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resenha de política exterior do brasil ministério das relações exteriores Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulgação Científica em Relações Internacionais (http://www.mundorama.net).

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  • resenhade política exterior do brasil

    ministério das relações exterioresDocumento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulgação Científica em Relações Internacionais (http://www.mundorama.net).

  • Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulgação Científica em Relações Internacionais (http://www.mundorama.net).

  • síntese1. A visita do Presidente Ernesto Geiselao Japão, entre 15 e 20 de setembro de1976, produziu efeitos imediatos e signifi-cativos para a ampliação das operaçõescomerciais brasileiras no exterior. As ven-das de produtos brasileiros para o Japão,concretizadas durante a visita do Presiden-te Geisel, atingirão a cifra de 10 bilhões dedólares a preços atuais, num prazo de 15anos. A esse total, devem ser somados mais1,5 bilhão de dólares em investimentosbinacionais e outro tanto em linha de cré-dito para financiamento de projetos. A pardesses resultados, a presença do Presi-dente brasileiro no Japão ultrapassou oâmbito de contatos comerciais, contribu-indo ativamente para fortalecer o diálogoe o estreitamento da cooperação entre bra-sileiros e japoneses, no campo político,económico e cultural. Em conversaçõesmantidas numa atmosfera franca e cordial,o Presidente Geisel travou um diálogoaberto e construtivo com as altas autorida-des japonesas, visando à expansão dasrelações de amizade já tradicionais entreos dois países, com base em uma coopera-ção mutuamente benéfica e com respeitoà soberania e independência de cada país,favorecendo a mais ampla solidariedadeinternacional. Páginas 5 a 27; e 102.

    2. Em discurso ao Ministro das RelaçõesExteriores do Uruguai, Juan Carlos Blanco,que esteve no Brasil em julho de 1976, oChanceler Azeredo da Silveira afirma que,ao ratificar o Tratado de Amizade, Coope-ração e Comércio Brasil-Uruguai (firmadoem Rivera, no ano passado), o Governo doBrasil demonstra seu desejo de tornar cadavez mais íntimas as fraternas relações queunem brasileiros e uruguaios. Assinala que,no quadro da ação exterior do Brasil, asnações irmãs deste hemisfério, pelas con-dições de vizinhança, origem e históriacomuns, ocupam lugar prioritário e insubs-tituível. Acrescenta que o Uruguai tem,

    para o Brasil, um significado particular nocontexto latino-americano e que "o impulsode progresso que anima nossas duas na-ções, os planos que estamos implemen-tando de desenvolvimento energético,agrícola e industrial, instituem necessaria-mente alicerces sólidos sobre os quaiserigimos as estruturas de uma densa inte-ração, a nível nacional e sub-regional". OChanceler Blanco declara que, "em umahora especialmente agitada do mundo, oempenho pacífico e leal de uruguaios e bra-sileiros de cooperar juntos, em tão amplagama de tarefas para o desenvolvimento, éa resposta mais eloquente e mais constru-tiva à violência e ao ódio". Páginas 29 a 38;91 a 93; e 106.

    3. Ao homenagear o Ministro das Rela-ções Exteriores e da Justiça da Guiana,Frederick Wills, que visitou o Brasil emjulho de 1976, o Chanceler Azeredo da Sil-veira assegura que o Brasil tem plenaconfiança em que a sua determinação polí-tica de cooperar com os demais países emprol de um destino solidário de paz e deprogresso continental é também comparti-lhada, com o mesmo sentido de responsa-bilidade, por todos os países americanos.Destaca a preocupação sincera e perma-mente do Brasil no sentido de ampliar eintensificar seu relacionamento bilateralcom todos os países da América, particular-mente com seus vizinhos, em clima de se-gurança e consenso fundado na observân-cia de princípios elementares para a convi-vência harmoniosa, tais como os de res-peito mútuo e da integridade territorial dosEstados e inviolabilidade de suas frontei-ras. "O Governo brasileiro está convencidode que a colaboração é mais eficiente queo antagonismo para a consecução do pro-gresso material e social das nações", declaraSilveira. O visitante, por sua vez, garanteque seu país continua empenhado na de-monstração do total respeito pela sobera-

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  • nia e integridade territorial de outros Esta-dos e, principalmente, ao princípio de não-interferência nos assuntos internos de umEstado soberano. Páginas 39 a 45; e 94.

    4. "Ao Itamaraty cabe, agora, em estreitoentendimento com os órgãos internos com-petentes, contribuir para a formulação dapolítica de transferência tecnológica noplano internacional, de interesse para odesenvolvimento económico e social brasi-leiro, a qual, aprovada pelo Governo, orien-tará a própria atividade do Ministério dasRelações Exteriores nesse campo", salientao Chanceler Azeredo da Silveira na cerimó-nia de inauguração do Curso para Treina-mento dos Chefes dos Setores de Ciência eTecnologia do Ministério das Relações Ex-teriores. Cita a atuação do Itamaraty naquestão da absorção de tecnologia, "que temse orientado para o propósito básico de as-segurar o fluxo livre, permanente e regularda informação científica e tecnológica; oacesso ao conhecimento patenteado; a libe-ralização no uso de marcas, técnicas e pro-cessos; e a livre circulação interna de tecno-logia importada pelas empresas privadas".Página 53.

    5. Os membros das Comissões de RelaçõesExteriores do Senado e da Câmara, em ses-são conjunta, ouvem do Chanceler Azeredoda Silveira ampla exposição sobre as linhasbásicas da diplomacia brasileira, que, numquadro extremamente dinâmico, não podeser estática, sob pena de ser ineficiente.Segundo Silveira, em matéria de política in-ternacional o preço da ineficiência costumaser caro: por vezes a renúncia a objetivosfundamentais; por vezes a renúncia à pró-pria soberania. O Chanceler brasileiro con-sidera natural que, ao traçar as linhas geraisda política externa, o Presidente Geisel te-nha em conta a necessidade imperiosa daeficiência, que, entretanto, só pode ser atin-gida através de uma atitude atenta para oquadro de transformações observadas no

    mundo de hoje. Reporta-se a áreas em quea política brasileira se deve fazer presenteprioritariamente, como é o caso da AméricaLatina, onde as relações foram intensifica-das durante o Governo do Presidente Geisel.Página 57.

    6. A criação do Conselho EmpresarialBrasil-Estados Unidos corresponde a umanecessidade de ordenar e impulsionar oscontatos económicos, que não podem nemdevem depender de iniciativas tomadas aonível de Estado, embora o Governo não pos-sa estar ausente do processo económico,no qual tem uma função disciplinadora enegociadora — função essa que não excluie nem prejudica, mas facilita, a ação doempresariado. Esta é a linha de pensamentomanifestada pelo Chanceler Azeredo da Sil-veira em seu discurso pronunciado duranteo almoço oferecido aos membros do Conse-lho Empresarial Brasil-EUA. O Chancelerobserva ainda que a autonomia tecnológicade um país é quase sinónimo de sua autono-mia política. Página 67.

    7. Na abertura dos debates da XXXI Ses-são Ordinária da Assembleia Geral da ONU,em setembro, o Chanceler Azeredo da Sil-veira assevera que a disparidade entre paí-ses desenvolvidos e subdesenvolvidos setornou flagrantemente insustentável, impon-do-se a negociação de medidas concretaspara corrigi-la. "O que é preciso — explicao Chanceler brasileiro — é que se procedaa uma ampla reorganização da economiamundial, de modo a corrigir as agudas dis-paridades tanto na distribuição dos meios deprodução, quanto nos padrões de consumo."Para Azeredo da Silveira, a persistência dosubdesenvolvimento, ao acarretar a conti-nuada marginalização política e económicada maioria dos países em desenvolvimento,forçosamente freará a própria evolução doprocesso de interdependência dos Estados.Página 71.

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  • a viagem do presidentegeisel ao japão

    A visita do Presidente Geisel ao Japão, emsetembro deste ano, representou, também,uma projeção, em escala mundial, dos inte-resses brasileiros, complementando as visi-tas feitas anteriormente à França e ao ReinoUnido e ampliando a área de atuação polí-tica e económica do Brasil no exterior. Osentendimentos mantidos pelo PresidenteGeisel em Tóquio refletem a decisão doGoverno brasileiro em diversificar a gama deopções que se oferecem ao Brasil no pano-rama internacional, assim como as atitudesbrasileiras de renúncia a posições postulan-tes e de adesão apenas aos acordos que re-colhem obrigações e vantagens equilibrada-mente distribuídas.

    Em Tóquio, foi realizada a Primeira ReuniãoConsultiva Ministerial Brasil-Japão, cuja ins-talação estava prevista desde 1974, quandoda assinatura da Declaração Conjunta fir-mada entre os dois Governos. Esta reuniãorepresenta um novo mecanismo de consultaentre os Governos dos dois países, e, emborasua constituição remonte ao ano de 1964, asua ativação sucede à criação da Grande

    Comissão com a França e à assinatura dosMemorandos de Entendimento com o ReinoUnido e com os Estados Unidos. Através daPrimeira Reunião Consultiva, os represen-tantes brasileiros e japoneses procederamao exame sistemático das relações nipo-brasileiras no mais alto nível governamental.

    As conversações mantidas no plano econó-mico tiveram, como sentido geral, o aumen-to da participação dos investimentos japo-neses em grandes projetos de desenvolvi-mento no Brasil e a expansão das exporta-ções brasileiras para o mercado japonês. OComunicado Conjunto, assinado pelo Presi-dente Ernesto Geisel e pelo Primeiro-Minis-tro Takeo Miki, revela o compromisso entreos países no sentido de procurar ampliaro intercâmbio bilateral Brasil-Japão de ma-neira harmónica, respeitando-se, porém, asoberania e a independência de cada país.

    Em termos económicos, a visita do Presi-dente Geisel ao Japão resultará na amplia-ção das exportações brasileiras para aquelepaís, especialmente de minério de ferro,

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  • pellets e celulose, cujo volume de vendas para o projeto da usina de alumínio no Parápoderá alcançar, nos próximos 15 anos, um (ALBRAS), os capitais japoneses atingirão avalor superior a 10 bilhões de dólares, cifra de 640 milhões de dólares. Espera-se,Destaca-se ainda, para um prazo maior (18 também, um aumento significativo das ex-anos), a perspectiva de exportação de 2,3 portações de produtos agrícolas e ainda abilhões de dólares em aço da usina de Tu- criação de uma empresa agrícola nipo-brasi-barão, no Espírito Santo, que deverá também leira destinada à exploração do cerrado e àreceber investimentos japoneses da ordem construção do Porto de Praia Mole, cujode 500 milhões de dólares, enquanto que, financiamento foi negociado em Tóquio.

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  • a entrevista do presidente geiselà televisão japonesa

    Entrevista que oPresidente Ernesto Geisel

    concedeu àJapan Broadcasting Corporation (NHK), em 8 de setembro,

    em Brasília, e que foi transmitida por uma rede de televisãojaponesa às 21 horas de Tóquio (9 horas de Brasília)

    do dia 14 de setembro de 1976.

    Pergunta — Senhor Presidente, gostaria desaber de Vossa Excelência quais os pensa-mentos ou perspectivas que tem com rela-ção ao Japão, particularmente na vésperade seu embarque para esse país?

    Resposta — Considero o Japão uma grandenação. Não só pela sua população numerosa,que demonstra grande espírito cívico e capa-cidade de trabalho, como pelo desenvolvi-mento económico que atingiu. O Japão éum dos países mais desenvolvidos do mun-do, que dispõe de alta tecnologia e que seprojeta também no âmbito internacional,por seu relacionamento amistoso com outrospaíses e por seu permanente interesse pelapaz e entendimento entre os povos.

    O Brasil é bastante diferente em certos sen-tidos: tem grande extensão territorial, compopulação da ordem de 110 milhões de habi-tantes, mas que ainda não atingiu plena-mente o grau de desenvolvimento que de-seja. O Brasil é uma nação emergente, queluta para se desenvolver, mas que tem gran-des possibilidades, sobretudo como supridorde matérias-primas e produtos alimentícios

    e como campo para emprego de recursostecnológicos e de investimento.

    Acho, assim, que os dois países podem secomplementar, ajudando-se, mutuamente,no campo económico, no campo cultural etambém no campo da cooperação internacio-nal, porque a nós também, aqui no Brasil,animam os mesmos propósitos de paz e deum bom relacionamento entre os povos.

    Aí estão as principais ideias que formulona véspera de empreender esta viagem aoJapão.

    Pergunta — Gostaria de conhecer o desejode Vossa Excelência, com relação à concre-tização dos projetos de grande porte no Bra-sil, que estão sendo planejados com a cola-boração do Japão.

    Resposta — o Japão tem hoje em dia vá-rios empreendimentos em associação como Governo e empresas brasileiras. Algunsdesses empreendimentos estão inteiramenteimplantados, com resultados altamente posi-tivos, como por exemplo a Ishibrás, no cam-

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  • po da construção naval, e a Usiminas, naárea da siderurgia.

    Há outros empreendimentos em fase de exe-cução, na área da produção de celulose,como a Cenibra e a Flonibra, bem como naprodução de pelotas de minério de ferro, emassociação com a Companhia Vale do RioDoce.

    Há ainda outros empreendimentos em fasede projetos, alguns já aprovados, outros emfase de estudos, empreendimentos grandes,que certamente trarão excelentes resulta-dos, tanto para o Brasil, como para os inves-tidores japoneses. Desejo referir-me dê for-ma especial a um projeto na área do alu-mínio, a ser executado na região amazônica,e a um projeto siderúrgico, em Tubarão.

    Há projetos agrícolas na zona do cerradobrasileiro e muitos outros. Acredito sincera-mente que todos esses projetos se realizemplenamente e venham a constituir um marcoimportante para o Japão, como país investi-dor e exportador de tecnologia, e para o Bra-sil, pelo desenvolvimento que nos trará.Grande parte da produção gerada pela im-plantação desses projetos será aproveitadaem negociações ou na importação pelo pró-prio Japão, conforme vimos fazendo háalgum tempo, o que aumenta as possibili-dades do seu pleno êxito.

    Antes de encerrar esta entrevista, queroaproveitar a oportunidade para transmitirpela televisão, ao povo japonês, as minhassaudações mais cordiais.

    Discurso do Imperador Hiroito, do Japão,no banquete que ofereceu ao Presidente

    Ernesto Geisel, no Palácio Imperial,em Tóquio, em 16 de setembro de 1976; e resposta

    do Presidente brasileiro.

    imperador hiroito:brasil se impôs como

    país de respeito

    0 IMPERADOR

    Excelentíssimo SenhorPresidente da República Federativa doBrasil,

    Desejaria, em primeiro lugar, expressar aVossa Excelência e à Excentíssima SenhoraGeisel, as minhas sinceras boas-vindas.Vossas Excelências vieram de muito longepara visitar este país. É para mim e para aImperatriz uma grande alegria termos aoportunidade de oferecer este banqueteaqui, no Palácio Imperial.Muito afastados geograficamente, nossosdois países estabeleceram relações diplo-máticas em fins do século XIX. Foi em 1908

    que os primeiros emigrantes japoneses pi-saram o solo de seu país. Hoje, cerca de700 mil emigrantes e seus descendentes bra-sileiros vivem felizes no Brasil, contribuempara o progresso da comunidade brasileira.Aqueles emigrantes e seus descendentesenfrentaram e venceram dificuldades natu-rais, o que pode ser atribuído, creio eu, aoapoio e à boa vontade do Governo brasileiroe também à amizade constante e espontâ-nea que aos nossos compatriotas e aos seusdescendentes dedica o povo brasileiro.

    visitas incentivam economia e cultura

    A troca de visitas de altas personalidadesentre nossos dois países tem sido, nos últi-

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  • mos anos, cada vez mais frequente. Essasvisitas facilitam e incentivam nosso inter-câmbio económico, industrial e cultural.Aproveito esta oportunidade para, de novo,expressar nosso profundo agradecimentopela acolhida calorosa que, em todo seupaís, foi oferecida ao Príncipe HerdeiroAkihito e à Princesa Michiko e também aoPríncipe e à Princesa Miksa, quando, algunsanos atrás, visitaram o Brasil.

    Sob um céu profundamente limpo e claro,conta o Brasil com vastas extensões de ter-ras férteis. Seu país é abençoado com abun-dantes recursos naturais, que se localizam,principalmente, na região amazônica, tesou-ro promissor de toda a América Latina.Numa antevisão magnífica, a nova Capitaldo Brasil, Brasília, foi fixada em pleno Pla-nalto Central.

    O Brasil impôs-se como grande potência etem o respeito dos outros países. Reconheço,com reverência profunda, a dedicação deVossa Excelência, extraordinário líder daamiga nação brasileira, à causa da prospe-ridade futura de seu país. Reconheço, tam-bém, que para tanto, Vossa Excelência vemfortalecendo os laços de amizade com ou-tros países, vem desenvolvendo entendimen-tos no setor industrial e no setor da coope-ração técnica com o exterior. Acredito quea visita de Vossa Excelência ao Japão con-tribuirá para o progresso da nossa compre-ensão recíproca e também para o aperfei-çoamento das nossas relações de amizade.Mas esta visita contribuirá, sobretudo, paraassegurar a cooperação económica entrenossos dois países, o que ajudará a concreti-zação da paz mundial e do bem-estar detoda a humanidade.

    Embora curta a estada neste país de VossaExcelência e da Excelentíssima SenhoraGeisel, é meu desejo que se encontrem como maior número possível de personalidadesnos mais diversos campos de atividade, eque conheçam também, quanto for possível,os variados aspectos deste país.

    Proponho a todos os presentes que ergamsuas taças para brindarmos à felicidade doExcelentíssimo Senhor Presidente ErnestoGeisel e Senhora e, também, ao futuro prós-pero da República Federativa do Brasil.

    0 PRESIDENTE

    Majestades Imperiais,

    Esta é a primeira vez que um Chefe de Es-tado brasileiro visita oficialmente o Japão.Sinto-me feliz e honrado por me haver cabi-do este privilégio. Minha estada em solonipônico espero venha a ser uma demons-tração das boas relações que existem entrenossos Governos, expressão da sólida ami-zade que une nossos povos e penhor da dis-posição que a ambos anima, de torná-la per-manente.

    Aqui estou, depois de longa viagem por ter-ras antípodas às de meu país. E, no entanto,sinto natural a atmosfera que me cerca,desnecessário qualquer esforço de adapta-ção. Não há nisso motivo de surpresa. OBrasil e o Japão tornaram-se, de há muito,países próximos. A maneira de ser japonesa,por diferente que seja da nossa, é familiaraos brasileiros. O Brasil é o país que, forado arquipélago nipônico, acolheu o maiorcontingente de sangue de origem japonesa.Somos gratos a esses japoneses que setransferiram para o nosso país e ajudaram aconstruir a prosperidade da nação brasi-leira. Seus filhos e netos fazem hoje partedas gerações nacionais que preparam, orgu-lhosamente, o Brasil de amanhã.

    Sou, por isso mesmo, portador de uma men-sagem de afeto do povo brasileiro aos sú-ditos de Vossa Majestade Imperial.

    uma perspectiva histórica quetranscende interesses imediatosDesejo reafirmar que o relacionamento en-tre o Brasil e o Japão oferece-nos uma pers-pectiva histórica que transcende o plano dosinteresses imediatos. É que existe a cimen-tá-lo a amizade nipo-brasileira, a admiraçãorecíproca entre nossos povos e a confiançamútua entre nossos Governos. Partimos,pois, de uma sólida base de entendimentopara o exercício de uma cooperação quepode ser exemplar.

    Estou seguro de que minha visita ao Japãotornará ainda mais forte essa convicção.Partilho da admiração de todos os brasilei-ros peio extraordinário exemplo que nos dáa história da nação japonesa — lição de es-forços, de confiança e de determinação.

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  • Poderei, agora, sentir de perto as raízes pro-fundas desta cultura que, nos tempos mo-dernos, soube harmonizar tão perfeitamentea técnica ocidental à tradição oriental. OJapão não é apenas uma grande potênciaeconómica. Sua maior riqueza é a disciplinaética de sua gente, sua dedicação à pátria,sua tenacidade capaz de transformar desa-fios históricos em milagres humanos.

    Essa vitalidade da nação japonesa é a gran-de impressão que se colhe ao chegar a estesolo milenar.

    crescer na convivência com outrasculturas

    Creio que reside aqui um grande traço deunião entre nossos povos. O Brasil é, tam-bém, um país que tem consciência de suaenergia e que a emprega, com entusiasmo,na construção de um destino de paz, de jus-tiça e de liberdade. Nossa é, também, a ca-

    pacidade inata de dar e de receber, a dispo-sição natural de crescer na convivência comoutras culturas. Somos abertos aos contatoscom quaisquer povos amigos porque nossabemos naturalmente capazes de tornarnacionais as influências que recebemos defora. Sabemos, também, que os países seentendem, se associam, se unem ou mesmose identificam em muitos de seus propó-sitos; porém, nunca se confundem. Essaautenticidade é a condição mesma para umdiálogo criativo, seja entre indivíduos, sejaentre os Estados.O Brasil e o Japão cumprem, com rigor, es-sas regras de convivência. Eis por que, voltoa dizer, tenho plena confiança no futuro denossas relações.Pensando no entendimento entre nossospaíses, peço a todos os presentes que a mimse juntem no brinde que faço a Suas Majes-tades o Imperador e a Imperatriz do Japãoe, em nome do povo brasileiro, ao povo ami-go do Japão.

    brasil e japaoDiscurso do Presidente Ernesto Geisel, em 18 de setembro

    de 1976, em Tóquio, durante o banquete que ofereceu às SuasMajestades o Imperador e a Imperatriz do Japão.

    têm interesses quese completam

    Majestades Imperiais,

    Estes dias em terra japonesa confirmaramminhas impressões iniciais — a hospitali-dade discreta e afável, a naturalidade dossentimentos de fraternidade entre japonesese brasileiros, a riqueza cultural do povo ja-ponês, sua extraordinária confiança no futu-ro e determinação em construí-lo.Tudo no Japão está associado à preocupa-ção com a justa medida, com a proporção,com o equilíbrio, dispensado qualquer ex-cesso. Assim nas artes, inclusive nas quoti-dianas artes da cozinha e da etiqueta. As-sim na filosofia de vida. Assim no comporta-mento económico e social.

    o japão concilia a vitalidade do novoe a sabedoria do antigo

    Esta é, penso, a herança que nosso povosoube conservar dos valores tradicionais dacultura japonesa e tão sabiamente conciliarcom o influxo renovador de ideias ocidentaisque, importadas, valorizam ainda mais ou-tros aspectos da vida social japonesa. Veio,assim, o Japão de hoje a conseguir esse rarocompromisso entre a vitalidade do novo e asabedoria do antigo, e que lhe é tão par-ticular.O inegável êxito da revolução moderniza-dora do Japão, por si só, já poderia justificar

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  • a inabalável confiança que o japonês pareceter em que tudo pode ser conseguido desdeque seja tentado. Essa confiança coletiva, aum tempo, revela e recria a unidade nacio-nal, amalgamando o povo em torno de pro-pósitos comuns.

    o brasil tem confiança inquebrantávelno seu destino

    O povo brasileiro não desconhece sentimen-tos afins. Não temos, nós, uma cultura mile-nar que nos seja própria e que haja produ-zido tesouros materiais ou espirituais a pre-servar, embora — caldo de culturas diversasde maior ou menor projeção anterior no tem-po — nos sintamos imersos em valores quetranscendem nossa própria História. Mastemos, isso sim, inquebrantável confiançaem nosso destino e a consciência precisade que a tarefa comum de construí-lo enrije-cerá o espírito da nação. A Revolução Bra-sileira também se propôs o desafio de cons-truir um país moderno. E, a esse desafio,o povo brasileiro está respondendo à altura.

    Tal paralelismo de atitudes facilita a com-preensão e a cooperação entre nossos povos.

    Existe entre o Brasil e o Japão não apenasuma complementaridade de interesses mas,também, poderíamos dizer, compatibilidadeentre as psicologias nacionais. A confiançaque temos em nossas respectivas missõesnacionais conduz-nos ao esforço de constru-ção com determinação tal que não nos deixaser presas de receitas apríorísticas nem defatos consumados. Nesse sentido, somosambos povos pragmáticos. Vemos nas adver-sidades, não um pretexto para vãs filosofiasou a inação, mas um desafio para vencê-las.

    Majestades Imperiais,

    0 mundo de hoje anuncia, talvez, uma novacivilização, que será certamente o resultadodo tão adiado encontro entre o Ocidente eo Oriente. O encontro entre o Brasil e oJapão é o encontro entre essas culturas.Pelo exemplo que representa, tenho a cer-teza de que, ao enriquecer nossos dois po-vos, não deixa, também, de enriquecer aprópria humanidade.

    Peço a todos os presentes que comigo er-gam as suas taças para brindar pela saúdee felicidade de Suas Majestades Imperiaise pela prosperidade do povo japonês.

    é profícua, sadia e estávela cooperação nipo-brasileira

    Miki, durante o banquete que ofereceu, em sua residência, ao PresidenteErnesto Geisel, em 17 de setembro de 1976; e resposta do Presidente brasileiro.

    Discurso do

    O PRIMEIRO-MINISTRO

    Excelentíssimo Senhor,

    Presidente da República Ernesto Geisel,

    Excelentíssima Senhora Geisel,

    Excelentíssimos membros da comitiva presi-dencial e demais personalidades presentes,

    Senhoras e Senhores,

    É com muita honra e grande alegria que façorealizar este banquete de boas-vindas emhomenagem a Vossa Excelência e à Excelen-tíssima Senhora Geisel, bem como aosdignos membros da comitiva oficial de Vos-sa Excelência.

    Sinto-me profundamente feliz. Permita-meexpressar minhas mais sinceras boas-vindas

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  • a Vossa Excelência e a todos os que, aquipresentes, os acompanharam desde o Brasil,um dos países mais distantes do Japão.

    o brasil vai vencendo as dificuldadeseconómicasDesde a crise do petróleo, muitos paísespassaram a sofrer inflação e recessão econó-mica. Faz algum tempo, no entanto, vai-serecuperando a economia mundial, que sedefronta, nos dias que correm, com impor-tantes momentos na busca dos caminhos daprosperidade, livres de inflação. O Brasil dehoje, sob a liderança preclara e inteligentede Vossa Excelência, vai vencendo várias di-ficuldades económicas e vai-se encaminhan-do, a passos firmes e decididos, no sentidodo desenvolvimento nacional. Realizam-se,nessas condições, grandes projetos, como aconstrução da Transamazônica e a indus-trialização do alumínio, no Norte do País.A construção da Usina Hidrelétrica deItaipu, com capacidade aproximada de 10milhões de kw, no Sul do País; a construçãoda Usina Siderúrgica de Tubarão, na regiãoCentro—Leste; e a exploração agrícola docerrado, na região Centro-Oeste. Tais pro-jetos, ora em curso no Brasil, constituemuma das obras mais grandiosas a serem exe-cutadas pelo homem na segunda metade doséculo XX. É este um magnífico surto de pro-gresso. Como se costuma dizer entre os bra-sileiros, "ninguém segura este País".Permita-me expressar, Senhor Presidente,minhas mais sinceras palavras de respeitoe admiração por esta auspiciosa e denodadaobra, que vai sendo realizada pelo Governode Vossa Excelência.

    Afirmam alguns analistas, ao observarem oacelerado crescimento económico do Japãonos últimos anos, que o século XXI será umséculo japonês. Entretanto, à vista do de-sempenho económico do Brasil, sustentamoutros analistas que aquele século será bra-sileiro. Desejo que os dois países, o Brasile o Japão, que visam maior desenvolvi-mento no futuro, mantenham e ampliemsuas cordiais relações de cooperação, a fimde que nossos dois países continuem a pro-gredir ininterruptamente.

    É com muita satisfação que vejo numerosasempresas japonesas participarem desses

    programas económicos, que se vão concreti-zando, orientados pela mais alta prioridadeatribuída pelo Governo brasileiro. Esforçam-se nossas empresas em contribuir semprepara os interesses brasileiros. O Governo ja-ponês, desse modo, pretende envidar osmaiores esforços possíveis para, a seu turno,oferecer maiores incentivos às atividadesempresariais japonesas em terras brasi-leiras.

    no brasil, uma convivência harmoniosade todos os emigrantes

    Ocupando quase metade do continente sul-americano, o Brasil tem recebido, com cari-nho, emigrantes de diversos países desde oséculo XIX. Seu país se desenvolve e temmantido sempre uma convivência harmo-niosa, de âmbito nacional, com aqueles emi-grantes, usufruindo inteiramente suas carac-terísticas raciais positivas. Vejo neste as-pecto de seu país uma realidade digna deadmiração, uma demonstração da grandezado Brasil. É para mim motivo de alegria ve-rificar que os emigrantes japoneses e seusdescendentes também participam, comobrasileiros, dos esforços de desenvolvimentodo Brasil. No setor cultural, é também mo-tivo de alegria para nós, japoneses e brasi-leiros, registrar a inauguração, há poucosdias, do Centro de Cultura Japonesa daUniversidade de São Paulo. Os estudos sis-temáticos sobre a cultura japonesa, a seremempreendidos nesse Instituto de pesquisas,têm particular importância para o aprofun-damento da compreensão recíproca entre oJapão e o Brasil. Espero, nessas condições,que, cada vez mais, se aperfeiçoem os tra-balhos daquele Centro de Estudos CulturaisNipônicos.

    visita de geisel marca época

    Estreitam-se os laços de amizade entre oBrasil e o Japão, ao mesmo tempo em quese torna mais frequente a troca de visitasde altas personalidades entre os dois países.Em 1974, por exemplo, o ex-Primeiro-Minis-tro do Japão, Kakuei Tanaka, fez uma visitaoficial a seu país; seguiu-se, no ano passado,

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  • a visita ao Brasil do Vice-Primeiro-MinistroTakeo Fukuda; ainda este ano, ocorreu a vi-sita do Ministro da Indústria e do Comérciointernacional, Toshio Kohmoto. O Japão, aseu turno, recebeu, no ano passado, a visitado Senhor Quandt de Oliveira, Ministro dasComunicações, e, em janeiro deste ano, avisita do Senhor Shigeaki Ueki, Ministro dasMinas e Energia. Reconheço que todas essasvisitas têm contribuído amplamente para amaior compreensão e confiança recíprocasentre nossos dois países.

    Trata-se, desta feita, da visita de Vossa Ex-celência e da Excelentíssima Senhora Geiselao nosso país. Esta visita, Senhor Presiden-te, sem dúvida auspicia o estreitamento doslaços de amizade entre o Japão e o Brasil.Este acontecimento marca época na históriado relacionamento entre nosos países. Estoucerto de que, doravante, as relações frater-nas que mantemos, sejam económicas, se-jam culturais, serão cada vez mais aperfei-çoadas.

    Dada a existência, em nossos dias, de fatosque conduzem à interdependência interna-cional, só poderá ser alcançada a paz mun-dial se houver prosperidade em cada país,se houver bem-estar para a humanidade.Não poupamos, por conseguinte, nossos me-lhores esforços para a consecução da pazmundial e o ponto de vista internacionalimpõe-se ao nosso país.

    Espero que, neste curto lapso de tempo dasua visita, Vossa Excelência e Excelentís-sima Senhora Geisel, bem como os membrosda sua comitiva, possam conhecer mais pro-fundamente o Japão de hoje, travando con-tato com a liderança das nossas mais di-versas atividades, estando presente nosmais variados lugares deste país. Na antigaCapital de Kyoto, por outro lado, desejo que,sob as amenidades do começo do nosso ou-tono, passem um dia proveitoso e feliz eque possam frequentar as preciosidades erelíquias culturais do velho Japão.

    Rogo, pois, a todos os presentes, que comigoergam suas taças para bebermos à feli-cidade pessoal do Excelentíssimo SenhorPresidente Geisel e Senhora e à prosperida-de do grande povo brasileiro.

    O PRESIDENTE

    Senhor Primeiro-Ministro,

    Ontem, nas palavras com que agradeci, aSua Majestade, o Imperador, a honrosahomenagem que prestava ao Chefe de Es-tado do Brasil, tive a oportunidade de sali-entar quão próximos se sentem os nossospovos, por simpatias naturais, não obstantea distância geográfica que nos separa e asdiferenças históricas e culturais na forma-ção de cada país.Essas simpatias, espontâneas no plano dorelacionamento entre nossos povos, encon-tram correspondência ao nível das relaçõesentre os nossos Governos.Tem sido norma de conduta de meu Governoencarar as relações internacionais com se-reno pragmatismo, pragmatismo que nadamais deseja ser do que uma clara percepçãoda realidade para adequar os meios de açãoaos objetivos nacionais, dentro de um qua-dro de referência que se confunde com aprópria realidade brasileira.

    buscar coincidências de objetivos eestimular convergências de interessesNão me cabe interpretar a política externajaponesa. Na medida, porém, em que é pró-prio do esforço diplomático buscar coinci-dências de objetivos e estimular convergên-cias de interesses entre as nações, vejo ní-tidos os traços de aproximação entre nossaspolíticas.Para países de grandes potencialidades, acomplexidade do quadro internacional é umdesafio à presença; não deve ser incentivoao isolamento. E essa presença, no mundode hoje, é necessariamente universal,ecuménica.

    Ressalto como coincidência fundamental, emnossas políticas externas, o compromisso,em ambos os países constitucional, de ser-vir à causa da paz. Nem se apartam nossosGovernos no entendimento de que a paz é,também, outro nome da justiça, da seguran-ça, do desenvolvimento, da liberdade comresponsabilidade social.

    Porque esses são os nossos objetivos, que-remos que a paz prevaleça para toda a

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  • humanidade . E não cremos possa ela serconstruída nem pela força nem por nobresilusões. A ordem internacional duradouranão dispensará a convicção madura, por par-te dos Estados, de que a cooperação é maiseficaz do que o antagonismo. Como, tam-bém, não poderá dispensar o comporta-mento consequente que terá de se caracte-rizar pelo irrestrito respeito recíproco entreos Estados, a não-interferência, a genuínaconsideração das vontades nacionais.

    ampla margem de convergência naspreocupações dos dois governos

    Nos entendimentos que tive com Vossa Ex-celência, Senhor Primeiro-Ministro, pudecomprovar ampla margem de convergêncianas preocupações fundamentais de nossosGovernos.

    Como o Japão do pós-guerra, o Brasil segueuma diplomacia de paz, voltada para os in-teresses nacionais de desenvolvimento eco-nómico e social, desprovida de preconceitos,preocupada com assegurar, às gerações pre-sentes e vindouras, a segurança e a prospe-ridade a que fazem jus.

    Tais objetivos levam-nos a assumir respon-sabilidades crescentes, na esfera internacio-nal. Encaramos esse papel com realismo emodéstia. Sabemos que essas responsabili-dades envolvem exposição maior, decisõesmais graves a tomar, riscos a enfrentar, masque representam também maior margem deação, mais amplas oportunidades de esco-lha, canais novos de expressão, em suma,instrumentalidade mais variada para o exer-cício da vontade nacional.

    Nesse sentido, as relações entre o Brasil eo Japão alcançaram, progressivamente, ele-vada importância política. Minha presençaem Tóquio é um símbolo dos vínculossólidos e duradouros que unem as duasnações.

    uma cooperação bilateral profícuaPor seus fundamentos e suas potencialida-des, as relações entre nossos países inse-rem-se, necessariamente, numa perspectivade longo prazo. Elas exigem, por isso mes-mo, um entendimento pleno, de Governo aGoverno, que preserve o diálogo em bases

    autenticamente nacionais. Nossa coopera-ção bilateral é e será profícua porque repou-sa em bases sadias e estáveis: uma coope-ração entre parceiros livres que buscam obenefício comum. Essa colaboração temsido isenta de conflitos e de temores porquese fundamenta no genuíno respeito de umpaís pelo outro. A confiança recíproca quetal espírito gerou preservará a associaçãoentre nossos Governos.

    Senhor Primeiro-Ministro,

    A causa da paz reclama o diálogo. De nossaparte, a ele não nos temos furtado onde querque nossa presença possa ser útil e propi-ciar ajuda.Partilhamos com o Governo e o povo doJapão da convicção de que o mundo deagora é, de fato, "um mundo só". A inter-dependência entre os Estados não é apenasuma opção política — é uma condição desobrevivência.

    interdependência só é legítima quandobaseada na justiça e na igualdadeSabemos, também, que a interdependêncianão deve significar renúncia à independên-cia. E que ela só é legítima quando fiel aocompromisso de justiça e de igualdade, queé a própria base da convivência interna-cional.Sensíveis a essa realidade, nossos paísesinvestem-se de responsabilidade específicana construção da nova ordem internacional,uma nova ordem que seja verdadeiramentebenéfica a todos os povos que ainda enfren-tam a batalha árdua do desenvolvimento.

    Por todas essas razões, a finalidade do diá-logo entre Brasília e Tóquio não se esgotano plano dos interesses bilaterais e imedia-tos. Creio que, na esfera política internacio-nal, o Brasil e o Japão encontram reais mo-tivos para o diálogo e entendimento cons-trutivos.Estou certo de que as conversações quemantivemos e ainda voltaremos a manter,fornecerão contribuição positiva à coope-ração entre os nossos Governos no planointernacional.O Japão desfrutou, sempre, de reconhecidacapacidade de atuação no cenário mundial,compatível com as grandes responsabilida-

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  • des que seu povo e seu Governo podem as-sumir. O mundo do futuro requererá, maise mais, essa participação japonesa, em de-cisões que afetam toda a humanidade. Essa,a consequência irrecusável da projeção ex-terna dos interesses nacionais.

    noção clara de responsabilidades,objetivos e possibilidadesMeu país é novo no plano universal. Conta-se por anos o período recente no qual a pro-jeção dos nossos interesses nos levou asentir que nada do que é humano, no planouniversal, pode nos ser estranho. Mas che-gamos a esse sentimento por um processode conscientização progressiva e racional.Temos, por isso, como povo e como Governo,

    noção clara de nossas responsabilidades,objetivos e possibilidades. E estamos dispos-tos a vindicar a nossa parte de benefíciostanto quanto, em contrapartida, a aceitar anossa parte de obrigações, no vasto com-plexo das relações internacionais.

    Senhor Primeiro-Ministro,

    Ao agradecer, por intermédio de Vossa Exce-lência, a hospitalidade do Governo japonês,quero repetir quão genuínos são os senti-mentos de amizade que unem os nossosdois povos.

    A esses sentimentos, peço que bebamosagora. E que nossos votos se dirijam, tam-bém, a Vossa Excelência, a quem desejamosum futuro pleno de venturas.

    geisel mostra a empresáriosjaponeses o brasil de hoje

    Discurso do presidentedo Keidaren (Federação

    das OrganizaçõesEmpresariais do Japão), toshio Doko, no almoço que ofereceu

    ao Presidente Ernesto Geisel, em Tóquio, em 17 de setembrode 1976; e resposta do Presidente brasileiro.

    TOSHIO DOKO

    Excelentíssimo Senhor Presidente ErnestoGeisel,

    É para mim motivo de grande alegria aoportunidade que me foi dada de receberVossa Excelência e demais altas personali-dades, aqui presentes, para este almoço,que, em sua homenagem, oferecem as cincoprincipais organizações económicas japo-nesas. Desejaria expressar, em nome dessasorganizações, meu profundo agradecimentopela presença de Vossa Excelência, em meioao seu intenso programa de visitas ao Japão.

    Remontam ao ano de 1908 as relações entreo Japão e o Brasil. Naquele ano, a bordodo navio Kasado-maru, destinou-se a seupaís o primeiro grupo de emigrantes japo-neses. Desde então, atravessando os maresrumo ao Brasil, um grande número de japo-neses tem podido realizar o sonho e concre-tizar a esperança de trabalhar nas terras deseu país. Hoje, ultrapassa a cerca de 750 milo número de japoneses e seus descendentesincorporados à sociedade brasileira; dedi-cam-se eles, confiantes e felizes, ao progres-so do Brasil, sua nova pátria.Dotado de abundantes recursos naturais, oBrasil, contando com seu imenso territórioe com a diligência de seu povo, cujo espí-rito empreendedor todos reconhecem, vem

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  • mantendo, a cada ano que passa, um extra-ordinário crescimento económico. Sob agrande liderança de Vossa Excelência e deoutros destacados líderes de seu país, osbrasileiros unidos dedicam-se à construçãodo Brasil, o que comove a todos os que visi-tam o seu país.

    o mundo inteiro encara o brasilcomo potência do futuro

    Não é de se estranhar, nessas condições,que o mundo inteiro encare o Brasil comouma grande potência do futuro.

    Satisfaz-nos saber que, cada vez mais, seestreitam as relações económicas entre nos-sos dois países, nos campos do comércio,dos investimentos e da cooperação técnica;intensifica-se, de modo geral, o intercâmbioentre nossos países nos mais diversos seto-res de atividade.

    Examinamos com grande interesse os pro-jetos económicos de seu país, com os quaiso povo brasileiro conta garantir um futuropróspero. Comprometemo-nos a fazer nos-sos melhores esforços para, conjuntamente,obtermos os mais frutíferos resultados, emtermos da coexistência e prosperidade quealmejam o Japão e o Brasil.

    Observamos, com grande satisfação, a re-cente troca de visitas entre líderes japone-ses e líderes brasileiros, as quais consti-tuem um dos fatos positivos para o aperfei-çoamento das nossas amistosas relações.Dois líderes do Governo japonês visitaramo Brasil nos últimos dois anos; em julhodeste ano, ocorreu a visita do Ministro daIndústria e Comércio Internacional, ToshioKohmoto, a qual, como as demais visitas, vi-sava estreitar as relações entre nossos doispaíses. Por outro lado, ainda está viva emnossa memória a visita a este país, no co-meço deste ano, do Senhor Shigeaki Ueki,Ministro das Minas e Energia do Brasil,evento altamente positivo para a ampliaçãoda nossa compreensão recíproca.

    uma nova etapa nas relações deamizade brasil-japão

    É extremamente significativa, agora, a visitaa este país do próprio Presidente da amiganação brasileira. Alcançamos uma nova

    etapa nas relações de amizade entre o Japãoe o Brasil.

    Desejo expressar a Vossa Excelência, SenhorPresidente, o meu mais sincero agradeci-mento em poder contar, aqui, com a suapresença e também a presença dos dignosmembros de sua comitiva, no momento emque a opinião pública mundial clama pelaampliação do intercâmbio e da colaboraçãointernacionais. Estou convencido de que avisita de Vossas Excelências ao Japão satis-faz o nosso desejo diário de alcançarmos re-sultados cada vez mais positivos nas rela-ções de amizade entre o Japão e o Brasil.

    Rogo, finalmente, a iodos os presentes queergam suas taças para brindarmos à felici-dade pessoal do Excelentíssimo Senhor Pre-sidente Ernesto Geisel e ao próspero futuroda República Federativa do Brasil.

    ERNESTO GEISEL

    Senhores,

    É, para mim, um grato prazer este contatode hoje com os representantes das organi-zações empresariais do Japão. Grande temsido o papel de muitas dessas organizaçõesno desenvolvimento económico de meu país— contribuição essa que desejo, desde logo,reconhecer e ressaltar. Estou certo de quea experiência da associação de interessesnipônicos e brasileiros, em vários camposde atividades, constituirá exemplo e estí-mulo para outras entidades empresariaisaqui representadas.

    Já hoje não surpreendem as comparaçõesentre os nossos países. Tão distantes um dooutro pela geografia e tão distintos na suaancestralidade, ofereceram ambos ao mun-do, em dado momento, o espetáculo de ace-lerada modernização económica, o que levouaté a que se falasse de um "milagre brasi-leiro" como antes se falara, com justiça, doum "milagre japonês".

    Lisonjeiras como possam parecer essas ex-pressões, não nos devem confundir na ver-dadeira apreciação da realidade. Pois não

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  • há milagre onde o resultado alcançado de-corre da escolha racional de objetivos, dadeterminação inquebrantável de alcançá-los, da escolha judiciosa dos meios e, sobre-tudo, de uma consciente dedicação e esfor-ço coletivos. Esse foi o segredo do milagrejaponês, como teria sido o segredo dos êxi-tos brasileiros.

    independências que se condicionammutuamenteIndispensável, no Japão como no Brasil, foia tomada de consciência, pelo povo todo,da ideia do desenvolvimento, a convicçãogeneralizada de que a independência polí-tica e a económica mutuamente se condi-cionam e suportam, e de que esta última sóse poderá alcançá-la com uma plena mobili-zação nacional, indispensável, em ambos, foia compreensão da necessidade de criar es-truturas económicas modernas, adequadasàs características da sociedade que se quei-ra construir.Essa tomada de consciência quanto aosobjetivos e essa compreensão quanto aosmeios tornaram-se fecundas em cada um denossos países por haverem ocorrido, simul-taneamente, entre homens de Governo eentre homens de empresa. No Japão, forama imaginação e o espírito empreendedor doempresário privado, aliados à visão renova-dora do país por parte dos homens de Go-verno, que tornaram possível o extraordiná-rio surto de progresso económico que colheua admiração mundial. No meu país, fenó-meno semelhante está ocorrendo e não ad-mira, pois, que resultados parecidos delepossam decorrer.

    A harmónica intenção entre os homens denegócio e os homens de Governo, se é fe-cunda nos momentos em que a conjunturaeconómica favorável impulsiona o progres-so, torna-se essencial nas ocasiões de crise.

    Ora, vivemos ainda fase de reajustes profun-dos em nossas economias nacionais, comoresultado das crises por que tem passado aeconomia internacional em anos recentes.Refiro-me à crise que nos levou, a todos,repensar nossas prioridades em termos deprodução e utilização da energia. Mas refi-ro-me, também, às crises que têm abaladoas estruturas a serviço da cooperação finan-

    ceira e comercial. Tais crises a todos atin-gem, mas em graus distintos. E variável é,também, a capacidade nacional de enfren-tá-las, como diversos são os remédios dispo-níveis.

    brasil vê nas crises um desafio

    Felizmente para o Brasil, somos um paísotimista. Vemos, nas crises, um desafio e,até hoje, não nos faltou nem imaginaçãopara buscar soluções nem determinaçãopara pô-las em prática. Característica mar-cante do modo brasileiro de enfrentar essesreptos, tem sido o bom entendimento entreos setores público e privado e a cooperaçãono plano internacional.

    Talvez a concordância de nossos processoseconómicos tenha favorecido a cooperaçãonipo-brasileira. Talvez a circunstância deque o Brasil haja acolhido, fraternalmente,grandes correntes imigratórias japonesastenha contribuído para o mesmo resultado,criando laços invisíveis de simpatia e deentendimento entre o Japão e o Brasil. Fatoé que somos, hoje, países intimamente liga-dos, também, por interesses económicos.Os investimentos nipônicos no Brasil au-mentaram sensivelmente nos últimos anos,fazendo com que o Japão dispute, hoje, osegundo lugar entre os países com maioresinversões diretas no Brasil. Não menos im-portante é esse mesmo fluxo visto do ladodos vossos interesses. Pois o Brasil já é oquarto mercado mundial para os investi-mentos japoneses. Nosso comércio recí-proco apresenta índices significativos decrescimento. Como parceiro comercial doJapão, o Brasil situa-se até acima de vá-rios países industrializados, entre os quaisa maioria dos países integrantes da Comuni-dade Económica Europeia.

    Os níveis alcançados na cooperação eco-nómica e comercial entre nossos países es-tão longe, porém, de representar, significa-tivamente, as potencialidades dessa coope-ração.

    duas economias dinâmicas cominteresses complementares

    O Japão tem economia dinâmica, com fun-damental necessidade de matérias básicas

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  • para sua indústria e com um mercado con-sumidor crescentemente exigente. Nossaeconomia, não menos dinâmica, caracteriza-se pela abundância de recursos naturais, in-clusive território, ainda inaproveitados, pelaavidez de recursos financeiros para sua ex-ploração, pela necessidade premente daincorporação de tecnologia avançada no pro-cesso produtivo e pela versatilidade da pro-dução industrial. São, pois, bastante varia-das e amplas as possibilidades de comple-mentação dos interesses económicos entrenós.

    Seria de desejar-se que, em suas relaçõesrecíprocas, os homens de negócio de nossosdois países revelassem o mesmo espíritocriador que dispensaram ao dinamismo dasrespectivas economias. Penso, por exemplo,nos benefícios que resultariam, para ambosos povos, de uma progressiva elevação dograu da cooperação em níveis de crescentedesenvolvimento tecnológico. O progressoneste setor, longe de desservir ao intercâm-bio, favorece-o, dando densidade às relaçõeseconómicas e substituindo uma instável in-terdependência vertical por uma interdepen-dência horizontal, de caráter mais racionale equilibrado.

    sociedade aberta, a opção brasileira

    O Brasil, sabem os Senhores, fez a opção dedesenvolver-se sob a forma de uma socie-dade aberta, em que a cooperação com ou-tras nações é de fundamental importância.Essa cooperação não nos tem faltado, nem,de nossa parte, temos deixado de prestá-la.E essa evolução é favorecida pelo fato dehavermos podido instituir, no país, ordemeconómica e social com estabilidade polí-tica. São condições de qualquer progressointerno e, também, a maior garantia e omaior estímulo à confiança internacional.

    A Revolução de 1964 encontrou o Brasil àbeira de um colapso. Medidas rigorosas f i -zeram-se imediatamente necessárias sejapara conter a inflação — que ameaçava ul-trapassar a taxa dos 100% ao ano —, sejapara criar condições de equilíbrio externoda economia. Foi possível, não obstante,logo no primeiro ano, recuperar a renda reala qual, a partir de então, passou a crescer aum ritmo seguro. De 1968 em diante, quan-

    do as medidas básicas de saneamento eco-nómico já haviam alcançado o seu objetivo,o país passou a crescer a um ritmo sem pre-cedentes.

    Em termos reais, de 1968 para cá, o ProdutoInterno Bruto mais que duplicou e a rendaper capita subiu em quase 65%. É impor-tante notar que o grande aumento real veri-ficado na capacidade produtiva do Paísocorreu com aceitável equilíbrio na expan-são dos setores primário, secundário e ter-ciário da economia.

    Graças a esse progresso e à confiança queeles criaram no empresariado e no públicobrasileiros, bem como nos homens de negó-cio estrangeiros com interesse em nossopaís, pôde o Brasil enfrentar a atual criseeconómica internacional.

    em 1975, a economia brasileiramanteve-se em expansão

    No ano passado, sob vários aspectos o piordessa crise, a economia brasileira manteve-se em expansão, embora, necessariamente,a um ritmo mais lento do que o registradono período precedente.A consciência que tem o Governo dos peri-gos de um processo inflacionário — igual-mente agravado pela crise externa — le-vou-o a forçar, deliberadamente, a reduçãoda taxa de expansão económica, apesar dosreflexos negativos de tais medidas do pontode vista de vários setores da opinião pú-blica. Tal atitude mais uma vez evidencia ocaráter racional de nossa política. A infla-ção, decorrente em larga proporção da criseeconómica internacional, é, no momento, oalvo principal da política económica no pla-no interno, assim como o equilíbrio do ba-lanço de pagamentos tem sido o objetivoprincipal no plano externo. O acerto dasmedidas adotadas e da sua necessária con-jugação nos permite antever que elas terãolimitada duração e cederão lugar, por fim, auma política mais flexível, como sempre foia nossa meta.

    Os resultados obtidos e, mais que isso, aracionalidade da política que lhes está sub-jacente, tem valido, a meu país, a confiançada comunidade internacional dos homens denegócio. A estabilidade política de que o

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  • Brasil tem gozado nos últimos doze anos,somada ao tratamento dispensado ao capitalestrangeiro, é fator positivo de crescimentoe tem favorecido a participação da técnicae do capital estrangeiros em nosso processode desenvolvimento. A par de medidas pararedução do déficit em nossas transaçõescorrentes com o exterior, uma sábia admi-nistração da dívida externa, que tem porbase a compatibilização do nível do endivi-damento com a geração de recursos para asua amortização, permite-nos absorver, deforma ordenada, novos fluxos de capitaisexternos, sem risco para os seus fornece-dores.

    estabilidade política está diretamenteligada à estabilidade socialNão seria completo o retrato da fase atualpor que passa o Brasil, se não mencionasse,também, os esforços que têm sido feitos nocampo social. A consciência de que a esta-bilidade política — base do crescimentoeconómico — está diretamente ligada à es-tabilidade social e o sentimento de que odesenvolvimento não é um objetivo abstraio,mas deve visar ao próprio homem, têm le-vado os Governos da Revolução brasileira a

    darem atenção especial aos aspectos so-ciais do desenvolvimento. Beneficiária docrescimento alcançado nos Governos prece-dentes, pôde minha administração imprimirrenovado impulso às medidas que visam àmaior disseminação dos frutos do cresci-mento económico. Essa melhoria efetiva dospadrões de vida da população deverá asse-gurar base duradoura para a estabilidadedas instituições políticas, o que constitui agarantia maior com que podem contar os in-vestidores estrangeiros.

    Senhores empresários,

    Espero haver oferecido aos Senhores umquadro geral das ideias do meu Governoquanto à evolução económica do meu paíse as potencialidades da cooperação nipo-brasileira. Estou certo da vitalidade dessasrelações que resultarão em benefício cres-cente para ambas as nações.

    Agradeço a honrosa homenagem que meprestam, considerando-a, sobretudo, comohomenagem a meu país.

    Peço a todos que bebam comigo, à pros-peridade de nossos dois países e ao cons-tante aprimoramento das relações entre osnossos povos.

    geiselDiscurso do Presidente

    Ernesto Geisel noNippon Press Center

    de Tóquio,em 18 de

    a imprensa |aponesa:brasil enfrenta seu novo

    papel com responsabilidadesetembro de 1976,momentos antes da entrevista coletiva que concedeu aos jornalistas japoneses.Meus Senhores,

    É para mim grande honra ser o primeiroChefe de Estado a falar neste recinto.Agradeço a oportunidade com que me brin-dam de aqui estar com os Senhores e dedialogar, através de intermediários tão quali-ficados, com o público japonês.

    A grandiosidade deste edifício bem refletea importância que a imprensa adquiriu noJapão, onde se encontra um dos mais ávidospúblicos de jornal que possam existir. Esseincomum afã coletivo na leitura de perió-dicos, se é uma recompensa para os Senho-res, que trabalham profissionalmente naimprensa, não pode deixar de representar,

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  • também, um desafio. Acredito que muitosdos Senhores repartam comigo a convicçãode que qualquer atividade orientada para opúblico, seja ela de natureza privada ou ofi-cial, deve servir à sociedade, ao bem-estare ao progresso do homem. Ora, nenhumaatividade humana mais de perto toca, influ-encia, modula o comportamento humano doque a transmissão de notícias. Donde, aimensa responsabilidade que repousa sobrea imprensa que, em sua constante luta con-tra o tempo, deve zelar por que prevaleça,sempre, a verdade sobre a impressão, o fatosobre a versão.

    realismo da análise eda ação

    pragmatismo

    Tem meu Governo a maior preocupação pelaverdade — a verdade económica, a verdadepolítica, a verdade social. Entendemos que orealismo da análise e o pragmatismo daação constituem condições essenciais doprogresso em qualquer campo. Por isso, pro-curamos não nos deixar iludir por precon-ceitos ou por automatismos de qualquer na-tureza .

    Ontem, falando a empresários japoneses,pude evocar a racional idade do tratamento,dado pelo Governo brasileiro, às questõeseconómicas. Graças a isso pudemos, entreos países mais afetados pela crise do pe-tróleo, conservar nos anos de 1974 e1975 o crescimento positivo do produto in-terno bruto, em níveis até inalcançados porqualquer país industrial. Mantemos uma po-lítica económica equilibrada, sem conces-sões à demagogia fácil, de um lado, nemao conservantismo rígido, de outro — o quenos tem permitido lutar contra a inflaçãointerna, mesmo quando nos afeiem intensa-mente sérias perturbações mundiais. Umacuidadosa gerência de dívida externa, arti-culada com programa de aumento da pro-dução e da produtividade internas e denossa capacidade de exportar, continuam afazer de meu país um mercado confiável,para os investidores de todo o mundo. Umapolítica cambial realista mantém a adequa-da competitividade do nosso comércio ex-terior.

    a segurança é, hoje, uma condiçãoessencial para o desenvolvimento

    Idêntico espírito de equilíbrio e moderaçãodomina o plano político e o da segurança.A Revolução brasileira foi e é uma Revo-lução restauradora. Restauradora do homemna sua liberdade e em sua dignidade. Estoupersuadido de que o papel daquela Revolu-ção foi e é o de criar condições para queo homem brasileiro possa efetivamente, comresponsabilidade, realizar-se em toda suaforça criativa. Como estou persuadido deque, assim procedendo, a Revolução o queestá fazendo é construir, para o Brasil, ofuturo de grande Nação moderna que lhedeve caber.

    Para que esse resultado se alcance, temosde estar seguros de que a capacidade cria-dora de nosso povo não se verá tolhida, defora ou de dentro, pelos inimigos da verda-deira liberdade e do verdadeiro progresso.A segurança é, hoje, uma condição essencialpara o desenvolvimento de qualquer país.

    Assim como no económico e no político, as-sim no social. Desejamos que o sentimentode participação no crescimento nacionalseja de todos e de cada um, do homem doNorte como do homem do Sul, do homem dolitoral como do homem do interior, do ho-mem da cidade como do homem do campo,e, sobretudo, que permita, a todos os brasi-leiros, se sentirem mais perto uns dos ou-tros economicamente e mais coesos, social-mente.

    Tais preocupações que orientam meu Go-verno no plano interno, encontram justacontrapartida na política externa do país.O crescimento atual do Brasil e suas gran-des potencialidades para um futuro que jáé próximo dão a meu país, no mundo inelu-tavelmente interdependente em que vive-mos, uma projeção internacional à qual nãopode ele se furtar. O Brasil enfrenta essenovo papel com alto senso de responsabi-lidade.

    Com o mesmo espírito realista com queanalisamos os problemas do crescimentointerno, procuramos acompanhar o que sepassa no cenário internacional, hoje ecumé-nico, e no qual somos chamados a atuar.Nossa atuação reveste-se, igualmente da

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  • mesma preocupação pragmática que nosinspira o comportamento no plano interno.Guia-se pelo objetivo da promoção da paze da concórdia entre as nações, as quais sóacreditamos duradouras se fundadas no res-peito mútuo e na adesão efetiva aos princí-pios fundamentais da convivência entreEstados de soberania igual, da autodetermi-nação e da não-interferência. Tais senti-mentos, profundos na alma brasileira,fazem-nos repudiar tudo o que seja desejode hegemonia entre Estados e de subordi-nação entre povos. Ao mesmo tempo, povopacífico que somos, preferimos as soluçõesde negociação, de compromisso, de conci-liação, às vitórias que derivam, afinal, doantagonismo e da luta. E buscamos, porisso, quer em nossas relações bilaterais,quer em nossos engajamentos multilaterais,valorizar a cooperação, em detrimento daconfrontação. Sabemos difícil tal empresa,mas nosso compromisso é com o resultadoreal — desenvolvimento e paz — que alme-jamos para a humanidade inteira como oqueremos para o nosso povo, e não comsimples aparência de progresso ou de segu-rança.

    Meus Senhores,

    Estas coisas, talvez não fosse necessário es-tar aqui a dizê-Ias. A imprensa japonesasabe bem qual é o programa de meuGoverno.

    futuro promissor para as relaçõesentre o brasil e o japãoDo Brasil olhamos também, com interesse oque se passa no Japão. Não obstante a geo-grafia, que dificulta nossa aproximação, nossentimos ligados e, até em muitas coisas,identificados com este grande país. Talvezpela familiaridade com o modo de serjaponês que a presença de tantos descen-dentes nipônicos no Brasil acarretou. É que,embora eles sejam cidadãos brasileiros per-feitamente integrados com as causas nacio-nais, souberam conservar muitas das tradi-ções que enriquecem seu passado cultural.Talvez, pela crescente associação de inte-resses económicos, financeiros e comerciaisentre japoneses e brasileiros. Como os Se-nhores sabem, o Brasil é hoje o quarto mer-cado mundial para os investimentos japone-ses e, como parceiro comercial, estamos àfrente de um bom número de países indus-triais da Europa.

    O quadro de ordem e de progresso que es-bocei e a realidade dos sentimentos espon-tâneos de simpatia entre nossos povos aus-piciam, para as relações nipo-brasileiras, umfuturo promissor.

    Tal, a convicção que eu queria transmitiraos Senhores, nesta oportunidade. E sougrato por me haverem permitido fazê-lo.

    Dentro do espírito de diálogo que caracte-riza este encontro, ponho-me à disposiçãodos Senhores para responder às perguntasque me queiram dirigir.

    a primeira reunião consultivaministerial nipo-brasileira

    Comunicado de Imprensados Governos brasileiro e

    japonês distribuídosimultaneamente no Brasil e no Japão (coube ao Itamaraty divulgá-lo

    em Brasília, às 23 horas de 23 de agosto de 1976, o que correspondeu,em Tóquio, às 11 horas do dia seguinte).

    Os Governos do Japão e da República Fe-derativa do Brasil decidiram realizar a pri-meira reunião consultiva em nível ministe-

    rial dos dois países, cuja instalação estavaprevista na Declaração Conjunta de 1974, apartir de 16 de setembro vindouro, em

    21Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulgação Científica em Relações Internacionais (http://www.mundorama.net).

  • Tóquio, por ocasião da Visita de Estado aoJapão de Sua Excelência o Senhor ErnestoGeisel, Presidente da República Federativado Brasil.Da parte japonesa, estarão presentes nessaReunião, o Vice-Primeiro Ministro Fukuda,

    Ministro Miyazawa, dos Negócios Estrangei-ros e outros Ministros e, da parte brasileira,o Ministro Azeredo da Silveira, das RelaçõesExteriores, e os demais Ministros de Estadoque acompanharão o Presidente Geisel emsua visita ao Japão.

    brasília-tóquio, um exemploDiscurso do Vice-Primeiro-Ministro japonês, •

    Takeo Fukuda, e do Ministro de Estado de cooperaçãodas Relações Exteriores, António F. Azeredo da Silveira,

    por ocasião da abertura da Reunião Consultiva Ministerial Brasil-Japão, em Tóquio, em16 de setembro de 1976.

    TAKEO FUKUDA

    Ao iniciar esta sessão quero dirigir algumaspalavras. É para nós todos uma grande satis-fação poder receber Sua Excelência, o Em-baixador Azeredo da Silveira, Ministro dasRelações Exteriores e demais Ministros bra-sileiros, nesta primeira Reunião ConsultivaMinisterial Japão-Brasil, por ocasião da visi-ta de Sua Excelência, o Senhor Presidenteda República Federativa do Brasil ao Japão.Por ocasião da visita de Sua Excelência, oPresidente Ernesto Geisel, que marca épocana história das relações nipo-brasileiras, nóstivemos duas preocupações: a primeira foia vinda de um tufão que abalou todo oJapão, trazendo chuvas e inundações, mas,felizmente, de anteontem para cá, melhorouo tempo como os senhores notaram ao che-gar ao aeroporto de Haneda. A segunda foio tufão político, que, como é do conhecimen-to de todos os Senhores, nós tivemos pro-blemas políticos internos muito graves nosúltimos dias. Mas, felizmente, este pro-blema foi resolvido ontem à noite, às 11 ho-ras. Houve reforma do Gabinete e hoje esta-mos aqui presentes com os novos Ministros.0 Japão e o Brasil são dois países que sesituam distantes, mas têm possibilidades dese aproximar. É longe por causa da distânciaque separa os dois países. É perto pela pos-sibilidade que eles têm de se aproximar,

    através de três pontos que quero mencionarnesta oportunidade: Primeiro, o Japão e oBrasil adotam o mesmo sistema de econo-mia que se alicerçam na livre iniciativa, es-tabelecendo com todos os países do mundoas relações de cooperação, que permitemcoexistência, progresso recíproco e respeitomútuo; de maneira que os nossos dois paí-ses podem ser chamados de amigos.Por outro lado, no Brasil existe uma grandecolónia japonesa, assim nós o consideramosum país-irmão.

    dois países que mantêm relaçõescomplementares

    Como terceiro ponto da possibilidade deaproximação, quero citar o seguinte: o Bra-sil possui abundantes recursos naturais,enquanto que o Japão não os tem, mas pos-sui uma indústria avançada, de maneira queas duas nações mantêm relações comple-mentares. Também nos setores de comércio,investimento e outros, as relações entre osdois países mantêm-se bem estreitas.Os dois países que são amigos, sócios eirmãos agora realizam esta Reunião Consul-tiva Ministerial que contribuirá, certamente,para um maior estreitamento de relaçõesentre ambos e, ao mesmo tempo, para aprosperidade do mundo. Acredito que sejamde suma importância a troca de opiniões

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  • francas nesta reunião entre os Ministros deambos os países e, ao finalizar, quero sin-ceramente que esta reunião obtenha plenoêxito com a cooperação de todos os Minis-tros presentes.

    AZEREDO DA SILVEIRA

    Em primeiro lugar, desejo agradecer as pala-vras amáveis desse nosso velho amigo, oVice-Primeiro-Ministro Takeo Fukuda. Nósteríamos um grande prazer de chegar aoJapão, em qualquer hipótese. Mas, tendo oprazer de ser recebidos aqui pelo Vice-Pri-meiro-Ministro Fukuda, é para nós um fatopositivamente auspicioso.

    Nós chegamos ao Japão com o espírito detransformar esta primeira reunião intermi-nisterial japonesa-brasileira num ato queseja capaz de marcar uma nova era nas rela-ções entre os dois países.

    E eu estou contente que o Presidente Geiselacaba de chegar aqui junto com uma men-sagem de paz: paz no clima do Japão e pazna política japonesa; e termos sido recebi-dos nesse ambiente. O diálogo entre japo-neses e brasileiros é, em nosso entender,extremamente fácil. O Japão, no Brasil,

    goza de um conceito sabidamente popular.Com um sentimento natural dos brasileirosde admiração pela capacidade de moderni-zação do país, que os japoneses foram capa-zes de realizar às suas próprias custas. NoBrasil, esse sentimento é muito importante.Não é um sentimento artificial. Existe real-mente uma grande admiração pelo esforçofeito pelo Japão e pelos resultados alcança-dos. Isto nos dá uma possibilidade de en-tendimentos extraordinariamente útil, por-que o Brasil também é um país, cujos gover-nantes se sentem no dever de promover odesenvolvimento e melhorar a vida de seuscidadãos. Este é o grande objetivo e estaé a grande mística do Brasil, e esta místicase coaduna inteiramente com aquilo que oJapão soube fazer num espaço tão curto detempo.

    Eis que temos o dever, brasileiros e japo-neses, de dar ao mundo um exemplo de co-operação com benefício enorme para asduas partes. Não creio que as relaçõesentre o Brasil e o Japão devam ter nada deegoístas. Devem ser esforços no sentido deconseguir um desenvolvimento cada vezmais igualmente satisfatório para os doispaíses, e, como disse o Ministro Fukuda, umesforço que se caracterize pelo sentimentode fraternidade e de nobreza, com esse es-pírito que os Ministros brasileiros estão dis-postos a trabalhar.

    comunicado conjuntobrasil-japão

    Comunicado Conjunto Brasil-Japão, assinado emTóquio, pelo Presidente Ernesto Geisel e pelo Primeiro-Ministro

    japonês, Takeo Miki, e divulgadopelo Itamaraty, em Brasília, em 18 de setembro de 1976.

    Como hóspedes de Estado do Governojaponês, Sua Excelência Ernesto Geisel,Presidente da República Federativa do Bra-sil e Sua Excelentíssima Senhora Lucy

    Markus Geisel, realizaram visita oficial aoJapão de 15 a 20 de setembro de 1976.O Presidente se fez acompanhar por SuaExcelência o Embaixador António F. Azeredo

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  • da Silveira, Ministro de Estado das RelaçõesExteriores, Sua Excelência Severo FagundesGomes, Ministro de Estado da Indústria edo Comércio, Sua Excelência Shigeaki Ueki,Ministro de Estado das Minas e Energia, SuaExcelência João Paulo dos Reis Velloso, Mi-nistro-Chefe da Secretaria de Planejamentoda Presidência da República, Sua Excelên-cia o General-de-Divisão Hugo de AndradeAbreu, Ministro-Chefe do Gabinete Militarda Presidência da República, além de outrasaltas autoridades do Governo brasileiro. OPresidente se fez acompanhar também peloSenador Virgílio Távora, vice-presidente daComissão de Relações Exteriores do SenadoFederal e pelo Deputado Joaquim Coutinho,presidente da Comissão de Relações Exte-riores da Câmara dos Deputados.

    2. O Presidente da República Federativado Brasil e Senhora Geisel foram recebidospor Suas Majestades o Imperador e Impera-triz do Japão no dia 16 de setembro.

    3. O Presidente Geisel e o Primeiro-Minis-tro Miki mantiveram conversações nos dias17 e 18 de setembro dentro de uma atmos-fera franca e cordial. O Presidente e oPrimeiro-Ministro examinaram o estágioatual das relações entre os dois países e asposições do Brasil e do Japão diante daconjuntura internacional, dando atenção es-pecial à situação do continente americano eda Ásia. O Presidente e o Primeiro-Ministroconsideraram suas conversações extrema-mente úteis e oportunas. Ambos considera-ram que a visita do Presidente Geisel aoJapão fortalecerá as relações de cooperaçãoentre os dois países.

    4. O Presidente e o Primeiro-Ministro nota-ram com satisfação que compartilham pon-tos de vista semelhantes sobre uma amplagama de problemas internacionais que cons-tituem preocupações fundamentais dos doisGovernos. O Presidente e o Primeiro-Minis-tro reconheceram a crescente responsabili-dade do Brasil e do Japão nas esferas re-gional e mundial. Nesse sentido, os doispaíses conduzem as respectivas políticas ex-ternas com base em um diálogo aberto econstrutivo que favoreça a mais ampla soli-dariedade internacional.

    5. O Presidente e o Primeiro-Ministro rea-firmaram a dedicação dos dois Governos à

    causa da paz, a qual deve ser alcançadaatravés da justiça nas relações políticas eeconómicas entre todos os países. Ambos ex-pressaram o ponto de vista comum de que obem-estar do povo é o objetivo final do cres-cimento económico e que a comunidadeinternacional deveria tomar realidade o con-ceito de interdependência como base dura-doura para uma ordem mundial verdadeira-mente estável. Para tanto, e conforme suaspotencialidades, o Brasil e o Japão rea-firmam sua disposição de participar ativa-mente no diálogo em curso entre paísesdesenvolvidos e em desenvolvimento. Nomomento histórico atual, em que a concer-tação entre os Estados é uma condição paraa sobrevivência da humanidade, os Gover-nos do Brasil e do Japão reiteraram sua de-terminação de estreitar a cooperação entreambos no campo da política internacional,da economia e da cultura, inclusive em or-ganizações internacionais como as NaçõesUnidas.

    6. O Presidente e o Primeiro-Ministro mos-traram sua satisfação com o fato de que osdois países estão expandindo suas relaçõesde acordo com sua amizade tradicional.Esse crescente relacionamento está baseadono princípio da igualdade e na cooperaçãomutuamente benéfica. Os dois Governosdecidiram estreitar ainda mais esses vín-culos bilaterais com genuíno respeito àsoberania e independência de cada país.

    7. O Presidente e o Primeiro-Ministroconstataram com satisfação que, por oca-sião da visita presidencial ao Japão, foirealizada a primeira Reunião Consultiva Mi-nisterial e reafirmaram sua intenção de con-solidar as relações nipo-brasileiras em har-monia com a crescente importância do rela-cionamento global existente entre os doispaíses.O Primeiro-Ministro declarou que, como ex-pressão dessa intenção, o volume de cré-ditos de exportação para o Brasil, deveráser substancialmente ampliado, a fim depromover vários projetos, inclusive os decooperação económica discutidos na Reu-nião Consultiva Ministerial.O Presidente apreciou essa declaração, afir-mando que esses créditos contribuiriampara o desenvolvimento da indústria brasi-leira ensejando a aquisição no Japão de

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  • equipamentos e bens de capital que a indús-tria brasileira até o presente momento nãoproduz. Por outro lado, o Presidente decla-rou que o Brasil prevê exportar nos próximosanos um volume considerável de produtosbrasileiros para o Japão.

    O Presidente e o Primeiro-Ministro concor-daram em que o comércio entre o Brasil e oJapão, que já atingiu um nível apreciável emtermos quantitativos, deve ser ampliado demaneira harmónica tendo em vista a inter-dependência existente entre a economia dosdois países e as condições relativas a cadaproduto, em bases estáveis de longo prazo.

    8. O Presidente e o Primeiro-Ministro apre-ciaram em alto grau o fato de que, na pri-meira Reunião Consultiva Ministerial, o ladobrasileiro e o japonês, claramente comparti-lharam opiniões nos setores da economia,comércio, finanças e tecnologia industrial,com especial referência ao II Plano Nacio-nal de Desenvolvimento. Ambos reconhe-ceram também que os resultados da reuniãocontribuirão para o desenvolvimento aindamaior do relacionamento de cooperação en-tre o Brasil e o Japão na perspectiva doséculo XXI.

    8.1 O lado brasileiro e o lado japonês con-cordaram em cooperar na construção de umcomplexo alumina/alumínio em Belém, Es-tado do Pará, com início previsto para 1977,e em colaborar a fim de assegurar o seusucesso com um empreendimento de altaeficiência económica. Os dois lados afir-maram também que parte substancial daprodução de alumínio originária deste pro-jeto será exportada para o Japão, de formaestável e a longo prazo, como previamenteacertado pelos parceiros no empreendi-mento.

    8.2 Os dois lados notaram com satisfaçãoque o exame do programa de desenvolvi-mento da agricultura da região de cerradosno Brasil vem fazendo progressos concretos,como resultado da atitude cooperativa dosdois Governos e dos cidadãos dos dois paí-ses, e que na presente ocasião representan-tes dos dois Governos alcançaram um enten-dimento comum sobre o quadro de referên-cia para o projeto piloto. Uma companhiade desenvolvimento agrícola, o órgão cen-tral de promoção do projeto, deverá ser im-plantada no Brasil em futuro próximo por

    duas companhias holding a serem criadasnos dois países, a fim de apoiar e promoveras atividades de produção agrícola na região.Os dois lados também acolheram comagrado, a perspectiva de que um projeto decooperação nipo-brasileiro de pesquisa agrí-cola no cerrado seja firmado em futuro pró-ximo. Os dois lados expressaram assim suaesperança de que a cooperação entre o Bra-sil e o Japão na região do cerrado venha aser ampliada nos próximos anos.

    8.3 Os dois lados concordaram em co-operar na construção do primeiro estágioda única siderúrgica de Tubarão e cola-borar a fim de assegurar o seu sucessocomo empreendimento de alta eficiênciaeconómica.Ademais, ambos afirmaram que parte daprodução anual de chapas de aço da usinade Tubarão será exportada para o Japão emtermos estáveis e de longo prazo, de acordocom entendimentos prévios acertados pelosparceiros no empreendimento.

    8.4 O lado brasileiro pediu a cooperaçãooficial do Governo japonês para a implemen-tação do projeto de construção do Porto dePraia Mole, que deverá beneficiar tambémalguns empreendimentos conjuntos de in-teresse mútuo, e o lado joponês — em con-sideração especial a ocasião sem prece-dente da visita oficial, do Presidente do Bra-sil — expressou a disposição do Governojaponês de conceder cooperação financeirae técnica de acordo com a legislação e osregulamentos japoneses pertinentes.

    8.5 Os dois lados discutiram o progressodos empreendimentos conjuntos relativosao desenvolvimento dos recursos florestaise à produção de celulose. Foi observadocom satisfação que a Cenibra, o primeiroprojeto neste campo, iniciará suas opera-ções no final deste ano.As duas partes notaram, por outro lado, queo projeto Flonibra, cuja implementação foirecentemente iniciada nos Estados daBahia, Espírito Santo e Minas Gerais deverácontinuar a receber o apoio integral dos par-ceiros para, da mesma forma que a Cenibra,alcançar os melhores resultados.Os dois lados afirmaram que parte da pro-dução anual de celulose e cavacos de ma-deira será exportada para o Japão, em bases

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  • estáveis e de longo prazo, de acordo comcompromissos a serem firmados pelas par-tes intressadas.

    8.6 Os dois lados tomaram nota da recentedecisão no sentido da participação japonesano aumento de capital destinado à imple-mentação da segunda etapa de expansão daUsiminas, que tem sido um símbolo da co-operação entre o Brasil e o Japão.Ambos discutiram a implementação da ter-ceira etapa de expansão da Usiminas, emrelação à qual o lado japonês declarou queum crédito de exportação será concedidopara compra de equipamentos japoneses.

    8.7 Os dois lados reconheceram que a ex-pansão do fornecimento estável de minériode ferro brasileiro para a indústria siderúr-gica japonesa seria benéfica para os doispaíses.Os dois lados registraram o fato de queprogride a cooperação entre as partes inte-ressadas dos dois países em relação a pro-jetos de desenvolvimento de minas de ferrobrasileiras, como a de Capanema.

    8.8 Os dois lados reconheceram que oempreendimento comum Nibrasco — quedeve entrar em operação na segunda metadede 1977 e que está alcançando progressosgraças à cooperação entre as partes inte-ressadas dos dois países exportará pelletspara o Japão em bases estáveis e de longoprazo, como previamente acordado pelossócios do empreendimento.

    8.9 Os dois lados concordaram em fomen-tar a cooperação no campo da tecnologiaindustrial e se referiram com satisfação àsconversações profícuas sobre o escopo e osobjetivos de tal cooperação que foram re-centemente realizadas em Tóquio, entreautoridades japonesas e missão brasileira.Ambos os lados concordaram que a coope-ração seja implementada dentro do contextoe em harmonia com a cooperação econó-mica global entre os dois Governos, e ex-pressaram a expectativa de que a coopera-ção no campo da tecnologia abrirá nova eranas relações amigáveis e de cooperaçãoexistentes entre os dois países.

    8.10 O lado brasileiro enfatizou que as ex-portações de produtos agrícolas brasileirospara o Japão têm grande importância no

    desenvolvimento da economia brasileira eexpressou seu desejo de promover contra-tos de longo prazo, em bases comerciais, afim de assegurar a exportação estável deprodutos agrícolas de importância para oJapão.Tomando nota da declaração feita pelo ladobrasileiro, o lado japonês afirmou existir apossibilidade de um aumento, no futuro pró-ximo, das importações japonesas de produ-tos agrícolas brasileiros e de o Brasil se tor-nar um importante fornecedor de produtosagrícolas ao Japão.

    8.11 Os dois lados manifestaram aprecia-ção pelo progresso alcançado na cooperaçãoentre os dois países no campo dos investi-mentos e concordaram em iniciar estudosconjuntos de medidas necessárias para criarum ambiente conducente à maior promoçãode tal cooperação.Nesse sentido, os dois lados reconheceramque medidas para facilitar o intercâmbio deinformações serão estudadas como parte dacooperação global entre os dois países.

    8.12 Os dois lados declararam que estãoem curso negociações relativas ao lança-mento no mercado de Tóquio de títulos doGoverno brasileiro, com denominação emyen, e observaram que no momento aumen-tam as possibilidades do Brasil no mercadojaponês de capitais.O lado brasileiro expressou sua satisfaçãocom relação a este ponto.

    8.13 Os dois lados conferiram grande im-portância às conferências de frete para aestabilidade de transporte marítimo e afir-maram que deveria haver uma tendênciapara a adoção gradual do conceito de igual-dade recíproca nas operações das conferên-cias de frete.

    8.14 O lado japonês indicou que estápronto a examinar a concessão de um em-préstimo ao Banco Nacional de Desenvol-vimento Económico para assistir o setor pri-vado brasileiro na compra de máquinas,equipamentos e serviços japoneses, tão logosejam comprometidos os recursos do em-préstimo em vigência, concedido ao BNDEpelo Banco de Importação e Exportação doJapão. O lado japonês indicou também queestá pronto a examinar a concessão de umempréstimo ao Banco do Brasil.

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  • 8.15 Os dois lados declararam que estãoem curso entendimentos para a formação deum consórcio de bancos japoneses paracoordenar no mercado japonês empréstimosfinanceiros a serem concedidos a empresasbrasileiras que desenvolvem projetos priori-tários. Nesse sentido, o lado japonês afir-mou que está pronto para estudar a matériacom atitude favorável, mantendo sempre emmente as intenções dos bancos privadosjaponeses.

    8.16 O Presidente e o Primeiro-Ministroreconheceram que o desenvolvimento orde-nado dos serviços aéreos entre o Brasil e oJapão deverá ser encorajado.

    9. O Presidente e o Primeiro-Ministro nota-ram com satisfação que o intercâmbio cul-tural desempenha um papel importante nodesenvolvimento da compreensão mútuaentre os povos do Brasil e do Japão. Reafir-maram que os dois países devem continuara promover o intercâmbio cultural e acadé-mico em vários setores.

    10. O Presidente e o Primeiro-Ministro re-conheceram a conveniência de facilitar aentrada e permanência de nacionais de cadapaís no território do outro e decidiram queos dois Governos estudarão a possibilidadede adotar as medidas apropriadas para essef im.

    11. O Presidente lembrou que o Brasil é oPaís que acolheu o maior número de imi-grantes japoneses, os quais têm dado umaimportante contribuição ao desenvolvimentodo Brasil. O Primeiro-Ministro recebeu essecomentário com profunda satisfação e ex-pressou a expectativa de que o fluxo de pes-soas entre os dois países seja ainda incre-mentado.

    12. Sua Excelência o Presidente Geisel ea Senhora Geisel expressaram seu apreçopela cordial e calorosa hospitalidade quereceberam do Governo e do povo japonês eexpressaram também os mais sinceros votospela felicidade de Suas Majestades o Impe-rador e a Imperatriz e da família imperial epela prosperidade do povo do Japão. *

    * Na seçâo Comunicados e Notas, página 102, o Comunicado do Ministério dos Negócios Estrangeiros do Japãosobre a visita do Presidente Geisel a esse pais.

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  • o ministro uruguaio dasrelações exteriores

    visita o brasil

    Discurso do Ministro de Estadodas Relações Exteriores,

    António F. Azeredo da Silveira,no Palácio Itamaraty de Brasília, em 8 da

    julho de 1976, durante o jantar em homenagem aoChanceler do Uruguai, Juan Carlos Blanco; e resposta

    do Chanceler uruguaio.

    CHANCELER BRASILEIRO

    Senhor Ministro das Relações Exteriores daRepública Oriental do Uruguai, Doutor JuanCarlos Blanco,

    Receber Vossa Excelência no Brasil é sem-pre uma honra renovada e motivo para mimde desvanecimento, pelos laços francos eleais que unem nossos dois Governos, pelosentimento de recíproca estima pessoal quenos devotamos e pela oportunidade singularque se nos oferece de passarmos direta-mente em revista o estado das históricasrelações de colaboração entre o Brasil e oUruguai. Nesse contexto fraterno, a praxedetermina sopesarmos os passos dados,reorientarmos o trajeto percorrido conformeas novas realidades supervenien