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Universidade Federal de Minas Gerais Instituto de Ciências Biológicas Programa de Pós-Graduação em Ecologia, Conservação e Manejo de Vida Silvestre Tese apresentada ao Curso de Ecologia, Conservação e Manejo da Vida Silvestre da Universidade Federal de Minas Gerais, como requisito parcial à obtenção do título de Doutor em Ecologia. Orientador: Prof. Dr. Francisco Antônio Rodrigues Barbosa Cristiane Freitas de Azevedo Barros Belo Horizonte 2010 Diversidade e ecologia do fitoplâncton em 18 lagoas naturais do médio Rio Doce

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Universidade Federal de Minas Gerais

Instituto de Ciências Biológicas

Programa de Pós-Graduação em Ecologia, Conservação e Manejo de Vida Silvestre

Tese apresentada ao Curso de Ecologia, Conservação e Manejo da Vida Silvestre da Universidade Federal de Minas Gerais, como requisito parcial à obtenção do título de Doutor em Ecologia.

Orientador: Prof. Dr. Francisco Antônio Rodrigues Barbosa

Cristiane Freitas de Azevedo Barros

Belo Horizonte

2010

Diversidade e ecologia do fitoplâncton em 18 lagoas naturais

do médio Rio Doce

II

À minha família, com todo meu amor

e minha gratidão

III

Agradecimentos

Agradeço ao orientador e amigo, Professor Francisco Barbosa, por me acolher na limnologia desde os primeiros passos, sempre acompanhando e incentivando meu crescimento.

Ao pessoal dos laboratórios de Limnologia e Ecologia do zooplâncton, pelo apoio e agradável convivência ao longo desses anos. Em especial à Professora Paulina, Rosinha, Marcelo e Graça, que me acompanham desde sempre e por estarem sempre tão disponíveis para ajudar.

Aos amigos do laboratório de Ecologia do Zooplâncton, que me acolheram sempre com tanto carinho, me fazendo sentir parte da equipe, esquecendo, em vários momentos, que eu era uma das “meninas do fito”.

Aos amigos que me ajudaram nas coletas (as que deram e as que não deram certo): Filipe, Atenágoras, Sofia, Akemi, Diego, Lu Brandão, Sidmar, Nelson e Thiago. Agradeço imensamente pela boa vontade e paciência de todos vocês com os contratempos e estresses de campo. O projeto não teria saído do papel sem vocês! Espero que, como eu, considerem que passamos semanas divertidas, apesar da correria e do cansaço.

Aos que ajudaram com as análises de laboratório, Simone, Marcelo, Diego, Pedro, Raquel, Akemi, Atenágoras, Débora, pela disponibilidade, dedicação e comprometimento, e por abrirem mão do descanso em alguns fins de semana.

Ao Diego Pujoni, com quem tive a imensa sorte e a felicidade de dividir este trabalho. Muitíssimo obrigada por aceitar trabalhar com as amostras de zooplâncton, mesmo tendo a metade do tempo que eu tive, por ter tido a paciência e de me ajudar (e me ensinar) com as análises estatísticas, mesmo na correria para cumprir seus próprios prazos.

Ao Nelson Mello, pela ajuda com a CCA. À Maria Bêtania Gonçalves Souza e ao Professor José Fernandes Bezerra-Neto pelas valiosas discussões e pela revisão dos textos. À Professora Judit Padisák pelas importantes sugestões para o último capítulo. Ao Luiz, pela ajuda na formatação da tese.

Às “meninas do fito” de todas as gerações: Vi, a primeira a chegar, e a que me ajudou a descobrir e me apaixonar pelas algas. Às segunda e terceira gerações, que já se misturam na minha cabeça: Bê, Erikita, Paula, João, Fábio, Maíra, que tornaram o trabalho no laboratório a melhor parte do dia. Nossas discussões científicas me acrescentaram muito! Às mais novas: Paulinha e Aline (empatia desde o primeiro segundo!), obrigada pela amizade, pelo apoio, pelo empenho e pela ajuda na identificação das espécies, na organização das amostras e planilhas e, por assumirem várias vezes funções do laboratório atribuídas a mim, para que eu pudesse ficar “por conta” da tese.

Aos amigos para todo o sempre: Ana Letícia, Bê, Érika, Flávio, Renata, Raquel Simone e Vi, por me apoiarem nas decisões loucas, me acudirem nos momentos de desespero, ouvirem meus desabafos e sempre me inspirarem a

IV

ser uma pessoa melhor. A vida, com certeza, não teria a mesma graça e leveza sem vocês por perto.

A minha família e ao Luiz, um muito obrigada infinito por representarem só coisas boas na minha vida: apoio, amor, carinho, incentivo... Pela paciência com a minha falta de paciência nos últimos meses. Sei que vocês também sofreram pra este trabalho sair... com o “está acabando” que não virava “acabou” nunca!...Tenham a certeza de que contribuíram demais pra essa tese acontecer! Amo vocês demais!

Aos professores Carlos Bicudo, Célia Sant’Anna, Vera Werner e Thelma Ludwig, pela ajuda na identificação das espécies.

Ao Instituto de Ciências Biológicas e ao Curso de Pós-Graduação em Ecologia, Conservação e Manejo de Vida Silvestre da UFMG, pela infra-estrutura e apoio durante a realização desse trabalho. Em especial, ao Fred, Cris e Mary, pela ajuda com as questões burocráticas.

Ao Conselho Nacional de Pesquisa (MCT-CNPq) pelo financiamento do projeto através do Programa de Pesquisas Ecológicas de Longa Duração (PELD-Site 4).

À Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG), pela bolsa de estudos concedida.

Ao Instituto Estadual de Florestas de Minas Gerais (IEF-MG), pela licença de coleta, e à administração do Parque Estadual do Rio Doce (PERD) pelo apoio logístico e disponibilização dos alojamentos e mateiros, fundamentais para a realização deste estudo. Obrigada também aos Srs. Tomé e Valtinho, que nos acompanharam, sempre que possível, às lagoas de acesso mais complicado.

À Companhia Agrícola Florestal – Santa Bárbara (Grupo Arcelor) pela autorização para coleta nas lagoas localizadas dentro das áreas da empresa.

À Polícia Ambiental de MG, especialmente ao pelotão do PERD, na pessoa do Sr. Eduardo Dutra, pelo acompanhamento durante a escolha das lagoas e primeiras amostragens.

V

SUMÁRIO

ÍNDICE DE TABELAS ...................................................................................................................... VI

ÍNDICE DE FIGURAS ...................................................................................................................... VII

RESUMO GERAL ............................................................................................................................... 1

GENERAL ABSTRACT ...................................................................................................................... 2

INTRODUÇÃO GERAL ...................................................................................................................... 3

ÁREA DE ESTUDOS .......................................................................................................................... 8

CAPÍTULO 1 ...................................................................................................................................... 15

PADRÕES REGIONAIS E VARIAÇÃO ESPACIAL DA DIVERSIDADE FITOPLANCTÔNICA

NO SISTEMA LACUSTRE DO MÉDIO RIO DOCE, MINAS GERAIS......................................... 15

Resumo ........................................................................................................................................... 16

Abstract ........................................................................................................................................... 17

Introdução ....................................................................................................................................... 18

Materiais e métodos ..................................................................................................................... 20

Resultados ...................................................................................................................................... 25

Discussão ....................................................................................................................................... 34

CAPÍTULO 2 ...................................................................................................................................... 49

ATENUAÇÃO DA RADIAÇÃO VISÍVEL EM 16 LAGOAS NATURAIS DO MÉDIO RIO DOCE, MINAS GERAIS: FATORES DETERMINANTES E IMPLICAÇÕES PARA O

FITOPLÂNCTON ................................................................................................................................ 49

Resumo ........................................................................................................................................... 50

Introdução ....................................................................................................................................... 52

Área de estudo .............................................................................................................................. 54

Metodologia .................................................................................................................................... 55

Resultados ...................................................................................................................................... 57

Discussão ....................................................................................................................................... 64

CAPÍTULO 3 ...................................................................................................................................... 70

RESPOSTA DOS GRUPOS FUNCIONAIS FITOPLANCTÔNICOS AOS GRADIENTES

AMBIENTAIS NO SISTEMA LACUSTRE DO MÉDIO RIO DOCE, MG ..................................... 70

Resumo ........................................................................................................................................... 71

Abstract ........................................................................................................................................... 72

Introdução ....................................................................................................................................... 73

Materiais e métodos ..................................................................................................................... 75

Resultados ...................................................................................................................................... 79

Discussão ....................................................................................................................................... 95

DISCUSSÃO GERAL ..................................................................................................................... 102

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................................. 104

VI

ÍNDICE DE TABELAS

TABELA 1 - AMBIENTES ESTUDADOS NO BRASIL ATÉ 2009 UTILIZANDO A ABORDAGEM DOS GRUPOS

FUNCIONAIS PARA ANÁLISE DO FITOPLÂNCTON. .......................................................................... 6

TABELA 2 - COORDENADAS GEOGRÁFICAS, ALTITUDE, PERÍMETRO, ÍNDICE DE DESENVOLVIMENTO DE

MARGEM (DL) E ÁREA DAS LAGOAS ESTUDADAS. ..................................................................... 11

TABELA 1. 1 - COORDENADAS GEOGRÁFICAS, ALTITUDE, ÍNDICE DE DESENVOLVIMENTO DE MARGEM

(DL), ÁREA DA LAGOA E ÁREA DA BACIA DE DRENAGEM DAS 18 LAGOAS AMOSTRADAS ENTRE

AGOSTO DE 2007 E MAIO DE 2008 NO PARQUE ESTADUAL DO RIO DOCE E ÁREA DE ENTORNO. . 21

TABELA 1. 2 - MÉDIAS E COEFICIENTES DE VARIAÇÃO DAS VARIÁVEIS LIMNOLÓGICAS MEDIDAS NA SUB-SUPERFÍCIE DE CADA LAGOA AO LONGO DOS QUATRO PERÍODOS AMOSTRADOS ......................... 26

TABELA 1. 3 - CORRELAÇÕES ENTRE AS CARACTERÍSTICAS MORFOLÓGICAS E LIMNOLÓGICAS E A

RIQUEZA DE ESPÉCIES FITOPLANCTÔNICAS PARA O CONJUNTO DE 18 LAGOAS AMOSTRADAS ENTRE

AGOSTO DE 2007 E MAIO DE 2008 NO SISTEMA LACUSTRE DO MÉDIO RIO DOCE. VALORES EM

NEGRITO INDICAM CORRELAÇÕES SIGNIFICATIVAS (P<0,05). .................................................... 29

TABELA 1. 4 - MATRIZ DE SIMILARIDADE (ÍNDICE DE JACCARD) OBTIDA PARA AS 18 LAGOAS

AMOSTRADAS NO PERD ENTRE AGOSTO DE 2007 E MAIO DE 2008 .......................................... 31

TABELA 2. 1 - ÁREA E PROFUNDIDADE DAS 16 LAGOAS AMOSTRADAS. .............................................. 57

TABELA 2. 2 - RESULTADOS OBTIDOS PARA REGRESSÃO LINEAR SIMPLES DA PROFUNDIDADE TOTAL NO

PONTO DE COLETA E OS TEORES DE FÓSFORO TOTAL (PTOTAL) E MATÉRIA ORGÂNICA DISSOLVIDA

COLORIDA (MODC) E O COEFICIENTE DE ATENUAÇÃO DA LUZ K0 .............................................. 59

TABELA 2. 3 - RESULTADOS OBTIDOS PARA ANÁLISE DE REGRESSÃO MÚLTIPLA DO K0 UTILIZANDO

BIOMASSA DO FITOPLÂNCTON, MATÉRIA ORGÂNICA DISSOLVIDA COLORIDA E CONCENTRAÇÃO DE

FÓSFORO TOTAL COMO VARIÁVEIS INDEPENDENTES ................................................................. 59

TABELA 2. 4 - PRINCIPAIS ESPÉCIES E PORCENTAGEM DA BIOMASSA REPRESENTADA EM CADA LAGOA

DURANTE AS QUATRO CAMPANHAS DE AMOSTRAGEM. .............................................................. 63

TABELA 3. 1 - MÍNIMOS E MÁXIMOS OBTIDOS PARA AS PRINCIPAIS VARIÁVEIS AMBIENTAIS DE 18 LAGOAS

NO PARQUE ESTADUAL DO RIO DOCE (MG) E NO SEU ENTORNO DURANTE AS AMOSTRAGENS

REALIZADAS NOS PERÍODOS DE CHUVAS (NOV/2007 E FEV/2008) E SECA (AGO/2007 E

MAIO/2008). COMPARANDO-SE OS PERÍODOS EM CADA LAGOA, OS VALORES EM NEGRITO FORAM

OS MAIS ELEVADOS (TESTE DE MANN-WHITNEY; P<0,05) ........................................................ 81

TABELA 3. 2 - CLASSIFICAÇÃO DE 18 LAGOAS NO PARQUE ESTADUAL DO RIO DOCE (MG) E SEU

ENTORNO EM 5 TIPOS, IDENTIFICADOS COM BASE NA PROFUNDIDADE TOTAL, COEFICIENTE DE

ATENUAÇÃO ESCALAR DA LUZ E TROFIA (AMOSTRAGENS REALIZADAS ENTRE AGOSTO DE 2007 E

MAIO DE 2008) ...................................................................................................................... 85

TABELA 3. 3 - ESPÉCIES FITOPLANCTÔNICAS DESCRITORAS (>5% DA BIOMASSA TOTAL), CLASSES

TAXONÔMICAS E GRUPOS FUNCIONAIS (GF) DE 18 LAGOAS NO PARQUE ESTADUAL DO RIO DOCE

E NO SEU ENTORNO (AMOSTRAGENS REALIZADAS ENTRE AGOSTO DE 2007 E MAIO DE 2008). .... 87

TABELA 3. 4 - CONTRIBUIÇÃO DAS PRINCIPAIS ESPÉCIES E GRUPOS FUNCIONAIS FITOPLANCTÔNICOS

MAIS FREQUENTES PARA A BIOMASSA NAS 18 LAGOAS NO PARQUE ESTADUAL DO RIO DOCE (MG) E NO SEU ENTORNO, DURANTE PERÍODOS DE CHUVAS (NOVEMBRO DE 2007 E FEVEREIRO DE

2008) E SECA (AGOSTO DE 2007 E MAIO DE 2008). ................................................................. 92

TABELA 3. 5 - CORRELAÇÕES SIGNIFICATIVAS (P<0,05) ENTRE AS VARIÁVEIS ABIÓTICAS, A DENSIDADE

DE ZOOPLÂNCTON E A BIOMASSA DOS PRINCIPAIS GRUPOS FUNCIONAIS DO FITOPLÂNCTON EM 18

VII

LAGOAS NO PARQUE ESTADUAL DO RIO DOCE (MG) E NO SEU ENTORNO (AMOSTRAGENS

REALIZADAS ENTRE AGOSTO DE 2007 E MAIO DE 2008) ........................................................... 93

TABELA 3. 6 - COEFICIENTES DE CORRELAÇÃO CANÔNICA (INTRA-SET) DOS VETORES AMBIENTAIS E

BIÓTICOS COM OS EIXOS 1 E 2 PARA OS GRUPOS FUNCIONAIS FITOPLANCTÔNICOS OBSERVADOS

EM 18 LAGOAS NO PARQUE ESTADUAL DO RIO DOCE (MG) E NO SEU ENTORNO (AMOSTRAGENS

REALIZADAS ENTRE AGOSTO DE 2007 E MAIO DE 2008) ........................................................... 94

Índice de Figuras

FIGURA 1 - SISTEMA LACUSTRE DO MÉDIO RIO DOCE, EVIDENCIANDO OS LIMITES DO PARQUE ESTADUAL

DO RIO DOCE, AS LAGOAS AMOSTRADAS (1 A18) E OS PONTOS DE COLETA (+). IMAGEM CEDIDA

PELO INSTITUTO ESTADUAL DE FLORESTAS DE MINAS GERAIS – IEF/MG (MODIFICADA)............ 10

FIGURA 2 - IMAGEM DE SATÉLITE DA ÁREA DE ESTUDO, COM DESTAQUE PARA AS LAGOAS CARIOCA, DOM HELVÉCIO, GAMBÁ E GAMBAZINHO, LOCALIZADAS NO PARQUE ESTADUAL DO RIO DOCE. FONTE: WWW.EARTH.GOOGLE.COM ........................................................................................ 12

FIGURA 3 - IMAGEM DE SATÉLITE DA ÁREA DE ESTUDO, COM DESTAQUE PARA AS LAGOAS ANÍBAL, PATOS E SANTA HELENA, LOCALIZADAS NO PARQUE ESTADUAL DO RIO DOCE. FONTE: WWW.EARTH.GOOGLE.COM .................................................................................................... 12

FIGURA 4 - IMAGEM DE SATÉLITE DA ÁREA DE ESTUDO, COM DESTAQUE PARA AS LAGOAS CENTRAL, LOCALIZADA NO PARQUE ESTADUAL DO RIO DOCE, E PIMENTA, LOCALIZADA NA ÁREA DE

ENTORNO. FONTE: WWW.EARTH.GOOGLE.COM ........................................................................ 13

FIGURA 5 - IMAGEM DE SATÉLITE DA ÁREA DE ESTUDO, COM DESTAQUE PARA AS AMARELA, ÁGUAS

CLARAS E PALMEIRINHA, LOCALIZADAS NA ÁREA DE ENTORNO DO PARQUE ESTADUAL DO RIO

DOCE. FONTE: WWW.EARTH.GOOGLE.COM .............................................................................. 13

FIGURA 6 - IMAGEM DE SATÉLITE DA ÁREA DE ESTUDO, COM DESTAQUE PARA AS LAGOAS BARRA E

JACARÉ, LOCALIZADAS NA ÁREA DE ENTORNO DO PARQUE ESTADUAL DO RIO DOCE. FONTE: WWW.EARTH.GOOGLE.COM .................................................................................................... 14

FIGURA 7 - IMAGEM DE SATÉLITE DA ÁREA DE ESTUDO, COM DESTAQUE PARA AS LAGOAS FERRUGEM E

FERRUGINHA, LOCALIZADAS NA ÁREA DE ENTORNO DO PARQUE ESTADUAL DO RIO DOCE. FONTE: WWW.EARTH.GOOGLE.COM .................................................................................................... 14

FIGURA 1. 1 - VARIAÇÃO MENSAL DA TEMPERATURA MÉDIA DO AR (LINHA) E DA PRECIPITAÇÃO

ACUMULADA (BARRAS) NOS MESES DE JANEIRO A DEZEMBRO. DADOS MÉDIOS OBTIDOS DA

ESTAÇÃO CLIMATOLÓGICA DO PERD ENTRE 2004 E 2008. ...................................................... 22

FIGURA 1. 2 - CURVA DE ACUMULAÇÃO DE ESPÉCIES REGISTRADA PARA AS 18 LAGOAS AMOSTRADAS

ENTRE AGOSTO DE 2007 E MAIO DE 2008 NO SISTEMA LACUSTRE DO MÉDIO RIO DOCE. ............ 27

FIGURA 1. 3 - TOTAL DE ESPÉCIES E CONTRIBUIÇÃO DE CADA CLASSE TAXÔMICA PARA AS 18 LAGOAS

AMOSTRADAS ENTRE AGOSTO DE 2007 E MAIO DE 2008 NO SISTEMA LACUSTRE DO MÉDIO RIO

DOCE. ................................................................................................................................... 28

FIGURA 1. 4 - VARIAÇÃO NA RIQUEZA TOTAL (A) E NO NÚMERO DE ESPÉCIES EXCLUSIVAS (B) DAS

LAGOAS LOCALIZADAS NO PERD E EM SUA ÁREA DE ENTORNO. EM CADA CAIXA, A LINHA

REPRESENTA A MEDIANA E A CAIXA E O WHISKER REPRESENTAM 75 E 90% DOS DADOS, RESPECTIVAMENTE. ............................................................................................................... 29

VIII

FIGURA 1. 5 - CLUSTER OBTIDO PARA AS 18 LAGOAS AMOSTRADAS NO PERD, CONSIDERANDO A MÉDIA

DAS VARIÁVEIS AMBIENTAIS OBTIDA PARA AS QUATRO COLETAS REALIZADAS ENTRE AGOSTO DE

2007 E MAIO DE 2008. OS CÓDIGOS DAS LAGOAS SÃO OS MESMOS DA TABELA 1.4. .................. 31

FIGURA 1. 6 - CLUSTER OBTIDO PARA AS 18 LAGOAS AMOSTRADAS NO PERD, CONSIDERANDO A

PRESENÇA E AUSÊNCIA DAS ESPÉCIES, ENTRE AGOSTO DE 2007 E MAIO DE 2008. OS CÓDIGOS

DAS LAGOAS SÃO OS MESMOS DA TABELA 1.4. ........................................................................ 32

FIGURA 1. 7 - VARIAÇÃO NA BIOMASSA TOTAL E NOS VALORES DO ÍNDICE DE SHANNON (H’) E DE

PIEOLOU (E) NAS 18 LAGOAS AMOSTRADAS ENTRE AGOSTO DE 2007 E MAIO DE 2008. EM CADA

CAIXA, A LINHA REPRESENTA A MEDIANA E A CAIXA E O WHISKER REPRESENTAM 75 E 90% DOS

DADOS, RESPECTIVAMENTE. ÁGUAS CLARAS (AC), ALMÉCEGA (AL), AMARELA (AM), ANÍBAL

(AN), BARRA (BA), CARIOCA (CA), CENTRAL (CE), DOM HELVÉCIO (DH), FERRUGEM (FE), FERRUGINHA (FN), GAMBÁ (GA), GAMBAZINHO (GN), JACARÉ (JA), PALMEIRINHA (PA), PATOS

(PT), PIMENTA (PI), SANTA HELENA (SH) E VERDE (VE). ........................................................ 33

FIGURA 2. 1 - VARIAÇÃO MENSAL DA TEMPERATURA MÉDIA DO AR (LINHA) E DA PRECIPITAÇÃO

ACUMULADA (BARRAS) NOS MESES DE JANEIRO A DEZEMBRO. DADOS MÉDIOS OBTIDOS DA

ESTAÇÃO CLIMATOLÓGICA DO PERD ENTRE 2004 E 2008. ...................................................... 54

FIGURA 2. 2 – MÉDIA E DESVIO PADRÃO OBSERVADOS PARA O COEFICIENTE DE ATENUAÇÃO DA

RADIAÇÃO FOTOSSINTETICAMENTE ATIVA (K0), DA CONCENTRAÇÃO DE MATÉRIA ORGÂNICA

DISSOLVIDA COLORIDA (A250), DO TEOR DE FÓSFORO TOTAL (PTOTAL), FÓSFORO SOLÚVEL REATIVO

(PSR), E NITROGÊNIO INORGÂNICO DISSOLVIDO (DIN) NAS LAGOAS DURANTE OS PERÍODOS DE

SECA E CHUVA. ...................................................................................................................... 58

FIGURA 2. 3 - CONTRIBUIÇÃO DAS CLASSES TAXONÔMICAS PARA O TOTAL DE ESPÉCIES REGISTRADO EM

CADA LAGOA AMOSTRADA ENTRE AGOSTO DE 2007 E MAIO DE 2008......................................... 60

FIGURA 2. 4 - VARIAÇÃO DA RIQUEZA EM ESPÉCIES DE BACILLARYOPHYCEAE NAS LAGOAS COM

COEFICIENTES DE ATENUAÇÃO ESCALAR (K0) MENORES (ÁGUAS CLARAS) E MAIORES QUE 0,8

(ÁGUAS ESCURAS). EM CADA CAIXA, O PONTO REPRESENTA A MEDIANA E OS LIMITES INFERIOR E

SUPERIOR COMPREENDEM OS PERCENTIS 25 E 75% DOS DADOS, RESPECTIVAMENTE. .............. 60

FIGURA 2. 5 - VARIAÇÃO DA BIOMASSA TOTAL, DAS CLASSES CYANOBACTERIA E CRYPTOPHYCEAE E DA

ABUNDÂNCIA RELATIVA (%) DE ZYGNEMATOPHYCEAE NAS LAGOAS COM COEFICIENTE DE

ATENUAÇÃO ESCALAR DA LUZ K0 <0,8 (ÁGUAS CLARAS) E >0,8 (ÁGUAS ESCURAS). EM CADA

CAIXA, O PONTO REPRESENTA A MEDIANA E OS LIMITES INFERIOR E SUPERIOR COMPREENDEM OS

PERCENTIS 25 E 75%, RESPECTIVAMENTE. OS CÍRCULOS REPRESENTAM OS OUTLIERS. LETRAS

DIFERENTES INDICAM DIFERENÇAS SIGNIFICATIVAS (P<0,05). ................................................... 61

FIGURA 3. 1 - LOCALIZAÇÃO DAS 18 LAGOAS ESTUDADAS NO PARQUE ESTADUAL DO RIO DOCE/PERD

(MG) E NO SEU ENTORNO E DO PONTO EM QUE FORAM REALIZADAS AS COLETAS LIMNOLÓGICAS

(+). FONTE: INSTITUTO MINEIRO DE GESTÃO DAS ÁGUAS (IGAM-MG). A LINHA CONTÍNUA INDICA

OS LIMITES DO PERD. ........................................................................................................... 76

FIGURA 3. 2 - VARIAÇÃO MENSAL DA TEMPERATURA MÉDIA DO AR (LINHA) E DA PRECIPITAÇÃO

ACUMULADA (BARRAS) NOS MESES DE JANEIRO A DEZEMBRO. DADOS MÉDIOS OBTIDOS DA

ESTAÇÃO CLIMATOLÓGICA DO PARQUE ESTADUAL DO RIO DOCE (MG), ENTRE 2004 E 2008. ... 77

FIGURA 3. 3 - PERFIS DE TEMPERATURA DA COLUNA D’ÁGUA OBTIDOS EM 18 LAGOAS DO PARQUE

ESTADUAL DO RIO DOCE E DO SEU ENTORNO, AMOSTRADAS ENTRE AGOSTO DE 2007 E MAIO DE

2008. .................................................................................................................................... 82

FIGURA 3. 4 - DIAGRAMA DE ORDENAÇÃO DA CORRELAÇÃO NA ANÁLISE DE COMPONENTES PRINCIPAIS

PARA AS AMOSTRAS LIMNOLÓGICAS DE 18 LAGOAS NO PARQUE ESTADUAL DO RIO DOCE (MG) E

NO SEU ENTORNO (AMOSTRAGENS REALIZADAS ENTRE AGOSTO DE 2007 E MAIO DE 2008).

IX

VARIÁVEIS DESCRITORAS: ÍNDICE DE ESTADO TRÓFICO (IET), PROFUNDIDADE (PROF), COEFICIENTE DE ATENUAÇÃO DA LUZ (KO), EXTENSÃO DA ZONA EUFÓTICA (ZEU), EXTENSÃO DA

ZONA DE MISTURA (ZMIX), TEMPERATURA DA ÁGUA (TEMP) E CONCENTRAÇÃO DE SILICATO (SIO4). ÁGUAS CLARAS (AC), ALMÉCEGA (AL), GAMBÁ (GA), GAMBAZINHO (GN), PALMEIRINHA (PA), SANTA HELENA (SH), ANÍBAL (AN), BARRA (BA), CARIOCA (CA), JACARÉ (JA), PATOS (PT), CENTRAL (CE), FERRUGINHA (FN), PIMENTA (PI), AMARELA (AM) E FERRUGEM (FE).OS

NÚMEROS 1 A 4 INDICAM A PRIMEIRA À QUARTA COLETA. .......................................................... 84

FIGURA 3. 5 - VARIAÇÃO ESPACIAL E TEMPORAL DA BIOMASSA FITOPLANCTÔNICA EM 18 LAGOAS NO

PARQUE ESTADUAL DO RIO DOCE (MG) E NO SEU ENTORNO CLASSIFICADAS EM CINCO TIPOS

IDENTIFICADOS COM BASE NA PROFUNDIDADE TOTAL, COEFICIENTE DE ATENUAÇÃO ESCALAR DA

LUZ E TROFIA (AMOSTRAGENS REALIZADAS ENTRE AGOSTO DE 2007 E MAIO DE 2008). A LINHA

HORIZONTAL DENTRO DAS CAIXAS REPRESENTA A MEDIANA E OS LIMITES DA CAIXA E A LINHA

VERICAL ENGLOBAM 75% E 90% DOS DADOS, RESPECTIVAMENTE. DOM HELVÉCIO (DH), VERDE

(VE), ÁGUAS CLARAS (AC), ALMÉCEGA (AL), GAMBÁ (GA), GAMBAZINHO (GN), PALMEIRINHA

(PA), SANTA HELENA (SH), ANÍBAL (AN), BARRA (BA), CARIOCA (CA), JACARÉ (JA), PATOS

(PT), CENTRAL (CE), FERRUGINHA (FN), PIMENTA (PI), AMARELA (AM) E FERRUGEM (FE). .... 86

FIGURA 3. 6 - MÉDIA E DESVIO-PADRÃO DA BIOMASSA FITOPLANCTÔNICA DE 18 LAGOAS NO PARQUE

ESTADUAL DO RIO DOCE (MG) E NO SEU ENTORNO, CLASSIFICADAS EM CINCO TIPOS

IDENTIFICADOS COM BASE NA PROFUNDIDADE TOTAL, COEFICIENTE DE ATENUAÇÃO ESCALAR DA

LUZ E TROFIA (AMOSTRAGENS REALIZADAS ENTRE AGOSTO DE 2007 E MAIO DE 2008). LETRAS

DIFERENTES INDICAM DIFERENÇAS SIGNIFACATIVAMENTE DIFERENTES (P<0,05). ...................... 88

FIGURA 3. 7 - MÉDIA E DESVIO PADRÃO DA BIOMASSA FITOPLANCTÔNICA DOS PRINCIPAIS GRUPOS

FUNCIONAIS DE 18 LAGOAS NO PARQUE ESTADUAL DO RIO DOCE (MG) E NO SEU ENTORNO

CLASSIFICADAS EM CINCO TIPOS IDENTIFICADOS COM BASE NA PROFUNDIDADE TOTAL, COEFICIENTE DE ATENUAÇÃO ESCALAR DA LUZ E TROFIA (AMOSTRAGENS REALIZADAS ENTRE

AGOSTO DE 2007 E MAIO DE 2008). ........................................................................................ 90

FIGURA 3. 8 - CONTRIBUIÇÃO MÉDIA DOS PRINCIPAIS GRUPOS FUNCIONAIS PARA A BIOMASSA

FITOPLANCTÔNICA DE 18 LAGOAS NO PARQUE ESTADUAL DO RIO DOCE (MG) E NO SEU

ENTORNO, CLASSIFICADAS EM CINCO TIPOS, IDENTIFICADOS COM BASE NA PROFUNDIDADE TOTAL, COEFICIENTE DE ATENUAÇÃO ESCALAR DA LUZ E TROFIA, DURANTE PERÍODOS DE CHUVAS (C, NOVEMBRO DE 2007 E FEVEREIRO DE 2008) E SECA (S, AGOSTO DE 2007 E MAIO DE 2008). .... 91

FIGURA 3. 9 - DIAGRAMA DE ORDENAÇÃO DA ACC DOS GRUPOS FUNCIONAIS E SETE VARIÁVEIS

DESCRITORAS CONSIDERANDO AS 18 LAGOAS AMOSTRADAS EM QUATRO CAMPANHAS ENTRE

AGOSTO DE 2007 E MAIO DE 2008 NO MÉDIO RIO DOCE (N=72). .............................................. 95

1

RESUMO GERAL

Os ecossistemas naturais são dinâmicos e sua diversidade de espécies é

controlada por mecanismos múltiplos. O conhecimento dos padrões existentes

é essencial para a definição dos métodos de monitoramento e estratégias de

conservação. Por serem entidades ecológicas bem delimitadas na paisagem,

lagoas constituem bons modelos para o estudo da riqueza de espécies em

relação aos gradiente ambientais. O presente estudo foi desenvolvido em 18

lagoas naturais do sistema lacustre do médio Rio Doce, localizado na região

sudeste do Brasil, e teve como objetivos avaliar: 1) a riqueza de espécies e a

composição fitoplanctônica desses ambientes, bem como seus padrões e

fatores determinantes, 2) a variação espacial e temporal do coeficiente de

absorção da radiação fotossinteticamente ativa (k0) bem como sua relação com

os teores de matéria orgânica dissolvida colorida (MODC), fósforo total e

composição e biomassa do fitoplâncton e 3) a variação espacial e temporal dos

grupos funcionais fitoplanctônicos e sua relação com os fatores ambientais. As

diversidades local (97 a 169 espécies) e regional (490 espécies) mostraram-se

elevadas e não foram diretamente afetadas pela área e forma de cada lagoa. A

similaridade florística foi baixa, acarretando em elevada diversidade beta (356

espécies). Os valores de k0 variaram espacial e sazonalmente, em função das

variações na profundidade da zona de mistura, nas concentrações de P-total e

MODC e na biomassa fitoplanctônica. Lagoas mais claras apresentaram maior

riqueza de diatomáceas e maior contribuição de desmídias para a biomassa

total. Lagoas mais escuras apresentaram maior biomassa total, composta

principalmente por cianofíceas e de criptofíceas. Os resultados sugerem não

haver limitação por luz nas lagoas estudadas. Lagoas mais claras e

oligotróficas foram dominadas pelos grupos funcionais NA e A, enquanto

grupos descritos como tolerantes à baixa luminosidade (SN, S1, MP, Y, X1, J,

Lo, X2) dominaram nas lagoas mais escuras e meso-eutróficas. A distribuição

dos grupos funcionais foi determinada principalmente pelas condições de

transparência da água, profundidade e trofia das lagoas estudadas e reforça

sua eficiência como indicadores das condições ambientais também em lagoas

naturais tropicais.

2

GENERAL ABSTRACT

Natural ecosystems are dynamic and their diversity of species is controlled by

multiple mechanisms. Knowledge of existing patterns is essential to the

definition of methods for monitoring and conservation strategies. Because they

are well-defined ecological entities in the landscape, lakes are good models for

the study of species richness in relation to environmental gradient. This study

was conducted in 18 natural lake of the middle Rio Doce lake district, located in

southeastern Brazil, and aimed to evaluate: 1) species richness and

composition of phytoplankton in these environments, as well as its patterns and

determinants, 2) the spatial and temporal variation of the absorption coefficient

of photosynthetically active radiation (k0) and their relation with the

concentration of colored dissolved organic matter (CDOM), total phosphorus

and composition and biomass of phytoplankton and 3) the spatial and temporal

of phytoplankton functional groups and their relationship to environmental

factors. The local diversity (97-169 species) and regional (490 species) were

high and were not directly affected by area and shape of each pond. Floristic

similarity was low, resulting in high beta diversity (356 species). The values of

k0 varied spatially and seasonally, depending on the variations in the depth of

mixing zone concentrations of total P and CDOM and phytoplankton biomass.

Clearer lakes have greater richness of diatoms and desmids greatest

contribution to total biomass. Darker lakes had higher total biomass, composed

mainly of cyanophytes and cryptophytes. The results suggest no limitation by

light in the lakes studied. More clear and oligotrophic lakes were dominated by

functional groups NA and A, while the groups described as tolerant to low light

(SN, S1, MP, Y, X1, J Lo, X2) dominated in ponds darker and meso-eutrophic.

The distribution of functional groups was determined mainly by conditions of

water transparency, depth and trophic status of the lakes studied and enhances

its efficiency as indicators of environmental conditions also in natural tropical

lakes.

3

INTRODUÇÃO GERAL

Lagoas são ambientes muito valorizados pelas qualidades recreativas,

estéticas e paisagísticas e por serem reservatórios naturais de água, recurso

imprescindível para a manutenção da vida (Garn et al., 2003). Apesar dessa

importância, pouco se tem feito em direção à conservação desses

ecossistemas, de modo que, juntamente com rios e áreas alagadas, estão

entre os ecossistemas mais ameaçados do mundo (Abell et al., 2008).

A condição de uma lagoa em um dado momento é o resultado da interação de

vários fatores, incluindo bacia de drenagem, clima, geologia, influência

antrópica e morfometria. Assim, a expansão dos dados disponíveis sobre esse

tipo de ecossistema possibilita aos limnólogos o entendimento dos problemas

em uma lagoa em particular e podem ser usados na previsão de respostas a

variações ambientais futuras (Garn et al., 2003). No entanto, estudos em

ecossistemas de água doce são muito menos frequentes que os de

ecossistemas marinhos (Carneiro et al., 2008), especialmente nas regiões

tropicais, onde informações fundamentais sobre diversidade, ciclagem de

nutrientes, propagação das variações ambientais através da cadeia alimentar e

diferenças nas estratégias adaptativas dos organismos em relação aos

ambientes temperados ainda são escassas (Lewis Jr., 2000).

As principais ameaças às lagoas são a super-exploração de água, a poluição e

a introdução de espécies invasoras (Revenga et al., 2005). Levantamentos

taxonômicos e avaliações das alterações na organização estrutural e funcional

das comunidades ou ecossistemas podem ser utilizados como medidas do

impacto das atividades humanas, possibilitando uma estimativa da perda de

diversidade de espécies e dos efeitos sinergéticos das diferentes alterações

antropogênicas na bacia hidrográfica (Buss et al., 2003).

Os ecossistemas naturais são dinâmicos e sua diversidade de espécies é

controlada por mecanismos múltiplos (Flöder & Burns, 2005). Assim, um bom

conhecimento dos padrões existentes é essencial para a definição dos

métodos de monitoramento e estratégias de conservação (Declerck et al.,

2005). Por se tratarem de entidades ecológicas bem delimitadas na paisagem,

4

lagoas constituem bons modelos para o estudo da riqueza de espécies em

relação aos gradiente ambientais (Dodson et al., 2000). Ainda assim, estudos

dessa natureza são sub-representados em comparação a ambientes terrestres

(Waide et al., 1999).

A ecologia do fitoplâncton está intimamente relacionada às características

dominantes, como estrutura física do ambiente e disponibilidade de recursos, e

à freqüência e escala em que estas características são alteradas (Reynolds,

1993). Devido a essa estreita relação, o fitoplâncton é considerado um

componente-chave na biocenose de lagoas e reservatórios (Sarmento &

Descy, 2008).

A luz, especialmente, a radiação fotossinteticamente ativa, está entre os

recursos essenciais ao desenvolvimento do fitoplâncton, sendo determinante

na estrutura. Nessa comunidade, é reconhecida uma série de características e

estratégias que permitem a captura eficiente e a utilização das diferentes

intensidades e domínios espectrais da luz (Litchman & Klausmeier, 2008). Por

se tratar de um recurso, sua utilização por um indivíduo reduz sua

disponibilidade para os demais indivíduos da mesma espécie e para as

espécies competidoras. Dessa forma, a tolerância a baixas intensidades

luminosas pode ser vista como uma importante vantagem competitiva. Essa

tolerância pode ser garantida por atributos associados à capacidade de

absorção da luz, como qualidade e quantidade dos pigmentos

fotossintetizantes, ou à capacidade do organismo regular sua posição para se

manter em local de luminosidade favorável, por meio de produção de

mucilagem, óleos, presença de flagelos ou aerótopos (Reynolds, 1997a).

As mudanças na comunidade fitoplanctônica em função das variações

ambientais são tradicionalmente verificadas através das variações na biomassa

e na composição em termos de grandes grupos taxonômicos e espécies

dominantes. No entanto, é muito difícil prever a ocorrência da maioria das

espécies, e as condições que favorecem certos grupos taxonômicos

freqüentemente se sobrepõem (Costa et al., 2009). Considerando as diferenças

nas demandas e formas de aquisição dos recursos essenciais observadas

5

entre os organismos fitoplanctônicos (Falkowski et al., 2004), tem-se assumido

que o entendimento e o manejo dos ambientes aquáticos se tornam mais fáceis

quando as espécies são agrupadas conforme a semelhança de características

ou comportamentos (Salmaso & Padisák, 2007).

A primeira abordagem considerando as características das espécies para

prever a composição da comunidade ao longo de gradientes ambientais foi

feita por Margalef em 1978 (Litchman & Klausmeier, 2008). Mais recentemente,

Reynolds (1997a) sugeriu grupos funcionais que poderiam co-dominar ou

dominar, conforme as condições ambientais predominantes. Esse autor e seus

colaboradores (Reynolds et al., 2002; Kruk et al., 2002; Padisák et al., 2003a,

Padisák et al., 2009) construíram uma extensa lista de grupos morfo-funcionais,

considerando as demandas para as combinações de propriedades físicas,

químicas e biológicas da lagoa (profundidade da zona de mistura, luz,

temperatura, disponibilidade de fósforo, sílica, carbono e pressão de

herbivoria).

Atualmente, estão descritos 38 grupos funcionais identificados por códigos alfa-

numéricos (Padisák et al., 2009). Tais grupos foram formados de acordo com

as características adaptativas coincidentes, considerando as sensibilidades e

as tolerâncias das espécies (Reynolds, 2006). No Brasil, os estudos utilizando

essa abordagem tiveram início ainda nos anos 90 (Huszar & Reynolds, 1997) e

mostraram-se importantes na década atual. No entanto, a maioria deles se

concentrou em reservatórios e pouca informação está disponível para

ambientes naturais (Tabela 1 ).

Formado a partir de sedimentação das drenagens originais do rio Doce e de

seus tributários (Pflug, 1969 apud De Meis & Tundisi, 1997), o sistema lacustre

do médio Rio Doce é um dos grandes sistemas de água doce do Brasil. A

importância biológica desta área úmida, constituída por cerca de 150 lagoas, foi

reconhecida recentemente em nível internacional, quando se tornou 11º sítio

brasileiro a integrar a lista de Ramsar (RAMSAR, 2010).

6

Tabela 1 - Ambientes estudados no Brasil até 2009 utilizando a abordagem dos grupos funcionais para análise do fitoplâncton.

Ecossistemas estudados Referências Artificiais Açude Namorados (PB) Araújo & Barbosa, 2009 Açude Taperoá (PB) Araújo & Barbosa, 2009 Açude Soledade (PB) Araújo & Barbosa, 2009 Reservatório Faxinal (RS) Becker et al. 2008, 2009a, 2009b Lago Monte Alegre (SP) Rangel et al., 2009 Lago das Garças (SP) Crossetti & Bicudo, 2005, 2008a, 2008b

Fonseca & Bicudo, 2008 Huszar et al., 2000 Lopes et al., 2005

Reservatório Billings (SP) Gemelgo et al., 2009 Reservatório Guarapiranga (SP) Gemelgo et al., 2009 Reservatório Algodões (PE) Huszar et al., 2000 Reservatório Chapéu (PE) Huszar et al., 2000 Reservatório Ingazeiras (PE) Huszar et al., 2000 Reservatório Mandaú (PE) Moura et al., 2007 Reservatório Poço da Cruz (PE) Huszar et al., 2000 Reservatório Pão de Açúcar (PE) Huszar et al., 2000 Reservatório Tapacurá (PE) Bouvy et al., 2003 Reservatório Capivari (PR) Borges et al., 2008 Reservatório Foz do Areia (PR) Silva et al., 2005 Reservatório Salto Caxias (PR) Silva et al., 2005 Reservatório Salto Osório (PR) Silva et al., 2005 Reservatório Salto Santiago (PR) Silva et al., 2005 Reservatório Segredo (PR) Borges et al., 2008

Silva et al., 2005 Reservatório Juturnaíba (RJ) Huszar et al., 2000

Marinho & Huszar, 2002 Reservatório Duas Bocas (ES) Delazari-Barroso et al., 2009 Naturais Estuário do rio Paraíba do Sul (RJ) Costa et al., 2009 Lagoa Comprida (RJ) Alves-de-Souza et al., 2006 Lagoa Barra (RJ) Huszar et al., 2000 Lago Batata (AM) Huszar & Reynolds, 1997

Melo & Huszar, 2000 Lago Dom Helvécio (MG) Souza et al., 2008 Lagoa Ventura (MS) Bovo-Scomparin & Train 2008 Rio Paraibuna (MG) Soares et al., 2007 Rio Pomba (MG) Lago Tigres (GO) Nabout & Nogueira, 2007 Lagoas de inundação do rio Araguaia (GO/ MT)

Nabout et al., 2006 Nabout et al., 2009

7

As pesquisas limnológicas no médio Rio Doce foram iniciadas na década de

1970 com os estudos pioneiros de Tundisi e colabores (Tundisi et al., 1978;

CETEC, 1981). A partir de então, diversos aspectos da limnologia das lagoas

que formam esse sistema foram investigados (ex. Barbosa & Tundisi, 1980;

Henry & Barbosa, 1989). Os estudos realizados através de cooperação com

centros de pesquisas japoneses (Tundisi & Saijo, 1997a) possibilitaram uma

intensificação do conhecimento dos aspectos geológicos, morfológicos, físicos,

químicos e biológicos das lagoas da região. No entanto, ainda havia a carência

de informações sobre a diversidade da região e a dinâmica das comunidades.

O Programa de Pesquisas Ecológicas de Longa Duração (PELD/UFMG)

contribuiu para o preenchimento dessa lacuna, permitindo um olhar

aprofundado para a compreensão de fenômenos em diferentes escalas de

tempo e espaço (Souza, 2005; Garcia, 2007; Petrucio & Barbosa, 2004;

Petrucio et al., 2006, Bezerra-Neto et al., 2006; Maia-Barbosa et al., 2006),

bem como o monitoramento de mudanças na qualidade das águas frente a

diferentes impactos decorrentes de ações antrópicas e propostas de ações

mitigadoras destes impactos (Barbosa et al., 2004).

A heterogeneidade ambiental observada nas lagoas do médio Rio Doce,

resultante do processo de formação geológica, da evolução diferenciada dos

processos físicos (De Meis & Tundisi, 1997) e do grau de impacto antrópico em

cada lagoa, sugere a ocorrência de elevada diversidade de organismos

aquáticos.

O presente estudo foi desenvolvido no âmbito do Programa de Pesquisas

Ecológicas de Longa Duração – PELD/MCT-CNPq/UFMG. Trata-se de um

esforço concentrado para ampliar o conhecimento sobre a diversidade e a

ecologia da comunidade fitoplanctônica nesse sistema lacustre ao comparar

um número maior de ambientes. Para tanto, focou-se nos seguintes objetivos:

1. Avaliar a diversidade fitoplanctônica em 18 lagoas do sistema lacustre

do médio Rio Doce;

2. Verificar a ocorrência de padrões no que se refere à estrutura do

fitoplâncton, em termos de riqueza e composição;

8

3. Identificar os grupos funcionais descritores do fitoplâncton nas lagoas

estudadas;

4. Identificar os principais fatores ambientais determinando a composição e

estrutura do fitoplâncton nas lagoas estudadas.

O estudo foi dividido em três capítulos, assim descritos: I) apresenta a

diversidade de espécies nos níveis local e regional; II) avalia o efeito das

variações na atenuação da radiação incidente observada entre as lagoas sobre

os grupos taxonômicos e III) variações espaciais e temporais dos grupos

funcionais, apontando seus fatores determinantes.

ÁREA DE ESTUDOS

A bacia do Rio Doce está situada na região leste do Brasil e abrange uma área

de 83.400 km2 distribuídos entre os estados de Minas Gerais (86%) e Espírito

Santo (14%) (Marques & Barbosa, 2002). Dois sistemas lacustres são

observados ao longo dessa bacia: um no médio curso do Rio Doce, com 158

lagoas (Castellano-Solá & Barbosa, 2003) e outro no baixo curso, com

aproximadamente 70 lagoas (Cavati & Fernandes, 2008).

Aproximadamente 1/3 das lagoas do sistema lacustre do médio Rio Doce está

protegido dentro do Parque Estadual do Rio Doce (PERD, 19º29’24”-

19º48’18”S, 42º28’18”-42º38’30”W), criado em 1939 e que constitui o maior

remanescente contínuo de Mata Atlântica do estado de Minas Gerais (35.976

ha). As demais lagoas localizam-se em área de entorno do PERD e tiveram

sua bacia de drenagem alterada principalmente pela substituição da vegetação

nativa por plantações de eucalipto e pela ocupação humana.

Para este estudo, foram selecionadas 18 lagoas, sendo 8 localizadas dentro

dos limites do PERD e 10 em sua área de entorno. A escolha das lagoas

amostradas baseou-se na inclusão das maiores diferenças fisiográficas das

mesmas bem como na viabilidade de acesso, particularmente no período de

chuvas. A localização dos ambientes e dos pontos de coleta podem ser

9

observadas na Figura 1 . As coordenadas geográficas, bem como algumas

características morfométricas de cada ambiente encontram-se na Tabela 2 .

A região, conhecida como Vale do Aço, é um dos importantes pólos

siderúrgicos do estado. Nove municípios ocupam o entorno do PERD, sendo a

maioria deles com baixas populações. A maior parte da população se

concentra nos municípios que formam a região metropolitana do Vale do Aço:

Timóteo, Coronel Fabriciano e Ipatinga, que, juntos, abrigam 381.000

habitantes e onde o grau de urbanização chega a 99%. Em Dionísio e

Marliéria, importantes municípios da área de abrangência do PERD, o grau de

urbanização é de 55% e 22%, respectivamente (IEF, 2002).

O clima da região é definido como tropical semi-úmido, com 4-5 meses de seca

e características mesotérmicas (Nimer, 1989), com temperatura em torno de

25ºC. Segundo Tundisi (1997), a precipitação máxima ocorre no mês de

dezembro (350 mm) e a mínima, em julho ou agosto (10 mm).

10

Figura 1 - Sistema lacustre do médio Rio Doce, evidenciando os limites do Parque estadual do Rio Doce, as lagoas amostradas (1 a18) e os pontos de coleta (+). Imagem cedida pelo Instituto Estadual de Florestas de Minas Gerais – IEF/MG (modificada).

11

Tabela 2 - Coordenadas geográficas, altitude, perímetro, índice de desenvolvimento de margem (DL) e área das lagoas estudadas.

Lago Coordenada Altitude Profundidade DL Área Área da bacia AB/AL

geográfica m m km2 km2

Gambazinho19º 47´07,7´´S

042º 34´45,5´´W260

10,02,90 0,09 0,11 1,31

Carioca19º 45´26,0´´S

042º 37´06,2´´W270

10,01,28 0,13 0,67 5,10

Gambá19º 47´15,1´´S

042º 35´01,0´´W209

12,01,13 0,22 0,81 3,74

PERD Central19º 37´39,0´´S

042º 34´12,5´´W264

5,02,03 0,44 1,58 3,56

Santa Helena19º 47´48,8´´S

042º 33´04,7´´W262

10,52,42 0,86 3,83 4,47

Dos Patos19º 48´19,9´´S

042º 32´12,7´´W257

8,02,01 1,09 4,02 3,68

Aníbal19º 6´47,1´´S

042º 29´54,5´´W237

15,04,29 2,79 12,64 4,53

Dom Helvécio19º 46´55,7´´S

042º 35´28,9´´W257

28,04,93 5,27 14,58 2,77

Ferruginha19º 53´17,5´´S

042º 36´59,4´´W273

4,01,40 0,12 0,50 4,13

Palmeirinha19º 49´41,8´´S

042º 36´25,4´´W271

6,02,83 0,23 0,83 3,61

Amarela19º 49´23,1´´S

042º 34´28,7´´W250

2,51,82 0,27 1,06 3,99

Ferrugem19º 52´39,0´´S

042º 36´34,3´´W270

3,51,61 0,42 1,31 3,10

Entorno Aguas Claras19º 49´06,9´´S

042º 35´42,5´´W254

9,52,24 0,62 2,04 3,31

Verde19º 49´55,2´´S

042º 37´54,1´´W274

19,02,29 0,83 2,46 2,97

Jacaré19º 48´37,8´´S

042º 38´57,0´´W269

8,51,28 1,22 4,55 3,73

Pimenta19º 37´27,4´´S

042º 35´44,3´´W263

3,51,63 1,24 3,00 2,42

Almécega19º 51´25,4´´S

042º 37´31,9´´W268

7,02,44 1,30 4,86 3,75

Barra19º 48´11,1´´S

042º 37´43,6´´W249

7,03,45 1,94 7,33 3,79

As imagens dos ambientes estudados podem ser observadas nas Figuras 2 a

7 a seguir.

12

Figura 2 - Imagem de satélite da área de estudo, com destaque para as lagoas Carioca, Dom Helvécio, Gambá e Gambazinho, localizadas no Parque Estadual do Rio Doce. Fonte: www.earth.google.com

Aníbal

Patos

S.Helena

Figura 3 - Imagem de satélite da área de estudo, com destaque para as lagoas Aníbal, Patos e Santa Helena, localizadas no Parque Estadual do Rio Doce. Fonte: www.earth.google.com

13

Figura 4 - Imagem de satélite da área de estudo, com destaque para as lagoas Central, localizada no Parque Estadual do Rio Doce, e Pimenta, localizada na área de entorno. Fonte: www.earth.google.com

Figura 5 - Imagem de satélite da área de estudo, com destaque para as Amarela, Águas Claras e Palmeirinha, localizadas na área de entorno do Parque Estadual do Rio Doce. Fonte: www.earth.google.com

14

Figura 6 - Imagem de satélite da área de estudo, com destaque para as lagoas Barra e Jacaré, localizadas na área de entorno do Parque Estadual do Rio Doce. Fonte: www.earth.google.com

Figura 7 - Imagem de satélite da área de estudo, com destaque para as lagoas Ferrugem e Ferruginha, localizadas na área de entorno do Parque Estadual do Rio Doce. Fonte: www.earth.google.com

15

CAPÍTULO 1

PADRÕES REGIONAIS E VARIAÇÃO ESPACIAL DA DIVERSIDAD E FITOPLANCTÔNICA NO SISTEMA LACUSTRE DO MÉDIO RIO DO CE,

MINAS GERAIS

16

Resumo

Padrões regionais e variação espacial da diversidad e fitoplanctônica no

sistema lacustre do médio Rio Doce, Minas Gerais

A riqueza de espécies e a composição taxonômica representam os principais

componentes da diversidade biológica e podem ser consideradas maneiras

simples de quantificar a complexidade em uma dada região. O presente estudo

apresenta a compoisção do florística de 18 lagoas do sistema lacustre do

médio Rio Doce, considerando: 1) sua diversidade alfa, gama e beta; 2) a

similaridade entre as lagoas estudadas e sua relação com a distância

geográfica e 3) a influência de fatores como morfometria, características físicas

e químicas da água e grau de impacto antrópico sobre a riqueza de espécies.

Foram estudadas 18 lagoas, oito localizadas no Parque Estadual do Rio Doce,

PERD, e dez em seu entorno. O trabalho resultou no aumento de 54% da

riqueza fitoplanctônica conhecida para a região, totalizando 490 espécies. A

diversidade local mostrou-se elevada em todas as lagoas (97 a 169 espécies) e

esteve inversamente correlacionada à profundidade da zona de mistura e à

razão N:P. O tamanho e a forma das lagoas parecem não interferir diretamente

na riqueza de espécies. A similaridade entre as lagoas estudadas foi baixa

(<0,522), acarretando em elevada diversidade beta (356 espécies). A

heterogeneidade ambiental do sistema lacustre do médio Rio Doce confirmou-

se pelas diferenças observadas nas características físicas e químicas e na

composição do fitoplâncton. A hipótese de que a proteção do PERD garante

maior riqueza de espécies fitoplanctônicas foi refutada e a composição florística

em cada lagoa parece resultar da interação de diversos fatores, inclusive de

processos geológicos e históricos. Assim, o sistema lacustre como um todo

exibe alto valor para conservação, devendo ser considerada a possibilidade de

conservação do sistema lacustre como um todo, com a proposição de

estratégias específicas para os ambientes da área de entorno.

Palavras-Chave: Médio Rio Doce, composição do fitoplâncton, desmídias

17

Abstract

Regional patterns and spatial variation of phytopla nkton diversity in the

the middle Rio Doce lake system, Minas Gerais

Species richness and taxonomic composition represent the main components of

biological diversity and can be considered simple ways to quantify complexity in

a given region. This study aims to contribute to the floristic knowledge of the

middle Rio Doce lake system estimating: 1) alpha, beta and gamma diversity, 2)

lakes similarity and their relation to geographic distance and 3) the influence of

morphology, physical and chemical features and human impact degree on

species richness. We studied 18 lakes, 8 located in the Rio Doce State Park,

RDSP, and 10 in their surroundings. An increase of 54% of phytoplankton

diversity known for the region was verified, totaling 490 species. Local diversity

was high (97-169 species) and was inversely correlated to the depth of the

mixing zone and N:P ratio. The size and shape of the lakes do not appear to

directly interfere in species richness. The similarity between the lakes studied

was small (<0.522), resulting in high beta diversity (356 species). The

heterogeneity of the lake system of the middle Rio Doce was confirmed by

differences in and chemical physical characteristics and phytoplankton

composition. The idea that the protection of RDSP ensures greater species

richness was refuted. The floristic composition resulting in each lake appears to

result from the interaction of several factors, including historical and geological

processes. Thus, the lake system as a whole exhibits high conservation value

and should be considered to conserve the lake system as a whole, with the

proposition of specific strategies for the environments of the surrounding area.

Key-Words: Middle Rio Doce, phytoplankton composition, desmids

18

Introdução

A riqueza de espécies e a composição taxonômica representam os principais

componentes da diversidade biológica e são importantes características dos

ecossistemas. O conhecimento de seus padrões é considerado essencial para

a formulação de hipóteses sobre os fatores controladores e suas

conseqüências em um ecossistema e para a proposição de estratégias de

monitoramento e conservação da biodiversidade (Downing & Leibold, 2002;

Declerck et al., 2005; Nogueira et al., 2008).

A riqueza de espécies pode ser considerada a medida mais simples para

expressar e quantificar a complexidade em uma dada região (Nabout et al.,

2007), uma vez é influenciada por vários fatores, como padrões de mistura da

coluna d’água, disponibilidade de luz e nutrientes, temperatura da água e

herbivoria (Reynolds, 1987).

A diversidade local, ou diversidade alfa (α) é o total de espécies existente em

cada habitat, enquanto a diversidade regional, ou diversidade gama (γ), é o

total de espécies observado em um conjunto de habitats (Magurran, 2004). O

termo diversidade beta (β) foi inicialmente introduzido por Whittaker em 1960

para descrever as mudanças na composição de espécies ao longo de

gradientes de altitude e umidade através de diferenças nas taxas de espécies

ganhas e perdidas, mas tem sido considerado hoje como a diferença

taxonômica entre as amostras, independentemente se elas ocorrem ao longo

de um gradiente ambiental (Veech et al., 2002).

A bacia do Rio Doce está situada na região sudeste do Brasil e abrange uma

área de 83.400 km2 distribuídos entre os estados de Minas Gerais (86%) e

Espírito Santo (14%) (Marques & Barbosa, 2002). Dois sistemas lacustres são

observados ao longo dessa bacia: um no médio curso do Rio Doce, com cerca

de 150 lagoas (Castellano-Solá & Barbosa, 2003) e outro no baixo curso, com

cerca de 70 lagoas (Cavati & Fernandes, 2008).

Como parte do sistema lacustre do médio Rio Doce, merecem destaque as

cerca de 50 lagoas localizadas dentro dos limites do Parque Estadual do Rio

19

Doce, considerada o maior remanescente contínuo de Mata Atlântica do estado

de Minas Gerais (35.976 ha), enquanto as demais se localizam em áreas

sujeitas a impactos variados, com destaque para as atividades de plantação de

eucalipto. A heterogeneidade ambiental observada nas lagoas do médio Rio

Doce, resultante do processo de formação geológica, da evolução diferenciada

dos processos físicos (De Meis & Tundisi, 1997) e do grau de impacto

antrópico em cada lagoa, sugere a ocorrência de elevada diversidade de

organismos aquáticos.

Embora os estudos limnológicos no médio Rio Doce tenham se iniciado na

década de 70 (Barbosa & Tundisi, 1980), aqueles abrangendo o fitoplâncton

consideraram uma (Hino et al., 1986; Barbosa, 2004, Barros et al., 2006; Souza

et al., 2008) ou duas lagoas (Barbosa, 2009) e enfocara essencialmente as

lagoas Dom Helvécio e Carioca. Um número maior de ambientes foi

considerado por Tundisi e colaboradores, que estudaram 15 lagoas (Tundisi et

al., 1989) e, mais recentemente, por Maia-Barbosa e colaboradores, que

abordaram a diversidade planctônica em sete lagoas (Maia-Barbosa et al.,

2006). Assim, a carência de informações sobre a diversidade fitoplanctônica

nesse sistema lacustre, evidenciada por Barbosa et al. (1994), ainda

permanece.

O presente estudo visa contribuir ao conhecimento florístico do sistema

lacustre do médio Rio Doce, avaliando: 1) sua diversidade alfa, gama e beta; 2)

a similaridade entre as lagoas estudadas e sua relação com a distância

geográfica e 3) a existência de padrões e a influência de fatores como

morfometria, características físicas e químicas da água e grau de impacto

antrópico sobre a riqueza de espécies.

Foram testadas as predições das seguintes hipóteses:

I. Em função da diversidade ambiental, o sistema lacustre do médio Rio Doce

apresenta elevada diversidade nos níveis alfa, beta e gama

i.elevada riqueza de espécies é observada em cada ambiente e no

conjunto de lagoas estudadas;

20

ii. a similaridade florística entre as lagoas estudadas é baixa;

II. A riqueza de espécies está diretamente relacionada à área e forma das

lagoas

i. lagoas maiores e/ou mais dendríticas apresentam maior riqueza de

espécies;

III. A distância entre as lagoas interfere na similaridade florística

i. lagoas mais próximas geograficamente apresentam composição do

fitoplâncton mais similar que lagoas mais distantes;

IV. O grau de preservação da vegetação nativa no entorno das lagoas

influencia as características limnológicas e, consequentemente, a riqueza e

composição e diversidade da comunidade fitoplanctônica.

i. As lagoas localizadas no PERD apresentam maior riqueza de

espécies, maior contribuição de zygnemaphyceae e maiores

valores de diversidade e equitabilidade que aquelas localizadas

em área de plantação de eucalipto.

Materiais e métodos

Foram estudadas 18 lagoas do sistema lacustre do médio Rio Doce, sendo oito

localizadas na área do PERD e dez em seu entorno. As coordenadas

geográficas e as características morfométricas de cada ambiente são

fornecidas na Tabela 1.1.

O clima da região é definido como tropical semi-úmido, com quatro a cinco

meses de seca e características mesotérmicas (Nimer, 1989) e temperaturas

em torno de 25ºC. O período chuvoso se estende de outubro a março e o

período de seca, de abril a setembro (Figura 1.1 ).

21

Tabela 1. 1 - Coordenadas geográficas, altitude, índice de desenvolvimento de margem (DL), área da lagoa e área da bacia de drenagem das 18 lagoas amostradas entre agosto de 2007 e maio de 2008 no Parque Estadual do Rio Doce e área de entorno.

Lago Coordenada Altitude Profundidade DL Área Área da bacia AB/AL

geográfica m m km2 km2

Gambazinho19º 47´07,7´´S

042º 34´45,5´´W260

10,02,90 0,09 0,11 1,31

Carioca19º 45´26,0´´S

042º 37´06,2´´W270

10,01,28 0,13 0,67 5,10

Gambá19º 47´15,1´´S

042º 35´01,0´´W209

12,01,13 0,22 0,81 3,74

PERD Central19º 37´39,0´´S

042º 34´12,5´´W264

5,02,03 0,44 1,58 3,56

Santa Helena19º 47´48,8´´S

042º 33´04,7´´W262

10,52,42 0,86 3,83 4,47

Dos Patos19º 48´19,9´´S

042º 32´12,7´´W257

8,02,01 1,09 4,02 3,68

Aníbal19º 6´47,1´´S

042º 29´54,5´´W237

15,04,29 2,79 12,64 4,53

Dom Helvécio19º 46´55,7´´S

042º 35´28,9´´W257

28,04,93 5,27 14,58 2,77

Ferruginha19º 53´17,5´´S

042º 36´59,4´´W273

4,01,40 0,12 0,50 4,13

Palmeirinha19º 49´41,8´´S

042º 36´25,4´´W271

6,02,83 0,23 0,83 3,61

Amarela19º 49´23,1´´S

042º 34´28,7´´W250

2,51,82 0,27 1,06 3,99

Ferrugem19º 52´39,0´´S

042º 36´34,3´´W270

3,51,61 0,42 1,31 3,10

Entorno Aguas Claras19º 49´06,9´´S

042º 35´42,5´´W254

9,52,24 0,62 2,04 3,31

Verde19º 49´55,2´´S

042º 37´54,1´´W274

19,02,29 0,83 2,46 2,97

Jacaré19º 48´37,8´´S

042º 38´57,0´´W269

8,51,28 1,22 4,55 3,73

Pimenta19º 37´27,4´´S

042º 35´44,3´´W263

3,51,63 1,24 3,00 2,42

Almécega19º 51´25,4´´S

042º 37´31,9´´W268

7,02,44 1,30 4,86 3,75

Barra19º 48´11,1´´S

042º 37´43,6´´W249

7,03,45 1,94 7,33 3,79

22

J F M A M J J A S O N D

Pre

cipi

taçã

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ada

(mm

)

0

50

100

150

200

250

300

350

Tem

pera

tura

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ia (

o C)

0

5

10

15

20

25

30

Figura 1. 1 - Variação mensal da temperatura média do ar (linha) e da precipitação acumulada (barras) nos meses de janeiro a dezembro. Dados médios obtidos da estação climatológica do PERD entre 2004 e 2008.

Foram realizadas quatro campanhas de amostragem em intervalos trimestrais:

agosto de 2007, novembro de 2007, fevereiro de 2008 e maio de 2008. Foi

fixado um ponto de coleta na parte mais profunda de cada lago. Em cada

amostragem, os perfis de temperatura e condutividade elétrica da água foram

obtidos com auxílio de sonda multiparâmetros Horiba U-22. O limite da zona de

mistura foi definido com base nos perfis térmicos, considerando o limite

superior em que a diferença de temperatura a cada metro mostrou-se ≥ 0,5°C.

Diferenças entre os valores de condutividade elétrica foram utilizados para

confirmar a profundidade da zona de mistura.

A radiação fotossintecamente ativa (PAR) foi medida entre 10:00 e 14:00H com

radiômetro Li-Cor com sensor subaquático esférico (modelo LI 193). A

extensão da zona eufótica foi obtida do perfil de radiação, considerando a

profundidade correspondente a 1% da radiação incidente na superfície como

limite. O coeficiente de atenuação escalar da radiação fotossinteticamente ativa

k0 (m-1) foi determinado pela inclinação da reta da regressão linear entre a

profundidade e o logaritmo natural da irradiância escalar.

Amostras para determinação das concentrações de nitrogênio total (N-total),

fósforo total (P-total), fósforo solúvel reativo (PSR), nitrato (N-NO3-) (Mackereth

et al.,1978), nitrito (N-NO2-; Strickland & Parsons,1968) e amônio (N-NH4

+;

23

Koroleff, 1976) foram coletadas na sub-superfície de cada lagoa e congeladas

para análise em laboratório.

As amostras para análise qualitativa (riqueza de espécies) foram coletadas

através de arrastos verticais e horizontais sucessivos com rede de 20µm de

abertura de malha e fixadas com solução de formalina a 4%. A identificação

das espécies foi feita sob microscópio óptico em aumentos de 400 e 1000

vezes. Foram analisadas oito lâminas por amostra, totalizando 32 lâminas por

lagoa. O sistema de classificação adotado para as classes taxonômicas foi o de

Round (1983). Os organismos foram identificados até o menor nível

taxonômico possível, com auxílio de bibliografia específica: Föster (1969 e

1974), Prescott et al. (1975; 1977; 1981 e 1982), Komárek & Fott (1983),

Sant’Anna (1984), Komárek & Anagnostidis (1989 e 1999), Menezes et al.

(1995), Bicudo & Menezes (2006).

As amostras para análise quantitativa do fitoplâncton foram coletadas com

garrafa de van Dorn em três profundidades, sendo a primeira a sub-superfície

das lagoas e as demais, definidas com o auxílio do disco de Secchi (Cole,

1983). Para tanto, assumiu-se que a profundidade do desaparecimento visual

do disco de Secchi representa cerca de 10% da radiação solar incidente na

superfície e que, multiplicada por 3 resulta na profundidade correspondente a

1% da radiação que atinge a superfície e que delimita o limite inferior da zona

eufótica (Wetzel & Likens 1991). As amostras foram fixadas com lugol acético

e armazenadas ao abrigo da luz. As contagens foram realizadas sob

microscópio invertido pelo método de Utermöhl (1958). Foram contados até

400 indivíduos da espécie mais abundante, garantindo erro de ±10% para um

intervalo de confiança de 95% (Lund et al., 1958). Os cálculos de densidade

foram feitos conforme Villafañe & Reid (1995). O biovolume específico foi

obtido associando as unidades contadas (células/colônias) a formas

geométricas (Hillebrand et al., 1999; Sun & Liu, 2003) e multiplicando-se a

densidade da população pelo volume médio obtido. Foram consideradas as

espécies que contribuíram, em média, com pelo menos 1% da densidade total

de cada lagoa, para as quais foram medidos 20 indivíduos. A densidade das

algas e cianobactérias foi considerada igual a 1 g.cm-3. A diversidade de

24

espécies foi calculada com base na biomassa, através do índice de Shannon-

Wiener e a equitabilidade, segundo o índice de Pielou (Magurran, 2004).

A similaridade florística entre as lagoas foi medida através do índice de

similariadade de Jaccard. Análises de agrupamento hierárquico (cluster)

considerando a distância de jaccard e utilizando-se o método de ligação Ward

foram realizadas para avaliar a similaridade das lagoas em relação às variáveis

ambientais e à composição do fitoplâncton.

A riqueza de espécies em cada lagoa (diversidade alfa) foi avaliada com base

no número de espécies encontradas ao longo do estudo considerando os

dados provenientes das análises qualitativas e quantitativas. A riqueza de

espécies para a região amostrada (diversidade gama) foi estimada através do

índice de extrapolação Jackknife de 1ª ordem (Nabout et al., 2007) utilizando-

se o software Stimate S (Colwell, 2006). A diversidade beta, que avalia o

quanto a diversidade alfa média é excedida pela diversidade regional, foi

estimada pelos índices β-1 (Harrison et al., 1992) e Whittaker (βw; sensu

Wilson & Shmida, 1984), que consideram o total de espécies encontrado no

conjunto de lagoas (S), e a riqueza média por lagoa (α médio) e, no primeiro

caso, o número de lagoas amostradas (N): β-1=[(S/αmédio)-1] / [N-1] x 100 e

βw=S/αmédio-1. A diversidade beta também foi estimada pela diferença entre a

riqueza media de espécies das lagoas e a diversidade gama (total de espécies

no conjunto de lagoas), conforme sugerido por Crist et al. (2003): β = γ – α

médio.

A normalidade dos dados foi testada através do teste de Komolgorov-Smirnov.

Uma vez que os dados obtidos não apresentaram a normalidade e

homocedasticidade necessárias para a aplicação de testes paramétricos, as

diferenças nos parâmetros físicos e químicos e na riqueza, biomassa,

diversiadae e equitabilidade do fitoplâncton entre as lagoas foram verificadas

através de testes de Kruskal-Wallis e Mann-Whitney. As relações entre as

variáveis físicas, químicas e biológicas foram avaliadas através de correlações

de Spearman. Foi utilizado o software Past versão 1.9 (Hammer et al., 2001).

25

Resultados

Os valores médios e os coeficientes de variação obtidos ao longo das quatro

amostragens realizadas em cada lagoa para variáveis limnológicas são

apresentados na Tabela 1.2. Diferenças entre as profundidades total (H=66,7;

p=0,000), da zona de mistura (H=44,5; p=0,003) e da zona eufótica (H=53,1;

p=000), coeficiente de atenuação da luz (H=55,7; p=0,000), teores de fósforo

total (H=34,4; p=0,008), nitrogênio total (H=33,9; p=0,009), condutividade

elétrica (H=34,0; p=0,008) foram verificadas entre as lagoas amostradas,

enquanto a razão Zeu:Zmis, a temperatura da água e os teores de nitrogênio e

fósforo dissolvidos não diferirem entre as mesmas.

Foi registrado um total de 490 taxa (Figura 1.2 ), valor correspondente a 77%

da riqueza esperada, estimada pelo índice de extrapolação de riqueza

(Jackknife 1 = 636). As espécies registradas distribuíram-se entre as classes

Zygnematophyceae (171), Cyanobacteria (102), Chlorophyceae (98),

Bacillariophyceae (45), Euglenophyceae (42), Dinophyceae (10),

Xanthophyceae (8), Chrysophyceae (6), Cryptophyceae (6) e

Oedogoniophyceae (2). Quase metade dos taxa (47%) mostraram-se raros,

ocorrendo em uma ou duas lagoas, enquanto 90 deles podem ser

considerados de frequência importante no sistema lacustre do médio Rio Doce,

ocorrendo em pelo menos 10 das 18 lagoas amostradas.

26

Tabela 1. 2 - Médias e coeficientes de variação das variáveis limnológicas medidas na sub-superfície de cada lagoa ao longo dos quatro períodos amostrados

Lagoa Ztotal Zmis Zeu Zeu:Zmis K0 PT NT NT:PT PSR NID NID: PSR SiO4 Temp Condm m m m m-1 µg.l-1 µg.l-1 µg.l-1 µg.l-1 mg.l-1 oC µS.cm-1

A. Claras 9,1 (0,1) 6,9 (0,4) 8,3 (0,1) 1,2 (0,4) 0,6 (0,3) 16,2 (0,5) 344,1 (0,7) 21,9 (0,6) 3,8 (1,1) 94,4 (1) 7,6 (0,0) 1,4 (0,4) 27,8 (0,1) 36,5 (0,3)

Almécega 6,4 (0,1) 5,6 (0,1) 6,4 (0,1) 1,0 (0,3) 0,7 (0,3) 19,2 (0,7) 147,4 (0,7) 9,5 (0,8) 3,3 (0,5) 12,7 (0,7) 7,2 (0,0) 3,3 (0,6) 28,2 (0,1) 37,9 (0,2)

Amarela 1,9 (0,2) 1,9 (0,2) 1,9 (0,2) 0,9 (0,2) 2,7 (0,1) 41,2 (0,5) 411,6 (0,4) 9,2 (0,3) 9,7 (0,6) 23,2 (0,5) 7,4 (0,0) 2,7 (0,5) 24,8 (0,1) 54,5 (0,3)

Aníbal 5,1 (0,1) 4,5 (0,2) 5,1 (0,1) 0,8 (0,7) 1,3 (0,3) 30,9 (0,6) 538,2 (0,3) 15,3 (0,9) 3,8 (0,5) 60,3 (0,6) 8 (0,1) 2,7 (0,4) 28,1 (0,1) 43,3 (0,2)

Barra 6,4 (0,1) 4,8 (0,4) 5,7 (0,1) 1,3 (0,4) 0,9 (0,1) 47,9 (0,7) 263,2 (0,5) 7,8 (0,8) 3,9 (0,7) 52,5 (0,8) 7,3 (0,0) 3,5 (0,7) 28,7 (0,1) 45,8 (0,2)

Carioca 9,4 (0,1) 6,0 (0,4) 5,1 (0,2) 0,9 (0,3) 1,2 (0,2) 17,3 (0,4) 519,7 (0,7) 36,1 (0,8) 5,6 (1,1) 102 (1,1) 7,3 (0,0) 1,5 (0,5) 28 (0,1) 41,6 (0,3)

Central 4,5 (0,1) 3,1 (0,6) 2,4 (0,2) 1,9 (1,4) 2,1 (0,2) 30,4 (0,4) 591 (0,4) 14,6 (0,9) 4,3 (0,5) 141,2 (0,4) 7,8 (0,1) 2,0 (0,6) 28,5 (0,1) 51,1 (0,2)

D. Helvécio 27,5 (0,1) 6,4 (0,5) 7,4 (0,2) 1,3 (0,4) 0,7 (0,3) 20,1 (0,4) 472,5 (0,3) 24,9 (0,3) 5,7 (1,1) 80,3 (0,7) 7,4 (0,0) 2,6 (0,5) 28,2 (0,1) 40,0 (0,3)

Ferrugem 3,3 (0,1) 2,6 (0,3) 2,5 (0,3) 1,2 (0,3) 1,6 (0,1) 50,0 (0,4) 1087 (0,3) 23,6 (0,3) 3,9 (0,1) 53,4 (0,7) 7,1 (0,0) 2,7 (0,4) 27,4 (0,1) 53,5 (0,2)

Ferruginha 3,9 (0,1) 3,1 (0,3) 3,1 (0,0) 1,1 (0,3) 1,4 (0,2) 33,0 (0,4) 1028,3 (0,4) 31,36 (0,2) 4,4 (0,2) 70,1 (1,4) 7,2 (0,0) 1,3 (0,5) 27 (0,1) 49,8 (0,3)

Gambá 11,0(0,1) 8,1 (0,4) 9,4 (0,2) 1,0 (0,5) 0,7 (0,1) 13,3 (0,3) 381,8 (0,3) 32,2 (0,5) 2,7 (0,6) 204,3 (0,8) 6,6 (0,1) 1,0 (0,7) 28,2 (0,1) 35,2 (0,4)

Gambazinho 9,3 (0,1) 7,6 (0,3) 5,3 (0,1) 0,9 (0,3) 0,7 (0,0) 23,3 (0,4) 465,5 (0,4) 24,3 (0,8) 2,7 (0,7) 71,7 (1,2) 7,7 (0,1) 0,8 (0,5) 27,3 (0,1) 43,4 (0,4)

Jacaré 7,6 (0,1) 5,9 (0,3) 5,9 (0,1) 1,0 (0,5) 0,9 (0,1) 42,5 (0,4) 697,6 (0,7) 15,9 (0,5) 3,5 (0,4) 69,0 (1,0) 7,5 (0,0) 2,3 (0,6) 28,1 (0,1) 46,9 (0,2)

Palmeirinha 5,6 (0,0) 4,6 (0,2) 5,4 (0,0) 1,2 (0,3) 0,8 (0,1) 28,4 (0,6) 428,6 (0,2) 16,8 (0,6) 1,5 (0,5) 34,8 (1,3) 7,2 (0,0) 2,5 (0,3) 28,3 (0,1) 42,6 (0,2)

Patos 7,3 (0,2) 5,5 (0,3) 6,1 (0,3) 1,0 (0,4) 1,9 (0,2) 27,3 (0,2) 528,4 (0,4) 17,8 (0,5) 6,8 (0,5) 138,3 (1,3) 7,4 (0,0) 2,0 (0,5) 27,6 (0,1) 42,2 (0,3)

Pimenta 3,1 (0,1) 2,3 (0,5) 3,1 (0,1) 1,3 (1,0) 0,9 (0,2) 37,8 (0,6) 414,5 (0,4) 13,9 (0,7) 6,8 (0,5) 25,6 7,6 (0,0) 2,6 (0,4) 28,6 (0,1) 50,4 (0,2)

S. Helena 9,0 (0,2) 7,3 (0,3) 6,7 (0,2) 1,0 (0,4) 0,7 (0,3) 26,8 (0,4) 334,9 (0,6) 11,7 (0,8) 4,3 (0,6) 34,5 (1,4) 7,2 (0,0) 2,3 (0,7) 28,3 (0,1) 42,6 (0,2)

Verde 11,3 (0,5) 6,6 (0,4) 6,6 (0,3) 1,2 (0,6) 0,7 (0,3) 14,4 (0,3) 264,7 (0,3) 20,2 (0,5) 3,5 (0,4) 54,9 (1,2) 7,3 (0,0) 1,5 (0,6) 28,2 (0,1) 38,7 (0,3)

Ztotal= profundidade no ponto de coleta; Zmis=profundidade da zona de mistura; Zeu=profundidade da zona eufótica;K0=coeficiente de atenuação da luz, PT=fósforo total;

NT=nitrogênio total; PSR=fósforo solúvel reativo; DIN=nitrogênio inorgânico dissolvido; SiO4= Silicato; Temp= temperatura da água; Cond= condutividade elétrica

27

Dez espécies foram comuns a todas as lagoas: Botryococcus braunii Kützing,

Elakatothrix genevensis (Reverdin) Hindák, Pseudanabaena limnetica

(Lemmerman) Komárkova-Legnerová & Cronberg, Peridinium pusillum

(Pénard) Lemmerman, Trachelomonas volvocina Ehrenberg, Cosmarium

contractum Kirchner, Staurastrum forficulatum Lundell, Staurastrum

leptocladum Nordstedt, Staurastrum rotula Nordstedt e Staurodesmus dejectus

(Brébisson) Teiling (Tabela 1.3 ).

A riqueza fitoplanctônica variou entre 97 (Lagoa Gambazinho) e 169 espécies

(Lagoa Palmeirinha). Em geral, os grupos mais representativos para cada

lagoa foram os mesmos observados para o conjunto de dados:

Zygnematophyceae > Chlorophyceae > Cyanobacteria. As exceções se

referem às lagoas Amarela, onde o número de espécies de Euglenophyceae

(25) excedeu o de Cyanobacteria (15), e Gambazinho, que apresentou mais

espécies de Bacillariophyceae (22) do que de Cyanobacteria (12) (Figura 1.3 ).

0

100

200

300

400

500

600

700

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18

mer

o de

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écie

s

Número de lagoas amostradas

Riqueza observada Riqueza estimada

Figura 1. 2 - Curva de acumulação de espécies registrada para as 18 lagoas amostradas entre agosto de 2007 e maio de 2008 no sistema lacustre do médio Rio Doce.

28

0

20

40

60

80

100

120

140

160

180

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Bacillariophyceae Chlorophyceae Chrysophyceae Cryptophyceae Cyanobacteria

Dinophyceae Euglenophyceae Oedogoniophyceae Xanthophyceae Zygnemaphyceae

Figura 1. 3 - Total de espécies e contribuição de cada classe taxômica para as 18 lagoas amostradas entre agosto de 2007 e maio de 2008 no sistema lacustre do médio Rio Doce.

As lagoas localizadas na área de entorno do PERD apresentaram riqueza

média de 144 espécies/lagoa, maior que aquelas localizadas dentro da

Unidade de Conservação, com média de 122 espécies/lagoa (U= 13,0;

p=0,018). O conjunto de lagoas localizadas na área de entorno também

apresentou maior número de espécies exclusivas (148) que o conjunto

localizado dentro do PERD (77 espécies). No entanto, os valores médios da

riqueza se mostraram muito próximos (7,6 e 9 espécies/lagoa,

respectivamente) e as diferenças observadas não foram significativas (U= 38,0;

p= 0,894; Figura 1.4 ). A lagoa Amarela foi a que apresentou o maior número

de taxa exclusivos (25), seguida das lagoas Gambazinho (18) e Águas Claras

(15). As menores ocorrências de espécies exclusivas foram observadas nas

lagoas Barra (0), Ferrugem e Ferruginha (2 espécies cada).

Os resultados das correlações entre os valores médios e os coeficientes de

variação das variáveis ambientais medidas e a riqueza de espécies encontram-

se na Tabela 1.3 . A riqueza de espécies mostrou-se inversamente

correlacionada à profundidade da zona de mistura e à razão entre as formas

inorgânicas dissolvidas de nitrogênio e fósforo, bem como ao coeficiente de

variação do nitrogênio total e fósforo solúvel reativo.

29

100

110

120

130

140

150

160

170

Riq

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PERD Entorno0

3

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12

15

18

21

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27

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A B

Figura 1. 4 - Variação na riqueza total (A) e no número de espécies exclusivas (B) das lagoas localizadas no PERD e em sua área de entorno. Em cada caixa, a linha representa a mediana e a caixa e o whisker representam 75 e 90% dos dados, respectivamente.

Tabela 1. 3 - Correlações entre as características morfológicas e limnológicas e a riqueza de espécies fitoplanctônicas para o conjunto de 18 lagoas amostradas entre agosto de 2007 e maio de 2008 no sistema lacustre do médio Rio Doce. Valores em negrito indicam correlações significativas (p<0,05).

Variável Média CVÁrea*Índice de desenvolvimento de margem*Profundidade total -0,40 0,06Profundidade da zona de mistura -0,49 -0,13Coeficiente de atenuação 0,12 0,08Fósforo total 0,35 -0,28Nitrogênio total 0,38 -0,56Fósforo solúvel reativo 0,12 -0,59Nitrogênio inorgânico dissolvido -0,22 0,09Silica solúvel reativa 0,07 -0,24Temperatura da água -0,24 0,13Condutividade elétrica 0,15 -0,22NID : PSR -0,53 -0,13IET 0,46 -0,25Soma CV -0,51

-0,20-0,02

Os valores obtidos para o Índice de Jaccard mostraram-se baixos (Tabela 1.4 ).

A maior similaridade foi de 52% (J= 0,522), verificada para o par Ferrugem/

Ferruginha, seguido de Central/Almécega (J= 0,469) e Carioca/Central (J=

30

0,449). A lagoa Amarela apresentou os menores valores para esse índice (J=

0,142 a 0,286).

As análises de cluster evidenciaram a formação de quatro agrupamentos em

relação às variáveis ambientais ( Figura 1.5 ): as lagoas Carioca, Gambazinho,

Águas claras, Verde, Gambá e Patos foram as mais similares, seguidas do

grupo Barra,Santa Helena,Almécega, Palmeirinha e Gambazinho. As lagoas

maiores e mais profundas, Aníbal e Dom Helvécio, se isolaram em um grupo à

parte, e também se observou o agrupamento das mais rasas e escuras

(Ferrugem, Ferruginha, Central, Pimenta e Amarela).

Cinco agrupamentos foram observados em relação à composição do

fitoplâncton (Figura 1.6 ): 1) lagoas Aníbal, Carioca, Pimenta, Patos, Barra,

Dom Helvécio e Santa Helena; 2) Central, Almécega, Ferrugem e Ferruginha;

3) Águas Claras, Palmeirinha, Jacaré e Verde; 4) Gambá e Gambazinho e 5)

lagoa Amarela. No entanto, um baixo coeficiente cofenético (0,33) foi

observado. A similaridade na composição fitoplanctônica das lagoas não se

mostrou correlacionada à distância entre as mesmas (r = 0,03; p > 0,05).

31

Tabela 1. 4 - Matriz de similaridade (índice de Jaccard) obtida para as 18 lagoas amostradas no PERD entre agosto de 2007 e maio de 2008

AC AL AM AN BA CA CE DH FE FN GA GN JA PA PI PT SH

AC 1AL 0,315 1AM 0,286 0,212 1AN 0,352 0,366 0,239 1BA 0,351 0,391 0,228 0,376 1CA 0,403 0,371 0,239 0,409 0,403 1CE 0,329 0,469 0,204 0,384 0,354 0,449 1DH 0,393 0,361 0,223 0,390 0,370 0,394 0,393 1FE 0,329 0,424 0,186 0,403 0,391 0,400 0,427 0,412 1FN 0,361 0,427 0,189 0,401 0,410 0,412 0,423 0,381 0,522 1GA 0,302 0,312 0,164 0,311 0,335 0,366 0,359 0,370 0,369 0,355 1GN 0,238 0,280 0,142 0,254 0,254 0,306 0,264 0,279 0,274 0,282 0,299 1JA 0,433 0,348 0,249 0,345 0,409 0,383 0,351 0,373 0,399 0,391 0,286 0,257 1PA 0,448 0,338 0,244 0,346 0,351 0,376 0,358 0,360 0,353 0,402 0,303 0,223 0,419 1PI 0,326 0,376 0,244 0,374 0,399 0,365 0,352 0,340 0,333 0,381 0,333 0,253 0,380 0,361 1PT 0,376 0,307 0,239 0,362 0,380 0,426 0,354 0,370 0,369 0,403 0,320 0,261 0,350 0,375 0,345 1SH 0,339 0,332 0,166 0,326 0,353 0,382 0,348 0,409 0,377 0,364 0,270 0,233 0,363 0,299 0,338 0,374 1VE 0,381 0,391 0,184 0,317 0,332 0,358 0,353 0,355 0,347 0,369 0,268 0,264 0,349 0,344 0,337 0,300 0,318

Legenda: Águas Claras (AC), Almécega (AL), Amarela (AM), Aníbal (AN), Barra (BA), Carioca (CA), Central (CE), Dom Helvécio (DH), Ferrugem (FE), Ferruginha (FN), Gambá (GA), Gambazinho (GN), Jacaré (JA), Palmeirinha (PA), Patos (PT), Pimenta (PI), Santa Helena (SH) e Verde (VE).

AC

CA

GN

VE

GA

PT

AL

BA

SH JA PA

AN

DH

AM

FE

FN

CE PI

24

68

1012

Dis

tân

cia

Figura 1. 5 - Cluster obtido para as 18 lagoas amostradas no PERD, considerando a média das variáveis ambientais obtida para as quatro coletas realizadas entre agosto de 2007 e maio de 2008. Os códigos das lagoas são os mesmos da Tabela 1.4.

32

AN

CA PI

PT

BA

DH

SH

CE AL

FE FN

AC PA

JA

VE

GA

GN

AM

0.4

0.5

0.6

0.7

0.8

0.9

D en drogram o f agnes(x = paCr is.jac, d iss = T , meth o d = "ward ")

Hei

ght

AN

CA PIPT BA

DH SH

CE AL

FE FN

AC PAJA

VEGA GN

AM

0,9

0,8

0,7

0,6

0,5

0,4

Distância

Figura 1. 6 - Cluster obtido para as 18 lagoas amostradas no PERD, considerando a presença e ausência das espécies, entre agosto de 2007 e maio de 2008. Os códigos das lagoas são os mesmos da Tabela 1.4.

Embora a maior parte das amostras (74%) tenha apresentado biomassa

fitoplanctônica menor que 2,0 mg.L-1, diferenças entre as lagoas foram

observadas em relação a este parâmetro (H=44,7; p=0,0003). Valores

extremamente elevados foram registrados em agosto de 2007 nas lagoas Barra

(13,2 mg.L-1) Aníbal (12,1 mg.L-1), Central (7,7 mg.L-1) e Ferruginha (5,2 mg.L-

1), enquanto as menores biomassas foram registradas nas lagoas Amarela

(0,09 mg.L-1), Águas Claras (0,28 mg.L-1) e Gambá (0,34 mg.L-1). A diversidade

calculada através do índice de Shannon-Wiener apresentou maior amplitude de

variação e mostrou-se diferente entre as lagoas estudadas (H=28,5; p= 0,039).

As maiores medianas foram obtidas para as lagoas Verde (2,12 bits.mg-1),

Patos (2,07 bits.mg-1), Santa Helena (1,84 bits.mg-1), Pimenta (1,82 bits.mg-1) e

Carioca (1,81 bits.mg-1) (Figura 1.7 ). As lagoas Ferrugem (J=0,53), Jacaré

(J=0,53), Amarela (J=0,53), Ferruginha(J=0,53), Almécega (J=0,53) e Patos

(J=0,53) apresentaram as menores medianas do índice de equitabilidade

(Pielou). Alta relação entre o valor do índice de diversidade e o índice de

equitabilidade mostrou-se elevada (R2= 0,82), enquanto a relação do primeiro

com a riqueza de taxa em cada amostra foi baixa (R2= 0,14).

33

AC AL

AM

AN

BA

CA

GA JA PA

PT

2

4

6

8

10

12

14

16

18

Bio

ma

ssa

(mg.

L-1

)

A B C D E F G H I J K L M N O P Q R

0,3

0,6

0,9

1,2

1,5

1,8

2,1

2,4

2,7

3

Índi

ce d

e S

hann

on

(bits

.mg

-1)

0,1

0,2

0,3

0,4

0,5

0,6

0,7

0,8

0,9

1

Índ

ice

de

Pie

lou

(J)

AC AL AM AN BA CA CE DH FE FN GA GN JA PA PT PI SH VE

Figura 1. 7 - Variação na biomassa total e nos valores do índice de Shannon (H’) e de Pieolou (E) nas 18 lagoas amostradas entre agosto de 2007 e maio de 2008. Em cada caixa, a linha representa a mediana e a caixa e o whisker representam 75 e 90% dos dados, respectivamente. Águas Claras (AC), Almécega (AL), Amarela (AM), Aníbal (AN), Barra (BA), Carioca (CA), Central (CE), Dom Helvécio (DH), Ferrugem (FE), Ferruginha (FN), Gambá (GA), Gambazinho (GN), Jacaré (JA), Palmeirinha (PA), Patos (PT), Pimenta (PI), Santa Helena (SH) e Verde (VE).

34

Os valores da diversidade beta obtidos através do índice β-1 foi 15,64 e,

através do índice Whittaker (βW), 2,66. A diferença entre a diversidade gama e

a alfa média, também considerada uma estimativa de diversidade beta, foi de

356 espécies.

Discussão

A heterogeneidade ambiental do sistema lacustre do médio Rio Doce foi

confirmada através das diferenças observadas nas características físicas e

químicas e na composição do fitoplâncton das lagoas.

Embora ainda pouco empregados para o fitoplâncton (Nabout et al., 2007;

Nogueira et al., 2008), os índices de extrapolação de riqueza, como o

Jackknife, podem ser uma importante ferramenta para se avaliar a

expressividade do esforço amostral. No presente estudo, a realação entre a

riqueza observada e a estimada pelo índice de extrapolação indicou que a

metodologia utilizada foi apropriada para o levantamento da diversidade.

A diversidade fitoplanctônica conecida para o sistema lacustre do médio Rio

Doce foi ampliada: Maia-Barbosa et al. (2006) registraram 267 espécies ao

estudarem sete lagoas desse sistema. A diversidade regional (γ) foi elevada

em 54% com a expansão do número de ambientes estudados, reforçando a

dissimilaridade ambiental e biótica entre as lagoas.

O predomínio de desmídias, especialmente dos gêneros Cosmarium,

Staurastrum e Staurodesmus, no sistema lacustre do médio Rio Doce foi

salientado por Reynolds (1997), que associou a dominância do grupo à

oligotrofia e às condições de preservação das lagoas. A atelomixia também tem

sido apontada como um fator chave para o predomínio das desmídias nesse

sistema lacustre (Barbosa & Padisák, 2002; Souza et al. 2008). Tal padrão de

estratificação térmica, observado em várias lagoas, permite que espécies

desse grupo, consideradas de densidade específica relativamente elevada

(Padisák et al., 2003b), permaneçam nas camadas superiores da coluna

d’água. O destaque das euglenofíceas na lagoa Amarela, também levantado

por Reynolds (1997), está associado ao seu avançado estágio de eutrofização,

35

já bastante raso e com a maior parte de seu espelho d’água coberto por

macrófitas, especialmente dos gêneros Nymphaea, Utricularia e Eleocharis.

A diversidade de espécies em um dado momento é proporcional ao número de

recursos limitantes (Tilman, 1982), de modo que as flutuações ambientais,

percebidas como distúrbios, são capazes de promover o aumento da

diversidade (Hutchinson, 1961). Além disso, os ambientes naturais são

dinâmicos e vários mecanismos atuam na regulação da diversidade de

espécies (Flöder & Burns, 2005) e fatores como a quebra da estratificação

térmica e variações nos níveis de transparência e turbidez da água podem ser

caracterizados como distúrbios nos ambientes aquáticos, afetando as

condições de equilíbrio entre as espécies (Figueredo & Giani, 2001). A

substituição da Mata Atlântica por silvicultura pode ter aumentado a

susceptibilidade das lagoas do entorno do PERD às variações ambientais. A

riqueza de espécies mais elevada no conjunto de lagoas da área de entorno do

PERD sugere uma expressão da hipótese do distúrbio intermediário (Connell,

1978), que prevê que distúrbios com frequência e intensidade intermediárias

têm um efeito positivo sobre a diversidade. No entanto, a diversidade local (α)

pode ser considerada elevada em todos os ambientes e os menores valores

foram obtidos em duas lagoas localizadas dentro do PERD (Gambazinho, com

97 espécies, e Gambá, com 99 espécies), sugerindo que os impactos

antrópicos sobre os ambientes estudados podem ser considerados pouco

severos mesmo na área de entorno. As correlações indicaram maior riqueza de

espécies em condições de menor zona de mistura e menor variação no teor de

nitrogênio total e no conjunto de variáveis avaliadas, condições ambientais

associadas aos ambientes mais rasos considerados nesse estudo.

A extensão da zona de mistura e a razão NID: PSR, bem como as variações

temporais nos teores destes nutrientes parecem ser determinantes para a

riqueza fitoplanctônica das lagoas estudadas. No entanto, o baixo número de

correlações entre a riqueza de espécies e as variáveis ambientais, a despeito

da confirmação das diferenças entre as lagoas, sugere maior importância da

interação entre fatores do que de variáveis isoladas para a definição da

diversidade local. Reynolds (1997) salienta que a sazonalidade relativamente

36

fraca (comparada a ambientes temperados), combinada ao isolamento

geográfico, à extensiva cobertura vegetal das bacias hidrográficas e à ausência

de poluição nesses ambientes, caracteriza uma situação de pobreza de

distúrbios nesse sistema lacustre. No entanto, dados publicados (Barros et al.

2006; Souza et al., 2008) mostram que embora menos marcante nos trópicos,

a sazonalidade exerce um efeito importante sobre a dinâmica do fitoplâncton

na lagoa Dom Helvécio, controlando os padrões de mistura da coluna d’água e

determinando sua dinâmica biológica. Este efeito se evidencia no presente

estudo através da variação temporal observada para a biomassa

fitoplanctônica e para os valores do índice de Shannon em cada lagoa.

Flöder & Sommer (1999) e Passarge et al. (2006) salientam que a variabilidade

temporal pode ser mais importante que a heterogeneidade espacial para a

manutenção da diversidade, especialmente em lagos sem gradientes

ambientais proeminentes. Com exceção das lagoas Amarela e Ferrugem, as

demais lagoas estudadas são classificadas como oligo (11 lagoas) ou

mesotróficas (5 lagoas), evidenciando um fraco gradiente de estado trófico.

Adicionalmente, variáveis descritas como importantes para o desenvolvimento

do fitoplâncton (teores de fósforo solúvel reativo (PSR), nitrogênio inorgânico

dissolvido (NID), temperatura, razões PSR:NID e Zeu:Zmix), não diferiram

entre as lagoas, considerando o conjunto das quatro amostragens,

evidenciando que as variações climáticas podem ser importantes na

manutenção da diversidade. Além disto, o tamanho das lagoas, descrito na

literatura como uma importante variável para a explicação da variação da

diversidade em lagoas (Allen et al., 1999), também não apresentou relação

com a diversidade alfa no presente estudo.

As diferenças nas características limnológicas são também evidenciadas pela

baixa similaridade florística, refletidas pela heterogeneidade ambiental no

sistema lacustre. Um terço das espécies registradas foi restrita a somente uma

das lagoas estudaddas e poucas espécies (10, ou seja, 2%) foram comuns às

18 estudadas. Embora tenha apresentado a menor diversidade alfa, na lagoa

Gambazinho foi registrada a segunda maior incidência de espécies exclusivas

(18), ficando atrás apenas da lagoa Amarela, com 25 taxa exclusivos. Em

37

ambos, a elevada ocorrência de taxa exclusivos indica a contribuição da região

litorânea, pois, no caso da lagoa Gambazinho, os principais representantes

foram diatomáceas da ordem Pennales (7) e grandes desmídias (5). As

desmídias de maior ramanho também se destacaram na lagoa Amarela (12),

juntamente com as euglenofíceas (5). Esses dois ambientes apresentam

características que os destacam dos demais estudados: o elevado teor de

matéria orgânica na lagoa Amarela, em decorrência do avançado estágio de

eutrofização, e o padrão polimítico de estratificação térmica da lagoa

Gambazinho, enquanto o padrão dominante no sistema lacustre do médio Rio

Doce é monomítico-quente. Tais características parecem permitido o registro

de um número maior de espécies típicas do perifiton nas amostras do

fitoplâncton.

As análises de agrupamento evidenciaram pouca importânica da distância

geográfica para a similaridade entre as lagoas tanto em relação às

características ambientais quanto em relação à composição fitoflorística. Com

exceção das lagoas mais próximas entre si, Gambá e Gambazinho (500m de

distância), Ferrugem e Ferruginha (1.200m de distância), e Águas Claras e

Palmeirinha (1.500m de distância), em ambos os casos, os grupos são

formados por lagoas distantes umas das outras, inclusive mesclando

ambientes localizados dentro do PERD e na área de entorno. Esse resultado

aponta que as características limnológicas observadas em cada lagoa

independem de sua localização. Assim os fatores locais parecem assumir

maior importância que os fatores regionais na seleção das espécies que

compõem o fitoplâncton de cada uma das lagoas estudadas.

Os valores do índice de diversidade podem ser considerados baixos,

comparando-se a valores obtidos para ambientes impactados, como o

reservatório da Pampulha (Figueredo & Giani, 2001). Os máximos de

diversidade coincidiram com os máximos de equitabilidade e verificou-se uma

forte relação entre os valores do índice de Shannon-Wiener e os do índice de

Pielou. Esses resultados mostram que a baixa equitabilidade foi responsável

pelos reduzidos valores do índice de diversidade, uma vez que a maioria das

38

lagoas mostrou dominância de alguma espécie durante as quatro amostragens

realizadas.

Embora a diversidade beta ofereça informações importantes para a escolha de

áreas a serem preservadas (Ward et al., 1999), apenas três trabalhos

realizados no Brasil consideraram este parâmetro em estudos limnológicos:

Huszar et al., (1990), Nabout et al. (2007) e Nogueira et al., (2008). Os valores

obtidos no presente estudo para os índices de diversidade beta (β-1=15,9 e

βW=2,96) são considerados baixos se comparados àqueles obtidos por Nabout

et al. (2007) para o conjunto de 21 lagoas da bacia do Rio Araguaia (β-1=30 a

46), por Nogueira et al. (2008) para o conjunto de 4 lagoas artificiais localizadas

no município de Goiânia (β-1 > 40) e por Huszar et al. (1990) para as 18 lagoas

estudadas no sistema lacustre do baixo Rio Doce (βW=7,5). Tal fato pode ser

explicado pela ocorrência de elevada diversidade gama nas lagoas do presente

estudo, uma vez que ambos os índices levam em consideração a riqueza

média de espécies do conjunto de lagoas. Nos três casos citados, as

diferenças na diversidade alfa entre os ambientes estudados foram mais

expressivas e a riqueza de espécies registrada em cada local foi menor do que

o observado no presente estudo. Veech et al. (2002), no entanto, sugerem que

se considere a diversidade gama como a soma e não o produto, das

diversidades alfa e beta, mantendo as propostas originais de MacArthur e

colaboradores e Levins (MacArthur et al., 1966; Levins, 1968 apud Veech et al,

2002). Assim, tem-se maior importância para as diferenças na composição de

espécies entre os ambientes amostrados, mantendo-se a proposta original do

termo diversidade beta. Utilizando-se desta abordagem, a diversidade beta

obtida através da diferença entre a diversidade gama (regional) e a diversidade

alfa (local) média encontradas neste estudo pode ser considerada elevada,

uma vez que o valor obtido (356 espécies) corresponde a 72% do total de

espécies registradas.

Os resultados obtidos contribuem para informações sobre o conhecimento da

diversidade fitoplanctônica do sistema lacustre do médio Rio Doce. Reportando

às hipóteses testadas, foram evidenciados elevados níveis de diversidade alfa

e gama e a baixa similaridade entre os ambientes (= alta diversidade beta,

39

sensu Veech et al, 2002). No entanto, a área, forma ou a distância geográfica,

por si só, não definem as espécies presentes em cada lagoa ou os padrões da

distribuição de espécies. Assim, parece não haver um único fator determinando

os padrões de riqueza nesse sistema lacustre e a composição florística

resultante em cada ambiente provavelmente resulta da interação de diversos

fatores. Adicionalmente, a hipótese de que a proteção do PERD garante maior

riqueza de espécies foi refutada. Coesel (2001) propõe que a diversidade e a

raridade são importantes critérios para se avaliar o valor de conservação de

uma dada região. Deve-se considerar, portanto, a possibilidade de

conservação do sistema lacustre como um todo, com a proposição de

estratégias específicas para os ambientes da área de entorno, para a

manutenção da diversidade fitoplanctônica em nível regional.

40

Apêndice - Taxa observados nas 18 lagoas amostradas sistema lacustre do médio Rio Doce e número de lagoas (n) em que ocorreram. Taxon n Taxon n Bacillariophyceae Urosolenia cf eriensis (H. L.) Round & Crawf 2 Synedra acus Kützing 16 Pennales NI11 1 Cyclotella sp 14 Caloneis cf 1 Gomphonema gracile Ehrenberg 14 Encyonema sp5 1 Eunotia lineolata Husted 13 Encyonema sp6 1 Stenopterobia curvula (Wm. Smith) Krammer 13 Eunotia sp6 1 Urosolenia cf longiseta (Zacharias) Edlung & Stoermer 13 Frustulia sp1 1 Encyonema sp1 9 Gomphonema subtile Ehrenberg 1 Navicula sp 8 Hantzschia amphioxys (Ehrenberg) Grunow 1 Eunotia sp1 7 Neidium sp 1 Aulacoseira sp1 6 Nitzschia sp 1 Pinnularia viridis (Nitzsch) Ehrenberg 5 Pinnularia sp2 1 Pennales NI5 4 Pinnularia sp3 1 Encyonema sp2 4 Pinnularia sp4 1 Eunotia sp4 3 Pinnularia sp5 1 Eunotia sp5 3 Pinnularia sp6 1 Frustulia crassinervia (Brébisson) Costa 3 Chlorophyceae Frustulia krammeri Lange-Bertalot e Metzeltin 3 Botryococcus braunii Kützing 18 Pennales NI3 2 Elakatothrix genevensis (Reverdin) Hindák 18 Pennales NI6 2 Chlorella sp 17 Aulacoseira ambigua (Grunow) Simonsen 2 Closteriopsis sp1 17 Aulacoseira granulata (Ehrenberg) Simonsen 2 Tetraedron caudatum (Corda) Hansgirg 17 Aulacoseira sp2 2 Monoraphidium sp 16 Encyonema sp3 2 Botryococcus terribilis J. Komárek & P. Marvan 15 Encyonema sp4 2 Eutetramorus planctonicus (Korsikov) Bourrely 15 Eunotia sp2 2 Monoraphidium contortum (Thur.) Kom.-Legn 15 Melosira varians Agardh 2 Nephrocytium agardhianum Nägeli 15 Stauroneis phoenicenteron (Nitzsch) Ehrenberg 2 Oocystis sp4 15 Surirella linearis W. Smith 2 Botryococcus protuberans W. & G.S. West 14 Surirella sp1 2 Chlorophyceae NI1 14

41

Apêndice - Continuação.

Taxon n Taxon n Crucigenia tetrapedia (Kirchner) W.& G.S. West 14 Botryococcus NI4 4 Kirchneriella lunaris (Kirchner) K. Möbius 14 Chlamydomonas sp 4 Oocystis lacustris Chodat 14 Coelastrum microporum Nägeli 4 Oocystis sp3 14 Crucigenia cf fenestrata (Schimidle) Shimidle 4 Scenedesmus bijugus (Turpin) Kutzing 14 Desmodesmus denticulatus (Lagerheim) An et al. 4 Dictyosphaerium pulchellum Wood 13 Dictyosphaerium erenbergianum Nägeli 4 Ankistrodesmus fusiformis Corda 12 Eudorina elegans Ehrenberg 4 Tetraedron minimum (A. Braun) 12 Kirchneriella cf obesa (W.West) Schmidle 4 Crucigeniella retangularis (Nägeli) Kom. 11 Oocystis cf solitaria Wittrock 4 Ankistrodesmus sp2 10 Ankistrodesmus densus Korsikov 3 Coelastrum reticulatum (Dang.) Senn 10 Pediastrum duplex Meyen 3 Desmodesmus quadricauda (Turp.) Bréb. 10 Radiococcus cf 3 Coelastrum pulchrum Schimidle 9 Scenedesmus acunae Comas 3 Coelastrum sphaericum Nägeli 9 Chlorotetraedron incus (Teiling) G.M. Smithi 3 Desmodesmus armatus var. bicaudatus (Guglielmetti) Hegewald 9 Chlamydomonadaceae NI2 2 Keratococcus sp 9 Chlorococcales NI1 2 Actinastrum aciculare Playf 8 Dimorphococcus cf lunatus A. Braun 2 Scenedesmus acuminatus (Lagerheim) Chodat 8 Kirchneriella roselata Hindák 2 Ankyra judayi (G.M. Smithi) Fott 7 Oocystis cf nephrocytioides Fott & Cado 2 Closteriopsis sp2 7 Oocystis sp6 2 Coelastrum cambricum Arch. 7 Pediastrum tetras (Ehrenberg) Ralfs 2 Scenedesmus bijugus var disciformis (Chod.) Leite 7 Planctonema cf 2 Tetrallantos lagerheimii Teiling 7 Scenedesmus acuminatus f. maximus Uherk. 2 Pediastrum privum (Printz) Hegew 6 Desmodesmus spinosus Chodat 2 Quadrigula closterioides (Bohlin) Printz 6 Selenastrum sp1 2 Golenkinia radiata Chodat 5 Tetranephris brasiliense Leite & C.Bicudo 2 Oocystis sp1 5 Tetranephris cf 2 Scenedesmus arcuatus Lemmerman 5 Volvocales NI 2 Sphaerocystis sp1 5 Actinastrum hantszchii Lagerheim 1 Ankistrodesmus spiralis (Turner) Lemmermann 4 Ankistrodesmus falcatus (Corda) Ralfs 1

42

Apêndice – Continuação.

Taxon n Taxon n Ankistrodesmus gracilis (Reinsch) Korsikov 1 Dinobryon sp 1 Ankistrodesmus sp1 1 Synura cf 1 Chaetophorales NI 1 Cryptophyceae Chlorococcales NI10 1 Cryptomonas brasiliensis Castro, C. Bicudo & D. Bicudo 15 Chlorococcales NI11 1 Cryptomonas sp5 14 Chlorococcales NI8 1 Cryptomonas sp2 12 Chlorococcales NI9 1 Cryptomonas sp4 9 Chlorophyceae NI4 1 Rhodomonas sp 6 Coelastrum pseudomicroporum Korsikov 1 Cryptomonas sp3 5 Crucigenia cf quadrata Morr. 1 Cyanobacteria Crucigeniella crucifera (Wolle) Kom. 1 Planktolyngbya limnetica (Lemm.) Kom-Leg. & Cronberg 18 Desmodesmus maximus (West & West) Hegewald 1 Aphanocapsa elachista W.West & G.S.West 17 Elakathothrix cf biplex (Nyg.) Hindák 1 Chroococcus minutus (Kütz) Nägeli 16 Glaucocystis cf nostochinearum Itzigsohn 1 Pseudanabaena galeata Böcher 15 Gregiochloris cf 1 Limnothrix redekei (Van Goor) Meffert 14 Korshkoviella sp 1 Merismopedia tenuissima Lemmermann 14 Nephrocytium cf lunatum W. West 1 Aphanocapsa delicatissima W. West & G. S. West 12 Oocystis sp7 1 Oscillatoria sp1 12 aff. Pectodyction 1 Planktolyngbya contorta (Lemm.) Anag. & Komárek 12 Pediastrum sp1 1 Microcystis aeruginosa (Kützing) Kützing 11 Scenedesmus regularis Swir 1 Pseudanabaena limnetica (Lemmermannn) Komárek 11 Sphaerocystis sp2 1 Anabaena cf solitaria Klebahn 10 Ulothrix sp1 1 Aphanocapsa sp 10 Ulothrix sp2 1 Coelosphaerium sp 10 Ulothrix sp3 1 Lyngbya sp 10 Chrysophyceae Coelomorum sp 9 Dinobryon sertularia Ehrenberg 14 Cylindrospermopsis raciborskii (Wolosz.) Seen. & Subba Raju 9 Dinobryon bavaricum Imhof 11 Epigloeosphaera sp1 8 Mallomonas cf 6 Microcystis protocystis Crow 8 Pteromonas cf 3 Oscillatoria sp2 8

43

Apêndice – Continuação.

Taxon n Taxon n Anabaena sp4 7 Aphanocapsa planctonica (Smith) Komárek et Anagnostidis 2 Calothrix sp 7 Aphanothece sp7 2 Aphanothece cf stagnina (Sprengel) A Braun 6 Chroococcales NI9 2 Merismopedia glauca (Ehrenb.) Kützing 6 Chroococcales NI10 2 Microcystis wesenbergii Komárek 5 Chroococcales NI11 2 Nostocales NI4 5 Chroococcales NI12 2 Anabaena sp5 4 Chroococcales NI14 2 Aphanocapsa holsatica (Lemm.) Cronberg & Komárek 4 Chroococcales NI26 2 Aphanothece sp1 4 Epigloeosphaera sp2 2 Chroococcales NI7 4 Leptoplyngbya sp 2 Cyanodictyon imperfectum Cronberg & Weibull 4 Oscillatoriales NI3 2 Oscillatoriales NI5 4 Planktolyngbya microspira Komárek et Cronberg 2 Planktothrix sp 4 Pseudanabaenaceae NI2 2 Pseudanabaena catenata Lauterborn 4 Radiocystis cf 2 Pseudanabaena sp2 4 Spirulina sp 2 Radiocystis fernandoi Komárek & Komárkova-Legnerová 4 Spirulina sp2 2 Synechococcus cf 4 Anabaena sp3 1 Anabaena planctonica Brunnthaler 3 Cyanobacteria NI5 1 Aphanothece sp6 3 Aphanizomenon sp 1 Asterocapsa sp 3 Aphanothece sp5 1 Chroococcales NI8 3 Chroococcales NI2 1 Chroococcus sp2 3 Chroococcales NI3 1 Cyanodiction cf iac Cronberg & Komárek 3 Chroococcales NI4 1 Geitlerinema cf amphibium (Agardh ex Gomont) Anagnostidis 3 Chroococcales NI16 1 Geitlerinema splendidum (Greville ex Gomont) Anag. 3 Chroococcales NI19 1 Geitlerinema unigranulatum (Singh) Komárek & Azevedo 3 Chroococcales NI22 1 Microcystis novacekii (Komárek) 3 Chroococcales NI24 1 Pseudanabaena mucicola (Nauman & Hubber-Pestalozzi) Bourrely 3 Chroococcales NI25 1 Pseudanabaena sp1 3 Coelosphaerium sp2 1 Synechocystis cf 3 Eucapsis sp 1

44

Apêndice – Continuação.

Taxon n Taxon n Johannesbaptistia sp 1 Dinophyceae NI2 1 Microcrocis cf 1 Peridinium sp2 1 Nostoc sp1 1 Peridinium sp5 1 Nostoc sp2 1 Euglenophyceae Nostoc sp3 1 Trachelomonas volvocina Ehrenberg 18 Nostocales NI5 1 Phacus longicauda (Ehrenberg) Dujardin 10 Nostocales NI6 1 Phacus raciborskii Drez 10 Nostocales NI7 1 Trachelomonas armata (Ehrenberg) Stein 8 Nostocales NI8 1 Euglenales NI1 7 Nostocales NI9 1 Phacus hamatus Pochmann 7 Oscillatoriales NI6 1 Euglenophyceae Planktolyngbya sp2 1 Trachelomonas volvocina Ehrenberg 18 Porphyrosiohon cf 1 Phacus longicauda (Ehrenberg) Dujardin 10 Pseudanabaenaceae NI 1 Phacus raciborskii Drez 10 Pseudanabaenaceae NI4 1 Trachelomonas armata (Ehrenberg) Stein 8 Pseudanabaenaceae NI6 1 Euglenales NI1 7 Rabdoderma cf 1 Phacus hamatus Pochmann 7 Raphidiopsis cf 1 Euglena oxyuris Schmarda 6 Snowella cf 1 Lepocinclis sp1 6 Sphaerocavum brasiliense M. T. P. Azevedo & Sant’Anna 1 Trachelomonas cf hispida (Perty) Stein em. Defl. var duplex Defl. 6 Stigonematales NI 1 Trachelomonas lacustris Drezepolski 6 Stigonematales NI2 1 Trachelomonas sp2 6 Dinophyceae Euglena acus Ehremberg 5 Peridinium pusillum (Pénard) Lemmerman 18 Euglena ehrenbergii Klebs 4 Gymnodynium sp 16 Euglenales NI7 4 Peridinium baliense Lindemann 16 Phacus sp3 4 Peridinium cf africanum Lemmermann 10 Phacus cf suecicus 3 Dinophyceae NI1 9 Phacus onyx Pochmann 3 Peridinium cf volzii Lemmerman 4 Trachelomonas cf mirabilis Woronichin 3 Peridinium sp3 3 Trachelomonas cf zingeri Roll 3

45

Apêndice – Continuação.

Taxon n Taxon n Trachelomonas similis Stokes 3 Tetraplekton sp2 7 Lepocinclis fusiformis (Carter) Lemm. emend.Conr. 2 Centritactus sp 6 Phacus sp5 2 Isthmochlorum gracile (Reinsch) Skuja 5 Trachelomonas megalacantha Cunha 2 Tetraplekton torsum 5 Trachelomonas sp1 2 Pseudostaurastrum sp 3 Trachelomonas sp3 2 Zygnematophyceae Euglenales NI2 1 Cosmarium contractum Kirchner 18 Euglenales NI3 1 Staurastrum forficulatum Lundell 18 Euglenales NI4 1 Staurastrum leptocladum Nordstedt 18 Lepocinclis cf ovum (Ehrenberg) Lemmermann 1 Staurastrum rotula Nordstedt 18 Lepocinclis sp2 1 Staurodesmus dejectus (Brébisson) Teiling 18 Lepocinclis sp3 1 Cosmarium asphaerosporum 17 Lepocinclis sp4 1 Teilingia granulata (Roy & Bisset) Bourrely 17 Phacus orbicularis Hübner emend. Zakry´s & Kosmala 1 Cosmarium moniliforme West & West 16 Rhabdomonas sp 1 Cosmarium pseudoconnatum Nordst. 16 Strombomonas sp 1 Staurastrum ionatum Wolle 16 Strombomonas sp1 1 Staurastrum laeve Ralfs 16 Trachelomonas cf magdaleniana Deflandre 1 Staurastrum trifidum Nordstedt 16 Trachelomonas cf oblonga Lemmermann 1 Staurastrum sp5 16 Trachelomonas hispida (Perty) Stein emend. Deflandre 1 Staurodesmus crassus (West & West) Florin 16 Trachelomonas sp5 1 Staurodesmus jaculiferus (W. West) Teiling 16 Trachelomonas sp6 1 Staurastrum smithii (G.M. Smith) Teiling 15 Trachelomonas sp8 1 Staurodesmus sp3 15 Oedogoniophyceae Staurastrum setigerum Gleve 13 Oedogoniophyceae NI 1 Staurodesmus convergens (Ehr. Ex Rafs) Teiling 13 Oedogonium sp 9 Staurodesmus cuspidatus (Brébisson) Teiling 13 Xanthophyceae Staurastrum tetracerum (Kützing) Ralfs ex Ralfs 12 Tetraplekton sp1 12 Staurodesmus subulatus (Kützing) Croasdale 12 Isthmochloron lobulatum (Nägeli) Skuja 10 Cosmarium bioculatum Brébisson 11 Tetraplekton cf bourrelyi 7 Cosmarium depressum (Nageli) Lundell 11

46

Apêndice – Continuação.

Taxon n Taxon n Spondylosium panduriforme (Heimerl) Teiling 11 Staurastrum sp4 5 Staurastrum chaetoceras (Schr.) G.M.Smith 11 Staurastrum sp7 5 Cosmarium monomazum P.Lundell 10 Staurastrum sp8 5 Cosmarium quadrum P.Lundell 10 Staurastrum sp15 5 Micrasterias truncata (Corda) Bréb. ex Ralfs 10 Staurastrum sp18 5 Staurastrum cf muticum (Brébisson) Ralfs 10 Staurastrum sp24 5 Staurastrum cerastes Lundell 9 Staurodesmus convergens (Ehr. Ex Rafs) Teiling var.2 5 Staurastrum manfeldtii Delponte 9 Staurodesmus sp6 5 Staurastrum sp6 9 Cosmarium cf conspersum Ralfs 4 Cosmarium pyramidatum Brébisson in Ralfs 8 Cosmarium portianum Archer 4 Sphaerozosma sp 8 Haplotaenium minutum (Ralfs) Delponte 4 Staurastrum grallatorium Nordstedt 8 Micrasterias pinnatifida (Kütz.) Ralfs 4 Staurastrum sp26 8 Octacanthium mucronulatum (Nordstedt) 4 Staurastrum sp27 8 Staurastrum teliferum Ralfs 4 Staurodesmus sp5 8 Staurodesmus incus (Brébisson) Teiling 4 Closterium gracile Brebisson ex Ralfs 7 Staurodesmus sp7 4 Staurastrum leptacanthum Nordstedt 7 Closterium kuetzingii Brebisson 3 Staurastrum taylorii Grönblad 7 Cosmarium sp20 3 Staurastrum teliferum Ralfs var.2 7 Cosmarium sp23 3 Staurodesmus lobatus (Borgesen) Bourrely 7 Cosmarium sp4 3 Bourrellyodesmus jolyanus C. Bicudo & Azevedo 6 Cosmarium sp7 3 Closterium cf setaceum Ehrenberg 6 Cosmarium sp8 3 Cosmarium sp16 6 Euastrum cf abruprum Nordstedt 3 Hyaloteca sp 6 Gonatozygon brebissonii De Bary 3 Staurodesmus o'mearii (Archer) Teiling 6 Pleurotaenium sp2 3 Mougeotia sp1 5 Staurastrum orbiculare (Ehrenberg) Ralfs, Brit. 3 Staurastrum depressiceps Scott et Grönblad 5 Staurastrum quadrangulare (Brébisson) 3 Staurastrum minnesotense Wolle 5 Staurastrum tentaculiferum Borge 3 Staurastrum nudibrachiatum Borge 5 Staurastrum sp22 3 Staurastrum wolleanum Butler apud Wolle 5 Staurastrum sp46 3

47

Apêndice – Continuação.

Taxon n Taxon n Staurodesmus pachyrhynchus (Nordst.) Teiling 3 Staurodesmus sp23 2 Staurodesmus phimus (Turner) Thomasson 3 Triploceras gracile Bailey 2 Staurodesmus sp17 3 Closterium closterioides (Ralfs) Louis & Peeters 1 Teilingia sp2 3 Closterium dianae Ehrenberg 1 Actinotaenium sp 2 Closterium moniliferum (Bory) Ehrenberg ex Ralfs 1 Bambusina brebissonii Kütz. 2 Closterium sp4 1 Closterium sp 2 Closterium sp6 1 Closterium sp1 2 Cosmarium cf pseudopyramidatum Lundell 1 Closterium sp2 2 Cosmarium sp14 1 Cosmarium lagoense Nordst. 2 Cosmarium sp19 1 Cosmarium ornatum Ralfs 2 Cosmarium sp21 1 Cosmarium sp18 2 Cosmarium sp22 1 Desmidium aptogonum Bréb. 2 Cosmarium sp24 1 Euastrum cf pulchellum Brébisson 2 Cosmarium sp25 1 Gonatozygon cf pillosum Wolle 2 Cosmarium sp28 1 Gonatozygon monotaenium De Bary 2 Cosmarium sp31 1 Micrasterias abrupta West & G.S.West 2 Cosmarium sp32 1 Micrasterias crux-melitensis (Ehrenb.) Ralfs 2 Cosmarium sp34 1 Micrasterias oscitans var. mucronata (Dixon) Wille 2 Cosmarium sp35 1 Staurastrum cf hirsutum Borge 2 Cosmarium trilobulatum Reinsch 1 Staurastrum sp16 2 Desmidium grevillii (Kützing) De Bary 1 Staurastrum sp28 2 Desmidium swartzii Agardh 1 Staurastrum sp29 2 Euastrum cf didelta (Turpin) Ralfs 1 Staurastrum sp44 2 Euastrum elegans (Bréb.) Kütz. 1 Staurodesmus cf extensus (Anderson) Teiling 2 Micrasterias arcuata Bailey 1 Staurodesmus sp8 2 Micrasterias borgei H.Krieg. 1 Staurodesmus sp9 2 Micrasterias tropica Nordstedt 1 Staurodesmus sp14 2 Mougeotia sp2 1 Staurodesmus sp18 2 Netrium sp 1 Staurodesmus sp19 2 Octacanthium sp2 1

48

Apêndice- continuação

Taxon n Onychonema laeve Nordstedt 1

Pleurotaenium cf baculoides (Skuja) Krieger 1 Sirogonium cf 1 Spirogyra sp1 1 Spirogyra sp2 1 Spirogyra sp3 1 Spondylosium planum (Wolle) West &

G.S.West 1 Staurastrum brasiliense Nordstedt 1 Staurastrum sexangulare Bulnheim

(Rabenhorst) 1 Staurastrum sp17 1 Staurastrum sp25 1 Staurastrum sp30 1 Staurastrum sp35 1 Staurastrum sp38 1 Staurastrum sp39 1 Staurastrum sp40 1 Staurastrum sp41 1 Staurastrum sp42 1 Staurastrum sp45 1

Staurodesmus sp13 1 Staurodesmus sp20 1 Staurodesmus sp22 1 Staurodesmus sp24 1 Staurodesmus sp25 1 Teilingia sp1 1 Xanthidium regulare Nordst. 1 aff. Zygnema sp 1

49

CAPÍTULO 2

ATENUAÇÃO DA RADIAÇÃO VISÍVEL EM 16 LAGOAS NATURAIS DO MÉDIO RIO DOCE, MINAS GERAIS: FATORES DETERMINANTES E IMP LICAÇÕES

PARA O FITOPLÂNCTON

50

Resumo

Atenuação da radiação visível em 16 lagoas naturais do médio Rio Doce, Minas

Gerais: fatores determinantes e implicações para o fitoplâncton

Este estudo apresenta a variação espacial e temporal do coeficiente de absorção da

radiação fotossinteticamente ativa (k0) em 16 lagoas do sistema lacustre do médio

Rio Doce, bem como sua relação com os teores de matéria orgânica dissolvida

colorida (MODC), fósforo total e composição e biomassa do fitoplâncton. Os valores

de k0 (0,4 a 2,93 m-1) variaram espacial e sazonalmente, em função das variações

na profundidade da zona de mistura, nas concentrações de P-total e matéria

orgânica dissolvida colorida (MODC) e na biomassa fitoplanctônica. Lagoas mais

claras (k0 < 0,8 m-1) apresentaram maior riqueza de diatomáceas e maior

contribuição de desmídias para a biomassa total. As lagoas mais escuras (k0 > 0,8)

apresentaram maior biomassa total, composto principalmente por cianofíceas e de

criptofíceas. A sazonalidade da atenuação da luz foi determinada pelos padrões de

estratificação térmica, reforçando a importância do padrão monomítico-quente nesse

sistema lacustre. A relação positiva ente os valores de k0 e a biomassa

fitoplanctônica sugere que mesmo nas lagoas com maiores valores de k0 não houve

limitação do desenvolvimento dessa comunidade. Embora mesmo os valores de k0

observados nas lagoas de águas escuras não possam ser considerados elevados se

comparados a outros ambientes húmicos, a influência do grau de atenuação da luz

sobre o fitoplâncton foi percebida pelas diferenças na composição da comunidade

fitoplanctônica, com o favorecimento de espécies mixotróficas, tolerantes à baixa

disponibilidade de luz ou oportunistas.

Palavras-Chave: atenuação da PAR, fitoplâncton, MODC

51

Abstract

Attenuation of visible radiation in 16 natural lake s of the middle Rio Doce,

Minas Gerais: determinants and implications for phy toplankton

This study highlights the spatial and temporal variation of absorption coefficient of

photosynthetically active radiation (k0) in 16 lakes of the lacustrine system of the

middle Rio Doce and its relation to the concentration of colored dissolved organic

carbon, CDOC, total phosphorus and phytoplankton composition and biomass. k0

values (0.4 to 2.93 m-1) varied spatially and seasonally, related to variations in the

mixing zone depth, total-P and CDOM concentrations and phytoplankton biomass.

Lighter lakes (k0 <0.8 m-1) showed greater richness of diatoms, and greater

contributions of desmids to the total biomass. Darker lakes (k0> 0.8) had higher total

and cyanobacteria and cryptophytes biomass. The seasonality of the light attenuation

was determined by thermal stratification patterns, reinforcing the importance of warm-

monimitico pattern for the system. The positive relationship between k0 values and

phytoplankton biomass suggests that even in lakes with higher CDOM levels, the k0

valaues were not sufficient to limit the development of planktonic algae. Even though

the values of k0 observed in darker lakes can not be considered high compared to

other humic environments, the influence of light attenuation on phytoplankton was

perceived by the differences in the composition of the phytoplankton community, with

the encouragement of mixotrophic, low-light tolerant or opportunistic species.

Key-words: PAR atenuation, phytoplankton, CDOM

52

Introdução

A radiação solar tem uma importância fundamental no fluxo de energia de

ecossistemas aquáticos. Fatores como posição do sol, nebulosidade e concentração

de carbono orgânico dissolvido e material particulado influenciam a profundidade de

penetração da radiação solar (Kostoglidis et al., 2005), afetando a absorção e

dissipação na forma de calor e determinando a estrutura térmica, a ciclagem de

nutrientes e a distribuição dos gases dissolvidos e dos organismos nos ambientes

aquáticos (Wetzel, 2001).

A disponibilidade de luz, especialmente a radiação fotossinteticamente ativa (PAR),

está entre os principais fatores que controlam a composição e a biomassa do

fitoplâncton. As diferenças temporais e espaciais na intensidade e no espectro de

luz possibilitam a sucessão fitoplanctônica, uma vez que a presença ou ausência de

atributos fisiológicos que permitam crescer sob uma dada condição luminosa podem

determinar o sucesso ou fracasso de uma espécie em se estabelecer em um

ambiente (Litchman & Klausmeier, 2008).

A quantificação da profundidade da zona eufótica e a influência dos diferentes

fatores sobre a atenuação da radiação fotossinteticamente ativa fornecem

informações importantes acerca do clima de luz para o fitoplâncton (Foden et al.,

2008). Compostos orgânicos, especialmente a matéria orgânica dissolvida colorida

(MODC) são conhecidos por seu importante papel na atenuação da luz em lagoas. A

concentração de MODC influencia a penetração de luz nos sistemas (Devol et al.,

1984; Bezerra-Neto et al., 2006; Karlsson et al., 2009), alterando sua qualidade e

quantidade, uma vez que absorve especialmente a porção azul da faixa do visível

(400-700nm) do espectro eletromagnético (Branco & Kremer, 2005). Ambientes com

águas escuras devido a elevados teores de MODC são também conhecidos como

ambientes húmicos e têm uma rápida atenuação da radiação fotossinteticamente

ativa (Jones, 1992).

Devido aos efeitos da MODC sobre a disponibilidade e qualidade da luz, ambientes

húmicos são associados a baixas biomassa e produtividade fitoplanctônicas (Jones,

1992) bem como baixa riqueza de espécies (Alves-de-Souza et al., 2006),

normalmente com elevada contribuição de organismos mixotróficos, como

53

crisofíceas e dinoflagelados (Jansson et al., 1996; Jones 2000; Drakare et al., 2002).

No entanto, a maior parte dos estudos que contemplam o fitoplâncton de sistemas

húmicos foi realizada em clima temperado e pouco se conhece ainda sobre a

relação do teor de MODC e o fitoplâncton em ambientes tropicais. No Brasil, foram

estudados alguns ambientes de águas escuras na Amazônia e na região de restinga

do Estado do Rio de Janeiro (Pålsson & Granéli, 2004; Alves-de-Souza et al., 2006).

O sistema lacustre do médio Rio Doce está entre os mais importantes sistemas de

lagoas naturais do Brasil, com cerca de 150 lagoas que se diferenciam em relação

as características morfométricas e limnológicas. Uma particularidade marcante

observada neste sistema é a ocorrência de um gradiente de atenuação da luz, com

a existência de lagoas com elevada transparência lado a lado com lagoas com

elevada turbidez. Tal gradiente possibilita o desenvolvimento de estudos sobre as

variações espaciais e temporais do coeficiente de atenuação da luz nos quais as

interferências decorrentes de diferenças geográficas e geomorfológicas são

minimizadas. Além disso, embora as lagoas do médio Rio Doce venham sendo

estudadas desde a década de 70 (Tundisi & Saijo, 1997b), existe ainda uma

carência de informações sobre os padrões de atenuação da luz e suas

conseqüências para o fitoplâncton nesses ambientes.

Até o presente, apenas o estudo de Bezerra-Neto et al. (2006) considerou a

variação da atenuação da radiação fotossintéticamente ativa em quatro lagoas do

sistema, sem contudo considerar a influência sobre a composição e distribuição das

espécies fitoplanctônicas. Na expectativa de ampliar tais estudos e a compreensão

dos fatores responsáveis pela atenuação da luz visível no sistema lacustre do médio

Rio doce, o presente estudo apresenta a variação espacial e temporal do coeficiente

de absorção da radiação fotossinteticamente ativa (k0) em 16 lagoas do médio Rio

Doce, bem como a relação com os teores de MODC, fósforo total e composição e

biomassa do fitoplâncton.

54

Área de estudo

O sistema lacustre do médio Rio Doce é formado por cerca de 150 lagoas, das quais

50 estão protegidas dentro dos limites do Parque Estadual do Rio Doce-PERD

(19º29’S; 42º28’W). Esta Unidade de conservação, o maior remanescente de Mata

Atlântica do Estado de Minas Gerais (35.976 ha), tem seu entorno ocupado

principalmente por plantações de Eucaliptus. O clima da região é definido como

tropical semi-úmido, com 4-5 meses de seca e características mesotérmicas (Nimer,

1989), com temperatura em torno de 25ºC. O período chuvoso se estende de

outubro a março e o período de seca, de abril a setembro (Figura 2.1 ).

J F M A M J J A S O N D

Pre

cipi

taçã

o ac

umul

ada

(mm

)

0

50

100

150

200

250

300

350

Tem

pera

tura

méd

ia (

o C)

0

5

10

15

20

25

30

Figura 2. 1 - Variação mensal da temperatura média do ar (linha) e da precipitação acumulada (barras) nos meses de janeiro a dezembro. Dados médios obtidos da estação climatológica do PERD entre 2004 e 2008.

Para este estudo, foram selecionadas 16 lagoas, sendo sete localizadas dentro dos

limites do PERD e nove, em sua área de entorno. A área e a profundidade de cada

lagoa podem ser observadas na Tabela 2.1 .

55

Metodologia

Foram realizadas quatro campanhas de amostragem com intervalos trimestrais:

agosto de 2007, novembro de 2007, fevereiro de 2008 e maio de 2008.

Os perfis de temperatura e condutividade elétrica da água foram determinados com

auxílio de sonda multiparâmetros Horiba U-22. O limite da zona de mistura foi

definido com base nos perfis térmicos, considerando o limite superior em que a

diferença de temperatura a cada metro mostrou-se igual ou superior a 0,5 °C.

Diferenças entre os valores de condutividade elétrica foram utilizados para confirmar

a profundidade definida para a zona de mistura.

A radiação fotossintecamente ativa foi medida com radiômetro Li-Cor com sensor

quantum subaquático esférico (modelo LI 193). O coeficiente de atenuação escalar

da radiação fotossinteticamente ativa k0 (m-1) foi determinado pela inclinação da reta

da regressão linear entre a profundidade e o logaritmo natural da irradiância escalar.

Todas as medidas foram tomadas entre 10:00 e 14:00H.

Amostras para determinação dos teores de matéria orgânica dissolvida colorida

(MODC) foram coletadas a 0,5m da superfície. As amostras foram filtradas em filtro

GF/F, Whatman e estocadas no escuro a 4°C até o mom ento da análise. O teor de

MODC foi estimado através de espectrofotometria, considerando a absorbância

obtida a 250nm em cubetas de quartzo de 1cm e utilizando água Milli-Q como

referência (Tranvik & Bertilsson, 2001). Os valores de absorbância a 250nm foram

convertidos no coeficiente de absorção através da equação (Kirk, 1994):

aMODC (m-1) = 2,303 A/r

onde: A= absorbância a 250 nm

r=caminho óptico da cubeta (mm)

Amostras para análise da concentração do fósforo total (P-total), fósforo solúvel

reativo (PSR) e nitrogênio inorgânico dissolvido (NID) e contagem do fitoplâncton

foram coletadas com garrafa de van Dorn na sub-superfície, na profundidade do

desaparecimento visual do disco de Secchi, que corresponde a cerca de10% da

56

radiação incidente na superfície e na profundidade correspondente a 1% da radiação

solar incidente na superfície de cada lagoa (profundidade do Secchi x 3). Para

determinação das concentrações de fósforo total, fosfóro solúvel reativo, nitrogênio

inorgânico dissolvido (nitrato-N, nitrito-N e amônio-N) e silicato foram utilizadas as

metodologias propostas por Golterman & Climo, 1967; Koroleff, 1976 e Mackereth

et al., 1978.

Para análise qualitativa do fitoplâncton, as amostras foram coletadas através de

arrastos verticais e horizontais sucessivos com rede de 20µm de abertura de malha.

A identificação das espécies foi feita sob microscópio óptico em aumentos de 400 e

1000 vezes. As contagens do fitoplâncton foram realizadas sob microscópio invertido

Zeiss após sedimentação em câmaras de 50mL (Utermöhl, 1958). Os organismos

foram contados até que se atingisse um total de 400 indivíduos da espécie mais

abundante, garantindo erro de ±10% para um intervalo de confiança de 95% (Lund

et al., 1958). Os cálculos de densidade foram feitos conforme Villafañe & Reid

(1995).

O biovolume específico foi calculado associando cada espécie a uma forma

geométrica conhecida (Hillebrand et al., 1999; Sun & Liu, 2003) e multiplicando-se a

densidade da população pelo volume médio obtido. Em geral, foram realizadas 20

medições para os taxa que contribuíram em média com pelo menos 1% da

densidade total de cada lagoa considerado. Assumiu-se peso fresco como unidade

de massa, considerando 1 mm3.L-1 = 1 mg.L-1 (Wetzel & Likens 2000).

A importância relativa da concentração de P-total, do fitoplâncton (biomassa) e do

teor de MODC (A250nm) sobre o coeficiente de atenuação escalar da radiação

fotossinteticamente ativa (k0) foram avaliadas através de regressões lineares

múltiplas, após transformação dos dados (log x+1). As diferenças na biomassa,

composição e estrutura do fitoplâncton entre os ambientes foram verificadas através

do teste de Kruskal-Wallis.

57

Resultados

A Tabela 2.1 apresenta os valores de Ptotal, MODC e k0 observada nos ambientes

estudados durante os períodos de seca e chuvas. A concentração de P-total variou

entre lagoas e amostragens, sendo o menor valor (7,2 µg.l-1) observado na lagoa

Águas Claras em agosto de 2007 (seca) e o maior (78,8 µg.l-1) na lagoa Barra em

fevereiro de 2008 (chuvas). O coeficiente da MODC (A250) variou entre 1,9 e 105,5

m-1, com valores significativamente mais elevados nas lagoas Central, Pimenta,

Ferrugem, Ferruginha e Patos (KW-H= 5,33; p<0,05). As lagoas Central, Ferrugem,

Ferruginha, Patos, Carioca, Barra e Pimenta apresentaram os maiores valores para

o coeficiente de atenuação da luz (k0 > 0,8), que variou de 0,4 a 2,93 m-1 (KW-H=

5,33; p<0,05). Foi observada uma tendência a maiores valores de k0 durante a

estação seca na maioria das lagoas. Os teores de Ptotal, MODC e os valores de k0

mostraram-se positivamente relacionados à profundidade de mistura (Tabela 2.2 ).

Tabela 2. 1 - Área e profundidade das 16 lagoas amostradas.

Área Prof

(Km2) (m)

A. Claras 0,617 9,5Jacaré 0,086 8,5Gambá 0,122 12,0Carioca 0,131 10,0Gambazinho 0,216 10,0Patos 0,230 8,0Ferruginha 0,422 4,0Central 0,443 5,0Verde 0,826 19,0S.Helena 0,858 10,5Ferrugem 1,091 3,5Palmeirinha 1,220 6,0Pimenta 1,241 3,5Almécega 1,298 7,0Barra 1,936 7,0D. Helvécio 5,268 28,0

58

Figura 2. 2 – Média e desvio padrão observados para o coeficiente de atenuação da radiação fotossinteticamente ativa (k0), da concentração de matéria orgânica dissolvida colorida (A250), do teor de fósforo total (Ptotal), fósforo solúvel reativo (PSR), e nitrogênio inorgânico dissolvido (DIN) nas lagoas durante os períodos de seca e chuva.

59

Tabela 2. 2 - Resultados obtidos para regressão linear simples da profundidade total no ponto de coleta e os teores de fósforo total (Ptotal) e matéria orgânica dissolvida colorida (MODC) e o coeficiente de atenuação da luz k0

Variável R2 F p

P-total 0,386 8,82 0,010

MODC 0,455 11,69 0,004

k0 0,297 5,93 0,029

Os resultados da regressão múltipla de k0 versus Ptotal, MODC e biomassa do

fitoplâncton podem ser observados na Tabela 2.3 . A importância de cada uma

dessas variáveis no coeficiente de atenuação da luz variou sazonalmente. Durante o

período de seca, 85% da variação de k0 foi explicada pelos teores de MODC e de

fósforo total, enquanto a biomassa do fitoplâncton e os teores de MODC explicaram

87% da variação nos valores de k0 no período de chuvas.

Tabela 2. 3 - Resultados obtidos para análise de regressão múltipla do k0 utilizando biomassa do fitoplâncton, matéria orgânica dissolvida colorida e concentração de fósforo total como variáveis independentes

Período Modelo R2 ajustado p

seca + chuva log k0= 0,045 + 0,306 log Biov + 0,502 log MODC 0,80 0,000000

seca k0= 0,0004 + 0,637 log MODC + 0,335 log PT 0,85 0,000007

chuva log k0= 0,01 + 0,462 log Biov + 0,502 log MODC 0,87 0,000003

Foram registrados 490 taxa fitoplanctônicos nos ambientes estudados, sendo

Zygnematophyceae (171), Cyanobacteria (102) e Chorophyceae (98) as classes

mais ricas em espécies. A contribuição de cada classe taxonômica nas lagoas

amostradas pode ser observada na Figura 2.3 . As classes mais representativas em

cada lagoa foram as mesmas observadas para o conjunto de lagoas. No entanto,

registrou-se maior número de espécies de diatomáceas (Bacillariophyceae) nas

lagoas com coeficiente de atenuação da luz menor que 0,8 m-1 (Figura 2.4 ).

60

Figura 2. 3 - Contribuição das classes taxonômicas para o total de espécies registrado em cada lagoa amostrada entre agosto de 2007 e maio de 2008.

<0,8 >0,8

Coeficiente de atenuação da luz k0 (m-1)

6

7

8

9

10

11

12

13

14

15

16

Riq

ueza

de

Ba

cilla

riop

hyc

ea

e

Figura 2. 4 - Variação da riqueza em espécies de Bacillaryophyceae nas lagoas com coeficientes de atenuação escalar (k0) menores (águas claras) e maiores que 0,8 (águas escuras). Em cada caixa, o ponto representa a mediana e os limites inferior e superior compreendem os percentis 25 e 75% dos dados, respectivamente.

61

Foram observadas diferenças na biomassa e composição do fitoplâncton em função

do gradiente de atenuação da luz. Ambientes com k0 > 0,8 apresentaram maior

biomassa total, de cianofíceas (KW-H1,32= 8,568; p<0,01) e de criptofíceas (KW-

H1,32= 7,42; p<0,01), enquanto as desmídias (Zygnematophyceae) apresentaram

maior abundância relativa (KW-H1,32= 4,327; p<0,05) nas lagoas de águas claras

(Figura 2.5 ).

<0,8 >0,8

Coef iciente de atenuação da luz - k0

0,0

0,2

0,4

0,6

0,8

1,0

Bio

volu

me

de

Cry

pto

phy

ceae

(mm

3 .L-1

) SecaChuvasOutliers

a

b

b

a

<0,8 >0,8

-1)

0,0

0,1

0,2

0,3

0,4

0,5

0,6

0,7

0,8

0,9

1,0

SecaChuvasOutliers

a

b

b

a

Bio

volu

me

tota

l (m

m3 .

L-1 )

<0,8 >0,8

Coeficiente de atenuação da luz k0 (m-1)

-0,1

0,0

0,1

0,2

0,3

0,4

0,5

SecaChuvasOutliers

a

b

b

a

Bio

volu

me

de

Cya

nop

hyce

ae (m

m3 .

L-1 )

<0,8 >0,8

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

SecaChuvasOutliers

a

b

a

a

%Z

ygne

map

hyce

ae

Coef iciente de atenuação da luz - k0

Figura 2. 5 - Variação da biomassa total, das classes Cyanobacteria e Cryptophyceae e da abundância relativa (%) de Zygnematophyceae nas lagoas com coeficiente de atenuação escalar da luz k0 <0,8 (águas claras) e >0,8 (águas escuras). Em cada caixa, o ponto representa a mediana e os limites inferior e superior compreendem os percentis 25 e 75%, respectivamente. Os círculos representam os outliers. Letras diferentes indicam diferenças significativas (p<0,05).

As espécies mais representativas em cada ambiente estão apresentadas na Tabela

2.4. Verificou-se uma alternância das espécies e grupos taxonômicos dominantes e

62

sub-dominantes na maioria das lagoas com k0 < 0,8, com maior biomassa relativa de

desmídias, especialmente Cosmarium bioculatum Brébisson ex Ralfs, Staurodesmus

crassus (West et G.S. West) Florin e Cosmarium moniliforme Turpin ex Ralfs,

durante o período de chuvas. Nas lagoas com k0 > 0,8 m-1 observou-se maior

constância entre as quatro campanhas de amostragem no que se refere à

composição do fitoplâncton. Nas lagoas com k0 > 0,8 m-1 as cianobactérias

Limnothrix redekeii (van Goor) Meffert, Cylindrospermopsis raciborskii (Wollosz.)

Seenayya & Subba Raju e Planktolyngbya limnetica (Lemmermann) Komárková-

Legnerová & Cronberg e P. contorta (Lemmermann) Anagnostidis et Komárek se

destacaram, juntamente com os dinoflagelados Gymnodynium sp e Peridinium

pusillum (Penard) Lemmerman e clorofíceas (Botryococcus braunii Kützing, Chlorella

spp, Monoraphidium contortum (Thuret) Komárkova-Legnerová nas lagoas escuras e

nas amostragens realizadas no período de seca nas lagoas de águas claras.

63

Tabela 2. 4 - Principais espécies e porcentagem da biomassa representada em cada lagoa durante as quatro campanhas de amostragem.

seca secaLagoa ago/07 nov/07 fev/08 mai/08

U. longiseta (38%) C. bioculatum (58%) T. granulata (23%) Chlorella sp (18%)A. Claras Chlorella sp (15%) S. crassus (19%) P. limnetica (21%) P. limnetica (15%)

C. brasiliensis (11%) M. contortum (10%) C. bioculatum (14%) U.longiseta (14%)U. longiseta (63%) S. smithii (22%) P. limnetica (43%) U. longiseta (48%)

Almécega C. bioculatum (5%) C. bioculatum (21%) U. longiseta (39%) P. limnetica (25%)S. smithii (5%) Teilingia sp (17%) Coelomorum sp (3%) Teilingia sp2 (7%)Monoraphidium sp (31%) C.raciborskii (24%) S. crassus (31%) L. redekei (56%)

D. Helvécio C.raciborskii (24%) C.moniliforme (27%) C.raciborskii (22%) C.raciborskii (11%)Chlorella sp (12%) C.bioculatum (9%) L. redekei (22%) S. crassus (5%)Gymnodinium sp (33%) C. bioculatum (25%) C.brasiliensis (26%) L. redekei (46%)C.brasiliensis (21%) L. redekei (23%) Gymnodinium sp (22%) Dinoflagelado NI (18%)Dinoflagelado NI (18%) C. brasiliensis (15%) L. redekei (13%) C.brasiliensis (14%)B.braunii (49%) B.braunii (51%) P. limnetica (39%) B.braunii (42%)

Gambazinho Cryptomonas sp5 (19%) P. limnetica (31%) B.braunii (37%) P. limnetica (29%)B.braunii (49%) L. redekei (11%) L. redekei (10%) L. redekei (21%)D. pulchellum (48%) C.bioculatum (42%) P. limnetica (18%) C.moniliforme (43%)

Palmeirinha Cryptomonas sp2 (19%) D.sertularia (10%) S. crassus (17%) P. limnetica (11%)D.sertularia (19%) P. limnetica (10%) C.moniliforme (16%) D. pulchellum (10%)C.raciborskii (61%) C.bioculatum (58%) C.bioculatum (23%) U. longiseta (25%)

S.Helena A. elachista (5%) C.raciborskii (10%) S. crassus (21%) C.raciborskii (17%)U. longiseta (5%) C.moniliforme (6%) C. brasiliensis (14%) C.bioculatum (16%)P.circuncreta (18%) C.bioculatum (34%) C.bioculatum (33%) L. redekei (28%)

Verde L. redekei (17%) P.circuncreta (13%) P.pusillum (18%) P.circuncreta (25%)

Cryptomonas sp2 (14%) P. limnetica (8%) S. crassus (16%) C.bioculatum (11%)Peridinium sp1 (60%) C.raciborskii (36%) C.raciborskii (18%) C.raciborskii (35%)

Barra Cryptomonas sp5 (18%) L. redekei (16%) L. redekei (13%) L. redekei (29%)Peridinium sp1 (13%) S. smithii (11%) Cryptomonas sp5 (10%)

L. redekei (44%) Cryptomonas sp5 (28%) L. redekei (28%) Gymnodinium sp (38%)Carioca Gymnodinium sp (23%) Chlorella sp (23%) Chlorella sp (22%) Cryptomonas sp5 (18%)

Chlorella sp (11%) L. redekei (18%) S. crassus (11%) Chlorella sp (17%)D. pulchellum (48%) L. redekei (33%) L. redekei (29%) L. redekei (64%)

Central L. redekei (29%) M. contortum (29%) C.reticulatum (22%) Gymnodinium sp (19%)Gymnodinium sp (12%) Gymnodinium sp (10%) D. pulchellum (14%) D. pulchellum (7%)C.raciborskii (18%) C.raciborskii (64%) C.raciborskii (55%) C.raciborskii (64%)

Ferrugem Dinoflagelado NI (18%) P. limnetica (9%) P. limnetica (12%) P. limnetica (8%)C.moniliforme (11%) L. redekei (6%) Chroococales NI5 (8%) L. redekei (8%)Gymnodinium sp (77%) Gymnodinium sp (37%) C. raciborskii (27%) C.raciborskii (42%)

Ferruginha C.raciborskii (13%) L. redekei (30%) P. pusillum (24%) L. redekei (19%)L. redekei (3%) C.raciborskii (17%) Gymnodinium sp (18%) C.moniliforme (9%)A. elachista (34%) Gymnodinium sp (63%) A. elachista (27%) Gymnodinium sp (63%)

Jacaré B.braunii (22%) B.braunii (12%) Chlorella sp (17%) B.braunii (17%)Gymnodinium sp (17%) A. elachista (10%) C.bioculatum (14%) A. elachista (10%)Eutetramorus sp (48%) B.braunii (51%) B .braunii (30%) B.braunii (42%)

Patos B.braunii (29%) Spirulina sp2 (25%) Cryptomonas sp2 (29%) Planktonema sp (25%)Cryptomonas sp2 (7%) Eutetramorus sp (8%) Elakatothrix sp (19%) T.volvocinopsis (14%)S.incus (26%) L. redekei (36%) S.tetracerum (51%) L. redekei (7%)

Pimenta L. redekei (22%) M.contortum (26%) C.bioculatum (24%) M.contortum (26%)S. ionatum (16%) C.bioculatum (9%) L. redekei (7%) S.tetracerum (51%)

chuvas

K0

< 0,

8 m

-1K

0 >

0,8

m-1

Gambá

64

Discussão

Os resultados apontam claras diferenças espaciais e temporais em relação à

atenuação da radiação fotossinteticamente ativa, os fatores determinantes e suas

conseqüências para o fitoplâncton no conjunto das lagoas analisadas contribuindo

com informações significativas sobre limnologia desse importante complexo de

lacustre.

O valor de k0 = 0,8 m-1 foi considerado como o limite do coeficiente de atenuação da

luz que separa condições de elevada (k0<0,8) e reduzida (k0>0,8) penetração da

radiação luminosa. Esse valor foi utilizado por Pfannkuche (2002) em ambientes da

plataforma continental da Nova Zelândia e por Foden et al. (2008) em corpos d’água

do Reino Unido, que registraram valores acima daquele limite em estuários e águas

costeiras de elevada turbidez.

Aplicando este critério aos ambientes estudados, as lagoas Águas Claras,

Almécega, Gambá, Gambazinho, Palmeirinha, Santa Helena e Verde podem ser

consideradas como de “águas claras”, uma vez que os valores de k0 mantiveram-se

inferiores a 0,8 m-1 em todas ou três das quatro amostragens realizadas. Por sua

vez, as lagoas Barra, Carioca, Central, Ferrugem, Ferruginha, Jacaré e Patos podem

ser consideradas ambientes de águas escuras, com valores de k0 > 0,8 m-1 em

quase todas as amostragens.

A maioria das lagoas apresentou redução nos valores de k0 durante o período de

chuvas. A sazonalidade da atenuação da luz visível foi mais marcante na lagoa

Central (80%), mas também foi expressiva nas lagoas Verde (28%), Santa Helena

(24%) e Dom Helvécio (23%). Uma redução em menor escala (12 – 19%) dos

valores de k0 também foi registrada na estação chuvosa nas lagoas Palmeirinha,

Carioca, Gambazinho e Pimenta. Esses resultados corroboram aqueles obtidos por

Bezerra-Neto et al. (2006), que observaram redução de 26% nos valores para k0

para a lagoa Carioca e 37% para a lagoa Dom Helvécio durante o período de chuvas

de 2004/2005. Tal sazonalidade, observada tanto nas lagoas de águas claras quanto

nas de águas escuras, está provavelmente associada aos padrões de estratificação

térmica, uma vez que a circulação da coluna d’água que ocorre no período de seca

65

pode proporcionar a suspensão de matéria orgânica particulada do sedimento,

conforme sugerido por Calijuri et al. (1997).

As relações significativas entre a profundidade e os valores de Ptotal, A250 e k0

observados em cada lagoa demonstram a importância da morfometria para as

características limnológicas dos ambientes e reforçam o papel determinante das

condições de mistura da coluna d’água sobre a atenuação da luz (Reynolds, 1994).

O maior biomassa fitoplanctônico nos ambientes com maior coeficiente de

atenuação de luz vai de encontro ao sugerido por Devol et al. (1984), que

observaram baixas densidades nos ambientes de águas escuras da Amazônia, por

Carpenter et al. (1998), que apontam efeitos negativos da concentração do carbono

orgânico dissolvido (COD) sobre a concentração de clorofila-a e sobre a

produtividade primária do fitoplâncton em lagos do Wisconsin, e por Alves-de-Souza

et al., 2006, que também registraram baixa biomassa do fitoplâncton (max. 0,5 mg.L-

1) na lagoa Comprida, Rio de Janeiro, que tem elevadas concentrações de

compostos húmicos.

Alguns autores, por sua vez, sugerem que concentrações intermediárias de COD

podem ser mais favoráveis ao crescimento do fitoplâncton do que baixas

concentrações, pois reduzem os efeitos deletérios da radiação UV (Aitkenhead-

Peterson et al., 2003). Os efeitos da MODC sobre o fitoplâncton são geralmente

associados a limitação por luz. No entanto, as lagoas que apresentaram maior

atenuação da luz apresentaram maior biomassa fitoplanctônica, sugerindo que

mesmo nas lagoas com maiores valores de k0 os teores de MODC não foram

suficientes para limitar o desenvolvimento dessa comunidade. Jones (1992) sugeriu

que um coeficiente de atenuação de 1,33m-1 não representou uma atenuação

expressiva da radiação incidente na superfície de lagos no Canadá. Com exceção

das lagoas Central e Patos, os ambientes estudados mostraram valores de k0

abaixo, ou ligeiramente superiores a 1,33m-1, reforçando a hipótese que mesmo os

mais escuros dentre os ambientes estudados não tiveram sua produção

fitoplanctônica limitada, sobretudo, se considerarmos que a insolação é mais

elevada na região tropical.

66

A relação direta observada entre a biomassa fitoplanctônica e o coeficiente de

atenuação da radiação fotossinteticamentem ativa também evidencia a contribuição

do fitoplâncton para essa atenuação, uma vez que o fitoplâncton está entre os

componentes que afetam as propriedades ópticas inerentes a cada corpo de água

(Mobley 1994, apud Green et al., 2003). Os resultados das regressões múltiplas

realizadas reforçam esta hipótese, uma vez que a biomassa fitoplanctônica aparece

entre os fatores responsáveis pelas variações da atenuação da luz nas lagoas

estudadas.

A importância da atenuação da radiação fotossinteticamente ativa para o fitoplâncton

é evidenciada quando se compara a composição do fitoplâncton entre lagoas de

águas claras e águas escuras. A maior importância das desmídias

(Zygnematophyceae) para a biomassa fitoplanctônica nas lagoas com baixo

coeficiente de atenuação da luz (“águas claras”) durante o período chuvoso

corrobora estudos já realizados, que apontam o padrão de estratificação térmica

predominante nas lagoas da região, monomítico-quente, como fator determinante

para a abundância desses organismos. A importância da atelomixia para a

manutenção dessas algas que possuem baixa resistência à sedimentação (Padisák

et al., 2003b) nas camadas superiores da coluna d’água foi evidenciada por

Reynolds (1997) e Barbosa & Padisák (2002).

A dependência desses organismos de maior disponibilidade de luz, já reportada por

Souza et al. (2008) em estudos realizados na lagoa Dom Helvécio, é corroborada

pela ausência de variação sazonal significativa nas lagoas com k0 >0,8m-1 (“águas

escuras”), apesar de esses ambientes apresentarem o mesmo padrão monomítico-

quente. Tal resultado sugere que, apesar de também ter sido observada uma

redução dos valores de k0 durante o período de chuvas nesses ambientes, a

radiação fotossinteticamente ativa ainda manteve níveis insuficientes para o

desenvolvimento mais expressivo das desmídias. A diatomácea Urosolenia longiseta

(Zacharias) M. B. Edlund & Stoermer também aparece entre as espécies dominantes

das lagoas Águas Claras, Almécega e Santa Helena, todas com baixos valores de k0

(< 0,8m-1), e é da mesma forma associada a ambientes de águas claras e pobres em

nutrientes (Padisák et al., 2009).

67

Dentre os ambientes com águas claras, a lagoa Gambazinho foi o único no qual as

desmídias não estão listadas entre as espécies dominantes ou subdominantes em

nenhuma das amostragens, embora Zygnematophyceae também tenha se mostrado

a classe com maior riqueza taxonômica. A ausência de uma biomassa expressiva de

desmídias na lagoa Gambazinho pode estar relacionada ao padrão de estratificação

térmica. Embora tenha se mostrado estratificada durante as amostragens realizadas

no período de chuvas, a estratificação térmica é um evento pouco freqüente nessa

lagoa (dados não publicados), que foge ao padrão monomítico-quente confirmado

para as demais lagoas estudadas. Assim, a constante mistura da coluna d’água

pode estar atuando como fator limitante ao desenvolvimento das desmídias.

Em lagoas húmicas, a mixotrofia pode ser vantajosa em relação à fagotrofia

obrigatória, pois permite algum uso da luz disponível, e também em relação à

fototrofia obrigatória, por possibilitar a utilização de uma fonte extra para obtenção

de carbono e nutrientes (Jones, 2000). A frequência dos dinoflagelados

Gymnodinium sp e Peridinium pusillum entre as espécies dominantes foi maior nas

lagoas com maiores coeficientes de atenuação da luz (k0 > 0,8m-1). Esses

organismos são mixotróficos (Jansson et al., 1996) e sua relação com elevadas

concentrações de Ptotal e MODC já havia sido verificada no lago GroßeFuchskuhle,

na Alemanha (Hehmann et al., 2001) e no lago Örträsket na Suécia (Drakare et al.,

2002). Hehmann et al. (2001) atribuem o sucesso dos dinoflagelados à capacidade

de realizar heterotrofismo, se alimentando de bactérias, e ao comportamento

migratório que possibilita maior acesso às regiões com maior disponibilidade de luz

e/ou bactérias (Findlay, 1999).

A maior biomassa das classes Cryptophyceae, representada por diferentes espécies

de Cryptomonas, e Cyanobacteria, representada por C. raciborskii, L. redekeii, A.

elechista e Planktolyngbya spp., nas lagoas com k0 > 0,8m-1 corrobora a hipótese de

que as condições de luz nesses ambientes estão limitando a fotossíntese e

selecionando as espécies do fitoplâncton. As Cryptomonas podem ser consideradas

mixotróficas (Jones, 2000) ou potencialmente mixotróficas (Jansson et al 1996) e a

presença de flagelos as permite migrar na coluna d’água. Dentre as cianobactérias,

a migração vertical é viabilizada pela presença de aerótopos e mucilagem (Bold &

Wyne, 1985). Izaguirre et al. (2004) e Rodrigues & Pizarro (2007) também

68

registraram elevadas percentagens desses grupos taxonômicos na Laguna Grande,

um ambiente húmico localizado em área de estuário na Argentina e atribuíram tal

dominância ao prevalecimento da radiação na faixa do vermelho devido à absorção

dos menores comprimentos de onda pela MODC em elevadas concentrações.

Nesses ambientes com menor disponibilidade de luz, clorofíceas como Botryococcus

braunii, capaz de controlar sua posição na coluna d’água devido à produção de

gotículas de óleo e Monoraphidium contortum e Chlorella sp., considerados

organismos oportunistas (Rodrigo et al., 2009), também se destacaram entre as

espécies dominantes.

Ao compararem dados de lagoas temperadas e tropicais com elevados teores de

MODC, Pålsson & Granéli (2004) encontraram baixa contribuição de gêneros

mixotróficos na biomassa fitoplanctônica dos ambientes tropicais. No entanto, os

próprios autores ressaltaram duas hipóteses para a ocorrência de tal resultado: a

amostragem não refletir a situação predominante, já que havia sido realizada em

uma única ocasião, e a contribuição de tais organismos poderia ser mais expressiva

em outras épocas do ano; ou a trofia e as elevadas temperaturas registradas nos

trópicos teriam favorecido a dominância de cianobactérias nos ambientes estudados

(lagoas Imboassica, Comprida e Cabiúnas – Brasil).

A ocorrência de Dinobryon sertularia Ehrenberg, considerada mixotrófica, como

espécie subdominante na lagoa Palmeirinha, com baixo coeficiente de atenuação da

luz, refuta a hipótese de favorecimento das Chrysophyceae nos ambientes mais

turvos. Apesar de poder contribuir significativamente para a biomassa fitoplanctônica

em ambientes húmicos (Alves-de-Souza et al. 2006), a dominância do gênero

Dinobryon em ambientes com elevada disponibilidade de luz já foi observada em

estudos anteriores (Jansson et al., 1996). Isaksson et al. (1999) sugerem que a

mixotrofia não é uma estratégia restrita a baixa disponibilidade de luz e que, em

situação de limitação por fósforo, pode ser particularmente eficiente se alimentar de

bactérias ricas neste nutriente. Outros autores destacam que a mixotrofia pode ser

útil tanto em condições de reduzida disponibilidade de luz (Pålsson & Granéli, 2004),

quanto em condições de elevada disponibilidade de luz e limitação por nutrientes

(Arenowski et al., 1995).

69

Os resultados apresentados mostraram que existem variações no que se refere à

radiação fotossinteticamente ativa nas lagoas do médio Rio Doce e que tais

diferenças estão associadas à profundidade, ao clima, à trofia, indicada pelos teores

de Ptotal e biomassa do fitoplâncton e à concentração de MODC. Embora nem

mesmo os valores de k0 observados nas lagoas de águas escuras possam ser

considerados elevados se comparados a outros ambientes húmicos, a influência do

grau de atenuação da luz sobre o fitoplâncton é percebida pelas diferenças na

composição da comunidade fitoplanctônica, com o favorecimento de espécies

mixotróficas, tolerantes à baixa disponibilidade de luz ou oportunistas. Esses

resultados contribuem de maneira significativa para o entendimento da relação entre

as propriedades ópticas e a comunidade fitoplanctônica no sistema lacustre do

médio Rio Doce.

70

CAPÍTULO 3

RESPOSTA DOS GRUPOS FUNCIONAIS FITOPLANCTÔNICOS AOS GRADIENTES AMBIENTAIS NO SISTEMA LACUSTRE DO MÉDIO RIO DOCE,

MG

71

Resumo

Resposta dos grupos funcionais fitoplanctônicos aos gradientes ambientais

no sistema lacustre do médio Rio Doce, MG

O presente artigo teve como objetivos avaliar a variação espacial e temporal dos

grupos funcionais fitoplanctônicos em 18 lagoas que integram o sistema lacustre do

médio Rio Doce e identificar os principais fatores que regulam essa variação. A

transparência da água, a profundidade e o índice de estado trófico foram as

principais variáveis definindo as condições ambientais nas lagoas estudadas e foram

utilizadas para separá-las em cinco tipos: 1) profundas, claras e oligotróficas; 2) de

profundidade intermediária, claras e oligotróficas; 3) de profundidade intermediária,

escuras e mesotróficas; 4) rasas, escuras e mesotróficas e 5) rasas, escuras e

eutróficas. Uma tendência ao aumento da biomassa total ao longo desse gradiente

ambiental foi verificada. Foram identificadas 51 espécies descritoras, representando

18 grupos funcionais. Os grupos funcionais F, Lo, NA, S1, SN, X1, X2 e Y foram os

mais frequentes nas lagoas estudadas. Em geral, as lagoas mais claras e

oligotróficas, tipos 1 e 2, foram dominadas pelos grupos NA e A, enquanto grupos

descritos como tolerantes à baixa luminosidade, dominaram o fitoplâncton das

lagoas tipo 3 (SN, S1,MP, Y, X1, K e F), tipo 4 ( F, S1, Y, J, SN e Lo) e tipo 5 (F, Y,

X2, SN, S1, Lo). Os resultados obtidos evidenciaram uma grande concordância

entre os grupos funcionais dominantes e as condições ambientais reforçando a

eficiência dos grupos funcionais como indicadores das condições ambientais

também em lagoas naturais tropicais. Como mostrado para outros sistemas, não

somente a disponibilidade de recursos (luz e nutrientes) ou a estrutura física

(estratificação térmica) direcionaram a comunidade fitoplanctônica e sim a interação

entre esses fatores.

Palavras-chave: Grupos funcionais fitoplanctônicos lagos naturais

72

Abstract

Response of phytoplankton functional groups to envi ronmental gradients in

the lacustrine system of the middle Rio Doce, MG

This study aimed at evaluating the spatial and temporal variation of phytoplankton

functional groups in 18 lakes of the middle Rio Doce lake district and identify the key

factors governing this variation. Water transparency, depth and trophic state index

were the main variables defining the environmental conditions in studied lakes and

were used to separate them into five types: 1) deep, clear and oligotrophics, 2)

intermediate depth, clear and oligotrophics, 3) intermediate depth, dark and

mesotrophic, 4) shallow, dark and mesotrophic and 5) shallow, dark and well

nourished. Despite low biomass in all lakes, a tendency to higher values along this

environmental gradient was verified. Fifty-one descriptions species (> 5% of total

biomass) were identified and accounted for 18 functional groups. Groups F, Lo, NA,

S1, SN, X1, X2 and Y were the most frequent. In general, the more clear and

oligotrophic lakes (types 1 and 2) were dominated by groups NA and A. Groups

described as tolerant to low light, dominated the phytoplankton in lakes type 3 (SN,

S1, MP, Y, X1, K and F), type 4 (F, S1, Y, J, NS, and Lo) and type 5 (F, Y, X2, SN,

S1, Lo). The results showed close agreement between the dominant functional

groups and environmental conditions, improving the efficiency of the functional

groups as indicators of environmental conditions also in natural tropical lagoons. As

shown for others systems not only the resources (light and nutrients) availability or

the physical structure (thermal stratification) directed the phytoplankton community

and yes, interaction among them.

Key-words: Phytoplankton functional groups, tropical lakes

73

Introdução

A importância dos processos físicos e químicos para a composição e sucessão de

espécies em lagoas é bem clara (Huszar & Caraco, 1998; Reynolds, 2006).

Reorganizações na composição e estrutura do fitoplâncton ao longo do tempo são

frequentes e vistas como essenciais para o metabolismo dos ecossistemas

aquáticos (Calijuri et al., 2002).

Considerando a capacidade de dispersão relativamente elevada das espécies que

compõem o fitoplâncton, a composição e estrutura dessa comunidade são moldadas

por fatores locais (Beisner et al., 2006), especialmente pelas variações no regime de

luz e disponibilidade de nutrientes (Reynolds, 1984). As características morfológicas

das lagoas, associadas aos diferentes tipos, frequência e intensidade dos impactos

antrópicos (Hajnal & Padisák, 2008), aos ciclos sazonais e à combinação das

variáveis ambientais, criam uma arena competitiva onde as espécies mais

adaptadas à situação prevalente em cada período se sobressaem (Padisák et al.,

2010). O resultado dessa competição por recursos, influenciado também pelas

respostas às interações bióticas como herbivoria e parasitismo (Padisák et al.,

2006), pode ser percebido em nível florístico ou estrutural, através de mudanças na

distribuição da biomassa entre classes de tamanho (Naselli-Flores et al., 2007), ou

grupos funcionais (Reynolds et al., 2002). Tais mudanças podem ser entendidas

como respostas populacionais, uma vez que as diferentes espécies possuem uma

variedade de estratégias adaptativas, com atributos morfológicos (ex. tamanho,

relação volume/superfície), fisiológicos (ex. produção de vacúolos gasosos e

mucilagem, afinidade por diferentes formas de nitrogênio) e comportamentais (ex.

migração vertical) que as permitem utilizar os recursos de maneira diferenciada

(Reynolds, 1997; Crossetti & Bicudo, 2005).

A utilização dos atributos morfo-funcionais como ferramenta para estudos da

dinâmica do fitoplâncton vem sendo bastante incentivada (Huszar & Caraco, 1998;

Kruk et al., 2002; Reynolds et al., 2002; Huszar et al., 2003; Salmaso & Padisák,

2007) e tem substituído, ou ao menos complementado, as abordagens baseadas na

biomassa total e variações nas classes taxonômicas.

74

Com base nesses atributos, Reynolds (1997) sugeriu grupos funcionais que

poderiam co-dominar ou dominar conforme as condições ambientais predominantes.

Diversas contribuições foram dadas à proposição original (Kruk et al., 2002;

Reynolds et al. 2002; Padisák et al., 2003a; Reynolds, 2006; Padisák et al., 2009) e

hoje estão descritos 38 grupos funcionais identificados por códigos alfa-numéricos

(Padisák et al., 2009). Tais grupos, geralmente polifiléticos, foram formados de

acordo com as características adaptativas coincidentes, considerando as

sensibilidades e as tolerâncias das espécies (Reynolds, 2006).

Embora proposta inicialmente para lagoas temperadas, os grupos funcionais têm

sido utilizados também no entendimento da dinâmica do fitoplâncton em ambientes

subtropicais (Kruk et al., 2002; Bonilla et al., 2005; Borges et al 2008; Becker et al.,

2009a; 2009b; Devercelli 2010) e tropicais (Marinho & Huszar, 2002; Nabout et al.,

2006; Souza et al., 2008; Costa et al.; 2009; Delazari-Barroso et al., 2009).

No Brasil, a maioria dos estudos foram realizados em reservatórios e poucos

abrangendo ambientes naturais como lagoas costeiras (Alves-de Souza et al., 2006),

lagoas de inundação (Nabout et al., 2006; Bovo-Scomparin & Train, 2008), estuários

(Costa et al., 2009) e lagos isolados (Nabout & Nogueira, 2007; Bovo-Scomparin &

train, 2008; Souza et al., 2008).

Os grupos funcionais têm se mostrado mais bem relacionados às variações

ambientais que espécies ou grupos taxonômicos, de modo que sua identificação e

uso podem ser ferramentas importantes na análise da comunidade fitoplanctônica,

sobretudo quando se trata da comparação de diferentes ambientes (Salmaso &

Padisák, 2007).

O trecho médio da bacia do Rio Doce é uma região peculiar e extremamente

importante. Além de abrigar o maior remanescente de Mata Atlântica do Estado de

Minas Gerais, comporta um sistema de lagoas formado por cerca de 150 ambientes

que variam em relação às suas características físicas (área, forma e profundidade),

químicas (cor da água e disponibilidade de nutrientes) e biológicas (ocupação por

macrófitas) e são sujeitos a diferentes tipos e intensidades de impactos antrópicos

(introdução de espécies exóticas, preservação da área de entorno, uso para

recreação).

75

Estudos comparando a dinâmica biológica nessas lagoas são escassos,

especialmente no que concerne à comunidade fitoplanctônica, sendo a maioria deles

concentrados nas lagoas Dom Helvécio e Carioca.

O presente estudo avalia a variação espacial e temporal do fitoplâncton em 18

lagoas que integram o sistema lacustre do médio Rio Doce e identifica os principais

fatores que regulam essa variação. Duas hipóteses foram testadas: (i) os grupos

funcionais respondem às variações temporais e espaciais das condições ambientais

observadas nesse sistema lacustre; (ii) os grupos funcionais fornecem uma

descrição adequada das características limnológicas predominantes em cada lagoa.

Materiais e métodos

O sistema lacustre do médio Rio Doce é formado por cerca de 150 lagoas, dos quais

aproximadamente 50 estão protegidos dentro dos limites do Parque Estadual do Rio

Doce/ PERD (19º29’S - 42º28’W), o maior remanescente de Mata Atlântica do

Estado de Minas Gerais (35.976 ha), cujo entorno é ocupado principalmente por

plantações de Eucaliptus. Dezoito lagoas foram consideradas para este estudo,

sendo oito localizadas dentro dos limites do PERD e dez localizadas em sua área de

entorno (Figura 3.1 ).

O clima da região é definido como tropical semi-úmido, com quatro a cinco meses de

seca e características mesotérmicas (Nimer, 1989), com temperatura em torno de

25ºC. Dados da estação climatológica instalada dentro do PERD obtidos entre 2004

e 2008 mostram que o período mais quente e chuvoso se estende de outubro a

março e o período de seca, de abril a setembro (Figura 3.2 ).

76

-42.7 -42.65 -42.6 -42.55 -42.5

-19.85

-19.8

-19.75

-19.7

-19.65

-19.6

-19.55

-19.5

1

32

4 56

7

89

10

11

12 14

1516

1713

18

1- Carioca2- Dom Helvécio3- Gambazinho4- Gambá5- Santa Helena6- Patos7- Aníbal8- Central9- Pimenta10- Jacaré11- Barra12- Verde13- Almécega14- Palmeirinha15- Águas Claras16- Amarela17- Ferrugem18- Ferruginha

Figura 3. 1 - Localização das 18 lagoas estudadas no Parque Estadual do Rio Doce/PERD (MG) e no seu entorno e do ponto em que foram realizadas as coletas limnológicas (+). Fonte: Instituto Mineiro de Gestão das Águas (IGAM-MG). A linha contínua indica os limites do PERD.

77

J F M A M J J A S O N D

Pre

cipi

taçã

o ac

umul

ada

(mm

)

0

50

100

150

200

250

300

350

Tem

pera

tura

méd

ia (

o C)

0

5

10

15

20

25

30

Figura 3. 2 - Variação mensal da temperatura média do ar (linha) e da precipitação acumulada (barras) nos meses de janeiro a dezembro. Dados médios obtidos da estação climatológica do Parque Estadual do Rio Doce (MG), entre 2004 e 2008.

As amostragens foram realizadas em quatro campanhas com intervalos trimestrais:

agosto/2007, novembro/2007, fevereiro/2008 e maio/2008. Foi definido um ponto fixo

na região limnética de cada lagoa, onde se coletaram amostras em 3 profundidades,

correspondentes a 100%, 10% e 1% da radiação incidente na superfície e definidas

de acordo com o disco de Secchi (Cole, 1983), para determinação das

concentrações de fósforo total, fosfóro solúvel reativo, nitrogênio total, nitrogênio

inorgânico dissolvido (nitrato-N, nitrito-N e amônio-N) e silicato (Koroleff, 1976;

Golterman et al., 1978; Mackereth et al., 1978) em laboratório.

Os perfis de temperatura, condutividade elétrica e oxigênio dissolvido foram medidos

com auxílio do multianalisador Horiba (modelo U-22), enquanto o perfil de radiação

fostossinteticamente ativa (PAR) foi medido com radiômetro Li-Cor (modelo LI-189).

O coeficiente de atenuação escalar da radiação fotossinteticamente ativa foi

determinado pela inclinação da reta da regressão linear entre a profundidade e o

logaritmo natural da irradiância escalar. Todas as medidas foram tomadas entre

10:00 e 14:00H. Considerou-se como limite da zona eufótica a profundidade em que

a radiação fotossinteticamente ativa correspondia a 1% da radiação incidente na

superfície. A zona de mistura foi definida através dos perfis de temperatura,

considerando a profundidade superior àquela onde se tem variação de 0,5 °C. Os

78

perfis de condutividade elétrica foram utilizados para confirmar a extensão da zona

de mistura.

O estado trófico das lagoas foi definido de acordo com o índice de Calrson (Calrson,

1977) adotando as modificações sugeridas por Toledo et al. (1983) e Lamparelli

(2004), considerando os dados de profundidade de desaparecimento visual do disco

de Secchi e concentração de fósforo total.

Amostras para análise quantitativa do fitoplâncton foram coletadas nas três

profundidades definidas pelo disco de Secchi. A densidade fitoplanctônica foi

estimada em campos aleatórios, utilizando o método de Utermöhl (1958). A

contagem dos indivíduos foi realizada até que fossem quantificados 400 indivíduos

da espécie mais freqüente (Lund et al. 1958). A biomassa específica foi estimada

associando cada indivíduo a uma forma geométrica conhecida (Hillebrand et al.,

1999; Sun & Liu, 2003) e multiplicando-se a densidade da população pelo volume

médio obtido. Para o cálculo do volume celular foram medidos pelo menos 20

indivíduos, exceto no caso de espécies raras. Assumiu-se o peso fresco como

unidade de massa, considerando 1 mm3.L-1 = 1 mg.L-1 (Wetzel & Likens, 2000).

As amostras de zooplâncton foram coletadas nos mesmos períodos e pontos de

amostragem e processadas pelo laboratório de Ecologia do Zooplâncton,

ICB/UFMG. Para análise qualitativa, as amostras foram coletadas através de

arrastos verticais e horizontais sucessivos com rede de 68µm de abertura de malha.

Para as análises quantitativas, com o auxílio de uma bomba hidráulica, filtraram-se

aproximadamente 200 litros de água em rede de 68µm de abertura de malha em

cada uma das profundidades correspondentes a 100%, 10% e 1% da radiação solar

incidente na superfície da lagoa. As contagens foram realizadas sob microscópio

óptico em aumento de 100x, utilizando-se câmaras de Sedgwich-Rafter, até o

mínimo de 200 indivíduos da espécie dominante.

As espécies que contribuíram com pelo menos 5% da biomassa total em pelo menos

uma amostra foram consideradas descritoras e agrupadas em grupos funcionais,

definidos conforme Reynolds et al. (2002) e Padisák et al. (2003a, 2006 e 2009).

Para cada coleta, considerou-se a biomassa média dos grupos funcionais nas três

79

profundidades, a fim de se reduzir a variabilidade espacial entre as amostras de uma

mesma lagoa.

A normalidade dos dados foi verificada pelo teste de Kolmogorov–Smirnov. Como os

dados não apresentaram distribuição normal, os testes de Kruskal-Wallis e o pós-

teste de Dunn foram utilizados para comparar lagoas e períodos. A ordenação das

amostras em função das variáveis ambientais foi avaliada através de Análise de

Componentes Principais (ACP), utilizando a matriz de correlação. Foi utilizado o

Programa PAST 1.9 (Hammer et al., 2001). As relações entre os grupos funcionais e

as variáveis bióticas e abióticas foram avaliadas através de correlações de

Spearman e de Análise de Correspondência Canônica (ACC; Ter Braak, 1986). Na

ACC, testou-se a hipótese nula de ausência de relação entre as matrizes principal

(grupos funcionais do fitoplâncton) e secundária (abiótica e composta pela

comunidade zooplanctônica) através do teste de Monte Carlo, considerando 1000

repetições aleatórias. Todos os dados foram transformados previamente (logaritmo

na base 10 do valor adicionado a uma unidade; Log(x+1)) e a ACP foi realizada com o

programa PC-ORD (McCune & Mefford, 1997).

Resultados

Variáveis ambientais

A maioria dos ambientes apresentou coluna d’água termicamente estratificada

durante as coletas realizadas em novembro de 2007 e fevereiro de 2008 (períodos

de chuvas) e desestratificação da coluna d’água em agosto de 2007 e maio de 2008

(períodos de seca). As exceções foram a lagoa Dom Helvécio, que se manteve

estratificada durante as quatro campanhas de amostragem, Verde, onde a

circulação completa da coluna d’água foi verificada somente em agosto de 2007 e

Amarela e Ferruginha, nas quais a coluna d’água mostrou-se homogênea durante

todo o período de estudo (Figura 3.3 ).

As lagoas diferiram em relação às principais variáveis ambientais medidas tanto na

estação seca quanto na estação chuvosa e também foram registradas diferenças

entre os períodos de seca e chuvas em cada lagoa (Tabela 3.1 ). Maiores

temperaturas da água foram observadas no período de chuva em todas as lagoas. A

80

extensão da zona de mistura e o coeficiente de atenuação escalar da luz mostraram-

se mais elevados na estação seca na maioria das lagoas em que se observou

variação sazonal destas variáveis.

81

Tabela 3. 1 - Mínimos e máximos obtidos para as principais variáveis ambientais de 18 lagoas no Parque Estadual do Rio Doce (MG) e no seu entorno durante as amostragens realizadas nos períodos de chuvas (nov/2007 e fev/2008) e seca (ago/2007 e maio/2008). Comparando-se os períodos em cada lagoa, os valores em negrito foram os mais elevados (Teste de Mann-Whitney; p<0,05)

Lagoa Periodo P-total PSR N-total SiO4 NID Temp Zeu Zmix ko

µg.L-1 µg.L-1 µg.L-1 µg.L-1 µg.L-1 oC m m m-1

A.Claras Chuvas 10,8-56,5 0,8-4,3 53,2-1211,8 0,7-1,7 9,6-15,3 26,2-31,2 6,8-7,8 4,0-4,5 0,5-0,7

Seca 6,4-31,5 0,6-9,4 330,2-412,8 0,6-1,9 73,7-194,2 23,2-26,8 9,0-9,5 9,5-9,5 0,4-0,7

Almécega Chuvas 11,9-40,1 2,4-7,2 37,3-166,5 0,7-5,4 1,6-30,7 28,5-31,0 6,0-7,0 5,0-5,0 0,5-0,8

Seca 9,3-15,7 1,7-7,3 121,1-283,2 0,7-5,3 15,6-23,0 24,4-27,3 6,0-6,5 6,0-6,5 0,5-0,9

Amarela Chuvas 26,4-174,9 6,2-8,3 231,2-836,5 3,2-4,4 35,7-74 26,5-27,3 1,5-1,8 1,5-1,8 2,2-2,9

Seca 31,8-65,5 2,6-10,0 220,5-410,5 1,2-5,7 13,5-25,8 22,0-22,4 1,8-2,4 1,8-2,5 2,7-3,0

Aníbal Chuvas 20,3-58,1 1,9-6,3 431,1-1038,4 1,5-3,8 30,8-60,2 28,6-30,8 4,5-6,0 4,0-4,0 1,0

Seca 18,6-28,0 1,7-4,5 398,6-905,5 1,0-3,8 104,7-119,6 23,3-26,2 4,5-5,5 4,5-5,5 0,8-1,5

Barra Chuvas 28,7-184,5 2,2-7,3 242,2-611,5 2,1-7,0 4,2-168,5 25,6-31,5 5,4-6,5 3,0-4,0 0,8-1,0

Seca 22,0-44,9 1,2-7,4 122,1-334 0,8-2,4 30,4-176,3 23,2-26,8 5,0-6,0 5,0-7,0 0,8-1,0

Carioca Chuvas 10,9-70,6 2,4-6,5 274,6-567,8 1,9-2,4 19,1-65,4 23,5-31,0 5,4-6,3 4,0-6,0 0,8-1,4

Seca 12,4-34,6 1,9-3,9 201,4-990,1 0,7-1,2 73,2-278,0 21,6-27,9 4,2-4,5 5,0-9,0 1,2-1,4

Central Chuvas 20,7-44,3 3,0-7,5 833,7-981,2 1,0-3,7 70,3-175,4 27,2-30,6 2,7-3,0 0,5-3,0 1,7-1,8

Seca 22-43,5 1,9-3,6 321,9-811,9 1,0-3,5 123,1-213,3 21,8-27,6 1,8-2,3 4,5-4,5 2,4-2,7

D.Helvécio Chuvas 12,6-53,8 0,3-4,6 422,4-678,4 3,2-3,7 24-77,3 26,9-30,9 6,0-8,7 5,0-7,5 0,5-0,6

Seca 17,4-27,4 1,8-9,4 308-494,2 0,9-2,4 21,8-227,6 23,2-27,5 6,0-9,0 3,0-10,0 0,7-0,9

Ferrugem Chuvas 43,1-78,8 3,4-4,6 686,3-1470,4 2,9-5,0 95,4-153,6 28,2-31,0 2,0-2,0 2,0-2,0 1,6-1,7

Seca 21,5-56,1 3,8-5,0 700,4-1489,7 0,7-2,9 29,6-47,1 23,6-25,5 2,7-3,5 3,0-3,5 1,5-1,5

Ferruginha Chuvas 25,4-55,0 2,1-5,0 824,1-1329,4 1,4-1,9 82,5-185,1 28,2-31,0 3,0-3,3 2,5-4,0 1,2-1,6

Seca 20,0-55,6 4,2-8,2 501,2-1117,4 0,5-1,1 10,4-24,5 22,3-24,4 3,0-3,0 2,0-4,0 1,2-1,7

Gambá Chuvas 9,2-38,7 0,9-4,1 231,5-631,5 0,9-1,7 - 23,9-31,0 10,2-11,3 5,5-6,0 0,7-0,7

Seca 11,5-20,1 2,1-4,8 353,9-612,8 0,2-1,6 87,8-320,9 23,2-26,9 6,8-9,5 9,5-11,5 0,7-0,8

Gambazinho Chuvas 21,6-35,2 0,8-4,3 387,4-614,4 0,4-1,3 23,2-268,0 26-30,1 5,7-6,0 5,0-6,5 0,7-1,0

Seca 14,0-23,1 2,4-5,6 240-780,5 0,3-0,8 20,8-218,1 23,4-26 4,5-5,1 9,0-10,0 0,7-0,8

Jacaré Chuvas 44,0-87,2 1,1-6,7 273,5-1310,2 1,3-4,1 16,1-186 27-31,7 5,1-6,0 3,5-5,0 0,8-0,9

Seca 7,2-32,0 3,8-6,1 171,4-753,2 0,9-3,4 36,2-246,9 22,9-26,8 6,0-6,3 7,0-8,0 0,9-1,0

Palmeirinha Chuvas 50,2-82,0 0,9-5,9 468,9-1998,7 2,2-3,6 4,8-5,3 27,4-31,5 5,4-5,5 3,5-4,0 0,8-0,8

Seca 3,1-41,0 0,5-4,1 369,9-691,8 0,7-2,9 14,4-94,3 23,3-27,1 5,25-5,5 5,5-5,5 0,7-0,9

Patos Chuvas 31,6-211,2 2,1-8,4 281,7-742,4 1,4-3,2 3,3-78,9 24,6-30,4 7,2-7,5 4,0-5,0 0,8-1,0

Seca 12,6-27,4 5,3-9,7 389,2-647,1 1,0-1,7 157,2-412,9 22,6-26,2 4,5-5,0 5,0-8,0 0,8-1,1

Pimenta Chuvas 11,2-67,8 5,0-7,5 471,2-736,9 2,7-3,7 - 28,0-31,5 3,0-3,0 1,0-1,5 1,4-2,1

Seca 15432,0 2,9-6,1 261,3-419,8 0,9-2,8 23,7-25,6 22,9-27,7 3,0-3,5 3,0-3,5 1,6

S.Helena Chuvas 38,9-194,9 2,4-9,5 194,2-599,4 1,1-4,9 4,8-33,2 27,7-31,5 6-8,3,0 6,0-6,0 0,6-0,6

Seca 15,3-44,8 1,5-6,4 209,3-336,9 0,5-1,2 17,4-164,9 23,4-27,2 5,4-7,0 7,0-10,0 0,6-1,0

Verde Chuvas 11,6-20,6 2,7-5,6 152,4-377,0 1,7-2,3 8,7-21,7 26,1-30,8 6,8-8,7 4,0-5,0 0,5-0,6

Seca 9,7-18,8 1,8-5,7 219,9-346,9 0,5-2,6 4,7-132,8 23,6-28 4,5-6,3 7,5-10,0 0,7-0,9

82

Amarela

Temperatura (oC)21 22 23 24 25 26 27 28

Pro

fund

idad

e (m

)

0,0

0,5

1,0

1,5

2,0

2,5

3,0

Central

Temperatura (oC)20212223242526272829303132

Pro

fund

idad

e (m

)

0

1

2

3

4

5

6

D. Helvécio

Temperatura (oC)22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32

Pro

fund

idad

e (m

)

0

5

10

15

20

25

30

ago/07nov/07fev/08maio/08

Ferrugem

Temperatura (oC)212223242526272829303132

Pro

fund

idad

e (m

)

0

1

2

3

4

Águas Claras

Temperatura (oC)22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32

Pro

fund

idad

e (m

)

0

1

2

3

4

5

6

7

8

9

Almécega

Temperatura (oC)23 24 25 26 27 28 29 30 31 32

Pro

fund

idad

e (m

)

0

1

2

3

4

5

6

7

Aníbal

Temperatura (oC)22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32

Pro

fund

idad

e (m

)

0

1

2

3

4

5

6

Barra

Temperatura (oC)22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32

Pro

fund

idad

e (m

)

0

1

2

3

4

5

6

7

Carioca

Temperatura (oC)20212223242526272829303132

Pro

fund

idad

e (m

)0

1

2

3

4

5

6

7

8

9

10

Figura 3. 3 - Perfis de temperatura da coluna d’água obtidos em 18 lagoas do Parque Estadual do Rio Doce e do seu entorno, amostradas entre agosto de 2007 e maio de 2008.

83

Ferruginha

Temperatura (oC)212223242526272829303132

Pro

fund

idad

e (m

)

0

1

2

3

4

Gambá

Temperatura (oC)22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32

Pro

fund

idad

e (m

)

0

1

2

3

4

5

6

7

8

9

10

11

12

Gambazinho

Temperatura (oC)22 23 24 25 26 27 28 29 30 31

Pro

fund

idad

e (m

)

0

1

2

3

4

5

6

7

8

9

10

Jacaré

Temperatura (oC)222324252627282930313233

Pro

fund

idad

e (m

)

0

1

2

3

4

5

6

7

8

9

10

Palmeirinha

Temperatura (oC)22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32

Pro

fund

idad

e (m

)

0

1

2

3

4

5

6

Patos

Temperatura (oC)22 23 24 25 26 27 28 29 30 31

Pro

fund

idad

e (m

)0

1

2

3

4

5

6

7

8

Pimenta

Temperatura (oC)22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32

Pro

fund

idad

e (m

)

0

1

2

3

4

ago/07nov/07fev/08maio/08

Sta. Helena

Temperatura (oC)22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32

Pro

fund

idad

e (m

)

0

1

2

3

4

5

6

7

8

9

10

Verde

Temperatura (oC)22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32

Pro

fund

idad

e (m

)

0123456789

10111213141516171819

Figura 3.3 (continuação). Perfis de temperatura da coluna d’água obtidos nas 18 lagoas do Parque Estadual do Rio Doce e do seu entorno, amostradas entre agosto de 2007 e maio de 2008.

84

Os dois primeiros eixos da análise de componentes principais utilizando sete

variáveis ambientais explicaram, respectivamente, 48 e 23% da variação entre as

amostras, somando 61% da variação ambiental observada: extensão da zona

eufótica (-0,92), profundidade (-0,84), extensão da zona de mistura (-0,83), índice de

estado trófico (0,81), e coeficiente de atenuação da luz (0,79) foram as variáveis

mais importantes para o eixo 1; a temperatura da água (0,90) e a concentração de

silicato (0,81) foram as mais importantes para o eixo 2. O primeiro eixo indica o

gradiente trófico, sendo observado um aumento na profundidade e na trofia, com

redução da transparência da água, em direção a seu extremo positivo, no qual se

concentram as lagoas Amarela, Central, Ferrugem, Ferruginha, Pimenta. No

segundo eixo, está representada a sazonalidade, com as amostras do período de

seca representadas nos quadrantes superiores e aquelas dos períodos mais

quentes e chuvosos, nos quadrantes inferiores (Figura 3.4 ).

SiO4

Temp

IETProf

Ko

Zeu

Zmix

AC1

AC2

AC3

AC4

AL1

AL2

AL3

AL4

AM1

AM2

AM3

AM4

AN1

AN2

AN3

AN4

BA1

BA2

BA3

BA4

CA1

CA2

CA3

CA4

CE1

CE2

CE3

CE4DH1

DH2DH3

DH4

FE1

FE2

FE3

FE4

FN1

FN2

FN3

FN4

GA1

GA2

GA3

GA4

GN1

GN2

GN3

GN4

JA1

JA2

JA3

JA4

PA1

PA2PA3

PA4

PT1

PT2

PT3

PT4

PI1

PI2 PI3

PI4

SH1

SH2

SH3

SH4

VE1

VE2

VE3

VE4-4 -3 -2 -1 1 2 3 4

-3

-2,4

-1,8

-1,2

-0,6

0,6

1,2

1,8

2,4

↓(profundidade, Zeu, Zmix), ↑(K0, IET )

↑Te

mpe

ratu

ra, S

iO4

48%

23%

Figura 3. 4 - Diagrama de ordenação da correlação na análise de componentes principais para as amostras limnológicas de 18 lagoas no Parque Estadual do Rio Doce (MG) e no seu entorno (amostragens realizadas entre agosto de 2007 e maio de 2008). Variáveis descritoras: índice de estado trófico (IET), profundidade (Prof), coeficiente de atenuação da luz (ko), extensão da zona eufótica (Zeu), extensão da zona de mistura (Zmix), temperatura da água (Temp) e concentração de silicato (SiO4). Águas Claras (AC), Almécega (AL), Gambá (GA), Gambazinho (GN), Palmeirinha (PA), Santa Helena (SH), Aníbal (AN), Barra (BA), Carioca (CA), Jacaré (JA), Patos (PT), Central (CE), Ferruginha (FN), Pimenta (PI), Amarela (AM) e Ferrugem (FE).Os números 1 a 4 indicam a primeira à quarta coleta.

85

A transparência da água, a profundidade e o índice de estado trófico foram os

principais fatores definindo as condições ambientais nas lagoas estudadas. Com

base nestas variáveis, as lagoas foram separadas em cinco tipos: 1) profundas,

claras e oligotróficas; 2) de profundidade intermediária, claras e oligotróficas; 3) de

profundidade intermediária, escuras e mesotróficas; 4) rasas, escuras e mesotróficas

e 5) rasas, escuras e eutróficas (Tabela 3.2 ).

Tabela 3. 2 - Classificação de 18 lagoas no Parque Estadual do Rio Doce (MG) e seu entorno em 5 tipos, identificados com base na profundidade total, coeficiente de atenuação escalar da luz e trofia (amostragens realizadas entre agosto de 2007 e maio de 2008)

Tipo Profundidade k0 Trofia Lagoas

m m-1

1 >19 <0,7 oligotróficas Dom Helvécio (DH), Verde (VE)

2 6 - 12 <0,9 oligotróficas Águas Clara (AC), Almécega (AL), Gambá (GA),

Gambazinho (GN), Palmeirinha (PA), Santa Helena (SH)

3 7-10 >0,9 mesotróficas Aníbal (AN), Barra (BA), Carioca (CA), Jacaré (JA), Patos (PT)

4 <5 >1 mesotróficas Central (CE), Ferruginha (FN), Pimenta (PI)

5 <4 >1,5 eutróficas Amarela (AM), Ferrugem (FE)

Dinâmica do fitoplâncton

Foram identificadas 490 espécies no fitoplâncton, distribuídas em 10 classes

taxonômicas e 29 grupos funcionais. Cinquenta e uma dessas espécies foram

consideradas descritoras e representaram 18 grupos funcionais (Tabela 3.3 ).

Em relação à biomassa total, as medianas variaram entre 0,2 e 3,3 mg.L-1. Menores

valores foram observados nas lagoas Amarela, Águas Claras, Santa Helena,

Almécega, Palmeirinha, Verde e Dom Helvécio (Figura 3.5 ). Com exceção da lagoa

Amarela, cuja biomassa fitoplanctônica alcançou 3,0 mg.L-1 nas amostragens de

novembro de 2007 devido ao predomínio de Botryococcus braunii Kützing e Dom

Helvécio, que alcançou 1,3 mg.L-1 em fevereiro de 2008, devido ao aumento de

Cylindrospermopsis raciborskii (Woloszynska) Seenayya & Subba Raju, estes

ambientes mantiveram biomassas inferiores a 1,0 mg.L-1 nos quatro períodos de

amostragem.

86

As maiores biomassas foram registradas nas lagoas Ferrugem (0,8 a 2,7 mg.L-1;

mediana = 2,2 mg.L-1), Jacaré (1,2 a 2,9 mg.L-1; mediana = 2,5 mg.L-1), Ferruginha

(2,4 a 7,4 mg.L-1; mediana = 3,0 mg.L-1) e Central (2,2 a 7,1 mg.L-1; mediana = 3,4

mg.L-1). Os picos de biomassa na lagoa Ferruginha, devido a Dictyosphaerium

pulchellum Wood (48% da biomassa total) e Limnothrix redekei (Van Goor) Meffert

(29 % da biomassa total) e na lagoa Central, devido a Gymnodinium sp (77% da

biomassa total), ocorreram nas amostragens de agosto de 2007.

Diferenças entre os períodos de seca e chuva fora observadas para as lagoas

Águas Claras (U=0,0; Z=-2,88; p=0,004), Amarela (U=0,00; Z=-2,61; p=0,009) e

Dom Helvécio (U=0,00; Z=-2,56; p=0,010), que mostraram maior biomassa no

período chuvoso, e Aníbal, onde a biomassa foi mais elevada durante a seca

(U=0,00; Z=2,40; p=0,016).

DH

VE

AC AL

GA

GN

PA

SH

AN

BA

CA JA PT

CE

FN PI

AM FE0

1

2

3

4

5

6

7

8

9

DH VE AC AL GA GN PA SH AN BA CA JA PT CE FN PI AM FE

Tipo 1 Tipo 2 Tipo 3 Tipo 4 Tipo 5

Bio

mas

sa fi

topl

anct

ônic

a (m

g.L-1

)

Figura 3. 5 - Variação espacial e temporal da biomassa fitoplanctônica em 18 lagoas no Parque Estadual do Rio Doce (MG) e no seu entorno classificadas em cinco tipos identificados com base na profundidade total, coeficiente de atenuação escalar da luz e trofia (amostragens realizadas entre agosto de 2007 e maio de 2008). A linha horizontal dentro das caixas representa a mediana e os limites da caixa e a linha verical englobam 75% e 90% dos dados, respectivamente. Dom Helvécio (DH), Verde (VE),

Águas Claras (AC), Almécega (AL), Gambá (GA), Gambazinho (GN), Palmeirinha (PA), Santa Helena (SH), Aníbal (AN), Barra (BA), Carioca (CA), Jacaré (JA), Patos (PT), Central (CE), Ferruginha (FN), Pimenta (PI), Amarela (AM) e Ferrugem (FE).

87

Tabela 3. 3 - Espécies fitoplanctônicas descritoras (>5% da biomassa total), classes taxonômicas e grupos funcionais (GF) de 18 lagoas no Parque Estadual do Rio Doce e no seu entorno (amostragens realizadas entre agosto de 2007 e maio de 2008).

Espécie Classe taxonômica GFUrosolenia longiseta (Zacharias) Edlung & Stoermer Bacillariophyceae ACyclotella sp Bacillariophyceae BDinobryon bavaricum Imhof Chrysophyceae EDinobryon sertularia Ehrenberg Chrysophyceae EBotryococcus braunii Kützing Chlorophyceae FDictyosphaerium pulchellum Wood Chlorophyceae FElakatothrix genevensis (Reverdin) Hindák Chlorophyceae FEutetramorus planctonicus (Korsikov) Bourrely Chlorophyceae FOocystis cf solitaria Wittrock Chlorophyceae FOocystis sp Chlorophyceae FCoelastrum pseudomicroporum Korsikov Chlorophyceae JCoelastrum pulchrum Schimidle Chlorophyceae JCoelastrum reticulatum (Dangeard) Senn Chlorophyceae JCoelastrum sphaericum Nägeli Chlorophyceae JCrucigenia tetrapedia (Kirchner) West & West Chlorophyceae JScenedesmus bijugus (Turpin) Kutzing Chlorophyceae JAphanocapsa elachista West & West Cyanobacteria KAphanocapsa sp Cyanobacteria KPeridinium pusillum (Pénard) Lemmermann Dinophyceae Lo

Peridinium baliense Lindemann Dinophyceae Lo

Peridinium sp (~34um) Dinophyceae Lo

Navicula sp1 Bacillariophyceae MPPseudanabaena galeata Böcher Cyanobacteria MPCosmarium asphaerosporum Nordstedt Zygnemaphyceae NA

Cosmarium bioculatum Brébisson Zygnemaphyceae NA

Cosmarium moniliforme West & West Zygnemaphyceae NA

Staurodesmus crassus (West & West) Florin Zygnemaphyceae NA

Staurodesmus dejectus (Brébisson) Teiling Zygnemaphyceae NA

Staurodesmus incus (Brébisson) Teiling Zygnemaphyceae NA

Teilingia granulata (Roy & Bisset) Bourrely Zygnemaphyceae NA

Teilingia sp2 Zygnemaphyceae NA

Staurastrum ionatum Wolle Zygnemaphyceae NA

Staurastrum smithii (G.M. Smith) Teiling Zygnemaphyceae NA

Staurastrum tetracerum (Kützing) Ralfs ex Ralfs Zygnemaphyceae NA

Limnothrix redekei (Van Goor) Meffert Cyanobacteria S1Planktolyngbya contorta (Lemmermann) Anagnostidis & Komárek Cyanobacteria S1Planktolyngbya limnetica (Lemmermann) Komárek Cyanobacteria S1Spirulina sp Cyanobacteria S2Cylindrospermopsis raciborskii (Wolos.) Seenayya & Subba Raju Cyanobacteria SNPlanktonema sp Chlorophyceae TTrachelomonas volvocina Ehrenberg Euglenophyceae W2Chlorella sp (~5um) Chlorophyceae X1Monoraphidium contortum (Thur.) Komárkova-Legnerová Chlorophyceae X1Monoraphidium sp Chlorophyceae X1Cryptomonas brasiliensis Castro, C. Bicudo & D. Bicudo Cryptophyceae X2Cryptomonas marsonii Skuja Cryptophyceae X2Cryptomonas sp5 (~13um) Cryptophyceae X2Chlorella sp1 Chlorophyceae X3Cryptomonas sp3 (~18um) Cryptophyceae YCryptomonas sp4 (~22um) Cryptophyceae YGymnodynium sp Dinophyceae YDinoflagelado NI (~8um) Dinophyceae Y

88

Uma tendência ao aumento da biomassa total com a redução da profundidade de

mistura e aumento do coeficiente de atenuação da luz foi verificada entre os tipos 1

e 4, com redução da biomassa total nas lagoas do tipo 5 (Figura 3.6 ). As biomassas

das lagoas dos tipos 1, 2 e 5 não diferiram entre si, bem como as dos tipos 3 e 5. No

entanto, lagoas tipo 3 apresentaram biomassas mais elevadas que os tipos 1

(H1,60=11,42; p=0,0007) e 2 (H1,131=9,13; p=0,0025); e as lagoas do tipo 4 mostraram

maior biomassa que as dos demais tipos (tipos 4 x 1: H1,79=20,43 e p=0,0000; tipos

4 x 2: H1,150=22,81 e p=0,0000; tipos 4 x 3: H1,60=5,28 e p=0,0216 e tipos 4 x5:

H1,131=9,72; p=0,0018).

0

1

2

3

4

5

6

Tipo 1 Tipo 2 Tipo 3 Tipo 4 Tipo 5

Bio

mas

a fit

opla

nct

ônic

a (m

g.L-1

)

b

a

a

ab

c

Figura 3. 6 - Média e desvio-padrão da biomassa fitoplanctônica de 18 lagoas no Parque Estadual do Rio Doce (MG) e no seu entorno, classificadas em cinco tipos identificados com base na profundidade total, coeficiente de atenuação escalar da luz e trofia (amostragens realizadas entre agosto de 2007 e maio de 2008). Letras diferentes indicam diferenças signifacativamente diferentes (p<0,05).

A biomassa fitoplanctônica mostrou-se diretamente relacionada à concentração de

nitrogênio total (r= 0,37; p<0,05), nitrato (r= 0,27; p<0,05), nitrogênio inorgânico

dissolvido (r= 0,29; p<0,05), ao índice de estado trófico (r= 0,28; p<0,05) e

inversamente correlacionada à densidade de cladóceros (r= -0,30; p<0,05).

89

Oito grupos funcionais (GF) foram frequentes nas lagoas estudadas: F, Lo, NA, S1,

SN, X1, X2 e Y, e se alternaram entre as campanhas de amostragem,

especialmente entre os períodos de seca e chuvas. Destaca-se o predomínio do GF

“NA”, representado principalmente pelas espécies Cosmarium bioculatum,

Cosmarium moniliforme, Staurodesmus crassus, Staurastrum chaetoceras e

Staurastrum smithii, durante o período chuvoso na maioria das lagoas amostradas

(Tabela 3.5 ). Representantes deste grupo não foram listados entre as espécies

descritoras das lagoas Gambazinho, Patos, Central e Amarela. O GF “A”,

representado por Urosolenia longiseta, ocorreu apenas nas lagoas Águas Claras e

Almécega, enquanto os GFs “T” (Planctonema sp) e “S2” (Spirulina sp) estiveram

representados apenas na lagoa dos Patos.

A biomassa do GF F (Botryococcus braunii e Dictyosphaerium pulchellum) aumentou

com o aumento da trofia e redução da profundidade (H4,210=32,29; p=0,0000). Maior

biomassa do GF NA (Cosmarium spp; Teilingia spp; Stautodesmus crassus) foi

observada nas lagoas tipo 1 e 4 (H4,210=19,78; p=0,0006), enquanto GF Y (grandes

Cryptomonas; Gymnodinium sp; H4,210=60,57; p=0,0000) e GF Lo (Peridinium spp)

apresentaram biomassas mais elevadas (H4,210=38,87; p=0,0000) nas lagoas tipo 3 e

4. O GF X2 (pequenas Cryptomonas spp) também se destacou nas lagoas tipo 3

(H4,210=51,52; p=0,0000) e GF S1 (Limnothrix redekei e Planktolyngbya limnetica) e

GF X1, nas lagoas tipo 4. O GF SN (Cylindrospermopsis raciborskii) apresentou

elevada biomassa nas lagoas tipo 5 (Figura 3.7 ). Representantes do GF J

(Coelastrum reticulatum e Crucigenia tetrapedia) encontram-se entre as principais

espécies das lagoas tipo 4 (Tabela 3.4 ).

90

0,0

0,5

1,0

1,5

2,0

2,5

3,0

3,5

4,0

F Lo NA S1 SN X1 X2 Y

Tipo 1Tipo 2Tipo 3Tipo 4Tipo 5

Figura 3. 7 - Média e desvio padrão da biomassa fitoplanctônica dos principais grupos funcionais de 18 lagoas no Parque Estadual do Rio Doce (MG) e no seu entorno classificadas em cinco tipos identificados com base na profundidade total, coeficiente de atenuação escalar da luz e trofia (amostragens realizadas entre agosto de 2007 e maio de 2008).

A contribuição dos principais grupos funcionais para a biomassa total variou entre os

períodos de seca e chuvas (Figura 3.8 ). O GF NA foi mais importante no período de

chuvas nas lagoas tipo 1 (U=12,00; p=0,0005), tipo 2 (U=6,11; p=0,0134) e tipo 3

(U=7,11; p=0,0076). Nas lagoas tipo 4, a maior contribuição do GF NA, 75%, se

deveu ao favorecimento de Staurastrum tetracerum, e Staurodesmus incus na lagoa

Pimenta em fevereiro de 2008, no entanto, não foi observada diferença sazonal. O

GF S1 destacou-se no período de seca nas lagoas tipo 1 (H4,210=4,81; p=0,0282),

mas não foram observadas diferenças sazonais em sua abundância relativa (%) nos

demais tipos de lagoas.

Bio

mas

sa fi

topl

anct

ônic

a (m

g.L-1

)

91

0%

20%

40%

60%

80%

100%

C S C S C S C S C S

Tipo 1 Tipo 2 Tipo 3 Tipo 4 Tipo 5

F Lo NA S1 SN X1 X2 Y outros

Figura 3. 8 - Contribuição média dos principais grupos funcionais para a biomassa fitoplanctônica de 18 lagoas no Parque Estadual do Rio Doce (MG) e no seu entorno, classificadas em cinco tipos, identificados com base na profundidade total, coeficiente de atenuação escalar da luz e trofia, durante períodos de chuvas (C, novembro de 2007 e fevereiro de 2008) e seca (S, agosto de 2007 e maio de 2008).

Fitoplâncton x variáveis ambientais

A biomassa dos principais grupos funcionais mostrou-se significativamente

relacionada às variáveis ambientais, especialmente ao índice de estado trófico (IET),

ao coeficiente de atenuação da luz, à extensão da zona eufótica e à densidade de

cladóceros (Tabela 3.5 ). O GF A correlacionou-se negativamente ao IET, ao

coeficiente de atenuação da luz e à concentração de nitrogênio total e positivamente

com a extensão da zona eufótica e da zona de mistura. O GF NA correlacionou-se

positivamente com a temperatura da água e negativamente com a concentração de

nitrogênio inorgânico dissolvido. Os GFs X1, F e X3, por outro lado, tiveram suas

biomassas relacionadas positivamente ao IET e ao coeficiente de atenuação da luz

e inversamente associadas à profundidade da zona eufótica.

92

Tabela 3. 4 - Contribuição das principais espécies e grupos funcionais fitoplanctônicos mais frequentes para a biomassa nas 18 lagoas no Parque Estadual do Rio Doce (MG) e no seu entorno, durante períodos de chuvas (novembro de 2007 e fevereiro de 2008) e seca (agosto de 2007 e maio de 2008).

ago/07 nov/07 fev/08 mai/08Lagoa GF Representantes GF Representantes GF Representantes Representantes

X1 Monoraphidium sp (31%) NA C.moniliforme (27%) NA S. crassus (31%) S1 L. redekei (56%)

D. Helvécio SN C.raciborskii (24%) C.bioculatum (9%) SN C.raciborskii (22%) SN C.raciborskii (11%)

X3 Chlorella sp (12%) SN C.raciborskii (24%) S1 L. redekei (22%) NA S. crassus (5%)

S1 P.contorta (18%) NA C.bioculatum (34%) NA C.bioculatum (33%) S1 L. redekei (28%)

Verde L. redekei (17%) S1 P.contorta (13%) S. crassus (16%) P.contorta (25%)

X2 Cryptomonas sp2 (14%) P. limnetica (8%) Lo P.pusillum (18%) NA C.bioculatum (11%)

A U. longiseta (38%) NA C. bioculatum (58%) NA T. granulata (23%) X3 Chlorella sp (18%)

A.Claras X3 Chlorella sp (15%) S. crassus (19%) C. bioculatum (14%) S1 P. limnetica (15%)X2 C. brasiliensis (11%) X1 M. contortum (10%) S1 P. limnetica (21%) A U.longiseta (14%)

A U. longiseta (63%) NA S. smithii (22%) S1 P. limnetica (43%) A U. longiseta (48%)

Almécega NA C. bioculatum (5%) C. bioculatum (21%) A U. longiseta (39%) S1 P. limnetica (25%)

S. smithii (5%) Teilingia sp (17%) NA Teilingia sp2 (7%)

Y Gymnodinium sp (33%) NA C. bioculatum (25%) X2 C.brasiliense (26%) S1 L. redekei (46%)

Gambá Dinoflagelado NI (15%) S1 L. redekei (23%) Y Gymnodinium sp (22%) Y Dinoflagelado NI (17%)X2 C.brasiliense (21%) X2 C. brasiliensis (15%) S1 L. redekei (13%) X2 C.brasiliense (14%)F B.braunii (49%) F B.braunii (51%) S1 P. limnetica (39%) F B.braunii (42%)

Gambazinho X2 Cryptomonas sp5 (19%) S1 P. limnetica (31%) L. redekei (10%) S1 P. limnetica (29%)L. redekei (11%) F B.braunii (37%) L. redekei (21%)

F D. pulchellum (48%) NA C.bioculatum (42%) NA S. crassus (17%) NA C.moniliforme (43%)

Palmeirinha X2 Cryptomonas sp2 (19%) E D.sertularia (10%) C.moniliforme (16%) S1 P. limnetica (11%)E D.sertularia (19%) S1 P. limnetica (10%) S1 P. limnetica (18%) F D. pulchellum (10%)

SN C.raciborskii (61%) NA C.bioculatum (58%) NA C.bioculatum (23%) A U. longiseta (25%)

S. Helena K A. elachista (5%) C.moniliforme (6%) S. crassus (21%) SN C.raciborskii (17%)

A U. longiseta (5%) SN C.raciborskii (10%) X2 C. brasiliensis (14%) NA C.bioculatum (16%)

Lo Peridinium sp3 (90%) Lo Peridinium sp3 (26%) NA C. bioculatum (25%) NA C. bioculatum (35%)

Aníbal F O. cf solitaria (5%) NA C. bioculatum (22%) X2 Cryptomonas sp5 (24%) S. dejectus (13%)

X2 Cryptomonas sp5 (3%) X2 Cryptomonas sp5 (17%) S1 P. limnetica (17%) S. ionatum (12%)Lo Peridinium sp1 (60%) SN C.raciborskii (36%) SN C.raciborskii (18%) SN C.raciborskii (35%)

Barra X2 Cryptomonas sp5 (18%) S1 L. redekei (16%) S1 L. redekei (13%) S1 L. redekei (29%)

Lo Peridinium sp1 (13%) NA S. smithii (11%) X2 Cryptomonas sp5 (10%)

MP P.galeata (44%) X2 Cryptomonas sp5 (28%) MP P.galeata (28%) Y Gymnodinium sp (38%)Carioca Y Gymnodinium sp (23%) X1 Chlorella sp (23%) X1 Chlorella sp (22%) X2 Cryptomonas sp5 (18%)

X1 Chlorella sp (11%) MP P.galeata (18%) NA S. crassus (11%) X1 Chlorella sp (17%)

K A. elachista (34%) Y Gymnodinium sp (63%) K A. elachista (27%) Y Gymnodinium sp (63%)Jacaré F B.braunii (22%) F B.braunii (12%) X3 Chlorella sp (17%) F B.braunii (17%)

Y Gymnodinium sp (17%) K A. elachista (10%) NA C.bioculatum (14%) K A. elachista (10%)

F E.planctonicus (48%) F B.braunii (51%) F B.braunii (30%) F B.braunii (42%)Patos B.braunii (29%) E.planctonicus (8%) Elakatothrix sp (19%) T Planctonema sp (25%)

X2 C. marsonii (7%) S2 Spirulina sp2 (25%) X2 C. marsonii (29%) W2 T.volvocinopsis (14%)F D. pulchellum (48%) S1 L. redekei (33%) S1 L. redekei (29%) S1 L. redekei (64%)

Central S1 L. redekei (29%) X1 M. contortum (29%) J C.reticulatum (22%) Y Gymnodinium sp (19%)Y Gymnodinium sp (12%) Y Gymnodinium sp (10%) F D. pulchellum (14%) F D. pulchellum (7%)Y Gymnodinium sp (77%) Y Gymnodinium sp (37%) SN C.raciborskii (27%) SN C.raciborskii (42%)

Ferruginha SN C.raciborskii (13%) S1 L. redekei (30%) Lo P.pusillum (24%) S1 L. redekei (19%)

S1 L. redekei (3%) SN C.raciborskii (17%) Y Gymnodinium sp (18%) NA C.moniliforme (9%)

NA S.incus (26%) S1 L. redekei (36%) NA S.tetracerum (51%) S1 L. redekei (47%)

Pimenta S. ionatum (16%) X1 M.contortum (26%) C.bioculatum (24%) X1 M.contortum (13%)

S1 L. redekei (22%) C.bioculatum (9%) S1 L. redekei (7%) NA S.tetracerum (7%)

F B.braunii (50%) F B.braunii (92%) F B.braunii (64%) Y Cryptomonas sp4 (41%)Amarela Y Cryptomonas sp4 (20%) J C. tetrapedia (4%) Y Cryptomonas sp4 (18%) X2 Cryptomonas sp2 (29%)

X2 Cryptomonas sp2 (15%) X2 Cryptomonas sp2 (13%) F B.braunii (19%)SN C.raciborskii (18%) SN C.raciborskii (64%) SN C.raciborskii (55%) SN C.raciborskii (64%)

Ferrugem Y Dinoflagelado NI (18%) S1 P. limnetica (9%) S1 P. limnetica (12%) S1 P. limnetica (8%)

NA C.moniliforme (11%) L. redekei (6%) L. redekei (8%)

Seca Chuvas Seca

93

Tabela 3. 5 - Correlações significativas (p<0,05) entre as variáveis abióticas, a densidade de zooplâncton e a biomassa dos principais grupos funcionais do fitoplâncton em 18 lagoas no Parque Estadual do Rio Doce (MG) e no seu entorno (amostragens realizadas entre agosto de 2007 e maio de 2008)

Variável A E F J K Lo MP NA S1 SN W2 X1 X2 X3 YP- total 0,25 0,3 -0,5PSR -0,37 0,28 -0,3N-total -0,37 0,31 0,29 -0,4NID -0,26 0,32 -0,34 0,34 0,28

SiO2 0,23 -0,3Temp 0,37IET -0,32 0,25 0,24 -0,34 0,41 -0,6Clad -0,24 0,24 -0,31 0,41 -0,4 -0,5Zoo total 0,29 0,31 0,29 0,35ZtotalZmix 0,33 -0,5 0,55Zeu 0,38 -0,3 0,31 -0,4 -0,3 0,63Ko -0,43 0,29 0,27 0,5 0,31 -0,7 0,25P-total=fósforo total; PSR=fósforo solúvel reativo; N-total=nitrogênio total; NID=nitrogênio inorgânico dissolvido; Temp= temperatura da água;

IET=índice de Estado Trófico; Clad= densidade de Cladocera; Zoo total= densidade total do zooplâncton;

Zmix=profundidade da zona de mistura; Ko=coeficiente de atenuação da luz

A análise de correspondência canônica (ACC) foi realizada utilizando-se os 18

grupos funcionais e sete variáveis ambientais (Figura 3.9 ). Os primeiros dois eixos

explicaram 50% da variância do fitoplâncton e mostraram-se significativamente

correlacionados à distribuição dos grupos funcionais (r = 0,751 e r = 0,686,

respectivamente). Os dois eixos mostraram-se significativos através do teste de

permutação de Monte Carlo (p < 0,02). As correlações intra-set apontaram índice de

estado trófico, extensão da zona de mistura, extensão da zona eufótica e densidade

de cladóceros como as variáveis que mais contribuíram para a ordenação do eixo 1.

Densidade de cladóceros e extensão da zona de mistura também foram de grande

importância na ordenação ao longo do eixo 2, juntamente com temperatura da água

(Tabela 3.6 ). Os grupos funcionais J, X1, e SN, bem como as amostras das lagoas

Amarela, Central, Ferrugem, Ferruginha e Pimenta concentraram-se no lado

negativo do eixo 1, associando-se a condições meso-eutróficas. Com poucas

exceções, as amostras das demais lagoas mantiveram-se no lado positivo do eixo 1.

As amostras das lagoas Dom Helvécio e Verde (tipo 1) e Gambá, Gambazinho e

Santa Helena (tipo 2) distribuíram-se ao longo do eixo 2: representantes do período

seco associaram-se à extensão da zona de mistura (Zmix), enquanto as do período

chuvoso se concentraram próximo aos vetores que representam a transparência da

água (Zeu), à zona de mistura mais profunda e à maior densidade de cladóceros,

94

evidenciando a sazonalidade. Os grupos funcionais Lo, X2, Y e T associaram-se ao

aumento da zona de mistura, enquanto o GF A e o GF E foram relacionados à maior

profundidade da zona eufótica e o GFs W2 e S2, à maior densidade de cladóceros.

Tabela 3. 6 - Coeficientes de correlação canônica (intra-set) dos vetores ambientais e bióticos com os eixos 1 e 2 para os grupos funcionais fitoplanctônicos observados em 18 lagoas no Parque Estadual do Rio Doce (MG) e no seu entorno (amostragens realizadas entre agosto de 2007 e maio de 2008)

Coeficiente de correlação canônicaVariáveis Eixo 1 Eixo 2Fósforo Solúvel Reativo -0,183 0,014Temperatura -0,234 -0,425Radiação -0,149 0,100Índice de Estado Trófico -0,925 -0,031Extensão da zona eufótica 0,780 -0,260Extensão da zona de mistura 0,791 0,386Densidade de Cladocera 0,432 -0,703

95

AC1

AC2

AC3

AC4AL1

AL2

AL3

AL4AM1

AM2

AM4

AN1

AN3

AN4

BA1

BA2

BA3

BA4

CA1

CA2

CA3

CA4

CE1

CE3

CE4

DH1

DH2

DH4

FE1

FE2

FE3

FE4

FN1

FN2

FN3

FN4

GA1

GA3

GA4

GN1

GN2

GN3

GN4

JA1

JA2JA3

JA4

PA1PA2

PA3 PA4PT1

PT2

PT3

PT4

PI1

PI2

PI3

SH2

SH3

SH4

VE1

VE2

VE3

VE4

AB E

F

J

K

Lo

MP

NAS1

S2

SN

T

W2

X1

X2

X3

Y

IET

Zeu

Zmix

Clad

Figura 3. 9 - Diagrama de ordenação da ACC dos grupos funcionais e sete variáveis descritoras considerando as 18 lagoas amostradas em quatro campanhas entre agosto de 2007 e maio de 2008 no médio Rio Doce (n=72).

Onde: Zeu: zona eufótica; Zmix: zona de mistura; Clad: densidade de Cladocera e IET: índice de estado trófico. Os códigos das lagoas são os mesmos da tabela 2. Os números de 1 a 4 correspondem às campanha de amostragem 1(ago/2007), 2 (nov/2007), 3 (fev/2008) e 4 (maio/2008).

Discussão

O efeito das variações climáticas sobre as lagoas estudadas foi demonstrado pelas

diferenças de temperatura e das condições de estratificação térmica da coluna

d’água observadas durante as amostragens realizadas em agosto de 2007 e maio

de 2008 (período de seca) e aquelas realizadas em novembro de 2007 e fevereiro

96

de 2008 (período de chuvas). A influência dos processos físicos na dinâmica do

fitoplâncton nas lagoas estudadas ficou evidente.

Embora a biomassa fitoplanctônica tenha aumentado ao longo do gradiente

profundidade total-turbidez-trofia, a maioria das amostras mostraram valores

inferiores a 3 mg.L-1, limite estabelecido por Vollenweider (1968) para ambientes

oligotróficos. A frequência de valores superiores a este limite, no entanto, aumentou

ao longo do gradiente, tendo ocorrido em 0, 2, 17 e 35% das amostras nas lagoas

tipo 1, 2, 3 e 4, respectivamente e decaindo para 10% das amostras nas lagoas tipo

5.

Picos de biomassa em níveis considerados eutróficos (>5 mg.L-1) foram registrados

nas lagoas Carioca, Aníbal, Central (~7 mg.L-1) e Ferruginha (~10 mg.L-1). Estes

resultados corroboram parcialmente aqueles obtidos para o índice de estado trófico

(IET) criado por Calrson e modificado por Toledo et al. (1983), que apontaram

condições oligotróficas nas lagoas do tipo 1 e 2, mesotróficas nas lagoas tipo 3 e 4 e

eutróficas nas lagoas tipo 5. As duas lagoas consideradas eutróficas apresentaram

situações opostas no que se refere à biomassa: enquanto na lagoa Amarela, a

biomassa fitoplanctônica manteve-se inferior a 0,3 mg.L-1, na maioria das amostras,

na Ferrugem, predominaram biomassas superiores a 2 mg.L-1. Tal diferença deve-se

ao fato da lagoa Amarela ter a maior parte do espelho d’água coberta por Nymphaea

sp. Conforme apontam Meerhoff et al. (2003) e Pinto et al. (2007), macrófitas

flutuantes podem inibir o desenvolvimento do fitoplâncton ao reduzir drasticamente a

penetração da radiação solar e os elevados valores de k0 obtidos para os períodos

de chuvas e seca confirmam a limitação por luz nessa lagoa. Na lagoa Ferrugem, as

maiores biomassas se deveram ao predomínio da cianobactéria filamentosa

Cylindrospermopsis raciborskii (GF SN), tolerante a baixas luminosidades (Bouvy et

al., 1999).

Mesmo as lagoas classificadas como eutróficas segundo o índice de Toledo et al.

1983), apresentaram biomassas fitoplanctônicas compatíveis com o nível oligotrófico

(sensu Vollenveider,1968) na maior parte do tempo. Naselli-Flores et al. (2007)

sugerem que a limitação por luz é a principal força moldando a comunidade

fitoplanctônica nos ambientes eutróficos enquanto a capacidade de absorver

97

nutrientes é mais relevante nos ambientes oligo- ou mesotróficos. De acordo com

Reynolds (1999), a concentração mínima de fósforo solúvel reativo necessária para

sustentar a taxa de crescimento do fitoplâncton é 3-6 µg.L-1. Com exceção de

Amarela, Pimenta e Patos, os teores de fósforo solúvel reativo observados nas

lagoas estudadas foram inferiores a 6 µg.L-1, indicando que as baixas concentrações

desse nutriente podem limitar o crescimento do fitoplâncton, como já sugerido por

Henry et al. (1997) e Barros et al. (2006) para o lago Dom Helvécio. Os elevados

coeficientes de atenuação da luz registrados para as duas lagoas eutróficas também

corroboram a colocação de Naselli-Flores et al. (2007).

Embora mais divulgado para ambientes grandes e profundos, o padrão monomítico-

quente prevalece nas lagoas tropicais como um todo (Townsend, 2006), onde a

estratificação térmica tende a ser mais longa e menos estável que aquela observada

para as maiores latitudes (Lewis, 2000). Com exceção de Amarela e Ferruginha, as

lagoas estudadas se mostraram estratificadas durante os períodos mais quentes

(novembro e fevereiro), evidenciando a importância das variações temporais da

temperatura para a estabilidade da coluna d’água também para ambientes rasos

(Barbosa & Padisák, 2002; Padisák & Reynolds, 2003). A seleção de espécies

depende, dentre outros fatores, das condições locais (Costa et al. 2009) e o

movimento da coluna d’água é considerado uma das principais variáveis controlando

a dinâmica do fitoplâncton, uma vez que afeta a disponibilidade dos recursos

essenciais para seu crescimento (Reynolds, 2006). Essa importância foi constatada

no presente estudo através das variações temporais observadas para a estrutura do

fitoplâncton em cada lagoa.

Somente em 4 das 18 lagoas estudados não se observou a presença de

representantes do grupo funcional NA entre as espécies descritoras (>5% da

biomassa total). Tal fato corrobora a importância do padrão monomítico-quente, e da

atelomixia em especial, neste sistema lacustre, conforme sugerido por Barbosa &

Padisák (2002), Souza et al. (2008) e Barbosa (2004; 2009) após estudos realizados

nas lagoas Carioca e Dom Helvécio. Esse grupo predominou especialmente nas

lagoas oligotróficas, profundas e claras (tipos 1 e 2) e durante o período de chuvas,

quando a coluna d’água esteve estratificada. Dentre os ambientes com estas

características, a lagoa Gambazinho foi o único em que espécies do grupo NA não

98

figuraram entre as descritoras. Apesar de apresentar-se estratificada durante as

amostragens realizadas em novembro de 2007 e fevereiro de 2008, o

monitoramento mensal realizado através do programa de Pesquisas Ecológicas de

longa Duração (PELD/UFMG) permitiu a identificação do padrão de mistura

polimítico nesta lagoa, condição que desfavorece o desenvolvimento das desmídias

(Barbosa & Padisák, 2002).

A importante contribuição do grupo funcional NA para o fitoplâncton das lagoas

Aníbal (tipo 3), Pimenta (tipo 4) e Ferrugem (tipo 5), por outro lado, demonstra a

capacidade dos organismos deste grupo em tolerar condições de menor

luminosidade. No entanto, ressalta-se que o enquadramento da lagoa Aníbal no tipo

3 deve-se ao fato do ponto de coleta localizar-se próximo à margem. A profundidade

máxima relatada em estudos anteriores foi 16 m (Calijuri et al. 1997), enquanto o

ponto de coleta apresentou somente 6 m. Assim, se a coleta fosse realizada em seu

ponto mais profundo, provavelmente esse ambiente estaria enquadrado no tipo 1.

No caso da lagoa Pimenta, Staurastrum ionatum e Staurastrum tetracerum foram

importantes espécies representando o GF NA. Experimentos realizados por

Spijkerman & Coesel (1996) indicaram que espécies desse gênero necessitam de

maior disponibilidade de fósforo que pequenas espécies de Cosmarium e este

nutriente manteve maiores concentrações nessa lagoa, especialmente durante as

amostragens de fevereiro, quando S. tetracerum representou 51% da biomassa

fitoplanctônica.

Condições de turbidez elevada são descritas como favorecedoras do grupo funcional

S1 (Reynolds et al., 2002). Membros desse grupo foram importantes na maioria das

lagoas estudadas, com as maiores biomassas associadas a estados tróficos

intermediários, mas baixas concentrações de fósforo solúvel reativo. A dominância

ou co-dominância em lagoas oligotróficas, como Dom Helvécio, Gambá e

Gambazinho, parecem desvincular a ocorrência desse grupo a ambientes eutróficos

(Krasznai et al., 2010). No entanto, seus representantes se concentraram nas

camadas mais profundas dessas lagoas, confirmando a adaptação a condições de

baixa luminosidade.

99

O grupo funcional SN (Cylindrospermopsis raciborskii), também tolerante à baixa

luminosidade (Reynolds et. al. 2002), destacou-se nas lagoas estudadas. Maiores

biomassas foram favorecidas pelo aumento da trofia, tendo sido registradas nas

lagoas Ferrugem (2 mg.L-1) e Ferruginha (1 mg.L-1). No entanto, ainda que com

baixas biomassas (< 0,5 mg.L-1), essa espécie co-dominou nas lagoas Dom Helvécio

e Santa Helena no período de seca. C. raciborskii é reconhecida como espécie

invasora (Padisák, 1997; Pivato et al. 2006) e seu maior desenvolvimento nesses

ambientes oligotróficos coincidiu com os períodos de maior atenuação da radiação

fotossinteticamente ativa (>k0) e pode ter sido favorecido pelas elevadas

temperaturas que predominam na região (Bouvy et al., 2000). Diversos trabalhos

(ex. Borics et al., 2000; Istvánovics et al., 2000; Huszar et al., 2000) descrevem a

estabilidade da coluna d’água como um importante fator beneficiando o

desenvolvimento dessa cianobactéria. No entanto, seu predomínio na lagoa

Ferruginha, que não apresentou estratificação térmica e sua maior

representatividade nas lagoas Dom Helvécio e Santa Helena em condições de

homogeneidade da coluna d’água, indicam sua capacidade de adaptação a

diferentes condições ambientais.

Os grupos funcionais A e E foram favorecidos em condições de elevada

transparência da água, ocorrendo somente nas lagoas tipo 2. Urosolenia longiseta

(GF A), mostrou-se importante nas lagoas Águas Claras, Almécega e Santa Helena,

oligotróficas e claras, como a lagoa Palmeirinha, onde Dinobryon bavaricum (E) teve

uma contribuição expressiva para a biomassa total. O menor tamanho (0,2 km2) e

profundidade (6 m) da lagoa Palmeirinha, podem ter favorecido o GF E, associado a

ambientes mais rasos e menores (Padisák et al., 2009).

Botryococcus braunii (F) e espécies grandes (Y) e pequenas (X2) de Cryptomonas

se alternaram na lagoa Amarela. Flöder et al. (2002) sugerem que a limitação por luz

seleciona espécies que toleram baixa intensidade luminosa. Espécies desses grupos

são adaptadas a viver em uma variedade de condições ambientais e toleram baixa

luminosidade (Reynolds et al,. 2002). A dominância de Cryptomonas já foi reportada

em ambientes húmicos como a lagoa Comprida (Alves-de-Souza et al., 2006) e tem-

se sugerido que a capacidade de mixotrofia (Jones, 2000) e de migração vertical,

possibilitada pelo flagelo (Jansson et al., 1996), são características que aumentam o

100

potencial competitivo do gênero em condições de limitação por luz. A dominância de

espécies desses grupos apenas em maio de 2008 pode ser explicada pela

sensibilidade à predação, uma vez que as densidades de zooplâncton total e de

cladóceros foram menores nessa ocasião. Ressalta-se ainda que Trachelomonas

volvocina (GF W2), também associada a condições eutróficas, esteve entre as

espécies descritoras dessa lagoa.

Representantes do GF F ainda se destacaram nas lagoas Jacaré, Central (B.

braunii) e Patos (B. braunii, Eutetramorus planctonicus), também pouco

transparentes. A tolerância de B. braunii à elevada turbidez (Costa et al., 2009) é

conferida pela capacidade de se manter na camada superficial devido à produção de

mucilagem e óleo e pode ter contribuído para seu estabelecimento nesses

ambientes mesotróficos. B. braunii também foi importante para a biomassa total na

lagoa Gambazinho, enquanto Dictyosphaerium pulchellum representou o mesmo

grupo na lagoa Palmeirinha. Ambas as lagoas são claras (Ko<0,8m-1), tipo de habitat

que favorece o desenvolvimento desse grupo funcional (Reynolds et al., 2002).

A ocorrência de Spirulina sp (GF S2) e Planctonema sp (GF T) entre as espécies

dominantes (> 50% da biomassa total) e Trachelomonas volvocina (GF W2) entre as

descritoras (> 5% da biomassa total) na lagoa dos Patos sugere condições de

mistura frequente da coluna d’água nesse ambiente, que tem extensos bancos de

macrófitas (Eleocharis e Nymphaea). Representantes dos grupos funcionais J, B e

W2, que também toleram baixa luminosidade, estão entre as espécies descritoras

das lagoas Central (Coelastrum reticulatum, GF J), Barra (Cyclotella sp, GF B),

Amarela e Patos (em ambas, T. volvocina, GF W2).

Estudos sobre a dinâmica do fitoplâncton têm mostrado uma forte relação entre as

condições ambientais e os grupos funcionais (ex. Crossetti & Bicudo 2008a; Bovo-

Scomparin & Train, 2008). O presente estudo corrobora essa afirmação ao

evidenciar uma grande concordância entre os grupos funcionais dominantes e as

condições ambientais. Em geral, as lagoas mais claras e oligotróficas, tipos 1 e 2,

foram dominadas pelos grupos NA e A. Grupos descritos como tolerantes à baixa

luminosidade dominaram o fitoplâncton das lagoas tipo 3 (SN, S1,MP, Y, X1, K e F),

tipo 4 ( F, S1, Y, J, SN e Lo) e tipo 5 (F, Y, X2, SN, S1, Lo). O predomínio de

101

espécies dos grupos S1 e F na lagoa Gambazinho (clara e oligotrófica) e a

importância das desmídias (GF NA) na lagoa Pimenta (escura e meso-trófica)

evidenciam ainda a importância dos padrões de mistura da coluna d’água e da

sazonalidade nesse sistema lacustre.

Como mostrado para outros sistemas (Becker et al, 2009b), não somente a

disponibilidade de recursos (luz e nutrientes) ou a estrutura física (estratificação

térmica) direcionaram a comunidade fitoplanctônica, e sim a sua interação. As

hipóteses de que os grupos funcionais respondem às variações temporais e

espaciais das condições ambientais observadas no sistema lacustre do médio Rio

Doce e de que essa abordagem fornece uma boa descrição das características

limnológicas predominantes em cada lagoa foram corroboradas, reforçando,

portanto, a eficiência dos grupos funcionais como indicadores das condições

ambientais também em lagoas naturais tropicais.

102

DISCUSSÃO GERAL

O sistema lacustre do médio Rio Doce comporta um conjunto de ecossistemas

aquáticos tropicais únicos e importantes e deve ser conservado em sua totalidade, o

que torna imprescindível o conhecimento e a manutenção dos processos inerentes

ao mesmo (Tundisi & Saijo, 1997). O presente estudo reforça a importância da

conservação dessa região, já apontada para outros grupos de organismos

(Drummond et al., 2005), também para a manutenção da vida aquática ao evidenciar

elevados níveis de diversidade fitoplanctônica em níveis locais e regional. A raridade

das espécies e a baixa similaridade entre as lagoas também chamaram a atenção, e

podem ser considerados critérios que reforçam o valor de conservação da região

(Coesel, 2001).

Embora a substituição da Mata Atlântica por silvicultura esteja, juntamente com a

introdução de espécies exóticas de peixes (piranha, Pygocentrus nattereri, e

tucunaré, Cichla cf. ocellaris), entre os principais impactos antrópicos descritos para

a região estudada, não se detectaram diferenças na riqueza de espécies ou índices

de diversidade e equitabilidade do fitoplâncton entre os ambientes localizados dentro

ou fora da Unidade de Conservação, sugerindo um estado ecológico similar. O

predomínio de desmídias, tanto em relação à riqueza quanto à abundância, além de

comprovar a importância da atelomixia, é outro forte indício das boas condições

ecológicas desses ambientes, uma vez que a maioria das espécies desse grupo é

restrita a habitats oligo- ou mesotróficos (Coesel, 1996).

Crossetti & Bicudo (2008b) salientam que as diferenças fisiológicas e morfológicas

de cada grupo funcional garantem uma heterogeneidade de atributos extremamente

necessários a seu sucesso ecológico, o que torna essa abordagem uma ferramenta

útil no monitoramento e manejo dos ecossistemas aquáticos. Vinte e nove grupos

funcionais estiveram representados nos ambientes estudados, sendo 18

representativos em termos de biomassa. Os diferentes nichos representados em

cada um deles se complementam em relação à utilização de um dado recurso

(Dukes, 2001) e podem estar conferindo uma maior resistência à invasão e maior

resiliência frente a estresses como a introdução de espécies exóticas e alterações

ambientais (Scheffer et al., 2001; Vinebrooke et al., 2004). No entanto, a ocorrência

103

de Cylindrospermopsis raciborskii em metade das lagoas estudadas e sua

dominância em algumas delas, por sua vez, alertam para a fragilidade e

susceptibilidade dessa comunidade a espécies invasoras.

Clima, profundidade, estado trófico e concentração de MODC apareceram como os

principais fatores ambientais direcionando a dinâmica do fitoplâncton neste sistema

lacustre. No entanto, essas variáveis não atuaram de maneira isolada e exerceram

um efeito sinérgico sobre o fitoplâncton ao interferirem nos processos de penetração

de luz, estratificação térmica e disponibilidade de nutrientes. Nesse contexto, deve-

se salientar que, especialmente nas lagoas do entorno do PERD, muito das

mudanças ambientais são direcionadas por ações humanas (manejo das plantações

de eucalipto e exploração turística) e a combinação de impactos como a introdução

de peixes exóticos, o aumento do aporte de nutrientes e a erosão do solo, podem

levar à perda de diversidade funcional e ao estabelecimento de estados não

desejados e não-reversíveis (Folke et al., 2004). Dessa forma, há que se enfocar

estratégias que considerem a possibilidade de conservação do sistema lacustre

como um todo, com a proposição de ações específicas para os ambientes da área

de entorno, para a manutenção da diversidade fitoplanctônica em nível regional. A

medida mais urgente é a regeneração do entorno das lagoas, respeitando o limite

mínimo de 50m estabelecido para Áreas de Preservação Permanentes (APPs) em

lagoas naturais localizadas em áreas rurais (CONAMA, 2002). Na maioria das

lagoas estudadas, a essa medida está sendo atendida e o plantio de eucalipto nas

margens foi abandonado, permitindo a regeneração da vegetação nativa.

104

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