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UNIVERSIDADE PAULISTA UNIP PROGRAMA DE MESTRADO EM ADMINISTRAÇÃO INTERFACE ENTRE INCERTEZAS E GOVERNANÇA RELACIONAL NAS REDES: ANÁLISE DE MÚLTIPLOS CASOS DA REGIÃO DE CUIABÁ Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado em Administração da Universidade Paulista UNIP para a obtenção do título de Mestre em Administração. MARIA CAROLINA SILVA DE ARRUDA São Paulo SP 2017

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UNIVERSIDADE PAULISTA – UNIP PROGRAMA DE MESTRADO EM ADMINISTRAÇÃO

INTERFACE ENTRE INCERTEZAS E GOVERNANÇA RELACIONAL NAS REDES:

ANÁLISE DE MÚLTIPLOS CASOS DA REGIÃO DE CUIABÁ

Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado em Administração da Universidade Paulista – UNIP para a obtenção do título de Mestre em Administração.

MARIA CAROLINA SILVA DE ARRUDA

São Paulo – SP 2017

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UNIVERSIDADE PAULISTA – UNIP PROGRAMA DE MESTRADO EM ADMINISTRAÇÃO

INTERFACE ENTRE INCERTEZAS E GOVERNANÇA RELACIONAL NAS REDES:

ANÁLISE DE MÚLTIPLOS CASOS DA REGIÃO DE CUIABÁ

Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado em Administração da Universidade Paulista – UNIP para a obtenção do título de Mestre em Administração.

Orientador: Prof. Dr. Ernesto Michelangelo Giglio

Área de concentração: Redes Organizacionais.

Linha de pesquisa: Abordagens Sociais nas Redes.

MARIA CAROLINA SILVA DE ARRUDA

São Paulo - SP 2017

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Arruda, Maria Carolina Silva de.

Interface entre incertezas e governança relacional nas redes: análise de múltiplos casos da região de Cuiabá. / Maria Carolina Silva de Arruda. - 2017. 136 f.: il. color. + CD-ROM.

Dissertação de Mestrado Apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Administração da Universidade Paulista, São Paulo, 2017.

Área de concentração: Redes Organizacionais: Abordagens sociais nas redes. Orientador: Prof. Dr. Ernesto Michelangelo Giglio. 1. Redes. 2. Governança relacional. 3. Incerteza ambiental. 4. Incerteza comportamental. I. Giglio, Ernesto Michelangelo (orientador). II. Título.

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MARIA CAROLINA SILVA DE ARRUDA

INTERFACE ENTRE INCERTEZAS E GOVERNANÇA RELACIONAL NAS REDES:

ANÁLISE DE MÚLTIPLOS CASOS DA REGIÃO DE CUIABÁ

Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado em Administração da Universidade Paulista – UNIP para a obtenção do título de Mestre em Administração.

Aprovada em: ____ / ____ / ____.

BANCA EXAMINADORA

___________________________/___/___ Prof. Dr. Ernesto M. Giglio

Universidade Paulista – UNIP

___________________________/___/___ Prof. Dr. Arnaldo Ryngelblum Universidade Paulista – UNIP

________________________________/___/___ Prof. Dr. Cristiano de Oliveira Maciel

Pontifícia Universidade Católica do Paraná - PUC

SÃO PAULO 2017

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AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus ter me dado saúde e força para alcançar meus

objetivos;

Ao meu esposo, Augusto Cézar D’Arruda, sua parceria e apoio incondicional

nos momentos de dificuldade, meu agradecimento especial;

Ao meu professor orientador, Dr. Ernesto Michelangelo Giglio, a dedicação,

paciência e incentivo. Um grande exemplo de pessoa e de educador. Afirmo que foi

um privilégio ser sua orientanda em todo o período do curso e que os seus

ensinamentos foram muito além dos conteúdos da dissertação, pois tive aprendizados

para a vida;

Aos meus pais, José Luiz de Arruda e Celia Lúcia Arruda, que ensinaram os

valores que norteiam a minha vida, e aos meus sogros Cézar Augusto D’Arruda e

Lenise Curvo D’Arruda todo suporte e incentivo nessa caminhada;

Ao Instituto Federal de Mato Grosso que deu todo apoio necessário,

reconhecendo a importância de se fazer um curso de mestrado;

A todos os professores do Programa de Mestrado em Administração da

Universidade Paulista - UNIP que contribuíram para o enriquecimento do meu

conhecimento;

Aos amigos do mestrado, a parceria nos momentos difíceis enfrentados juntos

e as vitórias conquistadas e comemoradas, afinal estamos em rede;

o professor Dr. Arnaldo Ryngelblum e ao professor Dr. Cristiano de Oliveira Maciel a

disponibilidade de participação e principalmente as contribuições ao trabalho;

Ao Departamento de Pós-Graduação em Administração na pessoa da Aline que

sempre me atendeu com muita presteza e atenção.

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"A mente que se abre a uma nova ideia nunca mais volta ao seu tamanho original." (Albert Einstein)

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RESUMO

O objetivo deste trabalho foi discutir, investigar e analisar o tema da governança relacional em redes na sua interface com as incertezas ambientais e comportamentais. Define-se governança como o arranjo das regras que possibilita o trabalho coletivo, e incerteza como a falta de conhecimentos, que exige a tomada de decisões em ações coletivas, incluindo instrumentos de defesa. A teoria de base da governança advém de modelos que incorporam a incerteza ambiental e comportamental, criando sistemas de regras de controle e de incentivos. O problema da pesquisa pode ser resumido na pergunta: Qual a relação entre incertezas e governança nas redes? Realizada a revisão bibliográfica, concluiu-se que são raros os modelos que integram as incertezas com a governança, embora existam muitas afirmativas a respeito. No desenho da pesquisa colocou-se a interface das incertezas com a governança relacional, mostrando que os indicadores da governança podem ter origem tanto interna do grupo, quanto externa; entretanto, foram estudados apenas os indicadores de origem interna. A pesquisa configura-se como descritiva e exploratória, de natureza qualitativa, com método de estudo de caso, coletando dados de uma rede de negócios e uma rede de catadores de materiais recicláveis. Os instrumentos de coleta de dados utilizados foram a entrevista com roteiro semiestruturado e os dados de fontes secundárias. Nas duas redes realizaram-se análises inter e intraorganizacional. Na rede de economia solidária que envolve catadores de materiais recicláveis, cuja organização foco foi a ASSCAVAG - Associação dos Catadores de Várzea Grande, a conclusão é que se pode estabelecer uma relação entre as incertezas ambientais e comportamentais a partir da análise intraorganizacional já que os mecanismos de governança relacional estão resolvendo a maioria dos problemas surgidos no grupo. A mesma conclusão é afirmada para o caso da rede de negócios, cuja organização foco foi o Shopping Popular, a partir da análise intraorganizacional. Nas duas análises interorganizacionais, os mecanismos formais e regras de mercado predominaram, com pouca margem para arranjos entre as partes. A interpretação para os resultados é que a rede interorganizacional da qual a ASSCAVAG – Associação dos Catadores de Várzea Grande, faz parte compõe planos e projetos do governo, tornando as regras mais inflexíveis. Além disso, essa rede tem como atores grandes empresas, que desenvolvem ações sociais e, por questões de controle dessas ações, criam contratos com regras para serem obedecidas, sob pena de suspensão dos financiamentos, o que caracteriza uma rede interorganizacional formalizada, com pouca margem para negociação. Seguindo nessa mesma linha, a rede interorganizacional na qual o Shopping Popular faz parte também possui sua formalização, fundada em regras de comércio de varejo, controle de pirataria, leis de segurança e higiene no local, entre outras. No entanto, diferente da rede anterior, aqui existiram casos de negociações e acordos entre os atores. A contribuição do trabalho foi metodológica, haja vista a construção de indicadores que nortearam a elaboração dos instrumentos completos de investigação que podem ser testados em outras pesquisas; e teórica tendo em vista relacionar a governança relacional com incertezas ambientais e comportamentais, fato com certo ineditismo na literatura. Como sugestão de pesquisa futura indica-se investigar a correspondência de incertezas e governança relacional em redes com menor participação e controle do governo, ou seja, tentar selecionar redes que não tenham tanta intervenção do governo para poder analisar se, nesse caso, as organizações apresentam mais interação e negociação.

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Palavras-chave: Redes; Governança Relacional; Incerteza Ambiental; Incerteza Comportamental

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ABSTRACT

The objective of this work was to discuss, investigate and analyze the theme of relational network governance in its interface with environmental and behavioral uncertainties. Governance is defined as the arrangement of rules that enables collective work and uncertainty such as lack of knowledge, which requires decision-making in collective actions, including defense instruments. The basic theory of governance comes from models that incorporate environmental and behavioral uncertainty, creating systems of control rules and incentives. The research problem can be summarized in the question: What is the relationship between uncertainties and governance in networks? The bibliographical review was concluded that the models that integrate the uncertainties with the governance are rare, although there are many affirmations about it. In the research design, the interface of uncertainties with relational governance was shown, showing that governance indicators can originate both within the group and external, however, only the indicators of internal origin were studied. The research is descriptive and exploratory, of a qualitative nature, with a case study method, collecting data from a business network and a network of recyclable material collectors. The data collection instruments used were the interview with semi-structured script and data from secondary sources. Inter and intraorganizational analyzes were performed in both networks. In the network of solidarity economy that involves collectors of recyclable materials whose organization was ASSCAVAG - Varzea Grande Collectors Association the conclusion is that a relationship can be established between environmental and behavioral uncertainties from the intraorganizational analysis since the mechanisms of relational governance are solving the majority Problems encountered in the group. The same conclusion is affirmed for the case of the business network, whose organization was Popular Shopping, based on the intraorganizational analysis. In both interorganizational analyzes the formal mechanisms and market rules predominated, with little scope for arrangements between the parties. The interpretation for the results is that the interorganizational network of which ASSCAVAG is part composes government plans and projects, making rules more inflexible. In addition, this network has as actors large companies, which carry out social actions and, for control of these actions, create contracts with rules to be obeyed, under penalty of suspension of financing, which characterizes a formalized interorganizational network with little margin For trading. Along the same lines, the interorganizational network in which the popular shopping mall is part also has its formalization, based on rules of retail trade, control of piracy, safety and hygiene laws in place, among others. However, unlike the previous network, there have been cases of negotiations and agreements between the actors. The contribution of the work was methodological, considering the construction of indicators that guided the elaboration of the complete research instruments that can be tested in other researches; And theoretical in order to relate relational governance with environmental and behavioral uncertainties, a fact with certain novelty in the literature. As a suggestion of future research it is necessary to investigate the correspondence of uncertainties and relational governance in networks with less participation and control of the government, that is, try to select networks that do not have so much intervention of the government to be able to analyze if in this case the organizations present more interaction and negotiation.

Keywords: Networks; Relational governance; Environmental uncertainty; Behavioral uncertainty

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES Item Página

FIGURA 1 – O modelo de governança relacional 36

FIGURA 2 – Modelo proposto do Desenho de Pesquisa 43

FIGURA 3 – Foto do galpão em que fica localizada a ASSCAVAG 57

FIGURA 4 - Mapa das relações da Rede da ASSCAVAG, conforme

respostas dos entrevistados

59

FIGURA 5 – Foto do Shopping Popular 81

FIGURA 6 - Mapa das relações da Rede da Shopping Popular,

conforme respostas dos entrevistados.

83

QUADRO 1 - Indicadores das categorias governança relacional,

incerteza ambiental e comportamental

46

QUADRO 2 - Indicadores das categorias estudadas presentes na

entrevista com sujeito 1

64

QUADRO 3 - Indicadores das categorias estudadas presentes na

entrevista com sujeito 2

68

Quadro 4 - Indicadores das categorias estudadas presentes na

entrevista com sujeito 3 e 4

74

Quadro 5 - Combinação dos indicadores com os sinais de

governança relacional presentes em todas as entrevistas realizadas

na rede na qual a ASSCAVAG está inserida

76

Quadro 6 - Indicadores das categorias estudadas presentes na

entrevista com sujeito 1 da rede na qual o Shopping Popular está

inserido.

89

Quadro 7 - Indicadores das categorias estudadas presentes na

entrevista com sujeito 2 da rede na qual o Shopping Popular está

inserido.

94

Quadro 8 - Indicadores das categorias estudadas presentes na

entrevista com sujeito 2 da rede na qual o Shopping Popular está

inserido.

99

Quadro 9 - Os indicadores com os sinais de governança relacional

presentes em todas as entrevistas realizadas na rede na qual o

Shopping Popular está inserido.

101

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Quadro 10 - Apresentação dos indicadores de incertezas e de

governança relacional presentes nas entrevistas das redes

investigadas (ASSCAVAG e Shopping Popular) que obtiveram

convergência total.

104

Quadro 11 - Apresentação dos indicadores de incertezas e de

governança relacional presentes nas entrevistas das redes

investigadas (ASSCAVAG e Shopping Popular) que obtiveram

convergência parcial.

105

TABELA 1 - Frequência de artigos encontrados no portal

PROQUEST sobre as categorias governance (governança),

relational governance (governança) e network (redes)

22

TABELA 2 - Frequência de artigos encontrados no portal SCIELO

sobre a categoria governança

24

TABELA 3 - Frequência de artigos encontrados no portal

PROQUEST sobre as categorias uncertainty (incerteza) e network

(redes)

29

TABELA 4 – Frequência de artigos encontrados no portal SCIELO

sobre a categoria incerteza

31

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ASSCAVAG Associação dos Catadores de Várzea Grande

BNDES Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social

COOCOMP/MT Cooperativa de Compras do Comércio Popular de Mato

Grosso

DETRAN/MT Departamento Estadual de Trânsito de Mato Grosso

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

SEMA/MT Secretaria do Meio Ambiente de Mato Grosso

SETAS Secretaria de Estado de Trabalho e Assistência Social

SMTU Secretaria Municipal de Trânsito e Transportes

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ....................................................................................... 15

1.1 Tema .................................................................................................. 18

1.2 Problema ........................................................................................... 18

1.3 Justificativa ...................................................................................... 18

1.4 Objetivo Geral ................................................................................... 19

1.5 Objetivos Específicos ...................................................................... 19

2 REVISÃO DA BIBLIOGRAFIA .............................................................. 20

2.1. Governança ..................................................................................... 20

2.2 Governança nas Redes .................................................................... 21

2.3 Governança Relacional .................................................................... 26

2.4 Incerteza ............................................................................................ 28

2.5 Incerteza nas Redes ......................................................................... 29

3 TEORIA DE BASE .................................................................................. 34

3.1 Perspectiva Social de Redes .............................................................. 34

3.2 Conceito de Governança Relacional ................................................. 36

3.3 Conceito de Incerteza Ambiental e de Incerteza

Comportamental........................................................................................

39

3.4 Relação entre Incerteza e Governança Relacional ........................... 42

3.5 Desenho e Proposta de Pesquisa ...................................................... 43

3.6 Indicadores das categorias Governança Relacional, Incerteza

Ambiental e Incerteza Comportamental ..................................................

44

4 METODOLOGIA ...................................................................................... 49

4.1 Plano da Pesquisa .............................................................................. 51

4.2 Protocolo de Pesquisa ....................................................................... 51

4.2.1 Objetivo .............................................................................................. 52

4.2.2 Tipo de Pesquisa ............................................................................... 52

4.2.3 Escopo ............................................................................................... 52

4.2.4 Sujeitos .............................................................................................. 52

4.2.5 Instrumentos de coleta de dados ....................................................... 53

4.2.5.1 Entrevista com roteiro semiestruturado ........................................... 53

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4.2.5.2 Questionário com afirmativas .......................................................... 54

4.2.5.3 Dados de fontes secundárias .......................................................... 55

4.2.6 Formas e processo de análise ............................................................ 55

5 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS ........................................ 57

5.1 Rede de Economia Solidária de Catadores de Materiais

Recicláveis .................................................................................................

58

5.1.1 Dados de fontes secundárias ............................................................. 58

5.1.2 Dados de fontes primárias – entrevistas ............................................ 62

5.1.3 Resposta ao problema de pesquisa ................................................... 76

5.2 Rede de Negócios do Shopping Popular de

Cuiabá/MT...................................................................................................

80

5.2.1 Dados de fontes secundárias ............................................................ 80

5.2.2 Dados de fontes primárias – entrevistas ............................................ 84

5.2.3 Resposta ao problema de pesquisa ................................................... 96

5.3 Conclusão sobre os resultados das redes ....................................... 104

6 COMENTÁRIOS FINAIS .......................................................................... 108

6.1. Sobre os objetivos .............................................................................. 110

6.2 Resposta sobre a proposição orientadora ........................................ 113

6.3 Comentários sobre a fundamentação teórica e os resultados

alcançados .................................................................................................

115

6.4 Comentários sobre a metodologia ..................................................... 118

6.5 Comentários sobre as duas redes ...................................................... 119

6.6 Comentários sobre os limites e as contribuições do

trabalho.......................................................................................................

119

6.6.1 Limites do trabalho ............................................................................. 120

6.6.2 Contribuições do trabalho .................................................................. 120

6.7 Sugestões de novas pesquisas ......................................................... 121

6.8 Comentário finais ................................................................................ 122

REFERÊNCIAS ........................................................................................... 123

Apêndice I. Instrumento Roteiro de Entrevista com Questões

Semiestruturadas ....................................................................................

130

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Apêndice II. Instrumento Questionário .................................................. 133

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1 INTRODUÇÃO

O objetivo deste trabalho é discutir, investigar e analisar o tema da governança

relacional em redes na sua interface com as incertezas do ambiente e do

comportamento dos atores no grupo. No projeto utiliza-se o conceito de governança

como mecanismos de controle e de coordenação que surgem dos relacionamentos

sociais e inclui salvaguardas informais, como confiança e reputação (JONES;

HESTERLY; BORGATTI, 1997; BACHMANN; ZAHEER, 2008).

Revisão bibliográfica prévia indicou que a categoria governança aparece em

muitos estudos sobre redes, com uma variedade de conceitos, afirmativas e modelos

de investigação. Como exemplo de autores frequentemente referenciados sobre o

tema, citam-se: Grandori (1997) que entende que a governança pode ser considerada

a base das redes, em que são utilizadas técnicas de coordenação, e Jones, Hesterly

e Borgatti (1997) que apresentaram uma teoria sobre governança, afirmando que o

seu modelo esclarece e resolve os aspectos racionais, econômicos e sociais das

redes; já que problemas tais como custos, ou incertezas de mercado são resolvidos a

partir de relações sociais.

Os estudos contemporâneos, como de Liu e Zhang (2013), afirmam que a

governança relacional é um modo de coordenar relacionamentos de negócios, no qual

empresas independentes, por meio de esforços conjuntos, executam ações

coordenadas para alcançar resultados mútuos ou singulares. Rodrigues e Malo (2006)

retratam a governança no sentido de práticas de controle relacionadas aos conceitos

de parceria, de aprendizado coletivo, de participação, de regulamentação e de

benefício para as estruturas organizacionais, no estudo de uma rede sem fins

lucrativos. Tais autores buscaram relacionar a governança com algumas variáveis

como de resultados, de motivação, de solução de conflitos e de controle. Sobre este

último exemplo, os controles referem-se às incertezas e imprevisibilidades do

ambiente e às incertezas comportamentais. O que se nota nessa revisão prévia é que

predominantemente se coloca a governança na direção do controle, isto é, na sua

função de controle e raramente se coloca o sentido das incertezas influenciando a

construção da governança. Assim, nasceu o tema de se investigar nessa direção, do

caminho que começa nas incertezas e chega à construção da governança.

Quando se trata de incerteza ambiental, a linha dominante do conceito é a

incapacidade percebida do ator da rede para prever com precisão eventos futuros do

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ambiente no qual a organização está inserida (MILLIKEN, 1987); e, sobre a incerteza

comportamental, a linha dominante do conceito é a imprevisibilidade do

comportamento de um ator (GULATI,1998). No entanto, quando se trata de incerteza

ligada à governança relacional de redes, são raros os trabalhos que resolvem essa

equação, entre os quais, o trabalho de Jones, Hesterly e Borgatti (1997) e da Grandori

(1997) que afirmam que a governança em rede nasce com a função de diminuir as

incertezas, tanto do ambiente quanto do comportamento. Sobre as incertezas

ambientais, foram abordadas incertezas sobre legislação e sobre o clima; e sobre as

incertezas comportamentais, foram tratadas as incertezas sobre oportunismo e

negligência.

O tema de redes tem importância crescente no ambiente acadêmico. Conforme

Nohria e Eccles (1992), essa tendência tem como decorrência o surgimento de uma

nova forma de competição, baseada na competição entre grupos; no desenvolvimento

de tecnologias nos últimos anos que possibilitou o nascimento de novos arranjos

produtivos e de distribuições mais flexíveis e descentralizadas; e no incremento do

interesse do assunto pelos pesquisadores científicos.

Dentre as categorias que constituem a rede, a revisão bibliográfica inicial

destaca a governança, a estrutura e os fluxos de relacionamento como as mais

citadas. Tais categorias têm recebido ênfase dos pesquisadores, que buscam seu

surgimento, sua natureza e suas influências no desenvolvimento e nos resultados das

redes.

Uma convergência que surge da revisão inicial sobre governança é a sua

característica de controlar os processos, os relacionamentos e o comportamento dos

atores. Em outras palavras, a governança é o arranjo das regras que possibilita o

trabalho coletivo (GRANDORI e SODA, 1995). Outra convergência é caracterizar a

governança como forma de incentivo para ações coletivas, buscando eliminar o

oportunismo. Essa afirmativa foi repetida por Williamson (1994), em seus estudos

sobre contratos, incertezas e a função de controle das relações sociais.

Apesar dessas convergências, existem questões em aberto, por exemplo,

sobre a governança relacional, a saber: Qual a origem dessa governança? Como ela

se desenvolve? Quais as variações e tipos de governança? Essas variações

dependem do ramo de negócios? É independente dos problemas do grupo? Quais os

mecanismos, ou meios de governança relacional mais utilizados?

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17

Outro ponto é que existem muitas classificações e diferentes sentidos de

governança. Cassanego Junior (2014), por exemplo, afirma que os elementos a serem

considerados em pesquisas sobre governança são: a estrutura da governança, suas

funções, seus mecanismos e meios, seus objetivos, seus agentes e seus requisitos

da governança.

No que tange às incertezas, também surgem questões a serem respondidas,

quais sejam: Quais as fontes e as dimensões da incerteza? Que tipos de incertezas

podem estar presentes? Como investigar essa incerteza? A investigação deve seguir

por sinais tangíveis, ou pela percepção de cada ator? Como evoluem as incertezas?

A governança relacional atinge seus objetivos de prevenção, defesa e controle das

incertezas? Quais os efeitos das incertezas na governança da rede? Esxas questões

estão no centro de discussão neste projeto.

Considerando essas questões em aberto sobre o tema da governança e da

incerteza, a proposta do trabalho é discutir, investigar e analisar a interface entre

incerteza e governança relacional em redes. Afirma-se que a governança relacional

surge e se desenvolve a partir das relações sociais na rede, conforme modelo de

Jones et al. (1997). O conceito também se estende para a governança como guia,

controle e incentivo das relações entre os atores. A linha geral do conceito é que a

governança relacional é uma coordenação que nasce dos relacionamentos sociais da

rede.

Como plano de investigação, criou-se um quadro de indicadores dos sinais da

governança relacional e da presença de incertezas, os quais foram construídos a partir

da revisão bibliográfica e da base teórica. Com esse quadro foi possível construir

instrumentos para investigar a interface proposta em exemplos de redes.

A proposição orientadora é que, diante das incertezas ambientais e

comportamentais, os atores de uma rede criam regras sobre sistemas de defesa, para

evitar os efeitos das incertezas ambientais; e regras sobre sistemas de controles e

incentivos para exercer algum grau de controle nas incertezas comportamentais. A

proposta tem foco na construção dessas defesas, independentemente dos resultados

comerciais obtidos, o que ensejaria outro trabalho.

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1.1 Tema

Discussões e análises da Governança Relacional nas redes associada às

Incertezas Ambientais e às Incertezas Comportamentais.

1.2 Problema

Considerando um ambiente com rápidas mudanças e necessidade constante

de adaptação, no qual existem incertezas, faz-se necessário criar uma governança

como forma de diminuir as incertezas e criar segurança. Sendo assim, este estudo

procurou verificar em pesquisas de campo a correspondência entre incertezas e

governança nas redes e responder à seguinte questão:

Quais os sinais de governança relacional presentes na rede que buscam se

prevenir dos efeitos das incertezas ambientais e exercer um grau de controle sobre

as incertezas comportamentais dos atores?

1.3 Justificativa

O estudo justifica-se, em primeiro lugar, pela relevância conceitual de se

colocar categorias sociais como bases das redes e pelo fato de a governança ser um

tema em evidência nos estudos de rede. Justifica-se, ainda, pelo fato de as redes

estarem em ambientes de constante mudança, sejam comerciais, políticas, sociais,

comportamentais; valorizando o papel da governança na solução de problemas

coletivos.

A questão de entender a interface da governança relacional com as incertezas

presentes nas redes também justifica o desenvolvimento desse estudo. Na parte

metodológica existem dúvidas, questionamentos sobre quais indicadores são válidos

para se investigar as incertezas do ambiente, do comportamento dos indivíduos do

grupo e dos sinais de governança construída no grupo.

O trabalho, portanto, está inserido numa corrente de questionamentos sobre o

tema de governança relacional associada às incertezas ambientais e

comportamentais nas redes.

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1.4 Objetivo Geral

O objetivo geral do trabalho consistiu em identificar e apresentar os sinais de

governança relacional que buscam prevenir e defender a rede dos efeitos das

incertezas ambientais e exercer algum grau de controle nas incertezas do

comportamento dos indivíduos.

1.5 Objetivos Específicos

Mapear as ligações das redes selecionadas;

Apresentar os objetivos e as características das redes;

Criar e aplicar indicadores de governança relacional;

Criar e aplicar indicadores de incerteza;

Apresentar os resultados finais dos sinais de governança relacional

encontradas nos casos; e

Comparar os resultados do campo com as afirmativas teóricas.

O trabalho estrutura-se da seguinte maneira, nesta introdução apresenta-se a

proposta do trabalho, com a proposição orientadora, seus pontos de partida, sua

justificativa e sua estrutura. No item 2 apresenta-se a revisão bibliográfica sobre a

governança nas redes e sobre as incertezas. A proposta desse item é analisar as

tendências dos trabalhos envolvendo a categoria governança nas redes. Desse modo,

o item indica a importância e justificativa do problema levantado; a convergência dos

trabalhos contemporâneos e estabelece a posição do presente trabalho. No item 3

são apresentadas as bases teóricas que servem de fundamento para a construção

dos instrumentos de coleta e para as discussões finais. No item 4 aponta-se o plano

metodológico. No item 5 são apresentados os dados e são discutidos os resultados.

Por fim, no item 6 são apresentados os comentários finais.

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20

2 REVISÃO DA BIBLIOGRAFIA

A revisão bibliográfica tem como propósito conhecer a tendência e o leque de

abordagens, teorias, metodologias e discussões de trabalhos atuais a respeito do

tema em análise. Ao final do item é possível justificar a validade e relevância do

problema levantado, estabelecer a posição do presente projeto na trilha de pesquisa,

isto é, se alinhado ou divergente das tendências que a revisão indicou, além de

mostrar a relevância do trabalho e das categorias selecionadas.

A pesquisa bibliográfica foi obtida por meio de consultas a sites de trabalhos

acadêmicos. Para os regionais, foi utilizado o SCIELO – Scientific Electronic Library

Online – e, para internacionais, a fonte foi o PROQUEST. Essas fontes foram

selecionadas por indicarem os artigos presentes em revistas qualificadas e por

permitirem cruzamentos e variações de busca, conforme interesse do pesquisador.

2.1 Governança

O termo governança encontra diversas definições nas mais variadas disciplinas

e áreas de estudo. Realizando uma pesquisa no portal PROQUEST referente à

palavra governance obtêm-se o número de 50.005 indicações de publicações,

obtendo maior número de concentração nos estudos referentes aos assuntos de

Governança (18341), Ensino superior (5309), Gestão (3080), Economia (2713),

Política (2033), Política Educacional (2168) e outros assuntos como políticas públicas,

business e tomadas de decisões que aparecem com menos frequência.

A partir da listagem, verificou-se com mais detalhes os títulos e a origem do

meio de publicação de cada um desses itens mais frequentes, recolhendo-se uma

amostra dos 30 primeiros, com filtro da ordem cronológica do mais recente. O

resultado é que tópicos tais como Ensino Superior, Gestão e Economia tratam da

governança no sentido diferente, distante dos objetivos deste projeto, por exemplo, no

sentido de análise financeira, ou de organização corporativa, ou de gestão de uma

organização.

No sistema de busca do PROQUEST, existe um item específico com o título

Governança. A análise dos assuntos indicados nesse tema resulta em grande

variedade, tal como Sociologia do crime, ou Políticas educacionais. Selecionando-se

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21

a área Governança, conforme a classificação dada pelo portal, restam 3.270

resultados.

Essa primeira busca de dados indica a maleabilidade do conceito e dos campos

de aplicação da governança. Tendo em vista o foco do trabalho que é a governança

em redes, realizou-se uma segunda busca com expressões conjugadas, em inglês,

de governance e network.

2.2 Governança nas Redes

Na busca no portal PROQUEST, a palavra network com filtro para título do

documento resulta em indicações da ordem de 900 mil e a palavra governance sem

filtro resulta em indicações da ordem de 305 mil. Já a palavra governance com filtro

para título do documento resulta em indicações da ordem de 27 mil. Nesses trabalhos,

conforme a classificação feita pelo portal de pesquisa, a governança é abordada em

diversas áreas e temas, sendo as mais frequentes, na ordem, gestão, questões

políticas, política educacional e governança corporativa.

Ao colocar o filtro de título de documento nas duas palavras, governance e

network, obtêm-se 595 resultados. A partir daí, foi realizado um levantamento de 2005

até 2016, ou seja, dos últimos onze anos, e se chegou ao número de 507 trabalhos

publicados. As indicações foram tratadas conforme orientação de Araújo (2006) sobre

levantamento bibliométrico, que é uma técnica de avaliação da produção científica

verificando índices de produção, frequência de temas, natureza do texto (se artigo,

tese, depoimento, etc.) num período determinado.

Realizou-se, também, a busca no PROQUEST da expressão relational

governance com filtro para título do documento que resultou em 65 indicações. Se

aceita que o filtro para título do documento resulta em trabalhos mais próximos do

objetivo deste projeto, pois a expressão no título faz com que o autor desenvolva mais

profundamente o tema.

Fazendo uma busca da palavra network com filtro no título combinado com a

palavra relational governance sem filtro, chegou-se a 285 indicações. Realizando-se

uma segunda busca com a combinação das expressões network e relational

governance ambas com filtro para título geraram-se 4 indicações.

Tais resultados são apresentados na Tabela 1, podendo ser verificada a

frequência de estudos conforme os filtros aplicados.

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22

Tabela 1 - Frequência de artigos encontrados no portal PROQUEST sobre as categorias governance (governança), relational governance (governança relacional) e network (redes).

CATEGORIAS ARTIGOS

(1) Network (no título) 900 mil

(2) Governance (sem filtro) 305 mil

(2) Governance (no título) 27 mil

(3) Relational Governance (no título) 65

(1) + (2) (ambos no título) 595

(1) + (2) (no título) (2005 – 2016) 507

(1) (no título) + (3) (sem filtro) 285

(1) + (3) (ambos no título) 4

Fonte: Construído pela autora, 2017.

Como se percebe naTabela 1, os trabalhos de governança sobre redes são

poucos quando se compara com a produção total da expressão governança

(595/305.000). Nesse sentido, foram analisados os trabalhos dos seguintes

resultados: network + governance (ambos no título; no intervalo de 2005 até 2016,

(507); relational governance (no título), (65); e relational governance + network (ambos

no título) (4).

Das 507 indicações que se referem à pesquisa com as palavras governance +

network ambas com filtro no título e no intervalo de 2005 até 2016, 334 referem-se a

artigos, e 12 referem-se a teses e dissertações. Esse material constitui o foco de

análise, para a qual foi lido o título, as palavras-chave e o resumo.

Das 12 indicações de teses e dissertações, 10 abordaram a governança no

tema de políticas públicas, uma referia-se à governança em rede social na internet e

uma abordava a relação entre as características da rede com o desempenho. Esse

trabalho retrata um assunto que buscou unir a governança com outras categorias, no

caso em tela, a estrutura da rede, uma vez que o autor Whitall (2008) afirmou que

além da governança, outras características, tais como estrutura e capital social

exercem efeitos diretos e indiretos sobre o desempenho da rede.

Na análise dos 334 artigos, ao entrar no link de cada indicação, o sistema

automaticamente rearranja o total chegando finalmente ao número de 264 indicações.

Dessas 264 indicações, lendo os títulos, as palavras-chave e os resumos encontrou-

se que 104 tratavam da governança como gestão, 35 sobre políticas públicas, 24

sobre gestão pública, 24 sobre internet, 19 sobre tecnologia da informação, 18 sobre

políticas educacionais, 7 na área de economia, 5 na área da saúde, 4 sobre gestão

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de recursos hídricos, 4 sobre gestão de pesca, 5 sobre governança corporativa, 3

sobre canais de marketing, 1 sobre segurança, e 11 indicações apresentam relação

mais evidente com o objeto de estudo deste trabalho e que serão expostas a seguir.

Esses 11 trabalhos foram lidos nas partes relevantes como introdução e base teórica,

em que se discutem conceitos de governança e de governança relacional.

Mueller (2011) aborda a governança em rede dentro da visão econômica e

desenvolve um estudo que relaciona a forma de governança com o tipo de rede. O

autor divide a governança em duas formas no que tange aos seus sistemas de

incentivos, a forma conduzir-firme que é mais eficiente em rede vertical com

relacionamento vertical, e a de terceiros que é mais adequada a redes horizontais pelo

fato de apresentar um relacionamento mais competitivo e maleável.

Park e Wilding (2014) utilizam o conceito de governança como mecanismos de

coordenação que se apresentam de diferentes formas no relacionamento. Na mesma

linha de coordenação, os trabalhos de Raeymaeckers (2013) e Schuesler et al. (2013)

não definiram governança, mas utilizaram a tipologia de Provan e Kenis (2008) que

define a governança como uma forma de estrutura e de elementos de organização e

de coordenação das redes.

Pilbeam et al. (2012) e Pilbeam, Alvarez e Wilding (2010) adotaram o conceito

de governança de Grandori e Soda (1995) como um conjunto de mecanismos de

coordenação, controle e incentivo das relações entre os atores da rede para atingir os

resultados. Na mesma linha de coordenação entre os atores encontram-se os

trabalhos de Ibert e Stein (2012) e Span et al. (2012).

Ainda no trabalho de Pilbeam et al. (2012) relatam-se seis variáveis de

resultados da governança em uma rede: criatividade, viabilidade, controle,

coordenação, desempenho e legitimidade. Conforme será detalhado na parte teoria

de base, algumas dessas variáveis, tais como controle e coordenação, poderão ser

utilizadas como indicadores.

Arranz et al. (2007) utilizou o conceito de Gulati (1998), que define governança

como as estruturas contratuais formais usadas para organizar parcerias em alianças

estratégicas. Ressalta-se que, Gulati (1998) também desenvolveu um estudo com

intuito de mostrar que pessoas participam de redes sociais que contribuem para a

minimização das incertezas de comportamento relacionadas às escolhas dos

parceiros.

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24

Czakon (2009) utilizou o modelo de Jones et al. (1997) que define governança

como uma combinação estrutural dos sistemas informais, sociais, com estruturas

burocráticas e contratos formais. Ren et al. (2013) definiram governança relacional

como um importante mecanismo social que regula e orienta as atividades de troca,

tendo como base a confiança e a colaboração entre os parceiros, evitando, assim, o

comportamento oportunista.

Como se percebe, as definições encontradas se agrupam em estudos que

analisam os elementos constitutivos e operacionais da governança, ou seja, suas

funções de controle e formas de trocas e também os mecanismos da governança. Em

alguns estudos os mecanismos são construídos a partir de regras do mercado, ou de

legislação específica, ou de contratos firmados; em outros é uma construção a partir

dos relacionamentos entre os atores.

Realizando o mesmo caminho da pesquisa internacional, a consulta ao banco

de dados brasileiro SCIELO, com a palavra governança isolada gera 692 indicações

de artigos. Colocando-se filtro do intervalo de 2005 até 2016; apenas na área de

Ciências Sociais Aplicadas e artigos brasileiros, obtiveram-se 237 resultados.

Filtrando ainda para artigos com a expressão “governança” no título, chegou-se a 101

resultados, sendo a maioria deles de gerenciamento (57), sociologia (19),

administração pública (18). Esses resultados são apresentados na Tabela 2, podendo

ser verificada a frequência de estudos conforme os filtros aplicados.

Tabela 2 - Frequência de artigos encontrados no portal SCIELO sobre a categoria governança.

Palavra Filtro Nº de artigos

Governança Sem filtro 692

Governança (2005 – 2016) - ciências sociais

aplicadas – artigos brasileiros

237

Governança No título 101

Fonte: Construído pela autora, 2017.

O passo seguinte consistiu em ler o título, as palavras-chave e o resumo dessas

101 indicações, o que resultou na seleção de 5 artigos. O corte ocorreu pelos

seguintes critérios: foram retirados os artigos que tratavam de governança corporativa,

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governança internacional, institucionalização, marketing, agroindústrias, questões

policiais, governança ambiental global, governança eletrônica, governança fundiária e

governança de TI.

Rodrigues e Malo (2006) abordam a governança no sentido de práticas de

controle relacionadas aos conceitos de parceria, aprendizado coletivo, participação,

regulamentação e benefício para as estruturas organizacionais, no estudo de uma

rede sem fins lucrativos: os doutores da alegria.

Villela e Pinto (2009) usaram a definição de governança que se enquadra no

entendimento de Le Galès (2006) que define governança como um processo de

coordenação de atores advindo de grupos sociais, de redes organizacionais ou de

instituições para atingir objetivos debatidos e estabelecidos coletivamente.

Teixeira et al. (2011) e Oliveira e Santana (2012) adotaram o conceito de

governança de Williamson (1985) que define governança como estrutura de

coordenação necessária para gerenciamento das transações das organizações. Já

Castro e Gonçalves (2014) utilizaram o conceito de governança levantado por Provan

e Kenis (2007) que conceituam a governança como uma forma de estrutura e de

coordenação das redes.

Brand et al. (2015) observaram que gestão e governança, apesar de se inter-

relacionarem, são conceitos diferentes por configurarem distintas perspectivas de

análise de redes interorganizacionais. Enquanto a gestão é mais flexível, adequando-

se mais às práticas de atendimento das necessidades coletivas, a governança é a

forma como a rede está organizada quanto aos mecanismos regulatórios e de tomada

de decisão. O projeto atual, com caráter analítico e não gerencial, segue mais a linha

de governança como mecanismos de regulação das ações coletivas.

Realizada a revisão bibliográfica dos trabalhos sobre governança, percebe-se

a divergência entre os autores no que se refere aos conceitos e campos de

investigação. O presente estudo está mais relacionado às ideias do trabalho do Villela

e Pinto (2009), em que se coloca que a governança nasce dos objetivos discutidos

coletivamente. Verifica-se, ainda, a existência de uma distinção conceitual entre

governança como mecanismo de grupo e governança como gestão, sendo que, neste

último caso, as regras e mecanismos existentes na rede são utilizados como base

para o gestor realizar sua tarefa de obter resultados.

Pode-se concluir dos trabalhos internacionais e nacionais analisados que a

palavra governança é apresentada com variados conceitos e campos de aplicação.

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Pode-se dizer que ainda não há um consenso na definição de governança, ora

definida a partir de um conceito de controle, ora como incentivo, ou como matriz

política, ou estratégica, ou corporativa, ou de gestão. O conceito está aberto à

discussão, o que justifica um esforço de investigá-lo na vertente de mecanismos de

controle das incertezas, os quais são construídos pelo grupo.

Considerando a raridade de estudos específicos sobre essa vertente de

governança relacional, isto é, que é construída no grupo, realizou-se uma segunda

rodada de busca bibliográfica específica sobre a expressão.

2.3 Governança Relacional

A busca no PROQUEST da expressão relational governance com filtro no título

resultou em 65 indicações, conforme indicado na Tabela 1. O passo seguinte consistiu

em ler o título, as palavras-chave e o resumo dessas 65 indicações. Ao entrar no link

de cada indicação o sistema automaticamente rearranja o total chegando ao número

de 51 indicações. Esses 51 trabalhos foram lidos nas partes relevantes como

introdução e base teórica, em que se discute o conceito da governança relacional.

Dessas 51 indicações, 2 trabalhos estavam inclusos na pesquisa com as

palavras governance + network, ambas com filtro no título. Um é o trabalho de Ren et

al. (2013) que se baseou no modelo de Jones et al. (1997); e o outro é o trabalho de

Bodin e Crona (2009), que trata de gestão de recursos naturais. Dos 47 restantes, 19

trabalhos tratavam da governança como gestão, 10 sobre tecnologia da informação,

7 sobre governança corporativa, 5 sobre políticas educacionais e 6 que apresentavam

uma relação mais evidente com o tema desta dissertação e que serão expostos a

seguir.

Cao e Lumineau (2015), baseando-se no conceito de Poppo et al. (2008),

entendem que governança relacional se refere ao grau em que as relações

interorganizacionais são regidas pelas relações sociais e regras comuns.

Luo et al. (2013) definem a governança relacional como conjunto de normas

relacionais que norteiam as trocas interorganizacionais, motivando as partes a

prosseguirem com cooperação e investimentos. Já Goo e Huang (2008) entendem

governança relacional como mecanismos destinados a influenciar o comportamento,

baseados na prática e não em documentos escritos.

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Ferguson et al. (2005) não conceituaram a governança relacional, mas, com

base em Noordewier et al. (1990), comentam que ela pode ser medida pela força de

normas relacionais como, por exemplo, o compartilhamento de informações, a

flexibilidade, a solidariedade e a justiça presentes nas trocas relacionais.

Liu e Zhang (2013) adotaram o conceito de Anderson e Narus (1990) que

definem governança relacional como um modo de coordenar relacionamentos de

negócios, em que empresas independentes, por meio de esforços conjuntos,

executam ações coordenadas para alcançar resultados mútuos ou singulares.

Yeh (2016) afirma que a governança relacional está diretamente e

positivamente correlacionada com a qualidade da relação e a aprendizagem

interfirma. Afirma ainda que a governança relacional complementa os limites

adaptativos dos contratos, promovendo a continuidade das transações e confiando a

ambas as partes resultados mutuamente aceitáveis. O autor também afirma que a

governança relacional afeta a capacidade dos parceiros de adaptar e superar com

flexibilidade a incerteza no relacionamento da cadeia de suprimentos. Esta última

afirmativa está diretamente relacionada ao presente trabalho, ao afirmar uma relação

direta entre governança relacional e incertezas comportamentais.

Das quatro indicações resultantes da busca com a combinação das expressões

network e relational governance (ambas com filtro para título), uma estava inclusa na

pesquisa com as palavras governance + network, ambas com filtro no título, que foi o

trabalho de Ren et al. (2013) que se baseou no modelo de Jones et al. (1997); a outra,

o trabalho de Foster, Borgatti e Jones (2011), que também não definiu governança,

mas se baseou no modelo de Jones et al. (1997) que afirma que governança é uma

forma de coordenar e salvaguardar trocas que estreitam os laços entre os atores e

reduz a incerteza sobre o comportamento oportunista. A outra, o trabalho de Bodin e

Crona (2009), tratou a governança como estrutura da rede que coordena as ações

dos atores. Por último, o trabalho de Tepic et al. (2011) baseou-se nos preceitos de

Poppo e Zenger (2002), afirmando que governança relacional surge dos valores e dos

processos acordados, gerados através de interações e intercâmbios nas relações

sociais, como em relações de confiança.

A partir da revisão bibliográfica, entende-se que esses conceitos convergem

com a definição de governança de Jones et al. (1997), que afirma que ela se origina

das relações sociais do grupo e as afirmativas de Williamson (1987) e Grandori (2006)

sobre a necessidade de ajustes no grupo (isto é, uma governança relacional), uma

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vez que os contratos formais não conseguem resolver as incertezas do ambiente de

negócios e do comportamento humano. A governança, portanto, implica sempre em

ajustes e formas de implementação, mesmo quando a origem é uma regra plena e

claramente estabelecida no ambiente organizacional.

O próximo item investiga os trabalhos sobre incerteza.

2.4 Incerteza

O termo “incerteza” encontra diversos conceitos nas mais variadas disciplinas

e áreas de estudo. Realizando uma pesquisa no portal PROQUEST referente a

palavra uncertainty obtêm-se o número da ordem de 230 mil indicações de

publicações, obtendo maior número de concentração nos estudos referentes aos

Modelos Matemáticos (48476), Análise matemática (18400), Simulação em

Computador (15951), Algoritmos (13383), Marinha (13180), Engenharia de Projeto

(9446).

A partir da listagem, verificou-se com mais detalhes os títulos e a origem do

meio de publicação de cada um desses itens mais frequentes, recolhendo-se uma

amostra dos 30 primeiros, com filtro da ordem cronológica do mais recente. O

resultado é que tópicos tais como Engenharia, Tecnologia da Informação e Economia

tratam da incerteza em diferentes contextos, por exemplo, como oscilação,

probabilidade, risco de determinado fato.

No sistema de busca do PROQUEST, existe um item específico com o título

Incerteza. A análise dos assuntos indicados nesse tema resulta em grande variedade,

tal como Controle e Sistemas, ou Instrumentos e Medidas ou Engenharia

Aeroespacial. Selecionando-se a área Incerteza, conforme a classificação dada pelo

portal, restam 55.034 resultados.

Essa primeira busca de dados indica a maleabilidade do conceito e dos campos

de aplicação da incerteza. Tendo em vista o foco do trabalho que é a incerteza em

redes, realizou-se uma segunda busca com expressões conjugadas de uncertainty e

network.

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2.5 Incerteza nas Redes

Na busca no portal PROQUEST, a palavra network com filtro para título do

documento resulta em indicações da ordem de 461 mil e a palavra uncertainty com o

mesmo filtro resulta em indicações da ordem de 34 mil. Nesses trabalhos, conforme a

classificação feita pelo portal de pesquisa, a incerteza é abordada em diversas áreas

e temas, sendo as mais frequentes, na ordem, incerteza, modelos matemáticos,

análise matemática, simulação de computador.

Ao colocar o filtro de título de documento nas duas palavras, uncertainty e

network, obtêm-se 946 resultados. Desses, 784 referem-se ao período de 2005 em

diante. Conforme Araújo (2006), o tempo de 11 anos é suficiente para um

levantamento bibliográfico indicar de forma objetiva uma produção científica, com

suas convergências e índices de produção.

Aceitando essa afirmativa foi feito um levantamento dos últimos onze anos, no

intervalo de 2005 até 2016 de trabalhos publicados com os termos uncertainty e

network no título.

Tais resultados são apresentados na Tabela 3, podendo ser verificada a

frequência de estudos conforme os filtros aplicados.

Tabela 3 - Frequência de artigos encontrados no portal PROQUEST sobre as categorias uncertainty (incerteza) e network (redes)

CATEGORIAS ARTIGOS

(1) Network (no título) 461 mil

(2) Uncertainty (sem filtro) 230 mil

(2) Uncertainty (no título) 34 mil

(3) Relational Governance (no título) 29

(1) + (2) (no título) 946

(1) + (2) (no título) (2005 - 2016) 765

(1) (no título) + (2) + (3) (sem filtro) 4

(1) + (2) + (3) sem filtro 9

Fonte: Construído pela autora, 2017.

A partir da análise dos 20 primeiros trabalhos das 687 indicações, da busca da

combinação das expressões network e uncertainty com filtro para o título e do intervalo

de 2005 até 2016, verificou-se que se tratava da incerteza em diferentes contextos e

campos de investigação, por exemplo, 4 relacionados à rede neural, 4 sobre incerteza

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de demanda, 5 relacionado à análise matemática, 4 relacionados à medida e 3 sobre

a área de sistema da informação.

Das 9 indicações da busca da combinação das expressões network, uncertainty

e relational governance sem filtro verificou-se 1 indicação relacionada à incerteza da

gestão de políticas ambientais, 1 indicação sobre a incerteza no planejamento urbano,

1 indicação sobre incerteza na tomada de decisão, 2 indicações tratam da incerteza

nas redes e 4 indicações são as encontradas na busca da expressão network com

filtro para o título combinada com as expressões uncertainty e relational governance

sem filtro. Logo, o passo seguinte consistiu em ler o título, as palavras-chave e o

resumo dessas 4 indicações e das 2 relacionados ao tema de rede.

Foster, Borgatti e Jones (2011) não definiram incerteza; entretanto utilizaram o

modelo de Jones et al. (1997) que afirma que governança é uma forma de reduzir a

incerteza sobre o comportamento oportunista.

Gravier (2007) utilizou o conceito de Rindfleisch e Heide (1997) que afirma que

incerteza é qualquer alteração imprevista das circunstâncias que cercam uma troca.

O autor coloca ainda que essa incerteza engloba a incerteza comportamental,

conforme exposta por Leiblein (2003), que considera não só o comportamento

propriamente dito, mas também os custos adicionais causados pelas mudanças não

previstas.

Hui e Tsang (2006) não definiram a incerteza em seu trabalho, sendo que a

utilizaram no sentido de tomada de decisão incerta. Whitford (2003) também não

definiu incerteza, sendo relacionado a risco no âmbito econômico.

Wu (2011) e Cousin e Crone (2003) não definiram a incerteza, mas a

relacionaram com a teoria da dependência de recursos, dizendo que estabelecer

relações de cooperação entre os atores é uma resposta estratégica para a incerteza

e dependência no ambiente, sendo que a incerteza ambiental levou ao aumento do

número de contratos relacionais e alianças estratégicas estabelecidas pelas

empresas.

Priem et al. (2002) conceituam incerteza como a variação imprevisível; já

Carpenter e Fredrickson (2001), como a falta de informações necessárias para avaliar

as relações de causa e efeito, a fim de tomar decisões. Krishnan, Martin e

Noorderhaven (2006) veem a incerteza como mudanças nas condições ambientais

enfrentadas por uma organização que estão fora de seu controle e difícil de antecipar.

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Realizando o mesmo caminho da pesquisa internacional, a consulta ao banco

de dados brasileiro SCIELO, com a palavra “incerteza” isolada gera 519 indicações

de artigos. Colocando-se filtro dos últimos onze anos, apenas na área de Ciências

Sociais Aplicadas e artigos brasileiros, obtêm-se 70 resultados. Filtrando ainda para

artigos com a expressão “incerteza” no título, chegou-se a 14 resultados, sendo eles

na área de gerenciamento (10), economia (4). Esses resultados são apresentados na

Tabela 4, podendo ser verificada a frequência de estudos conforme os filtros

aplicados.

Tabela 4 - Frequência de artigos encontrados no portal SCIELO sobre a categoria incerteza.

Palavra Filtro Nº de artigos

Incerteza Sem filtro 634

Incerteza (2005 - 2016) - ciências sociais

aplicadas – artigos brasileiros

76

Incerteza No título 14

Fonte: Construído pela autora, 2017.

O passo seguinte consistiu em ler o título, as palavras-chave e o resumo dessas

14 indicações, o que resultou na seleção de 5 artigos. O corte ocorreu pelos seguintes

critérios: foram retirados os artigos que não eram da área de redes, não definiram um

conceito de incerteza a ser seguido e utilizavam conceitos de cenários econômicos

macro-ambiental.

Gardelin et al. (2013) adotaram o conceito de incerteza de Milliken (1987) que

define a incerteza como uma inabilidade individual para prever de modo preciso o

ambiente. Já Silva e Brito (2013) colocam que a incerteza pode ser entendida como o

grau de imprevisibilidade das mudanças e do grau de dissimilaridade dos seus

elementos, em outras palavras, a incerteza se baseia na dificuldade das empresas em

conseguir as informações.

Lombardi e Brito (2010) adotaram uma definição de incerteza derivada das

perspectivas de Keynes (1937) e Knight (1921) que é entendida como fenômeno

perceptual do indivíduo e descrita como a percepção da capacidade de prever a

ocorrência de eventos futuros, a partir do estudo de ocorrências passadas.

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Zanini et al. (2009) entendem a incerteza ambiental na forma de falta de

informações que afetam o comportamento humano significativamente, restringindo o

desenvolvimento de confiança dentro das organizações, devido ao aumento da

incerteza comportamental.

Zanini (2005) não definiu incerteza e utilizou a concepção de Coriat e Guennif

(1998) que enxergam a incerteza como a imprevisibilidade referente ao

comportamento do indivíduo e seu grau de confiabilidade, em virtude da diversidade

de possíveis comportamentos de cada parceiro numa relação.

Jacomossi e Silva (2016) comentam que existem discordâncias conceituais

sobre incerteza ambiental: alguns autores entendem a incerteza no sentido de

imprevisibilidade dos acontecimentos, e outros autores entendem-na a partir de uma

percepção de uma pessoa sobre o meio ambiente. Tal divisão já havia sido apontada

por Milliken (1987), que afirma que a palavra incerteza pode expressar tanto um

estado de incerteza em organizações, quanto um estado de incerteza de uma pessoa

que dispõe de insuficientes informações acerca do ambiente.

Giovannini (2011) entende as organizações como sistemas dinâmicos não-

lineares, que apresentam duas grandes fontes de incertezas: a incerteza ambiental,

mesmo sentido de outros autores, isto é, da imprevisibilidade dos acontecimentos do

ambiente; e a fonte interna originada das imprevisibilidades do comportamento das

pessoas e dos processos em execução.

A partir dessa revisão bibliográfica, pode-se concluir que a incerteza é definida

por conceitos variados e em diferentes campos de aplicação. Das análises, surgiram

com mais frequência trabalhos tratando da percepção de cada um sobre a incerteza

ambiental e dos riscos percebidos, trilha que não se pretende seguir neste trabalho,

pela complexidade envolvida no próprio conceito de percepção.

A dissertação segue a trilha das incertezas de fato, ou objetivas, que afetam

todos do grupo de maneira igual, tais como imprevisibilidade climática, mudanças de

lei, flutuações de demanda, revoluções tecnológicas. Assim, o estudo está voltado

para a convergência sobre a existência de incertezas, conhecidas pelo grupo e as

consequentes ações coletivas, aqui denominadas de governança relacional.

Sobre incerteza comportamental, os trabalhos encontrados não estão inseridos

no tema de redes e de governança, embora a ideia de imprevisibilidade do

comportamento dos indivíduos tenha sido citada em alguns deles. Entre as incertezas

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comportamentais citam-se o oportunismo, a negligência, o desconhecimento, a

decisão errada.

Sobre a governança relacional, conclui-se que existem poucos trabalhos nessa

área e que há uma concordância do conceito, retratando a governança como regras

e normas construídas por meio da interação do grupo para alcançar objetivos

coletivos. Quanto à metodologia de pesquisa, não foram encontrados instrumentos e

indicadores validados para a relação específica entre incerteza e governança

relacional.

Quanto aos trabalhos que relacionam a governança relacional com as

incertezas ambientais e de comportamento, a situação é de quase ausência de

resultados. Isso significa que o presente trabalho carrega certo grau de ineditismo,

com sua vantagem de valorização e com os riscos associados à falta de teorias,

modelos e instrumentos validados.

Realizada a tarefa dessa investigação mais detalhada da produção acadêmica

sobre governança e incertezas, conclui-se pela validade e justificativa do trabalho, já

que os dois lados das expressões carregam discussões de conceitos e de formas de

investigação e o caminho que leva das incertezas para a construção da governança é

raramente comentado e investigado.

O próximo item apresenta a base teórica do trabalho.

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3 TEORIA DE BASE

Para o desenvolvimento deste trabalho seguir-se-á o paradigma da

interpretação social das redes e, como uma das bases, os conceitos de Granovetter

(1985), com seu conceito de imersão que se refere ao imbricamento entre as relações

sociais e econômicas, destacando-se os fatores econômicos e tecnológicos

influenciados e imersos em relações sociais. Ainda para Granovetter (1985), há a

possibilidade da existência de cooperação em transações entre firmas, o que levou o

autor a investigar as ações econômicas como imersas nas relações sociais.

Para que se possa compreender melhor a categoria governança relacional,

seguir-se-á o conceito de Jones et al. (1997) e da Grandori (2006). Segue-se a ideia

geral dos conceitos referenciados por tais autores, que serão detalhados adiante.

Jones et al. (1997) associou a Teoria dos Custos de Transação com a Teoria das

Redes Sociais explicitando que os mecanismos sociais influenciam as relações de

transações. Já no entendimento da Grandori (2006), governança relacional pode ser

vista a partir da perspectiva de um contrato criado pelo grupo, ou seja, ela é analisada

a partir de um contrato que surge por meios extracontratuais (sociais e relacionais).

Dito de outra forma, são acordos que surgem após o contrato formal, porque situações

inesperadas, ou imprevisíveis, ocorrem, exigindo solução.

A incerteza ambiental neste trabalho está relacionada às incertezas de

informações do ambiente no qual a rede está inserida, citada nos estudos de Milliken

(1987) e Thompson (1967). Já a incerteza comportamental se sustentará

principalmente nos conceitos de Gulati (1998), afirmando que incerteza é a

imprevisibilidade do comportamento de um ator, sendo essa incerteza do

comportamento de um possível ator um dos fatores que leva à necessidade de uma

governança relacional.

3.1 Perspectiva Social de Redes

Este subitem apresenta os conceitos de redes na perspectiva social. As redes

são conceituadas e analisadas de diversas formas. Análises bibliográficas anteriores

(MILES, SNOW, 1986; GRANDORI, SODA, 1995; DIMAGGIO, POWELL, 1983)

indicam que existem dois grandes paradigmas explicativos sobre redes: (a) o

paradigma racional e econômico, que afirma que as redes são formadas com base

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nas necessidades econômicas, ou seja, foca apenas nos motivos racionais para

estabelecer parcerias; e (b) o paradigma social, que afirma que as relações sociais

constituem uma teia que direciona todos os processos, decisões e comportamentos

de atores na rede.

Um dos conceitos principais do paradigma social é o embeddedness, que é a

influência do ambiente social nas transações dos atores da rede, em outras palavras,

as ações econômicas estão imersas nas estruturas das relações sociais. Outros

autores (GULATI, 1998; DIMAGGIO, POWELL, 1983; RUSBULT et al. 2003) também

afirmaram a importância do social nos processos técnicos das redes.

Nessa linha, Thorelli (1986) define rede como um número de nós ou ligações

entre atores, em que cada um, dinamicamente, ajuda a melhorar a posição do outro

dentro da rede. No entendimento de Powell (1990), o formato de redes é considerado

um terceiro tipo organizacional com características próprias, uma vez que não são

nem hierarquias e nem mercado. A rede pode ser considerada ainda como uma

construção planejada, em que cada ator decide sobre sua participação e seus

objetivos (EBERS, JARILLO, 1998; GIGLIO et al., 2006).

Para Kogut (2000), a formação de uma rede é entendida como a criação das

regras das relações entre os atores, criadas a partir de conhecimentos de experiências

cotidianas, em uma lógica racional; sendo que existem três razões para o nascimento

de redes: custos de transação, comportamento estratégico e busca de conhecimento,

ressaltando-se este último.

Gulati e Gargiulo (1999) têm afirmado sobre a importância de buscar no

nascimento da rede seus sinais, visíveis no comportamento dos atores. Giglio (2010)

afirmou não ser suficiente utilizar os princípios do paradigma racional econômico para

se compreender as redes, como ocorre predominantemente em trabalhos sobre redes

derivados da logística.

A perspectiva social, portanto, coloca as relações sociais como o princípio

orientador dos processos da rede, incluindo a construção da governança. Entendido

dessa forma, a governança relacional é o conjunto de mecanismos de ações coletivas,

construído a partir das relações entre os atores; buscando resolver os problemas da

tarefa do grupo, sejam eles de natureza comportamental, como conflitos de

interesses; sejam de natureza ambiental, como imprevisibilidades de demanda.

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3.2 Conceito de Governança Relacional

Este subitem apresenta conceitos de alguns autores que buscaram definir a

governança relacional, tais como Uzzi (1997); Poppo e Zenger (2002); Powell (1990);

Jones et al. (1997) que apresentaram argumentos sobre a possibilidade de unir

conceitos de custos de transação com conceitos da sociologia econômica, para

demonstrar que a governança é uma construção social que busca resolver os

problemas de negócios, incluindo os econômicos.

Neste trabalho não se discute a validade e lógica dessa união conceitual. O que

importa, como ponto de reflexão inicial, é a afirmativa da governança sendo originada

dos encontros constantes dos atores. Esses encontros criam uma cultura do grupo,

que origina as regras, papéis e formas de ação coletiva. Selecionando as afirmativas

que interessam para este projeto e fazendo adaptações aos desenhos encontrados

no artigo de Jones et al. (1997) chega-se à Figura 1.

Figura 1 - O modelo de governança relacional.

Fonte: Adaptado pela autora, a partir de Jones et al. (1997).

O que se pretende ressaltar na Figura 1 é que características do ambiente

organizacional, incluindo incertezas ambientais e comportamentais, levam a ações

coletivas e a uma dinâmica de grupo que origina a governança, a qual, por sua vez,

realimenta o sistema.

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Pode-se afirmar ainda que o modelo adaptado de Jones et al. (1997) também

é um exemplo de conjunção da perspectiva social com a perspectiva econômica, na

qual combinam conceitos e pressupostos das duas abordagens, já que os problemas

do grupo não são estritamente econômicos e a solução passa por construções sociais

internas ao grupo. Já Granovetter (1985), com afirmativas baseadas na lógica de

imersão social, em que a troca não é uma transação entre agentes econômicos, mas

entre atores sociais que desempenham papéis sociais construídos durante sua

socialização e tenha feito uma crítica a teoria de custos de transação, não descartou

o valor da abordagem econômica, propondo até que fenômenos econômicos e sociais

caminhem lado a lado.

A adaptação do modelo de Jones e colaboradores aceita a concepção de

Granovetter (1985) de que as relações econômicas têm um pano de fundo social,

explicitando como os mecanismos sociais buscam influenciar o comportamento das

pessoas e orientar os modos de ações coletivas, incluindo as trocas econômicas.

Mecanismos tais como acesso restrito de informação, regras de penalidades, controle

do oportunismo pela força dos laços de confiança e comprometimento formam o

conjunto da governança relacional. A força das relações sociais como origem de

mecanismos de incentivos e controles também foi afirmada por Zaheer et al. (2010).

Sendo assim, a partir dessa breve distinção da lógica da teoria dos custos de

transação com a lógica da sociologia econômica proposta por Granovetter (1985),

esta dissertação não pretende discutir a validade da conjunção teórica social e

racional proposta por Jones et al. (1997), mas selecionar a parte que afirma que para

resolver as questões econômicas das operações de uma rede, precisa-se de

mecanismos sociais, além dos contratos formais.

No entendimento de Poppo e Zenger (2002), a governança em trocas

interorganizacionais ultrapassam contratos formais, uma vez que as repetidas trocas

estão imersas nas relações sociais. Ainda para os autores, essa governança

caracterizada como relacional pode ser entendida como um mecanismo social que

regula e orienta os parceiros nas transações e que se baseia em relações de confiança

e de colaboração, reduzindo as condutas oportunistas por impor compromissos,

obrigações e expectativas através de meios processuais sociais não formais. Essa

afirmativa aparece no presente projeto quando se coloca que a governança relacional

busca exercer algum grau de controle sobre o comportamento.

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A governança relacional utiliza as relações sociais como base das transações,

ou seja, a governança relacional utiliza salvaguardas informais, como reputação e

confiança como base dos mecanismos de controle e coordenação, sendo que esses

mecanismos informais complementam ou substituem os mecanismos formais

(JONES, HESTERLY, BORGATTI, 1997; GULATI, 1995; UZZI, 1997). Na concepção

de Uzzi (1997), as trocas organizacionais baseadas em regras e acordos estruturados

socialmente economiza tempo que poderia ser gasto com renegociações contratuais.

Grandori (2006) argumenta que os contratos formais, por sua insuficiência,

necessitam serem complementados pela governança relacional, já que essa

governança contribui para o ajuste e redução nas falhas existentes em um contrato

formal. A autora apresenta quatro concepções de governança relacional, comparando

o grau de efetividade de cada uma, a saber: os contratos executáveis socialmente, os

contratos autoexecutáveis, o contrato baseado em processos e o contrato baseado

em recursos.

Os contratos executáveis socialmente estão relacionados às falhas de mercado

e de formalização do contrato, em que existem pressões financeiras para orientar e

controlar o comportamento. Em outras palavras, as normas sociais e o controle social

ditam o comportamento adequado do grupo, adaptando-se aos problemas e

imprevisibilidades do mercado.

Os contratos autoexecutáveis estão relacionados à ideia de conjunção forçada

de interesses, de crenças, de objetivos e de controles, isto é, uma governança que

nasce no grupo, mas é pouco democrática, ou flexível. Em outras palavras, o grupo

tem seu próprio conjunto de regras, de controle e de incentivos que dispensa

formalização, mas sua origem e natureza são de coesão, por exemplo, construídos a

partir de uma liderança legitimada no grupo.

Os contratos baseados em processos transmitem a ideia de que o contrato

relacional é processual, não sendo necessário conhecer e especificar ações dos

atores com antecedência, pois as relações, no sentido de comportamento dirigido ao

processo, devem seguir as normas dos processos.

Os contratos baseados em recursos foram elaborados com a finalidade de

regular as atividades incertas, que nem as regras formais e nem as normas sociais

podem proporcionar; e de entender se contratos que compreendem contingências têm

qualquer propriedade, sobre troca de recursos, que não pode ser facilmente replicada.

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A partir da apresentação das diferentes noções de governança relacional

colocada por Grandori (2006), pode-se afirmar que esta dissertação segue a linha da

governança relacional como contratos auto executáveis, pelo fato de haver uma

convergência de interesses por parte dos participantes do grupo que dispensa

qualquer tipo de verificação de uma terceira parte, e como contratos executáveis

socialmente, pelo fato de o comportamento do grupo ser ditado pelo controle social.

Justifica-se a escolha dessas duas definições da Grandori (2006) pelo fato de

mais se aproximarem da linha conceitual desta dissertação, que trata da governança

relacional como um complemento aos contratos formais, que apresentam falhas ou

lacunas por não conseguirem abarcar todos os eventos ocorridos no cotidiano.

Grandori (2006) considera a governança relacional como uma resposta às

situações de incertezas em que se encontram os gestores, por se tratar de situações

não privilegiadas em contratos. Os próximos parágrafos indicam a linha teórica de

incerteza.

3.3 Conceito de Incerteza Ambiental e de Incerteza Comportamental

Este trabalho analisa a incerteza a partir do aceite que os fenômenos são

imprevisíveis independentemente das percepções de cada um. Essa incerteza, que

está inserida no âmbito da Teoria das Organizações, é associada com a falta de

informações. Para Geersbro e Ritter (2010), a incerteza pode ser vista sob duas óticas:

a incerteza do grupo, caracterizada por elementos futuros coletivamente imprevisíveis

que sempre estão presentes na vida; e a incerteza individual, caracterizada por

elementos futuros imprevisíveis na percepção de um ator apenas, sendo que existem

outros atores já informados, mostrando que cada ator percebe a incerteza de maneira

diferente. Esta dissertação segue as definições e discussões da incerteza do grupo.

Segundo Grandori (2006), a incerteza pode ser entendida com a falta de

conhecimento sobre um assunto, ou a falta de conhecimento de um indivíduo tomador

de decisão. Essa incerteza pode se originar do ambiente (condições externas), do

comportamento (ações imprevisíveis de outros atores) e de tarefas (intensidade de

resolver os problemas) (GRANDORI, 2006).

No entendimento de Duncan (1972), a incerteza ambiental é a falta de

informações sobre os fatores ambientais relacionados à tomada de decisão e aos

efeitos da tomada de decisão no desempenho da organização. O autor trata das

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percepções da incerteza do ambiente externo das empresas para a tomada de

decisão, embora as incertezas internas também gerem importantes resultados nessas

decisões. As organizações precisam se adequar constantemente ao seu ambiente

(DUNCAN, 1972; MILLIKEN,1987).

Para Duncan (1972), o ambiente organizacional é dividido em elementos

externos, compostos por clientes, fornecedores, concorrentes, sócio-político e

tecnologias, e elementos internos que são compostos pelo pessoal, pelas equipes e

funcionalidade organizacional e nível organizacional.

Segundo Milliken (1987), incerteza ambiental é a incapacidade percebida do

ator para prever com precisão evento futuro do ambiente no qual a organização está

inserida. A autora afirma que a expressão incerteza pode ser usada tanto para relatar

uma condição de incerteza em ambientes das organizações, como para relatar uma

condição de incerteza de uma pessoa que verifica a falta de informações sobre o

ambiente. A autora coloca ainda o conceito de incerteza como percepção, em que

diferentes indivíduos podem perceber diferentes incertezas sobre um mesmo conjunto

de dados.

Milliken (1987) argumenta também que, na construção de incerteza, devem ser

desagregadas e identificadas três percepções de incerteza notadas no meio ambiente:

(1) incerteza de estado - a incapacidade, por parte dos gestores, de prever o futuro

estado do ambiente; (2) incerteza de efeito - a incapacidade dos gestores em prever

como a ausência de informação irá impactar nas mudanças para as organizações; e

(3) a incerteza de resposta - a incapacidade dos gestores em prever os possíveis

resultados das ações organizacionais executadas. Essas percepções foram

analisadas a partir dos elementos criados por Duncan (1972) e podem gerar diferentes

comportamentos em cada gestor.

Williamson (1985) afirma que a incerteza ambiental advém da incapacidade de

uma organização ou um indivíduo de antever eventos, ressaltando ainda que ela é um

dos fatores que determina a forma de governança em rede. O autor ainda diferencia

essa incerteza em primária e secundária, a saber: a incerteza primária reflete uma

falta de conhecimento sobre estados da natureza, tais como a incerteza a respeito

dos eventos naturais; enquanto que a incerteza secundária reflete uma falta de

conhecimento sobre as ações de outros agentes econômicos.

Para Thompson (1967), a incerteza ambiental está presente na formação de

todos os processos das organizações, sendo considerada um problema relevante por

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limitar o planejamento e a tomada de decisões dos gestores. O autor desconsidera o

campo da percepção da incerteza, entendendo que as incertezas ambientais existem

e que precisam ser minimizadas, criando-se instrumentos que possam lidar com elas.

Neste projeto aceita-se a diretriz de não discutir diferenças de percepções, mas sim

de buscar as convergências.

No que se relaciona à incerteza comportamental, parte-se da noção do princípio

da incerteza de Heisenberg (1927), originado no campo da física quântica, que declara

a presença da incerteza no comportamento das partículas pelo motivo de não poder

determinar com exatidão e simultaneamente a posição e a velocidade da partícula. A

relação desse princípio com o comportamento humano é a impossibilidade de

previsão e controle das ações humanas. Como metáfora, o comportamento humano

não tem exatidão, nem posição e nem velocidade determinada, como as partículas.

Segundo Barabási (2009), os comportamentos humanos são imprevisíveis,

haja vista um certo evento poder impactar de várias formas em diferentes pessoas, o

que leva os indivíduos a terem atitudes totalmente imprevisíveis pelo fato de as

características das pessoas serem múltiplas.

Para Gulati (1998) a incerteza comportamental é a imprevisibilidade do

comportamento de um parceiro, sendo que essa imprevisibilidade pode ser

minimizada com a formação de alianças. Ainda no entendimento do autor, muitas

organizações estabelecem alianças como forma de diminuir a incerteza a respeito do

comportamento oportunista do parceiro.

Um autor que segue a mesma linha de raciocínio de Gulati (1998) é Pesaran

(1993), que também define incerteza comportamental como a imprevisibilidade sobre

o comportamento futuro dos outros indivíduos. O autor acrescenta ainda que a

incerteza comportamental gera uma situação na qual os atores devem criar

expectativas, não a respeito da condição do ambiente, mas a respeito do

comportamento dos demais atores, tanto pessoas, quanto organizações.

Williamson (1985), ao separar a incerteza em ambiental e comportamental,

afirma que a incerteza comportamental decorre da dificuldade em prever as ações de

outros atores relevantes, tendo em vista o potencial para o comportamento oportunista

desses atores.

Sobre as incertezas ambientais, o presente trabalho segue as afirmativas de

Milliken (1987) que defende a existência da incerteza no ambiente organizacional. Já

em relação às incertezas comportamentais, esta dissertação segue a linha das

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afirmativas de Gulati (1998) que define incerteza comportamental como sendo a

imprevisibilidade do comportamento dos atores. Ressalta-se ainda que esse

comportamento não pode ser modificado, embora se possa exercer um certo grau de

controle, o que pode minimizar as incertezas advindas do comportamento.

Para tratar da interface das incertezas com a governança relacional, o próximo

item apresentará conceitos que relacionam essas duas categorias.

3.4 Relação entre Incerteza e Governança Relacional

Num ambiente de incertezas, surge a necessidade de se estabelecer relações

sociais, de cooperação como forma de se buscar mecanismos de coordenação

advindos das práticas relacionais. Logo, ao conjunto desses mecanismos que surge

a partir das relações sociais atribui-se o nome de governança relacional.

O ser humano busca se relacionar para lidar com as incertezas. Esses

relacionamentos aparecem de muitas formas, por exemplo, por meio de famílias,

clubes, sociedade e organizações. As organizações podem ser definidas como um

conjunto de pessoas que desenvolvem tarefas tentando controlar os eventos

imprevisíveis. Quando se trata de redes, a ideia é a mesma, podendo a rede ser

definida como um conjunto de pessoas, representando várias organizações que

tentam realizar tarefas, por meio de regras, para lidar com as incertezas. É esse

conjunto de regras que se denomina governança. Neste estudo, a governança

investigada é a relacional, ou seja, as regras que nascem, ou são adaptadas pelo

próprio grupo.

Para Grandori (2006), a governança relacional pode ser considerada uma

solução viável em circunstâncias de incertezas. Na concepção de Provan e Kenis

(2008), a incerteza nos relacionamentos surge no momento em que a rede é criada,

sendo que ela tende a diminuir à medida que a governança da rede se desenvolve.

Isso ocorre devido ao fortalecimento das conexões da rede e à solidez do sistema que

ocasiona maior legitimidade aos membros da rede.

A teoria da governança em rede de Jones et al. (1997) afirma que os laços

entre os parceiros podem reduzir a incerteza comportamental por espalhar

informações sobre atores oportunistas. Ainda no entendimento de Jones et al. (1997),

as diferentes formas de governança de rede é uma resposta para as condições de

incerteza da demanda, a troca de condições de especificidade de ativos, a

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complexidade da tarefa, e frequência, o que faz com que as organizações executem

suas transações com influência dos mecanismos sociais.

Assim, este estudo versa sobre as regras surgidas a partir da dinâmica do

grupo, ou seja, que surge dentro do grupo, que busca prevenir a rede das incertezas

ambientais e busca exercer um grau de controle nas incertezas do comportamento

dos atores.

Com o objetivo de ilustrar graficamente as afirmativas da presente dissertação

com essa possível interface entre governança relacional e incertezas nas redes,

apresenta-se no próximo subitem o desenho da pesquisa em desenvolvimento.

3.5 Desenho e Proposta da Pesquisa

Apresenta-se a seguir o desenho da pesquisa na Figura 2, que buscou retratar

a proposta da pesquisa.

Figura 2 – Modelo proposto do Desenho de Pesquisa.

Fonte: Construído pela autora, 2017.

Influência das

incertezas na

construção da

governança

Ambientais

- Demanda

- Acesso às

informações

- Avanços tecnológicos

- Eventos climáticos

Comportamentais

- Oportunismos

- Desconhecimento

- Negligência

Ambiente

Organizacional

Organizações

conectadas

lidando com

oportunidades e

incertezas

Construída

pelo grupo

Redes

- Estrutura

- Dinâmica

- Objetivos

coletivos

- Mecanismos de

ação coletiva

Adaptada pelo grupo a

partir de mecanismos

já existentes

Formas de

construção

Governança

- Normas

- Regras do

Negócio

- Incentivos

- Sistemas de

controles

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O desenho mostra a interface das incertezas com a governança relacional. A

incerteza apresenta-se desde a formação da rede, por exemplo, sobre o

comportamento futuro dos novos parceiros (PROVAN, KENIS, 2007; GULATI, 1998),

com isso faz-se necessária a utilização de regras para lidarem com essas incertezas.

Essas regras podem ser originadas tanto da dinâmica do grupo, como também podem

ser regras específicas do negócio, ou da tarefa e também regras do ambiente

institucional. É o conjunto dessas regras que forma a governança. Como a governança

não é uma categoria diretamente observável, visto que se trata de acordos e pressões

sociais, construiu-se um conjunto de indicadores, conforme se verifica no Quadro 1.

A ideia de relacionar as incertezas com os sinais de governança já havia sido

levantada por Pilbeam et al. (2012), ao desenvolver um trabalho com um desenho

empírico explicitando o contexto das conexões de uma rede de abastecimento e suas

consequências por meio de diferentes instrumentos de governança.

Assim, o trabalho segue a linha de que os atores da rede necessitam de regras,

que são mecanismos de proteção para as incertezas ambientais e para buscar

controlar o comportamento oportunista. Essa distinção dá-se pelo fato de as

incertezas ambientais não serem iguais às incertezas comportamentais, uma vez que,

sobre o comportamento se exerce certo grau de controle, o que não ocorre com a

incerteza ambiental, aceitando o pressuposto da independência do meio ambiente.

Os indicadores foram construídos a partir de afirmativas dos autores de base,

como no texto de Jones et al. (1997); de exemplos em trabalhos realizados,

encontrados no item de revisão bibliográfica e discussões; e de reflexões dos

pesquisadores da Universidade de origem da autora, os quais se dedicam ao estudo

de redes, lançando indicadores para serem testados. Para os indicadores de incerteza

ambiental e comportamental, foram utilizadas as definições operacionais dos autores

citados.

3.6 Indicadores das categorias Governança Relacional, Incerteza Ambiental e

Incerteza Comportamental

Apresentam-se neste subitem os indicadores utilizados como norteadores na

elaboração dos instrumentos de pesquisa e o conceito de indicador utilizado no

presente trabalho.

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Os indicadores dizem respeito tanto a valores e métricas, como também a

opiniões e a relações entre variáveis, pois, para Minayo (2009), mesmo havendo uma

predominância na utilização do termo indicador em parâmetros quantitativos, eles

também são utilizados em parâmetros qualitativos. Neste caso eles servem como

sinalizadores da realidade, isto é, evidenciam e sustentam a presença de certa

realidade selecionada pelo pesquisador. Ainda na concepção da autora, a maioria dos

indicadores dá destaque ao balizamento de processos da construção dessa realidade,

isto é, colocam-se parâmetros, padrões sobre a presença da realidade.

Há uma maior frequência na construção de indicadores na forma de escalas e

Minayo (2009) cita cinco tipos: escala de Bogardus; escala de Thurstone; escala de

Likert; escala de Guttman e proposta sociométrica de Moreno. Na presente

dissertação utiliza-se a escala de Likert, com cinco pontos. Essa escala consiste em

apresentar uma afirmativa (a descrição do indicador) e solicitar ao respondente que

marque uma escala de concordância.

Sobre os indicadores qualitativos, Minayo (2009) entende que são os que

expressam a opinião, os sentimentos, os pensamentos e as práticas dos inúmeros

atores que fazem parte do grupo investigado. Para construção dos indicadores a

autora destaca que o padrão é buscá-los nos grupos a serem investigados. Na

presente dissertação, os indicadores utilizados foram construídos com base nos

conceitos encontrados na revisão da bibliografia contemporânea e as afirmativas da

base teórica.

Minayo (2009) coloca ainda que na maior parte dos casos não se encontram

indicadores qualitativos prontos, uma vez que são construídos em conjunto com os

atores que fazem parte da pesquisa. Entretanto, a autora argumenta que em casos

culturais mais ou menos homogêneos podem ser utilizados indicadores já existentes.

Os casos investigados na presente dissertação enquadram-se na situação de raridade

de existência de indicadores, assim, justifica-se a criação dos indicadores devido à

ausência de semelhança dos que existem em grupos já investigados.

Quanto à utilização de indicadores, Minayo (2009) destaca que eles podem ser

construídos para mensurar, ou revelar informações relacionadas a inúmeros planos

de observação, seja individual, coletivo, econômico, cultural, associativo.

A partir desse enquadramento, construiu-se o Quadro 1 com a apresentação

das categorias, do resumo do conceito teórico dominante, de acordo com a revisão

da bibliografia, e dos indicadores encontrados, ou criados a partir do material

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acadêmico existente. As sugestões não pretendem esgotar a lista dos indicadores,

mas apenas mostrar a linha geral de questionamento. O quadro por si só é uma

contribuição relevante do trabalho, pois pretende sistematizar e agrupar as categorias

dispersas na literatura. Entende-se que o esforço é uma contribuição metodológica do

trabalho, pois não se encontraram similares na literatura brasileira.

Quadro 1 - Indicadores das categorias governança relacional, incerteza ambiental e comportamental.

Categoria Conceito Dominante

Indicadores

1. Sinais de incerteza ambiental

Incerteza ambiental é a incapacidade percebida do ator para prever algo com precisão dentro do ambiente organizacional.

1.1 Incertezas sobre a relação entre o crescimento econômico da região e sua influência no grupo; 1.2. Incertezas sobre a relação entre futuras tecnologias e sua influência no negócio ou na tarefa do grupo; 1.3.1 Incertezas sobre as mudanças políticas e sua influência no grupo; 1.3.2 Incertezas sobre possíveis mudanças comerciais e seus efeitos no grupo; 1.3.3 Incertezas sobre possíveis mudanças nas leis que possam afetar o grupo; 1.4 Incertezas sobre as ações dos fornecedores e sua influência no grupo; 1.5 Incertezas sobre as ações dos movimentos dos concorrentes e sua influência no grupo; 1.6 Incertezas sobre desejos, demanda, necessidades e comportamento dos consumidores e sua influência no grupo; e 1.7 Incertezas sobre as mudanças ambientais e climáticas e sua influência no negócio ou na tarefa.

2. Sinais de incerteza de comportamento

Incerteza comportamental é a imprevisibilidade do comportamento de um parceiro.

2.1 Incertezas sobre a ética e a conduta correta conforme as regras do grupo; 2.2 Incertezas sobre o comprometimento dos parceiros que integram o grupo; 2.3 Incertezas sobre os objetivos individuais, dos parceiros que integram o grupo, conflitantes com os coletivos; 2.4 Incertezas sobre o comportamento comercial oportunista dos parceiros; 2.5 Incertezas sobre a intenção dos parceiros de continuidade no grupo; e 2.6 Incertezas sobre disposição de arcar com os custos coletivos.

3. Sinais de governança relacional

Governança relacional é a governança que nasce dos acordos e valores das relações sociais.

3.1 Regras de acesso restrito 3.1.1 Existem regras de restrição de acesso às informações do grupo para aqueles que não fazem parte do grupo; 3.1.2 Dependendo da informação, existem restrições para uma parte dos integrantes do grupo; 3.2 Controle social 3.2.1 A coordenação e o controle das atividades do grupo se dão por todos do grupo;

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3.2.2 Existe uma rotina de encontro para criação e ajustes das regras do grupo; 3.3 Definição de papéis 3.3.1 Existência de regras sobre a definição de função ou atribuição de cada um desse grupo; 3.4 Existência de uma comissão que decide 3.4.1 A coordenação das atividades do grupo se dá por uma comissão eleita por todos; 3.5 Definição e existência de hierarquia 3.5.1 Existência de regras para eleger pessoas que representam e gerenciam o grupo; 3.5.2 Existência de regras para eleger pessoas que têm autoridade para controlar as outras pessoas no que diz respeito a seguir as regras; 3.6 Sistemas de controle e sanções 3.6.1 Existência de algum controle ou alguma forma de vigilância do comportamento do outro; 3.6.2 Existência de regras de controle e regras de combate aos comportamentos oportunistas; 3.7 Incentivos formais/ informais para continuar no grupo 3.7.1 Existência de gratificações, internas ao grupo, para a permanência dos integrantes do grupo; 3.7.2 Existência de gratificações, externas ao grupo, para a permanência dos integrantes do grupo; 3.8 Diretrizes para legitimação pública 3.8.1 Existência de regras e/ou ações para conseguir reconhecimento do governo, do mercado e da sociedade; 3.8.2 Existência de regras e/ou ações para conseguir legalização perante o governo; e 3.9 Diretrizes para buscar suporte do governo, do mercado e da sociedade 3.9.1 Existência de ações/tarefas para conseguir algum apoio financeiro ou de infraestrutura do governo, do mercado e da sociedade.

4. Sinais da interface entre incertezas e Governança Relacional

A governança relacional pode ser considerada uma solução viável em circunstâncias de incertezas.

O plano geral é investigar situações que mostram as falhas da governança. 4.1 Existência de casos de falhas na prevenção de incertezas ambientais (ou seja, casos em que o grupo foi surpreendido por evento ambiental); 4.2 Existência de casos de falhas no controle do comportamento (ou seja, casos em que o grupo foi surpreendido por um comportamento oportunista de um ator); 4.3 Existência de casos de falhas de aplicação das regras (ou seja, as regras foram criadas, mas se mostraram impossíveis, ou inoperantes na hora de aplicar); 4.4.1 Existência de casos de falhas quanto à concordância da existência de algumas regras; e 4.4.2 Existência de casos de falhas quanto ao cumprimento de algumas regras (ou seja, as regras existem, mas nem todos concordam com elas);

Fonte: Construído pela autora, 2017.

No próximo capítulo descrevem-se os procedimentos metodológicos que foram

utilizados para o desenvolvimento da pesquisa baseada na afirmativa de que diante

das incertezas ambientais e comportamentais, os atores de uma rede criam regras

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sobre sistemas de defesa, para evitar os efeitos das incertezas ambientais; e regras

sobre sistemas de controles e incentivos para exercer algum grau de controle nas

incertezas comportamentais.

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4 METODOLOGIA

Apresentar a metodologia traduz-se na maneira de investigar os fenômenos,

em outras palavras, esclarecer os critérios utilizados para a composição do

conhecimento. Indo contra à utilização de meios econômicos e racionais de análise

de redes, Kiel e Elliot (1997) afirmam que a utilização de metodologias alternativas

fornece novos campos de reflexão e formas de pesquisar, sendo de grande validade

ao estudo de redes.

O esclarecimento da metodologia aplicada oferece os meios para a realização

da pesquisa. Por meio da análise de levantamentos de dados de fontes primárias e

secundárias, investiga-se se as afirmativas propostas são ou não sustentadas. O

conjunto de escolhas desta proposta abarca o método de pesquisa, o tipo de pesquisa,

a estratégia de pesquisa, os instrumentos de coleta de dados e método de análise de

dados. Logo, o presente estudo foi desenvolvido com base em uma metodologia de

pesquisa qualitativa por meio de uma análise descritiva e exploratória; a estratégia de

pesquisa é o estudo de caso, utilizando como unidade de análise múltiplos casos da

região de Cuiabá.

Esta pesquisa possui natureza qualitativa, porque lida com variáveis que não

são redutíveis a escalas numéricas. Para Creswell (2010) a pesquisa qualitativa é

considerada um meio de se compreender ou explorar a noção que indivíduos ou

grupos atribuem a um problema social ou humano. Na pesquisa qualitativa procura-

se perceber e estudar as relações, não se isolando ou controlando as variáveis e não

se reduzindo a expressões numéricas. Conforme Bogdan e Biklen (1994), para a

realização de pesquisa com abordagem qualitativa, os dados devem ser coletados em

seu ambiente natural, sem nenhum tipo de manipulação intencional.

A pesquisa é descritiva pelo fato de se pretender especificar o fenômeno e os

fatos de uma realidade o mais fielmente possível. No entendimento de Triviños (1987),

a pesquisa descritiva requer a escolha clara do tema ou foco que será investigado,

podendo necessitar de múltiplas fontes para validar a descrição. Conforme Mattar

(1993), os objetivos das pesquisas descritivas são bem definidos, os processos são

formais, as pesquisas são bem estruturadas e voltadas para a elucidação de

problemas ou para a avaliação de possibilidades de ações.

A pesquisa também é exploratória por se tratar de um assunto pouco discutido,

a interface da governança relacional com as incertezas, no intuito de se obter uma

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maior familiaridade com o assunto. No entendimento de Gil (1999), tal pesquisa tem

como escopo principal desenvolver, esclarecer e modificar ideias, visando à

formulação de problemas mais precisos para pesquisas posteriores. Ainda segundo

Gil (2008), esse tipo de pesquisa é a que apresenta menos rigidez na elaboração, pois

é planejada com o objetivo de proporcionar visão geral acerca de determinado fato,

se assumindo na forma de estudo de caso.

Para Yin (2010), o estudo de caso é uma estratégia utilizada quando o

pesquisador exerce pouco controle sobre os eventos, quando o foco recai sobre um

fenômeno contemporâneo inserido em um contexto da vida real e quando os limites

entre o fenômeno e o contexto não estão claramente definidos. Ainda para o autor, o

estudo de caso pode ser restrito a uma, ou a várias unidades, caracterizando-o como

único ou múltiplo. O estudo de casos múltiplos, para Yin (2010) possui mais provas

eficazes, sendo visto como mais robusto, entretanto tem mais exigências de tempo e

de recursos.

Yin (2010) afirma que o estudo de casos ocasiona da vontade de entender

fenômenos sociais complexos, situação que converge com os propósitos da presente

investigação. Aqui, o estudo de casos múltiplos se dá pela escolha de duas redes

(rede dos catadores de recicláveis de Várzea Grande e a rede do Shopping Popular

de Cuiabá/Mato Grosso - MT) e pela escolha do uso de duas formas de coletas –

entrevista com roteiro semiestruturado e dados de fontes secundárias.

Em relação ao processo de análise e tratamento dos dados, foi adotada a

análise de conteúdo para as entrevistas. Bardin (2011) afirma que é por meio desse

método de análise de dados que o pesquisador tira conclusão do tratamento dos

dados que manipula para inferir conhecimentos sobre o emissor da mensagem ou

sobre seu meio.

Para a investigação foram escolhidas duas redes na região de Cuiabá/MT. A

rede dos Catadores de Materiais Recicláveis de Várzea Grande, no ramo de economia

solidária, tem o objetivo de inclusão social, junto com o comercial, tem o problema

comum da falta de consciência ambiental da população e rejeição à figura do catador

e tem normas e regras criadas pelo próprio grupo. A rede do Shopping Popular de

Cuiabá/MT, uma rede de negócios, possui objetivos comerciais comuns, trocas de

informações e também enfrentam problemas comuns como ações oportunistas.

O próximo item apresenta o plano da pesquisa.

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4.1 Plano de Pesquisa

Para Gil (1999), a pesquisa tem por premissa descobrir respostas para problemas,

por meio do emprego de procedimentos científicos. O plano de pesquisa deste

trabalho está voltado para o entendimento dos sinais da governança relacional que

criam prevenção e defesa para as incertezas ambientais e comportamentais. Tendo

como ponto inicial de coleta de dados a rede dos Catadores de Materiais Recicláveis

de Várzea Grande e a rede do Shopping Popular de Cuiabá/MT. Assim o problema a

ser respondido é: Quais os sinais de governança relacional presentes na rede que

contribuem para prevenção dos efeitos das incertezas ambientais e para exercer um

grau de controle nas incertezas do comportamento dos atores?

A escolha do campo justificou-se dado o interesse e curiosidade de se entender

a convergência da governança relacional com as incertezas presentes nas redes, pelo

fato de as redes estarem em ambientes de constante mudança, sejam comerciais,

políticas, sociais, comportamentais; valorizando o papel da governança na condução

do grupo.

4.2 Protocolo de Pesquisa

Conforme visto na revisão teórica, há um amplo leque de teorias e métodos de

pesquisa sobre redes. Para este caso, o método de pesquisa denominado estudo de

caso múltiplo parece ser apropriado para investigação de fenômenos no caso de haver

uma grande diversidade de relacionamentos e fatores e ainda não existe um

paradigma dominante.

Após definir a teoria e o problema, parte-se para a apresentação dos casos

escolhidos (YIN, 2010). Essa escolha é de suma importância para o processo de

coleta de dados e o desenvolvimento da pesquisa, pois cada caso consiste de um

estudo completo. Ainda segundo Yin (2010), o protocolo é uma maneira real de

aumentar a confiabilidade do desenvolvimento da pesquisa de estudo de casos. O

protocolo tem as seguintes seções:

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4.2.1 Objetivo

O objetivo da pesquisa é identificar e apresentar os sinais de governança

relacional que contribuem para prevenir a rede dos efeitos das incertezas ambientais

e para exercer algum grau de controle nas incertezas do comportamento dos

indivíduos.

4.2.2 Tipo de Pesquisa

Como exposto anteriormente, a pesquisa caracteriza-se por ser qualitativa,

descritiva, exploratória com estudo de casos múltiplos.

4.2.3 Escopo

A partir de contatos prévios da autora, escolheram-se alguns campos de

pequenas redes da região de Cuiabá. Assim, foram escolhidas duas redes, a fim de

estabelecer uma análise da relação da governança relacional com as incertezas

ambientais e de comportamento. Para obedecer a esse critério de análise do presente

estudo, selecionou-se a rede dos catadores de materiais recicláveis estabelecida na

cidade de Várzea Grande, cidade limítrofe de Cuiabá e a rede do Shopping Popular

de Cuiabá/MT, que apresenta características de um cluster.

4.2.4 Sujeitos

A pesquisa foi desenvolvida por meio de seleção de sujeitos das duas redes

investigadas. Foram selecionados sujeitos mais capacitados ou aptos a responder

questões sobre a governança relacional e as incertezas da rede. Conforme o

instrumento utilizado, foram definidos sujeitos específicos.

Para as entrevistas, os sujeitos escolhidos foram os mais antigos, pelo fato de

estarem mais tempo na rede, e os líderes por estarem em maior contato com os outros

participantes do grupo. Foram escolhidas essas pessoas por se destacarem no grupo

e poderem oferecer mais informações, sabendo explicar melhor a origem e como se

desenvolveu a rede.

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4.2.5 Instrumentos de coleta de dados

Para a coleta de dados foram utilizadas fontes primárias e secundárias. As

fontes primárias têm base em documentos originais que estão sendo utilizados pela

primeira vez em estudos, ou seja, dados inéditos coletados pelo investigador para

resolver problemas. Já as fontes secundárias estão à disposição do investigador em

livros, revistas, periódicos, base de dados, dentre outros.

Nesta pesquisa foi utilizada a entrevista com roteiro semiestruturado como

instrumento para obtenção de dados primários aplicada em atores com maior

relevância, como líderes de grupo e atores mais antigos. Uma segunda forma de

coleta vem de dados de fontes secundárias, principalmente relatórios, atas de

reuniões, relatórios de secretarias da prefeitura local e dados de entrevistas técnicas.

Como parte do desenvolvimento acadêmico do pesquisador foi construído um

questionário com escala de Likert, mas que acabou não sendo utilizado, ficando como

sugestão para aplicação em estudos futuros. Os instrumentos são detalhados a

seguir.

O primeiro é a entrevista com roteiro semiestruturado, com intuito de entrevistar

atores com maior relevância no grupo. O segundo instrumento é o questionário com

afirmativas numa escala do tipo Likert e, por fim, os dados de fontes secundárias.

4.2.5.1 Entrevista com roteiro semiestruturado

Segundo Lakatos e Marconi (2008), a entrevista é um procedimento utilizado

na investigação social para coletar dados face a face, para tentar resolver problemas

sociais proporcionando informações necessárias e resultados satisfatórios, tendo

como objetivo entender as perspectivas e vivências dos participantes.

A realização das entrevistas seguiu um roteiro semiestruturado, utilizando a

técnica da bola de neve, na qual se entrevista um sujeito escolhido de maneira

intencional e este indica o próximo sujeito para ser entrevistado. Foi entrevistado um

primeiro sujeito, indicado como líder, como representante formal ou como o mais

antigo da rede. A partir daí o pesquisador pediu a esse respondente que indicasse

outros sujeitos que possam ser entrevistados como um possível líder, ou ator central.

O roteiro de entrevista desenvolvido especificamente para esta dissertação

apresenta-se no Apêndice I. As questões originaram-se dos indicadores constantes

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no Quadro 1, algumas apresentadas na forma direta de questionamento (“Quais são

as principais incertezas sobre esse negócio?”), e outras na forma de posições

mutuamente exclusivas, obrigando o sujeito a escolher uma linha de resposta ( “... é

fácil prever o comportamento das pessoas, ou tem sempre surpresas...?).

A realização das entrevistas foi de maneira individual, agendadas previamente.

Tanto as entrevistas da rede do Shopping Popular de Cuiabá/MT como as entrevistas

da rede dos Catadores de Recicláveis de Várzea Grande foram marcadas entrando

em contato pessoalmente com os associados, os quais já se encontravam disponíveis

para o autor. O número de entrevistas seguiu o critério de saturação, em outras

palavras, a coleta encerrou-se quando os dados convergiram de tal maneira que

novas entrevistas não originavam novos dados.

4.2.5.2 Questionário com afirmativas

Para Lakatos e Marconi (2003), questionário é considerado um instrumento de

coleta de dados, constituído a partir de uma série ordenada de perguntas, que devem

ser respondidas por escrito e sem a presença do entrevistador.

O questionário foi desenvolvido com afirmativas estruturadas com a utilização

de uma escala do tipo Likert de cinco posições. O respondente devia escolher apenas

uma, manifestando o seu grau de concordância ou discordância em relação a cada

questão apresentada. A legenda da escala correspondeu a: (A) concordo fortemente;

(B) concordo; (C) nem concordo, nem discordo; (D) discordo; (E) discordo fortemente.

As frases do questionário foram construídas com base nos indicadores de cada

categoria e seguiram a matriz de se registrar as frases no positivo. Como exemplo,

sobre governança relacional escreveu-se no positivo - “as regras surgem à medida

que o relacionamento social do grupo se desenvolve”. O instrumento está apresentado

no Apêndice II.

Cabe ressaltar que o instrumento questionário não foi utilizado na coleta de

dados porque a rede da ASSCAVAG é composta de poucos atores e os principais

foram entrevistados; e na rede do Shopping Popular havia outros pesquisadores

fazendo trabalho na mesma época, o que inviabilizou a autorização para mais um

questionário entre os lojistas.

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4.2.5.3 Dados de fontes secundárias

Para Lakatos e Marconi (2003), as fontes secundárias possibilitam a resolução

de problemas já conhecidos e exploração de outras áreas onde os problemas ainda

não se cristalizaram suficientemente. Como dados secundários, foram utilizados

regimento interno da ASSCAVAG, estatutos, ata de reuniões, termo de parceria entre

o Instituto Gama e a ASSCAVAG, acordo de cooperação técnica e financeira e

contratos que são documentos provenientes de sindicatos, de associações, de

secretarias de governo e municipais, de pesquisas do Instituto Brasileiro de Geografia

e Estatística - IBGE, de organizações do terceiro setor, bibliotecas e jornais; além de

técnicos gerentes e profissionais que possam trazer mais dados sobre as redes em

discussão.

4.2.6 Formas e processo de análise

A análise das entrevistas foi realizada seguindo as normas técnicas de análise

de conteúdo. No entendimento de Trivinõs (1987), esse método pode ser utilizado

tanto na pesquisa quantitativa, como na investigação qualitativa. Para Bardin (2011),

a análise de conteúdo pode ser entendida como um conjunto de técnicas de análise

das comunicações com o propósito de conseguir indicadores, tanto quantitativo como

qualitativo, que propiciem a inferência do conteúdo relativo à mensagem analisada.

Ainda segundo a autora, essas técnicas são realizadas por meio de procedimentos

sistemáticos com a finalidade de descrever o conteúdo das mensagens.

Conforme Laville e Dione (1999), uma das tarefas que o investigador deve ser

realizar, em relação à operacionalização do método, é um recorte em temas dos

conteúdos em elementos que deverão ser agrupados em torno de categorias. As

unidades de análise são formadas por expressões, enunciados, palavras ou frases

relativas a temas cuja análise se faz em função de sua situação no conteúdo e em

relação a outros elementos aos quais estão ligados e que lhes dão sentido e valor

(LAVILLE, DIONNE, 1999).

Justifica-se a escolha do método de investigação da análise de conteúdo pelo

fato de as categorias em análise não se reduzirem às expressões numéricas, exigindo

do pesquisador a busca dos sinais de sua presença através dos indicadores

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desenvolvidos. Nas entrevistas pede-se que o sujeito discurse sobre as categorias, e

analisa-se o conteúdo do seu discurso, buscando as convergências das mensagens.

Para análise dos dados de fontes secundárias foi utilizada a análise temática

de Bardin (2011), quando os dados estiverem na forma de discurso; e análise

paramétrica e não paramétrica quando os dados estiverem na forma de números em

tabelas.

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5 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS

Esse item apresenta os dados coletados e as análises realizadas. A busca de

dados de fontes secundárias acerca das redes em estudo, sobre suas características,

perfil das cidades de Várzea Grande e de Cuiabá, municípios nos quais se localizam

as duas redes pesquisadas, nos seus aspectos sociais e demográficos, tem a

finalidade de trazer um conhecimento mais apurado das redes, contextualizar os

negócios pesquisados antes de apresentar os resultados da pesquisa de campo.

As redes investigadas são a rede de economia solidária de catadores de

materiais recicláveis, assim nomeada tendo em vista ter implantado um modelo de

economia solidária em uma associação de catadores de materiais recicláveis situada

na cidade de Várzea Grande que se caracteriza por inserir os atores da rede na

sociedade por meio do trabalho desenvolvido em conjunto. Trata-se de uma rede pelo

fato de o grupo apresentar sinais de interdependência e cooperação entre os

membros. A rede de negócios do Shopping Popular de Cuiabá/MT, de acordo com

pesquisas em dados secundários, como em contratos, tem como objetivo principal as

negociações entre seus atores a fim de obter vantagens no mercado e melhorias na

infraestrutura.

As redes escolhidas possuem diferencial em relação às outras redes. A rede

da qual o Shopping Popular faz parte, apesar de ser um caso de difícil solução por

apresentar muitos conflitos e divergências, obteve sucesso, diferente de muitas outras

cidades do Brasil, como é o caso da cidade de São Paulo que já tentou diversas vezes

solucionar conflitos com camelôs sem conseguir êxito por causa de pressões de

lojistas, associações comerciais entre outras. O caso do Shopping Popular é de

sucesso por se ter conseguido acomodar os camelôs e solucionado os conflitos de

interesses entre os camelôs, outros lojistas, a prefeitura, a polícia, a comunidade e os

consumidores. Um exemplo que comprova essas características é o fato de a

Associação do Shopping Popular ter feito um acordo, por meio do Ministério Público

Estadual, com a Prefeitura que em troca do espaço cedido para a construção do

Shopping, solicitou que a Associação revitalizasse a área em volta do shopping para

lazer da comunidade local.

Já na rede na qual a Asscavag está presente, o motivo relaciona-se com a forte

determinação social da rede, sendo a sua própria constituição esse exemplo. É uma

rede em que os objetivos sociais são tão fortes que prevalecem sobre os objetivos

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econômicos, ou seja, os objetivos sociais como o bem-estar das pessoas, a qualidade

de vida, a inclusão social e a inserção dos marginalizados no mercado de trabalho

foram preservados. Um exemplo que comprova essas características é o fato de os

catadores que fazem parte da associação ganharem menos financeiramente do que

se estivessem trabalhando por conta própria, nas ruas ou no lixão.

5.1 Rede de Economia Solidária de Catadores de Materiais Recicláveis

Neste subitem apresentam-se e analisam-se os dados coletados sobre as

redes de economia solidária na qual está inserida a ASSCAVAG, tanto a rede

intraorganizacional, a rede interna composta pelos atores que compõem a

Associação, como da rede interorganizacional da qual a ASSCAVAG faz parte; que é

a rede composta por várias organizações interligadas. O objetivo dessa análise é

buscar uma resposta ao problema de pesquisa. Na sequência serão apresentados

dados de fontes secundárias, entrevistas e respostas ao problema de pesquisa.

5.1.1 Dados de fontes secundárias

A cidade de Várzea Grande, local em que está localizada a Associação dos

Catadores de Várzea Grande – ASSCAVAG, foi fundada em 15 de maio de 1867, pelo

General José Vieira Couto de Magalhães e se localiza na margem esquerda do rio

Cuiabá, do lado da cidade de Cuiabá e próxima da barra do rio Coxipó. O território de

Várzea Grande possui uma área territorial de 1.048,212 km2, fazendo limite com os

municípios de Jangada Nossa Senhora do Livramento, Santo Antônio de Leverger,

Acorizal e Cuiabá. Essa cidade possui a 2ª maior população de Mato Grosso, estando

atrás somente da capital, Cuiabá, da qual se separa apenas pelo rio de mesmo nome.

De acordo com a estimativa do IBGE (2016), ela tem aproximadamente 271 mil

habitantes, com população predominantemente urbana (mais de 95% vivem na

cidade).

Uma cidade predominantemente comercial e industrial, tendo em vista muitas

indústrias terem se instalado na região por meio de incentivos fiscais e doações de

terras, constituindo, juntamente com a capital, o principal polo industrial do Estado.

Tem também uma forte presença da agricultura de subsistência com plantação de

banana, feijão e melancia. Com um produto interno bruto - PIB de mais de R$ 2

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bilhões, o município procura novas oportunidades de desenvolvimento que associem

o campo e o meio urbano.

No município de Várzea Grande foram desenvolvidas ações conjuntas com o

Governo do Estado, por meio da Secretaria de Estado de Trabalho e Assistência

Social (SETAS-MT) e da Secretaria de Estado do Meio Ambiente (SEMA/MT), têm

como objetivo a implantação de iniciativas de sustentabilidade ambiental e o

desenvolvimento das áreas rurais e empresas do terceiro setor, responsável por fazer

trabalhos voluntários em parceria com o poder público. Sendo assim, o Governo do

Estado de Mato Grosso começou uma ação de fortalecimento do trabalho dos

catadores de resíduos sólidos, o que beneficiou a ASSCAVAG com equipamentos de

segurança do trabalho e com informações sobre melhores condições de trabalho e

sobre o funcionamento de uma Associação.

Depois de um breve apanhado sobre Várzea Grande, cidade onde fica

localizada uma das redes estudadas neste trabalho seguem as informações da rede

da qual a ASSCAVAG faz parte, com especial atenção para dados dessa organização.

Nas duas últimas décadas surgiram, em Mato Grosso, diversos

empreendimentos ligados à economia solidária, um exemplo é a ASSCAVAG. A

Associação dos Catadores de Várzea Grande - ASSCAVAG foi criada através da

união de três famílias de catadores de recicláveis de Várzea Grande, sendo a primeira

ata lavrada em janeiro de 2009. O objetivo da associação é a de busca melhor

qualidade de vida e de trabalho para os catadores, que recolhiam materiais recicláveis

do lixão de Várzea Grande/MT.

Figura 3 – Foto do galpão em que fica localizada a ASSCAVAG.

Fonte: Sítio eletrônico da ASSCAVAG, 2017.

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Essa associação desenvolveu uma rede de relações com diferentes entidades

que buscam a redução de resíduos sólidos e que incentivam a reciclagem, reutilização

e a destinação adequada dos resíduos sólidos e a sustentabilidade do meio ambiente.

Essas parcerias firmadas contribuem para obtenção de alguns benefícios como

informações dos órgãos públicos e acesso aos projetos de políticas públicas e

consequentemente para desenvolvimento ações de inclusão social e econômica, bem

como geração de renda. Uma das entidades parceiras é o Instituto Gama. Como a

associação é formada por catadores, cujas condições sociais, culturais e financeiras

não contribuíam para a frequência na escola, o índice de analfabetismo era alto.

Sendo assim, foi criada uma sala de aula para ensinar os catadores e demais

trabalhadores que ainda necessitavam de alfabetização.

A ASSCAVAG tem como atribuição básica a triagem de materiais recicláveis.

Os materiais coletados pelos catadores são de doações de empresas da cidade de

Várzea Grande e destinados às empresas que fazem a transformação dos materiais,

que seriam descartados em matéria-prima para as indústrias.

O mapa abaixo, gerado pelo software Ucinet, retrata o perceptual das relações

desenvolvidas entre os atores da rede da ASSCAVAG. Conforme se verifica, a rede

tem baixa densidade, isto é, alguns atores têm apenas uma ligação. A rede de primeiro

nível, isto é, das organizações diretamente implicadas na tarefa, é mostrada na Figura

4.

Figura 4. Mapa das relações da Rede da ASSCAVAG, conforme respostas dos entrevistados.

Fonte: Construído pela autora, 2017.

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Outro dado de fonte secundária é o Acordo de Cooperação Técnica e

Financeira entre o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES)

e o Instituto Gama que visa à redução das desigualdades e o desenvolvimento local

por meio de investimentos. Apesar de ser um documento formal de cooperação

técnica e financeira, ele tem objetivos sociais claros como por exemplo,

O interesse do INSTITUTO e do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, neste Instrumento abreviadamente denominado BNDES, em contribuir para o desenvolvimento local sustentável por meio de projetos de geração de trabalho e renda, com o fomento de cadeias produtivas e qualificação profissional, por meio do Programa ReDes” (página 1, inciso I)

e também o Acordo de Cooperação Técnica e Financeira1 Nº 10.2.1900.1, de

07.12.2010, celebrado entre o BNDES e o INSTITUTO (página 1, inciso II).

Outro exemplo é o fato de terem metas e objetivos bem genéricos, deixando o

detalhamento para os partícipes. Isso pode ser evidenciado na página 1, inciso III, a

saber: “Que as ações do Acordo celebrado devem ser realizadas em benefício de

trabalhadores de baixa renda, que estejam organizados, ou em processo de

organização, sob a forma de cooperativa de produção ou de comercialização, ou sob

a forma de associação”. E também por possibilitarem adaptações no documento,

demonstrando um tipo de acordo flexível:

No caso da impossibilidade de cumprimento de forma total ou parcial, dos requisitos previstos no parágrafo terceiro por parte da ORGANIZAÇÃO, deverá ser encaminhada justificativa, por escrito, cabendo ao INSTITUTO decidir, no prazo de até 30 (trinta) dias corridos, sobre o repasse das parcelas subsequentes, incluindo a possibilidade de repasse parcial dos recursos ou de prazo adicional para cumprimento dos requisitos previstos no parágrafo terceiro (página 5, parágrafo 5º)2.

De acordo com o documento, os representantes do BNDES poderão fazer

visitas aos projetos, como uma espécie de controle, ou pressão exercida por uma

autoridade. Percebe-se, ainda, com afirmativas colocadas no documento, que é

possível alterar as cláusulas, desde que seja acordado entre as partes, podendo haver

negociação entre as partes como, por exemplo, no envio de relatórios, na escolha da

1 ACORDO DE COOPERAÇÃO TÉCNICA E FINANCEIRA - Documento de cooperação entre as instituições envolvidas, não disponível ao público. 2 ACORDO DE COOPERAÇÃO TÉCNICA E FINANCEIRA - Documento de cooperação entre as instituições envolvidas, não disponível ao público.

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entidade proponente para a elaboração de projetos, na votação dos partícipes e a

regra de comprovação de mais de 2 anos de existência que pode ser dispensada por

justificado motivo e aprovada pelos partícipes. Assim, pode-se concluir que esse

Acordo de Cooperação Técnica e Financeira é genérico e que abre possibilidades de

negociações, com a criação de regras específicas do grupo do projeto, o que é a

governança relacional.

Como conclusão deste subitem afirma-se a existência de indicadores de

governança relacional, por meio de regras criadas na rede. Os dados revelaram uma

rede caracterizada pela presença de incertezas e que utilizam como ponto de partida

para a solução dessa incerteza a criação e/ou adaptação de regras. Tais regras

buscam criar defesas contra incertezas ambientais e exercer algum controle sobre as

incertezas comportamentais.

5.1.2 Dados de fontes primárias - entrevistas

Sujeito 1

O sujeito é uma associada fundadora da ASSCAVAG que foi presidente da

associação por cinco anos. Antes era catadora de material reciclável no lixão e mais

tarde decidiu criar a associação juntamente com mais duas famílias, também de

catadores do lixão de Várzea Grande. É Respeitada e admirada pelos demais do

grupo, pela dedicação e empenho ao negócio ao longo dos sete anos de existência

da associação.

A análise temática do discurso indica a seguinte linha de resposta sobre o

problema da pesquisa:

Sobre a governança relacional, surgiram indícios dessa categoria quando o

sujeito 1 mencionou a necessidade de contratação de professores para alfabetização

dos catadores e demais trabalhadores que não tiveram a oportunidade de frequentar

a escola e que não concordou com a escolha da professora indicada pelo gerenciador

do projeto, dando prioridade aos professores que vivenciaram a realidade, ou

conheciam a história dos catadores de alguma forma. O fato revela os indicadores 2.2

(comprometimento dos parceiros); 2.5 (intenções dos parceiros), 3.4.1 (coordenação

das atividades se dá por uma comissão) e 3.7.1 (existência de gratificações, interna

ao grupo, para a permanência dos integrantes do grupo.). Com essa regra de seleção

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dos professores, a organização busca o comprometimento do indivíduo, por ter a

possibilidade de se capacitar e crescer pessoalmente, além do ganho econômico

fazendo com que minimize uma possível vontade do indivíduo em deixar o grupo,

podendo esse fato ser traduzido em um incentivo formal. O selecionado, dessa forma,

acaba por ser um ator que decide situações em favor do grupo, quando houver

conflitos de interesses.

Esse exemplo está relacionado com a autoridade e a força política que esse

sujeito 1 detinha, ao fazer com que predominasse o interesse interno do grupo. A regra

externa, inicialmente estabelecida, era que os gestores do projeto indicassem um

professor que estivesse disposto a lecionar num projeto de alfabetização; entretanto,

o que predominou foi a regra interna e/ou relacional de que esse professor fosse

indicado pelo grupo na pessoa desse sujeito 1 que apontou um professor familiarizado

com a história dos associados da ASSCAVAG.

Portanto, pode-se afirmar que, nesse caso, houve uma regra externa que foi

adaptada pelos atores da rede interna da ASSCAVAG, sendo aceita pelos outros

atores da rede. Em outras palavras, uma regra que foi alterada para a realidade do

grupo, sendo um exemplo de governança relacional. Os indicadores presentes nesse

exemplo são: indicador 3.2.1 (coordenação do grupo) – pelo fato de a coordenação e

a gerência das atividades do grupo retratarem a vontade de todas as pessoas que

compõem o grupo; indicador 3.2.2 (modo de decisão das regras do grupo) – pelo fato

de retratar que o grupo se reúne para realizar ajustes das regras em prol do grupo.

A partir da presença desses indicadores, pode-se inferir que existem

significativos sinais de governança relacional nessa rede que busca a prevenção e

controle das incertezas. Partindo-se desse enquadre, para responder à pergunta de

pesquisa, construiu-se o Quadro 2 com a apresentação dos sinais de governança

relacional que surgiram com seus respectivos indicadores existentes (indicadores de

incerteza comportamental 2.2 e 2.5; indicadores de governança relacional 3.2.1, 3.2.2,

3.4.1 e 3.7).

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Quadro 2 - Indicadores das categorias estudadas presentes na entrevista com sujeito 1.

Indicadores de Incertezas

Ambientais e Comportamentais

Os mecanismos criados ou adaptados

Indicadores de governança

2.2 (sobre o comprometimento

dos parceiros)

2.5 (sobre a intenção dos parceiros em continuar no

grupo)

- contratar professores que são do

grupo ou tiveram experiência no grupo;

- rotinas de encontros com vários representantes, para ajustes.

- compartilhamento de autoridade, em rodízio de funções.

3.7.1 (existência de gratificações, interna ao grupo, para a permanência

dos integrantes do grupo) 3.2.2 (rotinas de encontro)

3.2.1 (a coordenação e controle das atividades compartilhadas por todos)

3.4.1 (a coordenação das atividades do grupo se dá por uma comissão

eleita por todos)

Fonte: Construído pela autora, 2017.

Sujeito 2

O sujeito 2 é uma associada da ASSCAVAG que faz parte de uma das famílias

fundadoras da ASSCAVAG. É também a representante do Movimento Nacional dos

Catadores Recicláveis (MNCR), lutando para o fortalecimento dos catadores, a

conscientização da população a respeito da classificação dos materiais recicláveis e

a coleta seletiva. Sobre sua história, ela inicialmente era apenas catadora de material

reciclável no lixão, mais tarde decidiu estudar, formando-se em técnica de

enfermagem e tornou-se membro da Associação.

A análise temática do discurso indica a seguinte linha de resposta sobre os dois

problemas da pesquisa:

No início da entrevista surgiram traços da categoria governança relacional

quando o sujeito menciona: “tudo aqui é direcionado em conjunto para desenvolver

coletivamente ações em prol do grupo, pois, se está dentro do grupo, os problemas

devem ser resolvidos em grupo. E que nos dias de hoje, quem não estiver em grupo,

não sobrevive tendo em vista o mercado estar muito competitivo”. Analisando-se esse

trecho, percebe-se o indicador de incerteza de comportamento 2.3 (objetivos

individuais dos parceiros conflitantes com os coletivos) e para solucionar esse

problema aplica-se o indicador da categoria de governança relacional 3.2.1

(coordenação do grupo se dá por todos do grupo) e o indicador de governança

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relacional 3.2.2 (modo de decisão das regras do grupo). Em outras palavras, o grupo

procura decidir tudo em conjunto para ouvir e conciliar o posicionamento de cada ator;

para se prevenir da incerteza do associado desenvolver objetivos individuais diversos

dos objetivos coletivos. Percebe-se também o indicador de incerteza ambiental 1.3.2

(mudanças comerciais e seus efeitos no grupo) que leva ao mecanismo 3.9.1 (ações

e/ou tarefas para suporte financeiro ou de infraestrutura do governo, do mercado e da

sociedade), ou seja, por conta da imprevisibilidade do mercado, são desenvolvidas

ações e/ou tarefas para conseguir algum apoio financeiro ou de infraestrutura do

governo, do mercado e da sociedade.

Outra frase do sujeito analisada: “No início o nosso lucro aqui na Associação

era distribuído por rateio e, posteriormente, foi alterado para um mecanismo de

esquema de produção”. Aqui foi evidenciado o indicador de incerteza 2.4

(comportamento dos parceiros) que levou ao indicador de governança relacional 3.6.2

(controle e regras de combate aos comportamentos oportunistas). Analisando-se o

trecho, percebe-se que essa regra na ASSCAVAG foi alterada pelo grupo com intuito

de tentar exercer um controle na produção dos catadores e no comportamento

oportunista dos catadores de quererem ganhar mais, produzindo menos. Esse fato

evidenciou um problema comum que eles possuíam, inclusive com outras

associações, que é o caso do catador oportunista ser remunerado igualmente a outros

catadores que trabalham mais.

Sobre a questão de riscos e incertezas dentro do grupo, o sujeito mencionou

que “os riscos e as incertezas aqui dentro da associação que mais existiam eram

quanto aos acidentes de trabalho”. Com essa afirmação surgiu outro sinal de

governança relacional com o indicador 3.6.1 (algum controle, ou vigilância do

comportamento do parceiro), por conta da incerteza que remete a um novo indicador,

2.7 (sobre ações imprevisíveis dos parceiros que podem causar acidentes) que não

consta na matriz, mas que surgiu com a entrevista. Isso porque existiam problemas

com acidentes de trabalho e criaram regras para mecanizar e afastar o perigo que

esses acidentes poderiam causar. Assim, infere-se que para se defenderem dessa

incerteza, além da aquisição de máquinas mais seguras, criaram uma regra de que

os associados teriam que aceitar a ajuda de um técnico em segurança do trabalho

que foi contratado para minimizar este problema, e seguir suas orientações.

Sobre a questão da existência de concorrentes, o sujeito mencionou que “a

concorrência provém dos catadores de rua que estão saindo do lixão e que não entram

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para a Associação pelo fato de ganharem mais fora da associação por não precisar

contribuir com as despesas internas da associação”, relatou ainda que “para evitar a

saída dos catadores da associação, oferecemos qualidade de vida, como descanso e

trabalho com horário fixo e diversas opções de coleta para terem constantemente local

para coletar o material e não precisar voltar para o lixão ou para as ruas”. Esse ponto

do discurso remete tanto ao indicador de incerteza ambiental 1.5 (sobre os

concorrentes), como ao indicador de incerteza comportamental 2.5 (sobre intenções

dos parceiros) que levam ao sinal de governança relacional representado pelo

indicador 3.7.1 (incentivos internos para a permanência dos integrantes no grupo).

Veja-se, pois, que o problema levantado foi a incerteza quanto à existência de outras

associações concorrentes e a regra surgida para se prevenirem desse problema foi o

estabelecimento de alguns incentivos como horário de trabalho fixo para proporcionar

lazer e horários de descanso aos associados.

Sobre incerteza do comportamento dos associados, o sujeito mencionou que

“o problema desse grupo é a relação interpessoal, pois alguns catadores acham que

os outros não podem mandar nele, gerando uma competição entre eles”. Veja-se,

pois, que o problema levantado foi a incerteza advinda da competição presente no

relacionamento das pessoas do grupo, referindo-se ao indicador 2.2

(comprometimento dos parceiros), e foi utilizada a existência de um líder para tentar

controlar o comportamento coletivo, retomando o indicador 3.2.1 (coordenação do

grupo), e exercer uma relação interpessoal de parceria.

Sobre a possibilidade de os associados ajudarem financeiramente quando

surgissem problemas imprevistos, como custos extras, ou ajuda emergencial para

alguém do grupo, o sujeito respondeu que “esse é um exemplo que forçou aos

associados a criarem um regimento interno com a regra de existir um fundo econômico

para emergências, em que o associado contribui com 10% do que ganha”. Para

incertezas sobre possíveis emergências, que remetem ao indicador 2.6 (sobre ações

coletivas), foi criada a regra da contribuição de 10% do rendimento de cada associado

que remetem ao indicador 3.4.1 (um grupo decide, mesmo com resistências) tendo

em vista ser estipulado essa regra por ser uma decisão coletiva. Apesar de ter sido

uma decisão do grupo em separar uma quantia de 10% do arrecado, essa é uma regra

quase que fixa que aparece na maioria das cooperativas e associações.

Continuando no mesmo exemplo, o sujeito menciona ainda que “mesmo com a

regra disposta no regimento, nem todos os associados aceitam contribuir com esses

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10%”, remetendo ao indicador 4.4.2 (casos de regras falhas), pois nem todos

concordam com tais regras e deixam de cumpri-las, sendo que tal ação leva ao

indicador 2.3 (objetivos individuais dos parceiros conflitantes com os coletivos).

O sujeito discorreu sobre a criação de um regimento interno, no qual aparecem

regras como de exclusão, que são para incertezas comportamentais, e outras, como

assistência, que são para incertezas ambientais. Aparecem também outras regras

como assistência à saúde, obediência e respeito controlado pelo conselho de ética

que foram criadas por conta de motivos como doenças, falhas do sistema do governo,

problemas financeiros emergenciais, entre outros, que foram citados na entrevista.

Pode-se dizer ainda que esse regimento interno, que foi uma adaptação de modelos

já existentes, pode ser considerado um bom exemplo de governança relacional, pelo

fato de ter sido construído e/ou adaptado pelo grupo na medida em que os problemas

foram surgindo.

Diante ao exposto, a análise do discurso do sujeito indica um raciocínio de

separação das pessoas internas ao grupo dos outros que estão fora do grupo, sendo

que esses outros são os políticos, empresas e outros catadores que querem tirar

proveito do grupo. No que diz respeito à dinâmica de grupo, o sujeito repete padrões

de “decidir pelo coletivo”, evidenciado a consciência de ação coletiva.

Infere-se que o tema mais recorrente do sujeito gira em torno das relações da

ASSCAVAG com o governo e das relações entre os associados, sendo que as

questões do negócio não foram tanto abordadas. O sujeito indicou ainda que a

governança relacional na ASSCAVAG está mais voltada para a proteção do grupo, o

qual não busca relacionamentos abertos e/ou transmissão de conhecimentos. Esse

grupo é considerado uma família a ser protegida em que os recursos obtidos

permanecem protegidos dentro do grupo.

A entrevista apontou diversos sinais de governança relacional na rede interna

da ASSCAVAG que busca a prevenção e controle das incertezas; porém houve

poucos exemplos de mudanças de regras da ASSCAVAG com outras instituições.

Partindo-se desse enquadre, para responder à pergunta de pesquisa a partir dessa

entrevista, construiu-se o Quadro 3 com a apresentação dos sinais de governança

relacional que surgiram com seus respectivos indicadores existentes (indicadores de

incerteza ambiental 1.3.2 e 1.5; indicadores de incerteza comportamental 2.2, 2.3, 2.4,

2.5 e 2.6; indicadores de governança relacional 3.2.1, 3.2.2, 3.4, 3.6.1, 3.6.2, 3.7.1 e

3.9.1; indicador de sinais da interface entre incertezas e governança relacional 4.4.2).

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Com a análise dessa entrevista, surgiu ainda um novo indicador, 2.7 (atitudes dos

parceiros), que pode ser incorporado à matriz de indicadores e ser utilizado em futuras

pesquisas.

Quadro 3 - Indicadores das categorias estudadas presentes na entrevista com sujeito 2.

Indicadores de Incertezas Ambientais e

Comportamentais

Os mecanismos criados ou adaptados

Indicadores de governança

1.3.2 (sobre possíveis mudanças comerciais e seus efeitos no grupo)

1.5 (sobre as ações dos movimentos dos

concorrentes e sua influência no grupo)

2.5 (sobre a intenção dos parceiros de

continuidade no grupo)

2.2 (sobre o

comprometimento dos parceiros que integram

o grupo)

2.6 (sobre disposição de arcar com os custos

coletivos)

2.3 (sobre os objetivos individuais, dos

parceiros que integram o grupo, conflitantes

com os coletivos)

2.4 (sobre o

comportamento comercial oportunista

dos parceiros)

2.7 (sobre ações que possam comprometer a saúde e integridade dos

parceiros)

2.3 (sobre os objetivos individuais, dos

parceiros que integram o grupo, conflitantes

com os coletivos)

- os problemas que surgiram que

são resolvidos coletivamente.

- oferecer qualidade de vida aos associados.

- oferecer qualidade de vida aos associados.

- surgimento de um líder para controlar o comportamento

coletivo.

- surgimento de regra pela decisão da maioria, mesmo

alguns discordando.

- Estar em formato de grupo, com decisões tomadas em conjunto.

- a distribuição dos lucros por esquema de produção ao invés

de rateio.

- aquisição de máquinas e contratação de técnico em

segurança do trabalho.

- descumprimento do regimento

por alguns associados.

3.9.1 (existência de ações para conseguir algum apoio

financeiro ou de infraestrutura do governo, do

mercado e da sociedade)

3.7.1 (existência de gratificações, interna ao

grupo, para a permanência dos integrantes do grupo)

3.7.1 (existência de gratificações, interna ao

grupo, para a permanência dos integrantes do grupo)

3.2.1 (a coordenação e o controle das atividades do grupo se dão por todos do

grupo)

3.4.1 (existência de uma comissão que decide)

3.2.1 (coordenação do grupo se dá por todos do grupo) e o indicador de governança relacional; 3.2.2 (modo de

decisão das regras do grupo)

3.6.2 (existência de regras de controle e de combate

aos comportamentos oportunistas)

3.6.1 (existência de algum controle ou alguma forma de vigilância do comportamento

do outro)

4.4.2 (existência de casos de falhas quanto ao

cumprimento de algumas regras)

Fonte: Construído pela autora, 2017.

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Sujeitos 3 e 4

Os sujeitos 3 e 4 foram entrevistados juntos, por solicitação deles.

O sujeito 3 possui a função de consultor do Projeto, é o responsável por fazer

o acompanhamento desse Projeto, a verificação das aplicações dos recursos, o

acompanhamento das prestações de contas e o acompanhamento do plano de

negócios, ou seja, a partir de quando o investimento começará a dar retorno e quando

o negócio vai atingir seu equilíbrio.

O sujeito 4 é o representante do grupo Gama que é o principal patrocinador do

projeto que contempla a ASSCAVAG. Sendo esse Projeto patrocinado pelo BNDES e

pelo Instituto Gama.

Lançada uma pergunta genérica de como funciona essa parceria e qual a

relação com a ASSCAVAG, os sujeitos responderam que “os auxílios aos programas

sociais que o Instituto Gama fornece, geralmente, são em cidades onde são situadas

fábricas da Gama e que carecem de investimentos financeiros”. Fato que convergiu

com a política do BNDES que procura investir em localidades que tenham baixo índice

de desenvolvimento humano. Os sujeitos disseram ainda que “a ASSCAVAG foi

submetida a uma análise na qual se verificou que essa Associação desenvolvia

trabalho social, assim foi selecionada para receber investimentos financeiros desde

que seguisse as regras estipuladas no termo de parceria entre o Instituto Gama e a

ASSCAVAG”. Por essa fala, é possível entender que as regras que regem essa

relação já vieram estipuladas no termo de acordo assinado entre eles, cabendo à

ASSCAVAG apenas o cumprimento do termo de acordo. Essas regras que estão no

contrato estão mais relacionadas às questões legais, sendo que outros assuntos

podem ser decididos conforme a necessidade da ASSCAVAG. Há, portanto, uma

janela de possibilidades de acordos, que podem servir de exemplos de governança

relacional.

Os sujeitos 3 e 4 disseram que “esse grupo de catadores da ASSCAVAG não

aceitam pessoas estranhas, assim demoraram para pedir nosso auxilio. Aos poucos

fomos conquistando a confiança deles, sendo que a partir daí a Associação começou

a buscar frequentemente nosso apoio e suporte quando se deparava com

determinadas situações ou problemas”. Tal afirmativa dos sujeitos remete a dois

indicadores de incerteza de comportamento, o 2.2 (sobre o comprometimento dos

parceiros) e o 2.4 (sobre o comportamento comercial oportunista dos parceiros). Isso

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porque, como o grupo da ASSCAVAG não os conhecia, demorou a dar credibilidade

aos sujeitos. Remete também ao indicador de governança relacional 3.5.1 (existência

de regras para eleger pessoas que representam e gerenciam o grupo), pois o grupo

criou uma regra informal de buscar tanto o representante do Projeto como o

representante da Gama para auxiliar no gerenciamento e coordenação do grupo,

sempre que surgissem problemas a serem resolvidos. Essa regra nasceu das

relações de confiança entre as partes, sendo, um bom exemplo de governança

relacional.

Sobre incertezas desse negócio, os sujeitos disseram que “os riscos e

problemas existentes nesse negócio estão muito ligados ao relacionamento

interpessoal deles”. Sobre as medidas tomadas para solucionar esses problemas eles

disseram: “nós interferimos quando surgem conflitos entre eles que atrapalham o

andamento do projeto. Nós servimos, em alguns casos, como mediadores nos

conflitos e em outros casos de orientadores daqueles que administram diretamente as

atividades dos catadores. Tudo isso para tentar manter a união entre os membros da

ASSCAVAG”. Vê-se, pois, que existe incerteza a respeito do comportamento das

pessoas do grupo nas relações sociais desenvolvidas entre eles, remetendo ao

indicador 2.1 (sobre a ética e a conduta correta conforme as regras do grupo),

surgindo uma regra informal de intercessão dos sujeitos 3 e 4 com intuito de

harmonizar o conflito, fato que se reporta ao indicador de governança 3.6.1 (existência

de algum controle ou alguma forma de vigilância do comportamento do outro).

O trecho da entrevista evidencia a presença da incerteza do comportamento

dos associados que influencia diretamente na governança relacional da rede interna

da ASSCAVAG, uma vez que a Associação busca regras para, entre outras coisas,

exercer controle no comportamento dos catadores.

Sobre incertezas advindas de leis e normas, responderam que “todos os grupos

que recebem apoio desse projeto devem passar por licenciamento ambiental, e com

o Grupo ASSCAVAG não foi diferente. Nós nos atentamos também aos materiais que

chegam lá na associação, para que eles sejam licenciados, ou seja, materiais

recicláveis”. Esse discurso sinaliza uma regra formal/contratual, ou seja, uma regra

que já veio estipulada no termo de acordo somente para ser cumprida.

Sobre as incertezas advindas da relação entre o Instituto Gama e a

ASSCAVAG, os sujeitos disseram não possuírem, mas disseram que “houve um caso

de incerteza, que foi a saída da primeira presidente da Associação”. Perguntado sobre

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as medidas tomadas para resolver essa questão, contaram que “foi realizada uma

eleição, na qual houve uma votação apertada com duas chapas, sendo que nessa

eleição surpreendeu a positividade dessa concorrência, na qual os membros se

mostraram bastante envolvidos. Em contrapartida, houve muitos associados

descontentes com a Presidente que assumiu”. O trecho em questão retrata a incerteza

de cunho político que surgiu no ambiente interno da Associação e que poderia

influenciar na relação com o Instituto Gama, remetendo ao indicador 1.3.1 (sobre as

mudanças políticas e sua influência no grupo) e que leva ao indicador de governança

3.5.2 (existência de regras para eleger pessoas que têm autoridade para controlar as

outras pessoas no que diz respeito a seguir as regras) pelo fato de elegerem uma

nova presidente para administrar a ASSCAVAG.

A respeito da disposição da Associação em seguir as regras que o Instituto

Gama estipulou, os sujeitos afirmaram que a ASSCAVAG segue categoricamente o

que é colocado no termo de Parceria apresentado pelo Instituto Gama, o que

caracteriza um exemplo de governança formal/contratual.

Sobre incertezas relacionadas à ética dos parceiros, os sujeitos 3 e 4

responderam que “dentro da ASSCAVAG houve casos pontuais de pequenos furtos,

divergindo da conduta coletiva do grupo, e que foi difícil a saída desse membro por

envolver questões sociais e afetivas, uma vez que os associados sabem da

dificuldade que o colega vai passar e pelo fato de um dos papéis da Associação ser a

inclusão social”, e que conforme dito pelo sujeito 3 existe muita compaixão de um pelo

outro dentro da associação, ou seja, um se coloca na situação do outro. Perguntado

sobre as medidas tomadas para a solução desse problema, os sujeitos responderam

que “a presidente da associação chamou a pessoa responsável pelo furto para

conversar, advertindo-o sobre seu erro e a possibilidade de deixar a Associação caso

houvesse reincidência e também colocou alguém da coordenação para fiscalizar as

condutas dos associados”. O discurso retrata a incerteza de comportamento surgida

dentro da rede da ASSCAVAG, que remete ao indicador 2.1 (sobre a ética e a conduta

correta conforme as regras do grupo) e que leva ao surgimento de uma regra

relacional de fiscalização das atividades dos associados, remetendo ao indicador

3.6.1 (existência de algum controle ou alguma forma de vigilância do comportamento

do outro).

Sobre regras de coordenação, entre as várias organizações envolvidas com a

ASSCAVAG, os sujeitos disseram que “existe um fórum territorial de segurança

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alimentar e nutricional da baixada cuiabana que faz parte do Projeto, do qual a

ASSCAVAG frequentemente participa, apresentando a prestação de conta dos

recursos utilizados e discutindo várias ações com representantes de diferentes

setores de cidades do estado de Mato Grosso que possuem demandas semelhantes”.

Vê-se, pois, que a organização ASSCAVAG, em sua rede interorganizacional,

mantém parceria com outras entidades a fim de realizar ações que buscam

reconhecimento e fortalecimento de suas ações perante a sociedade e o governo.

Fato que se reporta aos indicadores de incerteza ambiental 1.3.1 (sobre as mudanças

políticas); 1.3.2 (sobre possíveis mudanças comerciais); 1.3.3 (sobre possíveis

mudanças nas leis), tendo em vista estar pensando em possíveis acontecimentos que

possam prejudicar ou beneficiar a Associação. Isso leva ao indicador de governança

relacional 3.9.1 (existência de ações/tarefas para apoio financeiro ou de infraestrutura

do governo, do mercado e da sociedade) por realizarem ações/tarefas que tragam

benefícios à Associação.

Sobre a indagação de motivos específicos para a convocação de reuniões

periódicas, os sujeitos responderam que “não existe um calendário de reuniões, elas

ocorrem sempre que há necessidade. Sempre participamos das reuniões para tratar

de assuntos mais importantes, como uso dos recursos do projeto, como por exemplo,

a viabilidade de aquisições”. Mencionaram ainda que “o termo de parceria entre o

Instituto e a ASSCAVAG exige a prestação de conta da utilização do recurso, mas a

participação deles na reunião previamente à aquisição foi acordada entre eles”. Pode-

se observar nessa colocação que existe uma incerteza sobre a conveniência de

aquisições de certos equipamentos (nesse momento o sujeito se referia a novas

tecnologias) tendo em vista utilizar o recurso do projeto que a Associação recebe. O

fato remete ao indicador 1.2 (sobre a relação entre futuras tecnologias) e que por conta

disso foi criada uma regra relacional de convocar os sujeitos 3 e 4, participando-os

previamente das possíveis aquisições, levando ao indicador de governança relacional

3.2.2 (encontros para criação e ajustes de regras), mesmo não tendo uma rotina de

reunião.

Com a análise da entrevista, sobre as relações entre as incertezas ambientais

e comportamentais com a governança, pode-se afirmar que as regras relacionais

existentes estão resolvendo a maioria dos problemas relativos ao comportamento dos

indivíduos que compõem a rede, e que a maior parte das questões referentes às

incertezas ambientais está prevista nas regras formais e/ou contratuais.

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Pode-se afirmar que a categoria governança relacional aparece

predominantemente entre os associados e, em alguns casos, entre a ASSCAVAG e

os sujeitos 3 e 4, pois, como afirmado pelos representantes do Projeto Alfa e pela

Gama, são chamados a auxiliar a Associação quando necessitam solucionar certos

problemas, assim apresentam soluções formais, dentro daquilo que foi acordado e os

orientam em prol de uma boa relação interpessoal. O que se percebe também é que

existem sinais de governança relacional em relação àqueles que participam do dia a

dia dos catadores uma vez que, como afirmado pelos representantes, os problemas

existentes são de cunho interpessoal.

Infere-se também que a maior parte das regras existentes entre o Instituto

Gama e a ASSCAVAG são formais e/ou contratuais contempladas pelo termo de

parceria que regulamenta as ações de manuseio dos recursos, não atingindo as

relações sociais desenvolvidas pelos integrantes da rede. Em outras palavras, as

questões interpessoais ainda não são regulamentadas pelos contratos. Assim uma

possível solução para esse conflito interpessoal seja a governança relacional,

entendida pelos membros da Associação como liderança desenvolvida dentro do

grupo.

Conclui-se que a entrevista apontou diversos sinais de governança relacional

na rede interna da ASSCAVAG que busca a prevenção e controle das incertezas,

como por exemplo, as regras criadas a partir das relações de confianças surgidas

entre o grupo ASSCAVAG e os sujeitos 3 e 4. Partindo-se desse enquadre, para

responder à pergunta de pesquisa a partir dessa entrevista, construiu-se o Quadro 4

com a apresentação dos sinais de governança relacional surgidos com seus

respectivos indicadores existentes (indicadores de incerteza ambiental 1.2, 1.3.1,

1.3.2, 1.3.3; indicadores de incerteza comportamental 2.1, 2.2 e 2.4; e indicadores de

governança relacional 3.5.1, 3.2.2, 3.6.1, 3.5.2, 3.6.1 e 3.9.1).

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74

Quadro 4 - Indicadores das categorias estudadas presentes na entrevista com sujeito 3 e 4.

Indicadores de Incertezas Ambientais e Comportamentais

Os mecanismos criados ou adaptados

Indicadores de governança

2.2 (sobre o comprometimento dos parceiros) e 2.4 (sobre

o comportamento comercial oportunista

dos parceiros)

2.1 (sobre a ética e a conduta correta

conforme as regras do grupo)

1.3.1 (sobre as mudanças políticas e

sua influência no grupo)

2.1 (sobre a ética e a conduta correta

conforme as regras do grupo)

1.3.1 (sobre as

mudanças políticas); 1.3.2 (sobre possíveis

mudanças comerciais); 1.3.3 (sobre possíveis

mudanças nas leis)

1.2 (sobre a relação com futuras tecnologias)

- sempre buscar apoio quando se

deparavam com determinadas situações ou problemas.

- Atuar como mediadores e orientadores em casos de conflitos.

- realizar uma eleição para eleger uma nova presidente.

- eleger uma pessoa para fiscalizar as condutas dos associados.

- participar de um fórum e discutir ações com representantes de

diferentes setores do município.

- exigir a presença dos representantes do projeto e do

Instituto para decidir sobre certas aquisições.

3.5.1 (existência de regras para eleger pessoas que representam

e gerenciam o grupo)

3.6.1 (existência de algum

controle ou alguma forma de vigilância do comportamento do

outro)

3.5.2 (existência de regras para eleger pessoas que têm

autoridade)

3.6.1 (existência de algum

controle ou alguma forma de vigilância do comportamento do

outro)

3.9.1 (existência de ações/tarefas para apoio financeiro ou de

infraestrutura do governo, do mercado e da sociedade)

3.2.2 (encontros para criação e ajustes de regras)

Fonte: Construído pela autora, 2017.

Sujeito 5

O sujeito 5 é o representante da empresa Beta de materiais recicláveis, que é

um dos compradores de materiais da ASSCAVAG. Essa relação entre a Beta e a

ASSCAVG é antiga, sendo parceiros há mais de 20 anos.

Sobre a relação da Beta com a ASSCAVAG, como começou e como funciona,

o sujeito respondeu que “nossa relação com a ASSCAVAG não tem compromisso

nenhum, sendo que nós somos uma empresa privada que compra o material (papel e

papelão), com uma relação estritamente comercial. A ASSCAVAG só vende para nós

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75

se possuirmos um preço bom, senão, vende para outro”. O discurso acima evidencia

uma relação estritamente comercial, na qual a relação social é fraca.

Ainda sobre o relacionamento entre a Associação e a Beta, o sujeito disse que

“a relação entre nós já foi muito boa, hoje o grupo da ASSCAVAG é bastante

interesseiro, eles não são tão parceiros, pensam mais nos ganhos econômicos. O

mercado de reciclável é sazonal, tem época que está fácil de vender papelão, então

eles preferem vender para empresa de fora, da cidade de São Paulo por exemplo.

Tem época que a venda está ruim, aí eles nos procuram”. E sobre as medidas

tomadas para evitar esse problema, o sujeito disse que “temos que estar indo na

ASSCAVAG frequentemente, perguntando se tem material para comprar, ficar

entrando em contato para saber se tem algum problema”. Nesses dois trechos do

discurso do entrevistado, observa-se mais uma vez um relacionamento estritamente

de negócio, em que a relação mais colaborativa de parceria é quase inexistente.

Dentro da perspectiva do discurso desse entrevistado e considerando os

trechos ressaltados, a empresa Beta está na rede com objetivos comerciais,

predominando uma relação comercial, com regras de mercado.

De acordo com a questão de pesquisa, conclui-se que o discurso do

entrevistado não apontou sinais de governança relacional na relação entre a Beta e a

ASSCAVAG tendo em vista serem poucos os fatores sociais presentes no

relacionamento e que a busca da prevenção e do controle das incertezas é baseada

em ações de cunho econômico. Além disso, o trecho do discurso do entrevistado que

diz “nossa relação com a ASSCAVAG não tem compromisso nenhum (...)”, permite

concluir que a relação entre eles é de cunho estritamente comercial, baseadas em

regras de mercado e regras legais.

5.1.3 Resposta ao problema de pesquisa

Neste subitem será apresentada a resposta da pesquisa com base na análise

dos dados coletados, considerando tanto a análise interorganizacional quanto a

intraorganizacional.

Analisando os resultados das fontes primárias e secundárias, considerando as

convergências de conteúdos encontrados, é possível afirmar que a rede

interorganizacional na qual a ASSCAVAG está inclusa apresenta sinais mais fortes da

governança formal e/ou contratual, apresentando conteúdos econômicos, racionais e

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de políticas públicas explicitamente definidas, ou seja, o relacionamento é baseado

predominante em questões legais sem margem para negociação. A governança

relacional aparece em alguns casos, relatados na análise dos dados, atendo-se à

algumas relações sociais, como convite às reuniões, caracterizando algumas regras

implícitas concomitante com regras formais.

Já na rede intraorganizacional da ASSCAVAG os sinais de governança

relacional são mais presentes, ou seja, as regras criadas e/ou adaptadas pelo grupo

foram definidas por construções sociais do próprio grupo.

A interpretação desse resultado é que a ASSCAVAG tem relações com

compradores que a veem como uma empresa comercial; entretanto é importante

ressaltar que essa Associação possui objetivos e uma identidade com fins sociais,

pelos quais, desenvolve ações coletiva.

Para responder ao problema de pesquisa foi construído o Quadro 5 para

relacionar todos os exemplos de incertezas ambientais e comportamentais

encontradas nessa rede com os respectivos sinais de governança relacional

encontrados que buscaram prevenir a rede dos efeitos dessas incertezas ambientais

e exercer um grau de controle nessas incertezas do comportamento dos atores.

Quadro 5 - Combinação dos indicadores com os sinais de governança relacional presentes em todas as entrevistas realizadas na rede na qual a ASSCAVAG está inserida.

Indicadores de incertezas ambientais e

comportamentais

Os mecanismos criados ou adaptados

Indicadores de governança

1.2 (sobre a relação entre futuras tecnologias)

1.3.1 (sobre as mudanças políticas e sua influência no

grupo)

1.3.2 (sobre possíveis mudanças comerciais e seus

efeitos no grupo)

1.5 (sobre as ações dos movimentos dos

concorrentes e sua influência no grupo)

- exigir a presença dos representantes do projeto e do

Instituto para decidir sobre certas aquisições.

- eleger uma pessoa para fiscalizar as condutas dos

associados.

- os problemas que surgiram que são resolvidos

coletivamente.

- oferecer qualidade de vida aos associados.

3.2.2 (encontros para criação e ajustes de regras)

3.6.1 (existência de algum controle ou alguma forma de

vigilância do comportamento do outro)

3.9.1 (existência de ações para conseguir algum apoio financeiro ou de infraestrutura do governo,

do mercado e da sociedade)

3.7.1 (existência de gratificações, interna ao grupo, para a

permanência dos integrantes do grupo)

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2.1 (sobre a ética e a conduta correta conforme as

regras do grupo)

2.1 (sobre a ética e a conduta correta conforme as

regras do grupo)

2.2 (sobre o

comprometimento dos parceiros que integram o

grupo)

2.2 (sobre o comprometimento dos

parceiros) e 2.4 (sobre o comportamento comercial oportunista dos parceiros)

2.2 (sobre o comprometimento dos

parceiros)

2.3 (sobre os objetivos

individuais, dos parceiros que integram o grupo,

conflitantes com os coletivos)

2.3 (sobre os objetivos

individuais, dos parceiros que integram o grupo,

conflitantes com os coletivos)

2.4 (sobre o comportamento comercial oportunista dos

parceiros).

2.5 (sobre a intenção dos

parceiros de continuidade no grupo)

2.5 (sobre a intenção dos parceiros em continuar no

grupo)

2.6 (sobre disposição de arcar com os custos

coletivos)

- realizar uma eleição para eleger uma nova presidente.

- atuar como mediadores e orientadores em casos de

conflitos.

- surgimento de um líder para

controlar o comportamento coletivo.

- sempre buscar apoio quando se deparar com determinadas

situações ou problemas.

- contratar professores que

são do grupo, ou tiveram experiência no grupo.

- rotinas de encontros com vários representantes, para

ajustes.

- estar em formato de grupo, com decisões tomadas em

conjunto.

- descumprimento do regimento por alguns

associados. - a distribuição dos lucros por

esquema de produção ao invés de rateio.

- oferecer qualidade de vida

aos associados.

- compartilhamento de autoridade, em rodízio de

funções.

- surgimento de regra pela decisão da maioria, mesmo

alguns discordando.

3.5.2 (existência de regras para eleger pessoas que têm

autoridade)

3.6.1 (existência de algum controle ou alguma forma de

vigilância do comportamento do outro)

3.2.1 (a coordenação e o controle das atividades do grupo se dão

por todos do grupo)

3.5.1 (existência de regras para

eleger pessoas que representam e gerenciam o grupo)

3.7. (incentivos formais/ informais para continuar no grupo)

3.2.2 (rotinas de encontro)

3.2.1 (coordenação do grupo se dá por todos do grupo) e o indicador de governança

relacional 3.2.2 (modo de decisão das regras do grupo)

4.4.2 (existência de casos de falhas quanto ao cumprimento de

algumas regras)

3.6.2 (existência de regras de

controle e de combate aos comportamentos oportunistas).

3.7.1(existência de gratificações,

interna ao grupo, para a permanência dos integrantes do

grupo)

3.2.1 (a coordenação e controle das atividades compartilhadas por

todos) 3.4.1 (a coordenação das

atividades do grupo se dá por uma comissão eleita por todos)

3.4 (existência de uma comissão

que decide)

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2.7 (sobre ações que possam comprometer a saúde e integridade dos

parceiros)

1.3.1 (sobre as mudanças políticas); 1.3.2 (sobre possíveis mudanças

comerciais); 1.3.3 (sobre possíveis mudanças nas leis)

- aquisição de máquinas e contratação de técnico em

segurança do trabalho.

- participar de um fórum e discutir ações com

representantes de diferentes setores do município.

3.6.1 (existência de algum controle ou alguma forma de

vigilância do comportamento do outro)

3.9.1 (existência de ações/tarefas para apoio financeiro ou de

infraestrutura do governo, do mercado e da sociedade)

Fonte: Construído pela autora em 2017.

A partir dos indicadores que surgiram nas entrevistas realizadas, afirma-se que

na rede interorganizacional da ASSCAVAG a governança relacional é quase

inexistente, com as entrevistas mostrando alguns poucos exemplos, tais como a

seleção de professores para darem aulas aos associados e a participação dos sujeitos

da Gama e do projeto alfa em reuniões na ASSCAVAG. Logo, considerando somente

a rede interorganizacional, o campo para a governança relacional é restrito, o que

predomina são regras externas e/ou contratuais e regras comerciais que previnem e

defendem o grupo de boa parte das incertezas do ambiente e do comportamento.

Com relação à pergunta de pesquisa, na rede interorganizacional não se pode

afirmar que existe claramente uma relação das incertezas ambientais e

comportamentais com a governança relacional. Então, são raros os sinais de

governança relacional que buscam a prevenção e controle das incertezas, pois houve

a dominância da governança contratual e/ou formal.

Já na rede intraorganizacional da ASSCAVAG encontraram-se vários exemplos

de governança relacional que norteiam o relacionamento do grupo. Assim, pode-se

afirmar que na rede intraorganizacional apresenta significativos sinais de governança

relacional nesta rede que busca a prevenção e controle das incertezas e que essas

regras presentes na rede estão resolvendo tanto os problemas surgidos como as

incertezas do ambiente e do comportamento.

Relativo ao problema de pesquisa, pode-se estabelecer uma relação entre as

incertezas ambientais e comportamentais e as ações do grupo que resultaram na

governança relacional, a qual está resolvendo a maioria dos problemas surgidos no

grupo.

Considerando a divisão das análises interorganizacional e intraorganizacional,

afirma-se que a proposição orientadora, sobre a relação entre incertezas e

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governança relacional, foi sustentada apenas na rede intraorganizacional da

ASSCAVAG.

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5.2 Rede de Negócios do Shopping Popular de Cuiabá/MT

Neste subitem apresentam-se e analisam-se todos os dados coletados sobre o

negócio do Shopping Popular de Cuiabá, com o intuito de se buscar uma resposta ao

problema de pesquisa. Em seguida, serão apresentados os dados de fontes

secundárias, das entrevistas e resposta ao problema de pesquisa.

5.2.1 Dados de fontes secundárias

A cidade de Cuiabá, município onde fica localizada a rede do Shopping Popular,

teve sua ata de fundação assinada em 08 de abril de 1719 às margens do rio Coxipó,

em uma região chamada de Forquilha. Isso ocorreu devido à descoberta de ouro na

região, fato que desencadeou intensa migração para a região. Passados alguns anos,

surgiram as primeiras construções, como casas, igrejas e estabelecimentos para a

cobrança de impostos. No ano de1727, Cuiabá foi elevada à Vila como o nome de

Vila Real do Senhor Bom Jesus de Cuiabá. No ano de 1748, com a criação da

Capitania de Cuiabá, a coroa portuguesa concedeu privilégios e isenções para quem

quisesse se instalar na região. Portugal financiou várias expedições que partiam de

todo lugar do Brasil, não ultrapassando o Tratado de Tordesilhas. Somente as

bandeiras financiadas pelos paulistas chegaram ao oeste, indo além da linha de

Tordesilhas. Em 1818 Cuiabá foi elevada a cidade e somente em 28 de agosto de

1835 tornou-se a capital da Província de Mato Grosso.

Cuiabá teve sua economia desenvolvida depois da Guerra do Paraguai, sendo

que a economia foi baseada em extrativismo e na cana-de-açúcar. Por volta da

década de 1980 começou uma forte expansão do agronegócio e com isso a cidade

passou a se industrializar e a se modernizar. A cidade teve um considerável

crescimento a partir de 1990, quando o turismo se tornou a fonte de renda da cidade.

Atualmente a cidade de Cuiabá conta com uma área de aproximadamente 3,2

mil quilômetros quadrados, fazendo limite com os municípios de Várzea Grande,

Chapada dos Guimarães, Santo Antônio do Leverger, Campo Verde, Acorizal e

Jangada. De acordo com estimativas de 2014 feitas pelo Instituto Brasileiro de

Geografia e Estatística (IBGE), a população de Cuiabá é de mais de 575 mil

habitantes. A cidade é considerada o centro geodésico da América do Sul, sendo esse

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ponto situado na atual Praça Pascoal Moreira Cabral, determinado por Marechal

Cândido Rondon, em 1909.

Hoje a economia da cidade de Cuiabá gira em torno da indústria e do comércio.

O ramo industrial é predominantemente agroindustrial, com instalações no Distrito

Industrial de Cuiabá. O setor do comércio é basicamente varejista com

estabelecimento de eletrodomésticos, de alimentos e de vestuário. No ramo da

agricultura, são cultivados hortifrutigranjeiros e há lavouras de subsistência.

O município de Cuiabá teve considerável avanço no desenvolvimento social

nos últimos anos. Esse resultado é devido às ações conjuntas entre União, Governo

do Estado e a Prefeitura ao colocar em prática ações de desenvolvimento social,

integradas com o desenvolvimento da indústria e comércio. Como exemplo de uma

dessas ações cita-se a parceria da prefeitura de Cuiabá com o Shopping Popular, na

qual a prefeitura fez um contrato de concessão do espaço, em contrapartida, o

Shopping Popular desenvolveu a revitalização e manutenção do local.

Depois de um breve apanhado sobre Cuiabá, cidade onde fica localizada uma

das redes estudadas, seguem as informações da Rede do Shopping Popular de

Cuiabá.

A rede do Shopping Popular de Cuiabá/MT é um conjunto de vendedores

ambulantes que antes estavam dispersos pelas ruas do centro da cidade. A partir da

iniciativa da prefeitura local e das pressões dos lojistas, criou-se um espaço específico

para esses ambulantes, com infraestrutura necessária para o comércio.

Figura 5 – Foto do Shopping Popular

Fonte: Sítio eletrônico do Shopping Popular de Cuiabá, 2017.

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82

No passado, principalmente na década de 1990, o comércio informal de Cuiabá

havia se instalado no centro da cidade, como ocorreu em todas as grandes cidades

brasileiras, decorrência dos problemas econômicos. As barracas surgiram em

profusão e a sobrevivência na informalidade foi possível por meio de colaboração

mútua, seja nos produtos, seja na vigilância. As ruas e praças do Centro da cidade de

Cuiabá, porém, não possuíam estrutura para comportar o crescente número de

barracas e isso acabava incomodando os comerciantes legalizados da região. Por

conta desse problema estrutural, em abril de 1995, a prefeitura de Cuiabá organizou

a retirada desses populares do local, alojando-os em um espaço no complexo Dom

Aquino e que posteriormente foi instituído o Shopping Popular de Cuiabá/MT.

Apesar de a prefeitura ter colocado os ambulantes em um novo espaço, esse

local carecia de uma boa infraestrutura, dessa forma os ambulantes se organizaram

para criar uma associação, de modo a legitimar as solicitações de melhores condições

de trabalho. Esse movimento já é evidência de integração do grupo e de formação de

uma governança, por exemplo, no modo como foi estruturada a associação e eleitos

seus representantes. Entre os resultados obtidos destacam-se os incentivos

governamentais, melhoria da estrutura e a criação da Cooperativa de Compras do

Comércio Popular de Mato Grosso (Coocomp/MT) por parte do governo do Estado.

Outra melhoria foi a medida provisória nº 380 que instituiu o Regime de

Tributação Unificada - RTU, regularizando o abastecimento de mercadorias

importadas do Paraguai, fazendo com que se mudasse a imagem dos ambulantes.

Com a legalização da aquisição dos produtos e da cooperativa, os ambulantes

passaram a se abastecer de mercadorias de forma coletiva, com frete e outros custos

compartilhados. Mostravam organização para resolver os problemas coletivos. A

governança, no sentido de organização das pessoas para um trabalho coletivo, está

evidenciada nesses fatos.

Esse caminho de legitimação da atividade possibilitou que muitos ambulantes

saíssem da informalidade, tornando-se empreendedores, tendo suas microempresas

com CNPJ e funcionários registrados. Essas conquistas e essa nova situação de

legalidade tornou o Shopping Popular referência no segmento de comércio popular,

tornando-se um dos pontos mais movimentados e atraentes para os consumidores na

cidade de Cuiabá-MT.

A última conquista relevante do grupo foi a legitimação do local onde se

encontram o shopping, o que se concretizou a partir de um contrato, assinado entre a

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prefeitura e a Associação do Shopping Popular, de Concessão do espaço (dez mil

metros quadrados de área) no qual o Shopping está localizado, por um período de

trinta anos, com cláusulas de sustentabilidade e qualidade de vida, com obrigações

de revitalização e manutenção do local por parte do Shopping.

Na atualidade, o Shopping Popular, regido pela sua associação, constitui-se de

500 bancas dos mais variados produtos, com maior concentração em produtos do

varejo e eletrônicos, atraindo público de todas as classes de Cuiabá/MT e região.

O mapa, gerado pelo software Ucinet, retrata o perceptual das relações

desenvolvidas entre os atores da rede do Shopping Popular. Conforme se verifica, a

rede tem baixa densidade, isto é, alguns atores têm apenas uma ligação. A rede de

primeiro nível, isto é, das organizações diretamente implicadas na tarefa, é mostrada

na Figura 6.

Figura 6 - Mapa das relações da Rede do Shopping Popular, conforme respostas dos entrevistados.

Fonte: Construído pela autora, 2017.

Outro dado de fonte secundária é o Regimento Interno da Associação dos

Camelôs do Shopping Popular de Cuiabá/MT que visa à organização, à disciplina e

ao atendimento dos interesses dos associados. Mesmo sendo um documento formal

de regulamentação interna, algumas de suas normas foram construídas e/ou

adaptadas socialmente pelos associados; como por exemplo, “Todos os corredores

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devem ser respeitados, de forma que é terminantemente proibida a disposição de

qualquer mercadora nos corredores” (página 7, art. 39) e também “Não será permitida

a utilização do estacionamento da sede da Associação pelos associados (...), salvo a

tolerância de 20 minutos e o não cumprimento sujeitará em multa” (página 7, art. 41)3.

Essas regras foram criadas, aprovadas e regulamentadas em assembleia, pois à

medida que os problemas surgiram, os motivos que levaram a esses problemas foram

regulamentados a fim de diminuírem os problemas da rede.

Como conclusão deste subitem afirma-se que a categoria governança

relacional está presente no desenvolvimento da rede, visto que a história do Shopping

Popular mostra uma construção gradual desse grupo, no qual se caracteriza como um

campo propício para criação e/ou adaptação de regras que atendessem a realidade

dessa rede. Os dados revelam que o grupo estabeleceu essas regras conforme a

necessidade de se defenderem das incertezas ambientais, ou seja, fatores

imprevisíveis que podem acontecer tanto no ambiente das organizações e no espaço

do shopping; e exercer algum controle nas incertezas comportamentais, ou seja,

imprevistos relacionados ao comportamento dos atores da rede.

5.2.2 Dados de fontes primárias – entrevistas

Sujeito 1

O sujeito 1 pertence ao setor administrativo do Shopping Popular e possui o

cargo de assessor de comunicações, sendo que está nesse grupo cerca de 3 anos.

Sobre a estrutura do shopping popular e como ele funciona, o sujeito disse que

“quando o shopping popular foi para a região do Dom Aquino surgiram muitos

problemas de como seria organizado e desenvolvido o negócio, assim houve a

necessidade de se montar uma associação responsável por dar voz a esse grupo de

camelôs. (...) sendo que essa associação é a responsável por coordenar e organizar

as decisões tomadas aqui no shopping (...)”. O discurso retrata uma incerteza de

cunho comercial, remetendo ao indicador de incerteza ambiental 1.3.2 (mudanças

comerciais e seus efeitos no grupo), sendo que essa incerteza deu causa à criação

3 REGIMENTO INTERNO DA ASSOCIAÇÃO DOS CAMELÔS DO SHOPPING POPULAR DE CUIABÁ/MT - Documento de funcionamento da organização, não disponível ao público.

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de uma comissão para coordenar o grupo, o que retrata o indicado de governança

relacional 3.4.1 (coordenação das atividades se dá por uma comissão).

Sobre como se organizam para resolver os problemas que surgem, o sujeito

respondeu que “(...) tudo aqui é decidido em grupo. Fazemos poucas reuniões, a

maioria das vezes nós fazemos assembleia quando as decisões afetam os lojistas”.

Nesse trecho, percebe-se a existência de sinais de governança relacional quando o

entrevistado menciona que tudo é decidido em grupo, o que leva ao indicador de

governança relacional 3.2.1 (coordenação do grupo se dá por todos do grupo), na qual

essa regra foi criada a partir de imprevisibilidades quanto aos objetivos dos atores,

que se traduz no indicador 2.3 (objetivos individuais dos parceiros conflitantes com os

coletivos). Desse modo, como decisões tomadas pelo grupo através de assembleias,

a associação faz com que as posições coletivas prevaleçam sobre as individuais.

Sobre problemas que o Shopping Popular enfrenta, o sujeito disse que “o maior

problema que enfrentamos aqui é quanto à informalidade dos lojistas, como

problemas com a receita federal, polícia federal, prefeitura e outros órgãos de controle.

(...) são problemas com contrabando e apreensão de mercadoria”. Perguntado sobre

as medidas tomadas para resolver esse problema, o sujeito disse que “(...) hoje existe,

por parte da associação uma política de conscientização dos associados por meio de

palestras, a fim de se eximir de futuras responsabilizações, pois ainda existem alguns

camelôs que não passam nota ou algo para registro de mercadoria”. Verifica-se que

o grupo enfrenta problemas com a regularização das atividades dos lojistas, levando

a associação realizarem ações para minimizarem essa informalidade. O discurso

remete ao indicador de incerteza comportamental 2.1 (sobre a ética e a conduta

correta conforme as regras do grupo) e ao indicador de governança relacional 3.8.2

(regras e/ou ações para conseguir legalização).

Sobre regras de controle do comportamento das pessoas, o sujeito disse que

“(...) o associado tem liberdade em seu trabalho, porém existe um controle indireto, ou

uma busca pelo controle do comportamento por meio de informativos para a

conscientização a maneira correta de atendimento ao público que ocasiona em mais

clientes e mais lucros”. O trecho retrata uma incerteza quanto ao empenho dos lojistas

em conquistar a clientela remetendo ao indicador de incerteza comportamental 2.2

(comprometimento dos parceiros do grupo) que leva ao indicador de governança

relacional 3.8.1 (regras e/ou ações para reconhecimento do governo, do mercado e

da sociedade).

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Sobre dúvidas e incertezas que enfrentam com os concorrentes de fora do

shopping, o sujeito disse que “(...) não nos preocupamos com esses concorrentes,

pois o forte do shopping é saber que o cliente vai sair daqui com o produto que veio

buscar. (...) Existe também parcerias entre os lojistas para satisfazer à necessidade

do cliente, em que foi acordado informalmente entre os lojistas passar a venda para

outro lojista quando não estiver o produto para que o cliente saia daqui satisfeito e

consciente de que vindo ao shopping sempre vai encontrar o que procura”. Percebe-

se no trecho do discurso que os lojistas do Shopping Popular tomam diversas medidas

para se defenderem da incerteza ambiental relacionados ao cliente, o que remete ao

indicador 1.6 (desejos, demanda, necessidades e comportamento dos consumidores

e sua influência no grupo), sendo que uma dessas medidas é estabelecer acordos

informais de indicação de outros boxes para atender à necessidade dos clientes,

evidenciando um grupo que definirem regras para beneficiar a rede de uma formar

geral, indo além dos objetivos individuais de cada lojista, que retrata o indicador de

governança relacional 3.2.1 (coordenação do grupo se dá por todos do grupo).

Sobre dúvidas e incertezas relacionadas às leis, aos impostos e a outras ações

políticas e legais, o sujeito disse que “existem situações que exigem leis específicas,

aí usamos a força do nosso grupo para atender nossas necessidades inclusive com o

presidente da associação que conseguiu se eleger vereador”. Perguntado sobre as

medidas tomadas para resolver esse problema, o sujeito deu o seguinte exemplo: “nos

boxes de ótica era exigido um técnico por loja, então foi criada uma lei com a ajuda

do presidente da associação que estipulava apenas um técnico para o shopping que

atendesse todos os boxes de ótica, diminuindo assim, os gastos do grupo”. Por essa

fala, é possível entender que o grupo detém uma força política, pela qual prevaleceu

o interesse do grupo diante de uma regra que já estava formalizada. Assim pode-se

afirmar que esse trecho é um exemplo de governança relacional na rede, na qual o

grupo adapta uma regra que já está formalizada à realidade e aos interesses do grupo.

Sobre dúvidas e incertezas relacionadas à ética das pessoas mais próximas

envolvidas com o Shopping Popular, o sujeito disse que “para evitar algum problema

que possa ocorrer com a ética dos integrantes do grupo, nós trabalhamos com os

lojistas a importância dessa parceria. O que a associação faz é conscientizar todos os

lojistas por meio da execução ações para apoiar e incentivar tanto os órgãos

envolvidos com o shopping como os associados”. O discurso acima evidencia a

existência de incerteza quanto ao comportamento dos associados, o que remete ao

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indicador 2.1 (sobre a ética e a conduta correta conforme as regras do grupo), o que

acarreta a criação de regras informais para desenvolver ações que ressaltam a

importância de estar como parceiros em um grupo, retratando o indicador de

governança relacional 3.7.1 (gratificações, internas ao grupo, para a permanência dos

integrantes do grupo), pois as ações desenvolvidas pela associação se traduzem em

incentivos informais para a permanência dos lojistas no grupo.

Sobre a criação das regras, como são seguidas nesse grupo e para que elas

servem, o sujeito disse que “foram criados o estatuto e o regimento interno, sendo que

esse regimento foi criado de acordo com as necessidades do grupo que foram

surgindo, (...) tanto os associados como os membros da administração da associação

levam demandas para serem votadas na assembleia e assim vai se aprimorando o

estatuto e o regimento interno”. Um exemplo de regra que foi criada pela necessidade

do grupo é a vedação à comercialização de cigarros e de uísque que nasceu do

problema de os consumidores detectarem a falsificação e voltarem ao shopping para

reclamar. Esse fato remete ao indicador de incerteza ambiental 1.6 (desejos,

demanda, necessidades e comportamento dos consumidores e sua influência no

grupo) que leva ao indicador de governança relacional 3.6.1 (algum controle ou

vigilância do comportamento do outro) pelo fato de existir uma pessoa observando os

lojistas a seguirem as regras que foram acordadas em assembleia.

Sobre a existência de regras para controlar o comportamento das pessoas,

como, por exemplo, relatório de atividades, o sujeito disse que “essa questão é meio

livre, mas que existe uma fiscalização quanto às ações dos associados, como, por

exemplo, o fiscal eleito pelos próprios associados para verificar se têm lojistas

estacionando nas vagas internas reservadas apenas para clientes. Essa foi uma regra

estabelecida em assembleia que proíbe ao associado estacionar no estacionamento

interno do shopping com intuito de disponibilizar mais vagas aos consumidores”. Este

exemplo retrata o indicador de governança relacional 3.6.1 (algum controle ou

vigilância do comportamento do outro) por conta da presença da incerteza de

comportamento dos lojistas que remete ao indicador 2.1 (sobre a ética e a conduta

correta conforme as regras do grupo).

Sobre a existência de regras de incentivos, o sujeito disse que “ainda não existe

um incentivo oferecido especificamente a um ou outro lojista, o que ocorre aqui no

shopping é um incentivo à melhoria do atendimento aos clientes. Tentamos organizar

os lojistas para que atendam conforme as normas e as leis, dando cursos e palestras

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de orientação. Essas ações não fazem com que o lojista ganhe diretamente, mas

aumenta o lucro”. Esse exemplo remete ao indicador de governança relacional 3.7.1

(existência de gratificações, interna ao grupo, para a permanência dos integrantes do

grupo) pelo fato de a associação oferecer essas orientações como bônus o que faz

com que, indiretamente, os lojistas queiram permanecer no grupo por conta do

aumento dos clientes. Isso se deve à presença do indicador de incerteza ambiental

1.6 (desejos, demanda, necessidades e comportamento dos consumidores e sua

influência no grupo).

Sobre planos e metas do reconhecimento junto à sociedade, o sujeito disse que

“existem ações sociais que o shopping realiza e que atende algumas instituições,

buscando assim retribuir de certa forma os ganhos e lucros que adquirem com os

clientes. Como por exemplo, fazer campanhas dentro do shopping em parceria com o

Departamento Estadual de Trânsito de Mato Grosso (DETRAN/MT) e o Secretaria

Municipal de Trânsito e Transportes (SMTU) distribuindo cartilhas de trânsito seguro

e direção defensiva”. Para as incertezas relacionadas aos consumidores, que remete

ao indicador 1.6 (desejos, demanda, necessidades e comportamento dos

consumidores e sua influência no grupo), foi criada uma regra implícita de fornecer

informações orientando os consumidores sobre temas importantes, fato que aponta o

indicador de governança relacional 3.8.1 (regras e/ou ações para reconhecimento do

governo, do mercado e da sociedade).

Sobre os objetivos e problemas a serem enfrentados, se existe um

comprometimento por parte dos lojistas, o sujeito afirmou que “as ações

desenvolvidas pela associação conscientizam os lojistas, fazendo com que se tornem

comprometidos, por exemplo, todos se importam com o bom atendimento ao cliente,

pois caso ocorra algo de errado mancha o nome de todo o shopping. Todos nós aqui

temos a obrigação de sermos comprometidos com o shopping e a associação é como

uma mediadora dos conflitos que ocorrem aqui dentro do grupo”. Por essa fala é

possível afirmar que a associação desenvolve programas com intuito de despertar o

comprometimento dos associados para com o grupo e assim tentar minimizar a

incerteza quanto ao comprometimento dos lojistas. Assim, o exemplo retrata o

indicador de incerteza comportamental 2.2 (sobre o comprometimento dos parceiros

do grupo) que leva ao indicador de governança relacional 3.7.1 (existência de

gratificações, interna ao grupo, para a permanência dos integrantes do grupo).

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Com a análise da entrevista, sobre as relações entre as incertezas ambientais

e comportamentais com a governança pode-se afirmar que há uma predominância

das regras relacionais na rede intraorganizacional do Shopping Popular e que elas

estão resolvendo a maioria dos problemas relativos ao comportamento dos

associados, enquanto que as questões relativas às incertezas ambientais estão em

sua maioria previstas nas regras formalizadas no estatuto ou no regimento interno da

associação.

Pode-se inferir, ainda, de acordo com o discurso do entrevistado, que os

ganhos que os lojistas adquirem por estar nesse grupo são muitos, o que facilita a

consciência coletiva e o comprometimento com a rede intraorganizacional do

Shopping Popular. Isso caracteriza um campo propício para a criação e/ou adaptação

de regras conforme a necessidade do grupo.

Conclui-se, então, que a entrevista apontou sinais de governança relacional na

rede interna do Shopping Popular, os quais buscam a prevenção e controle das

incertezas comportamentais, como, por exemplo, as regras criadas a partir de

ocorrências surgidas com os clientes que resultaram em problemas para a Associação

do Shopping. Partindo-se desse enquadre, para responder à pergunta de pesquisa,

construiu-se o Quadro 6 com a apresentação dos sinais de governança relacional

surgidos com seus respectivos indicadores existentes (indicadores de incerteza

ambiental 1.3.2 e 1.6; indicadores de incerteza comportamental 2.1, 2.2 e 2.3;

indicadores de governança relacional 3.2.1, 3.4.1, 3.6.1, 3.7.1, 3.8.1 e 3.8.2).

Quadro 6 - Indicadores das categorias estudadas presentes na entrevista com sujeito 1 da rede na qual o Shopping Popular está inserido.

Indicadores de incertezas ambientais e comportamentais

Os mecanismos criados, ou adaptados

Indicadores de governança

1.6 (desejos, demanda, necessidades e comportamento

dos consumidores e sua influência no grupo)

1.6 (desejos, demanda,

necessidades e comportamento dos consumidores e sua influência

no grupo)

1.6 (desejos, demanda, necessidades e comportamento

dos consumidores e sua influência no grupo)

- ações sociais direcionadas aos clientes

do shopping.

- preocupação do shopping em atender às

necessidades dos clientes.

- necessidade do grupo em regulamentar venda de cigarros e bebidas.

3.8.1 (regras e/ou ações para reconhecimento do governo, do

mercado e da sociedade)

3.2.1 (coordenação do grupo se dá por todos do grupo)

3.6.1 (algum controle ou vigilância do comportamento do outro)

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1.6 (desejos, demanda, necessidades e comportamento

dos consumidores e sua influência no grupo)

2.1 (a ética e a conduta correta conforme as regras do grupo)

2.1 (a ética e a conduta correta conforme as regras do grupo)

2.1 (a ética e a conduta correta conforme as regras do grupo)

2.2 (o comprometimento dos parceiros do grupo)

2.2 (comprometimento dos parceiros do grupo)

1.3.2 (mudanças comerciais e seus efeitos no grupo)

2.3 (objetivos individuais dos parceiros conflitantes com os

coletivos)

- incentivo à melhoria do atendimento aos clientes.

- fiscalização da conduta dos associados.

- política de

conscientização quanto à informalidade dos lojistas.

- ações para apoiar e incentivar a parceria.

- ações de conscientização para o

comprometimento ao bom atendimento ao cliente.

- distribuição de informativos para regular a o comportamento dos

lojistas.

- criação de uma associação para

representar o grupo.

- realização de assembleias para a tomada de decisão.

3.7.1 (existência de gratificações, interna ao grupo, para a

permanência dos integrantes do grupo)

3.61. (algum controle ou vigilância do comportamento do

outro)

3.8.2 (regras e/ou ações para conseguir legalização)

3.7.1 (existência de gratificações,

interna ao grupo, para a permanência dos integrantes do

grupo)

3.7.1 (existência de gratificações, interna ao grupo, para a

permanência dos integrantes do grupo)

3.8.1 (regras e/ou ações para reconhecimento do governo, do

mercado e da sociedade)

3.4.1 (a coordenação se dá por uma comissão eleita por todos)

3.2.1 (coordenação do grupo se dá por todos do grupo)

Fonte: Construído pela autora, 2017.

Sujeito 2

O sujeito 2 é uma lojista do Shopping Popular e está nesse grupo há mais de

15 anos.

Sobre como funciona o grupo Shopping Popular, a entrevistada disse que “o

grupo do Shopping Popular é representado por uma associação, na qual todos os

lojistas participam das decisões que são tomadas, (...) e isso foi uma regra decidida

na assembleia”. Esse trecho demonstra como são tomadas as regras de decisões do

grupo, ou seja, com se decide qualquer assunto no grupo. Conforme o discurso, o

grupo do shopping considera o posicionamento e os objetivos predominantes entre a

maioria, no qual tenta minimizar os possíveis conflitos por conta da divergência entre

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os objetivos individuais e coletivos. Logo, o indicador de incerteza comportamental

retratado é o 2.3 (os objetivos individuais, dos parceiros que integram o grupo,

conflitantes com os coletivos). O discurso evidencia uma regra que foi estabelecida

pelo próprio grupo, o que remete ao indicador de governança relacional 3.2.1

(coordenação do grupo se dá por todos do grupo), tendo em vista todos os lojistas

terem a oportunidade de participarem das decisões do grupo.

Sobre as dúvidas, as incertezas e os problemas que os lojistas enfrentam nesse

negócio, o sujeito respondeu que “no momento a incerteza que estamos enfrentando

é a crise econômica pela qual o país está passando, com greves, que afeta

diretamente o poder de compra dos clientes, fazendo com que diminuam as vendas”.

Perguntado sobre as medidas tomadas para resolver esse problema, o sujeito

respondeu que “não tem nada estipulado, mas para diminuir esse problema

relacionado à crise do país, combinamos para fazermos liquidação ou promoções de

alguns produtos e divulgamos para atrair mais clientes para o shopping”. O fato de a

crise econômica estar afetando as vendas demonstra um problema do grupo com uma

incerteza ambiental retratada pelo indicador 1.1 (a relação entre o crescimento

econômico da região e sua influência no grupo), que por sua vez leva ao indicador de

governança relacional 3.8.1 (regras e/ou ações para reconhecimento do governo, do

mercado e da sociedade), pelo fato de o grupo desenvolver ações para atraírem os

clientes, o que acaba por conseguir também o reconhecimento tanto da sociedade,

como do mercado.

Sobre a existência de regras de controle do comportamento dos lojistas, o

sujeito disse que “existem regras dispostas no regimento interno, que foram criadas

por todos do grupo do shopping popular, para controlar certos comportamentos, como,

por exemplo, o controle de armazenamento de caixas e produtos nos corredores, o

controle da presença dos associados nas assembleias por meio das atas assinadas

(...) e também caso algum lojista não cumpra as normas dispostas no estatuto existe

penalidade expressa de advertência”. Esse exemplo demonstra ações para tentar

controlar incertezas advindas do comportamento dos lojistas, o que leva ao indicador

2.1 (sobre a ética e a conduta correta conforme as regras do grupo). As ações e regras

estabelecidas nos documentos formalizados retrata o indicador de governança

relacional 3.6.1 (algum controle ou vigilância do comportamento do outro), pois são

regras que compõem o sistema de controle e sanções do grupo.

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Sobre as vantagens e desvantagens de estar nesse grupo, o sujeito afirma que

“com certeza dentro do shopping os ganhos econômicos são maiores pelo fato de

estar concentrada uma diversidade de produtos num só local, despertando a vontade

dos clientes em comprar, (...) e que tem vários casos de lojistas que saíram do grupo,

mas voltaram pelo fato de a venda ser bem maior no shopping. Aqui as vantagens são

muitas, (...), por exemplo: a associação estabeleceu o rateio de todas as despesas do

Shopping Popular entre os lojistas que compõe o grupo, caso que não ocorreria se

tivéssemos uma loja no centro fora deste grupo. (...) e também aqui dentro do

shopping a clientela é bem maior, pois existe uma fidelidade dos clientes em sempre

procurar o shopping caso precise de algo. (...) As vantagens vão além do motivo

econômico”. Analisando-se esse trecho da entrevista, pode-se observar uma

preocupação com as incertezas do ambiente de mercado fora do grupo, tanto com

relação às despesas quanto com relação aos clientes. Logo, esse ponto do discurso

remete ao indicador de incerteza ambiental 1.3.2 (sobre possíveis mudanças

comerciais), e que leva ao indicador de governança relacional 3.4.1 (coordenação das

atividades se dá por uma comissão), tendo em vista o grupo ter uma associação que

estabelece algumas regras para proteger o grupo das incertezas do mercado.

Sobre a existência no grupo de ajuda, caso surjam alguns imprevistos, como

custos extras ou ajuda emergencial para alguém do grupo, o sujeito respondeu que “o

pessoal aqui é muito solidário aos problemas do próximo, auxiliando todos na medida

do possível, que já se tornou uma regra implícita de quando alguém precisar de ajuda

financeira por alguma necessidade se faz uma espécie de cota para arrecadar

dinheiro”. Veja-se, pois, nesse ponto existe uma regra moral que força os integrantes

do grupo a contribuir com alguém que esteja precisando, sendo que essa regra foi

imposta informalmente pelo grupo para combater os imprevistos que acometem os

integrantes do grupo e que acaba por controlar o comportamento do pessoal do

shopping. Fato esse que remete ao indicador de incerteza comportamental 2.6 (sobre

disposição de arcar com os custos coletivos), que leva ao indicador de governança

relacional 3.6.1 (algum controle ou vigilância do comportamento do outro), sendo esse

controle representado por uma regra informal e/ou implícita.

A partir de diferentes trechos do discurso do entrevistado, pode-se afirmar que

os ganhos e os benefícios que os lojistas possuem por fazer parte do Shopping

Popular são diversos, fazendo com que fortaleça o comprometimento entre os

integrantes do grupo para que o shopping se desenvolva cada vez mais.

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É possível afirmar também que, no Shopping Popular há predominância da

governança relacional na rede interna do grupo, tendo em vista ser um grupo que

começou sem nenhum suporte e que agora conta com uma associação que

regulamentou as relações do Shopping Popular por meio da criação e/ou adaptação

de diversas regras conforme os acontecimentos e as necessidades do grupo.

No que se refere às relações entre as incertezas ambientais e comportamentais

com a governança relacional, pode-se afirmar que as regras presentes no grupo estão

resolvendo a maioria dos problemas relativos ao comportamento dos associados com

base no seguinte trecho da entrevista: perguntado se as regras estão resolvendo as

dúvidas, os problemas e as incertezas do comportamento das pessoas, ou tem

acontecido do grupo ser surpreendido por comportamentos não previstos, o sujeito

disse: “as regras estão resolvendo, pelo fato de a maioria dessas regras terem sido

decididas de forma democrática por todos nós lojistas nas assembleias e conforme os

fatos que iam acontecendo aqui no grupo”. Já os possíveis imprevistos relacionados

às incertezas ambientais estão em sua maioria previstos nas regras formalizadas no

estatuto, ou no regimento interno da associação.

Conclui-se, então que a entrevista com o sujeito 2 evidenciou diversos sinais

de governança relacional na rede intraorganizacional do Shopping Popular, que

buscam a prevenção e controle das incertezas, como, por exemplo as regras criadas

para controlar o armazenamento de caixas e produtos nos corredores tendo em vista

estar atrapalhando a circulação dos clientes. Partindo-se desse enquadre, para

responder à pergunta de pesquisa, construiu-se o Quadro 7 com a apresentação dos

sinais de governança relacional surgidos, com seus respectivos indicadores existentes

(indicadores de incerteza ambiental 1.1 e 1.3.2; indicadores de incerteza

comportamental 2.1, 2.3 e 2.6; indicadores de governança relacional 3.8.1, 3.4.1, 3.6.1

e 3.2.1).

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Quadro 7 - Indicadores das categorias estudadas presentes na entrevista com sujeito 2 da rede na qual o Shopping Popular está inserido.

Indicadores de Incertezas Ambientais e

Comportamentais

Os mecanismos criados ou adaptados

Indicadores de governança

1.1 (a relação entre o crescimento econômico

da região e sua influência no grupo)

1.3.2 (sobre possíveis mudanças comerciais)

2.1 (sobre a ética e a

conduta correta conforme as regras do

grupo)

2.3 (os objetivos individuais, dos

parceiros que integram o grupo, conflitantes

com os coletivos)

2.6 (sobre disposição de arcar com os custos

coletivos)

- ações que o grupo desenvolve para

minimizarem os efeitos da crise econômica do país.

- a associação do shopping estabelece regras para se proteger

das incertezas do mercado.

- regras de controle do comportamento dos integrantes do

grupo.

- todos os integrantes do grupo participam das decisões nas

assembleias.

- cota para arrecadar dinheiro para ajudar algum necessitado do grupo.

3.8.1 (regras e/ou ações para reconhecimento do governo, do

mercado e da sociedade)

3.4.1 (coordenação das

atividades se dá por uma comissão)

3.6.1 (existência de algum controle ou alguma forma de

vigilância do comportamento do outro)

3.2.1 (coordenação do grupo se dá por todos do grupo

3.6.1 (existência de algum controle ou alguma forma de

vigilância do comportamento do outro)

Fonte: Construído pela autora, 2017.

Sujeito 3

O sujeito 3 é um lojista do Shopping Popular, estando nesse grupo desde que

se tornou Shopping Popular. Atualmente compõe a administração, com o cargo de

secretário de esporte do shopping.

Sobre a criação das regras que são seguidas pelo grupo, o sujeito disse que “o

shopping teve suporte jurídico para estabelecer algumas regras, mas a maioria das

regras foi criada pelos associados de acordo com os problemas que iam surgindo e

sendo submetida para aprovação na assembleia”. Perguntado sobre exemplos de

casos que exigiram criar uma norma devido a algum problema surgido o sujeito deu o

seguinte exemplo: “já ocorreram problemas relacionados a consertos de celulares, em

que o consumidor voltava para reclamar, (...) então foi acordado entre os lojistas que

atuam na área de eletrônicos a oferecer uma certa garantia para o conserto e, assim,

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conquistar mais clientes aqui para o shopping”. Por essa fala, percebe-se a

preocupação dos lojistas com a insatisfação dos clientes quanto aos serviços

prestados no shopping, o que pode ocasionar uma diminuição da venda. Por conta

disso, criaram uma regra informal de oferecer uma espécie de garantia aos clientes

como forma de dar mais segurança aos clientes. Portanto, esse ponto do discurso

remete ao indicador de incerteza ambiental 1.6 (desejos, demanda, necessidades e

comportamento dos consumidores e sua influência no grupo) e ao indicador de

governança relacional 3.2.1 (coordenação e o controle das atividades se dá por todos

do grupo), mesmo sendo apenas os lojistas do ramo de celulares que acordaram essa

regra informal.

Sobre a disposição dos lojistas em aceitar as regras, o sujeito disse que “existe

uma regra no estatuto que estabelece que todos tivessem que seguir as regras do

shopping, caso contrário, não continua aqui”. Perguntado sobre como foi a criação

dessa regra, o sujeito respondeu que “foi uma regra pronta, colocada pela associação

do shopping, que foi para assembleia e que foi aprovada pela maioria”. Esse trecho

remete ao indicador de incerteza comportamental 2.1 (sobre a ética e a conduta

correta conforme as regras do grupo) e ao indicador de governança relacional 3.4.1

(a coordenação das atividades se dá por uma comissão eleita por todos); por conta

da preocupação da associação do shopping com a conduta dos lojistas conforme as

regras do grupo.

Sobre as dúvidas, as incertezas e os problemas que os lojistas enfrentam nesse

negócio e como se organizam para resolver, o sujeito respondeu que “no momento

nós enfrentamos problemas econômicos, aí nos organizamos para fazer alguma

promoção ou outros meios que atraiam os clientes e sempre procuramos ajudar uns

aos outros com as vendas”. Esse trecho demonstra claramente uma incerteza quanto

ao comportamento dos clientes em relação à demanda incerta e irregular e também

quanto às mudanças econômicas, o que leva ao indicador de incerteza ambiental 1.6

(desejos, demanda, necessidades e comportamento dos consumidores e sua

influência no grupo), sendo que essa incerteza leva o grupo a desenvolver ações que

atraiam os clientes, remetendo ao indicador de governança relacional 3.8.1 (existência

de regras e/ou ações para conseguir reconhecimento do governo, do mercado e da

sociedade).

Sobre a existência de ajuda, caso surjam alguns imprevistos, como custos

extras ou ajuda emergencial para alguém do grupo, o sujeito respondeu que “não

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existe nada formal, mas sempre que alguém do grupo necessita de alguma coisa

todos aqui contribuímos no que puder”. Comentário já levantado no discurso do sujeito

2, retrata uma regra moral presente significativamente no grupo do Shopping Popular,

estabelecida informalmente pelo grupo e que acaba por controlar o comportamento

do pessoal do shopping. O fato remete ao indicador de incerteza comportamental 2.6

(sobre disposição de arcar com os custos coletivos), que leva ao indicador de

governança relacional 3.6.1 (algum controle ou vigilância do comportamento do outro),

sendo esse controle representado por uma regra informal e/ou implícita.

Sobre a ocorrência de um possível fato, tanto ambiental como comportamental,

que não esteja regulamentado no estatuto, o sujeito disse que “é difícil acontecer, pois

não temos tantos problemas como no início da criação do grupo, mas se ocorrer algo

assim, levamos a ocorrência para as assembleias e decidimos qual a medida a ser

tomada”. Veja-se, pois, que a maior parte das incertezas que o grupo enfrenta é

resolvida coletivamente nas assembleias. Tal fato evidencia um controle social

presente no grupo que remete aos indicadores de governança relacional 3.2.1

(coordenação e o controle das atividades do grupo se dá por todos do grupo) e 3.2.2

(existe uma rotina de encontro para criação e ajustes das regras do grupo), podendo

ser decorrente de incertezas comportamentais retratadas pelo indicador 2.1 (sobre a

ética e a conduta correta conforme as regras do grupo) como de incertezas

ambientais, retratadas pelo indicador 1.3.1 (incertezas sobre as mudanças políticas e

sua influência no grupo), pois, em muitas ações os governantes tanto da prefeitura

como do governo do Estado são parceiros, o que gera certa incerteza sobre suas

futuras ações.

Sobre a existência de planos e regras para reconhecimento do grupo junto ao

governo e à sociedade, o sujeito disse que “o grupo, por meio da associação, sempre

procura desenvolver parcerias, para trazer vantagens e benefícios para o grupo. E

que recentemente, com a ajuda dos lojistas e das famílias envolvidas, o presidente da

associação foi eleito vereador do município para representar e trazer benefícios ao

shopping”. Analisando-se esse trecho da entrevista, pode-se observar uma

preocupação com as incertezas a respeito de mudanças no ambiente comercial do

shopping que remete ao indicador de incerteza ambiental 1.3.2 (sobre possíveis

mudanças comerciais e seus efeitos no grupo) e 1.3.3 (sobre possíveis mudanças nas

leis que possam afetar o grupo). O fato de o grupo trabalhar para eleger um

representante político retrata o indicador de governança relacional 3.9.1 (existência

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de ações/tarefas para conseguir algum apoio financeiro ou de infraestrutura do

governo, do mercado e da sociedade).

Sobre a disposição em fazer sacrifícios pessoais para o bem dos resultados do

grupo, o sujeito disse que “não tem nada regulamentado sobre isso no nosso estatuto,

mas não adianta um ir bem e outros irem mal, é importante todos saírem bem no

trabalho. (...) Então, como o objetivo é atrair pessoas para esse espaço, nós aqui do

grupo temos um costume de um lojista ajudar o outro indicando um produto de um

outro lojista para o grupo crescer e que talvez seja essa a causa desse grupo dar

certo”. Por essa fala, pode-se afirmar que esse costume seguido pelos lojistas

demonstra uma regra implícita criada pelo grupo que retrata o indicador de

governança relacional 3.2.1 (coordenação e o controle das atividades do grupo se dá

por todos do grupo), por conta da incerteza sobre os consumidores que remete ao

indicador de incerteza ambiental 1.6 (desejos, demanda, necessidades e

comportamento dos consumidores e sua influência no grupo).

Sobre a existência de regras do controle de comportamento dos lojistas o

sujeito disse que “foi decidido em assembleia a escolha de alguns seguranças que

percorrem todo o Shopping Popular que fiscalizam o local para controlar alguns

comportamentos, como, por exemplo, som alto ou outro tipo de barulho, se tem lojistas

estacionando no estacionamento reservado para clientes e se tem materiais nos

corredores. (...) E consta no regimento interno daqui da associação que se ocorrer

algumas dessas ações, a pessoa primeiro é penalizada verbalmente e, se voltar a

ocorrer o mesmo problema, ela é penalizada com multa”. Analisando-se esse ponto

do discurso, afirma-se a intenção da associação do shopping de desenvolver ações

com intuito de controlar incertezas relacionadas ao comportamento dos lojistas, que

pode ser retratada pelo indicador 2.1 (sobre a ética e a conduta correta conforme as

regras do grupo). As normas e/ou ações estipuladas nos documentos formalizados

remete ao indicador de governança relacional 3.6.1 (algum controle ou vigilância do

comportamento do outro), tendo em vista serem regras que compõem o sistema de

controle e sanções do grupo.

O discurso geral desse entrevistado é que as regras estão resolvendo a maioria

dos problemas contemporâneos e que essas regras foram construídas ponto a ponto,

conforme os problemas foram aparecendo. Esses problemas são predominantemente

comportamentais dos lojistas do shopping. Foram construídas essas regras para

resolver os comportamentos inadequados do passado. Lançando um olhar histórico,

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antes havia muitos problemas e hoje as regras resolveram boa parte deles. Por

exemplo, no trecho da entrevista em que o sujeito diz que “é difícil acontecer fato que

não esteja regulamentado nos documentos do shopping”, pode-se afirmar que as

regras presentes no grupo estão resolvendo boa parte dos problemas enfrentados

pelo grupo, tanto relacionados ao comportamento dos atores, como em relação às

incertezas ambientais.

Com essa entrevista, pode-se afirmar que o grupo do Shopping Popular

desenvolve regras colaborativas e de parcerias para o fortalecimento do grupo, tendo

em vista as vantagens e ganhos econômicos que os atores internos podem ter dentro

do shopping e com o sucesso do mesmo. Como exemplo, cita-se o trecho em que o

sujeito tratou de vantagens e desvantagens de estar nesse grupo: “dentro desse grupo

é mais vantajoso pelo fato de já ter a clientela, ou seja, se sair daqui vai ter que

conquistar essa clientela. (...) A maioria que procuram essa rede é por existir uma

clientela fixa nesse grupo, que isso traz segurança no comércio”.

Pode-se afirmar ainda que o sujeito mencionou diversos exemplos de

governança relacional na rede interna do Shopping Popular, que procuram proteger o

grupo dos efeitos das incertezas ambientais e exercer um controle nas incertezas de

comportamento. Com base no seguinte trecho da entrevista: “maioria das regras

foram criadas pelos associados de acordo com os problemas que iam surgindo”, pode-

se dizer que as regras que regulamentam e norteiam as relações do Shopping Popular

foram, em sua maioria, criadas pelo grupo.

Conclui-se que a entrevista com o sujeito 3 evidenciou uma forte presença de

governança relacional na rede interna do Shopping Popular, que busca a prevenção

e controle das incertezas, como, por exemplo, as regras criadas para oferecer garantia

aos consertos de celulares, tendo em vista alguns clientes voltarem ao shopping para

reclamarem dos serviços. Partindo-se desse enquadre, para responder à pergunta de

pesquisa, construiu-se o Quadro 8 com a apresentação dos sinais de governança

relacional surgidos, com seus respectivos indicadores existentes (indicadores de

incerteza ambiental 1.3.2, 1.3.3 e 1.6; indicadores de incerteza comportamental 2.1 e

2.6; indicadores de governança relacional 3.2.1, 3.2.2, 3.4.1, 3.6.1, 3.8.1 e 3.9.1).

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99

Quadro 8 - Indicadores das categorias estudadas presentes na entrevista com sujeito 2 da rede na qual o Shopping Popular está inserido.

Indicadores de Incertezas Ambientais e Comportamentais

Os mecanismos criados, ou adaptados

Indicadores de governança

1.3.2 (sobre possíveis mudanças comerciais e seus

efeitos no grupo) e 1.3.3 (sobre possíveis mudanças nas leis que possam afetar o grupo)

1.6 (desejos, demanda, necessidades e comportamento

dos consumidores e sua influência no grupo)

1.6 (desejos, demanda,

necessidades e comportamento dos consumidores e sua

influência no grupo)

2.1 (a ética e a conduta correta conforme as regras do grupo)

2.1 (a ética e a conduta correta conforme as regras do grupo)

2.6 (disposição de arcar com os

custos coletivos)

2.1 (a ética e a conduta correta conforme as regras do grupo) e

1.3.1 (incertezas sobre as mudanças políticas e sua

influência no grupo)

- desenvolver parcerias, para trazer vantagens e benefícios

para o grupo.

- oferecer garantia aos clientes para dar mais segurança aos

clientes / ajudar o outro indicando um produto de outro

lojista.

- organizar promoções ou outros meios que atraiam os

clientes e sempre procura ajudar uns aos outros com as

vendas.

- estabelecer regras pela associação, com submissão

para assembleia.

- escolher seguranças para fiscalizar o shopping e

controlar comportamentos.

- realizar contribuição dos lojistas para alguém do grupo

que esteja necessitado.

- se ocorrer algo que não esteja previsto nos

documentos formais, submeter o caso à assembleia para

tomada de decisão.

3.9.1 (existência de ações/tarefas para conseguir

apoio financeiro ou de infraestrutura do governo, do

mercado e da sociedade)

3.2.1 (coordenação e o controle das atividades se dão

por todos do grupo)

3.8.1 (existência de regras e/ou ações para conseguir

reconhecimento do governo, do mercado e da sociedade)

3.4.1 (a coordenação das atividades se dá por uma comissão eleita por todos)

3.6.1 (algum controle ou vigilância do comportamento

do outro)

3.6.1 (algum controle ou vigilância do comportamento

do outro)

3.2.1 (coordenação e o controle das atividades do grupo se dá por todos do

grupo) e 3.2.2 (existe uma rotina de encontro para

criação e ajustes das regras do grupo)

Fonte: Construído pela autora, 2017.

5.2.3 Resposta ao problema de pesquisa

Neste subitem será apresentada a resposta da pesquisa com base na análise

dos dados coletados, considerando tanto a análise interorganizacional quanto a

intraorganizacional.

Analisando-se os resultados das fontes primárias e secundárias, considerando

as convergências de conteúdos encontrados, é possível afirmar que a rede

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100

interorganizacional na qual a Shopping Popular está inserida caracteriza-se por um

fluxo essencialmente comercial e se encontraram poucos sinais de governança

relacional, como, por exemplo, o acordo firmado entre a Associação do Shopping

Popular e a Prefeitura de Cuiabá. O que se pode notar é a predominância da

governança formal e/ou contratual, com conteúdos econômicos, racionais e de

políticas públicas explicitamente definidas, em outras palavras, o relacionamento é

baseado predominantemente em questões legais já previamente negociada e

estabelecidas.

Já na rede intraorganizacional do Shopping Popular os sinais de governança

relacional são mais presentes, ou seja, as regras foram criadas e/ou adaptadas pelo

grupo, com base nos imprevistos ocorridos à medida que o grupo foi se

desenvolvendo.

A interpretação desse resultado é a de que, na atualidade, o Shopping Popular

é uma organização com objetivos comerciais que possui compromissos sociais com

a comunidade externa como uma obrigação dada pela prefeitura de Cuiabá/MT, sendo

essa obrigação uma cláusula contratual estabelecida no Termo de Compromisso de

Ajustamento de Conduta entre o Ministério Público do Estado de Mato Grosso com a

Prefeitura de Cuiabá e a Associação dos Camelôs do Shopping Popular. Em outras

palavras, o Shopping Popular caracteriza-se como uma organização de varejo e

atacado com uma identidade comercial, que desenvolve ações com características de

mercado com o intuito de ter cada vez mais clientes e arrecadar maiores lucros:

entretanto, tem um compromisso social com a comunidade.

Para responder ao problema de pesquisa foi construído o Quadro 9 para

relacionar todos os exemplos de incertezas ambientais e comportamentais

encontradas na coleta e análise dos dados.

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101

Quadro 9. Os indicadores com os sinais de governança relacional presentes em todas as entrevistas realizadas na rede na qual o Shopping Popular está inserido.

Indicadores de incertezas ambientais e comportamentais

Os mecanismos criados, ou adaptados

Indicadores de governança

1.1 (a relação entre o crescimento econômico da região e sua

influência no grupo)

1.3.2 (possíveis mudanças

comerciais e seus efeitos no grupo)

1.3.2 (possíveis mudanças comerciais e seus efeitos no

grupo) e 1.3.3 (possíveis mudanças nas leis que possam

afetar o grupo)

1.6 (desejos, demanda,

necessidades e comportamento dos consumidores e sua

influência no grupo)

1.6 (desejos, demanda, necessidades e comportamento

dos consumidores e sua influência no grupo)

1.6 (desejos, demanda, necessidades e comportamento

dos consumidores e sua influência no grupo)

1.6 (desejos, demanda, necessidades e comportamento

dos consumidores e sua influência no grupo)

1.6 (desejos, demanda, necessidades e comportamento

dos consumidores e sua influência no grupo)

1.6 (desejos, demanda,

necessidades e comportamento dos consumidores e sua

influência no grupo)

2.1 (a ética e a conduta correta conforme as regras do grupo).

- ações que o grupo desenvolve para minimizar

os efeitos da crise econômica do país.

- criação de uma associação para representar o grupo / a

associação estabelece regras para se proteger das

incertezas do mercado.

- desenvolvimento de parcerias, para trazer

vantagens e benefícios para o grupo.

- ações sociais direcionadas aos clientes do shopping.

- preocupação do shopping em atender às necessidades

dos clientes.

- necessidade do grupo em

regulamentar venda de cigarros e bebidas.

- incentivo à melhoria do atendimento aos clientes.

- oferecimento de garantia aos clientes para dar mais segurança aos clientes /

ajuda ao outro indicando um produto de outro lojista.

- organização de promoções ou outros meios que atraiam

os clientes e sempre procurar ajudar uns aos outros com as vendas.

- estabelecimento de regras

pela associação, com submissão para assembleia.

3.8.1 (regras e/ou ações para reconhecimento do

governo, do mercado e da sociedade)

3.4.1 (a coordenação se dá por uma comissão eleita por

todos)

3.9.1 (existência de ações/tarefas para conseguir

apoio financeiro ou de infraestrutura do governo, do

mercado e da sociedade)

3.8.1 (regras e/ou ações para reconhecimento do

governo, do mercado e da sociedade)

3.2.1 (coordenação do grupo se dá por todos do grupo)

3.6.1 (algum controle ou vigilância do comportamento

do outro)

3.7.1 (existência de

gratificações, interna ao grupo, para a permanência dos integrantes do grupo)

3.2.1 (a coordenação e o controle das atividades se dão por todos do grupo)

3.8.1 (existência de regras e/ou ações para conseguir

reconhecimento do governo, do mercado e da sociedade)

3.4.1 (a coordenação das atividades se dá por uma comissão eleita por todos)

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102

2.1 (a ética e a conduta correta conforme as regras do grupo)

2.1 (a ética e a conduta

correta conforme as regras do grupo)

2.1 (a ética e a conduta

correta conforme as regras do grupo)

2.1 (a ética e a conduta correta conforme as regras

do grupo) e 1.3.1 (incertezas sobre as mudanças políticas

e sua influência no grupo)

2.2 (o comprometimento dos parceiros do grupo)

2.2 (o comprometimento dos parceiros do grupo)

2.3 (objetivos individuais dos parceiros conflitantes com os

coletivos)

2.6 (disposição de arcar com os custos coletivos).

- fiscalização da conduta dos associados / regras de controle do comportamento dos integrantes do grupo /

escolha de seguranças para fiscalizar o shopping e

controlar comportamentos.

- política de conscientização quanto à informalidade dos

lojistas.

- ações para apoiar e incentivar a parceria.

- se ocorrer algo que não

esteja previsto nos documentos formais, o caso é submetido à assembleia para tomada de decisão.

- ações de conscientização para o comprometimento ao bom atendimento ao cliente.

- distribuição de informativos

para regular o comportamento dos lojistas.

- realização de assembleias para a tomada de decisão /

todos os integrantes do grupo participam das

decisões nas assembleias.

- cota para arrecadar dinheiro para ajudar alguém do grupo / contribuição dos

lojistas para alguém que esteja necessitado.

3.6.1 (algum controle ou vigilância do comportamento

do outro)

3.8.2 (regras e/ou ações para conseguir legalização)

3.7.1 (gratificações, interna ao grupo, para a

permanência dos integrantes do grupo)

3.2.1 (coordenação e o controle das atividades do grupo se dá por todos do

grupo) e 3.2.2 (existe uma rotina de encontro para

criação e ajustes das regras do grupo)

3.7.1 (existência de gratificações, interna ao

grupo, para a permanência dos integrantes do grupo)

3.8.1 (regras e/ou ações para reconhecimento do

governo, do mercado e da sociedade).

3.2.1 (a coordenação e o controle das atividades se dão por todos do grupo).

3.6.1 (existência de algum controle ou alguma forma de vigilância do comportamento

do outro).

Fonte: Construído pela autora, 2017.

A partir dos indicadores que surgiram nas entrevistas realizadas, afirma-se que

na rede interorganizacional do Shopping Popular a governança relacional é pouco

presente e desenvolvida. Nesse nível de análise predominam as regras externas e/ou

contratuais e regras comerciais que previnem e defendem o grupo de boa parte das

incertezas do ambiente e do comportamento.

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103

Com relação à pergunta de pesquisa, na rede interorganizacional pode-se

afirmar que há poucos sinais de sustentação da relação entre incertezas e

governança.

Já na rede intraorganizacional da Shopping Popular encontraram-se diversos

exemplos de governança relacional que norteiam o relacionamento do grupo, como

por exemplo, o controle de armazenamento de caixas e produtos nos corredores para

facilitar a locomoção dos clientes nas áreas de acesso. Assim, pode-se afirmar que a

rede intraorganizacional apresenta significativos sinais de governança relacional

nessa rede, que busca a prevenção e controle das incertezas, e que essas regras

estão resolvendo boa parte das incertezas comportamentais e criando defesas para

as incertezas ambientais.

Sendo a análise dos resultados das entrevistas da rede do Shopping Popular

dividida em interorganizacional e intraorganizacional, afirma-se que a proposição

orientadora, sobre a relação entre incertezas e governança relacional, foi sustentada

apenas na rede intraorganizacional do Shopping Popular.

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104

5.3 Conclusão sobre os resultados das redes

Neste subitem apresentam-se os comentários sobre a relação dos resultados

com a afirmativa orientadora da pesquisa de que, diante das incertezas ambientais e

comportamentais, os atores de uma rede criam regras como se fossem sistemas de

defesa, para evitar os efeitos das incertezas ambientais; e regras sobre sistemas de

controles e incentivos para exercer algum grau de controle nas incertezas

comportamentais, oferecendo a resposta ao problema de pesquisa.

Verificando a ocorrência de todos os indicadores nas duas redes construiu-se

o Quadro 10, que indica as convergências completas, isto é, quando determinado

indicador de incerteza levou ao mesmo indicador de governança nas duas redes.

Quadro 10 - Apresentação dos indicadores de incertezas e de governança relacional presentes nas entrevistas das redes investigadas (ASSCAVAG e Shopping Popular) que obtiveram convergência completa.

Indicadores de incerteza Indicadores de governança

1.3.2 (possíveis mudanças comerciais e seus efeitos no grupo)

3.9.1 (ações/tarefas para conseguir apoio financeiro ou de infraestrutura do governo, do

mercado e da sociedade)

1.3.3 (possíveis mudanças nas leis que possam afetar o grupo)

3.9.1 (ações/tarefas para conseguir apoio financeiro ou de infraestrutura do governo, do

mercado e da sociedade)

2.1 (a ética e a conduta correta conforme as regras do grupo)

3.6.1 (existência de algum controle ou alguma forma de vigilância do comportamento do outro)

2.2 (o comprometimento dos parceiros que integram o grupo)

3.7.1 (existência de gratificações, interna ao grupo, para a permanência dos integrantes do

grupo)

2.3 (os objetivos individuais, dos parceiros que integram o grupo, conflitantes com os

coletivos)

3.2.1 (coordenação do grupo se dá por todos do grupo)

Fonte: Construído pela autora, 2017.

A convergência completa significa a valorização dos mesmos indicadores de

incertezas e as mesmas soluções presentes nos indicadores de governança. Pode-se

supor que as duas redes seguiram processos de construção social semelhantes.

O Quadro 11 mostra as situações de convergência parcial, isto é, o mesmo

indicador de incerteza que leva à diferentes soluções de governança.

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105

Quadro 11 - Apresentação dos indicadores de incertezas e de governança relacional presentes nas entrevistas das redes investigadas (ASSCAVAG e Shopping Popular) que obtiveram convergência parcial.

Indicadores de incerteza Indicadores de governança

1.3.2 (possíveis mudanças comerciais e seus efeitos

no grupo)

3.4.1 (a coordenação se dá por uma comissão eleita por todos)

3.9.1 (ações/tarefas para apoio financeiro ou de infraestrutura do governo, do mercado e da sociedade)

2.1 (a ética e a conduta correta conforme as regras

do grupo)

3.2.1 (coordenação e controle das atividades do grupo se dá por

todos do grupo)

3.2.2 (existe uma rotina de encontro para criação e ajustes das regras do grupo)

3.4.1 (a coordenação das atividades se dá por uma comissão eleita por todos)

3.5.2 (existência de regras para eleger pessoas que tem autoridade)

3.8.2 (regras e/ou ações para conseguir legalização)

3.7.1 (existência de gratificações, interna ao grupo, para a permanência dos integrantes do grupo)

2.2 (o comprometimento dos parceiros que integram

o grupo)

3.2.1 (a coordenação e o controle das atividades do grupo se dão por todos do grupo)

3.2.2 (existe uma rotina de encontro para criação e ajustes das regras do grupo)

3.5.1 (existência de regras para eleger pessoas que representam e

gerenciam o grupo)

3.8.1 (regras e/ou ações para reconhecimento do governo, do mercado e da sociedade)

2.3 (os objetivos

individuais, dos parceiros que integram o grupo,

conflitantes com os coletivos)

3.2.1 (coordenação do grupo se dá por todos do grupo)

3.2.2 (modo de decisão das regras do grupo)

4.4.2 (existência de casos de falhas quanto ao cumprimento de algumas regras)

2.6 (disposição de arcar com os custos coletivos)

3.4 (existência de uma comissão que decide)

3.6.1 (existência de algum controle ou alguma forma de vigilância do comportamento do outro)

Fonte: Construído pela autora, 2017.

O quadro retrata que as incertezas comuns nas duas redes podem seguir

caminhos distintos de construção da governança. Uma possível interpretação pode

estar relacionada ao fato de uma rede estar voltada para a economia solidária e outra

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106

para questões de negócios, com diferentes interesses, necessidades e objetivos.

Essas diferenças levam os líderes de cada grupo a tomarem decisões conforme o

interesse coletivo.

Sobre as divergências de resultado da pesquisa foram considerados os

indicadores encontrados apenas em uma das redes. Como exemplo, pode-se citar os

indicadores de incerteza ambiental: 1.1 (a relação entre o crescimento econômico da

região e sua influência no grupo), 1.2 (a relação entre futuras tecnologias), 1.3.1 (as

mudanças políticas e sua influência no grupo), 1.5 (as ações dos movimentos dos

concorrentes e sua influência no grupo), 1.6 (desejos, demanda, necessidades e

comportamento dos consumidores e sua influência no grupo); os indicadores de

incerteza comportamental: 2.4 (o comportamento comercial oportunista dos

parceiros), 2.5 (a intenção dos parceiros de continuidade no grupo) e 2.7 (ações que

possam comprometer a saúde e integridade dos parceiros); e indicadores de

governança relacional: 3.5.1 (existência de regras para eleger pessoas que

representam e gerenciam o grupo), 3.5.2 (existência de regras para eleger pessoas

que têm autoridade), 3.6.2 (existência de regras de controle e de combate aos

comportamentos oportunistas) e 4.4.2 (existência de casos de falhas quanto ao

cumprimento de algumas regras).

A interpretação para essa divergência é que as duas redes seguem histórias e

objetivos distintos, sofrem pressões legais e ambientais diferentes (como leis de

sustentabilidade, ou leis antipirataria). Por exemplo, a rede de economia solidária

apresenta incertezas relacionadas às políticas ambientais do governo, enquanto que

a rede da qual o Shopping Popular participa, tem incertezas econômicas sobre

impostos e produtos importados.

Pode-se afirmar ainda que a rede de material reciclável, considerando o ator

ASSCAVAG, tem foco nos associados, com o objetivo social de possibilitar uma

melhoria na qualidade de vida e no bem-estar desses associados. Secundariamente,

existe também a preocupação ambiental, até mesmo pelo fato de tratar-se de algo

institucional, ou seja, de regras e ações que auxiliam diretamente na consciência

sobre o meio ambiente. Na rede de negócios do Shopping Popular de Cuiabá, o foco

é voltado para os clientes do local, a maior parte das medidas tomadas é para atrair

os consumidores até o shopping e garantir a satisfação desses consumidores,

buscando seu retorno e propaganda. Secundariamente, a associação do Shopping

Popular se preocupa em manter uma imagem idônea do shopping para que isso não

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107

os prejudique como já foi no passado, quando eram conhecidos como

contrabandistas.

Finalmente, sobre os indicadores ausentes, são eles: indicadores de incerteza

ambiental 1.4 (incertezas sobre as ações dos fornecedores e sua influência no grupo)

e 1.7 (incertezas sobre as mudanças ambientais e climáticas e sua influência no

negócio ou na tarefa); e os indicadores de governança relacional 3.1.1 (regras de

restrição de acesso às informações do grupo para aqueles que não fazem parte do

grupo), 3.1.2 (dependendo da informação, existem restrições para uma parte dos

integrantes do grupo), 3.3.1 (existência de regras sobre a definição de função ou

atribuição de cada um desse grupo) e 3.7.2 (existência de gratificações, externa ao

grupo, para a permanência dos integrantes do grupo).

Podem-se seguir duas linhas de interpretação: (a) existem falhas nos

descritores dos indicadores, exigindo uma replicação, ou avaliação técnica; (b) de fato,

nessas duas redes, não se valorizam os temas constantes nos indicadores. Por

exemplo, mudanças ambientais e climáticas podem não ter importância numa rede de

varejo, ou em rotinas de reciclabilidade.

Enfim, o fato de as análises intraorganizacionais oferecerem mais exemplos de

governança relacional que as análises interorganizacionais pode ser interpretado a

partir da formalização de cada rede. A rede interorganizacional da qual a ASSCAVAG

faz parte compõe planos e projetos do governo, tornando as regras menos flexíveis.

Além disso, essa rede conta com atores, como grandes empresas, que desenvolvem

ações sociais e, por questões de controle dessas ações, criam contratos com regras

para serem obedecidas, sob pena de suspensão dos financiamentos, o que

caracteriza uma rede interorganizacional formalizada, com pouca margem para

negociação. Seguindo nessa mesma linha, a rede interorganizacional da qual o

Shopping Popular faz parte também possui sua formalização, fundada em regras de

comércio de varejo, controle de pirataria, leis de segurança e higiene no local, entre

outras. No entanto, diferente da rede anterior, aqui existiram casos de negociações e

acordos entre os atores. Assim, a afirmativa encontrou mais sustentação nas análises

intraorganizacionais, sugerindo discussão no capítulo de comentários finais.

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108

6. COMENTÁRIOS FINAIS

A proposta desta dissertação foi verificar, em pesquisas de campo, a interface

entre incertezas e governança nas redes, buscando identificar os sinais de

governança relacional que contribuíram para prevenir e defender a rede dos efeitos

das incertezas ambientais e para exercer algum grau de controle nas incertezas do

comportamento dos indivíduos. O motivo do questionamento é o fato de as redes

estarem inseridas em ambientes de constantes modificações, sejam comerciais,

políticas, sociais, sejam comportamentais; valorizando o papel da governança

relacional na condução do grupo.

Definiu-se governança relacional como uma perspectiva do contrato relacional

criado pelo grupo, ela é analisada a partir de um contrato que surge por meios sociais

e relacionais (GRANDORI; 2006). Ainda sobre a categoria governança relacional,

importa citar o trabalho de Blois e Ivens (2005) que argumentou existir escalas que

buscaram unir relacionamento e regras, mas a escala não estava claramente

configurada para fenômenos de redes.

Este estudo trouxe algumas contribuições. Uma delas é a contribuição teórica

pelo fato de se tentar criar correspondência entre a categoria governança relacional

com as incertezas ambientais e comportamentais. A revisão bibliográfica indicou que

são raros os trabalhos que relacionam essa conexão, mas a tarefa é justificada tendo

em vista a importância das incertezas nos rumos das redes e das organizações que a

compõem. Um dos motivos da raridade pode ser a dificuldade operacional em criar os

sinais indicadores das categorias, mas a revisão bibliográfica indicou a importância da

investigação dessa relação.

Essa raridade trouxe também a dificuldade de se utilizarem indicadores

validados para as duas categorias. Foi necessário um trabalho de adaptação e até de

criação de indicadores, o que, por um lado, constitui uma contribuição metodológica

importante e, por outro lado, coloca a necessidade de replicação de pesquisas, para

verificar a operacionalidade e validade dos indicadores.

A revisão bibliográfica indicou que existem trabalhos sobre incertezas, sem

aprofundar a resposta das empresas (por exemplo, análises clássicas de ameaças e

oportunidades) e trabalhos sobre governança, que investigam sua função e

resultados, sem aprofundar sobre a origem das regras. Assim, pesquisar a interface

da governança relacional com as incertezas configura uma pesquisa de importante

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109

validade, haja vista que as regras constituem a base de organização e estruturação

das redes e as incertezas, sem dúvida, configuram um problema presente em todas

as redes. Logo, partindo da afirmativa de que a governança e a incerteza são pontos

que influenciam a criação e o desenvolvimento das redes, surgiu daí a decisão de

pesquisar essa correspondência e contribuir com o avanço do conhecimento

científico.

Foram encontrados autores que escreveram sobre a existência de ligação entre

a governança e incertezas, como por exemplo Jones et al. (1997) que afirmam que as

relações entre os parceiros podem reduzir a incerteza comportamental. O modelo

sistêmico, mostrado na Figura 1, indica o circuito de encontros para resolver

problemas comuns e a construção social de regras sobre esses problemas. Provan e

Kenis (2008) afirmam que a incerteza nos relacionamentos tende a diminuir à medida

que a governança da rede se desenvolve.

A raridade de trabalhos publicados no âmbito acadêmico abordando essa

correspondência foi um elemento a mais na motivação de investigar o tema. A análise

dos dados deu sustentação à afirmativa de correspondência entre as duas categorias.

As duas redes se defrontaram com incertezas ambientais e comportamentais e

criaram mecanismos para lidar com essas incertezas.

Pode-se afirmar, então, que este estudo tratou de um tema pouco investigado,

mas que é importante, já que as teorias de ação coletiva afirmam que um grupo se

une para resolver problemas comuns. A pesquisa obteve dados que sustentaram a

correspondência afirmada, com vários exemplos de adaptações e inovações de regras

nas duas redes, com o propósito explícito de se prevenirem, ou exercerem algum

controle nas incertezas. Como exemplo pode-se citar a incerteza dos lojistas do

Shopping Popular em continuar ou não trabalhando naquele lugar e esse problema é

motivo de organização entre eles e pressão política sobre a prefeitura. O exemplo

evidencia que as incertezas podem unir o grupo o qual cria regras para se prevenir ou

para exercer algum controle nas incertezas. Outro exemplo é na rede

intraorganizacional da ASSCAVAG que busca criar regras de controle do

comportamento inadequado de algumas pessoas, em função de sua origem e história.

O trabalho trouxe evidências, fatos que mostram que essa relação entre incertezas e

governança relacional deve ser estudada, gerando trabalhos que podem contribuir na

produção de novos conhecimentos.

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110

A contribuição metodológica do trabalho é a apresentação do quadro de

indicadores, com uma sistematização e agrupamento de categorias que se encontram

dispersas na literatura. Essa criação, presença e análise dos indicadores não foram

encontradas na literatura brasileira.

Uma contribuição gerencial do trabalho é a possiblidade de implementação de

ações por parte dos gestores das redes para que desenvolvam as relações

interpessoais. Conforme a literatura acadêmica, as organizações necessitam de um

processo de coordenação pautado em acordos sociais, os quais são possíveis a partir

do entendimento no grupo. O presente trabalho pode auxiliar os gerentes e tomadores

de decisão a atentarem para a governança do seu grupo, suas origens e funções.

A escolha das categorias incertezas e governança relacional se deram através

de levantamento bibliográfico em dois portais de busca, o Proquest e o Scielo. Em

ambos pode-se verificar que são raros os trabalhos que relacionam as incertezas do

ambiente e do comportamento com a governança relacional.

Um ponto crítico do trabalho foi a construção dos instrumentos de coleta, visto

que não se encontrou na literatura algo que servisse de base ou modelo para a

proposta desta pesquisa. O quadro de indicadores construído para nortear a pesquisa

se mostrou competente para a coleta e a análise dos dados das duas redes.

Sobre a proposição orientadora deste trabalho - de que diante das incertezas

ambientais e comportamentais os atores de uma rede criam regras como se fossem

sistemas de defesa, para evitar os efeitos das incertezas ambientais; e regras sobre

sistemas de controles e incentivos para exercer algum grau de controle nas incertezas

comportamentais -, afirma-se que ela se mantém parcialmente visto que os dados

coletados manifestaram essa sustentação apenas no nível intraorganizacional das

redes.

6.1. Sobre os objetivos

Sobre os objetivos específicos, pode-se comentar:

a) Mapear as ligações das redes selecionadas;

O Objetivo “a” foi alcançado e os desenhos das estruturas foram construídos a

partir dos dados.

Na rede da qual a ASSCAVAG faz parte, predominam ligações fortes, a ligação

fraca é com alguns compradores de materiais, pois não existe fidelidade por parte da

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111

ASSCAVAG, para quem paga mais, ela vende, ou seja, não se trata de uma rede

fechada, pois carece de mais atores fornecendo e comprando materiais. Também

carece de mais atores que injetem recurso em investimentos seja na rede

intraorganizacional em que as transações são predominantemente sociais, seja na

rede interorganizacional em que as transações são predominantemente contratuais.

Já na rede na qual o Shopping Popular integra também predominam laços

fortes, os laços fracos são entre o shopping e os fornecedores de materiais, tendo em

vista prevalecer o melhor preço ou melhor acordo na transação. A rede não é fechada,

tendo em vista estar disponível para novos atores que possam somar principalmente

economicamente; e possui todos os atores interligados, sendo as transações tanto

interorganizacional quanto intraorganizacional predominantemente comerciais.

b) Apresentar os objetivos e as características das redes;

O objetivo “b” foi atingido com a apresentação de que a rede da qual a

ASSCAVAG faz parte tem como objetivo principal a inclusão social, ou seja, inserir os

catadores de materiais recicláveis na sociedade por meio do trabalho desenvolvido

com parcerias e, secundariamente, um objetivo comercial de venda de recicláveis.

Essa rede enfrenta como problemas comuns a falta de condições de trabalho, a falha

na execução nas leis ambientais, a falta de consciência ambiental da população, a

rejeição à figura de catador e exploração dos catadores por comerciantes. Os

objetivos comuns concernem em ter qualidade nas condições de trabalho e melhoria

na qualidade de vida dos catadores. Os atores realizam suas tarefas por meio de

auxílio de órgãos, empresas públicas ou privadas envolvidas na destinação dos

resíduos e de manutenção da associação por meio de parcerias, comércio dos

materiais.

A rede na qual o Shopping Popular está inserido tem objetivos

predominantemente comerciais, destacando, como principal objetivo da organização

foco, as negociações entre os atores a fim de obter vantagens comerciais e melhorias

na infraestrutura. Essa rede enfrenta como problemas comuns a falta de leis,

regulamentos e normas que amparem os lojistas e a situação irregular de vários

lojistas que ainda estão na ilegalidade. Os objetivos perseguidos pela rede são o

reconhecimento e a legitimação do trabalho dos comerciantes de varejo popular, no

sentido de inclusão social e comercial. Os atores realizam as tarefas por meio de uma

associação que representa o grupo nas negociações.

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112

c) Criar e aplicar indicadores de governança relacional:

O objetivo “c” foi atingido por meio da criação dos indicadores de governança

relacional com base nas afirmativas da fundamentação teórica, devido não se ter

encontrado instrumentos testados e validados para serem aplicados no trabalho.

Os indicadores de governança relacional foram apresentados no Quadro 1 do

item 3.6, servindo de base para a construção dos instrumentos de coleta de dados.

Os testes mostraram que todos os indicadores são capazes e válidos em discriminar

presença e ausência da categoria.

d) Criar e aplicar indicadores de incerteza;

O objetivo “d” foi atingido por meio da criação dos indicadores de incerteza que

foram selecionados de conceitos utilizados na fundamentação teórica, sendo que

também não foram encontrados instrumentos testados e validados para análises de

redes que pudessem ser aplicados no trabalho.

Foram apresentados os indicadores das categorias incerteza ambiental e

incerteza comportamental no Quadro 1 do item 3.6, que respaldou a construção dos

instrumentos de coleta de dados. Os testes também mostraram que todos os

indicadores são capazes e válidos em discriminar presença e ausência da categoria.

Um resultado importante da pesquisa foi a criação de um novo indicador (2.7 -

sobre ações imprevisíveis dos parceiros que podem causar acidentes) que surgiu na

rede de materiais recicláveis. A descoberta de novos indicadores durante a fase de

coleta é um dado importante que caracteriza a especificidade daquela rede que o

indicador surgiu.

e) Apresentar os resultados finais dos sinais de governança relacional

encontradas nos casos;

O objetivo “e” foi atingido por meio da apresentação dos resultados finais no

subitem 5.3, conclusão sobre os resultados das redes.

Na rede de material reciclável os sinais de governança relacional encontrados

foram predominantemente na rede interna do ator foco, como em casos de ajustes de

relação interpessoal entre os catadores; e, em alguns casos, com atores externos da

associação, como no caso do acordo entre a ASSCAVAG e os representantes da

Gama para se reunirem quando a associação precisasse adquirir equipamentos com

recurso do projeto. Outro exemplo foi a forma de seleção de professores para darem

aulas aos associados. Assim, afirma-se que na rede interorganizacional são raros os

sinais de governança relacional que buscam a prevenção e controle das incertezas,

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113

pela maior presença de sinais de governança formal e/ou contatual, enquanto que na

rede intraorganizacional as regras criadas e/ou adaptadas pelo grupo são mais

presentes, sendo que essas regras buscam a prevenção e controle das incertezas e

estão resolvendo tanto os problemas surgidos como as incertezas do ambiente e do

comportamento.

Na rede de negócios da qual faz parte o Shopping Popular de Cuiabá/MT, as

respostas obtidas são semelhantes, tendo em vista que na rede interorganizacional

as regras são predominantemente comerciais; como dominância da governança

formal e/ou contratual; e na rede intraorganizacional predomina a governança

relacional; por exemplo, nas regras criadas para oferecer garantia aos consertos de

celulares tendo em vista reclamações de clientes.

f) Comparar os resultados do campo com as afirmativas teóricas;

O objetivo “f” foi atingido com a comparação dos resultados obtidos nas duas

redes pesquisadas com as afirmativas teóricas utilizadas na fundamentação teórica,

que será apresentada no item 6.2 que traz os comentários sobre a fundamentação

teórica e os resultados.

Nos subitens seguintes discutem-se as respostas encontradas e os temas

consequentes, a metodologia empregada para construir uma resposta, os dados dos

negócios investigados, limites e benefícios do trabalho e sugestões de continuidade

de pesquisas sobre o tema.

6.2. Resposta sobre a proposição orientadora

A proposição orientadora é que, diante das incertezas ambientais e

comportamentais, os atores de uma rede constroem regras para se defenderem dos

efeitos das incertezas ambientais e regras sobre sistemas de controles e incentivos

para exercer algum grau de controle nas incertezas comportamentais.

Os dados obtidos nas duas redes sustentaram a afirmativa. Os próximos

parágrafos apresentam interpretações sobre o resultado encontrado.

Na rede da qual a ASSCAVAG faz parte os contratos e os acordos entre os

atores já vêm prontos e formalizados, com pouca margem para discussão. São ações

reguladas pelo governo, são regras já estabelecidas para funcionamento de mercado

solidário e são ações financiadas por grandes empresas que desenvolvem projetos

sociais, sendo que essas empresas já estipulam como vai funcionar. Assim, pode-se

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114

dizer que a rede interorganizacional da qual a ASSCAVAG faz parte, possui um alto

grau de formalização, com pequena margem para mudanças das regras. Por exemplo,

a regra que estipula um relatório mensal das aquisições feitas com o dinheiro do

projeto não tem como ser negociada, pois foi estipulada e tem que ser cumprida sob

pena de corte do financiamento. Entretanto, pode-se citar um exemplo de governança

relacional na rede interorganizacional que é a regra discutida e modificada, conforme

o interesse da ASSCAVAG, sobre o professor a ser contratado para ensinar os

catadores que deveria ser indicado pela Associação, pelo fato de este estar

familiarizado com a história dos associados da ASSCAVAG. Esse acordo foi uma

mudança da regra inicialmente estabelecida de que os gestores do projeto indicassem

um professor que estivesse disposto a lecionar no projeto de alfabetização. Já na rede

intraorganizacional, dentro da associação, as regras foram construídas por meio da

interação e da negociação entre os atores, portanto, oferecendo mais exemplos para

se discutir o problema de pesquisa levantado.

Na rede da qual o Shopping Popular faz parte, apareceram mais exemplos de

governança relacional na rede intraorganizacional para se discutir a proposição da

pesquisa, tendo em vista os camelôs estarem totalmente desorganizados e terem que

se estruturar desde o básico, criando uma associação e definindo regras de

funcionamento. Já na rede interorganizacional também existe um grau de formalidade,

mas é menor que na primeira rede analisada, tendo em vista não existirem contratos

pré-estabelecidos sobre a criação de Shopping Popular, sendo necessárias

negociações entre a Associação, a Prefeitura e o Ministério Público para estipular

algumas regras e solucionar os problemas dos camelôs. Assim foram coletados

exemplos de governança relacional na rede interorganizacional, tais como o acordo

estabelecido entre a Associação do Shopping Popular com a prefeitura que em troca

do espaço cedido para a construção do Shopping, exigiu que a Associação

revitalizasse a área em volta do shopping para lazer da comunidade local e também

outras medidas pelo fato de não existirem regras regulamentadas sobre

camelódromos, cabendo a cada prefeitura decidir as medidas a serem tomadas.

Com a análise, os dados mostraram poucos exemplos de governança

relacional na rede interorganizacional, o que não legitima a sustentação da proposição

orientadora. Em contrapartida, as análises intraorganizacionais das redes geraram

exemplos com qualidade para se desenvolver essa discussão e chegar à resposta da

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pesquisa, mesmo considerando que no planejamento do trabalho não se considerou

realizar essa divisão de análise.

Assim, diante de todo exposto, pode-se dizer que a afirmativa orientadora de

que as regras baseadas nas relações sociais são criadas como sistemas de defesa,

de controles e de incentivos na rede defendida por autores como GRANOVETTER,

(1985), JONES, HESTERLY e BORGATTI, (1997), GRANDORI, (2006), é sustentada

parcialmente no trabalho, por apresentar evidências na análise intraorganizacional

das redes, não sendo sustentada na análise interorganizacional.

Essa discussão teórica é ampliada no próximo item.

6.3 Comentários sobre a fundamentação teórica e os resultados alcançados

Neste subitem discute-se a força e capacidade da perspectiva social de redes,

com a base teórica apresentada e os resultados das análises.

Nos estudos sobre redes aparecem basicamente três paradigmas, o social, o

racional, o econômico. O presente estudo afirma que o paradigma social pode ser

capaz de explicar fenômenos complexos encontrados em redes de economia solidária

e de negócios, no qual as relações sociais criam as condições da governança

relacional e essa, por sua vez, norteia os processos da rede e o comportamento das

pessoas.

A teoria de base da governança selecionada no trabalho advém de modelos

que incorporam a incerteza ambiental e comportamental, criando sistemas de regras

de controle e de incentivos. Realizada a revisão bibliográfica, concluiu-se que são

raros os modelos que integram as incertezas com a governança, embora existam

muitas afirmativas a respeito.

Na análise interorganizacional, alguns poucos exemplos confirmaram as

afirmativas teóricas. Na rede da qual a ASSCAVAG faz parte, por exemplo, havia a

tarefa de contratar um professor e a associação acordou com a empresa apoiadora

do projeto para contratar um professor familiarizado com a história de catadores. Na

rede de que o Shopping Popular faz parte, o exemplo foi o de se discutir um acordo

entre a Associação do Shopping Popular com a prefeitura sobre o espaço que foi

construído o Shopping. Os casos citados retratam afirmativas de que a governança

em relações interorganizacionais necessita de ajustes que ultrapassam contratos

formais (GRANOVETTER, 1985; POPPO e ZENGER, 2002; UZZI, 1997).

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116

Quando se considera a análise intraorganizacional das duas redes, as

respostas encontradas confirmam as afirmativas de Granovetter (1985) com os

conceitos de imersão, que colocam os fatores econômicos e tecnológicos

influenciados e imersos em relações sociais tendo em vista os atores da rede

colocarem as relações sociais como principal caminho para a resolução dos

problemas, para desenvolver as ações em prol do grupo. Ou seja, os mecanismos de

coordenação e de controle das redes foram construídos a partir das relações sociais,

como de confiança, desenvolvidas nas redes pesquisadas.

O modelo de governança (Figura 1), adaptado do modelo de Jones e

colaboradores (1997), apresenta a governança relacional a partir dos encontros dos

atores, buscando seus problemas coletivos. Essa governança nasce na dinâmica do

grupo. Com essa origem social e com a função de resolver os problemas que surgem

no grupo, a governança torna-se a ponte entre os processos, resultados, custos e

outras racionalidades da rede; com a dinâmica social e a teia social de relações.

As análises intraorganizacionais das redes, as quais a ASSCAVAG e o

Shopping Popular integram, confirmam o modelo de Jones et. al. (1997), tendo em

vista os sinais de governança relacional nascerem de acordos dentro do grupo,

buscando defesas contra os efeitos das incertezas ambientais e exercendo um grau

de controle nessas incertezas do comportamento dos atores. Além disso, o fato de os

associados da ASSCAVAG estarem em constante convívio, tendo a possibilidade de

criar e fortalecer as relações, quando se compara com os encontros ocasionais entre

atores de organizações da rede, é mais um fator que sustenta o modelo,

especialmente na parte que se afirma o surgimento da governança relacional a partir

de encontros regulares.

O entendimento de Grandori (2006), seguido neste estudo, que afirma que a

governança relacional pode ser considerada uma solução viável em condições de

incertezas, foi em sua maior parte confirmado nas redes intraorganizacionais, tendo

em vista o comportamento dos atores serem norteados por um controle social e o

conjunto de regras terem sido criadas socialmente.

A análise indicou que a afirmativa de Grandori (2006) sobre a necessidade de

complemento em contratos formais, nem sempre se sustenta. O acordo entre a

ASSCAVAG e o Instituto Gama não dá margem a ajustes. Ou se segue a regra, ou

não se obtém o auxílio. Uma interpretação possível é que as afirmativas de Grandori

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117

(2006) advêm de pesquisas sobre negócios: entretanto, quando se trata de ações

sociais com o governo participando, talvez a formalização seja mais inflexível.

No que diz respeito à interface ente a governança relacional e as incertezas,

importa citar Koka, Madhavan e Prescott (2006) que também escreveram sobre essa

correspondência afirmando que os efeitos ambientais exercem influência nas

mudanças das redes. Essa afirmativa foi sustentada somente pelas respostas

encontradas nas redes intraorganizacionais.

O resultado indicou que na rede de material reciclável, cuja organização foco

foi a ASSCAVAG, a conclusão é de que se pode estabelecer uma relação entre

governança relacional e as incertezas ambientais e comportamentais a partir da

análise intraorganizacional, já que os mecanismos de governança relacional estão

resolvendo a maioria dos problemas surgidos no grupo. A mesma conclusão é

afirmada para o caso da rede de negócios, cuja organização foco foi o Shopping

Popular, a partir da análise intraorganizacional. Entretanto, nas duas análises

interorganizacionais, os mecanismos formais e as regras de mercado predominaram,

com pouca margem para arranjos entre as partes, não dando respaldo para se

estabelecer a relação entre governança relacional e as incertezas ambientais e

comportamentais.

Ao final do trabalho, após ficar evidenciada a diferença entre análise inter e

intraorganizacional, realizou-se nova busca bibliográfica e não se encontraram artigos

que discutiram essa diferença. O que se encontrou foram alguns autores que dividiram

o estudo da governança em interorganizacional ou macrogovernança e

intraorganizacional ou microgovernança, como é o caso de Provan e Kenis (2007) e

Albers (2005). Conforme entendimento de Albers (2005), a governança em redes

interorganizacionais pode ser caracterizada como coordenação interna das redes, ou

estudo dos elementos internos da rede. E também alguns autores, como Lazega,

Jourda, Mounier e Stofer (2008) que afirmaram a existência de uma similaridade na

análise de relações internas de uma organização com a análise de relações externas

ente as organizações, ou seja, a análise entre os indivíduos de uma organização é

igual a uma análise entre as organizações. Essa linha de pensamento difere da

resposta encontrada no trabalho.

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118

6.4 Comentários sobre a metodologia

Um dos principais desafios do trabalho foi a construção dos instrumentos de

coleta de dados, tendo em vista não se encontrar instrumentos aplicados e validados.

Também não foi encontrada literatura metodológica sobre o assunto, sendo que a

categoria incerteza possui escalas construídas para pesquisas em outros campos

científicos, como economia, e a categoria governança relacional possui escalas

construídas para pesquisas nos campos científicos de gestão, mas não para o estudo

de Redes.

O problema proposto, sobre a relação entre incertezas e governança nas redes,

sugeriu a forma descritiva e exploratória, de natureza qualitativa, com método de

estudo de casos múltiplos, conforme se comentou no item de metodologia. Assim, no

estudo da rede da ASSCAVAG e da rede do Shopping Popular foram utilizados como

forma de coleta de dados a entrevista com roteiro semiestruturado e dados de fontes

secundárias. Os instrumentos são comentados a seguir.

A ausência de indicadores válidos para as categorias selecionadas exigiu a

adaptação e até a construção dos mesmos, implicando em dúvida sobre sua

capacidade de gerar dados com qualidade. Ao final, os indicadores se mostraram

capazes de gerar dados com qualidade e discriminação, possibilitando comparativos,

análises e interpretações sobre os mecanismos de prevenção da incerteza ambiental

e os mecanismos de controle da incerteza comportamental.

Considerando a qualidade das respostas das entrevistas, cujo discursos foram

classificados conforme os indicadores, é possível afirmar que o roteiro de entrevista é

operacional e confiável.

Como parte de aprendizagem foi construído também um questionário,

entretanto, pela quantidade de pessoas, ele não foi aplicado na ASSCAVAG e, pelo

fato de ter outros pesquisadores aplicando questionário na mesma época dessa

pesquisa também não foi aplicado no Shopping Popular.

Em parceira com o Programa Mestrado em Engenharia de Produção e

Sistemas – MEPROS da Pontifícia Universidade Católica de Goiás - PUC Goiás, um

aluno está aplicando o questionário em redes de pequenos agricultores e redes de

cooperativas para verificar a operacionalidade dos indicadores e do instrumento.

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6.5 Comentários sobre as duas redes

Um primeiro comentário é que as redes apresentam características de sucesso

e de objetivos que as tornaram selecionáveis. No decorrer do estudo, no entanto, a

pesquisadora se deparou com um grau de formalização que colocou barreiras no

desenvolvimento da governança relacional. Essa situação não planejada e não

conhecida de antemão obrigou a um artifício de investigar as relações inter e

intraorganizacional, quando, então, surgiram dados de qualidade. Essa adaptação

exigiu a seleção de uma organização alvo, considerando o objetivo principal da rede.

Conforme detalhado no item anterior de apresentação e análise dos dados, nas

redes intraorganizacionais da ASSCAVAG e do Shopping Popular, foram encontrados

significativos sinais de governança relacional que busca a prevenção e controle das

incertezas e que essas regras presentes na rede estão resolvendo tanto os problemas

surgidos como as incertezas do ambiente e do comportamento, o que permite afirmar

a existência da correspondência entre incertezas e governança relacional nas redes.

Entretanto, nas redes interorganizacionais da ASSCAVAG e do Shopping Popular,

não se encontraram dados suficientes para sustentar a proposição da pesquisa, tendo

em vista a raridade de sinais de governança relacional que buscam a prevenção e

controle das incertezas, por haver a dominância da governança contratual e/ou formal.

Enfim, a partir das análises, pode-se afirmar que as duas redes são histórias

de sucesso, tendo em vista seu desenvolvimento até o momento. Afirma-se ainda que

as duas redes nasceram com objetivos sociais, mas que em suas evoluções a rede

da qual a ASSCAVAG faz parte ficou com o objetivo social mais valorizado e a rede

da qual o Shopping Popular faz parte se transformou em uma rede mais comercial,

com objetivos econômicos.

6.6 Comentários sobre os limites e as contribuições do trabalho

O objetivo do trabalho foi identificar e apresentar os sinais de governança

relacional que buscam prevenir e defender a rede dos efeitos das incertezas

ambientais e para exercer algum grau de controle nas incertezas do comportamento

dos indivíduos.

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6.6.1 Limites do trabalho

Um dos desafios do trabalho foi a construção dos instrumentos de pesquisa,

tendo em vista a raridade de instrumentos aplicados e validados. Sobre a categoria

de incertezas, a maior parte das escalas construídas para pesquisas estão em outros

campos científicos, como Filosofia e Psicologia, ou em Gestão e Economia, mas não

para o estudo de Redes.

Como limitação do estudo deve-se destacar a impossibilidade de aplicação do

questionário nas duas redes. Em uma delas, do material reciclável, talvez o efeito da

lacuna seja secundário, mas no caso da rede do shopping teria sido relevante, já que

são aproximadamente 500 atores no local. Trabalho paralelo realizado por outro aluno

de mestrado, versando sobre comprometimento, mostrou que os resultados dos

questionários divergem em alguma medida sobre as respostas dos dirigentes, o que

teria sido interessante investigar para esse caso de governança.

6.6.2 Contribuições do trabalho

Deve-se destacar, como primeira contribuição, o desenvolvimento teórico desta

dissertação que se caracteriza por certo ineditismo, visto que não se encontraram

pesquisas que investigassem a interface entre governança relacional e incertezas

ambientais e comportamentais. Essa situação de ausência de trabalhos que lidam

com essas categorias, resulta em vantagens, como a valorização do esforço de

solucionar tais ausências, entretanto, interpõe dificuldades, como a falta de modelos

e metodologias validados.

A segunda contribuição do trabalho é metodológica, em que foram

apresentados indicadores que guiaram a construção de instrumentos de investigação.

Para o desenvolvimento da pesquisa, a maior parte dos indicadores tiveram que ser

construídos e alguns foram adaptados. Os dados obtidos na pesquisa de campo

indicaram a eficiência dos indicadores para realizar a coleta, visto que os

entrevistados conseguiram responder os questionamentos. Isso resultou em dados de

qualidade para a análise sugerindo operacionalidade e confiabilidade dos indicadores.

Sendo assim, pode-se afirmar que tais instrumentos de coleta de dados podem ser

aplicados em outros estudos, constituindo uma importante contribuição metodológica.

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Outro instrumento de coleta importante foi a construção do questionário.

Embora não tenha sido testado, é uma contribuição metodológica, pronto para ser

utilizado e adaptado em pesquisas. Conforme já informado, de fato ele está sendo

testado em outra universidade e até o momento não se obtiveram notícias dos

resultados.

Outra contribuição, tanto teórica quanto metodológica, é a apresentação de um

modelo de desenho da pesquisa, que mostra os antecedentes e os consequentes da

governança relacional. O desenho pode ser origem de pesquisas que aprofundem a

relação proposta, já que o presente trabalho se ocupou exclusivamente da relação

entre incertezas, uma das pontas do sistema, e a governança, na outra ponta do

sistema.

6.7 Sugestões de novas pesquisas

Uma sugestão de pesquisa é que se investigue a correspondência de

incertezas e governança relacional em redes com menor participação e controle do

governo, ou seja, tentar selecionar redes que não tenham tanta intervenção do

governo para poder analisar se, nesse caso, as organizações apresentam mais

interação e negociação. Trabalhos anteriores do grupo de pesquisa de que a autora

participa indicam que o negócio de rede de escolas de ensino fundamental seria um

bom exemplo, já que existem muitos acordos e negociações com associações de

bairros e outras organizações.

Uma segunda sugestão é o pesquisador procurar outros casos de associações

de camelôs, que deram certo ou não, em outras cidades, para saber se o processo é

semelhante, ou se são histórias diferentes.

Outra sugestão é de ampliação das pesquisas a partir do desenho. No presente

trabalho só foi possível investigar dois pontos do desenho, isto é, as incertezas e a

governança, mas o desenho na forma de um sistema sugere a possibilidade de outras

pesquisas complementares, por exemplo, na relação com resultados, ou sobre

relações de confiança com governança. O desenho possibilita percorrer o caminho

inteiro do circuito.

Ressalta-se novamente a pesquisa que está sendo realizada pelo Programa

Mestrado em Engenharia de Produção e Sistemas – MEPROS da Pontifícia

Universidade Católica de Goiás - PUC Goiás, que está sendo desenvolvida com a

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122

aplicação do questionário, o que permite a validação e operacionalidade do

instrumento de pesquisa.

6.8 Comentários finais

Ao final, alcançou-se o objetivo desta dissertação, que tem seu cerne em

identificar e apresentar os sinais de governança relacional que buscam prevenir e

defender a rede dos efeitos das incertezas ambientais e exercer algum grau de

controle nas incertezas do comportamento dos indivíduos. A análise dos dados

permitiu mostrar a relação entre as categorias de rede com o modelo de governança

adaptado de Jones et al. (1997). Dessa forma, foi respondida a questão de pesquisa

desta dissertação: “Quais os sinais de governança relacional presentes na rede

buscam se prevenir dos efeitos das incertezas ambientais e exercer um grau de

controle nas incertezas do comportamento dos atores?”.

Tratando-se de um trabalho qualitativo, de casos múltiplos, o alcance das

análises refere-se às redes investigadas, não sendo possível fazer generalizações

para outras redes do mesmo setor, ou outras. Entretanto, é possível aprofundar os

resultados encontrados por meio de replicações em trabalhos futuros, e revelar

padrões de comportamento na rede envolvendo governança relacional, incertezas

ambientais e incertezas comportamentais, que ratifiquem a obtenção de melhores

resultados.

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130

Apêndice I – Instrumento Roteiro de Entrevista com Questões Semiestruturadas

(1) Aquecimento:

Explicar o objetivo do trabalho (relacionar as incertezas do negócio ou da tarefa com

as decisões e regras do grupo);

Explicar a regra do anonimato (não aparece nem o nome das pessoas, nem o nome

das instituições);

Explicar o ganho do entrevistado – ao final do trabalho ele receberá um resumo das

conclusões. Se for interessante e se quiser, o trabalho poderá ser apresentado em

sessão pública;

Explicar a possibilidade de a entrevista ser gravada e pedir autorização;

OBS: para o pesquisador: se a gravação não for autorizada, realizar uma entrevista

curtíssima (10 min), pedir a indicação de uma outra pessoa e encerrar.

(2) Lançamento da pergunta genérica:

O(a) senhor(a) poderia comentar sobre esse negócio (tarefa), como funciona, quem

são os participantes, quais os problemas que vocês enfrentam?

OBS: já ter lido sobre o negócio ou a tarefa (se houver algum gancho para o tema de

pesquisa já pode perguntar ou aprofundar).

(3) Questionamentos sobre Incerteza:

Perguntar quais são as incertezas, dúvidas sobre o negócio (tarefa) (se for necessário

pode-se dar um exemplo: incerteza sobre futuras tecnologias);

3A - Fazer perguntas mais específicas sobre incerteza ambiental nas variáveis:

Rede de Negócios (rua

do Shopping Popular de

Cuiabá/MT)

clientes, fornecedores, concorrentes, sócio-político,

questões econômicas, tecnologias, causas

políticas, condições de mercado, demanda incerta

e irregular.

Rede de economia

solidária de material

reciclável (ASSCAVAG)

clientes, fornecedores, concorrentes, sócio-político,

questões econômicas, tecnologias, causas

políticas.

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3B - Incerteza Comportamental:

O que o(a) senhor(a) acha: sobre essas pessoas mais próximas com as quais você

trabalha, diria que é fácil prever o comportamento delas ou sempre tem surpresa sobre

suas ideias e seus comportamentos?

Rede de Negócios

(Associação do

Shopping Popular

de Cuiabá/MT); e

Rede de economia

solidária de

material reciclável

(ASSCAVAG)

- Sobre a ética do parceiro; a disposição de aceitar e seguir

as regras do grupo; a disposição de fazer sacrifícios

pessoais para o bem dos resultados do grupo; os objetivos

pessoais vão interferir nos objetivos coletivos; se a pessoa

está no grupo apenas para tirar proveito próprio; se a

pessoa tem interesse em continuar no grupo; e se a

pessoa ajudaria quando surgissem problemas

imprevistos, como custos extras, ou ajuda emergencial

para alguém do grupo.

(4) Questionamento sobre a governança relacional:

Explicar que em todo o negócio existem regras para facilitar a realização dos objetivos

e diminuir os riscos e os problemas das incertezas.

Falar algumas regras que são seguidas neste grupo. Para cada regra citada deve-se

conversar principalmente sobre sua origem e também sobre sua função (de onde veio

isso daqui e para que que serve);

OBS: se as regras dadas como exemplo forem todas não relacionais será necessário

perguntar diretamente (gostaria que dessem exemplos de regras que vocês criaram).

Rede de Negócios

(Associação do

Shopping Popular

de Cuiabá/MT); e

Rede de economia

solidária de

material reciclável

(ASSCAVAG)

Sobre regras de inclusão; regras de restrições de

informações; regras de coordenação; regras de decisão;

sobre reuniões; sobre papeis definidos; sobre existência

de líder; se existem regras de controle do comportamento

das pessoas, por exemplo, relatórios de atividades,

assinatura de atas; se existem regras de incentivos, ou

prêmios conforme atitudes, comportamentos e resultados

que uma pessoa alcança; se existem planos e regras para

reconhecimento do grupo junto ao governo e à sociedade.

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132

(5) Questionamento sobre as possíveis relações entre a governança relacional

e as incertezas:

Saber se as regras estão resolvendo as dúvidas, os problemas e as incertezas.

Rede de Negócios (Associação do

Shopping Popular de Cuiabá/MT); e

Rede de economia solidária de

material reciclável (ASSCAVAG)

As regras estão resolvendo as

dúvidas, os problemas e as incertezas

do ambiente; ou tem acontecido do

grupo ser surpreendido por questões

que não estavam previstas?

As regras estão resolvendo as

dúvidas, os problemas e as incertezas

do comportamento das pessoas, ou

tem acontecido do grupo ser

surpreendido por comportamentos não

previstos?

OBS: Fazer essa pergunta a respeito das dúvidas ambientais e a respeito as dúvidas

comportamentais.

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133

Apêndice II. Instrumento Questionário

Caro senhor(a)

Obrigado por concordar em participar deste estudo sobre a rede de

relacionamentos.

Por favor, preencha o questionário e, caso seja necessário, utilize o espaço em

branco ao final e escreva seus comentários.

O nome do(a) senhor(a) não vai aparecer no trabalho, por isso pode ficar bem

à vontade para responder.

Por favor, use a escala expressa nas afirmativas, colocando um “X” apenas em

uma delas:

1.1 Nosso grupo tem incerteza sobre qual será o crescimento econômico da região e como isso pode

afetar o grupo.

A B C D E

Concordo fortemente Concordo Nem concordo nem discordo

Discordo Discordo fortemente

1.2 Nosso grupo tem incerteza sobre quais tecnologias podem surgir do futuro próximo e como isso pode afetar o grupo.

A B C D E

Concordo fortemente Concordo Nem concordo nem discordo

Discordo Discordo fortemente

1.3.1 Nosso grupo tem incerteza sobre possíveis mudanças políticas e como isso pode afetar o grupo.

A B C D E

Concordo fortemente Concordo Nem concordo nem discordo

Discordo Discordo fortemente

1.3.2 Nosso grupo tem incerteza sobre possíveis restrições comerciais e como isso pode afetar o grupo.

A B C D E

Concordo fortemente Concordo Nem concordo nem discordo

Discordo Discordo fortemente

1.3.3 Nosso grupo tem incerteza sobre possíveis mudanças nas leis que possam afetar o grupo.

A B C D E

Concordo fortemente Concordo Nem concordo nem discordo

Discordo Discordo fortemente

1.4 Nosso grupo tem incerteza sobre as possíveis ações dos fornecedores e como isso pode afetar o grupo.

A B C D E

Concordo fortemente Concordo Nem concordo nem discordo

Discordo Discordo fortemente

1.5 Nosso grupo tem incerteza sobre as possíveis ações dos movimentos dos concorrentes e como isso pode afetar o grupo.

A B C D E

Concordo fortemente Concordo Nem concordo nem discordo

Discordo Discordo fortemente

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134

1.6 Nosso grupo tem incerteza sobre os desejos, a demanda, as necessidades e o comportamento dos consumidores e como isso pode afetar o grupo.

A B C D E

Concordo fortemente Concordo Nem concordo nem discordo

Discordo Discordo fortemente

1.7 Nosso grupo tem incerteza sobre as mudanças ambientais e climáticas e como isso pode afetar o negócio ou a tarefa.

A B C D E

Concordo fortemente Concordo Nem concordo nem discordo

Discordo Discordo fortemente

2.1 Nós temos incerteza sobre a ética e a conduta correta dos parceiros, no sentido de seguir as regras.

A B C D E

Concordo fortemente Concordo Nem concordo nem discordo

Discordo Discordo fortemente

2.2 Nós temos incerteza se um parceiro está disposto a fazer certos sacrifícios individuais pelo bem do grupo.

A B C D E

Concordo fortemente Concordo Nem concordo nem discordo

Discordo Discordo fortemente

2.3 Nós temos incerteza se objetivos individuais dos parceiros são conflitantes e/ou diferentes dos objetivos os coletivos.

A B C D E

Concordo fortemente Concordo Nem concordo nem discordo

Discordo Discordo fortemente

2.4 Nós temos incerteza se alguns parceiros estão no grupo apenas para proveito próprio.

A B C D E

Concordo fortemente Concordo Nem concordo nem discordo

Discordo Discordo fortemente

2.5 Nós temos incerteza se os parceiros têm interesse em continuar nesse grupo.

A B C D E

Concordo fortemente Concordo Nem concordo nem discordo

Discordo Discordo fortemente

2.6 Nós temos incerteza se os parceiros estão realmente dispostos a ajudar com os custos ou as despesas coletivas que surgirem.

A B C D E

Concordo fortemente Concordo Nem concordo nem discordo

Discordo Discordo fortemente

3.1.1 No nosso grupo existe a regra de que as informações só circulam aqui dentro do grupo, sendo negadas para as pessoas de fora do grupo.

A B C D E

Concordo fortemente Concordo Nem concordo nem discordo

Discordo Discordo fortemente

3.1.2 Dependendo do tipo de informação, não são todos integrantes do grupo que ficam sabendo porque existe a regra de seleção da informação que pode circular.

A B C D E

Concordo fortemente Concordo Nem concordo nem discordo

Discordo Discordo fortemente

3.2.1 No nosso grupo a coordenação e controle das atividades são feitas por todos os integrantes do grupo.

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135

A B C D E

Concordo fortemente Concordo Nem concordo nem discordo

Discordo Discordo fortemente

3.2.2 No nosso grupo há reuniões periódicas para criar e ajustar as regras do grupo.

A B C D E

Concordo fortemente Concordo Nem concordo nem discordo

Discordo Discordo fortemente

3.3.1 No nosso grupo existem regras claras sobre a definição das funções, dos deveres e das obrigações de cada integrante do grupo.

A B C D E

Concordo fortemente Concordo Nem concordo nem discordo

Discordo Discordo fortemente

3.4.1 No nosso grupo as atividades são coordenadas por uma comissão eleita por todos.

A B C D E

Concordo fortemente Concordo Nem concordo nem discordo

Discordo Discordo fortemente

3.5.1 No nosso grupo existem regras para eleger pessoas que representam e gerenciam o grupo.

A B C D E

Concordo fortemente Concordo Nem concordo nem discordo

Discordo Discordo fortemente

3.5.2 No nosso grupo existem regras para eleger pessoas que têm autoridade para controlar as outras pessoas no que diz respeito a seguir as regras.

A B C D E

Concordo fortemente Concordo Nem concordo nem discordo

Discordo Discordo fortemente

3.6.1 No nosso grupo existem regras para controlar o comportamento dos parceiros.

A B C D E

Concordo fortemente Concordo Nem concordo nem discordo

Discordo Discordo fortemente

3.6.2 No nosso grupo existem regras para evitar que as pessoas se aproveitem da boa-fé dos demais.

A B C D E

Concordo fortemente Concordo Nem concordo nem discordo

Discordo Discordo fortemente

3.7.1 O nosso grupo criou gratificações para a permanência dos integrantes do grupo.

A B C D E

Concordo fortemente Concordo Nem concordo nem discordo

Discordo Discordo fortemente

3.7.2 No nosso grupo existem gratificações que são oferecidas de fora do grupo, por exemplo do governo, para incentivar a permanência dos integrantes do grupo.

A B C D E

Concordo fortemente Concordo Nem concordo nem discordo

Discordo Discordo fortemente

3.8.1 No nosso grupo existem regras e/ou ações originadas para conseguir reconhecimento do governo, do mercado e da sociedade.

A B C D E

Concordo fortemente Concordo Nem concordo nem discordo

Discordo Discordo fortemente

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136

3.8.2 No nosso grupo existe regras e/ou ações para conseguir legalização perante o governo.

A B C D E

Concordo fortemente Concordo Nem concordo nem discordo

Discordo Discordo fortemente

3.9.1 No nosso grupo existem regras e/ou ações originadas dentro do grupo para conseguir algum apoio financeiro ou de infraestrutura do governo, do mercado e da sociedade.

A B C D E

Concordo fortemente Concordo Nem concordo nem discordo

Discordo Discordo fortemente

4.1 No nosso grupo existem ou existiram casos que nós aqui do grupo fomos surpreendido por um acontecimento externo imprevisível.

A B C D E

Concordo fortemente Concordo Nem concordo nem discordo

Discordo Discordo fortemente

4.2 No nosso grupo existem ou existiram casos que nós aqui do grupo fomos surpreendido por um comportamento inadequado de um integrante do grupo.

A B C D E

Concordo fortemente Concordo Nem concordo nem discordo

Discordo Discordo fortemente

4.3 No nosso grupo existem regras que são difíceis de serem aplicadas e operacionalizada.

A B C D E

Concordo fortemente Concordo Nem concordo nem discordo

Discordo Discordo fortemente

4.4.1 No nosso grupo existem regras que sempre geram discussões e nunca se chegam a conclusões ou acordos.

A B C D E

Concordo fortemente Concordo Nem concordo nem discordo

Discordo Discordo fortemente

4.4.2 No nosso grupo existem algumas regras que são descumpridas com frequência.

A B C D E

Concordo fortemente Concordo Nem concordo nem discordo

Discordo Discordo fortemente

Questão aberta Por favor, escreva (ou fale) alguns exemplos de regras que vocês mesmo criaram, aqui dentro do grupo.