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UNIVERSIDADE PAULISTA – UNIP PROGRAMA DE MESTRADO EM ADMINISTRAÇÃO
INTERFACE ENTRE INCERTEZAS E GOVERNANÇA RELACIONAL NAS REDES:
ANÁLISE DE MÚLTIPLOS CASOS DA REGIÃO DE CUIABÁ
Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado em Administração da Universidade Paulista – UNIP para a obtenção do título de Mestre em Administração.
MARIA CAROLINA SILVA DE ARRUDA
São Paulo – SP 2017
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UNIVERSIDADE PAULISTA – UNIP PROGRAMA DE MESTRADO EM ADMINISTRAÇÃO
INTERFACE ENTRE INCERTEZAS E GOVERNANÇA RELACIONAL NAS REDES:
ANÁLISE DE MÚLTIPLOS CASOS DA REGIÃO DE CUIABÁ
Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado em Administração da Universidade Paulista – UNIP para a obtenção do título de Mestre em Administração.
Orientador: Prof. Dr. Ernesto Michelangelo Giglio
Área de concentração: Redes Organizacionais.
Linha de pesquisa: Abordagens Sociais nas Redes.
MARIA CAROLINA SILVA DE ARRUDA
São Paulo - SP 2017
2
Arruda, Maria Carolina Silva de.
Interface entre incertezas e governança relacional nas redes: análise de múltiplos casos da região de Cuiabá. / Maria Carolina Silva de Arruda. - 2017. 136 f.: il. color. + CD-ROM.
Dissertação de Mestrado Apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Administração da Universidade Paulista, São Paulo, 2017.
Área de concentração: Redes Organizacionais: Abordagens sociais nas redes. Orientador: Prof. Dr. Ernesto Michelangelo Giglio. 1. Redes. 2. Governança relacional. 3. Incerteza ambiental. 4. Incerteza comportamental. I. Giglio, Ernesto Michelangelo (orientador). II. Título.
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MARIA CAROLINA SILVA DE ARRUDA
INTERFACE ENTRE INCERTEZAS E GOVERNANÇA RELACIONAL NAS REDES:
ANÁLISE DE MÚLTIPLOS CASOS DA REGIÃO DE CUIABÁ
Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado em Administração da Universidade Paulista – UNIP para a obtenção do título de Mestre em Administração.
Aprovada em: ____ / ____ / ____.
BANCA EXAMINADORA
___________________________/___/___ Prof. Dr. Ernesto M. Giglio
Universidade Paulista – UNIP
___________________________/___/___ Prof. Dr. Arnaldo Ryngelblum Universidade Paulista – UNIP
________________________________/___/___ Prof. Dr. Cristiano de Oliveira Maciel
Pontifícia Universidade Católica do Paraná - PUC
SÃO PAULO 2017
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AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente a Deus ter me dado saúde e força para alcançar meus
objetivos;
Ao meu esposo, Augusto Cézar D’Arruda, sua parceria e apoio incondicional
nos momentos de dificuldade, meu agradecimento especial;
Ao meu professor orientador, Dr. Ernesto Michelangelo Giglio, a dedicação,
paciência e incentivo. Um grande exemplo de pessoa e de educador. Afirmo que foi
um privilégio ser sua orientanda em todo o período do curso e que os seus
ensinamentos foram muito além dos conteúdos da dissertação, pois tive aprendizados
para a vida;
Aos meus pais, José Luiz de Arruda e Celia Lúcia Arruda, que ensinaram os
valores que norteiam a minha vida, e aos meus sogros Cézar Augusto D’Arruda e
Lenise Curvo D’Arruda todo suporte e incentivo nessa caminhada;
Ao Instituto Federal de Mato Grosso que deu todo apoio necessário,
reconhecendo a importância de se fazer um curso de mestrado;
A todos os professores do Programa de Mestrado em Administração da
Universidade Paulista - UNIP que contribuíram para o enriquecimento do meu
conhecimento;
Aos amigos do mestrado, a parceria nos momentos difíceis enfrentados juntos
e as vitórias conquistadas e comemoradas, afinal estamos em rede;
o professor Dr. Arnaldo Ryngelblum e ao professor Dr. Cristiano de Oliveira Maciel a
disponibilidade de participação e principalmente as contribuições ao trabalho;
Ao Departamento de Pós-Graduação em Administração na pessoa da Aline que
sempre me atendeu com muita presteza e atenção.
5
"A mente que se abre a uma nova ideia nunca mais volta ao seu tamanho original." (Albert Einstein)
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RESUMO
O objetivo deste trabalho foi discutir, investigar e analisar o tema da governança relacional em redes na sua interface com as incertezas ambientais e comportamentais. Define-se governança como o arranjo das regras que possibilita o trabalho coletivo, e incerteza como a falta de conhecimentos, que exige a tomada de decisões em ações coletivas, incluindo instrumentos de defesa. A teoria de base da governança advém de modelos que incorporam a incerteza ambiental e comportamental, criando sistemas de regras de controle e de incentivos. O problema da pesquisa pode ser resumido na pergunta: Qual a relação entre incertezas e governança nas redes? Realizada a revisão bibliográfica, concluiu-se que são raros os modelos que integram as incertezas com a governança, embora existam muitas afirmativas a respeito. No desenho da pesquisa colocou-se a interface das incertezas com a governança relacional, mostrando que os indicadores da governança podem ter origem tanto interna do grupo, quanto externa; entretanto, foram estudados apenas os indicadores de origem interna. A pesquisa configura-se como descritiva e exploratória, de natureza qualitativa, com método de estudo de caso, coletando dados de uma rede de negócios e uma rede de catadores de materiais recicláveis. Os instrumentos de coleta de dados utilizados foram a entrevista com roteiro semiestruturado e os dados de fontes secundárias. Nas duas redes realizaram-se análises inter e intraorganizacional. Na rede de economia solidária que envolve catadores de materiais recicláveis, cuja organização foco foi a ASSCAVAG - Associação dos Catadores de Várzea Grande, a conclusão é que se pode estabelecer uma relação entre as incertezas ambientais e comportamentais a partir da análise intraorganizacional já que os mecanismos de governança relacional estão resolvendo a maioria dos problemas surgidos no grupo. A mesma conclusão é afirmada para o caso da rede de negócios, cuja organização foco foi o Shopping Popular, a partir da análise intraorganizacional. Nas duas análises interorganizacionais, os mecanismos formais e regras de mercado predominaram, com pouca margem para arranjos entre as partes. A interpretação para os resultados é que a rede interorganizacional da qual a ASSCAVAG – Associação dos Catadores de Várzea Grande, faz parte compõe planos e projetos do governo, tornando as regras mais inflexíveis. Além disso, essa rede tem como atores grandes empresas, que desenvolvem ações sociais e, por questões de controle dessas ações, criam contratos com regras para serem obedecidas, sob pena de suspensão dos financiamentos, o que caracteriza uma rede interorganizacional formalizada, com pouca margem para negociação. Seguindo nessa mesma linha, a rede interorganizacional na qual o Shopping Popular faz parte também possui sua formalização, fundada em regras de comércio de varejo, controle de pirataria, leis de segurança e higiene no local, entre outras. No entanto, diferente da rede anterior, aqui existiram casos de negociações e acordos entre os atores. A contribuição do trabalho foi metodológica, haja vista a construção de indicadores que nortearam a elaboração dos instrumentos completos de investigação que podem ser testados em outras pesquisas; e teórica tendo em vista relacionar a governança relacional com incertezas ambientais e comportamentais, fato com certo ineditismo na literatura. Como sugestão de pesquisa futura indica-se investigar a correspondência de incertezas e governança relacional em redes com menor participação e controle do governo, ou seja, tentar selecionar redes que não tenham tanta intervenção do governo para poder analisar se, nesse caso, as organizações apresentam mais interação e negociação.
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Palavras-chave: Redes; Governança Relacional; Incerteza Ambiental; Incerteza Comportamental
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ABSTRACT
The objective of this work was to discuss, investigate and analyze the theme of relational network governance in its interface with environmental and behavioral uncertainties. Governance is defined as the arrangement of rules that enables collective work and uncertainty such as lack of knowledge, which requires decision-making in collective actions, including defense instruments. The basic theory of governance comes from models that incorporate environmental and behavioral uncertainty, creating systems of control rules and incentives. The research problem can be summarized in the question: What is the relationship between uncertainties and governance in networks? The bibliographical review was concluded that the models that integrate the uncertainties with the governance are rare, although there are many affirmations about it. In the research design, the interface of uncertainties with relational governance was shown, showing that governance indicators can originate both within the group and external, however, only the indicators of internal origin were studied. The research is descriptive and exploratory, of a qualitative nature, with a case study method, collecting data from a business network and a network of recyclable material collectors. The data collection instruments used were the interview with semi-structured script and data from secondary sources. Inter and intraorganizational analyzes were performed in both networks. In the network of solidarity economy that involves collectors of recyclable materials whose organization was ASSCAVAG - Varzea Grande Collectors Association the conclusion is that a relationship can be established between environmental and behavioral uncertainties from the intraorganizational analysis since the mechanisms of relational governance are solving the majority Problems encountered in the group. The same conclusion is affirmed for the case of the business network, whose organization was Popular Shopping, based on the intraorganizational analysis. In both interorganizational analyzes the formal mechanisms and market rules predominated, with little scope for arrangements between the parties. The interpretation for the results is that the interorganizational network of which ASSCAVAG is part composes government plans and projects, making rules more inflexible. In addition, this network has as actors large companies, which carry out social actions and, for control of these actions, create contracts with rules to be obeyed, under penalty of suspension of financing, which characterizes a formalized interorganizational network with little margin For trading. Along the same lines, the interorganizational network in which the popular shopping mall is part also has its formalization, based on rules of retail trade, control of piracy, safety and hygiene laws in place, among others. However, unlike the previous network, there have been cases of negotiations and agreements between the actors. The contribution of the work was methodological, considering the construction of indicators that guided the elaboration of the complete research instruments that can be tested in other researches; And theoretical in order to relate relational governance with environmental and behavioral uncertainties, a fact with certain novelty in the literature. As a suggestion of future research it is necessary to investigate the correspondence of uncertainties and relational governance in networks with less participation and control of the government, that is, try to select networks that do not have so much intervention of the government to be able to analyze if in this case the organizations present more interaction and negotiation.
Keywords: Networks; Relational governance; Environmental uncertainty; Behavioral uncertainty
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LISTA DE ILUSTRAÇÕES Item Página
FIGURA 1 – O modelo de governança relacional 36
FIGURA 2 – Modelo proposto do Desenho de Pesquisa 43
FIGURA 3 – Foto do galpão em que fica localizada a ASSCAVAG 57
FIGURA 4 - Mapa das relações da Rede da ASSCAVAG, conforme
respostas dos entrevistados
59
FIGURA 5 – Foto do Shopping Popular 81
FIGURA 6 - Mapa das relações da Rede da Shopping Popular,
conforme respostas dos entrevistados.
83
QUADRO 1 - Indicadores das categorias governança relacional,
incerteza ambiental e comportamental
46
QUADRO 2 - Indicadores das categorias estudadas presentes na
entrevista com sujeito 1
64
QUADRO 3 - Indicadores das categorias estudadas presentes na
entrevista com sujeito 2
68
Quadro 4 - Indicadores das categorias estudadas presentes na
entrevista com sujeito 3 e 4
74
Quadro 5 - Combinação dos indicadores com os sinais de
governança relacional presentes em todas as entrevistas realizadas
na rede na qual a ASSCAVAG está inserida
76
Quadro 6 - Indicadores das categorias estudadas presentes na
entrevista com sujeito 1 da rede na qual o Shopping Popular está
inserido.
89
Quadro 7 - Indicadores das categorias estudadas presentes na
entrevista com sujeito 2 da rede na qual o Shopping Popular está
inserido.
94
Quadro 8 - Indicadores das categorias estudadas presentes na
entrevista com sujeito 2 da rede na qual o Shopping Popular está
inserido.
99
Quadro 9 - Os indicadores com os sinais de governança relacional
presentes em todas as entrevistas realizadas na rede na qual o
Shopping Popular está inserido.
101
10
Quadro 10 - Apresentação dos indicadores de incertezas e de
governança relacional presentes nas entrevistas das redes
investigadas (ASSCAVAG e Shopping Popular) que obtiveram
convergência total.
104
Quadro 11 - Apresentação dos indicadores de incertezas e de
governança relacional presentes nas entrevistas das redes
investigadas (ASSCAVAG e Shopping Popular) que obtiveram
convergência parcial.
105
TABELA 1 - Frequência de artigos encontrados no portal
PROQUEST sobre as categorias governance (governança),
relational governance (governança) e network (redes)
22
TABELA 2 - Frequência de artigos encontrados no portal SCIELO
sobre a categoria governança
24
TABELA 3 - Frequência de artigos encontrados no portal
PROQUEST sobre as categorias uncertainty (incerteza) e network
(redes)
29
TABELA 4 – Frequência de artigos encontrados no portal SCIELO
sobre a categoria incerteza
31
11
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ASSCAVAG Associação dos Catadores de Várzea Grande
BNDES Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social
COOCOMP/MT Cooperativa de Compras do Comércio Popular de Mato
Grosso
DETRAN/MT Departamento Estadual de Trânsito de Mato Grosso
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
SEMA/MT Secretaria do Meio Ambiente de Mato Grosso
SETAS Secretaria de Estado de Trabalho e Assistência Social
SMTU Secretaria Municipal de Trânsito e Transportes
12
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ....................................................................................... 15
1.1 Tema .................................................................................................. 18
1.2 Problema ........................................................................................... 18
1.3 Justificativa ...................................................................................... 18
1.4 Objetivo Geral ................................................................................... 19
1.5 Objetivos Específicos ...................................................................... 19
2 REVISÃO DA BIBLIOGRAFIA .............................................................. 20
2.1. Governança ..................................................................................... 20
2.2 Governança nas Redes .................................................................... 21
2.3 Governança Relacional .................................................................... 26
2.4 Incerteza ............................................................................................ 28
2.5 Incerteza nas Redes ......................................................................... 29
3 TEORIA DE BASE .................................................................................. 34
3.1 Perspectiva Social de Redes .............................................................. 34
3.2 Conceito de Governança Relacional ................................................. 36
3.3 Conceito de Incerteza Ambiental e de Incerteza
Comportamental........................................................................................
39
3.4 Relação entre Incerteza e Governança Relacional ........................... 42
3.5 Desenho e Proposta de Pesquisa ...................................................... 43
3.6 Indicadores das categorias Governança Relacional, Incerteza
Ambiental e Incerteza Comportamental ..................................................
44
4 METODOLOGIA ...................................................................................... 49
4.1 Plano da Pesquisa .............................................................................. 51
4.2 Protocolo de Pesquisa ....................................................................... 51
4.2.1 Objetivo .............................................................................................. 52
4.2.2 Tipo de Pesquisa ............................................................................... 52
4.2.3 Escopo ............................................................................................... 52
4.2.4 Sujeitos .............................................................................................. 52
4.2.5 Instrumentos de coleta de dados ....................................................... 53
4.2.5.1 Entrevista com roteiro semiestruturado ........................................... 53
13
4.2.5.2 Questionário com afirmativas .......................................................... 54
4.2.5.3 Dados de fontes secundárias .......................................................... 55
4.2.6 Formas e processo de análise ............................................................ 55
5 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS ........................................ 57
5.1 Rede de Economia Solidária de Catadores de Materiais
Recicláveis .................................................................................................
58
5.1.1 Dados de fontes secundárias ............................................................. 58
5.1.2 Dados de fontes primárias – entrevistas ............................................ 62
5.1.3 Resposta ao problema de pesquisa ................................................... 76
5.2 Rede de Negócios do Shopping Popular de
Cuiabá/MT...................................................................................................
80
5.2.1 Dados de fontes secundárias ............................................................ 80
5.2.2 Dados de fontes primárias – entrevistas ............................................ 84
5.2.3 Resposta ao problema de pesquisa ................................................... 96
5.3 Conclusão sobre os resultados das redes ....................................... 104
6 COMENTÁRIOS FINAIS .......................................................................... 108
6.1. Sobre os objetivos .............................................................................. 110
6.2 Resposta sobre a proposição orientadora ........................................ 113
6.3 Comentários sobre a fundamentação teórica e os resultados
alcançados .................................................................................................
115
6.4 Comentários sobre a metodologia ..................................................... 118
6.5 Comentários sobre as duas redes ...................................................... 119
6.6 Comentários sobre os limites e as contribuições do
trabalho.......................................................................................................
119
6.6.1 Limites do trabalho ............................................................................. 120
6.6.2 Contribuições do trabalho .................................................................. 120
6.7 Sugestões de novas pesquisas ......................................................... 121
6.8 Comentário finais ................................................................................ 122
REFERÊNCIAS ........................................................................................... 123
Apêndice I. Instrumento Roteiro de Entrevista com Questões
Semiestruturadas ....................................................................................
130
14
Apêndice II. Instrumento Questionário .................................................. 133
15
1 INTRODUÇÃO
O objetivo deste trabalho é discutir, investigar e analisar o tema da governança
relacional em redes na sua interface com as incertezas do ambiente e do
comportamento dos atores no grupo. No projeto utiliza-se o conceito de governança
como mecanismos de controle e de coordenação que surgem dos relacionamentos
sociais e inclui salvaguardas informais, como confiança e reputação (JONES;
HESTERLY; BORGATTI, 1997; BACHMANN; ZAHEER, 2008).
Revisão bibliográfica prévia indicou que a categoria governança aparece em
muitos estudos sobre redes, com uma variedade de conceitos, afirmativas e modelos
de investigação. Como exemplo de autores frequentemente referenciados sobre o
tema, citam-se: Grandori (1997) que entende que a governança pode ser considerada
a base das redes, em que são utilizadas técnicas de coordenação, e Jones, Hesterly
e Borgatti (1997) que apresentaram uma teoria sobre governança, afirmando que o
seu modelo esclarece e resolve os aspectos racionais, econômicos e sociais das
redes; já que problemas tais como custos, ou incertezas de mercado são resolvidos a
partir de relações sociais.
Os estudos contemporâneos, como de Liu e Zhang (2013), afirmam que a
governança relacional é um modo de coordenar relacionamentos de negócios, no qual
empresas independentes, por meio de esforços conjuntos, executam ações
coordenadas para alcançar resultados mútuos ou singulares. Rodrigues e Malo (2006)
retratam a governança no sentido de práticas de controle relacionadas aos conceitos
de parceria, de aprendizado coletivo, de participação, de regulamentação e de
benefício para as estruturas organizacionais, no estudo de uma rede sem fins
lucrativos. Tais autores buscaram relacionar a governança com algumas variáveis
como de resultados, de motivação, de solução de conflitos e de controle. Sobre este
último exemplo, os controles referem-se às incertezas e imprevisibilidades do
ambiente e às incertezas comportamentais. O que se nota nessa revisão prévia é que
predominantemente se coloca a governança na direção do controle, isto é, na sua
função de controle e raramente se coloca o sentido das incertezas influenciando a
construção da governança. Assim, nasceu o tema de se investigar nessa direção, do
caminho que começa nas incertezas e chega à construção da governança.
Quando se trata de incerteza ambiental, a linha dominante do conceito é a
incapacidade percebida do ator da rede para prever com precisão eventos futuros do
16
ambiente no qual a organização está inserida (MILLIKEN, 1987); e, sobre a incerteza
comportamental, a linha dominante do conceito é a imprevisibilidade do
comportamento de um ator (GULATI,1998). No entanto, quando se trata de incerteza
ligada à governança relacional de redes, são raros os trabalhos que resolvem essa
equação, entre os quais, o trabalho de Jones, Hesterly e Borgatti (1997) e da Grandori
(1997) que afirmam que a governança em rede nasce com a função de diminuir as
incertezas, tanto do ambiente quanto do comportamento. Sobre as incertezas
ambientais, foram abordadas incertezas sobre legislação e sobre o clima; e sobre as
incertezas comportamentais, foram tratadas as incertezas sobre oportunismo e
negligência.
O tema de redes tem importância crescente no ambiente acadêmico. Conforme
Nohria e Eccles (1992), essa tendência tem como decorrência o surgimento de uma
nova forma de competição, baseada na competição entre grupos; no desenvolvimento
de tecnologias nos últimos anos que possibilitou o nascimento de novos arranjos
produtivos e de distribuições mais flexíveis e descentralizadas; e no incremento do
interesse do assunto pelos pesquisadores científicos.
Dentre as categorias que constituem a rede, a revisão bibliográfica inicial
destaca a governança, a estrutura e os fluxos de relacionamento como as mais
citadas. Tais categorias têm recebido ênfase dos pesquisadores, que buscam seu
surgimento, sua natureza e suas influências no desenvolvimento e nos resultados das
redes.
Uma convergência que surge da revisão inicial sobre governança é a sua
característica de controlar os processos, os relacionamentos e o comportamento dos
atores. Em outras palavras, a governança é o arranjo das regras que possibilita o
trabalho coletivo (GRANDORI e SODA, 1995). Outra convergência é caracterizar a
governança como forma de incentivo para ações coletivas, buscando eliminar o
oportunismo. Essa afirmativa foi repetida por Williamson (1994), em seus estudos
sobre contratos, incertezas e a função de controle das relações sociais.
Apesar dessas convergências, existem questões em aberto, por exemplo,
sobre a governança relacional, a saber: Qual a origem dessa governança? Como ela
se desenvolve? Quais as variações e tipos de governança? Essas variações
dependem do ramo de negócios? É independente dos problemas do grupo? Quais os
mecanismos, ou meios de governança relacional mais utilizados?
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Outro ponto é que existem muitas classificações e diferentes sentidos de
governança. Cassanego Junior (2014), por exemplo, afirma que os elementos a serem
considerados em pesquisas sobre governança são: a estrutura da governança, suas
funções, seus mecanismos e meios, seus objetivos, seus agentes e seus requisitos
da governança.
No que tange às incertezas, também surgem questões a serem respondidas,
quais sejam: Quais as fontes e as dimensões da incerteza? Que tipos de incertezas
podem estar presentes? Como investigar essa incerteza? A investigação deve seguir
por sinais tangíveis, ou pela percepção de cada ator? Como evoluem as incertezas?
A governança relacional atinge seus objetivos de prevenção, defesa e controle das
incertezas? Quais os efeitos das incertezas na governança da rede? Esxas questões
estão no centro de discussão neste projeto.
Considerando essas questões em aberto sobre o tema da governança e da
incerteza, a proposta do trabalho é discutir, investigar e analisar a interface entre
incerteza e governança relacional em redes. Afirma-se que a governança relacional
surge e se desenvolve a partir das relações sociais na rede, conforme modelo de
Jones et al. (1997). O conceito também se estende para a governança como guia,
controle e incentivo das relações entre os atores. A linha geral do conceito é que a
governança relacional é uma coordenação que nasce dos relacionamentos sociais da
rede.
Como plano de investigação, criou-se um quadro de indicadores dos sinais da
governança relacional e da presença de incertezas, os quais foram construídos a partir
da revisão bibliográfica e da base teórica. Com esse quadro foi possível construir
instrumentos para investigar a interface proposta em exemplos de redes.
A proposição orientadora é que, diante das incertezas ambientais e
comportamentais, os atores de uma rede criam regras sobre sistemas de defesa, para
evitar os efeitos das incertezas ambientais; e regras sobre sistemas de controles e
incentivos para exercer algum grau de controle nas incertezas comportamentais. A
proposta tem foco na construção dessas defesas, independentemente dos resultados
comerciais obtidos, o que ensejaria outro trabalho.
18
1.1 Tema
Discussões e análises da Governança Relacional nas redes associada às
Incertezas Ambientais e às Incertezas Comportamentais.
1.2 Problema
Considerando um ambiente com rápidas mudanças e necessidade constante
de adaptação, no qual existem incertezas, faz-se necessário criar uma governança
como forma de diminuir as incertezas e criar segurança. Sendo assim, este estudo
procurou verificar em pesquisas de campo a correspondência entre incertezas e
governança nas redes e responder à seguinte questão:
Quais os sinais de governança relacional presentes na rede que buscam se
prevenir dos efeitos das incertezas ambientais e exercer um grau de controle sobre
as incertezas comportamentais dos atores?
1.3 Justificativa
O estudo justifica-se, em primeiro lugar, pela relevância conceitual de se
colocar categorias sociais como bases das redes e pelo fato de a governança ser um
tema em evidência nos estudos de rede. Justifica-se, ainda, pelo fato de as redes
estarem em ambientes de constante mudança, sejam comerciais, políticas, sociais,
comportamentais; valorizando o papel da governança na solução de problemas
coletivos.
A questão de entender a interface da governança relacional com as incertezas
presentes nas redes também justifica o desenvolvimento desse estudo. Na parte
metodológica existem dúvidas, questionamentos sobre quais indicadores são válidos
para se investigar as incertezas do ambiente, do comportamento dos indivíduos do
grupo e dos sinais de governança construída no grupo.
O trabalho, portanto, está inserido numa corrente de questionamentos sobre o
tema de governança relacional associada às incertezas ambientais e
comportamentais nas redes.
19
1.4 Objetivo Geral
O objetivo geral do trabalho consistiu em identificar e apresentar os sinais de
governança relacional que buscam prevenir e defender a rede dos efeitos das
incertezas ambientais e exercer algum grau de controle nas incertezas do
comportamento dos indivíduos.
1.5 Objetivos Específicos
Mapear as ligações das redes selecionadas;
Apresentar os objetivos e as características das redes;
Criar e aplicar indicadores de governança relacional;
Criar e aplicar indicadores de incerteza;
Apresentar os resultados finais dos sinais de governança relacional
encontradas nos casos; e
Comparar os resultados do campo com as afirmativas teóricas.
O trabalho estrutura-se da seguinte maneira, nesta introdução apresenta-se a
proposta do trabalho, com a proposição orientadora, seus pontos de partida, sua
justificativa e sua estrutura. No item 2 apresenta-se a revisão bibliográfica sobre a
governança nas redes e sobre as incertezas. A proposta desse item é analisar as
tendências dos trabalhos envolvendo a categoria governança nas redes. Desse modo,
o item indica a importância e justificativa do problema levantado; a convergência dos
trabalhos contemporâneos e estabelece a posição do presente trabalho. No item 3
são apresentadas as bases teóricas que servem de fundamento para a construção
dos instrumentos de coleta e para as discussões finais. No item 4 aponta-se o plano
metodológico. No item 5 são apresentados os dados e são discutidos os resultados.
Por fim, no item 6 são apresentados os comentários finais.
20
2 REVISÃO DA BIBLIOGRAFIA
A revisão bibliográfica tem como propósito conhecer a tendência e o leque de
abordagens, teorias, metodologias e discussões de trabalhos atuais a respeito do
tema em análise. Ao final do item é possível justificar a validade e relevância do
problema levantado, estabelecer a posição do presente projeto na trilha de pesquisa,
isto é, se alinhado ou divergente das tendências que a revisão indicou, além de
mostrar a relevância do trabalho e das categorias selecionadas.
A pesquisa bibliográfica foi obtida por meio de consultas a sites de trabalhos
acadêmicos. Para os regionais, foi utilizado o SCIELO – Scientific Electronic Library
Online – e, para internacionais, a fonte foi o PROQUEST. Essas fontes foram
selecionadas por indicarem os artigos presentes em revistas qualificadas e por
permitirem cruzamentos e variações de busca, conforme interesse do pesquisador.
2.1 Governança
O termo governança encontra diversas definições nas mais variadas disciplinas
e áreas de estudo. Realizando uma pesquisa no portal PROQUEST referente à
palavra governance obtêm-se o número de 50.005 indicações de publicações,
obtendo maior número de concentração nos estudos referentes aos assuntos de
Governança (18341), Ensino superior (5309), Gestão (3080), Economia (2713),
Política (2033), Política Educacional (2168) e outros assuntos como políticas públicas,
business e tomadas de decisões que aparecem com menos frequência.
A partir da listagem, verificou-se com mais detalhes os títulos e a origem do
meio de publicação de cada um desses itens mais frequentes, recolhendo-se uma
amostra dos 30 primeiros, com filtro da ordem cronológica do mais recente. O
resultado é que tópicos tais como Ensino Superior, Gestão e Economia tratam da
governança no sentido diferente, distante dos objetivos deste projeto, por exemplo, no
sentido de análise financeira, ou de organização corporativa, ou de gestão de uma
organização.
No sistema de busca do PROQUEST, existe um item específico com o título
Governança. A análise dos assuntos indicados nesse tema resulta em grande
variedade, tal como Sociologia do crime, ou Políticas educacionais. Selecionando-se
21
a área Governança, conforme a classificação dada pelo portal, restam 3.270
resultados.
Essa primeira busca de dados indica a maleabilidade do conceito e dos campos
de aplicação da governança. Tendo em vista o foco do trabalho que é a governança
em redes, realizou-se uma segunda busca com expressões conjugadas, em inglês,
de governance e network.
2.2 Governança nas Redes
Na busca no portal PROQUEST, a palavra network com filtro para título do
documento resulta em indicações da ordem de 900 mil e a palavra governance sem
filtro resulta em indicações da ordem de 305 mil. Já a palavra governance com filtro
para título do documento resulta em indicações da ordem de 27 mil. Nesses trabalhos,
conforme a classificação feita pelo portal de pesquisa, a governança é abordada em
diversas áreas e temas, sendo as mais frequentes, na ordem, gestão, questões
políticas, política educacional e governança corporativa.
Ao colocar o filtro de título de documento nas duas palavras, governance e
network, obtêm-se 595 resultados. A partir daí, foi realizado um levantamento de 2005
até 2016, ou seja, dos últimos onze anos, e se chegou ao número de 507 trabalhos
publicados. As indicações foram tratadas conforme orientação de Araújo (2006) sobre
levantamento bibliométrico, que é uma técnica de avaliação da produção científica
verificando índices de produção, frequência de temas, natureza do texto (se artigo,
tese, depoimento, etc.) num período determinado.
Realizou-se, também, a busca no PROQUEST da expressão relational
governance com filtro para título do documento que resultou em 65 indicações. Se
aceita que o filtro para título do documento resulta em trabalhos mais próximos do
objetivo deste projeto, pois a expressão no título faz com que o autor desenvolva mais
profundamente o tema.
Fazendo uma busca da palavra network com filtro no título combinado com a
palavra relational governance sem filtro, chegou-se a 285 indicações. Realizando-se
uma segunda busca com a combinação das expressões network e relational
governance ambas com filtro para título geraram-se 4 indicações.
Tais resultados são apresentados na Tabela 1, podendo ser verificada a
frequência de estudos conforme os filtros aplicados.
22
Tabela 1 - Frequência de artigos encontrados no portal PROQUEST sobre as categorias governance (governança), relational governance (governança relacional) e network (redes).
CATEGORIAS ARTIGOS
(1) Network (no título) 900 mil
(2) Governance (sem filtro) 305 mil
(2) Governance (no título) 27 mil
(3) Relational Governance (no título) 65
(1) + (2) (ambos no título) 595
(1) + (2) (no título) (2005 – 2016) 507
(1) (no título) + (3) (sem filtro) 285
(1) + (3) (ambos no título) 4
Fonte: Construído pela autora, 2017.
Como se percebe naTabela 1, os trabalhos de governança sobre redes são
poucos quando se compara com a produção total da expressão governança
(595/305.000). Nesse sentido, foram analisados os trabalhos dos seguintes
resultados: network + governance (ambos no título; no intervalo de 2005 até 2016,
(507); relational governance (no título), (65); e relational governance + network (ambos
no título) (4).
Das 507 indicações que se referem à pesquisa com as palavras governance +
network ambas com filtro no título e no intervalo de 2005 até 2016, 334 referem-se a
artigos, e 12 referem-se a teses e dissertações. Esse material constitui o foco de
análise, para a qual foi lido o título, as palavras-chave e o resumo.
Das 12 indicações de teses e dissertações, 10 abordaram a governança no
tema de políticas públicas, uma referia-se à governança em rede social na internet e
uma abordava a relação entre as características da rede com o desempenho. Esse
trabalho retrata um assunto que buscou unir a governança com outras categorias, no
caso em tela, a estrutura da rede, uma vez que o autor Whitall (2008) afirmou que
além da governança, outras características, tais como estrutura e capital social
exercem efeitos diretos e indiretos sobre o desempenho da rede.
Na análise dos 334 artigos, ao entrar no link de cada indicação, o sistema
automaticamente rearranja o total chegando finalmente ao número de 264 indicações.
Dessas 264 indicações, lendo os títulos, as palavras-chave e os resumos encontrou-
se que 104 tratavam da governança como gestão, 35 sobre políticas públicas, 24
sobre gestão pública, 24 sobre internet, 19 sobre tecnologia da informação, 18 sobre
políticas educacionais, 7 na área de economia, 5 na área da saúde, 4 sobre gestão
23
de recursos hídricos, 4 sobre gestão de pesca, 5 sobre governança corporativa, 3
sobre canais de marketing, 1 sobre segurança, e 11 indicações apresentam relação
mais evidente com o objeto de estudo deste trabalho e que serão expostas a seguir.
Esses 11 trabalhos foram lidos nas partes relevantes como introdução e base teórica,
em que se discutem conceitos de governança e de governança relacional.
Mueller (2011) aborda a governança em rede dentro da visão econômica e
desenvolve um estudo que relaciona a forma de governança com o tipo de rede. O
autor divide a governança em duas formas no que tange aos seus sistemas de
incentivos, a forma conduzir-firme que é mais eficiente em rede vertical com
relacionamento vertical, e a de terceiros que é mais adequada a redes horizontais pelo
fato de apresentar um relacionamento mais competitivo e maleável.
Park e Wilding (2014) utilizam o conceito de governança como mecanismos de
coordenação que se apresentam de diferentes formas no relacionamento. Na mesma
linha de coordenação, os trabalhos de Raeymaeckers (2013) e Schuesler et al. (2013)
não definiram governança, mas utilizaram a tipologia de Provan e Kenis (2008) que
define a governança como uma forma de estrutura e de elementos de organização e
de coordenação das redes.
Pilbeam et al. (2012) e Pilbeam, Alvarez e Wilding (2010) adotaram o conceito
de governança de Grandori e Soda (1995) como um conjunto de mecanismos de
coordenação, controle e incentivo das relações entre os atores da rede para atingir os
resultados. Na mesma linha de coordenação entre os atores encontram-se os
trabalhos de Ibert e Stein (2012) e Span et al. (2012).
Ainda no trabalho de Pilbeam et al. (2012) relatam-se seis variáveis de
resultados da governança em uma rede: criatividade, viabilidade, controle,
coordenação, desempenho e legitimidade. Conforme será detalhado na parte teoria
de base, algumas dessas variáveis, tais como controle e coordenação, poderão ser
utilizadas como indicadores.
Arranz et al. (2007) utilizou o conceito de Gulati (1998), que define governança
como as estruturas contratuais formais usadas para organizar parcerias em alianças
estratégicas. Ressalta-se que, Gulati (1998) também desenvolveu um estudo com
intuito de mostrar que pessoas participam de redes sociais que contribuem para a
minimização das incertezas de comportamento relacionadas às escolhas dos
parceiros.
24
Czakon (2009) utilizou o modelo de Jones et al. (1997) que define governança
como uma combinação estrutural dos sistemas informais, sociais, com estruturas
burocráticas e contratos formais. Ren et al. (2013) definiram governança relacional
como um importante mecanismo social que regula e orienta as atividades de troca,
tendo como base a confiança e a colaboração entre os parceiros, evitando, assim, o
comportamento oportunista.
Como se percebe, as definições encontradas se agrupam em estudos que
analisam os elementos constitutivos e operacionais da governança, ou seja, suas
funções de controle e formas de trocas e também os mecanismos da governança. Em
alguns estudos os mecanismos são construídos a partir de regras do mercado, ou de
legislação específica, ou de contratos firmados; em outros é uma construção a partir
dos relacionamentos entre os atores.
Realizando o mesmo caminho da pesquisa internacional, a consulta ao banco
de dados brasileiro SCIELO, com a palavra governança isolada gera 692 indicações
de artigos. Colocando-se filtro do intervalo de 2005 até 2016; apenas na área de
Ciências Sociais Aplicadas e artigos brasileiros, obtiveram-se 237 resultados.
Filtrando ainda para artigos com a expressão “governança” no título, chegou-se a 101
resultados, sendo a maioria deles de gerenciamento (57), sociologia (19),
administração pública (18). Esses resultados são apresentados na Tabela 2, podendo
ser verificada a frequência de estudos conforme os filtros aplicados.
Tabela 2 - Frequência de artigos encontrados no portal SCIELO sobre a categoria governança.
Palavra Filtro Nº de artigos
Governança Sem filtro 692
Governança (2005 – 2016) - ciências sociais
aplicadas – artigos brasileiros
237
Governança No título 101
Fonte: Construído pela autora, 2017.
O passo seguinte consistiu em ler o título, as palavras-chave e o resumo dessas
101 indicações, o que resultou na seleção de 5 artigos. O corte ocorreu pelos
seguintes critérios: foram retirados os artigos que tratavam de governança corporativa,
25
governança internacional, institucionalização, marketing, agroindústrias, questões
policiais, governança ambiental global, governança eletrônica, governança fundiária e
governança de TI.
Rodrigues e Malo (2006) abordam a governança no sentido de práticas de
controle relacionadas aos conceitos de parceria, aprendizado coletivo, participação,
regulamentação e benefício para as estruturas organizacionais, no estudo de uma
rede sem fins lucrativos: os doutores da alegria.
Villela e Pinto (2009) usaram a definição de governança que se enquadra no
entendimento de Le Galès (2006) que define governança como um processo de
coordenação de atores advindo de grupos sociais, de redes organizacionais ou de
instituições para atingir objetivos debatidos e estabelecidos coletivamente.
Teixeira et al. (2011) e Oliveira e Santana (2012) adotaram o conceito de
governança de Williamson (1985) que define governança como estrutura de
coordenação necessária para gerenciamento das transações das organizações. Já
Castro e Gonçalves (2014) utilizaram o conceito de governança levantado por Provan
e Kenis (2007) que conceituam a governança como uma forma de estrutura e de
coordenação das redes.
Brand et al. (2015) observaram que gestão e governança, apesar de se inter-
relacionarem, são conceitos diferentes por configurarem distintas perspectivas de
análise de redes interorganizacionais. Enquanto a gestão é mais flexível, adequando-
se mais às práticas de atendimento das necessidades coletivas, a governança é a
forma como a rede está organizada quanto aos mecanismos regulatórios e de tomada
de decisão. O projeto atual, com caráter analítico e não gerencial, segue mais a linha
de governança como mecanismos de regulação das ações coletivas.
Realizada a revisão bibliográfica dos trabalhos sobre governança, percebe-se
a divergência entre os autores no que se refere aos conceitos e campos de
investigação. O presente estudo está mais relacionado às ideias do trabalho do Villela
e Pinto (2009), em que se coloca que a governança nasce dos objetivos discutidos
coletivamente. Verifica-se, ainda, a existência de uma distinção conceitual entre
governança como mecanismo de grupo e governança como gestão, sendo que, neste
último caso, as regras e mecanismos existentes na rede são utilizados como base
para o gestor realizar sua tarefa de obter resultados.
Pode-se concluir dos trabalhos internacionais e nacionais analisados que a
palavra governança é apresentada com variados conceitos e campos de aplicação.
26
Pode-se dizer que ainda não há um consenso na definição de governança, ora
definida a partir de um conceito de controle, ora como incentivo, ou como matriz
política, ou estratégica, ou corporativa, ou de gestão. O conceito está aberto à
discussão, o que justifica um esforço de investigá-lo na vertente de mecanismos de
controle das incertezas, os quais são construídos pelo grupo.
Considerando a raridade de estudos específicos sobre essa vertente de
governança relacional, isto é, que é construída no grupo, realizou-se uma segunda
rodada de busca bibliográfica específica sobre a expressão.
2.3 Governança Relacional
A busca no PROQUEST da expressão relational governance com filtro no título
resultou em 65 indicações, conforme indicado na Tabela 1. O passo seguinte consistiu
em ler o título, as palavras-chave e o resumo dessas 65 indicações. Ao entrar no link
de cada indicação o sistema automaticamente rearranja o total chegando ao número
de 51 indicações. Esses 51 trabalhos foram lidos nas partes relevantes como
introdução e base teórica, em que se discute o conceito da governança relacional.
Dessas 51 indicações, 2 trabalhos estavam inclusos na pesquisa com as
palavras governance + network, ambas com filtro no título. Um é o trabalho de Ren et
al. (2013) que se baseou no modelo de Jones et al. (1997); e o outro é o trabalho de
Bodin e Crona (2009), que trata de gestão de recursos naturais. Dos 47 restantes, 19
trabalhos tratavam da governança como gestão, 10 sobre tecnologia da informação,
7 sobre governança corporativa, 5 sobre políticas educacionais e 6 que apresentavam
uma relação mais evidente com o tema desta dissertação e que serão expostos a
seguir.
Cao e Lumineau (2015), baseando-se no conceito de Poppo et al. (2008),
entendem que governança relacional se refere ao grau em que as relações
interorganizacionais são regidas pelas relações sociais e regras comuns.
Luo et al. (2013) definem a governança relacional como conjunto de normas
relacionais que norteiam as trocas interorganizacionais, motivando as partes a
prosseguirem com cooperação e investimentos. Já Goo e Huang (2008) entendem
governança relacional como mecanismos destinados a influenciar o comportamento,
baseados na prática e não em documentos escritos.
27
Ferguson et al. (2005) não conceituaram a governança relacional, mas, com
base em Noordewier et al. (1990), comentam que ela pode ser medida pela força de
normas relacionais como, por exemplo, o compartilhamento de informações, a
flexibilidade, a solidariedade e a justiça presentes nas trocas relacionais.
Liu e Zhang (2013) adotaram o conceito de Anderson e Narus (1990) que
definem governança relacional como um modo de coordenar relacionamentos de
negócios, em que empresas independentes, por meio de esforços conjuntos,
executam ações coordenadas para alcançar resultados mútuos ou singulares.
Yeh (2016) afirma que a governança relacional está diretamente e
positivamente correlacionada com a qualidade da relação e a aprendizagem
interfirma. Afirma ainda que a governança relacional complementa os limites
adaptativos dos contratos, promovendo a continuidade das transações e confiando a
ambas as partes resultados mutuamente aceitáveis. O autor também afirma que a
governança relacional afeta a capacidade dos parceiros de adaptar e superar com
flexibilidade a incerteza no relacionamento da cadeia de suprimentos. Esta última
afirmativa está diretamente relacionada ao presente trabalho, ao afirmar uma relação
direta entre governança relacional e incertezas comportamentais.
Das quatro indicações resultantes da busca com a combinação das expressões
network e relational governance (ambas com filtro para título), uma estava inclusa na
pesquisa com as palavras governance + network, ambas com filtro no título, que foi o
trabalho de Ren et al. (2013) que se baseou no modelo de Jones et al. (1997); a outra,
o trabalho de Foster, Borgatti e Jones (2011), que também não definiu governança,
mas se baseou no modelo de Jones et al. (1997) que afirma que governança é uma
forma de coordenar e salvaguardar trocas que estreitam os laços entre os atores e
reduz a incerteza sobre o comportamento oportunista. A outra, o trabalho de Bodin e
Crona (2009), tratou a governança como estrutura da rede que coordena as ações
dos atores. Por último, o trabalho de Tepic et al. (2011) baseou-se nos preceitos de
Poppo e Zenger (2002), afirmando que governança relacional surge dos valores e dos
processos acordados, gerados através de interações e intercâmbios nas relações
sociais, como em relações de confiança.
A partir da revisão bibliográfica, entende-se que esses conceitos convergem
com a definição de governança de Jones et al. (1997), que afirma que ela se origina
das relações sociais do grupo e as afirmativas de Williamson (1987) e Grandori (2006)
sobre a necessidade de ajustes no grupo (isto é, uma governança relacional), uma
28
vez que os contratos formais não conseguem resolver as incertezas do ambiente de
negócios e do comportamento humano. A governança, portanto, implica sempre em
ajustes e formas de implementação, mesmo quando a origem é uma regra plena e
claramente estabelecida no ambiente organizacional.
O próximo item investiga os trabalhos sobre incerteza.
2.4 Incerteza
O termo “incerteza” encontra diversos conceitos nas mais variadas disciplinas
e áreas de estudo. Realizando uma pesquisa no portal PROQUEST referente a
palavra uncertainty obtêm-se o número da ordem de 230 mil indicações de
publicações, obtendo maior número de concentração nos estudos referentes aos
Modelos Matemáticos (48476), Análise matemática (18400), Simulação em
Computador (15951), Algoritmos (13383), Marinha (13180), Engenharia de Projeto
(9446).
A partir da listagem, verificou-se com mais detalhes os títulos e a origem do
meio de publicação de cada um desses itens mais frequentes, recolhendo-se uma
amostra dos 30 primeiros, com filtro da ordem cronológica do mais recente. O
resultado é que tópicos tais como Engenharia, Tecnologia da Informação e Economia
tratam da incerteza em diferentes contextos, por exemplo, como oscilação,
probabilidade, risco de determinado fato.
No sistema de busca do PROQUEST, existe um item específico com o título
Incerteza. A análise dos assuntos indicados nesse tema resulta em grande variedade,
tal como Controle e Sistemas, ou Instrumentos e Medidas ou Engenharia
Aeroespacial. Selecionando-se a área Incerteza, conforme a classificação dada pelo
portal, restam 55.034 resultados.
Essa primeira busca de dados indica a maleabilidade do conceito e dos campos
de aplicação da incerteza. Tendo em vista o foco do trabalho que é a incerteza em
redes, realizou-se uma segunda busca com expressões conjugadas de uncertainty e
network.
29
2.5 Incerteza nas Redes
Na busca no portal PROQUEST, a palavra network com filtro para título do
documento resulta em indicações da ordem de 461 mil e a palavra uncertainty com o
mesmo filtro resulta em indicações da ordem de 34 mil. Nesses trabalhos, conforme a
classificação feita pelo portal de pesquisa, a incerteza é abordada em diversas áreas
e temas, sendo as mais frequentes, na ordem, incerteza, modelos matemáticos,
análise matemática, simulação de computador.
Ao colocar o filtro de título de documento nas duas palavras, uncertainty e
network, obtêm-se 946 resultados. Desses, 784 referem-se ao período de 2005 em
diante. Conforme Araújo (2006), o tempo de 11 anos é suficiente para um
levantamento bibliográfico indicar de forma objetiva uma produção científica, com
suas convergências e índices de produção.
Aceitando essa afirmativa foi feito um levantamento dos últimos onze anos, no
intervalo de 2005 até 2016 de trabalhos publicados com os termos uncertainty e
network no título.
Tais resultados são apresentados na Tabela 3, podendo ser verificada a
frequência de estudos conforme os filtros aplicados.
Tabela 3 - Frequência de artigos encontrados no portal PROQUEST sobre as categorias uncertainty (incerteza) e network (redes)
CATEGORIAS ARTIGOS
(1) Network (no título) 461 mil
(2) Uncertainty (sem filtro) 230 mil
(2) Uncertainty (no título) 34 mil
(3) Relational Governance (no título) 29
(1) + (2) (no título) 946
(1) + (2) (no título) (2005 - 2016) 765
(1) (no título) + (2) + (3) (sem filtro) 4
(1) + (2) + (3) sem filtro 9
Fonte: Construído pela autora, 2017.
A partir da análise dos 20 primeiros trabalhos das 687 indicações, da busca da
combinação das expressões network e uncertainty com filtro para o título e do intervalo
de 2005 até 2016, verificou-se que se tratava da incerteza em diferentes contextos e
campos de investigação, por exemplo, 4 relacionados à rede neural, 4 sobre incerteza
30
de demanda, 5 relacionado à análise matemática, 4 relacionados à medida e 3 sobre
a área de sistema da informação.
Das 9 indicações da busca da combinação das expressões network, uncertainty
e relational governance sem filtro verificou-se 1 indicação relacionada à incerteza da
gestão de políticas ambientais, 1 indicação sobre a incerteza no planejamento urbano,
1 indicação sobre incerteza na tomada de decisão, 2 indicações tratam da incerteza
nas redes e 4 indicações são as encontradas na busca da expressão network com
filtro para o título combinada com as expressões uncertainty e relational governance
sem filtro. Logo, o passo seguinte consistiu em ler o título, as palavras-chave e o
resumo dessas 4 indicações e das 2 relacionados ao tema de rede.
Foster, Borgatti e Jones (2011) não definiram incerteza; entretanto utilizaram o
modelo de Jones et al. (1997) que afirma que governança é uma forma de reduzir a
incerteza sobre o comportamento oportunista.
Gravier (2007) utilizou o conceito de Rindfleisch e Heide (1997) que afirma que
incerteza é qualquer alteração imprevista das circunstâncias que cercam uma troca.
O autor coloca ainda que essa incerteza engloba a incerteza comportamental,
conforme exposta por Leiblein (2003), que considera não só o comportamento
propriamente dito, mas também os custos adicionais causados pelas mudanças não
previstas.
Hui e Tsang (2006) não definiram a incerteza em seu trabalho, sendo que a
utilizaram no sentido de tomada de decisão incerta. Whitford (2003) também não
definiu incerteza, sendo relacionado a risco no âmbito econômico.
Wu (2011) e Cousin e Crone (2003) não definiram a incerteza, mas a
relacionaram com a teoria da dependência de recursos, dizendo que estabelecer
relações de cooperação entre os atores é uma resposta estratégica para a incerteza
e dependência no ambiente, sendo que a incerteza ambiental levou ao aumento do
número de contratos relacionais e alianças estratégicas estabelecidas pelas
empresas.
Priem et al. (2002) conceituam incerteza como a variação imprevisível; já
Carpenter e Fredrickson (2001), como a falta de informações necessárias para avaliar
as relações de causa e efeito, a fim de tomar decisões. Krishnan, Martin e
Noorderhaven (2006) veem a incerteza como mudanças nas condições ambientais
enfrentadas por uma organização que estão fora de seu controle e difícil de antecipar.
31
Realizando o mesmo caminho da pesquisa internacional, a consulta ao banco
de dados brasileiro SCIELO, com a palavra “incerteza” isolada gera 519 indicações
de artigos. Colocando-se filtro dos últimos onze anos, apenas na área de Ciências
Sociais Aplicadas e artigos brasileiros, obtêm-se 70 resultados. Filtrando ainda para
artigos com a expressão “incerteza” no título, chegou-se a 14 resultados, sendo eles
na área de gerenciamento (10), economia (4). Esses resultados são apresentados na
Tabela 4, podendo ser verificada a frequência de estudos conforme os filtros
aplicados.
Tabela 4 - Frequência de artigos encontrados no portal SCIELO sobre a categoria incerteza.
Palavra Filtro Nº de artigos
Incerteza Sem filtro 634
Incerteza (2005 - 2016) - ciências sociais
aplicadas – artigos brasileiros
76
Incerteza No título 14
Fonte: Construído pela autora, 2017.
O passo seguinte consistiu em ler o título, as palavras-chave e o resumo dessas
14 indicações, o que resultou na seleção de 5 artigos. O corte ocorreu pelos seguintes
critérios: foram retirados os artigos que não eram da área de redes, não definiram um
conceito de incerteza a ser seguido e utilizavam conceitos de cenários econômicos
macro-ambiental.
Gardelin et al. (2013) adotaram o conceito de incerteza de Milliken (1987) que
define a incerteza como uma inabilidade individual para prever de modo preciso o
ambiente. Já Silva e Brito (2013) colocam que a incerteza pode ser entendida como o
grau de imprevisibilidade das mudanças e do grau de dissimilaridade dos seus
elementos, em outras palavras, a incerteza se baseia na dificuldade das empresas em
conseguir as informações.
Lombardi e Brito (2010) adotaram uma definição de incerteza derivada das
perspectivas de Keynes (1937) e Knight (1921) que é entendida como fenômeno
perceptual do indivíduo e descrita como a percepção da capacidade de prever a
ocorrência de eventos futuros, a partir do estudo de ocorrências passadas.
32
Zanini et al. (2009) entendem a incerteza ambiental na forma de falta de
informações que afetam o comportamento humano significativamente, restringindo o
desenvolvimento de confiança dentro das organizações, devido ao aumento da
incerteza comportamental.
Zanini (2005) não definiu incerteza e utilizou a concepção de Coriat e Guennif
(1998) que enxergam a incerteza como a imprevisibilidade referente ao
comportamento do indivíduo e seu grau de confiabilidade, em virtude da diversidade
de possíveis comportamentos de cada parceiro numa relação.
Jacomossi e Silva (2016) comentam que existem discordâncias conceituais
sobre incerteza ambiental: alguns autores entendem a incerteza no sentido de
imprevisibilidade dos acontecimentos, e outros autores entendem-na a partir de uma
percepção de uma pessoa sobre o meio ambiente. Tal divisão já havia sido apontada
por Milliken (1987), que afirma que a palavra incerteza pode expressar tanto um
estado de incerteza em organizações, quanto um estado de incerteza de uma pessoa
que dispõe de insuficientes informações acerca do ambiente.
Giovannini (2011) entende as organizações como sistemas dinâmicos não-
lineares, que apresentam duas grandes fontes de incertezas: a incerteza ambiental,
mesmo sentido de outros autores, isto é, da imprevisibilidade dos acontecimentos do
ambiente; e a fonte interna originada das imprevisibilidades do comportamento das
pessoas e dos processos em execução.
A partir dessa revisão bibliográfica, pode-se concluir que a incerteza é definida
por conceitos variados e em diferentes campos de aplicação. Das análises, surgiram
com mais frequência trabalhos tratando da percepção de cada um sobre a incerteza
ambiental e dos riscos percebidos, trilha que não se pretende seguir neste trabalho,
pela complexidade envolvida no próprio conceito de percepção.
A dissertação segue a trilha das incertezas de fato, ou objetivas, que afetam
todos do grupo de maneira igual, tais como imprevisibilidade climática, mudanças de
lei, flutuações de demanda, revoluções tecnológicas. Assim, o estudo está voltado
para a convergência sobre a existência de incertezas, conhecidas pelo grupo e as
consequentes ações coletivas, aqui denominadas de governança relacional.
Sobre incerteza comportamental, os trabalhos encontrados não estão inseridos
no tema de redes e de governança, embora a ideia de imprevisibilidade do
comportamento dos indivíduos tenha sido citada em alguns deles. Entre as incertezas
33
comportamentais citam-se o oportunismo, a negligência, o desconhecimento, a
decisão errada.
Sobre a governança relacional, conclui-se que existem poucos trabalhos nessa
área e que há uma concordância do conceito, retratando a governança como regras
e normas construídas por meio da interação do grupo para alcançar objetivos
coletivos. Quanto à metodologia de pesquisa, não foram encontrados instrumentos e
indicadores validados para a relação específica entre incerteza e governança
relacional.
Quanto aos trabalhos que relacionam a governança relacional com as
incertezas ambientais e de comportamento, a situação é de quase ausência de
resultados. Isso significa que o presente trabalho carrega certo grau de ineditismo,
com sua vantagem de valorização e com os riscos associados à falta de teorias,
modelos e instrumentos validados.
Realizada a tarefa dessa investigação mais detalhada da produção acadêmica
sobre governança e incertezas, conclui-se pela validade e justificativa do trabalho, já
que os dois lados das expressões carregam discussões de conceitos e de formas de
investigação e o caminho que leva das incertezas para a construção da governança é
raramente comentado e investigado.
O próximo item apresenta a base teórica do trabalho.
34
3 TEORIA DE BASE
Para o desenvolvimento deste trabalho seguir-se-á o paradigma da
interpretação social das redes e, como uma das bases, os conceitos de Granovetter
(1985), com seu conceito de imersão que se refere ao imbricamento entre as relações
sociais e econômicas, destacando-se os fatores econômicos e tecnológicos
influenciados e imersos em relações sociais. Ainda para Granovetter (1985), há a
possibilidade da existência de cooperação em transações entre firmas, o que levou o
autor a investigar as ações econômicas como imersas nas relações sociais.
Para que se possa compreender melhor a categoria governança relacional,
seguir-se-á o conceito de Jones et al. (1997) e da Grandori (2006). Segue-se a ideia
geral dos conceitos referenciados por tais autores, que serão detalhados adiante.
Jones et al. (1997) associou a Teoria dos Custos de Transação com a Teoria das
Redes Sociais explicitando que os mecanismos sociais influenciam as relações de
transações. Já no entendimento da Grandori (2006), governança relacional pode ser
vista a partir da perspectiva de um contrato criado pelo grupo, ou seja, ela é analisada
a partir de um contrato que surge por meios extracontratuais (sociais e relacionais).
Dito de outra forma, são acordos que surgem após o contrato formal, porque situações
inesperadas, ou imprevisíveis, ocorrem, exigindo solução.
A incerteza ambiental neste trabalho está relacionada às incertezas de
informações do ambiente no qual a rede está inserida, citada nos estudos de Milliken
(1987) e Thompson (1967). Já a incerteza comportamental se sustentará
principalmente nos conceitos de Gulati (1998), afirmando que incerteza é a
imprevisibilidade do comportamento de um ator, sendo essa incerteza do
comportamento de um possível ator um dos fatores que leva à necessidade de uma
governança relacional.
3.1 Perspectiva Social de Redes
Este subitem apresenta os conceitos de redes na perspectiva social. As redes
são conceituadas e analisadas de diversas formas. Análises bibliográficas anteriores
(MILES, SNOW, 1986; GRANDORI, SODA, 1995; DIMAGGIO, POWELL, 1983)
indicam que existem dois grandes paradigmas explicativos sobre redes: (a) o
paradigma racional e econômico, que afirma que as redes são formadas com base
35
nas necessidades econômicas, ou seja, foca apenas nos motivos racionais para
estabelecer parcerias; e (b) o paradigma social, que afirma que as relações sociais
constituem uma teia que direciona todos os processos, decisões e comportamentos
de atores na rede.
Um dos conceitos principais do paradigma social é o embeddedness, que é a
influência do ambiente social nas transações dos atores da rede, em outras palavras,
as ações econômicas estão imersas nas estruturas das relações sociais. Outros
autores (GULATI, 1998; DIMAGGIO, POWELL, 1983; RUSBULT et al. 2003) também
afirmaram a importância do social nos processos técnicos das redes.
Nessa linha, Thorelli (1986) define rede como um número de nós ou ligações
entre atores, em que cada um, dinamicamente, ajuda a melhorar a posição do outro
dentro da rede. No entendimento de Powell (1990), o formato de redes é considerado
um terceiro tipo organizacional com características próprias, uma vez que não são
nem hierarquias e nem mercado. A rede pode ser considerada ainda como uma
construção planejada, em que cada ator decide sobre sua participação e seus
objetivos (EBERS, JARILLO, 1998; GIGLIO et al., 2006).
Para Kogut (2000), a formação de uma rede é entendida como a criação das
regras das relações entre os atores, criadas a partir de conhecimentos de experiências
cotidianas, em uma lógica racional; sendo que existem três razões para o nascimento
de redes: custos de transação, comportamento estratégico e busca de conhecimento,
ressaltando-se este último.
Gulati e Gargiulo (1999) têm afirmado sobre a importância de buscar no
nascimento da rede seus sinais, visíveis no comportamento dos atores. Giglio (2010)
afirmou não ser suficiente utilizar os princípios do paradigma racional econômico para
se compreender as redes, como ocorre predominantemente em trabalhos sobre redes
derivados da logística.
A perspectiva social, portanto, coloca as relações sociais como o princípio
orientador dos processos da rede, incluindo a construção da governança. Entendido
dessa forma, a governança relacional é o conjunto de mecanismos de ações coletivas,
construído a partir das relações entre os atores; buscando resolver os problemas da
tarefa do grupo, sejam eles de natureza comportamental, como conflitos de
interesses; sejam de natureza ambiental, como imprevisibilidades de demanda.
36
3.2 Conceito de Governança Relacional
Este subitem apresenta conceitos de alguns autores que buscaram definir a
governança relacional, tais como Uzzi (1997); Poppo e Zenger (2002); Powell (1990);
Jones et al. (1997) que apresentaram argumentos sobre a possibilidade de unir
conceitos de custos de transação com conceitos da sociologia econômica, para
demonstrar que a governança é uma construção social que busca resolver os
problemas de negócios, incluindo os econômicos.
Neste trabalho não se discute a validade e lógica dessa união conceitual. O que
importa, como ponto de reflexão inicial, é a afirmativa da governança sendo originada
dos encontros constantes dos atores. Esses encontros criam uma cultura do grupo,
que origina as regras, papéis e formas de ação coletiva. Selecionando as afirmativas
que interessam para este projeto e fazendo adaptações aos desenhos encontrados
no artigo de Jones et al. (1997) chega-se à Figura 1.
Figura 1 - O modelo de governança relacional.
Fonte: Adaptado pela autora, a partir de Jones et al. (1997).
O que se pretende ressaltar na Figura 1 é que características do ambiente
organizacional, incluindo incertezas ambientais e comportamentais, levam a ações
coletivas e a uma dinâmica de grupo que origina a governança, a qual, por sua vez,
realimenta o sistema.
37
Pode-se afirmar ainda que o modelo adaptado de Jones et al. (1997) também
é um exemplo de conjunção da perspectiva social com a perspectiva econômica, na
qual combinam conceitos e pressupostos das duas abordagens, já que os problemas
do grupo não são estritamente econômicos e a solução passa por construções sociais
internas ao grupo. Já Granovetter (1985), com afirmativas baseadas na lógica de
imersão social, em que a troca não é uma transação entre agentes econômicos, mas
entre atores sociais que desempenham papéis sociais construídos durante sua
socialização e tenha feito uma crítica a teoria de custos de transação, não descartou
o valor da abordagem econômica, propondo até que fenômenos econômicos e sociais
caminhem lado a lado.
A adaptação do modelo de Jones e colaboradores aceita a concepção de
Granovetter (1985) de que as relações econômicas têm um pano de fundo social,
explicitando como os mecanismos sociais buscam influenciar o comportamento das
pessoas e orientar os modos de ações coletivas, incluindo as trocas econômicas.
Mecanismos tais como acesso restrito de informação, regras de penalidades, controle
do oportunismo pela força dos laços de confiança e comprometimento formam o
conjunto da governança relacional. A força das relações sociais como origem de
mecanismos de incentivos e controles também foi afirmada por Zaheer et al. (2010).
Sendo assim, a partir dessa breve distinção da lógica da teoria dos custos de
transação com a lógica da sociologia econômica proposta por Granovetter (1985),
esta dissertação não pretende discutir a validade da conjunção teórica social e
racional proposta por Jones et al. (1997), mas selecionar a parte que afirma que para
resolver as questões econômicas das operações de uma rede, precisa-se de
mecanismos sociais, além dos contratos formais.
No entendimento de Poppo e Zenger (2002), a governança em trocas
interorganizacionais ultrapassam contratos formais, uma vez que as repetidas trocas
estão imersas nas relações sociais. Ainda para os autores, essa governança
caracterizada como relacional pode ser entendida como um mecanismo social que
regula e orienta os parceiros nas transações e que se baseia em relações de confiança
e de colaboração, reduzindo as condutas oportunistas por impor compromissos,
obrigações e expectativas através de meios processuais sociais não formais. Essa
afirmativa aparece no presente projeto quando se coloca que a governança relacional
busca exercer algum grau de controle sobre o comportamento.
38
A governança relacional utiliza as relações sociais como base das transações,
ou seja, a governança relacional utiliza salvaguardas informais, como reputação e
confiança como base dos mecanismos de controle e coordenação, sendo que esses
mecanismos informais complementam ou substituem os mecanismos formais
(JONES, HESTERLY, BORGATTI, 1997; GULATI, 1995; UZZI, 1997). Na concepção
de Uzzi (1997), as trocas organizacionais baseadas em regras e acordos estruturados
socialmente economiza tempo que poderia ser gasto com renegociações contratuais.
Grandori (2006) argumenta que os contratos formais, por sua insuficiência,
necessitam serem complementados pela governança relacional, já que essa
governança contribui para o ajuste e redução nas falhas existentes em um contrato
formal. A autora apresenta quatro concepções de governança relacional, comparando
o grau de efetividade de cada uma, a saber: os contratos executáveis socialmente, os
contratos autoexecutáveis, o contrato baseado em processos e o contrato baseado
em recursos.
Os contratos executáveis socialmente estão relacionados às falhas de mercado
e de formalização do contrato, em que existem pressões financeiras para orientar e
controlar o comportamento. Em outras palavras, as normas sociais e o controle social
ditam o comportamento adequado do grupo, adaptando-se aos problemas e
imprevisibilidades do mercado.
Os contratos autoexecutáveis estão relacionados à ideia de conjunção forçada
de interesses, de crenças, de objetivos e de controles, isto é, uma governança que
nasce no grupo, mas é pouco democrática, ou flexível. Em outras palavras, o grupo
tem seu próprio conjunto de regras, de controle e de incentivos que dispensa
formalização, mas sua origem e natureza são de coesão, por exemplo, construídos a
partir de uma liderança legitimada no grupo.
Os contratos baseados em processos transmitem a ideia de que o contrato
relacional é processual, não sendo necessário conhecer e especificar ações dos
atores com antecedência, pois as relações, no sentido de comportamento dirigido ao
processo, devem seguir as normas dos processos.
Os contratos baseados em recursos foram elaborados com a finalidade de
regular as atividades incertas, que nem as regras formais e nem as normas sociais
podem proporcionar; e de entender se contratos que compreendem contingências têm
qualquer propriedade, sobre troca de recursos, que não pode ser facilmente replicada.
39
A partir da apresentação das diferentes noções de governança relacional
colocada por Grandori (2006), pode-se afirmar que esta dissertação segue a linha da
governança relacional como contratos auto executáveis, pelo fato de haver uma
convergência de interesses por parte dos participantes do grupo que dispensa
qualquer tipo de verificação de uma terceira parte, e como contratos executáveis
socialmente, pelo fato de o comportamento do grupo ser ditado pelo controle social.
Justifica-se a escolha dessas duas definições da Grandori (2006) pelo fato de
mais se aproximarem da linha conceitual desta dissertação, que trata da governança
relacional como um complemento aos contratos formais, que apresentam falhas ou
lacunas por não conseguirem abarcar todos os eventos ocorridos no cotidiano.
Grandori (2006) considera a governança relacional como uma resposta às
situações de incertezas em que se encontram os gestores, por se tratar de situações
não privilegiadas em contratos. Os próximos parágrafos indicam a linha teórica de
incerteza.
3.3 Conceito de Incerteza Ambiental e de Incerteza Comportamental
Este trabalho analisa a incerteza a partir do aceite que os fenômenos são
imprevisíveis independentemente das percepções de cada um. Essa incerteza, que
está inserida no âmbito da Teoria das Organizações, é associada com a falta de
informações. Para Geersbro e Ritter (2010), a incerteza pode ser vista sob duas óticas:
a incerteza do grupo, caracterizada por elementos futuros coletivamente imprevisíveis
que sempre estão presentes na vida; e a incerteza individual, caracterizada por
elementos futuros imprevisíveis na percepção de um ator apenas, sendo que existem
outros atores já informados, mostrando que cada ator percebe a incerteza de maneira
diferente. Esta dissertação segue as definições e discussões da incerteza do grupo.
Segundo Grandori (2006), a incerteza pode ser entendida com a falta de
conhecimento sobre um assunto, ou a falta de conhecimento de um indivíduo tomador
de decisão. Essa incerteza pode se originar do ambiente (condições externas), do
comportamento (ações imprevisíveis de outros atores) e de tarefas (intensidade de
resolver os problemas) (GRANDORI, 2006).
No entendimento de Duncan (1972), a incerteza ambiental é a falta de
informações sobre os fatores ambientais relacionados à tomada de decisão e aos
efeitos da tomada de decisão no desempenho da organização. O autor trata das
40
percepções da incerteza do ambiente externo das empresas para a tomada de
decisão, embora as incertezas internas também gerem importantes resultados nessas
decisões. As organizações precisam se adequar constantemente ao seu ambiente
(DUNCAN, 1972; MILLIKEN,1987).
Para Duncan (1972), o ambiente organizacional é dividido em elementos
externos, compostos por clientes, fornecedores, concorrentes, sócio-político e
tecnologias, e elementos internos que são compostos pelo pessoal, pelas equipes e
funcionalidade organizacional e nível organizacional.
Segundo Milliken (1987), incerteza ambiental é a incapacidade percebida do
ator para prever com precisão evento futuro do ambiente no qual a organização está
inserida. A autora afirma que a expressão incerteza pode ser usada tanto para relatar
uma condição de incerteza em ambientes das organizações, como para relatar uma
condição de incerteza de uma pessoa que verifica a falta de informações sobre o
ambiente. A autora coloca ainda o conceito de incerteza como percepção, em que
diferentes indivíduos podem perceber diferentes incertezas sobre um mesmo conjunto
de dados.
Milliken (1987) argumenta também que, na construção de incerteza, devem ser
desagregadas e identificadas três percepções de incerteza notadas no meio ambiente:
(1) incerteza de estado - a incapacidade, por parte dos gestores, de prever o futuro
estado do ambiente; (2) incerteza de efeito - a incapacidade dos gestores em prever
como a ausência de informação irá impactar nas mudanças para as organizações; e
(3) a incerteza de resposta - a incapacidade dos gestores em prever os possíveis
resultados das ações organizacionais executadas. Essas percepções foram
analisadas a partir dos elementos criados por Duncan (1972) e podem gerar diferentes
comportamentos em cada gestor.
Williamson (1985) afirma que a incerteza ambiental advém da incapacidade de
uma organização ou um indivíduo de antever eventos, ressaltando ainda que ela é um
dos fatores que determina a forma de governança em rede. O autor ainda diferencia
essa incerteza em primária e secundária, a saber: a incerteza primária reflete uma
falta de conhecimento sobre estados da natureza, tais como a incerteza a respeito
dos eventos naturais; enquanto que a incerteza secundária reflete uma falta de
conhecimento sobre as ações de outros agentes econômicos.
Para Thompson (1967), a incerteza ambiental está presente na formação de
todos os processos das organizações, sendo considerada um problema relevante por
41
limitar o planejamento e a tomada de decisões dos gestores. O autor desconsidera o
campo da percepção da incerteza, entendendo que as incertezas ambientais existem
e que precisam ser minimizadas, criando-se instrumentos que possam lidar com elas.
Neste projeto aceita-se a diretriz de não discutir diferenças de percepções, mas sim
de buscar as convergências.
No que se relaciona à incerteza comportamental, parte-se da noção do princípio
da incerteza de Heisenberg (1927), originado no campo da física quântica, que declara
a presença da incerteza no comportamento das partículas pelo motivo de não poder
determinar com exatidão e simultaneamente a posição e a velocidade da partícula. A
relação desse princípio com o comportamento humano é a impossibilidade de
previsão e controle das ações humanas. Como metáfora, o comportamento humano
não tem exatidão, nem posição e nem velocidade determinada, como as partículas.
Segundo Barabási (2009), os comportamentos humanos são imprevisíveis,
haja vista um certo evento poder impactar de várias formas em diferentes pessoas, o
que leva os indivíduos a terem atitudes totalmente imprevisíveis pelo fato de as
características das pessoas serem múltiplas.
Para Gulati (1998) a incerteza comportamental é a imprevisibilidade do
comportamento de um parceiro, sendo que essa imprevisibilidade pode ser
minimizada com a formação de alianças. Ainda no entendimento do autor, muitas
organizações estabelecem alianças como forma de diminuir a incerteza a respeito do
comportamento oportunista do parceiro.
Um autor que segue a mesma linha de raciocínio de Gulati (1998) é Pesaran
(1993), que também define incerteza comportamental como a imprevisibilidade sobre
o comportamento futuro dos outros indivíduos. O autor acrescenta ainda que a
incerteza comportamental gera uma situação na qual os atores devem criar
expectativas, não a respeito da condição do ambiente, mas a respeito do
comportamento dos demais atores, tanto pessoas, quanto organizações.
Williamson (1985), ao separar a incerteza em ambiental e comportamental,
afirma que a incerteza comportamental decorre da dificuldade em prever as ações de
outros atores relevantes, tendo em vista o potencial para o comportamento oportunista
desses atores.
Sobre as incertezas ambientais, o presente trabalho segue as afirmativas de
Milliken (1987) que defende a existência da incerteza no ambiente organizacional. Já
em relação às incertezas comportamentais, esta dissertação segue a linha das
42
afirmativas de Gulati (1998) que define incerteza comportamental como sendo a
imprevisibilidade do comportamento dos atores. Ressalta-se ainda que esse
comportamento não pode ser modificado, embora se possa exercer um certo grau de
controle, o que pode minimizar as incertezas advindas do comportamento.
Para tratar da interface das incertezas com a governança relacional, o próximo
item apresentará conceitos que relacionam essas duas categorias.
3.4 Relação entre Incerteza e Governança Relacional
Num ambiente de incertezas, surge a necessidade de se estabelecer relações
sociais, de cooperação como forma de se buscar mecanismos de coordenação
advindos das práticas relacionais. Logo, ao conjunto desses mecanismos que surge
a partir das relações sociais atribui-se o nome de governança relacional.
O ser humano busca se relacionar para lidar com as incertezas. Esses
relacionamentos aparecem de muitas formas, por exemplo, por meio de famílias,
clubes, sociedade e organizações. As organizações podem ser definidas como um
conjunto de pessoas que desenvolvem tarefas tentando controlar os eventos
imprevisíveis. Quando se trata de redes, a ideia é a mesma, podendo a rede ser
definida como um conjunto de pessoas, representando várias organizações que
tentam realizar tarefas, por meio de regras, para lidar com as incertezas. É esse
conjunto de regras que se denomina governança. Neste estudo, a governança
investigada é a relacional, ou seja, as regras que nascem, ou são adaptadas pelo
próprio grupo.
Para Grandori (2006), a governança relacional pode ser considerada uma
solução viável em circunstâncias de incertezas. Na concepção de Provan e Kenis
(2008), a incerteza nos relacionamentos surge no momento em que a rede é criada,
sendo que ela tende a diminuir à medida que a governança da rede se desenvolve.
Isso ocorre devido ao fortalecimento das conexões da rede e à solidez do sistema que
ocasiona maior legitimidade aos membros da rede.
A teoria da governança em rede de Jones et al. (1997) afirma que os laços
entre os parceiros podem reduzir a incerteza comportamental por espalhar
informações sobre atores oportunistas. Ainda no entendimento de Jones et al. (1997),
as diferentes formas de governança de rede é uma resposta para as condições de
incerteza da demanda, a troca de condições de especificidade de ativos, a
43
complexidade da tarefa, e frequência, o que faz com que as organizações executem
suas transações com influência dos mecanismos sociais.
Assim, este estudo versa sobre as regras surgidas a partir da dinâmica do
grupo, ou seja, que surge dentro do grupo, que busca prevenir a rede das incertezas
ambientais e busca exercer um grau de controle nas incertezas do comportamento
dos atores.
Com o objetivo de ilustrar graficamente as afirmativas da presente dissertação
com essa possível interface entre governança relacional e incertezas nas redes,
apresenta-se no próximo subitem o desenho da pesquisa em desenvolvimento.
3.5 Desenho e Proposta da Pesquisa
Apresenta-se a seguir o desenho da pesquisa na Figura 2, que buscou retratar
a proposta da pesquisa.
Figura 2 – Modelo proposto do Desenho de Pesquisa.
Fonte: Construído pela autora, 2017.
Influência das
incertezas na
construção da
governança
Ambientais
- Demanda
- Acesso às
informações
- Avanços tecnológicos
- Eventos climáticos
Comportamentais
- Oportunismos
- Desconhecimento
- Negligência
Ambiente
Organizacional
Organizações
conectadas
lidando com
oportunidades e
incertezas
Construída
pelo grupo
Redes
- Estrutura
- Dinâmica
- Objetivos
coletivos
- Mecanismos de
ação coletiva
Adaptada pelo grupo a
partir de mecanismos
já existentes
Formas de
construção
Governança
- Normas
- Regras do
Negócio
- Incentivos
- Sistemas de
controles
44
O desenho mostra a interface das incertezas com a governança relacional. A
incerteza apresenta-se desde a formação da rede, por exemplo, sobre o
comportamento futuro dos novos parceiros (PROVAN, KENIS, 2007; GULATI, 1998),
com isso faz-se necessária a utilização de regras para lidarem com essas incertezas.
Essas regras podem ser originadas tanto da dinâmica do grupo, como também podem
ser regras específicas do negócio, ou da tarefa e também regras do ambiente
institucional. É o conjunto dessas regras que forma a governança. Como a governança
não é uma categoria diretamente observável, visto que se trata de acordos e pressões
sociais, construiu-se um conjunto de indicadores, conforme se verifica no Quadro 1.
A ideia de relacionar as incertezas com os sinais de governança já havia sido
levantada por Pilbeam et al. (2012), ao desenvolver um trabalho com um desenho
empírico explicitando o contexto das conexões de uma rede de abastecimento e suas
consequências por meio de diferentes instrumentos de governança.
Assim, o trabalho segue a linha de que os atores da rede necessitam de regras,
que são mecanismos de proteção para as incertezas ambientais e para buscar
controlar o comportamento oportunista. Essa distinção dá-se pelo fato de as
incertezas ambientais não serem iguais às incertezas comportamentais, uma vez que,
sobre o comportamento se exerce certo grau de controle, o que não ocorre com a
incerteza ambiental, aceitando o pressuposto da independência do meio ambiente.
Os indicadores foram construídos a partir de afirmativas dos autores de base,
como no texto de Jones et al. (1997); de exemplos em trabalhos realizados,
encontrados no item de revisão bibliográfica e discussões; e de reflexões dos
pesquisadores da Universidade de origem da autora, os quais se dedicam ao estudo
de redes, lançando indicadores para serem testados. Para os indicadores de incerteza
ambiental e comportamental, foram utilizadas as definições operacionais dos autores
citados.
3.6 Indicadores das categorias Governança Relacional, Incerteza Ambiental e
Incerteza Comportamental
Apresentam-se neste subitem os indicadores utilizados como norteadores na
elaboração dos instrumentos de pesquisa e o conceito de indicador utilizado no
presente trabalho.
45
Os indicadores dizem respeito tanto a valores e métricas, como também a
opiniões e a relações entre variáveis, pois, para Minayo (2009), mesmo havendo uma
predominância na utilização do termo indicador em parâmetros quantitativos, eles
também são utilizados em parâmetros qualitativos. Neste caso eles servem como
sinalizadores da realidade, isto é, evidenciam e sustentam a presença de certa
realidade selecionada pelo pesquisador. Ainda na concepção da autora, a maioria dos
indicadores dá destaque ao balizamento de processos da construção dessa realidade,
isto é, colocam-se parâmetros, padrões sobre a presença da realidade.
Há uma maior frequência na construção de indicadores na forma de escalas e
Minayo (2009) cita cinco tipos: escala de Bogardus; escala de Thurstone; escala de
Likert; escala de Guttman e proposta sociométrica de Moreno. Na presente
dissertação utiliza-se a escala de Likert, com cinco pontos. Essa escala consiste em
apresentar uma afirmativa (a descrição do indicador) e solicitar ao respondente que
marque uma escala de concordância.
Sobre os indicadores qualitativos, Minayo (2009) entende que são os que
expressam a opinião, os sentimentos, os pensamentos e as práticas dos inúmeros
atores que fazem parte do grupo investigado. Para construção dos indicadores a
autora destaca que o padrão é buscá-los nos grupos a serem investigados. Na
presente dissertação, os indicadores utilizados foram construídos com base nos
conceitos encontrados na revisão da bibliografia contemporânea e as afirmativas da
base teórica.
Minayo (2009) coloca ainda que na maior parte dos casos não se encontram
indicadores qualitativos prontos, uma vez que são construídos em conjunto com os
atores que fazem parte da pesquisa. Entretanto, a autora argumenta que em casos
culturais mais ou menos homogêneos podem ser utilizados indicadores já existentes.
Os casos investigados na presente dissertação enquadram-se na situação de raridade
de existência de indicadores, assim, justifica-se a criação dos indicadores devido à
ausência de semelhança dos que existem em grupos já investigados.
Quanto à utilização de indicadores, Minayo (2009) destaca que eles podem ser
construídos para mensurar, ou revelar informações relacionadas a inúmeros planos
de observação, seja individual, coletivo, econômico, cultural, associativo.
A partir desse enquadramento, construiu-se o Quadro 1 com a apresentação
das categorias, do resumo do conceito teórico dominante, de acordo com a revisão
da bibliografia, e dos indicadores encontrados, ou criados a partir do material
46
acadêmico existente. As sugestões não pretendem esgotar a lista dos indicadores,
mas apenas mostrar a linha geral de questionamento. O quadro por si só é uma
contribuição relevante do trabalho, pois pretende sistematizar e agrupar as categorias
dispersas na literatura. Entende-se que o esforço é uma contribuição metodológica do
trabalho, pois não se encontraram similares na literatura brasileira.
Quadro 1 - Indicadores das categorias governança relacional, incerteza ambiental e comportamental.
Categoria Conceito Dominante
Indicadores
1. Sinais de incerteza ambiental
Incerteza ambiental é a incapacidade percebida do ator para prever algo com precisão dentro do ambiente organizacional.
1.1 Incertezas sobre a relação entre o crescimento econômico da região e sua influência no grupo; 1.2. Incertezas sobre a relação entre futuras tecnologias e sua influência no negócio ou na tarefa do grupo; 1.3.1 Incertezas sobre as mudanças políticas e sua influência no grupo; 1.3.2 Incertezas sobre possíveis mudanças comerciais e seus efeitos no grupo; 1.3.3 Incertezas sobre possíveis mudanças nas leis que possam afetar o grupo; 1.4 Incertezas sobre as ações dos fornecedores e sua influência no grupo; 1.5 Incertezas sobre as ações dos movimentos dos concorrentes e sua influência no grupo; 1.6 Incertezas sobre desejos, demanda, necessidades e comportamento dos consumidores e sua influência no grupo; e 1.7 Incertezas sobre as mudanças ambientais e climáticas e sua influência no negócio ou na tarefa.
2. Sinais de incerteza de comportamento
Incerteza comportamental é a imprevisibilidade do comportamento de um parceiro.
2.1 Incertezas sobre a ética e a conduta correta conforme as regras do grupo; 2.2 Incertezas sobre o comprometimento dos parceiros que integram o grupo; 2.3 Incertezas sobre os objetivos individuais, dos parceiros que integram o grupo, conflitantes com os coletivos; 2.4 Incertezas sobre o comportamento comercial oportunista dos parceiros; 2.5 Incertezas sobre a intenção dos parceiros de continuidade no grupo; e 2.6 Incertezas sobre disposição de arcar com os custos coletivos.
3. Sinais de governança relacional
Governança relacional é a governança que nasce dos acordos e valores das relações sociais.
3.1 Regras de acesso restrito 3.1.1 Existem regras de restrição de acesso às informações do grupo para aqueles que não fazem parte do grupo; 3.1.2 Dependendo da informação, existem restrições para uma parte dos integrantes do grupo; 3.2 Controle social 3.2.1 A coordenação e o controle das atividades do grupo se dão por todos do grupo;
47
3.2.2 Existe uma rotina de encontro para criação e ajustes das regras do grupo; 3.3 Definição de papéis 3.3.1 Existência de regras sobre a definição de função ou atribuição de cada um desse grupo; 3.4 Existência de uma comissão que decide 3.4.1 A coordenação das atividades do grupo se dá por uma comissão eleita por todos; 3.5 Definição e existência de hierarquia 3.5.1 Existência de regras para eleger pessoas que representam e gerenciam o grupo; 3.5.2 Existência de regras para eleger pessoas que têm autoridade para controlar as outras pessoas no que diz respeito a seguir as regras; 3.6 Sistemas de controle e sanções 3.6.1 Existência de algum controle ou alguma forma de vigilância do comportamento do outro; 3.6.2 Existência de regras de controle e regras de combate aos comportamentos oportunistas; 3.7 Incentivos formais/ informais para continuar no grupo 3.7.1 Existência de gratificações, internas ao grupo, para a permanência dos integrantes do grupo; 3.7.2 Existência de gratificações, externas ao grupo, para a permanência dos integrantes do grupo; 3.8 Diretrizes para legitimação pública 3.8.1 Existência de regras e/ou ações para conseguir reconhecimento do governo, do mercado e da sociedade; 3.8.2 Existência de regras e/ou ações para conseguir legalização perante o governo; e 3.9 Diretrizes para buscar suporte do governo, do mercado e da sociedade 3.9.1 Existência de ações/tarefas para conseguir algum apoio financeiro ou de infraestrutura do governo, do mercado e da sociedade.
4. Sinais da interface entre incertezas e Governança Relacional
A governança relacional pode ser considerada uma solução viável em circunstâncias de incertezas.
O plano geral é investigar situações que mostram as falhas da governança. 4.1 Existência de casos de falhas na prevenção de incertezas ambientais (ou seja, casos em que o grupo foi surpreendido por evento ambiental); 4.2 Existência de casos de falhas no controle do comportamento (ou seja, casos em que o grupo foi surpreendido por um comportamento oportunista de um ator); 4.3 Existência de casos de falhas de aplicação das regras (ou seja, as regras foram criadas, mas se mostraram impossíveis, ou inoperantes na hora de aplicar); 4.4.1 Existência de casos de falhas quanto à concordância da existência de algumas regras; e 4.4.2 Existência de casos de falhas quanto ao cumprimento de algumas regras (ou seja, as regras existem, mas nem todos concordam com elas);
Fonte: Construído pela autora, 2017.
No próximo capítulo descrevem-se os procedimentos metodológicos que foram
utilizados para o desenvolvimento da pesquisa baseada na afirmativa de que diante
das incertezas ambientais e comportamentais, os atores de uma rede criam regras
48
sobre sistemas de defesa, para evitar os efeitos das incertezas ambientais; e regras
sobre sistemas de controles e incentivos para exercer algum grau de controle nas
incertezas comportamentais.
49
4 METODOLOGIA
Apresentar a metodologia traduz-se na maneira de investigar os fenômenos,
em outras palavras, esclarecer os critérios utilizados para a composição do
conhecimento. Indo contra à utilização de meios econômicos e racionais de análise
de redes, Kiel e Elliot (1997) afirmam que a utilização de metodologias alternativas
fornece novos campos de reflexão e formas de pesquisar, sendo de grande validade
ao estudo de redes.
O esclarecimento da metodologia aplicada oferece os meios para a realização
da pesquisa. Por meio da análise de levantamentos de dados de fontes primárias e
secundárias, investiga-se se as afirmativas propostas são ou não sustentadas. O
conjunto de escolhas desta proposta abarca o método de pesquisa, o tipo de pesquisa,
a estratégia de pesquisa, os instrumentos de coleta de dados e método de análise de
dados. Logo, o presente estudo foi desenvolvido com base em uma metodologia de
pesquisa qualitativa por meio de uma análise descritiva e exploratória; a estratégia de
pesquisa é o estudo de caso, utilizando como unidade de análise múltiplos casos da
região de Cuiabá.
Esta pesquisa possui natureza qualitativa, porque lida com variáveis que não
são redutíveis a escalas numéricas. Para Creswell (2010) a pesquisa qualitativa é
considerada um meio de se compreender ou explorar a noção que indivíduos ou
grupos atribuem a um problema social ou humano. Na pesquisa qualitativa procura-
se perceber e estudar as relações, não se isolando ou controlando as variáveis e não
se reduzindo a expressões numéricas. Conforme Bogdan e Biklen (1994), para a
realização de pesquisa com abordagem qualitativa, os dados devem ser coletados em
seu ambiente natural, sem nenhum tipo de manipulação intencional.
A pesquisa é descritiva pelo fato de se pretender especificar o fenômeno e os
fatos de uma realidade o mais fielmente possível. No entendimento de Triviños (1987),
a pesquisa descritiva requer a escolha clara do tema ou foco que será investigado,
podendo necessitar de múltiplas fontes para validar a descrição. Conforme Mattar
(1993), os objetivos das pesquisas descritivas são bem definidos, os processos são
formais, as pesquisas são bem estruturadas e voltadas para a elucidação de
problemas ou para a avaliação de possibilidades de ações.
A pesquisa também é exploratória por se tratar de um assunto pouco discutido,
a interface da governança relacional com as incertezas, no intuito de se obter uma
50
maior familiaridade com o assunto. No entendimento de Gil (1999), tal pesquisa tem
como escopo principal desenvolver, esclarecer e modificar ideias, visando à
formulação de problemas mais precisos para pesquisas posteriores. Ainda segundo
Gil (2008), esse tipo de pesquisa é a que apresenta menos rigidez na elaboração, pois
é planejada com o objetivo de proporcionar visão geral acerca de determinado fato,
se assumindo na forma de estudo de caso.
Para Yin (2010), o estudo de caso é uma estratégia utilizada quando o
pesquisador exerce pouco controle sobre os eventos, quando o foco recai sobre um
fenômeno contemporâneo inserido em um contexto da vida real e quando os limites
entre o fenômeno e o contexto não estão claramente definidos. Ainda para o autor, o
estudo de caso pode ser restrito a uma, ou a várias unidades, caracterizando-o como
único ou múltiplo. O estudo de casos múltiplos, para Yin (2010) possui mais provas
eficazes, sendo visto como mais robusto, entretanto tem mais exigências de tempo e
de recursos.
Yin (2010) afirma que o estudo de casos ocasiona da vontade de entender
fenômenos sociais complexos, situação que converge com os propósitos da presente
investigação. Aqui, o estudo de casos múltiplos se dá pela escolha de duas redes
(rede dos catadores de recicláveis de Várzea Grande e a rede do Shopping Popular
de Cuiabá/Mato Grosso - MT) e pela escolha do uso de duas formas de coletas –
entrevista com roteiro semiestruturado e dados de fontes secundárias.
Em relação ao processo de análise e tratamento dos dados, foi adotada a
análise de conteúdo para as entrevistas. Bardin (2011) afirma que é por meio desse
método de análise de dados que o pesquisador tira conclusão do tratamento dos
dados que manipula para inferir conhecimentos sobre o emissor da mensagem ou
sobre seu meio.
Para a investigação foram escolhidas duas redes na região de Cuiabá/MT. A
rede dos Catadores de Materiais Recicláveis de Várzea Grande, no ramo de economia
solidária, tem o objetivo de inclusão social, junto com o comercial, tem o problema
comum da falta de consciência ambiental da população e rejeição à figura do catador
e tem normas e regras criadas pelo próprio grupo. A rede do Shopping Popular de
Cuiabá/MT, uma rede de negócios, possui objetivos comerciais comuns, trocas de
informações e também enfrentam problemas comuns como ações oportunistas.
O próximo item apresenta o plano da pesquisa.
51
4.1 Plano de Pesquisa
Para Gil (1999), a pesquisa tem por premissa descobrir respostas para problemas,
por meio do emprego de procedimentos científicos. O plano de pesquisa deste
trabalho está voltado para o entendimento dos sinais da governança relacional que
criam prevenção e defesa para as incertezas ambientais e comportamentais. Tendo
como ponto inicial de coleta de dados a rede dos Catadores de Materiais Recicláveis
de Várzea Grande e a rede do Shopping Popular de Cuiabá/MT. Assim o problema a
ser respondido é: Quais os sinais de governança relacional presentes na rede que
contribuem para prevenção dos efeitos das incertezas ambientais e para exercer um
grau de controle nas incertezas do comportamento dos atores?
A escolha do campo justificou-se dado o interesse e curiosidade de se entender
a convergência da governança relacional com as incertezas presentes nas redes, pelo
fato de as redes estarem em ambientes de constante mudança, sejam comerciais,
políticas, sociais, comportamentais; valorizando o papel da governança na condução
do grupo.
4.2 Protocolo de Pesquisa
Conforme visto na revisão teórica, há um amplo leque de teorias e métodos de
pesquisa sobre redes. Para este caso, o método de pesquisa denominado estudo de
caso múltiplo parece ser apropriado para investigação de fenômenos no caso de haver
uma grande diversidade de relacionamentos e fatores e ainda não existe um
paradigma dominante.
Após definir a teoria e o problema, parte-se para a apresentação dos casos
escolhidos (YIN, 2010). Essa escolha é de suma importância para o processo de
coleta de dados e o desenvolvimento da pesquisa, pois cada caso consiste de um
estudo completo. Ainda segundo Yin (2010), o protocolo é uma maneira real de
aumentar a confiabilidade do desenvolvimento da pesquisa de estudo de casos. O
protocolo tem as seguintes seções:
52
4.2.1 Objetivo
O objetivo da pesquisa é identificar e apresentar os sinais de governança
relacional que contribuem para prevenir a rede dos efeitos das incertezas ambientais
e para exercer algum grau de controle nas incertezas do comportamento dos
indivíduos.
4.2.2 Tipo de Pesquisa
Como exposto anteriormente, a pesquisa caracteriza-se por ser qualitativa,
descritiva, exploratória com estudo de casos múltiplos.
4.2.3 Escopo
A partir de contatos prévios da autora, escolheram-se alguns campos de
pequenas redes da região de Cuiabá. Assim, foram escolhidas duas redes, a fim de
estabelecer uma análise da relação da governança relacional com as incertezas
ambientais e de comportamento. Para obedecer a esse critério de análise do presente
estudo, selecionou-se a rede dos catadores de materiais recicláveis estabelecida na
cidade de Várzea Grande, cidade limítrofe de Cuiabá e a rede do Shopping Popular
de Cuiabá/MT, que apresenta características de um cluster.
4.2.4 Sujeitos
A pesquisa foi desenvolvida por meio de seleção de sujeitos das duas redes
investigadas. Foram selecionados sujeitos mais capacitados ou aptos a responder
questões sobre a governança relacional e as incertezas da rede. Conforme o
instrumento utilizado, foram definidos sujeitos específicos.
Para as entrevistas, os sujeitos escolhidos foram os mais antigos, pelo fato de
estarem mais tempo na rede, e os líderes por estarem em maior contato com os outros
participantes do grupo. Foram escolhidas essas pessoas por se destacarem no grupo
e poderem oferecer mais informações, sabendo explicar melhor a origem e como se
desenvolveu a rede.
53
4.2.5 Instrumentos de coleta de dados
Para a coleta de dados foram utilizadas fontes primárias e secundárias. As
fontes primárias têm base em documentos originais que estão sendo utilizados pela
primeira vez em estudos, ou seja, dados inéditos coletados pelo investigador para
resolver problemas. Já as fontes secundárias estão à disposição do investigador em
livros, revistas, periódicos, base de dados, dentre outros.
Nesta pesquisa foi utilizada a entrevista com roteiro semiestruturado como
instrumento para obtenção de dados primários aplicada em atores com maior
relevância, como líderes de grupo e atores mais antigos. Uma segunda forma de
coleta vem de dados de fontes secundárias, principalmente relatórios, atas de
reuniões, relatórios de secretarias da prefeitura local e dados de entrevistas técnicas.
Como parte do desenvolvimento acadêmico do pesquisador foi construído um
questionário com escala de Likert, mas que acabou não sendo utilizado, ficando como
sugestão para aplicação em estudos futuros. Os instrumentos são detalhados a
seguir.
O primeiro é a entrevista com roteiro semiestruturado, com intuito de entrevistar
atores com maior relevância no grupo. O segundo instrumento é o questionário com
afirmativas numa escala do tipo Likert e, por fim, os dados de fontes secundárias.
4.2.5.1 Entrevista com roteiro semiestruturado
Segundo Lakatos e Marconi (2008), a entrevista é um procedimento utilizado
na investigação social para coletar dados face a face, para tentar resolver problemas
sociais proporcionando informações necessárias e resultados satisfatórios, tendo
como objetivo entender as perspectivas e vivências dos participantes.
A realização das entrevistas seguiu um roteiro semiestruturado, utilizando a
técnica da bola de neve, na qual se entrevista um sujeito escolhido de maneira
intencional e este indica o próximo sujeito para ser entrevistado. Foi entrevistado um
primeiro sujeito, indicado como líder, como representante formal ou como o mais
antigo da rede. A partir daí o pesquisador pediu a esse respondente que indicasse
outros sujeitos que possam ser entrevistados como um possível líder, ou ator central.
O roteiro de entrevista desenvolvido especificamente para esta dissertação
apresenta-se no Apêndice I. As questões originaram-se dos indicadores constantes
54
no Quadro 1, algumas apresentadas na forma direta de questionamento (“Quais são
as principais incertezas sobre esse negócio?”), e outras na forma de posições
mutuamente exclusivas, obrigando o sujeito a escolher uma linha de resposta ( “... é
fácil prever o comportamento das pessoas, ou tem sempre surpresas...?).
A realização das entrevistas foi de maneira individual, agendadas previamente.
Tanto as entrevistas da rede do Shopping Popular de Cuiabá/MT como as entrevistas
da rede dos Catadores de Recicláveis de Várzea Grande foram marcadas entrando
em contato pessoalmente com os associados, os quais já se encontravam disponíveis
para o autor. O número de entrevistas seguiu o critério de saturação, em outras
palavras, a coleta encerrou-se quando os dados convergiram de tal maneira que
novas entrevistas não originavam novos dados.
4.2.5.2 Questionário com afirmativas
Para Lakatos e Marconi (2003), questionário é considerado um instrumento de
coleta de dados, constituído a partir de uma série ordenada de perguntas, que devem
ser respondidas por escrito e sem a presença do entrevistador.
O questionário foi desenvolvido com afirmativas estruturadas com a utilização
de uma escala do tipo Likert de cinco posições. O respondente devia escolher apenas
uma, manifestando o seu grau de concordância ou discordância em relação a cada
questão apresentada. A legenda da escala correspondeu a: (A) concordo fortemente;
(B) concordo; (C) nem concordo, nem discordo; (D) discordo; (E) discordo fortemente.
As frases do questionário foram construídas com base nos indicadores de cada
categoria e seguiram a matriz de se registrar as frases no positivo. Como exemplo,
sobre governança relacional escreveu-se no positivo - “as regras surgem à medida
que o relacionamento social do grupo se desenvolve”. O instrumento está apresentado
no Apêndice II.
Cabe ressaltar que o instrumento questionário não foi utilizado na coleta de
dados porque a rede da ASSCAVAG é composta de poucos atores e os principais
foram entrevistados; e na rede do Shopping Popular havia outros pesquisadores
fazendo trabalho na mesma época, o que inviabilizou a autorização para mais um
questionário entre os lojistas.
55
4.2.5.3 Dados de fontes secundárias
Para Lakatos e Marconi (2003), as fontes secundárias possibilitam a resolução
de problemas já conhecidos e exploração de outras áreas onde os problemas ainda
não se cristalizaram suficientemente. Como dados secundários, foram utilizados
regimento interno da ASSCAVAG, estatutos, ata de reuniões, termo de parceria entre
o Instituto Gama e a ASSCAVAG, acordo de cooperação técnica e financeira e
contratos que são documentos provenientes de sindicatos, de associações, de
secretarias de governo e municipais, de pesquisas do Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística - IBGE, de organizações do terceiro setor, bibliotecas e jornais; além de
técnicos gerentes e profissionais que possam trazer mais dados sobre as redes em
discussão.
4.2.6 Formas e processo de análise
A análise das entrevistas foi realizada seguindo as normas técnicas de análise
de conteúdo. No entendimento de Trivinõs (1987), esse método pode ser utilizado
tanto na pesquisa quantitativa, como na investigação qualitativa. Para Bardin (2011),
a análise de conteúdo pode ser entendida como um conjunto de técnicas de análise
das comunicações com o propósito de conseguir indicadores, tanto quantitativo como
qualitativo, que propiciem a inferência do conteúdo relativo à mensagem analisada.
Ainda segundo a autora, essas técnicas são realizadas por meio de procedimentos
sistemáticos com a finalidade de descrever o conteúdo das mensagens.
Conforme Laville e Dione (1999), uma das tarefas que o investigador deve ser
realizar, em relação à operacionalização do método, é um recorte em temas dos
conteúdos em elementos que deverão ser agrupados em torno de categorias. As
unidades de análise são formadas por expressões, enunciados, palavras ou frases
relativas a temas cuja análise se faz em função de sua situação no conteúdo e em
relação a outros elementos aos quais estão ligados e que lhes dão sentido e valor
(LAVILLE, DIONNE, 1999).
Justifica-se a escolha do método de investigação da análise de conteúdo pelo
fato de as categorias em análise não se reduzirem às expressões numéricas, exigindo
do pesquisador a busca dos sinais de sua presença através dos indicadores
56
desenvolvidos. Nas entrevistas pede-se que o sujeito discurse sobre as categorias, e
analisa-se o conteúdo do seu discurso, buscando as convergências das mensagens.
Para análise dos dados de fontes secundárias foi utilizada a análise temática
de Bardin (2011), quando os dados estiverem na forma de discurso; e análise
paramétrica e não paramétrica quando os dados estiverem na forma de números em
tabelas.
57
5 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS
Esse item apresenta os dados coletados e as análises realizadas. A busca de
dados de fontes secundárias acerca das redes em estudo, sobre suas características,
perfil das cidades de Várzea Grande e de Cuiabá, municípios nos quais se localizam
as duas redes pesquisadas, nos seus aspectos sociais e demográficos, tem a
finalidade de trazer um conhecimento mais apurado das redes, contextualizar os
negócios pesquisados antes de apresentar os resultados da pesquisa de campo.
As redes investigadas são a rede de economia solidária de catadores de
materiais recicláveis, assim nomeada tendo em vista ter implantado um modelo de
economia solidária em uma associação de catadores de materiais recicláveis situada
na cidade de Várzea Grande que se caracteriza por inserir os atores da rede na
sociedade por meio do trabalho desenvolvido em conjunto. Trata-se de uma rede pelo
fato de o grupo apresentar sinais de interdependência e cooperação entre os
membros. A rede de negócios do Shopping Popular de Cuiabá/MT, de acordo com
pesquisas em dados secundários, como em contratos, tem como objetivo principal as
negociações entre seus atores a fim de obter vantagens no mercado e melhorias na
infraestrutura.
As redes escolhidas possuem diferencial em relação às outras redes. A rede
da qual o Shopping Popular faz parte, apesar de ser um caso de difícil solução por
apresentar muitos conflitos e divergências, obteve sucesso, diferente de muitas outras
cidades do Brasil, como é o caso da cidade de São Paulo que já tentou diversas vezes
solucionar conflitos com camelôs sem conseguir êxito por causa de pressões de
lojistas, associações comerciais entre outras. O caso do Shopping Popular é de
sucesso por se ter conseguido acomodar os camelôs e solucionado os conflitos de
interesses entre os camelôs, outros lojistas, a prefeitura, a polícia, a comunidade e os
consumidores. Um exemplo que comprova essas características é o fato de a
Associação do Shopping Popular ter feito um acordo, por meio do Ministério Público
Estadual, com a Prefeitura que em troca do espaço cedido para a construção do
Shopping, solicitou que a Associação revitalizasse a área em volta do shopping para
lazer da comunidade local.
Já na rede na qual a Asscavag está presente, o motivo relaciona-se com a forte
determinação social da rede, sendo a sua própria constituição esse exemplo. É uma
rede em que os objetivos sociais são tão fortes que prevalecem sobre os objetivos
58
econômicos, ou seja, os objetivos sociais como o bem-estar das pessoas, a qualidade
de vida, a inclusão social e a inserção dos marginalizados no mercado de trabalho
foram preservados. Um exemplo que comprova essas características é o fato de os
catadores que fazem parte da associação ganharem menos financeiramente do que
se estivessem trabalhando por conta própria, nas ruas ou no lixão.
5.1 Rede de Economia Solidária de Catadores de Materiais Recicláveis
Neste subitem apresentam-se e analisam-se os dados coletados sobre as
redes de economia solidária na qual está inserida a ASSCAVAG, tanto a rede
intraorganizacional, a rede interna composta pelos atores que compõem a
Associação, como da rede interorganizacional da qual a ASSCAVAG faz parte; que é
a rede composta por várias organizações interligadas. O objetivo dessa análise é
buscar uma resposta ao problema de pesquisa. Na sequência serão apresentados
dados de fontes secundárias, entrevistas e respostas ao problema de pesquisa.
5.1.1 Dados de fontes secundárias
A cidade de Várzea Grande, local em que está localizada a Associação dos
Catadores de Várzea Grande – ASSCAVAG, foi fundada em 15 de maio de 1867, pelo
General José Vieira Couto de Magalhães e se localiza na margem esquerda do rio
Cuiabá, do lado da cidade de Cuiabá e próxima da barra do rio Coxipó. O território de
Várzea Grande possui uma área territorial de 1.048,212 km2, fazendo limite com os
municípios de Jangada Nossa Senhora do Livramento, Santo Antônio de Leverger,
Acorizal e Cuiabá. Essa cidade possui a 2ª maior população de Mato Grosso, estando
atrás somente da capital, Cuiabá, da qual se separa apenas pelo rio de mesmo nome.
De acordo com a estimativa do IBGE (2016), ela tem aproximadamente 271 mil
habitantes, com população predominantemente urbana (mais de 95% vivem na
cidade).
Uma cidade predominantemente comercial e industrial, tendo em vista muitas
indústrias terem se instalado na região por meio de incentivos fiscais e doações de
terras, constituindo, juntamente com a capital, o principal polo industrial do Estado.
Tem também uma forte presença da agricultura de subsistência com plantação de
banana, feijão e melancia. Com um produto interno bruto - PIB de mais de R$ 2
59
bilhões, o município procura novas oportunidades de desenvolvimento que associem
o campo e o meio urbano.
No município de Várzea Grande foram desenvolvidas ações conjuntas com o
Governo do Estado, por meio da Secretaria de Estado de Trabalho e Assistência
Social (SETAS-MT) e da Secretaria de Estado do Meio Ambiente (SEMA/MT), têm
como objetivo a implantação de iniciativas de sustentabilidade ambiental e o
desenvolvimento das áreas rurais e empresas do terceiro setor, responsável por fazer
trabalhos voluntários em parceria com o poder público. Sendo assim, o Governo do
Estado de Mato Grosso começou uma ação de fortalecimento do trabalho dos
catadores de resíduos sólidos, o que beneficiou a ASSCAVAG com equipamentos de
segurança do trabalho e com informações sobre melhores condições de trabalho e
sobre o funcionamento de uma Associação.
Depois de um breve apanhado sobre Várzea Grande, cidade onde fica
localizada uma das redes estudadas neste trabalho seguem as informações da rede
da qual a ASSCAVAG faz parte, com especial atenção para dados dessa organização.
Nas duas últimas décadas surgiram, em Mato Grosso, diversos
empreendimentos ligados à economia solidária, um exemplo é a ASSCAVAG. A
Associação dos Catadores de Várzea Grande - ASSCAVAG foi criada através da
união de três famílias de catadores de recicláveis de Várzea Grande, sendo a primeira
ata lavrada em janeiro de 2009. O objetivo da associação é a de busca melhor
qualidade de vida e de trabalho para os catadores, que recolhiam materiais recicláveis
do lixão de Várzea Grande/MT.
Figura 3 – Foto do galpão em que fica localizada a ASSCAVAG.
Fonte: Sítio eletrônico da ASSCAVAG, 2017.
60
Essa associação desenvolveu uma rede de relações com diferentes entidades
que buscam a redução de resíduos sólidos e que incentivam a reciclagem, reutilização
e a destinação adequada dos resíduos sólidos e a sustentabilidade do meio ambiente.
Essas parcerias firmadas contribuem para obtenção de alguns benefícios como
informações dos órgãos públicos e acesso aos projetos de políticas públicas e
consequentemente para desenvolvimento ações de inclusão social e econômica, bem
como geração de renda. Uma das entidades parceiras é o Instituto Gama. Como a
associação é formada por catadores, cujas condições sociais, culturais e financeiras
não contribuíam para a frequência na escola, o índice de analfabetismo era alto.
Sendo assim, foi criada uma sala de aula para ensinar os catadores e demais
trabalhadores que ainda necessitavam de alfabetização.
A ASSCAVAG tem como atribuição básica a triagem de materiais recicláveis.
Os materiais coletados pelos catadores são de doações de empresas da cidade de
Várzea Grande e destinados às empresas que fazem a transformação dos materiais,
que seriam descartados em matéria-prima para as indústrias.
O mapa abaixo, gerado pelo software Ucinet, retrata o perceptual das relações
desenvolvidas entre os atores da rede da ASSCAVAG. Conforme se verifica, a rede
tem baixa densidade, isto é, alguns atores têm apenas uma ligação. A rede de primeiro
nível, isto é, das organizações diretamente implicadas na tarefa, é mostrada na Figura
4.
Figura 4. Mapa das relações da Rede da ASSCAVAG, conforme respostas dos entrevistados.
Fonte: Construído pela autora, 2017.
61
Outro dado de fonte secundária é o Acordo de Cooperação Técnica e
Financeira entre o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES)
e o Instituto Gama que visa à redução das desigualdades e o desenvolvimento local
por meio de investimentos. Apesar de ser um documento formal de cooperação
técnica e financeira, ele tem objetivos sociais claros como por exemplo,
O interesse do INSTITUTO e do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, neste Instrumento abreviadamente denominado BNDES, em contribuir para o desenvolvimento local sustentável por meio de projetos de geração de trabalho e renda, com o fomento de cadeias produtivas e qualificação profissional, por meio do Programa ReDes” (página 1, inciso I)
e também o Acordo de Cooperação Técnica e Financeira1 Nº 10.2.1900.1, de
07.12.2010, celebrado entre o BNDES e o INSTITUTO (página 1, inciso II).
Outro exemplo é o fato de terem metas e objetivos bem genéricos, deixando o
detalhamento para os partícipes. Isso pode ser evidenciado na página 1, inciso III, a
saber: “Que as ações do Acordo celebrado devem ser realizadas em benefício de
trabalhadores de baixa renda, que estejam organizados, ou em processo de
organização, sob a forma de cooperativa de produção ou de comercialização, ou sob
a forma de associação”. E também por possibilitarem adaptações no documento,
demonstrando um tipo de acordo flexível:
No caso da impossibilidade de cumprimento de forma total ou parcial, dos requisitos previstos no parágrafo terceiro por parte da ORGANIZAÇÃO, deverá ser encaminhada justificativa, por escrito, cabendo ao INSTITUTO decidir, no prazo de até 30 (trinta) dias corridos, sobre o repasse das parcelas subsequentes, incluindo a possibilidade de repasse parcial dos recursos ou de prazo adicional para cumprimento dos requisitos previstos no parágrafo terceiro (página 5, parágrafo 5º)2.
De acordo com o documento, os representantes do BNDES poderão fazer
visitas aos projetos, como uma espécie de controle, ou pressão exercida por uma
autoridade. Percebe-se, ainda, com afirmativas colocadas no documento, que é
possível alterar as cláusulas, desde que seja acordado entre as partes, podendo haver
negociação entre as partes como, por exemplo, no envio de relatórios, na escolha da
1 ACORDO DE COOPERAÇÃO TÉCNICA E FINANCEIRA - Documento de cooperação entre as instituições envolvidas, não disponível ao público. 2 ACORDO DE COOPERAÇÃO TÉCNICA E FINANCEIRA - Documento de cooperação entre as instituições envolvidas, não disponível ao público.
62
entidade proponente para a elaboração de projetos, na votação dos partícipes e a
regra de comprovação de mais de 2 anos de existência que pode ser dispensada por
justificado motivo e aprovada pelos partícipes. Assim, pode-se concluir que esse
Acordo de Cooperação Técnica e Financeira é genérico e que abre possibilidades de
negociações, com a criação de regras específicas do grupo do projeto, o que é a
governança relacional.
Como conclusão deste subitem afirma-se a existência de indicadores de
governança relacional, por meio de regras criadas na rede. Os dados revelaram uma
rede caracterizada pela presença de incertezas e que utilizam como ponto de partida
para a solução dessa incerteza a criação e/ou adaptação de regras. Tais regras
buscam criar defesas contra incertezas ambientais e exercer algum controle sobre as
incertezas comportamentais.
5.1.2 Dados de fontes primárias - entrevistas
Sujeito 1
O sujeito é uma associada fundadora da ASSCAVAG que foi presidente da
associação por cinco anos. Antes era catadora de material reciclável no lixão e mais
tarde decidiu criar a associação juntamente com mais duas famílias, também de
catadores do lixão de Várzea Grande. É Respeitada e admirada pelos demais do
grupo, pela dedicação e empenho ao negócio ao longo dos sete anos de existência
da associação.
A análise temática do discurso indica a seguinte linha de resposta sobre o
problema da pesquisa:
Sobre a governança relacional, surgiram indícios dessa categoria quando o
sujeito 1 mencionou a necessidade de contratação de professores para alfabetização
dos catadores e demais trabalhadores que não tiveram a oportunidade de frequentar
a escola e que não concordou com a escolha da professora indicada pelo gerenciador
do projeto, dando prioridade aos professores que vivenciaram a realidade, ou
conheciam a história dos catadores de alguma forma. O fato revela os indicadores 2.2
(comprometimento dos parceiros); 2.5 (intenções dos parceiros), 3.4.1 (coordenação
das atividades se dá por uma comissão) e 3.7.1 (existência de gratificações, interna
ao grupo, para a permanência dos integrantes do grupo.). Com essa regra de seleção
63
dos professores, a organização busca o comprometimento do indivíduo, por ter a
possibilidade de se capacitar e crescer pessoalmente, além do ganho econômico
fazendo com que minimize uma possível vontade do indivíduo em deixar o grupo,
podendo esse fato ser traduzido em um incentivo formal. O selecionado, dessa forma,
acaba por ser um ator que decide situações em favor do grupo, quando houver
conflitos de interesses.
Esse exemplo está relacionado com a autoridade e a força política que esse
sujeito 1 detinha, ao fazer com que predominasse o interesse interno do grupo. A regra
externa, inicialmente estabelecida, era que os gestores do projeto indicassem um
professor que estivesse disposto a lecionar num projeto de alfabetização; entretanto,
o que predominou foi a regra interna e/ou relacional de que esse professor fosse
indicado pelo grupo na pessoa desse sujeito 1 que apontou um professor familiarizado
com a história dos associados da ASSCAVAG.
Portanto, pode-se afirmar que, nesse caso, houve uma regra externa que foi
adaptada pelos atores da rede interna da ASSCAVAG, sendo aceita pelos outros
atores da rede. Em outras palavras, uma regra que foi alterada para a realidade do
grupo, sendo um exemplo de governança relacional. Os indicadores presentes nesse
exemplo são: indicador 3.2.1 (coordenação do grupo) – pelo fato de a coordenação e
a gerência das atividades do grupo retratarem a vontade de todas as pessoas que
compõem o grupo; indicador 3.2.2 (modo de decisão das regras do grupo) – pelo fato
de retratar que o grupo se reúne para realizar ajustes das regras em prol do grupo.
A partir da presença desses indicadores, pode-se inferir que existem
significativos sinais de governança relacional nessa rede que busca a prevenção e
controle das incertezas. Partindo-se desse enquadre, para responder à pergunta de
pesquisa, construiu-se o Quadro 2 com a apresentação dos sinais de governança
relacional que surgiram com seus respectivos indicadores existentes (indicadores de
incerteza comportamental 2.2 e 2.5; indicadores de governança relacional 3.2.1, 3.2.2,
3.4.1 e 3.7).
64
Quadro 2 - Indicadores das categorias estudadas presentes na entrevista com sujeito 1.
Indicadores de Incertezas
Ambientais e Comportamentais
Os mecanismos criados ou adaptados
Indicadores de governança
2.2 (sobre o comprometimento
dos parceiros)
2.5 (sobre a intenção dos parceiros em continuar no
grupo)
- contratar professores que são do
grupo ou tiveram experiência no grupo;
- rotinas de encontros com vários representantes, para ajustes.
- compartilhamento de autoridade, em rodízio de funções.
3.7.1 (existência de gratificações, interna ao grupo, para a permanência
dos integrantes do grupo) 3.2.2 (rotinas de encontro)
3.2.1 (a coordenação e controle das atividades compartilhadas por todos)
3.4.1 (a coordenação das atividades do grupo se dá por uma comissão
eleita por todos)
Fonte: Construído pela autora, 2017.
Sujeito 2
O sujeito 2 é uma associada da ASSCAVAG que faz parte de uma das famílias
fundadoras da ASSCAVAG. É também a representante do Movimento Nacional dos
Catadores Recicláveis (MNCR), lutando para o fortalecimento dos catadores, a
conscientização da população a respeito da classificação dos materiais recicláveis e
a coleta seletiva. Sobre sua história, ela inicialmente era apenas catadora de material
reciclável no lixão, mais tarde decidiu estudar, formando-se em técnica de
enfermagem e tornou-se membro da Associação.
A análise temática do discurso indica a seguinte linha de resposta sobre os dois
problemas da pesquisa:
No início da entrevista surgiram traços da categoria governança relacional
quando o sujeito menciona: “tudo aqui é direcionado em conjunto para desenvolver
coletivamente ações em prol do grupo, pois, se está dentro do grupo, os problemas
devem ser resolvidos em grupo. E que nos dias de hoje, quem não estiver em grupo,
não sobrevive tendo em vista o mercado estar muito competitivo”. Analisando-se esse
trecho, percebe-se o indicador de incerteza de comportamento 2.3 (objetivos
individuais dos parceiros conflitantes com os coletivos) e para solucionar esse
problema aplica-se o indicador da categoria de governança relacional 3.2.1
(coordenação do grupo se dá por todos do grupo) e o indicador de governança
65
relacional 3.2.2 (modo de decisão das regras do grupo). Em outras palavras, o grupo
procura decidir tudo em conjunto para ouvir e conciliar o posicionamento de cada ator;
para se prevenir da incerteza do associado desenvolver objetivos individuais diversos
dos objetivos coletivos. Percebe-se também o indicador de incerteza ambiental 1.3.2
(mudanças comerciais e seus efeitos no grupo) que leva ao mecanismo 3.9.1 (ações
e/ou tarefas para suporte financeiro ou de infraestrutura do governo, do mercado e da
sociedade), ou seja, por conta da imprevisibilidade do mercado, são desenvolvidas
ações e/ou tarefas para conseguir algum apoio financeiro ou de infraestrutura do
governo, do mercado e da sociedade.
Outra frase do sujeito analisada: “No início o nosso lucro aqui na Associação
era distribuído por rateio e, posteriormente, foi alterado para um mecanismo de
esquema de produção”. Aqui foi evidenciado o indicador de incerteza 2.4
(comportamento dos parceiros) que levou ao indicador de governança relacional 3.6.2
(controle e regras de combate aos comportamentos oportunistas). Analisando-se o
trecho, percebe-se que essa regra na ASSCAVAG foi alterada pelo grupo com intuito
de tentar exercer um controle na produção dos catadores e no comportamento
oportunista dos catadores de quererem ganhar mais, produzindo menos. Esse fato
evidenciou um problema comum que eles possuíam, inclusive com outras
associações, que é o caso do catador oportunista ser remunerado igualmente a outros
catadores que trabalham mais.
Sobre a questão de riscos e incertezas dentro do grupo, o sujeito mencionou
que “os riscos e as incertezas aqui dentro da associação que mais existiam eram
quanto aos acidentes de trabalho”. Com essa afirmação surgiu outro sinal de
governança relacional com o indicador 3.6.1 (algum controle, ou vigilância do
comportamento do parceiro), por conta da incerteza que remete a um novo indicador,
2.7 (sobre ações imprevisíveis dos parceiros que podem causar acidentes) que não
consta na matriz, mas que surgiu com a entrevista. Isso porque existiam problemas
com acidentes de trabalho e criaram regras para mecanizar e afastar o perigo que
esses acidentes poderiam causar. Assim, infere-se que para se defenderem dessa
incerteza, além da aquisição de máquinas mais seguras, criaram uma regra de que
os associados teriam que aceitar a ajuda de um técnico em segurança do trabalho
que foi contratado para minimizar este problema, e seguir suas orientações.
Sobre a questão da existência de concorrentes, o sujeito mencionou que “a
concorrência provém dos catadores de rua que estão saindo do lixão e que não entram
66
para a Associação pelo fato de ganharem mais fora da associação por não precisar
contribuir com as despesas internas da associação”, relatou ainda que “para evitar a
saída dos catadores da associação, oferecemos qualidade de vida, como descanso e
trabalho com horário fixo e diversas opções de coleta para terem constantemente local
para coletar o material e não precisar voltar para o lixão ou para as ruas”. Esse ponto
do discurso remete tanto ao indicador de incerteza ambiental 1.5 (sobre os
concorrentes), como ao indicador de incerteza comportamental 2.5 (sobre intenções
dos parceiros) que levam ao sinal de governança relacional representado pelo
indicador 3.7.1 (incentivos internos para a permanência dos integrantes no grupo).
Veja-se, pois, que o problema levantado foi a incerteza quanto à existência de outras
associações concorrentes e a regra surgida para se prevenirem desse problema foi o
estabelecimento de alguns incentivos como horário de trabalho fixo para proporcionar
lazer e horários de descanso aos associados.
Sobre incerteza do comportamento dos associados, o sujeito mencionou que
“o problema desse grupo é a relação interpessoal, pois alguns catadores acham que
os outros não podem mandar nele, gerando uma competição entre eles”. Veja-se,
pois, que o problema levantado foi a incerteza advinda da competição presente no
relacionamento das pessoas do grupo, referindo-se ao indicador 2.2
(comprometimento dos parceiros), e foi utilizada a existência de um líder para tentar
controlar o comportamento coletivo, retomando o indicador 3.2.1 (coordenação do
grupo), e exercer uma relação interpessoal de parceria.
Sobre a possibilidade de os associados ajudarem financeiramente quando
surgissem problemas imprevistos, como custos extras, ou ajuda emergencial para
alguém do grupo, o sujeito respondeu que “esse é um exemplo que forçou aos
associados a criarem um regimento interno com a regra de existir um fundo econômico
para emergências, em que o associado contribui com 10% do que ganha”. Para
incertezas sobre possíveis emergências, que remetem ao indicador 2.6 (sobre ações
coletivas), foi criada a regra da contribuição de 10% do rendimento de cada associado
que remetem ao indicador 3.4.1 (um grupo decide, mesmo com resistências) tendo
em vista ser estipulado essa regra por ser uma decisão coletiva. Apesar de ter sido
uma decisão do grupo em separar uma quantia de 10% do arrecado, essa é uma regra
quase que fixa que aparece na maioria das cooperativas e associações.
Continuando no mesmo exemplo, o sujeito menciona ainda que “mesmo com a
regra disposta no regimento, nem todos os associados aceitam contribuir com esses
67
10%”, remetendo ao indicador 4.4.2 (casos de regras falhas), pois nem todos
concordam com tais regras e deixam de cumpri-las, sendo que tal ação leva ao
indicador 2.3 (objetivos individuais dos parceiros conflitantes com os coletivos).
O sujeito discorreu sobre a criação de um regimento interno, no qual aparecem
regras como de exclusão, que são para incertezas comportamentais, e outras, como
assistência, que são para incertezas ambientais. Aparecem também outras regras
como assistência à saúde, obediência e respeito controlado pelo conselho de ética
que foram criadas por conta de motivos como doenças, falhas do sistema do governo,
problemas financeiros emergenciais, entre outros, que foram citados na entrevista.
Pode-se dizer ainda que esse regimento interno, que foi uma adaptação de modelos
já existentes, pode ser considerado um bom exemplo de governança relacional, pelo
fato de ter sido construído e/ou adaptado pelo grupo na medida em que os problemas
foram surgindo.
Diante ao exposto, a análise do discurso do sujeito indica um raciocínio de
separação das pessoas internas ao grupo dos outros que estão fora do grupo, sendo
que esses outros são os políticos, empresas e outros catadores que querem tirar
proveito do grupo. No que diz respeito à dinâmica de grupo, o sujeito repete padrões
de “decidir pelo coletivo”, evidenciado a consciência de ação coletiva.
Infere-se que o tema mais recorrente do sujeito gira em torno das relações da
ASSCAVAG com o governo e das relações entre os associados, sendo que as
questões do negócio não foram tanto abordadas. O sujeito indicou ainda que a
governança relacional na ASSCAVAG está mais voltada para a proteção do grupo, o
qual não busca relacionamentos abertos e/ou transmissão de conhecimentos. Esse
grupo é considerado uma família a ser protegida em que os recursos obtidos
permanecem protegidos dentro do grupo.
A entrevista apontou diversos sinais de governança relacional na rede interna
da ASSCAVAG que busca a prevenção e controle das incertezas; porém houve
poucos exemplos de mudanças de regras da ASSCAVAG com outras instituições.
Partindo-se desse enquadre, para responder à pergunta de pesquisa a partir dessa
entrevista, construiu-se o Quadro 3 com a apresentação dos sinais de governança
relacional que surgiram com seus respectivos indicadores existentes (indicadores de
incerteza ambiental 1.3.2 e 1.5; indicadores de incerteza comportamental 2.2, 2.3, 2.4,
2.5 e 2.6; indicadores de governança relacional 3.2.1, 3.2.2, 3.4, 3.6.1, 3.6.2, 3.7.1 e
3.9.1; indicador de sinais da interface entre incertezas e governança relacional 4.4.2).
68
Com a análise dessa entrevista, surgiu ainda um novo indicador, 2.7 (atitudes dos
parceiros), que pode ser incorporado à matriz de indicadores e ser utilizado em futuras
pesquisas.
Quadro 3 - Indicadores das categorias estudadas presentes na entrevista com sujeito 2.
Indicadores de Incertezas Ambientais e
Comportamentais
Os mecanismos criados ou adaptados
Indicadores de governança
1.3.2 (sobre possíveis mudanças comerciais e seus efeitos no grupo)
1.5 (sobre as ações dos movimentos dos
concorrentes e sua influência no grupo)
2.5 (sobre a intenção dos parceiros de
continuidade no grupo)
2.2 (sobre o
comprometimento dos parceiros que integram
o grupo)
2.6 (sobre disposição de arcar com os custos
coletivos)
2.3 (sobre os objetivos individuais, dos
parceiros que integram o grupo, conflitantes
com os coletivos)
2.4 (sobre o
comportamento comercial oportunista
dos parceiros)
2.7 (sobre ações que possam comprometer a saúde e integridade dos
parceiros)
2.3 (sobre os objetivos individuais, dos
parceiros que integram o grupo, conflitantes
com os coletivos)
- os problemas que surgiram que
são resolvidos coletivamente.
- oferecer qualidade de vida aos associados.
- oferecer qualidade de vida aos associados.
- surgimento de um líder para controlar o comportamento
coletivo.
- surgimento de regra pela decisão da maioria, mesmo
alguns discordando.
- Estar em formato de grupo, com decisões tomadas em conjunto.
- a distribuição dos lucros por esquema de produção ao invés
de rateio.
- aquisição de máquinas e contratação de técnico em
segurança do trabalho.
- descumprimento do regimento
por alguns associados.
3.9.1 (existência de ações para conseguir algum apoio
financeiro ou de infraestrutura do governo, do
mercado e da sociedade)
3.7.1 (existência de gratificações, interna ao
grupo, para a permanência dos integrantes do grupo)
3.7.1 (existência de gratificações, interna ao
grupo, para a permanência dos integrantes do grupo)
3.2.1 (a coordenação e o controle das atividades do grupo se dão por todos do
grupo)
3.4.1 (existência de uma comissão que decide)
3.2.1 (coordenação do grupo se dá por todos do grupo) e o indicador de governança relacional; 3.2.2 (modo de
decisão das regras do grupo)
3.6.2 (existência de regras de controle e de combate
aos comportamentos oportunistas)
3.6.1 (existência de algum controle ou alguma forma de vigilância do comportamento
do outro)
4.4.2 (existência de casos de falhas quanto ao
cumprimento de algumas regras)
Fonte: Construído pela autora, 2017.
69
Sujeitos 3 e 4
Os sujeitos 3 e 4 foram entrevistados juntos, por solicitação deles.
O sujeito 3 possui a função de consultor do Projeto, é o responsável por fazer
o acompanhamento desse Projeto, a verificação das aplicações dos recursos, o
acompanhamento das prestações de contas e o acompanhamento do plano de
negócios, ou seja, a partir de quando o investimento começará a dar retorno e quando
o negócio vai atingir seu equilíbrio.
O sujeito 4 é o representante do grupo Gama que é o principal patrocinador do
projeto que contempla a ASSCAVAG. Sendo esse Projeto patrocinado pelo BNDES e
pelo Instituto Gama.
Lançada uma pergunta genérica de como funciona essa parceria e qual a
relação com a ASSCAVAG, os sujeitos responderam que “os auxílios aos programas
sociais que o Instituto Gama fornece, geralmente, são em cidades onde são situadas
fábricas da Gama e que carecem de investimentos financeiros”. Fato que convergiu
com a política do BNDES que procura investir em localidades que tenham baixo índice
de desenvolvimento humano. Os sujeitos disseram ainda que “a ASSCAVAG foi
submetida a uma análise na qual se verificou que essa Associação desenvolvia
trabalho social, assim foi selecionada para receber investimentos financeiros desde
que seguisse as regras estipuladas no termo de parceria entre o Instituto Gama e a
ASSCAVAG”. Por essa fala, é possível entender que as regras que regem essa
relação já vieram estipuladas no termo de acordo assinado entre eles, cabendo à
ASSCAVAG apenas o cumprimento do termo de acordo. Essas regras que estão no
contrato estão mais relacionadas às questões legais, sendo que outros assuntos
podem ser decididos conforme a necessidade da ASSCAVAG. Há, portanto, uma
janela de possibilidades de acordos, que podem servir de exemplos de governança
relacional.
Os sujeitos 3 e 4 disseram que “esse grupo de catadores da ASSCAVAG não
aceitam pessoas estranhas, assim demoraram para pedir nosso auxilio. Aos poucos
fomos conquistando a confiança deles, sendo que a partir daí a Associação começou
a buscar frequentemente nosso apoio e suporte quando se deparava com
determinadas situações ou problemas”. Tal afirmativa dos sujeitos remete a dois
indicadores de incerteza de comportamento, o 2.2 (sobre o comprometimento dos
parceiros) e o 2.4 (sobre o comportamento comercial oportunista dos parceiros). Isso
70
porque, como o grupo da ASSCAVAG não os conhecia, demorou a dar credibilidade
aos sujeitos. Remete também ao indicador de governança relacional 3.5.1 (existência
de regras para eleger pessoas que representam e gerenciam o grupo), pois o grupo
criou uma regra informal de buscar tanto o representante do Projeto como o
representante da Gama para auxiliar no gerenciamento e coordenação do grupo,
sempre que surgissem problemas a serem resolvidos. Essa regra nasceu das
relações de confiança entre as partes, sendo, um bom exemplo de governança
relacional.
Sobre incertezas desse negócio, os sujeitos disseram que “os riscos e
problemas existentes nesse negócio estão muito ligados ao relacionamento
interpessoal deles”. Sobre as medidas tomadas para solucionar esses problemas eles
disseram: “nós interferimos quando surgem conflitos entre eles que atrapalham o
andamento do projeto. Nós servimos, em alguns casos, como mediadores nos
conflitos e em outros casos de orientadores daqueles que administram diretamente as
atividades dos catadores. Tudo isso para tentar manter a união entre os membros da
ASSCAVAG”. Vê-se, pois, que existe incerteza a respeito do comportamento das
pessoas do grupo nas relações sociais desenvolvidas entre eles, remetendo ao
indicador 2.1 (sobre a ética e a conduta correta conforme as regras do grupo),
surgindo uma regra informal de intercessão dos sujeitos 3 e 4 com intuito de
harmonizar o conflito, fato que se reporta ao indicador de governança 3.6.1 (existência
de algum controle ou alguma forma de vigilância do comportamento do outro).
O trecho da entrevista evidencia a presença da incerteza do comportamento
dos associados que influencia diretamente na governança relacional da rede interna
da ASSCAVAG, uma vez que a Associação busca regras para, entre outras coisas,
exercer controle no comportamento dos catadores.
Sobre incertezas advindas de leis e normas, responderam que “todos os grupos
que recebem apoio desse projeto devem passar por licenciamento ambiental, e com
o Grupo ASSCAVAG não foi diferente. Nós nos atentamos também aos materiais que
chegam lá na associação, para que eles sejam licenciados, ou seja, materiais
recicláveis”. Esse discurso sinaliza uma regra formal/contratual, ou seja, uma regra
que já veio estipulada no termo de acordo somente para ser cumprida.
Sobre as incertezas advindas da relação entre o Instituto Gama e a
ASSCAVAG, os sujeitos disseram não possuírem, mas disseram que “houve um caso
de incerteza, que foi a saída da primeira presidente da Associação”. Perguntado sobre
71
as medidas tomadas para resolver essa questão, contaram que “foi realizada uma
eleição, na qual houve uma votação apertada com duas chapas, sendo que nessa
eleição surpreendeu a positividade dessa concorrência, na qual os membros se
mostraram bastante envolvidos. Em contrapartida, houve muitos associados
descontentes com a Presidente que assumiu”. O trecho em questão retrata a incerteza
de cunho político que surgiu no ambiente interno da Associação e que poderia
influenciar na relação com o Instituto Gama, remetendo ao indicador 1.3.1 (sobre as
mudanças políticas e sua influência no grupo) e que leva ao indicador de governança
3.5.2 (existência de regras para eleger pessoas que têm autoridade para controlar as
outras pessoas no que diz respeito a seguir as regras) pelo fato de elegerem uma
nova presidente para administrar a ASSCAVAG.
A respeito da disposição da Associação em seguir as regras que o Instituto
Gama estipulou, os sujeitos afirmaram que a ASSCAVAG segue categoricamente o
que é colocado no termo de Parceria apresentado pelo Instituto Gama, o que
caracteriza um exemplo de governança formal/contratual.
Sobre incertezas relacionadas à ética dos parceiros, os sujeitos 3 e 4
responderam que “dentro da ASSCAVAG houve casos pontuais de pequenos furtos,
divergindo da conduta coletiva do grupo, e que foi difícil a saída desse membro por
envolver questões sociais e afetivas, uma vez que os associados sabem da
dificuldade que o colega vai passar e pelo fato de um dos papéis da Associação ser a
inclusão social”, e que conforme dito pelo sujeito 3 existe muita compaixão de um pelo
outro dentro da associação, ou seja, um se coloca na situação do outro. Perguntado
sobre as medidas tomadas para a solução desse problema, os sujeitos responderam
que “a presidente da associação chamou a pessoa responsável pelo furto para
conversar, advertindo-o sobre seu erro e a possibilidade de deixar a Associação caso
houvesse reincidência e também colocou alguém da coordenação para fiscalizar as
condutas dos associados”. O discurso retrata a incerteza de comportamento surgida
dentro da rede da ASSCAVAG, que remete ao indicador 2.1 (sobre a ética e a conduta
correta conforme as regras do grupo) e que leva ao surgimento de uma regra
relacional de fiscalização das atividades dos associados, remetendo ao indicador
3.6.1 (existência de algum controle ou alguma forma de vigilância do comportamento
do outro).
Sobre regras de coordenação, entre as várias organizações envolvidas com a
ASSCAVAG, os sujeitos disseram que “existe um fórum territorial de segurança
72
alimentar e nutricional da baixada cuiabana que faz parte do Projeto, do qual a
ASSCAVAG frequentemente participa, apresentando a prestação de conta dos
recursos utilizados e discutindo várias ações com representantes de diferentes
setores de cidades do estado de Mato Grosso que possuem demandas semelhantes”.
Vê-se, pois, que a organização ASSCAVAG, em sua rede interorganizacional,
mantém parceria com outras entidades a fim de realizar ações que buscam
reconhecimento e fortalecimento de suas ações perante a sociedade e o governo.
Fato que se reporta aos indicadores de incerteza ambiental 1.3.1 (sobre as mudanças
políticas); 1.3.2 (sobre possíveis mudanças comerciais); 1.3.3 (sobre possíveis
mudanças nas leis), tendo em vista estar pensando em possíveis acontecimentos que
possam prejudicar ou beneficiar a Associação. Isso leva ao indicador de governança
relacional 3.9.1 (existência de ações/tarefas para apoio financeiro ou de infraestrutura
do governo, do mercado e da sociedade) por realizarem ações/tarefas que tragam
benefícios à Associação.
Sobre a indagação de motivos específicos para a convocação de reuniões
periódicas, os sujeitos responderam que “não existe um calendário de reuniões, elas
ocorrem sempre que há necessidade. Sempre participamos das reuniões para tratar
de assuntos mais importantes, como uso dos recursos do projeto, como por exemplo,
a viabilidade de aquisições”. Mencionaram ainda que “o termo de parceria entre o
Instituto e a ASSCAVAG exige a prestação de conta da utilização do recurso, mas a
participação deles na reunião previamente à aquisição foi acordada entre eles”. Pode-
se observar nessa colocação que existe uma incerteza sobre a conveniência de
aquisições de certos equipamentos (nesse momento o sujeito se referia a novas
tecnologias) tendo em vista utilizar o recurso do projeto que a Associação recebe. O
fato remete ao indicador 1.2 (sobre a relação entre futuras tecnologias) e que por conta
disso foi criada uma regra relacional de convocar os sujeitos 3 e 4, participando-os
previamente das possíveis aquisições, levando ao indicador de governança relacional
3.2.2 (encontros para criação e ajustes de regras), mesmo não tendo uma rotina de
reunião.
Com a análise da entrevista, sobre as relações entre as incertezas ambientais
e comportamentais com a governança, pode-se afirmar que as regras relacionais
existentes estão resolvendo a maioria dos problemas relativos ao comportamento dos
indivíduos que compõem a rede, e que a maior parte das questões referentes às
incertezas ambientais está prevista nas regras formais e/ou contratuais.
73
Pode-se afirmar que a categoria governança relacional aparece
predominantemente entre os associados e, em alguns casos, entre a ASSCAVAG e
os sujeitos 3 e 4, pois, como afirmado pelos representantes do Projeto Alfa e pela
Gama, são chamados a auxiliar a Associação quando necessitam solucionar certos
problemas, assim apresentam soluções formais, dentro daquilo que foi acordado e os
orientam em prol de uma boa relação interpessoal. O que se percebe também é que
existem sinais de governança relacional em relação àqueles que participam do dia a
dia dos catadores uma vez que, como afirmado pelos representantes, os problemas
existentes são de cunho interpessoal.
Infere-se também que a maior parte das regras existentes entre o Instituto
Gama e a ASSCAVAG são formais e/ou contratuais contempladas pelo termo de
parceria que regulamenta as ações de manuseio dos recursos, não atingindo as
relações sociais desenvolvidas pelos integrantes da rede. Em outras palavras, as
questões interpessoais ainda não são regulamentadas pelos contratos. Assim uma
possível solução para esse conflito interpessoal seja a governança relacional,
entendida pelos membros da Associação como liderança desenvolvida dentro do
grupo.
Conclui-se que a entrevista apontou diversos sinais de governança relacional
na rede interna da ASSCAVAG que busca a prevenção e controle das incertezas,
como por exemplo, as regras criadas a partir das relações de confianças surgidas
entre o grupo ASSCAVAG e os sujeitos 3 e 4. Partindo-se desse enquadre, para
responder à pergunta de pesquisa a partir dessa entrevista, construiu-se o Quadro 4
com a apresentação dos sinais de governança relacional surgidos com seus
respectivos indicadores existentes (indicadores de incerteza ambiental 1.2, 1.3.1,
1.3.2, 1.3.3; indicadores de incerteza comportamental 2.1, 2.2 e 2.4; e indicadores de
governança relacional 3.5.1, 3.2.2, 3.6.1, 3.5.2, 3.6.1 e 3.9.1).
74
Quadro 4 - Indicadores das categorias estudadas presentes na entrevista com sujeito 3 e 4.
Indicadores de Incertezas Ambientais e Comportamentais
Os mecanismos criados ou adaptados
Indicadores de governança
2.2 (sobre o comprometimento dos parceiros) e 2.4 (sobre
o comportamento comercial oportunista
dos parceiros)
2.1 (sobre a ética e a conduta correta
conforme as regras do grupo)
1.3.1 (sobre as mudanças políticas e
sua influência no grupo)
2.1 (sobre a ética e a conduta correta
conforme as regras do grupo)
1.3.1 (sobre as
mudanças políticas); 1.3.2 (sobre possíveis
mudanças comerciais); 1.3.3 (sobre possíveis
mudanças nas leis)
1.2 (sobre a relação com futuras tecnologias)
- sempre buscar apoio quando se
deparavam com determinadas situações ou problemas.
- Atuar como mediadores e orientadores em casos de conflitos.
- realizar uma eleição para eleger uma nova presidente.
- eleger uma pessoa para fiscalizar as condutas dos associados.
- participar de um fórum e discutir ações com representantes de
diferentes setores do município.
- exigir a presença dos representantes do projeto e do
Instituto para decidir sobre certas aquisições.
3.5.1 (existência de regras para eleger pessoas que representam
e gerenciam o grupo)
3.6.1 (existência de algum
controle ou alguma forma de vigilância do comportamento do
outro)
3.5.2 (existência de regras para eleger pessoas que têm
autoridade)
3.6.1 (existência de algum
controle ou alguma forma de vigilância do comportamento do
outro)
3.9.1 (existência de ações/tarefas para apoio financeiro ou de
infraestrutura do governo, do mercado e da sociedade)
3.2.2 (encontros para criação e ajustes de regras)
Fonte: Construído pela autora, 2017.
Sujeito 5
O sujeito 5 é o representante da empresa Beta de materiais recicláveis, que é
um dos compradores de materiais da ASSCAVAG. Essa relação entre a Beta e a
ASSCAVG é antiga, sendo parceiros há mais de 20 anos.
Sobre a relação da Beta com a ASSCAVAG, como começou e como funciona,
o sujeito respondeu que “nossa relação com a ASSCAVAG não tem compromisso
nenhum, sendo que nós somos uma empresa privada que compra o material (papel e
papelão), com uma relação estritamente comercial. A ASSCAVAG só vende para nós
75
se possuirmos um preço bom, senão, vende para outro”. O discurso acima evidencia
uma relação estritamente comercial, na qual a relação social é fraca.
Ainda sobre o relacionamento entre a Associação e a Beta, o sujeito disse que
“a relação entre nós já foi muito boa, hoje o grupo da ASSCAVAG é bastante
interesseiro, eles não são tão parceiros, pensam mais nos ganhos econômicos. O
mercado de reciclável é sazonal, tem época que está fácil de vender papelão, então
eles preferem vender para empresa de fora, da cidade de São Paulo por exemplo.
Tem época que a venda está ruim, aí eles nos procuram”. E sobre as medidas
tomadas para evitar esse problema, o sujeito disse que “temos que estar indo na
ASSCAVAG frequentemente, perguntando se tem material para comprar, ficar
entrando em contato para saber se tem algum problema”. Nesses dois trechos do
discurso do entrevistado, observa-se mais uma vez um relacionamento estritamente
de negócio, em que a relação mais colaborativa de parceria é quase inexistente.
Dentro da perspectiva do discurso desse entrevistado e considerando os
trechos ressaltados, a empresa Beta está na rede com objetivos comerciais,
predominando uma relação comercial, com regras de mercado.
De acordo com a questão de pesquisa, conclui-se que o discurso do
entrevistado não apontou sinais de governança relacional na relação entre a Beta e a
ASSCAVAG tendo em vista serem poucos os fatores sociais presentes no
relacionamento e que a busca da prevenção e do controle das incertezas é baseada
em ações de cunho econômico. Além disso, o trecho do discurso do entrevistado que
diz “nossa relação com a ASSCAVAG não tem compromisso nenhum (...)”, permite
concluir que a relação entre eles é de cunho estritamente comercial, baseadas em
regras de mercado e regras legais.
5.1.3 Resposta ao problema de pesquisa
Neste subitem será apresentada a resposta da pesquisa com base na análise
dos dados coletados, considerando tanto a análise interorganizacional quanto a
intraorganizacional.
Analisando os resultados das fontes primárias e secundárias, considerando as
convergências de conteúdos encontrados, é possível afirmar que a rede
interorganizacional na qual a ASSCAVAG está inclusa apresenta sinais mais fortes da
governança formal e/ou contratual, apresentando conteúdos econômicos, racionais e
76
de políticas públicas explicitamente definidas, ou seja, o relacionamento é baseado
predominante em questões legais sem margem para negociação. A governança
relacional aparece em alguns casos, relatados na análise dos dados, atendo-se à
algumas relações sociais, como convite às reuniões, caracterizando algumas regras
implícitas concomitante com regras formais.
Já na rede intraorganizacional da ASSCAVAG os sinais de governança
relacional são mais presentes, ou seja, as regras criadas e/ou adaptadas pelo grupo
foram definidas por construções sociais do próprio grupo.
A interpretação desse resultado é que a ASSCAVAG tem relações com
compradores que a veem como uma empresa comercial; entretanto é importante
ressaltar que essa Associação possui objetivos e uma identidade com fins sociais,
pelos quais, desenvolve ações coletiva.
Para responder ao problema de pesquisa foi construído o Quadro 5 para
relacionar todos os exemplos de incertezas ambientais e comportamentais
encontradas nessa rede com os respectivos sinais de governança relacional
encontrados que buscaram prevenir a rede dos efeitos dessas incertezas ambientais
e exercer um grau de controle nessas incertezas do comportamento dos atores.
Quadro 5 - Combinação dos indicadores com os sinais de governança relacional presentes em todas as entrevistas realizadas na rede na qual a ASSCAVAG está inserida.
Indicadores de incertezas ambientais e
comportamentais
Os mecanismos criados ou adaptados
Indicadores de governança
1.2 (sobre a relação entre futuras tecnologias)
1.3.1 (sobre as mudanças políticas e sua influência no
grupo)
1.3.2 (sobre possíveis mudanças comerciais e seus
efeitos no grupo)
1.5 (sobre as ações dos movimentos dos
concorrentes e sua influência no grupo)
- exigir a presença dos representantes do projeto e do
Instituto para decidir sobre certas aquisições.
- eleger uma pessoa para fiscalizar as condutas dos
associados.
- os problemas que surgiram que são resolvidos
coletivamente.
- oferecer qualidade de vida aos associados.
3.2.2 (encontros para criação e ajustes de regras)
3.6.1 (existência de algum controle ou alguma forma de
vigilância do comportamento do outro)
3.9.1 (existência de ações para conseguir algum apoio financeiro ou de infraestrutura do governo,
do mercado e da sociedade)
3.7.1 (existência de gratificações, interna ao grupo, para a
permanência dos integrantes do grupo)
77
2.1 (sobre a ética e a conduta correta conforme as
regras do grupo)
2.1 (sobre a ética e a conduta correta conforme as
regras do grupo)
2.2 (sobre o
comprometimento dos parceiros que integram o
grupo)
2.2 (sobre o comprometimento dos
parceiros) e 2.4 (sobre o comportamento comercial oportunista dos parceiros)
2.2 (sobre o comprometimento dos
parceiros)
2.3 (sobre os objetivos
individuais, dos parceiros que integram o grupo,
conflitantes com os coletivos)
2.3 (sobre os objetivos
individuais, dos parceiros que integram o grupo,
conflitantes com os coletivos)
2.4 (sobre o comportamento comercial oportunista dos
parceiros).
2.5 (sobre a intenção dos
parceiros de continuidade no grupo)
2.5 (sobre a intenção dos parceiros em continuar no
grupo)
2.6 (sobre disposição de arcar com os custos
coletivos)
- realizar uma eleição para eleger uma nova presidente.
- atuar como mediadores e orientadores em casos de
conflitos.
- surgimento de um líder para
controlar o comportamento coletivo.
- sempre buscar apoio quando se deparar com determinadas
situações ou problemas.
- contratar professores que
são do grupo, ou tiveram experiência no grupo.
- rotinas de encontros com vários representantes, para
ajustes.
- estar em formato de grupo, com decisões tomadas em
conjunto.
- descumprimento do regimento por alguns
associados. - a distribuição dos lucros por
esquema de produção ao invés de rateio.
- oferecer qualidade de vida
aos associados.
- compartilhamento de autoridade, em rodízio de
funções.
- surgimento de regra pela decisão da maioria, mesmo
alguns discordando.
3.5.2 (existência de regras para eleger pessoas que têm
autoridade)
3.6.1 (existência de algum controle ou alguma forma de
vigilância do comportamento do outro)
3.2.1 (a coordenação e o controle das atividades do grupo se dão
por todos do grupo)
3.5.1 (existência de regras para
eleger pessoas que representam e gerenciam o grupo)
3.7. (incentivos formais/ informais para continuar no grupo)
3.2.2 (rotinas de encontro)
3.2.1 (coordenação do grupo se dá por todos do grupo) e o indicador de governança
relacional 3.2.2 (modo de decisão das regras do grupo)
4.4.2 (existência de casos de falhas quanto ao cumprimento de
algumas regras)
3.6.2 (existência de regras de
controle e de combate aos comportamentos oportunistas).
3.7.1(existência de gratificações,
interna ao grupo, para a permanência dos integrantes do
grupo)
3.2.1 (a coordenação e controle das atividades compartilhadas por
todos) 3.4.1 (a coordenação das
atividades do grupo se dá por uma comissão eleita por todos)
3.4 (existência de uma comissão
que decide)
78
2.7 (sobre ações que possam comprometer a saúde e integridade dos
parceiros)
1.3.1 (sobre as mudanças políticas); 1.3.2 (sobre possíveis mudanças
comerciais); 1.3.3 (sobre possíveis mudanças nas leis)
- aquisição de máquinas e contratação de técnico em
segurança do trabalho.
- participar de um fórum e discutir ações com
representantes de diferentes setores do município.
3.6.1 (existência de algum controle ou alguma forma de
vigilância do comportamento do outro)
3.9.1 (existência de ações/tarefas para apoio financeiro ou de
infraestrutura do governo, do mercado e da sociedade)
Fonte: Construído pela autora em 2017.
A partir dos indicadores que surgiram nas entrevistas realizadas, afirma-se que
na rede interorganizacional da ASSCAVAG a governança relacional é quase
inexistente, com as entrevistas mostrando alguns poucos exemplos, tais como a
seleção de professores para darem aulas aos associados e a participação dos sujeitos
da Gama e do projeto alfa em reuniões na ASSCAVAG. Logo, considerando somente
a rede interorganizacional, o campo para a governança relacional é restrito, o que
predomina são regras externas e/ou contratuais e regras comerciais que previnem e
defendem o grupo de boa parte das incertezas do ambiente e do comportamento.
Com relação à pergunta de pesquisa, na rede interorganizacional não se pode
afirmar que existe claramente uma relação das incertezas ambientais e
comportamentais com a governança relacional. Então, são raros os sinais de
governança relacional que buscam a prevenção e controle das incertezas, pois houve
a dominância da governança contratual e/ou formal.
Já na rede intraorganizacional da ASSCAVAG encontraram-se vários exemplos
de governança relacional que norteiam o relacionamento do grupo. Assim, pode-se
afirmar que na rede intraorganizacional apresenta significativos sinais de governança
relacional nesta rede que busca a prevenção e controle das incertezas e que essas
regras presentes na rede estão resolvendo tanto os problemas surgidos como as
incertezas do ambiente e do comportamento.
Relativo ao problema de pesquisa, pode-se estabelecer uma relação entre as
incertezas ambientais e comportamentais e as ações do grupo que resultaram na
governança relacional, a qual está resolvendo a maioria dos problemas surgidos no
grupo.
Considerando a divisão das análises interorganizacional e intraorganizacional,
afirma-se que a proposição orientadora, sobre a relação entre incertezas e
79
governança relacional, foi sustentada apenas na rede intraorganizacional da
ASSCAVAG.
80
5.2 Rede de Negócios do Shopping Popular de Cuiabá/MT
Neste subitem apresentam-se e analisam-se todos os dados coletados sobre o
negócio do Shopping Popular de Cuiabá, com o intuito de se buscar uma resposta ao
problema de pesquisa. Em seguida, serão apresentados os dados de fontes
secundárias, das entrevistas e resposta ao problema de pesquisa.
5.2.1 Dados de fontes secundárias
A cidade de Cuiabá, município onde fica localizada a rede do Shopping Popular,
teve sua ata de fundação assinada em 08 de abril de 1719 às margens do rio Coxipó,
em uma região chamada de Forquilha. Isso ocorreu devido à descoberta de ouro na
região, fato que desencadeou intensa migração para a região. Passados alguns anos,
surgiram as primeiras construções, como casas, igrejas e estabelecimentos para a
cobrança de impostos. No ano de1727, Cuiabá foi elevada à Vila como o nome de
Vila Real do Senhor Bom Jesus de Cuiabá. No ano de 1748, com a criação da
Capitania de Cuiabá, a coroa portuguesa concedeu privilégios e isenções para quem
quisesse se instalar na região. Portugal financiou várias expedições que partiam de
todo lugar do Brasil, não ultrapassando o Tratado de Tordesilhas. Somente as
bandeiras financiadas pelos paulistas chegaram ao oeste, indo além da linha de
Tordesilhas. Em 1818 Cuiabá foi elevada a cidade e somente em 28 de agosto de
1835 tornou-se a capital da Província de Mato Grosso.
Cuiabá teve sua economia desenvolvida depois da Guerra do Paraguai, sendo
que a economia foi baseada em extrativismo e na cana-de-açúcar. Por volta da
década de 1980 começou uma forte expansão do agronegócio e com isso a cidade
passou a se industrializar e a se modernizar. A cidade teve um considerável
crescimento a partir de 1990, quando o turismo se tornou a fonte de renda da cidade.
Atualmente a cidade de Cuiabá conta com uma área de aproximadamente 3,2
mil quilômetros quadrados, fazendo limite com os municípios de Várzea Grande,
Chapada dos Guimarães, Santo Antônio do Leverger, Campo Verde, Acorizal e
Jangada. De acordo com estimativas de 2014 feitas pelo Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE), a população de Cuiabá é de mais de 575 mil
habitantes. A cidade é considerada o centro geodésico da América do Sul, sendo esse
81
ponto situado na atual Praça Pascoal Moreira Cabral, determinado por Marechal
Cândido Rondon, em 1909.
Hoje a economia da cidade de Cuiabá gira em torno da indústria e do comércio.
O ramo industrial é predominantemente agroindustrial, com instalações no Distrito
Industrial de Cuiabá. O setor do comércio é basicamente varejista com
estabelecimento de eletrodomésticos, de alimentos e de vestuário. No ramo da
agricultura, são cultivados hortifrutigranjeiros e há lavouras de subsistência.
O município de Cuiabá teve considerável avanço no desenvolvimento social
nos últimos anos. Esse resultado é devido às ações conjuntas entre União, Governo
do Estado e a Prefeitura ao colocar em prática ações de desenvolvimento social,
integradas com o desenvolvimento da indústria e comércio. Como exemplo de uma
dessas ações cita-se a parceria da prefeitura de Cuiabá com o Shopping Popular, na
qual a prefeitura fez um contrato de concessão do espaço, em contrapartida, o
Shopping Popular desenvolveu a revitalização e manutenção do local.
Depois de um breve apanhado sobre Cuiabá, cidade onde fica localizada uma
das redes estudadas, seguem as informações da Rede do Shopping Popular de
Cuiabá.
A rede do Shopping Popular de Cuiabá/MT é um conjunto de vendedores
ambulantes que antes estavam dispersos pelas ruas do centro da cidade. A partir da
iniciativa da prefeitura local e das pressões dos lojistas, criou-se um espaço específico
para esses ambulantes, com infraestrutura necessária para o comércio.
Figura 5 – Foto do Shopping Popular
Fonte: Sítio eletrônico do Shopping Popular de Cuiabá, 2017.
82
No passado, principalmente na década de 1990, o comércio informal de Cuiabá
havia se instalado no centro da cidade, como ocorreu em todas as grandes cidades
brasileiras, decorrência dos problemas econômicos. As barracas surgiram em
profusão e a sobrevivência na informalidade foi possível por meio de colaboração
mútua, seja nos produtos, seja na vigilância. As ruas e praças do Centro da cidade de
Cuiabá, porém, não possuíam estrutura para comportar o crescente número de
barracas e isso acabava incomodando os comerciantes legalizados da região. Por
conta desse problema estrutural, em abril de 1995, a prefeitura de Cuiabá organizou
a retirada desses populares do local, alojando-os em um espaço no complexo Dom
Aquino e que posteriormente foi instituído o Shopping Popular de Cuiabá/MT.
Apesar de a prefeitura ter colocado os ambulantes em um novo espaço, esse
local carecia de uma boa infraestrutura, dessa forma os ambulantes se organizaram
para criar uma associação, de modo a legitimar as solicitações de melhores condições
de trabalho. Esse movimento já é evidência de integração do grupo e de formação de
uma governança, por exemplo, no modo como foi estruturada a associação e eleitos
seus representantes. Entre os resultados obtidos destacam-se os incentivos
governamentais, melhoria da estrutura e a criação da Cooperativa de Compras do
Comércio Popular de Mato Grosso (Coocomp/MT) por parte do governo do Estado.
Outra melhoria foi a medida provisória nº 380 que instituiu o Regime de
Tributação Unificada - RTU, regularizando o abastecimento de mercadorias
importadas do Paraguai, fazendo com que se mudasse a imagem dos ambulantes.
Com a legalização da aquisição dos produtos e da cooperativa, os ambulantes
passaram a se abastecer de mercadorias de forma coletiva, com frete e outros custos
compartilhados. Mostravam organização para resolver os problemas coletivos. A
governança, no sentido de organização das pessoas para um trabalho coletivo, está
evidenciada nesses fatos.
Esse caminho de legitimação da atividade possibilitou que muitos ambulantes
saíssem da informalidade, tornando-se empreendedores, tendo suas microempresas
com CNPJ e funcionários registrados. Essas conquistas e essa nova situação de
legalidade tornou o Shopping Popular referência no segmento de comércio popular,
tornando-se um dos pontos mais movimentados e atraentes para os consumidores na
cidade de Cuiabá-MT.
A última conquista relevante do grupo foi a legitimação do local onde se
encontram o shopping, o que se concretizou a partir de um contrato, assinado entre a
83
prefeitura e a Associação do Shopping Popular, de Concessão do espaço (dez mil
metros quadrados de área) no qual o Shopping está localizado, por um período de
trinta anos, com cláusulas de sustentabilidade e qualidade de vida, com obrigações
de revitalização e manutenção do local por parte do Shopping.
Na atualidade, o Shopping Popular, regido pela sua associação, constitui-se de
500 bancas dos mais variados produtos, com maior concentração em produtos do
varejo e eletrônicos, atraindo público de todas as classes de Cuiabá/MT e região.
O mapa, gerado pelo software Ucinet, retrata o perceptual das relações
desenvolvidas entre os atores da rede do Shopping Popular. Conforme se verifica, a
rede tem baixa densidade, isto é, alguns atores têm apenas uma ligação. A rede de
primeiro nível, isto é, das organizações diretamente implicadas na tarefa, é mostrada
na Figura 6.
Figura 6 - Mapa das relações da Rede do Shopping Popular, conforme respostas dos entrevistados.
Fonte: Construído pela autora, 2017.
Outro dado de fonte secundária é o Regimento Interno da Associação dos
Camelôs do Shopping Popular de Cuiabá/MT que visa à organização, à disciplina e
ao atendimento dos interesses dos associados. Mesmo sendo um documento formal
de regulamentação interna, algumas de suas normas foram construídas e/ou
adaptadas socialmente pelos associados; como por exemplo, “Todos os corredores
84
devem ser respeitados, de forma que é terminantemente proibida a disposição de
qualquer mercadora nos corredores” (página 7, art. 39) e também “Não será permitida
a utilização do estacionamento da sede da Associação pelos associados (...), salvo a
tolerância de 20 minutos e o não cumprimento sujeitará em multa” (página 7, art. 41)3.
Essas regras foram criadas, aprovadas e regulamentadas em assembleia, pois à
medida que os problemas surgiram, os motivos que levaram a esses problemas foram
regulamentados a fim de diminuírem os problemas da rede.
Como conclusão deste subitem afirma-se que a categoria governança
relacional está presente no desenvolvimento da rede, visto que a história do Shopping
Popular mostra uma construção gradual desse grupo, no qual se caracteriza como um
campo propício para criação e/ou adaptação de regras que atendessem a realidade
dessa rede. Os dados revelam que o grupo estabeleceu essas regras conforme a
necessidade de se defenderem das incertezas ambientais, ou seja, fatores
imprevisíveis que podem acontecer tanto no ambiente das organizações e no espaço
do shopping; e exercer algum controle nas incertezas comportamentais, ou seja,
imprevistos relacionados ao comportamento dos atores da rede.
5.2.2 Dados de fontes primárias – entrevistas
Sujeito 1
O sujeito 1 pertence ao setor administrativo do Shopping Popular e possui o
cargo de assessor de comunicações, sendo que está nesse grupo cerca de 3 anos.
Sobre a estrutura do shopping popular e como ele funciona, o sujeito disse que
“quando o shopping popular foi para a região do Dom Aquino surgiram muitos
problemas de como seria organizado e desenvolvido o negócio, assim houve a
necessidade de se montar uma associação responsável por dar voz a esse grupo de
camelôs. (...) sendo que essa associação é a responsável por coordenar e organizar
as decisões tomadas aqui no shopping (...)”. O discurso retrata uma incerteza de
cunho comercial, remetendo ao indicador de incerteza ambiental 1.3.2 (mudanças
comerciais e seus efeitos no grupo), sendo que essa incerteza deu causa à criação
3 REGIMENTO INTERNO DA ASSOCIAÇÃO DOS CAMELÔS DO SHOPPING POPULAR DE CUIABÁ/MT - Documento de funcionamento da organização, não disponível ao público.
85
de uma comissão para coordenar o grupo, o que retrata o indicado de governança
relacional 3.4.1 (coordenação das atividades se dá por uma comissão).
Sobre como se organizam para resolver os problemas que surgem, o sujeito
respondeu que “(...) tudo aqui é decidido em grupo. Fazemos poucas reuniões, a
maioria das vezes nós fazemos assembleia quando as decisões afetam os lojistas”.
Nesse trecho, percebe-se a existência de sinais de governança relacional quando o
entrevistado menciona que tudo é decidido em grupo, o que leva ao indicador de
governança relacional 3.2.1 (coordenação do grupo se dá por todos do grupo), na qual
essa regra foi criada a partir de imprevisibilidades quanto aos objetivos dos atores,
que se traduz no indicador 2.3 (objetivos individuais dos parceiros conflitantes com os
coletivos). Desse modo, como decisões tomadas pelo grupo através de assembleias,
a associação faz com que as posições coletivas prevaleçam sobre as individuais.
Sobre problemas que o Shopping Popular enfrenta, o sujeito disse que “o maior
problema que enfrentamos aqui é quanto à informalidade dos lojistas, como
problemas com a receita federal, polícia federal, prefeitura e outros órgãos de controle.
(...) são problemas com contrabando e apreensão de mercadoria”. Perguntado sobre
as medidas tomadas para resolver esse problema, o sujeito disse que “(...) hoje existe,
por parte da associação uma política de conscientização dos associados por meio de
palestras, a fim de se eximir de futuras responsabilizações, pois ainda existem alguns
camelôs que não passam nota ou algo para registro de mercadoria”. Verifica-se que
o grupo enfrenta problemas com a regularização das atividades dos lojistas, levando
a associação realizarem ações para minimizarem essa informalidade. O discurso
remete ao indicador de incerteza comportamental 2.1 (sobre a ética e a conduta
correta conforme as regras do grupo) e ao indicador de governança relacional 3.8.2
(regras e/ou ações para conseguir legalização).
Sobre regras de controle do comportamento das pessoas, o sujeito disse que
“(...) o associado tem liberdade em seu trabalho, porém existe um controle indireto, ou
uma busca pelo controle do comportamento por meio de informativos para a
conscientização a maneira correta de atendimento ao público que ocasiona em mais
clientes e mais lucros”. O trecho retrata uma incerteza quanto ao empenho dos lojistas
em conquistar a clientela remetendo ao indicador de incerteza comportamental 2.2
(comprometimento dos parceiros do grupo) que leva ao indicador de governança
relacional 3.8.1 (regras e/ou ações para reconhecimento do governo, do mercado e
da sociedade).
86
Sobre dúvidas e incertezas que enfrentam com os concorrentes de fora do
shopping, o sujeito disse que “(...) não nos preocupamos com esses concorrentes,
pois o forte do shopping é saber que o cliente vai sair daqui com o produto que veio
buscar. (...) Existe também parcerias entre os lojistas para satisfazer à necessidade
do cliente, em que foi acordado informalmente entre os lojistas passar a venda para
outro lojista quando não estiver o produto para que o cliente saia daqui satisfeito e
consciente de que vindo ao shopping sempre vai encontrar o que procura”. Percebe-
se no trecho do discurso que os lojistas do Shopping Popular tomam diversas medidas
para se defenderem da incerteza ambiental relacionados ao cliente, o que remete ao
indicador 1.6 (desejos, demanda, necessidades e comportamento dos consumidores
e sua influência no grupo), sendo que uma dessas medidas é estabelecer acordos
informais de indicação de outros boxes para atender à necessidade dos clientes,
evidenciando um grupo que definirem regras para beneficiar a rede de uma formar
geral, indo além dos objetivos individuais de cada lojista, que retrata o indicador de
governança relacional 3.2.1 (coordenação do grupo se dá por todos do grupo).
Sobre dúvidas e incertezas relacionadas às leis, aos impostos e a outras ações
políticas e legais, o sujeito disse que “existem situações que exigem leis específicas,
aí usamos a força do nosso grupo para atender nossas necessidades inclusive com o
presidente da associação que conseguiu se eleger vereador”. Perguntado sobre as
medidas tomadas para resolver esse problema, o sujeito deu o seguinte exemplo: “nos
boxes de ótica era exigido um técnico por loja, então foi criada uma lei com a ajuda
do presidente da associação que estipulava apenas um técnico para o shopping que
atendesse todos os boxes de ótica, diminuindo assim, os gastos do grupo”. Por essa
fala, é possível entender que o grupo detém uma força política, pela qual prevaleceu
o interesse do grupo diante de uma regra que já estava formalizada. Assim pode-se
afirmar que esse trecho é um exemplo de governança relacional na rede, na qual o
grupo adapta uma regra que já está formalizada à realidade e aos interesses do grupo.
Sobre dúvidas e incertezas relacionadas à ética das pessoas mais próximas
envolvidas com o Shopping Popular, o sujeito disse que “para evitar algum problema
que possa ocorrer com a ética dos integrantes do grupo, nós trabalhamos com os
lojistas a importância dessa parceria. O que a associação faz é conscientizar todos os
lojistas por meio da execução ações para apoiar e incentivar tanto os órgãos
envolvidos com o shopping como os associados”. O discurso acima evidencia a
existência de incerteza quanto ao comportamento dos associados, o que remete ao
87
indicador 2.1 (sobre a ética e a conduta correta conforme as regras do grupo), o que
acarreta a criação de regras informais para desenvolver ações que ressaltam a
importância de estar como parceiros em um grupo, retratando o indicador de
governança relacional 3.7.1 (gratificações, internas ao grupo, para a permanência dos
integrantes do grupo), pois as ações desenvolvidas pela associação se traduzem em
incentivos informais para a permanência dos lojistas no grupo.
Sobre a criação das regras, como são seguidas nesse grupo e para que elas
servem, o sujeito disse que “foram criados o estatuto e o regimento interno, sendo que
esse regimento foi criado de acordo com as necessidades do grupo que foram
surgindo, (...) tanto os associados como os membros da administração da associação
levam demandas para serem votadas na assembleia e assim vai se aprimorando o
estatuto e o regimento interno”. Um exemplo de regra que foi criada pela necessidade
do grupo é a vedação à comercialização de cigarros e de uísque que nasceu do
problema de os consumidores detectarem a falsificação e voltarem ao shopping para
reclamar. Esse fato remete ao indicador de incerteza ambiental 1.6 (desejos,
demanda, necessidades e comportamento dos consumidores e sua influência no
grupo) que leva ao indicador de governança relacional 3.6.1 (algum controle ou
vigilância do comportamento do outro) pelo fato de existir uma pessoa observando os
lojistas a seguirem as regras que foram acordadas em assembleia.
Sobre a existência de regras para controlar o comportamento das pessoas,
como, por exemplo, relatório de atividades, o sujeito disse que “essa questão é meio
livre, mas que existe uma fiscalização quanto às ações dos associados, como, por
exemplo, o fiscal eleito pelos próprios associados para verificar se têm lojistas
estacionando nas vagas internas reservadas apenas para clientes. Essa foi uma regra
estabelecida em assembleia que proíbe ao associado estacionar no estacionamento
interno do shopping com intuito de disponibilizar mais vagas aos consumidores”. Este
exemplo retrata o indicador de governança relacional 3.6.1 (algum controle ou
vigilância do comportamento do outro) por conta da presença da incerteza de
comportamento dos lojistas que remete ao indicador 2.1 (sobre a ética e a conduta
correta conforme as regras do grupo).
Sobre a existência de regras de incentivos, o sujeito disse que “ainda não existe
um incentivo oferecido especificamente a um ou outro lojista, o que ocorre aqui no
shopping é um incentivo à melhoria do atendimento aos clientes. Tentamos organizar
os lojistas para que atendam conforme as normas e as leis, dando cursos e palestras
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de orientação. Essas ações não fazem com que o lojista ganhe diretamente, mas
aumenta o lucro”. Esse exemplo remete ao indicador de governança relacional 3.7.1
(existência de gratificações, interna ao grupo, para a permanência dos integrantes do
grupo) pelo fato de a associação oferecer essas orientações como bônus o que faz
com que, indiretamente, os lojistas queiram permanecer no grupo por conta do
aumento dos clientes. Isso se deve à presença do indicador de incerteza ambiental
1.6 (desejos, demanda, necessidades e comportamento dos consumidores e sua
influência no grupo).
Sobre planos e metas do reconhecimento junto à sociedade, o sujeito disse que
“existem ações sociais que o shopping realiza e que atende algumas instituições,
buscando assim retribuir de certa forma os ganhos e lucros que adquirem com os
clientes. Como por exemplo, fazer campanhas dentro do shopping em parceria com o
Departamento Estadual de Trânsito de Mato Grosso (DETRAN/MT) e o Secretaria
Municipal de Trânsito e Transportes (SMTU) distribuindo cartilhas de trânsito seguro
e direção defensiva”. Para as incertezas relacionadas aos consumidores, que remete
ao indicador 1.6 (desejos, demanda, necessidades e comportamento dos
consumidores e sua influência no grupo), foi criada uma regra implícita de fornecer
informações orientando os consumidores sobre temas importantes, fato que aponta o
indicador de governança relacional 3.8.1 (regras e/ou ações para reconhecimento do
governo, do mercado e da sociedade).
Sobre os objetivos e problemas a serem enfrentados, se existe um
comprometimento por parte dos lojistas, o sujeito afirmou que “as ações
desenvolvidas pela associação conscientizam os lojistas, fazendo com que se tornem
comprometidos, por exemplo, todos se importam com o bom atendimento ao cliente,
pois caso ocorra algo de errado mancha o nome de todo o shopping. Todos nós aqui
temos a obrigação de sermos comprometidos com o shopping e a associação é como
uma mediadora dos conflitos que ocorrem aqui dentro do grupo”. Por essa fala é
possível afirmar que a associação desenvolve programas com intuito de despertar o
comprometimento dos associados para com o grupo e assim tentar minimizar a
incerteza quanto ao comprometimento dos lojistas. Assim, o exemplo retrata o
indicador de incerteza comportamental 2.2 (sobre o comprometimento dos parceiros
do grupo) que leva ao indicador de governança relacional 3.7.1 (existência de
gratificações, interna ao grupo, para a permanência dos integrantes do grupo).
89
Com a análise da entrevista, sobre as relações entre as incertezas ambientais
e comportamentais com a governança pode-se afirmar que há uma predominância
das regras relacionais na rede intraorganizacional do Shopping Popular e que elas
estão resolvendo a maioria dos problemas relativos ao comportamento dos
associados, enquanto que as questões relativas às incertezas ambientais estão em
sua maioria previstas nas regras formalizadas no estatuto ou no regimento interno da
associação.
Pode-se inferir, ainda, de acordo com o discurso do entrevistado, que os
ganhos que os lojistas adquirem por estar nesse grupo são muitos, o que facilita a
consciência coletiva e o comprometimento com a rede intraorganizacional do
Shopping Popular. Isso caracteriza um campo propício para a criação e/ou adaptação
de regras conforme a necessidade do grupo.
Conclui-se, então, que a entrevista apontou sinais de governança relacional na
rede interna do Shopping Popular, os quais buscam a prevenção e controle das
incertezas comportamentais, como, por exemplo, as regras criadas a partir de
ocorrências surgidas com os clientes que resultaram em problemas para a Associação
do Shopping. Partindo-se desse enquadre, para responder à pergunta de pesquisa,
construiu-se o Quadro 6 com a apresentação dos sinais de governança relacional
surgidos com seus respectivos indicadores existentes (indicadores de incerteza
ambiental 1.3.2 e 1.6; indicadores de incerteza comportamental 2.1, 2.2 e 2.3;
indicadores de governança relacional 3.2.1, 3.4.1, 3.6.1, 3.7.1, 3.8.1 e 3.8.2).
Quadro 6 - Indicadores das categorias estudadas presentes na entrevista com sujeito 1 da rede na qual o Shopping Popular está inserido.
Indicadores de incertezas ambientais e comportamentais
Os mecanismos criados, ou adaptados
Indicadores de governança
1.6 (desejos, demanda, necessidades e comportamento
dos consumidores e sua influência no grupo)
1.6 (desejos, demanda,
necessidades e comportamento dos consumidores e sua influência
no grupo)
1.6 (desejos, demanda, necessidades e comportamento
dos consumidores e sua influência no grupo)
- ações sociais direcionadas aos clientes
do shopping.
- preocupação do shopping em atender às
necessidades dos clientes.
- necessidade do grupo em regulamentar venda de cigarros e bebidas.
3.8.1 (regras e/ou ações para reconhecimento do governo, do
mercado e da sociedade)
3.2.1 (coordenação do grupo se dá por todos do grupo)
3.6.1 (algum controle ou vigilância do comportamento do outro)
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1.6 (desejos, demanda, necessidades e comportamento
dos consumidores e sua influência no grupo)
2.1 (a ética e a conduta correta conforme as regras do grupo)
2.1 (a ética e a conduta correta conforme as regras do grupo)
2.1 (a ética e a conduta correta conforme as regras do grupo)
2.2 (o comprometimento dos parceiros do grupo)
2.2 (comprometimento dos parceiros do grupo)
1.3.2 (mudanças comerciais e seus efeitos no grupo)
2.3 (objetivos individuais dos parceiros conflitantes com os
coletivos)
- incentivo à melhoria do atendimento aos clientes.
- fiscalização da conduta dos associados.
- política de
conscientização quanto à informalidade dos lojistas.
- ações para apoiar e incentivar a parceria.
- ações de conscientização para o
comprometimento ao bom atendimento ao cliente.
- distribuição de informativos para regular a o comportamento dos
lojistas.
- criação de uma associação para
representar o grupo.
- realização de assembleias para a tomada de decisão.
3.7.1 (existência de gratificações, interna ao grupo, para a
permanência dos integrantes do grupo)
3.61. (algum controle ou vigilância do comportamento do
outro)
3.8.2 (regras e/ou ações para conseguir legalização)
3.7.1 (existência de gratificações,
interna ao grupo, para a permanência dos integrantes do
grupo)
3.7.1 (existência de gratificações, interna ao grupo, para a
permanência dos integrantes do grupo)
3.8.1 (regras e/ou ações para reconhecimento do governo, do
mercado e da sociedade)
3.4.1 (a coordenação se dá por uma comissão eleita por todos)
3.2.1 (coordenação do grupo se dá por todos do grupo)
Fonte: Construído pela autora, 2017.
Sujeito 2
O sujeito 2 é uma lojista do Shopping Popular e está nesse grupo há mais de
15 anos.
Sobre como funciona o grupo Shopping Popular, a entrevistada disse que “o
grupo do Shopping Popular é representado por uma associação, na qual todos os
lojistas participam das decisões que são tomadas, (...) e isso foi uma regra decidida
na assembleia”. Esse trecho demonstra como são tomadas as regras de decisões do
grupo, ou seja, com se decide qualquer assunto no grupo. Conforme o discurso, o
grupo do shopping considera o posicionamento e os objetivos predominantes entre a
maioria, no qual tenta minimizar os possíveis conflitos por conta da divergência entre
91
os objetivos individuais e coletivos. Logo, o indicador de incerteza comportamental
retratado é o 2.3 (os objetivos individuais, dos parceiros que integram o grupo,
conflitantes com os coletivos). O discurso evidencia uma regra que foi estabelecida
pelo próprio grupo, o que remete ao indicador de governança relacional 3.2.1
(coordenação do grupo se dá por todos do grupo), tendo em vista todos os lojistas
terem a oportunidade de participarem das decisões do grupo.
Sobre as dúvidas, as incertezas e os problemas que os lojistas enfrentam nesse
negócio, o sujeito respondeu que “no momento a incerteza que estamos enfrentando
é a crise econômica pela qual o país está passando, com greves, que afeta
diretamente o poder de compra dos clientes, fazendo com que diminuam as vendas”.
Perguntado sobre as medidas tomadas para resolver esse problema, o sujeito
respondeu que “não tem nada estipulado, mas para diminuir esse problema
relacionado à crise do país, combinamos para fazermos liquidação ou promoções de
alguns produtos e divulgamos para atrair mais clientes para o shopping”. O fato de a
crise econômica estar afetando as vendas demonstra um problema do grupo com uma
incerteza ambiental retratada pelo indicador 1.1 (a relação entre o crescimento
econômico da região e sua influência no grupo), que por sua vez leva ao indicador de
governança relacional 3.8.1 (regras e/ou ações para reconhecimento do governo, do
mercado e da sociedade), pelo fato de o grupo desenvolver ações para atraírem os
clientes, o que acaba por conseguir também o reconhecimento tanto da sociedade,
como do mercado.
Sobre a existência de regras de controle do comportamento dos lojistas, o
sujeito disse que “existem regras dispostas no regimento interno, que foram criadas
por todos do grupo do shopping popular, para controlar certos comportamentos, como,
por exemplo, o controle de armazenamento de caixas e produtos nos corredores, o
controle da presença dos associados nas assembleias por meio das atas assinadas
(...) e também caso algum lojista não cumpra as normas dispostas no estatuto existe
penalidade expressa de advertência”. Esse exemplo demonstra ações para tentar
controlar incertezas advindas do comportamento dos lojistas, o que leva ao indicador
2.1 (sobre a ética e a conduta correta conforme as regras do grupo). As ações e regras
estabelecidas nos documentos formalizados retrata o indicador de governança
relacional 3.6.1 (algum controle ou vigilância do comportamento do outro), pois são
regras que compõem o sistema de controle e sanções do grupo.
92
Sobre as vantagens e desvantagens de estar nesse grupo, o sujeito afirma que
“com certeza dentro do shopping os ganhos econômicos são maiores pelo fato de
estar concentrada uma diversidade de produtos num só local, despertando a vontade
dos clientes em comprar, (...) e que tem vários casos de lojistas que saíram do grupo,
mas voltaram pelo fato de a venda ser bem maior no shopping. Aqui as vantagens são
muitas, (...), por exemplo: a associação estabeleceu o rateio de todas as despesas do
Shopping Popular entre os lojistas que compõe o grupo, caso que não ocorreria se
tivéssemos uma loja no centro fora deste grupo. (...) e também aqui dentro do
shopping a clientela é bem maior, pois existe uma fidelidade dos clientes em sempre
procurar o shopping caso precise de algo. (...) As vantagens vão além do motivo
econômico”. Analisando-se esse trecho da entrevista, pode-se observar uma
preocupação com as incertezas do ambiente de mercado fora do grupo, tanto com
relação às despesas quanto com relação aos clientes. Logo, esse ponto do discurso
remete ao indicador de incerteza ambiental 1.3.2 (sobre possíveis mudanças
comerciais), e que leva ao indicador de governança relacional 3.4.1 (coordenação das
atividades se dá por uma comissão), tendo em vista o grupo ter uma associação que
estabelece algumas regras para proteger o grupo das incertezas do mercado.
Sobre a existência no grupo de ajuda, caso surjam alguns imprevistos, como
custos extras ou ajuda emergencial para alguém do grupo, o sujeito respondeu que “o
pessoal aqui é muito solidário aos problemas do próximo, auxiliando todos na medida
do possível, que já se tornou uma regra implícita de quando alguém precisar de ajuda
financeira por alguma necessidade se faz uma espécie de cota para arrecadar
dinheiro”. Veja-se, pois, nesse ponto existe uma regra moral que força os integrantes
do grupo a contribuir com alguém que esteja precisando, sendo que essa regra foi
imposta informalmente pelo grupo para combater os imprevistos que acometem os
integrantes do grupo e que acaba por controlar o comportamento do pessoal do
shopping. Fato esse que remete ao indicador de incerteza comportamental 2.6 (sobre
disposição de arcar com os custos coletivos), que leva ao indicador de governança
relacional 3.6.1 (algum controle ou vigilância do comportamento do outro), sendo esse
controle representado por uma regra informal e/ou implícita.
A partir de diferentes trechos do discurso do entrevistado, pode-se afirmar que
os ganhos e os benefícios que os lojistas possuem por fazer parte do Shopping
Popular são diversos, fazendo com que fortaleça o comprometimento entre os
integrantes do grupo para que o shopping se desenvolva cada vez mais.
93
É possível afirmar também que, no Shopping Popular há predominância da
governança relacional na rede interna do grupo, tendo em vista ser um grupo que
começou sem nenhum suporte e que agora conta com uma associação que
regulamentou as relações do Shopping Popular por meio da criação e/ou adaptação
de diversas regras conforme os acontecimentos e as necessidades do grupo.
No que se refere às relações entre as incertezas ambientais e comportamentais
com a governança relacional, pode-se afirmar que as regras presentes no grupo estão
resolvendo a maioria dos problemas relativos ao comportamento dos associados com
base no seguinte trecho da entrevista: perguntado se as regras estão resolvendo as
dúvidas, os problemas e as incertezas do comportamento das pessoas, ou tem
acontecido do grupo ser surpreendido por comportamentos não previstos, o sujeito
disse: “as regras estão resolvendo, pelo fato de a maioria dessas regras terem sido
decididas de forma democrática por todos nós lojistas nas assembleias e conforme os
fatos que iam acontecendo aqui no grupo”. Já os possíveis imprevistos relacionados
às incertezas ambientais estão em sua maioria previstos nas regras formalizadas no
estatuto, ou no regimento interno da associação.
Conclui-se, então que a entrevista com o sujeito 2 evidenciou diversos sinais
de governança relacional na rede intraorganizacional do Shopping Popular, que
buscam a prevenção e controle das incertezas, como, por exemplo as regras criadas
para controlar o armazenamento de caixas e produtos nos corredores tendo em vista
estar atrapalhando a circulação dos clientes. Partindo-se desse enquadre, para
responder à pergunta de pesquisa, construiu-se o Quadro 7 com a apresentação dos
sinais de governança relacional surgidos, com seus respectivos indicadores existentes
(indicadores de incerteza ambiental 1.1 e 1.3.2; indicadores de incerteza
comportamental 2.1, 2.3 e 2.6; indicadores de governança relacional 3.8.1, 3.4.1, 3.6.1
e 3.2.1).
94
Quadro 7 - Indicadores das categorias estudadas presentes na entrevista com sujeito 2 da rede na qual o Shopping Popular está inserido.
Indicadores de Incertezas Ambientais e
Comportamentais
Os mecanismos criados ou adaptados
Indicadores de governança
1.1 (a relação entre o crescimento econômico
da região e sua influência no grupo)
1.3.2 (sobre possíveis mudanças comerciais)
2.1 (sobre a ética e a
conduta correta conforme as regras do
grupo)
2.3 (os objetivos individuais, dos
parceiros que integram o grupo, conflitantes
com os coletivos)
2.6 (sobre disposição de arcar com os custos
coletivos)
- ações que o grupo desenvolve para
minimizarem os efeitos da crise econômica do país.
- a associação do shopping estabelece regras para se proteger
das incertezas do mercado.
- regras de controle do comportamento dos integrantes do
grupo.
- todos os integrantes do grupo participam das decisões nas
assembleias.
- cota para arrecadar dinheiro para ajudar algum necessitado do grupo.
3.8.1 (regras e/ou ações para reconhecimento do governo, do
mercado e da sociedade)
3.4.1 (coordenação das
atividades se dá por uma comissão)
3.6.1 (existência de algum controle ou alguma forma de
vigilância do comportamento do outro)
3.2.1 (coordenação do grupo se dá por todos do grupo
3.6.1 (existência de algum controle ou alguma forma de
vigilância do comportamento do outro)
Fonte: Construído pela autora, 2017.
Sujeito 3
O sujeito 3 é um lojista do Shopping Popular, estando nesse grupo desde que
se tornou Shopping Popular. Atualmente compõe a administração, com o cargo de
secretário de esporte do shopping.
Sobre a criação das regras que são seguidas pelo grupo, o sujeito disse que “o
shopping teve suporte jurídico para estabelecer algumas regras, mas a maioria das
regras foi criada pelos associados de acordo com os problemas que iam surgindo e
sendo submetida para aprovação na assembleia”. Perguntado sobre exemplos de
casos que exigiram criar uma norma devido a algum problema surgido o sujeito deu o
seguinte exemplo: “já ocorreram problemas relacionados a consertos de celulares, em
que o consumidor voltava para reclamar, (...) então foi acordado entre os lojistas que
atuam na área de eletrônicos a oferecer uma certa garantia para o conserto e, assim,
95
conquistar mais clientes aqui para o shopping”. Por essa fala, percebe-se a
preocupação dos lojistas com a insatisfação dos clientes quanto aos serviços
prestados no shopping, o que pode ocasionar uma diminuição da venda. Por conta
disso, criaram uma regra informal de oferecer uma espécie de garantia aos clientes
como forma de dar mais segurança aos clientes. Portanto, esse ponto do discurso
remete ao indicador de incerteza ambiental 1.6 (desejos, demanda, necessidades e
comportamento dos consumidores e sua influência no grupo) e ao indicador de
governança relacional 3.2.1 (coordenação e o controle das atividades se dá por todos
do grupo), mesmo sendo apenas os lojistas do ramo de celulares que acordaram essa
regra informal.
Sobre a disposição dos lojistas em aceitar as regras, o sujeito disse que “existe
uma regra no estatuto que estabelece que todos tivessem que seguir as regras do
shopping, caso contrário, não continua aqui”. Perguntado sobre como foi a criação
dessa regra, o sujeito respondeu que “foi uma regra pronta, colocada pela associação
do shopping, que foi para assembleia e que foi aprovada pela maioria”. Esse trecho
remete ao indicador de incerteza comportamental 2.1 (sobre a ética e a conduta
correta conforme as regras do grupo) e ao indicador de governança relacional 3.4.1
(a coordenação das atividades se dá por uma comissão eleita por todos); por conta
da preocupação da associação do shopping com a conduta dos lojistas conforme as
regras do grupo.
Sobre as dúvidas, as incertezas e os problemas que os lojistas enfrentam nesse
negócio e como se organizam para resolver, o sujeito respondeu que “no momento
nós enfrentamos problemas econômicos, aí nos organizamos para fazer alguma
promoção ou outros meios que atraiam os clientes e sempre procuramos ajudar uns
aos outros com as vendas”. Esse trecho demonstra claramente uma incerteza quanto
ao comportamento dos clientes em relação à demanda incerta e irregular e também
quanto às mudanças econômicas, o que leva ao indicador de incerteza ambiental 1.6
(desejos, demanda, necessidades e comportamento dos consumidores e sua
influência no grupo), sendo que essa incerteza leva o grupo a desenvolver ações que
atraiam os clientes, remetendo ao indicador de governança relacional 3.8.1 (existência
de regras e/ou ações para conseguir reconhecimento do governo, do mercado e da
sociedade).
Sobre a existência de ajuda, caso surjam alguns imprevistos, como custos
extras ou ajuda emergencial para alguém do grupo, o sujeito respondeu que “não
96
existe nada formal, mas sempre que alguém do grupo necessita de alguma coisa
todos aqui contribuímos no que puder”. Comentário já levantado no discurso do sujeito
2, retrata uma regra moral presente significativamente no grupo do Shopping Popular,
estabelecida informalmente pelo grupo e que acaba por controlar o comportamento
do pessoal do shopping. O fato remete ao indicador de incerteza comportamental 2.6
(sobre disposição de arcar com os custos coletivos), que leva ao indicador de
governança relacional 3.6.1 (algum controle ou vigilância do comportamento do outro),
sendo esse controle representado por uma regra informal e/ou implícita.
Sobre a ocorrência de um possível fato, tanto ambiental como comportamental,
que não esteja regulamentado no estatuto, o sujeito disse que “é difícil acontecer, pois
não temos tantos problemas como no início da criação do grupo, mas se ocorrer algo
assim, levamos a ocorrência para as assembleias e decidimos qual a medida a ser
tomada”. Veja-se, pois, que a maior parte das incertezas que o grupo enfrenta é
resolvida coletivamente nas assembleias. Tal fato evidencia um controle social
presente no grupo que remete aos indicadores de governança relacional 3.2.1
(coordenação e o controle das atividades do grupo se dá por todos do grupo) e 3.2.2
(existe uma rotina de encontro para criação e ajustes das regras do grupo), podendo
ser decorrente de incertezas comportamentais retratadas pelo indicador 2.1 (sobre a
ética e a conduta correta conforme as regras do grupo) como de incertezas
ambientais, retratadas pelo indicador 1.3.1 (incertezas sobre as mudanças políticas e
sua influência no grupo), pois, em muitas ações os governantes tanto da prefeitura
como do governo do Estado são parceiros, o que gera certa incerteza sobre suas
futuras ações.
Sobre a existência de planos e regras para reconhecimento do grupo junto ao
governo e à sociedade, o sujeito disse que “o grupo, por meio da associação, sempre
procura desenvolver parcerias, para trazer vantagens e benefícios para o grupo. E
que recentemente, com a ajuda dos lojistas e das famílias envolvidas, o presidente da
associação foi eleito vereador do município para representar e trazer benefícios ao
shopping”. Analisando-se esse trecho da entrevista, pode-se observar uma
preocupação com as incertezas a respeito de mudanças no ambiente comercial do
shopping que remete ao indicador de incerteza ambiental 1.3.2 (sobre possíveis
mudanças comerciais e seus efeitos no grupo) e 1.3.3 (sobre possíveis mudanças nas
leis que possam afetar o grupo). O fato de o grupo trabalhar para eleger um
representante político retrata o indicador de governança relacional 3.9.1 (existência
97
de ações/tarefas para conseguir algum apoio financeiro ou de infraestrutura do
governo, do mercado e da sociedade).
Sobre a disposição em fazer sacrifícios pessoais para o bem dos resultados do
grupo, o sujeito disse que “não tem nada regulamentado sobre isso no nosso estatuto,
mas não adianta um ir bem e outros irem mal, é importante todos saírem bem no
trabalho. (...) Então, como o objetivo é atrair pessoas para esse espaço, nós aqui do
grupo temos um costume de um lojista ajudar o outro indicando um produto de um
outro lojista para o grupo crescer e que talvez seja essa a causa desse grupo dar
certo”. Por essa fala, pode-se afirmar que esse costume seguido pelos lojistas
demonstra uma regra implícita criada pelo grupo que retrata o indicador de
governança relacional 3.2.1 (coordenação e o controle das atividades do grupo se dá
por todos do grupo), por conta da incerteza sobre os consumidores que remete ao
indicador de incerteza ambiental 1.6 (desejos, demanda, necessidades e
comportamento dos consumidores e sua influência no grupo).
Sobre a existência de regras do controle de comportamento dos lojistas o
sujeito disse que “foi decidido em assembleia a escolha de alguns seguranças que
percorrem todo o Shopping Popular que fiscalizam o local para controlar alguns
comportamentos, como, por exemplo, som alto ou outro tipo de barulho, se tem lojistas
estacionando no estacionamento reservado para clientes e se tem materiais nos
corredores. (...) E consta no regimento interno daqui da associação que se ocorrer
algumas dessas ações, a pessoa primeiro é penalizada verbalmente e, se voltar a
ocorrer o mesmo problema, ela é penalizada com multa”. Analisando-se esse ponto
do discurso, afirma-se a intenção da associação do shopping de desenvolver ações
com intuito de controlar incertezas relacionadas ao comportamento dos lojistas, que
pode ser retratada pelo indicador 2.1 (sobre a ética e a conduta correta conforme as
regras do grupo). As normas e/ou ações estipuladas nos documentos formalizados
remete ao indicador de governança relacional 3.6.1 (algum controle ou vigilância do
comportamento do outro), tendo em vista serem regras que compõem o sistema de
controle e sanções do grupo.
O discurso geral desse entrevistado é que as regras estão resolvendo a maioria
dos problemas contemporâneos e que essas regras foram construídas ponto a ponto,
conforme os problemas foram aparecendo. Esses problemas são predominantemente
comportamentais dos lojistas do shopping. Foram construídas essas regras para
resolver os comportamentos inadequados do passado. Lançando um olhar histórico,
98
antes havia muitos problemas e hoje as regras resolveram boa parte deles. Por
exemplo, no trecho da entrevista em que o sujeito diz que “é difícil acontecer fato que
não esteja regulamentado nos documentos do shopping”, pode-se afirmar que as
regras presentes no grupo estão resolvendo boa parte dos problemas enfrentados
pelo grupo, tanto relacionados ao comportamento dos atores, como em relação às
incertezas ambientais.
Com essa entrevista, pode-se afirmar que o grupo do Shopping Popular
desenvolve regras colaborativas e de parcerias para o fortalecimento do grupo, tendo
em vista as vantagens e ganhos econômicos que os atores internos podem ter dentro
do shopping e com o sucesso do mesmo. Como exemplo, cita-se o trecho em que o
sujeito tratou de vantagens e desvantagens de estar nesse grupo: “dentro desse grupo
é mais vantajoso pelo fato de já ter a clientela, ou seja, se sair daqui vai ter que
conquistar essa clientela. (...) A maioria que procuram essa rede é por existir uma
clientela fixa nesse grupo, que isso traz segurança no comércio”.
Pode-se afirmar ainda que o sujeito mencionou diversos exemplos de
governança relacional na rede interna do Shopping Popular, que procuram proteger o
grupo dos efeitos das incertezas ambientais e exercer um controle nas incertezas de
comportamento. Com base no seguinte trecho da entrevista: “maioria das regras
foram criadas pelos associados de acordo com os problemas que iam surgindo”, pode-
se dizer que as regras que regulamentam e norteiam as relações do Shopping Popular
foram, em sua maioria, criadas pelo grupo.
Conclui-se que a entrevista com o sujeito 3 evidenciou uma forte presença de
governança relacional na rede interna do Shopping Popular, que busca a prevenção
e controle das incertezas, como, por exemplo, as regras criadas para oferecer garantia
aos consertos de celulares, tendo em vista alguns clientes voltarem ao shopping para
reclamarem dos serviços. Partindo-se desse enquadre, para responder à pergunta de
pesquisa, construiu-se o Quadro 8 com a apresentação dos sinais de governança
relacional surgidos, com seus respectivos indicadores existentes (indicadores de
incerteza ambiental 1.3.2, 1.3.3 e 1.6; indicadores de incerteza comportamental 2.1 e
2.6; indicadores de governança relacional 3.2.1, 3.2.2, 3.4.1, 3.6.1, 3.8.1 e 3.9.1).
99
Quadro 8 - Indicadores das categorias estudadas presentes na entrevista com sujeito 2 da rede na qual o Shopping Popular está inserido.
Indicadores de Incertezas Ambientais e Comportamentais
Os mecanismos criados, ou adaptados
Indicadores de governança
1.3.2 (sobre possíveis mudanças comerciais e seus
efeitos no grupo) e 1.3.3 (sobre possíveis mudanças nas leis que possam afetar o grupo)
1.6 (desejos, demanda, necessidades e comportamento
dos consumidores e sua influência no grupo)
1.6 (desejos, demanda,
necessidades e comportamento dos consumidores e sua
influência no grupo)
2.1 (a ética e a conduta correta conforme as regras do grupo)
2.1 (a ética e a conduta correta conforme as regras do grupo)
2.6 (disposição de arcar com os
custos coletivos)
2.1 (a ética e a conduta correta conforme as regras do grupo) e
1.3.1 (incertezas sobre as mudanças políticas e sua
influência no grupo)
- desenvolver parcerias, para trazer vantagens e benefícios
para o grupo.
- oferecer garantia aos clientes para dar mais segurança aos
clientes / ajudar o outro indicando um produto de outro
lojista.
- organizar promoções ou outros meios que atraiam os
clientes e sempre procura ajudar uns aos outros com as
vendas.
- estabelecer regras pela associação, com submissão
para assembleia.
- escolher seguranças para fiscalizar o shopping e
controlar comportamentos.
- realizar contribuição dos lojistas para alguém do grupo
que esteja necessitado.
- se ocorrer algo que não esteja previsto nos
documentos formais, submeter o caso à assembleia para
tomada de decisão.
3.9.1 (existência de ações/tarefas para conseguir
apoio financeiro ou de infraestrutura do governo, do
mercado e da sociedade)
3.2.1 (coordenação e o controle das atividades se dão
por todos do grupo)
3.8.1 (existência de regras e/ou ações para conseguir
reconhecimento do governo, do mercado e da sociedade)
3.4.1 (a coordenação das atividades se dá por uma comissão eleita por todos)
3.6.1 (algum controle ou vigilância do comportamento
do outro)
3.6.1 (algum controle ou vigilância do comportamento
do outro)
3.2.1 (coordenação e o controle das atividades do grupo se dá por todos do
grupo) e 3.2.2 (existe uma rotina de encontro para
criação e ajustes das regras do grupo)
Fonte: Construído pela autora, 2017.
5.2.3 Resposta ao problema de pesquisa
Neste subitem será apresentada a resposta da pesquisa com base na análise
dos dados coletados, considerando tanto a análise interorganizacional quanto a
intraorganizacional.
Analisando-se os resultados das fontes primárias e secundárias, considerando
as convergências de conteúdos encontrados, é possível afirmar que a rede
100
interorganizacional na qual a Shopping Popular está inserida caracteriza-se por um
fluxo essencialmente comercial e se encontraram poucos sinais de governança
relacional, como, por exemplo, o acordo firmado entre a Associação do Shopping
Popular e a Prefeitura de Cuiabá. O que se pode notar é a predominância da
governança formal e/ou contratual, com conteúdos econômicos, racionais e de
políticas públicas explicitamente definidas, em outras palavras, o relacionamento é
baseado predominantemente em questões legais já previamente negociada e
estabelecidas.
Já na rede intraorganizacional do Shopping Popular os sinais de governança
relacional são mais presentes, ou seja, as regras foram criadas e/ou adaptadas pelo
grupo, com base nos imprevistos ocorridos à medida que o grupo foi se
desenvolvendo.
A interpretação desse resultado é a de que, na atualidade, o Shopping Popular
é uma organização com objetivos comerciais que possui compromissos sociais com
a comunidade externa como uma obrigação dada pela prefeitura de Cuiabá/MT, sendo
essa obrigação uma cláusula contratual estabelecida no Termo de Compromisso de
Ajustamento de Conduta entre o Ministério Público do Estado de Mato Grosso com a
Prefeitura de Cuiabá e a Associação dos Camelôs do Shopping Popular. Em outras
palavras, o Shopping Popular caracteriza-se como uma organização de varejo e
atacado com uma identidade comercial, que desenvolve ações com características de
mercado com o intuito de ter cada vez mais clientes e arrecadar maiores lucros:
entretanto, tem um compromisso social com a comunidade.
Para responder ao problema de pesquisa foi construído o Quadro 9 para
relacionar todos os exemplos de incertezas ambientais e comportamentais
encontradas na coleta e análise dos dados.
101
Quadro 9. Os indicadores com os sinais de governança relacional presentes em todas as entrevistas realizadas na rede na qual o Shopping Popular está inserido.
Indicadores de incertezas ambientais e comportamentais
Os mecanismos criados, ou adaptados
Indicadores de governança
1.1 (a relação entre o crescimento econômico da região e sua
influência no grupo)
1.3.2 (possíveis mudanças
comerciais e seus efeitos no grupo)
1.3.2 (possíveis mudanças comerciais e seus efeitos no
grupo) e 1.3.3 (possíveis mudanças nas leis que possam
afetar o grupo)
1.6 (desejos, demanda,
necessidades e comportamento dos consumidores e sua
influência no grupo)
1.6 (desejos, demanda, necessidades e comportamento
dos consumidores e sua influência no grupo)
1.6 (desejos, demanda, necessidades e comportamento
dos consumidores e sua influência no grupo)
1.6 (desejos, demanda, necessidades e comportamento
dos consumidores e sua influência no grupo)
1.6 (desejos, demanda, necessidades e comportamento
dos consumidores e sua influência no grupo)
1.6 (desejos, demanda,
necessidades e comportamento dos consumidores e sua
influência no grupo)
2.1 (a ética e a conduta correta conforme as regras do grupo).
- ações que o grupo desenvolve para minimizar
os efeitos da crise econômica do país.
- criação de uma associação para representar o grupo / a
associação estabelece regras para se proteger das
incertezas do mercado.
- desenvolvimento de parcerias, para trazer
vantagens e benefícios para o grupo.
- ações sociais direcionadas aos clientes do shopping.
- preocupação do shopping em atender às necessidades
dos clientes.
- necessidade do grupo em
regulamentar venda de cigarros e bebidas.
- incentivo à melhoria do atendimento aos clientes.
- oferecimento de garantia aos clientes para dar mais segurança aos clientes /
ajuda ao outro indicando um produto de outro lojista.
- organização de promoções ou outros meios que atraiam
os clientes e sempre procurar ajudar uns aos outros com as vendas.
- estabelecimento de regras
pela associação, com submissão para assembleia.
3.8.1 (regras e/ou ações para reconhecimento do
governo, do mercado e da sociedade)
3.4.1 (a coordenação se dá por uma comissão eleita por
todos)
3.9.1 (existência de ações/tarefas para conseguir
apoio financeiro ou de infraestrutura do governo, do
mercado e da sociedade)
3.8.1 (regras e/ou ações para reconhecimento do
governo, do mercado e da sociedade)
3.2.1 (coordenação do grupo se dá por todos do grupo)
3.6.1 (algum controle ou vigilância do comportamento
do outro)
3.7.1 (existência de
gratificações, interna ao grupo, para a permanência dos integrantes do grupo)
3.2.1 (a coordenação e o controle das atividades se dão por todos do grupo)
3.8.1 (existência de regras e/ou ações para conseguir
reconhecimento do governo, do mercado e da sociedade)
3.4.1 (a coordenação das atividades se dá por uma comissão eleita por todos)
102
2.1 (a ética e a conduta correta conforme as regras do grupo)
2.1 (a ética e a conduta
correta conforme as regras do grupo)
2.1 (a ética e a conduta
correta conforme as regras do grupo)
2.1 (a ética e a conduta correta conforme as regras
do grupo) e 1.3.1 (incertezas sobre as mudanças políticas
e sua influência no grupo)
2.2 (o comprometimento dos parceiros do grupo)
2.2 (o comprometimento dos parceiros do grupo)
2.3 (objetivos individuais dos parceiros conflitantes com os
coletivos)
2.6 (disposição de arcar com os custos coletivos).
- fiscalização da conduta dos associados / regras de controle do comportamento dos integrantes do grupo /
escolha de seguranças para fiscalizar o shopping e
controlar comportamentos.
- política de conscientização quanto à informalidade dos
lojistas.
- ações para apoiar e incentivar a parceria.
- se ocorrer algo que não
esteja previsto nos documentos formais, o caso é submetido à assembleia para tomada de decisão.
- ações de conscientização para o comprometimento ao bom atendimento ao cliente.
- distribuição de informativos
para regular o comportamento dos lojistas.
- realização de assembleias para a tomada de decisão /
todos os integrantes do grupo participam das
decisões nas assembleias.
- cota para arrecadar dinheiro para ajudar alguém do grupo / contribuição dos
lojistas para alguém que esteja necessitado.
3.6.1 (algum controle ou vigilância do comportamento
do outro)
3.8.2 (regras e/ou ações para conseguir legalização)
3.7.1 (gratificações, interna ao grupo, para a
permanência dos integrantes do grupo)
3.2.1 (coordenação e o controle das atividades do grupo se dá por todos do
grupo) e 3.2.2 (existe uma rotina de encontro para
criação e ajustes das regras do grupo)
3.7.1 (existência de gratificações, interna ao
grupo, para a permanência dos integrantes do grupo)
3.8.1 (regras e/ou ações para reconhecimento do
governo, do mercado e da sociedade).
3.2.1 (a coordenação e o controle das atividades se dão por todos do grupo).
3.6.1 (existência de algum controle ou alguma forma de vigilância do comportamento
do outro).
Fonte: Construído pela autora, 2017.
A partir dos indicadores que surgiram nas entrevistas realizadas, afirma-se que
na rede interorganizacional do Shopping Popular a governança relacional é pouco
presente e desenvolvida. Nesse nível de análise predominam as regras externas e/ou
contratuais e regras comerciais que previnem e defendem o grupo de boa parte das
incertezas do ambiente e do comportamento.
103
Com relação à pergunta de pesquisa, na rede interorganizacional pode-se
afirmar que há poucos sinais de sustentação da relação entre incertezas e
governança.
Já na rede intraorganizacional da Shopping Popular encontraram-se diversos
exemplos de governança relacional que norteiam o relacionamento do grupo, como
por exemplo, o controle de armazenamento de caixas e produtos nos corredores para
facilitar a locomoção dos clientes nas áreas de acesso. Assim, pode-se afirmar que a
rede intraorganizacional apresenta significativos sinais de governança relacional
nessa rede, que busca a prevenção e controle das incertezas, e que essas regras
estão resolvendo boa parte das incertezas comportamentais e criando defesas para
as incertezas ambientais.
Sendo a análise dos resultados das entrevistas da rede do Shopping Popular
dividida em interorganizacional e intraorganizacional, afirma-se que a proposição
orientadora, sobre a relação entre incertezas e governança relacional, foi sustentada
apenas na rede intraorganizacional do Shopping Popular.
104
5.3 Conclusão sobre os resultados das redes
Neste subitem apresentam-se os comentários sobre a relação dos resultados
com a afirmativa orientadora da pesquisa de que, diante das incertezas ambientais e
comportamentais, os atores de uma rede criam regras como se fossem sistemas de
defesa, para evitar os efeitos das incertezas ambientais; e regras sobre sistemas de
controles e incentivos para exercer algum grau de controle nas incertezas
comportamentais, oferecendo a resposta ao problema de pesquisa.
Verificando a ocorrência de todos os indicadores nas duas redes construiu-se
o Quadro 10, que indica as convergências completas, isto é, quando determinado
indicador de incerteza levou ao mesmo indicador de governança nas duas redes.
Quadro 10 - Apresentação dos indicadores de incertezas e de governança relacional presentes nas entrevistas das redes investigadas (ASSCAVAG e Shopping Popular) que obtiveram convergência completa.
Indicadores de incerteza Indicadores de governança
1.3.2 (possíveis mudanças comerciais e seus efeitos no grupo)
3.9.1 (ações/tarefas para conseguir apoio financeiro ou de infraestrutura do governo, do
mercado e da sociedade)
1.3.3 (possíveis mudanças nas leis que possam afetar o grupo)
3.9.1 (ações/tarefas para conseguir apoio financeiro ou de infraestrutura do governo, do
mercado e da sociedade)
2.1 (a ética e a conduta correta conforme as regras do grupo)
3.6.1 (existência de algum controle ou alguma forma de vigilância do comportamento do outro)
2.2 (o comprometimento dos parceiros que integram o grupo)
3.7.1 (existência de gratificações, interna ao grupo, para a permanência dos integrantes do
grupo)
2.3 (os objetivos individuais, dos parceiros que integram o grupo, conflitantes com os
coletivos)
3.2.1 (coordenação do grupo se dá por todos do grupo)
Fonte: Construído pela autora, 2017.
A convergência completa significa a valorização dos mesmos indicadores de
incertezas e as mesmas soluções presentes nos indicadores de governança. Pode-se
supor que as duas redes seguiram processos de construção social semelhantes.
O Quadro 11 mostra as situações de convergência parcial, isto é, o mesmo
indicador de incerteza que leva à diferentes soluções de governança.
105
Quadro 11 - Apresentação dos indicadores de incertezas e de governança relacional presentes nas entrevistas das redes investigadas (ASSCAVAG e Shopping Popular) que obtiveram convergência parcial.
Indicadores de incerteza Indicadores de governança
1.3.2 (possíveis mudanças comerciais e seus efeitos
no grupo)
3.4.1 (a coordenação se dá por uma comissão eleita por todos)
3.9.1 (ações/tarefas para apoio financeiro ou de infraestrutura do governo, do mercado e da sociedade)
2.1 (a ética e a conduta correta conforme as regras
do grupo)
3.2.1 (coordenação e controle das atividades do grupo se dá por
todos do grupo)
3.2.2 (existe uma rotina de encontro para criação e ajustes das regras do grupo)
3.4.1 (a coordenação das atividades se dá por uma comissão eleita por todos)
3.5.2 (existência de regras para eleger pessoas que tem autoridade)
3.8.2 (regras e/ou ações para conseguir legalização)
3.7.1 (existência de gratificações, interna ao grupo, para a permanência dos integrantes do grupo)
2.2 (o comprometimento dos parceiros que integram
o grupo)
3.2.1 (a coordenação e o controle das atividades do grupo se dão por todos do grupo)
3.2.2 (existe uma rotina de encontro para criação e ajustes das regras do grupo)
3.5.1 (existência de regras para eleger pessoas que representam e
gerenciam o grupo)
3.8.1 (regras e/ou ações para reconhecimento do governo, do mercado e da sociedade)
2.3 (os objetivos
individuais, dos parceiros que integram o grupo,
conflitantes com os coletivos)
3.2.1 (coordenação do grupo se dá por todos do grupo)
3.2.2 (modo de decisão das regras do grupo)
4.4.2 (existência de casos de falhas quanto ao cumprimento de algumas regras)
2.6 (disposição de arcar com os custos coletivos)
3.4 (existência de uma comissão que decide)
3.6.1 (existência de algum controle ou alguma forma de vigilância do comportamento do outro)
Fonte: Construído pela autora, 2017.
O quadro retrata que as incertezas comuns nas duas redes podem seguir
caminhos distintos de construção da governança. Uma possível interpretação pode
estar relacionada ao fato de uma rede estar voltada para a economia solidária e outra
106
para questões de negócios, com diferentes interesses, necessidades e objetivos.
Essas diferenças levam os líderes de cada grupo a tomarem decisões conforme o
interesse coletivo.
Sobre as divergências de resultado da pesquisa foram considerados os
indicadores encontrados apenas em uma das redes. Como exemplo, pode-se citar os
indicadores de incerteza ambiental: 1.1 (a relação entre o crescimento econômico da
região e sua influência no grupo), 1.2 (a relação entre futuras tecnologias), 1.3.1 (as
mudanças políticas e sua influência no grupo), 1.5 (as ações dos movimentos dos
concorrentes e sua influência no grupo), 1.6 (desejos, demanda, necessidades e
comportamento dos consumidores e sua influência no grupo); os indicadores de
incerteza comportamental: 2.4 (o comportamento comercial oportunista dos
parceiros), 2.5 (a intenção dos parceiros de continuidade no grupo) e 2.7 (ações que
possam comprometer a saúde e integridade dos parceiros); e indicadores de
governança relacional: 3.5.1 (existência de regras para eleger pessoas que
representam e gerenciam o grupo), 3.5.2 (existência de regras para eleger pessoas
que têm autoridade), 3.6.2 (existência de regras de controle e de combate aos
comportamentos oportunistas) e 4.4.2 (existência de casos de falhas quanto ao
cumprimento de algumas regras).
A interpretação para essa divergência é que as duas redes seguem histórias e
objetivos distintos, sofrem pressões legais e ambientais diferentes (como leis de
sustentabilidade, ou leis antipirataria). Por exemplo, a rede de economia solidária
apresenta incertezas relacionadas às políticas ambientais do governo, enquanto que
a rede da qual o Shopping Popular participa, tem incertezas econômicas sobre
impostos e produtos importados.
Pode-se afirmar ainda que a rede de material reciclável, considerando o ator
ASSCAVAG, tem foco nos associados, com o objetivo social de possibilitar uma
melhoria na qualidade de vida e no bem-estar desses associados. Secundariamente,
existe também a preocupação ambiental, até mesmo pelo fato de tratar-se de algo
institucional, ou seja, de regras e ações que auxiliam diretamente na consciência
sobre o meio ambiente. Na rede de negócios do Shopping Popular de Cuiabá, o foco
é voltado para os clientes do local, a maior parte das medidas tomadas é para atrair
os consumidores até o shopping e garantir a satisfação desses consumidores,
buscando seu retorno e propaganda. Secundariamente, a associação do Shopping
Popular se preocupa em manter uma imagem idônea do shopping para que isso não
107
os prejudique como já foi no passado, quando eram conhecidos como
contrabandistas.
Finalmente, sobre os indicadores ausentes, são eles: indicadores de incerteza
ambiental 1.4 (incertezas sobre as ações dos fornecedores e sua influência no grupo)
e 1.7 (incertezas sobre as mudanças ambientais e climáticas e sua influência no
negócio ou na tarefa); e os indicadores de governança relacional 3.1.1 (regras de
restrição de acesso às informações do grupo para aqueles que não fazem parte do
grupo), 3.1.2 (dependendo da informação, existem restrições para uma parte dos
integrantes do grupo), 3.3.1 (existência de regras sobre a definição de função ou
atribuição de cada um desse grupo) e 3.7.2 (existência de gratificações, externa ao
grupo, para a permanência dos integrantes do grupo).
Podem-se seguir duas linhas de interpretação: (a) existem falhas nos
descritores dos indicadores, exigindo uma replicação, ou avaliação técnica; (b) de fato,
nessas duas redes, não se valorizam os temas constantes nos indicadores. Por
exemplo, mudanças ambientais e climáticas podem não ter importância numa rede de
varejo, ou em rotinas de reciclabilidade.
Enfim, o fato de as análises intraorganizacionais oferecerem mais exemplos de
governança relacional que as análises interorganizacionais pode ser interpretado a
partir da formalização de cada rede. A rede interorganizacional da qual a ASSCAVAG
faz parte compõe planos e projetos do governo, tornando as regras menos flexíveis.
Além disso, essa rede conta com atores, como grandes empresas, que desenvolvem
ações sociais e, por questões de controle dessas ações, criam contratos com regras
para serem obedecidas, sob pena de suspensão dos financiamentos, o que
caracteriza uma rede interorganizacional formalizada, com pouca margem para
negociação. Seguindo nessa mesma linha, a rede interorganizacional da qual o
Shopping Popular faz parte também possui sua formalização, fundada em regras de
comércio de varejo, controle de pirataria, leis de segurança e higiene no local, entre
outras. No entanto, diferente da rede anterior, aqui existiram casos de negociações e
acordos entre os atores. Assim, a afirmativa encontrou mais sustentação nas análises
intraorganizacionais, sugerindo discussão no capítulo de comentários finais.
108
6. COMENTÁRIOS FINAIS
A proposta desta dissertação foi verificar, em pesquisas de campo, a interface
entre incertezas e governança nas redes, buscando identificar os sinais de
governança relacional que contribuíram para prevenir e defender a rede dos efeitos
das incertezas ambientais e para exercer algum grau de controle nas incertezas do
comportamento dos indivíduos. O motivo do questionamento é o fato de as redes
estarem inseridas em ambientes de constantes modificações, sejam comerciais,
políticas, sociais, sejam comportamentais; valorizando o papel da governança
relacional na condução do grupo.
Definiu-se governança relacional como uma perspectiva do contrato relacional
criado pelo grupo, ela é analisada a partir de um contrato que surge por meios sociais
e relacionais (GRANDORI; 2006). Ainda sobre a categoria governança relacional,
importa citar o trabalho de Blois e Ivens (2005) que argumentou existir escalas que
buscaram unir relacionamento e regras, mas a escala não estava claramente
configurada para fenômenos de redes.
Este estudo trouxe algumas contribuições. Uma delas é a contribuição teórica
pelo fato de se tentar criar correspondência entre a categoria governança relacional
com as incertezas ambientais e comportamentais. A revisão bibliográfica indicou que
são raros os trabalhos que relacionam essa conexão, mas a tarefa é justificada tendo
em vista a importância das incertezas nos rumos das redes e das organizações que a
compõem. Um dos motivos da raridade pode ser a dificuldade operacional em criar os
sinais indicadores das categorias, mas a revisão bibliográfica indicou a importância da
investigação dessa relação.
Essa raridade trouxe também a dificuldade de se utilizarem indicadores
validados para as duas categorias. Foi necessário um trabalho de adaptação e até de
criação de indicadores, o que, por um lado, constitui uma contribuição metodológica
importante e, por outro lado, coloca a necessidade de replicação de pesquisas, para
verificar a operacionalidade e validade dos indicadores.
A revisão bibliográfica indicou que existem trabalhos sobre incertezas, sem
aprofundar a resposta das empresas (por exemplo, análises clássicas de ameaças e
oportunidades) e trabalhos sobre governança, que investigam sua função e
resultados, sem aprofundar sobre a origem das regras. Assim, pesquisar a interface
da governança relacional com as incertezas configura uma pesquisa de importante
109
validade, haja vista que as regras constituem a base de organização e estruturação
das redes e as incertezas, sem dúvida, configuram um problema presente em todas
as redes. Logo, partindo da afirmativa de que a governança e a incerteza são pontos
que influenciam a criação e o desenvolvimento das redes, surgiu daí a decisão de
pesquisar essa correspondência e contribuir com o avanço do conhecimento
científico.
Foram encontrados autores que escreveram sobre a existência de ligação entre
a governança e incertezas, como por exemplo Jones et al. (1997) que afirmam que as
relações entre os parceiros podem reduzir a incerteza comportamental. O modelo
sistêmico, mostrado na Figura 1, indica o circuito de encontros para resolver
problemas comuns e a construção social de regras sobre esses problemas. Provan e
Kenis (2008) afirmam que a incerteza nos relacionamentos tende a diminuir à medida
que a governança da rede se desenvolve.
A raridade de trabalhos publicados no âmbito acadêmico abordando essa
correspondência foi um elemento a mais na motivação de investigar o tema. A análise
dos dados deu sustentação à afirmativa de correspondência entre as duas categorias.
As duas redes se defrontaram com incertezas ambientais e comportamentais e
criaram mecanismos para lidar com essas incertezas.
Pode-se afirmar, então, que este estudo tratou de um tema pouco investigado,
mas que é importante, já que as teorias de ação coletiva afirmam que um grupo se
une para resolver problemas comuns. A pesquisa obteve dados que sustentaram a
correspondência afirmada, com vários exemplos de adaptações e inovações de regras
nas duas redes, com o propósito explícito de se prevenirem, ou exercerem algum
controle nas incertezas. Como exemplo pode-se citar a incerteza dos lojistas do
Shopping Popular em continuar ou não trabalhando naquele lugar e esse problema é
motivo de organização entre eles e pressão política sobre a prefeitura. O exemplo
evidencia que as incertezas podem unir o grupo o qual cria regras para se prevenir ou
para exercer algum controle nas incertezas. Outro exemplo é na rede
intraorganizacional da ASSCAVAG que busca criar regras de controle do
comportamento inadequado de algumas pessoas, em função de sua origem e história.
O trabalho trouxe evidências, fatos que mostram que essa relação entre incertezas e
governança relacional deve ser estudada, gerando trabalhos que podem contribuir na
produção de novos conhecimentos.
110
A contribuição metodológica do trabalho é a apresentação do quadro de
indicadores, com uma sistematização e agrupamento de categorias que se encontram
dispersas na literatura. Essa criação, presença e análise dos indicadores não foram
encontradas na literatura brasileira.
Uma contribuição gerencial do trabalho é a possiblidade de implementação de
ações por parte dos gestores das redes para que desenvolvam as relações
interpessoais. Conforme a literatura acadêmica, as organizações necessitam de um
processo de coordenação pautado em acordos sociais, os quais são possíveis a partir
do entendimento no grupo. O presente trabalho pode auxiliar os gerentes e tomadores
de decisão a atentarem para a governança do seu grupo, suas origens e funções.
A escolha das categorias incertezas e governança relacional se deram através
de levantamento bibliográfico em dois portais de busca, o Proquest e o Scielo. Em
ambos pode-se verificar que são raros os trabalhos que relacionam as incertezas do
ambiente e do comportamento com a governança relacional.
Um ponto crítico do trabalho foi a construção dos instrumentos de coleta, visto
que não se encontrou na literatura algo que servisse de base ou modelo para a
proposta desta pesquisa. O quadro de indicadores construído para nortear a pesquisa
se mostrou competente para a coleta e a análise dos dados das duas redes.
Sobre a proposição orientadora deste trabalho - de que diante das incertezas
ambientais e comportamentais os atores de uma rede criam regras como se fossem
sistemas de defesa, para evitar os efeitos das incertezas ambientais; e regras sobre
sistemas de controles e incentivos para exercer algum grau de controle nas incertezas
comportamentais -, afirma-se que ela se mantém parcialmente visto que os dados
coletados manifestaram essa sustentação apenas no nível intraorganizacional das
redes.
6.1. Sobre os objetivos
Sobre os objetivos específicos, pode-se comentar:
a) Mapear as ligações das redes selecionadas;
O Objetivo “a” foi alcançado e os desenhos das estruturas foram construídos a
partir dos dados.
Na rede da qual a ASSCAVAG faz parte, predominam ligações fortes, a ligação
fraca é com alguns compradores de materiais, pois não existe fidelidade por parte da
111
ASSCAVAG, para quem paga mais, ela vende, ou seja, não se trata de uma rede
fechada, pois carece de mais atores fornecendo e comprando materiais. Também
carece de mais atores que injetem recurso em investimentos seja na rede
intraorganizacional em que as transações são predominantemente sociais, seja na
rede interorganizacional em que as transações são predominantemente contratuais.
Já na rede na qual o Shopping Popular integra também predominam laços
fortes, os laços fracos são entre o shopping e os fornecedores de materiais, tendo em
vista prevalecer o melhor preço ou melhor acordo na transação. A rede não é fechada,
tendo em vista estar disponível para novos atores que possam somar principalmente
economicamente; e possui todos os atores interligados, sendo as transações tanto
interorganizacional quanto intraorganizacional predominantemente comerciais.
b) Apresentar os objetivos e as características das redes;
O objetivo “b” foi atingido com a apresentação de que a rede da qual a
ASSCAVAG faz parte tem como objetivo principal a inclusão social, ou seja, inserir os
catadores de materiais recicláveis na sociedade por meio do trabalho desenvolvido
com parcerias e, secundariamente, um objetivo comercial de venda de recicláveis.
Essa rede enfrenta como problemas comuns a falta de condições de trabalho, a falha
na execução nas leis ambientais, a falta de consciência ambiental da população, a
rejeição à figura de catador e exploração dos catadores por comerciantes. Os
objetivos comuns concernem em ter qualidade nas condições de trabalho e melhoria
na qualidade de vida dos catadores. Os atores realizam suas tarefas por meio de
auxílio de órgãos, empresas públicas ou privadas envolvidas na destinação dos
resíduos e de manutenção da associação por meio de parcerias, comércio dos
materiais.
A rede na qual o Shopping Popular está inserido tem objetivos
predominantemente comerciais, destacando, como principal objetivo da organização
foco, as negociações entre os atores a fim de obter vantagens comerciais e melhorias
na infraestrutura. Essa rede enfrenta como problemas comuns a falta de leis,
regulamentos e normas que amparem os lojistas e a situação irregular de vários
lojistas que ainda estão na ilegalidade. Os objetivos perseguidos pela rede são o
reconhecimento e a legitimação do trabalho dos comerciantes de varejo popular, no
sentido de inclusão social e comercial. Os atores realizam as tarefas por meio de uma
associação que representa o grupo nas negociações.
112
c) Criar e aplicar indicadores de governança relacional:
O objetivo “c” foi atingido por meio da criação dos indicadores de governança
relacional com base nas afirmativas da fundamentação teórica, devido não se ter
encontrado instrumentos testados e validados para serem aplicados no trabalho.
Os indicadores de governança relacional foram apresentados no Quadro 1 do
item 3.6, servindo de base para a construção dos instrumentos de coleta de dados.
Os testes mostraram que todos os indicadores são capazes e válidos em discriminar
presença e ausência da categoria.
d) Criar e aplicar indicadores de incerteza;
O objetivo “d” foi atingido por meio da criação dos indicadores de incerteza que
foram selecionados de conceitos utilizados na fundamentação teórica, sendo que
também não foram encontrados instrumentos testados e validados para análises de
redes que pudessem ser aplicados no trabalho.
Foram apresentados os indicadores das categorias incerteza ambiental e
incerteza comportamental no Quadro 1 do item 3.6, que respaldou a construção dos
instrumentos de coleta de dados. Os testes também mostraram que todos os
indicadores são capazes e válidos em discriminar presença e ausência da categoria.
Um resultado importante da pesquisa foi a criação de um novo indicador (2.7 -
sobre ações imprevisíveis dos parceiros que podem causar acidentes) que surgiu na
rede de materiais recicláveis. A descoberta de novos indicadores durante a fase de
coleta é um dado importante que caracteriza a especificidade daquela rede que o
indicador surgiu.
e) Apresentar os resultados finais dos sinais de governança relacional
encontradas nos casos;
O objetivo “e” foi atingido por meio da apresentação dos resultados finais no
subitem 5.3, conclusão sobre os resultados das redes.
Na rede de material reciclável os sinais de governança relacional encontrados
foram predominantemente na rede interna do ator foco, como em casos de ajustes de
relação interpessoal entre os catadores; e, em alguns casos, com atores externos da
associação, como no caso do acordo entre a ASSCAVAG e os representantes da
Gama para se reunirem quando a associação precisasse adquirir equipamentos com
recurso do projeto. Outro exemplo foi a forma de seleção de professores para darem
aulas aos associados. Assim, afirma-se que na rede interorganizacional são raros os
sinais de governança relacional que buscam a prevenção e controle das incertezas,
113
pela maior presença de sinais de governança formal e/ou contatual, enquanto que na
rede intraorganizacional as regras criadas e/ou adaptadas pelo grupo são mais
presentes, sendo que essas regras buscam a prevenção e controle das incertezas e
estão resolvendo tanto os problemas surgidos como as incertezas do ambiente e do
comportamento.
Na rede de negócios da qual faz parte o Shopping Popular de Cuiabá/MT, as
respostas obtidas são semelhantes, tendo em vista que na rede interorganizacional
as regras são predominantemente comerciais; como dominância da governança
formal e/ou contratual; e na rede intraorganizacional predomina a governança
relacional; por exemplo, nas regras criadas para oferecer garantia aos consertos de
celulares tendo em vista reclamações de clientes.
f) Comparar os resultados do campo com as afirmativas teóricas;
O objetivo “f” foi atingido com a comparação dos resultados obtidos nas duas
redes pesquisadas com as afirmativas teóricas utilizadas na fundamentação teórica,
que será apresentada no item 6.2 que traz os comentários sobre a fundamentação
teórica e os resultados.
Nos subitens seguintes discutem-se as respostas encontradas e os temas
consequentes, a metodologia empregada para construir uma resposta, os dados dos
negócios investigados, limites e benefícios do trabalho e sugestões de continuidade
de pesquisas sobre o tema.
6.2. Resposta sobre a proposição orientadora
A proposição orientadora é que, diante das incertezas ambientais e
comportamentais, os atores de uma rede constroem regras para se defenderem dos
efeitos das incertezas ambientais e regras sobre sistemas de controles e incentivos
para exercer algum grau de controle nas incertezas comportamentais.
Os dados obtidos nas duas redes sustentaram a afirmativa. Os próximos
parágrafos apresentam interpretações sobre o resultado encontrado.
Na rede da qual a ASSCAVAG faz parte os contratos e os acordos entre os
atores já vêm prontos e formalizados, com pouca margem para discussão. São ações
reguladas pelo governo, são regras já estabelecidas para funcionamento de mercado
solidário e são ações financiadas por grandes empresas que desenvolvem projetos
sociais, sendo que essas empresas já estipulam como vai funcionar. Assim, pode-se
114
dizer que a rede interorganizacional da qual a ASSCAVAG faz parte, possui um alto
grau de formalização, com pequena margem para mudanças das regras. Por exemplo,
a regra que estipula um relatório mensal das aquisições feitas com o dinheiro do
projeto não tem como ser negociada, pois foi estipulada e tem que ser cumprida sob
pena de corte do financiamento. Entretanto, pode-se citar um exemplo de governança
relacional na rede interorganizacional que é a regra discutida e modificada, conforme
o interesse da ASSCAVAG, sobre o professor a ser contratado para ensinar os
catadores que deveria ser indicado pela Associação, pelo fato de este estar
familiarizado com a história dos associados da ASSCAVAG. Esse acordo foi uma
mudança da regra inicialmente estabelecida de que os gestores do projeto indicassem
um professor que estivesse disposto a lecionar no projeto de alfabetização. Já na rede
intraorganizacional, dentro da associação, as regras foram construídas por meio da
interação e da negociação entre os atores, portanto, oferecendo mais exemplos para
se discutir o problema de pesquisa levantado.
Na rede da qual o Shopping Popular faz parte, apareceram mais exemplos de
governança relacional na rede intraorganizacional para se discutir a proposição da
pesquisa, tendo em vista os camelôs estarem totalmente desorganizados e terem que
se estruturar desde o básico, criando uma associação e definindo regras de
funcionamento. Já na rede interorganizacional também existe um grau de formalidade,
mas é menor que na primeira rede analisada, tendo em vista não existirem contratos
pré-estabelecidos sobre a criação de Shopping Popular, sendo necessárias
negociações entre a Associação, a Prefeitura e o Ministério Público para estipular
algumas regras e solucionar os problemas dos camelôs. Assim foram coletados
exemplos de governança relacional na rede interorganizacional, tais como o acordo
estabelecido entre a Associação do Shopping Popular com a prefeitura que em troca
do espaço cedido para a construção do Shopping, exigiu que a Associação
revitalizasse a área em volta do shopping para lazer da comunidade local e também
outras medidas pelo fato de não existirem regras regulamentadas sobre
camelódromos, cabendo a cada prefeitura decidir as medidas a serem tomadas.
Com a análise, os dados mostraram poucos exemplos de governança
relacional na rede interorganizacional, o que não legitima a sustentação da proposição
orientadora. Em contrapartida, as análises intraorganizacionais das redes geraram
exemplos com qualidade para se desenvolver essa discussão e chegar à resposta da
115
pesquisa, mesmo considerando que no planejamento do trabalho não se considerou
realizar essa divisão de análise.
Assim, diante de todo exposto, pode-se dizer que a afirmativa orientadora de
que as regras baseadas nas relações sociais são criadas como sistemas de defesa,
de controles e de incentivos na rede defendida por autores como GRANOVETTER,
(1985), JONES, HESTERLY e BORGATTI, (1997), GRANDORI, (2006), é sustentada
parcialmente no trabalho, por apresentar evidências na análise intraorganizacional
das redes, não sendo sustentada na análise interorganizacional.
Essa discussão teórica é ampliada no próximo item.
6.3 Comentários sobre a fundamentação teórica e os resultados alcançados
Neste subitem discute-se a força e capacidade da perspectiva social de redes,
com a base teórica apresentada e os resultados das análises.
Nos estudos sobre redes aparecem basicamente três paradigmas, o social, o
racional, o econômico. O presente estudo afirma que o paradigma social pode ser
capaz de explicar fenômenos complexos encontrados em redes de economia solidária
e de negócios, no qual as relações sociais criam as condições da governança
relacional e essa, por sua vez, norteia os processos da rede e o comportamento das
pessoas.
A teoria de base da governança selecionada no trabalho advém de modelos
que incorporam a incerteza ambiental e comportamental, criando sistemas de regras
de controle e de incentivos. Realizada a revisão bibliográfica, concluiu-se que são
raros os modelos que integram as incertezas com a governança, embora existam
muitas afirmativas a respeito.
Na análise interorganizacional, alguns poucos exemplos confirmaram as
afirmativas teóricas. Na rede da qual a ASSCAVAG faz parte, por exemplo, havia a
tarefa de contratar um professor e a associação acordou com a empresa apoiadora
do projeto para contratar um professor familiarizado com a história de catadores. Na
rede de que o Shopping Popular faz parte, o exemplo foi o de se discutir um acordo
entre a Associação do Shopping Popular com a prefeitura sobre o espaço que foi
construído o Shopping. Os casos citados retratam afirmativas de que a governança
em relações interorganizacionais necessita de ajustes que ultrapassam contratos
formais (GRANOVETTER, 1985; POPPO e ZENGER, 2002; UZZI, 1997).
116
Quando se considera a análise intraorganizacional das duas redes, as
respostas encontradas confirmam as afirmativas de Granovetter (1985) com os
conceitos de imersão, que colocam os fatores econômicos e tecnológicos
influenciados e imersos em relações sociais tendo em vista os atores da rede
colocarem as relações sociais como principal caminho para a resolução dos
problemas, para desenvolver as ações em prol do grupo. Ou seja, os mecanismos de
coordenação e de controle das redes foram construídos a partir das relações sociais,
como de confiança, desenvolvidas nas redes pesquisadas.
O modelo de governança (Figura 1), adaptado do modelo de Jones e
colaboradores (1997), apresenta a governança relacional a partir dos encontros dos
atores, buscando seus problemas coletivos. Essa governança nasce na dinâmica do
grupo. Com essa origem social e com a função de resolver os problemas que surgem
no grupo, a governança torna-se a ponte entre os processos, resultados, custos e
outras racionalidades da rede; com a dinâmica social e a teia social de relações.
As análises intraorganizacionais das redes, as quais a ASSCAVAG e o
Shopping Popular integram, confirmam o modelo de Jones et. al. (1997), tendo em
vista os sinais de governança relacional nascerem de acordos dentro do grupo,
buscando defesas contra os efeitos das incertezas ambientais e exercendo um grau
de controle nessas incertezas do comportamento dos atores. Além disso, o fato de os
associados da ASSCAVAG estarem em constante convívio, tendo a possibilidade de
criar e fortalecer as relações, quando se compara com os encontros ocasionais entre
atores de organizações da rede, é mais um fator que sustenta o modelo,
especialmente na parte que se afirma o surgimento da governança relacional a partir
de encontros regulares.
O entendimento de Grandori (2006), seguido neste estudo, que afirma que a
governança relacional pode ser considerada uma solução viável em condições de
incertezas, foi em sua maior parte confirmado nas redes intraorganizacionais, tendo
em vista o comportamento dos atores serem norteados por um controle social e o
conjunto de regras terem sido criadas socialmente.
A análise indicou que a afirmativa de Grandori (2006) sobre a necessidade de
complemento em contratos formais, nem sempre se sustenta. O acordo entre a
ASSCAVAG e o Instituto Gama não dá margem a ajustes. Ou se segue a regra, ou
não se obtém o auxílio. Uma interpretação possível é que as afirmativas de Grandori
117
(2006) advêm de pesquisas sobre negócios: entretanto, quando se trata de ações
sociais com o governo participando, talvez a formalização seja mais inflexível.
No que diz respeito à interface ente a governança relacional e as incertezas,
importa citar Koka, Madhavan e Prescott (2006) que também escreveram sobre essa
correspondência afirmando que os efeitos ambientais exercem influência nas
mudanças das redes. Essa afirmativa foi sustentada somente pelas respostas
encontradas nas redes intraorganizacionais.
O resultado indicou que na rede de material reciclável, cuja organização foco
foi a ASSCAVAG, a conclusão é de que se pode estabelecer uma relação entre
governança relacional e as incertezas ambientais e comportamentais a partir da
análise intraorganizacional, já que os mecanismos de governança relacional estão
resolvendo a maioria dos problemas surgidos no grupo. A mesma conclusão é
afirmada para o caso da rede de negócios, cuja organização foco foi o Shopping
Popular, a partir da análise intraorganizacional. Entretanto, nas duas análises
interorganizacionais, os mecanismos formais e as regras de mercado predominaram,
com pouca margem para arranjos entre as partes, não dando respaldo para se
estabelecer a relação entre governança relacional e as incertezas ambientais e
comportamentais.
Ao final do trabalho, após ficar evidenciada a diferença entre análise inter e
intraorganizacional, realizou-se nova busca bibliográfica e não se encontraram artigos
que discutiram essa diferença. O que se encontrou foram alguns autores que dividiram
o estudo da governança em interorganizacional ou macrogovernança e
intraorganizacional ou microgovernança, como é o caso de Provan e Kenis (2007) e
Albers (2005). Conforme entendimento de Albers (2005), a governança em redes
interorganizacionais pode ser caracterizada como coordenação interna das redes, ou
estudo dos elementos internos da rede. E também alguns autores, como Lazega,
Jourda, Mounier e Stofer (2008) que afirmaram a existência de uma similaridade na
análise de relações internas de uma organização com a análise de relações externas
ente as organizações, ou seja, a análise entre os indivíduos de uma organização é
igual a uma análise entre as organizações. Essa linha de pensamento difere da
resposta encontrada no trabalho.
118
6.4 Comentários sobre a metodologia
Um dos principais desafios do trabalho foi a construção dos instrumentos de
coleta de dados, tendo em vista não se encontrar instrumentos aplicados e validados.
Também não foi encontrada literatura metodológica sobre o assunto, sendo que a
categoria incerteza possui escalas construídas para pesquisas em outros campos
científicos, como economia, e a categoria governança relacional possui escalas
construídas para pesquisas nos campos científicos de gestão, mas não para o estudo
de Redes.
O problema proposto, sobre a relação entre incertezas e governança nas redes,
sugeriu a forma descritiva e exploratória, de natureza qualitativa, com método de
estudo de casos múltiplos, conforme se comentou no item de metodologia. Assim, no
estudo da rede da ASSCAVAG e da rede do Shopping Popular foram utilizados como
forma de coleta de dados a entrevista com roteiro semiestruturado e dados de fontes
secundárias. Os instrumentos são comentados a seguir.
A ausência de indicadores válidos para as categorias selecionadas exigiu a
adaptação e até a construção dos mesmos, implicando em dúvida sobre sua
capacidade de gerar dados com qualidade. Ao final, os indicadores se mostraram
capazes de gerar dados com qualidade e discriminação, possibilitando comparativos,
análises e interpretações sobre os mecanismos de prevenção da incerteza ambiental
e os mecanismos de controle da incerteza comportamental.
Considerando a qualidade das respostas das entrevistas, cujo discursos foram
classificados conforme os indicadores, é possível afirmar que o roteiro de entrevista é
operacional e confiável.
Como parte de aprendizagem foi construído também um questionário,
entretanto, pela quantidade de pessoas, ele não foi aplicado na ASSCAVAG e, pelo
fato de ter outros pesquisadores aplicando questionário na mesma época dessa
pesquisa também não foi aplicado no Shopping Popular.
Em parceira com o Programa Mestrado em Engenharia de Produção e
Sistemas – MEPROS da Pontifícia Universidade Católica de Goiás - PUC Goiás, um
aluno está aplicando o questionário em redes de pequenos agricultores e redes de
cooperativas para verificar a operacionalidade dos indicadores e do instrumento.
119
6.5 Comentários sobre as duas redes
Um primeiro comentário é que as redes apresentam características de sucesso
e de objetivos que as tornaram selecionáveis. No decorrer do estudo, no entanto, a
pesquisadora se deparou com um grau de formalização que colocou barreiras no
desenvolvimento da governança relacional. Essa situação não planejada e não
conhecida de antemão obrigou a um artifício de investigar as relações inter e
intraorganizacional, quando, então, surgiram dados de qualidade. Essa adaptação
exigiu a seleção de uma organização alvo, considerando o objetivo principal da rede.
Conforme detalhado no item anterior de apresentação e análise dos dados, nas
redes intraorganizacionais da ASSCAVAG e do Shopping Popular, foram encontrados
significativos sinais de governança relacional que busca a prevenção e controle das
incertezas e que essas regras presentes na rede estão resolvendo tanto os problemas
surgidos como as incertezas do ambiente e do comportamento, o que permite afirmar
a existência da correspondência entre incertezas e governança relacional nas redes.
Entretanto, nas redes interorganizacionais da ASSCAVAG e do Shopping Popular,
não se encontraram dados suficientes para sustentar a proposição da pesquisa, tendo
em vista a raridade de sinais de governança relacional que buscam a prevenção e
controle das incertezas, por haver a dominância da governança contratual e/ou formal.
Enfim, a partir das análises, pode-se afirmar que as duas redes são histórias
de sucesso, tendo em vista seu desenvolvimento até o momento. Afirma-se ainda que
as duas redes nasceram com objetivos sociais, mas que em suas evoluções a rede
da qual a ASSCAVAG faz parte ficou com o objetivo social mais valorizado e a rede
da qual o Shopping Popular faz parte se transformou em uma rede mais comercial,
com objetivos econômicos.
6.6 Comentários sobre os limites e as contribuições do trabalho
O objetivo do trabalho foi identificar e apresentar os sinais de governança
relacional que buscam prevenir e defender a rede dos efeitos das incertezas
ambientais e para exercer algum grau de controle nas incertezas do comportamento
dos indivíduos.
120
6.6.1 Limites do trabalho
Um dos desafios do trabalho foi a construção dos instrumentos de pesquisa,
tendo em vista a raridade de instrumentos aplicados e validados. Sobre a categoria
de incertezas, a maior parte das escalas construídas para pesquisas estão em outros
campos científicos, como Filosofia e Psicologia, ou em Gestão e Economia, mas não
para o estudo de Redes.
Como limitação do estudo deve-se destacar a impossibilidade de aplicação do
questionário nas duas redes. Em uma delas, do material reciclável, talvez o efeito da
lacuna seja secundário, mas no caso da rede do shopping teria sido relevante, já que
são aproximadamente 500 atores no local. Trabalho paralelo realizado por outro aluno
de mestrado, versando sobre comprometimento, mostrou que os resultados dos
questionários divergem em alguma medida sobre as respostas dos dirigentes, o que
teria sido interessante investigar para esse caso de governança.
6.6.2 Contribuições do trabalho
Deve-se destacar, como primeira contribuição, o desenvolvimento teórico desta
dissertação que se caracteriza por certo ineditismo, visto que não se encontraram
pesquisas que investigassem a interface entre governança relacional e incertezas
ambientais e comportamentais. Essa situação de ausência de trabalhos que lidam
com essas categorias, resulta em vantagens, como a valorização do esforço de
solucionar tais ausências, entretanto, interpõe dificuldades, como a falta de modelos
e metodologias validados.
A segunda contribuição do trabalho é metodológica, em que foram
apresentados indicadores que guiaram a construção de instrumentos de investigação.
Para o desenvolvimento da pesquisa, a maior parte dos indicadores tiveram que ser
construídos e alguns foram adaptados. Os dados obtidos na pesquisa de campo
indicaram a eficiência dos indicadores para realizar a coleta, visto que os
entrevistados conseguiram responder os questionamentos. Isso resultou em dados de
qualidade para a análise sugerindo operacionalidade e confiabilidade dos indicadores.
Sendo assim, pode-se afirmar que tais instrumentos de coleta de dados podem ser
aplicados em outros estudos, constituindo uma importante contribuição metodológica.
121
Outro instrumento de coleta importante foi a construção do questionário.
Embora não tenha sido testado, é uma contribuição metodológica, pronto para ser
utilizado e adaptado em pesquisas. Conforme já informado, de fato ele está sendo
testado em outra universidade e até o momento não se obtiveram notícias dos
resultados.
Outra contribuição, tanto teórica quanto metodológica, é a apresentação de um
modelo de desenho da pesquisa, que mostra os antecedentes e os consequentes da
governança relacional. O desenho pode ser origem de pesquisas que aprofundem a
relação proposta, já que o presente trabalho se ocupou exclusivamente da relação
entre incertezas, uma das pontas do sistema, e a governança, na outra ponta do
sistema.
6.7 Sugestões de novas pesquisas
Uma sugestão de pesquisa é que se investigue a correspondência de
incertezas e governança relacional em redes com menor participação e controle do
governo, ou seja, tentar selecionar redes que não tenham tanta intervenção do
governo para poder analisar se, nesse caso, as organizações apresentam mais
interação e negociação. Trabalhos anteriores do grupo de pesquisa de que a autora
participa indicam que o negócio de rede de escolas de ensino fundamental seria um
bom exemplo, já que existem muitos acordos e negociações com associações de
bairros e outras organizações.
Uma segunda sugestão é o pesquisador procurar outros casos de associações
de camelôs, que deram certo ou não, em outras cidades, para saber se o processo é
semelhante, ou se são histórias diferentes.
Outra sugestão é de ampliação das pesquisas a partir do desenho. No presente
trabalho só foi possível investigar dois pontos do desenho, isto é, as incertezas e a
governança, mas o desenho na forma de um sistema sugere a possibilidade de outras
pesquisas complementares, por exemplo, na relação com resultados, ou sobre
relações de confiança com governança. O desenho possibilita percorrer o caminho
inteiro do circuito.
Ressalta-se novamente a pesquisa que está sendo realizada pelo Programa
Mestrado em Engenharia de Produção e Sistemas – MEPROS da Pontifícia
Universidade Católica de Goiás - PUC Goiás, que está sendo desenvolvida com a
122
aplicação do questionário, o que permite a validação e operacionalidade do
instrumento de pesquisa.
6.8 Comentários finais
Ao final, alcançou-se o objetivo desta dissertação, que tem seu cerne em
identificar e apresentar os sinais de governança relacional que buscam prevenir e
defender a rede dos efeitos das incertezas ambientais e exercer algum grau de
controle nas incertezas do comportamento dos indivíduos. A análise dos dados
permitiu mostrar a relação entre as categorias de rede com o modelo de governança
adaptado de Jones et al. (1997). Dessa forma, foi respondida a questão de pesquisa
desta dissertação: “Quais os sinais de governança relacional presentes na rede
buscam se prevenir dos efeitos das incertezas ambientais e exercer um grau de
controle nas incertezas do comportamento dos atores?”.
Tratando-se de um trabalho qualitativo, de casos múltiplos, o alcance das
análises refere-se às redes investigadas, não sendo possível fazer generalizações
para outras redes do mesmo setor, ou outras. Entretanto, é possível aprofundar os
resultados encontrados por meio de replicações em trabalhos futuros, e revelar
padrões de comportamento na rede envolvendo governança relacional, incertezas
ambientais e incertezas comportamentais, que ratifiquem a obtenção de melhores
resultados.
123
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130
Apêndice I – Instrumento Roteiro de Entrevista com Questões Semiestruturadas
(1) Aquecimento:
Explicar o objetivo do trabalho (relacionar as incertezas do negócio ou da tarefa com
as decisões e regras do grupo);
Explicar a regra do anonimato (não aparece nem o nome das pessoas, nem o nome
das instituições);
Explicar o ganho do entrevistado – ao final do trabalho ele receberá um resumo das
conclusões. Se for interessante e se quiser, o trabalho poderá ser apresentado em
sessão pública;
Explicar a possibilidade de a entrevista ser gravada e pedir autorização;
OBS: para o pesquisador: se a gravação não for autorizada, realizar uma entrevista
curtíssima (10 min), pedir a indicação de uma outra pessoa e encerrar.
(2) Lançamento da pergunta genérica:
O(a) senhor(a) poderia comentar sobre esse negócio (tarefa), como funciona, quem
são os participantes, quais os problemas que vocês enfrentam?
OBS: já ter lido sobre o negócio ou a tarefa (se houver algum gancho para o tema de
pesquisa já pode perguntar ou aprofundar).
(3) Questionamentos sobre Incerteza:
Perguntar quais são as incertezas, dúvidas sobre o negócio (tarefa) (se for necessário
pode-se dar um exemplo: incerteza sobre futuras tecnologias);
3A - Fazer perguntas mais específicas sobre incerteza ambiental nas variáveis:
Rede de Negócios (rua
do Shopping Popular de
Cuiabá/MT)
clientes, fornecedores, concorrentes, sócio-político,
questões econômicas, tecnologias, causas
políticas, condições de mercado, demanda incerta
e irregular.
Rede de economia
solidária de material
reciclável (ASSCAVAG)
clientes, fornecedores, concorrentes, sócio-político,
questões econômicas, tecnologias, causas
políticas.
131
3B - Incerteza Comportamental:
O que o(a) senhor(a) acha: sobre essas pessoas mais próximas com as quais você
trabalha, diria que é fácil prever o comportamento delas ou sempre tem surpresa sobre
suas ideias e seus comportamentos?
Rede de Negócios
(Associação do
Shopping Popular
de Cuiabá/MT); e
Rede de economia
solidária de
material reciclável
(ASSCAVAG)
- Sobre a ética do parceiro; a disposição de aceitar e seguir
as regras do grupo; a disposição de fazer sacrifícios
pessoais para o bem dos resultados do grupo; os objetivos
pessoais vão interferir nos objetivos coletivos; se a pessoa
está no grupo apenas para tirar proveito próprio; se a
pessoa tem interesse em continuar no grupo; e se a
pessoa ajudaria quando surgissem problemas
imprevistos, como custos extras, ou ajuda emergencial
para alguém do grupo.
(4) Questionamento sobre a governança relacional:
Explicar que em todo o negócio existem regras para facilitar a realização dos objetivos
e diminuir os riscos e os problemas das incertezas.
Falar algumas regras que são seguidas neste grupo. Para cada regra citada deve-se
conversar principalmente sobre sua origem e também sobre sua função (de onde veio
isso daqui e para que que serve);
OBS: se as regras dadas como exemplo forem todas não relacionais será necessário
perguntar diretamente (gostaria que dessem exemplos de regras que vocês criaram).
Rede de Negócios
(Associação do
Shopping Popular
de Cuiabá/MT); e
Rede de economia
solidária de
material reciclável
(ASSCAVAG)
Sobre regras de inclusão; regras de restrições de
informações; regras de coordenação; regras de decisão;
sobre reuniões; sobre papeis definidos; sobre existência
de líder; se existem regras de controle do comportamento
das pessoas, por exemplo, relatórios de atividades,
assinatura de atas; se existem regras de incentivos, ou
prêmios conforme atitudes, comportamentos e resultados
que uma pessoa alcança; se existem planos e regras para
reconhecimento do grupo junto ao governo e à sociedade.
132
(5) Questionamento sobre as possíveis relações entre a governança relacional
e as incertezas:
Saber se as regras estão resolvendo as dúvidas, os problemas e as incertezas.
Rede de Negócios (Associação do
Shopping Popular de Cuiabá/MT); e
Rede de economia solidária de
material reciclável (ASSCAVAG)
As regras estão resolvendo as
dúvidas, os problemas e as incertezas
do ambiente; ou tem acontecido do
grupo ser surpreendido por questões
que não estavam previstas?
As regras estão resolvendo as
dúvidas, os problemas e as incertezas
do comportamento das pessoas, ou
tem acontecido do grupo ser
surpreendido por comportamentos não
previstos?
OBS: Fazer essa pergunta a respeito das dúvidas ambientais e a respeito as dúvidas
comportamentais.
133
Apêndice II. Instrumento Questionário
Caro senhor(a)
Obrigado por concordar em participar deste estudo sobre a rede de
relacionamentos.
Por favor, preencha o questionário e, caso seja necessário, utilize o espaço em
branco ao final e escreva seus comentários.
O nome do(a) senhor(a) não vai aparecer no trabalho, por isso pode ficar bem
à vontade para responder.
Por favor, use a escala expressa nas afirmativas, colocando um “X” apenas em
uma delas:
1.1 Nosso grupo tem incerteza sobre qual será o crescimento econômico da região e como isso pode
afetar o grupo.
A B C D E
Concordo fortemente Concordo Nem concordo nem discordo
Discordo Discordo fortemente
1.2 Nosso grupo tem incerteza sobre quais tecnologias podem surgir do futuro próximo e como isso pode afetar o grupo.
A B C D E
Concordo fortemente Concordo Nem concordo nem discordo
Discordo Discordo fortemente
1.3.1 Nosso grupo tem incerteza sobre possíveis mudanças políticas e como isso pode afetar o grupo.
A B C D E
Concordo fortemente Concordo Nem concordo nem discordo
Discordo Discordo fortemente
1.3.2 Nosso grupo tem incerteza sobre possíveis restrições comerciais e como isso pode afetar o grupo.
A B C D E
Concordo fortemente Concordo Nem concordo nem discordo
Discordo Discordo fortemente
1.3.3 Nosso grupo tem incerteza sobre possíveis mudanças nas leis que possam afetar o grupo.
A B C D E
Concordo fortemente Concordo Nem concordo nem discordo
Discordo Discordo fortemente
1.4 Nosso grupo tem incerteza sobre as possíveis ações dos fornecedores e como isso pode afetar o grupo.
A B C D E
Concordo fortemente Concordo Nem concordo nem discordo
Discordo Discordo fortemente
1.5 Nosso grupo tem incerteza sobre as possíveis ações dos movimentos dos concorrentes e como isso pode afetar o grupo.
A B C D E
Concordo fortemente Concordo Nem concordo nem discordo
Discordo Discordo fortemente
134
1.6 Nosso grupo tem incerteza sobre os desejos, a demanda, as necessidades e o comportamento dos consumidores e como isso pode afetar o grupo.
A B C D E
Concordo fortemente Concordo Nem concordo nem discordo
Discordo Discordo fortemente
1.7 Nosso grupo tem incerteza sobre as mudanças ambientais e climáticas e como isso pode afetar o negócio ou a tarefa.
A B C D E
Concordo fortemente Concordo Nem concordo nem discordo
Discordo Discordo fortemente
2.1 Nós temos incerteza sobre a ética e a conduta correta dos parceiros, no sentido de seguir as regras.
A B C D E
Concordo fortemente Concordo Nem concordo nem discordo
Discordo Discordo fortemente
2.2 Nós temos incerteza se um parceiro está disposto a fazer certos sacrifícios individuais pelo bem do grupo.
A B C D E
Concordo fortemente Concordo Nem concordo nem discordo
Discordo Discordo fortemente
2.3 Nós temos incerteza se objetivos individuais dos parceiros são conflitantes e/ou diferentes dos objetivos os coletivos.
A B C D E
Concordo fortemente Concordo Nem concordo nem discordo
Discordo Discordo fortemente
2.4 Nós temos incerteza se alguns parceiros estão no grupo apenas para proveito próprio.
A B C D E
Concordo fortemente Concordo Nem concordo nem discordo
Discordo Discordo fortemente
2.5 Nós temos incerteza se os parceiros têm interesse em continuar nesse grupo.
A B C D E
Concordo fortemente Concordo Nem concordo nem discordo
Discordo Discordo fortemente
2.6 Nós temos incerteza se os parceiros estão realmente dispostos a ajudar com os custos ou as despesas coletivas que surgirem.
A B C D E
Concordo fortemente Concordo Nem concordo nem discordo
Discordo Discordo fortemente
3.1.1 No nosso grupo existe a regra de que as informações só circulam aqui dentro do grupo, sendo negadas para as pessoas de fora do grupo.
A B C D E
Concordo fortemente Concordo Nem concordo nem discordo
Discordo Discordo fortemente
3.1.2 Dependendo do tipo de informação, não são todos integrantes do grupo que ficam sabendo porque existe a regra de seleção da informação que pode circular.
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3.2.1 No nosso grupo a coordenação e controle das atividades são feitas por todos os integrantes do grupo.
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3.2.2 No nosso grupo há reuniões periódicas para criar e ajustar as regras do grupo.
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3.3.1 No nosso grupo existem regras claras sobre a definição das funções, dos deveres e das obrigações de cada integrante do grupo.
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3.4.1 No nosso grupo as atividades são coordenadas por uma comissão eleita por todos.
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3.5.1 No nosso grupo existem regras para eleger pessoas que representam e gerenciam o grupo.
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3.5.2 No nosso grupo existem regras para eleger pessoas que têm autoridade para controlar as outras pessoas no que diz respeito a seguir as regras.
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3.6.1 No nosso grupo existem regras para controlar o comportamento dos parceiros.
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3.6.2 No nosso grupo existem regras para evitar que as pessoas se aproveitem da boa-fé dos demais.
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3.7.1 O nosso grupo criou gratificações para a permanência dos integrantes do grupo.
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3.7.2 No nosso grupo existem gratificações que são oferecidas de fora do grupo, por exemplo do governo, para incentivar a permanência dos integrantes do grupo.
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3.8.1 No nosso grupo existem regras e/ou ações originadas para conseguir reconhecimento do governo, do mercado e da sociedade.
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3.8.2 No nosso grupo existe regras e/ou ações para conseguir legalização perante o governo.
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3.9.1 No nosso grupo existem regras e/ou ações originadas dentro do grupo para conseguir algum apoio financeiro ou de infraestrutura do governo, do mercado e da sociedade.
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4.1 No nosso grupo existem ou existiram casos que nós aqui do grupo fomos surpreendido por um acontecimento externo imprevisível.
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4.2 No nosso grupo existem ou existiram casos que nós aqui do grupo fomos surpreendido por um comportamento inadequado de um integrante do grupo.
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4.3 No nosso grupo existem regras que são difíceis de serem aplicadas e operacionalizada.
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4.4.1 No nosso grupo existem regras que sempre geram discussões e nunca se chegam a conclusões ou acordos.
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4.4.2 No nosso grupo existem algumas regras que são descumpridas com frequência.
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Questão aberta Por favor, escreva (ou fale) alguns exemplos de regras que vocês mesmo criaram, aqui dentro do grupo.