretudo através dos países que integram oGrupo de Contadora, tem as melhores con-dições de proximidade e afinidade culturalpara prestar contribuição, que esperamosvaliosa, à solução dessa problemática. Deve-mos todos apoiar as gestões desinteressadasque vêm sendo articuladas nesse contexto eque incorporam as melhores possibilidadesde um equacionamento diplomático positi-vo para essa grave situação.

Por sua vez, a atual conjuntura económicamundial está a exigir, de todos, atitudes po-líticas efetivas que não se restrinjam ao me-ro reconhecimento da gravidade da crise. Ainterdependência entre países torna cadavez mais complexa a tarefa de solucionar os

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graves problemas atuais e de reativar a eco-nomia mundial. É indispensável, portanto,maior dose de diálogo e cooperação quepossibilite a reestruturação do sistema eco-nómico mundial e o estabelecimento deuma ordem mais justa e igualitária. Só as-sim poderemos almejar uma situação emque, paralelamente ao crescimento susten-tado dos países do Norte, tenhamos tam-bém o rápido desenvolvimento das naçõesdo Sul.

As altas taxas de juros, a escassez de recur-sos financeiros, a deterioração dos preçosdos produtos de base, o protecionismo co-mercial e a crise energética são os principaisdesafios que temos de enfrentar, em con-junto, para a consecução de nossos objeti-vos no campo económico.

O Brasil sofre intensamente os efeitos nega-tivos desses problemas que o têm compeli-do a adotar, com coragem, uma série demedidas internas, por vezes dolorosas, paraajustar sua estrutura económica ao momen-to que vivemos.

Esse esforço nacional, contudo, deve ser ne-cessariamente acompanhado por medidasintegradas e eficazes, no plano internacio-nal, que permitam reverter o protecionis-mo, recompor a liquidez e reforçar os meiosde operação das instituições financeirasmultilaterais.

Vemos, com particular satisfação, o esforçoda França em buscar meios para fomentar odiálogo e promover a desejada cooperaçãointernacional.

A história e a cultura política e humanistada França, assim como sua inserção no pa-norama atual que caracteriza o relaciona-mento internacional da Europa Ocidental,dão a seu país, Senhor Ministro, condiçõessingulares de atuação positiva que VossaExcelência tem sabido valorizar.

Ressalto os aspectos construtivos da políti-ca da França para com o Terceiro Mundo,

que constituem importante contribuiçãopara gerar — o que é tão necessário - umacompreensão mais adequada dos problemase das necessidades específicas dos países emdesenvolvimento por parte do grupo das na-ções industrializadas do Ocidente.

Identificamos, em muitas dessas posições eatitudes de seu Governo, a contribuiçãopessoal de Vossa Excelência, que tem de-monstrado, em seu passado e em seu traba-lho de hoje, grande sensibilidade para comas questões mais importantes que afetam osdestinos da humanidade.

Senhor Ministro,

A presença de Vossa Excelêncid entre nósatesta o empenho recíproco de buscar no-vos meios que nos possibilitem alcançar es-tágios mais elevados em nosso relaciona-mento. Confirma, ademais, a importânciado contato direto entre as altas autoridadesdos dois países, da qual constitui prova ine-quívoca o processo já consolidado de en-contros entre os Chefes de Estado do Brasile da França.

Ao longo dos últimos anos, procuramos de-senvolver as relações franco-brasileiras deforma harmoniosa e mutuamente profícua.Empenhamos nossa criatividade e capacida-de de iniciativa na exploração das múltiplaspossibilidades de cooperação nos camposda ciência e da tecnologia, e nos setores deenergia, telecomunicações, aeronáutica etransportes ferroviários, urbanos e maríti-mos, dentre outros. Como resultado desseesforço conjunto, a França coloca-se hojeem posição destacada no relacionamentocom o Brasil.

O intercâmbio comercial bilateral, em1982, somou cerca de um bilhão e meio dedólares, o que confere à França a oitava po-sição, em termos mundiais, entre os parcei-ros comerciais do Brasil. No plano financei-ro, os investimentos e reinvesti mentos acu-mulados franceses em meu país atingirammais de setecentos milhões de dólares, aofinal do ano passado.

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No entanto, muito ainda há por fazer, con-siderando-se as potencialidades. As perspec-tivas favoráveis de entendimento aconse-lham-nos a buscar o aprimoramento de nos-sas relações, com a plena utilização dosmecanismos de consulta existentes. Aconse-lham-nos também a estimular o aprofunda-mento dos interesses comuns, em particularnaqueles setores em que a cooperação aindanão se encontra a altura das aspirações denossos Governos e meios empresariais.

Vossa Excelência muito nos homenageouao decidir visitar, nesta oportunidade, algu-mas das mais importantes cidades brasilei-ras. Vossa Excelência terá, assim, uma a-

mostra do que nossa gente tem conseguidorealizar, aprofundará seus contactos com onosso modo de ser e com nossa cultura. Emtudo isso, divisamos o interesse em melhornos conhecer, como povo e como país, oque denota uma especial consideração e a-mizade, que só podem favorecer o desen-volvimento das relações entre a França e oBrasil.

É, pois, em clima de amizade e confiança,que ergo minha taça em brinde às relaçõesfranco-brasileiras, à saúde do PresidenteFrançois Mitterrand e à felicidade pessoalde Vossa Excelência.

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saraiva guerreiro, no rio de janeiro,

fala sobre a economia internacional

Palestra do Ministro de Estado das Relações Exteriores,Ramiro Saraiva Guerreiro, na Associação Comercial do Rio deJaneiro, em 1? de agosto de 1983, por ocasião da reuniãoda Confederação das Associações Comerciais.

Inicialmente desejaria agradecer ao DoutorRuy Barreto a gentileza do convite paraparticipar desta reunião da Confederaçãodas Associações Comerciais do Brasil.

Tenho muita satisfação em manter diálogocom os Senhores. Os empresários do setorcomercial sempre demonstraram especialsensibilidade para os problemas brasileiros,tanto internos quanto externos. O própriofato de os ciclos de nossa história se identi-ficarem com o padrão de inserção do Brasilna economia internacional sempre colo-cou os homens voltados para o comérciona vanguarda dos que se preocupam com osdestinos do país.

Diante das agudas dificuldades da hora atu-al, os empresários do comércio têm certa-mente papel fundamentala desempenhar.Graças ao labor dessa classe, que tanta ca-pacidade de modernização e adaptação temdemonstrado, alcançamos, em anos recen-tes, performances notáveis nas atividades deexportação, o que sem dúvida redundou emsensíveis benefícios para a sociedade brasi-leira como um todo.

Nesta oportunidade, penso que se impõeexaminar o panorama económico mundial esuas fundas implicações para o nosso país.

No pós-guerra, o processo económico inter-nacional foi marcado por dois fatos deimensa significação: de um lado, a aceleradaexpansão do comércio e o surgimento deprocesso de ligações e integração económi-ca entre os países, — numa palavra, o forta-lecimento da interdependência; de outro la-do, em plano diferente, a complexidadecrescente da tarefa de gerenciar politica-mente tal interdependência.

Essa complexidade se explica por, pelo me-nos, três razões:1. a multiplicação de Estados soberanos emfunção da desço Ionização: os novos Estadosse inseriram no sistema internacional emcondições desiguais, herdadas do colonialis-mo;

2. as dificuldades e mesmo a crescente in-suficiência dos mecanismos multilaterais ar-ticulados em Bretton Woods diante de desa-fios novos e inesperados; e

3. a acentuação de fenómenos, como asempresas multinacionais e o mercado deeurodólares, que escapam ao controle polí-tico tradicionalmente centrado na atuaçãoindividual do Estado nacional.

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A nova interdependência abre, inegavel-mente, possibilidades de "enriquecimentocoletivo" da comunidade internacional. Po-de, pois, ser um fenómeno de sentido posi-tivo que responda aos anseios disseminadospor todo o globo de melhores condições debem-estar e da qualidade de vida. Mas tam-bém é fato que a interdependência comotal, como fenómeno puramente económico,tem deixado de levar a resultados equitati-vos quanto à distribuição de riqueza entreos Estados ou automáticos quanto à evolu-ção dos sistemas de fluxos financeiros ecomerciais.

Ou seja, para que a convivência económicaampliada seja, doravante, capaz de gerar ex-pansão, em benefício de todas as nações éindispensável administrar a interdependên-cia. Trata-se agora de encaminhar politi-camente questões que, a rigor, são do in-teresse de todos os países, e não mais po-dem ser deixadas ao só arbítrio de algu-mas nações altamente desenvolvidas. Asnovas formas de organização da economiamundial seguramente não elidem as aspira-ções de equidade no desenvolvimento quecaracterizam a vida moderna. Tanto nas re-lações interpessoais quanto nas internacio-nais, é cada vez mais difícil justificar etica-mente a convivência da afluência extremacom a pobreza de massa, ainda que padrõesde eficiência supostamente a possam expli-car.

Diante do aprofundamento da crise, têm si-do propostas duas soluções para as questõescolocadas por esses processos de aproxima-ção económica — de interdependência —entre os Estados.

De uma parte, há os defensores das vanta-gens da interdependência económica comoum absoluto. Decreta-se a obsolescência doEstado nacional. Sustenta-se que a melhorcontrapartida para a aproximação econó-mica é a criação de mecanismos políticostransnacionais. Advoga-se, pelo menos, asujeição dos esforços de desenvolvimentonacional, naquilo em que visam à criação deuma capacitação autónoma básica, às nor-mas e condições de um sistema internacio-

nal supostamente neutro, eficiente e equili-brado. E isto precisamente num moVnentoem que se aguçam as imperfeições do siste-ma e se torna dramática a percepção de quesua operação soma obstáculos ao caminhodos países em desenvolvimento.

De outra, há os que indicam que a interde-pendência é fenómeno menor, que não temporque levar a comunidade internacional aqualquer reforma ou rearranjo político. Pa-.ra estes — em geral setores de pensamentonos países mais desenvolvidos — a interde-pendência, conceituada, de fato, como umanova forma de dependência, aumenta asmargens de utilização do poder, permiteque melhor consigam moldar, segundo seusinteresses, a ordem internacional em seusvariados setores, especialmente o comerciale o financeiro.

Ambas atitudes são, a meu ver, equivoca-das. As consequências políticas da interde-pendência não devem ser articuladas pormeio da erosão do conceito de soberania. Eisto por dois motivos principais: em primei-ro lugar, no eixo Norte-Sul — que nos inte-ressa fundamentalmente — o processo deinterdependência só coloca a questão da so-berania no plano do Sul. Com efeito, a nin-guém ocorre arguir que a soberania dos paí-ses do Norte vis-á-vis os do Sul está ou deveser afetada em consequência do processo deinterdependência. Não é fatal, portanto,que a interdependência económica supereas soberanias nacionais. Em segundo lugar,a mobilização da vontade política, em ter-mos nacionais, é fator muito forte de de-senvolvimento, o que não pode ser ignora-do na compreensão de qualquer fenómenointernacional. Nem seria politicamente pos-sível essa mobilização, necessária ao desen-volvimento, em um quadro que atenue osentimento nacional. O Presidente João Fi-gueiredo já advertia com ênfase, em seupronunciamento nas Nações Unidas, em se-tembro do ano passado, que "a interdepen-dência não pode ser conceito inimigo dassoberanias nacionais".

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Em contrapartida, ao exacerbarem as possi-bilidades de uso arbitrário do poder, os pro-cessos de interdependência, se vistos comoantinacionais, provocariam um comporta-mento político que agravaria as dificulda-des consequentes à crise económica.

Reconheçamos, pois, o fenómeno econó-mico da interdependência, mas não renun-ciemos ao direito de administrá-lo politica-mente. Na verdade, diante da crise que vive-mos, e em função da diversificação da inter-dependência, o mundo da economia e omundo da política se mesclaram ao pontode se tornarem muitas vezes verdadeiramen-te indistinguíveis. Por exemplo, a altíssimaparcela do comércio internacional que é re-gulada por instrumentos diplomáticos ouorientada por ação direta dos Governosconfigura claramente essa interaçao das es-feras política e económica.

Uma consequência evidente —embora nemsempre bem avaliada no cotidiano — é a deque as decisões políticas, em seus vários as-pectos, têm que incorporar, na medida jus-ta, as razões da economia. Em contraparti-da, a racionalidade económica só se com-pleta quando a ela se adiciona o ingredientepolítico e, diria mesmo, o ingrediente ético.

Lamentavelmente, porém, isso nem sempreocorre. A força de interesses setoriais, ou ainércia mental, ou as necessidades eleito-rais, levam frequentemente a simplifica-ções, a uma compreensível perda de cora-gem. As vantagens económicas de curtoprazo, o recurso intenso ao protecionismocomercial, a fuga sistemática às soluçõesmultilaterais (como atestam os pobres re-sultados da VI UNCTAD, recém-terminadaem Belgrado) criam a ilusão de ganhos eco-nómicos desvinculados do processo de for-mação de consenso político. E, mais, criam,no sistema internacional, um ambiente ne-gativo, que é justamente o antípoda do cli-ma de inovação e coragem de que carece-mos para vencer os impasses políticos eeconómicos contemporâneos.

O intercâmbio económico não deve ser umacontrafação do jogo bruto do poder, nemum simples exercício de "toma-lá-dá-cá". Aprimeira forma impediria a verdadeira co-operação e negaria as possibilidades de quecheguemos à "riqueza das nações"; a segun-da, porque simplista, ignoraria as distorçõese as desigualdades económicas, a necessida-de de construção solidária, e, enfim, negariaque o comércio é um dos fatores essenciaisà prosperidade de todos e ao aperfeiçoa-mento do relacionamento político interna-cional.

A rede da interdependência económica estácolada ao processo político. Na verdade,não existem formas neutras ou puramenteeconómicas de lidar com a crise, e a inter-dependência contém uma parcela de ambi-guidade: tanto serve para a construção depadrões de enriquecimento coletivo (que, arigor, até hoje não existiram de maneiraplena no sistema económico, dada a vulne-rabilidade dos países em desenvolvimento)quanto pode multiplicar e aprofundar as ra-zões da crise, pelos mecanismos de trans-missão que embute, em especial os recessi-vos.

A solução positiva dessa ambiguidade de-penderá da vontade política para cooperar.Dependerá das possibilidades de diálogoque o sistema político internacional ofere-ça. Dependerá mais profundamente dapró-pria capacidade da comunidade internacio-nal de estabelecer bases para esse diálogo.Hoje, confesso ver poucas manifestações decooperação em termos de busca de soluçõesduráveis para a expansão da economia mun-dial e mais a exacerbação de soluções indi-viduais, que podem realimentar a crise eampliar as tendências negativas vigentes.

Essas tendências parecem mesmo forçar-opções que agravam as dificuldades. É ne-cessário, porém, quebrar o círculo, o quenão é exercício para países isolados. Nãonos podemos iludir quanto à profundidadee persistência dessa crise. Infelizmente, nãoparece que estejamos diante de um fenóme-no internacional momentâneo.

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Neste momento extremamente difícil, énosso dever comum fugir ao pessimismo.Esse é um esforço que tenho feito à frenteda nossa diplomacia, ao mesmo tempo emque procuro orientá-la com realismo paraservir à sociedade brasileira no enfrenta-mento dos desafios externos.

Neste sentido, gostaria de compartilhar comos Senhores aspectos da análise que façoda situação internacional, análise que servecomo pano de fundo para definir as bases,no plano diplomático, da resposta brasileiraà crise.

Começaria por mencionar alguns dados so-bre a economia internacional que são verda-deiramente alarmantes. Não sou eu quemassim os qualifica mas o Secretário-Geral daUNCTAD. Em 1981, o PNB dos países emdesenvolvimento, tomados em conjunto,cresceu somente 1,5 por cento; em 1982, ataxa foi ainda menor. Conseqúentemente, hádois anos, temos taxas negativas de cresci-mento per capita. A dívida externa globalseguramente superou os 600 bilhões de dó-lares. A deterioração dos termos de inter-câmbio foi profunda e os países em desen-volvimento, à exceção dos exportadores depetróleo, perderam por esse motivo cercade 34 bilhões de dólares.

Embora no Norte a crise assuma formas di-ferentes e tenha implicações sociais e eco-nómicas distintas — afinal, sua capacidadede se defender é substancialmente maior —,os países desenvolvidos também sofrem.Nos dois últimos anos, a sua taxa média decrescimento não ultrapassa 1 por cento; oinvestimento declina e o desemprego alcan-ça quase 30 milhões de pessoas. Nos paísesda Europa Ocidental, a taxa de crescimentotambém declina e alguns deles enfrentamsérios problemas de pagamentos.

Num ambiente económico recessivo, o co-mércio se contrai e os fluxos financeiros di-minuem.

Se considerarmos o conjunto desses ele-mentos, se olharmos para as perspectivas de

correção de tendências — que são lentasapesar da recuperação económica america-na —, dificilmente deixaremos de ver a cri-se, por sua profundidade, como um fenó-meno que, embora por definição conjuntu-ral, revela sérias inadequações na estruturamundial. Sua manifestação mais óbvia é oescopo da crise de pagamentos nos paísesem desenvolvimento. Mas, aí, temos somen-te um dos elos da corrente. Os próprios me-canismos de interação económica internaci-onal estão comprometidos e, como estãoarmados, prometem vicissitudes e dificulda-des. Não cumprem suas finalidades com anecessária previsibilidade.

As dinâmicas financeira e comercial reali-mentam-se reciprocamente, em sentido ne-gativo, gerando impasses crescentes. O siste-ma financeiro, que deveria ser um fiador doequilíbrio das transações reais, é hoje um fo-co de instabilidade; o comércio, que deveriapermitir padrões aperfeiçoados de especiali-zação internacional do trabalho e facilitaro desenvolvimento, torna-se palco de umabatalha permanente, moldada por infinitasformas de protecionismo. Finanças e co-mércio, que deveriam funcionar como cha-ves para o desenvolvimento, aparecem hojeprincipalmente como fatores de constrangi-mento e limitação para os países em desen-volvimento.

Se a conjuntura preocupa, alarma mesmo, oque preocupa ainda mais é que não há indi-cações importantes de reversão de tendên-cias. Ao contrário. Lembraria alguns pou-cos elementos:

1. a inexistência de uma base comum parao relançamento económico e a teoria sim-plificada do "foco único" da recuperação:as últimas reuniões internacionais demons-traram a dificuldade de articular bases co-muns, consensuais, em que se recolha a vi-são dos países em desenvolvimento, para arecuperação da economia mundial. Vige a-penas o argumento de que a recuperaçãonos países centrais, especialmente os EUA,seria suficiente para a retomada do desen-

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volvimento. Esse argumento é, porém, sim-plista por várias razões. As previsões das me-lhores fontes situam as perspectivas de cres-cimento dos industrializados ao nível de 2.8a 3.0% nos anos 80, média bem abaixo daque prevaleceu em décadas anteriores. Ain-da que os EUA consigam superar esses ní-veis, dificilmente todos os industrializadoso conseguiriam, e é fatal que, sem bases am-plas, as correias de transmissão de recupera-ção trarão aos países em desenvolvimentopequeno alívio que, à vista de seus proble-mas de pagamento, não dinamizará suas e-conomias.

2. a acumulação de dificuldades comerci-ais: se olharmos para as formas de interaçãocomercial, o que verificamos é a multiplica-ção de formas de protecionismo, que ope-ram praticamente em todos os sentidos dasrelações (Norte-Norte, Norte-Sul, Sul-Sul).Aliás, um dos mais férteis campos da imagi-nação nos países desenvolvidos é justamen-te o da criação de barreiras comerciais. Cha-mo a atenção para tendências que me pare-cem de difícil reversão: (i) as duríssimasdisputas comerciais entre a CEE, o Japão eos EUA; (íi) a presença ativa de setores nospaíses desenvolvidos que, com base emações políticas, sustentam indústrias de bai-xa produtividade, impedindo a expansão deexportações dinâmicas dos países em desen-volvimento (a cada dia, surgem novas amea-ças prc+ecionistas a produtos brasileiros: oempenho em erigir barreiras para têxteis eprodutos siderúrgicos é já tradicional, e aestas somam-se obstáculos a exportaçõesdinâmicas, como suco de laranja, soja, avi-ões); (in) infelizmente, essa deterioração de-corre não só da recessão e do protecionis-mo, senão também da própria concentraçãodo setor industrial dinâmico dos desenvolvi-dos em tecnologias que exigem poucos in-sumos oferecidos pelos países do Sul.

3. a persistência das dificuldades financei-ras: nesta área, há duas tendências básicas:em primeiro lugar, a política económicados desenvolvidos tem-se concentrado emações de deflação em detrimento das que

favorecem o emprego e o investimento, oque tem implicado taxas de juros altas,proibitivas praticamente para uma vasta sé-rie de atividades industriais; num segundoplano, a existência da dívida dos países emdesenvolvimento gera efeitos próprios, oprimeiro dos quais está ligado a uma pro-funda retração dos mercados financeirospara os países em desenvolvimento.

4. fatores ideológicos e a crise das institui-ções multilaterais: um fator que dificulta odesenho e a implementação de políticas derecuperação está ligado a colocações ideoló-gicas que marcam certas posturas nos paísesdesenvolvidos. Esse fator tanto prestigia asfórmulas unilateralistas quanto não colo-ca em perspectiva as forças de um merca-do internacional, onde, entretanto, parcelasubstancial do comércio é feita em moldesadministrados.

A articulação desses diversos elementos su-gere a conclusão de que estamos diante desituações verdadeiramente novas, situaçõesque a melhor teoria não soube prever e evi-tar. Faltam no plano internacional instru-mentos de ação especificamente adequadosà nova época em que estamos entrando.

Vivemos um tempo em que a dinâmica daeconomia se tornou muito mais rápida doque a capacidade pol ítica para entendê-la e,sobretudo, gerenciá-la equitativamente.

Como cortar o círculo? Como recuperar ocontrole sobre os acontecimentos?

Não penso que seja fácil, nem terá o Brasilprescrições acabadas sobre o que fazer. Ospadrões de inserção do Brasil no sistema in-ternacional, favoráveis quando iniciamos otrabalho de amplíação-e sofisticação de ex-portações, foram radicalmente alterados.

Apesar de sua participação relativa diminu-ta no mercado, o Brasil é hoje percebidocomo competidor dos países desenvolvidos.Tantas vezes, pequenas faixas de mercadosão disputadas com meios que vão além do

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económico. Infelizmente, como disse, asformas do protecionismo contra alguns denossos produtos não devem diminuir.

É hora de buscar o mais rigoroso equilíbrioentre a ação orientada pelo interesse de cur-to prazo e as necessidades de longo prazo,que só se podem realizar num sistema eco-nómico internacional reformado, dotado denovos critérios e novos mecanismos institu-cionais.

Por maiores e dramáticas que sejam as me-didas de ajustamento adotadas unilateral-mente pelo Brasil, seus efeitos só serão real-mente eficazes se melhorar significativamen-te a performance do sistema económico in-ternacional como um todo, o que supõe, emalguma'dose, sua reforma. O Brasil, sem dú-vida, deve fazer a sua parte mas deve igual-mente insistir em que seus parceiros façama deles. A austeridade é uma política eco-nómica, não uma expiação.

Nesse contexto, sabemos que é necessáriorealimentar o diálogo multilateral, reacen-der as bases de cooperação internacional,dando-lhe contornos abertos e equitativos.É essencial manter desobstruídos os canaisde entendimento, sublinhar as vantagensdos caminhos negociadores e da diploma-cia.

Não devemos esperar dos mecanismos e ins-tituições multilaterais decisões sistemáticasque levem à rápida superação da crise. Os li-mites são evidentes e brotam da própria vo-cação desses organismos, o que sugere queneles trabalhemos na perspectiva do médioprazo. Não é aconselhável, contudo, aban-doná-los, É preciso mesmo prestigiá-los pro-que são o foro natural para o exame dascausas estruturais da crise contemporânea eporque é essencial que a resposta à crisenasça do diálogo e da cooperação.

O esforço de aperfeiçoamento dos esque-mas de gerência multilateral não deve deforma alguma — e aí penso no prazo maisimediato — reduzir o esforço de exploração

de todas as fórmulas que maximizem aspossibilidades de intercâmbio com todos osnossos clientes comerciais.

Devemos buscar a renovação e. sofisticaçãodos vínculos com os parceiros desenvolvi-dos tradicionais. Em relação a estes, deve-mos continuar e intensificar as práticas mo-dernas de promoção comercial e defesa di-plomática dos mercados em que penetra-mos em função da competitividade de nos-sos produtos. Por outro lado, prosseguire-mos no esforço de persuasão a longo prazo,em que procuramos convencer nossos par-ceiros das vantagens mútuas de um inter-câmbio mais rico e mais equilibrado entreos países do Norte e do Sul. Não devemosainda esquecer que a área socialista, apesarde dificuldades específicas, ainda tem am-plas potencialidades a serem exploradas.

Não nos devemos resignar a atitudes tradici-onalistas e tímidas. Temos obrigação deconquistar e reconquistar espaços económi-cos. Não podemos aceitar qualquer compre-ensão estática de vantagens comparativas.Ao contrário, nossas potencialidades sãoexpressivas, mesmo em setores avançadosde produção industrial e serviços.

Não nos devemos impor autolimitações ar-tificiosas. As formas de cooperação na linhaSul-Sul, de sua parte, têm sido das maisprofícuas para a expansão das exportaçõesbrasileiras, em particular para a colocaçãode manufaturados. Apesar das dificuldadesde hoje, não podemos perder o espaço con-quistado nessa área. Há caminhos a explo-rar na armação de esquemas multilateraisentre países em desenvolvimento, na forma-ção de empresas conjuntas, fórmulas depreferência, cooperação na área da tecnolo-gia, modalidades de intercâmbio de produ-ção, esquemas triangulares, etc.

Da consideração desses diversos elementosse pode retirar a lição mais permanente dacrise: a revelação dos limites do sistema in-ternacional enquanto propulsor "automáti-co" do processo de desenvolvimento. Tal-

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vez seja esse o mais claro elemento a com-por a consciência política dos países emdesenvolvimento nesta quadra histórica. Es-sa constatação nos obriga a não esmorecerno esforço de obter o aperfeiçoamento e re-forma da ordem internacional; obriga-nos àcriatividade e à disposição permanente paranegociar com os países desenvolvidos; obri-ga-nos a buscar fórmulas novas de encontrona linha Sul-Sul. Acima de tudo, dramatizara percepção de que é de nós mesmos, denosso trabalho, de nossa capacidade de or-ganização, de nossa inventiva, de nossa soli-dariedade nacional que depende nossa pros-peridade, liberdade e independência.

Não podemos simplesmente esperar solu-ções. Temos de lutar por elas. Tudo que f i -zermos, agora condiciona nosso futuro e,por isto mesmo, deve estar voltado para oobjetivo permanente de consecução da au-tonomia, de direção própria de nossos ne-gócios.

Acentuar o esforço exportador reforçará aautonomia, transformará constrangimentose limitações em oportunidade e vantagens.

Penso que a boa performance económicanão dispensa um quadro político propício.Também exige que empresários e diploma-tas trabalhem' juntos, em diálogo fluido,

permanente, Da parte do itamaraty, temosprocurado corresponder a essas premissas equero que minha presença aqui seja simbó-lica de uma aproximação que tem raízeshistóricas, e que produziu frutos importan-tes para a sociedade brasileira. Momentoparadigmático dessa aproximação decorreuno fim do século passado quando o Barãodo Rio Branco, ainda em funções consula-res na Europa, dirige um pavilhão comercialna Feira Internacional de São Petersburgo,e faz propaganda de nosso café, querendoabrir o mercado russo para a bebida, na ta-refa de competir com o chá. Hoje, nossastarefas seguramente não serão menos difí-ceis ou ousadas.

O país não é, evidentemente, só comércioou só economia. É verdade que as formaseconómicas e comerciais devem estar per-meadas dos interesses globais e, nesse senti-do, só tenho razões para encontrar fatoresde compatibilidade entre as ações empresa-riais e a orientação geral da política exter-na. Cada qual terá sua dinâmica própria eterão pontos de encontro: economia e polí-tica, comércio e diplomacia, devem fertili-zar-se mutuamente. Trabalhando juntos,bem articulados, empresários e diplomatas,poderemos dar uma contribuição importan-te para a superação do momento difícil quevive a nação.

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a visita do secretário das relaçõesexteriores do méxico

Discurso do Ministro de Estado das Relações Exteriores, Ra-miro Saraiva Guerreiro, no Palácio do Itamaraty emBrasília, em 3 de agosto de 1983, por ocasião de jantaroferecido ao Secretário das Relações Exteriores do México,Bernardo Sepúlveda.

Excelentíssimo Senhor Ministro,

É com satisfação que apresento as boas-vin-das do Governo brasileiro a Vossa Excelên-cia e à sua ilustre comitiva.

A visita de Vossa Excelência representa eloadicional de uma sequência de contactos domais alto nível entre os Governos do Brasile do México, que muito diz da prioridadeque se atribuem mutuamente nossos paísese que tãd grande expressão teve no recenteencontro dos Presidentes Miguel De Ia Ma-drid e João Figueiredo em Cancún.

A presença de Vossa Excelência entre nósconfigura excelente oportunidade para ana-lisar e dinamizar os fluxos da cooperação edo intercâmbio bilaterais. Significa tambémo primeiro passo no sentido de implemen-tar o sistema de consultas políticas em ma-térias de interesse mútuo, proposto peloPresidente De Ia Madrid e instituído por a-cordo entre nossos dois Governos, assinadopor ocasião do encontro presidencial deCancún, em abril último.

Tenho, pois, a certeza de que iniciamos,uma nova etapa no crescente e fecundo re-

lacionamento brasileiro-mexicano, precisa-mente em momento em que, pelas diretri-zes de nossos Presidentes e com base numpassado de fraterna e cordial amizade, nos-sos países experimentam sensível intensifi-cação nas suas relações para diversificar aampla e proveitosa cooperação bilateral.

Senhor Ministro,

Na grandeza da História e das tradições doMéxico, transparece o empenho com queseu povo tem-se esmerado na defesa da paz,do progresso e do bem-estar e na promoçãodos valores do equilíbrio, da harmonia e dajustiça. As grandes figuras dos próceres me-xicanos, de Hidalgo a Madero, de Juárez aCárdenas, testemunham a inigualável forçadesses ideais a um tempo tão mexicanos etão latino-americanos.

O México tem-se mostrado generoso em suavontade de compartilhar com a comunida-de internacional a experiência que o colo-cou em lugar de realce na defesa da nego-ciação política e do entendimento com vis-tas à participação social. Herdeiro de sólidatradição de conciliação que inspira a vida

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interna do país, e por isso mesmo qualifica-do para compreender a necessidade da mu-dança com progresso e da liberdade comresponsabilidade, o México tem-se lançadoem iniciativas positivas no campo interna-cional.

Senhor Ministro,

No decorrer do encontro que mantiveramem Cancún, puderam nossos Presidentes de-dicar-se à análise em profundidade da con-juntura política e económica. O quadro nãoera de molde a permitir otimismos e a gravi-dade da situação internacional, o desequilí-brio do sistema económico, os riscos deuma confrontação entre potências, a persis-tência de conflitos reais ou potenciais àsombra das disputas globais de poder e aameaça da virtual paralisação, senão do re-trocesso, do esforço das nações em desen-volvimento formavam o conjunto de ele-mentos sobre os quais nossos Chefes de Es-tado expressaram suas apreensões e para cu-ja superação propuseram-se não medir es-forços.

Ao término daquele encontro, foi assinada aDeclaração de Cancún, que continha o diag-nóstico da situação presente e da forma co-mo afeta o ritmo de desenvolvimento denossos países. Permanece válido e inaltera-do o diagnóstico feito pelos Presidentes. Odesequilíbrio crescente entre as economiasdesenvolvidas e em desenvolvimento; a de-sordem do sistema produtivo internacional;a necessidade de encontrar saídas para orelançamento da economia mundial quenão signifiquem a destruição de décadas deesforço desenvolvimentista; o imperativode reformulação e fortalecimento das insti-tuições financeiras internacionais; os apelosdos países em desenvolvimento em prol daretomada do diálogo Norte-Sul, na sua ver-dadeira dimensão de cooperação interna-cional em benefício de todos os povos, etantas outras preocupações que temos ma-nifestado, continuaram a conviver, nesseperíodo, com a falta de vontade políticadas nações desenvolvidas para enfrentar as

verdadeiras causas da crise atual e a sua ilu-sória expectativa de que apenas a recupera-ção interna de suas economias abrirá o ca-minho para a retomada do crescimento emnível mundial.

Paralelamente, continuam em impasse osténues esforços em prol do desarmamento,em uma conjuntura em que de tanta utili-dade seriam os volumosos recursos empre-gados na criação e no desenvolvimento dearmas cada vez mais mortíferas, que amea-çam a sobrevivência da Humanidade.

Esse quadro de aspirações frustradas e von-tades políticas desviadas dos rumos da ver-dadeira paz e do verdadeiro bem-estar dahumanidade apenas contribui para aguçar odescontentamento e aumentar as tensões.O mundo em desenvolvimento, baldados osseus esforços na busca do progresso, tendea se transformar em campo fértil para asconfrontações e os conflitos desastrosos.

A felicidade de maciços contingentes de ho-mens, mulheres e crianças passou a ser fun-ção não da procura de caminhos viáveis pa-ra a obtenção da paz e do bem-estar social,mas de concepções estratégicas da realidademundial e de cada membro da comunidadeinternacional. A recuperação económicapassou a ser função não de políticas quecontemplam a estabilidade no médio e nolongo prazos, mas tão somente de esforçosisolados, que não levam em conta causas re-ais e estruturas que tendem a repetir pro-blemas, se meramente conservadas.

Senhor Ministro,

A América Latina não tem permanecido àmargem dessa difícil situação. Se no planoeconómico, no entanto, nossa ação se vêbloqueada precisamente pela intransigênciadaqueles que ainda se crêem beneficiáriosdo sistema vigente, no plano político nossacoordenação, nosso apoio recíproco e nossadeterminação de impedir consequênciasmaiores da presente crise são fundamentais.

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Não está nosso continente imune às tentati-vas de transferência de tensões globais parasuas áreas carentes de praticamente qual-quer incentivo maior ao desenvolvimento.Ao contrário, o subdesenvolvimento, de ra-ízes históricas e estruturais, agravado pelascircunstâncias presentes, é campo fértil pa-ra os falsos profetas, para a prescrição depanaceias, para os conflitos de toda ordem,que agravam ainda mais a situação de penú-ria e falta de recursos.

Impedir que tais conflitos grassem no Con-tinente é a tarefa política que mais de pertose impõe para a América Latina. A AméricaCentral é hoje, mais do que nada, provaconcreta de que é necessária a reformulaçãodo sistema económico internacional, em ba-ses mais justas e equitativas; mas é tambémo palco de um conflito de raízes históricas,de natureza política, que cumpre tratarcom soluções políticas, como ponto de par-tida para relançar o desenvolvimento na re-gião.

A experiência latino-americana na busca desoluções pacíficas para os problemas é amelhor saída política para essa crise, apesardas peculiaridades ideológicas de que setende ela a revestir. O Brasil tem demons-trado o apoio que empresta às iniciativas depaz para a região, especialmente àquela quepromovem os países do chamado Grupo deContadora, de que o México, dentro da suamais cara tradição, faz parte. Não poderiadeixar de reiterar o favorecimento brasilei-ro às gestões do Grupo, mormente agoraque, passada a fase de aproximação das par-tes, levada a efeito com as sucessivas reuni-ões de Chanceleres do Grupo com os dospaíses envolvidos, passa a iniciativa à fasedas propostas concretas, apresentadas pelosChefes de Estado da Colômbia, do México,do Panamá e da Venezuela na Declaraçãofirmada em Cancún em julho último.

Creio efetivamente que a complexidade dasmedidas ali propostas homologa, na verda-de, a multiplicidade das aspirações e das ne-cessidades das partes envolvidas e revela o

sincero desejo de evitar o conflito armado eas tensões, em benefício dos interesses maislegítimos de seus povos.

Junta-se o Brasil à exortação que aquelespaíses fazem aos seus irmãos centro-ameri-canos, no sentido de que procurem compa-tibilizar posições e se dediquem com afincoà busca de uma solução duradoura, de for-ma a contemplar as aspirações de paz, pro-gresso, bem-estar, pluralidade democráticae respeito aos direitos humanos que devemembasar a caminhada no rumo do desenvol-vimento, com independência e mútuo res-peito. A América Latina tem aprendido,desde a sua independência, o valor da soli-dariedade continental. Não podemos conce-ber a destruição dos mais elementares valo-res do Novo Mundo e da mais cara tradiçãoda América, formada na defesa da paz, daautodeterminação e do direito à busca dafelicidade e do bem-estar.

Senhor Ministro,

Num mundo conturbado pelos efeitos ad-versos da crise económica e das dificuldadespolíticas, países como o Brasil e o México,com idêntica vontade política de participarda reformulação de estruturas injustas e deoferecer seus esforços na manutenção dapaz regional e mundial, muito têm a ganharcom a discussão franca e aberta de temasdo seu interesse recíproco.

Não temos em mente veleidades de lideran-ça ou aspirações de formar eixos de poderregional. Países em desenvolvimento, comimensos potenciais, francamente abertos aoconvívio internacional, sentem o Brasil e oMéxico a necessidade de compartilhar suasexperiências como instrumento de seus pro-jetos nacionais.

Também no âmbito bilateral nossas consul-tas serão da maior serventia. Buscamos nor-malizar o intercâmbio bilateral, duramenteafetado pela crise que lhe fez baixar o ní-vel. A vontade política de nossos Governos,a importância que atribuem a suas relações

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com outras nações em desenvolvimento e opotencial que esse intercâmbio representapara a superação de dificuldades conjuntu-rais fez que nossos países procurassem esta-bilizar o quanto antes relações económicasque se baseiam na complementaridade desuas economias e no esforço por manter di-versificados os parceiros.

O "Programa de Trabalho sobre Coopera-ção Económica e Comercial" e o "AjusteComplementar ao Acordo Básico de Coope-ração Técnica e Científica", assinados du-rante a visita presidencial a Cancún, consti-tuem dois instrumentos basilares da etapaque inauguramos no relacionamento bilate-ral.

Senhor Ministro,

A presença de Vossa Excelência simbolizaum processo de grande importância paranossos povos e Governos. Procuramos tor-nar cada vez mais real e palpável a solidarie-dade e a fraternidade que unem os povos la-tino-americanos. Nosso exemplo e nossa de-dicação a ele de muito poderão servir paramostrar o alcance que essas palavras têmem solo americano.

É com esse espírito, pois, que convido to-dos os presentes a brindarem pelo contínuodesenvolvimento das relações mexicano-brasileiras, pela prosperidade do México,pela felicidade do seu povo e pela saúde eventura pessoal de Vossa Excelência e daSenhora de Sepúlveda.

Muito obrigado.

comunicado de imprensa relata os entendimentos

do chanceler mexicano no brasil

Corruniçado de imprensa Brasil-México, divulgado peloPalácio do Itamaraty, em Brasília, em 5 de agosto de 1983, ao

final da visita do Secretário das Relações Exterioresdo México, Bernardo Sepúlveda.

A convite do Ministro das Relações Exteri-ores do Brasil, Embaixador Ramiro SaraivaGuerreiro, o Secretário das Relações Exte-riores do México, Embaixador Bernardo Se-púlveda Amor, realizou visita oficial ao Bra-sil, no período de 31 de julho a 5 de agostode 1983.

A visita do Chanceler mexicano ao Brasil seinsere no quadro das relações fraternas en-tre o Brasil e o México, e permitiu aos doisChanceleres dar seguimento ao propósitoexpresso na Declaração Conjunta de Can-cún, por meio da qual os Presidentes Mi-guel de Ia Madrid e João Figueiredo convie-ram em impulsionar e fortalecer, com uma

decisão política no mais alto nível, as rela-ções bilaterais em todos os campos.

Durante sua permanência em Brasília, o Se-cretário das Relações Exteriores do Méxicofoi recebido em audiência pelo Senhor Vice-Presidente, no exercício do cargo de Presi-dente da República, Senhor António Aure-liano Chaves de Mendonça, havendo sidoigualmente recebido pelo Presidente do Se-nado Federal, pelo Presidente da Câmarados Deputados e pelo Presidente do Supre-mo Tribunal Federal.

Conjuntamente com o Chanceler brasileiro,o Secretário Sepúlveda inaugurou a I Reu-

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nião de Consultas Brasil-México sobre Ma-térias de Interesses Mútuo, mecanismo cria-do pelo Memorandum de Entendimento as-sinado em abril de 1983. Este mecanismode Consultas constitui um instrumentocomplementar para fortalecer a relação po-lítica e promover a cooperação entre osdois países. No curso dessa Primeira Reuni-ão, os dois Chanceleres, em ambiente degrande cordialidade e harmonia, passaramem revista temas da atual conjuntura inter-nacional e regional e analisaram os princi-pais aspectos do relacionamento bilateral.Verificou-se, então, ampla convergência deposições com referência a variada gama dequestões internacionais e regionais.

Os Chanceleres manifestaram sua profundapreocupação pelo agravamento das tensõese dos conflitos internacionais e pelas carac-terísticas de que se reveste a crise económi-ca mundial.

No tocante à crise nos países da AméricaCentral, o Chanceler Sepúlveda reconheceuo apoio que o Brasil tem reiterado, de ma-neira muito firme e decidida, ao Grupo deContadora e aos esforços que realiza paraevitar que a situação na América Central seagrave, e para propiciar condições favorá-veis ao diálogo e à conciliação e propor fór-mulas que permitam restabelecer a paz e aconcórdia naquela região. Foi destacada aimportância da contribuição política doBrasil aos objetivos conciliadores e de paci-ficação de Contadora, e os dois Chanceleresacentuaram a necessidade de continuar oesforço diplomático para facilitar a via danegociação política para a solução do con-flito centro-americano.

O Chanceler Saraiva Guerreiro reiterou aconvicção de que as atividades do Grupo deContadora representam o melhor caminhopara a superação da crise centro-americana.

Ao analisarem as relações bilaterais, cujodesenvolvimento positivo ressaltaram, ex-pressaram seu empenho em dar continuida-de aos esforços tendentes a dinamizar osfluxos comerciais entre os dois países e a

promover co-investimentos industriais quecontribuam para esse objetivo. Os doisChanceleres expressaram sua convicção deque a realização desses projetos possibilita-rá incrementar o intercâmbio de bens e ser-viços e aproveitar plenamente o potencialde cooperação entre as duas economias. Aesse respeito foram examinados aspectos re-lativos à visita ao brasil, em setembro pró-ximo, de uma missão comercial mexicana.

Foram igualmente analisadas questões rela-cionadas à preparação da III Reunião daSubcomissão Económica e Comercial brasi-leiro-mexicana e da II Reunião da Subco-missão Científica e Técnica, ambas previVtas para os primeiros dias de setembro vin-douro.

No campo do intercâmbio cultural, os doisChanceleres decidiram realizar diversos pro-jetos que permitirão ampliar o conhecimen-to mútuo das manifestações culturais de ca-da um dos dois países. No futuro imediato,concordaram em realizar um programa paraa tradução de obras do espanhol ao portu-guês e do português ao espanhol, assim co-mo um encontro de especialistas em ciên-cias sociais e políticas do México e do Bra-sil a ser levado a efeito neste país; o Méxicoenviará uma exposição de arte pré-colombi-na ao Brasil.

Ambos os Chanceleres manifestaram a con-vicção de que o mecanismo de consultas,que se reunirá periodicamente, constituiinstrumento valioso para a coordenação eaperfeiçoamento das relações entre o Brasile o México e, nesse sentido, já permitiu nes-se primeiro encontro um intercâmbio mu-tuamente proveitoso de pontos de vista so-bre temas de importância prioritária para osdois países.

Ao concluir sua visita oficial, o ChancelerSepúlveda expressou ao Ministro Guerreirosua gratidão pela hospitalidade que recebeue lhe formulou convite para visitar oficial-mente o México. O Ministro Saraiva Guer-reiro aceitou com agrado tal convite, a rea-lizar-se em data a ser acordada por via di-plomática.

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chanceler saraiva guerreiro inaugura

o simpósio''o brasil na antártida",

na câmara dos deputados

Palestra do Ministro de Estado das Relações Exteriores, RamiroSaraiva Guerreiro, na Câmara dos Deputados, em 23 deagosto de 1983, por ocasião da abertura do Simpósio "OBrasil na Antártida".

É para mim oportunidade especialmentegrata abrir os debates deste Simpósio sobre"0 BVasil na Antártida" que, em boa hora,a Câmara dos Deputados, através de sua Co-missão de Relações Exteriores, decidiu pa-trocinar. Em especial, a ocasião servirá paraassociar mais de perto o Poder Legislativoaos programas em curso e aos planos a maislongo prazo. Não quero com isso dizer queo Congresso Nacional tenha estado alheio aotema de nossa reunião. Pelo contrário; foidesta Casa que partiram alguns dos primei-ros incitamentos para que o Brasil tomasseparte na exploração do sexto continente.Mais recentemente, nossa adesão ao Trata-do da Antártida, marco inicial das açõesque agora se desenvolvem, foi submetida aoCongresso Nacional, que a discutiu e apro-vou. Assinalo ainda que os anais deste en-contro e os relatos dos meios de comunica-ção levarão a todos os setores interessadosdo país e ao povo em geral informação aba-lizada sobre os esforços em que o Governoestá empenhado, suas motivações e seu al-cance.

Durante os próximos dias, o tema que nosocupa será tratado pór eminentes oradoressob variados aspectos Pretendo, nestas bre-ves palavras, traçar os contornos políticosda questão, analisar os interesses do Brasil ea forma pela qual os estamos perseguindo.Fá-lo-ei, naturalmente, sob o aspecto dasrelações exteriores. Contudo, uma advertên-cia preliminar fáz-se necessária. Refiro-me àindissociabilidade das faces interna e exter-na das atividades antáVticas. Não é possívelfalar separadamente de uma política exter-na antártica a partir do simples fato de queseu próprio objeto é externo ao territóriobrasileiro. Mais ainda, a Antártida encontra-se submetida a um regime internacional equalquer país, seja ele favorável ou infensoa tal regime, não pode ignorá-lo.

Antes de examinarmos o quadro políticoque circunscreve nosso tema, parece útil re-capitular alguns antecedentes necessáriosa sua clara compreensão, ainda que não ten-cione alongar-me num roteiro histórico.

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Terminado o ciclo inicial do descobrimen-to, que culmina com a chegada de Amund-sen ao pólo sul, em 1911 , os países ativosnas altas latitudes austrais começaram aidentificar seus interesses. Em vários casos,eles se materializam em declarações de so-berania sobre porções da área. Desde há vá-rios séculos, o descobrimento muitas vezesse seguia de apropriação. Projeções aos ma-res austrais das operações durante a Segun-da Guerra Mundial aguçaram a atenção daspotências sobre a vasta área virtualmentedesconhecida. O período da chamada Guer-ra Fria trouxe o receio de que a Antártidafosse palco de confrontações e base para ar-tefatos bélicos de alta potência e alcance.Com esse pano de fundo, perdurava a polé-mica entre os países com reivindicações ter-ritor iais ,e- aqueles contrários a tal solução.Neste segundo campo, colocam-se as duassuperpotências, conscientes de que a repar-tição da área estimularia a possibilidade deconflitos em vez de reduzi-la.

Coube, assim, aos Estados Unidos da Améri-ca patrocinar a negociação de um arranjointernacional que prevenisse a eclosão decontrovérsias e criasse uma base de coope-ração. Para o exercício, dirigiu convites aonze outros países que haviam realizado ex-pedições à Antártida em 1958, quando secelebrou o Ano Geofísico Internacional.'Eram esses países: África do Sul, Argentina,Austrália, Bélgica, Chile, França, Grã-Breta-nha, Japão, Nova Zelândia, Noruega e Uni-ão Soviética.

O Brasil havia participado do Ano Geofísi-co Internacional por meio de vários empre-endimentos científicos, mas não havia orga-nizado expedição à Antártida. Lembremo-nos de que, em 1958, estávamos no auge daconstrução de nossa Capital.

Os doze países citados assinaram, em 1959,o Tratado da Antártida, o qual entrou emvigor em 1961.

As cláusulas do Tratado aplicam-se a toda aárea ao sul do paralelo de sessenta graus de

latitude sul. Os objetivos estão claramenteenunciados e podem ser resumidos em trêstópicos: uso da Antártida unicamente parafins pacíficos com proibição de qualquermedida de natureza militar; interdição deexplosões nucleares e de colocação de deje-tos radioativos; liberdade de pesquisa cien-f íca e promoção de cooperação internacio-nal para esse fim. A prática veio ajuntar umquarto objetivo não claramente explicitadono texto, que é a preservação do meio-am-biente, especialmente frágil dadas as condi-ções peculiares da região.

O Tratado não resolve definitivamente apendência entre os sete países — África doSul, Argentina, Austrália, Chile, França,Grã-Bretanha e Nova Zelândia — que havi-am declarado soberania sobre partes docontinente e os demais opostos a tal atitu-de. Suspende ele a discussão. A participa-ção no Tratado não significa renúncia a di-reitos alegados ou a reivindicações, nem re-conhecimento desses direitos ou reivindica-ções. Além disso, as atividades empreendi-das na vigência do Tratado não podem ser-vir de base para reivindicações ulteriores,nem para negar as já existentes. Em outraspalavras, o estabelecimento de uma estaçãocientífica em região não reclamada não fun-damentará eventual declaração de soberaniasobre ela. Assim também atividades levadasa cabo por um país em área reivindicadapor outro não significam perda ou diminui-ção dos direitos alegados por este. De qual-quer modo, enquanto o Tratado vigorar,nenhuma nova reivindicação pode ser apre-sentada.

Essas disposições têm permitido que os paí-ses operem em qualquer parte do continen-te. Têm igualmente facultado o direito deinspeção que cada Parte Contratante podeexercer sobre as atividades de qualquer ou-tra.

Conquanto negociado e assinado original-mente por apenas doze países, o Tratado f i -cou, aberto à adesão de qualquer Estado-membro das Nações Unidas ou de qualquer

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outro Estado aceito pelos signatários. Atéhoje, quinze outros países aderiram ao Tra-tado, elevando-se a vinte e sete o númerode Partes Contratantes.

O Tratado não prevê mecanismo para a-companhar sua aplicação. Estipulou-se ape-nas que os signatários se reuniriam periodi-camente para ensejar a melhor consecuçãodos princípios e objetivos do instrumento.Celebraram-se até agora onze dessas reuni-ões consultivas, estando prevista a décimasegunda para realizar-se dentro de dias, naAustrália. No entanto, nem todas as PartesContratantes podem enviar representantesàs reuniões consultivas. Elas são abertasunicamente aos doze signatários originais ea outros Estados-Partes que demonstrareminteresse pela Antártida por meio da condu-ção, ali, de atividades substanciais de pesqui-sa científica, seja pelo estabelecimento deestação científica, seja pelo envio de expedi-ções científicas. Nos vinte e dois anos de vi-gência do Tratado, apenas dois países — aPolónia e a República Federal da Alemanha— ingressaram no grupo das chamadas Par-tes Consultivas. As demais treze Partes Con-tratantes, entre as quais o Brasil, não têmassim voz e voto nas deliberações decorren-tes do Tratado.

Se, após trinta anos de vigência do Tratado,qualquer das Partes Consu Itivas o solicitar, u-ma reunião será convocada para rever o siste-ma. É, pois, geralmente considerado que, a-pós 1991, o sistema antártico será reabertoa discussão.

A descrição do Tratado e de seus antece-dentes serve para mostrar a paisagem políti-ca na qual se inserem os interesses brasilei-ros. É para um rápido exame desses interes-ses que me volto, agora, sem pretender es-gotar todos os seus aspectos.

Cada vez mais avançam os conhecimentossobre os mais de quatorze milhões de quiló-metros quadrados cobertos pelo continenteantártico, aos quais se soma a imensa áreadas banquisas de gelo e do mar adjacente.

Mesmo assim, a Antártida ainda é a regiãomais desconhecida do globo terrestre, emgrande parte pelas dificuldades que impõemas extremamente rigorosas condições climá-ticas. No entanto, existe base suficiente pa-ra afirmar que, sem sombra de dúvida, osfenómenos que ali ocorrem têm influênciadireta e decisiva sobre as condições atmos-féricas, meteorológicas, geof ísicas e de ou-tra natureza em nosso território. Em outraspalavras, um melhor conhecimento de im-portantes fenómenos físicos que nos afe-tam pressupõe pesquisa científica na Antár-tida.

Os recursos vivos marinhos daquela áreaapenas começam a ter aproveitamento eco-nómico. As estimativas mais conservadorasdos estudos realizados apontam para a pos-sibilidade de uma captura anual de espéciesaltamente ricas em proteínas equivalente apelo menos o total da pesca mundial. Nocampo dos recursos minerais, hipóteses de-correntes das teorias sobre a deriva dos con-tinentes, que descrevem a separação damassa única constituída pela América doSul, África e Antártida, começam a ser veri-ficadas. Análises de afloramentos e de pros-pecções mostram jazidas de minerais dê va-lor económico e estratégico tanto em terrafirme quanto na plataforma continental.Não é para já que se disporá de tecnologia ede recursos para a extração desses minérios.Mas é significativo que as Partes Consultivasdo Tratado estejam acelerando as tratativaspara a adoção de um regime jurídico para amineração na Antártida. Obviamente, nãopode o Brasil ficar alheio aos benefíciosque podem advir do aproveitamento econó-mico dos recursos vivos e minerais.

Seria um contra-senso se, cientes de fatoscientíficos e económicos que nos afetam,permanecêssemos afastados do foro onde seintercambiam tais informações e se deliberasobre as ações a empreender. Ativamentepresente nas discussões internacionais sobreuso e aproveitamento dos mares, sobre ex-ploração e utilização do espaço exterior, so-bre preservação e gestão do meio. ambiente,

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entre outros vastos e novos campos de en-tendimento multilateral, seria pouco com-preensível que o Brasil se mantivesse estra-nho ao círculo que se ocupa do espaço an-tártico.

Daí nossa adesão e nosso empenho em par-ticipar plenamente do Tratado da Antárti-da, único diploma legal para o ContinenteAntártico, instrumento jurídico válido eaceito para todos os Estados que dele sãoParte e que devem estar ligados pelas mes-mas normas jurídicas. Pode-se dizer que oTratado criou uma situação jurídica objeti-va, válida erga omnes.

Creio pertinente inserir nestas considera-ções gerais algumas palavras sobre a contro-vérsia quanto à repartição da Antártida en-tre várias soberanias. Diversas vozes entre asmais respeitáveis defenderam a necessidadede que reclamássemos um quinhão do Con-tinente. Nunca o fizemos, nem o fazemos.Vimos como o Tratado contorna o proble-ma; suspende, por assim dizer, o debate,sem deslindá-lo. De fato, a matéria é espi-nhosa: toca em sentimentos arraigados devárias nações, deriva de motivações sérias eassaz antigas. Há mesmo reivindicações quese superpõem parcialmente sobre a mesmaárea. Diante de posições irredutíveis, a solu-ção do Tratado parece a mais propícia aevitar conflitos.

Sem, no entanto, nos opormos à argumen-tação de nenhum país, podemos dizer que,no quadro do Tratado, a plena participaçãonas atividades antárticas e o gozo de bene-fícios delas advenientes não pressupõe a re-clamação ou o exercício de soberania. Pelocontrário, nos interessa desenvolver pesqui-sa científica onde mais nos pareça adequa-do. E isso o Tratado nos faculta. Reivindi-car uma faixa de território e nela concen-trar esforços leva a renunciar a atuar no res-tante do espaço. Ademais, tenhamos emmente que o Tratado, que nos obriga, vedaa formulação de novas reclamações.

Após a adesão ao Tratado, o passo decisivoem nossa política antártica foi a decisão do /

Senhor Presidente da República de criar aComissão Nacional para Assuntos Antárti-cos (CONANTAR) encarregada de assesso-rá-lo na matéria. Desde o ano passado, vema CONANTAR trabalhando para que o Bra-sil tenha plena participação nos entendi-mento internacionais sobre a Antártida, is-to é, para que se torne Parte Consultiva doTratado, em pé de igualdade com os demaisquatorze países do grupo. A condição paratanto, como reza o Tratado, é desenvolversubstancial atividade de pesquisa científica.Nessas condições, o instrumento básico daPolítica Nacional para Assuntos Antárticostem de ser o Programa Antártico Brasileiro(PROANTAR). Para planejá-lo e implemen-tá-lo em época de singular escassez de re-cursos, o Governo lançou mão de soluçãoracional e eficaz. Ao invés de criar desde oinício uma nova instituição especializada,como existe em todos os demais países ati-vos na Antártida, o Senhor Presidente daRepública confiou à Comissão Interrninis-terial para os Recursos do Mar (CIRM) atarefa de elaborar e implementar o PRO-ANTAR até que o desenvolvimento do Pro-grama venha a exigir a implantação de umainstituição específica.

Não temo afirmar que os resultados das de-cisões presidenciais têm sido muito positi-vos. O PROANTAR está plenamente estru-turado em execução. As expedições envia-das à Antártida no verão passado foram co-roadas de êxito no sentido de que puderamcumprir com os programas estabelecidos.No próximo verão, estaremos trabalhandoem conjunto com outros países em progra-mas internacionais e estaremos desenvol-vendo os projetos nacionais em trabalhosde campo. Será uma presença ainda maisampliada e diversificada do que a campanhado ano anterior, estando prevista a instala-ção do núcleo de uma futura estação per-manente. Será então possível, no próximoverão, realizar um número muito maior deexperiências, não só nessa estação, senãotambém no navio "Barão de Teffé" adapta-do para trabalhos de pesquisa. Em breveprazo disporemos da estação de apoio an-

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tártico da Fundação Universidade de RioGrande, que ensejará maior cooperaçãocom outros países, os quais poderão usarseus serviços como base avançada de suasexpedições. Completará esse quadro auspi-cioso a futura compra de um navio quebra-gelo.

Os resultados iniciais são tão positivos e oplanejamento para o futuro próximo tãoanimador que já apresentamos às PartesConsultivas do Tratado nossa postulaçãoa sermos por elas cooptados. A receptivida-de preliminar que recebemos das PartesConsultivas atesta a seriedade dos esforçose a continuidade dos empreendimentos bra-sileiros. Esperamos que, a curto prazo, esseobjetivo primoridal de nossa política antár-tica seja alcançado. Em setembro vindouro,assistiremos ainda como observadores à XIIReunião Consultiva do Tratado quandopoderemos melhor harmonizar nossas ativi-dades com as dos demais países atuantes naAntártida.

"O Brasil na Antártida" é escolha feliz parao título deste Simpósio, pois reflete fiel-mente a realidade. Não é só o Governo, porseus órgãos de apoio político, administrati-

vo, técnico e financeiro, que está na Antár-tida. Lá está, sobretudo a comunidade cien-tífica nacional demonstrando, desde os uni-versitários até os mais graduados doutores,que nosso país já dispõe da massa críticanecessária para a condução de programas degrande complexidade. Lá está também ainiciativa privada, capaz de suprir mais emais os instrumentos e equipamentos ne-cessários para levar avante esta vasta empre-sa.

É fundamental o papel do Congresso noempreendimento, desde a ratificação doTratado, que definiu o quadro jurídico paraa atuação do Brasil na Antártica. Seu per-manente interesse, debate e estímulo, deque é significativo exemplo o presente Sim-pósio, é indispensável, pois reflete o engaja-mento do povo brasileiro, aqui representa-do.

Em janeiro deste ano, vimos, pelos meiosde comunicação, tremular em terras antárti-cas o pavilhão nacional. É porque lá está aNação brasileira a provar sua capacidade deadaptação, de inovação, de vencer desafios.

Muito obrigado.

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baena soares abre o n curso de

treinamento para chefes desetores de ciência e tecnologia

Discurso do Secretário-Geral das Relações Exteriores, JoãoClemente Baena Soares, no Palácio do Itamaraty, emBrasília, em 12 de setembro de 1983, por ocasiSo da aberturado II Curso de Treinamento para Chefes de Setores deCiência e Tecnologia.

Senhor Presidente do CNPq,

Senhor Chefe, substituto, do Departamentode Cooperação Científica, Técnica e Tecno-lógica

Senhor Diretor do Instituto Brasileiro deInformação em Ciência e Tecnologia

Meus colegas,

A realização do II Curso de Treinamentopara Chefes de Setores de Ciência e Tecno-logia, que hoje se inicia, responde ao desejodo Itamaraty de conferir treinamento espe-cial e orientado aos funcionários diplomáti-cos que exercem essas funções no exterior,bem como a alguns outros Diplomatas queaqui comparecem na expectativa de travarconhecimento com uma área menos fami-liar de nossa atuação externa.

£ oportuno lembrar que muito antes dacriação do SICTEX o Itamaraty já estavaalento à temática científica e tecnológica ea seus efeitos nas relações Norte-Sul. Em

foros muitilaterais o Governo brasileiro, pe-la ação direta do Ministério das RelaçõesExteriores, de há muito apontava a necessi-dade de mecanismos apropriados de trans-ferência de tecnologia, o risco crescente deuma dependência que poderá ser difícil dereverter e a legitimidade de proteção dainovação tecnológica gerada internamente.Ao mesmo tempo, as Embaixadas tambémeram mobilizadas — como até hoje — para acoleta de informações, documentadas ounão documentadas, sobre aspectos de inte-resse maior para o Brasil, sempre que talnecessidade se revelava. O que se procurouintroduzir em 1976, com a criação do cha-mado Sistema de Informação Científica eTecnológica no Exterior — SICTEX — foi aSistematização dessa atividade de coleta edisseminação, em bases essencialmente bila-terais.

Um limitado número de postos foi seleciona-do e neles gradativamente instituído, comocategoria específica a exigir acompanha-

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mento permanente, a informação em ciên-cia e tecnologia, que como tal passou a f i -gurar nesses postos ao lado de outras cate-gorias de informação mais tradicionais, co-mo a política, a económica e a comercial.Nestes anos que transcorreram desde suacriação, o SICTEX, tem revelado, em maiorou menor grau segundo os casos, um canalútil de comunicação entre as fontes exter-nas de informação e a comunidade científi-ca e tecnológica brasileira, sobretudo se forlevada em devida conta a modéstia dos re-cursos humanos e materiais empregadosnessa tarefa.

Trata-se, é óbvio, de uma forma de açãodiplomática ainda incipiente, de contor-nos um tanto indefinidos, à qual sem dú-vida ainda faltam padrões de referênciamais nítidos, capazes de melhor orientaro agente na coleta e, principalmente, naseleção da informação disponível.

É nesse quadro que se realiza o Curso deAperfeiçoamento que hoje se abre com doisobjetivos primordiais: a familiarização doDiplomata com as prioridades científicas etecnológicas brasileiras e a melhor padroni-zação de trabalho informativo desenvolvi-do pelos SECTECs.

Quanto ao primeiro objetivo, de familiari-zação com áreas, temas e linhas de pesquisaprioritárias da política científica e tecnoló-gica do Governo brasileiro, vejo-o como umcomplemento extremamente útil — quaseindispensável — das informações e instru-ções que os Chefes dos SECTECs recebemno seu dia-a-dia. Entre as linhas-mestras doIII Plano Básico de Desenvolvimento Cien-tíf ico e Tecnológico (genéricas por defini-ção) e sua aplicação efetiva há diferençasou matizes que este contato com alguns dosresponsáveis governamentais pela execuçãodesse Plano certamente ajudará a captar. Opróprio programa de visitas elaborado paraos participantes do Curso visa à mesma f i-nalidade de colocá-los em contato diretocom alguns dos mais destacados centros depesquisa brasileiros. Nas palestras a que vão

assistir, espera-se dos participantes não sóuma presença atenta mas também um com-portamento inquisitivo que procure extrairda lição dos especialistas o aproveitamentoadequado.

A melhor padronização do trabalho infor-mativo atualmente realizado pelos SECTECsé o segundo objetivo deste Curso, que seespera possa fornecer elementos úteis àconclusão de um Manual de Serviço para osSetores de Ciência e Tecnologia. Na formade um primeiro esboço, o Manual foi en-caminhado às sete Embaixadas onde se en-contram em funcionamento esses setores,com antecedência suficiente para que as su-gestões nele contidas pudessem ser coteja-das com as peculiaridades e condicionamen-tos locais.

Como assinalei, tem sido um tanto desigualo trabalho apresentado pelos diferentes se-tores de Ciência e Tecnologia, fato que evi-dentemente dificulta o processamento in-terno da informação e sua disseminaçãoadequada entre as entidades de pesquisabrasileiras. Não se pretende, é claro, atingiruniformidade absoluta na essência da infor-mação, mesmo porque estarão os SECTECsoperando em contextos diferentes entre si,com características por vezes muito distin-tas na maneira de promover ciência e de di-fundir seus resultados. Diferenças existemtambém, e muitas, entre as prioridades ci-entíficas e tecnológicas de cada país entreos níveis de aprimoramento que exibem nasmúltiplas áreas do conhecimento humano.

Essa diversidade de situações e de condicio-namento não deve, entretanto, constituirelemento impeditivo de uma padronizaçãodas modalidades de transmissões da infor-mação. Como entendo que esse trabalhonão deve prescindir dos subsídios que ospróprios Chefes de setor possam oferecer,desejo que esta ocasião — em que estãoreunidos os funcionários diretamente res-ponsáveis, venha a ser plenamente aprovei-tada com essa finalidade. É importante quese fixem padrões uniformes para o trabalho

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informativo, mas é também indispensávelque tais padrões sejam aplicáveis às diferen-tes realidades em que operam os SECTECs.

Convido-os a todo empenho nessa tarefa,pela troca frutífera de experiências, pelascontribuições substantivas à composiçãodas normas desse Manual.

É certamente curta a duração deste Cursode Treinamento, mas estou certo, aindaassim, de que poderemos atingir os doisobjetivos a que o mesmo se propõe, desdeque não faltem aos participantes a dedica-ção e o esforço necessários.

Antes de encerrar, desejo registrar os agra-decimentos do Itamaraty ao CNPq, bem co-mo ao Instituto Brasileiro de Informaçãoem Ciência e Tecnologia, pela valiosa con-tribuição que ofereceram à realização deste

Curso. São excelentes as relações de coope-ração entre o Ministério das Relações Exte-riores, o* CNPq e entidades a ele subordina-das. Nosso firme propósito é ampliar e apri-morar continuamente esta colaboração.

Componentes essenciais do desenvolvimen-to, a ciência e a tecnologia atingiram umadimensão política à qual o Itamaraty nãopode estar ausente. Do agente essencial-mente político —diplomático não se espera— nem se deseja — que se desempenhe co-mo um cientista, pois ele não o é mas simque desenvolva sensibilidade para esta novafaceta do relacionamento entre as nações,orientando com discernimento a coleta dainformação adequada e abrindo canais para.o diálogo da comunidade científica e tecno-lógica brasileira com o exterior.

Muito obrigado

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no senado, chanceler analisa aspectos

políticos e económicos do iii mundo

Exposição do Ministro de Estado das Relações ExterioresRamiro Saraiva Guerreiro, na Comissão de Relações Exterioresdo Senado Federal, em 21 de setembro de 1983.

OCIDENTE E TERCEIRO MUNDO:ASPECTOS POLÍTICOS

Introdução

Ao examinarmos a questão da atitude doBrasil com relação ao Ocidente e ao Tercei-ro Mundo, o primeiro dado a considerar é oda multiplicidade das dimensões brasileiras.É truísmo afirmar que somos um país decontrastes. Será fácil apontá-los. Menos fá-cil, porém, é tirar as consequências de polí-tica externa que esses contrastes e a multi-plicidade das dimensões brasileiras sugeremou impõem. Seria de todo irrealista procu-rar, diante da dificuldade da tarefa, omitirou negar essa complexidade, essa variedadede dimensões. As opções excludentes po-dem, no curto prazo, trazer maior tranquili-dade psicológica aos que as propõem, mas,por estarem separadas da realidade brasilei-ra e do mundo, só teriam consequências po-líticas e económicas desastrosas para o país.

Um dos fatos básicos da complexidade bra-sileira é o de que pertencemos naturalmen-

te a numerosas esferas do convívio interna-cional. Somos latino-americanos, mas, nocontinente, somos ao mesmo tempo plati-nos e amazônicos; somos um país atlântico,mas compartilhamos de longas e variadasfronteiras terrestres; temos forte e admirá-vel contribuição africana na composição danacionalidade ao lado de presença cultural,política e económica ocidental fundamen-tal para a compreensão da história brasilei-ra. Somos um país de grandes potencialida-des mas também de diferentes necessidadesque se agravam em instantes de crise.

O que está em causa, porém, é nossa condi-ção de país ocidental e de país do TerceiroMundo. Querem alguns, em desacordo comos fatos de nossa vida nacional, acreditarque essas condições sejam mutuamente ex-cludentes, como se tivéssemos que optarentre as duas para que a nossa política ex-terna ganhasse consistência.

Esse tema pode ser tratado de várias for-mas. Não será a primeira vez que o aborda-rei; admito que de sua boa e correta com-

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preensão decorrerá naturalmente uma boa ecorreta compreensão da ação externa brasi-leira.

Hoje, colocarei ênfase em duas dimensões.Numa primeira, conceituai, explorarei asimplicações diplomáticas dessa "dupla in-serção" internacional do Brasil; numa se-gunda, mostrarei que seria prejudicial aopaís qualquer linha política que imponhaformas excludentes e privilegiadas de liga-ção.

O que nos torna país ocidental? Que conse-quências políticas advêm dessa condição?

A definição de Ocidente é controvertida.Alguns a limitam à dimensão estratégica oua um alinhamento político pretensamenterígido, empobrecendo-lhe o significado e asimplicações. Para nós, brasileiros, pensoque a compreensão do Ocidente deriva so-bretudo da prevalência de valores, como osda democracia, dos direitos humanos, liber-dade individual, tolerância, pluralismo, pos-sibilidade de progresso e igualdade de opor-tunidades. Não necessito elaborar. Insistiriaapenas em que, traduzida para a ação diplo-mática, incorporada à nossa concepção dointeresse nacional, a dimensão ocidental doBrasil significa primordialmente a possibili-dade de uma convivência internacional be-néficâ,'fundada na paz e no respeito à igual-dade dos Estados, no diálogo, na busca doentendimento. Significa essencialmente adisposição à aproximação e à convergêncianum mundo de entidades soberanas.

Poderia repetir a pergunta antes formuladatambém em relação ao Terceiro Mundo. Oque nos torna país do Terceiro Mundo?Que consequências políticas advêm dessacondição?

É óbvio que somos um país que adere a va-lores ocidentais, mas que certamente nãopertence ao Primeiro Mundo, que congregaexclusivamente os países desenvolvidos.Nossa realidade, nossas condições sociais eeconómicas são flagrantemente de país em

desenvolvimento. Essa condição indica porsi só as dificuldades que se antepõem emnosso caminho na busca de nossos ideais. Sealguma ilusão a esse-respeito poderia exis-tir, a presente crise económica, com suasdolorosas sequelas em nosso país, a terádesfeito. São importantes as implicações decondição de país em desenvolvimento, doTerceiro Mundo. Em primeiro lugar, ela en-volve um modo próprio de encarar o siste-ma internacional: admitimos que o sistemaatual necessita de urgentes transformaçõese correções para dar lugar a uma ordemmais justa entre as nações. Em segundo lu-gar, encontramos várias coincidências natu-rais com posições negociadoras de paísesem condições similares às nossas. Em ter-mos de suas modalidades básicas de inser-ção na economia internacional, por exem-plo, como importadores de capital e tecno-logia e exportadores de produtos tropicaisou pouco elaborados e detentores de influ-ência relativamente secundária sobre as ins-tituições multilaterais.

Como observei em recente Conferência naFIESP, "por ser o Terceiro Mundo compos-to de países diversos, com numerosas con-tradições e disputas, fazer parte dele nãosignifica neutralidade ideológica e, muitomenos, um caminho de confrontação como Ocidente: o Brasil pertence ao TerceiroMundo mas não a qualquer agrupamentoconfrontacionista; nem podemos esquecerque, em determinadas circunstâncias, quan-do no Brasil se pareceu fazer uma ou outraopção exclusivista, a pol ítica externa se tor-nou fator de divisão interna e não de agre-gação para a sociedade".

Haverá contradições nesta "dupla inser-ção"? Certamente não. Em primeiro lugar,o Brasil não é o único país do TerceiroMundo moldado por valores ocidentais;nossa vivência a esse respeito se assemelhamuitíssimo à de nossos vizinhos latino-ame-ricanos. Em segundo lugar, nas ações espe-cíficas comuns de países de Terceiro Mun-do, ações de que o Brasil participa, não en-contramos qualquer contradição fundamen-

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tal com os valores do mundo ocidental. Aocontrário, pode-se afirmar, até, que os plei-tos dos países do Terceiro Mundo, no qua-dro económico, por exemplo, são modela-dos pela disposição de negociar, pela vontadede criar melhores oportunidades de progres-so para todos os países da comunidade in-ternacional, pelos ideais de um sistema in-ternacional mais justo.

A combinação entre as vertentes ocidentale de Terceiro Mundo exprime uma dascomplexidades da realidade brasileira. É fa-to r de legitimidade na expressão do interes-se nacional e de ampliação dos horizontesde nossa ação diplomática. Sobretudo, érealista, pois reflete aspectos indissociáveisda identidade brasileira.

Formas concretas de relacionamento com oTerceiro Mundo

Desfeito o equívoco conceituai, é necessá-rio identificar as formas concretas de liga-ção do Brasil com os dois agrupamentos: odos países em desenvolvimento do TerceiroMundo e o dos países desenvolvidos do Oci-dente. Uns dirão que somos "terceiro-mun-distas", que transformamos o que era "con-dição" em postura ideológica. Imaginarãoum suposto "desbalanceamento" — um de-sequilíbrio — para melhor poderem acon-selhar aproximações em sentido radical-mente oposto, em busca de uma espécie de"exclusivismo" ou forte preferência ociden-talista em nossa política. Denunciarão su-postas "simpatias" pelo Segundo Mundo, oque não passa, evidentemente, de simplesartifício retórico ou insinuação malévola.Por outro lado,vindas de outros quadrantes,haverá acusações de que não aderimos sufi-cientemente ao que seria o "ideal terceiro-mundista". Nem uns, nem outros têm ra-zão. Somos o que somos. Um país com i-dentidade própria e ligações variadas, masdefinidas a partir dessa identidade.

O Brasil toma as relações que mantém comseus parceiros• internacionais em seu valorpleno. Nem os reduzimos de forma aprioris-

ta a categorias abstraías, que sirvam de pre-texto a afastamentos ou exclusões, nem oslimitamos, por outro lado, a nossos merca-dos ou outras formas unidimensionais devaloração. Procuramos, ao contrário, bus-car, em cada relacionamento, a motivaçãoprópria, que nos enriqueça e ao nosso par-ceiro, que seja justa, que traga benefíciosreais para as nações interessadas. Paralela-mente, nos planos multilaterais, explora-mos condições comuns para ações comuns.Da combinação desses elementos vai-se te-cendo a atitude externa do país.

Ao examinarmos esses dois conjuntos depaíses — o Ocidente desenvolvido e o Ter-ceiro Mundo em desenvolvimento — pode-mos estabelecer os padrões gerais do rela-cionamento que o Brasil com os mesmosmantém.

Numa simplificação, os países em desenvol-vimento podem ser vistos pelo Brasil sobtrês ângulos diferentes.

Em primeiro lugar, são países com os quaisentretemos relações económicas densas ecrescentemente importantes. São relaçõespróprias, movidas por um dinamismo dife-rente do que prevalece para as ligações en-tre esses países e os do Primeiro Mundo. E,dentro do Terceiro Mundo, as diversas re-giões, a começar pela América Latina, têmimportância diferenciada.

Num segundo plano, a condição de país emdesenvolvimento induz a ações políticas co-muns derivadas da semelhança das dificul-dades económicas, sobretudo em forosmultilaterais, como a UNCTAD, o GATT, oFMI e outros organismos das Nações Uni-das. Os efeitos da atuação nesses foros têmpelo menos três dimensões:

i) a dimensão das vantagens concretas,que não são extraordinárias, mas têm rele-vância especial em questões específicas co-mo nas conquistas na área de fretes maríti-mos, de oportunidades comerciais abertaspelo Sistema Geral de Preferências, na área

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da política de estabilização dos preços in-ternacionais dos produtos de base, etc;

II) a dimensão dos ganhos conceituais, quese expressa através da gradual criação deuma compreensão mais adequada pela co-munidade internacional de diversos aspec-tos e temas, sobretudo de caráter económi-co; a elaboração e a aceitação internacionaldo conceito de desenvolvimento económicoe das necessidades peculiares aos países emdesenvolvimento são um aspecto dessa di-mensão; outro aspecto é a percepção dacorrelação entre as regras e condições docomércio internacional e as possibilidadesde desenvolvimento dos países pobres, etc;e

III) a dimensão da convergência política,pois, justamente através da ação multilate-ral, criaram-se mecanismos para a aproxi-mação, nos mais diversos níveis, entre ospaíses em desenvolvimento; isto nos deuuma inegável força no sistema internacio-nal, ampliou as possibilidades de ação bila-teral com relação aos países do Norte, abriuoportunidades novas de ligações entre asnações do Sul, quebrando o circuito lidera-do pelo Norte, que nos obrigava à tradiçãoda exclusiva intermediaçao vertical. Para ci-tar um só exemplo da inovação que os con-tactos amplos nos deram, lembraria a aber-tura de linha de financiamento, modestaembora, por fundo da OPEP, para empresasbrasileiras em empreendimentos na África.

Finalmente, há posições políticas brasileirasque coincidem com a grande maioria doTerceiro Mundo ou com países específicosdo Terceiro Mundo. As posições que o Bra-sil assume no sistema internacional nascemevidentemente da consideração prioritáriado interesse nacional. E o interesse nacionalbrasileiro se compõe evidentemente deum esforço para realizar determinadas ne-cessidades e também das tradições de umadiplomacia voltada para a paz, o desenvol-vimento e a negociação. Justamente emfunção da complexidade de nossa situaçãointernacional e de nossa visão do mundo,

adotamos posições marcadamente próprias,peculiares, que não podem ser reduzidas aqualquer "ideologia terceiro-mundista".

Aliás, neste ponto, parece-me convenientenotar que os termos "terceiro-mundismo"ou "terceiro-mundista", como aplicados àpolítica externa, vêm sendo utilizados deforma extremamente polemica, em variadoscontextos. Em princípio, nada teria a obje-tar ao uso desses termos se não fossem elesusados para introduzir uma confusão deli-berada no debate pol ítico, que os fatos nãojustificam. O rótulo "terceiro-mundista"aplicado malevolamente à política externanão faz justiça nem à complexidade destanem à do próprio Terceiro Mundo.

Já me referi à multiplicidade de dimensõesda política externa. A expressão "terceiro-mundismo" tal como vem sendo usada pa-rece denotar um conjunto de nações hipo-teticamente homogéneo, próximo aos paí-ses socialistas do Segundo Mundo em ter-mos políticos, ideológicos e de segurança.

Conseqúentemente, cria-se e difunde-se omito de que a aproximação do Brasil em re-lação aos países do Terceiro Mundo, — doqual, de resto, o nosso país faz parte — de-notaria uma simpatia ideológica com rela-ção ao próprio Segundo Mundo. Isto é ummito porque o Terceiro Mundo, na realida-de, é muito diversificado de um ponto devista político-ideológico. Comporta paísescomo o Iraque e o Irã, a China e Cingapura,a índia e aTailândia, a Costa do Marfim ea Etiópia, Angola e Zaire, Tanzânia e Qué-nia, etc, etc, etc. E, assim sendo, é mais doque natural que, em diversos temas encon-tremos coincidências, e as vezes diferenças,mais ou menos amplas com países da Amé-rica Latina, África e Ásia. Em questões la-tino-americanas, nossas posições são certa-mente mais elaboradas, mais diretas, maisvoltadas para a ação que em certas questõesmais distantes, de outros continentes.

Na realidade, o que se quer criticar, mais doque a política em relação ao Terceiro Mun-do de modo geral, é a aproximação com

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certos países do Terceiro Mundo que ado-taram opções de organização social e políti-ca diferentes das nossas. São extraordinaria-mente valorizadas as diferenças e esqueci-das sejam as importantes afinidades decor-rentes da condição comum de países em de-senvolvimento, sejam laços históricos, comoos que nos unem aos países africanos da cos-ta ocidental e aos de expressão comum, demodo geral, para não mencionar as naçõeslatino-americanas.

Tais coincidências, para nós felizmente na-turais, são, aliás, consideradas trunfos pelasdiplomacias de todos os países, sobretudoas grandes potências, que fazem esforçospermanentes no sentido de manter seu pres-tígio no Terceiro Mundo e evitam colocar-se em posição de isolamento internacional.Deveríamos isolar-nos ao ignorar fatoressubjacentes que propiciam uma aproxima-ção? Quem seria beneficiado por nossa au-sência?

É fundamental sublinhar que nossas posi-ções decorrem de considerações próprias ecaminham num sentido de convergênciacom posições de países ou grupos de paísesdo Terceiro Mundo, em diversas instâncias,não por opção ideológica, mas por seme-lhança de valores e interesses.

Tomaria, como exemplo, o caso do apar-theid na África do Sul, em que alguns acon-selham que a diplomacia brasileira "ameni-ze" suas posições em troca de supostas van-tagens comerciais. A condenação ao apar-theid é apresentada como um dos exemplosdo "terceiro-mundismo" da ação externa.

Não condenamos o apartheid por qualquerconsideração "ideológica". Condenâmo-loporque viola um dos preceitos básicos davida nacional, que é a igualdade do ser hu-mano sem distinções raciais. O apartheid éum regime que institucionalmente separabrancos e negros, discriminando violenta-mente estes últimos, e não sermos preci-sos em sua condenação e claros nas açõesdecorrentes colocaria em questão a pró-pria harmonia racial que prevalece no

Brasil. Será do interesse nacional, que incluisem dúvida a dimensão ética, reforçar rela-cionamentos internacionais contraditórioscom os próprios fundamentos de nossa na-cionalidade?

Há, por outro lado, quem propugne o rompi-mento de relações com a África do Sul, co-mo se esse país não existisse ou como se talrompimento viesse a ter algum efeito práti-co sobre sua evolução interna ou externa.Ambas as posições extremas não se justifi-cam.

Cada Senhor Senador aqui presente certa-mente aquilataria as distâncias políticas ehumanas que nos separam do regime do a-partheid, se imaginasse um dispositivo legalque obrigasse a exclusão do voto, dentre oseleitores que sufragaram Vossas Excelências,de todos os que tivessem uma gota de san-gue negro. Não precisarei, portanto, referiroutros dispositivos legais do apartheid queestabelecem a segregação conjugal e sexu-al e nas escolas e locais de trabalho, ou asdiscriminações quanto à saúde, remunera-ção, moradia, etc.

Acrescente-se, complementarmente, que asalegadas vantagens comerciais que adviriamde uma atitude leniente com relação ao apar-theid sequer são reais: o comércio entre osdois países desenvolve-se normalmente, sóhavendo restrições no campo dos materiaismilitares, decorrentes de sanções obrigató-rias impostas pelo Conselho de Segurançadas Nações Unidas e que são cumpridas portodos os países; as transações comerciaiscom a África do Sul situam-se em cerca de10% de nosso comércio com o continenteafricano e a complementaridade com aeconomia praticamente autárquica daquelepaís é baixa. Essa é a realidade; não há, por-tanto, razões materiais para mudarmos o es-tilo de nosso relacionamento diplomáticocom a África do Sul. E, mesmo que existis-sem, nossas relações sempre seriam afetadasadversamente pela persistência do regimedo apartheid.

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Resumindo: as ligações que mantemos comos países do Terceiro Mundo são variadas,obedecem a padrões de interesse mútuo,admitem convergências de valores em múl-tiplos temas. Somos países em desenvolvi-mento e isto exige de nós ações específicas,determinadas por essa condição. A formaespecífica de nosso relacionamento com oTerceiro Mundo é uma decorrência de nos-sa própria identidade nacional e de nossosinteresses externos. Não há, nem nas decla-rações, nem nas ações externas brasileiras,automatismos ou passionalismos.

Formas concretas de relacionamento como Ocidente

Quanto ao significado que o Ocidente tempara nós, quer como conjunto de valores,quer como agrupamento de nações, pode-ria,, de acordo com a mesma metodologia,afirmar a condição ocidental de nosso país.

De antemão, é preciso não esquecer que,enquanto grupo de países, o Ocidente de-senvolvido, de forma similar ao TerceiroMundo, não apresenta padrões de homoge-neidade absoluta. Graus diversos de desen-volvimento, disputas económicas sobremúltiplos temas, como taxas de juros e pro-tecionismo comercial, visões diferenciadassobre questões de segurança, e até mesmocompreensoes diferentes sobre o alcance devalores comuns são o cotidiano, saudável,diga-se de passagem, do mundo ocidental.O pluralismo — a recusa à arregimentaçãopolítica, a crítica, no plano interno e tam-bém no internacional — constitui talvez amaior virtude da comunidade ocidental denações. O respeito à diversidade, dentro devalores comuns, é a grande força de atraçãodo Ocidente para o espírito dos homens emqualquer parte.

Creio mesmo que o respeito à diversidadeentre as nações, como entre os indivíduos,que leva a uma sociedade internacionalmais igualitária, é uma força maior do Oci-dente para o futuro, superadas as aberra-ções racistas, colonialistas ou outras que,

em alguns momentos históricos, afastaramo Ocidente de seus valores básicos, perma-nentes, fundamente democráticos.

Como situar, então, a posição brasileira?

Em primeiro lugar, mantemos com o Oci-dente importantíssimas relações económi-cas: a modernização do Brasil está ligada àinserção na economia ocidental. O peso denossa dívida é um testemunho notável denossas ligações ocidentais, mas, como trata-rei adiante, no relacionamento económicocom o Ocidente, há outras limitações: os t i -pos de produtos que exportamos, as barrei-ras protecionistas, etc.

Em segundo lugar, temos de considerar asações políticas que nascem justamente dacondição ocidental do Brasil. Já tratei doponto anteriormente. A adesão a certos va-lores, o respeito às soluções negociadas, oesforço de criar oportunidades iguais sãoelementos que têm a ver com a posição oci-dental do Brasil. Quando, por exemplo,condenamos processos de intervenção eprocuramos substituí-los por mecanismosde negociação, estamos sendo rigorosamen-te fiéis à melhor tradição ocidental, em par-ticular à sua vertente latino-americana, queaí se opõe, radicalmente, a doutrinas deação externa que se pretendem fundadasem "visões da dinâmica histórica" ou es-quemas inelutáveis a partir dos quais tudopode ser legitimado, até mesmo processosde intervenção, sob frágeis pretextos. Con-tinuamos, porém, a acreditar na capacidadedo homem de optar, de buscar acomoda-ções racionais, de enfrentar e superar ospróprios erros. Cremos que aí está a essên-cia do legado ocidental em nossa cultura.

É claro, e seria ocioso repeti-lo, que, emuma situação de crise total, inclusive peloslaços convencionais que nos unem, a nossaposição ocidental é certa.

Finalmente, devemos considerar as posiçõespolíticas específicas que coincidem com asdos demais países ocidentais. Insistiria na

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ideia de que não se encontram, no âmbitoocidental, posições monolíticas, seja no queconcerne a crises regionais, como a do Ori-ente Médio, seja no que toca à própria es-tratégia com relação à União Soviética. Istoé próprio e natural numa comunidade denações que vive de forma pluralista a convi-vência internacional, mas que adere a valo-res básicos — sobretudo a igualdade entreos Estados — nesta convivência. Existem as-sim várias formas de estar presente no mun-do ocidental e a do Brasil, como as dos de-mais, obedece às peculiaridades nacionais.Nossa contribuição específica ao Ocidentenasce necessariamente da fidelidade ao quesomos.

Quanto ao relacionamento diplomático,acentuaria que nossa gama de contactoscom a liderança ocidental tem sido a maisampla e a mais constante. Como em nenhu-ma época de nossa história, as conversaçõesde alto nível, os encontros bilaterais varia-dos, as reuniões de planejamento político, emesmo contactos com organismos multila-terais como a CEE fazem parte de nosso co-tidiano, e têm gerado, se fizermos uma lei-tura atenta de comunicados conjuntos e ou-tros textos, um amplo painel de definiçõesde convergência.

Seria, inclusive, oportuno lembrar a sequên-cia de visitas que recebemos de líderes oci-dentais a partir de 1979: o Vice-Presidentedos EUA, Mondale; o Senhor Haferkamp,alto dirigente da CEE; os Chanceleres daBélgica, Simonet; da Itália, Forlani e, maistarde, Colombo; do Japão, Sonoda; o Pri-mei ro-Ministro da Alemanha, Helmut Sch-midt; os Chanceleres da Áustria, Pahr; daGrã-Bretanha, Carrington; o Primeiro-Minis-tro do Canadá, Trudeau; o Vice-Presidentedos EUA, Bush; o Vice-Primeiro Ministroda Austrália, Douglas Anthony; o Presiden-te dos EUA, Ronald Reagan; o Presidente daRFA, Carstens, o Primeiro-Ministro do Ja-pão, Suzuki, os Chanceleres da Bélgica, Tin-dermans; do Canadá, MacGuigan; de Portu-gal, Gonçalves Pereira; o Chanceler daFrança, Cheysson.

Não os cansaria mais com essa listagem devisitantes, mas se somarmos às menções quefiz as viagens do Senhor Presidente da Re-pública e as minhas a países do Ocidente,estarão por terra os argumentos de que pro-curamos limitar o leque de contactos brasi-leiros com o mundo ocidental. Ao contrá-rio do que se insinua ou afirma, o esforçopertinaz se dirigiu a ampliá-los, torná-losmais densos, mais constantes. A vontade dediálogo é recíproca, a iniciativa de contac-tos é das duas partes. França, Portugal, Re-pública Federal da Alemanha, Estados Uni-dos, Canadá, Reino Unido, Japão, Itália,Bélgica, Áustria, Holanda, além da CEE, fo-ram os países visitados, o que confirma aamplitude do diálogo com o Ocidente de-senvolvido. Nenhum dos interlocutores oci-dentais, em todas essas visitas, questionoudireta ou indiretamente nosso relaciona-mento com o Terceiro Mundo, não faltan-do, ao contrário, manifestações para que oBrasil ampliasse o mais possível esse relacio-namento.

Considerações Finais

Em suma, não há qualquer exclusivismo decontactos políticos, não há qualquer "ideo-logismo" na escolha de nossos parceiros nodiálogo internacional. Ao contrário, temossido rigorosamente fiéis ao postulado douniversalismo, não apenas por que seja uma"boa doutrina", mas simplesmente porquea complexidade da cena internacional o exi-ge e porque as necessidades e os interessesbrasileiros o aconselham.

Não existe terceiro-mundismo, embora te-nhamos, como não poderíamos deixar deter, uma política própria para o TerceiroMundo. Não vamos abrir mão dessa políti-ca. Não existe, tampouco, dentro de nossapolítica no eixo Norte-Sul, ânimo confron-tacionista com o Primeiro Mundo nem, aocontrário, um ocidentalismo à outrance,que emasculasse a nossa individualidade.Não buscamos uma disjuntiva entre nossacondição de país ocidental e de TerceiroMundo, e sim somar nossa dupla inserção

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numa representação fiel do que somos nacena internacional.

Somos um país capaz de dialogar com as di-ferentes áreas do mundo, e de todas elas re-cebemos invariáveis demonstrações de res-peito e apreço político. Qualquer reducio-nismo de nossa posição externa diminuirianossa capacidade de ação e influência inter-nacionais, seria infiel ao que nós somos, e,por isto, nos dividiria como nação.

Que tipo de vantagem adviria se assumís-semos um alinhamento exclusivista e exclu-dente ou marcadamente enfático com oOcidente? Estariam resolvidas automatica-mente as questões políticas e as dificulda-des económicas?

Do ponto de vista financeiro, não nos pare-ce que estejamos sendo penalizados, nas ne-gociações da dívida externa, por exemplo,por termos relações com o Terceiro Mundo.Não sei de qualquer país endividado que es-teja sofrendo esse tipo de penalizaçao, nemde qualquer outro que esteja recebendo be-nefícios por manter uma relação tensa como Terceiro Mundo. Do ponto de vista co-mercial, não nos parece que houvesse vanta-gens em abandonar mercados, alguns dura-mente conquistados, em função de dificul-dades conjunturais.

Os alinhamentos rígidos aumentariam o po-der de barganha do país no plano político?Também não nos parece que seja este o ca-minho. Pelo contrário, o alinhamento rígi-do desvaloriza o parceiro mais fraco. Nosprocessos internacionais, inclusive os que seligam à segurança, é básico o dado do inte-resse nacional específico, das peculiaridadesnacionais. Temos voz própria e nossa pró-pria doutrina do que queremos politica-mente. Não pretende o Governo Figueiredodescaracterizar a nação e tentar obter umafalsa segurança a partir da "generosidade"alheia. Esse tipo de "generosidade" e de"alinhamento" garante vantagens políticase económicas a quem está do outro lado daequação e mantém todas as suas posições.Não a quem abre mão delas e se alinha.

Termino esta parte da exposição parafrase-ando Ruy: precisamos ser dignos de nós pa-ra merecermos a amizade e o respeito denossos parceiros internacionais. Esta afir-mação ele a fez justamente quando defen-dia a tese da igualdade dos Estados e dadignidade dos países do que hoje seria cha-mado de Terceiro Mundo, na Conferênciada Haia de 1907.

OCIDENTE E TERCEIRO MUNDO:ASPECTOS ECONÓMICOS

O aumento da participação dos países emdesenvolvimento na economia e no comér-cio mundiais

Na última década (de 1971 a 1980), os paí-ses em desenvolvimento como um todo ex-perimentaram um crescimento económicosubstancialmente mais acelerado que os dospaíses desenvolvidos, tendo apresentado ataxa média de expansão económica de 5,6%ao ano, contra 3,2% dos países do Norte.

Esse processo de desenvolvimento é de na-tureza ampla e mesmo estrutural, sendo osefeitos económicos das crises do petróleo,em benefício das nações exportadoras,apenas um de seus capítulos. Paralelamenteà expansão económica dos países em desen-volvimento ocorreu, na década de 1970,uma elevação significativa dos níveis do co-mércio mundial, com o aumento, em ter-mos globais, das taxas de abertura das eco-nomias nacionais às transações com o ex-terior. Em particular, cresceu enormementea importância dos países em desenvolvi-mento como supridores e consumidores dosbens comercializados internacionalmente,passando tais países a absorver uma propor-ção maior do comércio externo de pratica-mente todas as nações.

O Brasil não foi exceção a essa regra geral;nossas exportações revelaram, nesse perío-do, acentuada expansão. Nossas trocas au-mentaram com o mundo em geral e comos países em desenvolvimento em particu-lar:

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Taxas médias anuais de crescimento das ex-portações brasileiras

destino 1973/1982 1979/1982

África 25,0% 23,8%Ásia 18,9 18,7ALADI 19,9 5,0Países em desen-volvimento 20,7 13,8Pa íses desen-volvidos 11,4 8,0

Com os efeitos da crise económica global,nos anos mais recentes, ocorreu uma redu-ção geral das taxas de desenvolvimentoeconómico e uma diminuição marcante daexpansão do comércio internacional comoum todo, a qual chegou a ser negativa em1982. Nesse ano as exportações do Brasil,por exemplo, caíram em mais de 3 bilhõesde dólares em relação a 1981. Esse fato re-fletiu, como assinalado, um fenómeno glo-bal, que afetou o comércio de todos os paí-ses, e não só o do Brasil, com todas as áreasgeográficas principais.

A segunda coluna do quadro acima já revelaa tendência à desaceleração das taxas decrescimento do comércio do Brasil. Em nú-meros absolutos, o que ocorreu com nossasexportações em 1982 foi o seguinte:

Quedas de valor das exportações brasileiras- 1981/1982

(em milhões de dólares)

destino valor

América Latina -1.314África - 4 4 0Oriente Médio —19Ásia - 1 0 6Leste europeu —508Países desenvolvidos —632

Como relação aos países desenvolvidos,nossas exportações decresceram, no últimoano, tanto para os EUA e Canadá quantopara a CEE e demais países da Europa Oci-

dental, só apresentando incremento no quese refere ao Japão.

Diante de tal fenómeno global, é incorretodizer-se, como por vezes se ouve, os paísesem desenvolvimento são parceiros comer-ciais inconfiáveis ou desprovidos de impor-tância. Apesar da crise econômico-f inancei-ra e apesar das fortes reduções no últimoano, nossas exportações para esses pafsescontinuaram a apresentar as maiores taxasde crescimento no período 1979-82, o quesçvê no quadro anterior.

Os países em desenvolvimento e os com-promissos comerciais

Também é incorreto dizer-se que os paísesem desenvolvimento não estejam pagandoas importações que fazem do Brasil. A esserespeito, valeria mencionar que, a partir daintensificação do processo de integração daeconomia brasileira à economia internacio-nal e, conseqúentemente, de nossa maiorexposição à competição, tornou-se tambémnecessária a adoção de mecanismos que per-mitissem a realização de transações comer-ciais com pagamento diferido, nos moldesamplamente usados pelos países industriali-zados.

Esta talvez seja a ferramenta mais eficazcom que contam os países industrializadospara intensificarem suas vendas de bens eserviços de alto valor agregado ou de eleva-do coeficiente tecnológico, a tal ponto quedecidiram cartelizar a oferta desse tipo decrédito, no âmbito da OCDE, através daaceitação de princípios comuns conhecidoscomo "Consenso da OCDE".

Estes princípios bastante estritos impõem aobservância de taxas mínimas de juros, pra-zos semelhantes para o mesmo tipo de pro-duto ou equipamento, enfim condições deoferta homogénea. Por isso mesmo, no casodo Brasil, em que a nossa dimensão econó-mica impõe limitações naturais à nossa ca-pacidade de oferta, torna-se necessário,muitas vezes, oferecer pequenas vantagens,

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que permitam superar nossos competidoresna acirrada luta do comércio internacional.Pode-se mesmo dizer, hoje, que os paísescompram muito mais as condições de paga-mento do que o bem ou serviço por elasabrangido.

Não se trata, pois, de desembolso puro esimples de moeda, em que o mutuário po-deria aplicar livremente os meios teorica-mente colocados à sua disposição. Na práti-ca, consiste em verdadeiro sistema de ven-das a crédito, zelosamente administrado pe-la CACEX, segundo critérios eminentemen-te objetivos e que hoje já registra operaçõesem cerca de 77 países, entre países desen-volvidos e países em vias de desenvolvimen-to. Embora se trate de matéria cuja admi-nistração imcumbe a órgãos do setor eco-nómico do Governo, tenho informaçõesque indicam que, na execução do programade operações de pagamento diferido, não seregistra uma taxa de inadimplência que pos-sa ser considerada preocupante, principal-mente nas operações para os países em de-senvolvimento.

Vale ainda notar que, na maioria dos casosde operações para as quais tenham sidoconcedidas condições especiais de paga-mento, existe cobertura de seus riscos comapólice de seguro de crédito, emitida peloInstituto de Resseguros do Brasil, com baseem critérios estritamente atuariais e queconstitui a proteção adequada contra situa-ções anormais que se pudessem verificar.De resto, tal risco é normalmente repassa-do ao mercado internacional, nos termos dasistemática praticada no mercado segura-dor.

Registraria, ainda, ser totalmente falsa a im-pressão que se quer dar de que as operaçõescomerciais com pagamento diferido, ampa-radas pelos mecanismos pertinentes insti-tuídos pelo Governo brasileiro, teriam altorisco, porque tais concessões se teriam guia-do por critérios de natureza política e nãopor avaliações rigorosas, de natureza econó-mica. As autoridades comerciais brasileira»

sempre exerceram plenamente sua autono-mia de julgar cada operação por seus pró-prios méritos.

A atitude diante das oscilações de curtoprazo

Se, seguindo raciocínios com frequênciaapresentados de público, nos deixássemosorientar apenas pelas flutuações de curtoprazo, se nos afastássemos dos que reduzi-ram suas compras de produtos brasileiros,teríamos então de deixar de comerciar como mundo inteiro. Se, por outro lado, nosdeixássemos persuadir da alegada fragilida-de das relações econômico-comerciais como Terceiro Mundo, então teríamos de co-meçar afastando-nos da própria AméricaLatina, pois foi nessa área que se observoua maior redução das taxas de crescimentodas exportações brasileiras nos últimosanos, como se viu no primeiro quadro esta-tístico.

Tal hipótese é, no entanto, absurda em di-versos níveis. O valor global de nossas expor-tações para a América Latina, por exemplo,foi superior ao de nossas exportações paraos EUA em 1980 e 1981 (antes de sofreruma queda de mais de 30% em valor em1982). Nos últimos três anos exportamosmais de 11 bilhões de dólares para a região.

Isto, evidentemente, não esgota o quadrodo relacionamento Brasil-América Latina,rico em outros componentes não comerci-ais, como a cooperação técnica e económi-ca para o desenvolvimento, o entendimentopolítico, a segurança das fronteiras, o inter-câmbio cultural e tantos outros aspectos.

Como disse o Presidente Figueiredo em seudiscurso perante a Assembléia-Geral dasNações Unidas,

"As relações entre o Brasil e os países ami-gos da América Latina constituem, na ver-dade, claro testemunho do êxito que seobtém quando se opta francamente pelo

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caminho do respeito mútuo, da não-interfe-rência e da busca da convivência harmónicae profícua, acima de controvérsias ou diver-gências tópicas."

" . . . Devemos todos trabalhar para quenossa região alcance níveis superiores de de-senvolvimento, entrosamento e desempe-nho positivo na cena mundial."

A importância das exportações de produtosindustriais para os países do Sul

Tampouco são sustentáveis raciocínios quebuscam apontar inconveniências na manu-tenção de um relacionamento dinâmicocom os demais países do hemisfério Sul.Uma verificação simples, e de base pura-mente económica e comercial, já basta paracomprovar tal fato.

74% do valor de nossas exportações paraos países em desenvolvimento correspondea produtos manufaturados. Esse montante(6,1 bilhões de dólares, em 1981) é supe-rior ao de nossas exportações de manufatu-rados para os países desenvolvidos (5,5 bi-lhões de dólares, em 1981), as quais corres-pondem apenas a 43% de nossas exporta-ções totais para estes últimos países.

Este dado tem dupla relevância. Em primei-ro lugar, como todos sabem, os produtosmanufaturados superam os produtos primá-rios em valor agregado, É significativo o da-do de que hoje seguramente mais de um mi-lhão de empregos são mantidos no Brasilem decorrência de nossas exportações paraos países de Terceiro Mundo. Os produtosindustriais também apresentam resistênciamuito maior à deterioração das relações detroca que tem afetado persistentemente asexportações de países como o Brasil. A im-portância deste ponto foi ressaltada pelopróprio Presidente Figueiredo em seu dis-curso nas Nações Unidas:

" . . . As economias em desenvolvimentonão-exportadoras de petróleo experimenta-ram nos últimos três anos uma deterioração

de relações de troca jamais observada emsua história. Vale dizer, os esforços expor-tadores crescentes vêm sendo neutralizadoscom ingressos decrescentes de divisas, queconfiguram uma verdadeira espiral de pau-perização."

A segunda linha de relevância do dado estáem que as exportações de manufaturas paraos países do Terceiro Mundo são de impor-tância vital para numerosos e significativossetores específicos de nossa indústria.

Isto abrange desde setores de menor graude processamento — em 1982, 85% das ex-portações de carne congelada de frango(242 milhões de dólares), 88% das de óleode soja (330 milhões), 95% das de açúcarrefinado ou cristal (303 milhões), 69% dasde derivados de petróleo (565 milhões) diri-giram-se a mercados do Terceiro Mundo —até setores de maior sofisticação técnica,em que 90% das exportações de automó-veis e veículos desmontados (320 milhõesde dólares em 1982), 90% das de navios detodos os tipos (149 milhões), 87% das derefrigeradores, 99,5% das de televisores e atotalidade das exportações de locomotivase vagões, diversos tipos de tratores, aviõesturbo-jato, helicópteros e plataformas deperfuração foram absorvidos pelos paísesdo Sul.

Seria ilusório supor que tal volume de ex-portações pudesse ser absorvido pelos paí-ses desenvolvidos. A diversificação de mer-cados das exportações brasileiras é conse-quência da diversificação da pauta brasileirade exportações, fruto, por sua vez, do pro-cesso de industrialização do país. Isso por-que: i) muitos manufaturados com maiorvalor agregado (bens de consumo duráveis,por exemplo), não encontram, por razõesde competitividade, inclusive grau de sofis-ticação, mercados nos países desenvolvidos;n) os países desenvolvidos aplicam crescen-te número de barreiras protecionistas às ex-portações brasileiras de produtos manufatu-rados, penalizando práticas brasileiras comoas de incentivos à exportação, o que faz

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com que os exportadores busquem novosmercados onde tais barreiras não existem.

O mesmo raciocínio se aplica a nossas ex-portações de serviços, notadamente serviçosde engenharia, que hoje ocupam lugar derelevo em nossas contas internacionais eque se destinam quase exclusivamente aospaíses do Terceiro Mundo.

Com efeito, a crescente importância dessesetor é revelada pelo fato de que as ativi-dades de firmas brasileiras de serviços naAmérica Latina, na África e no OrienteMédio alcançam montante superior a 4 bi-lhões de dólares. Este é um fator importan-te na geração de demanda por produtos eequipamentos brasileiros, derivada da reali-zação de 55 obras em 16 países do TerceiroMundo. O dinamismo do setor e o efeitomultiplicador da própria consolidação dapresença de firmas brasileiras nesses paísesem desenvolvimento são outros aspectosque claramente atraem a atenção de nossosempresários.

O aumento de nosso comércio com os paí-ses em desenvolvimento não decorre deuma "escolha" do Brasil

Talvez caiba aqui uma observação que po-derá contribuir para corrigir certos erros deenfoque. Se nossas exportações crescerammais rapidamente para os países em desen-volvimento, se eles são nossos melhorescompradores de produtos industriais, não éporque assim queiramos. Não é porque con-firamos precedência a esses países ou por-que orientemos nossa política de vendasexclusiva ou prioritariamente em direção aeles.

Nossos contactos comerciais, nosso traba-lho de promoção comercial, desenvolvem-se3m consonância com as oportunidades demercado e com os interesses de nossas fir-mas. São os empresários os que exportam, enão o Itamaraty ou o Governo brasileiro.Ninguém nos poderá acusar de negligência— nem ao empresariado, nem ao Itamaraty

— na busca de oportunidades em todos osquadrantes do mundo. Se assim as coisas es-tão ocorrendo, é porque assim estão-secomportando o comércio e a economia in-ternacionais.

Na verdade, a maior parte do esforço brasi-leiro de promoção comercial tem-se desti-nado aos mercados dos países desenvolvi-dos do Ocidente: a título de exemplo, diga-se que cerca de 86% dos postos ligados aosistema de processamento eletrônico de da-dos de promoção comercial, para a capta-ção de oportunidades comerciais, está loca-lizada naqueles países; e das 427 feiras, ex-posições e mostras brasileiras realizadas noexterior desde 1979, 327 realizaram-se nospaíses desenvolvidos.

Os mercados dos países em desenvolvimen-to continuam a ser extremamente atraentespara todos

Se descontarmos nossas inevitáveis importa-ções de petróleo provenientes dos paísesem desenvolvimento, acumulamos com oTerceiro Mundo um saldo comercial de 4,4bilhões de dólares em 1982. Somando-se osúltimos três anos, esse saldo atinge 14,5 bi-lhões de dólares, contra 10 bilhões do saldocomercialacumulado no período em nossastransações com os países çlesenvolvidos.

Isto nem sequer reflete uma singularidadebrasileira. 45 por cento das exportações doJapão em 1982 destinaram-se aos países emdesenvolvimento. 36,5 por cento das expor-tações dos EUA para aí se dirigiram nomesmo ano. O Brasil, por seu lado, desti-nou a esses países 32 por cento de suas ex-portações no ano passado, ano em que taispaíses já começaram a sentir mais aguda-mente os efeitos da crise. Estariam todosenganados?

Os países em desenvolvimento foram, du-rante os anos 70, o segmento mais dinâmi-co da economia internacional. Dada a cor-relação entre taxas de crescimento e au-mento das importações, foram eles também

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o mercado mais dinâmico nos anos 70. Nes-se sentido, por exemplo, as exportações dosEUA para o Terceiro Mundo apresentaramas taxas mais altas de crescimento (superio-res a 30% ao ano) no total das exportaçõesnorte-americanas, aumentando, portanto,tais países sua participação no total das ex-portações norte-americanas.

As vendas dos EUA, da CEE e do Japão pa-ra os países em desenvolvimento em 1982somaram 251 bilhões de dólares. Excluídassuas importações de petróleo provenientesda OPEP, o saldo comercial acumulado poreles nesse único ano foi de 111 bilhões dedólares com os países em desenvolvimento.

E isto é o que ocorreu em um ano de crise.Verifica-se, pois, que o comércio com ospaíses em desenvolvimento, mesmo nas cir-cunstâncias desfavoráveis da conjuntura, éuma área dinâmica da economia interna-cional, o que constitui fato económico glo-bal e inegável.

No primeiro trimestre de 1983 — períododos últimos dados disponíveis — os paísesem desenvolvimento absorveram 36% dototal das exportações dos EUA, o que supe-ra a Europa Ocidental a Europa Oriental, aURSS e a China juntos. A interdependênciaentre o Norte e o Sul e a importância eco-nómica do fluxo comercial com o Sul sãoreveladas pelos fatos de que um em cada 20trabalhadores da indústria norte-americanae 20% do emprego de terras agrícolas nosEUA dependem dos mercados do TerceiroMundo.

Se abríssemos mão de nossa pequena fatiadesses mercados, ela seria imediatamenteabsorvida por nossos concorrentes. Por ou-tro lado, se nos mantivermos abertos a essefluxo de comércio, estaremos explorandouma área que apresenta riquíssimo potenci-al e condições de competitividade vantajo-sas para nós. Estaremos preservando nossasoportunidades futuras.

O relacionamento com o Terceiro Mundonão constitui nem um complemento nem

uma alternativa ao intercâmbio com o Pri-meiro Mundo. Não é cabível estabeleceres-se tipo simplista de hierarquização. Na rea-lidade, as relações com o Terceiro Mundodevem ser vistas em paralelo com as manti-das com outras áreas, ainda que apresentemníveis e densidades distintas. É distinta anatureza de ambos os relacionamentos, co-mo são distintos os mercados e distintos osprodutos que exportamos. O fato de o Ter-ceiro Mundo não constituir fonte de inves-timentos para o Brasil não lhe tira impor-tância e validade como parceiro económico.Nunca esperamos, evidentemente, que paí-ses como os nossos, carentes de capital, setornassem fonte de investimento e finan-ciamento.

Tais países são, no entanto, claramente im-portantes como parceiros comerciais, comoreceptores de nossos serviços e como supri-dores de bens essenciais à nossa economia,como petróleo, fertilizantes e um sem-nú-mero de matérias-primas.

O problema do protecionismo

Embora não haja aqui uma relação de cau-salidade absoluta, não há como deixar dereconhecer que o acúmulo de medidas pro-tecionistas adotadas nos países desenvolvi-dos contra as exportações brasileiras e, emcertos casos, o virtual fechamento de seusmercados a nossos produtos certamente re-presentou fator adicional de incentivo à co-locação de produtos em mercados não tra-dicionais do Terceiro Mundo, nos quais taisbarreiras ainda não existem.

Ao longo dos últimos anos, nos EUA, paísque continua ocupando, individualmente,a primeira posição como nosso parceirocomercial, foram abertas dezessete investi-gações sobre subsídios concedidos à nossasexportações, o que, sem dúvida, é um fatordesestimulador em termos de planejamentode investimentos para a exportação. Taisinvestigações referem-se à exportação deprodutos industriais brasileiros dos mais di-versos tipos — desde suco de laranja e óleo

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de mamona, passando por têxteis, calçadose artigos de couro, até uma série de produ-tos siderúrgicos intermediários, tesouras,armas de fogo e aviões. Nestes dois últimoscasos, assim como no de ferro-ligas, as in-vestigações foram encerradas, mas em todosos demais foram aplicados direitos compen-satórios e/ou impostos às exportações brasi-leiras.

Essas medidas protecionistas não se limi-tam, obviamente, às relações comerciais doBrasil com os EUA. São medidas tomadaspor grande número de países industrializa-dos, em geral para salvaguardar interessesde setores tradicionais de suas indústrias,que hoje apresentam produtividade baixa.Elas atingem as relações comerciais do Nor-te com o Sul e principalmente as dos paísesindustrializados entre si.

As políticas protecionistas são respostas depouca racionalidade económica a proble-mas estruturais das economias desenvolvi-das e tendem a perdurar, mesmo no contex-to de uma reativação económica global. Es-te dado é particularmente relevante ao selevar em conta a alteração também estrutu-ral do papel do Brasil no comércio interna-cional, refletida em nosso papel crescentecomo exportador de bens industriais decapital, de consumo durável, de matérias deemprego militar, de serviços, etc.

Há ainda que alertar, a este respeito, parauma nova forma de protecionismo que sevem delineando: a ameaça de retaliaçãocontra o Brasil em razão de alegados prejuí-zos causados aos interesses de países desen-volvidos por exportações brasileiras a ter-ceiros mercados.

Exemplificam esta nova modalidade de pro-tecionismo ameaças ainda veladas de retalia-ção contra nossas exportações de frangoscongelados e de produtos do complexo so-ja. Aí está mais uma demonstração insus-peita da importância atribuída internacio-nalmente aos mercados do Terceiro Mundo.Em outras palavras, é precisamente para

conservar sua fatia em mercados dinârViicosdo Terceiro Mundo que certos países desen-volvidos ameaçam retaliar contra o Brasil.

Ainda a título de ilustração do efeito dano-so do protecionismo, vale destacar que asexportações de produtos siderúrgicos paraa Comunidade Económica Europeia, que sehaviam elevado a 315 mil toneladas métri-cas em 1982 (ou seja, 13,4% do total dasnossas exportações para o mundo), caíram,no ano em curso, em função da imposiçãode sobretaxas e direitos anti dumping, paraapenas 46 mil toneladas métricas nos pri-meiros cinco meses de 1983, o que repre-sentou apenas 2,7% do volume total expor-tado no período.

Os países em desenvolvimento vêm ocupan-do posição cada vez mais importante comomercados para nossa siderurgia: no ano emcurso, provavelmente em função da signifi-cativa queda nas exportações para a CEE,as nossas vendas de produtos siderúrgicosao Terceiro Mundo representaram 59,1%do volume total exportado no período ja-neiro/maio.

Em síntese, conclui-se que, enquanto pelasrazões apontadas, os países desenvolvidosnão são, na maioria dos casos, compradoresnaturais de nossos produtos industriais, ospaíses em desenvolvimento não só demons-tram interesse em importá-los, como semostram capazes também de absorver ex-portações deslocadas para fora do PrimeiroMundo devido a práticas protecionistas.

A atitude brasileira é a de diálogo com todos

Nossa posição é, portanto, a de buscar vín-culos de intercâmbio e cooperação com asdiferentes áreas, sem estabelecer falsas prio-ridades e sem jamais adotar uma linha deconfrontação estéril. Mesmo no campomultilateral, a estratégia de confrontaçãofoi de há muito abandonada pelo Grupodos 77, interessado, como o comprova aPlataforma de Buenos Aires, em fazer cami-nhar o. diálogo Norte-Sul em bases constru-

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tivas. Em sua atuação multilareral, o Brasil,assim como a maioria dos membros do cha-mado Grupo dos 77, concentra seus esfor-ços na busca de obtenção de consenso emfavor da adoção de medidas concretas e ne-gociadas que propiciem a aceleração do de-senvolvimento em benefício geral. O diálo-go, e não a confrontação, é a nossa atitudebásica.

Nota-se, contudo, que a estratégia de con-frontação abandonada pelos 77 passou a serutilizada pelos países desenvolvidos, que avêm empregando, aliás com êxito, em todosos foros do diálogo Norte-Sul. Assim, as di-vergências dentro do grupo desenvolvidosão resolvidas pela adoção da posição domínimo denominador comum e pela recusafrontal a sequer considerar as propostas dos77, como aconteceu na VI UNCTAD emBelgrado. Enquanto os países em desenvol-vimento e o Brasil continuam a necessitarde soluções multilaterais para os problemasda economia internacional, os países desen-volvidos se apegam a medidas unilaterais, asquais, por força do peso de suas economias,têm profundo impacto sobre todo o mundotais como:a) adoção de políticas recessivas de formasimultânea;b) elevação sem precedentes das taxas dejuros;c) adoção de grande número de medidasprotecionistas;d) manutenção de amplas políticas de sub-sídio na área agrícola, deprimindo os pre-ços no mercado internacional e deslocandofornecedores tradicionais;e) incentivos à manutenção de setores nãocompetitivos, como no caso dos têxteis.

Apreciações finais

Em síntese, nossas exportações para os paí-ses em desenvolvimento, que assegurammais de um milhão de empregos no Brasil,geram divisas essenciais para o país, vêmsendo pagas regularmente, não podem sersimplesmente transferidas a outras áreas,não têm como nem porque prejudicar nos-

so relacionamento com os países desenvol-vidos e inserem-se natural e positivamenteno posicionamento internacional do Brasil.

Do fato de que se reduziu a capacidade deimportar dos países em desenvolvimento ede que caiu em 1982 a participação dessespaíses no total das exportações brasileirasnão se segue que devamos abandonar taismercados, pois:a) a situação dos países é díspar, have: dopaíses em situação mais folgada e outroscom programas mais rígidos de ajustamen-to;b) como maior importador de petróleo domundo em desenvolvimento, o Brasil temum déficit estrutural com os países em de-senvolvimento exportadores de petróleo, oqual forçosamente temos que tentar equili-brar, ou pelo menos reduzir;c) a situação de redução de importaçõespelos países em desenvolvimento afeta omundo inteiro. No caso dos EUA, porexemplo, suas exportações para a AméricaLatina se reduziram em 8 bilhões de dólaresem 1982. O Subsecretário Olmer calculou,em recente discurso, que só a redução nacapacidade de importar dos países latino-americanos ocasionou a perda de 250.000empregos nos EUA. Uma recuperação daeconomia internacional depende, portanto,da recuperação dos países do Sul;d) da mesma forma que os países em de-senvolvimento, os países desenvolvidostambém reduziram suas importações, inclu-sive do Brasil, o que fez com que o comér-cio mundial como um todo decrescesse em1982;e) são crescentes as barreiras protecionistasaplicadas nos principais mercados desenvol-vidos contra exportações brasileiras, o quelimita significativamente sua capacidade deabsorção, sobretudo de manufaturados(têxteis, produtos siderúrgicos, calçados,etc);f) os problemas de pagamentos nos paísesdo Terceiro Mundo não têm afetado de ne-nhuma forma significativa o cumprimentode compromissos assumidos com o Brasil;g) os países desenvolvidos são infensos à

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conclusão de acordos diretos de Governo aGoverno, os quais, concluídos com os paí-ses em desenvolvimento, têm viabilizadoexportações brasileiras e garantido nossossuprimentos de insumos industriais.

Além dos argumentos acima apontados,pode-se dizer que o raciocínio antes menci-onado é sofismático, uma vez que parte dosuposto de que existe uma opção brasileirapor mercados quando, na realidade, quemtem necessidade de crescentes superávitscomerciais não só não escolhe como nãopode escolher mercados.

Além de tudo, um país como o Brasil nãopode ter relações externas de uma única di-mensão, no sentido de obter dinheiro ou ar-ranjar mercados. Isto é perfeitamente legíti-mo, mas não é tudo. Há várias outras consi-derações de política externa e há preocupa-ções de segurança, preocupações políticas epreocupações humanas. O Brasil não é sim-plesmente uma espécie de Fenícia moder-na. Não nos devemos levar por slogans, oupor falsas alternativas, mas sim ver o mun-do em sua complexidade e cada país em suaespecificidade. Não nos devemos iludir porvisões unidimensionais da realidade.

Assim, é fundamental preservarmos a coe-rência para preservarmos a confiabilidadeinternacional; é fundamental não reduzir aproblemática brasileira a temas conjuntu-rais para não perdermos a perspectiva glo-bal, de médio e longo prazos, em que o Bra-sil deve também basear-se.

Neste ponto, a aproximação entre políti-cos, empresários e diplomatas deve ser su-blinhada. A ação política que buscamosempreender tem sido sustentada e apoiadapelo mais amplo espectro da sociedade bra-sileira que tem demonstrado especial sensi-bilidade para o processo externo. Na medi-da em que o perfil externo do país revelacoerência e consistência, colheremos refle-xos positivos sobre as possibilidades de ex-pansão económica no exterior. Como a ex-periência prática cotidianamente indica,quando nossos parceiros confiam em nós,as oportunidades de intercâmbio são aber-tas mais naturalmente, com mais rapidez, ecom mais garantia.

Alienarmos espontaneamente qualquer ca-minho significaria um curioso e perversoprocesso de autocriação de obstáculos e di-ficuldades para lidarmos com os dilemas dacrise conjuntural.

Do ponto de vista económico, Ocidente eTerceiro Mundo se somam, não se excluem.Quaisquer preferências exclusivas pelo Oci-dente, mesmo as que se baseiam no argu-mento falacioso de que o Terceiro Mundo"não paga", são prejudiciais aos interessesmaiores da recuperação da nossa economia.

Do ponto de vista político, nem esta, nemnenhuma outra será a hora de renunciarmosà vocação global do Brasil e a sua identida-de própria, por maiores que sejam os sacri-fícios que a conjuntura nos impõe e atémesmo por causa deles.

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relações diplomáticas

designação de embaixadores

brasileiros

entrega de credenciais de

embaixadores estrangeiros

Gilberto Ferreira Martins, para chefe da De-legação do Brasil em Genebra, em 19 de ju-lho.

Fernando Abbott Galvão, para Embaixadorjunto ao Governo do Níger, cumulativa-mente com a função de Embaixador na Ni-géria, em 8 de setembro.

Octávio José de Almeida Goulart, para Em-baixador junto ao Governo da Guiana, eMário Loureiro Dias Costa, para Embaixa-dor junto ao Governo de El Salvador, em 9de setembro.

Fernando Abbott Galvão, para Embaixadorjunto ao Governo do Benin, comulativa-mente com a função de Embaixador na Ni-géria e no Níger, em 12 de setembro.

Moinul Islam, de Bangladesh; Hubert OliverJack, da Guiana; e Ignatius Benedict Fonse-ka, do Sri Lanka, em 5 de julho.

Fakhri Saghiyyah, do Líbano; Vieri Traxler,da Itália; e Mathew William, de Granada,em 9 de agosto.

Ro Myung Gone, da Coreia do Sul; Shah-mard Konani Moghadam, do Ira; e GustavoGarcia de Paredes, do Panamá, em 6 de se-tembro.

Anthony Tudor Eyton, do Canadá e Gheor-ghe Apostol, da Roménia, em 27 de setem-bro.

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tratadosacordos

convénios

cesp e novelerg assinam

convénio de cooperação no

campo da pesquisa energética

Ajuste, por troca de Notas, Complementar aoAcordo de Cooperação Cientifica e Técnica entre

o Brasil e a França, referente à cooperação nocampo da pesquisa energética entre a CESP —

Companhia Energética de São Paulo — e aNovelerg, assinado, no Palácio do Itamaraty, em

Brasília, em 6 de julho de 1983, pelo Ministro deEstado das Relações Exteriores, Ramiro SaraivaGuerreiro, e pelo Embaixador Extraordinário e

Plenipotenciário da França, Robert Richard.

A Sua Excelência o Senhor Robert Richard, EmbaixadorExtraordinário e Plenipotenciário da República Francesa.

Senhor Embaixador,

Com referência ao Acordo Franco-Brasileiro de Coopera-ção Científica e Técnica, concluído entre o Governo daRepública Federativa do Brasil e a República Francesa, te-nho a honra de propor, em nome da República Federativado Brasil, que esta Nota e a de resposta de Vossa Excelên-cia, de igual teor e de mesma data, em que se expressa aconcordância do Governo francês, formalizem a inclusão,no referido Acordo, do Convénio de Cooperação Recípro-ca entre a Companhia Energética de São Paulo (CESP) e aempresa francesa NOVELERG, celebrado em São Paulo, a21 de setembro de 1981, que reproduzo a seguir:

"CONVÉNIO DE COOPERAÇÃO RECIPROCA

Por este instrumento particular, de um lado a CESP-COM-PANHIA ENERGÉTICA DE SÃO PAULO, sociedadeanónima de capital aberto, concessionária de serviços pú-blicos federais.de energia elétrica, autorizada a funcionarpelo Decreto n° 59.851, de 23.12.66, com sede em SãoPaulo, Brasil, na Avenida paulista, 2064/2086, aqui deno-minada CESP, representada por seu Presidente, Engenhei-ro Francisco Lima de Souza Dias Filho, e por seu Vice-

Presidente Divisional de Estudos e Desenvolvimento Ener-géticos, Engenheiro José Gelázio da Rocha, e de outro la-do, NOVELERG, sociedade anónima de direito francês,com sede em Paris (8ème), França, em 12, rue de Ia Bau-me, aqui denominada NOVELERG, legalmente represen-tada por seu Diretor Geral Adjunto, Jean Pierre Hauet,

Considerando que o estudo, projeto, execução de planos eprogramas de pesquisa e desenvolvimento de novas fontesde energia, sobretudo as renováveis, diretamente ou emcooperação com outras entidades, constitui um dos obje-tivos da CESP;

Considerando que a NOVELERG foi criada com a finali-dade de coordenar e de promover os esforços de pesquisae desenvolvimento a que se dedicam, desde muitos anos,as sociedades de Grupo da Compagnie Generale D'Electri-cité, em harmonia com a política energética conduzida pe-los poderes públicos na França e na Comunidade Econó-mica Europeia, destinados ao estudo de novos materiais,processos ou sistemas suscetíveis de economizar energiaou de produzir e utilizar energias renováveis;

Resolvem as partes firmar o presente Convénio de Coope-ração Recíproca, a fim de conjugar e coordenar seus pro-gramas de desenvolvimento no âmbito da competência decada uma das partes e onde os mesmos se complementem,pelos seguintes termos, mutuamente aceitos, a saber:

Cláusula 1?

CESP e NOVELERG acordam em empreender cooperaçãoem pesquisas, desenvolvimento e demonstração, por meiode troca de dados e informações, de execução de estudos,e realização de sistemas ou processos, no âmbito de ener-gia renovável, de novas fontes energéticas e de economiade energia, particularmente nos seguintes campos de ativi-dades:

1. Captação e utilização de energia solar:1.1. no campo fotovoltaico;1.2. no campo termodinâmico.

2. Produção de metanol a partir da biomassa:2.1. gaseificação eletrotérmica da madeira;2.2. utilização de metanol em mistura com outros com-bustíveis;2.3. combustão de metanol em motores (incluindo estudorelativo a problemas de toxicidade).

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3. Tratamento e condicionamento de fontes vegetais de bio-massa:3.1. preparação da madeira e de materiais vegetais em vis-ta da sua gaseificação, combustão e fermentação (prepara-ção de "chips" ou de "pellets"; extração de sucos).

4. Bombas de calor industriais:4.1. aplicação de bombas de calor em instalações industri-ais e de processos.

5. Produção e utilização de Hidrogénio:5.1. produção por via eletrol ítica;5.2. estocagem e utilização de hidrogénio;5.3. segurança das instalações.

6. Sistemas de Conservação de Energia e de Utilização deEnergias Renováveis (habitação, locais industriais, comer-ciais e coletivos, etc).

Cláusula 2a

As ações empreendidas no quadro da presente cooperaçãoentre G.ESP e NOVELERG, e relativos aos campos de ati-vidades mencionadas na cláusula 1a, serão definidas pelaspartes, caso por caso, sendo que seus termos e condiçõesserão fixados por meio de contratos específicos.

Parágrafo Único

Para a realização de alguns contratos específicos, NOVE-LERG poderá indicar entidades a ela associadas, sendoque NOVELERG atuará, sempre e necessariamente, nacondição de interveniente-anuente, cuja responsabilidadeserá definida em cada respectivo contrato.

Cláusula 3?

Na hipótese de os resultados decorrentes da presente co-operação lhes parecerem comerciáveis, CESP e NOVE-LERG poderão manter entendimentos objetivando sua ex-ploração.

Cláusula 4?

CESP e NOVELERG se comprometem a manter sigilo eabsoluta confidencialidade sobre todas as informações,documentos e materiais relacionados com os programas depesquisa e estudos que venham a ser desenvolvidos, sendo-lhes vedado transmitir a terceiros bem como divulgar da-dos técnicos, científicos e administrativos, de qualquer es-pécie, a que venham a ter acesso, sem que haja consenti-mento, por escrito, de ambas as partes.

Clausula 5a

A obrigação de confidencialidade ora assumida, cujo pra-zo de duração será determinado em cada contrato especí-fico, não abrange conhecimentos comprovadamente dedomínio público, mas se estende a projetos, pesquisas eestudos, e tudo o mais concernente, desenvolvidos por en-tidades e sociedades com as quais CESP e NOVELERG,individualmante, mantenham acordos, convénio ou con-tratos, ou estejam associadas, desde que, porém, tais pro-jetos, pesquisas e estudos estejam relacionados com as ati-vidades definidas na cláusula 1 a .

Clausula 6a

Este convénio vigorará pelo prazo de 05 (cinco) anos, apartir da data de sua assinatura.

Cláusula 7a

O presente instrumento poderá ser denunciado por inicia-tiva de qualquer uma das partes mediante notificação pré-via, de uma a outra, feita com antecedência de 90 (noven-ta) dias, por escrito, devendo, porém, ser concluídos oscontratos que estiverem em execução".

2. O Convénio acima transcrito passa a constituir, a partirdesta data, um Ajuste Complementar ao Acordo de Co-operação Científica e Técnica entre o Brasil e a França, da10 de janeiro de 1967, referente à cooperação no campoda pesquisa energética, entre a Companhia Energética deSão Paulo (CESP) e a Empresa francesa NOVELERG.

3. O referido Ajuste Complementar entra em vigor na datade hoje. A denúncia do instrumento e quaisquer modifica-ções que venham a ser introduzidas terão sua tramitaçãopela via diplomática.

4. Fica acordado, ainda, que os contratos específicos men-cionados na cláusula 2?, assim como relatórios das ativi-dades desenvolvidas no âmbito do presente Ajuste Com-plementar, serão periodicamente submetidos à ComissãoMista Franco-Brasileira de Cooperação Científica e Técni-ca.

Aproveito a oportunidade para renovar a Vossa Excelên-cia os protestos da minha mais alta consideração.

Ramiro Saraiva GuerreiroMinistro de Estado das Relações Exteriores da RepúblicaFederativa do Brasil

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brasil e itália assinam ajuste

complementar relativo ao

projeto "programa de

manutenção e reparação do

material rodante"

Ajuste Complementar, por troca de Notas, entre oBrasil e a Itália, relativo ao projeto "Programa

de Manutenção e Reparação do Material Rodante",assinado, no Palácio do Itamaraty, em Brasília,

em 12 de julho de 1983, pelo Ministro de Estadodas Relações Exteriores, Ramiro Saraiva Guerreiro,e pelo Encarregado de Negócios a.i. da Embaixada

italiana, Ministro-Conselheiro Giulio CesareVinci Gigliucci.

NOTA BRASILEIRA

Ao Senhor Ministro Conselheiro Giulio Cesare Vinci

Gigliucci, Encarregado de Negócios a.i.

Senhor Encarregado de Negócios,

De acordo com o que dispõe o Artigo I do Acordo Básico deCooperação Técnica celebrado entre o Governo da Repúbli-ca Federativa do Brasil e o Governo da República Italiana a30 de outubro de 1972, tenho a honra de propor a VossaSenhoria a conclusão de um Ajuste Complementar relati-vo ao projeto "Programa de Manutenção e Reparação doMaterial Rodante", de interesse da Rede Ferroviária Fe-deral S.A. (RFFSA), nos termos expostos a seguir:

I — O Governo da República Federativa do Brasil e o Go-verno da República Italiana promoverão, conjuntamente,a conclusão de estudos de viabilidade e de engenharia paraa remodelação da atual malha de oficinas da Rede Ferrovi-ária Federal;

II — O projeto, que deverá ser implementado em 1983,com duração prevista de 12 meses, terá como entidadesexecutoras a "Ansaldo; Transporti S.p.A" e a Rede Ferro-viária Federal S. A. (RFFSA);

III — De conformidade com os princípios de cooperaçãotécnica do Brasil e da Itália, os aportes italiano e brasilei-ro, em termos financeiros, são proporcionais;

IV — A contribuição do Governo italiano será efetivadaatravés do fornecimento de consultoria, por meio do en-

vio de técnicos de nível superior, num total de duzentos edezesseis (216) homens/mês conforme explicitado a se-guir, por área de atuação:

1) Sistemática e Organização Geral de Oficinas.a) Um (1) engenheiro com mais de trinta (30) anos de ex-periência no campo ferroviário, com nível de doutorado,para exercer as funções de Coordenador-Geral dos Traba-lhos;

b) Cinco (5) engenheiros, com mais de quinze (15) anosde experiência, para assistir na definição de lay-out, espe-cificações de equipamentos, definição de padrões e deprioridades.

2) Planificação Territorial e Localização de Oficinas.Dois (2) engenheiros, com mais de dez (10) anos de expe-riência específica, para colaborar no plano de localizaçãoe definição dos padrões das oficinas.

3) Engenheiro Civil.Quatro (4) engenheiros, com mais de quinze (15) anos deexperiência, no setor de edificações de apoio a ferrovias,especializados, particularmente, em projetos estruturais,redes hidráulicas, drenagem e arquitetura, para colaborarnos estudos de definição de tipos e padrões das oficinas eno plano de localização das mesmas.

4) Implantação Ferroviária.Sete (7) engenheiros ferroviários, com experiência de en-tre dez (10) e quinze (15) anos no setor de eletrificação,sinalização e automação ferroviária, para colaborar nos es-tudos para a definição dos critérios gerais, das especifica-ções técnicas e das prioridades.

5) Estrutura de Manutenção e Revisão do Material Rodan-te.Sete (7) engenheiros, com mais de doze (12) anos de ex-periência no setor de manutenção do material rodante, pa-ra colaborar nos estudos dos critérios adotados, dos pro-gramas, do lay-out, das especificações, das análises e defi-nições de propriedades de remodelação das oficinas.

6) Implantação da Manutenção de Serviços Auxiliares.Dois (2) engenheiros, com mais de quinze (1 5) anos de ex-periência no setor de utilidades instaladas em edificaçõesferroviárias, para colaborar nas especificações técnicas dosequipamentos e definição geral dos padrões a serem adota-dos.

7) Análise Econômico-Financeira.Dois (2) economistas com mais de dez (10) anos de expe-riência no campo da economia de transportes e, em espe-cial, na área ferroviária, para colaborar nas análises econô-mico-financeiras do empreendimento.

V — Ao Governo brasileiro, através da entidade executorado projeto, caberá:

1) Colocar à disposição do projeto, num total de duzentose quatro (204) homens/més, dezessete (17) engenheiros

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pertencentes ao quadro permanente da entidade executo-ra, conforme discriminado a seguir:

a) Um (1) engenheiro especializado em manutenção deequipamentos ferroviários, com experiência superior a vin-te (20) anos, e que será o sub-coordenador do projeto;

b) Um (1) engenheiro especializado em manutenção deoficinas, com experiência superior a vinte (20) anos, e queserá o sub-coordenador do projeto;

c) Três (3) engenheiros especializados em transporte demassa, com experiência superior a quinze (15) anos, paradesenvolver os critérios, especificações básicas, definiçãode prioridades e padrões referentes ao transporte ferroviá-rio de massa;

d) Seis (6) engenheiros especializados em manutenção domaterial de tração, com experiência superior a dez (10)anos, para desenvolver os esboços das oficinas, os planosde localização, as definições de padrões e critérios gerais;

e) Um (1) engenheiro especializado em planejamento ope-racional, com experiência superior a quinze (15) anos, pa-ra determinar as localizações e os planos de adaptação, econduzir a análise econòmico-financeira;

f) Cinco (5) engenheiros especializados em equipamentosmecanizados de via permanente, com experiência superiora doze (12) anos, para conduzir os critérios gerais do pro-jeto, colaborando nos planos de localização das instala-ções e especificação dos equipamentos.

2) Prover as despesas, em cruzeiros, relativas a:a) transportes e diárias, no Brasil, dos funcionários doquadro permanente da executora;b) traduções e publicações que se fizerem necessárias;c) apoio administrativo.

3) Colocar à disposição, para a parte da execução do pro-jeto que será efetuada no Brasil, escritórios na Administra-çãoGeral da entidade executora na cidade do Rio de Ja-neiro.

VI — Com vistas a assegurar a boa execução do presenteAjuste, os dois Governos estenderão aos peritos que atua-rem na implementação do projeto os privilégios e imuni-dades previstos no Acordo Básico de Cooperação Técnicae no Acordo sobre Normas Interpretativas para a aplica-ção dos Artigos VI e VIII do Acordo Básico, celebrado a18 de novembro de 1977.

2. Caso o Governo da República Italiana concorde com aspropostas enunciadas nos itens de I a VI, esta Nota, e a deresposta de Vossa Senhoria, em que se expresse a concor-dância de seu Governo, constituirão um Ajuste entre osnossos dois Governos a entrar em vigor na data de hoje.

Aproveito a oportunidade para renovar a Vossa Senhoriaos protestos da minha mui distinta consideração.

Ramit J Saraiva GuerreiroMinistro de Estado das Relações Exteriores da RepúblicaFederativa do Brasil

NOTA ITALIANA

À Sua Excelência o SenhorEmbaixador Ramiro.Elysio Saraiva GuerreiroMinistro de Estado das Relações Exteriores da RepúblicaFederativa do BrasilBRASÍLIA (DF)

Senhor Ministro,

Tenho a honra de acusar recebimento da Nota de VossaExcelência n° DCOPT/DAI/DE-I/71/644(B46)(F31), da-tada de hoje, cujo teor é o seguinte:

"Senhor Encarregado de Negócios,

De acordo com o que dispõe o Artigo I do Acordo Básicode Cooperação Técnica celebrado entre o Governo da Re-pública Federativa do Brasil e o Governo da RepúblicaItaliana a 30 de outubro de 1972, tenho a honra de pro-por a Vossa Senhoria a conclusão de um Ajuste Comple-mentar relativo ao projeto "Programa de Manutenção eReparação do Material Rodante", de interesse da RedeFerroviária Federal S.A. (RFFSA), nos termos expostos aseguir:

I — O Governo da República Federativa do Brasil e o Go-verno da República Italiana promoverão, conjuntamente,a conclusão de estudos de viabilidade e de engenharia paraa remodelação da atual malha de oficinas da Rede Ferrovi-ária Federal;

II — O projeto, que deverá ser implementado em 1983,com duração prevista de 12 meses, terá como entidadesexecutoras a "Ansaldo Transporti S.p.A." e a Rede Ferro-viária Federal S.A. (RFFSA);

III — De conformidade com os princípios de cooperaçãotécnica do Brasil e da Itália, os aportes italiano e brasilei-ro, em termos financeiros, s3o proporcionais;

IV — A contribuição do Governo italiano será efetivada a-través do fornecimento de consultoria, por meio do enviode técnicos de nível superior, num total de duzentos e de-zesseis (216) homens/més conforme explicitado a seguir,por área de atuação:

1) Sistemática e Organização Geral das Oficinas,a) Um (1) engenheiro com mais de trinta (30) anos deexperiência no campo ferroviário, com nível de doutora-do, para exercer as funções de Coordenador-Geral dosTrabalhos;

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b) Cinco (5) engenheiros, com mais de quinze (15) anosde experiência, para assistir na definição de lay-out, espe-cificações de equipamentos, definição de padrões e deprioridades.

2) Planificação Territorial e Localização de Oficinas.Dois (2) engenheiros, com mais de dez (10) anos de expe-riência específica, para colaborar no plano de localizaçãoe definição dos padrões das oficinas.

3) Engenharia Civil.Quatro (4) engenheiros, com mais de quinze (15) anos deexperiência, no setor de edificações de apoio a ferrovias,especializados, particularmente, em projetos estruturais,redes hidráulicas, drenagem e arquitetura, para colaborarnos estudos de definição de tipos e padrões das oficinas eno plano de localização das mesmas.

4) Implantação Ferroviária.Sete (7) engenheiros ferroviários, com experiência de en-tre dez (10) e quinze (15) anos no setor de eletrificação,sinalização e automação ferroviária, para colaborar nos es-tudos para a definição dos critérios gerais, das especifica-ções técnicas e das prioridades.

5) Estrutura de Manutenção e Revisão do Material Rodan-

te.Sete (7) engenheiros, com mais de doze (12) anos de ex-periência no setor de manutenção do material rodante, pa-ra colaborar nos estudos dos critérios adotados, dos pro-gramas, do lay-out, das especificações, das análises e defi-nições de propriedades de remodelação das oficinas.

6) Implantação da Manutenção de Serviços Auxiliares.Dois (2) engenheiros, com mais de quinze (15) anos de ex-periência no setor de utilidades instaladas em edificaçõesferroviárias, para colaborar nas especificações técnicas dosequipamentos e definição geral dos padrões a serem adota-dos:

7) Análise Económico-Financeira.Dois (2) economistas com mais de dez (10) anos de expe-riência no campo da economia de transportes e, em espe-cial, na área ferroviária, para colaborar nas análises econô-mico-financeiras do empreendimento.

V — Ao Governo brasileiro, através da entidade executora

do projeto, caberá:1) Colocar à disposição do projeto, num total de duzentose quatro (204) homens/mês, dezessete (17) engenheirospertencentes ao quadro permanente da entidade executo-ra, conforme discriminado a seguir:

a) Um (1) engenheiro especializado em manutenção deequipamentos ferroviários, com experiência superior a vin-te (20) anos, e que será o sub coordenador do projeto;

b) Um (1) engenheiro especializado em manutenção deoficinas, com experiência superior a vinte (20) anos, e queserá o subcoordenador do projeto;

c) Três (3) engenheiros especializados em transporte demassa, com experiência superior a quinze (15) anos, paradesenvolver os critérios, especificações básicas, definiçãode prioridades e padrões referentes ao transporte ferroviá-rio de massa;

d) Seis (6) engenheiros especializados em manutenção domaterial de tração, com experiência superior a dez (10)anos, para desenvolver os esboços das oficinas, os planosde localização, as definições de padrões e critérios gerais;

e) Um (1) engenheiro especializado em planejamento ope-racional, com experiência superior a quinze (15) anos, pa-ra determinar as localizações e os planos de adapte ~ão, econduzir a análise econômico-financeira;

f) Cinco (5) engenheiros especializados em equipamentosmecanizados de via permanente, com experiência superiora doze (12) anos, para conduzir os critérios gerais do pro-jeto, colaborando nos planos de localização das instala-ções e especificação dos equipamentos.

2) Prover as despesas, em cruzeiros, relativas a:a) transportes e diárias, no Brasil, dos funcionários doquadro permanente da executora;b) traduçOes e publicações que se fizerem necessárias,"c) apoio administrativo.

3) Colocar à disposição, para a parte da execução do pro-jeto que será efetuada no Brasil, escritórios na Administra-ção-Geral da entidade executora na cidade do Rio de Ja-neiro.

VI — Com vistas a assegurar a ooa execução do presenteAjuste, os dois Governos estenderão aos peritos que ama-rem na implementação do projeto os privilégios e imuni-dades previstos no Acordo Básico de Cooperação Técnicae no Acordo sobre Normas Interpretativas para a aplica-ção dos Artigos VI e VIII do Acordo Básico, celebrado a18 de novembro de 1977.

2. Caso o Governo da República Italiana concorde com aspropostas enunciadas nos itens de I a VI , esta Nota, e a deresposta de Vossa Senhoria, em que se expresse a concor-dância de seu Governo, constituirão um Ajuste entre osnossos dois Governos a entrar em vigor na data de hoje."Em resposta, tenho a honra de informar a Vossa Excelên-cia que o Governo italiano concorda com os termos daNota acima transcrita, a qual, juntamente com a presente,passa a constituir um Ajuste entre os nossos dois Gover-nos, a entrar em vigor na data de hoje.

Aproveito a oportunidade para renovar-lhe. Senhor Minis-tro, os protestos da minha mais alta consideração.

Giulio Cesare Vinci Gigliucci

Encarregado de Negócios a.i.

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aprovado adendo ao convénio

especial entre o cta e o instituto

alemão de pesquisa e ensaio de

navegação aérea e espacial

A Embaixada muito apreciaria receber, com a possívelbrevidade, a aprovação do Governo da República Federa-tiva do Brasil ao citado Adendo, cópia do qual encontra-seem anexo à presente Nota.

A Embaixada da República Federal da Alemanha aprovei-ta a oportunidade para renovar ao Ministério das RelaçõesExteriores os protestos de sua mais alta consideração.

Brasília, em 29 de junho de 1983

Nota Verbal do Ministério das Relações Exterioresà Embaixada da República Federal da Alemanha

em P asília, de 14 de julho de 1983, aprovando oAdendo ao Convénio Especial entre o Centro

Técnico Aeroespacial (CTA) e o InstitutoAlemão de Pesquisa e Ensaio de Navegação Aérea

e Espacial, assinado em 26 de agosto de 1982.

IMOTA BRASILEIRA

O Ministério das Relações Exteriores cumprimenta a Em-baixada da República Federal da Alemanha e tem a honrade acusar recebimento da Nota Wiss 490.04/481/83, de29 de junho do corrente ano, pela qual informa que oCentro Técnico Aeroespacial (CTA) e o Instituto Alemãode Pesquisa e Ensaio de Navegação Aérea e Espacial(DFVLR) firmaram, em 26 de agosto de 1982, um Aden-do ao Convénio Especial entre aquelas duas instituições,de 19 de novembro de 1971.

2. O Ministério das Relações Exteriores informa que o Go-verno brasileiro aprova o Adendo ao Convénio Especialentre o Centro Técnico Aeroespacial (CTA) e o InstitutoAlemão de Pesquisa e Ensaio de Navegação Aérea e Espa-cial (DFVLR), o qual entra em vigor na data de hoje, nostermos do seu artigo II I .

NOTA ALEMÃAoMinistério das Relações Exterioresda República Federativa do BrasilB r as í I i a - DF

A Embaixada da República Federal da Alemanha cumpri-menta o Ministério das Relações Exteriores da RepúblicaFederativa do Brasil e, com referência ao Acordo Geral decooperação nos setores da pesquisa científica e do desen-volvimento tecnológico, de 09 de junho de 1969, tem ahonra de comunicar-lhe o seguinte:

O Convénio Especial entre o Centro Técnico Aeroespacial(CTA) e o Instituto Alemão de Pesquisa e Ensaio de Nave-gação Aérea e Espacial (DFVLR) foi acrescido de umAdendo, firmado entre o CTA e o DFVLR, de um lado, eo CNPq/INPE, do outro, aos 26 de agosto de 1982. EsseAdendo, de acordo com o seu Artigo III, entrará em vigorpor troca de Notas diplomáticas.

A D E N D O

Ao Convénio Especial entre o Centro Técnico Aeroespa-cial, da República Federativa do Brasil, e o Instituto Ale-mão de Pesquisa e Ensaio de Navegação Aérea e Espacial,da República Federal da Alemanha, sobre CooperaçãoCientífica e Tecnológica no Campo da Pesquisa Aeronáu-tica e Espacial.

O Centro Técnico Aeroespacial, (CTA)O Instituto Alemão de Pesquisa e Ensaio de NavegaçãoAérea e Espacial (DFVLR)

O Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico eTecnológico, por meio do Instituto de Pesquisas-Espaciais-CNPq/INPE

CONSIDERANDO os termos do Convénio Especial entreo Centro Técnico Aeroespacial (CTA) e o Instituto Ale-mão de Pesquisa e Ensaio de Navegação Aérea e Espacial(DFVLR), sobre cooperação científica e tecnológica nocampo da pesquisa aeronáutica e espacial, assinado emBonn, a 19 de novembro de 1971, de conformidade como disposto no Artigo I, parágrafo 3 do Acordo Geral sobreCooperação nos Setores da Pesquisa Científica e do De-senvolvimento Tecnológico entre a República Federativado Brasil e a República Federal da Alemanha, concluídoem Bonn, a 9 de junho de 1969,

ACORDAM o seguinte:

ARTIGO I

O CNPq/INPE passa a ser parte do Convénio Especial en-tre o CTA e o DFVLR, assinado a 19 de novembro de1971.

ARTIGO II

Permanecem inalteradas as demais disposições do Convé-nio Especial de 19 de novembro de 1971.

ARTIGO III

Este Adendo entrará em vigor uma vez aprovado pelo Go-verno da República Federativa do Brasil e pelo Governo

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da República Federal da Alemanha, por troca de notas di-plomáticas, e terá a mesma duração que o Convénio Espe-cial sobre CooperaçSío Científica e Tecnológica no Campoda Pesquisa Aeronáutica e Espacial de 19 de novembro de1971.

Feito em Múnchen, aos 26 dias do mês de agosto de 1982,em dois exemplares originais, nos idiomas português e ale-mão, sendo ambos os textos igualmente autênticos.

Brigadeiro Dr. Hugo de OliveiraPiva — Vice-Diretor

Pelo Centro TécnicoAeroespacial (CTA)

Dr. Wolgang Hasencle-ver Presidente Substitu-toPelo Instituto Alemãode Pesquisa e Ensaio deNavegação Aérea e Es-pacial (DFVLR)

Dr. Lynaldo Cavalcanti de AlbuquerquePresidente

Pelo Conselho Nacional de DesenvolvimentoCientífico e Tecnológico (CNPq/INPE)

brasil e eua assinam novo

acordo de cooperação para

repressão ao tráfico ilícito

de drogas que produzem

dependência

Acordo, por troca de Notas, entre o Brasil e osEstados Unidos da América para repressão ao

tráfico ilícito de drogas que produzem dependência,assinado, no Palácio do Itamaraty, em Brasília,

em 19 de julho de 1983, pelo Ministro deEstado das Relações Exteriores, Ramiro SaraivaGuerreiro, e pelo Encarregado de Negócios a.i,dos Estados Unidos da América, Harry Kopp. *

Ao Senhor Harry Kopp,Encarregado de Negócios , a.i.,dos Estados Unidos da América

Senhor Encarregado de Negócios,

Com referência às recentes negociações entre autoridadesdo Governo da República Federativa do Brasil e do Gover-

no dos Estados Unidos da América, sobre cooperação emmatéria de repressão ao tráfico ilícito de drogas que pro-duzem dependência, havendo ambos os Governos concor-dado em colaborar em atividades de repressão ao tráficoilícito de drogas, tenho a honra de informar Vossa Senho-ria de que o Governo da República Federativa do Brasilconcorda com as seguintes disposições:

ARTIGO I

1. As Partes Contratantes decidem continuar a prestar-secooperação com vistas à repressão do tráfico ilícito dedrogas que produzem dependência e outras substâncias es-tupefacientes, especialmente cocaína, que possam origi-nar-se do território brasileiro, por ele transitar ou nele serprocessadas.

2. A cooperação prevista poderá compreender, entre ou-tras formas a serem acordadas pelas Partes, o fornecimen-to de equipamentos e contribuições financeiras para co-brir custos conforme descrito no Anexo. Esses equipa-mentos e contribuições serão empregados na repressão dotráfico de drogas.

ARTIGO II

O Governo brasileiro designa como entidade responsávelpela implementação do presente Acordo o Departamentode Polícia Federal (DPF), do Ministério da Justiça, e oGoverno dos Estados Unidos da América designa, com amesma finalidade, o Bureau Internacional de Assuntos deNarcóticos (INM), do Departamento de Estado, através daEmbaixada dos Estados Unidos da América em Brasília.

ARTIGO III

1. O INM proporcionará o financiamento de até US$250,000.00 (duzentos e cinquenta mil dólares), no anofiscal do Governo dos Estados Unidos da América de1983, em apoio à cooperação descrita no Artigo I, e paraos equipamentos específicos e contribuições para cobrircustos relacionados no Anexo ao presente Acordo.

2. As entidades responsáveis pela implementação do pre-sente Acordo decidirão conjuntamente quanto ao núme-ro, tipo e composição dos equipamentos acima menciona-dos a serem fornecidos no quadro do presente Acordo.

3. Excetuado combustível, o INM providenciará a aquisi-ção de bens e equipamentos nos termos do presente Acor-do e fará sua doação ao DPF, o qual certificará seu recebi-mento e os empregará na repressão ao tráfico de drogas.Combustível será adquirido diretamente pelo DPF e seupagamento será feito pelo INM, segundo procedimentos aserem adotados de comum acordo entre o DPF e o INM.

1 O primeiro Acordo entre Brasil e Estados Unidos da América par,a repressão ao tráfico ilícito de drogas que produzemdependência foi assinado, no Palácio do Itamaraty, em Brasília, em 29 de setembro de 1982, pelo Ministro de Estado, in-terino, das Relações Exteriores, João Clemente Baena Soares, e pelo Encarregado de Negócios a.i., dos Estados Unidos daAmérica, Harry Kopp, e publicado por esta Resenha em seu número 34, página 114.

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4. A Data limite de contribuição para bens e serviçosadquiridos nos termos deste Acordo será 31 de março de1985. O INM somente fará contribuições, nos termos dopresente Acordo, até seis meses após a data limite indica-da ou qualquer data de contribuição final fixada posteri-ormente, a menos que as Partes acordem de outra manei-ra.

5. Após a data limite fixada no parágrafo 4 acima, o Go-verno dos Estados Unidos da América somente se obriga afornecer o total ou o saldo da verba mencionada no pará-grafo 1 em caso de disponibilidade de verbas autorizadaspelo Congresso dos Estados Unidos da América para talfim.

ARTIGO IV

Os eventuais impostos e direitos alfandegários a que pos-sam estar sujeitos os equipamentos fornecidos ao DPF emvirtude da aplicação do presente Acordo serão da exclusi-va responsabilidade do DPF, que tomará as devidas provi-dências para resolver quaisquer dificuldades que possamsurgir.

ARTIGO V

Para os fins do presente Acordo, o DPF se comprotnete a:

a) financiar, até por um valor total de US$ 10,000.00(dez mil dólares dos Estados Unidos da América), as ativi-dades descritas no Anexo;

b) arcar com as despesas eventuais que decorram da imple-mentação do presente Acordo, e que não estejam nele pre-viamente especificadas.

ARTIGO VI

Os equipamentos e contribuições financeiras para cobrircustos fornecidos por uma das entidades referidas no Arti-go II à outra, nos termos do presente Acordo, serão desti-nados exclusivamente à execução das atívidades nele pre-vistas. Após o término do presente Acordo, os referidosequipamentos e contribuições serão utilizados em ativida-des que complementem os fins visados no Acordo.

ARTIGO VII

Todas as atividades decorrentes do presente Acordo serãodesenvolvidas de conformidade com as leis e regulamentosem vigor na República Federativa do Brasil e nos EstadosUnidos da América.

ARTIGO VIM

O DPF e o INM realizarão, pelo menos uma vez por ano,uma avaliação conjunta das atividades decorrentes da apli-cação do presente Acordo, para o que fornecerão o pes-soal qualificado necessário.

ARTIGO IX

Fica acordado que o Anexo é parte integrante do presenteAcordo.

ARTIGO X

O presente Acordo poderá ser modificado, revisto ou am-pliado, por comum acordo das Partes. As eventuais modi-ficações ou revisões entrarão em vigor por troca de Notasdiplomáticas.

ARTIGO XI

1. O presente Acordo entrará em vigor pela presente trocade Notas e terá vigência a partir desta data até o dia 31 demarço de 1985, a menos que as Partes Contratantes con-cordem com sua prorrogação. Poderá ser denunciado, aqualquer tempo, por notificação escrita por qualquer dosdois Governos. A denúncia surtirá efeito trinta dias depoisda data de recebimento da notificação respectiva.

2. A denúncia do presente Acordo implicará o cancela-mento de todas as obrigações de ambas as Partes, excetoquanto ao pagamento de compromissos nffo canceláveisque tenham sido assumidos com terceiros.

Aproveito a oportunidade para renovar a Vossa Senhoriaos protestos da minha mui distinta consideração.

Ramiro Saraiva GuerreiroMinistro de Estado das Relações Exteriores da RepúblicaFederativa do Brasil

A N E X O

AO ACORDO ENTRE O GOVERNO DA REPÚBLICAFEDERATIVA DO BRASIL E O GOVERNO DOS

ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA SOBRE COOPERA-ÇÃO NO CAMPO DO CONTROLE DO TRÁFICO

ILÍCITO DE DROGAS

I - CONTRIBUIÇÃO DO INM:

Veículos com tração nas quatrorodas, equipamentos de comuni-cação e outros US $ 150,000.00

Montante a ser utilizado para apoiooperacional e outros custos US $ 100,000.00

T O T A L US $ 250,000.00

II - CONTRIBUIÇÃO DO DPF:

— Custos de pessoal

a) Pagamento de viagens e diáriaspara executar operações

b) Instalação do equipamento decomunicações

T O T A L

US $ 9,500.00

US $ 500.00

US$ 10,000.00

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governo brasileiro concede

ao peru isenção da taxa de

melhoramento de portos

Acordo, por troca de Notas, entre o Brasil e o Peru,para isenção da Taxa de Melhoramento de Portos

para mercadorias destinadas ou procedentes doPeru e em transito pelo porto de Manaus, assinado,

no Itamaraty, em Brasília, em 18 de agosto de1983, pelo Ministro de Estado das Relações

Exteriores, Ramiro Saraiva Guerreiro, e peloEmbaixador Extraordinário e Plenipotenciário

do Peru, Alejandro Deustua Arrôspide.

NOTA BRASILEIRA

A Sua Excelência o Senhor Alejandro Deustua Arrôspide,Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário da Repú-blica do Peru.

Senhor Embaixador,

Tenho a honra de dirigir-me a Vossa Excelência para refe-rir-me aos entendimentos relativos à isenção da Taxa deMelhoramento de Portos (TMP) para mercadorias destina-das ao Peru, ou procedentes desse país, e em trânsito peloporto de Manaus.

2. Dentro do espírito de fraterna cooperação que inspirouo Tratado de Cooperação Amazónica, de 3 de julho de1978, do qual são partes nossos dois países, e o Tratadode Amizade e Cooperação entre o Brasil e Peru, de 16 deoutubro de 1979, e levando em conta o incentivo que talisenção representará para o maior estreitamento das rela-ções económicas brasileiro-peruanas, comunico a VossaExcelência que o Governo brasileiro houve por bem con-ceder a isenção da referida taxa às mercadorias mencio-nadas.

3. A presente Nota e a de resposta de Vossa Excelênciaconstituem um Acordo entre nossos dois Governos, o qualentrará em vigor a partir do dia de hoje.

Aproveito a oportunidade para renovar a Vossa Excelên-cia os protestos da minha mais alta consideração.

Ramiro Saraiva GuerreiroMinistro de Estado das Relações Exteriores da RepúblicaFederativa do Brasil

NOTA PERUANA

Al Excelentísimosenor EmbajadordonRAMIROSARAIVA GUERREIRO,Ministro de Relaciones Exteriores de) Brasil,B r a s í l i a DF. -

Sefíor Ministro:

Tengo a honra dirigirme a Vuestra Excelência para avisarFecibo desu atenta Nota N? DAM II/DAI/DALADI/DPC/DOC/35, de fecha de hoy, mediante Ia cual Vuestra Exce-lência tiene a bien informar que el Ilustrado Gobierno deiBrasil ha decidido conceder Ia exención de Ia Tasa de Me-joramiento de Puertos (TMP), para Ias mercaderías desti-nadas ai Peru, o procedentes dei Peru, en transito por elPuerto de Manaos, en Ia seguridad de que Ia mencionadaexención representará un incentivo para el incremento deIas relaciones económicas y comerciales entre nuestros dospaíses.

Asimismo, he tomado atenta nota de que Ia referida deci-sión se encuentra sustentada, también en el espíritu decooperación fraterna que inspiro el Tratado de Coopera-ción Amazónica dei 3 de julio de 1978, dei cual son partesnuestros dos países, y el Tratado de Amistad y Coopera-ción entre el Brasil y el Peru dei 16 de octubre de 1979.

La Nota de su Excelência y Ia presente de respuesta, cons-tituyen un Acuerdo entre nuestros respectivos Gobiernos,el cual entrará en vigência a partir de Ia fecha.

Aprovecho Ia oportunidad para reiterar a Vuestra Exce-lência Ias seguridades de mi más alta y distinguida conside-ración.

Alejandro Deustua,Embajador dei Peru.

acordo regula as exportações

de fios de acrílico do brasil

para o canada

Acordo, por troca de Notas, entre o Brasil e oCanadá, relativo às exportações de fios de acrílico

do Brasil para o Canadá, assinado, no Paláciodo Itamaraty, em Brasília, em 21 de setembro de

1983, pelo Ministro de Estado das RelaçõesExteriores, Ramiro Saraiva Guerreiro, e pelo

Encarregado de Negócios do Canadá,David George Ryan.

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Senhor Encarregado de Negócios,

Tenho a honra de acusar recebimento da Nota n° B.122de 21/09/83 relativa às exportações de produtos têxteisdo Brasil para o Canadá cujo teor, em português, é o se-guinte:

"Excelência,

Tenho a honra de referir-me às recentes consultas entre osrepresentantes de nossos dois Governos relativas às expor-tações de têxteis do Brasil para o Canadá, com base noAcordo Multifibras do GATT. Como resultado de taisconsultas, desejo propor o seguinte Acordo entre o Gover-no do Canadá e o Governo do Brasil sobre as Exportaçõesde certos Produtos Têxteis do Brasil para o Canadá, dora-vante referido como Acordo:

"MEMORANDUM DE ENTENDIMENTO ENTRE O GO-VERNO DO CANADÁ E O GOVERNO DA REPÚBLICAFEDERATIVA DO BRASIL RELACIONADO COM AEXPORTAÇÃO DE FIOS DE ACRÍLICO DO BRASILPARA O CANADÁ"

1. Introdução

Este Memorandum de Entendimento (ME) contém as dis-posições acordadas entre os Governos do Canadá e do Bra-sil, visando à exportação pelo Brasil de fios de acrílicospara o Canadá.

2. Estas disposições foram assentadas observando-se oAcordo Internacional sobre o Comércio de Têxteis (daquipor diante denominado "AMF"), em particular o seu Arti-go 4 — e o Protocolo de Extensão deste acordo.

Períodos do Restrição

3. As presentes disposições aplicar-se-â"o ao período entre1? de junho de 1983 e 31 de dezembro de 1986. O pri-meiro período de restrição começará a 1? de junho de1983 e terminará a 31 de dezembro de 1983 e os três pe-ríodos subsequentes corresponderão aos anos — calen-dário de 1984, 1985 e 1986, respectivamente.

Níveis de Restrição

4. Exceto no que dispõem os parágrafos 11 e 13 abaixo,o Governo da República Federativa do Brasil restringirá asexportações para o Canadá de fios de acrílico, conformedescritos no Anexo I, pelos períodos e segundo os limitesespecificados, neste Anexo.

Cobertura

5. A definição de fios de acrílico é dada no Anexo II.

Administração

6. As presentes disposições serão executadas com base nosistema de controle das exportações operado pelo Gover-no da República Federativa do Brasil.

7. O Governo do Canadá admitirá importações de fios deacrílico, conforme descritas no Anexo II e sujeitas a umlimite quantitativo especificado no Anexo I, desde que es-sas importações estejam cobertas por uma cópia originaida Licença de Exportação brasileira emitida e endossada,após o embarque das quantidades relevantes, pelo órgãobrasileiro competente (CACEX), para que tal importação,conforme descrita na licença de exportação, tenha sidodebitada no limite quantitativo aplicável, previsto no Ane-xo I.

8. As licenças de exportação emitidas pelo Governo daRepública Federativa do Brasil relativas aos produtos su-jeitos a níveis de restrição especificados no Anexo I deve-rão conter as seguintes informações:

1. País de destino;

2. País de origem;

3. Número da licença;

4. Nome e endereço do importador;

5. Nome e endereço do exportador;

6. Número da categoria e descrição do produto con-

forme estabelecido no Anexo I do ME:

7. Quantidade expressa em unidades conforme men-

cionado no Anexo I do ME:

8. Valor FOB, exceto para consignação nâo-comer-

ciais;

9. Certificado do órgão brasileiro competente de que

a quantidade tenha sido debitada dos níveis de res-

trição das exportações acordados com o Canadá;

10. Ano-cota.

9. O Governo da República Federativa do Brasil empreen-derá esforços para assegurar que as exportações de todosos fios de acrílico relacionados no Anexo II e sujeitos aosníveis de restrição do Anexo I sejam espaçadas, o maisuniformemente possível, dentro de cada período de restri-ção, levando-se em conta fatores sazonais e os canais decomercialização normais.

10. Se, com base nos dados de exportação fornecidos pe-lo Governo da República Federativa do Brasil, o Governodo Canadá verificar que há um rápido e substancial au-mento na concentração de exportações de fios de acrílico,que não possa ser atribuída a fatores sazonais normais eaos canais normais de comercialização poderá solicitarconsultas, de acordo com as disposições do parágrafo 18,com vistas a chegar-se a uma conclusão mutuamente acei-tável.

"Carry-over/Carry-forward"

11. Após notificação ao Governodo Canadá das quanti-dades envolvidas, parcelas das cotas estabelecidas no Ane-

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xo I que não forem utilizadas durante um período de res-trição poderão ser utilizadas a titulo de "carry-over" noperíodo seguinte, e adicionadas ao limite quantitativo res-pectivo para o período de restrição seguinte. O nível derestrição para qualquer período de restrição seguinte seráaumentado até o mais alto limite de percentagem estabe-lecido na coluna (D) do Anexo I.

12. Qualquer n ível de restrição poderá ser aumentado atéo menor limite percentual estabelecido na coluna (D) doAnexo I pela quantidade antecipada pelo correspondentenível de restrição para o período de restrição subsequente.O nível de restrição para qualquer período de restrição se-guinte será reduzido em idêntica quantidade àquela ante-cipada no período anterior.

13. Não obstante o mencionado acima, as disposições decarry-over/carry-forward poderão ser utilizadas em conjun-to somente até o maior limite percentual estabelecido nacoluna (D) do Anexo I.

Intercâmbio de Estatísticas

14. O Governo da República Federativa do Brasil forne-cerá ao Governo do Canadá cópias das licenças de expor-tação referidas nos parágrafos 7 e 8 acima, tão logo sejapossível após cada embarque.

15. O Governo do Canadá fornecerá ao Governo da Re-pública Federativa do Brasil, mensalmente, estatísticas re-lacionadas às licenças de importação emitidas para impor-tações de fios de acrílico relacionadas no Anexo II, origi-nárias do Brasil.

Equidade

16. Caso algum Governo se considerar, como resultadodestas disposições, em desvantagem com relação a tercei-ros, poderá acionar o mecanismo de consulta previsto noparágrafo 18 para a implementação das apropriadas medi-das de compensação.

Reexportações

17. O Governo do Canadá empenhar-se-á em informar oGoverno da República Federativa do Brasil, o mais brevepossível, quando as importações canadenses de fios deacrílico, sujeitas a estas disposições forem reexportadas,subsequentemente, como fios de acrílico canadenses, este-jam ou não reprocessados. Havendo tais exportações sidodebitadas pelo Governo da República Federativa do Brasilnos limites quantitativos, poderá o Governo brasileiro cre-ditar as quantidades envolvidas nos limites quantitativosapropriados.

Consultas

18. Ambos os Governos têm o direito de requerer consul-

tas com o outro Governo em qualquer matéria emanadada implementação ou operação destas disposições ou dealgum problema delas decorrentes. Tais consultas serãoorientadas pelo seguinte:— qualquer pedido de consultas será notificado por escritoao outro Governo;— o pedido de consultas será acompanhado ou seguidonum período razoável (em qualquer caso não superior avinte e um dias após o pedido de consulta) por um arra-zoado com os motivos e circunstâncias que, na opinião doEstado requerente, justifique a consideração de tal pedi-do;

— o outro Governo aceitará o pedido e as consultas terãolugar em trinta dias a contar da data de notificação do pe-dido;— ambos os Governos iniciarão as consultas visando a atin-gir uma conclusão mutuamente aceitável, em trinta dias,a contar da data em que as consultas efetivamente come-cem.

Revisões e Termo

19. Ambos os Governos poderão a qualquer tempo pro-por revisões nos termos destas disposições, observando-seo Multif ibras e o Protocolo de Extensão.

20. Ambos os Governos poderão pSr termo nestasdisposições no final de cada período de restrição, pormeio de notificação ao outro Governo, a ser dado pelomenos noventa dias antes do final de cada período derestrição.

Anexos

21. Os anexos deste Memorandum de Entendimento se-rão considerados parte integrante do mesmo.

Disposições finais

22. Este Memorandum de Entendimento entrará em vigora 1? de junho de 1983 após a troca de nota entre os doisGovernos confirmando a aceitação dos termos do Acordo.

No caso de o acima exposto ser aceitável para o seu Go-verno, esta Nota e a Nota de Vossa Excelência, confirman-do a aceitação em nome do Governo da República Fede-rativa do Brasil, constituir-se-ão em Acordo entre os nos-sos dois Governos.

Aceite, Excelência, os protestos renovados de minha maisalta consideração".

2. Em resposta, confirmo que o Governo da RepúblicaFederativa do Brasil concorda com os termos da Nota deVossa Excelência, e que a mesma e a presente respostaconstituem Acordo entre nossos Governos.

Aproveito a oportunidade para renovar a Vossa Senhoriaos protestos da minha mui distinta consideração.

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ANEXO I: NÍVEIS DE RESTRIÇÃO

(A) (B) (C) (D)

I temn 0

1ProdutoFios deacrílico

Nível de Restrição1 de junho de 1983a 31 de dezembro de1983: 125.0OOkgs.

1 de janeiro de 1984a 31 de dezembro de1984:220.000kgs.

1 de janeiro de 1985a 31 de dezembro de1985:228.80Okgs.

1 de janeiro de 1986a 31 de dezembro de1986: 237.552kgs.

Carry-over/carry-forward10(5) %

ANEXO II

Descrição do produto

1. Fios de acrílico

Fios de acrílico incluem todos os tipos de fios de acrílicotecidos à máquina e à mão contendo 50% ou mais do pe-so em fios de acrílico.

assinada convenção entre brasil

e filipinas para evitar a dupla

tributação

Convenção entre Brasil e Filipinas destinada aevitar a dupla tributação e prevenir a evasão fiscal

em matéria de impostos sobre a renda, assinada,no Palácio do Itamaraty, em Brasília, em 29 de

setembro de 1983, pelo Ministro de Estado,

interino, das Relações Exteriores, João ClementeBaena Soares, e pelo Embaixador Extraordinário e

Plenipotenciário das Filipinas, Sérgio A. Barrara.

O Governo da República Federativa do Brasil

eO Governo da República das Filipinas,

DESEJANDO concluir uma Convenção destinada a evitara dupla tributação e prevenir a evasão fiscal em matéria deimpostos sobre a renda,

ACORDARAM o seguinte:

70

ARTIGO 1

Pessoas visadas

A presente Convenção aplica-se às pessoas residentes deum ou de ambos os Estados Contratantes.

ARTIGO 2

Impostos visados

1. A presente Convenção aplica-se aos impostos sobre arenda cobrados por um dos Estados Contratantes, sejaqual for o sistema usado para sua cobrança.

2. Os impostos atuais aos quais se aplica a presente Con-

venção são:

a) no caso do Brasil:— o imposto federal de renda, com exclusão das incidên-cias sobre remessas excedentes e atividades de menor im-portância;(doravante referido como "imposto brasileiro");

b) no caso das Filipinas:

— os impostos sobre a renda cobrados pelo Governo daRepublicadas Filipinas;

(doravante referidos como "imposto filipino").

3. A presente Convenção aplica-se também a quaisquerimpostos idênticos ou substancialmente semelhantes queforem posteriormente introduzidos, seja em adição aosimpostos acima mencionados, seja em sua substituição.As autoridades competentes dos Estados Contratantesnotificar-se-ão mutuamente de qualquer modificação signi-ficativa que tenha ocorrido em suas respectivas legislaçõestributárias.

ARTIGO 3Definições gerais

1. Na presente Convenção, a não ser que o contexto impo-nha interpretação diferente:a) o termo "Brasil" designa a República Federativa doBrasil;

b) o termo "Filipinas" designa a República das Filipinas;c) o termo "nacionais" designa:

I — todas as pessoas físicas que possuam a nacionalidadeou a cidadania de um Estado Contratante;

II — todas as pessoas jurídicas, sociedades de pessoas e as-sociações constitui idas de acordo com a lesgislação em vi-gor num Estado Contratante;

d) as expressões "um Estado Contratante" e "o outro Es-tado Contratante" designam o Brasil ou as Filipinas, con-soante o contexto;e) o termo "pessoa" compreende uma pessoa física, umasociedade ou qualquer outro grupo de pessoas;f) o termo "sociedade" designa qualquer pessoa jurídicaou qualquer entidade que, para fins tributários, seja consi-derada como pessoa jurídica;g) as expressões "empresa de um Estado Contratante" e"empresa do outro Estado Contratante" designam, respec-tivamente, uma empresa explorada por um residente de

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um Estado Contratante e uma empresa explorada por umresidente do outro Estado Contratante;h) a expressão "tráfego internacional" designa qualquertransporte efetuado por um navio ou aeronave exploradopor um residente de um dos Estados Contratantes, excetoquando o navio ou aeronave seja explorado unicamenteentre lugares situados no outro Estado Contratante;i)1 o termo "imposto" designa o imposto brasileiro ou oimposto filipino, consoante o contexto;j) a expressão "autoridade competente" designa:I — no Brasil: o Ministro da Fazenda, o Secretário da Re-ceita Federal ou seus representantes autorizados;II) nas Filipinas: o Ministro da Fazenda ou seu represen-tante autorizado.

2. Para a aplicação da presente Convenção por um EstadoContratante, qualquer expressão que não se encontre deoutro modo definida tem o sentido que lhe é atribuídopela legislação desse Estado Contratante no que respeitaaos impostos a que se aplica a Convenção, a não ser que ocontexto imponha uma interpretação diferente.

ARTIGO 4Residente

1. Para os fins da presente Convenção, a expressão "resi-dente de um Estado Contratante" designa qualquer pessoaque, em virtude da legislação desse Estado, está aí sujeitaa imposto em razão do seu domicílio, da sua residência,da sua sede de direção ou de qualquer outro critério denatureza análoga. Todavia, esta expressão não compreen-de as pessoas que estão sujeitas a imposto nesse Estadosomente em relação a rendimentos de fontes situadasnesse Estado.

2. Quando, por força do disposto do parágrafo 1, umapessoa física for um residente de ambos os Estados Con-tratantes, a situação será resolvida de acordo com as se-guintes regras:a) será considerada como residente do Estado Contratanteem que disponha de uma habitação permanente; se dispu-ser de uma habitação permanente em ambos os EstadosContratantes, será considerada como residente do EstadoContratante com o qual suas relações pessoais e económi-cas sejam mais estreitas (centro de interesses vitais);b) se o Estado Contratante em que tenha o centro de seusinteresses vitais não puder ser determinado, ou se não dis-puser de uma habitação permanente em nenhum dos Es-tados Contratantes, será considerada como residente doEstado Contratante em que permanecer de forma habi-tual;c) se permanecer de forma habitual em ambos os EstadosContratantes ou se não permanecer de forma habitual emnenhum deles, será considerada como residente do Esta-do Contratante de que for nacional;d) se for nacional de ambos os Estados Contratantes ou senão for nacional de nenhum deles, as autoridades compe-tentes dos Estados Contratantes resolverão a questão decomum acordo.

3. Quando, em virtude do disposto do parágrafo 1, umapessoa que não seja uma pessoa física for um residente de

ambos os Estados Contratantes, as autoridades competen-tes dos Estados Contratantes resolverão a questão de co-mum acordo.

ARTIGO 5Estabelecimento permanente

1. Para os fins da presente Convenção, a expressão "esta-belecimento permanente" designa uma instalação fixa denegócios em que a empresa exerce toda ou parte da suaatividade.

2. A expressão "estabelecimento permanente" abrange es-pecialmente:a) uma sede de direção;b) uma sucursal;c) um escritório;d) uma fábrica;e) uma oficina;f) uma mina, uma pedreira ou qualquer outro local de ex-ploração ou extração de recursos naturais;g) um canteiro de construção ou de montagem, cuja dura-ção exceda 6 meses;h) um armazém, em relação a uma pessoa quep.rové insta-lações de armazenagem para terceiros.

3. A expressão "estabelecimento permanente" não com-preende:a) a utilização de instalações unicamente para fins de ar-mazenagem ou exposição de bens ou mercadorias perten-centes à empresa;b) a manutenção de um estoque de bens ou mercadoriaspertencentes à empresa unicamente para fins de armazena-gem ou exposição;c) a manutenção de um estoque de bens ou mercadoriaspertencentes à empresa unicamente para fins de transfor-mação por outra empresa;d) a manutenção de uma instalação fixa de negócios unica-mente para fins de comprar bens ou mercadorias, ou obterinformações para a empresa;e) a manutenção de uma instalação fixa de negócios unica-mente para fins de publicidade, fornecimento de informa-ções, pesquisas científicas ou atividades análogas que te-nham caráter preparatório ou auxiliar para a empresa.

4. Uma pessoa que atue num Estado Contratante por con-ta de uma empresa do outro Estado Contratante — e des-de que não seja um agente que goze de um "status" inde-pendente ao qual se aplica o parágrafo 5 — será considera-da como estabelecimento permanente no primeiro Estadose tiver, e exercer habitualmente nesse Estado, autoridadepara concluir contratos em nome da empresa, a não serque suas atividades sejam limitadas à compra de bens oumercadorias para a empresa.

Todavia, uma sociedade de seguros de um Estado Contra-tante, exceto com relação a resseguros, será consideradacomo tendo um estabelecimento permanente no outro Es-tado Contratante desde que receba prémios ou segure ris-cos no outro Estado.

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5. Uma empresa de um Estado Contratante não será consi-derada como tendo um estabelecimento permanente nooutro Estado Contratante pelo simples fato de exercer asua atividade nesse outro Estado por intermédio de umcorretor, de um comissário geral ou de qualquer outroagente que goze de um "status" independente, desde queessas pessoas atuem no âmbito de suas atividades normais.

6. O fato de uma sociedade residente de um Estado Con-tratante controlar ou ser controlada por uma sociedade re-sidente do outro Estado Contratante, ou que exerça suaatividade nesse outro Estado (quer seja por intermédio deum estabelecimento permanente, quer de outro modo),não será, por si só, bastante para fazer de qualquer dessassociedades estabelecimento permanente da outra.

ARTIGO 6

Rendimentos de bens imobiliários

1. Os rendimentos de bens imobiliários, incluindo os ren-dimentos de explorações agrícolas ou florestais, sSo tribu-táveis no Estado Contratante em que esses bens estiveremsituados.

2. a) a expressão "bens imobiliários", com ressalva do dis-posto nas ai íneas b) e c), é definida de acordo com a legis-lação do Estado Contratante em que os bens em questãoestiverem situados;b) a expressão compreende, em qualquer caso, os acessó-rios da propriedade imobiliária, o gado e o equipamentoutilizados nas explorações agrícolas e florestais, os direitosa que se aplicam as disposições do direito privado relativasà propriedade territorial, o usofruto de bens imobiliáriose os direitos aos pagamentos variáveis ou fixos pela explo-ração ou concessão da exploração de jazidas minerais, fon-tes e outros recursos naturais;

c) os navios, barcos e aeronaves não são considerados bensimobiliários.

3. 0 disposto no parágrafo 1 aplica-se aos rendimentosprovenientes da exploração direta, da locação ou do arren-damento, assim, como de qualquer outra forma de explo-ração de bens imobiliários.

4. O disposto nos parágrafos 1 e 3 aplica-se igualmente aosrendimentos provenientes de bens imobiliários de umaempresa, assim como aos rendimentos de bens imobiliá-rios que sirvam para exercício de uma profissão liberal.

ARTIGO 7

Lucros das empresas

1. Os lucros de uma empresa de um Estado Contratante sósão tributáveis nesse Estado, a náb ser que a empresa exer-ça sua atividade no outro Estado Contratante por meio deum estabelecimento permanente aí situado. Se a empresaexercer sua atividade na forma indicada, seus lucros sãotributáveis no outro Estado, mas unicamente na medidaem que forem atribuíveis a esse estabelecimento perma-nente.

2. Com ressalva do disposto no parágrafo 3, quando umaempresa de um Estado Contratante exercer sua atividadeno outro Estado Contratante através de um estabeleci-mente permanente aí situado, serão atribuídos em cadaEstado Contratante a esse estabelecimento permanente oslucros que obteria se constituísse uma empresa distinta eseparada exercendo atividades idênticas ou similares emcondições idênticas ou similares e transacionando comabsoluta independência com a empresa de que é um esta-belecimento permanente.

3. No cálculo dos lucros de um estabelecimento perma-nente, é permitido deduzir as despesas que tiverem sidofeitas para a consecução dos objetivos do estabelecimentopermanente, incluindo as despesas de direção e os encar-gos gerais de administração assim realizados.

4. Nenhum lucro será atribu ido a um estabelecimento permanente pelo fato de este comprar simplesmente bens oumercadorias para a empresa.

5. Quando os lucros compreenderem rendimentos trata-dos separadamente em outros Artigos da presente Conven-ção, o disposto nesses Artigos não será afetado pelo dis-posto neste Artigo.

ARTIGO 8

Navegação marítima e aérea

1. Os lucros provenientes de fontes situadas em um dosEstados Contratantes que um residente do outro EstadoContratante aufere da exploração de navios ou aeronavesno tráfego internacional são tributáveis em ambos os Esta-dos Contratantes.

2. 0 disposto no parágrafo 1 aplica-se também aos lucrosprovenientes da participação em um consórcio, em umaexploração em comum ou em um organismo internacionalde operação.

ARTIGO 9Empresas associadas

Quando:

a) uma empresa de um Estado Contratante participar dire-ta ou indiretamente da direção, controle ou capital deuma empresa do outro Estado Contratante, oub) as mesmas pessoas participarem direta ou indiretamen-te da direção, controle ou capital de uma empresa de umEstado Contratante e de uma empresa do outro EstadoContratante,

e, em ambos os casos, as duas empresas estiverem ligadas,nas suas relações comerciais ou financeiras, por condiçõesaceitas ou impostas que difiram das que seriam estabeleci-das entre empresas independentes, os lucros que, sem es-sas condições, teriam sido obtidos por uma das empresas,mas não o foram por causa dessas condições, podem serincluídos nos lucros dessa empresa e tributados como tais.

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ARTIGO 10Dividendos

1. Os dividendos pagos por uma sociedade residente deum Estado Contratante a um residente do outro EstadoContratante são tributáveis nesse outro Estado.

2. Todavia, esses dividendos podem ser tributados no Es-tado Contratante onde reside a sociedade que os paga, ede acordo com a legislação desse Estado, mas se a pessoaque os receber for o beneficiário efetivo dos dividendos, oimposto assim estabelecido não poderá exceder:

a) 15% do montante bruto dos dividendos, se o beneficiá-rio for uma sociedade, incluindo uma sociedade de pes-soas;b) 25% do montante bruto dos dividendos em todos osdemais casos.

Este parágrafo não afetará a tributação da sociedade comrelação aos lucros que deram origem aos dividendos pagos.

3. O disposto nos parágrafos 1 e 2 não se aplica se o bene-ficiário efetivo dos dividendos, residente de um EstadoContratante, desenvolver atividade no outro Estado Con-tratante de que é residente a sociedade que paga os divi-dendos por meio de um estabelecimento permanente aí si-tuado, ou exercer uma profissão independente nesse outroEstado por intermédio de uma instalação fixa aí situada, ea participação em relação à qual os dividendos s3o pagosesteja efetivamente ligada a esse estabelecimento perma-nente ou instalação fixa. Neste caso, aplica-se o dispostono Artigo 7 ou no Artigo 14, conforme couber.

4. O termo "dividendos", usado neste Artigo, designa osrendimentos provenientes de ações, ações ou direitos defruição, ações de empresas mineradoras, partes de funda-dor ou outros direitos de participação em lucros, com ex-ceção de créditos, bem como rendimentos de outras parti-cipações de capital assemelhados aos rendimentos deações pela legislação tributária do Estado em que a socie-dade que os distribuir seja residente.

5. Quando um residente das Filipinas tiver um estabele-cimento permanente no Brasil, este estabelecimento per-manente poderá aí estar sujeito a um imposto retido nafonte de acordo com a legislação brasileira. Todavia, esseimposto não poderá exceder 15% do montante bruto doslucros desse estabelecimento permanente, calculado apóso pagamento do imposto de renda de sociedades referentea esses lucros.

6. Nada neste Artigo poderá impedir as Filipinas de co-brar, à parte do imposto de renda de sociedades, um im-posto sobre remessas de lucros de uma sucursal para suamatriz, desde que o imposto assim cobrado não exceda15% do montante remetido.

7. Quando uma sociedade residente de um Estado Contra-trante receber lucros ou rendimentos do outro Estado

Contratante, esse outro Estado Contratante não ppderácobrar qualquer imposto sobre os dividendos pagos pelasociedade, exceto na medida em que esses dividendos fo-rem pagos a um residente desse outro Estado ou na medi-da em que a participação geradora dos dividendos estivterefetivamente ligada a um estabelecimento permanente ou auma instalação fixa situados nesse outro Estado, nem su-jeitar os lucros não distribuídos da sociedade a um impos-to sobre lucros nâo distribuídos, mesmo se os dividendospagos ou os lucros não distribuídos consistirem total ouparcialmente de lucros ou rendimentos provenientes desseoutro Estado.

ARTIGO 11Juros

1. Os juros provenientes de um Estado Contratante e pa-gos a um residente do outro Estado Contratante são tribu-táveis nesse outro Estado.

2. Todavia, esses juros podem ser tributados no EstadoContratante de que provêm, e de acordo com a legislaçãodesse Estado, mas, se a pessoa que os receber for o benefi-ciário efetivo dos juros, o imposto assim estabelecido nãopoderá exceder 15% do montante bruto dos juros.

3. Não obstante o disposto nos parágrafos 1 e 2:

a) os juros provenientes de um Estado Contratante e pa-gos ao Governo do outro Estado Contratante, a uma sub-divisão política ou qualquer agência (incluindo uma insti-tuição financeira) de propriedade exclusiva desse Governoou subdivisão política são isentos de imposto no primeiroEstado Contratante;b) os juros da dívida pública, de títulos ou debênturesemitidos pelo Governo de um Estado Contratante, umasua subdivisão política ou qualquer agência (inclusive umainstituição financeira) de propriedade desse Governo sósão tributáveis nesse Estado;

c) com ressalva do disposto na alínea (a) acima, o impostofilipino sobre juros pagos por uma sociedade residente dasFilipinas a um residente do Brasil com relação a emissõespúblicas de títulos, debêntures ou obrigações similaresnão poderá exceder 10% do montante bruto dos juros.

4. o termo "juros", usado neste Artigo, designa os rendi-mentos da dívida pública, de títulos ou debêntures, acom-panhados ou não de garantia hipotecária ou de cláusula departicipação nos lucros, e de créditos de qualquer nature-za, bem como qualquer outro rendimento que, pela legis-lação tributária do Estado Contratante de que provêm, se-ja assemelhado aos rendimentos de importância empresta-das.

5. O disposto nos parágrafos 1, 2 e 3 nà*o se aplica se o be-neficiário efetivo dos juros, residente de um Estado Con-tratante, desenvolver atividade no outro Estado Contra-tante de que provêm os juros por meio de um estabeleci-mento permanente aí situado, ou exercer uma profissãoindependente nesse outro Estado por intermédio de umainstalação fixa aí situada e o crédito em relação ao qual os

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juros são pagos estiver efetivamente ligado a esse estabele-cimento permanente ou instalação fixa. Neste caso, aplica-se o disposto no Artigo 7 ou no Artigo 14, conforme cou-ber.

6.A limitação estabelecida no parágrafo 2 nà"o se aplicaaos juros provenientes de um Estado Contratante e pagosa um estabelecimento permanente de uma empresa do ou-tro Estado Contratante situado em um terceiro Estado.

7. Os juros são considerados provenientes de um EstadoContratante quando o devedor for esse próprio Estado,uma sua subdivisão política ou um residente desse Estado.No entanto, quando o devedor dos juros, residente ou nãode um Estado Contratante, tiver num Estado Contratante,um estabelecimento permanente pelo qual haja sido con-traída a obrigação que dá origem aos juros e caiba a esseestabelecimento permanente o pagamento desses juros,tais juros serão considerados provenientes do Estado Con-tratante em que o estabelecimento permanente estiver si-tuado.

8. Se, em consequência de relações especiais existentes en-tre o devedor e o credor, ou entre ambos e terceiros, omontante dos juros pagos, tendo em conta o crédito peloqual são pagos, exceder àquele que seria acordado entre odevedor e o credor na ausência de tais relações. 0 dispostoneste Artigo aplica-se apenas a este último montante. Nes-te caso, a parte excedente dos pagamentos será tributávelde acordo com a legislação de cada Estado Contratante etendo em conta as outras disposições da presente Conven-ção.

ARTIGO 12Royalties

1. Os "royalties" provenientes de um Estado Contratantee pagos a um residente do outro Estado Contratante sãotributáveis nesse outro Estado.

2. Todavia, esses "royalties" podem ser tributados no Es-tado Contratante de que provêm, e de acordo com a legis-lação desse Estado, mas, se a pessoa que os receber for obeneficiário efetivo dos "royalties", o imposto assim esta-belecido não poderá exceder:a) 25% do montante bruto dos "royalties" provenientesdo uso da concessão do uso de marcas de indústria oucomércio e de filmes cinematográficos, filmes ou fitas degravação de programas de televisão ou radiodifusão;p) 15% do montante bruto dos "royalties" em todos osdemais casos.

3. 0 termo "royalties", usado neste Artigo, designa as re-munerações de qualquer natureza pagas pelo uso ou pelaconcessão do uso de um direito de autor sobre uma obraliterária, artística ou científica (incluindo os filmes cine-matográficos, filmes ou fitas de gravação de programas detelevisão ou radiodifusão), de uma patente, marca de in-dústria ou comércio, desenho ou modelo, plano, fórmulaou processo secretos, bem como pelo uso ou pela conces-

são do uso de um equipamento industrial, comercial oucientífico e por informações correspondentes à experiên-cia adquirida no setor industrial, comercial ou científico.

4. Os "royalties" são considerados provenientes de um Es-tado Contratante quando o devedor for o próprio Estado,uma sua subdivisão política, uma autoridade local ou umresidente desse Estado. Todavia, quando o devedor dos"royalties", seja ou não residente de um Estado Contra-tante, tiver num Estado Contratante um estabelecimentopermanente em relação com o qual haja sido contraída aobrigação de pagar os "royalties" e caiba a esse estabeleci-mento permanente o pagamento desses "royalties", tais"royalties" serão considerados provenientes do EstadoContratante em que o estabeleci mento, permanente estiversituado.

5. 0 disposto nos parágrafos 1 e 2 não se aplica se o bene-ficiário efetivo dos "royalties", residente de um EstadoContrante, desenvolver atívidade no outro Estado Contra-tante de que provêm os "royalties" por meio de um esta-belecimento permanente aí situado, ou exercer uma pro-fissão independente nesse outro Estado por intermédio deuma instalação fixa aí situada, e o direito ou bem que deuorigem aos "royalties" estiver efetivamente ligado a esseestabelecimento permanente ou instalação fixa. Nestecaso, aplica-se o disposto no Artigo 7 ou no Artigo 14,conforme couber.

6. Se, consequência de relações especiais existentes en-tre o devedor e o credor, ou entre ambos e terceiros, omontante dos "royalties" pagos, tendo em conta o uso,direito ou informação pelo qual são pagos, exceder àqueleque seria acordado entre o devedor e o credor na ausênciade tais relações, o disposto neste Artigo aplica-se apenas aeste último montante. Neste caso, a parte excedente dospagamentos será tributável de acordo com a legislação decada Estado Contratante e tendo em conta as outras dis-posições da presente Convenção.

ARTIGO 13Ganhos de capital

1. Os ganhos provenientes da alienação de bens imobiliá-rios, definidos no parágrafo 2 do Artigo 6, são tributáveisno Estado Contratante em que esses bens imobiliários esti-verem situados.

2. Os ganhos provenientes da alienação de bens mobiliá-rios que façam parte do ativo de um estabelecimento per-manente que uma empresa de um Estado Contratantepossua no outro Estado Contratante, ou de bens mobiliá-rios constitutivos de uma instalação fixa de que disponhaum residente de um Estado Contratante no outro EstadoContratante para o exercício de uma profissão liberal, in-cluindo os ganhos provenientes da alienação desse estabe-lecimento permanente (isolado ou com o conjunto da em-presa) ou dessa instalação fixa, são tributáveis no outroEstado.

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3. Os ganhos que um residente de um Estado Contratanteaufere da alienaçSo de navios e aeronaves explorados notráfego internacional e de bens mobiliários pertinentes àexploração de tais navios e aeronaves só são tributáveisnesse Estado Contratante.

4. Os ganhos provenientes da alienaçSo de quaisquer bensou direitos diferentes dos mencionados nos parágrafos 1,2 e 3 são tributáveis em ambos os Estados Contratantes.

ARTIGO 14Profissões independentes

1. Os rendimentos que um residente de um Estado Con-tratante aufere de uma profissão liberal ou de outras ativi-dades independentes de caráter análogo só são tributáveisnesse Estado, a não ser que o pagamento desses serviços eatividades caiba a um estabelecimento permanente situadono outro Estado Contratante ou a uma sociedade aí resi-dente. Neste caso, os rendimentos sâb tributáveis nesseoutro Estado.

2. A expressão "profissão liberal" abrange, em especial, asatividades independentes de caráter científico, técnico, li-terário, artístico, educativo e pedagógico, bem como asatividades independentes de médicos, advogados, enge-nheiros, arquitetos, dentistas e contadores.

ARTIGO 15Profissões dependentes

1. Com ressalva do disposto nos Artigos 16,18,19, 20 e 21,os salários, ordenados e outras remunerações similares queum residente de um Estado Contratante recebe em razãode um emprego só são tributáveis nesse Estado, a não serque o emprego seja exercido no outro Estado Contratan-te. Se o emprego for aí exercido, as remunerações corres-pondentes são tributáveis nesse outro Estado.

2. Não obstante o disposto no parágrafo 1, as remunera-ções que um residente de um Estado Contratante recebeem razão de um emprego exercido no outro Estado Con-tratante só são tributáveis no primeiro Estado se:

a) o beneficiário permanecer no outro Estado durante umperíodo ou períodos que não excedam, no total, 183 diasdo ano fiscal considerado;b) as remunerações forem pagas por um empregador ouem nome de um empregador que não seja residente do ou-tro Estado;ec) o encargo das remunerações não couber a um estabele-cimento permanente ou a uma instalação fixa que o em-pregador tenha no outro Estado.

3. Não obstante as disposições precedentes deste Artigo,as remunerações relativas a um emprego exercido a bordode um navio ou de uma aeronave explorados no tráfego in-ternacional por um residente de um dos Estados Contra-tantes são tributáveis nesse Estado Contratante.

ARTIGO 16Remunerações de direção

As remunerações de direção e outras remunerações simila-res que um residente de um Estado Contratante recebe naqualidade de membro de um conselho de administração oude qualquer outro conselho de uma sociedade residentedo outro Estado Contratante são tributáveis nesse outroEstado.

ARTIGO 17Artistas e desportistas

1. Não obstante o disposto nos Artigos 14 e 15, os rendi-mentos obtidos pelos profissionais de espetáculo, tais co-mo artistas de teatro, de cinema, de rádio ou de televisãoe músicos, bem como pelos desportistas, do exercício,nessa qualidade, de suas atividades pessoais, são tributá-veis no Estado Contratante em que essas atividades foremexercidas.

2. Quando os serviços mencionados no parágrafo 1 desteArtigo forem fornecidos num Estado Contratante poruma empresa do outro Estado Contrantante, os rendimen-tos recebidos pela empresa pelo fornecimento desses servi-ços são tributáveis no primeiro Estado Contratante, nãoobstante as outras disposições da presente Convenção.

3. O disposto nos parágrafos 1 e 2 deste Artigo não seaplica aos rendimentos obtidos por um profissional de es-petáculo ou por um desportista do exercício de atividadesem um Estado Contratante, se a visita a esse Estado Con-tratante for patrocinada pelo outro Estado Contratanteou substancialmente suportada por fundos públicos desseoutro Estado, incluindo os de uma sua subdivisão pol ítica,autoridade local ou entidade autárquica.

ARTIGO 18Pensões e anuidades

1. Com ressalva das disposições do Artigo 19, as pensões eoutras remunerações similares e as anuidades provenientesde um Estado Contratante e pagas a um residente do ou-tro Estado Contratante são tributáveis no primeiro Esta-do.

2. No presente Artigo:

a) a expressão "pensões e outras remunerações similares"designa pagamentos periódicos efetuados depois da apo-sentadoria, em consequência de emprego anterior ou a tí-tulo de compensação por danos sofridos em consequênciade emprego anterior;b) o termo "anuidade" designa uma quantia determinada,paga periodicamente em prazos determinados, durante avida ou durante um período de tempo determinado oudeterminável, em decorrência de um compromisso de efe-tuar os pagamentos como retribuição de um pleno e ade-quado contravalor em dinheiro ou avaliável em dinheiro(que não seja por serviços prestados).

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ARTIGO 19Pagamentos governamentais

1. As remunerações, excluindo as pensões, pagas por umEstado Contratante, uma sua subdivisão política ou auto-ridade local a uma pessoa física, em razão de serviços pres-tados a esse Estado, subdivisão política ou autoridade lo-cal só são tributáveis nesse Estado.

Todavia, essas remunerações só são tributáveis no EstadoContrantante de que o beneficiário'é residente se os servi-ços forem prestados nesse Estado e se o beneficiário dasremunerações for um residente desse Estado quea) seja um nacional desse Estado, oub) não tenha se tornado um residente desse Estado unica-mente com a finalidade de prestar os serviços.

2. As pensões pagas por um Estado Contratante, por umasua subdivisão política ou autoridade local, quer direta-mente, quer através de fundos por eles constituídos, auma pessoa física, em razão de serviços prestados a esseEstado, subdivisão política ou autoridade local, só são tri-butáveis nesse Estado.

Todavia, essas pensões só são tributáveis no outro EstadoContratante se o beneficiário for um nacional e um resi-dente desse Estado.

3. As pensões pagas com fundos provenientes da previ-dência social de um Estado Contratante à um residente dooutro Estado Contratante só são tributáveis no primeiroEstado.

4. O disposto nos Artigos 15, 16 e 18 aplica-se às remune-rações e pensões pagas em razão de serviços prestados noâmbito de uma atividade comercial ou industrial exercidapor um Estado Contratante, uma sua subdivisão políticaou autoridadade local.

ARTIGO 20Professores e pesquisadores

1. Uma pessoa física que é, ou foi em período imediata-mente anterior à sua visita a um Estado Contratante, umresidente do outro Estado Contratante, e que, a convitedo primeiro Estado Contratante, ou de uma universidade,estabelecimento de ensino superior, escola, museu ou ou-tra instituição cultural do primeiro Estado Contratante,ou que, cumprindo um programa oficial de intercâmbiocultural, permanecer nesse Estado por um período nãosuperior a dois anos fiscais consecutivos com o único fimde lecionar, proferir conferências ou realizar pesquisas emtais instituições, será isenta de imposto nesse Estado noque concerne à remuneração que receber em consequênciadessa atividade, desde que essa remuneração:

a) provenha de fontes situadas fora desse Estado; oub) provenha de fontes situadas nesse Estado, caso em quea isenção será limitada ao montante anual de vinte e qua-

tro mil dólares americanos (US$ 24.000) ou seu equiva-lente em moeda local ou a qualquer outro montante quepossa ser estabelecido pelas autoridades competentes portroca de cartas.

2. O disposto neste Artigo não se aplica às remuneraçõesque um professor ou pesquisador receber pelos trabalhosde pesquisa que forem realizados primordialmente em be-nefício particular de pessoa ou pessoas determinadas.

ARTIGO 21Estudantes e aprendizes

1. Uma pessoa física que é, ou foi em período imediata-mente anterior à sua visita a um Estado Contratante, umresidente do outro Estado Contratante, e que permanecerno primeiro Estado Contratante unicamente:

a) como estudante de uma universidade, estabelecimentode ensino superior ou escola desse primeiro Estado Con-trante;b) como beneficiário de uma bolsa, subvenção ou prémioconcedidos por uma organização religiosa, de caridade,científica ou educacional, com o fim primordial de estu-dar ou pesquisar;c) como membro de um programa de cooperação técnicaencetado pelo Governo do outro Estado Contratante; oud) como aprendiz

será isenta de imposto no primeiro Estado Contratantepor um período não superior a dois anos fiscais consecuti-vos, no que concerne ao montante de tal bolsa, subvençãoou prémio, bem como às remessas provenientes do exte-rior para fins de sua manutenção, educação ou treinamen-to.

2. Uma pessoa física que é, ou foi em período imediata-mente anterior à sua visita a um Estado Contratante, umresidente do outro Estado Contratante, e que permanecerno primeiro Estado Contratante com o único fim de estu-dar ou realizar treinamento, será isenta de imposto no pri-meiro Estado Contratante por um período não superior adois anos fiscais consecutivos, no que concerne ao mon-tante da remuneração que receber de emprego exercidonesse Estado.

3. Os montantes mencionados nos parágrafos 1 e 2 desteArtigo significam uma isenção limitada a doze mil dólaresamericanos (US$12.000) por ano ou seu equivalente emmoeda local, ou a qualquer outro montante que possa serestabelecido pelas autoridades competentes por troca decartas.

ARTIGO 22Outros rendimentos

Os rendimentos de um residente de um Estado Contratan-te provenientes do outro Estado Contratante e não trata-dos nos Artigos precedentes da presente Convenção são,tributáveis nesse outro Estado.

ARTIGO 23Métodos para eliminar a dupla tributação

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1. Quando um residente de um Estado Contratante rece-ber rendimentos que, de acordo com as disposições dapresente Convenção, podem ser tributados no outro Esta-do Contratante, o primeiro Estado Contratante permitiráque seja deduzido do imposto que cobrar sobre os rendi-mentos desse residente um montante igual ao imposto so-bre a renda pago no outro Estado Contratante.

Todavia, o montante deduzido nã"o poderá exceder à fra-çSo do imposto sobre a renda, calculado antes da dedu-ção, correspondente aos rendimentos tributáveis no outroEstado Contratante.

2. Para a dedução indicada no parágrafo 1, o imposto bra-sileiro e o imposto filipino serão sempre considerados co-mo tendo sido pagos à alíquota de 25% nos seguintes ca-sos:

a) dividendos mencionados no parágrafo 2 do Artigo 10;b) juros mencionados no parágrafo 2 do Artigo 11;c) royaljies mencionados no parágrafo 2 do Artigo 12.

3. No caso de uma sociedade residente de um Estado Con-tratante possuir mais de 15% do capital votante da socie-dade residente do outro Estado Contratante da qual rece-be dividendos em qualquer ano fiscal, o primeiro EstadoContratante concederá também um crédito corresponden-te ao montante de impostos pagos ou devidos ao outro Es-tado Contratante pela sociedade que paga esses dividendoscom relação aos lucros de que se originaram os dividendospagos, incluindo os impostos que teriam sido pagos ou de-vidos a esse outro Estado Contratante se não tivessem sidoisentos ou reduzidos de acordo com as medidas especiaisde incentivo visando a promover o desenvolvimento eco-nómico nesse outro Estado Contratante. Todavia, o mon-tante deduzido não poderá exceder à fração do impostosobre a renda, calculado antes da dedução, corresponden-te aos rendimentos tributáveis no outro Estado Contratan-te.

ARTIGO 24Não-discriminação

1. Os nacionais de um Estado Contratante não ficarão su-jeitos no outro Estado Contratante a nenhuma tributaçãoou obrigação correspondente diferente ou mais onerosado que aquelas a que estiverem ou puderem estar sujeitosos nacionais desse outro Estado que se encontrem na mes-ma situação.

2. A tributação de um estabelecimento permanente queuma empresa de um Estado Contratante possuir no outroEstado Contratante não será menos favorável nesse outrodo que a das empresas desse outro Estado Contratanteque exerçam as mesmas atividades.

Esta disposição não poderá ser interpretada no sentido deobrigar um Estado Contratante a conceder às pessoas resi-dentes do outro Estado Contratante as deduções pessoais,os abatimentos e reduções de impostos em função de esta-

do civil ou encargos familiares concedidos aos seus pró-prios residentes.

3. As empresas de um Estado Contratante cujo capitalpertencer ou for controlado, total ou parcialmente, diretaou indiretamente, por um ou mais residentes do outro Es-tado Contratante, não ficarão sujeitas, no primeiro Esta-do, a nenhuma tributação ou obrigação correspondentediversa ou mais onerosa do que aquelas a que estiverem oupuderem estar sujeitas as outras empresas da mesma natu-reza do primeiro Estado, cujo capital pertencer ou forcontrolado, total ou parcialmente, direta ou indiretamen-te, por um ou mais residentes de um terceiro Estado.

4. Não obstante o disposto nos parágrafos anteriores desteArtigo, cada Estado Contratante pode, na promoção deindústria ou comércio considerados necessários, limitaraos seus nacionais o gozo dos incentivos fiscais por eleconcedidos.

5. Neste Artigo, o termo "tributação" designa os impostosque são objeto da presente Convenção.

ARTIGO 25Procedimento amigável

1. Quando um residente de um Estado Contratante consi-derar que as medidas tomadas por um ou ambos os Esta-dos Contratantes conduzem ou poderão conduzir, em re-lação a si, a uma tributação em desacordo com a presenteConvenção, poderá, independentemente dos recursos pre-vistos pelas legislações internas desses Estados, submeter oseu caso à apreciação da autoridade competente do Esta-do Contratante de que é residente.

2. A autoridade competente, se a reclamação se lhe afigu-rar justificada e não estiver em condições de lhe dar umasolução satisfatória, esforçar-se-á por resolver a questãode comum acordo com a autoridade competente do outroEstado Contratante, a fim de evitar uma tributação emdiscordância com a Convenção.

3. Um Estado Contratante não poderá, após cinco anos detérmino do período fiscal em que a renda foi auferida, au-mentar a base de cálculo de um residente de qualquer dosEstados Contratantes pela inclusão de rendimentos quetambém tenham sido tributados no outro Estado Contra-tante. Este parágrafo não se aplicará nos casos de fraude,omissão intencional ou negligência.

4. As autoridades competentes dos Estados Contratantesesforçar-se-ão por resolver, de comum acordo, as dificul-dades ou as dúvidas que surgirem na interpretação ou apli-cação da Convenção.

5. As autoridades competentes dos Estados Contratantespoderão comunicar-se diretamente a fim de chegarem aacordo nos termos indicados nos parágrafos anteriores.

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ARTIGO 26Troca de informações

1. As autoridades competentes dos Estados Contratantestrocarão entre si as informações necessárias para aplicar apresente Convenção. Todas as informações assim trocadasserão consideradas secretas e só poderão ser comunicadasàs pessoas ou autoridades encarregadas do lançamento ouda cobrança dos impostos que são objeto da presente Con-venção ou da determinação de recursos ou de processos detransgressões.

2. O disposto no parágrafo 1 não poderá, em caso algum,ser interpretado no sentido de impor a um dos EstadosContratantes a obrigação:

a) de tomar medidas administrativas contrárias à sua legis-lação ou à sua prática administrativa, ou às do outro Esta-do Contratante;b) de fornecer informações que não poderiam ser obtidascom base'na sua legislação ou no âmbito de sua prática ad-ministrativa normal ou das do outro Estado Contratante;c) de fornecer informações reveladoras de segredos comer-ciais, industriais, profissionais ou de processos comerciaisou industriais, ou informações cuja comunicação seja con-trária à ordem pública.

ARTIGO 27Funcionários diplomáticos e consulares

Nada na presente Convenção prejudicará os privilégios fis-cais de que se beneficiam os funcionários diplomáticos ouconsultores em virtude de regras gerais do direito interna-cional ou de disposições de acordos especiais.

ARTIGO 28Entrada em vigor

1. A presente Convenção será ratificada e os instrumentosde ratificação serão trocados em Manila, tão logo seja pos-sível.

2. A Convenção entrará em vigor na data da troca dos ins-trumentos de ratificação e suas disposições serão aplicadaspela primeira vez:

I — no que concerne aos impostos retidos na fonte, às im-portâncias pagas ou creditadas no ou depois do primeirodia de janeiro do ano calendário imediatamente seguinteàquele em que a Convenção entrar em vigor;II — no que concerne aos outros impostos de que trata apresente Convenção, ao ano que comece no ou depois doprimeiro dia de janeiro do ano calendário imediatamenteseguinte àquele em que a Convenção entrar em vigor.

ARTIGO 29Denúncia

Qualquer dos Estados Contratantes pode denunciar a pre-sente Convenção depois de decorrido um período de três

anos a contar da data de sua entrada em vigor, medianteum aviso escrito de denúncia entregue ao outro EstadoContratante através dos canais diplomáticos, desde que talaviso seja dado no ou antes do dia 30 de junho de qual-quer ano calendário.Neste caso, a presente Convenção será aplicada pela últi-ma vez:I — no que concerne aos impostos retidos na fonte, às im-portâncias pagas ou creditadas antes da expiração do anocalendário em que o aviso de denúncia tenha sido dado;II — no que concerne aos outros impostos de que trata apresente Convenção, às importâncias recebidas durante oano fiscal que comece no ano calendário em que o avisode denúncia tenha sido dado.

EM TESTEMUNHO DO QUE, os abaixo assinados, devi-damente autorizados, assinaram a presente Convenção.

Feito em duplicata, em Brasília, no dia 29 de setembro de1983, nas línguas portuguesa e inglesa, sendo cada textoigualmente autêntico.

PROTOCOLO

No momento da assinatura da Convenção para evitar a du-pla tributação em matéria de impostos sobre a renda entrea República Federativa do Brasil e a Republicadas Filipi-nas, os abaixo-assinados, para isso devidamente autoriza-dos, acordaram nas seguintes disposições que constituemparte integrante da presente Convenção.

1. Com referência ao Artigo 1

Fica entendido que as Filipinas terão o direito de tributar,de acordo com a legislação filipina, seus cidadãos que nãosejam residentes das Filipinas, mas o Brasil ná"o estaráobrigado a conceder crédito por esse imposto.

Na hipótese de os rendimentos recebidos pelos seus cida-dãos serem tributados de acordo com a disposição prece-dente, as Filipinas permitirão que seja deduzido dos rendi-mentos tributáveis um montante igual ao imposto sobre arenda pago no Brasil.

2. Com referência ao Artigo 3. parágrafo 1, alínea (e)

Fica entendido que, no caso das Filipinas, o termo "pes-soa" aí definido inclui um espólio ou um "trust" reconhe-cidos como tal pela legislação filipina.

3. Com referência ao Artigo 5, parágrafo 3

Fica entendido que a manutenção de uma instalação fixade negócios unicamente para fins de qualquer combinaçãode atividades mencionadas nas alíneas (a) e (e) do parágra-fo 3 do Artigo 5 não constitui um estabelecimento perma-nente, desde que a atividade global da instalação fixa denegócios resultante de tal combinação seja de caráter pre-paratório ou auxiliar.

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4. Com referência ao Artigo 7, parágrafo 3

Fica entendido que o disposto no parágrafo 3 do Artigo 7:a) interpreta-se no sentido de que será permitida a dedu-ção das despesas feitas para a consecução dos objetivos doestabelecimento permanente, incluindo as despesas de di-reçSo e os encargos gerais de administração realizados noEstado onde o estabelecimento permanente estiver situa-do ou fora dele; e

b) não afetará as disposições das legislações internas doBrasil ou das Filipinas em relação às importâncias (quenãoas destinadas ao reembolso de despesas efetivas) que o es-tabelecimento permanente pagar ou debitar à matriz ou aqualquer outra de suas dependências, a título de:

I) "royalties", honorários ou outros pagamentos similaresem retribuição ao uso de patentes ou outros direitos;

II) comissão por serviços específicos prestados ou gestão; eIII) juros decorrentes de importâncias emprestadas ao es-tabelecimento permanente, exceto no caso de instituiçãobancária.

5. Com referência ao Artigo 8

Fica entendido que o imposto que pode ser cobrado por

um dos Estados Contratantes sobre os lucros provenientes

de fontes situadas nesse Estado Contratante e obtidos por

um residente do outro Estado Contratante da exploração

de navios ou aeronaves, no tráfego internacional, não po-

derá exceder o menor de:

a) 1,5% da receita bruta obtida de fontes situadas nesseEstado; e

b) a alíquota mais baixa do imposto filipino que pode sercobrado sobre lucros da mesma natureza obtidos em cir-cunstâncias semelhantes por um residente de um terceiroEstado.

6. Com referência ao Artigo 10, parágrafo 4

Fica entendido que, no caso do Brasil, o termo "dividen-dos" também inclui qualquer distribuição relativa a certi-ficados de um fundo de investimento residente do Brasil.

7. Com referência ao Artigo 12

Fica entendido que:a) no caso das Filipinas, a alíquota prescrita no parágrafo2(b) só se aplicará aos "royalties" pagos por uma empresaregistrada no "Philippine Board of Investment" e ligada aáreas prioritárias de atividades. Em todos os demais casos,a alíquota do imposto não poderá exceder 25% do mon-tante bruto dos "royalties" pagos;

b) o disposto no parágrafo 3 aplica-se aos pagamentos dequalquer natureza recebidos como remuneração pela pres-tação de assistência técnica e de serviços técnicos.

8. Com referência ao Artigo 14

Fica entendido que o disposto no Artigo 14 aplica-se mes-mo se as atividades forem exercidas por uma sociedade ci-vil ("civil company").

9. Com referência ao Artigo 16

Fica entendido que qualquer remuneração que uma pes-soa, a quem se aplica o Artigo 16, percebe de uma socie-dade em virtude do desempenho de funções quotidianasde natureza gerencial ou técnica pode ser tributada deacordo com as disposições do Artigo 15 (Profissões depen-dentes).

10. Com referência ao Artigo 24, parágrafo 2

Fica entendido que as disposições do parágrafo 5 do Arti-go 10 não s3o conflitantes com as disposições do parágra-fo 2 do Artigo 24.

11. Com referência ao Artigo 24, parágrafo 3

As disposições da legislação brasileira que não permitemque os "royalties", como definidos no parágrafo 3 do Ar-tigo 12, pagos por uma sociedade residente do Brasil auma pessoa que não é residente do Brasil que possua nomínimo 50% do capital com direito a voto dessa socieda-de, sejam dedutíveis no momento de se determinar o ren-dimento tributável da sociedade residente do Brasil, nãosão conflitantes com as disposições do parágrafo 3 do Ar-tigo 24 da presente Convenção.

FEITO em duplicata em Brasília em 29 de setembro de1983 nas línguas portuguesa e inglesa, sendo ambos ostextos igualmente autênticos.

PELO GOVERNO DA REPÚBLICAFEDERATIVA DO BRASIL:

Embaixador João Clemente Baena Soares

PELO GOVERNO DA REPÚBLICA

DAS FILIPINAS:

Embaixador Sérgio A. Barrera

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índice

comunicados e notas

presidentes joão figueiredo

ereynaldobignone

conversam pelo telefone

Comunicado do Itamaraty à imprensa, divulgadoem Brasília, em 7 de julho de 1983, a propósito daconversa, pelo telefone, entre os Presidentesdo Brasil, João Figueiredo, e da Argentina,Reynaldo Bignone:

0 Senhor Presidente Joá"o Figueiredo e o Senhor Presiden-te Reynaldo Bignone, da Argentina, conversaram pelo te-lefone no dia de hoje. O Presidente Bignone manifestouseu interesse pelo estado de saúde do Presidente Figueire-do e formulou os melhores votos em relação aos examesmédicos a que será submetido em Cleveland.

Nessa ocasião, os dois Chefes de Estado trocaram impres-sões sobre assuntos de interesse de ambos os países. OPresidente Figueiredo, após agradecer o interesse e osbons votos de seu colega argentino, e com referência àquestão do pouso no Brasil de aviões militares britânicoscom destino as Malvinas, assegurou que o Brasil nSo servi-rá de base de apoio a aviões ingleses que abastecem as Mal-vinas, aceitando o pouso apenas em situações imprevistasde emergência ou por motivos humanitários inadiáveis. In-formou que essa é sua posição e a de seu Governo e quedela não nos afastaremos.

Nesse sentido, afirmou que o Governo brasileiro será rigo-roso no que respeita as autorizações para pousos de emer-gência e adotará as medidas necessárias para o cumpri-

mento de sua posição. Reiterou, finalmente, que o Brasilcontinua solidário com as reivindicações argentinas sobreas Ilhas Malvinas, tal como o tem expressado em formaconsequente em todos os foros internacionais.

Os dois Presidentes concordaram que são excelentes as re-lações entre o Brasil e a Argentina e que os dois Governoscontinuarão empenhados em reforçá-las.

chanceler brasileiro condena

derrubada de avião civil

sul-coreano

Declaração do Ministro de Estado das RelaçõesExteriores, Ramiro Saraiva Guerreiro, divulgadapelo Palácio do Itamaraty, em Brasília, emComunicado à imprensa, em 1? de setembrode 1983:

Acabo de tomar conhecimento pelas agências noticiosasque um avião civil sul-coreano teria sido abatido por avi-ões militares soviéticos.

Considero o episódio um fato gravíssimo que merece re-pulsa e condenação.

É imperativo que as autoridades soviéticas forneçam am-plos esclarecimentos sobre o assunto e tomem de imediatomedidas para que fato tão lamentável não se repita. A avi-ação civil internacional, fator de paz e aproximação entreos povos, não pode ficar à mercê de atos irresponsáveisdessa natureza.

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tratados, acordos, convénioscesp e novelerg assinam convénio de cooperação no campo da pesquisa energética 59

brasil e itália assinam ajuste complementar relativo ao projeto "programa de manutenção e reparaçãodo material rodante"

comunicados e notas

61

aprovado adendo ao convénio especial entre o cta e o instituto alemão de pesquisa e ensaio de navega-ção aérea e espacial 64

brasil e eua assinam novo acordo de cooperação para repressão ao tráfico ilícito de drogas que produ-

zem dependência 65

governo brasileiro concede ao peru isenção da taxa de melhoramento de portos 67

acordo regula as exportações de fios de acrflico do brasil para o canada 67

assinada convenção entre brasil e filipinas para evitar a dupla tributação 70

presidentes João figueiredo e reynaldo bignone conversam pelo telefone 81

chanceler brasileiro condena derrubada de avião civil sul-coreano 81

mensagenspresidente figueiredo convida o presidente do Uruguai para visitar o brasil 83

governo brasileiro apoia declaração sobre a paz na américa central 83

notíciasa quinta reunião da comissão mista brasil-rda 85

a IX reunião da comissão intergovernamental brasil-urss para cooperação comercial, económica,científica e tecnológica 85

secretário executivo da comissão económica das nações unidas para a áfrica visita o brasil 86

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