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Mestrado Profissional em Educação Matemática LEANDRO CARVALHO VIEIRA A MATEMÁTICA FINANCEIRA NO ENSINO MÉDIO E SUA ARTICULAÇÃO COM A CIDADANIA Vassouras 2010

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Mestrado Profissional em Educação Matemática

LEANDRO CARVALHO VIEIRA

A MATEMÁTICA FINANCEIRA NO ENSINO MÉDIO E SUA ARTICULAÇÃO

COM A CIDADANIA

Vassouras

2010

Page 2: dissertacao-leandro-vfinal

LEANDRO CARVALHO VIEIRA

A MATEMÁTICA FINANCEIRA NO ENSINO MÉDIO E SUA ARTICULAÇÃO

COM A CIDADANIA

Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação scricto sensu - Mestrado em Educação Matemática da Universidade Severino Sombra, como requisito parcial à obtenção do título de Mestre em Educação Matemática. Orientador: Profª. Drª Ana Maria Severiano de Paiva e Prof. Doutorando Ilydio Pereira de Sá.

Vassouras

2010

Page 3: dissertacao-leandro-vfinal

LEANDRO CARVALHO VIEIRA

A MATEMÁTICA FINANCEIRA NO ENSINO MÉDIO E SUA ARTICULAÇÃO

COM A CIDADANIA

Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa

de Pós-Graduação scricto sensu - Mestrado em

Educação Matemática - da Universidade Severino

Sombra, como requisito parcial à obtenção do

título de Mestre em Educação Matemática.

____________________________________________________

Orientadora: Profª Drª Ana Maria Severiano de Paiva

Universidade Severino Sombra (USS)

____________________________________________________

Profª. Drª Rejene Brito Westphal

Universidade Severino Sombra (USS)

Instituto de Educação do Estado do Rio de Janeiro (ISERJ)

____________________________________________________

Prof. Dr. Bruno Alves Dassie

Universidade Federal Fluminense (UFF)

____________________________________________________

Prof. Doutorando Ilydio Pereira de Sá

Universidade Severino Sombra (USS)

Vassouras, 26 de fevereiro de 2010

Page 4: dissertacao-leandro-vfinal

A Deus, pois sem Ele nada somos.

À minha família, pelo carinho e

compreensão

apoiando-me sempre.

Page 5: dissertacao-leandro-vfinal

AGRADECIMENTOS

À professora Ana Maria Severiano de Paiva e ao professor Ilydio Pereira de Sá pela

orientação dispensada, o que muito contribuiu para o desenvolvimento deste trabalho.

Page 6: dissertacao-leandro-vfinal

“De todas as coisas

que a sabedoria proporciona

para obter uma vida feliz,

a maior é a amizade.

O homem de bem

se dedica à amizade e à filosofia;

das quais aquela é um bem mortal,

esta imortal.

A amizade percorre a terra inteira,

anunciando a todos nós a hora

de nos despertar para comunicar-mo-nos

a alegria uns aos outros”.

(Epicuro)

Page 7: dissertacao-leandro-vfinal

RESUMO

VIEIRA, Leandro Carvalho. A matemática financeira no ensino médio e sua

articulação com a cidadania. 2010. 91 fls. Dissertação (Mestrado Profissional em

Educação Matemática) Universidade Severino Sombra, Vassouras, 2010.

O objetivo desse trabalho foi refletir a respeito da contextualização do ensino da

Matemática Financeira, no dia a dia dos alunos do ensino médio, articulado à cidadania.

Nessa perspectiva, apresentamos resultados de uma pesquisa qualitativa, elaborada no

município de Volta Redonda/RJ, com professores de matemática em exercício e alunos

do Ensino Médio de escolas públicas e privadas, através de questionário

semiestruturado, com a parceria do Instituto de Pesquisa de Opinião e Treinamento

(IPOT). Verificou-se que a Matemática Financeira no Ensino Médio precisa ser revista,

pois ainda encontra-se esquecida e fora do currículo de muitas escolas. No âmbito

profissional percebeu-se, como é grande o despreparo dos professores para ensinar esse

conteúdo, que não tem sido explorado nas salas de aula de modo adequado, discutindo

situações financeiras reais e desafiadoras. Assim, conclui-se que é necessária uma maior

conscientização das escolas como instituição de formação, trabalhando a questão da

elaboração de proposta pedagógica voltada para Matemática Financeira como educação

articulada à cidadania.

Palavras-Chaves: Educação. Cidadania. Matemática Financeira.

Page 8: dissertacao-leandro-vfinal

ABSTRACT

VIEIRA, Leandro Carvalho. The financial mathematics in average education and its

joint with the citizenship. 2010. 91 fls. Dissertação (Professional Mestrado in

Mathematical Education) Universidade Severino Sombra, Vassouras, 2010.

The objective of this work was to reflect regarding the contextualization of the

education of the Financial Mathematics, in the day the day of the pupils of average

education, articulated to the citizenship. In this perspective, we present resulted of a

qualitative research, elaborated in the city in return Redonda/RJ, with professors of

mathematics in exercise and pupils of Average Ensino of public and private schools,

through semistructuralized questionnaire, with the partnership of the Institute of

Research of Opinion and Treinamento (IPOT). The Financial Mathematics in necessary

Average Ensino was verified that to be reviewed, therefore still it meets forgotten and it

are of the resume of many schools. In scope professional perceived, as the

unpreparedness of the professors to teach this content is great, that has not been

explored in the classrooms in adjusted way, arguing real and challenging financial

situations. Thus, the question of the pedagogical elaboration of proposal is concluded

that a bigger awareness of the schools is necessary as formation institution, working

come back toward Financial Mathematics as education articulated to the citizenship.

Key-Word: Education; Citizenship; Financial mathematics

Page 9: dissertacao-leandro-vfinal

LISTA DE TABELAS

Análise com alunos do Ensino Público e do Ensino Privado ................................ 66

Tabela 1 - Aplicação da Matemática Financeira no cotidiano do aluno .................... 71

Tabela 2 - Cruzamento entre utilização adequada dos conteúdos matemáticos e conteúdos utilizados no cotidiano aplicado pelo Professor .......................................

71

Tabela 3 - Gostar de matemática e conteúdos utilizados no cotidiano do aluno ....... 72

Análise das respostas dos Professores .................................................................... 72

Tabela 1 - Conteúdos matemáticos essenciais para os alunos utilizarem em seu cotidiano .....................................................................................................................

77

Tabela 2 - Cruzamento entre tempo de atuação e Estudo de Matemática Financeira ......................................................................................................................................

77

Tabela 3 - Cruzamento entre tempo de atuação e utilização de Matemática Financeira em sala de aula ..........................................................................................

78

Page 10: dissertacao-leandro-vfinal

LISTA DE GRÁFICOS

Análise com alunos do Ensino Público e do Ensino Privado ............................... 66

Gráfico 1 - Divisão por Sexo dos alunos ................................................................... 67

Gráfico 2 - Média de idade dos alunos ...................................................................... 67

Gráfico 3 - Ocupação dos alunos ............................................................................... 68

Gráfico 4 - Utilização de conteúdos matemáticos no Ensino Médio ......................... 68

Gráfico 5 - O gostar dos alunos pela Matemática ...................................................... 69

Gráfico 6 - Utilização de matemática no cotidiano dos alunos .................................. 69

Gráfico 7 - Vivência do aluno utilizada em sala de aula ........................................... 70

Análise das respostas dos Professores .................................................................... 72

Gráfico 1 - Localidade de origem do Professor ......................................................... 72

Gráfico 2 - Divisão por Sexo dos Professores ........................................................... 73

Gráfico 3 - Média de idade dos Professores .............................................................. 73

Gráfico 4 - Níveis de Ensino que o Professor exerce no magistério .......................... 74

Gráfico 5 - Tempo de atuação no magistério ............................................................. 74

Gráfico 6 - Instituição onde concluiu o Ensino Superior ........................................... 75

Gráfico 7 - Utilização de Matemática Financeira em sala de aula pelo Professor ......................................................................................................................................

75

Gráfico 8 - Forma de utilização de Matemática Financeira em sala de aula .............. 76

Gráfico 9 - Motivos que levam o Professor a não utilizar a Matemática Financeira em sala de aula ............................................................................................................

76

Page 11: dissertacao-leandro-vfinal

LISTA DE SIGLAS

ACREFI Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e

Investimento

CEF Caixa Econômica Federal

DCNEM Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio

DCEM Diretrizes Curriculares para o Ensino Médio

EUA Estados Unidos da América

FUVEST Fundação Universitária para o Vestibular

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IDEC Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor

LDBEN Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional

LDB Lei de Diretrizes e Bases

MEC Ministério da Educação

PIB Produto Interno Bruto

PCN Parâmetros Curriculares Nacionais

PCNEM Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio

POF Pesquisa de Orçamento Familiar

PUC-RJ Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro

SAEB Sistema Nacional de Educação Básica

SEE-RJ Secretaria Estadual de Educação do Rio de Janeiro

UFRJ Universidade Federal do Rio de Janeiro

UNESCO Organização das Nações Unidas para a educação, a ciência e a cultura

UNICAMP Universidade Estadual de Campinas

Page 12: dissertacao-leandro-vfinal

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 11 2 O ENSINO DE MATEMÁTICA NO ENSINO MÉDIO .......................................... 16

2.1 As Diretrizes Curriculares Nacionais do Ensino Médio e a matemática ....................... 18

2.2 A contextualização e a interdisciplinaridade no ensino da matemática ......................... 21

2.3 Trabalho e consumo e a matemática financeira no ensino médio .................................. 26 3 INVESTIGANDO O QUE E COMO CONSOMEM ALUNOS DO ENSINO

MÉDIO ..........................................................................................................................

29

3.1 O que os alunos conhecem sobre operações financeiras e sistemas de crédito? ............ 32

3.2 O que e como aprenderam na escola, em matemática, sobre operações financeiras e sistema de crédito? .........................................................................................................

38

4 O ENSINO DA MATEMÁTICA FINANCEIRA NO ENSINO MÉDIO ............... 40

4.1 Operações financeiras e sistema de crédito .................................................................... 41

4.1.1 Financiamentos com prestações fixas (Tabela Price) .................................................... 47

4.1.2 Sistema de crédito: Juros simples .................................................................................. 53

4.1.3 Sistema de crédito: Juros compostos ............................................................................. 54

4.1.4 Gráfico comparativo: Juros simples X Juros compostos ............................................... 55

4.1.5 Explorando a matemática financeira no cotidiano das pessoas: questões comentadas .. 57

4.2 Operações financeiras e sistema de crédito X direitos do consumidor .......................... 60 5 PESQUISA .................................................................................................................... 65

5.1 Materiais e Métodos ....................................................................................................... 65

5.2 Discussão dos Resultados .............................................................................................. 66

5.2.1 Análise com alunos do Ensino Público e do Ensino Privado ........................................ 66

5.2.2 Análise das respostas dos professores ............................................................................ 72 6 CONCLUSÃO .............................................................................................................. 81 REFERÊNCIAS .................................................................................................................... 83 ANEXOS ................................................................................................................................ 87

ANEXO 1 - Questionário do aluno ......................................................................................... 88

ANEXO 2 - Questionário do professor ................................................................................... 89

ANEXO 3 - Características da cidade de Volta Redonda ....................................................... 91

Page 13: dissertacao-leandro-vfinal

VIEIRA, Leandro Carvalho.

A matemática financeira no ensino médio e sua articulação com a cidadania. Uma abordagem no Estado do Rio de Janeiro / Leandro Carvalho Vieira. Vassouras, 2010.

91fls.

Orientador: Profª. Drª Ana Maria Severiano de Paiva e Prof. Doutorando Ilydio Pereira de Sá.

Dissertação (Mestrado em Educação Matemática) – Universidade Severino Sombra, Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Educação Matemática.

Bibliografia.

Page 14: dissertacao-leandro-vfinal

11

1 INTRODUÇÃO

Este trabalho de conclusão de curso de pós-graduação stricto sensu -Mestrado

Profissional em Educação Matemática - da Universidade Severino Sombra (USS), tem

como questão central a investigação sobre o ensino de Matemática articulado à cidadania.

Definimos como campo específico de análise o que denominamos de “Educação

Financeira”. Como sujeitos da pesquisa, escolhemos professores e alunos do Ensino Médio

de escolas públicas e privadas no município de Volta Redonda/RJ.

O foco desta pesquisa localiza-se no compromisso com a formação dos jovens do

Ensino Médio perpassando pelos conteúdos específicos de Matemática Financeira

articulada com a educação para o consumo. Para isso, utilizei para análise um dos temas

transversais indicados para o Ensino Fundamental (PCN, 1998), e apliquei no Ensino

Médio sem a pretensão de aprofundar no Ensino Fundamental. São os temas: trabalho e

consumo, especificando as relações sociais nas quais se produzem as necessidades e

desejos, e os produtos e serviços.

O tema fornece o instrumental necessário para a compreensão de informações sobre

a situação de trabalho, emprego, salários, estudos comparativos de preços de produtos,

verificação de vantagens e desvantagens das compras a crédito, impacto da inflação,

propaganda enganosa, dentre outros aspectos.

Nesse sentido, torna-se necessário que o ensino da Matemática colabore na

constituição de sujeitos críticos, éticos, preparados para o mercado de trabalho, para o

consumo e para outras exigências no exercício da cidadania. A disciplina de Matemática

no Ensino Médio, por lidar com adolescentes e jovens, evidencia uma grande

responsabilidade do professor quanto ao preparo do aluno para a sociedade.

Em nossa proposta, o objetivo é discutir a educação financeira familiar de alunos do

Ensino Médio durante o ensino da Matemática. Nas propostas de ensino e nas atividades a

serem desenvolvidas, propõe-se que os professores de Matemática utilizem a Matemática

Financeira, pois é dessa forma que podemos contribuir com a educação financeira familiar

e articular Matemática à cidadania.

Page 15: dissertacao-leandro-vfinal

12

Ao pensarmos sobre a relevância do estudo proposto nos reportamos a recente

programa apresentado em um meio de comunicação. Era objetivo apresentar como uma

família de cinco pessoas, sendo três adolescentes, que lidavam no cotidiano com operações

financeiras como: controle de receita e despesa; decisão sobre compras à vista e a prazo;

cálculo de juros; controle de gastos de consumo de telefone, compras de mercado e

shopping, de alimentação e lazer. No programa era uma adolescente a encarregada de fazer

“a educação financeira” da família. O que estava no centro de toda a discussão era o

consumo. É esta mesma família- “família Martins”- a qual vem ilustrando recente

propaganda da Caixa Econômica Federal (CEF), que mais uma vez fala em consumo,

poupança, aplicação.

De acordo com as Diretrizes Curriculares para o Ensino Médio (DCEM) (Brasil,

2006) espera-se que os alunos ao final do Ensino Médio, saibam usar a Matemática para: a)

resolver problemas práticos do cotidiano; b) modelar fenômenos em outras áreas do

conhecimento; c) compreender que a Matemática é uma ciência com características

próprias, que se organiza via teoremas e demonstrações; d) perceber a Matemática como

um conhecimento social e historicamente construído; e) saber apreciar a importância da

Matemática no desenvolvimento científico e tecnológico.

A partir dos conteúdos da Matemática Financeira podemos observar a possibilidade

de desenvolver atividades relacionadas ao dinheiro no cotidiano, desde o controle do

cheque até o gerenciamento de cartão de crédito, a preparação de orçamento mensal até a

tomada de empréstimo e compra de seguro, ou investimento. Isto implica no conhecimento

de termos, práticas, direitos, normas sociais, e atitudes necessárias ao entendimento e

funcionamento das tarefas financeiras, capacitando o indivíduo a ler e aplicar habilidades

Matemáticas básicas para fazer escolhas financeiras sábias.

Nessa investigação procuraremos responder às seguintes questões:

a) Como a elaboração e discussão de uma proposta pedagógica orientada para a educação

Matemática do consumidor pode contribuir para o ensino da Matemática Financeira

entre alunos do Ensino Médio?

b) Como o ensino da Matemática pode contribuir para que os alunos conheçam direitos e

deveres de cidadãos, relacionados a conteúdos da Matemática Financeira?

Page 16: dissertacao-leandro-vfinal

13

c) Como as reflexões, desenvolvidas pelo professor, podem contribuir para o

aprimoramento da Matemática Financeira enquanto conteúdo de Matemática?

d) Como a escola, enquanto instituição de formação, pode interferir na prática de

consumo dos alunos?

e) Como os conteúdos tradicionais da Matemática podem ser relacionados aos da

Matemática Financeira.

O meu interesse por esse tema surgiu a partir da observação do cotidiano de alunos

que frequentam o Ensino Médio. Ao lecionar para esse nível de ensino, que são

estimulados pela mídia ao consumismo, sem exercer a reflexão, a crítica sobre o que

consomem. E, sobretudo, quando ministrava uma aula sobre o tema Matemática

Financeira, uma aluna se manifestou em lágrimas e disse-me que seus familiares estavam

inseridos nesse contexto.

Após 18 anos, no exercício da profissão como professor de Matemática e, atualmente

lecionando para o Ensino Médio, decidi repensar minha prática pedagógica, buscando

realizar novas pesquisas e novas leituras.

As indagações que nortearam esse trabalho surgiram das experiências obtidas em

sala de aula aplicando a disciplina Matemática Financeira; das discussões em colóquios e

dos projetos para o ensino da Matemática; investigando a respeito das tendências didáticas

utilizadas no Ensino Médio e; estudando a problemática das adolescências no mundo, da

imagem e do consumismo, e da análise do sistema escolar como reprodução cultural e

social.

As atividades executadas em Matemática Financeira demonstradas nesta Dissertação

constituem uma prática pedagógica real a qual venho aprimorando, ano após ano, desde o

meu ingresso na Educação. A cada ano, que trabalho com os alunos do Ensino Médio, com

temas da Matemática Financeira e Progressões Geométricas, percebo sua eficácia no

desempenho e aprendizado. Como forma de melhor esclarecimento, realizou-se uma

pesquisa qualitativa que envolveu alunos e professores de Matemática do Ensino Médio.

Acreditamos que os professores de Matemática ao incluírem em suas aulas conteúdos

de Matemática Financeira, como operações financeiras, poderão contribuir para a

discussão de temas do cotidiano nas salas de aula, que muito contribuirão para dar

significado e sentido à aprendizagem de Matemática. Os alunos poderão relacionar o que

Page 17: dissertacao-leandro-vfinal

14

aprendem em sala de aula com o que vivem em casa e na sociedade, com o que, e como a

mídia escrita (jornais) e televisiva divulga, estimulando ao consumo e muitas vezes,

gerando endividamentos e comprometimento de orçamento familiar.

Discutir essas questões é passar pelos conteúdos da Matemática Financeira,

observando como professores de Matemática articulam Matemática e vida, Matemática e

sociedade. A permuta, a valoração dos bens, a criação da moeda como meio de troca, as

relações complexas de mercado nos dias atuais, e as mudanças dos conceitos de oferta e

procura, interferem nas relações sociais, na construção do conhecimento sobre consumo.

Neste trabalho optou-se pelos seguintes procedimentos metodológicos:

a) Pesquisa bibliográfica: artigos periódicos, livros, revistas, jornais e meios eletrônicos;

b) Pesquisa documental: renda domiciliar; orçamentos familiares; categorias despesas

(padrão de consumo), e Pesquisa de Orçamento Familiar (POF) do IBGE;

c) Questionário semiestruturado: com professores de Matemática e alunos de turmas do

Ensino Médio.

Utilizou-se a pesquisa qualitativa por ser mais adequada para apurar opiniões e

atitudes explícitas e conscientes dos entrevistados. Utilizou-se como instrumento, um

questionário estruturado com perguntas abertas e fechadas, elaborado em parceria com o

Instituto de Pesquisa de Opinião e Treinamento (IPOT), que foi aplicado por pesquisadores

previamente treinados, a alunos e professores do Ensino Médio de escolas públicas e

privadas do município de Volta Redonda/RJ. Os dados apurados nesse universo foram

avaliados e projetados no decorrer dessa Dissertação.

O trabalho é desenvolvido em seis (6) capítulos.

O Capítulo 1 é a Introdução, em que apresentamos os objetivos, relevância do tema e

procedimentos metodológicos.

O Capítulo 2 intitulado “O Ensino de Matemática no Ensino Médio”, tem como

objetivo o desenvolvimento de habilidades que caracterizem o “pensar matematicamente”.

O Capítulo 3, intitulado “Investigando o que e como consomem alunos do Ensino

Médio”, tem o objetivo de buscar conhecer o dia a dia dos alunos e seus familiares; o

conhecimento que adquiriram em casa e na escola sobre o consumo e o consumismo, bem

Page 18: dissertacao-leandro-vfinal

15

como os conhecimentos sobre operações financeiras e sistemas de créditos dentro da

Matemática.

O Capítulo 4, intitulado “O Ensino da Matemática Financeira no Ensino Médio”, terá

o objetivo de investigar como o aluno pensa a respeito do cálculo do lucro de um

investimento e, principalmente, averiguar se ele sabe o que é um investimento, e quais os

objetivos dessa operação financeira.

O Capítulo 5, intitulado “Pesquisa” demonstra a prática pedagógica exercida.

O Capítulo 6, intitulado “Conclusão” evidencia constatações e necessidades,

apontadas nessa Dissertação, para uma educação Matemática voltada para o dia a dia dos

alunos.

Page 19: dissertacao-leandro-vfinal

16

2 O ENSINO DE MATEMÁTICA NO ENSINO MÉDIO

O processo ensino-aprendizagem da disciplina Matemática nos tempos atuais tem-se

mostrado deficiente, pois os alunos não apresentam um bom aproveitamento do que foi

ensinado. De acordo com os dados do Sistema Nacional de Educação Básica (SAEB)

(Brasil, 2005) que verifica o desempenho dos alunos desde 1995, observa-se uma queda no

desempenho dos estudantes brasileiros na disciplina Matemática nos últimos dez anos.

Essa queda apontada pelo SAEB origina-se de características diversas. Por um lado

analisa-se a participação da família no acompanhamento ao aluno, por outro se atribui à

escola, inclui-se as características do ensino em si e de políticas públicas que efetivamente

melhorarão a qualidade da educação básica brasileira.

Micotti (2007) ressalta que ter insucesso em Matemática é não saber conteúdos

básicos, ou até mesmo não conseguir aplicar regras conforme determinadas situações.

Pensar que a Matemática não tem aplicações é ser incapaz de usar ideias e representações

Matemáticas para lidar com situações no dia a dia, esses são os aspectos mais negativos da

não aprendizagem.

Mediante o exposto, as questões relacionadas ao processo de ensino e aprendizagem

têm preocupado profissionais de diversas áreas educacionais que buscam opções para

superar dificuldades, principalmente em salas de aula. Dessas tentativas de solução, muito

se tem produzido a respeito da importância da Matemática, de seus entraves ao grande

desafio de levar cada vez mais um maior número de alunos à compreensão dos conteúdos

dessa disciplina.

Partimos do princípio de que toda situação de ensino e aprendizagem deve agregar o

desenvolvimento de habilidades que caracterizem o “pensar matematicamente”. Nesse

sentido, é preciso dar prioridade à qualidade do processo e não à quantidade de conteúdos a

serem trabalhados. A escolha de conteúdos deve ser cuidadosa e criteriosa, propiciando ao

aluno um “fazer matemático” por meio de um processo investigativo que o auxilie na

apropriação de conhecimento.

De acordo com a proposta de articulação de conteúdos, recomendada pelas Diretrizes

Curriculares Estaduais do Estado do Rio de Janeiro, o conteúdo específico de Matemática

Page 20: dissertacao-leandro-vfinal

17

Financeira pode ser o ponto de partida para a articulação entre os conteúdos estruturantes

de Funções e Tratamento da Informação (Brasil, 2006, p.42). Assim, os Juros Simples

articulam Função Polinomial de 1º Grau (função afim) e Progressão Aritmética; e os Juros

Compostos articulam Função Exponencial e Progressões Geométricas.

Sendo o foco desse trabalho o Ensino Médio, torna-se importante destacar que é

necessária a retomada de assuntos e ideias já tratados no Ensino Fundamental, pois a

consolidação de certos conceitos e ideias da Matemática escolar dependem de explicações

cuja compreensão exige certa maturidade (MARTINS, 2004).

Lopes & Nacarato (2005) sugerem, que quanto à forma de trabalhar os conteúdos

deve-se acompanhar o detalhamento sempre que possível, destacando-se o valor formativo

agregado descartando-se as exigências de memorização, as apresentações de “regras”

desprovidas de explicações, a resolução de exercícios repetitivos de “fixação” ou a

aplicação direta de fórmulas.

No trabalho com “números e operações”, iniciado no Ensino Fundamental, deve-se

proporcionar aos alunos uma diversidade de situações, de forma a capacitá-los a resolver

problemas do cotidiano, tais como: operar com números inteiros e decimais finitos; operar

com frações, em especial com porcentagens; fazer cálculo mental e saber estimar ordem de

grandezas de números; usar calculadora e números em notação científica; resolver

problemas de proporcionalidade direta e inversa; interpretar gráficos, tabelas e dados

numéricos veiculados nas diferentes mídias; ler faturas de contas de consumo de água, luz

e telefone; interpretar informação dada em artefatos tecnológicos (termômetro, relógio,

velocímetro). Por exemplo, o trabalho com esse bloco de conteúdos deve tornar o aluno, ao

final do Ensino Médio, capaz de decidir sobre as vantagens/desvantagens de uma compra à

vista ou a prazo; avaliar o custo de um produto em função da quantidade; conferir se estão

corretas as informações, em embalagens de produtos, quanto ao volume; calcular impostos

e contribuições previdenciárias, e avaliar modalidades de juros bancários (LIMA et al.,

2005).

Analisando os entendimentos que se tem do ensino da Matemática, Veiga (2007)

ressalta que na compreensão de certas relações entre quem ensina, quem aprende, e algo

que é o objeto de estudo, no caso, o saber matemático, constrói-se uma tríade, professor-

aluno-saber, onde encontra-se presente a subjetividade do professor e dos alunos, que em

parte é condicionadora do processo de ensino e aprendizagem.

Page 21: dissertacao-leandro-vfinal

18

A discussão sobre o ensino de Matemática apresenta através das Diretrizes

Curriculares Nacionais para o Ensino Médio (DCNEM), um texto que compreende três

núcleos fundamentais:

� Notas sobre as mudanças que vêm sendo propostas sobre o ensino brasileiro;

� Considerações sobre o atual ensino de Matemática no curso médio (2º grau ou colegial,

como era chamado até bem pouco tempo);

� Uma sugestão de conteúdos prioritários com enfoques adequados para um novo ensino

de Matemática.

Com base nessa discussão serão apresentadas as características das DCNEM que

interpretam e especificam a LDB-9394/96, sendo o referencial que apresenta os parâmetros

para as áreas do Ensino Médio. Esses devem ser tomados como continuação dos

parâmetros para o Ensino Fundamental.

2.1 As Diretrizes Curriculares Nacionais do Ensino Médio e a Matemática

A aprovação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (nº 9394, de 20 de

dezembro de 1996 – LDBEN) inseriu novas interpretações sobre o ensino da Matemática.

Desde a vigência da LDB n. 9394/96, as escolas trabalham com alguma autonomia seu

projeto político-pedagógico. Por consequência, define também aspectos curriculares tanto

na oferta de disciplinas na parte diversificada quanto no elenco de conteúdos das

disciplinas da Base Nacional Comum.

As Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio (DCNEM) interpretam e

especificam a LDB/96, sendo o referencial para o restante do documento que apresenta os

parâmetros para as três áreas do Ensino Médio. Esses devem ser tomados como

continuação dos parâmetros de Ensino Fundamental (BRASIL, 2006).

O propósito do Ensino Médio é finalizar a formação básica do educando, que visa

introduzir o jovem no mundo como um todo, porque em seguida, vem a etapa

especializada (no trabalho ou na universidade, etc.). Com isso, Lellis & Imenes (2008)

ressaltam que o nível médio de ensino não deve ter como objetivo principal a preparação

Page 22: dissertacao-leandro-vfinal

19

para exames vestibulares, mas sim, propostas fundamentais presentes na DCN do Ensino

Médio (Brasil, 2006) como:

• A estética da sensibilidade: que valoriza o criativo, o curioso e favorece o trabalho

autônomo, não padronizado;

• A política da igualdade: que busca a solidariedade e respeita a diversidade, sendo base

da cidadania;

• A ética da identidade que promove a autonomia do educando, da escola, das propostas

pedagógicas etc.

Mediante o exposto, entende-se que a sensibilidade, igualdade e identidade, são

características que jamais se harmonizariam com um ensino que se limitasse a transmitir

informações e a treinar procedimentos, no qual a aprendizagem fosse reduzida à

memorização do que foi ensinado.

Por isso as DCNEM (Brasil, 2006) concebem o conhecimento como construção

coletiva o que é bem mais que informação, e a aprendizagem como construção de

competências em torno do conhecimento, competências de representação e comunicação,

de investigação e compreensão, de contextualização sócio-cultural. De acordo com Lellis

& Imenes (2008) essas concepções exigem uma ação pedagógica que favoreça o "aprender

a aprender" e o desenvolvimento de competências por meio de estratégias que mobilizem

mais o raciocínio do que a memória.

Observa-se que nesse processo, do ponto de vista do educando, a condição necessária

vem a ser os conteúdos significativos, que por sua vez devem ser contextualizados e

tratados de forma interdisciplinar. Muitas vezes, a simples contextualização já acarreta a

interdisciplinaridade, porque subentende um contexto real que para agir sobre ele, depende

dos diversos pontos de vista das diferentes disciplinas.

Assim, as DCNEM (Brasil, 2006) consideram o Ensino Médio composto por três

áreas de conhecimento: (I) Ciências da Natureza, Matemática e suas tecnologias; (II)

Linguagens, Códigos e suas tecnologias; e (III) Ciências Humanas e suas tecnologias.

A concretização das ideias contidas nas DCNEM deverá ocorrer com base na

proposta pedagógica de cada escola que, a partir de uma base comum para todo país (75%

da carga horária), propiciará “[...] uma diversificação de tipos de estudos, dos mais

humanísticos aos mais científicos ou artísticos [...]” (LELLIS & IMENES, 2008).

Page 23: dissertacao-leandro-vfinal

20

Na parte dos Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio (PCNEM) com

relação à Matemática, as finalidades do ensino da disciplina apresentam seu caráter

formativo, o qual desenvolve capacidades específicas. No aspecto instrumental, suas

aplicações na realidade e nas ciências; em seu status como ciência, apresentam-se os

métodos próprios de pesquisa e validação, bem como sua organização. Assinalam-se ainda

as relações entre Matemática e tecnologia: a primeira como instrumento para ingresso no

universo tecnológico; a última como fonte de transformações na educação Matemática.

Os princípios contidos nas DCNEM e os parâmetros relativos à Matemática

relacionam-se harmonicamente. Os parâmetros propõem que os educandos desenvolvam

análise e julgamento, de resolução de problemas, de comunicação e representação, o que

corresponde a uma visão de aprendizagem como "construção de competências", além de

apresentarem como finalidade do ensino a compreensão da Matemática, a confiança no seu

uso e certa satisfação pessoal com ela, o que reflete, entre outras ideias, a ética da

identidade e a promoção da autonomia (LELLIS & IMENES, 2008).

Em nossa pesquisa interrogamos: será possível descrever o tipo de ensino atualmente

praticado no nível médio? O país é extenso, com múltiplas diferenças regionais; as escolas

são numerosas, com perfis muito variados em termos de instalações e de propostas

pedagógicas. No entanto, acreditamos que existe um tratamento comum à maioria das

escolas, em relação à disciplina de Matemática. O enfoque dado a Matemática é como um

conjunto de técnicas ou algoritmos / procedimentos, onde se obtêm certos resultados. Isso

nos leva a refletir a grande quantidade de exercícios que se resumem a "calcular", "obter",

"efetuar". Com isso, a coerência da disciplina, se resume em aplicar as fórmulas adequadas

em contextos exclusivamente matemáticos, mesmo quando se trata de uma simples

dedução de fórmula. De certa forma, o que deve ter importância é o "como fazer", sem

preocupação de "por que fazer assim?" e menos ainda, com o "para que fazer?".

Os parâmetros não apresentam um programa, uma lista de conteúdos, eles apenas

sugerem que um núcleo nacional comum deva ser estabelecido, após reflexão e debate.

Uma seleção de conteúdos adequada evitaria excessos de especialização, pois a formação

pretendida é de caráter geral, e levaria em conta fatores sociais e cognitivos.

Sabendo-se que existe uma grande preocupação com a melhora do ensino da

Matemática, embora ocorram problemas e dificuldades em outras disciplinas, é na

Matemática que se evidencia grande aversão por parte dos alunos, além disso, existe um

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21

agravante de domínios de conteúdos que há tempos preocupam os pesquisadores e

professores da área. Assim, acreditamos ainda haver possibilidades concretas de

implementar um ensino que se aproxime mais dos objetivos propostos.

2.2 A Contextualização e a Interdisciplinaridade no Ensino da Matemática

Frequentemente usa-se o termo “contexto” para se referir a uma dada situação.

Conhecer o contexto significa ter melhores condições de se apropriar de um dado

conhecimento, de uma informação. A contextualização, associada à interdisplinaridade,

vem sendo divulgada pelo Ministério da Educação (MEC) (Brasil, 2002) como princípio

curricular central dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) (Brasil, 2002) capaz de

produzir uma “revolução” no ensino.

Para Tufano & Fazenda (2004) a pretensão é formar indivíduos que se realizem

como pessoas, cidadãos e profissionais, exigindo da escola muito mais do que a simples

transmissão e acúmulo de informações, exigindo também, experiências concretas e

diversificadas, transpostas da vida cotidiana para as situações de aprendizagem.

Segundo o PCN (Brasil, 2002) a contextualização tem como característica

fundamental, o fato de que todo conhecimento envolve uma relação entre sujeito e objeto,

ou seja, quando se trabalha o conhecimento de modo contextualizado a escola está

retirando o aluno da sua condição de espectador passivo.

De acordo com Santos (2008) a aprendizagem contextualizada preconizada pelos

PCN (Brasil, 2002) visa que o aluno aprenda a mobilizar competências para solucionar

problemas com contextos apropriados, de maneira a ser capaz de transferir essa capacidade

de resolução de problemas para os contextos do mundo social e, especialmente, do mundo

produtivo. Mais explicitamente a contextualização situa-se na perspectiva de formação de

performances que serão avaliadas nos exames centralizados e nos processos de trabalho.

Em Matemática, a contextualização é um instrumento bastante útil, desde que

interpretada numa abordagem mais ampla e não empregada de modo artificial e forçado, e

que não se restrinja apenas ao cotidiano do aluno. Defende-se a ideia de que a

contextualização estimula a criatividade, o espírito inventivo e a curiosidade do aluno.

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22

Tufano & Fazenda (2004, p.87) ressaltam que “[...] alguns críticos apontam o

descaso com os conteúdos. As novas estratégias de ensino obtêm mais sucesso com os

conteúdos mais básicos, para eles, a solução está no equilíbrio. Já erramos por tornar o

ensino muito formal, mas agora se contextualiza tanto que se perde a perspectiva do que

está sendo ensinado [...]”.

Assim, contextualizar é o ato de colocar no contexto, ou seja, colocar alguém a par

de alguma coisa; uma ação premeditada para situar um indivíduo no tempo e no espaço

desejado. Os autores ressaltam ainda, que a contextualização pode também ser entendida

como uma espécie de argumentação ou uma forma de encadear ideias.

Para Barbosa (2006), contextualizar não é abolir a técnica e a compreensão, mas

ultrapassar esses aspectos e entender fatores externos aos que normalmente são

explicitados na escola de modo a que os conteúdos matemáticos possam ser

compreendidos dentro do panorama histórico, social e cultural que o constituíram:

[...] as linhas de frente da Educação Matemática têm hoje um cuidado crescente com o aspecto sociocultural da abordagem Matemática. Defendem a necessidade de contextualizar o conhecimento matemático a ser transmitido, buscar suas origens, acompanhar sua evolução, explicitar sua finalidade ou seu papel na interpretação e na transformação da realidade do aluno. É claro que não se quer negar a importância da compreensão, nem tampouco desprezar a aquisição de técnicas, mas busca-se ampliar a repercussão que o aprendizado daquele conhecimento possa ter na vida social, nas opções, na produção e nos projetos de quem aprende [...] (BARBOSA, 2006, p.112).

O autor destaca que, com um ensino contextualizado, o aluno tem mais

possibilidades de compreender os motivos pelos quais estuda um determinado conteúdo.

Ideia similar a essa é a de D’Ambrósio (2003):

[...] contextualizar a Matemática é essencial para todos. Afinal, como deixar de relacionar os Elementos de Euclides com o panorama cultural da Grécia Antiga? Ou a adoção da numeração indo-arábica na Europa como florescimento do mercantilismo nos séculos XIV e XV?. E não se pode entender Newton descontextualizado [...] (D’AMBRÓSIO, 2003, p.44).

[...] alguns dirão que a contextualização não é importante, que o importante é reconhecer a Matemática como a manifestação mais nobre do pensamento e da inteligência humana, e assim justificam sua importância nos currículos [...] (D’AMBRÓSIO, 2003, p.45).

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23

Mediante o exposto, observa-se que nem todos os alunos se encaminharão para áreas

das ciências exatas. Apesar da linguagem Matemática no seu aspecto sintático ter

importância e a escola ter o objetivo de fazer com que o aluno a entenda, não se pode

esquecer dos fatores envolvidos nesse processo. D’Ambrósio (2003) destaca que:

[...] o conhecimento matemático formalizado, precisa necessariamente, ser transferido para se tornar possível de ser ensinado, aprendido, ou seja, a obra e o pensamento do matemático teórico não são passíveis de comunicação direta aos alunos. Esse processo de transformação do saber científico em saber escolar, não passa apenas por mudanças de natureza epistemológica, mas é influenciado por condições de ordem social, e cultural que resultam na elaboração de saberes intermediários, como aproximações provisórias, necessárias e intelectualmente formadoras. É o que se pode chamar de contextualização do saber [...] (p.47).

Mediante o exposto pode-se entender que existe uma aversão dos alunos em relação à

Matemática e isso, muitas vezes se dá porque os conteúdos matemáticos são apresentados

de uma forma, geralmente difícil de ser compreendida pelo aluno.

Machado (2002, apud D’Ambrósio, 2003) ressalta que alguns aspectos e críticas que

são feitos para entender o que se pretende com a contextualização no ensino da Matemática

hoje, são apontados pelos PCN, onde se evidencia algumas considerações com relação ao

ensino de Matemática categorizado como tradicional, e que predominou no período

anterior à Matemática moderna:

[...] a insatisfação revela que há problemas a serem enfrentados, tais como a necessidade de reverter um ensino centrado em procedimentos mecânicos, desprovidos de significados para o aluno. Há urgência em reformular objetivos, rever conteúdos e buscar metodologias compatíveis com a formação que hoje a sociedade reclama [...] (MACHADO, 2002, apud D’AMBRÓSIO, 2003, p.78).

O PCNEM (Brasil, 2002) ressalta ainda que, ao aproximar a Matemática escolar da

Matemática pura, centrando o ensino nas estruturas e fazendo uso de uma linguagem

unificadora, a reforma deixou de considerar um ponto básico que viria se tornar seu maior

problema: o que se propunha estava fora do alcance dos alunos, em especial daqueles das

séries iniciais do Ensino Fundamental. D’Ambrósio (2003) complementa que “[...] o

ensino passou a ter preocupações excessivas com abstrações internas à própria Matemática,

mais voltada à teoria do que à prática [...]” (p.80).

Assim, torna-se importante observar que ao se propor um projeto na escola,

buscando integrar o aluno na assimilação do conhecimento, não faça o aluno verificar

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24

informações e aplicá-las diretamente ao projeto, pois para concretizar essa ligação, o aluno

tem que desenvolver capacidades próprias do conhecimento, o que lhe possibilitará

trabalhar em projetos coletivos e individuais.

Groenwald & Filippsen (2003) afirmam que existe uma aproximação entre os termos

contextualização e cotidiano, muitas vezes usados como sinônimos:

[...] não é mais possível apresentar a Matemática aos alunos de forma descontextualizada, sem levar em conta que a origem e o fim da Matemática é responder às demandas de situações-problema da vida diária. Com o ensino Tradicional e a Matemática Moderna buscava-se formar um indivíduo disciplinado e inteligente. Atualmente, o que se propõe ao formar o aluno é torná-lo cidadão. Assim, como entre várias ideias, encontra-se a de utilizar o cotidiano entendendo-o não somente como integrante de atividades quaisquer, mas como as várias atividades que se possa ter na sociedade [...] (GROENWALD & FILIPPSEN, 2003, p.22).

Para Lopes (2004) a Matemática possui um forte caráter integrador e interdisciplinar:

o conhecimento matemático não é propriedade privada dos matemáticos, ele tem evoluído

também no contexto de outras ciências. Isso significa que a maneira de pensar

matematicamente deve ser aprendida não apenas por aqueles que irão dedicar-se à

Matemática.

[...] acredita-se que o professor só pode ajudar o aluno no processo de aprendizagem se puder oferecer pontos de vista distintos sobre um mesmo assunto, suas relações com outros conteúdos já estudados e suas possíveis aplicações em outras áreas do conhecimento. Sendo assim, a preocupação exagerada com as metodologias de ensino, afastou os professores da comunidade Matemática [...] (LOPES, 2004, p.73).

Portanto, não se pode entender a contextualização como banalização do conteúdo das

disciplinas numa perspectiva espontânea, mas como recurso pedagógico para promover a

construção de conhecimentos, um processo permanente de formação de capacidades

intelectuais superiores. Capacidades essas, que permitam transitar inteligentemente do

mundo da experiência imediata para o plano das abstrações.

D’Ambrósio (2003) diz que:

[...] contextualizar é situar um fato dentro de uma teia de relações possíveis em que se encontram os elementos constituintes da própria relação considerada, e que o cotidiano está impregnado dos saberes e fazeres próprios da cultura [...] (p.84).

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25

Observa-se que compreender o que vem a ser conhecimento contextualizado é de

fundamental importância para os educadores. A contextualização do conhecimento

matemático com conteúdos de outras disciplinas é uma outra forma de mostrar a

contribuição da Matemática na leitura dos diversos fenômenos naturais e sociais em que

outras ciências se apresentam. A interdisciplinaridade consiste nisso, em utilizar os

conhecimentos de várias disciplinas para resolver um problema ou compreender um

determinado fenômeno sob diferentes pontos de vista. O importante é contribuir para a

superação do tratamento isolado e fragmentado que caracteriza hoje o conhecimento

escolar.

Muitas vezes o professor tem dificuldade de discorrer sobre um conteúdo matemático

para o aluno do Ensino Médio, o que comprova que a Matemática no Ensino Fundamental

não foi bem absorvida. Nesse caso, o professor pode recorrer a um contexto pró-ativo, isto

é, situar o raciocínio do aluno a partir de um conceito que seja uma forma mais elementar

daquele conhecimento considerado, ou até mesmo, valer-se de uma estrutura de

pensamento elementar para atingir outra estrutura mais elevada, sendo esta uma outra

forma de contextualização.

Da mesma forma pode-se desenvolver um conhecimento matemático mais elevado

por intermédio da manipulação de conceitos mais simples e conhecidos pelo aluno. A

partir de um dado conteúdo mais complexo pode-se melhorar a compreensão de outro já

conhecido. Essa forma de contextualização permite ao professor justificar um conteúdo

com vistas à motivação do aluno para o estudo e à aprendizagem significativa.

Observa-se então que existem várias maneiras de contextualizar e que o professor

pode utilizá-las de variadas formas. Para Tufano & Fazenda (2004) a contextualização é

um ato particular. Cada autor, escritor, pesquisador ou professor contextualiza de acordo

com suas origens, com suas raízes, com seu modo de ver as coisas com muita prudência.

De acordo com Silva (2008) a contextualização da Matemática Financeira no âmbito

do Ensino Médio está um pouco esquecida e fora do currículo de muitas escolas, devido à

ênfase maior dada aos conteúdos da chamada Matemática “geral”.

Pode-se dizer que o fato de vivermos num país capitalista em desenvolvimento e que

sofre os efeitos da globalização da economia; além da economia encontrar-se em fase de

estabilização e crescimento, as ofertas de crédito aumentam e as pessoas se endividam cada

vez mais. Assim, a Matemática Financeira e suas aplicações se tornam cada vez mais

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26

importante para o ensino. No caso deste trabalho sempre consideramos o corte

epistemológico no Ensino Médio, pois, facilita o entendimento às demonstrações feitas

sem muito rigor matemático.

Assim, a configuração de um contexto instável, onde as transformações aceleradas da

produção geram impacto direto nas relações de trabalho e de consumo do indivíduo, se faz

necessária, pois, o choque nas culturas é consideravelmente muito grande.

2.3 Trabalho e Consumo e a Matemática Financeira no Ensino Médio

A Matemática Financeira no Ensino Médio apoiada em uma metodologia de ensino

com projetos auxilia na formação de um aluno analítico e crítico, auxiliando também, de

maneira positiva, na construção de um currículo que permite o desenvolvimento de

competências, possibilitando ao aluno trabalhar de forma ativa os conteúdos do currículo

de Matemática aprimorando o conhecimento da realidade que o cerca (BRASIL, 2003).

Gavidia (2002) destaca que o termo transversal representa o conjunto de valores,

atitudes e comportamentos mais importantes que devem ser ensinados. É o símbolo de

inovação, de abertura da escola para sociedade. Dentre os temas transversais destacados

nos PCN (Brasil, 2002), encontra-se o tema transversal trabalho e consumo utilizado na

disciplina de Matemática. Tendo como definição de trabalho a modificação da natureza

operada pelos seres humanos de forma a satisfazer suas necessidades, encontra-se nessa

relação, os homens, que modificam e interferem nas coisas naturais transformando-as em

produtos do trabalho.

Esse tema trabalhado pela disciplina de Matemática irá fazer com que as aulas

tenham situações do cotidiano dos alunos buscando resolver os problemas com auxílio da

Matemática, permitindo que o aluno perceba a ligação entre o seu cotidiano e a

Matemática.

Para Cainzos (2003) o consumo pode ser considerado o modo como uma sociedade

organiza e procura a satisfação das necessidades de seus membros, e também é a expressão

de significados e estratificações (condutas, modelos, estruturas). Diversas capacidades

podem ser desenvolvidas através desse tema.

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27

O PCN (Brasil, 2002) aponta que atuar com discernimento e solidariedade nas

situações de consumo e de trabalho, é identificar a diversidade de relações de trabalho

existentes, posicionado de maneira crítica em relação ao consumismo.

Cainzos (2003) considera que as relações que os seres humanos estabelecem entre si

e com a natureza, de caráter econômico, político, cultural, produzem modos de ser e de

viver e definem, a cada momento, o que será considerado imprescindível ao bem viver: um

conjunto de bens e serviços, produzidos por toda a sociedade, que poderão ser usufruídos.

Materializado nos objetos de consumo, nos produtos e bens materiais ou simbólicos e nos

serviços, encontra-se o trabalho humano, realizado sob determinadas relações e condições.

As relações existentes entre os homens em sociedade podem ser analisadas a partir

das relações de trabalho e consumo, mas ficam muitas vezes obscurecidas pela frequente

afirmação de que todos são igualmente livres tanto para trabalhar e escolher um tipo de

trabalho como para consumir. Essa afirmação não considera as desigualdades de acesso ao

trabalho, aos bens de consumo e aos serviços, ou a distribuição diferenciada entre as

classes sociais (CAINZOS, 2003).

Considera-se, portanto, que consumir não é um ato “neutro”, significa participar de

um cenário de disputas por aquilo que a sociedade produz e pelos modos de usá-lo,

tornando-se um momento em que os conflitos, originados pela desigual participação na

estrutura produtiva, ganham continuidade por meio da distribuição e apropriação de bens e

serviços. Se individualmente e de forma isolada pouco se pode fazer em relações marcadas

pela desigualdade de forças e de poder, trabalhadores e consumidores conquistam formas

de organização, e, por meio delas, garantias e direitos concretizados em lei (COLL &

MARTÍN, 2004).

[...] as relações de trabalho e consumo produzem e reproduzem as tensões entre desigualdade e luta pela igualdade, injustiça e luta pela justiça. É assim que se constrói, a cada momento, a cidadania, como uma série de lutas em prol da afirmação dos direitos ligados à liberdade, à participação nas decisões públicas e à igualdade de condições dignas de vida, modificando, dessa forma, a distribuição de riqueza e poder na sociedade [...] (COLL & MARTÍN, 2004, p.63).

Ao se conceber a educação escolar como uma prática que tem a possibilidade de

criar condições para que todos os alunos desenvolvam suas capacidades, é papel da escola

discutir como poderá atuar na educação das crianças e dos jovens na perspectiva da

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28

participação em relações sociais, políticas e culturais cada vez mais amplas, condições

estas fundamentais para o exercício da cidadania na construção de uma sociedade

democrática e não excludente.

A discussão sobre trabalho e consumo na escola busca explicitar as relações sociais

nas quais se produzem as necessidades, os desejos, os produtos e serviços que irão

satisfazê-los. Conhecer e discutir as formas de realização e organização do trabalho e do

consumo, compreendendo suas relações, dependências, interações, os direitos vinculados

as contradições e os valores a eles associados, subsidiará a compreensão da própria

realidade, a construção de uma auto imagem positiva e uma atitude crítica, para a

valorização de formas de ação que favoreçam uma melhor distribuição da riqueza

produzida socialmente (D’AMBRÓSIO, 2003).

Este tema “trabalho” traz para o currículo escolar demandas sociais urgentes, de

abrangência nacional, passíveis de ensino e aprendizagem tanto no Ensino Fundamental

como no Ensino Médio e, com importante papel na promoção da participação social. Seus

pressupostos são os seguintes: em cada produto ou serviço consumido existe trabalho

social; esse trabalho é realizado segundo determinadas relações que não são naturais e sim

construídas historicamente, sendo, portanto, passíveis de crítica, intervenção e

transformação.

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29

3 INVESTIGANDO O QUE E COMO CONSOMEM ALUNOS DO ENSINO

MÉDIO

Esse capítulo tem como objetivo investigar em meio escolar, como os alunos se

comportam diante das necessidades de consumo e a consciência enquanto consumidores.

Os discursos em torno da questão da educação em nosso tempo têm sido marcados

pelo economicismo. A educação básica escolar sendo vista como uma necessidade cada

vez maior no contexto de uma economia globalizada visa preparar os indivíduos para se

integrarem numa competição acirrada que é o mercado de trabalho.

No entanto, muito além de mão de obra para o mercado, Azevedo (1997, apud

Trigueiro, 2005) aponta que o objetivo real do processo educativo não é preparar o

indivíduo para a disputa extremada de produtividade material para o consumismo

desenfreado que beira à irracionalidade, mas sim, representar resistência e oposição a esse

estado de demência social.

Os adolescentes atuais estão lançados na sociedade do ícone (ou da imagem), da

velocidade das informações que, na maioria das vezes, são superficiais e manipuladoras. A

sociedade os transporta para o imediatismo, para a inversão dos valores, para o

consumismo, e para a supremacia do “ter” em relação ao “ser”, demonstrando claramente

as dificuldades encontradas ao se tentar conscientizar e nortear os adolescentes para o

pensar crítico da alienação humana que o sistema do consumismo capitalista nos conduz

(AZEVEDO, 1997 apud TRIGUEIRO, 2005).

De forma abrangente, pode-se dizer que os jovens de hoje são consumidores de

alimentação; transporte; assistência à saúde; vestuário; educação; despesas diversas;

recreação e cultura; higiene, dentre outros. Porém, na maioria das vezes, esse consumo não

é feito de forma consciente, ultrapassando as condições pessoais que cada um possui,

consumindo além das necessidades básicas.

A UNESCO (2000) apresentou um relatório demonstrando perspectivas sobre a

criança e a mídia, advertindo que as crianças são as maiores vítimas da propaganda. O

estudo revela que as empresas norte-americanas destinam aproximadamente 12 bilhões de

dólares por ano a anúncios para crianças, repercutindo em uma renda de 500 bilhões de

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30

dólares como resultado. Indefesas diante dos inúmeros recursos utilizados pela publicidade

para estimular o consumo, como manipulação de sons, imagens e modelos que agem sobre

o inconsciente, estimulam desde pequenas, a consumir muito mais do que necessitam.

Segundo os pesquisadores da Unesco, um dos males decorrentes do consumismo infantil é

a obesidade, doença já considerada problema de saúde pública nos Estados Unidos

(TRIGUEIRO, 2005).

Os comerciais de doces, biscoito, guloseimas e redes de fast food que recorrem aos

truques da animação gráfica ou ao auxílio luxuoso dos super-heróis da TV, que aparecem

bem na função de garotos-propaganda, hipnotizam a garotada.

Trigueiro (2005) ressalta que o sonho de consumo é bombardeado pela mídia

diariamente através de anúncios que geram ansiedade, angústia e frustração para o

indivíduo excluído do poder de consumo.

De acordo com a Pesquisa de Orçamento Familiar (POF/2004) do IBGE (2004),

considerando a soma dos rendimentos e das despesas das famílias brasileiras, somente

naquelas em que a faixa média de renda ultrapassa os 4 mil reais por mês há algum

dinheiro sobrando. Com isso a opção de consumir algo mais, traz um relativo conforto, e

esse público se reduz a uma minoria estimada em 17 milhões de brasileiros. Com isso, 165

milhões estariam excluídos da “farra” consumista, mas não livres do apetite e sonhos de

consumo irrealizáveis (TRIGUEIRO, 2005).

A produção, oferta e procura, a necessidade de se adquirir o que é imprescindível

para uma existência digna, tudo isso é inevitável. Todos os seres produzem e consomem,

biologicamente e culturalmente, conscientemente e inconscientemente, para se manterem

vivos, mas a questão não é o mercado ou a necessidade de consumo, a problemática está no

consumismo.

Em suma:

[...] quem tem dinheiro, banca o “sonho”; quem não tem, lida com o fracasso, com a frustração e com a angústia de viver numa sociedade de consumo que privilegia não o que se é, mas o que se tem [...] (TRIGUEIRO, 2005, p.25).

No Brasil, o Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor desenvolveu campanhas

alertando os consumidores que o consumo é fundamental à vida, mas o consumismo

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31

desequilibra a vida. O consumo consciente é uma questão de sobrevivência. A

pesquisadora Ana Ester Nogueira Pinto explica:

[...] uma pessoa normal tem o impulso, mas é capaz de resistir. O compulsivo gasta sempre mais do que pode, prejudicando-se financeiramente. Normalmente, as dívidas dos doentes chegam a cinco ou dez vezes mais do que a renda mensal [...] (ANA ESTER, apud TRIGUEIRO, 2005, p.27).

Outro aspecto é apontado por Trigueiro (2005, p.28):

[...] o templo sagrado do consumismo, uma bela lição em forma de música. Na trilha sonora do desenho animado Mogli, o menino lobo (Disney, 1967), o urso Balu, responsável pela educação de Mogli numa selva repleta de predadores, cantarolava a música Bare necessities, que trazia o refrão assim traduzido para o português: “Necessário, somente o necessário, o extraordinário é demais”. Vivemos num planeta que oferece o necessário para todos, se ainda assim não conseguimos ser felizes, talvez a culpa seja nossa [...].

Mediante o exposto, podemos dizer que o consumo consciente é muito importante

ser considerado. Se o consumidor começar a perceber essa questão, independentemente de

ter renda mais alta ou mais baixa, ou terem educação mais o menos elevadas, poderão fazer

parte do processo de compra consciente, ou seja, um consumo com reflexão. Pode-se dizer

que existem extremos nas classes de rendimento familiar mensal que revela as

desigualdades de consumo dos alunos adolescentes no país.

No aspecto econômico, as famílias brasileiras gastam, em média, R$ 1.778,0311 por

mês, valor ligeiramente inferior ao seu rendimento médio mensal. De acordo com a POF

apontada pelo IBGE (2004) o Sudeste é onde se gasta mais (R$ 2.163,09 ou 21,66% acima

da média nacional) e o Nordeste, onde se gasta menos (R$ 1.134,44 ou 36,20% abaixo da

média). Entre as Unidades da Federação, os maiores valores foram do Distrito Federal (R$

3.195,21), Rio de Janeiro (R$ 2.343,45) e São Paulo (R$ 2.337,17). Com valores mais

baixos, aparecem Maranhão (R$ 842,66), Paraíba (R$ 904,24) e Piauí (R$ 975,67).

O aluno adolescente é uma espécie de “táxi” no qual viajam as ideias e valores da

família, da religião, etc. Eis porque me parece que o ensino da educação para o consumo

no Ensino Médio será, prioritariamente, a de estimular o aluno a valorizar as questões da

Matemática Financeira como forma de se perceber a realidade financeira do mundo em que

1 Neste valor estão incluídas as despesas monetárias (pagas em dinheiro, cheque ou cartão) e

também as não-monetárias (troca, doação, aquisição de produção própria ou retirada do negócio, para as quais o informante estima um valor em dinheiro).

Page 35: dissertacao-leandro-vfinal

32

estamos vivendo, ou seja, numa sociedade do imediatismo onde o produto, a mercadoria

tem tido maior valor do que a condição humana.

Pode-se dizer que os alunos adolescentes se no seu dia a dia além do consumo básico

essencial para sobrevivência, também fazem parte do consumismo no espaço de lazer mais

frequentado pelos jovens, os shoppings centers, onde estão, em sua maioria,

uniformizados, padronizados pelas propagandas midiáticas, através do uso das grifes do

momento presentes nas calças, bermudas e tênis, bem como em cortes e penteados de

cabelo, bijuterias, bonés, etc., chegando mesmo ao estilo da linguagem e do andar.

Vale ressaltar que cada indivíduo tem o direito de escolher o que vestir e o que

comprar, de escolher o produto por sua qualidade, já que estamos numa sociedade do livre

comércio, da oferta e da procura. Porém, seria interessante lembrar, que na maioria das

vezes o consumismo e a alienação nos alunos adolescentes são incorporados e estimulados

pelos pais.

Assim, torna-se explícito e desafiador o compromisso da escola dentro do ensino da

Matemática Financeira articulado à educação para o consumo, incutindo no aluno

adolescente, ideias de que o conhecimento da Matemática Financeira poderá ajudar na

transformação do indivíduo protegido do imediatismo do mercado. Com isso, eles passarão

a perceber que independentemente de possuírem rendas mais altas ou mais baixas, de

terem educação mais ou menos elevadas, poderão fazer parte de uma geração mais realista,

capaz de suprir suas próprias necessidades, ou seja, ser um consumidor consciente.

3.1 O que os alunos conhecem sobre Operações Financeiras e Sistemas de Crédito?

A Matemática Financeira no Ensino Médio contém uma dimensão sócio-política-

pedagógica, que pode contribuir na formação crítica do aluno. Ao instigar discussões e

questionamentos acerca de algumas situações-problema é possível levá-lo a pensar não

somente em como calcular o lucro com um investimento, mas principalmente, o que é um

investimento e com que objetivos esta operação financeira foi criada.

Com isso, pode-se dizer que o conhecimento dos alunos está inserido em uma

diversidade de resoluções de trabalho com números e operações, tais como: operar com

números inteiros e decimais finitos; operar com frações, em especial com porcentagens;

Page 36: dissertacao-leandro-vfinal

33

fazer cálculo mental e saber estimar ordem de grandezas de números; usar calculadora e

números em notação científica; resolver problemas de proporcionalidade direta e inversa;

interpretar gráficos, tabelas e dados numéricos veiculados nas diferentes mídias; e ler

faturas de contas de consumo de água, luz e telefone.

Por exemplo, o trabalho com esse bloco de conteúdos deve tornar o aluno, ao final do

Ensino Médio, capaz de decidir sobre as vantagens/desvantagens de uma compra à vista ou

a prazo; avaliar o custo de um produto em função da quantidade; conferir se estão corretas

informações em embalagens de produtos quanto ao volume; calcular impostos e

contribuições previdenciárias; e avaliar modalidades de juros bancários.

No entanto, a Matemática Financeira encontra-se um tanto restrita no conteúdo das

obras didáticas no que se refere a situações do dia a dia do aluno. Porém, existe a

abordagem visual que possibilita a diversidade de resoluções de um mesmo problema, que

fornece subsídios para que o aluno possa criar sua própria técnica.

Em caráter sugestivo para o conhecimento dos alunos do Ensino Médio sobre

operações financeiras, serão apresentadas atividades lúdicas utilizadas em sala de aula

segundo modelo utilizado por Novaes & Nasser (2006) que utiliza a visualização das

operações financeiras por meio do eixo das setas, facilitando a compreensão da

Matemática Financeira.

Esse modelo possibilita que pessoas comuns compreendam o funcionamento de

operações financeiras do dia a dia, para que alcancem o conhecimento e a confiança

necessários para tomar em suas mãos o poder de decisão e de avaliação, além da percepção

de transações financeiras questionáveis. A forma gráfica denominada de eixo das setas

permite a visualização de quaisquer operações financeiras através de dois elementos

gráficos:

� Um eixo horizontal, funcionando como uma escala de tempo, que evolui da esquerda

para a direita e;

� Setas verticais, posicionadas sobre datas indicando valores, que podem ser

recebimentos ou pagamentos.

As atividades que serão apresentadas a seguir tiveram como objetivo averiguar o

conhecimento dos alunos do Ensino Médio sobre operações financeiras e sistemas de

créditos.

Page 37: dissertacao-leandro-vfinal

34

• Atividade 1:

Esta é uma atividade referente a juros simples desenvolvida por um grupo do Projeto

Fundão, da UFRJ, que utiliza a mesma abordagem em seu material de Matemática

Financeira.

A aplicação de um capital de R$100,00 a juros simples por um período de 3 meses

terá um ganho fixo de 10% sobre o capital inicial, conforme representado no eixo das setas

demonstrado na Figura 1.

Essa situação corresponde a uma Progressão Aritmética (PA), onde o 1º termo é R$

100,00 e a razão é R$10,00 (10% de R$100,00), e o gráfico que dá esses valores em função

do tempo é representado por pontos colineares, caracterizando a relação entre juro simples

e função afim.

Esta mesma atividade seria resolvida, para encontrar o montante após três meses de

aplicação, por uma metodologia que privilegie o uso de fórmulas da seguinte maneira:

Cn = C0 . (1 + i.t) (Fórmula de juros simples) C3 = 100 . (1 + 0,1. 3) C3 = 100 . (1 + 0, 3) C3 = 100 . (1,3) C3 = R$ 130,00

• Atividade 2:

Esta é uma atividade referente a valor futuro e valor atual, utilizando juro composto.

Por exemplo, algumas lojas oferecem duas opções de pagamento na compra de uma

televisão: três parcelas mensais de R$ 200,00 cada, ou seis prestações mensais de R$

Juros Simples

100

110

120

130

90

100

110

120

130

140

0 1 2 3 4 t

R$

0 1 2 3 +10,00 +10,00 +10,00

100,00 110,00 120,00 130,00

Page 38: dissertacao-leandro-vfinal

35

100,00 cada, ambas com entrada. Quando um indivíduo pretende adquirir o aparelho, qual

a sua melhor opção se ele aplica o seu dinheiro à taxa de 5% ao mês?

Resolução:

Vamos representar os pagamentos no eixo das setas e determinar o valor dos dois

conjuntos de pagamentos na mesma época, por exemplo, na época 2:

Conclusão: a 2ª opção é melhor.

Para ilustrar como este método potencializa a diversidade de raciocínio, outra

possível resolução do mesmo problema, pode ser assim executado.

200

0

200

220,50 210,00 200,00

V1

+

1 2

. (1,05) . (1,05) 2

100

0

100

86,38 90,70 95,24 110,25 105,00 100,00

V2

+

1 3

. (1,05) . (1,05) 2

2 4 5

100 100 100

÷÷÷÷ (1,05) 3

÷÷÷÷ (1,05) 2

÷÷÷÷ (1,05)

1a OPÇÃO 2a OPÇÃO

Valor da 1a prestação na data 2:

200 . (1,05)2 = 220,50

Valor da 2a prestação na data 2:

200 . (1,05) = R$ 210,00

Valor da 3a prestação na data 2:

R$ 200,00

Valor total na data 2:

V1 = 220,50 + 210 + 200

V1 = R$ 630,50

Valor da 1a prestação na data 2:

100 . (1,05)2 = 110,25

Valor da 2a prestação na data 2:

100 . (1,05) = R$ 105,00

Valor da 3a prestação na data 2:

R$ 100,00

Valor da 4a prestação na data 2:

100 ÷ (1,05) = 95,24

Valor da 5a prestação na data 2:

100 ÷ (1,05)2 = 90,70

Valor da 6a prestação na data 2:

100 ÷ (1,05)3 = 86,38

Valor total na data 2:

V1 = 110,25 + 105 + 100 + 95,24 + 90,7 + 86,38

V1 = R$ 587,57

Page 39: dissertacao-leandro-vfinal

36

Resolução: Vamos partir de um mesmo valor, maior ou igual à soma das prestações,

e representar os pagamentos no eixo das setas. Nesse caso, a melhor opção será aquela em

que restar mais dinheiro. O resto da 1ª opção ocorrerá na data 2, mas, como só podemos

comparar valores na mesma data, este resto deverá ser capitalizado até a data 5, para então

poder ser comparado com a 2ª opção:

1ª opção:

Nesta opção, após pagar todas as prestações, restam R$ 35,89 na data 5.

2ª opção:

Nesta opção, após pagar todas as prestações, restam R$ 85,58 na data 5.

Conclusão: A 2ª opção é melhor.

0 1 3 2 4 5

400,00

600,00

200,00 –

(1,05)

420,00

200,00 –

220,00 31,00

231,00

200,00 –

(1,05)

32,55 34,18 35,89

. (1,05) . (1,05) . (1,05)

Data

0 1 3 2 4 5

500,00 425,00 346,25

600,00

100,00 – 525,00

100,00 –

. (1,05)

446,25

100,00 –

. (1,05)

363,56

100,00 –

276,74

100,00 –

185,58

100,00 –

. (1,05) . (1,05) . (1,05)

263,56 176,74 85,58

Data

Page 40: dissertacao-leandro-vfinal

37

Assim, com a prática de operações financeiras os alunos do Ensino Médio se

adaptam à realidade atual, onde a as operações de crédito e de investimento tornam-se cada

vez mais corriqueiras. Faz-se necessário, portanto, a democratização do conhecimento,

onde o sujeito passa a ter um domínio sobre o saber, tornando possível desencadear uma

prática transformadora.

Quanto ao aprendizado sobre sistema de crédito, o esforço desempenhado em sala de

aula, tem sido o de incutir no aluno atitudes como aprender a economizar e investir, apesar

dos livros didáticos em seu conteúdo não abordar com clareza o sistema de crédito voltado

para o consumo consciente, onde a criança e o jovem devem aprender a lidar de forma

racional com o dinheiro na vida adulta. E, para isso, torna-se relevante que o Professor

conheça o perfil dos alunos, o entendimento da situação financeira não só do mesmo, como

também de sua família, além do nível de educação de seus pais.

De certa forma, através do questionário aplicado aos alunos do Ensino Médio tanto

das escolas públicas e privadas no município de Volta Redonda/RJ, com intuito de avaliar

de que forma eles utilizam as operações financeiras e sistemas de créditos no seu cotidiano,

observamos que a maioria não possui uma educação financeira na base familiar e, que as

famílias se encontram endividadas, sem controle financeiro, sem aplicações em poupança,

demonstrando despreparo para lidar com dinheiro. Através dessa investigação avaliamos o

nível de educação financeira dos alunos.

Segundo Trigueiro (2005) os economistas recomendam que os estudantes tenham

pelo menos um ano de base financeira na escola, pois acreditam que não há esse tipo de

orientação familiar.

[...] grande parte das famílias não tem educação financeira e não sabe transmitir isso para seus filhos. Por isso mesmo é fundamental que se aprenda sobre finanças na escola, pois o jovem vira um agente que leva a informação para casa e acaba educando a família [...] (TRIGUEIRO, 2005, p.31).

Mediante o exposto, pode-se dizer que a Matemática Financeira articulada à

educação para o consumo torna-se relevante por vários motivos: contribuição no

desenvolvimento de um olhar mais amplo e indagador, que conduz ao raciocínio crítico em

situações cotidianas, como operações de crédito e investimento; auxílio na formação do

cidadão consciente, pois a medida que aumenta a capacidade de análise em situações

financeiras, como decidir entre comprar à vista ou a prazo, identificar descontos em

Page 41: dissertacao-leandro-vfinal

38

sistemas de financiamento, estimar o crescimento do capital investido, comparar o valor do

que é anunciado e o que de fato é cobrado em compras a prazo, dentre outros, o

consumidor tem condições mais efetivas de exercer a sua cidadania, tendo mais clareza dos

seus direitos por saber a Matemática envolvida nessas situações.

3.2 O que e como aprenderam na escola, em Matemática, sobre Operações Financeiras e

Sistema de Crédito?

Nesse capítulo objetivamos trazer a reflexão sobre o aprendizado dos alunos a

respeito do ensino da Matemática no Ensino Médio, pois, as operações financeiras e

sistema de crédito fazem parte do nosso dia a dia. E, nessa variável, dentro das minhas

possibilidades de observação, como professor de Matemática, posso dizer que o nível de

aprendizado em operações financeiras e sistema de crédito, os alunos não dominam os

conceitos básicos, como também não os aplicam de maneira razoável, no seu dia a dia.

De certa forma, os alunos compreendem que os saberes escolares devem, em um

dado momento da sua vida, interferir no seu cotidiano, que a relação com o dia a dia não

deve ser o único motivo para se elencar os conteúdos de Matemática, considerando ser

uma função importante na sua preparação para o mundo do trabalho e para o Ensino

Superior, ou seja, para um momento futuro, o que o remete para além do seu cotidiano

atual.

Observou-se também, que os alunos já reconhecem a Matemática Financeira, pois,

quando não estão diretamente inseridos nos sistemas de crédito, seus pais o estão.

Outro aspecto observado nos alunos do Ensino Médio foi à visão da poupança para

uma vida mais estabilizada, apesar do domínio do conceito não implicar necessariamente

em sua aplicação prática, a consciência quanto à necessidade de poupar existe. Em sala de

aula, pude observar que quando se refere à rolagem de dívidas de cartão de crédito a

aplicação prática, a visão dos alunos do Ensino Médio encontra-se coerente com o conceito

correto, porque existe a consciência sobre a existência de custos em uma dívida, além do

valor devido em si.

Page 42: dissertacao-leandro-vfinal

39

Assim, pode-se dizer que o pouco conhecimento sobre finanças aprendidos no

Ensino Médio influencia negativamente na qualidade da tomada de decisões financeiras

dos alunos, pois a Matemática está inserida no cotidiano do ser humano.

Para que os alunos desenvolvam o gosto pela Matemática torna-se necessária a

contribuição do professor para que isto ocorra, ou seja, propiciar situações motivadoras,

desafiadoras e interessantes de ensino, nas quais os alunos possam interagir com o objeto

de estudo e, acima de tudo, possam construir significativamente o conhecimento, chegando

às abstrações mais complexas. Provavelmente, experiências pedagógicas desse tipo

permitirão o desenvolvimento de atitudes positivas com relação à Matemática.

A Matemática Financeira pode ser um instrumento no desenvolvimento de atitudes

positivas nos alunos para com a Matemática já que ela remete automaticamente a um

ensino carregado de significados para o aluno.

A articulação de conteúdos matemáticos, a contextualização do tema, bem como a

utilização de recursos tecnológicos no ensino da Matemática Financeira são fatores de

relevante importância no ensino desta área da Matemática, cuja abordagem, nessa

Dissertação, encontra-se contemplados no item seguinte, no Relato da Experiência.

Page 43: dissertacao-leandro-vfinal

40

4 O ENSINO DA MATEMÁTICA FINANCEIRA NO ENSINO MÉDIO

A Matemática Financeira contém uma dimensão sócio-política-pedagógica que

instiga discussões e questionamentos acerca de algumas situações-problema fazendo com

que o aluno pense não somente em como calcular o lucro de um investimento, mas

principalmente, o que é um investimento e com que objetivos esta operação financeira foi

criada.

Em documento publicado pelo MEC, Orientações Curriculares para o Ensino Médio,

volume 2 (2006), encontram-se conteúdos básicos organizados em quatro blocos: Números

e operações; Funções; Geometria; Análise de dados e probabilidade. O trabalho com

números e operações proporciona aos alunos uma diversidade de situações que os capacita

a resolver problemas do cotidiano, tais como: operar com números inteiros e decimais

finitos; operar com frações, em especial com porcentagens; fazer cálculo mental e saber

estimar ordem de grandezas de números; usar calculadora e números em notação científica;

resolver problemas de proporcionalidade direta e inversa; interpretar gráficos, tabelas e

dados numéricos veiculados nas diferentes mídias, bem como, ler faturas de contas de

consumo de água, luz e telefone.

Assim, pode-se dizer que o trabalho com esse bloco de conteúdos, números e

operações, irá contribuir para que o aluno, ao final do Ensino Médio, seja capaz de decidir

sobre as vantagens/desvantagens de uma compra à vista ou a prazo; avaliar o custo de um

produto em função da quantidade; conferir se estão corretas informações em embalagens

de produtos quanto ao volume; calcular impostos e contribuições previdenciárias, e até

mesmo avaliar modalidades de juros bancários.

Morgado et al. (2005) ressaltam que são poucas as obras literárias que relacionam a

Matemática Financeira com situações do dia a dia do aluno ou com outros assuntos da

Matemática como Progressões e Funções. Portanto, torna-se relevante abordar essa teoria

no cotidiano de todas as pessoas que se servem ou virão a servir o sistema bancário e o

comércio. Após a estabilização da economia nacional em virtude do plano real, as pessoas

passaram a adquirir financiamentos e empréstimos com maior frequência o que justificaria

uma sólida aprendizagem e futura aplicação da Matemática Financeira.

Page 44: dissertacao-leandro-vfinal

41

Segundo Parente (2005) de acordo com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação

(1996), o professor tem autonomia suficiente para preparar com responsabilidade as aulas

que serão ministradas, não podendo deixar de aplicar com consciência o conteúdo do

currículo sugerido pelas escolas. Os conteúdos tais como: regime de juros simples;

progressão geométrica, quando o regime for o de juros compostos; descontos; prazos e

amortizações são conteúdos que formam a base principal da Matemática Financeira, e

devem ser abordados com especial atenção pelo professor.

O aluno do Ensino Médio possui maturidade suficiente para entender os conteúdos

mencionados. Assim como a estatística e a probabilidade, a Matemática Financeira é

subárea da Matemática aplicada, especialmente ligada às aplicações. Por isso é importante

que o aluno perceba que as definições, demonstrações, encadeamentos conceituais e

lógicos tenham a função principal de construir novos conceitos e estruturas a partir de

outros.

Os Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Médio consideram relevante

estabelecer conexões entre diferentes temas matemáticos e o conhecimento de outras áreas

do currículo.

[...] a Proposta Curricular para essa modalidade de ensino recomenda que a atividade Matemática integre, equilibradamente, dois papéis indissociáveis: o papel formativo, de desenvolver capacidades intelectuais para a estrutura do pensamento e o papel funcional, voltado para a aplicação dessas capacidades na vida prática, na resolução de problemas nas diferentes áreas do conhecimento [...] (Brasil, 2002, p. 12).

Com isso, o aluno se apropriará de conhecimentos que lhe permitam exercer maior

autonomia e criticidade nas situações que vivenciará no seu cotidiano. Nesse sentido, os

aspectos formativos na educação Matemática na infância e na adolescência têm, em boa

medida, uma referência no futuro, naquilo que os alunos virão a ser, enfrentarão,

conhecerão.

4.1 Operações Financeiras e Sistema de Crédito

Com a proposta de trabalhar as atividades voltadas para as operações financeiras, o

educador deve estar atento à adoção de novas práticas educacionais buscando aprimorar os

Page 45: dissertacao-leandro-vfinal

42

conhecimentos e inovar as metodologias de ensino que vise à melhoria da educação e

aprimoramento de sua competência.

O desenvolvimento tecnológico e a globalização trouxeram novas perspectivas de

um mundo mais atraente. A sociedade passa a exigir do cidadão não só conhecimentos

específicos, mas principalmente novas maneiras de organizar o pensamento e de saber lidar

com dados estatísticos, tabelas e gráficos.

De acordo com Andrini & Vasconcelos (2004) uma abordagem eficaz no ensino da

Matemática Financeira é mostrar para o aluno, que a matéria não é um conjunto de

fórmulas para o cálculo de juros, mas sim um método de decisão entre alternativas de

investimento e financiamento, onde a abordagem das Progressões Geométricas enfatiza o

conceito de taxa de crescimento constante.

[...] é muito mais interessante para o aluno aprender Progressões Geométricas assim do que a simples ideia de uma sequência com quociente de termos constantes. O estudo e o desenvolvimento da Matemática Financeira estão vinculados ao sistema econômico. O mundo, hoje, está de alguma forma ligado à economia de mercado, de modo que é importante termos noções sobre esse estudo matemático para melhor compreender os mecanismos das operações financeiras [...] (ANDRINI & VASCONCELOS, 2004, p.36).

Os juros são uma espécie de compensação por usar o dinheiro alheio. Os bancos

pagam para ter o nosso dinheiro usado por eles (poupança), e nós pagamos quando usamos

o dinheiro deles (financiamento e empréstimos).

A pretensão é fazer com que o aluno possa analisar e comparar algumas situações de

ofertas ou aparentes ofertas, situações vantajosas e desvantajosas para o consumidor, pois

um dia ele poderá estar tanto numa situação como na outra.

O ensino / aprendizado sobre empréstimos, juros e taxas de juros constitui um

instrumento matemático de contextualização que significa aproveitar ao máximo as

relações existentes entre esses conteúdos e o contexto pessoal ou social do aluno, de modo

a dar significado ao que está sendo aprendido, levando-se em conta que todo conhecimento

envolve uma relação ativa entre o sujeito e o objeto do conhecimento. Com isso, a

contextualização ajuda a desenvolver no aluno a capacidade de relacionar o aprendido com

o observado, e a teoria com suas consequências e aplicações práticas. O Professor poderá

conscientizar o aluno da importância na sua vida futura o conhecimento desses aspectos.

Page 46: dissertacao-leandro-vfinal

43

O sistema de crédito é baseado em valores de produção na economia, e com isso, a

circulação do dinheiro começa quando o dinheiro é emitido. Parente (2005, p.89) ressalta

que: “[...] existem muitas formas de emitir dinheiro, uma delas, a mais clássica, é quando

um governo ou outro órgão imprime moedas e bilhetes, e gasta pagando por produtos ou

serviços da sociedade [...]”.

Esta forma de emissão de dinheiro é importante para o mundo capitalista; apenas 3%

do dinheiro em circulação são moedas e bilhetes. Porém, existem 97% de dinheiro virtual,

em contas correntes, cartões de crédito, etc.

Para compreender melhor o sistema de crédito, Parente (2005) ressalta ainda que:

[...] o banco cria dinheiro do nada, mas necessita do dinheiro da população para dar cobertura a esse dinheiro. “Mas nós pagamos juros ao banco!” Isto é um conhecimento estratégico importante: os bancos são tão dependentes da economia real (para dar cobertura aos créditos) quanto à economia real é dependente do sistema financeiro (para a concessão dos créditos) Esse ponto de vista pode ser utilizado para os próprios valores como garantia para a própria moeda [...] (PARENTE, 2005, p.91).

No sistema de crédito é importante que cada indivíduo faça uma análise responsável

dos riscos financeiros, sempre que necessite adquirir bens. É fundamental que o

consumidor esteja ciente dos seus direitos e dos seus deveres, bem como, da natureza dos

riscos e suas implicações.

Como o sistema econômico atual está baseado na criação de dinheiro com base em

crédito, o modo mais importante pelo qual a quantidade de dinheiro cresce é a concessão

de novos créditos. Mas isso também implica que quanto maior a quantidade de dinheiro,

tanto maior a disponibilidade de crédito e, portanto, maior o volume total de dívidas.

Pode-se dizer que todos os conteúdos da Matemática Financeira como os juros

simples e compostos, descontos, capitalização, amortização, etc. sempre recairão em dois

conceitos primários:

Page 47: dissertacao-leandro-vfinal

44

• Fatores de Correção

O fator de correção, de aumento, de redução, aumento percentual e redução

percentual, são processos de construção dialógica que se transformam em instrumentos

para compreensão do aluno na realidade do dia a dia. Assim, alguns exemplos serão

demonstrados para uma melhor compreensão desses fatores.

Exemplo 1:

Uma pessoa tem que aumentar os preços de todos os produtos de um setor em 32,5%.

Qual o fator de aumento? Quanto passará a custar uma mercadoria do setor, que custava

R$ 60,00?

Solução

Fator de aumento = 1,325

Novo preço = 1,325 x 60,00 = 79,50

Conclusão: O fator 1,325 é obtido por 100% + 32,5% = 132,5% ou 1,325.

Exemplo 2:

Carlos, em Setembro, obteve uma correção salarial de 35%, sobre o salário de

Agosto, passando a receber R$ 337,50. Quanto recebia em Agosto?

Solução

A x 1,35 = 337,50 A = 337,50:1,35 = 250,00

Logo, em agosto Carlos recebia R$ 250,00

Page 48: dissertacao-leandro-vfinal

45

Exemplo 3:

Um remédio estava custando R$ 34,00, e passou a custar R$ 47,00. Qual o fator e

qual o percentual de aumento?

Solução

34,00 x F = 47,00

F = 47:34,00 = 1,3824 (Fator de correção)

1,3824 x 100 – 100 = 38,24% (Aumento Percentual)

Exemplo 4:

Vamos supor que, no exemplo anterior, o remédio custasse R$ 47,00 e sofresse uma

redução de preço para R$ 34,00. Qual seria o fator de redução e o percentual de redução

correspondente?

Solução

47 x F = 34

F = 34 : 47 = 0,7234 (Fator de Redução)

0,7234 x 100 = 72,34% (Valor Final)

100% - 72,34% = 27,66% (Redução Percentual)

Os exemplos acima citados encontram-se disponíveis em

www.magiadamatematica.com

Conclusão: Fatores de correção

F = (100 + k):100

(fator de aumento de k%)

F = (100 - k):100

(fator de redução de k%)

Page 49: dissertacao-leandro-vfinal

46

Exemplo: Seja uma taxa de 3,5%

Taxa percentual = 3,5% ⇒ taxa unitária = 0,035

⇒ fator de aumento = 1,035

⇒ fator de redução = 0,965

• Valor do dinheiro no tempo

Outros exemplos demonstram aumentos e reduções sucessivos, onde um valor

monetário sempre ficará multiplicado ou dividido por (1 + i)n ou Fn, conforme se desloque

n períodos para a direita ou para a esquerda na linha do tempo.

Exemplo 1:

Qual o aumento total, acumulado, gerado por 3 aumentos sucessivos de 12%?

Solução

P P x 1,12 (P x 1,12) x 1,12

((P x 1,12) x 1,12) x 1,12 = P x 1,123

P x 1,123 = P x 1,4049

Logo, o aumento total acumulado foi de 40,49%

Aumentos ou reduções sucessivos – Multiplica-se os respectivos fatores de correção.

Exemplo 2:

Certa classe trabalhadora conquistou, no mês de julho de 2005 (em dissídio coletivo),

um reajuste salarial de 15% sobre os salários de janeiro de 2005, descontadas as possíveis

antecipações. Ocorre que eles receberam, em junho de 2005 uma antecipação de 8%, sobre

os salários de janeiro. Qual o valor de reajuste complementar, devido a tal classe

trabalhadora, sobre os salários de junho de 2005?

+ 12% + 12% + 12%

Page 50: dissertacao-leandro-vfinal

47

Solução

Verifique que se trata de um caso de aumentos sucessivos. O segundo aumento (a

determinar), sobre o primeiro (antecipação de 8%), terão de dar um total acumulado de

15%.

JAN.05 JUN.05 = 15%

1,08 x F = 1,15, logo, o fator desconhecido será:

F = 1,15 : 1,08 ≅ 1,065

Conclusão: Deverão receber um reajuste complementar de 6,5%, aproximadamente.

www.magiadamatematica.com

Assim, como aumentos sucessivos eram calculados pelo produto dos fatores de

correção, as subtrações geradas por taxas sucessivas devem ser calculadas através da

divisão dos respectivos fatores de correção.

Olhando por este ângulo, observa-se que um sistema de endividamento que gira

sobre o crédito em sua grande maioria advêm dos financiamentos, que por sua vez, tem

como base a Tabela Price.

4.1.1 Financiamentos com prestações fixas (Tabela Price)

Conforme Melo (2003, p.3) “[...] a Tabela Price é um sistema de amortização criado

no século XVIII pelo filósofo e matemático inglês Richard Price [...]”. Por ser um sistema

de fatores, calcula-se diante de simples operações Matemáticas de multiplicação, o valor da

prestação, o valor de cada parcela de juros e amortização e o saldo devedor, a qualquer

momento durante a evolução da série de pagamentos.

No Brasil, no final de 2004, evidenciou-se um significativo aumento das operações

de crédito com base na Tabela Price, dentre elas o empréstimo consignado para

aposentados e pensionistas do INSS, que teve início nesse mesmo ano. Segundo Melo

(2003):

+ 8% + X%

Page 51: dissertacao-leandro-vfinal

48

[...] a taxa de retorno obtida pelas instituições financeiras nas operações de consignação de crédito do INSS é a mesma obtida nas operações de crédito consignado para outras pessoas físicas, no entanto, encontram-se embutidas nessas operações, o risco biométrico, considerado como um possível fator de inadimplência, e os resultados evidenciam que a taxa de retorno obtida por essas instituições é maior nas operações de crédito para os beneficiários do INSS [...] (p.73).

Com a elaboração da Tabela Price de fatores para diferentes situações de taxas e de

prazos, uma pessoa leiga passa a ter acesso à evolução de uma operação de crédito e até

mesmo ao arrendamento mercantil (Leasing).

Compreende-se, portanto, que a Tabela Price embute os juros contratados no valor

da prestação inicial em todas as operações de crédito e arrendamento mercantil cujo prazo

de pagamento seja sucessivo, ou seja, de dois meses ou mais, havendo lançamento mensal

de juros sobre juros.

De um modo geral, os financiamentos de crédito direto ao consumidor são feitos com

uma entrada e a parte restante a financiar, que corresponde à diferença entre o preço a vista

e a entrada.

Um financiamento é pago em prestações, que podem ser fixas ou reajustáveis. Se as

prestações forem fixas, ou seja, de mesmo valor nominal, pode-se usar para o seu cálculo o

chamado modelo básico, ou seja, com base nos fatores da Tabela Price.

Exemplo 1:

O fluxo de caixa do modelo básico, para financiamento de um produto cujo preço à

vista é Pv, a entrada E é o valor a financiar F = Pv - E, será:

Essa configuração do fluxo de caixa mostra que F é a soma, na data focal zero dos

valores atuais de todas as prestações. Transportando estas prestações para a data focal,

temos:

F

1 2 3 n

P P P P

Page 52: dissertacao-leandro-vfinal

49

F = P + P + P + .... + P (1 + i) (1 + i)2 (1 + i)3 (1 + i)n

F = P 1 + 1 + 1 + .... + 1 (1 + i) (1 + i)2 (1 + i)3 (1 + i)n

Observa-se que entre os colchetes que se tem a adição dos termos de uma progressão

geométrica de razão e com n termos. Assim, após algumas operações concluí-se

que:

Onde:

P = valor nominal de cada prestação

n = número de prestações

F = valor a financiar (F = PV – E)

i = taxa de juro

Podemos também demonstrar da seguinte maneira:

1

1 + i

(1 + I)n - 1

i (1 + i)n

F = P .

0 1 2 3 n - 2 n - 1 n

P P P P P P

P (1 + i)-1

P (1 + i)-2

P (1 + i)-3

P (1 + i) – (n-2)

P (1 + i) – (n-1)

P (1 + i) –n

Page 53: dissertacao-leandro-vfinal

50

Logo:

F = P (1 + i)-1 + P (1 + i)-2 + P (1 + i)-3 + .... + P (1 + i) – (n – 2) + P (1 + i) – (n – 1) + P (1 + i) –n

Colocando P em evidência, temos:

F = P “[(1 + i)-1 + (1 + i)-2 + (1 + i)-3 ...... + (1 + i)– (n – 2) + (1 + i)– (n – 1) + (1 + i) –n]”

Ou:

F = P “[(1 + i) –n + (1 + i)– (n – 1) + (1 + i)– (n – 2) ........ + (1 + i)-3 + (1 + i)-2 + (1 + i)-1 ]”

A expressão que se encontra dentro dos colchetes é a soma dos termos de uma P.G.,

na qual:

a1 = (1 + i)-n

an = (1 + i)-1

a+ = 1 + i

Logo:

Sn =

Multiplicando ambos os termos da fração resultante por (1 + i)n, temos:

Sn =

= (1 + i)-1 (1 + i) – (1 + i)-n

1 + i – 1 =

(1 + i)-0 – (1 + i)-n

i

1 – (1 + i)-n

i

(1 + i)n – (1 + i)-n (1 + i)n

i (1 + i)n

Page 54: dissertacao-leandro-vfinal

51

Daí:

Sn =

Temos, então:

F = P .

Exemplo 2:

Pedro tomou um empréstimo de 300 u.m. a juros de 15% a.m. Dois meses após,

Pedro pagou 150 u.m. e, um mês após esse pagamento, Pedro liquidou seu débito. Qual o

valor desse último pagamento?

Exemplo 3:

Pedro tem duas opções de pagamento na compra de um eletrodoméstico: 3

prestações mensais de 50 u.m. cada, ou seis prestações mensais de 30 u.m. cada. Se o

dinheiro vale 20% ao mês para Pedro, qual é a melhor opção que Pedro possui?

Logo, a melhor opção é em seis prestações.

Na época 2, Op1 = 50 (1+0,2)2 + 50(1 + 0,2) + 50 = 182

50 50

1 2 0

50

Op1 30 30 30 30 30

1 2 3 0 4 5

30

Op2

Op2 = 30(1 + 0,2)2 + 30(1 + 0,2) + 30 ≅ 172 + 30

(1 + 0,2) +

30

(1 + 0,2)2 +

30

(1 + 0,2)3

(1 + 0,15)2

300 = 150 +

P

(1 + 0,15)3

⇒ P ≅ 284

300

0

150 P

1 2 3 0

i (1 + i)n

(1 + i)n – 1

i (1 + i)n

(1 + i)n – 1

Page 55: dissertacao-leandro-vfinal

52

Exemplo 4:

Pedro tem três opções de pagamento na compra de vestuário:

a) à vista, com 30% de desconto;

b) Em duas prestações mensais iguais, sem desconto, vencendo a primeira 30 dias

após a compra;

c) Em três prestações mensais iguais, sem desconto, vencendo a primeira no ato da

compra.

Qual a melhor opção para Pedro, se o dinheiro vale, para ele, 25% ao mês? (atribuir

30 u.m.)

Exemplo 5:

Uma loja oferece duas opções de pagamento:

a) À vista, com 30% de desconto;

b) Em duas prestações mensais iguais, sem desconto, a primeira prestação sendo

paga no ato da compra.

Qual a taxa mensal de juros embutidos nas vendas a prazo? (Fixando o valor do bem

em 100 u.m.).

50 15

1 2 0

15

Op2

10 10

1 2 0

10

Op3 Op1

21

0

Op1 = 21

Op2 = 15 + 15 ≅ 21,6

1,25 (1,25)2

Op3 = 10 + 15 + 15 ≅ 24,4

1,25 (1,25)2

Op2

Op1

70

0

50 15

1 2 0

50

70 = 50 + 50 ∴ i = 1,5 ou 150%

(1 + i)

Page 56: dissertacao-leandro-vfinal

53

4.1.2 Sistema de crédito: Juros simples

De acordo com Sá (2005, p.68) “[...] os juros simples se caracterizam pelo fato de

que o valor que é acrescido ao valor inicial a cada período é sempre constante e

determinado por i . C0 [...]”. Dessa forma, caracteriza-se na sequencia dos montantes

obtidos, uma Progressão Aritmética, cuja razão é igual a i . C0.

Assim, pode-se dizer que i é a taxa unitária de juros simples ou taxa de crescimento

aritmético, ou seja, no final de n períodos, teremos um acréscimo de C0 . ni. Sendo assim,

o montante final de uma aplicação a juros simples, pode ser representado por:

M = C0 + C0 . ni = C0 . (1 + ni)

Vejamos alguns exemplos:

1) Qual o montante final de uma aplicação de R$ 5.000,00, a juros simples

contratados a 1,5% ao mês, por 10 meses?

Solução:

i = 0,015 C0 = 5000

n = 10 M = 5000 . (1 + 0,015 x 10) = 5000 x 1,15 = 5.750 reais.

Comentário:

Como se trata de juros simples, poderíamos ter calculado o ganho fixo mensal, que é

igual a 0,015 x 5000 = 75 reais, e multiplicar esse ganho pelo número de meses (10 x 75 =

750 reais de juros). Logo, teríamos que o montante será igual a 5000 + 750 = 5.750 reais.

Devemos incentivar a nossos alunos novas descobertas, para que eles não se sintam

presos ao uso de fórmulas, poderíamos inclusive, mostrar, após as suas tentativas que, o

que ocorreu nada mais foi que um acréscimo de 15% (1,5% x 10) aos 5.000 reais iniciais.

Isso corresponde ao fator de correção, estudado no início desse capítulo, que é igual a 1,15.

Page 57: dissertacao-leandro-vfinal

54

2) Qual a taxa mensal de juros simples que, em uma aplicação por 8 meses, elevou

um c apital de R$ 3.000,00 para R$ 3.780,00?

Solução:

3000 x (1+8i) = 3780

1 + 8i = 3780 : 3000 = 1,26

8i = 0,26 ou i = 0,26 : 8 = 0,0325 ou ainda 3,25% ao mês.

Comentário:

Novamente seria conveniente mostrar a nossos alunos (caso não percebam sozinhos)

que o que foi feito nada mais foi do que se obter o fator de correção correspondente a um

aumento de 3000 para 3870 reais, ou seja, 3780 : 3000 que é igual a 1,26. Esse fator

corresponde a uma taxa de 26% para os 8 meses da aplicação, logo, acarreta uma taxa de

3,25% ao mês.

Vale lembrar que no Brasil, praticamente não existe situações de juros simples, os

juros simples só é aplicado nas operações de descontos simples. Os bancos utilizam

descontos nas antecipações de pagamentos de títulos, imposto de renda, etc.

4.1.3 Sistema de crédito: Juros compostos

Sá (2005, p.73) ressalta que “[...] os juros compostos têm como taxa fixa i e o

processo de crescimento se inicia com o valor C0. Ao final de um período esse valor é

corrigido pela taxa i, ficando determinado por C0 . (1 + i) [...]”. Assim, cada valor é obtido

pelo anterior multiplicado pelo fator de correção (1 + i), o que caracteriza uma progressão

geométrica de razão (1 + i).

Mediante o exposto, podemos generalizar para n períodos, dizendo que o montante

M, de uma aplicação a juros compostos com taxa fixa i, ao período, durante n períodos,

pode ser obtido por:

M = C0 . (1 + i)n

Page 58: dissertacao-leandro-vfinal

55

De forma resumida, podemos dizer que um capital C está aplicado a juro composto,

num prazo de n períodos, se, no final de cada período, o juro produzido é incorporado ao

capital, passando também a render novos juros. Quando o juro é incorporado ao capital, no

final de cada período, dizemos que ocorreu uma capitalização. Logo, juros compostos =

juros capitalizados.

Exemplo:

Suponhamos que uma pessoa tome emprestada, a juro composto, a importância de

R$ 2.000,00, pelo prazo de 4 meses, sob taxa de 15% ao mês. Qual será o valor a ser pago

como juros, decorrido este prazo?

Solução:

2000 15% 15% 15% 15% M = ?

M = 2000 . 1,15 . 1,15 . 1,15 . 1,15 = 2000 . (1,15)4 = 2000 . 1,749 = 3.498,00

Juros pagos = 3.498,00 – 2.000,00 = R$ 1.498,00

Se a taxa fosse variável, o montante deveria ser calculado multiplicando-se o capital

inicial por todos os fatores de correção correspondentes às taxas periódicas (como acontece

nas cadernetas de poupança).

4.1.4 Gráfico comparativo: Juros simples X Juros compostos

Sá (2005, p.79) aponta para um exemplo onde o crescimento dos juros simples e

compostos relativos a um capital inicial de 100 reais, possui uma taxa de juros de 10% ao

mês. “[...] normalmente as pessoas têm a impressão de que os juros compostos, por serem

acumulativos, sempre superam os valores calculados a juros simples [...]”. Se analisarmos

com atenção o gráfico comparativo dos juros simples X juros compostos, observa-se que

nem sempre essa afirmação é verdadeira.

Page 59: dissertacao-leandro-vfinal

56

Gráfico comparativo dos juros simples X juros compostos

Fonte: Sá (2005, p.79)

No Gráfico acima, percebe-se que antes do primeiro período os juros simples têm

valores superiores aos valores correspondentes aos juros compostos.

Como confirmação, vejamos o cálculo dos juros obtidos pelos 100 reais do Gráfico

1, em 15 dias de aplicação (0,5 mês).

a) Cálculo dos juros simples – j = 100 x 0,5 x 0,1 = 5 reais

b) Cálculo dos juros compostos – j = 100 x (1,1)0,5 – 100 = 4,88 reais

Verifica-se, portanto, nesse caso, como o prazo foi inferior a 1 (um) período de

capitalização (no caso mês), o valor do juro simples foi maior que o valor obtido a juro

composto.

Observação

Pelo que vimos anteriormente, durante o estudo das Progressões Aritméticas e

Geométricas, temos mais uma excelente oportunidade de enfocar tais assuntos a partir da

Matemática Comercial e Financeira. Os problemas de juros compostos podem ainda nos

levar à resolução de equações exponenciais e cálculos com logaritmos.

Quando a incógnita do problema for o tempo ou número de períodos da aplicação,

deve-se mostrar, além do uso das tábuas financeiras, além do uso da calculadora e da

planilha Excel, a possibilidade de resoluções através dos logaritmos. Como exemplo tem-

se:

Durante quantos meses (aproximadamente), um capital qualquer, aplicado a juros

compostos com taxa efetiva de 2% ao mês fica com o seu valor duplicado?

Dados: log2 ≅ 0,301 e log (1,02) ≅ 0,0086

0

10

20

30

40

50

1 2 3 4 5

JS

JC

Page 60: dissertacao-leandro-vfinal

57

Solução:

Pode-se, nesse caso, considerar o capital como igual a 1 e o montante correspondente

como igual a 2. Teremos então:1 . (1,02)n = 2

n . log (1,02) = log 2, logo teremos:

log2

0,301

log(1,02) 0,0086

4.1.5 Explorando a Matemática Financeira no cotidiano das pessoas: questões

comentadas

Por ser a Matemática Financeira utilizada na análise de algumas alternativas de

investimento, financiamento ou empréstimos e, empregar procedimentos matemáticos para

simplificar as operações, objetivou-se nesse capítulo utilizar quatro exercícios com

questões de vestibulares por ser uma constância na vida dos alunos que se submetem ao

Pré-vestibular para ingressarem nas Universidades.

1) (UFRJ/2005). As taxas mensais de inflação nos meses de maio, junho, julho e

agosto de 2004 estão representadas no Gráfico 2.

- Taxas mensais de Inflação

Fonte: Sá (2005, p.145).

n = = = ≅ 35 meses

INFLAÇÃO

Tax

a m

ensa

l m

edid

a p

elo

Ín

dic

e d

e P

reço

s ao

C

on

sum

ido

r A

mp

la (

IPC

A –

IBG

E)

Page 61: dissertacao-leandro-vfinal

58

a) Indique se a taxa de inflação de agosto foi inferior, igual ou superior à do mês de

julho;

b) De julho para agosto, a variação da taxa foi de 24% da taxa de julho. Determine a

taxa de inflação de agosto (não arredonde a resposta).

Solução:

a) O próprio gráfico indica que houve uma queda da taxa de inflação;

b) Se a variação (redução) foi de 24%, sabemos que o fator de redução será 0,76. Logo

a taxa de agosto será 0,91 x 0,76 = 0,6916%.

Esse exemplo justifica uma introdução sobre fatores de correção (aumento e

redução).

2) (FUVEST/2002). Carlos, Luís e Sílvio tinham, juntos, 100 mil reais para investir

por um ano. Carlos escolheu uma aplicação que rendia 15% ao ano. Luís, uma que rendia

20% ao ano. Sílvio aplicou metade de seu dinheiro em um fundo que rendia 20% ao ano,

investindo a outra metade numa aplicação de risco, com rendimento anual pós-fixado.

Depois de um ano, Carlos e Luis tinham juntos 59 mil reais; Carlos e Silvio, 93 mil reais;

Luís e Sílvio, 106 mil reais.

a) Quantos reais cada um tinha inicialmente?

b) Qual o rendimento da aplicação de risco?

Solução:

Vamos montar um sistema com quatro equações e quatro incógnitas, sendo que essas

incógnitas representam os investimentos (em reais) de Carlos (C), Luís (L) e Sílvio (S) e o

fator de correção correspondente à taxa da aplicação de risco de Sílvio (F).

Page 62: dissertacao-leandro-vfinal

59

C + L + S = 100 (mil reais) (A)

1,15C + 1,2L = 59 (B)

1,15C + 1,2 + F . = 93 (C)

1,2L + 1,2 + F . = 106 (D)

Resolvendo o sistema, teremos: L = 30 mil; C = 20 mil; S = 50 mil e F = 1,6. Como

obtivemos F = 1,6 conclui-se que a aplicação de risco teve um rendimento de 60% nesse

ano.

3) (PUC-RJ/2002). Uma indústria opera com um custo fixo de produção, sem contar

os impostos de 100.000 reais por ano e tem de pagar impostos sobre 30% de seu

faturamento bruto. Quanto deve faturar para que seu lucro no ano seja de, no mínimo,

40.000 reais?

Solução:

Se a indústria paga 30% de impostos sobre o faturamento, é claro que opera com

70% desse faturamento (V), sendo assim, teremos:

0,7 V – 100 000 = 40 000

0,7 V = 140 000

V = 140 000 : 0,7

V = 200 000

Ou seja, a Indústria deverá ter um faturamento mínimo de R$ 200.000,00.

4) (UNICAMP/2004). A cidade de Campinas tem 1 (um) milhão de habitantes e

estima-se que 4% de sua população viva em domicílios inadequados. Supondo-se que, em

média, cada domicílio tem quatro moradores, pergunta-se:

S 2

S 2

S 2

S 2

Page 63: dissertacao-leandro-vfinal

60

a) Quantos domicílios com condições adequadas têm a cidade de Campinas?

b) Se a população da cidade crescer 10% nos próximos 10 anos, quantos domicílios

deverão ser construídos por ano para que todos os habitantes tenham uma moradia

adequada ao final desse período de 10 anos? Suponha ainda que quatro moradores

por domicílio, em média.

Solução:

Essa questão, mesmo não sendo específica de Matemática Financeira, envolve fator

de crescimento e permite o uso dos nossos fatores de correção.

a) Quantidade atual de domicílios estimada = 1 000 000 : 4 = 250 000. Desse total,

estão em condições adequadas 96%, ou seja 0,96 x 250 000 = 240 000 domicílios.

b) Com o crescimento de 10% (nos próximos dez anos) a população estimada será de

1,10 x 1.000.000 = 1.100.000 habitantes. Logo, de acordo com a mesma hipótese de

quatro habitantes por domicílio, serão necessárias 275.000 moradias adequadas. Para

atender a essa demanda, há necessidade de se construir 275.000 – 240.000 = 35.000

moradias adequadas, nos próximos 10 anos. Em média, será necessário construir

35.000 : 10 = 3.500 moradias adequadas por ano (SÁ, 2005, p.147).

4.2 Operações Financeiras e Sistema de Crédito X Direitos do Consumidor

O direito do consumidor é protegido pela Carta Política de 1988, que ficou sob a

proteção jurídica do consumidor, incorporando em suas normas programáticas as recentes

tendências do direito público moderno, consubstanciada no inciso XXXII do artigo 5º, in

verbis: “[...] o Estado promoverá, na forma da lei, a defesa do consumidor [...]” (Rêgo &

Rêgo, 2007, p.102). Esse passo importante se consagrou na Lei nº 8.078, de 11 de

setembro de 1990, que ficou conhecida como o Código de Defesa do Consumidor.

Este documento legal, tão criticado, quanto aclamado, constitui-se em poderosa

ferramenta de cidadania que estabelece normas de proteção e defesa daquele que se

reconheceu como sendo a parte vulnerável em uma relação de consumo: o consumidor.

Page 64: dissertacao-leandro-vfinal

61

Estabelece também normas de ordem pública e interesse social, de onde se percebe a

dimensão coletiva que se pretendeu dar à nova lei; e regras e princípios adequados à

realidade presente, ao momento de relevantes transformações socioeconômicas operadas

em todo o mundo.

A Constituição da República de 1988 elevou à condição de princípios constitucionais

a proteção jurídica aos interesses do consumidor. Nela, o Código de Proteção e Defesa do

Consumidor tem as suas origens expressas no artigo 5º, que diz respeito aos direitos e

garantias fundamentais do cidadão. Trata-se de cláusula pétrea, a indicar o intuito do

legislador no trato da matéria.

Adiante, em seu artigo 170, inciso V, eleva a defesa do consumidor a princípio geral

da ordem econômica, atribuindo a tal princípio, portanto, o mesmo status conferido aos

princípios da soberania nacional, da propriedade privada, da livre concorrência, entre

outros. Os direitos do consumidor, assim determinados, são direitos constitucionalmente

assegurados aos cidadãos (RÊGO & RÊGO, 2007).

A preocupação do Estado em implementar esses princípios revela-se no artigo 48,

dos Atos das Disposições Constitucionais Transitórias (1988), onde o legislador

constituinte, de maneira clara, estabeleceu um prazo para que o legislador ordinário

elaborasse o Código de Defesa do Consumidor.

Não se discute, assim, que o Código de Proteção e Defesa do Consumidor, posto que

lei ordinária tenha nítida vocação constitucional, uma vez que resulta de expressa

determinação e para dar eficácia a disposições da Constituição da República. Sua principal

finalidade, não é privilegiar este ou aquele sujeito que participa da relação jurídica de

consumo. Ao revés, visa a estabelecer um equilíbrio entre esses mesmos sujeitos e, na

medida em que reconhece a vulnerabilidade em sentido amplo do consumidor, coloca ao

seu dispor institutos e instrumentos que lhe garantirão as efetivas e integrais prevenção e

reparação dos danos que lhe tenham sido causados pelo fornecedor de produtos ou serviços

(RÊGO & RÊGO, 2007).

Nesse sentido, o princípio maior da igualdade entre todos, está na igualdade de

oportunidades e igualdade de tratamento. Com isso, a constatação do forte desequilíbrio da

relação contratual entre fornecedor e consumidor impôs a implementação de medidas que,

a nosso ver, devem ser estendidas a toda e qualquer relação jurídica.

Page 65: dissertacao-leandro-vfinal

62

A Lei nº 8.078/90, em verdade, tem vocação constitucional, que materializa

princípios contidos dentre os direitos e garantias fundamentais do cidadão (art. 5º, XXXII,

CR/88) e os da ordem econômica e social (art. 170, V, CR/88).

Suas normas, como dito, são de ordem pública e de interesse social versando, assim,

sobre direitos indisponíveis, a ensejar a sua observância de ofício. Recaem sobre um tema

que se considera direito e garantia fundamental do cidadão. Visam à equiparação dos

sujeitos que integram uma relação jurídica de consumo, visto reconhecer a vulnerabilidade

e a hipossuficiência, lato sensu, do consumidor diante do fornecedor, em um mundo

globalizado e em uma sociedade absolutamente tomada por relações contratualizadas

(RÊGO & RÊGO, 2007).

[...] a expressão defesa do consumidor posta no texto constitucional, em três oportunidades, tem uma abrangência maior do que as da sua significação etimológica e não possui significado autônomo. Ela está vinculada a um momento histórico vivido pela Nação que, ao ser analisado pelo jurista, revelou a necessidade de se proteger as relações de consumo, como já vinham fazendo, desde muito tempo, outras Nações [...] (RÊGO & RÊGO, 2007, p.108).

[...] o sentido dessa normatividade constitucional é, portanto, de defender, em toda a sua extensão, o consumidor, protegendo-o, em qualquer tipo de relação legal de consumo, e de ações que desnaturam a natureza jurisdicional desse tipo de negócio [...] (RÊGO & RÊGO, 2007, p.108).

Mediante o exposto, observa-se que as operações financeiras e os sistemas de

créditos estão inseridos no dia a dia do indivíduo, onde a grande tendência mundial volta-

se para o cadastro positivo do consumidor para que ele possa ter a concessão de crédito

amplamente utilizada no País.

Esse cadastro consiste em um sistema de banco de dados com informações sobre o

comportamento financeiro do pretendente ao crédito, compartilhadas entre os diversos

setores da economia (comércio, indústria, mercado financeiro e serviços), no qual são

valorizados os dados positivos, ou seja, os pagamentos honrados pelo consumidor.

A referida base de dados tem a função de identificar os riscos de inadimplência,

inerentes ao processo de concessão de crédito (empréstimo ou venda a prazo), com o

objetivo de dar maior segurança e estabilidade nas operações financeiras.

Segundo definição do IDEC (2007) no cadastro positivo, o comportamento

financeiro do consumidor é analisado, valorizando-se os pagamentos efetuados dentro do

prazo estabelecido na operação de crédito. Dessa análise, o consumidor receberá uma

Page 66: dissertacao-leandro-vfinal

63

classificação (A, B, C, D, E) ou uma pontuação/score (0 a 1000), que corresponde “à

probabilidade do consumidor tornar-se inadimplente em um prazo determinado”. É o

denominado rating (sistema de avaliação de risco de crédito).

Pela análise do cadastro positivo, haverá, então, a possibilidade de aplicação de taxa

de juros diferenciada, de acordo com o perfil do consumidor, de modo que o bom pagador

poderá contratar empréstimos a juros menores, deixando de bancar o risco do mau pagador

(COUSIN, 2007).

O critério “discrímen”, ou seja, critério de descriminação, está na pontualidade do

pagamento das obrigações assumidas pelo consumidor, quando contrata empréstimos de

valores ou compras a prazo.

Outro ponto relevante, é a expectativa de crescimento em 20% das ofertas de crédito,

dentro de 6 (seis) meses, bem como dos investimentos de capital estrangeiro no país, fato

capaz de gerar emprego e renda e, por conseguinte, uma melhoria na economia nacional. É

de todo oportuno ressaltar que, atualmente, no Brasil, a oferta de crédito voltada ao

consumo representa 33%, segundo dados divulgados pelo PIB (2007), diferente dos países

que já utilizam o cadastro positivo, como os Estados Unidos, onde o crédito equivale a

86% do PIB; e na China, onde esse índice atinge 102% do PIB desse país (COUSIN,

2007).

Contudo, esse instrumento de avaliação pode causar efeitos negativos, sendo que um

deles está no fato de que o consumidor não tem acesso a qualquer modalidade de crédito se

não tiver seus dados inseridos no cadastro positivo. Assim ocorre nos EUA e na Europa.

Diante disso, o consumidor tem o seu direito de escolha tolhido, uma vez que é obrigado a

ceder suas informações pessoais, tal como um pré-requisito para a concessão do crédito

desejado (COUSIN, 2007).

Lucca (2006) complementa que não obstante, o consumidor tem, por consequência o

seu direito rebaixado tanto na intimidade como na vida privada, já que sua vida financeira

e patrimonial estará exposta a todos que tiverem acesso às informações pessoais contidas

no banco de dados. É a chamada “democratização da informação”, que disponibiliza dados

de interesse da coletividade.

Nesse contexto, questiona-se o que pensar do consumidor que não tem hábito de

comprar a prazo ou contrair empréstimos; que só paga suas compras à vista, sendo,

Page 67: dissertacao-leandro-vfinal

64

portanto, impossível verificar sua capacidade de ser pontual no adimplemento de uma

obrigação parcelada. Será que esse consumidor estaria prejudicado na hipótese de vir a

solicitar um crédito?

Há, ainda, outro fator de risco relevante, apontado por Sampaio (2006) que pode

gerar um dano ao consumidor, que é a possibilidade de “roubo de identidade” ou “identity

theft”, ainda que remota, uma vez que o cadastro é manuseado sem monitoramento. Nesse

caso, se faz necessário apontar o responsável pelo eventual vazamento das informações

pessoais contidas no banco de dados, algo ainda discutível. O autor complementa que há,

também, a possibilidade de erro ao inserir informações incorretas no banco de dados e,

nessa hipótese, também não está claro quem seria responsabilizado pela alimentação

indevida do cadastro positivo.

De acordo com Camargo (2005) sobre este aspecto, é importante examinar o

proposto no projeto de lei nº 836/2003, que foi elaborado a fim de disciplinar o

funcionamento de banco de dados e serviços de proteção ao crédito, pelo qual as

informações incluídas no cadastro positivo são de responsabilidade acordada do fornecedor

e do prestador do serviço de proteção ao crédito, sendo certo que este último tem o dever

de verificar a veracidade e a exatidão das informações sobre a situação financeira do

consumidor, passadas pelas Instituições associadas.

O referido projeto de lei prevê que, havendo equívoco nos dados cadastrados, a

correção deve ser feita de imediato pelo prestador do serviço de proteção ao crédito, no

prazo de 3 (três) dias, devendo, ainda, comunicar o fornecedor e, por escrito, o

consumidor. Esse aparente conflito de princípios constitucionais poderá ser sanado pela

aplicação da “Teoria da Ponderação dos Direitos Fundamentais” e pelo “Princípio da

Razoabilidade”, pelos quais é avaliado qual interesse deverá prevalecer sobre o outro: o

direito de escolha, o direito à intimidade, à vida privada, à dignidade da pessoa humana x o

direito à informação, ao desenvolvimento econômico e financeiro, à livre iniciativa

(CAMARGO, 2005).

Por essa teoria, confirma-se que a defesa do cidadão diante dos sistemas de análise

de crédito no Brasil aponta para garantias jurídicas de proteção ao consumidor, contra

eventuais atos ilícitos praticados nos processos de análise de crédito, até mesmo nos

mecanismos oriundos do avanço tecnológico como o comércio eletrônico.

Page 68: dissertacao-leandro-vfinal

65

5 PESQUISA

Será apresentada neste capítulo uma experiência vivenciada em sala de aula com

alunos do Ensino Médio de escolas públicas e privadas do município de Volta Redonda/RJ,

onde foram aplicadas atividades sobre Matemática Financeira com o objetivo de averiguar

as formas de utilização da Matemática no cotidiano dos alunos e professores, bem como

verificar de que forma os mesmos utilizam a Matemática Financeira no seu dia a dia.

5.1 Materiais e Métodos

Realizou-se uma pesquisa qualitativa entre os dias 04 e 06 de setembro de 2009 na

cidade de Volta Redonda/RJ (características em Anexo), com alunos e Professores do

Ensino Médio, onde os alunos entrevistados cursam o terceiro ano do Ensino Médio e,

Curso Pré-Vestibular, e os professores lecionam Matemática. Essa pesquisa se deu através

de questionário, elaborado em parceria com o Instituto de Pesquisa de Opinião e

Treinamento (IPOT), sendo semiestruturado com perguntas abertas e fechadas, aplicado

por pesquisadores previamente treinados (Anexos 1 e 2).

Foram entrevistados 382 alunos do Ensino Médio, sendo que desse montante 132

eram de escolas particulares e 250 alunos de escolas públicas. De acordo com os dados

fornecidos pelo IBGE no ano de 2008, Volta Redonda/RJ, possui 13.459 alunos

matriculados no Ensino Médio, sendo que 10.122 no Ensino Público e 3.337 no Ensino

Privado, o que representa 32% do total.

Essa amostra de 382 alunos corresponde a uma pesquisa com uma margem de erro

de 5,51% para uma confiabilidade de 95%. O tamanho da amostra foi calculado de acordo

com a fórmula:

n =

z2 p.q.N

e2 . (N – 1) + z2 p.q

Page 69: dissertacao-leandro-vfinal

66

Onde:

z = o valor do intervalo de 95% de confiança;

p = sucesso;

q = falha;

p + q corresponde a 1 ou 100%;

e = erro da amostra;

N = tamanho da população.

A abordagem dos alunos foi feita em 8 escolas diferentes, sendo 3 de Ensino

Particular e 5 de Ensino Público Estadual.

Foram entrevistados vinte 25 professores de Matemática que atuam em escolas

privada e pública. Os professores foram entrevistados no período de 04 a 18 de setembro

de 2009, de acordo com a disponibilidade dos mesmos. A pesquisa foi realizada com

questionário semiestruturado similar ao utilizado para as entrevistas com alunos, mas com

foco na atuação do professor e na importância que o mesmo vê na aplicação da Matemática

Financeira.

5.2 Discussão dos Resultados

5.2.1 Análise com alunos do Ensino Público e do Ensino Privado

O gráfico 1 realiza a comparação entre a divisão por sexo dos alunos provenientes de

escola pública e os de escola privada. Pôde-se constatar que não existem diferenças

significativas entre os dois públicos, sendo que as mulheres estão representadas em ampla

maioria nos dois segmentos. No ensino público 66,9% dos alunos pertencem ao sexo

feminino, enquanto que no ensino privado o sexo feminino é representado por 68,3%.

Page 70: dissertacao-leandro-vfinal

67

GRÁFICO 1: Divisão por Sexo dos alunos

Fonte: Questionário aplicado ao aluno.

GRÁFICO 2: Média de idade dos alunos

Fonte: Questionário aplicado ao aluno.

O gráfico 2 realiza uma avaliação da idade dos estudantes provenientes de escola

pública e os de escola privada. Constatou-se que existem diferenças significativas entre os

dois públicos. Nas escolas públicas o índice de frequência é menor para os alunos que

possuem idade entre 15 a 17 anos, representando 62,7%, enquanto no ensino privado, essa

mesma faixa etária representa 88%. No espaço privado a distorção idade / série é menor.

Os alunos são mais jovens.

Page 71: dissertacao-leandro-vfinal

68

Gráfico 3: Ocupação dos alunos

Fonte: Fonte: Questionário aplicado ao aluno.

No gráfico 3, observa-se que uma minoria dos alunos que estudam em escola pública

trabalham, sendo que 92,9% se dedicam exclusivamente ao estudo; no entanto, na escola

privada representando 100%, não possuem compromissos extraescolar, estando totalmente

ocupados com o estudo.

Gráfico 4: Utilização de conteúdos matemáticos

Fonte: Fonte: Questionário aplicado ao aluno.

A questão da utilização dos conteúdos matemáticos pode-se observar que são bem

diferentes os resultados. O Gráfico 4, demonstra que dos alunos consultados na escola

pública 72,4% aplicam os conteúdos matemáticos no seu dia a dia, em loco, as operações

financeiras e sistemas de créditos, já os alunos consultados na escola privada apenas 44,6%

aplicam o conteúdo matemático no seu dia a dia.

Page 72: dissertacao-leandro-vfinal

69

Gráfico 5: O gostar dos alunos pela Matemática

Fonte: Fonte: Questionário aplicado ao aluno.

No Gráfico 5, as respostas dos alunos para o gostar da Matemática equilibraram-se,

pois foi possível perceber que os dois públicos avaliados demonstraram gostar da

Matemática, sendo 55,3% de escolas públicas e 55,4% de escolas privadas.

Gráfico 6: Utilização de Matemática no cotidiano do aluno

Fonte: Questionário aplicado ao aluno.

Através dos dados apontados pelo Gráfico 6, observa-se que a Matemática

Financeira tem sido mais utilizada pelos alunos da escola pública, representando 78,4%

dos entrevistados. Esses alunos já trabalham para auxiliar na renda familiar. Os alunos

relatam como experiências vividas no dia a dia, as dificuldades financeiras da família, onde

Page 73: dissertacao-leandro-vfinal

70

os cálculos relacionados à educação, consumo no lar envolvendo alimentação, roupas,

calçados dentre outros, são calculados todo mês e deduzidos da renda familiar, sobrando às

vezes déficits, os levando a recorrerem a empréstimos. Já nas escolas particulares apenas

31,3% dos entrevistados utilizam a Matemática Financeira no seu dia a dia, o que significa

que não estão no mercado de trabalho representando 63,4%.

Gráfico 7: Vivência do aluno utilizada em sala de aula

Fonte: Questionário aplicado ao aluno.

No gráfico 7 observa-se que o aprendizado da Matemática Financeira em sala de aula

na escola pública é maior do que fora da escola representando 67,3%, no entanto fora da

escola; e na escola privada o índice de aproveitamento dos alunos em sala de aula é de

72,5%. Nessa perspectiva, meu ponto de vista é que os alunos têm consciência da

importância dos saberes da Matemática Financeira, pois em qualquer momento de suas

vidas, esse saber irá interferir no seu cotidiano, além de contribuir para o mundo do

trabalho e para o Ensino Superior, o que o leva para além do seu cotidiano.

Page 74: dissertacao-leandro-vfinal

71

TABELA 1: Aplicação da Matemática Financeira no cotidiano do aluno

Privada Pública Fazer compras com cartão de crédito 76 55 Fazer compras com cheque 34 24 Realizar compras no supermercado 85 87 Calcular valor de prestações 73 94 Analisar contas a pagar (tel, luz, água) 65 95 Outros 5 7

Fonte: Questionário aplicado ao aluno.

Na Tabela 1 verifica-se que aplicação da Matemática Financeira está atribuída em

primeiro lugar à realização de compras em supermercado; em seguida aparecem os

cálculos de valores referente a prestações contraídas; em terceiro lugar encontramos à

análise das contas a pagar; e na questão das compras com cartão de crédito ou cheque,

pôde-se perceber que o cartão de crédito superou a outra forma de pagamento.

TABELA 2: Cruzamento entre utilização adequada dos conteúdos matemáticos e conteúdos utilizados no cotidiano aplicado pelo Professor

Utilização de conteúdos

matemáticos

Total

Sim Não Utilização de Matemática no cotidiano

Matemática Financeira 64,8% 47,9% 58,0% Razão e Proporção 23,2% 43,8% 31,5% PA e PG. 0% 1,0% ,4% Assistir a alguma atividade cultural e/ou Lazer ,7% 1,0% ,8% Ampliar conhecimentos técnicos (novas tecnologias)

11,3% 5,2% 8,8%

NR 1,0% ,4% Total 100,0% 100,0% 100,0%

Fonte: Questionário aplicado ao aluno.

A Tabela 2 mostra a grande dificuldade da utilização da Matemática no cotidiano em

progressões aritméticas e geométricas, atividades culturais e novas tecnologias

relacionadas ao conteúdo matemático.

Page 75: dissertacao-leandro-vfinal

72

TABELA 3: Gostar de Matemática e conteúdos utilizados no cotidiano do aluno

Gostar de Matemática

Total

Sim Não Utilização de Matemática no cotidiano

Matemática Financeira 57,0% 60,0% 58,2% Razão e Proporção 33,8% 27,0% 31,1% PA e PG. ,7% 0% ,4% Assistir a alguma atividade cultural e/ou Lazer

,7% 1,0% ,8%

Ampliar conhecimentos técnicos (novas tecnologias)

7,3% 12,0% 9,2%

NR ,7% 0% ,4% Total 100,0% 100,0% 100,0%

Fonte: Questionário aplicado ao aluno.

A Tabela 3 demonstra que no âmbito da Matemática e dos conteúdos utilizados no

dia a dia, verifica-se que a Matemática Financeira aparece em primeiro lugar com 58,2%

em relação aos demais conteúdos, tanto na esfera utilização como no gostar.

5.2.2 Análise das respostas dos professores

GRÁFICO 1: Localidade de origem do Professor

Fonte: Questionário aplicado ao Professor.

Page 76: dissertacao-leandro-vfinal

73

O gráfico 1 realiza a comparação entre a localidade de origem dos professores

entrevistados. Pôde-se constatar que 83% representando a maioria, ministram aulas em

Volta Redonda, e 17% em Barra do Piraí.

GRÁFICO 2: Divisão por Sexo dos Professores

Fonte: Questionário aplicado ao Professor.

O gráfico 2 realiza a comparação entre a divisão por sexo dos professores. Pôde-se

constatar que dos dois públicos, o sexo masculino aparece em proporção maior com 58%, e

o sexo feminino é representado por 42%.

GRÁFICO 3: Média de idade dos Professores

Fonte: Questionário aplicado ao Professor.

Page 77: dissertacao-leandro-vfinal

74

O gráfico 3 realiza a comparação entre a faixa etária dos professores. Pôde-se

constatar que o público maior encontra-se na faixa de 45 a 59 anos, representando 50%; a

faixa entre 35 a 44 anos representa 42%; e 60 anos ou mais, representa 8%.

Gráfico 4: Níveis de Ensino que o Professor exerce no magistério

Fonte: Questionário aplicado ao Professor.

O gráfico 4 realiza a comparação entre os níveis de ensino em que os professores

exercem o magistério. Constatou-se que 75% atuam no Ensino Médio; 17% no Ensino

Superior; e 8% no Ensino Fundamental.

Gráfico 5: Tempo de atuação no magistério

Fonte: Questionário aplicado ao Professor.

O gráfico 5 realiza a comparação entre o tempo de magistério que os professores

atuam. Constatou-se que 42% atuam a mais de 20 anos; 17% entre 10 e 14 anos; 33% entre

5 e 9 anos; e 8% dos professores entrevistados não responderam.

Page 78: dissertacao-leandro-vfinal

75

Gráfico 6: Instituição onde concluiu o Ensino Superior

Fonte: Questionário aplicado ao Professor.

No gráfico 6 observa-se que 67% dos Professores concluíram o Ensino Superior em

Instituições particulares de Volta Redonda e Barra Mansa, 8% em Universidades públicas

do Rio de Janeiro, 17% em outras instituições e 8% não responderam.

Gráfico 7: Utilização de Matemática Financeira em sala de aula pelo Professor

Fonte: Questionário aplicado ao Professor.

O gráfico 7 demonstra que 82%, utilizam a Matemática Financeira em sala de aula; e

apenas 18% não fazem uso da Matemática Financeira em sala de aula.

Page 79: dissertacao-leandro-vfinal

76

Gráfico 8: Forma de utilização de Matemática Financeira em sala de aula

Fonte: Questionário aplicado ao Professor.

No gráfico 8 avaliando a forma de utilização da Matemática Financeira em sala de

aula em uma escala de 0 a 7, observa-se que o cálculo de valor de prestação aparece como

uma das formas mais utilizadas pelos professores em sala de aula representando na escala

média = 7; em seguida aparece a análise de contas a pagar com uma média = 6; depois a

realização de compras no supermercado com média = 3; e a forma de pagamento sendo em

cartão de crédito ou cheque, o cartão de crédito aparece com média = 3, contra média = 1

da utilização de cheques.

Gráfico 9: Motivos que levam o Professor a não utilizar a Matemática Financeira em sala de aula

O gráfico 9 realiza uma investigação dos motivos que levam os professores a não

utilizarem a Matemática Financeira em sala de aula. Pôde-se observar que em sua maioria

Fonte: Questionário aplicado ao Professor.

Page 80: dissertacao-leandro-vfinal

77

os professores responderam não ser possível atingir todos os conteúdos propostos pelo

plano de ensino; e outros alegaram a matéria ser complexa demais; os outros restantes

consideram desnecessário a utilização desse conteúdo, ou que os alunos não demonstram

interesse pela matéria.

Acreditamos ser importante situar, que no ensino da Matemática em nossa época,

não tivemos o privilégio de vivenciar a experiência da reflexão Matemática Financeira em

sala de aula. A escola em que estudamos não teve, por parte da direção e comunidade dos

professores, a preocupação de inserir o ensino da Matemática Financeira no quadro das

disciplinas do seu componente curricular. Não podemos afirmar categoricamente que não

houvesse essa preocupação, bem como não podemos informar quais os motivos que a

levaram a não incluir a disciplina na grade curricular. No entanto, nos dias de hoje,

sabemos que o propósito do Ensino Médio é finalizar a formação básica do educando, que

visa introduzir o jovem no mundo como um todo, porque em seguida, vem a etapa

especializada no trabalho ou na universidade.

TABELA 1: Conteúdos matemáticos essenciais para os alunos utilizarem em seu cotidiano

Fazer compras

com cartão de crédito

Fazer compras

com cheque

Planejamento de orçamento

Realizar compras

no supermerc

ado

Calcular valor de

prestações

Analisar contas a pagar

(telefone, luz, água)

Razão e Proporção

8 5 10 10 6 9

PA e PG 1 0 0 0 2 0 Logaritmos 1 1 1 0 1 0 Exponenciais 1 1 0 0 0 0 Função do 1º e 2º grau

0 2 0 0 1 2

Fonte: Questionário aplicado ao Professor.

TABELA 2: Cruzamento entre tempo de atuação e Estudo de Matemática Financeira

Tempo de atuação Total

Mais de 20 anos

Entre 10 e 14 anos

Entre 5 e 9 anos

Estudou Matemática Financeira

Sim 20,0% 0,0% 0,0% 9,1% Não 80,0% 100,0% 100,0% 90,9%

Total 100,0% 100,0% 100,0% 100,0%

Fonte: Questionário aplicado ao Professor.

Page 81: dissertacao-leandro-vfinal

78

Tabela 3: Cruzamento entre tempo de atuação e utilização de Matemática Financeira em

sala de aula

Tempo de atuação Total

Mais de 20 anos

Entre 10 e 14 anos

Entre 5 e 9 anos

Utiliza Mat. Financeira nas aulas

Sim 80,0% 50,0% 100,0% 81,8% Não 20,0% 50,0% 0,0% 18,2%

Total 100,0% 100,0% 100,0% 100,0%

Fonte: Questionário aplicado ao Professor.

Após análise dos resultados obtidos, observou-se que dos 382 alunos do Ensino

Médio entrevistados, sobre a utilização de Matemática Financeira em seu cotidiano, os

alunos das escolas públicas representaram 72%, um índice maior do que o das escolas

particulares, com 44,6%.

Com esses dados, podemos comprovar algumas hipóteses:

• As concepções de aprendizagem Matemática podem ser fatores determinantes no

processo de construção do conhecimento matemático do aluno, bem como, no ensino-

aprendizagem da educação Matemática para o consumo;

• O fato de os alunos sempre demonstrarem interesse diferenciado pelo conteúdo

relacionado à Matemática Financeira, pode possibilitar a produção de aprendizagem

socialmente significativa.

A primeira hipótese provém da intensificação e aprimoramento do Professor com

relação à Matemática Financeira articulada à educação para o consumo, para que possa ser

fornecido ao aluno um ensino de qualidade. A segunda hipótese, essa reflete anos de

observação no dia a dia da sala de aula, e um contato diário com alunos do Ensino Médio.

Com esse referencial, confirma-se o que Silva (2008, p.77) ressaltou: “[...] a

contextualização da Matemática Financeira no âmbito do Ensino Médio está um pouco

esquecida e fora do currículo de muitas escolas [...]”, tornando-se necessário, portanto,

uma maior conscientização das escolas como instituição de formação, trabalhar a questão

da elaboração de proposta pedagógica voltada para Matemática Financeira e educação para

o consumo.

Page 82: dissertacao-leandro-vfinal

79

No âmbito profissional, após entrevistar através de questionário estruturado 25

professores de Matemática atuando em escolas públicas e privadas, os resultados

apontaram que a aplicabilidade da Matemática Financeira em sala de aula acontece,

representando 82%.

Algumas hipóteses são delineadas a partir da coleta de dados da pesquisa, que,

embora não se tornem assuntos acabados, configuram algumas respostas sobre as questões

de investigação dessa Dissertação:

• A discussão e a elaboração de uma proposta pedagógica orientada para a educação

Matemática do consumidor estão na necessidade de formação continuada para os

professores que não possuem conhecimento com a disciplina Matemática Financeira e

com o trabalho da área da docência, além da Pós-Graduação, Mestrado e Doutorado,

Cursos de “aperfeiçoamento” direcionado a essa carreira de docente;

• No nosso dia a dia ocorrem mudanças em toda a sociedade, nas relações trabalhistas,

sociais, éticas, religiosas e, principalmente na relação Escola-Sociedade. Com isso, o

Professor é chamado a adaptar condições para atender tais mudanças buscando

preparar seus alunos para toda essa transformação. E para isso, o Professor precisa

estar preparado.

• O caminho para a melhoria do ensino da Matemática nas escolas brasileiras depende,

principalmente, da melhor capacitação dos professores. É categórico que eles estejam

bem preparados, e isso significa dominar o conteúdo daquilo que deve ser ensinado e

conhecer as melhores estratégias para o ensino. Para isso, torna-se essencial aprimorar

a educação matemática no Ensino Fundamental para que no Ensino Médio os

resultados possam ser mais positivos;

• Propiciar aos alunos uma educação Matemática básica associada aos conteúdos da

Matemática Financeira relacionando-os ao desenvolvimento do espírito crítico, da

capacidade de tomar decisões, diante de diversas situações da vida em sociedade,

principalmente, a partir de uma visão de educação Matemática para o consumo que

esteja permeado com o dia a dia do aluno.

Essas reflexões sobre o ensino-aprendizagem da Matemática Financeira no Ensino

Médio não deve restringir-se à mera automatização de procedimentos. Os alunos precisam

Page 83: dissertacao-leandro-vfinal

80

ser melhor preparados para compreenderem as questões matemáticas que

consequentemente estão no seu cotidiano fazendo parte da realidade na qual se inserem.

Com base nessas reflexões, as atividades pedagógicas, em sala de aula ou fora dela,

devem promover a concentração dos estudantes para que possam render bons frutos na

direção da formação cidadã. Como bem destaca Parente (2005, p.96):

[...] de acordo com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação, o professor não pode deixar de aplicar com consciência o conteúdo do currículo sugerido pelas escolas, pois esses conteúdos formam a base principal da Matemática Financeira, e devem ser abordados com especial atenção pelo professor [...].

Page 84: dissertacao-leandro-vfinal

81

6 CONCLUSÃO

Os caminhos que percorremos nesse trabalho, suscitaram-nos o ensejo ainda maior

de prosseguir no aprimoramento do ensino da Matemática Financeira no Ensino Médio,

pois muito do que estudamos, investigamos e refletimos nos enseja outros olhares na

aplicabilidade da disciplina articulada com a educação para o consumo. É estimulante

pensar nas futuras indagações e na compreensão dos desafios que certamente surgirão.

Essa experiência nos mostrou a necessidade da busca pelos objetivos expressos nos

PCNEM (LDB/96), em que as bases legais e ideológicas do Ensino Médio consideram

como elementos específicos os conteúdos, enfoques e, métodos pedagógicos para um bom

preparo do aluno do Ensino Médio, além da contextualização e da interdisciplinaridade.

A Matemática financeira por si só, constitui um primoroso instrumento matemático

de contextualização e, tratar os conteúdos de ensino de forma contextualizada faz com que

os alunos do Ensino Médio aproveitem ao máximo as relações existentes entre esses

conteúdos e o contexto pessoal ou social, de modo a dar significado ao que está sendo

aprendido, levando-se em conta que todo conhecimento envolve uma relação ativa entre o

sujeito e o objeto do conhecimento. Assim, a contextualização ajuda a desenvolver no

aluno a capacidade de relacionar o aprendido com o observado e a teoria com suas

conseqüências e aplicações práticas.

Nossa proposta é que a Matemática Financeira seja inserida definitivamente na

matriz (grade) curricular do Ensino Médio, visto que essa disciplina tem uma destacada

importância no cotidiano das pessoas. Não são raras as situações do dia a dia em que

necessitamos de lançar mão de algum conhecimento de Matemática Financeira para nos

orientarmos na tomada de decisões importantes na nossa vida.

Outro aspecto importante para o desenvolvimento matemático dos alunos é o diálogo

do professor com o aluno a respeito da Matemática Financeira inserida no cotidiano deles.

Apontamos para a necessidade da receptividade relativa às perguntas feitas e às

experiências do cotidiano relatadas por eles, para que este aluno possa investigar e buscar

possíveis respostas às suas indagações, a partir do estudo e reflexão do pensamento voltado

para a educação Matemática para o consumo.

Page 85: dissertacao-leandro-vfinal

82

Quando o assunto é o ensino da Matemática Financeira para o Ensino Médio, se

tratando de alunos adolescentes, com certeza não se pode excluir o cotidiano, pois, o

mundo em que estamos vivendo é o mundo do ícone ou da imagem, do consumismo, onde

a mercadoria tem substituído, em termos de valor, o humano, transformando o jovem do

século XXI em objeto manipulável e descartável.

A partir dessas constatações, foi possível perceber a necessidade de uma educação

Matemática voltada para a vida, um ensino de questionamento sobre as atrocidades que

permeiam nossa sociedade, como também percebemos a urgência de construção, junto aos

alunos, de novos conceitos e realidades socializadoras. Sabemos que os alunos

adolescentes, em seu cotidiano, não são modelos idealizados pelo mundo adulto. Eles

representam adolescências em construção histórica e social. Portanto, o encontro e as

experiências com a educação Matemática para o consumo trarão contribuições

significativas para eles.

Concluímos, portanto, que a educação Matemática para o consumo no Ensino Médio

seja aprofundada como nos cursos de graduação, tais como: Administração, Contabilidade

e Economia, mas que seja ensinado o suficiente para que no futuro tanto os bancos quanto

as instituições financeiras não consigam mais induzir o consumidor com propagandas que

o levam a pagar juros altíssimos.

Com base em nossa experiência docente, analisou-se a partir dos discursos dos

alunos que, metodologias e conteúdos mais utilizados pelos professores de Matemática no

Ensino Médio devem ser refletidos para o aprimoramento da nossa prática docente.

Constatou-se também, que devido à formação inicial do professor de Matemática,

não ter tido a Matemática Financeira nas matrizes curriculares dos Cursos de Licenciatura

em Matemática, recomenda-se o aprimoramento do perfil do professor bem como das

propostas pedagógicas, que buscará corrigir e melhorar o ensino atual, evitando é claro, as

grandes descontinuidades e rupturas, como por exemplo, a extinção de disciplinas ou

drásticas mudanças de conteúdos que, no momento, trariam mais confusão que progresso.

Page 86: dissertacao-leandro-vfinal

83

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RÊGO, W.F.P. & RÊGO, O.L.F. O código de defesa do consumidor e o direito econômico. Revista de Direito do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, n.2, p.97-125, Editora Espaço Jurídico, jan/2007.

SAMPAIO, Marli Aparecida. Cadastro Positivo e direitos básicos do consumidor. Publicações de Artigo Procon (2006). Disponível em http://www.procon.sp.gov.br/texto. Disponível em abril, 2009.

SÁ, Ilydio Pereira de. Matemática comercial e financeira: para educadores matemáticos. Rio de Janeiro: Sotese, 190p, 2005.

SANTOS, Epaminondas Alves dos. A Matemática Financeira como Alternativa de Contextualização. Caderno Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE), Santo Antônio da Platina, Paraná, Outubro de 2008. Disponível em http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/pde/arquivos/pdf. Acesso em set/2009.

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SILVA, D. Aprendizagem: Projetos e estratégias para uma educação Matemática do futuro. Manual do Professor Educação Matemática, 5ª Série, livro do professor. São Paulo, SP: Atual, 2008.

TRIGUEIRO, André. Mundo Sustentável. São Paulo: Ed. Globo, 303p. 2005.

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VEIGA, Ilma P.A. Projeto político-pedagógico da escola. 16.ed. Campinas: Papirus, 2007.

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ANEXOS

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ANEXO 1 – Questionário do Aluno

06) Qual é a sua ocupação? (RU E ESPONTÂNEA)

1. Empregado (assalariado) 8. Pensionista 2. Empregador (empresário) 9. Aposentado 3. Autônomo (camelô, dono de van, artesão) 10. Estudante 4. Dona de casa 11. Militar 5. Desempregado 12. Outro ____________________________ 6. Funcionário Público 77. NS 7. Profissional liberal 99. NR 07) Assinale entre as alternativas onde você vê aplicação da Matemática Financeira no seu dia a dia: (RM) 1. fazer compras com cartão de crédito 2. Fazer compras com cheque 3. Realizar compras no supermercado 4. Calcular valor de prestações 5. Analisar contas a pagar (telefone, luz, água) 6. Outro ____________________________ 77. NS 99. NR 08) Você acha que a escola utiliza forma adequada os conteúdos matemáticos que você possui?(RU) 1. Sim 2. Não 77. NS 99. NR 09) Você gosta de estudar Matemática? (RU) 1. Sim 2. Não 77. NS 99. NR 10) Dentre os conteúdos listados qual o que você utiliza com maior freqüência em sua vida pessoal e profissional? (RU) 1. Matemática Financeira 2. Razão e proporção 3. PA e PG. 4. Trigonometria 5. Exponenciais e logaritmos 6. Função do 1º e 2º grau 77. NS 99. NR 11) Na sua vivência de sala de aula você conversa com o seu professor?(RU) 1. somente assuntos relacionados ao que está sendo ensinado em sala de aula 2. Questões relacionadas ao uso da Matemática fora da escola 77. NS 99. NR

12) O que você não aprende na escola e gostaria de aprender para realizar ações do cotidiano, principalmente

aquelas ligadas a manipulação de dinheiro?

_________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 77. NS 99. NR

NÃO ESQUECER NO FINAL DA ENTREVISTA:

A pesquisa que fazemos assegura o anonimato de quem é entrevistado. Apesar disso, nós pedimos o telefone de

contato (trabalho ou casa) para que o coordenador da pesquisa possa conferir se o (a) Sr (a) foi entrevistado

corretamente. O (A) Sr (a) poderia dizer o seu telefone de contato?

Nome: ____________________________________ Tel. Casa: ________________ Nº do

pesquisador: ___________

IPOT – Instituto de Pesquisa de Opinião e Treinamento

01. Local da Entrevista: ________________________________________________________________

02. Em qual Bairro você reside:________________________________________________________________

03. Você é aluno do 3º ano do Ensino Médio: 1. Sim 2. Não (encerre)

04. SEXO (não perguntar): 1. Masculino 2. Feminino

05. IDADE: 1. 15 a 17 _____ 2. 18 a 19 _____ 3. 20 a 25 _____ 4. 26 a 30 _____ 5. 31 a 35 _____ 6. 36 a 40 _____ 7. Acima de 40 anos

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ANEXO 2 – Questionário do Professor

06) Em que níveis de ensino você exerce o magistério? (RM)

1. Ensino Fundamental 2. Ensino Médio 3. Educação superior 77. NS 99. NR

07) Em que ano você concluiu a sua graduação em Matemática: (RU) 1. mais de 20 anos 2. Entre 15 e 19 anos 3. Entre 10 e 14 anos 4. Entre 5 e 9 anos 5. Menos de 5 anos 77. NS 99. NR

08) Em qual instituição de ensino superior concluiu o curso de graduação: (RU) 1. UGB 2. UBM 3. Severino Sombra 4. UFRJ 5. UFRRJ 6. outro______

09) Durante o seu curso de graduação você estudou a disciplina de Matemática Financeira? (RU) 1. Sim 2. Não 77. NS 99. NR

10) Você utiliza conteúdos de Matemática Financeira em suas aulas? (RU) 1. Sim 2. Não (pule para a questão 12) 77. NS 99. NR

11) De que forma você utiliza conteúdos de Matemática Financeira em suas aulas?(RM) 1. fazer compras com cartão de crédito 2. Fazer compras com cheque 3. Realizar compras no supermercado 4. Calcular valor de prestações 5. Analisar contas a pagar (telefone, luz, água) 6. Outro ____________________________ 77. NS 99. NR

12) Quais são os motivos NÃO o levam a utilizar os conteúdos de Matemática Financeira em sala de aula? (RM) 1. Não é possível atingir todos os conteúdos propostos no plano de ensino 2. Os alunos não demonstram interesse pela matéria 3. A matéria é complexa demais 4. Existe necessidade de utilização deste conteúdo 5. Outra: ____________________________________ 77. NS 99. NR

13) Na sua vivência de sala de aula você conversa com os alunos?(RU) 1. somente assuntos relacionados ao que está sendo ensinado em sala de aula 2. Questões relacionadas ao uso da Matemática fora da escola 77. NS 99. NR

14) Assinale que conteúdos matemáticos você considera essenciais para os seus alunos saberem: (RM) Razão e

proporção PA e PG Logaritmos Exponenciais Função do 1

e 2º grau 1. fazer compras com cartão de crédito

2. Fazer compras com cheque 3. Fazer planejamento por escrito do que ganha e do que pode gastar

4. Realizar compras no supermercado 5. Calcular valor de prestações 6. Analisar contas a pagar (telefone, luz, água)

7. Outro ____________________________ 77. NS 99. NR

NÃO ESQUECER NO FINAL DA ENTREVISTA:

IPOT – Instituto de Pesquisa de Opinião e Treinamento

01. Local da Entrevista: ________________________________________________________________

02. Em qual município o Senhor(a) reside:

1. Volta Redonda 2. Barra Mansa 3. Resende 4. B. do Pirai 5. Bananal 6. Outro ________

03. O Senhor(a) é funcionário público concursado: 1. Sim 2. Não (encerre)

04. Sexo (não perguntar): 1. Masculino 2. Feminino

05. Idade: 1. 18 a 24 _____ 2. 25 a 34 _____ 3. 35 a 44 _____ 4. 45 a 59 ____ 5. 60 ou mais _____

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A pesquisa que fazemos assegura o anonimato de quem é entrevistado. Apesar disso, nós pedimos o telefone de

contato (trabalho ou casa) para que o coordenador da pesquisa possa conferir se o (a) Sr (a) foi entrevistado

corretamente. O (A) Sr (a) poderia dizer o seu telefone de contato?

Nome: _______________________________ Tel. Trabalho: ____________ Tel. Casa: _______.

Nº do pesquisador: ___________ Nº do supervisor: ________________________

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Características da cidade de Volta Redonda/RJ

Está situada no Sul do Estado do Rio de Janeiro, no trecho inferior do médio vale do Rio Paraíba do Sul, entre as serras do Mar e da Mantiqueira.

Área do município 182,8 km²

Altitude 350 m a 707 m

Coordenadas latitude sul 22º 29' 00'' longitude W.GW. 44º 05' 00''

Limites

ao norte , noroeste e oeste : Barra Mansa - sudoeste : Barra Mansa e Rio Claro - sul, sudeste e leste : Piraí e Pinheiral - nordeste : Barra do Piraí e Piraí. Esta região é bastante favorecida pelo triângulo formado pelas cidades do Rio de Janeiro, São Paulo e Belo Horizonte.

Temperatura média compensada 21 graus C

Ventos dominantes noroeste

Índice pluviométrico anual 1.337 mm

Umidade média anual 21 graus C

Clima mesotérmico, com inverno seco, verão quente e chuvoso e elevado índice de umidade: 77%

Habitantes 232 mil 287 habitantes

Fonte: Portalvr.com