do contrato social livro iv

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8/17/2019 Do Contrato Social LIVRO IV http://slidepdf.com/reader/full/do-contrato-social-livro-iv 1/24 Do Contrato Social  – Jean-Jacques Rousseau LIVRO IV I – A vontade geral é indestrutível. Enquanto numerosos homens reunidos se consideram como um corpo único, sua vontade também é única e se relaciona com a comum conservação e o bem-estar geral. Todas as molas do Estado são então vigorosas e simples, suas sentenças são claras e luminosas; não há interesses embaraçados, contraditrios; o bem comum mostra-se por toda parte com evid!ncia e apenas demanda bom senso para ser percebido. " pa#, a união, a igualdade são inimigas das sutile#as pol$ticas. %s homens retos e simples são di&$ceis de enganar,  'ustamente em virtude de sua simplicidade; os engodos, os prete(tos re)nados, não se imp*em a eles, que, de resto, não são assa# sutis para serem tolos. +uando vemos, entre o povo mais &eli# do mundo, grupos de camponeses regulari#arem, sombra de um carvalho, os negcios do Estado, e se condu#irem sempre com sabedoria, podem evitar o menospre#o dos re)namentos das outras naç*es, que se tornam ilustres e desdenhadas com tantos arti&$cios e mistérios m Estado assim governado necessita de bem poucas leis; medida que se torne necessário promulgar outras novas, todos percebem tal necessidade. % primeiro que as prop*e não &a# senão di#er o que todos 'á sentiram,, e não haverá problemas de disputas nem de eloqu!ncia para trans&ormar em lei o que cada qual, individualmente,  'á tinha resolvido &a#er, certo de que os demais o &arão como ele. % que engana os tagarelas é que, não vendo senão Estados, desde as suas origens, mal constitu$dos, )cam aturdidos perante a impossibilidade de a$ manter id!ntica administração. /iem de imaginar todas as tolices que um hábil impostor, um palrador insinuante, poderia insinuar no povo de 0aris ou de 1ondres. 2gnora que 3rom4ell &oi posto em rid$culo pelo povo de 5erna, e que o 6uque de 5au&ort &oi disciplinado pelo de 7enebra. 8as, quando o v$nculo social começa a a&rou(ar e o Estado a en&raquecer, quando os interesses particulares principiam a &a#er-se sentir e as pequenas sociedades a in9uir sobre a grande, o interesse comum se altera e encontra opositores; a :umanidade não reina mais nos votos; a vontade geral dei(a de ser a vontade de todos; erguem- se contradiç*es, debates, e a melhor opinião não é aceita sem disputas.

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8/17/2019 Do Contrato Social LIVRO IV

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Do Contrato Social  – Jean-Jacques Rousseau

LIVRO IV

I – A vontade geral é indestrutível.

Enquanto numerosos homens reunidos se consideram como um corpoúnico, sua vontade também é única e se relaciona com a comumconservação e o bem-estar geral. Todas as molas do Estado são entãovigorosas e simples, suas sentenças são claras e luminosas; não há

interesses embaraçados, contraditrios; o bem comum mostra-se portoda parte com evid!ncia e apenas demanda bom senso para serpercebido. " pa#, a união, a igualdade são inimigas das sutile#aspol$ticas. %s homens retos e simples são di&$ceis de enganar, 'ustamente em virtude de sua simplicidade; os engodos, os prete(tosre)nados, não se imp*em a eles, que, de resto, não são assa# sutispara serem tolos. +uando vemos, entre o povo mais &eli# do mundo,grupos de camponeses regulari#arem, sombra de um carvalho, osnegcios do Estado, e se condu#irem sempre com sabedoria, podemevitar o menospre#o dos re)namentos das outras naç*es, que setornam ilustres e desdenhadas com tantos arti&$cios e mistérios

m Estado assim governado necessita de bem poucas leis; medidaque se torne necessário promulgar outras novas, todos percebem talnecessidade. % primeiro que as prop*e não &a# senão di#er o quetodos 'á sentiram,, e não haverá problemas de disputas nem deeloqu!ncia para trans&ormar em lei o que cada qual, individualmente, 'á tinha resolvido &a#er, certo de que os demais o &arão como ele.

% que engana os tagarelas é que, não vendo senão Estados, desde assuas origens, mal constitu$dos, )cam aturdidos perante aimpossibilidade de a$ manter id!ntica administração. /iem de

imaginar todas as tolices que um hábil impostor, um palradorinsinuante, poderia insinuar no povo de 0aris ou de 1ondres. 2gnoraque 3rom4ell &oi posto em rid$culo pelo povo de 5erna, e que o6uque de 5au&ort &oi disciplinado pelo de 7enebra.

8as, quando o v$nculo social começa a a&rou(ar e o Estado aen&raquecer, quando os interesses particulares principiam a &a#er-sesentir e as pequenas sociedades a in9uir sobre a grande, o interessecomum se altera e encontra opositores; a :umanidade não reina maisnos votos; a vontade geral dei(a de ser a vontade de todos; erguem-se contradiç*es, debates, e a melhor opinião não é aceita sem

disputas.

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En)m, quando o Estado, pr(imo de sua ru$na, apenas subsisteatravés de uma &orma vã e ilusria, quando o laço social se rompe emtodos os coraç*es, quando o mais vil interesse se adornaa&rontosamente com o nome sagrado do bem público, então avontade geral emudece, todos, guiados por motivos secretos, dei(am

de opinar como cidadãos, como se o Estado 'amais houvesse e(istido,e são aprovados &alsamente, a t$tulo de leis, decretos in$quos cu'oúnico )m é o interesse particular.

egue-se da$ que a vontade geral este'a debilitada ou corrompida<ão; ela é sempre constante, inalterável e pura; mas estásubordinada a outras que a sub'ugam. 3ada qual, destacando oprprio interesse do interesse comum, percebe que os não podedividir completamente; mas parece-lhe insigni)cante sua parte domal público perto do bem e(clusivo de que dese'a apropriar-se.E(cetuado esse bem particular, cada qual pretende o bem geral em

seu prprio interesse, nisso empregando o mesmo ardor que osdemais. 8esmo vendendo o seu su&rágio a peso de ouro, nãoe(tingue em si a vontade geral; engana-a. % crime que comete estáem mudar o estado do problema e em responder outra coisa que nãoa que se lhe pergunta; de sorte que, ao invés de di#er, noconcernente ao seu su&rágio, é vanta'oso ao Estado, di#= é vanta'oso atal homem, a tal partido, ou a que se'a aprovada esta ou aquelaopinião. "ssim sendo, a lei da ordem pública nas assembléias nãoconsiste quase em manter a vontade geral, mas em &a#er com queesta se'a interrogada e que sempre responda.

Eu teria nesta altura muitas re9e(*es a &a#er sobre o simples direitode votar em todo ato de soberania, direito que ninguém pode subtrairao cidadão, e sobre o direito de opinar, de propor, de dividir, dediscutir, que o governo, com grande cuidado, sempre procurareservar apenas a seus membros; mas esta importante matériademandaria um tratado parte, e eu neste não posso di#er tudo.

II – Dos sufrágios.

>!-se pelo cap$tulo precedente que a maneira pela qual se tratam osnegcios gerais pode &ornecer um $ndice assa# seguro do estado atualdos costumes e da saúde do corpo pol$tico. +uanto maior a harmoniareinante nas assembleias, isto é, quanto mais as opini*es seapro(imam da unanimidade, tanto mais a vontade geral se reveladominante; 'á os longos debates, as dissens*es, o tumulto, anunciamo "scenso dos interesses particulares e o decl$nio do Estado.

2sto parece pouco evidente quando duas ou mais ordens entram em

sua constituição, como os patr$cios e os plebeus em /oma, cu'asquest*es perturbaram com &req?!ncia os com$cios, mesmo nos mais

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belos tempos da /epública. Tal e(ceção, porém, é mais aparente quereal, porque, então, em virtude do v$cio inerente do corpo pol$tico,t!m-se, por assim di#er, dois Estados em um; e o que não é verdadeno tocante a dois 'untos é verdade no que respeita a cada umseparadamente. E, com e&eito, inclusive nos tempos mais

tempestuosos, os plebiscitos do povo, quando o senado neles não seimiscu$a, reali#avam-se sempre com tranq?ilidade e com grandepluralismo de su&rágios, pois, tendo os cidadãos um único interesse,não tinha o povo senão uma única vontade.

<a outra e(tremidade do c$rculo, a unanimidade retorna= é quando oscidadãos, tombados na servidão, perdem a liberdade e a vontade.Então o temor e a lison'a trans&ormam o su&rágios em aclamaç*es;não mais se delibera, adora-se ou amaldiçoa-se. Era esta a vilmaneira de opinar do senado sob o governo dos imperadores 2sso&a#ia-se por ve#es com precauç*es rid$culas. %bserva Tácito que,

reinando %tão, os senadores, cumulando >itélio de e(ecraç*es,promoviam um ensurdecedor tumulto, a )m de que, se por acaso esteviesse a se tornar o senhor, não pudesse saber o que cada um delestinha dito.

6essas, diversas consideraç*es nascem as má(imas sobre as quaisdeve ser regulamentada a maneira de contar os votos e comparar aopini*es, na proporção em que a vontade geral é mais ou menos &ácilde ser conhecida, e o Estado se mostra mais ou menos em decl$nio.

<ão há senão uma lei que, por sua nature#a, e(ige um consentimento

un@nime= é o pacto social; porque a associação civil é o maisvoluntário de todos os atos do mundo; uma ve# que todo homemnasceu livre e senhor de si mesmo, não há quem possa, sob qualquerprete(to, su'eitá-lo, sem sua permissão. 6ecidir que o )lho de umescravo nasce escravo é decidir que ele não nasce homem.

e, pois, no momento do pacto social, houver opositores, suaoposição não invalidará o pacto, mas os e(cluirá do mesmo; serão osestrangeiros entre os cidadãos. +uando o Estado é constitu$do, aresid!ncia prova o consentimento; habitar o territrio é submeter-se soberania.

Aora desse contrato primitivo, a vo# da maioria obriga sempre osdemais; é uma continuação do prprio contrato. 0ergunta-se,contudo, como pode um homem ser livre e, a um tempo, &orçado acon&ormar-se com vontades que não são a sua. 6e que maneirapodem os opositores ser livres e, simultaneamente, submetidos a leisque não &oram por eles consentidas

6e minha parte respondo que a questão está mal colocada. % cidadãoconsente todas as leis, mesmo as que são aprovadas sem o seuconsentimento, inclusive as pelas quais o punem quando ele ousa

in&ringi-las. " vontade constante de todos os membros do Estado

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constitui a vontade geral; devido a ela é que se tornam eles cidadãose livres.

+uando uma lei é proposta na assembleia do povo, o que se lhepergunta não é precisamente se todos aprovam a proposição ou se a

re'eitam, mas sim se está ou não con&orme vontade geral, que é adeles. 3ada qual, dando o seu voto, pro&ere seu parecer, e do cálculodos votos e(trai-se a declaração da vontade geral. 0ortanto, quandovence a opinião contrária minha, tal coisa apenas prova que eu meenganei, e que aquilo que eu imaginava ser a vontade geral não oera. e o meu particular modo de ver prevalecesse, eu teria &eito oque não dese'ava, e então eu não teria sido livre.

2sto sup*e, é certo, que todos os caracteres da vontade geral este'amainda na pluralidade; quando cessam de estar, se'a qual &or o partidoque se tome, dei(a de haver liberdade.

6emonstrando acima como era substitu$da a vontade geral pelasvontades particulares nas deliberaç*es públicas, indiqueisu)cientemente os meios praticáveis de prevenir tal abuso, e disso&alarei ainda mais adiante. " respeito do número proporcional dossu&rágios necessários para se dar por declarada essa vontade, &ornecitambém princ$pios pelos quais é poss$vel determiná-la. " di&erença deum único voto rompe a igualdade; um único opositor quebra aunanimidade; mas, entre a unanimidade e a igualdade, há inúmerasdivis*es desiguais, podendo-se a cada uma delas )(ar esse número,segundo a situação e as necessidades do corpo pol$tico.

6uas má(imas gerais são o bastante para regulamentar essasrelaç*es= uma consiste em que, quanto mais importantes e gravesse'am as deliberaç*es, tanto mais a opinião vencedora deve estarpr(ima da unanimidade; a outra em que, quanto mais preste#a e(igeo negcio discutido, tanto mais se deve restringir a di&erençaprescrita na divisão das opini*es= nas deliberaç*es a seremencerradas imediatamente deve bastar o e(cedente de uma únicavo#. " primeira dessas má(imas parece mais conveniente s leis, e asegunda aos negcios. 6e qualquer maneira, é na base dacombinação das duas que se estabelecem as melhores relaç*es sobre

as quais deve a pluralidade pronunciar-se.

III – Das elei!es.

" respeito das eleiç*es do pr$ncipe e dos magistrados, queconstituem como 'á disse atos comple(os, há dois caminhos paraproced!-los, os seguintes= a escolha e a sorte. m e outro t!m sidoempregados em diversas repúblicas, e ainda v!-se atualmente umamistura bastante complicada de ambos na eleição do doge de>ene#a.

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B% su&rágio por sorteioC, di# 8ontesquieu, Bé da nature#a dademocracia.C 3oncordo, mas por qu! B% sorteioC, continua ele, Béum modo de eleger que não a9ige ninguém; dei(a a cada cidadãouma ra#oável esperança de servir a pátria.C 2sto não são ra#*essu)cientes.

e se leva em consideração que a escolha dos che&es constitui uma&unção do governo, e não da soberania, ver-se-á por que o caminhoda sorte é mais consent@neo com a nature#a da democracia, na quala administração é tanto melhor quanto os atos se'am menosmultiplicados.

Em toda verdadeira democracia, a magistratura não constitui umproveito, mas sim uma carga onerosa que se pode impor a umparticular de pre&er!ncia a outro. omente a lei pode impor tal cargaquele a quem a sorte escolherá; porque então, sendo igual para

todos a condição, e não dependendo a escolha de nenhuma vontadehumana, não há qualquer aplicação particular que altere auniversalidade da lei.

<a aristocracia, o pr$ncipe escolhe o pr$ncipe, o governo se conservapor si mesmo, e os su&rágios são bem colocados.

% e(emplo da eleição do doge de >ene#a con)rma essa distinção, aoinvés de a destruir; essa &orma misturada convém a um governomisto. 0ois é um erro tomar o governo de >ene#a por uma verdadeiraaristocracia. e o povo não tem ali nenhuma parte no governo, a

nobre#a, por seu turno, é ali o prprio povo. ma multidão de pobresbarnabotenses 'amais se acerca de nenhuma magistratura, e s temde sua nobre#a o inútil t$tulo de E(cel!ncia e o direito de assistir reunião do grande 3onselho. endo esse 3onselho tão numerosoquanto o nosso 3onselho geral em 7enebra, não possuem seusmembros maiores privilégios que os de nossos simples cidadãos. Tirando-se a e(trema disparidade das duas repúblicas, a burguesia de7enebra representa, sem dúvida, e(atamente o patriciado vene#iano;nossos naturais e habitantes equivalem aos cidadãos e ao povo de>ene#a; nossos camponeses são como que os vassalos do continente;en)m, de qualquer maneira que se considere essa república,

abstração &eita de sua grande#a, não é seu governo mais aristocráticoque o nosso. Toda a di&erença está em que, não havendo nenhumche&e vista, ns não temos a mesma necessidade de recorrer sorte.

"s eleiç*es por sorteio teriam poucos inconvenientes numaverdadeira democracia, onde, sendo todos iguais em costumes, dotesintelectuais, preceitos e &ortuna, a escolha se tornaria quaseindi&erente. 8as, como a)rmei, não e(iste verdadeira democracia.

+uando a escolha e o sorteio se mesclam, cabe primeira preencher

os postos que demandam dotes apropriados, tais como os cargosmilitares; o segundo convém aos postos aos quais bastam o bom

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senso, a 'ustiça, a integridade, tais como os cargos de 'udicatura,porque, num Estado bem constitu$do, essas qualidades são comuns atodos os cidadãos.

% sorteio e o su&rágio não t!m nenhum lugar num governo

monárquico. % monarca é de direito único, pr$ncipe e magistradoúnico; a escolha de seus au(iliares s a ele compete. +uando o abadede aint-0ierre propunha multiplicar os conselhos do rei de Arança eeleger os membros por escrut$nio, não percebia estar propondo amudança da &orma de governo.

/estar-me-ia &alar da maneira de dar e recolher os votos naassembléia popular; mas, possivelmente, o histrico da organi#açãocivil romana e(plicasse a este respeito de modo mais sens$vel todasas má(imas que eu poderia estabelecer. <ão é indigno de um leitor 'udicioso ver em pormenores como se cuidavam dos negcios

públicos e particulares num conselho de du#entos mil homens.

IV – Dos co"ícios ro"anos.

<ão possu$mos nenhum monumento digno de con)ança dos primeirostempos de /oma; há mesmo grande probabilidade de não passaremde &ábulas a maior parte das coisas que nos contam DFG e, em geral,a parte mais instrutiva dos anais dos povos, que é a histria de seu

estabelecimento é a que mais carece de dados " e(peri!ncia ensina-nos diariamente quais as causas que originam as revoluç*es dosimpérios; entretanto, como atualmente não mais se &ormam novospovos, temos apenas con'eturas para e(plicar como outrora se&ormaram.

%s usos estabelecidos atestam ao menos ter havido uma origem para eles."s tradiç*es que remontam a essas origens, nas quais se apoiam as maioresautoridades, con)rmadas que são pelas mais &ortes ra#*es, devem seraceitas como as mais certas. Eis, portanto, os preceitos que eu tratei deseguir, em pesquisando como o mais livre e poderoso dos povos da Terra

e(ercia seu poder supremo."ps a &undação de /oma a república nascente, isto é, o e(ército do&undador, composto de albaneses, sabinos e estrangeiros, &oi dividido emtr!s classes, que dessa divisão tomaram o nome de tribos. 3ada umadessas tribos &oi subdividida em de# cúrias, e cada cúria em decúrias, testa das quais &oram postos che&es denominados curi*es e decuri*es.

"lém disso, tirou-se de cada tribo um corpo de de# cavaleiros oucavalheiros, chamado centúria; por onde se v! que essas divis*es, pouconecessárias num burgo, não eram de in$cio senão militares. 0arece, porém,que um instinto de grande#a levava a pequena cidade de /oma a dar-se por

antecipação uma organi#ação civil adequada capital do mundo.

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6essa primeira partilha cedo resultou um inconveniente= a tribo dosalbaneses DHG e a dos sabinos DIG permaneciam sempre no mesmoestado, enquanto que a dos estrangeiros DJKG crescia sem cessar graças aoconcurso destes, vindo em pouco tempo a sobrepu'ar as outras duas. %remédio que ervius encontrou para esse perigoso abuso &oi mudar adivisão, e, a das raças, que aboliu, &oi substitu$da por outra, tirada doslugares da cidade ocupados por cada tribo. "o invés de tr!s, organi#ouquatro tribos, cada uma das quais ocupando uma das colinas de /oma cu'osnomes adotaram. "ssim, remediando a desigualdade e(istente, ele apreveniu para o &uturo, e a )m de que essa divisão não &osse apenas delugares, mas de homens, proibiu ervius que os habitantes de um quartel setrans&erissem para outro, o que impediu de as raças se con&undirem.

ervius duplicou igualmente as tr!s antigas centúrias de cavalaria, eacrescentou a elas outras do#e, sempre porém sob os antigos nomes; meiosimples e 'udicioso pelo qual acabou por separar o corpo dos cavaleiros dopovo, sem dar motivo a que este murmurasse.

" essas tr!s tribos urbanas, a'untou ervius ainda quin#e outras,denominadas tribos rústicas, por serem &ormadas de habitantes do campo,divididas em outros tantos cant*es. Em seguida, criaram-se novas tribos, demaneira que o povo romano veio a encontrar-se dividido em trinta e cincodelas, número em que se conservaram até o )m da /epública.

6essa distinção de tribos citadinas e rurais resultou um e&eito digno de serobservado, mesmo porque não e(iste disso outro e(emplo e porque /omalhe deve a um s tempo a conservação de seus costumes e o crescimentode seu império. "creditar-se-ia que as tribos urbanas cedo se arrogassem ashonras e o poder, e não tardassem em envilecer as tribos rústicas; no

entanto, deu-se e(atamente o contrário. 3onhece-se o gosto dos primeirosromanos pela vida campestre. >inha-lhes esse gosto do sábio instituidor queuniu liberdade os trabalhos rústicos e militares, e, por assim di#er, relegou cidade as artes, os o&$cios, a intriga, a rique#a e a escravidão.

6esse modo, como tudo o que /oma tinha de ilustre vivesse no campocultivando a terra, acostumou-se a procurar a$ os sustentáculos da/epública. endo esse estado o pre&erido pelos mais dignos patr$cios,acabou por ser também honrado por todos; a vida simples e laboriosa doscamponeses veio a ser mais benquista que a vida ociosa e &rou(a dosburgueses de /oma, e muitos que, na cidade, não passavam de in&eli#esproletários, trans&ormados em cultivadores dos campos, se tornaram

cidadãos respeitáveis. <ão &oi sem motivo, di#ia >arrão, que nossosmagn@nimos ancestrais estabeleceram na aldeia o viveiro desses robustos eintrépidos homens que os de&endiam em tempo de guerra e os alimentavamem tempo de pa#. 6i# 0l$nio, positivamente, que as tribos dos campos eramcumuladas de honrarias em virtude dos homens que as compunham; aopasso que se trans&eriam para as tribos da cidade os poltr*es que sepretendiam humilhar. % sabino "ppius 3laudius, indo estabelecer-se em/oma, ali &oi honrado e inscrito numa tribo rústica, que tomou emconseq?!ncia o nome de sua &am$lia. En)m, todos os libertos entravam nastribos urbanas, nunca nas rústicas, e não e(iste, durante toda a /epública,um único e(emplo de algum liberto que tenha atingido a magistratura,embora &osse cidadão.

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Esse preceito era e(celente, todavia &oi levado tão longe que dele resultoupor )m uma mudança e certamente um abuso na organi#ação civil.

Em primeiro lugar, os censores, aps se haverem por muito tempo arrogadoo direito de trans&erir arbitrariamente os cidadãos de uma tribo para outra,permitiram que a maioria se inscrevesse na que melhor lhe aprouvesse,

permissão que, seguramente, de nada servia e subtra$a uma das grandesalçadas da censura. "lém disso, como os grandes e poderosos se &a#iamescrever nas tribos do campo, e os libertos, tornados cidadãos,permaneciam com o populacho nas da cidade, as tribos, em geral, dei(aramde possuir seus s$tios e territrios e acabaram todas por mesclar-se de talmodo que se &e# imposs$vel discernir os membros de cada uma emparticular, a não ser pelos registros. 6estarte a palavra tribo passou do realao pessoal, ou então veio a tornar-se quase uma quimera.

ucedeu ainda que as tribos citadinas, mais bem locali#adas, sentiram-semais &ortes nos com$cios e venderam o Estado aos que não hesitavam emcomprar os votos canalha que as compunham.

" respeito das cúrias, havendo o seu instituidor determinado de# em cadatribo, todo o povo romano, então encerrado nas muralhas da cidade, achou-se organi#ado em trinta cúrias, cada qual com seus templos, seus deuses,seus o)ciais, seus sacerdotes e suas &estas, chamadas compitalia,semelhantes s paganalia, criadas mais tarde pelas tribos rústicas.

3om a nova partilha de ervius, não sendo poss$vel repetir igualmenteessas trinta cúrias pelas quatro tribos, ele não quis tocar nisso, e as cúrias,independentes das tribos, se tornaram outra divisão dos habitantes de/oma; mas a questão não girou em torno de cúrias, nem das tribos rústicas,nem do povo que as compunha, porque, havendo-se tornado as tribos umestabelecimento puramente civil, e tendo sido introdu#ida outra pol$cia nore&erente ao levantamento das tropas, as divis*es militares de /Lmulopassaram a ser supér9uas. 6esta maneira, embora todos os cidadãosestivessem inscritos numa tribo, não se &a#ia necessário que o estivessemnuma cúria.

ervius criou ainda uma terceira divisão, que não tinha nenhuma relaçãocom as duas precedentes e que se trans&ormou, por seus e&eitos, na maisimportante de todas. Ele distribuiu todo o povo romano em seis classes, asquais não se distinguiam pelo lugar ou pelos homens, mas pelos bens quepossu$am; de maneira que as primeiras classes eram preenchidas pelosricos, as últimas pelos pobres, e as médias pelos que des&rutavam demed$ocre &ortuna. Essas seis classes eram subdivididas em cento e noventae tr!s outros corpos, chamados centúrias, e estes, por sua ve#, eramdistribu$dos de tal &orma que a primeira classe compreendia, so#inha, maisda metade e a última &ormava apenas uma s. %corria então que a classemenos numerosa em quantidade de homens era maior em centúrias, e todaa última classe não era contada senão como uma subdivisão, muito emboraabrangesse, ela s, mais de metade dos habitantes de /oma.

" )m de que o povo não percebesse as conseq?!ncias desta última &orma,ervius )ngiu que lhes dava um ar militar= inseriu na segunda classe duascentúrias de armeiros, e duas de instrumentos de guerra na quarta classe;

em cada classe, e(cetuada a última, ele di&erenciou os 'ovens e os velhos,isto é, os que eram obrigados a carregar as armas e os que, pela idade,estavam disso e(clu$dos pela lei; distinção que, mais do que as re&erentes

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aos bens, resultou na necessidade de recomeçar &req?entemente orecenseamento; )nalmente, dese'ou ele que a assembléia se reali#asse no3ampo de 8arte, aonde todos os que se encontravam em idade de servirviessem com suas armas.

" ra#ão pela qual não &oi estabelecida, na última classe, essa mesma

divisão entre 'ovens e velhos, residia no &ato de não ser concedida aopopulacho, de que a mesma se compunha, a honra de empunhar armas emde&esa da pátria. Era preciso ter um lar para conseguir o direito de ode&ender; e dessas numerosas tropas de indigentes que brilham ho'e em dianos e(ércitos reais, possivelmente não haveria um s que não &osserechaçado com desdém de uma coorte romana, no tempo em que ossoldados eram de&ensores da liberdade.

6istinguiam-se, pois, ainda, na última classe, os proletários dos que eramchamados capite censi. %s primeiros, conquanto paupérrimos, &orneciam aomenos cidadãos ao Estado, algumas ve#es até soldados, nas ocasi*es maisprementes. +uanto aos que realmente nada possu$am e eram computadosapenas por suas cabeças DJMG, eram considerados como ine(istentes. 8ário&oi o primeiro que se dignou alistá-los.

em decidir aqui se a terceira enumeração era boa ou má em si mesma,acredito poder a)rmar que somente os costumes singelos dos primeirosromanos, seu desinteresse pessoal, sua pai(ão pela agricultura, seudespre#o pelo comércio e pelo ardor do ganho é que a tornaram poss$vel.%nde se encontra o povo moderno no seio do qual a devoradora avide#, oesp$rito inquieto, a intriga, os cont$nuos deslocamentos, as perpétuasrevoluç*es da &ortuna, permitem durar vinte anos semelhante estado decoisas, sem que ha'a uma subversão do Estado inteiro N necessário,

inclusive, assinalar que os costumes e a censura, mais &ortes que essainstituição, corrigiram o v$cio em /oma, e que alguns ricos se viramrelegados classe dos pobres por haverem ostentado e(ageradamente suarique#a.

6e tudo isso pode-se &acilmente compreender porque quase sempre se tem&eito menção de apenas cinco classes, muito embora, na realidade,houvesse seis. " se(ta não &ornecia soldados ao e(ército, nem eleitores no3ampo de 8arte DJG, não sendo quase aproveitada para nada na república.

 Tais &oram as di&erentes divis*es do povo romano. >e'amos agora o e&eitoprodu#ido nas assembléias. Essas assembléias, legitimamente convocadas,denominavam-se comices. /eali#avam-se ordinariamente na praça de /omaou no 3ampo de 8arte, e se distinguiam por com$cios por cúrias, com$ciospor centúrias e com$cios por tribos, segundo as tr!s &ormas pelas quaiseram convocados. %s com$cios por cúrias eram da instituição de /Lmulo; ospor centúrias, de ervius; os com$cios por tribos, dos tribunos do povo.<enhuma lei recebia a sanção, nenhum magistrado era eleito, a não ser noscom$cios; e como não houvesse nenhum cidadão que não &osse inscritonuma cúria, numa centúria ou numa tribo, segue-se que nenhum cidadãoera e(clu$do do direito do su&rágio e que o povo de /oma eraverdadeiramente soberano de direito e de &ato.

0ara que os com$cios &ossem legitimamente convocados e o que ali se

)#esse tivesse &orça de lei, &a#iam-se necessárias tr!s condiç*es= primeira,que o corpo ou o magistrado que os convocasse &osse revestido para isso da

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autoridade indispensável; segunda, que a assembléia se reali#asse num diapermitido pela lei terceira, que os augúrios se revelassem &avoráveis.

" ra#ão da primeira e(ig!ncia dispensa e(plicação. " da segunda é umproblema de pol$cia, de maneira a não se permitirem com$cios em dias de&eira, quando os camponeses vinham a /oma a negcios e não dispunham

de tempo para passar a 'ornada na praça pública. " ra#ão da terceirae(ig!ncia estava em que o senado procurava re&rear um povo altivo eturbulento, temperando o ardor dos tribunos sediciosos; estes, porém,sempre encontraram um meio de se libertarem de tal constrangimento.

"s leis e a eleição dos che&es não constitu$am os únicos pontos submetidosao 'ulgamento do governo; tendo o povo romano usurpado as maisimportantes &unç*es do governo, pode-se di#er que a sorte da Europa eraregulamentada em suas assembléias. Essa variedade de assuntos davalugar s diversas &ormas tomadas por essas assembléias, de acordo com asmatérias sobre as quais havia que pronunciar-se.

" )m de se &a#er o 'ulgamento dessas diversas &ormas, é o bastantecompará-las. /Lmulo, instituindo as cúrias, tinha em vista conter o senadopelo povo e o povo pelo senado, dominando igualmente sobre todos. 6euele, pois, ao povo, por essa &orma, a inteira autoridade do número paracontrabalançar a do poder e a das rique#as, dei(adas aos patr$cios. 8as,segundo o esp$rito da monarquia, dei(ou ele maiores vantagens aospatr$cios, devido in9u!ncia de seus clientes sobre a pluralidade dossu&rágios. Essa admirável instituição de patronos e clientes &oi uma obra-prima de pol$tica e humanidade, sem a qual o patriciado, tão contrário aoesp$rito de república, não teria podido subsistir. /oma &oi a única a ter ahonra de &ornecer ao mundo esse belo e(emplo, do qual 'amais resultou

qualquer abuso, e que não &oi, portanto, imitado nunca.Essa mesma &orma de cúrias subsistiu no tempo dos reis, até ervius, nãose aceitando a legitimidade do reinado de Tarqu$nio, e o &ato &e# com que sedistinguissem as leis reais pelo nome de leges curiatae.

<a república, as cúrias, sempre limitadas s quatro tribos urbanas, nãocontando senão com a plebe de /oma, não podiam convir nem ao senado,que se mantinha testa dos patr$cios, nem aos tribunos, que, conquantoplebeus, estavam &rente dos cidadãos abastados. Elas tombaram,portanto, no descrédito e &oi tal seu aviltamento que seus trinta lictores,reunidos em assembléia, reali#avam o que os com$cios por cúria deveriam&a#er.

" divisão por centúrias era tão &avorável aristocracia que não se v!, dein$cio, a ra#ão por que o senado não a levava sempre aos com$cios quelevavam seu nome, e nos quais se elegiam os cLnsules, os censores e osdemais magistrados curuis. 3om e&eito, das cento e noventa e tr!scentúrias, &ormadoras das seis classes que compunham todo o povoromano, noventa e oito constitu$am a primeira classe. 3omo os votos s secontavam por centúrias, esta primeira classe sobrepu'ava em número devotos as demais. +uando todas as centúrias estavam concordes, cessava acontagem dos su&rágios; aquilo que &ora decidido pelo menor númeropassava pelo arb$trio da multidão; e pode-se di#er que, nos com$cios por

centúrias, os negcios se regravam mais pela pluralidade dos escudos quepelo número de votos.

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3ontudo, essa e(trema autoridade era temperada por duas maneiras.0rimeiramente, sendo grande número de plebeus da classe dos ricos, ostribunos, de ordinário, contrabalançavam o crédito dos patr$cios nessaprimeira classe.

" segunda maneira consistia em que, ao invés de &a#erem, de in$cio, com

que as centúrias votassem segundo sua ordem, o que signi)caria começarsempre pela primeira, determinava-se um sorteio, e a escolhida procediaso#inha eleição DJJG, aps o que todas as centúrias, chamadas num outrodia segundo sua categoria, repetiam a mesma eleição e geralmente acon)rmavam. ubtraia-se assim a autoridade do e(emplo graduação paraa entregar sorte, con&orme o princ$pio da democracia.

6esse uso resultava ainda outra vantagem= permitia aos cidadãos do campoin&ormarem-se, entre as duas eleiç*es, do mérito do candidatoprovisoriamente eleito a )m de lhe atribu$rem o voto com consci!ncia decausa. Entretanto, sob prete(to de urg!ncia, veio-se a abolir esse costume,e as duas eleiç*es passaram a ser &eitas no mesmo dia.

%s com$cios por tribos constitu$am propriamente o conselho do povoromano. omente os tribunos os convocavam; neles eram estes eleitos e setomavam as deliberaç*es. <ão apenas o senado dei(ava de ter ali assento,como sequer tinha o direito de a eles assistir; e, assim sendo, eram ossenadores &orçados a obedecer s leis que não tinham podido votar, demaneira que, sob certo aspecto, passavam a ser menos livres que osúltimos dos cidadãos. Tal in'ustiça era mal-entendida e bastaria, por si s,para invalidar os decretos de um corpo em que todos os membros nãotinham sido admitidos. 8esmo que todos os patr$cios assistissem a essescom$cios, consoante o direito que possu$am na qualidade de cidadãos,

tornados então simples particulares, não poderiam in9uir em nada numprocesso de eleição cu'os votos eram recolhidos por cabeça, e no qual omais humilde proletário dispunha de tanto poder como o pr$ncipe dosenado.

>!-se, pois, que, além da ordem resultante dessas diversas distribuiç*espara o recolhimento dos su&rágios de tão grande povo, não se redu#iam taisdistribuiç*es a &ormas em si mesmas indi&erentes, mas sim que cada qualtinha e&eitos relativos em relação aos ob'etivos pre&eridos.

em entrar em mais longos pormenores, resulta dos esclarecimentosprecedentes que os com$cios por tribos eram os mais &avoráveis ao governopopular, e os com$cios por centúrias aos interesses da aristocracia. "respeito dos com$cios por cúrias, nos quais a plebe de /oma constitu$a apluralidade, como apenas servissem para &avorecer a tirania e os mausdes$gnios, acabaram por cair no descrédito, &a#endo com que os prprioselementos sediciosos se abstivessem de empregar um meio que lhes punhamuito a descoberto seus pro'etos. Toda a ma'estade do povo romano O está&ora de dúvida O revelava-se nos com$cios por centúrias, os únicoscompletos, levando-se em conta que, nos com$cios por cúrias &altavam astribos rústicas, e nos com$cios por tribos eram e(clu$dos o senado e ospatr$cios.

+uanto maneira de recolher os su&rágios, era o &ato, entre os primeiros

romanos, coisa tão simples como seus costumes, malgrado não &osse tãosimples quanto o era em Esparta. 3ada qual votava em vo# alta, e umescrivão o anotava; pluralidade de votos em cada tribo determinava o

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su&rágio do povo, e o mesmo sucedia nas cúrias e centúrias. Este hábito erabom, tanto assim que reinava a honestidade entre os cidadãos, e cada qualtinha vergonha de o&erecer publicamente seu voto a uma decisão in'usta oua um assunto indigno; entretanto, quando o povo veio a corromper-se e osvotos passaram a ser negociados, convencionou-se que o su&rágio setornasse secreto a )m de conter pela suspeita os compradores, e &orneceraos velhacos o meio de não se tornarem traidores.

ei que 3$cero censura essa mudança e lhe atribui em parte a ru$na darepública. 8as, embora eu sinta o peso que deve ter aqui a autoridade de3$cero, não posso concordar com sua opinião. 0enso, ao contrário, que pelo&ato de não ter havido em maior quantidade semelhantes mudanças é que&oi acelerada a perda do Estado. 3omo o regime das pessoas saudáveis nãoé conveniente aos en&ermos, não se deve querer governar um povocorrompido através das mesmas leis apropriadas a um povo honesto. <adacomprova melhor esta má(ima que a duração da /epública de >ene#a, cu'osimulacro ainda e(iste, unicamente porque suas leis não conv!m senão a

homens corruptos.6istribu$ram-se, pois, aos cidadãos canhenhos pelos quais cada qual podiavotar sem que se soubesse qual era sua opinião particular; estabeleceram-se, assim, novas &ormalidades para o recolhimento dos canhenhos, ocLmputo dos votos, a comparação dos números, etc.; isso não impediu quea )delidade dos o)ciais encarregados dessas &unç*es &osse com &req?!nciatida por suspeita DJPG. 0rocurou-se, en)m, impedir a cabala e o trá)co dossu&rágios e dos editos, cu'a quantidade demonstra a inutilidade.

<os últimos tempos, era-se muitas ve#es obrigado a recorrer a e(pedientese(traordinários para suprir a insu)ci!ncia das leis. 1ogo imaginaram-se

prod$gios; com isso iludia-se o povo, não os que o governavam; logoconvocava-se bruscamente uma assembléia, antes de os candidatos teremtempo de prepararem suas manobras; ora consumia-se uma sessão inteiraem conversa, quando se via o povo ganho prestes a tomar um mau partido.Ainalmente, a ambição tudo &rustrou, e o que há de inconceb$vel é que, emmeio a tanto abuso, esse povo imenso, em &avor de seus antigosregulamentos, não dei(ava de eleger os magistrados, de aprovar as leis, de

 'ulgar as causas, de e(pedir os negcios particulares e públicos, quase comtanta &acilidade como o teria &eito o prprio senado.

V – Do tri#unato.

+uando não se pode estabelecer uma e(ata proporção entre aspartes constitutivas do Estado, ou quando causas indestrut$veis nelasalteram continuamente as relaç*es, institui-se então umamagistratura particular que não se corpori)ca com as outras, querep*e cada termo em sua verdadeira relação, e que estabelece umaligação ou um meio-termo, se'a entre o pr$ncipe e o povo, se'a entre opr$ncipe e o soberano, ou ainda entre ambos os lados, em caso de

necessidade.

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Esse corpo, que eu denominarei tribunato, é o conservador das leis dopoder legislativo, e serve, por ve#es, para proteger o soberano contrao governo, como &a#iam em /oma os tribunos do povo; como &a#presentemente em >ene#a o 3onselho dos 6e#, para sustentar ogoverno contra as investidas do povo; e, algumas ve#es, para manter

o equil$brio entre ambas as partes, como o &a#iam os é&oros emEsparta.

% tribunato não constitui uma parte constitutiva da cidade, e nãodeve possuir a menor porção do poder legislativo nem do e(ecutivo;mas é 'ustamente nisso que seu poder se torna grande, porque, nadapodendo &a#er, tudo pode impedir. N mais sagrado e maisreverenciado como de&ensor das leis que o pr$ncipe que as e(ecuta eo soberano que as dá. Aoi o que se viu com bastante clare#a em/oma, quando seus altivos patr$cio; que sempre menospre#aram todoo povo, &oram &orçados a dobrar-se perante um simples o)cial do

povo que não tinha ausp$cios nem 'urisdição.

% tribunato, sabiamente temperado, representa o mais )rme apoio deuma boa constituição; mas, por pouca &orça que tenha de mais, tudosubverte; no que concerne &raque#a, ele naturalmente a não possui,e, conquanto se'a alguma coisa, não é 'amais menos que onecessário. % tribunato degenera em tirania quando usurpa o podere(ecutivo, do qual não passa de moderador, e quando dese'adispensar as leis cu'a proteção lhe compete. % enorme poder dosé&oros, que não o&ereceu perigo enquanto Esparta conservou seuscostumes, acelerou a corrupção iniciada. % sangue de "gis, degolado

por esses tiranos, &oi vingado por seu sucessor; o crime e o castigodos é&oros apressaram igualmente a ru$na da república; e, aps3leLmenes, Esparta dei(ou de ter qualquer import@ncia. /omapereceu ainda pela mesma via, e o e(cessivo poder dos tribunos,usurpado gradualmente, serviu, en)m, com a a'uda das leis votadaspara garantirem a liberdade, de salvaguarda aos imperadores que adestru$ram. +uanto ao 3onselho dos 6e#, em >ene#a, trata-se de umtribunal de sangue, horr$vel a um tempo aos patr$cios e ao povo, eque, longe de proteger altamente as leis, apenas serve, depois de seuaviltamento, para aplicar nas trevas golpes que se não ousam

imaginar.% tribunato en&raqueceu-se, semelhança do governo, pelamultiplicação de seus membros. +uando os tribunos do povo romano,dois de in$cio, depois cinco, pretenderam duplicar esse número, osenado consentiu-o, certo de poder cont!-los, uns pelos outros, o quede resto aconteceu.

" melhor maneira de prevenir as usurpaç*es de tão tem$vel corpo,maneira de que nenhum governo se serviu até aqui, seria impedir queesse corpo se tornasse permanente, regulamentando os intervalosdurante os quais ele estaria suprimido. Tais intervalos, que nãodevem ser muito grandes para evitar que os abusos se a)rmem,

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podem ser )(ados por lei, de modo a serem &acilmente abreviados,quando necessário, por comiss*es e(traordinárias.

Esse meio me parece desprovido de inconvenientes, uma ve# que,como 'á o disse, o tribunato, não &a#endo parte da constituição, pode

ser removido sem que esta disto se ressinta. E parece-me e)ca#,porque um magistrado, novamente estabelecido, não parte do poderdes&rutado por seu predecessor, mas sim do que a lei lhe outorga.

VI – Da ditadura.

" in9e(ibilidade das leis, que as impede de se a'ustarem aosacontecimentos, pode, em determinados casos, torná-las perniciosas,e causar, por elas, a perda do Estado num momento de crise. "ordem e a lentidão das &ormas requerem um espaço de tempo que ascircunst@ncias muitas ve#es recusam. 0odem apresentar-se mil casos

não esperados pelo legislador, e constitui necessária provid!nciaperceber que é poss$vel tudo prever.

<ão se deve, pois, querer consolidar as instituiç*es pol$ticas a pontode levar o poder a suspender o e&eito delas. Esparta mesma dei(oudormir suas leis.

omente os maiores perigos podem contrabalançar o decorrente daalteração da ordem pública, e não se deve 'amais esmagar o sagradopoder proveniente das leis senão quando se trata de salvar a pátria.<esses casos raros e mani&estos, prov!-se a segurança pública pormeio de um ato particular que dela encarrega a pessoa mais digna. Tal comissão pode ser outorgada de duas maneiras, consoante aespécie do perigo.

e, para isso remediar, é su)ciente aumentar a atividade do governo,deve-se concentrá-la em um ou dois de seus membros= assim sendo,o que se altera não é a autoridade das leis, mas tão-somente a &ormade sua administração. e é tal o perigo, que o aparelho das leis passaa constituir um obstáculo sua garantia, nomeia-se então um che&esupremo que &aça emudecer todas as leis e suspenda um momento aautoridade soberana. Em semelhante caso, a vontade geral não é

posta em, dúvida, e torna-se evidente que a primeira intenção dopovo consiste em que o Estado não venha a perecer. 6essa maneira,a suspensão de autoridade legislativa não signi)ca este'a a mesmaabolida= o magistrado que a silencia não pode &a#!-la &alar; ele adomina, sem que a possa representar; tudo pode &a#er, e(cetolegislar.

% primeiro processo era empregado pelo senado romano quandoencarregava os cLnsules, através de uma &rmula consagrada, deprover a salvação da república; o segundo processo tinha lugarquando um dos dois cLnsules nomeava um ditador, cu'o e(emplo

/oma recebeu de "lba.

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<o começo da república,, recorreu-se com bastante &req?!ncia ditadura pelo &ato de o Estado não possuir ainda um alicercesu)cientemente )(o para se poder suster por &orça e(clusiva de suaconstituição. 3omo os costumes tornassem então supér9uas muitasdas precauç*es necessárias em outros tempos, não s não se receou

que um ditador abusasse de sua autoridade, nem que tentasseconservá-la além do termo. 0arecia, ao contrário, que tão grandepoder constitu$a uma sobrecarga para quem dele estivesse revestido,tanto se apressava seu possuidor em des&a#er-se dela, como setratasse de um posto bastante árduo e perigoso esse de ocupar olugar das leis.

 Também, não é o perigo do abuso, mas o do aviltamento, que me levaa reprovar o uso indiscreto dessa suprema magistratura nos primeirostempos. Enquanto era ela prodigali#ada em eleiç*es, emconsagraç*es, em coisas puramente &ormais, receava-se que se

tomasse menos tem$vel necessidade e que nos acostumássemos aolhar como um t$tulo vão esse que não empregávamos senão em&úteis cerimLnias.

0or volta do )m da república, os romanos, tornados circunspectos,economi#aram a ditadura com a mesma irracionalidade com que atinham prodigali#ado anteriormente. Era &ácil ver que seu receioestava mal &undamentado= que a &raque#a da 3apital constitu$a entãosua segurança contra os magistrados abrigados em seu seio; que umditador, em determinado caso, podia de&ender a liberdade pública,sem 'amais atentar contra ela; e que os grilh*es de /oma de modo

algum seriam &or'ados na prpria /oma, mas em seus e(ércitos. "pequena resist!ncia de 8ário &rente a ila, e de 0ompeu &rente a3ésar, demonstrou per&eitamente o que se podia esperar daautoridade de dentro contra a &orça vinda de &ora.

Esse erro levou-os a cometer grandes &altas, tal, por e(emplo, a denão nomear um ditador no caso 3atilina, pois que, em se tratando dequestão re&erente ao interior da cidade, e, quando muito, a algumaprov$ncia da 2tália, com a autoridade ilimitada que as leis atribu$am aoditador, ele teria &acilmente dissipado a con'uração, esmagadaapenas graças ao concurso de &eli#es acasos, pelos quais a prud!ncia

humana 'amais devia esperar.

"o invés de tomar essa atitude, o senado contentou-se de remetertoda a sua autoridade aos cLnsules, de onde resultou que 3$cero, paraagir com e)cácia, se viu constrangido a transmitir esse poder numponto capital. e os primeiros transportes de alegria constitu$ramuma aprovação de sua conduta, &oi com 'ustiça que, em seguida, selhe pediram contas do sangue dos cidadãos vertido contra as leis,censura que não poderia ser &eita a um ditador. Todavia, a eloq?!nciado cLnsul tudo sobrepu'ou; e ele mesmo, embora romano, amandomais a prpria glria que a pátria, não buscava de pre&er!ncia o meiomais leg$timo e mais seguro de salvar o Estado, mas sim o de obtertoda a honraria dessa empresa DJQG. 6a$ ter sido 'ustamente

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glori)cado como o libertador de /oma, e punido com 'ustiça comoin&rator das leis. 0or brilhante que tenha sido seu apelo, o certo é queconstituiu uma graça.

6e resto, independente da maneira pela qual essa importante

comissão possa ser con&erida, importa )(ar-lhe a duração dentro deum pra#o bastante curto e que não deva 'amais ser prolongado= nodecorrer das crises que o &a#em estabelecer, o Estado é logo salvo oudestru$do, e, passada a necessidade premente, a ditadura toma-setir@nica ou inútil. Em /oma, os ditadores, nomeados apenas por seismeses, em sua maioria, abdicaram antes de atingido esse termo. e opra#o tivesse sido mais longo, é poss$vel que houvessem tentadoprolongá-lo ainda mais, como o )#eram os dec!nviros com o pra#o deum ano. % ditador apenas dispunha do tempo de prover anecessidade pela qual &ora eleito; não lhe sobrava tempo para sonharcom outros pro'etos.

VII – Da censura.

"ssim como a declaração da vontade geral se &a# através da lei, adeclaração do 'ulgamento público se &a# pela censura; a opiniãoconstitui uma espécie de lei cu'o censor é o ministro, o qual, ae(emplo do pr$ncipe, somente a aplica aos casos particulares.

1onge, pois, de ser o tribunal censrio o árbitro da opinião pública;este não é senão o declarador dessa opinião, e, tão logo dela sea&aste, suas decis*es passam a ser vãs e sem e&eito.

N inútil distinguir os costumes de uma nação dos ob'etos de suaestima, porque tudo se contém no mesmo princ$pio e se con&undenecessariamente. Entre todos os povos do mundo, não é a nature#a,mas a opinião que decide da escolha de seus pra#eres. /eparai asopini*es dos homens, e seus costumes se apurarão por si mesmos."mamos sempre o belo ou que consideramos tal; mas é 'ustamente apropsito deste 'ulgamento que nos enganamos= portanto, é este

 'ulgamento que deve ser ordenado. +uem 'ulga os costumes 'ulga ahonra, e quem 'ulga a honra &a# sua lei da opinião.

"s opini*es de um povo nascem de sua constituição; embora a lei nãoregulamente os costumes, é a legislação que lhes dá nascimento;quando a legislação se debilita, os costumes degeneram; mas então o 'ulgamento dos censores não conseguirá &a#er o que as leis não terão&eito.

egue-se da$ que a censura pode ser útil conservação doscostumes, não porém para os restabelecer. 3olocai censores durante

a vig!ncia das leis; tão logo este'am estas perdidas, tudo descamba

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no desespero= nada de leg$timo conserva sua &orça, quando as leisdei(am de e(istir.

" censura mantém os costumes impedindo que as opini*es secorrompam, conservando sua inteire#a através de sábias aplicaç*es,

por ve#es mesmo )(ando-as, quando se mostram ainda incertas. %uso de segundos nos duelos, levado até o &uror no reino de Arança, &oia$ abolido pelas seguintes palavras de edito real= B+uanto aos quet!m a covardia de chamar segundos...C Tal 'ulgamento, prevenindo odo público, decidiu-o de repente. 3ontudo, quando os mesmos editosdese'aram pronunciar que era igualmente covardia o bater-se emduelo O o que de resto é verdade, mas contraria a opinião comum O opúblico #ombou dessa decisão sobre a qual 'á havia estabelecido o 'ulgamento.

Eu disse alhures que, não estando a opinião pública submetida a

constrangimento, nenhum vest$gio disso é necessário no tribunalestabelecido para a representar. <unca se admira o su)ciente a artepela qual esse e(pediente, inteiramente perdido para os modernos,era posto em prática entre os romanos, e mais ainda entre oslacedemLnios.

3omo um homem de maus costumes houvesse dado um bomconselho no 3onselho de Esparta, os é&oros não o levaram em conta,mas )#eram com que a mesma opinião &osse e(pendida por umcidadão virtuoso. +ue honra para um, e que in&@mia para o outro, semque se )#esse qualquer louvor ou qualquer censura a nenhum delesR

3ertos ébrios de amos DJSG pro&anaram o tribunal dos é&oros= no diaseguinte, por edito público, era permitido aos cidadãos o direito de seportarem como vil*es m verdadeiro castigo teria sido menos severoque semelhante impunidade. +uando Esparta decidiu sobre o que eraou não honesto, a 7récia não reclamou contra seus 'ulgamentos.

VIII – Da religi$o civil.

%s homens, de in$cio, não tiveram outros reis senão os deuses, nemoutro governo, a não ser o teocrático. /aciocinaram então como3al$gula, e seu racioc$nio era 'usto. Ae#-se necessária uma longaalteração de sentimentos e idéias a )m de que se pudesse aceitar osemelhante por senhor e iludir-se admitindo que o &ato constitu$a umbem. 3olocando-se 6eus testa de cada sociedade pol$tica, resultoua e(ist!ncia de tantos deuses quantos povos havia. 6ois povosestranhos um ao outro, e quase sempre inimigos, não puderam,durante longo tempo, reconhecer um senhor comum; dois e(ércitosempenhados em combate não saberiam obedecer ao mesmo che&e.

"ssim, das divis*es nacionais originou-se o polite$smo, e do

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polite$smo a intoler@ncia teolgica e civil, que naturalmente é amesma, como o direi mais adiante.

%s gregos imaginaram reencontrar seus deuses entre os povosbárbaros; essa idéia, porém, vinha do &ato de se considerarem os

soberanos naturais desses povos. Todavia, é de nossos dias umarid$cula erudição que pretende identi)car os deuses de diversasnaç*es, como se 8oloce, aturno e 3ronos pudessem ser o mesmodeus; como se o 5aal dos &en$cios, o eus dos gregos e o Uúpiter doslatinos &ossem realmente um único; como se pudesse permaneceralgo comum em seres quiméricos, portadores de nomes di&erentesR

e me perguntarem por que, no paganismo, onde cada Estadopossu$a seu culto e seus deuses, não havia guerras religiosas, euresponderei que era 'ustamente por isso, porque, tendo cada Estadoseu prprio culto, identi)cado com seu prprio governo, não

distinguia seus deuses de suas leis. " guerra pol$tica era tambémteolgica; os departamentos dos deuses eram, por assim di#er,)(ados pelos limites das naç*es. % deus de um povo não possu$anenhum direito sobre os outros povos. %s deuses dos pagãos nãoeram deuses ciumentos; eles dividiam entre si o império do mundo. %prprio 8oisés e o povo hebreu atribu$ram-se algumas ve#es essaidéia, &alando do deus de 2srael. 3onsideravam, é certo, como nulosos deuses dos cananeus, povos proscritos, destinados destruição ecu'o lugar pretendiam ocupar; mas reparai como &alavam dasdivindades dos povos vi#inhos que lhes era vedado atacar= B<ão vos élegitimamente devida a posse do que pertence a 3hamos, vosso

deusC O di#ia Ue&té aos amonitas. BO <s possu$mos graças a essemesmo t$tulo as terras que nosso deus vitorioso adquiriuC DJFG. Eraisso, parece-me, uma paridade per&eitamente reconhecida entre osdireitos de 3hamos e os do deus de 2srael.

8as quando os 'udeus, submetidos aos reis da 5abilLnia, e, emseguida aos reis da $ria, quiseram obstinar-se em não reconhecernenhum outro deus que não o prprio, tal recusa, olhada como umarebelião contra o vencedor, provocou as perseguiç*es lidas em suahistria, e das quais não se conhecem outros e(emplos antes docristianismo DJHG.

Estando cada religião circunscrita unicamente s leis do Estado queas prescrevia, não havia outra maneira de converter um povo senãosubmetendo-o, nem havia outros missionários além dosconquistadores; e, consistindo a lei dos vencidos na obrigação demudar de culto; &a#ia-se preciso começar por vencer antes de pregar.<ão quer isto di#er que os homens combatessem pelos deuses; aocontrário, eram os deuses, como em :omero, que combatiam peloshomens; cada qual pedia a seu deus a vitria e a pagava erigindo-lhenovos altares. %s romanos, antes de tomarem uma praça, intimavamos deuses locais a abandoná-la; e quando dei(avam aos tarentinosseus deuses irritados, &a#iam-no porque olhavam então esses deusescomo submetidos aos deles romanos, &orçados aqueles a prestar

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homenagens a estes. 0ermitiam que os vencidos conservassem osseus deuses, assim como lhes permitiam reger-se por suas prpriasleis. Em geral, uma coroa ao Uúpiter do 3apitlio era o único tributoimposto aos vencidos.

Ainalmente, havendo os romanos estendido, com o império, seu cultoe seus deuses, e, havendo eles mesmos, muitas ve#es, adotado oculto e os deuses dos vencidos, concedendo a uns e a outros o direitode cidade, os povos desse vastoV império, insensivelmente, acabarampor possuir uma in)nidade de deuses e de cultos, quase sempre osmesmos em toda parte; e eis por que o paganismo veio a tornar-se,en)m, em todo o mundo conhecido, uma única e id!ntica religião.

Aoi nessas circunst@ncias que Uesus surgiu para estabelecer na Terraum reino espiritual; o que, separando o sistema teolgico do sistemapol$tico, &e# com que o Estado cessasse de ser uno, causando as

divis*es intestinas que 'amais dei(aram de agitar os povos cristãos.%ra, essa idéia nova de um reino do outro mundo nunca pode entrarna cabeça dos pagãos; estes sempre olharam os cristãos comoverdadeiros rebeldes, que, sob a apar!ncia de uma &alsa submissão,s esperavam pelo instante de se tomarem independentes esenhores, usurpando diretamente a autoridade que )ngiam respeitarem sua debilidade. E &oi essa a causa das perseguiç*es.

% que os pagãos receavam chegou. Então, tudo mudou de &ace. %shumildes cristãos mudaram de linguagem, e cedo se viu o pretendidomundo espiritual trans&ormar-se, sob a direção de um che&e vis$vel, no

mais violento despotismo neste mesmo mundo.Entretanto, como sempre houve um pr$ncipe e leis civis, resultoudesse duplo poder um perpétuo con9ito de 'urisdição, o qualimpossibilitou a e(ist!ncia de toda boa pol$tica no seio dos Estadoscristãos, onde 'amais se pode saber a que senhor ou sacerdote seestava obrigado a obedecer.

<ão obstante, inúmeros povos, mesmo na Europa ou em suascercanias, quiseram conservar ou restabelecer o antigo sistema,porém sem lograr !(ito; o esp$rito do cristianismo a tudo venceu. %

culto sagrado sempre permaneceu ou veio a tornar-se independentedo soberano, e sem ligação necessária com o corpo do Estado.8aomé teve intenç*es muito sensatas; soube ligar bem seu sistemapol$tico, e enquanto a &orma de seu governo subsistiu, sob os cali&as,seus sucessores, tal governo &oi e(atamente uno e bom nessesentido. 8as os árabes, vindo a 9orescer, letrados, polidos, lassos epoltr*es, &oram sub'ugados pelos bárbaros; então recomeçou adivisão entre os dois poderes; muito embora se'a menos aparenteentre os maometanos que entre os cristãos, ela e(iste, sobretudo naseita de "li. :á Estados, como a 0érsia, em que isso se &a# sentircontinuamente.

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Entre ns, os reis da 2nglaterra estabeleceram-se como che&es da2gre'a; o mesmo )#eram os 3ésares, mas, com tal t$tulo, se tomarammais ministros que senhores dela; adquiriram mais o direito de amanter que o de modi)cá-la; não são a$ legisladores, mas apenaspr$ncipes. Em toda parte onde o clero constitui um corpo DJIG, é ele

senhor e legislador dentro da pátria. :á, pois, dois poderes, doissoberanos, na 2nglaterra e na /ússia, como de resto alhures.

% )lso&o :obbes é, de todos os autores cristãos, o único que viuper&eitamente o mal e o remédio, e ousou propor a 'unção das duascabeças da águia, criando a unidade pol$tica, sem a qual o Estado e ogoverno 'amais serão bem constitu$dos; contudo, :obbes deve tervisto que o esp$rito dominador do cristianismo era incompat$vel comseu sistema, e que o interesse do sacerdote seria sempre mais &orteque o interesse do Estado. <ão é tanto o que há de horr$vel e &also emsua pol$tica, como o que há de 'usto e verdadeiro, que a tomou

odiosa.

"credito que, desenvolvendo sob esse ponto de vista os &atoshistricos, re&utar-se-ão &acilmente os sentimentos opostos de 5aWle éXarburton, pretendendo o primeiro que nenhuma religião é útil aocorpo pol$tico. e sustentando o segundo, ao contrário, que ocristianismo constitui o seu mais )rme apoio. 0rovar-se-ia ao primeironão ter havido Estado a que a religião não tenha servido de base, eao segundo, que a lei cristã é, no &undo, mais pre'udicial que útil &orte constituição do Estado. 0ara terminar minhas e(plicaç*es, devodar um pouco mais de precisão s idéias bastante vagas de religião

relativas ao meu assunto.

" religião, considerada em relação sociedade, que é geral ouparticular pode também dividir-se em duas espécies, a saber= areligião do homem, e a do cidadão. " primeira, desprovida detemplos, altares, ritos, limitada unicamente ao culto interior do 6eussupremo e aos eternos deveres da moral, é a pura e simples religiãodos Evangelhos, o verdadeiro te$smo, é o que se pode denominar dedireito divino natural. " segunda, alicerçada num único pa$s, &ornece-lhe os deuses, os patronos prprios e tutelares; possui seus dogmas,seus rituais, seu culto e(terior prescrito por leis; a&ora a única nação

que a cultua, as demais são consideradas in)éis, estrangeiras,bárbaras; é uma religião que não estende os deveres e os direitos dohomem além de seus altares. Aoram assim todas as religi*es dosprimeiros povos, s quais se pode dar a denominação de direitodivino civil ou positivo.

:á um terceiro tipo de religião, mais bi#arro, que, dando aos homensduas legislaç*es, dois che&es, duas pátrias, os submete a deverescontraditrios e os impede de ser a um s tempo devotos e cidadãos."ssim é a religião dos lamas, a dos 'aponeses, e a do cristianismoromano. Esta última pode ser chamada a religião dos padres. 6elaresulta uma espécie de direito misto e insociável inominado.

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" considerar politicamente essas tr!s espécies de religi*es, veri)ca-seque todas t!m os seus de&eitos. " terceira é tão evidentemente má,que constitui uma perda de tempo ocupar-se de o demonstrar. Tudoquanto rompe a unidade social nada vale; todas as instituiç*es quep*em o homem em contradição consigo mesmo não servem para

coisa alguma." segunda é boa naquilo em que reúne o culto divino e o amor dasleis, e em que, &a#endo da pátria o ob'eto da adoração dos cidadãos,ensina-os que servir o Estado é servir o deus tutelar. E uma espéciede teocracia, em que não se deve ter outro pont$)ce além do pr$ncipe,nem outros sacerdotes senão os magistrados. Então, morrer por seupa$s é atingir o mart$rio, violar as leis é ser $mpio; e submeter umculpado e(ecração pública é sacri)cá-lo ira dos deuses= saceresto.

8as ela é má, porque, estando alicerçada sobre o erro e a mentira,engana os homens, torna-os crédulos, supersticiosos, e as)(ia overdadeiro culto da divindade num vão cerimonial. Ela ainda é má,quando, vindo a tornar-se e(clusiva e tir@nica, leva um povo a &a#er-se sanguinário e intolerante, de sorte a que apenas respireassass$nios e massacres, e creia cometer uma ação sagrada ao matarquem não admita os seus deuses. Tal espécie de religião coloca talpovo em estado natural de guerra contra todos os outros, o que ébastante pre'udicial sua prpria segurança.

/esta, pois, a religião do homem ou o cristianismo, não o de nossos

dias, mas o dos Evangelhos, que é de todo di&erente. 0or essa religiãosagrada, sublime, verdadeira, os homens, )lhos do mesmo 6eus, sereconhecem todos como irmãos, e a sociedade que os une não sedissolve, nem na morte.

8as esta religião, não tendo nenhuma relação particular com o corpopol$tico, dei(a entregue s leis a única &orça que de si mesmas tiram,sem lhes acrescentar nenhuma outra; e, devido a isso, um dosgrandes laços da sociedade particular )ca sem e&eito. "inda mais, aoinvés de unir os coraç*es dos cidadãos ao Estado, ela os a&asta,como, aliás, de todas as coisas terrenas. 6e minha parte, nada

conheço mais contrário ao esp$rito social.3ostuma-se di#er que um povo constitu$do de verdadeiros cristãos&ormaria a sociedade mais per&eita que se pode imaginar. Eu não ve'onessa suposição senão uma grande di)culdade= é que uma sociedadede verdadeiros cristãos 'á não seria uma sociedade de homens.

0osso mesmo a)rmar que essa suposta sociedade não se revelaria,apesar de toda a sua per&eição, nem a mais &orte, nem a maisdurável, porque, &orça de ser per&eita, necessitaria de ligação; seuv$cio destrutivo se encontraria em sua prpria per&eição.

3ada qual cumpriria o seu dever; o povo acataria as leis; os che&esmostrar-se-iam 'ustos, os magistrados $ntegros, incorrupt$veis; os

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soldados menospre#ariam a morte; não haveria vaidade nem lu(o. Tudo isso é verdade, mas olhemos mais distante.

% cristianismo é uma religião toda espiritual, preocupada unicamentecom as coisas do céu. " pátria do cristão não é deste mundo. N certo

que ele cumpre o seu dever, mas ele o cumpre com uma pro&undaindi&erença no que concerne ao bom ou mau !(ito de seus cuidados.ma ve# que nada se lhe tenha a reprovar, a ele pouco importa iremas coisas bem ou mal aqui embai(o. e o Estado 9oresce, o cristãomal ousa des&rutar da &elicidade pública; ele receia orgulhar-se daglria de que go#a o seu pa$s; se o Estado perece, ele abençoa a mãode 6eus que se abate sobre o povo.

0ara que a sociedade &osse tranq?ila e se mantivesse a harmonia,seria preciso que todos os cidadãos, sem e(ceção, se revelassemigualmente bons cristãos; porém, se por desgraça, houver entre eles

um único ambicioso, um único hipcrita, um 3atilina, por e(emplo,um 3rom4ell, este &ará de seus piedosos compatriotas o que bementender. " caridade cristã não permite se pense &acilmente mal dopr(imo. 6esde que tal indiv$duo, graças a qualquer ardil, ha'aencontrado um 'eito de se impor a eles e apoderar-se de uma parteda autoridade pública, ei-lo revestido de dignidade= 6eus dese'a quese o respeite. Em breve torna-se um poder= 6eus quer que se lheobedeça. % depositário desse poder talve# abuse dele= e isto é a varacom que 6eus castiga os prprios )lhos. e a consci!ncia aconselharechaçar o usurpador, &a#-se preciso perturbar a tranq?ilidadepública, usar de viol!ncia, derramar sangue, e tudo isso não se

harmoni#a com a doçura do cristão; e, )nalmente, que importa serescravo ou livre neste vale de misérias % essencial é atingir opara$so, e a resignação não é senão um meio de chegar a ele.

e sobrevier alguma guerra estrangeira, os cidadãos marcharão semdi)culdade para a luta; nenhum dentre eles pensará em &ugir; todos&arão o seu dever, mas sem nenhum entusiasmo pela vitria. 6epre&er!ncia saberão morrer a triun&ar. >encedores ou vencidos, quelhes importa <ão conhece a 0rovid!ncia, mais do que eles, o quelhes conv!m 2magine-se, pois, que partido pode tirar de seuestoicismo um inimigo altivo, impetuoso e apai(onadoR 3olocai

&rente deles um desses povos generosos, devorado pelo ardente amorda glria e da pátria; suponde vossa república cristã &rente deEsparta ou /oma= os piedosos cristãos serão batidos, esmagados,destru$dos, antes de terem tido tempo de se reconhecerem, ou entãose salvarão graças. ao despre#o do inimigo. 3onstitu$a um belo 'uramento, no meu modo de ver, o dos soldados de Aábio; não 'uravam morrer ou vencer, mas 'uravam retornar vencedores e o&a#iam con&orme o 'uramento. Uamais os cristãos agiriam de modosemelhante, pois acreditariam estar tentando a 6eus.

Engano-me, porém, quando me re)ro a uma república cristã= ambosos termos se e(cluem. % cristianismo prega unicamente servidão edepend!ncia. eu esp$rito é bastante &avorável tirania, para que

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esta se não sirva com &req?!ncia dele. %s verdadeiros cristãos são&eitos para escravos; e eles o sabem e em hiptese nenhuma seamotinam; esta vida breve tem muito pouco preço aos seus olhos.

6i#em que as tropas cristãs são e(celentes. Eu o nego. %nde estão as

provas disso 3itar-me-ão as 3ru#adas. em discutir o valor das3ru#adas,V assinalarei que, longe de serem cristãos, eram soldados doclero, cidadãos da 2gre'a; batiam-se por seu pa$s espiritual, que elatrans&ormara em temporal, não se sabe como. 5em pesando ascoisas, era uma volta ao paganismo. 3omo os Evangelhos nãoestabelecem uma religião nacional, toda guerra sacra é imposs$velentre os cristãos.

ob os imperadores pagãos, os soldados cristãos eram valentes;todos os autores cristãos o asseguram, e eu o creio= tratava-se deuma emulação de honra contra as tropas pagãs. "ssim que os

imperadores se tornaram cristãos, essa emulação dei(ou de e(istir; equando a cru# e(pulsou a águia, toda a coragem romanadesapareceu.

8as dei(ando de lado as consideraç*es pol$ticas, retornemos aodireito, e )(emos os princ$pios acerca deste importante ponto. %direito, dado pelo pacto social ao soberano sobre os vassalos, nãoultrapassa, como 'á o disse, os limites da utilidade pública DPKG. %svassalos não devem, portanto, prestar contas ao soberano no querespeita s suas opini*es a não ser na medida em que essas opini*esimportem comunidade. %ra, é conveniente ao Estado que cada

cidadão possua uma religião que o &aça amar os seus deveres;todavia, os dogmas dessa religião s interessam ao Estado e a seusmembros enquanto se relacionam com a moral e os deveres queaquele que a pro&essa é &orçado a cumprir para com outrem. 3adaqual pode ter, de resto, as opini*es que dese'ar, sem que interesse aosoberano conhec!-las; porque, não tendo ele compet!ncia no tocanteao outro mundo, não é de seu arb$trio preocupar-se com a sorte dosvassalos na vida &utura, desde que se'am bons cidadãos na vidaterrena.

:á, pois, uma pro)ssão de &é puramente civil cu'os artigos compete

ao soberano )(ar, não precisamente como dogmas de religião, mascomo sentimentos de sociabilidade, sem os quais é imposs$vel ser-sebom cidadão ou súdito )el DPMG. 3onquanto não possa obrigarninguém a crer, pode ele banir do Estado quem neles não acreditar;pode bani-lo, não como $mpio, mas sim como insociável, comoincapa# de amar sinceramente as leis, a 'ustiça, e de imolar necessidade a vida e o dever. E se alguém, depois de haverreconhecido publicamente esses mesmos dogmas, se condu# comose os não aceitasse, se'a punido de morte, pois cometeu o maior doscrimes= mentiu perante as leis.

%s dogmas da religião civil devem ser simples, em pequeno número,enunciados com precisão, sem e(plicaç*es nem comentários. "

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