dissertacao sobre crimes contra falencia e recuperacao de empresas

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DOS CRIMES CONTRA A FALÊNCIA Lei 11.101/2005 – Lei de Recuperação de Empresas – Artigos 168 aos 183. Paulo Roberto Gonçalves. Agosto de 2007.

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Page 1: Dissertacao Sobre Crimes Contra Falencia e Recuperacao de Empresas

DOS CRIMES CONTRA A FALÊNCIA Lei 11.101/2005 – Lei de Recuperação de Empresas –

Artigos 168 aos 183.

Paulo Roberto Gonçalves. Agosto de 2007.

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DOS CRIMES CONTRA A FALÊNCIA OU RECUPERAÇÃO EMPRESARIAL.

1 - Nota introdutória

Com a evolução comercial e empresarial, as atividades mercantis

deixaram de ser um mero objeto de troca de mercadorias, mas, sim, uma

atividade voltada a desbravar novos horizontes, ampliando consideravelmente

suas atividades, a fim de mergulhar num mundo de total competitividade e

obtenção de resultados a curto prazo.

Diante disso, e devido a guerra implícita existente entre as empresas para

deter mercado e consumidores, muitas empresas, não acostumadas com a

evolução abrupta ocasionada pela avalanche concorrencial instalada e que não vê

limites em galgar mercados e clientes, passam por sérias dificuldades financeiras,

até o ponto de interromper definitivamente suas atividades, gerando com isso, não

recolhimento de tributos, desemprego e desequilíbrio social.

O encerramento de atividades provocado pela dificuldade financeira em

decorrência da não adaptação das empresas ante ao mercado cada vez mais

agressivo, e consequentemente, como já exposto alhures, o encerramento de

atividades, gera para com os sócios e representantes legais o dever de saldar

compromissos firmados na constância da atividade. Esses compromissos são

para com os credores, para com os empregados e para com o Estado.

Page 3: Dissertacao Sobre Crimes Contra Falencia e Recuperacao de Empresas

Além, é claro, da dificuldade financeira, que é a maior causadora do

encerramento de atividades, que de certa forma deriva de uma má administração,

temos, também a figura de fraude ocasionada pelos sócios, cujo escopo é de

extrair todos os recursos existentes em nome da Pessoa Jurídica e assim

culminar com a falência da empresa.

Neste diapasão, foi necessária a sociedade se mobilizar para conter, ou

pelo menos, criar mecanismos para coibir tais práticas, seja antes do

encerramento da sociedade, seja no decorrer de sua falência.

Diante disso, o legislador editou a lei de falência, além das regras

expostas para decretar a insolvência da empresa, criou regras de cunho criminal

para conter práticas ilegais que visavam por em prejuízo os credores, os

empregados e o Estado, além de afetar a dignidade da Justiça.

Com o tempo, as regras expostas na Lei de Falência necessitaram

modificações para atender a realidade atual frente á globalização, como também

uma ampliação das normas que coíbem práticas lesivas no decorrer do processo,

agora não só de falência, mas de recuperação judicial e extrajudicial.

Desta feita, foi editada a Lei de Recuperação de Empresa nº 1101/2005,

sucessora da antiga lei de falência e amplio o rol de crimes previstos contra a

Massa Falida, realizada em curso pelo devedor, ou por quem atue juntamente

com a empresa falida. Evidentemente que esses crimes podem ocorrer

independente de haver Sentença que decrete ou não a falência.

Destarte, passaremos, a analise dos crimes previsto na Legislação que

regula os aspectos inerentes a Falência ou a Recuperação Judicial.

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2 - Dos crimes contra a falência ou Recuperação Empresarial

As tipificações penais inseridas na L.R. E estão previstas a partir do

capítulo VII da seção I artigo 168 até a seção III do mesmo capítulo no artigo 188.

O primeiro crime estipulado é o do artigo 168 cometido mediante fraude

contra credores, tanto que, mesmo ainda não havendo Sentença que tenha

decretado a falência da empresa, se ocorrer qualquer prática fraudulenta no

sentido de ocasionar vantagem indevida, na tentativa de assegurar também tal

vantagem para outrem em detrimento aos credores, responderá pelo crime em

questão.

A cominação penal insidida na prática delituosa é elevada em face de

muitos crimes existentes na Lei Substantiva Penal, sendo que a pena mínima a

ser fixada na primeira fase da dosimetria da pena é de 3 anos, sem prejuízo da

multa incidente.

Tanto o "caput", quanto aos incisos do parágrafo primeiro, a sua conduta

não enseja concurso material de crimes com os delitos dos artigos, 297, 298, 299,

pois se isso ocorrer consistirá "bis in idem", ou seja, em se tratando de crime

específico como este em questão, só pode ser produzido no curso do pedido de

falência, do Pedido de Recuperação Judicial, ou após a decretação da falência.

Exceto esse caso em particular, o agente que realizar conduta fraudulenta, lhe

será imputado os crimes previsto no Estatuto Penal não no crime previsto na

L.R.E.

Todos os delitos inseridos neste rol têm sua procedibilidade

incondicionada, ou seja, se os atos praticados não for à sede de juízo, o credor ou

os credores podem formular "Notitia Criiminis” para instauração de inquérito

Page 5: Dissertacao Sobre Crimes Contra Falencia e Recuperacao de Empresas

Policial e averiguação do delito cometido, ou se for à sede de juízo e o magistrado

perceber a fraude realizada, de oficio remeterá cópia dos autos e dos documentos

fraudulentos para o Ministério Público e este recebendo determinará a instauração

do Inquérito Policial para apuração do informado pelo juízo universal, ou

procedendo de imediato a denúncia dos sujeitos que produziram tal conduta.

Além da pena correspondente ao delito acima analisado, o Legislador

inseriu na tipificação circunstâncias judiciais de aumento de pena, estampada no

parágrafo primeiro do correspondente artigo, sendo que este aumento de pena

eleva-se de 1/6 a 1/3 da pena prevista no "caput". Esse aumento ocorre se o

agente realizar conduta prevista nos incisos I a V do parágrafo retro mencionado,

cujo teor baixo segue:

I - elabora escrituração contábil ou balanço com dados inexatos;

Neste inciso, habitualmente é realizado por departamento contábil ou

terceirizado da empresa falida, ou na iminência da decretação, sendo que

somente os que possuem conhecimento de escrituração contábil ou de realização

de balanços patrimoniais é que podem promover falsificações, alterações de

informações nesses documentos.

Todavia, nada obsta que o próprio empresário tenha esse tipo de

conhecimento e de certa forma pratique tal conduta a fim de ludibriar os credores

induzindo-os a erro e prejuízo.

Foi por essa razão, e pelo princípio da boa fé objetiva, que o Legislador

entendeu por melhor inserir no artigo essa circunstância judicial de aumento de

pena, para evitar certa forma fraudes que visem prejudicar a falência e os

credores em questão.

Page 6: Dissertacao Sobre Crimes Contra Falencia e Recuperacao de Empresas

No inciso II do referido artigo 168 parágrafo 1º da L.R. E também dispõe

sobre a omissão de informações na escrituração contabel ou no balanço

patrimonial deixando de mencionar informação obrigatória, ou ainda alterando

informações na escrituração ou Balanço Patrimonial com intuito de encobertar a

verdade das informações que deveriam ser inseridas.

Neste inciso, temos duas formas de conduta, sendo que a primeira é uma

conduta omissiva, pois em escrituração contábel omite informação que deveria a

rigor constar em tal documento.

A segunda forma de conduta é comissiva, pois é realizada prática de

alteração de informações em escrituração contábel, assemelhando à falsidade

ideológica, pois a sua redação trata essencialmente de lançar ou alterar

informações fundamentais para o real conhecimento da situação econômica da

empresa, resultando prejuízo a credores, como também a toda estrutura social.

No inciso III trata de situação em que o responsável ou a quem lhe foi

ordenado realizar tal conduta , destrói, apaga ou corrompe dados contábeis ou

negociais em computador ou em sistema informatizado. Este tipo normativo visa

preservar as informações da estrutura econômica da empresa, bem como toda a

atividade empresarial desenvolvida e que está inserido no banco de dados de

sistema informatizado, sendo que tais informações seriam imprescindíveis para

que tanto o governo quanto os credores em geral conhecesse a real situação

financeira da empresa.

Inciso IV dispõe sobre a simulação da composição do capital social, ou

seja, com o intuito de enganar tanto os credores, quanto o fisco, o empresário

demonstra um capital social aquém do que seria realmente verdadeiro,

configurando nesse sentido uma forma de estelionato, pois a intenção em simular

é levar os credores em prejuízo, fazendo com que eles acreditem que o capital

Page 7: Dissertacao Sobre Crimes Contra Falencia e Recuperacao de Empresas

social da empresa é diminuto e só podendo suportar na falência, até a medida do

correspondente capital social.

Por fim, para encerrarmos a analise do artigo 168 da LRE, analisaremos o

inciso V que de certa forma segue os mesmos parâmetros do inciso III, que por

ser uma conduta comissiva, com o intuito de ninguém ter conhecimento da

realidade financeira da atividade empresária, destrói oculta, ou inutiliza

documentos imprescindíveis como à escrituração fiscal obrigatória, podendo ser

total o parcialmente esta destruição.

De todo o exposto sobre o parágrafo 1º e incisos deste artigo, a conduta

em tese é sempre comissiva, pois o agente promove a ilicitude para de certa

forma esquivar-se da responsabilidade de pagar aos credores o que lhes são

devidos. A única exceção é a apresentada na primeira parte do inciso II, pois a

conduta é puramente omissiva, deixando de mencionar informações importantes

para o conhecimento geral da situação de empresa.

O artigo 168 é também previsto por outros incisos que passaremos a

analisar.

O parágrafo II do artigo 168 trata de contabilidade paralela, ou seja, no

geral, esta conduta é o conhecido como "caixa 2", pois com o intuito de

demonstrar uma situação econômica diferente da realidade e como provocar

prejuízo a credores, pratica movimentação financeira a parte da contabilidade

originária. Neste sentido o Legislador achou por melhor inserir um aumento de

pena para tal conduta de 1/3 (um terço) com o intuito de combater esta prática

que é uma das circunstâncias que mais temos conhecimento de sua existência,

não só na atividade empresarial, mais no seio político também ocorre com muita

freqüência.

Page 8: Dissertacao Sobre Crimes Contra Falencia e Recuperacao de Empresas

O parágrafo III do referido artigo, trata de concurso de pessoas, quais

sejam elas:

- contadores;

- técnicos em contabilidade;

- auditores; bem como qualquer profissional que concorra para as práticas

criminosas dispostas neste artigo. Tudo na medida de sua culpabilidade.

Esta última parte, ou seja, na medida de sua culpabilidade é a

circunstância prevista no artigo 29 do CP.

O presente artigo também tem inserido em seu bojo circunstância de

redução de pena ou de substituição de cumprimento, só que este tipo de

substituição é permitida somente para Micro Empresa ou Empresa de Pequeno

Porte, desde quem o empresário não tenha concorrido em prática habitual de

condutas fraudulentas.

Nesta substituição, a pena de reclusão convola em restritiva de direito,

sendo que, o seu cumprimento poderá ser de perdimento de bens e valores,

prestação de serviços à comunidade ou a entidades públicas, circunstâncias estas

previstas no artigo 44 do CP.

No tocante a redução de pena, o magistrado de acordo com as

circunstâncias, com o "modus operandi" das condutas fraudulentas, poderá

reduzir de 1/3 a 2/3 que será fixado na 3ª fase da dosimetria da pena.

Destarte, o artigo retro mencionado tratou de situações corriqueiras na

pratica comercial, que de certa forma acarreta prejuízos imensuráveis para com

todos os credores em geral, dentre eles o próprio governo.

Passaremos agora a analisar as outras disposições constantes na capitulo

da LRE que trata dos diversos crimes cometidos contra a falência.

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Iniciamos pelo artigo 169, que trata de proteção de informações

confidenciais e sigilosas da empresa, imputando este delito em que de certa

forma violar, explorar ou divulgar esses dados, ocasionado desta forma prejuízos

irreparáveis a economia da empresa, fazendo com que ela fique em situação de

inviabilidade financeira, causando assim, estado falimentar.

A pena atribuída a tal conduta é de 2 a 4 anos sem prejuízo de multa.

O artigo 170 da LRE trata de crime àquele que propala ou divulga, por

qualquer meio, informação falsa sobre a condição do devedor em sede de

recuperação judicial, informação essa que pode levar o devedor a falência ou de

obter vantagem.

A priori este crime é cometido por credor que de tal forma pretende auferir

vantagem com tal divulgação.

Estes meio empregados pelo artigo são os meios de comunicação, como

televisão, rádio, internet, jornal de grande circulação, ou mesmo informação direita

ao cômite de credores.

Todavia, o fato de propalar informação falsa com o intuito de ver a

empresa em recuperação judicial falir definitivamente tem caráter vingativo, pois a

falência, dependendo do tipo de crédito do credor o mesmo acaba por ser o último

a receber, ou muitas vezes nem recebe.

Entretanto, o fato de obter vantagem acaba remetendo em situação que o

empresário falido esteja combinado com essas falsas informações, ou seja, o

mesmo de comum acordo com determinado credor, pede para que este último

divulgue informações inverídicas para ocasionar a decretação da falência, sendo

que após a decisão falimentar o falido pagará determinada importância para o

indivíduo que propalou.

Page 10: Dissertacao Sobre Crimes Contra Falencia e Recuperacao de Empresas

Podemos também entender que o credor em sede de recuperação judicial

não esteja sendo prontamente beneficiado, mas sabe que em sede de falência,

seu crédito possui prevalência sobre os demais; então, por essa razão é que

divulga informações ocasionando a quebra da empresa.

A pena cominada para o crime em questão é de 2 a 4 anos e multa.

3 - INDUÇÃO A ERRO

O artigo 171 da Nova Lei de Falência ou Lei de Recuperação de empresa

trata das circunstâncias em que o devedor tenta induzir a erro o cômite de

credores, bem como em todo o processado falimentar.

Este ato de induzir a erro é cometido por meio de sonegação ou omissão

de informações, sendo estas condutas omissivas, pois o devedor deixou de

realizar ato obrigatório no processo falimentar.

Além dessa atitude omissiva, temos estampado no corpo do artigo uma

situação comissiva, ou seja, o devedor com intuito de prejudicar credores e se

esquivar da responsabilidade para com estes, presta informações falsas sobre a

situação da empresa.

Não obstante, o devedor não opera falsamente contra os credores em

prestar informações inverídicas, mas leva também a erro entidades como

Ministério Público, o Juízo Universal, a Assembléia Geral de Credores, o Cômite

de credores, ou seja, todos os envolvidos no processo falimentar.

Por fim, a pena aplicada para este tipo de conduta é de 2 a 4 anos, sem

prejuízo da multa.

Page 11: Dissertacao Sobre Crimes Contra Falencia e Recuperacao de Empresas

4 - FAVORECIMENTO DE CREDORES

Um dos dispositivos inseridos na LRE é o crime de favorecimento de

credores, na qual o devedor em conluio com alguns credores, realiza

determinadas transações, praticas essas que leva a detrimento de outros

credores.

Esse favorecimento pode ocorrer antes ou depois de Sentença que

decretar a falência, ou conceder a recuperação judicial, ou homologar o plano de

recuperação extrajudicial.

A pratica desenvolvida neste mister é o de oneração patrimonial ou

gerador de obrigação, sendo que tais fatores inexistem, sendo produzidos

somente com o intuito de beneficiar credores mancomunados com o devedor,

tanto que o parágrafo único do referido artigo prevê que o credor incorrerá nas

mesmas penas que o devedor, estando este em conluio e tendo sido beneficiado

por esta pratica, praticas estas prevista no “caput” do artigo 172, gerando pena

tanto para o devedor como para o credor envolvido de 2 a 5 anos de reclusão,

além de multa.

A Nova Lei de falência trata também do crime em que o devedor desvia

oculta ou apropria-se de bens que servirão para pagamento de credores.

Quando iniciada o processo falimentar ou processamento da recuperação

judicial, um dos documentos imprescindíveis a ser anexado junto com a exordial é

a relação dos bens particulares dos sócios controladores e dos administradores

do devedor conforme disposto no artigo 51, inciso VI da Nova Lei de falência, tudo

isso em sede de recuperação judicial. Entretanto, no tocante a decretação da

falência, o administrador terá a incumbência de arrecadar todos os bens do

Page 12: Dissertacao Sobre Crimes Contra Falencia e Recuperacao de Empresas

devedor, sendo que para tanto, o devedor terá que informar todos os bens que

dispõe para o Administrador Judicial realizar a arrecadação.

Após a arrecadação de todos os bens pertencentes ao devedor, o

administrador pode, conforme previsto neste artigo, desviar determinado bem, ou

apropriar-se dele, ou por fim, ocultar sua existência na relação de bens

arrecadados que serão revertidos em pecúnia para satisfação dos credores.

Também pode ocorrer que, como preceitua o “in fine” do artigo, que a

aquisição pode ser feita por interposta pessoa, ou seja, pessoa esta em conluio

com o administrador judicial e que pode estar adquirindo determinado bem para

posteriormente transferi-lo ao responsável por cuidar da gestão da massa falida

até sua total dissolução. Neste caso, tanto a administrador quanto a pessoa

interposta responde pelo crime em comento.

E porque isso ocorre?

Ocorre, justamente em virtude da proibição que o administrador tem em

adquirir bens da massa falida, pois tal proibição é lógica no sentido de que a sua

influência e seu conhecimento perante todo o processado falimentar e de todos os

atos ocorridos no curso da ação, além do conhecimento dos valores apurados em

cada avaliação de bens, pode, sem sombra de dúvidas, ocasionar prejuízos

irreparáveis para todos os credores concursais da massa falida.

Por essa razão é que o legislador dispôs este artigo, com o intuito de

coibir tal prática.

A pena praticada neste mister é de 2 a 4 anos de reclusão, além da multa

correspondente a ser fixada pelo juízo criminal.

Page 13: Dissertacao Sobre Crimes Contra Falencia e Recuperacao de Empresas

O artigo 174 da LRE trata de situações muito próximas do artigo anterior,

pois proíbe a aquisição, utilização, recebimento, de bens de forma ilícita, sabendo,

quem opera nesta prática, de bens que se trata de massa falida, como também

concorre para que terceiro de boa fé venha adquirir tais bens, responderá pelo

artigo 174 da LRE.

Além do exposto, ao vender para terceiro de boa-fé, este por sua está de

certa forma enganando o adquirente, pois para que a venda realize sem

obstáculos, o comprador em regra não pode ter ciência que tal bem está inserido

no rol de bens arrecadados em processo falimentar. Sendo assim, além de

responder pelo artigo em tela, responderá por perdas e danos em processo

promovido pelo terceiro que de boa-fé adquiriu bem que está vinculado ao

processo de falência.

Logo, a pessoa que concorre para está prática, poderá ser condenada

com pena de reclusão de 2 a 4 anos, além da multa a ser aplicada.

5 - HABILITAÇÃO ILEGAL DE CRÉDITO

Decretada a falência, todos os credores de um modo geral deverão se

habilitar no processo de falência apresentando seus créditos, sendo que, se não

ocorrer tal habilitação, resta impossível elaborar quadro geral de credores e

concomitantemente o plano de recuperação judicial.

Essa apresentação será realizada até 15 dias após a decretação da

falência, mas nada obsta que seja realizada extemporaneamente, devendo para

tanto, o credor que esta habilitando seu crédito, de recolher custas processuais.

A habilitação será processada em processo individual, apenso ao principal

e para tal mister, o credor deverá apresentar título executivo original e cópia

autenticada; instrumento de protesto, ou quando for com base no inciso III do

Page 14: Dissertacao Sobre Crimes Contra Falencia e Recuperacao de Empresas

artigo 94, a certidão de inteiro teor, conhecida também como certidão de

habilitação de créditos em massa falido ou tão somente certidão de objeto e pé

(conforme modelo anexo).

Neste passo, se o título for falso ou simulado, a certidão apresentada não

correspondendo com a verdade, à reclamação é inverídica, tanto em sede de

recuperação judicial ou extrajudicial, o falso credor responderá conforme previsto

no artigo 175 da LRE, pois além de prejudicar todo curso do processado,

onerando ainda mais a situação do falido, leva a erro todos os envolvidos no

processo de falência, pois passam a acreditar que existe determinado crédito,

sendo que este crédito é falso.

Como quase em todos os artigos retro mencionados, a pena varia de 2 a

4 anos de reclusão e multa.

O artigo 176 prevê crime para o empresário falido em que foi declarado

incapacitado ou inabilitado para o exercício da atividade empresária, pois um dos

efeitos da falência é a inabilitação para exercício da atividade empresária, porém

esses efeitos não são “ad eternum”. Entretanto, enquanto perdurem seus efeitos,

caso venha o empresário falido a exercer atividade empresária, estará cometendo

crime revisto no artigo retro mencionado, podendo receber pena de 1 a 4 anos de

prisão, além de multa.

6 - VIOLAÇÃO DE IMPEDIMENTO

O artigo 177 da nova Lei de Falência trata das pessoas impedidas em

adquirir bens da massa falida ou em entrar em qualquer especulação financeira,

bem como por pessoa interposta pelos impedidos, conforme texto normativo “in

verbis”.

Page 15: Dissertacao Sobre Crimes Contra Falencia e Recuperacao de Empresas

“Art 177:” Adquirir o Juiz, o representante do Ministério Público, o administrador judicial, o gestos judicial, o perito, o avaliado, o lei- loeiro, por s ou por interposta pessoa,bens de massa falida ou de devedor em recupera- ção judicial, ou em relação a estes, entrar em

alguma especulação de lucro,quando tenham atuado em processo nos respectivos processos

pena - reclusão, 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa.

Esta especulação financeira de que trata o referido artigo, é no tocante a

leilões orais ou pregões, sendo que estas pessoais por conhecerem todo o

processado e por terem que atuado em todo o processo de avaliação dos bens

arrecadados, podem de certa forma, influenciar negativamente o andamento dos

leilões e pregões com o intuito de obter determinado patrimônio do devedor.

Por essa razão, é que há vedação expressa para estas pessoas na

aquisição dos bens da massa falida, bem como de pessoas que estejam agindo

em nome destes.

Em suma, a pena cominada para a conduta exposta acima é de 2 a

quatro anos sem prejuízo da multa.

7 – OMISSÃO DE DOCUMENTOS CONTÁBEIS

OBRIGATÓRIOS.

O texto normativo estampado no artigo 178 da LRE, sendo este a última

norma incriminadora desta Lei, imputa crime em quem omite documentos

contábeis obrigatórios.

Page 16: Dissertacao Sobre Crimes Contra Falencia e Recuperacao de Empresas

Esses documentos, em linhas gerais, são essenciais para o conhecimento

real de toda economia da empresa, pois sem eles resta difícil a constatação da

situação apresentada, bem como os motivos norteadores que levaram a empresa

na condição de falência.

Além do mais, são documentos de caráter público, devendo o empresário,

ou sua contabilidade dispô-los. Tanto que a redação do texto incriminador é claro

no sentido de que não somente a omissão em sua apresentação, mas também a

omissão no tocante a elaboração, escrituração ou autenticação de escrituração

contábil.

Essa omissão pode ser praticada antes da Sentença que declare falida,

ou depois, bem como a decisão que concede a recuperação judicial ou

homologação de plano de recuperação extra judicial.

A pena cominada neste caso é inferior aos outros delitos retro

mencionados, inclusive o seu regime inicial de cumprimento que é o detenção,

perfazendo detenção de 1 a 2 anos e multa, mas colocando a salvo se o crime

não constituir crime mais grave.

Por Derradeiro, encerramos a analise sintética dos crimes previstos na

Nova Lei de Falência nº 11101/2005, sendo que houve uma amplitude de crimes

em vista do antigo Decreto Lei que regulava toda a forma de falência e

concordatas.

Passaremos agora a analisar as disposições comuns que são partes

integrantes dos crimes na LRE.

Page 17: Dissertacao Sobre Crimes Contra Falencia e Recuperacao de Empresas

A seção II da presente Lei 11101/2005, trata sobre as disposições

comuns, sendo que constitui partes não incriminadoras, como a assemelhando-se

a parte geral do Código Penal.

O artigo 179 menciona que todos os envolvidos na relação de falência,

inclusive o administrador judicial equipara-se ao devedor falido, sendo que estão

sujeitos a legislação especial penal previsto nesta lei na medida de sua

culpabilidade.

Já no artigo 180 da LRE põe a salvo que a sentença que decretar a

falência é condição objetiva para punibilidade dos crimes previsto nesta Lei, ou

seja, enquanto não ocorrer a sentença declaratória, temos uma condição

meramente subjetiva, mesmo que algumas normas incriminadoras colocam a

salvo que enseja incriminação atos praticados mesmo antes da Sentença que

declarar falência, ainda sim, paira a presunção de inocência sobre a conduta

praticada.

8 - EFEITOS DA CONDENAÇÃO PELOS CRIMES PREVISTO

NA LEI 11101/2005

Ao ser condenado criminalmente em virtude de atos praticados conforme

os crimes previsto do artigo 168 até o artigo 178, o apenado estará subordinado a

todos os efeitos que a condenação criminal enseja, desde que esses efeitos

tenham sido declarados em Sentença. Os efeitos estão dispostos nos incisos I a

III do artigo 181, que são;

I - a inabilitação para o exercício de atividade empresarial;

II - o impedimento para o exercício de cargo ou função em conselho de

administração, diretoria ou gerência das sociedades sujeitas a esta Lei;

Page 18: Dissertacao Sobre Crimes Contra Falencia e Recuperacao de Empresas

III - a impossibilidade de gerir empresa por mandato ou por gestão de

negócio.

Como salientado, não são automáticos, devendo ser motivados pelo

Magistrado que terão eficácia por até 5 anos a partir da extinção da punibilidade,

conforme prevê o § 1º do artigo em comento, sendo que esses efeitos cessão

com eventual deferimento de Reabilitação prevista no artigo 92 e 93 do Código

Penal.

O § 2º do referido artigo, determina que após o transito em julgado da

Sentença penal condenatória, será oficiado o Registro Público de Empresas para

que este tome todas as medidas cabíveis para impedir o requerimento de novo

registro empresarial por parte do falido condenado inabilitado.

As prescrições penais dos crimes previstos nesta Lei estão reguladas pelo

artigo 110 do Código Penal, iniciando sua contagem a partir da decretação de

falência ou deferimento de Recuperação Judicial, ou homologação de Plano de

Recuperação extrajudicial, conforme disposto no artigo 182 da Lei 11101/2005.

A contagem da prescrição de pretensão punitiva começa a contar com os

atos praticados conforme mencionado no retro parágrafo, todavia, caso o

Magistrado convola em falência, a contagem prescricional é interrompida,

iniciando do marco zero nova contagem de prazo, disposto no § único do artigo

182 da Nova Lei de Falência e Recuperação Judicial.

Na Seção III da Lei de Recuperação de Empresas analisa os aspectos do

Procedimento Penal a ser adotado por conta de praticadas constantes nos artigos

168 a 178 desta lei, senão vejamos.

O artigo 183 dispõe que a competência do Juízo criminal é da localidade

onde tenha sido decretada a falência, concedida à recuperação judicial ou

Page 19: Dissertacao Sobre Crimes Contra Falencia e Recuperacao de Empresas

homologado plano de recuperação judicial, sendo que o juiz criminal desta

localidade é competente para analisar todos os crimes praticados nesta Lei.

A ação penal a ser instaurada é de ação pública incondicionada, sendo

parte legítima o Ministério Público, conforme prevê o artigo 184 da LRE.

Já no parágrafo único desta referida Lei, menciona que havendo inércia

por parte do Ministério público em oferecer a denúncia, poderá ser oferecida ação

penal privada subsidiária da pública por qualquer credor habilitado ou pelo

administrador judicial, observando sempre o prazo decadencial de 6 meses.

Após o recebimento da Denúncia ou Queixa, deverá ser observado o Rito

processual disposto no Código de Processo Penal, em seus artigos 531 a 540, em

tese Rito Ordinário, artigo 185 da LRE.

O administrador Judicial conforme o inciso III do “caput” do artigo 22 desta

Lei deverá apresentar relatório detalhado ao Juiz sobre as condições da empresa,

exposição circunstanciada da falência, causas da falência, procedimento do

devedor, sua conduta antes ou depois da decretação da falência, bem como de

outros responsáveis, caso haja, e todos os atos descritos neste relatório são

analisados para averiguar se incidência de pratica criminosa em relação à

recuperação judicial, falência ou outro crime conexo, conforme disposição prevista

no artigo 186.

E por fim o parágrafo único do artigo 186 dispõe que a exposição

circunstanciada deverá ser instruída com laudo expedido por contador

encarregado do exame da escrituração do devedor.

O Ministério Público por ser competente para o oferecimento da denúncia

nos crimes previstos na LRE, ao ser intimado da Sentença Declaratória ou

decisão que concede a recuperação judicial, ao constatar qualquer crime previsto

Page 20: Dissertacao Sobre Crimes Contra Falencia e Recuperacao de Empresas

nos artigos 168 a 178 da LRE promoverá imediatamente o oferecimento da

Denúncia ou requisitará abertura de Inquérito Policial para melhor apuração da

pratica criminosa, conforme artigo 187 “caput” da Lei 111051/2005.

A Denúncia será regulada pelo artigo 46 do Código de Processo Penal,

em se tratando de réu solto ou afiançado, e o Ministério Público decidir aguardar a

exposição circunstanciada, conforme disposto no artigo 186 da LRE, deverá em

seguida e no prazo de 15 dias oferecer a denúncia. Por fim o § 2º entende que

independente de qualquer fase em que esteja o processo, surgindo indícios de

prática de crimes prevista na Lei 11101/2005, o Juiz da falência, recuperação

judicial ou recuperação extrajudicial, deverá oficiar ao Ministério Publico sobre os

indícios existentes.

Destarte, qualquer disposição que não esteja no bojo desta Lei, será

observada os previstos no Código de Processo Penal, conforme menciona o

artigo 188 da Nova Lei de Falência.

9 - CONCLUSÃO

Após analise de todos os artigos penais inseridos nesta lei, bem como

suas disposições comuns e formas de procedimento, entendemos que o

Legislador tenta de todas as maneiras coibir práticas ilícitas e criminosas, que de

certa forma prejudica todo o contexto social.

A falência de uma determinada empresa gera repercussão em vários

setores sociais.

Os setores afetados pela falência como o setor trabalhista, na qual os

empregados são prontamente dispensados, sem receber seus créditos

trabalhistas “verbas rescisórias”, causando-lhe prejuízos enormes, pois tais verbas

são de caráter alimentar, além do que, contribui de tal forma para o crescimento

de desemprego.

Page 21: Dissertacao Sobre Crimes Contra Falencia e Recuperacao de Empresas

O setor de credores com garantias reais também resta prejudicado, sendo

que muitas vezes, financeiras emprestam vultosas fortunas a empresas para

expansão de suas atividades, mesmo que tenham como garantia bens ofertados

no ato da contratação do empréstimo, a finalidade bancária não é a de executar,

mas sim a de receber o que foi emprestado com os juros previamente

estabelecido em contrato.

Além desses setores acima expostos, temos o setor tributário, pois com a

falência de uma empresa, os tributos incidentes e que em tese são “revertidos

para o desenvolvimento público”, deixam também de proceder o recolhimento,

tanto os anteriores quanto os futuros.

De todos esses setores, temos também os fornecedores em geral que são

extremamente afetados com a falência, pois neste caso, passam a ser os últimos

a receber seus créditos.

A falência não somente ocorre com incidência de questões criminosas,

nem também podemos asseverar enfáticos que a relação falimentar deriva de má

administração, pois existem fatores sociais em virtude do dinamismo tecnológico,

de empreendedorismo, que se o empresário não estiver profundamente

atualizado as novas tendências empresarias que surge a cada dia, estará fadado

a falir.

Entretanto, se por ventura ocorrer a falência que é a execução mais

severa imposta ao devedor prevista em nosso ordenamento jurídico, que seja

então envolto pela desatualização empresarial ou no último caso por má gestão, o

que não se pode admitir que a falência venha ocorrer por intermédio de questões

criminosas e fraudulentas, com o intuito de beneficiar o devedor em detrimento

dos credores.

Page 22: Dissertacao Sobre Crimes Contra Falencia e Recuperacao de Empresas

A de salientar casos dessa natureza, na qual empresas de grande porte,

com inúmeros funcionários chegaram a falir, como exemplo o Mappim que, por

conta de questões fraudulentas em balanços patrimoniais, além de desvio de seus

recursos por parte de seu Presidente “Ricardo Mansur” chegou a falir, (ação

transitada em julgado mas, ainda, em curso perante a 18ª Vara Cível Central de

São Paulo) uma empresa que existia comercialmente a mais de 90 anos.

Um outro exemplo é o do Banco Nacional, como também o Banco

Econômico que foram liquidados e vendidos a outros bancos, como ao Unibanco

e Bilbao Viscaya respectivamente, mas para que esses bancos chegassem nessa

circunstância, seus administradores desviaram todo o dinheiro possível, forjando

documentos e falsificando balanços patrimoniais.

Evidentemente que, quando se fala em falência, são raríssimas as causas

em que esteja configurada pratica criminosa por parte do devedor ou de seus

administradores, pois o fator preponderante é o não conhecimento técnico da

atividade desenvolvida, resultando em fracasso comercial e concomitantemente

em falência.

Por fim, a ampliação dos crimes previstos na Lei de Falência foi uma

medida plausível e uma resposta do legislador em não tolerar condutas

criminosas que tenham o condão de levar à empresa a falência trazendo prejuízos

geralmente irreparáveis em toda órbita social, pois mesmo que ocorra o

fechamento de uma empresa por conta da falência, espera-se pelo menos a boa-

fé por parte do devedor e que tenha tipo em todo tempo de gestão empresarial e

em todo processado, integridade e honestidade, sendo esses elementos

norteadores do homem médio.

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10 - BIBLIOGRAFIA

NOVA LEI DE FALÊNCIA E RECUPERAÇÃO JUDICIAL - LEI

Nº 11101/2005.