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Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulgação Científica em Relações Internacionais (http://www.mundorama.net).

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a visita do presidentedo zaire ao brasil

Discurso do Presidente José Sarney, no palácio do Planalto,

em Brasília, em 12 de fevereiro de 1987, ao assinar, com o

Presidente do Zaire, Marechal Mobutu Sesa Seko Kuku

N'gbendu Wa Za Banga, o Comunicado Conjunto

Brstil-Zaire.

Excelentíssimo Senhor Presidente,

0 Comunicado Conjunto que acabamos deassinar revela, de maneira inequívoca, adensidade das relações entre os nossos paí-ses e consolida um programa de atividadescapaz de reforçar, ainda mais, a cooperaçãobilateral nos anos vindouros.

Ligados por um conjunto de afinidades einteresses comuns, Brasil e Zaire vêm desen-volvendo um relacionamento franco e cons-trutivo, A visita de Vossa Excelência culmi-na, assim, um processo natural de aproxi-mação entre ambas as nações.

Os entendimentos que formalizamos nestaoportunidade atestam, por outra parte, aprioridade atribuída à África na política ex-terna do Brasil. Somos portadores de umaherança étnico-culturál africana da qual nosorgulhamos profundamente. Ultrapassandoo plano declaratório, meu Governo está de-cidido a transfprmar em atos concretos oideal de cooperação que anima nossos po-vos irmanados na luta pela superação dosubdesenvolvimento.

São inúmeras e significativas as semelhançasentre nossos países. Assim como o Brasil, o

Zaire se destaca por sua grandeza territoriale pelas imensas potencialidades de seus re-cursos humanos, agrícolas, minerais e ener-géticos. Assim como o Brasil, o Zaire se si-tua na faixa equatorial, com extensas flo-restas e savanas pouco diferentes deste cer-rado que circunda Brasília.

Estas coincidências constituem guia seguropara orientar os programas de cooperaçãobilaterai, a serem executados, conforme aslinhas mestras delineadas em nosso Comu-nicado Conjunto, nos setores de pesquisaagrícola, reabilitação da infra-estrutura eformação e treinamento. Estaremos emcondições de desenvolver, assim, formaspróprias de cooperação Sul-Sul, isentas dospadrões de dominação vertical, pesada he-rança do passado colonial que nos cumpresuperar.

Exemplo concreto dessa cooperação é oProtocolo que acaba de ser assinado pornossos Governos para a execução de umprojeto de exploração mineral em Kilo-Mo-to. Trata-se de iniciativa de grande impor-tância, através da qual duas nações em de-senvolvimento, dispostas a levar avante pro-gramas específicos de cooperação Sul-Sul,decidem co-financiar, de maneira autôno-

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ma, a execução de um projeto de especialenvergadura.

Desejo mencionar, por outra parte, a im-portância que atribuo aos acordos já assina-dos entre nossos Governos, nos campos docomércio, da cooperação cultural, técnica ecientífica e dos serviços aéreos. Esses ins-trumentos contribuem para aperfeiçoar onosso diálogo, dentro de um clima de co-operação e entendimento.

Está, porém, longe de ser esgotado o poten-cial da cooperação económica e técnica en-tre o Brasil e o Zaire. Nosso comércio tem--se revelado particularmente dinâmico epromissor, apesar das limitações impostaspela situação económica internacional. No-vas e valiosas oportunidades abrem-se tam-bém em nosso relacionamento mediante acomplementação de interesses na agricultu-ra, na indústria e na mineração.

Senhor Presidente,

Na América do Sul, as Bacias do Prata e doAmazonas nos unem a nossos vizinhos. As-sim também, o Oceano Atlântico constitueuma via de aproximação com nossos irmãosafricanos, de cuja civilização somos legatá-rios em terras sul-americanas. Deposito,pois, grande esperança no correto cumpri-mento da resolução adotada pela maioriaesmagadora da Assembléia-Geral das Na-ções Unidas sobre o estabelecimento da Zo-na de Paz e Cooperação do Atlântico Sul.

Nossos países, que legitimamente reivindi-cam participação ativa nas decisões inter-nacionais mais relevantes, observam comprofunda preocupação as situações queameaçam a paz e a segurança. Causa-nosparticular apreensão o agravamento das di-ferenças sócio-econômicas entre o Norte eo Sul, assim como a confrontação entre asgrandes potências, responsáveis por umacorrida armamentista que afeta a segurançade todos os Estados.

O Brasil deplora a persistência, no Conti-nente africano, de situações injustas, rema-nascentes do colonialismo e do racismo.Continuaremos participando, juntamentecom os países africanos, da luta pela elimi-nação do "apartheid", sistema que, por suainiquidade, constitui verdadeiro crime con-tra a humanidade, tal como reconhecidonas Nações Unidas.

Condenamos energicamente a ocupação ile-gal da Namíbia pela África do Sul, em des-respeito frontal às decisões do Conselho deSegurança da Assembléia-Geral das NaçõesUnidas. Apoiamos, por conseguinte, o povoda Namíbia em sua justa luta pela indepen-dência total, sob a liderança da SWAPO.

Preocupam-nos, por outra parte, as mano-bras do Governo da África do Sul destina-das a desestabilizar seus vizinhos. É comparticular satisfação que o Governo brasilei-ro vem sendo informado da crescente parti-cipação do Zaire nas reuniões dos países daLinha de Frente, aos quais continuaremoshipotecando nosso firme apoio.

Senhor Presidente,

O expressivo Comunicado que tive a honrade assinar com Vossa Excelência, juntamen-te com os numerosos acordos bilaterais emvigor, ref letem com exatidão nossa vontadepolítica comum de solidificar uma convi-vência caracterizada pela amizade fraternae pela cooperação duradoura.

Ao renovar a Vossa Excelência as expres-sões de meu apreço pessoal e satisfaçãocom que o recebo no Brasil, manifesto aconvicção de que os entendimentos a quechegamos constituirão marco notável nodesenvolvimento de nossas relações bilate-rais, em benefício de nossos respectivosContinentes.

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comunicado conjunto brasil zaire

Comunicado Conjunto Brasil-Zaire, assinado, no Palácio doPlanalto, em Brasília, em 17 de fevereiro de 1987, pelosPresidentes José Sarney e Mobutu Sese Kuku N'gbendu

Wa Za Banga.

A convite de Sua Excelência o Senhor Pre-sidente da República Federativa do Brasil,Dr. José Sarney, Sua Excelência o SenhorMarechal Mobutu Sese Seko Kuku NTgben-du Wa Za Banga, Presidente fundador doMPR, Presidente da República do Zaire,realizou visita oficial ao Brasil, de 16 a 18de fevereiro de 1987, chefiando importanteDelegação.

2. Além de manter reunião de trabalho econversações bilaterais com Sua Excelênciao Senhor Presidente da República, Dr. JoséSarney, o Excelentíssimo Senhor MarechalMobutu Sese Seko Kuku NTgbendu Wa ZaBanga, Presidente fundador do MPR, Presi-dente da República do Zaire, manteve con-tato com Sua Excelência o Sr. Roberto deAbreu Sodré, Ministro de Estado das Rela-ções Exteriores, visitou em caráter particu-lar o Rio de Janeiro, Minas Gerais, e deverárealizar visita ao Estado de São Paulo.

3. Ambos os Presidentes passaram em revis-ta as relações entre os dois países e inter-cambiaram pontos de vista sobre as possibi-lidades de fortalecê-las e expandi-las. Obser-varam, com satisfação, que as relações sevêm desenvolvendo de forma mutuamentebenéfica e que existem condições para queas mesmas tenham uma expansão aindamaior, de acordo com os princípios deigualdade, não ingerência e respeito à sobe-rania de seus Estados respectivos. Nessesentido, ambos os Presidentes acentuaram anecessidade de que sejam adotadas medidasconcertadas, tendo como objetivo a expan-são harmónica da cooperação entre os dois

países em todos os campos de interesse co-mum.

4. As duas partes manifestaram grande inte-resse èm expandir e diversificar o comérciobilateral, da mesma forma que a coopera-ção técnica e económica a médio e longoprazo. Declararam estar dispostos a explo-rar novas áreas de cooperação bilateral, es-pecialmente os campos da pesquisa agríco-la, desenvolvimento agroindustrial, tecno-logia de mineração, de fontes energéticas al-ternativas, energia hidrelétrica, transportese aviação, além de tecnologias de ponta emoutros setores a serem identificados de co-mum acordo. Com vistas a estabelecer a co-operação nesses campos, ambos os Presi-dentes concordaram em determinar às auto-ridades competentes de seus respectivospaíses que envidem esforços que conduzamao estabelecimento de empreendimentos eprogramas conjuntos de pesquisa e desen-volvimento, dentro do marco da ConvençãoGeral de Cooperação Económica, Comer-cial, Técnica, Científica e Cultural, concluí-da em Kinshasa a 09 de novembro de 1972.

5. Ambos os Presidentes enfatizaram, tam-bém, a necessidade de organizar reuniõesentre representantes de alto nível dos doispaíses para a consolidação e desenvolvimen-to dos laços bilaterais. Manifestaram o dese-jo de que a segunda sessão da ComissãoMista em nível ministerial se realize emKinshasa, no mais breve prazo possível, depreferência no segundo semestre do ano emcurso.

6. Os dois Presidentes manifestaram suapreocupação com respeito à deterioração

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da situação internacional e à consequenteameaça à paz e à segurança internacionaisque essa tendência prenuncia. Observaramque as causas subjacentes dessa situação re-sidem no conflito de interesses, na rivalida-de entre os grandes blocos, causa da corrida"armamentista, na interferência nos assuntosinternos de terceiros países e nas diferençassócio-econômicas crescentes entre o Norteeo Sul.

7. O Excelentíssimo Senhor Presidente daRepública Federativa do Brasil e o Excelen-tíssimo Senhor Presidente da RepublicadoZaire manifestaram profunda preocupaçãocom respeito à corrida armamentista quepermanece sem solução acarretando assimuma ameaça direta à paz e à segurançamundiais. Os dois Mandatários manifesta-ram desta forma, a necessidade urgente deque se continuem as negociações para redu-zir os armamentos "nucleares, colocando afiscalização dos acordos concluídos nestecampo sob controle internacional efetivo.Enfatizaram a importância da transferênciade parte dos recursos atualmente adjudica-dos a armamentos para áreas de desenvolvi-mento económico e social, especialmentenos países em desenvolvimento.

8. Salientaram a necessidade de uma açãourgente da comunidade internacional comvistas a buscar soluções satisfatórias para osproblemas políticos e económicos interna-cionais. A esse respeito, reafirmaram seucompromisso para com os princípios consa-grados na Carta da Organização das NaçõesUnidas, especialmente em relação àquelesque se referem à independência, soberania eigualdade dos Estados, a não-interferêncianos assuntos internos dos Estados e à auto-determinação dos povos.

9. Quanto à situação da África Austral, osdois Presidentes condenaram energicamentea continuação da ocupação ilegal da Namí-bia pela República da África do Sul, emdesrespeito frontal às decisões do Conselhode Segurança da Assembleia Geral das Na-

ções Unidas, bem como à opinião consulti-va da Corte Internacional de Justiça. A esserespeito, reiteraram enfaticamente seuapoio ao povo da Namíbia em sua justa lutapela independência total, sob a liderança da"SWAPO", a única e autêntica representa-ção do povo namibiano, tal como reconhe-cida tanto pelas Nações Unidas quanto pelaOrganização de Unidade Africana. Recorda-ram seu apoio resoluto à implementaçãoimediata da Resolução 435 do Conselho deSegurança das Nações Unidas sobre a Namí-bia e sua oposição a quaisquer soluçõesneo-co Io n ia listas impostas ao povo da Na-míbia. Concordaram em que há necessidadede a comunidade internacional adotar me-didas efetivas para implementar o plano dasNações Unidas sobre a Namíbia, para asse-gurar sua independência imediata.

10. Ambos os Presidentes condenaram, semreservas, o "apartheid" como um sistemacruel, injusto e inaceitável de segregação ediscriminação raciais, declarado como cri-me contra a humanidade pelas Nações Uni-das. Observaram que a existência contínuado "apartheid" é uma ameaça para a paz ea segurança internacionais, tornando-se as-sim um problema de interesse universal.

11. Consideraram, igualmente, que o reite-rado esforço do Governo racista da Áfricado Sul para desestabilizar os seus vizinhosatravés da agressão aberta ou dissimulada éuma das causas principais da instabilidade einsegurança na sub-região da África Austral.Concomitantemente, manifestaram sua soli-dariedade para com os Estados da Linha deFrente, em particular com Angola e Mo-çambique.

12. Os dois Presidentes manifestaram nessecontexto, sua solidariedade para com o po-vo de Moçambique, pela trágica morte doPresidente Machel e pelo difícil períodoque atravessa, agravado ainda mais pelaagressão dos terroristas da "RENAMO", ar-mados e apoiados pelo exterior.

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13. Quanto ao problema do Chade, os doisPresidentes manifestaram que uma soluçãopolítica deveria ser encontrada, o mais bre-vemente possível, para terminar com aguerra civil naquele país, em conformidadecom as decisões da Organização de UnidadeAfricana sobre a independência, integridadeterritorial do país.e o direito de seu povode solucionar seus problemas, sem nenhuma ingerência externa.

14. No que diz respeito à situação noOriente Médio, os dois Presidentes expres-saram sua preocupação pela persistência dastensões naquela região e reafirmaram suaconvicção de que uma paz justa, global eduradoura não poderá ser realizada sem queseja terminada a ocupação de todos os terri-tórios árabes, inclusive Jerusalém, e semque sejam exercidos pelo povo palestino,cujo único e legítimo representante é a Or-ganização pela Libertação da Palestina, osseus inalienáveis e legítimos direitos à auto-determinação e independência, mediante acriação do Estado Nacional Palestino, deacordo com a Carta e as Resoluções perti-nentes das Nações Unidas. Ambos os Presi-dentes reconheceram, outrossim, o direitode todos os Estados na região de viver den-tro de fronteiras internacionalmente reco-nhecidas.

15. Em relação à situação na América Cen-tral, os dois Presidentes reiteraram sua opo-sição à ameaça ou ao uso da força e suaadesão aos princípios internacionalmenteconsagrados de não-ingerência e de não-in-tervenção nos assuntos internos de outrosEstados. Expressaram sua satisfação com osesforços diplomáticos envidados pelo Gru-po de Contadora com o respaldo do Grupode Apoio, e instaram as partes diretamenteenvolvidas, bem como Estados com víncu-los e interesses na região a privilegiarem avia do diálogo e da negociação como únicaforma de solução pacífica para a crise.

16. Os dois Presidentes afirmaram sua con-vicção de que a manutenção do AtlânticoSul como zona de paz e cooperação — con-forme a resolução adotada na XLI Sessão

da Assembleia Geral das Nações Unidas — écondição essencial para permitir o desenvol-vimento harmónico, interdependente e es-tável dos países africanos e latino-america-nos. Concordaram que a referida resoluçãoserá da mais alta importância para a promo-ção da cooperação, em todos os campos,entre os países da região.

17. Passando em revista a atual situação in-ternacional, os dois Presidentes concorda-ram em que o malogro na correção dos de-sequilíbrios entre os países desenvolvidos eem desenvolvimento é uma das causas prin-cipais do aumento das desigualdades entrenações ricas e pobres. A esse respeito, am-bos os Presidentes enfatizaram a importân-cia da cooperação sul-sul como fator funda-mental para a consecução de uma nova or-dem económica internacional mais justa eequitativa.

18. Com referência à dívida externa dospaíses em desenvolvimento, os dois Presi-dentes concordaram que uma soluçâío paraa mesma não poderá ser alcançada sem ocrescimento económico daqueles países e,que, de forma alguma, o problema deva sersolucionado através da fome e da misériados povos dos países devedores. Concorda-ram, ademais, que os programas de reajus-tamento destinados à solução do problemadeveriam levar em conta a situação políticae social de cada país específico.

19. Ambos os Presidentes afirmaram, enfa-ticamente, que apenas uma verdadeira libe-ralização do comércio internacional e aabertura de novas oportunidades comerciaisnos mercados dos países desenvolvidos paraprodutos e serviços de países em desenvol-vimento poderiam criar as condições ideaispara a reestruturação económica e financei-ra dos países em desenvolvimento, comconsequências globais positivas.

20. Os dois Presidentes observaram, compreocupação, que a atual estrutura de pre-ços para os produtos primários exportadospelos países em desenvolvimento lhesé des-favorável e que a situação se vem agravan-

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do. Nesse sentido, concordaram em traba-lhar conjuntamente, sobretudo no âmbitodos acordos internacionais de produtos debase, para tentar obter preços justos e equi-tativos para os produtos primários exporta-dos pelos países em desenvolvimento.

21. Com relação às relações bilaterais, am-bos os Presidentes registraram, com satisfa-ção, o bom nível das mesmas e manifesta-ram o desejo de que o relacionamento en-tre o Brasil e o Zaire, mercê de um conjun-to de programas de cooperação a serem im-plementados a médio prazo, se estreite e in-tensifique ainda mais, dentro do marco daConvenção Geral da Cooperação Económi-ca, Comercial, Técnica, Científica e Cultu-ral assinada em Kinshasa, a 09 de novembrode 1972.

22. Nesse sentido, determinaram às autori-dades competentes de ambos os países queiniciassem, no mais breve prazo possível, es-tudos e entendimentos conducentes a umaefetiva cooperação no campo agrícola eagroindustrial, com ênfase em projetosagrícolas integrados, a seremt implementa-dos no Zaire, com assistência técnica brasi-leira, na zona equatorial úmida e na zonade savanas.

23. Tais projetos implicarão em programasde intensificação da pecuária nas regiões doBandundu, do Baixo Zaire, do Shaba e nasub-região do Ubangui Norte. Os dois Presi-dentes consideraram, também, o estabeleci-mento de um programa de intercâmbio sis-temático de informações relativas às cultu-ras do café, cacau, borracha, dendê e soja.

24. O Presidente do Brasil indicou que exa-minará com interesse meios para atender àsolicitação no sentido de obter cooperaçãobrasileira no campo da pesquisa agronómi-ca, que deveria implicar na reabilitação doCentro de Pesquisa Agronómica de Yan-gambi, na região do Alto Zaire, preferen-cialmente através de cooperação com a Em-presa Brasileira de Pesquisa Agropecuária —

EMBRAPA, e na criação de um Centro dePesquisas Agronómicas e de um Centro deProdução de Sementes seleciqnadas emGbadolité, na região do Equador.

25. No que diz respeito à cooperação nosetor de minas e energia, ambos os Presi-dentes determinaram que se iniciassem es-tudos visando à elaboração de programasconjuntos para a construção de pequenascentrais hidrelétricas, de 2 a 30 MW, paradiversos centros urbanos e agroindustriaisno interior do Zaire. Da mesma forma, foiconsiderada a participação brasileira nasobras de acabamento da barragem de Moba-ye, na sub-região do Ubangui-Norte, numprograma de produção industrial de álcoolde cana e em programas de pesquisa e ex-ploração petrolíferas e de recursos mine-rais.

26. Nesse sentido, ambos os Presidentes re-gistraram com satisfação a assinatura, pelosdois Governos, do Protocolo que permiti-rá a reabilitação de mina de ouro D-7 Kan-ga, de Kilo Moto.

27. Ambos os Presidentes notaram, tam-bém com satisfação, a assinatura, pelos doisGovernos, do Ajuste Complementar de Co-operação no Setor de Transportes.

28. Com vistas a realizar eficientemente,nos próximos cinco anos, essa nova formade cooperação Sul-Sul, os dois Presidentesfelicitaram-se, por um lado, pelas estruturasdinâmicas de concertação, de controle e deseguimento e, por outro lado, pelas modali-dades práticas e adequadas de co-financia-mento, necessárias à correta execução desseprograma multi-setorial e plurianual decooperação.

29. O Presidente Mobutu Sese Seko KukuN'gbendu Wa Za Banga expressou ao Presi-dente José Sarney sua profunda gratidãopela generosa hospitalidade com o Governoe o povo brasileiro o receberam, pelas aten-ções e pela solicitude que cercaram sua visi-

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ta oficial ao Brasil e pela acolhida calorosa visita será fixada posteriormente por via di-que lhe foi reservada, bem como à delega- plomática.cão que o acompanha. O Presidente Mobu- D ., •*-, A 4 • A i n Q 1l c ci u- i M- u ,-J \M -7 o Brasília,!/de fevereiro de 1987.tu Sese Seko Kuku N gbendu Wa Za Bangaconvidou o Presidente José Sarney a visitar J o s e S a°eyoficialmente o Zaire. O Presidente José Sar- Mobuto Sese Sekokuku Ngbenduney aceitou com prazer o convite; a data da Wa Za Ganga

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no brasil, o presidentede portugal, mário soares

Discursos dos Presidentes do Brasil, José Sarney, e de Portugal,Mário Soares, no Palácio do Planalto, em Brasília, em 26 demarço de 1987, por ocasião da cerimonia de assinatura da Atade criação e instalação da Comissffo Binacional encarregada deprogramar, preparar e executar as comemorações do Vcentenário do descobrimento do Brasil.

DISCURSO DO PRESIDENTE JOSÉ SARNEY

Senhor Presidente* de Portugal, MárioSoares,

Minhas Senhoras e meus Senhores,

Mais uma vez os Presidentes de Portugal edo Brasil se encontram para reafirmar umaamizade exemplar entre Nações, uma ami-zade que não é apenas fruto do sentimentofraterno que nos une, mas que tem a di-mensão dos grandes interesses de nossos po-vos quando se voltam para o mundo embusca de parceiros para o progresso e obem-estar.

A visita de Vossa Excelência ao Brasil trou-xe-nos mais uma vez o privilégio da convi-vência com o grande estadista do modernoPortugal. Do Portugal que o mundo viu re-nascer sob a democracia e que se integra ca-da vez mais na comunidade das Nações mo-dernas e avançadas da Europa. Para mim,em especial, trouxe também a presença deum grande amigo, e a oportunidade de po-der retribuir-lhe a hospitalidade e as de-monstrações de afeto sem igual que recebidurante minha inesquecível visita a Portu-gal, na primavera do ano passado.

Considero muito expressivo que os conta-tos entre os Chefes de Estado do Brasil e dePortugal assumam essa dimensão da amiza-de pessoal, deixando para o passado o rigorde formal ismos que não correspondem nemà verdadeira índole da fraternidade luso-brasileira, nem à modernidade que deseja-mos imprimir aos nossos contatos em todosos n íveis.

Dentro daquela nossa ideia comum de queo novo, o criativo, devem inspirar a etapade nossas relações aberta com importantesacontecimentos nos dois países — aqui, ademocracia, lá o ingresso de Portugal naMCE —, é confortador saber que muitosdos assuntos do nosso interesse podem teresse tratamento próprio das boas amizades.Nossa correspondência pessoal, que ganhavulto, tem abordado assuntos os mais diver-sos. Trouxemos felizmente, para o âmbitode nossas relações, o mesmo espírito quetem dinamizado os contatos informais en-tre os presidentes da América Latina, numadimensão nova e proveitosa à diplomacia denossos países.

Da mesma forma, a expressiva comitiva queacompanha Vossa Excelência, em que figu-ram personalidades as mais notáveis da po-

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lítica, das letras, do mundo empresarial edas ciências de Portugal, contribui para queessa familiaridade, tão cara aos nossos senti-mentos, se manifeste em todos os muitossetores em que nossos países de alguma for-ma se associam, com o intercâmbio, a co-operação, o comércio, o diálogo.

Senhor Presidente,

A admiração que sentimos por Portugal nãose origina apenas no glorioso passado lusita-no, no desprendimento e na capacidade deiniciativa mostrados ao novo mundo na erados grandes descobrimentos e das navega-ções e nas lutas pela preservação da sobera-nia e da identidade nacional portuguesa.

Essa admiração tem raízes também na eta-pa recente da vida política portuguesa, quedeu ao mundo um exemplo inspirador dedemocratização, uma lição de pluralismo ede capacidade de modernização do país. OBrasil, particularmente, voltou-se com espe-cial interesse para a experiência políticaportuguesa, e acompanhou sempre comgrande entusiasmo a forma como os seus ir-mãos portugueses fizeram da democracia eda aberta convivência política um instru-mento do seu progresso social, um motivode orgulho para o seu país, um fator depromoção dos interesses internos e exter-nos da Nação Lusitana.

Nesse processo, Vossa Excelência surgiu aosolhos dos brasileiros como um símbolo daresistência democrática, do verdadeiro pen-dor português para a justiça social e para aconvivência criativa das diferentes correntesde opinião política postas ao serviço dopaís.

Hoje, Portugal dá novos e significativos pas-sos para a sua plena integração na EuropaComunitária, maior e mais completo exem-plo de associação pacífica e construtiva en-tre as Nações. Mais uma vez, Portugal des-perta no Brasil um interesse renovado, nãoapenas pelo que essa decisão significa parao fortalecimento e o progresso da Nação

portuguesa, mas pelo desejo de comparti-'lharmos essa experiência e aproveitá-la emnossos próprios esforços integracionistas na"América Latina.

É, pois, sobre um património de sentimen-tos fraternos que se assenta essa nova di-mensão do interesse que Portugal despertapara os brasileiros.

Nossa identidade transcende a simpatia na-tural entre os dois povos, para alcançar in-teresses concretos no campo dos nossos res-pectivos projetos políticos e das relações in-ternacionais, do nosso comércio, da integra-ção económica e da cooperação. O passadonos une; o futuro deve associar-nos.

Senhor Presidente,

Nós nos reunimos aqui, hoje, para a criaçãosolene da Comissão Luso-Brasi leira para asComemorações do V Centenário do Desco-brimento do Brasil.

Este é um ato simbólico, ao qual a presençade Vossa Excelência e da sua ilustre comiti-va traz particular brilho. É também o iníciode um trabalho cuidadoso, destinado a darrelevo especial às comemorações da data donascimento do Brasil para a História e umdos grandes feitos dos portugueses.

De fato. Senhor Presidente, o descobrimen-to do Brasil deve ser comemorado por nos-sos povos em estreita confraternização.

Desejamos homenagear, no feito de Cabral,o valor e a determinação que conduziramos lusitanos, nos séculos XV e XVI , ao pa-pel de grandes protagonistas da história oci-dental, nessa que foi sem dúvida a grandeempresa da civilização, a maior aventura doespírito humano: a era dos grandes desco-brimentos. Portugal esteve à frente de umtempo que mudou para sempre a imagemque o homem tinha de si mesmo e do pró-prio universo; que rompeu a última barreirageográfica da humanidade e deu origem anovos fatos de civilização e a uma nova

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mentalidade, uma nova concepção do futu-ro.

O Brasil reverencia com afeto e orgulho es-sa contribuição imperecível da grandeza lu-sitana.

Aqui, os portugueses fundaram uma socie-dade plurirracial aberta a todos os povos domundo, criativa e universalista.

O descobrimento flutua no tempo como agénese de um novo mundo nos trópicos.Hoje, passado meio milénio, admiramosPortugal como Nação, digna da grandeza deoutrora, herdeira de valores que se mostramperenes em sua capacidade de fazer a pró-pria História.

Senhor Presidente,

Foi com grande satisfação que examineicom Vossa Excelência os principais aspec-tos do nosso extenso e rico relacionamentobilateral e da complexa conjuntura interna-cional que vive a vida de nossos países.Compartilhamos preocupações quanto aosproblemas que afligem o mundo em inúme-ras de suas regiões, em particular os paísesem desenvolvimento.

Sobre um quadro global que revela aindainstabilidade política e económica e ameaçaa paz e a boa convivência entre os povos,nossas relações despontam como uma certe-za de amizade profunda e intensa, comoum campo fértil para a nossa criatividade.Elas constituem, na verdade, uma seguran-ça. São perenes, porque se alimentam de la-ços humanos que alcançam muitas vezes aesfera do familiar, e felizmente vão muitoalém da excelência dos nossos contatos ofi-ciais, do diálogo de chancelarias, para mobi-lizar os mais variados setores da sociedadeportuguesa e brasileira.

Brasil e Portugal têm demonstrado umaconstante vocação para a paz e a coopera-ção internacionais. É natural, pois, que emnossa vasta agenda figurem temas como os

conflitos da América Central e da ÁfricaAustral, que nos preocupam diretamente, ecuja solução passa, num e noutro caso, pelopleno respeito ao direito da autodetermina-ção dos povos, pela não-intervenção e peladecisão política de fazer prevalecer a nego-ciação sobre todas as formas de violência.Foi esse, de resto, o espírito que animou oBrasil ao propor que as Nações Unidas de-clarassem o Atlântico Sul uma área desmili-tarizada, a ser mantida longe deconflitosetensões como um espaço para que os seuspovos possam prosseguir na árdua batalhapelo seu desenvolvimento.

Não poderia igualmente deixar de referir-me ao problema do endividamento externo,sem dúvida um dos temas centrais da agen-da internacional de hoje e o mais sucetívelde gerar instabilidade e acentuar dificulda-des para todos os países, devedores comocredores. Nossa posição não é ideológica,nem de confrontação, É construtiva, e par-te do princípio de que a solução para essaquestão deve ser necessariamente produtode uma negociação franca e objetiva, queleve em conta todos os aspectos envolvidosno problema. O Brasil deseja cumprir seuscompromissos, e os cumprirá, sem jamais,porém, abrir mão de conquistas inalienáveisdo povo brasijeiro: a retomada do cresci-mento económico e a garantia de melhoriassensíveis nos níveis de vida para as camadasmais pobres de nossa população.

Senhor Presidente,

Brasil e Portugal são Nações modernas, di-nâmicas, com uma natural propensão a bus-car na dimensão internacional um ponto deapoio para o progresso social e económico.Foram inúmeros e expressivos os avançosque fizemos em diversos campos do relacio-namento bilateral desde a minha viagem aoseu país. Projetos de cooperação encon-tram-se em andamento. Multiplicam-se asiniciativas tendentes a dar feição aos propó-sitos que nos animam.

Registro com particular agrado os progres-

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sos alcançados na área cultural, em que asrelações entre o Brasil e Portugal possuemidentidade, volume e peso específico pró-prios. O marco institucional que regula ointercâmbio cultural luso-brasileira já estádefinido. Iniciativas relevantes de coopera-ção bilateral, especialmente as referentes àinformatização da língua portuguesa, à pro-dução cinematográfica e à preservação damemória e do património histórico, já es-tão em curso e devem ser estimuladas e am-pliadas.

Creio que demos um passo muito positivocom sua visita ao Brasil. Em seus múltiploscontatos em nossa terra, Vossa Excelênciaterá a oportunidade de verificar pessoal-mente o afeto que todos os setorés da so-ciedade brasileira devotam a Portugal e aVossa Excelência.

O poeta maior da minha terra, o maranhen-se Gonçalves Dias, cantou a amizade emversos de sentida emoção:

Amizade! União, virtude, encanto —Consórcio do querer, força d'alma...

É o que sentimos quando, juntos, povo egoverno brasileiros, agradecemos a visita deVossa Excelência, desejando paz e prosperi-dade aos nossos irmãos portugueses e todaventura pessoal ao seu querido e estimadopresidente.

DISCURSO DO PRESIDENTE MÁRIO SOARES

Senhor Presidente da República Federativado Brasil

Senhores Ministros

Minhas Senhorase meus Senhores

As comemorações dos Descobrimentos por-tugueses devem constituir uma afirmaçãodo espírito moderno que possibilitou essaaventura de um Povo, ímpar na história da

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Humanidade, e a expressão da nossa vonta-de de nos mantermos fiéis, nestes anos finaisdo milénio, em que o futuro nos bate irre-cusavelmente à porta, ao exemplo de cora-gem, ousadia e inovação daqueles valiososportugueses que "abriram novos mundos aomundo".

Com este acto solene, o Brasil e o seu Povoficam oficialmente associados a estas come-morações que visam afirmar — como é detoda a justiça — a prioridade histórica dasDescobertas portuguesas. É este um auspi-cioso sinal que consubstancia e dá força aolema inscrito na medalha comemorativadesta minha visita à República Federativado Brasil : "Portugal e Brasil unidos na mo-dernidade."

Os Descobrimentos Portugueses mudarampor completo e em profundidade a concep-ção eatão existente do homem, do mundoe do universo. A visão pioneira que os moti-vou e o espírito universalista a que deramorigem são hoje património de toda a hu-manidade.

A passagem do Cabo da Boa Esperança(1487), a chegada à índia (1498) e a desco-berta do Brasil (1500) são marcos imperecí-veis da história portuguesa que mudaram aface do planeta.

Mas não só da história portuguesa. A ínti-ma associação do Brasil, com o peso do seuatual dinamismo e da sua imensa projeçãono mundo de hoje, assim como dos paísesafricanos de expressão portuguesa — e,eventualmente, de outros Povos com osquais Portugal entrou em contato ao longodos séculos — à comemoração destes histó-ricos eventos vem justamente conferir-lheuma dimensão verdadeiramente universal.Os descobrimentos portugueses são um fatodos mais relevantes da História Universal,como tão bem demonstraram os historiar1:res Duarte Leite, Jaime Cortesão e Maga-lhães Godinho, entre tantos outros.

O encontro de culturas e de raças, a desço-

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"berta da pluralidade da família humana, ocontacto com novos hábitos, costumes ecrenças, representam uma portentosa revo-lução mental que marcaria para sempre osPovos que a viveram.

O génio português, sendo a coragem e a ou-sadia, o risco e a aventura, é também a tole-rância e a curiosidade pelo que é diferente enovo.

A língua que hoje é comum a mais de 1 50milhões de seres humanos constitui o mais.admirável legado actual dessa extraordináriaaventura. Porque uma língua não é só ummeio de comunicação entre os homens.Traduz também uma visão da realidade edo mundo.

A língua em que escreveram Camões, Viei-ra, Machado de Assis, Fernando Pessoa ouGuimarães Rosa em que hoje escrevem Ver-gílio Ferreira, Carlos Drumond de Andrade,Alçada Baptista, Jorge Amado, José Sara-mago, Baltazar Lopes ou José Sarney cons-titui um extraordinário e maravilhoso abra-ço que une os nossos povos e os nossosmundos.

Esta comunidade linguística e culturalimensa deve representar para todos nós umbem precioso e insubstituível que temos desaber usar como factor de afirmação nomundo.

Portugal integra hoje uma Comunidade de320 milhões de europeus. Virámos umapágina da nossa história, nem sempre isentade erros, e estamos agora a construir, em li-berdade, um futuro de progresso e de mo-dernidade. A nossa escolha europeia, enca-raaa como um desígnio nacional e contra-ponto necessário da descolonização, com-plementa-se, porém, com a nossa vocaçãomarítima e atlântica, na qual o Brasil é umareferência primordial e constante.

Queremos conquistar, em cooperação es-treita com este grandioso País-lrmão e comos Países Africanos que falam a nossa lín-gua comum, o lugar a que, pelas nossas his-tórias e pela vitalidade dos nossos Povos, te-mos direito no mundo do século XXI.

Para isso, devemos passar das palavras aosactos que perduram. Precisamos mudar oestilo afectivo, sem dúvida, mas porventurademasiado retórico e, por isso, um tantoineficaz e desactualizado, que vimos man-tendo nas nossas relações.

O Portugal europeu, livre, aberto à moder-nidade, quer cooperar estreitamente com oBrasil democrático, estuante de energia queacreditamos em plena expansão. Esperoque esta minha visita, na esteira da históricavisita do Presidente- Sarney a Portugal, con-tribua para abrir os exaltantes caminhos dofuturo.

Na carta que escreveu ao seu rei para mecomunicar o achamento das terras de VeraCruz, Pêro Vaz de Caminha, num momentoúnico de emoção, dá-lhe conta do deslum-bramento e da alegria com que viu novasgentes e novas paragens.

É este um documento ímpar na história dahumanidade, que revela um espírito novo euma nova atitude.

Nestes anos em que nos aproximamos ve-lozmente de um novo milénio, queremoscomemorar as Descobertas Portuguesas afir-mando a nossa plena confiança nas capaci-dades e energias criadoras dos nossos Povose Nações. O espírito moderno e a fraterni-dade da língua constituem a nossa actuali-zada herança da extraordinária epopeia doséculo de ouro português. Estou certo deque a honraremos.

É por isso que confiantemente afirmo quePortugal e o Brasil estão unidos na moder-nidade.*

Na seção Tratados, Acordos, Convénios, página 100, o texto da Ata de criação e instalação da Comissão Binacional en-carregada de programar, preparar e executar as comemorações do V centenário do descobrimento do Brasil; na mesmaseção, página 101, o Acordo Brasil-Portugal para cooperação no campo da assistência social.

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ministro dos negóciosestrangeiros da frança

visita o brasilDiscurso do Ministro de Estado das Relações Exteriores,Roberto de Abreu Sodre. no Palácio do Itamaraty, em Brasília,em 8 de janeiro de 1987, por ocasião de jantar oferecido aoMinistro dos Negócios Estrangeiros da França, Jean-BernardRaimond.

Excelentíssimo Senhor Ministro dosNegócios Estrangeiros, EmbaixadorJean-Bernard Raimond,

A visita de Vossa Excelência reafirma, ex-pressivamente, a solidez e a perenidade dasrelações entre o Brasil e a França.

Dizia o Presidente Sarney há pouco mais deum ano, neste mesmo lugar, ao saudar oPresidente Mitterrand, que "a França é, pa-ra o Brasil, um símbolo. Símbolo de cultu-ra, de liberdade, de luta, de democracia".

Nós, brasileiros, não aprendemos a conhe-cer a França como uma metrópole remota ealheia a nossos sentimentos. A admiração eo encantamento que a França sempre des-pertou em nosso povo derivam, acima detudo, da força, da grandeza, da universali-dade dos valores e ideais que lá floresceramao longo da História e que se transforma-ram num legado consistente e duradouropara toda a Humanidade.

Exprimo aqui, Senhor Ministro, o que todobrasileiro sente e manifesta de forma erudi-ta ou intuitiva: nossas culturas comungamdo mesmo universo ético, filosófico, lin-

guístico, estético. Orgulhamo-nos de nossacomum origem latina e reconhecemos queos laços seculares que unem o Brasil e aFrança encontram suas raízes na tradiçãoda presença francesa no mundo e na eleva-da contribuição que esse país tem prestadoà cultura ocidental.

Seria verdadeiramente impossível enumerai-as variadas circunstâncias históricas em quefoi forjada e retemperada a amizade entreos nossos povos.

No campo do pensamento político nossasafinidades afloram de forma incontestada:no mesmo ano de 1789, ocorreram a Incon-fidência Mineira e a Queda da Bastilha; nos-sa independência foi inspirada no pensa-mento e nos ideais libertários franceses; naProclamação da República recebemos mar-cada influência da corrente filosófica origi-nária dos escritos de Auguste Comte. Nocampo académico, tampouco podemos dei-xar de louvar a contribuição dada por emi-nentes cientistas e intelectuais franceses àrenovação e modernização da vida universi-tária brasileira. Ao lado desses ricos apor-tes, o Brasil teve ainda o privilégio de aco-lher, em diferentes épocas e circunstâncias,

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grandes nomes das artes e das letras france-sas. Citá-los, todos, seria impraticável;exemplificar com menção a alguns poucos— injusto, pelas forçosas, imerecidas exclu-sões.

Sabemos também do grande interesse queas coisas brasileiras despertam na França.Nossa literatura, Brasília, o "Cinema-No-vo", a música popular são algumas das cria-ções da cultura brasileira que lá foram aco-lhidas com apreço. Hoje, valores novos bra-sileiros também encontram boa receptivida-de em vosso país. Paris é, sem dúvida, im-portante centro de divulgação de nossa cul-tura.

Somos um país novo, mas somos tambémum país que possui singular identidade, aqual preservamos e valorizamos. Sabe aFrança, pela riqueza de sua produção cultu-ral, pelo papel dinâmico desempenhado porsua intelectualidade, que a cultura não é so-mente a memória dos feitos, mas também arenovação constante e ousadia inventiva.

É por esse espírito de rejuvenescimentopermanente e de interesse, admiração e res-peito mútuos que o Brasil e a França sem-pre conduzirão suas relações. "Enrichis-sons-nous de nos mutuelles différences", jádizia Valéry.

O relacionamento entre o Brasil ea Françarecebeu impulso vigoroso em razão da visitacom que nos honrou o Presidente Mitter-rand, a primeira de um Chefe de Estadodesde a instauração da Nova República.

Naquela ocasião, formalizou-se a criação demais um instrumento permanente de diálo-go entre nossas culturas, o Projeto Brasil-França. Vossa Excelência visitará em breveno Rio de Janeiro, o canteiro de obras dafutura Casa Brasil-França, centro cultural aser instalado no prédio histórico da antigaAlfândega do Rio, projeto de Grandjean deMontigny, expressivo símbolo deste reen-contro entre a arte e a inteligência de nos-,sos países.

Em outros campos, também se desenvolvede modo promissor a cooperação franco-brasileira. Relevantes programas de carátertécnico-científico estão em andamento emáreas como a agricultura, a saúde, as comu-nicações e a energética. São, igualmente, degrande importância os resultados alcança-dos nos setores da indústria aeronáutica, daproteção e controle de vôo e das telecomu-nicações.

Nos planos comercial e financeiro, a Françaconstituiu-se, nos últimos anos, em um denossos mais importantes parceiros no âmbi-to da Comunidade Europeia. É inestimávela sua contribuição para o desenvolvimentode certos segmentos da indústria brasileira,na qual concentrou vultosos investimentos.

Senhor Ministro,

Vossa Excelência chega ao Brasil num mo-mento especialmente relevante de nossaHistória nacional. Este é um país reconcilia-do com a vontade de seu povo e que conso-lida, de modo irreversível, suas instituiçõesdemocráticas. À Assembleia Constituinte, aser brevemente instalada, está reservado umpapel fundamental na vida política brasilei-ra e suas decisões soberanas irão refletir asaspirações e esperanças de toda a nação.

Vossa Excelência sabe que somos hoje umpaís que procura, com confiança e firmeza,os rumos acertados do crescimento econó-mico. Talvez o que Vossa Excelência nãopossa avaliar, em toda sua extensão, é quan-to sacrifício este inadiável desafio exige deuma nação em desenvolvimento, em umaconjuntura internacional particularmentedifícil.

Quando sérios problemas e preocupaçõescontinuam a afetaro cenário mundial, pon-do em risco o maior estreitamento dos vín-culos entre as nações, o Brasil consideranão apenas útil, como também imperioso,manter um diálogo fluido e intenso comseus tradicionais parceiros.

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O Governo que Vossa Excelência integra,sob a decidida e dinâmica liderança do Pri-meiro Ministro Jacques Chirac, tem dadomostras do interesse francês em aprofundareste diálogo, sendo este o sentido maior doencontro que mantenho com Vossa Exce-lência.

Senhor Ministro,

Acolhemos com grata satisfação sua visita.A presença de Vossa Excelência à frente doQuai d'Orsay representa a continuidade dasmelhores tradições diplomáticas de seupaís. A experiência que adquiriu tanto co-mo Embaixador da França em diferentespaíses quanto no exercício de importantesfunções na Chancelaria vem agora somar-seseu desempenho hábil e seguro na condu-ção da política externa francesa.

É, portanto, com extremo interesse que re-cebo Vossa Excelêricia para conversarmossobre temas de relevo da atualidade interna-cional e zelarmos pelo continuado aperfei-çoamento das relações entre nossos países.

Nesse sentido, desejo reiterar aqui os pon-tos cardeais que orientam invariavelmente aconduta do Brasil no plano internacional.

Temos uma vocação essencialmente univer-salista. O ideal, para o Brasil, é a manuten-ção de uma convivência harmoniosa comtodos os povos. Pautamos nossa atuação in-ternacional pelo respeito aos princípios daCarta das Nações Unidas e, em particular,pelos princípios da autodeterminação dospovos, da não-intervenção e da solução pa-cífica das controvérsias.

Condenamos o racismo, a intolerância e adiscriminação sob todas as suas formas.Condenamos tenazmente a corrida arma-mentista e, em particular, o desvairio dacompetição no plano nuclear entre as gran-des potências, que só faz aprofundar as dis-sensões e colocar em cheque a paz e a segu-rança da humanidade, além de representarum imenso desperdício de recursos que po-

deriam ser alocados prioritariamente aocombate à morte, à fome e à miséria.

Não aceitamos a imposição de modelos dedivisão do poder mundial em áreas de in-fluência; respeitamos as peculiaridades indi-viduais dos Estados e o direito de escolhe-rem livremente seus caminhos nacionais.Não cabe a transposição de conflitos deuma esfera para outra. A transferência detensões globais para conflitos localizadosnão as atenua; ao contrário, faz com que sealastrem, frequentemente gerando focospermanentes de graves crises.

Senhor Ministro,

Dentre os fatores de tensão que colocamem risco a estabilidade do mundo contem-porâneo, devo ressaltar a questão relativa àdívida externa dos países em desenvolvi-mento.

A crise do endividamento tem afetado for-temente o Brasil. As excessivas transferên-cias de recursos por conta do serviço da dí-vida vem impondo pesado e injusto sacrifí-cio ao povo brasileiro.

O Presidente François Mitterrand, durantesua visita ao Brasil, acentuou, com sua clarae justa percepção do alcance essencialmentepolítico do problema, que "a sorte dos cre-dores e dos devedores está intimamente li-gada e uma solução não pode ser encontra-da sem a divisão dos encargos entre eles.Todos os sistemas internacionais baseiam-se na confiança, mas os encargos dos paísesendividados é de tal monta que devem serreduzidos, sob pena de tornar impossível aomesmo tempo a recuperação de suas econo-mias e a própria sobrevivência do sistemaeconómico e financeiro em que vivemos".

Dentro do espírito de maturidade e respon-sabilidade que o anima em suas relaçõescom os mais diferentes parceiros, o Brasiltem honrado seus compromissos, contri-buindo dessa forma para a manutenção daestabilidade do sistema financeiro interna-cional.

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Esperamos, contudo, que a importância dosesforços em prol do reordenamento e docrescimento de nossa economia seja maisclaramente reconhecida pela comunidadefinanceira internacional. Como tão bem fri-sou o Presidente José Sarney, "a longo pra-zo, ninguém poderá lucrar investindo noatraso, na instabilidade, na fraqueza e naexploração".

O Brasil e a França, que aqui se encontramem atmosfera de harmonioso relacionamen-to, participam de plenários multilaterais on-de são tomadas decisões cruciais para o des-tino de grande parte do Ocidente. No Clubede Paris, na Comunidade Europeia, bem co-mo no Fundo Monetário Internacional, aFrança é sempre ouvida com merecido res-peito. Estou seguro de que o Brasil podecontar com a solidariedade e a criatividade

da França nos esforços com vistas à racio-nalização da atual ordem económica inter-nacional que injustamente penaliza os paí-ses em desenvolvimento.

Senhor Ministro Jean-Bernard Raimond,

Com o pensamento voltado para os ideaisque norteiam as relações entre o Brasil e aFrança e externando nossa sincera alegriapor receber tão ilustre visitante, convido to-dos os presentes a erguerem comigo suas ta-ças num brinde à saúde e felicidade de Vos-sa Excelência e da Excelentíssima SenhoraRaimond, do Presidente François Mitter-rand e do Primeiro-Ministro Jacques Chirac,ao mesmo tempo em que formulo meus vo-tos pelo progresso e bem-estar do admirávelpovo francês.

abreu sodré ao chanceler francês:oportunidades reais e inovadoras decooperação entre o brasil e a frança

Brinde do Ministro de Estado das Relações Exteriores,Roberto de Abreu Sodrê, na Embaixada da França, em

Brasília, em 9 de janeiro de 1987, por ocasião de almoçooferecido pelo Ministro dos Negócios Estrangeiros da França,

Jean-Bernard Raimond.

Excelentíssimo Senhor MinistroJean-Bernard Raimond,

Agradeço, muito sensibilizado, as palavrasafetuosas de Vossa Excelência. Elas tradu-zem os sentimentos e valores que tão inti-mamente ligam o Brasil e a França, fazendoaflorar neste encontro o tradicional espíritode entendimento e convivência fraterna en-tre os nossos povos.

Foi para nós uma grata satisfação receberVossa Excelência no Brasil. Essa visita re-presentou mais um passo efetivo na perma-nente intensificação do relacionamento bi-lateral.

O balanço das conversações que mantive-mos nestes dois dias é francamente positi-vo. Novamente, evidenciou-se o caráteraberto, sério e maduro do diálogo entrenossos Governos, o que contribui para amaior compreensão de posições sobre te-mas de interesse comum. Abrem-se, no pre-sente, oportunidades reais e inovadoras decooperação nos campos da ciência e da cul-tura, da indústria e da tecnologia.

A visita de Vossa Excelência à Casa Brasil-França, que será inaugurada em breve noRio de Janeiro, fixará esse momento de en-contro de duas sociedades dinâmicas e vol-tadas para o futuro. 0 Projeto Brasil-Fran-

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ça, cujo lançamento se deu por ocasião damemorável visita do Presidente Mitterrandao nosso país, é um instrumento promissordessa maior aproximação. A Casa Brasil-França reunirá as novas gerações dos doispaíses e dali, seguramente, partirão indica-dores dos caminhos que ambos desejampercorrer.

de abrigo de tantos brasileiros em terraseuropeias, queira transmitir ao PresidenteFrançois Mitterrand e ao Primeiro-MinistroJacques Chirac as homenagens do Governobrasileiro, neste momento em que ergo mi-nha taça à saúde de Vossa Excelênc-.a e asua Excelentíssima esposa, e à prosperidadeda França.

Senhor Ministro, de regresso a Paris, porto Vive Ia France!

brasil e frança assinam ajustecomplementar sobre cooperaçãono campo da oceanologia

Discurso do Ministro de Estado das Relações Exteriores,Roberto de Abreu Sodré, no Palácio do Itamaraty.em Brasília,em 9 de janeiro de 1987, por ocasião da assinatura, juntamente

com o Ministro dos Negócios Estrangeiros da França,Jean-Bernard Raimond, do Ajuste Complementar sobre

Cooperação no campo da Oceanologia.

Senhor Ministro,

O instrumento que acabamos de assinarmostra bem a vitalidade das relações entreo Brasil e a França. Ele servirá para impul-sionar as atividades conjuntas em domínioque, até agora, não havia sido objeto de tra-tativas entre os dois Governos.

Claro está que já existem contatos entre oscientistas marinhos brasileiros e franceses.Com este Ajuste, no entanto, passamos aconferir forma articulada e previsível àcooperação mútua em ciências marinhas.

A comunidade científica brasileira ligada aesses assuntos, e que trabalha em institui-ções de alto nível espalhadas pelo país, temhoje condições de ampliar a pesquisa nosoceanos. A Comissão interministerial paraos Recursos do Mar será encarregada deexecutar o Ajuste do lado brasileiro, exer-cendo um papel de coordenação entre asUniversidades e laboratórios dedicados àoceanografia.

A França, através do Instituto Francês dePesquisa para a Exploração do Mar, lidera,em diversos campos, a ciência e a tecnolo-gia relativas ao mar.

Está assim feito o traço-de-união entre asvocações marítimas dos dois países para be-nefício mútuo.

Desejo ainda evocar dois aspectos que ser-vem de pano de fundo para a importanteiniciativa que estamos juntamente toman-do.

O Brasil e a França trabalharam com deno-do para a conclusão da Convenção das Na-ções Unidas sobre o Direito do Mar, da qualsão ambos signatários. A convenção vaialém da regulamentação jurídica dos espa-ços marinhos e de seus usos. Ela é instru-mento de conquista e de valorizaçãoeconô-mica dessa área que corresponde a dois ter-ços da superfície terrestre. A cooperaçãoque hoje encetamos deve nortear-se pelos_

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objetivos da Convenção. Os programas a se-rem anualmente elaborados poderão gra-dualmente cobrir todas as disciplinas ondehaja interesse comum e estender-se aondeum ou outro país detenha maior conheci-mento.

O Brasil vê o estudo do meio marinho ccmo tarefa que não pode ser desempenhadaisoladamente. Mais talvez do que em outroscampos da ciência, a oceanologia pressu-

põe cooperação e entendimento pacífico.

Esse é justamente o sentido da Declaraçãoque estabeleceu a Zona de Paz e Coopera-'ção do Atlântico Sul, recentemente adota-da pela Assembleia Geral das Nações Uni-das.

Com este ajuste o Brasil e a França buscamaqueles mesmos objetivos de paz e coopera-ção.*

sexta reunião do grupo de trabalhofranco-brasileiro de cooperaçãotécnica e científica

Discurso do Chefe do Departamento de Cooperação Científica,Técnica e Tecnológica do Ministério das Relações Exteriores,

Marco César Meira Naslausky, no Palácio do Itamaraty, emBrasília, em 19 de janeiro de 1987, por ocasião da abertura da

sexta reunião do Grupo de Trabalho Franco-Brasileiro deCooperação Técnica e Científica.

Senhor Jacques Laureau, Diretorda Coope-racãe Científica, Técnica e do Desenvolvi-mento do Ministério dos Negócios Estran-geiros,

Senhores membros da Delegação francesa,

Senhores membros da Delegação brasileira,

Meus colegas,

Ao se iniciarem os trabalhos desta VI Reu-nião de Grupo de Trabalho Franco-Brasilei-ro de Cooperação Técnica e Científica, assi-nalo com satisfação que a cooperação entrenossos dois países se desenvolve de maneiraeficiente e diversificada, adequada aos inte-resses de ambas as Partes, com efeitos posi-tivos para os dois países, que refletem o

bom estágio em que se encontram nossasrelações globais.

Os esforços conjuntos desenvolvidos nessesvinte anos permitiram não só ampliar o nú-mero dos setores cobertos pela cooperação,através de Ajustes Complementares vigen-tes, mas aprofundar o intercâmbio, na me-dida em que cada um desses Ajustes adqui-re e desenvolve sua dinâmica própria. Vemsendo selecionados programas e projetoscom atenção às respectivas prioridades eco-nómicas e sociais, com qualidade confirma-da na prática, porque são plenamente utili-zados os conhecimentos existentes e reali-zadas as adaptações necessárias para o apro-veitamento simultâneo da experiência fran-cesa e do esforço brasileiro.

;: Na seção Tratados, Acordos, Convénios, página 73, o texto do Ajuste Complementar entre Brasil e França para coope-ração no campo da Oceanologia.

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Tudo isso decorre da amizade e do espíritode colaboração que regem as atividades efe-tuadas por nossos dois países, e os resulta-dos até agora alcançados nos estimulam abuscar continuamente o aperfeiçoamentoda cooperação científica e técnica entre oBrasil e a França, cujo potencial ainda nãoestá esgotado, cabendo-nos, portanto, a ta-refa criativa de identificar novas áreas ondese possa expandir tal cooperação, e aquelasonde seja necessário aprimorá-la.

A esse respeito, o Governo brasileiro desen-volveu recentemente estudos com o objeti-vo de se posicionar quanto à política decooperação técnica internacional a vigorarno período entre 1986 a 1989, de acordocom os instrumentos de planejamento emoperação que são o I PND/NR,.o Plano deMetas e o Orçamento Plurianual de Investi-mentos, tendo também utilizado como sub-sídio as demandas explícitas para coopera-ção técnica internacional de todos os seusórgãos setoriais. Considerando as priorida-des nacionais atuais, as áreas de excelênciapotencialmente oferecidas pela França e asáreas remanescentes de negociações comoutros países, as prioridades atuais do Go-verno brasileiro para a cooperação técnica"com a França poderão ser assim sintetiza-das:

a) agricultura, na prática e manejo detécnicas agrícolas, com ênfase noNordeste e Centro-Oeste;

b) tecnologia ligada a energia, indús-tria, transportes e comunicações emeio ambiente, com ênfase nas cha-madas tecnologias de ponta;

c) ciências, com ênfase nas exatas ebiológicas, desde que aplicadas àtransferência de conhecimento deponta;

d) educação, com ênfase no aperfei-çoamento e, subsidiariamente, napós-graduação em ciências huma-nas, exatas e sociais, desde que nãoexistam cursos similares no Brasil;

e) formação de quadros, para a equipeda administração pública brasileira,tanto a nível assistencial como exe-cutivo.

No esforço permanente de buscar a reduçãoda dependência tecnológica, a cooperaçãotécnica deve ser vista como um processo sis-temático e planejado de mudanças, articula-do com a produção e portanto associado aodesenvolvimento. Tal cooperação técnicaenfrenta diferentes realidades nacionais,com diferentes percepções de objetivos, di-ferentes combinações de fatores, diferentesescalas de mercado e realidades físicas, eexige portanto flexibilidade inovadora nomais alto grau.

Acreditamos que a cooperação bilateral emciência e tecnologia pode e deve constituirefetivo mecanismo de promoção do desen-volvimento*econômico e social dos paísesem desenvolvimento. O Brasil reconhece nacooperação um importante instrumento deação com que conta o Estado moderno pa-ra desenvolver uma estratégia global na áreapolítica externa e procura, portanto, dina-mizar seus esforços nesse campo por meiodo desenvolvimento de novos mecanismosinternos, e da participação ativa a nível in-ternacional.

O Governo brasileiro vem atribuindo altaprioridade à capacitação científico-tecnoló-gica do país, através da promoção de proje-tos específicos de pesquisa e desenvolvi-mento, através da formação adequada etreinamento de recursos humanos. E nessecontexto a cooperação bilateral, em parti-cular a que mantemos com a França, apor-ta contribuição importante ao esforço decientistas e técnicos brasileiros, para a cons-trução de uma base tecnológica nacionalque sirva de suporte a ações mais direta-mente voltadas para a solução dos nossosproblemas sócio-econômicos. É também detodo interesse do Brasil aprofundar o exa-me das novas possibilidades de cooperaçãoem tecnologias de ponta, uma vez que emfuturo muito próximo será o pleno domí-

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nio dessas tecnologias o elemento principalda diferenciação entre os países plenamentedesenvolvidos e aqueles que se terão atrasa-do, de forma quase irreversível, na corridaem direção ao desenvolvimento e bem-estarde seus povos.

Por seus fundamentos e suas potencialida-des, os trabalhos deste Grupo de Trabalhose inserem numa perspectiva de longo prazoe requerem, por isso mesmo, um atendi-mento permanente, a nível do Gover-no e a nível das instituições, de modo a per-

mitir que as pesquisas e projetos conjuntoscorrespondam às esperanças que deposita-mos na cooperação entre nossos deis paí-ses. Teremos pela frente uma agenda queexigiu de nós dedicação para que possamosacordar um programa de trabalho para ospróximos 12 meses. A Delegação brasileiracomparece a esta VI Reunião imbuída deespírito construtivo, e convicta de que oêxito de nossos esforços conjuntos contri-buirá para a intensificação dos laços de ami-zade que unem os povos brasileiro e fran-cês.

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abreu sodré representa o brasilna conferência extraordinária

da cepal, no méxicoDiscurso do Ministro de Estado das Relações Exteriores,Roberto de Abreu Sodré, na cidade do México, em 22 dejaneiro de 1987, por ocasião da Conferência Extraordinária daComissão Económica para a América Latina e o Caribe(CEPAL).

Senhor Presidente,

Senhores Delegados,

É para mim um prazer renovado estar naCidade do México e desfrutar da sua hospi-talidade. Com alegria retomo aqui o conví-vio com este povo admirável, herdeiro de ri-cas tradições e senhor de um grande desti-no.

Representando o Governo brasileiro, com-pareço a este encontro não apenas em aten-ção a um honroso convite das autoridadesmexicanas, mas principalmente em respostaa uma iniciativa do Presidente Miguel De LaMadrid, iniciativa que, por gua oportunida-de e espírito construtivo, é própria dos es-tadistas, de todos quantos possuem umapercepção clara dos desafios que enfrenta-mos e das soluções que necessitamos colo-car em prática.

Inspirado nos melhores ideais I atino-a me ri-canos, e demonstrando concretamente suavocação integracionista, o Presidente De LaMadrid nos concitou a realizar uma análiseda situação económica do nosso continente

e do cenário internacional. A tarefa não po-deria ter sido proposta em momento maisapropriado. Consiste, nas palavras de SuaExcelência, numa "nova reflexão séria nomarco de um reexame do desenvolvimentolatino-americano".

A grave crise económica que atravessamosnos últimos anos torna aconselhável e ur-gente essa reflexão, passo necessário paraseguirmos mais confiantes em direção aofuturo. A experiência vivida até hoje, emmuitos casos dramática, marcada por sacri-fícios e frustrações, constitui um aprendiza-do no qual devemos buscar orientação paraas políticas que doravante mais nos conve-nham.

Senhor Presidente,

Sob a condução hábil e inteligente de VossaExcelência, alicerçada em ampla culturaeconómica, esta reunião certamente serácoroada de êxito. A frente da delegação doBrasil, venho com a firme disposição deprestar a melhor contribuição para o objeti-vo comum de resgatarmos uma autêntica emoderna concepção latino-americana de

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nosso desenvolvimento e de nossa participa-ção na economia mundial.

Para a realização dessa tarefa, não poderiahaver melhor foro do que a CEPAL, sem-pre na vanguarda do pensamento económi-co latino-americano. Os estudos e propostasque a CEPAL tem apresentado ao longodos anos representam um património degrande valor para a América Latina. Subs-tituição de importações, reformas estrutu-rais, distribuição mais equitativa dos frutosdo progresso técnico, desenvolvimento inte-gral, são todas concepções que compõemuma matriz de pensamento latino-america-no. Essa matriz não existiria sem a contri-buição da CEPAL. e de seu corpo técnico,

* chefiado, invariavelmente, por homens dereconhecida competência, como é o casodo atual Secretário-Executivo, Doutor Nor-berto Gonzales.

Senhor Presidente,

Senhores Delegados,

A reflexão proposta pelo Presidente De LaMadrid está centrada no tema das estraté-gias de desenvolvimento latino;americano.Para o Brasil — e desde já me permito anteci-par a nossa opinião, largamente amadure-cida — não há estratégia aceitável sem cres-cimento e sem justiça social.

O Governo da Nova República considerainegociáveis essas duas metas. Programaseconómicos recessivos não se apresentamcomo solução possível para os dilemas queenfrentamos. Não abdicaremos jamais dodireito do nosso povo ao pleno atendimen-to de suas necessidades fundamentais.

A concepção de desenvolvimento advogadapelo Brasil baseia-se em considerações decaráter social, não necessariamente refleti-das nos frios indicadores económicos.

Repito: o Governo brasileiro rejeitou a re-cessão e o desemprego. Subordinou sua po-

lítica e suas decisões estratégicas às exigên-cias do crescimento com justiça social. Dis-semos não ao ajuste recessivo, conscientesde que tal esquema, que já fracassara nopróprio Brasil e em muitos outros países, sónos conduziria a um impasse político, so-cial e económico. O caminho do crescimen-to acelerado, associado a uma política cia-*ramente redistributiva, não é um caminhGsem dificuldades. Apesar dos resultadosobtidos em 1985 e 1986, a economia brasi-leira enfrenta ainda muitos problemas, taiscomo o recrudesci mento das pressões infla-cionárias, o surgimento de pontos de es-trangulamento no setor industrial e a dete-rioração da balança comercial. No entanto,mantivemos por dois anos crescimento ex-pressivo da economia, uma redução drásti-ca do desemprego e uma elevação significa-tiva dos salários reais. Hoje, continuamos arejeitar qualquer caminho que comprometaos benefícios alcançados pela populaçãobrasileira. Mantemos nossa opção pelo cres-cimento com justiça social.

Crescer a taxas elevadas é uma necessidadepara a América-Latina. Esse crescimento,porém, não deve traduzir-se simplesmenteno aumento quantitativo do produto, masprincipalmente- na melhoria das condiçõesde vida do povo. Não podemos esquecer aslições do passado. Indiferentes ao chama-mento por reformas estruturais, defendidastão convincentemente por pensadores cepa-linos, muitos de nossos países apegaram-seàs fáceis e parciais soluções de altas taxasde crescimento sem desenvolvimento eequidade. A história não perdoará se incor-rermos agora nos mesmos erros.

Devemos rejeitar alternativas que façam re-cair sobre a parcela menos assistida da po-pulação os sacrifícios do reajuste. A crise édestrutiva, mas enseja também uma oportu-nidade para reconhecermos com clareza asinadequações dos modelos do passado, in-citando-nos à busca de alternativas inovado-ras.

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Senhor Presidente,

A inserção da América Latina na economiainternacional, em suas dimensões comercial,financeira e tecnológica, é um aspecto quemerece atenção especial na análise das pers-pectivas de desenvolvimento na região.Apesar dos inegáveis avanços do processode industrialização em nossos países e doritmo significativo de crescimento de nossaseconomias nas últimas décadas, só inter-rompidos pelos recentes anos de crise, aAmérica Latina não conseguiu modificarsignificativamente sua forma de participa-ção na economia internacional. A crise e astendências recentes nas relações económi-cas internacionais evidenciaram como aindapersiste a vulnerabilidade dos países em de-senvolvimento.

A América Latina forjou uma visão críticados acontecimentos no cenário económicomundial e tem sido* responsável, ao longodos anos,por inúmeras iniciativas nos forosinternacionais em busca de relações maisequitativas entre as nações. Contribuímospara uma visão de mundo que correspondeà nossa realidade e temos apresentado umaplataforma de reivindicações e propostasque expressam e atendem essa realidade.Para tanto é significativa a contribuição dopensamento económico cepalino.

Nossos povos estão conscientes dos efeitosnocivos que as transformações em curso naeconomia internacional acarretam para ospaíses em desenvolvimento e, em particu-lar, para os latino-americanos. No planotecnológico, essas transformações adquiremimportância crucial.

Desenha-se hoje uma nova divisão interna-cional do trabalho, baseada no controle dainformação e dos segmentos da indústria daalta tecnologia em uns poucos países. Taldivisão, se materializada, criaria formas dedependência talvez ainda mais graves queaquelas contra as quais já vimos lutando.Ao discursar, meses atrás, na tribuna dasNações Unidas, tive a oportunidade de afir-

mar — e o reitero neste recinto com todafirmeza — que não nos resignaremos a serespectadores passivos de uma nova divisãointernacional do trabalho, que cinda omundo em dois universos distintos — o dassociedades pós-industriais, onde predomi-nam as atividades de informações e servi-ços, verdadeiros centros nervosos a governa-rem o planeta, e o das sociedades atrasadase caudatárias.

O desafio para a América Latina está emcomo combinar sua resposta à presente cri-se e ao imperativo da recuperação de suaseconomias com a adoção de políticas nacio-nais que levem à transformação de suas es-truturas produtivas e lhes dêem acesso aossetores de ponta da economia mundial. Apressão dos problemas conjunturais não nosdeve afastar de uma visão de mais longoprazo de nossas economias.

Essa visão salienta a necessidade de políti-cas autónomas que permitam à América La-tina reverter seu atraso tecnológico e parti-cipar da terceira revolução industrial. Mas,como no passado, os países detentores datecnologia não têm facilitado sua difusão,buscando preservar seu monopólio da infor-mação. Necessitamos, portanto, repensarnossas estratégias de desenvolvimento in-dustrial e implementar políticas nacionaisno setor de serviços, cuja importância re-cente se liga às transformações nas tecnolo-gias da informação e das comunicações, asduas tecnologias-chave da nova revoluçãoindustrial. De nossos parceiros desenvolvi-dos, esperamos que reduzam as barreiras àtransferência de tecnologia e que estejamdispostas a partilhar conosco, em condiçõesequitativas, os frutos de seu avanço tecno-lógico.

Em relação ao comércio internacional, ve-mos com preocupação a continuação depráticas protecionistasque restringem injus-tamente o acesso de nossos produtos de ex-portação aos mercados dos países desenvol-vidos. Surge, inclusive, um novo tipo deprotecionismo — ao qual podemos chamar

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de "geriátrico" que se estende a indústriasobsoletas, não mais competitivas, como nossetores de têxteis e aço, prejudicando seria-mente as nações latino-americanas que já seencontram plenamente capacitadas paraocupar um espaço significativo no comérciode tais produtos.

Por outro lado, a deterioração dos termosde intercâmbio levou a América Latina, al-tamente dependente de sua receita de ex-portação de produtos de base, a transferirao exterior bilhões de dólares nos últimosanos. Outra forma clara de distorção do co-mércio tem a ver com as políticas agrícolasde algumas nações desenvolvidas, que, fun-damentadas em gigantescos subsídios, ge-ram superprodução depois jogada no mer-cado internacional, em detrimento dos pro-dutores eficientes.

É com essas incertezas que a América Lati-na terá de conviver. É nesse cenário de ta-xas reduzidas de crescimento do comérciomundial, de uma luta cada vez mais acirra-da por mercados e de disputas comerciais,que se insere a nova rodada de negociaçõesmultilaterais iniciada no Uruguai.

Daí a importância que o Brasil atribui à es-trita observância dos compromissos de"status quo" e desmantelamento de barrei-ras, os quais já começam a ser erodidos pormedidas tomadas pelos grandes parceiroscomerciais, sem o cumprimento de taiscompromissos e sem um efetivo mecanismode fiscalização, que vigie sua implementa-ção, a rodada uruguaia dificilmente progredi-rá rumo aos ambiciosos objetivos acordadosem Punta dei Este.

Repete-se, com frequência, que o comércioé uma rua de mão dupla e que os países emdesenvolvimento devem aumentar suas im-portações se desejam expandir suas expor-tações. É pelo menos paradoxal que se fa-çam tais afirmações quando os fluxos finan-ceiros se converteram em rua de mão únicae que nossa região, carente de recursos e se-quiosa de crescimento, tenha se transforma-do em exportadora líquida de caprtais.

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A retomada, em bases sólidas, de nosso de-senvolvimento passa pelo equacionamentoem bases duradouras da questão da dívidaexterna e pelo estancamento da sangria derecursos que fluem de nossos países para omundo desenvolvido, deprimindo o nívelde vida de nossas populações e inviabili-zando investimentos essenciais.

A opção necessária que se coloca para cre-dores e devedores é a de buscar consciente-mente uma solução política abrangente pa-ra o problema da dívida externa. O Presi-dente José Sarney tem declarado reiteradasvezes, da maneira mais enfática, que o Bra-sil continuará lutando no plano internacio-nal por um tratamento político desse pro-blema, e que a dívida não será paga à custada recessão, do desemprego e da fome.

Admitida a tese de que os países devedoresdevem crescer, como única forma de pagarsuas dívidas e evitar o caos social, é precisoque se aceite significativa redução no servi-ço da dívida e a expansão dos fluxos finan-ceiros para os países devedores. Assim esta-rão dadas as condições para um ajuste embases duradouras e para que os países deve-dores possam contribuir, com seu cresci-mento e a consequente rápida expansão desuas importações, para o dinamismo da eco-nomia mundial. Sem a clara perspectiva dasinterligações entre o comercial e o financei-ro e a busca de soluções simultâneas que secompletem e reforcem mutuamente, nãohaverá perspectivas de um novo período deestabilidade e expansão para a economiamundial.

Nós, latinos-americanos, compartilhamoscom as outras nações do Terceiro Mundonossa condição de subdesenvolvimento edependência económica. Comungamos tam-bém da aspiração pelo desenvolvimento in-tegral e pela reformulação das relações eco-nómicas internacionais. Temos uma identi-dade própria como região. É essa identidd-de latino-americana, tão bem representadana iniciativa do Presidente De La Madrid,que nos motiva e estimula neste momentode crise.

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A América Latina vive um momento histó-rico, em que se reafirma a vocação demo-crática de nossos povos. Esse momento for-talece a consciência de nosso destino co-mum e anima a perseverança dos esforçosem prol do nosso crescimento. A par dosprogressos que alcancemos para recuperar odinamismo de nossos laços comerciais estáa questão maior de uma crescente coorde-nação latino-americana. O desafio lançadopelo Presidente De La Madrid para uma rea-valiação profunda de nossas estratégias dedesenvolvimento pode constituir a linhamestra de um renovado esforço de coorde-nação regional e de intercâmbio de expe-riências nacionais.

É firme o nosso propósito de responder aesse desafio, e estou certo de que a reflexãopara a qual fomos convocados não se esgo-tará na presente reunião. Assim acredita-mos porque aos povos latino-americanosnão falta a necessária determinação para al-cançar plenamente o progresso e o bem-es-tar que tanto merecem.

Essa determinação nos faz buscar tambémum diálogo constante com os países indus-trializados, cujo papel e responsabilidade

no encaminhamento das soluções para a cri-se atual seria irrealista ignorar ou desmere-cer. Lembro aqui, a esse respeito, os sábiosensinamentos que nos legou Raul Prebischem discurso proferido ainda no ano passa-do, nesta mesma cidade do México. Na res-peitável lição de Prebisch, não podemosdesperdiçar a oportunidade de que os paí-ses do Norte e do Sul examinem a índoledos problemas que nos afligem a todos, dei-xando de lado os dogmas e as ideias pre-concebidas para chegarem a uma base co-mum de pontos de vista, pois também oprogresso dos países em desenvolvimento éuma parte indissociável dos avanços a seremalcançados pela economia mundial.

Antes de terminar, cumpro, com grandeprazer, instruções que acabo de receber doPresidente José Sarney, para que se ofereçao Brasil como sede da próxima Reunião Mi-nisterial da CEPAL, a realizar-se em 1988.Nesse oferecimento queremos traduzir ná"oapenas a grande honra que nos dará acolheraquele encontro, mas também a importân-cia que atribuímos aos trabalhos realizadospela CEPAL com tanto proveito para o de-senvolvimento de nosso continente.

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e f ao assinam acordopara reabilitação da agricultura

nos estados do nordesteDiscurso do Ministro de Estado das Relações Exteriores,Roberto de Abreu Sodré, no Palácio do Itamaraty, em Brasília,em 2 de fevereiro de 1987, por ocasião da assinatura, com orepresentante no Brasil do Programa Mundial de Alimentos(FAO), Peter Koenz, de Acordo relativo à assistência parareabilitação da agricultura e da infra-estrutura rural ecomunitária em áreas atingidas pelas secas e pelas enchentesnos Estados do Piauí, Paraíba e Rio Grande do Norte.

Senhores Governadores,

Senhor Representante do Programa Mun-dial de Alimentos,

Senhores Diplomatas,

Senhoras e Senhores,

0 Acordo Básico Brasil/PMA que acabamosde assinar inaugura uma nova fase nas rela-ções entre o Governo brasileiro e o Progra-ma Mundial de Alimentos. Esse acordo con-sagra os parâmetros da atuação do PMA noBrasil e virá contribuir de maneira funda-mental para as nossas relações de colabora-ção, tornando-as mais estreitas, mais ágeis emais frutíferas.

A situação mundial de alimentos, da nutri-ção e da agricultura tem assumido nos últi-mos anos, um caráter paradoxalmente trági-co. De um lado, nos países industrializados,formam-se volumosos excedentes de produ-tos básicos; por outro lado, nos países emdesenvolvimento, a insuficiência de produ-

ção agrícola e a falta de recursos para ad-quirir e distribuir esses bens acarreta a po-breza, as doenças e a fome. A alimentação ea nutrição são dois elementos que exercemuma influência fundamental no desenvolvi-mento económico de cada país. É, portan-to, primordial assegurá-las a todas as popu-lações.

No Brasil, vivemos a braços com essa dico-tomia: apesar de grande produtor de ali-mentos, ainda assim nosso país defronta-secom imensas dificuldades ao procurar elimi-nar de seu território os focos de miséria edesnutrição. Nesse esforço comum, desejosalientar a participação do PMA que, emvinte anos de atividades no Brasil, tem con-tribuído positivamente para minorar umaimportante parcela dessas dificuldades.

De fato, os projetos que conjuntamente te-mos desenvolvido não se limitam ao forne-cimento de assistência alimentar, sob a for-ma de mera doação de alimentos, modalida-de, sem dúvida, muitas vezes extremamentenecessária, e mesmo vital, mas que poderia

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não ultrapassar o conceito de caridade. Aocontrário, vão esses projetos mais além,pois ao contemplar igualmente a reconstru-ção da infra-estrutura económica das regiõesafetadas por catástrofes naturais ou situa-ções emergenciais, eles representam na ver-dade, um investimento a longo prazo colo-cado junto às populações mais carentes.

Registro, com satisfação, que hoje estamosdesenvolvendo o Brasil e o PMA, quatro im-portantes projetos; um deles, no valor dequarenta milhões de dólares, que beneficiacerca de dois milhões e seiscentas mil crian-ças nos Estados do Nordeste, se destina aapoiar o Programa de Merenda Escolar; ou-tros dois projetos procuram incentivar arecuperação da infra-estrutura agrícola emáreas atingidas pela seca em Sergipe e noCeará inclusive por intermédio da constru-ção de obras comunitárias em regime demutirão.

Há menos de duas semanas assinamos umacordo sobre projeto que irá beneficiar

grandemente as populações do

Jequitinhonha em Minas Gerais.Vale do

Hoje concluímos ainda um outro relevanteacordo destinado igualmente a promover areabilitação de regiões atingidas pelas secase pelas imundações na-Paraíba, no Piauí eno Rio Grande do Norte, através de medi-das tendentes a renovar a infra-estrutura co-munitária e rural. O PMA já liberou os re-cursos necessários a esse projeto que poderáser iniciado imediatamente.

Como se pode verificar, são muito ativas asrelações de cooperação entre o Brasil e oPMA, as quais, no quadro estabelecido peloAcordo Básico, estou seguro, irão experi-mentar um novo impulso e ingressar em umperíodo mais profícuo e eficaz. Congratulo-me, assim, com o Representante do PMA ecom os Governadores dos Estados da Paraí-ba, Piauí e Rio Grande do Norte por estar-mos contribuindo para a melhoria das con-dições de vida de uma parte da populaçãonas áreas mais castigadas do Brasil.*

Na página 75, seção Tratados, Acordos, Convénios, o texto do Acordo entre o Brasil e a FAO relativo à assistência pa-ra reabilitação da agricultura e da infra-estrutura rural e comunitária em áreas atingidas pelas secas e pelas enchentes nosEstados do Piauí, Paraíba e Rio Grande do Norte.

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itamaraty restaura sala doembaixador joão guimarães rosa

Discurso do Ministro de Estado das Relações Exteriores,Roberto de Abreu Sodré, no Palácio do Itamaraty, no Rio deJaneiro, em 10 de fevereiro de 1987, por ocasião da cerimóniade entrega da sala do Embaixador João Guimarães Rosa,restaurada pela Fundação Alexandre de Gusmão.

Transcorre neste ano o vigésimo aniversárioda morte, em 19 de novembro, do Embai-xador João Guimarães Rosa. Recebemos,hoje, restaurada, a sala em que ele traba-lhou, nos últimos anos de sua vida, comodiplomata e homem de letras. Sala simples,que espelha o ser simples do EmbaixadorGuimarães Rosa — suprema simplicidade,conseguida com luta por este que foi , se meé dado indicar um traço básico dessa perso-nalidade singular e complexa, um restaura-dor: um restaurador ao mesmo tempo dedi-cado e exigente das relações entre os ho-mens, indivíduos ou comunidade.

Nesse sentido, o trabalho diplomático nachefia da Divisão de Fronteiras, por cercade dez anos, exercido em parte nesta sala,surge como estranhamente simbólico dessasua característica fundamental, de homemverdadeiramente da fronteira, local de en-contro e relação de entes diferentes. JoãoGuimarães Rosa foi um homem da frontei-ra e de várias fronteiras. Da fronteira entreum país e outro, em primeiro lugar, sítiodo internacional por excelência, locus doexercício diplomático, da oportunidade dodiálogo e da comunicação entre as nações,para o que Rosa trabalhou com a paciênciae a meticulosidade "do mineiro da roça".

Por outro lado, foi também o homem dafronteira entre um indivíduo e outro: ho-mem, uma vez mais, do diálogo, da lingua-gem, essa fronteira — obstáculo e passagem— interpessoal, que ele procurou limpar"das impurezas" do cotidiano e reduzir "aseu sentido original", para que, uma vezrestaurado o seu frescor, propiciasse o en-contro genuíno entre as pessoas.

Finalmente, homem da fronteira vertical,entre o homem e os fundamentos invisíveisde seu ser, do diálogo interno, metafísico,na conversa silenciosa com o divino, seguin-do "o roteiro de Deus nas serras dos Ge-rais".

Homem, em suma dos limites — RiobaldoTatarana, cruzando o difícil terreno do ser-tão, entre a selvageria e a civilizaçâfo, entreo bem e o mal, entre o conhecimento e aignorância, entre o medo e a coragem. Ter-reno do sertão: entre a vida e a morte.

À vida e ao trabalho, deu-se por inteiro.Ocupou, ao longo de sua carreira de 33anos, cargos diversos, mais ou menos im-portantes, a todos emprestando, porém,

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igual dedicação, "não enjeitando a farinha líbrio e mourejo, fiel e febril, muito maispor grossa ou o angu por duro, jamais avaro do que fora se crê... "de si" — com seu misto de repouso e ativi-dade, pensamento e ação, o que, em seu Espelhou o Itamaraty, portanto — como es-discurso de posse na Academia Brasileira de ta sala o espelha e guarda, assim, nesse re-Letras, descreveu como marca do Itama- 'flexo, a imagem em miniatura de nossa Ca-raty: " ... Meu Itamaraty, mansão de equi- sa e de sua história.

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o 75.° aniversário da morte dobarão do rio branco

Palavras lidas durante a cerimónia comemorativa do759 aniversário da morte do Barão do Rio Branco, realizadano Cemitério do Caju, no Rio de Janeiro, em 10 de fevereiro de1987, em solenidade que contou com a presença do Ministrode Estado das Relações Exteriores, Roberto de Abreu Sodré.

Comemora-se hoje o 75Q aniversário damorte de José Maria da Silva Paranhos, Ba-rão do Rio-Branco, patrono da diplomaciabrasileira, ocorrida a 10 de fevereiro de1912, na cidade do Rio de Janeiro.

Em honra desta data, realiza-se cerimoniade deposição de flores, acompanhada deprestação de honras militares, junto aoMausoléu do ilustre brasileiro, no Cemitériodo Caju, com a presença do Doutor RobertoCosta de Abreu Sodré, Ministro de Estadodas Relações Exteriores, do EmbaixadorPaulo Tarso Flecha de Lima, SecretárioGeral das Relações Exteriores e outras au-toridades civis e militares.

Tal homenagem insere-se em esforço maisamplo do Itamaraty, no sentido da preser-vação da memória do seu Patrono que tãoaltos serviços prestou ao país.

A carreira do eminente estadista e diploma-ta foi marcada por importantes interven-ções e delicadas missões internacionais, che-gando ao ápice com sua nomeação paraChanceler, a convite do Presidente Rodri-gues Alves, em 1902, cargo em que perma-neceu até a morte, durante sucessivos qua-driénios presidenciais.

O Brasil deve ao Barão do Rio-Branco, tí-tulo recebido em 19 de maio de 1888, a so-lução da maior parte das questões de limi-tes que, em seu conjunto, legaram ao paíspraticamente sua conformação física atual.

Nesse processo de definição das fronteirasnacionais, Rio-Branco soube utilizar a nego-ciação como meio de persuasão, com vistaao entendimento. Não há, portanto, regis-tro de que estes temas tão sensíveis tenhamcriado para o Brasil situações conflitivas deameaça à paz continental.

Além da solução de importantes problemasfronteiriços, Rio-Branco lançou as bases deuma nova política externa brasileira, ajus-tando a obra realizada no Império às exi-gências do crescimento económico e políti-co do país. Nesse sentido, preparou o terre-no para uma aproximação mais estreitacom os países latino-americanos e acentuouos laços de amizade e cooperação com osEstados Unidos da América.

Graças à sua iniciativa, foi atribuído ao Bra-sil o primeiro cardinalato criado na Améri-ca do Sul. Foi ainda o Barão do Rio-Brancoo responsável pelo estabelecimento da pri-meira Embaixada do Brasil, com a nornea-

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ção de Joaquim Nabuco para Embaixador morte deste grande patriota, impõe-se umaem Washington, e pelo comparecimento de reflexão sobre o sentido de sua obra: suaRui Barbosa, como primeiro Embaixador atualidade reside na conciliação da buscado Brasil e o único da América Latina, a incansável do interesse maior da pátria comuma conferência internacional - os Con- a defesa intransigente da convivência pacífi-gressos da Haia. ca entre as nações, tarefas que constitu iram

e constituem a essência da missão do diplo-No transcurso, portanto, do aniversário da mata.

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primeira convençãointernacional do cacau,

em salvadorPalestra do Ministro de Estado das Relações Exteriores,Roberto de Abreu Sodrô, em Salvador, em 14 de fevereiro de1987, por ocasião da primeira Convenção Internacional doCacau.

É para mim uma grande satisfação partici-par na generosa terra baiana desta primei-ra Convenção Internacional do Cacau. Mui-to me honrou o convite da Comissão doComércio do Cacau da Bahia para estaraqui com os Senhores neste encontro, ondetenho a oportunidade de contribuir parauma reflexão sobre um dossetores mais di-nâmicos da economia agrícola do Brasil,responsável por uma crescente participaçãodo país nos mercados internacionais.

A vertente externa de nosso setor cacaueiroé hoje, como sabemos, uma grata realidade.Se temos motivos para nos orgulhar do pa-pel de primeira grandeza desempenhado pe-lo Brasil no suprimento mundial desse pro-duto, temos igualmente consciência de quetal posição não foi conquistada sem sacrifí-cio e — o que é mais importante — dependede um esforço contínuo tanto do setor pri-vado quanto do Governo. Nenhum país égrande fornecedor do mercado internacio-nal por acaso. E tampouco por acaso man-tém essa posição, especialmente nos diasatuais.

A rigor, pouco teria a acrescentar ao que jáfoi dito pelos eminentes conferencistas que

me precederam — todos eles intimamenteversados na economia cacaueira. Creio útil,no entanto, dar o meu testemunho da expe-riência do Itamaraty no trabalho que vemrealizando ao longo dos anos em apoio àprojeção do setor cacaueiro de nosso paísno comércio internacional.

Esse trabalho — que considero pioneiro ede enorme utilidade — inaugurou um capí-tulo marcante na história do Ministério dasRelações Exteriores. Com efeito, a defesados interesses brasileiros no âmbito do co-mércio mundial de produtos de base — en-tre eles o cacau — tem representado umadas ênfases da nossa ação externa nas últi-mas décadas e se confunde mesmo com oinício do que chamamos de diplomacia eco-nómica brasileira.

A acirrada competição que o Brasil deveriaenfrentar no mercado internacional mobili-zou desde cedo os quadros do Itamaraty.Essa mobilização refletiu-se na própria or-ganização funcional interna do Ministériodas Relações Exteriores, com a criação desetores especializados para o trato de assun-tos relativos a nossa participação no comér-cio mundial de produtos agrícolas. Funcio-

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nários diplomáticos iniciavam-se, já há algu-mas décadas, nas complexidades desses as-suntos e, na companhia de produtores, in-dustriais e exportadores de produtos comoo cacau e o café, começavam uma longa jor-nada que os levaria a missões negociadorasenvolvendo diferentes regiões do mundo,como também a importantes conferênciasinternacionais entre produtores e consumi-dores.

É à luz desse passado de estreita coopera-ção entre o Itamaraty e os empresários dosetor cacaueiro que me permito tecer agoraalgumas considerações sobre o comércio in-ternacional do cacau do ângulo de visão dapolítica económica externa do Brasil.

Mesmo sem figurar, em termos de valor, en-tre os produtos agrícolas de maior partici-pação percentual nas trocas internacionais— corresponde a 2% dessas trocas, em con-traposição a soja e o trigo que atingem a 6 e8%, o cacau tem uma importância específi-ca pelo que representa como suporte para aeconomia de muitos países em desenvolvi-mento.

As variações nos preços internacionais desseproduto podem alterar — e tem alterado —de modo dramático a receita cambial dospaíses produtores como um todo, comotambém afetam o padrão de vida de consi-deráveis segmentos de suas populações. Paí-ses há que dependem das exportações decacau para gerar em muitos casos até 60%de suas divisas.

As variações dos preços não são, por suavez, exceção. Ao contrário, apresentamnormalmente grande instabilidade, causadapor mudanças na oferta e pela pouca elasti-cidade da demanda. Segundo cálculos doBanco Mundial, o cacau é o produto cujospreços mais oscilaram no período 1955/1981 se comparado aos de outros produtosde base.

Aspecto também peculiar do comérciomundial desse produto consiste em sua rela-

tiva concentração em alguns poucos forne-cedores e consumidores. Cinco países, emsua totalidade em desenvolvimento, forne-cem cerca de 73% da produção mundial,enquanto outros cinco, em sua totalidadedesenvolvidos, representam cerca de 65%do consumo.

Reproduz-se, assim, no comércio interna-cional do cacau muitas daquelas situaçõestípicas do relacionamento económico entrepaíses desenvolvidos e em desenvolvimento,com suas conhecidas distorções. Por essa ra-zão, as posições defendidas pelos paísesprodutores expressam e se fundamentamem muitos casos em interesses não só de na-tureza económica, mas também de conteú-do político. É que muitos dos problemasenfrentados pelos produtores derivam daprópria assimetria verificada nas relaçõeseconómicas e políticas internacionais comoum todo.

Embora menos dependente das exportaçõesde cacau do que outros produtores — o ca-cau representou cerca de 3% das exporta-ções globais do país em 1986 — o Brasiltem estado sempre na vanguarda da defesados interesses dos países produtores. Comoos Senhores não-ignoram, tem sido longo epenoso o caminho para a obtenção de con-dições minimamente satisfatórias para ospaíses produtores no comércio mundial docacau. Conseguir um ordenamento do mer-cado, mutuamente vantajoso para produto-res e consumidores, consistiu numa metaprioritária para a ação diplomática brasilei-ra no campo do comércio de produtos debase, entre eles o cacau.

Numa breve recapitulação, vemos que, jáem meados dos anos cinquenta, o Brasilparticipou juntamente com outros produ-tores, em sua maioria ainda colónias naque-la época, do Grupo de Estudos sobre Ca-cau, criado no âmbito da FAO. Tratava-seentão de um esforço para minimizar agudasflutuações de preços que penalizavam osprodutores, com rendimentos decrescentesapesar de maiores volumes exportados. A

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iniciativa não prosperou, pois os países con-sumidores limitaram as tarefas do Grupo adiscussões e propostas para o aumento daprodução, sem interessar-se por medidasconcretas para a estabilização dos preços.

No ano da safra 1960/61, o Brasil, Gana eNigéria tentaram, sem êxito, uma ação pararecuperar os preços, retirando-se do merca-do, já que pareciam remotas as possibilida-des de um acordo internacional para umamaior estabilidade do mercado.

Evoluíram, contudo, os entendimentos en-tre produtores tomando novo alento quan-do, em 1962 negociou-se o Acordo Interna-cional do Café. Naquele mesmo ano, reuni-dos em Abidjan, — Brasil, Camarões, Costado Marfim, Gana e Nigéria, — formaram aAliança dos Países Produtores de Cacaucom sede em Lagos. A Aliança tinha comoobjetivo constituir-se num foro de discus-são para os problemas de interesse comumdos países produtores, que propiciasse oaumento do consumo mundial do produto,assim como um instrumento para a defesados seus preços internacionais.

Não obstante esse esforço de coordenaçãoentre os produtores, os preços internacio-nais do cacau não resistiram à crise de1964/65, quando ocorreu a produção re-corde de Gana. Diante de uma continuadasituação de baixa no mercado internacional,o Itamaraty, em coordenação com o setorcacaueiro do país, prosseguiu em seus esfor-ços para a consecução de um instrumentointernacional que permitisse uma maior es-tabilidade nas cotações do produto, em ní-veis rentáveis para os produtores. Assim,em 1965, estabeleceu-se o Grupo de Traba-lho da UNCTAD sobre Preços e Quotas pa-ra preparar as bases de um Acordo. Essasnegociações se estenderam por vários anosaté a realização, em 1972, do I Acordo In-ternacional do Cacau, cujo principal objeti-vo era o de evitar flutuações excessivas nomercado. Para administrar a implementaçãodo Acordo, foi criada em 1973 a Organiza-ção Internacional do Cacau, com sede em

Londres, da qual participavam 19 paísesprodutores, representando 90% das expor-tações mundiais e 29 países consumidores,responsáveis por 70% das importações e doconsumo mundiais.

A esse primeiro entendimento internacionalentre países produtores e consumidores, se-guiu-se o Acordo de 1975, consideradouma continuação do anterior. Suas caracte-rísticas básicas de funcionamento pouco di-feriam do primeiro Convénio. Mantinham-se um mecanismo de estabilização de pre-ços e quotas de exportação, apoiados porum estoque regulador. A faixa de preços —ponto crucial de toda negociação de Acor-dos de produtos de base — contemplava,contudo, valores superiores aos dos Acor-dos de 1972.

Vale observar que os Acordos de 1972 e1975 nunca tiveram acionados seus disposi-tivos de estabilização de preços, pois desdea entrada em vigor do primeiro em 1973,até 1980, quando expirou o segundo, ospreços de mercados sempre se situaram aci-ma dos níveis por eles fixados, circunstân-cia que revela uma certa inadequação da-queles instrumentos. O fato é que ao seremelaborados refletiam sobretudo a situaçãode baixa prevalecente no mercado nos anosque os antecederam.

Diante de uma nova realidade de mercado,o Conselho da Organização Internacionaldo Cacau decidiu, em 1977, elevar a faixade preços do Acordo de 1975. Contudo, al-guns países produtores consideraram insufi-ciente essa nova faixa de preços por avaliá-la aquém dos níveis de preços prevalecen-tes, incapaz mesmo de cobrir custos de pro-dução. Vale recordar que a Costa do Mar-fim apresentou na época projeto de resolu-ção que suspendia as cláusulas económicasdo Acordo de 1975 e abria caminho parasua renegociação. Aproveitando a situaçãofavorável de mercado, que apresentava pre-ços bastante superiores aos de anos anterio-res, decorrentes do déficit da produção noano-safra 1976/77 e do consumo mundial

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relativamente estável, ganhou força entre ospaíses produtores o movimento de renego-ciação do Acordo de 1975.

O Brasil somou-se aos países que propugna-vam por um novo acordo, cabendo na épo-ca ao Itamaraty a coordenação entre os di-ferentes setores do setor cacaueiro com vis-tas a definir uma posição brasileira específi-ca diante do quadro de uma nova renego-ciação. Verificou-se, então, nos trabalhospreparatórios conduzidos pelo Ministériodas Relações Exteriores, que seria de inte-resse para o país um acordo internacionalbaseado fundamentalmente num estoqueregulador, sem quotas de exportação. Umacordo com essa configuração poderia abrirmais espaços para produtores eficientes nomundo. Ademais, um instrumento apoiadounicamente em um estoque regulador, teriaa virtude de atrair a participação do maiorconsumidor mundial, os Estados Unidos,que defendiam um mecanismo dessa natu-reza desde a negociação do Acordo de1975, ao qual não aderiram por considerá-lo excessivamente intervencionista.

As dificuldades surgidas nas negociações emGenebra para um novo acordo revelavam oconflito básico entre produtores e consumi-dores, na busca do justo nível de preços pa-ra ambas partes. Valendo-se da situação demercado que apresentava à época preços re-munerativos, alguns países produtores pro-curavam obter no acordo, o mais alto preçopossível. Contornando as dificuldades exis-tentes e procurando, sobretudo, manter acoesão do grupo, o Brasil propugnou pelatese de que o Acordo deveria ser, principal-mente, uma rede de segurança que garantis-se preços justos aos produtores, e não meroinstrumento gerador de divisas. Nem sem-pre foi fácil compatibilizar as posições dospaíses produtores, muitos deles prisioneirosde sua condição de mono-exportadores decacau.

Do lado dos países consumidores, encontra-va-se muitas vezes posições de força nas ne-gociações, chegando a ser indiferente à exis-

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tência de um Acordo. De uma maneira ge-ral, a preocupação das nações compradorasresidia sobretudo na defesa de um nível depreço mais baixo possível, capaz de manteros suprimentos do mercado e garantir suasmargens de lucro. Seu poder de negociaçãoera ainda acrescido em função do papel de-sempenhado pelas empresas multinacionaiscom sede naqueles países, responsáveis pelacomercialização do produto. Notava-se,contudo, entre eles, alguns matizes nas po-sições adotadas, em função muitas vezes decompromissos que os prendiam às suas ex-colônias.

A conclusão dos Acordos de 1980 e, maisrecentemente, de 1986 foi finalmente obti-da após um ingente esforço negociador, noqual o Brasil desempenhou um papel pre-ponderante. Antiga reivindicação da diplo-macia económica brasileira, a conclusãodesses Acordos se inseriu no amplo quadrodas teses apresentadas pelos países em de-senvolvimento, no âmbito de seu diálogocom os países industrializados. Temos cons-ciência que a história desses Acordos nãopoderia ser marcada apenas por momentosde êxito. O ordenamento de mercados degrandes proporções exige um nível de coor-denação e recursos muitas vezes além daspossibilidades de seus integrantes, sobretu-do dos países produtores. Em 1981, porexemplo, quando pela primeira vez o Esto-que Regulador do Acordo Internacional deCacau foi efetivamente acionado para con-ter a abrupta queda de preços, seu poder es-tabilizador conseguiu fazer-se sentir por al-gum tempo, tendo o mercado mostrado si-nais de recuperação após essa intervenção.Os efeitos não puderam, contudo, ser maisamplos em razão do esgotamento dos recur-sos financeiros, sempre parcos nesses meca-nismos.

A convicção de que, apesar de suas defi-ciências, os Acordos sobre Produtos de Ba-se servem aos interesses de produtores econsumidores, particularmente dos primei-ros em razão de sua maior vulnerabilidade,levou o Itamaraty a redobrar esforços nas

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negociações dos Acordos de 1986. EsteAcordo, por cuja conclusão aqui me con-gratulo com os Senhores, representou umprogresso em relação ao de 1980. Como sesabe, dele participa o maior produtor mun-dial, a Costa do Marfim, circunstância quelhe atribui, em princípio, maior credibilida-de quanto à eficiência de sua atuação. Ade-mais, o novo instrumento conta com ummecanismo misto de estoque regulador e es-quema de retenção para a defesa de preços.A simples existência desses mecanismos tor-na mais factível a operação do Acordo, namedida em que o libera da exigência de vo-lumosos recursos financeiros. O esquema deretenção, novidade em acordos de produtosde base, funciona de modo inverso ao da re-partição do mercado em quotas. Quandoacionado, cada país produtor terá determi-nado o volume que não será exportado, re-tirando-se em consequência do mercado oseventuais excedentes de oferta. Outra ino-vação do Acordo de 1986 diz respeito à fai-xa de preços não mais expressa em dólares.Numa tentativa de preservar os preços acor-dados das oscilações cambiais, recorreu-seaos direitos especiais de saque como formade expressar os valores daquela faixa.

Além dessas inovações de caráter técnico, émister ressaltar o empenho político porparte dos países produtores em efetivar aconclusão do Acordo de 1986. Creio poderdizer que ao Itamaraty correspondeu gran-de parte do esforço realizado para galvani-zar aquele interesse político, acima das di-ferenças eventuais encontradas entre os paí-ses produtores. Essa tarefa desempenhadapelo Itamaraty não teria sido possível con-tudo, sem o decidido apoio e cooperaçãodemonstrados pelos diferentes segmentos

do setor cacaueiro nacional, ao qual rendoaqui meus especiais agradecimentos.

Não poderia concluir essas consideraçõessem mencionar o fator principal que permi-tiu ao Brasil conquistar a projeção interna-cional do seu setor cacaueiro. Quero referir-me ao trabalho, ao espírito empreendedor,à visão de futuro, à coragem empresarial eao patriotismo de todos aqueles que con-tribuíram para a construção desse vital seg-mento da economia do Brasil.

Homem ligado ao campo, sempre tive umaespecial sensibilidade e respeito para os fru-tos da terra, que consistem, no meu ver, abase fundamental para a riqueza das socie-dades humanas. Se podemos defender noâmbito do comércio mundial interesses na-cionais relativos à nossa produção agrícola,é porque homens como os Senhores soube-ram gerar em nosso solo riquezas que per-mitiram ao país tornar-se um importantesupridor agrícola.

Os esforços despendidos por produtores, in-dustriais e exportadores do cacau no Brasil,se refletem não •só na projeção desse setorno comércio internacional, mas se tradu-zem primeiramente no notável desenvolvi-mento económico e social das regiões denosso país dedicadas à produção e benefí-ciamento deste produto. A recompensa pe-los frutos do trabalho que tanto defende-mos no plano das relações internacionais, é,no setor cacaueiro de nosso país, uma reali-dade e, diria mesmo, exemplo para a cons-trução de um Brasil justo e soberano.

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deputado ulysses guimarãesprofere aula inauguraldo instituto rio-branco

Pronunciamento do Deputado Ulysses Guimarães, no Paláciodo Itamaraty, em Brasília, em 9 de março de 1987, por ocasiãoda aula inaugural do Instituto Rio-Branco, em solenidade quecontou com a presença do Ministro de Estado das RelaçõesExteriores, Roberto de Abreu Sodré.

É, para mim, além de honra evidente, umgrande prazer estar nesta Casa de reconheci-

da tradição na defesa dos interesses maioresdo Brasil. Considerei o convite para quepronunciasse a Aula Inaugural dos cursosdo Instituto Rio-Branco em 1987 uma ho-menagem ao Poder Legislativo, confirma-ção do constante diálogo entre a diploma-cia brasileira e o Congresso Nacional, e au-gúrio de que seja ainda mais aberto e pro-dutivo. Escolhi como tema para abordardiante dos jovens futuros diplomatas "De-mocracia e Diplomacia". Escolhi é maneirade dizer, pois a matéria se impôs a mim,imediatamente, tão logo recebi o honrosoconvite do Excelentíssimo Senhor Ministrodas Relações Exteriores, Doutor Robertode Abreu Sodré. 0 Chanceler Abreu Sodréé meu antigo amigo e fomos colegas na cen-tenária Faculdade de Direito do Largo deSão Francisco, e seu talento político é tes-temunho pela sua vitoriosa trajetória comoPresidente da Assembleia Legislativa, Go-vernador do Estado de São Paulo e agoraChefe da Diplomacia do Brasil.

DEMOCRACIA E DIPLOMACIA

Democracia porque venho, desde os pri-mórdios de minha vida pública, dedicandoo melhor de meus esforços à vida parlamen-tar, naquele Poder que, mais do que qual-quer outro, significou sempre, histórica econtemporaneamente, a expressão da sobe-rania popular, elevada, pela adição dá mul-plicidade de vontades particulares, à vonta-de geral inscrita nas leis, e exercida no con-trole dos atòs do Executivo. Diplomaciasimplesmente porque é a pobre e difícil car-reira que escolheram, e para a qual o cursoque hoje iniciam dará formação dentro depadrões de excelência reconhecidos no Bra-sil e no mundo. Democracia e Diplomacia,sobretudo, porque abre-se com a Assem-bleia Nacional Constituinte a perspectivaauspiciosa de completarmos nosso aperfei-çoamento democrático, com essa Nova Car-ta que projetara compromissos progressistassobre todas as nossas instituições, revigo-rando-as pela maior e mais direta participa-ção popular em todos os segmentos da vidanacional.

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O retorno ao poder civil trouxe já modifica-ções mais do que óbvias no que tange à pro-jeção de nossos interesses no mundo. Se an-tes nossa política externa era, sem dúvida,aberta e generosa, ecuménica e ética, defen-sora de uma maior democratização do siste-ma internacional — e aqui basta lembrarideias do saudoso Embaixador Araújo Cas-tro, crítico arguto do "congelamento dopoder mundial" — e da construção de umaNova Ordem Económica Internacional, fal-tava-lhe um fundamento popular, uma re-taguarda democrática. Firmeza e segurançaque uma diplomacia só pode haurir de paísjusto e livre. Autocracia, desrespeito aos di-reitos humanos, injustiça económica e mi-séria social engendram uma diplomacia iso-lada e insegura, mesmo quando o momentoou a questão convidam a isso. Como disseem meu discurso de posse como Presidenteda Assembleia Nacional Constituinte, "En-ganam-se os Governos que aspiram ao res-peito internacional, se lhes falta o respeitode seu povo".

A política externa dos últimos dois decé-nios foi um exercício de virtuosismo técrvi-co-profissional, no sentido de extrair o má-ximo de presença internacional, para a Na-ção, de um mínimo de recursos de legitima-ção. Adiantou-se, até, pelos princípios arro-jados que defendia para a reforma das rela-ções Norte-Sul, ao que se estava à épocapregando e praticando dentro do país. Ho-je, recuperou-se a coerência entre o Brasilinterno e o Brasil externo, nosso discursomanteve a qualidade e ganhou em verdade.Basta ver como algumas posições,brasileirassobre os mais diversos temas da agenda in-ternacional — fundamentalmente elabora-das ao longo dos anos 70 — obtêm agoraenorme repercussão em todo o mundo. Nacena internacional, não é suficiente que sedigam coisas novas, é preciso que haja umaescuta, uma atenção ao que se vai dizer, e oBrasil voltou, claramente, a ser alvo deatenção política, e não mais apenas quantoàs suas possibilidades económicas.

Nesta hora, mais do que nunca, vemos am-

pliado o espectro de nossa participação emtodas as linhas de frente diplomáticas. Con-senso de Cartagena, Nova Rodada de Nego-ciações Comerciais Multilaterais no GATT,Grupo de Apoio a Contadora, sem mencio-nar as Nações Unidas e seus diversos orga-nismos, são foros em que está presente odenodado trabalho desta Casa.

A intensa e extensa participação da diplo-macia brasileira nas diversas negociações in-ternacionais, bilaterais ou multilaterais, quebuscam reformar o mundo de hoje e proje-tar a sociedade internacional do terceiromilénio, não recebeu novo impulso apenasdas transformações internas. Ajudou-a,também, que os ventos da Democracia hou-vessem soprado sobre a maior parte destanossa América do Sul, esvaziando as temáti-cas confrontacionistas e reativando as doconsenso e da integração.

As democracias, é verdade, podem ser ten-tadas pelos artifícios da demagogia, da cria-ção de inimigos externos, do nacionalismoexarcebado e belicista. Mas há que concor-dar com KANT, quando diz que "a consti-tuição republicana, além da limpidez de suaorigem, pois é oriunda da fonte pura que éa noção de direito, apresenta ainda a pers-pectiva da consequência que desejamos, asaber, a paz perpétua". A razão, explica ele,é que se nesse tipo de constituição o assen-timento dos cidadãos é exigido para decidirse haverá ou não guerra, como serão elesmesmos os que suportarão todos os malesda guerra (combater, subvencionar os gas-tos de guerra, reparar as devastações e en-carregar-se do fardo de dívida), é claro querefletirão longamente antes de lançar-se aela.

Ao regime democrático é mais natural abusca da solução pacífica das controvérsias,mera projeção de seu estilo consensual e le-gal de superação de litígios da área internapara o âmbito internacional. Ao regime au-toritário é próprio, em regra geral, a des-confiança, a suspeita, sentimentos que ge-ram a rivalidade e podem chegar ao confli-

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to, simples extensão às relações com outrospaíses de comportamentos reflexos queadquiriu no trato da situação interna. Nãoconfiando em seu próprio povo, não teriamesses regimes como fiar-se em outros povos.Daí viverem super-armados, encouraçados,gerando, pela sua própria insegurança, inse-gurança em outros Estados, alimentandonesse jogo de espelhos a espiral das corridasarmamentistas, das quais o ápice aterradoré a competição nuclear.

Um exemplo histórico pode ser aqui ilustra-tivo. Foi da derrota dos regimes totalitáriosde Hitler e Mussolini, e em patamares tem-porais sucessivos, dos regimes autoritáriosdos coronéis gregos, de Salazar e de Franco,que a Europa Ocidental alçou-se para lograros altos níveis de integração de que desfru-ta hoje. Nós, na América do Sul, nem ne-cessitamos chegar ao extremo do derrama-mento de sangue para perceber a futilidadedas políticas de poder e rivalidade, e vis-lumbrar os ganhos para todos os parceirosque adviriam da concentração de nossos li-mitados recursos em projetos de desenvol-vimento e crescimento nos níveis nacionale regional.

Hoje, os ideais de integração tomam novovigor, temperados pelo sentido do real e dopossível. Exemplo claro é o atual processode adensamento das relações económicasentre Brasil, Argentina e Uruguai.

Cabe aqui realçar o papel protagônico quetem assumido nesse campo o Presidente Jo-sé Sarney, promovendo, através de sábia ar-quitetura diplomática, e inclusive do amiu-dar de seus contatos pessoais com os pri-meiros mandatários da Argentina e do Uru-guai, uma aproximação eficaz no plano ma-terial, porque lastreada em uma afinidadepolítica e humana. Com a Nova República,o Brasil libertou-se de qualquer timidez emsubir a cena política latino-americana, e onome de nosso Presidente é hoje conhecidoe respeitado em todo o continente como odo I íder de uma grande Nação democrática.

Este processo tripartite de integração com-prova que nas democracias, fatalmente, ointeresse do Estado pelo económico — queexpressa prioridade ao bem-estar material,de indivíduos ou grupos — supera e inibe otradicional interesse pelo poder e pelo pres-tígio, na medida em que a busca de um e deoutro acarreta sempre o sacrifício do bem-estar geral em prol de mega-projetos, dis-tanciados das necessidades sociais da popu-lação.

Não estou a dizer que um Estado — mor-mente quando detentor de território tãovasto e tão rico como o brasileiro — se devadescurar de sua defesa e segurança, viven-do em um mundo irrealista de cooperaçãosem divergências, e devotado à satisfação detodas as expectativas de consumo de seuscidadãos.

Há, apenas, que diferenciar as ameaças reaisdas imaginárias, e não fazer do acréscimode poder um fim em si mesmo, desvincula-do de qualquer conjuntura precisa, estrate-gicamente determinada. Há, sobretudo, quejamais ceder à tentação de usar a ameaçaexterna possível como recurso de legitima-ção interna. Maior poder detém o Estadocujo povo tem,nas instituições democráti-cas e na justiça social motivos para acatá-loe defendê-lo. Como disse no discurso já ci-tado, "Quando as elites políticas pensamapenas na sobrevivência de seu poder oligár-quico, colocam em risco a soberania nacio-nal. A segurança será sempre precária ondehouver o clamor dos oprimidos. Nenhumpaís será suficientemente poderoso, se po-derosa não for a coesão entre seus habitan-tes. Uma casa dividida não saberá opor-secom êxito ao assalto dos inimigos". E, com-pletaria agora, a História nos mostra que osservos são maus soldados, os homens livreslutam até o fim para conservar a sua liber-dade.

Alguns autores, todavia, apontam uma van-tagem na maior flexibilidade tática que pos-suiriam as diplomacias dos países autoritá-rios ou totalitários, liberadas de prestar

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quaisquer satisfações às suas opiniões públi-cas quando dão guinadas de 180 graus emsuas políticas externas — um exemplo seriao Pacto Ribbentrop — Molotov — mas háque lembrar que esta maleabilidade táticase paga, na verdade, com um enrijecimentoestratégico, no mais longo prazo, pois aideologia, que caracteriza tais regimes, nãolhes permite sacrificar seus projetos àsadaptações impostas pela razão e pela expe-riência.

Neste balanço, sem dúvida, a maior lenti-dão no terreno tático das democracias é de-feito menor, se comparada à mais grave emais prejudicial camisa de força ideológicados regimes não-democráticos. Ò exercíciodo voto renova não só equipes dirigentes,como também idéias-força e prioridadesque se mostrem inadequadas, no confrontocom novas realidades.

Analisar as relações entre Democracia e di-plomacia nos levará agora a considerar o re-lacionamento entre o Executivo e o Legisla-tivo, o papel do Congresso no acompanha-mento da política externa e na aprovaçãodos acordos internacionais. No momentoem que estamos preparando a nova CartaMagna, impõe-se uma reflexão sobre qualdeva ser a participação do Legislativo nocampo das relações internacionais.

POLÍTICA EXTERNA E PARLAMENTO

Cumpre revivificar o papel do Congressonessa área, e a Assembleia Nacional Consti-tuinte, podem estar seguros, não deixará dedar o devido realce a esta matéria.

Para que este papel congressual possa serefetivo, impõe-se ampla transparência naformulação e execução da política externa,através de contatos frequentes, convocaçãodo Ministro de Estado das Relações Exte-riores, exposições e palestras de diplomatasnas Comissões de Relações Exteriores daCâmara e do Senado, inclusive com a reali-zação de sessões restritas quando do trata-mento de temas especialmente sensíveis.

Não me permitiria esquecer, entretanto, aparte atribuível ao próprio Parlamento paraque essa evolução se efetive. É preciso queos parlamentares desenvolvam um interessemaior pelas questões internacionais, pormais candentes que sejam as questões inter-nas. É preciso que, neste momento em queproliferam por todo o país centros de estu-dos de ciência política, inclusive de relaçõesinternacionais, haja maior entrosamento en-tre o mundo académico e o parlamento,através da encomenda de estudos e pesqui-sas, da contratação de especialistas para ostaff técnico do Congresso.

O parlamentar brasileiro, neste século, per-deu em sua maioria a intimidade com a ce-na mundial, que seus antecessores do Impé-rio, oriundos apenas de classes naturalmen-te cosmopolitanas, ostentavam. Cabe hoje,com a crescente participação do Brasil nosassuntos mundiais, recuperá-la, ná"o atravésde perigosa osmose entre elites de paísesdominados e dominantes, mas pela dedica-ção à análise e compreensão das estruturasde distribuição internacional do poder e dariqueza.

A competência constitucional exclusiva doCongresso Nacional para resolver definitiva-mente sobre tratados, convenções e atos in-ternacionais não será realizada em toda suapotencialidade se não tiver a lastreá-la umareal competência, no sentido de capacita-ção especializada, e um profundo compro-metimento dos parlamentares com seuexercício.

Obtidos esses pré-requisitos — da parte doExecutivo, verdadeira transparência e realvontade de diálogo, da parte do Legislativo,esforço de aggiornamento e maior interessepelas questões internacionais — a diploma-cia brasileira acrescenta às suas tradições deeficácia e à sua imagem de confiabilidadeopeso da legitimidade democrática, que revi-gora a prática da diplomacia através da au-toridade moral.

Se o processo de formulação de pol ítica ex-terna se torna, eventualmente, mais lento

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nas democracias, ganha em transparência esolidez, enriquecido pela constante intera-ção entre os Poderes Executivos e Legislati-vos. Os estados em que esse processo é játradicional podem talvez parecer oscilar emsuas diretrizes diplomáticas conjunturais,conforme vão mudando os Chefes do Exe-cutivo e as maiorias parlamentares, mas acada momento o país se apresenta unido efirme erri uma decisão às vezes duramenteconquistada, em processo dialético e confli-tivo, mas univocamente suportada ao finaldo percurso. O negociador que tem atrás desi, além de seu Governo, o Congresso e aopinião pública, tem trunfos imbatíveis pa-ra o exercício de sua arte, o alcance de suasmetas, e a construção de novas modalidadesde relacionamento.

Temos já, no Brasil, certa experiência noapoio bipartidário ou multipartidário à po-lítica externa. Este fato não provém de umrespeito reverenciai ao papel do Executivonesta área, ou mero constrangimento emparecer divisionista. Ocorre que as tradiçõesjurídico-filosóficas da diplomacia brasileiratornam natural um consenso em torno àpolítica externa como um todo. Opçõesmais recentes, como a busca da integraçãocom os vizinhos latino-americanos e vincu-lação mais intensa cornos países africanos,são aplaudidas por todo o espectro políticobrasileiro porque refletem, não caprichosideológicos de cúpulas ou facções dirigen-tes, mas escolhas seriamente enraizadas nointeresse maior do país, que só tem a ga-nhar em possibilidades de paz e desenvolvi-mento com esta cooperação Sul-Sul incre-mentada.

Sabemos que o conceito de interesse nacio-nal é injustamente suspeito para muitosanalistas, pelo potencial de fraude aos inte-resses das grandes maiorias que encerra. Is-so não é negar que existam e possam seridentificados interesses que reunam consen-so realmente amplo, real ou potencial, mor-mente na área de atuação externa de umanação. Quando tais interesses são correta-mente isolados, através de constante con-

sulta aos diversos grupos sociais — e pensoque esta tem sido a história da diplomaciabrasileira — não há interesse partidário ousectário que sobrepõe a eles, para contabili-zar ganhos eleitorais de curto prazo.

Esta Casa muito tem por que orgulhar-sedesse apoio multipartidário. É a integraçãodo Itamaraty à vida brasileira eseu diálogopermanente com o Parlamento, a Imprensae o mundo académico, que garantem queseu papel não se limite ao de negociar posi-ções por outros formuladas, mas se estendaao de debater com amplos setores da socie-dade diversos pontos da agenda internacio-nal do país, informando-se e informando,de modo a produzir quadros de transaçãoque se situem nos estritos limites do inte-resse brasileiro.

Resumindo esta parte introdutória sobreDemocracia e Diplomacia, política externae Parlamento, direi que o retorno do Brasilà Democracia potenciou o acervo riquíssi-mo de nossa diplomacia, onde avulta a con-tribuição inestimável do Barão do RioBranco, que nos legou uma prática da boaconvivência, que é ainda nosso grande orgu-lho e este território incontroverso que énosso desafio arar, semear e fazer cada vezmais próspero.

AORDEM INTERNACIONAL

Este acervo inclui os princípios de igualda-de jurídica entre os Estados; respeito à so-berania; não-ingerência nos assuntos inter-nos de outros Estados; autodeterminaçãodos povos; e solução pacífica de controvér-sias. Possuem todos estes preceitos uma ca-racterística comum, que é o de definiremrelações conversíveis, de mão dupla: aquiloque um Estado se propõe a respeitar em re-lação à soberania dos outros Estados, éaquilo mesmo que deseja que respeitem emrelação à sua soberania.

Busca-se, assim, repetir na esfera internacio-nal o que os filósofos políticos contratualis-tas identificaram como constitutivo da vida

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social: a renúncia de cada um à, propriedadealheia e ao uso de meios violentos para con-seguf-la, em troca da renúncia de todos osoutros a desejar sua propriedade e a arreba-tá-la. O desafio é que, se na área interna apopulação delega ao Estado e a seu braçojudiciário competência para decidir o queépropriedade, o que é violência, o que é cri-me, no sistema internacional, deve haver aautoridade que arbitre, diga o direito e exe-cute a sentença. Difícil tem sido, na ausên-cia dessa autoridade central, conseguir queos Estados se comportem, todos e invaria-velmente, conforme com os princípios jurí-dicos acima mencionados. O mínimo que setem de reconhecer, por ser de justiça, é queo Brasil tem cumprido à risca sua parte nes-te "contrato social mundial", e tem lutado,nas Nações Unidas e em outros foros, pelaadoção da solução pacífica e pela regra dodireito na vida internacional.

Direito e paz, no nível internacional, sãoconceitos que guardam relação direta. Nãohá como não concordar com Lauterpachtquando diz: "A paz é antes de tudo umpostulado legal. Juridicamente, ela é umametáfora para o postulado da unidade dosistema legal. A lógica jurídica leva inevita-velmente à condenação, pela lei, da anar-quia e da força privada". A lei, no entanto,tanto na área interna quanto na internacio-nal, é mais seguramente um fator de ordemdo que de justiça. Ela inibe a desordem e aviolência, não necessariamente a injusta dis-tribuição de riquezas e a sobrevivência deformas iníquas de relacionamento. Estaconstatação nos faz deixar o âmbito jurídi-co-político-estratégico das relações interna-cionais e passar ao reino das relações econó-micas, a abandonar a alternativa entre guer-ra e paz, e entrarmos nas dicotomias entrepaíses ricos e pobres, privilegiados e desfa-vorecidos pela atual ordem económicamundial.

Como disse perante a Assembleia NacionalConstituinte, "Não é só a injustiça internaque dá origem aos nossos dramáticos desa-fios. É também a espoliação externa, com a

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insânia dos centros financeiros internacio-nais e os impostos que devemos recolher aoimpério, mediante a unilateral elevação dastaxas de juros e a remessa ininterrupta derendimentos. Trata-se de brutal mais valiainternacional, que nos é expropriada natransferência líquida de capitais". A esse te-ma urgente da d ívida externa se devem adi-cionar dois outros capítulos maiores napauta diplomática brasileira para este finalde século e início do próximo; capacitaçãoe independência científica e tecnológica; lu-ta contra o protecionismo dos países indus-trializados. Este tripé — finanças, ciências etecnologia, comércio exterior — é que deve-mos reforçar cada vez mais através de umadiplomacia ativa e corajosa, tal como jávem fazendo o Itamaraty em foros como oGATT, a UNCTAD, a OMPI e os Organis-mos Internacionais de Produtos de Base. Oprincípio básico é que, tal como o liberalis-mo clássico não resolve a questão da distri-buição interna de renda, também no âmbi-to internacional as soluções de mercadonão bastarão para resolver as grandes ques-tões de realocação de recursos, que, tantono setor interno quanto no internacional,só podem ter respostas políticas.

Assim como as sociedades nacionais em de-terminado momento de sua história sevêem obrigadas a parar e começar de novo— está aí o exemplo de nossa recém-inicia-da Assembleia Nacional Constituinte —,também a sociedade internacional necessitarefletir, discutir e reformar-se. Infelizmen-te, tal como na política interna é comumpensar-se que há que esperar a conflagraçãodas revoluções para então sentar-se à mesada reforma, também no nível mundial asnações têm esperado as hecatombes paraproceder às reestruturações — basta recor-dar que a Sociedade das Nações nasceu daPrimeira Guerra e as Nações Unidas, da Se-gunda. É expressivo o anátema de Hegel:"A violência é a parteira da história".

O erro de esperar a destruição e a catástro-fe para querer a mudança não deve repetir-se. Devemos retomar a ideia de negociações

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globais sobre todos os temas cruciantes daagenda económica internacional e procedera uma tentativa de reforma mundial do sis-tema de produção, circulação e distribuiçãode riquezas. Este esforço de reforma é, semdúvida, mais premente na área económicado que na área político-estratégica, onde odesrespeito às normas da Carta das NaçõesUnidas tem sido mais nocivos do que falhasnos próprios preceitos nela inscritos.

Aos que defendem regras puras de merca-do, ou consideram que um exercício diplo-mático dessa natureza seria inócuo, porqueos Estados não mais controlam a economiamundial, dominada pelas chamadas corpo-rações multinacionais, lembraria apenas queessas mesmas corporações recorrem sem pe-jo a seus estados-sede quando se trata depara elas obter concessões, facilidades eproteção.

0 PAPEL DO DIPLOMATA BRASILEIRO

Tendo falado de democracia e diplomacia,política externa e Poder Legislativo, de al-guns temas da agenda diplomática brasileirapara o f im deste século e começo do próxi-mo, penso que deveria finalizar refletindosobre o papel que vocês, alunos do RioBranco, irão desempenhar. O diplomata sesitua na intercessão de dois universos: o na-cional e o internacional. No caso brasileiro,o nacional é realmente um mundo próprio,complexo, riquíssimo, desafiante, que háque conhecer e entender, para melhor optare então projetar seus valores e interesses, nosegundo momento, no meio-ambiente inter-nacional. Mas o universo internacional tam-bém é riquíssimo, de difícil compreensão,em permanente mutação. Ao diplomata, in-cumbe a tarefa diuturna de estar atento aomundo, à interpretação de seus mais suavesmatizes, mormente em país tão comprome-tido — e legitimamente — consigo mesmo,com sua própria construção económica, so-cial e política. O Brasil é ainda um projetotão fascinante, tão vivo, que tem impedidoque nossas elites políticas e intelectuais sedediquem mais intensamente — salvo hon-

rosas exceções - ao estudo da vida interna-cional.

Neste papel de ponto de contato entre doismundos, diria que o diplomata brasileironão deve sobretudo esquecer — e esta Casajá tem tradição nesta consciência — que re-presenta, defende e promove os interessesde um país do Terceiro Mundo. Nossa vin-culação ao Sistema Internacional, não éanódina, neutra, mero intercâmbio de bens,serviços, ideias, e influências. Moldá-la emum sentido que favoreça nosso crescimen-to económico, nosso desenvolvimento, éobrigação maior do diplomata. Um paíscom a escala do Brasil, com sua população— como massa quantitativa e como vontadecoletiva — com seus recursos naturais, épresa demasiado tentadora para forças na-cionais e transnacionais que circulam eatuam no âmbito planetário. Ao mesmotempo, com todos esses trunfos, nosso Paístem todo o direito a uma maior participa-ção no comércio mundial, na repartição dosconhecimentos científicos e tecnológicos,na captaçãQ dos capitais de que necessita,nos setores para isso por nós soberanamen-te designados.

Ser um diplomata do Terceiro Mundo signi-fica ter que forjar artesanalmente, a cadadia, seus próprios instrumentos de análise ecompreensão das relações internacionais,tarefa a que o Instituto Rio-Branco e seusprofessores se têm dedicado com afinco. Osconceitos vigentes na análise poJítica doSistema Internacional — poder, balança depoder, zona de influência — foram criadospor e para as potências e superpotências, deoutrora e de hoje. Da mesma forma, as re-ceitas de desenvolvimento e felicidade quealguns nos querem dar apenas repetem fór-mulas que enriquecem a alguns e empobre-cem a muitos, países e indivíduos.

Recusar, portanto, conceitos de organiza-ção da vida internacional baseados apenasno poder, bem como propostas de estrutu-ração da ordem económica baseadas numasuposta igualdade entre parceiros que só

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podem levar à exploração, à espoliação, édever do diplomata brasileiro. Aqui, caberiaapontar o paradoxo aparente a que somoslevados, face aos paradoxos de outros ato-res da vida internacional. As superpotên-cias, e mesmo algumas potências, queremque aceitemos a desigualdade de poder, porrealismo político, e nos esqueçamos dequalquer resquício de idealismo jurídico,dando-lhes pleno aval por seu papel gestorda ordem mundial. Ao mesmo tempo, que-rem escamotear a berrante desigualdade eco-nómica, pregando que abramos nossos mer-cados a uma competição baseada na igual-dade, como se todos iguais fôssemos.

Ao contrário, o Brasil, país que deve estarna vanguarda do Terceiro Mundo, quer quea igualdade jurídica, paulatinamente, se im-ponha às desigualdades evidentes de poder,na estruturação da vida internacional, e de-seja, na ordem económica, que as desigual-dades económicas sejam realisticamenteconsideradas, para que possam ser combati-

das, e se evolua para um futuro de progres-siva e tendencial igualdade.

O diplomata brasileiro, neste final de sécu-lo XX, antevéspera do terceiro milénio, te-rá que ser universal em seus conhecimentose nacional em sua visão e em sua prática;utópico em seus projetos e realista na ava-liação dos meios como implementá-los.

Creio que posso, ao prestar homenagem aesta patriótica e corajosa profissão, repetiro que disse do homem público em meu dis-curso na Assembleia Nacional Constituinte;o diplomata também é "cidadão de tempointeiro, de quem as circunstâncias exigem osacrifício da liberdade pessoal, mas a quemo destino oferece a mais confortadora dasrecompensas: a de servir à Nação em suagrandeza e projeção na eternidade". Cida-dão de tempo inteiro, o diplomata é aindacidadão brasileiro no mundo inteiro, levan-do a saudade de nossas coisas na retina quedefronta a novidade de outras culturas.

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terceira reunião dechanceleres dos países

membros da aladiDiscurso do Chanceler Abreu Sodré, em Montevidéu, em 11 demarço de 1987, por ocasião da terceira reunião do Conselho deMinistros das Relações Exteriores dos pafses membros daAssociação Latino-Americana de Integração (ALADI) .

Senhor Presidente da República Oriental doUruguai,

Senhores Ministros de Estado,

Senhor Secretário Geral da ALADI ,

Senhores Representantes Permanentes,

Minhas Senhoras e meus Senhores,

Com realismo, determinação e confiança nofuturo, a América Latina necessita hoje,mais do que nunca, vencer dois grandes de-safios que a tem acompanhado em sua his-tória recente: o desafio dó crescimento e odesafio da integração.

Estamos convencidos de que a resposta aesses desafios será um fator determinantepara a estabilidade política no Continente.

É o crescimento que nos permitirá assegu-rar uma vida digna e próspera para os nos-sos povos, e que, ao mesmo tempo, poderáensejar maiores níveis de intercâmbio ecooperação entre os nossos países, estabele-cendo as bases da nossa integração. Mas aintegração não é apenas uma consequência

do crescimento. Pode também com ele con-fundir-se, dando-lhe horizontes mais am-plos. Pois se intensificamos a cooperaçãoeconómica e os laços de comércio, estare-mos empreendendo um esforço conjunto esolidário de ampliação de mercados e, as-sim, colaborando com o desenvolvimento eo bem-estar de cada um de nossos países.Este foi o caminho seguido por povos deoutras regiões .do mundo, cujos êxitos nãopodemos ignorar.

Hoje, mais do que nunca, devemos reconhe-cer a necessidade da cooperação e praticá-la. De uma cooperação que, aceitando a di-versidade de cada um de nossos povos, sai-ba admitir que, em essência nossos interes-ses estão indissoluvelmente ligados. Ligadospela história, pela geografia, pela cultura.

Da manutenção de padrões aceitáveis dedesenvolvimento e bem-estar depende aprópria estabilidade das nossas instituiçõespolíticas. Somos conscientes do potencialde crise que encerra a persistência das con-dições de atraso e dificuldades económicasde toda ordem na região. É o que ocorre,por exemplo, na América Central, afetadapor um conflito que tem raízes na grave si-

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tuação económica e social ali imperante,conforme a percepção que, aliás, funda-menta a postura dos Grupos de Contadorae Apoio em relação ao problema.

Senhor Presidente,

Tive a oportunidade de afirmar recente-mente, em reunião da CEPAL, que a Amé-rica Latina não pode abdicar do seu direitode crescer. Disse também que esse cresci-mento nâfo pode traduzir-se simplesmenteno aumento quantitativo do produto, masprincipalmente na melhoria das condiçõesde vida do povo. Trata-se, pois, de cresci-mento com justiça social.

Não há outro caminho possível para os paí-ses latino-americanos, que já acumularamlarga experiência de sacrifícios e frustraçõesna tentativa de viabilizar o seu desenvolvi-mento.

É melancólico comprovar que a AméricaLatina tenha-se transformado nos últimosanos em exportadora I íquida de capitais. Osfluxos financeiros se converteram em via desentido único drenando para fora da regiãoos recursos necessários ao seu crescimento.Por sua vez, o protecionismo comercialadotado pelas nações industrializadas porvezes, em benefício tão-somente de indús-trias obsoletas — neutraliza parte dos nos-sos esforços em busca do desenvolvimento.A América Latina sofre também severas li-mitações para o acesso a tecnologias deponta. Com efeito, esboça-se hoje uma no-va divisão internacional do trabalho, basea-da no controle dos segmentos da indústriade alta tecnologia pelos países desenvolvi-dos. Não podemos aceitar qtie essa nova or-dem se materialize, pois ela alargaria aindamais o fosso que nos separa dos centrosavançados do planeta.

De outra feita, sabemos todos que o cami-nho do crescimento passa obrigatoriamentepor uma solução justa e equânime para oproblema do nosso endividamento externo.Conhecemos a origem e a evolução desse

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problema. Os sucessivos aumentos nos pre-ços internacionais do petróleo, entre 1973e 1979, levaram a um extraordinário exces-so de liquidez no sistema financeiro mun-dial. É preciso lembrar que, naqueles anos,existia o desejo natural dos países do Ter-ceiro Mundo de obter empréstimos adicio-nais para acelerar o desenvolvimento. Haviaigualmente o interesse dos bancos em apli-car seus depósitos que jaziam em seus co-fres, e que era necessário remunerar.

Assim, esses recursos foram emprestadosmuito além do que a prudência das práticasbancárias tradicionais permitia, e tomadosmuito além do que a sabedoria política po-deria aceitar sem comprometer o futurodos povos.

Existe, pois, como o Governo brasileirosempre sustentou, uma evidente co-respon-sabilidade na questão do vultoso endivida-mento externo da América Latina. O Brasilnão nega absolutamente os seus compro-missos financeiros livremente contraídos,mas não pode deixar de reclamar a compre-ensão dos credores, aos quais cabe parcelaimportante de responsabilidade no encami-nhamento do problema da dívida. A asfixiados devedores levará os países em desenvol-vimento a uma insolvência prejudicial tam-bém aos credores.

Convencido de que a primeira obrigação doGoverno é com o bem-estar do seu povo, ede que as recomendações tradicionais dapolítica económica têm conduzido à reces-são sem resolver a questão económica ex-terna, o Brasil empreendeu paciente esforçode convencimento dos credores sobre a ne-cessidade de renegociar os termos da sua d í-vida externa, diante de um quadro total-mente diverso do que vivíamos anos atrásnas finanças internacionais.

Não tendo este esforço logrado êxito, e ha-vendo continuado a situação de desfinan-ciamento que ameaça o nível de suas reser-vas internacionais, o.Governo brasileiro de-cidiu suspender temporariamente o paga-

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mento do serviço de sua d ívida com os cre-dores privados e propor de forma serena emadura sua renegociação.

Não podemos comprometer as necessidades,de crescimento da economia brasileira, nema nossa soberania.

O Brasil, como tem dito o Presidente JoséSarney, nâfo pagará sua dívida externa como sacrifício do seu povo. Não podemosaceitar que os nossos compromissos finan-ceiros externos e o nosso crescimento eco-nómico sejam mutuamente excludentes.

Mas se o nosso crescimento depende deuma solução satisfatória para o problemada dívida, sabemos também que ele está in-dissociavelmente ligado à nossa capacidadede trabalharmos juntos, de fortalecermos anossa cooperação, enfim de construirmos aintegração regional. Acreditamos que essaintegração depende de uma atitude realistae madura de nossa parte, que enseje umaprosperidade comum, fruto de relaçõesequilibradas e calcadas nas próprias peculia-ridades da região.

O Brasil reconhece que existem desequilí-brios no intercâmbio entre os países daALADI, mas está firmemente disposto a re-duzi-los drasticamente através da expansãode suas importações provenientes da região.

Senhor Presidente,

O Brasil, diante da atual contração do co-mércio intra-regional, adota atitude realistae flexível que, sem os sonhos dos esquemasque pretendem criar da noite para o dia omercado comum, procura encontrar pontosde avanço concreto nas relações económi-cas com seus parceiros da região, afetados,como nós, por sérias dificuldades financei-ras.

Com a Bolívia, o Equador e o Paraguai, am-pliamos de forma extraordinária as Listasde Abertura de Mercado. Seus produtos,entre os quais se incluem agora aqueles de

produção potencial, terão acesso ao merca-do brasileiro sem encontrar nenhum obsta--culo tarifário ou não-tarifário.

Com a República Oriental do Uruguai,inauguramos um novo relacionamento eco-nómico através de uma negociação profun-da e generosa, de parte a parte.

Com a República Argentina, estabelecemosum programa de integração que tem a am-bição de revitalizar a ALADI ao desenca-dear um processo de amplas negociações naregião.

Com a Colômbia, a Venezuela e o México,ainda este mês pretendemos finalizar nego-ciações que não só coloquem o intercâmbiocomercial em um novo patamar, mas quepermitam novas formas de cooperação eco-nómica.

Processo semelhante desejamos pôr emmarcha em breve com a Nação irmã perua-na.

Com o Chile, renegociamos recentemente oprincipal instrumento de comércio que é oAcordo de Alcance Parcial nQ 3.

O Brasil desenvolve essas iniciativas a partirda sua convicção de que a ALADI é o jns-trumento estratégico para realizar o objeti-vo político e económico da integração lati-no-americana.

É necessário fortalecê-la, com persistênciae paciência, sem ceder nem de um lado àilusão dos esquemas grandiosos, nem deoutro à desilusão das negociações árduasque a realidade impõe.

A Rodada Regional de Negociações adqui-re significado histórico no momento que vi-vemos. Reativar o comércio regional, dina-mizar o sistema de pagamentos, reduzir osdesequilíbrios radicais de intercâmbio, es-treitar os hiatos de desenvolvimento na re-gião, são objetivos do mais alto significadopolítico. O Conselho de Ministros tem o de-

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ver inarredável de contribuir para alcançar propostas — que acredita realistas e viáveis,tais objetivos. sua melhor contribuição: o espírito de fra-

ternidade e cooperação que nos une a todosO Brasil traz para esta reunião, além de suas e a cada um dos povos da América Latina.

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brasília recebe o presidenteda organização do povo do

sudoeste africanoDiscurso do Ministro de Estado das Relações Exteriores.Roberto de Abreu Sodré, no Palácio do Itamaraty, em Brasília,em 13 de março de 1987, por ocasião de almoço oferecido aoPresidente da Organização do Povo do Sudoeste Africano(SWAPO), Sam Nu jorna.

Senhor Presidente,

É com grande satisfação que recebemosVossa Excelência e sua comitiva no Brasil.

Para mim, pessoalmente, esta visita temsignificado muito especial, já que ela meconcede o privilégio de rever a um dos maisvalorosos líderes africanos, com quem pudemanter prolongada e frutífera conversaçãodurante minha viagem à África, poucos me-ses atrás. Guardo ainda bastante viva a lem-brança daquele nosso diálogo, no qual com-provei não só a firmeza e a perseverançacom que Vossa Excelência defende os direi-tos de seu povo, como também a importân-cia que atribui a uma estreita aproximaçãoentre o Brasil e a Namíbia.

Todos os brasileiros acompanhamos comatenção e solidariedade a luta de Vossa Ex-celência e da Organização que preside pelaindependência de sua Pátria. Temos cons-ciência de ser esta uma causa que, além dejusta e legítima, é inadiável, uma causa quesegue o curso natural da descolonização naÁfrica.

As posições brasileiras relativas à situaçãoda Namíbia e ao papel da SWAPO são bemconhecidas de Vossa Excelência.

Em todos os foros internacionais compe-tentes, em frequentes contatos diplomáti-cos com Governos africanos e de outroscontinentes, sempre manifestamos nossoapoio integral à autodeterminação do povoda Namíbia e ao cumprimento das resolu-ções pertinentes das Nações Unidas. Sem-pre deixamos claro, igualmente, que reco-nhecemos a SWAPO como único e legísti-mo representante do povo da Namíbia e,nos mais enérgicos termos, condenamos asmanobras protelatórias da África do Sul aonegar-se a conceder prontamente a inde-pendência.

Não há razões aceitáveis que impeçam oGoverno sul-africano de aplicar a Resolução435 do Conselho de Segurança das NaçõesUnidas para a solução do problema.

Em termos práticos, o Governo brasileiro,de acordo com as decisões emanadas daONU, não permite que empresas nacionais

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tenham qualquer negócio ou intercâmbiocom a Namíbia ilegalmente ocupada, nemtoma qualquer iniciativa que possa even-tualmente ser interpretada como forma delegitimar a presença da África do Sul na-quele território.

Senhor Presidente,

Sabemos que, ao lado da ocupação ilegal daNamíbia, há um fator que compromete apaz e a segurança na África Austral e que,a rigor, constitui a própria origem das ten-sões lá existentes: a persistência do odiosoregime do "apartheid".

O Brasil repudia esse regime por sua própriaessência e, conseqúentemente, apoia as re-soluções internacionais que o condenam.Ao institucionalizar a segregação racial, osistema aparteísta fere princípios éticos quenos são extremamente caros e denega osmais elementares direitos, inclusive o da ci-dadania, à grande maioria da população sul-africana.

Desejo, assim, reiterar enfaticamente a soli-dariedade do Brasil com os povos da Áfricaque sofrem, como nossos irmãos namibia-nos, as injustiças e violências do "apar-theid".

O Brasil não pode silenciar diante das agres-sões sistemáticas da África do Sul contra aindependência, a soberania e a integridadeterritorial das nações limítrofes, com asquais mantemos laços especiais de amizadee entendimento.

Dentro de suas possibilidades, o Brasil é umpaís que zela pela manutenção e fortaleci-mento de um clima de tranquilidade no ce-nário internacional, indispensável para o de-senvolvimento e progresso harmonioso dospovos. Foi justamente nesse espírito queapresentamos na ONU, com vários paísesda América Latina e da África, a propostaque resultou na expressiva aprovação daResolução da Assembleia Geral das NaçõesUnidas sobre a Zona de Paz e Cooperação

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do Atlântico Sul. As nações em desenvolvi-mento que pertencem a ambas as margensdesse oceano devem conjugar seus esforços,conforme os termos daquela decisão, nosentido de manter a região afastada de ten-sões e conflitos, de forma a dedicarem-sepacificamente à tarefa do desenvolvimentoeconómico e social.

A existência de interesses comuns, políti-cos e económicos, entre o Brasil e os paísesem desenvolvimento da África, além das he-ranças culturais compartilhadas e da proxi-midade geográfica, leva-nos a conferir, emnossa política externa, alta prioridade às re-lações com o continente vizinho e a repu-diar todas as ações que atingem a soberaniae a dignidade dos povos africanos.

Solidário com a luta desses povos pela com-pleta descolonização, pela independênciareal e pela sua afirmação plena, o Brasil sepropõe firmemente a dar seguimento aosesforços que visem à eliminação de todas asformas de discriminação racial, sobretudo,a prática institucionalizada do "apartheid",à imediata independência da Namíbia e àcessação dos atos agressivos e desestabiliza-dores que têm vitimado países da Áfricaameridional, entre os quais Angola e Moçam-bique — países-irmãos com os quais com-partilhamos o mesmo idioma.

Senhor Presidente,

O Brasil tem procurado cooperar com aSWAPO, organização com responsabilidadede conduzir a Nação namibiana indepen-dente ao destino de grandeza que a Histórialhe reserva.

Embora se encontre ainda em seus estágiospreliminares, essa cooperação tem-se revela-do útil e promissora. Assim, por exemplo,em seminário realizado em 1984, buscamosfamiliarizar dirigentes da SWAPO com otratamento dispensado pelo Brasil às em-presas multinacionais e firmas estatais naexploração mineral e na pesca. Em 1985,

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propiciamos um curso intensivo de portu-guês na UNICAMP para 25 estudantes na-mibianos. Estamos, hoje, examinando ou-tros projetos de cooperação.

Sabemos que esses projetos de cooperação,assim como nossas contribuições às princi-pais instituições das Nações Unidas para aNamíbia, são pequenos diante do vulto dosrecursos de que o país de Vossa Excelênciacarece nesta fase para acelerar seu processo

de independência. Pretendemos, contudo,demonstrar concretamente com essa coope-ração a vontade do povo brasileiro, quetambém vive difícil conjuntura económica,de apoiar e ajudar a causa do povo da Na-míbia.

Ergo a minha taça num brinde à felicidadepessoal de Vossa Excelência e a um futuroplenamente livre e independente para seupaís.

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chanceler brasileiro em cubaDiscurso do Ministro de Estado das Relações Exteriores,Roberto de Abreu Sodré, em Havana, em 16 de março de1987, por ocasião de jantar que lhe foi oferecido pelo Ministrodas Relações Exteriores de Cuba, Isidoro Malmierca.

Excelentíssimo Senhor

Ministro Isidoro Malmierca,

Esta visita representa o início de novasoportunidades de diálogo e cooperação en-tre o Brasil e Cuba.

Decorre do desejo de ambos os países defortalecerem seu conhecimento recíproco edarem impulso às suas relações segundo asregras da boa convivência internacional.

É com satisfação que aqui me encontro, aconvite de Vossa Excelência, para expressara disposição de meu Governo de desenvol-ver esses vínculos em ambiente de respeitomútuo, franqueza e cordialidade.

Move-nos a esperança de que, a partir danossa reaproximação, logremos viabilizarum relacionamento leal, dinâmico e mutua-mente proveitoso.

Agradeço sensibilizado, Senhor Ministro, asamáveis palavras com que Vossa Excelêncianos recebe. Sentimos nesta acolhida a hos-pitalidade do povo cubano e o tratamentoatencioso que nos tem sido dispensado aquipor seu Governo.

O convite de Vossa Excelência me propiciaa grata oportunidade de conhecer Cuba. Aochegar a esta ilha privilegiada pela natureza,

ocorrem-me as célebres palavras atribuídasao Descobridor, impressionado em seu pri-meiro contato com o que ele, àquela altura,qualificou de "a terra mais bela já vista pelohomem".

Minha visita a este país me permite com-provar pessoalmente o que sabia através deestudos e leituras: a existência de afinidadesculturais entre o Brasil e Cuba. Sobressai,nesse contexto, a composição étnica seme-lhante de nossos povos. Somos titulares deuma herança cultural enriquecida pela con-tribuição africana, originária das mesmas re-giões do Continente vizinho.

Marcas dessa herança podem ser encontra-das também em outros aspectos da vida co-tidiana em nossos países. Os hábitos ali-mentares, pratos típicos e condimentos decertas regiões do Brasil e de Cuba — in-fluenciados pela raiz africana — são pratica-.mente os mesmos. Brasileiros e cubanos,imbuídos de forte musicalidade, comparti-lham o gosto pelos ritmos compassados,coerentes com seu comportamento alegre eexpansivo. Nas formas de sincretismo reli-gioso existentes em nossos países, observa-se que o processo de assimilação pela cultu-ra ibérica dos ritos e cultos trazidos pelosafricanos operou-se de modo idêntico. Exis-tem também influências linguísticas de baseafricana comuns ao Brasil e a Cuba — em-

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bora nesse caso o fenómeno ocorra em me-nor escala.

No passado colonial, o tabaco, o café e, so-bretudo, o açúcar marcaram a história dodesenvolvimento económico de nossos paí-ses. O açúcar, inclusive, viria a influir decisi-vamente na estrutura produtiva e na formade inserção de ambos os países na econo-mia internacional. Durante longo tempo, oBrasil foi — assim como Cuba — uma naçãoessencialmente agro-exportadora.

Essas coincidências históricas e culturaissão raízes antigas de nosso relacionamento.Não foi por outra razão que, em 1906, oBrasil estabeleceu em Havana sua primeiraLegação, com representante residente, emtoda região centro-americana e caribenha.Ademais, o Brasil e Cuba sempre se aproxi-maram na defesa de seus interesses comunsde países produtores dos mesmos bens agrí-colas de exportação.

Senhor Ministro,

O reatamento de relações diplomáticas en-tre nossos países, atendendo a vontade po-lítica de ambas as partes, nos permitirámanter um diálogo necessário e explorar ossetores em que a cooperação possa desen-volver-se de forma segura, realista e eficaz.

Um desses setores é, sem dúvida, o setoraçucareiro, no qual, como maiores produto-res mundiais, já vimos atuando de comumacordo. Nossas posições em relação à frenteconstituída pelos países consumidores ense-jam uma coordenação que se tem demons-trado eficaz e benéfica. É tradicional, noseio da GEPLACEA, que coordena os esfor-ços dos países exportadores do Continente,a convergência de interesses entre represen-tantes brasileiros e cubanos. Ainda nesse se-tor, o Brasil está disposto a compartilharcom Cuba suas experiências em matéria dedesenvolvimento de tecnologias que apro-veitem o potencial energético de uma fonterenovável como a cana-de-açúcar.

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O intercâmbio comercial é um campo emque poderemos trabalhar construtivamentecom vistas à identificação e exploração deoportunidades que ampliem nossas trocas.O interesse e a disposição com que nos de-dicaremos a essa tarefa fortalecem nossaconfiança nos resultados a serem colhidos.

Nos setores científico, técnico e tecnológi-co, esperamos realizar uma troca de expe-riências que seja inovadora e fecunda, Epossível, à primeira vista, identificar áreasde interesse comum na biotecnologia, napesquisa agrícola e na pesquisa médica.

Senhor Ministro,

Nações com identidades próprias, o Brasil eCuba desenvolveram, ao longo das últimasdécadas, relacionamentos externos bastanteabrangentes. Temos ampla presença diplo-mática em várias regiões do mundo e parti-cipamos ativamente no debate dos grandestemas internacionais. Esse traço comum po-de ser o ponto de partida para exercitarmosuma prática de esclarecimentos a nível bila-teral sobre nossas próprias percepções eavaliações da realidade internacional, apri-morando o nosso diálogo em bases igualitá-rias, sem prejuízo das posições de cada par-te. Em alguma medida, nossos pontos devista coincidem em foros como o GrupoLatino-Americano na ONU, o Grupo dos77, a FAO e o SELA.

A situação económica internacional é, poroutro lado, um tema que preocupa sensi-velmente os nossos Governos. Assim comoos demais países em desenvolvimento, oBrasil tem sido gravemente penalizado pe-los efeitos perversos da conjuntura econó-mica mundial. A atual crise que se prolongaindefinidamente no plano internacionalsangra os nossos parcos recursos em benefí-cio das nações industrializadas. É melancó-lico comprovar que, por conta do pagamen-to dos serviços da dívida externa e da dete-rioração dos termos do intercâmbio, aAmérica Latina se tenha transformado emexportadora líquida de capitais. Esvaem-se,

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assim, para fora da região, os recursos indis-pensáveis aos investimentos que devem as-segurar o crescimento económico e o bem-estar de nossos povos.

Por essa razão é que o Brasil se mantém ina-balável em seu propósito de reivindicar umasolução política para o problema da dívidaexterna. O Brasil necessita crescer e moder-nizar-se e não pode, absolutamente, deixarde atender às necessidades fundamentais desua população. Não aceitamos, pois, fórmu-las que impliquem sacrifício do nosso cres-cimento.

Também vemos com apreensão a continua-ção de práticas protecionistas que restrin-gem o acesso de nossos produtos de expor-tação aos mercados dos países desenvolvi-dos. Ao mesmo tempo, a deterioração dostermos do intercâmbio tem afetado seria-mente a América Latina, dependente desuas receitas de exportação de produtos debase. É neste quadro de dificuldades que aregião vem tendo reduzida sua participaçãono comércio internacional.

Por todos esses motivos é que persistimosnos esforços voltados para o estabelecimen-

to de uma nova ordem económica interna-cional, fundada na justiça e na equidade.

Minha presença em Cuba simboliza o reen-contro de dois povos que inauguram umtempo novo em suas relações — tempo desomar, tempo de construir. Não há porqueesconder ou ignorar as diferenças entre nós,mas tais diferenças não precisam ser, de persi, obstáculo a relações,frutíferas.

Compete a ambos os Governos fortalecerconstrutivamente as bases do nosso relacio-namento, através do diálogo e da coopera-ção, e imprimir-lhe rumo firme e estável.Tenho certeza de que, inspirados pelos tra-dicionais princi'pios que regem a condutados Estados no plano internacional, e res-peitando mutuamente suas próprias singula-ridades, o Brasil e Cuba saberão desenvolvervínculos de boa convivência e entendimen-to recíproco.

É nesse espírito que ergo minha taça — pe-dindo a todos os presentes que também ofaçam — em um brinde pelo adensamentodas relações entre os nossos países, pelaprosperidade do povo cubano e pela felici-dade pessoal de Vossa Excelência. *

* Na seçSo Tratados, Acordos, Convénios, página 89, os textos dos Acordos entre o Brasil e Cuba, assinados por ocasiãoda visita do Ministro de Estado das Relações Exteriores, Roberto de Abreu Sodré, àquele Pai's.

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em brasília, o ministro docomércio do iraque,

hassam aliDiscursos do Ministro de Estado das Relações Exteriores,Roberto de Abreu Sodré, e do Ministro do Comércio doIraque, Hassam Al i , no Palácio do Itamaraty, em Brasília, em26 de março de 1987, por ocasião da abertura da sexta reuniãoda Comissão Mista Brasil-lraque.

DISCURSO DO CHANCELER BRASILEIRO

Senhor Ministro,

É com grata satisfação que recebo VossaExcelência e sua comitiva, no Palácio Ita-maraty, para a abertura dos trabalhos dáSexta Reunião da Comissão Mista Brasil-lraque.

A realização deste encontro nos oferece aoportunidade de reafirmar o ânimo leal econstrutivo que inspira nossas relações,bem como a disposição de ambos os paísesde trabalharem juntos e somarem suas po-tencialidades.

A parceria brasileiro-iraquiana, pelo seu im-pulso e dinamismo crescentes, representahoje um modelo de cooperação entre paísesem desenvolvimento.

O Brasil não apenas acredita na importânciae viabilidade dessa forma de cooperação,como também considera que ela desempe-nha papel renovador no panorama interna-cional.

Nesse sentido, durante as visitas que realiza-rão à hidrelétrica de Itaipu e à Zona Francade Manaus, Vossa Excelência e sua comitivapoderão apreciar concretamente o quantopode produzir a cooperação Sul-Sul e, aomesmo tempo, comprovar as amplas possi-bilidades de investimentos existentes noBrasil.

O contínuo aperfeiçoamento da coopera-ção solidária com as nações em desenvolvi-mento articula-se com a nossa opção pelamanutenção do crescimento económico.Com o ónus de volumosa dívida externa,que compromete as perspectivas de progres-so e bem-estar de seu povo, o Brasil nãoaceita outra opção senão a do crescimento,única maneira, inclusive, que lhe permitehonrar seus compromissos financeiros inter-nacionais.

O Brasil e o Iraque reconhecem que a maioraproximaçâfo de seus interesses é um cami-nho necessário para enfrentar as adversida-des da atual conjuntura económica.

O diálogo Norte-Sul acha-se estancado. Ocomércio internacional esbarra no protecio-

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nismo dos países industrializados. Em to-dos os continentes constatamos ameaças re-cessivas e quadros de desemprego. Os paísesem desenvolvimento, especialmente, sofremas consequências de gradual desvalorizaçãode.seus produtos de exportação e da dimi-nuição das iniciativas de cooperação inter-nacional.

Devem, pois, nações como o Brasil e o Ira-que promover cooperação ativa e inovadoraque lhes proporcione condições de supera-rem ta is obstáculos. Temos procurado, nes-se contexto, colocar em prática mecanis-mos bilaterais capazes de elevar o patamarde nossas relações e ampliar o nosso inter-câmbio comercial.

Senhor Ministro,

A agenda desta reunião da Comissão MistaBrasil-lraque contempla o exame de dife-rentes aspectos de nossas relações. Estou se-guro de que, com elevado espírito de diálo-go e colaboração entre ambas as Delega-ções, nossos trabalhos contribuirão efetiva-mente para o maior adensamento de nossosvínculos.

DISCURSO DO MINISTROIRAQUIANO DO COMÉRCIO

At the outset of my statement, I would liketo express in my name and on behalf of mycolleagues members"of the Iraqi Side ourprofound thanks and gratitude for thewarm reception and generous hospitalityextended to us since our arrival to yourbeautiful country on the occasion of theSixth Session of Iraqi — Brazilian JointCommittee.

This meeting which is convening for the se-cond time in the capital city of your f rien-dly country within less than one year time,confirms definitely the sincere and firmwish of Iraqi and its political leadershipunder the chairmanship of President Sad-

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dam Hussein, to develop the relations bet-ween our friendly countríes in ali aspects,especially in the f:elds of trade and econo-mic relations. Furthermore, this meeting ta-kes place at a time where our trade andeconomic relations are witnessing positivedevelopment since the meeting of the FifthSession held in Baghdad and the SpecialSession which was held in Brasília duringthe official visit of H.E. Mr. Ramadhanthe First Deputy Prime Minister in May/1986. I am quite confident that the convo-cation of the"Joint Committee's meetingsin *such a disciplined and orderiy mannerhad provided us with the opportunities toconsolidate further our bilateral relations,through the exchange of views, deepeningmutual understanding between the off icialsof the two countries and exploring newaspects which may contribute in the pro-motion of cooperation in these fields.

Excellency,

You may be aware of the current difficultfinancial situation facing Iraq, due to thecontinuance Iranian aggression on our terri-torial integrity and sovereignty inspite of alithe initiatives taken and good offices exten-ded by the international community andworld organisations to stop the war andsolve the dispute by peaceful means. Aswell the sincere wish of Iraq to stop thesaid war, and last but not least was theletter of H.E. President Saddam Hussienaddressed to the peoples of Iran which in-cluded the following f ive points as a condi-tion to stop the war;

1. Full and unconditional withdrawal ofali the troops to the Internationallyrecognized borders.

2. Full and Comprehensive exchange ofprisoners of war.

3. The conclusion of peace and non —aggression agreement.

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4. Non - interference in each other's inter-nai affairs and that each country shouldrespect the choices of the other.

5. That Iraq and Iran should be positivefactor in achieving stability and securi-ty of the région especially the gulfregion.

The said financial situation is affectingnegatively our total economic activitiesespecial ly in the sectors of foreigntrade and the implementation of develo-ping projects. It obliged us to reviewaccordingly our imports policies and itspriorities and, to select the projects tobe implemented in accordance with thecurrent financial situation.

Excellency,

By reviewing the volume of bilateral foreigntrade between ourtwo countries and thescope of projects implemented or thosewhich are under implementation by Brazi-lian enterprises, we can realize the increa-sing importance of BraziTs role as a com-mercial partner to Iraqi. As far as we areconcerned we are endeavouring to developthe volume of trade exchanges and to expandthe fields of economic and technical co-operation, thus, we would like to refer tothe importance of the financial supportwhich might be given by the government ofBrazil to the Brazilian companies involvedin the supply of commodities, services andin the implementation of projects in Iraq,by offering these enterprises credit facili-ties. To achieve this goal.

We are looking forward to see that thismeeting will be able to reach an agreeableterms in respect of the Financial Coopera-tion Protocol which had been discussed in apreliminary way during the Special sessionin May/1986.

Excellency,

Stemming fram the keenness to develop our

mutual trade and economic relations, weare endeavoring to eliminate ali obstaclesand problems facing the smooth march ofthese relations. Thus, a special committeehas been formed immediatly after theretum of H.E. the First Deputy primeMinister from Brazil, given the task of exa-mining those issues raised during the Spe-cial Session. Certain solutionsand amicablesettlement have already been reachedthrough extraordinary measures in respectto most of these problems reflecting thedeep understanding and cooperation exis-ting between our two countries. However,the rest of these issues are of proceduralnature. We are confident that they will besettled soon.

Finally, I would like to refer to the factthat the implementation of what we hadagreed upon during the last Session wassatisfactory in general and looking forwardto more cooperation in trade and economicfields. As for the technical cooperation, Iam convinced that your Excellency sharesthe view that it needs further commoneffort so that to be at the levei of ourambitions.

Excellency,

We agree with the items of the Agenda whi-ch already been agreed upon at the technicallevei, and in order to fácilitate the work ofthe committee, may I suggest the formula-tion of the following sub-committees:

1. Sub-committeeon Trade and EconomicCo-operation.

2. Sub-committee on Finance.

3. Sub-committee on Technical Coopera-tion.

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Now, permit me Mr. Minister to introduce to have here with usfor this meeting a highthe members of the Iraqi Side whom they levei Iraqi officials who are dealing directlyare well known to your Excellency and the with Brazilian organization.rest of your coileagues. We were very keeh

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abreu sodré ao diretor-geralda fao: no brasil, agriculturaocupa posição preeminente

Discurso do Ministro de Estado das Relações Exteriores,Roberto de Abreu Sodré, no Palácio do Itamaraty, em Brasília,em 31 de março de 1987, por ocasião de almoço oferecido aoDiretor-Geral da Organização das Nações Unidas para aAlimentação e a Agricultura (FAO), Edouard Saouma, emsolenidade que contou com a presença do Ministro daAgricultura, íris Rezende.

Excelentíssimo Senhor Diretor-GeralEdouard Saouma,

Excelentíssimo Senhor Ministro de Estadoda Agricultura, Doutor íris Rezende,

Senhor Secretário-Geral das Relações Exte-riores, Embaixador Paulo Tarso Flecha deLima,

Senhores Embaixadores,

Minhas Senhoras e meus Senhores,

É com elevada honra que saúdo a presença,nesta Casa, do Diretor-Geral da Organiza-ção das Nações Unidas para a Alimentaçãoe a Agricultura.

Sou, como os presentes sabem, um homemcuja vida sempre foi intimamente vinculadaà do campo. Alegra-me pois particularmen-te receber Vossa Excelência, por ocasião desua segunda visita a nosso país, conjunta-mente com meu caro colega íris Rezende,Ministro da Agricultura.

Reencontra, hoje, Vossa Excelência, umBrasil plenamente democrático que ora seempenha, com vontade renovada, na pro-moção de seu desenvolvimento económicoe social. Reencontra uma nação que refor-mula livremente seu destino político, umGoverno que determina, soberanamente,suas prioridades de ação.

Avulta, inconteste, nesse quadro de espe-ranças, o imperativo do bem-estar do povobrasileiro, a ser libertado definitivamenteda fome, da subnutrição, da penúria.

0 Brasil é um país que convive com o para-doxo de ser um grande produtor de alimen-tos que ainda enfrenta gravíssimas situaçõesde carência alimentar. Anuncia-se, para esteano, uma safra agrícola recorde de 63 mi-lhões de toneladas de grãos. Persistem, en-tretanto, os desafios do necessário aumentodo nível de nutrição de nossa população, damanutenção do crescimento da produçãoem uma conjuntura económica e financeiradesfavorável, da urgente melhoria da dis-tribuição e estocagem de alimentos e deprodutos agrícolas, assim como da indis-

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pensável elevação das condições de vida nomeio rural.

Persiste, igualmente, o desafio representadopelos efeitos perversos causados, em nossaeconomia agrária, pelo protecionismo, peladeterioração das cotações internacionaisdos produtos que exportamos, e, até, pelosreflexos causados pelo nosso endividamen-to externo.

Vossa Excelência esteve ontem com o Presi-dente José Sarney. Não me será necessário,pois, realçar quão determinados são os pro-pósitos que animam o Governo de meu paísnesse contexto e a firmeza das opções quesegue para enfrentar estes desafios.

Senhor Diretor-Geral,

Esta segunda visita de Vossa Excelência anosso país contribui para reforçar os víncu-los de cooperação entre o Brasil e a FAO,organização modelar e vital do sistema dasNações Unidas.

Sabemos das dificuldades financeiras porque passa sua Organização, e só podemoslouvar a hábil gestão de Vossa Excelêncianessas circunstâncias. Como tive a ocasiãode aqui ressaltar, há um ano atrás, peranteo Secretário-Geral das Nações Unidas, preo-cupam profundamente ao Brasil os refle-xos, no sistema das Nações Unidas, das ten-dências atuais à fragmentação da ordem in-ternacional. Não devemos deixar que se es-vaia o ethos que motivou a criação das Na-ções Unidas; não podemos permitir queperdure indefinidamente, repito, a chamada"crise do multilateralismo". O fortaleci-mento das Nações Unidas e de suas agênciasespecializadas é uma prioridade da políticaexterna da Nova República brasileira, ex-pressamente ressaltada pelo Presidente JoséSarney.

No caso da FAO, o fortalecimento dessa or-ganização adquire, na presente conjunturainternacional, particular relevância, à luz doproblema maior da fome no mundo.

Vivemos num universo de acentuados con-trastes. Mas nenhum deles é tão humilhan-"te e absurdo quanto o que existe entre odispêndio insano de recursos na corrida ar-mamentista, das grandes potências e a ima-gem de dor e angústia que a fome irradiapor todo o planeta.

A solidariedade internacional nem semprese mostra eficaz diante desse flagelo. E ospaíses mais abastados, muitas vezes, pare-cem ignorar que um mundo onde a riquezae a abundância convivem com a pobreza e amiséria extrema está condenado à intran-quilidade.

Repito aqui o apelo eloquente do Presiden-te Sarney nas Nações Unidas: "O séculoque virá será o século da socialização dosalimentos... A ciência e a técnica estão aí,através da engenharia genética, anunciandouma nova era de abundância. A humanida-de, que foi capaz de romper as barreiras daterra e partir para as estrelas longínquas,não pode ser incapaz de extirpar a fome. Oque se necessita é de uma vontade mundial,é de uma decisão sem vetos. É urgente umplano de paz pela extinção da fome".

Senhor Diretor-Geral,

É essencial, nesse contexto, a cooperaçãointernacional instaurada pela FAO, coope-ração que, no caso do Brasil, vem-se aper-feiçoando ao longo do tempo. Com grandeatenção e interesse, acompanhamos os es-forços da Organização que Vossa Excelên-cia dirige em prol do ai ívio das situações depenúria alimentar e de insuficiência agríco-la nas regiões menos afortunadas do plane-ta. Procuramos, dentro das possibilidades anosso alcance, contribuir para o êxito dosesquemas de cooperação que estejam aber-tos à participação brasileira e, em particu-lar, a Sul-Sul.

Nem poderia ser de outra forma, SenhorDiretor-Geral, para um país cujo Governotem como prioridade principal a solução deseus problemas sociais, no plano interno, e

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o aperfeiçoamento das modalidades de dfá-logo e cooperação internacional, em todasas dimensões, no plano externo. No elencodos objetivos de desenvolvimento da NovaRepública, a agricultura ocupa posição depreeminência, como se nota pelo trabalhodinâmico e perseverante que o Ministro írisRezende vem desenvolvendo à frente de suapasta.

O Governo brasileiro considera indispensá-vel o estabelecimento de novos padrões dedesenvolvimento agrícola que possibilitemaumentos de produção e produtividade e oaperfeiçoamento da oferta agrícola interna.Esses objetivos são função da necessidadede uma melhora da qualidade de vida daspopulações rurais, o que só será factívelmediante distribuição justa e racional deterras e correção das distorções sócio-eco-nômicas que afligem o camponês brasileiro.Soluções, enfim, inspiradas no objetivo deium desenvolvimento rural harmonioso efrutífero.

No prosseguimento das linhas de ação quese propõe o Governo brasileiro, a assistên-cia e a cooperação da FAO são de impor-tância primordial. Assim o comprovam osinstrumentos assinados na oportunidade davisita de Vossa Excelência, Senhor Diretor-Geral, e cuja aplicação deverá beneficiar aRegião do Alto e Médio São Francisco,bem como outras áreas prioritárias para apolítica agrícola brasileira.

Dentre os aspectos que traduzem atualmen-te a importância do nosso relacionamentocom a FAO podemos destacar a ênfase da-da à mobilização de recursos para a promo-ção de nosso desenvolvimento agrícola; aosprogramas de alimentação e nutrição para afaixa populacional menos aquinhoada, on-de a ação da FAO coincide plenamente

com as preocupações do Governo brasilei-ro; e, igualmente, atendendo a um dos pro-blemas cruciais de nosso país, aos progra-mas ligados à irrigação, que socorrem prin-cipalmente o Nordeste, área que detémmáxima prioridade na política de nosso Go-verno.

O Brasil se beneficia não apenas das iniciati-vas da Organização que o contemplam dire-tamente mas, também, da universalidade daação da FAO, o que é uma garantia de queas distorções regionais e os problemas glo-bais também sâ"o objeto de estudo, preocu-pação e trabalho corretivo.

Vossa Excelência deverá visitar Recife, on-de se encontrará com Representantes doEstado de Pernambuco e das demais Unida-des Federais da Região Nordeste. Vemoscom satisfação e reconhecimento a sensibi-lidade da escolha, que bem diz da profundi-dade de seu conhecimento de nossos pro-blemas e do seu interesse por ajudar-nos aarrancar as populações mais deprimidas doostracismo social que é o subdesenvolvi-mento.

Senhor Diretor-Geral,

Ao renovar-lhe os votos de uma permanên-cia agradável e frutífera em nosso país, que-ro expressar-lhe que muito apreciamos o in-teresse demonstrado por Vossa Excelência,ao longo de sua gestão à frente da FAO, emrelação aos problemas brasileiros.

Peço a todos que me acompanhem numbrinde à felicidade pessoal e ao trabalho doDoutor Edouard Saouma, bem como à Mis-são de tanta relevância da Organização dasNações Unidas para a Alimentação e aAgricultura.

* O Acordo entre o Brasil e a FAO, relativo à Assistência Técnica para o Projeto de Irrigação do Alto e Médio São Fran-cisco, assinado pelo Ministro de Estado das Relações Exteriores, Roberto de Abreu Sodré, e pelo Diretor-Geral da FAO,Edouard Saouma, está na seção Tratados, Acordos, Convénios, página 75.

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relações diplomáticas

brasil e vanuatu estabelecemrelações diplomáticas

Comunicado do Itamaraty à imprensa, divulgado emBrasília, em 7 de janeiro de 1987:

0 Governo da República Federativa do .Bra-sil e o Governo da República de Vanuatu,desejosos de promover o espírito de mútuoentendimento e a fim de estreitar os exis-tentes laços de amizade entre os povos dosdois países, decidiram estabelecer relaçõesdiplomáticas ao nível de Embaixador desdeo último dia 22 de dezembro de 1986.

o estabelecimento derelações diplomáticasentre o brasil e a somália

Comunicado do Itamaraty à Imprensa, divulgado emBrasília, em 2 de fevereiro de 1987:

O Governo da República Federativa do Bra-,sil e o Governo da República da Somália,no desejo de promover o espírito de com-preensão mútua e no intuito de reforçar oslaços de amizade existentes entre os povos

dos dois países, decidiram estabelecer rela-ções diplomáticas, a nível de Embaixador, apartir do dia 02 de fevereiro de 1987. Am-bos os Governos acordarão um momentomutuamente conveniente para a designaçãode Embaixadores não-residentes como seusrespectivos representantes.

designação de embaixadoresbrasileirosRonald Leslie de Moraes Small, para Em-baixador do Irã, e Amaury Banhos Porto deOliveira, para Embaixador em Cingapura,em 19 de março de 1987.

entrega de credenciais deembaixadores estrangeirosAntónio Ciarrapico, da Itália, Tae WoongKwon, da Coreia, e Krister Kumlin, da Sué-cia, em 13 de janeiro.

Oscar Hazim Subero, da República Domi-nicana, em 17 de fevereiro.

Harvey Harold Naarendorp, do Suriname,em 24 de marco.

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tratadosacordosconvénios

brasil e françadesenvolvem cooperaçãono campo da oceanologia

Ajuste Complementar ao Acordo de Cooperação Técnicae Cientifica entre o Brasil e a França, para cooperação

no campo da Oceanologia, assinado, no Palácio doItamaraty, em Brasília, em 9 de janeiro de 1987, pelo

Ministro de Estado das Relações Exteriores, Roberto deAbreu Sodrê, e pelo Ministro dos Negócios Estrangeiros

da França, Jean Bernard Raimond.

O Governo da República Federativa do Brasil

eO Governo da República Francesa,

Desejando instaurar entre os dois Estados uma cooperaçãoque contribua para uma melhor utilização dos recursos na-turais existentes nos espaços marítimos nos quais os doisEstados exercem sua soberania ou direitos de soberania enos espaços marítimos que possam apresentar um interes-se comum e que serão identificados de comum acordo pe-las Partes,

Considerando que a cooperação científica entre os doisEstados permitirá chegar mais rapidamente a um conheci-mento mais amplo do meio marinho em geral e assim faci-litará o aproveitamento económico racional, livre de efei-tos nocivos sobre o meio ambiente, de seus recursos natu-rais biológicos ou não-biológicos,

E, no âmbito do Acordo de Cooperação Técnica e Cientí-

fica de 16 de janeiro de 1967,

Acordam o seguinte:

ARTIGO I

O Governo da República Federativa do Brasil e o Governoda República Francesa empreenderão atividades de coope-ração no campo da oceanologia por intermédio de suasinstituições nacionais competentes e da coordenação exer-cida em cada um dos dois Estados pelo organismo designa-do para tanto no Artigo III do presente Ajuste.

ARTIGO II

1. O presente ajuste se aplica à totalidade dos espaçosmarítimos nos quais os dois Estados exercem sua sobera-nia ou direitos de soberania e nos espaços marítimos que

possam apresentar um interesse comum e que serão iden-

tificados de comum acordo.

2. A cooperação prevista no presente Ajuste concerne es-sencialmente os seguintes campos:

a) As pesquisas em matéria de oceanologia fundamentalou de aplicação comum a toda exploração ou apro. iita-mento dos recursos marinhos biológicos ou não-biológi-cos.

b) A atividade científica que tenha como objeto a avalia-ção dos recursos existentes e a descoberta de novos recur-sos.

c) A realização de projetos conjuntos de pesquisa e de-

senvolvimento.

d) A realização de consultas recíprocas sobre temas liga-dos à política científica e tecnológica em oceanologia.

e) O intercâmbio de cientistas, de pesquisadores, de pro-fessores, de engenheiros ou de técnicos, e sua participaçãoem conferências, simpósios, seminários, cursos e outrasatividades.

f) A informação recíproca, nos dois países, sobre os re-sultados, os progressos, os métodos e as técnicas de pes-quisa científica, e suas implicações tecnológicas obtidasno Brasil e na França.

g) A outorga de facilidades recíprocas que permitam aopessoal científico de um dos Estados trabalhar nas instala-ções do outro Estado em projetos de interesse comum.

ARTIGO III

A efetivação da cooperação prevista no Artigo I é con-fiada, por parte do Brasil, á Comissão Internacional sobreos Recursos do Mar (CIRM), e por parte da França, aoInstituto Francês de Pesquisa para a Exploração do Mar(IFREMER), que buscarão o concurso, caso seja necessá-rio, de outros órgãos competentes de seus países respecti-vos.

ARTIGO IV

Ambas Partes concordam em cooperar em todos os cam-pos da oceanologia e das tecnologias marinhas.

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Os temas de cooperação serSo definidos conjuntamente

com base no interesse mútuo.

ARTIGO V

Para os fins do presente Ajuste, as Partes concordam:

a) em estabelecer programas de cooperação pela via dereuniões de delegações das Partes ou por troca de corres-pondência, em que serão estabelecidos os setores de inte-resse para a condução de atividades conjuntas.

Esses programas deverão, em princípio, ser completados

ou revistos anualmente.

b) em apresentar esses programase suas revisões à Comis-são Mista, de acordo com o Artigo III do Acordo deCooperação Técnica e Cientifica, de 16 de janeiro de1967.

ARTIGO VI

A fim de intensificar a cooperação prevista nos programasconjuntos, as Partes poderão promover a realização de reu-niões de trabalho conjuntas, o intercâmbio de pessoalcientífico e técnico e de grupos de trabalho para se ocupa-rem de trabalhos específicos. Esses trabalhos específicosserão objeto de ajustes especiais que estabelecerão as tare-fas e as responsabilidades das Partes assim como o finan-ciamento dos projetos, com base no princípio da igualda-de e da reciprocidade. Tais ajustes serão submetidos àaprovação dos Governos dos dois países, por intermédiodo Ministério das Relações Exteriores da República Fede-rativa do Brasil e do Ministério dos Negócios Estrangeirosda República Francesa.

ARTIGO VII

As disposições do Acordo de Cooperação Técnica e Cien-tífica, de 16 de janeiro de 1967, se aplicam aos projetosconjuntos de pesquisa ou intercâmbio fixados no âmbitodo presente Ajuste, quando estes implicarem a importa-ção de equipamentos ou de material indispensáveis a suarealização.

ARTIGO VIII

Quando a realização dosprogramasconjuntosimplicara es-cala de navios brasileiros em portos franceses ou a escalade navios franceses em portos brasileiros, tais navios bene-ficiar-se-ão do tratamento reservado aos navios de Estadoestrangeiros.

ARTIGO IX

A CIRM e o IFREMER comunicarão, pela via diplomáti-

ca, segundo os prazos previstos e nas condições expressa-

mente estabelecidas, seus projetos de campanha de pesqui-

sa científica marinha que poderão ser conduzidos conjun-

tamente.

ARTIGO X

De comum acordo, as Partes podem autorizar o intercâm-bio, entre navios brasileiros e franceses, de pessoal cientí-fico e técnico no campo da oceanologia, que estiveremparticipando de programas comuns.

ARTIGO XI

Os dados obtidos e o resultado da análise destes últimos,no âmbito dos programas conjuntos, devem ser trocadosprioritariamente entre os órgãos interessados. Estes últi-mos devem solicitar o acordo dos dois Governos antes decomunicar a terceiros quaisquer dados e resultados obti-dos que apresentem um interesse particular para um ououtro Estado.

ARTIGO XII

O intercâmbio de especialistas, as estadas de curta, médiaou longa duração, a acolhida dos estagiários e dos cientis-tas das Partes são regulados pelas regras definidas no Acor-do de Cooperação Técnica e Científica, de 16 de janeirode 1967.

ARTIGO XIII

O presente Ajuste entrará em vigor na data de sua assina-tura, terá uma duração de cinco anos e será prorrogadoautomaticamente a cada ano, a menos que uma das Parteso denuncie. A denúncia deverá ser notificada à outra Partepor via diplomática e surtirá efeito seis meses após a datada respectiva notificação.

O presente Ajuste poderá ser modificado mediante enten-dimento mútuo entre as Partes, por troca de notas diplo-máticas. A modificação entrará em vigor na data da notade resposta à proposta de modificação.

Feito na cidade de Brasília, aos 09 dias do mês de janeirode 1987, em dois exemplares originais, nas línguas portu-guesa e francesa, sendo ambos igualmente autênticos.

Pelo Governo da República Federativa do Brasil:

Roberto de Abreu Sodré

Pelo Governo da República Francesa:Jean Bernard Raimond

brasil e fao assinamtrês acordos paraassistência na áreaagrícola

Acordo entre o Brasil e o Programa Mundial deAlimentos das Nações Unidas (FAO) relativo à assistência

para o desenvolvimento rural e comunitário do Vale doJequitinhonha, assinado, no Palácio do Itamaraty, am

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Brasília, em 13 de janeiro de 1987, pelo Ministro deEstado das Relações Exteriores, Roberto de Abreu Sodré,

pelo Ministro do Interior, Ronaldo Costa Couto, pelo'Governador de Minas Gerais, Hélio Garcia, e pelo

representante da FAO no Brasil, Peter Koenz; Acordoentre o Brasil e a FAO relativo à assistência para

reabilitação da agricultura e da infra-estrutura rural ecomunitária em áreas atingidas pelas secas e pelas

enchentes nos Estados do Piauí, Paraíba e Rio Grandedo Norte, assinado, no Palácio do Itamaraty, em Brasília,

em 2 de fevereiro de 1987, pelo Ministro de Estado dasRelações Exteriores, Roberto de Abreu Sodré, pelos

Governadores da Paraíba, Luiz Carlos Rodrigues Teixeira,do Rio Grande do Norte, HaroMo de Sá Bezerra, e do

Piauí, José Raimundo Bona Medeiros, e pelorepresentante da FAO no Brasil, Peter Koenz; e Acordo

entre o Brasil e a FAO relativo à assistência técnica para oProjeto Irrigação do Alto e Médio São Francisco,

assinado, no Palácio do Itamaraty, em Brasília, etn 31 demarço de 1987, pelo Ministro de Estado das Relações

Exteriores, Roberto de Abreu Sodré, e pelo Diretor-Geral da FAO, Edouard Saouma

ACORDO PARA O DESENVOLVIMENTORURAL E COMUNITÁRIO DO VALE DOJEQUITINHONHA

Considerando que o Governo da República Federativa doBrasil solicitou assistência ao Programa Mundial de Ali-mentos da Organização das Nações Unidas/FAO (doravan-te denominado "PMA") para a implementação de um Pro-jeto de Desenvolvimento Rural e Comunitário no Vale doJequitinhonha, no Estado de Minas Gerais, e

Considerando que o PM A concordou em prestar tal assis-tência,

O Governo de Minas Gerais e o PMA, desejosos de coope-rar mutuamente na implementação do aludido Projeto,

Convieram no seguinte:

ARTIGO IObjetivo e Descrição do Projeto do Governo e da

Ajuda do PMA para o Projeto

O objetivo geral do Projeto é obter a participação das co-munidades rurais carentes, a fim de aumentar a produçãode alimentos básicos e de melhorar as condições de vidade pequenos agricu Itores, arrendatários e trabalhadores ru-rais e suas famílias, reduzindo assim o desemprego e osubemprego.

1.1 - Objetivos Específicos

1 . 1 . 1 - 0 Projeto terá os seguintes objetivos específicos:

I) - aumentar a produção de alimentos básicos (milho,arroz e feijão), aumentando assim a disponibilidade de

alimentos para o consumo próprio e elevando o nívelda renda familiar dos agricultores;

II) — motivar os pequenos agricultores a fazerem me-lhor uso da assistência técnica, do credito, da comer-cialização, dos insumos de produção e a participaremnss organizações associativas; e promover o treinamen-to nesses campos;

III) — promover a melhor utilização dos recursos hu-manos e materiais locais, particularmente através deatividades comunitárias de auto-ajuda, incluindo a me-lhoria habitacional e de outras infra-estruturas físicas,e motivar a participação de mulheres nas atividades dedesenvolvimento; e

IV) — contribuir para o controle e consequente erradi-cação do Mal de Chagas, e outras doenças endémicasno Vale do Jequitinhonha.

1.1.2 - Os géneros alimentícios do PMA serão utilizadoscomo incentivo para que os participantes do Projeto rece-bam orientação técnica para a adoção de práticas agrfcolasmelhoradas, tais como o uso de insumos de produção, fa-cilidades de crédito e de comercialização, participem dosgrupos ou associações voluntárias de agricultores e nas ati-vidades voluntárias de construção por auto-ajuda, incluin-do-se habitação, infra-estrutura e serviços comunitários.

1 . 2 - Beneficiários e critérios de seleção

O Projeto com a assistência do PMA beneficiará cerca de23.500 agricultores que têm baixa renda, que estão nor-malmente subempregados ou desempregados e que nãotêm acesso a serviços comunitários adequados. A incorpo-ração dos beneficiários durante o curso do projeto será co-mo se segue:

Ano

12345

Os beneficiários serão selecionados dentre os agricultoresnas comunidades envolvidas, possuidores ou arrendatáriosde pequenos lotes de menos de 50 hectares e também den-tre os trabalhadores sem terra.

Na seleção das comunidades, será dada prioridade àquelasque satisfaçam os seguintes requisitos:

I) alta incidência de precárias condições de saúde (in-clusive a prevalência do Mal de Chagas);

Número deBeneficiários

3.50010.000 (3.500+6.500)14.000 (6.500+7.500)13.500 (7.500+6.000)6.000

Número total deBeneficiários

17.50050.00070.00067.50030.000

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II) existência estabelecida de comités de desenvolvi-mento comunitário, associações de agricultores ouqualquer outra forma de associação de caráter formalou informal;

III) vontade, por parte dos pequenos agricultores, dese empenharem em participação social ativa.

1.3 — Açõas a ssrem desenvolvidas pelo Projeto e benefí-cios previstos

As metas abaixo mencionadas são indicativas da magnitu-de do Projeto e serão definidas através de Planos Operati-vos Anuais (P.O.A.), com base nas necessidades e priori-dades sentidas nas comunidades. Esses planos anuais serãoajustados entre o Governo de Minas Gerais e o PMA e fa-rão parte deste Acordo.

I) Produção Agrícola

O Governo de Minas Gerais se empenhará em fazer usomais racional da capacidade operacional da Empresade Assistência Técnica e Extensão Rural de Minas Ge-rais (doravante denominada EMATER — MG) na áreado Projeto, a fim de atender adequadamente aos'bene-ficiários. Com a finalidade de elevar a eficiência do ser-viço de extensão através de reuniões regulares, serãoestabelecidas áreas-piloto de demonstração. Será dadaprioridade à metodologia de treinamento coletivo.

Para a multiplicação das sementes melhoradas, aEMATER — MG selecionará agricultores participantesna área do Projeto.

As comunidades rurais serão estimuladas a formaremgrupos associativos voluntários para a compra de insu-mos agrícolas e a comercialização dos produtos. O mo-delo a ser adotado será o de grupos de apoio integra-dos de pequenos agricultores, o qual já foi testado comêxito em áreas similares à do Vale do Jequitinhonha.

Serão realizados esforços no sentido de obter de insti-tuições financeiras locais, facilidades de crédito maisfavoráveis para satisfazer as necessidades dos agriculto-res em termos de fertilizantes, sementes melhoradas,pesticidas e pequenos utensílios. Será estimulado o sis-tema de crédito supervisionado em base coletiva, po-dendo ser utilizado o crédito em insumos em vez deem espécie.

A intensificação do serviço de extensão rural, a intro-dução de sementes melhoradas, a provisão de outrosinsumos de produção e a disponibilidade de crédito su-pervisionado e de canais apropriados de comercializa-ção almejam alcançar um aumento médio de 15% naprodutividade do milho, arroz, feijão e outros produ-tos regionais.

II) Saúde e Nutrição

Devido à precária situação de saúde no Vale (especial-

mente no que diz respeito è incidência do Mal de Cha-gas e de endemias provenientes de veiculacão hídrica)os recursos do Projeto serão utilizados para apoiar eincrementar as ações dos serviços de saúde locais.

Como apoio às açdes de combate e controle do Malde Chagas, o Projeto incentivará atividades para a me-lhoria das condições habitacionais. Doenças transmissí-veis — que são atualmente o maior problema na área —também receberão apoio das ações diretas do sistemade proteção primária da saúde, através da rede estadualde estabelecimentos de saúde, com vistas a atenuar aincidência de parasitoses e outras doenças transmissí-veis. Os problemas da subnutrição serão tratados pelosprogramas especializados de educação nutricional'e ali-mentação escolar, como parte das atividades do Proje-to.

Os professores rurais e promotores de saúde na área se-rão os agentes para a realização das atividades relativasaos aspectos de saúde, higiene, nutrição e educação depais e crianças, apoiando e sendo apoiados pelo Proje-to.

Ill) Inf ra-estrutura Social e Serviços Comunitários

Com a atuação do Projeto, será incrementada a ofertade serviços e a implementação de infra-estruturas so-ciais.

Pelo método de construção por auto-ajuda, serão cons-truídas e/ou reformadas cerca de 2.000 casas. O objeti-vo deste componente do Projeto é demonstrar a im-portância das condições da habitação na melhoria dascondições de saúde, particularmente no que concerneao combate ao Mal de Chagas e no fornecimento deexperiência local relativamente aos aspectos envolvidosno processo de construção por auto-ajuda.

A seleção dos beneficiários para a construção de casasserá feita por comunidade e não por indivíduo, levan-do-se em consideração as comunidades mais carentes.

• O Projeto prevê o apoio à construção e/ou reformade escolas rurais e unidades de saúde, a fim de reforçaro atendimento atual. As autoridades do Estado de Mi-nas Gerais serão responsáveis pela manutenção e opera-ção dos prédios e, com esse objetivo, fornecerão osprofessores e o pessoal de saúde. Algumas das escolasda área rural serão também utilizadas como centros co-munitários durante os fins de semana ou períodos derecesso escolar.

• No que se refere ao saneamento doméstico, preve-sea construção de pontos comunitários de água (incluin-do conexões, tubulações, etc). Esta operação será es-treitamente coordenada com as autoridades sanitária»de acordo com a campanha para o controle dos parasi-tas transmitidos pela agua. Nesse contexto, este previs-ta a construção de cerca de 2.000 fossas sanitárias.

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• A manutenção e melhoria de estradas municipais re-ceberá atenção especial, a fim de assegurar o tráfegodurante todo o ano, de pessoas e produtos.

• Será incentivada a construção de sistemas simplifica-dos de irrigação e drenagem, pequenos açudes, arma-zéns e outras obras menores de infra-estrutura agríco-la.

IV) Participação Social

Para assegurar os benefícios propostos do Projeto, apopulaçSo-meta será estimulada a adotar o Projeto co-mo propriedade sua. Com essa finalidade, o Projetoprocurará fortalecer os conselhos comunitários e gru-pos de trabalho existentes, no sentido de mobilizar ascomunidades. Dessa maneira, as necessidades e priori-dades locais serão identificadas e as comunidades par-ticiparão no planejamento, supervisão e implementa-ção das atividades do Projeto.

O Governo de Minas Gerais incentivará as comunida-des rurais carentes visando a estabelecer ou a fortalecertodas as formas Citeis e viáveis de organização, tais co-mo associações de agricultores, pré-cooperativas e sin-dicatos de trabalhadores rurais, quando apropriado,Hue são importantes tarjto para os pequenos agriculto-res quanto para os trabalhadores rurais.

O Projeto procurará assegurar o amplo acesso da mu-lher em todos os sistemas institucionais e componentesdo Projeto. Será incentivada a integral participação damulher nos aspectos de liderança, mobilização, plane-jamento e supervisão das diferentes atividades do Pro-jeto.

Ênfase especial será dada à participação da mulher,fornecendo contínuo apoio comunitário ao processode educação em nutrição e higiene, proteção infantil eenvolvimento comunitário no sistema de serviços bási-cos de saúde.

O Governo de Minas Gerais estudará a viabilidade deintroduzir a piscicultura nos reservatórios de água dis-poníveis e a serem construfdos em terras comunitáriase incentivará a participação da mulher nessa atividade.

Os jovens da área rural também serão incentivados aparticipar do Projeto através de atividades produtivas erecreativas em cuja organização poderão ser apoiados.

V) Outras Acões

O planejamento das obras de infra-estrutura necessá-rias será baseado em levantamento a serem realizadospela CODEVALE, com a participação de outros órgãose/ou entidades existentes na área do Projeto, e em co-laboração com as comunidades envolvidas, a fim deidentificar as necessidades dos grupos-meta prioritá-rios.

A assistência técnica especializada, necessária em vá-rios setóres, será fornecida pelas diversas autoridadesgovernamentais de Minas Gerais, tais como as Secreta-rias de Estado da Agricultura, da Educação, da Saúde edo Trabalho e Ação Social, dentre outras. As prefeitu-ras municipais serão chamadas a participar e colabora-rão para a realização e efetivação das acões do Projeto.

ARTIGO IIObrigações do PMA

Além dos termos e condições estabelecidas entre o Gover-no de Minas Gerais e o PMA no presente Acordo, o PMAse compromete a assumir as seguintes obrigações específi-cas:

11.1 — Fornecimento de Ajuda Alimentar

11.1.1 — O PMA fornecerá ao Governo do Estado de MinasGerais nos portos de Vitória, Rio de Janeiro e/ou Santos,os seguintes géneros em quantidades que não excederão asabaixo especificadas para cada género, e cujo valor total(inclusive frete, seguro, superintendência e supervisão ge-ral) é o estimado em US$ 7,961,900.

Género

Farinha de trigoTrigo em grão

Peixe seco/enlatadoLeguminosas/feijãoLeite em pó desnatado

Toneladas métricas

5.5148.970 (a ser trans-

formado emfarinha)

8501.2741.274

11.1.2 - A assistência do PMA será prestada por um perío-do de cinco anosa partir da data do-início da distribuiçãodos géneros.

11.1.3— Os géneros acima mencionados serão fornecidosem parcelas de acordo com as necessidades do Projeto. Aprimeira parcela será embarcada na primeira oportunidadeapôs ter sido o PMA informado pelo Governo do Estadode Minas Gerais de que foram concluídas as medidas pre-paratórias de acordo com o Artigo III.3. As parcelas a se-rem embarcadas depois de 31 de dezembro de 1986 de-penderão da disponibilidade dos recursos em geral e de ca-da género em particular. Pelo menos 50 por cento do trigoem grão e/ou farinha de trigo fornecida será localmentepermutado pelo Governo do Estado de Minas Gerais porgéneros alimentícios de consumo habitual no vale do Je-quitinhonha, e de acordo com os termos de permuta a se-rem estabelecidos entre o PMA e o Governo do Estado deMinas Gerais e levando-se em consideração o exposto noArtigo III.2. No caso em que se considere necessário, oGoverno do Estado de Minas Gerais poderá solicitar aoPMA a substituição de qualquer um dos produtos indica-dos no item 11.1.1. (por exemplo: trigo ou farinha de tri-go) por outro produto ou outros produtos que melhoratendam às necessidades do projeto.

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11.1.4 — O PMA providenciará a cobertura adequada de se-guro para todos os embarques de géneros até os portos deVitória, Rio de Janeiro e/ou Santos e fará as necessáriasreivindicações perante os seguradores com base no Relató-rio de um superintendente autónomo a ser nomeado peloPMA. Os géneros serão entregues em perfeito estado nachegada, mas em caso de perdas ou danos de vulto ocorri-dos durante o transporte, o PMA substituirá, na medidado possível, os géneros perdidos ou danificados.

11.1.5 — O PMA manterá o Governo do Estado de MinasGerais informado, na medida do possível, sobre o anda-mento das providências referentes ao fornecimento dosgéneros alimentícios.

11.2— Serviços de Supervisão e Assessoria

a) O PMA prestará ao Governo do Estado de Minas Geraisserviços adequados de assessor ia, relativos à supervisão domanuseio, armazenagem, transporte e distribuição dos gé-neros.

b) O PMA fornecerá os serviços de um assessor de projetosdo PMA, que prestará assistência e assessoria à CO DE VA-LE e às diversas Secretarias do Estado de Minas Gerais en-volvidas'na execução do Projeto, relativamente à supervi-são do manuseio, armazenagem, transporte e distribuiçãodos géneros.

11.3 - Avaliação do Projeto

11.3.1 — O PMA realizará, com a cooperação do Governodo Estado de Minas Gerais e, conforme apropriado, emcolaboração com outras agências das Nações Unidas, ava-liações do Projeto, a fim de determinar:

I) A eficiência das operações realizadas;

II) a medida em que o objetivo da ajuda alimentar foiatingido;

I11) os efeitos dessa ajuda alimentar na produção inter-na e nos mercados de trigo, de leite em pó desnatado,de feijão/leguminosas secas, de peixe enlatado e deprodutos similares no Brasil, e no comércio exterior dopaís relativamente a esses produtos e similares;

IV) o impacto da ajuda alimentar na melhoria do esta-do de saúde, das condições sanitárias, da produçãoanimal e agrícola, nas práticas agrícolas e nas condi-ções de vida das comunidades do Vale do Jequitinho-nha.

11.3.2-As avaliações mencionadas no subparagrafo(11.3.1) acima serão realizadas em intervalos de nâb menosque 12 meses, ficando entendido que a continuação e ní-vel da assistência do PMA dependerá dos resultados satis-fatórios de cada avaliação.

11.3.3 - Quaisquer relatórios preparados sobre a avaliaçãodo Projeto serão submetidos ao Governo Federal para seuscomentários e subsequentemente ao Comité de Políticas eProgramas de Ajuda Alimentar das Nações Unidas/FAO.

ARTIGO IIIObrigações do Governo de Minas Gerais

Além dos termos e condições estabelecidas entre o Gover-no do Estado de Minas Gerais e o PMA no presente Acor-do, o primeiro se compromete a assumir as seguintes obri-gações específicas:

II 1.1 — Responsabilidade pela Implementação do Projeto

II 1.1.1 — O Projeto será implementado sob a responsabili-de direta do Governo do Estado de Minas Gerais, utilizan-do-se de recursos próprios ou de outras fontes, fornecen-do todo o pessoal, instalações, suprimentos, equipamen-tos, transporte e serviços. O Governo do Estado de MinasGerais arcará com todas as despesas necessárias ao Projeto,excluídos-os itens para os quais o PMA assume obrigaçõesespecíficas conforme estabelecido no Artigo I I .

II 1.1.2 - O Governo do Estado de Minas Gerais, por esteAcordo, se compromete a designar a Secretaria de Estadodo Planejamento e Coordenação Geral do Estado de MinasGerais (SEPLAN— MG) como canal de comunicação entreo Governo Federal e o PMA sobre as diretrizes gerais doprojeto.

II I . 1.3 — A Secretaria de Estado do Planejamento e Coor-denação Geral (SEPLAN—MG) será responsável pela su-pervisío e coordenação geral do Projeto, cabendo-lhe aresponsabilidade de promover o estabelecimento de ajus-tes e convénios com e entre as entidades participantes.

III.1.4— 0 Projeto será dirigido por um Comité Executi-vo, constituído de dois representantes da SEPLAN—MGe dois representantes da CODEVALE, sob a chefia da pri-meira, e será responsável pelo planejamento geral, assun-tos de políticas e programas, seleçâo das demais entidadesparticipantes com as quais a SEPLAN—MG firmará osconvénios apropriados; procedimentos, programas deação, assuntos de caráter financeiro e acompanhamentodo Projeto. O Comité Executivo informará o PMA sobre oandamento dos componentes técnicos do Projeto e os re-sultados das avaliações periódicas da sua evolução, bemcomo os movimentos logísticos dos géneros alimentíciosdo PMA.

III.1.5 — O Comité Executivo tomará as providências ne-cessárias para que:

I) os aspectos logísticos atinentes à execução do Proje-to, particularmente no que respeita à distribuição localdos alimentos, sejam adequadamente atendidos, atra-vés de órgão da administração pública federal, estaduale/ou municipal, que disponha de experiência e capaci-dade operacional para esse fim;

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II) a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Ruralde Minas Gerais (EMATER-MG) forneça a assistênciatécnica necessária as diferentes atividades de produçãoagrícola, melhoramento do lar e às organizações asso-ciativas, e as atividades produtivas a nível familiar,bem como para as extensionistas de bem-estar social eas assistentes sociais instruam os beneficiários do Pro-jeto sobre o manuseio e preparo dos alimentos a seremdistribuídos;

III) a Secretaria de Saúde promova o envolvimento doseu quadro de médicos e assistentes, sediados no Vale,na execução das açSes de saúde, de nutrição e de higie-ne previstas no Projeto;

IV) a Secretaria de Educação, como agência de apoio,também participe, promovendo atividades voltadas pa-ra a melhoria da educação de adultos e crianças.

V) as prefeituras municipais, as associações comunitá-rias e outras entidades similares, participem da execu-ção do Projeto, indicando alternativas de obras e servi-ços que estejam de acordo com os seus objetivos.

II I . 1.6 — A Comissão de Desenvolvimento do Vale do Je-quitinhonha será responsável pela coordenação da execu-ção do Projeto a nível de campo, dirigindo e controlandosua implementação; para íal fim, designará um gerente deprojeto com plenas prerrogativas para o exercício dessaresponsabilidade.

II 1.1.7 —A responsabilidade do Governo do Estado de Mi-nas Gerais ao longo do Projeto compreenderá o forneci-mento dos seguintes componentes:

I) Pessoal de assistência alimentar: disponível nas Se-cretarias de Estado de Planejamento e CoordenaçãoGeral (SEPLAN-MG), da Agricultura, Saúde, Educa-ção, EMATER-MG e CODEVALE, a um custo esti-mado equivalente a USS 1,000.000.00.

II) Investimentos nas áreas de: desenvolvimento agrí-cola, educação, saúde, saneamento, melhoria habita-cional e infra-estrutura rural, a um custo estimadoequivalente a USS 10,000,000.00.

III) Descarga e desembaraço dos géneros fornecidospelo PMA nos portos de Vitória, Rio de Janeiro e/ouSantos, a um custo estimado equivalente a USS

200,000.00.

IV) Manuseio adequado e transporte apropriado dosgéneros fornecidos pelo PMA a partir do porto de en-trada até os centros de armazenagem a um custo esti-mativo de US$ 400,000.00.

V) Instalações apropriadas de armazenagem, inspeçãode higiene do armazém, desinfestação, fumigação, ex-purgo e reembalagem de géneros a um custo estimadoequivalente a US$ 200,000.00.

VI) Reembalagem para distribuição dos géneros doPMA e distribuição de géneros obtidos em troca pelotrigo em grão e/ou farinha de trigo proveniente do

PMA, a um custo estimativo equivalente a USS100,000.00.

VII) Contribuição para custos operacionais locais doPMA: as facilidades a serem fornecidas e o montante aser pago anualmente serão negociados separadamenteentre o Governo do Estado de Minas Gerais e o PMA,de acordo com as decisões do Comité de Políticas eProgramas de Ajuda Alimentar.

VII I) Outros serviços e suprimentos: antes e durante oandamento do Projeto, serão fornecidos ao PMA dadosreferentes a serviços prestados dentro do âmbito doProjeto por outros órgãos não mencionados nesteAcordo, bem como dados referentes a suprimentosadicionais disponíveis para a execução do Projeto, eserá indicado o custo total aproximado em dólares dosEEUU desses serviços e suprimentos, onde aplicável.

I I I . 1 . 8 - Em relação ao recebimento, à descarga, ao de-sembaraço e ao transporte dos géneros fornecidos peloPMA, o Governo do Estado de Minas Gerais adotará os se-guintes procedimentose providências:

II 1.1.8.1 — O Governo do Estado de Minas Gerais recebe-rá e tomará posse dos alimentos enviados pelo PMA emnavios regulares, quando e à medida em que os alimentosforem descarregados nas docas ou, em caso de barcagem,por ocasião desta. Entretanto, quando a barcagem for pro-videnciada por proprietários do navio ou for da responsa-bilidade destes, o recebimento e posse dos alimentos peloGoverno do Estado de Minas Gerais serão realizados noato da descarga da barca nas docas.

III.1.8.2— No caso de alimentos enviados pelo PMA deacordo com contrato de afretamento efetuado entre oPMA e proprietários de navios ou proprietários procurado-res, o recebimento e a posse dos alimentos enviados peloPMA serão realizados pelo Governo do Estado de MinasGerais nos porões do navio, ou, no caso de barcagem, noato da descarga dos alimentos do navio para a barca.

III. 1.8.3— No caso de géneros transportados por terra, orecebimento e a posse destes serão realizados pelo Gover-no do Estado de Minas Gerais nos pontos de entrega pre-viamente estabelecidos.

I I I . 1.8.4— Em todos ós casos, o Governo do Estado deMinas Gerais se compromete a garantir a rápida descargado navio, do caminhão, ou de qualquer outro meio detransporte.

II I . 1.8.5 — A partir do ponto de entrega dos alimentos, to-das as despesas compreendendo, entre outras, o custo dedireitos de importação, impostos, taxas, bem como os di-reitos de aportamento, cais, desembarque, barcagem, ar-mazenamento, triagem e direitos similares, serão pagos ouisentos pelo Governo do Estado de Minas Gerais.

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II 1.1.8.6 - No caso de descarga de alimentos enviados deacordo com contrato de afretamento entre o PMA e pro-prietários ou proprietários procuradores, qualquer multapor retenção do navio causada pelo Governo do Estado deMinas Gerais deixando de providenciar a rápida ancora-gem e/ou descarga do navio ou de outro veículo, será porconta do Governo do Estado de Minas Gerais.

I I I . 1.8.7 — Em todos os outros contratos de carregamen-to,, a indenização resultante da retenção do navio pelo Go-verno do Estado de Minas Gerais por deixar de receber etomar posse imediata dos géneros enviados pelo PMA serápaga por aquele Governo.

II 1.1.8.8 —Se qualquer dos encargos acima mencionadosfor pago pelo PMA em primeira instância, o Governo doEstado de Minas Gerais providenciará o imediato reembol-so desse encargo ao PMA.

II I . 1.8.9— O Governo do Estado de Minas Gerais permiti-rá que superintendentes designados pelo PMA façam o le-vantamento das condições dos alimentos, por ocasião ou omais imediatamente possível após a descarga, a fim de de-terminar as condições e o volume das perdas e/ou danosobservados com o objetivo de elaborar um certificado desuperintendência que permitirá, se necessário, mover açãocontra a empresa transportadora ou seguradora, em casode perdas e/ou danos.

II 1.1.8.10— Não obstante quaisquer outros termos cons-tantes neste Acordo, o PMA terá o direito exclusivo demover quaisquer reivindicações contra empresas de trans-porte marítimo ou terrestre com relação a danos e/ou per-das que ocorram antes da transferência de posse dos ali-mentos do PMA ao Governo do Estado de Minas Gerais, ede prosseguir, abandonar ou resolver tais reivindicações,como lhe convier. O PMA atuará como agente em favordo Governo do Estado de Minas Gerais, o qual lhe empres-tará o nome para qusiquer procedimentos legais que se fi-zerem necessários, se assim o PMA solicitar.

III.1.8.11 —Sem prejuízo da definição de "transferênciade posse" acima mencionada, quando a entrega efetivados alimentos se estender por mais tempo do que a trans-ferência de posse, o PMA terá o direito, a seu arbítrio, dereivindicar em favor do Governo do Estado de Minas Ge-rais as perdas ocorridas no período entre a transferênciade posse e a efetiva entrega dos alimentos.

111.1.8.12 —Em qualquer circunstância, a hora eo localde transferência de posse, conforme estipulado acima, nãoestarão sob a influência de qualquer endosso ou consigna-ção do conhecimento de embarque. Qualquer consignaçãoou endosso será efetuado exclusivamente para a conveni-ência administrativa do PMA ou do Governo do Estado deMinas Gerais.

111.1.8.13 — Com relação a embarques a granel feitos emnavios fretados pelo PMA, os pesos constantes do conhe-

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cimento de embarque deverão ser considerados como de-finitivos entre o PMA e o Governo do Estado de MinasGerais. Na chegada do navio, o PMA providenciará um le-vantamento para averiguar, por aproximação, a quantida-de de carga a bordo. Caso o peso observado a bordo, con-forme* averiguação no levantamento, indique uma discre-pância significativa com relação ao peso constante no co-nhecimento de embarque, o PMA investigará tal discre-pância em inteira cooperação com o Governo do Estadode Minas Gerais. No final da descarga, é da responsabilida-de do Governo do Estado de Minas Gerais assegurar quenenhuma carga seja deixada no navio. Se o navio estiverlevando carga para mais de um porto, é da responsabilida-de do Governo do Estado de Minas Gerais assegurar que asquantidades corretas sejam descarregadas em cada porto.11.1.8.14 — Com relação a embarques chegando em "con-tainers" carregados e transportados de acordo com os ter-mos do "Full Container Load" (F.C.L), o Governo do Es-tado de Minas Gerais será responsável pelo esvaziamentodos containers. O superintendente do PMA deverá estarpresente no ato do esvaziamento dos containers no portode descarga, o que deverá realizar-se por ocasião da descar-ga do navio. Quaisquer danos e/ou perdas observados naocasião serão considerados como tendo ocorrido duranteo período em que a carga estava sob a posse do PMA. Se oesvaziamento dos containers for retardado e/ou for reali-zado sem que o superintendente do PMA esteja presente,quaisquer perdas e/ou danos serão considerados comotendo ocorrido após o PMA ter transferido ao Governo doEstado de Minas Gerais a posse dos alimentos. Se os con-tainers forem transportados do porto de descarga, sem se-rem abertos, até a área do Projeto, para a conveniência doGoverno do Estado de Minas Gerais, os superintendentesdo PMA não serão obrigados a se dirigirem ao local do es-vaziamento, e quaisquer danos e/ou perdas correrão-porconta do Governo do Estado de Minas Gerais, que terá odireito de reivindicar tais perdas/danos aos transportado-res.

111.2 — Permuta de Géneros do PMA por alimentos local-mente produzidos

A farinha de trigo ou trigo em grão a ser fornecidos peloPMA no âmbito deste Acordo serão utilizados em confor-midade com a política nacional de abastecimento. A CO-BAL ou outra instituição pública, mediante convénio a sercelebrado com o Governo do Estado de Minas Gerais, in-ternará o produto, que será trocado com base no seu valorpor produtos locais. Com a finalidade de incentivara pro-dução de alimentos básicos pelos pequenos agricultores noVale do Jequitinhonha, o Governo do Estado de MinasGerais fará a troca desses produtos por alimentos produzi-dos preferencialmente pebs pequenos produtores da re-gião. Estes alimentos serão utilizados de acordo com o pa-rágrafo seguinte.

111.3 - Utilização dos Alimentos

II 1.3.1 — O Governo do Estado de Minas Gerais utilizaráos géneros fornecidos pelo PMA da seguinte forma:

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I) Os géneros alimentícios serão descarregados nos por-tos de Vitória, Rio de Janeiro e/ou Santos;

II) a farinha de trigo ou trigo em grão serão armazena-dos e internados pela COBAL ou outra instituição pú-blica nos termos de um convénio a ser celebrado entreesta e o Governo do Estado de Minas Gerais, através daSEPLAN—MG, conforme os termos de permuta a se-rem estabelecidos entre o Governo do Estado de MinasGerais e o PMA. Os géneros a serem obtidos atravésdas operações de permuta serSo armazenados ou numarmazém central ou em armazéns regionais, conformenecessário;

III) a partir do porto de entrada, os outros géneros se-rão transportados sob a responsabilidade do Governodo Estado de Minas Gerais até ao armazém central, ouserão encaminhados aos armazéns regionais, conformenecessários. Armazéns regionais far-se-ão disponíveisnas cidades da área-programa, e cada um será dirigidopor pessoal especializado sob a custódia do Governodo Estado de Minas Gerais;

IV) dos armazéns regionais, os alimentos serão trans-portados pela CODEVALE, em colaboração com osmunicípios e com o envolvimento das associações debeneficiários, aos centros de distribuição ou armazénslocais, em meios de transportes apropriados. O dia dedistribuição variará de comunidade para comunidade;

II 1.3.2 — A distribuição dos géneros, sob a forma de cestade alimentos, será realizada adotando-se os seguintes pro-cedimentos:

I) Os alimentos/produtos alimentícios a serem forneci-dos pelo PMA servirão como um incentivo aos peque-nos agricultores e suas famílias para que eles partici-pem das atividades de produção agrícola e desenvolvi-mento comunitário, de organização das associações deagricultores para a distribuição de alimentos por tra-balho na construção e melhoria de habitações, arma-zéns, estradas, centros escolares, infra-estrutura rural eoutras atividades de melhoramento da área rural.

II) A ajuda do PMA será prestada aos pequenos agri-cultores por um período médio de 150 dias por ano desua participação no Projeto (máximo de dois anos). Asrações do PMA serão fornecidas também a trabalhado-res rurais que, voluntariamente, participem na imple-mentação das obras de infra-estrutura, de acordo como número de dias de trabalho (o Anexo A indica o tipode obras de infra-estrutura a serem construídas e o nú-mero de homens/dias necessários). Para os propósitosdo PMA, considera-se que a família se compõe de cin-co pessoas. A ração básica diária por pessoas, a ser for-necida pelo PMA é a seguinte:

Feijão/Leguminosas secasLeite em pó desnatado

3030

Género

Farinha de TrigoPeixe seco/enlatado

Gramas

26020

Levando-se em conta o Artigo I I , item 1.3 e o ArtigoI I I , item 3.2, no que se refere à substituição dos géne-ros fornecidos pelo PMA e sua permuta por produtoslocais, o Governo do Estado de Minas Gerais se empe-nhará para fornecer uma ração diária nutricionalmenteequilibrada e de acordo com os hábitos alimentares daregião.

III) Em cada comunidade selecionada, uma lista deagricultores aptos a receberem ajuda alimentar, confor-me definido no Artigo 1.2, será preparada pelas pró-prias comunidades, com a assistência d« CODEVALE,antes do início da distribuição dos alimentos. Os agri-cultores incluídos na lista serão informados sobre osseus direitos e obrigações para receberem a ajuda ali-mentar. Constitui obrigação básica frequentar regular-mente as reuniões organizadas pelo pessoal do Projeto,após as quais os participantes receberão as rações ali-mentares.

IV) Sempre que for logisticamente viável, a distribui-ção das rações alimentares concentrar-se-á no períodode setembro ao final de março, a fim de satisfazer par-ticularmente a demanda de alimento por parte dosagricultores beneficiados. Esse é também o principalperíodo de cultivo, quando uma nova prática agrícolapode ser adotada e melhor supervisionada pelas autori-dades de extensão rural.

V) Serão usados formulários para registrar a efetivaparticipação dos beneficiários rios esquemas especiaisde treinamento e produção, ou o número real de diasde trabalho prestados pelos participantes.

111.3.3 —O Governo de Minas Gerais tomará as medidasque se fizerem necessárias no sentido de instruir os bene-ficiários quanto ao uso dos alimentos.

111.3.4 —O Governo de Minas Gerais tomará as medidascabíveis no sentido de evitar a venda dos géneros alimen-tícios por parte dos beneficiários.

111.3.5 — No caso de o Governo de Minas Gerais não utili-zar qualquer dos géneros a serem fornecidos pelo PMA namaneira estabelecida no Artigo II 1.3.1, o PMA poderá soli-citar o retomo desses géneros ao ponto original de entregasem prejuízo da aplicação do disposto no Artigo V.3.II.

III.4 — Início da Execução do Projeto

111.4.1 —Completadas as medidas preparatórias ao inícioda assistência alimentar do Projeto, o Governo do Estadode Minas Gerais notificará ao PMA, por escrito, o montan-te da verba autorizada para as despesas referentes à faseinicial do Projeto, as providências tomadas relativamenteaos itens enumerados no Artigo II 1.1.7, a mais recente es-

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timativa do número de beneficiários do Projeto, bem co-mo outros dados relevantes referentes à implementaçãoefetiva do Projeto.

111.4.2 - O Governo de Minas Gerais fará esforços no sen-tido de adotar o mais breve possível as medidas especifica-das no subparágrafo anterior ficando entendido que oPMA se reserva o direito de adiar a implementação do Pro-jeto, reduzir a quantidade ou modificar a composição daajuda alimentar ou cancelar o Projeto, caso o Governo doEstado de Minas Gerais deixe de transmitir ao PMA notifi-cação de que foram tomadas aquelas medidas dentro detrês meses após a entrada em vigor do presente Acordo,salvo se as causas do atraso, que o Governo poderá indicarantes do término do mencionado prazo de três meses, se-jam reconhecidas pelo PMA como atribuíveis a fatoresalheios ao controle do Governo do Estado de Minas Ge-rais.

II 1.5 — Facilidades para a Observação do Projeto

O Governo do Estado de Minas Gerais proporcionará aoPMA, a seus funcionários e consultores as facilidades ne-cessárias à observação do Projeto em todas as fases.

111.6 — Informações sobre o Andamento do Projeto

111.6.1 - O Governo do Estado de Minas Gerais forneceráao PMA documentos tais como, prestação de contas, rela-tórios, declarações e outras informações referentes à exe-cução do Projeto e ao cumprimento pelo Governo do Es-tado de Minas Gerais de qualquer de suas responsabilida-des no âmbito deste Acordo.

111.6.2 —O Governo do Estado de Minas Gerais através daSEPLAN—MG, fornecerá ao PMA, ao final de cada trimes-tre de atividades, um relatório sobre o andamento do Pro-jeto, contendo as informações previstas no Anexo destePlano de Operações. Treze cópias desse relatório serão en-viadas à sede do PMA através de sua Representação emBrasflia.

111.6.3 — Contabilidade e auditoria: O Govemo do Estadode Minas Gerais manterá e contabilizará os géneros forne-cidos pelo PMA, separadamente de outros suprimentosdo Projeto e fornecerá ao PMA, anualmente (1) e aotérmino (2) da assistência do PMA, contas que tenhamsido auditoriadas e certificadas por um auditor do Gover-no de Minas Gerais. Essas contas mostrarão as quantidadesde cada género entregues ao Govemo do Estado de MinasGerais pelo PMA, recebimentos, remessas, perdas e saldos,em cada centro de armazenamento; as quantidadesdistribuídas e o número de beneficiários a quem foramdistribuídas.

(1) O termo "anualmente" significa, ao fim de cada 12meses a contar do mês em que o primeiro carrega-mento de géneros do PMA para o Projeto for recebi-do pelo Governo de Minas Gerais, ou, ao fim de cada

ano fiscal do Governo de Minas Gerais, conforme formais conveniente para a aprovação das contas audito-riadas.

(2) Conforme definido no Artigo V.2.

II 1.6.4 - Estudo de base: O Governo do Estado de MinasGerais, através da Secretaria de Estado do Planejamento eCoordenação Geral de Minas Gerais, estabelecerá uma es-trutura de avaliação contínua, a fim de possibilitar às au-toridades do Projeto, e conseqúentemente ao PMA, a ade-quada avaliação do impacto do Projeto.

111.7 - Continuação do Objetivo do Projeto

0 Governo do Estado de Minas Gerais continuará visando

ao objetivo básico do Projeto depois que finalizar a assis-

tência alimentar do PMA.

ARTIGO IVFacilidades, Privilégios e Imunidades

IV.1 — O Governo Federal proporcionará aos funcionáriose consultores do PMA e as outras pessoas que estejam rea-lizando serviços em favor do PMA,as facilidades concedi-das às Nações Unidas e Agências Especializadas.

1 V.2 — O Governo Federal aplicará as disposições da Con-venção sobre Privilégios e Imunidades das Agências Espe-cializadas ao Programa Mundial de Alimentos, suas pro-priedades, fundos e haveres, bem como a seus funcioná-rios e consultores.

IV.3 — O Governo Federal será responsável pela negocia-ção a respeito de quaisquer reivindicações feitas por ter-ceiros contra o PMA, seus funcionários, consultores e ou-tras pessoas que estejam a serviço do PMA no âmbito des-te Acordo, no sentido de que o Governo Federal interviráem tais reivindicações dentro dos limites da lei brasileira ede acordo com tratados internacionais aplicáveis e em vi-gor na época.

O Governo Federal isentará o PMA e as pessoas, mencio-nadas na primeira fase deste parágrafo, de prejuízos emcaso de reivindicações ou obrigações resultantes das opera-ções realizadas no âmbito deste Acordo, em conformidadecom a lei brasileira, com os termos deste Acordo e comtratados internacionais aplicáveis vigentes na época, exce-to quanto ficar estabelecido, por acordo entre o GovernoFederal e o PMA, que tais reivindicações ou obrigações de-corram de grave negligência ou dolo de tais pessoas.

ARTIGO VDisposições Gerais

V.1 — O presente Acordo entrará em vigor na data de suaassinatura.

V.2 — O Projeto será considerado finalizado quando a dis-tribuição de géneros do PMA aos beneficiários chegar aofim.

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V.3 - Alterações deste Acordo: Roberto de Abreu Sodré

I) O presente Acordo poderá ser modificado ou termi-nado, antes de sua completa realização, por mútuoconsentimento entre as Partes, conforme vtnha a serexpresso em troca de correspondência.

II) Em caso do não cumprimento das obrigações aquiestabelecidas, por uma das Partes, a outra poderád)suspender o cumprimento de suas obrigações notifi-cando assim a Parte faltosa, ou (2) terminar o Acordoatravés de comunicação escrita nesse sentido à Partefaltosa com sessenta dias de antecedência.

III) QuaúQOTr géneros fornecidos pelo PMA que per-maneçam nãb utilizadas no Brasil após o término doProjeto ou ao término do presente Acordo, por mútuoentendimento das Partes, serão dispostos de acordocom o que venha a ser estabelecido entre as Partes.

V.4 — As obrigações assumidas pelo Governo Federal, deacordo com o Artigo IV deste Acordo, permanecerão emvigor após a suspensão ou término deste Acordo, confor-me o item V.2 acima, pelo tempo necessário para permi-tir a liquidação ordenada das operações e retirada de per-tences, fundos de haveres do PMA, de seus funcionários ede outras pessoas que estejam a serviço do PMA na execu-ção deste Acordo.

V.5 — Qualquer controvérsia, decorrente ou relativa aopresente Acordo, será solucionada através de negociaçõescordiais entre o PMA e o Governo Federal. Entretantoqualquer controvérsia decorrente ou relativa ao presenteAcordo, que não possa ser solucionada por negociação ououtro modo de entendimento, será submetida a arbitra-gem a pedido de uma das Partes. A arbitragem será realiza-da em Roma.

Cada Parte indicará um árbitro e dará conhecimento a elesobre os fatos do caso e notificará a outra Parte o nomedo seu árbitro. Caso os árbitros não cheguem a um acordoquanto ao laudo, dever-se-á imediatamente nomear um de-sempatador. Se, dentro de 30 (trinta) dias a partir do pe-dido de arbitragem, cada Parte não tiver indicado um árbi-tro, ou se os árbitros não chegarem a um acordo sobre olaudo e sobre a eventual indicação de um desempatador,qualquer das Partes poderá solicitar ao Presidente da Cor-te Internacional de Justiça a indicação de um árbitro oudesempatador conforme o caso. As despesas com a arbi-tragem serão cobertas pelas Partes conforme fique estabe-lecido no laudo arbitrai. O laudo arbitrai será aceito pelasPartes como decisão final da ocorrência.

Em testemunho do que, os abaixo assinados, devidamente

autorizados, assinam o presente Acordo.

Feito em Brasília, aos 13 dias do mês de janeiro de 1987,em dois exemplares originais, nos idiomas português e in-glês, sendo ambos igualmente autênticos.

Pelo Governo da República Federativa do Brasil:

Ronaldo Costa Couto

Pelo Governo do Estado de Minas Gerais:

Hélio Garcia

Pelo Programa Mundial de Alimentos:

Peter Koenz

ACORDO PARA REABILITAÇÃO DAAGRICULTURA E DA INFRA-ESTRUTURARURAL E COMUNITÁRIA EM ÁREASATINGIDAS PELAS SECAS E ENCHENTESNOS ESTADOS DA PARAÍBA, RIO GRANDEDO NORTE E PIAUl'

O Governo da República Federativa do BrasileO Programa Mundial de Alimentos,

Considerando que o Governo da República Federativa doBrasil (doravante denominado "o Governo Federal") soli-citou a assistência do Programa Mundial de Alimentos/Na-ções Unidas/FAO (doravante denominado "o PMA") paraimplementar um projeto de assistência a pequenos agricul-tores e trabalhadores rurais sem terra em áreas atingidaspelas secas e enchentes nos Estados do Piauí, Paraíba eRio Grande do Norte, visando à reabilitação da agriculturae da infra-estrutura rural e comunitária, o qual assumiu ca-ráter de urgência.

Considerando que o Diretor Executivo do PMA aprovou oprojeto sob o procedimento de "Ação Rápida" em 23 dedezembro de 1985,

Convieram no seguinte:

ARTIGO IObjetivo e descrição do Projeto do Governo

e da assistência do PMA ao Projeto

O objetivo geral do projeto é assistir ao Governo em seusesforços no sentido de reestabelecer atividades económi-cas nas áreas atingidas pelas secas e pelas enchentes noPiauí, Paraíba e Rio Grande do Norte através da execuçãode pequenas obras de engenharia e da reconstrução da in-fra-estrutura danificada, visando a um maior e mais racio-nal uso dos recursos hídricos, à maior produção de ali-mentos básicos e à melhoria das condições de vida de pe-quenos agricultores de baixa renda, o Governo Federal eos Governos dos Estados do Piauí, Paraíba e Rio Grandedo Norte (doravante denominados "Governos Estaduais")

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iniciarão uma série de esquemas de reabilitação; a assistên-cia do PMA facilitará grandemente a execução e aumenta-rá o impacto desses esquemas.

1.1 — As seguintes atividades específicas estão previstas:

1.1.1 — Armazenamento/utilização de água.

A construção ou reconstrução de 80 pequenos açudes (50açudes no Estado do Piauí e 30 no Rio Grande do Norte),muitos dos quais foram destruídos pelas recentes enchen-tes. De acordo com um modelo testado, feito pelo Depar-tamento Nacional de Obras Contra a Seca (DNOCS), estesaçudes estarão localizados em micro-bacias abastecidaspor pequenas correntes alimentadas por chuvas que secamdurante a estiagem e destinam-se a suprir as necessidadeshídricas da produção agrícola. Cada açude requer a remo-ção de cerca de 800 metros cúbicos de terra e rocha que,numa média de trabalho de 0,4 metros por homem/dia,exigirá 2.000 homens/dia por açude ou um total de160.000 homens/dia.

1.1.2 — Construção de sistemas de suprimento de água po-tável.

Será escavado um total de 450 cacimbões (150 em cadaestado). Cada cacimbão, medindo 3,5m de diâmetro por7,5m de profundidade, exigirá 140 homens/dia para ser

construído. Para o total de cacimbões planejados serão ne-cessários 63.000 homens/dia. Cada cacimbão suprirá asnecessidades de água potável de cerca de 60 pessoas. Alémdisso, 1.146 cisternas (500 no Piauí, 500 no Rio Grandedo Norte e 146 na Paraíba) serão construídas junto às mo-radias das famílias beneficiárias. Serão necessários cercade 45 homens/dia para cada cisterna, a uma média diáriade escavação de 0,5 metros cúbicos por trabalhador. Estaatividade exigirá um total de 51.570 homens/dia e, depoisde terminada, atenderá às necessidades de água potável deaproximadamente 18.000 pessoas.

1.1.3 — Melhoria da terra e estímulo à produção de ali-mentos.

Como parte do programa do Governo Federal para a in--trodução do cultivo de variedades de alimentos básicos re-sistentes à seca e de alto rendimento, adequadas às condi-ções de clima e solo da área do projeto e para possibilitaraos pequenos agricultores melhorar a produção de alimen-tos e aumentar sua área plantada, o projeto apoiará a lim-peza da terra (remoção de pedras, tocos de árvores, e tc ) ,a preparação do terreno (incluindo terraços, valas e con-tornos) e a plantação de 15.661 hectares, ou seja, 4.800ha. no Piauí, 350 ha. no Rio Grande do Norte e 10.511ha. na Paraíba. Este último inclui 10 ha. para o preparo de88 hortas comunitárias, a uma razão de 6 homens/dia paracada horta.

milho/feijão

mandioca

oleaginosas

sorgo

bananas

árvores frutíferas

hortas

TOTAL

Piauí

(ha)

3.500

600

200

500

-

-

-

4.800

Rio Grandedo Norte

(ha)

200

-

-

-

-

150

-

350

Paraíba

(ha)

10.500

-

-

-

1

-

10

10.511

Total

(ha)

14.200

600

200

500

1

150

10

15.661

Hom./diapor ha

60

90

120

120

60

120

50

Totalhom./dia

852.000

54.000

24.000

60.000

60

18.000

500

1.008.560

Quando todos os trabalhos estiverem terminados, a produ-ção anual esperada, em kilogramas por hectare, é estimadaem 1.200 kg para o milho, 800 kg para o sorgo e 600 kgpara o feijão (no momento, a produção máxima é inferiora 800 kg para o milho, 500 kg para o sorgo e 400 kg parao feijão).

1.1.4 — Construção/reconstrução de moradias.

Aproximadamente 1.800 casas (1.200 no Piauí e 600 noRio Grande do Norte) serão construídas ou reconstruídas.Estas casas beneficiarão especialmente aquelas famíliascujas moradias foram perdidas ou severamente danificadas

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durante as enchentes. Através de um esforço conjunto, oMinistério do Desenvolvimento Urbano e o Ministério doInterior, com o apoio financeiro do Banco Mundial ("Pro-jeto de Reconstrução Urbana Pós-Enchente no Nordeste",financiado com um empréstimo de US$ 70milhões) serãoadquiridos os materiais de construção necessários que se-rão colocados à disposição dos beneficiários do projeto abaixíssimo custo. Em sistema de mutirão, serão necessá-rios cerca de 120 homens/dia por casa, ou um total de216.000 homens/dia.

1.1.5 — Construção de infra-estrutura comunitária.

Está prevista a implantação de um total de 917 obras devários tipos, tais como sistemas simples de suprimento deágua, pequenos armazéns, obras de saneamento básico, ca-sas de farinha, lavanderias e currais, que objetivam melho-rar as condições de vida das comunidades rurais atingidas.A uma média de trabalho de 160 homens/dia por unidade,prevê-se a execução de 200 obras no Piauí, 567 na Paraíbae 150 no Rio Grande do Norte, perfazendo um total de146.720 homens/dia (Piauí = 32.000; Paraíba = 90.720;Rio Grande do Norte = 24.000).

1.1.6 — Melhoramento de estradas vicinais. Adicionalmen-te serão melhorados cerca dê 382 km de estradas vicinaisdanificadas, sendo 150 km no Piauí e 232 km na Paraíba.O trabalho consiste na construção de obras simples de dre-nagem e macadamização e requer uma média de 100 ho-mens/dia por km, perfazendo um total de 38.200 ho-mens/dia.

Para realizar todas as atividades do projeto, conforme des-crito acima, serão necessários um total d* aproximada-mente 1.700.000 homens/dia. Está previsto que aproxi-madamente 9.000 famílias rurais (45.000 pessoas) se be-neficiarão diretamente do projeto.

I.2 — Beneficiáriose critérios de seleção:

Os beneficiários do projeto serão selecionados, em consul-ta com os sindicatos locais de trabalhadores rurais, a Defe-sa Civil e associações religiosas, entre as famílias rurais demais baixa renda, que foram mais gravemente atingidas pe-las secas e enchentes e que perderam suas colheitas e/oumoradias, que são trabalhadores rurais sem terras ou pe-quenos proprietários, chefes de família comprovados, ho-mens ou mulheres, parcial ou totalmente desempregados.Motoristas, comerciantes, tratoristas e outros empregadospermanentes remunerados não poderão qualificar-se comobeneficiários .do programa. Espera-se que, ao final do pro-jeto, a maior disponibilidade de água e o aumento da áreacultivada, com a utilização de práticas de cultivo apropria-das, venha a aumentar a disponibilidade de alimento paraconsumo familiar e também permitir um aumento dos ex-cedentes para comercialização.

1.3 — Coordenação e supervisão das atividades:

O desenho e a assistência na construção das obras de infra-estrutura previstas são da responsabilidade das instituiçõesparticipantes, sob a supervisão e coordenação das respecti-vas Secretarias de Planejamento dos Estados. As atividadesde reabilitação agrícola serão efetuadas sob a orientaçãodas Secretarias de Agricultura dos Governos Estaduais,através da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Ru-ral (EMATER). O pessoal de campo das instituições Go-vernos Estaduais envolvido (engenheiros civis, agrónomos,extensionistas rurais e do lar) proporcionarão aos traba-lhadores o treinamento técnico necessário e instruirão osbeneficiários a respeito do uso adequado dos géneros doPMA. A Secretaria de Saúde de cada Governo Estadual re-forçará suas atividades de controle da saúde nas áreas doprojeto.

ARTIGO IIObrigações do PMA

O PMA se compromete a assumir as seguintes obrigações

específicas:

11.1 — Fornecimento de ajuda alimentar:

11.1.1 — O PMA fornecerá ao Governo Federal, nos portosde Fortaleza, João Pessoa, Natal, Recife, Cabedelo e/ouSantos, os géneros abaixo relacionados, em quantidadesque não excederão àquelas especificadas para cada género.Seu valor total, incluindo o custo de frete e superinten-dência, é calculado em US$ 1.896.000,00.

Géneros

Trigo

Leguminosas

Peixe seco

Leite em pó

Toneladas métricas

3.400

255

255

340

11.1.2 — A assistência do PMA será fornecida por um pe-ríodo de um ano, a contar da data do início da distribui-ção dos géneros alimentícios do PMA.

11.1.3 — Os géneros alimentícios mencionados acima serãoembarcados em parcelas, sendo o primeiro carregamentoenviado na primeira oportunidade, após o PMA ter sidoinformado pelo Governo Federal sobre a consecução detodas as medidas preparatórias, através de uma Carta de

Compromisso. A fim de possibilitar o início do projeto omais rápido possível, o PMA concorda em que as ativida-des comecem, se necessário, antes do primeiro carrega-mento ser feito pelo PMA, utilizando-se, a título de em-

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préstimo, alimentos fornecidos pelo Governo Federal oupelos Governos Estaduais, após a aceitação da Carta deCompromisso. Os alimentos emprestados serão posterior-mente restituídos pelo PMA, dentro do compromisso esta-belecido neste Artigo.

11.2 — Assessoria para a execução do projeto:

11.2.1 — Os serviços dos funcionários do PMA, no seu es-critório em Brasília, estarão disponíveis a fim de providen-ciar assistência e assessoria ao Governo Federal, com rela-ção à supervisão de manuseio, armazenagem, transporte edistribuição de alimentos.

11.2.2 —O PMA manterá os Governos dos Estados doPiauí, da Paraíba e do Rio Grande do Norte informados,na medida do possível, sobre o andamento das providên-cias referentes ao fornecimento dos géneros alimentícios.

ARTIGO II IObrigações do Governo Federal

111.1 — Responsabilidade geral pela implementação doprojeto:

O Projeto será implementado sob a responsabilidade geraldo Governo da República Federativa do Brasil.

Com relação a assuntos de natureza política ligados aoProjeto, o Departamento de Temas Internacionais do Mi-nistério das Relações Exteriores servirá como canal ofi-cial de comunicações entre o Governo Federal e o PMA.

O PMA manterá contatos estreitos com os vários Gover-nos Estaduais sobre assuntos relacionados com a execuçãodo Projeto.

Cada Estado indicará um coordenador do Projeto para osrespectivos componentes, sendo que estes coordenadoresconstituirão um grupo de trabalho interestadual que sereunirá, no mínimo a cada três meses, para o intercâmbiode informações relativas à execução do projeto.

Os relatórios trimestrais, assim como outros relatórios so-licitados pelo PMA, especialmente aqueles especificados eilustrados no Anexo B, serão submetidos por cada Gover-no Estadual participante e serão consolidados pelo grupode trabalho interestadual antes de serem submetidos à re-presentação do PMA.

111.2 — Obrigações específicas de cada Governo Estadual:

III .2.1 —No Estado da Paraíba o projeto será implemen-tado sob a responsabilidade geral da Secretaria do Planeja-mento e Coordenação Geral, com a qual o PMA tratarádos assuntos relativos à execução do projeto. O Secretá-rio do Planejamento nomeará o coordenador do projeto.A nível de campo, o CIDAGRO (Companhia Integrada deDesenvolvimento Agropecuário), com a participação daCIDHORT (Cidades Hortigranjeiras S/A), se encarregará

do manuseio, armazenagem, transporte e distribuição dosalimentos do PMA, da aquisição de produtos locais, bemcomo das atividades de contabilização e informação sobreo movimento de géneros. A EMATER—PB será responsá-vel pela cotidiana supervisão técnica e operacional do pro-jeto, bem como pela seleção e pelo cadastramento dos be-neficiários.

111.2.2 — No Estado do Piauí o projeto será implementadosob a responsabilidade geral da Secretaria da Agriculturado Estado. A coordenação do projeto será da responsabili-dade da EMATER—PI e estará sediada em Teresina. Para aarmazenagem, a EMATER-P I terá a colaboração daCIBRAZEM (Companhia Brasileira de Armazenamento).O transporte dos alimentos do porto de Fortaleza para osarmazéns em Teresina será feito por empresas especializa-das; em base contratual. Destes armazéns até os municí-pios, o transporte será efetuado por veículos destacadospara a coordenação do projeto.

111.2.3 — No Estado do Rio Grande do Norte o projecto se-rá implementado sob a responsabilidade geral da Secreta-ria de Planejamento do Estado. A nível de campo, oacompanhamento técnico e administrativo estará a cargoda E M A T E R - R N e da C I D A - R N (Companhia Integradade Desenvolvimento Agropecuário), as quais também se-rão responsáveis pela seleção e registro dos beneficiários,em consulta com outros órgãos governamentais e com ascomunidades. A troca do trigo por alimentos locais (veritem III.3) será efetuada por intermédio da COBAL. Otransporte, a armazenagem, o empacotamento e as demaisfunções logísticas serão executadas através da CIBRA-ZEM.

I I I .3 — Permuta de géneros do PMA por alimentos local-mente produzidos:

Parte do trigo em grão a ser fornecido pelo PMA no âmbi-to do presente Acordo será trocado com base no valor poralimentos produzidos localmente, tais como: óleo vegetal,arroz, fubá, farinha de mandioca, açúcar, feijão e/ou ou-tros produtos comparáveis, dependendo da disponibilida-de desses géneros. Através de convénio complementar aser firmado entre os Governos Estaduais envolvidos, oPMA e as autoridades governamentais responsáveis peloabastecimento do trigo, serão estabelecidos os procedi-mentos a respeito desta troca.

II I .4 — Sistema de distribuição e registro:

Cada Estado estabelecerá, em coordenação com as autori-dades agrícolas e de planejamento, um sistema de distri-buição e registro para o controle de recebimento, armaze-nagem e distribuição dos alimentos a serem fornecidos aostrabalhadores, a fim de administrar e controlar as qualida-des e tipos de alimentos distribuídos em troca do trabalhorealizado.

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I I I .5 - Os Governos Estaduais concordam prover:

111.5.1 -O pessoal para operacionalizar as atividades a se-rem apoiadas pela assistência alimentar, consistindo de 18técnicos de nível superior, 11 técnicos de nível médio, 8funcionários administrativos e 1 coordenador no Piauí(US$ 140.000,00); 1 coordenador do projeto, 5 coordena-dores setoriais, 10 gerentes técnicos, 40 técnicos de cam-po, 10 motoristas e 5 funcionários administrativos na Pa-raíba (US$ 130.000,00); e 1 coordenador do projeto, 3coordenadores setoriais, 5 gerentes técnicos e 25 técnicosde campo no Rio Grande do Norte (US$45.000,00). Ocusto total deste pessoal está estimado no equivalente aUS$315.000,00.

111.5.2 —O manuseio adequado e transporte apropriado,reacondicionamento e distribuição dos géneros do PMAdesde os portos de Fortaleza, João Pessoa, Natal, Recife,Cabedelo e/ou Santos, a um custo estimativo equivalentea US$ 108.000,00, conforme especificado para cada Esta-do:

111.5.2.1. — O Governo Estadual interessado receberá e to-mará posse dos alimentos enviados pelo PMA em naviosregulares, quando e à medida que os alimentos for»m des-carregados nas docas ou, em caso de barcagem, por oca-sião desta. Entretanto, quando a barcagem for providen-ciada por proprietários do navio ou for da responsabilida-de destes, o recebimento e posse dos alimentos pelo Go-verno Estadual interessado serão realizados no ato da des-carga da barca nas docas.

111.5.2.2. — No caso de alimentos enviados pelo PMA deacordo com contrato de afretamento efetuado entre oPMA e proprietários de navios ou proprietários — procu-radores, o recebimento e a posse dos alimentos enviadospelo PMA serão realizados pelo Governo Estadual interes-sado nos porões do navio, ou, no caso de barcagem, noato da descarga dos alimentos do navio para a barca.

111.5.2.3. — No caso de géneros transportados por terra, orecebimento e a posse destes serão realizados pelo Gover-no Estadual interessado nos pontos de entrega previamen-te estabelecidos.

111.5.2.4. — Em todos os casos, o Governo Estadual inte-ressado se compromete a garantir a rápida descarga donavio, caminhão ou outro meio de transporte.

111.5.2.5. — A partir do ponto de entrega dos alimentos,

todas as despesas compreendendo, entre outras, o custo

de direitos de importação, impostos, taxas, bem como os

direitos de aportamento, cais, desembarque, barcagem, ar-

mazenamento, triagem e direitos similares serão pagos ou

renunciados pelo Governo Estadual interessado.

111.5.2.6. — No caso de descarga de alimentos enviados deacordo com contrato de afretamento entre o PMA e pro-prietários ou proprietários — procuradores, qualquer mul-ta por retenção do navio causada pelo Governo, deixando

de providenciar a rápida ancoragem e/ou descarga do na-vio ou de outro veículo, será por conta do Governo Esta-dual interessado.

111.5.2.7. — Em todos os outros contratos de carregamen-to, a indenização resultante da detenção do navio peloGoverno Estadual interessado, por deixar de receber e to-mar posse imediata dos géneros enviados pelo PMA, serápaga pelo Governo.

111.5.2.8. - S e qualquer dos encargos acima mencionadosfor pago pelo PMA em primeira instância, o Governo Es-tadual interessado providenciará o imediato reembolsodesse encargo ao PMA.

111.5.2.9. — O Governo Estadual interessado permitirá quesuperintendentes designados pelo PMA façam o levanta-mento das condições dos alimentos na ocasião, ou o maisimediatamente possível após a descarga, af im de determi-nar as condições e o volume das perdas e/ou danos obser-vados, com o objetivo de elaborar um certificado de supe-rintendência que permitirá, se necessário, mcver ação con-tra a empresa transportadora ou seguradora, em caso deperdas e danos.

111.5.2.10. —Não obstante quaisquer outros termos cons-tantes neste Acordo, o PMA terá o direito exclusivo demover quaisquer reivindicações contra empresas de trans-porte marítimo ou terrestre com relação a danos e/ou per-das que ocorram antes da transferência de posse dos ali-mentos do PMA ao Governo Estadual interessado, e deprosseguir, abandonar ou resolver tais reivindicações,como lhe convier. O PMA atuará como agente em favordo Governo Estadual interessado, o qual lhe emprestaráo nome para quaisquer procedimentos legaisque se fizeremnecessários, se assim o PMA solicitar.

111.5.2.11. —Sem prejuízo da definição de "transferênciade posse" acima mencionada, quando a entrega efetivados alimentos se estender por mais tempo que a transfe-rência de posse, o PMA terá o direito, em seu arbítrio, dereivindicar em favor do Governo Estadual interessado asperdas ocorridas no período entre a transferência de possee a efetiva entrega dos alimentos.

111.5.2.12. — Em qualquer circunstância, a hora e o localda transferência de posse, conforme estipulado acima, nãoestarão sob a influência de qualquer endosso ou consigna-ção do conhecimento de embarque. Qualquer consignaçãoou endosso será efetuado exclusivamente para a conve-niência do PMA ou do Governo Estadual interessado.

II 1.5.2.13. — Com relação a embarques a granel ou feitosem navios fretados pelo PMA, os pesos constantes do co-nhecimento de embarque deverão ser considerados comodefinitivos entre o PMA e o Governo Estadual interessado.Na chegada do navio o PMA providenciará um levanta-mento para averiguar, por aproximação, a quantidade decarga a bordo. Caso o peso observado a bordo, conformeaveriguado no levantamento, indique uma discrepância

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significativa com relação ao peso constante no conheci-mento de embarque, o PMA investigará tal discrepânciaem inteira cooperação com o Governo Estadual interessa-do. Ao final da descarga, é da responsabilidade do Gover-no Estadual interessado assegurar que nenhuma carga sejadeixada a bordo do navio. Caso o navio transporte cargapara mais de um porto, é da responsabilidade do GovernoEstadual interessado assegurar que as quantidades corretassejam descarregadas em cada porto.

III.5.2.14. — Com relação a embarques que chegem em- "containers" carregados e transportados de acordo com os-termos do "Full Container Load" (F.C.L.).o Governo Es-tadual interessado será responsável pelo esvaziamento doscontainers. O superintendente do PMA deverá estar pre-sente no ato do esvaziamento dos containers no porto dedescarga do navio, que deverá ocorrer imediatamente apóso descarregamento do navio. Quaisquer danos e/ou perdasobservados na ocasião serão considerados como tendoocorrido durante o período em que a carga estava sob aposse do PMA. Se o esvaziamento dos containers for retar-dado e/ou for realizado sem que o superintendente doPMA esteja presente, quaisquer danos e/ou perdas serãoconsiderados como tendo ocorrido após o PMA havertransferido ao Governo Estadual interessado a posse dosalimentos. Se os containers forem transportados do porto

• de descarga, sem serem abertos, até a área do projeto, paraa conveniência do Governo Estadual interessado, os supe-rintendentes do PMA não serão obrigados a se dirigir aolocal do esvaziamento, e quaisquer dano Estadual interes-sados e/ou perdas correrão por conta do Governo, que te-rá o direito de reivindicar tais perdas contra os transporta-dores.

II 1.5.3 — Instalações de armazenagem adequadas, compre-endendo a inspeção da armazenagem, higiene dos arma-zéns, desinfestação, fumigação e/ou reembalagem dos gé-neros do PMA, a um custo estimativo total equivalente aUS$ 60.000,00, sendo USS 26.000,00 para a Paraíba,US$ 24.000,00 para o Piauí' e US$ 10.000,00 para o RioGrande do Norte.

I I I .6 — Início da execução do projeto:

Na consecução das medidas preparatórias ao início da as-sistência alimentar ao projeto, o Governo Federal, atravésdos Governos dos Estados do Piauí, Rio Grande do Nortee Paraíba, notificará o PMA, através de Carta de Compro-misso, sobre a confirmação de disponibilidade de alimen-tos locais (Art. II I.3), sobre a adequada disponibilidade demão-deobra e de pessoal técnico e administrativo do pro-jeto, e sobre o estabelecimento do sistema de distribuiçãoindependente com relaoffo aos itens enumerados em II I .4e I I I .5 acima. Esta Carta de Compromisso tam'5ém confir-mará que todos os outros insumos essenciais do GovernoEstadual interessado, necessários para a consecução opor-tuna e bem sucedida do projeto, estão ou tornar-se-ão dis-poníveis como e quando necessários. As atividades do pro-

jeto em cada Estado poderão ser iniciadas após o recebi-mento e a aceitação pelo PMA das respectivas Cartas deCompromisso.

MH.7 — Informações sobre o andamento do projeto.

Os Governos Estaduais encaminharão ao PMA, ao finalde cada trimestre, um relatório de andamento sobre asoperações do projeto, conforme estabelecido no Anexo.Este relatório, na medida do possível, deverá ser consoli-dado para os três Estados envolvidos no projeto, durantereuniões dos coordenadores estaduais do projeto.

Ao final do projeto, os Governos Estaduais encaminharãoum relatório final que deverá conter, entre outros, a quan-tidade total de géneros recebidos, a quantidade de produ-tos locais obtidos em troca do trigo, sua distribuição emcada área do projeto, o número total de beneficiários, osestoques remanescentes, qualquer perda ocorrida duranteo período do projeto, as obras realizadas, e infra-estruturaconstruída e os benefícios derivados da assistência doPMA.

O relatório final deverá também incluir as contas dos gé-neros do PMA auditoriadas e certificadas por um auditordo Governo ou por um funcionário competente do Gover-no que não esteja ligado às operações do projeto ou ao

Departamento ou órgão responsável pelas operações doprojeto. Dentro do possível, esse relatório também seráconsolidado com informações dos três Estados.

I I I .8 — Utilização dos alimentos:

III.8.1 —Os Governos Estaduais distribuirão os génerosalimentícios do PMA como um incentivo à participaçãovoluntária da mão-de-obra nos trabalhos de reabilitaçãoexpostos no Artigo I, respeitando-se as normas indicadaspara cada atividade no Anexo I. Os trabalhadores voluntá-rios receberão cinco rações individuais, ou seja, para o be-neficiário e mais quatro dependentes para cada dia de tra-balho, observando-se uma média de 15 dias trabalhados aomês, para um período máximo de atendimento de 6 mesespor família. O número total de rações individuais será deaproxidamente 8.500.000, para um total de 1.700.000hom./dia.

Géneros

Trigo

Leguminosas

Peixe seco

Leite em pó

Gramas

400

30

30

40

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considerando-se o exposto no Artigo II 1.3, com relação à

parte de trigo da ração.

II 1.8.2 - Os Governos Estaduais tomarão as medidas ne-cessárias no sentido de prevenir a utilização não-autoriza-da dos alimentos fornecidos pelo PMA e assegurar que osgéneros mencionados no Art. 11.1.1 e Art. I I I .3 sejam dis-tribuídos exclusivamente aos beneficiários a que se refereo presente Acordo.

111.8.3 — Quaisquer géneros que permaneçam não utiliza-dos no Brasil ao final do projeto ou ao término do presen-te Acordo, por mútuo entendimento, serão disposto naforma que venha a ser mutuamente estabelecida entre asPartes deste Acordo.

111.8.4 —No caso de o Governo deixar de providenciar adisponibilidade de alimentos a serem fornecidos em trocados géneros oriundos do PMA na forma estabelecida noArt. I I I .3 ou no caso da não utilização de quaisquer géne-ros fornecidos pelo PMA (segundo o Artigo 11.1) ou de gé-neros fornecidos pelo Governo em troca daqueles oriun-dos do PMA conforme estabelecido no Art. III.8.1 acima,o PMA poderá, sem prejuízo à aplicação do disposto noArt. IV. 3, solicitar o retorno dos mencionados géneros aoponjo original de entrega.

111.9 — Facilidades para a observação do projeto:

O Governo Federal e os Governos Estaduais envolvidosproporcionarão ao PMA, a seus funcionários e consulto-,res, as facilidades necessárias à observação das operaçõesdo projeto em todas as suas fases.

111.10 — Facilidades, privilégios e imunidades:

111.10.1 —O Governo Federal concederá aos funcionáriose consultores do PMA e a outras pessoas que executemserviços em nome do PMA, facilidades tais como as conce-didas àqueles das Nações Unidas e Agências Especializa-das.

111.10.2 —O Governo Federal aplicará as disposições daConvenção sobre os Privilégios e Imunidades das AgênciasEspecializadas ao PMA, sua propriedade, fundos e haveres,e a seus funcionários e consultores.

111.10.3 —O Governo Federal será responsável pela nego-ciação a respeito de quaisquer reivindicações feitas porterceiros contra o PMA, seus funcionários., consultores eoutras pessoas que estejam a serviço do PMA no âmbitodeste Acordo, no sentido de que o Governo intervirá emtais reivindicações dentro dos limites da lei brasileira e deacordo com tratados internacionais aplicáveis e em vigorna época.

111.10.4 — O Governo Federal isentará o PMA e as pessoasmencionadas no item III .10.3 acima de prejuízos em casode reivindicações ou obrigações resultantes das operaçõesrealizadas no âmbito deste Acordo, em conformidade com

a lei brasileira, com os termos deste Acordo e com trata-dos internacionais aplicáveis vigentes na época, excetoquando ficar estabelecido, por acordo entre o GovernoFederal e o PMA, que tais reivindicações ou obrigações decorrem de grave negligência ou dolo de tais pessoas.

ARTIGO IVDisposições gerais

I V.1 — O presente Acordo entrará em vigor na data de suaassinatura.

IV.2 — Este projeto será considerado finalizado quando adistribuição dos géneros alimentícios fornecidos peloPMA aos beneficiários chegar ao fim.

IV.3 — Em caso do não cumprimento das obrigações esta-belecidas no presente Acordo por uma das Partes, a outrapoderá ou (a) suspender o cumprimento de suas obriga-ções, notificando, por escrito, à Parte faltosa com sessentadias de antecedência, ou (b) terminar o Acordo através decomunicação escrita nesse sentido à Parte faltosa, com ses-senta dias de antecedência.

IV.4 — Qualquer controvérsia, decorrente ou relativa aopresente Acordo, que não possa ser solucionada por nego-ciação ou outro modo de entendimento, será submetida aarbitragem a pedido de qualquer uma das Partes. A arbi-tragem será realizada num lugar fora do país beneficiário,a ser estabelecido entre as Partes. Cada Parte indicará umárbitro e dará conhecimento a ele sobre os fatos do caso.Se os árbitros não chegarem a um acordo quanto ao lau-do, deverão nomear imediatamente um desempatador. Se,dentro de trinta dias a partir do pedido de arbitragem, ca-da Parte não tiver indicado um árbitro ou se os árbitrosnão chegarem a um acordo sobre o laudo ou sobre a indi-cação de um desempatador, qualquer das Partes poderásolicitar ao Presidente da Corte Internacional de Justiça aindicação de um árbitro ou desempatador, conforme o ca-so. As despesas com a arbitragem serão cobertas pelas Par-tes, conforme fique estabelecido no laudo arbitrai. O lau-do arbitrai será aceito pelas Partes como a decisão final dacontrovérsia.

Em testemunho do que, os abaixo-assinados, devidamenteautorizados, assinam o presente Acordo.

Feito em Brasília, aos 02 dias do mês de fevereiro de1987, em dois originais nos idiomas português e inglês,sendo ambos os textos igualmente autênticos.

Pelo Governo da República Federativa do Brasil:

Roberto de Abreu Sodré

Pelo Governo do Estado da Paraíba:

Luiz Carlos Rodrigues Teixeira

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Pelo Governo do Estado do Rio Grande do Norte:

Haroldo de Sá Bezerra

Pelo Governo do Estado do Piauí:

José Raimundo Bona Medeiros

Pelo Programa Mundial de Alimentos (PMA):

Peter Koenz

ACORDO SOBRE ASSISTÊNCIA TÉCNICAPARA O PROJETO DE IRRIGAÇÃO DO ALTOE MÉDIO SÃO FRANCISCO

Considerando que o Governo da República Federativa doBrasil (doravante denominado "o Governo") e a Organiza-ção das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação(doravante denominado "FAO") , mantiveram consultascom vistas a serviços técnicos e outros a serem fornecidospela FAO no âmbito do "Projeto de Irrigação do Alto eMédio São Francisco" (doravante denominado "o Proje-to").

Considerando que o Governo, depois de consultas com oBanco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimen-to (doravante denominado "o Banco") decidiu usar partedos recursos de um empréstimo do Banco para financiaros serviços especificados neste Acordo (doravante denomi-nados "os Serviços").

Considerando que a FAO concordou em prover os servi-ços identificados sob a sigla e título UTF/BRA/026/BRA:"Assistência Técnica ao Projeto de Irrigação do Alto e Mé-dio São Francisco" e estabelecer a conta n° 1687.00 doFundo de Fideicomisso com esta finalidade.

Em consequência, o Governo e a FAO acordam o seguin-te:

ARTIGO I

1. A FAO será responsável pela provisão, com a devidadiligência e eficiência, dos serviços de assessoria técnica,assim como qualquer fornecimento ou outros serviços des-critos no Anexo I do presente Acordo. A duração da pres-tação dos serviços é estimada em 42 meses, calculada apartir da data de entrada em vigor do presente Acordo se-gundo as disposições do Artigo I I I , parágrafo 4 edo Arti-go XI I I a seguir. O Plano de Trabalho e termos de referên-cia estão explicitados no Anexo II do Presente Acordo.

2. 0 Governo será responsável pela implementação inte-

gral do Projeto.

3. O Governo e a FAO consultar-se-ão mutuamente comrespeito a todos os aspectos relativos à prestação dos Ser-viços previstos no âmbito do presente Acordo.

ARTIGO II

1. O custo total da prestação dos Serviços, inclusive omontante específico para apoio do programa da FAO é es-timado em US$ 3.700.000 conforme especificado no orça-mento constante no Anexo I I I . Este custo não poderá serultrapassado sem o consentimento prévio do Governo. Ca-so o custo total dos Serviços oscile para mais ou para me-nos, o montante referente ao apoio do programa da FAOserá ajustado por um acréscimo ou decréscimo proporcio-nal.

2. O Governo se compromete, após a entrada em vigordeste Acordo nos termos do Artigo X I I , a submeter aoBIRD uma solicitação para saque, com cópia para a FAO(Divisão de Serviços Financeiros) que cubra o custo totalda prestação dos Serviços especificados acima.

ARTIGO III

1. No momento do recebimento pela FAO da notificaçãodo Banco que a solicitação especificada no Artigo I I , pará-grafo 2 foi recebida em ordem e aceita, a FAO solicitaráao Banco que faça pagamento d ireto de US$ 574,375, emfavor da conta especificada no parágrafo 3 do presente Ar-tigo, a fim de cobrir o custo estimado da prestação dosServiços por um período inicial de seis meses. A FAO secompromete a enviar cópia desta solicitação ao Governo.

2. a) Posteriormente, a FAO submeterá requisições de pa-gamento ao Banco, com cópia para o Governo, baseadasem demonstrações trimestrais que reflitam despesas esti-madas para os seis meses seguintes, menos quaisquer paga-mentos efetivamente recebidos. As requisições de paga-mentos e demonstrações indicarão o montante requeridopara cobrir o custo estimado da prestação dos Serviços du-rante o período seguinte de seis meses.

b) Os pagamentos à FAO não prejudicarão o direito doGoverno a concorrer a qualquer montante solicitado pelaFAO e a instruir o Banco a ajustar qualquer pagamentofuturo pela quantia em disputa.

c) O Governo também retém o direito de cancelar esteAcordo de pagamento através de notificação escrita, àFAO e ao Banco, sobre as mudanças acordadas no crono-grama de pagamento.

3. Qualquer transação financeira será registrada numaconta separada estabelecida para este fim. Qualquer paga-mento à FAO será feito em dólares dos Estados Unidos daAmérica e pagos em favor da Conta Geral em Dólares daFAO/NU Banca Commerciale Italiana — Filial da FAO,Roma, com indicação de que o montante deve ser credita-do na conta n° 1687.00 do Fundo de Fideicomisso.

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4. A FAO não será solicitada a iniciar ou a continuar aprestação dos Serviços até que os pagamentos respectivosacima referidos tenham sido recebidos nem a assumirqualquer responsabilidade no excesso de fundos credita-dos na conta acima referida.

ARTIGO IV

1. A FAO proverá o pessoal necessário à execução dosServiços, ou subcontratará parte ou a totalidade dessesServiços, desde que o recrutamento de qualquer pessoal(à exceçSo do pessoal da FAO) ou de qualquer subcontra-tador, e os termos e condições dos mesmos, seja feito apósa aprovação do Governo.

a) a FAO tomará medidas para cobrir todos os pagamen-tos devidos a este pessoal ou aos subcontratadores e quais-quer outras despesas relacionadas com o seu encargo.

b) no desempenho de suas responsabilidades, de acordocom os respectivos termos de referência em seus contra-tos, esse pessoal ou os subcontratadores serão encarrega-dos do trabalho com a Agência Governamental responsá-vel pelo Projeto, cooperará estreitamente com o pessoaldo Governo e assistirá na implementação do Projeto deacordo com as diretrizes globais estabelecidas pelo Gover-no, em consulta com a FAO. A FAO fornecerá a este pes-soal ou aos subcontratadores orientação apropriada, apoio

administrativo, apoio técnico e serviços de assessoria, se-gundo considere necessário para a implementação exitosados Serviços.

2. A FAO concederá, em consulta com o Governo, asbolsas de estudo e de treinamento referidas no Anexo I aopresente Acordo.

3. A FAO obterá o equipamento e os suprimentos especi-ficados nos Anexos I e II do presente Acordo. A proprie-dade desse equipamento e suprimento caberá ao Governo.Na medida em que os custos relativos a quaisquer direitosalfandegários, cobranças ou encargos referentes ao desem-barque, liberação de armazenagem e transporte internodesse equipamento e suprimentos para o país não estejasujeito a uma isenção pelo Governo, o Governo será res-ponsável por esses custos através de recursos que não se-jam os especificados no Anexo I I I .

4. Além dos acordos de seguro existentes pelos seus pro-cedimentos normais, conforme especificado nas disposi-ções pertinentes do Anexo 11, a FAO fará arranjos apro-priados para este outro seguro relativo aos Serviços previs-tos neste Acordo, conforme poderão ser solicitados peloGoverno. Esses arranjos serão acordados entre o Governoe a FAO.

ARTIGO V

A menos que seja acordado por escrito de forma diversa

entre o Governo e a FAO, o Governo será responsável,através de recursos que não sejam os especificados noAnexo I I I , pelos serviços administrativos de apoio neces-sários, tais como serviços locais de secretaria e outros ser-viços de pessoal, local de escritório, transporte de equipa-mentos e suprimentos dentro do país e comunicações se-gundo requerido para a implementação do Projeto e des-tes Serviços.

ARTIGO VI

Qualquer conta e demonstração financeiras serão expres-sas em dólares dos Estados Unidos da América e serão su-jeitas exclusivamente aos procedimentos de auditoria in-terna e externa estabelecidos nos Regulamentos Financei-ros, Regras e Diretrizes da FAO.

ARTIGO VII

Os seguintes acordos gerais financeiros e contábeis deve-rão ser seguidos em conformidade com os Serviços desteAcordo.

a) despesas com serviços de pessoal conforme especificadono Anexo III cobrirão salários, benefícios e outros direi-tos aplicáveis ao pessoal da FAO. A FAO orçamentará es-tes custos com base em custos reais estimados. A FAO se-rá reembolsada pela prestação desses serviços com base emcustos reais. Ajustes quanto à duração, a natureza e o cus-to desses serviços, conforme requerido, poderão sec feitosapós consulta entre o Governo e a FAO, caso isto sejaconsiderado de interesse do Projeto.

b) despesas de subcontratação conforme estipulados noAnexo III serão especificadas em contratos entre a FAO eos respectivos subcontratadores e serão limitadas aos cus-tos decorrentes desses contratos. Os ajustes na duração deseus serviços, mencionados no Anexo I I I , poderão ser fei-tos após consulta entre o Governo e a FAO caso isto sejaconsiderado de melhor interesse do Projeto.

c) despesas com bolsas de estudo, ou com outro treina-mento, segundo estipulado no Anexo I I I , serão feitas deacordo com as diretrizes da FAO referentes a bolsas de es-tudo e de treinamento. Dentro dessa alocação total, osajustes com respeito ao componente de treinamento pode-rão ser feitos após consultas entre a FAO e o Governo,caso isto seja considerado de interesse do Projeto.

d) despesas para a aquisição de equipamento serão feitasde acordo com as a locações especificadas no Anexo I I I .

e) se, devido a circunstâncias imprevistas, os fundos esti-pulados no Artigo I I , parágrafo 1 deste Acordo forem in-suficientes para cobrir o custo total da prestação dos ser-viços, a FAO informará o Governo a respeito. As Partesdeverão então realizar consultas visando acertar modifica-ções apropriadas nos Serviços de forma a assegurar que osrecursos fornecidos pelo Governo sejam suficientes paracobrir todas as despesas para a prestação dos Serviços.

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ARTIGO V I I I ARTIGO XII

1. A FAO submeterá os relatórios referentes aos Serviçosconforme sejam razoavelmente requeridos pela AgênciaGovernamental designada responsável pelo Projeto noexercício de suas atribuições conforme estipulado no Ane-xo I I . Além disso, o pessoal da FAO deverá assessorar oGoverno, se necessário, na preparação de relatórios comrelação a suas obrigações para com o Banco.

2. Após a conclusão pela FAO dos Serviços, um demons-trativo final de despesas deverá ser submetido ao Governo.

ARTIGO IX

Qualquer saldo de recursos que não seja desembolsado enâb esteja comprometido pela FAO na conclusão dos Ser-viços, deverá ser mantido pela FAO à disposição do Go-verno na conta referida no Artigo I I I , parágrafo 3.

ARTIGO X

1. Em todas as questões relacionadas com a execução deatividades previstas nesse Acordo, o Governo aplicará àFAO, suas propriedades, fundos e ativos, autoridades equalquer pessoa designada pela FAO para realizar serviçospor este Acordo, os dispositivos da Convenção Sobre osPrivilégios e Imunidades das Agências Especializadas e o

Anexo II do mesmo referente à FAO, conforme estipula-do no Artigo V (b) do Acordo Básico de Assistência Téc-nica assinado pelo Governo da República Federativa doBrasil e a Organização das Nações Unidas em 29 (vinte enove) de dezembro de 1964 (mil novecentos e sessenta equatro).

2. O Governo deverá negociar e solucionar reclamaçõespor terceiros contra a FAO, suas autoridades ou outraspessoas que estejam realizando serviços em seu nome, quenSo estejam cobertos pelos acertos de seguro feitos pelaFAO segundo o Artigo IV, parágrafo 4 do presente Acor-do, exceto quando for ajustado pela FAO e o Governoque essas reclamações ou responsabilidades derivem de ne-gligência grave ou má conduta voluntária desse pessoal oupessoas.

ARTIGO XI

1. Qualquer disputa, controvérsia ou reclamação decor-rente de, ou com relação a este Acordo ou qualquer viola-ção do mesmo deverá, a menos que acertada por negocia-ção direta, ser resolvida por arbitragem de acordo com asRegras de Arbitragem UNCITRAL em vigor na data emque este Acordo entre em vigor. As Partes do presenteconcordam em ficar comprometidas por qualquer decisãode arbitragem proferida de acordo com este parágrafo co-mo a adjudicação final de qualquer disputa.

Nada referente a qualquer disposição deste Acordo deveráser considerado como uma renunciados privilégiose imu-nidades da FAO.

ARTIGO XI I I

Qualquer modificação a este Acordo ou seus Anexos deve-rá ser efetuada por acordo mútuo das Partes através deuma troca de notas.

ARTIGO XIV

O presente Acordo entrará em vigor na data de sua assina-tura.

ARTIGO XV

1. Este Acordo poderá a qualquer momento, ser denun-ciado pelo Governo por meio de notificação por escrito àFAO.

2. Este Acordo poderá, a qualquer momento, ser denun-ciado pela FAO através de notificação escrita ao Governose, na sua opinião, a FAO considerar que, um evento ocor-rido fora de seu controle razoável, tome impossível para amesma cumprir suas obrigações no âmbito deste Acordo.

3. A denúncia surtirá efeito 60 (sessenta) dias após o re-cebimento da respectiva notificação.

4. As obrigações assumidas pelas Partes continuarão apóso seu término dentro do necessário para permitir a conclu-são ordenada de atividades, a retirada de pessoal, recursose propriedades, o acerto de contas entre as Partes do pre-sente e o acerto de responsabilidades contratuais que fo-rem requeridas com respeito a qualquer pessoal, contrata-dores, consultores ou fornecedores.

Feito em Brasília, aos 31 dias do mês de março de 1987,em dois originais, nos idiomas português e inglês, sendoambos os textos igualmente autênticos.

Pelo Governo da República Federativa do Brasil:

Roberto de Abreu Sodré

Pela Organização das Nações Unidas para Agricultura eAlimentação:

Edouard Saouma

os acordos entrebrasil e cuba

Memorando de Entendimento entre Brasil e Cuba, paracooperação bilateral no setor de comunicações, assinado, em

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Havana, em 23 de janeiro de 1987, pelos Ministros de Estadodat Comunicações dos doif países, António Carlos Magalhães

e Manuel Castillo Rabassa; Memorando para criação de umacomissSo ad hoc para revisto dos instrumentos legais vigentes

entre Brasil e Cuba e Acordo, por troca de Notas, para quefuncionários diplomáticos brasileiros e cubanos realizem

encontros periódicos para a consideração de temas daconjuntura internacional, assinados, em Havana, em 18 de

março de 1987, pelo Ministro de Estado das RelaçõesExteriores, Roberto de Abreu Sodré, e pelo Ministro das

Relações Exteriores de Cuba, Isidoro Malmierca Peoli.

MEMORANDO DE ENTENDIMENTO PARACOOPERAÇÃO NO SETOR DE COMUNICAÇÕES

O Governo da República Federativa do BrasileO Governo da República de Cuba,

CONSIDERANDO que os Ministros das Comunicações daRepública Federativa do Brasil e da República de Cuba sereuniram em Havana, no período de 21 a 24 de janeiro de1987, no marco do convite oficial do Governo cubano aoExmo. Sr. Dr. António Carlos Magalhães, Ministro de Es-tado das Comunicações do Brasil.

RECONHECENDO

A importância estratégica da modernização, expansão edesenvolvimento do setor das comunicações para o cresci-mento da economia, do intercâmbio cultural e técnico-científico, e melhoria do bem-estar da sociedade, e a con-sequente relevância de um eficiente sistema de comunica-ções para o desenvolvimento das relações entre o Brasil eCuba.

ANALISARAM os seguintes temas de interesse comumpara o desenvolvimento da cooperação bilateral no setordas comunicações:

— Colaboração para o desenvolvimento dos sistemas decorreios e de telecomunicações de Cuba, bem como intro-dução de novas tecnologias tropicalizadas de telecomuni-cações;

— Possibilidades de fornecimento de bens e serviços bra-sileiros para o desenvolvimento das comunicações cuba-nas;

— Consultas mútuas sobre a regulamentação internacio-nal de comunicações.

DECIDEM

1. Na Área da Cooperação para o Desenvolvimento:

Iniciar ações com vistas ao estabelecimento de um meca-nismo de cooperação bilateral que contemple as bases pa-

ra a implementação de um programa de intercâmbio entreas administrações de comunicações.

Com este objetivo, as Partes acordam envidar esforços nosentido de submeter às respectivas autoridades competen-tes, no prazo de seis meses, um projeto de instrumento decooperação bilateral no campo dos correios e telecomuni-cações.

Paralelamente, as Partes consideraram a necessidade dedar prioridade aos entendimentos para a concretização decooperação nas áreas de desenvolvimento de redes, imple-mentação de sistemas automatizados de gestão e supervi-são para a operação das redes telefónicas, assim como aimplementação do serviço de correio acelerado internacio-nal (CAI).

2. Na Área de Bens e Serviços:

Incentivar as negociações iniciadas em fevereiro de 1986,entre empresas brasileiras e cubanas, para o fornecimentode equipamentos brasileiros, entre os quais:

— centrais internacionais de telex;

— centrais telefónicas internacionais;

— centrais de comutação telefónica;

— cabos telefónicos convencionais e óticos;

— estações terrenas para comunicações por satélite;

— aparelhos telefónicos públicos e residenciais;

— sistemas de rádio muItiacesso;

— sistemas de rádio analógico e digital.

As Partes acordam realizar as necessárias gestões no senti-do de obter os recursos financeiros para viabilização des-tas negociações.

O Ministério das Comunicações do Brasil se dispõe a:

— assessorar a Administração de Comunicações da Repú-blica de Cuba nas negociações com a indústria brasileira;

— supervisionar a participação da indústria brasileira;

— assegurar o necessário controle de qualidade em fábri-ca dos produtos adquiridos no Brasil.

3. Na Areada Regulamentação Internacional:Incentivar o intercâmbio de informações e documentaçãotécnica que possam facilitar a realização de acordos regio-nais e internacionais no âmbito da União Internacional deTelecomunicações, da União Postal Universal e da UniãoPostal das Américas e Espanha.

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Finalmente,'os dois Ministros registram, com satisfação, amelhoria das comunicações entre os dois países, através dainauguração de comunicações telefónicas diretas entre am-bos os países.

O presente Memorando de Entendimento, firmado emexemplares originais nas línguas portuguesa e espanhola,fazendo ambos igualmente fé, entre em vigor na data desua assinatura.

Feito em Havana, em 23 de janeiro de 1987.

Pelo Governo da República Federativa do Brasil:

António Carlos Magalhães,Ministro de Estado das Comunicações.

Pelo Governo da República de Cuba:

Manuel Castillo Rabassa,Ministro de Estado das Comunicações.

4. Fixar, dentro dos sessenta dias seguintes à assinaturadeste Memorando, a data em que se efetuará a primeirareunião da Comissão ad hoc.

Feito em Havana, em 18 de março de 1987.

Pelo Ministério das Relações Exteriores da República Fe-derativa do Brasil:Roberto de Abreu Sodré

Pelo Ministério de Relações Exteriores da República deCuba:

Isidoro Malmierca

acordo para consideraçãode temas da conjunturainternacionalNOTA BRASILEIRA

MEMORANDO DE ENTENDIMENTO PARAREVISÃO DOS INSTRUMENTOS LEGAISVIGENTES ENTRE BRASIL E CUBA

O Ministério das Relações Exteriores da República Fede-rativa do BrasileO Ministério de Relações Exteriores da República de Cuba

Considerando a necessidade de que os Instrumentos insti-tucionais que regulam as relações bilaterais estejam perfei-tamente ajustados aos objetivos que as presidem,

Tendo presente que se encontram em vigor alguns acordosque, pelos motivos conhecidos, não vinham sendo aplica-dos.

Convencidos da necessidade de que esses acordos sejam re-vistos e eventualmente propostos instrumentos que ve-nham a regular aspectos relevantes concernentes às rela-ções bilaterais.

Decidem1. Criar uma Comissão ad hoc, coordenada pelas respecti-vas Chancelarias, com o objetivo de rever os instrumentoslegais existentes entre os dois países;

2. Facultar à Comissão ad hoc a possibilidade de elaborarpropostas, eventualmente sob a forma de projetos de tex-tos legais, que sirvam aos objetivos definidos neste Memo-rando;

3. Celebrar, em breve prazo, em Brasília, reunião desta

Comissão, que terá, como agenda, o exame dos textos le-

gais vigentes entre o Brasile Cubae a conveniência de sua

revisão ou substituição;

Excelentíssimo SenhorIsidoro Malmierca Peoli

Ministro das Relações Exteriores da Republica de Cuba.

Tenho a honra de confirmar a Vossa Excelência, como re-sultado das conversações que mantivemos em Havana, en-tre 16 e 18 de março de 1987, que meu Governo concor-da em que funcionários diplomáticos de nossas respectivasChancelarias, em nfvel adequado, celebrem encontros pe-riódicos para a consideração de temas da conjuntura inter-nacional. Tais encontros ocorrerão uma vez por ano, alter-nadamente nas capitais de cada um dos dois países. Asprovidências de natureza operacional (data, agenda) serãoacertadas pelos canais diplomáticos normais.

2. Esses encontros se tornam possíveis, nos termos emque os acordamos, pela estrita adesão dos dois Governosaos princípios que devem reger as relações entre os Esta-dos, como os de respeito mútuo e de nâb-intervenção; pe-lo reconhecimento de que as diferenças de regime políticonão devem constituir de per se obstáculo ao intercâmbio eâ cooperação entre os Estados; e pela conveniência decriar oportunidades para o conhecimento recíproco daspercepções dos dois Governos sobre temas políticos inter-nacionais, a que atribuímos particular atenção no contex-to do diálogo bilateral.

Aproveito a oportunidade para renovar os protestos damais alta consideração, com que me subscrevo,

de Vossa Excelência,

Roberto de Abreu SodréMinistro de Estado das Relações Exteriores da República

Federativa do Brasil

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NOTA CUBANA

ASu ExcelênciaRoberto de Abreu SodréMinistro de Relaciones Exterioresde Ia República Federativa de Brasil

Sefíor Ministro:

Tengo el honor de confirmar a Vuestra Excelência, comoresultado de Ias conversaciones que sostuvimos en La Ha-bana, entre el 16 y 18 de marzo de 1987, que mi Gobier-no está da acuerdo en que funcionários diplomáticos denuestras respectivas Cancillerías, de nível adecuado, cele-bren encuentros periódicos para Ia consideración de temasde Ia coyuntura internacional. Tales encuentros tendránlugar una vez ai ano, alternadamente en Ias capitales de ca-da uno de los dos países, tos arreglos de naturaleza opera-cional (fecha, agenda) serán tramitados por los canales di-plomáticos normales.

Esos encuentros se hacen posibles, en los términos en quelos hemos acordado, por Ia estricta adhesión de los dosGobiernos a los princípios que deben regir Ias relacionesentre los Estados, como los dei respeto mutuo y de Ia nointervención; por el reconqcimiento que Ias diferencias deregimen político no deben constituir de per se obstáculoai intercâmbio y a Ia cooperación entre los Estados; y porIa conveniência de crear oportunidades para el conoci-miento recíproco de Ias percepciones de los dos Gobier-nos sobre temas políticos internacionales, ai cual atribui-mos particular atención en el contexto dei diálogo bilate-ral.

Aprovecho Ia oportunidad para reiterarle el testimonio demi alta y distinguida consideración.

Isidoro MalmíercaMinistro de Relaciones Exteriores de Ia Repúblicade Cuba

os acordos entre obrasil e zaire

Protocolo Complementar à Convenção Geral deCooperação Económica, Comercial, Técnica, Cientifica e.

Cultural entre o Brasil e o Conselho Executivo daRepública do Zaire, relativo à abertura e exploração damina de ouro D 7 Kanga, do Office d es mines d'Or de

Kilo-Moto, assinado, no Palácio do Itamaraty, emBrasília, em 17 de fevereiro de 1987, pelo Ministro de

Estado das Relações Exteriores, Roberto de Abreu Sodré,e pela Comissária de Estado dos Negócios Estrangeiros,

Ekila Liyonda, e Ajuste Complementar entre o Brasil e oConselho Executivo da República do Zaire, sobre

Cooperação no Setor de Transportes, assinado, no Palácio.

Itamaraty, em Brasília, em 17 de fevereiro de 1987, peloMinistro de Estado dos Transportes, José Reinaldo C

Tavares, e pelo Comissário de Estado do Planejamento,Sambwa Pida Ndagui.

PROTOCOLO RELATIVO À ABERTURA EEXPLORAÇÃO DA MINA DE OURO D. 7KANGA

O Governo da República Federativa do Brasile0 Conselho Executivo da República do Zaire,(doravante denominados "Partes"),

Animados pelo desejo de intensificar a cooperação econó-mica e comercial e de aprimorar o intercâmbio entre osdois países nesses campos, e, em conformidade com as dis-posições do Artigo I da Convenção Geral de CooperaçãoEconómica, Comercial, Técnica, Científica e Cultural en-tre a República Federativa do Brasil e a República do Zai-re, assinado em 09 de novembro de 1972,

Acordam o seguinte:

ARTIGO I

As duas Partes decidem cooperar e envidar todos os esfor-ços para a abertura e exploração da mina D 7 Kanga, paraa execução dos projetos e sondagens complementares, e aimplantação de parte da sua infra-estrutura básica, tais co-mo a construção e operação da respectiva usina de benef i-ciamento, sendo os trabalhos e serviços confiados a em-presas brasileiras.

ARTIGO II

Ao tomar conhecimento de que a Construtora AndradeGutierrez S.A. foi declarada vencedora, em 31 de maio de1984, de concorrência pública internacional, relativa aoprojeto mencionado no Artigo I, e considerando ainda oresultado das negociações entre o Governo da Repúblicado Zaire e a referida Construtora, consubstanciado naConvenção de Base firmada entre esta última e o "OFFI-CE DES MINES D'OR DE KILO-MOTO", o Governobrasileiro manifesta o seu agrado em verificar que a men-cionada empresa brasileira será encarregada de executar asobras e serviços definidos na referida Convenção de Base ede coordenar todas as atividades relacionadas com o obje-tivo do presente Protocolo.

ARTIGO III

1. A Parte brasileira, com o objetivo de apoiar a realiza-ção do referido projeto, compromete-se a doar os serviçoscorrespondentes à execução de sondagens complementa-res necessárias à confirmação das características físico-qufmicas da mina de D 7 Kanga.

2. A Parte brasileira, reitera, outrossim, seu compromissode ço-financiar o projeto referido no Artigo I do presente

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Protocolo, mediante o financiamento à exportação debens e serviços brasileiros, em montante a ser estabelecidopelo estudo de viabilidade definitivo, e de acordo com ascondições fixadas pela Carteira de Comércio Exterior doBanco do Brasil S. A.

3. A Parte Zairense se compromete a obter, no menorprazo possível, o restante do financiamento necessário àexecução total do projeto.

ARTIGO IV

As duas Partes, dentro de suas respectivas áreas de compe-tência, tomarão as medidas necessárias no sentido de faci-litar a efetivação da Convenção de Base, mencionada noArtigo II do presente Protocolo.

ARTIGO V

1. O presente Protocolo entrará em vigor na data de suaassinatura, terá uma duração de três anos e será prorroga-do automaticamente por iguais perfodos, a menos queuma das Partes manifeste por nota diplomática sua deci-são de na"o renová-lo, com uma antecedência de seis me-

2. O presente Protocolo poderá ser alterado, por troca denotas diplomáticas, entrando a alteração em vigor na datade recebimento da nota de resposta.

3. A denúncia do presente Protocolo Complementar nãoafetará o desenvolvimento de programas e projetos emexecução dele decorrentes, salvo se as Partes convierem di-versamente.

Feito em Brasília, aos 17 dias do mês de fevereiro de1987, em dois exemplares, nas línguas portuguesa e fran-cesa, sendo ambos os textos igualmente autênticos.

Pelo Governo da República Federativa do Brasil:

Roberto de Abreu Sodré

Pelo Conselho Executivo da República do Zaire:

Ekila Liyonda

AJUSTE COMPLEMENTAR SOBRECOOPERAÇÃO NO SETOR DE TRANSPORTES

Com base na Convenção Geral de Cooperação Económica,Comercial, Técnica, Científica e Cultural, assinada emKinshasa, aos nove de novembro de mil novecentos e setenta e três.

Acordam o seguinte:

ARTIGO I

As Partes promoverão a cooperação entre si no campo dostransportes, no tocante aos seus aspectos económicos,técnicos e tecnológicos, com base nos princípios de bene-fícios mútuos, igualdade e reciprocidade.

ARTIGO II

As entidades responsáveis pela execução do presente Ajus-te Complementar serão, pelo lado brasileiro, a Secretariade Assuntos Internacionais do Ministério dos Transportescomo coordenadora, e a Empresa Brasileira de Planeja'mento de Transportes - GEIPOT, como executora, e, peIo lado zairense, como Coordenador, o Departamento deTransportes e Comunicações, e como executor, o Grupede Estudos sobre os Transportes — GET.

ARTIGO III

As Partes estimularão a prestação recíproca, por parte dasentidades executoras do presente Ajuste Complementar <das entidades a elas vinculadas, de serviços de consultori:e engenharia em projetos no campo de transportes a sererrimplementados em seus territórios, de acordo com a legislação nacional respectiva e mediante contratos específicos.

ARTIGO IV

A cooperação entre as Partes se realizará através do intercâmbio de informações e documentação, missões técnicae estágios de especialistas, além de outras formas dicooperação a serem acordadas entre as entidades executoras do presente Ajuste Complementar.

ARTIGO V

1. As informações inter cambiadas entre as entidades exeeu to ras ou a elas vinculadas só poderão ser transferidas <terceiros mediante consentimento por escrito da entidadeprovedora da informação. Entre as entidades executoras ias entidades a elas vinculadas é livre a utilização das referidas informações.

O Governo da República Federativa do BrasileO Conselho Executivo da República do Zaire,

Considerando o interesse recíproco em incrementar acooperação no campo dos transportes;

2 O intercâmbio de informações previsto no presenttAjuste Complementar não incluirá a concessão ou transfe-rência de licença de quaisquer patentes, mesmo aquelasem utilização, e não afetará qualquer outro direito de pro-priedade de patentes da entidade executora que detém ainformação.

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ARTIGO VI

Para a implementação do presente Ajuste Complementar,será estabelecido um Grupo Misto de Trabalho que se reu-nirá alternadamente no Brasil e no Zaire com vistas à defi-nição dos programas de cooperação e avaliação das respec-tivas atividades. As decisSes do Grupo Misto de Trabalhoserão referendadas pela Comissão Mista de Cooperação. Adata e o local das reuniões serão estabelecidos pelo Presi-dente do Grupo Misto.

ARTIGO VII

Os técnicos e especialistas intercambiados entre as Partespara efeito da implementação do presente Ajuste Comple-mentar deverão ter seus nomes e currículos submetidospela entidade remetente à aprovação prévia da entidadereceptora.

ARTIGO VIII

O presente Ajuste Complementar entrará em vigor na datada sua assinatura.

ARTIGO IX

1. O presente Ajuste Complementar terá duração de cin-co anos e será automaticamente renovado por per Todosiguais e sucessivos, a menos que uma das Partes comuni-que à outra, por via diplomática, e com antecipação míni-ma de seis meses, de sua decisão de não renová-lo.

2 O Término do presente Ajuste Complementar não afe-tarã o desenvolvimento de programas, projetos e contratosem execução, dele decorrentes, salvo se as Partes convie-rem de forma diversa.

Feito em Brasília, aos 17 dias do mês de fevereiro de1987, em dois exemplares originais, nos idiomas portu-guês e francês, sendo ambos os textos igualmente autênti-

ampliação dos limites de peso das malas diplomáticas dosdois países, trocadas em Brasília, em 20 de fevereiro de

1987.

NOTA BRASILEIRA

O Ministério das Relações Exteriores cumprimenta a Em-baixada da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas etem a honra de acusar recebimento da Nota-Verbal n?452-N, de 07 de julho de 1986 pela qual 6 proposta, à ba-se de reciprocidade, a ampliação dos limites de peso dasmalas diplomáticas dos dois países estipulados pelo Ajustede 20 de abri Ide 1963.

2. Em.resposta, o Ministério das Relações Exteriores in-forma a Embaixada da União das Repúblicas SocialistasSoviéticas de que está pronto a elevar de 60 (sessenta) pa-ra 100 (cem) quilos mensais o peso total das malas diplo-máticas aéreas e de 80 (oitenta) para 100 (cem) quilosmensais o peso total'das malas diplomáticas por superfí-cie, em cada direção.

3. Outrossim, o Ministério das Relações Exteriores consi-dera desejável que as malas diplomáticas possam ser deoutro formato que não os de saco ou bolsa de lona, couroou outro material, desde que estejam devidamente carac-terizados nos termos do Artigo 27 da Convenção de VienaSobre Relações Diplomáticas.

4. Caso o Governo da União das Repúblicas SocialistasSoviéticas concorde com a proposta acima, a Embaixadapoderá comunicar ao Ministério seu assentimento tambémpor Nota-Verbal, considerando-se assim emendado o textodo Ajuste pertinente de 1963.

Brasília, em 09 de fevereiro de 1987.

NOTA SOVIÉTICA

Pelo Governo da República Federativa do Brasil:José Reinaldo C. Tavares

Pelo Conselho Executivo da República do Zaire:Sambwa Pida Ndagui

brasil e união soviéticaampliam limites depeso de malas diplomáticas

Ajuste, por troca de Notas Verbais, entre o Brasil e aUnião das Repúblicas Socialistas Soviéticas, para

MINISTÉRIO DAS RELAÇÕES EXTERIORESDA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL

A Embaixada da União das Repúblicas Socialistas Soviéti-cas cumprimenta o Ministério das Relações Exteriores daRepública Federativa do Brasil e tem a honra de acusar orecebimento da Nota-Verbal do seguinte teor:

"O Ministério das Relações Exteriores cumprimenta a Em-baixada da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas etem a honra de acusar recebimento da Nota-Verbal n?452-N, de 07 de julho de 1986 pela qual é proposta, à ba-se de reciprocidade, a ampliação dos limites de peso dasmalas diplomáticas dos dois países estipulados pelo Ajustede 20 de abril de 1963.

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2. Em resposta, o Ministério das Relações Exteriores in-forma a Embaixada da União das Repúblicas SocialistasSoviéticas de que está pronto a elevar de 60 (sessenta) pa-ra 100 (cem) quilos mensais o peso total das malas diplo-máticas aéreas e de 80 (oitenta) para 100 (cem) quilosmensais o peso total das malas diplomáticas por superfí-cie, em cada direção.

3. Outrossim, o Ministério das Relações Exteriores consi-dera desejável que as malas diplomáticas possam ser de ou-tro formato que não os de saco ou bolsa de lona, couro ououtro material, desde que estejam devidamente caracteri-zados nos termos do Artigo 27 da Convenção de VienaSobre Relações Diplomáticas.

Caso o Governo da União das Repúblicas SocialistasSoviéticas concorde com a proposta acima, a Embaixadapoderá comunicar ao Ministério seu assentimento tam-bém por Nota-Verbal, considerando-se assim emendado otexto do Ajuste pertinente de 1963 .

A Embaixada da União das Repúblicas Socialistas Sovié-ticas tem a honra de comunicar, que o Governo Soviéticoconcorda com a referida proposta e considera a presentetroca de notas como emenda ao texto do Ajuste de 20 deabril de 1963.

A Embaixada aproveita a oportunidade para renovar aoMinistério os protestos de sua mais alta consideração.

Brasília, em 20 de fevereiro de 1987.

brasil e argentina assinamajuste complementar paracooperação no campoda informática

Ajuste Complementar ao Acordo de CooperaçãoCientifica e Tecnológica entre o Brasil e a Argentina, para

cooperação no campo da informática, assinado, emTandil, Província de Buenos Aires, em 22 de fevereiro de

1987, pelo Ministro de Estado da Ciência e Tecnologia,Renato Bayma Archer da Silva, e pelo Secretário de

Ciência e Técnica do Ministério da Educação e Justiça,Manuel Sadosfcy.

O Governo da República Federativa do BrasileO Governo da República Argentina,

Considerando as recomendações da Conferência de Minis-tros Encarregados da Aplicação de Ciência e Tecnologia

para Desenvolvimento na América Latina e Caribe —CASTALACII;

Reconhecendo o papel estratégico da informática para de-senvolvimento económico, industrial e social do Brasil eda Argentina;

Tendo em vista os resultados promissores do encontro deautoridades de informática do Brasil e da Argentina, reali-zado durante as "16as Jornadas Argentinas de Informáti-ca e Investigación Operativa", em setembro de 1986,quando se identificaram projetos e modalidades concretasde cooperação no campo da informática e os excelentesresultados obtidos pela 1a Escola Brasileiro-Argentina deEstudos Avançados em Informática, que tiveram lugar noBrasil de fevereiro a março de 1986; e

Inspirados no desejo de estimular a cooperação e o inter-câmbio entre os dois países no campo da informática, deconformidade com o disposto no Artigo II do Acordo deCooperação Científica e Tecnológica, celebrado entre oGoverno da República Federativa do Brasil e o Governoda República Argentina, em 17 de maio de 1980,

Acordam o seguinte:

ARTIGO I

O Governo brasileiro designa como entidade responsávelpela execução do presente Ajuste Complementar o Minis-tério da Ciência e Tecnologia, por meio da Secretaria Es-pecial de Informática e do Conselho Nacional de Desen-volvimento Científico e Tecnológico, e o Governo argenti-no designa, com a mesma finalidade, a Secretaria de Ciên-cia e Técnica, por meio da Subsecretária de Informática eDesenvolvimento.

ARTIGO II

Os dois Governos, por meio das entidades designadas noArtigo I, promoverão a cooperação no campo da informá-tica, utilizando entre outros, os seguintes mecanismos:

a) intercâmbio de cientistas, pesquisadores, técnicos eprofessores;

b) organização e realização de cursos, conferências, sim-pósios, seminários, encontros, e colóquios sobre temas deinteresse comum;

c) realização de projetos conjuntos de pesquisa e desen-volvimento científico-tecnológico;

d) concessão de bolsas de estudo, de formação, especiali-zação e de aperfeiçoamento, a nível técnico e de pós-gra-duaçâb;

e) intercâmbio de estudantes e técnicos, para aperfeiçoa-mento, por meio de estágios especializados;

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ARTIGO II

A) O crédito financeiro mencionado no artigo I será reem-bolsado em 10 pagamentos semestrais iguais e consecuti-vos, a partir de cada utilização, incluindo o principal e osjuros calculados à taxa de juro nominal anual prevista pe-los acordos internacionais de "consensus" em vigor nomomento da assinatura do contrato comercial. As partesadotarão todas as medidas possíveis visando favorecer aconclusão da sucessiva convenção financeira no menorprazo e possivelmente até 40 dias da conclusão do Proto-colo intergovernamental.

B) Todas as condições relativas ao crédito financeiro, in-cluidas as eventuais comissões relativas aos fundos não uti-lizados, serão fixadas na convenção financeira a ser assina-da entre os Institutos a que se refere o artigo I, letra "A" ,e a Procuradoria Geral da Fazenda Nacional pela Repúbli-ca Federativa do Brasil.

ARTIGO III

Ficam a cargo do Governo da República Federativa doBrasiI os 15% do valor contratual das exportações, que de-vem ser regulados a vista com pagamento antecipado, bemcomo o prémio de seguro a ser estabelecido de comumacordo entre as competentes Autoridades interessadas noslimites de quanto normalmente praticados pela SACE.

ARTIGO IV

O presente Protocolo entrará em vigor na data de sua assi-natura.Feito em Brasília, em 20 de março de 1987, em Ifngua ita-liana e portuguesa fazendo ambos os textos igualmente fé.

Pelo Governo da República Federativa do BrasilHélio Gil Gracindo

Pelo Governo da República da ItáliaGiacomo A ttolico

comissão binacional vaiprogramar, preparar eexecutar as comemoraçõesdo v centenáriodo descobrimento do brasil

Ata de criação e instalação da Comissão Binacionalbrasileiro-portuguesa encarregada de programar, preparar

edar execução ès comemorações do V centenário dodescobrimento do Brasil, assinada, no Palácio do Planalto,

em Brasília, em 26 de março de 1987, pelos PresidentesJosé Sarney e Mário Soares.

O Presidente da República Federativa do Brasil,José Sarney,eO Presidente da República Portuguesa,Mário Soares,

Reconhecendo que as Descobertas Portuguesas influencia-ram de modo decisivo a história da humanidade, abrindoas portas de uma nova era e lançando os fundamentos deuma civilização comum geradora de progressos económi-cos, científico, cultural e técnico;

Assinalando que, ao chegar ao Brasil, no ano de 1500, aArmada de Pedro Alvares Cabral proporcionou um dosencontros mais fecundos da História, dando origem aosurgimento de uma grande nação no continente america-no e inaugurando um largo período de convivência frater-na e solidária entre os nossos povos;

Salientando a profunda identidade que liga os povos brasi-leiro e português, irmanados pelos ideais de paz, liberdadee justiça que lhes sSo muito caros;

Empenhados em contribuir decididamente para que o VCentenário do Descobrimento do Brasil, a ocorrer em 22.de abril do ano 2000, seja devidamente comemorado co-mo um marco fundamental na História;

Resolveram celebrar esse evento em estreita colaboraçãoe, para tanto, acordaram em criar uma Comissão Binacio-nal, encarregada de programar, preparar e dar execução àsComemorações do V centenário do Descobrimento doBrasil.

Integrarão a referida Comissão, pelo lado brasileiro, os Se-nhores:

— Ministro de Estado das Relações Exteriores;

— Ministro de Estado da Educação;

— Ministro de Estado da Cultura;

— Presidente da Comissão de Relações Exteriores do Se-nado Federal;

— Presidente da Comissão de Relações Exteriores da Câ-mara de Deputados;

— Secretario Geral das Relações Exteriores;

— Subsecretário Geral de Assuntos Políticos Multilateraise Especiais do Ministério das Relações Exteriores;

— Chefe do Departamento de Cooperação e DivulgaçãoCultural do Ministério das Relações Exteriores;

— Chefe do Departamento da Europa do Ministério dasRelações Exteriores;

— Embaixador do Brasil em Portugal;

— Presidente da Academia Brasileira de Letras;

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f) intercâmbio de informação científica e tecnológica; ARTIGO VI I

g) intercâmbio de materiais e equipamentos necessários àrealização de cursos e de projetos conjuntos;

h) realização de atividades complementares conexas.

ARTIGO III

Para os fins do presente Ajuste Complementar, as entida-des responsáveis estabelecerão programas anuais de traba-lho que, bem como suas revisões e relatórios de execução,serão apresentados à Comissão Mista de Ciência e Tecno-logia, conforme disposto no Artigo VI I I do Acordo deCooperação Científica e Tecnológica.

ARTIGO IV

1. No prazo de 90 (noventa) dias a partir da assinatura dopresente Ajuste Complementar, um Grupo de Trabalho,composto por especialistas e funcionários governamentaisdos dois países, se reunirá para estabelecer sua regulamen-tação, na qual se especificarão os mecanismos, inclusive fi-nanceiros, de programação, de execução, de acompanha-mento e de avaliação de atividades.

2. Essa regulamentação, uma vez aprovada pelos dois Go-vernos, por via diplomática, passará a fazer parte integran-te do presente Ajuste Complementar.

ARTIGO V

1. Caberá ao Grupo de Trabalho referido no Artigo IV es-tabelecer o Programa de Trabalho do presente AjusteComplementar para o ano de 1987.

2. Inicialmente, as atividades centrar-se-ão em um progra-ma que se denominará "Programa Argentino-Brasileiro dePesquisa e Estudos Avançados em Informática".

3. Tal Programa de Trabalho deverá também incluir osprojetos resultantes do "Primeiro Encontro Argentino-Brasileiro de Pesquisas e Estudos Avançados", já em exe-cução entre ambos os países.

ARTIGO VI

O presente Ajuste Complementar:

1. Entrará em vigor na data de sua assinatura.

2. Terá duração ilimitada, a menos que uma das Partescomunique à outra, por via'diplomática, sua decisão dedenunciá-lo. Neste caso a denúncia surtirá efeito seis me-ses após a data da notificação.

3. Em caso de denúncia do presente Ajuste Complemen-tar, os programas e projetos em execução não serão afeta-dos, salvo se as Partes convierem de modo diferente.

O presente Ajuste Complementar poderá ser alterado portroca de notas, mediante concordância das Partes, entran-do a alteração em vigor na data da nota de resposta.

Feito na cidade de Tandil, Província de Buenos Aires, aos22 dias do mês de fevereiro de 1987, em dois exemplaresoriginais, nas línguas portuguesa e espanhola, sendo am-bos os textos igualmente autênticos.

Pelo Governo da República Federativa do Brasil:

Renato Bayma Archer da Silva

Peio Governo da República Argentina:

Manuel Sadosky

brasil e itália assinamprotocolo financeiropara importaçãode bens e serviços italianos

Protocolo financeiro entre o Brasil e a Itália, assinado, emBrasília, em 20 de março de 1987, pelo Procurador Geral

Adjunto da Fazenda, Hélio Gil Gracindo, e peloEmbaixador Extraordinário e Plenipotenciário da Itália,

Giacomo Attolico.

O Governo da República Federativa do Brasil e o Governoda República Italiana, no espírito de amizade e de coope-ração existente entre os dois Países e no âmbito dos Pro-gramas atualmente em curso com vistas ao desenvolvimen-to da colaboração bilateral,

convieram no seguinte.

ARTIGO I

A) O Governo Italiano autorizará os Institutos Italianosde crédito a médio e longo prazo, que o solicitarem, aconceder ao Governo da República Federativa do Brasilum crédito financeiro até uma importância equivalente aUS$ 37.000.00X) (trinta e sete milhões de dólares norte-americanos) conforme a Lei n? 227 de 24 de maio de1977, art. 15, letra " G " , e alterações posteriores.

B) O crédito financeiro acima mencionado deverá ser uti-lizado até 31 de dezembro de 1990, e destinado ao paga-mento de não mais de 85% do valor das exportações parao Brasil de bens e serviços italianos que serão especifica-dos de comum acordo por ambas as partes.

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— Presidente do Instituto Histórico e Geográfico Brasilei-ro;

— Diretor do Arquivo Nacional; e

— Chefe do Serviço de Documentação do Ministério daMarinha.

II

SerSo oportunamente indicados, por via diplomática, asentidades que, pelo lado português, farão parte da Comis-sSo Binacional, ora constituída.

Feito na cidade de Brasília, aos 26 dias do mês de marçode 1987, em dois exemplares originais.

José Sarney

Mário Soares

brasil e portugaldesenvolvemcooperação no campo daassistência social

Memorando de Entendimento entre o Brasil e Portugal,para a cooperação no campo da assistência social,

assinado, no Palácio do Planalto, em Brasília, em 26 demarço de 1987, pelas Primeiras Damas do Brasil, MarlyMacieira Sarney, e de Portugal, Maria de Jesus Barroso

Soares, e peb Presidente da Fundação Legião Brasileira deAssistência, Marcos Vinícius Vilaça.

A Primeira Dama da República Federativa do Brasil, Se-nhora Marly Macieira Sarney, na qualidade de Presidentedo Conselho Consultivo da Fundação Legião Brasileira deAssistência, instituição governamental, órgão vinculado aoMinistério da Previdência e Assistência Social da Repúbli-ca Federativa do Brasil, com sede na cidade do Rio de Ja-neiro,eA Primeira Dama da República Portuguesa, Senhora Mariade Jesus Barroso Soares,

DECIDEM firmar o presente Memorando de Entendimen-to com vistas ao desenvolvimento de atividades de assis-tência social em benefício das populações carentes do Bra-sil e de Portugal.

CONSIDERANDO:

que a Fundação Legião Brasileira de Assistência detêm lar-ga experiência na prestação de assistência social à popula-ção brasileira carente, mediante programas de desenvolvi-mento social e de atendimento a pessoas;

que em Portugal há várias instituições com ampla expe-riência na prestação de assistência social a popu Iações ca-rentes, com atividades que se revestem de grande impor-tância e significado social;

que a colaboração entre as instituições brasileiras e portu-guesas contribuiria positivamente para aperfeiçoar essaassistência;

RESOLVEM:

1. que ambas as Partes envidarão esforços no sentido deprestar assessoria recíproca no campo da assistência social,a fim de se beneficiar da experiência recolhida na formula-ção e execução de seus diferentes programas de amparo âcriança, à maternidade, aos deficientes, às populações ru-rais e urbanas carentes e â terceira idade;

2. que a acima mencionada assessoria far-se-á por inter-médio de troca de informações, publicações técnicas, con-sultorias e outros meios acordados pelas Partes.

Este Memorando de Entendimento entra em vigor na datade sua ascinatura.

Feito em Brasf lia, aos 26 dias do mês de março de 1987.

Marly Macieira SarneyPrimeira Dama da República Federativa do Brasil

Marcos Vinícius VilaçaPresidente da Fundação Legião Brasileira de Assistência

Maria de Jesus Barroso SoaresPrimeira Dama da República Portuguesa

atos bilateraisassinados no primeirotrimestre de 1987 eque não estão em vigorARGENTINA, BRASIL E URUGUAI

Acordo para o Serviço Público de Telefonia Rural, na Fai-xa de 164,600 a 173,355 MHz

Celebrado em Brasília, a 23 de fevereiro de 1987

CABO VERDE

Memorando de Entendimento para Estabelecimento deum Programa Plurianual de Cooperação

Celebrado em Brasília, a 19 de março de 1987

CUBA

Acordo de Cooperação Científica, Técnica e Tecnológica.

Celebrado em Havana, a 18 de março de 1987.

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comunicados e notas

O Governo brasileiro está acompanhando com grandeatenção o desenrolar dos acontecimentos no Equador,pg^ a o q u a | n o s u n e m e s t r e j t o s laços de amizade e frater-

atenção a crise no equador mdade.Comunicado à imprensa, Q Brasil espera que a nação equatoriana, inspirada nos tra-

divulgado pelo Palácio do Itamaraty, em Brasília, dicionais princípios e ideais democráticos latino-america-em 16 de janeiro de 1987: noSi poSsa solucionar pacificamente a presente crise.

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mensagens

a mensagem dopresidente josé sarneyao presidente ronald reagan

Mensagem do Presidente José Sarney ao Presidente dosEstados Unidos da América, Ronald Reagan, enviada

em 7 de janeiro de 1987:

As boas notícias sobre a evolução de sua saúde dão a mi-nha mulher e a mim a oportunidade para expressar-lhe, e àSenhora Reagan, nossa grande satisfação pelo sucesso dacirurgia a que Vossa Excelência se submeteu e desejar-lheos melhores votos de imediata recuperação.

José SarneyPresidente da República Federativa do Brasil

presidente josé sarneyenvia mensagem aopresidente constitucionaldo equador

Mensagem do Presidente José Sarney ao PresidenteConstitucional do Equador, Leon Febres Cordero, enviada

em 17 de janeiro de 1987:

No momento em que Vossa Excelência reassume em suaplenitude o cargo de Presidente Constitucional da Repú-blica do Equador, quero expressar-lhe em nome do Gover-no brasileiro e em meu próprio nome, nossa satisfaçãodiante do feliz desfecho da crise. Reitero a Vossa Excelên-cia, Senhor Presidente, os sentimentos de fraternidade esolidariedade do povo brasileiro para com o povo equato-riano e os votos pelo continuado progresso do Equador,na paz e na democracia. Com minha mais alta considera-ção.

José SarneyPresidente da República Federativa do Brasil

a mensagem dopresidente josé sarneyao papa joão paulo 11

Mensagem do Presidente José Sarney ao Papa JoãoPaulo II, a propósito do documento "A Serviço da

Comunidade Humana: uma visão ética do endividamentointernacional", divulgada pelo Palácio do Itamaraty, em

Brasilia, em 30 de janeiro de 1987:

Beatíssimo Padre,

Em nome de todo o povo brasileiro, desejo congratular-me com Vossa Santidade pela sábia oportunidade dodocumento "A Serviço da Comunidade Humana: uma Vi-são Ética do Endividamento Internacional", elaborado pe-la Comissão Pontifícia Justiça e Paz, com a marca profun-da dos sagrados princípios da fraternidade, justiça e digni-dade humanas, que inspiram seu Pontificado.

Poucas vezes abordou-se de forma tão ampla e segura ecom tão sólidos fundamentos éticos e morais o grave pro-blema do endividamento externo dos países em desenvol-vimento e as consequências nocivas que vem tendo sobreos esforços de progresso e justiça social de inúmeras naçõesem todo o mundo. Em sua rica argumentação, o docu-mento vai muito além da mera exortação, para inscrever-se como verdadeira consciência crítica, destinada a levarluz e servir de orientação a credores e devedores, chama-dos a assumir a indeclinável parcela de responsabilidadeque lhes cabe num problema que é global e ameaça toda aHumanidade. O diagnóstico preciso, sereno e objetivoapresentado no documento completa-se por sugestões decursos de ação marcadas pela sabedoria, pelo senso deequilíbrio e pelo sentido da responsabilidade.

O Brasil compartilha inteiramente dos pontos de vista ex-postos pela Comissão Pontifícia Justiça e Paz e acolheaquelas reflexões reconfortado por ver suas teses recebe-rem tão expressivo aval. Profundamente necessitado depromover, em bases seguras e duradouras, o seu própriodesenvolvimento, meu país tem sentido os efeitos perver-sos de uma permanente drenagem de recursos, obtidos àcusta de muito sacrifício e abnegação de seu povo. É espe-cialmente digno de nota o trecho em que o documentoanalisa o dilema em que se debatem os devedores: "Paracertos países em desenvolvimento, o montante das dívidascontraídas, e, sobretudo, os reembolsos exigíveis a cadaano, sa"o de tal nível com relação aos seus recursos finan-ceiros disponíveis que eles não podem enfrentá-los semgraves danos para sua economia e para o nível de vida desuas populações, sobretudo as mais pobres. Esta situaçãocrítica acha-se agravada por circunstâncias externas quecontribuem para diminuir suas receitas de exportação(baixa dos preços das matérias-primas, dificuldades deacesso aos mercados exteriores protegidos) ou que sobre-carregam o serviço de suas dívidas (taxas de juros elevadase instáveis, flutuações excessivas e imprevisíveis nas taxasde câmbio das moedas)". Essa análise é o retrato fiel daatual crise da dívida e mostra, com toda precisão, a ini-

105Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulgação Científica em Relações Internacionais (http://www.mundorama.net).

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qúidade que representaria persistir no sistema vigente detratamento do endividamento externo.

Nosso enorme esforço para manter o crescimento econó-mico é a única forma de promover a justiça social e pagara imensa dívida moral que o país, ao longo de sua história,contraiu em relação à sua população mais pobre, tão nu-merosa. A dívida externa, para a qual sempre propugna-mos uma solução sem confrontação, à base do interesserecíproco de credores e devedores, sem passionalismo nemexploração ideológica, aparece hoje como um grave obstá-culo e ameaça ao desenvolvimento económico brasileiro eao progresso polftico e social do Brasil, que não desejaabrir mão de sua soberania e conquistas recentes no cresci-mento e na distribuição da riqueza, nem ver-se mergulha-do na recessão e no desamparo.

Comissão Pontifícia Justiça e Paz.

José SarneyPresidente da República Federativa do Brasil

presidente josé sarneyrecebe mensagemde fidel castro

Carta do Presidente de Cuba, Fidel Castro Ruz,ao Presidente José Sarney,

datada de 24de fevereiro rie 198/:

Presidente José SarneyBrasília

Temos consciência de que o mesmo cenário é vivido poroutras nações, que se debatem entre o cumprimento deobrigações sempre mais onerosas e os inadiáveis esforçospara promover um mínimo de crescimento. Com elas nosirmanamos, por cima de todas as individualidades cultu-rais, sócio-económicas e políticas, pelo mesmo comum de-sejo de diminuir substancialmente o abismo que hoje sepa-ra os povos ricos e pobres. Homens todos, todos iguais pe-rante o Criador, todos seremos dignificados, se forem me-nores as diferenças, o sofrimento, a desesperança.

É, pois, muito oportuno que Vossa Santidade traga tãoimportante aporte para uma profunda reflexão sobre esseproblema, suas origens, seu alcance e consequências mo-rais e materiais para toda a Humanidade, procurando des-pertar uma consciência de responsabilidade, também, a ní-vel dos governos. É preciso que as inúmeras discussões enegociações recebam a orientação inspiradora de uma in-contestável autoridade moral, para que, de acordo comprincípios éticos, se possa chegar a soluções justas e dura-douras, para além da frieza dos números e dos cálculoseconómicos, com solidariedade e fraternidade humanas.

Aceite, Beatíssimo Padre, as homenagens que, pessoal-mente e em nome de todos os brasileiros, mais uma vezlhe transmito e que peço estender a todos os membros da

Le expreso por este médio el alto aprecio en que tenemosIa decisión de usted y su gobierno sobre el pago de Ia deu-da externa, adernas de valiente es justa y resultará aleccio-nadora para los gobiernos de todos los países deudores. Iafirme actitude de usted, tra^sciende Brasil e incluso IaAmérica Latina, pues todos sabemos que el problema deIa deuda externa afecta ai conjunto de los países dei Ter-ce r Mundo. Le expreso por ello nuestra más absoluta y to-tal solidaridad y le comunico Ia disposición de nuestropaís y nuestro gobierno de actuar en Ia medida en queBrasil considere conveniente y necesario en el Movimientode Países No Alineados, en el Grupo de los 77, con los paí-ses socialistas, comunidades de los que formamos parte yjunto a Ias fuerzas democráticas de los países acreedores,entre los cuales hay también factores que comprenden Iagravedad dei problema de Ia deuda y Ia necesidad de en-contrar soluciones inmediatas que impidan que esta con-tinue gravitando sobre los países deudores, ahogando suseconomias, cancelando Ia posibilidad de desarrollo ycreando profundos problemas políticos y sociales que losgobiernos no pueden aceptar pasivamente.

El pueblo de Cuba, senor Presidente, está y estará junto aBrasil.

Le saluda con amistad y consideración,

Fidel Castro Ruz

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baronesa young, ministrode estado do "foreingand commonwealth office"do governo britânico,visita o brasil.

A Baronesa Young, Ministro de Estado do Foreigh andCommonwealth Office (Ministério dos Negócios Estran-geiros britânico) visitou o Brasil, a convite do Governobrasileiro, de 18 a 23 de março. Além de Brasflia, visitouBelo Horizonte, Ouro Preto e Rio de Janeiro, como tam-bém a empresa Açominas. A visitante manteve encontrocom o Secretário Geral do Ministério das Relações Exte-riores, Embaixador Paulo Tarso Flecha de Lima, ocasiãoem que assume ampla troca de impressões sobre as rela-ções anglo-brasileiras e a respeito de problemas internacio-nais de interesse recíproco.

Lady Young realizou anteriormente visita oficial ao Brasilem julho de 1984, além de ter representado o Governo deSua Majestade nas cerimónias fúnebres do Presidente Tan-credo Neves, em 1985, em Brasília.

itamaraty e embraturassinam convéniopara promover turismono exterior

Foi assinado dia 19 de março de 1987, pelo Chefe do De-partamento de Promoção Comercial do Ministério das Re-

lações Exteriores, Embaixador Luiz Víllarinho Pedroso, epeto Presidente da Empresa Brasileira de Turismo —EMBRATUR, João Dória Júnior, convénio visando à im-plementação do Programa de Promoção do Turismo noExter ior -PROTUR-EX.

O objetivo do PROTUR/EX é a conjunção de esforços doDepartamento de Promoção Comercial do MRE e aEMBRATUR, no sentido de desenvolver diversas ativida-des no campo da promoção, no exterior, das potencial ida-des turísticas brasileiras, obedecidas, sempre, a políticagovernamental para o setor. A execução desse programavisa estimular o continuado crescimento do fluxo turísti-co estrangeiro para o Brasil, ao mesmo tempo em que se-rão carreadas novas observações e informações destinadasa orientar o aperfeiçoamento e a permanente adequaçãoda infra-estrutura receptiva para o turismo no país.

Entre as principais atividades a serem desenvolvidas noâmbito do PROTUR/EX destacam-se a redistribuição, noexterior, de material promocional sobre o turismo brasilei-ro; a organização e a participação em eventos internacio-nais especializados; a realização de Seminários e Encon-tros Comerciais destinados a promoção do potencial turís-tico receptivo brasileiro e a criação e manutenção de umBanco de Dados computadorizados contendo informaçõesrelevantes para a promoção turística no exterior, vincula-do à rede internacional de teleprocessamento do DPR.

despedida de embaixadorestrangeiroJosé Jaime Nicholls Sanchez Carnerera, da Colômbia, em25 de fevereiro de 1987.

107Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulgação Científica em Relações Internacionais (http://www.mundorama.net).

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itamaraty restaura sala do embaixador joão guimaraes rosadiscurso do ministro de estado das relações exteriores, roberto de abreu sodré, no palácio do itama-raty, no rio de janeiro, por ocasião da cerimónia de entrega da sala do embaixador joão guimaraes rosa,restaurada pela fundação alexandre gusmão A>

o 75? aniversário da morte do barão do rio-brancopalavras lidas durante a cerimónia comemorativa do 759 aniversário da morte do barão do rio-branco,realizada no cemitério do caju, no rio de janeiro, em solenidade que contou com a presença do minis-tro de estado das relações exteriores, roberto de abreu sodré 35

primeira convenção internacional do cacau, em salvadorpalestra do ministro de estado das relações exteriores, roberto de abreu sodré, em salvador, por ocasiãoda primeira convenção internacional do cacau " * '

deputado ulysses guimaraes profere aula inaugural do instituto rio-brancopronunciamento do deputado ulysses guimaraes, no palácio do itamaraty, em brasflia, por ocasião daaula inaugural do instituto rio-branco, em solenidade que contou com a presença do ministro de estadodas relações exteriores, roberto de abreu sodré 43

terceira reunião de chanceleres dos países membros da aladidiscurso do ministro de estado das relações exteriores, roberto de abreu sodré, em montevidéu, porocasião da terceira reunião do conselho de ministros das relações.exteriores dos países membros daassociação latino-americana de integração (aladi) 51

brasflia recebe o presidente da organização do povo do sudoeste africano(swapo)discurso do chanceler abreu sodré, no palácio do itamaraty, em brasflia, por ocasião de almoço ofereci-do ao presidente da organização do povo do sudoeste africano (swapo), sam nu jorna 55

chanceler brasileiro em cuba: tempo novo em nossas relações — tempo desomar e construirdiscurso do ministro de estado das relações exteriores, roberto de abreu sodré, em havana, por ocasiãode jantar que lhe foi oferecido pelo ministro das relações exteriores de cuba, isidoro malmierca 59

em brasil ia, o ministro do comércio do iraque, hassam alidiscurso do ministro de estado das relações exteriores, roberto de abreu sodré, e do ministro do co-mércio do iraque, hassam ali, no palácio do itamaraty, em brasflia, por ocasião da abertura da sextareunião da comissão mista brasil-iraque. 63

abreu sodré ao diretor-geral da fao: no brasil, agricultura ocupa posiçãopreeminentediscurso do ministro de estado das relações exteriores, roberto de abreu sodré, no palácio do itama-raty, em brasflia, por ocasião de almoço oferecido ao diretor-geral da organização das nações unidaspara a alimentação e a agricultura (fao), edouard saouma, em solenidade que contou com a presençado ministro da agricultura, iris rezende 67

relações diplomáticas

brasil e vanuatu estabelecem relações diplomáticas 71

o estabelecimento de relações diplomáticas entre o brasil e a somália 71

110Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulgação Científica em Relações Internacionais (http://www.mundorama.net).

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designação de embaixadores brasileiros 71

entrega de credenciais de embaixadores estrangeiros 71

tratados, acordos, convénios

brasil e frança desenvolvem cooperação no campo da oceanologia 73

brasil e fao assinam três acordos para assistência na área agrícola 75

os primeiros acordos entre brasil e cuba 89

os acordos entre o brasil e o zaire 95

brasil e união soviética ampliam limites de peso de malas diplomáticas 97

brasil e argentina assinam ajuste complementar para cooperação no campo dainformática 98

brasil e itália assinam protocolo financeiro para importação de bens e servi-ços italianos 99

comissão binacional vai programar, preparar e executar as comemorações do

v centenário do descobrimento do brasil 100

brasil e portugal desenvolvem cooperação no campo da assistência social 101

atos bilaterais assinados no primeiro trimestre de 1987 e que não se achamem vigor 102

comunicados e notas

governo brasileiro acompanha com atenção a crise no equador 103

mensagens

a mensagem do presidente josé sarney ao presidente ronald reagan 105

presidente josé sarney envia mensagem ao presidente constitucional do equa-dor 105

a mensagem do presidente josé sarney ao papa joão pau Io 11 105

presidente josé sarney recebe mensagem de fidel castro 106

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