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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC-SP Valeria Zotelli Do direito de crédito no regime não cumulativo de apuração do ICMS: subespécies, conceitos e questões controvertidas DOUTORADO EM DIREITO SÃO PAULO 2015

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Page 1: Do direito de crédito no regime não cumulativo de …...certeza de que o Direito é objetivamente um e que os comportamentos do Estado ou dos demais cidadãos dele não discreparão

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

PUC-SP

Valeria Zotelli

Do direito de crédito no regime não cumulativo de apuração

do ICMS: subespécies, conceitos e questões controvertidas

DOUTORADO EM DIREITO

SÃO PAULO

2015

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC-SP

Valeria Zotelli

Do direito de crédito no regime não cumulativo de apuração

do ICMS: subespécies, conceitos e questões controvertidas

Tese apresentada à Banca Examinadora

da Pontifícia Universidade Católica de

São Paulo, como exigência parcial para

obtenção do título de Doutora em Direito

Tributário, sob a orientação do Prof. Dr.

Estevão Horvath.

São Paulo

2015

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Banca Examinadora:

________________________________

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Primeiramente a Deus, por continuar não permitindo que eu desista do que

acredito e pela alegria que sinto em compartilhar aquilo que tenho aprendido.

Aos meus pais, Celia e Moacyr, pelos valores que me transmitiram. Eles, tanto

quanto vocês, são meu maior alicerce. A vocês, todo o meu amor.

A Estevão Horvath, por, acreditando em minha capacidade, ter me inserido no

mundo acadêmico, além de me permitir compartilhar de sua amizade, inteligência,

sagacidade e, principalmente, da capacidade de ser feliz além do Direito.

A Osvaldo Santos de Carvalho, amigo queridíssimo, pela amizade, por estar à

disposição em todos os momentos, e por ter definitivamente me aproximado do ICMS.

Ao Professor José Ignácio Botelho de Mesquita, meu mestre maior, que já partiu

para o lado de Deus, por tudo o que foi e agregou em minha vida. Receba minha eterna

gratidão.

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O Direito é por excelência, acima de tudo, instrumento de segurança.

Ele é que assegura a governantes e governados os recíprocos direitos e

deveres, tornando viável a vida social. Quanto mais segura uma

sociedade, tanto mais civilizada. Seguras estão as pessoas que têm

certeza de que o Direito é objetivamente um e que os comportamentos

do Estado ou dos demais cidadãos dele não discreparão.

Geraldo Ataliba

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Valeria Zotelli

Do direito de crédito no regime não cumulativo de apuração do ICMS: subespécies, conceitos e questões controvertidas

RESUMO

O presente trabalho tem por objetivo buscar, sob a ordem eminentemente jurídica, a

definição dos conceitos de insumo, de ativo imobilizado e de material de uso e consumo

no âmbito do ICMS, elementos essenciais para se dar efetividade à não cumulatividade,

à qual referido imposto está submetido. A escolha do tema decorre do fato de cada

Estado da Federação atribuir a esses conceitos definições distintas, o que acaba por

restringir o direito de aproveitamento de créditos do ICMS pelos contribuintes. Para

tanto, analisa-se a estrutura não cumulativa do ICMS no âmbito da Constituição Federal

e da Lei Complementar 87/96. Além disso, dado o caráter eminentemente prático da

questão, analisa-se, exemplificativamente, o tratamento dado à matéria pela legislação

de alguns Estados e pelo Poder Judiciário. São analisadas, também, questões atinentes à

chamada guerra fiscal. Por fim, são sugeridas alternativas para a minimização da

problemática estudada.

PALAVRAS-CHAVE: ICMS; Não cumulatividade; Insumo; Ativo Imobilizado; Material

de Uso e Consumo.

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Valeria Zotelli

Do direito de crédito no regime não cumulativo de apuração do ICMS: subespécies, conceitos e questões controvertidas

ABSTRACT

The purpose of this paper is to seek, pursuant to the eminently legal system, the

definition of the concepts in input, fixed assets and consumables within the scope of

ICMS (Value Added Tax on Sales and Services), which elements are essential to

provide effectiveness to non-cumulativeness, to which such tax is submitted. The

selection of the theme results from the fact that each State of the Federation ascribes to

such concepts distinct definitions, which ends up restricting the consumers right to

enjoy ICMS credits. Therefore, the non-cumulative structure of the ICMS is analyzed

within the scope of the Federal Constitution and Complementary Law 87/96. In

addition, given the matter’s eminently practical character, the treatment given to the

manner by the laws of some States and by the Judiciary Power is analyzed as an

example. Further, matters regarding the so called tax war are analyzed. Finally,

alternatives are suggested to minimize the set of problems under study.

KEYWORDS: ICMS (Value Added Tax on Sales and Services); Non-cumulativeness;

Input; Fixed Assets; Consumables.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ........................................................................................................................ 1

CAPÍTULO 1 - DA NORMA JURÍDICA .............................................................................. 5

1.1 Princípios e regras ................................................................................................................ 6

CAPÍTULO 2 - INTERPRETAÇÃO DA NORMA JURÍDICA ........................................ 10

2.1 Definição dos conceitos jurídicos: Técnicas de legitimação .............................................. 14

2.1.1 Definição conotativa e definição denotativa ............................................................... 17

2.1.2 Ambiguidade e a vaguidade ........................................................................................ 18

2.1.3 Texto e contexto ........................................................................................................... 20

2.1.4 Intertextualidade .......................................................................................................... 21

2.2 Definição dos conceitos jurídicos e sua interferência na interpretação do enunciado

prescritivo tributário ................................................................................................................. 23

CAPÍTULO 3 - SISTEMA JURÍDICO ................................................................................ 27

3.1 Direito Positivo e Ciência do Direito ................................................................................. 27

CAPÍTULO 4 - SISTEMA TRIBUTÁRIO NACIONAL ................................................... 31

4.1 República ............................................................................................................................ 32

4.2 Federação ............................................................................................................................ 36

4.3 Competência tributária ....................................................................................................... 39

CAPÍTULO 5 - O ICMS NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL ............................................. 43

5.1 A regra matriz de incidência do ICMS na Constituição Federal ........................................ 44

5.1.1 Noções sobre a regra matriz de incidência tributária ................................................ 44

5.1.2 Regra matriz de incidência tributária dos impostos abarcados pela sigla ICMS ...... 50

5.2 O ICMS e a Lei Complementar .......................................................................................... 70

5.2.1 O papel da Lei Complementar no Sistema Tributário Nacional ................................. 70

5.2.2 O papel da lei complementar com relação ao ICMS .................................................. 77

CAPÍTULO 6 – NÃO CUMULATIVIDADE NO ÂMBITO DO ICMS ........................... 79

6.1 ICMS, um imposto indireto ................................................................................................ 79

6.2 Não cumulatividade tributária ............................................................................................ 81

6.3 A não cumulatividade no ICMS ......................................................................................... 82

6.3.1 Crédito tributário e crédito fiscal: nascimento em momentos distintos ...................... 83

6.3.2 Crédito sobre imposto cobrado nas operações anteriores .......................................... 87

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6.4 Não cumulatividade: princípio ou regra? ........................................................................... 89

6.5 Necessidade (ou não) de norma legal para se dar efetividade à não cumulatividade ......... 93

6.6 Crédito fiscal é escritural .................................................................................................... 95

6.7 Crédito fiscal: físico ou financeiro ..................................................................................... 96

CAPÍTULO 7 - A NÃO CUMULATIVIDADE NA LEGISLAÇÃO

INFRACONSTITUCIONAL APÓS A CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988 ........... 102

CAPÍTULO 8 - DAS REGRAS ATINENTES AO DIRETO DE CREDITAMENTO NA

LEI COMPLEMENTAR 87/96 ........................................................................................... 113

8.1 Dos bens utilizados como insumos ................................................................................... 114

8.2 Dos bens destinados ao ativo imobilizado ........................................................................ 117

8.3 Dos bens destinados ao uso e consumo ............................................................................ 119

CAPÍTULO 9 - DAS CONSEQUÊNCIAS DA NÃO UNIFORMIDADE DE

TRATAMENTO DOS CRÉDITOS DE INSUMO, ATIVO IMOBILIZADO E

MATERIAL DE USO E CONSUMO PELOS ESTADOS DA FEDERAÇÃO .............. 122

9.1 Estados denotam insumo, ativo imobilizado e material de uso e consumo de modo não

uniforme ................................................................................................................................. 123

9.1.1 São Paulo ................................................................................................................... 124

9.1.2 Rio de Janeiro ............................................................................................................ 126

9.1.3 Minas Gerais ............................................................................................................. 127

9.1.4 Espírito Santo ............................................................................................................ 127

9.1.5 Bahia .......................................................................................................................... 129

9.1.6 Paraná ....................................................................................................................... 129

9.2 Da guerra fiscal ................................................................................................................. 131

9.2.1 A autorização constitucional e complementar para a concessão de incentivos fiscais

............................................................................................................................................ 133

9.2.2 A insegurança jurídica reinante ................................................................................ 134

9.2.3 A guerra fiscal e os conceitos de insumo, ativo imobilizado e material de uso e

consumo .............................................................................................................................. 138

9.3 Da limitação ao creditamento do ICMS em face do diferencial de alíquota devido na

aquisição de bens destinados ao ativo imobilizado em operações interestaduais .................. 139

9.3.1 Do pagamento de diferencial de alíquota em decorrência de aquisição de bens

destinados ao ativo imobilizado ou ao uso e consumo ....................................................... 140

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9.3.2 Do creditamento do ICMS incidente sobre bens destinados ao ativo imobilizado do

contribuinte do imposto ...................................................................................................... 142

9.3.3 Do tratamento diferenciado e prejudicial em decorrência da procedência do bem

destinado ao ativo imobilizado ........................................................................................... 144

CAPÍTULO 10 – DA DEFINIÇÃO DOS CONCEITOS DE INSUMO E ATIVO

IMOBILIZADO EM FACE DO DIREITO SOCIETÁRIO E DOS TRIBUTOS

FEDERAIS ............................................................................................................................ 147

10.1 Da definição do conceito de ativo imobilizado no Direito Societário ............................ 147

10.2 Da definição do conceito insumo em face de tributos federais ...................................... 149

10.2.1 Imposto sobre a renda das pessoas jurídicas .......................................................... 149

10.2.2 Imposto sobre Produtos Industrializados ................................................................ 154

10.2.3 Contribuição ao PIS e COFINS .............................................................................. 163

CAPÍTULO 11 – DA DEFINIÇÃO DOS CONCEITOS DE INSUMO E ATIVO

IMOBILIZADO POR OUTRAS CIÊNCIAS DO CONHECIMENTO .......................... 178

11.1 Contabilidade .................................................................................................................. 178

11.2 Economia ........................................................................................................................ 182

CAPÍTULO 12 – DEFINIÇÃO DOS CONCEITOS DE INSUMO, ATIVO

IMOBILIZADO E MATERIAL DE USO E CONSUMO NO ÂMBITO DO ICMS ..... 185

12.1 Definição dos conceitos de insumo, ativo imobilizado e material de uso e consumo

segundo o Poder Judiciário ..................................................................................................... 185

12.1.1 São Paulo ................................................................................................................. 185

12.1.2 Minas Gerais ........................................................................................................... 190

12.1.3 Rio de Janeiro .......................................................................................................... 195

12.1.4 Espírito Santo .......................................................................................................... 196

12.1.5 Paraná ..................................................................................................................... 197

12.1.6 Bahia ........................................................................................................................ 198

12.1.7 Superior Tribunal de Justiça ................................................................................... 198

12.1.8 Supremo Tribunal Federal ...................................................................................... 201

12.2 Definição dos conceitos de insumo, ativo imobilizado e material de uso e consumo no

âmbito do ICMS ..................................................................................................................... 201

12.2.1 Insumos .................................................................................................................... 201

12.2.2 Ativo imobilizado ..................................................................................................... 207

12.2.3 Material de uso e consumo ...................................................................................... 207

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12.3 Sugestões para alterações legislativas visando à uniformização da definição dos

conceitos ................................................................................................................................. 208

CONCLUSÕES ..................................................................................................................... 211

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................... 221

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1

INTRODUÇÃO

Entre as competências tributárias outorgadas pela Constituição Federal aos entes

políticos, tem-se a previsão de instituição, pelos Estados e pelo Distrito Federal, do Imposto

sobre operações relativas à Circulação de Mercadorias e Serviços de transporte interestadual e

intermunicipal e de comunicação – ICMS, genericamente previsto em seu art. 155, II.

Nos termos do inc. I, do § 2º do art. 155 da Constituição Federal1, o ICMS está sujeito

à não cumulatividade, de tal forma que o imposto apurado em cada operação ou prestação

torna-se um crédito do contribuinte, a ser abatido do valor do ICMS a ser recolhido nas

operações ou prestações subsequentes.

A única exceção ao direito dos contribuintes à não cumulatividade está prevista no

próprio texto constitucional, e diz respeito às operações sujeitas à isenção ou à não incidência.

Afora tal exceção, a não cumulatividade deve ser plenamente levada a cabo nos termos

constitucionais.

Está-se diante, pois, de um imposto multifásico, ou seja, incidente sobre as diversas

etapas de circulação física ou jurídica de um bem, desde a sua produção ou aquisição, até sua

saída ao consumidor final, bem como em face da prestação de serviços abarcados pelo ICMS.

A estruturação do ICMS, por determinação constitucional (art. 155, § 2º, XII),

depende da edição de lei complementar. Nesse sentido, encontra-se vigente no ordenamento

jurídico a Lei Complementar 87/96, que vem norteando sua instituição e exigência pelos

Estados e pelo Distrito Federal.

Ao versar sobre a não cumulatividade, referida lei complementar prevê que o imposto

devido em cada etapa de circulação, nas vendas de mercadorias e produtos, ou na prestação de

serviços, pode ser abatido ou compensado com créditos decorrentes do imposto que onerou

anteriormente as entradas (a) de mercadorias, inclusive as que forem integradas ou

consumidas em processo de industrialização ou produção rural; (b) de bens destinados ao

ativo imobilizado; (c) dos materiais de uso e consumo, ou (d) de serviços de transporte

interestadual e intermunicipal ou de comunicação tomados pelo contribuinte.

1 Art. 155, § 2º, I, da Constituição Federal: Será não-cumulativo, compensando-se o que for devido em cada

operação relativa à circulação de mercadorias ou prestação de serviços com o montante cobrado nas anteriores

pelo mesmo ou outro Estado ou pelo Distrito Federal. (BRASIL. Constituição Federal de 1988. Disponível em: <

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso em: 9 jan. 2015).

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2

Dentre as mercadorias adquiridas, encontram-se aquelas que (a) serão incorporadas

aos produtos a serem industrializados pelo contribuinte do ICMS ou consumidas durante o

processo de industrialização; ou (b) serão consumidas em decorrência da prestação dos

serviços sujeitos ao imposto. Trata-se dos insumos.

Cada um dos referidos créditos possui formas de cálculo e de apropriação distintas,

sendo que, no caso do creditamento de ICMS em face da aquisição de material de uso e

consumo, este só será possível a partir de 2020, conforme determinado pela Lei

Complementar 138/2010.

Ocorre que a Lei Complementar 87/96 não define o que sejam insumos, bens

destinados ao ativo imobilizado ou material de uso e consumo, sendo que, na prática, os

Estados, além do Distrito Federal, quando da instituição de suas leis e regulamentos do

imposto, atribuem significação não uniforme a cada um desses conceitos.

Em consequência, dada a inexistência da definição clara de tais conceitos, parte das

unidades da federação, por intermédio de suas legislações, restringem o aproveitamento do

ICMS incidente nas operações anteriores. Obviamente, tal limitação induz à inaplicação da

não cumulatividade e, por consequência, da Constituição Federal.

Nesse contexto, objetiva-se com o presente trabalho buscar-se, sob a ordem

eminentemente jurídica, a definição dos conceitos de insumo, de ativo imobilizado e material

de uso e consumo no âmbito do ICMS, elementos essenciais para se dar efetividade à não

cumulatividade.

A despeito da importância da questão, há uma nítida escassez de textos produzidos

sobre esta particularidade do ICMS, razão pela qual se justifica a elaboração da presente Tese,

visando à definição de tais conceitos.

Para o alcance de tal objetivo, o presente trabalho é apresentado em 12 capítulos,

sendo o primeiro deles destinado à análise do conceito de norma jurídica e sua correlação com

os princípios e com as regras jurídicas (Capítulo 1).

Em seguida (Capítulo 2), é definido o método interpretativo que será adotado no

presente trabalho, bem como algumas técnicas de legitimação da definição dos conceitos

jurídicos, examinando-se, para tanto, (a) a distinção entre definição conotativa e denotativa,

(b) a ambiguidade e a vaguidade, ruídos que interferem na interpretação da norma jurídica, (c)

o traço diferenciador entre o texto e o contexto e a importância deste último na interpretação

das normas jurídicas, e (d) o papel da intertextualidade na busca da definição dos conceitos

jurídicos.

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3

Deixa-se claro que não se busca desenvolver, por intermédio do presente trabalho, a

Teoria Geral do Direito, mas, valer-se dela para o alcance dos fins propostos.

Importante pontuar que o presente trabalho é permeado pela premissa de que o Direito

Positivo é um sistema e, como tal deve ser interpretado. Nesse sentido, é realizada a distinção

entre Direito Positivo e Ciência do Direito (Capítulo 3).

Além disso, registra-se, já no âmbito do sistema jurídico tributário, a vinculação da

tributação à República e à Federação, bem como a sua necessária correlação com a

competência tributária outorgada aos entes políticos pela Constituição Federal (Capítulo 4).

Dado que o tributo sob foco na presente tese é o ICMS, apresenta-se, em seguida, a

regra matriz constitucional de incidência tributária dos impostos abarcados pela sigla

(Capítulo 5).

Esclareça-se que, a despeito da apresentação das regras matrizes do ICMS referente às

operações com energia elétrica, derivados de petróleo e combustíveis, minerais, bem como à

prestação de serviços de comunicação, referidos impostos não são objeto do presente trabalho,

sendo mencionados exclusivamente para dar conhecimento de sua estrutura constitucional.

Ainda no Capítulo 5, detém-se, também, no estudo do papel da lei complementar no

sistema tributário nacional determinado constitucionalmente, e, em especial, em face do

ICMS.

Continuando-se sob o enfoque constitucional, analisa-se a não cumulatividade

tributária, principalmente aquela atinente à formatação constitucional do ICMS (Capítulo 6).

Em seguida, é analisada a legislação infraconstitucional de regência da não

cumulatividades do ICMS após a edição da Constituição Federal de 1988 (Capítulo 7), bem

como as regras atinentes ao direito de creditamento em face da aquisição de insumos, ativo

imobilizado e bens destinados ao uso e consumo no âmbito da Lei Complementar 87/96

(Capítulo 8).

Após o estudo do contexto constitucional e infraconstitucional de formatação da não

cumulatividade no âmbito do ICMS, são examinadas as consequências da não uniformidade

de tratamento dado aos créditos de insumo, ativo imobilizado e material de uso e consumo

pelos entes tributantes (Capítulo 9).

Para tanto, e a título exemplificativo, são analisadas as legislações de 6 (seis) Estados,

buscando, a título meramente exemplificativo, o tratamento dado por eles aos referidos

conceitos.

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4

Além disso, enfrenta-se as consequências do referido tratamento diferenciado no

fomento à chamada guerra fiscal, bem como a limitação ao creditamento do ICMS imposta

por alguns Estados em face do diferencial de alíquota devido na aquisição de bens destinados

ao ativo imobilizado em operações interestaduais.

Em seguida, apresenta-se uma breve pesquisa sobre a definição do conceito de insumo

e ativo imobilizado no âmbito do Direito Societário e, de outros tributos federais (Capítulo

10), bem como daquela atribuída por outras ciências do conhecimento (Capítulo 11).

Por fim, partindo-se para a conclusão do trabalho, apresenta-se a definição de tais

conceitos segundo os Tribunais Estaduais de 6 (seis) Estados da Federação, bem como pelo

Superior Tribunal de Justiça (STJ) e pelo Supremo Tribunal Federal (STF), oferecendo-se,

por fim, a definição dos conceitos de insumo, ativo imobilizado e material de uso e consumo

construída ao longo do trabalho (Capítulo 12).

A título de contribuição, apresenta-se sugestão para alterações legislativas visando à

uniformização do tratamento dado pelos entes políticos aos referidos conceitos.

Finalizado o caminho que foi proposto, a expectativa é de que o presente estudo

colabore, no afastamento de dúvidas no implemento da não cumulatividade no âmbito do

ICMS, oferecendo aos destinatários da norma soluções de ordens teórica e prática.

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5

CAPÍTULO 1 - DA NORMA JURÍDICA

Dado o objeto do presente trabalho e seu objetivo, é de fundamental importância, para

sua compreensão, iniciá-lo tratando sobre a distinção entre normas, princípios e regras

jurídicas, bem como de sua distinção dos textos jurídicos.

Conforme verificar-se-á, as conclusões a serem aqui adotadas partirão da análise de

um grande número de textos jurídicos, dentre eles a Constituição Federal, leis

complementares, leis ordinárias, decretos etc., efetivando-se, pois, a interpretação da

legislação tributária.

Porém, não serão os textos legislativos que trarão as respostas pretendidas, mas as

normas jurídicas a partir deles construídas.

Isso porque, conforme esclarece CARVALHO, P. (2014, p. 38):

a norma jurídica é a significação que obtemos a partir da leitura dos textos do direito

positivo. Trata-se de algo que se produz em nossa mente, como resultado da

percepção do mundo exterior, captado pelos sentidos. [...] A norma jurídica é

exatamente o juízo (ou pensamento) que a leitura do texto provoca em nosso

espírito.

Portanto, texto legislativo e norma jurídica não se confundem, sendo esta a

compreensão que o intérprete capta da leitura daquele.

Tal raciocínio é complementado por ÁVILA (2004, p. 22), para quem:

normas não são texto nem o conjunto deles, mas os sentidos construídos a partir da

interpretação sistemática de textos normativos. Daí se afirmar que os dispositivos se

constituem no objeto da interpretação; e as normas, no seu resultado.

Assim, o emaranhado de textos que versam sobre uma determinada matéria não

contém em si respostas, as quais só são alcançadas após a sua análise e interpretação

sistêmica, tal como abordado por CARRAZZA, R. (2010, p. 15):

Destaque-se que a legislação não se confunde com o conjunto de normas jurídicas;

estas somente surgem com a interpretação da legislação.

(...) Realmente, a partir dos enunciados do direito positivo, o exegeta, valorando-os,

constrói as normas jurídicas. Não se nega que estas tomam como ponto de partida os

textos do direito positivo, porém seu conteúdo vem discernido pelo intérprete, que se

vale, para tanto, de sua própria ideologia, isto é, de sua pauta de valores. As normas

jurídicas são, pois, construções intelectuais do intérprete, efetuadas a partir da

análise da legislação lato sensu. São elas que permitem que as realidades do

universo venham, como observa Hans Kelsen, “apreendidas juridicamente”.

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Veja-se, pois, que o mesmo texto jurídico pode ensejar a construção de normas

jurídicas distintas, já que a sua construção depende dos valores e convicções daquele que as

constrói.

Nesse sentido, o texto jurídico, após editado segundo as regras de estrutura ditadas

pelo sistema a que pertence, desprega-se da intenção do legislador quando a criou, de tal

forma que a norma imaginada por aquele quando da sua edição pode ser distinta daquela

construída pelo intérprete ou pelo próprio Poder Judiciário, cujos agentes também são

intérpretes.

Em suma, a norma jurídica é a compreensão que o intérprete capta dos enunciados

prescritivos, sendo subdivididas, como se verá, em duas categorias a depender do papel que

exercem no ordenamento jurídico.

1.1 Princípios e regras

Tal como pregado por HORVATH (2002, p. 22) e por BECHO (2011, p. 345), as

normas jurídicas dividem-se em regras e princípios.

CANOTILHO (2003, p. 1161), ao tratar sobre as diferenças básicas existentes entre

regras e princípios, explica:

Os princípios interessar-nos-ão, aqui, sobretudo na sua qualidade de verdadeiras

normas, qualitativamente distintas das outras categorias de normas, ou seja, das

regras jurídicas. As diferenças qualitativas traduzir-se-ão, fundamentalmente, nos

seguintes aspectos. Os princípios são normas jurídicas impositivas de uma

optimização, compatíveis com vários graus de concretização, consoante os

condicionalismos factícios e jurídicos; as regras são normas que prescrevem

imperativamente uma exigência (impõem, permitem ou proíbem) que é ou não é

cumprida (nos temos de Dworkin: applicable in all-or-nothing fashion); a

convivência dos princípios é conflitual (Zagrebelsky), a convivência de regras é

antinómica; os princípios coexistem, as regras antinómicas excluem-se.

Consequentemente, os princípios, ao constituírem exigências de optimização,

permitem o balanceamento de valores e interesses (não obedecem, como as regras, à

‘lógica do tudo ou nada’), consoante o seu peso e a ponderação de outros princípios

eventualmente conflituantes; as regras não deixam espaço para qualquer outra

solução, pois se uma regra vale (tem validade) deve cumprir-se na exacta medida

das suas prescrições, nem mais nem menos. Como se verá mais adiante, em caso de

conflito entre princípios, estes podem ser objecto de ponderação e de harmonização,

pois eles contêm apenas “exigências” ou “standards” que, em “primeira linha”

(prima facie), devem ser realizados; as regras contêm ‘fixações normativas’

definitivas, sendo insustentável a validade simultânea de regras contraditórias.

Realça-se também que os princípios suscitam problemas de validade e

peso (importância, ponderação, valia); as regras colocam apenas questões de

validade (se elas não são correctas devem ser alteradas).

Como se vê, os princípios têm papel integrativo no sistema, enquanto as regras são

prescritivas de exigências.

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7

Não por outra razão, ATALIBA (2011, p. 42) deixa claro que:

se, em dada situação, surge aparência de divergência entre uma regra e um princípio

– antes de qualquer outra coisa –, o intérprete dá à regra interpretação harmoniosa e

coerente com as exigências do princípio. O que se não consente é que este seja, por

qualquer forma, negado, diminuído, contrariado ou esvaziado por força de simples

regra.

Como se vê, as regras preveem determinações objetivas que visam a dar azo aos

modais, estabelecendo obrigações, permissões ou proibições. Já os princípios trazem em si

uma carga de valor que justamente norteia a instituição, a interpretação e a aplicação de regras

prescritivas de Direito.

Tal como entendido por BECHO (2011, p. 345), os princípios podem ser explícitos,

constando expressamente da norma jurídica, ou implícitos, sendo apreendidos apenas a partir

do conhecimento do sistema jurídico. Porém, “tanto uns como outros têm que ser utilizados

pelo intérprete para que esse possa chegar até a norma, até a ordem que o sistema jurídico

quer imprimir à sociedade”.

Descrevendo o papel de verdadeiro norteador na criação das regras jurídicas e de sua

interpretação, integrando-as ao sistema normativo como um todo, MELLO (2011, p. 54)

explica que:

princípio é, pois, por definição, mandamento nuclear de um sistema, verdadeiro

alicerce dele, disposição fundamental que se irradia sobre diferentes normas,

compondo lhes o espírito e servindo de critério para exata compreensão e

inteligência delas, exatamente porque define a lógica e a racionalidade do sistema

normativo, conferindo-lhe a tônica que lhe dá sentido harmônico.

Estabelecem, conforme palavras de ÁVILA (2004, p. 71), um fim a ser atingindo.

Esclarece o autor, ainda, que:

O fim não precisa, necessariamente, representar um ponto final qualquer

(Endzustand), mas apenas um conteúdo desejado. Daí se dizer que o fim estabelece

um estado ideal de coisas a ser atingido, como forma geral para enquadrar os vários

conteúdos de um fim. A instituição do fim é ponto de partida para a procura por

meios. Os meios podem ser definidos como condições (objetos, situações) que

causam a promoção gradual do conteúdo do fim. Por isso a ideia de que os meios e

os fins são conceitos correlatos.

Portanto, é a partir dos valores que norteiam uma sociedade que vêm à tona os

princípios jurídicos, normas que manifestam a verdadeira personalidade de um grupo social e

com base nos quais são instituídas e aplicadas as regras jurídicas. A partir de um conjunto de

princípios é que se estrutura o ordenamento jurídico de um dado grupo.

Nessa esteira, e recordando lições de Ferrara, ATALIBA (2011, p. 34) deixa claro que

um:

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princípio jurídico não existe isolado, mas acha-se em íntima conexão com outros

princípios. O direito objetivo, de fato, não é um aglomerado caótico de disposições,

mas um organismo jurídico, um sistema de preceitos coordenados e subordinados,

no qual cada um deles tem um lugar próprio.

Resumindo o quanto acima posto, o mesmo autor (p. 34) conclui que:

Os princípios são as linhas mestras, os grandes nortes, as diretrizes magnas do

sistema jurídico. Apontam os rumos a serem seguidos por toda a sociedade e

obrigatoriamente perseguidos pelos órgãos do governo (poderes constituídos).

Eles expressam substância última do querer popular, seus objetivos e desígnios, as

linhas mestras da legislação, da administração e da jurisdição. Por estas não podem

ser contrariados; têm que ser prestigiados até as últimas consequências.

Na mesma linha de que os princípios devem interferir na instituição, interpretação e

aplicação das normas jurídicas, esclarece CARRAZZA, R. (2010, p. 36):

(...) Dentro da Constituição Federal existem normas jurídicas mais ou menos

importantes. As mais importantes são as que veiculam princípios, por isso mesmo

princípios constitucionais. Estes, sobrepairam as outras normas constitucionais

porque, com seu maior grau de abstração, veiculam diretrizes do ordenamento

jurídico.

Conforme já tivemos a oportunidade de escrever, princípio constitucional “é um

enunciado lógico, implícito ou explícito, que, por sua grande generalidade, ocupa

posição de preeminência nos vastos quadrantes do Direito e, por isso mesmo,

vincula, de modo inexorável, o entendimento e a aplicação das normas jurídicas que

com ele se conectam”.

Assim, os princípios, enquanto característica inerente de uma sociedade, interferem no

sistema jurídico como um todo, o que levou CANOTILHO (2003, p. 1173) a concluir que:

A articulação de princípios e regras, de diferentes tipos e características, iluminará a

compreensão da constituição como um sistema interno assente em princípios

estruturantes fundamentais que, por sua vez, assentam em subprincípios e regras

constitucionais concretizadores desses mesmos princípios. Quer dizer: a constituição

é formada por regras e princípios de diferente grau de concretização (= diferente

densidade semântica).

Exemplos de nortes dados pelos princípios às regras jurídicas são dados por

BALEEIRO (2005a, p. 16):

Portanto, os princípios, ao ditarem o sentido e a inteligibilidade do sistema, tanto

podem inspirar uma imunidade, como, ao contrário, uma regra confirmatória de

poder tributário, assim como marcar as condições ou os requisitos para o bom

exercício da competência tributária, limitando ou expandindo o poder de tributar.

As normas de princípios tanto são os alicerces:

a) de normas atributivas de poder (citemos como exemplo o princípio federal que

inspira a distribuição de renda, quando às fontes políticas impositivas, entre os entes

estatais que compõem a Federação);

b) de normas denegatórias de poder, como as imunidades (que ora são mero

corolário do princípio federal, como a recíproca, ora da ausência de capacidade

econômica, como a imunidade de instituições de educação e assistência social sem

finalidade lucrativa);

c) como também de requisitos ao bom exercício (válido) da competência, a saber:

legalidade, anterioridade, igualdade, etc.

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Portanto, conclui-se que regras e princípios são modalidades de normas, prestando-se

aquelas a estabelecer obrigações, permissões e proibições, e estes a nortear a instituição, a

interpretação e a aplicação das regras prescritivas de Direito.

Com base em tais premissas é que serão analisadas as normas jurídicas que versam

sobre a não cumulatividade do ICMS e, mais especificamente, sobre o direito ao crédito fiscal

que lhe dá azo.

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CAPÍTULO 2 - INTERPRETAÇÃO DA NORMA JURÍDICA

Partindo-se da premissa de que norma jurídica é a compreensão captada, pelo

intérprete, dos enunciados prescritivos, parte-se agora para a análise das regras de

interpretação jurídica na busca do sentido das normas.

Para MAXIMILIANO (2003, p. 7),

interpretar é explicar, esclarecer; dar o significado do vocábulo, atitude ou gesto;

reproduzir por outras palavras um pensamento exteriorizado; mostrar o sentido

verdadeiro de uma expressão; extrair, de frase, sentença ou norma, tudo o que a

mesma contém.

Após ratificar o entendimento de Maximiliano, afirmando que “interpretar a norma

jurídica consiste em identificar o seu sentido e alcance”, e de esclarecer que hermenêutica é a

ciência da interpretação, AMARO (2014, p. 231) aponta o papel da interpretação da lei:

A interpretação (ou exegese) é necessária para que se possa aplicar a lei às situações

concretas que nela se subsumam. A aplicação da lei (isto é, o enquadramento pela

autoridade administrativa, pelo julgador, ou pelo próprio sujeito passivo da

obrigação tributária, supõe que a lei seja interpretada, vale dizer, desse trabalho

técnico (interpretação) é que se concluirá pela aplicação ou não da lei ao fato

concreto. No sentido assinalado, todas as leis precisam ser interpretadas,

independentemente de seu texto apresentar eventual obscuridade; está superado o

brocardo in cessat interpretativo.

Assim, hermenêutica é a ciência da interpretação, sem a qual não há que se falar em

norma jurídica, nem em sua aplicação aos casos em concreto.

Nessa linha, FERRAZ JUNIOR (2003, p. 264) prega que estamos obrigados e

interpretar; mais que isso, “deve haver uma interpretação (e, pois, um sentido) que prepondere

e ponha um fim (prático) às múltiplas possibilidades interpretativas”.

Seguindo tal raciocínio, o que é almejado, por intermédio do presente trabalho,

mediante o processo de interpretação, são as definições de conceitos jurídicos de insumo,

ativo imobilizado e material de uso e consumo no âmbito do ICMS, de modo a amenizar a

insegurança jurídica existente dada sua vaguidade, e de, ao menos, restringir-se as

possibilidades interpretativas existentes sobre o assunto.

Se interpretar é explicar, buscar significado, mostrar o sentido verdadeiro de uma

expressão, há que se constatar que o processo de interpretação abarca em si uma carga de

extrema subjetividade.

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Isso porque, por óbvio, o intérprete tem inerente à sua personalidade uma carga de

valores, sentimentos e interesses que podem e, quase sempre vão, impregnar a interpretação a

ser feita.

A procura pela “resposta” passa, igualmente, pelas influências doutrinárias captadas

pelo intérprete ao longo de sua formação, interferindo, inclusive, nos métodos de

interpretação utilizados.

Para que a carga valorativa pessoal seja minimamente utilizada, há que se buscar

métodos de interpretação.

Conforme CARVALHO, A. (2009, p. 249):

a Hermenêutica Jurídica tradicional aconselha alguns métodos de interpretação a

serem aplicados para a construção do sentido dos textos jurídicos. São eles: (i)

literal, ou gramatical; (ii) histórico, ou histórico-evolutivo; (iii) lógico; (iv)

teleológico; e (v) sistemático.

Referida autora, em sua obra (p. 250-254), descreve em que consiste cada um dos

métodos informando que: (a) o método literal, também conhecido como gramatical, é aquele

em que o intérprete preocupa-se apenas com a literalidade dos textos; (b) o método histórico

valoriza as tendências e circunstâncias que envolvem a produção dos textos jurídicos, sendo

que o sentido é construído mediante a análise do contexto histórico que o envolve; (c) por

intermédio do método lógico, os conteúdos são construídos com a aplicação de regras de

lógica formal, a partir de deduções; (d) o método teleológico valoriza a finalidade da norma,

com o fito de indicar a direção da prescrição jurídica posta pelo legislador; e, por fim (e) o

método sistemático de interpretação proporciona a compreensão do Direito enquanto um

conjunto de disposições normativas que se relacionam entre si, conduzindo o intérprete a uma

visão plena do Direito Positivo.

Seja qual for o método a ser utilizado, a tarefa interpretativa possui um itinerário a ser

seguido.

Esse processo foi dividido por BECKER (2002, p. 114) em quatro momentos distintos

que implicam, respectivamente, os seguintes procedimentos:

(a) primeiro momento: dissecar a estrutura lógica da regra jurídica a ser

interpretada, obtendo-se a regra de conduta e a composição da regra de

incidência. Neste momento, verifica-se a validade da norma;

(b) segundo momento: investigar e analisar os fatos jurídicos e não jurídicos

que envolvem o problema prático a se resolver. Aqui, avalia-se se a hipótese

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de incidência foi efetivamente realizada, mediante a confrontação do

conjunto de fatos hipotéticos e do conjunto de fatos realizados;

(c) terceiro momento: com a realização da hipótese de incidência, avaliar os

efeitos jurídicos decorrentes daquela concretização, sendo predeterminados

pela regra de conduta (efeitos jurídicos irradiaram-se sobre o fato após a

concretização da hipótese); e

(d) quarto momento: avaliar se os efeitos da norma foram efetivamente

observados/respeitados.

Já CARVALHO, P. (2014, p. 121-136), ao preconizar o “trânsito entre quatro

subdomínios para integração do sistema”, apresenta as seguintes operações lógicas de

interpretação a serem realizadas na busca do conteúdo da mensagem legislada:

(a) subdomínio S1 – o sistema da literalidade textual, suporte físico das

significações jurídicas; trata-se do encontro com o plano da expressão, onde

estão os suportes físicos dos enunciados prescritivos; “sem atinência às

diretrizes fundamentais de organização de frases, sejam elas oracionais ou

não, enunciativas (ou declarativas), interrogativas, expressivas ou

imperativas, não haverá enunciados e, portanto, inexistirá sentido”; “pode-

se, perfeitamente, colocar a literalidade textual como centro dos nossos

interesses cognoscitivos, deixando suspensa a atenção para o plano de

conteúdo, e assim focalizar a presença morfológica das unidades

empregadas pelo emissor, as partículas de conexão e a maneira como se

tecem as frases, os períodos e os parágrafos;

(b) subdomínio S2 – o conjunto dos conteúdos de significação dos

enunciados prescritivos; trata-se da iniciação do intérprete pela trajetória do

conteúdo, imitindo-se na dimensão semântica dos comandos legislados,

procurando lidar com enunciados isoladamente compreendidos. O desafio é

encontrar as significações de base;

(c) subdomínio S3 – o conjunto articulado das significações normativas – o

sistema de normas jurídicas strictu sensu; trata-se do subsistema das

formações normativas, em que todo o trabalho está voltado à composição de

unidades lógicas determinadas pela presença das estruturas condicionais.

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Tornam-se imprescindíveis aos outros dois subsistemas, na atividade

ingerente de procurar significações de outras sentenças prescritivas; e

(d) subdomínio S4 – os vínculos de coordenação e de subordinação que se

estabelecem entre as regras jurídicas; aqui há a integração das normas, nos

eixos de subordinação e de coordenação das normas construídas.

Ainda no âmbito dos métodos de interpretação a serem utilizados nesse percurso de

capitação de significação da norma, importante é a análise das conclusões de TORRES (2006,

p. 153), ao tratar especificamente sobre a hermenêutica em face do Direito Tributário:

A interpretação do Direito Tributário se subordina ao pluralismo metodológico.

Inexiste a prevalência de um único método. Tampouco ocorre a duplicidade

imaginada pelo CTN, em que o método sistemático se aplica aos conceitos de

estatura constitucional e o teleológico aos conceitos da legislação ordinária. O que

se observa é a pluralidade e a equivalência, sendo os métodos aplicados de acordo

com o caso e com os valores ínsitos na norma: ora se recorre ao método sistemático,

ora ao teleológico, ora ao histórico, até porque não são contraditórios, mas se

complementam e intercomunicam. (...) Os métodos de interpretação, por

conseguinte, devem ser estudados dentro da visão pluralista. Entre eles não existe

hierarquia. Têm igual peso, variando a sua importância de acordo com o caso e com

as valorações jurídicas na época da aplicação, como sempre reconheceu a doutrina

não extremada, seja no Direito em geral, seja nos ramos especializados do

Constitucional e do Tributário.

A despeito do quanto pregado por referido autor, no sentido de se defender a utilidade

de todos os métodos de interpretação, esclarece-se que, para os fins de se alcançar os

objetivos do presente trabalho, o método a ser adotado é o sistêmico ou sistemático, por

intermédio do qual, como esclarecido por CARVALHO, P. (2014, p. 109), o intérprete se

volta para o sistema normativo, como um todo, “para observar, detidamente, a regra em cotejo

com a multiplicidade dos comandos normativos que dão sentido de existência ao Direito do

Direito positivo”.

Ao tratar sobre esse verdadeiro processo de alcance do sentido da norma, o autor

(2014, p. 109) continua sua lição:

É nesse intervalo que o exegeta sopesa os grandes princípios, indaga dos postulados

que orientam a produção das normas jurídicas nos seus vários escalões, pergunta das

relações de subordinação e de coordenação que governam a coerência das regras. O

método sistemático parte, desde logo, de uma visão grandiosa do direito e intenta

compreender a lei como algo impregnado de toda a pujança que a ordem jurídica

ostenta.

TORRES (2006, p. 157), ao dar igualmente prevalência ao método sistemático sobre

os demais, deixa claro que:

O método sistemático não é apenas lógico. Possui dimensão valorativa, pois visa a

compreender a norma dentro do sistema jurídico, que é aberto, direcionado para os

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valores - especialmente a justiça e a segurança - e dotado de historicidade. Fala-se

hoje menos em método sistemático que em sistema de métodos. A ideia diretriz é a

da unidade entre os vários ramos do Direito e as respectivas teorias, unidade essa

que não é fechada, por ser rica de sentido.

Conforme já consignado, no processo de apreensão da norma jurídica obtida por

intermédio da interpretação sistêmica, deve afastar-se da intenção do legislador quando da

inserção do comando prescritivo no ordenamento jurídico, sendo que a norma jurídica obtida

via interpretação pode distanciar-se, diametralmente, daquela pretendida pelo legislador.

O que deve ser buscado, então, é o sentido da norma frente ao ordenamento jurídico

como um todo, sopesada com os demais princípios jurídicos que a orienta.

O desprendimento da norma jurídica captada pelo intérprete da intenção buscada pelo

legislador ao inserir o texto normativo no sistema jurídico, foi analisada por MELO (2012a, p.

238):

O hermeneuta deve considerar o sentido da norma num contexto dinâmico, a sua

permanente renovação e interação, porque os comandos que nela se contêm impõem

uma atualização adaptada à realidade social. (...)

Esta diretriz tem a virtude de justificar o entendimento de que nada interessa a mens

legislatória (vontade do legislador), mas somente a mens legis (vontade da lei). A

intenção do legislador e o seu desejo são elementos totalmente irrelevantes para

captar o sentido jurídico da norma, não sendo o caso de psicanalisá-lo, porque, após

editada, a norma rompe seu cordão umbilical com o legislador. Somente importa o

direito “posto”, sua sistematização e permanente revigoração, daí por que perene o

aforismo “a lei é mais sábia do que o legislador”.

Portanto, o que interesse é a análise da norma em vista do sistema jurídico vigente no

momento da interpretação, de acordo com a realidade social que a cerca.

Por fim, justifica trazer a lume o quanto aclarado por MENDONÇA (2005, p. 27), que

afirma que:

ao adotar-se, pois, o método sistemático na interpretação da não cumulatividade no

ICMS, apontando as possíveis construções de sentido, há que lembrar, (...) que ‘a

interpretação é um ato de vontade e um ato de conhecimento e que, como ato de

conhecimento, não cabe à Ciência do Direito dizer qual é o sentido mais justo ou

correto, mas simplesmente, apontar as interpretações possíveis’.

Pode-se concluir, portanto, que a interpretação, objeto da hermenêutica, consiste em

identificar o alcance da norma, processo que é impregnado pela carga valorativa do intérprete,

sendo que a utilização de métodos de interpretação tem o papel de minimizar tal valoração

Para os fins do presente trabalho, o método de interpretação eleito foi o sistemático.

2.1 Definição dos conceitos jurídicos: Técnicas de legitimação

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Como já exposto, procura-se por intermédio do presente trabalho a apresentação das

definições dos conceitos de insumo, ativo imobilizado e material de uso e consumo no âmbito

da não cumulatividade do ICMS, contido no ordenamento jurídico nacional, mediante e

realização de interpretação sistêmica.

O que se está a fazer aqui, como ressalta GAMA (2009, p. 249), é Ciência do Direito,

caracterizada como “uma espécie de tradução da mensagem prescritiva positivada nas normas

tributárias”.

Fato é que, conforme afirmado pelo mesmo autor (p. 232), os problemas de sentido

não são superados pelas definições, mas pelas técnicas de legitimação que são empregadas

para convencimento dos interlocutores.

Portanto, mais do que se apresentar as definições de conceitos, o que aqui é pretendido

é o enfrentamento das técnicas de legitimação, visando ao convencimento do leitor.

Para o início dessa tarefa, analisar-se-á o conteúdo semântico de “conceito” e de

“definição”.

De acordo com o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa2, conceito é “produto da

faculdade de conceber”, “compreensão que alguém tem de uma palavra; noção, concepção,

ideia”. Sob o entendimento filosófico, é:

representação mental de um objeto abstrato ou concreto, que se mostra como um

instrumento fundamental do pensamento em sua tarefa de identificar, descrever e

classificar os diferentes elementos e aspectos da realidade; “segundo a tradição

racionalista da filosofia ocidental, de Platão (427-348 a.C.) a Hegel (1770-1831), a

manifestação da essência ou substância do mundo real”; e, finalmente, “segundo

uma tradição que atravessa o estoicismo grego, o nominalismo medieval e o

empirismo moderno, um signo ou representação linguística que mantém uma relação

significacional – não ontológica – com os objetos do conhecimento”. Por fim,

“noção abstrata contida nas palavras de uma língua para designar, de modo

generalizado e, de certa forma, estável, as propriedades e características de uma

classe de seres, objetos ou entidades abstratas”.

Introduzindo as primeiras ideias sobre o assunto, CARVALHO, A. (2009, p. 52)

explica que, “entende-se por conceito a ideia do termo, sua significação que permite a

identificação de uma forma de uso de palavra dentro de um contexto comunicacional”.

Esclarece, ainda, a autora que:

A única coisa à qual temos acesso, na formação da ideia de um vocábulo, é seu

modo de estruturação dentro de certas formações discursivas. Tendo em vista uma

determinada forma de utilização da palavra, nossa consciência a associa a um

significado, ou seja, a outros signos (ex.: imagens, símbolos, etc.), com esta atitude

mental, construímos um juízo significativo (significação) em relação ao termo, este

juízo conota, para nós, aquilo a que o termo faz referência, ou seja, o(s) objeto(s)

que denota(m). É por isso que temos o conceito como um critério de classificação e

2 DICIONÁRIO HOUAISS DA LÍNGUA PORTUGUESA. Disponível em:

<http://houaiss.uol.com.br/busca?palavra=conceito>. Acesso em: 19 jan. 2015.

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diferenciação dos objetos. Algo é nominado de "x" porque enquadra-se no conceito

de "x", isto é, porque também associa-se à ideia (imagem, palavra, ruído) vinculada

ao termo.

Cumpre desde logo apresentar, com o auxílio de GAMA (2009, p. 233), a

diferenciação entre termo e conceito. Nesse sentido, “o termo é o suporte físico, o

significante, a partir do que se constrói uma significação acerca de um significado. Esta

significação é o conceito, a ideia suscitada pelo contato com o termo”.

Considera-se suporte físico o meio pelo qual os comandos prescritivos manifestam-se

no mundo igualmente físico, no caso, no Direito Positivo, mediante linguagem escrita; trata-

se dos textos jurídicos.

Significado, por sua vez, é o juízo que é obtido após a leitura e reflexão da lei; já

significação é o resultado obtido após a análise do texto, mas não apenas isoladamente, mas

levando-se em conta o sistema normativo.

Aprofundando-se no assunto, ABBAGNANO (2000, p. 164) clarifica que conceito é,

em geral, todo o processo que torne possível a descrição, a classificação e a previsão

dos objetos cognoscíveis. Assim entendido, esse termo tem significado

generalíssimo e pode incluir qualquer espécie de sinal ou procedimento semântico,

seja qual for o objeto a que se refere, abstrato ou concreto, próximo ou distante,

universal ou individual, etc.

Voltando-se às lições de CARVALHO, A. (2009, p. 53), a autora deixa claro que todo

conceito tem função seletiva, elucidando que

a realidade intuída, percebida, experimentada é infinitamente mais complexa do que

o conceito que a constitui como objeto intelectualmente articulável e este, sempre

mais pobre que os dados-físicos, [já que a linguagem não reproduz a experiência].

Quanto à significação de definição, segundo o Dicionário Houaiss da Língua

Portuguesa3 é ato ou efeito de definir; delimitação exata, estabelecimento de limites;

significação precisa de (algo); indicação do verdadeiro sentido de (algo); enunciado que

parafraseia a acepção de uma palavra ou locução pela indicação de suas características

genéricas e específicas, de sua finalidade, pela sua inclusão num determinado campo do

conhecimento etc.

Filosoficamente, no aristotelismo, é conceito filosófico que aponta a natureza

essencial de alguma coisa, determinando desta maneira suas semelhanças e diferenças em

3 DICIONÁRIO HOUAISS DA LÍNGUA PORTUGUESA. Disponível em:

<http://houaiss.uol.com.br/busca?palavra=defini%25C3%25A7%25C3%25A3o>. Acesso em: 19 jan. 2015.

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relação a outras realidades. Já para a lógica, é a operação linguística que tem por fim a

determinação clara e precisa de um conceito ou um objeto.

De acordo com CARVALHO, A. (2009, p. 55), definir é explicar o conceito:

definir não é fixar a essência de algo, mas sim eleger critérios que apontem

determinada forma de uso da palavra, a fim de introduzi-la ou identificá-la num

contexto comunicacional. Não definimos coisas, definimos termos.

Lembra a autora (2009, p. 55) que, ao se apresentar uma definição, restringem-se suas

várias possibilidades de uso, na tentativa de afastar os problemas de ordem semântica

inerentes ao discurso, sendo que, “quanto mais detalhada a definição, menores as

possibilidades de utilização da palavra”.

Pode-se resumir o quanto dito com BECHO (2011, p. 102), segundo quem,

“conceito” é termo que expressa uma construção mental, uma ideia, uma noção,

sendo que “definição” quer exprimir, propriamente, um dado certo, escrito,

delimitado de forma precisa e exata’.

Portanto, conceito é a ideia do termo (suporte físico), a significação que permite a

identificação de uma forma de uso dentro do contexto comunicacional de uma sociedade;

trata-se de um critério de classificação e diferenciação dos objetos, que identifica a forma de

uso do termo. Já definição é a determinação clara e precisa de um conceito ou objeto; é a

explicação de um conceito, a expressão do conteúdo.

2.1.1 Definição conotativa e definição denotativa

De acordo com GAMA (2009, p. 234), “as conexões estabelecidas entre significante e

significado”, enquanto “ideia suscitada no intérprete pelo contato com o termo”, ‘podem ser

percebidas de duas formas, sendo uma chamada de conotativa ou intencional e a outra

denotativa”.

Segundo o autor (p. 241), “precisar o sentido de um termo mediante a indicação dos

seus critérios de uso é o que se chama definição conotativa ou intencional” Quanto à definição

denotativa, também chamada pelo autor como extencional, é “a determinação de sentido feita

pela indicação dos objetos significados pela palavra”.

E, continua seu raciocínio, fazendo menção a outros autores:

Guibourg, Ghigliani e Guarinoni, adotando a lição do matemático alemão Gottlob

Frege, identificam duas formas ou componentes do significado: a denotação e a

conotação. Segundo ensinam, o conjunto de todos os elementos que cabem numa

palavra denominada denotação. Já os requisitos que devem ser cumpridos para que

um objeto esteja incluído na classe representada por uma palavra denomina-se

conotação dessa palavra (Introdución al Conocimiento Científico, p. 41-42).

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E conclui que a pesquisa pela denotação é a que busca quais os elementos que se

ajusta a uma palavra ou termo. “Já aquela, que põe no centro dos seus interesses as

características do conceito, seria o campo da chamada semiótica conotativa”.

De maneira bem direta, CARVALHO, A. (2009, p. 52) elucida que:

o conceito conotativo cria uma classe de uso da palavra (x) e com ela a classe do seu

não uso (-x), denominada contraconceito. Juntamente com a conotação, forma-se a

denotação, composta por todos os objetos (significações) que se incluam na ideia da

palavra e podem, por ela, ser nominados.

Em suma, a definição conotativa apresenta os requisitos que que devem ser cumpridos

para um objeto estar incluído na classe representada pelo termo; já a definição denotativa

equivale ao conjunto de todos os elementos que cabem em um termo.

2.1.2 Ambiguidade e a vaguidade

Na trilha da delimitação de conceitos, há, dentre outros, dois problemas com os quais

o intérprete pode se deparar, a saber, a ambiguidade e a vaguidade. Trata-se de ruídos de

comunicação.

Ao apresentar a significação de ambiguidade, SILVA (2004, p. 102) clarifica:

Derivado do vocábulo latino ambiguus (equívoco, duvidoso, incerto, variável, com

dois sentidos), vem precisamente indicar a disposição legal ou texto de lei, ou

cláusula contratual que possa mostrar um duplo sentido. Desse modo, diz-se que a

lei é ambígua, ou há ambiguidade, quando, por defeito ou falta de clareza de sua

redação, se possa ter dúvida em relação a seu verdadeiro sentido, ou possa ser

interpretado de diferentes maneiras.

Para ABBAGNAMO (2000, p. 36), ambiguidade é o mesmo que equivocação,

“referindo-se a estados de fato ou situações: possibilidade de interpretações diversas ou

presença de alternativas que se excluem”.

Já, segundo CARVALHO, A. (2009, p. 60), “ambiguidade é característica dos termos

que comportam mais de um significado, isto é, que podem ser utilizados em dois ou mais

sentidos”.

E, continua (p. 60) explicando que:

Tal problema surge justamente porque não existe significado ontológico ao termo,

pois estes não tocam a realidade. O vínculo que se estabelece entre a palavra

(suporte físico) e seu significado é artificialmente construído por uma comunidade

de discurso e nada impede que a um mesmo suporte físico seja relacionado mais de

um significado. Aliás, este é um recurso constante na linguagem.

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19

Segundo a autora (p. 60), a solução para tal problema é o processo de elucidação, por

meio do qual o usuário aponta “o sentido dado ao termo, conforme sua utilização”,

procedimento que “afasta imprecisões quando há dualidade, ou multiplicidade, significativa,

pois a explicação de sua forma de uso acompanha o termo”.

Já apresentando o traço diferenciador entre a ambiguidade e a vaguidade, GAMA

(2009, p. 236) explica que a ambiguidade caracteriza-se pelo fato de haver objetos de natureza

distintas na denotação do termo. Já a vaguidade se dá quando os critérios de uso de um termo

não são suficientemente precisos para distinguir o seu significado de outras palavras. E ao

esclarecer que ambos se caracterizam como ruídos que distorcem ou retardam o recebimento

da mensagem, consolida sua conclusão:

A ambiguidade e a vaguidade, por exemplo, são problemas semânticos presentes

onde houver linguagem. Um termo é vago quando não existe regra que permita

decidir os exatos limites para sua aplicação, havendo um campo de incerteza relativa

ao quadramento de um objeto na denotação correspondente ao signo. Já a

ambiguidade é caso de incerteza designativa, em virtude da coexistência de dois ou

mais significados.

Especificamente quanto à vaguidade, CARVALHO, A (2009, 62) esclarece que:

a falta de precisão no significado de uma palavra, vício assinalado pela incapacidade

de se determinar, exatamente, quais objetos são abrangidos por seu conceito, o que

torna duvidosa sua utilização.

É ainda a autora (p. 62) que aponta que p remédio para o afastamento da vaguidade

está na definição, já que “tudo é uma questão de delimitação do conceito da palavra”. Assim,

o que há a fazer é eleger os critérios conotativos do uso do termo de modo a restringir suas

possíveis denotações e assim tornando-o mais preciso”.

GAMA (2009, p. 237) também prevê a possibilidade de superação das vaguidades por

intermédio da definição do conceito:

Se ambiguidade e vaguidade são ruídos que atrapalham a comunicação, devem ser

superados. Epistemologicamente, essa superação pode ser alcançada por dois meios

fundamentais: substituição do termo por outro que seja unisignificativo ou definição

do conceito vago ou ambíguo.

Pode-se concluir que, ambiguidade e vaguidade são ruídos de comunicação. Ambíguo

é o termo que apresenta duplo sentido, que apresenta mais de um significado, sendo o

problema afastado por intermédio do processo de elucidação. Vago é o termo ao qual falta

precisão ao seu significado, não se podendo determinar quais objetos são abrangidos por seu

conceito.

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20

Frente ao propósito que norteia o presente trabalho, e após a análise dos ruídos de

comunicação acima tratados, constata-se que os conceitos de insumo, ativo imobilizado e

material de uso e consumo são vagos, dada a inexistência de regra que permita determinar os

exatos limites de sua aplicação e dos objetos que são abarcados pelo termo, os quais deverão

ser afastados justamente por intermédio da apresentação de suas definições.

2.1.3 Texto e contexto

Outra questão que deve ser levada em conta na obtenção da definição dos conceitos, é

a consciência de que todo texto prescritivo, assim como sua interpretação, está inserido em

um contexto.

Essa constatação será de fundamental importância quando se analisar, por exemplo, o

conceito de insumo em face de vários tributos nacionais, além do ICMS, tais como o Imposto

sobre a Renda e proventos de qualquer natureza, o Imposto sobre Produtos Industrializados, a

contribuição ao PIS e a COFINS. Isso porque, a depender do contexto legal em que for

utilizado, poderá ser definido de forma distinta.

CARVALHO P., (1999, p. 15) esclarece o quanto deve se entender por texto:

O texto é o ponto de partida para a formação das significações e, ao mesmo tempo,

para a referência aos entes significados, perfazendo aquela estrutura triádica ou

trilateral que é própria das unidades sígnicas. Nele, texto, as manifestações

subjetivas ganham objetividade, tornando-se intersubjetivas. Em qualquer sistema de

signos, o esforço de decodificação tomará por base o texto e o desenvolvimento

hermenêutico fixará nessa instância material todo o apoio de suas construções.

Quanto a contexto, sua significação é dada por ABBAGNAMO (2003, p. 199):

CONTEXTO (in. Context; fr. Contexte; al. Kontext; it. Contesto). Conjunto dos

elementos que condicionam, de um modo qualquer, o significado de um enunciado.

O C. é definido por Ogden e Richards do seguinte modo: “C. é o conjunto de

entidades (coisas ou eventos) correlacionadas de certo modo; cada uma dessa

entidades tem tal caráter que outros conjuntos de entidades podem ter os mesmos

caracteres e estar ligados pela mesma relação; recorrem quase uniformemente”.

Sintetiza-se a diferenciação entre texto e contexto por intermédio de CARVALHO, P.,

(2014, p. 192). Segundo o autor, há que se “discernir o texto, enquanto instância material,

expresso em marcas de tinta sobre o papel ou mediante sons (fonemas), com sua natureza

eminentemente física, do plano do conteúdo, do contexto”.

Como se vê, as interferências do meio, aqui chamadas de manifestações subjetivas,

influenciam não só a formação do texto, como a sua interpretação.

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21

Com base nesse raciocínio, GAMA (2009, p. 244) lembra que “a modificação do

contexto proporciona, por conseguinte, alterações na forma de justificar o sentido de uma

expressão”.

CARVALHO, A. (2009, p. 166), inclusive, afirma categoricamente que não há texto

sem contexto. Veja-se:

Todo texto (aqui utilizado na sua acepção ampla) é envolvido por um contexto, isto

é, encontra-se inserido num processo histórico-social onde atuam determinadas

formações ideológicas. Nesse sentido, podemos dizer que não há texto sem contexto.

O contexto é formado por todos os enunciados com os quais um texto se relaciona.

Nenhum texto é individual, todo discurso, inserto num processo comunicacional,

independente de sua dimensão, mantém relação com outros discursos, pois, segundo

os pressupostos com os quais trabalhamos, nenhum enunciado se volta para a

realidade em si, senão para outros enunciados que os circundam. Neste sentido, todo

texto (em acepção ampla) é atravessado, ocupado por textos alheios, de modo que

para apreendermos seu sentido, não basta identificarmos o significado das unidades

que o compõem (signos), é preciso perceber as relações que ele mantém com outros

textos.

E, conclui (p. 168): Para concebermos o direito como ele é (numa visão culturalista), não podemos

ignorar a existência de seu contexto, mesmo que a análise sobre ele não recaia. Sem

a contextualização, não há como dizer qual é o direito, porque para o

compreendermos atribuímos valores ao seu suporte físico, e os valores são

imprescindíveis de historicidade.

De suma importância para o presente trabalho a conclusão de GAMA (2009, p. 245),

segundo quem a conjugação entre texto e contexto legitima a forma de definição dos sentidos.

Segundo o Autor,

A análise do contexto possibilita a percepção dos valores vigentes numa sociedade,

do conjunto de crenças partilhadas pelos sujeitos de uma comunidade. Essa

percepção é, por sua vez, imprescindível para que se consiga aceitar como legítima a

definição de termos presentes num texto. (...) Noutras palavras, a produção do

sentido é fruto do diálogo entre texto e contexto e só a conjugação entre eles

possibilita construções de sentido que sejam prevalecentes entre aqueles a que se

destina.

Portanto, texto é instância material, expresso em marcas de tinta sobre o papel;

contexto é o conjunto dos elementos que condicionam o significado do texto, não havendo

texto sem contexto, sendo este essencial para a legitimação da definição de termos presentes

em um texto.

2.1.4 Intertextualidade

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Por fim, no processo de encontro da definição dos conceitos, há que se levar em conta

a intertextualidade, também denominada dialogismo.

Conforme CARVALHO, A. (2009, p. 167),

as relações de sentido que se estabelecem entre dois textos são denominados

“dialogismo”. Como todo texto é dialógico, isto é, mantém relações com outros

textos, o dialogismo acaba sendo, nas palavras de José Luiz Fiorin, o princípio

construtivo dos textos. Construímos um enunciado a partir de outros enunciados e

ele é compreendido porque mantém relação dialógica com outros enunciados.

No que tange especificamente ao Direito Positivo, a autora explica: Qualquer relação dialógica é denominada intertextualidade. O direito positivo como

texto relaciona-se cognoscitivamente com outros sistemas (social, econômico,

político, histórico, etc.), que também são linguísticos. Há, neste sentido, uma

intertextualidade externa (contexto não jurídico) muito importante, pois, apesar do

foco da análise jurídica não recair sobre seu contexto histórico-social, é esta relação

dialógica que molda as valorações do intérprete. Como sistema, as unidades do

direito positivo também se relacionam entre si. Há, neste sentido, uma

intertextualidade interna (contexto jurídico), na qual se justificam e fundamentam

todas as construções significativas da análise jurídica.

Assim, o Direito Positivo se relaciona com outros sistemas, com os quais os

intérpretes do Direito têm contato, além da existência de uma relação entre as unidades do

próprio Direito Positivo, colaborando-se, pois, nas normativas.

A formação da intertextualidade é elucidada por CARVALHO, P. (2014, p. 197): (…) a intertextualidade é formada pelo intenso diálogo que os textos mantêm entre

si, sejam eles passados, presentes ou futuros, pouco importando as relações de

dependência que houver entre eles. Na verdade, assim que inseridos no sistema,

passam a conversar com outros conteúdos, intrassistêmicos e extrassistêmicos, num

denso intercâmbio de comunicações.

Como se vê, ao tratar sobre a intertextualidade, o autor ratifica a noção de sistema e do

desprendimento das normas da intenção do legislador que a inseriu no sistema. E,

complementa (p. 198):

(…) a intertextualidade no direito se apresenta em dois níveis bem característicos: (i)

o estritamente jurídico, que se estabelece entre os vários ramos do ordenamento

(intertextualidade, interna ou intrajurídica); e (ii) o chamado jurídico em acepção

lata, abrangendo todos os setores que têm o direito como objeto, mas o consideram

sob o ângulo externo, vale dizer, em relação com outras propostas cognoscentes,

assim como a Sociologia do Direito, a História do Direito, a Antropologia Cultural

do Direito, etc. (intertextualidade externa ou extrajurídica).

Pode-se resumir o papel da intertextualidade no presente trabalho por intermédio das

conclusões de GAMA. Segundo ele (2009, p. 252),

a mensagem de uma norma jurídica, por sua vez, está em constante diálogo com a

mensagem de outras normas e, numa acepção ampla, com as próprias construções

doutrinárias, jurisprudências e sociais.

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23

Veja-se que a intertextualidade não se dá só entre normas jurídicas, mas também com

textos e decisões judiciais que versam sobre essas mesmas normas, no exercício do processo

de interpretação.

Nesse sentido, o mesmo autor clarifica (2009, p. 253) que:

é do confronto entre textos ou enunciados que os sentidos da mensagem normativa

são produzidos. É, também, deste diálogo que se articulam cadeias de argumentação

para legitimar essa ou aquela definição e, por força disso, se produzem situações de

harmonia ou conflito de interesse. Assim, aceita a premissa do dialogismo ou da

intertextualidade, portanto, não há como cogitar da produção de sentido de um texto

abstraindo sua relação com os demais.

Conjugando-se o quanto explorado nos itens 2.1.1 e 2.1.3 acima, destaca-se que a

busca pela definição dos conceitos passa pela análise dos textos jurídicos, do contexto que os

envolve, e por sua intertextualidade com os trabalhos doutrinários e com as decisões

administrativas e judiciais proferidas sobre a matéria.

2.2 Definição dos conceitos jurídicos e sua interferência na interpretação do enunciado

prescritivo tributário

Na medida a definição dos conceitos buscados por intermédio do presente trabalho não

são encontrados na legislação atinente ao ICMS, e tendo em vista a premissa de que o Direito

Positivo é um sistema, há que se buscar tal definição por intermédio da análise sistêmica do

conjunto normativo nacional, sem deixar de se olvidar da estrutura constitucional do tributo e

da sua hipótese de incidência.

Parte do caminho a ser trilhado está previsto no Código Tributário Nacional (CTN),

em seus arts. 109 e 110 que preveem4:

Art. 109. Os princípios gerais de direito privado utilizam-se para pesquisa da

definição, do conteúdo e do alcance de seus institutos, conceitos e formas, mas não

para definição dos respectivos efeitos tributários.

Art. 110. A lei tributária não pode alterar a definição, o conteúdo e o alcance de

institutos, conceitos e formas de direito privado, utilizados, expressa ou

implicitamente, pela Constituição Federal, pelas Constituições dos Estados, ou pelas

Leis Orgânicas do Distrito Federal ou dos Municípios, para definir ou limitar

competências tributárias.

A primeira observação a ser feita aqui provém de BECKER (2002, p. 122):

Não existe um legislador tributário distinto e contraponível a um legislador civil ou

comercial. Os vários ramos do direito não constituem compartimentos estanques,

mas são partes de um único sistema jurídico, de modo que qualquer regra jurídica

4 BRASIL. Código Tributário Nacional. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l5172.htm>.

Acesso em: 10 jan. 2015.

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24

exprimirá sempre uma única regra (conceito ou categoria ou instituto jurídico)

válida para a totalidade daquele único sistema jurídico. Esta interessante

fenomenologia jurídica recebeu a denominação de cânone hermenêutico da

totalidade do sistema jurídico... Da fenomenologia jurídica acima indicada decorre o seguinte: uma definição,

qualquer que seja a lei que a tenha enunciado, deve valer para todo o direito, salvo

se o legislador expressamente limitou, estendeu ou alterou aquela definição ou

excluiu sua aplicação num determinado setor de direito; mas para que tal alteração

ou limitação ou exclusão aconteça é indispensável a existência de regra jurídica que

tenha disciplinado tal limitação, extensão ou exclusão.

Partindo da premissa da inexistência de um legislador tributário distinto do legislador

dos demais ramos do direito e da necessária prevalência do cânone hermenêutico da totalidade

do sistema jurídico, o legislador e o intérprete tributários não poderiam, em nenhuma

hipótese, alterar a definição dos conceitos inerentes a outros ramos do Direito.

A importância de tal previsão foi destacada por AMARO (2014, p. 33), segundo a

qual, “sempre que se estuda essa questão têm de ser referidos os entrelaçamentos que existem

entre os vários setores do ordenamento jurídico”.

DERZI (2005, p. 690)5 traz precisa lição sobre a questão ao tratar sobre a interpretação

do texto constitucional:

Quando a Constituição usa um conceito, um instituto ou forma do Direito Privado, o

nome empregado denota certo objeto, segundo a conotação que ele tem na ciência

jurídica particular, do qual se origina. A conotação completa que advém da ciência

do Direito Privado é condição prévia de inteligibilidade e univocidade do discurso

constitucional. E se utiliza a Constituição desse sentido completo, extraído de certo

ramo jurídico, para assegurar a discriminação e delimitação de competência, enfim o

pacto federativo. Permitir ao intérprete ou ao legislador ordinário interessado (que

legisla em causa própria) que alterasse o sentido e alcance desses institutos e

conceitos constitucionalmente empregados, seria permitir que firmasse, sem licença

da Constituição, novo pacto federativo, nova discriminação de competência. Sendo

assim, o art. 110 do CTN determina a cristalização da denotação e da conotação

jurídicas daqueles institutos, conceitos e formas, vedando-se ao legislador tributário

a alteração do sentido que é própria do Direito Privado. (...)

Pois bem, o art. 110 é uma limitação à discricionariedade do legislador tributário.

Diz que o conceito, a forma ou o instituto utilizado pela Constituição carrega em si a

predicação, a conotação completa que lhe é dotada no direito privado. Fica o

legislador tributário, que já recebeu a competência, definida segundo aquele

conceito, forma ou instituto privado, proibido de expandi-la por meio da atribuição

de novo sentido ou predicação ao objeto delimitado pela Constituição.

TORRES (2006, p. 161), ao tratar sobre a relatividade dos conceitos jurídicos, conclui:

Quando o legislador fiscal vai buscar os conceitos no Direito Civil, conservam estes

o seu sentido primitivo, limitando pela possibilidade expressiva, além da qual

começa a distorção ou o abuso da forma jurídica; possuem originalmente

significação econômica, sendo objeto de interpretação finalista; entre os conceitos de

Direito Civil e Tributário há uma certa harmonia orquestrada pelas normas e

princípios constitucionais, especialmente os que garantem a liberdade de

propriedade.

5 DERZI, Misabel Abreu Machado; Baleeiro, Aliomar. Direito tributário brasileiro. Atual. por Misabel Abreu

Machado Derzi. 11. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2005.

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25

Porém, não se pode dar ao art. 110 do CTN extensão que não possui.

Veja-se que o referido artigo é claro ao vedar a alteração de conceitos já delimitados

por outros ramos do Direito quando se está diante do exercício da competência tributária

atribuída aos entes políticos pela Constituição Federal, mas não em outras situações atinentes

ao Direito Tributário.

A questão não passou despercebida para COSTA, R. (2007, p. 49). A autora delimita o

campo de atuação do art. 110 do CTN e explica que o legislador e o intérprete não podem

alterar a definição, o conteúdo e o alcance de institutos, conceitos e formas de direito

privado, utilizados, expressa ou implicitamente, pela Constituição Federal, pelas

Constituições dos Estados, ou pelas Leis Orgânicas do Distrito Federal ou dos

Municípios, para definir ou limitar competências tributárias, [na medida em que] a

modificação de um conceito de direito privado pode vir a provocar uma indesejada

ampliação da competência tributária.

Percebe-se que o pretendido pelo legislador complementar foi o combate ao risco de

indevida ampliação da hipótese de incidência possível dos tributos descritos na Constituição

Federal e cuja competência foi expressamente outorgada aos entes políticos.

Se assim o é, a contrario sensu, referido artigo acaba por prever, ressalvada a exceção

acima, a permissibilidade para modificação dos institutos de Direito Privado para efeitos

fiscais desde, porém, que não tenham sido utilizados para a delimitação da competência

tributária.

Nesse sentido, ao analisar os termos de referido artigo, AMARO (2014, p. 124) alerta:

O dispositivo permite duas ilações: a) em regra, não é vedado à lei

tributária modificar institutos, conceitos e formas do direito privado; b) a exceção

diz respeito aos conceitos que tenham sido utilizados por lei superior para

a definição da competência.

A restrição, portanto, atém-se à problemática de estabelecer as fronteiras do campo

em que poderá atuar a lei de incidência de tal ou qual tributo.

Proíbe-se a alteração do conceito do direito privado se disso resultar a ampliação da

competência para cuja definição foi o conceito utilizado. Se a alteração não ferir as

fronteiras do campo de autuação possível da lei, não há questionamento a ser feito.

Assim, se a norma que define a competência utiliza conceito que abrange o universo

ocupado pelos fatos A + B + C, a lei que institui o tributo não pode elastecer o

conceito para abranger o fato D, mas pode reduzi-lo, para excluir. Disso não resulta

afronta ao princípio que informam o art. 110 do Código Tributário Nacional.

E, ao se analisar atentamente referido artigo, verifica-se que ele dirige-se muito mais

ao legislador do que ao intérprete da legislação tributária, como continua a elucidar o autor (p.

125):

O art. 110 do Código está mal posicionado. Trata-se não de regra de interpretação

ou interação da legislação tributária (como pode sugerir o título do capítulo em que

o artigo se insere), mas de preceito que sublinha as fronteiras da competência

tributária. É, pois, dispositivo atinente à definição da competência

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tributária, dirigindo ao legislador, e não preceito de interpretação, que pudesse

destinar-se ao aplicador da lei tributária. Ademais, refere-se a conceitos de direito

privado, mas a regra vale também para os conceitos de direito público que possam

ser utilizados para definir a competência tributária.

Veja-se, portanto, que os termos do art. 110 convertem-se em verdadeira norma de

estrutura, dirigida ao legislador infraconstitucional.

A necessidade de o legislador se ater aos conceitos advindos de outros ramos no

direito no momento de inserir no ordenamento jurídico normas atinentes à instituição dos

tributos, independentemente da existência do mencionado art. 110 do CTN, foi tratada por

COSTA, R. (2007, p. 50):

no entanto, cremos seja necessário advertir-se que no Brasil esse entendimento se

impõe independentemente dessa disposição legal, em razão da hierarquia normativa,

porquanto as regras-matrizes de incidência tributária estão contempladas na

Constituição. Desse modo, a Lei Maior, que emprega com frequência conceitos de

direito privado na previsão das regras-matrizes de incidência - bens móveis,

imóveis, mercadoria, propriedade, patrimônio, renda, serviço, salário, empresa etc. -,

ao fazê-lo, já define – e, portanto, limita – o campo de atuação da lei tributária. Tais

conceitos são, em consequência, utilizados com a significação que lhes é própria no

direito privado.

Isso quer dizer que, o legislador constituinte, ao incluir no texto constitucional uma

regra de competência tributária com a inserção de suas materialidades objeto das hipóteses de

incidência, partiu de conceitos presentes no ordenamento jurídico naquele instante, justamente

com a significação que possuíam em face dos demais ramos do Direito.

Porém, não se estando diante do exercício da competência tributário, o legislador não

está obrigado ao cumprimento do art. 110 do CTN.

Nesse contexto, dado o fim que se pretende, por intermédio deste trabalho, importante

é a conclusão de AMARO (2014, p. 124):

Não se nega que a lei tributária possa modificar o conceito dado pelo direito privado

(ou, em regra, por qualquer outro ramo do direito). Por conseguinte, é lícito à lei

tributária, por exemplo, equiparar a pessoa física à pessoa jurídica (o que,

efetivamente, é feito, em dadas situações, pela lei do imposto de renda).

O que se veda à lei tributária é a modificação de conceitos que tenham sido

utilizados por lei superior para a definição da competência tributária, se da

modificação puder resultar ampliação da competência.

A conclusão a que se chega, pois, é de que o art. 110 do CTN é regra de estrutura que

veda ao legislador infraconstitucional modificar os conceitos inerentes aos demais ramos do

Direito quando da inserção no ordenamento jurídico de leis atinentes ao exercício da

competência tributária para a instituição de tributos, não sendo vedado à lei tributária, pois,

modificar conceito de direito privado ou de outros ramos do direito em outras circunstâncias.

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CAPÍTULO 3 - SISTEMA JURÍDICO6

3.1 Direito Positivo e Ciência do Direito

Sistema (do grego systema, que traz o sentido de reunião, método, juntura7) é um

conjunto de elementos organizados de forma lógica e que se relacionam entre si (SILVA,

2004, p. 1.306).

Segundo FERRAZ JÚNIOR (2003, p. 176), um sistema é composto de um conjunto de

elementos denominado repertório e de uma estrutura, entendida como conjunto de regras que

determinam as relações entre aqueles elementos. Assim, o sistema é um complexo que se

compõe de uma estrutura e um repertório. Conclui, o autor, que o ordenamento jurídico é um

sistema.

A ideia de sistema pressupõe, pois, a possibilidade de os seus elementos se inter-

relacionarem de maneira coerente, de acordo com regras previamente estabelecidas, de tal

forma que, conforme MARQUES (2000, p. 24), “o conjunto deve, pois, ser congruente, capaz

de orientar sua própria intelecção pelo intérprete”.

Após concluir que “o ordenamento jurídico8 (como todo sistema normativo) é um

conjunto de normas” (2014, p. 45), BOBBIO traduziu essa intelecção sobre sistema (2014, p.

77):

Entendemos por “sistema” uma totalidade ordenada, isto é, um conjunto de entes

dentre os quais existe uma certa ordem. Para que se possa falar de ordem, é

necessário que os entes constitutivos não estejam, em relação apenas com o todo,

senão que também estejam em relação de coerência entre eles. Pois bem, quando nos

perguntamos se um ordenamento jurídico constitui um sistema, perguntamos se as

normas que o compõem estão em relação de coerência entre elas, bem como quais

condições tornam possível essa relação.

6 Conforme parcialmente consta de ZOTELLI, Valeria. O sujeito ativo do ICMS Importação: interpretação do

art. 11, I, “d”, da Lei Complementar 87/96 de acordo com a Constituição Federal. Dissertação (Mestrado em

Direito). Faculdade de Direito da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC/SP, 2008. Disponível

em: <http://www.dominiopublico.gov.br/download/teste/arqs/cp063153.pdf>. Acesso em: 10 jan. 2015. 7 SILVA, De Plácido e. Vocabulário jurídico. 24. ed. rev. e atual. por Nagib Slaibi Filho e Gláucia Carvalho. Rio

de Janeiro: Forense, 2004. p. 1.306. 8 A respeito do ordenamento jurídico enquanto direito positivo, são as palavras de CARRAZZA (2010, p. 14):

“O ordenamento jurídico é, pois, o próprio direito positivo (ou direito posto, como querem alguns). Com tais

assertivas pretendemos significar que a legislação, formada pelas leis lato sensu, pelos decretos, pelas portarias,

pelos atos administrativos etc., tem função prescritiva, vale dizer, volta-se para o campo das condutas das

pessoas (condutas intersubjetivas), com o fito de discipliná-las. Tal se dá por meio de permissões (faculdades),

proibições (vedações) ou obrigações (imposições).”

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O sistema jurídico pressupõe, pois, tal como explicado por CARVALHO, P. (2014, p.

152-154), a existência de regras de comportamento e regras de estrutura, sendo as primeiras

voltadas para a regulação das condutas das pessoas, nas relações de intersubjetividade; já as

segundas têm por objeto os comportamentos relacionados à produção das regras jurídicas,

dispondo sobre órgãos e procedimentos e estatuindo de que modo devem ser criadas,

transformadas ou expulsas do sistema.

Nesse mesmo sentido, são os ensinamentos de BOBBIO (2014, p. 46):

Em todo o ordenamento, ao lado das normas de conduta, existe um outro tipo de

normas, que costumamos chamar de normas de estrutura ou de competência. São

aquelas normas que não prescrevem a conduta que se deve ter ou não ter, mas as

condições e os procedimentos por meio dos quais emanam normas de conduta

válidas.

São as normas de estrutura que possibilitam a dinâmica modificação do sistema

jurídico; elas regulam a criação do Direito, disciplinando o órgão competente, a matéria e o

procedimento próprio para produção de novos enunciados jurídicos. São normas que dispõem

sobre outras normas, ou seja, sobre a conduta de criar outras normas.

O Direito Positivo, pois, é um sistema, na medida em que é formado por um conjunto

de comandos legais (proposições prescritivas), organizados em uma estrutura hierarquizada,

sendo que cada um deles, pertencendo ao todo, se relaciona com os demais, de modo a regular

as relações intersubjetivas de um grupo definido de pessoas, num dado momento histórico.

Porém, como alerta BOBBIO (2014, p. 58), a complexidade do ordenamento não

exclui a sua unidade. Na verdade, “não poderíamos falar de ordenamento jurídico se não o

considerássemos algo unitário”.

Nesse mesmo sentido, CARRAZZA, E. (1992, p. 18) averba que não basta, portanto, um amontoado de elementos, para que haja um sistema jurídico.

Para tanto, é necessário, também, que estes elementos componham o todo, tendo em

único objetivo, um único ponto de referência. Só haverá sistema normativo quando

houver um conjunto de normas interligadas e coordenadas entre si, formando um

todo orgânico.

No Brasil, a estruturação normativa, no que diz respeito às regras de conduta e às de

estrutura, é escalonada, tal como preconizado por KELSEN (1985, p. 240), de tal forma que,

uma norma só é válida porque e na medida em que foi produzida de uma

determinada maneira, isto é, da maneira determinada por outra norma, esta outra

norma representa o fundamento imediato de validade daquela, [sendo que, na ordem

jurídica do Estado,] a Constituição representa o escalão de Direito positivo mais

elevado.

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29

ATALIBA (2011, p. 42), ao tratar especificamente sobre o sistema jurídico brasileiro

expõe:

O sistema jurídico – ao contrário de ser caótico e desordenado – tem profunda

harmonia interna. Esta se estabelece mediante uma hierarquia segundo a qual

algumas normas descansam em outras, as quais, por sua vez, repousam em

princípios que, de seu lado, se assentam em outros princípios mais importantes.

Dessa hierarquia decorre que os princípios maiores fixam as diretrizes gerais do

sistema e subordinam os princípios menores. Estes subordinam certas regras que, à

sua vez, submetem outras.

Esse feixe legal é o objeto de estudo da Ciência do Direito, que também é um sistema,

na medida em que tem por matéria de análise o conjunto das proposições do Direito positivo,

verificando, inclusive, a pertencialidade de cada comando legal ao sistema jurídico nacional.

O termo “sistema jurídico” pode designar, assim, tanto o sistema da Ciência do Direito

quanto o do Direito positivo já que, onde houver um conjunto de elementos relacionados entre

si e aglutinados perante uma referência determinada, ter-se-á a noção fundamental de sistema.

Quanto à diferenciação entre Direito positivo e a ciência do Direto, BECHO (2011, p.

28) clarifica:

A ciência do Direito não se confunde com o direito. Ela se refere ao conhecimento e

aplicação das normas jurídicas. Estas estão postas para cumprimento por todos.

Entretanto, é a ciência do direito que oferece os instrumentos para o intérprete

melhor conheça e aplique o direito.

A ciência jurídica e o direito são dois campos, dois universos, dois corpos de

linguagem que se comunicam, mas que não se confundem.

Clássicos são os ensinamentos de CARVALHO, P. (2014, p. 35), no sentido de que a

Ciência do Direito Tributário é uma estrutura de sobrelinguagem, já que discorre sobre as

normas jurídicas que tratam dos tributos, sendo a linguagem do Direito prescritiva de

condutas e a linguagem da ciência jurídica descritiva.

Útil é a objetividade de CARVALHO, A. (2009, p. 88), ao deixar claro que,

uma coisa é o direito positivo enquanto um conjunto de normas jurídicas válidas

num dado país, outra coisa é a Ciência do Direito enquanto conjuntos de enunciados

descritivos destas normas jurídicas. São dois planos de linguagem distintos, cujas

diferenças devem estar bem definidas em nossa mente para não incidirmos nos erros

de confundi-los, [sendo que (p. 96)], o objeto do direito positivo são as condutas

intersubjetivas que ele regula (linguagem social), ao passo que o objeto da Ciência

do Direito é a linguagem do direito positivo que ela descreve.

Tanto o Direito Positivo quanto a Ciência do Direito devem guardar coerência

estrutural, tendo ambos por base a derivação de todas as leis diretamente da Constituição

Federal que, regendo a criação de comandos prescritivos de hierarquia inferior, imprime

unidade ao sistema.

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30

Dado o quanto exposto, deixa-se claro que o presente trabalho tem como premissa o

quanto apregoado por ATALIBA (2011, p. 176):

Qualquer proposta exegética objetiva e imparcial, como convém a um trabalho

científico, deve considerar as normas a serem estudadas em harmonia com o

contexto geral do sistema jurídico. Os preceitos normativos não podem ser

corretamente entendidos isoladamente, mas, pelo contrário, haverão de ser

considerados à luz das exigências globais do sistema, conspicuamente fixadas em

seus princípios. Em suma, somente a compreensão sistemática poderá conduzir a

resultados seguros.

Em suma, o Direito Positivo é um sistema ordenado de normas de comportamento e de

estrutura, que se relacionam entre si, objeto de análise da Ciência do Direito.

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31

CAPÍTULO 4 - SISTEMA TRIBUTÁRIO NACIONAL9

O presente trabalho, tal como se deve dar em relação à análise jurídica de qualquer

objeto submetido ao sistema jurídico nacional, tem como premissa o fato de o Brasil ser uma

República Federativa.

Esta consideração coincide com a previsão contida no art. 1º da Constituição Federal,

segundo o qual,

a República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e

Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito

(...)10

, [determinando seu parágrafo único que] todo o poder emana do povo, que o

exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta

Constituição11

.

A análise de tal prescrição não deixa dúvidas: o poder emana do povo, e dele, por

intermédio de seus representantes legislativos, provém todo o sistema jurídico nacional que

tem como baliza a Constituição Federal.

Assim, toda e qualquer norma jurídica seja qual for sua natureza, tem por fundamento

de validade a Carta Constitucional, razão pela qual outro não é o ponto de partida de todas as

considerações e conclusões a serem aqui adotadas.

Conforme elucidado por GONÇALVES (2002, p. 41), dentro do sistema jurídico

nacional estão presentes subsistemas construídos a partir de conceitos aglutinantes próprios,

entre eles o subsistema constitucional tributário, que é formado por princípios e regras

constitucionais que regem o exercício da tributação.

Assim, as normas do subsistema tributário brasileiro estarão em conformidade com o

sistema jurídico nacional se, e somente se, guardarem consonância com normas de hierarquia

superior e, em última análise, com a Constituição Federal.

Nesse contexto é que deve ser analisada a outorga constitucional aos entes federativos

do poder para a instituição e exigência de tributos, levando-se em conta, em síntese, o fato de

o sistema jurídico nacional ser escalonado, tendo no topo dessa estrutura a Constituição

Federal, e que, para ser consistente, depende da inserção no sistema normativo de leis válidas.

9 Conforme parcialmente consta de ZOTELLI, Valeria. O sujeito ativo do ICMS Importação: interpretação do

art. 11, I, “d”, da Lei Complementar 87/96 de acordo com a Constituição Federal. Dissertação (Mestrado em

Direito). Faculdade de Direito da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC/SP, 2008. Disponível

em: <http://www.dominiopublico.gov.br/download/teste/arqs/cp063153.pdf>. Acesso em: 10 jan. 2015. 10

BRASIL. Constituição Federal de 1988. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm>. Acesso em: 9 jan. 2015. 11

Idem.

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32

4.1 República

Buscando a etimologia da palavra República, o Dicionário Houaiss12

da Língua

Portuguesa mostra que a sua origem é latina, significando res publica, ou seja, a coisa pública,

o Estado e a administração do Estado.

Trata-se de forma de governo cujas características fundamentais são a eletividade (o

chefe de governo é eleito pelo povo), a temporariedade (o mandato do chefe de governo tem

prazo de duração determinado) e a responsabilidade (o chefe de governo deve prestar contas

de seus atos diretamente ao povo, ou a órgão de representação popular) (DALLARI, 1981, p.

201)

De acordo com ATALIBA (2011, p. 15),

república é o regime político em que os exercentes de funções políticas (executivas e

legislativas) representam o povo e decidem em seu nome, fazendo-o com

responsabilidade, eletividade e mediante mandatos renováveis periodicamente. (...)

Todo poder emana do povo e em seu nome é exercido. Como o povo não pode

apresentar-se na função de governo, os seus escolhidos o representam. Governam

em seu nome, no seu lugar, expressando sua vontade.

República está diretamente associada a soberania (SILVA, 2004, p. 1308), que

manifesta a ideia de poder supremo, sendo que, no âmbito do Direito Público, exprime a

existência de um Estado respeitado pelos demais Estados internacionais. Pressupõe, também,

a existência de um povo e de um território no qual vive a sua população.

BECKER (2002, p. 155-161), ao tratar do nascimento do Estado13

, chamado por ele de

Ser Social, bem como sobre sua relação com os indivíduos que com ele se relacionam,

desenvolve raciocínio que corporifica o fato de o Estado traduzir a personalidade do povo que

o compõe e que com ele se confunde.

Segundo o autor, o Estado, em sua origem, é sempre uma sociedade natural. A sua

transformação em sociedade política depende da vontade dos homens, de tal forma que a

natureza leva os homens a criarem-na, mas é a sua vontade que realiza essa criação.

12

O conceito é: “1 pol. forma de governo em que o Estado se constitui de modo a atender o interesse geral dos

cidadãos. 2 jur. forma de governo na qual o povo é soberano, governando o Estado por meio de representantes

investidos nas suas funções em poderes distintos (p.ex.: Poder Legislativo, Poder Executivo, Poder Judiciário)

(...) Etimologia. lat. respublica < lat. res publica 'coisa pública, o Estado, a administração do Estado”.

(DICIONÁRIO HOUAISS DA LÍNGUA PORTUGUESA. Disponível em:

<http://houaiss.uol.com.br/busca?palavra=rep%25C3%25BAblica>. Acesso em: 10 jan. 2015). 13

Pelo autor, a sequência de atos que caracteriza o nascimento do Estado foi denomina “embriogenia do

Estado”.

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33

O criador do Estado (Ser Social) é, pois, o indivíduo humano e, depois de criado, não

subsiste sem os seus criadores.

O Ser Social não é imóvel, possuindo uma criação continuada, de tal forma que os

criadores do Estado não são apenas os indivíduos que o começaram, mas também os que o

continuam.

Criado pelos indivíduos humanos, tem uma existência real e inconfundível com

aqueles, sendo dotado de personalidade própria, de natureza social, que se transmuta para

personalidade jurídica mediante o reconhecimento do Direito Positivo.

Assim, para BECKER (2002, p. 157), o Estado nasce por uma relação natural e sobrevive porque ele mesmo – utilizando a

força natural (capacidade de agir, Poder ou força natural racional) que está imanente

no fato da existência real do Ser Social – transfigura aquela relação natural, em

relação jurídica.

Referido autor conclui seu pensamento descrevendo que toda organização política

repousa sobre uma rede de relações, que vincula todos os indivíduos membros do grupo, e

que exige a presença de uma coerência que pressupõe a existência de um centro de referência

comum, a saber, o bem comum. É justamente essa rede de relações que torna necessária a

criação de regras que rejam seus atos.

Tal raciocínio foi desenvolvido igualmente por SANTOS, N., ao mencionar o mesmo

autor (2005, p. 333):

O homem apresenta como característica, a sociabilidade. Desde os agrupamentos

selvagens, até as civilizações contemporâneas, o desenrolar dos regramentos de

convívio sempre foi objeto da preocupação humana.

Com o passar dos tempos, o Homem tendeu para a busca do conhecimento, e tal

caminho, inovou por completo as suas relações de convivência, implementando a

tão necessária organização social.

Partimos então da figura da sociedade natural, caracterizada pela vontade humana

racional, e chegamos à formação de uma sociedade política, o Estado.

O Estado, um verdadeiro Ser Social, criado por vontades humanas, tem uma vida e

personalidade própria inconfundíveis com a dos seus integrantes.

Interessante é o fato de que BECKER (2002, p. 173-174) complementa seu raciocínio

esclarecendo que, quando os indivíduos humanos formam um agrupamento, procurando

alcançar uma finalidade, estando organizados de modo estável para sua melhor obtenção,

então existe um Ser Social.

O Estado, pois, é uma realidade que existe nos atos e pelos atos dos indivíduos

humanos que são os seus criadores e é nesta atividade contínua e relacionada ao bem comum

que consiste a realidade do Estado. Trata-se de uma relação que o Autor denominou de

relação constitucional do Estado (Ser Social), que é distinto dos indivíduos que o estão

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34

continuamente criando. E, conclui que esta relação constitucional é o próprio Ser Social

(Estado), sendo que (BECKER, 2002, p. 173),

as unidades que compõem o Ser Social (Estado), assumindo a posição de sujeito

ativo e de sujeito passivo nos polos da relação constitucional, são os indivíduos

humanos considerados concretamente (...) e, pois, revestidos de seus caracteres

específicos e de sua individualidade.

Nessa relação, tem-se o Poder do Estado, que nada mais é do que o “Poder dos

Indivíduos que se transindividualizou”, de tal forma que o Poder (capacidade de agir) deixa de

ser o do indivíduo e passa a constituir o poder (capacidade de agir) do Ser Social – Estado –

gerado (criação continuada) pelos indivíduos.

O raciocínio desenvolvido por BECKER é resumido e reiterado por MELO e LIPPO

(2008, p. 7):

Ao outorgar o “poder” aos constituintes o povo confere-lhes a obrigação de construir

o Estado. O Estado haverá, portanto, de refletir com precisão os anseios desse povo.

É esse anseio da sociedade que, de fato, inaugura o Estado. Os valores contidos nas

disposições inaugurais do Estado são justamente esses, que a sociedade construiu ao

longo da evolução de sua história cultural, política, social, econômico, jurídica etc.,

e que acabam por representar a própria ‘personalidade’ (a fisionomia) do Estado.

Tecnicamente, esses valores são denominados ‘princípios’, exatamente porque

funcionam com essas características particulares de inauguração, os quais estão

incorporados ao Estatuto do Estado.

Essas regras que visam à manutenção das relações sociais e têm por centro o bem

comum, são definidas e instituídas por intermédio de lei, que, conforme ATALIBA (2011, p.

27),

elaborada pelos mandatários do povo, exprime a sua vontade. Quando o povo ou o

governo obedecem à lei, estão: o primeiro obedecendo a si mesmo, e o segundo ao

primeiro. O governo é servo do povo e exercita sua servidão fielmente ao curvar-se à

sua vontade, expressa na lei.

Em consequência, são inseridas no ordenamento jurídico leis que trazem em si uma

carga axiológica que traduz, em linhas gerais, os valores que norteiam aquela população.

O Estado, assim, pressupõe a existência de um bem comum e da coisa pública, e as

normas que o organizam visam à sua manutenção.

Sendo o povo titular da res publica, esta deve ser mantida por toda a coletividade. Não

basta haver território e povo; só será soberano o Estado que se sustenta, que não depende de

outros Estados internacionais, sendo imprescindível para a manutenção de sua soberania a

existência de recursos para se prover.

No caso do Brasil, essa necessidade de manutenção da coisa pública é reconhecida e

ratificada por intermédio do já mencionado art. 1º da Constituição Federal, que prevê ter a

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35

República Federativa do Brasil como fundamento, além da soberania, a dignidade da pessoa

humana, a qual só pode ser alcançada numa sociedade organizada.

Aqui já se tem o primeiro contato com o tributo, caracterizado como a colaboração

que cada qual tem que dar para a manutenção da coisa pública, visando ao bem comum.

Participar de uma República induz à obrigação de colaborar com a sua manutenção14

,

que se dará por intermédio dos tributos a serem instituídos pelos representantes do próprio

povo.

Assim, associada à ideia de necessidade de todos colaborarem na administração da

coisa pública é que há a autorização para que os representantes dos administrados criem leis

instituindo essa participação, que, além de necessária, é obrigatória.

A forma de instituição e cobrança dos tributos também decorre do próprio regime

político republicano, cabendo aos cidadãos o direito de serem representados no Poder

Legislativo por intermédio de pessoas que, em tese, comungam dos mesmos valores e ideais

do representado.

Sendo o tributo um requisito essencial para a manutenção da res publica, ao

representante é atribuído o poder-dever de instituir tributos que oneram os próprios

administrados.

Conforme palavras de BASTOS (1996, p. 401),

para que se torne possível a realização de despesas o Estado tem que, forçosamente,

obter receitas. [Assim, receita pública é] todo ingresso de dinheiro nos cofres de

uma pessoa de direito público.

Por óbvio, a instituição de tributos não está sob o ledo arbítrio dos legisladores,

devendo seguir os preceitos materiais e formais delimitados pela própria população e

materializados na Constituição Federal.

Apesar da necessidade de cada cidadão colaborar para a manutenção da coisa pública,

a tributação implica a invasão do seu patrimônio, de tal forma que este somente poderá ser

atingido nos exatos limites constitucionalmente previstos.

Como se vê, ser o Brasil uma República influencia, de forma absolutamente

determinante, a instituição e a exigência de tributos, bem como gera naqueles que sob ela

vivem, a necessidade de buscar na Constituição Federal a verificação da validade da exigência

que lhe é imposta já que, de acordo com ATALIBA (2011, p. 27), o princípio republicano é

desdobrado em todas as suas consequências, ao longo do texto constitucional.

14

Essa participação deve advir de todos que vivem num dado território soberano, seja por parte daqueles que ali

nasceram, seja pelos estrangeiros que o habitam ou mantêm relações jurídicas em dito território.

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36

4.2 Federação

Além de República, o Brasil é uma Federação, formada pela união indissolúvel dos

Estados, do Distrito Federal e dos Municípios.

No dizer de CARRAZZA, R. (2013, p. 148),

Federação (de foedus, foedoris, aliança, pacto), é uma associação, uma união

institucional de Estados, que dá lugar a um novo Estado (o Estado Federal), diverso

dos que dele participam (os Estados-membros). Nela, os Estados Federados, sem

perderem suas personalidades jurídicas, despem-se de algumas tantas prerrogativas,

em benefício na União. A mais relevante é a soberania.

As características da soberania são nos dadas por LACOMBE (2000, p. 104), segundo

o qual:

a) a Federação é criada pela Constituição; b) é garantida a existência e sobrevivência

dos Estados-membros; c) estes se auto-organizam, autogovernam e auto

administram; d) na Federação coexistem três ordens jurídicas – a nacional, a central

e a local; e) os Estados-membros participam da alteração do pacto federativo, vale

dizer, das emendas constitucionais, ou pela participação do órgão de representação

dos Estados-membros (Senado), ou pela aprovação da emenda pelos Legislativos

estaduais.

ALMEIDA, F. (2013, p. 58) descreve a estruturação da Federação brasileira:

Estruturou-se, com efeito, um sistema complexo em que convivem competências

privativas, repartidas horizontalmente, com competências concorrentes, repartidas

verticalmente, abrindo-se espaço também para a participação das ordens parciais na

esfera de competências próprias da ordem central, mediante delegação.

A despeito dos conceitos acima expostos, não há como se despregar da determinação

expressa contida na Constituição, de que a Federação brasileira, enquanto forma de Estado, é

composta não só pela união indissociável dos Estados e do Distrito Federal, mas destes com

os Municípios.

Ao tratar sobre a integração do Distrito Federal à Federação, ALMEIDA, F. (2013, p.

59) explica que:

embora em tema de repartição de competências a análise se costuma ater à partilha

entre União e Estados, e, no caso brasileiro em especial, entre União, Estados e

Municípios, considerada a tríplice estrutura de nossa Federação, não se deve

esquecer que na Constituição o Distrito Federal comparece também como integrante

da Federação (arts. 1º e 18), pelo que não é demais lembrar as normas atinentes à

sua competência. Cabe mencionar, portanto, que o artigo 32, § 1º, da Constituição

atribui ao Distrito Federal as competências legislativas reservadas aos Estados e aos

Municípios.15

15

Sempre claras são as lições de BORGES (1975, p. 8), que merecem ser analisadas: “Tanto a União, quanto os

Estados-membros e Municípios são criaturas da Constituição. Nos termos da Constituição de 1967, com a

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37

Quanto aos Municípios, a mesma autora16

(2013, p. 96) é clara:

Dirimindo antiga controvérsia que se travava sobre a qualificação dos Municípios

como integrantes da Federação, a Constituição de 1988 não hesitou em posicioná-los

nessa condição, ao declarar, logo no artigo 1º, que a República Federativa do Brasil

é formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal.

Rendeu-se o constituinte à tese municipalista, advogada por muitos e eminentes

doutrinadores, com destaque, entre outros, para Hely Lopes Meirelles (1981:15ss),

enfático na sustentação do Município como detentor das mesmas características do

Estado-membro na organização federativa brasileira.

É certo, conforme ressalta BARRETO (2001, p. 41), que por não possuírem

representantes no Congresso Nacional, os Municípios deixam de influir diretamente nos

desígnios do País. Porém, tal como elucidado por CARRAZZA, R. (2013, p. 147), não existe

um conceito definitivo, universal e inalterável de Federação, tratando-se de um sistema de

composição de forças, interesses e objetivos que podem variar no tempo e no espaço de

acordo com os desígnios de cada povo17

.

E a roupagem constitucional da Federação brasileira é aquela que traduz a existência

de Estados e Municípios autônomos, não havendo entre eles qualquer hierarquia.

redação que lhe deu a Emenda Constitucional n. 1/69, o Brasil é uma república federativa, constituída pela união

indissolúvel dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios (art. 1º). Assim como a Constituição discrimina as

atribuições legislativas ou não da União (art. 8º), estabelece o princípio basilar do sistema federal de governo, da

autonomia dos Estados-membros, os quais se organizaram e regem pelas Constituições e leis que adotarem (art.

13º, caput), sendo-lhes conferidos todos os poderes que explícita ou implicitamente não lhe sejam vedados pela

Constituição (art. 13 § 1º). Por outro lado, os Municípios não têm a sua existência decorrente de uma simples

delegação administrativa do Estado-membro, porque a sua autonomia é alçada à eminência de um princípio

constitucional expresso. Dessa autonomia municipal – cuja observância é obrigatória para a União e para os

Estados-membros – resulta a competência para o autogoverno, a administração própria no que respeite ao

peculiar interesse municipal. No Brasil, o Município coexiste com a União e os Estados-membros numa área de

competência exclusiva constitucionalmente fixada. Nesses termos, toda lei federal, estadual ou municipal funda

a sua validade na Constituição Federal.” 16

Interessante analisar a complementação do raciocínio realizado pela autora (2013, p. 97): “Assim, o

federalismo brasileiro corresponde ao que Charles Durand (1965, p. 193) denomina federalismo de duplo grau,

caracterizado pelo fato de que não só o Estado-membro, mas também o ente político local, possui competência e

autonomia irredutíveis, salvo por emenda constitucional. Se assim sempre foi, o constituinte de 1988, ao incluir

expressamente os Municípios no artigo 1º, e também no artigo 18, em que cuidou da organização político-

administrativa do Estado brasileiro, mais não fez do que ceder diante de uma realidade histórica. E, como

corolário desta postura, não poderia deixar de conferir-lhes a capacidade de auto-organização que lhes faltava, de

modo a tornar completa a autonomia municipal. Hoje o próprio Município que elabora sua lei orgânica, dentro

dos parâmetros fixados pelo artigo 29 da Constituição, mantendo, de outra parte, a capacidade de autogoverno,

pela eletividade do Prefeito e dos Vereadores; a capacidade de autolegislação, mediante a elaboração das leis

sobre as matérias de sua competência, e a capacidade de autoadministração, que o habilita a organizar, a manter

e a prestar os serviços de interesse local.” 17

Segundo BASTOS (1996, p. 145), a ideia de federação nasce em 1787 com o surgimento dos Estados Unidos

da América, em decorrência do que treze ex-colônias inglesas optaram por dispor de parcela de suas soberanias e

constituir um novo Estado. Esclarece, ainda, que no Brasil as coisas ocorreram “um pouco às avessas”. “No caso

brasileiro, ao invés de diversos Estados, tínhamos um só; o Brasil todo respondia ao domínio do Imperador.

Depois de proclamada a República e a Federação é que se viu a necessidade de criarem-se os Estados-Membros,

aos quais delegaram-se algumas competências”.

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Mais do que isso, a própria Constituição Federal, principalmente por intermédio dos

seus arts. 22 a 3318

, atribuiu a cada um dos entes políticos competência específica na

administração da coisa pública.

Dada a formatação da Federação forjada pela Constituição Federal, e tal como

explicado por BORGES (1975, p. 8),

a diversidade das atribuições, a sua maior ou menor complexidade não interferem

com a radical igualdade no regime jurídico das pessoas constitucionais e sobretudo

no seu mútuo relacionamento.

Desenvolvendo a ideia, o autor deixa claro que os Municípios não têm a sua existência

decorrente de uma simples delegação administrativa do Estado-membro, na medida em que

sua autonomia é alçada à eminência de um princípio constitucional expresso.

Elucidando que a igualdade jurídica existente entre referidos entes não implica

identidade de competência e atribuições constitucionalmente fixadas, conclui que (BORGES,

1975, p. 8):

Não há assim hierarquização entre normas emanadas da União, Estados-membros e

Municípios. A própria igualdade entre a União e os Estados, princípio fundamental e

basilar na federação, já implica por si só e em princípio, na inviabilidade jurídica de

hierarquia – e pois desigualdade – entre as normas federais, estaduais e municipais.

Assim, pode-se até falar em hierarquia política, mas não de hierarquia legal entre os

entes políticos dado que cada um deles possui competências próprias, delimitada pela

Constituição Federal.

Por consequência, cada um dos entes federativos deve ter autonomia financeira, já

que, tal como manifestado por CARRAZZA, E. (1973, p. 198), “não se pode falar em

autonomia política, onde não existe autonomia financeira. É pressuposto da autonomia, o uso

dos próprios meios para atingir seus próprios fins”.

CARVALHO, O. (2013, p. 81) é contundente sobre a questão:

Em matéria tributária, a defender a autonomia política e administrativa dos Estados-

membros e dos Municípios, impõe-se por corolário lógico a autonomia financeira,

posto que, sem ela, as outras inexistirão. Pode-se afirmar, assim, que autonomia

financeira é o penhor da autonomia dos entes federados. Tal autonomia encontra

arrimo no respeito à competência tributária dessas pessoas políticas.

Não por outra razão foi atribuída competência à União, aos Estados, ao Distrito

Federal e aos Municípios para a instituição de tributos visando à manutenção da estrutura

estatal. Porém, essa instituição não pode alcançar toda e qualquer materialidade, mas

18

BRASIL. Constituição Federal de 1988. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm>. Acesso em: 9 jan. 2015.

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especificamente aquelas previstas constitucionalmente, estando absolutamente adstrita a todos

os demais comandos presentes na Constituição Federal.

O mesmo autor (CARVALHO, O., 2013, p. 83), auxiliando no encerramento do

raciocínio aqui desenvolvido, conclui:

Resumidamente, os elementos ou as características essenciais à existência do Estado

Federal são: i) isonomia jurídica entre os entes federados; ii) ampla autonomia

política, jurídica e administrativa e orçamentária desses entes; iii) existência de

ordens regionais de poder político em torno de um poder central; iv) vedação à

dissolução da ordem federativa; e, v) atribuição de competências aos diferentes

membros da federação. Essas competências poderão ser vinculadas de forma:

concorrente, comum, privativas, residuais e privativas, como é o caso das

competências tributárias para impostos.

Portanto, a República Federativa do Brasil é formada pela união indissolúvel entre

Estados, Distrito Federal, não havendo que se falar em hierarquia entre eles ou mesmo com a

União, sendo que sua autonomia financeira é garantida por intermédio dos tributos, cuja

competência para instituição foi outorgada pela Constituição Federal.

4.3 Competência tributária

Conforme exposto, a garantia do pacto federativo e a consequente autonomia política

da União, Estados, Distrito Federal e Municípios presumem a sua autonomia financeira.

Não por outra razão, a Constituição Federal outorgou a cada um dos entes políticos

competência para a instituição e exigência de tributos como forma de suprir essa necessidade,

principalmente, visando à manutenção da Federação.

Na clássica definição de CARRAZZA, R. (2013, p. 575 e 579),

competência tributária é a aptidão para criar, in abstracto, tributos; é a habilitação

ou, se preferirmos, a faculdade potencial que a Constituição confere a determinadas

pessoas (as pessoas jurídicas de direito público interno), para que, por meio de lei,

tributem.

Trata-se da outorga constitucional para que União, Estados, Distrito Federal e

Municípios, por intermédio do seu Poder Legislativo, insiram no ordenamento jurídico leis

visando à instituição dos tributos, tal como previamente delimitado pela Constituição Federal.

Por essa razão, a competência tributária antecede a própria instituição dos tributos.

Como já adiantado, a lei é a expressão da vontade geral; por intermédio de

representantes escolhidos eletivamente, a sociedade autorregula-se, impõe normas que

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cercearão a liberdade e a propriedade de seus membros, tendo em vista o bem comum e a

manutenção da coisa pública.

Nesse sentido, e conforme afirmado por BECHO (2011, p. 234),

a competência tributária é um direito subjetivo das Casas Parlamentares de baixarem

leis em matéria tributária. Leis que criem, majorem, reduzam, isentem, remitem,

anistiem, enfim, leis tributárias.

Porém, nos termos do art. 5º, II, da Constituição Federal, a atividade dos indivíduos

não pode encontrar outro óbice além daquele contido na lei, de caráter geral e igualitário.

No âmbito tributário, essa garantia dos cidadãos é reforçada por intermédio do art.

150, I, da Constituição Federal, ao prever que, “sem prejuízo de outras garantias asseguradas

ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios exigir ou

aumentar tributo sem lei que o estabeleça”19

.

Assim, os cidadãos têm direito subjetivo de só terem seu patrimônio invadido em face

de tributos expressamente previstos na Constituição Federal, instituídos por intermédio de lei,

de acordo com a competência tributária previamente estabelecida.

Como destacado por LINS (2004, p. 83),

as competências legislativas para instituição dos tributos estão, minudentemente,

insertas no altiplano dos enunciados constitucionais, razão pela qual o tema

‘competência’ é de estrita alçada constitucional, abarcando quer competência para

instituir tributo, quer para estabelecer isenções.

E, complementa:

Nesse diapasão, firma-se aqui a premissa de que a competência para instituir

tributos, como uma das espécies de competências legislativas previstas na

Constituição, é dada às pessoas políticas constitucionais (v.g., União, Estados,

Municípios e o Distrito Federal).

Tributo, segundo ATALIBA (2001, p. 34), é:

obrigação jurídica pecuniária, ex lege, que se não constitui em sanção de ato ilícito,

cujo sujeito ativo é uma pessoa pública (ou delegado por lei desta), e cujo sujeito

passivo é alguém nessa situação posto pela vontade da lei, obedecidos os desígnios

constitucionais (explícitos ou implícitos).

Assim, a instituição e a exigência de tributos têm como ponto de partida e fundamento

básico as competências outorgadas pela Constituição Federal, cuja extrapolação implica a

edição de instrumento legislativo inválido, passível de afastamento do sistema jurídico

19

BRASIL. Constituição Federal de 1988. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm>. Acesso em: 9 jan. 2015.

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nacional pelo Supremo Tribunal Federal, em controle concentrado ou difuso de

constitucionalidade20

.

ALMEIDA, F. (2013, p. 59) destaca as peculiaridades e o detalhamento da outorga das

competências tributárias realizados pela Constituição Federal:

Cabe referir, por fim, que em relação à competência tributária outro é o arranjo

constitucional. Como já ocorria no Direito anterior, a Constituição discriminou os

tributos que cada entidade federativa pode estabelecer (art. 145), enumerando os

impostos de competência da União no artigo 153, os de competência dos Estados e o

Distrito Federal no artigo 155 e os de competência dos Municípios no artigo 156.

Com a União ficou a competência tributária residual, sendo-lhe facultado, mediante

lei complementar, criar outros impostos, desde que não sejam cumulativos e não

tenham fato gerador ou base de cálculo próprios dos demais impostos que a

Constituição prevê (art. 154, I), bem assim instituir impostos extraordinários, na

iminência ou no caso de guerra externa (art. 154, II). Foi também prevista a

participação dos Estados e do Distrito Federal no produto da arrecadação de

impostos federais (art. 157 e art. 159, II) e dos Municípios no produto da

arrecadação de impostos federais e estaduais (art. 158 e art. 159 § 3º), bem como a

destinação de percentuais do produto da arrecadação de impostos.

O exercício da competência tributária não deve, porém, ater-se apenas ao capítulo

constitucional destinado à regulamentação do “sistema tributário nacional” previsto na

Constituição Federal, mas a todas as demais normas do sistema jurídico.

A verificação da validade da lei tributária, como de qualquer outra lei inserida no

ordenamento jurídico, bem como a sua interpretação, depende da conscientização de que o

Direito Positivo brasileiro é um sistema no qual as leis, inclusive aquelas que preveem o seu

próprio controle interno, estão inseridas.

Portanto, as normas do subsistema tributário brasileiro estarão em conformidade com

o sistema jurídico nacional se, e somente se, guardarem consonância com normas de

hierarquia superior e, em última análise, com a Constituição Federal.

Cumpre lembrar que tal exigência não se aplica apenas às leis que instituem os

tributos, mediante o exercício da competência tributária, mas também às normas de natureza

nacional21

(via de regra, mas não exclusivamente, leis complementares), que visam a dispor

sobre conflitos de competência, em matéria tributária, entre a União, os Estados, o Distrito

20

O questionamento das leis supostamente inconstitucionais pode se dar de duas maneiras: (a) por intermédio do

controle difuso ou concreto da constitucionalidade das leis, ou seja, mediante a instauração de lide entre duas

partes, em decorrência do qual a declaração da conformidade ou não da norma com o sistema terá efeitos apenas

entre os litigantes, ou (b) por intermédio do controle concentrado ou abstrato da constitucionalidade, mediante a

propositura de ação direta de inconstitucionalidade (ADI) perante o Supremo Tribunal Federal, cujo resultado

será a constatação de que o comando prescritivo analisado pertence ou não ao sistema jurídico. 21

O traço diferenciador entre lei federal e lei nacional foi aclarado por BORGES (1975, p. 68), segundo o qual

“a lei federal, no seu âmbito pessoal de validade, limita-se a vincular a União, sem alcançar as outras pessoas

constitucionais. A lei federal distingue-se da lei nacional, porque esta, embora editada pelo Congresso Nacional,

tem como destinatários não apenas a União, mas os Estados e Municípios; ou só os Estados; ou só os

Municípios, etc. Se tiver como destinatário apenas a União, de lei nacional não se tratará.”

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Federal e os Municípios e regular, dentre outras hipóteses, as limitações constitucionais ao

poder de tributar.

Nesse contexto é que deve ser analisada a outorga constitucional aos entes federativos

do poder para a instituição e a exigência de tributos, levando-se em conta, em síntese, o fato

de o sistema jurídico nacional ser escalonado, tendo no topo dessa estrutura a Constituição

Federal, e que, para ser consistente, depende da inserção no sistema normativo de leis válidas.

Assim, toda e qualquer norma instituída pelo Poder Legislativo deve total obediência

aos ditames constitucionais, inclusive os tributários.

Em suma, competência tributária é a outorga constitucional para que União, Estados,

Distrito Federal e Municípios instituam tributos, visando a sustentar a autonomia existente

entre os entes políticos, devendo ser exercida de acordo com os estritos termos da

Constituição Federal.

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43

CAPÍTULO 5 - O ICMS NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL

Entre as competências tributárias outorgadas pela Constituição Federal aos entes

políticos, tem-se a previsão de instituição pelos Estados e pelo Distrito Federal22

do Imposto

sobre operações relativas à Circulação de Mercadorias e Serviços – ICMS, genericamente

previsto em seu art. 155, II, e §3º23

, tal como segue:

Art. 155. Compete aos Estados e ao Distrito Federal instituir impostos sobre: (...)

II - operações relativas à circulação de mercadorias e sobre prestações de serviços de

transporte interestadual e intermunicipal e de comunicação, ainda que as operações e

as prestações se iniciem no exterior; (...)

§ 2.º O imposto previsto no inciso II atenderá ao seguinte:

I - será não-cumulativo, compensando-se o que for devido em cada operação relativa

à circulação de mercadorias ou prestação de serviços com o montante cobrado nas

anteriores pelo mesmo ou outro Estado ou pelo Distrito Federal;

II - a isenção ou não-incidência, salvo determinação em contrário da legislação:

a) não implicará crédito para compensação com o montante devido nas operações ou

prestações seguintes;

b) acarretará a anulação do crédito relativo às operações anteriores; (...)

§ 3º À exceção dos impostos de que tratam o inciso II do caput deste artigo e o art.

153, I e II, nenhum outro imposto poderá incidir sobre operações relativas a energia

elétrica, serviços de telecomunicações, derivados de petróleo, combustíveis e

minerais do País. (grifo nosso)

A primeira constatação cabível com relação a tal determinação é a de que se trata de

norma de estrutura atinente à outorga de competência de um conjunto de impostos englobados

sob a sigla ICMS, com hipóteses de incidência24

e bases de cálculo distintas entre si.

Da leitura do referido comando constitucional, vislumbra-se a existência de duas

categorias de tributo passíveis de serem instituídos sob sua autorização, a saber: (a) a que tem

como hipótese de incidência a realização de operações relativas à circulação de mercadorias,

ainda que as operações iniciem-se no exterior, incluindo nesse rol as operações com energia

elétrica, derivados de petróleo, combustíveis e minerais; e (b) a que prevê como hipótese de

incidência prestações de serviços de duas espécies, quais sejam, (b.1) de transporte

interestadual e intermunicipal, ainda que as prestações iniciem-se no exterior; e (b.2) de

comunicação, ainda que as prestações iniciem-se no exterior.

22

Lembre-se que a instituição do ICMS poderá competir à União em duas situações previstas pela Constituição

Federal, a saber, em Território Federal, caso voltem a ser criados (art. 147) e na iminência de guerra externa,

tendo em vista a autorização de criação de imposto extraordinário compreendido ou não em sua competência

tributária (art. 154, II) 23

BRASIL. Constituição Federal de 1988. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm>. Acesso em: 9 jan. 2015. 24

De acordo com ATALIBA (2001, p. 76), “hipótese de incidência é a descrição legislativa (necessariamente

hipotética) de um fato a cuja ocorrência ‘in concreto’ a lei atribui a força jurídica de determinar o nascimento da

obrigação tributária.”

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Passa-se, pois, à análise da regra matriz de incidência tributária de referidos tributos.

5.1 A regra matriz de incidência do ICMS na Constituição Federal25

5.1.1 Noções sobre a regra matriz de incidência tributária

Ensina ATALIBA (2001, p. 26) que o elemento principal de toda norma jurídica é seu

conteúdo mandamental. Seu objeto é o comportamento humano, que deve adequar-se ao

mandamento, sob pena de imposição de sanções, igualmente previstas por intermédio de

outras normas associadas àquela.

Já CARVALHO, P. (2014, p. 237 e 239) elucida que “as normas jurídicas são juízos

hipotéticos, em que se enlaça determinada consequência à realização condicional de um fato”.

Essa estrutura é a mesma em face de qualquer norma integrante do sistema jurídico.

Esmiuçando a ideia, o autor (2014, p 137) descreve que:

Dentro desse arcabouço, a hipótese refere-se a um fato de possível ocorrência,

enquanto o consequente prescreve a relação jurídica que se vai instaurar, onde e

quando acontecer o fato cogitado no suposto normativo. Reduzindo complexidades,

podemos representar a norma jurídica da seguinte forma: H --> C, onde a hipótese

(H) alude à descrição de um fato e a consequência [e] (C) prescreve os efeitos

jurídicos que o acontecimento irá provocar, razão pela qual se fala em descritor e

prescritor, sendo o primeiro para designar o antecedente normativo e o segundo para

indicar seu consequente.

CARRAZZA, R. (2010, p. 18) também trata sobre a constatação de toda norma ser

composta desses dois elementos, tratada por ele como hipótese e mandamento,

respectivamente:

Toda norma jurídica é composta de dois elementos; a saber: a) a hipótese (ou

antecedente), que é a mera descrição de um ato, e um fato ou de uma situação

jurídica; e, b) o mandamento (ou consequente) que prevê a instauração de uma

relação jurídica, sempre que ocorrer o evento apontado na hipótese. O mandamento,

é bem de ver, traça o dever jurídico, cujo conteúdo é sempre um dar, um fazer, um

não-fazer , ou um suportar. Temos para nós, pois, que a norma jurídica é um juízo

hipotético (e, não, um imperativo), que corresponde a algo que deve ser (e, não, a

algo que é ou necessariamente será).

Em apertada síntese, a norma jurídica imputa a um dado antecedente, certo

consequente. Vai daí que o Direito, em última análise, é um conjunto de

consequentes, que devem ser cumpridos a partir do momento em que ocorrem, no

mundo real, os respectivos antecedentes. Ou, como diria Kelsen, o Direito é a

imputação de efeitos a determinados fatos.

(...)

25

Conforme parcialmente consta de ZOTELLI, Valeria. O sujeito ativo do ICMS Importação: interpretação do

art. 11, I, “d”, da Lei Complementar 87/96 de acordo com a Constituição Federal. Dissertação (Mestrado em

Direito). Faculdade de Direito da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC/SP, 2008. Disponível

em: <http://www.dominiopublico.gov.br/download/teste/arqs/cp063153.pdf>. Acesso em: 9 jan. 2015.

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Esquematicamente, temos, pois: ‘Dado o fato A deve ser o efeito B’. Ou, de modo

mais detalhado: ‘Se ocorrer o fato A, então deve ser a relação intersubjetiva B’.

(grifos no original).

Em decorrência dessa estrutura, na hipótese, ou descritor, haverá um comportamento

(critério material), condicionado no tempo (critério temporal) e no espaço (critério espacial).

Já no consequente, ou prescritor, encontrar-se-ão os sujeitos envolvidos na relação,

denominados sujeitos ativo e passivo (critério pessoal), a base de cálculo e a alíquota (critério

quantitativo), necessárias para a quantificação da obrigação estabelecida entre tais sujeitos.

Tal estrutura é chamada de regra matriz de incidência ou de norma padrão de

incidência tributária.

A razão da utilização dessa terminologia é apresentada por CARVALHO, A. (2009, p.

361):

Chamamos “regra-matriz de incidência” as normas padrões de incidência, aquelas

produzidas para serem aplicadas em casos concretos, que se inscrevem entre as

regras gerais e abstratas, podendo ser de ordem tributária, previdenciária. penal,

administrativa, constitucional, civil, trabalhista, comercial, etc., dependendo das

situações objetivas para as quais seu vetor semântico aponta.

Na expressão “regra-matriz de incidência’ emprega-se o termo “regra” como

sinônimo de norma jurídica, porque trata-se de uma construção do intérprete,

alcançada a partir do contato com os textos legislados. O termo ‘matriz’ é utilizado

para significar que tal construção serve como modelo padrão sintático-semântico na

produção da linguagem jurídica concreta. E ‘de incidência’, porque se refere a

normas produzidas para serem aplicadas.

Porém, o legislador, ao inserir no ordenamento jurídico a norma de incidência

tributária, composta necessariamente desses critérios, não pode se desviar do norte

constitucional delimitado quando da outorga da competência tributária, quer ao descrever a

hipótese de incidência, quer ao prever a obrigação tributária que advirá de sua ocorrência.

De acordo com CARRAZZA, R. (2010, p. 75),

o importante é termos presente que o fato imponível somente será tido por realizado

quando ocorrer o evento que a lei considera apto a fazer nascer a obrigação

tributária, [sendo absolutamente essencial a consciência de que] nenhuma pessoa,

física ou jurídica, pode ser tributada por fatos que estão fora da regra-matriz

constitucional da exação que lhe está sendo exigida, sob pena de se imprimir ao

tributo feições confiscatórias, violando-se, destarte, o disposto no art. 150, IV, da

Lei Maior, e, em última análise, o próprio direito de propriedade (p. 44). (destaques

no original).

Nesse sentido, essenciais são os esclarecimentos de ATALIBA (2001, p. 55), ao

distinguir a situação prevista em lei apta a fazer nascer a obrigação tributária e a ocorrência no

mundo fenomênico do fato então descrito:

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Há, portanto, dois momentos lógicos (e cronológicos): primeiramente, a lei descreve

um fato e di-lo capaz (potencialmente) de gerar (dar nascimento a) uma obrigação.

Depois, ocorre o fato; vale dizer: acontece, realiza-se.

Se ele revestir as características antes hipoteticamente descritas (previstas) na lei,

então determina o nascimento de uma obrigação tributária colocando a pessoa (que a

lei indicou) como sujeito passivo, ligado ao estado até obter a sua liberação, pela

prestação do objeto da obrigação (tendo o comportamento de levar aos cofres

públicos a quantia de dinheiro fixada pela lei).

Preferimos designar o fato gerador in abstracto por ‘hipótese de incidência’ e in

concretu por ‘fato imponível’, pelas razões já expostas. (destaques do original)

Apresenta-se, pois, a descrição da função de cada um dos critérios da regra matriz de

incidência tributária.

5.1.1.1 Critério material

Conforme lição de CARVALHO, P. (2014, p. 262), no critério material da norma

jurídica tributária há referência a um comportamento de pessoas que encerram um fazer, um

dar, ou, simplesmente, um ser, o qual será informado, além do verbo, por um complemento.

Esmiuçando a ideia, CARRAZZA, R. (2010, p. 62) complementa o raciocínio:

O aspecto material da hipótese de incidência tributária descreve a conduta (ou

estado de fato) do sujeito passivo tributário, apta a fazer nascer o tributo. Sempre

designa o comportamento das pessoas em situações que poderíamos chamar de: (i)

dinâmicas (“fazer”, “dar”, “transferir”, “entregar”, “despedir”, “adquirir”,

“vender”, “comprar”, “importar”, “exportar” etc.) ou (ii) estáticas (“ser”, “não

ser”, “estar”, “não fazer”, “permanecer” etc.). Mais: este comportamento, simples

ou composto, que indique qual a ação, positiva ou negativa, ou qual o estado de fato

que fará nascer a obrigação tributária (adquirir “bem imóvel”, ser “proprietário de

veículo automotor”, obter “rendimentos”, praticar “operação de crédito”, prestar

“serviço de transporte intermunicipal” etc.).

Assim, o aspecto material da hipótese de incidência tributária vem expressando por

meio de (i) um verbo, que descreve a ação ou omissão do sujeito passivo (“vender”,

” dar”, “obter”, “despedir”, “fazer”, “não fazer”. “importar” etc.), ou a condição

(estado de fato) em que ele deve se encontrar (“ser”, “permanecer”, “estar” etc.),

sempre seguindo de (ii) um complemento, que particularize este verbo (vender

“mercadorias”, dar “em doação”, obter “rendimentos”, despedir “empregado”

etc.). Tal complemento pode referir-se a bens físicos (combustíveis, alimentos,

imóveis urbanos etc.), a operações jurídicas (empréstimos de dinheiro, operações de

seguro, operações mercantis etc.), a pessoas (empregador, empregado, empresa etc.)

ou a conceitos de Direito Privado (renda, patrimônio, propriedade etc.), que o

Direito Tributário encampa. Em suma, da combinação do verbo com o respectivo

complemento exsurge a materialidade do tributo.

Portanto, o critério material sempre implicará a existência de um verbo e de um

complemento necessário a concretizar a conduta prevista em lei.

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ATALIBA (2001, p. 26) informa ser o aspecto material o mais complexo da hipótese

de incidência, na medida em que “contém a designação de todos os dados de ordem objetiva,

configuradores do arquétipo em que ela (h.i.)26

consiste”.

5.1.1.2 Critério temporal

CARVALHO, P. (2014, p. 239), ao tratar sobre a hipótese de incidência tributária,

explica que, no descritor da norma, “haveremos de encontrar um critério material

(comportamento de uma pessoa), condicionado no tempo (critério temporal) e no espaço

(critério espacial)”, deixando claro o autor (2014, p. 268) que, o critério temporal é

o grupo de indicações, contidas no suposto da regra, e que nos oferecem elementos

para saber, com exatidão, em que preciso instante acontece o fato descrito, passando

a existir o liame jurídico que amarra devedor e credor, em função de um objeto – o

pagamento de certa prestação pecuniária.

CARRAZZA, R. (2010, p. 74) faz menção à existência a um critério temporal

deixando claro que:

também a hipótese de incidência tributária deve indicar, de modo expresso ou

implícito, os elementos que permitem, diante do caso concreto, identificar o exato

momento (aspecto temporal) em que a conduta (ou a situação de fato) nela descrita

efetivamente ocorreu.

MELO e LIPPO (2008, p. 27) explicam que é por intermédio do critério temporal que

identificamos o momento exato em que se revela ocorrido o fato jurídico tributário,

de forma a estabelecer os direitos e as obrigações que afetam os sujeitos da relação.

Não se trata da análise da eficácia da norma no tempo, mas sim do momento em que

são deflagradas as consequências oriundas da realização em concreto da hipótese

tributária pelo sujeito passivo.

Caso o legislador não venha a delimitar referido átimo, será ele coincidente com

aquele em que ocorrer o evento descrito no critério material.

5.1.1.3 Critério espacial

Como já adiantado, a hipótese de incidência tributária vincula a ocorrência de um

evento eleito para fazer nascer a obrigação de pagar tributo a determinado tempo e lugar.

CARRAZZA, R. (2010, p. 70) ensina que

26

Conforme o original, h.i. equivale a hipótese de incidência.

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a hipótese de incidência tributária também contém um aspecto espacial. Noutras

palavras, aponta, expressa ou implicitamente, o local onde deverá ocorrer a conduta

(ou estado de fato) que será havida por fato imponível e, em consequência, fará

nascer a obrigação tributária, após observados os procedimentos adequados.

Em resumo, o aspecto espacial refere-se às circunstâncias de lugar relevantes ao

nascimento do tributo, sendo essencial para a definição da sujeição passiva do tributo.

Não havendo especificidade da Constituição Federal ou da lei instituidora do tributo, o

critério espacial equivalerá à delimitação territorial de incidência tributária definida quando da

outorga da competência tributária aos entes políticos.

Assim, desde que ocorrida a materialidade prevista constitucionalmente no território

do ente político que possui competência para exigência do tributo, definido estará o critério

espacial da incidência tributária. Nesses casos, portanto, a definição do aspecto espacial está

atrelada à competência tributária em consequência do princípio da territorialidade da lei.

Porém, desde que não haja dissociação do critério material, a lei poderá definir um

local específico para considerar ocorrido o fato jurídico tributário.

CARVALHO, P. (2014, p. 266) elucida serem três as possibilidades de definição do

critério espacial da hipótese de incidência tributária:

- o critério espacial coincide com o campo de aplicação territorial da lei,

estabelecido pelas fronteiras geográficas do ente tributante;

- o critério espacial faz menção a determinado local para a ocorrência do fato típico;

e

- o critério espacial alude a áreas específicas, de tal sorte que o acontecimento

apenas ocorrerá se dentro delas estiver geograficamente contido.

Portanto, a eleição do critério espacial, desde que respeitados os limites mínimos

impostos pela Constituição Federal, cabe ao legislador infraconstitucional.

5.1.1.4 Critério quantitativo

A base de cálculo de qualquer tributo tem que estar intimamente ligada ao critério

material da hipótese de incidência tributária.

Segundo ATALIBA (2001, p. 108), o critério quantitativo é a perspectiva dimensível,

sendo sempre mensurável, redutível a uma expressão numérica, servindo de fundamento para

a quantificação da obrigação.

Ratificando a ideia, MELO (2012a, p. 261) esclarece:

a materialidade de cada tributo é suficiente para medir normativamente o valor a ser

devido pelo sujeito passivo da obrigação, uma vez que os fatos, atos, operações,

situações, estados, serviços, etc., contêm ínsitas grandezas econômicas”, [ideia que é

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complementada por CARRAZZA (2010, p. 167), ao afirmar que] sendo a base de

cálculo a expressão econômica da materialidade do tributo, deve prestar-se a

mensurar, de modo adequado, o fato descrito na hipótese de incidência, em ordem a

possibilitar a correta quantificação do dever tributário, a cargo do contribuinte.

Para BECKER (2002, p. 373), é por intermédio da base de cálculo que

verdadeiramente se verifica a espécie tributária analisada. Segundo o autor,

o critério de investigação da natureza jurídica do tributo que se demonstrará ser o

único verdadeiramente objetivo e jurídico, parte da base de cálculo para chegar ao

conceito de tributo. Este só poderá ter uma única base de cálculo. A conversão em

cifra é que poderá variar de método.

Não é por outra razão que CARVALHO, P. (2014, p. 319) prega que a base de cálculo

acaba tendo por função confirmar, infirmar ou afirmar o critério material expresso no critério

material.

Delimitada a base de cálculo, parte de seu valor será entregue aos cofres públicos

mediante a aplicação de uma alíquota, sobre aquela calculada, lembrando-se, porém,

conforme HORVATH (2002, p. 67), que o ente político, ao fixar a alíquota a ser aplicada

sobre a base de cálculo, não é totalmente livre, estando sujeito aos princípios do não-confisco

e da capacidade contributiva27

.

5.1.1.5 Critério pessoal

A Constituição Federal, apesar de não instituir tributos, fornece ao legislador os

sujeitos ativos e passivos possíveis ante a outorga de competência, dada a impossibilidade de

sua definição estar dissociada do critério material do imposto.

De maneira objetiva, CARRAZZA, R. (2010, p. 156) expressa que:

o sujeito ativo da obrigação tributária é o credor do tributo, ou seja, a pessoa que tem

o direito subjetivo de arrecadar o tributo. É, se preferirmos, a pessoa que detém a

titularidade do crédito tributário. É, enfim, a pessoa que titulariza a capacidade

tributária ativa.

Nas palavras de ATALIBA (2001, p. 84),

sujeito ativo é, em regra, a pessoa constitucional titular da competência tributária.

(...) Está ele implícito na h.i.28

, não havendo necessidade de que seja sua indicação

formulada explicitamente.

27

No mesmo sentido, CARRAZZA, R. (2010, p. 176): “Tanto quanto a base de cálculo, a alíquota está pré-

definida na Constituição Federal. De fato, embora o legislador, ao criar ‘in abstracto’ o tributo, tenha alguma

liberdade para fazer variar a alíquota, não a pode elevar ad infinitum. Isto fatalmente imprimiria ao tributo o

proibido caráter de confisco (cf. art. 150, IV, da CF), vulnerando, por via reflexa, o direito de propriedade,

constitucionalmente protegido (arts. 5º, XXII e 170, II, da CF)”. 28

Conforme o original, h.i. equivale a hipótese de incidência.

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50

FANUCCHI (1983, p. 232), ao versar sobre os elementos integrantes do fato gerador,

em especial os “sujeitos”, ou elemento subjetivo ou pessoal, explica que esse critério

representa a enunciação dos sujeitos da relação que se formará quando concretizado

o fato gerador do núcleo. Está visto ser bastante que o fato gerador se integre da

configuração do sujeito passivo, não havendo necessidade de enunciar o sujeito

ativo, que está implicitamente nomeado: o poder que expede a norma tributária.

Portanto, de acordo com a competência tributária outorgada constitucionalmente,

poderá ser previsto em lei que, dada a ocorrência da materialidade descrita na Constituição

Federal, em um momento e local constitucionalmente possíveis, nascerá o direito de o ente

público a quem foi atribuída aquela competência (sujeito ativo) exigir o tributo daquele que

subsumiu-se à hipótese de incidência (sujeito passivo).

AMARO (2014, p. 319) deixa claro que,

uma coisa é a competência tributária (aptidão para instituir tributo) e outra é a

capacidade tributária (aptidão para ser titular do pólo ativo da obrigação, vale dizer,

para figurar como credor na relação jurídica tributária.

Assim, apesar de o ente público que detém a competência tributária possuir também a

capacidade tributária, essa coincidência não é obrigatória, de tal forma que, por lei, poderá

indicar sujeito ativo diferente para arrecadar, fiscalizar e, em algumas situações, dispor dos

valores arrecadados.

Feitas essas observações preliminares, possível torna-se uma breve análise da regra

matriz de incidência tributária constitucional dos tributos abarcados pela sigla ICMS, norma

de estrutura cuja definição depende da análise das prescrições contidas no art. 155 da

Constituição Federal.

5.1.2 Regra matriz de incidência tributária dos impostos abarcados pela sigla ICMS

Nas palavras de CARRAZZA, R. (2013, p. 35), a Constituição, ao discriminar as competências tributárias, estabeleceu – ainda que,

por vezes, de modo implícito e dando uma certa margem de liberdade para o

legislador – a norma-padrão de incidência (a regra-matriz, o arquétipo) de cada

exação. Noutro falar, apontou a hipótese de incidência possível, sujeito ativo

possível, o sujeito passivo possível, a base de cálculo possível e a alíquota possível

das várias espécies e subespécies de tributos. Logo, o legislador, ao exercitar a

competência tributária de sua pessoa política, deverá ser fiel à norma padrão de

incidência do tributo, pré-traçada na Constituição.

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51

Passa-se, pois, à uma breve apresentação das regras matrizes de incidência tributárias

constitucionalmente possíveis previstas em face do ICMS.

O alerta à superficialidade da análise da questão deve-se ao fato de não ser este o

ponto fulcral do trabalho, tratando-se de mera informação para integrar o raciocínio sobre a

estrutura do tributo.

5.1.2.1 Tributos que têm como hipótese de incidência a realização de operações relativas à

circulação de mercadorias, ainda que as operações se iniciem no exterior29

5.1.2.1.1 Imposto sobre operações relativas à circulação de mercadorias em geral

5.1.2.1.1.1 Critério material

A definição da hipótese de incidência do ICMS vem sendo forjada ao longo do tempo

pela doutrina e pela jurisprudência nacional, num imbricado de convicções que não permitem

mais dúvidas.

Assim é que os mais respeitados doutrinadores nacionais fundam suas convicções em

manifestações proferidas por ministros do Supremo Tribunal Federal ao longo de décadas e,

estes, por sua vez, valem-se do raciocínio sistêmico desenvolvido por aqueles mesmos

cientistas do direito para determinar a compreensão que se deve ter dos limites constitucionais

para a instituição do Imposto sobre operações de Circulação de Mercadorias. A partir deste

ponto do trabalho, o Importo sobre operações relativas à circulação de mercadorias em geral

será denominado apenas ICMS Operações Mercantis.

Da leitura do art. 155, II, da Constituição Federal, verifica-se ter sido outorgada aos

Estados e ao Distrito Federal competência para instituir imposto sobre operações relativas à

circulação de mercadoria. Trata-se, portanto, de um conjunto de elementos que, manejados de

maneira dissociada, não enseja a perfeito e adequado exercício da competência tributária, de

tal forma que, necessariamente, “operações”, “circulação” e “mercadoria” devem ser

analisados conjuntamente.

29

Conforme parcialmente consta de ZOTELLI, Valeria. O sujeito ativo do ICMS Importação: interpretação do

art. 11, I, “d”, da Lei Complementar 87/96 de acordo com a Constituição Federal. Dissertação (Mestrado em

Direito). Faculdade de Direito da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC/SP, 2008. Disponível

em: <http://www.dominiopublico.gov.br/download/teste/arqs/cp063153.pdf>. Acesso em: 10 jan. 2015.

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52

Nas lições de ATALIBA e GIARDINO (1983b, p. 104), proferidas na vigência da

Constituição anterior, mas ainda plenamente válidas ante o sistema jurídico hoje vigente,

o conceito nuclear da materialidade da hipótese de incidência do ICM é o de

operações. Esta é, definitivamente, uma expressão substantiva de descrição

constitucional do tributo; é o núcleo em torno do qual se constrói a própria descrição

do campo material de competência dos Estados. Os demais termos, constantes dessa

locução constitucional, são adjetivos em torno do substantivo operações. O cerne,

portanto, da materialidade da hipótese de incidência, está na expressão operações.

As operações é que constituem no fulcro de toda a preocupação constituinte e,

portanto, necessariamente, no centro das preocupações, seja do legislador, seja dos

aplicadores administrativos ou judiciais desse tributo.

Segundo referidos os autores (1983b, p. 104), operações são “atos jurídicos; atos

regulados pelo Direito como produtores de determinada eficácia jurídica”.

Porém, tratando-se do núcleo da hipótese de incidência do ICMS Operações

Mercantis, está ele totalmente vinculado aos elementos que o complementam, de tal forma

que a operação somente estará apta a ensejar a incidência do ICMS Operações Mercantis, se

for relativa à circulação de mercadorias.

Se a operação diz respeito, primeiramente, a uma circulação, não há como dissociar-se

tal exigência constitucional da realização de um ato jurídico com a transmissão de um direito,

ou seja, de um negócio jurídico, já que, ainda segundo referidos autores (ATALIBA e

GIARDINO, 1983b, p. 105), “só mediante este instrumento – o ato jurídico – é que se pode

ter, como efeito de direito, uma circulação de mercadoria”.

Portanto, o ICMS tem como núcleo da hipótese de incidência a ocorrência de uma

operação30

, entendida como relação jurídica entre pessoas distintas, relativa, necessariamente,

a uma circulação de mercadoria.

Quanto à circulação, são convictas as palavras de ATALIBA e GIARDINO (1983b, p.

111), segundo as quais, para efeitos de incidência do ICMS, não quer significar

movimentação física do bem:

circular significa, para o Direito, mudar de titular. Se um bem ou uma mercadoria

muda de titular, circula, para efeitos jurídicos. Convenciona-se designar por

titularidade de uma mercadoria à circunstância de alguém deter poderes jurídicos de

disposição sobre a mesma, sendo ou não seu proprietário (disponibilidade jurídica).

Esse fenômeno é que importa, no plano do ICM. Sempre que haja operação jurídica

negocial, de um lado, e mercadoria, de outro lado, haverá circulação, quando o

sujeito (que detém a mercadoria e foi parte na operação) é titular de direitos de dono

e os transfere total ou parcialmente (pela operação) a outrem. Assim, aquele que –

tendo sido parte na operação – transferiu a outrem direitos de dono, promoveu

30

Conforme CHIESA (1997, p. 75), o termo operações aparece na Constituição várias vezes, sempre com o

sentido de ato jurídico ou negócio jurídico, denotando, sempre, a transferência jurídica de um bem. No próprio

capítulo que versa sobre o sistema tributário nacional tal afirmação pode ser constatada nos seguintes artigos:

153, § 3º, II e § 5º, 155, II, § 2º, I, II “b”, IV, V, “a” e “b” e VI. Afora o sistema tributário nacional, tem-se,

também, os arts. 21, VIII; 52, V, VII, VIII e 74, III.

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53

circulação (ao realizar a operação). Por direitos de dono entendem-se os direitos

inerentes à propriedade (basicamente a disposição da coisa). (destaques do original)

Ressalta ATALIBA (1994, p. 203) a impossibilidade de haver negócio consigo

mesmo, sendo premente a existência de dois sujeitos para que a operação possa ser alcançada

pela tributação, fazendo referência, nesse sentido, à manifestação expressa do Plenário do

Supremo Tribunal Federal nos autos da Representação de Inconstitucionalidade 1.394-4-AL31

,

para concluir que:

1) não há negócio consigo mesmo; 2) não há operação (sob nenhum conceito) onde

não há duas pessoas para realizá-la; 3) não há circulação quando o bem fica no

mesmo patrimônio; 4) não há cogitar-se transmissão de direitos de disponibilidade

sem transmitente e transmitido; 5) não há ‘mercadoria’, porque os bens, enquanto na

propriedade de quem os produziu, são meros produtos; 6) simples saída, não

consequência de ‘operação’ tributável, não configura fato imponível de ICMS.

Por fim, para que se complete a materialidade passível de ser atingida pelo ICMS

Operações Mercantis, a relação jurídica que implica a sua exigência deve dar-se com uma

mercadoria, que, conforme bem esclarecido por SALOMÃO (2001, p. 33), é uma espécie do

gênero bens ou produtos. Trata-se do bem objeto de comércio.

Nos dizeres de MELO (2012b, p. 19), mercadoria é bem corpóreo da atividade empresarial do produtor, industrial e comerciante, tendo

por objeto a sua distribuição para consumo, compreendendo-se no estoque da

empresa, distinguindo-se das coisas que tenham qualificação diversa, segundo a

ciência contábil, como é o caso do ativo permanente.

Portanto, nem todo bem é mercadoria.

Assim, para existir circulação de mercadoria, há que existir um fim econômico. Só

então, o simples bem material pode ser entendido como mercadoria, ou seja, bem que, na

posse do comerciante, tenha sido adquirido ou produzido com a intenção de venda,

cumprindo, pois, um ciclo econômico (geração de riquezas).

Conclui-se, pois, que a hipótese de incidência do ICMS Operações Mercantis é a

realização de um ato jurídico que envolva a transmissão entre pessoas distintas de bens objeto

de mercancia, visando, pois, ao comércio.

31

O acórdão citado por Geraldo Ataliba, proferido pelo Plenário do STF nos autos da Representação de

Inconstitucionalidade 1.394-4-AL está assim ementado: “Representação. Inconstitucionalidade da Lei 4.418, de

27.12.82, do Estado de Alagoas, que define fato gerador de ICM, de modo a determinar a sua incidência em

razão do simples deslocamento de insumos destinados a composição do produto, na mesma empresa.

Precedentes do Supremo Tribunal Federal – Representação 1.181, do Pará; Representação 1.355 da Paraíba;

Representação 1.292, de Mato Grosso do Sul. Inconstitucionalidade do § 2º do art. 264, da Lei 4.418/82, e do art.

375 e seu parágrafo único do Decreto 6.148/84, por violação do art. 23, II, da Lei Magna.” (Rp 1394/AL-AL;

TP; Rel. Min. Djaci Falcão; j. 2.9.1987; publ. 25.9.1987).

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54

As conclusões ora apresentadas com base no raciocínio desenvolvido principalmente

por Geraldo Ataliba e Cléber Giardino são as mesmas que vêm permeando as decisões do

Supremo Tribunal Federal ao longo do tempo, as quais tomam por base justamente as lições

daqueles e de outros doutrinadores, seus seguidores, como abaixo demonstrar-se-á. Trata-se

de um movimento circular em que uns apoiam-se nos outros para chegarem ao mesmo

resultado.

Veja-se, por exemplo, acórdão proferido pelo Plenário do STF32

, nos autos do RE

461.968-7, julgado em 30.5.2007 e publicado em 24.8.2007, tendo por relator o Ministro Eros

Grau e por objeto a análise da incidência do ICMS em operações de leasing internacional.

O ministro relator, ao concluir que não há incidência do ICMS em face de

arrendamento mercantil, na medida em que, por não haver transferência do domínio da

arrendadora para o arrendatário, não se está diante de uma circulação jurídica, funda seu

raciocínio no conceito de circulação pregado por ATALIBA (1990, p. 52), bem como faz

menção a voto proferido pelo Ministro Marco Aurélio, em acórdão proferido também pelo

Plenário do STF, nos autos do RE 158.834, julgado em 23.10.2002 e publicado em 5.9.2003.

Naquele julgado, o Ministro Marco Aurélio, ao justificar a necessidade de haver a

análise indissociável, para fins de incidência do ICMS, de “operações relativas à circulação de

mercadoria”, cita, para fundamentar seu voto, a obra Direito Tributário Nacional, de Aliomar

Baleeiro, bem como faz alusão expressa ao voto proferido pelo Ministro Thompson Flores,

nos autos do RE 70.538 – Guanabara, em acórdão proferido em 24.3.1971, e publicado em

29.9.1971 e conclui:

A saída apenas física de um certo bem não é molde a motivar a cobrança do imposto

de circulação de mercadorias. Requer-se, como consta do próprio texto

constitucional, a existência de uma operação que faça circular algo passível de ser

definido como mercadoria, pressupondo, portanto, como aliás ressaltado por

Aliomar Baleeiro em Direito Tributário Brasileiro, a transferência de domínio. No

particular, levou em conta o saudoso Ministro que o sentido jurídico de operação

direciona a negócio jurídico, devendo a circulação exigida estar ligada a

deslocamento de mercadoria, ou seja, de bem móvel em comércio. Por isso mesmo,

este Plenário, julgando o recurso extraordinário nº 70.538, originário da Guanabara,

relatado pelo Ministro Thompson Flores, concluiu pela exclusão do imposto sobre

equipamento comercial, em comodato, por não se ter, na espécie, etapa do processo

de circulação a integrar o complexo de sucessivas transferências do produtor

consumidor.

A Ementa do acórdão prolatado nos autos do RE 70.538 e mencionado pelo Ministro

Marco Aurélio concluiu que:

32

Os acórdãos e decisões do STF citados neste trabalho estão disponíveis para consulta no site do Supremo

Tribunal Federal. Disponível em: <www.stf.gov.br>.

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55

(...) A saída a que se refere a lei federal, ainda que o explicite o diploma local, “a

qualquer título”, para permitir a incidência, é a que configura etapa do processo de

circulação de mercadoria, integrando o complexo de sucessivas transferências desta,

desde o produtor até o consumidor.

Esse mesmo acórdão mencionado no RE 158.834-9 é o fundamento para BALEEIRO

(2005a, p. 385), na obra que embasou o voto do Ministro Marco Aurélio, concluir pela

necessidade de conjugação de “operação de circulação de mercadoria” para se chegar à

hipótese de incidência do ICMS:

A natureza específica da ‘operação realizada’, isto é, o negócio jurídico, que motiva

ou dá causa à saída, é irrelevante do ponto de vista fiscal. Quase sempre se prende a

uma compra e venda mercantil ou a uma consignação. Mas pode ser outro contrato

ou ato jurídico. Não pode ser, em nossa opinião, fato material ou físico: a simples

deslocação da mercadoria para fora do estabelecimento, permanecendo na

propriedade e posse direta do contribuinte, seja para depósito, custódia, penhor,

comodato ou reparos. Se admitíssemos solução contrária, até o furto da mercadoria

seria fato gerador do ICM.

O STF, Pleno, no RE nº 70.538-GB, de 24.03.1991, Rel. Thompson, excluiu ICM

sobre equipamentos, como bombas de gasolina, saídas em comodato, que não

configura etapa do processo de circulação, integrando o complexo de sucessivas

transferências do produtor ao consumidor.

Já DERZI (2005, p. 374), ao atualizar a obra de Baleeiro33

, no seu intuito de manter a

integridade do pensamento do autor, após descrever trechos de trabalhos de Alberto Xavier,

Geraldo Ataliba e Cleber Giardino, Souto Maior Borges, Carvalho de Mendonça e Paulo de

Barros Carvalho em capítulo tendo por objeto “o fato gerador do ICMS. Aspecto material e

temporal”, assim conclui:

Podemos, então, concentrar o exame doutrinário da hipótese de incidência do ICMS

nos seguintes pontos, igualmente relevantes e a serem observados cumulativamente:

– qualquer operação jurídica mercantil, que transfira a titularidade da mercadoria

(sua propriedade ou posse-exteriorização de domínio), como a compra e venda, a

dação em pagamento, etc.; além disso, é necessário que ocorra a circulação,

representativa da tradição, como fenômeno jurídico de execução de ato ou negócio

translativo de posse-indireta ou da propriedade da mercadoria.

Assim, operação, circulação e mercadoria são conceitos profundamente interligados,

complementares e necessários, que não podem ser analisados em separado, sem que

o intérprete dê conta se suas profundas interrelações.

E, voltando-se ao RE 461.968-7, verifica-se que o Ministro Carlos Britto, ao

acompanhar as conclusões adotadas pelo Ministro Eros Grau, conclui que

o conceito jurídico de circulação (...) é um conceito, hoje, clássico, pacífico na

doutrina dos melhores tributaristas. Eu lembraria o Professor Roque Antonio

Carrazza, que também perfilha idêntico entendimento.

33

Referida obra foi atualizada por Misabel Abreu Machado Derzi após o falecimento de Aliomar Baleeiro,

mesclando-se em seu corpo manifestações de ambos os autores.

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56

CARRAZZA, R. (2012, p. 43), ao concluir que, “sem mudança da titularidade da

mercadoria, não há falar em tributação por meio do ICMS”, deixa claro que seu

posicionamento é abonado pela melhor doutrina, citando expressamente, entre outros, Geraldo

Ataliba e Cleber Giardino.

Todo o percurso feito demonstra que não há o que inovar quando o assunto é a

hipótese de incidência do ICMS Operações Mercantis, sendo que, para sua compreensão é

preciso levar-se em conta as manifestações da doutrina e da jurisprudência e, principalmente

ater-se ao fato de que a Constituição Federal determinou que o imposto deverá incidir no caso

de “operações relativas à circulação de mercadorias”.

Justifica-se, aqui, pois, a citação das palavras de GAMA (2009, p. 248):

O sentido dos observadores e o sentido dos participantes, todavia, dialogam entre si.

Sentenças citam doutrina e a doutrina tomam como referência, mediata ou imediata,

os textos de direito positivo. Não há como imaginar o sentido da doutrina sem o

sentido do direito positivo. Em grau menor, mas igualmente importante, é o sentido

da doutrina para o direito positivo, especialmente para fundamentação das decisões

judiciais. Inclusive, segundo esclarece Niklas Luhmann, a função primeira das

teorias dogmáticas é organizar o sentido de decisões judiciais, de modo a aplicar a

experiência passada a situações futuras. A doutrina traduziria a experiência jurídica

vivida para que ela possa influenciar as decisões no futuro.

A Ciência do Direito realiza uma espécie de tradução da mensagem prescritiva

positivada nas normas tributárias.

Trata-se da aplicação da intertextualidade na busca da definição de conceitos.

5.1.2.1.1.2 Critério temporal

Dado que o critério material de incidência tributária é a realização de operações

relativas à circulação de mercadoria, o critério temporal do ICMS poderá equivaler a qualquer

momento a partir da realização do negócio mercantil que implique circulação de mercadoria.

Nesse sentido, são as palavras de MELO e LIPPO (2008, p. 51):

O art. 155, inc. II, da CF é claro ao estipular que os Estados e o Distrito Federal

poderão instituir imposto sobre operações relativas à circulação de mercadorias, etc.

Assim, o que consuma a ocorrência in concreto da hipótese de incidência das

operações de circulação de mercadoria é a recepção, pelo destinatário, do bem

objeto do negócio mercantil firmado com uma pessoa física ou jurídica que realiza

tal atividade. Este é, no nosso entender, o aspecto temporal contido na hipótese de

incidência da operação de circulação de mercadoria.

Assim, não basta a mera realização da operação, devendo existir a efetiva circulação,

real ou simbólica, da mercadoria.

5.1.2.1.1.3 Critério espacial

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Por se estar diante de imposto de competência estadual, o critério espacial

constitucional possível do ICMS Operações Mercantis equivale ao Estado no qual está

estabelecido aquele que realiza a operação mercantil visando à circulação de uma mercadoria.

5.1.2.1.1.4 Critério quantitativo

O critério quantitativo do ICMS – Operações Mercantis prevista na Constituição

Federal foi exposto por CARRAZZA, R. (2010, p. 102):

Embora a Constituição não tenha explicitamente apontado a base de cálculo do

ICMS-operações mercantis, dá diretrizes acerca do assunto, que nem o legislador,

nem o intérprete, podem ignorar.

Realmente, nos temos da Constituição, a base de cálculo do ICMS deve guardar

referibilidade com a operação mercantil realizada, sob pena de desvirtuamento do

tributo.

Assim, a base de cálculo do ICMS deve necessariamente ser uma medida da

operação mercantil realizada. Será, pois, o valor desta operação mercantil.

Portanto, o critério quantitativo do ICMS Operações Mercantis deve equivaler ao valor

na operação relativa à circulação de mercadorias.

5.1.2.1.1.5 Critério pessoal

Quanto ao critério pessoal do ICMS Operações Mercantis, o seu sujeito passivo deve

equivaler àquele que realizada a operação relativa à circulação de mercadorias.

MELO e LIPPO (2008, p. 60) complementam a ideia elucidando que:

Trata-se daquele que, por lei, é elevado à condição de responsável pelo recolhimento

do tributo: o contribuinte. Tal responsabilidade, como vimos, será do próprio autor

do fato jurídico tributário, ou de outrem, em geral, também vinculado ao fato. Ou

mesmo a pessoa alheia, como na hipótese da substituição tributária progressiva.

Com relação ao sujeito ativo, será o Estado no qual está estabelecido o sujeito passivo

da obrigação tributária.

5.1.2.1.2 Imposto sobre operações relativas à circulação de mercadorias em geral

importadas do exterior34

34 Em face da análise da Constituição Federal, tem-se que a regra matriz de incidência tributária possível de ser

adotada pelo legislador infraconstitucional quando da instituição do ICMS Importação é: dada a ocorrência de

uma operação relativa à circulação de bem importado do exterior (critério material), em momento coincidente ou

posterior à sua chegada ao Brasil (critério temporal), quer no recinto aduaneiro, quer quando da entrada do bem

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A análise da regra matriz de incidência tributária constitucional do Imposto sobre

operações de mercadorias em geral importadas do exterior, a partir de agora denominado

ICMS Importação, depende do estudo das seguintes prescrições contidas no art. 155 da

Constituição Federal:

Art. 155. Compete aos Estados e ao Distrito Federal instituir impostos sobre: (...)

II - operações relativas à circulação de mercadorias e sobre prestações de serviços de

transporte interestadual e intermunicipal e de comunicação, ainda que as operações e

as prestações se iniciem no exterior; (...)

§ 2.º O imposto previsto no inciso II atenderá ao seguinte: (...)

IX - incidirá também:

a) sobre a entrada de bem ou mercadoria importados do exterior por pessoa física ou

jurídica, ainda que não seja contribuinte habitual do imposto, qualquer que seja a sua

finalidade, assim como sobre o serviço prestado no exterior, cabendo o imposto ao

Estado onde estiver situado o domicílio ou o estabelecimento do destinatário da

mercadoria, bem ou serviço; (...)

XII - cabe à lei complementar: (...)

d) fixar, para efeito de sua cobrança e definição do estabelecimento responsável, o

local das operações relativas à circulação de mercadorias e das prestações de

serviços; (...)

i) fixar a base de cálculo, de modo que o montante do imposto a integre, também na

importação do exterior de bem, mercadoria ou serviço. (...)

5.1.2.1.2.1 Critério material

O critério material da hipótese de incidência do ICMS Importação é encontrado pela

análise conjunta do inc. II e do § 2º, IX, “a”, do art. 155 da Constituição Federal.

De acordo com o art. 155, II, o critério material do ICMS Operações Mercantis é

realizar operações relativas à circulação de mercadoria, ainda que as operações se iniciem no

exterior, tendo o § 2º, IX, “a”, do mesmo artigo completado que ele incidirá também sobre a

entrada de bem ou mercadoria importados do exterior.

Como se vê, o critério material do ICMS Operações Mercantis e o do ICMS

Importação possuem dois elementos de identidade, a saber, preveem (a) a necessária

realização de uma operação e (b) que essa operação implique uma circulação.

O elemento diferenciador entre ambos é que, enquanto aquele exige que as operações

relativas à circulação tenham por objeto apenas mercadorias, este admite que as operações

na domicílio ou estabelecimento daquele que realizou a operação ou, ainda, em qualquer outro local por onde

circule dito bem (critério espacial), nascerá a obrigação tributária em decorrência da qual, aquele sujeito que

realizou dita operação e que é o destinatário do bem importado (sujeito passivo), deverá recolher ao Estado onde

esteja domiciliada a pessoa física ou estabelecida a pessoa jurídica que realizou a operação (sujeito ativo), o

tributo calculado sobre o valor da operação (base de cálculo), mediante a aplicação de uma alíquota.

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59

sejam relativas a quaisquer bens (gênero), inclusive mercadorias (espécie) advindos do

exterior.

Portanto, o critério material de incidência tributária do ICMS Importação é realizar

operações relativas à circulação de bens advindos do exterior.

Falar em bens advindos do exterior é, por óbvio, referir-se a bens importados.

“Importar”, do latim importare (trazer para), significa a ação de trazer para dentro35

,

tratando-se, na terminologia jurídica e comercial do ato de trazer para um país produtos ou

mercadorias originárias de outro.

Assim, todas as vezes que houver menção ao critério material do ICMS Importação,

falar-se-á em realização de operação relativa à circulação de bens importados do exterior.

Essa explicação resta necessária para que não se faça confusão entre o critério material

do ICMS Importação e do Imposto de Importação36

.

5.1.2.1.2.2 Critério temporal

No caso do ICMS Importação, esse momento não poderá ser anterior à realização da

operação que implique a circulação do bem que tenha sido inserido no Brasil por seus

adquirentes. Isso porque a materialidade do imposto, sob análise, não exige só a ocorrência de

uma operação, mas também a circulação jurídica de um bem do exterior para o País.

Assim, enquanto não ocorrida a entrada do bem em território nacional, não há como se

exigir o ICMS Importação, sendo esse o divisor de águas para a definição do critério temporal

do imposto pelo legislador ordinário.

35

SILVA (2004, p 708). 36

A despeito de o ICMS Importação ter como complemento do critério material o fato de a operação relativa à

circulação dar-se com bens importados do exterior, é necessário deixar claro que (a) não se está diante de mero

adicional do Imposto de Importação de competência federal e (b) não há que confundir-se os sujeitos passivos de

ambos os impostos, a despeito de “importação” caracterizar-se como assunto de competência exclusiva da

União. Na repartição da competência tributária entre os entes políticos, coube à União a instituição do Imposto

de Importação por intermédio do art. 153, I, da CF, que prevê que “Compete à União instituir impostos sobre

importação de produtos estrangeiros”. (BRASIL. Constituição Federal de 1988. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm>. Acesso em: 9 jan. 2015).

Verifica-se que o parâmetro indicado para a instituição do Imposto de Importação pela União diz respeito à

efetivação do ato de importar, ou seja, de trazer do exterior produto estrangeiro, conceituado por HILU NETO

(2003, p. 69) como “bem material resultante da atividade humana de extração ou de transformação dos

elementos da natureza em níveis cada vez mais elevados (matérias-primas, produtos intermediários, produtos

elaborados)”. Assim, realizando-se o ato de trazer para o país produtos advindos do exterior, poderá a União,

mediante a inserção no ordenamento jurídico do competente instrumento legislativo, exigir o pagamento do

Imposto de Importação.

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60

Tanto assim que a Constituição Federal, em seu art. 155, § 2º, IX, “a”, deixou claro o

primeiro momento em que pode ser considerada ocorrida a incidência tributária, qual seja,

naquele em que se der “a entrada de bem ou mercadoria importados do exterior”.

5.1.2.1.2.2 Critério espacial

Analisando-se a determinação contida no art. 155, § 2º, IX, “a”, da Constituição

Federal, verifica-se que, na medida em que o critério material de incidência do ICMS

Importação é a realização de operações relativas à circulação de bens importados do exterior,

o local eleito para a incidência da norma jurídica pode ser qualquer um, desde que este seja o

território nacional.

Nesse sentido, pode-se considerar ocorrido o fato jurídico tributário, por exemplo, no

recinto aduaneiro por intermédio do qual o bem é introduzido no Brasil, no momento da

entrada do bem importado no estabelecimento comercial da pessoa jurídica, ou no domicílio

da pessoa física que realizou o evento descrito no critério material da regra matriz de

incidência tributária.

Poderá ser eleito, também, qualquer outro lugar para definição do critério espacial,

desde que, ressalte-se mais uma vez, haja consonância com o critério material definido

constitucionalmente.

5.1.2.1.2.4 Critério quantitativo

A base de cálculo constitucionalmente possível, passível de quantificar o critério

material da hipótese de incidência do ICMS Importação, será o próprio valor da operação

realizada, devendo ser levada em conta a previsão imposta pela própria Constituição Federal,

segundo a qual, nos termos do seu art. 155, § 2º, XII, “i”, para fins de definição da base de

cálculo, o valor do ICMS Importação integra a sua própria base de cálculo.37

37

Por intermédio da Emenda Constitucional 33/2001, o art. 155, XII, “i”, da CF passou a prever expressamente

que cabe à lei complementar: “fixar a base de cálculo, de modo que o montante do imposto a integre, também na

importação do exterior de bem, mercadoria ou serviço”, constitucionalizando-se, assim, previsão nesse sentido já

constante em legislação complementar.

A inserção do ICMS em sua própria base de cálculo tem gerado discussão em âmbito doutrinário e judicial

anteriores e posteriores a dita alteração constitucional.

CARRAZZA, R. (2012, p. 354 e 360), após ressaltar que, “nos termos da Constituição, a base de cálculo do

ICMS deve, no mínimo, guardar referibilidade com a operação ou prestação realizada, sob pena de

desvirtuamento do tributo”, afirma que a base de cálculo do ICMS “só pode ser o valor da operação mercantil

realizada. (...) Obviamente, o valor das operações e prestações é o realmente praticado, ou seja, aquele que

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Delimitada a base de cálculo, parte de seu valor será entregue aos cofres públicos

mediante a aplicação de uma alíquota, sobre aquela calculada.

Diferentemente do que ocorre com as alíquotas a incidirem em face do ICMS

Operações Mercantis nas operações internas e interestaduais38

, o legislador constituinte não

impôs limitações na definição da alíquota incidente para o ICMS Importação.

5.1.2.1.2.5 Critério pessoal

No que tange ao ICMS Importação, a Constituição Federal outorgou os elementos para

o legislador infraconstitucional definir o sujeito ativo e passivo da obrigação tributária.

Quanto à sujeição ativa, previu o art. 155, § 2º, IX, “a”, que o imposto caberá ao

Estado onde estiver situado o domicílio ou estabelecimento do destinatário da mercadoria ou

bem.

Ora, se o critério material do ICMS Importação é a realização de operações relativas à

circulação de bens, de tal forma que os sujeitos dessa operação são, de um lado, um

fornecedor estrangeiro e, de outro, um adquirente, o “destinatário do bem” é justamente

vigorava quando da incidência do imposto. Do contrário cobra-se um adicional de ICMS, que nada tem a ver

com a expressão econômica da operação mercantil ou da prestação de serviço realizada”. Assim, ao se exigir que

o ICMS incida sobre sua própria base de cálculo, estar-se-á tributando materialidade distinta, na medida em que

“tal adicional tem por hipótese de incidência o fato de alguém pagar ICMS. Sua base de cálculo é um percentual

do ICMS pago”, tratando-se “de um caso de ‘bis in idem’, que nosso ordenamento constitucional absolutamente

não abona”.

Por fim, após descrever como manobra a alteração perpetrada pelo legislador constitucional, informa (2012, p.

370) que “não é dado ao poder constituinte derivado alterar a regra-matriz constitucional de tributo algum,

modificando-lhe arbitrariamente – como no caso em estudo – a base de cálculo possível” do imposto.

Fato é que a questão, ao menos por ora, encontra-se pacificada no âmbito do Supremo Tribunal Federal. Nesse

sentido, o Plenário daquela Corte, ao apreciar o RE 212.209, tendo por relator o Ministro Nelson Jobim, fixou

entendimento, em acórdão publicado em 14.2.2003, no sentido de ser constitucional a base de cálculo do ICMS

correspondente ao valor da operação ou prestação de serviço somado ao montante do próprio imposto, decisão

que vem sendo reiterada até os dias atuais. 38

Nesse sentido, são os termos do art. 155, § 2º, IV a VIII, da CF: “(...) § 2º. O imposto previsto no inciso II

atenderá ao seguinte: (...) IV - resolução do Senado Federal, de iniciativa do Presidente da República ou de um

terço dos Senadores, aprovada pela maioria absoluta de seus membros, estabelecerá as alíquotas aplicáveis às

operações e prestações, interestaduais e de exportação; V - é facultado ao Senado Federal: a) estabelecer

alíquotas mínimas nas operações internas, mediante resolução de iniciativa de um terço e aprovada pela maioria

absoluta de seus membros; b) fixar alíquotas máximas nas mesmas operações para resolver conflito específico

que envolva interesse de Estados, mediante resolução de iniciativa da maioria absoluta e aprovada por dois

terços de seus membros; VI - salvo deliberação em contrário dos Estados e do Distrito Federal, nos termos do

disposto no inciso XII, ‘g’, as alíquotas internas, nas operações relativas à circulação de mercadorias e nas

prestações de serviços, não poderão ser inferiores às previstas para as operações interestaduais; VII - em relação

às operações e prestações que destinem bens e serviços a consumidor final localizado em outro Estado, adotar-

se-á: a) a alíquota interestadual, quando o destinatário for contribuinte do imposto; b) a alíquota interna, quando

o destinatário não for contribuinte dele; VIII - na hipótese da alínea ‘a’ do inciso anterior, caberá ao Estado da

localização do destinatário o imposto correspondente à diferença entre a alíquota interna e a interestadual”.

(BRASIL. Constituição Federal de 1988. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm>. Acesso em: 9 jan. 2015).

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62

aquele que, tendo realizado dita operação, é juridicamente o destinatário do bem objeto da

operação de circulação.39

Assim, a definição do sujeito ativo constitucionalmente previsto para o ICMS

Importação está atrelada ao critério material do imposto, cabendo este ao Estado onde estiver

localizado o destinatário do bem, qual seja, a pessoa física ou jurídica que realizar operações

relativas à circulação de bens importados do exterior.

Nessa mesma esteira, resta definido, também, o sujeito passivo do imposto, qual seja,

aquele que, tendo realizado a operação relativa à circulação de bem importado do exterior, é o

seu destinatário.

Ressalte-se, por fim, que a determinação de que o imposto cabe ao Estado onde estiver

situado o “domicílio” ou “estabelecimento” do destinatário coaduna-se com o fato de o

critério material do ICMS Importação ter como sujeito passivo pessoa física ou jurídica.

Assim, a definição do domicílio como local tributário diz respeito à pessoa física que, não

desenvolvendo atividade mercantil, não possui estabelecimento, local típico por intermédio do

qual são realizadas operações pelas pessoas jurídicas.

Enfrentadas as regras matrizes de incidência tributária do ICMS Operações Mercantis

e ICMS Importação, os itens abaixo passam a ser analisados de maneira menos aprofundada

já que, em última análise, e afora as peculiaridades que serão apresentadas, adequam-se a uma

ou outra modalidade.

5.1.2.1.3 Imposto sobre operações relativas à circulação de mercadorias – energia elétrica

5.1.2.1.3.1 Critério material

Quanto ao critério material constitucional do ICMS Energia Elétrica, CARRAZZA, R.

(2012, p. 310) expõe que,

nos termos da Constituição Federal, este imposto tem por hipótese de incidência

possível a circunstância de uma pessoa produzir, importar, fazer circular, distribuir

ou consumir energia elétrica.

39

Cumpre esclarecer que o inc. IX, “a”, do § 2º do art. 155 da CF, versa sobre o sujeito ativo não só do ICMS

Importação, mas também dos impostos sobre serviços prestados no exterior Assim, tal como ocorre com o ICMS

Importação, o ICMS incidente sobre serviços deverá ser instituído e recolhido para o Estado onde estiver situado

o domicílio ou estabelecimento do destinatário do serviço. Destinatário, pois, indica a pessoa física ou jurídica

que estabelece uma relação com fornecedor ou prestador que encontra-se no exterior.

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63

Portanto, o critério material possível do ICMS Energia Elétrica equivale à realização

de operações com energia elétrica, inclusive sua importação.

5.1.2.1.3.2 Critério temporal

O critério temporal constitucional possível do ICMS Energia Elétrica deve, no

mínimo, equivaler ao momento de ocorrência da hipótese de incidência possível do imposto, a

saber, a produção, importação, circulação, distribuição ou o consumo da energia elétrica.

5.1.2.1.3.3 Critério espacial

Quanto ao critério espacial, possível em face de operações com energia elétrica,

equivalerá ao Estado no qual estiver o importador, ou no qual houver o seu consumo, seja em

operações internas, sejam em interestaduais.

5.1.2.1.3.4 Critério quantitativo

Com relação à base de cálculo possível do ICMS Energia Elétrica, CARRAZZA, R.

(2012, p. 322) explica que

é o valor da operação da qual decorra a entrega desta mercadoria (a energia elétrica)

ao consumidor. Noutro giro, é o preço da energia elétrica efetivamente consumida,

vale dizer, o valor da operação da qual decorra a entrega desta mercadoria ao

consumidor final. Isto corresponde, na dicção do art. 34, § 9º, do ADCT, ao ‘preço

então praticado na operação final’.

Portanto, trata-se do valor da operação, como em relação aos impostos acima tratados.

5.1.2.1.3.5 Critério pessoal

De acordo com o § 9º, do art. 34, do ADCT, as empresas distribuidoras de energia

elétrica são responsáveis pelo recolhimento do tributo, na qualidade de substitutas tributárias.

O papel das distribuidoras de energia foi tratado por CARRAZZA, R. (2012, p. 312):

Logo, o ICMS-Energia Elétrica levará em conta todas as fases anteriores que

tornaram possível o consumo da energia elétrica. Estas fases anteriores, entretanto,

não são dotadas de autonomia apta a ensejar incidências isoladas, mas apenas uma,

tendo por único sujeito passivo o consumidor final.

A distribuidora, conquanto importante neste contexto, não é - e nem pode vir a ser -

contribuinte do imposto, justamente porque, a rigor, não pratica qualquer operação

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64

mercantil, mas apenas a viabiliza, nos termos acima expostos. Obviamente, a

distribuidora de energia elétrica é passível de tributação por via de ICMS quando

consome, para uso próprio, esta mercadoria. Não, porém, quando se limita a

interligar a fonte produtora ao consumidor final. Este é o que é o sujeito passivo da

obrigação tributária, na condição de contribuinte de direito e, ao mesmo tempo, de

contribuinte de fato.

Esta ideia foi abonada pelo próprio constituinte, quando, no já mencionado art. 34, §

9º, do ADCT, estatui que as empresas distribuidoras "serão as responsáveis" pelo

pagamento do ICMS, "desde a produção ou importação até a última operação,

calculado o imposto sobre o preço então praticado na operação final" - no mesmo

sentido a Lei Complementar 87/1996, em seu art. 9º, § 1º, II. De que ICMS? Do

único devido, pela operação praticada: a que levou - por intermédio da distribuidora

- a energia elétrica, da fonte produtora ao consumidor final. (destaques do original)

Por conseguinte, o sujeito ativo é o Estado onde está localizado o consumidor final.

5.1.2.1.4 Imposto sobre operações relativas à circulação de mercadorias – derivados de

petróleo e combustíveis

5.1.2.1.4.1 Critério material

Quanto ao critério material possível do aqui denominado ICMS Combustíveis,

CARRAZZA, R. (2012, p. 340) elucida:

Nos termos da Constituição Federal, este imposto tem por hipótese de incidência

possível a circunstância de uma pessoa produzir, importar, fazer circular, distribuir

ou consumir lubrificantes ou combustíveis líquidos e gasosos. O legislador ordinário

(estadual ou distrital), ao criar, in abstracto, este imposto, poderá colocar em sua

hipótese de incidência, todos, alguns ou um desses fatos.

Observamos que também os lubrificantes e combustíveis líquidos e gasosos foram

considerados, pela própria Constituição, pelo menos para fins de incidência do

ICMS, mercadorias (bens móveis in comercium).

Portanto, lei instituidora do tributo poderá prever como sua hipótese de incidência a

produção, importação, circulação, distribuição ou o seu consumo.

5.1.2.1.4.2 Critério temporal

Tal como já apontado em face do ICMS energia elétrica, o critério temporal

constitucional possível do ICMS Combustíveis deve, no mínimo, equivaler ao momento de

ocorrência da hipótese de incidência possível do imposto, a saber, a produção, importação,

circulação, distribuição ou o seu consumo.

5.1.2.1.4.3 Critério espacial

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65

Quanto às circunstâncias de lugar relevantes ao nascimento da obrigação tributária, no

presente caso, estão ligadas à definição do sujeito passivo da obrigação tributária.

Assim, no caso de incidência não monofásica do imposto, o critério espacial está

atrelado ao Estado no qual ocorrer o consumo dos produtos.

Porém, no caso de incidência monofásica do imposto, o critério espacial equivalerá,

nos termos do art. 155, § 4º, da Constituição Federal: (a) nas operações com os lubrificantes e

combustíveis derivados de petróleo, ao Estado onde ocorrer o consumo; (b) nas operações

interestaduais, entre contribuintes, com gás natural e seus derivados, e lubrificantes e

combustíveis, ao Estado em que for realizado o fornecimento do produto; e (c) nas operações

interestaduais com gás natural e seus derivados, e lubrificantes e combustíveis, destinadas a

não contribuinte, ao Estado a partir do qual houver a distribuição do produto.

5.1.2.1.4.4 Critério quantitativo

Quanto ao critério quantitativo, trata-se do valor da operação.

5.1.2.1.3.5 Critério pessoal

O sujeito passivo da obrigação tributária será sempre o importador, o produtor ou o

distribuidor dos derivados de petróleo e combustíveis.

Quanto ao sujeito ativo, será o Estado no qual dar-se-á o consumo, nos casos de

incidência não monofásica do tributo.

Havendo previsão de incidência monofásica, nos termos do art. 155, § 4º, da

Constituição Federal, ou sujeito ativo será: (a) nas operações com os lubrificantes e

combustíveis derivados de petróleo, o Estado onde ocorrer o consumo; (b) nas operações

interestaduais, entre contribuintes, com gás natural e seus derivados, e lubrificantes e

combustíveis, o Estado em que for realizado o fornecimento do produto; e (c) nas operações

interestaduais com gás natural e seus derivados, e lubrificantes e combustíveis, destinadas a

não contribuinte, o Estado a partir do qual houver a distribuição do produto.

5.1.2.1.5 Imposto sobre operações relativas à circulação de mercadorias – minerais

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5.1.2.1.5.1 Critério material

O critério material do ICMS Minerais é a realização de operação de circulação de

minerais, ainda que advindos do exterior.

5.1.2.1.5.2 Critério temporal

O critério temporal equivale ao momento em que a operação for realizada.

5.1.2.1.5.3 Critério espacial

Quanto ao critério espacial, trata-se do Estado no qual está estabelecido aquele que

realiza a operação de circulação da mercadoria ou o importador dos minerais.

5.1.2.1.5.4 Critério quantitativo

Tal como se dá com relação a todos as demais hipóteses aqui tratadas, é o valor da

operação.

5.1.2.1.5.5 Critério pessoal

Quanto ao sujeito passivo, trata-se daquele que efetuar a operação relativa à circulação

de mercadoria ou a importação do mineral; sendo o sujeito ativo o Estado no qual está

estabelecido o sujeito passivo.

5.1.2.2 Tributos que têm como hipótese de incidência a prestação de serviços, ainda que as

operações iniciem-se no exterior

5.1.2.2.1 Imposto sobre a prestação de serviços de transporte intermunicipal e interestadual

5.1.2.2.1.1 Critério Material

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67

CARRAZZA, R. (2012, p. 209) trata da hipótese de incidência possível do ICMS

Transportes:

Diante do exposto e considerado temos que, nos termos na Constituição, a hipótese

de incidência possível do ICMS em questão é a circunstância de uma pessoa prestar,

a terceiro, um serviço de transporte intermunicipal ou interestadual, com conteúdo

econômico, sob regime de direito privado (em caráter negocial, pois), mas não

trabalhista.

Esta prestação de serviço só pode ser tributada, por meio de ICMS e pelo Estado em

cujo território o transporte principiou (ainda que sua prestação venha a se concluir

no território de outro Estado). A mesma ordem de raciocínio vale se o serviço teve

início do Distrito Federal: ele - e mais ninguém - poderá tributá-lo por via de ICMS.

(...)

O serviço de transporte intermunicipal, como, de resto, todo e qualquer serviço,

pressupõe uma ação humana apta a resultar numa utilidade para outra pessoa.

De acordo com a regra constitucional, o ICMS Transportes incide também quando o

serviço sé prestado no exterior, desde que o sujeito passivo se encontre no Brasil.

MELO e LIPPO (2008, p. 40) também trazem sua colaboração sobre o aspecto

material de incidência do ICMS Transportes, informando-se que

define-se pela atividade de prestar serviço de transporte interestadual ou

intermunicipal. O núcleo da hipótese consistente da expressão ‘prestar serviços'', que

se refere a um instituto de Direito Privado’.

E, continuam referidos autores (p. 41):

Assim, podemos concluir que a locução “prestar serviço” inserta na hipótese de

incidência do ICMS, na parte em que trata do transporte interestadual e

intermunicipal, encerra uma contratação que tem de um lado, como tomador do

serviço qualquer pessoa física ou jurídica, de direito público, ou privado, e de outro

lado, o transportador, que também poderá ser qualquer pessoa física ou jurídica de

direito privado ou público (neste segundo caso exercendo atividade típica de direito

privado). O ICMS incide sobre os serviços prestados em regime de direito privado

por pessoa física, por pessoa jurídica de direito público, por sociedade de economia

mista ou por empresa pública, diferentes, portanto, dos ditos serviços públicos, os

quais se submetem a regime jurídico diverso. Essa contratação, por sua vez, haverá

de constituir-se num negócio jurídico firmado entre o tomador e o locador.

Portanto, o critério material do ICMS Transportes é a prestação de um serviço de

transporte intermunicipal ou interestadual, ou a importação do referido serviço.

5.1.2.2.1.2 Critério espacial

Quanto ao critério espacial, trata-se do Estado no qual está estabelecido o prestador o

importador do serviço.

5.1.2.2.1.3 Critério temporal

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CARRAZZA, R. (2012, p. 211) elucida, quanto ao critério temporal, que

o fato imponível do tributo ocorre no momento em que é executado o serviço de

transporte interestadual ou intermunicipal ou, nas condições acima, internacional.

Já MELO e LIPPO (2008, p. 52) delimitam tal critério no momento em que se encerra

a prestação do serviço:

As hipóteses de prestação de serviços de transportes interestadual e intermunicipal e

de comunicação não discrepam das considerações acima destacadas. Tal como nas

operações de circulação de mercadorias, no caso desses serviços, o momento da

ocorrência da hipótese de incidência de verifica quando da efetiva conclusão dos

mesmos pelo seu prestador. Concluída a entrega da carga em outro Município ou em

outro Estado da Federação, com a recepção pelo seu destinatário; colocada a pessoa

em outra localidade fora do Estado ou do Município, por qualquer via; realizada

com sucesso a ligação telefônica; acionado o sistema de fornecimento de imagens

televisivas por cabo, invariavelmente, ter-se-á a ocorrência concreta do fato jurídico

típico, a impor ao contribuinte a obrigação tributária.

Na medida em que a prestação do serviço só se completa quando há a entrega do bem

ou da pessoa no destino contratado, o critério temporal deve equivaler ao momento no qual há

o encerramento da prestação.

5.1.2.2.1.4 Critério quantitativo

Quanto ao critério quantitativo, trata-se, por óbvio, do valor da operação.

5.1.2.2.1.5 Critério pessoal

Com relação ao sujeito passivo, é o prestador do serviço ou o tomador do serviço

importado.

5.1.2.2.2 Imposto sobre a prestação de serviços de comunicação

5.1.2.2.2.1 Critério Material

CARRAZZA, R. (2007, p. 17) é enfático quanto ao critério material do ICMS

Comunicação, ao afirmar:

ressaltamos que as referidas pessoas políticas estão constitucionalmente

credenciadas a tributar, não a comunicação, mas a prestação onerosa do serviço da

comunicação.

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69

Portanto, o objeto da tributação do ICMS Comunicação é a efetiva prestação do

serviço de comunicação.

CARRAZZA, R. (2012, p. 225) manteve-se contundente:

Reiteramos que este ICMS não alcança a comunicação propriamente dita, mas a

prestação (onerosa) de serviços de comunicação. Deveras, a comunicação só ganha

relevância jurídica, para fins de ICMS, quando decorre de um contrato oneroso de

prestação de serviços.

Foi a própria Constituição Federal que, ao outorgar aos Estados-membros a

competência para instituir o tributo em exame, determinou que ele apenas incidisse

sobre as prestações onerosas de serviços de comunicação.

Já PAULSEN e MELO (2008, p. 218) assim manifestaram-se sobre a questão:

O imposto incide sobre prestações onerosas de serviços de comunicação, por

qualquer meio, inclusive a geração, a emissão, a recepção, a transmissão, a

retransmissão, a repetição e a ampliação de comunicação de qualquer natureza.

Compreende um negócio jurídico pertinente a uma obrigação “de fazer”, de

conformidade com os postulados de direito privado.

O conceito de “comunicação” representa o aspecto fundamental para se precisar a

essência da materialidade (pertinente e integrada pela prestação de serviços). O fato

gerador não ocorre pelo simples ato que torna possível a prestação de serviços de

comunicação, sem que os sujeitos desta relação negocial (prestador e tomador -

devidamente determinados) tenham uma efetiva participação.

Na comunicação torna-se necessária a participação de elementos específicos

(emissor, mensagem, canal e receptor), podendo ocorrer (ou não) a compreensão

pelo destinatário.

Portanto, é a prestação do serviço de comunicação que é o critério material do ICMS

Comunicação.

5.1.2.2.2.2 Critério temporal

Quanto ao critério temporal do ICMS Comunicação, trata-se do momento em que

ocorre a efetiva prestação do serviço.

CARRAZZA, R. (2007, p. 28) explica:

O nascimento do tributo ocorre, não no momento em que é oferecido o serviço de

comunicação, nem, tampouco, quando disponibilizados ao tomador os meios

mecânicos, eletrônicos necessários à comunicação, mas, sim, quando praticados os

atos de execução, ou seja, quando se dá a efetiva prestação do serviço.

A propósito, é o caso de remarcarmos que só se podem tributar, por meio de ICMS,

as prestações de serviços de comunicação, e não as relações jurídicas (contratos) que

a elas subjazem, isto é, que se instauram entre prestadores e terceiros ou entre

prestadores e tomadores. (grifos do original)

5.1.2.2.2.3 Critério espacial

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70

Quanto ao critério espacial, equivale ao Estado no qual está localizado o prestador do

serviço ou o adquirente do serviço prestado advindo do exterior.

5.1.2.2.2.4 Critério quantitativo

Já o critério quantitativo do ICMS Comunicação equivale ao valor da operação, o

preço do serviço.

5.1.2.2.2.5 Critério pessoal

O sujeito passivo do imposto é aquele que efetivamente presta ou importo o serviço de

ICMS Comunicação.

Com relação ao sujeito ativo, poderá ser tanto o Estado no qual está estabelecido o

prestador do serviço de comunicação ou o adquirente do serviço contratado do exterior.

Analisadas, ainda que superficialmente, as regras matrizes de incidência do ICMS

atinentes a operações relativas à circulação de mercadorias e sobre a prestação de serviços,

passa-se ao estudo do papel da Lei Complementar no sistema tributário nacional e, mais

especificamente, em face do ICMS.

5.2 O ICMS e a Lei Complementar

5.2.1 O papel da Lei Complementar no Sistema Tributário Nacional

A possibilidade de instituição de leis complementares no sistema jurídico nacional está

prevista no art. 59 da Constituição Federal:40

Art. 59. O processo legislativo compreende a elaboração de:

I - emendas à Constituição;

II - leis complementares;

III - leis ordinárias;

IV - leis delegadas;

V - medidas provisórias;

VI - decretos legislativos;

VII - resoluções.

Parágrafo único. Lei complementar disporá sobre a elaboração, redação, alteração e

consolidação das leis. (grifo nosso)

40

BRASIL. Constituição Federal de 1988. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm>. Acesso em: 9 jan. 2015.

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71

Afora a previsão contida no parágrafo único do referido art. 59 da Constituição

Federal, não há uma definição geral sobre qual o papel dessa espécie legislativa no

ordenamento jurídico.

Sobre o papel das leis complementares no sistema jurídico nacional são as seguintes

considerações de MELO (2012a, p. 206), fazendo menção ao escólio de Geraldo Ataliba:

As leis complementares da Constituição (art. 59, II), que preveem a necessidade de

quórum qualificado (maioria absoluta – art. 69), têm essencialmente, a função e a

finalidade de integrar a eficácia das normas constitucionais referentes à estrutura do

Estado, à formação dos Poderes e suas relações, revestindo a natureza formal de lei

nacional, produto do Estado total (global), que inspira, fundamenta e determina a

edição de normas federais, estaduais e municipais (ordens parciais do Estado

brasileiro).

Em razão desta postura, “a lei nacional, categoria jurídico-positiva diversa de lei

federal, é o produto legislativo do Estado nacional global. As dificuldades para o

estabelecimento da distinção entre leis federais e nacionais decorrem da origem

comum, porque ambas são editadas pela União.”

Diferentemente, há que se procurar ao longo da Constituição Federal as determinações

quanto à necessidade de sua utilização.

Desde já, pode-se constatar que as leis complementares prestaram-se a tratar sobre

matérias específicas, desde que assim exija a Constituição Federal, sendo certo que a sua

aprovação, nos termos do art. 69 da Carta Constitucional, tem que se dar por maioria absoluta

de votos.

Algumas das hipóteses em que a Constituição Federal exige a edição de referida

espécie de lei, está prevista no seu art. 14641

, no âmbito do Sistema Tributário Nacional. Dita

referido artigo:

Art. 146. Cabe à lei complementar:

I - dispor sobre conflitos de competência, em matéria tributária, entre a União, os

Estados, o Distrito Federal e os Municípios;

II - regular as limitações constitucionais ao poder de tributar;

III - estabelecer normas gerais em matéria de legislação tributária, especialmente

sobre:

a) definição de tributos e de suas espécies, bem como, em relação aos impostos

discriminados nesta Constituição, a dos respectivos fatos geradores, bases de cálculo

e contribuintes;

b) obrigação, lançamento, crédito, prescrição e decadência tributários;

c) adequado tratamento tributário ao ato cooperativo praticado pelas sociedades

cooperativas.

d) definição de tratamento diferenciado e favorecido para as microempresas e para

as empresas de pequeno porte, inclusive regimes especiais ou simplificados no caso

do imposto previsto no art. 155, II, das contribuições previstas no art. 195, I e §§ 12

e 13, e da contribuição a que se refere o art. 239.

41

BRASIL. Constituição Federal de 1988. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm>. Acesso em: 9 jan.. 2015.

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72

Parágrafo único. A lei complementar de que trata o inciso III, d, também poderá

instituir um regime único de arrecadação dos impostos e contribuições da União, dos

Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, observado que:

I - será opcional para o contribuinte;

II - poderão ser estabelecidas condições de enquadramento diferenciadas por Estado;

III - o recolhimento será unificado e centralizado e a distribuição da parcela de

recursos pertencentes aos respectivos entes federados será imediata, vedada qualquer

retenção ou condicionamento;

IV - a arrecadação, a fiscalização e a cobrança poderão ser compartilhadas pelos

entes federados, adotado cadastro nacional único de contribuintes. (grifo nosso)

Como se vê, os grandes papéis atribuídos à lei complementar em matéria tributária

são: (a) dispor sobre conflitos de competência, em matéria tributária, entre a União, os

Estados, o Distrito Federal e os Municípios; (b) regular as limitações constitucionais ao poder

de tributar; e (c) estabelecer normas gerais em matéria de legislação tributária, especialmente

sobre (c1) definição de tributos e de suas espécies, bem como, em relação aos impostos

discriminados nesta Constituição, a dos respectivos fatos geradores, bases de cálculo e

contribuintes.

Quanto às atribuições descritas nos itens “a” e “b” acima, seu âmbito de atuação é

claro e unânime.

Assim, por ser o Brasil um país com extensões continentais, o risco de haver

sobreposição de âmbitos de tributação entre Estados e Municípios é imenso, ensejando, sem

sobra de dúvidas, a necessidade de instituição de lei complementar visando ao afastamento de

conflito de competências, como se dá, tipicamente, com o ICMS e com o Imposto sobre

Serviços de qualquer natureza– ISS.

Se cada um dos Estados ou dos Municípios decidisse criar regras de tributação a partir

da Constituição Federal, que não determina de forma expressa os sujeitos passivos dos

tributos, com certeza haveria, por exemplo, a exigência dos impostos por mais de um ente

tributante em face de um mesmo fato gerador.

Nesse sentido, são as considerações de MORANDO (2010, p. 23):

(...) muito embora o sistema constitucional tributário seja de uma rigidez absoluta,

não é suficiente para a priori dar um critério que evite os conflitos de competência

tributária entre as pessoas jurídicas de direito público interno – União, Estados,

Municípios e o Distrito Federal, cada uma delas com suas respectivas autonomias

delimitadas constitucionalmente. Essa é a razão da necessidade da existência de

´Normas Gerais de Direito Tributário’. Essas normas gerais deverão, sempre,

respeitar o pacto federativo e a autonomia das pessoas jurídicas de direito público,

em matéria tributária.

Também não há dúvidas sobre a real necessidade de lei complementar para regular as

limitações constitucionais ao poder de tributar, na medida em visa justamente a imprimir

freios à União, aos Estados e aos Municípios na instituição e cobrança de tributos.

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73

Porém, a determinação contida no inc. III, “a”, do art. 146 da Constituição Federal,

trouxe, ao longo do tempo, acalorada discussão a respeito do papel da lei complementar no

sistema tributário nacional, havendo, conforme esclarecido por HORVATH (1997, p. 30),

duas correntes doutrinárias existentes. Veja-se:

a) Corrente “tricotômica” – vislumbra na lei complementar três funções, que

seriam aquelas expressas no art. 146 da CF [...].

b) Corrente “dicotômica” – inspirando-se nos princípios federativos e da

autonomia municipal, propugna para a lei complementar uma interpretação

sistêmica, que levaria a afirmar que esse instrumento legislativo somente serviria

para estabelecer normas gerais, as quais somente poderiam versar sobre conflitos de

competência e regulação das limitações constitucionais ao poder de tributar.

Assim, de acordo com a corrente tricotômica, e seguindo-se a literalidade da

Constituição Federal, a lei complementar tem três funções: (a) dispor sobre conflitos de

competência, (b) regular as limitações constitucionais ao poder de tributar e (c) estabelecer

normas gerais em matéria tributária, o que inclui a definição dos respectivos fatos geradores,

bases de cálculo e contribuintes.

Já a corrente dicotômica, defendida por aquele autor (HORVATH, 1997, p. 30),

propugna, em atenção ao princípio federativo, que a lei complementar serve apenas para

dispor sobre conflitos de competência e regular as limitações constitucionais ao poder de

tributar, já que a definição dos tributos e de suas espécies não cabe ao legislador e, elementos

tais como fato gerador, base de cálculo e contribuintes já se encontram delimitados pela

Constituição Federal, não havendo espaço para o legislador complementar versar sobre estas

matérias.

Grande representante da corrente dicotômica foi ATALIBA (1989, p. 32) para quem:

a função da lei complementar, aí – como na maioria dos casos – limita-se a

explicitar aquilo que já está implícito na Constituição. Revelar interpretativamente o

conteúdo do significado técnico dos conceitos. Toda e qualquer variação do

legislador complementar, nessa matéria, implicará inconstitucionalidade.

Em verdade, quer parecer estar-se diante de uma falsa celeuma, na medida em que, tal

como explicado por CARRAZZA, R. (2010, p. 59), tem função meramente declaratória,

devendo materializar, apenas, o “propósito de explicitação” dos ditames

constitucionais tributários. Se for além disso será inconstitucional e os legisladores

das pessoas políticas, bem como os ‘‘operadores do Direito” deverão simplesmente

desconsiderar-lhe os “ comandos” (já que desbordantes dos lindes constitucionais).

Até porque, conforme apregoado por BORGES (1975, p. 55):

a lei complementar tem por função – como o nome indica – complementar o sistema

federal de governo, não a de emendar a Constitucional. A sua edição decorre do

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exercício da atividade legislativa plenamente vinculada aos rígidos critérios

constitucionais de repartição das competências legislativas.

No mesmo sentido, são as palavras de CARRAZZA, R. (2010, p. 57):

A lei complementar a que alude o inc. I, do art. 146, da Constituição Federal, tem o

papel de orientar a produção legislativa das pessoas políticas em matéria tributária,

de modo a evitar conflitos de competência entre elas. Com isso, prestigia os

princípios federativos, da autonomia municipal e da autonomia do Distrito Federal,

de fora a parte contribuir para que venham reforçados os direitos e garantias dos

contribuintes.

É certo que a esta lei complementar não é dado redesenhar as competências

tributárias outorgadas às pessoas político-constitucionais. Tem, todavia, a

importante função de remarcar as linhas, por vezes tênues, que separam os campos

tributários da União, de cada um dos Estados-membros, de cada um dos Municípios

e do Distrito Federal.

Nessa mesma toada, caminha AMARO (2014, p. 246), ao elucidar que:

a Constituição desenha o perfil dos tributos (no que respeita à identificação de cada

tipo tributário, aos limites do poder de tributar etc.) e a lei complementar adensa os

traços gerais dos tributos, preparando o esboço que, finalmente, será utilizado pela

lei ordinária, à qual compete instituir o tributo, na definição exaustiva de todos os

traços que permitam identificá-los na sua exata dimensão, ainda abstrata,

obviamente.

De fato, de acordo com as premissas até aqui adotadas, toda a ordem jurídica nacional

emana da Constituição Federal, sendo que qualquer norma – princípio ou regra – só terá

validade no sistema jurídico nacional se guardar consonância com a Carta Suprema.

É fato, pois, que não há como aceitar que lei complementar, sob o manto do art. 146

da Constituição Federal, venha a prever como fato gerador, base de cálculo ou contribuintes

elementos que distorçam o arquétipo previsto constitucionalmente.

Porém, não parece destoante a ideia de que haja um aprimoramento, uma

complementação do quanto contido na Constituição Federal por lei complementar.

Dessa forma, a previsão contida na alínea “a” do inciso III, do art. 146 da Constituição

Federal seria de todo dispensável dado o quanto acima defendido.

Portanto, a previsão de tal papel da lei complementar na Carta Constitucional pode ser

entendida como uma redundância ou um excesso de cautela do legislador constituinte42

na

42

É interessante fazer menção a evento relatado por participante do Curso de Direito Tributário, realizado em

1.3.1989, ou seja, poucos meses após a promulgação da Carta constitucional de 1988 e que contou com

renomados estudiosos para debater as inovações trazidas pela Assembleia Constituinte. Nesse contexto, Eugênio

Doin Vieira, coordenador de uma das mesas de debate, relata em tom de brincadeira – mas traduzindo a

realidade que reinava à época dos fatos – as circunstâncias que podem ter induzido o legislador constituinte a

atribuir papel amplo – para não dizer inútil – as leis complementares e a exigir a sua presença em inúmeros

momentos da formatação do sistema tributário nacional: “Lembram-se os colegas que, em meados do ano

passado, em plena atividade da Assembleia Nacional Constituinte, repentinamente o País inteiro observou que os

trabalhos na elaboração da Nova Carta entraram em ponto morto, não progrediram; havia uma série de questões

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75

condução dos atos dos legisladores infraconstitucionais, sem deixar de lado a convicção de

que o limite de atuação da norma complementar será invariavelmente a competência tributária

pré-estabelecida constitucionalmente.

Não cabe, pois, à lei complementar inovar o sistema jurídico, alterando as regras

matrizes de incidência possíveis impostas constitucionalmente, sendo necessária e exigida sua

instituição para fins de dispor sobre conflitos de competência em matéria tributária e regular

as limitações constitucionais ao poder de tributar.

Partindo-se para a questão da competência para a edição de lei complementar, há que

se destacar que, a despeito de ser o legislativo federal o responsável pela elaboração de leis

complementares, não se estará, necessariamente, diante de lei federal quando de sua edição.

Conforme clássica lição de BORGES (1975, p. 68):

a lei federal, no seu âmbito pessoal de validade, limita-se a vincular a União, sem

alcançar as outras pessoas constitucionais. A lei federal distingue-se da lei nacional

porque esta, embora editada pelo Congresso Nacional, tem como destinatários não

apenas a União, mas os Estados e Municípios; ou só os Estados; ou só os

Municípios, etc. Se tiver como destinatário apenas União, de lei nacional não se

tratará.43

E, continua o autor:

Finalmente, no tocante ao âmbito material de validade, a projeção da matéria

regulada até aos Estados e ou Municípios dá a conotação básica da lei nacional. A

lei nacional colhe em conjunto ou separadamente essas pessoas constitucionais. A

matéria regulada em lei nacional é aplicável pela União, Estados-membros, Distrito

Federal e Municípios, ao contrário do que sucede com as leis simplesmente federais

que se limitam, consoante exposto, a vincular os jurisdicionado e administrados da

União.

Antes de se encerrar a análise genérica do papel da lei complementar no âmbito do

sistema tributário nacional, importante enfrentar a hipótese de, tendo a Constituição Federal

cruciais, de dilemas, de problemas e encruzilhadas que dificultavam o encaminhamento da redação final do

nosso Documento Maior. Informou-me o Prof. Geraldo Ataliba que depois de consultarem inúmeras sumidades

sobre como se superar o problema convocaram um mágico chinês. O mágico abriu seu instrumental e tirou de lá

de dentro um aparelho, um instituto mágico que resolveu todos os problemas. Esse instrumento chamava-se Lei

Complementar. Então, em todos os lugares onde havia questões de difícil solução o legislador constituinte

transferiu o problema para si mesmo, como legislador ordinário, e incluiu de acordo, conforme, a ser regulado

pela Lei complementar etc. (...) Os nossos estatísticos dizem que há 128 remissões de Lei Complementar a nossa

Carta. No capítulo tributário, pessoalmente tivemos a oportunidade de elencar 15 referências dessas” (VIEIRA,

1989, p. 84) 43

De modo a esclarecer o raciocínio, são as palavras de CARVALHO O. (2007, p. 327): “À União, portanto, são

atribuídas as competências para edição legislativa de normas de ordem jurídica parcial (as leis federais), e as que

veiculam normas jurídicas do Estado brasileiro (as leis nacionais). Para as primeiras, a União, como ordem

jurídica parcial, jamais poderá criar as normas atinentes à matéria reservada aos Estados-membros, Distrito

Federal e Municípios, sob pena de ferir os princípios federativo e da autonomia dos entes federados e dos

Municípios, tão caros ao contribuinte. Já quanto às demais (leis federais), no interesse do Estado brasileiro,

criadas nos limites autorizados pela Constituição, espraiam seus comandos por todas as ordens jurídicas parciais,

visando à normatização de matérias de caráter geral, sem que isso fira os princípios federativo e da autonomia

dos entes federados; pelo contrário, elas têm como objetivo a preservação de tais enunciados.”

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atribuído à União a competência para a instituição de lei complementar nacional versando

sobre tributos de competência dos Estados e dos Municípios, o legislativo deixar de fazê-lo.

Apesar de a Constituição Federal ter atribuído aos Estados e ao Distrito Federal

competência para a instituição, por exemplo, do ICMS, do Imposto sobre Transmissão Causa

Mortis e Doação – ITCMD e do ISS, referidos entes políticos não são livres para instituir os

impostos tal como melhor lhes aprouver.

Ao contrário, estão adstritos aos termos de lei complementar que, por determinação

constitucional, deve tratar sobre os pontos explicitados constitucionalmente.

Porém, caso não houvesse sido editada referidas leis complementares (como não o foi

em face do ITCMD – Imposto sobre Transmissão Causa Mortis e Doação44

), os Estados e os

Municípios não estariam impedidos de exercer sua competência tributária.45

A própria Constituição Federal atribuiu a cada um dos entes federados competências

administrativas que, para sua consecução, dependem de receitas públicas. Vedar a instituição

de tributos seria, pois, negar o pacto federativo46

.

Tão sérias seriam as consequências da inércia dos Estados – e também dos Municípios

– em face da omissão da União Federal na edição de leis complementares nacionais, que a

própria Constituição Federal previu o remédio para tal anomalia.

Nesse sentido, o seu art. 24, que determina competir à União, aos Estados e ao Distrito

Federal legislar concorrentemente sobre uma série de matérias, entre elas o Direito Tributário,

financeiro e econômico, prevê em seus §§ 3º e 4º que, “inexistindo lei federal sobre normas

gerais, os Estados exercerão a competência legislativa plena, para atender a suas

44

O art. 155 da CF assim previu em relação ao ITCMD: “Art. 155. Compete aos Estados e ao Distrito Federal

instituir impostos sobre: I - transmissão causa mortis e doação, de quaisquer bens ou direitos; (...)§ 1.º O imposto

previsto no inciso I: (...) III - terá competência para sua instituição regulada por lei complementar: a) se o doador

tiver domicilio ou residência no exterior; b) se o de cujus possuía bens, era residente ou domiciliado ou teve o

seu inventário processado no exterior.” (BRASIL. Constituição Federal de 1988. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm>. Acesso em: 9 jan.. 2015).

A despeito de dita previsão, até hoje a lei complementar de que trata o art. 155, §1º, da CF, nunca foi editada.

Apesar disso, os Estados da Federação têm instituído o imposto versando sobre tal materialidade. 45

Cumpre destacar posicionamento em sentido contrário manifestado por CARVALHO, P. (2014, p. 223-225),

para quem, no caso do ICMS, não há que se falar em exercício da competência tributária pelos Estados e pelo

Distrito Federal sem a prévia existência de lei nacional, havendo um comando de uniformização imposto pela

própria Constituição Federal, de tal forma que “as regras-matrizes de incidência expedidas pelos Estados e pelo

Distrito Federal, terão que manter praticamente os mesmos conteúdos semânticos. (...) é assim que os autores

proclamam o princípio da uniformidade, da solidariedade nacional, da equiponderância ou da harmonia global da

incidência, para indicar a propriedade que o imposto tem de manter-se o mesmo, com idênticas proporções

semânticas, com uma e somente uma projeção significante para todo o território brasileiro”. 46

Nesse sentido, são os artigos do título III da Constituição Federal que outorgam aos entes federados

competência para legislar sobre matérias específicas, bem como para prestar serviços e administrar bens cuja

responsabilidade lhes foi atribuída. (BRASIL. Constituição Federal de 1988. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm>. Acesso em: 9 jan.. 2015).

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77

peculiaridades”, deixando claro que “a superveniência de lei federal sobre normas gerais

suspende a eficácia da lei estadual, no que lhe for contrário”47

.

O próprio legislador constituinte trouxe para o sistema constitucional tributário, pois,

hipótese em que, na ausência de edição de dita lei federal (em verdade, nacional)48

, é mantido

o direito de exercício da competência tributária pelos entes políticos, ao prever no art. 34, § 8º

do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias49

que:

se, no prazo de sessenta dias contados da promulgação da Constituição, não for

editada a lei complementar necessária à instituição do imposto de que trata o art.

155, I, ‘b’50

, os Estados e o Distrito Federal, mediante convênio celebrado nos

termos da Lei Complementar 24/75, fixarão normas para regular provisoriamente a

matéria.

Porém, repita-se, também as leis complementares estão sujeitas aos parâmetros

impostos pela Constituição Federal, devendo manter-se absolutamente adstritas às regras

matrizes de incidência tributária possíveis delimitadas pela Constituição Federal.

É sob as premissas aqui expostas que deve ser analisada a Lei Complementar 87/96.

5.2.2 O papel da lei complementar com relação ao ICMS

No que tange especificamente ao ICMS, toda sua estruturação consta, como já

afirmado, no art. 155 da Constituição Federal, cujo § 2º, XII determinou caber à lei

complementar tratar sobre os seguintes assuntos:

Art. 155. (...)

§ 2.º (...) XII - cabe à lei complementar:

a) definir seus contribuintes;

b) dispor sobre substituição tributária;

c) disciplinar o regime de compensação do imposto;

d) fixar, para efeito de sua cobrança e definição do estabelecimento responsável, o

local das operações relativas à circulação de mercadorias e das prestações de

serviços;

e) excluir da incidência do imposto, nas exportações para o exterior, serviços e

outros produtos além dos mencionados no inciso X, “a”;

f) prever casos de manutenção de crédito, relativamente à remessa para outro Estado

e exportação para o exterior, de serviços e de mercadorias;

47

BRASIL. Constituição Federal de 1988. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm>. Acesso em: 9 jan.. 2015. 48

Cumpre lembrar, conforme DERZI (2005, p. 41): “a competência da União para legislar concorrentemente

sobre Direito Tributário, disciplinada no art. 24 da Constituição, somente se materializa por meio da produção de

normas gerais, as quais não podem suprimir, estancar ou substituir o exercício da competência legislativa própria

dos Estados e Municípios”. 49

BRASIL. Ato das Disposições Transitórias. Constituição Federal de 1988. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm#adct>. Acesso em: 9 jan. 2014. 50

Atual art. 155, II, da CF, conforme alteração inserida pela Emenda Constitucional 3/93.

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78

g) regular a forma como, mediante deliberação dos Estados e do Distrito Federal,

isenções, incentivos e benefícios fiscais serão concedidos e revogados.

h) definir os combustíveis e lubrificantes sobre os quais o imposto incidirá uma

única vez, qualquer que seja a sua finalidade, hipótese em que não se aplicará o

disposto no inciso X, b; i) fixar a base de cálculo, de modo que o montante do imposto a integre, também na

importação do exterior de bem, mercadoria ou serviço.51

(grifo nosso)

Como se pode verificar, foi determinado pela Constituição Federal caber à lei

complementar, dentre outras matérias, “disciplinar o regime de compensação do imposto”.

O tratamento de tal matéria por lei complementar, em paralelo à previsão

constitucional que determina ser o ICMS um imposto não cumulativo, é pedra basilar para o

tema objeto da presente tese.

MENDONÇA (2005, p. 75) traduziu a importância desse pilar:

Assim, conforme prescrito pela Constituição Federal, a lei complementar

participará, necessariamente, do processo de concreção da norma da não

cumulatividade no ICMS.

Observa-se que, num primeiro momento, tivemos a norma constitucional

delimitando a competência dos entes tributantes ao exigir a instituição de um ICMS

não-cumulativo – pelo sistema compensatório. Agora, mais uma vez, a Constituição

vem delimitar o exercício da competência dos Estados e do Distrito Federal, quando

exige que a lei complementar discipline o regime de compensação do imposto.

E, aqui já se pode tirar uma grande conclusão: os Estados da Federação e o Distrito

Federal, ao instituir e exigir o ICMS, não só estão obrigados a respeitar a não cumulatividade

constitucionalmente prevista, como também a dar a ela efetividade, seguindo as regras

previstas em lei complementar atinentes ao regime de compensação do imposto.

Portanto, a partir deste momento, foca-se na não cumulatividade do ICMS, bem como

no tratamento dado por lei complementar para disciplinar o regime de compensação do

imposto.

51

BRASIL. Constituição Federal de 1988. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm>. Acesso em: 9 jan.. 2015.

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CAPÍTULO 6 – NÃO CUMULATIVIDADE NO ÂMBITO DO ICMS

O presente Capítulo abordará o previsto no inc. I do § 2º do art. 155 da Constituição

Federal, que determina:

Art. 155. (...) § 2.º O imposto previsto no inciso II [ICMS] atenderá ao seguinte: I - será não-cumulativo, compensando-se o que for devido em cada operação relativa

à circulação de mercadorias ou prestação de serviços com o montante cobrado nas

anteriores pelo mesmo ou outro Estado ou pelo Distrito Federal.52

6.1 ICMS, um imposto indireto

Antes de se adentrar ao tema da não cumulatividade propriamente dito, interessante

analisar o fato de, a amiúde, o ICMS, tal como o Imposto sobre Produtos Industrializados, ser

chamado de imposto indireto, expressão emprestada da ciência das finanças.

Isso se dá, basicamente, pelo fato de, em verdade, ser o consumidor final aquele a

arcar com a carga total de referidos impostos destacados na nota fiscal. Trata-se do chamado

“contribuinte de fato”.

Assim, a despeito de ao longo da cadeia produtiva os tributos indiretos serem

recolhidos pelo contribuinte de direito do imposto e pela pessoa jurídica que comercializa o

produto (industrializado, no caso do IPI), o valor total do imposto incidente na operação em

que o produto chega ao consumidor final é arcado por este.

BECHO (2011, p. 255), ao traçar a diferenciação entre os chamados tributos diretos e

indiretos esclarece:

Falar que um imposto é direto ou que um imposto é indireto tem como referência

sua repercussão econômica, ou seja, a possibilidade ou não de o custo econômico do

imposto ser repassado a outra pessoa que não o contribuinte. Os impostos diretos são

aqueles em que o contribuinte tem que absorver o impacto do tributo com seu

patrimônio, enquanto como impostos indiretos são classificáveis aqueles em que o

contribuinte transfere o custo do tributo para outra pessoa, por meio de mecanismos

vários, como por um contrato ou, o que é mais comum, pela inserção de seu valor

dentro do custo de uma mercadoria ou serviço.

Cria-se, então, a figura do contribuinte de direito e do contribuinte de fato. Aquele é

o contribuinte determinado na legislação tributária, que integra a relação

obrigacional tributária no seu polo passivo. Este é quem sofre o peso, o ônus

econômico, através da repercussão, da carga tributária, e não integra, em nenhum

momento, o esquema da obrigação tributária.

52

BRASIL. Constituição Federal de 1988. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso em: 10 jan. 2014.

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80

Apesar de não se tratar do objeto do presente trabalho, importante deixar consignado

que essa divisão entre tributos diretos e indiretos não é jurídica, mas econômica, tendo,

segundo entendemos, induzido a erro o legislador do Código Tributário Nacional a nele

incluir o art. 166, que prevê:

Art. 166. A restituição de tributos que comportem, por sua natureza, transferência do

respectivo encargo financeiro somente será feita a quem prove haver assumido o

referido encargo, ou, no caso de tê-lo transferido a terceiro, estar por este

expressamente autorizado a recebê-la.53

Referido artigo parece-nos inconstitucional, na medida em que traz para o processo,

administrativo ou judicial, terceiro estranho à relação jurídico tributária, que se dá entre o

fisco e o contribuinte “de direito” do imposto.

Se alguém é parte legítima para requerer a restituição de valor pago a maior, é a

pessoa jurídica que o recolheu, não havendo que envolver estranhos nessa relação de Direito.

O terceiro, contribuinte de fato, pode pleitear eventual valor recuperado pelo chamado

contribuinte de direito, porém, por intermédio de ação de natureza cível, que nenhuma relação

guarda com a tributária.

Como é sabido, o Supremo Tribunal Federal – STF54

e o Superior Tribunal de Justiça

– STJ55

não acatam a presente tese, porém, isso não afasta a convicção ora exposta.

Interessante foi a análise feita por MOREIRA (2012, p. 40) ao apresentar a solução

dada pelo STJ para a problemática dos impostos diretos e indiretos e do art. 166 do CTN, a

qual está baseada nas seguintes premissas:

(a) tributos indiretos são aqueles cujo ônus financeiro é suportado pelo

contribuinte de fato e não pelo contribuinte de direito;

(b) ao mencionar “tributos que comportem, por sua natureza, transferência do

respectivo encargo financeiro”, o art. 166 está se referindo apenas aos tributos

indiretos [que segundo o STJ, são apenas o ICMS e o IPI];

(c) a repercussão mencionada no art. 166 do CTN é a juridicamente perseguida

pelo legislador, ou seja: o ônus tributário somente é passível de translação nas

exações cuja lei de instituição assim pratique.

Destarte, pode-se afirmar que para o Superior Tribunal de Justiça a transferência do

encargo financeiro somente ocorre na tributação indireta, a qual tem como elementos

53

BRASIL. Código Tributário Nacional. Lei 5.172, de 25.10.1966. Disponível em: <

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l5172.htm>. Acesso em: 10 jan. 2014. 54

Vide Súmula 546 do Supremo Tribunal Federal: “Cabe a restituição do tributo pago indevidamente, quando

reconhecido por decisão, que o contribuinte ‘de jure’ não recuperou do contribuinte ‘de facto’ o ‘quantum’

respectivo”. (BRASIL. Súmulas do Supremo Tribunal Federal. Disponível em: <

http://www.stf.jus.br/portal/cms/verTexto.asp?servico=jurisprudenciaSumula&pagina=sumula_501_600>.

Acesso em: 10 jan. 2015. 55

Vide AgRg no Resp 1.078.145 e EREsp 727.003, ambos do Superior Tribunal de Justiça. Disponível em:

<www.stj.jus.br>. Acesso em: 11 jan. 2015.

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81

essenciais as figuras dos contribuintes de iure e de facto, além da previsão, em lei, de

mecanismo para repasse do ônus financeiro do solvens ao contribuinte final.

Após este breve comentário, passa-se, pois, à análise da não cumulatividade

propriamente dita.

6.2 Não cumulatividade tributária

Como regra, tributo não cumulativo é aquele que incide em um ciclo econômico, e

cujo ônus independe do número de operações que componham a cadeia produtiva, já que, “em

cada operação é deduzido do imposto nela incidente aquele que onerou a operação anterior”

(MACHADO, 2009, p. 197).

Nas palavras de MELO (2009, p. 269):

tributo não cumulativo significa que o valor (líquido) a ser efetivamente devido aos

cofres públicos representa o resultado de cálculo consistente na consideração do

imposto decorrente de fatos geradores praticados pelo contribuinte (operações

mercantis, prestações de serviços etc.), diminuído do montante dos encargos do

mesmo tributo gerado por aquisições, dispêndios etc., mediante apuração num

determinado período de tempo.

Portanto, como concluído por MOREIRA (2012, p. 111), será não cumulativo o

tributo que, além de ser plurifásico, permite que o contribuinte realize o abatimento dos

valores pagos nas etapas anteriores.

Importante alertar que, o fato de um tributo ser não cumulativo não significa que não

traga repercussão patrimonial ao contribuinte. É o que explica MACHADO (2009, p. 196

apud MARTINS, I. e SOUZA, 2004, p. 17), ao se referir à obra de Ives Gandra da Silva

Martins e Fátima Fernandes Rodrigues de Souza56

, que explicam:

(...) é importante ter presente em todos os tributos produzem repercussões

econômicas, quer sobre o patrimônio (diminuindo-o), em se tratando de tributos,

quer sobre bens e serviços (onerando-os), sendo o caso de tributação indireta.

Os conceitos de cumulatividade e de não-cumulatividade não se referem a esse

aspecto, e sim à cumulação ou não do ônus de um tributo incidente em uma

operação, na base de cálculo da operação seguinte, produzindo ou evitando que se

produza o efeito cascata. Daí se conclui que só se pode cogitar de tributo cumulativo

ou não-cumulativo, se o pressuposto de fato não for um fato unifásico e unipessoal,

e sim um ciclo econômico composto pelo encadeamento de várias operações, quer

praticado pelo mesmo contribuinte, quer por contribuintes diversos.

56

MARTINS, Ives Gandra da Silva; SOUZA, Fátima Fernandes Rodrigues de. A não-cumulatividade das

contribuições: PIS/Pasep e Cofins. In: PAULSEN, Leandro (Coord.). Não-cumulatividade do PIS/Pasep e da

Cofins. São Paulo: IET/Thomsom-IOB, 2004. p. 17.

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82

Atualmente, quatro tributos vigentes no sistema jurídico nacional são nominados como

não cumulativos, quais sejam, o ICMS, o Imposto sobre Produtos Industrializados – IPI, a

Contribuição ao Programa de Integração Social – PIS e a Contribuição ao Financiamento da

Seguridade Social – COFINS. Porém, o sentido do termo é diferente quanto aos impostos, de

um lado, e às contribuições, de outro.

MOREIRA (2012, p. 114) classificou tais tributos, à luz da Constituição, como: (a) não-cumulativos stricto sensu: ICMS e IPI;

(b) não-cumulativos lato sensu: PIS/COFINS incidentes sobre receita ou

faturamento e sobre a importação de bens e serviços.

Referido autor (p. 113) chamou de strictu sensu os tributos sujeitos ao abatimento de

créditos e débitos do próprio imposto, e de lato sensu as contribuições incidentes sobre a

receita ou faturamento, ou devidas na importação de bens ou serviços, estando o abatimento

vinculado à tomada de créditos calculados sobre despesas realizadas pela pessoa jurídica.

A despeito de no item 10.2, abaixo, o IPI e as respectivas contribuições serem

brevemente tratadas, o que interessa ao presente trabalho é a não cumulatividade do ICMS.

6.3 A não cumulatividade no ICMS

Conforme premissa adotada, o ICMS é imposto não cumulativo.

A não cumulatividade é característica essencial do desenho constitucional do ICMS,

em razão da qual, conforme CARRAZZA, R. (2012, p. 461),

o montante de tributo devido, em cada operação ou prestação, deve ser deduzido nas

posteriores, realizada pelo mesmo ou por outros contribuintes, [de tal forma que] o

imposto devido em cada operação ou prestação se transforma num “crédito fiscal”, a

ser abatido do quantum de ICMS a recolher em virtude da celebração de novas

operações ou prestações.

A função precípua da não cumulatividade, conforme BOTTALLO (2002, p. 45), é

favorecer o contribuinte de direito, aliviando a pressão sobre seus custos de produção,

benefício que acaba por reverter ao consumidor final, já que a redução da carga fiscal acarreta

a diminuição dos preços. Além disso, permite a neutralidade da carga fiscal já que, conforme

esclarecido por MOREIRA (2012, p. 98),

o ônus tributário independerá do número de operações gravadas pelo imposto. Este

será equivalente, em regra, à aplicação da alíquota sobre o preço final da mercadoria

ou serviço. Outrossim, o ônus da exação será transferido ao longo da cadeia de

produção até chegar ao consumidor final, que arcará de fato com o tributo.

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Portanto, está-se diante de um tributo não cumulativo e plurifásico, permitindo-se o

abatimento dos valores anteriormente arcados pelo mesmo contribuinte e cujo ônus financeiro

independe do número de operações por ele gravadas ao longo da cadeia produtiva.

6.3.1 Crédito tributário e crédito fiscal: nascimento em momentos distintos

Cumpre destacar, ainda, conforme o fez MELO (2012b, p. 298), que a não

cumulatividade tem operatividade em momento posterior à configuração do nascimento do

crédito tributário; é levada a efeito após a ocorrência do fato jurídico tributário.

Há, portanto, duas relações jurídicas distintas envolvidas na não cumulatividade. A

primeira diz respeito ao imposto devido pelo contribuinte que efetua operação mercantil, de

tal forma que, dada a realização de operação relativa à circulação de mercadoria ou da

prestação de serviços, nasce o direito de o Estado exigir o ICMS incidente na operação. Está-

se diante, pois, do crédito tributário.

Já a segunda relação jurídica está atrelada ao fato de o mesmo contribuinte ter o direito

de se creditar do ICMS referente à mercadoria adquirida ou do serviço tomado de outro

contribuinte, abatendo-o do valor devido em face de suas operações próprias. Fala-se, pois,

em crédito fiscal.

Para elucidar a questão, nada melhor do que invocar as atualíssimas lições de

ATALIBA e GIARDINO (1983a, p. 120), a despeito de proferidas quando da vigência da

antiga carta constitucional:

Assim duas figuras jurídicas são postas pelo texto constitucional: de um lado, o

débito tributário de ICM (letra a) e de outro o crédito de ICM (letra b).

O promotor da operação tributada (letra a) tem o direito constitucional de abater –

do débito resultante dessa operação – o valor citado na letra b, recolhendo ao

Estado, apenas a diferença. O crédito referido acima, meramente escritural, não diz respeito à base de cálculo do

ICM, mas é essencial para determinar o quantum do imposto a recolher. É

instrumento para liquidar, por compensação, parcial ou totalmente, o ICM devido. É

o que prescreve o Texto Constitucional, quando menciona o “abatimento” do

montante do ICM referente às operações anteriores.

Débito e crédito de ICM são, pois, categorias jurídicas distintas, correspondendo a

direitos diversos, opostos e contrastantes, além de reciprocamente independentes e

autônomos. Desencadeiam relações jurídicas autônomas, nas quais credor e devedor

se alternam: o Estado é credor na primeira e o contribuinte na outra e vice-versa.

Submetem-se, enfim, a princípios, critérios e regras de interpretação totalmente

distintas.

Em outras palavras: como o débito do ICM (a cargo do contribuinte) é de natureza

tributária, ao regime próprio da espécie se submete. Já o crédito (direito do

contribuinte) é mera figura financeira, operante no instante da liquidação, com a

função de cobrir parte do pagamento, por compensação. Funciona como moeda de

pagamento. Tem sua operacionalidade limitada à função de atender ao “abatimento”

constitucionalmente previsto. (destaques do original)

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84

Essa dicotomia de relações jurídicas foi esclarecida por CARVALHO, P.

(1998, p. 142), ainda que tratando sobre o IPI:

Passemos ao campo dos exemplos que sempre representaram ponto de apoio

indispensável ao conhecimento.

O atacadista “A” vende uma mercadoria para o comerciante “B”. Quatro relações

chamam a atenção nesse negócio. Deu-se, entre “A” e “B”, contrato de compra e

venda, do qual decorreram dois liames jurídicos de direito civil: um, consistente na

(i) obrigação de “A” entregar a “B” a mercadoria (ArjB); outro, pela (ii) obrigação

de “B” pagar o valor do preço da mercadoria, acrescido pelo imposto de circulação,

para “A” (BrjA). Como “A” é o comerciante vendedor, figura também na (iii)

relação jurídica tributária (rtj) com o Estado (F) (ArjtF) e, finalmente, como “B” é

comerciante, a norma do direito ao crédito, que decorre do princípio constitucional

da não-cumulatividade, incide também sobre essa operação, fazendo irromper (iv) a

relação de direito ao crédito (rdc) entre “B” e o Fisco (BrdcF). (...)

Os dois primeiros vínculos são regulados pelo direito civil, enquanto os dois outros,

pela legislação tributária. Tomando esses últimos, a relação jurídica tributária e a

relação de direito ao crédito, devemos reconhecer que: a primeira, consiste na

eficácia da regra-matriz de incidência tributária e a segunda, na eficácia da regra-

matriz de direito ao crédito.

(...)

Posso resumir, dizendo que duas são as normas jurídicas – a regra-matriz de

incidência do IPI e a regra-matriz do direito ao crédito – e, portanto, haverá duas

hipóteses – a da venda realizada pelo comerciante “A” e a da compra efetuada pelo

comerciante “B” – com duas consequências – a relação jurídica tributária entre “A”

e “F”’ (ArjtF) e a relação de direito ao crédito entre “B” e “F”’ (BrdcF).

Como lembra CARRAZZA, R. (2012, p. 434), o crédito fiscal do ICMS é mantido na

escrita fiscal do contribuinte para ser futuramente compensado, tratando-se de verdadeira

moeda de pagamento do tributo. Portanto,

o pagamento do tributo faz nascer uma relação jurídica de natureza financeira que

tem por sujeito ativo o contribuinte, por sujeito passivo o Fisco Estadual e por

objeto justamente o aludido ‘crédito de ICMS’.

Importante deixar claro, como fez MENDONÇA (2005, p. 164), que a possibilidade de

encontro de contas, entre o crédito tributário e o crédito fiscal, não está prevista na regra

matriz de incidência tributária do ICMS, mas sim na norma de compensação, cuja incidência

se dá em momento posterior.

É o que também esclareceram MELO e PAULSEN (2008, p. 256):

O cânone da não-cumulatividade consiste na compensação dos valores creditados

com os valores debitados em determinado período de tempo (geralmente mensal),

não integrando a estrutura do ICMS e nem se confundindo com a base de cálculo,

tendo operatividade em momento posterior à configuração da operação ou prestação

realizada.

No mesmo sentido é a conclusão de CARVALHO, O. (2013, p. 130):

Entendemos que a não cumulatividade opera-se em momento posterior à

configuração do débito tributário por meio da compensação dos débitos com os

créditos do imposto, não se confundindo com um dos aspectos da hipótese de

incidência tributária.

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Referida compensação é elemento estranho à quantificação do imposto, daí nosso

entendimento de que a não cumulatividade não integra a hipótese se incidência

tributária.

Em suma, e ratificando-se o quanto exposto, há que se fazer, pois, a distinção entre

crédito tributário, cujo titular é o ente político, sujeito ativo da obrigação tributária, em razão

da prática do fato jurídico tributário previsto da hipótese de incidência pelo sujeito passivo,

que passa a ser devedor do tributo, e o crédito fiscal, cujo titular é o contribuinte do imposto,

em decorrência de ter adquirido mercadorias ou serviços, em operações anteriores, sujeitas ao

mesmo imposto.

Justamente em decorrência da não cumulatividade, há o confronto entre o crédito

tributário [imposto apurado] com o crédito fiscal, gerando para o contribuinte o dever de

recolher valores aos cofres públicos ou transferir o crédito remanescente para o período de

apuração subsequente.

Interessante é o comentário feito por ATALIBA e GIARDINO, em trabalho distinto

(1988, p. 78), sobre a natureza não tributária do direito de abater57

.

Das considerações precedentes se vê que a natureza jurídica do “direito de abater”

(ou, simplesmente, do crédito de IPI ou de ICM) é não tributária. Na verdade, não

corresponde a nenhum conceito de Direito Tributário e a nenhuma categoria

tributária.

Estuda-se conjuntamente com o tributo pela notória proximidade temática dos dois

instintos. Mas sua radicação teorética evidentemente é outra.

(destaques do original)

A despeito da correção da assertiva acima sob o ponto de vista científico, não há como

não se reconhecer a total influência do direito de abatimento na seara tributária,

contaminando-a, por assim dizer.

Isso porque, há limitações e sérias discussões sobre os créditos passiveis de serem

tomados pelo contribuinte, o que justamente é analisado no presente trabalho, de tal modo

que, tomados créditos indevidamente, o valor a ser recolhido aos cofres públicos será menor

57

GIARDINO (1983, p. 191), em trabalho solo, esmiúça o tema: “Logo, a chamada base de cálculo (que é uma

categoria que reflete, exatamente, essa circunstância) não poderia afastar-se do valor dessa operação. E aí se

encerra o plano da obrigação tributária. Está constituída a obrigação tributária. O lançamento tem por objeto

apenas definir-se o valor. Aplicará a alíquota cabível, o percentual, no caso do ICM, cabível sobre o valor da

operação realizada. Ter-se-á assim, regularmente, constituído o débito tributário. Outra coisa é o exercício (que

ocorrerá posteriormente a esse momento, lógica e cronologicamente) do direito do contribuinte de saldar, de

pagar, de liquidar, total ou parcialmente, essa obrigação assim constituída, valendo-se de uma moeda especial que a Constituição lhe deu. Uma moeda que, na linguagem vulgar, é chamada de crédito de ICM. Esse é o

direito que se põe em momento posterior ao do surgimento da obrigação. Nada tem a ver com o processo

verdadeiramente tributário, que se esgotou no momento da ocorrência do fato imponível, que se completou e

exauriu quando do lançamento e da apuração do montante de imposto devido. É um abatimento, como diz a

Constituição, que vai produzir efeitos, que vai operar e ter eficácia num momento posterior, no momento da

liquidação do tributo. É uma modalidade de extinção obrigacional tradicionalmente conhecida no nosso Direito.”

(destaques do original).

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do que o efetivamente devido. De outra banda, tomados créditos a menor, haverá indevido

recolhimento do tributo.

Nesse sentido, no âmbito da pragmática, esse direito de abatimento de natureza não

tributária pode ensejar, como na prática enseja cotidianamente, a constituição de crédito

tributário por parte do fisco, mediante lançamento de ofício, nos termos do art. 149 do CTN58

.

Tanto é assim, que CARRAZZA, R. (2012, p. 432) afirma que,

será sempre em função do binômio saldo devedor/saldo credor que se apurará ou o

montante a recolher em moeda corrente ou o valor a transferir para o período de

apuração subsequente.

Assim, a compensação em questão efetiva-se por intermédio do “conta corrente

fiscal”, sendo que, no caso de saldo devedor, este é suportado pelo contribuinte mediante

quitação do tributo; já se o saldo for credor, será transferido para aproveitamento em períodos

subsequentes.

Concordamos, pois, com MELO e LIPPO (2008, p. 141), no que tange à afirmação de

que a compensação está intrinsecamente ligada à não cumulatividade. Veja-se:

A natureza tributária do princípio da não-cumulatividade está exatamente aí: na fase

de extinção do crédito tributário. Ao mesmo tempo em que uma parte do crédito

tributário é liquidada por meio da compensação estipulada no Texto Constitucional,

outra há de ser satisfeita em dinheiro.

(...)

Segue-se, pois, que toda a doutrina em torno dos aspectos financeiros, contábeis ou

até mesmo escriturais da parte relativa aos créditos de que trata o princípio da não-

cumulatividade, constituem meras digressões. Sim, porque se a não-cumulatividade

é um princípio constitucional tributário, e se os créditos fazem parte da estrutura

desse princípio, não há dúvida que estes também estão no bojo da matéria tributária.

Porém, desde logo deixa-se claro que, diferentemente de referidos autores,

entendemos que a não cumulatividade não se trata de princípio, mas de regra, conforme

enfrentar-se-á em item próprio (6.4).

6.3.1.1 Regra matriz do crédito tributário e do crédito fiscal

58

Art. 149. O lançamento é efetuado e revisto de ofício pela autoridade administrativa nos seguintes casos:

(...) IV - quando se comprove falsidade, erro ou omissão quanto a qualquer elemento definido na legislação

tributária como sendo de declaração obrigatória; V - quando se comprove omissão ou inexatidão, por parte da

pessoa legalmente obrigada, no exercício da atividade a que se refere o artigo seguinte; VI - quando se comprove

ação ou omissão do sujeito passivo, ou de terceiro legalmente obrigado, que dê lugar à aplicação de penalidade

pecuniária. Parágrafo único. A revisão do lançamento só pode ser iniciada enquanto não extinto o direito da

Fazenda Pública. (BRASIL. Código Tributário Nacional. Lei 5.172, de 25.10.1966. Disponível em: <

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l5172.htm>. Acesso em: 10 jan. 2015).

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Dado tudo quanto o exposto, pode-se afirmar a existência de duas regras matrizes de

incidência que dão efetividade à não cumulatividade do ICMS, sendo uma a regra matriz de

incidência tributária, que faz nascer o crédito tributário, e outra a regra matriz de incidência

do crédito fiscal, que surge com a aquisição de mercadorias ou de serviços sujeitos ao imposto

por aquele contribuinte.

Assim, com relação à regra matriz constitucional de incidência tributária possível,

tem-se: (antecedente) dado o fato de uma pessoa jurídica realizar operações de circulação de

mercadoria ou prestar serviços abrangidos pelo imposto (critério material), no Estado no qual

encontra-se seu estabelecimento comercial ou prestador de serviço (critério espacial), a partir

do momento da celebração do negócio ou do serviço(critério temporal), então, (consequente)

nasce o direito de o Estado no qual está localizado aquele que realizou a operação de

circulação de mercadoria ou prestou o serviço sujeito ao imposto (sujeito ativo do critério

pessoal) exigir da pessoa jurídica que realizou a operação de circulação de mercadorias ou

prestou o serviço (sujeito passivo do critério pessoal) exigir o ICMS apurado sobre o valor da

operação mediante a aplicação de alíquotas previstas na legislação (critério quantitativo).

Já com relação à regra matriz constitucional de nascimento do crédito fiscal possível,

tem-se: (antecedente) dado o fato de uma pessoa jurídica adquirir mercadorias em decorrência

da operação de circulação de mercadoria ou tomar serviço sujeito ao imposto (critério

material), no Estado no qual encontra-se seu estabelecimento comercial ou prestador de

serviço (critério especial), a partir do momento da celebração do negócio (critério temporal),

então, (consequente) o contribuinte que adquiriu mercadorias ou tomou serviços sujeitos ao

ICMS (sujeito ativo) passa a deter contra o Estado no qual está estabelecido (sujeito passivo),

crédito fiscal equivalente ao imposto incidente sobre o valor da operação mediante a aplicação

de alíquotas previstas em legislação (critério quantitativo).

Veja-se que o crédito fiscal que o contribuinte passa a deter contra o Estado no qual

está estabelecido pode, como de fato ocorre na prática, decorrer de operação realizada em

outro Estado da Federação, sendo, porém, o ente político obrigado a aceitá-lo como moeda

para quitação crédito tributário em face do qual é sujeito ativo.

6.3.2 Crédito sobre imposto cobrado nas operações anteriores

Ponto importantíssimo a ser levado em conta na análise da feição constitucional da

não cumulatividade do ICMS diz respeito à determinação segundo a qual deverá existir a

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compensação do que “for devido em cada operação relativa à circulação de mercadorias ou

prestação de serviços com o montante cobrado nas anteriores”.

Segundo MELO (2012b, p. 299), a compreensão dessa determinação deve pautar-se no

sentido da existência de uma anterior operação, ou prestação, sendo irrelevante exigir ato de

cobrança, ou prova da extinção da obrigação.

De acordo com o mesmo autor (2012b, p. 299), tal dicção não pode ser interpretada

literalmente, “porque a efetiva cobrança (arrecadação) escapa ao conhecimento do adquirente

das mercadorias ou do tomador dos serviços”.

Ressalta-se a citação feita por MELO (2012b, p. 299 apud COSTA, A, 1978, p. 156)

da obra de Alcides Jorge Costa59

: “o vocábulo ‘cobrado’ não pode ser entendido no sentido de

ser concretamente exigido.” E, que “o sentido de cobrar só pode ser o de incidir”.

Esse é também o entendimento de CARRAZZA, R. (2012, p. 404), que defende bastar

que as leis do ICMS tenham incidido sobre as operações ou prestações anteriores para que o

abatimento seja devido.

Também, DERZI (2005, p. 455) posiciona-se nesse sentido:

Acresce ainda registrar sobre o dizer constitucional acerca do princípio da não-

cumulatividade, que a jurisprudência e a doutrina se firmaram do sentido de que não

importa, para a validade do direito à compensação, que, na etapa anterior, o imposto

tenha sido pago ou cobrado, ou recolhido em valor inferior ao devido por erro do

contribuinte, inação do Estado ou inconstitucionalidade de lei. A não-

cumulatividade haverá de ser respeitada necessariamente.

Importante analisar as consequências da definição dada por MENDONÇA (2005, p.

119) sobre o tema:

Entendemos que a expressão “cobrado nas anteriores” não se confunde com “pago

nas anteriores”, pois uma coisa é o tributo ser exigido – cobrado, e outra é ser

efetivamente entregue à Administração – pago. O primeiro pressupõe uma atividade

da Administração (sujeito ativo), já o segundo pressupõe um ato do contribuinte

(sujeito passivo). (grifo nosso)

A despeito de, teoricamente, tal opinião ser irrefutável, a prática mostra que tal

definição pode ir de encontro com a situação vivenciada no Brasil com a chamada guerra

fiscal, a ser explorada no item 9.2 do presente trabalho.

Isso porque, e como será exposto, a despeito de, muitas vezes, o Estado concessor de

incentivo fiscal determinar que o tributo apurado na operação interestadual seja lançado na

nota fiscal, referido valor não é exigido pela unidade da federação, o que deita por terra a

afirmação acima.

59

COSTA, Alcides Jorge. ICM na Constituição e na Lei Complementar. São Paulo: Resenha Tributária, 1978. p.

156.

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89

Isso porque, nos Estados em que há concessão de incentivos fiscais, o ente tributante

permite que, a despeito do tributo apurado e lançado em nota fiscal, o contribuinte se utilize

de crédito outorgado ou crédito presumido, lançado em sua escrita fiscal (crédito fiscal), que

irá diminuir o valor a ser pago. Assim, desde logo, o Estado sabe quanto vai “cobrar” do

contribuinte, e esse montante é menor do que aquele apurado na operação realizada.

Nesse sentido, e levando-se em conta o entendimento manifestado por Christine

Mendonça, nos termos acima, o Estado onde está localizado o adquirente da mercadoria

incentivada poderia vedar o creditamento do imposto, situação com a qual não se concorda,

como será adiante enfrentado.

6.4 Não cumulatividade: princípio ou regra?

A mais abalizada doutrina tributária nacional afirma, categoricamente, ser a não

cumulatividade princípio constitucional. Está-se falando de Cleber Giardino, Geraldo Ataliba,

José Eduardo Soares de Melo, Paulo de Barros Carvalho, Roque Antônio Carrazza, entre

outros.

Porém, tal opinião não é unânime, na medida em que outros entendem estar-se diante

de regra, merecendo o assunto, pois, melhor análise.

Em primeiro lugar, e retomando o quanto analisado no Capítulo 1 acima, interessante

retomar o traço diferenciador entre princípios e regras. Para tanto, utiliza-se da objetividade

de MOREIRA (2012, p. 121):

Os princípios, podemos concluir, são axiológicos. Fundam-se em valores maiores,

orientando a elaboração e a interpretação das regras. Estas são normas prescritoras

de condutas (obrigatórias, permitidas ou proibidas) e impositivas de sanção em caso

de seu descumprimento. As regras orientam o agir do homem; os princípios são

invocados para evitar que, em casos concretos, a aplicação da regra se torne

desarrazoada, desproporcional ou injusta.

O que se faz necessária, pois, é a análise dos fundamentos daqueles que defendem a

não cumulatividade quer como princípio, quer como regra.

Começa-se com aqueles que entendem estar-se diante de um princípio.

Eis o posicionamento de ATALIBA e GIARDINO (1988, p. 75) ao defenderem ser a

não cumulatividade um princípio:

A cláusula constitucional “abater”, na verdade, não introduz mera recomendação, ou

sugestão, que a lei pode ou não acatar. Na verdade, as Constituições não tem cunho

sugestivo. É diretriz constitucional imperativa; forma inexorável pela qual se

chega a um IPI e um ICM ´não-cumulativos´, no sentido que a Constituição

brasileira a essa expressão emprestou. É o critério constitucional pelo qual,

juridicamente, se constrói a não-cumulatividade desses tributos. Em cada

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90

operação é facultada e garantida uma dedução, um abatimento. O chamado

‘princípio da não-cumulatividade’ se resolve, em termos jurídicos, num singelo

direito de abater, um simples direito de abatimento. (destaques do original)

MELO (2009, p. 271) defende que a não cumulatividade deve ser considerada

princípio:

em razão de constituir comando normativo (repleto de valores, permeado por forte

conteúdo axiológico), compreendendo diretriz ao legislador ordinário para que, na

estruturação de determinados tributos, a apuração do quantum debeatur deva

considerar o confronto entre a soma dos montantes dos impostos incidentes nas

operações efetuadas e a soma dos impostos (fatos geradores) referentes aos negócios

realizados.

E, continua o autor, agora em obra em parceria com LIPPO (MELO e LIPPO, 2008, p.

100):

A não-cumulatividade tributária, de fato, é um princípio constitucional. É um

comando normativo repleto de valores extraídos dos anseios da sociedade

constituída e permeado de forte conteúdo axiológico. Foi a partir da vontade do

povo brasileiro que o legislador constituinte encontrou os argumentos necessários

para disciplinar a instituição de tributos cuja característica essencial para a apuração

do quantum debeatur deve ser o confronto matemático entre a soma dos montantes

do imposto registrado em cada relação correspondente às operações comerciais

realizadas com os produtos e mercadorias e serviços do estabelecimento do

contribuinte, e a soma dos montantes do imposto registrado em cada relação

correspondente as mercadorias, produtos e serviços adquiridos pelo mesmo

contribuinte, em um dado período. Ou seja, esse princípio constitucional deve

necessariamente ser observado à luz do Direito, não resta dúvida. Assim, tratando-se

basicamente de uma operação matemática, como se verá, haveremos de encontrar no

interior da Constituição Federal o seu conteúdo jurídico.

Transcreve-se, também, opinião de CARRAZZA, R. (2012, p. 399 e 448):

O ICMS deve necessariamente sujeitar-se ao princípio da não cumulatividade, que,

tendo sido considerado, pela Constituição, um dos traços característicos deste

tributo, não pode ter seu alcance nem diminuído nem, muito menos, anulado seja por

normas infraconstitucionais, seja pelo labor exegético.

A não cumulatividade no ICMS visa a evitar o indesejável efeito conhecido como

“cascata” ou “piramidização”, fenômeno que prejudica as atividades econômicas, já

que onera, repetida e sobrepostamente, todas as etapas da circulação de bens e da

prestação de serviços.

(...)

Diante de tudo o que escrevemos, temos por indisputável que o princípio da não

cumulatividade não é uma criação legal, mas, sim, constitucional. Decorresse de lei,

poderia ser reduzido ou, até, suprimido, a qualquer tempo, pelo legislador. Como,

porém, deflui da Constituição, à lei não é dado interferir em seu significado,

conteúdo ou alcance.

Realmente, não há nada, no plano legal ou infralegal, que possa afetar o direito

constitucional ao crédito o ICMS.

Esse direito nasce de fatos constitucionalmente prefixados (operações ou prestações

passíveis de ICMS).

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91

Por fim, cite-se MOREIRA (2012, p. 122) que, após reproduzir a opinião de vários

doutrinadores, trouxe argumento objetivo para defender seu ponto de vista no sentido de que a

não cumulatividade é, de fato, um princípio.

Plasmou-se na Carta um verdadeiro princípio, dado que a não-cumulatividade possui

diversas funções, perseguindo:

(a) a translação jurídica do ônus tributário ao contribuinte de facto, não onerando

os agentes produtivos;

(b) a neutralidade fiscal, de modo que o número de etapas de circulação da

mercadoria não influa na tributação sobre ela incidente;

(c) o desenvolvimento da sociedade, pois a experiência mundial denota que a

tributação cumulativa sobre o consumo gera pobreza, pois encarece a circulação de

riquezas;

(d) a conquista de mercados internacionais, permitindo-se a efetiva desoneração

tributária dos bens e serviços exportados (impraticável no regime cumulativo de

tributação);

(e) a isonomia entre os produtos nacionais e estrangeiros, pois a não-

cumulatividade possibilita a cobrança, na importação, de tributo em montante

idêntico ao suportado pelo produtor nacional.

Os nobres fins da não-cumulatividade denotam o seu cariz de princípio, que se

exterioriza por meio da regra de abatimento do imposto pago nas operações

anteriores. A não-cumulatividade é, portanto, o princípio constitucional tributário

que mais se aproxima de uma regra, pois parte de valores superiores (neutralidade

tributária, v.g.) para, então, prescrever uma conduta (abatimento do montante

cobrado nas operações anteriores) que permitirá o alcance das finalidades propostas.

Outros estudiosos, porém, entendem estar-se diante de uma regra e não de um

princípio, como é o caso de Christine Mendonça e Osvaldo Santos de Carvalho.

MENDONÇA (2005, p. 71) justifica sua posição tal como segue:

Em que pese às opiniões divergentes, entendemos que o art. 155, § 2º, I da CF,

encerra uma norma de produção normativa, ao lado das outras regras prescritas na

Constituição Federal que delimitam a competência tributária dos Estados e do

Distrito Federal. Trata-se de um dispositivo direcionado às pessoas políticas dos

Estados e do Distrito Federal para que, no exercício de suas competências, instituam

mecanismos que impeçam a cumulatividade desse tributo. Nesse sentido, o

dispositivo é de “aplicabilidade imediata” com relação ao fato de legislar em matéria

de ICMS e não com relação ao contribuinte.

O legislador deverá observar tal preceptivo assim como deve observar os demais

princípios e demais normas constitucionais, sob pena de ser declarada

inconstitucional a cobrança do tributo. Por certo que caso o ICMS fosse instituído

sem a observância da norma que impõe a não-cumulatividade, a cobrança de tal

tributo estaria viciada de inconstitucionalidade.

E, continua (p. 98):

Sabemos que esse nosso posicionamento pode ir, na visão de alguns, de encontro à

tão buscada justiça tributária, uma vez que não considerar a não-cumulatividade

como princípio constitucional retira dessa norma a ideia de “onipotência”. No

entanto, pensamos que foi dessa forma que o direito tratou a não-cumulatividade no

ICMS, como um enunciado prescritivo que permite a compensação do que foi

cobrado anteriormente com o cobrado na operação atual.

CARVALHO, O. (2013, p. 133) compartilha do entendimento de que a não

cumulatividade é regra e não princípio. Veja-se:

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92

a não cumulatividade configura uma técnica de apuração do valor devido do ICMS

apurado por meio de compensação do imposto já que não é elemento essencial à

interação da hipótese de incidência do ICMS propriamente dita, operando-se em

momento posterior à configuração do débito tributário.

Analisados ambos os posicionamentos, somos da opinião de que a não cumulatividade

é regra e não princípio.

Tal conclusão decorre das premissas anteriormente adotadas neste trabalho, que

partem do pressuposto de que os princípios denotam valor, personalidade de uma sociedade.

Nesse sentido, não parece que a determinação que obriga a realização de compensação

entre crédito tributário e crédito fiscal reflete valores com forte conteúdo axiológico.

Na verdade, o legislador constituinte tinha a opção de limitar a formatação

constitucional do ICMS à prescrição da norma de incidência tributária, sem menção ao direito

de compensação.

Se assim o fez, foi por opção, tendo em mente, presume-se, justamente o quanto

descreveu André Mendes Moreira, ou seja, a formatação dada a esse tributo por outros países,

a conquista de mercados internacionais, ou até a busca da neutralidade fiscal. Mas tinha o

direito de não tê-lo feito.

Em decorrência, referida regra foi inserida na Constituição Federal, determinando ao

legislador complementar e ao ordinário que delimitem e instituam um tributo que seja não

cumulativo, sob pena de, não o fazendo, estar-se diante de uma norma inconstitucional.

Está-se, pois, diante de uma técnica de apuração prevista constitucionalmente e que,

como toda norma constitucional, princípio ou regra, há de ser respeitada.

Veja-se que, se o fato de uma norma estar na Constituição trouxesse-lhe a natureza de

princípio, tudo quanto posto na Constituição seria imutável, como de fato não o é.

Princípio é valor e, não sendo a não cumulatividade um valor, não há que considerá-lo

princípio.

Cita-se, para reforçar o quanto ora afirmado, locução de CARVALHO, P. (1998, p.

156), ao afirmar que a não cumulatividade não é um valor:

O princípio da não-cumulatividade dista de ser um valor. É um “limite objetivo”,

mas se volta mediatamente, à realização de certos valores, como o da justiça da

tributação, o do respeito à capacidade contributiva do administrado, o da

uniformidade na distribuição da carga tributária.

A despeito de o autor entender que a não cumulatividade é um princípio, dadas suas

convicções pessoais, deixa claro que não se trata de um valor, mas sim de um comando a ser

seguido pelo legislador tributário.

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Dado o fato de se ter optado por incluir a regra da não cumulatividade na Constituição

Federal, passou ela a dar azo a consequências benéficas aos contribuintes e ao comércio

internacional, porém, se a opção fosse por não inseri-la na estrutura constitucional do ICMS,

não se teria uma quebra de valores, nos termos aqui entendidos.

6.5 Necessidade (ou não) de norma legal para se dar efetividade à não cumulatividade

Questão igualmente controvertida na doutrina diz respeito à necessidade ou não de

norma infraconstitucional determinar a forma como deve operar-se a não cumulatividade.

E, como será visto, via de regra, aqueles que entendem ser a não cumulatividade um

princípio, defendem a desnecessidade de edição de qualquer norma prevendo o encontro de

contas entre o crédito tributário e o crédito fiscal. Por outro lado, aqueles que entendem que a

não cumulatividade caracteriza-se como regra, afirmam ser prescindível a edição de norma

para que a ela se dê efetividade.

Eis as opiniões e seus fundamentos.

MELO e LIPPO (2008, p. 135) são pela desnecessidade da instituição de norma

inferior para a não cumulatividade emanar seus efeitos:

Já tivemos ocasião de demonstrar, com base na mais qualificada doutrina, que o

princípio da não-cumulatividade é norma que possui eficácia plena, porquanto não

depende de qualquer outro comando de hierarquia inferior para emanar seus efeitos.

O legislador infraconstitucional nada pode fazer em relação a ele, posto faltar-lhe

competência legislativa para reduzir ou ampliar o seu conteúdo, sentido e alcance. O

Texto Constitucional quando estabelece a regra da não-cumulatividade o faz sem

qualquer restrição. Não estipula quais são os créditos que são apropriáveis e quais os

que não poderão sê-lo. Pelos seus contornos tem-se que todas as operações que

envolvam produtos industrializados, mercadorias ou serviços e que estejam sujeitas

a incidência dos impostos federal e estadual, autorizam o creditamento do imposto

incidente sobre as operações anteriores, para confronto com o imposto incidente

naquelas operações por ele realizadas, sem qualquer aparte. A norma constitucional,

no nosso entender, não dá qualquer margem para as digressões.

MELO (2012b, p. 302), em obra solo, completa o raciocínio acima:

Fundamentado nos léxicos, fora apurado que “disciplinar” “não é alterar, não é

retirar direitos, não é conceder privilégios, não é suprimir, não é adulterar, não é

violar direitos, não é transigir ‘pro domo sua’. Assim, ‘disciplinar a não

cumulatividade’ apenas consiste na fixação de elementos necessários à

operacionalização do regime de abatimentos periódicos de apuração, alocação a

estabelecimentos do contribuinte, sistemática de transferências, etc.

No ato de disciplinar, não pode o legislador complementar, determinar, ou

especificar os bens, produtos, mercadorias, e serviços que permitem (ou não) o

crédito do imposto; nem também fracionar esse direito a período de tempo ou

utilização. O legislador infraconstitucional não é o dono do ICMS, pois deve

obediência às diretrizes constitucionais e aos superiores princípios nelas constantes,

não podendo subverter a ordem jurídica e os postulados econômicos.

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ATALIBA e GIARDINO (1988, p. 79) são ainda mais categóricos quanto à

desnecessidade de norma regulamentar:

As disposições constitucionais instituidoras dos chamados “créditos de IPI e de

ICM” têm eficácia plena e aplicabilidade imediata – na classificação consagrada por

José Afonso da Silva – bastando que, como em qualquer outro caso de direitos

públicos subjetivos de hierarquia constitucional, se perfaça o conjunto de

pressupostos fáticos condicionantes de sua incidência. Eficácia normativa plena

significa aptidão incondicional para produzir imediatos efeitos jurídicos, quando

cabível a incidência do preceito.

De nenhuma lei depende a eficácia do sistema de abatimentos.

A despeito de entender ser a não cumulatividade um princípio, CARVALHO, P.

(2013, p. 702) prega a necessidade de edição de norma jurídica para a ela se dar efetividade:

Para realizar esse desígnio, imperatividade proposto pela Constituição da República,

impende a edição de norma jurídica que instaure, de forma efetiva, o direito ao

crédito daquele que adquire mercadoria ou insumo, com o fim de dar sequência às

várias etapas dos procedimentos de industrialização ou de comercialização. Mas o

direito ao crédito não basta. Para tornar efetivo o princípio da não-cumulatividade

exige-se, em cada ciclo, a compensação entre a relação jurídica tributária (que

nasce com a saída do bem). É por esse motivo que o direito ao crédito, daquele que

participa das fases do ciclo da não-cumulatividade, é tão necessário na consecução

dessa técnica impositiva.

Também são categóricos quanto à necessidade de norma para a concreção da não

cumulatividade Christine Mendonça e Osvaldo Santos de Carvalho.

MENDONÇA (2005, p. 75) afirma:

Assim, conforme prescrito pela Constituição Federal, a lei complementar

participará, necessariamente, do processo de concreção da norma da não-

cumulatividade no ICMS.

Observa-se que, num primeiro momento, tivemos a norma constitucional

delimitando a competência dos entes tributantes ao exigir a instituição de um ICMS

não-cumulativo – pelo sistema compensatório. Agora, mais uma vez, a Constituição

vem delimitar o exercício da competência dos Estados e do Distrito Federal, quando

exige que a lei complementar discipline o regime de compensação do imposto.

Esse também é o entendimento de CARVALHO, O. (2013, p. 171), que não acata a

aplicabilidade imediata da regra constitucional de não cumulatividade:

Nos filiamos entre os que entendem que o ICMS reclama edição de lei

complementar em sua cadeia de positivação para disciplinar o mecanismo de

compensação deste.

Vale dizer, se quiserem ofertar tratamento tributário diferenciado mais concessivo

do que a forma estabelecida na Lei Complementar n. 87/96, deverão postulá-los por

meio da celebração de convênios a ser aprovados no CONFAZ, consoante dispõe o

art. 155, § 2º, XII, “g”, da Constituição Federal.

Nosso entendimento é pela necessidade de edição de lei complementar para que seja

definida a forma pela qual dar-se-á o encontro entre crédito tributário e crédito escritural, dada

a premissa de que a Constituição, ao prever o “abatimento”, está apenas instruindo o

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legislador infraconstitucional sobre os requisitos mínimos a serem adotados para impedir-se a

cumulatividade do ICMS.

O comando constitucional é uma regra que prevê caber à lei complementar disciplinar

o regime de compensação do tributo.

Porém, repita-se, caso o legislador complementar não tivesse implementado a não

cumulatividade, tal norma seria inconstitucional, dado o fato de descumprir a ordem contida

no art. 155, § 2º, XII, “c” da Constituição Federal.

6.6 Crédito fiscal é escritural

Conforme já afirmado, para definir-se o quantum a ser pago a título de ICMS, há que

confrontar-se o crédito tributário com o crédito fiscal, sendo o primeiro advindo da prática do

fato jurídico tributário referente à realização de uma operação de circulação de mercadoria ou

a prestação de um serviço sujeito ao imposto, e o segundo, do fato de o mesmo contribuinte

ter adquirido mercadorias igualmente em decorrência de uma operação mercantil ou tomado

serviço sujeito ao imposto.

Fato é, porém, que o crédito fiscal não é oponível contra o fisco como moeda corrente

nacional. Trata-se, pois, de crédito escritural com o único fim de ser utilizado para fins de

abatimento do montante apurado como crédito tributário.

Essa também é o entendimento de CARRAZZA, R. (2012, p. 410):

De fato, na “dedução” (detrazione) do tributo não-cumulativo – caso do ICMS –

calcula-se o montante devido em operações (ou prestações) anteriores, e os créditos

acumulados são apresentados como moeda escritural, na conta-corrente fiscal, com o

fito de determinar-se a base de cálculo do tributo devido. E isto independentemente

de, nas operações (ou prestações) anteriores, existirem benefícios fiscais ou

financeiros respaldados em convênios interestaduais.

Como se nota, no ICMS (tanto quanto no IPI), a compensação assume conotação

toda própria, por servir como típico direito subjetivo de caráter potestativo. Tal se

verifica, em face da autorização dada ao contribuinte para, independentemente de

qualquer autorização fazendária, apurar o montante do tributo devido e efetuar o

precitado encontro de contas.

E, complementa o seu raciocínio (p. 449) da seguinte forma:

Concluindo o raciocínio, temos que, em função do princípio da não-cumulatividade,

o ICMS tem duas moedas de pagamento: a moeda corrente (a moeda de curso

forçado, atualmente o Real) e os créditos escriturais (os créditos provenientes de

operações ou prestações anteriormente realizadas, tributáveis por meio de ICMS).

Veja-se, pois, que é instaurada entre o fisco e o contribuinte uma verdadeira conta

corrente, na qual são apontados créditos tributários e créditos fiscais, realizando-se,

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mensalmente, um encontro de contas, para constar se, naquele período, o contribuinte terá que

desembolsar algum valor ou se transferirá, para o período seguinte, o crédito fiscal possuído.

Registre-se, também, as lições de ATALIBA e GIARDINO (1983a, p. 120):

O crédito referido acima, meramente escritural, não diz respeito à base de cálculo do

ICM, mas é essencial para determinar o quantum do imposto a recolher. É

instrumento para liquidar, por compensação, parcial ou totalmente, o ICM devido. É

o que prescreve o Texto Constitucional, quando menciona o “abatimento” do

montante do ICM referente às operações anteriores. (...)

Em outras palavras: como o débito do ICM (a cargo do contribuinte) é de natureza

tributária, ao regime próprio da espécie se submete. Já o crédito (direito do

contribuinte) é mera figura financeira, operante no instante da liquidação, com a

função de cobrir parte do pagamento, por compensação. Funciona como moeda de

pagamento. Tem sua operacionalidade limitada à função de atender ao ‘abatimento’

constitucionalmente previsto.

[destaque do original]

CARVALHO, P. compartilha da mesma opinião (2013, p. 702):

O direito ao crédito é moeda-escritural. E se, de um lado, é inexigível enquanto

crédito pecuniário na via judicial, por outro, é imprescindível perante o lídimo

exercício do direito à não-cumulatividade, que se consuma com o exercício da

compensação desse crédito com o “crédito tributário” (obrigação tributária) do

Fisco. Pode ou não nascer, cronologicamente, ao mesmo tempo em que o fato

jurídico tributário, mas não decorre da regra-matriz de incidência tributária, que

tem sua eficácia direcionada para a instauração do crédito tributário.

Portanto, ao menos quanto a esta questão, não há divergências.

6.7 Crédito fiscal: físico ou financeiro

Outra questão que causa muita celeuma na comunidade acadêmica é a amplitude que é

dada aos créditos fiscais passíveis de serem tomados pelos contribuintes.

Nesse sentido, parte da doutrina, que inclui nomes como Cleber Giardino, Geraldo

Ataliba, José Eduardo Soares de Melo, Roque Antônio Carrazza e Paulo de Barros Carvalho,

entende que a Constituição Federal – a aqui ainda não se fala da Lei Complementar –

autoriza, para não dizer determina, a tomada de créditos em face de toda e qualquer aquisição

feita pelo contribuinte decorrente da realização de operações de circulação de mercadorias e

de serviços abarcados pelo ICMS.

Em decorrência, além das mercadorias, haveria o direito irretorquível de crédito em

face da aquisição, igualmente, de bens destinados ao ativo imobilizado, de materiais de uso e

consumo, bem como de qualquer serviço sujeito ao imposto.

Fala-se, pois, em créditos financeiros.

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Já outros estudiosos do Direito defendem opinião diversa, no sentido de que a

Constituição Federal só autoriza a tomada dos chamados créditos físicos, ou seja, aqueles

decorrentes exclusivamente da aquisição de mercadorias (o que inclui os insumos) e a

contratação de serviços que, de alguma forma, serão objeto de saída tributada subsequente.

Segundo essa corrente, qualquer ampliação desse contexto se caracteriza como

concessão feita pelo legislador infraconstitucional.

A diferenciação entre créditos físicos e financeiros foi tratada por MOREIRA (2012,

p. 79):

A doutrina pátria convencionou distinguir o direito ao abatimento dos créditos nos

impostos plurifásicos não-cumulativos em duas modalidades:

(a) crédito financeiro, que permite ampla dedução dos investimentos em ativo

imobilizado, insumos e, ainda, em bens de uso e consumo (que são empregados de

forma indireta no processo produtivo da empresa, sendo consumidos em suas

atividades diárias);

(b) crédito físico, que somente reconhece o crédito das matérias-primas e dos

intitulados bens intermediários (insumos que se consomem no processo produtivo,

mesmo não se agregando fisicamente ao produto final).

E, continua o esclarecimento (p. 193):

O direito ao crédito nos impostos plurifásicos não-cumulativos pode ser:

(a) físico, quando o creditamento é autorizado apenas sobre as aquisições de:

(a.1) mercadorias para revenda;

(a.2) insumos, tais como matérias-primas e produtos intermediários consumidos no

processo industrial ou de prestação de serviços;

(b) financeiro, quando, além da garantia do crédito físico, assegura-se também

o direito ao abatimento do imposto incidente sobre:

(b.1) bens do ativo permanente; e

(b.2) material de uso e consumo da empresa.

Analise-se, pois, a opinião dos autores que defendem ter a Constituição Federal

permitido a tomada de créditos fiscais financeiros.

Eis o entendimento de CARRAZZA, R. (2012, p. 424):

A Constituição atual, de revés, confere ao contribuinte o direito de abater, do

montante de ICMS a pagar, tudo o que foi devido por outros contribuintes que lhe

prestaram serviços ou lhe forneceram mercadorias e outros bens tributados

(máquinas, material de escritório, veículos etc.). Estabelece, portanto, uma relação

de créditos/débitos (as entradas fazem nascer créditos; as saídas, débitos).

Reafirmamos que o direito à compensação está presente independentemente da

origem dos créditos de ICMS. Melhor dizendo, o princípio da não-cumulatividade

não vincula os créditos relativos a etapas anteriores aos débitos gerados por

operações ou serviços da mesma natureza.

E, continua o autor (p. 436):

Não é a destinação que vai dar às mercadorias ou bens que adquire (revenda, uso,

consumo, integração no ativo fixo etc.) que impede o contribuinte de fruir, por

inteiro, do direito à não-cumulatividade do ICMS.

Posição contrária é insustentável, porque entra em contradição com toda a

sistemática constitucional deste tributo.

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Daí por que – tornamos a acentuar – são inconstitucionais as restrições ao direito de

abatimento do ICMS contidas em leis ou atos normativos infralegais.

Nem mesmo a lei complementar – fora do limitado campo adjetivo e procedimental

que lhe reservou a Constituição (art. 155, § 2º, XII, "c") - pode criar obstáculos ou

de alguma maneira inovar na regulação deste direito à ‘não-cumulatividade’, que foi

exaustivamente disciplinado pelo próprio Texto Magno. Com maior razão, devem

também os aplicadores do Direito integral e absoluto respeito ao regime da "não-

cumulatividade do ICMS", constitucionalmente plasmado.

Nem se diga que, com isso, estamos impondo restrições ao legislador ordinário ou

ao intérprete. Na verdade, estamos procurando revelar o “espírito” que permeia as

palavras da Lei Maior.

Vê-se, aqui, que o grande argumento utilizado é que o espírito da Constituição, dado o

fato de se estar diante de um princípio, impede qualquer restrição ao creditamento fiscal,

sendo que a Lei Maior não vincula os créditos relativos a etapas anteriores aos débitos

gerados por operações ou serviços da mesma natureza.

ATALIBA e GIARDINO (1988, p. 81 e 84) compartilham do mesmo entendimento:

Destarte. Repousa o abatimento constitucional, na sua origem, na realização de

operações (designadas “anteriores”) que se identificam pela circunstância de nelas o

contribuinte – o realizador de operação atual – ter participado, na condição de adquirente de mercadorias ou produtos industrializados. O que permite a assunção dos citados “créditos” (em estrito rigor constitucional) é

só a circunstância de o contribuinte haver participado de operações anteriores envolvendo quaisquer produtos ou mercadorias (nessas operações adquirindo-

lhes a titularidade). Tendo figurado, assim, em tais atos, surge para ele, nos termos

da Constituição, direito ao abatimento do ICM e/ou IPI, conforme o caso. Nada mais

exige ou impõe a estrutura do imposto, como juridicamente engendrada pelo Texto

Supremo. O critério constitucional para aquisição e exercício do direito em que se

traduzem tais abatimentos, portanto, é a participação do contribuinte, em operações

referentes à aquisição de mercadorias e/ou produtos, genericamente considerados.

(...)

Esses preceitos deixam clara a absoluta irrelevância da espécie dos produtos ou das

mercadorias, para efeito do confronto (compensação) neles regulado.

Interpretando corretamente a sistemática constitucional dispõem que a compensação

se fará globalmente, considerando o conjunto das operações, por período, sem

nenhuma atinência quer à presença de certas mercadorias ou produtos, (assim

desnecessária), quer a eventual regime especial (legal) de certas operações

qualificadas por terem como objeto dados produtos ou dadas mercadorias. No

cômputo periódico referido em ambas as disposições vai ser unicamente relevante a

soma total ou o vulto financeiro das operações (compras, vendas etc.). (destaques do

original)

Tais autores entendem que o comando constitucional é no sentido de que, tendo o

contribuinte participado de qualquer operação que envolva aquisição de mercadorias ou a

tomada de serviços, independentemente de sua finalização, o direito ao crédito está

materializado.

Dissocia-se, pois, a aquisição de mercadorias e a contratação do serviço, à hipótese de

incidência do ICMS.

MELO e LIPPO (2008, p. 136) também, assim entendem:

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Pouco importa, no nosso pensar, que a mercadoria ou produto adquirido são sirva

para posterior comercialização ou industrialização. O comando constitucional não

distingue quais as mercadorias, produtos ou serviços que autorizam o creditamento,

descabendo, neste sentido, a qualquer comando infraconstitucional proceder à

distinção. Tratando-se de mercadoria, produto ou serviço adquirido de comerciante

ou industrial, é o quanto basta para autorizar o creditamento.

Em artigo escrito apenas por MELO (2000, p. 149), o autor ratifica seu entendimento:

Esta sistemática é operacionalizada mediante a compensação dos créditos de ICMS

– gerados pelas aquisições de bens e serviços -, com os débitos de ICMS –

decorrentes dos negócios mercantis e dos serviços de transporte (interestadual e

intermunicipal) e de comunicação -, numa autêntica conta corrente fiscal. É

inconcebível cogitar-se de compensação de valores de mercadorias/serviços entrados

versus mercadorias/serviços saídos do estabelecimento.

Os créditos concernem a valores tributários relativos às aquisições de bens (ativo

permanente, matérias primas, produtos intermediários, materiais auxiliares e de

embalagem, uso e consumo, energia elétrica etc.), bem como serviços (transportes

interestadual, intermunicipal, e comunicação) que tenham sido adquiridos ou

utilizados.

O contribuinte tem direito a apropriar os valores do ICMS – crédito financeiro – não

tomando em consideração o crédito físico, restrito à simples circulação ou utilização

física de bens e serviços, uma vez que a limitação pertinente ao âmbito circulatório

implicaria desconsiderar parte da carga tributária assumida pelo contribuinte, que,

inevitavelmente seria acrescida ao custo dos bens/serviços, com reflexos nos seus

valores e preços respectivos.

Veja-se que, aqui, o argumento é de ordem financeira, qual seja, aumento do custo dos

bens e serviços.

Também, MARTINS, I. (2000, p. 109 e 113) demonstra sua indignação contra a

limitação ao direito de crédito:

À evidência, no caso das normas constitucionais, supra transcritas, salta aos olhos de

qualquer intérprete de mediana cultura jurídica que o princípio da não-

cumulatividade opera-se por mecanismos de compensação que, em suas linhas

mestras, estão no próprio texto supremo. Diz, claramente, a Carta Magna que o que

for devido se compensará com o montante cobrado nas operações anteriores. Tal

enunciado não necessita de explicitação. A disciplina legal possível, quanto aos

períodos de apuração, nitidamente, não admite a postergação do direito, visto que o

direito é de compensação, em cada operação, do tributo devido com o cobrado nas

anteriores. Assim determina a Constituição.

(...)

Se a Constituição Federal garante o princípio da não-cumulatividade e se tal

princípio abrange todas as operações relativas à circulação de mercadorias e de

serviços definidos na Lei Maior – inclusive aquelas de aquisições de bens do ativo

fixo – não pode o legislador dizer que aquele princípio é de ser aplicado apenas

quando os governos dos Estados assim o desejarem.

Aqui, também, o argumento é principiológico.

Por outro lado, tem-se outros autores que defendem que a Constituição Federal

permitiu apenas a tomada de créditos físicos, sendo qualquer outra extensão passível de ser

dada pelo legislador infraconstitucional, indo além do mínimo exigido constitucionalmente.

Nessa linha, caminha MENDONÇA (2005, p. 128):

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Entendemos que a leitura do art. 155, § 2º, I da CF, ao exigir que o ICMS instituído

pelos entes políticos estaduais fosse não-cumulativo, permitiu o nascimento do

débito do Fisco escritural, sobrelevando a destinação física. É óbvio que não fez isso

expressamente, pois não encontramos no texto constitucional nenhuma previsão

quanto à destinação. No entanto, ela vinculou a entrada na mercadoria/serviço à sua

posterior saída.

E, continua seu raciocínio (p. 131):

Pois bem, a Constituição Federal, ao exigir uma vinculação entre a

operação/prestação de entrada com a operação/prestação de saída acabou por

confirmar a tese da destinação física, pois só será compensado o que for destinado a

sair. Pela tese da destinação financeira, nem tudo que entra precisa sair para que

nasça o débito do Fisco escritural.

A opinião da autora é compartilhada por CARVALHO, O. (2013, p. 173):

Entendemos que enquanto não houver disposição em contrário firmada em lei

complementar, os Estados e o Distrito Federal estão vedados a concederem

tratamento diverso, ou seja, ofertarem direito ao crédito do imposto pelo critério

financeiro, haja vista que a lei complementar a que se refere a Constituição optou

pelo critério físico, não abrindo ensejo aos entes federados em disporem em sentido

diverso.

E, completa (p. 179): Repisamos, todavia, que o ordenamento jurídico brasileiro adota a sistemática do

critério físico, vinculando a entrada de mercadoria ou de prestação de serviço à sua

saída, ou seja, somente haverá direito ao crédito quando referida mercadoria ou

prestação de serviço que ingressou for destinada à saída, seja para revenda ou como

insumo de produção. Dito de outro modo, se não for destinada à operação de saída

tributada, não haverá o direito ao crédito do ICMS.

Por fim, tem-se MOREIRA (2012, p. 201), que fundamenta sua opinião sobre a

permissibilidade constitucional de tomada de créditos fiscais apenas físicos com base na

reiterada jurisprudência do STF.

Veja-se:

Desde os primórdios da implantação da não-cumulatividade, como visto, o STF tem

assegurado tão somente o direito ao crédito físico. O crédito financeiro é tido como

uma opção conferida ao legislador – sem consistir, todavia, em direito subjetivo do

contribuinte.

Mais uma vez, acata-se a opinião de Christine Mendonça e Osvaldo Santos de

Carvalho, bem como de André Mendes Moreira, no sentido de que a Constituição permite a

compensação do crédito tributário com créditos fiscais físicos, cabendo à lei complementar

estender ou não tal possiblidade aos créditos financeiros.

Veja-se o que a Constituição Federal prevê:

será não-cumulativo, compensando-se o que for devido em cada operação relativa à

circulação de mercadorias ou prestação de serviços com o montante cobrado nas

anteriores.

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101

Da leitura do referido dispositivo verifica-se que o ICMS apurado em cada operação

relativa à circulação de mercadoria ou prestação de serviço deverá ser compensado com o

ICMS que incidiu nas operações anteriores, também relativas à circulação de mercadorias ou

à prestação de serviços.

De tudo quanto aqui enfrentado, não há dúvida de que se está diante de uma cadeia de

operações, umas subsequentes às outras, relativas a operações de circulação de mercadoria ou

prestação de serviço. Nesse sentido, o que é autorizado, é o creditamento do imposto em face

daquilo que dá azo justamente à realização dessas operações ou à prestação dos serviços

tributados.

Tal previsão está contida na regra constitucional que encerra uma norma de produção

normativa.

Pode-se falar em injustiça fiscal, na medida em que, em decorrência dessa previsão, os

produtos e os serviços podem ter seus valores majorados, ou, por outra ótica, não podem ser

vendidos por montantes menores, o que poderia induzir ao aumento do consumo. Pode-se,

também, falar em desigualdade de tratamento dado a tributos de tal espécie exigidos em

outros países. Porém, é a letra da Constituição Federal que assim previu.

Repita-se, não se está diante de um princípio que visa à justiça fiscal, mas de regra de

abatimento do tributo devido em face da realização de operações de mercadoria e de prestação

de serviço.

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102

CAPÍTULO 7 - A NÃO CUMULATIVIDADE NA LEGISLAÇÃO

INFRACONSTITUCIONAL APÓS A CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988

A despeito do presente Capítulo cingir-se à análise da não cumulatividade na

legislação infraconstitucional somente após a edição da Constituição Federal de 1988,

necessário dar-se um passo atrás para se ventilar a respeito do Decreto-lei 406/68, que teve

vigência até a publicação do Convênio 66/88. Explica-se.

No âmbito da Constituição Federal de 196760

, em sua redação original, foi outorgada

aos Estados competência para a instituição do então ICM – Imposto sobre operação de

Circulação de Mercadorias, nos seguintes termos:

Art. 24. Compete aos Estados e ao Distrito Federal decretar impostos sobre: (...)

II - operações relativas à circulação de mercadorias, inclusive lubrificantes e

combustíveis líquidos, na forma do art. 22, § 6º, realizadas por produtores,

industriais e comerciantes. (...)

§ 4º A alíquota do imposto a que se refere o nº II será uniforme para todas as

mercadorias nas operações internas e interestaduais, e não excederá, naquelas que se

destinem a outro Estado e ao exterior, os limites fixados em resolução do Senado,

nos termos do disposto em lei complementar.

§ 5º O imposto sobre circulação de mercadorias é não-cumulativo, abatendo-se, em

cada operação, nos termos do disposto em lei, o montante cobrado nas anteriores,

pelo mesmo ou outro Estado, e não incidirá sobre produtos industrializados e outros

que a lei determinar, destinados ao exterior.

§ 6º Os Estados isentarão do imposto sobre circulação de mercadorias a venda a

varejo, diretamente ao consumidor, dos gêneros de primeira necessidade que

especificarem, não podendo estabelecer diferença em função dos que participam da

operação tributada.

§ 7º Do produto da arrecadação do imposto a que se refere o item II, oitenta por

cento constituirão receita dos Estados e vinte por cento, dos Municípios. As parcelas

pertencentes aos Municípios serão creditadas em contas especiais, abertas em

estabelecimentos oficiais de crédito, na forma e nos prazos fixados em lei federal.

Em decorrência do Ato Complementar 40, de 30.12.1968, foi alterada parcialmente tal

redação do art. 24, tal como segue:

Art. 24 (...)

II - operações relativas à circulação de mercadorias, realizadas por produtores,

industriais e comerciantes. (...) § 4º - A alíquota do imposto a que se refere o nº II será uniforme para todas as

mercadorias; o Senado Federal, através de resolução tomada por iniciativa do

Presidente da República, fixará as alíquotas máximas para as operações internas,

para as operações interestaduais e para as operações de exportação para o

estrangeiro.

60

BRASIL. Constituição Federal de 1967. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao67.htm>. Acesso em: 11 jan. 2015.

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103

Com a edição da Emenda Constitucional 1, de 17.10.1969, fruto da ditadura militar

instaurada à época, o ICM passou a ser tratado pelo art. 23 da Constituição Federal61

:

Art. 23. Compete aos Estados e ao Distrito Federal instituir impostos sobre: (...) II - operações relativas à circulação de mercadorias, realizadas por produtores,

industriais e comerciantes, impostos que não serão cumulativos e dos quais se

abaterá nos termos do disposto em lei complementar, o montante cobrado nas

anteriores pelo mesmo ou por outro Estado. § 4º Lei complementar poderá instituir, além das mencionadas no item II, outras

categorias de contribuintes daquele impôsto. § 5º A alíquota do impôsto à que se refere o item II será uniforme para tôdas as

mercadorias nas operações internas e interestaduais; o Senado Federal, mediante

resolução tomada por iniciativa do Presidente da República, fixará as alíquotas

máximas para as operações internas, as interestaduais e as de exportação. § 6º As isenções do impôsto sôbre operações relativas à circulação de mercadorias

serão concedidas ou revogadas nos têrmos fixados em convênios, celebrados e

ratificados pelos Estados, segundo o disposto em lei complementar. § 7º O imposto de que trata o item II não incidirá sôbre as operações que destinem

ao exterior produtos industrializados e outros que a lei indicar. § 8º Do produto da arrecadação do impôsto mencionado no item II, oitenta por cento

constituirão receita dos Estados e vinte por cento, dos municípios. As parcelas

pertencentes aos municípios serão creditadas em contas especiais, abertas em

estabelecimentos oficiais de crédito, na forma e nos prazos fixados em lei federal.

Como é possível visualizar, ainda que sob uma Constituição ditatorial, o ICM já era

sujeito à não cumulatividade.

Esclarece-se que, quando da promulgação da Constituição de 1967, o imposto era

regido pelo Código Tributário Nacional, sendo que, em 31.12.1968, já sob a égide da

ditadura, foi publicado o Decreto-lei 406, que estabeleceu normas gerais de Direito

Financeiro, aplicáveis aos impostos sobre operações relativas à circulação de mercadorias e

sobre serviços de qualquer natureza.

No que tange à não cumulatividade, referido Decreto-lei62

previu:

Art. 3º. O impôsto sôbre circulação de mercadorias é não cumulativo, abatendo-se,

em cada operação o montante cobrado nas anteriores, pelo mesmo ou outro Estado.

§ 1º A lei estadual disporá de forma que o montante devido resulte da diferença a

maior, em determinado período, entre o impôsto referente às mercadorias saídas do

estabelecimento e o pago relativamente às mercadorias nêle entradas. O saldo

verificado em determinado período a favor do contribuinte transfere-se para o

período ou períodos seguintes.

§ 2º Os Estados poderão facultar aos produtores a opção pelo abatimento de uma

percentagem fixa a título do montante do impôsto pago relativamente às

mercadorias entradas no respectivo estabelecimento.

§ 3º Não se exigirá o estôrno do imposto relativo às mercadorias entradas para

utilização, como matéria-prima ou material secundário, na fabricação e embalagem

dos produtos de que tratam o § 3º, inciso I e o § 4º, e o inciso III, do artigo 1º. O

disposto neste parágrafo não se aplica, salvo disposição da legislação estadual em

61

BRASIL. Emenda Constitucional 1, de 17.10.1969. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc_anterior1988/emc01-69.htm>. Acesso em: 11

jan. 2015. 62

BRASIL. Decreto-lei 406, de 31.12.1968. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-

lei/del0406.htm>. Acesso em: 11 jan. 2015.

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104

contrário, às matérias-primas de origem animal ou vegetal que representem,

individualmente, mais de 50% do valor do produto resultante de sua

industrialização.

§ 4º As emprêsas produtoras de discos fonográficos e de outros materiais de

gravação de som poderão abater do montante do impôsto de circulação de

mercadorias, o valor dos direitos autorais artísticos e conexo, comprovadamente

pagos pela emprêsa, no mesmo período, aos autores e artistas, nacionais ou

domiciliados no país assim com dos seus herdeiros e sucessores, mesmo através de

entidades que os representem.

§ 5º Para efeito de cálculo a que se refere o § 1º dêste artigo, os Estados podem

determinar a exclusão de impôsto referente a mercadorias entradas no

estabelecimento quando êste impôsto tiver sido devolvido, no todo ou em parte, ao

próprio ou a outros contribuintes, por qualquer entidade tributante mesmo sob forma

de prêmio ou estímulo.

§ 6º O disposto no parágrafo anterior não se aplica a mercadorias cuja

industrialização fôr objeto de incentivo fiscal, prêmio ou estímulo, resultante de

reconhecimento ou concessão por ato administrativo anterior a 31 de dezembro de

1968 e baseada em Lei Estadual promulgada até a mesma data. § 7º A lei estadual poderá estabelecer que o montante devido pelo contribuinte, em

determinado período, seja calculado com base em valor fixado por estimativa,

garantida, ao final do período, a complementação ou a restituição em moeda ou sob

a forma de utilização como crédito fiscal, em relação, respectivamente, às quantias

pagas com insuficiência ou em excesso.

A Constituição Federal, promulgada em 05.10.1988, trouxe uma nova estruturação ao

Sistema Tributário Nacional, momento em que se encontrava vigente a redação do Decreto-lei

406/68 que, portanto, foi momentaneamente recepcionada.

Foi o art. 34 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias – ADCT63

, que

tratou sobre a entrada em vigor das novas regras, prevendo em seu caput que

o sistema tributário nacional entrará em vigor a partir do primeiro dia do quinto mês

seguinte ao da promulgação da Constituição, mantido, até então, o da Constituição

de 1967, com a redação dada pela Emenda nº 1, de 1969, e pelas posteriores.

No que tange especificamente ao ICMS, o § 8º do referido art. 34 previu:

§ 8º Se, no prazo de sessenta dias contados da promulgação da Constituição, não for

editada a lei complementar necessária à instituição do imposto de que trata o art.

155, I, "b"64

, os Estados e o Distrito Federal, mediante convênio celebrado nos

termos da Lei Complementar nº 2465, de 7 de janeiro de 1975, fixarão

normas para regular provisoriamente a matéria.

Veja-se que o art. 34 do ADCT previu a necessidade de lei complementar para a

instituição do imposto de que trata o art. 155, I, “b”.

63

BRASIL. Ato das Disposições Transitórias – ADCT. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm#adct>. Acesso em: 11 jan. 2015. 64

Cumpre esclarecer que, até a promulgação da Emenda Constitucional 3/93, o art. 155, I, da CF tinha a seguinte

redação: “Art. 155. Compete aos Estados e ao Distrito Federal instituir: I - impostos sobre: a) transmissão causa

mortis e doação, de quaisquer bens ou direitos; b) operações relativas à circulação de mercadorias e sobre

prestações de serviços de transporte interestadual e intermunicipal e de comunicação, ainda que as operações e as

prestações se iniciem no exterior; c) propriedade de veículos automotores. (...).” 65

A Lei Complementar 24/1975.

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105

Ora, como é sabido, quando da promulgação da Constituição Federal de 1988, o ICM

encontrava-se instituído, não ensejando, pois, obrigatoriamente, novo tratamento imediato por

lei complementar.

O que restava sem instituição era o imposto a que se referia o “S” do ICMS, a saber, o

imposto sobre os serviços de transporte intermunicipal e interestadual e de comunicação,

previstos no art. 155 da Carta Constitucional66

.

Não tendo sido editada a lei complementar mencionada do § 8º do art. 34 do ADCT,

no prazo de sessenta dias, o Ministro da Fazenda e os Secretários de Fazenda ou Finanças dos

Estados e do Distrito Federal celebraram o Convênio ICM 66/88, publicado em 16.12.1988,

fixando normas para regular provisoriamente o ICMS.

Porém, apesar de a norma provisória ter autorização constitucional para versar apenas

sobre o tributo até então não instituído em sede de legislação infraconstitucional, referido

Convênio tratou do ICMS de modo amplo e completo, ao longo de seus 35 (trinta e cinco)

artigos, propiciando a alegação de inconstitucionalidade por parte dos contribuintes e

doutrinadores à época, afastada pelo Supremo Tribunal Federal67

.

A constatação de que o Convênio 66/88 ultrapassou os limites impostos pelo ADCT

foi comentado por MELO e LIPPO (2008, p. 33):

Com efeito, o Convênio ICM 66/88 foi baixado com fulcro no 8º do art. 34 do

ADCT.

Assim o referido Convênio tornou-se necessário para instituir o imposto, na matéria

nova (até então inexistente), ou seja a nova competência outorgada aos Estados e

Distrito Federal, isto é ‘sobre prestação de serviço de transporte interestadual e

intermunicipal e da comunicação’.

O Convênio apenas substituiu, ou fez as vezes, da Lei Complementar única e

exclusivamente para preencher lacunas e permitir o exercício da nova competência

das referidas pessoas jurídicas de direito público interno.

O citado art. 34, 8º, do ADCT não conferiu poderes aos Estados para alterarem

matéria já regulada pelo legislador complementar (Decreto-lei 406/88).

66

Sobre a competência para a instituição do imposto sobre a prestação de serviços de transportes antes e após

Constituição Federal de 1988, esclarecem MELO e LIPPO (2008, p. 39): “A Constituição de 1967 estabelecia,

no inc. VII, do art. 22: ‘Compete à União decreta imposto sobre: VII - Serviços de transportes comunicações,

salvo os de natureza estritamente municipal.’ Posteriormente a Emenda Constitucional nº 1/96, modificando o

conteúdo do inc. VII, do art. 22, da CF de 1967, disciplinou no art. 21, inc. X: ‘Art. 21. Compete à União

instituir impostos sobre: X - Transportes, salvo os de natureza estritamente municipal.’ O inc. VII, no mesmo art.

passou a tratar apenas da competência tributária da União para instituir imposto sobre serviço de comunicação, à

exceção daqueles de natureza estritamente municipal. (...) A Constituição de 1988 veio modificar integralmente

a disciplina do imposto incidente sobre a atividade de transporte. Essa Atividade deixou de ser uma hipótese de

incidência isolada de um imposto de competência da União Federal e passou para a esfera tributária dos Estados

Federados, como uma das hipóteses do artigo ICM, na parte em que foi ampliado. Aos Estados e ao Distrito

federal foi outorgada competência para fazer incidir também sobre os serviços de transportes intermunicipais e

interestaduais o citado imposto. 67

O Supremo Tribunal Federal – STF pacificou jurisprudência no sentido de que o Convênio 66/1988 é

constitucional, não tendo ferido os limites impostos pelo § 8º do art. 34 do ADCT. Nesse sentido, AI 195556

AgR / SE, AI 456013 AgR / RS, RE 545845 AgR / SP e AI 577287 AgR / RS. Disponível em: <

http://www.stf.jus.br>. Acesso em: 11 jan. 2015.

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106

No que tange especificamente à não cumulatividade, ela foi tratada pelos arts. 28 a 34,

em capítulo denominado “da compensação do imposto”. Porém, os artigos que versam

efetivamente sobre o direito de crédito são os arts. 28 a 3168

:

Art. 28. O imposto será não-cumulativo, compensando-se o que for devido em cada

operação relativa à circulação de mercadorias ou prestação de serviços de transporte

interestadual e intermunicipal e de comunicação com o montante cobrado nas

anteriores pelo mesmo ou por outro Estado.

Art. 29. A lei poderá dispor que o montante devido resulte da diferença a maior

entre o imposto devido nas operações tributadas com mercadorias ou serviços e o

cobrado, relativamente às operações e prestações anteriores, e seja apurado:

I - por período;

II - por mercadoria ou serviço, dentro de determinado período;

III - por mercadoria ou serviço, à vista de cada operação ou prestação.

§ 1º Os Estados poderão, mediante convênio, facultar a opção pelo abatimento de

percentagem fixa, a título de montante do imposto cobrado nas operações ou

prestações anteriores.

§ 2º Na hipótese do artigo 18, a lei disporá sobre a complementação ou a restituição

das quantias pagas com insuficiência ou em excesso, respectivamente.

§ 3º O saldo do imposto verificado a favor do contribuinte, apurado com base em

qualquer dos critérios estabelecidos nos incisos deste artigo, transfere-se para o

período ou períodos seguintes, segundo a respectiva forma da apuração.

Art. 30. O direito ao crédito, para efeito de compensação com o débito do imposto

reconhecido ao estabelecimento que tenha recebido as mercadorias ou para o qual

tenham sido prestados os serviços, está condicionado à idoneidade da documentação

e, se for o caso, à escrituração, nos prazos e condições estabelecidos na legislação.

Art. 31. Não implicará crédito para compensação com o montante do imposto

devido nas operações ou prestações seguintes:

I - a operação ou a prestação beneficiada por isenção ou não-incidência, salvo

determinação em contrário da legislação;

II - a entrada de bens destinados a consumo ou à integração no ativo fixo do

estabelecimento;

III - a entrada de mercadorias ou produtos que, utilizados no processo industrial, não

sejam nele consumidos ou não integrem o produto final na condição de elemento

indispensável a sua composição;

IV - os serviços de transporte e de comunicação, salvo se utilizados pelo

estabelecimento ao qual tenham sido prestados na execução de serviços da mesma

natureza, na comercialização de mercadorias ou em processo de produção, extração,

industrialização ou geração, inclusive de energia.

Como se pode perceber, os arts. 28, 29 e 30 deixam claro que a não cumulatividade do

ICMS operar-se-ia exclusivamente mediante o aproveitamento do imposto cobrado nas

operações e prestações anteriores, em face da aquisição de mercadorias ou de serviços

prestados, não havendo qualquer menção ao aproveitamento de outras modalidades de crédito.

68

BRASIL. Convênio ICM 66, 16.12.1988. Disponível em: <

http://www1.fazenda.gov.br/confaz/confaz/convenios/icms/1988/CV066_88.htm>. Acesso em: 11 jan. 2015.

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Ao contrário, o art. 31 veda expressamente o aproveitamento de crédito em face da

entrada de bens destinados a consumo ou à integração ao ativo fixo do estabelecimento, de

mercadorias ou produtos que, utilizados no processo industrial, não sejam nele consumidos ou

não integrem o produto final na condição de elemento indispensável a sua composição e os

serviços de transporte e de comunicação, salvo se utilizados pelo estabelecimento ao qual

tenham sido prestados na execução de serviços da mesma natureza, na comercialização de

mercadorias ou em processo de produção, extração, industrialização ou geração, inclusive de

energia.

O Convênio ICM 66/88 manteve-se vigente até a publicação da Lei Complementar 87,

em 16.09.1996, também conhecida como Lei Kandir69

que, atendendo aos desígnios do inciso

VII do § 2º do art. 155 da CF, dispõe de maneira completa sobre o ICMS.

A não cumulatividade do ICMS foi tratada, nos arts. 19 a 26 e 33, sendo de especial

interesse, neste momento, os arts. 19, 20, 21 e 33, abaixo transcritos em sua redação

original70

.

Art. 19. O imposto é não-cumulativo, compensando-se o que for devido em cada

operação relativa à circulação de mercadorias ou prestação de serviços de transporte

interestadual e intermunicipal e de comunicação com o montante cobrado nas

anteriores pelo mesmo ou por outro Estado.

Art. 20. Para a compensação a que se refere o artigo anterior, é assegurado ao sujeito

passivo o direito de creditar-se do imposto anteriormente cobrado em operações de

que tenha resultado a entrada de mercadoria, real ou simbólica, no estabelecimento,

inclusive a destinada ao seu uso ou consumo ou ao ativo permanente, ou o

recebimento de serviços de transporte interestadual e intermunicipal ou de

comunicação.

§ 1º Não dão direito a crédito as entradas de mercadorias ou utilização de serviços

resultantes de operações ou prestações isentas ou não tributadas, ou que se refiram a

mercadorias ou serviços alheios à atividade do estabelecimento.

§ 2º Salvo prova em contrário, presumem-se alheios à atividade do estabelecimento

os veículos de transporte pessoal.

§ 3º É vedado o crédito relativo a mercadoria entrada no estabelecimento ou a

prestação de serviços a ele feita:

I - para integração ou consumo em processo de industrialização ou produção rural,

quando a saída do produto resultante não for tributada ou estiver isenta do imposto,

exceto se tratar-se de saída para o exterior;

II - para comercialização ou prestação de serviço, quando a saída ou a prestação

subsequente não forem tributadas ou estiverem isentas do imposto, exceto as

destinadas ao exterior.

§ 4º Deliberação dos Estados, na forma do art. 28, poderá dispor que não se aplique,

no todo ou em parte, a vedação prevista no parágrafo anterior.

§ 5º Além do lançamento em conjunto com os demais créditos, para efeito da

compensação prevista neste artigo e no anterior, os créditos resultantes de operações

de que decorra entrada de mercadorias destinadas ao ativo permanente serão objeto

69

Foi o Antonio Kandir, então Ministro do Planejamento, que apresentou o PLP 95/96, que foi aprovado pelo

Congresso Nacional como Lei Complementar 87/96. 70

BRASIL. Lei Complementar 87, de 13.09.1996. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lcp/lcp87.htm>. Acesso em: 11 jan. 2015.

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de outro lançamento, em livro próprio ou de outra forma que a legislação

determinar, para aplicação do disposto no art. 21, §§ 5º, 6º e 7º.

Art. 21. O sujeito passivo deverá efetuar o estorno do imposto de que se tiver

creditado sempre que o serviço tomado ou a mercadoria entrada no estabelecimento:

I - for objeto de saída ou prestação de serviço não tributada ou isenta, sendo esta

circunstância imprevisível na data da entrada da mercadoria ou da utilização do

serviço;

II - for integrada ou consumida em processo de industrialização, quando a saída do

produto resultante não for tributada ou estiver isenta do imposto;

III - vier a ser utilizada em fim alheio à atividade do estabelecimento;

IV - vier a perecer, deteriorar-se ou extraviar-se.

§ 1º Devem ser também estornados os créditos referentes a bens do ativo

permanente alienados antes de decorrido o prazo de cinco anos contado da data da

sua aquisição, hipótese em que o estorno será de vinte por cento por ano ou fração

que faltar para completar o quinquênio.

§ 2º Não se estornam créditos referentes a mercadorias e serviços que venham a ser

objeto de operações ou prestações destinadas ao exterior.

§ 3º O não (creditamento ou o estorno a que se referem o § 3º do art. 20 e o caput

deste artigo, não impedem a utilização dos mesmos créditos em operações

posteriores, sujeitas ao imposto, com a mesma mercadoria.

§ 4º Em qualquer período de apuração do imposto, se bens do ativo permanente

forem utilizados para produção de mercadorias cuja saída resulte de operações

isentas ou não tributadas ou para prestação de serviços isentos ou não tributados,

haverá estorno dos créditos escriturados conforme o § 5º do art. 20.

§ 5º Em cada período, o montante do estorno previsto no parágrafo anterior será o

que se obtiver multiplicando-se o respectivo crédito pelo fator igual a um sessenta

avos da relação entre a soma das saídas e prestações isentas e não tributadas e o total

das saídas e prestações no mesmo período. Para este efeito, as saídas e prestações

com destino ao exterior equiparam-se às tributadas.

§ 6º O quociente de um sessenta avos será proporcionalmente aumentado ou

diminuído, pro rata die, caso o período de apuração for superior ou inferior a um

mês.

§ 7º O montante que resultar da aplicação dos §§ 4º, 5º e 6º deste artigo será lançado

no livro próprio como estorno de crédito.

§ 8º Ao fim do quinto ano contado da data do lançamento a que se refere o § 5º do

art. 20, o saldo remanescente do crédito será cancelado de modo a não mais

ocasionar estornos.

Art. 33. Na aplicação do art. 20 observar-se-á o seguinte:

I - somente darão direito de crédito as mercadorias destinadas ao uso ou consumo do

estabelecimento, nele entradas a partir de 1º de janeiro de 1998;

II - a energia elétrica usada ou consumida no estabelecimento dará direito de crédito

a partir da data da entrada desta Lei Complementar em vigor;

III - somente darão direito de crédito as mercadorias destinadas ao ativo permanente

do estabelecimento, nele entradas a partir da data da entrada desta Lei

Complementar em vigor.

Da leitura do caput do art. 20, verifica-se que, diferentemente do que se dava com o

Convênio 66/1988, a Lei Complementar 87/96 passou a prever a possibilidade de serem

tomados créditos do imposto anteriormente cobrado em operações de que tenha resultado em

entrada de mercadoria no estabelecimento destinada ao seu uso e consumo ou ao ativo

permanente e o recebimento de serviços de transporte interestadual e intermunicipal ou de

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comunicação. Assim, previu e, por assim dizer, permitiu, não só o crédito fiscal físico, como

também o financeiro, indo além do quanto previsto constitucionalmente.

Deixa claro, igualmente, a possibilidade de creditamento em face da aquisição de

mercadoria para integração ou consumo em processo de industrialização ou produção rural,

salvo as exceções ali previstas (saídas isentas ou não tributadas).

Além disso, da análise dos demais artigos, constata-se que, quanto aos bens destinados

ao ativo permanente, não houve, em princípio, vedação à sua tomada de forma integral, tão

logo tenha ocorrido a sua entrada, real ou simbólica, no estabelecimento. Foi determinada,

porém, nos termos do § 1º do art. 21, a obrigatoriedade de serem estornados os créditos

referentes a bens do ativo permanentemente alienados antes de decorrido o prazo de cinco

anos contado da data da sua aquisição, hipótese em que o estorno será de vinte por cento por

ano ou fração que faltar para completar o quinquênio.

Por fim, ficou previsto que, só dariam direito a crédito as mercadorias destinadas ao

uso ou consumo entradas no estabelecimento a partir de 01.01.1998, Quanto à energia elétrica

usada ou consumida no estabelecimento às mercadorias destinadas ao ativo permanente do

estabelecimento, ficou determinado que a possibilidade de creditamento se daria apenas a

partir da entrada em vigor da lei complementar, sem possibilidade de retroação.

A Lei Complementar 87/96, no que tange à não cumulatividade, sofreu significativas

alterações com a edição da Lei Complementar 102/200071

, tal como segue:

Art. 20. Para a compensação a que se refere o artigo anterior, é assegurado ao sujeito

passivo o direito de creditar-se do imposto anteriormente cobrado em operações de

que tenha resultado a entrada de mercadoria, real ou simbólica, no estabelecimento,

inclusive a destinada ao seu uso ou consumo ou ao ativo permanente, ou o

recebimento de serviços de transporte interestadual e intermunicipal ou de

comunicação. (...)

§ 5o Para efeito do disposto no caput deste artigo, relativamente aos créditos

decorrentes de entrada de mercadorias no estabelecimento destinadas ao ativo

permanente, deverá ser observado:

I – a apropriação será feita à razão de um quarenta e oito avos por mês, devendo a

primeira fração ser apropriada no mês em que ocorrer a entrada no estabelecimento;

II – em cada período de apuração do imposto, não será admitido o creditamento de

que trata o inciso I, em relação à proporção das operações de saídas ou prestações

isentas ou não tributadas sobre o total das operações de saídas ou prestações

efetuadas no mesmo período.

III – para aplicação do disposto nos incisos I e II, o montante do crédito a ser

apropriado será o obtido multiplicando-se o valor total do respectivo crédito pelo

fator igual a um quarenta e oito avos da relação entre o valor das operações de saídas

e prestações tributadas e o total das operações de saídas e prestações do período,

equiparando-se às tributadas, para fins deste inciso, as saídas e prestações com

destino ao exterior;

71

BRASIL. Lei Complementar 102, 11.7.2000. Disponível em: <

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lcp/lcp102.htm>. Acesso em: 11 jan. 2015.

Page 121: Do direito de crédito no regime não cumulativo de …...certeza de que o Direito é objetivamente um e que os comportamentos do Estado ou dos demais cidadãos dele não discreparão

110

IV – o quociente de um quarenta e oito avos será proporcionalmente aumentado ou

diminuído, pro rata die, caso o período de apuração seja superior ou inferior a um

mês;

V – na hipótese de alienação dos bens do ativo permanente, antes de decorrido o

prazo de quatro anos contado da data de sua aquisição, não será admitido, a partir da

data da alienação, o creditamento de que trata este parágrafo em relação à fração que

corresponderia ao restante do quadriênio;

VI – serão objeto de outro lançamento, além do lançamento em conjunto com os

demais créditos, para efeito da compensação prevista neste artigo e no art. 19, em

livro próprio ou de outra forma que a legislação determinar, para aplicação do

disposto nos incisos I a V deste parágrafo; e

VII – ao final do quadragésimo oitavo mês contado da data da entrada do bem no

estabelecimento, o saldo remanescente do crédito será cancelado. (...)72

Art. 21. O sujeito passivo deverá efetuar o estorno do imposto de que se tiver

creditado sempre que o serviço tomado ou a mercadoria entrada no estabelecimento:

(...)

§ 1º Revogado

§ 2o Não se estornam créditos referentes a mercadorias e serviços que venham a ser

objeto de operações ou prestações destinadas ao exterior ou de operações com o

papel destinado à impressão de livros, jornais e periódicos. (...)

§ 4º Revogado

§ 5º Revogado

§ 6º Revogado

§ 7º Revogado

§ 8º Revogado

Art. 33. Na aplicação do art. 20 observar-se-á o seguinte: (...)

II – somente dará direito a crédito a entrada de energia elétrica no estabelecimento:

a) quando for objeto de operação de saída de energia elétrica;

b) quando consumida no processo de industrialização;

c) quando seu consumo resultar em operação de saída ou prestação para o exterior,

na proporção destas sobre as saídas ou prestações totais; e

d) a partir de 1o de janeiro de 2003, nas demais hipóteses; (...)

IV – somente dará direito a crédito o recebimento de serviços de comunicação

utilizados pelo estabelecimento:

a) ao qual tenham sido prestados na execução de serviços da mesma natureza;

b) quando sua utilização resultar em operação de saída ou prestação para o exterior,

na proporção desta sobre as saídas ou prestações totais; e

c) a partir de 1o de janeiro de 2003, nas demais hipóteses.

Como se vê, a Lei Complementar 102/2000 trouxe várias restrições à não

cumulatividade anteriormente vigente.

Primeiramente, o creditamento em face da aquisição de bens destinados ao ativo

imobilizado passou a ser fracionado, de tal forma que a apropriação só pode ser realizada à

razão de um quarenta e oito avos por mês, devendo a primeira fração ser apropriada no mês

em que ocorrer a entrada no estabelecimento.

Além disso, limitou-se o imediato creditamento de energia elétrica à entrada no

estabelecimento, quando objeto de operação de saída de energia elétrica; quando consumida

no processo de industrialização; e quando seu consumo resultar em operação de saída ou

72

BRASIL. Lei Complementar 87, de 13.09.1996. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lcp/lcp87.htm>. Acesso em: 11 jan. 2015.

Page 122: Do direito de crédito no regime não cumulativo de …...certeza de que o Direito é objetivamente um e que os comportamentos do Estado ou dos demais cidadãos dele não discreparão

111

prestação para o exterior, na proporção destas sobre as saídas ou prestações totais, permitindo-

se o creditamento em qualquer outra hipótese apenas a partir de 1.1.2003.

Restrições também foram impostas quanto ao creditamento em face do recebimento de

serviços de comunicação, dada a previsão de que somente dará direito a crédito o recebimento

de serviços de comunicação utilizados pelo estabelecimento ao qual tenham sido prestados na

execução de serviços da mesma natureza e quando sua utilização resultar em operação de

saída ou prestação para o exterior, na proporção desta sobre as saídas ou prestações totais,

permitindo-se o creditamento em qualquer outra hipótese apenas a partir de 1.1.2003.

Quanto aos creditamentos a serem realizados após 2003, inclusive para material de uso

e consumo, cumpre destacar ter havido uma sucessão de leis complementares publicadas [na

verdade 6 (seis)73

] após a edição da Lei Complementar 87/96, culminando, por fim, na

publicação da Lei Complementar 138/201074

, que previu a possibilidade de creditamento

apenas a partir de 1.1.2020.

Por fim, por intermédio da Lei Complementar 120/200575

, foi mais uma vez alterado o

critério para creditamento de ICMS decorrentes de entrada de mercadorias no estabelecimento

destinadas ao ativo permanente à razão de 1/48 ao mês.

Art. 20. Para a compensação a que se refere o artigo anterior, é assegurado ao sujeito

passivo o direito de creditar-se do imposto anteriormente cobrado em operações de

que tenha resultado a entrada de mercadoria, real ou simbólica, no estabelecimento,

inclusive a destinada ao seu uso ou consumo ou ao ativo permanente, ou o

recebimento de serviços de transporte interestadual e intermunicipal ou de

comunicação. (...)

§ 5o Para efeito do disposto no caput deste artigo, relativamente aos créditos

decorrentes de entrada de mercadorias no estabelecimento destinadas ao ativo

permanente, deverá ser observado: (...)

III – para aplicação do disposto nos incisos I e II deste parágrafo, o montante do

crédito a ser apropriado será obtido multiplicando-se o valor total do respectivo

crédito pelo fator igual a 1/48 (um quarenta e oito avos) da relação entre o valor das

operações de saídas e prestações tributadas e o total das operações de saídas e

prestações do período, equiparando-se às tributadas, para fins deste inciso, as saídas

e prestações com destino ao exterior ou as saídas de papel destinado à impressão de

livros, jornais e periódicos;

Exposto o quadro legislativo que emoldura a não cumulatividade em face do ICMS,

suas especificidades serão tratadas em item próprio, cumprindo destacar, desde já, que a

incorreta classificação das mercadorias destinadas à integração ou consumo em processo de

73

As prorrogações quanto à data de início dos creditamentos dito gerais se deram por intermédio das Leis

Complementares 92/97, 99/99, 102/2000, 114/2002, 122/2006 e, por fim, 138/2012. 74

BRASIL. Lei Complementar 138, 29.12.2010. Disponível em: <

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lcp/lcp138.htm>. Acesso em: 11 jan. 2015. 75

BRASIL. Lei Complementar 120, 29.12.2005. Disponível em: <

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lcp/lcp120.htm>. Acesso em: 11 jan. 2015.

Page 123: Do direito de crédito no regime não cumulativo de …...certeza de que o Direito é objetivamente um e que os comportamentos do Estado ou dos demais cidadãos dele não discreparão

112

industrialização ou produção rural (insumo), ao ativo imobilizado e para serem utilizadas

como material de uso e consumo, afeta diretamente os valores a serem recolhidos a título de

ICMS a cada mês.

Por exemplo, se um contribuinte entender ter adquirido um insumo, inserido na classe

das mercadorias, e essa classificação não for aceita como correta, terá glosado pelo fisco os

créditos por ele lançados. Em consequência, poderá sofrer autuação fiscal para exigência do

tributo que deixou de ser pago, acrescido de multa e de juros de mora.

Por outro lado, caso não tome os créditos a que faz jus por determinação dos entes

políticos, está sendo-lhe tolhido o direito à não cumulatividade garantida na Constituição

Federal e em lei complementar e, por conseguinte, impondo-lhe o pagamento de mais tributo

do que é exigido como condição para participar da República e para financiar o pacto

federativo. Consequentemente, estarão sendo feridos princípios constitucionais tais como o da

capacidade contributiva e do não confisco, além do direito à propriedade.

Fato é que, independentemente da classificação realizada pelos contribuintes, cada um

dos Estados, ao definir o conceito de insumos, bens do ativo imobilizado e material de uso e

consumo, o fazem de maneira distinta, não havendo uniformidade na delimitação e definição

desses conceitos. E, conforme será exemplificativamente demonstrado, em grande parte dos

casos, os Estados fazem uma interpretação restritiva dos conceitos, impedindo a tomada de

créditos, ou postergando o seu aproveitamento por 48 (quarenta e oito) meses, a despeito de se

estar diante do direito de crédito imediato.

É isso que passar-se-á a ser demonstrado.

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113

CAPÍTULO 8 - DAS REGRAS ATINENTES AO DIRETO DE CREDITAMENTO NA LEI

COMPLEMENTAR 87/96

Primeiramente, antes de se iniciar o presente Capítulo, ratifica-se o quanto já exposto

acima, no sentido de que temos o entendimento de que o Constituição Federal permite, como

regra, a percepção apenas de créditos físicos para fins de se dar azo à não cumulatividade.

Portanto, desde logo consigne-se que o fato de o creditamento quanto aos bens

destinados ao ativo imobilizado ser postergado para ser tomado ao longo de 48 (quarenta e

oito) meses após sua aquisição ou o creditamento do ICMS sobre a aquisição de materiais de

uso e consumo ser possível apenas a partir do ano de 2020, não se caracteriza

inconstitucionalidade da Lei Complementar 87/96.

Diferentemente, a Lei Complementar tinha autorização constitucional para sequer

permitir o creditamento de ICMS em face de referidas aquisições, de tal modo que tais

limitações serão tratadas como características da sistemática por ela implementada.

O resumo das regras de creditamento presentes na Lei Complementar 87/96 foi

realizado por TEIXEIRA e ARANTES (2012, p. 18), tal como segue:

Tendo em vista o conteúdo do princípio da não cumulatividade, dois artigos da LC

87/1996 merecem destaque: o art. 20 e o art. 33, incisos I e III.

Enquanto o primeiro dispositivo mencionado, art. 20, assegura um amplo direito de

crédito relativo à entrada de mercadoria destinada a uso ou consumo do

estabelecimento, bem como a destinada ao ativo permanente, além do recebimento

de serviços de transporte interestadual e intermunicipal ou de comunicação, o art.

33, restringe esse direito, estabelecendo que: (1) o crédito relativo à aquisição de

mercadorias destinadas ao ativo permanente será apropriado na proporção de 1/48,

sendo que esse direito decorre da entrada em vigor da Lei Complementar 87/1996;

(2) somente darão direito de crédito as aquisições de mercadorias destinadas ao uso

ou consumo do estabelecimento nele entradas a partir de 1º de janeiro de 2020; (3)

somente dará direito ao crédito a entrada de energia elétrica no estabelecimento: (a)

quando for objeto de operação de saída de energia elétrica; (b) quando consumida no

processo de industrialização; (c) quando seu consumo resultar em operação de saída

ou prestação para o exterior, na proporção destas sobre as saídas ou prestações

totais; (d) nos demais casos, a partir 1º de janeiro de 2020; (4) somente dará direito a

crédito o recebimento de serviços de comunicação utilizados pelo estabelecimento:

(a) ao qual tenham sido prestados na execução de serviços da mesma natureza; (b)

quando sua utilização resultar em operação de saída ou prestação para o exterior, na

proporção desta sobre as saídas ou prestações totais; e (c) a partir de 1º de janeiro de

2020 nas demais hipóteses.

Deixa-se claro que não serão analisadas individualmente as hipóteses previstas na

legislação complementar e que versem sobre a negativa de crédito ou necessidade de estorno

dada a saída subsequente de produtos isentos ou não tributados, tendo em vista se tratar de

regra constitucional inquestionável.

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114

8.1 Dos bens utilizados como insumos

A regra geral com relação ao direito de apropriação de créditos fiscais atinentes aos

insumos está prevista no art. 19, no art. 20, caput, e §3º, I e no art. 21, II da Lei

Complementar 87/96.

Referidos artigos, além de preverem ser o ICMS um imposto não cumulativo,

asseguram o direito de creditamento do imposto anteriormente cobrado em operações que

tenham resultado a entrada de mercadoria, real ou simbólica, no estabelecimento, ou o

recebimento de serviços de transporte interestadual e intermunicipal ou de comunicação.

Além disso, ao determinar que “é vedado o crédito relativo a mercadoria entrada no

estabelecimento ou a prestação de serviços a ela feita para integração ou consumo em

processo de industrialização ou produção rural, quando a saída do produto resultante não for

tributada ou estiver isenta do imposto”, acaba por ratificar a possibilidade de crédito relativo a

mercadoria entrada no estabelecimento ou a prestação de serviços para integração ou

consumo em processo de industrialização ou produção rural, ou seja, entrada de insumos.

Já o § 1º do art. 20 determina não darem direito a crédito as entradas de mercadorias

ou a utilização de serviços resultantes de operações que se refiram a mercadorias ou serviços

alheios à atividade do estabelecimento.

Se referido parágrafo for entendido como dizendo respeito ao direito de crédito com

relação à aquisição de insumos, está de acordo com o previsto constitucionalmente, sendo que

apenas esclarece que não se considera insumo a mercadoria ou serviço que não diga respeito à

atividade do estabelecimento.

Também está em conformidade com a norma constitucional, o quanto previsto no art.

21, já que prevê que, caso tenha sido tomado crédito em face da aquisição de insumo, o

mesmo deverá ser estornado (a) se for objeto de saída ou prestação de serviço não tributada

ou isenta; (b) for integrada ou consumida em processo de industrialização, quando a saída do

produto resultante não for tributada ou estiver isenta do imposto; (c) vier a ser utilizado em

fim alheio à atividade do estabelecimento ou (d) perecer, deteriorar-se ou extraviar-se.

Porém, ainda com relação aos insumos, algumas previsões contidas no art. 33 da Lei

Complementar 87/96 padecem de inconstitucionalidade, merecendo, pois, questionamento.

Dizem elas respeito à limitação de creditamento apenas à entrada de energia elétrica

no estabelecimento quando for objeto de saída, igualmente, de energia elétrica, ou quando

consumida no processo de industrialização, sendo que todo e qualquer outro creditamento

Page 126: Do direito de crédito no regime não cumulativo de …...certeza de que o Direito é objetivamente um e que os comportamentos do Estado ou dos demais cidadãos dele não discreparão

115

referente à aquisição de energia elétrica dar-se-á livremente a partir de 2020, nos termos do

inciso II, do art. 33.

Não há dúvida que a lei complementar considera a energia elétrica como insumo.

Tanto assim que permite seu creditamento, ainda que parcialmente [e totalmente, enquanto da

vigência do art. 33 em sua redação original dada pela Lei Complementar 87/96].

Além disso, a exclui do conceito de mercadoria destinada ao uso e consumo, já que

dedica inciso exclusivo para esta categoria de mercadoria (art. 33, I), enquanto versa sobre o

creditamento de energia elétrica em inciso próprio (art. 33, II).

A Constituição Federal, por sua vez, não traz qualquer limitação à não cumulatividade

em face da aquisição de mercadorias que se caracterizem como crédito físico, ou seja,

mercadoria ou serviço integrado ou consumido no processo de industrialização ou produção

rural.

E veja-se: foi a Constituição Federal e não a Lei Complementar que alçou a energia

elétrica à categoria de mercadoria, uma vez que determinou estar ela submetida à tributação

pelo ICMS.

Ora, nenhum estabelecimento comercial, no qual é desenvolvida a atividade que

enseja a tributação pelo ICMS, funciona sem energia elétrica, não havendo justificativa para

que seu creditamento seja limitado aos estabelecimentos industriais. Não se trata, pois, sem

sombra de dúvidas, de mercadoria alheia à atividade do estabelecimento.

A sociedade, pessoa jurídica sujeito de direito com personalidade, é constituída para

um determinado fim, denominando-se “empresa” a atividade produtiva.

Essa é a conclusão de COELHO (2009, p. 63), segundo quem,

em termos técnicos, contudo, empresa é a atividade, e não a pessoa que a explora.

(...) A empresa pode ser explorada por uma pessoa física ou jurídica. No primeiro

caso, o exercente da atividade econômica se chama empresário individual; no

segundo, sociedade empresária.

REQUIÃO (1988, p. 58) explica que “a principal distinção, e a mais didática, entre

empresa e sociedade comercial é a que vê na sociedade, o sujeito de direito, e na empresa,

mesmo como exercício de atividade, o objeto de direito”, podendo, inclusive, “haver

sociedade empresarial sem empresa”, já que, enquanto a sociedade estiver inativa, a empresa

não surge.

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116

Nesse contexto, deve ser verificada a natureza jurídica do estabelecimento, definido

pelo art. 1.142 do Código Civil76

como “todo complexo de bens organizado, para exercício da

empresa, por empresário, ou por sociedade empresária”.

Tal conceito foi elucidado por COELHO (2009, p. 96):

Estabelecimento empresarial é o conjunto de bens que o empresário reúne para

exploração de sua atividade econômica. Compreende os bens indispensáveis ou úteis

ao desenvolvimento da empresa, como as mercadorias em estoque, máquinas,

veículos, marca e outros sinais distintivos, tecnologia etc. Trata-se de elemento

indissociável à empresa. Não existe como dar início à exploração de qualquer

atividade empresarial, sem a organização do estabelecimento.

Analisando-se a questão sob enfoque prático, tem-se que uma sociedade, enquanto

detentora de personalidade jurídica e, portanto, sujeito de direitos, estabelece com terceiros

relações que dizem respeito ao objetivo para o qual foi criada, mediante seus representantes

legais. Já o desenvolvimento da atividade social da pessoa jurídica – empresa – decorrente das

relações firmadas com terceiros, dá-se por intermédio de seus estabelecimentos.

Trazendo-se essa constatação ao tema sob análise, tem-se que o ICMS possui como

hipótese de incidência a realização de uma operação de circulação de mercadorias ou a

prestação de serviços constitucionalmente previstos, atividades que são desempenhadas pelas

pessoas jurídicas, por meio de seus estabelecimentos, complexo organizado para o exercício

da empresa.

Portanto, (a) tendo a Constituição Federal tratado a energia elétrica como mercadoria;

(b) sendo a energia elétrica um insumo, tal como reconhecido pela própria Lei Complementar

87/96; (c) sendo ela indispensável à atividade do estabelecimento, seja ele industrial,

comercial ou prestador de serviço; (d) não se tratando sua utilização de atividade alheia ao

estabelecimento, a limitação quanto ao creditamento de ICMS na operação de sua aquisição é

inconstitucional.

O mesmo se dá, exatamente da mesma forma, com relação aos serviços de

comunicação utilizados por qualquer estabelecimento contribuinte do ICMS, essencial ao

desenvolvimento da atividade empresarial (indústria, comércio, prestação de serviços).

A despeito de os serviços de comunicação serem considerados como insumo pela

própria Lei Complementar 87/96, somente dar-se-á direito a crédito imediato, o recebimento

de serviços de comunicação utilizados pelo estabelecimento (a) ao qual tenham sido prestados

na execução de serviços da mesma natureza; ou (b) quando sua utilização resultar em

76

BRASIL. Código Civil – Lei 10.406, de 10.01.2002. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406.htm>. Acesso em: 11 jan. 2014.

Page 128: Do direito de crédito no regime não cumulativo de …...certeza de que o Direito é objetivamente um e que os comportamentos do Estado ou dos demais cidadãos dele não discreparão

117

operação de saída ou prestação para o exterior, na proporção desta sobre as saídas ou

prestações totais.

Ora, absolutamente impossível imaginar-se, nos dias atuais, um estabelecimento que

não tome serviços de comunicação, ou até que não dependa dele para desenvolver sua

atividade, sendo aplicáveis para esta hipótese todos os argumentos acima expendidos em face

da aquisição de energia elétrica.

Em suma, o art. 33, incisos II e IV, da Lei Complementar 87/96, em sua atual redação,

padece de vício de inconstitucionalidade ao não permitir o amplo creditamento, pelos

estabelecimentos, do ICMS incidente na aquisição de energia elétrica e no recebimento de

serviços de comunicação, dado tratarem-se de insumos.

8.2 Dos bens destinados ao ativo imobilizado

Com relação à aquisição de bens destinados ao ativo imobilizado, ratifica-se a

conclusão já apresentada de que, por não se estar diante da possibilidade constitucional de

aproveitamento de crédito financeiro, o creditamento do ICMS incidente nas operações

voltadas à sua aquisição não está garantido.

Nesse sentido, válidas são as restrições ao creditamento do ICMS impostas pelo § 5º

do art. 20 da Lei Complementar 87/9677

, que, em suma, são:

(a) apropriação feita à razão de um quarenta e oito avos por mês;

(b) não admissão, em cada período de apuração do imposto, de

creditamento em relação à proporção das operações de saídas ou prestações

isentas ou não tributadas sobre o total das operações de saídas ou prestações

efetuadas no mesmo período;

(c) obtenção do crédito a ser apropriado multiplicando-se o valor total do

respectivo crédito pelo fator igual a 1/48 (um quarenta e oito avos) da

relação entre o valor das operações de saídas e prestações tributadas e o total

das operações de saídas e prestações do período;

(d) aumento ou diminuição proporcional do quociente de um quarenta e

oito avos, pro rata die, caso o período de apuração seja superior ou inferior

a um mês;

77

BRASIL. Lei Complementar 87/96. Disponível em: <

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lcp/lcp87.htm>. Acesso em: 11 jan. 2015.

Page 129: Do direito de crédito no regime não cumulativo de …...certeza de que o Direito é objetivamente um e que os comportamentos do Estado ou dos demais cidadãos dele não discreparão

118

(e) inadmissão, na hipótese de alienação dos bens do ativo permanente,

antes de decorrido o prazo de quatro anos contado da data de sua aquisição,

de creditamento em relação à fração que corresponderia ao restante do

quadriênio; e

(f) cancelamento, ao final do quadragésimo oitavo mês contado da data da

entrada do bem no estabelecimento, do saldo remanescente do crédito.

Por fim, há que ser feita menção à previsão contida na parte final do § 1º do art. 20, no

sentido de que não darão direito a crédito as entradas de mercadorias ou utilização de serviços

alheios à atividade do estabelecimento.

Em verdade, como acima informado, estabelecimento é todo complexo de bens

organizado para o exercício da empresa (atividade). Trata-se do conjunto de bens que o

empresário reúne para a exploração de sua atividade econômica.

Portanto, todos os bens que se encontram no estabelecimento e que são utilizados no

desenvolvimento da atividade, são atinentes a essa atividade, o que engloba, inclusive, a

atividade administrativa, abarcando, por exemplo, não só maquinário de uma indústria, mas

todo o mobiliário, computadores etc.

Aqui, não há que se confundir objeto social da pessoa jurídica com o estabelecimento

no qual a atividade é desenvolvida.

Se a Lei Complementar faz referência à utilização de bens do ativo imobilizado na

atividade do estabelecimento, haverá direito ao crédito em face de todo e qualquer bem do

ativo imobilizado adquirido efetivamente para o cumprimento de tal fim.

Tanto isso é verdade que o § 2º do art. 2078

prevê, de forma denotativa, que “salvo

prova em contrário, presumem-se alheios à atividade do estabelecimento os veículos de

transporte pessoal”.

Se o veículo é de transporte pessoal, por óbvio, diz respeito a atividade alheia ao

estabelecimento, de tal forma que o exemplo apresentado ratifica o entendimento acima

exposto.

Em suma, pode-se afirmar inexistirem inconstitucionalidades em face das restrições ao

crédito de ICMS diante da aquisição de bens do ativo imobilizado.

78

BRASIL. Lei Complementar 87/96. Disponível em: <

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lcp/lcp87.htm>. Acesso em: 11 jan. 2015.

Page 130: Do direito de crédito no regime não cumulativo de …...certeza de que o Direito é objetivamente um e que os comportamentos do Estado ou dos demais cidadãos dele não discreparão

119

8.3 Dos bens destinados ao uso e consumo

Com relação aos bens destinados ao uso e consumo, a despeito de o caput do art. 20 da

Lei Complementar 87/9679

ter assegurado ao sujeito passivo do ICMS o creditamento do

imposto anteriormente cobrado em operações anteriores atinentes à aquisição de mercadorias

ou recebimento de serviços, inclusive a destinada ao seu uso e consumo, o inc. I do art. 33 da

mesma lei, com a redação que lhe foi dada pela Lei Complementar 138/201080

determinou

que, “somente darão direito de crédito as mercadorias destinadas ao uso ou consumo do

estabelecimento nele entradas a partir de 1º de janeiro de 2020”.

Ratifica-se, aqui, a conclusão já apresentada de que, por não haver determinação

constitucional de aproveitamento de crédito financeiro, o creditamento do ICMS incidente nas

operações voltadas à aquisição de mercadorias destinadas ao uso e consumo não é um direito

do contribuinte, tendo sido permitido justamente por intermédio da Lei Complemente 87/96.

MOREIRA (2012, p. 378) elaborou didático quadro demonstrando a forma como o

legislador nacional, defendendo os interesses financeiros dos Estados, está postergando o

início do creditamento de ICMS sobre os materiais destinados ao uso e consumo.

Diploma normativo Data de publicação Data de início do aproveitamento

do crédito sobre bens

de uso e consumo LC 87 (texto original) 13.09.1996 01.01.1998

LC 92 23.12.1997 01.01.2000

LC 99 20.12.1999 01.01.2003

LC 114 16.12.2002 01.01.2007

LC 122 12.12.2006 01.01.2011

LC 138 29.12.2010 01.01.2020

E, tal prorrogação tende a continuar a ser feita, conforme explica CARVALHO, O.

(2013, p. 176):

Inicialmente, queremos aqui nos manifestar que se esse assunto não for tratado em

eventual reforma tributária até então, ou seja, até 1º de janeiro de 2020, fatalmente

haverá nova prorrogação de prazo para início de sua vigência, já que representa

significativa influência na atividade financeira dos entes federados, que se

79

BRASIL. Lei Complementar 87, de 13.09.1996. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lcp/lcp87.htm>. Acesso em: 11 jan. 2015. 80

BRASIL. Lei Complementar 138, 29.12.2010. Disponível em: <

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lcp/lcp120.htm>. Acesso em: 11 jan. 2015.

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movimentarão, mais uma vez, no sentido da prorrogação do início de vigência da

norma que permita o crédito amplo. (...)

Os Estados e o Distrito Federal não admitem perda sem compensação, daí que se

houver acordo entre essas pessoas políticas, jamais será superada essa condição

resolutiva temporal, posto que está fadada a sucessivas prorrogações, como tantos

outros exemplos semelhantes que conhecemos na seara tributária.

Fazendo menção à compreensão que o Supremo Tribunal Federal tem sobre a questão,

é a exposição feita por TEIXEIRA e ARANTES (2012, p. 20):

No que tange à compensação do STF [sic], sobre o princípio da não cumulatividade,

merece destaque o entendimento no sentido de que "os créditos relativos a bens

incorporados ao ativo permanente, à energia elétrica ou a serviços de comunicação

não decorrem diretamente do princípio da não-cumulatividade, mas resultam de

benefício ou 'favor fiscal' previsto em lei complementar, por força do que dispõe o

art. 155, parágrafo 2º, XII, 'c' da CF/1988, segundo o qual cabe às leis dessa natureza

“disciplinar o regime de compensação do imposto'". Assim, sendo beneficiário

fiscal, nada impede que a lei restrinja ou até afaste o seu aproveitamento, como fez a

LC 102/2000, sem que isso importe em qualquer inconstitucionalidade. (...)

Especialmente, quanto ao direito de creditar-se do ICMS incidente nas operações de

aquisição de bens do ativo fixo, com julgamento da medida cautelar na ADI 2.325, o

STF entendeu, pacificando a questão, no sentido de que a determinação de

parcelamento dos créditos de ICMS nas aquisições de ativo imobilizado, contida na

LC 102/2000, não contraria o princípio da não cumulatividade.

No que tange à aquisição de produtos intermediários aplicados no processo

produtivo que não integram fisicamente o produto final, o STF adotou o

entendimento de que não gera direito ao crédito de ICMS, uma vez que a adquirente,

nesse caso mostra-se como consumidora final.81

Por fim, destaca-se que a previsão contida no § 1º do art. 2082

, no sentido de que não

darão direito ao crédito as entradas de mercadorias ou utilização de serviços alheios à

atividade do estabelecimento, é válida igualmente em face da aquisição de material de uso e

consumo, ratificando-se, aqui, as conclusões adotadas quando da análise da mesma previsão

em face da aquisição de bens do ativo imobilizado. Em suma, tudo quanto adquirido para uso

e consumo no que diz respeito à atividade do estabelecimento está abarcado pelo direito de

creditamento.

Fixadas as regras atinentes aos créditos físicos e financeiros presentes na legislação

complementar, passa-se a enfrentar, pois, a problemática exposta no início do presente

trabalho, que é a classificação de uma mercadoria como insumo, bem destinado ao ativo

imobilizado ou material para uso e consumo.

81

Os acórdãos nos quais houve manifestação do STF foram proferidos nos seguintes processos: os seguintes:

Ag. Reg. 503.877/MG, Relator Ministro Ricardo Lewandowski; AI 562.701-ED/RS, Relator Ministro Celso de

Mello; ADI-MC 2.325/2004. Disponível em: <http://www.stf.jus.br>. Acesso em: 11 jan. 2015. 82

BRASIL. Lei Complementar 87/96. Disponível em: <

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lcp/lcp87.htm>. Acesso em: 11 jan. 2015.

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CAPÍTULO 9 - DAS CONSEQUÊNCIAS DA NÃO UNIFORMIDADE DE TRATAMENTO

DOS CRÉDITOS DE INSUMO, ATIVO IMOBILIZADO E MATERIAL DE USO E

CONSUMO PELOS ESTADOS DA FEDERAÇÃO

Dado tudo quanto já acima analisado, pode-se facilmente concluir que, a depender se

uma mercadoria é classificada como insumo, ativo imobilizado ou material de uso e consumo,

as consequências fiscais e financeiras para a empresa adquirente são diferentes.

Assim, se uma mercadoria adquirida adequa-se ao conceito de insumo, a pessoa

jurídica adquirente está autorizada a se creditar, imediata e integralmente, do valor destacado

na nota fiscal contra ela emitida. Já se a mercadoria destinar-se ao ativo imobilizado da pessoa

jurídica, o creditamento dá-se à razão de 1/48 (um quarenta e oito avos) por mês. Porém, se se

estiver diante de material de uso e consumo, não há que se falar em possibilidade de

creditamento, ao menos até 31 de dezembro de 2019.

Via de regra, e desde que se estivesse diante de conceitos de créditos de ICMS

claramente definidos, todos os Estados, sob a égide da Lei Complementar 87/96, deveriam

conotar e denotar insumo, ativo imobilizado e material de uso e consumo de forma uníssona.

Contudo, não é isso o que ocorre.

O fato de os Estados atribuírem tratamento diverso principalmente à denotação desses

conceitos pode trazer sérias consequências para os contribuintes.

Nesse sentido, se um Estado denomina como insumo mercadorias que se adequam ao

conceito de ativo imobilizado ou de material de uso e consumo, permite ao contribuinte nele

estabelecido que tome imediatamente créditos que somente seriam apropriados em 48

(quarenta e oito) meses, ou em face dos quais sequer pode ocorrer o creditamento de ICMS.

Se isso ocorrer em face de uma grande gama de mercadorias atinentes à atividade

social do contribuinte, será a este mais conveniente instalar-se nesse Estado ou nele

concentrar a maior parte de suas atividades.

Porém, por outro lado, se um Estado restringe seu entendimento sobre a definição de

referidos conceitos, pode induzir o afastamento de contribuintes de seu território ou ensejar o

recolhimento indevido de tributo.

Por outro lado, a depender do enquadramento que os contribuintes fazem dos bens que

adquirem, poderão tomar mais créditos do que aqueles que os Estados e o Distrito Federal

entendem que fazem jus, acarretando o recolhimento a menor do ICMS.

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Como se vê, a definição do conceito de insumo, ativo imobilizado e material de uso e

consumo tem o condão de afetar a neutralidade inerente ao ICMS.

Ao tratar sobre a neutralidade, CARVALHO, O. (2013, p. 43) explica que:

(...) para a ciência econômica a neutralidade dos tributos é obtida quando estes não

são determinantes nas tomadas de decisões pelos agentes econômicos. O tributo

incidindo igualmente para todos os concorrentes não há por que ser fator decisivo no

deslocamento de uma planta industrial de uma região para outra, por exemplo. Nesse

sentido, o sistema tributário é melhor tanto quanto menor forem os impactos

negativos do tributo sobre a eficiência econômica.

Já o reflexo da neutralidade econômica em âmbito tributário é tratado por José Luis

Ribeiro Brazuna, transcrito por CARVALHO, O. (2013, p. 67), nos seguintes termos:

Assim sendo, o princípio da neutralidade tributária deve ser respeitado como limite à

atividade estatal de arrecadação de tributos, seja no que diz respeito à construção das

normas de incidência tributária, seja no que se refere à imposição de deveres

instrumentais aos contribuintes e, em especial, à concessão de incentivos e

benefícios fiscais.

Abaixo, serão analisadas situações que afastam a neutralidade econômica e fiscal com

relação ao ICMS, em face da falta de uniformidade de tratamento dado a insumo, ativo

imobilizado e material de uso e consumo pelos Estados e pelo Distrito Federal.

9.1 Estados denotam insumo, ativo imobilizado e material de uso e consumo de modo

não uniforme

A despeito de os Estados e o Distrito Federal estarem adstritos aos limites da

competência tributária outorgada pela Constituição Federal e delineada pela Lei

Complementar 87/96, fato é que cada um deles atribui aos conceitos de insumos, ativo

imobilizado e material de uso e consumo definições distintas.

Para demonstração dessa divergência, são tomados, a título meramente

exemplificativo, os Regulamentos do ICMS (RICMS), bem como normas de hierarquia

inferior, dos Estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Espírito Santo, Paraná e

Bahia, no que tange aos créditos passíveis de serem tomados pelas pessoas jurídicas

prestadoras de serviço de transporte intermunicipal e interestadual em face de insumos.

A decisão de realização desse corte para analisar tal diversidade de tratamento em face

de insumos adquiridos por prestadores de serviço submetidos ao ICMS deve-se ao fato de,

com relação a esse setor, alguns Estados terem por hábito denotar, de maneira expressa, os

itens que geram créditos de ICMS em face de sua aquisição.

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Por outro lado, na omissão das normas estaduais, os prestadores de serviço têm que

conviver com a falta de parâmetros para avaliarem o que se entende por insumo.

Quanto aos Estados mencionados, a eleição foi aleatória, e independeu do

conhecimento prévio da existência específica de norma afeta aos prestadores de serviço,

destacando-se que a intenção do presente trabalho não é a catalogação do tratamento dado por

todos os Estados e o Distrito Federal à matéria, mas demonstrar as consequências de tal

diversidade de tratamento para as pessoas jurídicas.

9.1.1 São Paulo

Especificamente no Estado de São Paulo, a legislação é omissa com relação aos bens e

produtos considerados como insumos para as empresas de transporte intermunicipal e

interestadual.

A não cumulatividade foi genericamente tratada pelo Estado de São Paulo nos art. 59 a

70-I do seu Regulamento do ICMS, aprovado pelo Decreto Estadual 45.490/2000

(RICMS/SP), sendo que, com relação ao conceito de insumos, não apresentou qualquer

definição conotativa ou denotativa.

O conceito denotativo de insumo em face das empresas de transporte intermunicipal e

interestadual foi tratado na Decisão Normativa da Coordenadoria de Administração Tributária

(CAT) 1, de 27 de abril de 2001, proferida com fundamento no art. 522 do RICMS/SP, que

prevê:

Art. 522. A Consultoria Tributária poderá propor ao Coordenador da Administração

Tributária a expedição de ato normativo, sempre que uma resposta tiver interesse

geral (Lei 6.374/89, art. 104).

Referida Decisão Normativa, além de dispor sobre esse ponto específico, tratou

também sobre o direito ao crédito do valor do imposto destacado em documento fiscal

referente à aquisição de ativo permanente, energia elétrica, serviços de transporte e de

comunicações, combustível e mercadoria para uso ou consumo, entre outras mercadorias.

No que tange aos insumos, prevê referida decisão:

III - DO DIREITO AO CRÉDITO DO VALOR DO IMPOSTO

3. - Diante das normas legais e regulamentares atrás citadas, dão direito ao crédito

do valor imposto as seguintes mercadorias entradas ou adquiridas ou os serviços

tomados pelo contribuinte :

3.1 - insumos

A expressão "insumo" consoante o insigne doutrinador Aliomar Baleeiro "é uma algaravia de origem espanhola, inexistente em português, empregada por alguns economistas para traduzir a expressão inglesa 'input', isto é, o conjunto

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dos fatores produtivos, como matérias-primas, energia, trabalho, amortização do capital, etc., empregados pelo empresário para produzir o 'output' ou o produto final. (...). "Insumos são os ingredientes da produção, mas há quem limite a palavra aos 'produtos intermediários' que, não sendo matérias-primas, são empregados ou se consomem no processo de produção" (Direito Tributário Brasileiro, Forense Rio de janeiro, 1980, 9ª edição, pág.214). Nessa linha, como tais têm-se a matéria-prima, o material secundário ou

intermediário, o material de embalagem, o combustível e a energia elétrica,

consumidos no processo industrial ou empregados para integrar o produto objeto da

atividade de industrialização, própria do contribuinte ou para terceiros, ou

empregados na atividade de prestação de serviços, observadas as normas insertas no

subitem 3.4 deste trabalho.

Entre outros, têm-se ainda, a título de exemplo, os seguintes insumos que se

desintegram totalmente no processo produtivo de uma mercadoria ou são utilizados

nesse mesmo processo produtivo para limpeza, identificação, desbaste, solda etc:

lixas; discos de corte; discos de lixa; eletrodos; oxigênio e acetileno; escovas de aço;

estopa; materiais para uso em embalagens em geral - tais como etiquetas, fitas

adesivas, fitas crepe, papéis de embrulho, sacolas, materiais de amarrar ou colar

(barbantes, fitas, fitilhos, cordões e congêneres), lacres, isopor utilizado no

isolamento e proteção dos produtos no interior das embalagens, e tinta, giz, pincel

atômico e lápis para marcação de embalagens -; óleos de corte; rebolos;

modelos/matrizes de isopor utilizados pela indústria; produtos químicos utilizados

no tratamento de água afluente e efluente e no controle de qualidade e de teste de

insumos e de produtos. (grifos e destaques nossos)

Como se vê, a definição conotativa dada pelo Estado de São Paulo é a transcrição

daquela dada por Aliomar Baleeiro na década de 1980.

Cumpre esclarecer que, uma grande parte dos recentes trabalhos doutrinários e de

decisões em nível judicial e administrativo, ao pretender conceituar insumos, faz alusão ao

autor e a essa definição.

Veja-se que tal conceito parte do pressuposto, até pela data em que foi produzido, de

que os insumos dizem respeito à produção de mercadorias, passando longe da atual realidade

que engloba a prestação de serviços de transportes intermunicipal e interestadual.

Paralelamente, apresentou uma definição denotativa, que, obviamente, é meramente

exemplificativa dada, até, a definição do conceito de insumo apresentada.

Referida norma administrativa editada pelo Estado de São Paulo foi objeto de análise

por MENDONÇA (2005, p. 356):

Também em 2001 o Fisco paulista editou nova Decisão CAT (n. 1/01) que revogou

a sua antecessora, a restritiva Decisão CAT n. 2/82. O novel diploma classificou

como insumos geradores de crédito as matérias-primas, bens intermediários,

materiais de embalagem, combustíveis e energia elétrica. Portanto, pode-se dizer

que, nos termos da Decisão CAT n. 1/01, as mercadorias consumidas no processo

industrial ou de prestação de serviços e as que integram o produto objeto da

atividade de industrialização consistem em insumos, autorizando o creditamento

quando de sua aquisição.

A despeito da amplitude dos créditos entendidos como passíveis de serem tomados

pelo fisco estadual paulista, fato é que, relativamente ao crédito fiscal do ICMS por empresas

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que prestam serviços de transporte, a Secretaria da Fazenda do Estado de São Paulo,

reiteradamente, vem se manifestando, no sentido de que apenas as aquisições de combustíveis

se inserem no princípio da não cumulatividade do imposto, em detrimento a outros produtos

utilizados na manutenção e na própria limpeza dos veículos.

Seguem exemplos de respostas a consultas proferidas pela Secretaria da Fazendo do

Estado:

Resposta à Consulta Tributária 278/2011 – 19/07/201183

EMENTA: ITCMD - ICMS - Crédito fiscal - Empresa prestadora de serviço de

transporte - Vedado o crédito relativo à entrada de óleo lubrificante, peças para

manutenção e pneus - Na prestação de serviço de transporte com início neste Estado

o contribuinte tem direito ao crédito do ICMS devido na aquisição do combustível

utilizado nessa prestação, mesmo em relação à aquisição realizada em outra unidade

da Federação - Já na hipótese de a prestação ter iniciado em outra unidade da

Federação, o contribuinte não poderá se aproveitar do crédito do ICMS sobre a

aquisição do combustível utilizado nessa prestação, mesmo se adquirido no território

deste Estado - Artigos 11, inciso II, alínea "a" e 19 da Lei Complementar 87/96 e

item 3.5 da Decisão Normativa CAT-1, de 25/04/2001 - Para lançamento de crédito

extemporâneo deve se observar a Decisão Normativa CAT 01/2001, tópico VI.

Resposta à Consulta Tributária 612/2011 – 12/01/201284

EMENTA: ITCMD - ICMS - Impossibilidade de aproveitamento como crédito do

valor do ICMS pago nas entradas ou aquisições de pneus, câmaras de ar, tapeçaria,

óleos lubrificantes, elétrica, tinta e peças de reposição e de motor, por se tratarem de

materiais de uso e consumo do estabelecimento. O aproveitamento somente poderá

ser feito a partir de 1º de janeiro de 2020, nos termos do art. 33, inciso I da Lei

Complementar nº 87/96 na redação da Lei Complementar nº 138/2010. Exceção

feita em caso de mercadorias que possam vir a ser contabilizadas como Ativo

Imobilizado (Decisão Normativa CAT nº 1/00. Vedação ao crédito em caso de

prestação de serviço de transporte de passageiros, isenta do ICMS, nos termos do

artigo 78, do Anexo I do RICMS/00 ou, ainda, se a Consulente for optante do

crédito outorgado, previsto no artigo 11 do Anexo III do RICMS/00.

Como se observa, o entendimento do fisco paulista quanto ao conceito de insumo em

face das empresas prestadoras de serviço de transporte é extremamente restritivo, estando

jungido exclusivamente ao aproveitamento de créditos atinentes à aquisição de combustíveis,

afastando da definição denotativa do conceito de insumos bens tais como óleo lubrificante,

peças para manutenção, reposição e para o motor, pneus, câmaras de ar, tapeçaria, e tinta.

9.1.2 Rio de Janeiro

83

FISCOSOFT. Resposta à Consulta Tributária 278/2011. Disponível em: <

http://www.decisoes.com.br/v29/index.php?fuseaction=tributaria.pesquisar_adm_orgaos_estaduais_form>.

Acesso em: 23 jan. 2015. 84

FISCOSOFT. Resposta à Consulta Tributária 612/2011. Disponível em: <

http://www.decisoes.com.br/v29/index.php?fuseaction=tributaria.pesquisar_adm_orgaos_estaduais_form>.

Acesso em: 23 jan. 2015.

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127

Com relação ao Estado do Rio de Janeiro, foi seu Decreto 27.427, de 17.11.2000, que

aprovou o RICMS/RJ, tendo a não cumulatividade sido tratada em seus pontos principais

entre os seus arts. 25 e 40.

Além da omissão do RICMS/RJ a respeito da definição dos conceitos se insumo, ativo

imobilizado e material de uso e consumo, diferentemente do que ocorre com São Paulo,

nenhuma outra norma de cunho administrativo trouxe esclarecimentos sobre a matéria.

9.1.3 Minas Gerais

No que tange ao Estado de Minas Gerais, tal como os demais Estados acima

mencionados, não define conotativamente o que seja insumo, ativo imobilizado ou material de

uso e consumo.

Porém, com relação aos insumos passíveis de serem utilizados para a prestação de

serviços de transporte intermunicipal e interestadual, denota alguns exemplos.

Eles estão descritos no art. 62 do RICMS/MG, aprovado pelo Decreto 43.080/200285

:

Art. 66. Observadas as demais disposições deste Título, será abatido, sob a forma de

crédito, do imposto incidente nas operações ou nas prestações realizadas no período,

desde que a elas vinculado, o valor do ICMS correspondente: (...)

VIII - a combustível, lubrificante, pneus, câmaras-de-ar de reposição ou de material

de limpeza, adquiridos por prestadora de serviços de transporte e estritamente

necessários à prestação do serviço, limitado ao mesmo percentual correspondente,

no faturamento da empresa, ao valor das prestações alcançadas pelo imposto e

restrito às mercadorias empregadas ou utilizadas exclusivamente em veículos

próprios;

Como se pode ver, para o Estado de Minas Gerais, são considerados insumos o

combustível, lubrificante, pneus, câmaras-de-ar de reposição ou material de limpeza,

adquiridos por prestadora de serviços de transporte e estritamente necessários à prestação do

serviço.

Ao que parece – e na prática, sabe-se -, está-se diante de numerus clausus. Afora esses

bens, o Estado não acata o creditamento de qualquer outro insumo. Porém, está-se diante de

rol mais amplo do que o previsto pelo Estado de São Paulo.

9.1.4 Espírito Santo

85

MINAS GERAIS. Decreto 43.080, de 13.12.2002. Disponível em:

<http://www.fazenda.mg.gov.br/empresas/legislacao_tributaria/decretos/d43080_2002.htm>. Acesso em: 23 jan.

2015.

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128

O RICMS/ES foi aprovado pelo Decreto 1090-R, de 25.10.200286

, sendo que a não

cumulatividade foi por ele tratada nos arts. 73 a 143.

Quanto aos insumos que geram créditos para as empresas de transporte, eles foram

elencados no art. 99 do RICMS/ES87

:

Art. 99. A empresa prestadora de serviços de transporte poderá abater do imposto

incidente sobre as prestações que realizar em cada período de apuração, sob forma

de crédito , o valor do imposto relativo à aquisição dos itens abaixo relacionados e

fretes correspondentes, empregados ou utilizados em veículos próprios, assim

considerados conforme o disposto no art. 16, parágrafo único, do Convênio SINIEF

Nº 06/89, ainda que o imposto tenha sido retido anteriormente pelo substituto

tributário, na hipótese do art. 185, II:

I - combustível;

II - lubrificantes;

III - pneus;

IV - câmaras-de-ar de reposição;

V - lonas de freio;

VI - filtros de ar;

VII - lâmpadas;

VIII - correias em geral;

IX - ajustadores automáticos de freio (catraca);

X - bombas dágua O-500;

XI - bombas de óleo diesel OM457;

XII - bombas hidráulicas;

XIII - eixos dianteiros;

XIV - eixos traseiros;

XV - polias estriadas O-500;

XVI - polias lisas O-500;

XVII - polias tensoras; e

XVIII - servo de embreagem. (...)

Resta esclarecer que este dispositivo é taxativo, ou seja, somente a aquisição dos

materiais ali descritos é que gera direito ao crédito de ICMS, conclusão que foi ratificada pelo

Parecer Normativo nº 03/2005, da Secretaria da Fazenda do Estado do Espírito Santo88

, que

estabeleceu ser inadmissível uma interpretação extensiva de tal norma, como a apuração de

crédito de ICMS referente a autopeças por empresas prestadoras de serviço de transporte, nos

seguintes termos:

Essa norma ao enumerar as mercadorias, cuja aquisição, admite o crédito, foi

específica e restritiva, inovando a regra da não-cumulatividade, permitindo a

compensação destes créditos na conta corrente de ICMS lançado a débito no livro

registro de apuração do ICMS, dentro do período de apuração. Sua interpretação

deve ser literal, pois enseja um benefício.

A lei enumerou as mercadorias, o decreto reproduziu o texto legal, não cabendo

nenhum acréscimo ou interpretação extensiva. Não se admite extrapolar seus limites,

pois a previsibilidade da lei não foi genérica, não cuidou de disciplinar uma função,

finalidade ou classe de mercadoria, estabelecendo a aplicação do benefício apenas e

86

ESPÍRITO SANTO. Decreto 1090-R, de 25.10.2002. Disponível em:

<http://www.sefa.es.gov.br/arquivos/ricms/ricms_1090R.pdf. Acesso em: 23 jan. 2015. 87

Idem. 88

FISCOSOFT. Disponível em: <http://www.fiscosoft.com.br/l/2tf2/parecer-normativo-subsecretario-de-estado-

da-receita-n-3-de-10052005>. Acesso em: 23 jan. 2015.

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tão somente àquelas mercadorias ali indicadas. Descabe considerar o mandamento

legal como exemplificativo, pois há que se perseguir sua objetividade delimitadora.

Se o decreto como norma infralegal não tem o condão de ampliar o foco que o

legislador imprimiu à lei, tampouco um ato administrativo que vise interpretá-la,

poderá fazê-lo.

Inadmissível o entendimento que vise estender direito a crédito oriundo da aquisição

de autopeças ou de qualquer outra mercadoria diferente da prevista nos dispositivos

já citados, muito menos aquelas que o adquirente considera como insumo. A

utilização a título de insumo é típica de atividade industrial. A aquisição de

autopeças por empresa de transporte consiste em aquisição para consumo, o que não

oportuniza direito a crédito.

A despeito da conclusão constante de referido Parecer Normativo, o rol apresentado

pelo Estado do Espírito Santo é muito mais amplo do que os estabelecidos por São Paulo e

Minas Gerais. Porém, por outro lado, não consagrou como insumo as peças e outros materiais

de reposição e manutenção dos veículos, tampouco material de limpeza de veículos.

9.1.5 Bahia

Por sua vez, o Regulamento do ICMS do Estado da Bahia89

, instituído Decreto

13.780/2012 (RICMS/BA), estabelece alguns materiais em face dos quais o contribuinte,

prestador de serviço de transporte, pode se creditar, nos termos de seu art. 309:

Art. 309. Constitui crédito fiscal de cada estabelecimento, para compensação com o

tributo devido em operações ou prestações subsequentes e para fins de apuração do

imposto a recolher, salvo disposição em contrário:

(...)

c) de combustíveis, lubrificantes, óleos, aditivos e fluidos, desde que efetivamente

utilizados na prestação de serviços de transporte;

Portanto, o Estado da Bahia estabelece que as empresas prestadoras de serviço de

transporte farão jus ao direito de crédito de ICMS na aquisição de combustíveis, lubrificantes,

óleos e fluidos utilizados na prestação do serviço.

A Administração Fazendária desse Estados, assim como a maioria dos demais entes da

Federação, entendem que peças e outros materiais de manutenção de veículos, bem como

materiais de limpeza, são bens de uso e consumo, não gerando crédito, portanto.

9.1.6 Paraná

89

REGULAMENTO DO ICMS DO ESTADO DA BAHIA. Decreto 13.780, de 16.03.2012. Disponível em:<

http://www.sefaz.ba.gov.br/contribuinte/tributacao/ricms12.pdf>. Acesso em: 23 jan. 2015.

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130

Por fim, o Regulamento do ICMS do Estado do Paraná90

, aprovado pelo Decreto

6.068/2012, por intermédio de seu art. 22, especificou os bens e produtos considerados

insumos para fins de creditamento de ICMS. Veja-se:

Art. 22. O imposto é não-cumulativo, compensando-se o que for devido em cada

operação relativa à circulação de mercadorias ou prestação de serviços de transporte

interestadual e intermunicipal e de comunicação com o montante cobrado nas

anteriores por este Estado ou por outra unidade federada, apurado por um dos

seguintes critérios:

(...)

§ 4º O estabelecimento prestador de serviço de transporte interestadual ou

intermunicipal inscrito no Cadastro de Contribuintes do Estado - CAD/ICMS, que

não optar pelo crédito presumido previsto nos itens 48 e 49 do Anexo III, poderá

apropriar-se do crédito do imposto das operações tributadas de aquisição de

combustíveis, lubrificantes, óleos, aditivos, fluidos, pneus, câmaras de ar e demais

materiais rodantes, peças de reposição e outros produtos de manutenção da frota,

inclusive de limpeza, bem como de mercadorias destinadas ao ativo permanente,

observado o disposto no § 3º do art. 23, efetivamente utilizados na prestação de

serviço iniciado neste Estado.

Ressaltamos que a Administração Fazendária do Estado do Paraná entende como

insumos, além de combustíveis, lubrificantes, óleos, aditivos, fluidos, pneus, câmaras de ar, as

“peças de reposição e outros produtos de manutenção da frota, inclusive de limpeza”.

Como se pode ver, não há qualquer uniformidade entre os Estados mencionados na

denotação do conceito de insumo, o que, por óbvio, traz insegurança jurídica aos

contribuintes.

Analisando-se referido quadro, seria muito mais interessante para um contribuinte se

instalar no Estado da Bahia ou do Paraná, dado o rol mais amplo de produtos considerados

insumos. Por outro lado, estabelecer-se em São Paulo ou em Minas Gerais traz menos

vantagens fiscais aos contribuintes.

Ocorre que “insumo” há que ser definido, conotativa e denotativamente, de forma

idêntica em qualquer Estado. Trata-se de conceito presente em lei nacional (Lei

Complementar 87/96), não podendo ser alterado por lei local, salvo para ampliar os direitos

dos contribuintes.

E a pergunta que se faz é: qual dos Estados da Federação acima mencionados está

correto na sua definição denotativa de insumo? Ou, ainda: está algum Estado acima

mencionado correto quanto à definição denotativa de insumo apresentada.

90

REGULAMENTO DO ICMS DO ESTADO DO PARANÁ. Decreto 6.068, de 28.09.2012. Disponível em: <

http://www.fazenda.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=248>. Acesso em: 23 jan. 2015.

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131

Em vista deste quadro, ratifica-se quão maléficas são para Estados e contribuintes as

consequências da não uniformidade de tratamento da definição dos créditos que dão azo à não

cumulatividade.

9.2 Da guerra fiscal91

Nos últimos anos, o Brasil tem vivenciado uma gravíssima crise de insegurança

jurídica no que tange ao ICMS, problemática que passou a ser conhecida como guerra fiscal.

Se em um primeiro momento tal denominação pode soar exagerada, basta analisar a

questão de perto para apurar que não se trata de mero eufemismo, mas da pura constatação de

que a situação é de extrema seriedade.

As desigualdades econômicas e sociais brasileiras, com a concentração das indústrias

em alguns poucos Estados, induziram os demais entes políticos à instituição de incentivos

fiscais inconstitucionais e ilegais que, rapidamente, disseminaram-se por todo o território

nacional.

Tais incentivos vão desde a redução drástica das alíquotas do imposto incidente na

importação de bens e mercadorias, à concessão de créditos presumidos, determinação de

redução de base de cálculo e outros artifícios jurídicos que acabam por impactar os Estados de

destino das mercadorias incentivadas.

Como já adiantado, nenhum imposto brasileiro foi tão detalhado na Constituição

Federal quanto o ICMS. Foi por intermédio do seu art. 155, II, §2º, que referido imposto

restou forjado.

Tratando-se o Brasil de um país com extensões continentais, constituído por 26

Estados, além do Distrito Federal, fazia-se, de fato, necessário um regramento completo e

rígido, de forma a se evitar justamente o que se tem neste momento, a saber, o conflito de

competências, o desrespeito às instituições e a insegurança jurídica.

Conforme já enfrentado, a formatação constitucional do ICMS passa necessariamente

pela sua submissão à não cumulatividade. Além disso, incentivos fiscais só podem ser

concedidos segundo regramento de lei complementar, cabendo a fixação de alíquotas ao

Senado Federal.

91

Conforme parcialmente consta de ZOTELLI, Valeria. Guerra Fiscal no âmbito do ICMS: a insegurança

jurídica para contribuintes e novos investidores e os riscos ao pacto federativo. In: Anais do II Congresso

Brasileiro de Governança Tributária: diminuição de riscos tributário e aumento da lucratividade empresarial.

Curitiba: Blanche, 2014.

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132

Veja-se:

Art. 15592

. (...)

§ 2.º O imposto previsto no inciso II atenderá ao seguinte: (...)

IV - resolução do Senado Federal, de iniciativa do Presidente da República ou de um

terço dos Senadores, aprovada pela maioria absoluta de seus membros, estabelecerá

as alíquotas aplicáveis às operações e prestações, interestaduais e de exportação;

V - é facultado ao Senado Federal:

a) estabelecer alíquotas mínimas nas operações internas, mediante resolução de

iniciativa de um terço e aprovada pela maioria absoluta de seus membros;

b) fixar alíquotas máximas nas mesmas operações para resolver conflito específico

que envolva interesse de Estados, mediante resolução de iniciativa da maioria

absoluta e aprovada por dois terços de seus membros;

VI - salvo deliberação em contrário dos Estados e do Distrito Federal, nos termos do

disposto no inciso XII, "g", as alíquotas internas, nas operações relativas à

circulação de mercadorias e nas prestações de serviços, não poderão ser inferiores às

previstas para as operações interestaduais; (...)

XII - cabe à lei complementar:

g) regular a forma como, mediante deliberação dos Estados e do Distrito Federal,

isenções, incentivos e benefícios fiscais serão concedidos e revogados. (grifo nosso)

Constata-se, desde logo, quão estreita é a relação entre os Estados da Federação em

razão da não cumulatividade, dado que aquele onde está localizado o contribuinte que adquire

mercadorias advindas de outra unidade federada está obrigado a suportar o crédito referente

ao valor que foi destacado em nota fiscal e recolhido [ou não] ao Estado de origem.

Assim, qualquer alteração nos valores apurados e recolhidos no Estado de origem

implicará reflexos ao Estado de destino.

Nesse sentido, e em atendimento aos preceitos constitucionais, o Senado Federal, em

19.5.1989, editou a Resolução 2293

, por intermédio da qual ficou definido, como regra, que a

alíquota aplicada às operações interestaduais realizadas entre contribuintes do ICMS é de

12%, exceção feita às operações e prestações realizadas nas Regiões Sul e Sudeste, destinadas

às Regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste e ao Estado do Espírito Santo, em relação às quais

a alíquota a ser aplicada é de 7%.

A existência de tratamento diverso dado às alíquotas internas e interestaduais e, com

relação a estas, entre os Estados das Regiões Sul e Sudeste (exceto Espírito Santo) e os

Estados das Regiões Norte, Nordeste, além do Distrito Federal e Espírito Santo, tem origem

92

BRASIL. Constituição Federal de 1988. Disponível em: <

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso em: 10 jan. 2015. 93

Art. 1º. A alíquota do Imposto sobre Operações Relativas à Circulação de Mercadorias e sobre Prestação de

Serviços de Transporte Interestadual e Intermunicipal e de Comunicação, nas operações e prestações

interestaduais, será de doze por cento. Parágrafo único. Nas operações e prestações realizadas nas Regiões Sul e

Sudeste, destinadas às Regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste e ao Estado do Espírito Santo, as alíquotas serão:

I - em 1989, oito por cento; II - a partir de 1990, sete por cento. Art. 2º. A alíquota do imposto de que trata o art.

1º, nas operações de exportação para o exterior, será de treze por cento. BRASIL. Resolução 22/89 do Senado

Federal. Disponível em: <

http://app1.sefaz.mt.gov.br/0325677500623408/07FA81BED2760C6B84256710004D3940/CA4753C80931679

103256812004B9DA7>. Acesso em: 12 jan. 2015.

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133

no princípio federativo e na busca pelo fim das desigualdades sociais e econômicas no

Brasil.94

Nesse sentido, estando-se diante de tributo de caráter nacional, o imposto não será

recolhido apenas para o Estado de origem de mercadoria ou para o de destino.

Diferentemente, quando a operação de circulação de mercadoria envolver mais de um Estado,

parte do imposto será devida ao Estado de origem, parte ao Estado de destino.95

Ainda com relação às alíquotas, destaca-se a previsão constitucional segundo a qual as

alíquotas internas, nas operações relativas à circulação de mercadorias e nas prestações de

serviços, não poderão ser inferiores às previstas para as operações interestaduais.

9.2.1 A autorização constitucional e complementar para a concessão de incentivos fiscais

Conforme enfrentado anteriormente, a alínea “g”, do inc. XII, do § 2º do art. 155, da

Constituição Federal prevê que, cabe à lei complementar regular a forma como, mediante

deliberação dos Estados e do Distrito Federal, isenções, incentivos e benefícios fiscais serão

concedidos e revogados.

Esse papel competiu à Lei Complementar 24/75, recepcionada pela atual Constituição

Federal, de acordo com o disposto nos seus arts. 1º a 3º. Resumidamente, preveem que:

a) qualquer incentivo fiscal, tais como isenções, redução de base de cálculo,

devolução total ou parcial, direta ou indireta, condicionada ou não, do

tributo, concessão de créditos presumidos, ou quaisquer outros favores

fiscais ou financeiro-fiscais, concedidos com base no ICMS, dos quais

resulte sua redução ou eliminação, direta ou indireta, serão outorgados ou

revogados nos termos de convênios celebrados e ratificados pelos Estados e

pelo Distrito Federal;

b) os referidos convênios serão celebrados em reuniões para as quais tenham

sido convocados representantes de todos os Estados e do Distrito Federal,

sob a presidência de representantes do Governo Federal;

c) as reuniões realizar-se-ão com a presença de representantes da maioria

das Unidades da Federação, sendo que a concessão de benefícios dependerá

sempre de decisão unânime dos Estados representados e a sua revogação,

total ou parcial, dependerá de aprovação de quatro quintos, pelo menos, dos

representantes presentes; e

d) os convênios podem dispor que a aplicação de qualquer de suas cláusulas

seja limitada a uma ou a algumas Unidades da Federação.

94

Cf. HORVATH, Estevão; ZOTELLI, Valeria. Vedação de crédito de ICMS sobre recolhimento de diferencial

de alíquota e a não cumulatividade. Tributação em foco: a opinião de quem pensa, faz e aplica do direito

tributário. Recife: IPET, 2013. p. 367. 95

Idem, ibidem.

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134

Ocorre que, conforme acima descrito e esclarecido por MAIA (2004, p. 84),

para a validade do Convênio e vinculação de todos os Estados da Federação é

imprescindível a unanimidade dos representados. Esses entes da Federação reúnem-

se em órgão colegiado clamado Conselho Nacional de Política Fazendária (Confaz),

que faz parte da estrutura do Ministério da Fazenda, o que dá mostras do caráter

nacional do ICMS.

Como se vê, a delimitação constitucional do ICMS é ampla, clara e objetiva, não

havendo dúvidas sobre os limites da competência tributária a ser exercida pelos Estados,

inclusive no que tange à concessão de incentivos fiscais.

Porém, o que se tem, na atualidade, é, de um lado, o descarado desrespeito de referidas

regras, sob a alegação de busca de desenvolvimento pelos Estados concessores de incentivos

inconstitucionais e ilegais, e, de outro, a impotência dos contribuintes, que veem estagnados

projetos de novos investimentos, bem como permanecem com a dúvida sobre a possível perda

de todos os investimentos feitos ao amparo de normas estaduais, hoje sabidamente

inconstitucionais.

Além disso, convive-se com a estagnação do Supremo Tribunal Federal ao não definir

os limites das declarações de inconstitucionalidade de incentivos fiscais já proferidas e com

relação aos processos que ainda serão analisados.

9.2.2 A insegurança jurídica reinante

A guerra fiscal iniciou-se de maneira sorrateira, mediante a concessão, em baixa

escala, de incentivos fiscais inconstitucionais e ilegais, principalmente pelos Estados das

Regiões Centro-Oeste e Nordeste.

Por intermédio desses incentivos, começou-se a verificar uma paulatina migração de

algumas indústrias dos Estados das Regiões Sul e Sudeste para os demais Estados da

Federação.

Em um primeiro momento, e sob um enfoque exclusivamente econômico do ente

concessor dos incentivos, o que ocorreu foi o início da estruturação industrial de Estados

notoriamente voltados ao agronegócio, principalmente nos Municípios limítrofes aos Estados

tidos como “desenvolvidos”.

E os incentivos tinham que ser muito interessantes, a ponto de induzir à instalação de

uma nova indústria ou centro de distribuição em Estados com precária infraestrutura,

compensando-se o aumento de custos principalmente com fretes, de modo a levar a

mercadoria produzida ou a ser revendida para os grandes centros consumidores.

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135

Tal processo também deu-se em Estados que começaram a fomentar a importação por

intermédio de seus portos, mediante a concessão de incentivos fiscais igualmente

inconstitucionais e ilegais, de tal forma que o ICMS devido na entrada das mercadorias

passou a ser diferido, sendo a saída subsequente realizada por percentuais muito inferiores à

alíquota interestadual mínima prevista pelo Senado Federal, nos termos descritos acima. Há

que se lembrar, que a alíquota do ICMS incidente nas importações é a mesma aplicada às

operações internas.

Paralelamente aos incentivos às importações, ganhou força a adoção de nova

estratégia, igualmente inconstitucional, mediante a realização de importações pelas tradings,

sob a modalidade “conta e ordem”96

, defendendo-se a tese de que o fato gerador do ICMS

Importação seria a mera entrada física das mercadorias importadas nos Estados nos quais

estão estabelecidas tais sociedade, a despeito de a pessoa jurídica que realizou a operação de

circulação de mercadoria com o exterior, e contratante da trading, estar situada em outro

Estado da Federação.97

A estes procedimentos atinentes à importação atribui-se a denominação de guerra dos

portos, tratando-se, em verdade, de apenas um elemento a mais da guerra fiscal.

Dada a constatação empírica de que pessoas jurídicas eram, de fato, atraídas a instalar-

se nos Estados concessores de incentivos fiscais, a concessão de novos incentivos fiscais

disseminou-se, transformando-se em verdadeira febre nacional.

Ocorre que, como já mencionado, a concessão de referidos incentivos é realizada às

custas dos Estados adquirentes das mercadorias industrializadas ou meramente distribuídas a

partir dos Estados concessores. Mais do que isso, os produtores dessas mesmas mercadorias e

que continuaram a submeter-se à constitucionalidade e à legalidade viram-se diretamente

prejudicados, já que perderam mercado em decorrência dessa concessão de incentivos sem

amparo no sistema tributário nacional, ferindo, de morte, a livre iniciativa e a livre

concorrência98

.

96

Neste caso, a pessoa jurídica que operacionaliza a importação (no caso a trading), limita-se a fazer a

intermediação entre o exportador estrangeiro e o destinatário / adquirente do bem, estabelecido no Brasil. Trata-

se de mera prestadora de serviços, já que toda a negociação e a própria operação mercantil será realizada pela

pessoa jurídica nacional que contrata os serviços da sociedade importadora. Não por outra razão diz-se que o

importador, prestador do serviço, realiza operação por conta e ordem. 97

A respeito do assunto, veja-se: ZOTELLI, Valeria. ICMS nas Importações: Local de Recolhimento. ICMS

Questões Atuais. São Paulo, Quartier Latin, 2007. 67 p. e ZOTELLI, Valeria. O sujeito ativo do ICMS

Importação: interpretação do art. 11, I, “d”, da Lei Complementar 87/96 de acordo com a Constituição

Federal. Dissertação de mestrado apresentada na Faculdade de Direito da PUC-SP, São Paulo, 2008.

(http://www.dominiopublico.gov.br/download/teste/arqs/cp063153.pdf) 98

Como esclarece CARVALHO, O. (2013, p. 55), “o objetivo da livre-iniciativa é permitir que os agentes

econômicos exerçam, nos limites da lei, atividade econômica no sentido amplo, vale dizer, com liberdade. Já a

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136

Como consequência, os adquirentes dos produtos, constatando a oferta de melhores

preços por pessoa jurídica localizada em um determinado Estado da Federação,

desconhecendo [ou não] ser o vendedor beneficiário de incentivo fiscal, compra dele a

mercadoria, recebendo-a com o destaque de alíquota interestadual, de acordo com a legislação

de regência do ICMS, e creditando-se do valor do imposto destacado em nota fiscal.

Analisando-se a questão sob a ótica da estrita legalidade, e desconsiderando-se as

desigualdades regionais notadamente existentes e que costumam justificar tal prática, está-se

diante da concessão de incentivos às custas alheias.

Além de tal procedimento trazer prejuízo aos cofres dos Estados onde estão

estabelecidos os contribuintes destinatários das mercadorias, induz à prática de concorrência

desleal, já que contribuintes que recebem incentivos fiscais podem vender suas mercadorias

por preços muito menores que aqueles praticados por quem submete-se ao regramento

constitucional e legal de regência do ICMS. Acabou-se, pois, com a neutralidade fiscal.

Todo esse quadro não tardou a induzir os Estados prejudicados com tal prática a

realizar glosas de créditos tomados por aqueles contribuintes que, diante de um preço menor

oferecido por pessoas jurídicas localizadas em outros Estados da Federação, delas adquiriram

suas mercadorias.

Ato contínuo, os grandes contribuintes, notadamente aqueles voltados ao varejo,

passaram a exigir dos vendedores localizados em Estados concessores de incentivos, que

prestassem declarações no sentido de que não usufruíam de tais incentivos, ou, se

usufruíssem, que se responsabilizariam pelo pagamento do ICMS e respectivas penalidades

caso os adquirentes fossem autuados em decorrência da glosa de créditos.

Nesse momento, as pessoas jurídicas que se mudaram para Estados longínquos, em

busca de um diferencial tributário, passaram a se deparar com o risco de ver todo o seu

investimento perdido.

A esse quadro caótico é que foi atribuída a denomina de guerra fiscal, definida por

CARVALHO, O. (2013, p. 186) da seguinte forma:

Em síntese, a ‘Guerra Fiscal’ pode ser resumida como a concessão unilateral de

incentivos ou benefício fiscais pelos Estados, à margem da Lei complementar n.

24/75, e por corolário lógico-jurídico à margem da Constituição Federal, com o

intuito de atrair investimentos, gerando, por consequência, a retaliação de outros

Estados, das mais diversas formas possíveis, seja glosando os créditos gravados de

incentivos, seja batendo às portas do Judiciário, almejando a retirada do

livre concorrência visa o estabelecimento de condições para que se implemente um ambiente de concorrência

perfeita no mercado (anseio do subsistema econômico), fundamentado no princípio da isonomia.”

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137

ordenamento da medida que concedeu o benefício inconstitucional (introduzido por

leis, decretos e até por meros atos administrativos).

A despeito da aparente legitimidade do procedimento adotado pelos Estados que se

viram prejudicados por serem utilizados como ferramenta para o desenvolvimento daqueles

concessores de incentivos inconstitucionais e ilegais, fato é que a sua adoção fere a repartição

de Poderes estabelecida pelo art. 2º da Constituição Federal, na medida em que um Estado da

Federação, Poder Executivo Estadual, não possui competência para declarar a

inconstitucionalidade de incentivos concedidos por outro Estado da Federação, poder esse

atribuído exclusivamente ao Poder Judiciário.

Apesar da óbvia constatação que somente ao Poder Judiciário cabe a declaração de

inconstitucionalidade de uma lei, fato é que os Estados que se sentem prejudicados por essas

manobras legislativas acabam por lavrar autos de infração milionários contra contribuintes

que adquirem produtos incentivados, os quais são obrigados a contratar advogados e garantir

execuções fiscais para poderem exercer seu direito de afastar as glosas realizadas.

Ao final de uma demanda de anos, o contribuinte deverá ter seu direito reconhecido,

principalmente sob o argumento de violação da não cumulatividade99

, dado que as únicas

hipóteses de restrição a créditos estão claramente delimitadas na Constituição Federal e na Lei

Complementar 87/96, a saber, quando da aquisição de produtos sujeitos à isenção e à não

incidência.

99

Nesse sentido, destaca-se voto da Ministra Ellen Gracie, do Supremo Tribunal Federal, ao proferir decisão que

concedeu medida liminar nos autos da Ação Cautelar 2611: “4. A pretensão de suspensão da exigibilidade do

crédito, com a consequente suspensão da execução fiscal, merece acolhida. ‘Há forte fundamento de direito na

alegação de que o Estado de destino da mercadoria não pode restringir ou glosar a apropriação de créditos de

ICMS quando destacados os 12% na operação interestadual, ainda que o Estado de origem tenha concedido

crédito presumido ao estabelecimento lá situado, reduzindo, assim, na prática, o impacto da tributação. Note-se

que o crédito outorgado pelo Estado de Goiás reduziu o montante que a empresa teria a pagar, mas não implicou

o afastamento da incidência do tributo, tampouco o destaque, na nota, da alíquota própria das operações

interestaduais. Ainda que o benefício tenha sido concedido pelo Estado de Goiás sem autorização suficiente em

Convênio, mostra-se bem fundada a alegação de que a glosa realizada pelo Estado de Minas Gerais não se

sustenta. Isso porque a incidência da alíquota interestadual faz surgir o direito à apropriação do ICMS destacado

na nota, forte na sistemática de não-cumulatividade constitucionalmente assegurada pelo art. 155, § 2º, I, da

Constituição e na alíquota estabelecida em Resolução do Senado, cuja atribuição decorre do art. 155, § 2º, IV.

Não é dado ao Estado de destino, mediante glosa à apropriação de créditos nas operações interestaduais, negar

efeitos aos créditos apropriados pelos contribuintes”.

Conforme já destacado na decisão recorrida, o Estado de Minas Gerais pode arguir a inconstitucionalidade do

benefício fiscal concedido pelo Estado de Goiás em sede de Ação Direta de Inconstitucionalidade, sendo certo

que este Supremo Tribunal tem conhecido e julgado diversas ações envolvendo tais conflitos entre Estados, do

que é exemplo a ADI 2.548, rel. Min. Gilmar Mendes, DJ 15.6.2007.

Mas a pura e simples glosa dos créditos apropriados é descabida, porquanto não se compensam as

inconstitucionalidades, nos termos do que decidiu este tribunal quando apreciou a ADI 2.377-MC, DJ 7.11.2003,

cujo relator foi o Min. Sepúlveda Pertence: ‘2. As normas constitucionais, que impõem disciplina nacional ao

ICMS, são preceitos contra os quais não se pode opor a autonomia do Estado, na medida em que são explícitas

limitações. 3. O propósito de retaliar preceito de outro Estado, inquinado da mesma balda, não valida a

retaliação: inconstitucionalidades não se compensam.’”

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138

Nesse sentido, ao Estado que se sente prejudicado cabe, apenas, a propositura de ação

direta de inconstitucionalidade perante o Supremo Tribunal Federal, visando ao afastamento

da norma concessora de incentivos do Sistema Jurídico Nacional.

Há que se ressaltar que, em 25.4.2012, foi editada pelo Senado Federal, a Resolução

13100

, a qual previu a exigência de alíquota interestadual de 4%, quando se estiver diante de

operação interestadual com produtos importados, com o fim precípuo o afastamento da guerra

fiscal, procedimento que veio a minimizar a chamada guerra dos postos.

9.2.3 A guerra fiscal e os conceitos de insumo, ativo imobilizado e material de uso e consumo

Conforme acima mencionado, de acordo com o Lei Complementar 24/75, qualquer

incentivo fiscal, ainda que favores fiscais com base no ICMS, dos quais resulte sua redução

ou eliminação, direta ou indireta, será outorgado ou revogado nos termos de Convênios

celebrados e ratificados pelos Estados e pelo Distrito Federal.

Ora, o Estado chamar de insumo o que não é insumo, ou de ativo imobilizado aquilo

que é material de uso e consumo, exemplificativamente, com certeza, aumenta o creditamento

do ICMS do adquirente da mercadoria, diminuindo-se, pois, o valor do imposto a recolher.

Tal prática, adotada em larga escala, pode implicar benefício fiscal tão significativo

quanto a concessão de outros incentivos mais comuns.

Para se entender o alcance desse benefício, basta analisar, comparativamente, as

legislações dos Estados do Paraná e de São Paulo, transcritas nos itens 9.1.1 e 9.1.6, acima.

Adotando-se a premissa meramente hipotética de que insumo para empresas

prestadoras de serviço de transporte é exclusivamente o combustível, e que todos os demais

itens elencados pelo Estado do Paraná caracterizam-se como material de uso e consumo,

tendo sido alçados à categoria de insumos exclusivamente para atrair empresas prestadores de

serviço de transporte interestadual e intermunicipal de passageiros ou de cargas, estar-se-á

100

Art. 1º A alíquota do Imposto sobre Operações Relativas à Circulação de Mercadorias e sobre Prestação de

Serviços de Transporte Interestadual e Intermunicipal e de Comunicação (ICMS), nas operações interestaduais

com bens e mercadorias importados do exterior, será de 4% (quatro por cento). § 1º O disposto neste artigo

aplica-se aos bens e mercadorias importados do exterior que, após seu desembaraço aduaneiro: I - não tenham

sido submetidos a processo de industrialização; II - ainda que submetidos a qualquer processo de transformação,

beneficiamento, montagem, acondicionamento, reacondicionamento, renovação ou recondicionamento, resultem

em mercadorias ou bens com Conteúdo de Importação superior a 40% (quarenta por cento). (BRASIL.

Resolução 13/2012 do Senado Federal. Disponível em:

http://legis.senado.gov.br/legislacao/ListaPublicacoes.action?id=264825. Acesso em: 12 jan. 2015).

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diante de efetiva guerra fiscal, aplicando-se à hipótese todas as implicações acima

descritas101

.

Como se pode concluir, a ausência da definição dos conceitos de insumo, ativo

imobilizado e material de uso e consumo pode, sem dúvida alguma, dar azo à guerra fiscal.

9.3 Da limitação ao creditamento do ICMS em face do diferencial de alíquota devido na

aquisição de bens destinados ao ativo imobilizado em operações interestaduais102

Por outro lado, a interpretação restritiva da legislação de regência do ICMS pode

acarretar a negativa de vigência ao princípio da não cumulatividade e a exigência de tributo a

maior dos contribuintes.

É o que se dá, por exemplo, com os Estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Espírito

Santo, ao negarem o direito de creditamento da parcela de 1/48 mensais sobre o pagamento de

diferencial de alíquota devido pelos contribuintes estabelecidos em referidos Estados quando

da aquisição de bens destinados ao seu ativo imobilizado.

Conforme já explorado, o ICMS tem como característica intrínseca sua submissão à

não cumulatividade, nos termos do art. 155, § 2º, I, da Constituição Federal, sendo que as

exceções a essa regra foram igualmente previstas constitucionalmente, no art. 155, § 2º, II.

Além da regra geral, atinente à não cumulatividade, dita o art. 155, § 2º, VII e VIII103

:

Art. 155. (...)

§ 2.º O imposto previsto no inciso II atenderá ao seguinte: (...)

VII - em relação às operações e prestações que destinem bens e serviços a

consumidor final localizado em outro Estado, adotar-se-á:

a) a alíquota interestadual, quando o destinatário for contribuinte do imposto;

b) a alíquota interna, quando o destinatário não for contribuinte dele;

VIII - na hipótese da alínea "a" do inciso anterior, caberá ao Estado da localização

do destinatário o imposto correspondente à diferença entre a alíquota interna e a

interestadual. (grifo nosso)

Da análise conjunta dos incisos VII, “a” e VIII do § 2º do mencionado art. 155, da

Constituição Federal, verifica-se que caberá o pagamento de diferencial de alíquota do ICMS

101

Em consulta ao endereço eletrônico a duas das maiores empresas de transporte de passageiros do País, a

saber, Viação Itapemirim (http://www.itapemirim.com.br/sobre_nos) e Viação Águia Branca

(http://www.grupoaguiabranca.com.br/index.php?id=/passageiros/materia.php&cd_matia=254), verifica-se que

cada uma delas ela possui frota, respectivamente, de 800 e 700 ônibus. Da análise desse número, não é difícil

inferir-se quão significativos são os valores gastos com insumos necessários à prestação de serviços. 102

Cf. consta parcialmente de HORVATH, Estevão; ZOTELLI, Valeria; Vedação de crédito de ICMS sobre

recolhimento de diferencial de alíquota e a não cumulatividade. Tributação em foco: a opinião de quem pensa,

faz e aplica do direito tributário. Recife: IPET, 2013, p. 367. 103

BRASIL. Constituição Federal de 1988. Disponível em: <

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso em: 10 jan. 2015.

Page 151: Do direito de crédito no regime não cumulativo de …...certeza de que o Direito é objetivamente um e que os comportamentos do Estado ou dos demais cidadãos dele não discreparão

140

em operação interestadual ao contribuinte que adquire, de contribuinte estabelecido em outro

Estado da Federação, mercadoria na qualidade de consumidor final, destinada, portanto, a

integrar seu ativo imobilizado ou ao seu uso e consumo.

9.3.1 Do pagamento de diferencial de alíquota em decorrência de aquisição de bens

destinados ao ativo imobilizado ou ao uso e consumo

Conforme já adiantado, dando cumprimento aos termos do art. 155, § 2º, IV, da

Constituição Federal, o Senado Federal editou a Resolução 22/89, por intermédio da qual

ficou definido, como regra, que a alíquota aplicada às operações interestaduais realizadas

entre contribuintes do ICMS é de 12%, exceção feita às operações e prestações realizadas nas

Regiões Sul e Sudeste, destinadas às Regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste e ao Estado do

Espírito Santo, em relação às quais a alíquota a ser aplicada é de 7%. Com relação às

alíquotas internas incidentes na circulação de mercadorias, via de regra, são elas de 17% e

18%, dependendo da legislação de cada Estado, as quais, também como regra, são igualmente

aplicadas às importações.

Assim, conforme também já adiantado, o imposto não será recolhido apenas para o

Estado de origem da mercadoria ou para o de seu destino. Diferentemente, quando a operação

de circulação de mercadoria envolver mais de um Estado, parte do imposto será devida ao

Estado de origem, parte ao Estado de destino.

Exemplificativamente, no caso de operação de venda de mercadoria por contribuinte

estabelecido no Rio Grande do Sul, para contribuinte estabelecido no Ceará, caberá ao

contribuinte gaúcho destacar em sua nota fiscal o ICMS incidente na operação à alíquota de

7%, lançando o respectivo valor devido em seu livro de apuração do ICMS.

Quanto ao contribuinte cearense, este tomará em seu livro de apuração o crédito

destacado na nota fiscal de aquisição da mercadoria sendo que, ao vender o produto para

consumidor final localizado no Estado do Ceará, destacará em sua nota fiscal a alíquota de

17%, igualmente lançando o respectivo valor devido em seu livro de apuração.

Em decorrência da sistemática não cumulativa e fazendo-se valer a regra

constitucional, caberá ao Estado de origem o recolhimento do ICMS em alíquota de 7%; já ao

Estado do Ceará caberá o recolhimento do percentual de 10%104-105

.

104

Como regra geral, a alíquota incidente em face das operações internas realizadas no Estado do Ceará é de

17%, nos termos do art. 55, I, b, do RICMS/CE (Decreto 24.569/97).

Page 152: Do direito de crédito no regime não cumulativo de …...certeza de que o Direito é objetivamente um e que os comportamentos do Estado ou dos demais cidadãos dele não discreparão

141

Ainda exemplificativamente, se a venda fosse realizada pelo contribuinte gaúcho para

o Estado do Rio de Janeiro, a alíquota a ser aplicada na operação interestadual seria de 12%,

sendo que o recolhimento do ICMS em operação interna a ser realizada pelo contribuinte

fluminense seria de 18%. Diante de tal situação, caberia ao Estado do Rio de Janeiro, em

última análise, o recolhimento de valor equivalente a 6% do valor da operação106

.

O mesmo raciocínio aplica-se quando da aquisição de bem importado advindo de

outro Estado da federação, cuja alíquota interestadual é de 4%.

Cálculo similar há que ser feito frente à exigência de diferencial de alíquota em razão

da aquisição de mercadoria destinada ao ativo imobilizado ou ao uso e consumo junto a

contribuinte localizado em outro Estado da Federação.

Neste caso, o contribuinte localizado nos Estados do Sul e Sudeste, com exceção ao

Espírito Santo, quando adquirir mercadoria advinda de qualquer outro Estado da Federação,

destinada a ser integrada ao seu ativo imobilizado, operação sujeita à alíquota de 12%, terá

que recolher ao Estado no qual estiver estabelecido o diferencial de alíquota, em regra, de 5%

ou 6%, por se tratar do destinatário final da mercadoria.

Já se o contribuinte estiver localizado nos Estados do Norte, Nordeste ou Centro-

Oeste, ou ainda no Distrito Federal ou Espírito Santo, e adquirir mercadorias dos Estados do

Sul e Sudeste, menos o Espírito Santo, terá que recolher ao Estado no qual estiver

estabelecido o diferencial de alíquota, em regra, de 10% ou 11%107

.

A diferença existente entre as operações interestaduais que impliquem ou não o

recolhimento de diferencial de alíquota na aquisição de bens destinados ao ativo ou ao uso e

consumo é que, no primeiro caso, não haverá venda do bem adquirido, obrigando o adquirente

a realizar o recolhimento do imposto; já no segundo caso, a operação subsequente à aquisição

interestadual será a de venda de mercadoria.

Destaca-se que, com relação à aquisição de mercadorias importadas em operações

interestaduais destinadas ao ativo imobilizado, adota-se o mesmo raciocínio até aqui exposto.

105

Obviamente, os cálculos aqui realizados neste capítulo levam em conta apenas o valor das alíquotas

incidentes nas operações e não os seus valores efetivos, de modo a se entender, de maneira mais simplificada, a

sistemática de recolhimento do diferencial de alíquota. 106

Como regra geral, a alíquota incidente em face das operações internas realizadas no Estado do Rio de Janeiro

é de 18%, nos termos do art. 14, I, do Livro I, do RICMS/RJ (Decreto 27.427/2000). 107

Cumpre esclarecer que a alíquota interestadual incidente nas operações realizadas entre os Estados

localizados nas Regiões Norte, Nordeste, Centro-Oeste, bem como Distrito Federal e Espírito Santo é de 12%, de

tal forma que o diferencial de alíquota a ser pelos contribuintes localizados nestes Estados será, em regra, de 5%

ou 6%.

Page 153: Do direito de crédito no regime não cumulativo de …...certeza de que o Direito é objetivamente um e que os comportamentos do Estado ou dos demais cidadãos dele não discreparão

142

9.3.2 Do creditamento do ICMS incidente sobre bens destinados ao ativo imobilizado do

contribuinte do imposto

Quanto à evolução da legislativa complementar atinente ao creditamento do ICMS

incidente sobre a aquisição de bens destinados ao ativo imobilizado, ela já foi tratada nos

Capítulos 7 e 8.

Assim, conforme já analisado, tanto o ICMS incidente sobre as mercadorias adquiridas

para a integração ao ativo imobilizado, como as destinadas ao uso e consumo (ainda apenas a

partir de 2020) do contribuinte, pode ser creditado a fim de se dar azo à não cumulatividade.

Essa permissão de creditamento com relação a bens que não integrarão diretamente a

mercadoria ou o serviço a ser prestado pelo contribuinte do ICMS acarreta o reconhecimento

de que não é só o bem comercializado que está vinculado à operação de circulação de

mercadoria, mas todo o cipoal de bens necessários à atividade da sociedade.

Ora, não se vende mercadoria industrializada sem equipamentos aptos a transformá-la

em produto final; não se presta serviços de transporte, sem a aquisição de veículos de toda a

espécie; não se presta serviços de comunicação sem a existência de equipamentos aptos a

transmitir informações; uma pessoa jurídica não desenvolve sua atividade, sem a existência de

computadores, de papel para alimentar suas impressoras, sem material de papelaria etc. Tudo

integra o estabelecimento no qual é desenvolvido o objeto social da pessoa jurídica.

Em suma, bens do ativo imobilizado e materiais de uso e consumo estão contidos,

direta ou indiretamente, nas operações de qualquer pessoa jurídica que sofrem com a

incidência do ICMS, segundo a lei complementar.

Nesse sentido, o ICMS destacado na nota fiscal de aquisição de mercadoria destinada

ao ativo imobilizado e o valor pago a título de diferencial de alíquota estão inseridos no

contexto do imposto cobrado nas operações anteriores pelo mesmo Estado ou por outro

Estado ou pelo Distrito Federal, nos termos previstos no art. 20 da Lei Complementar 87/96.

Por conseguinte, é garantido ao contribuinte adquirente o direito de se creditar do respectivo

imposto incidente na operação que, lançado em sua escrita fiscal, será abatido do imposto

apurado em face das suas operações futuras.

A conclusão a que se chega, portanto, é a de que o § 5º do art. 20 da Lei

Complementar 87/96, ao prever que a apropriação à razão de 1/48 por mês “relativamente aos

créditos decorrentes de entrada de mercadorias no estabelecimento destinadas ao ativo

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143

permanente”, passível de ser compensado em face de operações futuras abarca,

necessariamente, o diferencial de alíquota.

Apesar da clareza da legislação complementar, vários Estados da Federação, tais

como, exemplificativamente, São Paulo108

, Rio de Janeiro109

e Espírito Santo110

, vedam o

108

No que tange ao creditamento de ICMS sobre os valores do imposto incidentes em face da aquisição de bens

destinados ao ativo imobilizado, eis os termos da Lei Estadual de São Paulo 6.374/89, repetidos pelo Decreto

45.490/2000 (Regulamento do ICMS/SP).

Art. 36. O Imposto sobre Operações Relativas à Circulação de Mercadorias e sobre Prestação de Serviços de

Transporte Interestadual e Intermunicipal e de Comunicação é não-cumulativo, compensando-se o imposto que

seja devido em cada operação ou prestação com o anteriormente cobrado por este, outro Estado ou pelo

Distrito Federal, relativamente a mercadoria entrada ou a prestação de serviço recebida, acompanhada de

documento fiscal hábil, emitido por contribuinte em situação regular perante o fisco. (...) §4º- O crédito

decorrente de entrada de mercadoria destinada à integração do ativo permanente, observado o disposto no

artigo 40: 1 - será apropriado à razão de um quarenta e oito avos por mês, devendo a primeira fração ser

apropriada no mês em que ocorrer a entrada no estabelecimento. (...).” (Grifo nosso). (SÃO PAULO. Lei

6.374/89. Disponível em: <http://www.al.sp.gov.br/repositorio/legislacao/lei/1989/alteracao-lei-6374-

01.03.1989.html>. Acesso em: 12 jan. 2015).

Como se vê, com relação exclusivamente ao imposto incidente na operação interestadual de aquisição de bens

destinados ao ativo imobilizado, no caso, o montante equivalente a 12% do valor da operação, o contribuinte

paulista pode tomar créditos à razão de 1/48 por mês. Não, porém, com relação ao diferencial de alíquota

recolhido ao Estado de São Paulo. 109

No que tange ao creditamento de ICMS sobre os valores do imposto incidentes em face da aquisição de bens

destinados ao ativo imobilizado, eis os termos da Lei Estadual 2.657/96, repetidos pelo Decreto 27.427/2000

(Regulamento do ICMS/RJ).

Art. 33. - O imposto devido resulta da diferença a maior entre os débitos e os créditos escriturais referentes ao

período de apuração fixado pelo Poder Executivo. (...) § 2º - Os créditos do período são constituídos pelos

valores do imposto relativo a operações ou prestações de que decorrerem as entradas de mercadorias no

estabelecimento, inclusive a destinada ao seu uso ou consumo ou ao ativo permanente, ou o recebimento de

serviços de transporte interestadual e intermunicipal ou de comunicação, observadas as restrições previstas na

legislação. (...)§ 7º - Para efeito do disposto no § 2º, relativamente aos créditos decorrentes de entrada de

mercadoria no estabelecimento destinada ao ativo permanente, deverá ser observado: I - a apropriação será

feita à razão de 1/48 (um quarenta e oito avos) por mês, devendo a primeira fração ser apropriada no mês em

que ocorrer a entrada no estabelecimento.” (Grifo nosso). (RIO DE JANEIRO. Lei 2.657/96. Disponível em:

<http://alerjln1.alerj.rj.gov.br/CONTLEI.NSF/f25571cac4a61011032564fe0052c89c/01cc04eee53b3b30032564f

b005c2ddf?OpenDocument>. Acesso em: 12 jan. 2015).

Como se vê, com relação exclusivamente ao imposto incidente na operação interestadual de aquisição de bens

destinados ao ativo imobilizado, no caso, o montante equivalente a 12% do valor da operação, o contribuinte

fluminense pode tomar créditos à razão de 1/48 por mês. Não, porém, com relação ao diferencial de alíquota

recolhido ao Estado do Rio de Janeiro. 110

No que tange ao creditamento de ICMS sobre os valores do imposto incidentes da aquisição de bens

destinados ao ativo imobilizado, eis os termos da Lei do Estado do Espírito Santo 7.000/2001, repetidos pelo

Decreto 1.090-R (Regulamento do ICMS/ES).

“Art. 48. O imposto é não-cumulativo, compensando-se o que for devido em cada operação relativa à

circulação de mercadorias ou prestação de serviços de transporte interestadual e intermunicipal e de

comunicação com o montante cobrado nas anteriores por este, outro Estado, ou pelo Distrito Federal,

relativamente à mercadoria entrada ou à prestação de serviço recebida, acompanhada de documento fiscal

hábil, emitido por contribuinte em situação regular perante o fisco. Art. 49. Para a compensação a que se refere

o art. 48, é assegurado ao sujeito passivo o direito de creditar-se do imposto anteriormente cobrado em

operações de que tenha resultado a entrada de mercadoria, real ou simbólica, no estabelecimento, inclusive a

destinada ao seu uso ou consumo ou ao ativo permanente, ou o recebimento de serviços de transporte

interestadual e intermunicipal ou de comunicação. (...) § 4º Para efeito do disposto no caput, relativamente aos

créditos decorrentes de entrada de mercadorias no estabelecimento, destinadas ao ativo permanente, deverá ser

observado: I - a apropriação será feita à razão de 1/48 (um quarenta e oito avos) por mês, devendo a primeira

fração ser apropriada no mês em que ocorrer a entrada no estabelecimento. (...)”. (Grifo nosso). (ESPÍRITO

SANTO. Lei 7.000/2001. Disponível em:

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144

creditamento do ICMS sobre o diferencial de alíquota pago em face da aquisição em outros

Estados de bens destinados ao ativo imobilizado.

Cumpre esclarecer que o principal argumento utilizado pelos Estados que vedam o

creditamento em comento é o de que existem duas modalidades de ICMS cobradas na

operação de aquisição de bens destinados ao ativo imobilizado, decorrentes da ocorrência de

dois “fatos geradores distintos”, a saber: (a) a venda de mercadorias pelo estabelecimento de

origem; e (b) a aquisição de bem destinado ao ativo imobilizado, não ensejando este último

qualquer creditamento, por se tratar de operação unilateral do contribuinte adquirente.

Verdadeiro absurdo.

Ora, o que se tem é uma operação que sofre a incidência do ICMS, via de regra, à

alíquota de 17% ou 18%, cujo montante é repartido entre o Estado remetente e o Estado

destinatário. Trata-se de operação única cujo imposto é segregado entre dois Estados em

decorrência do princípio federativo, que busca uma melhor repartição de receitas entre os

entes da Federação.

Em suma, o “ICMS – Diferencial de Alíquota” (chamemo-lo assim), incidente sobre a

operação de aquisição de bem para o ativo imobilizado, está sujeito a não cumulatividade

prevista em lei complementar, não havendo que se falar em qualquer limitação ao seu

creditamento pelos Estados da Federação ou pelo Distrito Federal.

9.3.3 Do tratamento diferenciado e prejudicial em decorrência da procedência do bem

destinado ao ativo imobilizado

A vedação de crédito de ICMS à razão de 1/48 avos ao mês em face da aquisição

interestadual de bens destinados ao ativo imobilizado não fere apenas a não cumulatividade,

mas também o art. 152 da Constituição Federal111

que determina que:

Art. 152. É vedado aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios estabelecer

diferença tributária entre bens e serviços, de qualquer natureza, em razão de sua

procedência ou destino.

http://www.sefaz.es.gov.br/legislacaoonline/lpext.dll/InfobaseLegislacaoOnline/leis/2001/lei%207000-

atualizada.htm>. Acesso em: 12 jan. 2015.

Como se vê, com relação exclusivamente ao imposto incidente na operação interestadual de aquisição de bens

destinados ao ativo imobilizado, no caso, o montante equivalente a 7% ou 12% do valor da operação, os

contribuintes capixabas podem tomar créditos à razão de 1/48 por mês. Não, porém, com relação ao diferencial

de alíquota recolhido ao Estado do Espírito Santo.

111

BRASIL. Constituição Federal de 1988. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso em: 12 jan. 2015.

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145

E, na hipótese aqui analisada, a violação a tal preceito é explícita.

Conforme já exaustivamente explicado, a alíquota interestadual aplicada às operações

realizadas entre contribuintes do ICMS é, como regra, de 12%, exceção feita às operações e

prestações realizadas nas Regiões Sul e Sudeste, destinadas às Regiões Norte, Nordeste e

Centro-Oeste e ao Estado do Espírito Santo, cuja alíquota a incidir é de 7%. Já as alíquotas

internas, como também já informado, são, em regra, de 17% ou 18%.

Além disso, também como já enfrentado, a negativa de creditamento por parte de

alguns Estados dá-se em face exclusivamente do pagamento do diferencial de alíquota quando

da aquisição de bens destinado ao ativo imobilizado de contribuinte localizado em outro

Estado da Federação, não havendo qualquer vedação de crédito em face da mesma espécie de

bem adquirido internamente.

Assim, as aquisições de mercadorias de contribuinte localizado no mesmo Estado em

que estabelecido o adquirente, e que sofreram a incidência, via de regra, das alíquotas de 17%

ou 18%, darão a este adquirente o direito de creditamento de referido percentual integral; o

mesmo se dá ao contribuinte localizado nesse mesmo Estado se importar mercadoria advinda

do exterior, já que às importações, também, como regra, são aplicadas as alíquotas internas.

Porém, se o mesmo contribuinte citado no exemplo acima adquirir as mercadorias de

vendedor localizado em outro Estado, estará ele autorizado a se creditar do imposto incidente

exclusivamente na operação interestadual, de 7% ou 12% (ou mesmo de 4%, se estiver diante

de mercadoria importada, submetida aos termos da Resolução 13/2012 do Senado Federal),

sendo-lhe vedado o creditamento do diferencial que terá que recolher ao Estado no qual está

estabelecido.

Tal problema é mais grave para os Estados localizados nas Regiões Norte, Nordeste,

Centro-Oeste e no Distrito Federal e Espírito Santo, já que terão direito ao creditamento,

exclusivamente da alíquota interestadual de 7%, em face das aquisições advindas dos Estados

localizados nas Regiões Sul e Sudeste.

Portanto, por qualquer ângulo que seja analisada a questão, a conclusão é pelo direito

ao creditamento do ICMS em face do pagamento de diferencial de alíquota incidente na

aquisição de bens destinados ao ativo imobilizado do adquirente advindos de outro Estado da

Federação.

Cumpre esclarecer que referida matéria não foi ainda analisada pelo Supremo Tribunal

Federal, encontrando-se pendente de julgamento a Ação Direta de Inconstitucionalidade –

ADI 4.623, proposta pela Confederação Nacional da Indústria, em 20 de junho de 2011, tendo

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146

por objeto o art. 25, § 6º, da Lei Estadual 7.098/98112

, do Mato Grosso, o qual determina que

não gera crédito o valor correspondente ao diferencial de alíquota devido àquele Estado.

Veja-se, pois que, a depender do Estado em que o contribuinte estiver estabelecido, a

ele poderá ser dado tratamento prejudicial que tange à aquisição de bens destinados ao ativo

imobilizado.

112

MATO GROSSO. Lei 7.098/98. Disponível em: <

http://app1.sefaz.mt.gov.br/0325677500623408/07FA81BED2760C6B84256710004D3940/CC9C3B9886404B

AA0325678B0043A842>. Acesso em: 12 jan. 2015.

Page 158: Do direito de crédito no regime não cumulativo de …...certeza de que o Direito é objetivamente um e que os comportamentos do Estado ou dos demais cidadãos dele não discreparão

147

CAPÍTULO 10 – DA DEFINIÇÃO DOS CONCEITOS DE INSUMO E ATIVO

IMOBILIZADO EM FACE DO DIREITO SOCIETÁRIO E DOS TRIBUTOS FEDERAIS

Antes de definitivamente se partir para a busca da definição de insumo, ativo

imobilizado e material de uso e consumo no âmbito do ICMS, analisa-se, primeiro, tais

conceitos perante o Direito Societário e em face dos tributos federais.

Como já aventado, tendo em vista não se estar diante de definição de competência

tributária, ao legislador tributário não é vedado atribuir a esses conceitos definições próprias,

que não guardem exata correlação com o Direito Privado ou com os outros ramos do Direito.

Porém, dada a intertextualidade que permeia a interpretação do Direito, busca-se, a

priori, eventuais pontos de contato com outras materialidades tributárias e com o Direito

Societário.

10.1 Da definição do conceito de ativo imobilizado no Direito Societário

No âmbito do Direito Societário, não há menção a insumo ou a bem destinado ao uso e

consumo. Quanto aos bens atinentes ao ativo imobilizado, a ele é feita referência na Lei das

Sociedades Anônimas (Lei 6.404/76)113

, que prevê:

Art. 178. No balanço, as contas serão classificadas segundo os elementos do

patrimônio que registrem, e agrupadas de modo a facilitar o conhecimento e a

análise da situação financeira da companhia.

§ 1º No ativo, as contas serão dispostas em ordem decrescente de grau de liquidez

dos elementos nelas registrados, nos seguintes grupos:

I – ativo circulante; e

II – ativo não circulante, composto por ativo realizável a longo prazo, investimentos,

imobilizado e intangível.

Art. 179. As contas serão classificadas do seguinte modo:

I - no ativo circulante: as disponibilidades, os direitos realizáveis no curso do

exercício social subsequente e as aplicações de recursos em despesas do exercício

seguinte;

II - no ativo realizável a longo prazo: os direitos realizáveis após o término do

exercício seguinte, assim como os derivados de vendas, adiantamentos ou

empréstimos a sociedades coligadas ou controladas (artigo 243), diretores, acionistas

ou participantes no lucro da companhia, que não constituírem negócios usuais na

exploração do objeto da companhia;

III - em investimentos: as participações permanentes em outras sociedades e os

direitos de qualquer natureza, não classificáveis no ativo circulante, e que não se

destinem à manutenção da atividade da companhia ou da empresa;

113 BRASIL. Lei das Sociedades Anônimas – Lei 6.404, 15.12.1976. Disponível em: <

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l6404compilada.htm>. Acesso em: 17 jan. 2015.

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148

IV – no ativo imobilizado: os direitos que tenham por objeto bens corpóreos

destinados à manutenção das atividades da companhia ou da empresa ou exercidos

com essa finalidade, inclusive os decorrentes de operações que transfiram à

companhia os benefícios, riscos e controle desses bens;

VI – no intangível: os direitos que tenham por objeto bens incorpóreos destinados à

manutenção da companhia ou exercidos com essa finalidade, inclusive o fundo de

comércio adquirido.

Parágrafo único. Na companhia em que o ciclo operacional da empresa tiver duração

maior que o exercício social, a classificação no circulante ou longo prazo terá por

base o prazo desse ciclo.

Consta da referida Lei das Sociedades Anônimas (LSA), que o ativo é subdivido em

circulante e não circulante.

Conforme CARVALHOSA e LATORRACA (1997, p. 587), no ativo circulante estão

classificados: (a) as disponibilidades, ou seja, dinheiro em mãos ou depositados em bancos;

(b) os direitos realizáveis no curso do exercício social subsequente; e (c) as aplicações de

recursos em despesas do exercício seguinte.

E, os mesmos autores, elucidando a questão, explicam (p. 587):

Os direitos classificados no ativo circulante incluem pois os direitos de crédito e os

que tiverem por objeto mercadorias e produtos do comércio ou da indústria da

companhia, que serão transformados em dinheiro no exercício social subsequente,

prevalecendo a classificação com base no ciclo operacional da companhia quando

este estiver duração maior que o exercício social.

Quando se refere a exercício social, para efeitos de classificação do ativo circulante,

a lei não considera o exercício com menos ou mais de doze meses (Parágrafo único

do art. 175). Assim, parece que devemos entender a expressão “exercício social”

como sinônima de período de doze meses (período normal). Essa expressão é

empregada para distinguir o ativo circulante do realizável a longo prazo.

Consigna-se que, em sua redação original, o art. 178 da LSA classificava o ativo em

circulante, realizável a longo prazo e permanente, o qual era dividido em investimentos, ativo

imobilizado e ativo diferido.

Atualmente, após o advento da Lei 11.941/2009, as contas no ativo são dispostas nos

grupos de ativo circulante, e ativo não circulante, este composto por ativo realizável a longo

prazo, investimentos, imobilizado e intangível.

No que tange ao ativo imobilizado, a LSA não apresenta definição conotativa de seu

conceito. Diferentemente, apresenta definição denotativa, prevendo estarem abarcados na

conta de ativo imobilizado,

os direitos que tenham por objeto bens corpóreos destinados à manutenção das

atividades da companhia ou da empresa ou exercidos com essa finalidade, inclusive

os decorrentes de operações que transfiram à companhia os benefícios, riscos e

controle desses bens.

Cumpre esclarecer, mediante o auxílio de MARTINS, N. (2008, p. 70) que:

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149

A Lei 11.638/2007, em relação ao ativo imobilizado, modificando a Lei do

Anonimato, passa a reclamar a contabilização de ativos que, embora juridicamente

pertencentes a patrimônio de outrem, decorram de operações que transfiram à

empresa os benefícios, riscos e controle dos bens (art. 179, IV, da Lei 11.638/2007),

como sucede nas operações de leasing financeiro, dentre outras que poderão ser

objeto de normatização contábil.

Assim, ativo imobilizado pode ser definido, para fins societários, tal como segue:

conjunto de bens destinados à manutenção das atividades da pessoa

jurídica, bem como os bens decorrentes de operações que transfiram

à companhia os benefícios, riscos e controle desses bens, ainda que

pertencentes a terceiros.

10.2 Da definição do conceito insumo em face de tributos federais

Como já acima adiantado, no Direito Tributário brasileiro, 4 (quatro) são os tributos

sujeitos à não cumulatividade, a saber, o ICMS, o IPI, a contribuição ao PIS e a COFINS.

Além da não cumulatividade, o que os 4 (quatro) tributos têm em comum é o fato de

ter o insumo como cerne desse regime de apuração.

Portanto, visando a auxiliar a procura do conceito de insumo no âmbito do ICMS,

passar-se a buscar a definição do conceito de insumo no âmbito dos tributos federais

submetidos à não cumulatividade.

Cumpre esclarecer, porém, que, a despeito de o Imposto sobre a Renda das Pessoas

Jurídicas (IRPJ) não ser um tributo não cumulativo, o conceito de insumo está inserido na sua

apuração, razão pela qual analisa-se, também, sua definição.

Começa-se, justamente, pelo IRPJ.

10.2.1 Imposto sobre a renda das pessoas jurídicas

A legislação do Imposto de Renda não apresenta, expressamente, a definição do

conceito de insumo.

Na verdade, tal termo sequer é mencionado no Regulamento do Imposto de Renda,

aprovado pelo Decreto 3.000/99 (RIR/99).

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150

Porém, acaba por corresponder ao que VALENTIM NETO e FERREIRA114

,

descreveram como:

custos e despesas operacionais passíveis de dedução na apuração da base de cálculo

do imposto, entendidos aqueles necessários, ou seja, que contribuem para a

manutenção da atividade operacional de uma empresa. Dessa maneira, para este

tributo basta a comprovação da essencialidade de tais custos ou despesas para o

desenvolvimento das atividades da empresa para serem considerados dedutíveis, não

se restringindo apenas à produção de bens, mas abrangendo outros aspectos

necessários à manutenção da atividade operacional da empresa como um todo.

Este conceito, para fins do Imposto de Renda sob a modalidade de apuração pelo lucro

real115

, sustenta-se na premissa de que a despesa realizada esteja no âmbito do custo, ou de

que seja ela operacional, atendendo ao tripé da (a) necessidade, (b) normalidade e (c)

usualidade. Adequando-se a essa premissa, a despesa será dedutível, na forma do art. 47,116

da

Lei 4.506/64; refletido no art. 299 do Regulamento do Imposto de Renda, aprovado pelo

Decreto 3.000/1999117

(RIR/99).

Veja-se:

Art. 299. São operacionais as despesas não computadas nos custos, necessárias à

atividade da empresa e à manutenção da respectiva fonte produtora (Vide Lei

4.506/64, art. 47).

§ 1º São necessárias as despesas pagas ou incorridas para a realização das transações

ou operações exigidas pela atividade da empresa (Vide Lei 4.506/64, art. 47, § 1º).

§ 2º As despesas operacionais admitidas são as usuais ou normais no tipo de

transações, operações ou atividades da empresa (Vide Lei 4.506/1964, art. 47, § 2º).

§ 3º O disposto neste artigo aplica-se também às gratificações pagas aos

empregados, seja qual for a designação que tiverem.

Quanto às despesas operacionais, HIGUCHI (2012, p. 273) explica:

As despesas operacionais dedutíveis na determinação do lucro real são aquelas que

se encaixam nas condições fixadas no art. 299 do RIR/99, isto é, despesas

necessárias à atividade da empresa e à manutenção da respectiva fonte produtora de

receitas. As despesas necessárias, ainda de acordo com a legislação fiscal, são as

despesas pagas ou incorridas e que sejam usuais e normais no tipo de transações,

operações ou atividades da empresa. (...)

114

VALENTIM NETO, Geraldo; FERREIRA, Juliana Alves. Conceito de insumo varia conforme tributo

relacionado. Disponível em: <http://www.conjur.com.br/2013-mar-01/geraldo-valentime-juliana-alves-conceito-

insumo-varia-conforme-tributo>. Acesso em: 17 jan. 2015. 115

Em apertadíssima síntese, esclarece-se que o Imposto de Renda apurado sob a modalidade de lucro real tem

como base de cálculo o resultado entre o confronto das receitas e das despesas dedutíveis. Já o imposto de renda

apurado sob a modalidade do lucro presumido é calculado sobre base de cálculo apurada mediante a aplicação de

um percentual sobre a receita da sociedade, a depender de sua atividade social. 116

Art. 47. São operacionais as despesas não computadas nos custos, necessárias à atividade da empresa e a

manutenção da respectiva fonte produtora. § 1º São necessárias as despesas pagas ou incorridas para a realização

das transações ou operações exigidas pela atividade da emprêsa. § 2º As despesas operacionais admitidas são as

usuais ou normais no tipo de transações, operações ou atividades da emprêsa. (...). (BRASIL. Lei 4.506, de

30.11.1964. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L4506.htm>. Acesso em: 17 jan. 2015). 117

BRASIL. Decreto 3.000, 26.03.1999. Disponível em: <

http://www.receita.fazenda.gov.br/Legislacao/Decretos/Ant2001/1999/Dec300099.htm>. Acesso em: 17 jan.

2015.

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151

A definição de que despesas necessárias são as usuais e normais no tipo de

transações, operações ou atividades da empresa é muito importante para delimitar as

despesas dedutíveis das indedutíveis. A usualidade ou normalidade da despesa, no

entanto, não pode ser interpretada com todo o rigor do texto da lei quando a despesa

não usual ou normal servir para promover a venda de mercadoria ou produto.

Já a forma de determinação dos custos é dada pelos arts. 289 e 290, do RIR/99, que

tratam, respectivamente, do custo de aquisição e de produção:

Art. 289. O custo das mercadorias revendidas e das matérias-primas utilizadas será

determinado com base em registro permanente de estoques ou no valor dos estoques

existentes, de acordo com o Livro de Inventário, no fim do período de apuração

(Vide Decreto-lei 1.598/77, art. 14).

§ 1º O custo de aquisição de mercadorias destinadas à revenda compreenderá os de

transporte e seguro até o estabelecimento do contribuinte e os tributos devidos na

aquisição ou importação (Vide Decreto-lei 1.598/77, art. 13).

§ 2º Os gastos com desembaraço aduaneiro integram o custo de aquisição.

§ 3º Não se incluem no custo os impostos recuperáveis através de créditos na escrita

fiscal.

Art. 290. O custo de produção dos bens ou serviços vendidos compreenderá,

obrigatoriamente (Vide Decreto-lei 1.598/77, art. 13, § 1º):

I - o custo de aquisição de matérias-primas e quaisquer outros bens ou serviços

aplicados ou consumidos na produção, observado o disposto no artigo anterior;

II - o custo do pessoal aplicado na produção, inclusive de supervisão direta,

manutenção e guarda das instalações de produção;

III - os custos de locação, manutenção e reparo e os encargos de depreciação dos

bens aplicados na produção;

IV - os encargos de amortização diretamente relacionados com a produção;

V - os encargos de exaustão dos recursos naturais utilizados na produção.

Parágrafo único. A aquisição de bens de consumo eventual, cujo valor não exceda a

cinco por cento do custo total dos produtos vendidos no período de apuração

anterior, poderá ser registrada diretamente como custo (Vide Decreto-lei

1.598/1977, art. 13, § 2º).

Como é possível verificar, uma das modalidades de custo é o de aquisição de matérias-

primas e quaisquer outros bens ou serviços aplicados ou consumidos na produção.

Sobre a regra de dedutibilidade dos custos e das despesas para fins de apuração do

Imposto de Renda, sob a modalidade de apuração pelo lucro real, úteis são os esclarecimentos

de OLIVEIRA (2008, p. 670):

É bom recordar que, em princípio, todos os custos e despesas são dedutíveis do lucro

real, independentemente de haver expressa disposição legal declarando a

dedutibilidade deste ou daquele encargo. Isto é assim porque o sistema legal toma o

lucro líquido, onde custos e despesas estão debitando o resultado do período, como

ponto de partida para apuração do lucro real, e prossegue discriminado apenas as

exceções, que estabelecem a indedutibilidade de gastos específicos, ou limites ou

condições para a sua dedutibilidade, ou períodos distintos para serem deduzidos

fiscalmente, ou ainda algum tratamento diferenciado.

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152

A despeito de o RIR/99118

não apresentar definição do conceito de custo ou despesa

operacional dedutível, tal regulamento denota, de maneira a ratificar sua necessidade, algumas

espécies de despesas, tal como segue:

Art. 346. Serão admitidas, como custo ou despesa operacional, as despesas com

reparos e conservação de bens e instalações destinadas a mantê-los em condições

eficientes de operação (Vide Lei 4.506/64, art. 48).

§ 1º Se dos reparos, da conservação ou da substituição de partes e peças resultar

aumento da vida útil prevista no ato de aquisição do respectivo bem, as despesas

correspondentes, quando aquele aumento for superior a um ano, deverão ser

capitalizadas, a fim de servirem de base a depreciações futuras (Vide Lei 4.506/64,

art. 48, parágrafo único).

§ 2º Os gastos incorridos com reparos, conservação ou substituição de partes e peças

de bens do ativo imobilizado, de que resulte aumento da vida útil superior a um ano,

deverão ser incorporados ao valor do bem, para fins de depreciação do novo valor

contábil, no novo prazo de vida útil previsto para o bem recuperado, ou,

alternativamente, a pessoa jurídica poderá:

I - aplicar o percentual de depreciação correspondente à parte não depreciada do

bem sobre os custos de substituição das partes ou peças;

II - apurar a diferença entre o total dos custos de substituição e o valor determinado

no inciso anterior;

III - escriturar o valor apurado no inciso I a débito das contas de resultado;

IV - escriturar o valor apurado no inciso II a débito da conta do ativo imobilizado

que registra o bem, o qual terá seu novo valor contábil depreciado no novo prazo de

vida útil previsto.

§ 3º Somente serão permitidas despesas com reparos e conservação de bens móveis

e imóveis se intrinsecamente relacionados com a produção ou comercialização dos

bens e serviços (Vide Lei 9.249/95, art. 13, III).

Veja-se que os custos e despesas a que referido artigo se refere diz respeito,

justamente, a reparos e conservação de bens e instalações destinadas a mantê-los em

condições eficientes, ou seja, atinentes à manutenção da fonte produtora de receitas

Tal constatação é ratificada por OLIVEIRA (2008, p. 693),

(...) a lei vincula a dedutibilidade à existência de uma relação entre as despesas e as

atividades da empresa ou a sua fonte produtora. Estabelecida a existência dessa

relação, o que qualquer pessoa pode fácil e objetivamente fazer, a despesa será por

todos reconhecida como necessária, independentemente do que qualquer um pense

ou possa pensar, ache ou possa achar, quanto à sua conveniência ou por comparação

com qualquer outro referencial de apreciação.

Isto é da maior importância: o referencial legal para se constatar a necessidade é a

relação objetiva entre a despesa e a empresa, isto é, entre a despesa e as atividades

da empresa ou a sua fonte produtora! É isto, e nada mais, que importa para a lei!

Qualquer outro referencial, que alguém queira subjetivamente utilizar, é imaterial e

irrelevante para a lei.

Do quanto acima analisado, pode-se afirmar que a definição do conceito de insumo

para fins de IRPJ é:

118

BRASIL. Decreto 3.000, 26.03.1999. Disponível em: <

http://www.receita.fazenda.gov.br/Legislacao/Decretos/Ant2001/1999/Dec300099.htm>. Acesso em: 17 jan.

2015.

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153

todo e qualquer custo ou despesa que tenha relação com a atividade

operacional da pessoa jurídica.

No que tange ao ativo imobilizado, há apenas uma referência a ele no RIR/99119

, sem

qualquer alusão ao seu conceito ou a sua definição, o que se dá por intermédio de seu art. 301,

que prevê:

Art. 301. O custo de aquisição de bens do ativo permanente não poderá ser deduzido

como despesa operacional, salvo se o bem adquirido tiver valor unitário não superior

a trezentos e vinte e seis reais e sessenta e um centavos, ou prazo de vida útil que

não ultrapasse um ano (Vide Decreto-lei 1.598/77, art. 15; Lei 8.218/91, art. 20; Lei

8.383/91, art. 3º, II; e Lei 9.249/1995, art. 30).

§ 1º Nas aquisições de bens, cujo valor unitário esteja dentro do limite a que se

refere este artigo, a exceção contida no mesmo não contempla a hipótese onde a

atividade exercida exija utilização de um conjunto desses bens.

§ 2º Salvo disposições especiais, o custo dos bens adquiridos ou das melhorias

realizadas, cuja vida útil ultrapasse o período de um ano, deverá ser ativado para ser

depreciado ou amortizado (Vide Lei 4.506/64, art. 45, § 1º).

Vê-se que a única referência ao ativo imobilizado diz respeito à impossibilidade de seu

custo ser deduzido como despesa operacional, salvo exceção ali expressa.

Cumpre destacar, porém, o ainda vigente Parecer Normativo, da Coordenação do

Sistema de Tributação 100/78120

, cuja leitura induz à conclusão de que a fiscalização federal

fia-se aos termos da LSA para definição do conceito de ativo imobilizado. Veja-se:

(...) Ativo permanente é gênero, subdividido nas espécies ‘Investimentos’, ‘Ativo

Imobilizado’ e ‘Ativo Diferido’, na forma da classificação adotada pela Lei

6.404/76.

(...) De outro lado, sabe-se que na acepção técnico-jurídica não há uniformidade nem

regularidade no emprego de ‘bens’; autores de nomeada surpreendem-no em várias

disposições de nosso Código Civil utilizado alternativamente com a palavra ‘coisas’.

Embora não guardando unanimidade, há quem aponte sinonímia entre ambos

vocábulos.

(...) Militam, assim, boas e seguras razões para que a expressão ‘bens do ativo

permanente’ não seja tomada em seu sentido literal. Sendo assim, o ajuste de seu

significado deve ser procurado em outro elemento do período. Significativamente, o

texto fala em ‘prazo de vida útil superior a um ano’.

(...) Na verdade, à noção de vida útil se contrapõe a de vida não útil (existência sem

utilidade), mas, de qualquer forma, vida. Igualmente, útil, por prestar ou poder

prestar utilidade, pressupõe uso ou possibilidade de uso.

(...) Esta concepção permite-nos concluir que o dispositivo designa bens que tenham

vida útil, e, ademais, limitada no tempo. E que, cessada a utilidade, ainda assim,

podem continuar existindo. Em outras palavras: bem, no caso, corresponde à noção

de coisa, porém, com existência física, material, e que, em razão de sua utilidade

temporal limitada (superior a um ano) se subordina à depreciação.

119

BRASIL. Decreto 3.000, 26.03.1999. Disponível em: <

http://www.receita.fazenda.gov.br/Legislacao/Decretos/Ant2001/1999/Dec300099.htm>. Acesso em: 17 jan.

2015. 120

FISCOSOFT. Parecer Normativo, da Coordenação do Sistema de Tributação 100/78. Disponível em:

<http://www.fiscosoft.com.br/g/4dr/parecer-normativo-coordenador-do-sistema-de-tributacao-cst-n-100-de-

00001978>. Acesso em: 17 jan. 2015.

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154

(...) Corolário deste entendimento é a observação de que a outorga legal não cria

uma despesa artificial; apenas permite a antecipação de sua absorção. (...)

Assim, para fins do Imposto de Renda, o conceito de ativo imobilizado equivale

àquele atinente ao Direito Societário.

Além disso, no âmbito do Imposto de Renda, o bem classificado como pertencente ao

ativo imobilizado deve ter vida útil superior a um exercício social, nos termos do art. 346 do

RIR/99.

Portanto, para fins de IRPJ, a definição do conceito de ativo imobilizado é:

conjunto de bens destinados à manutenção das atividades da pessoa

jurídica, bem como os bens decorrentes de operações que transfiram

à companhia os benefícios, riscos e controle desses bens, ainda que

pertencentes a terceiros, desde que tenham vida útil superior a um

ano.

Passa-se, a seguir, à análise dos tributos federais efetivamente sujeitos à não

cumulatividade.

10.2.2 Imposto sobre Produtos Industrializados

O IPI é tributo federal cuja competência para instituição foi outorgada pelo art. 153, II,

da Constituição Federal121

:

Art. 153. Compete à União instituir impostos sobre: (...)

IV - produtos industrializados; (...)

§ 3º - O imposto previsto no inciso IV:

I - será seletivo, em função da essencialidade do produto;

II - será não-cumulativo, compensando-se o que for devido em cada operação com o

montante cobrado nas anteriores;

III - não incidirá sobre produtos industrializados destinados ao exterior.

IV - terá reduzido seu impacto sobre a aquisição de bens de capital pelo contribuinte

do imposto, na forma da lei.

Como já enfrentado quando da análise da regra matriz constitucional do ICMS, todo

imposto cuja competência para instituição foi outorgada pela Carta Maior denota um critério

121

BRASIL. Constituição Federal de 1988. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm>. Acesso em: 17 jan. 2015.

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155

material, uma hipótese de incidência tributária possível que, no caso do IPI, está atrelada,

necessariamente, a produtos industrializados122

.

Esse é o núcleo da hipótese de incidência possível do imposto, o qual deverá ser

acompanhado, necessariamente de um verbo que traduza um agir.

Sua estrutura ainda é formatada pelo Código Tributário Nacional, nos termos dos seus

arts. 46 a 51123

, sendo que, para os fins do quanto aqui proposto, devem ser analisados os

seguintes artigos:

Art. 46. O imposto, de competência da União, sobre produtos industrializados tem

como fato gerador:

I - o seu desembaraço aduaneiro, quando de procedência estrangeira;

II - a sua saída dos estabelecimentos a que se refere o parágrafo único do artigo

51124

;

III - a sua arrematação, quando apreendido ou abandonado e levado a leilão.

Parágrafo único. Para os efeitos deste imposto, considera-se industrializado o

produto que tenha sido submetido a qualquer operação que lhe modifique a natureza

ou a finalidade, ou o aperfeiçoe para o consumo.

122

A despeito de não se tratar do enfoque no presente tópico, interessante apresentar as regras matrizes de

incidência tributária do IPI, encontradas e descritas por CARVALHO, P. (2013. p. 688): “O legislador da União,

ao fazer uso da competência que lhe foi adjudicada, toma o ponto de referência – produto industrializado –

construindo, em seu derredor, três faixas de incidência: a) uma, que onera a industrialização de produtos; b)

outra, que grava a importação de produtos de produtos industrializados, do exterior; e c) uma terceira, que colhe

a arrematação de produtos industrializados levados a leilão por terem sido apreendidos ou abandonados (a atual

legislação do IPI revogou esse canal de incidência, podendo restabelecê-lo a qualquer momento). Focalizemos a

primeira. Isolando os critérios da hipótese, teremos: a) critério material – industrializar produtos (o verbo é

industrializar e o complemento é produtos); b) critério espacial – em princípio, qualquer lugar do território

nacional; c) critério temporal – o momento da saída do produto do estabelecimento industrial. Quanto aos

critérios da consequência: a) critério pessoal – sujeito ativo é a União e sujeito passivo o titular do

estabelecimento industrial ou que lhe seja equiparado; b) critério quantitativo – a base de cálculo é o preço da

operação, na saída do produto, e a alíquota, a percentagem constante da tabela. No que tange ao IPI na

importação de produtos industrializados do exterior, a regra-matriz ficaria assim composta: hipótese: a) critério

material – importar produto industrializado do exterior (o verbo é importar e o complemento é produto

industrializado do exterior); b) critério temporal – momento do desembaraço aduaneiro, A consequência: a)

critério pessoal – sujeito ativo é a União e sujeito passivo o importador; b) critério quantitativo – a base de

cálculo é o valor que servir de base para o cálculo dos tributos aduaneiros, acrescido do montante desses e dos

encargos cambiais devidos pelo importador. A alíquota é a percentagem constante da tabela e corresponde ao

produto importado. Por último, a hipótese de incidência de IPI, nos casos de arrematação de produtos

industrializados levados a leilão por terem sido apreendidos ou abandonados. A despeito de não ser tributável em

momento atual, é perfeitamente possível estruturarmos sua regra-matriz: a) critério material – arrematar, em

leilão, produto industrializado apreendido ou abandonado); b) critério espacial – em quaisquer repartições

alfandegárias ou outro lugar em que se realizam leilões de produtos industrializados apreendidos ou

abandonados; c) critério temporal – momento da arrematação, documentado em nota de venda do leiloeiro

oficial. A consequência: a) critério pessoal – sujeito ativo é a União e sujeito passivo, o arrematante; b) critério

quantitativo – a base se cálculo é o valor arrematado. A alíquota é a percentagem fixada em lei.” 123

BRASIL. Código Tributário Nacional. Lei 5.172, de 25.10.1966. Disponível em: <

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l5172.htm>. Acesso em: 17 jan. 2015. 124

Referido art. 51 assim determina: Art. 51. Contribuinte do imposto é: I - o importador ou quem a lei a ele

equiparar; II - o industrial ou quem a lei a ele equiparar; III - o comerciante de produtos sujeitos ao imposto, que

os forneça aos contribuintes definidos no inciso anterior; IV - o arrematante de produtos apreendidos ou

abandonados, levados a leilão. Parágrafo único. Para os efeitos deste imposto, considera-se contribuinte

autônomo qualquer estabelecimento de importador, industrial, comerciante ou arrematante. (BRASIL. Código

Tributário Nacional. Lei 5.172, de 25.10.1966. Disponível em: <

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l5172.htm>. Acesso em: 17 jan. 2015).

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156

Art. 49. O imposto é não-cumulativo, dispondo a lei de forma que o montante

devido resulte da diferença a maior, em determinado período, entre o imposto

referente aos produtos saídos do estabelecimento e o pago relativamente aos

produtos nele entrados.

Parágrafo único. O saldo verificado, em determinado período, em favor do

contribuinte transfere-se para o período ou períodos seguintes.

Assim, o Código Tributário Nacional atrelou ao núcleo “produto industrializado” aos

atos de importar, de dar saída do estabelecimento e de arrematar.

Continuando-se a análise do procedimento de instituição do IPI, tem-se a Lei

4.502/64125

, da qual interessam os seguintes artigos.

Art. 2º Constitui fato gerador do imposto:

I - quanto aos produtos de procedência estrangeira o respectivo desembaraço

aduaneiro;

II - quanto aos de produção nacional, a saída do respectivo estabelecimento

produtor. (...)

Art. 25. A importância a recolher será o montante do imposto relativo aos produtos

saídos do estabelecimento, em cada mês, diminuído do montante do imposto relativo

aos produtos nele entrados, no mesmo período, obedecidas as especificações e

normas que o regulamento estabelecer.

§ 1º O direito de dedução só é aplicável aos casos em que os produtos entrados se

destinem à comercialização, industrialização ou acondicionamento e desde que os

mesmos produtos ou os que resultarem do processo industrial sejam tributados na

saída do estabelecimento.

Pode-se concluir, pois, que a hipótese de incidência do IPI é industrializar um produto,

dando-se a ele saída do estabelecimento.

Além disso, tal como amplamente tratado quando do estudo da não cumulatividade do

ICMS, o nascimento do crédito tributário atinente ao IPI e do crédito fiscal, favorável ao

contribuinte, ocorrem em momentos distintos, não se estando diante de operação sobre valor

agregado.

Tal situação é resumida por PAULSEN e MELO (2008, p. 83 e 86):

A não-cumulatividade constitui uma técnica de tributação que visa a impedir que as

incidências sucessivas nas diversas operações da cadeia econômica de um produto

impliquem um ônus tributário muito elevado, decorrente da múltipla tributação da

mesma base econômica, ora como insumo, ora como integrante de outro insumo ou

de um produto final. Em outras palavras, consiste em fazer com que o IPI não onere,

em cascata, a produção. (...)

A utilização dos créditos, diga-se, ainda, não está vinculada à saída da mercadoria

em que incorporado o insumo. Não se estabelece relação entre a entrada do insumo

e a saída especificamente do produto final que o incorporou no processo de

industrialização. Tal identidade é irrelevante. Trabalha-se, sim, por períodos em que

se faz o creditamento do IPI relativo a todos os insumos, produtos intermediários e

embalagens entrados no estabelecimento, procedendo-se à compensação com o IPI

devido pela saída de produtos finais no mesmo período. (destaques do original)

125

BRASIL. Lei 4.502, de 30.11.1964. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L4502.htm>.

Acesso em: 17 jan. 2015.

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157

Por fim, tem-se o Regulamento do IPI (RIPI), aprovado pelo Decreto 7.212/2010126

,

que prevê:

Art. 3º Produto industrializado é o resultante de qualquer operação definida neste

Regulamento como industrialização127

, mesmo incompleta, parcial ou intermediária

(Vide Lei 5.172/66, art. 46, parágrafo único; e Lei 4.502/64, art. 3º).

Art. 8º Estabelecimento industrial é o que executa qualquer das operações referidas

no art. 4º, de que resulte produto tributado, ainda que de alíquota zero ou isento

(Vide Lei 4.502/64, art. 3º).

Art. 35. Fato gerador do imposto é (Vide Lei 4.502/64, art. 2º):

I - o desembaraço aduaneiro de produto de procedência estrangeira; ou

II - a saída de produto do estabelecimento industrial, ou equiparado a industrial128

.

(...)

Art. 225. A não cumulatividade é efetivada pelo sistema de crédito do imposto

relativo a produtos entrados no estabelecimento do contribuinte, para ser abatido do

que for devido pelos produtos dele saídos, num mesmo período, conforme

estabelecido neste Capítulo (Vide Lei 5.172/66, art. 49).

§ 1º O direito ao crédito é também atribuído para anular o débito do imposto

referente a produtos saídos do estabelecimento e a este devolvidos ou retornados.

§ 2º Regem-se, também, pelo sistema de crédito os valores escriturados a título de

incentivo, bem como os resultantes das situações indicadas no art. 240.

Art. 226. Os estabelecimentos industriais e os que lhes são equiparados poderão

creditar-se (Vide Lei 4.502/64, art. 25):

126

BRASIL. Decreto 7.212, 15.6.2010. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-

2010/2010/decreto/d7212.htm>. Acesso em: 17 jan. 2015. 127

De acordo com o art. 4º do RIPI, considera-se industrialização, o quanto segue: “Art. 4º Caracteriza

industrialização qualquer operação que modifique a natureza, o funcionamento, o acabamento, a apresentação ou

a finalidade do produto, ou o aperfeiçoe para consumo, tal como: I - a que, exercida sobre matérias-primas ou

produtos intermediários, importe na obtenção de espécie nova (transformação);

II - a que importe em modificar, aperfeiçoar ou, de qualquer forma, alterar o funcionamento, a utilização, o

acabamento ou a aparência do produto (beneficiamento); III - a que consista na reunião de produtos, peças ou

partes e de que resulte um novo produto ou unidade autônoma, ainda que sob a mesma classificação fiscal

(montagem); IV - a que importe em alterar a apresentação do produto, pela colocação da embalagem, ainda que

em substituição da original, salvo quando a embalagem colocada se destine apenas ao transporte da mercadoria

(acondicionamento ou reacondicionamento); ou V - a que, exercida sobre produto usado ou parte remanescente

de produto deteriorado ou inutilizado, renove ou restaure o produto para utilização (renovação ou

recondicionamento). Parágrafo único. São irrelevantes, para caracterizar a operação como industrialização, o

processo utilizado para obtenção do produto e a localização e condições das instalações ou equipamentos

empregados.” (BRASIL. Decreto 7.212, 15.6.2010. Disponível em: <

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2010/decreto/d7212.htm>. Acesso em: 17 jan. 2015). 128

Segundo o art. 9º do RIPI, equiparam-se a estabelecimento industrial, dentre outros: I - os estabelecimentos

importadores de produtos de procedência estrangeira, que derem saída a esses produtos (Lei 4.502/64, art. 4º, I);

II - os estabelecimentos, ainda que varejistas, que receberem, para comercialização, diretamente da repartição

que os liberou, produtos importados por outro estabelecimento da mesma firma; III - as filiais e demais

estabelecimentos que exercerem o comércio de produtos importados, industrializados ou mandados industrializar

por outro estabelecimento da mesma firma, salvo se aqueles operarem exclusivamente na venda a varejo e não

estiverem enquadrados na hipótese do inciso II (Lei 4.502/64, art. 4º, II, e § 2º; Decreto-lei 34/66, art. 2º,

alteração 1ª; e Lei 9.532/97, art. 37, I); IV - os estabelecimentos comerciais de produtos cuja industrialização

tenha sido realizada por outro estabelecimento da mesma firma ou de terceiro, mediante a remessa, por eles

efetuada, de matérias-primas, produtos intermediários, embalagens, recipientes, moldes, matrizes ou modelos

(Lei 4.502/64, art. 4º, III e Decreto-lei 34/66, art. 2º, alteração 33ª); (...) IX - os estabelecimentos, atacadistas ou

varejistas, que adquirirem produtos de procedência estrangeira, importados por encomenda ou por sua conta e

ordem, por intermédio de pessoa jurídica importadora (MP 2.158-35, de 2001, art. 79; e Lei 11.281/2006, art.

13).

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158

I - do imposto relativo a matéria-prima, produto intermediário e material de

embalagem, adquiridos para emprego na industrialização de produtos tributados,

incluindo-se, entre as matérias-primas e os produtos intermediários, aqueles que,

embora não se integrando ao novo produto, forem consumidos no processo de

industrialização, salvo se compreendidos entre os bens do ativo permanente; (...)

(grifos nossos)

Assim, além de ratificar a definição de produto industrializado, o art. 35 do RIPI

incluiu, como hipótese de incidência do imposto, a saída de produto de estabelecimento

equiparado a industrial, dentre eles, (a) os estabelecimentos importadores de produtos de

procedência estrangeira, que derem saída a esses produtos, e (b) os estabelecimentos,

atacadistas ou varejistas, que adquirirem produtos de procedência estrangeira, importados por

encomenda ou por sua conta e ordem, por intermédio de pessoa jurídica importadora129

.

Afora isso, dando azo à não cumulatividade, descreveu os bens cuja aquisição enseja o

crédito fiscal do IPI, passível de ser confrontado com o crédito tributário, a saber: (a) matéria-

prima, (b) produto intermediário e (c) material de embalagem, adquiridos para emprego na

industrialização de produtos tributados, incluindo aqueles que, embora não se integrando ao

novo produto, forem consumidos no processo de industrialização, salvo se compreendidos

entre os bens do ativo permanente.

Trata-se justamente de insumos empregados ou consumidos na industrialização dos

produtos.

Isso quer dizer que, para fins da não cumulatividade no âmbito do IPI, só é aceita a

apropriação de créditos físicos, ou seja, aqueles efetivamente incorporados ou consumidos no

procedimento de industrialização.

Tal ponto foi abordado por MACHADO SEGUNDO e MACHADO, R. (2009, p.

229):

No âmbito do IPI, a não-cumulatividade é adotada através da sistemática do crédito

físico amplo. Isso significa que gera crédito, a ser abatido dos valores devidos em

face das saídas realizadas pelo estabelecimento industrial, o IPI incidente sobre os

insumos que se incorporam ao produto final ou, não se incorporando, são

consumidos no curso do processo de industrialização, de forma imediata e integral.

Não há direito ao crédito, contudo, relativamente a outras aquisições, como as de

bens destinados ao ativo fixo.

129

A despeito de se tratar de matéria não afeta ao objeto do presente trabalho, cumpre esclarecer que, de acordo

com o Regulamento do Imposto sobre Produtos Industrializados, a pessoa jurídica que importa produtos do

exterior para revenda no território nacional é equiparada a industrial. Por essa razão, a operação de venda de

mercadoria de referidos produtos no Brasil é tributada pelo imposto, onerando o valor do produto. Ocorre que, a

despeito de a Constituição Federal ser silente sobre a definição dos contribuintes do imposto, o Código

Tributário Nacional não prevê a sua incidência em face de operações realizadas por pessoas jurídicas que não

realizam a industrialização de bens. Nesse sentido, tem sido levada ao Poder Judiciário discussão tendo por

objeto o afastamento da incidência do IPI em face da revenda de mercadoria importada do exterior por empresa

nacional, bem como a recuperação dos valores indevidamente recolhidos nos últimos 5 (cinco) anos, sendo que o

STJ vem acatando o pleito dos contribuintes.

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159

Nesse ponto, assiste toda a razão para ao legislador federal. Isso porque, o crédito

fiscal está em total conexão com o critério material de incidência do IPI.

Se a hipótese de incidência do imposto é a industrialização de produtos, é totalmente

congruente a previsão que determina que a não cumulatividade seja vinculada à tomada de

créditos relativamente a bens diretamente vinculados ao processo de industrialização e à sua

embalagem.

Há que se analisar, pois, a previsão constante do RIPI, no sentido de que dão direito a

crédito, sendo considerados, pois insumos, afora o material de embalagem, a matéria-prima e

o produto intermediário, adquiridos para emprego na industrialização de produtos tributados,

incluindo-se, entre as matérias-primas e os produtos intermediários, aqueles que, embora não

se integrando ao novo produto, forem consumidos no processo de industrialização, salvo se

compreendidos entre os bens do ativo permanente.

Quanto à matéria prima, parece não haver dúvidas de que se trata de insumo que

efetivamente se agrega ao novo produto industrializado.

Com relação aos produtos intermediários, a pergunta há de ser feita para serem ou não

considerados como insumos é: o produto final, ainda que por ele não integrado, necessita do

produto intermediário para ser finalizado? Esse produto intermediário se torna imprestável ou

é, ainda que parcialmente, consumido durante o procedimento de industrialização?

Se a resposta for positiva para ambas as respostas, está-se, efetivamente, diante de um

insumo.

A natureza do produto intermédio enquanto insumo para fins de creditamento fiscal do

IPI e sua estrita ligação com a hipótese de incidência do imposto foi analisada por MARTINS,

I., CASTANHA e MARTINS, R. (2013, p. 82):

Com efeito, na medida em que o fato imponível do IPI ocorre com a saída de um

produto do estabelecimento do contribuinte que tenha sido submetido a algum

processo de industrialização (em regra), nada mais coerente e necessário que todos

os insumos que efetivamente se consumiriam ou foram agregados a um produto final

sejam eleitos para fins de creditamento do imposto, uma vez que tais insumos se

confundem com o próprio produto e, com isto, serão submetidos à tributação, que

incidirá sobre o valor total da operação de saída.

Para aderir a esta inteligência da não cumulatividade do IPI, deve o insumo

apresentar alguma espécie de perda de suas características físicas e/ou químicas em

razão de contato direto com o bem em fabricação, uma vez que, nestas hipóteses, o

insumo consumido ou desgastado incorporou-se direta ou indiretamente ao produto

final, de modo a justificar o crédito de IPI e impedir a tributação do valor deste

insumo em cascata no âmbito da cadeia produtiva.

Por esta razão se justifica que o texto constitucional e a legislação do IPI façam

restrição ao direito do crédito ao valor do mesmo imposto destacado na nota fiscal

de aquisição. Na medida em que se tributa a saída do produto industrializado do

estabelecimento, então deve gerar crédito somente o imposto incidente nas

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160

aquisições de insumos que se incorporaram ao produto que teve saída do

estabelecimento.

Quanto às matérias-primas e os produtos intermediários que, embora não se integrando

ao novo produto, são consumidos no processo de industrialização, faz-se menção ao Parecer

Normativo, do Coordenador do Sistema de Tributação 65/79130

, que assim prevê ao versar nos

os termos do inciso I do art. 66 da Lei 4.502/64:

4. Note-se que o dispositivo está subdividido em duas partes, a primeira referindo-se

às matérias-primas, aos produtos intermediários e ao material de embalagem; a

segunda relacionada às matérias-primas e aos produtos intermediários que, embora

não se integrando ao novo produto, sejam consumidos no processo de

industrialização.

4.1. Observe-se, ainda, que enquanto na primeira parte da norma "matérias-primas"

e "produtos intermediários" são empregados stricto sensu, a segunda usa tais

expressões em seu sentido lato: quaisquer bens que, embora não se integrando ao

produto em fabricação se consumam na operação de industrialização.

4.2. Assim, somente geram o direito ao crédito os produtos que se integrem ao novo

produto fabricado e os que, embora não se integrando, sejam consumidos no

processo de fabricação, ficando definitivamente excluídos aqueles que não se

integrem nem sejam consumidos na operação de industrialização. (...)

6. Todavia, relativamente aos produtos referidos na segunda parte, matérias-primas e

produtos intermediários entendidos em sentido amplo, ou seja, aqueles que embora

não sofram as referidas operações são nelas utilizados, se consumindo em virtude de

contato físico com o produto em fabricação, tais como lixas, lâminas de serra e

catalisadores, além da ressalva de não gerarem o direito se compreendidos no ativo

permanente, exige-se uma série de considerações. 9 (...)

6.1. Há quem entenda, tendo em vista tal ressalva (não gerarem direito a crédito os

10. Resume-se, portanto, o problema na determinação do que se deva entender como

produtos "que, embora não se integrando no novo produto, forem consumidos, no

processo de industrialização", para efeito de reconhecimento ou não do direito ao

crédito.

10.1. Como o texto fala em "incluindo-se entre as matérias-primas e os produtos

intermediários", é evidente que tais bens hão de guardar semelhança com as

matérias-primas e os produtos intermediários stricto sensu, semelhança esta que

reside no fato de exercerem na operação de industrialização função análoga a destes,

ou seja, se consumirem em decorrência de um contato físico, ou melhor dizendo, de

uma ação diretamente exercida sobre o produto em fabricação, ou por este

diretamente sofrida.

10.2. A expressão "consumidos", sobretudo levando-se em conta que as restrições

"imediata e integralmente", constantes do dispositivo correspondente do

Regulamento anterior, foram omitidas, há de ser entendida em sentido amplo,

abrangendo, exemplificativamente, o desgaste, o desbaste, o dano e a perda de

propriedades físicas ou químicas, desde que decorrentes de ação direta do insumo

sobre o produto em fabricação, ou deste sobre o insumo.

10.3. Passam, portanto, a fazer jus ao crédito, distintamente do que ocorria em face

da norma anterior, as ferramentas manuais e as intermutáveis, bem como quaisquer

outros bens que, não sendo partes nem peças de máquinas, independentemente de

suas qualificações tecnológicas, se enquadrem no que ficou exposto na parte final do

subitem 10.1 (se consumirem em decorrência de um contato físico, ou melhor

dizendo, de uma ação diretamente exercida sobre o produto em fabricação, ou por

este diretamente sofrida).

130

FISCOSOFT. Parecer Normativo, da Coordenação do Sistema de Tributação 65/79. Disponível em: <

http://www.fiscosoft.com.br/g/1upz/parecer-normativo-coordenador-do-sistema-de-tributacao-cst-n-65-de-

05111979>. Acesso em: 17 jan. 2015.

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161

10.4. Note-se, ainda, que a expressão "compreendidos no ativo permanente" deve ser

entendida faticamente, isto é, a inclusão ou não dos bens, pelo contribuinte, naquele

grupo de contas deve ser juris tantum aceita como legítima, somente passível de

impugnação para fins de reconhecimento, ou não, do direito ao crédito quando em

desrespeito aos princípios contábeis geralmente aceitos.

11. Em resumo, geram o direito ao crédito, além dos que se integram ao produto

final (matérias-primas e produtos intermediários, stricto sensu, e material de

embalagem), quaisquer outros bens que sofram alterações, tais como o desgaste, o

dano ou a perda de propriedades físicas ou químicas, em função de ação diretamente

exercida sobre o produto em fabricação, ou, vice-versa, proveniente de ação

exercida diretamente pelo bem em industrialização, desde que não devam, em face

de princípios contábeis geralmente aceitos, ser incluídos no ativo permanente.

11.1. Não havendo tais alterações, ou havendo em função de ações exercidas

indiretamente, ainda que se dêem rapidamente e mesmo que os produtos não estejam

compreendidos no ativo permanente, inexiste o direito de que trata o inciso I do art.

66 do RIPI/79.

A leitura do Parecer Normativo acima suscita a análise do conceito denotativo de

produto intermediário, sendo muito clara a adequação de produtos como lixas, lâminas e

catalisadores em referida classe, já que efetivamente se consomem no processo de

industrialização, por intermédio de desgaste, desbaste, dano e a perda de propriedades físicas

ou químicas, a despeito de não integrar o produto final.

Nessa linha, também parece se adequar ao conceito de insumo, partes e peças de

equipamentos (que não o próprio equipamento, que é ativo imobilizado), que tenham contato

direto com o produto, desgastando-se durante o processo industrial e necessitando,

constantemente, serem substituídas.

Porém, discordamos do parecer quando afirma, sem fazer restrições, que ferramentas

manuais podem ser consideradas insumos, na qualidade de produtos intermediários.

Via de regra, ferramentas se integram ao ativo imobilizado, não se adequando, pois ao

conceito de insumo. Além disso, há que se analisar a espécie de desgaste que a ferramenta

sofre para poder-se afirmar que se está diante de produto intermediário que se desgasta no

curso do processo produtivo.

E aqui tem-se conclusão que também afetará o próprio conceito de insumo para fins de

ICMS: não há definição de conceito conotativo de insumo que possa delimitar, sem ensejar

dúvidas, todos os produtos englobados em sua classe. Sempre haverá dúvidas sobre os

conceitos, por exemplo, de desgaste, desbaste, dano ou perda, vez que também são conceitos

que comportam certa vaguidade.

Daí a necessidade de se apresentar conceito conotativo o mais detalhado possível,

visando a delimitar, de forma mais segura, os bens que se adequam àquela classe.

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162

Veja-se que, estando-se diante de IPI, está-se falando de todas as indústrias brasileiras

sujeitas ao imposto, e que podem tomar créditos físicos, salvo aquelas sujeitas ao

SIMPLES131

e que portanto desenvolvem toda a sorte de atividades industriais, mediante a

utilização da mais alta tecnologia às técnicas rudimentares sendo que todas devem se atentar

ao conceito de insumo.

Nesse sentido, e em face do quanto enfrentado neste item, propõe-se o seguinte

conceito conotativo de insumo para o IPI:

todo bem ou produto que, adquirido pelo industrial, matéria prima ou

produto intermediário, seja total ou parcialmente integrado ao

produto final, ou que, tendo contato direito com o produto

industrializado, seja essencial para o processo de industrialização,

ensejando o seu desgaste no processo produtivo, assim entendido o

desgaste, desbaste, dano, perda ou qualquer espécie de deterioração,

ainda que química, total ou parcial, incluindo-se nessa classe,

inclusive, partes e peças de bens do ativo imobilizado que, tendo

contato direto com o produto, se desgastem durante o processo

produtivo, ensejando sua substituição periódica.

Veja-se que, a lei do IPI não define qual seria o prazo adequado para a substituição

periódica; pode-se, porém, “emprestar-se” do Imposto de Renda, a previsão de que será

considerado bem do ativo imobilizado aquele que tenha vida útil maior que 1 (ano), sendo que

produtos intermediários que devem ser substituídos em prazo inferior a 1 (um) ano se

enquadrariam no conceito de insumo. Tratar-se-ia de uma forma de, integrando-se definições

de conceitos, mediante análise sistêmica dos tributos que tenham o insumo como elemento

essencial, trazer-se segurança jurídica ao fisco federal e aos contribuintes.

De qualquer forma, a partir da definição conotativa de insumo para fins de IPI que se

propõe, há que se analisar, caso a caso, a adequação de cada matéria prima e produto

intermediário a ele, verificando-se sua adequação à classe dos insumos que geram direito ao

crédito.

131

O Simples Nacional é um regime compartilhado de arrecadação, cobrança e fiscalização de tributos aplicável

às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte, previsto na Lei Complementar 123/2006. Abrange a

participação de todos os entes federados (União, Estados, Distrito Federal e Municípios). É administrado pela

Secretaria da Receita Federal do Brasil, pelos Estados e pelos Municípios.

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163

10.2.3 Contribuição ao PIS e COFINS132

Tal como se dá com os demais tributos, no Brasil, a exigência da contribuição ao PIS e

da Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (COFINS) têm fundamento na

Constituição Federal.

Os arts. 149 e 239 conferiram à União Federal a competência para instituir

contribuições sociais, cujos critérios materiais das hipóteses de incidência sejam adstritos

àqueles previstos nos arts. 195 e 249 da mesma Carta Constitucional.

O art. 149133

assim prevê:

Art. 149. Compete exclusivamente à União instituir contribuições sociais, de

intervenção no domínio econômico e de interesse das categorias profissionais ou

econômicas, como instrumento de sua atuação nas respectivas áreas, observado o

disposto nos arts. 146, III, e 150, I e III, e sem prejuízo do previsto no art. 195, § 6º,

relativamente às contribuições a que alude o dispositivo. (...)

§ 2º As contribuições sociais e de intervenção no domínio econômico de que trata o

caput deste artigo:

I - não incidirão sobre as receitas decorrentes de exportação; II - incidirão também sobre a importação de produtos estrangeiros ou serviços; (...)

Com relação à COFINS, a competência específica para sua instituição está disposta no

art. 195 da Constituição Federal134

:

Art. 195. A seguridade social será financiada por toda a sociedade, de forma direta e

indireta, nos termos da lei, mediante recursos provenientes dos orçamentos da

União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, e das seguintes

contribuições sociais:

I- do empregador, da empresa e da entidade a ela equiparada na forma da lei,

incidentes sobre:

(...)

b) a receita ou o faturamento; (...)

No que diz respeito à contribuição ao PIS, a previsão de instituição e exigência da

contribuição encontra seu fundamento no art. 239 da Constituição Federal135

, a saber:

132

Dado o escopo do presente trabalho, não serão analisados o PIS e a COFINS Importação, objeto da Lei

10.865/2004 e suas posteriores alterações; nem a sua incidência monofásica, objeto das Leis 10.637/2002 e

10.833/2003, em face de determinados produtos estipulados, a saber, combustíveis; farmacêutico; perfumaria,

toucador e higiene pessoal; máquinas e veículos; autopeças; pneus novos de borracha e câmaras-de-ar de

borracha; e bebidas e embalagens. (BRASIL. Lei 10.865, de 30.4.2004. Disponível em:

<http://www.receita.fazenda.gov.br/Legislacao/Leis/2004/lei10865.htm>. Acesso em: 17 jan. 2015. BRASIL.

Lei 10.637, de 30.12.2002.Disponível em: <

http://www.receita.fazenda.gov.br/Legislacao/Leis/2002/lei10637.htm>. Acesso em: 17 jan. 2015. BRASIL. Lei

10.833, de 29.12.2003. Disponível em: <

http://www.receita.fazenda.gov.br/Legislacao/Leis/2003/lei10833.htm>. Acesso em: 17 jan. 2015). 133

BRASIL. Constituição Federal de 1988. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm>. Acesso em: 17 jan. 2015. 134

BRASIL. Constituição Federal de 1988. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm>. Acesso em: 17 jan. 2015. 135

Idem.

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164

Art. 239. A arrecadação decorrente das contribuições para o Programa de Integração

Social, criado pela Lei Complementar nº 7136

, de 7 de setembro de 1970, e para o

Programa de Formação do Patrimônio do Servidor Público, criado pela Lei

Complementar nº 8, de 3 de dezembro de 1970, passa, a partir da promulgação desta

Constituição, a financiar, nos termos que a lei dispuser, o programa do seguro-

desemprego e o abono de que trata o § 3º deste artigo.

As competências tributárias outorgadas pelos referidos artigos foram exercidas pela

União Federal, em relação à COFINS, por intermédio da Lei Complementar 70/91, e ao PIS,

na forma Lei Complementar 7/70, recepcionada pela Carta de 1988.

Posteriormente, foi editada a Lei 9.718/98, que passou a reger a exigência da

contribuição ao PIS e da COFINS, prevendo ter ambas por base de cálculo137

o faturamento

das pessoas jurídicas, sem o direito a qualquer compensação, e alíquotas de, respectivamente,

0,65% e 3%.

Até o ano de 2003, só havia que se falar em uma única modalidade de apuração da

contribuição ao PIS e da COFINS, a saber, a cumulativa.

Porém, em tese atendendo à grita geral dos contribuintes brasileiros, no sentido de que

uma contribuição cumulativa sobre o faturamento onerava sobremaneira o ciclo produtivo, foi

instituída a não cumulatividade em face de ditas contribuições.

Nesse sentido, por meio da Emenda Constitucional 42/2002, foi inserido o §12 ao art.

195 da Constituição Federal, tal como segue:

Art. 195. ...

(...)

§ 12. A lei definirá os setores de atividade econômica para os quais as contribuições

incidentes na forma dos incisos I, b; e IV do caput, serão não-cumulativas.

Percebe-se, pois, que a Constituição previu que caberia à lei apenas definir os setores

de atividade econômica que se submeteriam à não cumulatividade. Porém, não foi isso o que

ocorreu.

Dada referida autorização constitucional, foram editadas as Leis Ordinárias

10.637/2002 (PIS) e 10.833/2003 (COFINS), segundo as quais, como regra, as sociedades

136

Nesse sentido, confira-se a redação do art. 3º, b), da LC 7/70: “Art. 3º - O Fundo de Participação será

constituído por duas parcelas: (...) b) a segunda, com recursos próprios da empresa, calculados com base no

faturamento, como segue: 1) no exercício de 1971, 0,15%; 2) no exercício de 1972, 0,25%; 3) no exercício de

1973, 0,40%; 4) no exercício de 1974 e subsequentes, 0,50%.” (BRASIL. Lei Complementar 7, 7.9.1970.

Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lcp/Lcp07.htm>. Acesso em: 17 jan. 2015). 137

O § 1º do art. 3º da Lei nº 9.718/1998, que dispunha que a receita bruta compreende a totalidade das receitas

auferidas pela pessoa jurídica, sendo irrelevantes o tipo de atividade por ela exercida e a classificação contábil

adotada para as receitas, foi revogado pela Lei nº 11.941/2009. Tal alteração deu-se, principalmente, pelo fato de

no julgamento dos Recursos Extraordinários n.º 346.084/PR, 357.950/RS, 358.273/RS e 390.840/MG, em

09.11.2005, o Supremo Tribunal Federal ter declarado a inconstitucionalidade do § 1º do art. 3º da Lei 9.718/98.

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165

submetidas à apuração do Imposto de Renda Pessoa Jurídica, pela modalidade do lucro real,

passaram a estar sujeitas ao regime não cumulativo de apuração das referidas contribuições,

cuja base de cálculo foi ampliada para “receitas auferidas no mês pela pessoa jurídica,

independentemente de sua denominação ou classificação contábil”.

Com relação à definição dos “setores de atividade econômicos” submetidos à não

cumulatividade, ambas as leis determinam, por exclusão, quem não estaria submetido ao

regime não cumulativo do PIS138

e da COFINS139

.

No que tange especificamente à regra da não cumulatividade, quanto ao PIS, o art. 3º

da Lei 10.637/2002140

assim previu:

Art. 3o Do valor apurado na forma do art. 2

o141 a pessoa jurídica poderá descontar

créditos calculados em relação a:

I - bens adquiridos para revenda, exceto em relação às mercadorias e aos produtos

referidos: (...)

II - bens e serviços, utilizados como insumo na prestação de serviços e na produção

ou fabricação de bens ou produtos destinados à venda, inclusive combustíveis e

lubrificantes, exceto em relação ao pagamento de que trata o art. 2o da Lei n

o 10.485,

de 3 de julho de 2002, devido pelo fabricante ou importador, ao concessionário, pela

intermediação ou entrega dos veículos classificados nas posições 87.03 e 87.04 da

TIPI; (...)

§ 1o O crédito será determinado mediante a aplicação da alíquota prevista no caput

do art. 2o desta Lei sobre o valor:

I - dos itens mencionados nos incisos I e II do caput, adquiridos no mês; (...)

§ 2o Não dará direito a crédito o valor:

I - de mão-de-obra paga a pessoa física; e

II - da aquisição de bens ou serviços não sujeitos ao pagamento da contribuição,

inclusive no caso de isenção, esse último quando revendidos ou utilizados como

insumo em produtos ou serviços sujeitos à alíquota 0 (zero), isentos ou não

alcançados pela contribuição. (grifo nosso)

Com relação à COFINS, tem-se os termos da Lei 10.833/2003, cujo art. 3º142

, em

suma, repete a norma atinente à contribuição ao PIS.

138

Lei 10.637/2002, art. 8º. (BRASIL. Lei 10.637, de 30.12.2002. Disponível em: <

http://www.receita.fazenda.gov.br/Legislacao/Leis/2002/lei10637.htm>. Acesso em: 17 jan. 2015). 139

Lei 10.833/2003, art. 10. (BRASIL. Lei 10.833, de 29.12.2003. Disponível em: <

http://www.receita.fazenda.gov.br/Legislacao/Leis/2003/lei10833.htm>. Acesso em: 17 jan. 2015). 140

BRASIL. Lei 10.637, de 30.12.2002. Disponível em: <

http://www.receita.fazenda.gov.br/Legislacao/Leis/2002/lei10637.htm>. Acesso em: 17 jan. 2015. 141

Art. 2o Para determinação do valor da contribuição para o PIS/Pasep aplicar-se-á, sobre a base de cálculo

apurada conforme o disposto no art. 1o, a alíquota de 1,65% (um inteiro e sessenta e cinco centésimos por cento).

§ 1o Excetua-se do disposto no caput a receita bruta auferida pelos produtores ou importadores, que devem

aplicar as alíquotas previstas: (...). (BRASIL. Disponível em: <

http://www.receita.fazenda.gov.br/Legislacao/Leis/2002/lei10637.htm>. Acesso em: 17 jan. 2015). 142

Art. 3o Do valor apurado na forma do art. 2

o a pessoa jurídica poderá descontar créditos calculados em relação

a: I - bens adquiridos para revenda, exceto em relação às mercadorias e aos produtos referidos: (...) a) nos incisos

III e IV do § 3o do art. 1

o desta Lei; e II - bens e serviços, utilizados como insumo na prestação de serviços e na

produção ou fabricação de bens ou produtos destinados à venda, inclusive combustíveis e lubrificantes, exceto

em relação ao pagamento de que trata o art. 2º da Lei 10.485, de 3 de julho de 2002, devido pelo fabricante ou

importador, ao concessionário, pela intermediação ou entrega dos veículos classificados nas posições 87.03 e

87.04 da TIPI; (...) § 2o Não dará direito a crédito o valor: I - de mão-de-obra paga a pessoa física; e II - da

aquisição de bens ou serviços não sujeitos ao pagamento da contribuição, inclusive no caso de isenção, esse

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166

Segundo essas leis, o sistema legal de abatimento de créditos (isto é, a não

cumulatividade) instituído em relação à Contribuição ao PIS e à COFINS referem–se, apenas,

a algumas despesas suportadas pelas pessoas jurídicas no desenvolvimento de suas atividades

e insumos, sem delimitar, no entanto, o alcance deste termo.

Com efeito, segundo referida sistemática de apuração, o contribuinte estaria autorizado

a contrapor aos valores devidos, os créditos de PIS e COFINS calculados sobre despesas por

ele realizadas, incidentes sobre o total de bens e serviços utilizados como insumos em sua

atividade, mediante a aplicação das mesmas alíquotas de 1,65% (PIS) e 7,6% (COFINS)

utilizadas para cálculo do crédito tributário.

Cumpre esclarecer que, como já adiantado, a instituição da não cumulatividade, em

tese, veio para atender ao anseio da comunidade empresarial que entendia que a

cumulatividade acabava por impor uma sobrecarga tributária, dado que o tributo incidia

durante toda a cadeia produtiva sobre o valor das receitas.

Porém, a despeito de o pleito ter sido atendido, implicou, na prática, aumento da carga

tributária efetiva das empresas, dado, conjuntamente, o aumento das alíquotas dos tributos e a

limitação dos créditos passíveis de serem apurados para se dar efetividade à não

cumulatividade, sendo considerada verdadeira traição aos contribuintes.

MACHADO (2009, p. 191) comentou tal episódio:

A respeito da adoção da não-cumulatividade nas contribuições PIS/Pasep e Confins

manifestam-se Ives Gandra da Silva Martins e Fátima Fernandes Rodrigues de

Souza, afirmando que: “O novo regime, longe de atender aos reclamos dos

contribuintes - não veio abrandar a carga tributária; pelo contrário, aumentou-a-,

instaurou verdadeira balburdia no regime desses tributos, a ponto de desnortear o

contribuinte, comprometendo a segurança jurídica e fazer com que bem depressa a

sociedade sentisse saudades da época em que o regime era o da cumulatividade”

Esses aumentos da carga tributária decorrentes da introdução da não-cumulatividade

no regime jurídico dos tributos, aliás, é facilmente explicável. As autoridades do

Fisco valem-se da oportunidade para estabelecer alíquotas mais elevadas, capazes de

ensejar aumento na arrecadação, consideradas todas as margens de erro.

Voltando-se à regra da não cumulatividade, fato é que o legislador federal não definiu

o alcance do conceito de insumo para fins de apuração do crédito da contribuição ao PIS e da

COFINS.

Por outro lado, não fez menção à não cumulatividade atinente ao ICMS e IPI, até

mesmo porque está-se diante de tributos com materialidades totalmente distintas, não se

podendo atribuir definição única a referidos conceitos, principalmente pelo fato de referidas

último quando revendidos ou utilizados como insumo em produtos ou serviços sujeitos à alíquota 0 (zero),

isentos ou não alcançados pela contribuição. (grifo nosso). (BRASIL. Lei 10.833, 29.12.2003. Disponível em:

<http://www.receita.fazenda.gov.br/Legislacao/Leis/2003/lei10833.htm>. Acesso em: 17 jan. 2015).

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contribuições terem por base de cálculo receita bruta advinda de toda sorte de atividades, as

quais não se limitam à industrialização, comércio de mercadorias ou prestação de serviços de

transporte intermunicipal e interestadual e de comunicação. Nesse sentido, há que se recordar

que o texto depende do contexto.

A estruturação da não cumulatividade foi esclarecida por MARTINS, I., CASTAGNA

e MARTINS, R. (2013, p. 75):

Primeiramente, os créditos do PIS/Cofins não são apropriados de acordo com o

valor das mesmas contribuições incidentes na etapa anterior da cadeia produtiva, ou

seja, não são considerados os valores recolhidos a este título por ocasião da entrada

de bens, mercadorias e serviços no estabelecimento comercial do contribuinte para

fins de determinação dos créditos.

A relevância da etapa anterior limita-se a definir se, na operação precedente, ocorreu

a incidência destas contribuições, tal como exige a lei, que inadmite créditos das

exações na hipótese de não incidência tributária no ingresso de insumos na pessoa

jurídica. Entretanto, definida esta incidência fiscal precedente, é absolutamente

irrelevante o valor efetivamente devido ou recolhido na etapa anterior não apenas

para estabelecer se o crédito das contribuições é admitido, mas também, e

sobretudo, para estabelecer o montante deste crédito.

Em outras palavras, estabelecido o direito ao crédito do PIS e da Cofins pela

tributação dos insumos adquiridos pela pessoa jurídica, o valor das contribuições

incidentes sobre a etapa anterior é desconsiderado para determinar o montante do

crédito a que tem direito o contribuinte-adquirente dos insumos.

Isto porque, como estabelece o parágrafo 1º do artigo 3º da Lei 10.637/2002 e da Lei

10.833/2003, os créditos de PIS/Cofins são determinados mediante a aplicação da

própria alíquota das contribuições sobre o valor dos insumos adquiridos pela pessoa

jurídica, sendo que o resultado desta aplicação não deve ser comparado ou ajustado

com o montante das contribuições devido ou recolhido por ocasião da entrada do

respectivo insumo.

Justamente por isso é que (a) à pessoa jurídica não se exige o controle do valor das

contribuições do PIS/Cofins incidentes ou pagos na aquisição de insumos, mas

somente o registro de que tais aquisições são tributáveis pelas contribuições em

questão (e obviamente o valor das aquisições), e (ii) não há destaque, na nota fiscal

de aquisição de insumos, dos valores recolhidos a título de PIS/Cofins na operação

precedente. (grifos do original)

E, continuam a descrever a não cumulatividade do PIS e da COFINS,

traçando as diferenciações atinentes ao ICMS e ao IPI:

Com base nestas premissas, não obstante tenha o legislador adotado claramente o

método subtrativo - vez que admitiu a redução do valor devido de PIS/Cofins

mediante a dedução de créditos das mesmas contribuições -, a metodologia de

determinação dos créditos não se constitui em base contra base (subtração direta),

nem tampouco em imposto contra imposto (subtração indireta), inaugurando uma

sistemática totalmente inédita de não cumulatividade, mediante a subtração de

créditos suja determinação não se relaciona a ajustes de base de cálculo ou a

desconto do tributo devido na operação precedente.

A não cumulatividade do PIS/Cofins, portanto, adota o método subtrativo, mas que

não encontra relação com a não cumulatividade do ICMS e do IPI, calcada na

subtração indireta do imposto contra imposto, por absoluta ausência desta

sistemática.

A técnica da não cumulatividade do PIS/Cofins, portanto, constitui-se em

sistemática própria que, assemelhando-se ao método da base contra base e do

imposto contra imposto, localiza-se em zona e intermediária entre estes dois,

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168

tornando-se indevida a comparação desta técnica com aquela adotada para o ICMS e

o IPI.

Fato é que, visando a “dispor” sobre a contribuição ao PIS e sobre a COFINS, foram

editadas as Instruções Normativas SRF 247, de 21 de novembro de 2002143

e 404, de 12 de

março de 2004144

(COFINS), cujos artigos art. 66, I, § 5º, II e art. 8º, I, §4145

, respectivamente,

versaram sobre o conceito de insumos para se dar efetividade à não cumulatividade, no

âmbito dos tributos, tal como segue:

Art. 66. A pessoa jurídica que apura o PIS/Pasep não-cumulativo com a alíquota

prevista no art. 60 pode descontar créditos, determinados mediante a aplicação da

mesma alíquota, sobre os valores:

I – das aquisições efetuadas no mês: (...)

b) de bens e serviços, inclusive combustíveis e lubrificantes, utilizados como

insumos:

b.1) na fabricação de produtos destinados à venda; ou

b.2) na prestação de serviços; (...)

§ 5º Para os efeitos da alínea "b" do inciso I do caput, entende-se como insumos: (...)

II - utilizados na prestação de serviços:

a) os bens aplicados ou consumidos na prestação de serviços, desde que não estejam

incluídos no ativo imobilizado; e

b) os serviços prestados por pessoa jurídica domiciliada no País, aplicados ou

consumidos na prestação do serviço. (...)

Com referidos atos administrativos, a Receita Federal do Brasil acabou por restringir a

extensão do conceito de insumo para fins de aplicação da não cumulatividade, ampliando,

assim, a carga tributária dos contribuintes.

MARTINS, I., CASTAGNA e MARTINS, R. (2013, p. 75) também trataram sobre

esse episódio:

Conquanto o legislador ordinário tenha previsto as hipóteses de crédito a serem

apropriados pelos contribuintes eleitos na sujeição passiva direta do PIS e da Cofins,

a fim de cumprir com o requisito constitucional da não cumulatividade, acabou por

não determinar o limite e a extensão do conceito de insumos para fins desse

creditamento, o que somente ocorreu com a edição pela Secretaria da Receita

Federal do Brasil, das Instruções Normativas nºs 247/2002 e 404/2004.

Segundo preceitua o dispositivo no artigo 66, parágrafo 5º, da IN nº 247/2002

(PIS/Pasep), assim como a redação inserta no artigo 8º, parágrafo 4º, da IN nº

404/2004 (Cofins), o direito de crédito está adstrito apenas aos insumos que são

aplicados ou consumidos na produção ou fabricação do produto comercializado.

Houve clara intenção da norma infralegal em adotar conceitos aplicáveis ao Imposto

sobre Produtos Industrializados - IPI, especialmente diante da suposta necessidade

dos insumos serem "utilizados na fabricação ou produção de bens destinados à

venda".

143

BRASIL. Instrução Normativa SRF 247, de 21.11.2002. Disponível em: <

http://www.receita.fazenda.gov.br/Legislacao/Ins/2002/in2472002.htm>. Acesso em: 17 jan. 2015. 144

BRASIL. Instrução Normativa SRF 404, de 12.3.2004. Disponível em:

<http://www.receita.fazenda.gov.br/Legislacao/Ins/2004/in4042004.htm>. Acesso em: 17 jan. 2015. 145

Repete os termos do art. 66, I, § 5º da Instrução Normativa SRF 247/2002. (BRASIL. Instrução Normativa

SRF 247, de 21.11.2002. Disponível em: <

http://www.receita.fazenda.gov.br/Legislacao/Ins/2002/in2472002.htm>. Acesso em: 17 jan. 2015).

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169

Verifica-se, portanto, de modo objetivo e literal, que a norma infralegal pretendeu

estabelecer verdadeira equiparação entre o regime da não cumulatividade aplicável

ao IPI, com aquele que deve ser adotado para a apuração das contribuições do PIS e

da Cofins.

MOREIRA (2012, p. 463 e 465) também comentou as inovações trazidas por ambas

instruções normativas:

Note-se que a RFB utilizou, para fins de creditamento do PIS/COFINS, os mesmos

conceitos aplicados para o cálculo dos créditos de IPI. Matérias-primas, produtos

intermediários e materiais de embalagem são insumos geradores de crédito nos

termos da legislação do imposto federal sobre produtos industrializados. Outros bens

que sofram alterações no processo produtivo “em função de contato direto com o

produto em industrialização” acabam se confundindo com os intermediários, não

consistindo necessariamente em uma inovação das normas do PIS/COFINS. (...)

Resta claro, portanto, que a IN n. 404/04, ao predicar os insumos creditáveis em

relação ao PIS/COFINS, adotou as mesmas premissas da legislação do IPI, cujo fato

gerador é mais restrito, porquanto se trata de tributo devido pelas indústrias e não

por todos os contribuintes que auferem receitas em suas atividades, como é o caso

das contribuições sociais em análise. A nosso, sentir, restringir-se o crédito sobre

insumos às hipóteses admitidas pela legislação do IPI significa ignorar a amplitude

do fato gerador das citadas contribuições sociais quando comparadas com o imposto

sobre produtos industrializados.

Frente a esse quadro, e visando a fazer valer a regra atinente à não cumulatividade, os

contribuintes, pessoas jurídicas, têm questionado a interpretação restritiva dada ao conceito de

insumo por referidas instruções normativas, existindo, atualmente, três grandes correntes

doutrinárias e jurisprudenciais a delimitar a amplitude de sua atuação.

Primeiramente, tem-se a corrente mais restritiva, que é a defendida pela Receita

Federal do Brasil, segundo a qual o conceito de insumo é aquele contido nas Instruções

Normativas acima mencionadas, sendo próximo, pois, ao conceito de insumo atinente ao IPI.

A segunda corrente equipara o conceito de insumo ao de despesa dedutível para fins

de apuração do Imposto de Renda Pessoa Jurídica – IRPJ, sob o entendimento de que, em

contrapartida ao critério material das referidas contribuições – receitas –, que poderiam

coloquialmente ser equiparado a “tudo que entra”, haveria de ser confrontado “tudo o que

sai”, ou seja, todas as despesas necessárias para o desenvolvimento da atividade da pessoa

jurídica.

Há, ainda, uma terceira corrente, que é a que vem firmando-se perante o Conselho

Administrativo de Recursos Fiscais – CARF, e que entende que o conceito de insumo

equivale ao bem ou serviço utilizado direta ou indiretamente na sua atividade de produção ou

prestação de serviço, sendo indispensável para a formação daquele produto ou serviço, e

estando relacionado com o objeto social da pessoa jurídica, devendo ser aferido caso a caso,

de maneira denotativa.

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170

Dada essa indefinição quanto ao conceito de insumo passível de ser adotado, faz-se

necessária a análise de decisões que vêm sendo proferidas tanto em âmbito administrativo

como no judicial sobre a matéria.

Quanto à primeira corrente, que equivale o conceito de insumo àquele aplicado ao IPI,

tem-se, exemplificativamente, o acórdão 3801-003.406, proferido nos autos do processo

10675.002982/2005-16, julgado no âmbito do CARF, cuja ementa é a que segue:

Contribuição para o PIS/Pasep. Período de apuração: 01/04/2005 a 30/06/2005

NÃO-CUMULATIVIDADE. GASTOS COM BENS E SERVIÇOS. INSUMO.

Gastos com bens e serviços não efetivamente aplicados ou consumidos na

fabricação ou produção de produtos destinados à venda ou na prestação de serviços

ou que não estejam amparados por expressa disposição legal não dão direito a

créditos da contribuição para o PIS/Pasep não cumulativa146

. (...)

Destaca-se do voto do Conselheiro Relator, Paulo Sergio Celani: Ao não elucidar o que deveria ser entendido por ‘insumo’, o legislador, por certo,

admitiu que aquilo que se tinha como o seu conteúdo deveria servir para nortear a

concretização do comando legal bem como as condutas das pessoas a quem a norma

se destinava. Fosse intenção do legislador que o termo “insumo” tivesse um alcance

maior do que o já consolidado teria ele expressado um conceito de insumo diferente.

Assim, devem ser rechaçados argumentos segundo os quais o conceito de ‘insumo’

somente poderia ser igual ao utilizado pela legislação do IPI se a lei assim

determinasse. Pelo contrário, por serem, COFINS e PIS/Pasep, contribuições

instituídas por lei federal, a legislação do IPI, que também é tributo federal não-

cumulativo, pode e deve ser utilizada para obtenção do conceito de “insumo”147

.

Veja-se que, de acordo com essa corrente, pouco importa o contexto em que as normas

atinentes à contribuição ao PIS e à COFINS foram editadas, a saber, tratarem-se de tributos

cuja base de cálculo é a receita, que pode advir, não só da venda de produtos industrializados,

como do comércio e da prestação de serviços, atividades sem qualquer conexão com o IPI.

Com relação à corrente que atribui ao conceito de insumo a amplitude das despesas

dedutíveis do IRPJ apurado segundo a sistemática do lucro real, tal como tratado no item

10.2.1, acima, tem-se o exemplo das decisões abaixo, proferidas pelo mesmo CARF:

(...) Na apuração do PIS não-cumulativo podem ser descontados créditos calculados

sobre as despesas decorrentes da contratação de seguros, essenciais para a atividade

fim desenvolvida pela recorrente, pois estes se caracterizam sim como ‘insumos’

previstos na legislação do IRPJ. (3ª Câmara do 2º Conselho de Contribuintes;

Acórdão 203-12.741; processo 10932.000016/2005-78)

(...) A inclusão no conceito de insumos das despesas com serviços contratados pela

pessoa jurídica e com as aquisições de combustíveis e de lubrificantes, denota que o

legislador não quis restringir o creditamento do PIS/Pasep às aquisições de matérias-

primas, produtos intermediários e ou material de embalagens (alcance de insumos na

146

CONSELHO ADMINISTRATIVO DE RECURSOS FISCAIS – CARF. Disponível em: <

http://carf.fazenda.gov.br/sincon/public/pages/ConsultarJurisprudencia/listaJurisprudenciaCarf.jsf>. Acesso em:

17 jan. 2014. 147

Idem.

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171

legislação do IPI) utilizados, diretamente, na produção industrial, ao contrário,

ampliou de modo a considerar insumos corno sendo os gastos gerais que a pessoa

jurídica precisa incorrer na produção de bens ou serviços por ela realizada. Recurso

negado: (CSRF; Acórdão 9303-001.035; processo 11065.101271/2006-47)

Destaca-se do voto do Relator Henrique Pinheiro Torres:

A meu sentir, o alcance dado ao termo insumo, pela legislação do IPI não é o mesmo

que foi dado pela legislação dessas contribuições. No âmbito desse imposto, o

conceito de insumo restringe-se ao de matéria-prima, produto intermediário e de

material de embalagem, já na seara das contribuições, houve um alargamento, que

inclui até prestação de serviços, o que demonstra que o conceito de insumo aplicado

na legislação do IPI não tem o mesmo alcance do aplicado nessas contribuições. (...)

Ora, uma simples leitura do artigo 3" da Lei 10.637/2002 é suficiente para verificar

que o legislador não restringiu a apropriação de créditos de Pis/Pasep aos parâmetros

adotados no creditamento de IPI. No inciso II desse artigo, como asseverou o

insigne conselheiro, o legislador incluiu no conceito de insumos os serviços

contratados pela pessoa jurídica. Esse dispositivo legal também considerou corno

insumo combustíveis e lubrificantes, o que, no âmbito do IPI, seria um verdadeiro

sacrilégio. Mas as diferenças não param ai, nos incisos seguintes, permitiu-se o

creditamento de aluguéis de prédios, máquinas e equipamentos, pagos a pessoa

jurídica, utilizados nas atividades da empresa, máquinas e equipamentos adquiridos

para utilização na fabricação de produtos destinados à venda, bem como a outros

bens incorporados ao ativo imobilizado etc. Isso denota que o legislador não quis

restringir o creditamento do Pis/Pasep as aquisições de matérias-primas, produtos

intermediários e ou material de embalagens (alcance de insumos na legislação do

IPI) utilizados, diretamente, na produção industrial, ao contrário, ampliou de modo a

considerar insumos como sendo os gastos gerais que a pessoa jurídica precisa

incorrer na produção de bens ou serviços por ela realizada.

O conceito de insumo dentro da sistemática de apuração de créditos pela não

cumulatividade de PIS e Cofins deve ser entendido como todo e qualquer custo ou

despesa necessária à atividade da empresa, nos termos da legislação do IRPJ, não

devendo ser utilizado o conceito trazido pela legislação do IPI, uma vez que a

materialidade de tal tributo é distinta da materialidade das contribuições em apreço.

(4ª Câmara da 1ª Turma Ordinária da 3ª Seção de Julgamento; Acórdão 3401-

002.389; processo 10980.724791/2010-12)

O conceito de insumo, ressalvadas as exceções legais, abrange o custo de produção

(Decreto-Lei n. 1.598, de 1977, art. 13, § 1º; Decreto n. 3.000/1999, arts. 290 e 291)

e as despesas de venda do produto industrializado, notadamente quando incorridas

para atender exigências regulatórias indispensáveis ao exercício de determinada

atividade econômica ou à comercialização de um produto. Para ter direito ao crédito

reconhecido, o interessado deve esclarecer e, sobretudo, provar a relação existente

entre os gastos incorridos e o processo produtivo. (2ª Turma Especial da Terceira

Seção de Julgamento; Acórdão 3802-003.590; processo 13609.903159/2010-61)148

Dada a forma clara como se tratou a distinção entre os conceitos de insumo para fins

de ICMS e IPI, de um lado, e das contribuições ao PIS e COFINS, de outro, destaca-se trecho

do voto do Conselheiro Marcos Tranchesi Ortiz, nos autos do Processo 11516.000493/2009-

31, julgado pela 4ª Câmara, da 3ª Turma Ordinária da Terceira Seção de Julgamento do

CARF.

Aliás, dada a especificidade da hipótese de incidência das duas contribuições, é até

mesmo inadequado falar, aqui, num sentido convencional de não cumulatividade. É

que, enquanto o ICMS e o IPI – impostos em que a técnica encontra máxima

148

Idem.

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172

aplicação – têm por hipótese de incidência operações sucessivas de uma mesma

cadeia produtiva ou mercantil, o PIS e a COFINS gravam fato jurídico, a receita,

cuja ocorrência é independente de acontecimentos anteriores ou posteriores. (...)

Já nos casos de IPI e de ICMS, como suas hipóteses de incidência estão associadas à

circulação econômica da coisa, o direito de crédito que realiza a não cumulatividade

resulta do ingresso desta e, eventualmente, de outras que interagem fisicamente entre

si para, transformadas, se submeterem a uma nova incidência na etapa subseqüente

da cadeia.

É por isso mesmo que, no contexto destes dois impostos, apenas os insumos

agregados ao produto em fabricação ou que se desgastam em contato direto com ele

– designadamente, as matérias-primas, produtos intermediários e materiais de

embalagem – proporcionam direito de crédito ao contribuinte. E o importante: em

ambas as exações, a limitação resulta não apenas da coerência intrínseca da espécie,

mas, com maior relevo, de prescrição normativa expressa. No caso do IPI, refiro-me

ao artigo 226, inciso I, do atual Decreto no. 7.212/10.

Na disciplina das Leis no. 10.637/02 e 10.833/03 não se encontra, todavia, restrição

semelhante, assim como não há comando no sentido da aplicação subsidiária, na

matéria, de conceitos ditados pela legislação do IPI. Esta a razão pela qual, a meu

sentir, inexiste fundamentação de hierarquia legal a amparar as limitações prescritas

pelas Ins SRF nos. 247/02 e 404/04. (...)

Daí a conclusão de Mariz de Oliveira, para quem, no âmbito da contribuição ao PIS

e da COFINS, “constituem-se em insumos para a produção de bens ou serviços não

apenas as matérias primas, os produtos intermediários, os materiais de embalagem

outros bens quando sofram alteração, mas todos os custos diretos e indiretos de

produção, e até mesmo despesas que não sejam registradas contabilmente a débito

do custo, mas que contribuam para a produção” (ob. cit., p. 47).

Esse entendimento encontra justificação normativa no conceito de “custo por

absorção”, com base no qual a legislação do imposto de renda determina a apuração

dos custos da atividade produtiva, para fins de apuração do resultado tributável. De

acordo com o princípio, enunciado pelo artigo 13, do Decreto-lei nº. 1.598/77 e

reproduzido no artigo 290 do atual RIR (Decreto no. 3.000/99), o custo do estoque

de produtos acabados e em processo de industrialização deve corresponder a “todos

os custos diretos (material, mão-de-obra e outros) e indiretos (gastos gerais de

fabricação) necessários para colocar o item em condições de venda” (IUDÍCIBUS,

Sérgio. MARTINS, Eliseu. GELBCKE, Ernesto. Manual de contabilidade das

sociedades por ações (aplicável às demais sociedades). Atlas, 7. ed., p. 115).

(...)

No conceito, portanto, estão incluídos, sem prejuízo de outros itens, (i) o custo de

aquisição dos materiais envolvidos na produção, (ii) o custo de mão-de-obra direta,

compreendendo a remuneração do pessoal vinculado à produção e os respectivos

encargos sociais e previdenciários, e (iii) os gastos gerais de fabricação, também

chamados de custos indiretos, entre os quais inspeção, manutenção, almoxarifado,

supervisão, depreciação, energia, seguros etc.149

O Poder Judiciário também já proferiu decisão validando tal conceito amplo de

insumo.

Nesse sentido, tem-se trecho do acórdão proferido pelo Tribunal Regional Federal da

4ª Região, nos autos da Apelação Cível 0029040-40.2008.404.7100/RS, nos seguintes termos:

(...) O critério que se mostra consentâneo com a noção de receita é o adotado pela

legislação do imposto de renda. Insumos, então, são os gastos que, ligados

inseparavelmente aos elementos produtivos, proporcionam a existência do produto

ou serviço, o seu funcionamento, a sua manutenção ou o seu aprimoramento. Sob

essa ótica, o insumo pode integrar as etapas que resultam no produto ou serviço ou

149

Idem.

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173

até mesmo as posteriores, desde que seja imprescindível para o funcionamento do

fato de produção.150

No que tange ao conceito intermediário, que vem sendo o preponderantemente acatado

pelo CARF, tem-se, exemplificativamente, os seguintes acórdãos proferidos por aquele

tribunal administrativo:

O conceito de insumo, ressalvadas as exceções legais abrange o custo de produção

(Decreto-Lei n. 1.598, de 1977, art. 13, § 1º; Decreto n. 3.000/1999, arts. 290 e 291)

e as despesas de venda do produto industrializado, notadamente quando incorridas

para atender exigências regulatórias indispensáveis ao exercício de determinada

atividade econômica ou à comercialização de um produto. (2ª Turma Especial da

Terceira Seção de Julgamento; Acórdão 3802-003.590; processo

13609.903159/2010-61)

O conceito de insumos não se confunde com aquele definido na legislação do IPI

restrito às matérias-primas, produtos intermediários e materiais de embalagem

aplicados diretamente na produção; por outro lado, também não é qualquer bem ou

serviço adquirido pelo contribuinte que gera direito de crédito, nos moldes da

legislação do IRPJ. Ambas as posições (“restritiva/IPI” e “extensiva/IRPJ”) são

inaplicáveis ao caso. Cada tributo tem sua materialidade própria (aspecto material),

as quais devem ser consideradas para efeito de aproveitamento do direito de crédito

dos insumos: o IPI incide sobre o produto industrializado, logo, o insumo a ser

creditado só pode ser aquele aplicado diretamente a esse produto; o IRPJ incide

sobre o lucro (lucro = receitas despesas), portanto, todas as despesas necessárias

devem ser abatidas das receitas auferidas na apuração do resultado. No caso do

PIS/Pasep e da Cofins, a partir dos enunciados prescritivos contidos nas Leis nº

10.637/2002 e nº 10.833/2003, devem ser construídos critérios próprios para a

apuração da base de cálculo das contribuições. As contribuições incidem sobre a

receita da venda do produto ou da prestação de serviços, portanto, o conceito de

insumo deve abranger os custos de bens e serviços, necessários, essenciais e

pertinentes, empregados no processo produtivo, imperativos na elaboração do

produto final destinado à venda, gerador das receitas tributáveis. (2ª Câmara, da 2ª

Turma Ordinária da Terceira Seção de Julgamento; Acórdão 3202-001.022;

processo 11686.000184/2008-28)

O conceito de insumo passível de crédito no sistema não cumulativo não é

equiparável a nenhum outro conceito, trata-se de definição própria. Para gerar

crédito de PIS e COFINS não cumulativo o insumo deve: ser UTILIZADO direta ou

indiretamente pelo contribuinte na sua atividade (produção ou prestação de

serviços); ser INDISPENSÁVEL para a formação daquele produto/serviço final; e

estar RELACIONADO ao objeto social do contribuinte. (3ª Câmara da 2º Turma

Ordinária da Terceira Seção de Julgamento; Acórdão 3302-002.683; processo

19647.003173/2005-25)151

Dada à clareza dos argumentos, transcreve-se trecho do voto proferido pela

Conselheira Fabiola Cassiano Keramidas:

(...) A Receita Federal defende, para o PIS e para a COFINS, o emprego do conceito

de insumos utilizado pela legislação de IPI e ICMS. Já alguns julgadores deste

Conselho Administrativo de Recursos Fiscais – CARF emprestam o conceito de

150

TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 4ª REGIÃO. Jurisprudência. Disponível em:

<http://s.conjur.com.br/dl/acordao-trf-creditos-pis-cofins.pdf>. Acesso em: 17 jan. 2015. 151

CONSELHO ADMINISTRATIVO DE RECURSOS FISCAIS – CARF. Disponível em: <

http://carf.fazenda.gov.br/sincon/public/pages/ConsultarJurisprudencia/listaJurisprudenciaCarf.jsf>. Acesso em:

17 jan. 2015.

Page 185: Do direito de crédito no regime não cumulativo de …...certeza de que o Direito é objetivamente um e que os comportamentos do Estado ou dos demais cidadãos dele não discreparão

174

“custo” e de “despesa” aplicados pela legislação do imposto de renda (RIR artigos

290/299).

Particularmente, entendo que o sistema não cumulativo de PIS e COFINS não se

identifica com os sistemas do IPI, do ICMS ou do IRPJ. O tributo é diverso, a

sistemática é diversa, e não há necessidade de se aplicar um conceito preexistente

simplesmente porque ele já existe. A meu sentir, é preciso que o intérprete do direito

utilize as normas de hermenêutica, juntamente com as demais regras do

ordenamento jurídico, e forme um conceito próprio de insumo que seja aplicável a

esta nova sistemática.

(...)

Com base na legislação pertinente ao assunto, concluo que para gerar crédito de PIS

e COFINS não cumulativo o insumo deve: ser UTILIZADO direta ou indiretamente pelo contribuinte na sua atividade (produção ou prestação de serviços); ser INDISPENSÁVEL para a formação daquele produto/serviço final; e estar RELACIONADO ao objeto social do contribuinte. Mencionada conclusão foi realizada à luz da materialidade das contribuições sociais

em análise, sendo que o critério material da regra matriz de incidência tributária do

PIS e da COFINS é aferir receitas, e a receita de uma empresa está diretamente

ligada à atividade que esta empresa exerce. Logo, para conceituar insumo,

primordial verificar o que foi utilizado para se alcançar aquela determinada receita,

naquele específico mês152

. (grifos do original)

A Câmara Superior de Recursos Fiscais – CSRF, órgão máximo administrativo,

responsável pela pacificação da jurisprudência federal, proferiu os Acórdãos abaixo:

Este colegiado fixou o entendimento de que a legislação do IPI que define, no

âmbito daquele imposto, o que são matérias primas, produtos intermediários e

material de embalagem não se presta à definição de insumo no âmbito do PIS e da

COFINS não-cumulativos, definição que tampouco deve ser buscada na legislação

oriunda do imposto de renda. A corrente majoritária sustenta que insumos são todos

os itens, inclusive serviços, consumidos durante o processo produtivo sem a

necessidade de contato físico com o produto em elaboração. Mas apenas se enquadra

como tal aquilo que se consuma durante a produção e em razão dessa produção.

Assim, nada que se consuma antes de iniciado o processo ou depois que ele se tenha

acabado é insumo, assim como também não são insumos bens e serviços que

beneficiarão a empresa ao longo de vários ciclos produtivos, os quais devem ser

depreciados ou amortizados; é a correspondente despesa de depreciação ou

amortização, quando expressamente autorizada, que gera direito de crédito. (CSRF;

Acórdão 9303-002.661; Processo 13204.000075/2005-69)

CONTRIBUIÇÃO PARA O PIS/PASEP Período de apuração: 01/07/2006 a

30/09/2006 PIS. INDUMENTÁRIA. INSUMOS. DIREITO DE CRÉDITO. ART. 3º

LEI 10.637/02. Os dispêndios, denominados insumos, dedutíveis do PIS não

cumulativo, são todos aqueles relacionados diretamente com a produção do

contribuinte e que participem, afetem, o universo das receitas tributáveis pela

referida contribuição social. A indumentária imposta pelo próprio Poder Público na

indústria de processamento de alimentos - exigência sanitária que deve ser

obrigatoriamente cumprida - é insumo inerente à produção da indústria avícola, e,

portanto, pode ser abatida no cômputo de referido tributo. Recurso Especial do

Procurador Negado.153

(CSRF; acórdão 9303-01.741; processo

13053.000211/20026-72)

Visando a esmiuçar a ideia, transcreve-se trecho do voto da Conselheira Nanci Gama:

152

Idem. 153

Idem.

Page 186: Do direito de crédito no regime não cumulativo de …...certeza de que o Direito é objetivamente um e que os comportamentos do Estado ou dos demais cidadãos dele não discreparão

175

E quais são esses dispêndios, denominados insumos, dedutíveis do PIS não

cumulativo? Entendo que sejam todos aqueles relacionados diretamente com a

produção do contribuinte e que participem, afetem, o universo das receitas

tributáveis pelas contribuições ao PIS e COFINS. Veja-se o texto da Lei: (...)

“créditos calculados em relação a “bens e serviços, utilizados como insumo na

prestação de serviços e na produção ou fabricação de bens ou produtos destinados à

venda. Em minha opinião, o texto do artigo 3º da Lei 10.637/2002, bem assim da Lei

10.833/2003, não poderia ser mais específico ao regrar os créditos suscetíveis de

abatimento pelo contribuinte. É evidente que não se tem como enumerar todos os

eventos capazes de gerar crédito, mas diante do que dispõe a lei para identificar se o

dispêndio é suscetível de abatimento, se o mesmo se consubstancia em insumo,

basta verificar se o mesmo corresponde a resposta afirmativa da seguinte indagação:

o dispêndio é indispensável à produção de bens ou à prestação de serviços geradores

de receitas tributáveis pelo PIS ou pela COFINS não cumulativos? Se sim, o direito

de crédito do contribuinte, a meu ver, é inquestionável154

.

Por fim, seguem manifestações esparsas do Superior Tribunal de Justiça que ainda não

se posicionou definitivamente sobre o assunto, proferidas nos autos dos Recursos Especiais

1.147.902/RS e 1.125.253/SC, nos seguintes termos:

REsp 1.147.902/RS

1. Controverte-se sobre a possiblidade de utilização das despesas de frete,

relacionadas à transferência de mercadorias entre estabelecimentos componentes da

mesma empresa, com crédito dedutível na apuração da base de cálculo das

contribuições à Cofins e ao PIS, nos termos das Leis 10.637/202 e 10.833/2003.

2. A legislação tributária em comento instituiu o regime da não-cumulatividade nas

aludidas contribuições da seguridade social, devidas pelas empresas optantes pela

tributação pelo lucro real, autorizando a dedução, entre outros, dos créditos

referentes a bens ou serviços utilizados com insumo na produção ou fabricação de

bens ou produtos destinados à venda.

3. O direto a crédito decore da utilização de insumo que esteja vinculado a

desempenho da atividade empresarial. As despesas de frete somente geram crédito

quando relacionadas à operação de venda e, ainda assim, desde que sejam

suportadas pelo contribuinte vendedor155

.

AgRg no Resp 1.125.253/SC

2. As embalagens de acondicionamento, utilizadas para a preservação das

características dos bens durante o transporte, deverão ser consideradas como

insumos nos termos definidos no art. 3º, II, das Leis n. 10.637/2002 e 10.833/2003

sempre que a operação de venda incluir o transporte das mercadorias e o vendedor

arque com estes custos.

Destaca-se trecho do voto do Ministro Relator Humberto Martins:

Quanto à matéria de fundo, insiste a agravante na utilização do conceito de insumo,

para o fim de se obter o benefício da não cumulatividade, apenas àqueles bens e

serviços utilizados na produção e fabricação de bens ou produtos destinados à venda

(fl. 712-e). Conceito oriundo da jurisprudência referente ao princípio da não

cumulatividade aplicada ao IPI e ao ICMS.

A legislação específica do PIS e COFINS utilizou um conceito mais abrangente de

não cumulatividade.

(...)

154

Idem. 155

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. Disponível em: <

https://ww2.stj.jus.br/processo/revista/documento/mediado/?componente=ITA&sequencial=954561&num_regist

ro=200901304127&data=20100406&formato=PDF>. Acesso em: 17 jan. 2015.

Page 187: Do direito de crédito no regime não cumulativo de …...certeza de que o Direito é objetivamente um e que os comportamentos do Estado ou dos demais cidadãos dele não discreparão

176

In casu, o produtor vendeu mercadorias (móveis) se comprometendo a entrega-las ao

comprador, agregando à operação de venda a entrega. Para se efetivar a entrega,

necessário se faz o transporte e, para transportar preservando as características,

necessário embalar as mercadorias.

Não temos aqui uma operação simples de produção ou fabricação de produto

destinado a venda, mas uma venda de mercadorias efetuada pelo próprio produtor

com o ônus da entrega dela sendo suportado por ele. Devemos, então, considerar os

insumos em cada fase da operação. Nos termos da Lei: os bens e serviços utilizados

como insumos na prestação de serviços e os bens e serviços utilizados como

insumos na produção ou fabricação de bens destinados à venda156

.

O que todas as decisões acima e aquelas proferidas pelo CARF em face da corrente

intermediária têm em comum é o fato de analisarem, caso a caso, a adequação da situação

específica do contribuinte ao conceito de insumo praticado. Pode-se afirmar, inclusive, que o

conceito de insumo que vem sendo ratificado pelo CARF é meramente denotativo.

Importante, pois, enfrentar-se tal quadro.

Desde logo, imprescindível afirmar que, dada a hipótese de incidência da contribuição

ao PIS e da COFINS, resta estruturalmente descabida a definição restritiva que vem sendo

dada ao conceito de insumo pela fiscalização federal.

Nesse sentido, eis os comentários de MACHADO (2014, p. 70 e 72) sobre a questão:

No âmbito da legislação concernente às contribuições em referência o conceito de

insumo é bem mais amplo, exatamente porque o fato gerador dessas contribuições é

mais amplo do que o do IPI e até do que o do ICMS.

Por isto mesmo, não podia a Administração Tributária adotar em ato normativo

infralegal um conceito restrito de insumo, utilizando o conceito existente na

legislação do Imposto sobre Produtos Industrializados (...)

Aliás, mesmo por lei não seria válida a redução do conceito de insumo para fins de

não cumulatividade das contribuições em questão, porque existe importante

diferença entre estas e o IPI, cuja materialidade é a industrialização de produtos,

como registra com inteira propriedade Rafaela Sabino Caliman Wild, no artigo já

mencionado, afirmando que: ‘O conceito de insumos disposto na legislação do IPI

se encontra intimamente ligado à materialidade deste tributo, que é a

industrialização de produtos. Já a materialidade das contribuições ao PIS/Pasep e à

Cofins é totalmente diversa do mencionado imposto, incidindo sobre toda a receita

bruta auferida pela pessoa jurídica, não havendo embasamento para justificar a

adoção análoga do conceito restritivo contido na legislação do IPI.’ Como as

contribuições PIS/Pasep e Cofins incidem sobre a receita bruta, tudo o que seja

necessário para o auferimento desta deve ser considerado insumo como acontece

com as despesas no contexto na legislação do imposto de renda das pessoas jurídicas

tributadas com base no lucro real, o ser necessário deve ser entendido como ser

efetivo, ter realmente ocorrido.

Além disso, e discordando da corrente hoje prevalente, nosso entendimento é no

sentido de que o conceito de insumo deve se adequar àquele atinente ao Imposto de Renda

Pessoa Jurídica.

156

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. Disponível em:

<https://ww2.stj.jus.br/processo/revista/documento/mediado/?componente=ITA&sequencial=962181&num_regi

stro=200900344888&data=20100427&formato=PDF>. Acesso em: 17 jan. 2015.

Page 188: Do direito de crédito no regime não cumulativo de …...certeza de que o Direito é objetivamente um e que os comportamentos do Estado ou dos demais cidadãos dele não discreparão

177

O que deve ser analisado, segundo entendemos, é a hipótese de incidência de ambas as

contribuições, à qual deve ser contraposta a não cumulatividade e, por conseguinte, o cálculo

dos créditos.

Tal materialidade a ser alcançada é receita, ou seja, todo e qualquer valor que adentra

a sociedade, em razão do seu objeto social ou não (desconsiderando-se, é claro, as isenções

legais).

A obtenção da receita não depende apenas da realização do objeto social propriamente

dito, mas de todo um conjunto de atos que acabam por corroborar o objetivo final.

Assim, na medida em que se está diante de previsão de não cumulatividade, o que há

que se confrontar às entradas, às receitas, são justamente os dispêndios necessários para se

alcançar tal fim.

E, concordamos com MARTINS, I., CASTAGNA e MARTINS, R. (2013, p. 86):

Em nosso entendimento, a noção de insumos que melhor se ajusta ao caso é a

prevista nos artigos 290 e 299 do Regulamento do Imposto Renda - RIR/1999, dado

que os dispositivos abrangem todos os elementos formadores do custo na produção,

e não apenas os insumos que são incorporados no produto final.

O inciso I do citado artigo 290 do RIR/1999 é suficientemente claro ao determinar

que os custos de produção compreendem o custo de aquisição de matérias-primas e

quaisquer outros bens ou serviços aplicados ou consumidos na produção.

Em termos de despesas, o artigo 299 do RIR/1999 resume o conhecido conceito de

dedutibilidade das despesas que sejam necessárias à atividade da empresa e à

manutenção da respectiva fonte produtora, assumindo o caráter de operacionais.

Veja-se que esse também é o entendimento de MOREIRA (2012, p. 466):

De fato, a identidade entre PIS/COFINS e IRPJ é muito maior que a das citadas

contribuições com o IPI. Outrossim, a própria legislação do PIS/COFINS faz

referência ao cálculo de créditos sobre despesas e custos incorridos na aquisição de

insumos, termos esses (despesa e custo) que são definidos peças normas do IRPJ.

Portanto, após as considerações acima, pode-se afirmar que a definição de conceito de

insumo para fins de apuração do PIS e da COFINS não cumulativos é:

salvo as exceções previstas em lei, todos os custos e despesas

necessários ao desenvolvimento da atividade da pessoa jurídica,

visando ao auferimento de receita.

Page 189: Do direito de crédito no regime não cumulativo de …...certeza de que o Direito é objetivamente um e que os comportamentos do Estado ou dos demais cidadãos dele não discreparão

178

CAPÍTULO 11 – DA DEFINIÇÃO DOS CONCEITOS DE INSUMO E ATIVO

IMOBILIZADO POR OUTRAS CIÊNCIAS DO CONHECIMENTO

Conforme premissa adotada no item 2.2, acima, o legislador tributário está adstrito à

definição, o conteúdo e o alcance de institutos, conceitos e formas do Direito Privado,

utilizados, expressa ou implicitamente, pela Constituição Federal para definir ou limitar

competências tributárias.

Afora isso, o legislador é livre para criar seus próprios conceitos.

Porém, é certo que alguns termos, enquanto suporte físico, são utilizados por outras

ciências do conhecimento, cuja definição pode corresponder ou não àquela atribuída pelo

Direito.

Não é incomum, porém, que a significação, enquanto ideia construída na mente do

intérprete, guarde certa correlação entre as ciências.

É o que acontece com os conceitos de insumo e ativo imobilizado.

A seguir, ainda que de forma muito breve, serão analisados os tratamentos dados pelas

Ciências Econômica e Contábil a esses termos.

Lembre-se que, a despeito dessas definições não afetarem diretamente as conclusões

que são buscadas no presente trabalho, dão o norte de como os conceitos são tratados no

linguajar cotidiano destas 2 (duas) Ciências que, tal como o Direito, acercam-se das atividades

das pessoas jurídicas no Brasil.

11.1 Contabilidade

De acordo com o disposto no Portal da Fea - Usp, o conceito de Contabilidade é157:

Contabilidade é a ciência que estuda, interpreta e registra os fenômenos que afetam

o patrimônio de uma entidade. Ela alcança sua finalidade através do registro e

análise de todos os fatos relacionados com a formação, a movimentação e as

variações do patrimônio administrativo, vinculado à entidade, com o fim de

assegurar seu controle e fornecer a seus administradores as informações necessárias

à ação administrativa, bem como a seus titulares (proprietários do patrimônio) e

demais pessoas com ele relacionadas, as informações sobre o estado patrimonial e o

resultado das atividades desenvolvidas pela entidade para alcançar os seus fins.

157

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO. Faculdade de Administração, Economia e Contabilidade da USP

(FEA). Disponível em: <http://www.fea.usp.br/conteudo.php?i=200>. Acesso em: 17 jan. 2015.

Page 190: Do direito de crédito no regime não cumulativo de …...certeza de que o Direito é objetivamente um e que os comportamentos do Estado ou dos demais cidadãos dele não discreparão

179

Justamente pelo fato de ser Ciência afeta ao patrimônio das pessoas jurídicas, acaba

em constante comunicação com o Direito, principalmente no que tange ao Direito Tributário.

Nesse sentido, os registros dos fatos relacionados à formação, movimentação e

variações do patrimônio acabam, muitas vezes, por caracterizarem prova da ocorrência (ou

não) do fato jurídico tributário, sendo cada vez mais utilizada pelos operadores do Direito

para dar efetividade a seus argumentos.

No Brasil, a Contabilidade sempre foi influenciada pelas regras fiscais, principalmente

no que tange ao Imposto de Renda.

Comumente, fala-se em Contabilidade societária e Contabilidade fiscal como duas

realidades distintas, como de fato o era.

Nesse sentido, por exemplo, apurado o lucro ou prejuízo societário das pessoas

jurídicas, nos termos da Lei 6.404/76, eram realizados ajustes fiscais na escrituração contábil,

de modo a se apurar o lucro tributário.

Fato é que, com o advento da Lei 11.638/2007, escrituração contábil e fiscal passaram

a convergir-se, adaptando-se as regras contábeis nacionais às regras do IFRS – Internacional

Financial Reporting Standards.

Dado o papel da Contabilidade, está ela adstrita aos termos da Lei 6.404/76 (LSA),

que, em seu art. 177, § 3º158

, traz o regramento quanto à escrituração das pessoas jurídicas

constituídas sob a forma de sociedade anônima, tal como segue.

Art. 177. A escrituração da companhia será mantida em registros permanentes, com

obediência aos preceitos da legislação comercial e desta Lei e aos princípios de

contabilidade geralmente aceitos, devendo observar métodos ou critérios contábeis

uniformes no tempo e registrar as mutações patrimoniais segundo o regime de

competência. (...)

§ 3o As demonstrações financeiras das companhias abertas observarão, ainda, as

normas expedidas pela Comissão de Valores Mobiliários e serão obrigatoriamente

submetidas a auditoria por auditores independentes nela registrados.

Para a correta interpretação e aplicação das normas contábeis que, neste caso, têm

origem em prescrições de ordem jurídica, os posicionamentos técnicos contábeis estão

embasados em regras emanadas pelo Comitê de Pronunciamentos Contábeis – CPC.

Conforme esclarecido pelo Conselho Federal de Contabilidade159

, o Comitê de

Pronunciamentos Contábeis, criado pela Resolução CFC 1.055/2005, foi idealizado a partir da

união de esforços e comunhão de objetivos da Associação Brasileira das Companhias Abertas

158

BRASIL. Lei das Sociedades Anônimas – Lei 6.404, 15.12.1976. Disponível em: <

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l6404compilada.htm>. Acesso em: 17 jan. 2015. 159

CONSELHO FEDERAL DE CONTABILIDADE. Disponível em: <

http://www.portalcfc.org.br/coordenadorias/camara_tecnica/processos_de_convergencia/comite_de_pronunciam

entos_contabeis/>. Acesso em: 17 jan. 2015.

Page 191: Do direito de crédito no regime não cumulativo de …...certeza de que o Direito é objetivamente um e que os comportamentos do Estado ou dos demais cidadãos dele não discreparão

180

(ABRASCA), Associação dos Analistas e Profissionais de Investimento do Mercado de

Capitais (APIMEC), Bolsa de Valores de São Paulo (BM&FBOVESPA), Conselho Federal

de Contabilidade (CFC), Instituto dos Auditores Independentes do Brasil (IBRACON) e

Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras (FIPECAFI), em razão da

necessidade de:

• Convergência internacional das normas contábeis (redução de custo de

elaboração de relatórios contábeis, redução de riscos e custo nas análises e

decisões, redução de custo de capital);

• Centralização na emissão de normas dessa natureza;

• Representação e processo democráticos na produção dessas

informações, envolvendo os elaboradores da informação contábil, os

auditores, os usuários, as academias, os agentes de intermediação e o

Governo.

Tem como objetivos, o estudo, o preparo e a emissão de Pronunciamentos Técnicos,

suas interpretações e orientações sobre procedimentos de contabilidade societária e a

divulgação de informações dessa natureza, para permitir a emissão de normas pelas entidades

reguladoras brasileiras, visando à uniformização do seu processo de produção, levando

sempre em conta a convergência da Contabilidade brasileira aos padrões internacionais.

No que tange à matéria aqui estudada, merecem destaque o Pronunciamento Técnico

CPC 09/2008, que versa sobre ativos imobilizados e o Pronunciamento Técnico 27/2009, que

trata sobre insumos.

Eis os termos do Pronunciamento Técnico CPC 09160

:

PRONUNCIAMENTO TÉCNICO CPC 09

DELIBERAÇÃO CVM Nº 557, DE 12 DE NOVEMBRO DE 2008

PRONUNCIAMENTO – “O objetivo deste Pronunciamento Técnico é estabelecer

critérios para elaboração e apresentação da Demonstração do Valor Adicionado

(DVA), a qual representa um dos elementos componentes do Balanço Social e tem

por finalidade evidenciar a riqueza criada pela entidade e sua distribuição, durante

determinado período.” (...)

Insumo adquirido de terceiros representa os valores relativos às aquisições de

matérias-primas, mercadorias, materiais, energia, serviços, etc. que tenham sido

transformados em despesas do período. Enquanto permanecerem nos estoques, não

compõem a formação da riqueza criada e distribuída.

(...)

Insumos adquiridos de terceiros

160

COMITÊ DE PRONUNCIAMENTOS CONTÁBEIS. Pronunciamento Técnico CPC 09/2008. Disponível

em: < http://www.cvm.gov.br/asp/cvmwww/atos/Atos_Redir.asp?Tipo=D&File=\deli\deli557.doc>. Acesso em:

17 jan. 2015.

Page 192: Do direito de crédito no regime não cumulativo de …...certeza de que o Direito é objetivamente um e que os comportamentos do Estado ou dos demais cidadãos dele não discreparão

181

Custo dos produtos, das mercadorias e dos serviços vendidos – inclui os valores das

matérias-primas adquiridas junto a terceiros e contidas no custo do produto vendido,

das mercadorias e dos serviços vendidos adquiridos de terceiros; não inclui gastos

com pessoal próprio.

Materiais, energia, serviços de terceiros e outros – inclui valores relativos às

despesas originadas da utilização desses bens, utilidades e serviços adquiridos junto

a terceiros.

Nos valores dos custos dos produtos e mercadorias vendidos, materiais, serviços,

energia etc. consumidos, devem ser considerados os tributos incluídos no momento

das compras (por exemplo, ICMS, IPI, PIS e COFINS), recuperáveis ou não. Esse

procedimento é diferente das práticas utilizadas na demonstração do resultado.

Portanto, para fins contábeis, insumo abarca as matérias-primas, mercadorias,

materiais, energia, serviços de terceiros e que comporão a formação da riqueza a ser criada e

distribuída.

Com relação aos bens integrantes do ativo imobilizado, MARTINS, GELBCKE,

SANTOS e IUDÍCIBUS (2013, p. 275) esclarecem:

O Pronunciamento Técnico CPC 27 – Ativo Imobilizado, aprovado pela Deliberação

CVM nº 583/09 e tornado obrigatório pela Resolução CFC nº 1.177/09 para os

profissionais de contabilidade das entidades não sujeitas a alguma regulação

contábil, define Imobilizado como um ativo tangível que: (i) é mantido para uso na

produção ou fornecimento de mercadorias ou serviços, para aluguel a outros, ou para

fins administrativos; e que (ii) se espera utilizar por mais de um ano.

Dessas definições, subentende-se que nesse grupo de contas do balanço são

incluídos todos os ativos tangíveis ou corpóreos de permanência duradoura,

destinados ao funcionamento normal da sociedade e de seu empreendimento, assim

como os direitos exercidos com essa finalidade.

Eis os termos do pronunciamento:

PRONUNCIAMENTO TÉCNICO CPC 27

DELIBERAÇÃO CVM Nº 583, DE 31 DE JULHO DE 2009161

PRONUNCIAMENTO – O objetivo deste Pronunciamento é estabelecer o tratamento

contábil para ativos imobilizados, de forma que os usuários das demonstrações

contábeis possam discernir a informação sobre o investimento da entidade em seus

ativos imobilizados, bem como suas mutações.

Ativo imobilizado é o item tangível que:

(a) É mantido para uso na produção ou fornecimento de mercadorias ou serviços,

para aluguel a outros, ou para fins administrativos; e

(b) Se espera utilizar por mais de um período.

Correspondem aos direitos que tenham por objeto bens corpóreos destinados à

manutenção das atividades da entidade ou exercidos com essa finalidade, inclusive

os decorrentes de operações que transfiram a ela os benefícios, os riscos e o controle

desses bens.

161

COMITÊ DE PRONUNCIAMENTOS CONTÁBEIS. Pronunciamento Técnico CPC 27/2009. Disponível

em: <http://www.cvm.gov.br/asp/cvmwww/atos/Atos_Redir.asp?Tipo=D&File=\deli\deli583.doc>. Acesso em:

17 jan. 2015.

Page 193: Do direito de crédito no regime não cumulativo de …...certeza de que o Direito é objetivamente um e que os comportamentos do Estado ou dos demais cidadãos dele não discreparão

182

Portanto, de acordo com referido Pronunciamento Técnico, ativo é um item, um bem

tangível, ou seja, um bem corpóreo, necessário para a produção ou fornecimento de

mercadorias ou serviços, para aluguel ou outros fins administrativos, com expectativa de uso

por mais de um período, anual, no caso. Abarca, igualmente, como já esclarecido no item

10.1, bens que, embora juridicamente pertencentes a patrimônio de outrem, decorram de

operações que transfiram à empresa os benefícios, riscos e controle dos bens, como sucede,

por exemplo, nas operações de leasing financeiro.

Tal definição de conceito é ratificado por MARION (1998, p. 171),

Entende-se por ativo imobilizado todo ativo de natureza relativamente permanente,

que se utiliza na operação dos negócios de uma empresa e que não se destina a

venda. Podemos diferenciar, no conceito dado, três afirmações importantes que

devem coexistir para que possamos classificar um ativo permanente imobilizado.

Isto quer dizer que não basta que tenha apenas uma ou duas características: são

necessárias três características, concomitantemente: natureza relativamente

permanente; ser utilizado na operação dos negócios; não se destinar à venda.

Esclarecedoras são as palavras de ALMEIDA, M. (2010, p. 262):

A maioria dos bens do ativo imobilizado, com a exceção de terrenos, tem uma vida

útil limitada. A vida útil representa o tempo que o bem será utilizado pela empresa

em circunstâncias normais. Os fatores que limitam a vida útil de um bem são a

deterioração e a obsolescência. A deterioração é o desgaste físico do bem e a

obsolescência é o processo pelo qual o bem se torna obsoleto em função do

desenvolvimento de novas tecnologias ou de processos mais aperfeiçoados.

É importante o entendimento de que a depreciação está associada aos processos de

deterioração e a obsolescência, tendo em vista que um bem pode funcionar quinze

anos, entretanto a sua vida útil estimada é de dez anos devido ao fato de que, a partir

desse tempo, ele passa a ser economicamente inviável e a empresa, portanto, um

novo bem mais aperfeiçoado.

Portanto, como vê-se, perante a Contabilidade, a definição do conceito de ativo

imobilizado equivale àquele apresentado em face do Direito Societário.

11.2 Economia

De acordo com o disposto no Portal da Fea - Usp, o conceito de Economia é162:

Economia é o conjunto de atividades desenvolvidas pelos homens visando a

produção, distribuição e o consumo de bens e serviços necessários à sobrevivência e

à qualidade de vida. [Já a Ciência Econômica] é uma ciência social, que estuda o

funcionamento da Economia Capitalista, sob o pressuposto do comportamento

racional do homem econômico, ou seja, da busca da alocação eficiente dos recursos

escassos entre inúmeros fins alternativos. Nesse sentido, a Ciência Econômica visa

compreender como a Economia resolve os três problemas econômicos básicos: 1) O

quê e quanto produzir? 2) Como produzir? e 3) Para quem produzir? Ou seja, o

162

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO. Faculdade de Administração, Economia e Contabilidade da USP (FEA). Disponível em: <http://www.fea.usp.br/conteudo.php?i=200>. Acesso em: 17 jan. 2015.

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estudo da eficiência e da equidade. Contudo, no mundo contemporâneo, a

sustentabilidade da produção para as gerações futuras se impõe como um quarto

problema econômico básico, exigindo que se repense o crescimento econômico e o

próprio sentido coletivo do consumo em permanente expansão sem propiciar um

verdadeiro bem-estar às sociedades humanas.

O conceito de insumo utilizado pela Ciência econômica reflete os fatores de produção

necessários à cadeia econômica da produção do produto e/ou prestação do serviço.

Com relação ao conceito de insumo, são as palavras de FAJERSZTAJN (2014, p. 29):

Com efeito, o termo “insumo”, em economia, tem conotação de tudo o que seja

utilizado, empregado ou consumido na produção de um bem ou na prestação de um

serviço.

(...)

Essa constatação conduz à conclusão de que os insumos são gastos necessariamente

vinculados com a produção, o que confirma a definição econômica do termo

insumo, acima tratada.

Esse entendimento decorre de uma interpretação sistemática dos dispositivos legais

e confirma o sentido literal do texto, eia que o significado da expressão ‘insumo’,

extraído dos dicionários, é justamente este: gastos vinculados com a produção de

bens e prestação de serviço.

Está, pois, como afirmado, intimamente ligado com a ideia de “fatores de produção”,

assim descritos por SANDRONI163

:

FATORES DE PRODUÇÃO. Elementos indispensáveis ao processo produtivo de

bens materiais. Tradicionalmente, desde Say [Jean Baptiste Say, teórico francês],

são considerados fatores de produção a terra (terras cultiváveis, florestas, minas), o

homem (trabalho) e o capital (máquinas, equipamentos, instalações, matérias-

primas). Atualmente, costuma-se incluir mais dois fatores: organização empresarial

e o conjunto ciência/técnica (pesquisa). Há ainda os que consideram cada insumo

um tipo particular de fator de produção. De modo geral, os fatores de produção são

limitados e, por isso, eles se combinam de forma diferente conforme o local e a

situação histórica.

VASCONCELLOS (2010, p. 109) ainda esclarece que,

produção é o processo pelo qual uma firma transforma os fatores de produção

adquiridos em produtos ou serviços para a venda no mercado. Assim, a firma é uma

intermediária: compra insumos (inputs, fatores de produção), combina-os segundo

um processo de produção escolhido e vende produtos (outputs) no mercado.

Interessante o esclarecimento encontrado no Site “Significados.com.br”164

:

Insumo é um substantivo masculino da área da economia e indústria, que significa

cada um dos elementos essenciais para a produção de um determinado produto ou serviço.

163

SANDRONI, Paulo. Novíssimo Dicionário de Economia. Disponível em:

<http://introducaoaeconomia.files.wordpress.com/2010/03/dicionario-de-economia-sandroni.pdf>. Acesso em:

15 nov. 2014. 164

SIGNIFICADOS: Descubra o que significa, conceitos e definições. Disponível em:

http://www.significados.com.br/insumo/. Acesso em: 17 jan. 2014.

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Insumo deriva do termo em latim insumere, que significa despender, no sentido de

"fazer uso de". Em inglês, a palavra insumo é traduzida por input, ou seja, aquilo

que é introduzido no processo de produção de um produto final (output).

Um insumo pode ser visto de duas vertentes: como fator de produção ou como matéria-prima. Os insumos considerados factores de produção podem ser:

máquinas, horas de trabalho, capital, etc.

Muitas pessoas têm dúvidas em relação à diferença entre insumo e matéria-prima. A

matéria-prima é considerada um insumo, mas um insumo é mais do que uma matéria

prima. A matéria-prima é o material base ou mais importante de um produto. Mas

para transformar a matéria-prima no produto final é preciso outros insumos que são

usados nesse processo. (grifos do original)

Assim, perante a Economia, a definição do conceito de insumo é:

bem ou serviço ou o capital utilizado no processo produtivo de bens

materiais ou na prestação de serviços.

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CAPÍTULO 12 – DEFINIÇÃO DOS CONCEITOS DE INSUMO, ATIVO IMOBILIZADO E

MATERIAL DE USO E CONSUMO NO ÂMBITO DO ICMS

12.1 Definição dos conceitos de insumo, ativo imobilizado e material de uso e consumo

segundo o Poder Judiciário

Dada a dissonância quanto à definição do conceito de insumo, ativo imobilizado e

material de uso e consumo pelos Estados da Federação, os Tribunais Estaduais vêm sendo

chamados a se posicionar sobre a matéria.

Nesse sentido, são ora analisados acórdãos proferidos pelos Tribunais de Justiça dos

Estados de São Paulo, Minas Gerais, Rio e Janeiro e Espírito Santo, integrantes da Região

Sudeste, da Bahia, referente à Região Nordeste, do Paraná, atinente à Região Sul, bem como

do Superior Tribunal de Justiça e do Supremo Tribunal Federal.

Esclareça-se que a escolha de referidos Estados foi aleatória, visando-se, apenas, à

apresentação de um panorama geral do posicionamento que vem sendo adotado pelo Poder

Judiciário nacional,

12.1.1 São Paulo

O primeiro acórdão a ser analisado foi proferido pela 1ª Câmara de Direito Público

do Tribunal de Justiça, assim ementado:

Creditamento Mercadorias adquiridas para compor o ativo permanente da empresa

Desfrute do direito ao crédito postergado. Constitucionalidade do art. 33, I, da LC nº

87/96 e do art. 20, § 5º, da LC nº 102/00 (na atual redação da LC 138/2010 e na

redação de leis complementares anteriores). Indevido o creditamento do ICMS, na

aquisição de bens para compor o ativo permanente do estabelecimento, em

descompasso com a fração imposta da LC nº 102/2000 - Ofensa ao princípio da não-

cumulatividade não verificado. Precedentes do E. STF. Auto de Infração e

Imposição de Multa (AIIM) sem vícios Situação própria de improcedência da

demanda. Sentença mantida. RECURSO DESPROVIDO. O direito ao crédito de

ICMS pela aquisição de bens consumidos no processo produtivo de industrialização,

como insumos ou ferramentas, não deriva da regra-matriz constitucional, mas tem

fonte normativa infraconstitucional (LC nº 87/96) e a circunstância de seu desfrute

postergado por diversas leis complementares (LC 92/97, 99/99, 102/00, 114/02,

122/06 e 138/10) e, ademais, o creditamento na aquisição de bens para compor o

ativo permanente da empresa deve observar a fração de 1/48 por mês, imposta pelo

art. 20, § 5º, da LC 102/00, o que não ofende o princípio da não-cumulatividade.

(TJSP, 1ª Câmara de Direito Público, Apelação 00475163720128260053-SP

(0047516-37.2012.8.26.0053), Rel. Des. Vicente de Abreu Amadei, j. 29.04.2014,

Public. 01.05.2014)

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No presente caso, não há enfrentamento sobre a definição de conceitos, mas

posicionamento no sentido de que o direito a qualquer crédito fiscal relativo ao ICMS, físico

ou financeiro, não decorre de previsão constitucional, mas sim de autorização legal.

Trata-se de entendimento mais restritivo do que aquele exposto nos itens 6.5 e 6.7 do

presente trabalho, nos quais se concluiu que, a despeito de haver necessidade de edição de lei

complementar visando à operacionalização da não cumulatividade, a tomada de créditos

físicos é garantida constitucionalmente.

Foi submetida à 5ª Câmara de Direito Público do Tribunal de Justiça de São Paulo

lide nos seguintes termos:

(...) EMBARGOS À EXECUÇÃO FISCAL - ICMS CREDITAMENTO

INDEVIDO MATERIAIS DE USO E CONSUMO DO ESTABELECIMENTO.

Pleito da embargante no sentido de desconstituir autuação pelo creditamento

indevido diante da entrada de insumos no ativo fixo da empresa. Ausência de

violação, por parte da autoridade fiscal, do princípio da não-cumulatividade. Os

produtos e serviços adquiridos não se confundem com o processo de transformação,

industrialização e comercialização. Produtos de uso e consumo no próprio

estabelecimento e relativos ao ativo fixo não se agregam ao produto final, de modo

que não há falar em creditamento - Autuação que merece subsistir.

(TJSP, 5ª Câmara de Direito Público, Apelação 0002410-35.2011.8.26.0070, Rel.

Des.Leonel Costa, j.16.06.2014)

Neste caso, as mercadorias adquiridas eram destinadas à manutenção dos bens do

ativo imobilizado, não podendo, pois, com eles se confundir. Na medida em que não agregam

o produto final e não podem ser classificados como bens do ativo imobilizado,

necessariamente têm que ser considerados material de uso e consumo que, até ao menos 2020,

não geram crédito fiscal de ICMS.

A conclusão, segundo a decisão, é a de que só serão considerados insumos os

produtos e serviços adquiridos e envolvidos no processo de transformação, industrialização e

comercialização. Produtos usados e consumidos no estabelecimento ou visando à

manutenção do ativo imobilizado são considerados material de uso e consumo.

A 6ª Câmara de Direito Público do TJ/SP proferiu a seguinte decisão:

EMBARGOS A EXECUÇÃO FISCAL - Cerceamento de defesa – Inocorrência. (...)

Diferencial de alíquota devido - Incidência da alíquota interna já que os bens não se

caracterizam como insumos - Também não há que se falar em direito ao crédito do

ICMS referente à aquisição de materiais intermediários, utilizados no processo de

industrialização, sujeitos à desgaste e manutenção, que compõem o custo indireto da

empresa - Com efeito, para gerar o direito à compensação, a peça deve ser extinta no

processo de industrialização, não bastando o mero desgaste - Inexistência de direito

de creditamento do ICMS pago em bens destinados ao uso do próprio

estabelecimento ou integração do ativo fixo, já que não estão relacionados ao

processo produtivo. (...) (TJSP, 6ª Câmara de Direito Público, APL:

197001320098260077 (0019700-13.2009.8.26.0077), Rel. Des. Carlos Eduardo

Pachi, j. 21.02.2011. Public. 28.02.2011).

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Diferentemente do posicionamento adotado por outras Câmaras de Direito Público

do Tribunal de São Paulo, conforme se verá abaixo, aqui foi afastada a equiparação do

“material intermediário”, afeto ao IPI, do conceito de insumo para fins de ICMS. Concluiu-se,

pois, que para ser considerado insumo e gerar crédito, o bem deve ser consumido por

completo, não bastando seu mero desgaste, tratando-se de decisão especialmente

conservadora, e que desconsidera as especificidades do processo industrial.

Nesse sentido, pode-se até ser exigida a realização de uma perícia para se verificar a

natureza do desgaste sofrido pelos produtos intermediários e sua interferência no produto

final; porém, desconsiderar produtos que efetivamente participam do processo industrial,

ainda que sem deteriorar-se integralmente, é afastar o direito à não cumulatividade.

A 8ª Câmara de Direito Público do mesmo Tribunal proferiu o seguinte acórdão:

ICMS Impetração assegurar o direito ao aproveitamento imediato e integral dos

créditos de ICMS gerados pela aquisição de: I) insumos indiretos; II) energia

elétrica; III) serviços de telecomunicações; IV) crédito de material para revenda

adquirido de microempresa; V) combustíveis; VI) bens destinados ao ativo

imobilizado; nos termos da LC nº 87/96, apuráveis na sua escrita fiscal, observado o

prazo decenal, acrescidos de atualização monetária e juros de mora. [...] De

qualquer modo, o art. 20 da LC nº 87/96, embora autorize o creditamento do tributo

anteriormente pago nos casos descritos, as LCs nºs. 92/97, 99/99, 102/2000,

114/2002, 122/2006 e 138/2010, que alteraram sucessivamente a redação dos incisos

e alíneas do artigo 33 da citada LC nº 87/96, impuseram limite temporal para a

adjudicação dos créditos de ICMS, postergando, na última alteração determinada

pela LC nº 138/2010, o direito em tela somente para as

mercadorias/produtos/serviços entrados ou utilizados pelo estabelecimento à partir

de 1º de janeiro de 2020. Referidos diplomas legais (LCs nºs. 92/97, 99/99,

102/2000, 114/2002, 122/2006 e 138/2010) que não definiram novas hipóteses de

incidência tributária ou de majoração de tributo, limitando-se a prorrogar o prazo

para início da eficácia do art. 20 da LC nº 87/96 em determinadas situações. Direito

ao creditamento em tela, admitido pela aludida LC nº 87/96, que, na verdade, não

decorre do princípio da não-cumulatividade insculpido no artigo 155, § 2º, I, da

Constituição Federal, vinculando-se a uma política de incentivo adotada pelo

Governo Estadual, razão pela qual as subsequentes limitações impostas pelas LCs

nºs. 92/97, 99/99, 102/2000, 114/2002, 122/2006 e 138/2010 ostentam plena eficácia

(...). Apelo da impetrante não provido. (TJSP, 8ª Câmara de Direito Público,

Apelação 9184168722009826-SP (9184168-72.2009.8.26.0000), Rel. Des. Paulo

Dimas Mascaretti, j. 15.02.2012, Public. 15.02.2012)

No presente caso, o TJ/SP vem ratificar o entendimento de que o aproveitamento de

créditos financeiros (ativo imobilizado e material de uso e consumo), no âmbito do ICMS,

não é garantido constitucionalmente, mas decorre de autorização legal que, no caso, se deu

por intermédio da Lei Complementar 87/96 e posteriores alterações.

A 9ª Câmara de Direito Público analisou lide envolvendo pleito do contribuinte

quanto à apropriação de créditos de ICMS em face do consumo de energia elétrica. Veja-se:

APELAÇÃO CÍVEL. Embargos à execução fiscal. ICMS. Sentença de

improcedência. Empresa que atua no ramo supermercadista e, assim, exerce

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atividades mistas, ou seja, emprega procedimentos que encerram processo industrial

e também pratica a revenda de produtos, atividade meramente comercial. Empresa

autuada ante o indevido aproveitamento de créditos de ICMS advindos da entrada de

energia elétrica, conquanto não comprovado que a energia elétrica adquirida que

pautou o creditamento foi aplicada em processo industrial. Legislação de regência

que, de fato, autoriza o aproveitamento de créditos de ICMS na entrada de energia

elétrica, desde que comprovado que essa energia elétrica foi aplicada em processo

industrial (artigo 20, combinado com artigo 33, II, da LC nº 87/96). Hipótese em

que, todavia, a empresa autuada não fez a indigitada comprovação. Elementos

trazidos aos autos que, no que se refere ao período da autuação, não permitem a

segura conclusão de que a energia elétrica que lastreou o creditamento foi de fato

utilizada no processo industrial. Auto de Infração e Imposição de Multa (AIIM) que,

por sua vez, não padece de nulidade. Multa aplicada com esteio na legislação de

regência, não havendo se falar em caráter confiscatório. CDA que, ademais, goza de

presunção de certeza, liquidez e exigibilidade, não afastadas pela embargante no

caso. Negado provimento ao recurso. (TJSP, 9ª Câmara de Direito Público,

Apelação 00338980520118260071-SP, Rel. Des. Oswaldo Luiz Palu, j. 27.02.2013,)

Neste caso, o entendimento vai de encontro ao quanto defendido no presente

trabalho, no item 8.1, no sentido de ser inconstitucional a vedação de crédito em face de

aquisição de energia elétrica.

A despeito de este ser o entendimento prevalente nos Tribunais, pelas razões

expostas, permaneceremos defendendo o direito de crédito integral dos créditos de ICMS

advindo da aquisição de energia elétrica pelo fato de ser considerada mercadoria pela

Constituição Federal e insumo pela própria Lei Complementar 87/86.

Já a 11ª Câmara de Direito Público do TJ/SP ratificou o entendimento de que a

apropriação de créditos financeiros decorre de previsão legal, não sendo garantida

constitucionalmente:

Apelação Cível - Mandado de Segurança - Afastamento da limitação temporal

prevista no artigo 33, inciso I, da LC nº 87/96. Alegação de que os créditos de ICMS

relativos às mercadorias adquiridas para uso e consumo - Ausência de direito líquido

e certo - Inteligência da LC nº 87/96 (artigo 20), essa faculdade viu-se

sucessivamente postergada por leis complementares posteriores, estando atualmente

com sua eficácia adiada para 1/1/2020, a teor do art. 33, I, da LC nº 87/96, na

redação da LC nº 138/2010 - Legalidade da limitação ante a disposição

constitucional - Inexistência que afronta o artigo 155, inciso II, parágrafo único, da

Constituição Federal Matéria que se encontra pacificada nos Tribunais superiores -

Precedentes do Egrégio Superior Tribunal de Justiça, Colendo Superior Tribunal

Federal e da Egrégia 11ª Câmara de Direito Público - Sentença de improcedência

mantida - Recurso improvido.

(TJSP, 11ª Câmara de Direito Público, Rel. Des. Marcelo L Theodósio,

j.16.09.2014)

A seguir tem-se acórdão proferido pela 12ª Câmara de Direito Público do Tribunal de

Justiça de São Paulo em sede de apelação em ação anulatória. Eis o conteúdo de sua Ementa:

Creditamento. Pretensão da autora em anular o crédito tributário constituído por

meio de Auto de Infração e Imposição de Multa (AIIM), decorrente de creditamento

indevido de ICMS, por aquisição de mercadorias, que aduz constituírem insumos de

produção comercial e industrial que se realiza. Descabimento. Ausência de prova de

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que os produtos intermediários foram utilizados no processo de industrialização.

Outrossim, os bens, na verdade não se enquadram na categoria de bens

intermediários, que exigem efetiva consumação no processo de fabricação. Bens que

se desgastam em razão do uso do equipamento utilizado durante o processo de

industrialização. Reparos ou substituição das peças que não conferem a elas a

categoria de intermediários Precedente do STJ - Sentença mantida Recurso

desprovido, com observação.

(TJSP, 12ª Câmara de Direito Público, Apelação 00058086420088260047-SP

(0005808-64.2008.8.26.0047), Rel. Des. Wanderley José Federighi, j. 21.08.2013,

Public. 29.08.2013)

Da análise de referida Ementa, verifica-se que a 12ª Câmara está utilizando

elementos atinentes ao IPI (produtos intermediários) na delimitação dos bens enquadrados no

conceito de insumo para fins de ICMS.

De qualquer forma, a conclusão que se obtém de referida ementa é a de que é

considerado insumo os bens que são consumidos no processo de fabricação, não se

confundindo com o desgaste que ocorre com os equipamentos, aqui considerados ativo

imobilizado, posicionamento com o qual se concorda.

Em seguida, analisa-se Ementa de acórdão proferido pela 13ª Câmara de Direito

Público do Tribunal de Justiça de São Paulo, nos seguintes termos:

Embargos à execução fiscal. ICMS. Pretensão ao reconhecimento da regularidade do

creditamento do imposto na aquisição de matrizes de corte de embalagem

Procedência, com a extinção do feito executivo Inconformismo da Fazenda Pública.

Descabimento Perícia válida. Irrelevância da nomenclatura dada ao equipamento

periciado na decisão saneadora Prova que recaiu sobre o produto que motivou a

autuação fiscal e que, portanto, contribuiu ao aclaramento da controvérsia, não

padecendo de vícios. Creditamento do imposto Regularidade Prova técnica

contundente no sentido de que as matrizes de corte consistem em produto

intermediário, indispensável ao processo produtivo, sendo nele consumido e

integrando o custo de fabricação. Possiblidade de aproveitamento do crédito.

Inteligência do art. 20 e § 1º da Lei Complementar Federal nº 87/96 Precedentes.

Julgamento ultra petita Decisum que extinguiu por completo a execução, quando o

pedido inicial recaia apenas sobre um dos itens do AIIM. Possibilidade de

prosseguimento do feito executivo quanto ao crédito remanescente, originário de

pagamento a menor do ICMS pela não-inclusão em sua base de cálculo do valor do

IPI Jurisprudência do A. STJ Recurso desprovido, declarada, de ofício, a nulidade de

parte da sentença.

(TJSP, Apelação 00049619820108260077-SP, 13ª Câmara de Direito Público, Rel.

Des. Souza Meirelles, j. 28.05.2014)

O presente acórdão denota, de maneira perfeita, nosso entendimento no que tange a

produto intermediário. No presente caso, a despeito de se estar diante de peça que se acopla a

um bem pertencente ao ativo imobilizado, está-se diante de parte e peça que efetivamente se

desgasta durante o processo de produtivo, sendo indispensável para a sua realização.

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No caso sob análise em referido acórdão, o Tribunal de Justiça de São Paulo volta a

utilizar o conceito de produto intermediário atinente ao IPI, validando-se prova realizada nos

autos de que “as matrizes de corte de embalagem” se consomem no processo produtivo.

Outro elemento trazido aos autos para ratificar o direito ao crédito, é o fato de

referidas “matrizes” integraram o custo de fabricação das embalagens, conceito estritamente

contábil e que, em princípio, não encontra amparo na legislação tributária.

Cumpre ressaltar, como já adiantado quando da análise do conceito de insumo no

âmbito do IPI, que a denotação de um bem enquanto insumo não é direta, ensejando, muitas

vezes, a demonstração da sua efetiva integração no processo produtivo.

12.1.2 Minas Gerais

Passa-se, pois, aos julgados do Tribunal de Justiça de Minas Gerais localizados sobre

a matéria.

A 1ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça de Minas Gerais proferiu a seguinte

decisão:

ART. 150, § 4º, DO CTN. MÉRITO. ICMS. AQUISIÇÃO DE SACOLAS

PLÁSTICAS. SUPERMERCADO. CREDITAMENTO. INSUMO. BENS

ESSENCIAIS À ATIVIDADE. NÃO CONFIGURAÇÃO. INSTRUÇÃO

NORMATIVA N. 01/86. CONFIRMAÇÃO DA SENTENÇA. (...) O

aproveitamento de crédito de ICMS é permitido quanto aos produtos classificados

como bens de insumo, que são as matérias-primas e os produtos intermediários, não

se estendendo aos bens de uso ou consumo do estabelecimento. O produto

intermediário é 'aquele que, empregado diretamente no processo de industrialização,

integra-se ao produto novo', ou, por extensão, 'aquele que, embora não se integrando

ao novo produto, é consumido imediata e integralmente, no curso da

industrialização' (IN 01/86). Para efeitos de abatimento do ICMS sob a forma de

crédito a Instrução Normativa DLT/SRE nº 01/86 traçou o conceito de 'produto

intermediário' e seus limites, não se incluindo no aludido conceito as sacolas

plásticas adquiridas pelo supermercado para o transporte das mercadorias pelos

clientes. Não sendo demonstrado o caráter essencial das sacolas plásticas à atividade

da empresa embargante não há falar em direito ao aproveitamento do crédito de

ICMS.

(TJMG, 1ª Câmara Cível, Apelação 10024110040318001-MG, Rel. Des. Armando

Freire, j. 04.02.2014, Public. 12.02.2014)

Pode-se verificar, pois, que a 1ª Câmara do TJ/MG admite o produto intermediário,

enquanto conceito atinente ao IPI, como insumo, para fins de creditamento do ICMS. Porém,

segundo o acórdão, será considerado produto intermediário, aquele que, embora não se

integrando ao novo produto, é consumido imediata e integralmente, no curso da

industrialização restringindo-se, pois, a extensão que possui em face do tributo federal. Além

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disso, calcou-se na convicção de que sacolas plásticas não são essenciais ao desenvolvimento

de comércio varejista.

Veja-se que, caso houvesse lei local exigindo que o contribuinte, no caso, um

supermercado, fornecesse sacolas plásticas a seus clientes, a decisão haveria de ser outra, vez

que a essencialidade decorreria de lei.

A mesma 1ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais proferiu

o seguinte acórdão:

AÇÃO DECLARATÓRIA - ICMS - COMPENSAÇÃO - PRINCÍPIO DA NÃO

CUMULATIVIDADE - TRANSPORTE DE CARGA - COMPENSAÇÃO

DISCIPLINADA POR LEI COMPLEMENTAR. - O direito a crédito por entradas

vincula-se à existência de débitos por saídas, considerando-se, necessariamente, o

ciclo de produção e circulação até a chegada ao consumidor final. Desta forma,

relativamente à produção de mercadorias, só gera direito a crédito a entrada de

matéria-prima indispensáveis ao processo de produção, circulação, prestação de

serviços que resultem em produtos e serviços tributados subsequentemente. Fora

deste ciclo, serão materiais de uso, consumo ou alheios à atividade, que não gera

direito à utilização de crédito ICMS, em face da limitação temporal estabelecida pela

Lei complementar 87/96, com suas alterações posteriores. - Ressalta-se, ainda, que o

direito ao crédito em relação aos bens do ativo imobilizado só advém se estes bens,

além de imobilizados, forem utilizados efetiva e especificamente na atividade

relacionada à tributação do ICMS. - Portanto, não é passível de permissão a

utilização de supostos créditos de ICMS, referente a bens e insumos de consumo

direto que não integram o produto final em qualquer processo produtivo. Os bens

destinados ao uso e consumo não geram circulação posterior dentro da sociedade

empresária, já que esta é destinatária final destes produtos e também não integram o

seu produto final. Assim, não há que se falar em ofensa ao princípio da não-

cumulatividade.

(TJMG, 1ª Câmara Cível, Apelação 1.0024.04.391419-1/001, Rel. Des. Geraldo

Augusto, j. 26.10.2010, Public. 26.11.2010)

Ao traçar um paralelo entre matéria prima e material de uso e consumo, a conclusão

é de que, só integram o primeiro grupo os bens indispensáveis ao processo de produção,

circulação, prestação de serviços que resultem em produtos e serviços tributados em

operações subsequentes. Os produtos que não se adequarem a essa finalidade, são

considerados materiais de uso e consumo.

Concluiu, ainda que, as mercadorias destinadas ao ativo imobilizado, para gerarem o

direito de creditamento, devem, necessariamente, ser utilizados, efetiva e especificamente, na

atividade relacionada à tributação do ICMS.

No que tange a esta última conclusão, não há como se concordar com a decisão. Isso

porque, conforme enfrentado no item 8.2 do presente trabalho, o art. 21 da Lei Complementar

87/96 exige o estorno do crédito quando a mercadoria vier a ser utilizada em fim alheio à

atividade do estabelecimento.

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Ora, se estabelecimento é o conjunto de bens que o empresário reúne para a

exploração de sua atividade econômica, qualquer bem que venha a integrar o estabelecimento,

ainda que visando, por exemplo, ao desempenho de atividade administrativa, deve ensejar o

creditamento do ICMS sobre a aquisição de ativo imobilizado.

A 4ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, ao traçar o

paralelo entre o enquadramento de mercadorias como insumo, bens destinados ao ativo

imobilizado ou material de uso e consumo, assim se manifestou:

AÇÃO ANULATÓRIA. AUTUAÇÃO FISCAL. CRÉDITO DE ICMS.

AQUISIÇÃO DE MATERIAL PARA UTILIZAÇÃO EM LABORATÓRIO.

ANÁLISE QUANTO À CLASSIFICAÇÃO DOS BENS. PROVA PERICIAL

TÉCNICA. VALOR PROBANTE. MATERIAIS CONSIDERADOS COMO

COMPONENTES DA LINHA PRINCIPAL DO PROCESSO PRODUTIVO DE

FABRICAÇÃO DO ALUMÍNIO. - O juiz não está vinculado ao laudo pericial

técnico, podendo formar sua convicção com outros elementos ou fatos provados nos

autos, na forma do art. 436, do CPC, sendo certo, contudo, que a referida prova

pericial, por conter elementos de convicção fundados em critérios técnicos e

normativos, possui alto valor probante, em especial quando confrontadas com as

demais provas coligidas aos autos. - Restando demonstrado que os materiais de

laboratório foram considerados no laudo pericial oficial como componentes da linha

principal do processo produtivo de fabricação do Alumínio, não há como considerar

que sua aplicação se daria em linha marginal do processo produtivo.

(TJMG, 4ª Câmara Cível, Apelação 1.0024.08.251680-8/001, Rel. Des. Duarte de

Paula, j. 28.08.2014, Public. 03.09.2014)

A lide posta em juízo foi descrita no voto do Desembargador Relator:

(...) Assim, o ponto central da questão ora em debate consiste em saber se as

mercadorias adquiridas pela ora apelante são bens de uso e consumo ou bens do

ativo permanente não vinculados a suas atividades essenciais, impossibilitando o

pretendido aproveitamento dos créditos da exação estadual, ou se seriam insumos,

matérias-primas ou bens do ativo permanente vinculados a suas atividades

essenciais, como alega a autora, autorizando a desconstituição das exigências fiscais,

porquanto, teria a contribuinte o direito aos respectivos créditos glosados. (...)

Portanto, conforme colocado, o laudo técnico pericial demonstrou, por critérios

objetivos e analíticos, que os produtos que foram classificados como de uso e

consumo pela Fazenda Pública do Estado de Minas Gerais, devem ser considerados

como bens intermediários, uma vez que essenciais para a fabricação do produto final

pela autora, seja através da utilização em laboratório, que se encontra

intrinsecamente relacionada às fases da Fabricação de Alumina, Redução e Refusão,

as quais compõem a linha principal do processo produtivo de fabricação do

Alumínio, seja pela perda de suas dimensões ou características originais, exigindo,

por conseguinte, a sua substituição periódica em razão de sua inutilização ou

exaurimento, embora preservada a estrutura que as implementa ou as contém. Nesse

sentido, deve ser reconhecido o direito da autora à apropriação

dos créditos do ICMS glosados no auto de infração 01.000157475.47.

Como se vê da análise do voto proferido pelo Desembargador Relator, o direito ao

creditamento do ICMS não está vinculado apenas à definição dos conceitos de insumo, de

ativo imobilizado ou de material de uso e consumo, devendo se analisar, primeiramente, se as

mercadorias adquiridas são vinculadas à atividade essencial do contribuinte.

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193

Nesse sentido, a conclusão adotada foi a de que, mesmo que não consumidos

integralmente, serão considerados como material intermediário e, portanto, adequado ao

conceito de insumo, os bens adquiridos que sejam essenciais para a fabricação do produto

final do contribuinte, ainda que utilizados em laboratório, e com perda parcial de suas

dimensões ou características originais, exigindo, por conseguinte, a sua substituição periódica

em razão de sua inutilização ou exaurimento, embora preservada a estrutura que as

implementa ou as contém.

Portanto, a conclusão é a de que não é o exaurimento total da mercadoria adquirida

que o caracteriza como insumo, mas sua essencialidade em face do produto final a ser

produzido.

Já a 6ª Câmara de Direito Civil apresentou a presente conclusão sobre a significação

do termo insumo:

DIREITO TRIBUTÁRIO - EXECUÇÃO FISCAL - EMBARGOS DO DEVEDOR -

NULIDADE DA SENTENÇA - INOCORRÊNCIA - APROVEITAMENTO

INDEVIDO DE CRÉDITOS DE ICMS - GLOSA LEGÍTIMA - NATUREZA DE

INSUMO NÃO DEMONSTRADA - MATERIAIS DE CONSTRUÇÃO -

NECESSIDADE DE COMPROVAÇÃO DA COMERCIALIZAÇÃO -

AQUISIÇÃO DE BENS ADVINDOS DA ZONA FRANCA DE MANAUS -

INSUMOS ORIUNDOS DE BENS RECUPERADOS DA PRODUÇÃO -

CRÉDITOS DECORRENTES DE DIFERENCIAIS DE ALÍQUOTA EM

AQUISIÇÕES INTERESTADUAIS DE BENS INTEGRANTES DO ATIVO

IMOBILIZADO - SALDAÇÃO PARCIAL - PROVA TÉCNICA INSUFICIENTE

À COMPROVAÇÃO DAS ALEGAÇÕES - PRESUNÇÕES DE CERTEZA,

LIQUIDEZ E EXIGIBILIDADE DO TÍTULO EXECUTADO - MULTA DE

REVALIDAÇÃO - LEGALIDADE, PROPORCIONALIDADE E

RAZOABILIDADE DA PENA DEMONSTRADAS - RECURSO IMPROVIDO.

(...) 2. A caracterização dos bens adquiridos como insumo suscetível de gerar o

creditamento de ICMS pretendido imprescinde da cabal comprovação de sua

definitiva incorporação ao produto final comercializado ou do seu integral consumo

na fabricação. 3. A ausência de eficaz comprovação técnica, mediante esclarecedor

trabalho pericial, da origem, natureza e tempestiva escrituração das operações

ensejadoras dos créditos glosados pelo Fisco impede o reconhecimento judicial da

alegada higidez do creditamento, em privilégio das presunções legais liquidez,

certeza e exigibilidade da obrigação tributária executada. 4. Mostra-se razoável e

proporcional a incidência da multa de revalidação legalmente estabelecida no

patamar de cinqüenta por cento do imposto devido. 6. Recurso não provido.

(TJMG, 6ª Câmara Cível, Apelação 10024028818227005-MG, Rel. Des. Corrêa

Junior, j. 08.01.2013, Public. 18.01.2013)

A compreensão, aqui, é de que, para que se caracterize como insumo e, portanto, a

aquisição gere crédito de ICMS, o insumo deve ser integralmente consumido na fabricação do

produto final.

Diferentemente, a 5ª Câmara Cível do TJ/MG tem a interpretação de que os insumos

efetivamente aplicados e consumidos na atividade fim do contribuinte dão ensejo ao

creditamento, ainda que não integrem o produto final.

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194

DIREITO TRIBUTÁRIO - APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO DECLARATÓRIA -

RECURSO ESPECIAL PARCIALMENTE PROVIDO - ORDEM DE NOVO

JULGAMENTO - PREMISSA - CONTRIBUINTE PRESTADORA DE SERVIÇO

DE TRANSPORTE - PEÇAS DE VEÍCULOS UTILIZADOS NA ATIVIDADE -

INSUMOS - CREDITAMENTO DE ICMS - POSSIBILIDADE. Restou definido

pelo STJ que os insumos efetivamente aplicados e consumidos na atividade-fim da

contribuinte dão ensejo ao creditamento, ainda que não integrem o produto final. -

Verificado, por intermédio de laudos periciais, que os materiais arrolados pela

contribuinte são, de fato, essenciais à atividade de transporte, deve ser reconhecido o

direito da empresa de ‘abater’ o valor do imposto respectivo, pena de violação ao

princípio da não cumulatividade.

(TJMG, 5ª Câmara Cível, Apelação 10024044078939001-MG, Rel. Des. Versiani

Penna, j. 20.06.2013)

Mais uma vez, verifica-se que a adequação das mercadorias à classe dos insumos se

deu por intermédio de perícia, dada a necessidade de se demonstrar, inequivocamente, a sua

vinculação ao produto industrializado.

A 6ª e a 7ª Câmaras Cíveis daquele TJ/MG analisaram a possibilidade de

creditamento de ICMS em face da aquisição de sacolas plásticas. Veja-se:

APELAÇÃO CÍVEL - MANDADO DE SEGURANÇA PREVENTIVO -

SUPERMERCADO - AQUISIÇÃO DE SACOLAS PLÁSTICAS - CONCEITO DE

EMBALAGEM OU INSUMO - NÃO ABRANGÊNCIA - ICMS -

CREDITAMENTO - VEDAÇÃO. O aproveitamento de crédito de ICMS não é

permitido em relação aos produtos classificados como bens de uso ou consumo do

próprio estabelecimento. -As sacolas plásticas fornecidas ao consumidor por

supermercados não são abrangidas pelo conceito de embalagem ou insumo, uma vez

tratarem-se de mero facilitador na acomodação e transporte de produtos

(consumidor), além de meio publicitário (supermercado). - O dispêndio do

supermercado com sacolas plásticas não lhe garante direito de crédito do ICMS, haja

não se enquadrarem no conceito de embalagem ou insumo, não integrando o preço

do produto comerciado. (TJMG, 6ª Câmara Cível, Apelação 10105120231854001-

MG, Rel. Min. Selma Marques, j. 03.09.2013, Public. 13.09.2013)

DIREITO TRIBUTÁRIO. ICMS. CREDITAMENTO DO TRIBUTO. SACOLAS

PLÁSTICAS. AUSÊNCIA DE PROVAS DA NECESSIDADE DE SUA

UTILIZAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO DA ATIVIDADE-FIM DA

EMPRESA. O Convênio Interestadual de ICMS 66/1988, vigente anteriormente à

edição da Lei Complementar nº 87/1996, que regulava o ICMS, dispunha sobre a

possibilidade de creditamento de ICMS relativos aos insumos que fossem

consumidos no processo industrial e integrassem o produto final na condição de

elemento indispensável à sua composição. Com a edição da Lei Complementar nº

87/1996, permitiu-se a compensação do ICMS em operações de que tenha resultado

a entrada de mercadoria, real ou simbólica, no estabelecimento, inclusive a destinada

ao seu uso ou consumo ou ao ativo permanente, ou o recebimento de serviços de

transporte interestadual e intermunicipal ou de comunicação", contudo, com

vigência a partir de 1º de janeiro de 2020. Os embargos à execução são

improcedentes, pois a cobrança do recolhimento indevido de créditos de ICMS

proveniente da aquisição de sacolas plásticas apresenta-se regular e legal. A referida

mercadoria não se insere no conceito de material de embalagem, insumos ou

produtos intermediários, previstos no inciso V do artigo 66 do RICMS/2002.

(TJMG, 7ª Câmara Cível, Apelação 10625090944913001-MG, Rel. Des. Wander

Marotta, j. 30.04.2014, Public. 09.05.2014)

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195

Em ambos os casos, a conclusão foi no sentido de que a sacola plástica não é

essencial para o desenvolvimento da atividade comercial do estabelecimento, tratando-se,

pois, de material para o uso e consumo.

Reitera-se que, a decisão deveria ser conduzida de outra forma caso houvesse lei

exigindo a distribuição de sacolas plásticas aos consumidores.

12.1.3 Rio de Janeiro

Quanto ao Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, primeiramente tem-se

acórdão proferido pela 18ª Câmara Cível. Veja-se:

EMBARGOS À EXECUÇÃO FISCAL. ICMS. ALEGADO DIREITO AO

CREDITAMENTO DECORRENTE DA ENTRADA DE ENERGIA ELÉTRICA

NO ESTABELECIMENTO. SUPERMERCADO. JULGAMENTO COM BASE

NO ARTIGO 285-A DO C.P.C. CABIMENTO. SENTENÇA DE

IMPROCEDÊNCIA DOS EMBARGOS. (...) Para o contribuinte ter direito ao

creditamento do ICMS pela entrada de energia elétrica em seu estabelecimento, a

energia deverá consistir em insumo básico à consecução da atividade fim de

industrialização. Entendimento da Lei Complementar 87/96, artigo 20, § 1º, c/c o

artigo 33, inciso II, b. Precedentes jurisprudenciais. Deve ser considerado que o

processo industrial - no conceito abrangido nos dispositivos citados - está longe de

ser a atividade fim principal da Apelante. Ainda que em segundo plano o

supermercado prepare alimentos para comercialização em padaria, utilizando-se de

matéria-prima, a energia elétrica consumida não se destina a essa produção, isto é,

não serve de insumo do produto colocado à venda, inserindo-se a Apelante no

conceito de consumidor final da energia que entra no estabelecimento. Precedentes

jurisprudenciais. NEGADO SEGUIMENTO AO RECURSO.

(TJRJ, 18ª Câmara Cível, Apelação 33160- RJ (2009.001.33160), Rel. Des. Leila

Albuquerque, j. 02.07.2009, Public. 06.07.2009)

Da análise de referido julgado, verifica-se a prevalência do entendimento de que a

limitação do creditamento em face da aquisição de energia elétrica apenas aos

estabelecimentos industriais é constitucional, com o que, reitera-se, não se concorda.

A 19ª Câmara Civil do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro165

analisou, em

concreto, o caso de empresa fabricante de medicamentos, à qual foi negado o direito ao

crédito sob a alegação de que os bens adquiridos eram destinados ao seu uso e consumo.

(...) 1. Embargos à execução fiscal movida em face de empresa fabricante de

medicamentos, autuada por ter se creditado, de forma indevida, no período de

outubro e novembro de 2000, de imposto relativo a bens destinados a uso e

consumo, que não se vinculariam aos produtos colocados no mercado pela mesma.

(...) 4. Tese de defesa da embargante que converge no sentido de que os bens objeto

da autuação são essenciais à fabricação do produto final, sendo efetivamente

utilizados e consumidos na cadeia de produção. [...]8. A jurisprudência do Superior

Tribunal de Justiça possuía entendimento assente no sentido de que na vigência do

165

TJRJ, 19ª Câmara Cível, Agr. Reg. em MS 0021801-50.2012.8.19.0000, Rel. Des. Ferdinaldo Nascimento, j.

03.12.2012.

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196

Decreto-lei 406/68 e do Convênio 66/88, os produtos intermediários que, apesar de

integrarem o processo de industrialização, nele não eram completamente

consumidos e nem integravam o produto final, não gerava direito ao creditamento

do ICMS. 9. Com o advento da Lei Kandir (LC nº 87/96), houve uma mudança

significativa no cenário normativo a fim de assegurar o direito de creditamento

do ICMS em relação aos produtos intermediários, ainda que os mesmos não se

agreguem ao produto final, desde que vinculados à atividade do estabelecimento. 10.

Bem de ver que o princípio da não cumulatividade do ICMS veio regulamentado na

LC nº 87/96, por meio da concessão de créditos financeiros e não meramente físicos.

11. Conforme decidido pelo STJ, a regra prevista no art. 33, I, da LC nº 87/96 deve

ser interpretada restritivamente, a fim de prevalecer a limitação temporal ao

creditamento apenas para as entradas referentes ao uso e consumo do

estabelecimento, sob pena de tornar sem efeito as importantes modificações alçadas

pela Lei Kandir, ao se aplicar um entendimento mais abrangente. 12. Hipótese em

que os materiais cujos créditos foram glosados, apesar de não integrados ao produto

final, se consomem integralmente no processo produtivo de industrialização dos

medicamentos, na condição de elemento dele indispensável e indissociável a

atividade produtiva da empresa embargante, qual seja, fabricação de medicamentos.

13. Reconhecimento do direito da embargante ao aproveitamento do crédito

do ICMS discutido na presente demanda, por se tratarem de materiais intermediários

consumidos no processo de industrialização de medicamentos, os quais estão

condicionados à limitação temporal do art. 33, da LC nº 87/96. (...)

Mais uma vez, no presente julgado, é reconhecido como insumo os bens que, a

despeito de não integrarem o produto final, se consomem integralmente no processo produtivo

de industrialização dos medicamentos, sendo tratados, pois, como produtos intermediários.

12.1.4 Espírito Santo

A 4ª Câmara Civil do Tribunal de Justiça do Espírito Santo166

foi chamada a analisar

os traços diferenciadores entre insumo e material de uso e consumo, tendo assim concluído:

(...) IV- Até que não advenha o termo estabelecido pela lei (janeiro do ano de 2011),

o critério adotado será o físico, admitindo-se a compensação de ICMS apenas da

aquisição de insumos, e não de produtos de uso e consumo. Precedente (REsp

500076⁄PR). Insumos são produtos intermediários, que se agregam ao produto final

a ser vendido, como as matérias-primas. V- Com essa nova sistemática, trazida pela

Lei Complementar nº 87⁄96, após reiteradas e sucessivas modificações, a não-

cumulatividade do ICMS deixou de ser princípio geral e irrestrito. VI- No caso

concreto, o auto de infração foi lançado diante da apresentação de notas fiscais de

aquisição de chavetas, parafusos, pistões, rolamentos, alavancas, amortecedores,

tapete, radiadores, rotor de bomba, entre outros. São mercadorias consideradas de

uso e consumo e não insumos. Por isso, não há direito ao creditamento de ICMS.

Precedentes (RE 195894⁄RS e EDcl no REsp 101.797⁄SP). VII- Não houve

lançamento sobre as notas fiscais referentes à aquisição de combustíveis, óleos

lubrificantes, pneus, câmaras de ar ou fretes, tendo em vista a previsão da Lei

Estadual nº 5.744⁄98, art. 5º, ao considerar os referidos produtos como insumos. (...)

166

TJES, 4ª Câmera Cível, Apelação 12050027874, Rel. Des. Maurílio Almeida de Abreu, j. 09.06.2009, Public.

28.07.2009.

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197

O caso concreto refere-se à delimitação do conceito de insumo em face da prestação

de serviços de transporte, sendo que foi considerado como insumos apenas os bens elencados

do Regulamento do ICMS local, a saber, os combustíveis, os óleos lubrificantes, pneus e

câmaras de ar, sem os quais, literalmente, os veículos não se movimentam. Todos os demais

bens foram considerados materiais de uso e consumo.

Destaca-se, porém, o simplismo da decisão, já que parte dos bens considerados como

material de uso e consumo poderia se adequar ao conceito de ativo imobilizado, na medida

em que foram mencionados, dentre outros, rolamentos, alavancas, amortecedores, radiadores

e rotor de bomba.

12.1.5 Paraná

A 1ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Paraná proferiu acórdãos que,

diferentemente do quanto defendido no presente trabalho, concluíram que a Constituição

Federal garante a não cumulatividade aos contribuintes não só em face de créditos físicos,

mas também de créditos financeiros. Em decorrência, afastaram todas as limitações à tomada

de créditos em face de bens do ativo imobilizado e material de uso e consumo impostas pelas

leis complementares que alteraram os termos da Lei Complementar 87/96. Veja-se:

Ação ordinária. ICMS. Bens destinados ao ativo fixo, uso e consumo. Princípio da

não cumulatividade. (...) O direito ao crédito de ICMS dos bens destinados ao ativo

fixo, uso e consumo no estabelecimento comercial (mesmo antes da Lei

Complementar nº 87/96) está assegurado pela Constituição Federal (artigo 155, § 2º,

I e II), não podendo ser alterado por lei infra-constitucional. Pelo princípio

constitucional da não-cumulatividade, tal direito é assegurado de modo amplo,

revelando-se descabidas as restrições impostas pela Lei Complementar nº 102/2000.

(...)

(TJPR, 1ª Câmara Cível, Apelação 1632677-PR, Rel. Des. Pericles Bellusci de

Batista Pereira, j. 30.11.2004)

TRIBUTÁRIO - ICMS - COMPENSAÇÃO TRIBUTÁRIA - CONTRIBUINTE

EMPRESA TRANSPORTADORAS DE CARGA - OPERAÇÕES DE COMPRA

DE COMBUSTÍVEIS, LUBRIFICANTES, PEÇAS, PNEUS E CÂMARAS DE

AR- ENTRADA DE BENS DE USO OU CONSUMO E ATIVO FIXO -

LEGITIMIDADE E VIABILIDADE DA COMPENSAÇÃO COM CORREÇÃO

MONETÁRIA. I - O contribuinte de fato, aquele que suporta definitivamente o ônus

econômico do tributo, possui legitimidade ativa para postular a compensação do

ICMS. II - O direito ao crédito de ICMS, no caso de entrada de bens ao ativo fixo

permanente, está assegurado pela Constituição Federal (art. 155, § 2º, I e II) e não

pode ser alterado por lei ordinária. III - A correção monetária do valor objeto de

crédito tributário tardiamente aproveitado, decorrente de compensação com

operações sucessivas envolvendo o ICMS, além de se constituir em instituto

histórico, é sistêmico, incidindo em qualquer relação financeira que se protraia no

tempo, bem como resulta no princípio que proíbe o enriquecimento ilícito do Estado,

em detrimento do contribuinte - CTN, art. 108, inc. III.

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198

(TJPR, 1ª Câmara Cível, Apelação e Reexame Necessário 1188487-PR (0118848-7),

Rel. Des. Paulo Roberto Hapner, j. 15.04.2003, Public. 05.05.2003)

TRIBUTÁRIO. ICMS. BENS DESTINADOS AO ATIVO FIXO, USO E

CONSUMO. PERÍODO ANTERIOR À LEI COMPLEMENTAR 87/96.

POSSIBILIDADE DO CREDITAMENTO COM CORREÇÃO MONETÁRIA. Não

é a destinação que vai dar às mercadorias ou bens que adquire (revenda, uso,

consumo, integração no ativo fixo etc.) que impede o contribuinte de fruir, por

inteiro, do direito à não cumulatividade do ICMS. Posição contrária é insustentável,

porque entra em contradição com toda a sistemática constitucional deste tributo. Daí

porque - tornamos a acentuar - são inconstitucionais as restrições ao direito de

abatimento do ICMS contidas em leis ou atos normativos infralegais. Nem mesmo a

lei complementar fora do limitado campo adjetivo e procedimental que lhe reservou

a Constituição (art. 155, § 2º, XII, c) - pode criar obstáculos ou de alguma maneira

inovar na regulação deste direito à 'não-cumulatividade', que foi exaustivamente

disciplinado pelo próprio Texto Magno. Com maior razão, devem também os

aplicadores do Direito integral e absoluto respeito ao regime da 'não-cumulatividade

do ICMS', constitucionalmente plasmado. Nem se diga que, com isso, estamos

impondo restrições ao legislador ordinário ou ao intérprete. Na verdade, estamos

procurando revelar o 'espírito' que permeia as palavras da Lei Maior"("ICMS",

Roque Antônio Carrazza, Malheiros, 3ª edição, 1997, pág. 164). Referência

legislativa: Constituição Federal, artigo 155, § 2º, I, XII, 'c'; Lei Complementar nº

87/96, artigos 19, 20 e 23 parágrafo único; Convênio ICMS 66/88, artigo 31; Código

de Processo Civil, artigo 20, §§ 3º e 4º. (TJPR, 1ª Câmara Cível, Apelação e

Reexame Necessário 1714672-PR (0171467-2), Rel. Des. Ulysses Lopes, j.

03.05.2005)

12.1.6 Bahia

A 1ª Câmara do Tribunal de Justiça da Bahia, a despeito de ter negado provimento à

apelação do contribuinte, acabou por concluir que, em face de empresas de transporte,

consideram-se insumos os combustíveis e pneus.

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO ANULATÓRIA DE DÉBITO FISCAL.

CREDITAMENTO DO ICMS PAGO NA AQUISIÇÃO DE COMBUSTÍVEL

UTILIZADO NA DISTRIBUIÇÃO DE PRODUTOS. NÃO CARACTERIZAÇÃO

COMO INSUMO. INADMISSIBILIDADE DO CREDITAMENTO. APELO A

QUE SE NEGA PROVIMENTO. A toda evidência a entrega da mercadoria

realizada por empresa fabricante, revendedora, distribuidora ou fornecedora de

bebidas, através de veículos próprios, não consiste em elemento fundamental da sua

atividade, diferentemente das empresas transportadoras, em que pneus, lubrificantes,

combustíveis podem ser considerados insumos, produtos imprescindíveis para sua

atividade. “Descabe o creditamento de ICMS relativamente a valores

correspondentes à aquisição de combustíveis e pneus por

fabricante/distribuidora/distribuidora de bebidas, pois o transporte das mercadorias

por frota própria não constitui a sua atividade fim, tampouco integrando o produto

ofertado. Figura ela, no caso, como consumidora final daqueles bens, classificando-

se-os como de uso e consumo próprios”. (TJBA, 1ª Câmara Cível, Apelação

00712610320068050001-BA (0071261-03.2006.8.05.0001), Rel. Des. Maria da

Purificação da Silva, j. 01.10.2012, Public. 17.11.2012)

12.1.7 Superior Tribunal de Justiça

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199

Passa-se, a seguir, à análise de alguns acórdãos proferidos pelo Superior Tribunal de

Justiça sobre a matéria.

Primeiramente, tem-se acórdão da 1ª Turma daquele Tribunal, que reconhece, como

insumos de empresa prestadora de serviço de transporte, os combustíveis e lubrificantes.

PROCESSUAL CIVIL E TRIBUTÁRIO. RECURSO ORDINÁRIO EM

MANDADO DE SEGURANÇA. CREDITAMENTO DE ICMS NA AQUISIÇÃO

DE COMBUSTÍVEIS E LUBRIFICANTES. SOCIEDADE EMPRESÁRIA

PRESTADORA DE SERVIÇOS DE TRANSPORTE. BENS QUE SE

CARACTERIZAM COMO INSUMO NECESSÁRIO À PRESTAÇÃO DO

SERVIÇO. 1. Recurso ordinário em mandado de segurança em que se pretende o

reconhecimento do direito de sociedade empresária prestadora de serviços de

transporte fluvial ao creditamento do ICMS realizado no período de janeiro a

dezembro de 2006, referente à aquisição de combustíveis e lubrificantes. 2. A

jurisprudência do STJ tem reconhecido o direito das prestadoras de serviços de

transporte ao creditamento do ICMS recolhido na compra de combustível, que se

carateriza como insumo, quando consumido, necessariamente, na atividade fim da

sociedade empresária. Precedentes: REsp 1.090.156/SC, Rel. Ministra Eliana

Calmon, Segunda Turma, DJe 20/08/2010; REsp 1175166/MG, Rel. Ministro

Herman Benjamin, Segunda Turma, DJe 26/03/2010. 3. Ante o objeto social da

sociedade empresária recorrente, deve-se reconhecer que os combustíveis e

lubrificantes são insumos necessários à prestação do serviço de transporte fluvial, e

não bens de simples uso e consumo, como tem interpretado a administração

tributária estadual. 4. Recurso ordinário provido para reconhecer o direito da

impetrante ao creditamento do ICMS referente aos combustíveis e lubrificantes que

utilizou na prestação do serviço de transporte fluvial.

(STJ, 1ª T., Rel. Min. Benedito Gonçalves, j. 21.09.2010)

A seguir, tem-se novo acórdão, agora da 2ª Turma, em que o STJ reconhece que, para

as empresas de transporte de carga, há o direito ao creditamento em face de insumos. Porém,

essa análise tem que ser denotativa, devendo o insumo integrar e viabilizar o objeto social da

pessoa jurídica. Veja-se:

TRIBUTÁRIO - PROCESSO CIVIL - SUFICIÊNCIA DA PRESTAÇÃO

JURISDICIONAL - JULGAMENTO CITRA PETITA - NÃO-OCORRÊNCIA -

ICMS - CREDITAMENTO - TRANSPORTE DE CARGAS - VEÍCULOS,

PNEUS, LUBRIFICANTES ETC. - POSSIBILIDADE - PRODUÇÃO

PROBATÓRIA - NECESSIDADE DE RETORNO DOS AUTOS À ORIGEM.

[...]3. A partir da vigência da LC 87/96, os produtos intermediários e insumos

imprescindíveis à atividade empresarial do contribuinte ensejam direito de crédito,

em razão do princípio da não-cumulatividade. 4. Hipótese em que o contribuinte

dedica-se à prestação de serviços de transporte de cargas e pretende creditar-se do

imposto recolhido na aquisição de veículos, peças de reposição, combustíveis,

lubrificantes etc., que foram considerados pelo acórdão recorrido como material de

consumo e bens do ativo fixo. 5. Necessidade de retorno dos autos à origem para

verificação de quais insumos efetivamente integram e viabilizam o objeto social da

recorrente. 6. Recurso especial provido. (STJ, 2ª T., REsp 1.090.156/SC, Rel. Min.

Eliana Calmon, j. 10.08.2010)

Aqui, a decisão foi no sentido de que, desde que perícia comprove que os insumos

suscitados pelo contribuinte são efetivamente aplicados e consumidos na atividade social, o

crédito será permitido.

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200

Trata-se de importantíssimo precedente do STJ, na medida em que acaba por atribuir

ao conceito de insumo para as empresas de transporte conotação ampla, no sentido de que,

desde que haja comprovação do consumo ou desgaste do produto adquirido, estar-se-á diante

de direito a crédito do ICMS.

Outra decisão de suma importância foi proferida pela 2ª Turma, ratificando a

existência de jurisprudência firmada naquele Tribunal, no sentido de que somente os insumos

que são efetivamente consumidos no processo de industrialização ou integram o produto final,

permitem o creditamento do imposto.

Trata-se, pois, da integração da definição do conceito de insumo no âmbito do IPI,

para fins de apuração de créditos em face do ICMS. Veja-se:

TRIBUTÁRIO. ICMS. CONTRIBUINTE PRESTADORA DE SERVIÇOS DE

TRANSPORTE. PEÇAS DE VEÍCULOS UTILIZADOS NA ATIVIDADE.

INSUMOS. CREDITAMENTO. ART. 20 DA LC 87/1996. 1. Hipótese em que a

contribuinte pretende creditar-se do ICMS incidente sobre aquisição de mercadorias

que classifica como insumos essenciais para a prestação do serviço, quais sejam

peças para os veículos utilizados no transporte interestadual e intermunicipal. O

Tribunal a quo reconheceu a possibilidade de creditamento apenas em relação a

combustível, lubrificante, pneus, câmaras de ar e material de limpeza, por estarem

previstos expressamente no art. 66, IV, do Regulamento do ICMS mineiro. 2. Antes

da atual LC 87/1996, vigia o Convênio Interestadual ICMS 66/1988, que regulava

nacionalmente o ICMS, com força de lei complementar federal. O art. 31, III, previa

o creditamento relativo aos insumos desde que: a) fossem consumidos no processo

industrial e b) integrassem o produto final na condição de elemento indispensável a

sua composição. 3. Com base nessa legislação, o STJ firmou entendimento de que

somente os insumos que atendessem a essas duas condições (consumidos no

processo e integrantes do produto final) permitiriam o creditamento. 4. Ocorre que a

LC 87/1996 ampliou a possibilidade de creditamento, pois fez referência apenas à

vinculação dos insumos à atividade do estabelecimento, mas não à necessidade de

que eles integrem o produto final (art. 20, § 1º). 5. In casu, o Tribunal de origem

consignou que a perícia realizada em primeira instância aferiu que "determinados

bens sofrem desgaste total no processo ínsito ao objeto social da empresa

contribuinte". Porém, é impossível afirmar ser isso incontroverso, como alega a

contribuinte, já que o Tribunal de Justiça entendeu irrelevante para o deslinde da

demanda, pois "tal fato por si só não altera a classificação legal dos bens e a

limitação ao aproveitamento dos créditos pretendidos". 6. Os autos devem retornar à

origem para que o TJ-MG analise as provas e verifique se os insumos suscitados

pela contribuinte são, efetivamente, aplicados e consumidos na atividade-fim da

empresa. Em caso positivo, deverá reconhecer o direito ao creditamento, nos termos

do art. 20 da LC 87/1996, ainda que esses bens não integrem o produto final

(prestação do serviço de transporte). 7. Quanto ao pedido de correção monetária dos

créditos, não há interesse recursal, pois o Tribunal a quo já reconheceu o pleito da

empresa. 8. Recurso Especial parcialmente provido. (STJ, 2ª T., REsp 1.175.166–

MG, Rel. Min. Herman Benjamin, j. 16.03.2010)

Por fim, o STJ, por intermédio de sua 2ª Turma, denota alguns insumos atinentes à

indústria de papel.

TRIBUTÁRIO. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DECLARATÓRIA. ICMS.

CREDITAMENTO. TELAS, MANTAS E FELTROS EMPREGADOS NA

FABRICAÇÃO DO PAPEL. PRODUTOS CONSUMIDOS NO PROCESSO

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201

PRODUTIVO. NÃO SUJEIÇÃO À LIMITAÇÃO TEMPORAL PREVISTA NO

ART. 33, I, DA LC 87/96. 1. Discute-se neste recurso especial se o creditamento de

ICMS relativo às aquisições de telas, mantas e feltros, empregados na fabricação de

papel, está provisoriamente impedido pela limitação temporal prevista no art. 33, I,

do LC 87/96. 2. Tratando-se de uma exceção de ordem temporal que condiciona o

exercício do direito de creditamento assegurado pelo caput do art. 20 da LC 87/96, a

regra prevista no art. 33, I, dessa mesma lei complementar deve ser interpretada

restritivamente, sob pena de, mediante eventual e indevido entendimento mais

ampliativo, tornar sem efeito as importantes modificações normativas realizadas

pela Lei Kandir. Assim, conforme a literalidade desse dispositivo legal, apenas as

entradas referentes ao uso e consumo do estabelecimento, ou seja, do local que dá

suporte à atividade fim da empresa (art. 11, § 3º, da LC 87/96), têm o direito do

respectivo creditamento protraído, não sendo possível estender essa restrição às

aquisições de mercadorias ou produtos a serem consumidos no processo produtivo.

3. De acordo com o contexto fático probatório delineado pelo Tribunal estadual, as

telas, mantas e feltros são adquiridos pela recorrente para serem integralmente

consumidos no processo de industrialização do papel, viabilizando, assim, a sua

atividade fim. Nesse contexto, verifica-se que tais materiais não se enquadram como

de uso ou de consumo do estabelecimento, mas, como produtos intermediários

imprescindíveis ao processo de fabricação e, por isso, o creditamento

correspondente a essas entradas não está sujeito à postergação de que trata o art. 33,

I, da LC 87/96. 4. Recurso especial provido. (STJ, 1ª T., REsp. 1.366.437–PR, Rel.

Min. Benedito Gonçalves, j. 03.10.2013)

Em suma, o STJ adota o entendimento de que produtos intermediários, tais como

definidos no âmbito do IPI, adequam-se ao conceito de insumo. Além disso, a possibilidade

ou não de creditamento deve ser analisada caso a caso, estando-se diante de verdadeiro

conceito denotativo.

12.1.8 Supremo Tribunal Federal

Encerrando-se a presente análise jurisprudencial informa-se não terem sido localizados

acórdãos do Supremo Tribunal Federal tratando sobre a definição conotativa ou denotativa de

insumo, ativo imobilizado e material de uso e consumo, até por se tratar do foro competente

para tanto.

12.2 Definição dos conceitos de insumo, ativo imobilizado e material de uso e consumo

no âmbito do ICMS

Dado tudo quanto enfrentado até aqui, passa-se à efetiva apresentação do conceito de

insumo, ativo imobilizado e material de uso e consumo.

12.2.1 Insumos

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202

Antes do oferecimento da definição do conceito de insumo para fins de ICMS, cumpre

apresentar histórico da utilização desse conceito elaborado por MOREIRA (2012, p. 193), o

qual, em verdade, ratifica o quanto já afirmado no item 12.1.1, quando se abordou o

tratamento dado à questão por legislação administrativa do Estado de São Paulo.

O vocábulo “insumos” foi utilizado no ordenamento jurídico pátrio, por primeira

vez, no Ato Complementar nº 34/67 (baixado pelo Presidente da República com

base no Ato Institucional n. 2). O AC n. 34/67 assegurava o crédito de ICM sobre os

“insumos necessários à produção” de determinadas mercadorias que gozavam de

isenção. Não aclarava, todavia, o sentido do termo, que foi, ademais, alvo de críticas

por parte de BALEEIRO:

“’Insumos’ (...) é uma algaravia de origem espanhola, inexistente em

português, empregada por alguns economistas para traduzir a expressão

inglesa input, isto é, o conjunto dos fatores produtivos, como matérias-

primas, energia, trabalho, amortização do capital etc., empregados pelo

empresário para produzir o output, ou produto final” (BALEEIRO, Aliomar.

Curso de Direito Tributário Brasileiro, 11ª ed. Atualizado por MISABEL

ABREU MACHADO DERZI. Rio de Janeiro: Forense, 2001, pp. 405-6).

Segundo o autor, não haveria unanimidade quanto ao sentido da locução:

“’Insumos’ são os ingredientes da produção, mas há quem limite a palavra

aos ‘produtos intermediários’ que, não sendo matérias-primas, são

empregados ou se consomem no processo de produção.” (BALEEIRO,

Aliomar. Curso de Direito Tributário Brasileiro, 11ª ed. Atualizado por

MISABEL ABREU MACHADO DERZI. Rio de Janeiro: Forense, 2001, p.

406).

Apesar das críticas, pode-se asseverar que hodiernamente tanto as matérias-primas

como os bens intermediários subsumem-se à definição de insumo, consoante

interpretação predominante no Judiciário.

Como já adiantado, é comum verificar-se que doutrina e jurisprudência se apegam à

doutrina de Aliomar Baleeiro para buscar a definição do quanto seja insumo.

Essa necessidade, também como já explicado, decorre do fato de, posteriormente,

poucos terem sido os trabalhos versando sobre o assunto, principalmente após a edição da

Constituição Federal de 1988, momento em que os serviços de transportes intermunicipal e

interestadual, bem como de comunicação, passaram a integrar a hipótese de incidência do

tributo e a fazer jus à não cumulativa.

Por óbvio, a despeito da importância que teve até o presente momento, tal definição

não mais se sustenta.

Para se encontrar a definição do conceito de insumo, há que se voltar aos termos do

caput e do § 3º do art. 20, bem como ao art. 21, III, da Lei Complementar 87/96.

Segundo a legislação, além de ser assegurado ao sujeito passivo creditar-se do imposto

que onerou as entradas de mercadorias no estabelecimento, inclusive a destinadas ao ativo

imobilizado e ao uso e consumo, bem como os serviços de transporte interestadual e

intermunicipal ou de comunicação tomados pelo contribuinte, há previsão expressa de que,

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203

dentre essas mercadorias, encontram-se aquelas destinadas à integração ou consumo em

processo de industrialização ou produção rural.

Veja-se, que a Lei Complementar traz para o âmago da legislação do ICMS, elementos

atinentes ao IPI, quais sejam, as noções de matéria prima e de produto intermediário,

conjuntamente denominados insumos, conforme já enfrentado quando do estudo daquele

tributo federal.

Portanto, a despeito de a legislação do ICMS não falar especificamente em “insumos”,

acaba por absorver tal conceito justamente ao fazer referência à “integração ou consumo em

processo de industrialização”.

Além disso, a legislação complementar afirmou que o creditamento pode ser realizado

desde que a mercadoria seja utilizada em fim atinente à atividade do estabelecimento.

Porém, após a Constituição Federal, mais do que a realização de operações com

mercadorias, inclusive de energia elétrica, também passou a ser hipótese de incidência do

ICMS a prestação de serviços de transporte intermunicipal e interestadual e de comunicação.

Em decorrência, e visando a se dar efetividade à não cumulatividade, há que se

ampliar o espectro dos conceitos de insumo e de produtos intermediários para o âmbito da

prestação dos serviços, assim entendidos aqueles bens que, sendo utilizados para a prestação

de serviço de transporte intermunicipal e interestadual e de comunicação, se consomem na

prestação.

Para que seja visualizada a clara diferença quanto ao direito ao crédito por aquisição

de insumos para a produção e para a prestação de serviço, é necessário estabelecer uma

comparação entre um estabelecimento industrial e outro prestador de serviços.

De acordo com as normas já analisadas, no estabelecimento industrial, todos os

insumos (matéria-prima, materiais intermediários e de embalagem) geram direito ao crédito,

ainda que não integrem o produto final, bastando para isso que concorram direta e

necessariamente para o produto já que, utilizado no processo de fabricação, nele se consome.

Essa, inclusive, é colaboração trazida da legislação do IPI, tributo igualmente

submetido à não cumulatividade e que define insumo como sinônimo de matéria prima,

produto intermediário e material de embalagem, adquiridos para emprego no processo de

industrialização, incluindo-se, entre as matérias primas e produtos intermediários, aqueles

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204

que, mesmo não integrando o novo produto, forem consumidos e/ou desgastados no processo

de industrialização.167

Por sua vez, o prestador de serviço de transporte intermunicipal e interestadual, por

exemplo, tem como produto final a própria prestação de serviço. Esta é totalmente

regulamentada por leis federais, por normas da Agência Nacional de Transportes Terrestres –

ANTT e demais órgãos de cada Estado, estabelecendo obrigações à empresa prestadora.

Primeiramente, tem-se que os veículos devem estar em boa condição de uso,

inspecionados, higienizados etc.

Veja-se o que dispõe o Decreto 2.521, de 20 de março de 1998, que versa sobre a

exploração, mediante permissão e autorização, de serviços de transporte rodoviário

interestadual e internacional de passageiros:

Art. 34. Incumbe à transportadora: (...)

VI - zelar pela manutenção dos bens utilizados na prestação do serviço; (...)

Art. 56. Na execução dos serviços serão utilizados ônibus que atendam as

especificações constantes do edital e do contrato.

§ 1º A empresa transportadora é responsável pela segurança da operação e pela

adequada manutenção, conservação e preservação das características técnicas dos

veículos.

§ 2º É facultado ao órgão fiscalizador, sempre que julgar conveniente, e observado o

disposto na legislação de trânsito, efetuar vistorias nos veículos, podendo, neste

caso, determinar a suspensão de tráfego dos que não atenderem as condições de

segurança, de conforto e de higiene, sem prejuízo da aplicação das penalidades

previstas nos respectivos contratos.

§ 3º O veículo só poderá circular equipado com registrador gráfico ou equipamento

similar e portando os documentos exigidos na legislação de trânsito, os formulários

para registro das reclamações de danos ou extravio de bagagem, bem assim ter

afixado, em local visível e de fácil acesso o quadro de preços das passagens e a

relação dos telefones dos órgãos de fiscalização.

§ 4º A transportadora manterá o registrador gráfico ou equipamento similar em

perfeito estado de funcionamento e, por período mínimo de noventa dias, os

correspondentes registros, apresentando-os à fiscalização sempre que solicitada.

(...)

Art. 84. A penalidade de retenção do veículo será aplicada, sem prejuízo da multa

cabível, toda vez que, da prática de infração, resulte ameaça à segurança dos

passageiros e, ainda, quando: (...)

II - o veículo não apresentar as condições de segurança, limpeza e conforto exigidas;

(...)

A Resolução da Agência Nacional de Transporte Terrestre (ANTT) 233168

, de 2 de

junho de 2003, determina penalidades ao prestador de serviço de transporte interestadual que

não cumpre tais exigências:

167

Vide art. 147 do Regulamento do IPI. BRASIL. Decreto 2.637, 25.06.1998. Disponível em: <

http://www.receita.fazenda.gov.br/legislacao/Decretos/Ant2001/Ant1999/decreto2637/default.htm>. Acesso em:

23 jan. 2015.

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205

Art. 1º Constituem infrações aos serviços de transporte rodoviário de passageiros sob a modalidade interestadual e internacional, sem prejuízo de sanções por

infrações às normas legais, regulamentares e contratuais não previstas na presente

Resolução, os seguintes procedimentos, classificados em Grupos conforme a

natureza da infração, passíveis de aplicação de multa, que será calculada tendo como

referência o coeficiente tarifário - CT vigente para o serviço convencional com

sanitário, em piso pavimentado.

I - multa de 10.000 vezes o coeficiente tarifário: (...)

k) trafegar com veículo em serviço, apresentando defeito em equipamento

obrigatório; (...)

II - multa de 20.000 vezes o coeficiente tarifário: (...)

i) trafegar com veículo em serviço, sem equipamento obrigatório;

(destaque nosso)

As exigências das Agências Regulatórias vão desde as regras de limpeza dos veículos,

no caso de transporte de passageiros, até a obrigatoriedade de serem fornecidos aos

passageiros, a depender da modalidade de viagem disponibilizada, itens como travesseiro,

água etc.

Afora isso, tem-se o fato de que, a despeito de o veículo se tratar de ativo imobilizado,

há partes e peças que são efetivamente desgastadas na prestação de serviços.

Ora, prestadores de serviço não vendem mercadorias; apesar disso, a legislação

complementar garante aos prestadores de serviço [e aqui é analisado o serviço de transporte,

dada premissa adotada no início do trabalho] o direito de tomada de crédito do ICMS em face

também da aquisição de mercadorias.

E que mercadorias seriam essas que ensejariam crédito quando da sua aquisição por

prestadores de serviços?

A resposta é: além dos bens a serem destinados ao ativo imobilizado, objeto do

próximo item, dão direito a crédito a aquisição daquelas mercadorias essências para a

prestação de serviços, a saber, itens exigidos por lei [veja-se que não se está diante de uma

opção, mas da obrigação de sua aquisição], e bens e produtos, partes e peças, que se

desgastam, de forma direta, quando da prestação dos serviços de transporte.

Não fosse assim, prestadores de serviço estariam excluídos do regime não cumulativo

pelo menos no que tange à aquisição de mercadorias.

168

BRASIL. Resolução da Agência Nacional de Transporte Terrestre (ANTT) 233, de 02.06.2003. Disponível

em: <

http://www.google.com.br/url?sa=t&rct=j&q=&esrc=s&source=web&cd=1&ved=0CC4QFjAA&url=http%3A

%2F%2Fwww.antt.gov.br%2Fhtml%2Fobjects%2F_downloadblob.php%3Fcod_blob%3D5623&ei=u1XCVIGZ

JIObNojQgYAP&usg=AFQjCNECPc42C1MvU5Fwesd9kgq1NPmCAw&sig2=dlEJpfF2M7Xa11T-Np9CoQ>.

Acesso em: 23 jan. 2015.

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206

Continuando-se o raciocínio, e de acordo com Constituição Federal e, ainda, com a Lei

Complementar 87/96, dentre as mercadorias que são consideradas insumos e geram créditos,

há menção expressa à energia elétrica.

Nesse sentido, e dado o momento do trabalho, reitera-se o quanto escrito no item 8.1:

Não há dúvida que a lei complementar considera a energia elétrica como insumo.

Tanto assim que permite seu creditamento, ainda que parcialmente [e totalmente,

enquanto da vigência do art. 33 em sua redação original dada pela Lei

Complementar 87/96].

Além disso, a exclui do conceito de mercadoria destinada ao uso e consumo, já que

dedica inciso exclusivo para esta categoria de mercadoria (art. 33, I), enquanto versa

sobre o creditamento de energia elétrica em inciso próprio (art. 33, II).

A Constituição Federal, por sua vez, não traz qualquer limitação à não

cumulatividade em face da aquisição de mercadorias que se caracterizem como

crédito físico, ou seja, mercadoria ou serviço que se integrado ou consumido no

processo de industrialização ou produção rural.

E veja-se: foi a Constituição Federal e não a Lei Complementar que alçou a energia

elétrica à categoria de mercadoria, uma vez que determinou estar ela submetida à

tributação pelo ICMS.

O mesmo se aplica com relação aos serviços de comunicação contratados, aos quais se

aplica o quanto acima transcrito em face da energia elétrica.

Veja-se: a legislação complementar, ainda que de modo não expresso ou direto, trata como insumo as matérias

primas, os produtos intermediários, as mercadorias adquiridas pelos prestadores de serviços e

essenciais ao desenvolvimento de sua atividade, bem como a energia elétrica.

Desse conjunto de informações, a definição do conceito de insumo para fins de ICMS

que se propõe é:

todo (a) bem ou produto adquirido pela pessoa jurídica, indústria, comercial,

produtora ou prestadora dos serviços abarcados pela hipótese de incidência do

ICMS, inclusive energia elétrica, que seja total ou parcialmente integrado ao

produto final, ou consumido na prestação de serviço, ou que, tendo contato direito

com o produto industrializado ou com o equipamento ou veículo por intermédio do

qual os serviços são prestados, sejam essenciais para o atingimento do objetivo

social da pessoa jurídica - processo de industrialização ou prestação de serviço -,

ensejando o seu consumo ou desgaste no processo produtivo ou na prestação, assim

entendido o consumo, queima, desgaste, desbaste, dano, perda ou qualquer espécie

de deterioração total ou parcial, incluindo-se nessa classe, inclusive, partes e peças

de bens do ativo imobilizado que, tendo contato direto com o produto ou como o

equipamento ou veículo por intermédio qual o serviço é prestado, se desgastem

durante o processo produtivo ou prestação de serviço, ensejando sua substituição

periódica; e (b) serviço de transporte intermunicipal e interestadual ou de

comunicação tomado pela pessoa jurídica, necessário ao desenvolvimento do objeto

social da pessoa jurídica e atinente à atividade do estabelecimento.

Tal como afirmado em face do IPI, dado o fato de não haver alusão na legislação do

ICMS a informação atinente sobre qual seria o prazo adequado para a substituição periódica

de partes e peças consumidas ou desgastadas no processo industrial ou na prestação de

serviços, para que sejam consideradas insumos e não bens do ativo imobilizado, pode-se

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“emprestar-se” do Imposto de Renda a previsão de que será considerado bem do ativo

imobilizado aquele que tenham vida útil maior que 1 (ano), sendo que produtos intermediários

que devem ser substituídos em prazo inferior a 1 (um) ano se enquadrariam no conceito de

insumo. Tratar-se-ia de uma forma de, integrando-se definições de conceitos, mediante

análise sistêmica dos tributos que tenham o insumo como elemento essencial, trazer-se

segurança jurídica às partes envolvidas na relação tributária.

De qualquer forma, a partir da definição conotativa de insumo para fins de ICMS que

se propõe, há que se analisar, caso a caso, a adequação de cada mercadoria ou serviço à classe

dos insumos que geram direito ao crédito.

12.2.2 Ativo imobilizado

Após a análise de tudo quanto exposto ao longo do trabalho, a definição do conceito

de ativo imobilizado que se propõe é:

Conjunto de bens móveis de propriedade da pessoa jurídica, inclusive ferramentas,

necessários ao desenvolvimento do objeto social e atinentes à atividade do

estabelecimento.

Aqui também pode-se “emprestar” do Imposto de Renda a previsão de que será

considerado bem do ativo imobilizado aquele que tenha vida útil maior que 1 (ano), sendo que

produtos intermediários que devem ser substituídos em prazo inferior a 1 (um) ano se

enquadrariam no conceito de insumo.

Repita-se: tratar-se-ia de uma forma de, integrando-se definições de conceitos,

mediante análise sistêmica dos tributos que tenham o insumo como elemento essencial, trazer-

se segurança jurídica às partes envolvidas na relação tributária.

12.2.3 Material de uso e consumo

Após a análise de tudo quanto exposto ao longo do trabalho, a definição do conceito

de material de uso e consumo que se propõe é:

Por exclusão, as mercadorias que, não se enquadrando no conceito de insumo ou de

ativo imobilizado, não são essenciais ao desenvolvimento específico do objeto social

da sociedade, ou seja, o material que não é utilizado na produção, industrialização,

comercialização ou prestação de serviço, sendo, porém consumidos no

desenvolvimento da atividade do estabelecimento do contribuinte.

Não há dúvidas que os conceitos acima apresentados, em face de várias situações

práticas, poderão ainda ser considerados eivados de vaguidade, porém, ampliam o âmbito de

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bens e serviços que, numa conceituação denotativa, podem ser mais bem adequados a cada

uma das categorias apresentadas.

12.3 Sugestões para alterações legislativas visando à uniformização da definição dos

conceitos

Frente a tudo quanto foi exposto, constata-se que, ao se falar de insumo, ativo

imobilizado e ativo imobilizado, está-se diante de conceitos extremamente vagos, sendo que a

intenção deste trabalho foi justamente minimizar esse ruído de comunicação por intermédio

do oferecimento de definições.

Fato é que, tal como premissas adotadas no trabalho, o processo de interpretação da

norma jurídica passa pela análise dos comandos prescritivos pelo intérprete que, sem dúvida

alguma, é impregnada por seus valores pessoais e pelas influências advindas do meio,

inclusive as acadêmicas, doutrinárias e até mesmo profissionais.

A apresentação das definições dos conceitos aqui analisados poderá ter minimizado a

vaguidade que os permeia para a Autora, e, talvez, para aqueles que venham a ler o trabalho.

Porém, não há que se ter qualquer pretensão sobre o fim das divergências.

Está-se diante de um tributo incidente em todo o país, com dimensão continental e

com níveis culturais extremamente diversificados, sendo que, via de regra, os entes políticos,

mais do que aplicar as leis, põem a intenção arrecadatória acima de qualquer outro interesse

republicano.

Nesse contexto, e tal como explorado, contribuintes continuarão a tomar créditos

fiscais indevidos, ensejando autuações fiscais; os fiscos estaduais continuarão a desconsiderar

os créditos apropriados pelos contribuintes, ainda que corretos. Continuará a haver

enriquecimento ilícito de ambas as partes, com a necessidade de acionamento do Poder

Judiciário a todo instante.

Veja-se que, conforme demonstrado no item 12.1, acima, sequer o Poder Judiciário

tem caminhado para consolidar a jurisprudência, de forma a se alentar tais divergências.

Somos da opinião que as leis, como regra, não se prestam a definir conceitos. Na

verdade, a partir dos conceitos vigentes no ordenamento jurídico é que são produzidas as leis.

Porém, dado o quadro caótico aqui narrado e as dimensões do imposto estudado,

somos da opinião que a matéria exige a edição de uma legislação mais clara que, ainda que

não apresente definições conotativas ou denotativas como aqui tratadas, traga ao menos os

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209

elementos que diferenciem os conceitos de insumo, ativo imobilizado e material de uso e

consumo no âmbito do ICMS, a fim de que não sejam confundidos com aqueles atinentes aos

demais tributos que se valem do mesmo conceito, mas que denotam características distintas

dado o contexto em que foram instituídos e são interpretados.

Nesse sentido, a sugestão que aqui se apresenta é, com fulcro no Lei Complementar

95/1998 e no art. no 155, § 2º, XII da Constituição Federal, ser editada lei complementar,

ainda que alterando a vigente Lei Complementar 87/96, visando a diminuir a obscuridade que

permeia o assunto.

Conforme exposto no item 5.2.1 do presente trabalho, o processo legislativo brasileiro

foi tratado pelo art. 59 da Constituição Federal, que prevê:

Art. 59. O processo legislativo compreende a elaboração de:

(...)

II - leis complementares;

Parágrafo único. Lei complementar disporá sobre a elaboração, redação, alteração e

consolidação das leis. (grifo nosso)

Dando azo ao quanto previsto no parágrafo único do art. 59, foi inserida no

ordenamento jurídico a Lei Complementar 95/98, que dispõe sobre a elaboração, a redação, a

alteração e a consolidação das leis.

O papel de referida Lei Complementar foi esclarecido por TAVARES (2001, P. 20):

Trata-se de um diploma legal com status de uma norma estruturante do sistema

jurídico positivo, que tem por escopo o importante papel de: (I) descrever

pormenorizadamente os requisitos da produção legislativa; e (II) servir como

instrumento normativo da aferição da válida e regular instauração do processo

legislativo, a partir do momento em que define os pressupostos e condições

indispensáveis à plena irradiação dos efeitos da velha máxima lex posterius derrogat

priori.

De referida lei, destaca-se o seguinte artigo:

Art. 11. As disposições normativas serão redigidas com clareza, precisão e ordem

lógica, observadas, para esse propósito, as seguintes normas:

I - para a obtenção de clareza:

a) usar as palavras e as expressões em seu sentido comum, salvo quando a norma

versar sobre assunto técnico, hipótese em que se empregará a nomenclatura própria

da área em que se esteja legislando; (...)

II - para a obtenção de precisão:

a) articular a linguagem, técnica ou comum, de modo a ensejar perfeita compreensão

do objetivo da lei e a permitir que seu texto evidencie com clareza o conteúdo e o

alcance que o legislador pretende dar à norma;

Veja-se que, toda e qualquer norma jurídica editada no Brasil após a publicação da Lei

Complementar 95/98 deveria, sob pena de nulidade, seguir os seus exatos comandos.

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Nesse sentido, é obrigação do legislador redigir as disposições normativas com

clareza, precisão, sendo que o art. 11, II é contundente ao determinar que, para a obtenção da

precisão do comando prescritivo a ser inserido no ordenamento jurídico, é necessário

“articular a linguagem, técnica ou comum, de modo a ensejar perfeita compreensão do

objetivo da lei e a permitir que seu texto evidencie com clareza o conteúdo e o alcance que o

legislador pretende dar à norma”.

Ora, exemplificativamente, o conceito de insumo denota objetos diferentes em face

dos 4 (quatro) tributos sujeitos à não cumulatividade no Brasil. Nesse sentido, parece óbvio

que é papel do legislador precisar o sentido do termo para que se acabe com a insegurança

jurídica.

Repíta-se, não se está propondo que, em face de toda e qualquer lei tributária, sejam

apresentadas definições de conceitos, mas que, em face de situações extremas, como a que se

dá em face do ICMS [para não se falar em situação tão grave como é a da legislação atinente à

contribuição ao PIS e à COFINS não cumulativas], busque-se um mínimo de clareza.

Nesse caso, o instrumento legislativo a ser editado, sob os desígnios da Lei

Complementar 97/96 é, com fundamento no art. no 155, § 2º, XII da Constituição Federal,

uma lei complementar, dado caber a tal espécie normativa disciplinar o regime de

compensação do ICMS.

Caso não seja adotada tal postura, e dada a convivência entre legislações de 26

Estados, afora o Distrito Federal, afora a vaga Lei Complementar 97/96, não há como se ter

esperanças de que a caótica situação hoje reinante venha a ser minimizada.

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211

CONCLUSÕES

Objetivou-se com o presente trabalho a apresentação, sob a ordem eminentemente

jurídica, da definição dos conceitos de insumo, ativo imobilizado e material de uso e consumo

no âmbito do ICMS, elementos essenciais para se dar efetividade à não cumulatividade.

A busca por esse fim implicou a verificação do quanto abaixo descrito.

1 A norma jurídica é a compreensão que o intérprete capta dos enunciados

prescritivos, sendo subdivididas em regras e princípios, prestando-se aquelas a estabelecer

obrigações, permissões e proibições, e estes a nortear a instituição, a interpretação e a

aplicação das regras prescritivas de Direito.

2 A interpretação, objeto da hermenêutica, consiste em identificar o alcance da norma,

processo que é impregnado pela carga valorativa do intérprete, sendo que a utilização de

métodos de interpretação tem o papel de minimizar tal valoração Para os fins do presente

trabalho, o método de interpretação eleito foi o sistemático.

2.1 Conceito é a ideia do termo (suporte físico), a significação que permite a

identificação de uma forma de seu uso dentro do contexto comunicacional de uma sociedade;

trata-se de um critério de classificação e diferenciação dos objetos, que identifica a forma de

uso do termo. Já definição é a determinação clara e precisa de um conceito ou objeto; é a

explicação de um conceito, a expressão do conteúdo.

2.1.1 A definição conotativa apresenta os requisitos que que devem ser cumpridos para

um objeto estar incluído na classe representada pelo termo; já a definição denotativa equivale

ao conjunto de todos os elementos que cabem em um termo.

2.1.2 Ambiguidade e vaguidade são ruídos de comunicação. Ambíguo é o termo que

apresenta duplo sentido, que contém mais de um significado. Vago é o termo ao qual falta

precisão ao seu significado, não se podendo determinar quais objetos são abrangidos por seu

conceito, sendo o ruído comunicacional afastado por intermédio do processo de elucidação

2.1.3 Texto é instância material, expresso em marcas de tinta sobre o papel; contexto é

o conjunto dos elementos que condicionam o significado do texto, não havendo texto sem

contexto, sendo este essencial para a legitimação da definição de termos presentes em um

texto.

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212

2.1.4 A busca pela definição dos conceitos passa pela análise dos textos jurídicos, do

contexto que os envolve, e por sua intertextualidade com os trabalhos doutrinários e com as

decisões administrativas e judiciais proferidas sobre a matéria.

2.5 O art. 110 do CTN é regra de estrutura que veda ao legislador infraconstitucional

modificar os conceitos inerentes aos demais ramos do Direito quando da inserção no

ordenamento jurídico de leis atinentes ao exercício da competência tributária para a

instituição de tributos, não sendo vedado à lei tributária, pois, modificar conceito de direito

privado ou de outros ramos do direito em outras circunstâncias.

3 O Direito Positivo é um sistema ordenado de normas de comportamento e de

estrutura, que se relacionam entre sim, objeto de análise da Ciência do Direito.

4 No sistema jurídico nacional estão presentes subsistemas construídos a partir de

conceitos aglutinantes próprios, entre eles o subsistema constitucional tributário, que é

formado por princípios e regras constitucionais que regem o exercício da tributação, tendo no

topo de sua estrutura a Constituição Federal.

4.1 O fato de o Brasil ser uma República influencia a instituição e a exigência de

tributos, bem como gera naqueles que sob ela vivem, a necessidade de buscar na Constituição

Federal a verificação da validade da exigência que lhe é imposta, na medida em que o

princípio republicano é desdobrado ao longo do texto constitucional.

4.2 A República Federativa do Brasil é formada pela união indissolúvel entre Estados,

Distrito Federal, não havendo que se falar em hierarquia entre eles ou mesmo com a União,

sendo que sua autonomia financeira é garantida por intermédio dos tributos, cuja competência

para instituição foi outorgada pela Constituição Federal.

4.3 A competência tributária é a outorga constitucional para que União, Estados,

Distrito Federal e Municípios instituam tributos, visando a sustentar a autonomia existente

entre os entes políticos, devendo ser exercida de acordo com os estritos termos da

Constituição Federal.

5 As normas jurídicas são juízos hipotéticos compostos de dois elementos, sendo que,

no caso das normas tributárias, na hipótese, ou descritor, haverá um comportamento (critério

material), condicionado no tempo (critério temporal) e no espaço (critério espacial). Já no

consequente, ou prescritor, encontrar-se-ão os sujeitos envolvidos na relação, denominados

sujeitos ativo e passivo (critério pessoal), a base de cálculo e a alíquota (critério quantitativo),

necessárias para a quantificação da obrigação estabelecida entre tais sujeitos. Essa estrutura é

denominada regra matriz de incidência tributária ou norma padrão de incidência tributária.

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5.1 A estruturação da regra matriz de incidência se aplica, por óbvio, aos impostos

atinentes ao ICMS, a saber, (a) imposto que tem como hipótese de incidência a realização de

operações relativas à circulação de mercadorias, ainda que as operações iniciem-se no

exterior, incluindo nesse rol as operações com energia elétrica, derivados de petróleo,

combustíveis e minerais; e (b) a que prevê como hipótese de incidência prestações de serviços

de duas espécies, quais sejam, (b.1) de transporte interestadual e intermunicipal, ainda que as

prestações iniciem-se no exterior; e (b.2) de comunicação, ainda que as prestações iniciem-se

no exterior.

5.2 Não cabe à lei complementar inovar o sistema jurídico, alterando as regras

matrizes de incidência possíveis impostas constitucionalmente, sendo necessária e exigida sua

instituição para fins de dispor sobre conflitos de competência em matéria tributária e regular

as limitações constitucionais ao poder de tributar. Porém, não parece destoante a previsão de

que haja um aprimoramento, uma complementação por lei complementar do quanto contido

na Constituição Federal.

6 A não cumulatividade no âmbito do ICMS está prevista no inciso I do art. 155 da

Constituição Federal.

6.1 O ICMS é chamado de imposto indireto pelo fato de ser o consumidor final,

denominado “contribuinte de fato”, aquele a arcar com a carga total do imposto destacado em

nota fiscal. À tal situação têm sido aplicados os termos do art. 166 do CTN. Referido artigo,

porém, é inconstitucional, na medida em que traz para o processo, administrativo ou judicial,

terceiro estranho à relação jurídico tributária, que se dá entre o fisco e o contribuinte “de

direito” do imposto.

6.2 Tributo não cumulativo, como regra, é aquele que incide em uma cadeia de

produção, e cujo ônus independe do número de operações que componham a cadeia

produtiva, de tal forma que o imposto apurado em cada operação ou prestação torna-se um

crédito do contribuinte, a ser abatido do valor do imposto a ser recolhido nas etapas

subsequentes. Tal sistemática se aplica, atualmente ao ICMS e ao IPI. A despeito de a

contribuição ao PIS e a COFINS serem tributos igualmente não cumulativos, a não

cumulatividade se dá de maneira distinta, na medida em que, as contribuições incidentes sobre

a receita das pessoas jurídicas têm o abatimento vinculado à tomada de créditos calculados

sobre despesas realizadas pela pessoa jurídica.

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6.3 O ICMS é um tributo não cumulativo e plurifásico, permitindo-se o abatimento

dos valores anteriormente arcados pelo mesmo contribuinte e cujo ônus financeiro independe

do número de operações por ele gravadas ao longo da cadeia produtiva.

6.3.1 A não cumulatividade tem operatividade em momento posterior à configuração

do nascimento do crédito tributário; é levada a efeito após a ocorrência do fato jurídico

tributário, havendo duas relações jurídicas distintas envolvidas na não cumulatividade. A

primeira diz respeito ao imposto devido pelo contribuinte que efetua operação mercantil ou a

prestação de serviços (crédito tributário). Já a segunda relação jurídica está atrelada ao fato de

o mesmo contribuinte ter o direito de se creditar do ICMS referente à mercadoria adquirida ou

do serviço tomado de outro contribuinte, abatendo-o do valor devido em face de suas

operações próprias (crédito fiscal). A possibilidade de encontro de contas, entre o crédito

tributário e o crédito fiscal, não está prevista na regra matriz de incidência tributária do ICMS,

mas sim na norma de compensação.

6.3.2 A determinação constitucional segundo a qual deverá existir a compensação do

que “for devido em cada operação relativa à circulação de mercadorias ou prestação de

serviços com o montante cobrado nas anteriores” deve pautar-se no sentido da existência de

uma anterior operação, ou prestação, sendo irrelevante exigir ato de cobrança, ou prova da

extinção da obrigação. Basta que tenha havido a incidência tributária nas operações

anteriores.

6.4 A não cumulatividade não é um princípio constitucional, mas uma regra, posto que

não denota valor, não possui forte conteúdo axiológico, tendo o legislador constituinte tido a

opção de limitar a formatação do ICMS à prescrição da norma de incidência tributária, sem

alusão ao direito de compensação do crédito fiscal.

6.5 Há necessidade de edição de lei complementar para que seja definida a forma pela

qual dar-se-á o encontro entre crédito tributário e crédito escritural, dada a premissa de que a

Constituição, ao prever o “abatimento”, está apenas instruindo o legislador infraconstitucional

sobre os requisitos mínimos a serem adotados para impedir-se a cumulatividade do ICMS. O

comando constitucional é uma regra que prevê caber à lei complementar disciplinar o regime

de compensação do tributo.

6.6 O crédito fiscal não é oponível contra o fisco como moeda corrente nacional.

Trata-se, pois, de crédito escritural com o único fim de ser utilizado para fins de abatimento

do montante apurado como crédito tributário.

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6.7 O crédito fiscal previsto constitucionalmente é físico, ou seja, dão direito a crédito

do ICMS exclusivamente as operações de aquisição de mercadorias e a contratação de

serviços que, de alguma forma, serão objeto de saída tributada subsequente. Qualquer

ampliação desse contexto [como de fato se deu por intermédio da Lei Complementar 87/96 e

alterações subsequentes] caracteriza-se como concessão feita pelo legislador

infraconstitucional.

7 Com a edição da Constituição Federal, o ICMS passou a abarcar, além das operações

de circulação de mercadorias (ICM), a prestação de serviços de transporte intermunicipal e

interestadual e de comunicação (“S”). O Decreto-Lei 406/68 foi recepcionado pela

Constituição Federal, tendo sido substituído pelo Convênio 66/88, até a entrada em vigor da

Lei Complementar 87/96, que sofreu sensíveis alterações ao logo do tempo, principalmente

no que tange ao direito de creditamento do imposto em face da aquisição de bens destinados

ao ativo imobilizado, ao uso e consumo, de energia elétrica e da contratação de serviços de

comunicação.

8 Dado o entendimento de que a Constituição Federal permite, como regra, a

percepção apenas de créditos físicos para fins de se dar azo à não cumulatividade, o fato de o

creditamento quanto aos bens destinados ao ativo imobilizado ser postergado para ser tomado

ao longo de 48 (quarenta e oito) meses após sua aquisição ou o creditamento do ICMS sobre a

aquisição de materiais de uso e consumo ser possível apenas a partir do ano de 2020, não se

caracteriza inconstitucionalidade da Lei Complementar 87/96.

8.1 A regra geral com relação ao direito de apropriação de créditos fiscais com relação

aos insumos está prevista no art. 19, 20, caput, e §3º. I e 21, II da Lei Complementar 87/96.

Ao determinar-se que “é vedado o crédito relativo a mercadoria entrada no estabelecimento

ou a prestação de serviços a ela feita para integração ou consumo em processo de

industrialização ou produção rural, quando a saída do produto resultante não for tributada ou

estiver isenta do imposto”, acaba por ratificar a possibilidade de crédito relativo a mercadoria

entrada no estabelecimento ou a prestação de serviços para integração ou consumo em

processo de industrialização ou produção rural, estando-se, pois, diante de insumos. O art. 33,

incisos II e IV, da Lei Complementar 87/96, em sua atual redação, padece de vício de

inconstitucionalidade ao não permitir o amplo creditamento, pelos estabelecimentos, do ICMS

incidente na aquisição de energia elétrica e no recebimento de serviços de comunicação, dado

tratarem-se de insumos.

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8.2 Inexistem inconstitucionalidades em face das restrições ao crédito de ICMS diante

da aquisição de bens do ativo imobilizado, sendo válidas as regras atinentes ao creditamento

do ICMS impostas pelo § 5º do art. 20 da Lei Complementar 87/96,

8.3 Com relação aos bens destinados ao uso e consumo, a despeito de o caput do art.

20 da Lei Complementar 87/96 ter assegurado, ao sujeito passivo do ICMS, o creditamento do

imposto anteriormente cobrado em operações anteriores atinentes à aquisição de mercadorias

ou recebimento de serviços, inclusive a destinada ao seu uso e consumo, o inc. I do art. 33 da

mesma lei, com a redação que lhe foi dada pela Lei Complementar 138/2010, determinou que,

“somente darão direito de crédito as mercadorias destinadas ao uso ou consumo do

estabelecimento nele entradas a partir de 1º de janeiro de 2020”. Dado não existir

determinação constitucional de aproveitamento de crédito financeiro, o creditamento do

ICMS incidente nas operações voltadas à aquisição de mercadorias destinadas ao uso e

consumo não é um direito do contribuinte, tendo sido permitido justamente por intermédio da

Lei Complemente 87/96, não sendo, pois, inconstitucionais as limitações temporais de

creditamento.

9. A depender se uma mercadoria é classificada como insumo, ativo imobilizado ou

material de uso e consumo, as consequências fiscais e financeiras para a empresa adquirente

são diferentes, podendo a incorreta classificação das mercadorias nessas 3 (três) classes

implicar recolhimento a maior ou a menor de tributos.

9.1. Analisadas, a título exemplificativo, as legislações dos Estados de São Paulo, Rio

de Janeiro, Minas Gerais, Espírito Santo, Bahia e Paraná, constata-se que não há qualquer

uniformidade na denotação do conceito de insumo, o que, por óbvio, traz insegurança jurídica

aos contribuintes e prejuízos aos próprios Estados.

9.2 Guerra fiscal, em suma, consiste na concessão, pelos Estados, de incentivos fiscais

em descumprimento às regras previstas na Constituição Federal e na Lei Complementar

24/75, com o intuito de atrair investimentos de contribuintes que optam por se beneficiar

desses incentivos, gerando reação por parte dos demais Estados, consistente na glosa de

créditos dos adquirentes das mercadorias incentivas, lavratura de autos de infração e

propositura de ação direta de inconstitucionalidade, dentre outros. Um Estado chamar de

insumo o que não é insumo, ou de ativo imobilizado aquilo que é material de uso e consumo,

exemplificativamente, com certeza, aumenta o creditamento do ICMS do adquirente da

mercadoria, diminuindo-se, pois, o valor do imposto a recolher, sendo que, tal prática, adotada

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em larga escala, pode implicar benefício fiscal tão significativo quanto a concessão de outros

incentivos mais comuns, tais como a concessão de crédito presumido ou outorgado.

9.3 A interpretação restritiva da legislação de regência do ICMS tem acarretado a

negativa de vigência ao princípio da não cumulatividade e a exigência de tributo a maior dos

contribuintes, tal como se dá com Estados, ao negarem o direito de creditamento da parcela de

1/48 mensais sobre o pagamento de diferencial de alíquota devido pelos contribuintes

estabelecidos em referidos Estados quando da aquisição de bens destinados ao seu ativo

imobilizado, procedimento que fere a Constituição Federal e a Lei Complementar 87/96.

10 Tendo em vista que, ao se falar em insumo, ativo imobilizado e material para o uso

e consumo não se está diante de definição de competência tributária, ao legislador tributário

não é vedado atribuir a esses conceitos definições próprias, que não guardem exata correlação

com o Direito Privado ou com os outros ramos do Direito. Porém, dada a intertextualidade

que permeia a interpretação do Direito, busca-se, a priori, eventuais pontos de contato com

outras materialidades tributárias e com o Direito Societário.

10.1 No âmbito do Direito Societário, a definição do conceito de ativo imobilizado é:

o conjunto de bens destinados à manutenção das atividades da pessoa jurídica, bem como os

bens decorrentes de operações que transfiram à companhia os benefícios, riscos e controle

desses bens, ainda que pertencentes a terceiros.

10.2 No Direito Tributário brasileiro, 4 (quatro) são os tributos sujeitos à não

cumulatividade, a saber, o ICMS, o IPI, a contribuição ao PIS e a COFINS, os quais têm em

comum o fato de ter o insumo como cerne desse regime de apuração.

10.2.1 A despeito de o Imposto sobre a Renda das Pessoas Jurídicas (IRPJ) não ser um

tributo não cumulativo, o conceito de insumo está inserido na sua apuração. A definição do

conceito de insumo, para fins de apuração do IRPJ apurado sob a modalidade do lucro real: é

todo e qualquer custo ou despesa que tenha relação com a atividade operacional da pessoa

jurídica. Já a definição do conceito de ativo imobilizado no âmbito do IRPJ é: o conjunto de

bens destinados à manutenção das atividades da pessoa jurídica, bem como os bens

decorrentes de operações que transfiram à companhia os benefícios, riscos e controle desses

bens, ainda que pertencentes a terceiros, desde que tenham vida útil superior a um ano.

10.2.2 A definição do conceito de insumo para fins de IPI é: todo bem ou produto que,

adquirido pelo industrial, matéria prima ou produto intermediário, seja total ou parcialmente

integrado ao produto final, ou que, tendo contato direito com o produto industrializado, seja

essencial para o processo de industrialização, ensejando o seu desgaste no processo

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produtivo, assim entendido o desgaste, desbaste, dano, perda ou qualquer espécie de

deterioração, ainda que química, total ou parcial, incluindo-se nessa classe, inclusive, partes

e peças de bens do ativo imobilizado que, tendo contato direto com o produto, se desgastem

durante o processo produtivo, ensejando sua substituição periódica. A lei do IPI não define

qual é o prazo adequado para a substituição periódica de partes e peças; pode-se, porém,

“emprestar-se” do Imposto de Renda, a previsão de que será considerado bem do ativo

imobilizado aquele que tenha vida útil maior que 1 (ano), sendo que produtos intermediários

que devem ser substituídos em prazo inferior a 1 (um) ano se enquadrariam no conceito de

insumo. Tratar-se-ia de uma forma de, integrando-se definições de conceitos, mediante

análise sistêmica dos tributos que tenham o insumo como elemento essencial, trazer-se

segurança jurídica ao fisco federal e aos contribuintes.

10.2.3 A definição do conceito de insumo para fins das contribuições ao PIS e da

COFINS ainda pende de definição administrativa e judicial, existindo, em suma, 3 (três)

correntes: (a) a mais restritiva, segundo a qual o conceito de insumo equivale àquele existente

em face do IPI; (a) a que equipara o conceito de insumo ao de despesa dedutível para fins de

apuração do Imposto de Renda Pessoa Jurídica – IRPJ; e (c) a que entende que o conceito de

insumo equivale ao bem ou serviço utilizado direta ou indiretamente na sua atividade de

produção ou prestação de serviço, sendo indispensável para a formação daquele produto ou

serviço, e estando relacionado com o objeto social da pessoa jurídica, devendo ser aferido

caso a caso, de maneira denotativa. A definição de conceito de insumo para fins de apuração

do PIS e da COFINS não cumulativas proposta é: salvo as exceções previstas em lei, todos os

custos e despesas necessários ao desenvolvimento da atividade da pessoa jurídica, visando

ao auferimento de receita.

11 Alguns termos, enquanto suporte físico, são utilizados por outras ciências do

conhecimento, cuja definição pode corresponder ou não àquela atribuída pelo Direito. Não é

incomum, porém, que a significação, enquanto ideia construída na mente do intérprete, guarde

certa correlação entre as ciências. É o que acontece com os conceitos de insumo e ativo

imobilizado.

11.1 No âmbito da Contabilidade, a definição do conceito de ativo imobilizado

equivale àquele apresentado em face do Direito Societário.

11.2 Para a Economia, a definição do conceito de insumo é: bem ou serviço ou o

capital utilizado no processo produtivo de bens materiais ou na prestação de serviços.

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12.1 Dada a dissonância quanto à definição do conceito de insumo, ativo imobilizado

e material de uso e consumo pelos Estados da Federação, os Tribunais Estaduais vêm sendo

chamados a se posicionar sobre a matéria, razão pela qual analisou-se acórdãos proferidos

pelos Tribunais de Justiça de alguns Estados, bem como pelos Tribunais Superiores.

12.2 Dado tudo quanto enfrentado até aqui, passa-se à efetiva apresentação do

conceito de insumo, ativo imobilizado e material de uso e consumo.

12.2.1 A definição do conceito de insumos para fins de ICMS que se propõe é: todo

(a) bem ou produto adquirido pela pessoa jurídica, indústria, comercial, produtora ou

prestadora dos serviços abarcados pela hipótese de incidência do ICMS, inclusive energia

elétrica, que seja total ou parcialmente integrado ao produto final, ou consumido na

prestação de serviço, ou que, tendo contato direito com o produto industrializado ou com o

equipamento ou veículo por intermédio do qual os serviços são prestados, sejam essenciais

para o atingimento do objetivo social da pessoa jurídica - processo de industrialização ou

prestação de serviço -, ensejando o seu consumo ou desgaste no processo produtivo ou na

prestação, assim entendido o consumo, queima, desgaste, desbaste, dano, perda ou qualquer

espécie de deterioração total ou parcial, incluindo-se nessa classe, inclusive, partes e peças

de bens do ativo imobilizado que, tendo contato direto com o produto ou como o equipamento

ou veículo por intermédio qual o serviço é prestado, se desgastem durante o processo

produtivo ou prestação de serviço, ensejando sua substituição periódica; e (b) serviço de

transporte intermunicipal e interestadual ou de comunicação tomado pela pessoa jurídica,

necessário ao desenvolvimento do objeto social da pessoa jurídica e atinente à atividade do

estabelecimento.

12.2.2 A definição do conceito de ativo imobilizado para fins do ICMS que se propõe

é: conjunto de bens móveis de propriedade da pessoa jurídica, necessários ao

desenvolvimento do objeto social e atinentes à atividade do estabelecimento.

12.2.3 A definição do conceito de material de uso e consumo que se propõe é: por

exclusão, as mercadorias que, não se enquadrando no conceito de insumo ou de ativo

imobilizado, não são essenciais ao desenvolvimento específico do objeto social da sociedade,

ou seja, o material que não é utilizado na produção, industrialização, comercialização ou

prestação de serviço, sendo, porém consumidos no desenvolvimento da atividade do

estabelecimento do contribuinte.

12.2.4 Dado o fato de não haver menção na legislação do ICMS a informação atinente

sobre qual seria o prazo adequado para a substituição periódica de partes e peças consumidas

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ou desgastadas no processo industrial ou na prestação de serviços, para que sejam

consideradas insumos e não bens do ativo imobilizado, pode-se “emprestar-se” do Imposto de

Renda a previsão de que será considerado bem do ativo imobilizado aquele que tenha vida útil

maior que 1 (ano), sendo que produtos intermediários que devem ser substituídos em prazo

inferior a 1 (um) ano se enquadrariam no conceito de insumo. Tratar-se-ia de uma forma de,

integrando-se definições de conceitos, mediante análise sistêmica dos tributos que tenham o

insumo como elemento essencial, trazer-se segurança jurídica ao fisco federal e aos

contribuintes.

12.3 Dado o quadro caótico que envolve a definição do conceito de insumo, ativo

imobilizado e material de uso e consumo, a sugestão que aqui se apresenta é, com fulcro no

Lei Complementar 95/1998 e no art. no 155, § 2º, XII da Constituição Federal, ser editada lei

complementar, ainda que alterando a vigente Lei Complementar 87/96, visando a diminuir a

obscuridade que permeia o assunto.

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