diversidade de produção garante renda à família de luis e eliana

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lNo norte do Piauí, no município de Piracuruca existe uma comunidade chamada Serra Verde onde moram sete famílias agricultoras. O local, que recebeu esse nome por causa de uma bonita Serra, com várias plantas nativas de um lindo verde no centro de uma vastidão de matos secos, já não possui a beleza daquela serra, ela foi desmatada e hoje o que restou foi o nome e a lembrança contada de pai para filho ao longo dos anos. Nessa comunidade também têm histórias bonitas de serem contadas como a da família de Luis de Brito Fontenele Neto de 35 anos e Maria Eliane de Azevedo, 29 anos e seu filho de 10 anos, Evaldo Brito Fontenele. Casados há 12 anos, os dois se conhecem desde criança e na comunidade em que viveram sua infância e juventude resolveram morar e constituir família. O casal é também um exemplo de quem pratica a sustentabilidade no semiárido e mesmo com as muitas dificuldades enfrentadas, a família não acredita existir outro lugar melhor para se viver. Para permanecer na localidade a família enfrentou algumas dificuldades como a falta de água. Os moradores de Serra Verde já sofreram muito com a escassez de água na região. Seu Luis conta que antigamente na época mais seca do ano, os moradores da comunidade tinham que buscar água em um chafariz em uma comunidade chamada Fura Mão, cerca de 18 Km de distância de Serra Verde, “ as latas de água eram carregadas no lombo de jumentos e a gente perdia um bom tempo do dia nessa lida”, conta. Depois a comunidade passou a ser atendida por carros pipas que distribuíam água nas portas das casas. Mas o agricultor conta que, o que parecia ser solução, às vezes se tornava problema “vinha água de todo jeito, água enferrujada, barrenta e quando eles chegavam nas casa e viam o calendário de outro político que não fosse os deles ficavam com raiva e ameaçavam não colocar mais a água”, conta. Piauí Ano 4| nº 73| Agosto| 2010 Piracuruca- Piauí Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Diversidade de produção garante renda à família de Luis e Eliana 1 Seu Luis, Dona Eliane e o filho Evaldo. O filho do casal Evaldo, colhendo a abóbora para o almoço da família.

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Page 1: Diversidade de produção garante renda à família de Luis e Eliana

lNo norte do Piauí, no município de Piracuruca existe uma comunidade chamada Serra Verde onde moram sete famílias agricultoras. O local, que recebeu esse nome por causa de uma bonita Serra, com várias plantas nativas de um lindo verde no centro de uma vastidão de matos secos, já não possui a beleza daquela serra, ela foi desmatada e hoje o que restou foi o nome e a lembrança contada de pai para filho ao longo dos anos.

Nessa comunidade também têm histórias bonitas de serem contadas como a da família de Luis de Brito Fontenele Neto de 35 anos e Maria Eliane de Azevedo, 29 anos e seu filho de 10 anos, Evaldo Brito Fontenele. Casados há 12 anos, os dois se conhecem desde criança e na comunidade em que viveram sua infância e juventude resolveram morar e constituir família. O casal é também um exemplo de quem pratica a sustentabilidade no semiárido e mesmo com as muitas dificuldades enfrentadas, a família não acredita existir outro lugar melhor para se viver.

Para permanecer na localidade a família enfrentou algumas dificuldades como a falta de água. Os moradores de Serra Verde já sofreram muito com a escassez de água na região. Seu Luis conta que antigamente na época mais seca do ano, os moradores da comunidade tinham que buscar água em um chafariz em uma comunidade chamada Fura Mão, cerca de 18 Km de distância de Serra Verde, “ as latas de água eram carregadas no lombo de jumentos e a gente perdia um bom tempo do dia nessa lida”, conta.

Depois a comunidade passou a ser atendida por carros pipas que distribuíam água nas portas das casas. Mas o agricultor conta que, o que parecia ser solução, às vezes se tornava problema “vinha água de todo jeito, água enferrujada, barrenta e quando eles chegavam nas casa e viam o calendário de outro político que não fosse os deles ficavam com raiva e ameaçavam não colocar mais a água”, conta.

Piauí

Ano 4| nº 73| Agosto| 2010Piracuruca- Piauí

Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas

Diversidade de produção garante

renda à família de Luis e Eliana

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Seu Luis, Dona Eliane e o filho Evaldo.

O filho do casal Evaldo, colhendo a abóbora para o almoço da família.

Page 2: Diversidade de produção garante renda à família de Luis e Eliana

Desde 2004 a realidade na comunidade começou a mudar, todas as famílias de Serra Verde foram beneficiadas com a cisterna pequena, como é conhecida a cisterna de 16 mil litros do Programa Um Milhão de Cisternas Rurais, o P1MC, da Articulação no Semiárido Brasileiro, Asa Brasil. A cisterna acumula a água da chuva, através de uma calha que é colocada nos telhados, e é utilizada para beber.

Dona Eliane trabalha desde 2002 como agente comunitária de saúde e acompanha dez comunidades daquela região. Ela disse que não tem hora para trabalhar “trabalho o tanto que der, onde estiver precisando eu estou lá, não tem hora nem dia e nem noite”. Por isso Seu Luis é quem a ajuda nos trabalhos domésticos “Ele faz comida, limpa a casa, quem chega primeiro faz as coisas”, conta.

Seu Luis é também um exemplo de quem sabe aproveitar o que a natureza lhe oferece. Ele afirma que tudo que a família consome vem de seu quintal produtivo, somente compra o café, açúcar e o sal. Em sua área a família tem macaxeira, abóbora, milho, arroz, feijão, coentro, cebola, none, mamão, banana, acerola, ata e pimentão. Algumas das plantas só são cultivadas na época das chuvas devido à falta de água. A família também tem cabeças de gado, de ovelhas, porcos e cabras e algumas vacas leiteiras que fornecem o leite para a fabricação do queijo que também ajuda no orçamento da família. O queijo produzido é vendido na própria comunidade, mas ás vezes é vendido em outros lugares também ao preço de 12 reais o quilo. A Prensa que eles utilizam para fazer o queijo já tem quase 60 anos e foi herdada do pai de Seu Luis, assim como a casa em que o casal mora. O agricultor conta que o soro feito da fabricação do queijo é uma ração de primeira para o porco que é quem fornece a banha que substitui o olho de cozinha. A água para os animais vem de um poço que fica um pouco distante da propriedade que, mesmo salobra para o consumo humano, é utilizada para os animais.

Devido à dificuldade de água a família não conseguia manter seus canteiros de verduras e legumes durante todo ano, mas a vontade de manter sua horta por mais tempo foi concretizada com a chegada da cisterna calçadão do Programa Uma Terra e Duas Águas da Articulação no Semiárido Brasileiro, Asa Brasil. A cisterna com capacidade para acumular 52 mil litros de água captada através de um calçadão, essa água é utilizada para a produção de hortaliças e verduras ou utilizada para a criação de pequenos animais.

Agora Eliane diz que o seu quintal produtivo está completo, as verduras e os legumes que produzirem vai ajudar a enriquecer o cardápio da família e se sobrar a família vai vender para aumentar ainda mais a renda da família.

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Apoio:

www.asabrasil.org.br

Seu Luis guarda o que produz em um cômodo separado da casa.

Produzindo queijo, renda extra para a família.