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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE LONDRINA UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO Área de Concentração: Gestão de Negócios A FORMAÇÃO DE EMPREENDEDORES NO CURSO DE ADMINISTRAÇÃO DA UNIVERSIDADE ESTADUAL DE LONDRINA Dissertação de Mestrado GERSON ANTONIO MELATTI Londrina 2002

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Page 1: Dissertação de Mestrado2 GERSON ANTONIO MELATTI A FORMAÇÃO DE EMPREENDEDORES NO CURSO DE ADMINISTRAÇÃO DA UNIVERSIDADE ESTADUAL DE LONDRINA Dissertação aprovada como requisito

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE LONDRINA UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO Área de Concentração: Gestão de Negócios

A FORMAÇÃO DE EMPREENDEDORES NO CURSO DE ADMINISTRAÇÃO DA UNIVERSIDADE ESTADUAL DE LONDRINA

Dissertação de Mestrado

GERSON ANTONIO MELATTI

Londrina 2002

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GERSON ANTONIO MELATTI

A FORMAÇÃO DE EMPREENDEDORES NO CURSO DE ADMINISTRAÇÃO DA UNIVERSIDADE ESTADUAL DE LONDRINA Dissertação aprovada como requisito para obtenção do grau de Mestre no Programa de Pós-Graduação em Administração, Universidade Estadual de Londrina e Universidade Estadual de Maringá, pela seguinte banca examinadora:

________________________________ Prof. Antônio Artur de Souza, Ph.D. Universidade Estadual de Maringá - PR

________________________________ Prof. Álvaro José Periotto, Dr. Universidade Estadual de Maringá -PR

___________________________________________________ Prof. Afonso Augusto Teixeira de Freitas de Carvalho Lima, Dr. Universidade Federal de Viçosa - MG

Londrina, 08 de novembro de 2002

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Quando sopram os ventos da mudança, alguns constroem abrigos e se colocam a salvo; outros constroem moinhos...

Claus Möller

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AGRADECIMENTOS

Ao Professor Antônio Artur de Souza, orientador deste trabalho, a quem aprendi a admirar como pesquisador e como pessoa, pelo apoio e disponibilidade oferecidos. Aos professores e egressos pesquisados, que através de respostas e sugestões permitiram o enriquecimento do trabalho. À minha família, Maria de Lourdes, Daniel e Bruno, objetivo maior de minhas realizações. Aos professores e colegas do curso de mestrado, pelo apoio, amizade, contribuições e sugestões recebidas. Aos funcionários Francisco e Marcos, da Secretaria de Pós-graduação, professores do Departamento de Administração, colegas de trabalho da Coordenadoria de Recursos Humanos e de outras áreas da Universidade Estadual de Londrina, pelo apoio e colaborações oferecidas. Aos colaboradores diretamente envolvidos nesta pesquisa, Hudson, Helenice, Lau e Fabrício, pelos valiosos auxílios nos trabalhos de coleta de dados, transcrição de entrevistas, normatização bibliográfica e tratamento estatístico. A todos que de alguma forma contribuíram para este trabalho.

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LISTA DE GRÁFICOS

Resultados da pesquisa realizada com professores do curso de Administração da UEL

GRÁFICO 1 - Avaliação do mercado de trabalho para o Administrador

72

GRÁFICO 2 - Motivos que estimulam o aluno a optar pela modalidade de PCE

76

GRÁFICO 3 - Condições e incentivos do curso

80

GRÁFICO 4 - Intenções do curso sobre a proposta e sugestões de encaminhamento

81

Resultados da pesquisa com os egressos do curso de Administração da UEL

GRÁFICO 5 - Avaliação do mercado de trabalho

84

GRÁFICO 6 - Obtenção de colocação em atividades intermediárias no campo da Administração antes ou depois de formado

84

GRÁFICO 7 - Obtenção de colocação como Administrador após o término do curso

85

GRÁFICO 8 - Aumento da empregabilidade

87

GRÁFICO 9 - Qualidade das contribuições do curso

89

GRÁFICO 10 - Qualidade das atividades complementares

90

GRÁFICO 11 - Contribuições do curso para despertar o interesse em empreendedorismo e desenvolver a capacidade empreendedora

90

GRÁFICO 12 - O curso como estimulador da capacidade empreendedora

91

GRÁFICO 13 - Direcionamento do curso para empreendedorismo

92

GRÁFICO 14 - Abertura de negócio próprio 94

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LISTA DE QUADROS QUADRO 1 - Número de Vagas Ofertadas nos Cursos de Administração .............. 16

QUADRO 2 - Organização da Dissertação ...............................................................

23

QUADRO 3 - Relações entre Objetivos e Instrumentos de Coleta de Dados ...

28

QUADRO 4 - Características dos Empreendedores segundo a Escola Comportamentalista ...........................................................................

44

QUADRO 5 - Qualidades atribuídas ao Empreendedor ............................................

50

QUADRO 6 - Marcos do Ensino de Empreendedorismo ..........................................

55

QUADRO 7 - Empreendedorismo nos países da Europa Central e Leste Europeu ..

64

QUADRO 8 - Histórico do Ensino de Empreendedorismo no Brasil .......................

66

QUADRO 9 - Diferenças entre Formação Gerencial e Formação Empreendedora ..

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LISTA DE TABELAS

Resultados da pesquisa realizada com os professores do curso

TABELA 1 - Evolução dos Estágios em Projeto de Criação de Empresas .............. 21TABELA 2 - Tempo de Atuação dos Docentes no Departamento .......................... 74TABELA 3 - Processo Interno de Discussão da Formação de Empreendedores ..... 74TABELA 4 - Processo de Envolvimento de Entidades Representativas ................. 75TABELA 5 - Análise ou estudos de exemplos existentes em Universidades.......... 76TABELA 6 - Relação entre Objetivos Propostos e Alcançados .............................. 78TABELA 7 - Aspectos Positivos e Negativos da Modalidade ................................. 79TABELA 8 - Conteúdo da Disciplina de Criação de Empresa ................................ 80

Resultados da pesquisa realizada com os egressos do curso

TABELA 9 - Principal atividade profissional........................................................... 85TABELA 10 - Cargo ocupado atualmente............................................ ..................... 86TABELA 11 - Objetivo ao escolher o curso de adminsitração................................... 87TABELA 12 - Motivo principal da escolha pela modalidade de PCE pelos alunos... 88TABELA 13 - Assuntos a serem abordados numa Disciplina de Empreendedorismo 92TABELA 14 - Metodologia do Ensino de Empreendedorismo ................................. 93TABELA 15 - Fatores Fundamentais para abertura de Negócio Próprio .................. 94TABELA 16 - Aspectos que Impulsionaram a Abertura do Negócio ........................ 95TABELA 17 - Análise Cruzada: Relações entre Mercado de Trabalho para o

Administrador e Atuação em Atividades Intermediárias ................... 96

TABELA 18 - Análise Cruzada: Relações entre Mercado de Trabalho para o Administrador e Atuação como Administrador .................................

96

TABELA 19 - Análise Cruzada: Relações entre Mercado de Trabalho para o Administrador e Cargo Ocupado .......................................................

97

TABELA 20 - Análise Cruzada: Condições Oferecidas pelo Curso e Qualidade das Contribuições Recebidas ....................................................................

98

TABELA 21 - Análise Cruzada: Condições Oferecidas pelo Curso e Qualidade das Atividades Complementares ..............................................................

98

TABELA 22 - Análise Cruzada: Objetivo da Escolha do Curso e Atividade Profissional .........................................................................................

99

TABELA 23 - Caracterização dos empreendimentos iniciados pelos egressos.......... 108

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SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................. 111.1 Contextualização ........................................................................................................... 111.2 Tema e Problema da Pesquisa ..................................................................................... 141.3 Justificativa e Relevância ............................................................................................. 151.4 Objetivos do estudo ...................................................................................................... 221.5 Estrutura da Dissertação ............................................................................................. 23 2. METODOLOGIA ......................................................................................................... 232.1 2.2 2.3 2.4 2.5 2.6 2.7 2.8

Introdução....................................................................................................................... Delineamento da Pesquisa ............................................................................................ Perguntas de Pesquisa .................................................................................................. População e Amostra .................................................................................................... Coleta de Dados ............................................................................................................. Análise dos Dados ......................................................................................................... Protocolo do Estudo de Caso.......................................................................................... Conclusão .......................................................................................................................

2324262930333537

3. REVISÃO DA LITERATURA .................................................................................... 37

3.1 Introdução ...................................................................................................................... 373.2 A Função Transformadora da Universidade .............................................................. 373.3 Empreendedorismo ....................................................................................................... 413.4 Empreendedor ............................................................................................................... 473.5 3.6 3.7 3.8 3.9

Empreendedorismo como Campo de Estudos............................................................. Empreendedorismo como Disciplina ........................................................................... Educação Empreendedora no Mundo e no Brasil ..................................................... Universidade e Empreendedorismo ............................................................................ Conclusão .......................................................................................................................

5254606670

4. 4.1 4.2 4.3 4.4 4.5

ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS ...................................................... Introdução ...................................................................................................................... Análise dos Resultados das Entrevistas com Professores ............................................. Análise dos Resultados da Pesquisa com Egressos ........................................................ Análise Comparativa entre as Opiniões dos Professores e dos Egressos........................ Conclusão .......................................................................................................................

71717183

100102

5. CONCLUSÕES ............................................................................................................. 103 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................ 119 ANEXOS ........................................................................................................................ 124

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MELATTI, Gerson Antonio. A formação de empreendedores no curso de Administração da Universidade Estadual de Londrina. 2002. Dissertação (Mestrado em Administração) – Universidade Estadual de Londrina, Universidade Estadual de Maringá, Londrina.2002

RESUMO O trabalho caracterizou-se como estudo de caso e teve como principal objetivo analisar a proposta de formação de empreendedores no Curso de Graduação em Administração da Universidade Estadual de Londrina. Como objetivos específicos pretendeu avaliar a percepção que os atuais professores e egressos do Curso dos últimos quatro anos fazem do mercado de trabalho para Administradores, identificando os fatores que motivaram os egressos a optar pela modalidade de criação de empresa no estágio curricular, avaliando o nível de informações e qualidade do conhecimento sobre empreendedorismo recebidos pelos alunos e analisando as contribuições para o surgimento de novas empresas, oriundas dos estágios curriculares realizados no período de 1998 a 2001. A realização do estudo envolveu quatro fases: pesquisa documental, levantamento bibliográfico, entrevista com professores e aplicação de questionários aos egressos. Para a coleta de dados utilizou-se de análise de documentos, entrevista e questionário. As entrevistas envolveram 20 professores do curso e 72 egressos responderam ao questionário. Os resultados mostraram que faltam condições essenciais para a formação de empreendedores; que o profissional formado em administração encontra dificuldades de colocação num mercado de trabalho restrito e muito concorrido; que o aluno tem muito interesse em criação de negócio próprio, antes e durante a realização do curso; que o nível das informações e qualidade do conhecimento sobre empreendedorismo recebido pelos alunos devem ser aprimorados. Concluiu-se que a intenção do curso em formar empreendedores é interessante e foi uma das propostas pioneiras no País, idêntica a realizações semelhantes ocorridas nas Universidades de maior destaque no cenário nacional. O estudo mostrou ainda que falta um acompanhamento eficiente da proposta e que os resultados alcançados embora relevantes em termos de quantidade deixam a desejar no aspecto de qualidade, uma vez que o empreendedorismo pressupõe a presença de inovação e percepção de diferentes oportunidades de negócios e as empresas criadas pelos egressos são repetições daquilo que já existe no mercado. Palavras-chave: empreendedorismo, empreendedores, ensino de empreendedorismo, educação

empreendedora.

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ABSTRACT MELATTI, Gerson Antonio. The Education of entrepreneurs in the course of administration of the state university of Londrina. 2002. Dissertation (Mastership in administration ) - Universidade Estadual de Londrina, Universidade Estadual de Maringá, Londrina.2002 The work is characterized as a study of case and its main purpose is to analyse the proposal of education for entrepreneurs in the Course of Graduation in Administration in the State University of Londrina. As specific goals, it intends to evaluate the perception of the present professors who are formers from the Course in the late four years about the market job for administrators, identify the factors that motivated the formers to choose for the modality of setting up a company in the curricular stage, evaluate the level of information and quality of knowledge about entrepreneurship received by the students and analyse the contributions for setting up new companies, from the curricular stages completed from 1998 to 2001. The study goes through four phases: documental research, bibliography, interview with the professors and to apply the forms to the formers students. About the data collect, it uses documents analysis, interviews and application forms. The interviews reach 20 professors from the course and 72 formers students answered the forms. The results show the lack of essential conditions to the formation of entrepreneurs; that the professional graduated in administration finds how difficult is to find a job in the restricted market job; that the student has a great interest in making his own business before and during the course, that the level of the information and quality of knowledge about entrepreneurship received by the students must be improved. We conclude that the intention of the course in forming entrepreneurs is interesting and was pioneer in our country, identical to the achievements occurred in the greatest Universities in Brazil. It shows that by the lack of an efficient following of the proposal, the final results , though relevant in terms of quantity, are weak in terms of the quality aspect, once the entrepreneurship asks for the presence of innovation and perception of different opportunities in business and the setting up of companies by the formers students is repetition of what already exists in the market. Keywords- entrepreneurship, entrepreneurs, entrepreneurship teaching, entrepreneurship education.

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1. INTRODUÇÃO 1.1 Contextualização A história do desenvolvimento humano é marcada por acontecimentos que, abertamente apoiados

ou não pela sociedade, estimularam o desenvolvimento de idéias, concepções e conceitos,

modificando profundamente o modo de pensar e agir da civilização. Ao analisar-se

detalhadamente cada período histórico percebe-se com clareza que, ao longo dos anos, vários

fatos, inventos e descobertas, desencadearam significativas e irreversíveis alterações nos âmbitos

econômico, social e político. Como já ocorreu em outras épocas, o momento atual é bastante

difícil, haja vista os graves problemas que a sociedade contemporânea enfrenta, mas também é

extraordinário, pois mesmo repleto de incertezas e interrogações oferece incontáveis

oportunidades.

Em todas as situações de crises por que passou a humanidade, sempre se buscaram soluções para

resolver ou amenizar suas causas e problemas. O desenvolvimento da civilização geralmente

acontece quando surgem novas forças que equilibram a situação existente e projetam condições

para a transformação. A necessidade de sobrevivência, a eterna insatisfação dos indivíduos com a

estagnação e a ilimitada capacidade do desenvolvimento humano são alguns dos elementos que

contribuem para o rompimento dos obstáculos e dificuldades (GRAMIGNA, 1995, p.3).

Analisando-se as alterações ocorridas no mundo dos negócios, decorrentes da inserção da

sociedade do conhecimento e da globalização da economia, verifica-se a elevação no nível de

problemas relacionados ao emprego e à sobrevivência das empresas. As organizações

constataram a necessidade de atualização constante, priorizando o acesso às informações e às

novas tecnologias, objetivando, com a melhoria da produtividade, adquirir vantagem competitiva.

A questão do emprego é hoje um grande problema que atinge a maioria das nações, haja vista que

a desenfreada busca pela competitividade tem obrigado as organizações a optarem pela revisão de

processos, reanálise de estruturas e readequação de estratégias, com o objetivo específico de

alcançar maior lucratividade em decorrência da redução de custos. Clouse (1997, p.39) afirma

que como resultado destas fusões, readequações ou reduções, legalizou-se a implementação da

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dispensa de milhares de trabalhadores. Em muitos países, o aprimoramento tecnológico está

colocando o trabalho humano em segundo plano e as vagas no mercado de trabalho são

insuficientes para absorver os enormes contingentes de recursos humanos disponíveis na

sociedade. Portanto, não é de se estranhar que constantemente ocorram protestos em diversas

partes do mundo contra o processo de globalização, principalmente pelos problemas sociais que

as mudanças nas relações de trabalho estão atualmente ocasionando.

O ambiente mundial de negócios caracteriza-se pela acirrada competição mercadológica,

implicando um significativo quadro de fusões e aquisições, desregulamentações e privatizações.

Pode-se incluir ainda nesse quadro a mudança radical no perfil dos consumidores que

abandonaram suas características passivas e passaram a exigir mais os seus direitos, optando por

produtos de melhor qualidade e com preço acessível. Para que as empresas possam acompanhar

esta situação, Bethlem (1999, p.114) registra que a partir do início deste milênio as organizações

estão entrando numa era de competência e competição, tratando estes fatores como fundamentais

para a sobrevivência, uma vez que o mercado será cada vez mais exigente quanto à qualidade e

agilidade no fornecimento de produtos e serviços.

Diante deste cenário em constantes transformações, observa-se a conturbada situação da

economia mundial, na qual as organizações têm sido obrigadas a rever seu relacionamento com o

ambiente externo. Agora elas estão tentando encontrar respostas e buscando alinhar

continuamente seus produtos e processos, de forma a manter uma atuação que atenda às

necessidades dos clientes, objetivando garantir assim a sobrevivência e possibilitar oportunidades

de crescimento. Para enfrentar tão complexa situação, as organizações passaram a buscar

vantagem competitiva e isto se traduz pela inovação tecnológica, aprendizagem organizacional e

produtividade, que tem sido fatores preponderantes, com sua eficácia fortemente vinculada à

redução de custos.

A inovação adquire tamanha relevância atualmente que muitas empresas, na incapacidade de

implantá-la, preferem adquirir concorrentes ou eliminar a possibilidades de entrantes através de

grandiosas fusões, representando verdadeiros oligopólios em determinados setores. A

globalização dos mercados, representada pela formação dos blocos econômicos, aliada à

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inovação tecnológica, está possibilitando a construção de um ambiente que também afeta o

Brasil e desafia o administrador, portanto, de acordo com Coltro (1999), faz-se necessário que o

administrador prepare-se para enfrentar o futuro.

Para enfrentar estas graves questões da sociedade contemporânea, que interferem tanto no campo

econômico como nas áreas tecnológica e social, uma das alternativas que gradativamente vêm

merecendo destaque e tem encontrado respaldo na comunidade acadêmica internacional é a

disseminação da cultura empreendedora. Assim, a importância da criação de novos negócios e da

qualificação das pessoas interessadas em iniciar um negócio próprio tem atraído a atenção de

universidades, governos e instituições privadas, sinalizando que o empreendedorismo está sendo

considerado uma verdadeira revolução. Estes argumentos encontram respaldo em Drucker (1987,

p.349), quando categoricamente destaca que:

a inovação e o espírito empreendedor são, portanto, necessários na sociedade tanto quanto na economia; na instituição de serviço público tanto quanto em empresas privadas [...] O que precisamos é de uma sociedade empreendedora, na qual a inovação e o empreendimento sejam normais, estáveis e contínuos. Exatamente como a administração se tornou o órgão específico de todas as instituições contemporâneas, e o órgão integrador da nossa sociedade de organizações, assim também a inovação e o empreendimento tornar-se-ão uma atividade vital, permanente e integral em nossas organizações, nossa economia e nossa sociedade.

Nos países mais desenvolvidos o capital financeiro, a educação e a tecnologia sustentam

distribuições eqüitativas de renda, gerando patamares elevados de qualidade de vida. Nesses

países o ensino do empreendedorismo tem se tornado matéria obrigatória nos currículos escolares

do ensino básico, médio e superior, como fonte mantenedora e propulsora da economia e,

conseqüentemente, como forma de geração e manutenção de postos de trabalho.

Dornelas (2001, p.25) registra que embora o ensino do empreendedorismo no Brasil tenha se

instaurado há menos de uma década, o país tem se destacado no assunto e nossas condições

culturais e sócio-econômicas, aliadas a ações recentemente desenvolvidas, permitem indicar que

esta tendência irá se solidificar com o decorrer do tempo.

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1.2 Tema e Problema de Pesquisa No Brasil os cursos de graduação em administração tradicionalmente organizam seus currículos

fortalecendo características que visam à formação de profissionais para atuarem em grandes

empresas. Acabam, então, remetendo os jovens graduados à luta pela procura de emprego em

cargos gerenciais ou intermediários na área administrativa de empresas já consolidadas, onde

tentarão utilizar e praticar os ensinamentos recebidos na Universidade. Segundo Kanitz (1994),

os cursos de administração buscam preparar bons executivos para gerenciarem organizações de

grande porte e ainda não estão adequados para formar pessoas que possam criar e desenvolver

com competência novas empresas. Dolabela (1999) confirma essa situação alegando que os

valores introduzidos na educação formal brasileira em todos os níveis de ensino possuem a

intenção de preparar futuros empregados, sendo que o nosso ensino universitário privilegia o

enfoque em grandes corporações, apresentando reduzida interação com o meio empresarial.

Partindo dos pressupostos que indicam a ocorrência de grandes transformações no campo

econômico e social, envolvendo o desenvolvimento das organizações e provocando mudanças na

educação, aliado ao fato de que os cursos brasileiros de graduação em administração não

preparam as pessoas para serem empreendedoras, acredita-se que a Universidade deve exercer

papel de vanguarda na disseminação do empreendedorismo.

Este trabalho teve como tema de pesquisa estudar a proposta de formação de empreendedores no

Curso de Administração da Universidade Estadual de Londrina e verificar se estão surgindo

contribuições para o desenvolvimento de novos empreendimentos em decorrência da realização

do estágio curricular na modalidade de Projeto de Criação de Empresa - PCE. Buscou-se então

extrair importantes reflexões preliminares que poderão futuramente contribuir para a discussão e

sensibilização da cultura empreendedora no ambiente universitário e principalmente dentro do

citado curso.

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1.3 Justificativa e Relevância O Curso de Administração da Universidade Estadual de Londrina foi criado em 13.09.68 e

reconhecido pelo Decreto Federal nº 74.018 de 07.05.74. Durante mais de duas décadas, firmou-

se como referência regional da graduação, tendo formado aproximadamente 2300 profissionais e

contribuído significativamente para a implantação e desenvolvimento das empresas da região de

Londrina.

Nos anos 90 a intensa abertura de cursos de administração no País também se fez sentir na região

de Londrina, que passou a contar com várias opções, resultando numa oferta excessiva de

profissionais da área, tornando acirrada a disputa pelas vagas no mercado de trabalho. Em

pesquisa nos sites do Conselho Regional de Administração e das Instituições de Ensino Superior,

constatou-se que a região conta atualmente com oito cursos de graduação na área de

administração, oferecendo anualmente em seus vestibulares 1.260 vagas. No quadro 1, estão

relacionadas as Instituições de Ensino Superior inseridas na região, os cursos de graduação na

área de Administração existentes e o número de vagas ofertadas.

De acordo com dados da Prefeitura, o Município de Londrina possui 447.065 habitantes e um

número estimado de 93.557 empregos no setor formal. No período de 1994 a 2000, o crescimento

industrial foi de 35% passando de 2.244 para 3.485 empresas. No comércio a expansão do

número de estabelecimentos girou em torno de 27%, mudando de 10.424 para 14.372

estabelecimentos. Segundo os dados da Prefeitura, o setor que mais evoluiu em quantidade de

estabelecimentos foi a área de serviços, passando de 8.050 para 13.612 estabelecimentos,

representando um crescimento em torno de 70% (LONDRINA, 2002).

Mesmo com os números apresentados que denotam o crescimento da economia da região de

Londrina, acredita-se que a oferta de Administradores por parte das Instituições de Ensino

Superior (ver quadro 1) é excessiva. São notórios e preocupantes os índices de desemprego no

Brasil e na região, portanto pode-se prever uma situação difícil para os anos vindouros, já que a

economia regional não possui condições de absorver anualmente cerca de 1.000 profissionais

graduados em Administração ou em áreas correlatas. Deve-se repensar a oferta estabelecida pelas

Universidades e Faculdades, bem como incrementar ações no sentido de estimular o crescimento

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econômico regional, possibilitando o surgimento de novas empresas que propiciem campo de

atuação para os egressos dos cursos superiores.

QUADRO 1 - Número de vagas ofertadas nos cursos de administração na região de Londrina, em agosto de 2002

Instituição Localização

Curso(s) existente(s) Oferta de

vagas Universidade Estadual de

Londrina – UEL

Londrina Administração 160

Universidade do Norte do

Paraná - UNOPAR

Londrina Administração

Marketing e Propaganda

250

Centro Universitário

Filadélfia – UNIFIL

Londrina Administração: Sistemas de Informações

Gerenciais, Gestão de Recursos Humanos,

Marketing e Gestão Empresarial

250

Faculdade Metropolitana

de Londrina – UMP

Londrina Administração : habilitações em Marketing

e Gestão de Negócios Internacionais

300

Pontifícia Universidade

Católica – PUC

Londrina Administração 30

União Norte Paranaense

de Ensino - UNINORTE

Londrina Administração: habilitação em Marketing 120

Universidade do Norte do

Paraná – UNOPAR

Arapongas

Administração 50

Faculdade Paranaense -

FACCAR

Rolândia Administração 100

Total de vagas 1.260

Fonte: elaboração do autor, com base em informações coletadas nas páginas das Instituições na Internet, em agosto de 2002

Como se não bastasse essa oferta exagerada de administradores, os últimos anos têm sido

marcados pela competição mercadológica e globalização da economia. Por globalização entende-

se a concentração da economia dos países em grandes blocos econômicos e o fortalecimento de

empresas transnacionais. Os efeitos desse fenômeno obrigaram a maioria das empresas a

reavaliarem suas estruturas e processos, implicando na redução de níveis hierárquicos, revisão de

métodos, implantação de softwares de gestão e extinção de postos de trabalho.

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Uma das características do mundo do trabalho é a transformação da composição da mão-de-obra

e atualmente constata-se o declínio do trabalhador industrial, da mesma forma que se verificou a

exclusão do contingente humano ocupado na agricultura no início do século XX e a expansão dos

empregos no setor de serviços. Na obra de Robbins (2000) verifica-se que após a segunda guerra

mundial houve o início da migração dos trabalhadores da indústria para o setor de serviços.

Segundo esse autor, foi significativo o aumento do número de postos de trabalho na área de

serviços nos últimos 25 anos.

Na década que se inicia, mais do que nunca se tem destacado o problema do desemprego,

transformando-se num dos maiores fenômenos do mundo contemporâneo e alcançando

proporções desoladoras. Neste sentido, Rifkin (1995, p.9) afirma que:

[...] em nenhum lugar o efeito da revolução do computador e da reengenharia do trabalho é tão acentuado quanto no setor industrial [...] e enquanto o trabalhador industrial está sendo excluído do processo econômico, muitos economistas e políticos continuam se apegando à esperança de que o setor de serviços e o trabalho administrativo serão capazes de absorver os milhões de trabalhadores desempregados à procura de trabalho. Suas esperanças serão provavelmente esmagadas.

Ratificando o caótico panorama da forma tradicional do trabalho e mostrando um cenário ainda

mais sombrio, Bridges (1995, p.8) afirma que “[...] não são apenas os empregos na área de

produção que estão desaparecendo. Proporcionalmente, os empregos administrativos estão

desaparecendo ainda mais rapidamente, e outro tanto está ameaçado”.

Por outro lado, com freqüência percebe-se no meio empresarial a carência de profissionais

altamente qualificados, requisitados e muito bem remunerados, principalmente nas áreas que

envolvem tecnologia avançada. Também deve-se registrar o fortíssimo impacto do desemprego

ocorrido nos últimos dez anos, envolvendo setores tradicionais da economia, como o segmento

bancário e o metalúrgico. Observando-se o crescimento da população brasileira e analisando-se o

grande contigente de pessoas que buscam ingressar no mercado de trabalho formal, pode-se

imaginar o gigantesco desafio de geração de empregos que o País está enfrentando. Tal situação,

aliás, é semelhante a da maioria dos países com economia equilibrada e situação política

estabilizada.

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18

Pressionadas por essa complexa situação, muitas nações, organismos internacionais e instituições

macrosocietárias têm dirigido sua atenção para as pequenas empresas, voltando a reconhecer os

seus significados e contribuições para a geração de riqueza. Assim, conforme citado em Siqueira

e Guimarães (2000, p.2),

[...] se a evolução capitalista teve na concentração e formação dos grandes conglomerados econômicos um dos seus baluartes, após a crise do petróleo, as pequenas empresas começaram a representar importante segmento na retomada do crescimento e da geração de empregos em todo o mundo.

Dados apresentados em Dornelas (2001) mostram que estudos recentes nos Estados Unidos

indicaram que nas últimas décadas os novos empregos estão surgindo nas novas companhias,

principalmente nas empresas de alta tecnologia.

Desde 1980, as quinhentas maiores empresas listadas pela Revista Fortune eliminaram mais de 5 milhões de postos de trabalho. Em contrapartida, mais de 34 milhões de novos postos de trabalho foram criados nas pequenas empresas. Em 1996, as pequenas empresas americanas criaram 1,6 milhão de novos postos de trabalho (DORNELAS, 2001, p.24).

Na pesquisa de Finkle e Deeds (2001, p.615) observa-se que em 1998 a SBA – Small Business

Administration constatou que nos Estados Unidos os pequenos negócios empregavam 55,6% dos

99,2 milhões de empregados do setor privado e que contribuíam com 47% de toda a venda do

país, sendo responsáveis por 51% do PIB privado.

A criação de empresas tem sido bastante difundida no Brasil. Segundo Dornelas (2001, p.16),

dados levantados pelo SEBRAE demonstram que entre 1990 e 1999 foram constituídas cerca de

4,9 milhões de empresas no país, havendo 2,7 milhões de microempresas dentre aquelas que

foram criadas. Esse número impressiona, já que representa 55% dos novos empreendimentos

iniciados na última década. Analisando-se esses números, o autor citado salienta que o momento

é oportuno para a realização de estudos e pesquisas a respeito de empreendedorismo, uma vez

que a maioria dos negócios criados no Brasil é concebida por pequenos empresários.

Kruglianskas (1996) estima que as pequenas empresas respondem por cerca de 21% do PIB e

pela absorção de aproximadamente 70% da mão-de-obra ocupada no País. Atualmente há um

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enorme esforço governamental no sentido da disseminação da cultura empreendedora e de

financiamento de novos empreendimentos, com objetivo de assegurar trabalho e renda para a

população. Outro programa que tem tido grande repercussão é o de incubadoras de indústrias,

implantado em vários municípios. Este programa tem como objetivos principais reduzir os

índices de mortalidade de pequenas empresas nos seus primeiros anos e estimular a utilização

dos recursos humanos disponíveis.

O Paraná sempre se caracterizou como um Estado essencialmente agrícola e a riqueza da região

de Londrina também foi conquistada através da agropecuária e mantida pela excelente estrutura

de comércio, ótima prestação de serviços e pelo grande número de pequenas e médias indústrias.

A atração de indústrias de ponta para a cidade, tão desejada e divulgada nos últimos anos, é

insuficiente para absorver toda a força de trabalho disponível, tornando óbvias as causas dos

graves problemas sociais enfrentados.

Atualmente ocorre uma queda na oferta de trabalho por parte das organizações de grande porte

(ROBBINS, 2000; DORNELAS, 2001; DOLABELA, 1999) e a busca de alternativas de solução

para minimizar o problema impulsionou as Universidades a repensarem suas relações com a

sociedade e a intervirem no ambiente, dando ênfase ao desenvolvimento da capacidade

empreendedora.

Dentro desse enfoque, Filión (1999, p.1) afirma que:

[...] na Grã-Bretanha, por exemplo, muito foi dito sobre proprietários gerentes até os anos 80, mas desde então as atenções têm-se voltado cada vez mais para os empreendedores [...] nos Estados Unidos, ambos vêm sendo tratados com atenção, mas os empreendedores têm sido favorecidos no campo de pesquisa. [...] mais de mil publicações surgem anualmente no campo do empreendedorismo, em mais de 50 conferências e 25 publicações especializadas.

A criação de empresas tem se mostrado como um grande marco no mundo dos negócios, já que

as pessoas estão iniciando empreendimentos num rítmo nunca visto anteriormente. Segundo

Robbins (2000, p.6), “isso está ocorrendo em muitos lugares como América Latina, Estados

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Unidos, Canadá, Coréia do Sul e China, além de países do leste europeu como República Checa,

Hungria e Rússia”. O autor registra que a magnitude da mudança é tão significativa que só nos

Estados Unidos a quantidade de novos negócios passou de 90 mil em 1950 para mais de 2

milhões no final da década de 90.

A importância dos empreendedores também é destacada por Roure (2001, p.12) quando analisa o

surgimento de empresas e a criação de empregos na Europa, embasado na pesquisa realizada pela

European Foundation for Entrepreunership Research, abrangendo o período de 1989 a 1994.

Kets de Vries (2001, p.4), analisando algumas das características do empreendedor, assinala que

“os empreendedores são a força motriz da economia de qualquer país; eles representam a riqueza

de uma nação e seu potencial para gerar empregos”.

Para acompanhar tal evolução o Departamento de Administração da UEL iniciou discussões

sobre empreendedorismo no começo da década de 1990, com a pretensão de introduzir o

empreendedorismo como um dos pilares da formação dos administradores do novo milênio. Tais

intenções encontram-se registradas nos seguintes documentos:

a) atas das reuniões departamentais ocorridas no segundo semestre de 1989;

b) projeto de implantação do novo currículo elaborado pela comissão de

professores em 1991;

c) proposta de reformulação curricular realizada pelo colegiado do curso em

1994;

d) implantação do novo currículo do curso em 1995, aprovado pelo Conselho

de Ensino, Pesquisa e Extensão e sancionado pela Resolução nº 2649 de

25.08.94.

Atualmente observa-se na seção Objetivos do Curso de Administração do Catálogo dos

Cursos de Graduação da Universidade Estadual de Londrina, a intenção oficial de formar

profissionais capacitados para atuar “como empreendedores e gestores de negócios próprios,

com atenção voltada para as oportunidades de mercado e explorando atividades num enfoque

inovador” (UNIVERSIDADE ESTADUAL DE LONDRINA, 2001, p.341).

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21

Assim, dentro do atual currículo está sendo ofertada a disciplina Criação e Administração de

Pequena e Média Empresa, buscando formar administradores capazes de iniciar um

empreendimento e sedimentar o profissional nesse novo ambiente de negócios. O estágio

curricular passou a contar com a modalidade do Projeto de Criação de Empresa (ver tabela 1),

proporcionando ao aluno a oportunidade de elaborar um plano de criação de empresa.

TABELA 1 - Evolução dos estágios em Projeto de Criação de Empresa

Ano de

conclusão

Número de

estágios

realizados

Número de Projetos

de Criação de

Empresas realizados

% de Projetos

de criação de

empresas

1996 57 20 35

1997 89 33 37

1998 126 38 30

1999 122 49 40

2000 127 64 50

2001 149 57 38

2002* 158 63 40

Total 828 324 39

* término previsto para novembro/2002

Fonte: Divisão de Estágios e Convênios/UEL

Neste contexto, a relação entre o estudo de empreendedorismo, o estágio de criação de empresa e

a possibilidade da geração de novos negócios adquire muita importância. Em primeiro lugar,

porque está voltado aos interesses do curso, que é o de propiciar conhecimento sobre as

tendências mundiais da participação econômica e social das pequenas e médias empresas,

despertando nos acadêmicos o interesse pela atividade empresarial como opção profissional.

Num segundo plano, constatou-se que o projeto pedagógico vem sendo executado há oito anos e

julgou-se oportuno e necessário estudar, pesquisar e questionar a proposta pedagógica,

analisando os resultados e retomando as discussões a respeito.

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1.4 Objetivos do Estudo O objetivo principal da pesquisa foi analisar a proposta de formação de empreendedores no Curso

de Graduação em Administração da Universidade Estadual de Londrina, uma vez que a intenção

de desenvolvimento da capacidade empreendedora é uma das metas que integram o atual projeto

pedagógico.

Os objetivos específicos desta pesquisa foram:

a) Avaliar a percepção dos atuais professores do curso de Administração e

dos egressos dos últimos quatro anos quanto ao mercado de trabalho para o

Administrador.

b) Identificar os fatores que motivaram os egressos a optar pela modalidade

de estágio em criação de empresa.

c) Avaliar o nível de informações e a qualidade do conhecimento sobre

empreendedorismo recebidos pelos acadêmicos, mediante verificações do

conteúdo programático da disciplina de criação de empresas e do estágio

curricular realizado na modalidade Projeto de Criação de Empresa.

d) Analisar as contribuições do curso para o surgimento de novos negócios,

verificando se os egressos estão atuando como empreendedores e gestores

de negócios próprios.

1.5 Estrutura da Dissertação Objetivando fornecer uma melhor compreensão sobre o conteúdo e a distribuição dos assuntos, a

dissertação foi organizada de acordo com o quadro 2.

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QUADRO 2 - Organização da dissertação

Capítulos Título e descrição do conteúdo

Capítulo 1 Introdução Contextualização do trabalho, apresentação do tema e problema da pesquisa, justificativa, relevância do estudo e objetivos da pesquisa

Capítulo 2 Metodologia Apresentação detalhada da metodologia desenvolvida na realização do trabalho, envolvendo delineamento e perguntas de pesquisa, população e amostra, coleta e análise dos dados

Capítulo 3 Revisão da literatura Levantamento de literatura sobre empreendedor e empreendedorismo, empreendedorismo como campo de estudo e como disciplina, educação empreendedora no mundo e no Brasil, universidade e empreendedorismo

Capítulo 4 Análise e discussão dos resultados Apresenta os resultados obtidos nas entrevistas com professores do curso, na pesquisa com ex-alunos e sobre as condições oferecidas pelo curso

Capítulo 5 Conclusões Apresenta os resultados finais do trabalho relacionado-os com aspectos dos objetivos do estudo, com as perguntas de pesquisa, metodologia e revisão da literatura. Aponta sugestões e propostas para futuras pesquisas.

2. METODOLOGIA 2.1 Introdução

Neste capítulo está descrita a metodologia aplicada na pesquisa, envolvendo o delineamento do

trabalho, perguntas de pesquisa, população e amostra, instrumentos de coleta de dados e análise

das informações. A metodologia foi elaborada de acordo com a literatura específica, a

justificativa e relevância do tema, bem como embasada nos objetivos geral e específicos

apresentados no capítulo anterior.

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2.2 Delineamento da Pesquisa

A pesquisa caracteriza-se como estudo de caso, pois conforme estabelece Yin (2001) os estudos

de casos colaboram de modo incomum para o entendimento dos fenômenos individuais,

organizacionais, sociais e políticos, e por isso vêm sendo bastante utilizados na área das ciências

sociais, sendo adequada sua utilização quando se pretende examinar acontecimentos

contemporâneos através de entrevistas e observações diretas, sem que o pesquisador se utilize da

manipulação de comportamentos.

Para Yin (2001, p.27), embora possam se sobrepor existem diferenças entre pesquisas históricas e

estudo de caso, onde o “poder diferenciador do estudo de caso é a sua capacidade de lidar com

uma ampla variedade de evidências – documentos, artefatos, entrevistas e observações – além do

que pode estar disponível no estudo histórico convencional”. Na opinião do autor citado, o estudo

de caso como estratégia de pesquisa é abrangente, envolvendo desde o planejamento de

abordagens específicas, até a coleta e análise de dados. Segundo o autor alguns dos melhores e

mais famosos estudos de casos já realizados foram exploratórios e descritivos, o que torna válida

as estratégias metodológicas apresentadas neste estudo.

Para Pozzebon e Freitas (1997, p.3) o estudo de caso é definido como “aquele que examina um

fenômeno em seu ambiente natural, pela aplicação de diversos métodos de coleta de dados,

visando obter informações de uma ou mais entidades. Essa estratégia de pesquisa possui caráter

exploratório”.

Complementando-se as definições da pesquisa realizada, adotou-se principalmente a classificação

estabelecida por Cooper e Schindler (1995) que se utilizam de várias descrições fundamentais,

apresentadas na seqüência. De acordo com os autores citados, o estudo realizado foi de caráter

exploratório, pois este tipo de pesquisa tem como objetivo imediato desenvolver perguntas de

pesquisa, sendo particularmente útil quando falta ao pesquisador uma idéia clara dos problemas

que ele encontrará durante a investigação.

Este entendimento também é defendido por Gil (1999), o qual relata que os estudos exploratórios

são uma primeira fase de futura investigação mais ampla e seu resultado final torna-se uma

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questão melhor esclarecida, podendo ser novamente sistematizada e estudada. Para este autor,

As pesquisas exploratórias têm como principal finalidade desenvolver, esclarecer e modificar conceitos e idéias, tendo em vista, a formulação de problemas mais precisos ou hipóteses pesquisáveis para estudos posteriores [...] habitualmente envolvem levantamento bibliográfico e documental, entrevistas e estudos de casos” (GIL, 1999, p.43).

Há posicionamento semelhante em Marconi e Lakatos (1999), que recomendam o uso de diversos

procedimentos de coleta de dados e análises tanto quantitativas quanto qualitativas, estabelecendo

que os estudos exploratórios,

[...] são investigações de pesquisa empíricas cujo objetivo é a formulação de questões ou de um problema, com tripla finalidade: desenvolver hipóteses, aumentar a familiaridade do pesquisador com o ambiente, fato ou fenômeno para a realização de uma pesquisa futura mais precisa ou modificar e clarificar conceitos (MARCONI; LAKATOS, 1999, p.87)

No que se refere ao método de coleta de dados, conforme Cooper e Schindler (1995) a pesquisa

classifica-se como modelo interrogativo de comunicação, pois objetivou-se conhecer e questionar

a respeito do tema de estudo, através da coleta de dados e informações, mediante meios pessoais

(entrevistas) e impessoais (questionários e análise de documentos).

Quanto ao controle das variáveis pelo pesquisador, a pesquisa caracteriza-se como ex post facto

como estabelecem Cooper e Schindler (1995), pois desejou-se somente relatar o que aconteceu

ou está ocorrendo a respeito das condições de formação de empreendedores no Curso de

Administração da UEL, após o acontecimento dos fatos, sem manipular ou controlar as variáveis.

Em termos do objetivo do estudo, a pesquisa enquadra-se como descritiva e ao mesmo tempo

causal, conforme as definições de Cooper e Schindler (1995). É descritiva, pois pretendeu-se

levantar as características de uma proposta e a avaliação de um determinado grupo de indivíduos

dentro de uma situação específica, sem a obrigação de explicá-los. É causal, pois além de estudar,

procurou-se compreender e interpretar as relações entre algumas variáveis associadas ao tema.

De acordo com Cooper e Schindler (1995) o estudo realizado foi transversal, uma vez que

alcançou um período definido de tempo, representado pelos anos de 1998, 1999, 2000 e 2001

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(pesquisa com egressos do curso) e 1989 a 2002 (pesquisa documental e entrevistas com

docentes), demonstrando a situação existente ao final do período estabelecido. O ambiente da

pesquisa segundo os autores citados, caracteriza-se como condições de campo ou empíricas, pois

a realização do estudo foi conduzida coletando-se dados e informações em situação real.

2.3 Perguntas de Pesquisa Com base na revisão da literatura e valendo-se posteriormente da pesquisa documental,

realização de entrevistas e aplicação de questionários, a partir dos quais foram coletados dados

históricos, informações relevantes e posicionamento de respeitados autores acerca do assunto,

buscou-se encontrar respostas para os seguintes questionamentos:

a) O curso de graduação em Administração da Universidade Estadual de

Londrina está oferecendo as condições necessárias para despertar nos

alunos a capacidade empreendedora?

b) Os egressos estão encontrando oportunidades de trabalho para atuar como

Administradores?

c) Os alunos estão realizando o estágio na modalidade de Projeto de Criação

de Empresa apenas como uma obrigatoriedade acadêmica de conclusão de

curso, sem preocupação com a implantação real do projeto?

d) A opção pelo Projeto de Criação de Empresa desperta o interesse dos

alunos apenas por se tratar de uma novidade?

e) Os alunos optam pela realização do Projeto de Criação de Empresa, pois

entendem que é a modalidade de estágio mais fácil de ser realizada?

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f) Os alunos que escolhem o Projeto de Criação de Empresa como estágio de

conclusão de curso estão realmente interessados em iniciar um negócio

próprio?

g) A realização da disciplina Criação e Administração da Pequena e Média

Empresa e a execução do Projeto de Criação de Empresa possibilitam uma

aprendizagem singular, da qual o aluno poderá tirar importantes reflexões e

conclusões que tornar-se-ão úteis quando efetivamente for iniciar o seu

negócio próprio?

h) Os alunos que escolhem o Projeto de Criação de Empresa como estágio de

conclusão de curso estão efetivamente implantando negócios próprios e os

resultados indicam que a Universidade está cumprindo sua função

transformadora?

Para favorecer a melhor compreensão da metodologia da pesquisa, procurou-se estabelecer as

relações entre os objetivos (geral e específicos) e as perguntas de pesquisa com os

questionamentos inseridos nos instrumentos de pesquisa (entrevistas e questionários). Estes

relacionamentos estão demonstrados no quadro 3.

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QUADRO 3 - Relações dos objetivos (gerais e específicos) e perguntas de pesquisa com instrumentos de coleta de dados

Objetivo geral

Pergunta de pesquisa Entrevista Questionário

Analisar a proposta de formação de empreendedores no Curso de Graduação em Administração da Universidade Estadual de Londrina

O curso de graduação em Administração da Universidade Estadual de Londrina está fornecendo as condições necessárias para despertar nos alunos a capacidade empreendedora?

Pergunta nº 2 Pergunta nº 8 Pergunta nº 9 Pergunta nº 10 Pergunta nº 11 Pergunta nº 12

Questão nº 15 Questão nº 16 Questão nº 17 Questão nº 21 Questão nº 22 Questão nº 25

Objetivos específicos Perguntas de pesquisa Entrevista

Questionário

Avaliar a percepção dos professores e egressos do curso de Administração dos últimos quatro anos, quanto ao mercado de trabalho para o Administrador

Os egressos estão encontrando oportunidades de trabalho para atuar como administradores?

Pergunta 1 Questão 5 Questão 6 Questão 7 Questão 8 Questão 9 Questão 10 Questão 14

Identificar os fatores que motivaram os egressos a optarem pela modalidade de estágio de criação de empresas, avaliar suas dificuldades e verificar se suas expectativas foram alcançadas

Os alunos estão realizando o estágio na modalidade de PCE apenas como uma obrigatoriedade acadêmica de término de curso, sem preocupação com a real implantação do projeto? A opção pelo PCE desperta o interesse dos alunos apenas por se tratar de uma novidade? Os alunos optam pela realização do PCE por entenderem que é a modalidade de estágio mais fácil de ser realizada?

Pergunta 2 Pergunta 4 Pergunta 9 Pergunta 10 Pergunta 11

Questão 11 Questão 12 Questão 13

Avaliar o nível de informações e a qualidade do conhecimento sobre empreendedorismo recebidos pelos acadêmicos, mediante verificações do conteúdo programático da disciplina de criação de empresas e do estágio curricular realizado na modalidade Projeto de Criação de Empresa.

A realização da disciplina Criação e Administração da Pequena e Média Empresa e a execução do estágio de criação de empresa possibilitam uma singular aprendizagem, da qual o aluno poderá tirar importantes reflexões e conclusões que tornar-se-ão úteis quando efetivamente for iniciar seu negócio próprio?

Pergunta 9 Pergunta 10

Questão 11 Questão 12 Questão 18 Questão 19

Analisar as contribuições do curso para o surgimento de novos negócios, verificando se os egressos estão atuando como empreendedores e gestores de negócios próprios.

Os alunos que escolheram o Projeto de Criação de Empresa como estágio de término de curso, estão realmente interessados em iniciar um negócio?

Pergunta 2 Pergunta 8 Pergunta 9 Pergunta 11 Pergunta 12

Questão 20 Questão 21 Questão 22 Questão 23 Questão 24 Questão 25

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2.4 População e Amostra Para conhecer os motivos e objetivos do curso ao implantar a modalidade de Projeto de Criação

de Empresa no estágio curricular e propiciar meios para análise das condições oferecidas aos

acadêmicos para o desenvolvimento da capacidade empreendedora, realizou-se entrevistas com

os docentes do Departamento de Administração da Universidade Estadual de Londrina que

ministram aulas ou são orientadores de estágio no curso de Administração.

Dos 34 (trinta e quatro) docentes integrantes do corpo docente do Departamento, foram

inicialmente excluídos da pesquisa 10 (dez) professores, pelos seguintes motivos: cinco

contratados por prazo determinado, em regime de CLT – Consolidação das Leis do Trabalho;

dois docentes que atuam somente junto ao curso de Secretariado Executivo; um que está

temporariamente afastado das funções; outro que está licenciado para cursar pós-graduação e,

por motivos óbvios, o próprio autor desta dissertação.

Portanto, foram consultados para a pesquisa 24 (vinte e quatro) professores concursados,

integrantes da carreira, lotados no Departamento de Administração da UEL e que atualmente

ministram disciplinas no curso. Os convites para participação na pesquisa foram enviados por e-

mail, conforme relação fornecida pela secretaria do Departamento, sendo que 20 (vinte)

professores responderam favoravelmente ao pedido, o que representou uma amostra equivalente a

83% do universo de pesquisa. Com essas informações, foram marcados horários e locais para

realização das entrevistas.

Para a pesquisa com os egressos, estabeleceu-se como população o número total de ex-alunos do

Curso de Administração da Universidade Estadual de Londrina que desenvolveram o estágio

curricular na modalidade Projeto de Criação de Empresa, cujas formaturas aconteceram dentro do

período de 1998 a 2001, somando 208 (duzentas e oito) pessoas, segundo dados fornecidos pela

Divisão de Estágio e Convênios do Centro de Estudos Sociais Aplicados da UEL.

Depois de obtidos os dados (endereços, número de telefones e e-mail), iniciaram-se os contatos

com as pessoas a serem pesquisadas. Nesse momento constatou-se uma grande desatualização

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das informações e o distanciamento da Universidade com os ex-alunos, dificultando a coleta de

dados. Mesmo assim, foi possível enviar o instrumento de pesquisa para 131 dos 208 indivíduos

constantes da população a ser consultada, resultando numa significativa amostra de 63%. Dos

131 pesquisados houve retorno de 72 questionários, refletindo numa amostra representativa

equivalente a 34% do universo de pesquisa. O maior retorno de questionários foi dos egressos

que terminaram o curso em 2001 (23 questionários) e 2000 (27 questionários), muito

provavelmente pelo fato dos endereços serem mais recentes.

Verificou-se que a maioria da amostra estudada (59,72%) é composta de homens (43), 40,28% de

mulheres (29), sendo que 75% dos pesquisados são solteiros (54). Com relação à faixa etária dos

egressos, observou-se que 90% deles (65) tem idade abaixo de 29 anos e 40% possuem até 25

anos. Incluindo-se os egressos que estão com 26 anos, este grupo atinge 62%. Pode-se deduzir

disso que a maioria dos alunos que concluem o curso de administração é formada por jovens, que

alcançam a graduação antes dos 25 anos.

2.5 Coleta de Dados A coleta de dados foi realizada através de fontes de dados primários e secundários, pois, de

acordo com Marconi e Lakatos (1999, p.28), “A investigação preliminar – estudos exploratórios

– deve ser realizada por intermédio de dois recursos: documentos e contatos diretos”. Segundo

estas autoras os principais tipos de documentos são: fontes primárias (dados históricos,

informações, arquivos, registros, correspondências e outros) e fontes secundárias (imprensa em

geral e obras literárias)

As fontes de dados primários, que envolvem os professores do Departamento de Administração,

os egressos do curso e os registros burocráticos, foram exploradas respectivamente através de

entrevistas, questionários e análise de documentos. As fontes secundárias foram abordadas pela

revisão da literatura.

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2.5.1 Entrevistas

A entrevista é uma técnica amplamente utilizada nas ciências sociais. Best (apud MARCONI;

LAKATOS, 1999, p.95) alega que a entrevista é um excelente instrumento para a obtenção de

dados na investigação social, especialmente quando realizada por entrevistador experiente, pois

através da sistematização das comunicações proporciona maior compreensão das informações

obtidas.

Para Yin (2001:114) as entrevistas constituem uma fonte essencial de evidências para estudos de

casos, devendo ser registradas e interpretadas por entrevistadores específicos e por respondentes

bem informados, podendo trazer importantes interpretações para uma determinada situação. O

referido autor esclarece que as entrevistas podem ser gravadas, pois “as fitas certamente

fornecem uma expressão mais acurada do que qualquer outro método”.

Os objetivos da entrevista, segundo Selltiz (apud MARCONI; LAKATOS, 1999, p.95),

envolvem seis aspectos: 1) averiguação dos fatos; 2) determinação das opiniões sobre os fatos; 3)

determinação de sentimentos; 4) descoberta de planos de ação; 5) conduta atual ou passada; 6)

motivos conscientes para opiniões, sentimentos, sistemas ou condutas. As entrevistas realizadas

foram iniciadas de forma estruturada (dirigida), definida por Marconi e Lakatos (1999) como

aquela na qual o entrevistador segue um roteiro previamente estabelecido, contendo uma relação

fixa de perguntas, cuja ordem e redação permanecem invariáveis para todos os respondentes,

permitindo que todos os entrevistados respondam às mesmas questões.

Tal padronização possibilita que as respostas sejam analisadas de acordo com o mesmo grupo de

perguntas e que reflitam somente a diversidade de opiniões. Como as perguntas foram abertas, no

decorrer da conversação a entrevista passou a ser semi-estruturada, dando liberdade para o

entrevistado conduzir a situação para qualquer direção que julgasse relevante, oportunizando ao

pesquisador a ampla exploração da pergunta.

As entrevistas foram gravadas e posteriormente transcritas. As questões foram previamente

elaboradas pelo autor da dissertação em conjunto com o orientador, com base nos objetivos e nas

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perguntas de pesquisa. As questões envolveram assuntos relacionados com o mercado de

trabalho, o projeto pedagógico do curso, discussão e implantação do estágio, introdução da

disciplina específica de criação de empresa, estrutura e recursos existentes, avaliação dos

resultados obtidos, propostas e sugestões de reformulações. O roteiro para a realização das

entrevistas está apresentado no anexo A.

2.5.2 Questionário

O questionário de pesquisa, composto de 26 (vinte e seis) perguntas, contendo questões de

múltipla escolha, fechadas e abertas foi elaborado pelo autor da dissertação, buscando atender aos

objetivos e perguntas de pesquisa. Segundo Gil (1999), alguns autores definem que a quantidade

de perguntas de um questionário não deve ser maior do que 30. Para atender melhor aos objetivos

e perguntas de pesquisa, o questionário foi dividido em seis blocos:

• dados demográficos (perguntas de nº 1 a 4);

• avaliação do mercado de trabalho (perguntas nº 5 a 10);

• motivo da escolha pela modalidade e análise das condições oferecidas pelo curso para o

desenvolvimento da capacidade empreendedora (perguntas nº 11 a 17);

• nível de informações e qualidade do conhecimento sobre empreendedorismo recebidos

(perguntas nº 18 a 20);

• implantação e caracterização do negócio próprio (perguntas nº 21 a 25);

• comentários e sugestões (pergunta nº 26).

O questionário foi submetido a um pré-teste. Malhotra (2001, p.290) afirma que não se deve

aplicar um questionário sem antes fazer uma testagem envolvendo um pequeno número dos

pesquisados. O pré-teste envolveu cinco egressos. O objetivo foi verificar se havia dúvidas no

entendimento das perguntas e eliminar possíveis problemas. Como não se constatou dúvidas, o

questionário foi considerado adequado. O questionário, cujo modelo está apresentado no anexo

B, foi enviado aos egressos do curso definidos como universo de pesquisa através de correio

eletrônico (e-mail). Em alguns poucos casos, onde o pesquisado alegou 0não ter condições de

enviar as respostas através de meio eletrônico, foi utilizado o correio tradicional.

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2.5.3 Pesquisa Documental

Os dados relativos à introdução da modalidade de Projeto de Criação de Empresa no estágio

curricular do curso foram coletados através de pesquisa documental na Universidade Estadual de

Londrina, no Centro de Estudos Sociais Aplicados e no Departamento de Administração. Foram

encontradas atas das reuniões departamentais, nas quais se discutiu a proposta pedagógica do

curso. Obteve-se também o projeto de implantação do novo currículo, elaborado por uma

comissão de professores, a proposta de reformulação curricular realizada pelo colegiado do curso

e a Resolução nº 2649 de 25.08.94 que trata da sua implantação.

2.6 Análise dos Dados A análise dos dados envolveu aspectos quantitativos e qualitativos. Neste sentido, Cooper e

Schindler (1995) estabelecem que os objetivos de uma pesquisa exploratória podem ser

alcançados mediante o uso de diferentes técnicas, podendo ser aplicadas tanto as técnicas

quantitativas como as qualitativas, reforçando que as qualitativas são mais confiáveis dentro de

um estudo exploratório. Portanto, nesta pesquisa os dados e as informações coletadas a partir das

fontes primárias e secundárias foram tratados destas duas formas.

Para a avaliação do teor das entrevistas com os professores utilizou-se a análise de conteúdo. Para

Bardin (1977, p.38), “a análise de conteúdo é um conjunto de técnicas de análise das

comunicações, que utiliza procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das

mensagens.” Triviños (1995, p.160) reforça este conceito, afirmando que a intenção da análise

de conteúdo é “obter indicadores quantitativos ou não, que permitam a inferência de

conhecimentos relativos às condições de produção/recepção (variáveis inferidas) das

mensagens”. Em outras palavras, isto significa que a análise de conteúdo é um meio para estudar

as comunicações entre as pessoas, privilegiando o significado das mensagens.

O tratamento das informações contidas nos documentos foi realizado através de análise

documental que, segundo Bardin (1977, p.45):

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[...] tem por objetivo dar forma conveniente e representar de outro modo essa informação, por intermédio de procedimentos de transformação. O propósito a atingir é o armazenamento sob forma variável e a facilitação do acesso ao observador, de tal forma que esse obtenha o máximo de informação (aspecto quantitativo) com o máximo de pertinência (aspecto qualitativo).

Embora pareçam ter a mesma função, a mesma aparência e efeitos semelhantes, não se deve

confundir a análise de conteúdo com a análise documental. Bardin (1977, p.46) assinala que,

mesmo trazendo aspectos parecidos, existem as seguintes diferenças fundamentais:

a) a documentação trabalha com documentos; a análise de conteúdo com mensagens (comunicação);

b) a análise documental faz-se, principalmente, por classificação-indexação; a análise categorial temática é, entre outras, uma das técnicas da análise de conteúdo; e

c) o objetivo da análise documental é a representação condensada da informação, para consulta e armazenagem; o da análise de conteúdo é a manipulação de mensagens (conteúdo e expressão desse conteúdo), para evidenciar os indicadores que permitam inferir sobre uma ou outra realidade que não a da mensagem.

Para a análise dos dados oriundos da aplicação do questionário foi utilizada a estatística

descritiva através do uso do software MS Excel. Os dados foram agrupados em tabelas contendo

freqüências e porcentagens. Posteriormente para o tratamento das informações elaborou-se

histogramas, descrições e comentários sobre as distribuições de freqüências, proporções,

porcentagens e correlações entre as variáveis.

Para comprovar a autenticidade de informações, considerá-las como argumentos verdadeiros e

possibilitar avaliações que não trouxessem distorções da realidade, utilizou-se a técnica da

triangulação durante a fase de coleta e análise dos dados. Conforme Triviños (1995, p.138), a

técnica de triangulação baseia-se na retroalimentação de informações e:

[...] tem por objetivo básico abranger a máxima amplitude na descrição, explicação e compreensão do foco em estudo. Parte de princípios que sustentam que é impossível conceber a existência isolada de um fenômeno social, sem raízes históricas, sem significados culturais e sem vinculações estreitas e essenciais com uma macrorrealidade social.

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2.7 Protocolo do Estudo de Caso

Segundo Yin (2001, p.89), o protocolo de estudo de caso contém os procedimentos e as regras

gerais que devem ser observadas para se utilizar corretamente os instrumentos de coleta. Além

disso o protocolo de estudo de caso é desejável em qualquer situação, sendo indispensável nos

estudos de casos múltiplos. Para o autor citado, o protocolo é uma das táticas fundamentais para

se elevar a confiabilidade da pesquisa e serve de orientação para o pesquisador conduzir seu

estudo.

Inicialmente buscou-se levantar os dados referentes à introdução da modalidade de Projeto de

Criação de Empresa no estágio curricular do curso. Esse levantamento inicial foi realizado na

secretaria do Departamento de Administração da Universidade Estadual de Londrina, onde

solicitou-se verbalmente ao Chefe do Departamento a permissão para acessar os arquivos de

documentos existentes. Posteriormente, coletou-se informações sobre a proposta pedagógica

disponíveis no endereço eletrônico do curso.

Em seguida verificou-se junto à mesma secretaria a quantidade, os nomes completos e os

endereços eletrônicos dos professores que atuavam no Departamento, com a intenção de definir a

realização das entrevistas. Dos 34 (trinta e quatro) docentes integrantes do Departamento, foram

inicialmente excluídos da pesquisa 10 (dez) professores. Assim, foram consultados para a

pesquisa 24 (vinte e quatro) professores concursados, lotados no Departamento de Administração

da UEL e que atualmente ministram disciplinas no respectivo curso. Os convites para

participação na pesquisa foram enviados por e-mail e as entrevistas foram programadas para

serem realizadas em datas, locais e horários que melhor se adequavam às necessidades dos

entrevistados. 20 (vinte) professores atenderam à solicitação de entrevista, representando uma

amostra equivalente a 83% do universo de pesquisa.

As perguntas da entrevista foram elaboradas pelo autor da dissertação e discutidas com o

orientador. Após algumas reformulações definiu-se pela realização de 14 (quatorze) questões, que

estão relacionadas no anexo A. Para o registro das conversas utilizou-se de gravador, pois

segundo Yin (2001, p.114) o uso de aparelhos de gravação fornece uma expressão mais acurada

do que qualquer outro método, sendo recomendável sua utilização em entrevistas.

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Para possibilitar a realização da pesquisa com os egressos, procurou-se informações na Divisão

de Estágio e Convênios do Centro de Estudos Sociais Aplicados da UEL, encontrando-se

registros arquivados em meio eletrônico. Tais arquivos foram disponibilizados após solicitação

verbal ao Chefe da Divisão. Estabeleceu-se como população o número total de egressos do Curso

que realizaram o estágio curricular na modalidade Projeto de Criação de Empresa, cujas

formaturas ocorreram dentro do período de 1998 a 2001, somando 208 (duzentos e oito)

indivíduos.

Após obtidos os dados necessários (datas de formaturas, nomes completos, endereços, número de

telefones e e-mail), iniciaram-se os contatos com os sujeitos a serem pesquisados. Nesse

momento constatou-se uma grande desatualização das informações e o distanciamento da

Universidade com os ex-alunos, dificultando a coleta de dados. Mesmo assim, foi possível enviar

o instrumento de pesquisa para 131 dos 208 indivíduos constantes da população a ser consultada,

resultando numa significativa amostra de 63%. Dos 131 pesquisados houve retorno de 72

questionários, refletindo numa amostra representativa equivalente a 34% do universo de pesquisa.

O maior retorno de questionários foi dos egressos que terminaram o curso em 2001 (23

questionários) e 2000 (27 questionários), muito provavelmente pelo fato dos endereços serem

mais recentes.

O questionário de pesquisa foi elaborado pelo autor da dissertação e abordou 26 (vinte e seis)

perguntas, contendo questões de múltipla escolha, questões fechadas e questões abertas,

buscando atender aos objetivos e perguntas de pesquisa. Para atender melhor aos propósitos

elencados, o questionário foi dividido em seis blocos abrangendo dados demográficos, avaliação

do mercado de trabalho, motivo da escolha pela modalidade e análise das condições oferecidas

pelo curso para o desenvolvimento da capacidade empreendedora, nível de informações e

qualidade do conhecimento sobre empreendedorismo recebidos, implantação e caracterização do

negócio próprio, comentários e sugestões.

Após realização de um teste piloto envolvendo cinco sujeitos da pesquisa, o questionário, cujo

modelo encontra-se no anexo B, foi enviado aos egressos do curso através de correio eletrônico

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(e-mail). Em 4 (quatro) situações específicas, onde os pesquisados alegaram que gostariam de

participar do estudo e não tinham condições de enviar as respostas através de meio eletrônico,

utilizou-se do correio tradicional ou recolheu-se pessoalmente o instrumento de pesquisa. 2.8 Conclusão Neste capítulo buscou-se apresentar os aspectos relativos à metodologia empregada na realização

da pesquisa. Nele foram apresentados e esclarecidos o delineamento do trabalho, o processo de

montagem das perguntas de pesquisa, além das definições de população e amostra, instrumentos

de coleta e análise dos dados, considerando-se as referências de metodologia científica

encontrada. Encerradas as explanações sobre a estrutura metodológica da pesquisa, realizou-se

uma revisão da literatura sobre empreendedorismo, que foi inserida no capítulo seguinte.

3. REVISÃO DA LITERATURA 3.1 Introdução Neste capítulo foi realizado o levantamento da literatura, buscando encontrar opiniões relevantes

de autores respeitados no campo do empreendedorismo que pudessem embasar os assuntos

tratados. As seções seguintes envolvem a discussão de importantes temas como a função da

Universidade, definições de empreendedor e empreendedorismo, a visão do empreendedorismo

como campo de estudo e como disciplina, a educação empreendedora no mundo e no Brasil e as

relações entre Universidade e empreendedorismo.

3.2 A função transformadora da Universidade

As origens da Universidade remontam à época feudal. Luckesi et al. (1997) relatam que a Grécia

e a Roma da antiguidade clássica já dispunham de excelentes escolas para formação de

especialistas em diversos campos do conhecimento, porém, foi entre os séculos XI e XV que

nasceu a Universidade. Registram ainda que a universidade moderna, como centro de ensino e

pesquisa, ocorreu em 1810 com a criação da Universidade de Berlim.

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A finalidade da Universidade é um campo vasto e propício para discussões e debates acadêmicos.

Wanderley (1983) elenca diversas visões ou vertentes diferentes que tentam definir o que é

Universidade, cada uma apresentando seus convincentes argumentos. Para o autor, a

Universidade é um espaço privilegiado para se conhecer a cultura mundial e os vários segmentos

da ciência, criando e divulgando o saber e adequando-o à realidade onde está inserida. Além dos

pressupostos básicos de ensino, pesquisa e extensão, a Universidade é a organização de caráter

educacional que, de maneira sistemática e organizada, deve formar profissionais, técnicos e

intelectuais para atender às necessidades da comunidade. Atender às necessidades da comunidade

significa servir à transformação social, exercendo papel decisivo nas mudanças que a coletividade

deseja. Para tanto, a Universidade deve possuir autonomia, garantindo o pluralismo de idéias e a

liberdade de pensamento.

Para Marcovitch (1998) a Universidade é tida como o local onde convivem todas as áreas do

conhecimento, onde tudo pode e deve ser objeto de análise, crítica e quando necessário, de

confrontação. Alega o citado autor que existe na Universidade a convivência de múltiplas

manifestações do saber e que eventualmente isso acaba sendo dispersado em virtude da sua

estrutura departamentalizada. Marcovitch (1998) assegura ainda que a Universidade tem a função

de desenvolver a cidadania e que talvez essa estimulação da inquietude humana seja seu papel

principal na sociedade.

Desenvolvimento social e educação possuem estreito relacionamento. Colossi et al.(2001)

observaram que ultimamente tem aumentado o interesse da sociedade pela educação superior.

Alegam os autores que a evolução humana coincide com a história das Universidades.

Para Colossi et al. (2001, p.51) a educação superior representada pela Universidade é “uma

instituição social, cujo papel fundamental é formar a elite intelectual e científica da sociedade a

que serve”. As características de uma instituição social, montada em regras e valores oriundos da

sociedade que a cerca, são a estabilidade e durabilidade dos seus propósitos. Colossi et al. (2001)

alegam que “uma instituição social é fundamentalmente uma doutrina, um ideal. Assim, a

educação superior é uma instituição social, estável e duradoura, concebida a partir de normas e

valores da sociedade”. Além da atribuição de criar o conhecimento, cabe à Universidade

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qualificar profissionais e promover o desenvolvimento social de um modo amplo, passando pelos

aspectos culturais, políticos e econômicos.

Presente há séculos na história universal, a educação superior no Brasil ainda não completou

duzentos anos. Fávero (2000) relata que depois de fracassadas as tentativas de criação de

Universidades pelo Colégio Central da Bahia e pelo movimento da Inconfidência Mineira,

somente com a transmigração da Família Real Portuguesa para o Brasil em 1808 ocorreu o

surgimento das primeiras escolas superiores brasileiras. Nesse mesmo ano, foram autorizados o

Curso Médico de Cirurgia da Bahia e o Hospital Militar do Rio de Janeiro. Em 1810 foi instituída

a Academia Real Militar do Rio de Janeiro. Fávero (2000, p.19) observa que um dos objetivos

principais da autorização desses cursos era o de “atender à formação de médicos e cirurgiões para

o Exército e a Marinha”.

Outras datas também ilustram a trajetória da educação superior no Brasil. Luckesi et al. (1997,

p.34), registram o surgimento das Faculdades de Direito de São Paulo e Recife em 1854, da

Escola Politécnica do Rio de Janeiro e da Escola de Engenharia de Ouro Preto na década de

1870. Assim, “por volta de 1900 estava consolidado, no Brasil, o ensino superior em forma de

Faculdade ou Escola Superior”. Depois de algumas décadas foram fundadas a Universidade de

Minas Gerais, em 1933, e no ano seguinte a Universidade de São Paulo.

Atualmente o ensino superior brasileiro conta com 1.180 instituições, distribuídas em

Universidades, Centros Universitários e Faculdades isoladas, com 10.585 cursos superiores e 2,7

milhões de alunos (INSTITUTO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS

EDUCACIONAIS, 2002). Após um atraso de décadas, o governo brasileiro está investindo em

educação, ciente de que a formação educacional do nosso trabalhador apresenta-se como o

grande gargalo da economia, passando a ser entendida como um fator decisivo para a

competitividade do País. A educação está apresentando sinais de recuperação se comparada ao

quadro que existia há décadas. Nunca houve tantos alunos matriculados no ensino fundamental,

médio e superior. Mesmo assim, nossos índices são reduzidos quando confrontados com os de

grandes potências. A procura por vagas nas Universidades atinge níveis elevados e os jovens

estão tendo que se preparar continuamente, pois somente o diploma de curso superior não basta.

Isto influenciou a desenfreada abertura de Faculdades e Universidades particulares nos últimos

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anos e, apesar do aumento destes e de outros indicadores, o quadro geral da educação no País

ainda precisa melhorar muito em termos gerais, principalmente quando a situação é comparada

com países cuja economia é semelhante à nossa.

A reduzida capacidade de poupança interna e ausência de perfil e tradição exportadora são itens

geralmente apontados como principais fatores que prejudicam a competitividade do País. O

governo tem feito esforços consideráveis para retomar o caminho do crescimento, controlando a

inflação, prosseguindo com a política de privatizações, atraindo investimentos e traçando planos

para infra-estrutura. A opção por investimentos dessa natureza é fator importante e deve ser

apoiada pela sociedade, porém, mais importante é considerar a questão dos investimentos em

capital humano, especificamente no desenvolvimento da educação formal.

Para uma nação que objetiva fortalecer seu processo educacional, tornando seus cidadãos

qualificados e suas empresas aptas a enfrentarem a competição instalada no cenário internacional,

surge obrigatoriamente a necessidade de analisar e avaliar a formação dos profissionais egressos

dos cursos de graduação em administração. Entende-se formação no sentido amplo, passando por

desenvolvimento da criatividade, cidadania, ética e capacidade crítica, para que o administrador

formado pela Universidade possa compreender sua importância num mundo em transformação,

com habilidade para interpretar as perspectivas do ambiente. A grande questão com que se depara

agora não é a de acompanhar o desenvolvimento tecnológico, mas a renovação e alteração de

valores para obter diferencial competitivo. O enorme desafio para os profissionais da

administração está na capacidade de inovar e de se adequar aos novos modelos mundiais de

negócios.

Nesse sentido, concorda-se plenamente com o entendimento de Wild (1997, p.95), quando

afirma que:

As faculdades de administração de empresas devem encontrar seu papel e competir nesse mundo cada vez mais concorrido [...] deverão ter cada vez mais o propósito de ajudar executivos a criar e administrar organizações guiadas pelo foco de mercado e pela inovação, flexíveis e rápidas em responder a mercados em mudança, internacionais em termos de visão, capazes de levantar os recursos necessários para obter vantagem competitiva e altamente eficientes na utilização de recursos.

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Em recente pesquisa realizada em âmbito nacional, Andrade et al. (1999) constataram que o

segmento constituído por Administradores formulou um cenário capaz de justificar suas opiniões,

no qual são enfatizados as transformações rápidas e radicais e seus impactos sobre as

organizações e sobre os administradores, tendo de resgatar assim a intensificação do processo de

globalização dos mercados, a reestruturação organizacional, a implementação de programas

comprometidos com a elevação da qualidade, o investimento em novas tecnologias de produção e

gestão e a adoção de programas de privatização, acrescentando a tendência de terceirizar

atividades não essenciais.

O segmento envolvido na pesquisa de Andrade et al. (1999) também reconheceu a existência de

uma crise de identidade, cujos fatores determinantes são atribuídos à formação universitária

excessivamente genérica, à elevada concorrência com profissionais de diferentes áreas de

trabalho, à falta de oportunidades para ocupar outros cargos e exercer funções gerenciais, à

ausência de sentimento corporativo ainda não consolidado pelo Conselho Federal e Conselhos

Regionais de Administração e ao interesse crescente pela formação de Administrador por parte de

estudantes sem vocação para atividades relacionadas à gestão.

A sociedade brasileira está sendo instigada a pensar sobre a opção empreendedora e muitas ações

estão sendo desenvolvidas nesse campo, iniciadas graças ao esforço de agentes não

governamentais, sem passar por uma reflexão mais profunda dentro da Universidade, já que esta

instituição não se faz presente para discutir o assunto.

O empreendedorismo surge, de forma clara, como uma vertente do pensamento econômico e da

ciência da administração, porém muitas Escolas Superiores sequer o discutem, já que estão

despreparadas para absorver a temática ou tem dificuldades em romper com tradições

conservadoras e corporativistas.

3.3 Empreendedorismo

Nos últimos anos empreendedorismo e empreendedor são palavras que já se tornaram de uso

comum entre as pessoas, principalmente aquelas que estão em busca de iniciar um negócio

próprio, fazem parte do meio empresarial ou integram o ambiente universitário. Oliveira (1995)

relata que o termo originou-se da palavra francesa entrepreneur sendo incorporado no idioma

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inglês por falta de correspondente adequado. Na língua portuguesa o vocábulo empreendedor

apresenta perfeita relação com o significado da palavra em francês, portanto pode ser utilizado

sem restrições.

Ao contrário do que se imagina quando se iniciam os contatos com o assunto, a pesquisa e a

discussão acadêmica sobre empreendedorismo não são preocupações restritas, efêmeras ou

recentes. Nesta seção procura-se esclarecer a respeito do que é empreendedorismo, tomando-se,

no entanto, a precaução de não estabelecer uma enunciação ou conceituação definitiva. Embora

comprovando-se que a literatura existente sobre o campo é bastante extensa, nota-se que a

questão da delimitação de conceitos há muito tempo vem sendo debatida pelos pesquisadores, o

que torna extremamente difícil encontrar definições precisas e com aceitação unânime na área.

Confirmando essa opinião, Thavikulwat (1995, p.329) ressalta que embora muitas definições de

empreendedorismo tenham sido elaboradas e discutidas (BYGRAVE; HOFER, 1991;

CARLAND; HOY; CARLAND, 1998; CUNNINGHAM; LISCHEROM, 1991; GARTNER,

1988; HORNADAY, 1990, 1992; LOW; MACMILAN, 1988; STEVENSON; JARILO, 1990;

WORTMAN, 1987), nenhuma delas ainda obteve unanimidade. O motivo da conceituação não

estar claramente determinada talvez resida no fato de tratar-se de um campo recente, que ainda

se encontra em fase de elaboração de significados.

Filión (1999), por exemplo, ao resgatar aspectos históricos sobre o surgimento da figura do

empreendedor, retorna mais de dois séculos na história para registrar as importantes contribuições

da escola dos economistas e da escola comportamentalista. Dentro das ciências econômicas o

autor destaca as contribuições das obras de Cantillon (1755) e Say (1803: 1815; 1816; 1839), que

estabeleceram as bases iniciais do campo da criação de novos empreendimentos, tanto que

Schumpeter muito tempo depois reconheceu que foi Cantillon o primeiro a oferecer clara

concepção da função empreendedora.

Segundo Oliveira (1995), Cantillon e Say consideravam os empreendedores como pessoas que

corriam riscos, pois investiam seus próprios recursos nos negócios. Os empreendedores eram,

segundo eles, pessoas que aproveitavam as oportunidades, com a perspectiva de obterem lucro,

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assumindo os riscos inerentes. Say fazia distinção entre empreendedores e capitalistas e entre os

lucros de cada um. Ao fazê-lo associou os empreendedores à inovação e via-os como agentes de

mudança. Como Say foi o primeiro a lançar os alicerces dessa área de estudos, pode-se considerá-

lo como precursor do empreendedorismo.

Filión (1999), assegura que no decorrer dos tempos vários economistas também associaram

empreendedorismo à inovação (CLARK, 1899; HIGGINS, 1959; BAUMOL, 1968; SCHLOSS,

1968, LEIBENSTEIN, 1978). Porém, coube a Schumpeter (1928) realmente lançar a concepção

de empreendedorismo, relacionando-o claramente à inovação. Afirmava que sua essência residia

na percepção e no aproveitamento das novas oportunidades no âmbito dos negócios, no sentido

de criar uma nova forma de uso dos recursos, deslocando-os de seu emprego tradicional e

agregando-os a novas combinações.

Reconhecendo o excesso de racionalidade da ciência econômica, Filión (1999) dirige uma crítica

aos economistas, declarando que foram incapazes de formular explicações sobre o

comportamento dos empreendedores, o que induziu especialistas do comportamento humano

(psicólogos, sociólogos, psicanalistas) a se interessarem pelo assunto, iniciando-se então

importantes estudos, como os de Weber (1930) e de McClelland (1961).

Após 1930 emergiu a escola comportamentalista que, através das pesquisas de diversos

especialistas, buscava explicações e definições sobre empreendedores e suas características. Os

comportamentalistas dominaram o campo do empreendedorismo dos anos 60 até o início dos

anos 80, concentrando seus estudos na busca de um perfil do empreendedor, descrevendo suas

características (ver quadro 4).

Filión (1999, p.10) avalia que a extensa pesquisa realizada pelos representantes da escola

comportamentalista, mesmo sendo feita mediante excelente metodologia, trouxe resultados

diversos e contraditórios, não sendo possível até hoje,

[...] estabelecer um perfil psicológico absolutamente científico do empreendedor [...] ainda não se chegou a ponto de poder-se avaliar uma pessoa e então, afirmar, com certeza, se ela vai ser bem-sucedida ou não como empreendedora. Entretanto, pode-se dizer se ela tem as características e aptidões mais comumente encontradas em empreendedores.

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QUADRO 4 - Características mais comuns dos empreendedores segundo a escola comportamentalista

Características dos empreendedores

Inovação Otimismo Tolerância à ambigüidade e à incerteza

Liderança Orientação para resultados Iniciativa Riscos moderados Flexibilidade Capacidade de aprendizagem Independência Habilidade para conduzir

situações Habilidade na utilização de recursos

Criatividade Necessidade de realização Sensibilidade a outros Energia Autoconsciência Agressividade Tenacidade Autoconfiança Tendência a confiar nas pessoas Originalidade Envolvimento a longo prazo Dinheiro como medida de

desempenho Fonte: Hornaday (1982); Meredith; Nelson; Neck (1982); Timmons apud (FILIÓN, 1999)

Comenta ainda o autor que a escola comportamentalista já atingiu o ápice e agora parece estar

dando sinais de declínio, deixando como uma de suas conclusões o fato de que as características

dos empreendedores podem ser respostas do ambiente em que vivem, onde as culturas,

necessidades e hábitos de uma região determinam o comportamento empreendedor, fazendo o

empreendedorismo parecer primeiramente e acima de tudo um fenômeno regional, onde os

costumes, valores e necessidades de uma região influenciam os comportamentos.

Assim, as pessoas recebem, processam e interpretam essas variáveis e isso acaba por refletir no

modo como elas desenvolvem a capacidade empreendedora. Esta também foi a conclusão dos

estudos realizados por Ellis (1983), Gibb e Ritchie (1981), McGuire (1964), Newman (1981) e

Toulouse (1979) apud (FILIÓN, 1999).

A definição de capacidade empreendedora faz-se necessária para que se possa tentar mensurar e

compreender o fenômeno que impulsiona pessoas nas mais longínquas áreas do planeta a

implantar e desenvolver novos negócios. Analisando esta questão na introdução da sua obra,

Birley e Muzika (2001) explicam que tal capacidade nada mais é do que a união do processo e

das atividades executadas por empreendedores.

Prosseguindo na discussão do tema, os autores citados assinalam que a definição de capacidade

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emprendedora tem ocupado muitos acadêmicos, onde geralmente os pesquisadores concordam

que capacidade empreendedora é algo diferente de pequena empresa e traz os seguintes enfoques:

a) Tem forte ligação com a percepção e promoção de empreendimentos de alta

tecnologia, resultando na criação de novas riquezas mediante a introdução de

modernos conceitos;

b) Trata-se de qualquer inovação que implique em mudanças organizacionais,

gerando valor econômico;

c) Envolve a aquisição de empreendimentos já existentes com o intuito de obter

mais valor;

d) Está presente também nas grandes organizações, tanto no setor privado

como na área pública.

Cotton (apud FOWLER, 1997) entende educação empreendedora como um sistema que habilita

as pessoas a criarem e dirigirem seus próprios negócios, utilizando isso como meio de

aprendizagem. Fortalecendo tais argumentos, Stevenson (2001) define capacidade

empreendedora como o aproveitamento de oportunidades independentemente das condições e

recursos disponíveis, indo além de um simples conjunto de características individuais, cuja

aplicação é cabível de ser utilizada em situações de criação de um negócio bem como na

condução de uma empresa já estabelecida.

Um dos destaques dos debates entre estudiosos da área (FILIÓN, 1999; DORNELAS, 2001;

DOLABELA, 1999; NUENO, 2001; FARREL, 1993) reside no questionamento do fato da

capacidade empreendedora ser uma habilidade inata ao ser humano ou estar presente como um

privilégio somente em determinados tipos de indivíduos. Dornelas (2001, p.38) ressalta que há

poucos anos julgava-se que o empreendedor era inato e que pessoas sem esse dom eram

desestimuladas a iniciarem um empreendimento. Atualmente, afirma, essa concepção está sendo

alterada e,

cada vez mais, acredita-se que o processo empreendedor pode ser ensinado e entendido por qualquer pessoa e que o sucesso é decorrente de uma gama de fatores internos e externos ao negócio, do perfil do empreendedor e de como ele administra as adversidades que encontra no dia-a-dia.

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Para Dolabela (1999) a possibilidade de que a capacidade empreendedora seja herança genética

está sendo descartada no ambiente acadêmico, onde pesquisa importante tem se concentrado em

discutir se o empreendedorismo pode ser ensinado. As conclusões sobre isso são positivas, desde

que a metodologia de ensino seja específica, não mais seguindo os modelos da educação

tradicional.

Assumindo posicionamento nessa troca de idéias, observa-se o pensamento de Nueno (2001),

quando afirma que a capacidade empreendedora sempre esteve presente na história da

humanidade e a cultura empreendedora está tão fortemente enraizada na nossa civilização, sendo

inevitável o seu aparecimento. Coloca ainda o autor que os acadêmicos estão há muito tempo

discutindo a questão e refletindo sobre a hipótese de alguns grupos étnicos serem mais

empreendedores que outros.

Tomando parte nesse importante assunto, Scott et al. (2001, p.162) também definem sua opinião

colocando que:

Existe um mito segundo o qual a capacidade empreendedora é em grande parte um fenômeno dos países desenvolvidos e industrializados, e se pudesse ser transferido, juntamente com as práticas administrativas ocidentais, então os problemas do chamado subdesenvolvimento seriam resolvidos. No entanto, as evidências afirmam que a capacidade empreendedora é um papel social generalizado encontrado em todas as sociedades, somente variando com a mudança do contexto. Se a capacidade empreendedora é vista como a extração criativa de valor dos ambientes então os elementos como visão, busca de oportunidade, consideração de riscos e dos recursos, mobilização dos retornos e desenvolvimento da rede, podem ter uma forma diferente (e algumas vezes invisível) em diferentes ambientes; porém sempre estarão presentes. Ao mesmo tempo em que as agências internacionais buscam disseminar os modelos de conduta dos países desenvolvidos, depara-se com experiências diversificadas em todos os continentes.

Birley e Muzika (2001, p.14) registram que a sociedade desenvolveu o costume de acreditar que

os empreendedores surgiam de grupos marginalizados (imigrantes, pessoas de baixo nível escolar

e os pobres) que precisavam provar sua capacidade e ter sucesso a qualquer preço. Os estudos

iniciais sobre empreendedores eram demográficos e relacionados a situações específicas,

limitando-se a explorar exemplos de imigrantes que tiveram sucesso, situações encontradas em

profusão nos Estados Unidos, na costa leste, em Nova Iorque e na Califórnia. Os autores colocam

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que estudos recentes indicam que:

[...] a oferta de empreendedores é enormemente diversificada e variável ao longo do tempo. E é influenciada em parte pela genética, pela formação familiar, pelas experiências profissionais anteriores e pelo ambiente econômico. Colocado de outra forma, a população pode ser considerada como tendo um espectro de inclinações em relação às atividades empreendedoras.

Devido a essas importantes circunstâncias, que envolvem aspectos sociais e econômicos,

verificou-se que empreendedorismo não é assunto recente e pelo fato de ter alcançado grande

repercussão mundial nos últimos vinte anos, vem atraindo a atenção de muitos pesquisadores das

diversas áreas do conhecimento.

3.4 Empreendedor Conforme registrou-se na seção anterior, o campo do empreendedorismo é emergente, estando a

teoria na fase da elaboração de idéias, construções de modelos e consolidação de correntes de

pensamento. Devido à efervescência do tema, existem várias qualidades atribuídas ao

empreendedor (ver quadro 5) e muitos outros estudos certamente virão complementar e assinalar

novas representações para esse importante elemento do ambiente empresarial.

Mesmo com a existência de um grande número de publicações científicas, a imagem do

indivíduo empreendedor ainda carrega uma forte relação mística, talvez estimulada pelo apelo

dos casos de sucesso empresarial, dos “best-sellers” e das revistas populares que nos últimos anos

dedicaram mais atenção à imagem dos grandes executivos (CEO – Chief Executive Office) do que

ao modo de administrar as organizações.

Essa excessiva veneração pelos executivos de sucesso influenciou a opinião pública levando a

maioria das pessoas a continuarem enxergando o empreendedor como uma figura lendária, ímpar,

impregnada de magníficos poderes, bem ao estilo dos heróis pesquisados por McClelland.

Felizmente os mitos sobre o empreendedor estão começando a serem derrubados (FARREL,

1993). A mídia freqüentemente está buscando a opinião de especialistas antes de veicular

matérias a esse respeito.

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Há mais de uma década Farrel (1993, p.166) expôs a confrontação entre os mitos e realidades do

empreendedor, destacando que “todas estatísticas mostram que eles fazem parte da média. A

maioria deles nem mesmo planejou ser empreendedor. Acontece em função de circunstâncias,

freqüentemente uma crise, por serem muito pobres, por estarem cheios de frustração, por serem

despedidos”. O autor defende que empreendedores não nascem feitos, são pessoas comuns, com

inteligência e educação idênticas à grande parte da população. Por outro lado, diversos autores

concentraram-se em estabelecer um perfil do empreendedor (ver quadro 5) e muitos outros

assinalaram que embora seja difícil categorizar os empreendedores como um grupo específico,

eles possuem diversas características que parecem estar incorporadas à personalidade da maioria

dos indivíduos que iniciam um empreendimento.

As mesmas argumentações para a ausência de uma conceituação categórica de

empreendedorismo cabem para justificar as dificuldades em se estabelecer uma definição de

empreendedor. A esse respeito, Fowler (1997) acrescenta que os pesquisadores ainda não

chegaram a um consenso e elabora uma relação de características e atributos do empreendedor

observados em diversos estudos (ver quadro 5). Conforme observa-se no quadro 5, diversos

pesquisadores atribuem mais de uma característica ao empreendedor, dando a entender que uma

aceitável definição deve abranger um conjunto de habilidades. Como já se disse, não é objetivo

deste trabalho conceituar o termo empreendedor, o que não impede de registrar-se respeitáveis

opiniões de eminentes estudiosos.

Buscando definir o empreendedor e o que o diferencia dos outros empresários, Kets de Vries

(2001) faz importante análise sobre o tema e assinala que embora seja difícil categorizar os

empreendedores como um grupo específico, eles possuem diversas características que parecem

estar incorporadas na maioria dos indivíduos que iniciam um empreendimento. Dentro do grande

conjunto de tais peculiaridades, o autor destaca:

- orientação para realizações;

- capacidade e disposição para assumir riscos moderados e calculados;

- tendência a assumir responsabilidades e rejeição ao trabalho rotineiro;

- níveis elevados de energia, entusiasmo, criatividade e imaginação.

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- capacidade de transformar idéias que a princípio parecem simples e carecem

de definição, em propostas que apresentam elevada viabilidade.

- Senso de propósito, liderança e determinação.

Para Gerber (1996), o empreendedor é o inovador, o grande estrategista, o criador de novos

métodos para penetrar ou criar novos mercados, é a personalidade criativa, sempre lidando com o

desconhecido, perscrutando o futuro, transformando possibilidades em probabilidades, caos em

harmonia. Estudando detalhadamente a origem do termo, Filión (1999) verificou que no século

XII ele era usado para referir-se a pessoa que incitava brigas. No século XVII o empreendedor

era representado pela figura daquele que assumia e dirigia a ação militar. Foi ao final do século

XVII que a palavra começou a ser usada para expressar a pessoa que criava e conduzia projetos.

Analisando várias definições ao longo dos tempos Filión (1999, p.19) estabeleceu sua própria

concepção, caracterizando-o como uma pessoa que:

- é criativa; - é marcada pela capacidade de estabelecer e atingir objetivos; - mantém alto nível de consciência do ambiente em que vive, usando-a para

detectar oportunidades de negócios; - continua a aprender a respeito de possíveis oportunidades de negócios; - toma decisões moderadamente arriscadas; - objetiva a inovação e continua a desempenhar um papel empreendedor - imagina, desenvolve e realiza visões.

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QUADRO 5 - Qualidades atribuídas ao empreendedor

Atributos do empreendedor Autores

Inovador Clark (1889); Schumpeter (1934); Higgis (1959); Baumol

(1968); Schloss (1968): Leibenstein (1978)

Líder, criador de empresas Say (1815); Fly e Bess (1893); Knight (1921); Oxenfeldt

(1943); Higgis (1959); Baumol (1968)

Dínamo do sistema econômico Smith (1776); Say (1803); Mill (1848); Knight (1921); Innis

(1930); Baumol (1968); Brocht (1978); Left (1978); Kent

(1982)

Detector de oportunidades Cantilllon (1775); Knight (1921); Schumpeter (1928);

Higgis (1959); Penrose (1959); Kitzner (1976)

Assume riscos moderados Cantillon (1775); Say (1803); Mill (1848); Hawlei (1882);

Knight (1921); Oxenfeldt (1943); Leibenstein (1968)

Schloss (1968); Brockhaus (1980)

Tomador de decisão Casson (1982)

Motivado por necessidade de

realização

MacClelland (1953); Berleu (1961); Fortes (1961); Hagen

(1962); Kent (1982)

Independente Hagen (1962); Kent (1982)

Resoluto, tenaz Say (1803)

Coordenador Say (1803); Leibenstein (1978); Casson (1982)

Faz melhor uso de recursos Leibenstein (1978)

Provedor de informações para o

mercado

Hayek (1932)

Tolera ambigüidades e

incertezas

Hoselitz (1952)1

Fonte: Fowler (1997, p.23)

Para Drucker (1987, p.25),

A inovação é o instrumento específico dos empreendedores, o meio pelo qual eles exploram a mudança como uma oportunidade para um negócio ou serviço

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diferente. Ela pode ser apresentada como uma disciplina, ser aprendida e praticada. Os empreendedores precisam buscar, com propósito deliberado, as fontes de inovação, as mudanças e seus sintomas que indicam oportunidades para que uma inovação tenha êxito. E os empreendedores precisam conhecer e pôr em prática os princípios da inovação bem sucedida.

Conforme Robbins (2000, p.10),

O espírito empreendedor está relacionado com o processo de iniciar um negócio, organizar os recursos necessários e assumir os respectivos riscos e recompensas. Uma vez que os negócios normalmente começam pequenos, a maioria recai na definição de micro ou pequena empresa.

Degen (1989,p.10), por sua vez, define que:

Ser empreendedor significa ter , acima de tudo, a necessidade de realizar coisas novas, por em prática idéias próprias, característica de personalidade e comportamento que nem sempre é fácil de se encontrar [...] O empreendedor, por definição, tem de assumir riscos, e o seu sucesso está na sua capacidade de conviver com eles e sobreviver a eles.

Dornelas (2001, p.37) analisando as definições de Schumpeter (1949) e Kirzner (1973) conclui

que “empreendedor é aquele que detecta uma oportunidade e cria um negócio para capitalizar

sobre ela, assumindo riscos calculados.”

Mesmo sem estabelecer uma conceituação definitiva sobre a questão, Birley e Muzika (2001,

p.13) fazem importante análise sobre o tema e argumentam que:

Empreendedores são indivíduos que organizam, operam e assumem os riscos associados com um empreendimento que criaram, visando à concretização de uma oportunidade que eles e outros identificaram. O processo empreendedor é dirigido à realização do valor associado com as oportunidades de negócios.

Assim, analisando-se as opiniões desses autores conclui-se que os empreendedores podem ser

vistos como pessoas comuns, integrados à comunidade e que desenvolveram a capacidade de

assumir e controlar o seu próprio destino, sendo isto fruto de muito aprendizado, perseverança e

trabalho. Nas definições de empreendedor encontram-se também referências aos seguintes

aspectos:

- iniciativa para criar um novo negócio e paixão pelo que faz;

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- utilização criativa dos recursos disponíveis, transformando o ambiente social e

econômico onde está inserido;

- capacidade de assumir riscos calculados e de enfrentar a possibilidade do

insucesso.

No presente trabalho considerou-se empreendedor como sendo o indivíduo que busca estudar,

analisar e compreender as situações do ambiente onde está inserido, identificando novas

oportunidades de mercado, alterando ou introduzindo inovações nos negócios.

3.5 O Empreendedorismo como Campo de Estudos

Maximiano (2000) entende a Administração como arte ou prática antiga, que entretanto apresenta

uma história recente enquanto conjunto organizado de conhecimentos. Retrata que a área esteve

nos dois últimos séculos buscando definições de princípios e de aprimoramento do processo

administrativo e somente agora transformou-se em disciplina, já que se tornou objeto de estudo

sistemático, produzindo um corpo de conhecimentos organizados, denominados de teorias.

Analisando o ambiente acadêmico do primeiro mundo, onde as escolas de administração formam

grupos de estudos, realizam pesquisas e oferecem cursos de graduação e pós-graduação em

empreendedorismo, Dolabela (1999) estabelece que o empreendedorismo pode ser entendido

como campo novo de estudos, originado da Administração.

Se, em relação a outras áreas do conhecimento, pode-se dizer que a Administração apenas

recentemente está se afirmando dentre as ciências, a situação do ermpreendedorismo

como disciplina encontra obstáculos bem maiores pois, conforme Shane e Venkataraman (2000),

trata-se de uma teoria ainda em desenvolvimento. E, alegam eles, um campo da ciência para ser

reconhecido e ter utilidade deve ter estrutura conceitual que possa prever e explicar fenômenos

ainda não devidamente previstos e esclarecidos por outras áreas de estudos. Apesar de predizer e

esclarecer uma série de fenômenos empíricos ocorridos, os autores citados colocam que o

empreendedorismo tornou-se uma vasta área, na qual uma infinidade de pesquisas veio abrigar-

se, fazendo com que o campo de estudos se tornasse algo bastante questionável, ao invés de

singular.

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Shane e Venkataraman (2001) assinalam que o mais elevado obstáculo do empreendedorismo

em criar uma estrutura conceitual talvez seja a sua definição, que até o atual momento restringiu-

se a análises isoladas e limitadas ao indivíduo, buscando definir o que é o empreendedor, criando

definições incompletas e esquecendo-se de enfocar outro lado fundamental que antecede ao

empreendedorismo, isto é, o estudo das fontes de oportunidades, os processos de descoberta, a

avaliação e exploração de oportunidades.

Pesquisando sobre as tendências de mercado para professores de Faculdades de

Empreendedorismo nos Estados Unidos durante o período de 1989 a 1998, Finkle e Deeds

(2001) registram que na década estudada presenciou-se um significativo aumento, tanto no

número como no prestígio, dos programas de empreendedorismo nas Escolas de Administração.

O crescimento e a valorização dos programas de empreendedorismo tem sido embasado no

aumento de sua popularidade e prestígio entre alunos e universidades, como também no

reconhecimento da sua importância econômica pela mídia. Apesar disso, Finkle e Deeds (2001)

ressaltam que igualmente tem havido por parte de escolas alheias à área de negócios, uma

considerável resistência e descrédito à expansão dos programas de empreendedorismo, não

confiando na validade acadêmica da área e questionando a qualidade e o rigor das pesquisas.

Notaram, os autores citados, que o grande foco de discussão envolve a institucionalização do

empreendedorismo como campo de estudos e concluem que a área fez longos avanços em

direção à aceitação e institucionalização dentro das escolas de Administração nos últimos dez

anos, pois tanto a demanda quanto a oferta das faculdades de empreendedorismo aumentaram

espetacularmente, portanto o empreendedorismo está se institucionalizando como parte do

currículo e adquirindo respeito como área de pesquisa.

Entretanto, alertam Finkle e Deeds (2001) que é muito cedo para se concluir se o compromisso

da academia com o empreendedorismo é irreversível. Uma indicação muito clara de que o status

é tênue é que, ao contrário da estratégia e do comércio internacional, não tem havido mandato da

AACSB -American Assembly of Collegiate School of Business, para que o empreendedorismo

seja incorporado ao currículo de todas as escolas autorizadas.

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O empreendedorismo, segundo estes autores, permanece o assunto eletivo da maioria das escolas

e, portanto, depende do interesse do aluno. Os alunos estão exigindo a educação em

empreendedorismo e conseguem encontrá-la em um número crescente de faculdades. No

momento atual, as faculdades que fazem pequeno ou nenhum compromisso com o

empreendedorismo estão rapidamente ficando para trás e, dado ao déficit de faculdades

bacharelandas de empreendedorismo, elas podem ter dificuldades em acompanhar o mercado.

3.6 O Empreendedorismo como Disciplina

O surgimento do empreendedorismo como disciplina também é recente, não tendo sua existência

mais que duas ou três décadas. Para Dolabela (1999), dentre os registros da história do ensino de

empreendedorismo podem ser destacados importantes momentos, conforme se verifica no quadro

6. Em Filión (1999) encontram-se importantes reflexões acerca do empreendedorismo como

disciplina, com ênfase no fato de sua evolução dentro da academia não ter seguido a

padronização comum às outras disciplinas. Um dos fatos que merece registro é a assimilação e a

integração do empreendedorismo em outras disciplinas, especialmente na área de ciências

humanas, traduzindo-se como um fenômeno ímpar, nunca ocorrido com tamanha intensidade na

construção de qualquer outra disciplina.

Filión (1999) acrescenta que existe grande confusão no campo de empreendedorismo, em virtude

da ausência de consenso a respeito do empreendedor e dos limites do fenômeno, porém, ensina

ele que o reverso também pode ser autêntico, uma vez que o empreendedorismo é uma das

poucas temáticas que despertam o interesse de especialistas de várias áreas, conduzindo à tão

desejada interdisciplinaridade, tornando o ambiente acadêmico dinâmico, crítico, criativo e

promissor, podendo tornar-se importante fator de coesão das disciplinas que envolvem as ciências

humanas.

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QUADRO 6 – Marcos do ensino de empreendedorismo

Evento Época Instituição/localização

1º Curso sobre gerenciamento de pequenas empresas 1947 Harvard Business School

1ª Conferência sobre pequenas empresas 1948 St. Gallen University – Suíça

Curso de empreendedorismo e inovação, elaborado por

Peter Drucker

1953 New York University

Fundação do International Council for Small Business 1956 University of Colorado

1º Curso de graduação em empreendedorismo 1968 Babson College

1ª Conferência acadêmica sobre pesquisa em

empreendedorismo

1970 University of Purdue

1º Congresso Internacional de Empreendedorismo 1973 Toronto – Canadá

Instituição da Academy for Distinguished Entrepreuners 1978 Babson College

Congresso sobre o Estado da Arte e surgimento da

Encyclopedia of Enterpreunership

1980 Baylor

1ª Frontiers of Entrepreneurial Research 1981 Babson College

Fonte: Adaptado de Dolabela (1999, p.52, 53) e de Cooper et al (apud PINTER; REINOSO, 2000).

Sua introdução como matéria foi decorrente da existência de elevada quantidade de

pesquisadores, cada qual utilizando suas experiências, reflexões, conclusões e recursos de

aprendizagem diferenciados, oportunizando diversas conduções nas propostas pedagógicas e

criando variados estilos de disseminação do conhecimento acumulado no campo do

empreendedorismo e na gestão de novos negócios.

De acordo com o autor citado, os doutorados pioneiros nesse campo apareceram no início de

1980, atraindo uma gama de interessados oriunda de outras disciplinas, tendo o estudo do

empreendedorismo como um campo de estudos e de atividade secundária. No entanto, a partir do

final dos anos 90 um enorme contingente de professores e pesquisadores, estão concentrando

tempo e esforços exclusivamente ao campo do empreendedorismo.

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As pesquisas de Katz (1997); Robinson e Haines (1991); Solomon e Fernald (1991) (apud

FINKLE; DEEDS, 2001) informam que tem havido um grande crescimento nos programas de

PhD especializados em empreeendedorismo. Em 1990 não havia escolas que oferecessem

programas de doutorado em empreendedorismo, contudo em 1997 já havia cinco escolas

organizadas com programas de doutorado em empreendedorismo: Wharton, Calgary, Georgia,

Joenkoeping International Business School and the European Doctoral Program in

Entrepreneurship e inúmeros alunos estudando o assunto, ainda que em programas não

organizados, em instituições notáveis: Wisconsin, Harvard, UCLA, Indiana, Purdue, Minnesota e

North Carolina.

Os resultados dos estudos de Finkle e Deeds (2001) mostram que o interesse crescente em

empreendedorismo refletiu-se na constatação do aumento de 130% do número anual de artigos

sobre empreendedorismo publicados em três das mais populares revistas de negócios americanas

(Businees Week, Forbes e Fortune) entre 1990 e 1996. Tal fato levou as revistas Business Week,

Success Magazine, Entrepreneur, US News e Worl Report a publicarem a partir de 1993 as

classificações dos programas de graduação em empreendedorismo.

Essa elevação do interesse do setor privado em empreendedorismo tem sido repetido na

educação superior. Vésper e Gartner (1997) observaram que a partir de uma base inicial de 16

escolas de negócios que ofereceram cursos de empreendedorismo nos anos 70, verificou-se que o

número ampliou-se para mais de 400 até 1995 e, no mínimo, 50 universidades já estão

oferecendo quatro ou mais cursos em empreendedorismo.

Analisando o estudo histórico do ensino da Administração de pequenos negócios e

empreendedorismo abrangendo a década de 1982-1992, realizado por Solomon; Weaver; Fernald

Jr. (1994), nota-se que houve um grande aumento na oferta de cursos de administração de

pequenos negócios e empreendedorismo em faculdades americanas, tanto nas instituições que

oferecem cursos de 4 anos como nas de 2 anos. Esta expansão foi impulsionada em parte pela

insatisfação entre os estudantes por programas com enfoque tradicional na educação para a

Administração da grande empresa.

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Os autores relatam que Plaschka e Welsch (1990) encontraram relações entre o rápido

crescimento de cursos de Administração de pequenos negócios e o rápido crescimento de

pequenos negócios nos Estados Unidos. Isso os levou a sugerir maior enfoque na educação

emprendedora, o que reforçaria a aceitação de alunos e faculdades e propiciaria condições de

crescimento dos programas de gestão de pequenas empresas e empreendedorismo.

Na tentativa de buscar distinções entre cursos de administração de pequenos negócios e

empreendedorismo, ainda não se pode ignorar suas similaridades. Freqüentemente os dois cursos

tendem a enfocar a empresa inteira. Tratam dos problemas em planejar, implantar e operar um

pequeno negócio como proprietários e conduzir como gerentes as atividades de uma empresa em

andamento .

Os cursos, com muita freqüência, fornecem informações sobre a origem de uma idéia para um

negócio e como analisar a possibilidade de execução daquela idéia. Planejar operações, dirigir o

negócio com sucesso e a consideração dos assuntos em vender ou manter um negócio também

são componentes principais da maioria dos cursos de administração de pequenas empresas e

empreendedorismo.

Solomon; Weaver; Fernald Jr. (1994) relatam que os cursos de pequenos negócios no nível pós-

secundário foram montados pela primeira vez nos anos quarenta e lidavam basicamente com o

gerenciamento e a operacionalidade de pequenas empresas existentes. Os primeiros cursos de

empreendedorismo, que emergiram nos anos sessenta, tiveram como seus focos principais as

atividades envolvidas em originar e desenvolver novas pequenas empresas.

A diferença conceitual é geralmente ofuscada tanto no meio acadêmico quanto no âmbito

empresarial. Geralmente, a administração de pequenos negócios cobre consideravelmente

informações sobre como gerenciar com sucesso um negócio e ter expectativas de vendas, lucros e

crescimento. Isto inclui o planejamento e organização do negócio, seleção e orientação de

empregados, controle financeiro.

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Por outro lado, os cursos de empreendedorismo enfatizam informações nas quais os principais

objetivos do empreendedor são o lucro e o crescimento. Empreendedores estão normalmente

buscando um rápido crescimento, lucros altos e imediatos e uma possível e rápida venda total

com um grande ganho de capital.

Em resumo, o que Solomon; Weaver; Fernald Jr. (1994) reforçam é que ensinar técnicas

empresariais não se encaixa adequadamente aos desejados objetivos de aprendizado da educação

de administração de pequenas empresas e empreendedorismo.

Apesar do rápido crescimento de cursos de empreendedorismo, existe indiscutivelmente uma

polêmica na praticabilidade deste ensino. Contudo, existem evidências de que o notável

crescimento dos programas e ofertas de cursos a nível superior oferecem credibilidade na

admissão de que técnicas relevantes ao empreendedorismo podem ser ensinadas.

Citando autores como Miller (1987), Hess (1987), Hills (1988), Ahiarah (1989) e Carrol e

College (1993), que pesquisaram metodologias utilizadas em cursos de empreendedorismo,

Solomon; Weaver; Fernald Jr. (1994) descrevem que encontraram diversas técnicas pedagógicas

sendo utilizadas para a transferência de habilidades e conhecimentos aos alunos, geralmente

consistindo em aulas, trabalhos de classe, testes, revisões literárias, apresentações orais e escritas,

uso de filmes e vídeos, entrevistas e trabalhos com empresários, palestras de empresários e

depoimentos de empreendedores convidados, estudos de casos e como projeto principal, o

desenvolvimento de um plano de negócios.

Embora reconhecendo a importância e aplicabilidade dessas metodologias, deve-se procurar

enfoques pedagógicos inovadores para responder às alterações do ambiente e atender às

expectativas dos alunos. Sexton e Upton (apud SOLOMON; WEAVER; FERNALD Jr, 1994,

p.343) propuseram a criação de cursos desestruturados para atender às necessidades psicológicas

dos alunos de empreendedorismo que, segundo eles:

[...] podem se chamados de indivíduos independentes que desgostam de repressão, restrição e rotina. Eles são capazes de pensamentos originais, especialmente sob condições de ambigüidade e incerteza. Muitos deles necessitam de desenvolver uma melhor habilidade de comunicação e de ficarem atentos a como os outros percebem seu comportamento.

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Entre as novas metodologias que estão sendo introduzidas para o aprimoramento da

aprendizagem sobre empreendedorismo, acredita-se que a utilização pedagógica de jogos de

empresa poderá trazer bons resultados. Estudiosa do assunto no Brasil, Gramigna (1995) relata

que os jogos de empresa foram primeiramente utilizados como desenvolvimento de executivos

nos Estados Unidos na década de 1950, sendo depois, devido ao sucesso e aceitação que

obtiveram, introduzidos na Alemanha e Inglaterra. No Brasil os jogos ganharam força a partir de

1980.

A adesão aos jogos, segundo a autora, ocorreu em grande parte devido às vantagens e aos

resultados obtidos, tais como:

maior compreensão de conceitos, antes considerados abstratos; conscientização da necessidade de um realinhamento atitudinal e

comportamental no atual momento de mudanças; redução do tempo de programas, sem prejuízo da qualidade; maior possibilidade de comprometimento do grupo com resultados; reconhecimento do próprio potencial e das dificuldades individuais; maior aproximação e integração entre facilitador e grupo-cliente; mudanças atitudinais e comportamentais favoráveis ao desempenho

profissional clima grupal favorável à participação ampla nas diversas etapas do

processo; resgate do lúdico – essência do ser humano; resgate do potencial criativo e descoberta de possibilidades não

consideradas anteriormente; possibilidades de mensuração de resultados durante os jogos simulados,

possibilitando avaliações com a realidade empresarial; maiores chances de desenvolvimento de habilidades técnicas, conceituais

e interpessoais. (GRAMIGNA,1995, p.17)

Defendendo o uso de recursos computacionais para o ensino de empreendedorismo,

Hermenegildo (2002) esclarece que com o surgimento do computador os jogos de empresa

receberam enorme impulso, possibilitando a criação de modelos mais complexos, dinâmicos,

ágeis e precisos. Segundo ele, a atual evolução dos processadores, softwares e periféricos geram

ótimas possiblidades para ampliação dos jogos de empresa, haja vista a diversidade de módulos

que podem ser criados, além das inúmeras possibilidades de animação e variação de cenários.

Os resultados das pesquisas de Simons e Hand (1976), Vésper (1986) , Ahiarah (1989), Clouse

(1990), Carrol e College (1993), Brewer et al. (1993), (apud SOLOMON; WEAVER;

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FERNALD Jr, 1994) demonstram que a aplicação de recursos computacionais é um tema

corrente entre as novas metodologias do ensino de empreendedorismo, tanto para elaboração de

projetos e plano de negócios como no desenvolvimento de protótipos de produtos. Concluem que

as simulações computadorizadas enriquecem os conhecimentos dos alunos, pois além de oferecer

feed-back instantâneo, permitem que eles vivenciem múltiplas experiências de simulações de

tomadas de decisão, o que pode ser a chave para a integração dos aspectos comportamentais com

o sistema de escolhas administrativas.

Estudando sobre jogos computadorizados para educação empreendedora, Thavikulwat (1995)

avalia que simulações e jogos computadorizados podem ser vantajosos como instrumentos

pedagógicos, pelos seguintes motivos:

a) dão escores objetivos;

b) podem ser compreendidos;

c) podem ser flexíveis;

d) podem ser fáceis de administrar, desde que haja uma escolha prévia

do jogo e existam recursos apropriados de hardware e software.

Bem mais centrados na realidade, os estudos de Wolfe e Bruton (1994) avalizam que, embora as

simulações atuais disponíveis para a transmissão de conceitos e habilidades empreendedoras

sejam deficientes em vários aspectos, os jogos de empresa possuem grande potencial como

método de ensino de empreendedorismo, desde que sejam formatados com profundidade e

riqueza de detalhes, relacionando os exercícios e atividades com as exigências do campo do

empreendedorismo.

3.7 Educação Empreendedora no Mundo e no Brasil O empreendorismo não é um tema novo e nem assunto esgotado, já que muito tem se discutido

sobre o tema e a produção científica atinge índices elevados. O aumento do interesse pelo tema

deve-se ao fato de ser considerado como uma importante opção para o desenvolvimento dos

países, ocupando parcela significativa da população ativa, a qual poderá optar por essa trajetória

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para manter-se inserida dentro do complexo panorama econômico e do mundo do trabalho.

Essas alegações convergem para o pensamento de Degen (1989, p.9) quando registra que:

A riqueza de uma nação é medida pela sua capacidade de produzir, em quan tidade suficiente, os bens e serviços necessários ao bem estar da população. Por este motivo, acreditamos que o melhor recurso de que dispomos para solucionar os graves problemas sócio-econômicos pelos quais o Brasil passa é a liberação da criatividade dos empreendedores, através da livre iniciativa, para produzir esses bens e serviços.

3.7.1 A Situação Mundial Em muitos países desenvolvidos o ensino do empreendedorismo tem se tornado matéria

obrigatória nos currículos escolares do ensino básico e superior, como forma mantenedora e

propulsora da economia e conseqüente manutenção e geração de postos de trabalho. A formação

empreendedora tem recebido enorme atenção no mundo, notadamente nos Estados Unidos,

Canadá e em alguns países da Europa. É grande o número de Universidades americanas que

possuem centros de pesquisa, formação e desenvolvimento de empreendedores. Nos Estados

Unidos o número de centros de pesquisas em empreendedorismo e áreas relacionadas passou de

48 em 1989 para 90 em 1996. (ROBINSON; HAYNES, 1991; KATZ, 1996 apud FINKLE;

DEEDS, 2001)

O desenvolvimento de empreendedores tornou-se uma rotina nos Estados Unidos. Comprova-se

em Cohen (2000) que em 1999 mais de 1000 Universidades ofereceram cursos de

empreendedorismo e em muitos estados daquele país o assunto está sendo transmitido para

jovens e adolescentes, sendo que em oito deles a matéria integrará os currículos do ensino

primário e secundário. No mesmo ano, afirma o autor, mais de 25% das cadeiras optativas

escolhidas pelos alunos do Curso de Administração de Harvard foram do Departamento de

Empreendedorismo.

Gibb (1993) constatou em seus estudos que na Inglaterra foi implementado um elevado número

de projetos, ações e programas voltados à disseminação da cultura empreendedora.

Estes programas baseados numa filosofia empreendedora abrangem vários níveis da educação

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formal. Segundo o autor, o diferencial dos programas ingleses é que a educação empreendedora

não está exclusivamente relacionada com o processo de criação de empresas, mas possui como

objetivo principal estabelecer e fortalecer nos alunos as atitudes de confiança e auto estima

através do método de aprendizagem.

Assim, Gibb (1993) acredita que num ambiente onde o papel do professor é de estimulador e

facilitador, alunos são incentivados a desenvolver comportamentos voltados à capacidade de

definir e estabelecer metas, a ter persistência na busca dos objetivos, a serem criativos na busca

de soluções para problemas, ter iniciativa, ousar e assumir postura crítica diante de ambientes e

procedimentos arriscados, além de desenvolver ações que valorizem a independência. Portanto,

quando os alunos recebem esses estímulos, adquirem confiança na sua capacidade e passam a

reconhecer e valorizar o seu potencial. A criação de negócios passa a ser apenas uma

conseqüência.

Na opinião de Dornelas (2001) o momento mundial contemporâneo se caracteriza como a era do

empreendedorismo, pois são os indivíduos empreendedores que estão derrubando as barreiras

comerciais e culturais, diminuindo distâncias geopolíticas, gerando novas opções de trabalho e

riqueza para a sociedade. Para o autor o empreendedorismo tornou-se o ponto de convergência

das políticas públicas na maioria dos países e o interesse por ele se estende além das ações dos

governos nacionais, atraindo também o interesse de muitos organismos internacionais. O

crescimento mundial do interesse em empreendedorismo na década de 90 pode ser observado

através do desenvolvimento de ações relacionadas ao tema.

De acordo com Dornelas (2001), o primeiro estudo do Global Entrepreneurship Monitor –

GEM, divulgado em 1999, trouxe alguns exemplos dessa ocorrência em alguns países da

Europa, como Inglaterra, Alemanha, Finlândia e França. O Global Entrepreunership Monitor,

grupo de estudos que integra pesquisadores do Babson College, da London Business School e do

Kauffmann Center for Entrepreunerial Leadership realizou a primeira pesquisa em 1999, a

segunda em 2000 e a terceira em 2001.

Verificando-se as pesquisas realizadas pelo Global Entrepreneurship Monitor observou-se que

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em 1999 os estudos envolveram o grupo dos 7: Canadá, Inglaterra, França, Alemanha, Estados

Unidos, Japão e Itália e, também, Finlândia, Israel e Dinamarca. Em 2000 a pesquisa foi

ampliada, sendo alcançados 21 países. Além daqueles do ano anterior, foram incluídos:

Argentina, Austrália, Bélgica, Brasil, Índia, Irlanda, Coréia, Noruega, Singapura, Espanha,

Suécia. Em 2001, a pesquisa envolveu 29 países: 10 da primeira pesquisa, 11 da segunda,

havendo ainda a inclusão de 8 nações: Hungria, México, Holanda, Nova Zelândia, Polônia,

Portugal, Rússia e África do Sul (REYNOLDS, 2002).

Os estudos do GEM buscam analisar e demonstrar a participação do empreendedorismo no

crescimento econômico, as políticas públicas realizadas, níveis de atividade empreendedora,

existência de valores sociais e culturais favoráveis, além de diversos outros dados relevantes para

a avaliação do empreendedorismo no âmbito internacional. Além de ter se transformado numa

importante forma para estudar o crescimento econômico nos países mais desenvolvidos, nas

pesquisas realizada pelo GEM constata-se o fortalecimento de atividades ligadas ao

desenvolvimento do empreendedorismo no cenário mundial, a exemplo do que está ocorrendo na

Europa Central e Leste Europeu.

Em Twaafholven e Muzika (2001) verifica-se que o surgimento do empreendedorismo tem sido

uma das bases da reconstrução da Europa Central e Leste Europeu. Projeções feitas pela EFER –

European Foundation for Entrepreneurship Research estimaram um aumento de 1 a 2 milhões de

negócios empreendedores em 1989 para 4 a 5 milhões em 2000. Na Europa Central e Leste

Europeu o empreendedorismo tem avançado muito, principalmente pela abundância de

oportunidades e devido a economia informal, que particularmente na Rússia, é muito grande,

embora não existam dados precisos sobre o assunto. Registram também os autores citados, que

análises da OECD – Organization for Economic Cooperation and Development registram que

até 1995 funcionavam em torno de 12 milhões de negócios empreendedores na Europa Oriental,

sendo que tais empresas foram fundamentais para o desenvolvimento da economia dos países que

integravam o antigo bloco comunista, conforme se observa no quadro 7.

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QUADRO 7 - Empreendedorismo nos países da Europa Central e Leste Europeu Grupo 1

Progressistas

Grupo 2

Em desenvolvimento

Grupo 3

Nascentes República Checa, Hungria, Polônia e Eslovênia

Bulgária, Croácia, Estônia, Letônia, Lituânia, Romênia e Eslováquia

Albânia, Armênia, Bielorússia Geórgia, Kasaquistão, Rússia Sérvia, Ucrânia, Uzbequistão

Fonte: Twaafholven e Muzika (2001, p.172) 3.7.2 A Situação Brasileira Resgatando importantes aspectos da história do emprendedorismo no Brasil, Dolabela e Lima

(2000) informam que o primeiro curso de empreendedorismo implantado no Brasil ocorreu em

São Paulo, em 1981, na Escola de Administração de Empresas da Fundação Getúlio Vargas.

Inicialmente, a disciplina Novos Negócios era ministrada no Curso de Especialização em

Administração da FGV. Em 1984 o curso foi introduzido também na graduação com a

denominação de Criação de Novos Negócios. Ainda na FGV foi criado em 1989 o CIAGE –

Centro Integrado de Gestão Empreendedora, ocorrendo então a implantação do ensino de

empreendedorismo em cursos de pós-graduação. A experiência da FGV foi pioneira. Mesmo dez

anos depois poucas instituições de educação superior tinham percebido a importância do

estímulo à abertura de novos negócios em nível de graduação. (ver quadro 08)

Outras iniciativas precursoras ocorreram em 1984 na FEA/USP, com a oferta da disciplina de

criação de empresas no curso de graduação em Administração e na Universidade Federal do Rio

Grande do Sul, onde se iniciou uma disciplina de criação de empresas no curso de ciências da

computação.

Dornelas (2001) realça que a partir do início da década de 90 a cultura empreendedora começou

realmente a expandir-se no Brasil, estimulando a criação do Programa REUNE (Rede de Ensino

Universitário de Empreendedorismo) pela Confederação Nacional da Indústria, a do SEBRAE

(Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas) e a da SOFTEX (Sociedade

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Brasileira para Exportação de Software). Posteriormente foram implantados os programas

SoftStart, Genesis e Empretec.

Nos anos seguintes, o ensino de empreendedorismo foi introduzido em diversas universidades

brasileiras, principalmente nos cursos de Administração, Engenharia e Ciências da Computação.

Observa-se em Paim e Pardini (2001), referências às experiências implantadas em diversas

instituições (ver quadro 08): Universidade Federal de Minas Gerais - Grupo de Estudos da

Pequena Empresa, 1991; Universidade Federal de Santa Catarina – Escola de Novos

Empreendedores, 1992; Universidade Federal de Pernambuco – Centro de Estudos e Sistemas

Avançados do Recife, 1992; Escola Federal de Engenharia de Itajubá – Centro Empresarial de

Formação Empreendedora, 1995; Universidade de Brasília – Escola de Empreendedores, 1995;

Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro – Instituto Gênesis, 1997.

Ultimamente o Governo Federal assumiu a função de agente impulsionador do movimento,

criando através do SEBRAE o Programa Brasil Empreendedor, que visa a fortalecer as micro,

pequenas e médias empresas, através da capacitação gerencial. Assim, verifica-se que centrados

na intenção de contribuir para a geração de emprego e renda, um número significativo de

Universidades e Institutos nacionais está desenvolvendo e implantando programas destinados ao

desenvolvimento do empreendedorismo, abrangendo diversos estados da federação.

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QUADRO 8 – Histórico do ensino de empreendedorismo no Brasil

Ano Instituição

Cursos

1981 FGV/SP - Escola de Administração de Empresas

Curso de Especialização em Administração para graduados

1984 FGV/SP - Escola de Administração de Empresas

O Curso foi estendido para a graduação, sob o nome de Criação de Novos Negócios – Formação de Empreendedores

1984 USP – Faculdade de Economia e Administração

Criação de Empresas - curso de Administração

1985 USP – Faculdade de Economia e Administração

Criação de Empresas e Empreendimentos de Base Tecnológica, no Programa de Pós-Graduaçao em Administração

1992 Universidade Federal de Santa Catarina

Criação da ENE – Escola de Novos Empreendedores

1992 Universidade Federal de Pernambuco Criação do CESAR – Centro de Estudos e Sistemas Avançados do Recife

1993 Universidade Federal de Minas Gerais - Programa Softex do CNPQ

Metodologia de ensino de empreendedorismo, oferecida no curso de graduação em Ciência da Computação

1995 Escola Federal de Engenharia de Itajubá – Minas Gerais

Criação do GEFEI – Centro Empresarial de Formação Empreendedora de Itajubá

1995 Universidade de Brasília – UNB Criação da Escola de Empreendedores, com o apoio do SEBRAE-DF

1996 CNPQ – Programa Softex Implantação dos projetos Gênesis (incubadoras universitárias) e Softstart (ensino de empreendedorismo)

1997 Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro

Criação do Instituto Gênesis para inovação e ação empreendedora

1997 Instituto Euvaldo Lodi, FUMSOFT, Secretaria de Estado da Ciência e Teconologia de Minas Gerais, Fundação João Pinheiro, SEBRAE-MG

Lançamento do Programa REUNE – Rede Universitária de Ensino Universitário de Empreendedorismo em Minas Gerais

1998 Confederação Nacional da Indústria, Instituto Euvaldo Lodi e SEBRAE Nacional

Lançamento do Programa REUNE em âmbito nacional

1998 Capítulo Brasileiro do ICSB – International Council for Small Business

Programas nacionais de empreendedorismo

Fonte: Paim e Pardini (2001) 3.8 Universidade e empreendedorismo O meio acadêmico brasileiro ressente-se de maior homogeneidade no tratamento da questão do

empreendedorismo, já que cada Instituição está inaugurando o seu Centro ou Escola de Formação

de Empreendedores e os formatos e configurações dos cursos não seguem um modelo ou padrão

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discutido no âmbito científico. Em decorrência disso, Andrade e Torkomian (2001:2) acreditam

ser necessária uma melhor difusão dos conceitos de educação empreendedora nas Instituições de

Ensino Superior, para fortalecê-la no país, analisar as diversas experiências que estão ocorrendo e

propiciar o desenvolvimento de um modelo nacional de programas de educação empreendedora,

respaldado nos “valores culturais, sociais, econômicos e políticos do país”. Muitas escolas de

novos negócios são oriundas dos cursos de Engenharia e Ciências da Computação, estando mais

direcionadas ao desenvolvimento de tecnologia do que na formação de capacidade

empreendedora.

Comprovados os benefícios das micro e pequenas empresas para o fortalecimento da economia

(DOLABELA, 1999) e reconhecida sua importância no âmbito internacional (DORNELAS,

2001), torna-se imprescindível estimular estudos e pesquisas que estabeleçam bases sólidas para

que essas constatações possam adquirir caráter duradouro. Outro aspecto que deve ser

profundamente analisado é a preparação gerencial dos dirigentes dessas organizações, de modo a

minimizar as dificuldades de gestão enfrentadas, apontadas como causas determinantes da

mortalidade dos novos negócios.

Na avaliação de Siqueira e Guimarães (2000, p.5):

[...] uma das alternativas viáveis para suportar a criação e o desenvolvimento das pequenas empresas está relacionada à organização de propostas educacionais que visem tanto estimular o espírito empreendedor quanto capacitar proprietários e gerentes na análise e avaliação ambiental e em ferramentas de gestão que aumentem a eficácia empresarial.

Dornelas (2001) estabelece que mesmo que o ensino do empreendedorismo não traga a garantia

de criação de novos ícones, com certeza irá contribuir na formação de empresários mais

preparados, empresas melhores e elevação da geração de riqueza no Brasil. Uma das indicações

deste crescimento pode ser comprovada ao se avaliar o aumento dos Centros de Pesquisa e as

iniciativas que têm sido conduzidas vinculadas ao mapeamento seja das características

empreendedoras, seja das variáveis intervenientes para o sucesso ou fracasso dos negócios.

Outros sinais de progresso incluem a proliferação de periódicos especializados na área, o

crescimento do número de conferências e congressos destinados à discussão dos problemas

relacionados à gestão dos pequenos negócios e as intenções de estabelecimento de uma Divisão

Page 68: Dissertação de Mestrado2 GERSON ANTONIO MELATTI A FORMAÇÃO DE EMPREENDEDORES NO CURSO DE ADMINISTRAÇÃO DA UNIVERSIDADE ESTADUAL DE LONDRINA Dissertação aprovada como requisito

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de Empreendedorismo dentro do escopo do Management (SANDBERG; GATEWOOD, 1991).

Analisando-se tais afirmações constata-se que o interesse na educação que estimule ações

empreendedoras, bem como capacite ao gerenciamento dos pequenos negócios cresceu

substancialmente a partir da década de 80 (SOLOMON; FERNALD JR, 1991; GIBB, 1993

apud SIQUEIRA; GUIMARÃES, 2000). No trabalho de Siqueira e Guimarães (2000), autores

renomados como Gorman et al (1996) e Sweeney (1996) indicam que os conhecimentos e as

habilidades necessárias para o desenvolvimento de uma atuação empreendedora podem ser

ensinados e apontam para a viabilidade da implantação de cursos de formação empreendedora,

ressaltando a necessidade de diferenciação entre o ensino de empreendedorismo e o ensino de

técnicas de gerenciamento.

Para tais autores a Universidade deveria separar os programas, principalmente em função das

limitações do ensino tradicional de gestão empresarial. Na avaliação desses estudiosos o ensino

de empreendedorismo deve ter como base um currículo direcionado ao desenvolvimento de

empreendedores, diferente daqueles que procuram habilitar os alunos a atuarem em nível de

gerência intermediária em médias ou grandes organizações. A construção deste novo modelo de

ensino deve centrar-se na “habilidade de detectar e explorar oportunidades de negócios mais

rapidamente e a habilidade de planejar, em detalhes, um projeto de negócio a longo prazo”

(GORMAN et al., 1996; SWEENEY, 1996 apud SIQUEIRA; GUIMARÃES, 2000, p.8).

Ao avaliarem cursos de desenvolvimento de empreendedores, Gorman et al. (1996) e Sweeney

(1996), (apud SIQUEIRA; GUIMARÃES, 2000, p.8), verificaram que os alunos são incentivados

a adquirirem através de treinamento basicamente quatro habilidades:

a) influenciar o meio-ambiente;

b) criar uma rede de suporte ao negócio;

c) ter alto nível de confiança;

d) relacionar e vincular a visão do empreendimento à ação efetiva de

implantação

Identificaram também alguns desafios para o sucesso de programas de formação empreendedora:

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a) auxiliar na identificação e definição de competências estratégicas;

b) auxiliar na aquisição de habilidades empresariais;

c) desenvolver a universidade como motor do desenvolvimento

econômico local e regional.

Além dessas habilidades e desafios, o modelo de negócio, sua estratégia e implementação, bem

como o desenvolvimento e a combinação dos recursos iniciais, são vitais para o sucesso de um

novo empreendimento, embora muitas vezes subestimados ou desconsiderados. Para o

empreendedor, construir uma base inicial de recursos constitui um enorme desafio. O processo

pelo qual uma idéia se torna uma realidade caracteriza-se pela existência de barreiras e múltiplas

tentativas. (BRUSCH et al., 2002). Embora fortemente relacionadas, as formações gerenciais e

empreendedoras possuem diferenças significativas, relatadas no quadro 09, que deverão ser

levadas em consideração nos programas dos cursos de desenvolvimento da capacidade

empreendedora. QUADRO 09 - Diferenças entre a formação gerencial e a formação empreendedora

Formação Gerencial Formação Empreendedora

Baseada em cultura de afiliação Baseada em cultura de liderança Centrada em trabalho de grupo e comunicação de grupo

Centrada na progressão individual

Trabalha no desenvolvimento de ambos os lados do cérebro com ênfase no lado esquerdo

Trabalha no desenvolvimento de ambos os lados do cérebro, com ênfase no lado direito

Desenvolve padrões que buscam regras gerais e abstratas

Desenvolve padrões que buscam aplicações específicas e concretas

Baseada no desenvolvimento do autoconhecimento, com ênfase na adaptabilidade

Baseada no desenvolvimento do autoconhecimento com ênfase na perseverança

Voltada para aquisição de know-how em gerenciamento de recursos e da própria área de especialização

Voltada para aquisição de know-how direcionado para definição de contextos que levem à ocupação de um lugar no mercado

Fonte: Filión (1995) Como as atividades desempenhadas nas organizações pelos gerentes e empreendedores não são

idênticas, torna-se bastante difícil desejar e exigir que um mesmo indivíduo tenha aptidões e

qualificações para trabalhar simultaneamente nas duas áreas. Isto também leva a questionamentos

sobre os conteúdos dos currículos destinados à formação desses profissionais.

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Sabe-se que o ensino universitário brasileiro está focado na formação de empregados e

empresários, situação que encontra ainda maior força devido à dificuldade que os egressos tem

em colocar-se no mercado de trabalho. Dolabela (1999) cita que, infelizmente, nos cursos de

administração a grade curricular é voltada na maioria dos casos para a formação de gerentes e os

professores elegem a grande empresa mundial como exemplo de aulas, esquecendo a realidade

das pequenas e médias empresas.

Tudo isso forma uma tendência favorável para a introdução de um ambiente propício às

oportunidades de negócios, seja pela transformação de empreendimentos tradicionais ou pelo

surgimento de novas idéias. Embora não se possa precisar o número de novos negócios que estão

sendo criados e que surgirão nos anos vindouros, pode-se afirmar que haverá avanços

extraordinários no campo da criação de empresas, impulsionados pelo avanço tecnológico,

abertura de mercados, implantações, fusões e aquisições de empresas. Não há como negar que

agora os empreendedores individuais e os proprietários de pequenas e médias empresas poderão

dispor das tecnologias antes acessíveis somente às grandes corporações.

3.9 Conclusão Neste capítulo procurou-se reunir a literatura pertinente ao empreendedorismo, com o objetivo de

fundamentar teoricamente e fornecer as bases para o tema de estudo. Foram feitas buscas na

literatura usando recursos variados, selecionaram-se estudos e pesquisas relacionados,

resumiram-se resultados, ressaltaram-se idéias apresentadas por importantes pesquisadores e

organizou-se a revisão da literatura em função dos aspectos mais relevantes aos objetivos do

trabalho.

Assim, pode-se constatar que no capítulo de revisão da literatura fundamentou-se a importância

da Universidade enquanto agente transformador da sociedade, conceituou-se empreendedorismo

e empreendedor, examinou-se o empreendedorismo como campo de estudo e como disciplina,

investigou-se a respeito da situação da educação empreendedora no mundo e no Brasil e

encerrou-se o capítulo observando-se as relações entre a universidade e o empreendedorismo.

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4. ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS 4.1 Introdução Neste capítulo são apresentados os resultados das entrevistas realizadas com os professores e as

tabulações dos questionários aplicados aos egressos. Para a sistematização das entrevistas

realizadas com os professores integrantes da amostra de pesquisa utilizou-se a análise de

conteúdo. Para análise dos dados obtidos com o questionário foi utilizada a estatística descritiva,

conforme detalhado anteriormente no capítulo sobre a metodologia utilizada neste trabalho.

4.2 Análise dos Resultados das Entrevistas com Professores

Com o objetivo de condensar a análise das opiniões dos entrevistados e discussão dos resultados,

as quatorze perguntas foram agrupadas em cinco tópicos. O agrupamento foi feito para facilitar a

análise, relacionar as perguntas de pesquisa com os objetivos específicos e possibilitar a

comparação com a análise dos dados obtidos na pesquisa com os egressos.

avaliação do mercado de trabalho para o administrador e dos fatores que contribuíram para a situação;

motivos e aspectos históricos da introdução da modalidade no

departamento; motivos da escolha da modalidade de Projeto de Criação de Empresa pelos

alunos; concordância e avaliação da modalidade;

propostas e sugestões de aprimoramento.

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4.2.1 Análise do Mercado de Trabalho para o Administrador e dos Fatores que Contribuíram para a Situação

Analisando-se as respostas dos 20 professores entrevistados, conforme apresentado no gráfico 1,

verificou-se que 70% entendem que o mercado de trabalho para o Administrador é restrito e

atravessa um momento complicado. As colocações dos professores indicam que a situação torna-

se mais preocupante quando se analisa o mercado de trabalho do município de Londrina e de

cidades mais próximas, como Jataizinho, Ibiporã, Cambé e Rolândia, integrantes da região

metropolitana de Londrina.

GRÁFICO 1 - Avaliação do mercado de trabalho para o Administrador

Restrito70%

Ótimo 5%

Em crescimento

25%

De acordo com os professores, os fatores que causam esta situação são as condições da economia

mundial, o aumento excessivo da oferta de cursos de Administração no país e principalmente na

região de Londrina. Outro ponto destacado nas entrevistas foi a grande concorrência de

profissionais das áreas de Engenharia, Economia, Direito, Contabilidade, Psicologia, entre outras,

que acabam atuando no campo da Administração.

A falta de valorização do profissional, a má qualidade dos cursos e a ausência de espírito de

classe também foram apontadas como grandes obstáculos para o reconhecimento do

Administrador. Como reflexos disso, os entrevistados concordam que os formados acabam não

atuando como executivos ou gerentes, mas sim como técnicos.

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Mesmo os 25% que afirmam que o mercado está em crescimento e os outros 5% que

reconhecem-no como ótimo, são unânimes em esclarecer que embora a área seja ampla, o

profissional formado acaba desempenhando funções intermediárias, tais como: assistente

administrativo, auxiliar de escritório ou estagiário.

4.2.2 Motivos e Aspectos Históricos da Introdução da Modalidade no Curso

4.2.2.1 Motivos da Implantação

Constatou-se na análise da opinião dos pesquisados que foram vários os motivos que levaram à

introdução da modalidade de Projeto de Criação de Empresa no estágio curricular do Curso.

Deve-se ressaltar que embora a proposta dessa implantação tenha sido inicialmente discutida no

final de 1989 e no início de 1990, a maioria dos docentes (70%) conseguiu lembrar ou

posicionar-se sobre alguns fatos.

Assim, observou-se nas entrevistas que à época havia um esgotamento da modalidade de Projeto

de Sistema Gerencial em virtude da redução do número de empresas dispostas a receber e

acompanhar estagiários, culminando em discussões a esse respeito dentro do Departamento,

motivadas por alguns docentes que haviam estudado na Universidade de São Paulo e na

Fundação Getúlio Vargas/SP, onde haviam tido contato com pesquisadores desse novo campo.

Os docentes alegaram que naquela oportunidade tais avaliações coincidiam com as tendências

mundiais e abertura econômica do país, refletindo a necessidade de introduzir o

empreendedorismo, o que acabou por despertar nos alunos o interesse sobre a criação de

negócios.

Observou-se que 30% dos docentes entrevistados relataram não possuir ou recordar informações

sobre os motivos da implantação da modalidade de Projeto de Criação de Empresa no estágio

curricular, preferindo não responder a pergunta (questão nº 3 do Anexo A). Avaliou-se como

normal a quantidade de professores que optaram por não responder a indagação, pois conforme

comprova-se na tabela 2, aproxima-se desse valor o número de docentes que ingressaram no

Departamento há menos de 10 anos.

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TABELA 2 - Tempo de atuação dos docentes no Departamento

Tempo de atuação docente na UEL freqüência % Menos de 5 anos 1 5 Entre 5 e 10 anos 4 20 Entre 10 e 20 anos 3 15 Acima de 20 anos 12 60 Total 20 100

Fonte: Divisão de Registro da Coordenadoria de Recursos Humanos – UEL. 4.2.2.2 Aspectos Históricos Quando se indagou sobre o surgimento da proposta no âmbito do Departamento e das discussões

ocorridas a esse respeito dentro do curso com a comunidade universitária, outros departamentos

e órgãos da Universidade, um número expressivo (55%) de docentes preferiu não emitir opinião,

enquanto que 35% afirmaram que a discussão limitou-se ao corpo docente do Departamento,

sendo assunto tratado especificamente nas reuniões departamentais e em trabalhos paralelos

realizados por comissões ou grupos de estudos.

Uma pequena proporção (10%) dos entrevistados relatou que a discussão foi ampla, envolvendo

discentes, ex-alunos, entidades de classe, empresários, outros departamentos e órgãos da estrutura

da Universidade (ver tabela 3). TABELA 3 - Processo interno de discussão da proposta de formação de empreendedores

Respostas Freqüência % Não responderam 12 55 Discussão restrita, limitada ao âmbito do Departamento 6 35 Discussão ampla, envolvendo a comunidade interna e externa 2 10 Total 20 100

Após análise das informações sobre a participação e receptividade da proposta junto a entidades

representativas ou organizações de fomento, apresentadas na tabela 4, verificou-se que 15%

afirmaram que essas discussões na realidade não aconteceram. A maioria das pessoas (60%)

declarou não saber se isso ocorreu, preferindo deixar de responder.

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75

Apenas 10% dos professores asseguraram que houve uma discussão restrita ou superficial,

envolvendo tão somente a Associação Comercial e Industrial de Londrina - ACIL e 15%

afirmaram que a discussão foi mais abrangente, envolvendo instituições como a Associação

Comercial e Industrial de Londrina - ACIL, Associação Brasileira de Administração - ABRA,

Conselho Regional de Administração - CRA e alguns empresários, restringindo-se, no entanto,

simplesmente ao campo das idéias, em estudos preliminares, sem ter ocorrido um debate mais

aprofundado.

TABELA 4 - Processo de envolvimento de entidades representativas ou organizações de

fomento na elaboração da proposta

Respostas Freqüência % Não houve envolvimento 3 15 Não responderam 12 60 A discussão foi restrita, superficial, envolveu apenas a ACIL 2 10 Houve razoável discussão envolvendo ACIL, ABRA e CRA 3 15 Total 20 100

Ao serem indagados sobre a realização de estudos de modelos ou análises sobre exemplos

existentes em outras Instituições de Ensino Superior, 70% dos entrevistados optaram por não

responder, 5% relataram que desconhecem se tais procedimentos foram executados, 10%

disseram recordar que a busca se limitou aos exemplos encontrados na literatura pertinente ao

tema e 10% alegaram que realmente foram consideradas algumas experiências como as da USP e

da FGV/SP, além de, talvez, terem sido visitadas as Universidades Federais do Rio de Janeiro e

de Santa Catarina.

Conforme se verifica na tabela 5, um discurso relevante encontrado em 5% dos entrevistados

estabeleceu outro motivo informando que a Universidade Estadual de Londrina foi uma das

instituições pioneiras na idéia de implantar a criação de negócios como opção de estágio

curricular, portanto naquela época não existiam muitos exemplos a serem pesquisados e

estudados. Esta afirmação é pertinente, pois no capítulo da revisão da literatura constatou-se que

as primeiras tentativas de ensino de empreendedorismo no Brasil aconteceram no final da década

de 1980 na FGV e USP, disseminando-se para outras universidades a partir de 1992 (PAIM;

PARDINI, 2001).

Page 76: Dissertação de Mestrado2 GERSON ANTONIO MELATTI A FORMAÇÃO DE EMPREENDEDORES NO CURSO DE ADMINISTRAÇÃO DA UNIVERSIDADE ESTADUAL DE LONDRINA Dissertação aprovada como requisito

76

TABELA 5 - Análise ou estudos de exemplos existentes em outras universidades

Respostas Freqüência % Não responderam 14 70 Desconhecem 1 5 Foram pesquisados e estudados exemplos da literatura 2 10 Foram consideradas algumas experiências e visitadas Universidades 2 10 Existiam poucos exemplos e a UEL foi uma das pioneiras no assunto 1 5 Total 20 100

4.2.3 Motivos da Escolha da Modalidade de Projeto de Criação de Empresa pelos Alunos

Conforme consta no gráfico 2, nesta questão as respostas dos docentes foram amplas e em alguns

casos abordaram mais de um aspecto, haja vista que a pergunta permitiu isto. Na concepção da

maioria (11 opiniões), o principal fator que incentiva o aluno a optar pela modalidade é o

interesse e o desejo de abrir um negócio próprio, além da tendência que ele possui para

empreender, reforçada pela sua condição sócio-econômica.

GRÁFICO 2 - Motivos que estimulam o aluno a optar pela modalidade de PCE

0% 20% 40%

Interesse, condições evocações para

empreender

Facilidades e flexibilidadepermitidas pela

modalidade

Dificuldades paraencontrar estágios em

empresas

Dificuldades de mercadode trabalho para o

administrador

Outro importante motivo destacado (8 respostas) refere-se às facilidades, flexibilidade e liberdade

com relação ao tempo, deslocamentos, locais de estudo e supervisão dentro da empresa, isto é, o

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77

aluno não precisa deslocar-se, nem permanecer dentro de uma organização para realizar o

estágio, podendo fazê-lo em casa, na biblioteca ou outro lugar qualquer, de acordo com suas

condições e disponibilidade de tempo.

As dificuldades de colocação para o Administrador no mercado de trabalho (6 registros), os

obstáculos e restrições para a realização de estágio na modalidade de Projeto de Sistema

Gerencial (7 respostas) foram os outros motivos relatados pelos pesquisados.

4.2.4 Concordância e Avaliação da Modalidade

4.2.4.1 Concordância sobre a proposta A análise das entrevistas demonstrou que a proposta de formar empreendedores dentro do curso

de Administração da UEL encontra enorme aceitação e é quase unânime entre os professores, já

que 95% (19 entrevistados) não têm dúvidas de que a situação econômica brasileira, as condições

do mercado local e a tecnologia disponível propiciam condições favoráveis ao desenvolvimento

de empreendedores. O curso deve possuir este direcionamento.

Os entrevistados acreditam que além de incentivar a abertura de negócios próprios, o curso deve

estimular também os alunos para a educação empreendedora, englobando outras aspectos

relacionados, como, por exemplo, o intra-empreendedorismo.

4.2.4.2 Avaliação da Modalidade Com relação aos objetivos inicialmente projetados na elaboração da proposta de formar

empreendedores e os resultados atingidos, observou-se que 50% dos entrevistados não possuíam

informações sólidas sobre o assunto, preferindo não responder a questão e 10% se restringiram a

esclarecer que os objetivos não são tão claros e que os mesmos se limitam a seguir as normas

estabelecidas no manual do orientador, no qual constam os procedimentos e roteiros a serem

seguidos pelo estagiário.

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78

Os outros 40% dos pesquisados apresentaram diversos entendimentos com relação aos objetivos

propostos e resultados alcançados. Na tabela 6 estão demonstrados os resumos dos entendimentos

apresentados pelos docentes. Na análise desses entendimentos percebeu-se que eles assimilaram

a proposta como uma nova opção de estágio, dando oportunidade para o aluno implantar um

negócio. Quanto aos resultados atingidos notou-se que faltou um acompanhamento e mensuração

dos projetos elaborados, já que os professores não possuem condições de detalhar, quantificar e

avaliar a qualidade dos projetos que foram implantados.

TABELA 6 - Relação entre objetivos propostos e alcançados

Entre vistado

Propostas Resultados atingidos

P1 Formação de um banco de projetos de criação de empresas para atrair investidores

A atração de investidores não aconteceu e alguns alunos acabaram por desenvolver o projeto por conta própria

P6 Oferecer uma opção a mais de estágio, contribuindo para que o aluno montasse seu próprio negócio

Alguns negócios foram viabilizados, porém, nem todos puderam ser acompanhados

P8 Dar oportunidade para o aluno vislumbrar a opção de não atuar como empregado

Dentre os alunos que realizaram o estágio na modalidade, vários concretizaram um negócio próprio

P9 Incentivar alunos com habilidades ou perfil de empreendedor à realização do negócio próprio, sem preocupação com definições de números de negócios a serem criados

A maioria dos alunos apenas cumpriu o estágio como uma obrigação acadêmica e o número de negócios implantado foi reduzido

P10 Abrir uma nova perspectiva para o aluno, fornecendo condições para criar um negócio próprio

Posteriormente não houve a preocupação da Universidade em verificar a eficácia da proposta

P14 Criar condições para o aluno implantar um negócio próprio

Poucos resultados foram conseguidos, porém, alguns trabalhos de boa qualidade foram apresentados em feiras e eventos.

P16 Propiciar condições para o aluno implantar um negócio próprio

Os resultados alcançados são pequenos em relação aos objetivos propostos

P19 Não informou Não existe um levantamento formal, porém inúmeros projetos foram apresentados em eventos e outros tantos foram implantados pelos alunos

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79

Na tabela 7 estão representadas as opiniões dos professores a respeito da avaliação da modalidade

de Projeto de Criação de Empresa e suas percepções sobre os aspectos positivos e negativos. Da

análise dos dados, concluiu-se que a maioria (75%) não possui avaliação formada sobre a

proposta. Uma grande parte dos professores (55%) considerou como principal aspecto positivo a

possibilidade da aplicação prática dos conhecimentos adquiridos pelos acadêmicos e como

aspectos negativos mais importantes foram registrados: falta de critérios e de rigor na triagem dos

projetos (25%), ausência de inovação e criatividade (20%), o despreparo do aluno (20%).

Como encaminhamentos de aperfeiçoamento foram colhidas sugestões no sentido de reforçar a

qualidade dos projetos através do questionamento e seleção criteriosa das propostas de estágio,

análise do perfil empreendedor do aluno, orientação e estímulo ao aluno nas séries iniciais do

curso e treinamento dos orientadores.

TABELA 7 - Aspectos Positivos e Negativos da Modalidade

Avaliação F % Aspectos Positivos F % Aspectos negativos F %

Não informou

15 75 Não informou 5 25 Não informou 4 20

Muito importante

3 15 Aplicação prática dos conhecimentos

11 55 Projetos fracos por falta de critério e triagem das propostas

5 25

Interessante e importante

2 10 Motivação e incentivo ao aluno

4 20 Ausência de inovação, criatividade. Repetição excessiva

4 20

Alunos despreparados 4 20 Falta de padronização dos procedimentos

2 10

Orientadores despreparados

1 5

Total 20 100 Total 20 100 Total 20 100

Quando indagados sobre o conteúdo programático da disciplina de criação e administração da

pequena e média empresa, verificou-se que 45% dos entrevistados (9 professores) optaram por

não responder a pergunta. Analisando-se as opiniões dos outros 55% (11 professores) não foram

detectados aspectos positivos ou negativos que merecessem ser destacados e comentados,

ocorrendo distribuição em vários itens, conforme demonstrado na tabela 8.

Page 80: Dissertação de Mestrado2 GERSON ANTONIO MELATTI A FORMAÇÃO DE EMPREENDEDORES NO CURSO DE ADMINISTRAÇÃO DA UNIVERSIDADE ESTADUAL DE LONDRINA Dissertação aprovada como requisito

80

TABELA 8 - Conteúdo da disciplina de Criação e Administração de Pequena e Média Empresa, destaques e dificuldades que tem apresentado.

Aspectos Positivos F % Aspectos negativos F %

Não informou 4 36, 4 Não informou 2 18,2

Aborda pontos específicos e importantes

3 27, 2 Carga horária insuficiente 2 18,2

A motivação dos professores da disciplina

2 18,2 Restrita à pequena empresa 1 9,0

Necessita atualização na área financeira

2 18,2

Ausência de discussões do conteúdo

2 18,2

A constante necessidade de atualizações e adequações

2 18,2

Falta contato com as empresas da região

2 18.,2

Total 11 100 Total 11 100

Os números apresentados no gráfico 3 expressam que na opinião de 35% dos docentes

entrevistados as condições e incentivos apresentados pelo curso são insuficientes e não

contribuem para o desenvolvimento da capacidade empreendedora dos alunos. Para 30% dos

pesquisados o curso não tem iniciativas importantes, além dos objetivos não estarem bem

estabelecidos, avaliando como razoáveis as condições e incentivos oferecidos. Por outro lado,

25% dos entrevistados registraram que o curso está oferecendo condições e incentivos adequados

e 10% dos professores avaliaram que o curso oferece condições, mas não tem apresentado

incentivos condizentes na mesma proporção.

GRÁFICO 3 - Condições e incentivos do curso para despertar a capacidade empreendedora

7

6

5

2

0 5 10 15 20 25 30 35%

Insuficientes

Razoáveis

Adequados

Outros

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81

Analisando-se com mais profundidade o teor das entrevistas, pode-se observar que diversas

sugestões foram apresentadas pelos professores, envolvendo aspectos importantes para o

aprimoramento das condições e incentivos oferecidos, como a melhor divulgação da modalidade

nas séries iniciais, inclusão de mais discussões baseadas em estudos de casos, aprimoramento do

contato com a realidade empresarial através da realização de pesquisas de campo, despertar e

incentivar a criatividade incluindo atividades desafiadoras e que levem o aluno a se arriscar,

aprimorar os recursos de informática utilizando softwares de planos de negócios, jogos de

empresas e simulações computadorizadas de criação de negócios, atualização urgente do acervo

bibliográfico e maior comprometimento do corpo docente nas atividades relacionadas ao campo

do empreendedorismo.

4.2.5 Propostas e Sugestões de Aprimoramento.

Indagados sobre as possibilidades do curso manter, aprimorar ou extinguir a proposta de

formação de empreendedores, verificou-se, como demonstrado no gráfico 4, que a maioria dos

respondentes (18 professores) acredita que o curso tem intenção de prosseguir na linha do

desenvolvimento de empreendedores, obtendo-se o índice de 90% para os fatores de manutenção

e aprimoramento da proposta vigente.

GRÁFICO 4 - Intenções do curso sobre a proposta e sugestões de encaminhamento.

12

6

1 10

10

20

30

40

50

60

%

Aprimoramento Manutenção Desconhece Não respondeu

Além da opinião favorável ao aprimoramento e manutenção da intenção de desenvolver

empreendedores, da análise dos discursos extraiu-se uma grande quantidade de encaminhamentos

Page 82: Dissertação de Mestrado2 GERSON ANTONIO MELATTI A FORMAÇÃO DE EMPREENDEDORES NO CURSO DE ADMINISTRAÇÃO DA UNIVERSIDADE ESTADUAL DE LONDRINA Dissertação aprovada como requisito

82

para melhoria da situação existente, dentre os quais destacam-se: necessidade de se definir

claramente as propostas do curso, reformular o currículo dando ênfase ao empreendedorismo,

incentivar e despertar nos alunos o interesse pela modalidade; obrigatoriedade de se dar mais

enfoque científico nos projetos, exigindo maior qualidade e fornecendo condições de

acompanhamento efetivo, buscar a participação e parcerias com entidades de fomento e pesquisa,

reunir os professores interessados, criar grupos de trabalho e núcleos de estudos visando a formar

pesquisadores na área.

Na questão que envolvia possíveis mudanças no projeto pedagógico, dentre os 20 entrevistados 5

preferiram não responder, alegando que o assunto é bastante complexo e merece reflexões mais

profundas. Um docente declarou que ainda não possui opinião definitiva a respeito.Os outros 14

professores aprovaram a colocação da pergunta, reforçando que o assunto já foi objeto de

discussões e estudos dentro do Departamento e aproveitaram a oportunidade para colocar

algumas análises importantes, nas quais observou-se convergência de opiniões ficando

ressaltadas preocupações unânimes como a reformulação do currículo; opção por atuação em

módulos ou blocos temáticos no lugar de disciplinas, redução da carga horária do curso para 4

anos, criação de conselho de classe, inter-relação das áreas, intercâmbio entre disciplinas e

integração dos professores, incrementação da capacitação e da pesquisa, maior envolvimento com

a comunidade empresarial e reforço das atividades voltadas ao empreendedorismo.

Questionados se o ensino de empreendedorismo poderia facilitar a transdisciplinaridade,

verificou-se que 90% dos professores responderam de forma positiva, enquanto que 10% optaram

por não responder a pergunta.

Analisando-se as respostas dos entrevistados observou-se a apresentação de algumas propostas

interessantes: articular o estreitamento das relações dos alunos de Administração com alunos de

outros cursos para unir diferentes áreas do conhecimento e estimular o surgimento de novas

idéias no campo dos negócios, capacitar o Departamento de Administração para assumir o papel

de titular no ensino de empreendedorismo dentro da Universidade, orientando as áreas de outros

departamentos da Instituição que possam estar sendo envolvidos nas atividades de criação de

novos empreendimentos.

Page 83: Dissertação de Mestrado2 GERSON ANTONIO MELATTI A FORMAÇÃO DE EMPREENDEDORES NO CURSO DE ADMINISTRAÇÃO DA UNIVERSIDADE ESTADUAL DE LONDRINA Dissertação aprovada como requisito

83

4.3 Análise dos Resultados da Pesquisa com os Egressos Seguindo o mesmo formato da pesquisa realizada com os professores e com o objetivo de agrupar

a análise das opiniões dos entrevistados e a discussão dos resultados, a pesquisa com os egressos

foi resumida em cinco grandes itens:

avaliação do mercado de trabalho;

motivo da escolha pela modalidade e análise das condições oferecidas pelo

curso para o desenvolvimento da capacidade empreendedora;

nível de informações e qualidade do conhecimento sobre

empreendedorismo recebidos;

implantação e caracterização do negócio próprio;

análises cruzadas.

4.3.1 Avaliação do mercado de trabalho para o Administrador

Quando perguntados sobre a situação atual do mercado de trabalho, ou seja, as ofertas de

emprego existentes e disponibilizadas em relação à demanda de colocação por parte dos

Administradores, conforme consta no gráfico 5, observou-se que 83% dos pesquisados avaliam

esse mercado como ruim ou regular. Deste resultado, pode-se inferir que muitos dos profissionais

formados nos cursos de Administração não estão encontrando espaço para atuação como

Administradores após a conclusão da graduação.

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84

GRÁFICO 5 - Avaliação do mercado de trabalho

1

10

36

24

0

10

20

30

40

50

60

Ruim Regular Bom Ótimo

%

Na questão seguinte buscou-se averiguar se o aluno de Administração obteve colocação em

atividades intermediárias na área de formação, durante a graduação ou após o término do curso.

Os dados indicados no gráfico 6 mostram que um número expressivo (72%) de egressos

realmente conseguiu colocação em organizações, executando trabalhos técnicos na área de

administração, provavelmente em funções não gerenciais.

GRÁFICO 6 - Obtenção de colocação em atividades intermediárias no campo da Administração

antes ou depois de formado

Não28%(20)

Sim72%(52)

Modificando-se a questão anterior, perguntou-se aos egressos se obtiveram colocação como

Administrador após o término do curso e as respostas demonstradas no gráfico 7 indicam que a

maioria (58%) não alcançou tal posição. Porém, um número expressivo de respondentes (40%)

afirma que encontrou opções de atuação como Administrador nas organizações. Essa situação

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85

pode ser melhor entendida ao analisar-se os dados das tabelas 9 e 10, onde encontram-se

resultados da principal atividade atualmente desenvolvida e do cargo ocupado atualmente. A

tabela 9 demonstra que dos 29 respondentes (40%) que declararam estarem atuando como

administradores 12 atuam em negócio próprio, 9 em empresas familiares e 8 em micro e

pequenas empresas. Do mesmo modo, na tabela 10 observou-se que os 29 respondentes estão

atuando como Administradores (9), Diretores (8), Chefes (8) e Gerentes (4).

GRÁFICO 7 - Obtenção de colocação como Administrador após o término do curso

Não58%(42)

Sim40%(29)

Na questão sobre a principal atividade atualmente desenvolvida pelos egressos, demonstrada na

tabela 9, constatou-se que a maior parte (25%) de egressos está atuando em grandes empresas; em

segundo lugar (16,67%) aparecem aqueles que trabalham no negócio próprio, seguindo-se os que

atuam em empresa pública e empresa da família, com 13, 89% e 12,50% respectivamente.

TABELA 9 - Principal atividade profissional

Atividade desenvolvida atualmente

freqüência

%

Trabalha em grande empresa nacional ou internacional 18 25,00 Trabalha em negócio próprio, como proprietário ou sócio 12 16,67 Trabalha em empresa pública 10 13,89 Trabalha em empresa da família 9 12,50 Trabalha em média ou pequena empresa 8 11,11 Não trabalha 6 8,33 Outra 5 6,94 Trabalha como autônomo, sem vínculo empregatício 4 5,56 Total 72 100,00

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86

A opção pela atuação em grandes empresas encontra respaldo na obra de Kanitz (1994), que

alega a excessiva ênfase dos cursos de Administração na preparação de executivos, sem a

preocupação de desenvolver profissionais que possam criar e desenvolver com competência

novas empresas. Dolabela (1999) também confirma essa tendência, citando que os valores

introduzidos na educação formal brasileira buscam preparar empregados e o ensino universitário

privilegia o enfoque para grandes corporações.

Quanto ao cargo ocupado pelos egressos, as informações da tabela 10 indicam que uma grande

parte trabalha como assistente administrativo (26,39%) ou estagiário remunerado (20,83%).

Somando-se os que atuam como trainee, este número atinge 50%, ou seja, pode-se deduzir que a

metade dos pesquisados atualmente não ocupa funções de chefia ou gerência.

TABELA 10 - Cargo ocupado atualmente

Cargo ocupado Freqüência % Assistente Administrativo ou outro cargo intermediário ligado à Administração 19 26,39

Estagiário remunerado 15 20,83 Administrador 9 12,50 Diretor 8 11,11 Chefe, Supervisor ou Encarregado de área ou setor Administrativo 8 11,11 Não informou 7 9,72 Gerente 4 5,56 Trainee 2 2,78 Total 72 100,00 Quanto ao aumento da empregabilidade dos egressos, avaliado algum tempo após o término do

curso, constatou-se que um número significativo (54) de respondentes (78%) concordou que suas

condições de empregabilidade foram parcial ou totalmente melhoradas, conforme se verifica no

gráfico 8.

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87

GRÁFICO 8 - Aumento da empregabilidade

38

18

12

3

0 10 20 30 40 50 60

%

Concordamparcialmente

Concordamtotalmente

Discordamparcialmente

Discordamtotalmente

Pelos dados da tabela 11, notou-se que um número grande (40,28%) dos pesquisados, quando

questionados sobre qual foi o seu objetivo ao escolher o curso de Administração, assinalaou a

opção relacionada à atuação na área de Administração de uma grande empresa. Como segunda

alternativa mais indicada observou-se a escolha pela abertura de negócio próprio, representando

37,50% das intenções. Somando-se essas intenções, pode-se perceber quais os principais motivos

que tinham os alunos ao escolherem o curso de Administração. Nota-se que a maioria (78%) dos

egressos desejava atuar numa grande corporação ou ter a sua própria empresa.

TABELA 11 - Objetivo ao escolher o curso de Administração

Objetivos

Freqüência

%

Trabalhar na área de administração numa grande empresa nacional ou internacional 29 40,28

Ter um negócio próprio 27 37,50 Dar continuidade ao negócio da família 4 5,56 Trabalhar na área de administração numa empresa média ou pequena 3 4,17 Conseguir emprego em órgão público 3 4,17 Outro 3 4,17 Trabalhar como consultor autônomo na área da administração 2 2,78 Ser professor na área de administração 1 1,39 Total 72 100,00

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88

4.3.2 Motivo da escolha pela modalidade e análise das condições oferecidas para o

desenvolvimento da capacidade empreendedora

No que se refere aos motivos que levaram os egressos a escolher a modalidade de projeto de

criação de empresa como estágio curricular de término de curso, verificou-se que a maioria das

respostas está relacionada com a intenção de iniciar um negócio próprio. Como consta na tabela

12, a maioria dos respondentes (68,06%) assinalou que desejava aprofundar conhecimentos para

futuramente iniciar um empreendimento, enquanto que outros 13,89% planejavam iniciar um

negócio próprio imediatamente. Juntando-se as opções mais escolhidas, percebe-se que a vontade

de abrir um negócio é significativa, já que 82% dos ex-alunos gostariam de empreender um

negócio próprio.

TABELA 12 - Motivo principal da escolha pela modalidade de PCE pelos alunos

Motivos assinalados

Freqüência

%

Desejava aprofundar conhecimentos, buscar reflexões e obter conclusões sobre criação de empresas, para futuramente iniciar um negócio próprio.

49 68,06

Estava muito interessado em iniciar imediatamente um negócio próprio. 10 13,89

Outro. 8 11,11 Era a modalidade mais fácil de ser executada. 3 4,17 Foi influenciado pela disciplina de Criação de Pequena e Média Empresa. 1 1,39

Optou pelo PCE por falta de informações. Poderia ter escolhido outro (Projeto de Sistema Gerencial ou Projeto Especial). 1 1,39

Total 72 100,00 Quanto à qualidade das contribuições do curso através da disciplina de criação de empresa e da

modalidade de projeto de criação de empresa no estágio curricular, para a construção do

conhecimento sobre empreendedorismo e desenvolvimento da capacidade empreendedora,

registradas no gráfico 9, verificou-se que 29,17% dos respondentes avaliaram com ruim ou

regular enquanto que 70,83% acreditam que as contribuições são ótimas ou boas. Portanto, pode-

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89

se afirmar que na percepção dos ex-alunos as contribuições oferecidas estão satisfazendo suas

expectativas.

GRÁFICO 9 - Qualidade das contribuições do curso

3

18

34

17

0

10

20

30

40

50

%

ruim regular boa ótima

Quanto à qualidade das contribuições das atividades complementares, como depoimentos de

empreendedores, entrevistas e encontros com empreendedores, palestras e debates com

empreendedores e entidades de financiamento de novos negócios, visitas a empresas, intercâmbio

com outras universidades, jogos e simulações de negócios, concursos de planos de negócios,

oferecidas pelo curso para o desenvolvimento da capacidade empreendedora, verificou-se que

40,28% dos respondentes avaliaram com ruim ou regular, enquanto que 59,72% acreditam que as

contribuições são ótimas ou boas (ver gráfico 10). Devido à proximidade dos indicadores

encontrados, pode-se dizer que houve um equilíbrio entre as considerações positivas e negativas

encontradas, indicando que a questão merece maior aprofundamento e reflexões.

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90

GRÁFICO 10 - Qualidade das atividades complementares

3

26

33

10

0

10

20

30

40

50

%

ruim regular boa ótima

4.3.3 Informações e qualidade do conhecimento sobre empreendedorismo

Perguntados se a disciplina Criação de Pequenas e Médias Empresas e o estágio curricular em

Projeto de Criação de Empresa contribuem para despertar o interesse em empreendedorismo e

desenvolver a capacidade empreendedora, observou-se que 83% dos pesquisados concordaram

parcial ou totalmente com a afirmação, conforme se constata no gráfico 11.

GRÁFICO 11 - Contribuições para despertar o interesse em empreededorismo e desenvolver a

capacidade empreendedora:

40

20

7

2

2

0 10 20 30 40 50 60

%

Concordam parcialmente

Concordam totalmente

Discordam parcialmente

Discordam totalmente

Sem Opinião formada

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91

Quanto à questão sobre se o curso de Administração deve estimular nos alunos o

desenvolvimento da capacidade empreendedora, constatou-se que 96% dos pesquisados

concordaram parcial ou totalmente com a afirmação (ver gráfico 12).

GRÁFICO 12 - O curso como estimulador do desenvolvimento da capacidade empreendedora

53

16

1

1

0 10 20 30 40 50 60 70 80

%

Concordamparcialmente

Concordamtotalmente

Discordamtotalmente

Sem Opiniãoformada

Indagados se concordavam com a afirmação de que o curso de Administração da UEL está

direcionado para formar empreendedores e gestores de seus próprios negócios, conforme a

proposta pedagógica oficial do Departamento, constatou-se que 48,61% dos pesquisados

discordaram parcial ou totalmente da afirmação e uma grande parte (40,28) concordou

parcialmente com a proposição (gráfico 13). Pode-se concluir destes dados que a intenção do

curso em formar empreendedores não encontra entendimento unânime na percepção dos alunos.

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92

GRÁFICO 13 - Direcionamento do curso

29

5

25

10

2

0 5 10 15 20 25 30 35 40 45

%

Concordam parcialmente

Concordam totalmente

Discordam parcialmente

Discordam totalmente

Sem Opinião formada

O questionamento sobre os principais assuntos que, na opinião dos egressos, deveriam ser

abordados no conteúdo programático de uma disciplina, que fosse trabalhar com

empreendedorismo, permitia várias respostas. Para responder a questão o pesquisado dispunha

de 9 opções de resposta. Além disso, solicitou-se que indicasse os 3 principais assuntos,

colocando-os em ordem de prioridade. Assim, de acordo com a tabela 13, segundo os ex-alunos

o assunto que obteve o maior número de indicações (47 registros) foi a identificação de

oportunidades de mercado. Esta escolha coincide com os estudos de Byrley e Muzika (2001), que

a registram como fator preponderante para o sucesso de um empreendimento. Entre as outras

respostas verificou-se bastante equilíbrio, não ocorrendo destaque para nenhuma opção.

TABELA 13 - Assuntos a serem abordados numa disciplina de Empreendedorismo

Assuntos escolhidos

freqüência

%

Identificação de oportunidades de mercado 47 65,28 Planejamento de novos negócios 29 40,28 Principais razões do sucesso ou do fracasso empresarial 27 37,50 Técnicas e instrumentos para iniciar uma empresa 27 37,50 Desenvolvimento da imaginação, criatividade e inovação 26 36,11 Desenvolvimento de plano de negócios 26 36,11 Procedimentos para iniciar uma empresa 14 19,44 Estudos de empreendedorismo e das características dos empreendedores 7 9,72

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A questão sobre a metodologia do ensino de empreendedorismo também permitia várias

respostas. Para responder a questão o pesquisado dispunha de 9 opções de resposta. Além disso,

não se limitou o número de opções a serem escolhidas. Portanto, depois de tabuladas as respostas

dos egressos (tabela 14), encontrou-se um equilíbrio entre as três situações mais escolhidas. É

importante registrar que a opção por trabalhos individuais, tão comuns nos cursos superiores, foi

a escolha com o menor número de registros.

TABELA 14 - Metodologia do ensino de empreendedorismo

Propostas escolhidas

freqüência

%

Trabalhos de campo, visitando e diagnosticando empresas recém criadas 54 75,00 Conhecer a experiência de empreendedores, bem sucedidos ou não 51 70,83 Apresentação de projetos de criação de empresas para empreendedores e entidades financiadoras 51 70,83

Trabalhos em grupos, visando a simulação da criação de uma empresa 47 65,28 Ênfase em estudos de casos sobre empresas criadas 43 59,72 Simulação de criação de empresas, baseada em jogos, softwares e recursos computacionais 40 55,56

Apresentação de projetos de criação de empresas para os colegas de turma e professores 32 44,44

Trabalhos individuais, visando a simulação de criação de uma empresa 25 34,72 Outros 8 11,11

4.3.4 Implantação e Caracterização de Negócio Próprio O questionamento sobre os fatores fundamentais que, na opinião dos egressos, influenciam o

início de um empreendimento permitia várias respostas. Para responder a questão o pesquisado

dispunha de 9 opções de resposta. Também aqui não se limitou o número de opções a serem

escolhidas. Portanto, de acordo com a tabela 15, o fator que obteve o maior número de indicações

(68 registros) foi o conhecimento do mercado. Outras respostas igualmente receberam muitas

indicações: ser dedicado, perseverante e orientado para resultados (58 registros), ter capital

disponível (53 registros) e possuir experiência e bons conhecimentos técnicos na área de atuação

(44 registros) .

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TABELA 15 - Fatores fundamentais para a abertura de negócio próprio

Opções escolhidas

Freqüência

%

Conhecer o mercado 68 94,44 Ser dedicado, perseverante e orientado para resultados 58 80,56 Ter capital disponível 53 73,61 Possuir experiência e bons conhecimentos técnicos na área de atuação 44 61,11 Ter sólidos conhecimentos financeiros 31 43,06 Possuir ótimos e muitos relacionamentos 30 41,67 Acreditar na concretização de um sonho 28 38,89 Outros 5 6,94 Ter tradição em negócios, pertencer a uma família de empreendedores 4 5,56

Perguntados se haviam iniciado um negócio próprio depois de formados, 19,44% (14

pesquisados) dos ex–alunos responderam afirmativamente e 80,56% (58 pesquisados)

responderam negativamente.

O número de egressos que relataram ter iniciado um empreendimento foi surpreendente, pois

projetando-se os dados do gráfico 14 para o número total de projetos de criação de empresa

realizados no período compreendido por esta pesquisa, a quantidade de negócios implantados

pelos ex-alunos formados nos últimos 4 anos no curso atingiria um total de 40 empreendimentos.

GRÁFICO 14 - Abertura de negócio próprio

Não80,6%(58)

Sim19,4%(14)

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Dos 14 pesquisados que informaram terem iniciado um negócio próprio, verificou-se que 85%

consideraram muito importantes ou importantíssimos os conhecimentos de empreendedorismo

adquiridos no curso para a abertura da empresa.

Outro aspecto importante levantado na pesquisa foi a área de classificação dos empreendimentos

iniciados, ocorrendo maior concentração para a área de serviços (42,86%), ficando a indústria

(21,43%) e o comércio (21,43%) em patamares idênticos. Embora a agropecuária caracterize-se

como um importante segmento econômico da região de Londrina, nenhum empreendimento foi

realizado neste setor.

O questionamento sobre os aspectos que mais impulsionaram a abertura do negócio permitia

várias respostas. Para responder a questão o pesquisado dispunha de 9 opções de resposta. Não

se limitou o número de opções a serem escolhidas. Portanto, de acordo com a tabela 16, o aspecto

que obteve o maior número de indicações (10 registros) foi a predisposição para assumir riscos

calculados. Outras respostas igualmente receberam muitas indicações: satisfação em ver um

sonho realizado (9 registros); identificação de uma ótima oportunidade, aliada a uma excelente

idéia (8 registros) e vontade intensa de deixar de ser empregado (6 registros) .

TABELA 16 - Aspectos que impulsionaram a abertura do negócio

Aspectos escolhidos

Freqüência

%

Predisposição para assumir riscos calculados 10 71,43 Satisfação em ver um sonho realizado 9 64,29 Identificação de uma ótima oportunidade, aliada a uma excelente idéia 8 57,14 Vontade intensa de deixar de ser empregado 7 50,00 Dificuldades de encontrar colocação como administrador em empresas 5 35,71 Influência da família 4 28,57 Influência do curso de administração realizado na UEL 3 21,43 Outros 3 21,43 Disponibilidade de recursos financeiros e materiais 2 14,29

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96

4.3.5 Análises cruzadas.

Analisando-se os dados da tabela 17, que confronta a situação atual do mercado de trabalho para

o Administrador com a obtenção de colocação em atividades intermediárias na área de

administração, segundo a opinião dos pesquisados, notou-se que embora a grande maioria (84%)

considere o mercado como ruim ou regular um contingente razoável de pessoas (58%) conseguiu

atuar no campo da administração durante ou após o curso de graduação.

TABELA 17 - Mercado de trabalho para o administrador X atuação em atividades no campo

da Administração

Obtenção de colocação Situação do mercado de trabalho Sim Não Total Ruim 12 12 24 Regular 30 6 36 Boa 9 1 10 Ótima 1 1 Não informou 1 1 Total 52 20 72

No cruzamento dos dados comparando-se a situação atual do mercado de trabalho para o

Administrador, com a obtenção de colocação em atividades como administrador, segundo a

opinião dos pesquisados observou-se, como demonstrado na tabela 18, que a maioria (84%)

considerou o mercado como ruim ou regular, um número reduzido de profissionais (30%)

conseguiu efetivamente atuar como administrador depois de formado, enquanto que 52% dos

pesquisados ainda não haviam conseguido trabalhar na profissão para a qual estudaram.

TABELA 18 - Mercado de trabalho para o Administrador X atuação como Administrador

Obtenção de colocação Situação do mercado de trabalho Sim Não

Não informou Total

Ruim 6 18 24 Regular 15 20 1 36 Boa 7 3 10 Ótima 1 1 Não informou 1 1 Total 29 42 1 72

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Observando-se os dados da tabela 19, que tratam da relação da situação atual do mercado de

trabalho para o Administrador com os cargos atualmente ocupados pelos respondentes, concluiu-

se que há convergência entre o número reduzido de pessoas (15%) que considerou o mercado

como ótimo ou bom com a quantidade de profissionais (10%) que conseguiu atuar em cargos

gerenciais ou de direção, após o término do curso de graduação.

TABELA 19 - Mercado de trabalho para Administrador X cargo ocupado atualmente

Situação atual do mercado de trabalho

Cargo que ocupa atualmente Ruim Regular Boa Ótima

Não informou

Total

Gerente 1 3 4 Diretor 2 4 1 1 8 Administrador 3 4 2 9 Chefe, Supervisor 5 3 8 Assistente Administrativo 6 11 1 1 19 Trainee 1 1 2 Outros 6 8 1 15 Não informou 6 1 7 Total 24 36 10 1 1 72

No cruzamento dos dados, confrontando a opinião dos egressos sobre a concordância com a

afirmação de que o curso de Administração da UEL deve estimular o desenvolvimento da

capacidade empreendedora dos alunos, além de avaliar a qualidade das contribuições oferecidas

para a construção do conhecimento sobre empreendedorismo e desenvolvimento da capacidade

empreendedora, observou-se que da maioria (95%) que concordou com a proposta da formação

de empreendedores, houve um número significativo (30%) que avaliou como regular ou ruim as

contribuições oferecidas para o alcance dessa intenção, de acordo com o que é apresentado na

tabela 20.

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TABELA 20 - Curso como estimulador da capacidade empreendedora X qualidade das contribuições recebidas

Qualidade das contribuições Grau de concordância Ruim Regular Boa Ótima Total

Discordam totalmente 1 1 Sem opinião 1 1 Concordam parcialmente 1 5 7 3 16 Concordam totalmente 2 12 26 13 53 Não informaram 1 1 Total 3 18 34 17 72

Comparando-se os dados sobre a afirmação de que o curso de Administração da UEL deve

estimular o desenvolvimento da capacidade empreendedora dos alunos com a qualidade das

atividades complementares para a construção do conhecimento sobre empreendedorismo e

desenvolvimento da capacidade empreendedora, constatou-se, conforme registrado na tabela 21,

que da maioria (95%) que concordou com a proposta da formação de empreendedores, houve um

número significativo (40%) que considerou como ruim ou regulares a qualidade das atividades

complementares ofertadas para o alcance dessa proposta.

TABELA 21 - Curso como estimulador da capacidade empreendedora X qualidade das

atividades complementares

Qualidade das atividades Grau de concordância Ruim Regular Boa Ótima Total

Discordam totalmente 1 1 Sem opinião 1 1 Concordam parcialmente 1 5 8 2 16 Concordam totalmente 1 20 24 8 53 Não informaram 1 1 Total 3 26 33 10 72

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Pelos dados apresentados na tabela 22, que confrontam as intenções da escolha do curso com as

atividades atualmente exercidas, observou-se que o maior desejo dos ex-alunos (40,28%) ao

escolherem a formação em Administração era o de atuar na área em uma grande organização

(40,28%) e, em segundo lugar (37,5%), descobriu-se que era o sonho de ser dono do próprio

negócio. Estas intenções foram confirmadas na pesquisa pois, analisando-se a principal atividade

atualmente desenvolvida pelos egressos, constatou-se que a maior parte deles (25%) está atuando

em grandes empresas e, em segundo lugar (16,67%), aparecem aqueles que trabalham no negócio

próprio.

TABELA 22 - Objetivo da escolha do curso X principal atividade profissional

Principal atividade atual Objetivo da escolha 1 2 3 4 5 6 7 8 Total

1 1 1 1 3 2 2 1 1 4 3 4 2 5 4 8 3 1 27 4 1 1 1 3 5 2 5 11 3 4 4 29 7 1 1 2 8 1 1 9 2 1 3

Total 9 8 18 10 12 4 6 5 72

Objetivos Principal atividade 1- Conseguir emprego em órgão público 1- Trabalha em empresa da família 2- Dar continuidade ao negócio da família 2- Trabalha em média ou pequena empresa 3- Ter um negócio próprio 3- Trabalha em grande empresa nacional ou

internacional 4- Trabalhar na área da Administração numa

empresa média ou pequena 4- Trabalha em empresa pública

5- Trabalhar na área de Administração numa grande empresa nacional ou internacional

5- Trabalha em negócio próprio, como proprietário ou sócio

6- Obter diploma de curso superior para satisfazer a família

6- Trabalha como autônomo, sem vínculo empregatício

7- Trabalhar como consultor autônomo na área da Administração

7- Não trabalha

8- Ser professor na área da Administração 8- Outra 9- Outro

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4.4 Análise comparativa entre as opiniões dos professores e dos egressos Nesta seção procurou-se comparar as avaliações obtidas nas pesquisas, confrontando as opiniões

dos professores com as dos egressos. A análise comparativa abordou três dimensões: avaliação do

mercado de trabalho para o Administrador, motivos da escolha da modalidade de Projeto Criação

de Empresa no Estágio Curricular e avaliação dos resultados da proposta de formação de

empreendedores no curso.

4.4.1 Avaliação do mercado de trabalho para o Administrador

A avaliação que predominou na visão dos professores retrata um mercado de trabalho restrito e

que atravessa uma situação delicada. Segundo os professores, os fatores que contribuem para esta

situação são as condições econômicas mundiais, o excesso de ofertas de cursos de Administração

no país e na região e a forte concorrência de profissionais de outras áreas. A pouca valorização do

profissional, baixa qualidade dos cursos e a falta de organização da categoria foram apontadas

como causas que conduzem os formados a exercerem atividades de caráter técnico em vez de

gerencial.

A compreensão manifestada pelos docentes encontrou convergência na percepção que os

egressos fazem do mercado de trabalho, já que a maioria o classificou entre regular e ruim. A

pesquisa demonstrou que 50% dos formados estão atuando em funções intermediárias, como

assistente de administração, auxiliar de escritório, estagiário remunerado ou trainee. Dentre

aqueles que afirmaram terem obtido colocações como Administradores, verificou-se que as

atividades desenvolvidas limitam-se ao gerenciamento de negócios próprios, empresas familiares

ou micro e pequenos empreendimentos.

4.4.2 Motivos da escolha pelo projeto de criação de empresa no estágio curricular

Na opinião dos professores o principal motivo que estimula o aluno a optar pela modalidade é a

vontade de abrir um negócio próprio, reforçada pela presença de algumas tendências ao

empreendedorismo entre os discentes e aliada à segurança de uma boa condição sócio-econômica

oferecida pela família. O segundo aspecto levantado nas entrevistas com os docentes ressaltou as

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101

condições de flexibilidade e liberdade que este tipo de estágio proporciona ao aluno. As

dificuldades em relação ao mercado de trabalho e as restrições encontradas nas empresas para a

realização de estágio em Projeto de Sistema Gerencial foram os outros elementos de menor

relevância encontrados.

Os resultados obtidos na pesquisa com os egressos apresentam similaridades com a avaliação dos

professores. Na pesquisa com os ex-alunos igualmente constatou-se que o interesse primordial

está relacionado à abertura de negócio próprio. Observou-se, no entanto, uma diferença

importante nas proporções apresentadas pelos segmentos: enquanto que para os docentes a

relação entre a escolha do estágio e o interesse em iniciar um empreendimento alcançou 35% das

respostas, entre os egressos esse número atingiu 82%. Pode-se remeter a situação a duas

reflexões. Os docentes desconhecem as reais intenções dos alunos? Ou, os discentes não foram

verdadeiros nas suas afirmações, refutando os aspectos relativos às facilidades e flexibilidades do

tipo de estágio escolhido? Pelas informações levantadas no decorrer do trabalho e pelas

avaliações realizadas, deduz-se que a primeira indagação possui maiores condições de representar

a realidade.

4.4.3 Avaliação dos resultados da proposta do curso para a formação de empreendedores

Embora a aceitação conceitual da proposta do curso no sentido de formar empreendedores

encontre unanimidade entre os professores, a maioria (60%) não possui informações consolidadas

sobre os objetivos projetados e resultados alcançados. Encontrou-se dificuldade para mensurar a

avaliação da intenção pois, 75% do quadro docente não tem opinião formada sobre os propósitos

de empreendedorismo elencados no atual currículo, implantado há sete anos. Parcelas

significativas dos entrevistados expressaram que as condições e incentivos fornecidos pelo curso

para formação de empreendedores são insuficientes (35%) ou razoáveis (30%). Mesmo com

todas essas dificuldades, oriundas talvez da ausência de discussões entre os docentes, 90% deles

manifestaram-se favoráveis à manutenção e aprimoramento da proposta. Conforme registrou-se

no capítulo da análise dos dados, os professores estão bastante interessados e motivados para

alterar esta situação, pois do estudo dos seus discursos extraiu-se importantes sugestões e

encaminhamentos.

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102

Essa situação ambígua se repete entre os ex-alunos, pois se constatou unanimidade (96%) na

concordância de que o curso deve estimular o empreendedorismo, mas 80% deles não levaram

adiante seus projetos de abertura de empresas considerados tecnicamente aprovados pela

Universidade. Ao mesmo tempo, verificou-se que mais da metade (51,39%) dos pesquisados tem

dúvidas sobre a intenção do curso em formar empreendedores. A maioria (70,83%) avaliou que a

disciplina de Criação de Pequenas Empresas e o estágio curricular contribuem significativamente

para a formação de empreendedores, enquanto que 40,28% dos respondentes afirmaram que as

contribuições das atividades complementares não são totalmente adequadas. Posteriormente, os

dados mostraram que as contribuições do curso para o desenvolvimento da capacidade foram

avaliadas como boas e ótimas e que suas expectativas foram atendidas.

4.5 Conclusão Neste capítulo foram apresentados e discutidos os resultados da pesquisa, envolvendo a análise

das entrevistas realizadas com os professores e as tabulações dos dados oriundos dos

questionários aplicados aos egressos. Na apresentação dos resultados das entrevistas utilizou-se a

análise de conteúdo e para a discussão dos dados obtidos com o questionário foi utilizada a

estatística descritiva, constando de freqüência, porcentagem e cruzamentos de dados.

Para facilitar a leitura e compreensão dos resultados, o capítulo foi dividido em duas partes:

análise dos resultados da pesquisa com professores e análise dos resultados da pesquisa com

egressos. Em cada uma das partes os resultados foram apresentados em tabelas e comentários,

relacionado-os, quando possível, com a revisão da literatura, de acordo com tópicos específicos

definidos no início das respectivas análises.

Os resultados aqui apresentados serão utilizados na seqüência para fundamentar as conclusões da

dissertação, realizando-se comparações com os capítulos anteriores para embasar a discussão

final sobre a proposta do curso de Administração da UEL para o desenvolvimento de

empreendedores.

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103

5. CONCLUSÕES

Neste capítulo estão relatadas as conclusões da pesquisa, abordando os objetivos do estudo, as

perguntas de pesquisa, a metodologia utilizada, a revisão da literatura efetuada e a análise dos

dados.

5.1 Quanto ao Objetivo Principal do Estudo

5.1.1 - Analisar a proposta de formação de empreendedores no Curso de Graduação em

Administração da Universidade Estadual de Londrina

Com relação ao objetivo geral desta pesquisa conclui-se que a implementação da idéia foi um

fato importante, uma vez que dentro do ambiente acadêmico o empreendedorismo é uma área

que ainda está sendo construída e expandida, merecendo a atenção de pesquisadores nacionais e

internacionais. A evolução da proposta elaborada no início de 1990, implantada com o novo

currículo em 1995, colocou a Universidade Estadual de Londrina em patamar idêntico ao das

grandes instituições do país, no que se refere ao pioneirismo do empreendedorismo no ensino

superior brasileiro, como a USP e FGV/SP.

De acordo com os dados levantados, observou-se que, apesar do caráter inovador da proposta,

faltaram algumas condições essenciais para que se concretizasse o objetivo idealizado no projeto

pedagógico do curso. A partir da pesquisa foram identificadas diversas condições essenciais,

descritas a seguir:

É necessário que exista um amplo conhecimento e atualização do corpo docente a

respeito dos objetivos projetados e forte comprometimento dos envolvidos para atingir

resultados. Depois de um certo tempo as reformulações ou novas propostas tendem a cair

no esquecimento e precisam ser constantemente reforçadas. Os docentes que foram

admitidos nos últimos anos não receberam orientações a respeito, não tendo obrigação de

entender a concepção desejada do trabalho.

Devem ser realizados workshops reunindo professores, estagiários, egressos, empresários

e instituições representativas da comunidade empresarial, para acompanhamento dos

trabalhos desenvolvidos e avaliação dos resultados da proposta.

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104

Deve-se incentivar a formação de grupos de estudos e pesquisa em empreendedorismo,

considerando que para a sedimentação de um novo campo de estudos há necessidade de

desenvolvimento científico. Acredita-se que a existência desses grupos resultaria no

aprimoramento de pesquisas e provocaria a discussão constante do tema.

Criar condições de suporte aos projetos elaborados, através da implantação de uma

estrutura de apoio, da qual os estagiários possam receber atendimento específico, tendo

acesso amplo à informação e com possibilidades de aperfeiçoar suas propostas de criação

de empresas.

Deve-se rever a situação do acervo bibliográfico específico sobre empreendedorismo. O

acervo disponível na biblioteca da Universidade Estadual de Londrina é extremamente

deficiente. Praticamente não existe literatura relacionada ao tema. O único modo de se

obter informações é através das bases de dados informatizadas, as quais geralmente o

aluno de graduação desconhece.

É necessária uma urgente atualização dos laboratórios de informática, implantando-se

recursos para jogos e simulações;

Aprimorar as relações com agentes envolvidos com o empreendedorismo e órgãos de

fomento à área, buscando conhecer o entendimento e as necessidades do mercado, bem

como divulgar na comunidade empresarial o trabalho realizado pelo curso, obtendo

cooperação para a execução dos projetos.

Deve-se incentivar a realização de atividades que sirvam de motivação para os alunos que

desenvolvem planos de negócios, dando condições para que os melhores trabalhos

possam concorrer a prêmios, sendo divulgados na imprensa e atraindo a atenção de

investidores.

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105

Conclui-se que a proposta de formação de empreendedores apresenta-se como um apêndice, uma

parte que foi acrescentada ao curso, mas que não vem sendo devidamente acompanhada, avaliada

e aprimorada ao longo dos anos.

A proposta de formação de empreendedores que existe de fato resume-se na oferta de uma

disciplina semestral de Criação de Pequenas Empresas e no estágio de término de curso orientado

para a mesma finalidade, onde execução e resultados não estão sendo acompanhados, discutidos

ou mensurados pela academia e nem vêm despertando o interesse e a participação da comunidade

empresarial.

5.2 Quanto aos Objetivos Específicos

5.2.1 - Avaliar a percepção dos atuais professores do curso de Administração e dos egressos

dos últimos quatro anos quanto ao mercado de trabalho para o Administrador.

No que diz respeito a este objetivo específico, através dos resultados obtidos na pesquisa

constatou-se que a avaliação predominante no ponto de vista dos professores reproduz um

mercado de trabalho restrito e que atravessa uma situação complicada. O mesmo entendimento

foi manifestado pelos egressos que, na sua maioria, classificaram a situação de mercado como

regular e ruim.

Diversos fatores como as condições econômicas mundiais, o excesso de ofertas de cursos de

Administração no país e na região, a forte concorrência de profissionais de outras áreas, a

reduzida valorização do profissional, baixa qualidade dos cursos e falta de organização da

categoria foram apontados como algumas das causas que conduzem os formados a exercerem

atividades de caráter técnico em vez de gerencial.

A pesquisa demonstrou que 50% dos formados estão atuando em funções intermediárias, como

assistente de administração, auxiliar de escritório, estagiário remunerado ou trainee. Dentre

aqueles que afirmaram terem obtido colocações como Administradores, verificou-se que as

atividades desenvolvidas limitam-se ao gerenciamento de negócios próprios, empresas familiares

ou micro e pequenos empreendimentos.

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106

5.2.2 - Identificar os fatores que motivaram os egressos a optar pela modalidade de estágio

em criação de empresa.

No que se refere à intenção de identificar os fatores que motivaram os egressos a optar pela

modalidade de estágio em criação de empresa, pode-se considerar que o principal fator é o

interesse dos alunos em abrir um negócio próprio. Constatou-se que este desejo é um dos fatores

que mais importam na escolha pelo curso de Administração pelos vestibulandos e traduz-se como

o principal motivo que os conduz a elegerem o projeto de criação de empresa como trabalho de

término de curso.

O interesse dos alunos pela abertura de negócio próprio pode ser motivado pela situação do

mercado de trabalho para o Administrador na região de Londrina, que oferece poucas vagas para

os recém formados. Outras razões podem estar na situação econômica estável, no incentivo da

família e no desejo dos jovens de não mais trabalharem como empregados e sim como patrões.

Observando-se as revistas que os acadêmicos elegem para leitura, acredita-se que essa intenção

seja fortemente influenciada pela mídia.

5.2.3 - Avaliar o nível de informações e a qualidade do conhecimento sobre

empreendedorismo recebidos pelos acadêmicos, mediante verificações do

conteúdo programático da disciplina de Criação de Empresas e do estágio

curricular realizado na modalidade Projeto de Criação de Empresa.

Quanto à avaliação do nível de informações e da qualidade do conhecimento sobre

empreendedorismo recebidos pelos acadêmicos, verificou-se que há necessidade de treinamento

dos professores orientadores de estágio. Embora na percepção dos egressos as expectativas

estejam sendo atendidas, notou-se que esta avaliação encontra-se especialmente relacionada com

a disciplina de Criação e Administração de Pequena Empresa, talvez como conseqüência do

trabalho abnegado dos professores. O mesmo não ocorre com a realização de atividades

complementares, como depoimentos, encontros e entrevistas com empreendedores, palestras e

debates com empreendedores e entidades de financiamento, visitas a empresas e intercâmbios

com outras universidades. Tais atividades, na opinião dos alunos, não estão acontecendo de um

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107

modo efetivo e deveriam completar e elucidar as informações discutidas e os conhecimentos

adquiridos em sala de aula.

5.2.4 - Analisar as contribuições do curso para o surgimento de novos negócios, verificando

se os egressos estão atuando como empreendedores e gestores de negócios

próprios.

A análise das contribuições do curso para o surgimento de novos negócios permitiu considerar

que a proposta de formação de emprendedores não está totalmente entendida e consolidada,

sendo ainda percebida como insuficiente pelo conjunto de professores. Dos dados levantados

conclui-se também que os egressos concordam com a proposta do curso de estimular o

desenvolvimento da capacidade empreendedora, porém, não encontram clareza desta intenção na

prática. Mesmo com essa situação imprecisa, constatou-se que 20% dos ex-alunos que passaram

pela modalidade de estágio em criação de empresa iniciaram um negócio próprio resultando, à

primeira vista, num número surpreendente.

Se fossem confirmados os dados desta pesquisa, a quantidade de negócios iniciados pelos

egressos no período de 1998 a 2001 resultaria em aproximadamente 40 empresas novas de um

total de 208 projetos. Trata-se de um fato relevante e merecedor de análise. Assim, buscou-se

inicialmente conhecer a qualidade dos empreendimentos desenvolvidos, antes da elaboração de

conclusões precipitadas, realizando-se um acompanhamento (follow-up) com os egressos que

relataram ter iniciado negócio próprio. Esse acompanhamento foi feito através de contato

telefônico utilizando-se do instrumento inserido no Anexo C. Constatou-se que as organizações

criadas são micro empresas, serviços de consultoria ou pequenos empreendimentos tradicionais,

conforme verifica-se na tabela 23. Como há ausência de inovação, falta de criatividade e

repetição do que já existe em abundância no mercado, não se pode afirmar que os dirigentes

dessas organizações sejam verdadeiros empreendedores, pois talvez tenham agido em função de

necessidades pessoais e não em virtude da identificação de novas oportunidades de mercado.

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108

TABELA 23 - Caracterização dos empreendimentos iniciados pelos egressos do curso

Setor de atividade Ordem Área de atuação Funcio

nários

1 Fabricação de exaustores eólicos, calhas e rufos 3

2 Produção de massas congeladas 4

3 Fabricação de blocos cerâmicos – tijolos 40

4 Construção e aluguel de imóveis comerciais 4

Indústria

5 Construção e aluguel de imóveis comerciais 4

6 Revendedora de telefones celulares 11

7 Revendedora e consertos de instrumentos

musicais

1

8 Loja de calçados 6

Comércio

9 Loja de complementos energéticos e vitaminas 0

10 Concessionária de corretora de seguros 0

11 Escola de idiomas 10

12 Consultoria em Marketing (entrou como sócio) 0

13 Desenvolvimento de soluções para Internet 2

Serviços

14 Desenvolvimento de sistemas para Internet 6

Total de empresas criadas: 14 (quatorze)

Fonte: elaborada pelo autor da dissertação

Na realização do follow-up constatou-se duas situações que alteraram o quadro dos

empreendimentos iniciados pelos egressos do curso. Um dos pesquisados respondeu que na

realidade não abriu uma empresa, apenas associou-se a uma consultoria já existente. Outro

empreendimento foi realizado por dois irmãos que concluíram o curso na UEL, devendo ser

contado apenas como um empreendimento e não como duas empresas distintas. Com a

atualização destes dados, o número de negócios realizados pelos egressos do curso reduz-se para

12 criações de empresas, passando a representar 16,67% da amostra pesquisada.

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109

5.3 Quanto às Perguntas de Pesquisa

5.3.1 - O curso de graduação em Administração da Universidade Estadual de Londrina está

oferecendo as condições necessárias para despertar nos alunos a capacidade

empreendedora?

Pelos dados obtidos nas pesquisas realizadas com professores e egressos, deduz-se que o curso de

graduação em Administração da Universidade Estadual de Londrina está oferecendo poucas

condições para despertar nos alunos a capacidade empreendedora. Tanto a disciplina quanto o

estágio de criação de empresa são ofertados na quarta série, o que representa praticamente o

término do curso. Quando o acadêmico se defronta com tal situação, não há tempo hábil para o

amadurecimento de projetos interessantes, assim, acaba fazendo uma proposta irrelevante em

termos do que se entende por empreendimento inovador. Como não há triagem dos anteprojetos

de estágio, as idéias dos alunos são avaliadas superficialmente e a intenção é autorizada,

passando a ser desenvolvida e resultando em projetos inconsistentes por ausência de rigor. Do

mesmo modo não há profundidade no acompanhamento do negócio que o aluno inicia depois de

formado, refletindo num distanciamento imenso entre a Universidade e o empreendedor que ela

própria recém estabeleceu.

5.3.2 - Os egressos estão encontrando oportunidades de trabalho para atuar como

Administradores?

Com relação à situação do mercado de trabalho para o Administrador, a pesquisa permite

estabelecer que 60% dos egressos atuam em atividades intermediárias, como assistentes

administrativos ou estagiários remunerados. Acredita-se que há uma tendência de agravamento

desse quadro, notadamente pela desenfreada abertura de novas escolas de Administração na

região. Ainda assim, 40% dos egressos afirmaram que obtiveram colocação como

Administradores depois de formados. Este índice sofreu algumas alterações quando se confirmou

a principal atividade profissional realizada e o cargo ocupado atualmente. Assim, comprovou-se

que aqueles que fizeram tal afirmativa trabalham como Administradores de negócio próprio, em

empresa da família ou em pequena e média empresa. Merece destaque a convergência entre o

interesse em trabalhar numa grande empresa, principal objetivo dos jovens que escolhem a

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carreira de Administrador e a situação apresentada pela principal atividade atualmente executada.

Essa realidade confirma a visão de autores como Kanitz (1994) e Dolabela (1999), que alegam o

enfoque dado à preparação de executivos de grandes corporações pelos cursos de Administração

no país.

5.3.3 - Os alunos estão realizando o estágio na modalidade de Projeto de Criação de

Empresa apenas como uma obrigatoriedade acadêmica de conclusão de curso, sem

preocupação com a implantação real do projeto ?

A opção pelo Projeto de Criação de Empresa desperta o interesse dos alunos apenas

por se tratar de uma novidade?

Os alunos optam pela realização do Projeto de Criação de Empresa, pois entendem

que é a modalidade de estágio mais fácil de ser realizada?

As razões apontadas para justificar a escolha da modalidade de Projeto de Criação de Empresa

pelos egressos foram consideradas adequadas e oportunas. Os professores demonstraram um

posicionamento crítico, alegando diversos motivos que envolvem interesses e vocações de

empreendedores, facilidades permitidas pela modalidade e dificuldades para conseguir estágios

em empresas. As respostas dos ex-alunos refutaram as perguntas de pesquisa que relacionavam o

estágio na modalidade de Projeto de Criação de Empresa apenas como uma obrigatoriedade

acadêmica de conclusão de curso, como um modismo ou novidade e como a modalidade de

estágio mais fácil de ser executada. Das suas afirmações considera-se que a grande maioria estava

realmente interessada em iniciar um negócio próprio.

5.3.4 - Os alunos que escolhem o Projeto de Criação de Empresa como estágio de conclusão

de curso estão realmente interessados em iniciar um negócio próprio?

Mesmo com os problemas já levantados, a realização da disciplina Criação e Administração da

Pequena e Média Empresa e a execução do Projeto de Criação de Empresa estão despertando o

interesse dos alunos com relação ao empreendedorismo, já que estão obtendo condições de pelo

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menos refletir sobre os projetos que elaboraram. Avalia-se que ainda não se trata de uma

aprendizagem singular, pois a técnica pedagógica adotada está baseada na transferência de

habilidades e conhecimentos através da utilização de recursos tradicionais como aulas

expositivas, pesquisas bibliográficas, apresentações de seminários, estudos de casos e, como

trabalho final, o desenvolvimento de um projeto individual de negócio. O ensino de

empreendedorismo exige um enfoque pedagógico diferenciado, conectado com as situações do

ambiente empresarial. Isso ficou evidente na revisão da literatura e corroborado pela percepção

dos egressos, quando elegeram a identificação de oportunidades de mercado como principal

assunto a ser abordado numa disciplina de empreendedorismo e o conhecimento do mercado

como fator fundamental para a abertura de negócio próprio.

5.3.5 - A realização da disciplina Criação e Administração da Pequena e Média Empresa e a

execução do Projeto de Criação de Empresa possibilitam uma aprendizagem

singular, da qual o aluno poderá tirar importantes reflexões e conclusões que

tornar-se-ão úteis quando efetivamente for iniciar o seu negócio próprio?

Não restam dúvidas de que os alunos, ao escolherem o Projeto de Criação de Empresa como

estágio de conclusão de curso, estão motivados a implantarem negócios próprios. Comprovou-se,

porém, que os empreendimentos iniciados ficaram muito restritos aos interesses e à imaginação

do aluno, não recebendo o criterioso questionamento acadêmico e a confirmação do mercado a

respeito de sua diferenciação e necessidade. Ao mensurar-se a qualidade dos empreendimentos

iniciados pelos egressos, percebeu-se uma grande distância entre a estrutura institucional

disponibilizada e os resultados alcançados.

5.3.6 - Os alunos que escolhem o Projeto de Criação de Empresa como estágio de conclusão

de curso estão efetivamente implantando negócios próprios e os resultados indicam

que a Universidade está cumprindo sua função transformadora?

Os resultados observados indicam que a Universidade não está cumprindo exemplarmente sua

função transformadora, pois não demonstra capacidade de interagir com a sociedade, dando as

respostas que a comunidade necessita, o que resulta num grande distanciamento da realidade

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empresarial. De outro lado, a academia não está conseguindo desenvolver no aluno a capacidade

de distinguir quais são as oportunidades de negócios que poderiam modificar as condições

econômicas, sociais, políticas e culturais da comunidade onde está inserida. A Universidade

parece não ter preocupações com os seus egressos. Simplesmente acredita que os habilita à uma

profissão e não desenvolve mecanismos de acompanhamento da realidade.

5.4 Quanto à Metodologia

A utilização do método de estudo de caso na condução desta pesquisa foi fundamental para o

alcance dos objetivos propostos e para responder às perguntas de pesquisa elaboradas. Este

delineamento inicial favoreceu o esclarecimento de idéias, permitindo uma maior proximidade

com o assunto estudado. Por se tratar de um estudo exploratório dentro de um campo

inicialmente alheio, a necessidade de revisão da literatura foi muito útil no sentido de trazer

concepções mais claras dos problemas que poderiam ser encontrados durante a investigação.

A opção pelo tipo de estudo interrogativo foi bastante positiva, pois possibilitou o levantamento

de questionamentos a respeito do tema, a associação de variáveis e a tentativa de compreensão

dos relacionamentos percebidos entre elas, que culminaram com análises dedutivas das situações

apresentadas pelos resultados da pesquisa.

Os estudos preliminares sobre o universo e amostra de pesquisa foram essenciais para a

realização deste trabalho. Encontrou-se boa receptividade na população pesquisada,

demonstrando que tais tipos de estudos, quando bem encaminhados, são percebidos com

profissionalismo e acabam conquistando a contribuição e interesse dos pesquisados. O

levantamento de dados junto aos professores obteve um retorno considerado excelente, não se

podendo afirmar o mesmo em relação à pesquisa com os egressos, cujo número de respostas aos

questionários enviados poderia ter sido maior. Isto aconteceu em decorrência da ausência de um

banco de dados atualizados e pelo descaso da Instituição com os registros de seus ex-alunos,

importando em informações desencontradas, desperdício de recursos e aborrecimentos

desnecessários.

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113

A escolha de diferentes segmentos de pesquisa (professores, egressos e documentos) obrigou à

elaboração de diversos instrumentos (entrevistas, questionários e análise documental) de coleta

de dados, estimulando a utilização de múltiplas fontes de informações e dando significado aos

resultados alcançados. O único fato que não trouxe as contribuições esperadas foi a pesquisa

documental, pois se encontrou enormes dificuldades em levantar e localizar os registros

desejados, percebendo-se impedimentos burocráticos, desorganização de informações e falta de

preocupação com a preservação histórica dos assuntos acadêmicos.

As análises quantitativa e qualitativa dos dados, compreendendo a estatística descritiva e a

realização da análise de conteúdo, serviram de fundamento para a apresentação e comentários dos

resultados, trazendo contribuições que reduziram a subjetividade e reforçaram a objetividade. A

técnica da análise de conteúdo foi primordial nesta fase do trabalho, já que tornou possível

sistematizar as 14 questões das 20 entrevistas realizadas com os professores, resultando na coleta

de aproximadamente 280 respostas, enriquecendo o trabalho realizado e favorecendo a

interpretação da percepção dos respondentes.

5.5 Quanto à Revisão da Literatura

A bibliografia levantada e consultada para a elaboração do referencial foi surpreendente em

termos de volume e qualidade. Inicialmente buscou-se encontrar o material disponível na

biblioteca da Universidade Estadual de Londrina, onde se conseguiu cerca de 4 artigos nacionais

e 2 livros relacionados ao tema. Na seqüência utilizou-se de palavras-chave e consultou-se as

bases de dados Education Abstracts, Humanities Full Text e Wilson Bunisess Abstracts na citada

biblioteca, onde foram obtidas aproximadamente 400 súmulas de artigos publicados em

periódicos internacionais. Da lista obtida selecionou-se 38 artigos que serviram de base para a

elaboração do referencial teórico da dissertação. Simultaneamente a tais consultas adquiriu-se 10

obras nacionais relacionadas ao empreendedorismo, constantes das referências bibliográficas

deste trabalho.

A seção 3.2 apresentou as origens da universidade e as finalidades para as quais foi idealizada,

com destaque para o importante papel que deve representar na construção e disseminação do

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conhecimento, buscando promover e modificar o ambiente onde se insere. Este estudo preliminar

sobre a Universidade como Instituição mostrou-se útil para a elaboração e aplicação dos

instrumentos de pesquisa, como também para a análise dos dados.

Nas seções seguintes procurou-se compreender mais profundamente o empreendedorismo e

analisar-se os conceitos sobre a figura do empreendedor. Verificou-se que a literatura existente é

extensa, os temas estão sendo debatidos há muito tempo no ambiente acadêmico, não existindo

unanimidade entre os pesquisadores, portanto, julgou-se recomendável não apropriar-se de

conceitos ainda em construção ou estabelecer definições categóricas desprovidas de

embasamento. Concluiu-se que a capacidade empreendedora possui fortes relações com o

ambiente, se faz presente em todos os segmentos da população e nas mais diferentes partes do

mundo. Está deixando de ser vista como uma habilidade inata ao ser humano e passando a ser

percebida como algo que pode ser ensinado ou pelo menos transmitido.

Na seção 3.5, que tratou da observação do empreendedorismo como campo de estudos, notou-se

que, embora esteja em processo de formação, a área teve grande crescimento nas duas últimas

décadas em virtude da demanda por cursos específicos, principalmente nos Estados Unidos.

Na seção subseqüente procurou-se estudar o empreendedorismo como disciplina e as conclusões

obtidas dão conta de que se trata de um tema recente e que somente nos últimos anos está sendo

introduzido nos currículos escolares. Para possibilitar o ensino de empreendedorismo constatou-

se que o enfoque pedagógico deve ser diferenciado dando ênfase a novas metodologias, como a

desestruturação das atividades e utilização de jogos e simulações computadorizadas.

Na seção 3.7 procurou-se condensar a situação em que se encontra a educação empreendedora no

mundo e no Brasil. Isto possibilitou compreender que o empreendedorismo é um fenômeno que

tem merecido a atenção de várias nações como Estados Unidos, Canadá e Inglaterra, onde o tema

está sendo colocado no intuito de modificar os padrões existentes e propiciar uma nova

concepção cultural. Seguindo os passos do que ocorreu e está acontecendo no mundo, o

empreendedorismo é tema em expansão no Brasil, porém, constatou-se que a situação brasileira

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está muito voltada à necessidade de geração de emprego e renda, tem se concentrado muito em

organismos oficiais e apresenta excessivo foco no campo da ciência da computação.

Na última seção, relacionada à revisão da literatura, voltou-se a olhar para a universidade e

concluiu-se que seria esta a Instituição que deveria assumir a discussão do tema no Brasil,

evitando que a grandeza do ensino de empreendedorismo seja entendida como mais um

modismo, solução extraordinária para os problemas de criação e gestão de negócios ou que acabe

por ser um novo e poderoso elemento que dê prosseguimento à mercantilização do ensino

superior brasileiro.

Espera-se que a universidade, saindo da esfera do discurso, possa assumir o papel que lhe exige

a sociedade, tendo uma participação primordial no debate nacional sobre o empreendedorismo,

possibilitando a construção de uma realidade adequada ao enfrentamento dos problemas, negando

definitivamente o distanciamento, favorecendo a comunicação e o entrosamento, dando vazão à

capacidade científica da academia e à sabedoria do empresariado, o que poderá fortalecer a

busca de respostas para o desenvolvimento econômico.

5.6 Perspectivas para Futuras Pesquisas

Acredita-se que o trabalho realizado possa trazer contribuições para o desenvolvimento de novos

estudos e pesquisas no campo do empreendedorismo e gestão de empresas emergentes,

permitindo uma visão mais nítida sobre o processo de ensino relacionado à criação e

consolidação de organizações de negócios no ambiente universitário. Outros estudos poderiam

tratar dos perfis de empreendedores universitários, da prospecção e do financiamento de novos

empreendimentos mais adequados ao desenvolvimento econômico e social da região de

Londrina e sobre o papel da Universidade na disseminação da cultura empreendedora.

Como as pesquisas sobre a formação de empreendedores ainda levarão alguns anos para

apresentar respostas definitivas, é salutar que iniciativas como esta sejam tomadas no intuito de

estudar e buscar compreender o empreendedorismo no ambiente universitário, fazendo ressaltar

essa capacidade nos jovens que ainda não a descobriram.

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A universidade brasileira está seguindo diversos caminhos na questão do ensino de

empreendedorismo e isso poderá trazer conseqüências desastrosas. Neste sentido, pretende-se

realizar outra pesquisa, configurada como estudo de casos múltiplos, envolvendo as

Universidades brasileiras que implantaram programas de desenvolvimento de empreendedores

nos cursos de Administração. Tal estudo seria útil para conhecer, analisar, avaliar e comparar as

diversas experiências de ensino de empreendedorismo que estão ocorrendo no país.

5.7 Considerações Finais

A formação de empreendedores no curso de Administração da Universidade Estadual de

Londrina é uma proposta interessante que, no decorrer dos anos, infelizmente, foi

gradativamente perdendo seu caráter inovador, sendo lentamente absorvida pela rotina,

cumprimento de normas, prazos, seguimento de roteiros, ou seja, a idéia principal foi sendo

substituída pelos procedimentos secundários. A essência deve ser revigorada para que

posteriormente possa ser aprimorada, despertando nos acadêmicos o interesse pelo

empreendedorismo como uma verdadeira opção profissional.

Para isso julga-se oportuno e conveniente que o assunto volte a ser discutido no âmbito da

coordenação do curso, onde poderiam ser debatidas sugestões como:

implantação de workshop anual, reunindo pesquisadores, professores, estagiários,

egressos, empreendedores e organismos representativos do meio empresarial e da

comunidade, para acompanhamento e avaliação dos trabalhos desenvolvidos.

introdução do tema empreendedorismo nas séries iniciais, através de palestras, visitas a

empresas recém criadas, entrevistas e debates com empreendedores, encontros com

entidades e órgãos de fomento.

implantação de uma disciplina de empreendedorismo com carga horária anual, com forte

abordagem em criatividade e inovação.

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atualização das condições dos laboratórios de informática para que o ensino de

empreendedorismo tenha ênfase em jogos e simulações computadorizadas, indo de

encontro às expectativas do perfil do aluno.

aplicação de testes de perfil empreendedor e de viabilidade da idéia de negócio nos

alunos interessados em elaborar projetos de criação de empresas, conforme, por exemplo,

aqueles recomendados por Dolabela (1999).

triagem rigorosa das propostas de criação de empresas, através de apresentação do plano

de negócios para uma banca avaliadora composta por professores e empreendedores, para

permitir a análise e discussão prévia das idéias, reduzindo drasticamente a quantidade e

aprovando somente propostas inovadoras ou diferenciadas.

incentivo a trabalhos de criação de empresas envolvendo mais de um aluno, incluindo

projetos em duplas, grupos ou equipes. Permitir que o aluno de Administração interessado

em montar um negócio possa convidar acadêmicos de outros cursos de graduação ou de

pós-graduação para fazer parte do projeto.

implantação e disponibilização de estrutura adequada de apoio e acompanhamento aos

acadêmicos, dando suporte aos projetos elaborados. Proporcionar atendimento específico,

dando condições e estimulando o acesso amplo à informação.

aperfeiçoamento das relações com instituições governamentais e privadas, organismos de

pesquisa e fomento ao empreendedorismo, para desenvolvimento e financiamento de

projetos.

introdução de um concurso anual de plano de negócios, destacando, premiando e

divulgando na imprensa os melhores trabalhos, a exemplo do que está ocorrendo na

Maratona de Empreendedores do Curso de Ciência da Computação da UEL.

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realização de feiras ou fóruns de negócios, onde os projetos desenvolvidos possam ser

apresentados a empreendedores, órgãos de fomento e entidades financiadoras.

criação de grupos de estudos e pesquisas em empreendedorismo envolvendo professores e

alunos, estimulando o desenvolvimento científico.

promover o intercâmbio com outras universidades que possuem programas de

empreendedorismo no curso de graduação em Administração.

Com a opção pela abertura desenfreada de novos negócios, milhares de pessoas estão sendo

incentivadas a abrir empresas, embasadas por cursos de curta duração onde são transmitidas

técnicas básicas de gestão, conceitos elementares de contabilidade e finanças, reforçando

aspectos gerenciais e negligenciado os verdadeiros pressupostos do empreendedor. Em virtude

desse tipo de formação, que muitas vezes sequer relaciona o plano de negócios com o quadro

tecnológico e econômico mundial, conclui-se que poderá haver a elevação dos níveis de

mortalidade de pequenas e médias empresas, acarretando frustração e descrédito da

população. Acredita-se que não será através da explosão da quantidade de novos

empreendimentos que se conseguirá confirmar o empreendedorismo como importante opção

para o crescimento do País. O momento parece ser propício para afirmar que a condução do

desenvolvimento de empreendedores no Brasil poderia ser assumida pela Universidade,

como um objetivo, tanto se tratando de ensino e pesquisa, como também de extensão.

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119

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ANEXO A ROTEIRO PARA ENTREVISTA COM PROFESSORES DO CURSO DE ADMINISTRAÇÃO (orientadores de estágios curriculares na Modalidade Projeto de Criação de Empresas). 1) Quais motivos levaram o Curso de Graduação em Administração da UEL a implantar a

modalidade de Estágio Curricular em Criação de Empresas? 2) Quando surgiu e como foi o processo de discussão dessa proposta no âmbito do

Departamento? 3) Como foi o processo de discussão com a comunidade acadêmica, isto é, foram consultados

outros departamentos ou órgãos da estrutura da Universidade? 4) Buscou-se a participação de organizações representativas ou de fomento (Associação

Comercial e Industrial, Federação das Indústrias do Estado, Companhia do Desenvolvimento de Londrina, Secretarias de Estado, Bancos de Desenvolvimento) para detectar a receptividade e importância da proposta perante a comunidade empresarial?

5) Houve oportunidade de participação de ex-alunos e discentes na formulação da proposta? 6) Para a implantação da proposta foram analisados modelos ou coletadas informações sobre

situações similares em outras Instituições de Ensino Superior? Quais e Como? 7) Quais os objetivos e resultados foram projetados inicialmente pelos coordenadores da

proposta? 8) Essas metas iniciais foram alcançadas? Que exemplos podem ser destacados? 9) Qual é a avaliação que você faz hoje do curso sobre o Projeto de Criação de Empresas?

Quais são os aspectos positivos que merecem destaque e que desvantagens o projeto tem apresentado?

10) Existem intenções de manutenção, aprimoramento ou extinção da proposta? Quais são os

encaminhamentos que você sugere?

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ANEXO B QUESTIONÁRIO DE PESQUISA: “Condições da formação de empreendedores no Curso de

Graduação em Administração da UEL”. Responda as questões de nº 1 a 13, colocando no retângulo ao lado o número que corresponde à opção escolhida

1) Sexo: 1. Masculino 2. Feminino |__|

2) Estado Civil: 1. Solteiro 2. Casado 3. Divorciado 4. Outro |__|

3) Idade: |__| |__|

4) Ano de formatura: 1. 1998 2. 1999 3. 2000 4. 2001

|__|

5) Como você avalia a atual situação do mercado de trabalho (ofertas de emprego) para o Administrador ? 1. Ruim 2. Regular 3. Boa 4. Ótima

|__|

6) Durante ou após a conclusão do curso você conseguiu colocação (trabalho ou emprego, formal ou informal) em atividades intermediárias no campo da Administração. 1. Sim 2. Não

|__|

7) Após a conclusão do curso você conseguiu colocação (trabalho ou emprego, formal ou informal) como Administrador.

1. Sim 2. Não

|__|

8) Qual é, atualmente, a sua principal atividade profissional ? 1. Trabalha em empresa da família 2. Trabalha em média ou pequena empresa 3. Trabalha em grande empresa nacional ou internacional 4. Trabalha em empresa pública 5. Trabalha em negócio próprio, como proprietário ou sócio 6. Trabalha como autônomo, sem vínculo empregatício 7. Não trabalha 8. Outra. Qual?

|__|

9) Se trabalha, que cargo ocupa atualmente? 1. Gerente 2. Diretor 3. Administrador 4. Chefe, Supervisor ou Encarregado de área ou setor administrativo 5. Assistente Administrativo ou outro cargo intermediário ligado à administração 6. Trainee 7. Estagiário remunerado 8. Outro. Qual?

|__|

10) Qual foi seu objetivo ao escolher o curso de Administração? 1. conseguir emprego em órgão público

2. dar continuidade ao negócio da família 3. ter um negócio próprio 4. trabalhar na área de administração numa empresa média ou pequena 5. trabalhar na área de administração numa grande empresa nacional ou internacional 6. obter diploma de curso superior para satisfazer a família 7. trabalhar como consultor autônomo na área de administração 8. ser professor na área de administração

9. outro. Qual?

|__|

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11) Na sua opinião a Qualidade das contribuições do curso (disciplina de criação de pequenas e médias empresas,

estágio em PCE – Projeto de Criação de Empresa) para a construção do conhecimento sobre empreendedorismo e desenvolvimento da capacidade empreendedora dos alunos é:

1. Ruim 2. Regular 3. Boa 4. Ótima

|__|

12) Sua avaliação sobre a qualidade das atividades complementares (depoimentos de empreendedores, entrevistas e encontros com empreendedores, palestras e debates com empreendedores e entidades de financiamento de novos negócios, visitas a empresas, intercâmbio com outras universidades, jogos e simulações de negócios, concursos de planos de negócios, etc) oferecidas pelo curso para o desenvolvimento da capacidade empreendedora dos alunos é:

1. Ruim 2. Regular 3. Boa 4. Ótima

|__|

13) Qual o principal motivo da sua escolha pela Modalidade de PCE (Projeto de Criação de Empresas) como estágio de conclusão de curso ?

1. Era a modalidade mais fácil de ser executada. 2. Estava muito interessado em iniciar imediatamente um negócio próprio. 3. Desejava aprofundar conhecimentos, buscar reflexões e obter conclusões sobre criação de

empresas, para futuramente iniciar um negócio próprio.

4. Apenas cumpri uma obrigação curricular. Nunca me interessou efetivamente empreender

um negócio. 5. Julguei tratar-se de um modismo, novidade, então quis conhecê-lo. 6. Fui influenciado pela Disciplina de Criação de Pequena e Média Empresa. 7. Optei pelo PCE por falta de informações. Poderia ter escolhido outro (PSG ou PE). 8. Outro. Qual?

|__|

Para responder as questões de nº 14 a 17 utilize a escala abaixo. 1. Discordo totalmente 2. Discordo parcialmente 3. Não tenho opinião formada 4. Concordo parcialmente 5. Concordo totalmente

14) A realização do curso de Administração aumentou minha empregabilidade.

|__|

15) A realização da disciplina Criação de Pequenas e Médias Empresas e do Estágio em Projeto de Criação de Empresas contribuíram para despertar meu interesse em empreendedorismo e em desenvolver a capacidade empreeendedora.

|__|

16) O curso de Administração da UEL deve estimular o desenvolvimento da capacidade empreendedora dos alunos.

|__| 17) O curso está direcionado para formar empreendedores e gestores de seus próprios negócios.

|__|

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As questões de nº 18 a 20 permitem mais de uma resposta. Assinale as opções escolhidas, conforme pede o

enunciado. 18) Assinale os 3 (três) principais assuntos que, na sua opinião, deveriam ser abordados no Programa de uma disciplina de Empreendedorismo? Indique abaixo as letras correspondentes, em ordem de prioridade. A. principais razões do sucesso ou do fracasso empresarial. B. identificação de oportunidades de mercado. C. desenvolvimento da imaginação, criatividade e inovação. D. planejamento de novos negócios. E. desenvolvimento de plano de negócios. F. estudos de empreendedorismo e das características dos empreendedores. G. procedimentos para iniciar uma empresa. H. técnicas e instrumentos de gestão financeira.

I. Outro. Qual?

1º |__| 2º |__| 3º |__|

19) Como devem ser as aulas da disciplina de Empreendedorismo, para o desenvolvimento da capacidade empreendedora dos alunos? Marque com X.

1. ênfase em estudos de casos sobre empresas criadas. 2. trabalhos em grupos, visando a simulação da criação de uma empresa. 3. trabalhos individuais, visando a simulação da criação de uma empresa. 4. conhecer a experiência de empreendedores, bem sucedidos ou não. 5. trabalhos de campo, visitando e diagnosticando empresas recém criadas. 6. simulação de criação de empresas, baseados em jogos, softwares e recursos computacionais.. 7. apresentação de projetos de criação de empresas para os colegas de turma e professores.. 8. apresentação de proj. de criação de empresas para empreendedores e entidades financiadoras.. 9. Outro. Qual? ________________________

|__||__||__||__||__||__||__||__||__|

20) Quais são os fatores fundamentais para a abertura do negócio próprio? Marque com X. 1. conhecer o mercado. 2. acreditar na concretização de um sonho. 3. possuir experiência e bons conhecimentos técnicos na área de atuação. 4. ter tradição em negócios, pertencendo a uma família de empreendedores. 5. possuir ótimos e muitos relacionamentos. 6. ter capital disponível. 7. ser dedicado, perseverante e orientado para resultados 8. ter sólidos conhecimentos financeiros. 9. Outro. Qual? __________________________

|__||__||__||__||__||__||__||__||__|

21) Depois de formado você iniciou negócio próprio? 1. Sim. Neste caso responda as próximas questões . 2. Não. Neste caso responda apenas a questão 26 e considere preenchido o questionário.

|__|

22) Para a realização do negócio próprio, os conhecimentos adquiridos no Curso de Administração e especialmente aqueles relacionados ao empreendedorismo, foram:

1. De nenhuma importância 2. Pouco Importantes 3. Muito importantes 4. Importantíssimos

|__|

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23) Em que área o seu empreendimento pode ser classificado?

1. Indústria 2. Comércio 3. Agropecuária 4. Serviços 5. Outra. Qual?

|__|

24) Se assinalou serviços, informe o tipo. 1. alimentação/gastronomia 2. artes/cultura 3. Consultoria 4. Esportes 5. ensino/educação 6. Entretenimento/lazer 7. informática/internet 8. turismo/hotelaria 9. Saúde 10. Outro. Qual?

|__|

25) Quais aspectos mais impulsionaram seu direcionamento para o empreendedorismo?

Marque com X. 1. influência do curso de administração realizado na UEL. 2. influência da família. 3. disponibilidade de recursos financeiros e materiais. 4. predisposição para assumir riscos calculados. 5. satisfação em ver um sonho realizado. 6. vontade intensa de deixar de ser empregado. 7. dificuldades de encontrar colocação como administrador em empresas. 8. identificação de uma ótima oportunidade, aliada a uma excelente idéia. 9. Outro. Qual? _______________________________

26. Comentários e sugestões finais: Registre opiniões e propostas que considera importantes para o desenvolvimento da

capacidade empreendedora nos alunos do curso de graduação em Administração da UEL: ______________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

|__||__||__||__||__||__||__||__||__|

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ANEXO C Caracterização das empresas criadas pelos egressos do Curso (follow-up) Nome:________________________________________________________ Telefone:____________________ 1) Em que setor o empreendimento pode ser incluído? ( ) industria ( ) comércio ( ) serviços ( )agropecuária 2) Que empresa foi aberta? Ramo:____________________________________________ Área de atuação:____________________________________ 3) Quando iniciou as atividades? 4) Qual é o número de funcionários? 5) Qual é o porte da empresa? ( ) micro ou pequeno ( ) médio ( ) grande 6) A empresa ainda existe?