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Direitos de edição reservados àEditora e Distribuidora Nova Harmonia Ltda.Caixa Postal, 47593001-970 – São Leopoldo/RSwww.editoranovaharmonia.com.br

Conselho Editorial Nova HarmoniaAlejandro Serrano Caldera – UAM, NicaráguaÁlvaro B. Márquez-Fernández – UNI. ZULIA,VenezuelaAmarildo Luiz Trevisan – UFSM, BrasilAntonio Sidekum – Presidente, BrasilGiovani Meinhardt – IEI Ivoti, BrasilJohannes Schelkshorn – UNI-WIEN, ÁustriaLuiz Carlos Bombassaro – UFRGS, BrasilNadja Hermann – PUCRS, BrasilRaúl Fornet-Betancourt – Aachen, Alemanha

RevisãoSmirna Cavalheiro

Projeto gráfico e editoração eletrônicawww.comtextoeditoracao.com.br

CapaNádia Silveira ([email protected])

Impressão e acabamentoMoura Ramos Gráfica e Editora

© Fórum Nacional Permanente de Ensino Religioso/FONAPER.

D618 Diversidade religiosa e ensino religioso no Brasil: memórias, propostas e desafios – Obracomemorativa aos 15 anos do FONAPER / [Organizado por] Adecir Pozzer et al. – SãoLeopoldo : Nova Harmonia, 2010.

192p. ; 16x23cm

1. Ensino religioso – Brasil. 2. FONAPER. I. Pozzer, Adecir. II. Cecchetti, Elcio. III. Oliveira,Lilian Blanck de. IV. Klein, Remí.

CDU 261.5(81)

Catalogação na publicação: Leandro Augusto dos Santos Lima – CRB 10/1273

Ser FONAPER...

Ser FONAPER...É integrar um movimento, que transcende tempos, espaços e lugares

e, ao mesmo tempo, é algo temporal, geográfico, extremamente pessoal ecoletivo.

É uma tessitura entre os tempos chronos e kairós;É história com dos/as que nos antecederam, para que ele pudesse

chegar a ser;É história com dos/as que conosco caminham, para que sejaÉ história com dos/as que nos sucederão, para que continue sendo...

Ser FONAPER...É ser alegria, dor, luta, compromisso, sol, saudade, construção, ternura,

denúncia, chuva, indignação, pesquisa, canção, estudo, vento, encontro,anúncio, solidão, beleza, companheirismo, noite, presença, reflexão, ausência,mística, dia, alteridade, morte, dança, cansaço, espiritualidade, vida, vida,vida!!!

Ser FONAPER...É gratuidade extrema, é sentir a doçura do mel nas pequenas coisas,

que duramente são conquistadas de forma coletiva, cúmplice, integrada,alteritária...

Ser FONAPER...É buscar trazer à tona e à roda os direitos sagrados da terra e dos

humanos, invisibilizados nas poeiras dos tempos,Nos corações que deixaram de pulsar,Olhos que deixaram de ver,

Ouvidos que deixaram de escutar,Corpos amortecidos pelo cotidiano hodierno onde uma “coisa” vale

mais que um ser humano.

Ser FONAPER...É integrar um movimento maior,Movimento por justiça,Movimento por liberdade,Movimento por direito à diferença.Um movimento que nos antecede e é muito maior que nós – o direito

à vida – o dever de permiti-la/fazê-la digna,Não somente para algunsOu, talvez, para muitos/as...Mas SIM para e com todos/as.

Ser FONAPER...É estar de passagem, mas ser permanente no compromisso, na troca,

na partilha...É sentir o perigo e correr para socorrer,É sentir a bonança e se deliciar com sua fugaz morada,É ser com o grupo, o movimento, o projeto, e fazer o que lhe cabe em

cada momento no tênue sopro de nossas vidas.

Ser FONAPER...É aceitar o desafio de, em dado tempo, espaço, lugar buscar continuar

o trabalho dos/as que nos antecederam e, depois, repassá-lo a outro/ascompanheiros/as da e na roda.

O Movimento continua...Somos e sempre seremos FONAPER!

Lilian Blanck de OliveiraInverno de 2010

Sumário

APRESENTAÇÃO ........................................................................................................................... 09

O FONAPER 15 ANOS DEPOIS .......................................................................................... 13

CAPÍTULO I

PRIMEIROS PASSOS DO FONAPER:

Um sonho que se tornou realidade em tempos de novos projetos educacionais

Anísia de Paulo Figueiredo .......................................................................................................... 19

CAPÍTULO II

AUTORES E SUJEITOS A MOVER O FONAPER

Maria Azimar Fernandes e Silva e Maria José Torres Holmes ................................................. 37

CAPÍTULO III

PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS DO ENSINO RELIGIOSO:

O currículo do Ensino Religioso em debate

Ângela Maria Ribeiro Holanda ...................................................................................................51

CAPÍTULO IV

ENSINO RELIGIOSO E A LEGISLAÇÃO DA EDUCAÇÃO NO BRASIL:

Desafios e perspectivas

Edivaldo José Bortoleto e Rosa Gitana Krob Meneghetti ........................................................ 63

CAPÍTULO V

CONCEPÇÃO DE ENSINO RELIGIOSO NO FONAPER:

Trajetórias de um conceito em construção

Adecir Pozzer ................................................................................................................................ 83

CAPÍTULO VI

DIRETRIZES CURRICULARES NACIONAIS PARA A FORMAÇÃO DE PROFESSORES

DE ENSINO RELIGIOSO

Lilian Blanck de Oliveira e Elcio Cecchetti ...............................................................................103

8 |Diversidade Religiosa e Ensino Religioso no Brasil

CAPÍTULO VII

FORMAÇÃO INICIAL DE PROFESSORES PARA A EDUCAÇÃO BÁSICA:

Desafios e perspectivas para o Ensino Religioso

Darcy Cordeiro ...........................................................................................................................127

CAPÍTULO VIII

ENSINO RELIGIOSO NA PÓS-GRADUAÇÃO BRASILEIRA:

Espaço de formação e pesquisa

Sérgio Rogério Azevedo Junqueira ...........................................................................................137

CAPÍTULO IX

CONGRESSOS NACIONAIS DE ENSINO RELIGIOSO:

Memórias, encontros e desafios

Lurdes Caron ..............................................................................................................................153

CAPÍTULO X

SÍTIO ELETRÔNICO DO FONAPER:

Espaço, tempo e lugar para o Ensino Religioso

Sérgio Rogério Azevedo Junqueira, Elcio Cecchetti e Josias Wagner ...................................163

CAPÍTULO XI

DIÁLOGO – EDUCAÇÃO PARA A DIVERSIDADE:

Comemoração dos 15 anos da Revista Diálogo e do FONAPER

Luzia M. de Oliveira Sena e Maria Inês Carniato ...................................................................175

Pozzer, Cecchetti, Oliveira e Klein (orgs.) | 9

Apresentação

Manhã de primavera do dia 26 de setembro de 1995.Instalava-se, em Florianópolis/SC, o Fórum Nacional Permanente do

Ensino Religioso (FONAPER).Resultado de sonhos, lutas e esforços de muitos sujeitos, o Fórum nasce

e se torna espaço, tempo e lugar de proposições, encaminhamentos, ações eprojetos que subsidiem a construção de outra concepção de Ensino Religioso,entendido como um componente curricular, que, a partir da escola, considere,acolha, valorize e promova o respeito à diversidade cultural religiosa brasileira,sem proselitismos e/ou discriminações de qualquer natureza.

Desse modo, o Ensino Religioso constitui-se um direito de todo cidadão,uma vez que o conhecimento religioso é parte dos conhecimentoshistoricamente produzidos e elaborados por inúmeros povos/culturas e, comotal, necessita estar disponível e acessível à educandos e educandas na escola.É na perspectiva de uma formação plena do cidadão, no contexto de umasociedade cultural e religiosamente diversa, na qual todas as filosofias devida, crenças, movimentos, tradições e expressões religiosas devem serrespeitados, que se insere o Ensino Religioso como uma área de conhecimento(Resolução CNE/CEB nº 2/98 e Resolução CNE/CEB nº 4/2010), contribuindona promoção e no exercício da liberdade e na construção da cidadania.

Repleta de avanços e recuos, encontros e desencontros, perdas econquistas, a história dos 15 anos do FONAPER é celebrada e reconhecida,porque, acima de tudo, conseguiu dar significativos passos enquanto espaços,tempos e lugares de um movimento constituído por educadores,pesquisadores, instituições e demais pessoas comprometidas com o EnsinoReligioso.

Muitos foram os sujeitos que construíram/constroem o FONAPER.Alguns se tornaram conhecidos, muitos outros permaneceram anônimos,porém, não invisibilizados, porque fazem parte de um movimento histórico

10 |Diversidade Religiosa e Ensino Religioso no Brasil

de atuação, observação, pesquisa e docência que indica possibilidades paraoutros olhares, leituras e práticas frente à diversidade cultural religiosa nosdiferentes recantos do Brasil.

O ato de comemorar a história do FONAPER, digna de méritos,representa o esforço de rememorar tudo o que foi construído, proposto,concretizado e vivenciado por inúmeros sujeitos integrantes do movimento,que participaram direta ou indiretamente das lutas e conquistas do FONAPER,seja na construção de documentos publicados, na elaboração de projetos deformação inicial e continuada desenvolvidos ou na promoção dos eventosrealizados.

O ano de 2010 é um marco significativo para o Ensino Religioso noBrasil.

Além da comemoração dos 15 anos de fundação do FONAPER,celebram-se 15 anos da Diálogo: Revista de Ensino Religioso; 14 anos dacriação dos Cursos de Ciências da Religião/ões – Licenciatura de EnsinoReligioso; 13 anos da publicação da Lei n° 9.475/97 (que dá nova redação aoart. 33 da LDBEN n° 9.394/96); 10 anos do Grupo de Pesquisa Educação eReligião (GPER); tudo isso em meio a uma série de atividades e produçõesrelativas ao Ano Brasileiro do Ensino Religioso (15 de outubro de 2009 a 15de outubro de 2010).

A presente obra, além de comemorar, quer registrar alguns fios dagrande teia de relações e realizações do Ensino Religioso e do FONAPER,sinalizando perspectivas e desafios a mover sua atuação para outros 15 anos.A implantação e implementação de uma nova compreensão epistemológicae pedagógica do Ensino Religioso precisa ainda ser melhor compreendida,difundida e efetivada. O percurso a ser desenvolvido apresenta-se sempredesafiador e instigante.

Neste intento, Anísia de Paulo Figueiredo, no Capítulo I, registra osPrimeiros passos do FONAPER: um sonho que se tornou realidade em temposde novos projetos educacionais. Maria Azimar Fernandes e Silva e Maria JoséTorres Holmes, no Capítulo II, destacam os Autores e sujeitos a mover oFONAPER, procurando dar voz aos diferentes agentes comprometidos eengajados no movimento em prol do Ensino Religioso enquanto componentecurricular.

Pozzer, Cecchetti, Oliveira e Klein (orgs.) | 11

Ângela Maria Ribeiro Holanda, no Capítulo III, descreve a importânciados Parâmetros Curriculares Nacionais de Ensino Religioso: o currículo doEnsino Religioso em debate, na proposição histórica de um currículo,tratamento didático e sistema de avaliação para uma nova concepção deEnsino Religioso, a fim de que sejam respeitadas as diversidades culturais,regionais, étnicas e religiosas que atravessam uma sociedade múltipla,estratificada e complexa.

No Capítulo IV, Edivaldo José Bortoleto e Rosa Gitana Krob Meneghettiabordam o espaço e o lugar do Ensino Religioso e a legislação da educaçãono Brasil: desafios e perspectivas. Em seguida, no Capítulo V, Adecir Pozzerapresenta a Concepção de Ensino Religioso do FONAPER: trajetória de umconceito em construção.

Lilian Blanck de Oliveira e Elcio Cecchetti, no Capítulo VI, descrevem astentativas históricas do FONAPER na definição de Diretrizes curricularesnacionais para a formação de professores de Ensino Religioso. Na sequência,Darcy Cordeiro, no Capítulo VII, reflete sobre a Formação inicial de professorespara a Educação Básica: desafios e perspectivas para o Ensino Religioso.

Sérgio Rogério Azevedo Junqueira, no Capítulo VIII, analisa o lugar doEnsino Religioso na pós-graduação brasileira, em nível de especialização,mestrado e doutorado, no artigo Ensino Religioso na pós-graduação brasileira:espaço de formação e pesquisa. No Capítulo IX, Lurdes Caron traça a linhahistórica de desenvolvimento dos Congressos nacionais de Ensino Religioso:memórias, encontros e desafios.

Por fim, Sérgio Rogério Azevedo Junqueira, Elcio Cecchetti e JosiasWagner, no Capítulo X, registram o desenvolvimento do Sítio eletrônico doFONAPER: espaço, tempo e lugar para o Ensino Religioso e, no Capítulo XI,Luzia M. de Oliveira Sena e Maria Inês Carniato destacam e comemoram os15 anos de contribuição da Diálogo: educação para a diversidade:comemoração dos 15 anos da Revista Diálogo e do FONAPER.

Ressalta-se que esta obra reúne apenas algumas contribuições easpectos da caminhada histórica do FONAPER em seus 15 anos de existência,pois muitos outros registros, saberes, práticas e vivências encontram-se nocoração e na memória de milhares de sujeitos que incorporaram o modo deSer FONAPER.

Portanto, encontram-se abertas as possibilidades de outros e diferentesregistros/produções sobre a trajetória destes e de outros 15 anos do FONAPER,

12 |Diversidade Religiosa e Ensino Religioso no Brasil

que certamente serão trilhados por aqueles que portam ousadia ecompromisso histórico em favor do conhecimento, respeito, valorização ereconhecimento da diversidade cultural religiosa.

Parabéns ao FONAPER! Parabéns a todos e todas, construtores destahistória! Sigamos juntos rumo a outros 15 anos!

Os OrganizadoresPrimavera de 2010

Pozzer, Cecchetti, Oliveira e Klein (orgs.) | 13

O FONAPER 15 anos depois

O ano de 2010 não representa somente um marco para se comemoraras propostas, avanços e conquistas do FONAPER, mas, também, é tempo/espaço/lugar para refletir, pensar, analisar, propor e projetar outros sentidose perspectivas para os próximos 5, 10 ou 15 anos de atuação.

Inicialmente, vale destacar que o FONAPER foi gestado basicamentepor educadores que, preocupados com a situação problemática por qualpassava o Ensino Religioso na escola, buscaram outros paradigmas econcepções que pudessem ver, sentir, acolher, valorizar e (re)conhecer adiversidade cultural religiosa da sociedade brasileira. Por isso, a compreensãodo Ensino Religioso como espaço pedagógico, parte integrante da formaçãobásica do cidadão, foi compromisso assumido na Carta de Princípios do Fórumno dia de sua instalação.

O movimento de elaboração dos Parâmetros Curriculares Nacionaisdo Ensino Religioso (PCNER) foi a expressão máxima da busca pelaconcretização de uma nova perspectiva de Ensino Religioso, entendido comocomponente curricular responsável por disponibilizar o conhecimentoreligioso – patrimônio da humanidade – para todos os educandos e educandasdo Brasil. Sua função na escola é a de contribuir para o exercício da cidadania,à medida que os sujeitos vão identificando o fenômeno religioso – substratocultural presente em inúmeros povos e sociedades – e construindo, pelodiálogo inter-religioso e intercultural, explicações e referenciais que escapemdo uso ideológico, doutrinal ou catequético.

Tendo definido sua compreensão, o Fórum atuou na superação daconcepção confessional/interconfessional do Ensino Religioso presente noart. 33 da LDBEN n° 9.394/96, o qual foi alterado pela Lei n° 9.475/97. Emseguida, buscou estratégias para sua implementação nos sistemas estaduaise municipais de ensino; promoveu eventos, encontros, estudos, pesquisas edebates abordando a natureza epistemológica e pedagógica do Ensino

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Religioso; buscou traçar linhas gerais para a formação inicial e continuada deseus educadores; publicou obras, cadernos e documentos com referenciaiscurriculares para a escola; estruturou uma página eletrônica(www.fonaper.com.br) para divulgar trabalhos e acontecimentos relacionadoscom sua atividade e afins; provocou outros movimentos nos camposepistemológicos e pedagógicos que resultaram em múltiplas produções epublicações de caráter científico nos mais diferentes pontos do país.

Por todos os feitos realizados, e por tantos outros aqui não registrados,é imprescindível parabenizar todos os membros do FONAPER, em especialàqueles que compuseram as cinco coordenações que nos antecederam, pelacoragem e ousadia de assumir essas concepções como ponto de partida paraos encaminhamentos dados ao Ensino Religioso nesses últimos 15 anos.

Mas, transcorrido este tempo, cabe agora perguntar: Qual a razão deser do FONAPER 15 anos depois? Em que deve concentrar seus esforços?Quais serão suas buscas prioritárias? Quais desafios as futuras coordenaçõesnão poderão deixar de considerar?

Nos dois últimos anos, muitos acontecimentos (de)marcaram o EnsinoReligioso em âmbito nacional:

a) a realização do X Seminário Nacional de Formação Docente para oEnsino Religioso (SEFOPER) em Taguatinga/DF, do qual o FONAPER assumiu aincumbência de tramitar uma proposição de Diretrizes Curriculares Nacionaispara a Formação de Professores de Ensino Religioso, em nível superior, cursode licenciatura de graduação plena. A mesma foi apresentada à Presidênciado Conselho Nacional de Educação/CNE em dezembro de 2008, sendo queaté o momento nenhuma deliberação foi dada para iniciar a sua discussão.

A urgência na formação de profissionais habilitados para o EnsinoReligioso, numa perspectiva de organização epistemológica e pedagógica, ea falta de uma docência qualitativa – problemática nacional vivenciada pelossistemas de ensino públicos – são alguns dos motivos que mobilizaram oencaminhamento da Proposta de Diretrizes Nacionais para a FormaçãoDocente para esta área do conhecimento;

b) aprovação do Acordo Internacional Brasil-Santa-Sé, relativo aoEstatuto Jurídico da Igreja Católica no Brasil, aprovado pelo CongressoNacional e promulgado pelo Presidente da República através do Decreto n°7.107/2010, que em seu art. 11, parágrafo primeiro, prevê que o EnsinoReligioso seja “católico e de outras confissões religiosas”;

Pozzer, Cecchetti, Oliveira e Klein (orgs.) | 15

c) a publicação da Resolução do CNE/CEB n° 1/2010 que, ao definir asDiretrizes Operacionais para a implantação do Ensino Fundamental de 9 (nove)anos, nada alterou em relação aos componentes curriculares, dentre eles oEnsino Religioso;

d) a realização da Conferência Nacional de Educação (CONAE), em finsde março e início de abril deste ano, em Brasília, que incluiu cinco destaquessobre a diversidade cultural-religiosa em seu Documento Final1, o qualsubsidiará a elaboração do novo Plano Nacional de Educação (PNE) para adécada de 2011-2020;

e) a publicação da Resolução CNE/CEB n° 4, de 13 de julho 2010, queinstituiu novas Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para a Educação Básica,no art. 14, reafirmou o Ensino Religioso como área de conhecimentointegrante da base nacional comum;2

f) a pesquisa liderada pelo Instituto de Bioética, Direitos Humanos eGênero da UnB, após análise de livros didáticos de Ensino Religioso, concluiuque o preconceito e a intolerância religiosa fazem parte da lição de casa demilhares de crianças e jovens do Ensino Fundamental brasileiro;3

g) a Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADIN), proposta no dia 5 deagosto de 2010 pela Procuradoria Geral da República ao Supremo TribunalFederal, a fim de que realize a interpretação conforme o art. 33, caput e §§ 1°e 2° da Lei n° 9.394/96, para assentar que o Ensino Religioso em escolaspúblicas só possa ser de natureza não confessional, proibindo a admissão de

1 “Inserir, no Programa Nacional do Livro Didático, de maneira explícita, a orientação para introdução dadiversidade cultural-religiosa; desenvolver e ampliar programas de formação inicial e continuada sobrediversidade cultural-religiosa, visando a superar preconceitos, discriminação, assegurando que a escolaseja um espaço pedagógico laico para todos, de forma a garantir a compreensão da formação da identidadebrasileira; inserir os estudos de diversidade cultural-religiosa nos currículos das licenciaturas; ampliar oseditais voltados para pesquisa sobre a educação da diversidade cultural-religiosa, dotando-os definanciamento; garantir que o ensino público se paute na laicidade, sem privilegiar rituais típicos dedadas religiões (rezas, orações, gestos), que acabem por dificultar a afirmação, respeito e conhecimentode que a pluralidade religiosa é um direito assegurado na Carta Magna Brasileira”. Disponível em:<www.mec.gov.br>. Acesso em: 24 jun. 2010.2 Art. 14 [...]§ 1º Integram a base nacional comum nacional:a) a Língua Portuguesa;b) a Matemática;c) o conhecimento do mundo físico, natural, da realidade social e política, especialmente do Brasil,incluindo-se o estudo da História e das Culturas Afro-Brasileira e Indígena,d) a Arte, em suas diferentes formas de expressão, incluindo-se a música;e) a Educação Física;f) o Ensino Religioso.3 Cf. DINIZ, Débora; LIONÇO, Tatiana; CARRIÃO, Vanessa. Laicidade e ensino religioso no Brasil. Brasília:UNESCO: Letras Livres: EdUnB, 2010.

16 |Diversidade Religiosa e Ensino Religioso no Brasil

professores na qualidade de representantes das confissões religiosas. Aomesmo tempo, solicita que o Supremo profira decisão de interpretação emrelação ao art. 11, § 1°, do Acordo entre a República Federativa do Brasil e aSanta Sé, para assentar que o Ensino Religioso em escolas públicas só podeser de natureza não confessional ou que seja declarada a inconstitucionalidadedo trecho “católica e de outras confissões religiosas”, constante no referidoAcordo.

h) a realização do XI Seminário Nacional de Formação de Professorespara o Ensino Religioso (XI SEFOPER), em parceria com a Universidade Federalda Paraíba (UFPB), Secretaria de Estado da Educação e Cultura (SEEC) e aSecretaria Municipal de Educação e Cultura de João Pessoa/PB (SEDEC), como tema Diversidade, Direitos Humanos e Ensino Religioso: questionandoconcepções e práticas, buscando oportunizar espaços para a discussão dacontribuição do Ensino Religioso na promoção dos Direitos Humanos, atravésda valorização e (re)conhecimento da diversidade religiosa presente nasociedade e no cotidiano escolar.

Vale destacar que, além da ousadia da temática, o evento realizou-secom a parceria do Programa de Pós-Graduação em Ciências das Religiões(PPGCR)4 e do Curso de Graduação em Ciências das Religiões, modalidadelicenciatura, da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), pioneiros no paísem habilitar profissionais a exercerem a docência do Ensino Religioso emuma universidade federal, tratando o fenômeno religioso como característicacultural dos povos e patrimônio da Humanidade.

Inúmeros outros fatos e eventos vêm (de)marcando passos e impassesna caminhada do Ensino Religioso no país, na qual o FONAPER, de formadireta ou indireta, vem articulando e atuando. Deste modo, esta abordagemnão tem a pretensão, tampouco a condição, de mapear todo cenário complexoda presença e da atuação do FONAPER nesses 15 anos, mas apenas pretendepontuar, de forma prospectiva, os aspectos considerados imprescindíveis paraos próximos anos de atuação da entidade:

a) articulação junto ao Ministério da Educação (MEC) para a elaboraçãode referenciais curriculares nacionais para a área de conhecimento do EnsinoReligioso;

4 Aprovado pelo Conselho Técnico Científico da CAPES em 12 de julho de 2006.

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b) articulação com o MEC e CNE para a definição de DiretrizesCurriculares Nacionais para a Formação Docente de Ensino Religioso,essenciais para obtenção dos objetivos e resultados esperados pela Lei n°9.475/97, bem como a inserção dos Cursos de Licenciatura em Ensino Religiosono Plano Nacional de Formação de Professores da Educação Básica (PARFOR);

c) promoção de discussões científico-pedagógicas para aprofunda-mento da epistemologia e objeto de estudo do Ensino Religioso;

d) atuação junto ao Conselho Nacional dos Secretários Estaduais deEducação (CONSED) e à União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação(UNDIME) para o reconhecimento do Ensino Religioso como área doconhecimento e sua respectiva oferta em todas as escolas da rede pública deeducação;

e) articulação junto aos grupos editoriais do Brasil para (re)construçãode materiais didáticos do Ensino Religioso, tendo em vista o princípio dadiversidade cultural religiosa e dos Direitos Humanos;

f) estruturação e manutenção da página eletrônica do FONAPER comomeio de divulgação e propagação da identidade do Ensino Religioso defendidapela instituição, bem como constituí-lo como referência para docentes epesquisadores desejosos de conhecer e de participar do movimento em prolde sua efetivação como área do conhecimento;

g) promoção de seminários nacionais dos Cursos de Licenciaturas emEnsino Religioso, envolvendo coordenadores, docentes e discentes, buscandosocializar conquistas e desafios percebidos durante o processo de formaçãoe construir referenciais conjuntos para superação das dificuldades;

h) atuação junto à sociedade civil, por meio de parcerias e apoios deinstituições governamentais e não governamentais, para a promoção dadiversidade cultural religiosa e dos direitos humanos no cotidiano escolar;

i) acompanhamento e atuação política durante o processo deelaboração do novo Plano Nacional de Educação para a década de 2011 a2020;

j) publicação de pesquisas e referenciais sobre o Ensino Religiosoarticulado com as Ciências da(s) Religião/ões, Ciências da Educação e Inter/Multi/culturalidade;

k) mobilização dos educadores e pesquisadores de todos os Estados daFederação, para que participem do FONAPER, debatendo e propondo açõesde modo articulado.

18 |Diversidade Religiosa e Ensino Religioso no Brasil

O FONAPER possui muitos desafios a encarar e muitas soluções porencontrar. Por isso, a Coordenação (Gestão 2008-2010) externa o pedido paraque nos fortaleçamos enquanto Fórum, participando efetivamente destemovimento.

Conclamamos para que cada acadêmico, educador e pesquisador façaa sua parte: associe-se ao FONAPER, aliando-se às suas ações e proposiçõese interagindo de forma propositiva em prol do Ensino Religioso como umdireito cidadão a ser assegurado a discentes e docentes em nossas escolasem todo país.

Continuemos, pois, mobi lizando-nos como Fórum NacionalPermanente do Ensino Religioso!

Coordenação do FONAPER(Gestão 2008-2010)

Pozzer, Cecchetti, Oliveira e Klein (orgs.) | 19

Capítulo I

Primeiros passos do FONAPER:Um sonho que se tornou realidade emtempos de novos projetos educacionais

Anísia de Paulo Figueiredo1

1 INTRODUÇÃO

O Fórum Nacional Permanente de Ensino Religioso (FONAPER) constituiuma das principais organizações de influência sobre o Ensino Religioso (ER)no Brasil.

Foi criado aos 26 de setembro de 1995, em Florianópolis/SC, durantea 29ª Assembleia Ordinária do CIER (Conselho de Igrejas para a EducaçãoReligiosa de Santa Catarina)2, que celebrava 25 anos de existência.

A partir de então, o Fórum pretendeu ser um espaço aberto à discussãodos interessados em compreender o papel do ER no ambiente escolar, quercomo disciplina, quer com área de conhecimento. Nessa condição, pretendeuorganizar e animar o movimento de educadores e educadoras em busca decaminhos para a compreensão, organização e prática do ER como componente

1 Autora de dezenas de títulos conhecidos no meio educacional, publicados pelas editoras Vozes, FTD eoutras, incluindo Universidades. Possui Tese de Doutorado publicada pelo Departamento de Filosofia I –Metafísica e Teoria do Conhecimento, da Universidade Complutense de Madrid, ISBN: 978-84-669-3111-3. Registro MEC- UFJF, nº 2185, no Livro PG-06, Folha 93, de acordo com o disposto no artigo 48, § 1º, daLei n° 9.394 de 1996. Pedagoga, Mestra em Ciências da Religião e Doutora em Filosofia. Atuou na formaçãode Professores, em MG e nos Estados de SP, SC, RS, RN, PI, BA, MS, AL, PR, RJ. Exerce funções de assessoriae consultoria em assuntos educacionais em entidades religiosas, normativas e educacionais, em âmbitoda educação básica e ensino superior, nas redes oficial e particular de ensino. Pesquisadora nas áreas deEducação e Políticas Públicas; História e Antropologia Filosófica.2 A abertura do evento foi realizada por Dom Gregório Warmeling, presidente de referida instituição. Naoportunidade, foram apresentadas as 15 unidades da federação representadas por 42 entidadeseducacionais e religiosas com seus respectivos professores. Foi constituída a Comissão de Trabalho paraelaborar a Carta de Princípios: Álvaro Sebastião Teixeira Ribeiro (DF), Maria Augusta Sousa (RN), ÂngelaMaria Ribeiro Holanda (AL), Maria Neusa C. Vasconcelos (RO), Pe. Luiz Alves de Lima (SP), MariaVasconcelos de Paula Gomes (MG), Vilma Maria G. Selhorst (MS), Risoleta Moreira Boscardim (PR), VicenteEgon Bohne (RJ), Werena Wittmam (AM), Carmem Isabel Carlos Silva (PB), Arabela Eunice Martins MaiaMachado (PI), Pe. Rui Cavalcante Barbosa (TO), Leonardo A. Semeria Maurente (RS), Raul Wagner (SC),Carmencita Seffrin (RJ), Valdemar Hostin (RJ) e Lizete Carmem Viesser (PR). Informações, segundo o sitedo FONAPER. Disponível em: <www.fonaper.com.br>. Acesso em: 25 ago. 2003.

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curricular do sistema público de ensino. A concepção de tal Fórum vinha sendogestada durante os Encontros Nacionais de Ensino Religioso promovidos pelaCNBB (ENERs), tendo como ideia inicial a de uma Associação Nacional deProfessores de ER, animada pelos próprios educadores e educadoras.

Um dos incentivadores da ideia foi o responsável pelo ER na CNBB,Dom Aloysio Leal Penna. No entanto, antes dele, já no 8º Encontro Nacionalde Ensino Religioso (8º ENER), realizado em Petrópolis/RJ, de 20 a 24 de agostode 1990, sob a direção de Dom Frei Vital João G. Wilderinnk, bispo de Itaguaí/RJ, assessorado pelo Pe. Juventino Kestering, Inês Broshuis e o Grupo Nacionalde Reflexão sobre o ER (GRERE). Naquele momento, o assessor do referidoENER, Frei Vicente Bohne, Reitor da Universidade São Francisco, haviamanifestado sua intenção em se buscar um caminho novo para o ER no Brasil,à luz dos marcos antropológico, teológico, social e pedagógico, com maiorparticipação dos educadores organizados em associação.

Não foi sem motivos que o FONAPER reuniria, dali a cinco anoseducadores e educadoras, bem como entidades interessadas na reflexãocontinuada sobre o ER. Suas realizações como Fórum, com ampla participação,estariam voltadas para o seu papel numa sociedade marcada por fatoressocioeconômico-político-culturais em que a diversidade ocupava um lugarsignificativo. Essa sociedade, enquanto sujeito e protagonista da EducaçãoReligiosa no universo escolar, convivia desde o início com inúmeros desafiospara a sua operacionalização como Área de Conhecimento, nos termos daResolução CNE/CEB nº 02/98.

2 O FONAPER NO CONTEXTO DE NOVOS PROJETOS EDUCACIONAIS

Iniciando suas atividades em 1995, o FONAPER chega como novo espaçode discussão e de liderança das ações mais recentes em torno da regulamen-tação e implantação do ER no Brasil, orientado por um paradigma que visavaà sua compreensão e maior integração no espaço escolar.

A proposta do FONAPER buscava a configuração do Ensino Religiosocomo disciplina na escola do sistema público, tendo como um de seusprincipais elementos “um ensino a partir do fato religioso”. Já na introduçãodos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) do Ensino Religioso aparece oanúncio do Capítulo II, a dedicar-se ao “fenômeno religioso como a busca

Pozzer, Cecchetti, Oliveira e Klein (orgs.) | 21

pelo sentido da vida além morte” durante a qual a “humanidade formulaquatro respostas possíveis”, que, “em função delas, propõem-se os pressupos-tos para a organização e seleção dos conteúdos para o Ensino Religioso naEscola, com eixos organizadores”. Acrescenta, ainda, que o mesmo capítuloesteja voltado para “o tratamento didático e os pressupostos para avaliação”.Conferindo a caracterização do ER no referido capítulo, temos a seguintedefinição:

O fenômeno religioso é a busca do Ser frente a ameaçado Não-Ser. Basicamente a humanidade ensaiou quatrorespostas possíveis como norteadoras do sentido da vidaalém da morte: a Ressurreição, a Reencarnação, oAncestral, o Nada. Cada uma dessas respostas organiza-se num sistema de pensamento próprio, obedecendouma estrutura comum. E que é dessa estrutura comumque são retirados os critérios para a organização e seleçãodos conteúdos e objetivos do Ensino Religioso.(FONAPER, 1997, p. 32)

Com base em blocos norteadores, os eixos organizadores do conteúdoencaminham inicialmente para o estudo do fenômeno religioso.

O Caderno Temático nº 2, organizado e publicado pela Comissão deFormação de Professores do mesmo Fórum, leva em conta o primeiro eixode tais Parâmetros. Destaca o pensamento do filósofo Enrique D. Dussel, entreoutros estudiosos, como sendo aquele que melhor explica a linha de opçõesassumidas pelo Grupo, conduzindo a reflexão sobre tal proposta do FONAPERe alguns dos aspectos filosóficos e metodológicos diante da realidadesociocultural da América Latina (FONAPER, 2001).

Nos primeiros momentos de sua existência, o FONAPER assumiu a tarefada elaboração dos Parâmetros Curriculares Nacionais para o ER (PCNERs),em caráter de emergência3. Tais parâmetros passaram a oferecer respaldo amuitas instituições escolares na elaboração de propostas curriculares de ER.Figurou como texto provisório, pois não houve empenho dos setores

3 O Fórum Nacional Permanente de Ensino Religioso, em sessão realizada de 24 a 26 de março de 1996,em Brasília/DF, apresenta a necessidade de ser instituída uma Comissão encarregada da elaboração dosParâmetros Curriculares de ER, em regime de urgência, para suprimir a ausência das orientaçõesadequadas à referida disciplina. Essa Comissão foi composta inicialmente por alguns assessores indicadospela Coordenação do FONAPER, para a elaboração de textos fundamentais a partir dos eixos temáticos

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governamentais em incluí-lo no conjunto dos PCNs oficiais do MEC, divulgadosem 1998, para todos os educadores do país, acompanhados de carta doPresidente da República, encaminhando os mesmos aos destinatários.

Na época não houve iniciativas por parte do MEC para incentivar oufazer cumprir as sugestões do FONAPER, de forma paralela ou integrada,durante a utilização dos PCNs elaborados pelo Grupo de Trabalho do Ministérioda Educação e divulgados pelo Presidente da República.

É possível perceber, desta forma, que a disciplina ER continuou rece-bendo um tratamento distinto do conjunto das políticas educacionais brasi-leiras em geral. Diante de tal fato, o referido Fórum deu início a um discursoque, intencionalmente, enfatizava a necessidade de renovação na maneirade pensar e conduzir o ER no Brasil, mediante a busca de novo paradigmapara a disciplina. As iniciativas que melhor poderiam favorecer, inicialmente,o tratamento adequado ao ER como componente curricular seriam: a elabo-ração de Diretrizes Curriculares Nacionais para a referida área e a formaçãode professores através de Cursos de Licenciatura de Graduação Plena comHabilitação em Ensino Religioso4.

Dessa forma, foram introduzidos alguns conceitos que encaminharamas novas concepções sobre objeto da disciplina, os quais provocaram a

estabelecidos na reunião do dia 19 de junho de 1996, em São Paulo/SP. Somente na segunda sessão doreferido Fórum, acontecida em Brasília/DF, de 17 a 19 de agosto do mesmo ano, após o 11º EncontroNacional de ER (11º ENER), promovido pela CNBB, foi revista a primeira redação dos ParâmetrosCurriculares de ER, com a participação de 75 pessoas. A redação final foi concluída em Belo Horizonte/MG, em 28 e 29 de outubro do mesmo ano, para acrescentar as sugestões remetidas pelos diversosEstados ou Regiões Brasileiras, segundo os prazos marcados até a finalização deste trabalho, aprovaçãoe encaminhamento às Secretarias Estaduais de Educação. A conclusão da redação do texto esteve sob aresponsabilidade da Comissão de Currículo e da Coordenação do FONAPER que, em 29 de outubro aentrega aos membros do Conselho de Secretários de Estado da Educação (CONSED), reunidos em OuroPreto/MG. O Grupo de redação final do referido documento pensava que este, uma vez encaminhadoaos setores do Governo por meio dos referidos Secretários, chegariam a adquirir força no Ministério daEducação, ainda em 1996, com o objetivo de ser assumido e aprovado, até a publicação, no mesmoprazo dos PCNs das demais disciplinas, já elaborados pelo Grupo de Trabalho do MEC. Em 5 de novembro,os Parâmetros Curriculares de ER foram também encaminhados ao MEC. Depois de analisados, foiconstatada a natureza do ER como disciplina, porém não como tema transversal como poderiam suporou sugerir muitos setores da Educação (WAGNER, 1996).4 O ano de 2003 foi marcado por acontecimentos que promoveram a mudança do que vinha sendotrabalhado a passos lentos até o ano 2002. O 4º Seminário de Capacitação Docente realizado pelo FONAPERfigurava entre eles. Entraram na pauta das discussões questões fundamentais para a elaboração dasDiretrizes Curriculares Nacionais de Ensino Religioso que tiveram por motivação os Cursos de Licenciaturade Graduação Plena com Habilitação em Ensino Religioso. Havia em diversos Estados tentativas parasolucionar a questão, através do Governo, garantindo os cursos existentes e aqueles em processo delegalização.

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descontinuidade dos conceitos epistemológicos que até então vigoravamcomo suporte de sua prática para concretizar a interrupção das ideiastradicionais sobre o ER. A intenção de apresentar novos elementos queintegrassem o ER ao sistema escolar, com a normalidade das demais disci-plinas, convivia com o imaginário coletivo de que esse componente curricularcontinuava a depender do sistema religioso em algumas regiões do país. Dessaforma, verificou-se a continuidade do habitual tratamento dado ao ER comoelemento do sistema religioso. Ao mesmo tempo, buscava-se a sua compreen-são como elemento do sistema escolar – com novo paradigma fundamentadonos aspectos essenciais da fenomenologia – de modo que recebesse umtratamento que não o discriminasse como algo de dentro e, ao mesmo tempo,de fora do sistema escolar. O desafio para que fosse entendido e assumidocomo elemento do sistema escolar permanecia com base no dispositivo daprópria Constituição Federal, na intenção de salvaguardar o princípio daliberdade religiosa garantido pelo artigo 5º da mesma Carta Magna. Segarantido como ensino da religião, deve ser facultativo.

Convém recordar que os membros integrantes da equipe deorganização, instalação e coordenação do FONAPER sempre foram, em suamaioria, procedentes de grupos vinculados a Igrejas Cristãs e, em especial,da Igreja Católica. De tal fato explica a razão de a liderança do mesmo Fórumser exercida, em alguns momentos, por pessoas integradas à assessoria daCNBB e, ao mesmo tempo, à coordenação do referido Fórum, procurandoassim manter um discurso que traduzisse o pensamento das duas instituições.No interior de ambas as Entidades, CNBB e FONAPER, os mesmos atores sociaiscolocavam-se diante da dificuldade em defender a posição de ambas eacabavam por optar pelas próprias ideias. Seja por sua prática em sala deaula como professores, ou por concepções filosóficas de educação na redepública de ensino. Porém, os aspectos do discurso mantenedor das ideiasfortalecidas por decurso de tempo e pela continuidade de uma mentalidadesecular sempre tiveram raízes profundas. Dessa realidade surgem dificuldadespara a proposição e concretização da mudança de paradigma para o ER.

Em tais circunstâncias surgem, como em outras épocas, intelectuaisque compõem uma corrente de concepções opostas à maneira de concebere interpretar o princípio da laicidade do Estado e o direito à liberdade religiosado cidadão, em se tratando do ER em escola pública. Para tal corrente queprocede de outros setores da sociedade, com pensamento bem diverso dos

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vinculados às instituições religiosas, o ER é algo exterior ao sistema escolar,isto é, concebido como componente que faz parte do sistema religioso. Deveser mantido, portanto, pelas instituições religiosas não pelos cofres públicos.

Entre as várias posições alimentadoras do discurso sobre o referidoassunto, esta corrente conserva o antigo vício de raiz de muitos setores dasociedade brasileira. Os mesmos o concebem como ensino de religiãoespecífica, eximindo-o de sua função de disciplina do currículo escolar, inseridaem um conjunto de outras disciplinas, interagindo em um ambiente aberto atodos os cidadãos e cidadãs, com organização, infraestrutura, metodologiase finalidade própria da educação escolar.

2.1 Durante o ressurgimento do discurso dos intelectuais sobre o ER, oFONAPER dá os seus primeiros passos

Em meio às discussões e iniciativas da CNBB – como órgão com maiortempo e espaço de atuação – e da retomada da discussão dos atores sociaise políticos a favor e contra o ER na rede oficial de ensino, surge o FONAPER.Convém lembrar que a nova LDB está em fase de finalização e a caminho desua sanção.

De início, o mesmo Fórum estabelece metas prioritárias de atuação,começando pela divulgação de suas ideias e propostas para a mudança deparadigma do ER. Em curto período de atuação, em comparação ao da CNBB,surgem os mais diversificados tipos de discursos procedentes de intelectuaisque tomaram posição sobre as ações do governo e das entidades religiosas,principalmente buscando sua regulamentação em face do processo deelaboração da nova LDB nº 9.394/96.

A construção e a divulgação do discurso de representantes dos setoresanteriormente referidos, principalmente da CNBB, como órgão politicamentemais potente em relação aos demais, suscitam o reaquecimento dos debatesde intelectuais que formaram um terceiro grupo. Tal grupo, com característicaspeculiares e vinculados a outras instituições, provocou, consequentemente,a formação de núcleos de resistência com os quais o FONAPER buscou manterum diálogo para que se encaminhasse a matéria através de consenso entreas instituições e educadores do Brasil. Entre negociações, o diálogo foiintensificado. Daí resultou o artigo 33 da LDB que, poucas horas antes de suasanção, foi alterado com emenda “sem ônus para os cofres públicos”. O ER

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foi remetido novamente para fora do ambiente escolar, ou seja, figurava comoelemento do sistema religioso, ato explicado pela concepção de liberdadereligiosa e laicidade do Estado, segundo o pensamento francês.

2.2 Primeiro tempo de atuação do FONAPER: 1996 a 2004

Há de se considerar os oito anos de atuação do FONAPER como sendoo período das discussões e da busca de compreensão e implantação do ER noBrasil. No presente texto, enfatizamos tal período que corresponde ao debatesobre a sua condição de disciplina absorvida e ampliada pela EducaçãoReligiosa como área de conhecimento. Resume, em parte, o esforço feito emtal período na busca de solução para a problemática epistemológica instaladaem torno de referida disciplina.

O debate começa no momento da discussão empreendida durante aelaboração da LDB, sancionada em 20 de dezembro de 1996 e da alteraçãodo artigo 33 pela nova redação dada pela Lei nº 9.475/97.

Coincide também com a criação da Diálogo – Revista de ER – EdiçõesPaulinas – e a publicação da Coleção Série Fundamentos, pela Editora Vozes,composta por alguns títulos sobre o ER, para promover a reflexão sobre oassunto nos meios acadêmicos e em grupos de professores, organizados emdistintos setores de coordenação ou acompanhamento dos estudos sobre oER. Pouco mais adiante, isto é, ao final dos anos 1990 e início do ano 2000,prolongando-se, aproximadamente, até 2004, surgem do norte ao sul dopaís os primeiros Cursos de Licenciatura - Graduação Plena – com Habilitaçãoem ER e de Pós-Graduação (lato sensu); este último em maior escala, para aespecialização de Professores de ER.

A revista Diálogo5 foi criada por incentivo da CNBB, de modo especialem atendimento a Dom Aloysio Leal Penna, bispo responsável pelo Setor deEducação e ER na referida instituição, no mesmo dia em que foi lançada aideia do FONAPER. O anúncio da ideia foi apresentado pelo Senhor WaldemarHostin, editor de Catequese e Ensino Religioso na Editora Vozes durante areunião do GRERE, em abril de 1995, no Colégio São Luiz, em São Paulo,coordenada por Dom Aloysio Leal Penna, assessorado por Ir. Dilza Maria

5 Diálogo – Revista de Ensino Religioso. Revista temática, assumida por Edições Paulinas, que, em 2010,completa também 15 anos de circulação em todo o Brasil. Disponível em: <www.paulinas.org.br>.

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Moreira, do Setor de Educação da CNBB e membros do GRERE. Ao mesmotempo, confirmou ser intenção do Diretor da Editora Vozes, Frei Vicente V. E.Bohne, envidar esforços para apoiar o referido Fórum.

O FONAPER contou também com o apoio da CNBB durante o 11ºEncontro Nacional de Ensino Religioso (11º ENER), realizado em junho de1996, em Brasília, ocasião propícia para que o mesmo envolvesse oseducadores de todo o Brasil, presentes no evento. Em tal momento, asnegociações para a elaboração dos PCNERs tiveram início com a visita aoMEC de um grupo de professores representantes do referido Fórum, poistanto os participantes do ENER-CNBB como os membros do FONAPER haviampercebido a omissão por parte do Sr. Presidente da República ao organizar oGrupo de Trabalho para a elaboração dos PCNs para o Ensino Fundamental,sem constar o Ensino Religioso.

3 O FONAPER NA TRANSIÇÃO DO DISCURSO SOBRE O ENSINO RELIGIOSONO BRASIL

Como instituição aberta ao diálogo sobre a ER com os diferentes setoresde interesse, o FONAPER promoveu variados eventos para incentivar eacompanhar o debate nacional. Nessa mesma linha, tomou outras iniciativas,tais como a produção de subsídios, promoção de cursos, seminários econgressos para a atualização e animação de educadores que se dedicam aoER em todo o país.

Segundo Caron, o FONAPER, no ano 2000, contava aproximadamentecom 700 professores e mais de 60 entidades associadas. Acrescenta:

Durante a sua trajetória selecionou prioridades eorganizou Comissões de Trabalho. Sua maior atuação sedeu na elaboração dos Parâmetros Curriculares Nacionaisde Ensino Religioso (PCNER). […] Outra tarefa prioritáriafoi a elaboração de Propostas Curriculares para Cursosde Aperfeiçoamento em Ensino Religioso (120 horas),pós-graduação (360 horas) e de graduação para aformação dos profissionais de ER. (CARON, 2000, p. 45)

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Os associados e associadas receberam um comunicado, através doOfício 0201 144, de 8 de janeiro de 2001, expedido pela Secretária MirianRosa Mendes, apresentando as seguintes Comissões de Trabalho: Comissãode Capacitação Docente; Comissões dos Sistemas Estaduais; Comissões dosSistemas Municipais; Comissões de Articulação Religiosa e Comissão Editorial.

Antes dessa nova distribuição de tarefas, outras já haviam sido feitaspor meio de Comissões, em caráter emergencial, para os sucessivos momentosda organização dos trabalhos que precederam ou decorreram das atividadesprincipais do FONAPER.

Depois de dez anos de existência, o FONAPER havia estabelecido umnovo marco divisor das reflexões sobre o ER no Brasil. Até então tais reflexõeseram conduzidas pela CNBB como instituição melhor organizada, respeitadae interessada por todas as ações e subsídios elaborados e divulgados pelacorrente dos favoráveis e interessados na regulamentação e prática do ERcomo componente curricular.

3.1 Iniciativas do FONAPER ante o novo paradigma para o ER

A mudança de paradigma para o ER no Brasil se deu efetivamente coma sanção da Lei nº 9.475/97, que deu nova redação ao artigo 33 da LDB, e asua implantação nas respectivas Unidades da Federação de acordo com onovo enunciado de referida Lei. Continua Caron (2000, p. 45), “Outra atividadeintensa do FONAPER foi o Trabalho durante a tramitação da nova Lei, junto àCâmara, Senado Federal e o MEC, para a implantação e implementação daLei sobre a ER e a organização da Entidade Civil”.

“A Entidade Civil, constituída por diferentes denominações religiosas, seráouvida pelos respectivos sistemas de ensino para a definição dos conteúdos deER”. Essa cláusula constitui o § 2º da Lei nº 9.475/97. Não obstante, a referida Leinão esclarece o que se há de entender por “denominação religiosa”. Por outrolado, não exclui nenhuma delas, sejam religiões, espiritualidades, movimentos,grupos, filosofias de vida, instituições, tradições religiosas e outras que integrama uma sociedade pluralista, como é o caso do Brasil. Consequentemente, os ór-gãos legislativos não emitiram nenhum parecer sobre a matéria. Diante dessasituação, o FONAPER abriu espaço para discussões que se dirigiram, inicialmente,à compreensão do papel e de organização da entidade civil com personalidadejurídica, segundo as exigências da referida Lei.

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3.2 Aspectos do discurso do FONAPER a caminho de sua identidade

A formação discursiva do referido Fórum começou com a Carta dePrincípios, elaborada e divulgada quando da instalação da referida Entidade(cf. Anexo 1). Em seguida, na mesma data, a “Carta Aberta” foi elaboradapelo grupo de Trabalho instituído na respectiva sessão e divulgada por todoo país (cf. Anexo 2).

A intenção do FONAPER foi explicitada no artigo 3º dos seus Estatutos,a saber:

Consultar, refletir, propor, deliberar e encaminharassuntos pertinentes ao Ensino Religioso – ER, com vistasàs seguintes finalidades:I- exigir que a escola seja qual for sua natureza, ofereçao ER ao educando, em todos os níveis de escolaridade,respeitando as diversidades de pensamento e opçãoreligiosa e cultural do educando, vedada discriminaçãode qualquer natureza;II- contribuir para que o pedagógico esteja centrado noatendimento ao direito de ter garantida a educação desua busca do Transcendente;III- subsidiar o Estado na definição do conteúdoprogramático do ER, integrante e integrado às propostaspedagógicas;IV- contribuir para que o ER expresse uma vivência éticapautada pelo respeito à dignidade humana;V- reivindicar investimento real na qualificação ehabilitação de profissionais para o ER, preservando eampliando as conquistas de todo magistério, bem comoa garantia das necessárias condições de trabalho eaperfeiçoamento;VI- promover o respeito e a observância da ética, da paz,da cidadania, dos direitos humanos, da democracia e dosoutros valores universais;VII- realizar estudos, pesquisas e divulgar informações econhecimentos na área do ER. (FONAPER, 2000)

A mudança de paradigma para o ER provém da concepção do objetoda disciplina, que abre perspectivas para diferentes interpretações. O

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FONAPER, em tal momento ainda encontrava-se em uma fase em que setornava necessário maior aprofundamento da matéria. Estudiosos interessa-dos no assunto muito iriam contribuir com pesquisas no campo da epistemo-logia e áreas afins, de modo a encaminhar a prática pedagógica em vista dafidelidade ao estabelecido no enunciado, anteriormente retomado, dospróprios Estatutos.

Contudo, não se discutiu com profundidade o que é um Fórum e sobrea sua principal característica: a abertura para os diferentes discursos,concepções e prática de uma área de conhecimento, o que muito ajudaria,principalmente nos primeiros anos de existência da entidade, a buscar, ainda,a sua identidade como tal. A preocupação maior se voltou para a configuraçãodo ER como disciplina, na condição de componente curricular, integrada emum conjunto de outras disciplinas. Porém, a partir de 1998, uma vez integradacomo área de conhecimento às Diretrizes Curriculares Nacionais para o EnsinoFundamental (Resolução CNE/CEB nº 2/98), designada como “EducaçãoReligiosa”, as reflexões puderam contar com novos argumentos.

3.3 O FONAPER cumpriu o seu papel a partir de sua própria proposta?

Ao completar 15 anos, uma instituição intitulada Fórum NacionalPermanente de Ensino Religioso teria um bom motivo para avaliar as suasações, a partir dessa retrospectiva, ou seja, do recorte dos primeiros temposde sua existência e atuação. E das perspectivas que lhe podem apontarcaminhos, em vista da continuidade, ou não, de um serviço de melhorqualidade oferecido à educação no Brasil.

Algumas questões são apresentadas a seguir no intuito de ajudar nessareflexão avaliativa, sem a pretensão de nenhum julgamento isolado, sobretudoconsiderando-se o pano de fundo diante do qual estampa a realidade brasileirado momento:

– Afinal, o que caracteriza um Fórum, considerando a sua definição,com fundamentos no conceito romano de Fórum e de concepções próximasao mesmo, de conotação grega, como as que orientaram as práticas dodiscurso na Ágora?

– O FONAPER manteve o espaço aberto a diferentes concepções epráticas de ER, com metodologias para um discurso participativo e demo-crático da sociedade brasileira, em seu conjunto, ou provocou resistências

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que deram origem a preconceitos sobre o ER no Brasil, por falta da garantiaou da administração competente de tal espaço?

– Os setores educacionais no Brasil estão convictos do papel do ER naescola, ou se torna necessária a retomada de um diálogo que leve em contao que se propõe nos PCNERs, item 1.2.2., versão novembro de 1996, p. 20,sob o título: “Tradição Religiosa e Cultura da Paz”?

4 PRIMEIRAS SESSÕES, SEMINÁRIOS, CONGRESSOS E CURSOS DO FONAPER

As atividades do FONAPER intensificam durante o acompanhamentodo processo de modificação do artigo 33 da LDB, que resultou na sanção epublicação da Lei nº 9.475/97. Tal fato teve como finalidade unir as forças doFONAPER com as de outras entidades favoráveis à regulamentação do ERcomo componente curricular. O texto da Carta do FONAPER, com data de 6de maio de 1997, inclui os enunciados do Projeto assumido pelo DeputadoPe. Roque Zimmermenn, os quais trazem os dispositivos da Lei nº 9.475/97.Os mesmos confirmam, além do mais, a persistência do FONAPER nasreivindicações para alteração do citado artigo 33 da Lei nº 9.394/96, que incluiuo ER sem ônus para os cofres públicos (cf. Anexo 3).

As 12 sessões do FONAPER, realizadas de 1996 a 2004, registram asincidências dos assuntos tratados durante aproximadamente dez anos decriação e atuação desta entidade. Foram iniciados pela estrutura e organizaçãodo referido Fórum e prosseguidos com as atividades de suas comissões detrabalho junto às instituições ensino e órgãos afins. Tais atividades se resumemnas seguintes ações: eventos nacionais e internacionais sobre ER; estudossobre a ER e educação; produção de textos com atenção aos recursosdidáticos; instrumentos de divulgação dos eventos e de notícias nacionais;acompanhamentos dos processos legislativos; elaboração de diretrizes paraa formação de professores de ER em diferentes níveis e modalidades;elaboração de propostas para os PCNERs da Educação Básica; preparação erealização de seminários e congressos nacionais de ER; registro da memóriadas realizações mais importantes do referido órgão. Ao mesmo tempo, todasas sessões trazem os registros de locais e respectivas datas.

Entre as formas mais significativas e de grande evidência do FONAPERpara a animação e aprofundamento dos temas relacionados com o ER estão

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os Seminários de Capacitação Docente em ER, bem como os CongressosNacionais de ER. Os cursos a distância, com o apoio da Rede Vida de Televisãoe TVE do Paraná, com 12 cadernos temáticos completados com nova coleçãopara a aplicação dos PCNERs, figuraram como uma das mais significativascontribuições para a formação inicial dos Professores de Ensino Religioso noBrasil.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Organização dos textos e notasremissivas. In: OLIVEIRA, Juarez de. Constituição da República Federativa do Brasil.São Paulo: Saraiva, 1988.

BRASIL. Lei nº 9.394 de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as Diretrizes e Bases daEducação Nacional. Brasília: Diário Oficial da União, 1996. Seção I.

BRASIL. Lei nº 9.475 de 22 de julho de 1997. Dá nova redação ao artigo 33 da Lei nº9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as Diretrizes e Bases da EducaçãoNacional. Brasília: Diário Oficial da União, 1997. Seção I.

BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Conselho Nacional de Educação.Câmara de Educação Básica. Resolução nº 02, de 7 de abril de 1998. Estabelece asDiretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental. Brasília: Diário Oficialda União, 1998. Seção I, p. 31.

BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Fundamental.Parâmetros Curriculares Nacionais: Introdução aos Parâmetros CurricularesNacionais. Brasília, 1998.

BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Conselho Nacional de Educação.Câmara de Educação Básica. Parecer CNE/CEB nº 4/98. Diretrizes CurricularesNacionais para o Ensino Fundamental. Aprovado em 29 de janeiro de 1998. Disponívelem: <http://portal.mec.gov.br/cne/arquivos/pdf/CEB0298.pdf>. Acesso em: 6 dez.2004.

CARON, Lurdes (org.) e Equipe do GRERE. O ensino religioso na nova LDB. Petrópolis:Vozes, 1998.

CARON, Lurdes (org.). Ensino religioso nos documentos da Igreja Católica ApostólicaRomana. Brasília: CNBB, Setor de Ensino Religioso, 2000.

FONAPER. Carta de comprovação do acompanhamento do FONAPER ao processo dealteração do art. 33 da LDB. Blumenau, 1997.

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_______. Parâmetros curriculares nacionais ensino religioso. São Paulo: Ave Maria,1997.

_______. Carta aberta da 1ª sessão. Florianópolis/SC: 26 de setembro de 1995.Disponível em: <www.fonaper.com.br>. Acesso em: 24 abr. 2004.

_______. Carta de princípios - elaborada e divulgada durante a instalação do FórumNacional Permanente do Ensino Religioso. Florianópolis/SC: 26 de setembro de 1995.Disponível em: <www.fonaper.com.br>. Acesso em: 24 abr. 2004.

_______. Ensino religioso: capacitação para um novo milênio. Cadernos nº 1 a 12.Cadernos de Estudos Integrantes do Curso de Extensão a distância. Brasília: [s/e],2000.

_______. Estatuto do Fórum Nacional Permanente de Ensino Religioso. Brasília:2000. Mimeo.

_______. Ensino religioso. Referencial Curricular para a Proposta Pedagógica daEscola. Caderno Temático nº 2. Brasília: [s/ed], 2001.

JUNQUEIRA, Sérgio Rogério Azevedo; WAGNER, Raul (orgs.). Ensino religioso no Brasil.Curitiba: Champagnat, 2004. Coleção Educação/Religião nº 5.

WAGNER, Raul. Sumário dos acontecimentos da primeira sessão do FONAPER.Brasília-DF, 26 mar. 1996 (mimeo).

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ANEXO 1CARTA DO FÓRUM NACIONAL PERMANENTE DO ENSINO RELIGIOSO

Considerando a memória histórica do Ensino Religioso no Brasil, que uneesforços de autoridades religiosas e educacionais, da família e da sociedade em geral,para sua efetivação na Escola;

• considerando o trabalho das diferentes organizações que acompanham oEnsino Religioso, em todo território nacional, na garantia de educação parao Transcendente;

• considerando o contexto sócio-cultural e pluralista que aponta mudançasde paradigmas;

Os signatários, representantes de entidades e organismos envolvidos com oEnsino Religioso no Brasil instalaram, no dia 26 de setembro de 1995, emFlorianópolis/SC, o Fórum Nacional Permanente do Ensino Religioso como:

• espaço pedagógico, centrado no atendimento ao direito do educando deter garantida a educação de sua busca do Transcendente;

• espaço aberto para refletir e propor encaminhamentos pertinentes aoEnsino Religioso, sem discriminação de qualquer natureza.

Esta “Carta de Princípios” contém o contrato moral que todo signatário desseFórum estabelece consigo mesmo e com seu comprometimento ético com a Educação,contrato que se projeta para além de compromissos jurídicos e institucionais:

1 – garantia que a Escola, seja qual for sua natureza, ofereça o Ensino Religiosoao educando, em todos os níveis de escolaridade, respeitando as diversidades depensamento e opção religiosa e cultural do educando;

2 – definição junto ao Estado do conteúdo programático do Ensino Religioso,integrante e integrado às propostas pedagógicas;

3 – contribuição para que o Ensino Religioso expresse uma vivência éticapautada pela dignidade humana;

4 – exigência de investimento real na qualificação e capacitação de profissionaispara o Ensino Religioso, preservando e ampliando as conquistas de todo magistério,bem como lhes garantindo condições de trabalho e aperfeiçoamento necessários.

Florianópolis, aos 25 anos do Conselho de Igrejas para Educação Religiosa(CIER)

Disponível em: <www.fonaper.com.br> Acesso em: 25 ago. 2003.

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ANEXO 2CARTA ABERTA DA 1ª SESSÃO

Os signatários, professores e coordenadores estaduais de Ensino Religioso,representantes de Igrejas, entidades e organismos ecumênicos envolvidos com oEnsino Religioso no Brasil, reunidos durante a 1a Sessão do FÓRUM NACIONALPERMANENTE DO ENSINO RELIGIOSO, em Brasília, nos dias 24 a 26 de março de1996, vem a público reafirmar as seguintes posições:

Que o Ensino Religioso, assegurado pelo art. 210, § 1º, da Constituição Federal,tenha o mesmo tratamento dispensado às demais disciplinas, o que implica em:

a. INCLUSÃO da proposta curricular do Ensino Religioso, nos ParâmetrosCurriculares Nacionais do MEC, como disciplina. Proposta esta ora emprocesso de elaboração coletiva pelos segmentos da sociedade quereivindicam este ensino;

b. QUALIFICAÇÃO RECONHECIDA pelo MEC para o exercício da função emEnsino Religioso, garantindo, assim, os dignos direitos do profissional;

c. ÔNUS para os cofres públicos na nova LDBEN, como investimento doEstado, salvaguardando o direito constitucional do cidadão a umaeducação integral para o exercício pleno da cidadania.

Reiteramos, também, a “Carta de Princípios” estabelecida durante a Instalaçãodeste Fórum, em Florianópolis/SC, aos 26 de setembro de 1995.

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ANEXO 3FÓRUM NACIONAL PERMANENTE DO ENSINO RELIGIOSO

Blumenau, 6 de maio de 1997Estamos informando a nossa posição frente alterações propostas para o Ensino

Religioso junto à Câmara dos Deputados em Brasília. Existem três projetos de lei:a) do Deputado Nelson Marchezan (RS) a partir da CNBB, cujo teor dá nova

redação ao art. 33 da LDB, retirando a expressão “sem ônus para os cofrespúblicos”;

b) do Presidente da República, encaminhado pelo Ministro da Educação apartir de um acordo com a CNBB, complementando o art. 33 da LDB como Ensino Ecumênico que seria sem ônus para o Estado;

c) do Deputado Maurício Requião (PR), a partir do texto elaborado pelo Fórum(que sofreu alteração). Este estamos a apoiar, pois desejamos transformaro Ensino Religioso, realmente, numa disciplina escolar.

Art. 1o – O art. 33 da Lei 9.394, de 20 de dezembro, passa avigorar com a seguinte redação:Art. 33. O ensino religioso é parte integrante da formaçãobásica do cidadão.§ 1o O Ensino Religioso, de matrícula facultativa, constituidisciplina dos horários normais da escola fundamental, vedadasquaisquer formas de doutrinação ou proselitismo.§ 2o – Assegurado o respeito à diversidade cultural brasileira,os conteúdos do ensino religioso serão definidos segundoparâmetros curriculares nacionais e de comum acordo com asdiferentes denominações religiosas ou suas entidadesrepresentativas.Art. 2o. Esta lei entra em vigor na data de sua publicação.Art. 3o. Revogam-se as disposições em contrário.

O relator já foi indicado, é o Deputado Padre Roque (PR), conhecedor doassunto quando atuante no Rio Grande do Sul.

Seria muito interessante remeter carta, via fax até 10 de maio do corrente, deagradecimento ao presidente da Comissão de Educação Deputado Severiano Alvescongratulando-o pelo encaminhamento dado ao Ensino Religioso e pela indicaçãodo relator (fone: (61) 318-5830 e fax: (61) 318-2830 e o fax da Comissão é (61) 318-2149), ao Deputado Maurício Requião agradecendo por ter encaminhado o projeto(fone: (61) 318-5635 e fax: (61) 318-2635) e ao Deputado Padre Roque, para que

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agilize o processo de redação (fone: (61) 318-5585 e fax: (61) 318-2585). Convide aoutros a fazerem o mesmo em seu Estado.

Na certeza de sua atenção, despeço-me cordialmente,

Raul WagnerSecretário do Fórum

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Capítulo II

Autores e sujeitos a mover oFONAPER

Maria Azimar Fernandes e Silva1

Maria José Torres Holmes2

1 MOMENTOS SIGNIFICATIVOS NA HISTÓRIA DO FONAPER: SUA CRIAÇÃO

Nos 15 anos de caminhada de Ensino Religioso no Estado da Paraíba,descobrimos o nascimento de um “bebê” chamado FONAPER, que surgiu deuma “união” de vários educadores, membro de diversas tradições religiosas,que compartilharam suas forças e não mediram esforços para que essenascituro chegasse com todo vigor e proclamasse toda sua independênciapara defender o ER. Isto se chama “amor à primeira vista”.

O FONAPER surgiu clamando por justiça. Um clamor de alegria que,aos poucos, transformou-se em fonte luminosa, para iluminar toda essatrajetória do ER em nosso país. Nesses primeiros passos, já foi levantando asua “bandeira de luta” por uma causa nobre, dando assim uma nova roupagemao ER que, durante cinco séculos, viveu sob a tutela de uma religião,monopolizado pela Igreja Católica. Este FÓRUM nasceu em um cantinho doBrasil, em Santa Catarina, no dia 26 de setembro de 1995.

[...] no Hotel Itaguaçu, juntamente com a vigésima nonaAssembléia Ordinária do Conselho de Igrejas para aEducação Religiosa (CIER) de Santa Catarina, que

1 Coordenadora de Ensino Religioso na SEEC/PB e presidente da Comissão Estadual de Ensino Religiosoda Paraíba. E-mail: [email protected] Mestranda e especialista em Ciências das Religiões pela UFPB; professora de Ensino Religioso do Estadoda Paraíba; assessora pedagógica e coordenadora do Ensino Religioso da Rede Municipal de Ensino deJoão Pessoa. E-mail: [email protected].

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comemorava seus vinte e cinco anos de existência. Aabertura foi feita por Dom Gregório Warmeling,Presidente do CIER; em seguida foram apresentadas asquarenta e duas entidades educacionais e religiosas e osprofessores, representando quinze unidades daFederação. (FONAPER, 1995)

Já na sua primeira infância, tornava-se forte e feliz, pois em cada lutasaía vencedor. Sua primeira atitude foi estabelecer-se enquanto instituiçãoe, em sua inquietude, sonhava com outros valores, novas oportunidades enovos lugares, desempenhando muito bem os seus objetivos, cujos primeirospassos foram logo reconhecendo a sua “marca”, pois veio para dar dignidadeao ER, sempre na esperança de situá-lo em seu verdadeiro lugar, junto aosdemais componentes curriculares, fazendo a diferença.

Nesse momento surgiu a ideia de buscar a sua “certidão de nascimento”,ou seja, oficializar a sua Carta de Princípios, que lhe daria poderes jurídicos einstitucionais e estabeleceria seu compromisso diante da sociedade brasileira,cuja responsabilidade era:

1 – Garantia de que a Escola, seja qual for sua natureza,ofereça Ensino Religioso ao educando, em todos os níveisde escolaridade, respeitando as diversidades depensamento e opção religiosa e cultural do educando;2 – Definição junto ao Estado do conteúdo programáticodo Ensino Religioso, integrante e integrado às propostaspedagógicas;3 – Contribuição para que o Ensino Religioso expressesua vivência ética pautada pela dignidade humana;4 – Exigência de investimento real na qualificação e nacapacitação de profissional para o Ensino Religioso,preservando e ampliando as conquistas, de todomagistério, bem como garantindo-lhes condições detrabalho e aperfeiçoamentos necessários. (FONAPER,1995)

Com a criação desse documento fortificava-se o encaminhamento dessecomponente curricular a todas as escolas públicas do Brasil, dando assimcobertura e mais confiança, estabelecendo um compromisso ético para coma educação associado ao apoio das 15 Unidades da Federação, ou seja: Distrito

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Federal, Rio Grande do Norte, Alagoas, Roraima, São Paulo, Minas Gerais,Mato Grosso do Sul, Rio de Janeiro, Amazonas, Paraíba, Piauí, Tocantins, RioGrande do Sul, Santa Catarina e Paraná. E assim ficou mais fácil de entenderqual a razão de ser do ER nas escolas.

Com esse “marco inicial” e o rápido caminhar do FÓRUM surgiu a ideiada criação de sua equipe interina no período de 1995-1996 que, com muitadisposição, sensibilizou outros educadores para se filiarem ao FONAPER. Valedestacar que entre os “pais” e as “mães” do FONAPER, assim os consideramos,estavam como coordenadora Lizete Carmen Viesser (Curitiba/PR); secretárioRaul Wagner (Blumenau/SC); tesoureiro Álvaro Sebastião Teixeira Ribeiro(Brasília/DF), e os vogais Lurdes Caron (Brasília/DF), Maria Augusta Souza(Natal/RN), Maria Vasconcelos de Paula Gomes (Belo Horizonte/MG) e VicenteVolker Egon Bohne (Petrópolis/RJ).

Com a elaboração e a edição dos Parâmetros Curriculares Nacionais(PCNs), o ER foi considerado pela equipe do MEC como tema transversal,enquanto eram incluídos os outros componentes na grade curricular deensino, sendo este excluído. Isso exigiu forte mobilização nacional, envolvendoos Estados da Federação e fortalecendo a luta do FONAPER junto ao governofederal, ao MEC e ao Conselho Nacional de Educação. Com isso, esse Fórumdeu início a uma acentuada campanha, na marcha por um ER enquantocomponente curricular. Foram realizadas intensas reuniões e a sua 3ª sessãoplenária, com o objetivo de integrá-lo na grade curricular, foi um forteacontecimento. Aderiram também a esse movimento, além de grande partedos Estados, as várias instituições religiosas bem como instituições de ensinoparticular e de ensino superior, tendo em vista a respeitabilidade do FONAPER.

2 A ARTICULAÇÃO DOS SUJEITOS/GRUPOS NA FORMULAÇÃO E NA DEFESADE OUTRA CONCEPÇÃO DE ENSINO RELIGIOSO

Nesse momento, o mesmo grupo de educadores se unia com o objetivode idealizar sobre como proceder e ampliar novos estudos de comosalvaguardar a identidade do ER tão sonhada por todos que atuavam nestaárea de ensino. Teriam de tomar uma posição para mudar a redação do art.33 da LDB, Lei n° 9.394/96, que mais uma vez deixava o ER “sendo oferecido,sem ônus para os cofres públicos, de acordo com as preferências manifestadas

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pelos alunos ou por seus responsáveis”, bem como “confessional einterconfessional”.

A partir daí, mais uma vez, foram à luta para reverter essa situação econseguiram novamente sair vitoriosos nessa caminhada; com suas atitudespositivas conseguiram a aprovação dos PCNER e, com isso, os educadoresesperaram a hora de se posicionarem em busca de reverter a situação pormeio de uma significativa mobilização em todo o território brasileiro.

Nessa luta recorreram à Câmara dos Deputados, em Brasília,produzindo, por meio do movimento de articulação política, no 1º semestrede 1997, três projetos sobre o ER, contendo propostas para substituir o art.33 da nova LDB (Lei n° 9.394/96). Os documentos eram, segundo Caron (1998,p. 24-25): o Projeto de Lei nº 2.757/97, do deputado Nelson Marchezan, quepretendeu alterar o art. 33 simplesmente retirando a expressão “sem ônuspara os cofres públicos”. Em seguida veio o Projeto do deputado MaurícioRequião, sob o nº 2.997/97, redigido da seguinte maneira:

Art. 33 – O ensino religioso é parte integrante daformação básica do cidadão.§ 1º – O ensino religioso, de matrícula facultativa,constitui disciplina dos horários normais da escolapública fundamental, vedadas quaisquer formas dedoutrinação ou proselitismo.§ 2º – Assegurado o respeito à diversidade culturalbrasileira, os conteúdos do ensino religioso serãodefinidos segundo os parâmetros curriculares nacionaise de comum acordo com as diferentes denominaçõesreligiosas ou suas entidades representativas.

E, por fim, o Projeto de nº 3.043/97:

De iniciativa do Poder Executivo – que após amplaconsulta aos Estados, via Secretaria de Estado daEducação, e a setores da sociedade em geral – tramitouem regime de urgência constitucional, nos termos do art.64, parágrafo 1º da Constituição Federal, acrescentandoa modalidade ER “ecumênico” às outras duas existentesno artigo 33 da LDB: “confessional e interconfessional”.A este tipo de ER, o “ecumênico”, no Parecer, conforme

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a Exposição de Motivos nº 78 de 12 de março de 1997,não se aplica o dispositivo “sem ônus para os cofrespúblicos”.

Diante da análise do relator, o deputado Padre Roque Zimmermann,depois de ouvir a comissão representativa do ER, isto é, todos os educadoresenvolvidos e os representantes do FONAPER, CNBB, CONIC e MEC, elaborouum substitutivo ao Projeto do deputado Nelson Marchezan, incluindo aspropostas dos demais projetos, o qual substituía toda a redação do art. 33 daLDB. Sendo votado pela Câmara dos Deputados no dia 17 de junho de 1997,decidido pela plenária com estimada aprovação de quase todas as liderançaspartidárias. Teve como relator o senador Joel de Hollanda, sendo aprovadopela maioria absoluta no plenário do Senado Federal, no dia 8 de julho de1997.

O novo texto da LDB alterou significativamente o art. 33 da Lei n° 9.394/96, incluindo o ER nos horários normais das escolas públicas de EnsinoFundamental pela Lei n° 9.475/97 que, com sua nova redação, deu um passosignificativo na história do ER no Brasil:

Art. 1º – O art. 33 da Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de1996, passa a vigorar com a seguinte redação:Art. 33 – O ensino religioso, de matrícula facultativa, éparte integrante da formação básica do cidadão econstitui disciplina dos horários normais das escolaspúblicas de ensino fundamental, assegurado o respeitoà diversidade cultural religiosa do Brasil, vedadasquaisquer formas de proselitismo.§ 1º – Os sistemas de ensino regulamentarão osprocedimentos para a definição dos conteúdos do ensinoreligioso e estabelecerão as normas para habilitação eadmissão dos professores.§ 2º – Os sistemas de ensino ouvirão entidade civil,constituída pelas diferentes denominações religiosas,para a definição dos conteúdos do ensino religioso.

Essa nova lei garante que as escolas ofereçam aos alunos o acesso aoconhecimento religioso, deixando claro que as formas institucionalizadas dereligião são competências das igrejas e crenças religiosas. Caron (1998, p. 31)

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afirma que “a nova redação consagra a responsabilidade dos sistemas deensino”, para direcionar os procedimentos que deverão ser tomados.

Esses “pais e mães” do “menino FONAPER”, cuidaram tão bem dessa“criança”, que deram autonomia para que pudesse caminhar com seuspróprios pés, pois se observa nessa bela história a sua firmeza e seu vigor. Eassim se estabeleceram em sua organização, a partir da realização de seustrabalhos pautados no compromisso com o Estado brasileiro, através de suaCarta de Princípios, com cinco importantes sessões de 1995 a 1998, incluindoa elaboração dos PCNER voltados para o currículo, para que este desse umnorte sobre as diretrizes do ER bem como o direcionamento de seusconteúdos.

Nesse período, de acordo com o site do FONAPER, foram realizadas:

Cinco Sessões Plenárias do FONAPER (Brasília/96; Brasília/96; Piracicaba/97 Brasília/97; Curitiba/98); três Seminárioscom as Instituições de Ensino Superior (São Paulo/97;Brasília/97; Curitiba/97); Mesa Redonda no Fórum dosConselhos Estaduais de Educação (Florianópolis/97);Reunião com a Secretaria de Educação Superior (Brasília/97); Workshop com as Instituições de Ensino Superior.(Curitiba/98); Construção dos Parâmetros CurricularesNacionais do Ensino Religioso; Consultorias e estudos daCoordenação.

Na sua segunda infância, sendo cuidado por esses educadores“guerreiros do bem”, o FONAPER foi crescendo, fazendo toda diferença comsuas produções de diversos documentos e escritos a respeito de um ER voltadopara o fenômeno religioso como objeto de estudo. Nesse sentido, o FONAPER(Caderno nº 4, 2000, p. 9) apresentou três exemplos de conceitos sobre ofenômeno religioso:

– O fenômeno religioso é um verdadeiro fenômeno hu-mano, que se traduz por atitudes e costumes caracterís-ticos, nos quais podemos observar tanto o “acontecimen-to” religioso quanto a sua significação religiosa; bastaconsiderar a sua manifestação mais típica, a “oração”;

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– O fenômeno religioso radica-se na própria naturezahumana, pelo que é possível, neste princípio de unidade,chegar a sua própria essência;

– O fenômeno religioso é decisivo para o comportamentohumano e para a estruturação da sociedade e, por isso,deve ter um “significado” próprio e profundo.

Isso comprova que, quanto mais se investiga, há de se convir queadentramos num mundo de mistérios para descobrir o sentido mais profundoda vida e da morte, bem como procurar por isso não só no presente, mas nopassado, e também no real e no imaginário. Por mais que recuemos, haverásempre indícios de cultos religiosos, a partir de toda uma simbologia e deritos inerentes às tradições religiosas. É por isso que muitas pessoasmergulham nesse mistério como uma fonte de conhecimento inesgotável.

De acordo com o FONAPER (Caderno 4, 2000, p. 10), uma questão muitoimportante é admitir como essenciais ao fenômeno religioso: “um conjuntode crenças e de práticas concernentes a uma realidade considerada objetiva,de algum modo pessoal, suprema, em relação à qual o homem professa umadependência e de quem espera favores e salvação”. Esse conjunto de práticastorna-se um fenômeno humano, onde as pessoas buscam chegar à essência,que transcende com um significado próprio e profundo.

Contudo, seria preciso cuidar também da formação dos docentes doER! E, a partir daí, o FONAPER pensou e tratou logo de estabelecer diretrizespara a capacitação docente, criando e organizando o documento DiretrizesCurriculares dos Cursos Superiores na área de Ensino Religioso, tematizandoa formação inicial, os cursos de especialização lato sensu e os cursos deextensão em Ensino Religioso.

3 O SIGNIFICADO DO FONAPER NA VOZ DOS SEUS ASSOCIADOS EPROFESSORES

Vale destacar que o FONAPER elaborou o significativo curso a distânciapara os professores intitulado: Ensino Religioso – Capacitação para um NovoMilênio, no ano 2000. Este curso, composto por 12 Cadernos, apresenta: 1–Ensino Religioso é Disciplina Integrante da Formação Básica do Cidadão;

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2– Ensino Religioso na Diversidade Cultural Religiosa do Brasil; 3– EnsinoReligioso e o Conhecimento Religioso; 4– O Fenômeno Religioso no EnsinoReligioso; 5– Ensino Religioso e o Fenômeno Religioso nas Tradições Religiosasde Matriz Indígena; 6– O Fenômeno Religioso Tradições Religiosas de MatrizOcidental; 7– O Fenômeno Religioso nas Tradições Religiosas de MatrizAfricana; 8– O Fenômeno Religioso nas Tradições Religiosas de Matriz Oriental;9– Ensino Religioso e o Ethos na Vida Cidadã; 10– Ensino Religioso e os seusParâmetros Curriculares Nacionais; 11– O Ensino Religioso na PropostaPedagógica da Escola; 12– O Ensino Religioso no Cotidiano da Sala de Aula.

Isso, para nós, educadores, foi muito importante, pois proporcionoumaior segurança em nossa prática em sala de aula, pois o “menino FONAPER”,nesse momento, além dos “pais e mães”, agora também tinha “padrinhos”que o dirigiam muito bem. Já entrava em nossa história, nas mãos de outrasequipes e grupos.

Para comemorar a sua “terceira infância”, já um “rapazinho”, com 10anos de vida e com certa experiência vivida, foi organizado, em 2005, emFlorianópolis/SC, o III Congresso Nacional de Ensino Religioso (V CONERE),onde foi lançado o livro Ensino Religioso: memórias e perspectivas.

Nós, educadores, sempre fomos convidados a participar dos eventosdo FONAPER, zelando e nos preocupando para que se realizassem nos váriosEstados brasileiros, assim como está sendo realizado neste ano (2010) o XISeminário Nacional de Formação de Professores de Ensino Religioso, na cidadede João Pessoa/PB.

Consideramos o trabalho do FONAPER como uma dinâmicaenriquecedora, cujo objetivo é organizar, acompanhar e subsidiar a práticados docentes de Ensino Religioso, possibilitando o conhecimento dadiversidade de tradições e culturas religiosas no campo da pesquisa.

Esse “rapazinho” cresceu e agora completa seus “15 anos”. Estamosem festa! Porque esse FÓRUM não completa aniversário sozinho, tambémpodemos dizer que a nossa caminhada começou juntamente com o FONAPER,onde seus “pais, mães e padrinhos” souberam conduzi-lo com muitapropriedade e sabedoria, dividindo conosco, educadores de Ensino Religioso,suas angústias, tristezas e alegrias.

Parabéns, FONAPER, pela sua gratuidade! Parabéns pelo teudinamismo! Embora muitos avanços tenham sido dados, temos a consciênciade que ainda temos muito caminho a percorrer. Nesses 15 anos precisamos

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ser mais persistentes enquanto educadores e, juntamente com o FONAPER,desenvolver uma política educacional desafiadora que é difundir o EnsinoReligioso com o compromisso igual ao que esses “pais, mães e padrinhos”assumiram até o presente momento, um Ensino Religioso que respeite adiversidade cultural religiosa do nosso país.

Nesses 15 anos queremos fortalecer o FONAPER, dando-lhe de presentemais associados para que possa ter mais sustentabilidade em seu caminhare, com isso, se fortaleça e também nos fortaleça. Graças ao FONAPERtrabalhamos defendendo uma postura reflexiva centrada em umaantropologia religiosa onde o fazer esteja voltado à prática do respeito e aodiálogo com as diferenças.

Parabéns, FONAPER! O presente quem ganha somos nós, educadores.

4 OS AUTORES E SUJEITOS A MOVER O PROCESSO E SUA IMPLEMENTAÇÃONOS ESTADOS

Nesses 15 anos de FONAPER queremos destacar quem são educadoresmaravilhosos que optaram por um trabalho voluntário, vestindo a camisa doER e hasteando a sua bandeira em solo brasileiro.

Não podemos deixar de citar as coordenações de ER nos Estadose municípios que também trabalham em prol dessa proposta.

1 Primeira Equipe de Coordenação (1996-2000) – Eleita na II Sessãodo FONAPER em Brasília/DF entre os dias 17 a 19 de agosto de 1996

Coordenadora: Lizete Carmen Viesser (Curitiba/PR)Secretário: Raul Wagner (Blumenau/SC)Tesoureiro: Álvaro Sebastião Teixeira Ribeiro (Brasília/DF)Vogais: Lurdes Caron (Brasília/DF); Maria Augusta Souza (Natal/RN);

Maria Vasconcelos de Paula Gomes (Belo Horizonte/MG); Vicente Volker EgonBohne (Petrópolis/RJ).

2 Segunda Equipe de Coordenação (2000-2002) – Eleita na VIII Sessãodo FONAPER no município da Serra/ES, no dia 21 de julho de 2000

Coordenador: Vicente Volker Egon Bohne (Brasília/DF)Secretária: Mirian de Fátima Quintino Rosa Mendes (Santos/SP)

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Tesoureira: Ângela Maria Ribeiro Holanda (Maceió/AL)Vogais: Rosa Gitana Krob Meneghetti (Piracicaba/SP); Lizete Carmen

Viesser (Curitiba/PR)Colegiado Fiscal: João Bosco Siqueira; Elzeni Fernandes Camargo; Maria

Azimar Fernandes e Silva.

3 Terceira Equipe de Coordenação (2002-2004) – Eleita na X Sessãodo FONAPER em São Paulo/SP no dia 9 de setembro de 2002

Coordenador: Sérgio Rogério Azevedo Junqueira (Curitiba/PR)Secretária: Lilian Blanck de Oliveira (Jaraguá do Sul/SC)Tesoureira: Ângela Maria Ribeiro Holanda (Maceió/AL)Vogais: Lurdes Caron (São Paulo/SP) e Nerva Gerbi Magrini de Lima

(São Paulo/SP)Colegiado Fiscal: Maria Azimar Fernandes da Silva (João Pessoa/PB); Cecília

Ostergren Cruz (Vila Velha/ES); Tompson Carlos Tredici (São Paulo/SP).

4 Quarta Equipe de Coordenação (2004-2006) – Eleita na XII Sessãodo FONAPER em São Paulo/SP no dia 25 de setembro de 2004

Coordenadora: Lurdes Caron (São Paulo/SP)Secretário: Sérgio Rogério Azevedo Junqueira (Curitiba/PR)Tesoureira: Simone Riske Koch (Blumenau/SC)Vogais: Luzia Maria de Oliveira Sena (São Paulo/SP) e Kleber Maciel

Rabelo (Belo Horizonte/MG)Conselho Fiscal: Dolores Henn Fontanive (Rio do Sul/SC); Nerva Gerbi

Magrini de Lima (São Paulo/SP); Francisca Helena Cunha Daneliczen (BalneárioCamboriú/SC)

5 Quinta Equipe de Coordenação (2006-2008) – Eleita na XIV Sessãodo FONAPER em São Paulo/SP no dia 3 de outubro de 2006

Coordenadora: Lilian Blanck de Oliveira (Balneário Camboriú/SC)Secretária: Simone Riske Koch (Blumenau/SC)Tesoureira: Ângela Maria Ribeiro Holanda (Maceió/AL)Vogais: Luzia Maria de Oliveira Sena (São Paulo/SP) e Rosa Gitana Grob

Meneghetti (Piracicaba/SP)Suplentes: Sylvio Fausto Gil (Curitiba/PR); Remí Klein (São Leopoldo/

RS); Maristela Wiltrudes Martins (Porto Velho/RO)

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Conselho Fiscal: Cecília Hess (Joinville/SC); Dolores Henn Fontanive (Riodo Sul/SC) e José Adilson Santos Antunes (Porto Alegre/RS)

Secretario Executivo: Sérgio Rogério Azevedo Junqueira (Curitiba/PR)

6 Sexta Equipe de Coordenação (2008-2010) – Eleita na XVI Sessão doFONAPER em Taguatinga/DF no dia 3 de novembro de 2008

Coordenador: Remí Klein (São Leopoldo/RS)Secretário: Elcio Cecchetti (Florianópolis/SC)Tesoureira: Lilian Blanck de Oliveira (Balneário Camboriú/SC)Vogais: Edivaldo José Bortoleto (Piracicaba/SP) – Maria Augusta de

Souza Torres (Natal/RN)Suplentes: Maristela Wiltrudes Martins (Porto Velho/RO) – Eninéia

Maria de Almeida (Barreiras/BA) – Darcy Cordeiro (Goiânia/GO)Conselho Fiscal: Angela Maria Ribeiro Holanda (Maceió/AL) – Marcos

Rodrigues da Silva (Florianópolis/SC) – Maria Azimar Fernandes e Silva (JoãoPessoa/PB)

Todos esses educadores que estiveram e ainda estão na Coordenaçãodo FONAPER, desde a fundação até nossos dias, juntamente com tantos outroscoordenadores espalhados pelo Brasil afora, através de um trabalhovoluntário, corajoso, conseguiram dialogar com o poder público, universidadespúblicas e privadas e com as várias lideranças religiosas deste país.

Hoje, o ER, contemplando “a diversidade cultural religiosa do Brasil”, évalorizado por uma significativa parcela da população brasileira. Esseseducadores profetizaram que um dia o Ensino Religioso alcançaria o statusde componente curricular, sem vínculo com as tradições e/ou movimentosreligiosas presentes na sociedade brasileira.

5 AS UNIVERSIDADES COMO SUJEITOS E PROTAGONISTAS DA CREDIBILIDADE

Na Paraíba, como em outros Estados do Brasil, empreendeu-se e vem-se empreendendo uma verdadeira batalha para o reconhecimento do ER comoárea do conhecimento. Nos sistemas públicos de educação, assim como naspróprias universidades, conta-se com ferrenhos opositores ao ER e às Ciências

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das Religiões. Percebe-se, no confronto de ideias com esses opositores, ototal desconhecimento do que seja esse componente curricular hoje.

Com o advento dos cursos de licenciaturas, pós-graduação, namodalidade de especialização, mestrado e doutorado em Ciência(s) da(s)Religião(ões) e outras áreas, percebe-se que o entendimento e a consequentecredibilidade vêm crescendo. Hoje, constitui motivo de reflexão o fato deuma universidade pública estar preocupada em pesquisar a respeito dofenômeno religioso.

Dessa forma, com a participação das universidades, no diálogo com opoder público, a sociedade e as lideranças religiosas caminham para oentendimento do papel do ER na escola.

Assim, as universidades têm dado grande contribuição e poderãocontribuir muito mais para o entendimento da nova concepção de ER. Nodecorrer dos 13 anos da promulgação da nova redação dada ao art. 33 daLDBEN (1997-2010), muitos movimentos ocorreram, em diferentes níveis einstâncias, nos campos epistemológico e pedagógico, em termos deamadurecimento da proposta expressa nos PCNER, mediante a abertura decursos de licenciatura em Ensino Religioso, no aumento da produção científicae eventos acadêmicos realizados em diferentes partes do Brasil. Somando-sea isso, os sistemas de ensino têm viabilizado uma soma de esforços, definindoe consolidando, de forma coletiva, os conteúdos para o ER; habilitando eestabelecendo normas para a admissão de seus professores, em consonânciacom os demais profissionais da Educação Básica.

Essas ações vão ao encontro do sonho do FONAPER, expresso naintrodução dos cadernos do Curso de Capacitação Docente, no ano 2000:

Estamos no terceiro milênio. Um futuro de afirmação dasdiferenças e de aprendermos a viver e vivermos doaprender com os outros a sua maneira pessoal de buscaro Transcendente. [...] O amor nossa causa comum. Oamor que nos faz indignar com as injustiças e que noscria solidários, sem perguntarmos a crença, com os quesofrem porque são humanos como nós [...]. Este é osegredo das religiões: podemos nos aposentar em tudo,a única coisa que nunca jamais nos aposentaremos é anossa capacidade de nos apaixonar por uma pessoa oupor uma causa. Disto temos testemunhas em todas as

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religiões. As doutrinas e as instituições nos dividem. Sóo amor nos une. É ele que nos salva. Mas nos salva emtodas as culturas e religiões.

E, para a concretização desse sonho, percebemos muitos mestres edoutores nas universidades do Brasil, apontando que, num futuro bempróximo, essa área do conhecimento terá a credibilidade tão necessária paracontribuir na formação básica do cidadão brasileiro.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases daeducação nacional. Brasília: Diário Oficial da União, 1996.

______. Lei nº 9.475, de 22 de julho de 1997. Dá nova redação ao art. 33 da Lei n°9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educaçãonacional. Brasília: Diário Oficial da União, 1997.

CARON, Lurdes (org.). O ensino religioso na nova LDB. Petrópolis: Vozes, 1998.

FONAPER. Fórum Nacional Permanente do Ensino Religioso. Parâmetros CurricularesNacionais do Ensino Religioso. 6. ed. São Paulo: Ave Maria, 1997.

______. Ensino religioso: capacitação para o novo milênio. Caderno nº 4. Curitiba,2000.

______. Ensino religioso: referencial curricular para a proposta pedagógica da escola.Caderno Temático, conforme artigo 33 LDBEN – PCNER – Diretrizes Curriculares parao Ensino Fundamental. Curitiba, 2001.

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Capítulo III

Parâmetros CurricularesNacionais do Ensino Religioso:O currículo do Ensino Religioso em debate

Ângela Maria Ribeiro Holanda1

Com o advento da LDB, Lei nº 9.394/96, no seu art. 33 inicia-se umamobilização nacional dos educadores que atuam no Ensino Religioso nosentido de efetivar este componente curricular como parte integrante daformação básica do cidadão, e, nesse sentido, surge a necessidade decaracterizá-lo, a priori, de forma pedagógica.

Historicamente é preciso conceber como se processou a ideia sobre osparâmetros curriculares, qual a função pedagógica e a lógica em que se discuteo currículo do ER, bem como os Parâmetros Curriculares Nacionais do EnsinoReligioso (PCNER) que estabelecem a integração e as diretrizes curricularespara esse ensino.

O ano de 1997 marcou esse cenário com a alteração do art. 33 da LDBnº 9.394/96, pela Lei nº 9.475/97, sendo o primeiro artigo a ser modificado e,também, a primeira lei a preconizar que esse ensino será ministrado“assegurando o respeito à diversidade cultural religiosa do Brasil, vedadasquaisquer formas de proselitismo”2.

Essa mudança remete a um novo olhar curricular do ensino, o qualdeverá pautar-se nos seguintes princípios: liberdade de aprender, ensinar,pesquisar e divulgar a cultura, o pensamento, a arte e o saber; pluralismo deideias e de concepções pedagógicas; e, ainda, respeito à liberdade e apreço àtolerância (art. 3º, LDB nº 9.394/96). Também o art. 26 da citada Lei faz

1 Pedagoga e especialista em ensino religioso. Atua como professora técnica pedagógica na Diretoria daEducação Infantil e Ensino Fundamental da Secretaria de Estado da Educação de Alagoas. Membro daCoordenação do FONAPER – gestão 2008-2010 e do Grupo de Pesquisa e Assessoria para o Ensino Religioso– CNBB (GRAPER). E-mail: [email protected] Proselitismo – atividade diligente em fazer prosélitos. Sectário, adepto, partidário.

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referência ao currículo escolar brasileiro, organizando a matriz curricular dabase nacional comum para que os sistemas de ensino garantam e valorizemas diferentes culturas e etnias para a formação do povo brasileiro.

Nesse sentido, vale destacar as Leis nº 10.639/03 e 11.645/08, quetornam obrigatórios o

[...] estudo da história da África e dos africanos, a lutados negros e dos povos indígenas no Brasil, a culturanegra e indígena brasileira; o negro e o índio na formaçãoda sociedade nacional, resgatando as suas contribuiçõesnas áreas social, econômica e política, pertinentes àhistória do Brasil.

Os aspectos mencionados serão ministrados no âmbito dos diversossistemas de ensino, orientando-os para garantir a implementação dasrespectivas diretrizes curriculares nacionais em todo o currículo escolar, desdea educação infantil até a educação superior.

Em 1998, o Conselho Nacional de Educação publicou as DiretrizesCurriculares Nacionais do Ensino Fundamental (Resolução nº 2/98). Nesseperíodo, o MEC publicou os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) paratodos os níveis e modalidades de ensino, dos quais o Ensino Religioso ficouexcluído do processo.

Diante do fato, o FONAPER construiu os Parâmetros CurricularesNacionais do Ensino Religioso (PCNER) buscando a elaboração de um currículoescolar para esta área de conhecimento. O processo se desenvolveu mediantea promoção de seminários nacionais, com temáticas que enfatizaram osfundamentos históricos, epistemológicos e didáticos desse componentecurricular, explicitando assim seu objeto de estudo e objetivo. O lançamentooficial do PCNER ocorreu na 4ª sessão do FONAPER, simultaneamente com oII Seminário de Capacitação Docente para o ER, em Brasília-DF, nos dias 4 a 7de agosto de 1997.

Nos PCNER estão os aspectos sobre currículo sistematizados em eixostemáticos; conteúdos que são constituídos a partir de bases conceituais,procedimentais e atitudinais; metodologia apresenta como se dá aoperacionalização do trabalho docente e a avaliação que se reporta aoprocesso ensino e aprendizagem de forma contínua, processual, formativa,cumulativa, somativa e final.

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O currículo proposto para o ER apresentado nos PCNER3 em eixostemáticos está organizado em blocos de conteúdos tais como: Culturas eTradições Religiosas (filosofia da tradição religiosa; história da tradiçãoreligiosa; sociologia da tradição religiosa; psicologia da tradição religiosa);Textos e Livros Sagrados: Orais e Escritos (revelação; história das narrativassagradas; contexto cultural; exegese); Teologias (divindades; verdades de fé;vida além da morte); Ritos (rituais; símbolos; espiritualidades); Ethos(alteridade; valores; limites).

Para o desenvolvimento desses conteúdos existem orientaçõespedagógicas para o processo ensino e aprendizagem com o aspecto didáticoe pressupostos para a avaliação em cada série/ano do ensino fundamental.Porém, a prática pedagógica só se efetiva quando se dá a compreensãoepistemológica do ER. Certamente a compreensão epistemológica sozinhanão dará resultado se não for associada com a relação sala de aula. Talvezseja necessária uma releitura dos PCNER para novas proposições curricularesfrente às políticas de Estado na educação no que se refere ao movimentocurricular dos sistemas e redes de ensino.

O núcleo em torno dos PCNER estabelece o desafio da construção deum currículo que responda às exigências legais para o ER: área doconhecimento fundamentada no respeito à diversidade cultural e religiosado Brasil, marcada pelas tradições religiosas de matriz africana, indígena,ocidental e oriental.

Os PCNER propõem um direcionamento às escolas brasileiras, a fim degarantir que, respeitadas as diversidades culturais, regionais, étnicas, religiosase políticas que atravessam uma sociedade múltipla, estratificada e complexa,a educação possa atuar, decisivamente, no processo e construção dacidadania, tendo como meta o ideal de uma crescente igualdade de direitosentre os cidadãos, baseada nos princípios democráticos.

Os parâmetros servem de apoio às discussões e ao desenvolvimentodo projeto educativo da escola, à reflexão sobre a prática pedagógica, aoplanejamento de aulas, à análise e seleção de materiais didáticos e de recursostecnológicos e, em especial, na formação e atualização profissional.

3 Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Religioso – fundamentos históricos, epistemológicos edidáticos do ER. Explicita o objeto de estudo, objetivos, eixos temáticos e tratamento didático. Documentoentregue ao MEC em outubro 1996 e ditado pela Editora Ave Maria em 1997.

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Assim, os PCNER são, na realidade, uma grande orientação, uma linhanorteadora para o trabalho do profissional em sala de aula, uma base nacionalcomum curricular e formativa para os docentes, que inclui, necessariamente,o estudo sobre a questão transcendental e o fenômeno religioso.

Na abordagem dos PCNER está explícito o currículo, ou seja, o que seensina; as aprendizagens básicas e as contribuições das áreas afins, como aantropologia, a psicologia, pedagogia, sociologia, ciências da religião eteologias e outras abordagens, como a busca permanente do sentido de vida;a superação da fragmentação das experiências e da realidade; o pluralismoreligioso e a compreensão do campo simbólico.

Portanto, os conteúdos apresentados em eixos temáticos apresentampossibilidades de um trabalho interdisciplinar articulado com outros saberesque se enquadram em três categorias, conteúdos conceituais os quaisenvolvem fatos e princípios e a capacidade para compreender os símbolos,imagens e representações; conteúdos procedimentais, expressam um saberfazer, que permitem aos alunos construir instrumentos de análise que, emúltima instância, serão um modo de pensar e de construção do conhecimento;conteúdos atitudinais expressam um saber ser na construção de suaidentidade permeado de conhecimentos dos valores da vida cidadã propostospelas DCN para o Ensino Fundamental os quais perpassam os conteúdos doEnsino Religioso.

Vale destacar que na produção dos PCN, Referenciais Curriculares eDCN pelo MEC estava expresso o dever de cumprir o art. 210 da ConstituiçãoFederal, que trata da necessidade e obrigatoriedade de elaborar diretrizes eparâmetros curriculares para a educação nacional.

Os arts. 9º, 224, 275 e 326 da LDB, Lei nº 9.394/96, referem-se aoestabelecimento de conteúdos curriculares com diretrizes que difundam osvalores fundamentais ao interesse social, aos direitos e deveres dos cidadãos,de respeito ao bem comum e à ordem democrática com o intuito de unificar

4 LDB. Art. 22 – A educação básica tem por finalidade desenvolver o educando, assegurando-lhe a formaçãocomum indispensável para o exercício da cidadania e fornecer-lhe meios para progredir no trabalho eem estudos posteriores.5 LDB. Art. 27 – Os conteúdos curriculares da educação básica observarão, ainda, as seguintes diretrizes:I. a difusão de valores fundamentais ao interesse social, aos direitos e deveres dos cidadãos, de respeitoao bem comum e à ordem democrática6 LDB. Art. 32 – O ensino fundamental, com duração de 9 anos, obrigatório e gratuito na escola pública,terá por objetivo a formação básica do cidadão, mediante:II. o desenvolvimento da capacidade de aprendizagem, tendo em vista a aquisição de conhecimentos ehabilidades e a formação de atitudes e valores.

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e garantir a educação nacional, uma parte diversificada para valorizar asdiferenças culturais regionais.

Esse movimento curricular é decorrente da década de 1990,materializado pela Constituição Federal de 1988 e pela LDB, Lei nº 9.394/96já mencionadas. Nesse período desejava-se consolidar a democracia e adescentralização do poder a partir da participação coletiva e da autonomiapara que todas as políticas públicas tivessem caráter de mudança.

Assim sendo, foi proposto aos sistemas de educação nacional amudança da concepção curricular e dos aspectos teórico-metodológicos paranortear a prática educativa brasileira frente às proposições da novaorganização curricular.

Com a publicação das DCN e dos PCN houve um redimensionamentopara o currículo escolar e, consequentemente, surgiu a necessidade daformação inicial e continuada dos professores para atender aos aspectosfi losóficos e pedagógicos determinados por esses documentos e acompreensão de como ocorreria a transposição didática dos mesmos.

Nesse sentido, os arts. 617 e 628 da LDB nº 9.394/96 estabelecem aformação de professores/docentes de modo a atender aos objetivos dosdiferentes níveis e modalidades de ensino e às características de cada fase dodesenvolvimento do educando com fundamentos que associam teoria eprática, inclusive mediante a capacitação em serviço e o aproveitamento daformação e experiências anteriores em instituições de ensino, devendo essaformação ocorrer em nível superior, em curso de graduação, de licenciaturaplena, em universidades e institutos superiores de educação.

O currículo para a formação de professores do ER, no que diz respeitoaos pressupostos para a formação básica do cidadão, requer conhecimentosde outras linguagens dentro da multiplicidade dos sistemas e tradiçõesreligiosas. O ER, valorizando o pluralismo e a diversidade cultural presentesna sociedade brasileira, facilita a compreensão das formas que exprimem atranscendência na superação da finitude humana e que determinam,subjacentemente, o processo histórico da humanidade. Por isso necessita:

7 LDBEN. Art. 61 A formação de profissionais da educação, de modo a atender aos objetivos dos deferentesníveis e modalidades de ensino e as características de cada fase do desenvolvimento do educando:I – a associação entre teorias e práticas, inclusive mediante a capacitação em serviço.II – aproveitamento da formação e experiências anteriores em instituições de ensino e outras atividades.8 LDBEN. Art. 62 a formação de docentes para atuar na educação básica far-se-á em nível superior emcurso de licenciatura plena, em universidades e institutos superiores de educação.

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• proporcionar o conhecimento dos elementos básicosque compõem o fenômeno religioso, a partir dasexperiências religiosas percebidas no contexto doeducando;• subsidiar o educando na formulação doquestionamento existencial, em profundidade, para darsua resposta devidamente informada;• analisar o papel das tradições religiosas na estruturaçãoe manutenção das diferentes culturas e manifestaçõessocioculturais;• facilitar a compreensão do significado das afirmaçõese verdades de fé das tradições religiosas;• refletir o sentido da atitude moral como conseqüênciado fenômeno religioso e expressão da consciência e daresposta pessoal e comunitária do ser humano;• possibilitar esclarecimentos sobre o direito a diferençana construção de estruturas religiosas que tem naliberdade o seu valor inalienável. (FONAPER, 2009, p. 47)

Com essa compreensão, a formação de professores para o ER tem sidouma constante discussão e mobilização nacional que culminou com aelaboração das Diretrizes Curriculares Nacionais de Formação de Professorespara o ER, elaboradas em 1998 pelo FONAPER em parceira com as instituiçõesde ensino superior e entregues ao MEC, no mesmo ano, e em anos posteriores.

Essas diretrizes determinam e traçam princípios fi losóficos epedagógicos que fundamentam a estruturação curricular da formação iniciale continuada que desenvolva nos docentes a capacidade de compreender apluralidade cultural e religiosa brasileira, sem proselitismo; comprometer-secom os princípios básicos da convivência social e cidadã, vivenciando a éticae a sensibilidade social e cultural frente à alteridade que permitam percebero ensino pela dimensão humana e social.

As Diretrizes Curriculares de Formação de Professores para o ERresultam dos seminários e congressos nacionais de capacitação docenterealizados pelo FONAPER ao longo desses 15 anos, que centralizaram asdiscussões nos encaminhamentos para a formação profissional e pelacompreensão do eixo epistemológico desse ensino divulgados pelos PCNER.

Dessa forma, as adequações dos cursos de licenciatura plenarespondem à demanda do grande número de professores que almejam um

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exercício pedagógico competente, qualitativo, contextualizado e inserido noprocesso educacional vigente, buscando superação dos desafios atuais nadocência deste ensino.

Fazer a memória dos PCNER é também rememorar as DiretrizesCurriculares Nacionais de Formação Docente para Professores do ER9 nosentido de recuperar as temáticas refletidas nos seminários e o efeito delasna implantação/implementação do currículo nos cursos de licenciaturas plenaem ER nas diferentes unidades da Federação.

A oferta de cursos de graduação na categoria de licenciatura plena parao ER é uma realidade constante e aparece no cenário da educação brasileiracom configurações variáveis a começar pela tipologia dos cursos. Percebe-setambém que são mantidas na matriz curricular dos cursos as proposiçõesdessas diretrizes. Porém, a ênfase epistemológica distancia-se em algumassituações do objeto de estudo, objetivo e prática pedagógica deste ensino.

Mesmo com as definições das DCN para o ER e dos PCNER há indagaçõesquanto ao currículo e o fazer pedagógico deste ensino. O dilema para suaefetivação remete as questões curriculares? Aos aspectos de naturezapedagógica? Aos de ordem institucional no que concerne à oferta de cursosde formação docente para esse ensino?

Isso posto há outras constatações quanto ao quadro de professoreslicenciados em ER ministrando o componente curricular e também deprofessores de áreas afins atuando nesta área. E os questionamentospersistem na concretização e institucionalização desse componente curricularnas questões que remetem à prática pedagógica e aos aspectos referentesao objeto de ensino e as aprendizagens básicas correspondentes ao ano/série desse componente curricular. E nesse cenário fica a constante indagaçãopara efetivação deste componente curricular: A problemática é de naturezacurricular, formativa ou das instituições de ensino superior? Ou esse tripé secomplementa?

O ano de 2010 é considerado o ano brasileiro do ER e, portanto, o anocelebrativo das iniciativas, das pesquisas, congressos, simpósios, seminários,teses, publicações que buscaram e buscam a estruturação curricular desseensino e seu status quo de componente curricular. São experiências louváveis

9 Diretrizes Curriculares Nacionais de Formação Docente para Professores do Ensino Religioso – documentotraz a proposta para as Diretrizes Curriculares dos Cursos Superiores na área de ER; Curso de Licenciaturaem ER e Especialização lato sensu em ER e marco referencial para a formação continuada em ER.

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e significativas do ponto de vista acadêmico, pedagógico e institucional. Aslegislações estaduais e municipais que o regulamentam enquantocomponente curricular a partir da Lei n° 9.475/97 é um dado significativo.Nem tudo está estruturado e situado de forma negativa. O próprio movimentonacional através do FONAPER vitaliza a ação pedagógica deste ensino e atuade forma política para estabelecer esse ensino pelo viés pedagógico e nãopelo religioso.

Portanto, é de conhecimento de todos que o acompanhamento naimplantação/implementação desse componente curricular nos sistemas deensino e das propostas dos cursos de licenciatura, é de competências dosConselhos Nacional, Estaduais e Municipais de Educação.

No entanto, mesmo com as legislações vigentes, com os PCNER, comas proposições das Diretrizes Curriculares Nacionais do Ensino Fundamental(Resolução CNE/CEB nº 2/98), com as novas Diretrizes Curriculares NacionaisGerais da Educação Básica (Resolução CNE/CEB nº 4/10), reconhecendo o ERcomo área de conhecimento ainda persiste o desconhecimento dessa áreade conhecimento. Observa-se esse fato em algumas Instituições de EnsinoSuperior (IES) e em alguns sistemas de ensino que não se reportam àsdeterminações legais estabelecidas nos citados documentos.

Embora a efetivação desse ensino esteja respaldada no contexto escolarpela legislação educacional, o ER está incluído e excluído ao mesmo tempo.Incluído como disciplina dos horários normais e área de conhecimento dasescolas públicas de educação básica; e excluído quando mencionado dematrícula facultativa tanto na Constituição Federal de 1988 como na Lei nº9.475/97.

Mesmo incluído e excluído, esse ensino se mantém como área deconhecimento e em diálogo permanente com as demais áreas deconhecimento, das quais recebe contribuições que enriquecem o seu fazerpedagógico. Através desse ensino, há encaminhamentos para compreendera busca do sentido da vida e de respostas aos questionamentos existenciaisinerentes à personalidade. Proporciona o conhecimento das razões einterrogações das respostas que as tradições religiosas procuram dar a taisperguntas, em cada etapa da vida.

Além disso, o encaminhamento para seleção e definição de professoresao quadro do magistério público para o exercício dessa disciplina ainda émuito diferenciado. Não há rigor acadêmico por parte dos sistemas de ensino

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e faltam políticas públicas para incrementar o número de professoreslicenciados em ER. A prerrogativa legal é de que a atuação na educação básicadeve se dar em nível superior, em cursos graduação, licenciatura plena, emuniversidades e institutos de ensino superior de educação.

A formação de professores deve estimular uma perspectiva crítico-refletiva, que subsidia aos professores meios para um pensamento autônomoque favoreça as dinâmicas de autoformação. Estar em formação implica uminvestimento pessoal com vistas à construção de uma identidade que étambém uma identidade profissional.

Por isso, a operacionalização da formação docente para professoresdo ER remete à estrutura curricular da proposta de cursos de licenciaturaapresentada pelas Diretrizes Curriculares de Formação Docente paraProfessores do ER e o tratamento atribuído a este ensino como área deconhecimento.

Recentemente, no período de 28 de março a 1° de abril de 2010, emBrasília/DF, a educação brasileira teve um espaço carregado de significadopolítico no campo dos avanços democráticos com a realização da ConferenciaNacional de Educação/CONAE, que buscava construir um Sistema NacionalArticulado de Educação e o Novo Plano Nacional de Educação (BRASIL, 2010).

No documento final da CONAE, estruturado em eixos temáticos, existeum espaço para o ER e a diversidade religiosa nos Eixos III10, IV11 e,especificamente, no Eixo VI,12 com as seguintes proposições:

a) Inserir, no Programa Nacional do Livro Didático, demaneira explícita, a orientação para introdução dadiversidade cultural-religiosa.b) Desenvolver e ampliar programas de formação iniciale continuada sobre diversidade cultural-religiosa,visando superar preconceitos, discriminação,assegurando que a escola seja um espaço pedagógicolaico para todos, de forma a garantir a compreensão daformação da identidade brasileira.c) Inserir os estudos de diversidade cultural-religiosa nocurrículo das licenciaturas.

10 Conae. Eixo III – Democratização do acesso, permanência e sucesso escolar.11 Conae. Eixo IV – Formação e valorização dos/das profissionais da educação.12 Conae. Eixo VI – Justiça Social, Educação e Trabalho: inclusão, diversidade e igualdade.

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d) Ampliar os editais voltados para pesquisa sobre aeducação da diversidade cultural-religiosa, dotando-osde financiamento.e) Garantir que o ensino público se paute na laicidade,sem privilegiar rituais típicos de dadas religiões (rezas,orações, gestos), que acabam por dificultar a afirmação,respeito e conhecimento de que a pluralidade religiosaé um direito assegurado na Carta Magna Brasileira.(BRASIL, 2010, p. 163) (grifo nosso)

A CONAE solidifica a perspectiva da Lei nº 9.475/97, que trata o EnsinoReligioso como componente curricular, garantindo a liberdade religiosa, emconformidade com o Ar. 5º, inciso VI, da Constituição Federal: “É inviolável aliberdade de consciência e de crenças, sendo assegurado o livre exercício doscultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto eas suas liturgias”. A liberdade religiosa é um dos direitos fundamentais dahumanidade, como afirma a Declaração Universal dos Direitos Humanos(ONU, 1948).

Respeitar a diversidade cultural religiosa, que transita no cotidianoescolar, é permitir que todos os educandos tenham acesso ao conjunto dosconhecimentos religiosos, que integram o substrato das culturas assumindoo compromisso de uma escola que proporcione o respeito e a tolerânciareligiosa.

Certamente essas questões remetem a uma ação articulada e interdis-ciplinar que envolve todas as áreas de conhecimento, pois a abrangência datemática diz respeito a todos os que fazem a educação. É pela convivênciaentre os diferentes que incentivamos o diálogo e a construção de umasociedade pluralista, com base no reconhecimento e no respeito às diferenças.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Promulgada em 5 de outubrode 1988. Diário Oficial da União, nº 191-A, de 5 de outubro de 1988.

______. Lei nº 9.394/96. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Brasília:Diário Oficial da União, 1996.

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______. Conselho Nacional de Educação. Câmara de Educação Básica. Resolução nº2/98. Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental. Brasília, 1998.

______. Ministério da Educação. Documento Final da Conferência Nacional deEducação. Brasília, 2010.

FONAPER. Fórum Nacional Permanente do Ensino Religioso. Parâmetros CurricularesNacionais para o Ensino Religioso. São Paulo: Ave Maria, 1995.

______. Ensino Religioso – Referencial Curricular para a Proposta Pedagógica daEscola. 2000. (Caderno Temático nº 1)

______. Ensino Religioso – Culturas e Tradições Religiosas. 2001. (Caderno Temáticonº 2)

______. Diretrizes curriculares para capacitação docente de professores de ensinoreligioso. Disponível em: <www.fonaper.com.br>.

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Capítulo IV

Ensino Religioso e a Legislaçãoda Educação no Brasil:Desafios e perspectivas

Edivaldo José Bortoleto1

Rosa Gitana Krob Meneghetti2

Este texto é dedicado a muitos mestres que passarampela nossa vida, desde crianças até a idade adulta, e queauxiliaram no alargamento de nosso horizonte decompreensão do fenômeno religioso: São João da Cruz,Martinho Lutero, João Wesley, Edith Stein, ThomasMerton, Dom Hélder Câmara, Antonio MendonçaGouveia, Pedro Cassaldáliga e tantos outros anônimosque auxiliam a constituir nossa leitura do mundo.

1 O CENÁRIO QUE ABRIGA A DISCUSSÃO SOBRE O ENSINO RELIGIOSO

O século XX, com toda a sua riqueza de acontecimentos, é o cenáriocolorido e multidimensional que contém tudo o que a humanidade, em todasas frentes da cultura, conseguiu produzir como resultado da interferência dehomens e mulheres na natureza. Talvez por ser o fechamento de um milênioremete a um olhar mais acurado e conduz à necessidade de reflexão crítica eanálise cuidadosa.

1 Doutor em Comunicação e Semiótica pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, professor deFilosofia na Faculdade de Ciências Humanas da Universidade Metodista de Piracicaba e na FaculdadeSalesiana Bom Bosco de Piracicaba. E-mail: [email protected] Doutora em Educação pela Universidade Metodista de Piracicaba, professora de Metodologia do Ensinono Programa de Mestrado em Direito e Coordenadora do Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre Metodismoe Educação da Universidade Metodista de Piracicaba – UNIMEP. E-mail: [email protected]

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Para Morin (2000, p. 70),

O século XX foi o da aliança entre duas barbáries: aprimeira vem das profundezas dos tempos e traz guerras,massacre, deportação, fanatismo. A segunda, gélida,anônima, vem do âmago da racionalização, que sóconhece o cálculo e ignora o indivíduo, seu corpo, seussentimentos, sua alma, e que multiplica o poderio damorte e da servidão técnico-industriais.

Entre tantas questões, o século XX testemunhou a luta por inúmerascausas, grande parte delas de afirmação de políticas públicas, interesses degrupos diversos, como, por exemplo, a causa das mulheres, segmentos dapopulação com interesses específicos, enfim, o século que encerra o segundomilênio fala dos direitos individuais, das causas coletivas, das crianças, doshomossexuais, da saúde do planeta e... da religiosidade.

Nesse contexto emerge uma fala mais densa sobre a questão daformação dos sujeitos, da preocupação com o campo das práticas fraternas esolidárias e, em especial, uma preocupação maior com a responsabilidadesocial. As falas sobre educação retomam com intensidade a importância daformação dos indivíduos, ao lado do cuidado com sua formação intelectual eacadêmica. A escola passa a ser mais solicitada, pois a família começa a ampliarsua trajetória envolvendo-se, pais e mães, com as atividades do trabalho.Quem cuida da formação em valores? Quem se preocupa com a educaçãodas crianças e consegue realizar um trabalho formativo junto a elas? Quemfica atento à formação pessoal das crianças e dos jovens, além de suaintrodução ao mundo acadêmico e formal?

A modernidade elegeu a escola para desempenhar este papel e seuprenúncio aparece ainda ao final do século XVIII. E ela então se organiza, aomesmo tempo em que se configura a ciência moderna e a burguesia iniciasua estrutura de classe.

Como instituição social, a escola é de fundamental importância paraafirmar, diante da sociedade feudal e do absolutismo reinante, o modeloburguês.

Considerando-se que surge no contexto da troca de modelo desociedade – do feudal para o moderno – carrega consigo o ideário, tanto daRevolução Industrial quanto da Revolução Francesa, ou seja: surge como

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instituição pública, gratuita, universal e laica, cuja função é desenvolver outracultura, onde o nascente conhecimento científico moderno estará muitopresente e cujo papel principal será o de aproximar as gerações mais novas,do novo ideal sociopolítico dos Estados Modernos.

Trata-se de uma instituição que busca, por mediaçõesdiversas, a partir das culturas particulares, dos saberesdo senso comum e do saber cotidiano, reproduzir acultura (valores, atitudes, símbolos) e o conhecimentodefinidos como “universais” pelas classes ou gruposhistoricamente dominantes. Por ser uma instituiçãosocial, expressa, todavia, os conflitos e os interesses emdisputa pelas diferentes classes e grupos sociais.(FRIGOTTO, 1997, p. 140)

É necessário reconhecer, portanto, que, embora a ação de ensinar eaprender remonte aos primórdios da história humana, a educação formalescolarizada, enquanto sistema, é bem mais recente, sendo referida, conformevariedade de autores e no modelo atual, aos três ou quatro últimos séculos.É no conjunto dessa reflexão que se pode situar o tempo da modernidade –em torno dos mil e oitocentos – e é a partir desta escola, iniciada nessecontexto de democratização do modelo de sociedade, que se deseja falar epensar a questão do Ensino Religioso (ER).

Em um mundo em que coexistem instituidamente o geral e o local, atradição e a novidade, as perspectivas de longo prazo e o imediatismo, omacro e o micro, o coletivo e o individual, a competição exacerbada e a lutapela igualdade de oportunidades, é fundamental reafirmar que a tarefa deeducar está revestida de alta complexidade e se constitui de inúmerosquesitos, com abrangências que alcançam os modelos políticos e asconcepções didático-pedagógicas.

Em se tratando da compreensão da educação formal, não há dúvidas,para grande parte dos estudiosos da ciência da educação, sobre a importânciadas questões da espiritualidade no que se refere ao conjunto de elementosque constituem uma proposta educacional de relevo, desde a educaçãoinfantil até a educação superior. Maria Cândida Moraes (1997, p. 108),tratando do novo paradigma para a educação, assim refere:

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Tanto a física quanto a mística mostram que o mundoexterior e o interior são apenas dois lados de um mesmotecido, no qual todas as forças e os eventos, todas asformas de consciência e todos os objetos estãoentrelaçados numa rede inseparável de relaçõesinterdependentes. Demonstram também a existência deuma unidade essencial entre todas as coisas e todos oseventos, e que o indivíduo e sua consciência são partesintegrantes dessa unidade, sendo a realidade externaidêntica à realidade interna. Com base na convergênciaentre ciência e mística, de que forma a educação poderácolaborar com o novo pensamento científico, no sentidode despertar maior consciência espiritual em nossascrianças?

O texto mencionado é apenas mais uma tentativa para alertar sobre aimportância do papel da escola na formação dos alunos, para além doselementos relativos à informação e ao desenvolvimento de habilidadesprofissionais técnicas, elementos fundamentais mas não suficientes paraconstituir o conceito de formação integral do ser humano.

A apetência da cultura brasileira para a miscigenação, sua capacidadede includência do outro diferente, sua incrível capacidade de interligarelementos isolados em mesclas ricas e consistentes de valores e sentidos, fazcom que a sociedade brasileira seja um lugar privilegiado no qual podem serconstruídas compreensões redimensionadas da questão da espiritualidade,tornando-a componente fundamental para entender a totalidade do tecidosocial.

2 A IMPORTÂNCIA DO ENSINO RELIGIOSO NA FORMAÇÃO DOS ALUNOS ENA ORGANIZAÇÃO DO CURRÍCULO

Quando a temática do ER é abordada no conjunto de ações escolaresformais, há uma questão de fundo que está presente e que merece atençãoespecial. Trata-se da distinção entre Ensino Religioso e Catequese, isto é, trata-se de considerar as naturezas distintas de um mesmo problema.

Em termos de objeto de estudo, isto é, aquilo com o que os conteúdosescolares devem se envolver no campo do ER, o objeto é o fenômeno religioso

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em todas as suas dimensões e manifestações, produto sempre das construçõesculturais e, portanto, em diálogo permanente com a História, Antropologia ea Sociologia da Religião, além de outros campos do conhecimento.

Por outro lado, no campo da Catequese, atividade própria dascomunidades religiosas, o objeto é a fé em sua dimensão de religiosidade eestrita ao campo da prática religiosa propriamente dita. A fé está semprevinculada ao fenômeno religioso, depende dele, existe a partir dele, é sempreuma leitura interpretativa dos fatos que o envolvem. Por isso, na prática, éapreendida pelos aspectos denominacionais, isto é, organiza-se em umsistema de doutrinas e práticas que a identificam com as matrizes religiosas,representadas pelas diversas denominações. Na experiência da fé, da ordemda confessionalidade, sujeito cognoscente e objeto cognoscível estãointerligados, são intrínsecos um ao outro, enquanto no ER o fenômenoreligioso é objeto da ciência, passível de ser olhado de fora e, portanto, permiteafastamento necessário à contemplação acadêmica e científica. Vale tambémconsiderar que esse objeto pode ser considerado tanto fora do campo dasCiências da Religião quanto do campo da Catequese. Nesse sentido, o ateísmo,o agnosticismo e a anti-idolatria passam a ser também uma expressão culturala ser considerada e investigada (BORTOLETO, 2003).

Quanto ao método de investigação, o ER tem sua epistemologiaancorada na Filosofia, nas Ciências Sociais e Naturais bem como em estruturaslógico-formais, além de em saberes como Psicanálise, Literatura, Artes,Teologia, Tecnologia e tantos outros. Já a Catequese alicerça-se na experiênciae na vivência da fé, conforme os relatos das respectivas tradições religiosas,ou seja, não é uma questão de demonstrabilidade empírica e científica, masde adesão por identidade, por cultivo espiritual, por sensibilidade, porpercepção, todos esses aspectos relacionados à subjetividade dos sujeitos.

Referentemente ao tipo de saber e à linguagem utilizada, no campodo ER a cultura é compreendida como um fundamento nuclear mítico-ético,em que se realiza a experiência, simbólica ou não, com distintas tradiçõesreligiosas, para a construção do espectro religioso social e contribuindo assimpara a formação humanística do sujeito. As religiões são, então, leituras sobreo mundo, experiências do re-legere (conceito antropológico = várias leiturasde mundo). Já no âmbito da Catequese, a experiência mística do sagrado éexistencial, perpassa a vida e a prática do sujeito cognoscente, e a noção doTranscendente permite a vivência do re-ligare (conceito teológico = religar)

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do humano com o divino. No campo da fé esta é uma experiência absolutado amor incondicional na relação de alteridade do humano com oTranscendente, o grande Outro. Enquanto no primeiro caso a linguagem é adas diversas Ciências da Religião, no segundo é a do campo da Teologia.

Assim, uma vez que o ER só pode ser, pela sua natureza e estrutura,não-confessional, não denominacional, ou seja, não afirmativo de uma sótradição religiosa e, portanto, não excludente de todas as manifestações docampo religioso, a Catequese, que trata das questões da fé, só pode ser, aocontrário, afirmativa de uma denominação religiosa, vinculada a um modelode prática da religião, preservadora dos ritos e símbolos próprios àquelatradição religiosa e, por consequência, praticada e preservada no âmbito dascomunidades eclesiais e eclesiásticas, tais como instituições religiosas, igrejase escolas confessionais.

Quanto à questão das escolas confessionais, o Brasil é um país ondeexiste oficialmente a separação entre Igreja e Estado enquanto conquistapolítica desde os tempos da proclamação da República. Sobre essa temática,vale consultar o texto de Cury (1984), no qual uma extensa pesquisa esclarecemuito bem as questões relacionadas a esse período.

O país vive uma história de boas relações entre os dois tipos deinstituições escolares, oriundas da formulação laica (Estado) e da formulaçãoconfessional (Igreja), pautando-se, inclusive, a escola confessional pela mesmalegislação que rege a escola laica. De modo similar, não há distinções quandose fala nos elementos que constituem suas propostas educacionais. Ou seja:tudo aquilo que compõe a estrutura de uma proposta pedagógica escolarpresente nas escolas da rede laica encontra-se também nas escolas deorientação confessional: estrutura de currículo, pressupostos legais,preocupações com o corpo docente e discente, espaços de relações, formasde estabelecimentos de interferências na sociedade e desenvolvimento decompromisso social, processos de avaliação e regulação, e tantos outroselementos quantos forem possíveis de serem mencionados.

No ensino laico, isto é, na rede de ensino mantida pelo Estado, o grandesalto diferencial da orientação legal se faz notar em dois aspectos: primeiroquando respeita a histórica separação entre Igreja e Estado e garante matrículafacultativa aos alunos, embora reconheça que o Ensino Religioso seja parteintegrante da formação básica do cidadão (Lei n° 9.745/97). Segundo, quando,ao reconhecer o respeito à diversidade cultural religiosa do Brasil, passa a

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não mais referendar o primado da religião considerada oficial desde os temposda colonização e amplia a concepção, antes doutrinária, para uma concepçãomais alargada, na qual o fenômeno religioso, e não mais a religião, se torna ofoco do ER. Essa concepção alargada, saliente-se, está em consonância coma percepção antes mencionada, sobre o caráter mestiço da cultura brasileiraque aponta, desde a colonização brasileira, para além de uma lógicamonoidentitária.

O ER é, portanto, uma área de conhecimento com epistemologiaprópria, está alocado dentro de uma grande área chamada Ciências daReligião, é reconhecido pelo Sistema Nacional de Educação, possui legislaçãofederal específica e ocupa lugar importante como componente curricular aolado dos outros nove que compõem o currículo do Ensino Fundamental. Valereafirmar: não é tema transversal pois tem estrutura epistêmica. Écomponente curricular. Não é de cunho teológico, confessional, mas seconstrói no viés das Ciências da Religião e da Educação.

3 LEGISLAÇÃO ESPECÍFICA DO ENSINO RELIGIOSO

No campo jurídico não são poucos os estudiosos que afirmam que oBrasil tem uma legislação muito bem elaborada, rica em detalhes e bastantequalificada em termos de princípios e concepções de sociedade e de serhumano. O grande problema, em síntese, diz respeito ao campo de suaaplicação. Há dificuldades para normatizar a operacionalização das leis e,quando esse passo está vencido, os desafios permanecem no campo daaplicação propriamente dita e da supervisão sobre a aplicação. Esse é, entreoutros, um dos problemas enfrentados pelo ER, considerando-se, ainda quemencionado no art. 210 da Constituição Federal (BRASIL, 1999), e portantoassegurado de antemão, que ele depende das legislações dos SistemasEstaduais e Municipais de Educação e, ainda, das possibilidades reais deexequibilidade, tais como docentes capacitados, orientações dos sistemasde ensino para as escolas, absorção das horas-aulas na composição doshorários, e outros. Em paralelo ocupam o mesmo espaço os interessespolíticos, os órgãos de classe, as formas de gestão da escola, as questõescorporativas e inúmeros outros elementos que compõem a sociedade civil eescolar.

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Seguem-se, a título de resgate organizativo, as diversas legislações quetratam do ER e de questões correlatas, de modo que seja possívelcompreender, num processo lógico-dedutivo, as inúmeras instâncias legaisque tratam a questão.

3.1 Constituição Federal de 1988

O Brasil é uma República Federativa regida por uma Constituição que,em seu art. 205, garante que “A educação, direito de todos e dever do Estadoe da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade,visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercícioda cidadania e sua qualificação para o trabalho”.

O texto é claro quando afirma que a finalidade da educação é o plenodesenvolvimento da pessoa, incluindo-se aí o preparo para o exercício dacidadania e a sua qualificação para o exercício profissional. Assim, como pensarque esse preparo, realizado pela escola formal, pode prescindir dos elementosmínimos de formação para a espiritualidade e para os valores, únicoselementos capazes de auxiliar os alunos na descoberta das causas coletivas esolidárias, no exercício dos afetos e da não violência, na descoberta do outro,dos outros e outras diferentes e singulares?

Merece destaque o fato de o ER estar situado no âmbito da educaçãosistemática e formal pela própria Constituição, nos seguintes termos: “Oensino religioso, de matrícula facultativa, constituirá disciplina dos horáriosnormais das escolas públicas de ensino fundamental (§ 1º, art. 210, Seção I,Capítulo III).

3.2 Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional nº 9.394/96

A Lei maior da educação nacional, em seu art. 2º, refere que “Aeducação, dever do Estado, inspirada nos princípios de liberdade e nos ideaisde solidariedade humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento doeducando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação parao trabalho”. Portanto, acrescenta ao preceito constitucional já mencionado,qualificando-o e reafirmando os princípios nos quais se deve ancorar parafazer cumprir a finalidade da educação.

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Os princípios de liberdade, herança das lutas da humanidade em favorde processos democráticos e os ideais de solidariedade humana, constituídoscomo salvaguarda para que a barbárie não impere entre os grupos sociais,estão também presentes na concepção do ER e podem iluminar o ambienteescolar, contribuindo na concepção de currículo para a mediação entre osdiversos saberes.

No art. 3º, o texto diz: “O ensino será ministrado com base nos seguintesprincípios: I – [...]; II – liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar acultura e pensamentos, a arte e o saber; III – pluralismo de idéias e concepções;IV – respeito à liberdade e apreço à tolerância”. As perguntas são: Por que étão difícil compreender que a escola tem esta finalidade e que, para cumpri-la, se faz necessário romper com os conteúdos segmentados e criar espaçoscurriculares onde as mediações sejam feitas? O que mais precisa ser ditopara que se compreenda que os elementos constantes desta recomendaçãolegal estão todos garantidos na proposta dos Parâmetros CurricularesNacionais para o Ensino Religioso? (FONAPER, 1997).

3.3 Lei Nacional n° 9.475/97

Em 1997, a Lei n° 9.475, em seu art. 1º, dá uma nova redação ao art.33 da LDBEN n° 9.394/96, corrigindo um equívoco de compreensão dos termosconfessional e interconfessional. O texto passa a ter a seguinte redação: “Oensino religioso, de matrícula facultativa, é parte integrante da formaçãobásica do cidadão, constitui disciplina dos horários normais das escolaspúblicas de ensino fundamental, assegurado o respeito à diversidade culturalreligiosa do Brasil, vedadas quaisquer formas de proselitismo”.

O novo texto, sancionado pelo Presidente da República em 22 de julhode 1997, fruto de uma longa discussão no Congresso Nacional, traz o elementodiferenciador para a questão à medida que supera a visão anterior, constanteda antiga Lei n° 5.692/71, na qual estava garantido o caráter deconfessionalidade para o Ensino Religioso.

Com a nova estrutura do texto fica assegurado o caráter de amplitudedo objeto de estudo do ER, quando se afirma o respeito à diversidade culturalreligiosa do Brasil e, igualmente, fica superada a ideia de atendimento nasescolas (que são de natureza laica) das diversas denominações religiosas emsua função catequética.

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Ao mesmo tempo, os §§ 1º e 2º da Lei n° 9.475/97 legislam que “ossistemas de ensino regulamentarão os procedimentos para a definição dosconteúdos do ensino religioso e estabelecerão as normas para a habilitaçãoe admissão dos professores” e “ouvirão entidade civil constituída pelasdiferentes denominações religiosas, para a definição dos conteúdos do ensinoreligioso”.

Portanto, o édito legal referenda, por um lado, a inequívocaresponsabilidade dos sistemas de ensino na definição dos conteúdos destadisciplina, assim como as normas para a habilitação e a admissão de seusprofessores, o que a caracteriza definitivamente como área do conhecimento,em igualdade de direitos e deveres em relação às demais áreas da EducaçãoBásica. Por outro lado, garante a participação do conjunto de denominaçõesreligiosas do Estado brasileiro, constituídos em entidade civil que, de formacoletiva, contribuem com os sistemas de ensino e que ouvirão e receberãosuas contribuições para a elaboração e definição dos conteúdos.

3.4 Resolução CNE/CEB nº 2/98

Em 1998, a Câmara de Educação Básica do Conselho Nacional deEducação, ao instituir as Diretrizes Curriculares Nacionais para o EnsinoFundamental, na Resolução nº 2, sinaliza, em seu art. 3°, item IV, que:

Em todas as escolas deverá ser garantida a igualdade deacesso para alunos a uma base nacional comum, demaneira a legitimar a unidade e a qualidade da açãopedagógica na diversidade nacional. A base comumnacional e sua parte diversificada deverão integrar-se emtorno do paradigma curricular, que vise a estabelecer arelação entre a educação fundamental e a) a vida cidadãatravés da articulação entre vários dos seus aspectoscomo: saúde, sexualidade, vida familiar e social, meioambiente, trabalho, ciência e tecnologia, cultura,linguagens e b) as áreas de conhecimento: LínguaPortuguesa, Língua Materna (para populações indígenase migrantes), Matemática, Ciências, Geografia, História,Língua Estrangeira, Educação Artística, Educação Físicae Educação Religiosa, na forma do art. 33 da Lei 9.394,de 20 de dezembro de 1996. (Grifos nossos)

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Ao reconhecer o ER como área de conhecimento, aponta-se anecessidade de reconhecer, paralelamente, a importância da rediscussão daestrutura do currículo do Ensino Fundamental, abrigando mais uma áreaconstitutiva ao lado das demais, bem como a necessidade de formalizaçãoda profissão do(a) professor(a) de Ensino Religioso, o que, naturalmente,remete à necessidade de formação acadêmica desse profissional.

No que se refere à Escola Fundamental, é primordial compreender que,a partir dessa Resolução, o ER passa a fazer parte do conjunto de saberesdenominados Áreas de Conhecimento. Esse movimento curricular o colocaao lado das outras áreas já mencionadas e significa, de concreto, oreconhecimento de que o ER possui uma episteme própria. Fica, pois,invalidada a interpretação feita em algumas instâncias de discussão, nas quaiso ER poderia ser trabalhado na perspectiva de Temas Transversais; a hipótesenão se sustenta nem pelas razões legais, muito menos pelas epistêmicas.

Ao integrar a base comum nacional do Ensino Fundamental, o ERsinaliza a necessidade de formação de um profissional habilitado para ministrá-lo. Esse aspecto é fundamental porque aponta para o fato de que, como áreade conhecimento, há necessidade de um profissional que reconheça seuespaço na formulação do currículo escolar e seja capaz de realizarinterlocuções importantes e convenientes com as demais áreas do currículo.

Não se trata mais, aqui, de uma pessoa, quase sempre voluntária,representante de uma ou outra denominação religiosa que venha “ajudar”na escola com algumas aulas de religião. O momento da legislação brasileiraé outro e dimensiona a questão para outro perfil de profissional com umaformação acadêmica plena.

Sintetizando, o texto desta Resolução é fundamental para a questãodo ER por duas razões estritas, cujo eixo é estruturante para a temática emdiscussão: primeiro, o ER é reconhecido como área de conhecimento,portanto, com episteme própria. Segundo, como área de conhecimento,carece de profissionais habilitados para ministrá-lo, criando assim a demandapelo professor licenciado para essa cátedra. E essa tem sido uma das grandesfrentes de discussão do FONAPER: criar, em parceria com as universidades,os cursos de Licenciatura em Ensino Religioso para habilitar profissionais paraministrar os conteúdos do ER e, em paralelo, conseguir o reconhecimento doprofissional junto às instâncias reguladoras do Ministério da Educação.

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Assim, não há razão para dúvidas sobre o fato de que o ER deve constarem todas as matrizes curriculares do Ensino Fundamental, pois é umcomponente curricular reconhecido pela referida Resolução, que seu objetode estudo é o fenômeno religioso nas suas diversas manifestações dereligiosidade e que seu papel em termos de estrutura de currículo supera seuobjeto de estudo em si – o fenômeno da religiosidade – e pode ir além,exercendo ações mediadoras e realizando interlocuções entre os diversosoutros saberes. É igualmente inegável que, para o pleno exercício dessapossibilidade legal, há necessidade urgente de estabelecimento de cursos deformação para habilitação específica e pedagógica de docentes.

3.5 Resolução CNE/CEB n° 4, de 13 de julho de 2010

Recentemente, o Ministério da Educação (MEC), por meio do ConselhoNacional de Educação (CNE), após um logo período de discussões envolvendosistemas de ensino, pesquisadores e docentes, aprovaram, no dia 7 de abrilde 2010, o Parecer n° 7, o qual tornou público os resultados dos trabalhosrelacionados à instituição de Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para aEducação Básica.

Decorrente desse Parecer foi aprovado pelo CNE, em 4 de julho de2010, a Resolução que define Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para oconjunto orgânico, sequencial e articulado das etapas e modalidades daEducação Básica, baseando-se no direito de toda pessoa ao seu plenodesenvolvimento, à preparação para o exercício da cidadania e à qualificaçãopara o trabalho, na vivência e convivência em ambiente educativo, e tendocomo fundamento a responsabilidade que o Estado brasileiro, a família e asociedade têm de garantir a democratização do acesso, a inclusão, apermanência e a conclusão com sucesso das crianças, dos jovens e adultosna instituição educacional, a aprendizagem para continuidade dos estudos ea extensão da obrigatoriedade e da gratuidade da Educação Básica (art. 1°).

No Capítulo II dessa Resolução, intitulado Formação Básica Comum eParte Diversificada, art. 14, está legislado que a base nacional comumconstitui-se de conhecimentos, saberes e valores produzidos culturalmente,expressos nas políticas públicas e gerados nas instituições produtoras doconhecimento científico e tecnológico; no mundo do trabalho; nodesenvolvimento das linguagens; nas atividades desportivas e corporais; na

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produção artística; nas formas diversas de exercício da cidadania; e nosmovimentos sociais. Para tal, o § 1º afirma que integra a base nacional comumnacional as seguintes áreas do conhecimento:

a) a Língua Portuguesa;b) a Matemática;c) o conhecimento do mundo físico, natural, da realidadesocial e política, especialmente do Brasil, incluindo-se oestudo da História e das Culturas Afro-Brasileira eIndígena,d) a Arte, em suas diferentes formas de expressão,incluindo-se a música;e) a Educação Física;f) o Ensino Religioso. (grifos nossos)

O § 2º estabelece que é por intermédio de tais componentescurriculares, organizados pelos sistemas educativos, que se desenvolvem ashabilidades indispensáveis ao exercício da cidadania, em ritmo compatívelcom as etapas do desenvolvimento integral do cidadão.

Esse documento, portanto, reafirma o ER enquanto área doconhecimento, integrante da base nacional comum da educação básica, àmedida que integra uma esfera das culturas, ao buscar que os estudantesconheçam, compreendam e vivenciem os diferentes direitos de cidadãos,entre eles, o direito ao livre acesso ao conjunto dos conhecimentos religiososelaborados pela humanidade.

4 DESAFIOS E PERSPECTIVAS

4.1 Quanto ao Objeto de Estudo

O fenômeno religioso tem sido discutido desde o final do pensamentoda Antiguidade Clássica, tanto pela Patrística ocidental quanto pela oriental,cujas representações estão claramente expostas em Santo Agostinho e emOrígenes, entre tantos outros que se dedicaram à temática.

Já no horizonte da medievalidade, o fenômeno religioso está contidoem toda a discussão da Escolástica, seja de teor judaico, muçulmano ou

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cristão. Moisés Maimônides representa a discussão no campo do Judaísmo,Avérrois no Islamismo e Santo Tomás de Aquino, bem como São Boaventura,dentro da tradição cristã.

Na modernidade ocidental o tema é discutido não mais agora pelopensamento da Revelação (portanto, de cunho teológico), mas pelosestudiosos da razão moderna nascente, entre os quais Descartes, Leibnitz,Malebranche e Spinoza. A partir da contribuição desses pensadores, emergeum novo campo de conhecimento, inscrito na grande área da Filosofia,chamado Teodicéia.

Por outro lado, ao final da modernidade, a partir da longa tradiçãoalemã de Kant a Hegel, o fenômeno religioso passa a ser discutido, ainda soba égide da Filosofia, mas agora entendida agora como Filosofia da Religião.

No período contemporâneo, no âmbito das ciências emergentes,principalmente as Ciências Humanas, a nova episteme das Ciências da Religiãoabarca a reflexão sobre o fenômeno religioso, o que permite a discussão sobreo Ensino Religioso.

Dessa forma, vale lembrar que esta não é uma discussão simples, nemsuperficial, mas, muito pelo contrário, densa e rica, que precisa seraprofundada, isto porque a compreensão sobre o objeto – o fenômenoreligioso – está em constante deslocamento, pela sua própria natureza.

4.2 Quanto ao Método de Investigação e aos Conteúdos Específicos

A questão do método conduz a discussão para o problema do caminho,o qual se apresenta como algo dinâmico, em permanente processo,contrariando a ideia de estaticidade, de coisa pronta. Isso significa dizer quea própria construção da estrutura da matéria do ER está ainda em processode configuração, na busca de contornos mais claros e mais definidos, emboranão conclusos, pela sua própria natureza.

Para percorrer a via de acesso à questão do fenômeno religioso estãodisponibilizados inúmeros caminhos, entre os quais a fenomenologia dareligião, a semiótica da religião, a sociologia da religião, a psicanálise dareligião, a psicologia da religião, entre outros. Embora utilizando-se dessasdiversas possibilidades, a Ciência da Religião busca estruturar-se e responderà pergunta fundamental: Que contornos deve seguir a sua metodologia? Deque elementos, sistematicamente, ela pode se valer para construir sua

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compreensão sobre o objeto em questão? Ou seja: à Ciência da Religiãocompete criar o seu estatuto de cientificidade próprio e dizer do seu lugar dediferença e semelhança com os demais caminhos que lhe têm servido deancoragem para sua caminhada3.

Vale, por outro lado, afirmar que essa falta de sistematização doestatuto de cientificidade da Ciência da Religião não impede que o ER prossigaseu percurso inédito de instalar, no âmbito da escola formal, de maneirasimples e consistente, sua discussão sobre a espiritualidade e sobre os valoresque são, de per si, a única garantia para que a humanidade permaneça na suacaminhada de superação de si mesma e de seus conflitos.

4.3 Quanto às Dificuldades do Diálogo4

Ao longo desses últimos quase 20 anos de discussão sobre a questãodo Ensino Religioso que, inclusive, ocasionou a criação do FONAPER, inúmerosforam os parceiros e companheiros de caminhada que se identificaram econtribuíram para o andamento dos propósitos daqueles que acreditaram ebuscaram levar a termo a questão do Ensino Religioso. Paralelamente,também inúmeras foram as dificuldades e os antagonismos encontrados nainterlocução com pessoas, lideranças, instituições, organismos religiosos,setores do governo e outras instâncias governamentais, no que se refere aospropósitos desta discussão.

Entre as várias situações enfrentadas, no final do ano de 2008,segmentos da sociedade civil brasileira, envolvidos com a temática e, maisespecialmente, a comunidade acadêmica (professores de ER, teólogos,cientistas da religião e lideranças das diversas Tradições Religiosas) foisurpreendida pelo ato do Exmo. Presidente da República do Brasil, Sr. LuizInácio Lula da Silva que, em visita à Itália, assinou um Acordo com a Santa Sé,relativo ao Estatuto Jurídico da Igreja Católica no Brasil, o qual trata, em seu

3 Conferir sobre este tema, as seguintes obras: FIROLAMO, Giovanni; PRANDI, Carlo. As ciências dasReligiões. São Paulo: Paulus, 1999; TEIXEIRA, Faustino (org.). A(s) ciência(s) da religião: afirmação deuma área acadêmica. São Paulo: Paulinas, 2001; SENNA, Luzia (org.). Ensino religioso e formação docente:ciências da religião e ensino religioso em diálogo. São Paulo: Paulinas, 2006.4 Conferir sobre este tema: BORTOLETO, Edivaldo José. Culturas e tradições religiosas: um breve ensaioem torno da questão do diálogo, da escuta e do outro. In: FONAPER. Ensino religioso: culturas e tradiçõesreligiosas. Caderno Temático n. 2, 2001, p. 31-88.

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art. 11, de um reposicionamento do governo frente à questão do ER, jáamplamente legislado desde 1997, com a assinatura da Lei n° 9.475/97.

Sobre esse fato, primeiramente, o Acordo atropela e ignora a legislaçãoexistente, não a reconhecendo como elemento norteador das ações da escolano campo do Ensino Religioso. É como legislar sobre o já legislado, supondo-se que os gestores das escolas desconhecem a Lei e, pior que isso, ignoramsua importância constitucional como garantidora dos direitos individuais dosalunos. Para melhor entender a situação do Acordo em seu art. 11, faz-senecessário retomar os princípios argumentativos que nortearam a discussãona década de 1990 e que foram preservados na legislação de 1997, e nãoconsiderados pelos formuladores do Acordo.

O texto do art. 11 do Acordo está pautado em um princípioargumentativo doutrinário desconsiderando a concepção multicultural comodeterminante da vida societária brasileira. Isto é: historicamente, a culturanacional tem se notabilizado por ser includente, receptiva, acolhedora nasdiferenças, em permanente processo de auto-organização, caracterizando-se também por uma prática popular religiosa, estabelecida e reconhecidacomo constitutiva da personalidade de base do povo brasileiro. Essa é areligiosidade estabelecida pela prática. As questões doutrinárias não têm sidoo eixo principal da discussão realizada no âmbito da escola, embora estejamcontempladas em um dos cinco eixos dos Parâmetros Curriculares Nacionaispara o Ensino Religioso. Trazer essa questão, conforme disposto no art. 11 doAcordo, é remeter novamente o problema para o contexto da Igreja, saindo,pois, do campo das Ciências da Religião e do cotidiano da prática escolar.

Em segundo lugar, o art. 11 do Acordo é desnecessário, pois o texto daLei n° 9.745/97 é claro, objetivo, e resultou de muita discussão acumuladaentre os poderes públicos e os representantes legítimos da escola e dasdiversas tradições religiosas. Voltar a ele, pois, não se justifica, porque nãohá qualquer sinal claro de que precise ser revisto, considerando-se quenenhum processo avaliativo foi realizado desde a promulgação e a aplicaçãoda Lei.

O momento agora não é de retornar a essa questão, ao contrário, é deavançar, afirmando as necessidades já evidenciadas: criar cursos deLicenciatura em Ensino Religioso em todo o território nacional e, porconsequência, reconhecer a profissão de professor de ER, além de buscar aintegração dos sistemas de ensino, em nível municipal e estadual, garantindo

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que as práticas previstas em Lei sejam materializadas através de medidasorgânicas e funcionais.

No ER previsto no art. 33 da LDBEN nº 9.394/96 não se encontramconteúdos de uma determinada religião ou confissão religiosa, isto é, o ensinoreligioso escolar não pode ser confessional. O fundamental é a discussão sobrea importância da religiosidade e do fenômeno religioso na vida das pessoas edas sociedades. O § 1º do art. 11 do Acordo, ao contrário, ao anunciar umensino religioso “católico e de outras confissões religiosas”, limita suaabordagem e centraliza no cristianismo o viés de abordagem da problemática,retroagindo ao espírito da Lei nº 5.692/71, já superada e, portanto, revogada,em razão da nova fonte legal aprovada em 1996.

4.4 Quanto a Importância e ao Papel do FONAPER

O FONAPER tem sido a instância organizativa da discussão sobre o ERem todo o território nacional, desde sua estruturação em 1995. Antes dacriação do FONAPER experiências na direção desde entendimento sobre oEnsino Religioso já existiam, mais em alguns Estados que em outros, mas dequalquer forma como experiências isoladas e, portanto, frágeis em suamanutenção.

A partir do momento em que o Fórum é organizado, as ações podemser planejadas e executadas, de forma integrada e orgânica, com vistas àconsecução de objetivos claramente delineados. A ideia do coletivo ésustentadora para as ações em rede que passam a ocorrer.

Além disso, a organização do Fórum facilita a interlocução com outrosorganismos similares e, em especial, cria uma referência para o diálogo comas frentes governamentais, o que auxilia, inclusive, na formulação daslegislações que foram sendo construídas e aprovadas ao longo desses anos.

Nesse contexto, é importante reafirmar que o trabalho do FONAPERse põe como fundamental para a manutenção das ações integradoras jámencionadas e, ao mesmo tempo, para a inserção na mesma discussão, deoutros grupos, Estados federativos e organizações.

Por outro lado, seu cenário de atuação tem-se ampliadopaulatinamente, em particular no diálogo com algumas frentes de trabalho ecom outras fontes de reflexão, qualificadoras da discussão sobre o EnsinoReligioso.

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Com relação ao Acordo assinado pelo governo federal com o Vaticano,criou-se um impasse de natureza técnico-operacional para além de seusignificado político, que precisará ser enfrentado pelo FONAPER em suacaminhada como liderança na discussão do ER no Brasil. Isto é: com aassinatura do Acordo que discorda de tudo o que tem sido, orgânica eharmoniosamente, construído nos últimos anos por todos os sujeitos parceirosdo FONAPER, instaura-se um divisor de águas, pois se torna insustentávelconcordar com as ideias ali apregoadas. Isso porque, conforme demonstradono corpo do texto, os propósitos constantes do Acordo, especialmente noque se refere ao art. 11, são de natureza involutiva em relação ao que hoje jáse avançou no trato da questão do Ensino Religioso.

Entre as várias questões que ainda carecem de avanços no campo doconstructo teórico, no que se refere ao trabalho realizado pelo FONAPER,podem ser mencionadas a formulação da episteme própria para o ER, paraalém da estruturação didático-pedagógica dos eixos organizadores doconteúdo (Culturas e Tradições Religiosas, Escrituras Sagradas, Teologias, Ritose Ethos)5, a démarque entre as epistemes das Ciências da Religião e da Teologiae a abertura de uma discussão acadêmica formal sobre a questão do ensinosobre a espiritualidade, na perspectiva de problematizar o tema junto àsreflexões que caracterizam as discussões das demais áreas de conhecimentopresentes na academia.

No que se refere às ações mais pontuais e direcionadas, faz-senecessário: continuar a dialogar com as Instituições de Ensino Superior paratratar da formação dos professores licenciados em ER; manter a luta peloreconhecimento da profissão de professor de ER junto ao MEC; estimularações pela abertura de concursos públicos para os professores; perseverarno estímulo à discussão da questão do ER nos diversos Estados da Federação,em especial naqueles em que a discussão pouco avançou; reforçar junto aossistemas de ensino para que a legislação normatizadora das ações escolaresesteja mais próxima do espírito da legislação maior vigente sobre o ER,disponibilizando-se para assessorias, diálogos, interlocuções e outras formasde contribuição.

5 Conferir FONAPER, Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Religioso. 3. ed. São Paulo: AveMaria, 1998.

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REFERÊNCIAS

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 ______. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e basesda educação nacional. Diário Oficial da União: Brasília, 1996.

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 ______. Conselho Nacional de Educação. Câmara de Educação Básica. Resolução n°2, de 07 de abril de 1998. Institui as Diretrizes Curriculares Nacionais para o EnsinoFundamental.

 ______. Conselho Nacional de Educação. Câmara de Educação Básica. Parecer n° 7,de 7 de abril de 2010. Assunto: Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para aEducação Básica.

 ______. Conselho Nacional de Educação. Câmara de Educação Básica. Resolução n°4, de 13 de julho de 2010. Define Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para aEducação Básica.

CURY, Carlos Alberto Jamil. Ideologia e educação brasileira. 2. ed. São Paulo: AutoresAssociados, 1984.

FONAPER. Fórum Nacional Permanente de Ensino Religioso. Parâmetros CurricularesNacionais para o Ensino Religioso. 3. ed. São Paulo: Ave Maria, 1998.

FIROLAMO, Giovanni; PRANDI, Carlo. As ciências das religiões. São Paulo: Paulus,1999.

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TEIXEIRA, Faustino (org.). A(s) ciência(s) da religião: afirmação de uma áreaacadêmica. São Paulo: Paulinas, 2001.

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Capítulo V

Concepção de Ensino Religiosono FONAPER:Trajetórias de um conceito em construção

Adecir Pozzer1

1 INTRODUÇÃO

O componente curricular de Ensino Religioso (ER) desenvolveu-sesignificativamente após a promulgação da Lei nº 9.475/97, a qual alterou a redaçãodo art. 33 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN) nº 9.394/96,embora alguns setores da sociedade façam ressalvas quanto sua presença naescola. Esses diferentes posicionamentos são bem-vindos e precisam serconsiderados, pois auxiliam na constituição de uma concepção de ER que(re)conheça e acolha a diversidade cultural religiosa em que os diferentes sujeitosse sintam parte do contexto escolar e, consequentemente, da sociedade.

O FONAPER, durante seus 15 anos de existência, vem realizandosignificativos esforços relativos à ampliação, aprofundamento e efetivaçãode uma concepção de ER enquanto parte integrante da formação básica docidadão (Lei nº 9.475/97), reconhecido como uma das áreas de conhecimentoque compõem a base nacional comum (Resolução CNE/CEB nº 2/98 eResolução CNE/CEB nº 4, de 13 de julho de 20102).

1 Especialista em formação de Professores para o Ensino Religioso (PUC/PR) e graduado em Ciências daReligião – Licenciatura em Ensino Religioso (FURB). Membro do Grupo de Pesquisa Ethos, Alteridade eDesenvolvimento (GPEAD/FURB) e Membro do Conselho Fiscal da Associação dos Professores de EnsinoReligioso do Estado de Santa Catarina (ASPERSC) gestão 2009-2011. E-mail: [email protected] “§ 1º Integram a base nacional comum nacional:a) a Língua Portuguesa;b) a Matemática;c) o conhecimento do mundo físico, natural, da realidade social e política, especialmente do Brasil,incluindo-se o estudo da História e das Culturas Afro-Brasileira e Indígena,d) a Arte, em suas diferentes formas de expressão, incluindo-se a música;e) a Educação Física;f) o Ensino Religioso. (grifo nosso)§ 2º Tais componentes curriculares são organizados pelos sistemas educativos, em forma de áreas deconhecimento, disciplinas, eixos temáticos, preservando-se a especificidade dos diferentes campos doconhecimento, por meio dos quais se desenvolvem as habilidades indispensáveis ao exercício da cidadania,em ritmo compatível com as etapas do desenvolvimento integral do cidadão” (BRASIL, 2010).

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Esse entendimento levou o FONAPER a propor um objeto de estudo,objetivos, encaminhamentos didáticos e metodológicos, eixos de conteúdose pressupostos para avaliação, buscando sustentação epistemológica epedagógica para o ER, o qual constantemente é desafiado a mostrar suaimportância na superação de preconceitos, no tratamento adequado àsculturas e grupos religiosos silenciados, invisibilizados, negados e/ouexotizados, ao propor o (re)conhecimento do diferente e suas diferenças apartir de, com e em relações alteritárias.

O presente texto busca sinalizar algumas trajetórias do FONAPER emrelação à construção de uma concepção de ER, referendada a partir de seusdocumentos, que decorrem de uma íntima interlocução com as discussões,estudos e pesquisas na área da educação e ciências humanas em nacional einternacional. De antemão, cabe ressaltar que esse período de efetivo trabalhodo FONAPER é extremamente curto, comparado aos séculos de presença datradição cristã no espaço escolar, enquanto orientadora e colaboradora na ofertada disciplina de Ensino Religioso. Marcas profundas e diferenciadas desse períodoresidem no inconsciente coletivo do povo brasileiro e, automatica e/ousintomaticamente, muitas vezes, ainda acabam sendo reproduzidas nocotidiano escolar por diversos motivos, diferentes sujeitos e formas.

2 CONCEPÇÃO DE ENSINO RELIGIOSO NOS DOCUMENTOS DO FONAPER

2.1 Estatuto do FONAPER

O FONAPER, segundo seu Estatuto (2009a), é constituído comoassociação civil de direito privado, de âmbito nacional, sem vínculo político-partidário, confessional e sindical, sem fins econômicos congregando pessoasjurídicas e pessoas físicas identificadas com a proposta do Ensino Religioso.Vem, desde a sua instalação, tratando das questões relacionadas ao ER semdiscriminação e proselitismos.

Por caracterizar-se como fórum, o FONAPER apresentou-se aberto atodos os cidadãos e instituições que desejam contribuir com discussões,pesquisas, estudos e ações voltados à efetivação do componente curricularde Ensino Religioso. Ao apresentar esse caráter, possibilitou o trânsito dadiversidade cultural religiosa em suas diferentes expressões.

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No decorrer dos 15 anos de existência, buscou cumprir seus objetivosde consultar, refletir, propor, deliberar e encaminhar assuntos relacionadosao ER, questões referentes à legislação, à formação inicial e continuada dosprofessores, à oferta do componente curricular por parte dos sistemas deensino e das escolas, dentre tantos outros elementos que perpassam ocontexto social e educacional brasileiro.

Nesse sentido, ainda segundo seu Estatuto (2009a), o FONAPER temas seguintes finalidades:

1) exigir que em todas as escolas, de qualquer natureza, oferte-se o ERao educando, pois é um direito de ele ter acesso ao conhecimento religiosoproduzido pelos diferentes povos, a fim de que aprenda o respeito àsdiversidades de pensamento e opções religiosas, sem discriminação emqualquer circunstância e de qualquer natureza;

2) contribuir de forma que o pedagógico centre-se no direito doeducando, a fim de que o mesmo tenha garantida uma educação relacionadaà sua dimensão transcendental;

3) contribuir com o Estado na definição dos conteúdos programáticosdo ER, visto que o mesmo deve efetivamente fazer parte das propostaspedagógicas em todos os níveis da educação básica;

4) centrar esforços a fim de que o ER seja uma expressão da vivênciaética fundada no respeito à dignidade do ser humano;

5) viabilizar reivindicações referentes à qualificação e habilitação deeducadores para este componente curricular, no intuito de preservar osavanços e ampliar as perspectivas referentes à educação, visando a garantircondições adequadas e dignas para o desenvolvimento e aperfeiçoamentodo trabalho;

6) criar meios para a promoção de valores universais como a paz, aética, os direitos humanos, a cidadania, a democracia, dentre outros, a fimde despertar outros olhares frente à diversidade cultural religiosa presenteno Brasil e consequentemente no mundo;

7) desenvolver pesquisas, estudos, socializações na área do ER a fimde divulgar as informações e as práticas desenvolvidas nos diferentescontextos em que há oferta do componente curricular, de acordo com alegislação atual.

Portanto, por meio de seu Estatuto e finalidades percebe-se que aconcepção de ER do Fórum centra-se em oportunizar aos educandos o acesso

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ao conhecimento religioso e não às formas institucionalizadas de religião,pois essas são entendidas como competências estritamente das confissões etradições religiosas, promovendo, assim, uma ruptura histórica com asconcepções confessionais e interconfessionais que demarcaram o caráterhistórico da disciplina.

2.2 Carta de Princípios do FONAPER

Na instalação do FONAPER, em 26 de setembro de 1995, em Floria-nópolis-SC, durante a celebração dos 25 anos do Conselho Interconfessionalde Educação Religiosa (CIER/SC), os representantes de sistemas de ensino eentidades/organismos envolvidos com o ER no Brasil, elaboraram uma cartade princípios3 que, desde então, orientaria as ações e atividades do Fórum,relacionadas a:

– garantia que a Escola, seja qual for sua natureza,ofereça Ensino Religioso ao educando, em todos os níveisde escolaridade, respeitando as diversidades depensamento e opção religiosa e cultural do educando;– definição junto ao Estado do conteúdo programáticodo Ensino Religioso, integrante e integrado às propostaspedagógicas;– contribuição para que o Ensino Religioso expresse suavivência ética pautada pela dignidade humana;– exigência de investimento real na qualificação ecapacitação de profissional para o Ensino Religioso,preservando e ampliando as conquistas, de todomagistério, bem como garantindo-lhes condições detrabalho e aperfeiçoamentos necessários. (FONAPER,1995, p. 1)

Segundo essa carta de princípios, o FONAPER caracteriza-se como umespaço pedagógico que visa a garantir o direito do educando em conhecer evalorizar a diversidade do fenômeno religioso enquanto substrato cultural epatrimônio da humanidade, bem como dar lugar para reflexões e propostas

3 Carta de princípios do FONAPER. Disponível em: <http://www.fonaper.com.br/>.

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de encaminhamentos para a implementação do ER sem discriminação dequalquer natureza.

Nesse espaço, lugar e tempo de existência do FONAPER, muitas mãosde diferentes cores, toques, lugares e sentidos proporcionaram-lhe conquistasde cunho político, cultural, social e educacional em atitudes de seriedade ecompromisso assumidos por educadores de diferentes Estados do Brasil emconsonância com a referida carta. Nessa perspectiva, muitos documentos,pesquisas, estudos, discussões ocorreram e, a partir disso, realizaram-seencaminhamentos significativos, em especial à formação de educadores parao Ensino Religioso.

2.3 Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Religioso

A década de 1990 foi marcada por várias transformações no campoeducacional no cenário brasileiro. Dentre as mais importantes pode-se citara reformulação do currículo da Educação Básica nacional e o movimento paraelaboração dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) encadeado pelo MEC.Estando o ER excluído desse, o FONAPER, em meados de 1996 e 1997,elaborou os Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Religioso (PCNER),visando à construção de um currículo de ER a partir da perspectiva da Lei nº9.475/97, a qual alterou o art. 33 nos seguintes termos:

O ensino religioso, de matrícula facultativa, é parte inte-grante da formação básica do cidadão e constitui disci-plina dos horários normais das escolas públicas de ensi-no fundamental, assegurado o respeito à diversidadecultural religiosa do Brasil, vedadas quaisquer formas deproselitismo.

§ 1º Os sistemas de ensino regulamentarão os procedi-mentos para a definição dos conteúdos do ensino religi-oso e estabelecerão as normas para a habilitação e ad-missão dos professores.

§ 2º Os sistemas de ensino ouvirão entidade civil, consti-tuída pelas diferentes denominações religiosas, para adefinição dos conteúdos do ensino religioso. (BRASIL,1997)

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Os PCNER, portanto, foram criados a partir da “necessidade defundamentar a elaboração dos diversos currículos do ER na pluralidade culturaldo Brasil” (FONAPER, 2009b, p. 14), constituindo-se em uma referência paraa implementação do ER nos sistemas de ensino, nas Instituições de EnsinoSuperior, nos projetos de cursos de formação inicial e continuada, naspropostas curriculares de Estados e municípios, tornando-se base para queos professores e as escolas públicas pudessem encaminhar pedagogicamenteo ER como componente curricular. No campo educacional, foi a primeira vezque educadores de diversas tradições religiosas trabalharam juntos naelaboração de uma proposta curricular que integrasse a diversidade culturalreligiosa brasileira e mundial.

A concepção que perpassa os PCNER apresenta significativos avançosno trato pedagógico da diversidade cultural religiosa presente na escola, poiscompreende “a limitação do espaço da Escola, reconhecendo como um lugarprivilegiado para experiência de fé e opção religiosa a família e a comunidadereligiosa” (FONAPER, 2009b, p. 15) e não o ambiente escolar. Indica, portanto,que a escola não é espaço para a doutrinação de uma ou mais denominaçõesreligiosas, mas sim um lugar para a socialização dos conhecimentos produzidospela humanidade nas diferentes culturas, incluindo nesses, o conhecimentoreligioso, que é também um conhecimento humano (FONAPER, 2009b, p.34).

Portanto, o ER, segundo os PCNER (FONAPER, 2009b, p. 47), objetiva:

proporcionar o conhecimento dos elementos básicos quecompõem o fenômeno religioso, a partir das experiênciasreligiosas percebidas no contexto do educando;subsidiar o educando na formulação do questionamentoexistencial, em profundidade, para dar sua respostadevidamente informada;analisar o papel das tradições religiosas na estruturaçãoe manutenção das diferentes culturas e manifestaçõessocioculturais;facilitar a compreensão do significado das afirmações everdades de fé das tradições religiosas;refletir o sentido da atitude moral como conseqüênciado fenômeno religioso e expressão da consciência e daresposta pessoal e comunitária do ser humano;

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possibilitar esclarecimentos sobre o direito a diferençana construção de estruturas religiosas que tem naliberdade o seu valor inalienável.

Para alcançar esses objetivos, os PCNERs apresentam cinco (5) eixosorganizadores dos conteúdos considerados invariantes, assim delimitados comseus respectivos conhecimentos que indicam os conteúdos programáticosde cada ciclo ou série: 1) Culturas e Tradições Religiosas (filosofia da tradiçãoreligiosa; história da tradição religiosa; sociologia da tradição religiosa;psicologia da tradição religiosa); 2) Escrituras Sagradas e/ou Tradições Orais(revelação; história das narrativas sagradas; contexto cultural; exegese); 3)Teologias (divindades; verdades de fé; vida além da morte); 4) Ritos (rituais;símbolos; espiritualidades); 5) Ethos (alteridade; valores; limites).

Os PCNER apresentam uma proposta inovadora frente aos paradigmasde uma realidade educacional marcada por processos monoculturais,eurocêntricos e cristãos. Entende-se que romper com uma estrutura queperpassou e perpassa historicamente a base de todos os segmentos sociaisrequer ações duradouras, significativas e processuais, para gradualmenteassumir uma postura de efetiva transformação que atinja as práticaspedagógicas no cotidiano escolar e que, por meio delas, surjam outros olhares,outras abordagens, outras interações e inter-relações em uma perspectivainter-religiosa. Trata-se de uma tarefa de médio e longo prazo, que acontecee perpassa os tempos, espaços e lugares do cotidiano escolar.

A concepção de ER nos PCNER sinaliza para processos educacionaissignificativos que revelam o desejo de libertação de uma concepçãomonocultural, cristalizada e historicamente limitada a contemplar a“maioria”4. Apresenta uma proposta desafiadora para os dias atuais emcontextos educacionais, culturais e sociais do Brasil, que precisam, podem edevem avançar em direção ao (re)conhecimento da diversidade cultural ereligiosa.

Os PCNER são fruto do trabalho de muitas mãos, representam ummomento histórico protagonizado por muitos educadores comprometidos

4 Em uma compreensão de vivências e educação que respeite e confira igualdade nas diferenças a todos,conceitos e expressões como minoria e/ou maioria perdem sua função no encaminhamento de decisõese opções. Todos têm direitos iguais em tudo.

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com a proposta do Ensino Religioso a partir de novos olhares, com vistas aoutro(s) mundo(s): melhor(es), diferente(s) e possíveis.

2.4 Ensino Religioso – Referencial Curricular para a Proposta Pedagógica daEscola

O FONAPER, após ter elaborado os PCNER, dedicou-se à produção dodocumento Ensino Religioso: Referencial Curricular do Ensino Religioso paraa Proposta Pedagógica da Escola (Caderno Temático nº 1), a fim de contribuirpara que as escolas do Brasil pudessem elaborar as suas propostas pedagógicasem consonância com os PCNER e as Diretrizes Curriculares Nacionais para oEnsino Fundamental.

A Resolução CNE/CEB nº 2/98, ao definir o ER enquanto disciplina daárea de Educação Religiosa, contribuiu para a definição do objeto de estudo(o fenômeno religioso), do conteúdo (conhecimento religioso), do tratamentodidático (didática do fenômeno religioso), objetivos, metodologia e sistemade avaliação próprios, já definidos e contemplados nos PCNER.

A concepção de ER que perpassa o Caderno Temático 1 apresenta-secomo complementar aos avanços presentes nos PCNER, garantindo o ER comoparte integrante da formação básica do cidadão, assegurado o respeito àdiversidade cultural e religiosa do Brasil, sem quaisquer formas de proselitismo(FONAPER, 2000, p. 7). Tal concepção não está vinculada à fé explícita, comoadesão a uma determinada tradição religiosa, mas aos elementos do“fenômeno religioso no cotidiano da vida, objetivando compreender a buscado Transcendente e o sentido da vida que oferecem critérios e segurança aoexercício responsável dos valores universais da cidadania” (FONAPER, 2000,p. 8).

O ER deixa de ser pensado a partir das tradições religiosas hegemônicas,passando a estruturar-se a partir da escola, concebido como lugar privilegiadopara o exercício e construção das bases da cidadania e a desenvolver-se naperspectiva da construção do conhecimento religioso, ultrapassado assim omodelo de repasse de conteúdos (FONAPER, 2000).

O referido documento apresenta um quadro com as variaçõessemânticas e compreensões do vocábulo latino religião possíveis de seridentificadas reconhecidas historicamente em diferentes leis nacionaisrelacionadas à educação e ao ER e sua implementação nas escolas ao longo

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da história da educação brasileira. Primeiramente, a concepção de reeligere,compreendida no sentido de re-escolher, embasa a concepção de aula dereligião e buscava fazer seguidores por meio da evangelização, catequese,estudo e ensino do texto sagrado cristão. Essa concepção perpassou todo operíodo colonial e imperial amparada legalmente pelo projeto de colonização,pela instituição da Igreja Católica Apostólica Romana como religião oficial doImpério e, contraditoriamente, mesmo após a Proclamação da República,continuou sendo veiculada pela LDBEN nº 4.024/61,5 sendo ainda reproduzidaem alguns contextos escolares na atualidade.

Outra concepção possível de ser identificada foi a religare compreen-dida no sentido de re-ligar, contemplada na LDB pela Lei nº 5.692/716, cujaprática focava a ética e valores ocidentais e o ensino de conteúdos, dinâmicase celebrações ainda de cunho cristão. Embora o texto legal não fizesse essamenção ou encaminhamento à disciplina de ER nas escolas brasileiras, aindaera de cunho confessional cristão, apesar de algumas iniciativas diferenciadasde caráter ecumênico cristão em Estados da região Sul do país (FIGUEIREDO,1994).

Com base no art. 33 da LDBEN nº 9.394/96, alterado pela Lei nº 9.475/97, o FONAPER tem se empenhado para a passagem e a efetivação doentendimento de outra concepção de religião, o relegere, que significa “re-ler”. A partir dessa concepção, o ER tem como função principal contribuirpara a (re)leitura do fenômeno religioso presente nos diferentes contextossocioculturais (FONAPER, 2000, p. 13), desencadeando o diálogo e a reverência.

A partir disso, o Caderno Temático 1 organizou uma estrutura básicapara todos os ciclos ou séries do Ensino Fundamental (1ª a 8ª séries), a fim desubsidiar os professores e as escolas no desenvolvimento do processo deaprendizagem de forma contínua, pois, se “aprender é construir significados,ensinar é oportunizar essa construção” (FONAPER, 2000, p. 36).

5 A Lei nº 4.024/61 assim legisla em seu art. 97: “O ensino religioso constitui disciplina dos horários dasescolas oficiais, é de matrícula facultativa, e será ministrado sem ônus para os poderes públicos, deacordo com a confissão religiosa do aluno, manifestada por ele, se for capaz, ou pelo seu representantelegal ou responsável. § 1º A formação de classe para o ensino religioso independe de número mínimo dealunos.§ 2º O registro dos professores de ensino religioso será realizado perante a autoridade religiosa respectiva.”6 Quanto ao Ensino Religioso, a Lei nº 5.692/71 apresenta em parágrafo único do seu art. 7: “O ensinoreligioso, de matrícula facultativa, constituirá disciplina dos horários normais dos estabelecimentos oficiaisde 1º e 2º graus”.

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Essa construção requer que a abordagem e o tratamento didático dosconteúdos em ER, possibilitem ao educando o estabelecimento de

[...] relações múltiplas, interações, conexões entre osconhecimentos que esse educando já traz do seu meiosocial (que são assistemáticos, empíricos, sincréticos,desarticulados, desorganizados, fragmentados) com osconhecimentos religiosos dos seus colegas, e aquelesapresentados pela escola – informação – (que são siste-máticos, organizados, articulados, sintéticos, totalizantessobre o fenômeno religioso) num processo contínuo deobservação e reflexão. (FONAPER, 2000, p. 36)

Nesse sentido, o Referencial Curricular para a Proposta Pedagógica daEscola contribui para a concepção do ER em uma perspectiva pedagógica,dialógica e crítica. Deixa em aberto compreensões que podem/precisam serdiscutidas e aprofundadas a partir das Ciências da Religião e/ou Religiões naperspectiva da diversidade cultural religiosa e da interculturalidade no tocantea conceitos, expressões, encaminhamentos teórico-metodológicos, a fim decontinuar o processo de decodificação do fenômeno religioso que, de formadinâmica, apresenta-se de/em diferentes maneiras na sociedade eespecificamente no cotidiano escolar.

2.5 Ensino Religioso: Capacitação para um Novo Milênio

No intuito de fomentar a formação de professores para o ER no Brasil,o FONAPER, com a contribuição de muitos educadores, pesquisadores efiliados, produziu 12 Cadernos para um Curso de Extensão a Distânciadenominado Ensino Religioso: capacitação para um novo milênio.

Esses Cadernos ampliaram significativamente a concepção de ER porapresentarem elementos até então pouco contextualizados e sistematizados.Apresentam a trajetória do ER desenvolvida a partir e por meio das múltiplasrelações no contexto político-educacional, além de contribuir comfundamentos teórico-metodológicos para o desenvolvimento da docência emEnsino Religioso. Um dos principais motivos da produção do referido materialfoi o de suprir a falta de referenciais para a formação de professores econtribuir assim com a efetiva implantação da lei em vigor.

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Os Cadernos reforçam significativamente o papel da escola frente aimplantação do ER ao afirmarem que:

à escola compete garantir o acesso ao conhecimento re-ligioso, a seus componentes epistemológicos, sociológi-cos e históricos. Pode, naturalmente, servir-se do fenô-meno religioso e de sua diversidade, sem, contudo, erigiruma ou outra forma de religiosidade em objeto de apren-dizagem escolar. Na aula de Ensino Religioso nossas cri-anças têm que ter acesso ao conhecimento religioso, nãoaos preceitos de uma ou de outra religião. (FONAPER,2000, Caderno nº 1, p. 11)

Nas concepções anteriores, o ER, ao afirmar uma religião como únicae verdadeira, acabava provocando a segregação dos grupos religiososdiferentes. Nesse sentido, o referido material, em consonância com alegislação, acentua que cada educando deverá ser aceito e respeitadoindependente da crença que possui. Com isso, o ER passa a ser umcomponente agregador, pois evangélicos, católicos, budistas, luteranos,candomblendistas, umbandistas, espíritas, islâmicos, judeus, indígenas emembros de outras crenças e, inclusive, os que optam por não ter nenhumacrença. Todos têm a oportunidade de se sentarem lado a lado, estudarem,pesquisarem, socializarem e buscarem mais conhecimentos sem sofreremdiscriminação, serem invizibilizados, minimizados e/ou excluídos.

Nesse sentido, os Cadernos para capacitação de docentes indicam anecessidade de educadores com competência profissional, honestidade ehumildade científica para abordar as questões referentes ao ER, pois umprojeto que queira contemplar a diversidade cultural religiosa para alteridadenão pode restringir-se apenas à assimilação de conteúdos e conhecimentos,mas sim garantir que esses conteúdos e conhecimentos estejam intimamenterelacionados a um sistema de comportamentos e valores humanos queconsidere o Outro em sua totalidade (FONAPER, 2000, Caderno 2).

Os PCNER encaminham que o profissional do ER, por ser um dosresponsáveis diretos da abordagem respeitosa e pedagógica da diversidadecultural religiosa, precisa desenvolver a sensibilidade diante da pluralidade econsciência da complexidade sociocultural da questão religiosa, a fim de

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garantir a liberdade dos educandos quanto à opção religiosa, sem proselitismo,educando-os para o diálogo.

Nesse sentido, o educador tem de ser um interlocutor entre a escola ea comunidade, mediando os conflitos no intuito de despertar para aconscientização frente ao diferente e às diferenças culturais religiosas(FONAPER, 2009b).

Por fim, a concepção de ER é determinante para que a abordagemdidático-pedagógica possibilite a construção de um ambiente deaprendizagem e, ao mesmo tempo, um ambiente que transpareça o respeitofrente à complexidade das relações humanas e culturais.

Os referidos Cadernos são, nessa perspectiva, instrumentos que trazemsignificativas contribuições no sentido de ampliar e aprofundar as discussõesreferentes ao processo de construção do novo paradigma para o ER, emconformidade com a legislação em vigor.

2.6 Pronunciamentos Contrários à Aprovação do Art. 11 do Acordo Brasil-Santa Sé

2.6.1 Ofícios ao Congresso Nacional

No dia 13 de novembro de 2008, o Presidente Luiz Inácio Lula da Silvaassinou o Acordo entre o Brasil e a Santa Sé, que tratava do Estatuto Jurídicoda Igreja Católica no Brasil. Esse fato provocou inúmeras discussões em todoo Brasil quanto ao seu teor, mas, no entanto, foi ratificado pela Câmara dosDeputados no dia 27 de agosto de 2009; pelo Senado Federal recebeuaprovação no dia 7 de outubro de 2009; sendo finalmente promulgado peloDecreto nº 7.107, de 11 de fevereiro de 2010.

O texto do Acordo era composto por 20 artigos, sendo que um deles, oart. 11, abordava especificamente sobre o ER nas escolas públicas brasileiras,nos seguintes termos:

Artigo 11. A República Federativa do Brasil, em obser-vância ao direito de liberdade religiosa, da diversidadecultural e da pluralidade confessional do País, respeita aimportância do ensino religioso em vista da formaçãointegral da pessoa.

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§1º. O ensino religioso, católico e de outras confissõesreligiosas, de matrícula facultativa, constitui disciplinados horários normais das escolas públicas de ensino fun-damental, assegurado o respeito à diversidade culturalreligiosa do Brasil, em conformidade com a Constituiçãoe as outras leis vigentes, sem qualquer forma de discri-minação. (Grifos nossos)

Por defender outra concepção de ER e, consequentemente, outroencaminhamento curricular, o FONAPER procurou orientar e mobilizareducadores, gestores, deputados e senadores e diversas instituições paradebater a problemática em questão.

Dentre as ações desenvolvidas pelo FONAPER, encontra-se a articulaçãoe o contato com representantes do Congresso Nacional, a fim de aprofundaras discussões e identificar as implicações quanto à concepção, encaminha-mento pedagógico e funcionalidade se a concepção de ER do Acordo fosseimplementada no contexto escolar.

No ofício enviado ao Relator da Matéria na Comissão de Educação eCultura/CEC da Câmara dos Deputados (Ofício nº 108 de 5 de agosto de 2009),o FONAPER apresentou dois questionamentos relevantes:

a) Se o Acordo é relativo ao Estatuto Jurídico da IgrejaCatólica no Brasil, por que a disciplina de Ensino Religio-so, enquanto componente do currículo escolar e umadas áreas de conhecimento do Ensino Fundamental dasescolas públicas do Brasil, faz parte deste instrumento?b) Pode um outro Estado Federativo, neste caso, a SantaSé, intervir e sugerir outras concepções e encaminhamen-tos a determinadas áreas de conhecimento da educaçãode um outro Estado, neste caso, da República Federativado Brasil? (FONAPER, 2009c)

Tais questionamentos se deram porque o FONAPER entende que o ERé componente curricular do Ensino Fundamental, parte integrante da basenacional comum, cuja regulamentação se deu pela Lei nº 9.475/97. Dessemodo, o Fórum ratificou a importância e a necessidade de a escoladisponibilizar a seus educandos, no conjunto dos conhecimentos, conteúdosreferentes à diversidade cultural religiosa do povo brasileiro, promovendo e

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exercitando a liberdade de concepções e a construção da autonomia e dacidadania, aspectos basilares de um Estado laico e democrático.

Nessa perspectiva o FONAPER, desde a sua instalação (1995), vemapresentando e propondo à comunidade brasileira, que o ER não deve serentendido como ensino de uma religião ou das religiões no contexto escolar,mas sim uma disciplina embasada nas Ciências da Religião e da Educação.Enquanto componente curricular, ao considerar as diferentes vivências,percepções e elaborações que integram o substrato cultural da humanidade,constitui-se rica fonte de conhecimentos que instigam, desafiam e subsidiamas diferentes gerações, oportunizando a liberdade de expressão religiosa eviabilizando desta forma, a prática da “Declaração Universal sobre aDiversidade Cultural” (UNESCO, 2001).

Dentre outros pontos apresentados pelo FONAPER aos Membros daComissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional/CREDEN (Ofício nº 16,de 9 de junho de 2009) está a compreensão de que o ER,

[...] integra uma esfera mais ampla: a das culturas, quandoobjetiva que crianças e adolescentes, ao longo do EnsinoFundamental busquem conhecer, compreender e vivenciaros diferentes direitos de cidadãos, entre eles, o direito aolivre acesso ao conjunto dos conhecimentos religiosos ela-borados pela humanidade. (FONAPER, 2009d)

Nesse documento, o FONAPER defende que o ER, enquantocomponente curricular, deve atender à função social da escola, emconsonância com a legislação do Estado Republicano brasileiro que tem nasua base o respeito, a acolhida e a valorização das diferentes manifestaçõesdo fenômeno religioso no contexto escolar, a partir de uma abordagempedagógica que estuda, pesquisa e reflete a diversidade cultural religiosabrasileira, vedadas quaisquer formas de proselitismos, promovendo assimuma educação voltada às relações em e para a alteridade (FONAPER, 2009d).

Nesse sentido, verifica-se que uma educação aberta e atenta aosdesafios contemporâneos e interculturais, não pode ser conduzida por umaprática proselitista e/ou fragmentada, uma vez que, ao não estimular earticular o conhecimento e o diálogo entre os diferentes no cotidiano escolar,esta poderá (re)produzir processos discriminatórios, deixando, por sua vez,de exercer sua função social.

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2.6.2 Carta aos Professores de Ensino Religioso

Em virtude das discussões referentes ao ER que emergiram em todoterritório brasileiro e por ocasião do dia dos professores, a Coordenação doFONAPER, com o apoio da Associação dos Professores de Ensino Religioso doEstado de Santa Catarina (ASPERSC); as Faculdades EST, São Leopoldo/RS; oGrupo de Pesquisa Ethos, Alteridade e Desenvolvimento (GPEAD/FURB); oGrupo de Pesquisa Educação e Religião (GPER) e o Curso de Ciências da Religião– Licenciatura em Ensino Religioso da Universidade Regional de Blumenau(FURB), elaborou uma carta datada em 15 de outubro de 2009.

O documento apresenta o que é o ER tendo por base a legislação e osdocumentos que garantem a legitimidade e a efetividade na oferta e que,como componente curricular, visa a contribuir na formação plena do cidadão,no contexto de uma sociedade cultural e religiosamente diversa, na qual todasas crenças e expressões religiosas precisam e podem ser respeitadas(FONAPER, 2009e).

Nesse sentido, problemáticas que envolvem questões comodiscriminação étnica, cultural e religiosa têm a oportunidade de sair dassombras para serem trazidas à luz como elementos de aprendizagem,enriquecimento e crescimento do contexto escolar como um todo (BRASIL,1997). Com isso, o FONAPER defende que o estudo do fenômeno religiosoem um Estado laico, a partir de pressupostos científicos, tem por objetivo aformação de cidadãos críticos e corresponsáveis, com capacidade dediscernimento em relação à dinâmica dos fenômenos religiosos, queperpassam a vida em âmbito pessoal, local e global.

As diferentes crenças, grupos e tradições religiosas, bem como aausência delas, são aspectos da realidade que devem ser socializados eabordados como dados antropológicos e socioculturais, que podem contribuirna interpretação e na fundamentação das ações humanas (FONAPER, 2009e).

Com isso, justifica-se que o ER, como as demais áreas do conhecimento,necessita de um tratamento didático-pedagógico adequado, a fim de organizaros conteúdos e trabalhá-los na perspectiva de construção de conhecimentos.Trata-se do fazer pedagógico “em nível de análise e conhecimento napluralidade cultural da sala de aula, salvaguardando, assim, a liberdade deexpressão religiosa do educando” (FONAPER, 1997, p. 38).

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Pela carta, o FONAPER e demais parceiros, parabenizaram osprofessores de ER presentes em todo Brasil pela sua data e reafirmaram anecessidade de continuar a discutir a relevância das questões socioculturais-religiosas que perpassam a história e a atualidade da sociedade brasileira,tendo em vista a construção de uma educação que respeite, contemple e(re)conheça a pluralidade de culturas que constituem a sociedade brasileira.

3 CONCEPÇÕES DE ENSINO RELIGIOSO E O FONAPER: DESAFIOS EPERSPECTIVAS

A concepção de ER presente na atual legislação e nos documentosproduzidos pelo FONAPER é uma marca na história da educação brasileira eespecificamente para o componente curricular do ER pois representa um saltosignificativo referente ao tratamento das diferentes identidades culturais ereligiosas que transitam o cotidiano escolar.

Diante dos desafios que o ER enfrenta e dos avanços das discussõesreferentes ao reconhecimento sempre renovado da diversidade por meio deestudos, pesquisas e observações de práticas pedagógicas envolvendo ocotidiano escolar, formação docente, diálogos com educadores e formadoresem/de diferentes tempos, espaços e locais, sinalizam e vislumbram novoshorizontes para o trato da diversidade cultural religiosa no contexto escolar(CECCHETTI e OLIVEIRA, 2009).

Verifica-se nos últimos anos que as pesquisas e temáticas propostas ediscutidas em eventos tanto do FONAPER quanto de outras instituiçõesrelacionadas e comprometidas com a pesquisa e a formação de docentes emER, estão buscando novos paradigmas que se aproximam às discussõesrelacionadas à interculturalidade, aos direitos e deveres humanos, ao currículoe à formação docente sob novas perspectivas, a fim romper com os processoseducacionais monoculturais, que reproduzem discriminações, preconceitose silenciamentos no cotidiano escolar.

Gimeno Sacristán (1995, p. 97), ao falar do caráter monocultural daescola, afirma que,

[...] a cultura dominante nas salas de aula é a quecorresponde à visão de determinados grupos sociais: nos

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conteúdos escolares e nos textos aparecem poucas ve-zes a cultura popular, as subculturas dos jovens, as con-tribuições das mulheres à sociedade, as formas de vidarurais, e dos povos desfavorecidos (exceto os elementosdo exotismo), problema da fome, do desemprego ou dosmaus tratos, o racismo e a xenofobia, as conseqüênciasdo consumismo e muitos outros temas problemas queparecem “incômodos”. Consciente e inconscientementese produz um primeiro velamento que afeta os conflitossociais que nos rodeiam quotidianamente.

Esse contexto, que afeta a educação como um todo, vem sendo tratadoseriamente por meio de discussões, pesquisas, eventos e práticas pedagógicasem ER, viabi lizando a superação de processos homogeneizadores emonoculturais. Isso vai ao encontro de uma perspectiva intercultural, quebusca a descolonização do saber, do poder, do ser e do viver (FLEURI, COPPETTEe AZIBEIRO, 2009).

Não tendo a pretensão de esgotar e/ou aprofundar tal discussão, masapenas sinalizar parte de uma trajetória em constante construção, destaca-se a ousadia do FONAPER em buscar outros olhares, perspectivas e desafiosque encaminham outra concepção de ER, integrando a diversidade culturalreligiosa presente na sociedade e na escola brasileira.

A fim de continuar aprofundando as discussões frente às exigênciasdo(s) mundo(s) atua(is), percebe-se que a valorização da diversidade culturalnecessita ser o ponto de partida para que a aproximação entre as culturasaconteça e, nessa perspectiva, as diferenças religiosas sejam respeitadas,reconhecidas de forma a não serem motivos de discriminações e preconceitos.

Para tanto, a diversidade de identidades e diferenças culturais, étnicase religiosas precisam ser abordadas nos currículos escolares e de formaçãode docentes com propriedade e profundidade. Conhecer o outro, o diferente,o estranho requer uma predisposição interior para respeitar e conviver. OFONAPER, nesse sentido, predispôs-se à dinâmica que a diversidade culturalreligiosa requer, buscando alternativas condizentes às necessidades de cadatempo, espaço e lugar.

Em nome dos educadores de ER de todo o Brasil, profissionais daeducação e demais cidadãos comprometidos com os ideais de uma educaçãotransformadora, tomo a liberdade para parabenizar todos que, de uma forma

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ou de outra, estiveram nestes 15 anos construindo o FONAPER, passo a passo,ponto a ponto. Novos tempos hão de vir e com eles outros desafios, outroshorizontes e concepções, pois conhecer para respeitar não é um ponto final,apenas uma oportunidade para iniciar um encontro em diálogo, reconhecendoe promovendo direitos humanos.

REFERÊNCIAS

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 ______. Lei nº 9.475, de 22 de julho de 1997. Dá nova redação ao art. 33 da Lei n°9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educaçãonacional. Brasília: Diário Oficial da União, 1997.

_______. Conselho Nacional de Educação. Câmara de Educação Básica. Resolução nº02/98. Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental. Brasília/DF,1998.

 ______. Conselho Nacional de Educação. Câmara de Educação Básica. Resolução n°2, de 7 de abril de 1998. Institui as Diretrizes Curriculares Nacionais para o EnsinoFundamental.

 ______. Conselho Nacional de Educação. Câmara de Educação Básica. Resolução n°4, de 13 de julho de 2010. Define Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para aEducação Básica.

______. Decreto nº 7.107, de 11 de fevereiro de 2010. Promulga o Acordo entre oGoverno da República Federativa do Brasil e a Santa Sé relativo ao Estatuto Jurídicoda Igreja Católica no Brasil, firmado na Cidade do Vaticano, em 13 de novembro de2008. Brasília: Diário Oficial da União, 2010.

CECCHETTI, Elcio; OLIVEIRA, Lilian Blanck de. Formação docente em ensino religioso:espaço de diversidade e exercício de alteridade. Diálogo: Revista de Ensino Religioso,ano XIV, n. 54, maio/jul. 2009.

FLEURI, Reinaldo Matias; COPPETE, Maria Conceição; AZIBEIRO, Nadir Esperança.Pesquisas Interculturais: Descolonizar o saber, o poder, o ser e o viver. In: OLIVEIRAet al. (org.). Culturas e diversidade religiosa na América Latina: pesquisas eperspectivas pedagógicas. Blumenau: Edifurb; São Leopoldo: Nova Harmonia, 2009.

FIGUEIREDO, Anísia de Paulo. Ensino religioso: perspectivas pedagógicas. Petrópolis:Vozes, 1994.

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Capítulo VI

Diretrizes Curriculares Nacionaispara a Formação de Professoresde Ensino Religioso

Lilian Blanck de Oliveira1

Elcio Cecchetti2

1 INTRODUÇÃO

Historicamente, o processo de formação de docentes para as Aulas deReligião, Educação Religiosa e Ensino Religioso até a década de 1990 estevediretamente ligado ao processo formador de agentes pastorais das instituiçõesreligiosas cristãs, desenvolvido, às vezes, em parceria com os sistemas deensino.

As demandas de formação eram atendidas por cursos de Teologia, Ci-ências Religiosas, Catequese, Educação Cristã e outros similares (CARON,1997). No entanto, esse tipo de formação, não habilitava os professores emconformidade com os profissionais da educação de outras disciplinas, quetinham suas graduações reconhecidas pelo Ministério da Educação (MEC).Essas ações situavam-se, prioritariamente, em diferentes e múltiplos proces-sos de formação continuada3, que, por sua vez, continham ricas contribui-ções, assim como carências, dilemas e desafios a serem superados.

1 Doutora em Teologia – Área: Educação e Religião. Pedagoga e especialista nas Séries Iniciais do EnsinoFundamental e Educação Pré-Escolar. Docente no Programa de Mestrado em Educação e DesenvolvimentoRegional e no Curso de Ciências da Religião – Licenciatura em Ensino Religioso da Fundação UniversidadeRegional de Blumenau (FURB/SC). Líder do Grupo de Pesquisa: Ethos, Alteridade e Desenvolvimento(GPEAD). Integra a Coordenação do Fórum Nacional Permanente de Ensino Religioso (FONAPER). E-mail:[email protected] Mestre em Educação pela UFSC. Especialista em Fundamentos e Metodologias do Ensino Religioso emCiências da Religião pela FURB. Graduado em Ciências da Religião-Licenciatura em Ensino Religioso pelaFURB. Coordenador de Programas de Formação Continuada e responsável pelo Ensino Religioso naSecretaria de Estado da Educação de Santa Catarina (SED). Membro do Grupo de Pesquisa Ethos, Alteridadee Desenvolvimento (GPEAD/FURB). Secretário do Fórum Nacional Permanente de Ensino Religioso –FONAPER. E-mail: [email protected]

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Até a criação dos cursos de licenciatura em Ensino Religioso (ER), emconformidade com a legislação nacional para o exercício da docência naeducação básica no Brasil, os cursos de formação continuada desenvolvidosem todas as regiões do país, sustentaram, construíram e subsidiaram estudose práticas docentes possíveis no exercício dessa disciplina. A criação de umRegime Republicano (1889) somada às históricas relações entre Estado eReligião que o antecederam continuaram imbricando decisões relativas àformação de formadores no Brasil, buscando atender e/ou conciliar interessese demandas existentes. Nesse percurso entre “conquistas e concessões”4, afunção social da escola, muitas vezes, ficou invisibilizada, sujeita às(re)interpretações dos sujeitos que a constituíam em dados tempos, espaçose lugares.

A partir da década de 1970, no âmbito da Educação Religiosa e/ouEnsino Religioso, reflexões, estudos e pesquisas decorrentes da percepçãode um contexto social em constantes mudanças; do trânsito das diversidadesno contexto escolar; das demandas e desafios hodiernos no âmbito daeducação em íntima relação com os desejos e desenhos para a construçãode outra lei para a educação brasileira; provocavam e encaminhavam outrasconcepções e propostas pedagógicas para esta disciplina no contexto escolar.O enfoque catequético, ainda presente em muitas das aulas e cursos deformação continuada, não atendia aos reclames da sociedade brasileira eseus ditames legais para uma formação integral dos educandos.

Nesse contexto de busca e construção, em vários Estados brasileiros,foram criadas organizações de caráter ecumênico cristão, como, por exemplo,o Conselho de Igrejas para o Ensino Religioso (CIER) em Santa Catarina (1970),a Associação Inter-Religiosa de Educação (ASSINTEC), no Paraná (1973), entreoutras. Essas organizações visavam a superar o modelo catequético do ER,propondo uma concepção de perspectiva antropológica, tomando como

3 A formação docente no Brasil esteve agregada a diferentes contextos históricos, onde as necessidadeseconômicas condicionaram a política educacional a seus interesses. Algumas terminologias decorrentesdesses processos, como reciclagem, treinamento, aperfeiçoamento e capacitação trazem em seu bojodiferentes compreensões do pensar e fazer pedagógico. Outras terminologias surgiram como educaçãopermanente, educação recorrente, educação contínua, educação continuada, formação continuada paradesignar um novo desafio e perspectiva dos e aos pensadores e trabalhadores da educação que nãoquerem que ela se torne uma atividade pontual, porém aconteça em contínuo (FUSARI, 1995). Optou-se, neste texto, pelo uso da terminologia: formação continuada por entendermos ter sido ser o desejohistórico dos educadores de Ensino Religioso neste país, ou seja, o direito a uma formação inicial econtinuada em paridade com os demais profissionais da área da educação.4 Expressão utilizada por Caron (1997) em seu texto dissertativo de mestrado.

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referencial a religiosidade do ser humano e suas relações com o outro, anatureza, consigo e com Deus. Em 1996, 17 Estados brasileiros tinham umaforma de organização ecumênica para assessorar os sistemas de ensino naoferta de ER no currículo escolar.

Figueiredo (1994) aponta que os Estados do sul do Brasil buscaramoutras perspectivas pedagógicas, levando em conta uma escola aberta adiferentes credos, embora o Cristianismo continuasse sendo o marcoreferencial da proposta em si. Em parceria com os Sistemas de Ensino foramcriadas propostas de formação para os professores e materiais didáticos comuma linguagem diferenciada da adotada até então.

Nesse período de transição entre o ER confessional cristão e o estudodo fenômeno religioso na diversidade cultural religiosa brasileira (Lei n° 9.475/97), em diferentes regiões e Estados brasileiros, surgiram projetos de formaçãobuscando habilitar os docentes para essa disciplina do currículo escolar como:formação continuada, cursos lato sensu para os educadores formados emoutras áreas do conhecimento e atuando na disciplina de ER e propostas decursos de ensino superior em nível de licenciatura. De acordo com Caron(1997), Santa Catarina era um dos Estados que desde a década de 1970 vinhabuscando formas de viabilizar um curso em nível superior para habilitar osprofessores de Educação Religiosa. Ainda, em 1972, o CIER encaminhou oprimeiro projeto de Curso de Licenciatura de 1º grau em Educação ReligiosaEscolar ao Conselho Federal de Educação, sendo indeferido em face dalegislação vigente. Outras tentativas em nível estadual aconteceram nos anosde 1973 e de forma intensiva entre os anos de 1985 a 1990.

As discussões na década de 1980, que envolviam e moviam a elaboraçãoda nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN), o imperativointransferível de respeito e acolhida à diversidade religiosa no contexto sociale escolar, os ventos de outros tempos e espaços em busca de um lugar para oEnsino Religioso no currículo escolar integrado e entretecido às demandas efunção social da escola, preconizam outra concepção de ER por se fazerpresente no cotidiano escolar.

Experiências de acolhimento e respeito e trabalho coletivo entre muitasdenominações cristãs contribuíram para se repensar referências e práticashistóricas em ER buscando, em oposição ao projeto colonizador, um ER deperspectiva inter-religiosa. Grupos de educadores, entidades religiosas,universidades e sistemas de ensino, sentiam a necessidade de encaminhar

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uma nova forma de ER, que acolhesse a diversidade cultural religiosa brasileira,socializasse os conhecimentos religiosos elaborados historicamente pelahumanidade, buscando dessa forma contribuir para a erradicação deinvisibilizações, violações de direitos e perseguições de cunho religioso nocontexto social e escolar, motivadas por preconceitos e discriminações.

Fazia-se necessário que temáticas invisibilizadas e/ou silenciadas comoas questões de caráter religioso fossem trazidas à luz, estudadas, pesquisadase discutidas tendo a oportunidade de sair das sombras, que levam àproliferação de ambiguidades e mazelas nas falas e atitudes (BRASIL, 1997).

Um dos resultados dos muitos movimentos, estudos e reflexõesempreendidos por educadores, instituições religiosas e sistemas de ensinoneste movimento foi a instalação, em 26 de setembro de 1995, emFlorianópolis/SC, durante a Assembléia dos 25 anos do CIER, do FórumNacional Permanente de Ensino Religioso (FONAPER), cuja carta de princípiosredigida e assinada no ato pelos membros fundadores registra suasintencionalidades e compromissos5.

Logo após a sua fundação, os membros do Fórum começaram a redigircoletivamente a primeira versão dos Parâmetros Curriculares Nacionais deEnsino Religioso (PCNER), o qual apresenta referenciais para um EnsinoReligioso que,

[...] valorizando o pluralismo e a diversidade culturalpresentes na sociedade brasileira, facilita a compreensãodas formas que exprimem o Transcendente na superaçãoda finitude humana e que determinam, subjacentemente,o processo histórico da humanidade; [...] por isso não deveser entendido como Ensino de uma Religião ou das Re-ligiões na Escola, mas sim uma disciplina centrada naantropologia religiosa. (grifos nossos)

A construção desse documento contou com a participação de milharesde educadores do quadrante brasileiro. De forma colegiada, as questões foramdiscutidas nos Estados da Federação e trazidas em assembleias, contandocom assessorias especializadas na área das ciências humanas, representantes

5 Verificar conteúdo na íntegra no site <www.fonaper.com.br>

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de religiões e/ou movimentos de matriz africana, semita, indígena e oriental,organizações não governamentais e governamentais. Em 5 de novembro de1996, a Coordenação do FONAPER entregou o documento dos ParâmetrosNacionais de Ensino religioso (PCNER) ao Ministério da Educação e Cultura(MEC), em Brasília. O MEC solicitou a indicação de pareceristas para avaliaremos PCNER.

Apesar de todo o processo de discussão e construção nacional, a LDBENnº 9.394, promulgada em 20 de dezembro de 1996, em seu art. 33, apresentouo ER como sendo de matrícula facultativa, disciplina dos horários normaisdas escolas públicas de Ensino Fundamental, oferecido sem ônus para os cofrespúblicos, de acordo com as preferências manifestadas pelos alunos ou porseus responsáveis, em caráter confessional ou interconfessional.

A necessidade de acolhimento, respeito e valorização da diversidadecultural religiosa no cotidiano das escolas públicas; a compreensão do ERcomo um dos componentes curriculares a contribuir para “o plenodesenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania esua qualificação para o trabalho” (art. 2º da LDBEN nº 9.394/96) e a defesa dalaicidade do Estado suscitaram questionamentos e reações imediatas em nívelnacional sobre a omissão do poder público sob o ponto de vista legal,pedagógico e financeiro expresso na redação do referido artigo.

Nos diferentes Estados da Federação, as solicitações e discussões deentidades religiosas e civis, educadores, pesquisadores e comunidade em geralse fizeram presentes, moveram, subsidiaram e resultaram na promulgaçãoda Lei nº 9.475/97, que alterou significativamente os encaminhamentos destadisciplina, ficando assim estabelecida:

Art. 33 – O ensino religioso, de matrícula facultativa, éparte integrante da formação básica do cidadão, consti-tui disciplina dos horários normais das escolas públicasdo ensino fundamental, assegurando o respeito à diver-sidade cultural religiosa do Brasil, vedadas quaisquer for-mas de proselitismo.

§ 1° Os sistemas de ensino regulamentarão os procedi-mentos para a definição dos conteúdos do ensino religio-so e estabelecerão as normas para a habilitação e ad-missão dos professores.

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§ 2° Os sistemas de ensino ouvirão entidade civil, consti-tuída pelas diferentes denominações religiosas, para adefinição dos conteúdos do ensino religioso. (BRASIL,1997)

Com esta Lei, são criadas, pela primeira vez, na história da educaçãobrasileira, oportunidades de sistematizar o ER como componente curricularque não fosse doutrinação religiosa e nem se confundisse com o ensino deuma ou mais religiões (ZIMMERMANN, 1998).

Com a mudança de paradigma da concepção do ER, não mais de caráterconfessional e/ou interconfessional, mas enquanto estudo do fenômenoreligioso na diversidade cultural religiosa do Brasil, surge a demanda de novaspropostas de formação docente para esta área do conhecimento (ResoluçãoCNE/CEB n° 2/98 e Resolução CNE/CEB n° 4/10).

Diante de tal desafio, emergem novos projetos para a habilitação dosprofessores de ER, em conformidade com a legislação educacional em vigor,para criação de cursos de licenciatura de graduação plena, em diferentesEstados da Federação. Santa Catarina foi o primeiro a elaborar e autorizar,em 1996, o curso de Graduação em Ciências da Religião-Licenciatura emEnsino Religioso, seguido, no decorrer dos anos, por outros Estados, a saber:Pará, Maranhão, Paraíba, Minas Gerais e Rio Grande do Norte.

Nesses Estados, pela primeira vez na história brasileira, a formação dedocentes para o ER seguiria os mesmos trâmites previstos para a formaçãode profissionais das demais áreas de conhecimento (art. 62 da LDB nº 9.394/96), assegurando aos egressos o acesso à carreira do magistério,disponibilizando à sociedade brasileira educadores habilitados capazes devalorizar e reconhecer a diversidade cultural religiosa.

Vale destacar que o envolvimento de universidades, sistemas de ensino,associações/instituições educacionais e inter-religiosas, bem como doFONAPER, não tem se limitado às questões relativas à formação inicial deprofessores para o ER, mas se ampliam e completam com propostas e açõesde formação continuada e de pesquisas e publicações para esta área doconhecimento.

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2 A NECESSIDADE DE DCNS PARA A FORMAÇÃO DE PROFESSORES DE ENSINORELIGIOSO

O ER, ao considerar, proporcionar e valorizar o conhecimento doselementos básicos que compõem o fenômeno religioso, a partir dasexperiências religiosas percebidas/vivenciadas no contexto dos educandos,busca garantir o direito à diferença, auxiliando na constituição de relaçõesinterculturais, inter-religiosas e interpessoais, no constante propósito depromoção dos direitos humanos.

No entanto, para atingir os objetivos propostos, o ER demanda deprofissionais com habilidades e competências para o desempenho de seupapel na educação, assim como acontece com todo e qualquer educador noexercício da função nas demais áreas de conhecimento. De acordo com osPCNER (FONAPER, 1997), espera-se que o profissional de ER tenhasensibilidade à pluralidade, consciência da complexidade sociocultural daquestão religiosa presente no cotidiano escolar, disponibilidade para o diálogoe capacidade de articulá-lo na mediação dos possíveis conflitos, além degarantir a liberdade religiosa dos educandos, sem qualquer forma deproselitismo.

Por essas razões, a formação de educadores para ER, na atualidade,requer a consideração das diferentes vivências, percepções e elaboraçõesem relação ao religioso que integra o substrato cultural dos povos, cujosrelatos e registros elaborados sistematicamente pela humanidade seconstituem em uma rica fonte de conhecimentos a instigar, desafiar, conflitare subsidiar o cotidiano das gerações (OLIVEIRA et al., 2007).

Para tanto, são imprescindíveis processos de formação docente quediscutam e pesquisem, com profundidade, a complexidade do fenômenoreligioso, a fim de que cada educador reconheça a diversidade cultural religiosaem seus múltiplos aspectos.

A mudança da concepção de ER e, consequentemente, do perfil deseu professor, como profissional integrante do sistema escolar e portador deconhecimentos e habilidades apropriadas para a realização dos objetivos domesmo, aponta para a necessidade de uma formação específica, em nívelsuperior, em cursos de licenciatura de graduação plena.

O §1º do art. 210 da Constituição Brasileira de 1988, que institui oEnsino Religioso como disciplina dos horários normais das escolas públicas

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de ensino fundamental; o art. 33 (redação alterada pela Lei nº 9.475/97) e oart. 62 da LDBEN nº 9.394/96, o qual especifica que a formação de docentespara atuar na Educação Básica far-se-á em nível superior, em curso delicenciatura, de graduação plena, em universidades e institutos superioresde educação; a Resolução CEB/CNE nº 2/98, que institui as DiretrizesCurriculares Nacionais para o Ensino Fundamental conferindo ao ER statusde área do conhecimento, por fazer compor a base nacional comum; e arecente Resolução CNE/CEB n° 4, de 13 de julho de 2010, que, ao instituir asDiretrizes Curriculares Nacionais Gerais para a Educação Básica reafirma o ERcomo área de conhecimento integrante da base nacional comum nacional daEducação Básica, constituem os fundamentos basilares para a proposição deDiretrizes Curriculares Nacionais (DCNs) para curso de licenciatura em EnsinoReligioso.

No entanto, em grande parte do território nacional, devido àinexistência de diretrizes e políticas públicas de formação de docentes para oER, a concretização dos objetivos desse componente, de formapedagogicamente adequada, inserida no conjunto dos princípios e fins daeducação nacional (arts. 2º e 3º da LDB nº 9.394/96), ainda permanece comoum dos grandes desafios presentes no sistema educacional brasileiro.

A ausência de diretrizes curriculares nacionais para a formação deprofessores de ER e a consequente diminuta oferta de cursos de formaçãoinicial em nível de licenciatura, compromete não somente a compreensão esua configuração enquanto área de conhecimento, mas também a mudançade concepção da sociedade brasileira sobre a sua condição de componentecurricular, regido por normas que o incluem em igual condição no conjuntodas demais áreas de conhecimento do sistema público de ensino.

Por outro lado, a carência de diretrizes nacionais fez/faz surgir projetosformadores desvinculados de uma concepção que atenda os ditames dalegislação nacional, invisibilizando problemáticas que envolvem questõescomo a discriminação étnica, cultural e religiosa, que precisam ser trazidas àluz, como elementos de aprendizagem, enriquecimento e crescimento docontexto escolar como um todo (BRASIL, 1997).

Diante de tal quadro, o FONAPER, buscando contribuir na qualificaçãode educadores com competência para interagirem qualitativamente nosprocessos educacionais de forma interdisciplinar, com habilidades exigidaspela complexidade sociocultural da questão religiosa e pelas especificidades

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pedagógicas desse componente curricular, ao longo de seus 15 anos, temrealizado e encaminhado ao Conselho Nacional de Educação (CNE)proposições para definição/consolidação de Diretrizes Curriculares Nacionaispara a Formação de Professores para Ensino Religioso.

3 PROPOSIÇÕES DO FONAPER PARA A FORMAÇÃO DE PROFESSORES DEENSINO RELIGIOSO

A ideia da elaboração de Diretrizes Curriculares Nacionais para aFormação de Professores de Ensino Religioso em nível superior, curso delicenciatura de graduação plena, surgiu há décadas, ainda que de formaembrionária. Essa vem sendo alimentada em nível nacional durante mais de40 anos consecutivos. Isso é constatável ao se consultarem os relatórios dosEncontros Nacionais de Ensino Religioso (ENER) promovidos pela CNBB6; os51 relatórios das reuniões do Grupo Nacional de Reflexão sobre o EnsinoReligioso (GRERE)7; os anais e atas das reuniões e sessões do FONAPER edezenas de outros documentos estaduais e regionais portadores da mesmaintenção.

A contribuição do FONAPER, de norte a sul do país, tem sido significativano desencadear do processo da formação docente de ER, pela qual temenvidado esforços contínuos. Entre eles incluem-se o incentivo aos gruposde estudo e pesquisa em buscar a compreensão do ER no currículo escolar; oacompanhamento efetivo na construção de instrumentos legais nos sistemade ensino; a realização dos 11 Seminários Nacionais de Formação deProfessores para o Ensino Religioso (SEFOPER) e dos 5 Congressos Nacionaisde Ensino Religioso (CONERE); a elaboração de um curso a distância e

6 A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, através do Setor de Ensino Religioso promoveu de 1974 a1998 12 Encontros Nacionais de Ensino Religioso reunindo os Coordenadores Estaduais responsáveispela área; especialistas e estudiosos em questões relacionadas com os temas escolhidos para o debateem nível nacional; representantes de editoras produtoras de material didático para a disciplina; outrosinteressados na organização e prática do ensino religioso, de modo especial em escolas da rede públicade ensino. Tais encontros provocaram inúmeros questionamentos sobre a formação dos professores deER, a começar pela identidade da própria disciplina, a sugerir, consequentemente, o perfil dessesprofissionais.7 O GRERE (Grupo de Reflexão sobre o Ensino Religioso Escolar) foi criado como instância de assessoriada CNBB, para estudar e acompanhar as questões relacionadas com o ensino religioso escolar ministradoem escolas públicas.

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presencial de 120 horas, composto por 12 cadernos e correspondente materialtelevisivo; entre outros documentos e obras.

Buscando definir as bases sobre as quais se devem construir as diretrizescurriculares nacionais para a formação docente em nível superior, curso delicenciatura de graduação plena, cursos de pós-graduação e outrasmodalidades de formação continuada, já em 1997, o FONAPER encaminhouàs universidades brasileiras uma proposta de Diretrizes elaborada com basenos Parâmetros Curriculares Nacionais de Ensino Religioso. Depois deamplamente discutida com representantes das mesmas, uma proposta paraDiretrizes Curriculares dos Cursos Superiores na Área de Ensino Religioso foiencaminhada pelo FONAPER ao Conselho Nacional de Educação/CNE em 15de julho de 1998.

3.1 Diretrizes Curriculares dos Cursos Superiores na Área do Ensino Religioso

A primeira proposição do FONAPER de Diretrizes Curriculares dos CursosSuperiores na Área do Ensino Religioso estava embasada no art. 210 daConstituição Federal, na Lei n° 9.475/97, nos Parâmetros Curriculares Nacionaisdo Ensino Religioso (PCNER) e em outros ditames legais da educação brasileira.Essa buscou construir fundamentos epistemológicos para o ER, destacandoas dimensões antropológica, sociológica, filosófica, histórica, geográfica,psicológica, teológica e ética do conhecimento religioso.

O documento justificou a necessidade social de graduação em ER,afirmando que já não é possível pensar em educação de qualidade que nãocontemple a dimensão religiosa do ser humano, dimensão essa que, muitasvezes, é confundida com o ensino da religião e/ou catequese, ou proselitismo.

Em relação ao perfil desejado do formando em ER, as Diretrizesdefendem a integração do ensino de graduação com a pós-graduação, emresposta à demanda social de uma disciplina integrante da formação docidadão, que necessita de profissionais com formação adequada aodesempenho de sua ação educativa, considerando que o estudo do fenômenoreligioso na escola situa-se na complexidade da questão religiosa. Tambémdestaca a complementaridade que deve haver entre magistério e pesquisa,dimensões que sustentam a necessária educação continuada de umprofissional.

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No que diz respeito às competências e habilidades desejadas aoprofissional de ER, o documento defende que o formando insere-se numcontexto que dele exige uma constante busca de conhecimento religioso.Por isso, espera-se que seja capaz de viver a reverência da alteridade, deconsiderar que família e comunidade religiosa são espaços privilegiados paraa vivência religiosa e para a opção de fé, e de colocar seu conhecimento e suaexperiência pessoal a serviço da liberdade do educando, subsidiando-o noentendimento do fenômeno religioso. A competência do profissional do ERexige que:

Compreenda o fenômeno religioso, contextualizando-oespacial e temporalmente;Configure o fenômeno religioso através das ciências dareligião;Conheça a sistematização do fenômeno religioso pelastradições religiosas e suas teologias;Analise o papel das Tradições Religiosas na estruturaçãoe manutenção das diferentes culturas e manifestaçõessócio-culturais;Faça a exegese dos Textos Sagrados orais e escritos dasdiferentes matrizes religiosas (africanas, indígenas, oci-dentais e orientais);Relacione o sentido da atitude moral, como conseqüên-cias do fenômeno religioso sistematizado pelas TradiçõesReligiosas e como expressão da consciência e da repostapessoal e comunitária das pessoas. (FONAPER, 1998, p.11)

Na construção dos currículos da capacitação docente para o ER, odocumento destaca que além dos fundamentos epistemológicos, é necessárioa inclusão do estudo dos cinco eixos organizadores dos conteúdosapresentados no PCNER, a saber: culturas e tradições religiosas; textossagrados: escritos e orais; teologias, ritos e ethos.

3.2 Dossiê Formação do Professor de Ensino Religioso

Este documento, elaborado em agosto de 2004 e encaminhado ao MECno mesmo ano, foi resultado das:

114 |Diversidade Religiosa e Ensino Religioso no Brasil

• Discussões, estudos e reflexões nacionais envolvendo questões pertinentesà formação de educadores para a educação básica (MEC, CNE, ANPED,ENDIPE, FONAPER, entre outros);

• Histórico de estudos e reflexões envolvendo a formação de professorespara o ER como área de conhecimento, coordenada pelo FONAPER a partirde 1995;

• Seminários Nacionais para Capacitação de Docentes para o ER promovidospelo FONAPER;

• Audiência com o Conselho Nacional de Educação (Brasília/1998);• Reunião com a Secretaria da Educação Superior (Brasília/1997);• Projetos de cursos de licenciatura de graduação plena em ER autorizados

e/ou reconhecidos em diferentes Estados da Federação;• Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação de Professores da

Educação Básica, em nível superior, curso de licenciatura, de graduaçãoplena, instituídas pela Resolução CNE/CP n° 1/02 e Resolução CNE/CP n°2/02;

• Pesquisa sobre o ER desenvolvida pelo FONAPER em Estados brasileirosnos anos de 2001 e 2002;

• Reunião nacional das universidades brasileiras envolvidas com a formaçãoinicial e continuada de professores de ER com o FONAPER e o Presidentedo Conselho Nacional de Educação, Prof. Francisco Aparecido Cordão, emabril de 2004, na cidade de São Paulo.

A pertinência da análise e estudo do fenômeno religioso na diversidadecultural religiosa brasileira; a carência de uma docência qualitativa esignificativa para este componente curricular; a pequena parcela de ofertade formação docente para o Ensino Religioso em consonância com LDBENn° 9.394/96; a urgência de formação de profissionais devidamente habilitadosnuma perspectiva de organização epistemológica e pedagógica foram algunsdos motivos que mobilizaram e subsidiaram o encaminhamento destedocumento.

O dossiê parte do pressuposto que o professor de ER deve figurar comoprofissional da educação, integrante do sistema escolar, portador dehabilidades e competências necessárias a sua função, com incentivo e direitoa formação continuada nos termos da atual legislação educacional brasileira.

Neste documento, o FONAPER defende que a instituição de DiretrizesCurriculares para a Formação de Professores de Ensino Religioso é necessária

Pozzer, Cecchetti, Oliveira e Klein (orgs.) | 115

para o estabelecimento de um conjunto de marcos referenciais às Instituiçõesde Ensino Superior e aos Conselhos Estaduais de Educação para fins deautorização e reconhecimento de seus cursos. Essas diretrizes devem elucidara importância da contribuição das diferentes áreas de conhecimento nadefinição dos conteúdos específicos, considerando que a interlocução entreas mesmas é fundamental, pois permite a construção do eixo articulador entredisciplinaridade e interdisciplinaridade.

Os subsídios decorrentes dessas diretrizes deverão auxiliar a práticapedagógica a ser realizada através de um ER adequado à realidade da escolapública, viabilizando o projeto educativo desse componente curricular deforma integrada ao projeto político-pedagógico da instituição de ensino aque se destina.

Para tanto, o dossiê apresenta um breve histórico da formação dedocentes para o ER no Brasil em interface com seus aspectos legais, enfocandoà nova concepção que esta disciplina recebeu com a promulgação da Lei n°9.475/97. Destaca que o profissional de ER deve dedicar especial atenção aoestudo do fenômeno religioso, numa atitude investigativa de suas razões deser e de buscar a sua compreensão na escola, esta situada em meio adiversidades de concepções e acepções, em que se dá a complexidade daquestão religiosa característica da pluralidade cultural brasileira.

Por isso, o licenciado em ER deverá desenvolver múltiplas competênciase habilidades adquiridas ao longo de sua formação acadêmica, incluindo arelação entre teoria e prática, através de: sólida formação no campo dasciências humanas; consciência crítica e aguçado espírito investigativo; visãoe predisposição à criatividade, contextualizadas e direcionadas para atotalidade numa perspectiva inter, multi e transdisciplinar; conhecimento doser humano em processo de contínuo desenvolvimento e na integralidadede sua condição imanente e transcendente; sensibilidade, capacidade dediscernimento e maturidade profissional nas relações com o fato religiosoem suas diversas manifestações no tempo, no espaço e nas culturas; e atitudesque impliquem em compromisso para com a vida na sua totalidade; paracom a história de cada ser humano; para com a história dos grupos junto dosquais atua, numa perspectiva de inclusividade na alteridade.

Em relação ao campo de atuação do profissional licenciado em ER, odossiê aponta como sendo o magistério da Educação Básica, em especial, adocência no Ensino Fundamental e Médio, bem como na produção e difusão

116 |Diversidade Religiosa e Ensino Religioso no Brasil

do conhecimento científico na área de ER e Ciências Humanas, incluindoserviços de assessorias em instituições educacionais, governamentais, nãogovernamentais e religiosas.

Para produzir o perfil desejado para os educadores de ER, a estruturageral do curso de licenciatura, apresentada no dossiê, em conformidade coma Resolução CNE/CP n° 2/02, deverá ter carga horária de, no mínimo, 2.800horas, nas quais a articulação teoria-prática garanta, nos termos dos seusprojetos pedagógicos, as seguintes dimensões dos componentes comuns:

• 1.800 horas de conteúdos curriculares de natureza científico-cultural,incluídos nesses os fundamentos da Educação; os fundamentosepistemológicos do ER; conhecimento sobre as culturas e tradiçõesreligiosas de matriz ocidental, oriental, indígena e africana; formaçãopedagógica; pesquisa em Educação, entre outros;

• 400 horas de prática como componente curricular, vivenciadas ao longodo curso;

• 400 horas de estágio curricular supervisionado a partir do início da segundametade do curso;

• 200 horas de atividades acadêmico-científico-culturais (aproveitamentode conhecimentos, adquiridos pelo estudante, através de estudos e práticasindependentes, tais como monitorias, programas de iniciação científica eextensão universitária; estudos complementares; cursos e projetosrealizados em áreas afins; participação em eventos científicos no campodas ciências humanas; entre outros).

Por fim, o dossiê aponta que o processo periódico e sistemático deavaliação a ser implementado nos cursos de licenciatura em ER, deverá utilizarprocedimentos e processos diversificados, incluindo os conteúdostrabalhados, desempenho do quadro de formadores e qualidade da vinculaçãocom escolas, dentre outros procedimentos internos e externos, que permitama identificação das diferentes dimensões dos objetos, estruturas, sujeitos esituações avaliadas.

3.3 DCNs para o Curso de Graduação em Ciências da Religião-Licenciaturaem Ensino Religioso

Em 2008, logo após a realização do X Seminário Nacional de Formaçãode Professores para o Ensino Religioso, realizado em Taguatinga/DF, com o

Pozzer, Cecchetti, Oliveira e Klein (orgs.) | 117

tema Diretrizes Curriculares de Formação para Professores de Ensino Religioso:uma década, o FONAPER produziu outro documento propositivo, o qual foientregue em mãos à Presidente do Conselho Nacional de Educação, Profa.Clélia Brandão Alvarenga Craveiro, no dia 4 de dezembro do mesmo ano.

Tratava-se de um projeto de Resolução de DCNs para o Curso deGraduação em Ciências da Religião-Licenciatura em Ensino Religioso. Odocumento inicialmente apresenta os momentos históricos trilhados peloER no Brasil e justifica a necessidade da instituição de DCNs que orientem aformação docente nesta área do conhecimento.

No projeto de resolução, o FONAPER afirma que a formação específicapretendida para o educador de ER, em nível superior, em cursos de licenciaturade graduação plena, se estrutura em dois pressupostos: um epistemológico,cuja base é o conjunto de saberes das Ciências da Religião, e um pedagógico,constituído por conhecimentos das Ciências da Educação.

Assim, o Curso de Graduação em Ciências da Religião-Licenciatura emEnsino Religioso não está vinculado a uma religião ou a uma teologia, mas àsCiências da Religião enquanto aporte teórico que lhe oferece possibilidadede investigação das diversas manifestações do fenômeno religioso na históriae nas sociedades, ao mesmo tempo em que é regido por princípios efundamentos da Ciência da Educação, enquanto área de conhecimento,levando em conta todas as áreas, subáreas e especialidades.

As diferentes Ciências Humanas, integradas às Ciências da Religião,contribuem na definição dos conteúdos específicos, considerando que ainterlocução entre as mesmas é fundamental para a construção e a articulaçãoda disciplinaridade e da interdisciplinaridade. O ER tem necessidade deobservar tais aspectos, pois objetiva compreender o fenômeno religioso nadiversidade de situações da existência humana.

As Ciências da Religião, ao se constituírem como uma das basesepistemológicas para o ER, contribuem para a compreensão do humanoenquanto ser em/de busca, aberto à transcendência e histórico-culturalmentesituado dentro de referências religiosas, influenciadas por elas de múltiplasmaneiras e, muitas vezes, agindo a partir delas. Nesse sentido, o estudo dofenômeno religioso num Estado laico, a partir de pressupostos científicos,visa à formação de cidadãos críticos e responsáveis, capazes de discernir adinâmica dos fenômenos religiosos, que perpassam a vida em âmbito pessoal,local e mundial (PASSOS, 2006).

118 |Diversidade Religiosa e Ensino Religioso no Brasil

Por outro lado, o pressuposto pedagógico sustenta a proposta do ERna escola. As diferentes crenças, grupos e tradições religiosas e/ou a ausênciadelas são aspectos da realidade que não devem ser meramente classificadoscomo negativos ou positivos, mas sim como dados antropológicos esocioculturais capazes de fundamentar e interpretar as ações humanas.

Nessa perspectiva, a formação específica em nível superior, em cursosde Graduação em Ciências da Religião-Licenciatura em Ensino Religioso,integra os pressupostos das áreas: Ciências da Religião e Educação, a fim deque o licenciado possa trabalhar pedagogicamente numa perspectiva inter-religiosa, enfocando o fenômeno religioso como construção sócio-histórico-cultural.

Dada a sua importância histórica e, para auxiliar na divulgação econhecimento8, apresentamos a seguir a proposição, na íntegra:

PROPOSTA DE DIRETRIZES CURRICULARES NACIONAIS PARA O CURSO DE

GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DA RELIGIÃO – LICENCIATURA EM ENSINO

RELIGIOSO

O Presidente do Conselho Nacional de Educação, com fundamento no artigo

210, § 1º da Constituição Federal de 1988, na Lei nº 9.475/97, que dá nova

redação ao art. 33 da LDBEN nº 9.394/96, em consonância com o art. 62 da

referida Lei, em conformidade com a Resolução CNE/CP 1/02 e a Resolução

CNE/CP 2/02, resolve:

Art. 1º A presente resolução institui as Diretrizes Curriculares Nacionais para

o Curso de Graduação em Ciências da Religião – Licenciatura em Ensino

Religioso, definindo princípios, concepções, condições e procedimentos a serem

observados na elaboração dos projetos político-pedagógicos, pelos órgãos

dos sistemas de ensino e pelas instituições de educação superior em todo o

país.

Art. 2º As Diretrizes Curriculares Nacionais para o Curso de Graduação em

Ciências da Religião – Licenciatura em Ensino Religioso aplicam-se à formação

inicial para o exercício da docência do Ensino Religioso na Educação Básica.

8 O referido documento está disponível no sítio eletrônico do FONAPER (www.fonaper.com.br) e tambémfoi tema de uma edição especial da Diálogo: Revista de Ensino Religioso, em maio de 2009.

Pozzer, Cecchetti, Oliveira e Klein (orgs.) | 119

§ 1º Compreende-se a docência em Ensino Religioso como ação educativa

construída e focalizada na valorização e no reconhecimento da diversidade

cultural religiosa, presente na sociedade brasileira, por meio do exercício do

diálogo, da pesquisa, do estudo, da construção, da reconstrução e da

socialização dos saberes, desenvolvendo-se na articulação entre

conhecimentos científicos e culturais, valores éticos e estéticos, discutindo as

relações de poder que permeiam as concepções históricas, culturais e religiosas

que constituem as sociedades.

§ 2º O exercício pedagógico didático da docência em Ensino Religioso considera

os conhecimentos anteriores dos educandos, bem como o contexto histórico-

social no qual estão circunscritos, tendo em vista a continuidade progressiva

no conhecimento e na compreensão do fenômeno religioso, pelo estudo,

pesquisa e discussão em exercícios de alteridade, desenvolvendo um processo

de reconhecimento, respeito e valorização dos diferentes e das diferenças.

Art. 3º – O curso de Graduação em Ciências da Religião-Licenciatura em Ensino

Religioso, por meio de estudos, pesquisas e vivências teórico-práticos, propiciará:

I – sólida formação teórico-metodológica no campo das Ciências da Religião e

da Educação, a fim de promover a compreensão critica e interativa do contexto,

da estrutura e da diversidade do fenômeno religioso e o desenvolvimento de

habilidades adequadas à docência do Ensino Religioso na Educação Básica;

II – a construção e a reconstrução do conhecimento religioso com base em

conceitos, práticas e informações sobre o fenômeno religioso em suas diversas

manifestações no tempo, no espaço e nas culturas;

III – o desenvolvimento da sensibilidade e da ética profissional nas relações

com o fenômeno religioso, por meio de atitudes que valorizem a vida e a

dignidade humana, e o reconhecimento do diferente e das diferenças no

universo educacional e social, em todos os níveis de abrangência.

Art. 4º O estudante do Curso de Graduação em Ciências da Religião –

Licenciatura em Ensino Religioso trabalhará com um conjunto de informações

e habilidades compostas por conhecimentos teórico-práticos interdisciplinares,

cuja consolidação será proporcionada no exercício da docência, fundamentada

no reconhecimento, no respeito, na promoção e na valorização da diversidade.

Parágrafo único. Este estudante deve dedicar especial atenção ao estudo do

fenômeno religioso na diversidade cultural brasileira e mundial, numa atitude

investigativa em meio a diversidades de concepções e acepções, onde se dá a

complexidade da questão religiosa, entre elas o contexto escolar.

120 |Diversidade Religiosa e Ensino Religioso no Brasil

Art. 5º O egresso do Curso de Graduação em Ciências da Religião-Licenciatura

em Ensino Religioso deverá estar apto a:

I – trabalhar pedagogicamente os conteúdos básicos objetos do processo de

ensino aprendizagem do Ensino Religioso na educação básica, com habilidades,

métodos e técnicas pedagógicas necessários para a construção e a

reconstrução do conhecimento religioso pelos educandos;

II – reconhecer, respeitar e valorizar a diversidade e a complexidade das

manifestações e experiências religiosas no contexto escolar e social;

III – compreender os diversos processos de aprendizagem nas diferentes etapas

de desenvolvimento dos educandos, bem como contribuir na busca de respostas

aos seus questionamentos existenciais, no entendimento da sua(s)

identidade(s) religiosa(s) e na convivência com as diferenças;

IV – analisar o papel das tradições religiosas na estruturação e na manutenção

das suas respectivas realidades sociais, históricas, políticas e culturais;

V – compreender, respeitar e valorizar os princípios históricos, culturais,

filosóficos, éticos, doutrinais e morais das diferentes matrizes religiosas

(africana, indígena, oriental e ocidental);

VI – promover e facilitar relações de cooperação entre a instituição educativa,

as famílias e a comunidade, reconhecendo a pluralidade cultural destes

contextos, assumindo a diversidade nos seus múltiplos aspectos;

VII – interpretar o fenômeno religioso na diversidade cultural local e global,

com diferentes leituras, através das Ciências da Religião, da Sociologia, da

Psicologia, da Antropologia, da Filosofia, da História, da Geografia, das Artes,

da Teologia, da Educação e outras áreas de conhecimento;

VIII – manusear as tecnologias de informação e comunicação adequadas ao

desenvolvimento de aprendizagens significativas e utilizar, com propriedade,

instrumentos próprios para construção de conhecimentos pedagógicos e

científicos;

IX – aprofundar continuadamente seus conhecimentos mantendo uma postura

de professor pesquisador;

X – atuar com ética e compromisso, com vistas à constituição de uma sociedade

justa, solidária e humana, que questiona e busca intervir nas fontes geradoras

do sofrimento, da ignorância e da injustiça;

Art. 6º A estrutura do Curso de Graduação em Ciências da Religião-Licenciatura

em Ensino Religioso, respeitadas a diversidade nacional e a autonomia

pedagógica das instituições, constituir-se-á de:

Pozzer, Cecchetti, Oliveira e Klein (orgs.) | 121

I – um núcleo de estudos básicos que, sem perder de vista a diversidade e a

multiculturalidade da sociedade brasileira e mundial, por meio do estudo

acurado de literatura pertinente e de realidades educacionais, assim como

por meio de reflexão e ações críticas, articulará:

a) a formação acadêmica, os fundamentos da Educação Básica e a formação

docente de Ensino Religioso, por meio de estudos teóricos e práticos dos

princípios, concepções, metodologias e processos de organização do trabalho

docente, oriundos das diferentes áreas do conhecimento;

b) o estudo das culturas e tradições religiosas, analisando os princípios

históricos, culturais, filosóficos, estéticos, éticos, doutrinais e morais das

diferentes matrizes religiosas (africana, indígena, oriental e ocidental);

c) o estudo dos textos sagrados orais e escritos, compreendendo-os em suas

matrizes epistemológicas e culturais;

d) o estudo das concepções teológicas das diferentes matrizes religiosas

(africana, indígena, oriental e ocidental), considerando a multiplicidade das

manifestações religiosas nas compreensões das divindades, dos ritos, dos

símbolos e das práticas de espiritualidades, respeitando suas realidades

culturais, históricas e geográficas;

e) o estudo, a aplicação e a avaliação dos dispositivos legais e dos pressupostos

teórico-metodológicos da Educação Básica e do Ensino Religioso;

II – um núcleo de aprofundamento e diversificação de estudos voltados às

áreas das Ciências da Religião e da Educação, priorizadas pelo projeto

pedagógico das instituições e que, atendendo a diferentes demandas sociais,

oportunizará, entre outras possibilidades:

a) avaliação, criação e uso de textos, materiais didáticos, procedimentos e

processos de aprendizagem, que contemplem a diversidade cultural e religiosa

da sociedade brasileira;

b) atividades práticas desenvolvidas com ênfase nos procedimentos de

observação e reflexão, visando à atuação em situações contextualizadas, com

o respectivo registro das observações e a simulação de resoluções de situações-

problema, a fim de elaborar propostas educacionais consistentes e inovadoras;

III – um núcleo de estudos integradores que proporcionará enriquecimento

curricular por meio da participação em:

a) atividades de caráter científico, cultural e acadêmico que possam enriquecer

o processo formativo dos graduandos, como, por exemplo, a participação em

eventos, apresentações, exposições, estudos de casos, visitas, ações de caráter

122 |Diversidade Religiosa e Ensino Religioso no Brasil

científico, técnico, cultural e comunitário, produções coletivas, monitorias,

resolução de situações-problemas, projetos de ensino, entre outros,

devidamente orientados pelo corpo docente da instituição de educação

superior;

b) atividades práticas, de modo a propiciar vivências, nas mais diferentes áreas

do campo educacional, assegurando aprofundamentos e diversificação de

estudos, experiências e utilização de recursos pedagógicos.

Art. 7º O Curso de Graduação em Ciências da Religião – Licenciatura em Ensino

Religioso terá a carga horária mínima de 2.800 horas de efetivo trabalho

acadêmico, assim distribuídas:

I – 1.800 horas de conteúdos curriculares de natureza científico-culturais

específicos do campo das Ciências da Religião e da Educação, incluindo

atividades formativas como assistência às aulas, realização de seminários e

participação na realização de pesquisas;

II – 400 horas de prática como componente curricular, realizadas

articuladamente às questões pedagógicas e metodológicas dos conteúdos

curriculares de natureza científico-cultural;

III – 400 horas dedicadas ao Estágio Supervisionado em todos os níveis da

Educação Básica, caracterizadas por um trabalho prático-reflexivo

devidamente acompanhado pelos docentes do curso, no qual os graduandos

desenvolverão atividades pedagógicas rigorosamente planejadas;

IV – 200 horas de atividades complementares de cunho acadêmico-científico-

cultural, em áreas específicas de interesse dos licenciandos, articuladas ao

campo das Ciências da Religião e da Educação;

Art. 8º Nos termos do projeto pedagógico da instituição, a integralização de

estudos será efetivada por meio de:

I – disciplinas, seminários e atividades de natureza teórica e prática que farão

a introdução e o aprofundamento de estudos, situando processos de aprender

e ensinar historicamente e em diferentes realidades sócio-culturais, que

proporcionem fundamentos para a docência em Ensino Religioso;

II – práticas de docência em Ensino Religioso que possibilitem aos licenciandos

a observação, acompanhamento, participação no planejamento, na execução

e na avaliação de aprendizagens e/ou de projetos pedagógicos;

III – atividades complementares envolvendo o planejamento e o

desenvolvimento progressivo do Trabalho de Conclusão de Curso, atividades

de monitoria, de iniciação científica e de extensão, diretamente orientadas

Pozzer, Cecchetti, Oliveira e Klein (orgs.) | 123

por membro do corpo docente da instituição de educação superior ou

articuladas às disciplinas, às áreas de conhecimentos, aos seminários, aos

eventos científico-culturais, entre outras;

IV – estágio curricular a ser realizado em todos os níveis da Educação Básica,

ao longo do curso, de modo a assegurar aos graduandos experiência na

docência em Ensino Religioso nos diferentes contextos escolares;

Art. 9º Os cursos a serem criados em instituições de educação superior, que

visem à Licenciatura para a docência do Ensino Religioso na Educação Básica,

deverão ser estruturados com base nesta Resolução.

Art. 10. A implantação e a execução destas diretrizes curriculares deverão ser

sistematicamente acompanhadas e avaliadas pelos órgãos competentes.

Art. 11. Esta Resolução entra em vigor na data de sua publicação.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Cabe-nos registrar que, desde a entrega da proposta de DCNs para ocurso de Graduação em Ciências da Religião-Licenciatura em Ensino Religiosoao CNE até o presente momento, não houve nenhuma sinalização por partedo mesmo para discutir a possibilidade de aprovação da resolução pretendidapelo FONAPER.

Portanto, a consolidação das DCNs para a formação inicial em ER aindacontinua a fazer parte das metas prioritárias do FONAPER, bem como do sonhode milhares de educadores de vários Estados brasi leiros que, porimpedimentos legais, não conseguiram viabilizar a oferta de licenciaturas nessaárea de conhecimento.

De qualquer modo, as proposições de DCNs feitas pelo FONAPERapresentam-se como referenciais a mobilizar reflexões, discussões e urgentesencaminhamentos visando à construção de caminhos inovadores esuperadores das dificuldades que historicamente envolvem a formação deprofessores para este componente curricular.

Por sua vez, educadores e formadores de educadores possuem apercepção desta problemática, desejam e anseiam pelos encaminhamentosque os habilitem, reconheçam e lhes confiram dignidade profissional entreos seus pares.

124 |Diversidade Religiosa e Ensino Religioso no Brasil

Com certeza o FONAPER continuará a fazer proposições para aprovaçãode DCNs de formação inicial em ER, pois nesses 15 anos demonstroucompromisso histórico em valorizar e reconhecer a diversidade cultural-religiosa, em exercícios de diálogo e alteridade, contribuindo na construçãode outros mundos melhores e possíveis.

REFERÊNCIAS

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 ______. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e basesda educação nacional. Brasília: Diário Oficial da União, 1996.

 ______. Lei nº 9.475, de 22 de julho de 1997. Dá nova redação ao art. 33 da Lei n°9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educaçãonacional. Brasília: Diário Oficial da União, 1997.

 ______. Conselho Nacional de Educação. Câmara de Educação Básica. Resolução n°2, de 7 de abril de 1998. Institui as Diretrizes Curriculares Nacionais para o EnsinoFundamental.

 ______. Conselho Nacional de Educação. Câmara de Educação Básica. Resolução n°1, de 18 de fevereiro de 2002. Institui diretrizes curriculares nacionais para a formaçãode professores da educação básica, em nível superior, curso de licenciatura, degraduação plena.

 ______. Conselho Nacional de Educação. Câmara de Educação Básica. Resolução n°2, de 19 de fevereiro de 2002. Institui a duração e a carga horária dos cursos delicenciatura, de graduação plena, de formação de professores da Educação Básicaem nível superior.

 ______. Conselho Nacional de Educação. Câmara de Educação Básica. Resolução n°4, de 13 de julho de 2010. Define Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para aEducação Básica.

CARON, Lurdes. Entre conquistas e concessões: uma experiência ecumênica emeducação religiosa escolar. São Leopoldo: Sinodal-IEPG, 1997.

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FUSARI, J. C. Formação continuada dos professores do ensino. Cadernos CEDES, v.36, 1995.

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ZIMMERMANN, Roque. Ensino religioso: uma grande mudança. Brasília: Câmara dosDeputados, 1998.

126 |Diversidade Religiosa e Ensino Religioso no Brasil

Pozzer, Cecchetti, Oliveira e Klein (orgs.) | 127

Capítulo VII

A Formação Inicial de Professorespara a Educação Básica:Desafios e perspectivas para o Ensino Religioso

Darcy Cordeiro1

Não se pode falar de ensino sem se falar de professor, principalprotagonista do processo que deve resultar na aprendizagem do aluno, a saber,no desenvolvimento de suas competências e habilidades. A Lei n° 9.475/97mudou o paradigma do Ensino Religioso (ER) no Brasil: de confessional einterconfessional para transconfessional, das denominações religiosas para oEstado, ou seja, para as redes estaduais e municipais de ensino. O FórumNacional Permanente de Ensino Religioso (FONAPER) assumiu o papel,juntamente com os Conselhos Estaduais de Ensino Religioso (CONERs), nãosó de assessorar a implantação dessa nova disciplina como também contribuirpara a formação desse novo professor.

A sociedade brasileira vem sendo bombardeada nos últimos anos, eparticularmente nos últimos meses, por sucessivas notícias da insuficiênciado ensino, mormente da educação básica das escolas públicas em todo opaís, denunciando a sua falta de qualidade. Muito se tem falado emcongressos, seminários e encontros nacionais, regionais e locais sobre aimportância e urgência da formação de professores do novo Ensino Religioso.Não se pode, porém, deixar de falar das dificuldades enfrentadas, seja noscursos de licenciatura seja no exercício da profissão dos professores de ensinobásico em geral e, de modo especial, do docente da rede pública.

Divide-se então a abordagem em duas partes, sem pretensão de esgotá-la, mas de lançar mais um olhar sobre os problemas: a formação do professorde educação básica e a formação do professor de Ensino Religioso.

1 Mestre em Ciência pela Escola de Sociologia e Política de São Paulo, SP. Doutor em Psicologia da Educaçãopela Universidade Gama filho, RJ. Professor titular aposentado da PUC-Goiás e Universidade Estadual deGoiás – UEG. Vice-Presidente do Conselho de Ensino Religioso do Estado de Goiás (CONER-GO).

128 |Diversidade Religiosa e Ensino Religioso no Brasil

1 A FORMAÇÃO DO PROFESSOR DA EDUCAÇÃO BÁSICA

A desvalorização do professor de educação básica (antigo primário eginásio e, depois, Ensino Fundamental; ensino secundário e, hoje, EnsinoMédio) é continuação do longo processo histórico da educação no Brasil desdeos tempos dos jesuítas, passando pela era pombalina, que a República nãoconseguiu superar. A formação dos professores de ensino primário esecundário era feita nos cursos das Escolas Normais. A Lei n° 5.692/71 criouos cursos de licenciatura, o ensino do 1º grau de 8 anos tornou-se obrigatório(primário mais o ginásio). A Reforma Universitária (Lei n° 5.540/68), porocasião do Regime Militar, implantou o sistema de departamentos nasuniversidades e, numa visão cartesiana, consolidou a fragmentação dosconhecimentos tendo em vista o atendimento a um mercado de trabalhocada vez mais diversificado e tinha, entre seus objetivos, a formação deprofessores em curso superiores. Produzindo licenciados em disciplinas, ouseja, “pacotes fechados” de conteúdos independentes e impermeáveis, essalei transformou as “grades curriculares” dos cursos de licenciatura emverdadeiras colchas de retalho, repercutindo também nas grades curriculares(depois chamadas de currículos) do Ensino Fundamental e Médio.

Ser licenciado ou professor de ensino primário ou secundário virouestigma de profissional de segunda classe. Leve-se em conta ainda o fato dadicotomia da educação pública e da educação privada, esta mais qualificadaque aquela. Assim, aqueles que cursavam boas escolas particulares econfessionais conseguiam vagas nos cursos de elite das universidades públicas,estatais, gratuitas, como: medicina, engenharia e direito que formavam“doutores”, enquanto a grande maioria, proveniente da classe dos menosfavorecidos, tendo cursado o ensino fundamental e o médio em escolaspúblicas, tinha que pagar mensalidades nas faculdades e universidadesparticulares.

O ensino público básico em geral (fundamental e médio) foi sucateadofisicamente e empobrecido didaticamente por professores malformados,provenientes em sua maioria de faculdades e universidades particulares.Assim, pode-se dizer que havia (e há ainda) dois tipos de profissionais: os quefizeram cursos de elite, em universidades públicas gratuitas, e os que fizeramcursos mais caros, em instituições privadas de ensino superior (IES). Entende-se por cursos de elite aqueles que oferecem melhores remunerações no

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mercado de trabalho. Os que, não tendo outra coisa para fazer, tiveram quese sujeitar a cursar alguma licenciatura e se tornar professores de escolaspúblicas, mal remunerados, sujeitos a dupla e até tripla jornada de trabalho,não poucas vezes sem plano de carreira. Criou-se então o círculo vicioso: oprofessor de educação básica da rede pública é mal remunerado porquemalformado e escolheu essa carreira porque não teve chance de fazer umcurso melhor.

A Constituição de 1988 diz que a educação é “direito de todos e deverdo Estado e da família [...] visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seupreparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho”(art. 205).

Já o art. 206 diz que o ensino será ministrado com base nos seguintesprincípios:

I. igualdade de condições para o acesso e permanênciana escola;II. liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar opensamento, a arte e o saber;III. pluralismo de idéias e de concepções pedagógicas, ecoexistência de instituições públicas e privadas de ensino;IV. gratuidade do ensino público em estabelecimentosoficiais;V. valorização dos profissionais do ensino, garantido, naforma da lei, planos de carreira para o magistério públi-co, com piso salarial profissional e ingresso exclusivamen-te por concurso público de provas e títulos, asseguradoregime jurídico único para todas as instituições mantidaspela União;VI. gestão democrática do ensino público, na forma dalei;VII. garantia de padrão de qualidade (grifos nossos).

No art. 208 fala da gratuidade e da obrigatoriedade do EnsinoFundamental e progressiva extensão da gratuidade e da obrigatoriedade aoEnsino Médio. Esse artigo fala ainda do atendimento educacional, pelo Estado,aos portadores de deficiência, ao atendimento em creche e pré-escola, à ofertade ensino noturno regular e ao atendimento de programas de material escolar,transporte, alimentação e assistência à saúde.

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A regulação da educação básica tem como ponto departida pressupostos políticos, sociais e pedagógicos, querevelam a natureza e os propósitos pretendidos nessenível de escolarização. Concebida como um direitopúblico, a educação básica situa-se, tradicionalmente, nopostulado de um ensino universal, destinado à formaçãocomum, para todos, que se fundamenta no princípiorepublicano de igualdade de oportunidadeseducacionais. (PEREIRA e TEIXEIRA, 2008, p. 101)

Como o interesse é focar principalmente o ER, comentar-se-á apenaso item IV do art. 3º da Constituição: promover o bem de todos, sem preconcei-tos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discrimi-nação:

a) Preconceito de origem e raça: os indígenas e os afro-brasileiros foramdiscriminados por quase toda a história do Brasil. Hoje, emerge no cenárioeducacional um esforço para consolidar a igualdade, mediante a inclusão dossegmentos – índios, negros, portadores de deficiência – que historicamenteforam excluídos do direito à educação, devido às suas peculiaridades. Competede modo especial à educação contribuir para o resgate dos direitosfundamentais desses segmentos da nossa sociedade. Assim, a educação básicatem de se constituir no principal caminho para atingir plenitude política,mediante a formação de indivíduos conscientes de sua inserção na sociedadedemocrática. Existe igualmente a preocupação por formar docentes oriundosdas comunidades negras e indígenas.

b) Preconceito de sexo: a mulher brasileira, como em outros países,esteve marginalizada da sociedade. Somente a partir de 1930, ela passou aser eleitora (cidadã). As cotas de candidatas femininas, obrigatórias por lei,nem sempre são preenchidas pelos partidos políticos. Nas universidades,quando lhes foi permitido o ingresso, elas se dirigiram àqueles cursosconsonantes com as funções tradicionais de mulheres, destacando-se as áreasda educação e da saúde. Na educação, preencheram as vagas nos cursos delicenciatura (menos nas áreas de ciências e matemática porque, tradicional-mente, não eram consideradas tão racionais quanto os homens!); de mães(donas de casa, geradoras e educadoras da prole e cuidadoras dos maridos)passaram a ser as “tias” do ensino fundamental. Na área da saúde, tornaram-se enfermeiras, nutricionistas, fisioterapeutas, profissões auxiliares dos

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médicos (homens em sua maioria). Não estranha que a essas profissionaisde segunda classe o Estado e as empresas lhes paguem também um salárioinferior aos salários dos profissionais masculinos (CORDEIRO, 1997).

c) Preconceito de credo, destacando alguns itens do art. 5º daConstituição:

VI. é inviolável a liberdade de consciência e de crença,sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos egarantida, na forma da lei, a proteção aos locais de cultoe as suas liturgias;VII. é assegurada, nos termos da lei, a prestação deassistência religiosas ou de convicção filosófica oupolítica, salvo se as invocar para eximir-se de obrigaçãolegal a todos imposta e recusar-se a cumprir prestaçãoalternativa, fixada em lei.

Segundo Iria Brzezinski (2008), a LDB, aprovada e sancionada na formada Lei n° 9.394/96, amplia a educação básica situando-a como ensino universal,destinado à formação comum para todos e se fundamenta no princípiorepublicano de igualdade de oportunidades educacionais: igualdade decondições para o acesso e a permanência na escola (art. 3º).

O direito à educação prevê a necessidade de convivência de diferentespessoas, grupos e comunidades. Isso supõe a necessidade de a escola superarcertas deficiências, como: isolamento da escola em relação à comunidade,distanciamento entre teoria e prática, organização escolar rígida, ensino comopráticas de adestramento. A nova concepção de educação básica evidencia-se na ampliação do número de anos e etapas de escolarização: EducaçãoInfantil, Ensino Fundamental e Ensino Médio. Isso levou à composição de umbloco de conhecimentos e à formação de comportamentos e habilidadescalcados em valores éticos e na participação. Os três níveis se complementam,se integram numa aquisição gradativa e integralizada do saber (BRZEZINSKI,2008).

Ainda Brzezinski (2008), falando das perspectivas e perplexidades naformação de profissionais da educação, sem entrar na polêmica entre o cursoNormal Superior e o curso de Pedagogia, afirma que os dados quantitativossobre a formação de professores para a educação básica estão longe derepresentar a real formação e profissionalização para o magistério.

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Atualmente se verifica que vagas para alguns cursos de licenciaturaficam ociosas até mesmo em algumas IES públicas, revelando a desmotivação,a desmobilização e a descrença da juventude pela carreira do magistério.

Há também o problema da desintegração entre as redes estaduais emunicipais de ensino. O maior entrave pela ausência de plano municipal é adescontinuidade dos projetos de médio e longo prazo, já que, sem metasdefinidas, cada troca de governo rompe com o projeto do mandato anterior.A educação, no município e em alguns Estados federativos, fica à mercê dedisputa eleitoral.

A simples melhoria de remuneração não garante a qualidade desseprofissional malformado. A revista Veja, por exemplo, só neste ano de 2010,vem publicando, quase mensalmente, artigos criticando os professores daeducação básica, tais como: Longe da excelência (março, p. 101),Construtivismo e destrutivismo (abril, p. 24), Salto no escuro (maio, p. 118-122), Aula comprometida (junho, p. 122), Um plano para avançar (junho, p.116-118). Destaque para o artigo Mudar os professores ou mudar deprofessores, em que o autor discute sobre o problema da educação e concluidizendo que o aumento de salário não vai mudar a qualidade, uma vez que oproblema dos professores não é falta de motivação, mas falta de preparação(IOSCHPE, 2010). Discordamos do autor, pois sabemos que salários melhores,automaticamente, atraem profissionais de melhor qualidade.

Mais do que nunca se sente hoje a necessidade de formação,profissionalização e valorização do profissional de educação.

2 A FORMAÇÃO DO PROFESSOR DE ENSINO RELIGIOSO

2.1 Algumas Características a Serem Observadas na Formação do Professorde Ensino Religioso

A Constituição Federal de 1988, no art. 210, diz que o ensino religioso,de matrícula facultativa, constituirá disciplina dos horários normais das escolaspúblicas de ensino fundamental.

A Lei n° 9.475/97 veio propor um novo paradigma para o ER, pois sópoderá ser parte integrante da formação básica do cidadão [...] se forassegurado o respeito à diversidade cultural religiosa no Brasil [...] vedadas

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quaisquer formas de proselitismo (Lei n° 9.475/97, que altera o art. 33 da Lein° 9.394/96). Daí se conclui que somente um ER supraconfessional poderácumprir esse dispositivo legal.

Comentam-se abaixo algumas características que deveriam ser levadasem consideração na formação do professor de ER:

a) Ensino Religioso não só no Ensino Fundamental, mas em toda aeducação básica

A formação básica do cidadão não se completa no Ensino Fundamental,mas na educação básica. Portanto, deve-se pleitear que essa disciplina passea ser obrigatória no decorrer de toda essa formação. É necessário superaressa incoerência da Lei n° 9.475/97 que fala do ER somente no ensinofundamental.

b) Ensino Religioso, diferente da catequese ou doutrinação, não deveser proselitista

O ER baseado em Teologias – algo específico para cada credo religioso– tem como objetivo conseguir novos adeptos ou doutrinar aqueles que jáaderiram a determinada denominação religiosa. Para que não se sejaproselitista, o ER tem de ter uma abordagem diferente, mais ampla, nãopodendo se fixar em religiões específicas, defendendo ou atacando esta ouaquela tradição.

c) Ensino Religioso respeitador das diferenças de raça, cor, sexo ereligiões

Uma das características fundamentais da sociedade democrática é oreconhecimento de sua diversidade cultural e religiosa. O Brasil é, porexcelência, um país multirracial e, portanto, essa diversidade deve sertrabalhada na escola para que se forme um cidadão capaz de viver com osdiferentes.

d) Ensino Religioso fundamentado nas Ciências da Religião e não emTeologias

Há diversos tipos de conhecimento, destacando-se o filosófico, oreligioso e o científico. As religiões são estudadas tanto pela filosofia comopela teologia e também pelas ciências. Uma disciplina, como ER, ministrada

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por profissionais teólogos tende a ser restritiva à religião do docente. Claroque uma Teologia que se preza trata também das outras religiões, mas o faza partir do próprio enfoque de verdade revelada. Falando das religiõesmonoteístas, como cristianismo, judaísmo e islamismo, as verdades reveladassão indiscutíveis.

e) Ensino Religioso aberto, interdisciplinar, integrado no currículo,dialogante com as demais áreas de conhecimento

Se o ER for baseado apenas nos conhecimentos específicos dedeterminadas religiões, tende a se fechar na defesa das verdades daquelecredo. Portanto, limitante em sua proposta ou, quando aberto, visualiza asdemais religiões a partir do seu referencial ou seu ponto de vista. Em outraspalavras, tende a ser discriminatório porque uma característica da maioriadas religiões é o seu caráter doutrinal ou dogmático. Se o ER for trabalhado apartir de uma visão científica, pode ser planejado e executado de formainterdisciplinar e até transdisciplinar, pois, nesse patamar, atransdisciplinaridade torna-se mais operacional.

f) Ensino Religioso assumido pelas redes (estaduais, municipais,particulares e confessionais)

Se o ER deixa de ser ensino de religião, fundado em Teologias, deixatambém de ser oferecido ou ministrado por igrejas ou denominações religiosase passa a ser assumido pelas redes de ensino. Independente de ser escolapública, particular ou confessional, o ER deve ser programado e executadopedagogicamente de forma respeitosa e dialogante com os demais saberesda escola. Justifica-se esta posição, pois mesmo as escolas confessionais têm,em seu alunado, seguidores de mais diversas tradições religiosas. Afirma-se,portanto, que o ER escolar em geral deve ser transconfessional. A escola nãopode ser transformada em espaço de catequização ou doutrinação. Esse éum papel das famílias e das igrejas, não das escolas.

g) Ensino Religioso exige um professor de formação diferenciadaO que está acontecendo nas redes estaduais e municipais de ensino

público, hoje, é que, por serem as aulas de ER de pouca carga horária, nãocompensa que se gastem energias e recursos financeiros para formar umprofessor para uma só disciplina que, além de mal remunerado, tem pequena

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baixa carga horária, o que o obrigaria a trabalhar em turmas e turnos diferentese até em escolas diversas. Fica mais em conta para as redes “qualificarem”esse docente mediante cursos breves de formação ou de especialização queabrir concurso público e contratar novos profissionais.

2.2 Formação do Novo Professor: Uma Proposta Diferente

Baseados nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) ousa-se ofereceruma proposta de formação de professor que supere a fragmentação, o quejá é praticado pelos projetos de formação intercultural indígena. A propostaprevê três ciclos ou três momentos de formação:

• no primeiro ciclo, o aluno teria conteúdos formadores mais genéricos, taiscomo a visão de educação, pesquisa, pedagogia e didática;

• no segundo ciclo, tendo escolhido uma grande área de conhecimento, oaluno teria uma visão geral dessa área, bem como de seus métodos;

• No terceiro ciclo, ele se aprofundaria apenas numa área específica deconhecimento.

Quadro único – Sugestão para uma nova grade curricular deLicenciaturas

Algumas vantagens dessa proposta:• Posteriormente, querendo aprimorar ou aprofundar-se em sua formação,

o docente, em vez de cursar outra licenciatura, poderia cursar apenas oterceiro ciclo de uma nova licenciatura.

• Facilitaria o trabalho interdisciplinar na escola, pois todos os docentesteriam uma formação básica comum: o primeiro ciclo.

• O professor de uma disciplina de carga horária restrita, com um poucomais de tempo de formação, estaria se habilitando para outra disciplina,sem maiores dificuldades.

1º ciclo 2º ciclo 3º ciclo Educação: Pedagogia e Didática, Pesquisa, Estrutura e Funcionamento da Educação Básica.

Ciências Humanas e Sociais e suas Tecnologias

Sociologia, História, Geografia, Ensino Religioso, Filosofia, ...

Ciências da Linguagem e suas Tecnologias

Língua Portuguesa, Línguas estrangeiras, Linguística, Educação Física, Artes, ...

Ciências da Natureza e suas Tecnologias

Matemática, Física, Química, Biologia, Ecologia, ...

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CONCLUSÃO

Critica-se hoje a formação fragmentada do professor especialista numasó disciplina. O próprio Ministério da Educação e o Conselho Nacional deEducação estão propondo a revisão curricular por grandes áreas, na educaçãobásica. Por que não repensar também a formação de um novo professor deeducação básica, mais aberto, com competências e habilidades para trabalharinterdisciplinarmente?

A formação do novo professor de ER, tendo por base as Ciências daReligião, está de certa forma dentro dessa formação proposta maisabrangente.

Hoje, os conhecimentos se fundem e se complementam para formaruma ciência. Nenhum conhecimento se esgota em si mesmo, pois, para serconstruído e se desenvolver, apropria-se do conhecimento de outras ciências.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria da Educação Básica. Parâmetroscurriculares nacionais. Ensino Fundamental. Brasília: MEC, 1997.

_____. Parâmetros curriculares nacionais. Ensino Médio. Brasília: MEC, 2006.

_____. Senado Federal. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília:Senado Federal, 1988.

BRZEZINSKI,Iria. LDB/1996: uma década de perspectivas e perplexidades na formaçãode profissionais da educação. In: BRZEZINSKI, Iria (org.). LDB dez anos depois:reinterpretação sob diversos olhares. São Paulo: Cortez, 2008.

CORDEIRO, Darcy. A universidade como fator de promoção da emancipação damulher brasileira. Goiânia: Relatório de Pesquisa pela Universidade Católica de Goiás,1997 (digitalizado).

IOSCHPE, Gustavo. Mudar os professores ou mudar professores. VEJA, São Paulo, n.22, p. 212-213, jun. 2010.

PEREIRA, Eva Waisros; TEIXEIRA, Zuleide Araújo. Reexaminando a Educação Básicana LDB: o que permanece e o que muda. In: BRZEZINSKI, Iria (org.). LDB dez anosdepois: reinterpretação sob diversos olhares. São Paulo: Cortez, 2008.

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Capítulo VIII

O Ensino Religioso na Pós-Graduação Brasileira:Espaço de formação e pesquisa

Sérgio Rogério Azevedo Junqueira1

A pós-graduação no Brasil, organizada em duas etapas, o lato sensu(Especializações) e o stricto sensu (Mestrado e Doutorado), compreendeespaços para o aprofundamento das diferentes áreas do conhecimento.Especificamente no contexto do Ensino Religioso (ER) permitiu articular apesquisa e a formação para estruturar este campo como uma área doconhecimento, numa aproximação às Ciências da Religião como referência. Éimportante ressaltar que o critério utilizado neste trabalho para definir osdados foi organizado a partir das informações do Conselho Nacional dePesquisa (CNPq).

1 O ENSINO RELIGIOSO NOS CURSOS DE ESPECIALIZAÇÃO

Os cursos de especialização historicamente a partir da década de 1990foram os responsáveis pela qualificação dos professores para atuarem na áreado ER para a prática do diálogo interdisciplinar e intercultural, como condiçãopara uma ação formativa democrática acerca dos valores das tradiçõesreligiosas. Esses cursos denominados pós-graduação lato sensu (ouespecialização) têm

1 Pós-Doutor em Ciências da Religião – Ensino Religioso pela PUCSP, Doutor e Mestre em Ciências daEducação – Ensino Religioso pela UPS (Roma/Itália), Especialista em Metodologia do Ensino Religioso(PUCSP), Pedagogo (Habilitação em Metodologia para Formação de Professor). Líder do Grupo de PesquisaEducação e Religião (GPER), Professor do Programa de Pós-Graduação em Teologia na área de Educaçãoe Religião da PUCPR e Professor do Curso de Pedagogia na disciplina de Metodologia do Ensino Religiosona mesma instituição. E-mail: [email protected]

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[...] duração mínima de 360 horas, não computando otempo de estudo individual ou em grupo, sem assistênciadocente e aquele destinado à elaboração de monografiaou trabalho de conclusão de curso. Oferecidos aosportadores de diploma de curso superior, têmusualmente um objetivo técnico-profissional específico,não abrangendo o campo total do saber em que se inserea especialidade. Direcionado ao treinamento nas partesde que se compõe em ramo profissional ou científico, ocurso confere certificado a seus concluintes. (ResoluçãoCES/CNE nº 1, de 3 de abril de 2001)

A especialização não habilita o profissional a assumir a docência; poreste motivo o profissional que participa da especialização para o processoeducacional deve ser informado que, caso pretenda assumir uma docência, énecessário ter como pré-requisito a licenciatura; outra informação é de queexistem variações segundo as legislações estaduais, pois cada unidadefederativa possui autonomia para indicar o profissional que assumirá disciplinado ER, ao menos enquanto não for reconhecida uma licenciatura específica,tal como é pleiteado pelo FONAPER desde sua fundação. Ao verificar osfôlderes de divulgação dos cursos identificou-se que existe, em sua maioria,com clareza, a explicitação de que os profissionais deverão ser portadores dediploma superior e licenciados nas diferentes áreas de conhecimentos, masencontramos indicações como: agentes comunitários envolvidos com aformação humana, pessoas interessadas na discussão do pluralismo religioso,na pesquisa em Religião; gestores da educação, psicólogos, historiadores;profissionais atuantes em políticas públicas. Nesses mesmos fôlderes existemindicações de bacharéis em Teologia, catequistas e agentes de Pastoral. Oque não é claro nesse material de divulgação é sobre a informação de que osparticipantes têm acesso aos limites de sua atuação no campo do ensino naescola básica.

Dessa forma, visando a compreender o impacto dos cursos deespecialização no cenário de formação dos professores nos últimos 15 anos(1995 a 2010), identificaram-se 95 cursos ofertados, sendo 86 presenciais e 9na modalidade a distância em 18 Estados da Federação, em 92 instituiçõesde ensino. Esse mapeamento foi realizado utilizando como fontes: Revista deCatequese no período 1995 a 2004 (Editora Salesiana); Revista Diálogo no

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período de 1995 a 2010 (Edições Paulinas), Relatório do Setor de EnsinoReligioso da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil para o Fórum NacionalPermanente do Ensino Religioso de março de 1997, o Dossiê sobre Formaçãode Professores do Fórum Nacional Permanente do Ensino Religioso (FONAPER)para o Conselho Nacional de Educação em agosto de 2004, a pesquisa pelainternet realizada pelo Grupo de Pesquisa Educação e Religião (GPER), em2006, para o IX Seminário Nacional de Capacitação Docente do EnsinoReligioso, realizado em São Paulo, no campus da Pontifícia UniversidadeCatólica de São Paulo, e a pesquisa de atualização dos cursos de formação deprofessores em 2008, realizada também pela internet para o X SeminárioNacional de Formação de Referencial para o Ensino Religioso, que ocorreuem Taguatinga (DF), no campus da Universidade Católica de Brasília.

O trabalho de verificação e atualização por internet pesquisou o períodode 1995 a 2010. Desses cursos teve-se acesso a fôlderes impressos ou onlinee nesse material identificou-se a compreensão da nomenclatura do curso, adefinição da carga, o público-alvo, os objetivos e as disciplinas propostas,assim como as monografias. Esses elementos permitem compreender o perfildo processo formador do profissional para atuar no ER no cenário brasileirodas instituições escolares públicas e privadas.

No período analisado, percebeu-se que a nomenclatura dos cursossofreu significativa alteração, sendo as seguintes nomeações encontradas:

1) Ciências da Religião (UFJF, UNIVALI, CESMAC, ICRE, CRESCER,Faculdade Unida, FTH, FEVALE, FATEBE, IESPES, UFPB, FTI, FSB, PUCSP, PUCGO,PUCGO, FURB, FCU, FICLA, UERN, FMES, PUCMG, IEGS.

2) Ensino Religioso: SEAMA, UCB, FAIFA, IESMA, UEMA, CUNP, FDCSLM,FEC, FED, UNIVALE, UCB, UES, UMG, UVRD, FACEL, PUCPR/AECPR, FATIN,UNICAP, IFTP, CESUCA, EST, FCENEC, FAPAS, ITEPA, PUCRS, SETREM, UNISC,UNISINOS, CEU, FAI, ECSP, FTML, FACDE, ISFCR, PUC-Campinas, UMESP,UNIFASS, UNISANTOS, CEUCLAR, UNISAL, Faculdade Bagozzi, PUCPR /AECPR,PUCMG, FAFIL, , UFAL, IBPEX, EADECON, , ITCNE, UNINTER, AECPE, URI, ITESC,FAREDENTOR, UTP, FTBP, OPET, URCAMP, ICESPI, UCS, UNIVILLE.

3) Educação Religiosa: FITS, FUNCAB, UNASP.4) Outras denominações: Diversidade Cultural e Religião em contextos

educativos (UNILASALLE), Educação Religiosa Escolar e Teologia Comparada(ESAB), Estudos da Religião e suas interfaces com a educação (MESSIÂNICA),Filosofia da Religião (UFES), História das Religiões: fundamentos para a

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pesquisa e o ensino (UEM), Religião e religiosidade: fundamentos para oensino religioso (UEMOP), Teologia Cristã em Diálogo: Culturas e Religiões(PUCRJ).

Em relação à carga horária, foi detectada uma variação entre 360 a660 horas/aula, distribuídas da seguinte forma: 360 horas/aula (PUC-Campinas; FATIN; UFPB; FATEB; PUCRJ; PUCMG; REDENTOR; FAMES; SÃOBENTO; ASSUNÇÃO; UNIDA; UNASP; UCS; FURB; UNISC; UNIFAS; UNICLAR),370 horas/aula (UEM); 384 horas/aula (BAGOZZI); 390 horas/aula (IESPES);400 horas/aula (FAIFA; FTML; UNICO; BATISTA; CESUSCA; EST; OPET; ITEPA);405 horas/aula (CESMA); 408 horas/aula (UFJF); 415 horas/aula (FITS); 420horas/aula (ITCNE; UNILASSALE; FACINTER); 432 horas/aula (EADECON); 436horas/aula (UCB); 445 (IESMA; UNIVILLE); 450 (UERN); 540 (CASTELOBRANCO); 600 (UNISAL-Pio XI); 660 (SIGNORELLI).

Outro aspecto analisado foi a organização dos objetivos, que é umadas formas de identificar-se a intencionalidade e a formatação dos cursos,sendo que, a partir da leitura e da análise dos objetivos dos fôlderes, pôde-severificar que, de fato, diversas instituições compreenderam o Ensino Religiosocomo área do conhecimento relacionado às Ciências da Religião, entretanto,ainda encontrou-se uma perspectiva de ensino de religião. Entre todos,localizou-se único objetivo que indicava o curso como para HABILITARprofessores: “habilitar o profissional de Ensino Religioso para o exercíciopedagógico da formação humana integral e integrada no universo plural edemocrático da educação”. Fato esse que não é reconhecido pela legislação.Os demais objetivos, portanto, podemos compreender como na leitura daescolarização do ER ou do ensino da religião.

O primeiro foco dos cursos expresso nos objetivos é a formação dosprofessores, especialmente pelo fato de que o número de cursos de graduaçãopara habilitar esses profissionais no país é em número muito pequeno. Essaperspectiva pode ser localizada na proposta expressa nos objetivos:“possibilitar aos participantes do curso acesso ao conhecimento e o domíniode metodologias que possam ser utilizadas na atividade educacional e estejamvoltadas para o Ensino Religioso, bem como o acesso ao conhecimento dosfundamentos teóricos de tais metodologias”; “habilitar professores para oensino religioso escolar em vista das novas propostas abertas pela legislação”;“possibi litar aos participantes oportunidades de adquirir maiorescompetências e habilidades para o exercício de suas funções pedagógicas em

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Ensino Religioso como área de conhecimento”; “capacitar o profissional daeducação para que desenvolva uma prática pedagógica coerente com osParâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Religioso nas escolas públicas”;“oportunizar uma melhor capacitação para a atuação através do intercâmbiocom experiências de prática educacional religiosa”; “qualificar o profissionalde Ensino Religioso para a prática do diálogo interdisciplinar e interculturalcomo condição para uma ação formativa democrática acerca dos valores dastradições religiosas”; “proporcionar reflexão sobre a natureza e a identidadedo Ensino Religioso Escolar”; “promover estudos sobre o fenômeno religiosodentro de uma abordagem interdisciplinar”. Esses objetivos indicamperspectivas da identidade do encaminhamento da formação do formação,mas simultaneamente da identidade do componente curricular, como aquestão da diversidade, do universo plural, do fenômeno religioso, osparâmetros curriculares como referência para articular a organização dosconteúdos e, fundamentalmente, a compreensão do ER como uma área doconhecimento.

Encontraram-se cursos que propõem como intenção a formação paraa pesquisa e o ensino superior como os seguintes objetivos: “fornecersubsídios teóricos para a atuação no campo científico-religioso”; “aprofundaro conhecimento e qualificar o profissional da área para a pesquisa e docência”;“preparar o graduado em teologia como pesquisador religioso em nívelsuperior”; “preparar docentes para o exercício da docência do ensino superiore fundamental: teologia, religião, capelania institucional e filosofia”. Para oensino superior os cursos de especialização assumem esse papel formador,mas para a pesquisa não existe na intencionalidade e na carga horária doscursos essa proposição, mas desperta o interesse para um posterioraprofundamento da questão.

Objetivos com a intenção do ensino da religião, na perspectiva dacomunidade de fé e não da escola como é proposta pelo art. 33 da LDBEN nº9.394/96, alterado pela Lei n° 9.475/97, como exemplo: “refletir sobre arelação entre fé e razão na perspectiva da consolidação de valores éticos ereligiosos voltados para a humanização e cidadania”; “oferecer umametodologia adequada para o desenvolvimento de atitudes tolerantes dianteda diversidade das tradições religiosas”; “qualificar para o exercício daFormação Religiosa nos diversos espaços públicos e comunitários”; “formaragentes que através do aprofundamento da fé sejam multiplicadores de

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evangelização e testemunhas vivas de Jesus Cristo no mundo”; “promover aformação de professores na área de religião, macro-ecumenismo e cultura”;“estimular a reflexão sobre o papel do educador para a religiosidade,resgatando a importância social e a dimensão transformadora da sua ação,superando a crise da modernidade, que se manifesta na fragilidade dosvalores, na fragmentação e ausência de sentido na vida”. Não é a propostadesse componente curricular relacionar a fé nem desenvolver processos deevangelização, sendo esta a perspectiva para os cursos de religião.

Entre todos os objetivos dos cursos identificados para a área de ERdois objetivos propostos assumiram de fato perspectivas diferenciadas e queestão relacionadas à área das comunidades mencionadas anteriormente:“prestar serviço às instituições, aos movimentos populares e à sociedadecomo um todo, de forma ecumênica e plural”; “preparar o conselheiroterapêutico a prestar assistência psicológica e espiritual em instituiçõesreligiosas, civis e militares”.

Outro elemento que caracteriza os cursos são as disciplinas. No casoda especialização identificamos quatro tipologias de disciplinas:

1) Na maioria foram encontrados estudos orientados para metodologiacientífica com disciplinas denominadas como: Metodologia Científica e daPesquisa, Metodologia do Trabalho Científico, Seminário de Monografia,Orientação Dirigida, Leitura e construção de texto.

2) Por ser um curso de especialização de ER no campo educacional,encontrou-se um segundo grupamento no currículo do curso voltado àsquestões pedagógicas tais como: Didática, Currículo, Didática do EnsinoSuperior, Pedagogia do Afeto e do Diálogo, Ambientes de Aprendizagem emEAD, Antropologia e perspectivas éticas, Aprendizagem e Cognição,Comunicação, Antropologia Filosófica, Fundamentos e Práticas Pedagógicas,Epistemologia, Estágio Supervisionado, Estrutura e Funcionamento do Ensino,Formação para a Cidadania e Direitos Humanos, Fundamentos da EducaçãoInfantil e Ensino Fundamental, Ambientes Educativos, Informática e Processosde Aprendizagem, Oficinas Pedagógicas, Oratória e Técnicas de Comunicação,Organização Escolar, Psicologia da Educação, Teorias da Aprendizagem,Psicologia Social, Fundamentos Sociopolíticos e Filosóficos da Educação,Profissionalização Docente, Temas Transversais e Tópicos Especiais.

3) O terceiro grupamento de disciplinas está voltado para as Ciênciasda Religião ou explicitamente Teológicas, encontrando: Antropologia da

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Religião, História da Religião, Filosofia da Religião, Sociologia da Religião,Psicologia da Religião, Culturas e Tradições, Fenomenologia da Religião,Ciências da Religião, As Ciências humanas e sociais interpretando o fenômenoreligioso, Influência da Religião na Formação do Povo Latino-Americano eespecialmente do Povo Brasileiro, Textos Sagrados, Ethos, Mitos, Ritos, Artee Sagrado, Dança e o Sagrado, Festas Religiosas, Diálogo Inter-religioso,História das Religiões no Brasil, Ética das religiões mundiais, Budismo, Afro-brasileiro, Cristianismo, Protestantismo, Xamanismo, Religiões Orientais,Estudo Comparado das Religiões, Espaço Sagrado, Religião e Magia.

Portanto, no campo das Ciências da Religião o que se percebe é quealguns cursos se ocupam em abordar aspectos essenciais para subsidiar aquestão de conteúdo para o professor de ER, outros detalham as áreas dasCiências da Religião e das Tradições Religiosas visando ao campo da pesquisanessa área, não sendo uma questão de indicar uma qualificação, mas dointeresse de quem opta pelos cursos.

4) Entre os conteúdos foram identificados os explicitamente teológicos,tais como: Atualidade Histórica Literária das Narrativas Bíblicas, Introdução eTeologia do Antigo Testamento, Introdução ao Novo Testamento e Evangelhos,Cristologia, Ecumenismo, Filosofia e Ética Cristã, para os cursos que adotamessa seleção de conteúdo a perspectiva é do Ensino Confessional. Nessescursos foram identificadas como disciplinas propostas: Orientação familiar,Técnicas de Aconselhamento Terapêutico, Pastoral Escolar, Ações Práticas emCapelania, Aconselhamento na Escola, as quais complementam cursos que,mesmo denominados ou voltados para o ER, visam às instituiçõesconfessionais.

5) O último núcleo de disciplinas são as que pretendem aprofundar aquestão do ER. Entre os cursos analisados identificou-se que História eLegislação do Ensino Religioso, Fundamentos Epistemológicos do EnsinoReligioso e Didática ou Metodologia do Ensino Religioso estão nos currículoscom maior freqüência. Outras disciplinas estão presentes de forma maisdispersa: Metodologia do ensino religioso na educação infantil, ensinofundamental e ensino médio; Paradigmas Educacionais do ER no Brasil;Formação do Docente para o ER; Ethos e Ensino Religioso; Temas, Abordagense Debates do Ensino Religioso, Ensino Religioso e a Perspectiva da EscolaReflexiva, O Ensino Religioso e as Políticas Educacionais, Introdução às Ciênciasda Religião e ao Ensino Religioso, Pesquisa em Ensino Religioso, Planos do

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Trabalho em Ensino Religioso, Textos de Literatura Brasileira e Ensino Religioso.Finalizando a leitura e a análise dos temas que orientam os cursos de EnsinoReligioso no país, percebe-se ainda a presença de propostas que mesclamelementos propostos pela legislação do pluralismo com elementos daconfessionalidade religiosa, assim como existe uma adequação entre oscurrículos visando a uma escolarização para a formação desse profissional.

2 O ENSINO RELIGIOSO NOS PROGRAMAS DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTOSENSU

Outro foco da pós-graduação stricto sensu (mestrados e doutorados)contribui na identidade da área do ER com a formação de formadores e depesquisadores, neste contexto foram identificados os programas de Teologiae Ciências da Religião. A nomenclatura Ciências da Religião ora aparece nosingular, ora aparece no plural como Ciências das Religiões. Para esta pesquisa,foi feita uma busca nos sites das instituições brasileiras com os referidosprogramas, de onde foram retiradas as informações que constam neste texto.

Os programas de Teologia são vinculados a instituições confessionais,sendo cinco (5) católicas (FAJE; PUCRJ; UNIFAI; PUCPR E PUCRS) e uma (1)luterana (EST). Com tal, mantêm uma leitura dedicada à sistematização e àjustificação dos conteúdos da mensagem bíblica e da tradição cristã, emconformidade com um modelo normativo. Nesse caso, a teologia apresenta-se como a explicitação ou justificação racional de uma mensagem reveladapor Deus, sob a autoridade de um magistério. Não descarta, contudo, aabertura ao diálogo com outras ciências.

Dos programas de Ciências da Religião, dois (2) estão vinculados ainstituições públicas/federais (UFJF e UFPB) e seis (6) confessionais, sendoquatro (4) católicas (UCGO, PUCMG, UNICAP, PUCSP), uma (1) metodista(UMESP) e uma (1) presbiteriana (UPM). Sua orientação se constrói sobre abase da complementaridade entre diversas abordagens de um mesmo campoda realidade, a religião ou o religioso no estudo plural da religião. Até por suaprópria natureza, os programas de Ciências da Religião têm seu olhar maisamplo que os de Teologia, procurando tratar o fenômeno da religião sob oolhar das ciências sociais.

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Os programas de Teologia centram seus objetivos na pesquisa e nocampo do ensino da área teológica, sendo que a EST, a PUCPR e a PUCRSexplicitam uma preocupação com a sociedade como um todo, o cenário latino-americano e a cultura, aparentando um diálogo deste campo do conhecimentocom outros cenários ad extra. Os programas de Ciência/Ciências da(s)Religião(ões) assumem o incentivo da pesquisa sobre o fenômeno religioso eas diferentes manifestações em sua constituição epistemológica, cultural esua significação como fato social com uma clara intencionalidade de aprendere respeitar a diversidade das religiões especialmente no cenário brasileiro elatino-americano (UCG, PUCMG, UNICAP, PUCSP, UMESP, UFJF, UFPB, UPM),além de ocuparem-se na formação de professores e assessores nesse campodo conhecimento.

Historicamente, a Universidade Federal de Juiz de Fora iniciou asatividades de seu Departamento de Ciência da Religião em junho de 1969; aprincípio funcionava oferecendo disciplinas eletivas para os diversos cursosde graduação da Universidade; em meados dos anos 1970 chegou a funcionarpor alguns anos o curso de graduação, inclusive mediante ingresso comvestibular. A experiência com a graduação foi interrompida por motivos alheiosao Departamento. Seguiram-se anos de dificuldades, com redução do corpodocente. Nova etapa ocorreu em 1991 com o nascimento da experiência depós-graduação lato sensu em Ciência da Religião na UFJF (curso deespecialização). O mestrado deu sequência ao processo, iniciando-se emsetembro de 1993. O próximo passo de toda esta caminhada foi a aprovaçãodo projeto de doutorado em Ciência da Religião em julho de 1999.

Outro programa é o da PUCSP que teve início em 1978 (Mestrado),passando, em 2002, a oferecer também o Doutorado, ambos stricto sensu.

Entre os programas de Teologia a PUCRJ é a mais antiga; seus registrosiniciam em 1972, em seguida EST (1981), FAJE (1987), UNIFAI (1989), PUCRS(1997) e PUCPR (2008).

2.1 As áreas de concentração

Entre as áreas de concentração dos programas estão assim propostas:Programas de Ciências da/s Religião/ões: Religião, Cultura e Sociedade (UCGO/UNICAP); Religião, História e Sociedade (UPM); Religião e Sociedade/Religiãoe Campo Simbólico (PUCSP); Ciências Sociais e Religião/Literatura e Religião

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no Mundo Bíblico/Práxis Religiosa e Sociedade/Teologia e História (UMESP);Religião e Cultura (PUCMG); Ciências Sociais da Religião/Filosofia da Religião/Religião Comparada e Perspectiva de diálogo (UFJF).

Nos programas de Teologia, as áreas de concentração são as seguintes:Teologia da Práxis Cristã/Teologia Sistemática (FAJE); Teologia Prática(Pastoral)/Teologia Prática (Moral)/Teologia Sistemática (Missiologia) (UNIFAI);Teologia Bíblica/Teologia Sistemática Pastoral (PUCRJ); Teologia Sistemática(PUCRS); Teologia Pastoral (PUCPR); Bíblia/Teologia e História/TeologiaPrática/Religião e Educação (EST).

Nesse cenário do significado do ensino superior de pós-graduação, emuma área de Teologia/Ciências da Religião procurou-se identificar a pesquisae o ensino no campo do Ensino Religioso, um espaço que exige a pesquisapara se constituir como área de conhecimento. Entre os 15 programas deTeologia e Ciências da Religião encontraram-se três (3) que oferecemexplicitamente disciplinas que discutem o Ensino Religioso, que são: EST,PUCSP e PUCPR. Assim concebidos: Religião e Literatura - Literatura, Religiãoe Educação para alunos do Mestrado e Doutorado do Programa de Ciênciasda Religião da PUCSP, na Área de Concentração de Fundamentos das Ciênciasda Religião e na Linha de Pesquisa de Fundamentos do Ensino Religioso(Créditos: 3). Enquanto isso, no Programa de Teologia da PUCPR, na LinhaTeologia e Sociedade, a Disciplina Temas de Educação para alunos do Mestrado(3 créditos) e, na EST, a disciplina Práxis do Ensino Religioso (4 créditos)explicitam aspectos para aprofundar o Ensino Religioso.

2.2 Os grupos de pesquisa

No campo da pesquisa foram localizados nos Programas da PUCPR,EST, PUCMG e UFPB grupos de pesquisa voltados explicitamente para aquestão do Ensino Religioso. No Paraná, o Grupo de Pesquisa Educação eReligião (GPER – 2000), criado três anos após alteração da legislação (Lei nº9.475/97), acompanha o movimento nacional de organização dos professorese a sua formação para implantar e implementar o ER dentro da novaperspectiva. O Grupo, por meio de seus projetos, estuda o significado daformação docente e a sua relação com uma área da Educação Básica que é oEnsino Religioso. Em vista de explicitar melhor o objeto desse grupo depesquisa, ocorreu alteração do nome do conhecido como Grupo de Pesquisa

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Educação e Religião para Formação Docente e Educação Religiosa, mantendoa sigla GPER por questões técnicas relacionadas ao site do grupo. Outro ajustesolicitado é quanto ao nome dos projetos de pesquisa com vistas a melhoradequá-los ao grupo.

Nas Faculdades EST (RS) há dois grupos de pesquisa: o primeirodenomina-se Currículo, identidade religiosa e práxis educativa (2002), o qualvisa a promover o incremento do ensino, da pesquisa e da extensão atravésda produção científica nas áreas temáticas: currículo nas instituições escolares,práxis educativa, formação e identidade docente, ER e práticas da educaçãocomunitária; o segundo denomina-se Educação Religiosa na Infância eJuventude (2004), que desenvolve pesquisa e produção científica articuladaem torno de diferentes temáticas: a primeira refere-se à educação escolar ecompreende pesquisa em torno do ER como disciplina na educação básica; asegunda compreende pesquisa relacionada à educação cristã, entendida comoformação continuada na fé, e estuda questões relativas à formação daidentidade religiosa que é promovida em diferentes espaços educativos, nasfamílias, em grupos e em comunidades; a terceira temática relaciona-se coma educação comunitária e compreende pesquisa sobre o desenvolvimentoda espiritualidade, a busca por sentido de vida e a reflexão sobre processosformativos que visam uma educação integral e inclusiva, em diferentescontextos e grupos sociais, como a família, a escola, a comunidade.

Na PUCMG no Programa de Ciências das Religiões foi identificado oProjeto: Cem anos de Ensino Religioso em Minas Gerais (2007): subprojetovinculado ao projeto coordenado por Anísia de Paulo Figueiredo que tempor objetivos: Pesquisar, organizar, complementar, rever e publicar umdocumentário contendo os fatos que compõem a história dos cem anos deestudos, ações políticas e educacionais sobre o Ensino Religioso em MinasGerais, resultando na regulamentação e na operacionalização desta disciplinanas escolas públicas, durante todo o século XX e início do século XXI até omomento atual.

Finalmente, no Programa de Ciências das Religiões da UFBP, foramidentificados dois grupos que em sua descrição apresentam elementos depesquisa sobre o Ensino Religioso: o primeiro, Kuaba Ataqbá2, fundado em

2 A expressão indígena Kuaba em tupi significa saber, conhecer, conhecimento, e a expressão iorubaatagbá, aquilo que é passado de mão em mão, resultando num encontro ou numa reunião coletiva.

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2008, está voltado para pesquisadores interessados em aprofundar seusconhecimentos nos estudos das religiões, prioritariamente afro-indígena daParaíba, mas extensivo a todas as áreas do conhecimento; o segundo grupo éo VIDELICET Religiões Estudos e Pesquisas, fundado em 2006, busca apoiar aformação dos estudantes, pesquisadores e professores no estudo das Religiões(“Ensino Religioso”) em temas do Imaginário, da Religiosidade e do Sagrado -enquanto “objeto” de estudo – e da Intolerância Religiosa.

2.3 Projetos de Pesquisa

Entre os projetos de pesquisa registrados nos programas de pós-graduação estão: na PUCSP o projeto Coleção Temas do Ensino Religioso(iniciado em 2005), é uma Coleção de textos destinados à formação docenteem ER, elaborada a partir das reflexões de professores do programa de Ciênciasda Religião e alguns outros pesquisadores convidados, sendo este projetofinanciado pela Pia Sociedade Filhas de São Paulo (Edições Paulinas).

Outro projeto é Educação Religiosa: identidade e formação deprofessores iniciado em 2009. Objeto deste projeto é a compreensão daidentidade da educação religiosa em suas diferentes formatações e ação doseducadores envolvidos. Utiliza-se da análise histórica para a construção destaidentidade e da cultura material elaborada ao longo do período de 1995 a2008 no Programa de Teologia da PUCPR.

No Programa de Teologia da PUCRS, o projeto iniciado em 2008,denominado Novos paradigmas para o Ensino Religioso atual, tem comoobjetivo pesquisar o referencial teórico e metodológico que oportunize aleitura e a integração crítica e consciente do fenômeno religioso pluralistaatual em sintonia com os Parâmetros Curriculares Nacionais para o EnsinoReligioso. Para preencher a lacuna entre a necessidade e a formaçãoprofissional em ER, o projeto visa a fornecer subsídios teóricos emetodológicos com caráter disciplinar e interdisciplinar, tendo também comopressuposto básico um envolvimento efetivo com uma educaçãotransformadora, que se alicerça no ideal de uma sociedade mais crítica, justae solidária, comprometida com os problemas sociais.

No programa da EST verificamos três projetos: o primeiro, EnsinoReligioso - um olhar para as concepções e práticas em sistemas municipais deensino (2006), que trata da investigação sobre o encaminhamento e a

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organização do Ensino Religioso no que se refere a aspectos legais, concepçõese práticas em alguns sistemas municipais de ensino (ou municípios) do RioGrande do Sul, a partir da Lei n° 9.475/97 que dá nova redação ao art. 33 daLDB. A partir da pesquisa de campo e dos enfoques teóricos correntes sobreo ER, o projeto visa a contribuir para compreensão e organização daepistemologia do ER nos sistemas municipais (ou municípios). O segundo, Aformação de professores no Curso Normal, em nível de Ensino Médio: Umolhar para a identidade de adolescentes-docentes em formação profissionale uma análise das didáticas, com atenção especial para o ensino religioso(2007), pretende conhecer e compreender, considerando a disposiçãotransitória do art. 87 da LDB n° 9.394/96 e a dimensão da Década da Educação,a realidade da formação de professores dos cursos da modalidade Normal,em nível de Ensino Médio, a partir de um mapeamento e análise do projetode curso das instituições na região do Vale dos Sinos, procurando perceber oprocesso de construção da identidade docente de adolescentes em formaçãoprofissional, de ensino e aprendizagem da didática das áreas específicas deaprendizagem e, de forma especial, da área de conhecimento do EnsinoReligioso. O terceiro, O Ensino Religioso na formação docente: um olhar sobrea metodologia de Ensino Religioso em cursos de Licenciatura em Pedagogia(2007), parte do pressuposto da importância da capacitação em Metodologiado Ensino Religioso nos cursos de formação docente, visto que pela legislaçãovigente no RS (Resolução CEED/RS nº 256/00) não é exigida nenhuma formaçãoespecífica, além da habilitação docente propriamente dita, para lecionar adisciplina de Ensino Religioso na Educação Infantil e/ou nos anos iniciais doEnsino Fundamental. A pesquisa pretende abarcar o embasamento legal sobreo assunto e confrontar o mesmo com uma pesquisa de campo, envolvendo aprópria prática docente na referida disciplina em duas IES (EST e UNISINOS,desde 1999 e 1998, respectivamente), bem como a atuação de outros/asdocentes e a participação de discentes nesta disciplina pedagógica em Cursosde Licenciatura em Pedagogia em IES de diferentes mantenedoras na regiãoda Grande Porto Alegre.

Foram localizadas seis teses de doutorado explicitamente sobre aquestão do ER no Programa de Teologia da EST que são em ordem cronológica:

1) STRECH, Gisela Isolde Waechter. Ensino Religioso em EscolasConfessionais da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil. Exercitação

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para o Doutorado em Teologia. Escola Superior de Teologia, São Leopoldo,2000. Orientador: Prof. Dr. Roberto Antonio Daunis.

2) BRANDERBURG, Laude Erandi. O lugar da participação na interaçãopedagógica no Ensino Religioso Escolar: perspectivas a partir da teoria daprática. Exercitação para o Doutorado em Teologia. Escola Superior deTeologia, São Leopoldo, 2002. Orientador: Prof. Dr. Nestor Luiz João Beck.

3) OLIVEIRA, Lilian Blanck de. A formação de docentes para o ensinoreligioso: perspectivas e impulsos a partir da ética social de Martinho Lutero.Exercitação para o Doutorado em Teologia no Instituto Ecumênico de Pós-Graduação. Escola Superior de Teologia, São Leopoldo, 2003, 220 p.Orientador: Prof. Dr. Nestor Luiz João Beck.

4) ROCHA DA VEIGA, Celma Christina. Um olhar sobre a identidadereligiosa a partir dos Parâmetros Curriculares Nacionais de Ensino Religioso.Exercitação para o Doutorado em Teologia. Escola Superior de Teologia, SãoLeopoldo, 2003. Orientador: Prof. Dr. Oneide Bobsin.

5) KLEIN, Remí. Histórias em jogo: rememorando e ressignificando oprocesso educativo-religioso sob um olhar etnocartográfico. São Leopoldo:Escola Superior de Teologia, 2004, 339 p. Orientadora: Profª Dra. WandaDeifeld.

6) FILHO, Lourival José Martins. “Tem azeite na botija?”. Ensino religiosonos anos iniciais do ensino fundamental em Florianópolis - SC. Tese deDoutorado em Teologia. Escola Superior de Teologia do Instituto Ecumênicode Pós-Graduação, São Leopoldo, 2009, 154 p. Orientador: Prof. Dr. ManfredoCarlos Wachs.

Em outro programa foram localizadas duas teses no programa deCiências da Religião da PUCSP:

1) MOCELLIN, Teresinha Maria. O mal-estar no Ensino Religioso:localização, contextualização e interpretação. Exercitação para o Doutoradoem Ciências da Religião: Fundamentos das Ciências da Religião na PontifíciaUniversidade Católica de São Paulo, 2008, 242 p. Orientador: Prof. Dr. José J.Queiroz.

2) CÂNDIDO, Viviane Cristina. Epistemologia da Controvérsia para oEnsino Religioso: aprendendo e ensinando na diferença, fundamentados nopensamento de Franz Rosenzweig. Exercitação para o Doutorado em Ciênciasda Religião na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 2008. Orientador:Prof. Dr. Luiz Felipe de Cerqueira e Silva Pondé.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Verifica-se que o tema do ER nesta área da Teologia/Ciências da Religiãoé ainda um objeto pouco explorado no campo acadêmico, localizados apenas3 disciplinas; 8 pesquisadores, 4 Grupos de Pesquisa, 7 Projetos, 70Dissertações e 22 Teses de Doutorado para um período de cerca de 30 anosde programas de pós-graduação. Dessa forma, a pós-graduação assumiunesses últimos 15 anos um significativo papel na construção da identidadedo Ensino Religioso brasileiro.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Constituição. Constituição da República Federativa do Brasil. Promulgadaem 5 de outubro de 1988. Brasília, DF: Senado Federal, 1988.

BRASIL. Presidência da República. Lei n° 9.394/96, de 20 de dezembro de1996.Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Brasília: Diário Oficial da União,1996.

BUCHOLZ, Sandra David. A universidade como espaço de formação continuada:tensões e possibilidades. Educere et Educare – Revista de Educação, Cascavel, v. 2,n. 4, p. 367-374, jul./dez. 2007.

CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO. Resolução CES/CNE n. 1, de 3 abril de 2001.Brasília: CNE, 2001.

CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO. CNE/CP n. 1/2002 (que institui DiretrizesCurriculares Nacionais para a Formação de Professores da Educação Básica, em nívelsuperior, curso de licenciaturas). Brasília: CNE, 2002.

CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO. CNE/CP n. 2/2002 (que institui duração e acarga horária dos cursos de licenciatura de graduação plena, de formação deprofessores da Educação Básica em nível superior). Brasília: CNE, 2002.

CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO. Resolução n. 1, de 8 de junho de 2007 -Estabelece normas para o funcionamento de cursos de pós-graduação lato sensu,em nível de especialização. Brasília: CNE, 2007.

CORDÃO, Francisco Aparecido. A formação do educador de Ensino Religioso:perspectivas de uma história. In. JUNQUEIRA, Sérgio Rogério Azevedo; OLIVEIRA, LilianBlanck (org.) Ensino Religioso: memória e perspectivas. Curitiba: Champagnat, 2005.

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JUNQUEIRA, Sérgio Rogério Azevedo; WAGNER, Raul (orgs.). Ensino religioso no Brasil.Curitiba: Champagnat, 2004.

JUNQUEIRA, Sérgio Rogério Azevedo. Formação de professores para ensino religioso:construção de uma identidade. São Paulo: PUCSP, 2010.

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Capítulo IX

Congressos Nacionais de EnsinoReligioso:Memórias, encontros e desafios

Lurdes Caron1

DAS UTOPIASSe as coisas são inatingíveis... ora!Não é motivo para não querê-las...

Que tristes os caminhos, se não foraA presença distante das estrelas!

Mario Quintana

1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS

O Fórum Nacional Permanente de Ensino Religioso (FONAPER),instalado em 26 de setembro de 1995, em Florianópolis/SC definiu, já na suainstalação, a “Carta de Princípios”, que fora assumida pelo grupo departicipantes, entre eles, professores e articuladores do Ensino Religioso (ER)no Brasil2.

Desde seu início, o FONAPER assumiu a função de ser um “espaçopolítico-pedagógico”. Nesse sentido, exerceu e exerce permanenteacompanhamento quanto às discussões sobre Ensino Religioso (ER) no Brasile estabeleceu como prioridade a formação de professores para este

1 Doutorado no Programa de Pós-Graduação em Educação: Currículo. Linha de Pesquisa: Políticas Públicase Reformas Educacionais e Curriculares, pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), SãoPaulo/SP. Mestrado em Teologia Prática – Linha de Pesquisa: Educação Cristã, pela Escola Superior deTeologia – Instituto Ecumênico de Pós-Graduação de São Leopoldo/RS. Graduação em Pedagogia,habilitação em Orientação Educacional e Administração Escolar e Formação Teológica. Especializaçãoem Administração Escolar; Ecumenismo e Diálogo Religioso. Professora de Epistemologia do FenômenoReligioso e Paradigmas da Educação e do Ensino Religioso no Brasil e em SC, no curso de Ciências daReligião – Licenciatura Plena - Habilitação em Ensino Religioso da Universidade Comunitária Regional deChapecó/SC (UNOCHAPECÓ). E-mail: [email protected] e [email protected] CARON, Lurdes. O texto é, em primeiro lugar, resultado da memória da autora que participou da pré-pesquisa, organização e criação do FONAPER e, nesses 15 anos, dele faz parte.

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componente curricular, sempre atento em propor caminhos e assumindodesafios decorrentes.

Em 2010, celebra 15 anos de vida e ação política. Nesse período,inúmeros foram os desafios enfrentados pelo FONAPER com relação àmanutenção do ER como umas das áreas do conhecimento no currículoescolar com tratamento pedagógico.

Para o FONAPER, é permanente o desafio de atender e apoiar asiniciativas de formação de professores de ER para o novo fazer do cotidianode sala de aula, respeitando o universo pluralista de políticas de formação dedocentes desenvolvidas pelas secretarias estaduais e municipais de educação,por entidades formadoras e dialogando com reverência com as diferentesmatrizes culturais do povo brasileiro.

Assim, o FONAPER, desde sua instalação, para tomada de decisões earticulações e para manter uma política nacional de ER, organiza anualmente,em Sessões Plenárias e/ou Ordinárias, Assembleias, Reuniões e Semináriospara a capacitação de professores de ER. Em todos esses eventos, contoucom o surpreendente aumento de participantes, sendo esses, em sua maioria,professores de Ensino Religioso.

Em tempo de transição da Lei de Diretrizes e Bases da EducaçãoNacional (Lei n° 9.394/96) e da Lei do Ensino Religioso (Lei n° 9.475/97), ocrescente número de professores nas Sessões, Seminários e Assembleias veiodemonstrando a constante busca de formação e de luzes para o cotidiano desua prática em sala de aula.

Acentua-se, assim, cada vez mais, para o FONAPER o desafio quanto àformação de professores de Ensino Religioso. Passou a interrogar-se: Como,nas modalidades de Sessões e Seminários, atender a contexto tão diversificadode professores? Estes com interesses tão pontuais? Como ajudar na formaçãode professores? O que fazer para ajudar? Organizar cursos? Organizarcongressos? O que é mais urgente?

Foi então que, em reuniões da coordenação do FONAPER, em conversasaqui e acolá e frente à necessidade de capacitação de docentes, começou-sea pensar e a debater a ideia de realizar Congressos Nacionais com temas deaprofundamento teórico e prático, emergentes, visando à formação deprofessores de ER. E assim, a partir de 2000, de dois em dois anos, o FONAPERpromove e realiza um Congresso Nacional de Ensino Religioso.

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O FONAPER, ciente de seu compromisso social com a construção dacultura da paz e do exercício da cidadania, acentua seu trabalho com aformação de professores e do respeito às diferentes culturas promovendoCongressos que são realizados em espaços geográficos diferentes deste rincãobrasileiro e com temas relacionados à exigência da formação, da capacitaçãode professores de Ensino Religioso.

2 CONGRESSOS NACIONAIS DE ENSINO RELIGIOSO

A palavra Congresso3 vem do latim congressu, que significa reunião,união, encontro, ligação, ajuntamento. Entre estudantes universitários écomum a realização de Congressos acadêmicos que significa inovação, inclusãoe expansão, análise, discussões e partilha de experiências vivenciadas.

Congresso acadêmico, normalmente, é um momento onde todacomunidade universitária – professores, estudantes e servidores técnicos –tem acesso à produção científica, artística e técnico-cultural daqueles quefazem a Universidade4.

Os dois primeiros Congressos promovidos pelo FONAPER foramdenominados de Congresso Brasileiro de Professores de Ensino Religioso(2000-2002). A partir de 2005, passou-se a denominar de Congresso Nacionalde Professores de Ensino Religioso (CONERE).

Na sequência, faz-se breve memória da realização de cada Congressopromovido pelo FONAPER na década de 2000-2010, destacando: local, temade estudo aprofundado, número de participantes, desafios e resultados.

3 Congresso é uma palavra de origem árabe-greco-romano-venezuelana, cujo grafismo mais antigo foiencontrado na caverna de Ali Babá, na República Checa. Vem da articulação do prefixo con (junto,abraçado, enrolado, etc.) e da partícula gresso (valor, monetário ou não, passe, entrada, lobby) e foirapidamente incorporada ao vocabulário dos meios de comunicação de língua portuguesa,particularmente o Brasil. Congresso significa também encontro de especialistas em determinado assunto,especialmente em economia e política interna. Disponível em: <http://desciclo.pedia.ws/wiki/Congresso>.Acessado em: 21 jun. 2010.4 Disponível em: http://www.ufal.edu.br/ufal/utilidades/com-a-palavra/congresso-academico-inovacao-inclusao-e-expansao-1/>. Acesso em: 21 jun. 2010.

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2.1 Congresso Brasileiro de Professores de Ensino Religioso

De 18 a 21 de julho de 2000, o FONAPER realizou no auditório do HotelPraia Sol, no Município de Serra, na grande Vitória/Espírito Santo, a 8ª Sessãoe a Assembléia Ordinária. Juntamente com essa Sessão, realizou, em parceriacom o Conselho Interconfessional de Ensino Religioso do Espírito Santo(CIERES), o I Congresso Nacional de Professores de Ensino Religioso. EsseCongresso contou com a participação de 210 pessoas, representando 20Estados da Federação, sendo que só de Palmas/Tocantins vieram dois ônibuslotados, com mais de 80 professores. O tema central da Sessão e do Congressofoi “Professor de Ensino Religioso: Aprendendo a Ver, a Saber, a Fazer e aSer”.

Os trabalhos e estudos foram desenvolvidos nas seguintes Comissões:Sistemas Estaduais; Sistemas Municipais; Capacitação de Profissionais para oEnsino Religioso; Articulação das Denominações Religiosas; Editoras. CadaComissão apresentou seu plano de metas que fizeram parte do Plano de Ação1999 a 2000.

Após reflexão e debates, os participantes elaboraram uma Carta abertae nela destaca-se o permanente desafio da necessidade de professoreshabilitados para o exercício do ER; a recente valorização do fenômeno religiosonos documentos legais: Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB)n° 9.394/97, em especial do art. 33, modificado pela Lei n° 9.475/97, comoparte integrante da formação do ser humano.

Permanece o desafio de que para trabalhar o ER como área doconhecimento (Resolução CNE/CEB n° 2/98 e Resolução CNE/CEB nº 4/10),que tem por objeto o estudo do fenômeno religioso (FONAPER, 1997) e quesua prática parte do pedagógico, são necessárias efetivas políticas de formaçãode professores em nível municipal e estadual em cursos de graduação –Licenciatura Plena, com habilitação em ER.

Ao final do Congresso foi elaborada uma carta enviada ao ConselhoNacional de Educação (CNE), solicitando a aprovação de Curso de LicenciaturaPlena com Habilitação em Ensino Religioso com currículo básico para todo oterritório nacional, elaborado pelo FONAPER5.

5 Ver a coletânea sobre a Instalação, Sessões, Seminários do FONAPER 1995-2000. CARON, Lurdes (org.).CNBB: Brasília, 2000 (Coletânea encadernada - encontra-se nos arquivos da CNBB).

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A organização do I Congresso foi um grande desafio. Na preparaçãopouco se fez uso dos meios tecnológicos e, sim, do telefone e dos encontrospessoais. Exigiu muita articulação por parte da coordenadora do FONAPER.Para tanto, foram realizadas várias reuniões extras, até reuniões feitas emrodoviárias6, por ocasião da passagem de alguém da coordenação e duranteoutros eventos. A coordenadora fez várias viagens, indo de encontro daspessoas da equipe de coordenação para conversar sobre a organização desteCongresso. É digno de louvor a persistência corajosa e audaciosa da Profª.Lizete Carmen Viesser para fazer acontecer à realização deste I CongressoBrasileiro de Professores de Ensino Religioso.

De 11 a 13 de setembro de 2002, o FONAPER, em parceria com aUniversidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS), realizou em São Leopoldo/RS, o II Congresso Brasileiro de Professores de Ensino Religioso. O temaprincipal tratou sobre “Manifestações Religiosas no mundo contemporâneo:interfaces com a Educação”. Contou com mais de 200 participantes vindos dediferentes Estados da Federação. Vários foram os palestrantes e, entre eles,destacamos os professores doutores Antonio Flávio de Oliveira Pierucci (USP);James Fowler (Univ. de Emory, Atlanta, EUA) e Hans-Jürger Fraas (Univ. deMunique, Alemanha).

Esse Congresso introduziu a modalidade de apresentação de trabalhoscientíficos por grupos de interesse na organização de mesas redondas e outrasatividades de discussão e aprofundamento do Ensino Religioso. Considerou-se como ponto marcante a análise da caminhada e esclarecimento quanto àcompreensão do ER como área do conhecimento, parte da educação integraldo ser humano no contexto das manifestações culturais religiosas. Permaneceo desafio da necessidade de formação de professores habilitados para o ERem nível de graduação7.

6 Uma das reuniões de preparação do I Congresso Brasileiro de Professores de Ensino Religioso, compessoas da equipe de coordenação do FONAPER, foi realizada na rodoviária de Joinville/SC.7 Ver Relatório do II Congresso - encontra-se nos arquivos do FONAPER.

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2.2 Congresso Nacional de Ensino Religioso

A partir de 2005, os Congressos do FONAPER passaram a serdenominados de Congresso Nacional de Ensino Religioso8 (CONERE).

Entre os dias 3 a 5 de novembro de 2005, realizou-se no Centro deConvenções da cidade de Florianópolis/SC o III Congresso Nacional de EnsinoReligioso (III CONERE), visando a integrar o Ensino Religioso à área doconhecimento. A temática definida foi “Identidade Pedagógica do EnsinoReligioso: memória e perspectivas”.

Para atender o compromisso social do FONAPER, esse Congressoaconteceu em parceria com a Secretaria de Estado da Educação, Ciência eTecnologia (SED/SC), a Associação de Professores de Ensino Religioso de SantaCatarina (ASPERSC), a Associação de Escolas Católicas de SC (AEC/SC), a RedeSinodal de Educação (SER-IECLB), a Associação Nacional das Escolas Luteranas(ANEL/IELB), o Conselho de Ensino Religioso de Santa Catarina (CONER/SC),O Conselho de Igrejas para Estudos e Reflexão (CIER/SC) e a UniversidadeRegional de Blumenau (FURB/SC). Contou com a presença de 480 participantesde nove Estados da Federação. Simultaneamente a esse Congresso ocorreu oIII Seminário Catarinense de Ensino Religioso e o I Seminário de EnsinoReligioso das Escolas Confessionais de Santa Catarina.

O III Congresso objetivou fazer memória dos 10 anos do Fórum NacionalPermanente do Ensino Religioso (FONAPER) e discutir sobre caminhos a seremtraçados na perspectivas de prosseguir no processo de escolarização do ERbrasileiro como área do conhecimento.

As questões abordadas foram: história do FONAPER; ER no contextoda educação nacional; identidade pedagógica do ER; objeto e objetivos doER; didática do ER; confessionalidade como ponto de partida para a distinçãoentre ER e Pastoral; formação do(a) educador(a) de ER: perspectivas de umahistória.

Para esse Congresso foram selecionados 25 trabalhos e apresentadospor pesquisadores e professores estudantes da área do Ensino Religioso.

8 A mudança de nome aconteceu em função das discussões que estavam ocorrendo na CAPES paraqualificar Seminários e Congressos.

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Resultou na publicação da obra Ensino Religioso: memória e perspectivas9,lançada na noite cultural durante a realização do III Congresso.

Permanecem desafios e, entre outros, destacam-se: continuartrabalhando para que efetivas políticas de formação de professores sejamestabelecidas e continuadas em todos os Estados; a necessidade de produçãode material didático de acordo com os PCNER para subsidiar a prática dosprofessores; a compreensão pedagógica do ER com linguagem adequada.

Aconteceu entre os dias 29 e 30 de outubro de 2007, no campus daPontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), em Curitiba/PR, arealização do IV Congresso Nacional de Ensino Religioso. O tema foi“Diversidade & Ensino Religioso: conhecer, respeitar e participar”. Contoucom a presença de aproximadamente 150 participantes.

Nesse evento celebraram-se os 10 anos da nova redação do art. 33(Lei n° 9.475/97) e, para tal, contou com a presença do então relator daComissão de Educação na Câmara Nacional dos Deputados, Pe. RoqueZimmermann. A palestra de abertura foi com a Profª. Rosiléa Wille (SECAD/MEC). A discussão sobre o tema processou-se em dois painéis: Educação,Religião e Direitos Humanos: um espaço de discussão; Cultura, Religião eEnsino Religioso: a diversidade em questão. Um dos momentos importantesdo Congresso foi o das apresentações de 30 trabalhos acadêmicos e o paineldos Conselhos de Ensino Religioso. Os textos das Comunicações estão reunidosnos ANAIS (CD ROM) do evento.

Para a efetivação do ER de conhecimento e de respeito na diversidadesegundo os PCNER e a Lei n° 9.475/97, continua o desafio da formação deprofessores de Ensino Religioso.

Nos dias 12 a 14 de novembro de 2009, com o tema: “Docência emFormação e Ensino Religioso: contextos e práticas”, o FONAPER realizou, emparceria com a Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-GO) e oConselho de Ensino Religioso do Estado de Goiás (CIERGO), o V CongressoNacional de Ensino Religioso. O Congresso foi realizado na cidade de Goiânia,contando com a presença aproximadamente de 300 participantes. Ostrabalhos iniciaram-se na noite do dia 12/11, no Auditório da Área IV, nasdependências da PUC de Goiás, com as solenidades de abertura e, em seguida,

9 JUNQUEIRA, Sérgio Rogério Azevedo; OLIVEIRA, Lilian Blanck (orgs.). O ensino religioso: memória eperspectivas. Curitiba: Champagnat, 2005.

160 |Diversidade Religiosa e Ensino Religioso no Brasil

o Painel Formação Docente e Ensino Religioso no Brasil, o qual contou com apresença das professoras Iria Brzezinski (ANFOPE), Glória das Neves DutraEscarião (UFPB) e Lilian Blanck de Oliveira (FURB e FONAPER). O segundo diainiciou-se com a Mesa Redonda coordenada pelo Prof. Remí Klein (FONAPER,EST e UNISINOS). Esta tratou da Docência em Formação e Ensino Religioso:contextos e práticas. Contou com a participação do Prof. Elcio Cecchetti(FONAPER) que versou sobre a formação, a docência e o currículo do EnsinoReligioso na atualidade brasileira; Prof. Darcy Cordeiro (CIERGO) apresentoua história e os desafios da implementação do ER no Estado de Goiás; Profª.Flávia Osório da Silva (SEDUC/GO) falou da experiência da implementaçãodo ER no Estado de Goiás, tendo como referência as ações desenvolvidaspela Secretaria de Estado da Educação, e a Profª. Verioni Ribeiro Bastosapresentou a experiência desenvolvida pela Universidade Federal da Paraíba(UFPB) com a formação de professores de ER (formação inicial e continuada).No período da tarde, com o objetivo de apresentar, discutir e produzirsubsídios pedagógicos para o ER foram organizados 16 Espaços Pedagógicosde livre escolha dos participantes. A manhã do último dia foi dedicada àsapresentações dos trabalhos selecionados pela comissão científica. Os textosdas Comunicações foram reunidos nos ANAIS (CD ROM) do evento.

A formação de docentes de ER, a produção de subsídios didáticos e otrabalho nas diversidades e com as diversidades continuam sendo desafiospara o ER e para as ações do FONAPER.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A formação de professores para o ER no Brasil, ainda hoje, é umconstante desafio, No entanto, entre 1995 a 2010, vive-se em um momentode marcos significativos relacionados a iniciativas diversas em diferentesEstados brasileiros em vista da formação de professores.

Os cinco congressos promovidos pelo FONAPER em parceria comentidades educacionais e religiosas realizados de 2000-2010, nos Estados deEspírito Santo (2000), Rio Grande do Sul (2002), Santa Catarina (2005), Paraná(2007) e Goiás (2009), vêm demonstrando a garra, a luta e a coragem doFONAPER na busca de oferecer diferentes possibilidades para a capacitaçãode professores de ER e, ao mesmo tempo, oferecer oportunidades de

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socialização de produções científicas, bem como de encontros, de fazer novasamizades, de partilhar e conhecer experiências vivenciadas, de fazer amigos/as e companheiros/as de lutas.

O desafio da formação de professores nos 15 anos de atividades doFONAPER recebe novo colorido, novas configurações, no cenário brasileiro.São várias as Instituições de Ensino Superior que promovem e desenvolvemcursos de Licenciatura Plena (LP) para habilitação de professores de ER,possibilitando assim uma nova configuração no quadro de professoresqualificados. A partir dos cursos de LP, são inúmeros os Trabalhos de Conclusãode Curso (TCCs) que começam a fazer parte do acervo teórico servindo deapoio aos pesquisadores. Nos 15 anos do FONAPER aumenta o número detrabalhos acadêmicos – pesquisas científicas de conclusão de Mestrado eDoutorado, monografias de Cursos de Especialização, surgem Grupos dePesquisa com produções científicas na área, bem como publicações em formade livros, artigos publicados em revistas especializadas, em periódicos, nosmeios eletrônicos e outros.

Há ainda um longo caminho a percorrer, novos horizontes a vislumbrar,novos desafios e novas conquistas a se fazer com relação à efetiva formaçãode professores de Ensino Religioso.

Na celebração de 15 anos, o FONAPER pode comemorar com alegria,garra e amor o esforço de cada equipe coordenadora e cada filiado, nocumprimento da “Carta de Princípios”, na luta pela melhoria e qualificaçãode professores de Ensino Religioso. Pode celebrar o “Ano Brasileiro do EnsinoReligioso”.

PARABÉNS A TODAS AS PESSOAS QUE CONTRIBUÍRAM PARA DAR VIDAE MAIS VIDA AO FONAPER E AO ENSINO RELIGIOSO NO BRASIL!

REFERÊNCIAS

CARON, Lurdes (org.). Instalação, sessões, seminários do FONAPER 1995-2000. CNBB:Brasília, 2000. (Coletânea encadernada)

CARON, Lurdes (org.). Seminários de capacitação de professores de ER 1996-2000.CNBB: Brasília, 2000. (Coletânea encadernada).

FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo dicionário da língua portuguesa. Riode Janeiro: Fronteira, s/d.

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FONAPER. Parâmetros curriculares nacionais do ensino religioso. São Paulo: AveMaria, 1997.

FONAPER. Atas das reuniões da comissão coordenadora do FONAPER 1995-2000,2002-2006. (mímeo)

FONAPER. Relatórios dos congressos nacionais de ensino religioso 2000-2009.(mímeo)

FONAPER. Relatórios dos congressos nacionais de ensino religioso 2007-2009. (DVDs)

GPER. Boletim n° 224, de 26/11/09. Curitiba: GPER, 2009.

JUNQUEIRA, Sérgio Rogério Azevedo; WAGNER, Raul (orgs.) O ensino religioso noBrasil. Curitiba: Champagnat, 2004.

JUNQUEIRA, Sérgio Rogério Azevedo; OLIVEIRA, Lilian Blanck (orgs.). O ensinoreligioso: memória e perspectivas. Curitiba: Champagnat, 2005.

SITES:

http://www.gper.com.br

http://www.fonaper.com.br

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Capítulo X

Sitío Eletrônico do FONAPER:Espaço, tempo e lugar para o Ensino Religioso

Sérgio Rogério Azevedo Junqueira1

Elcio Cecchetti2

Josias Rafael Wagner 3

1 HISTÓRICO E EVOLUÇÃO DO SÍTIO ELETRÔNICO DO FONAPER

O FONAPER, em sua busca pela efetivação do Ensino Religioso (ER)como componente curricular desde sua fundação, tem empreendidodiferentes estratégias para divulgar e orientar professores, pesquisadores,autoridades civis e religiosas. Dentre elas, destaca-se a criação e manutençãode uma página eletrônica na internet.

A origem da primeira versão do sítio foi realizada em de outubro de1997, com uma estrutura de dois frames, com pequenas animações e imagens.A preocupação inicial era que o visitante pudesse preencher e enviar suaficha de associação ao FONAPER, a qual era enviada via e-mail para a secretariado Fórum.

1 Pós-Doutor em Ciências da Religião – Ensino Religioso pela PUCSP, Doutor e Mestre em Ciências daEducação – Ensino Religioso pela UPS (Roma/Itália), Especialista em Metodologia do Ensino Religioso(PUCSP), Pedagogo (Habilitação em Metodologia para Formação de Professor). Líder do Grupo de PesquisaEducação e Religião (GPER), Professor do Programa de Pós-Graduação em Teologia na área de Educaçãoe Religião da PUCPR e Professor do Curso de Pedagogia na disciplina de Metodologia do Ensino Religiosona mesma instituição. E-mail: [email protected] Mestre em Educação pela UFSC. Especialista em Fundamentos e Metodologias do Ensino Religioso emCiências da Religião pela FURB. Graduado em Ciências da Religião-Licenciatura em Ensino Religioso pelaFURB. Coordenador de Programas de Formação Continuada e responsável pelo Ensino Religioso naSecretaria de Estado da Educação de Santa Catarina (SED). Membro do Grupo de Pesquisa Ethos, Alteridadee Desenvolvimento (GPEAD/FURB). Secretário do Fórum Nacional Permanente de Ensino Religioso –FONAPER. E-mail: [email protected] Bacharel em Comunicação Social, com habilitação em Publicidade e Propaganda pela FURB. CountryManager da Proyektoweb do Brasil Agência Interativa. Diretor Geral da Mastro Soluções para Web.Membro integrante do Conselheiro Deliberativo da Luterprev, Entidade Luterana de Previdência Privada.

164 |Diversidade Religiosa e Ensino Religioso no Brasil

Na ocasião, foi necessário utilizar um provedor gratuito para poderhospedar o site, pois não existiam recursos previstos pelo FONAPER para essaestratégia de comunicação. O endereço que permaneceu de 1997 até maiode 2003 foi www.blumenau.zaz.com.br/fonaper. Outro desafio da época foio de iniciar um trabalho por meio de uma tecnologia ainda nova, tendo queadequar o conteúdo para tal. O primeiro responsável pelo conteúdo eacompanhamento da página foi o então secretário do FONAPER, Prof. RaulWagner.

Quando, em setembro de 2002, a coordenação do FONAPER, eleitapara o biênio 2002-2004, iniciou seus trabalhos, uma das primeiraspreocupações foi a de retomar a presença do FONAPER na internet. No mesmoano, foi contatado o criador do sítio, Josias Wagner, para discutir a suaatualização e reconfiguração.

Como a tecnologia da internet possuía características de comunicaçãopróprias e inovadoras, permitindo ao visitante uma interatividade cada vezmaior, os trabalhos realizados não se restringiram apenas à organização doconteúdo, mas sim comunicação e interação com os visitantes.

Nesse processo, sob coordenação do Prof. Sérgio Junqueira, foicontratado um provedor de hospedagem e providenciado o registro dodomínio www.fonaper.com.br junto ao órgão que regulamenta essa atividadeno Brasil. Somente em junho de 2003 a segunda versão da página foi concluída,com nova identidade visual, reestruturação de conteúdo e interação.

A nova página do FONAPER foi criada com o pensamento não apenasno presente, mas no futuro. A estrutura estava preparada para receber umagrande quantidade de conteúdo, sem dificultar a navegação. A proposta eratransformar o sítio em um verdadeiro Portal do Ensino Religioso no Brasil,por isso, contava com mais de 100 páginas de conteúdo.

Buscando disponibilizar uma grande quantidade de informações e dapreocupação constante em mantê-lo atualizado, áreas do sítio foramautomatizadas, criando ferramentas de gerenciamento de conteúdo, o quepermitia à equipe do FONAPER inserir informações de qualquer parte do paísou do mundo, apenas por meio da conexão à internet. Essas automatizaçõespermitiram ainda que os visitantes pudessem realizar buscas avançadas, pormeio dos bancos de dados.

O conteúdo foi estruturado em dois segmentos básicos: inicialmente,a história do FONAPER, suas atividades, documentos, ações, memórias,

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sessões, seminários, congressos, cursos e ficha de associação. O segundosegmento buscava ser um grande banco de dados: biblioteca, notícias,informações relevantes e links. A meta era subsidiar o movimento nacionaldo Ensino Religioso (ER), disponibilizando informações para pesquisadores,professores, sistemas de ensino, tanto para a formação docente quanto parao cotidiano da sala de aula.

Essa segunda versão do sítio foi estruturada com recursos do FONAPERe apoiado pelo Grupo de Pesquisa Educação e Religião (GPER), pois a inovaçãoalmejada exigiu não apenas recursos financeiros para criação, mas, de maneiraespecial, para manutenção.

A partir de então, ano a ano o número de acessos à página eletrônicafoi crescendo consideravelmente, como se pode observar no gráfico a seguir:

Fonte: Mastro Soluções para Web.

Assim, progressivamente, o sítio conseguiu atingir seus objetivos e setransformou em um significativo referencial para professores, pesquisadores,associados, sistemas de ensino, entre outros. Tornou-se espaço de pesquisa,encontro, socialização, divulgação e construção de um ER como área deconhecimento, integrando o referencial da diversidade cultural religiosabrasileira e mundial.

Evolução dos Acessos ao Sítio do FONAPER

542611098 11105 10252 12933

38421

51753

26430

2003(jun-dez)

2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010(jan-jun)

Ano

Ace

ssos

166 |Diversidade Religiosa e Ensino Religioso no Brasil

Os registros dos visitantes, no Livro de V isitas, demonstram aimportância do sítio eletrônico do FONAPER:

Faço parte de um grupo de professores, em formação,para ministrar o ER na cidade de Vitória-ES. Estamos commuitas dúvidas, ansiedades, mas otimistas quanto àimplementação. Hoje, visito o site pela primeira vez, cá estouhá 8 horas. Estou encantada com o compromisso e desveloda equipe, a diagramação está tranquila e acolhedora.Obrigada por existirem, fiquem na paz. Abraços fraternos.(Mara Lúcia Silva da Costa, Vitória/ES, 5 jun. 2010)

Fiquei encantada com tanto conteúdo! Sou Pedagoga,trabalho com a Educação Infantil e faço Pós-Graduaçãoem Ensino Religioso. Obrigada por tanto zelo com oEnsino Religioso. Um abraço a toda equipe. (DeizemairaPilatti, Cascavel/PR, 26 maio 2010)

Olá! Estou como professora da disciplina de EnsinoReligioso pelo segundo ano e tenho experimentandograndes desafios neste trabalho. [...] Agradeço a vocês oleque de informações e material que ajudam muito nestaconquista que é a transmissão dos conteúdos dadisciplina na escola, longe de qualquer proselitismoreligioso. (Lúcia Teixeira, 21 abr. 2010)

Sempre que abro este site, fico cada vez mais interessadoem estudar sobre o Ensino Religioso. (Rivaldo de Souza,João Pessoa/PB, 06 de maio 2010)

Parabéns pelo esforço de vocês quanto ao EnsinoReligioso, evitando discriminação e inserindo alicenciatura. (Sidney C. Eleutério, 9 de abr. 2010)

Sou Professor de Português e de Língua Inglesa eatualmente estou tendo que ministrar aulas de EnsinoReligioso. Comecei a fazer pesquisas sobre o EnsinoReligioso no Brasil e estou buscando ajuda pedagógica.Eis que encontrei então o FONAPER e já estou lendo oPCNER. (Francisco Wendell de Sousa Borges, 6 de abr.2010)

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Conheci o site através de amigos. Gostei muito e tenhocerteza que me ajudará no exercício do meu magistérioem Ensino Religioso. Já adicionei em meus favoritos, tododia dou uma olhadinha pra ver as novidades. Parabéns!(Daniel Souza do Nascimento, Teresina-PI, 1° mar. 2010)

Agradecer a todos do FONAPER pela existência destemaravilhoso site: pela riqueza de aprendizado que nostransmite e dizer que nossos professores de ER da Paraíbatambém começaram a pesquisar neste site eencontraram muitos recursos para suas aulas. (Maria JoséTorres Holmes, João Pessoa/PB, 19 dez. 2009)

Estou encantada com o site do FONAPER. Rico eminformações e já estava mais do que na hora do EnsinoReligioso ter um espaço deste. Parabéns aos idealizadores.(Roberta Almeida Fernandes, 9 de nov. 2009)

Além de ser um referencial para pesquisa, estudo e conhecimento sobreo ER, a página eletrônica do FONAPER é lugar de encontro, de recados, detroca de ideias e experiências, como se pode observar:

Participei do encontro de professores de Ensino Religioso,promovido pela SEDUC-ES, fiquei encantada e, ao mesmotempo, preocupada, pois há necessidade de maisinvestimento por parte dos governos nesta área.Parabéns à equipe! (Maria Mont Serrat Loureiro Pintode Moura, 27 jun. 2010)

Bom dia colegas. Conheci o site por minha coordenadorade Ensino Religioso e estou adorando. Espero aprenderainda mais com este recurso. (Francileide de Assis, JoãoPessoa/PB, 22 jun. 2010)

Penso que é de extrema importância este intercâmbio,pois em nosso município de Maracanaú/CE, sentimos acarência deste material do ER. Cordiais Saudações.(Marcos Miranda Teles, Maracanau/CER, 17 dez. 2009)

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É uma ótima oportunidade onde nós, professores,podemos buscar informações e divulgar assuntos sobreEnsino Religioso! (Fábia Maria, 28 out. 2009)

Sou professora de Ensino Religioso nos anos iniciais egostaria de trocar experiências com outros professorespara enriquecer mais o meu trabalho. (Marlene Nogueirada Silva, 4 out. 2009)

O sítio é lugar/território de mobilização, de argumentação, de encontroentre a coordenação do FONAPER, seus associados, professores e visitantesem geral. É, também, espaço/tempo para o FONAPER ser conhecido e deixar-se conhecer:

Sou professor e coordenador do Ensino Religioso. É muitogratificante perceber que profissionais desta área buscamcada vez mais qualificação. Parabéns para a equipe doFONAPER que muito contribui com a nossa formação.(Laelson Feliciano Leite, 30 jun. 2010)

Estou encantada com este site. Parabéns pelo trabalhode toda a equipe, ao mesmo tempo em que desejo fazerparte dessa comunidade. (Maria Auxiliadora MartinsMelo, 29 jul. 2010)

Quero em público agradecer a todos que fazem parte doFONAPER pela enorme contribuição que este Fórum temdado para o reconhecimento do Ensino Religioso comoárea de conhecimento. (Francisco Melquiades FalcãoLeal, Parnamirim/RN, 18 maio 2010)

Como professor de Ensino Religioso quero parabenizartodo o trabalho do FONAPER, pela luta em favor destaárea do conhecimento. A luta continua em levar emfrente o ensino do Fenômeno Religioso. (Danilson BentesMarinho, 16 abr. 2010)

Sou profundamente grata pelo trabalho que o FONAPERdesenvolve em prol do ER. Continuem, pois o ER é umaárea de conhecimento bastante rica em valores culturais.(Zelma Santana, 4 nov. 2009)

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Parabéns pelo trabalho prestado ao Ensino Religioso,onde podemos trabalhar com maior segurança, sabendoque temos apoio. Obrigada pelo carinho. (AdelaideLuders, Itajaí/SC, 1° nov. 2009)

Caríssimos membros do FONAPER: Parabéns pelo site!Está muito bom, com muitos textos bons. É um ótimorespaldo para o Ensino Religioso no Brasil. (Marcus TúlioOliveira Neto, 24 out. 2009)

Por outro lado, a novidade de um ER estruturado a partir da diversidadereligiosa, a carência de cursos de formação inicial e continuada e de subsídiospedagógico-didáticos que integrem essa perspectiva, faz com que os visitantesrecorram ao sítio e, por consequência, ao FONAPER, buscandoencaminhamentos práticos para o cotidiano da sala de aula:

Olá, sou professora do Ensino Religioso para jovens doensino médio e gostaria de receber materiais, sugestõesque deixassem minhas aulas mais animadas e prazerosas.Grata (MPLO, 16 jan. 2009).

Gostaria de receber muitas sugestões para minhas aulasde Ensino Religioso, pois tenho muitas dificuldades emencontrar temas inovadores para melhorar minhas aulas(MM, 18 jan. 2009).

Olá, tudo bem? Vou começar a trabalhar com EnsinoReligioso este ano e gostaria de receber sugestões paraa preparação do meu conteúdo programático. Darei aulapara 8ª série do fundamental e 1º, 2º e 3º anos do EnsinoMédio. Se puderem me ajudar ficarei imensamentegrato! Grande abraço! (RF, 21 jan. 2009).

Gostaria de receber sugestões de atividades/textos/dinâmicas, pois vou começar a trabalhar com alunos de5ª a 8ª séries e ensino médio. Desde já agradeço aatenção. Abraço (MMCM, 22 jan. 2009).Gostaria de receber atividades de Ensino Religioso paratrabalhar do 6º ao 9º ano, principalmente do conteúdo

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“Limite e translimite e a ideia do transcendente”. Desdejá agradeço (ZB, 24 jan. 2009).

Olá sou estudante de Ciências da Religião, vou atuar comoprofessora este ano e gostaria muito de um auxílioquanto ao material e, no momento, preciso de ummodelo de plano de ensino de 5º a 8° séries. Obrigada!(RPF, 25 jan. 2009).

Olá! Gostaria de receber informações sobre diretrizes doEnsino Religioso como também materiais de conteúdoprogramático do ensino fundamental (ISC, 1° fev. 2009).

Boa tarde! Gostaria de receber sugestões de atividades,textos e filmes para trabalhar com alunos do 6º ao 9ºano do ensino fundamental para enriquecimento dasminhas aulas de Ensino Religioso. Desde já muitoobrigada (AC, 3 fev. 2009).

Boa noite! Gostaria de receber textos, atividades,dinâmicas para aula de Ensino Religioso para 5º e 8º sériesensino público, atualidades em geral. Também gostariade sugestões de filmes e atividades lúdicas. Grata (LMS,3 fev. 2009).

Olá, pesquisando sobre Ensino Religioso na internet acheia página de vocês. Sou professora e esse ano coube amim alguns períodos dessa disciplina, mas não tenhoideia do que trabalhar. Gostaria de receber, se possível,textos, técnicas, dinâmicas sobre os vários assuntos quepodem ser trabalhados na disciplina. Grata (CD, 7 fev.2009).

Sou professora de Ensino Religioso. Trabalho com turmasdo 6º ao 9º ano do ensino fundamental. Gostaria daajuda de vocês. Pois, preciso de matéria e é um poucodifícil de encontrar. Desde já, agradeço a atenção (MLS,7 fev. 2009).

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A grande quantidade de solicitações por atividades, planos de ensino,subsídios, materiais, publicações, entre outros, demandados por educadoresde todo o país, fez com que a coordenação do FONAPER (Gestão 2008-2010)repensasse novamente a página eletrônica, buscando implementar outroselementos e recursos que possam subsidiar os docentes que urgem em novaspropostas para a sala de aula.

Por outro lado, os limites estruturais de gerenciamento dos conteúdosda segunda versão do sítio, desatualizados frente aos novos recursostecnológicos que possibilitam maior agilidade e interatividade, resultaramna decisão de criar a terceira versão da página eletrônica do FONAPER.

2 O NOVO SÍTIO ELETRÔNICO DO FONAPER

Acompanhando o novo desenho da logomarca do FONAPER, a versãoda página eletrônica lançada em setembro de 2010, apresenta outro designe possui um sistema de gerenciamento moderno, ágil e rápido, totalmentedimensionado e otimizado para agilizar os processos de cadastramento embuscadores, o que auxiliará ainda mais os internautas a localizarem o sítio e,dentro dele, suas áreas específicas de interesse. Na tela principal, há doiscampos para veiculação de notícias, Espaço do Associado (para divulgaçãode informações aos filiados) e Espaço Pedagógico, que disponibiliza indicaçõesde materiais didáticos, artigos, planos de aula e links.

Outro recurso inovador é a possibilidade do envio gratuito, para osvisitantes cadastrados, dos Boletins do FONAPER, contendo notícias,posicionamentos e informações pertinentes ao processo de implementaçãodo Ensino Religioso. Além disso, apresenta os seguintes menus:

1) Institucional: contendo apresentação, histórico, Carta de Princípios,informações sobre as sessões (assembleias); resenha das atas; estatuto enomes das coordenações do FONAPER.

2) Documentos: apresenta o resumo dos Parâmetros CurricularesNacionais do Ensino Religioso (PCNER); informações sobre osCadernosTemáticos 1 e 2; dados sobre os cadernos do curso Ensino Religioso:Capacitação para um Novo Milênio (120 h); e proposta de DiretrizesCurriculares Nacionais para a Formação Docente em Ensino Religioso.

172 |Diversidade Religiosa e Ensino Religioso no Brasil

3) Legislação: disponibiliza legislações nacional e estaduais sobre EnsinoReligioso, bem como orientações legais dos sistemas estaduais e municipaisde educação.

4) Eventos: espaço destinado à memória dos eventos promovidos peloFONAPER: Seminários Nacionais para a Formação de Professores de EnsinoReligioso (SEFOPER) e Congressos Nacionais de Ensino Religioso (CONERE).

5) Associação: lugar onde o visitante pode obter dados sobre como seassociar ao FONAPER e quitar suas anuidades, por meio da geração automáticade boleto bancário.

6) Biblioteca: apresenta referenciais bibliográficos e científicosproduzidos e divulgados em âmbito nacional (livros; revistas; teses;dissertações; monografias, trabalhos de conclusão de curso, entre outros).

7) Formação do Professor: informa os locais e instituições que ofertamcursos de licenciatura, especialização, pós-graduação e extensão na área deEnsino Religioso.

8) Calendário de Eventos: disponibiliza a agenda de eventos regionais,estaduais, nacionais e internacionais relacionados às Ciências da Religião,Educação e Ensino Religioso.

9) Grupos de Pesquisa: apresenta informações sobre os grupos depesquisa que de modo direto ou indireto tem suas atividades relacionadascom o Ensino Religioso.

10) Conselhos e Associações: informa nomes, atividades e endereçosdos Conselhos de Ensino Religioso (CONER), associações de professores edemais entidades envolvidas com a implementação do Ensino Religioso comocomponente curricular.

11) Doações: fornece informações para os visitantes e instituições quedesejam colaborar financeiramente para a continuidade das ações doFONAPER.

12) Boletins: arquiva os boletins eletrônicos enviados pelo FONAPERaos associados e visitantes cadastrados.

13) Galeria de Fotos: espaço para veiculação de fotos dos eventos,assembleias e outras atividades promovidas pelo FONAPER.

14) Livro de Visitas: possibilita a interação entre os visitantes com acoordenação do FONAPER, por meio de mensagens e recados on-line.

15) Contatos: oferece informações e endereços para contato com acoordenação do FONAPER.

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A gestação e criação dessa terceira versão da página eletrônica doFONAPER é, sem dúvida, um marco na efetivação do ER como componentecurricular, cuja docência deve promover e respeitar a diversidade culturalreligiosa, permitindo que todos os educandos tenham acesso ao conjuntodos conhecimentos religiosos que integram o substrato das culturas, vedadasquaisquer formas de proselitismo. Além disso, impulsiona o FONAPER paraoutros 15 anos, à medida que dá visibilidade ao conjunto de ações que ainstituição vem desenvolvendo desde sua fundação, difundindo seus objetivos,subsidiando docentes e pesquisadores, conquistando novos espaços, tempos,lugares, em todo o território nacional.

PALAVRAS FINAIS

A consolidação da mudança de paradigma na concepção do ER, nãomais de caráter confessional e/ou interconfessional, mas enquanto estudodo fenômeno religioso na diversidade cultural religiosa do Brasil (FONAPER,2009), demanda esforços, estratégias, produções e articulações de muitossujeitos, instituições e sistemas de ensino.

Dentre elas, o FONAPER, nos seus 15 anos de existência, tem seconsolidado como um dos principais protagonistas na efetivação do ERenquanto componente curricular. Tornou-se um espaço de discussão e pontoaglutinador de ideias, propostas e ideais na construção de projetos concretospara a operacionalização dessa disciplina na escola.

Nessa tarefa, a criação e a manutenção do sítio eletrônico do FONAPERtêm contribuído consideravelmente para o atendimento das demandasadvindas do cotidiano escolar, que passaram a requerer novos conhecimentos,posturas e concepções para a área do conhecimento do ER (Resolução CNE/CEB n° 4/10), garantindo a liberdade religiosa dos cidadãos e a valorizaçãodos conhecimentos das culturas, tradições e/ou movimentos religiosos.

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REFERÊNCIAS

BRASIL. Conselho Nacional de Educação. Câmara de Educação Básica. Resolução n°4, de 13 de julho de 2010. Define Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para aEducação Básica.

FONAPER. Fórum Nacional Permanente de Ensino Religioso. Parâmetros curricularesnacionais do ensino religioso. São Paulo: Mundo Mirim, 2009.

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Capítulo XI

Diálogo: Educação para aDiversidadeComemoração dos 15 anos da revista Diálogo edo FONAPER

Luzia M. de Oliveira Sena1

Maria Inês Carniato2

Comemorar é trazer à memória, é lembrar: pessoas, realizações, lutase conquistas que marcaram, de maneira significativa, a nossa vida e a nossahistória. Comemorar é lembrar juntos, é reunir-se para celebrar. Por isso, todacomemoração é um ato comunitário, grupal, que se insere em uma memóriacoletiva compartilhada.

Neste ano de 2010, nos unimos para comemorar os 15 anos deexistência do FONAPER – Fórum Nacional Permanente do Ensino Religioso eda Diálogo – Revista de Ensino Religioso. Dois pilares consistentes que têmservido de base, apoio e sustentação para tantos educadores brasileiros nasua luta e empenho por um espaço para o Ensino Religioso (ER) na legislaçãoe na educação deste país.

Juntos nasceram – FONAPER e Diálogo –, juntos se mantiveram fieisaos seus propósitos comuns, no decorrer desses 15 anos, cada qual a partirde suas especificidades. O FONAPER, no seu empenho de acompanhar,organizar e subsidiar os professores de ER, ocupando-se, em um primeiromomento, com a promulgação da Lei de Diretrizes e Bases da EducaçãoNacional, especialmente para que o ER fosse garantido na legislação comodisciplina curricular, área de conhecimento, parte integrante da formação

1 Graduada em Filosofia e Teologia, mestranda em Ciências da Religião, pela PUC-SP. Membro do FONAPERdesde a sua instalação, participando da equipe de coordenação no período de 2004 a 2008. Diretora eeditora da revista Diálogo desde o seu início, em 1995, até o ano 2005. Atualmente é membro do conselhoeditorial de Paulinas Editora. E-mail: [email protected] Graduada e mestre em Teologia. Autora da coleção Ensino Religioso Fundamental (1o ao 9o ano). Ministracursos e oficinas para professores de Ensino Religioso em todo o Brasil. Diretora de redação da revistaDiálogo no período de 2005 a 2010. E-mail: [email protected]

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básica do cidadão. Outras questões prementes ocuparam o FONAPER: aelaboração dos Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Religioso(PCNERs) e das Diretrizes para a Formação de Professores (Licenciatura,Extensão e Especialização), o Curso de Extensão Capacitação Docente paraum Novo Milênio, na modalidade de educação a distância, desenvolvido em12 módulos (12 cadernos e 12 videoaulas) e veiculado semanalmente pelaRede Vida de Televisão e, posteriormente, pela TVE do Paraná. Além disso, oFONAPER exerceu um papel importante na organização e na realização desuas sessões plenárias, de congressos e seminários de capacitação docentepara o profissional do ER, em âmbito nacional.

A revista Diálogo, em todo esse percurso, manteve milhares deprofessores – das várias regiões do Brasil – informados e sintonizados com oque estava ocorrendo no campo do Ensino Religioso. Os eventos e asatividades do FONAPER foram amplamente divulgados pela Diálogo. E, assim,até nos mais longínquos rincões deste país, de norte a sul, a revista fez ecoara voz dos professores, formando um coro forte e vibrante, cuja pauta era anova proposta de ER e a sua efetivação. A revista tornou-se um espaçoimportante para a socialização e o intercâmbio de experiências, sugestões,informações e saberes, indispensáveis para a construção e a consolidação deuma nova visão desse componente curricular. É isso que testemunham osleitores da revista:

Sou professor e senti-me contemplado com uma bela enecessária revista [Diálogo]. Penso que os temas sãooportunos e estão preenchendo uma necessidade nossa.Meu interesse, bem como o dos demais colegas doColégio Maria Auxiliadora, é entrosar-nos na caminhadafeita pelo Fórum Nacional Permanente do EnsinoReligioso (FONAPER). Lendo o relato das notícias darevista n. 2, maio/96, decidimos participar dessadiscussão. (Ivo Fiorotti, Canoas/RS. Diálogo, n. 3, ago./96, p. 4)

Instrumento eficaz na compreensão do FenômenoReligioso, a revista Diálogo me auxilia nos encontros deformação e nas oficinas com professores de EnsinoReligioso promovidas pela Superintendência do EnsinoFundamental da Secretaria Estadual de Educação do

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Estado de Goiás. Uma sugestão para a seção Entrevista:por que não dar a palavra também aos alunos? (EusaReynaldo da Silva, Goiânia/GO. Diálogo, n. 50, maio/08,p. 6)

Meus parabéns ao professor Rodrigo de Oliveira, meucolega de graduação em Ensino Religioso na UniversidadeEstadual do Pará, pelo trabalho na Ilha de Marajó.Congratulo-me também com a revista Diálogo que auxiliaos professores, divulgando experiências significativascomo o do professor Rodrigo (seção Testemunhal, edição54, maio-jul./09) e fornecendo espetacular materialpedagógico. (Devison Amorim do Nascimento, Belém/PA.Diálogo, n. 57, fev.-abr./10, p. 6)

Agradeço pela publicação de minha experiência (“ProjetoArteiros, espaço de arte inclusiva”, maio/06). As pessoasa quem mostro ficam emocionadas e querem conhecermelhor a revista. (Daniella Forchetti – Coordenadora doProjeto Talentos Especiais da Secretaria de Cultura doEstado de São Paulo. Diálogo, n. 43, ago./06, p. 6)

Ao vermos chegar a edição de fevereiro de 2010, trazendoa reportagem sobre o Seminário de Ensino Religioso deCaruaru, ficamos muito contentes. Uma supervisora, aofolhear a revista, exclamou: “olha a gente aqui!”. Oartesão (cuja arte foi publicada na capa) e o cordelista(que homenageia o Ensino Religioso, edição 57, p. 48),ficaram muito emocionados com a notícia de que seustrabalhos apareceram em uma revista de circulaçãonacional. (Bruno Coréia Aragão, pela Equipe de FormaçãoHumana da Secretaria de Educação, Esporte e Juventude,Ciência e Tecnologia, Caruaru/PE. Diálogo n. 58, maio-jul./10)

1 RESGATANDO A MEMÓRIA HISTÓRICA

Vivemos num mundo em contínuo e acelerado processo de mudançasem todos os âmbitos da vida dos indivíduos e da sociedade. Assistimos,especialmente a partir das últimas décadas do século passado, a um crescente

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pluralismo religioso e à perda acentuada da hegemonia de antigas instituiçõesreligiosas. Ao mesmo tempo, viu-se surgir uma multiplicidade de novosmovimentos religiosos, multiformes e plurais, pouco institucionalizados; novas eantigas religiões ou tradições religiosas, algumas vindas de outros continentes,conquistam, aos poucos, o seu espaço no cenário religioso brasileiro. Nessasociedade moderna (ou pós-moderna), globalizada e plural, as pessoasprogressivamente vão tomando consciência do valor e do direito à alteridade, aser diferentes. A valorização e o respeito à diversidade é uma reivindicaçãorecente e tem sido uma conquista árdua e persistente da sociedade humana.Basta lembrar a luta pelo reconhecimento das diferenças raciais e étnicas,religiosas e culturais, de gênero e orientação sexual, ocorridas especialmentea partir do século passado. Nesse quadro inserem-se o reconhecimento dedireito ao pluralismo religioso e o empenho de líderes e seguidores dediferentes religiões e expressões religiosas, no intuito de estabelecer um climade diálogo, respeito mútuo, convivência pacífica e união em torno de causascomuns, visando ao bem do Planeta e da Humanidade. Não se aceita mais omonopólio de uma religião. Todas exigem os mesmos direitos e igual respeito.

É nesse contexto de mudanças que, há algumas décadas, muitosprofessores de ER vão percebendo que não é adequado ao espaço laico eplural da escola pública o ensino confessional e doutrinário que vinha sendoministrado aos alunos. Não que a abordagem religiosa tivesse que ser banidado ambiente escolar. Ao contrário, esses educadores compreendem adimensão religiosa como um elemento imprescindível na educação integraldo ser humano, na formação do cidadão. Entretanto, o contexto sociocultural-religioso havia mudado e a educação brasileira também. O ER, para continuarpresente no espaço escolar, precisava adequar-se a essas mudanças. Paraisso, com audácia e dedicação, os professores de ER começaram a se articulare a construir uma prática pedagógica diferente daquela até então realizada.

Um importante espaço de debates, reflexão e articulação dosprofessores foram, sem dúvida, os Encontros Nacionais de Ensino Religioso(ENERS), que tiveram início em 1974 e passaram a acontecer a cada dois anos,congregando coordenadores e professores de ER das escolas públicas de todoo Brasil. Os encontros eram promovidos pela Conferência Nacional dos Bisposdo Brasil (CNBB) e apoiados pelas Secretarias de Educação que enviavam parao evento, de seus respectivos Estados ou cidades, os coordenadores eprofessores dessa disciplina.

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Nessa conjuntura, foi criado, em 1985, o Grupo de Reflexão sobre oEnsino Religioso (GRERE), formado por profissionais competentes na área daeducação, com o objetivo de assessorar a CNBB nas questões pertinentes aoER no campo educacional. O grupo tinha como função - além da reflexãosobre a dimensão pedagógica do ER, a busca da definição da sua identidade,distinta da catequese, e a realização dos ENERS - acompanhar os debates naAssembleia Nacional Constituinte no que se referia à garantia do ER na CartaMagna e nas legislações posteriores.

O GRERE, com outras instituições, dentre elas, a Associação de EducaçãoCatólica (AEC), a Associação Interconfessional de Curitiba (ASSINTEC) doParaná, o Conselho de Igrejas para o Ensino Religioso (CIER) de Santa Catarinae o Instituto Regional de Pastoral do Mato Grosso (IRPAMAT) de CampoGrande/MS e o Conselho Nacional das Igrejas Cristãs (CONIC), encabeçaramuma grande mobilização popular de coleta de assinaturas a favor da inclusãodo ER na nova Constituição Federal, resultando na segunda maior emenda,em número de assinaturas, a entrar no Congresso, em tempo hábil e de acordocom as normas legislativas da Constituinte.

A presença do ER foi garantida na Constituição de 1988, em seu art.210, § 1o, que diz: “O ensino religioso, de matrícula facultativa, constituirádisciplina dos horários normais das escolas públicas de ensino fundamental”.Contudo, a luta continuava. Era preciso garantir também o ER na nova Lei deDiretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei n° 9.394, de 20 de dezembro de1996). Porém, o art. 33 - referente ao ER - da Lei sancionada não atendia àproposta defendida pelos professores, representados pelas instituições acimamencionadas, inclusive eximia o Estado do ônus do pagamento dosprofessores de ER. Isso exigiu outras articulações para que o referido artigofosse modificado, o que ocorreu em 22 de julho de 1997, quando foisancionado o substitutivo do art. 33, a Lei n° 9.475/97, que dá nova redaçãoao artigo. O substitutivo legal, de autoria do Deputado Padre RoqueZimmermann, define o ER como disciplina normal do currículo das escolaspúblicas de ensino fundamental e parte integrante da formação básica docidadão. Assegura o respeito à diversidade cultural religiosa do Brasil e vedaquaisquer formas de proselitismo.

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2 DIÁLOGO: COMO TUDO COMEÇOU

É nesse contexto de mudanças, de lutas para garantir o ER na legislaçãobrasileira, de construção coletiva de uma nova identidade para o ER, depreocupação com a formação específica e adequada do profissional dessadisciplina, que nasce a revista Diálogo.

Em agosto de 1994, em Fortaleza/CE, realizou-se o 10o ENER – com aparticipação de 180 professores de 23 Estados do Brasil - tendo como temacentral: O fenômeno religioso na pós-modernidade: mudanças socioculturais,manifestações religiosas e o diálogo inter-religioso . Nas propostasapresentadas no encerramento do encontro, os professores manifestaram odesejo e a urgência de se criar uma revista de Ensino Religioso que os ajudassena formação profissional específica e fosse, ao mesmo tempo, um elo decomunicação, intercâmbio de experiências e informações entre os professoresdas várias regiões do país.

O GRERE, reunido sob a presidência de Dom Aloysio Leal Penna, entãoresponsável pelo Setor de Educação da CNBB, depois de examinar as sugestõesapresentadas no 10o ENER, decide criar a revista solicitada pelos professores.A proposta de um breve perfil da revista elaborado pelo professor FranciscoCatão, então membro do GRERE, foi apresentada e aceita no grupo. Porsolicitação da presidência, coube a Paulinas Editora, representada pela IrmãLuzia Sena, também participante do GRERE, a elaboração do projeto da revistae a sua concretização.

No dia 26 de setembro de 1995, por ocasião da 29a AssembleiaOrdinária do Conselho de Igrejas para a Educação Religiosa (CIER), quecomemorava 25 anos de existência, realizou-se a instalação do Fórum NacionalPermanente do Ensino Religioso e o lançamento do primeiro número darevista, que recebeu o nome de Diálogo – Revista de Ensino Religioso3. Oevento ocorreu no Hotel Itaguaçu, em Florianópolis/SC, e contou com apresença de representantes de entidades educacionais e religiosas e deprofessores de vários Estados do Brasil.

3 A tiragem de cinco mil exemplares da revista foi distribuída gratuitamente para escolas e professores deEnsino Religioso de todos os Estados do Brasil.

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3 DIÁLOGO: UM JEITO HUMANO DE EDUCAR

Em consonância com os preceitos legais estabelecidos pela ConstituiçãoFederal e pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, a revista Diálogopautou-se sempre pelo respeito à diversidade religiosa e pelo reconhecimentoda dignidade de toda pessoa humana. Através dos conteúdos que veicula,propõe uma educação humanizadora, aberta ao transcendente, aos valoresque dignificam a vida, visando à educação plena do cidadão e uma convivênciahumana respeitosa e solidária. E os assinantes da revista constatam isso:

Quando, pela primeira vez, entramos em contato com arevista Diálogo, nos apaixonamos! Digo nós, pois somosuma equipe de quatro professores que fazem parte daObra Social Marista, Projeto Servir, o qual ministra aulasde Ensino Religioso numa escola pública com 786 alunos,no município de Garibaldi/RS. A revista é tudo o queprecisávamos para aprimorar nossos conhecimentos ealimentar nossa criatividade. Ela é inteligente, muitoabrangente e dentro do espírito da nova LDB (Lei deDiretrizes e Bases), no que se refere ao Ensino Religioso.(Heloisa Helena Bocchese Arregui, Garibaldi/RS. Diálogo,n. 39, ago./2005, p. 6)

A revista Diálogo é uma valiosa contribuição na assessoriaque presto ao Ensino Religioso. É didática e bemaproveitada pelos professores. Muitas reflexões sobre areligião de matriz africana nasceram dos artigos da revistaDiálogo (maio de 2005) e têm auxiliado as leiturascotidianas de vários afrodescendentes que atuam noGrupo de Diálogo Inter-religioso da Universidade do Valedo Rio dos Sinos. Jovens negros ampliam o olhar e oconhecimento por meio dela. Uma jovem diz: “Como aDiálogo deixa a gente animada para ler! Eu adoro ler essarevista”. E acrescenta a Yalorixá Mãe Dolores: “Essarevista quebrar os preconceitos que existem com a nossareligião, porque valoriza todas as religiões e credos”.(Adevanir Aparecida Pinheiro, Universidade do Vale doRio dos Sinos, São Leopoldo/RS. Diálogo, n. 45, fev./07,p. 7)

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Num encontro de professores, no qual refletimos sobreo tema cidadania, recorri à revista Diálogo do mês demarço de 1996, que foi muito feliz na abordagem dessetema enfocando, principalmente, a cidadania e o papeldo professor e da sala de aula como espaço de cidadania.Este número da revista ofereceu contribuições práticas,numa abordagem simples, clara e dinâmica do assunto.Este tema passou a fazer parte do programa escolar, oque levou muitos professores a procurar este subsídio.(Isaura Oliveira Marques, Lins/SP. Diálogo, n. 11, 1998,p. 5)

Os princípios humanísticos norteadores da revistas encontram respaldono Relatório para a UNESCO da Comissão Internacional sobre a Educaçãopara o século XXI. Iniciado em 1993 e concluído em 1996, o Relatório contoucom a contribuição de especialista de todo o mundo, sob a coordenação deJacques Delors. As teses defendidas no Relatório, para todos os níveis daeducação, orientam-se essencialmente para o desenvolvimento humano:

A educação tem, pois, uma especial responsabilidade naedificação de um mundo mais solidário, e a Comissãopensa que as políticas de educação devem deixartransparecer de modo bem claro, essa responsabilidade.É, de algum modo, um novo humanismo que a educaçãodeve ajudar a nascer, com um componente éticoessencial, e um grande espaço dedicado ao conhecimentodas culturas e dos valores espirituais das diferentescivi l izações e ao respeito pelos mesmos paracontrabalançar uma globalização em que apenas seobservam aspectos econômicos e tecnicistas. Devemoscultivar, como utopia orientadora, o propósito deencaminhar o mundo para uma maior compreensãomútua, mais sentido de responsabilidade e maissolidariedade, na aceitação das nossas diferençasespirituais e culturais. (DELORS, 1998, p. 49-50)

Segundo o Relatório da UNESCO, uma das quatro aprendizagensfundamentais, em torno das quais a educação deve organizar-se, e que serãopara cada indivíduo os pilares do conhecimento, é aprender a viver juntos

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(DELORS, 1998, p. 89-102) . A convivência, indispensável para odesenvolvimento humano, é um continuo desafio. Temos dificuldade de lidarcom o diferente. No mundo de hoje, são inúmeros os conflitos entre pessoas,povos e culturas, provocados por intolerâncias, pelo desrespeito ao modo deser do outro. Cada indivíduo ou grupo tende a pensar que o seu modo deentender e organizar a vida, os seus valores e expressões culturais sãomelhores do que o dos outros. O preconceito em relação ao diferente e osentimento de superioridade social, cultural ou religiosa, sobretudo quandoapoiados pelo poder político, econômico e tecnológico, têm levado hoje, assimcomo no passado, nações ou culturas hegemônicas à prática de diferentesformas de domínio e de opressão, exclusão, discriminação e tentativas deextermínio do outro. Por isso, Delors insiste em que a educação para atolerância e para o respeito do outro seja considerada uma tarefa geral epermanente e que a escola possa criar condições para a prática cotidiana datolerância, ajudando os alunos a levar em consideração o ponto de vista dosoutros.

Alegra-nos saber que isto não é apenas uma bela teoria, mas vem setornando realidade na prática cotidiana dos professores. Nesse sentido,citamos uma experiência vivenciada por um grupo de alunos do ColégioMarista Nossa Senhora da Glória, da cidade de São Paulo. Numa determinadamanhã de 2003, a caixa de e-mails da revista Diálogo foi inundada demensagens de alunos desse colégio, desejosos de compartilhar com a diretorada revista as suas impressões, descobertas, entusiasmo e satisfação com tudoo que haviam aprendido e vivenciado na aula de ER sobre Textos Sagrados4.Eis alguns dos e-mails recebidos:

Estamos mandando este e-mail para lhe falar sobre oque estamos aprendendo em Ensino Religioso. Gostamosmuito da matéria que vocês fizeram “Os livros sagradosdas religiões”, porque lá vocês contaram sobre os livrossagrados de cada religião e se importaram em falar devárias religiões, não só de uma em especial. (Felipe eMatheus)

4 Trata-se da revista Diálogo n. 21, mar./01, sobre Textos Sagrados. Os alunos se referem, especialmente,ao artigo de Marcelo Barros: “Palavras divinas em escritos humanos - os livros sagrados das religiões”.

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Eu sou Tatiana, tenho 10 anos, estou na quarta série eestudo no Colégio Marista Nossa Senhora da Glória. Euestou aprendendo em Ensino Religioso sobre os LivrosSagrados de diversas religiões. Está sendo legal aprender,pois estou conhecendo mais sobre as religiões. Acheiinteressante um dos textos que eu li que foi sobre oBudismo, pois fala que existem muitos textos sagradosnessa religião. A minha classe discutiu que cada religiãotem seu jeito de ser. Gostei muito dos textos que li,porque aprendi bastante, é legal de se aprender. Foimuito legal vocês terem colocado essas reportagens paraas pessoas saberem o jeito de cada religião ser.

Meu nome é André, tenho 9 anos. Nas aulas de EnsinoReligioso, nós estudamos sobre “Os livros sagrados dasreligiões” e vimos várias religiões diferentes: Os vedas –livros sagrados do Hinduísmo, vimos também textos doBudismo, os livros sagrados dos judeus e dos cristãos, oalcorão, que é um livro sagrado do Islamismo, o PopolVun que são narrativas sagradas dos maias, e, por último,o livro dos Mórmons. Cada livro sagrado tem umahistória, de onde veio, etc.

Sempre leio os textos na aula de Ensino Religioso. O quemais gostei foi “Os Livros Sagrados”, que nos passa a visãodas outras religiões em seus livros sagrados, desta formapodemos entendê-las melhor e não causar novas guerraspor não entendermos e não respeitarmos as religiões dosoutros. Parabéns à revista Diálogo por ajudar a evitarisso! Guilherme.

4 PERFIL DA REVISTA

O amplo e diversificado conteúdo abordado pela Diálogo é pautadopelos cinco eixos temáticos propostos pelo FONAPER, nos ParâmetrosCurriculares Nacionais do Ensino Religioso (FONAPER, 1997, p. 32-38), emtorno dos quais se estruturam a diversas religiões e, consequentemente, osconteúdos do ER: Culturas e tradições religiosas, textos sagrados escritos eorais, teologias das tradições religiosas, ethos e ritos.

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A estrutura metodológica, monotemática, da revista permite uma visãoampla do tema, a partir de diferentes perspectivas de abordagens, tanto doponto de vista das diversas áreas do conhecimento, como antropologia,sociologia, história, psicologia, pedagogia, entre outras, como das diferentestradições religiosas: hinduísmo, judaísmo, budismo, cristianismo, islamismo,bahá’í, candomblé, umbanda, xamanismo, tradições religiosas indígenas eoutras expressões do fenômeno religioso contemporâneo. Desde os seusinícios, a revista abriu espaço para o diálogo com todas as religiões. Os leitoresda revista puderam conhecer um pouco mais dessa diversidade religiosa,através dos artigos escritos por seguidores das respectivas religiões. O círculodo diálogo inter-religioso criado pela revista é muito amplo. Trazemos aquialguns representantes:

Agradeço o convite e a oportunidade de poder expressarum pouco da religião muçulmana por meio da revistaDiálogo. Que esse espírito inter-religioso frutifique e aopermear as relações entre nós de diversas expressões defé, permita-nos compreender que, ocultas nas formasexternas que separam, existe uma Realidade Infinita queune. (Sheikh Muhammad Ragip, muçulmano, São Paulo/SP. Diálogo, n. 21, mar./01, p. 4)

Recebi a última Diálogo, pela Associação IsraelitaCatarinense, e já li de “cabo a rabo”. Vocês estão deparabéns! Belíssimo trabalho. É uma honra poderparticipar desta iniciativa com um artigo. Continuem emfrente e, sempre que puder, contem comigo. (Ethel ScliarCabral, Florianópolis/SC. Diálogo, n. 22, maio/01, p. 4)

Nestes dias conturbados em que vivemos, quando aintolerância religiosa prova cada vez mais o seu poderde destruição, pedimos que Deus derrame sua bênçãosobre a revista Diálogo e sobre todos aqueles quepromovem o respeito mútuo entre os adeptos dediferentes credos. Shalom! (Rabino Henry Sobel,Presidente da Congregação Israelita Paulista, São Paulo/SP. Diálogo, n. 25, mar./02, p. 6)

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É uma honra fazer parte da grande família Diálogo!Obrigada pela oportunidade! Continuem fazendo sucessoe levando sucesso a todos! (Liliani Zunino Duarte – GrupoReligioso Brahma Kumaris, São Paulo/SP. Diálogo, n. 40,out./05, p. 6)

Tenho a honra e satisfação de ser assinante [e articulista]da revista Diálogo. Feita com critério, seriedade e temasque instruem e esclarece, ela é um grande exemplo deinter-religiosidade. (Toy Vodunnon Francelino deShapanan, sacerdote da Casa das Minas de Thoya Jarina,Diadema/SP (Diálogo, n. 41, fev./06, p. 6)

Espero que continuemos dialogando e criando osalicerces para uma cultura de paz, justiça e cura para aTerra. Para isso, envio o meu carinho e bênção. (MonjaCoen, Templo Zen Budista, São Paulo/SP. Diálogo, n. 41,fev./06, p. 6)

Estou feliz pela parceria com a revista Diálogo (artigo deoutubro de 2006). Muito obrigada pela oportunidade!Serei uma fervorosa divulgadora (Eliane Potiguara –educadora indígena, diretora do IMBRAPI (InstitutoIndígena Brasileiro para a Propriedade Intelectual).Indicada para o prêmio Nobel da Paz no ano de 2005.(Diálogo, n. 43, ago./06, p. 6)

A professora Solange Louro Rossi levou a revista Diálogo,de fevereiro de 2009, para a Escola Indígena Amondawa,no município de Mirante da Serra/RO. Os artigosproduzidos por escritores indígenas chamaram a atençãodos alunos que se identificaram com eles em muitosaspectos. “Assim falaram nossos avós”, escrito por LúcioFlores Terena relata a educação passada de geração ageração pela forma oral, como também ocorre na aldeiaAmondawa. O texto “A cura da Terra”, produzido porEliane Potiguara, deu ênfase ao papel da mulher dentroda aldeia, principalmente na cura com ervas do mato. Eainda: “A literatura indígena e o tênue fio entre escrita eoralidade”, de Daniel Munduruku, que fala daimportância de registrar os costumes indígenas para não

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serem perdidos, levou os alunos à reflexão sobre aimportância da própria identidade cultural (Rosely dosSantos - Chefe da seção pedagógica, Secretaria Municipalde Educação de Mirante da Serra/RO. (Diálogo, n. 58,maio-jul./10, p. 7)

A revista Diálogo, juntamente com o FONAPER, são pioneiros emrelação à proposta de diálogo inter-religioso como elemento da educaçãocidadã. No decurso de seus 15 anos a revista é sempre mais confirmada emsua identidade, pois a valorização da diversidade cultural e o diálogo entrepovos, etnias, civilizações e religiões passou a ser um dos principais focos deatenção da sociedade, da cultura, inclusive de políticas internacionais. AUNESCO lançou recentemente o Programa de Diálogo Inter-religioso, inseridona Divisão das Políticas Culturais e do Diálogo Intercultural da Organizaçãodas Nações Unidas (ONU), sediado em Paris, “com a missão de assegurarespaço e liberdade de manifestação para todas as culturas do mundo efomentar o convívio pacífico entre os povos, porque o diálogo inter-religiosoé um componente essencial da paz, em face aos atuais conflitos de religiões”5

– afirmou a professora Rosa Guerreiro, especialista da UNESCO para aimplantação da Rede Inter-religiosa de Educação para a Paz, em todos oscontinentes.

Os leitores da revista Diálogo, pertencentes às diversas denominaçõese tradições religiosas, reconhecem a importância de participarem, através darevista, deste diálogo inter-religioso:

Somos assinantes da revista Diálogo desde sua fundaçãoe nos orgulhamos pelo espírito ecumênico e inter-religioso que marca sua trajetória. Esse espírito animanosso trabalho na área de Ensino Religioso. A revista temum formato bastante dinâmico: texto de estudo, poemas,reflexões, colaboração dos leitores, sugestões de aula eestudos, divulgação de eventos e de subsídios. (SôniaTrapp Mees – Igreja Evangélica de Confissão Luterana doBrasil, São Leopoldo/RS. Diálogo, n. 24, out./01, p. 6)

5 Citação de uma entrevista concedida pela professora Rosa Guerreiro à diretora de redação da Diálogo -Revista de Ensino Religioso, por ocasião do III Fórum Mundial da Aliança de Civilizações das NaçõesUnidas, ocorrido no na cidade do Rio de Janeiro, nos dias 27 a 29 de maio de 2010, com o tema:Interligando culturas, construindo a paz.

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O fato de eu ser evangélica, não me impede de assinaruma publicação de uma editora católica, como a revistaDiálogo, visto que, como professores, temos o dever derespeitar nossos alunos em suas escolhas. Esta revista éexcelente. (Idália Expedita de Oliveira Cunha, Água Fria/BA. Diálogo, n. 30, maio/03, p. 6)

Parabéns pela forma sempre plural com que a revistatrata todos os temas. Isto é excelente, pois mostra queneste mundo de múltiplas facetas, o ser humano,enquanto ser religioso, também é plural. Parabéns pelaousadia! (Pe. Gilberto Horácio de Aguiar – Igreja CatólicaRomana, Gama/DF. Diálogo, n. 31, ago./03, p. 6)

Li o artigo publicado na edição de maio, intitulado: Bahá’í– um Deus, uma religião, uma humanidade. Manifestomeus parabéns pela atitude de tolerância queacompanha o conselho editorial desta importante revista,atitude condizente com a época de diversidade na qualvivemos. (Pedro Rojas Arenas, professor universitário,Fortaleza/CE. Diálogo, n. 28, out./02, p. 7)

Além dos artigos de fundamentação e aprofundamento – queproporcionam ao educador maior clareza e segurança na abordagem dostemas em sala de aula –, a revista, em várias seções, abre espaço para asocialização de experiências, atividades pedagógicas e notícias, possibilitando,de fato, o diálogo entre a revista, os educadores e educandos. Segundo oparecer dos educadores, estamos no rumo certo:

Tomei conhecimento da revista Diálogo através da nossacoordenadora de Ensino Religioso. Emocionei-me! Apósdez anos de dedicação a esta disciplina, não tinha vistomaterial tão eficaz. (Raimundo Nonato Costa Guilherme,São Luiz/MA. Diálogo, n. 5, mar./97, p. 4)

A revista Diálogo vem ajudando o Ensino Religioso nosentido de oferecer embasamento teórico, como tambémexercendo influência na sala de aula, especialmente comas oficinas e as dinâmicas. (Alcilene da C. Andrade, JoãoPessoa/PB. Diálogo, n.14, maio/99, p. 4)

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Gosto de todas as matérias apresentadas pela revista.As mesmas têm sido motivos de conversas apreciativasentre nós, professores das diversas áreas deconhecimento, [...] seja na escola particular, como napública, nas quais trabalhamos. (Rejane Costa – IgrejaEpiscopal Anglicana do Brasil, Belém/PA. Diálogo, n. 28,out./02, p. 6)

A abordagem da revista Diálogo é tão boa que estudamoscom os professores os assuntos nela tratados. Tambémcom os alunos estudamos e debatemos os temas. Oimportante na revista é que quando ela aborda umassunto não o faz apenas na ótica de uma religião, masna de várias, como a da edição de fevereiro [2003] sobrea linguagem dos símbolos. (Maria Josefa Soares, DoisIrmãos/RS. Diálogo, n. 30, maio/03, p. 6)

A revista Diálogo tem se tornando, cada vez mais, um subsídiofundamental para formação inicial e continuada dos professores de ER,utilizada tanto nos cursos de capacitação de professores como na práticapedagógica, no dia a dia da sala de aula. E não só. Pelo fato de pautar-se poruma perspectiva de educação humanística, em diálogo com a culturacontemporânea, plural e diversificada, o seu público leitor abrange tambémprofessores de outras áreas de conhecimento, pais e educadores em geral,como testemunham os seus leitores:

Trabalho em cursos de formação de professores de EnsinoReligioso e a revista Diálogo é de grande utilidade nosseminários temáticos sobre ética, cidadania, violência,matrizes religiosas brasileiras, legislação e fundamentospedagógicos do Ensino Religioso. (Maria Lúcia Pinto Roman,Belo Horizonte/MG. Diálogo, n. 12, out./98, p. 4)

Não sou professora de Ensino Religioso, leciono Biologia,mas gosto muito da revista Diálogo, pois trata da questãodo Ensino Religioso de maneira plural, sem proselitismo,e também porque alguns conteúdos podem ser utilizadosem qualquer disciplina. Tenho o exemplar A educaçãoem tempos globais, que ganhei de um amigo, e meajudou muito a entender a globalização. Quero me tornar

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assinante. (M. Lúcia Galdino Campos, Arcoverde/ PE.Diálogo, n. 35, fev./05, p. 6)

Utilizo a revista Diálogo nas palestras e nas aulas deformação que ministro em diferentes grupos. Elaapresenta textos bem elucidativos, fáceis e bons para otrabalho com jovens. Recomendo a todos os educadores,pois a multiplicidade de autores que a revista apresentafavorece a formação do conhecimento religioso.Continuem colaborando com a sociedade para torná-lamais humana e solidária. (Valdir Raymundo Gobatto,Cruzeiro do Sul/AC. Diálogo, n. 24, out./01, p. 6)

No ano 2002 - sétimo de sua publicação - a revista Diálogo recebe umnovo formato, uma apresentação gráfica mais bonita, em quatro cores,enriquecida com novas seções que a tornaram mais dinâmica, interativa eatual. E isso não passou despercebido pelos leitores:

Assino a revista Diálogo desde o primeiro número. Foicom muita surpresa e alegria de recebi a edição de marçototalmente reformulada. Quero parabenizá-los decoração, gostei muito do novo formato e das novasseções, especialmente da Aprendendo a ensinar. Isto nosprova o quanto vocês estão preocupados em melhorar aqualidade do Ensino Religioso. (Abadias Ap. Pereira, pore-mail. Diálogo, n. 26, maio/02, p. 6)

5 QUINZE ANOS, TEMPO DE RECONHECIMENTOS

Em 2007, a revista Diálogo foi objeto de uma dissertação de mestradoem Educação, defendida na PUC-PR pela pesquisadora Cláudia Regina TavaresCardoso. A pesquisa intitulada A contribuição da revista Diálogo para aformação do professor-leitor do Ensino Religioso constatou o papelprimordial da revista como periódico específico destinado à formação deprofessores de Ensino Religioso.

Ao comemorar 15 anos de sua publicação, além do apreço de seusleitores, a revista Diálogo recebeu recentemente um importantereconhecimento, durante o III Fórum Mundial da Aliança de Civilizações das

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Nações Unidas, ocorrido no Rio de Janeiro, em maio de 2010. A professoraRosa Guerreiro, da UNESCO, ao conhecer a revista, declarou-se admirada esurpresa por saber que há 15 anos existe uma revista que visibiliza o processode construção do Ensino Religioso no Brasil, o qual, por sua vez, prioriza odiálogo inter-religioso na educação pública.

Rosa Guerreiro propôs-se a escrever sobre esta trajetória naspublicações da UNESCO, apresentando a outras nações o pioneirismo do Brasil,a proposta do FONAPER, de incluir na educação básica o conhecimento dofenômeno religioso como componente da cultura e a educação das novasgerações para a convivência multirreligiosa e a paz. Oxalá este tempo de novossonhos logo se transforme em memória e ação histórica, como ocorre noâmbito nacional há 15 anos, desde o nascimento do FONAPER e da Diálogo -Revista de Ensino Religioso.

Fazendo memória dos inícios da revista, revisitando a publicação delançamento – a número zero – encontramos em seus artigos principais aestrutura que logo depois se configuraria nos eixos temáticos propostos peloFONAPER: A emergência do fenômeno religioso e a missão do professor[Culturas e tradições religiosas], Ética e religião – o sentido da vida [Ethos] eo artigo de Therezinha Motta Lima da Cruz intitulado Celebrar: um jeitohumano de se expressar [Ritos]. Entre outras coisas, a articulista fala da forçamobilizadora contida no ato de celebrar e dos efeitos da celebração: “reforçarsentimentos, alimentar lealdades, alicerçar compromissos, aumentar aconsciência de pertença ao grupo que celebra”, tornando as pessoas maisfortes para enfrentar os desafios da vida com a força que elas adquirem noato de celebrar.

Que a celebração dos 15 anos do FONAPER e da revista Diálogo possareforçar em todos nós – comprometidos de alguma forma com o ER –, ossentimentos e atitudes apontados por Therezinha Cruz, pois temos ainda umaárdua batalha pela frente, no sentido de atingir uma educação de qualidadepara todos neste país. E, especificamente, para ER e para o profissional dessaárea, a conquista do espaço e do igual tratamento, que lhes cabe por direito,no rol das demais disciplinas, no cenário da educação brasileira.

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REFERÊNCIAS

DELORS, Jacques (org.). Educação: um tesouro a descobrir. Relatório para a UNESCOda Comissão Internacional sobre a Educação no século XXI. São Paulo: Cortez; Brasília:UNESCO/MEC, 1998.

FONAPER. Parâmetros curriculares nacionais do ensino religioso. São Paulo: AveMaria, 1997.