ditadura nunca mais: resistÊncia sempre

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DITADURA NUNCA MAIS RESISTÊNCIA SEMPRE! POR JUSTIÇA E MEMÓRIA ÀS VÍTIMAS Juntando-se a todos/as que, no perío- do do golpe, na abertura política e na redemocratização lutaram e ainda re- sistem e lutam pelo direito à memória, à verdade e à justiça, realizaremos em Passo Fundo e região um conjunto de atos para denunciar os crimes come- tidos durante a ditadura militar e para celebrar as lutas daqueles/as que a enfrentaram para transformar o Brasil num país no qual todos/as podem viver com dignidade e com direitos humanos. No próximo dia 1 de abril de 2014 o Brasil lembra os 50 anos do gol- pe civil-militar que durou até 1985, um ano depois de ter ocorrido uma das maiores mobilizações de rua da história brasileira: as Diretas Já!, com atos iniciados no dia 24 de janeiro de 1984, há 30 anos. EXPOSIÇÕES Glauco Pinto de Moraes: Um artista na ditadura Local: Museu de Artes Visuais Ruth Schneider (Av. Brasil Oeste, 758 - Centro) Período: 04/03 a 11/05 Mídia e Ditadura e Ditadura da Mídia Concepção e pesquisa de Dagmar Camargo Local : Museu Histórico Regional de Passo Fundo Período: 31/03 a 22/05 Horário: Terça a sexta das 08h30 às 17h30, sábado e domingo, das 13h30 às 17h30 31 de março 15h Manifestações dos vereadores sobre o Golpe Militar Local: Câmara de Vereadores 20h Seminário de abertura da exposição: Mídia e Ditadura e Ditadura da Mídia (concepção e pesquisa de Dagmar Camargo) Debatedores: Tau Golin, José Ernani de Almeida, Ruy de Oliveira, e Dagmar Camargo. Local: Teatro do SESC. 22h Vigília Popular e Estudantil contra o Golpe Militar Local: Praça do Teixerinha 01 de abril 10h Ato Público: denúncia dos crimes da ditadura e celebração das lutas populares Local: Praça do Teixerinha 11h Inauguração do mural da memória em Passo Fundo (FAC-UPF) Local: UPF Idiomas (Av. Brasil, Centro) 19:30h Cineforum: DITADURA NUNCA MAIS: RESISTÊNCIA SEMPRE Filme: Ainda hoje existem perseguidos políticos (Acesso/Catarse 2013) Debatedores: José André da Costa (IFIBE) e Leandro Scalabrin (CDHPF) Local: Auditório IFIBE/ITEPA (R. Sen. Pinheiro, 350, Sta. Terezinha) 02 de abril 19h Sessão solene em homenagem a perseguidos políticos de Passo Fundo Local: Câmara de Vereadores PROGRAMAÇÃO ditadura.indd 1 23/03/14 21:26

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Page 1: DITADURA NUNCA MAIS: RESISTÊNCIA SEMPRE

Ditadura nunca mais. Resistência sempre. | 1

DITADURA NUNCA MAISRESISTÊNCIA SEMPRE!

POR JUSTIÇA E MEMÓRIA ÀS VÍTIMAS

Juntando-se a todos/as que, no perío-do do golpe, na abertura política e na redemocratização lutaram e ainda re-sistem e lutam pelo direito à memória, à verdade e à justiça, realizaremos em Passo Fundo e região um conjunto de atos para denunciar os crimes come-tidos durante a ditadura militar e para celebrar as lutas daqueles/as que a enfrentaram para transformar o Brasil num país no qual todos/as podem viver com dignidade e com direitos humanos.

No próximo dia 1 de abril de 2014 o Brasil lembra os 50 anos do gol-pe civil-militar que durou até 1985, um ano depois de ter ocorrido uma das maiores mobilizações de rua da história brasileira: as Diretas Já!, com atos iniciados no dia 24 de janeiro de 1984, há 30 anos.

EXPOSIÇÕES

Glauco Pinto de Moraes: Um artista na ditadura

Local: Museu de Artes Visuais Ruth Schneider (Av. Brasil Oeste, 758 - Centro)Período: 04/03 a 11/05

Mídia e Ditadura e Ditadura da Mídia Concepção e pesquisa de Dagmar Camargo

Local : Museu Histórico Regional de Passo Fundo Período: 31/03 a 22/05Horário: Terça a sexta das 08h30 às 17h30, sábado e domingo, das 13h30 às 17h30

31 de março15h Manifestações dos vereadores sobre o Golpe Militar

Local: Câmara de Vereadores20h Seminário de abertura da exposição:

Mídia e Ditadura e Ditadura da Mídia (concepção e pesquisa de Dagmar Camargo)

Debatedores: Tau Golin, José Ernani de Almeida, Ruy de Oliveira, e Dagmar Camargo.

Local: Teatro do SESC.22h Vigília Popular e Estudantil contra o Golpe Militar

Local: Praça do Teixerinha

01 de abril10h Ato Público: denúncia dos crimes da ditadura e celebração das lutas populares

Local: Praça do Teixerinha11h Inauguração do mural da memória em Passo Fundo (FAC-UPF)

Local: UPF Idiomas (Av. Brasil, Centro)19:30h Cineforum: DITADURA NUNCA MAIS: RESISTÊNCIA SEMPRE Filme: Ainda hoje existem perseguidos políticos (Acesso/Catarse 2013)

Debatedores: José André da Costa (IFIBE) e Leandro Scalabrin (CDHPF) Local: Auditório IFIBE/ITEPA (R. Sen. Pinheiro, 350, Sta. Terezinha)

02 de abril19h Sessão solene em homenagem a perseguidos políticos de Passo Fundo Local: Câmara de Vereadores

PROGRAMAÇÃO

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Ditadura nunca mais. Resistência sempre.2 |

O Presidente João Goulart e o regime democrático foram derrubados por uma golpe civil-militar apoiado pelos Estados Unidos. O golpe inicia no dia 31 de março e é consumado na madrugada do dia 1º de abril de 1964. Na ocasião, então governador do Estado, Ildo Meneghetti, transfe-riu a sede do governo estadual para o quartel do 2º Batalhão da Brigada Militar (3RPOM), que tornou-se a sede do governo por 72 horas.

Passo Fundo sediava e coorde-nava as ações de repressão na re-gião Norte do Rio Grande do Sul. O Departamento de Ordem Políti-ca e Social (DOPS) foi instalado no prédio onde funcionou até meados da década de 1950, um dos mais famosos prostíbulos do Estado, o Cassino da Maroca. Nele foram planejadas e executadas as ações de repressão civil-militar na região Norte do Estado: perseguição a jornalistas, cassação de mandatos

A edição de 29 de março de 1965, do jornal O Nacional, foi apre-endida e o jornalista João Freitas foi preso pelo Capitão Grey Belles, comandante do I/20º Regimento de Cavalaria, em razão da matéria publicada sobre a tentativa de luta armada contra a ditadura militar em Três Passos sob a liderança do

MEMÓRIAS PARA NÃO SEREM ESQUECIDASA DITADURA EM PASSO FUNDO E REGIÃO

O golpe: resistência, prisões e perseguição aos sindicatosO Comando Geral dos Trabalha-

dores (CGT) convocou uma greve geral em apoio ao Presidente de-posto. Em Passo Fundo, o Sindi-cato dos Metalúrgicos, o Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Alimentação e o Sindicato dos Trabalhadores na Construção Civil e do Mobiliário organizaram-se para aderir à greve geral em apoio a Jan-go e se colocaram à disposição do III Exército para defender a legali-dade. As pessoas que participaram dessa articulação foram presas e enviadas a Porto Alegre. Entre elas os comunistas Ernesto Delvaux, Im-braim Cordeiro de Melo, Antonio Silva, Luciano Mota, João Roma e o estudante Sólon Viola. Também fo-ram presos: o jornalista João Batis-ta de Mello Freitas; políticos e todos os vereadores do PTB (Meirelles Du-arte, Odilon Soares de Lima, Ernesto Scortegagna, Wilson Garay, Gilberto

Tubino e Bernardino Sampaio Gui-marães); o telegrafi sta Paraguassú de Moura Brizola; o operário e líder sindical Arno Maier; o sindicalista Orlando Bühler; o representante do Ministério do Trabalho João Andra-de. Em Carazinho ocorreu a prisão dos principais líderes do Sindicato dos Bancários (João Alcindo Dill Pi-res e Eduardo Azambuja) e a inter-venção no Sindicato com a nomea-ção de uma Junta Governativa. Na região de Erechim foram detidas 159 pessoas acusadas de perten-cem aos “grupos dos onze” criados por Leonel Brizola.

A partir do golpe os sindicatos foram reduzidos a meros órgãos assistencialistas. As reuniões de trabalhadores foram proibidas e o direito de greve foi suprimido. O ar-rocho salarial imposto pelo regime militar benefi ciou a classe patronal.

de políticos do PTB e do PCB, pri-são de sindicalistas e militantes de partidos políticos, elaboração das listas daqueles que não deviam ser contratados pelas empresas e o desmantelamento dos “grupos dos onze”. Durante a ditadura denomi-nado CCC - Comando de Caça aos Comunistas – agia na cidade, per-seguindo pessoas, impedindo-as de trabalhar e ameaçando-as de mor-te e de incendiar suas residências e de seus familiares.

Repressão: o DOPS e o CCC CensuraCoronel Cardim. Os militares censu-raram os meios de comunicação e perseguiram jornalistas e artistas. Em 1978 fecharam a Rádio Munici-pal. Os artistas tinham suas peças de teatro e outras manifestações artísticas censurados: várias delas foram proibidas de exibição.

“Não fi car de joelhos,que não é racional renunciar a ser livre ...

É preciso não ter medo,é preciso ter a coragem de dizer.”

Carlos Marighella

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Em 14 de dezembro de 1968, um dia após o AI-5 (Ato Institucio-nal nº 5), o Pe. Alcides Guareschi proferiu discurso aos formandos de várias áreas das Ciências Huma-nas, da recém criada Universidade, como paraninfo da turma, abor-dando a crise de valores da socie-dade e as revoltas estudantis que aconteceram em 1968, nas quais Che Guevara era um dos heróis dos manifestantes. Em razão de ter ci-tado Che em seu discurso, passou a ser monitorado pelo Serviço Na-

O Movimento de Estudantil de Passo Fundo também foi vítima de perseguição, repressão, cercea-mento da liberdade de organização, com a censura de suas publicações, perseguição a estudantes e inter-venção/fechamento de grêmios estudantis e diretórios acadêmicos. Em maio de 1964 o Exército inva-diu a casa que abrigava a Juventu-de Universitária Católica (JUC). Em 12 de outubro de 1966 o presiden-te do DCE, estudante Zelcy Dall’Ac-qua, foi preso pelo Exército, por es-tar promovendo um debate entre os candidatos das eleições muni-cipais (Arena e MDB), o qual teria sido proibido pelo Comando da Guarnição. Em 1968 o movimento estudantil de Passo Fundo se mobi-lizou para protestar contra a morte do estudante Edson Luis, ocorrida durante um conflito com a PM no restaurante Calabouço no Rio de Ja-neiro. Centenas de estudantes uni-versitários e alguns secundaristas marcharam da antiga Faculdade de Direito, na Av. Brasil, até o centro, onde foram cercados por tropas do Exército e da Brigada Militar. Não ocorreram prisões porque as portas da catedral foram abertas para os estudantes saírem pela Rua Coro-nel Chicuta. Em decorrência dos protestos do movimento estudantil o presidente e vice-presidente da

A violência, a barbárie e os cri-mes da ditadura militar não acon-teceram apenas nas grandes cida-des. Em Passo Fundo, em 05 de fevereiro de 1979, o motoqueiro Clodoaldo Teixeira (17 anos) fugiu a uma abordagem de três brigadia-nos por não ter carteira de moto-rista. Foi perseguido e assassinado na frente de sua casa com um tiro pelas costas. O assassinato do jo-vem provocou uma revolta popular contra a barbárie do crime. O enter-

Ato Institucional nº 5 (AI5)

Assassinato de jovens: a Revolta dos Motoqueiros

Movimento estudantil

Repressão à ocupação da Faculdade de Filosofia em São Paulo pelos estudantes.

cional de Informações (SNI), que o qualificava como “esquerdista”, como protetor de “estudantes reco-nhecidamente subversivos” e “agi-tadores”, entre eles: Ivaldino Tasca, Argeu Santarem, Gilberto Borges e Elvaristo Amaral. O Pe. Elli Beninca – professor de filosofia – era qua-lificado pelo SNI como “orientador intelectual dos movimentos de agi-tação estudantil”.

União Passo-fundense de Estudan-te (UPE), Solon Viola e João Carlos Bona Garcia, que eram estudantes da Escola Nicolau de Araújo Ver-gueiro, foram expulsos por ordens superiores do comando militar da cidade. As reuniões e as lideranças do DCE, dos Diretórios Acadêmicos e da Associação de Professores

eram monitoradas pelo SNI. Os pro-fessores e estudantes não podiam manifestar suas opiniões e pesqui-sas ou fazer denúncias sob pena de serem enquadrados na Lei de Segurança Nacional; o historiador Mario Maestri Filho que retornou do exílio em 1977 foi perseguido. Exis-tem inúmeras listas de professores

“fichados” no DOPS como “esquer-distas”. Agentes eram “infiltrados” nas salas de aula para investigar os estudantes e professores. As manifestações dos estudantes em 1983, em defesa de ensino funda-mental público e gratuito para os trabalhadores eram consideradas “subversivas”.

ro do jovem foi acompanhado por aproximadamente dez mil pessoas. Após o sepultamento, no dia 6, a população passou a se manifestar contra a Brigada Militar. Uma via-tura foi incendiada na praça Mare-chal Floriano. Houve uma tentativa de invadir o quartel da Brigada Mi-litar e se não houvesse a interven-ção do Exército, o quartel teria sido invadido. Na frente do CPA/3 (atu-al UPF-Idiomas) na avenida Brasil, houve um confronto entre os poli-

ciais militares e os manifestantes. Os militares atiraram contra os manifestantes assassinando mais dois jovens: Adão Faustino, de 19 anos, e Joceli Joaquim Macedo, de 17 anos (ferido no ato e que viria a morrer dias depois). Também ficou ferido o jovem Pedro Carlos Santos. O episódio ficou conhecido como “a revolta dos motoqueiros” e foi registrado por Tarso de Castro (Pas-quim).

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Em 25 de julho de 1981, há qua-renta quilômetros de Passo Fundo, na Encruzilhada Natalino, foi re-alizado ato público com mais de 15.000 pessoas, o qual foi noticia-do em Porto Alegre como “a maior manifestação realizada por traba-lhadores rurais na história do Rio Grande do Sul”. Nele, o Bispo Dom Tomás Balduíno, compara a luta do Acampamento Natalino como o equivalente rural às greves no ABC paulista, realizadas pelo Sindicato dos Metalúrgicos entre 1978-1980. Cinco dias depois do ato público a ditadura interviu militarmente no acampamento de 600 famílias de trabalhadores rurais sem terras que

Encruzilhada Natalino

Direito a memória e à justiça!

se formou no local, praticou atos de exceção entre 30 de julho de 1981 e 12 de março de 1982, e o decla-rou “área de segurança nacional” entre 30 de julho e 31 de agosto de 1981. A intervenção militar federal foi comandada pelo Major do Exér-cito Brasileiro Sebastião Rodrigues Moura, popularmente conhecido como “Coronel Curió”, recentemen-te denunciado pelo Ministério Públi-co Federal pelos crimes que come-teu em sua atuação na Guerrilha do Araguaia nas décadas de 1960 e 1970. O acampamento resistiu por mais de um ano à intervenção militar e derrotou o Coronel Curió.

A memória é um direito de to-dos/as e, por ser um direito, deve ser submetida à discussão e a par-ticipação popular. No lugar de uma memória social ilusoriamente úni-ca, precisamos afirmar memórias, no plural, produzindo e socializando conhecimento sobre vários acon-tecimentos ocorridos na história, inclusive durante a ditadura, com vista a preservá-los no presente, a constituir verdade e a afirmá-los como “monumentos” – num dos sentidos que este termo ‘denkal’ pode ter na língua alemã: “pense mais uma vez”. Para que todos/as “pensemos mais uma vez” sobre o que aconteceu na ditadura, para que ela NUNCA MAIS se repita... para que seja feita JUSTIÇA, exer-citemos nosso direito de participar da construção da memória coletiva!

Comissão de Direitos Humanos de Passo Fundo (CDHPF)Central Única dos Trabalhadores (CUT)

Central Sindical e Popular (CSP Conlutas)Diretório Central de Estudantes (UPF)

Assembléia Nacional de Estudantes - Livre (ANEL)Via Campesina (MST, MAB, MMC, MPA)

Levante Popular da JuventudeArquidiocese de Passo Fundo

Instituto Superior de Filosofia Berthier (IFIBE) Associação Sagrada Família (MSF)

Centro Acadêmico João Berthier (CAJOB)Instituto de Teologia e Pastoral (ITEPA)Cáritas Arquidiocesana de Passo Fundo

Comissão Pastoral da Terra (CPT)Pastoral da Juventude (PJ)

Movimento Nacional de Direitos Humanos (MNDH-RS)

Esta publicação é realizada por:Liberdade

Não ficarei tão só no campo da arte,e, ânimo firme, sobranceiro e forte,

tudo farei por ti para exaltar-te,serenamente, alheio à própria sorte.

...E que eu por ti, se torturado for,

possa feliz, indiferente à dor,morrer sorrindo a murmurar teu nome.

Carlos Marighella

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